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Página inicial Conteúdo Do que se trata neste website? Para quem? Por que este website é necessário? As origens deste website Do que se trata neste website? Este website faz propostas e dá sugestões sobre como incluir pessoas com deficiência nas estratégias nacionais de redução da pobreza (PRS). Trata-se de um compêndio com fatos e informações gerais, links, recursos e ferramentas pertinentes às questões-chave do PRS, deficiência e gestão de processos, bem como defesa de interesses e lobby. Para quem? Os materiais deste website se destina indistintamente a todos aqueles que trabalham na área das deficiências: ONGs (organizações não-governamentais), prestadores de serviços, associações profissionais, etc. Dirige-se principalmente a pessoas com deficiências, ODs e associações de pais que queiram participar dos processos nacionais de PRS nos seus países. É importante integrar a dimensão da deficiência em cada PRS nacional; para tanto, as pessoas com deficiências e as ODs são certamente os maiores entendidos no assunto. No entanto, a questão é complexa e requer um certo nível de formação, profissionalismo e organização para compreender e acompanhar o processo e os seus documentos. Por isso, este manual está voltado principalmente para as pessoas-chave dentro das OD, coordenadores, treinadores e facilitadores, com o propósito de fornecer informações, recursos e links a respeito de importantes questões do processo de PRS. Pode ser usado como subsídio para a preparação de um projeto, de cursos de treinamento ou oficinas, embora não seja um manual de treinamento propriamente dito. Por que este website é necessário? A razão para iniciar este projeto em 2005 foi a constatação de que as ODs e as pessoas com deficiências raramente participam de qualquer processo de PRS, muito embora um dos princípios fundamentais de tais processos seja a participação ativa da sociedade civil na formulação, implementação e avaliação da estratégia nacional de redução da pobreza em cada país. No entanto, este fato simplesmente reflete www.making-prsp-inclusive.org

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faz propostas e dá sugestões sobre como incluir pessoas com deficiência nas estratégias nacionais de redução da pobreza (PRS). Trata-se de um compêndio com fatos e informações gerais, links, recursos e ferramentas pertinentes às questões-chave do PRS, deficiência e gestão de processos, bem como defesa de interesses e lobby.

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Página inicialConteúdo

● Do que se trata neste website?

● Para quem?

● Por que este website é necessário?

● As origens deste website

Do que se trata neste website?Este website faz propostas e dá sugestões sobre como incluir pessoas com deficiência nas estratégias nacionais de redução da pobreza (PRS). Trata-se de um compêndio com fatos e informações gerais, links, recursos e ferramentas pertinentes às questões-chave do PRS, deficiência e gestão de processos, bem como defesa de interesses e lobby.

Para quem?Os materiais deste website se destina indistintamente a todos aqueles que trabalham na área das deficiências: ONGs (organizações não-governamentais), prestadores de serviços, associações profissionais, etc. Dirige-se principalmente a pessoas com deficiências, ODs e associações de pais que queiram participar dos processos nacionais de PRS nos seus países. É importante integrar a dimensão da deficiência em cada PRS nacional; para tanto, as pessoas com deficiências e as ODs são certamente os maiores entendidos no assunto. No entanto, a questão é complexa e requer um certo nível de formação, profissionalismo e organização para compreender e acompanhar o processo e os seus documentos. Por isso, este manual está voltado principalmente para as pessoas-chave dentro das OD, coordenadores, treinadores e facilitadores, com o propósito de fornecer informações, recursos e links a respeito de importantes questões do processo de PRS. Pode ser usado como subsídio para a preparação de um projeto, de cursos de treinamento ou oficinas, embora não seja um manual de treinamento propriamente dito.

Por que este website é necessário?A razão para iniciar este projeto em 2005 foi a constatação de que as ODs e as pessoas com deficiências raramente participam de qualquer processo de PRS, muito embora um dos princípios fundamentais de tais processos seja a participação ativa da sociedade civil na formulação, implementação e avaliação da estratégia nacional de redução da pobreza em cada país. No entanto, este fato simplesmente reflete

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uma tendência comum: na maioria dos países, as pessoas com deficiências geralmente são “invisíveis” e carecem de uma representação forte e unida. As experiências com diferentes atividades no Camboja e no Vietname em 2006 e 2007 mostraram que mesmo as iniciativas de pequena escala são capazes de despertar grande interesse entre os representantes no campo da deficiência. A versão revista online do manual original apresenta experiências, propõe idéias e comenta como as OD e as pessoas com deficiências podem entrar e participar nos processos nacionais de PRS.

As origens deste websiteO presente conteúdo/website contém a versão revista do manual que foi originalmente parte integrante do projecto “Documento de Estratégia para Redução da Pobreza e Deficiência”, iniciado por Judy Heumann, Disability Advisor of the World Bank, com o apoio de um fundo alemão (via GTZ/BMZ). Em 2005, este projecto foi implementado pela Christoffel-Blindenmission (CBM) e Handicap International em cooperação com outras organizações germânicas e tanzanianas ligadas a pessoas com deficiência e ainda com outros organismos ligados à área da deficiência. O projecto era constituído por duas partes: a produção de materiais sobre os Documentos de Estratégia para a Redução da Pobreza (PRSPs) e deficiência (a cargo da Handicap International) e, por outro lado, a implementação de um workshop sobre PRSP na Tanzânia (através da CBM).

Em 2006 e 2007, a GTZ, a Handicap International e a CBM continuaram com os seus projectos sobre PRSP e deficiência em diferentes países. Foram sendo desenvolvidas outras actividades na Tanzânia e encetadas novas no Vietname e no Cambodja, sempre baseadas nos conceitos do manual acima referido. Os resultados destes trabalhos são seguidamente apresentados na actual versão do manual “Making PRSP Inclusive – A dimensão inclusiva do PRSP”.

Infelizmente, a versão actualizada deste manual não está ainda disponível em português, contudo, poderá fazer o download da anterior versão, a qual foi publicada em 2006.

Como usar este websiteEste website informa sobre questões importantes relativas ao processo PRS. Procura ser tão conciso quanto possível e tão abrangente quanto necessário, balanceando informações básicas para iniciantes e detalhes e links úteis para os leitores [utentes/usuários] mais experientes, que estejam interessados em trabalhar ou já estejam trabalhando na área das deficiências. A maneira mais eficiente de usar este website é escolher os assuntos de acordo com as suas necessidades, dentro da sua situação específica e conforme os seus conhecimentos prévios. O website apresenta fatos e informações gerais, links, recursos e ferramentas pertinentes às questões-chave do PRS, deficiência e gestão de processos. O que o website não faz é oferecer receitas e soluções prontas que levassem a dimensão da deficiência a ser integrada com sucesso em qualquer processo PRS nacional.

O website compreende nove capítulos. Os primeiros três capítulos fornecem aos usuários orientação e um resumo dos principais assuntos; São capítulos curtos e concisos, que facilitam a escolha de materiais mais específicos, compilados nos capítulos de quatro a nove. Os capítulos de quatro a oito oferecem informações específicas e mais detalhadas sobre cinco assuntos diferentes: Estudos de caso de países, PRS e grupos interessados, deficiência e gestão de projetos e de processos, defesa de interesses e lobby. O último capítulo deste website propõe possíveis agendas de oficinas, bem como diferentes ferramentas que podem ser usadas para facilitar os processos de planejamento, oficinas e projetos.

Mais informaçõesEm cada seção há caixas amarelas com links de internet, links de bibliografia e ferramentas que ajudam o leitor a aprofundar a sua pesquisa, dando maiores detalhes sobre pontos específicos. O glossário está disponível

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como sinalizador do website, a explicar termos técnicos e abreviaturas. Todas as palavras listadas no glossário estão realçadas assim: abreviatura. O nome por extenso das abreviaturas pode ser lido ao passar o cursor do mouse sobre elas (por exemplo: ab). A função de busca deste website oferece outra possibilidade de verificar termos específicos.

Conteúdo do website:

O capítulo 1 “PRS para principiantes” dá um apanhado geral do processo PRS, com uma definição resumida do que é, do seu uso e das suas partes interessadas, bem como das abordagens de PRS e deficiência. O capítulo 2 “Como iniciar um processo de PRS e deficiência” propõe vários passos para começar um processo com o objetivo de incluir problemas relativos à deficiência nos PRS nacionais. O capítulo 3 “Pontos de entrada da sociedade civil no processo PRS” explica as três principais fases de um PRS (formulação, implementação e monitoramento e avaliação), e indica possíveis pontos de entrada para a participação da sociedade civil. O capítulo 4 - “Estudos de Caso” – dá um resumo das experiências de quatro países (Honduras, Bangladesh, Serra Leoa, Tanzânia, Camboja e Vietname), mostrando como as organizações de deficientes e para pessoas deficientes se engajaram nos seus processos nacionais de PRS. O capítulo 5 – “PRS e as partes interessadas” apresenta elementos importantes da abordagem PRS, da sua estrutura, desenvolvimento e conteúdo. Dá também uma visão geral dos grupos interessados, das suas estruturas organizacionais internas, dos seus vínculos mútuos e das relações entre eles. Este capítulo apresenta diferentes opiniões sobre a abordagem PRS e os seus vínculos com a questão da deficiência. O capítulo 6 - “Deficiência” - apresenta, primeiramente, os diferentes modelos, abordagens e definições de incapacidade, deficiência, desvantagem, etc. Depois, identifica os setores-chave que, dentro do conceito de PRSP, são os mais relevantes para a deficiência: saúde, reabilitação, proteção social, educação, emprego e acessibilidade. Ao mesmo tempo, este capítulo visa estimular a integração da deficiência em todos os setores do PRSP. Nele, são dadas informações de fundo que servem de base para analisar a relação entre o PRSP e a questão da deficiência em cada país. O capítulo 7 - “Gestão de Projetos e Processos” - traz informações gerais sobre negociações e gestão de projetos e processos, visando a facilitar o desenvolvimento e a implementação de uma estratégia nacional unificada para os grupos interessados em deficiência em geral e, mais especificamente, a respeito do processo PRS. Introduz os conceitos de auto-avaliação organizacional e análise dos grupos interessados: essas ferramentas permitem avaliar os potenciais existentes das ODs e, adicionalmente, oferecem uma base para o trabalho em rede. O capítulo 8 – “Lobby e advocacia: influir nas políticas” - apresenta diferentes formas de influir nas políticas, tais como militância, atividades de lobby e campanhas. Nele, propõem-se várias técnicas de comunicação e maneiras de contatar e persuadir representantes-chave no processo nacional de PRS.

O capítulo 9 “Ferramentas para oficinas” contém possíveis agendas para oficinas e propõe ferramentas para facilitar os debates e o processo de planejamento. Oferece, ainda, mais informações sobre questões específicas.

1 PRS para iniciantesEste capítulo apresenta um apanhado geral sobre o conceito de PRS e as suas relações com a deficiência. Recomendamos a sua leitura como ponto de partida para todos aqueles que não tenham familiaridade com o conceito.

Conteúdo do capítulo 1:● 1.1 O que é PRS?

● 1.2 Quem é responsável pelo PRS?

● 1.3 Qual o objetivo do PRS?

● 1.4 Como funciona o processo PRS?

● 1.5 Quem financia o PRSP?

● 1.6 Qual a importância da inclusão da deficiência no PRSP?

● 1.7 Como uma OPD pode participar do PRS?

1.1 O que é PRS?

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“PRS” é a sigla inglesa de Documento de Estratégia para a Redução da Pobreza, que é um conceito desenvolvido pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1999. A idéia por trás disso é a de levar os países de baixa renda e altamente endividados a desenvolver e formular um plano nacional para reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida dos seus cidadãos. Uma vez estabelecido o PRS nacional, o país em questão pode pleitear alívio da sua dívida perante o Banco Mundial, o FMI e os países doadores, e ganhar acesso a novos créditos, empréstimos e recursos a fundo perdido. Vários grupos interessados nacionais participam da formulação da estratégia e redigem o documento PRSP de acordo. A versão final deve refletir o consenso geral dos grupos interessados. Os PRSPs também dão o mapa do caminho, apontando as ações prioritárias a serem tomadas que conduzirão à redução da pobreza. O enfoque PRSP está se tornando cada vez mais importante, porque não é uma ferramenta unilateral usada só pelo Banco Mundial e pelo FMI, mas é apoiado também pelos parceiros internacionais e está ligado às estratégias e políticas de desenvolvimento nacionais e internacionais. Hoje há processos PRS em curso em quase 70 países de todo o mundo.

Mais informaçõesO capítulo 5, sub-seções 2.2, apresenta a origem e os princípios básicos da abordagem PRSP

1.2 Quem é responsável pelo PRS?Há um grande número de partes interessadas envolvidas no desenvolvimento e implementação do PRS: o governo, a sociedade civil, o Banco Mundial, o FMI e outras agências de desenvolvimento. O PRS deve ser propriedade e de responsabilidade de cada país: o governo desempenha o papel principal no processo e a sociedade civil deve participar o máximo possível. O Banco Mundial, o FMI e as agências de desenvolvimento prestam assistência técnica e financeira para o processo.

Qual é o papel do governo?O governo é responsável pela coordenação geral do processo. Em muitos países, há um órgão separado, departamento ou escritório encarregado desta tarefa. Por exemplo, a Tanzânia montou uma unidade PRS dentro da Vice-Presidência. O governo traça o cronograma e a metodologia do processo PRS.

Que atores estão incluídos no termo “sociedade civil” e qual é o seu papel?A sociedade civil inclui todos os grupos e indivíduos interessados, exceto o governo. O termo se refere a pessoas e organizações, tais como ONGs, iniciativas comunitárias (CBOs), organizações religiosas, sindicatos, etc. Cabe ao governo desenvolver uma estratégia de redução da pobreza juntamente com os representantes de todos esses grupos interessados. A intenção do PRS é atender aos interesses das pessoas que vivem na pobreza. Daí a necessidade de que este grupo alvo participe do desenvolvimento e implementação da estratégia para torná-la eficaz.

Como o Banco Mundial e o FMI operam? Quase todos os países do mundo são membros dessas duas instituições financeiras internacionais (IFI), cujo objetivo é regular o sistema econômico global e prestar ajuda a quase todos os países em desenvolvimento. O Banco Mundial, em particular, apóia países de baixa renda mediante prestação de suporte técnico e financeiro. Como parte do processo PRSP, essas instituições orientam os países clientes, decidem sobre emprestar dinheiro ou não, e concedem alívio da dívida. O Banco Mundial publicou um “Livro de Consulta sobre Estratégias de Redução da Pobreza”, que dá orientação para qualquer tipo de processo PRS.

Organizações internacionaisAs organizações (doadoras) internacionais têm diferentes funções no processo PRS: basicamente, dão assistência técnica tanto ao governo como à sociedade civil. Dão também suporte financeiro em todas as etapas do processo e, em alguns casos, enviam técnicos para assessorar as instituições nacionais de PRS. Em muitos países, as diferentes organizações doadoras formam grupos que se reúnem periodicamente (por ex., uma vez por mês) para discutir o andamento do PRSP.

Como está organizada a cooperação entre os grupos interessados?O governo nacional dirige o processo. Cabe a ele organizar eventos, tais como conferências, seminários, oficinas, que contam com a participação dos representantes da sociedade civil, cujo objetivo é dar oportunidade de realizar discussões abertas e intercambiar informações. Cada vez mais países têm criado instituições específicas para o PRS, por exemplo, comitês técnicos ou grupos de trabalho, para proporcionar uma estrutura sustentável para o desenvolvimento do processo PRS. Muitas vezes, essas instituições são compostas por uma mistura de diferentes grupos interessados. Em alguns países, as organizações

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da sociedade civil (OSCs) realizam os seus próprios processos consultivos e participativos, estabelecendo redes, fazendo trabalho de conscientização e tentando convencer os responsáveis pelas decisões.

Mais informaçõesCapítulo 5, sub-seção 2.4, dá maiores detalhes sobre os grupos interessados e suas análises.

1.3 Qual o objetivo do PRS?De acordo com o Banco Mundial e o FMI, documentos PRSP deve ser o seguinte: 1. Explicar o processo participativo que conduz à formulação do PRSP 2. Descrever o perfil da pobreza do país 3. Estabelecer metas e prioridades dentro das ações políticas propostas 4. Estipular um plano de monitoramento e avaliação Teoricamente, o documento PRSP descreve o perfil da pobreza do país com base numa análise da pobreza. Os objetivos, metas e indicadores são baseados neste perfil e definem os critérios para medir os resultados alcançados (por exemplo: “Nos próximos cinco anos, o número de pessoas que vivem na pobreza se reduzirá em 30 %”). A priorização e o planejamento das ações são feitos correspondentemente. Muitas vezes, o plano de ação acaba sendo a parte mais difícil de todas, visto que quase todos os países têm que enfrentar vários desafios ao mesmo tempo, e a participação e a coordenação de todos os grupos interessados requer, de fato, uma abordagem altamente profissional e uma organização eficiente. O documento PRSP inclui também um plano de monitoramento e da implementação dos projetos e programas. O novo entendimento da pobreza enfatiza a sua multidimensionalidade. Como um PRSP diz respeito a um amplo espectro de áreas, acaba por incluir praticamente todos os setores da sociedade. As medidas e ações propostas abordam várias questões diferentes, por exemplo, macroeconomia, comércio, indústrias privadas, infra-estrutura, agricultura, governança, educação, saúde, proteção social, gêneros, proteção ambiental, desenvolvimento rural, etc. Como conseqüência, os documentos PRSP são bastante extensos, com aproximadamente 200 páginas em média.

Mais informaçõesO capítulo 5, sub-seção 1.3, descreve o conteúdo dos PRSPs.

1.4 Como funciona o processo PRS?Um processo PRS consiste em três fases principais: formulação, implementação e monitoramento / avaliação. PRSP é um processo contínuo de aprendizagem, o que significa que todos as partes envolvidas devem refletir criticamente sobre o seu trabalho e se esforçar por melhorá-lo em todos os estágios.

Relatório de Progresso

FormulaçãoA análise da pobreza é o ponto de partida do processo PRS, e visa contribuir para a compreensão das causas específicas e as conseqüências da pobreza no país em questão. A análise reúne dados quantitativos (por ex., o número de pessoas que vivem na pobreza) e qualitativos (por ex., os sentimentos e pontos de vista pessoais dos afetados). A análise da pobreza aponta os problemas prioritários e forma a base para a formulação da estratégia PRSP. A análise envolve diversas etapas, durante as quais os diferentes grupos interessados discutem as várias versões do documento PRSP, até chegar a um consenso. No processo de formulação do PRSP, é essencial que o governo organize eventos participativos que permitam o intercâmbio entre as partes interessadas. Habitualmente, isto leva muito tempo. Elaborar um PRSP completo requer 24 meses em média. Diante disso, a maioria dos países formula um PRSP interino (I-PRSP) antes da versão completa, a fim de obter acesso ao alívio de dívidas e aos créditos o mais cedo possível. Contudo, um I-PRSP tem a desvantagem de uma participação geralmente baixa da sociedade civil. O governo envia, então, o PRSP finalizado ao World Bank e ao FMI para avaliação e aprovação da estratégia.

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ImplementaçãoUma vez autorizadas as atividades propostas, tem início a fase de implementação. Um PRSP abrangente incluirá, desde já, as diferentes responsabilidades e um orçamento para a implementação das atividades. Pressupõe-se que o governo alinhe seu orçamento anual de acordo com o PRSP, e espera-se que os ministérios planejem e facilitem as ações necessárias. Em alguns países, as CSOs e os grupos interessados internacionais também se envolvem fortemente na fase de implementação, que dura de três a cinco anos.

Monitorização e avaliaçãoO processo de monitoramento e avaliação tem início paralelamente com a implementação. Este processo permite acompanhar as ações e medidas iniciadas e dá uma indicação da sua eficiência em termos de redução da pobreza. O governo tem que apresentar relatórios periódicos sobre o avanço do projeto ao Banco Mundial e ao FMI (aproximadamente uma vez por ano). No último ano da fase de implementação, todas as partes interessadas fazem uma avaliação conjunta de toda a estratégia, a fim de rever o documento PRSP, quando necessário. O novo PRSP se baseia nesta revisão e, de fato, reinicia o processo. A experiência mostra que a revisão do PRSP envolve muito trabalho, pois normalmente inicia-se durante a fase de implementação e monitoramento do PRSP original. A revisão em si leva aproximadamente de um a dois anos.

Mais informaçõesOs capítulos 3 e 5, sub-seção 1.3, explicam a estrutura do processo PRSP mais detalhadamente.

1.5 Quem financia o PRSP?A maior parte das verbas destinadas à execução do PRSP vem do orçamento nacional do próprio país. No entanto, um número crescente de instituições doadoras internacionais também apóia o conceito PRSP mediante dotações diretas, que se somam ao orçamento governamental, ao invés de meramente dar dinheiro para projetos e programas, como acontecia no passado. A discussão de questões financeiras e a alocação de verbas dentro do orçamento nacional também exigem uma abordagem participativa, com a contribuição da sociedade civil, embora se trate de um assunto muito complexo e desafiador para os não versados <st1:PersonName productid="em economia. Em" w:st="on">em economia. Em</st1:PersonName> anos recentes tem havido muitos esforços no sentido de tornar o processo mais transparente à opinião pública, por exemplo, por meio de auditorias orçamentárias e de mais discussões. No entanto, este aspecto carece de aprimoramento.

1.6 Qual a importância da inclusão da deficiência no PRSP?A deficiência é causa e conseqüência da pobreza. Pessoas pobres apresentam maior probabilidade de ter deficiências, e pessoas deficientes apresentam maior probabilidade de ser pobres. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 7-10% da população mundial vivem com algum tipo de deficiência. Vários aspectos da pobreza afetam as pessoas com deficiências. Em geral, elas têm poucos recursos financeiros, mas também não têm poder político e enfrentam discriminações em todos os níveis da sociedade. Daí a abordagem PRS definir a pobreza não só como falta de meios financeiros e materiais, mas também como falta de liberdade social, de justiça e de igualdade de oportunidades.

O processo PRS diz respeito a todos os setores da sociedade, e todos eles, sem exceção, também são relevantes para pessoas com deficiência. Há estudos que mostram que a participação das OPDs leva a um enfoque bem diferente dos problemas de deficiência dentro do PRSP. Sem as OPDs, por exemplo, a maioria das atividades propostas para as pessoas com deficiências segue um conceito assistencialista, ao passo que, com a participação das OPDs, o foco muda claramente para a educação, treinamento e emprego. Donde a necessidade da participação ativa de pessoas com deficiências e de OPDs em todos os estágios do PRS, em razão dos seus conhecimentos específicos dos problemas da pobreza.

Inicialmente, só poucos PRSPs levavam em consideração as pessoas com deficiências; hoje em dia, o número é crescente. Contudo, a qualidade e a quantidade de atividades propostas ainda varia extremamente, pelas três razões a seguir. Primeiro, durante muito tempo o próprio Banco Mundial não levou em consideração as pessoas com deficiências e as suas necessidades. O principal documento do Banco Mundial, o “Livro de Consulta sobre Estratégias de Redução da Pobreza”, carece de um enfoque abrangente que trate adequadamente da questão. Segundo, no passado as pessoas com deficiências e suas organizações raramente participavam do processo PRS. Terceiro, poucos estudos foram realizados sobre a situação de pessoas com deficiências, o que significa que há importantes problemas que são compreendidos apenas parcialmente. E como as análises da pobreza já realizadas raramente incluem pessoas com deficiências, as ações pospostas raramente atacam os problemas reais.

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Mais informaçõesO capítulo 5, seção 4, discute a situação do processo PRS sob o aspecto da deficiência.

O capítulo 6 traz algumas definições básicas e uma explicação das abordagens setoriais da deficiência

1.7 Como uma OPD pode participar do PRS?Como todas as OSCs, as OPDs têm o direito de participar no processo nacional do PRS. O contexto e o enfoque variam muito de um país para outro, o mesmo acontecendo com os estágios alcançados e o estado de andamento do PRS nacional. Em geral, porém, todos os estágios do processo oferecem pontos de entrada para a sociedade civil, sendo os mais importantes deles:

1. Formulação: Muitas vezes, uma Análise Participativa da Pobreza (APP) faz parte da etapa de formulação, permitindo às OPDs contribuir com as suas opiniões e experiências com a pobreza. Uma vez iniciado o processo de formulação, as OPDs podem revisar as versões preliminares de PRSP, comentá-las, propor novas questões importantes, contatar as pessoas encarregadas da redação do PRSP, participar de oficinas e conferências sobre PRSP, etc.

2. Implementação: Durante a implementação da estratégia PRS, a contribuição das OPDs inclui assessoria, sensibilização, execução do projeto, etc.

3. Monitoramento e avaliação: Às vezes, as instituições e estruturas responsáveis oferecem à sociedade civil e às OPDs a oportunidade de participar, observar e avaliar a qualidade e a quantidade de atividades.

O processo PRS é baseado numa perspectiva de longo prazo: depois de entrar, por algum ponto, as OPDs precisam ter paciência e firmeza para participar regular e continuamente. Intervenções isoladas podem ter algum efeito de curto prazo, mas nunca resultarão em mudanças duradouras. Uma abordagem de longo prazo, porém, exige um mínimo de capacidade de parte da OPD envolvida. Realizar uma auto-avaliação organizacional pode ser um bom começo para traçar um quadro realista da capacidade de uma determinada organização. A auto-avaliação dá a base para qualquer planejamento futuro por parte da OPD, e oferece a oportunidade de identificar e superar dificuldades existentes, contribuindo assim para a unidade do movimento nacional da deficiência. O PRS é uma estratégia que abarca todo o país e envolve múltiplas partes interessadas; daí a importância do trabalho em rede e das alianças como meios de fortalecimento. A estreita cooperação com outras organizações é indispensável para criar união e dar peso às questões essenciais. Além disso, o uso sistemático de técnicas e ferramentas de defesa de interesses e lobby é essencial para encontrar a abordagem certa, que dê os melhores resultados em cada país.

Mais informaçõesO capítulo 3 descreve os pontos de entrada com mais detalhes

O capítulo 6, seção 5, explica as abordagens setoriais de PRSP e deficiência

O capítulo 7 mostra diferentes abordagens de Gestão de Projetos e Processos

O capítulo 8 apresenta técnicas fundamentais de defesa de interesses e lobby

[

2 Como iniciar um processo de PRS e deficiênciaEste capítulo oferece uma abordagem sistemática, explicando como as OPDs e as organizações que trabalham com pessoas com deficiências podem se envolver no processo PRS nacional. Projetos realizados na Tanzânia, Camboja e Vietnã dão exemplos de como adotar e aplicar esta abordagem ao contexto nacional. Embora tenham seguido os quatro passos básicos propostos, todos os projetos descritos variam em termos das atividades adotadas e dos resultados, porque a abordagem permite adaptações específicas para cada país. Enquanto no Camboja foi essencial melhorar o trabalho em rede em nível nacional, por exemplo, no Vietnã considerou-se mais importante focar nas atividades a nível provincial.

Conteúdo do capítulo 2:● 2.1 Passos e elementos importantes

�❍ 2.1.1 Etapa 1: Fase de orientação

�❍ 2.1.2 Etapa 2: Reunião dos possíveis aliados

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�❍ 2.1.3 Etapa 3: Identificação de possíveis pontos de entrada

�❍ 2.1.4 Etapa 4: Desenvolvimento e implementação de uma estratégia conjunta

● 2.2 Experiências colhidas em três países �❍ 2.2.1 Tanzânia: 2005

�❍ 2.2.2 Camboja 2006-2007

�❍ 2.2.3 Vietname: 2006-2007

2.1 Passos e elementos importantesHá vários métodos e abordagens para as OPDs participarem de um processo PRS nacional. O escopo abrange desde uma intervenção isolada num evento específico até a participação contínua de longo prazo, dependendo de muitos factores diferentes, tais como o nível geral de motivação, as capacidades existentes, os recursos disponíveis e o sistema de comunicação e informação das organizações envolvidas. Depende também de certos factores externos, tais como o sistema político e o grau e a qualidade da democratização no país em questão. Independentemente dessas diferenças, quatro etapas básicas precisam ser seguidas para iniciar com sucesso um processo de PRS e deficiência.

● Etapa 1: Fase de orientação● Etapa 2: Reunião dos possíveis aliados● Etapa 3: Identificação de possíveis pontos de entrada● Etapa 4: Desenvolvimento e implementação de uma estratégia conjunta

Quatro etapas básicas para iniciar um processo de PRS e deficiência

Na realidade, essas fases se sobrepõem: a coleta de dados e informações para a fase de orientação é, na realidade, um processo contínuo; reuniões, oficinas e seminários são sempre o mecanismo mais importante de intercâmbio e coordenação ao longo do processo; a estratégia definida precisa ser reajustada de tempos em tempos. Os quatro passos servem como pontos de referência a ser incluídos em algum estágio ao se iniciar a participação de OPDs no processo PRS nacional.

Mais informaçõesProposta para dar início à participação das OPDs em um processo PRS nacional

2.1.1 Etapa 1: Fase de orientaçãoNormalmente existem informações prévias, de caráter geral ou mesmo específico, sobre deficiência e as partes interessadas em PRS. No entanto, uma boa análise dos grupos interessados traz novos aspectos interessantes, mesmo para especialistas experientes na área, quando realizada com várias partes interessadas diferentes. Uma análise sobre os grupos interessados pressupõe uma pesquisa sistemática das organizações e instituições que trabalham na área em questão. A análise proporciona informações, entre outras, acerca das estruturas, actividades e capacidades das organizações. Por exemplo, a análise dos grupos nacionais interessados em PRS dá um panorama do estágio alcançado no processo PRS nacional e traz detalhes sobre os grupos interessados envolvidos e suas inter-relações. Geralmente inclui o órgão governamental responsável e os principais grupos interessados da sociedade civil. Com base nessas informações, as OPDs pode identificar mais facilmente os possíveis pontos de entrada, bem como os possíveis aliados para uma futura cooperação nas etapas 2 e 3. Os grupos interessados em deficiência podem ser analisados em dois níveis: o nível externo e o nível interno. A análise externa é feita sempre por um especialista que já trabalhe activamente com os grupos interessados em questão. A análise visa a avaliar a totalidade do sistema de grupos interessados no campo da deficiência e/ou PRS. O grau de participação e envolvimento activo de cada grupo interessado nesta avaliação pode variar consideravelmente. A análise proporciona informações sobre possíveis aliados e parceiros, e explica as relações entre essas partes interessadas. Indo mais a fundo, facilita a escolha de organizações parceiras e

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dá elementos valiosos para qualquer OPD em busca de uma posição adequada dentro do sistema. A análise interna normalmente requer uma auto-avaliação organizacional. Ela permite à OPD avaliar melhor as suas próprias capacidades e potenciais. A auto-avaliação visa a fortalecer a organização em questão através da análise dos seus pontos fortes e fracos e ao identificar as oportunidades e limites relacionhados com o meio social em que opera. Os resultados permitem traçar um quadro realista das capacidades existentes e ajudam também a organização a aprender e a adaptar-se mais facilmente às mudanças do meio. Ao mesmo tempo, a avaliação facilita o planejamento e a implementação de qualquer projeto ou atividade. A auto-avaliação organizacional mostra também o potencial existente de qualquer OPD para participar ou contribuir para o desenvolvimento de um movimento nacional da deficiência.

Mais informaçõesO capítulo 7, seção 1, dá maiores detalhes sobre a análise dos grupos interessados e sobre a auto-avaliação organizacional

2.1.2 Etapa 2: Reunião dos possíveis aliadosNa segunda etapa, faz-se um processo abrangente de compartilhamento de conhecimentos entre os vários grupos interessados. O encontro permite que os grupos se conheçam, e disponibiliza informações e torna-as transparentes. Na Tanzânia, as OPDs organizaram uma oficina especialmente para este fim. No Vietname, diferentes grupos interessados organizaram uma oficina com um dia de duração para trocar experiências no campo da deficiência. Usaram o Diagrama de Venn para analisar as influências e inter-relações entre as diferentes organizações e instituições e discutiram possíveis estratégias para o futuro. Outras possibilidades incluem conferências, seminários, reuniões e chamadas telefônicas. Normalmente, nesta primeira troca de informação sobre questões relativas ao PRS nacional e deficiência faz-se também uma primeira coleta de idéias sobre possíveis soluções. Mas mais importante ainda, durante esse primeiro encontro, é estabelecer um acordo quanto a um mecanismo de coordenação com vista às atividades futuras. Tal acordo dependerá das condições locais, das capacidades e dos recursos disponíveis.

Mais informaçõesO capítulo 8, seção 2.2: Convencimento e Comunicação Estratégica

2.1.3 Etapa 3: Identificação de possíveis pontos de entradaA primeira troca de conhecimentos normalmente esclarece muitas dúvidas, e levanta outras. Daí que será necessário coletar outras informações e também atualizar alguns dados, a fim de identificar os pontos de entrada mais apropriados para dentro do processo PRS nacional. As condições variam consideravelmente de país para país, e todo grupo preocupado com a inclusão da deficiência no PRS nacional descobrirá diferentes pontos de entrada e ocasiões para participar. Exemplos de possíveis pontos de entrada são os eventos e reuniões organizados pelo governo a fim de consultar a sociedade civil ou para estabelecer o sistema de monitoramento e avaliação, etc.

Mais informaçõesO capítulo 3 dá maiores detalhes sobre possíveis pontos de entrada

2.1.4 Etapa 4: Desenvolvimento e implementação de uma estratégia conjuntaUma vez identificados os pontos de entrada e as ocasiões de participação no PRS nacional, as organizações interessadas têm que desenvolver uma estratégia conjunta sobre as questões, problemas e teses importantes, e ajustar os diferentes papéis e responsabilidades associados a essa estratégia. Uma questão importante da estratégia diz respeito a como se organizar para

● exercer influência sobre os tomadores de decisões no PRS,

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● participar activamente do processo, ● ganhar mais aliados, ● preparar determinadas análises, ● dar orientação especializada, ● desenvolver capacidades e ● pôr em prática projectos.

Todo seguimento requer uma estrutura específica, tal como uma rede, um fórum, um mecanismo de marcar encontros regulares ou uma maneira de trocar mensagens, por exemplo, uma lista de distribuição de e-mails. A estratégia definida também precisará ser reajustada de tempos em tempos.

Mais informaçõesO capítulo 7 dá maiores detalhes sobre redes, alianças e planejamento estratégico

2.2 Experiências colhidas em três paísesProjetos realizados na Tanzânia, Camboja e Vietnã são exemplos de como adotar e aplicar esta abordagem ao contexto nacional. Embora tenham seguido os quatro passos básicos propostos, todos os projetos descritos variam em termos das atividades adotadas e dos resultados, porque a abordagem permite adaptações específicas para cada país. Enquanto no Camboja foi essencial melhorar o trabalho em rede em nível nacional, por exemplo, no Vietnã considerou-se mais importante focar nas atividades a nível provincial.

2.2.1 Tanzânia: 2005

AntecedentesEm 2005 a Tanzânia publicou o seu segundo PRSP. Graças à participação contínua das OPDs durante o processo de revisão e formulação, o documento contém várias passagens com aspectos e elementos da deficiência. Embora isto represente um grande sucesso, as OPDs encontraram vários pontos fracos no documento: ele não considera todos os aspectos, e os estágios de implementação e monitoramento ainda são vagos. Por esta razão, a Christoffel Blindenmission iniciou um projeto, com sede na central da CCBRT em Dar es Salaam, para promover a inclusão de pessoas com deficiências no processo PRS em curso.

Etapa 1: OrientaçãoEm primeiro lugar, o coordenador do projeto fez um levantamento dos grupos interessados relevantes da Tanzânia, seguido de uma do PRSP e do processo PRS sob o aspecto da sua relevância para a deficiência.

Etapa 2: Reunião da fase dos aliados potenciaisEm segundo lugar, o coordenador organizou duas reuniões de representantes de quatro OPDs importantes. Nessas reuniões, os participantes discutiram a realização de uma oficina para desenvolver uma estratégia de inclusão da deficiência no processo PRS. Finalmente, diversos aliados potenciais participaram da oficina, incluindo mais de 60 pessoas ligadas a OPDs, a organizações que trabalham com pessoas com deficiências, a órgãos governamentais, a organizações das Nações Unidas (ONU) e a ONGs internacionais.

Etapa 3: Identificação de possíveis pontos de entradaComo já faziam parte do processo PRS tanzaniano, os participantes confirmaram que viam a fase de implementação como o ponto de entrada mais relevante para a sua futura contribuição.

Etapa 4: Implementação da fase de estratégiaSubseqüentemente à oficina, muitas organizações assumiram responsabilidade por certos pontos de ação do PRSP e introduziram projetos que se encontram em fase de execução. Uma Rede de Deficiência PRSP recém-fundada observa e coordena essas atividades. Entre os membros ou assessores desta rede estão representantes de OPDs, organizações que trabalham com pessoas com deficiências, órgãos governamentais, organizações da ONU e ONGs. Etapas básicas do projeto na Tanzânia

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2.2.2 Camboja 2006-2007 Antecedentes Em 2006 a Handicap International e os seus parceiros cambojanos estabeleceram um projeto de PRS e deficiência, financiado pelo governo alemão, através do projecto da GTZ para a disseminação dos esforços de redução da pobreza.

Etapa 1: OrientaçãoNa etapa 1 – a fase de orientação — o coordenador do projeto fez um levantamento dos grupos interessados do setor de deficiência e realizou várias reuniões com eles para avaliar os seus conhecimentos e o seu grau de envolvimento anterior com o processo PRS. Também contatou os grupos interessados no PRS e examinou os documentos do PRS. Esta primeira etapa mostrou que os grupos de deficiência ainda não tinham conhecimentos sobre o processo PRS, assim como os grupos ligados ao PRS não estavam levando em consideração as pessoas com deficiência.

Etapa 2: Reunião dos possíveis aliados

Na segunda etapa, cinco organizações cambojanas ligadas à questão da deficiência formaram um “Comitê da Inclusão no PRS”, ao qual foram confiadas todas as atividades do projeto. Uma das primeiras atividades foi a organização de uma oficina sobre PRS e deficiência em janeiro de 2007. A oficina reuniu diferentes grupos interessados em PRS e do setor de deficiência. Um resultado particularmente frutífero desta oficina foi o estabelecimento de contato entre a ONG Forum — uma entidade da sociedade civil responsável pelo monitoramento do PRS – e os grupos interessados em deficiência. Nos meses que se seguiram, a ONG Forum apoiou os grupos interessados em deficiência a envolver-se com o sistema de monitoramento do PRS.

Etapa 3: Identificação de possíveis pontos de entrada

Paralelamente ao estabelecimento do comitê e a organização da oficina e outras reuniões, o coordenador do projeto continuou com uma análise aprofundada, a qual foi concluída e publicada em abril de 2007. Com base nisso, o Comitê de Inclusão no PRS adotou uma dupla estratégia, a saber: estratégia - A nível nacional, o Comitê de Inclusão no PRS tomou a decisão de se envolver no processo de monitoramento; - A nível local, diferentes organizações que trabalham com deficiência implantaram microprojetos.

Estapa 4: Estratégia conjuntaO Comitê de Inclusão no PRS preparou uma relação de indicadores para avaliar a inclusão da deficiência no PRS. Também foram concedidas pequenas verbas para implantar pequenos projetos a nível local. Etapas básicas do projeto no Camboja

Mais informaçõesEstudo do caso Tanzânia

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AntecedentesNo Vietname a GTZ implantou um projeto de PRS e deficiência em 2006-2007, financiado pelo governo alemão em cooperação com o Serviço Alemão de Desenvolvimento (DED) e a Handicap International.

Combinação das etapas 1 + 2: Orientação com aliados potenciaisA análise na fase de orientação inicial foi realizada na capital, Hanói. Uma oficina com representantes de organizações de deficiência e instituições governamentais ofereceu a oportunidade de analisar o papel dos diferentes grupos interessados. Os participantes da oficina chegaram à conclusão de que existe um movimento dinâmico a favor de pessoas com deficiência em Hanói e em outras grandes cidades vietnamitas, mas que falta estrutura a nível provincial para exercer influência sobre as políticas PRS.

Etapa 3: Identificação de possíveis pontos de entradaOs coordenadores do projeto decidiram então escolher uma província piloto e apoiar grupos de auto-assistência, com o objetivo de exercer influência do PRS provincial a longo prazo. Depois de realizar uma análise na província e organizar uma oficina de planejamento com os grupos interessados relevantes (representantes de grupos de auto-assistência, organizações governamentais para pessoas com deficiência, etc.), adotou-se uma estratégia com foco na capacitação dos grupos de auto-assistência, como pré-condição para a identificação de possíveis pontos de entrada e para o envolvimento ativo dos grupos de auto-assistência locais. Criou-se um grupo central representando os líderes dos grupos de auto-assistência e de outros setores interessados em deficiência.

Estapa 4: Estratégia conjuntaNa fase de implantação, os grupos de auto-assistência participaram de diversos cursos de treinamento e da criação de um acesso local à internet, melhorando assim a sua capacidade de trabalhar em rede de maneira eficiente.

Mais informaçõesEstudo do caso Camboja

2.2.3 Vietname: 2006-2007

Etapas básicas do projeto no Vietname

Mais informaçõesEstudo do caso Vietname

3 Pontos de entrada da sociedade civil no processo PRS

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Um dos princípios essenciais da abordagem PRS é a participação da sociedade civil (vide capítulo 5). Na realidade, porém, os grupos interessados da sociedade civil muitas vezes não são incluídos em todas as fases do processo PRS, não porque os governos não queiram incluí-los, mas por não saber como realizar a inclusão. As OSCs precisam reivindicar o seu direito de participar e desenvolver atividades que demonstrando que são capazes de participar. As sub-seções a seguir propõem algumas idéias e ferramentas para a participação nos três principais estágios do PRS: formulação, implementação e monitoramento e avaliação. No entanto, como o contexto e a situação variam consideravelmente de país para país, os pontos de entrada (por ex., oportunidades de participação) no processo PRS têm que ser identificados individualmente para cada país. A experiência mostra que a formação de redes e alianças desempenha um papel importante para as OPDs, como também o uso sistemático de técnicas de defesa de interesses e lobby em todos os estágios (vide capítulos 7 e 8).

Pontos de entrada no processo PRS para a sociedade civil

Conteúdo do capítulo 3:● 3.1 Formulação

�❍ 3.1.1 Análise da pobreza

�❍ 3.1.2 Processo de redação

● 3.2 Implementação �❍ 3.2.1 Pontos de entrada propiciados por projetos específicos

�❍ 3.2.2 Pontos de entrada propiciados pelos orçamentos

�❍ 3.2.3 Instrumentos paralelos

● 3.3 Monitoramento e avaliação �❍ 3.3.1 Relatório de Progresso

�❍ 3.3.2 Processo de revisão

3.1 FormulaçãoO processo que conduz à formulação de um PRSP consiste em várias etapas. A análise da pobreza é o ponto de partida do processo PRS, e visa contribuir para a compreensão das causas específicas e as conseqüências da pobreza no país em questão. A análise reúne dados quantitativos (por ex., o número de pessoas que vivem na pobreza) e qualitativos (por ex., os sentimentos e pontos de vista pessoais dos afetados). A análise da pobreza aponta os problemas prioritários e forma a base para a formulação da estratégia PRSP. Isso envolve diversas etapas, durante as quais os diferentes grupos interessados discutem as várias versões do documento PRSP, até chegar a um consenso. No processo de formulação do PRSP, é essencial que o governo organize eventos participativos que permitam o intercâmbio entre as partes interessadas. O nível de participação pode varia, indo desde a informação, passando pela consulta até a tomada de decisões conjuntas. A abordagem e a metodologia deste processo são altamente específicas para cada país; não há modelos padrão nem soluções miraculosas. Habitualmente, isto leva muito tempo. Estabelecer um PRSP completo leva em média 24 meses.

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3.1.1 Análise da pobrezaA finalidade da análise da pobreza é estabelecer a base para a formulação do documento PRSP e para a implementação dos programas. E essa análise, quando bem-feita, fornece informações decisivas sobre as causas da pobreza e sobre o que é necessário fazer para lidar com as falhas identificadas. Uma vez concluída a análise da pobreza, as OPDs devem fazer com que os resultados produzam efeito na formulação do PRSP e que, num estágio posterior, se estabeleça um vínculo com os programas identificados no PRSP. A análise da pobreza é essencial para estabelecer prioridades e influir nas políticas. No entanto, até agora as análises da pobreza muitas vezes não levam em consideração as pessoas com deficiências e outros grupos marginalizados. Uma razão é a falta de conhecimentos e de dados confiáveis. Como o PRSP também oferece a oportunidade de requisitar dados, entre as possíveis contribuições de uma OPD, neste estágio, estão: tratar de melhorar a qualidade e o tipo das informações existentes, realizando levantamentos e estudos de pequena escala com dados quantitativos e qualitativos sobre problemas específicos. A coleta de dados qualitativos, além de necessária para a compreensão das causas subjacentes aos números, possibilita uma análise mais abrangente. Enquanto uma análise bem elaborada da pobreza fornece a base para tomadas de decisões mais objetivas, os dados inconfiáveis têm um elevado risco de distorção da realidade. Por isso, as ONGs, OPDs e todas as partes interessadas devem conferir e questionar todos os dados levantados. É a abrangência da definição de deficiência que servirá de base para avaliar a confiabilidade e a comparabilidade dos dados. Todas as partes interessadas devem, portanto, refletir sobre uma definição conjunta e sobre métodos confiáveis de coletar dados (vide capítulo 8, Defesa de Interesses e Lobby).

Exemplo: Honduras No documento do PRSP hondurenho ficou reconhecida a falta de dados confiáveis sobre pessoas com deficiência e foi redigida a sugestão de integrar na pesquisa nacional por amostra de domicílio, realizada pelo Instituto Nacional de Estatísticas, “um módulo destinado a identificar, entre outras coisas, a distribuição geográfica e as características socio-econômicas e demográficas da população com deficiências”. (Gov. of Honduras, 2001, p. 89). Com base nesta menção no PRSP, a Handicap International pôde cobrar do Instituto Nacional de Estatísticas a inclusão de uma seção sobre deficiência no levantamento e a elaboração de uma metodologia para a coleta de dados em colaboração com as OPDs hondurenhas.

Análise Participativa da Pobreza (APP)Um método especial, denominado Análise Participativa da Pobreza (APP), foi desenvolvido nos anos 90 e usado inicialmente sobretudo em áreas rurais. A definição de pobreza na APP inclui uma dimensão monetária (renda e consumo), mas também leva em consideração a vulnerabilidade, o isolamento físico e social, a insegurança, a falta de auto-respeito, a falta de acesso a informações e a falta de poder. A vantagem de uma APP é que leva menos tempo para ser concluída e custa menos do que uma pesquisa convencional por amostra de domicílio. A metodologia usada envolve contatos diretos com pessoas que vivem na pobreza, por serem consideradas quem melhor conhece o que significa a pobreza na prática. Os entrevistadores discutem com elas sobre a sua situação, usando métodos que são ajustados de acordo com o objetivo específico da pesquisa. Diferentemente de uma análise tradicional, a APP não usa métodos padronizados, tais como questionários pré-formulados; em vez disso, a metodologia é feita sob medida para a situação pesquisada. Um objetivo adicional é capacitar as pessoas envolvidas a exercer maior controle sobre todo o processo de pesquisa.

Exemplo: APP com foco em deficiência na Tanzânia Na Tanzânia, as OPDs foram envolvidas na Análise Participativa da Pobreza. Duas delas, o Centro de Informações sobre Deficiência (ICD) e Shivyawata (uma organização que abriga seis OPDs) receberam verbas para realizar uma análise da pobreza. O ICD contatou e entrevistou 80 pessoas com deficiências em diferentes situações socio-econômicas em quatro regiões da Tanzânia, enquanto a Shivyawat realizou uma análise mais ampla sobre a situação da pobreza em 21 regiões. Os resultados desse levantamento provaram que as pessoas com deficiências estão entre os mais pobres entre os pobres, e que as causas da pobreza não são unidimensionais, mas multidimensionais.

Mais informaçõesNorton, Andy (2001): A Rough Guide to PPAs – Participatory Poverty Assessment: An Introduction to Theory and Practice. Robb, Caroline M. (2000): How the Poor Can Have a Voice in Government Policy.(IMF publications) The World Bank Poverty Net with Voices of the Poor

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Government of Honduras (2002): Poverty Reduction Strategy Paper 2001-2015. Tegucigalpa. Info Sheet: PPA. Mas sobre a análise participativa da pobreza. Este documento em PDF apresenta informações adicionais sobre métodos participativos de análise.

3.1.2 Processo de redaçãoMuitos países realizam uma análise participativa da pobreza (PPA) antes de começar a formular o seu PRSP. Os dados colhidos na PPA servem de base para o planejamento (leia mais sobre APP aqui). A fase deformulação é normalmente o estágio mais participativo do PRS. Nesta fase, o governo organiza oficinas e reuniões consultativas para conhecer a opinião dos agentes da sociedade civil. Em alguns países, essas reuniões são organizadas apenas na capital e outras cidades importantes, mas há também governos que procuram estender a participação para todo o interior. As organizações da sociedade civil podem ter relativa facilidade para participar do processo nesse estágio, mas também pode acontecer de precisarem lutar para se fazerem ouvir, quando muitos outros grupos levantam as suas vozes juntos.

Exemplo: O processo de formulação na TanzâniaO PRSP tanzaniano, por exemplo, foi formulado em três estágios: 1º estágio Amplos contatos, formação de rede e coleta de informações (por exemplo, compilação dos resultados da PPA) foram realizados em nível de iniciativa de cidadãos. Resultado: uma versão inicial do PRSP. 2º estágio Os resultados desse nível de iniciativa de cidadãos foram analisados por indivíduos e organizações, que revisaram a versão inicial e encaminharam suas recomendações aos redatores. Resultado: a primeira versão.

3º estágio Consultas com organizações e entidades selecionadas ocorreram num evento de uma semana de duração. As apresentações seguiram a estrutura dos três conjuntos integrados de projetos propostos na primeira versão. Os participantes fizeram comentários concretos e realizaram apresentações sobre problemas específicos.

Este exemplo mostra como o documento PRSP foi redigido e revisado várias vezes, dando às OSCs ampla oportunidade de comentar o documento. Em outros exemplos, grupos interessados em deficiência no Bangladesh, Honduras e Serra Leoa produziram documentos de posicionamento sobre os seus respectivos PRSPs (vide capítulo 4).

As OPDs e outras organizações que trabalham na área da deficiência devem tentar coletar informações sobre o estado de progresso do seu processo PRS nacional e desenvolver uma estratégia conjunta para todas as questões importantes. Muito trabalho em rede é eminentemente importante neste ponto (vide capítulo 7). Decididamente, desenvolver uma estratégia conjunta em relação à deficiência exige muito tempo. A união é importante ao se tentar influenciar os donos das decisões, pois falar com uma só voz dá mais força do que muitas vozes individuais descoordenadas. Instrumentos de defesa de interesses e lobby, como, por exemplo, campanhas de conscientização (vide capítulo 8) podem influenciar os donos das decisões; parcerias com a mídia, ONG(I)s e funcionários do governo podem melhorar as capacidades. Pode ser útil, por exemplo, formular um “Plano de Ação” para a inclusão da deficiência e buscar a participação de diferentes grupos interessados, por exemplo, empregadores, a fim de analisar as oportunidades de trabalho. É importante que todos os grupos interessados no PRStentem incluir uma dimensão de deficiência nos seus setores, pois os programas seletivos não tratam todo o círculo vicioso da deficiênca-exclusão-pobreza (vide capítulo 6.4.1). Para maior abrangência e coerência, o plano de ação deve focar o setor, não um grupo alvo. As pessoas com deficiências não são um grupo homogêneo, e suas possibilidades vão desde autonomia total até autonomia zero, pelo que a formulação de políticas tem que ter presente esses graus e oferecer uma gama de oportunidades correspondentes.

Mais informaçõesLista de verificação: Processo de Formulação

3.2 ImplementaçãoA fase de implementação do PRS oferece diferentes pontos de entradas para a sociedade civil. Tanto pode ser

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a implementação e a participação em projetos específicos, como o envolvimento no processo orçamentário ou ainda outras formas de contribuição.

3.2.1 Pontos de entrada propiciados por projetos específicosO PRS é considerado uma estratégia nacional. Portanto, cabe principalmente ao governo do país em questão orçamentar e implementar as atividades e ações definidas no PRSP o mais cedo possível. As instituições doadoras internacionais normalmente contribuem com recursos adicionais ao orçamento nacional. As ONG(I)s devem verificar qual a melhor forma de coordenar suas atividades com a estratégia do PRS nacional. É de supor que, a esta altura, as diferentes partes interessadas já tenham negociado os diferentes papéis e responsabilidades pelas diferentes atividades e ações definidas no PRS durante o processo de formulação. Também já devem ter sido identificadas as OSCs especialidades para a implementação de pontos de ação específicos. Alguns documentos PRSP incluem adicionalmente uma matriz em que as responsabilidades são claramente definidas (vide anexo do PRSP da Tanzânia, disponível em http://www.tanzania.go.tz/nsgrf.html); outros países preferem desenvolver um plano de implementação à parte. Às vezes é possível, ou mesmo necessário, que alguma OSC contribua com seus conhecimentos específicos e esteja preparada para assessorar instituições relevantes: por exemplo, uma OPD poderia assessorar o Ministério do Trabalho sobre obstáculos ao emprego. Entretanto, mesmo que não sejam incluídas no estágio de implementação, as OSCs exercem um papel importante no monitoramento da execução das atividades. Uma rede forte e unida das organizações que trabalham no campo da deficiência produz resultados mais efetivos, especialmente quando se usam sistematicamente técnicas de defesa de interesses e lobby (vide capítulo 8), o que, aliás, se aplica a todos os estágios do PRSP.

Para usar a fase de implementação e projetos específicos de PRS como pontos de entrada é importante começar cedo. O primeiro passo é verificar que projetos estão sendo preparados, e o segundo passo inclui a escolha dos projetos relevantes e o estabelecimento de contatos com representantes das organizações. O ponto de entrada mais eficaz está na fase de preparação (isto é, na formulação do primeiro esboço), e não quando o projeto já estiver perto de ser aprovado.

Mais informaçõesLista de verificação: fase de implementação Por que trabalhar em red?

3.2.2 Pontos de entrada propiciados pelos orçamentos Uma parte importante da implementação das atividades de PRSP é a dotação orçamentária. É esperado que o governo e os doadores destinem as suas verbas em conformidade com o PRSP. O orçamento é o modo pelo qual as ações previstas se traduzem em recursos, espelhando as prioridades definidas pelo governo. Existem orçamentos em vários níveis: nacional, regional ou municipal; há também orçamentos departamentais e para programas específicos. Normalmente, os governos formulam e fecham os seus orçamentos anualmente. No entanto, o contexto PRS é um tanto diferente, visto que hoje cada vez mais países procuram formular orçamentos de prazo médio, cobrindo de três a cinco anos. Este novo instrumento é conhecido pela denominação Enquadramento de Despesas a Médio Prazo (MTEF na sigla inglesa). Seja qual for o tipo de orçamento, MTEF ou orçamento anual convencional, a sociedade civil deve avaliar e monitorar o enquadramento orçamentário. Contudo, isto pode ser difícil, por duas razões. Primeiro, muitas vezes falta transparência aos orçamentos, dificultando qualquer envolvimento da sociedade civil. Isto pode ser intencional ou pode ser atribuído à falta de comunicação. Neste caso, a coleta de informações relevantes pode ser difícil e demorada, porém não impossível. Segundo, é de duvidar que a maior parte das pessoas sem formação em economia tenham motivação ou conhecimento suficiente para avaliar criticamente os documentos relativos ao orçamento. Uma solução é estabelecer contatos com universidades locais e contratar um profissional para este trabalho (vide capítulo 4, Estudo de Caso Bangladesh).

Os orçamentos são compostos por três fases:

1. Formulação do orçamento: A primeira fase acontece nos últimos meses do ano financeiro (que, em muitos países, não é idêntico ao ano-calendário; na Tanzânia, por exemplo, vai de 1º de julho a 30 de junho) quando o governo, normalmente o Ministério da Fazenda, faz circular um pré-orçamento, indicando os recursos previstos para os vários ministérios. Tradicionalmente, este processo é feito pelo governo, embora a sociedade civil esteja se tornando cada vez mais envolvida.

2. Debate e análise do orçamento: A segunda fase consiste na aprovação do orçamento pelo legislativo e/ou órgão competente. Ler e compreender documentos orçamentários costuma ser um grande desafio, pois estes tendem a ser muito técnicos. Os parlamentares podem ser aliados úteis na avaliação e

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compreensão desses documentos. 3. Implementação do orçamento: A terceira fase é a fase de implementação, que pode ser diferente do que

foi planejado. A questão chave é: quanto dinheiro está sendo aplicado, e com que efeito. Há duas possibilidades de monitoramento:

● Monitorar as quantidades, por exemplo: quanto foi aplicado num programa específico? ● Monitorar os resultados, por exemplo: quais os efeitos dos programas? Para tanto, também são úteis

as ferramentas da APP são úteis.

Exemplo: Uganda “Pela sua transparência, pelos seus processos de tomada de decisão baseados na cooperação e pela eficiência do seu sistema de monitoramento, o Fundo Ugandense de Ação contra a Pobreza (PAF) é provavelmente o modelo mais avançado de participação institucionalizada no contexto de redução da pobreza na África sub-Saara. Ao redor de 35 por cento do orçamento público são destinados ao PAF. Teoricamente, as decisões sobre o uso dos recursos e as correspondentes prestações de contas são tratadas dentro do processo regular de apresentação das informações sobre o orçamento e estão sujeitas à decisão final pelo parlamento, mas são debatidas amplamente em sessões públicas convocadas trimestralmente. Temas desses debates são as prioridades estabelecidas no PAF, ações individuais importantes, questões controversas e os relatórios do governo sobre a implementação. Uma série de ONGs e redes não-governamentais participam regular e ativamente desses encontros, que são abertos também aos representantes dos doadores e à imprensa.” (VENRO, 2005).

Exemplo: o Fundo de Redução da Pobreza na HondurasO Fundo de Redução da Pobreza criado em 2003 em Honduras tem uma função semelhante: é composto por representantes do governo e membros eleitos da sociedade civil. As OPDs e organizações que trabalham com pessoas com deficiências pleitearam e obtiveram um assento para um representante das OPD (vide capítulo 4.1, Estudo de Caso Honduras).

Mais informaçõesLista de verificação: Fase de Monitoramento e Avaliação

Oxfam (2002): Influencing Poverty Reduction Strategies: A Guide, seção 4: Monitoramento da Implementação da Política.

VENRO (2005): Fighting Poverty without Empowering the Poor? Societal Participation in Implementing Poverty Reduction Strategies (PRS) Falls behind Needs and Possibilities.

GTZ (2005): Making Poverty Reduction Strategies Work — Good Practices, Issues and Stakeholder Views. A Contribution of German Development Cooperation for the 2005 PRS Review.

World Bank & GTZ (2007): Minding the Gaps. Integrating Poverty Reduction Strategies and Budgets for Domestic Accountability.

Warren Krafchik (International Budget Project): Can Civil Society Add Value to Budget Decision-Making?

3.2.3 Instrumentos paralelosHá vários outros processos ligados ao PRS que também propiciam pontos de entrada potenciais (vide capítulo 5.2.2):

● na maioria dos países realiza-se uma reunião anual entre governo e doadores internacionais, denominada Reunião do Grupo Consultivo Há uma tendência crescente no sentido de convidar membros da sociedade civil para participar nessa reunião.

● Alguns países formam grupos setoriais para trabalhar e decidir questões específicas ligadas aos seus setores. Esses grupos são compostos não apenas por representantes do governo, mas também por especialistas da sociedade civil.

● As discussões sobre o Banco Mundial e o FME instrumentos de empréstimo geralmente não estão abertos à participação do público, mas pode valer a pena obter informações sobre o conteúdo do Programa

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de Financiamento para Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF), do FMI, e do Crédito de Apoio à Redução da Pobreza (PRSC), do Banco Mundial, já que ambos têm forte influência sobre o enquadramento macroeconômico do PRSP.

● A Estratégia de Assistência ao País (CAS) do Banco Mundial tem contado com crescente participação da sociedade civil. Como o CAS deve estar alinhado com o PRSP, é importante controlar o conteúdo. Informações sobre o processo CAS estão disponíveis na Missão Residente do Banco Mundial.

● outro ponto de entrada interessante é o enlace com as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDGs): é impossível atingir vários dos objetivos MDGs sem atacar os problemas da deficiência. Isto é eminentemente óbvio no caso da educação e da saúde.

Exemplo: CambojaO governo do Camboja criou um sistema complexo de coordenação da ajuda, composto por 19 grupos de trabalho técnicos, reuniões trimestrais de uma comissão governamental de coordenação das Instituições doadoras e o Foro de Cooperação para o Desenvolvimento do Camboja (CDCF), que atualmente se reúne com periodicidade de 18 meses (tendo entrado no lugar da reunião do Grupo Consultativo). Durante a reunião do CDCF organizada pelo Conselho de Desenvolvimento do Camboja, o ponto principal da agenda foi a implementação do PRS. Embora apenas três representantes das organizações da sociedade civil tenham tido oportunidade de participar das reuniões o Foro de ONGs coordenou a produção de um relatório sobre a implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional em 2006, que recebeu contribuições de muitas organizações da sociedade civil, plano este em que a questão da deficiência foi disseminada pela primeira vez. O relatório foi apresentado ao governo e às instituições doadoras na reunião.

Mais informaçõesVá aos sites do Banco Mundial e do FMI para maiores informações sobre CAS, PRGF, PRSC, etc. www.worldbank.org à Countries, www.imf.org à Country Info

Cambodia Development Cooperation Forum, para maiores informações sobre instrumentos paralelos, vide capítulo 5.2.2

Download: ODM e deficiência – leia mais sobre os ODMs e a sua ligação com deficiência.

3.3 Monitoramento e avaliaçãoO processo PRS deve ser um processo contínuo de aprendizagem e revisão dos programas por um período de longo prazo. É um processo que requer seguimento regular e estratégico para identificar falhas e modificar as premissas correspondentemente. O sistema de monitoramento e avaliação regulares não é algo específico do processo PRSP, mas pode ser largamente aplicado à maioria dos projetos, programas e políticas (vide capítulo 7). Normalmente, o PRSP descreve o sistema de monitoramento e avaliação a ser usado durante a execução dos programas e projetos, e relaciona metas e indicadores (vide capítulo 4, Estudos de Caso).

DefiniçõesMonitorar implica observar continuamente a implementação do PRSP, a fim de verificar regularmente o que está ocorrendo, como e por quê, e comparar o processo com os planos originais. Avaliação implica ponderar os resultados, mas é feita com menos freqüência do que o monitoramento, em momentos específicos (nos marcos importantes do projeto e/ou no final da fase de implementação). O foco está mais voltado para a questão se as metas e objetivos propostos foram atingidos ou não. Três pontos principais podem ser monitorados e avaliados:

● Input: Que atividades estavam previstas? Que atividades foram postas em prática?● Output: O que o projeto conseguiu? (resultados intermediários do projeto)● Resultado final: Qual o impacto geral do projeto no longo prazo? Quais foram os resultados pretendidos e

não pretendidos?

IndicadoresOs indicadores nos ajudam a reconhecer se uma meta ou objetivo de um projeto ou programa foi alcançado. Eles medem as mudanças. Os indicadores são um conjunto de critérios definidos por mútuo acordo entre todas as partes interessadas ou imposto por uma instituição doadora. São eles que permitem medir o input, o output e o resultado final do projeto. Definir os indicadores é essencial para o monitoramento e avaliação, e estes serão tanto mais úteis forem definidos já durante a fase de planejamento. Os indicadores têm que atender

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a requisitos específicos, sob pena de se tornar difícil aplicá-los. É preciso estabelecer um equilíbrio entre indicadores qualitativos e quantitativos. A experiência mostra que na grande maioria das vezes, os programas de deficiência dentro do PRS não têm metas ou indicadores a monitorar. Há uma longa relação de possíveis indicadores para cada questão a ser monitorada, mas entre os mais importantes estão alguns poucos indicadores do resultado final, tal como o número/percentagem de crianças deficientes matriculadas na escola ou o número/percentagem de pessoas com deficiências empregadas, etc. Entre os indicadores de processo está a questão se foram adotadas leis ou normas (por exemplo, garantindo o acesso físico a prédios, etc.), e assim por diante.

Exemplos: Possíveis indicadores para questões relevantes para a deficiência no PRS

Setor Objetivo Indicador

Saúde Prevenção à diminuição da capacidade causada por desnutrição de mãe e filhos

- Número de programas de alimentação - Número de pessoas alcançadas

“Reduzir a prevalência de HIV e AIDS em homens e mulheres com deficiência (na faixa etária entre 15–35 anos)” (PRSP da República Unida da Tanzânia, 2005)

- Percentagem de mulheres e homens com deficiências HIV-positivos em 2005 e 2010- Número de campanhas de conscientização- Existência de material informativo adaptado

“Eliminar todas as formas de barreiras à assistência médica mediante isenção de pagamentos aos pobres, gestantes, idosos e pessoas portadoras de deficiência, e mediante eliminação de taxas não oficiais, reduzindo a distância e melhorando o tratamento.” (PRSP da República Unida da Tanzânia, 2005)

- Número de pessoas com deficiência que recebem tratamento em hospitais públicos- Estudos e avaliações sobre a disponibilidade de acesso para pessoas com deficiência

Proteção social “Diminuir os fatores de risco em grupos específicos muito vulneráveis. [...] Oferecer assistência integrada aos pobres, pessoas deficientes.” (PRSP da República de Honduras, 2001)

- “Número de deficientes atendidos” (PRSP da República de Honduras, 2001)- Estudos e avaliações da disponibilidade para pessoas com deficiência

Educação “Objetivo principal: frequência escolar universal[…] aumentar frequência escolar no ensino fundamental de crianças em idade escolar, especialmente meninas e crianças com deficiência, pela construção de prédios de escolas de baixo custo dentro das comunidades e garantia de um ambiente seguro e saudável para crianças (PRSP da República de Moçambique, 2006)

- Percentagem de crianças com deficiência nas escolas primárias- Estudos e avaliações sobre acesso com os pais de crianças com deficiência

“Objetivo principal: expandir o acesso à educação de qualidade.[…] levar adiante o programa de conversão das escolas de artes e ofícios em escolas vocacionais capazes de atender jovens deficientes (PRSP da República de Moçambique, 2006)

- Percentagem de pessoas com deficiência em escolas de artes e ofícios- Estudos e avaliações sobre disponibilidade e acesso

“Assegurar que todos os professores sejam treinados para todos os subsistemas educacionais, com vistas a promover a educação para todas as crianças e adolescentes, inclusive as meninas e os portadores de deficiências.” (PRSP da República de Moçambique, 2006)

- Número de professores que fazem cursos em educação inclusiva- Currículos existentes

Emprego Aumentar as oportunidades de emprego para pessoas com deficiência

- Taxa de desemprego de pessoas com deficiência- Estudos sobre disponibilidade de locais de trabalho a nível de empregador

Infra-estrutura “Acesso melhorado a água limpa, saudável e de baixo custo, ao saneamento básico, moradia decente e meio ambiente saudável e sustentável, e, através disso, menor vulnerabilidade a riscos ambientais em todas as instituições públicas – escolas, centros de saúde, mercados e lugares públicos, incluindo acesso para as pessoas portadoras de deficiência. (PRSP da República Unida da Tanzânia, 2005)

- Percentagem de edifícios públicos acessíveis - Estudos e avaliações da disponibilidade de acesso para pessoas com deficiência

Legislação Assegurar direitos humanos iguais para pessoas com deficiência

- Existência de leis específicas de proteção para pessoas com deficiência

Mais informaçõesTara Bedi et al. (2006): Beyond the numbers: understanding the institutions for monitoring poverty reduction strategies.

Nathalie Holvoet and Robrecht Renard (2005): Putting the new aid paradigm to work: challenges for monitoring and evaluation.

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3.3.1 Relatório de Progresso O governo elabora um Relatório de Progresso para informar os seus parceiros de desenvolvimento e a sociedade civil sobre o progresso alcançado na fase de implementação do PRSP. Na prática, porém, a periodicidade anual nem sempre é aplicável. Muitos países criaram sistemas de monitoramento e avaliação próprios que favorecem os seus RAPs. Alguns países apresentam ou discutem os seus RAPs com a sociedade civil em eventos sobre a redução da pobreza, por exemplo, a Semana da Política de Combate à Pobreza, na Tanzânia. Outros países criaram as suas próprias

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instituições e comissões responsáveis pelo monitoramento e avaliação, como, por exemplo, o Comitê Gestor dos Programas de Combate à Pobreza e o Grupo Técnico de Disseminação, Sensibilização e Defesa de Interesses, na Tanzânia. Essas instituições são compostas por membros da sociedade

civil (inclusive OPDs), ao lado de representantes governamentais.

3.3.2 Processo de revisão

Um ciclo PRS leva de três a cinco anos. Um PRSP é válido por três a cinco anos. Ao fim deste período, avalia-se e revisa-se a sua implementação. Isto acontece com a participação da sociedade civil, e os resultados contribuem para a formulação de um novo PRSP. Até o presente, só poucos países realizaram de fato uma revisão (por ex., Tanzânia e Uganda). Os processos de revisão e formulação de um novo PRSP dá à sociedade civil novas oportunidades de apresentar contribuições. Nesta fase, muitas vezes realiza-se outra análise da pobreza, redefinindo-se as prioridades para a próxima

fase de implementação. A revisão deve basear-se nos resultados da avaliação do PRSP original. O processo de revisão dura vários meses (normalmente entre

de 12 a 18 meses). Na Tanzânia e em Uganda foram redigidos documentos delineando a metodologia e o cronograma do processo de revisão.

4 Estudo de casos Este capítulo apresenta vários exemplos de como as organizações de (e para) pessoas com deficiência

influenciaram o PRS em seus países. Para entender o contexto de cada país, descrevemos brevemente

o processo PRS específico; o capítulo traz também uma visão geral da situação da deficiência nos países

em questão. O capítulo tem por objetivo mostrar a diversidade e a complexidade dos processos PRS e da

questão da deficiência. Cada estudo de caso destaca as estratégias usadas pelos grupos interessados ligados

à deficiência. Adicionalmente, para mostrar os possíveis limitações e obstáculos impostos aos esforços de

b envolvimento no PRS, este capítulo faz também uma avaliação dos resultados alcançados.

O capítulo fecha com uma seção sobre as lições aprendidas, na qual se resumem as experiências obtidas e

se fazem recomendações visando tornar o PRS mais inclusivo.

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�❍ 4.1.2 Deficiência em Honduras

�❍ 4.1.3 Deficiência e PRSP

�❍ 4.1.4 Resultados

�❍ 4.1.5 Limitações

�❍ 4.1.6 Perspectivas

● 4.2 Bangladesh �❍ 4.2.1 PRSP em Bangladesh

�❍ 4.2.2 Deficiência em Bangladesh

�❍ 4.2.3 Deficiência e PRSP

�❍ 4.2.4 Resultados

�❍ 4.2.5 Limitações

�❍ 4.2.6 Perspectivas

● 4.3 Serra Leoa �❍ 4.3.1 PRSP em Serra Leoa

�❍ 4.3.2 Deficiência em Serra Leoa

�❍ 4.3.3 Deficiência e PRSP

�❍ 4.3.4 Resultados

�❍ 4.3.5 Limitações

�❍ 4.3.6 Perspectivas

● 4.4 Tanzânia �❍ 4.4.1 PRSP na Tanzânia

�❍ 4.4.2 Deficiência na Tanzânia

�❍ 4.4.3 Deficiência e PRSP

�❍ 4.4.4 Resultados

�❍ 4.4.5 Limitações

�❍ 4.4.6 Perspectivas

● 4.5 Camboja �❍ 4.5.1 PRSP no Camboja

�❍ 4.5.2 Deficiência no Camboja

�❍ 4.5.3 Deficiência e PRSP

�❍ 4.5.4 Resultados

�❍ 4.5.5 Limitações

�❍ 4.5.6 Perspectivas

● 4.6 Vietname �❍ 4.6.1 Redução da pobreza no Vietname

�❍ 4.6.2 Deficiência no Vietname

�❍ 4.6.3 Deficiência e Estratégias de Redução da Pobreza

�❍ 4.6.4 Resultados

�❍ 4.6.5 Limitações

�❍ 4.6.6 Perspectivas

● 4.7 Lições aprendidas �❍ 4.7.1 O papel das ONGs internacionais vs. legitimidade das OPDs nacionais

�❍ 4.7.2 Falta de capacidades

�❍ 4.7.3 Exclusão

�❍ 4.7.4 Estratégias de inclusão

�❍ 4.7.5 Inclusão em todos os estágios do PRSP

�❍ 4.7.6 Disseminação de idéias e prioridades

�❍ 4.7.7 Efeitos paralelos

4.1 HondurasVisão geral

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Processos e fases do PRS em Honduras

4.1.1 PRSP em HondurasHonduras foi o primeiro país latino-americano a publicar um PRSP: o processo iniciou-se em 2000, um PRSP pleno foi publicado em 2001, e um segundo APR em 2005. A principal motivação do governo por trás do lançamento do processo PRS era obter alívio de dívidas com o FMI e o Banco Mundial. A tarefa de coordenação geral do processo foi atribuída ao ministro da Presidência de Honduras. Em 2001, as OSCs haviam criticado o fato de a participação da sociedade civil ser inadequada e que as suas opiniões não foram consideradas. Como conseqüência, uma forte rede de OSCs realizou o seu próprio processo participativo e publicou um PRSP alternativo. Em contraste com outros países, o governo hondurenho leva o processo PRS muito a sério, e, como resultado, pretende realizar agora um processo participativo sério. No entanto, a democracia ainda é relativamente nova em Honduras, e o governo não tem muita experiência. A maioria dos problemas decorre da ineficiência da burocracia. Em 2004, uma avaliação independente afirmou que ainda há “poucas inovações” relativas à participação (vide Hunt, 1005, p. 9). Atualmente (2006-2007), a estratégia está sendo revista. Os recursos do PRS estão sendo canalizados de maneira descentralizada através das municipalidades.

4.1.2 Deficiência em HondurasVárias estimativas sugerem que há aproximadamente 700.000 pessoas com deficiência vivendo no país, o que equivale a 10% da população. Um levantamento realizado em 2002 registrou 177.516 pessoas deficientes, mas a definição usada era muito estreita. 68% das pessoas contadas como deficientes estavam desempregadas, contra 49% desempregados da população total (vide CIARH, 2003), 53% eram analfabetas, 44% das crianças com deficiência não tinham acesso à escola, contra 8% das crianças sem deficiência, e apenas 17% das pessoas com deficiência recebiam algum tipo de reabilitação (vide CIARH, 2003). As abordagens caritativas e assistenciais são ainda muito comuns (Centre for International Rehabilitation, 2004). Apesar da existência de novos mecanismos legais em matéria de deficiência (outubro de 2005), não houve implementação efetiva da lei. Honduras tem três organizações centrais que trabalham na área da deficiência:

1. CIARH (Coordinadora de Instituciones y Associaciones de Rehabilitacion de Honduras), fundada em 1966, cujas entidades associadas contam hoje mais da metade de todas as organizações que trabalham com pessoas com deficiência, mais algumas poucas OPDs;

2. a FENOPDIH (Federación Nacional de Organismos de Personas con Discapacidad de Honduras), uma confederação de OPDs criada em 2001; e

3. A Federação Nacional de Pais de Pessoas com Necessidades Especiais de Honduras (, fundada em 2005 para promover os direitos de crianças com deficiência e integrada atualmente por 21 organizações associadas.

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4.1.3 Deficiência e PRSPEm 2001, a Handicap International notou que a versão prelimInar do PRSP não tratava de forma adequada da deficiência. Naquela altura, porém, a formulação e o processo participativo estavam praticamente encerrados. A Handicap International e a CIARH, seguindo a orientação e os relacionamentos de um contato pessoal com vínculo profissional com o governo, redigiram conjuntamente um documento de posicionamento e encaminharam-no aos departamentos responsáveis pelo PRSP dentro do governo, a algumas OSCs (que realizavam um processo participativo à parte) e à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). A Handicap International basicamente contribuiu com conhecimentos, experiência, contatos com doadores, imprensa, governo, e com os recursos financeiros para as reuniões, enquanto que a CIARH apresentou o documento de posicionamento ao governo. Em 2003, foi fundado o Fundo de Redução da Pobreza para financiar as atividades PRSP. O comitê de supervisão do fundo é composto, em parte, por representantes eleitos da sociedade civil; a Handicap International, a CIARH e a FENOPDIH conseguiram preservar uma cadeira para um representante de uma OPD. O comitê de supervisão do fundo é composto, em parte, por representantes eleitos da sociedade civil; no início, a Handicap International, a CIARH e a FENOPDIH conseguiram preservar uma cadeira para um representante de uma OPD. Posteriormente, a Handicap International retirou-se desta posição, disponibilizando dois representantes (titular e suplente) para organizações voltadas para a deficiência.

Na nova versão reformulada do PRSP (2007), as pessoas com deficiência são identificadas como um dos grupos vulneráveis, junto com mulheres, crianças e adolescentes, idosos e grupos étnicos. A deficiência é mencionada no capítulo sobre “gestão dos riscos sociais e ambientais” e, mais especificamente, dentro da rede de proteção social. Como medidas específicas, as pessoas com deficiência são vistas com grupo alvo de um programa especial de nutrição voltado para famílias pobres com alto grau de vulnerabilidade social. Além disso, inclui uma medida específica de proteção de pessoas com deficiência, a saber: elaboração e implementação de programas que contribuam para a sua integração no processo produtivo e no mercado de trabalho. O objetivo do Programa de Rede de Proteção Social é oferecer financiamento direto para os setores mais pobres e é dirigido pela primeira dama de Honduras.

4.1.4 ResultadosQuase todas as sugestões apresentadas pela Handicap International e pela CIARH foram incluídas no PRSP de Honduras. No entanto, as pessoas com deficiência não obtiveram a mesma atenção que as minorias étnicas, por exemplo, embora sejam grupos numericamente equivalentes no conjunto da população. O PRSP hondurenho inclui deficiência, tornando-se, em 2002, o único PRSP com um capítulo próprio dedicado a pessoas com deficiência (vide ILO, 2002, p. 16), reconhecendo os deficientes com um grupo específico de risco de pobreza (vide Governo de Honduras, 2002, p. 18 – embora este capítulo já estive incluído no PRSP quando a Handicap International/CIARH apresentaram a sua estimativa, foram sugeridas algumas modificações). Em relação aos resultados pretendidos com o PRSP 2002, não ocorreu a criação prevista de um sistema nacional de informações sobre pessoas com deficiência, por causa da falta de recursos e de pressão por parte das OPDs. Além disso, a criação de um Conselho Nacional da Deficiência para coordenar as políticas em relação à deficiência e de uma Unidade Técnica para reabilitação integrada também não aconteceu, muito embora a lei que criava essas entidades tenha sido promulgada em 2005. No entanto, os órgãos de coordenação para assuntos de deficiência insistiram muito na sua criação e a nova Direção Geral de Desenvolvimento para pessoas com deficiência provavelmente vai começar a funcionar a partir de 2008. A institucionalização dos problemas de deficiência é um fato-chave no desenvolvimento de políticas efetivas e abrangentes (vide Bonnel, 2004, p. vi). Além disso, as pessoas com deficiência estão incluídas em medidas de proteção social, prevenção, cuidados e programas de reabilitação. A deficiência foi abordada também numa avaliação conjunta dos corpos técnicos do FMI e do Banco Mundial (JSA), o que mostra que as duas instituições reconhecem a importância do problema (vide ILO, 2002, p.20). Os APRs dão detalhes dos passos iniciais de implementação já adotados: Foi aprovada a Política Nacional para a Prevenção da Deficiência, Atenção e Reabilitação Integral das Pessoas com Deficiência e para a proteção dos seus direitos e responsabilidades. Entrementes, foi desenvolvido o Plano Nacional de Atenção à Deficiência […].” (Governo de Honduras, 2005, p. 5). Contudo, na prática não houve implementação.

Atualmente, as organizações ligadas à questão da deficiência podem requerer financiamento para projetos do Fundo de Redução da Pobreza, que possui um orçamento destinado a tais organizações no valor de 6 milhões de lempiras (US$ 315.000). Essa alocação de recursos pode ser considerada um resultado positivo, embora esteja longe de ser uma abordagem transversal para incluir a deficiência em todas as ações de redução da pobreza. Algumas OPDs consideram mais praticável obter financiamento através das municipalidades do que influir na política nacional.

4.1.5 LimitaçõesA principal limitação é a falta de capacidade generalizada: a despeito das muitas conquistas, as organizações envolvidas nesses processo enfrentaram vários desafios. Especialmente no início, a CIARH dispunha de pouquíssimos recursos humanos, devido à utilização das capacidades para atender a outras importantes obrigações. Além disso, a CIARH não tinha nenhum acesso à comunidade de

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doadores, embora a Handicap International cobrisse ao menos as necessidades financeiras da CIARH. Isto contribuiu para a ambivalência do papel da Handicap International como ONG internacional: sendo uma organização estrangeira, a Handicap International tinha condições de influenciar e impulsionar o processo, mas, ao mesmo tempo, desejava deixar a responsabilidade das atividades a cargo da CIARH. Infelizmente, os membros da CIARH são, em sua maioria, prestadores de serviço, com apenas poucas OPDs, e isto veio a somar-se às dificuldades e problemas relativos à legitimidade e credibilidade das duas organizações dentro do movimento da deficiência hondurenho. Além disso, em alguns pontos, por exemplo, questões orçamentárias, tanto a Handicap International como a CIARH careciam de conhecimentos técnicos e não sabiam dar respostas satisfatórias. As limitações em termos de capacidade e conhecimentos são também um problema central no tocante ao sistema de monitoramento e avaliação do processo de implementação, que em Honduras é geralmente fraco. A par da falta de capacidade, a falta de análise coletiva do problema entre as redes da deficiência, a falta de prioridades e a debilidade do sistema de comunicação e respostas entre os representantes do PRS e os órgãos coordenadores para assuntos de deficiência fizeram com que o processo PRS hondurenho estacionasse. As organizações de iniciativa de cidadãos não estão cobrando resultados do processo, não tem havido seguimento sistemático nem uma inclusão sistemática da deficiência a nível político. As mais diversas pessoas participam das reuniões setoriais - burocratas e ministros, de um lado, e representantes da sociedade civil, do outro lado. Não são todos os participantes que conseguem acompanhar as discussões e compreender os documentos quanto às questões orçamentárias e macroeconômicas ou participar ativamente nos processos decisórios; as pessoas com deficiência, além disso, enfrentam dificuldades especiais. Por esta razão, algumas (I)ONGs e doadores criaram um programa de apoio à sociedade civil, com cursos de treinamento específicos. Algumas OPDs requereram verbas do programa de apoio, mas não há uma proposta unificado no sentido de capacitar pessoas com deficiência para entender melhor o processo PRS. Os requerimentos continuam a ser projetos isolados. Como a CIARH não foi convidada para uma discussão sobre o APR em 2003, a organização redigiu um documento de posicionamento sobre o relatório. Como resultado, foram incorporados alguns dos seus argumentos. Naturalmente, nem todas as promessas foram realizadas, e no APR de 2004, os membros da sociedade civil continuavam reivindicando uma maior participação de pessoas com deficiência e solicitando programas específicos, em contraste com medidas assistenciais.

4.1.6 PerspectivasNo início, a luta pela inclusão de pessoas com deficiência era fácil, uma vez que os tecnocratas responsáveis pela formulação do PRSP se deram conta da sua própria omissão. Para as organizações locais, como a CIARH e a FENOPDIH, o processo oferece a possibilidade de fazer vigorar a sua legitimidade interna e externa. O PRSP pode abrir portas e proporcionar uma base sólida para outras ações e para a defesa de interesses, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que as pessoas com deficiência estejam capacitadas a ponto de perceberem mudanças reais na sua condição de vida. A prevista criação da Direção Geral de Desenvolvimento para pessoas com deficiência em 2008 oferecerá um novo e interessante mecanismo para a inclusão da dimensão deficiência no PRS hondurenho. É necessário reforçar a capacidade e o interesse das OPDs para que adquiram condições de influenciar o PRS e obter resultados concretos.

Mais informaçõesEste estudo de caso é baseado principalmente nas informações referentes a 2005, prestadas por Thierry Gontier, ex-diretor da Handicap International em Honduras. Em 2007 a informação foi atualizada por Sanna Laitamo, coordenadora técnica da Handicap International da América Central.

Bibliografia: Bonnel, René (2004): Poverty Reduction Strategies: Their Importance for Disability. (não disponível na internet quando da presente redação)

Centre for International Rehabilitation (2004): International Disability Right Monitor. Relatório Honduras, disponível em: http://www.cirnetwork.org/idrm/reports/americas/countries/honduras.html

CIARH: http://ciarh.org.hn/

CIARH (2003): Observaciones sobre el informe del primer año de la Estrategia de Reducción de la Pobreza. Documento de posicionamento sobre o Relatório Anual de Progresso. (documento interno)

Governo de Honduras (2002): Poverty Reduction Strategy Paper 2001-2015. Tegucigalpa.

Hunt, Sarah (2005): Honduras: PRSP Update. 19 November 2005, Final Version. Tegucigalpa.

ILO (2002): Disability and Poverty Reduction Strategies. How to Ensure That Access of Persons with Disabilities to Decent and Productive Work is Part of the PRSP Process. Geneva, November.

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Governo de Honduras (2003, 2005 & 2007): Annual Progress Report. Disponível em: www.worldbank.org/prsp

4.2 BangladeshVisão geral

Processos e fases do PRS em Bangladesh

4.2.1 PRSP em BangladeshO processo PRS em Bangladesh iniciou-se em 2001. O I-PRSP do país foi publicado em março de 2003, e a versão final em outubro de 2005. Foi criada uma Comissão de Planejamento do PRSP dentro do Ministério da Fazenda para formular o documento. A reunião das ONGs realizou-se em março de 2002, organizada pela ActionAid Bangladesh e pelo People’s Empowerment Trust (PET). Foi produzida uma declaração solicitando ao Banco Mundial que mudasse o prazo limite de elaboração da versão definitiva do PRSP, com o resultado de que a data final foi adiada de setembro de 2002 para o final de 2003. Pesquisadores e ONGs criticaram o fato de o I-PRSP ter sido redigido por apenas dois especialistas estrangeiros porque o governo queria acelerar o processo a fim de receber créditos e empréstimos mais rapidamente. Criticaram também o fato de as consultas terem sido realizadas apenas com uma elite de profissionais e não com pessoas que vivem, de fato, na pobreza. O conteúdo do I-PRSP, por omitir problemas importantes, como corrupção, defesa civil, saúde e educação, não obriga o governo a mudar nenhuma das suas políticas.

Finalmente, o processo de formulação do PRSP pleno se atrasou e o documento só foi oficialmente adotado em outubro de 2005, praticamente no fim do período legislativo. Por isso, o governo, que foi o iniciador do PRS, não teve muito tempo de iniciar a implementação. Além disso, o documento não foi aceito por todos os ministérios: o ministro da Ciência e Telecomunicações, por exemplo, criticou muito o documento (atirando dramaticamente o livro no chão durante uma reunião oficial em agosto de 2006). O PRS de Bangladesh também não foi discutido no parlamento, o que demonstra que o documento não teve ampla aceitação. Por parte da comunidade doadora, os Banco Mundial e o FMI aprovaram o documento em dezembro de

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2006. Outras instituições, como o Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB) e o DFID também parecem apoiar o PRS em Bangladesh. O UNDP anunciou em seu website um projeto para monitoramento e avaliação tanto do PRS como das ODMs. Embora o processo participativo realizado quando da formulação do PRS, a qualidade da participação permanece duvidosa. O processo foi liderado por burocratas que organizavam reuniões pro forma, sem dar margem a que os pobres levantassem a sua voz. No fim apenas algumas pessoas ficaram responsáveis pela redação do documento. O PRS de Bangladesh é, além do mais, um plano de ação entre muitos outros de teor parcialmente coincidente ou conflitante. No todo, o PRS não tem égide e patrocínio fortes e não é o único documento chave nas políticas públicas do país. Mas mesmo assim, cresceu em importância e ficou expressamente consignado que as ONGs só podem receber financiamentos do exterior para atividades alinhadas com o PRS, depois de uma declaração do governo em 2005 de que não seria permitido às organizações receber verbas internacionais para medidas que não estejam ligadas ao PRSP. (Em Bangladesh, todas as ONGs que recebem valores do exterior têm que estar registradas junto a um órgão governamental (o Escritório para Assuntos relativos a ONGs), e todo projeto tem que ter aprovação final desse órgão.

4.2.2 Deficiência em BangladeshDe acordo com as estatísticas nacionais, 0,47% da população apresenta algum tipo de deficiência (dados do censo de 1991); em 2001 foi realizado outro censo, mas os números ainda não foram divulgados (vide www.apcdproject.org). Outros levantamentos realizados mais recentemente por diferentes organizações indicam um número entre 5 e 8%, o que parece estar mais próximo da realidade e perto das estatísticas da OMS referentes a outros países asiáticos. Em Bangladesh, a Lei de Assistência aos Deficientes de 2001 reconhece as preocupações com as pessoas com deficiência. Essa lei, embora “considerada um marco importante”, apresenta “várias limitações e falhas” (www.apcdproject.org). Uma organização importante é o NFOWD (Fórum Nacional das Organizações que Trabalham com Deficientes), que é composto por 176 associações afiliadas, incluindo várias organizações internacionais, tais como Handicap International, ActionAid, Sight Savers International, etc. O fórum tem vínculos estreitos com o Ministério do Bem-Estar, com o governo e, conseqüentemente, bons contatos com a Comissão de Planejamento do PRSP. A influência do fórum cresceu durante o longo processo PRS, com base em contatos pessoais e vínculos individuais. O estudo de caso Bangladesh registra o fato extremamente positivo de os ministérios do país estarem não só conscientes das preocupações das pessoas com deficiência, mas também muito interessados na questão da deficiência.

4.2.3 Deficiência e PRSPNo início, apenas algumas poucas organizações (p.ex. ActionAid and WaterAid) estavam envolvidas no processo PRS. No início de 2002, foi realizado uma reunião de ONGs, na qual essas organizações fizeram uma apresentação do processo PRS e das questões a serem tratadas. A forma como o I-PRSP tratava a deficiência chocou os participantes: havia apenas uma passagem referente a pessoas com deficiência, dizendo simplesmente “cuidaremos dos difíceis casos sociais, tais como as pessoas com deficiência”. A percepção de que as pessoas com deficiência são “casos sociais” levaram a Handicap International e a NFOWD a publicar um documento conjunto de posicionamento, baseado num documento da OIT (ILO, 2002) como fonte principal. Esse documento conjunto adicionou seções sobre direitos humanos e uma análise do I-PRSP nacional, selecionou as seções que mencionavam o termo “deficiência” e propôs melhorias. Posteriormente, a NFOWD tornou possível a apresentação do documento – e especialmente um resumo de três páginas no idioma nacional bangla (o original foi redigido em inglês) – a pessoas-chave na Comissão de Planejamento, no governo e a instituições doadoras. Esse resumo foi extremamente útil, ao tornar possível a sua leitura por um grande número de pessoas. O efeito secundário mais importante foi o seu impacto como “abridor de olhos”, levando mais pessoas a compreender que a inclusão da deficiência é uma questão importante não apenas para o PRSP, mas para o desenvolvimento em geral.

Em 2003, a NFOWD não pôde participar nas amplas audiências organizadas pelo governo, mas tomou a iniciativa de realizar suas próprias consultas sobre deficiência. A reunião foi presidida pelo ministro do Bem-Estar Social; entre outros participantes encontravam-se representantes de ONGs que trabalham no setor de deficiência, OPDs, jornalistas, advogados, educadores, pais de crianças deficientes e funcionários de outros ministérios (saúde, educação, trabalho, etc.), bem como um membro da Comissão de Planejamento. Durante a reunião foi apresentado e discutido um documento de posicionamento. O documento recebeu considerável atenção por parte dos representantes da Comissão de Planejamento, que se prontificaram a dar mais atenção no futuro aos problemas das pessoas com deficiência. Em 2004, o governo organizou uma consulta nacional e seis regionais. A NFOWD pediu com insistência que as associações afiliadas participassem das consultas regionais. Todas elas usaram a versão traduzida do documento de posicionamento como referência, advogando a favor dos mesmos pontos em nível regional. Devido a essa ampla participação, tornou-se impossível ignorar a questão da deficiência após as seis consultas regionais. Mesmo assim, a NFOWD teve que empreender esforços consideráveis para conseguir ser convidada para a consulta nacional. Foi um evento bastante grande (com mais de 200 participantes), e havia pouco tempo para apresentar a questão. O governo havia previsto 13 seções temáticas, com uma

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seção conjunta para minorias éticas e pessoas com deficiência, sob o rótulo de “grupos marginalizados”. No entanto, os dois grupos logo se deram conta de que as suas necessidades e condições não eram congruentes e procuraram separar as questões – com sucesso, como se veria. Paralelamente aos esforços da NFOWD, outras organizações também trabalharam a favor da inclusão da deficiência no PRSP nacional. A organização Ação sobre Deficiência e Desenvolvimento (ADD) contratou um economista que entrevistou pessoas deficientes, colheu as suas opiniões e organizou um evento para trocar idéias com base nos resultados.

4.2.4 ResultadosComo resultado desses esforços, há hoje um número razoável de aspectos relativos à deficiência no PRSP de Bangladesh (vide Government of Bangladesh, 2005, pp. 157-58). Foi incluindo um capítulo à parte sob o título “Assegurando participação, inclusão social e cidadania”. As ações propostas nesse capítulo cobrem os sete temas a seguir:

● Coleta de dados sobre deficiência● Plano de ação nacional em deficiência● Educação● Setor de saúde● Renda ● Mobilidade e acessibilidade● Participação na tomada de decisões

Infelizmente, a maioria das ações propostas ainda não foram implementadas. De acordo com informações da ADD, apenas os programas que já estavam previstos antes do PRS (e incorporados a este para atender a exigência de que o PRS seja uma estratégia abarcante) foram parcialmente implementados, a saber:

● Microcréditos passam a ser disponíveis para pessoas com deficiência (renda)● Auxílios por deficiência são pagos a título de benefício social.

Ambos os programas só são implementados quando as pessoas com deficiência os reivindicam a nível local. Por isso, conseguem-se mais verbas quando as pessoas com deficiência estão organizadas de alguma maneira, p. ex., tendo formado OPD (maiores informações no relatório ADD). A maioria dos assuntos tratados no governo são informados em bangla, a língua oficial do país, o que leva à exclusão automática da maioria dos quadros internacionais do pessoal que trabalha nas (I)ONGs. A Handicap International dependeu da NFOWD para entrar em contato com a Comissão de Planejamento e outras pessoas relevantes. Por sua parte, a NFOWD usou os préstimos da Handicap International em assessoria técnica. A Handicap International prestou assessoria também à Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e à organização britânica Save the Children UK sobre a inclusão de crianças deficientes no PRSP nacional. Esses exemplos mostram que as parcerias e alianças entre organizações nacionais e internacionais podem ser estruturadas de diferentes maneiras e funcionar muito bem. Depois da contribuição da Handicap International no tocante ao documento de posicionamento e ao resumo, a NFOWD deu continuidade à sua ação de defesa de interesses junto ao governo, ao mesmo tempo em que continuava a ser membro do Comitê Nacional sobre Deficiência dentro do governo.

4.2.5 LimitaçõesTodos os assuntos relacionados a pessoas com deficiência estão sob a responsabilidade do Ministério do Bem-Estar Social, de modo que a abordagem assistencialista ainda influencia o entendimento das questões da deficiência mais do que a abordagem baseada nos direitos de cidadania. A organização do processo PRS impôs muitas limitações. Todo o processo PRS foi pouco transparente, e mesmo dentro da sociedade civil, o intercâmbio de informações foi limitado. Em 2003, após a apresentação do I-PRSP, poucas pessoas tomaram conhecimento do processo. Além disso, as coisas eram feitas às pressas, a ponto de os representantes temerem que, mal tivessem concluído o primeiro PRSP, seria hora de começar a próxima versão. E, no início, algumas organizações criticaram o fato de o PRSP competir com outras políticas, como, por exemplo, os planos de ação nacionais. O Plano Nacional da Infância e o Plano Nacional para as Mulheres foram adotados por cinco anos, enquanto que o PRSP cobre apenas três anos. No entanto, em 2005 o PRS ganhou mais importância e nenhuma ONG pode ignorá-lo mais. O governo declarou que as organizações não seriam autorizadas a receber recursos internacionais para medidas que não tivessem relação com o PRSP (em Bangladesh, toda ONG que receba valores do exterior tem que estar registrada junto a um órgão governamental (Escritório para Assuntos de ONGs), e todo projeto necessita da aprovação final desse órgão. Em 2007 a relevância do PRS dobrou novamente: o PRSP foi aprovado ao fim do período legislativo em janeiro de 2007. Pouco depois, formou-se um governo interino que tinha outras prioridades que não a implementação do PRS (por ex., o combate à corrupção). Por conta disso, poucos programas PRS foram implementados até agora, embora já estejam em vigor algumas regras e diretrizes. As ONGs internacionais devem alinhar o

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seu trabalho em função do PRS; é o que já faz a maioria das organizações doadoras. A expectativa é de que o seguimento e a implementação do PRS prosseguirá assim que tomar posse um novo governo eleito.

4.2.6 PerspectivasE espera-se também que após a posse do novo governo o processo PRS ganhará novo dinamismo. Até lá, está prevista a criação de vários grupos de trabalho para levar à frente o processo de implementação, um deles, por exemplo, sob a égide do Ministério da Previdência Social. In this working group, NFOWD will be a member and will represent disability issues.

Mais informaçõesEste texto é baseado principalmente nas informações prestadas por Blandine Le Bourgois (Diretor da HI em Bangladesh), Anne-Laure Pignard-Rhein (ex-diretora da HI em Bangladesh) e pelo Dr. Nafeesur Rahman (diretor da NFOWD). Em março de 2007 a NFOWD e a Handicap International organizaram uma oficina que trouxe informações adicionais para este estudo de caso.

Bibliografia: Asia Pacific Development Centre on Disability: www.apcdproject.org

Forum for Development Dialog and Donor Coordination, Bangladesh on PRSP: www.lcgbangladesh.org/prsp/index.php

General Economics Division; Planning Commission; Government of People’s Republic of Bangladesh (2005): Bangladesh. Unlocking the Potential. National Strategy for Accelerated Poverty Reduction, 16 October.

Handicap International & NFOWD (2004): Disability and the PRSP in Bangladesh. A Position Document by Handicap International and NFOWD. Dhaka, January. Handicap International and NFOWD (July 2005): Disability in Bangladesh. A Study on Prevalence.

ILO (2002): Disability and Poverty Reduction Strategies. How to Ensure That Access of Persons with Disabilities to Decent and Productive Work Is Part of the PRSP Process. Geneva, November.

Save the Children UK, Save the Children Sweden-Denmark, CARE (Education), CONCERN (Education), Ain O Salish Kendra, Young Power in Social Action and NFOWD: Consultative Feedback on the PRSP in Bangladesh: Making the PRSP Child-Sensitive.

NFOWD: http://www.nfowd.com/

ADD (2004): In quest of disability sensitive PRSP.

4.3 Serra LeoaVisão geral

Processos e fases do PRS em Serra Leoa

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4.3.1 PRSP em Serra LeoaSerra Leoa iniciou o seu processo PRSP em 2000 e publicou um I-PRSP dois anos mais tarde. A motivação principal era obter alívio de dívidas. Foi longo o caminho até o PRSP final, que foi publicado só em maio de 2005. No início, os aportes da sociedade civil não foram levados em consideração. A barreira a ser superada pela sociedade civil, antes de tudo, era fazer-se ouvir, para só depois pensar em tomar parte no processo. A ActionAid organizou um processo participativo paralelo aos eventos oficiais, e hoje o documento PRSP oficial reconhece esse processo. Os doadores e a ONU criticaram fortemente o nível inadequado de participação, mas, mesmo assim, no início de 2005 aprovaram o PRSP, a fim de não causar mal-estar ao governo de Serra Leoa. Do contrário, todos os processos poderiam ter parado, e o processo PRS já tinha sofrido grande atraso em conseqüência de vários adiamentos de prazos a partir de 1º de dezembro de 2002. Houve várias explicações oficiais para o atraso: o impacto das atividades de pós-guerra (desarmamento, reassentamento de pessoas deslocadas, etc.), incertezas acerca das eleições e da assistência técnica e financeira, além de problemas estruturais no Escritório de Coordenação da Estratégia de Alívio da Pobreza (PASCO), a instituição encarregada de coordenar o processo PRS. A corrupção, que é geralmente um problema muito sério no país, foi uma das principais razões apontadas para restringir os recursos relacionados com o processo PRS. Estava previsto realizar-se uma reunião consultiva dos doadores para discutir tanto o PRSP como os empréstimos, no início de junho de 2005, em Paris, mas foi adiada. Oficialmente, a explicação dada foi a proximidade da reunião de cúpula (cimeira) do Grupo dos Oito (G8), mas a imprensa supõe que a razão real é a atual má-gestão e a corrupção dentro do governo e o temor dos doadores de que os empréstimos desapareçam novamente em vez de serem usados para a redução da pobreza.

4.3.2 Deficiência em Serra LeoaNão há dados claros disponíveis sobre a prevalência da deficiência. O documento PRSP menciona um número de 7 por cada 1000 pessoas, mas é de supor que seja muito baixo. A guerra no país gerou muitos casos de deficiência, por ex., amputações. Os dados do censo de 2003 indicam que 2,7 % da população têm alguma deficiência. Há só algumas poucas OPDs em Serra Leoa, todas relativamente novas e ainda sem grande capacidade de mobilização.

4.3.3 Deficiência e PRSP Em agosto de 2004, as (I)ONGs foram convidadas a comentar por escrito a última versão preliminar do PRSP, com prazo de 14 dias, portanto sob forte pressão de tempo. Juntamente com parceiros locais (entre outros, o Comitê Nacional de Reabilitação para Pessoas com Deficiência), a Handicap International redigiu um documento de posicionamento, parcialmente ajustado ao documento de posicionamento do Comitê Nacional, tendo como fontes principais, mais uma vez, o documento da OIT e as Regras Padrão da ONU. Este documento de posicionamento foi enviado ao comitê de planejamento, a vários doadores e ao Ministério do Bem-Estar Social. A introdução do documento crítica fortemente a forma geral como a deficiência é tratada na versão preliminar do PRSP, que, argumenta, seria uma forma de garantir que as pessoas deficientes permaneçam no buraco negro onde têm estado há séculos (Handicap International Serra Leoa, 2004). O governo, diz o documento, trata as pessoas com deficiência de maneira inadequada, apesar das consultas realizadas com pessoas com deficiência no processo de formulação do PRSP. O documento de posicionamento analisa a versão preliminar do PRSP capítulo por capítulo, faz críticas e apresentas sugestões, principalmente em relação à terminologia: palavras como os inválidos, os deficientes ou mesmo os aleijados refletem a falta de conhecimento e a ausência de uma definição real. Outras críticas referem-se à falta de dados e ao uso de números inconfiáveis, que resultam em falta de compreensão geral do que seja deficiência, que é reduzida basicamente à deficiência física, como, por exemplo, a perda de membros em conseqüência da guerra. O documento de posicionamento também desaprovaas ações previstas, por serem puramente globais e não específicas, e porque a deficiência precisa ser integrada seriamente nas políticas e na sociedade para se tornar uma questão transversal.

4.3.4 Resultados É muito difícil avaliar o impacto do documento de posicionamento. A versão oficial do PRSP publicada recentemente ainda contém amaioria das passagens sobre deficiência que foram criticadas no documento de posicionamento. Não aparecem mudanças significativas de terminologia: foi cortado o termo aleijados, mas os termos os inválidos e os deficientes ainda são usados no documento. Ao longo do documento, é evidente que não há um entendimento abrangente dos diferentes conceitos de deficiência,

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visto que o termo é usado principalmente para denotar as pessoas fisicamente deficientes, especialmente as vítimas de guerra. O PRSP reduz as pessoas com deficiência, juntamente com outros grupos, à categoria de “grupo vulnerável”: no entanto, isto não é de grande ajuda, pois os mecanismos específicos da inclusão não são nem reconhecidos nem abordados. O capítulo intitulado “Os vulneráveis” revela uma compreensão levemente melhorada: mostra como as pessoas com deficiência enfrentam dificuldades de diversas maneiras, tais como acesso limitado a recursos, emprego, saúde, serviços de reabilitação, discriminação e abuso. Não obstante, as ações políticas sugeridas para a deficiência são ainda muito seletivas e não a estabelecem como assunto transversal. Outras partes do documento oficial que mencionam de alguma forma a deficiência são: Educação; Melhorando a qualidade de vida dos vulneráveis; Desenvolvimento humano; Saúde e serviços de nutrição; Políticas de priorização da infância.

4.3.5 LimitaçõesDe modo geral, o processo participativo do PRSP pode ser considerado “amplo, mas sem profundidade” (Kovach, 2005, p. 3). As OSCs foram contatadas em diferentes níveis (comunitário, regional e nacional), mas seus comentários não foram realmente levados em consideração. A participação foi interpretada como mera consulta e troca de informação, o que significou que a sociedade civil não pôde influenciar de fato o conteúdo do PRSP. A Handicap International e seus parceiros também enfrentaram este problema: a maioria das sugestões apresentadas no documento de posicionamento não foi considerada. Todo o processo PRS parece ter encontrado numerosos problemas estruturais: o cronograma foi alterado várias vezes, o processo ficou muito mais caro do que o previsto, e a cooperação com as IFIs e outros doadores foi, às vezes, complicada.

4.3.6 PerspectivasA equipe que elaborou o documento de posicionamento não recebeu nenhum feedback dos doadores ou de outras agências. Não obstante, o trabalho conjunto teve alguns efeitos positivos, por ter criado uma nova dinâmica dentro da área da deficiência. Foram conduzidas algumas discussões de seguimento com a USAID (uma das principais agências doadoras no processo PRS), e a equipe da USAID pareceu interessada na questão, tendo-se prontificado a encaminhar o documento ao embaixador dos EUA.

Mais informaçõesEsta seção se baseia principalmente em comunicações com Lucile Papon, ex-diretora da Handicap International em Serra Leoa

Bibliografia: Handicap International Serra Leoa (2004): Disability and the PRSP Sierra Leone. Comments and Propositions by Members of the National Committee of Rehabilitation for People with Disabilities. Freetown, August.

ILO (2002): Disability and Poverty Reduction Strategies. How to Ensure That Access of Persons with Disabilities to Decent and Productive Work Is Part of the PRSP Process. Geneva, November.

Eurodad with Campaign for Good Governance (January 2008): Old habits die hard: Aid and accountability in Sierra Leone

Kovach, Hetty (2005): A New Development Agenda? Sierra Leone’s First PRSP. European Network on Debt and Development, July.

Censo de Serra Leoa: http://www.statistics.sl/

Transparency International, Corruption Report: http://www.transparency.org/

4.4 TanzâniaVisão geral

Processos e fases do PRS na Tanzânia

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4.4.1 PRSP na TanzâniaA Tanzânia foi um dos primeiros países a iniciar um processo PRS. O I-PRSP foi encaminhado ao Banco Mundial e ao FMI em março de 2000 e, poucos meses mais tarde, a versão final. A intenção do governo era obter alívio de dívidas o mais cedo possível. Como o primeiro PRSP foi redigido às pressas, não houve espaço suficiente para a participação da sociedade civil, e as ONGs e organizações doadoras internacionais dominaram o processo. Em 2002 realizou-se a primeira Semana da Política de Combate à Pobreza, durante a qual todas as partes interessadas puderam discutir o estado de progresso do PRSP e a sociedade civil pôde participar da formulação do APR. Este evento, juntamente com a criação do Comitê de Monitoramento da Pobreza e diferentes grupos de trabalho técnicos, gradualmente aumentou a participação da sociedade civil. A rede da sociedade civil tanzaniana é bastante forte: conseguiu realizar monitoramento independente e produziu materiais fáceis de entender sobre o PRSP. Muitas ONGs são filiadas ao Fórum de Políticas ONG para assegurar a participação da sociedade civil no PRSP. A revisão do primeiro PRSP começou em 2003 e, em 2005, foi publicado a segunda estratégia (localmente conhecida pela abreviação em suahili - MKUKUTA). O Ministério da Fazenda e o Gabinete da Vice-Presidência coordenam todo o processo.

4.4.2 Deficiência na TanzâniaSegundo o censo nacional de 2002, 3% da população tanzaniana têm algum tipo de deficiência. Outras estatísticas oficiais (por ex., a Análise da Pobreza de 2002/2003) contrapõem que 10% da população têm alguma deficiência, o que equivale a 3.456.000 de pessoas. A maioria dos casos é devida a deficiências físicas e visuais. Há uma série de OPDs e de organizações para pessoas com deficiência. O movimento da deficiência na Tanzânia está solidamente estabelecido. Shivyawata é uma federação que congrega seis OPDs representando diferentes tipos deficiência, mais as suas filiadas regionais, e abarca um grande número de pessoas. Outras importantes OPDs em Dar-es-Salaam são a Organização de Deficientes para Assuntos Legais e Desenvolvimento Sócio-Econômico (sigla inglesa DOLASED) e o Centro de Informação sobre Deficiência (ICD).

4.4.3 Deficiência e PRSPO primeiro PRSP raramente levou em consideração as pessoas com deficiência e os seus interesses. Este fato foi mencionado pela primeira vez por doadores durante a Reunião do Grupo Consultivo de 2002 (uma reunião de doadores, governo e da sociedade civil). No final daquele ano, um representante de uma OPD (DOLASED) participou e pronunciou-se na Semana da Política de Combate à Pobreza. Desde então, diferentes OPDs e a federação dessas organizações, Shivyawata, têm tentado fazer-se ouvir. Tiveram sucesso durante o processo de revisão, logrando obter verbas do Gabinete da Vice-Presidência e do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PDNU) para realizar avaliações participativas da pobreza (PPAs) e para organizar audiências públicas em 2002/2003. O objetivo desses PPAs era coletar “vozes dos pobres” e obter informações específicas acerca das condições de vida das pessoas com deficiência. O levantamento foi conduzido pela Shivyawata e pelo ICD em 21 regiões por todo o país. A constatação mais importante foi que as pessoas com deficiência estão entre as mais vulneráveis à pobreza e que seus problemas são multidimensionais. No processo de elaboração do segundo PRSP (MKUKUTA), as OPDs foram convidadas em todos os níveis a participar das reuniões consultivas ou seminários organizados pelo Gabinete do Vice-Presidente. Desta forma, influenciaram o documento, primeiro através dos dados levantados, posteriormente, participando na formulação da última versão preliminar. Trabalho em rede e lobbying foram importantes durante todo o processo. Por exemplo, o ICD, a DOLASED e outras OPDs participaram no Fórum da Política de ONG. Tinham bons contatos com pessoas nos comitês responsáveis pelas decisões. Essas pessoas conheciam a questão da deficiência e informavam sobre o processo em andamento. A cooperação com o Ministério do Trabalho, Juventude e Desporto/Bem-Estar Social, responsável pelas questões de deficiência, é particularmente notável.

Para promover a implementação do PRSP, a Christoffel Blindenmission (CBM) e OPDs tanzanianas organizaram uma oficina em setembro de 2005, e convidaram uma série de organizações de pessoas com deficiência e para elas, bem como representantes de instituições governamentais e internacionais. A oficina foi um grande sucesso, com uma média de 60 participantes em cada um dos três dias. Um dos resultados foi a criação da Rede de Deficiência Mkukuta na Tanzânia, que acompanha de perto a execução das ações.

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4.4.4 ResultadosGraças ao engajamento das OPDs, o PRSP atual contém várias passagens com menções às pessoas com deficiência e os seus interesses. A deficiência é tratada quase como tema transversal, pois está incorporada a sete setores e em todos os chamados agrupamentos (clusters) do documento. A deficiência é reconhecida como uma causa importante da pobreza. O segundo PRSP reconhece claramente os pontos fracos do primeiro PRSP nessas questões. Isto mostra que o processo PRS tanzaniano representa um autêntico ciclo de aprendizado, e que a estratégia foi ajustada à situação específica do país. A oficina em setembro de 2005 foi um verdadeiro marco, por reunir muitas e diferentes partes interessadas. Como resultado, uma série de organizações participantes prometeram implantar projetos de redução da pobreza e apresentaram sugestões úteis. A oficina constituiu o ponto de partida para a Rede da Desabilidade MKUKUTA.

4.4.5 LimitaçõesA falta de tempo limitou consideravelmente a produção do primeiro PRSP e, quando o processo era ainda incipiente, a sociedade civil mal teve possibilidade de participar. As pessoas com deficiência ficaram totalmente excluídas. No início havia muito pouco trabalho em rede, coordenação, troca de informação e divisão de tarefas entre as diferentes OPDs. Esta situação melhorou decididamente com a oficina de setembro de 2005 e a criação da rede de trabalho. No entanto, apesar do seu sucesso, a oficina não contou com a participação de nenhum representante de alto nível do governo, dos ministérios ou do Banco Mundial. Embora o segundo PRSP fale de deficiência em várias pontos, muitas questões continuam pouco claras, como, por exemplo, reabilitação, assistência técnica e combate a atitudes negativas. Até hoje não há uma definição comum de deficiência na Tanzânia, dificultando a coleta de dados e a comparação dos números. Embora o segundo PRSP já tenha sido publicado, os planos de implementação (cronograma, responsabilidades, etc) e de monitoramento e avaliação ainda estão mal-estruturados. Por isso, continua sendo difícil para as OPDs tanzanianas encontrar um modo de cooperação com as instituições responsáveis. Ainda não são levadas em consideração, nem convidadas para as reuniões, por exemplo, para a revisão do plano de monitoramento.

4.4.6 PerspectivasA oficina de setembro ofereceu opções realmente novas, ao popularizar as questões em torno de PRSP e deficiência, permitindo aos participantes de vários diferentes contextos engajar-se numa ampla discussão dos assuntos. A formalização da Rede de Deficiência MKUKUTA assegurará a implementação dos pontos de ação estabelecidos e é uma plataforma útil para o compartilhamento de informações e monitoramento. Esta rede é composta não apenas por OPDs, mas congrega também representantes do governo e de instituições internacionais, que trabalham como assessores e prestadores de suporte técnico. No início a rede decidiu concentrar seus esforços na implementação de atividades relacionadas com a educação e em aumentar o nível de conhecimentos sobre o processo PRS entre as organizações dedicadas à deficiência. No primeiro ano, a rede se concentrará na implementação das atividades relacionadas com educação. Com esta clara prioridade, a rede não corre o risco de abarcar demasiadas questões e perder a visão do conjunto.

Mais informaçõesEste estudo de caso se baseia principalmente em informações prestadas por Judith van der Veen (coordenadora da oficina, CBM Tanzânia), Gideon Mandes (diretor da DOLASED), Henry Wimilie (membro da diretoria do ICD), bem como de palestrantes e participantes da oficina de setembro de 2005.

Bibliografia: African Decade (2005): Tanzania Country Profile (com informações sobre as organizações que trabalham na área da deficiência). Disponível em: www.africandecade.org.za

PRSP Watch (2005): Tanzania Country Profile. Disponível em: www.prsp-watch.de/countries/tanzania.pdf

Website de monitoramento da pobreza na Tanzânia: www.povertymonitoring.go.tz, que inclui relatórios das Semanas da Política de Combate à Pobreza

República Unida da Tanzânia. Vice President’s Office (2005): National Strategy for Growth and Reduction of Poverty (NSGRP), abril. Disponível em: http://www.tanzania.go.tz/nsgrf.html

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Processos e fases do PRS

4.5.1 PRSP no Camboja O Camboja iniciou o seu processo PRS em 2000 e publicou um PRSP preliminar em 2001. O primeiro PRSP cambojano completo foi a “Estratégia Nacional de Redução da Pobreza” (NPRS), que cobriu o período de 2003-2005. Seguiu-se o “Plano Nacional de Desenvolvimento Estratégico 2006-2010” (NSDP). Paralelamente ao primeiro PRS (ou NPRS), foram aplicadas várias outras estratégias de desenvolvimento, como o Segundo Plano de Desenvolvimento Socioeconômico (SEDPII, 2001-2005). O governo se deu conta de que essas estratégias eram de certa maneira concorrentes e combinou-as no segundo PRS/BSDP. Este é agora considerado o plano de desenvolvimento estratégico “único e abrangente para perseguir objetivos prioritários”, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio do Camboja (CMDGs) – uma adaptação dos ODMs – para o período 2006-2010. O principal organismo governamental do PRS é a Diretoria Geral de Planejamento, subordinado ao Ministério do Planejamento. Como a participação dos outros ministérios foi considerada insuficiente, criou-se um Grupo de Trabalho Técnico Interministerial para formular o SDP, integrado por 29 ministérios e departamentos governamentais. Além disso, criou-se ainda o Grupo de Trabalho Técnico de Planejamento e Redução da Pobreza (TWG-PPR) para possibilitar que diferentes grupos interessados, inclusive a sociedade civil, entrassem com contribuições coordenadas ao processo. O Foro das ONGs é o ponto focal para a sociedade civil, representando 83 organizações associadas. O Foro é responsável pela coordenação das ligações entre governo e sociedade civil nas fases de implementação, monitoramento e avaliação do PRS. Tanto as organizações associadas como não associadas podem participar de grupos setoriais e contribuir para planos setoriais e subnacionais. Embora muitos grupos interessados participem dos dois processos PRS nacionais, a participação ainda era estreitamente limitada a funcionários do governo no Ministério do Planejamento. As contribuições das poucas ONGs incluídas no processo são aceitas apenas esporadicamente pelo governo real, e as ONGs em geral são de opinião que tem havido debate insuficiente nas questões controversas entre o governo e a sociedade civil mais ampla. Em comparação com o PRSP anterior, o NSDP é visto como a estratégia melhor, por oferecer maior protagonismo, mais participação efetiva na fase de implementação, avaliação e monitoramento, mecanismos mais apropriados e menos ambiciosos, diagnósticos menos detalhados porém mais abrangentes da pobreza, e coordenação institucional mais abrangente, embora haja ainda importantes falhas de protagonismos e falte melhorar os mecanismos de monitoramento e tornar mais substanciais os relatórios sobre o progresso alcançado na implementação do NSDP.

4.5.2 Deficiência no Camboja As estatísticas sobre pessoas com deficiência no Camboja variam muito, com estimativas que vão desde 2,2% (censo socioeconômico, 1997) até 15% (ADB, 1999). A paralisia infantil e os acidentes com minas terrestres estão entre as principais causas de diminuição da capacidade. O número de pessoas com diminuição da capacidade auditiva também é elevado (300.000).

As pessoas com deficiência são um dos grupos mais vulneráveis na sociedade cambojana. São geralmente os mais pobres entre os pobres, com acesso muito limitado às fontes de recursos, serviços sociais básicos, educação, formação vocacional, emprego e oportunidades de geração de renda, o que agrava a sua pobreza. Além disso, são vistos com um grupo de pessoas sem esperança, sozinhos e isolados e não recebem afeto suficiente da família, parentes e amigos. Este comportamento social põe pressão sobre as pessoas com deficiência, e representa o grande desafio para todas as organizações que trabalham

4.5 CambojaVisão geral

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pela inclusão plena das pessoas com deficiência. Muitas vezes, as capacidades das pessoas com deficiência não é reconhecida e elas têm que enfrentar a marginalização social e econômica.

Grupos interessados em deficiênciaHá um número limitado de grupos interessados em deficiência tanto a nível nacional como provincial. Da parte do governo, as responsabilidades estão atribuídas a vários ministérios, como o Ministério de Assuntos Sociais e Reabilitação de Veteranos e Jovens (MOSVY), Ministério da Educação Juventude e Desporto (MOEYS) e Ministério da Saúde. O Conselho de Ação Deficiência (DAC) é uma organização paraestatal que funciona como organismo oficial de coordenação entre os grupos interessados em deficiência. A Organização de Pessoas Deficientes do Camboja (CDPO), o Centro Nacional de Pessoas Deficientes (NCDP), Ação de Deficiência e Desenvolvimento (ADD) e a Associação dos Cegos em Camboja (ABC) podem ser consideradas as principais organizações de pessoas com deficiência e para elas. Todas elas estão sediadas em Phnom Penh, com algumas filiais a nível distrital. Além dessas organizações, algumas ONGs internacionais também desempenham um papel importante no setor de deficiência, tal como World Vision, Handicap International e Veterans International, Em geral, o movimento das pessoas com deficiência no Camboja é ainda fraco, por várias razões. É forçoso reconhecer que uma das entidades chaves operando no setor da deficiência vem atravessando um longo período de reestruturação. O processo de trabalho e as abordagens da maior parte das organizações de deficiência dependem muito de organizações internacionais, entidades doadoras e do governo. Além disso, o apoio do governo para o setor da deficiência continua limitado. No entanto, o ambiente legislativo em relação à deficiência parece ter melhorado, pois uma lei nacional específica, denominada “Proteção e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência” deverá ser aprovada em breve e a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi assinada pelo governo.

4.5.3 Deficiência e PRSPOs dois documentos PRS cambojanos fizeram poucas referências a questões de deficiência. Até 2007 as pessoas com deficiência e as suas organizações não participaram do processo PRS, nem sabiam do PRS. Em 2006 a Handicap International começou a implementar um projeto financiado pelo governo alemão com o objetivo de capacitar as pessoas com deficiência e as suas organizações a tornar o PRS mais inclusivo. Como as organizações de deficiência não tinham conhecimento sobre o PRS, o primeiro passo do projeto foi disseminar informações. A Handicap International organizou diversas reuniões com as principais organizações de/para pessoas com deficiência para informá-las a respeito do processo e desenvolver uma estratégia para influenciar o PRS. O primeiro passo foi fundar o “Comitê Inclusivo NSDP”, com cinco grupos importantes de interessados em deficiência. A idéia desse comitê era canalizar os esforços dos diferentes grupos interessados em deficiência e falar por eles com uma só voz no processo PRS. Para começar, o comitê organizou uma oficina em janeiro de 2007, em que se reuniram grupos interessados do campo da deficiência e com experiência em PRS. A oficina revelou-se extremamente útil para difundir conhecimentos sobre o PRS entre os grupos interessados em deficiência e para despertar a atenção dos grupos interessados em PRS para a questão da deficiência. O Foro das ONGs tomou a notável iniciativa de convidar os grupos interessados em deficiência para contribuir no relatório de monitoramento sobre a implementação do PRS, que é preparado anualmente pelas organizações associados ao Foro das ONGs e em seguida apresentado ao governo e às instituições doadoras. Paralelamente a essas atividades, o coordenador do projeto identificou pontos de entrada potenciais no PRS para os grupos interessados em deficiência e preparou um relatório de análise sobre o assunto. Um ponto de entrada identificado foi contribuir para o relatório de monitoramento e para o relatório dos grupos de trabalho setoriais. Graças a essas atividades, os membros do Comitê Inclusivo NSDP tiveram oportunidade de participar de cursos oferecidos pelo Foro.

Além disso, o projeto lançou um convite à apresentação de propostas e ofereceu microcréditos a organizações a nível local. A idéia era dar às OPDs locais a oportunidade de implementar projetos de pequena escala ligados à redução da pobreza, demonstrando assim a nível local como as atividades para pessoas com deficiência poderiam funcionar.

4.5.4 ResultadosA participação no processo PRS foi e continua a ser um processo de aprendizagem para os grupos interessados. Embora o projeto tenha sido iniciado por uma ONG internacional, os grupos interessados em deficiência no Camboja, especialmente os integrantes do Comitê Inclusivo NSDP, foram assumindo pouco a pouco a responsabilidade para o trabalho de defesa de interesses e lobby. Gradualmente, os integrantes do comitê incorporaram o trabalho de lobby e defesa de interesses para um PRS inclusive às suas

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atividades normais. A inclusão de aspectos da deficiência na declaração de monitoramento do Foro das ONGs representou um importante sucesso. E alcançou ampla visibilidade graças ao encaminhamento da declaração a várias organizações doadoras, instituições governamentais e organizações da sociedade civil.

A nível comunitário, os microprojetos também melhoraram o nível de atenção das autoridades. Vários organismos comunitários deram sinais de que pretendem incluir aspectos da deficiência nos seus planos de desenvolvimento comunitário (CPDs). A maioria desses projetos conseguiram estabelecer consultas regulares e debates com os conselhos municipais. Embora essas relações tenham apenas começado, os problemas e necessidades das pessoas com deficiência a nível local foram finalmente reconhecidos e levados em consideração. Várias ações imediatas adotadas pelos conselhos municipais a respeito das pessoas com deficiência, como o convite para participar de alguns programas de formação vocacional em centros de formação provincial ou distrital; o reconhecimento de pessoas com deficiência como cidadãos pobres com livre acesso aos centros de saúde; e mensagens pela redução da discriminação contra pessoas com deficiência e de encorajamento pela participação nas atividades socioeconômicas.

4.5.5 LimitaçõesA identificação de pontos de entrada no Camboja foi bastante difícil devido a não haver referências à deficiência no próprio PRSP. Quando apareceu a oportunidade de contribuir para o relatório de monitoramento, não havia muito tempo para preparar uma declaração com ampla participação de diferentes grupos interessados em deficiência. Isto significou que o documento foi escrito principalmente pela Handicap International e pelo Comitê Inclusivo NSDP. Além disso, não houve inclusão de aspectos de deficiência nos indicadores conjuntos de monitoramento do NSDP acordado entre o governo e as instituições doadoras após a apresentação da declaração do Foro das ONGs. O projeto e as atividades do Comitê Inclusivo NSDP contribuíram para melhorar a o trabalho em rede entre os grupos interessados em deficiência. No entanto, continua difícil obter ampla participação para certas ações, como, por exemplo, a redação da declaração). Além disso, o comitê só tem cinco membros e não representa a diversidade das pessoas com deficiência, especialmente dos grupos mais excluídos, como as mulheres com deficiências ou pessoas com diminuição da capacidade auditiva e intelectual.

A nível local as OPDs muitas vezes não têm capacidade de implementar projetos e realizar trabalho de lobby e defesa de interesses ao mesmo tempo.

4.5.6 PerspectivasPara a capacitação a nível local, o projeto oferecerá cursos para as OPDs sobre defesa de interesse e lobby, gestão financeira e liderança. Nos próximos meses o Comitê Inclusivo NSDP também dará prioridade às atividades de lobby e conscientização. Será produzido um curto documentário para a TV para chamar a atenção para a situação das pessoas com deficiência e a necessidade da sua inclusão nas medidas de redução da pobreza.

O Comitê Inclusivo NSDP pretende também aumentar a sua legitimidade e representar um leque mais amplo de pessoas com deficiência e criar um grupo de trabalho encarregado de elaborar uma estratégia.

Mais informaçõesEste estudo de caso é baseado principalmente em informações obtidas com a equipe de projeto no Camboja, especialmente de Ratha Ken (coordenador de projetos da Handicap International) e Lucile Papon (diretora de área da Handicap International).

Bibliografia: Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca: Royal Government of Cambodia's Development Strategies and Policies

Comissão de Reabilitação e Desenvolvimento do Camboja – Conselho de Desenvolvimento do Camboja: http://www.cdc-crdb.gov.kh/

Ministério do Planejamento do Camboja: http://www.mop.gov.kh/

NGO Forum: http://www.ngoforum.org.kh/

NGO Forum (June 2007): NGO Position Papers on Cambodia's Development in 2006. Monitoring of Joint Monitoring Indicators and Implementation of the National Strategic Development Plan.

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Handicap International (França) em colaboração com DAC, NCDP, CDPO and ADD (March 2007): Situational Analysis on Disability and PRSP in Cambodia.

4.6 VietnameVisão geral

Processo e fases do PRS no Vietname

4.6.1 Redução da pobreza no VietnameO Vietname integrou os princípios mais importantes da sua Estratégia Ampla de Redução da Pobreza e Crescimento (CPRGS) ao plano quinquenal de desenvolvimento sócio-econômico (SEDP). O CPRGS fez as vezes de PRS de 2002 a 2005. Por isso, este capítulo focará tanto o CPRGS como outras estratégias nacionais de redução da pobreza.

PRS no Vietname: O CPRGSEm 2000 o governo do Vietname decidiu realizar um processo PRS e publicou um PRSP interino (I-PRSP) em março de 2001. A versão final foi publicada em 2002, sob o título de CPRGS, e foi complementada com uma seção sobre infra-estrutura em 2003. Criou-se um comitê interministerial para formular o CPRGS, consistindo de 52 funcionários de 16 agências governamentais, e presidido pelo Ministério do Planejamento e Investimento (MPI). As instituições doadoras, tais como o Banco Mundial, o FMI e entidades bilaterais participaram da organização do processo consultivo. Representantes da sociedade civil foram contatados através de organizações de massa para-estatais (como a união das mulheres), organizadas sob a égide da frente patriótica do Partido Comunista. A participação na tomada de decisão e implementação a nível local (comunitário e distrital) foi autorizado pelo decreto da cidadania, incluindo assim os setores verdadeiramente pobres. No entanto, a despeito de alguns efeitos positivos, a participação a nível local não pode ser chamada nem de ampla nem de institucionalizada.

Combinação de PRS e políticas internasA estratégia política geral do Vietname está documentada nos planos nacionais decenais e quinquenais.

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São planos com objetivos claros, indicadores e metas. Um dos objetivos do plano quinquenal (2006-2010) é o de reduzir a taxa de pobreza para 11% (de 15% em 2007). Os programas de meta estão ligados a esses planos abarcantes, por ex., o denominado programa de redução da pobreza e erradicação da fome (HEPR), ratificado pelo governo em 1998. É um programa resultante de um processo de vários anos, envolvendo interacção com as iniciativas locais. O programa incluía estudos e resumos do governo e tinha a intenção formular políticas públicas para encontrar soluções que dessem condições ao Vietname para resolver problemas cada vez maiores de fome e pobreza surgidos no início da década de 1990. Ao formular um programa de metas nacional, o planejamento do governo passou a incluir objetivos de redução da pobreza e erradicação da fome que pela primeira vez tinham definições concretas e um claro mecanismo de supervisão. As atividades e recursos foram planejados e implementados como parte do plano de desenvolvimento de autoridades em todos os níveis. Isto é demonstrador do compromisso do Vietname com a redução da pobreza mesmo antes de o FMI e o Banco Mundial terem introduzido a abordagem do PRS. O governo vietnamita renomeou o programa na segunda fase (2006-2010) para Programa Nacional de Metas para a Redução da Pobreza (NTP-PR), refletindo a erradicação da fome, mas não da pobreza. Em 2006 o governo vietnamita decidiu seguir o exercício do PRS de acordo com a abordagem do Banco Mundial, mas declarou que os planos decenais e quinquenais continuarão a ser a base das políticas públicas de redução da pobreza. Embora o enfoque PRS parecesse inicialmente duplicar os processos de planejamento internos, teve alguns efeitos positivos em duas áreas importantes:

1. Mais ministérios se tornaram responsáveis pela redução da pobreza: Antes da elaboração do CPRGS, só o Ministério do Trabalho, Inválidos e Assuntos Sociais (MOLISA) era responsável pela redução da pobreza. De qualquer forma, o CPRGS transformou a redução da pobreza numa questão importante para praticamente todos os ministérios do país, culminando na sua transformação em questão transversal após a integração da redução da pobreza ao Plano de Desenvolvimento Socio-Econômico 2006-2010 (SEDP).

2. Harmonização e alinhamento das instituições doadoras às políticas nacionais: O CPRGS veio ao encontro do desejo das instituições doadoras em harmonizar as suas atividades. Criado para discutir os diferentes projetos, Grupo de Trabalho sobre a Pobreza é integrado pelo governo, Banco Mundial e FMI, organizações doadoras bilaterais e ONGs internacionais.

Apoio do Banco MundialEmbora o Vietname não siga à risca a abordagem PRS, o Banco Mundial mantém o seu apoio técnico e financeiro. O CPRGS serviu de base para o Crédito de Apoio à Redução da Pobreza (PRSC), gerido pelo Banco Mundial e financiado por várias instituições doadoras (por ex., Alemanha). Os resultados do PRSC são apresentados em “relatórios sobre o desenvolvimento vietnamita” (VDR). São relatórios publicados anualmente em conjunto pelos doadores e tratam de um assunto de cada vez e estão sob a responsabilidade do Banco Mundial. O título do relatório de 2007 foi “Aiming High” (“altas metas”), com foco na avaliação dos SEDP/CPRGS. O relatório VDR também serve de base para todas as decisões sobre novos pagamentos e programas. Em meados de 2006 o Banco Mundial convidou as ONGs para participar das discussões com a comunidade doadora sobre as ações políticas prioritárias necessárias para implementar o SEDP nos próximos cinco anos, com o objetivo de discutir essas ações com o governo vietnamita como parte das negociações sobre o PRSC.

4.6.2 Deficiência no VietnameDe acordo com dados da MOLISA, 6,34% da população (isto é, 5,3 milhões de pessoas) são portadores de deficiências (dados do Plano de Ação Nacional de Apoio às Pessoas com Deficiência, que faz parte do SEDP). A maioria dessas pessoas tem uma diminuição da capacidade que afeta a sua mobilidade (29,41%). A maioria dos casos de diminuição da capacidade tem causas congênitas (35,80%), doenças (32,34%) e guerra (25,56%). Espera-se que no futuro o número dos inválidos de guerra diminua, mas os casos de diminuição de capacidade causada por acidentes de trânsito ou HIV/AIDS aumentarão. Em comparação com o resto da sociedade vietnamita, as pessoas com deficiência ainda têm escolaridade mais baixa, com 41,01% de analfabetos. Em consequência, os índices de desemprego são também maiores (30,00%). 32,50% dos domicílios com um membro da família vivem abaixo da linha de pobreza. Um total de 87,20% das pessoas com deficiência vivem em áreas rurais.

Apoio governamental para pessoas com deficiênciaJá na década de 1950-60 o governo começou a desenvolver políticas públicas em favor das pessoas com deficiência. A primeira constituição do país foi publicada em 1959. Desde então, foram baixados vários decretos referentes a pessoas com deficiência, dos quais o mais importante foi a Portaria sobre Pessoas Deficientes, em 1998, que será substituído pela Lei sobre as pessoas com deficiência em 2008 ou 2009. Nos últimos anos tem havido crescente apoio político para pessoas com deficiência. O Vietname participa ativamente da Década das Pessoas Deficientes da Ásia e do Pacífico (primeira década 1993-2002, segunda 2003-2012). Consequentemente, as políticas públicas agora se orientam para o mecanismo BIWACO (rumo a uma sociedade inclusiva, livre de obstáculos e baseadas em direitos para pessoas com deficiência na Ásia e Pacífico). O Plano de Ação Nacional de Apoio às Pessoas com Deficiência (NAP) (Decisão 239 de 24 de outubro de 2006) reflete as prioridades do mecanismo BIWACO.

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Em novembro de 2007, o Vietname assinou a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Existem, portanto, políticas públicas sobre deficiência, mas os recursos para a sua implementação são muito limitados.

Principais grupos interessadosHá toda uma gama de grupos interessados em deficiência no Vietname, especialmente nas áreas urbanas, e esses grupos abrangem diversas categorias: organizações governamentais, organizações parestatais (incluindo representantes do governo e integrantes da sociedade civil), e ONGs internacionais e OPDs (incluindo grupos de auto-assistência). MOLISA tem o mandato político para cuidar das pessoas com deficiência, embora outros ministérios, como o Ministério da Educação e da Formação (MEF) e o Ministério da Saúde (MS), sejam também muito atuantes em atividades para pessoas com deficiência. A instituição mais importante, a nível governamental, é o “Comissão Nacional de Coordenação de Deficiência no Vietname” (CNCD). Este organismo foi fundado em 2001 e é composto por representantes de 17 ministérios, duas organizações para pessoas com deficiência e três organizações de pessoas com deficiência. O CNCD tem fortes ligações com MOLISA: é presidido pelo vice-ministro de MOLISA, e o escritório do CNCD fica dentro ministério.

Além desses importantes organismos, as seguintes ONGs internacionais têm grande influência em assuntos da deficiência no Vietname:

● AVD (Assistência Vietnamita para Deficientes), fundada por um cidadão americano de origem vietnamita em 1991, trabalha em estreita cooperação com o CNCD e MOLISA, por exemplo, no desenvolvimento e implementação do NAP.

● O Serviço Assistencial Católico (SAC), World Concern, Health Volunteers Overseas (HVO), Handicap International e um grande número de outras ONGs internacionais estão implementando projetos de apoio a pessoas com deficiência em todo o país. As atividades vão desde o seguro de saúde, segurança no trânsito e provisão de aparelhos à educação inclusiva e à reabilitação baseada na comunidade.

Organizações de pessoas deficientes e grupos de auto-assistência:

● A Associação Hanói, uma organização central com 19 organizações de pessoas com deficiência (OPDs) da capital. Fundada no início de 2006, é uma organização relativamente nova, mas tem boas relações com as estruturas governamentais.

● “Futuro Brilhante”, outro grupo muito influente. Compreende pessoas com deficiência de alto nível de escolaridade, e um dos primeiros grupos de auto-assistência a ser oficialmente reconhecido.

● O Foro da Deficiência, que representa um número enorme de grupos de auto-assistência e abarca grandes OPDs e ONGs internacionais.

● A Associação Nacional dos Cegos, a OPD mais antiga do Vietname (fundada em 1969) e a única OPD com representação em escala nacional.

● Associações de Pessoas com Deficiência e Órfãos

A par dessa organizações e instituições, estão ganhando importância empresas sem fins lucrativos que empregam pessoas com deficiência, por exemplo, a Associação do Vietname de Empresas de Pessoas com Deficiência (AVEPD). A maioria dessas organizações encontram-se em Hanói e outras áreas urbanas. Em 2008 será fundada uma organização central nacional de OPDs para suprir a falta de uma entidade representativa nacional para pessoas com deficiência.

4.6.3 Deficiência e Estratégias de Redução da PobrezaEstratégias de redução da pobrezaHá poucas referências a respeito de deficiência no CPRGS e no SEDP, e as que existem referem-se a questões ligadas à proteção social e saúde. Isto mostra claramente que pensar em deficiência ainda não é uma idéia corrente no planejamento das políticas públicas vietnamitas. Não sabemos se as pessoas com deficiência têm a possibilidade de comentar os projetos de documentos.

Plano de Ação Nacional sobre deficiência (NAP)A adoção do NAP denota uma abordagem mais abrangente em relação às questões da deficiência, na medida em que são tratados vários setores, com inclusão de quase todos os ministérios. Entre os principais grupos interessados dentro do cenário da deficiência, as estruturas governamentais e paraestatais foram capazes de influenciar o documento (nomeadamente a MOLISA e o CNCD), juntamente com a AVD, que trabalharam na redação do documento e entrarão com a coordenação da implementação. Com a ajuda da AVD, a MOLISA realizou duas oficinas nacionais para líderes provinciais na região norte e sul. Até o momento, apenas 20 províncias desenvolveram um NAP anual. AVD está realizando projetos pilotos em duas províncias para implementar o NAP. As atividades do projeto estão voltadas para os tomadores de decisão

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a nível provincial (DOLISA – o Departamento de Trabalho, Inválidos e Assuntos Sociais e o Comitê Popular) e abrangem organizações cidadãs dedicadas à deficiência. Entre as realizações incluem-se cursos de capacitação para a coleta de informações sobre deficiência, redação de planos de desenvolvimento provinciais e planejamento orçamentário. Atualmente, as atividades do NAP focam a coleta de dados como base para atividades concretas de redução da pobreza. Como resultado disso, o aumento da consciência sobre as questões da deficiência se reflete na mudança dos serviços assistenciais e de caridade em direção à melhoria da acessibilidade e das instalações educativas. A despeito das reivindicações de uma abordagem participativa, continua sendo difícil para as organizações que trabalham em iniciativas a nível comunitário influenciar os documentos de políticas públicas.

Atividades do Banco MundialIsto não se aplica só para as políticas de governo, mas também para o processo do Banco Mundial no Vietname. Em junho de 2006, ONGs foram convidadas a comentar as versões preliminares do Relatório de Desenvolvimento Vietnamita (VDR) e a participar das reuniões. Neste contexto, um representante do Foro da Deficiência teve oportunidade de participar e tentou disseminar a deficiência para todos os setores. Numa avaliação da participação de ONGs, o maior impacto observado foi sobre as ações de política em relação à deficiência. Foi também no campo da deficiência que houve as consultas mais amplas, incluindo organizações de deficiência criadas por iniciativa de cidadãos. Todas as ações de política PRSC referem-se às medidas propostas pelas ONGs: melhor acesso a microcréditos e a treinamento para montar negócios; melhor acesso de habilitação de condutores e registros de veículos especiais; aumento de matrículas escolares de crianças com deficiência; mais recursos para o diagnóstico precoce de deficiências e para aparelhos para deficientes. Além disso, o relatório de avaliação menciona que as ONGs e as organizações da sociedade civil em geral podem exercer um papel participando do monitoramento do SEDP, tanto em termos de concepção a nível local, como no processo real de verificações.

Projeto piloto a nível provincialUm projeto piloto na província de Thanh Hoa, implementado pela GTZ em cooperação com o DED, é voltado para pessoas com deficiência a nível de iniciativa de cidadãos. Está ligado a um projeto conjunto alemão-vietnamita de cooperação para o desenvolvimento ((GTZ, DED and MOLISA) denominado “Apoio para a Redução da Pobreza”, realizado em estreita cooperação com DOLISA e a Associação para Pessoas com Deficiência e Órfãos. Quando o processo de planejamento do NAP da província de Thanh Hoa ainda não tinha começado, o projeto piloto tinha por objetivo capacitar os grupos de ajuda mútua, como uma parte da sociedade civil, a disseminar a deficiência nos programas de desenvolvimento. Numa oficina de planejamento, os grupos interessados – pessoas dos grupos de ajuda mútua e de outras organizações de deficiência, bem como representantes do DOLISA e DOET (Departamento de Educação e Treinamento) – receberam uma introdução ao NAP e esclareceram as suas necessidades a fim de poder participar do processo de planejamento político. Por conta disso, o manual “A dimensão inclusiva do PRSP” foi traduzido para o vietnamita. As atividades do projeto giraram em torno da criação de uma rede de trabalho e capacitação. Daí resultou uma série de oficinas – compreendendo a elaboração de materiais para cursos - nas quais se apresentaram aos grupos interessados diferentes modelos de deficiência, além de políticas públicas nacionais e internacionais em relação à deficiência, incluindo oportunidades concretas de aprendizagem de técnicas de conscientização, defesa de interesses e de lobby e apoio entre pares. A fim de incluir pessoas com deficiência auditiva no projeto, realizou-se um curso em língua de sinais de três meses de duração, culminando na formação de um novo grupo de ajuda mútua. Além disso, fortaleceu-se o intercâmbio entre os grupos provinciais e as ONGs nacionais com o convite de representantes de Hanói para as oficinas.

4.6.4 ResultadosNa província piloto de Thanh Hoa fortaleceu-se a capacidade das pessoas com deficiência para participar do processo político. Um ponto de partida foi a reflexão sobre as auto-imagens e analisar as políticas existentes em relação aos diferentes modelos de deficiência. No curso das atividades do projeto, não só as pessoas com deficiência, mas também as autoridades governamentais, reconheceram a importância dos grupos de ajuda mútua, OPDs e clubes como parte vital da sociedade civil. A oficina sobre modelos de deficiência provocou uma mudança na autopercepção (de idéia de caridade para o embasamento nos direitos). Um participante disse: “A oficina mudou completamente a minha maneira de pensar”. Além disso, muitos participantes disseram que a oficina fortaleceu a sua autoconfiança, e que eles (as) se sentem mais competentes para falar em público, dar palestras, etc. As organizações participantes (grupos de ajuda mútua, OPDs, clubes) montaram e executaram atividades de lobby e uma campanha de conscientização. Por exemplo, produziram uma promoção televisiva, exibida na TV local, mostrando membros do clube a afirmar os seus direitos. Essas organizações já estão usando a sua capacidade para disseminar conhecimentos acerca da abordagem baseada em direitos e o NAP entre pessoas com deficiência em outros distritos e províncias. Além disso, os grupos de ajuda mútua pretendem aumentar a sua legitimidade com a fundação de uma OPD. Os projetos conseguiram não apenas reunir pessoas com deficiência, mas também funcionaram como uma ponte entre os grupos de ajuda mútua e representantes do governo provincial. O governo mostrou interesse pelos diferentes modelos de deficiência, que ampliaram o seu entendimento de deficiência, de uma perspectiva caritativa para um enfoque social com embasamento em direitos. Não obstante, DOLISA ainda não solicitou a contribuição dos grupos de ajuda mútua para o NAP provincial.

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4.6.5 LimitaçõesO NAP reflete as prioridades estabelecidas no quadro de mecanismos BIWAKO e dá uma boa base para formular as políticas. Mas há dificuldades na implementação do NAP a nível provincial. Dados insuficientes sobre deficiência, falta de capacidades, conhecimentos e recursos financeiros – tudo isso são obstáculos ao desenvolvimento de estratégias adequadas. Até agora apenas 20 províncias prepararam um NAP. Diferentemente das áreas urbanas, há poucos grupos de deficiência criados por iniciativa de cidadãos ou OPDs a nível provincial. Continua-se a promover o modelo caritativo e o modelo médico de deficiência, não apenas pelos representantes do governo provincial, mas pelas próprias pessoas com deficiência. Por conta do acesso limitado à educação e ao movimento nacional de deficiências, as pessoas com deficiência enfrentam uma série de dificuldades que limitam as suas oportunidades e capacidades de defender os seus direitos. Auto-imagens distorcidas, baixa auto-estima e falta de conhecimentos sobre deficiência e as políticas públicas as impedem de se tornar especialistas da própria causa. Os grupos de ajuda mútua e as OPDs a nível nacional agrupam principalmente pessoas com deficiências físicas ou sensoriais. Ainda não há clareza sobre em que medida as pessoas com dificuldades intelectuais podem ser encorajadas a formar grupos de ajuda mútua e defender os seus interesses.

4.6.6 PerspectivasApresentar os diferentes modelos de deficiência revelou-se um bom ponto de partida para desafiar as percepções e opiniões sobre deficiência, tanto para as autoridades governamentais como para as próprias pessoas portadoras de deficiência. Está prevista a continuidade das atividades de capacitação e a sua aplicação para outras províncias. Será formado um grupo de trabalho com a finalidade de rever e publicar os materiais de estudo existentes sobre modelos e políticas em relação à deficiência e diretrizes (por ex., convenções da ONU) sobre apoio entre pares, defesa de interesses e lobby. Serão formados também os facilitadores para essa tarefa. O IDEA atuará como mediador para fortalecer a rede de trabalho entre os níveis nacional e provincial. Os projetos têm demonstrado que reunir os grupos interessados de diferentes lados é uma pré-condição para criar confiança mútua e aumentar a boa vontade para aprender uns dos outros.

Mais informaçõesA par das fontes indicada, este estudo de caso é baseado em informações disponibilizadas por representantes de diferentes organizações e instituições, incluindo: NCCD, MOLISA, GTZ, DED, Foro da Deficiência, Associação Hanói , HVO, Associação Nacional de Cegos e todos os participantes da oficina "A dimensão inclusiva do PRSP" (1 de Dez de 2006, em Hanói).

Bibliografia: Informações sobre PRS e políticas nacionais: Tim Conway (May 2004): Politics and the PRSP approach - Vietnam Case Study. ODI Working Paper 241.

PRSP-Watch: Country Profile Vietnam

The Socialist Republic of Vietnam (2003): The Comprehensive Poverty Reduction and Growth Strategy (CPRGS).

Informações acerca das consultas de ONGs sobre o Relatório de Desenvolvimento Vietnamita e PRSC: Information on NGO consultation on Vietnamese Development Report and PRSC

Banco Mundial: www.worldbank.org/prsp and www.worldbank.org/vn

DED (Serviço Alemão de Desenvolvimento)/ Inwent (Capacitação)/ DWC (Desenvolvimento para Mulheres e Crianças) (2005): Summary of Regulations on the Implementation of Democracy at Commune Level (disponível em inglês e vietnamita)

Informações sobre deficiência Projeto APCD: Perfil do País: A República Socialista do Vietname.

Socialist Republic of Vietnam (24 October 2006): Approval of National Action Plan to Support People with Disabilities. Period 2006-2010

Informações sobre a Década das Pessoas com Deficiência da Ásia e do Pacífico: http://www.unescap.org/esid/psis/disability/index.asp

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Grupos interessados em deficiência: MOLISA: http://www.molisa.gov.vn/

NCCD: www.nccdvn.org

VNAH: http://vnah-hev.org/

Disability Forum: http://forum.wso.net/. The website provides a list of various INGOs and self-help-groups.

VABED: www.vabed.org.vn

Download: Video clip

Making_PRS__inclusive.wmvThis video clip was produced in the framework of the "Making PRSP Inclusive" project in Vietnam in December 2007.

5.4 M

Making_PRSP_inclusive.mov 6.5 M

4.7 Lições aprendidas

Conteúdo do capítulo 4.7:● 4.7.1 O papel das ONGs internacionais vs. legitimidade das OPDs nacionais

● 4.7.2 Falta de capacidades

● 4.7.3 Exclusão

● 4.7.4 Estratégias de inclusão

● 4.7.5 Inclusão em todos os estágios do PRSP

● 4.7.6 Disseminação de idéias e prioridades

● 4.7.7 Efeitos paralelos

4.7.1 O papel das ONGs internacionais vs. legitimidade das OPDs nacionaisOs três primeiros estudos de caso foram relatados basicamente do ponto de vista dos quadros da Handicap International. Eles assumiram posições próprias no tocante à assistência técnica e financeira, mas geralmente trataram de não dominar o processo. Além disso, faltava-lhes legitimidade para definir as políticas nacionais, principalmente em Honduras e Bangladesh, onde, de qualquer modo, a sua influência direta já era limitada. Por outro lado, as ONGs ou OPDs locais muitas vezes não têm os recursos e competências necessárias para intervir. A pressão do tempo é enorme nos processos PRSP, de modo que a possibilidade de realizar um processo participativo com grupos interessados locais ou mesmo de fortalecer suas capacidades é extremamente limitada, a menos que sejam capazes de encontrar aliados fortes. Essas experiências indicam que as ONGs internacionais podem exercer um papel muito eficiente como “abridoras de portas” no processo PRS, mas devem evitar ser a agência líder.

4.7.2 Falta de capacidadesA falta de capacidades, conhecimentos e recursos foi claramente identificada como um problema central para a sociedade civil em geral e para pessoas com deficiência e as suas organizações, em particular, devido ao seu baixo nível médio de formação. A grande maioria das OPDs foi criada há relativamente pouco tempo, pelo que elas tendem a ser fracas e, com elas, todo o movimento da deficiência. Normalmente faltam-lhe técnicas de comunicação e apresentação e o conhecimento político para se envolver no PRS. Além disso, as OPDs se vêem confrontadas com lutas e conflitos internos, como a questão da representação (como mostra o exemplo da CIARH, em Honduras), ou sérios problemas relativos às suas estruturas organizacionais. Daí a importância da capacitação para participar do PRS. No Vietname o projeto ofereceu uma série de cursos e oficinas relevantes que produziram resultados valiosos. Os participantes melhoraram suas habilidades, passaram a se sentir mais autoconfiantes e capazes e começaram a dialogar com as autoridades locais.

PRS na experiência práticaIndependentemente dos resultados, toda participação no PRS pode ser considerada uma atividade

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de capacitação. Dentro do processo, as OPDs e ONGs locais aprendem a abordar os tomadores de decisões, a fazer lobby e defesa de interesses, a implementar projetos de pequena escala, etc. Tudo isso pode ter um efeito positivo duradouro nas organizações envolvidas e no movimento das pessoas com deficiência como um todo.

4.7.3 ExclusãoEm todos os quatro estudos de caso, o processo nacional de PRS inicialmente ignorou a questão da deficiência e as pessoas com deficiência; só depois de consideráveis esforços, em termos de participação e consulta de OPDs, é que as questões relevantes foram finalmente abordadas. Em Honduras, Bangladesh e Tanzânia, as pessoas responsáveis pareceram verdadeiramente interessadas no assunto ou se mostraram até mesmo envergonhados pelo esquecimento da deficiência; isto facilitou muito o reconhecimento do problema. Na Serra Leoa, porém, os representantes não mostraram nenhum interesse na participação da sociedade civil, embora isto simplesmente refletisse um problema maior no conjunto do processo PRS. Geralmente, as partes interessadas dos outros três países se queixaram da falta de transparência do processo e do fato de que, durante muito tempo, pouco ou nada se sabia a respeito; as partes interessadas achavam que nem sempre eram convidadas para consultas e outros eventos relacionados.

Exclusão devido a idiomas estrangeirosEm muitos casos, é difícil para as OPDs e ONGs locais conseguir acesso ao processo PRS porque a maioria das informações estão disponíveis apenas em idiomas estrangeiros (normalmente inglês ou francês) e não nas línguas locais/nacionais. Por isso é muito recomendável investir na tradução dos documentos relevantes e produzir materiais de fácil leitura. Em Bangladesh, por exemplo, o documento de posicionamento dos grupos interessados em deficiência foi resumido em três páginas e traduzido para a língua bangla.

4.7.4 Estratégias de inclusãoOs diferentes projetos e atividades descritos no estudo de caso usaram toda uma gama de estratégias para entrar no processo PR

Declarações escritasOs grupos interessados em deficiência em Honduras, Bangladesh e Serra Leoa redigiram documentos de posicionamento e os enviaram a um público amplo (governo, instituições doadoras e organizações internacionais). No Camboja, os grupos interessados em deficiência contribuíram para uma declaração geral da sociedade civil. No Bangladesh o documento de posicionamento que produziram não foi útil apenas para despertar a atenção dos grupos interessados em PRS, como também ajudou a promover a orientação interna e a definir uma estratégia conjunta dentro do movimento das pessoas com deficiência em todo o país. Em todos estes exemplos as declarações escritas revelaram-se úteis para despertar a consciência, embora não tenham conseguido um impacto direto sobre o PRS em todos os casos.

AnáliseNa Tanzânia, as organizações da deficiência realizaram uma análise participativa da pobreza entre pessoas com deficiência e contribuíram com dados para a análise geral da pobreza. Os dados provavam que as pessoas com deficiência estão entre os grupos mais vulneráveis da sociedade e, consequentemente, o PRSP as levou em consideração em vários pontos. Isto mostra que os dados concretos podem ser muito convincentes para os tomadores de decisões do PRS e representam uma base valiosa para o planejamento. Contudo, em muitos países não existem dados confiáveis a respeito de pessoas com deficiência, nem há recursos disponíveis para a pesquisa. Honduras resolveu este problema inserindo a reivindicação de estatísticas sobre a reivindicação no próprio documento PRSP.

Trabalho em redeEm todos os estudos de caso o trabalho em rede revelou-se essencial. O trabalho em rede se dá em dois níveis: interno e externo. Trabalho em rede interno significa que as organizações de/para pessoas com deficiência devem tentar se unir e reivindicar uma posição conjunta. O desafio aqui consiste no risco de a definição de uma posição comum favorecer o abandono da diversidade. No entanto, como o PRS é um processo nacional com muitos grupos interessados envolvidos, é extremamente importante para qualquer movimento nacional de deficiência maximizar a sua legitimidade em termos de garantir apoio amplo e de apresentar mensagens muito claras. O trabalho em rede externo significa que as organizações da deficiência precisam abordar os grupos interessados em PRS, tais como instituições governamentais, ministérios, organizações doadoras, organizações internacionais, instituições de pesquisa, etc. Em todos os estudos de caso, os contatos existentes com representantes dentro do governo e outros importantes grupos interessados reveleram-se de grande importância. Ao mesmo tempo, o PRS oferece uma plataforma para criar novos contatos, porque essas estratégias reagrupam uma grande variedade de grupos interessados. Esses contatos podem ser úteis também em futuras situações.

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Falando com uma só vozComo mencionamos acima, é útil que as OPDs formem um tipo de rede e fale com uma só voz. No entanto, isto é um desafio porque as pessoas com deficiência não são um grupo homogêneo, mas têm interesses e problemas muito diferentes. Reivindicar falar com “uma só voz” também é desafiado pelo fato de que alguns grupos específicos às vezes são completamente ignorados, por exemplo, as pessoas com deficiências intelectuais, cujas famílias raramente são organizadas formalmente, e assim elas impedidas de contribuir para o processo PRS.

Demonstração de boas práticasNo Camboja as OPDs locais implementaram projetos de pequena escala, por exemplo, mulheres com deficiências participaram de um curso de formação vocacional. Depois este projeto foi apresentado às autoridades municipais como um boa exemplo de apoio a pessoas com deficiência. No Vietname organizou-se um curso de língua de sinais. O acontecimento foi noticiado nos jornais e na TV, despertando reações positivas e pedidos no sentido de que as autoridades locais oferecessem cursos semelhantes. Nos dois países, os projetos de pequena escala se revelaram uma excelente forma de despertar a atenção tanto do público como das autoridades e apontar para uma solução do problema identificado. Muitas vezes, as autoridades podem se sentir sobrecarregada ao ser confrontada com os problemas das pessoas com deficiência e podem não ser capazes de desenvolver soluções, o que enfatiza a necessidade de propostas proativas e positivas.

Conscientização A conscientização acerca da situação das pessoas com deficiência é o primeiro passo de qualquer outra atividade. “Normalmente” as pessoas com deficiência não são percebidas e permanecem “invisíveis”. Por isso, os grupos interessados em deficiência devem empreender esforços para aumentar a visibilidade das pessoas com deficiência, especialmente entre o público mais amplo. A partir do momento em que passam a ser aceitas como seres humanos como todo mundo que precisa estar incluído na sociedade, a opinião pública pode acabar tendo um impacto nos tomadores de decisões.

4.7.5 Inclusão em todos os estágios do PRSPEsses estudos de caso mostram que a participação na fase de formulação do PRSP é importante; de fato, a maioria das organizações participaram conseguiram resultados valiosos nesse estágio. Não basta meramente incluir tópicos referentes a deficiência no documento PRSP: depois da formação do documento, o próximo desafio é a implementação. Embora isto seja principalmente responsabilidade do governo, as organizações que trabalham na área da deficiência podem participar do programa e da implementação do projeto, como mostra o estudo de caso tanzaniano. Isto melhorará sua influência nas tomadas de decisão também. As pessoas com deficiência e as suas organizações devem tentar também participar dos sistemas de monitoramento e avaliação. Se isto não acontecer, as ações prometidas podem facilmente ser esquecidas. O exemplo de Honduras mostra que o PRSP serve de uma base forte para a argumentação. As partes interessadas na Tanzânia explicaram que foi muito produtivo participar em todos os estágios da revisão do PRSP e no processo de formulação. Consequentemente, as OPDs e outras organizações precisam participar com uma perspectiva de longo prazo, caso contrário há o risco de que as ações prometidas no papel nunca sejam colocadas em prática.

4.7.6 Disseminação de idéias e prioridades Disseminação setorialComo o PRS é uma estratégia abrangente, um grande número de questões é abordada, tais como economia, infra-estrutura, saúde, educação, proteção social, etc. Tudo isso certamente é importante para pessoas com deficiência, na verdade, o ideal seria disseminar a deficiência em todo o PRS. No entanto, os estudos de caso mostram que na realidade isto não tem sido possível por duas razões:

● O Banco Mundial definiu gênero, meio ambiente e governança como questões transversais. Acrescentar outra questão transversal às já existentes poderia ser contraprodutivo, pois os tomadores de decisões podem disseminá-la apenas no papel, com risco de perder o foco ao implementar essas políticas.

● Em muitos países, as estratégias setoriais são elaboradas por grupos de trabalho separados. Se as OPDs quiserem incluir a deficiência em todos os setores, precisam atuar em todos os grupos de trabalho. É um desafio e certamente leva muito tempo.

Em suma, é recomendável que as pessoas com deficiência e as suas organizações estabeleçam prioridades claras quanto aos setores em que pretendem se concentrar nos seus esforços de disseminação da deficiência.

Do nível nacional ao da iniciativa de cidadãosA par da disseminação da deficiência para todos os setores, também é importante focar os níveis administrativos (nacional, provincial, distrital, comunitário, etc.) Em todos os estudos de caso o foco recaiu no nível nacional. Os estudos de caso do Camboja, do Vietname e do Bangladesh mostram que a deficiência pode ser focada também a nível distrital e municipal. O PRS é uma estratégia nacional que precisa ser tratada

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a nível nacional, No entanto, se não se objetivar os demais níveis, as pessoas a nível de base correrão o risco de nunca receber benefícios da redução da pobreza.

4.7.7 Efeitos paralelosInfluência no PRSO PRS está inserido em toda uma série de políticas nacionais e internacionais, influenciadas por diferentes grupos de interesse. Essas influências podem ter impactos positivos ou negativos no PRS. Os estudos de casos do Vietname, Camboja e Bangladesh mostram que em alguns casos o PRS compete com outras políticas nacionais. Esses países lidam com este problema de diferentes maneiras: O Vietname integrou o seu PRS na sua estratégia de desenvolvimento nacional, enquanto que o Camboja fez o caminho inverso, integrando a estratégia nacional no PRS. No Bangladesh, em contraste, existem ainda diferentes estratégias paralelas e o PRS não desempenha um papel central. A existência de outras políticas tem um impacto no papel do PRS. As organizações da sociedade civil que querem participar do PRS devem tentar avaliar a importância do PRS antes de investir considerável energia num documento e processo que não desempenha um papel central. A maioria dos países que estão começando os seus PRSs encontram-se sob forte pressão porque precisam de alívio de dívidas o mais cedo possível. Isto faz com eles façam o processo de formulação do PRS a toque de caixa. A falta de tempo hábil pode prejudicar a transparência do processo, e as organizações da sociedade civil talvez tenham de lutar para encontrar um ponto de entrada que lhes permita influir no PRS.

Efeitos colaterais positivosPara além do PRSP em si, todas as pessoas envolvidas notaram os efeitos paralelos deste trabalho: acréscimo da sensibilidade, maior conscientização, elevação da percepção, dos doadores e dentro dos governos, fortalecimento da legitimidade interna e externa e capacitação. Além disso, o PRSP oferece uma oportunidade de coletar dados (como aconteceu em Honduras e Tanzânia), que podem ser úteis também em outras situações. Portanto, o trabalho no PRSP contribui significativamente para melhorar a problemática nacional da deficiência. Por isso, o trabalho PRS contribui significativamente para melhorar as questões nacionais da deficiência.

5 PRSP e as partes interessadasO conceito de PRSP foi lançado em 1999 pelo Banco Mundial e o FMI. A idéia era que os países de baixa renda formulassem uma estratégia nacional para a redução da pobreza, com a descrição dos objetivos de desenvolvimento do país, os programas a serem introduzidos para alcançar os objetivos e o financiamento necessário para executá-los. Estabelecendo a sua própria Estratégia de Redução da Pobreza (PRS), os países obtêm acesso ao alívio de dívidas e demais apoios financeiros das IFIs e outros doadores. Uma ampla variedade de partes interessadas deve participar da formulação do PRSP nacional, tais como, governo, parlamentares, grupos da sociedade civil e representantes do setor privado. O processo todo é coordenado e dirigido pelo governo do país em questão. O Banco Mundial e o FMI podem fornecer assessoramento e suporte técnico, mas a liderança do processo deve ser exercida pelo próprio país. O presente capítulo descreve o desenvolvimento do processo PRSP, as suas partes interessadas e as suas inter-relações.

Conteúdo do capítulo 5:● 5.1 PRSP – origem e estrutura

�❍ 5.1.1 Antecedentes: Do neo liberalismo à redução da pobreza

�❍ 5.1.2 Princípios básicos

�❍ 5.1.3 Desenvolvimento e estrutura do processo

● 5.2 Grupos interessados �❍ 5.2.1 O papel global do FMI e do Banco Mundial

�❍ 5.2.2 Instrumentos das IFIs relacionados ao PRSP

�❍ 5.2.3 Governo

�❍ 5.2.4 Sociedade civil

�❍ 5.2.5 Outros grupos interessados

● 5.3 Interpretação do conceito �❍ 5.3.1 Limitações

�❍ 5.3.2 Oportunidades

● 5.4 PRSPs e deficiência

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5.1 PRSP – origem e estruturaEste capítulo traça um histórico das mudanças por que passou a política do Banco Mundial em relação à redução da pobreza. Explica também a evolução e os princípios básicos da abordagem PRS, bem como o desenvolvimento e a estrutura do processo PRS.

5.1.1 Antecedentes: Do neo liberalismo à redução da pobrezaNos anos 60, a convicção de que o desenvolvimento poderia ser alcançado através do crescimento econômico e dos “efeitos de gotejamento” da riqueza dominou as políticas do Banco Mundial e do FMI. Sob a presidência de Robert McNamara, à frente do Banco Mundial de 1968 a 1981, as políticas do banco já pareciam enfatizar a redução da pobreza, sob o “enfoque das necessidades básicas”. No entanto, nos anos 80 a idéia de desenvolvimento via crescimento econômico tornaram a ganhar importância. Os Programas de Ajuste Estrutural (PAEs), tantas vezes criticados, foram introduzidos durante esse período. A visão das duas instituições de Bretton Woods estava centrada em torno do chamado consenso de Washington, que enfatizava a importância das políticas econômicas sólidas e dos mercados livres. Nos anos 90 aumentaram as críticas ao modelo PAEs, não só externamente, nas ONGs e nas organizações da ONU, mas também dentro do próprio Banco Mundial: um relatório interno de 1992 (Relatório Wapenhans) disse que mais de um terço dos projetos do Banco Mundial resultou em fracasso. Além disso, outros relatórios do banco mostraram haver nenhuma ou pouca redução da pobreza na África. Além das crescentes críticas aos PAEs, dois outros aspectos podem ser responsáveis pela mudança na política do Banco Mundial em relação à redução da pobreza:

● Um deles foi a reavaliação do papel do Banco Mundial, postulando que os programas dessem mais peso à redução da pobreza.

● O outro foi a nova visão do desenvolvimento. A partir dos anos 90 ocorreu uma mudança na compreensão do conceito de desenvolvimento na comunidade internacional. Essa mudança foi marcada por uma série de eventos como a introdução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas em 1990 (UNDP), a decisão da ONU de instituir o “Dia Internacional da Erradicação da Pobreza“ em 1992, a “Conferência de Cúpula sobre Desenvolvimento Social” em Copenhagen, em 1995, e a formulação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), bem como a iniciativa de alívio de dívidas dos Países Pobres Muito Endividados (HIPC) em 1996.

Agora, a pobreza não é medida apenas em termos dos aspectos monetários, mas também pela dimensão social e política. O desenvolvimento não é mais encarado como um processo puramente técnico de acumulação de capital, dentro de sólidas políticas macroeconômicas, mas também como uma mudança que interesse a toda a sociedade. A mudança significava que as políticas de desenvolvimentos dos países não podiam continuar sendo definidas só pelos doadores. Em vez disso, as idéias e políticas de desenvolvimento tinham que emanar dos próprios países afetados e das suas sociedades. Todas essas mudanças levaram à introdução do conceito de PRSP em 1999. Hoje, mais de 70 países estão promovendo os seus processos PRSP.

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Mais informaçõesSobre o Relatório Wapenhans: The Wapenhans Report

Conferência de Cúpula para o Desenvolvimento Social: http://www.un.org/esa/socdev/wssd

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: http://www.un.org/millenniumgoals/

Sobre as relações no mundo, veja Hope, Anne e Sally Timmel (1995): Training for Transformation: A Handbook for Community Workers, Book 3, Chapter 9A: The Evolution of Global Thought and Policy, pp. 6-30.

5.1.2 Princípios básicosDe acordo com o Banco Mundial e o FMI, os documentos de PRSP devem ser programas nacionais e ter as seguintes características:

● ser conduzido pelo país e sob os auspícios do país, desenvolvido por meio de um processo participativo de base ampla;

● orientação para os resultados e foco nos impactos tendentes a beneficiar os pobres;● abrangência de escopo, com reconhecimento da natureza multidimensional das causas da pobreza e das

ações necessárias para atacá-la;● orientação para a parceria, proporcionando uma base para a participação ativa e coordenada dos parceiros

de desenvolvimento (bilaterais, multilaterais, não-governamentais) que apóiam a estratégia do país; e● perspectiva de médio e longo prazo para a redução da pobreza, reconhecendo que a sustentabilidade

desse processo não se faz da noite para o dia. (citações extraídas de Klugman, 2002, p. 3).

A idéia central por trás da nova abordagem é assegurar ampla participação de diferentes grupos interessados, tais como representantes de ONGs, OSCs, pessoas que vivem na pobreza, governo, parlamentos, setor privado, etc. O grau de participação depende da situação específica do país, e pode varia da simples troca de informações à tomada de decisões conjuntas. O Banco Mundial e o FMI declararam claramente que não podem fixar os padrões: “A concepção do projeto participativo e a sua execução é matéria que compete às autoridades nacionais” (Klugman, 2002, p. 5). O objetivo da abordagem participativa é a apropriação pelo país: Dar abertura para que os grupos interessados contribuam com as suas idéias, negociem e desenvolvam a estratégia faz com que eles se identifiquem mais com os resultados e estejam convencidos e dispostos a fazer avançar a estratégia. Normalmente, uma seção ou departamento do governo nacional – muitas vezes dentro do Ministério das Finanças – se encarrega de conduzir o processo PRSP. O nível e intensidade da participação da sociedade civil dependem das decisões e das habilidades dos grupos interessados individuais. Na grande maioria das vezes, são organizados eventos participativos (por ex., oficinas) onde os diferentes membros da sociedade civil se reúnem para debater e trabalhar em questões específicas. A participação pode assumir uma variedade de formas diferentes, desde a informação e consultas até a elaboração de políticas conjuntas. Até o presente, uma abordagem consultiva tem canalizado a participação na maioria dos países. A maioria dos países escolhe um nome diferente para o seu PRS. Alguns países integram a abordagem PRS no sistema planejamento nacional, por ex., o Vietname, que incorporou o PRS no seu “Plano de Desenvolvimento Sócio-Econômico”.

Exemplos: PRS em diferentes países

País Organismo principal dentro do governo Nome nacional

Albânia Secretaria Técnica GPRS, subordinada ao Ministério das Finanças

Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza (GPRS)

Bangladesh Comissão de Planejamento do PRS dentro do Ministério da Fazenda

“Destravando o Potencial”. Estratégia Nacional de Aceleramento da Redução da Pobreza

Camboja Diretoria Central de Planejamento no Ministério do Planejamento

Plano Nacional de Desenvolvimento Estratégico 2006-2010

Honduras Ministry of the Presidency Estregia para la Reducción de la Pobreza (ERP)

Tanzania Vice President's Office National Strategy for Growth and Reduction of Poverty (NSGRP - MKUKUTA)

Mais informaçõesPRSP - Alguns fatos sobre países

A homepage do Banco Mundial oferece uma boa introdução ao PRSP; esta página pode ser usada também para encontrar respostas às perguntas mais freqüentes

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O FMI publicou no seu website um Factsheet (folha de fatos) que também oferece uma boa introdução

5.1.3 Desenvolvimento e estrutura do processoProcesso de preparaçãoO PRSP não é um documento estático. Pretende ser um registro de um processo contínuo que é revisto, modificado e reformulado em intervalos de tempo regulares. É freqüente a primeira versão do PRSP assumir a forma de um PRSP Interino (I-PRSP), principalmente porque um I-PRSP exige menos tempo de preparação do que um PRSP normal. É uma opção que dá aos países acesso mais rápido ao alívio de dívidas. No entanto, é esperado que ao I-PRSP siga o PRSP completo, teoricamente dentro de um ano, embora, na prática, isto possa levar de nove a 24 meses. O PRSP completo é válido por três a cinco anos, e a cada ano o governo deve apresentar um Relatório de Progresso para mostrar o que se realizou em termos de execução da estratégia. Todos os I-PRSPs, PRSPs e APRs são avaliados na Joint Staff Advisory Note (JSAN) preparada por técnicos do Banco Mundial e do FMI. O propósito é dar aos Conselhos Executivos das IFIs uma avaliação da qualidade e da relevância da estratégia descrita no PRSP.

O processo PRSP

Como a figura 2 mostra, há três fases diferentes: formulação, implementação e monitoramento e avaliação. Espera-se que os diferentes grupos interessados participem de cada uma dessas fases (vide capítulo 3: Pontos de entrada).

ConteúdoDe acordo com Klugman, os PRSPs devem conter:

1. Uma análise da pobreza, incluindo uma análise das tendências e da sua relação com as políticas governamentais2. Priorização dos programas necessários para alcançar os objetivos de desenvolvimento nacional3. Metas e indicadores4. Um plano de monitoramento e avaliação da implementação dos programas e do progresso alcançado em

relação às metas5. Uma descrição do processo participativo na preparação da estratégia (Klugman, 2002, p. 4).

O Livro de Consulta indica quatro áreas chave de ações:

1. Políticas macroeconômicas e estruturais de apoio ao crescimento sustentável e ao aumento da participação da população pobre no processo de desenvolvimento

2. Aprimoramento da governança, inclusive da gestão financeira do setor público3. Políticas setoriais e programas apropriados4. Cálculo de custos realista e níveis de provisão financeira para os programas mais importantes. (citações

extraídas de Klugman, 2002, p. 4).

Em suma, o PRSP deve incluir todas as políticas relevantes, desde as questões macroeconômicas, passando por saúde, até o desenvolvimento humano. Governança, gênero e meio ambiente são considerados temas transversais. O PRSP deve conter também os custos e despesas estimados dos programas previsos.

Mais informaçõesKlugman, Jeni (ed.) (2002): A Sourcebook for Poverty Reduction Strategies, Volume 1: Core Techniques and Cross-cutting Issues - the World Bank's PRS Sourcebook. Capítulos individuais estão disponíveis também no site do Banco Mundial. Guias Independentes: Bretton Woods Project (2003): Poverty Reduction Strategy Papers (PRSPs): A Rough Guide, Abril. Este documento está estruturado por tópicos em forma de perguntas e é de leitura fácil.

Driscoll, Ruth and Karin Christiansen, (ODI) (2004): The PRSP Approach: A Basic Guide for CARE International, Março.

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As dez primeiras páginas tratam das origens, estrutura e princípios do PRSP.

Oxfam: Influencing Poverty Reduction Strategies: A Guide. A introdução e a primeira seção trazem um resumo dos fatos fundamentais do PRSP.

PRSP - Alguns fatos sobre paísesA tabela abaixo dá uma introdução a alguns países e os processos PRS nacionais. Não é completa nem pretende substituir a pesquisa no próprio país, mas pode ser útil como de ponto de partida para a pesquisa.

País Denominação nacional do PRSP

Órgão governamental responsável

Importantes grupos interessados da sociedade civil (especialmente redes)

Importantes partes interessadas dos doadores

Cronograma do PRSP (RP – Relatório de Progresso )

Albânia

Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza (GPRS)

Secretariado Técnico GPRS, subordinado ao Ministério das Finanças

Grupo Consultivo da Sociedade Civil Grupo Nacional Consultivo da Sociedade Civil

Grupo de Doadores GPRS Banco Mundial, GTZ, UNDP (reuniões mensais)

PRSP: 2001 1º RP: 2003 2º RP: 2004

Armênia Ministério das Finanças e Economia, Comitê Diretor Participativo

Rede da Sociedade Civil e Parceria da Armênia (CSPN)

Banco Mundial, GTZ, UNDP (reuniões mensais)

PRSP: 2003 1º RP: 20042º RP : 2006PRSP II : 2007

Bolívia Estratégia Boliviana de Redução da Pobreza (EBRP)

PRSP: 2001

Burkina Faso Secretariado Técnico para a Coordenação dos Programas de Desenvolvimento Econômico e Social (STC-PDES), subordinado ao Ministério do Desenvolvimento Econômico

Secretariado Permanente de ONGs, Escritório de Ligação com ONGs e associações; redes de informação, comunicação e treinamento de mulheres em ONGs

PRSP II: 2004 1º RP: 20042º RP : 2007

Camboja Conselho de Desenvolvimento Social (CSD), subordinado ao Ministério do Planejamento

Fórum das ONGs sobre o Camboja

Banco Mundial, UNDP, Banco Asiático de Desenvolvimento

PRSP: 2002 1º RP: 2004 PRSP II : 2006 1º RP: 2007

Etiópia Programa de Desenvolvimento Sustentável e Redução da Pobreza (SDPRD)

Ministério das Finanças e Desenvolvimento Econômico (MoFED)

Rede de Combate à Pobreza da Sociedade Civil na Etiópia (PANE)

Grupo de Assistência ao Desenvolvimento (DAG)

PRSP: 2002 PRSP II : 2007

Gana

Estratégia de Redução da Pobreza de Gana (GPRS)

Comissão de Planejamento do Desenvolvimento Nacional (NDPC)

PRSP : 2003 PRSP II : 2007

Honduras Estratégia para a Redução da Pobreza (ERP)

Gabinete da Presidência

PRSP : 2001 1º RP : 2003 2º RP : 2005 3º - 4º RP : 2007

Quirguistão Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (NPRS)

Conselho Nacional CDF, Secretariado CDF

PRSP : 2002 1º RP : 20042º RP : 2006

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Nicarágua Estratégia Reforçada de Crescimento Econômico e Redução da Pobreza (ERCERP)

Secretaría Técnica de la Presidencia (SETEC)

PRSP : 2001 PRSP II : 2006

Níger Secretariado Permanente subordinado ao Primeiro Ministro

PRSP: 2002 1º RP : 2003 2º RP : 20043º RP : 20074º RP : 2007

Ruanda

Secretaria do Programa Nacional de Redução da Pobreza

PRSP: 2002 1º RP : 2003 2º RP : 20043º RP : 2007PRSP II : 2007

Senegal Ministério da Economia e Finanças (MEF)

PRSP : 2002 1º RP : 20042º RP : 2005

Tanzânia MKUKUTA/ Estratégia Nacional de Crescimento e Redução da Pobreza (NSGPR)

Vice-Presidência Fórum de Política de ONGs

Grupo de Parceiros do Desenvolvimento da Tanzânia

PRSP II : 20051º RP : 2006

Uganda Plano de Ação para Erradicação da Pobreza (PEAP)

Ministério das Finanças, Planejamento e Desenvolvimento Econômico (MFFED)

Rede da Dívida da Uganda (UDN); Fórum de ONGs; Força Tarefa da Sociedade Civil (CSOTF)

DFID PRSP II : 2005

Vietnã Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza (GPRS)

Ministério do Planejamento e Investimento (MPI)

Câmara do Comércio e Indústria do Vietnã (VCCI); VUFO-NGO Resource Centre Vietnam

PRSP: 2003 PRSP II : 2006

Zâmbia Unidade PRSP dentro do Ministério das Finanças e Planejamento Nacional, grupos consultivos setoriais (SAGs)

Sociedade Civil para a Redução da Pobreza (CSPR)

PRSP II : 2007

Mais informacoes www.prsp-watch.de

www.worldbank.org/prsp

www.imf.org

5.2 Grupos interessados Este capítulo descreve os diferentes grupos interessados que devem participar do processo PRS nacional: começa com o papel global do FMI e do Banco Mundial e explica quais instrumentos dessas instituições oferecem suporte técnico e financeiro aos programas PRS. Trata do papel decisivo dos governos e da exigência de inclusão da sociedade civil em todos os estados do PRS. E fecha com uma breve descrição de outros grupos interessados, tais como as instituições doadoras bilaterais e multilaterais e suas agências. Os grupos interessados do PRSP

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5.2.1 O papel global do FMI e do Banco MundialO Banco Mundial e o FMI são incluídos, às vezes, na categoria de instituições financeiras internacionais (IFIs). As duas instituições são agências especializadas da ONU, com a mesma origem e estrutura de governança semelhante. Para ser membro do Banco Mundial o país deve ser membro do FMI. Hoje, 185 países são membros do FMI. Cada país-membro detém um determinado número de cotas no Banco Mundial e no Fundo, calculadas em função da capacidade econômica do país. O poder de voto dos países-membros corresponde às suas cotas. Isto significa que os Estados Unidos, que detém aproximadamente 17% das cotas, é a voz mais poderosa do Conselho Executivo, seguidos pelo Japão, Alemanha, França e Reino Unido. Tradicionalmente, o presidente do Banco Mundial é escolhido pelo governo dos Estados Unidos, enquanto os governos europeus propõem o diretor-gerente do FMI.

O FMI e o Banco Mundial trabalham de modo complementar. Como são funções inter-relacionadas, lançam seus programas e conceitos em dupla, como no PRSP. No entanto, há algumas diferenças evidentes: o foco do Banco Mundial está voltado principalmente para o desenvolvimento econômico e social de longo prazo. Para facilitar esse processo, o Banco Mundial oferece créditos de médio prazo (para países de renda média e alta) e créditos de longo prazo para países de renda baixa. Recentemente, começou a fornecer verbas a fundo perdido a países de renda baixa em dificuldades com o balanço de pagamentos, cujos índices de serviço da dívida se tornaram insustentáveis. Além de assistência financeira, o Banco Mundial também oferece assistência técnica e assessoramento na forma de análises, que são feitas no seu trabalho econômico e setorial. O FMI, ao contrário, foca as questões macroeconômicas de curto prazo resultantes das políticas fiscal, monetária e cambial. Para ajudar os países a superar crises macroeconômicas, o FMI oferece créditos de curto prazo.

Mais informaçõesFMI:

Informações sobre cotas e poder de voto “Critical Voices of IMF and World Bank”: http://www.brettonwoodsproject.org

5.2.2 Instrumentos das IFIs relacionados ao PRSP O FMI e o Banco Mundial introduziram abordagens técnicas e financeiras para apoiar os programas de PRSP.

Assistência oferecida pelo Banco Mundial O Banco Mundial oferece créditos para países de baixa renda, em condições que são altamente concessionais porque não se cobram juros (só uma pequena taxa de serviço sobre as verbas disponibilizadas) e os reembolsos se estendem por um período de 40 anos. Isto significa que esses créditos são em

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70% equivalente a uma verba a fundo perdido (em outras palavras, num crédito de $ 100 do Banco Mundial estão incluídos $ 70 a título de verba a fundo perdido). O Banco Mundial encara este trabalho como parte de uma ampla visão estratégica de desenvolvimento. Em 1999 o Banco introduziu o Quadro de Desenvolvimento Abrangente (CDF), que forma a base conceitual do PRSP. O CDF “enfatizou o enfoque multissetorial de longo prazo do desenvolvimento, bem como a liderança do país, no desenho da ‘arquitetura' da cooperação com os doadores locais” (Rogerson, Hewitt e Waldenberg, 2004, p. 17). Isto significa que o desenvolvimento não deve focar em projetos isolados, mas ser considerado dentro de um contexto mais amplo e abrangedor de todos os aspectos relevantes. O Banco Mundial também oferece serviços de análise. A pedido dos governos, o Banco prepara relatórios, tais como memorandos econômicos por país, revisão de despesas públicas e avaliações de pobreza. Para o PRSP, o Banco produziu um “Livro de consulta sobre estratégias de redução da pobreza” (”Sourcebook of Poverty Reduction Strategies”), um manual de dois tomos sobre como preparar PRSPs. Para orientar os seus programas de assistências a países, o Banco desenvolveu uma Estratégia de Assistência ao País (EAP), que se assemelha a um plano de negócios de médio prazo (Oxfam Guide, p. 6). O objetivo do EAP é indicar como os programas de crédito e os trabalhos de análise previstos serão implementados no médio prazo. Os governos dos países - e às vezes também os representantes da sociedade civil - participam da preparação desse documento, não obstante da clara declaração do Banco Mundial de que “não é um documento negociado” (World Bank, 2003, p. 38). O sistema EAP já existia antes da abordagem PRSP, mas agora é modificado para indicar mais claramente como os instrumentos EAP - por ex., projetos de investimento, assessoramento analítico e/ou apoio orçamentário sob a forma de Crédito de Apoio à Redução da Pobreza (CARP) – contribuirão para a implementação do PRSP do país. Isto não é fácil, pois os dois instrumentos seguem lógicas diferentes: O PRSP implica uma abordagem da base para cima, enquanto o EAP opera de cima para baixo.

Assistência oferecida pelo FMIO instrumento de crédito do FMI para países de baixa renda é o Programa de Financiamento para Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF). O PRGF apóia basicamente os programas macroeconômicos, tais como política tributária, gestão fiscal e administração aduaneira. O FMI oferece conhecimento técnico nessas áreas aos países clientes.

Mais informaçõesQuadro de Desenvolvimento Abrangente: www.worldbank.org/cdf

Estratégias de Assistência ao: www.worldbank.org/cas

FAQs do Banco Mundial (frequently asked questions)

Banco Mundial (2003): A Guide to the World Bank

FMI: Factsheet. The IMF at a Glance

FMI FAQs

Fatos sobre: The Poverty Reduction and Growth Facility (PRGF)

5.2.3 GovernoEspera-se que o governo de cada país seja o protagonista principal do processo PRSP. O governo decide sobre o cronograma e sobre o desenho do processo PRSP e é responsável pelo início do processo participativo e pela redação do documento e de outros papéis necessários, como, por exemplo, os relatórios de situação e progresso. No entanto, cada país pode conduzir o processo PRSP de uma maneira diferente. Outras instituições do Estado, como os parlamentos nacionais, devem participar do processo PRSP, pois são os representantes eleitos legalmente pelos cidadãos do país.

Mais informaçõesPara verificar quem é responsável pelo PRSP no seu país, acesse o site do seu governo ou do Banco Mundial e faça uma busca por PRSP: www.worldbank.org/prsp World Bank: Country information PRSP Watch: www.prsp-watch.de (lamentavelmente, nem todos os perfis de países estão disponíveis

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em português ou inglês) PRSP - Alguns fatos sobre países

5.2.4 Sociedade civilO termo “sociedade civil” é encontrado freqüentemente hoje em dia, mas raramente definido claramente. Geralmente, são instituições independentes do governo. A maioria dos PRSPs não define “sociedade civil”, e não há referência a qualquer definição no Livro de Consulta (Sourcebook). De fato, uma ampla gama de diferentes grupos interessados da sociedade civil participa do processo PRSP, tais como ONGs, comunidades de base, sindicatos, organizações religiosas, associações étnicas, instituições acadêmicas, pessoas do setor privado, dos meios de comunicação, da imprensa, e indivíduos. Não há um esquema padrão para ajudar os países na tomada de decisões sobre a participação de integrantes da sociedade no processo PRSP nacional. A única exigência é que se inclua a sociedade civil em todos os estágios do PRSP, mas não há um esquema padrão sobre qual seria a participação adequada da sociedade civil. Em muitos países há uma organização central para funcionar com ponto focal para a participação da sociedade civil no PRS, por exemplo, o Foro das ONGs no Camboja.

Mais informaçõeswww.worldbank.org/prsp traz detalhes sobre os diferentes participantes em vários países

"PRSP - Alguns fatos sobre países" pode oferecer informações adicionais sobre a situação no seu país

5.2.5 Outros grupos interessadosOutras agências de cooperação para o desenvolvimento também influem no processo PRSP por meio da sua assistência técnica e financeira ou pela sua participação ativa na formulação do PRSP. Entre esses grupos encontram-se doadores multilaterais e suas agências (tais como USAID, DFID, GTZ, etc.), bem como ONGs internacionais (Care, Oxfam, Save the Children, ActionAid, etc.). De acordo com os princípios do processo PRSP, outros parceiros são convidados a contribuir para o PRSP, mas a estratégia propriamente dita tem que ficar sob o domínio e os auspícios do país. O objetivo final é que as outras agências e parceiros do desenvolvimento vejam o PRSP como uma matriz geral orientadora da sua assistência e organizam as suas atividades de modo a atender às áreas prioritárias identificadas no PRSP.

5.3 Interpretação do conceitoA reação dos meios ligados à política de desenvolvimento, especialmente as ONGs, quando as IFIs introduziram o conceito do PRSP, foi de ceticismo. Não se acreditava numa mudança verdadeira da política, e muitas pessoas criticavam a estratégia como a do lobo em pele de cordeiro. Ainda é muito cedo para um julgamento definitivo, pois a abordagem PRSP é muito nova e está em evolução, donde ser impossível avaliar os resultados de longo prazo. O que os capítulos seguintes mostram é que o processo PRSP apresenta uma gama de oportunidades, mas também de limitações.

5.3.1 LimitaçõesLimitações devido ao processo Algumas das críticas ao PRSP referem-se ao desenho do processo. Em primeiro lugar, há as limitações internas imanentes às grandes organizações, como o Banco Mundial e o FMI. Leva tempo até todo mundo compreender e assimilar um novo conceito. Em tese, os instrumentos do Banco e do Fundo (p. ex.: EAP, PRGF) devem estar completamente alinhados com o PRSP. Na prática, porém, as suas próprias regras e diretrizes limitam consideravelmente esses instrumentos. Por exemplo, o EAP não parece ser completamente alinhado com o conceito PRSP. Muitas vezes, os projetos não são publicados nem discutidos com a sociedade civil, a qual, por isso mesmo, não tem como influenciá-los. Teoricamente, o Crédito de Apoio à Redução da Pobreza (PRSC) visa facilitar a implementação dos objetivos de desenvolvimento nacional do PRSP, procurando garantir a inclusão das metas de redução da pobreza do país. Na realidade, porém, os PRSCs não estão bem-alinhados. Alguns críticos dizem que o processo é fortemente guiado pela instituição doadora; de fato, é mais provável que os programas macroeconômicos dos FMI modelem os programas macroeconômicos do PRSP do que ao contrário. Os países que redigem um PRSP estão entre os mais pobres do mundo e não têm poder de influir a política mundial ou as decisões

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das IFIs. De fato, as IFIs têm a decisão final sobre se um PRSP é aprovado ou não. Em muitos países, a motivação fundamental para iniciar um processo PRSP não reduzir a pobreza, mas obter acesso ao o alívio de dívidas e aos créditos. Além disso, há o problema de financiar os projetos planejados. Geralmente, os fundos e os créditos tanto do Banco Mundial como do FMI não bastam para financiar todo o orçamento necessário para executar o PRSP. Não obstante, o elo entre PRSP e alívio de dívidas reforça o poder das IFIs, que não dão flexibilidade aos países em desenvolvimento na execução dos seus próprios programas.

ConteúdoMuitos autores afirmam que, tematicamente, os PRSCs (e indiretamente o PRSP) não representam uma mudança real em relação aos SAPs anteriores. O país e as IFIs podem concordar quanto à continuidade do foco nos programas de ajuste dos problemas macroeconômicos, como, por exemplo, inflação, crescimento, privatização, mercados eficientes e investimento em recursos humanos. Neste caso, pode ocorrer autocensura, induzindo o país a atender às expectativas das IFIs ao invés de insistir nos seus próprios programas específicos. Outro problema é que as IFIs e os países indicam que o objetivo dos PRSCs é fomentar o “crescimento para a população pobre”, embora não haja uma definição satisfatória desta palavra chave. Não é de surpreender, portanto, que os “novos” programas de ajuste não atendem às necessidades da população abaixo da linha da pobreza. O mais das vezes, pobreza é definida em termos de renda, excluindo outros fatores, como a falta de poder. O Banco Mundial desenvolveu um método de Análise de Pobreza e Impacto Social (PSIA) para medir o resultado das reformas macroeconômicas para a população pobre, mas este método raramente foi usado até hoje. Com efeito, os PRSPs dos mais diferentes países tendem a ser bastante semelhantes, e isto dificilmente é resultado de uma apropriação e participação real. A sociedade civil raramente participa da discussão de assuntos macroeconômicos. Como resultado, a “participação ativa” geralmente refere-se às clássicas “questões brandas”, tais como saúde, proteção social e educação. Uma solução é estabelecer laços com universidades locais e contratar um profissional para o trabalho sobre matérias econômicas (vide capítulo 4: Bangladesh).

Participação inadequadaA qualidade da participação é um sério motivo de preocupação, porque o próprio processo participativo e os participantes podem influenciar significativamente a implementação bem-sucedida do PRSP.A idéia da participação da sociedade civil no conceito do PRSP se baseia numa compreensão ocidental de estado-nação e democracia, e pode ser difícil de adaptar a países com história política e estrutura social completamente diferentes. Outro problema no processo PRSP é a falta de acesso à informação: muitas vezes o processo não é transparente e é difícil de entender. Por exemplo, o PRSP e documentos relevantes podem estar disponível apenas em inglês e não na(s) língua)s) local(is).Normalmente, o governo ou o órgão encarregado decide quem participa do processo PRSP. Isto pode levar à exclusão de grupos interessados relevantes, mesmo que estes estejam já organizados politicamente, como os parlamentos e os sindicatos. A seleção de participantes não é feita necessariamente de acordo com a sua legitimidade e representação. Outro desafio diz respeito à estrutura e à organização dos eventos participativos: o mais das vezes, falta preparação e organização suficiente, isto é, os convites chegam sem a antecedência necessária e os documentos são distribuídos pouco antes das oficinas ou nem são distribuídos. A constante escassez do tempo destinado à preparação do PRSP, contrariando a necessidade de tempo suficiente para uma participação adequada, é um dilema estrutural . Todos esses fatores conduzem a uma baixa qualidade. Contudo, mesmo que a participação seja adequada e adaptada, não significa que o documento final inclua as contribuições da sociedade civil. Spranger e Wolf resumem a experiência nos seguintes termos: “Eu participo, tu participas, ele/ela participa, nós participamos, vocês participam e ELES decidem” (Spranger e Wolf, 2003, p. 56).Como foi explicado acima, as IFIs não definiram regras de participação; esta ausência certamente também concorre para a baixa qualidade geral. Até hoje, a participação tem-se dado basicamente na forma de audiências públicas. As IFIs e a sociedade civil (por intermédio das ONGs) avaliam isto de modo completamente diferente: as IFIs afirmam que a influência da sociedade civil é alta, enquanto que as ONGs dizem que é o oposto.A baixa qualidade da participação não se deve apenas aos doadores e aos governos, mas também à própria sociedade civil. Muitas vezes, a falta de dinheiro, de conhecimentos sobre cooperação internacional e de pessoal habilitado limita a capacidade e a participação ativa da sociedade civil.

5.3.2 Oportunidades Foco nos problemas da pobrezaEmbora alguns autores afirmem que as políticas macroeconômicas nos PRSPs não constituem uma melhora real em relação aos SAPs, outros vêem um novo foco na redução da pobreza. Com o PRSP, a redução da pobreza tornou-se uma questão central nas políticas nacionais e internacionais. O compromisso com a redução da pobreza pode, sim, produzir efeitos em nível local e nos interesses da população pobre, confirmados pelas pesquisas: “Para países como o Senegal, Camboja, Etiópia, Bolívia, Honduras e Nicarágua, os PRSPs ofereceram as perspectivas de um compromisso renovado com a educação e saúde em nível local, associado à oferta de novos recursos de parte dos doadores e a liberação de valores para o serviço

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da dívida para a implementação de estratégias de longo prazo.” (Whaites, 2002, p. 14).

Oportunidades para a participação da sociedade civilA despeito de todas as críticas, as idéias centrais do PRSP vão ganhando aceitação e aprovação na medida em que o processo PRSP, ao que parece, oferece oportunidades reais. A experiência mostra que em muitos países já começou a haver troca de opiniões entre o governo e a sociedade civil, com maior ou menor sucesso. Há um aumento quantitativo na cooperação entre a sociedade civil e os governos, e a transparência política em geral aumentou. Estudos de caso mostram que “abriu-se realmente um espaço para a participação do público na formulação da política no Quênia, Nepal, Malawi, Ruanda, Uganda e Vietnã.” (Houghton, 2002, p. 8). O processo de participação política abre novas oportunidades também para grupos marginalizados que até o presente não têm sido capazes de exercer nenhuma influência política. Além disso, o processo permite que diferentes setores da sociedade civil tomem conhecimento uns dos outros pela primeira vez, criando valiosas oportunidades na luta pela redução da discriminação. No geral, o seu envolvimento no processo PRSP força todos os grupos interessados a mudar a sua conduta. As ONGs e OSCs têm que se organizar para ganhar influência real; os governos têm que aprender a se comunicar e entrar em um diálogo verdadeiro com os representantes da sociedade civil. As IFIs precisam transferir as responsabilidades de todo o processo PRSP ao país em questão, e todos os doadores devem alinha o seu apoio à estratégia de redução da pobreza do país. Em geral, sem dúvida, um benefício potencial do trabalho no PRSP está em que ele oferece novas oportunidades tanto para a sociedade civil como para os governos. Muitos países não têm escolha real entre preparar ou não um PRSP, porque dependem totalmente do alívio de dívidas. No entanto, já se pode detectar um efeito positivo no fato de as partes interessadas terem que se esforçar para formular uma estratégia política comum para o PRSP. É difícil avaliar os resultados dos PRSPs nacionais executados até o presente porque as estratégias visam o longo prazo e o processo é ainda relativamente novo e variável. Por isso, os problemas da primeira fase devem ser considerados um desafio. Caberá às gerações futuras avaliar os resultados e efeitos reais do processo PRSP.

Mais informaçõesEldis, Eurodad e PRSP Monitoring and Synthesis oferecem uma ampla coleção de documentos sobre o PRSP de diversos pontos de vista (ONGs, instituições internacionais e nacionais, pesquisadores, etc.).

O Bretton Woods Project apresenta “Critical Voices on the World Bank and IMF”; com uma seção própria com documentos sobre o PRSP.

O'Mally, Kate (2004): Children and Young People Participating in PRSP Processes: Lessons from Save the Children's Experiences. London.

Oxfam Briefing Paper (2004): From “Donorship” to Ownership? Moving towards PRSP Round Two, January.

Piron, Laure-Hélène and Alison Evans (2004): Politics and the PRSP Approach: Synthesis Paper. Working Paper No. 237, Overseas Development Institute, London, March.

Rowden, Rick and Jane Ocaya Irama (2004): Rethinking Participation: Questions for Civil Society about the Limits of Participation in PRSPs. An ActionAid USA/ActionAid Uganda Discussion Paper. Washington, D.C., April.

Whaites, Alan (ed.) (2002): Masters of Their Own Development? PRSPs and the Prospects for the Poor. World Vision, Monrovia and California.

Houghton, Irungu (ActionAidUSA) (April 2001): Up Against the Wind: Recent ActionAid experiences of engaging the Poverty Reduction Strategies and other IFI lending policies. Presentation to the conference entiteld "From Engagement to Protest" organised by Structural Adjustment Participatory Review International Network (SAPRIN) et al., April 19th, Washington DC, North America; Washington D. C.

5.4 PRSPs e deficiênciaAté o momento, nenhum PRSP incluiu uma dimensão adequada da deficiência, embora as pessoas com deficiência estejam entre os mais vulneráveis e sujeitas à pobreza. Na verdade, elas estão presas em um círculo vicioso de pobreza que causa má saúde, deficiência e maior empobrecimento (vide capítulo 6). No entanto, a participação das OPDs e das organizações que trabalham na área da deficiência é necessária, pois só esses atores são capazes de mudar o foco da ação em relação à deficiência para atender aos seus interesses reais. Um estudo realizado por um consultor do Banco Mundial (vide Bonnel, 2005) mostra que quando as OPDs tiveram a oportunidade de participar e contribuir para o PRSP, o foco foi para a dimensão econômica.

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As pessoas com deficiência enfrentam a exclusão em vários níveis da abordagem PRSP:

1. Livro de Consulta PRSP (Sourcebook) O Livro de Consulta sobre o PRSP raramente leva em consideração pessoas com deficiência. O Sourcebook discute a deficiência de modo inconsistente. As pessoas com deficiência são, na maioria das vezes, limitados à categoria de proteção social e considerados como economicamente inativos ou como casos de assistência social. Por outro lado, as partes que se referem à inclusão educativa, ao transporte e à comunicação implicam claramente que as condições e o meio físico precisam mudar para incluir as pessoas com deficiência na sociedade com melhores resultados. Em suma, o Sourcebook não tem um entendimento claro do termo “deficiência”, e a terminologia usada é, às vezes, inequivocamente preconceituosa: o livro remete à pessoas com deficiência, em numerosas passagens, como “inválidos”. No Sourcebook as pessoas com deficiência são muitas vezes incluídas entre outros grupos vulneráveis, e tende a perder de vista os mecanismos específicos de exclusão ou as necessidades especiais desses grupos. Tais categorias podem ser úteis para explicar as principais tendências, mas não conduzem às análises e soluções apropriadas. Num cenário ideal, o capítulo sobre “temas transversais” deveria incluir uma seção específica sobre deficiência.

2. Falta de participaçãoPessoas com deficiência raramente participam das audiências públicas para a formulação e preparação do PRSP. Raras OPDs estão em condição de participar de qualquer das fases do processo, por falta de estrutura e de relações. As limitações gerais à participação da sociedade civil são discutidas acima. As OPDs e as organizações que trabalham na área da deficiência enfrentam os mesmos limites, mas de forma mais intensa: o processo é menos transparente ainda para as pessoas com necessidades especiais, já que as informações não são oferecidas em formato acessível (por exemplo, em Braille ou em linguagem de sinais).

3. Documentos PRSP A maioria dos PRSPs não fala às pessoas com deficiência de maneira compreensível. Os PRSPs contêm basicamente fórmulas vagas para medidas políticas, muitas vezes com sugestões seletivas ou que não incluem o contexto mais amplo. Não basta mencionar questões relativas à deficiência no PRSP: elas precisam estar incluídas no plano ou matriz das ações que estabelece as prioridades do PRSP. Além disso, as medidas previstas têm que estar ancoradas no orçamento e em todos os instrumentos afins, tais como PRGF, PRSC, EAP ou APRs, pois, caso contrário, serão esquecidas na política do dia-a-dia, e os recursos escassearão. Diante da escassez de dados e da pouca compreensão da deficiência e da situação das pessoas com deficiência, estas são tratadas, muitas vezes, como se fossem um grupo homogêneo, quando não incluídas no imenso grupo das “pessoas vulneráveis”. Como a principal característica dessas pessoas é o fato de não poder trabalhar, as soluções propostas dizem respeito apenas à proteção social. Dá-se pouca atenção aos vários tipos de deficiência e às diferenças em termos de situação de vida – por exemplo, nunca se menciona deficiência no contexto de desenvolvimento rural.

Mais informações[Translate to Portuguese:] Disability and Development Team / René Bonnel (2004): Poverty Reduction Strategies: Their Importance for Disability.

ILO (2002): Disability and Poverty Reduction Strategies: How to Ensure That Access of Persons with Disabilities to Decent and Productive Work Is Part of the PRSP Process. Geneva, November.

Klugman, Jeni (ed.) (2002): A Sourcebook for Poverty Reduction Strategies, Volume 1: Core Techniques and Cross-cutting Issues, and Volume 2: Macroeconomic and Sectoral Approaches

Grupo de trabalho GPDD Working sobre deficiência e redução da pobreza: http://www.stakes.fi/sfa/disabilityandpoverty

Lista de verificação: PRSP e Deficiência

6 DeficiênciaEste capítulo apresenta vários conceitos diferentes de deficiência, com o objetivo de mostra que deficiência não é algo claramente definido e que diferentes fatores, como sociedade e cultura, também têm um impacto significativo. O leitor encontrará também uma introdução a diretrizes e abordagens internacionais que servirão de orientação quando se trata de influenciar o PRS. Este capítulo também explica as inter-relações entre deficiência e pobreza e como a deficiência está ligada aos diferentes setores do PRS.

Conteúdo do capítulo 6:

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● 6.1 O que é deficiência? �❍ 6.1.1 Os quatro modelos

�❍ 6.1.2 A influência da cultura

�❍ 6.1.3 A definição da OMS

● 6.2 Deficiência e políticas públicas �❍ 6.2.1 As Regras Padrão da ONU

�❍ 6.2.2 A Convenção da ONU

�❍ 6.2.3 Outros compromissos internacionais e regionais

● 6.3 Deficiência no desenvolvimento �❍ 6.3.1 Desenvolvimento inclusivo

�❍ 6.3.2 Abordagem de duas vias

● 6.4 Por que é necessário incluir a deficiência no PRS

● 6.5 Setores do PRSP Relevantes para a deficiência �❍ 6.5.1 Saúde

�❍ 6.5.2 Reabilitação

�❍ 6.5.3 Proteção social

�❍ 6.5.4 Educação

�❍ 6.5.5 Emprego

�❍ 6.5.6 Acessibilidade

�❍ 6.5.7 Outros setores

6.1 O que é deficiência?Há várias maneiras de compreender e interpretar a deficiência. A deficiência se manifesta sob diversas formas e é difícil de compreender, tanto para as pessoas sem deficiência como para as pessoas com deficiência. Os dados disponíveis também refletem esta confusão: de acordo com um dado da OMS, muito citado, a prevalência de pessoas com deficiência no mundo inteiro é de 10% em média. Mas o banco de dados DISTAT, da ONU, que compila as estatísticas de diferentes países, menciona números que vão de 0,3% (na Tailândia) a 20% (na Nova Zelândia). Estes exemplos mostram como é difícil mensurar e definir a deficiência. Não existe uma definição única de deficiência, mas toda uma variedade de entendimentos e conceitos divergentes. Por exemplo, miopia é deficiência? Uma pessoa com um dedo artificial é considerada deficiente? Uma pessoa surda capaz de se comunicar eficientemente usando a linguagem de sinais é deficiente? Cada país coleta os seus dados sobre a deficiência com base no seu entendimento do que seja deficiência, o que varia muito de um país para outro. No contexto do PRS, dados e índices são instrumentos muito úteis para persuadir os responsáveis pelas decisões. Para obter uma compreensão abrangente e produzir dados confiáveis e comparáveis, as agências internacionais, como a OMS, estão trabalhando atualmente sobre uma definição geral. As modificações dos modelos existentes, ocorridas nos últimos cinco anos, e o aparecimento de uma nova definição (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - ICF) mostram que ainda estamos num processo de compreensão do conceito. Os estudos em andamento com vistas a alcançar uma definição internacional são extremamente desafiadores, pois os modelos de deficiência são influenciados, em grande medida, por fatores culturais. As subseções a seguir explicam os três principais modelos de entendimento de deficiência:

● Modelo caritativo

● Modelo médico

● Modelo social

● Modelo baseado em direitos

No topo desses modelos apresentaremos a ICF e as diretrizes internacionais sobre deficiência. No entanto, precisamos ter em mente que esses modelos e definições são propostas para a compreensão de “deficiência” e que a situação de uma pessoa ou de um país pode perfeitamente não se encaixar em modelos. Os modelos e definições sofrem influência principalmente dos pesquisadores ocidentais ou das OPDs dos países industrializados. Conseqüentemente, não se ajustam necessariamente aos contextos e peculiaridades de outros países. Os modelos (especialmente o modelo social e o baseado nos direitos) fornecem a base para qualquer ação em relação à deficiência, por exemplo, programas de desenvolvimento. É conveniente atentar para esses modelos quando você se comunica com alguém de outro contexto, para saber do que ele/ela está falando e para encontrar maneiras eficientes de explicar a sua própria posição.

Uma observação lingüísticaAs subseções abaixo abordam também as diferenças entre os termos “deficiência”, “incapacidade”, etc., porque as distinções são pouco conhecidas. O problema se relaciona também com o uso de diferentes definições. Os problemas de compreensão são reforçados quando se traduzem os termos de outras línguas ou para

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outras línguas: algumas línguas não têm uma palavra equivalente a “deficiência”, mas, em compensação, muitas palavras para diferentes tipos de deficiência. O problema é comum também a diferentes línguas européias. Há uma discussão em curso acerca do uso de uma linguagem não-discriminatória. Este documento não pretende julgar o acerto ou erro desta ou daquela palavra, mas estimular a reflexão sobre os diferentes termos.

6.1.1 Os quatro modelosNa discussão internacional, as atitudes, suposições e percepções a respeito da deficiência são geralmente agrupadas em quatro modelos. As OPDs de todo o mundo têm procurado promover dois desses modelos: o social e o baseado nos direitos.

Modelo caritativo

Modelo médico

Modelo social

O Modelo Caritativo vê as pessoas com deficiência como vítimas da sua incapacidade. Dependendo da deficiência, as pessoas deficientes não podem andar, falar, ver, aprender ou trabalhar. A deficiência é vista com um déficit. As pessoas com deficiência não são capazes de se ajudar e de levar uma vida independente. A sua situação é trágica, e elas estão sofrendo. Logo, precisam de serviços especiais, instituições especiais, etc., porque são diferentes. Há que se ter pena das pessoas com deficiência, elas precisam da nossa ajuda, simpatia, caridade, é preciso tomar conta delas. Às vezes, as próprias pessoas com deficiência, normalmente aquelas que se sentem “incapazes” e têm baixa auto-estima, adotam este conceito.

O Modelo Médico (ou Individual) vê as pessoas com deficiência pessoas que têm problemas físicos que precisam ser curados. Isto impele as pessoas com deficiência para o papel passivo de pacientes. O objetivo dessa abordagem é “normalizar” as pessoas com deficiência, o que naturalmente implica que sejam, de um modo ou de outro, anormais. A questão da deficiência fica limitada à problemática individual: é a pessoa com deficiência que precisa ser mudada, não a sociedade ou o ambiente à sua volta.

De acordo com o modelo médico, as pessoas com deficiência precisam de serviços especiais, tais como sistemas de transporte especial e assistência social. É para isso que existem instituições especiais, por exemplo, hospitais, escolas especiais ou empregos protegidos onde profissionais como assistentes sociais, profissionais da saúde, terapeutas, professores de educação especial decidem e oferecem tratamento especial, educação especial e ocupações especiais.

O “Modelo Social” vê a deficiência como um resultado do modo como a sociedade está organizada. Como a sociedade não está bem organizada, as pessoas com deficiência enfrentam os seguintes tipos de discriminação e barreiras à participação (vide figura 7):

Esses três tipos de barreiras tornam as pessoas com deficiência incapazes de assumir o controle das suas próprias vidas. De acordo com o modelo social, a deficiência não depende apenas do indivíduo, mas também do meio social, que pode ser limitador ou capacitador de várias maneiras. Alguém que usa cadeira de rodas poderá ser considerada deficiente se ainda for capaz de conduzir automóvel ou andar de motocicleta e se a sua casa, lugar de trabalho e outros edifícios forem acessíveis?

O “Modelo Caritativo” da deficiência e as idéias associadas (Harris e Enfield, 2003, p. 172)

O “Modelo Médico” da deficiência e as idéias associadas (Harris e Enfield, 2003, p. 172)

O “Modelo Social” da deficiência e as idéias associadas (Harris e Enfield, 2003, p. 172)

● de atitude: expressa-se em medo, ignorância e baixas expectativas. ● do meio: resulta na inacessibilidade física que afeta todos os aspectos da vida (lojas,

prédios públicos, templos, etc.); e ● institucional: são as discriminações de caráter legal. Pessoas com deficiências são

excluídas de certos direitos (por ex., não poder casar e ter filhos), exclusão das escolas, etc.

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Aplicação dos modelosCada modelo descrito acima insere numa categoria as quatro maneiras das pessoas de classificar a “deficiência” e de ver os portadores de deficiência. Todo mundo usa um desses modelos ou uma mistura deles – consciente ou inconscientemente. Esses modelos influenciam a nossa maneira de pensar, de conversar e o nosso comportamento.

O quadro abaixo dá alguns exemplos de como as pessoas com deficiência tendem a ser vistas por outras pessoas e que consequências isso pode ter.

Exemplos

Este modelo é semelhante ao do modelo social. O seu foco incide no cumprimento dos direitos humanos, por exemplo: o direito a oportunidades iguais e à participação na sociedade. Logo, a sociedade precisa mudar para garantir que todos – inclusive as pessoas com deficiência – tenham oportunidades iguais para participar dela. É um fato indubitável que as pessoas com deficiência muitas vezes se defrontam com direitos humanos básicos negados, como, por exemplo, o direito à saúde (física e psicológica) ou o direito à educação e ao emprego. Portanto, a legislação e as políticas públicas têm que fazer desaparecer essas barreiras criadas pela sociedade. A abordagem baseada nos direitos diz que a assistência nessas áreas não é uma questão de humanidade ou caridade, mas sim um direito humano básico

que todos podem reivindicar. Os dois elementos principais da abordagem baseada nos direitos é o empoderamento (empowerment, capacitação, fortalecimento dos meios de ação) e a responsabilidade (prestação de contas). Empoderamento refere-se à participação de pessoas com deficiência como partes interessadas ativas, enquanto que responsabilidade relaciona-se com o dever das instituições públicas em implementar esses direitos e justificar a qualidade e quantidade da sua implementação.

Integrar pessoas com deficiência significa superar diferentes tipos de barreira (STAKES, 2003, p. 29.)

O modelo baseado em direitos

O modelo baseado nos direitos e as suas associações

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Situação Modelo caritativo Modelo médico Modelo social Modelo baseado em direitos

Moças em cadeiras de rodas

“Que pena, esta linda mulher presa a uma cadeira de rodas nunca poderá casar, ter filhos e cuidar da sua família.”

“Oh, coitada daquela moça, devia ir ao médico e conversar com ele se há alguma terapia que possa fazê-la voltar a andar como todo mundo.”

“A comunidade devia mesmo construir rampas em frente dos prédios públicos para as pessoas como ela possam participar da vida social.”

“Quando ela tiver um emprego, o empregador terá de construir salas acessíveis. É direito dela!”

Homem com deficiência intelectual

“Coitado daquele homem confuso; parece ser retardado mental, seria melhor para ele viver numa casa em que alguém cuidasse dele.”

“Talvez exista algum remédio ou tratamento que possa melhorar a percepção dele. Devia tentar um psiquiatra.”

“É uma boa solução o fato de ele viver com o irmão, com pessoas não-deficientes à sua volta.”

Onde será que ele quer morar? Vamos perguntar-lhe!”

Pais de filha com deficiência auditiva

“Deve ser muito ter uma filha e saber que ela nunca conseguirá viver por conta própria.”

“Tenho certeza que daqui a uns anos haverá um aparelho auditivo com o qual essa menina possa ouvir melhor.”

“Todos nós devíamos aprender a língua de sinais para podermos nos comunicar com essa criança e todas as pessoas deficientes auditivas.”

“Quando essa criança crescer, vai poder fazer faculdade se quiser.”

Mais informações Coleridge, Peter (2001): Disability, Liberation and Development. Publicado pela Oxfam. Oxford. è Capítulo 1: “Por que este manual é necessário?”.

Harris, Alison e Sue Enfield (2003): Disability, Equality and Human Rights: A Training Manual for Development and Humanitarian Organisations. Publicação da Oxfam em cooperação com Action Aid on Disability and Development (ADD). Oxford. à Capítulo 1 sobre “Definição de deficiência” e capítulo 9 sobre “Deficiência e Igualdade na Prática”.

Disabled People South Africa (2000): Pocket Guide on Disability Equality: An Empowerment Tool. Disponível em: http://www.dpsa.org.za/documents/Pocket%20 (in the "Publications" section). Capítulo 1: “Disability, Definitions, Models and Terminology”.

Uma interessante discussão sobre as definições encontra-se no site da Disability Awareness in Action (DAA): Definition of Disability – A Briefing Paper.

6.1.2 A influência da culturaOs conceitos de deficiência e especialmente a maneira de compreender a deficiência são fortemente influenciados pela cultura. As definições reportam-se a explicações religiosas ou éticas (por exemplo, a deficiência é vista como castigo por algum comportamento incorreto) ou a explicações médicas (a deficiência é causada por dificuldades durante o parto ou por problemas congênitos). A maneira de explicar influi na maneira de tratar as pessoas com deficiência: são “normais” ou “pobres vítimas”, são membros com plenos direitos da sociedade ou devem ser mantidas à parte? A deficiência faz parte natural da vida humana ou seria um fardo imposto por um poder superior?

Seguem alguns exemplos de como as opiniões culturas podem influenciar a maneira como as pessoas com deficiência são vistas.“As famílias têm que cuidar por conta própria […], porque acreditam que a deficiência mental é um carma por tudo que eles fizeram na sua vida passada. Acreditam que só o monge ou o curandeiro tradicional é capaz de tratá-los e ajudá-los. […] O Camboja ainda não tem um sistema de assistência a pessoas com deficiências mentais. Muitos pais de filhos deficientes […] se queixam mais da pobreza do que da maneira como os filhos são tratados. Há pais que trancam os filhos em casa para sair para trabalhar.” (OMS, Intellectual Disabilities Atlas, 2007, p. 66) “Na Tanzânia, as deficiências, para milhões de trabalhadores rurais e operários, são um mau presságio para o clã afetado e uma maldição para os pais. E como as mulheres africanas ocupam uma posição legal na escala social tradicional, a mãe é sempre a vítima inevitável de especulações e desdém. Por isso, casamentos entre clãs que têm filhos com deficiências mentais são classificados socialmente como tabu.” (OMS, Intellectual Disabilities Atlas, 2007, p. 67)

Mais informações WHO: Atlas. Global resources for persons with intellectual disabilities. 2007

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6.1.3 A definição da OMS A OMS é uma das organizações mais importantes que trabalham continuamente sobre uma definição geral da deficiência: Desde 1980, a Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) tem sido o mais importante sistema de classificação no processo de compreender e definir a deficiência. A classificação foi revisada no final dos anos 90, dando origem à Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (ICF) em 2002.

No entendimento do ICIDH, “incapacidade” refere-se à situação física da pessoa; “deficiência” significa a limitação de atividades devido à incapacidade; e “desvantagem” expressa as limitações em termos de desempenho de um papel social. Incapacidade refere-se ao nível orgânico, como anormalidade funcional ou estrutural do corpo; deficiência significa o impacto da incapacidade no desempenho do indivíduo; e desvantagem é a conseqüência geral da incapacidade e/ou deficiência, conforme a figura abaixo:

Usando o termo “funcionalidade”, dá-se menos ênfase às deficiências individuais de uma pessoa e reconhece-se uma “continuidade de um estado de saúde” (Bonnel, 2004, p. 30). A classificação sublinha os fatores do meio (incluindo o meio físico, bem como as atitudes, serviços e políticas) que facilitam ou restringem o potencial de alguém para participar da vida cotidiana. A ICF não aceita nem o modelo médico nem o modelo social como válidos por si sós. A deficiência significa um sistema complexo, com elementos que ocorrem no nível físico individual, em combinação com a estrutura da sociedade. A ICF sugere uma síntese dos dois modelos, sob o novo nome de modelo biopsicológico (vide WHO, 2002, p. 9). No entanto, este modelo ainda não está estabelecido, e outros autores não o usam. A ICF fornece uma ferramenta de planejamento para os decisores: juntamente com a nova definição, a OMS publicou uma lista de verificação para medir o nível de funcionalidade de uma pessoa. A lista de verificação (checklist) reúne não apenas dados médicos, mas também dados sociais, e os tópicos referem-se ao estado de saúde, à atividade e à participação.

Estes dois exemplos mostram que a ICIDH definia incapacidade como causa decisiva da deficiência e da desvantagem. O ICIDH estava, portanto, associado ao modelo médico ou individual da deficiência. Uma diminuição da capacidade não resultada necessariamente em deficiência e desvantagem, mas uma diminuição da capacidade pode resultar diretamente em desvantagem sem ser uma deficiência.

Com o aparecimento de novos modelos de deficiência, a OMS revisou a sua classificação e publicou a ICF em 2002. Esta classificação introduziu as três dimensões da funcionalidade e deficiência humana: o corpo, as atividades e a participação. Assim, a deficiência envolve disfuncionalidade em um ou mais níveis: é um termo que cobre a diminuição da capacidade (no sentido de problemas nas funções e estruturas corporais), a limitação à atividade e as restrições à participação (WHO, 2002, p. 10) (vide figura).

Exemplos

Condições de saúde Diminuição da capacidade Limitação da atividade Restrição à participação

Lepra Perda da sensibilidade das extremidades

Dificuldades de pegar objetos O estigma da lepra leva ao desemprego

Uma pessoa que, formalmente, teve um problema mental e foi tratada de um distúrbio psicótico

Nenhuma Nenhuma Emprego negado por causa do preconceito do empregador

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ICF – Níveis de funcionalidade (WHO, 2002, p. 9)

Mais informaçõesWorld Health Organization (2002): Towards a Common Language for Functioning, Disability and Health. ICF, Genebra.

ICF website

O dicionário de termos de deficiência da organização Disabled People’s Organisation, Cingapura, também pode ser útil. As quatro partes estão disponíveis em: http://www.dpa.org.sg/Dictionary.html

6.2 Deficiência e políticas públicasA legislação nacional e internacional apresentada nas seguintes subseções pode (e deve) servir como base para qualquer PRPS que pretenda incluir questões relativas à deficiência.

Conteúdo

6.2.1 As Regras Padrão da ONUAs Regras Padrão da ONU sobre a Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, de 1993, não têm caráter obrigatório para os governos, mas oferecem uma base para as políticas públicas. Embora as Regras Padrão da ONU estejam dirigidas aos estados-nações e considera-os responsáveis pela não-discriminação, oferecem orientações valiosas também para as ONGs e outras partes interessadas. As Regras Padrão compreendem 22 regras individuais relativas a três questões: Pré-condições para Participação Igual, Áreas Metas para Participação Igual e Medidas de Implementação. As Regras Padrão da ONU pedem providências concretas para pessoas com deficiência, reivindicam mudanças e promovem a conscientização da sociedade. A sua implementação é monitorada por um relator especial da ONU.

Mais informaçõesDisabled People South Africa (2000): Pocket Guide on Disability Equality: An Empowerment Tool. Available at: http://www.dpsa.org.za (in the "Publications" section). Capítulo 3: “The International Disability Rights Movement” and Capítulo 4: “Roles of the United Nations in Promoting Disability Equity”.

United Nations (1994): The Standard Rules on the Equalization of Opportunities for Persons with Disabilities. New York.

Relatórios sobre implementação das Regras Padrão da ONU em diferentes países estão disponíveis em: http://www.independentliving.org/standardrules/

6.2.2 A Convenção da ONUÉ tarefa das políticas públicas criar oportunidades iguais para todos. Diretrizes e compromissos internacionais coexistem com os enquadramentos legais nacionais. Os mais importantes, desde 1993, são as Regras Padrão da ONU sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, que orientam os estados nacionais sobre como promover a equalização. Contudo, embora este texto tenha sido a mais importante iniciativa internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência, não era um instrumento com força vinculativa. Para suprir essa falta, representantes da ONU, governos e ONGs do mundo inteiro vêm discutindo a redação

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e formulação de uma convenção desde junho de 2001. Foi criado um comitê ad hoc e foram necessárias 8 sessões antes de apresentar uma proposta de convenção à Assembléia Geral da ONU. Pela primeira vez na história, foi formulada uma convenção da ONU com grande participação de grupos interessados da sociedade civil, especialmente organizações de pessoas com deficiência. A Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 13 de dezembro de 2006. O objetivo da convenção é “promover, proteger e garantir o desfrute pleno e igual de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, e promover o respeito da sua dignidade inerente” (Artigo 1). A convenção representa uma iniciativa universal para tornar as nossas sociedades mais inclusivas a fim de que as pessoas com deficiência possam gozar das mesmas oportunidades e das mesmas possibilidades de participação como qualquer outra pessoa. A convenção não criou novos direitos; expressa, isto sim, todos os direitos humanos em termos de condições e necessidades especiais das pessoas com deficiência. Até então, era possível ignorar as pessoas com deficiência e deixá-las aos cuidados das suas famílias, sem maiores reflexões sobre o assunto. O texto pode ter todos os pontos fracos de outras convenções e não será o simples fato de existir que bastará para fazer as coisas mudarem. Não obstante, representa um passo histórico para frente, que dará à sociedade civil novas oportunidades de chamar a atenção dos governos para as suas obrigações. Esta convenção internacional apela para que as pessoas com deficiência não sejam mais vistas como objetos de caridade, mas como sujeitos e detentoras de direitos.

A Convenção está aberta para assinaturas desde 30 de março de 2007. Em novembro de 2007, quase 120 países assinaram, e sete ratificaram. Nenhuma outra Convenção sobre Direitos Humanos antes fora ratificada por tantos países em tão pouco tempo. Assim que 20 países tenham ratificado a Convenção, ela entrará em vigor e se tornará um instrumento com força vinculativa legal para os estados ratificantes. Em seguida, todos os estados ratificantes terão que adaptar a sua legislação nacional à Convenção. E por fim, terá de ser implantado um sistema para monitorar a realização e implementação do sistema legal.

Mais informaçõesApresentação das Regras Padrão da ONU em PowerPoint presentation: http://www.worldenable.net/standardrules/Default.htm

Você pode conferir o andamento da Convenção da ONU e os relatórios e debates das reuniões ad hoc: http://www.un.org/esa/socdev/enable/index.html

Um CD-Rom com um kit pedagógico sobre a Convenção foi publicado pela Handicap International e está disponível em francês e inglês em: http://www.handicap-international.fr/kit-pedagogique/indexfr.html

6.2.3 Outros compromissos internacionais e regionaisEsta seção apresenta uma lista de convenções e acordos internacionais/regionais significativos, indicando, em cada caso, os itens obrigatórios ou facultativos.

Internacional● A Declaração Universal dos Direitos Humanos (convenção obrigatória) foi publicada pela ONU em 1948.

Mesmo sendo uma declaração universal e válida para todos, as pessoas com deficiência muitas vezes foram desconsideradas

● Convenção da OIT No. 159 sobre a Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes, 1983 (facultativa)● A Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, adotado em 1989: os Artigos 2 e 23 mencionam as

crianças com deficiência (obrigatório)● A Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas,

da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), formulada na Conferência Mundial sobre Necessidades Especiais na Educação, de 1994 (facultativa)

Regional● A Década Africana das Pessoas com Deficiência, 1999-2009 (facultativa) ● A Década Árabe das Pessoas com Deficiência, 2004-2013 (facultativa)● A Década das Pessoas com Deficiência da Ásia e do Pacífico, 1993-2002 e 2003-2012 (facultativo) ● O Enquadramento do Milênio de Biwako para a ação visando a sociedade inclusiva, livre de barreiras e

baseadas nos direitos para pessoas com deficiência na Ásia e no Pacífico, 2002 (facultativo)● A Convenção Inter-Americana sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas

com Deficiência, 1999 (obrigatória)

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Mais informaçõesUN Enable – o Ponto Focal das Nações Unidas sobre Pessoas com Deficiência: Overview on International Legal Frameworks for Disability Legislation.

DAA: International Convention on the Protection and Promotion of the Rights and Dignity of Persons with Disabilities. Disponível em: http://www.daa.org.uk/convention.htm

Conferência Internacional sobre Educação para Necessidades Especiais, Acesso e Qualidade (1994): Convenção de Salamanca sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas, Salamanca, Espanha , 7-10 June 1994. Disponível em: unesdoc.unesco.org/images/0009/000984/098427eo.pdf&nbsp;

Review of the Salamanca Statement 10 Years Later. Disponível em: http://eenet.org.uk/salamanca/salamanca.shtml

UNICEF: Convention on the Rights of the Child

A Década Africana: http://www.africandecade.org.za

A Década das Pessoas com Deficiência da Ásia e do Pacífico: Como funcionou http://enabledonline.com/news/N_ASPAC.php

Nações Unidas: Declaração Universal dos Direitos Humanos, disponível em: http://www.un.org/Overview/rights.html

Algumas ifnromações sobre a Décade Árabe estão disponíveis em http://www.sdl-un.org/english/Arab%20Decated.php

http://www.ilo.org/public/english/standards/norm/whatare/standards/empl.htm traz uma visão de conjunto sobre a Convenção da OIT

Leia a Convenção Inter-Americana em http://www.cidh.oas.org/Basicos/disability.htm

Lista de verificação: Legislação Nacional sobre Deficiência

6.3 Deficiência no desenvolvimentoOs governos e as organizações de desenvolvimento usam várias abordagens para garantir a participação igual das pessoas com deficiência. Essas abordagens também oferecem possíveis roteiros sobre como incluir a deficiência nos PRSPs.

6.3.1 Desenvolvimento inclusivo O desenvolvimento inclusivo procura dar atenção às pessoas com deficiência e instaurar uma dimensão de deficiência na política de integração. Como conseqüência, as pessoas com deficiência deveriam ser incluídas em todas as fases de qualquer ciclo de projeto e programa. As decisões sobre orçamentos também precisam refletir a dimensão da deficiência. O objetivo do desenvolvimento inclusivo é criar uma sociedade inclusiva; o conceito pode e deve levar em consideração também outros grupos vulneráveis e marginalizados. A base do conceito é o modelo social da deficiência e a abordagem baseada nos direitos, que exige uma estreita troca de pontos de vista entre as diferentes partes interessadas, por exemplo, através do trabalho em rede. À medida que a participação das pessoas com deficiência se tornou uma preocupação central, as estratégias de capacitação para reforçar os meios de ação (apoderamento) das OPDs passaram a ser uma questão decisiva.

Mais informaçõesDepartment for International Development (2000): Disability, Poverty and Development. DFID Issues. London, February.

Inclusion International (nd): “Disability, Development and Inclusion in International Development Cooperation: A Scan of Disability-related Policies and Research at Selected Multilateral and Bilateral Institutions”. Esta análise compara diferentes políticas de desenvolvimento de agências multilaterais e bilaterais.

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European Commission (2004): Guidance Note on Disability and Development for European Union Delegations and Services.

STAKES (2003): “Label Us Able: A Pro-active Evaluation of Finnish Development Co-operation from the Disability Perspective”. Chapter 2: Development Co-operation on Disability Issues.

Lista de verificação da inclusão na mobilidade nos Estados Unidos, disponível em: www.miusa.org/publications/freeresources/Checklist_for_Inclusion.pdf&nbsp;

6.3.2 Abordagem de duas viasA chamada abordagem de duas vias originou-se no Reino Unido e foi posteriormente transportada para as atividades de desenvolvimento. As organizações que trabalham na área da deficiência se deram conta de que era necessário prover serviços concretos às pessoas com deficiência, mas que não bastava simplesmente oferecer auxílio à mobilidade. Pelo contrário, mobilidade é apenas o primeiro passo para o empoderamento das pessoas com deficiência. A abordagem de duas vias lida com as necessidades especiais (por exemplo, auxílio à mobilidade) e trata a deficiência como tema transversal a um só tempo. A meta é promover a disseminação da problemática da deficiência para todos os setores e para todas as ações de desenvolvimento, dentro do objetivo de elevar o nível de conscientização. A abordagem está direcionada para pessoas capazes e para pessoas com deficiência; estas muitas vezes não estão conscientes dos seus direitos e percebem-se de acordo com os modelos médico e assistencialista (vide figura).

A relação entre pobreza e deficiência é dialética. De acordo

Abordagem de duas vias para deficiência e desenvolvimento (DFID, 2000, p. 4)

Mais informaçõesDepartment for International Development (2000): Disability, Poverty and Development. DFID Issues. London, February.

Inclusion International (nd): “Disability, Development and Inclusion in International Development Cooperation: A Scan of Disability-related Policies and Research at Selected Multilateral and Bilateral Institutions”. Esta análise compara diferentes políticas de desenvolvimento de agências multilaterais e bilaterais.

European Commission (2004): Guidance Note on Disability and Development for European Union Delegations and Services.

STAKES (2003): “Label Us Able: A Pro-active Evaluation of Finnish Development Co-operation from the Disability Perspective”. Chapter 2: Development Co-operation on Disability Issues.

Lista de verificação da inclusão na mobilidade nos Estados Unidos, disponível em: www.miusa.org/publications/freeresources/Checklist_for_Inclusion.pdf

6.4 Por que é necessário incluir a deficiência no PRS

O círculo vicioso da pobreza e da deficiência

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com estimativas do Banco Mundial, uma de cada cinco pessoas mais pobres do mundo tem uma deficiência. A ONU sugere que 82% dessas pessoas vivem abaixo da linha da pobreza em países em desenvolvimento. No entanto, ainda faltam estudos detalhados sobre as relações entre a pobreza e a deficiência, embora estime-se que 50% dos casos de incapacidade podem ser prevenidos e diretamente relacionados com a pobreza (vide figura).

Maiores detalhes sobre essas relações são explicados mais adiante, nas sub-seções 6.5 deste capítulo.

Causas da incapacidade (DFID, 2000, p. 3)

As principais relações entre pobreza e deficiência são (vide figura):

● condições de vida insalubres e arriscadas, tais como moradia, abastecimento de água e saneamento inadequados, trânsito e condições de trabalho precários; ● ausência e inacessibilidade de cuidados médicos e reabilitação adequados (devido a barreiras do meio e/ou monetárias);

● restrições de acesso à educação e ao emprego;● exclusão da vida social: as pessoas com deficiência muitas vezes não têm acesso a lugares públicos por

causa das barreiras físicas e não podem participar das tomadas de decisões políticas.

As relações entre pobreza e deficiência (DFID, 2000, p. 4)

Mais informaçõesDeficiência e pobreza: Alguns fatos globais

Deficiência e pobreza: Alguns fatos globaisOs fatos relacionados abaixo ilustram as conexões entre pobreza e deficiência em escala global. Se você não encontrar dados para a sua região ou o seu país em outras fontes, estes poderão ser úteis para convencer outras partes interessadas. Contudo, estas estatísticas não devem ser usadas se a situação real no seu país for substancialmente diferente.

● Uma em cada 20 habitantes no mundo inteiro tem alguma deficiência, e desses mais de três de cada cinco vivem em um país em desenvolvimento (dados da ONU).

● Um de cada cinco habitantes mais pobres do mundo tem uma deficiência (estimativa do Banco Mundial).● Só 2% das pessoas com deficiência em países em desenvolvimento têm acesso à reabilitação e serviços

básicos apropriados.● 20 milhões de mulheres a cada ano sofrem uma deficiência e complicações de longo prazo como resultado

da gravidez e do parto.

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● De 1 a 2% das crianças com deficiência nos países em desenvolvimento recebem educação.● 25% de toda a população mundial são afetados direta ou indiretamente por uma deficiência (dados da ONU).● Mais de 100 milhões de meninas e mulheres só em mais de 28 países africanos tem deficiência em

conseqüência de mutilação genital.● A mortalidade de crianças com deficiência beira os 80% em países nos quais a mortalidade das crianças

abaixo de cinco anos, no seu conjunto, é inferior a 20%. ● De 7 a 10% da população têm uma deficiência, com as diferenças entre países situando-se entre 4 a 20%

(dados da OMS).● Mais de 10% da população mundial têm uma deficiência (dados da USAID).● Nos países com índice de desenvolvimento humano baixo (IDH), 9,9% da população têm uma deficiência;

nos países com índice de desenvolvimento humano médio, a percentagem cai para 3,7%; e em países de desenvolvimento humano elevado para apenas 1% (dados UNDP).

● Dependendo da estimativa, entre 281,7 milhões e 608,4 de pessoas no mundo inteiro têm uma deficiência, das quais 112,5 a 490,5 vivem em países em desenvolvimento.

● US$ 1,71-2,23 trilhões do Produto Interno Bruto mundial se perdem por causa da deficiência, o que perfaz um índice situado entre 5,35% e 6,97%.

● As pessoas com deficiência perfazem 15-20% da população pobre nos países em desenvolvimento (dados do Banco Mundial).

● 82% das pessoas com deficiência vivem abaixo da linha da pobreza em países em desenvolvimento (dados da ONU).

● De acordo com a UNICEF, 30% dos jovens de rua são portadores de deficiência.● Estima-se que 386 milhões de pessoas em idade ativa no mundo são deficientes, diz a Organização

Internacional do Trabalho (OIT). O desemprego entre os deficientes chega a 80% em alguns países. Muitos empregadores supõem que as pessoas com deficiência sejam incapazes de trabalhar.

● Para cada criança morta na guerra há três feridas e portadoras de deficiências permanentes. ● Em alguns países, até um quarto das deficiências resultam de lesões e violência, de acordo com a OMS.● A pesquisa indica que a violência contra crianças com deficiência ocorre em taxas anuais pelo menos 1,7

vezes maiores do que para crianças não-deficientes.

Mais informaçõesMetts, Robert L. (2000): Disability Issues, Trends and Recommendations for the World Bank. Social Protection Discussion Paper No. 0007, Fevereiro. Disponível em: siteresources.worldbank.org/DISABILITY/Resources/Overview/Disability_Issues_Trends_and_Recommendations_for_the_WB.pdf Department for International Development (2000): Disability, Poverty and Development. DFID issues, Fevereiro, Londres. Disponível em: www.dfid.gov.uk/pubs/files/disability.pdf

Você encontrará exemplos de levantamentos estatísticos sobre deficiência, questionários e dados de diversos países no banco de dados DISTAT das Nações Unidas.

Há informações sobre a prevalência de deficiência em países africanos no site da African Decade O Centro asiático Asia Pacific Development Center on Disability também publica perfis de países no seu site

6.5 Setores do PRSP Relevantes para a deficiênciaO PRSP Sourcebook (Livro de Consulta) do Banco Mundial descreve os setores a serem tratados nos PRSPs. De fato, a maioria dos documentos publicados até o presente concentra-se, em maior ou menor grau, nesses setores. Este capítulo discute as relações desses setores com a deficiência. Como todo PRSP tem o seu próprio formato, devido aos problemas específicos de cada país, seria preferível, de fato, que a deficiência seja incluída como tema transversal em cada capítulo.

Esta seção traz um apanhado geral das ligações dos diferentes setores com a deficiência. Menciona alguns dados globais sobre a condição de vida das pessoas com deficiência e apresenta algumas estratégicas para a possível inclusão da deficiência nos vários setores. Trechos extraídos de diferentes PRSPs servem de exemplo, e links da internet oferecem caminhos para pesquisas mais aprofundadas.

Setores

6.5.1 Saúde

A situação

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Como mencionado acima, há maior probabilidade de que os pobres vivam e trabalhem sob condições insalubres, por exemplo, em áreas expostas a desastres naturais, como as áreas sujeitas a inundações, ou a riscos produzidos pelos homens, como as minas terrestres. Quando são feridos, raramente têm como pagar ou obter acesso a serviços de saúde adequados. A ausência de atendimento médico e reabilitação oportuna e adequada causa incapacidades e deficiências prolongadas ou permanentes. Pela natureza da sua deficiência, as pessoas com deficiência muitas vezes gastam mais com serviços de saúde do que pessoas não deficientes. Isto as torna ainda mais vulneráveis à pobreza. É inquestionável que nos países em desenvolvimento faltam serviços de saúde e medidas de reabilitação. Além disso, os analfabetos ou formalmente menos educados podem desconhecer as possibilidades que os serviços de saúde e reabilitação têm a lhes oferecer.

Soluções possíveisA cooperação para o desenvolvimento orientado para a saúde lida com três áreas em particular: prevenção, assistência médica e reabilitação (esta também relacionada com outras áreas – vide próximo capítulo). A prevenção primária de doenças e diminuição de capacidades inclui vacinas e também educação, especialmente para mães. Os programas de prevenção das doenças infecciosas, tais como malária, lepra, poliomielite e HIV/AIDS têm que levar em consideração as suas conexões com a incapacidade e a deficiência. Os programas de conscientização, especialmente sobre HIV/AIDS, precisam ser ajustados de modo a que as pessoas com deficiência também tenham acesso a essas informações (por ex. em Braille ou em linguagem de sinais). A prevenção inclui nutrição adequada, especialmente para crianças, pois a desnutrição é uma das principais causas da diminuição de capacidades. As políticas nacionais devem garantir o acesso aos cuidados médicos em condições de igualdade às pessoas com deficiência. Isto inclui o fornecimento de medicamentos, cirurgias ou o provimento de aparelhos ortopédicos ou dispositivos auxiliares (próteses, cadeiras de roda, etc.). No entanto, isto só pode ser assegurado se todos os serviços de saúde forem acessíveis às pessoas com deficiência, o que não significa apenas acessibilidade física aos prédios, mas também o acesso à informação acerca das possibilidades de tratamento, riscos dos medicamentos, etc.

A reabilitação médica visa restaurar o estado de saúde física e mental da pessoa.

Exemplo: O PRSP tanzanianoDeficiência é abordada no PRSP da Tanzânia das seguintes maneir

● “Melhorar os cuidados aos recém nascidos e aos bebês e garantir o exame das crianças abaixo de cinco anos quanto a deficiências de desenvolvimento e a educação nutricional orientada e suplementação nutricional para crianças subnutridas”

● “Reduzir as prevalência de HIV e AIDS entre homens e mulheres com deficiência (na faixa etária dos 15-35 anos)”● “Avaliar criticamente a estratégia de desenvolvimento de recursos humanos no setor da saúde para

identificar déficits de habilitação entre os trabalhadores da saúde e executar um plano de treinamento imediato em áreas chave, incluindo as necessidades de saúde dos mais velhos e das pessoas deficientes.”

● “Eliminar todas as formas de barreiras à assistência médica mediante isenção de pagamentos aos pobres, gestantes, idosos e pessoas portadoras de deficiência, e mediante eliminação de taxas não oficiais, reduzindo a distância e melhorando o tratamento.”

Mais informaçõesRonald Wiman , Einar Helander and Joan Westland (2002): Meeting the Needs of People with Disabilities: New Approaches in the Health Sector. Banco Mundial, Washington, Junho.

Campanha na África sobre deficiência e HIV/AIDS (SIDA): http://www.africacampaign.info/

Sugestões da OMS sobre a inclusão da deficiência mas políticas públicas nacionais de saúde: http://www.who.int/disabilities/policies/en/index.html

República Unida da Tanzânia, Gabinete do Vice-Presidente (2005): National Strategy for Growth and Reduction of Poverty (NSGRP), Abril. Disponível em: http://www.tanzania.go.tz/nsgrf.html

6.5.2 ReabilitaçãoA reabilitação visa capacitar as pessoas com deficiência a participar da vida no dia-a-dia. Portanto, a reabilitação lida com muito mais do que meramente o estado de saúde da pessoa, e no contexto do PRS, o

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setor da saúde oferece um bom ponto de partida (outros setores como proteção social, educação ou emprego também são importantes para a reabilitação). É preciso também comparar a situação no país em questão e verificar qual ministério está encarregado da reabilitação (na Tanzânia, por exemplo, é o Departamento de Previdência Social; na Uganda, o de Desenvolvimento Comunitário).

A situação globalSó 2% das pessoas com deficiência nos países em desenvolvimento têm acesso à reabilitação e serviços básicos apropriados (DFID, 2000, p.2). Muitas vezes, a provisão de serviços de reabilitação é transferida das instituições governamentais para ONGs, que não podem atender a países inteiros. Na ausência de reabilitação, cria-se uma situação de dependência prolongada das pessoas com deficiência em relação a outros.

Solução possível: Reabilitação baseada na comunidadeEm nível de comunidade, as ONGs têm empregado o conceito de Reabilitação Baseada na Comunidade (CBR) em muitos países em desenvolvimento há 20 anos. O conceito procura ser realista ao reconhecer que instituições especializadas (inclusive, por exemplo, os centros de reabilitação) não estão em condição de alcançar todas as pessoas com deficiência e não contribuem para uma inclusão real das pessoas com deficiência na sociedade. Por isso, a reabilitação baseada em instituições e o CBR precisam ser complementares. Hoje, a CBR é estratégia nacional em muitos países. De acordo com um documento de posicionamento emitido em conjunto pela OIT, UNESCO e OMS, a reabilitação baseada na comunidade é “uma estratégia dentro do desenvolvimento geral da comunidade, visando a reabilitação, a igualdade de oportunidades e a inclusão social de todas as pessoas com deficiência. A CBR é feita mediante os esforços combinados das próprias pessoas com deficiência, das suas famílias, organizações e comunidades, e os correspondentes serviços sociais, profissionais, educativos, de saúde e outros, governamentais e não-governamentais.” (ILO, UNESCO e WHO, 2004, p. 2). Este enfoque vê no CBR uma estratégia multissetorial que foca não apenas a reabilitação física dos indivíduos, mas também se destina a atender determinadas necessidades báscias, promover a redução da pobreza e fazer cumprir os direitos humanos. Estima-se que, em certas condições, 80% das necessidades de reabilitação podem ser atendidas através de CBR (DFID, 2001, p. 10).

Exemplos de PRSPsPRSP Armenia, 2003, p. 68: Assistência social a idosos e pessoas portadoras de deficiências: Os programas de assistência social para idosos e deficientes se baseiam em exigências da Lei de Proteção Social a Pessoas Portadoras de Deficiência na Armênia. Essas exigências incluem a prevenção à deficiência, reabilitação médica e social, próteses, especialmente próteses e assistência ortopédica a deficientes, fornecimento de acessórios de reabilitação, serviços sociais para idosos sozinhos e deficientes.”

PRSP Azerbaijão, 2003, p. 11: “Pessoas portadoras de deficiênciaAlém de benefícios sociais às pessoas deficientes, a principal direção da política é integrar tanto quanto possível os deficientes na sociedade. […] Serão desenvolvidos serviços e centros de reabilitação, com ênfase especial ao fornecimento de serviços nas regiões.PRSP Etiópia, 2002, p. 127: “Promover programas de reabilitação baseados na comunidade para grupos de pessoas desfavorecidas (idosos, portadores de deficiência, profissionais do sexo, crianças de rua, ófãos, etc., com plena participação dos grupos-alvo e das comunidades envolvidas, CBOs e ONGs.PRSP Honduras, 2001, pp. 88/89: “Dar assistência integral a pessoas pobres com deficiência através das seguintes ações:

● Criar o Conselho Nacional da Deficiência, com a participação de instituições e associações públicas e privadas para pessoas com deficiência, que coordenará, dirigirá e orientará as ações relacionadas com a reabilitação integral em Honduras.

● Criar a Unidade Técnica para Reabilitação Integrada para apoiar o Conselho Nacional da Deficiência na criação e implantação da política nacional, do plano nacional e os convênios do Conselho. Deverá ser criado também um Sistema Nacional de Informações para pessoas com deficiência.

● Criar e implementar, a nível local, planos de integração e reabilitação para pessoas com deficiência.”

Mais informaçõesILO, UNESCO and WHO (2004): CBR: A Strategy for Rehabilitation, Equalization of Opportunities, Poverty Reduction and Social Inclusion of People with Disabilities. Documento de Posicionamento Conjunto, 2004.

Rede de Reabilitação Baseada na Comunidade (Sul da Ásia): www.cbrnetwork.org

ISPO: Prosthetics and Orthotics. Programme Guide. Implementing P&O Services in Low-income Settings.

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ISPO: Prosthetics and Orthotics. Project Guide. Supporting P&O Services in Low-income Settings. Disponível em: www.landminesurvivors.org/documents/POProjGuide_singlepgs.pdf

Organização Mundial da Saúde, Equipe de Deficiência e Reabilitação (DAR) Team (agosto 2001): Rethinking Care from the Perspective of Disabled People: Report and Recommendations.

Equipe DAR da OMS: http://www.who.int/disabilities/en/

Department for International Development (2000): Disability, Poverty and Development. DFID Issues. Londres, Fevereiro.

6.5.3 Proteção social

A situação globalNa maioria dos países em desenvolvimento não existe sistema oficial de proteção social ou, se existe, é um sistema fraco, pelo que as famílias funcionam como redes de proteção. Elas cuidam dos seus parentes deficientes e isto ocupa uma ou mais de uma força de trabalho (não apenas a pessoa com deficiência, mas também quem cuida dela). A ONU estima que 25% de qualquer população são afetados direta ou indiretamente por uma deficiência (DFID, 2000, p.4).

Solução possível:Geralmente, o objetivo da proteção social é proteger os mais vulneráveis e administrar os riscos para as sociedades e os indivíduos. A Convenção da ONU define proteção social como um meio de garantir um padrão de vida adequado. Portanto, entre as medidas de proteção social estão a oferta de serviços apropriados e de custo acessível, de aparelhos e outros tipos de ajuda, a cobertura dos gastos relacionados com a deficiência ou programas habitacionais. O Banco Mundial tem um entendimento mais amplo de proteção social e sugere toda uma gama de medidas legislativas e programas de despesas. Tais intervenções são direcionadas e se sobrepõem em vários setores, tais como, por exemplo, trabalho e saúde. O Livro de Consulta do Banco Mundial sugere a criação de programas voltados para a deficiência, tais como educação inclusiva, oficinas protegidas, auxílios técnicos, reabilitação, seguro de invalidez, pensões, etc.

Exemplos de PRSPsO objetivo do PRSP da Tanzânia é oferecer cobertura efetiva de “proteção social a 20% das crianças e adultos com deficiência até 2010” (República Unida da Tanzânia, Gabinete do Vice-Presidente, 2005). PRSP Bósnia e Herzegovina, 2004, p. 142: “Melhorar significativamente o funcionamento e a eficiência da rede de seguro social para os membros da população de veteranos deficientes, a fim de garantir que os recursos alocados para tais finalidades sejam melhor direcionados para as categorias mais vulneráveis e mais necessitadas de assistência.”

PRSP Burkina Faso, 2004, p. 26:Fornecer 900 triciclos a pessoas deficientes; Prestar apoio a 150 crianças em idade escolar portadoras de deficiências motoras e sensoras, na forma de próteses das extremidades, aparelhos auditivos e bengalas de locomoção.”PRSP Camarões, 2003, p. 83: “O governo pretende, ainda: (i) finalizar a Lei de Proteção e Direitos da Família e do Indivíduo; (ii) preparar uma lei sobre proteção social das crianças; (iii) reformar a lei 83/013 de 21 de julho de 1983 sobre proteção aos portadores de deficiências”.

Mais informaçõesDefinição do Banco Mundial sobre proteção social

A posição do Banco Asiático de Desenvolvimento sobre proteção social

O capítulo sobre proteção social do Livro de Consulta

Grushka, Carlos O. e Gustavo Demarco (2003): Disability Pensions and Social Security Reform: Analysis of the Latin American Experience. Banco Mundial, Washington.

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6.5.4 Educação

A situação globalMenos de dois por cento das crianças com deficiência nos países em desenvolvimento têm acesso à educação. (Dados da UNESCO, citados em http://www.un.org/disabilities/convention/facts.shtml). A maioria das crianças com deficiência que vão à escola ficam separadas dos colegas, em ambientes de aprendizagem segregados, tais como escolas especiais e centros diurnos. Essas estruturas, administradas preominantemente por organizações religiosas e ONGs locais, Muitas vezes não dispõem dos recursos materiais e humanos para implantar uma educação relevante e de qualidade. Consequentemente, o índice de alfabetização entre adultos com deficiência permanece baixo: “O índice de alfabetização de adultos com deficiências não passa de 3 por cento e de 1 por cento no caso das mulheres com deficiências, de acordo com um estudo da UNDP de 1998.” (dados de http://www.un.org/disabilities/convention/facts.shtml) A “falta de educação continua sendo o principal fator de risco de pobreza e exclusão de todas as crianças, tanto as portadoras de deficiências como as demais”. (Takamine, 2004, p. 20).

Exemplo: TogoUm recente estudo realizado no Togo (Missão Exploratória para a Handicap International, por Dominique Blu, 2006), mostrou que das 154.000 a 220.000 crianças deficientes em idade escolar (a OMS estima que entre 7% e 10% da população são pessoas deficientes), apenas 3.000 têm acesso à educação. Enquanto o governo togolês mostra compromisso, a nível de política, com os direitos das crianças a ter acesso igual à educação (o Togo é signatário da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança de 1989, mas não é ainda da Convenção da ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006), as crianças com deficiência permanecem invisíveis. As ações atuais se baseiam em grupos não governamentais da sociedade civil; um dos grupos mais ativos neste campo é a Federação Togolesa das Associações de Pessoas Portadoras de Deficiência (FETAPH).

Barreiras à educaçãoAs barreiras atitudinais continuam sendo os principais obstáculos à igualdade de acesso à educação fundamental para todas as crianças. A falta de informações factuais e de apoio às crianças deficientes e suas famílias, às comunidades, aos educadores e aos tomadores das decisões, juntamente com crenças profundamente arraigadas culturalmente sobre deficiência, contribui para a discriminação. O fato de serem raras as oportunidades de emprego para jovens deficientes e de haver poucos exemplos de pessoas deficientes ocupando posições chave piora ainda mais a falsa crença de que não investir na educação de crianças deficientes não traz benefícios.

Outras barreiras significativas são:

● Políticas educacionais nacionais inadequadas e indiferentes em relação às crianças com deficiências ● Metodologias de ensino estreitas nas escolas que não levam em conta a diversidade de

necessidades educacionais e de tipos de aprendizagem dos estudantes (conhecimento limitado e uso limitado de técnicas de comunicação alternativas)

● Acessibilidade física (instalações sanitárias mal construídas, piso irregular nas áreas de recreação, degraus abruptos para as salas de aula, má iluminação nas salas de aula, quandros negros muito altos, em plataformas elevadas, com mobiliário adaptado)

● Falta de associação entre o lar e a escola (falta de capacidade das famílias de fazer lobby pelo direito dos seus filhos à educação)

● Grau de pobreza entre as famílias com filhos deficientes

O caminho pela frenteA inclusão de crianças deficientes na educação não é um luxo, mas um direito humano básico e fundamental que deve ser manifesto com clareza em todos os PRSPs. O sistema de educação inclusiva deve ser encarado de uma perspectiva baseada nos direitos. Esta abordagem foca a discriminação enfrentada por grupos marginalizados e vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência; uma discriminação que está presente nos sistemas educacionais de todo o mundo. Nessa perspectiva, a inclusão apodera os detentores de direitos (concretamente, as crianças excluídas da educação, e as suas famílias) e insiste na participação dessas pessoas no planejamento, implantação e monitoramento das políticas e práticas educacionais. Um sistema verdadeiramente includente incluiria educação igual e suprimento de apoio para todas as crianças e todas as escolas e todos os ambientes de aprendizagem. Para que isto aconteça, é necessário reestruturar e reorganizar seriamente os sistemas de educação. É preciso fazer uma reatribuição de espaços físicos e de recursos humanos, financeiros e materiais.

Fala-se muito em Educação Inclusiva como processo porque há muitos passos a serem dados neste caminho.

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A educação especial tem que fazer parte da estratégia educacional geral (Declaração de Salamanca, 1994). As escolas especiais existentes muitas vezes detêm um valioso acervo de conhecimentos, recursos humanos e materiais que podem alimentar todo o processo de mudança.

Exemplos de PRSPsUm dos objetivos do PRSP da Tanzânia é “garantir o acesso equitativo à educação primária e secundária de qualidade”. O PRSP da Tanzânia tem várias passagens sobre crianças com deficiência:

● a proporção de crianças com deficiência matriculadas, freqüentando ou tendo concluído a escola deve ser aumentada de 0,1% em 2000 para 20% em 2010

● deverão ser empreendidas reformas dos currículos para a formação dos professores de educação primária e secundária, do treinamento de professores, dos materias didáticos, da avaliação, exames e do sistema de supervisão escolar, a fim de promover o aprendizado crítico, criativo e baseado em habilidades, e incorporar temas de gênero, HIV/AIDS, deficiência e meio ambiente. (República Unida da Tanzânia, Gabinete do Vice-Presidente, 2005)

PRSP Camboja, 2005, p. 59: “A educação é universalmente aceita como um direito humano básico. É também um imiportante fator que contribui para a redução da pobreza. O objetivo de longo prazo é assegurar que todas as crianças, adolescentes e jovens cambojanos tenham oportunidades iguais à educação de qualidade, não obstante o status social, a geografia, e etnicidade, a religião, a língua, o gênero ou deficiências.”

PRSP Gana, 2005, p. 43: “assegurar que os prédios e outros espaços físicos nas escolas sejam acessíveis às pessoas com deficiência”.PRSP Moçambique, 2006, p. 104: “Treinamento de professoresObjetivo principal: assegurar que todos os professores sejam treinados para todos os subsistemas educacionais, com vistas a promover a educação para todas as crianças e adolescentes, inclusive as meninas e os portadores de deficiências.”

Mais informaçõesEENET: Schools for all (pôster)

Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, Acesso e Qualidade (1994): A Declaração de Salamanca e Quadro de Ação na Educação para Necessidades Especiais, Salamanca, Espanha, 7-10 juho 1994.

Enabling Education Network: http://eenet.org.uk

Takamine, Yutaka (2004): Working Paper Series on Disability Issues in East Asia: Review and Ways Forward. Paper No. 2004-1, Maio.

Jonsson, Tyre & Ronald Wiman (2001): Education, Poverty and Disability in Developing Countries. A Technical Note Prepared for the Sourcebook. Patrocinado pelo Thematic Group on Disability Issues e financiado pelo Finnish Consultant Trust, Junho.

Stubbs, Sue (2002): Where there are few resources. Oslo. The Atlas Alliance.

Unesco (2001): Understanding and responding to children’s needs in inclusive classrooms: a guide for teachers. Paris. Este documento propõe aos professores métodos práticos de lidar com crianças que têm dificuldades especiais de aprendizagem.

Unesco (2004): Embracing diversity: toolkit for creative inclusive, learning-friendly environments. Bangkok. Este kit de ferramentas oferece dicas práticas sobre como tornar as escolas e salas de aula mais inclusivas e amigáveis para a aprendizagem. Orienta os professores que trabalham em salas de aula a apoiar a criação e a gestão de um ambiente que promova a aprendizagem inclusiva e amigável, através da plena participação de educadores, estudantes, pais e membros da comunidade.

Swedish Co-operative Body of Organisations of Disabled People (2001): Agenda 22: disability policy planning instructions for local authorities. Stockholm : Swedish Co-operative Body of Organisations of Disabled People (2001): As organizações suecas de pessoas com deficiências criaram um método, conhecido pelo nome de Agenda 22, para desenvolver políticas de deficiência, baseado nas “Regras Padrão de Igualdade de Oportunidades para pessoas com deficiêncis”.

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Unesco / Sandkull, Olof (2005): Strengthening inclusive education by applying a rights-based approach to education programming. Bangkok. Este documento tem por objetivo esclarecer os conceitos que embasam a abordagem baseada nos direitos e o seu papel no fortalecimento das atividades da educação inclusiva. Discute brevemente as ferramentas necessárias para avançar e enfatiza a importância dos direitos humanos na programação da cooperação para o desenvolvimento, e os aspectos práticos da implementação desses programas.

Unesco (2000): Open file on inclusive education: support materials for managers and administrators. Paris. Este documento tem por objetivo apoiar todas as pessoas preocupadas em promover a educação inclusiva nos seus países. Em especial, o documento oferece aos administradores e tomadores de decisões em diferentes países meios para aproveitar a experiência internacional na condução dos sistemas educacionais dos seus países rumo à inclusão.

Unesco (2006): Guidelines for inclusion: ensuring access to education for all. Paris.

Peters, Susan (2003): Education for all: including children with disabilities. Washington. Banco Mundial O documento define educação inclusiva: alcançar a educação para todos, incluindo as crianças deficientes e as com necessidades educacionais especiais.

World Vision UK (2007): Education’s missing millions. Including disabled children in education through EFA FTI processes and national sector plans. Este documento avalia a resposta da iniciativa “via rápida na educação para todos” no tocante à inclusão da deficiência. Apresenta dados concretos obtidos em estudos de caso em três países e recomenda que os sistemas educacionais sejam revistos para se tornarem compatíveis com a diversidade e levarem em conta os direitos e interesses das crianças portadoras de deficiências.

6.5.5 Emprego

A situação globalComo as pessoas com deficiência possuem nível de escolaridade inferior à média, têm também maior dificuldade de encontrar emprego. Mesmo depois de fazer mais cursos, continuam a enfrentar discriminação por parte dos empregadores e dos colegas. Conseqüentemente, os índices de desemprego e subemprego das pessoas com deficiência são muito mais elevados do que os do resto da população. E quando têm emprego, as pessoas com deficiência ganham em média menos do que as pessoas sem deficiência. A falta de emprego naturalmente leva à pobreza de renda. Os dados sobre os índices de desemprego de pessoas com deficiência são raros ou inconfiáveis porque dependem da definição de deficiência e de desemprego (vide Hernández-Licona, pp. 3-6). Em muitos países latino-americanos, por exemplo, a pessoa só é definida como incapaz se estiver desempregada. Dados da OIT indicam que os índices de desemprego entre as pessoas com deficiência são de duas a três vezes mais elevados do que entre as pessoas sem deficiência. Por conseguinte, um grande número de pessoas com deficiências depende de serviços no setor informal, do auto-emprego ou mesmo da mendicância para ganhar a vida.

Solução possível:Um grande número de indivíduos com deficiência depende de mendicância para viver. Durante muito tempo, as oficinas de treinamento profissional especial foram a principal solução usada no setor de empregos, embora se trate também de uma abordagem ocidental introduzida nos países em desenvolvimento, com dois pontos problemáticos: a sua limitação em número e o fato de não fortalecerem a inclusão social. Promovendo uma nova abordagem, a OIT criou os Padrões de Gestão das Questões Relativas à Deficiência no Local de Trabalho, oferecendo orientação nesta área. Geralmente, as soluções propostas referem-se ao aprimoramentos do enquadramento legal visando eliminar a exclusão e facilitar o emprego, por exemplo, mediante subsídios aos empregadores que contratem pessoas com deficiência. É um campo no qual as OPDs e as ONG(I)s podem contribuir por meio de lobby e defesa de interesses, assim como pela oferta de assessoramento para a configuração dos locais de trabalho. As políticas para o setor ocupacional e educativo devem evitar a criação de estruturas paralelas e promover estruturas unificadas que facilitem o acesso às mesmas oportunidades para todos. De fato, na maioria dos países em desenvolvimento, um grande número de pessoas vive ou trabalha no setor informal ou na agricultura de subsistência; as pessoas formalmente empregadas são minoria, pelo que as políticas de emprego visam somente a essa minoria. Portanto, as estratégias precisam considerar especificamente as pessoas com deficiência num contexto rural. Para apoiar pessoas com deficiência a se tornar auto-empregados, elas deveriam ser integradas em mecanismos de financiamento existentes, taix como microcrédito. Ou seja, é preciso tornar acessíveis esses mecanismos.

Exemplos de PRSP

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O PRSP da Tanzânia menciona a necessidade de:

“Desenvolver ação afirmativa para criar oportunidades de emprego para jovens, mulheres e pessoas com deficiência.” (República Unida da Tanzânia, Gabinete do Vice-Presidente, 2005)

PRSP Malawi, 2006 p. 40: “As pessoas com deficiência são normalmente as mais afetadas em termos de acesso a bens e outras facilidades necessárias para crescer economicamente. Sofrem dificuldades de acesso aos serviços financeiros e de capital, aos programas de capacitação e de desenvolvimento de tecnologias. São também as mais afetadas pela falta de infrastrutura, tais como ruas e estradas, comunicação e prédios que não foram projetados para atender às suas necessidades especiais. Precisamos de uma abordagem coerente e integrada para contribuir para a solução das várias causas da impotência que existe nos diferentes setores dos pobres e menos favorecidos em Malawi.”PRSP Bósnia e Herzegovina, 2004, p. 142: “Desenvolver instrumentos para encorajar e ajudar a empregar veteranos portadores de deficiências, assim como os veteranos e membros das fam´pilias de soldados mortos ou desaparecidos:[…]Destinar verbas para cofinanciar a geração de novos empregos para militares deficientes, que é o melhor método para a sua reabilitação em termos de trabalho.Destinar recursos para a adaptação das áreas de trabalho e compra de equipamento técnico especial necessários para o emprego de pessoas com deficiências mais graves.”I-PRSP Afeganistão, 2006, p. 225: Em fins de 2010, será prestada assistência maior para atender às necessidades especiais das pessoas portadoras de dificiências, incluindo a sua integração na sociedade através de oportunidades de educação e emprego remunerado.”

Mais informaçõesOIT (2002): Managing Disability at the Workplace. ILO Code of Practice. Genebra. (inclui definições de empregadores, discriminação, reabilitação profissional, etc.)

Hernández-Licona, Gonzalo (2004): Disability and the Labour Market: Data Gaps and Needs in Latin America and the Caribbean.

The Disabled People’s Association, Singapore (nd): Employing Somebody Who Is Disabled.

Mont, Daniel (2004): Disability Employment Policy. Documento do Banco Mundial para discussão sobre proteção social.

6.5.6 Acessibilidade

A situação globalCriar um ambiente acessível é o primeiro passo para uma sociedade inclusiva. A acessibilidade é uma questão transversal para outros importantes setores, tais como saúde, integração profissional, educação, desporto. De fato, todos os centros de saúde, escolas, piscinas, estádios têm que ser acessíveis a todos.

Entende-se por ambiente acessível o espaço que permite a movimentação livre e segura, funcionalidade e acesso para todos, independentemente da idade, do sexo ou da condição, ou um espaço ou conjunto de serviços que possam ser acessados por todos, sem obstáculos, com dignidade e com o máximo de autonomia possível. A acessibilidade pode ser definida em três níveis principais:

1. Acessibilidade do ambiente construído, que inclui habitação, prédios privados, como também os espaços e os edifícios públicos.

2. “Acessibilidade geográfica”, voltada para a possibilidade de deslocamento: todo mundo tem que ter o direito e a oportunidade de escolher os seus meios de transporte para ir de um lugar a outro de acordo com as suas necessidades, capacidades e a sua renda.

3. Acesso aos meios de informação e comunicação (informação em repartições públicas, por exemplo, ou acesso à internet).

Solução possível:O processo de tornar o ambiente construído acessível a todos não deve ser limitado à mera construção de rampas de acesso. Dever-se-ia adotar uma abordagem mais ampla, a da cadeia de mobilidade. Isto deveria incluir a reflexão sobre os seguintes aspectos: arquitetura de interiores, áreas comuns em habitações coletivas, entradas de edifícios, equipamentos e serviços, edifícios e áreas públicas, meios de transporte, etc. Um elemento que falte basta para invalidar todos os esforços e melhorias realizadas em outros pontos, e pode resultar na exclusão de pessoas portadoras de deficiência, tornado o ambiente inacessível para eles. A “continuidade” da cadeia de mobilidade parece ser, portanto, o elemento chave de um ambiente acessível a todos. Isto implica um profundo compromisso de muitos, se não o involvimento de todos. Por outro lado,

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melhor acessibilidade beneficiará uma grande parte da população, incluindo as pessoas com mobilidade reduzida, mas também os idosos e qualquer pessoa temporariamente incapacitada, gestantes, etc. Finalmente, em relação ao princípio do “design universal” ou “design para todos”, temos que lembrar que um ambiente livre de obstáculos beneficia a todos, pois atende às necessidades da maioria da população. A acessibilidade tem que ser desenvolvida também nas áreas urbanas ou rurais. De fato, as pessoas com deficiência nos países rurais encontram as mesmas dificuldades na sua vida cotidiana no que diz respeito ao uso de instalações públicas ou privadas, como, por exemplo, serviços de água e esgoto. Como a acessibilidade não implica em gastos extraordinários, quando levada em consideração no início de toda fase de desenvolvimento, e dada a possibilidade de criar soluções locais de baixo custo em cada contexto, este campo tem que ser contemplado nos PRSPs. As quatro orientações básicas a seguir poderiam ser integradas às medidas do PRSP:

1. Levar informações e promover a conscientização em diferentes tipos de público: associações e ONGs locais, arquitetos, engenheiros, técnicos, autoridades públicas, vereadores, meios de comunicação, coordenadores de projetos, proprietários de prédios, a população em geral, etc.

2. Oferecer treinamento profissional e intercambiar boas práticas para autoridades públicas em geral com coordenadores de projetos, arquitetos, urbanistas, empresas de construção, etc.

3. Criar novos ou melhorar os mecanismos legais e reforçar o cumprimento eletivo da lei. Cada país poderia contribuir para isso, emitindo diretivas técnicas que expliquem as leis e as normas de maneira simples e clara e digam como devem ser implementadas.

4. Prestar apoio e acompanhar os parceiros que estejam implementando ações orientadas para a acessibilidade a nível local, que é um bom ponto para começar a trabalhar sobre a implementação da acessibilidade.

Devem-se realizar tantos levantamentos locais quanto for possível, em parceria com OPDs, autoridades locais e muitos outros grupos interessados, tanto privados como públicos. Os levantamentos devem ser usados para priorizar as ações e definir um plano de ação em cooperação com a comunidade das pessoas portadoras de deficiências e seus representantes.

Exemplos de PRSPsO PRSP da Tanzânia postula as seguintes necessidades:

● acesso melhorado a água limpa, saudável e de baixo custo, ao saneamento básico, moradia decente e meio ambiente saudável e sustentável, e, através disso, menor vulnerabilidade a riscos ambientais em todas as instituições públicas – escolas, centros de saúde, mercados e lugares, incluindo acesso para as pessoas portadoras de deficiência.

● Assegurar instalações sanitárias adequadas em todas as instituições públicas – escolas, centros de saúde, mercados e lugares públicos, incluindo acesso para as pessoas portadoras de deficiência.

● Estudos sobre acesso e custo de água e saneamento, com atenção para o número de moradores por domicílio, idade, deficiência e gênero

● Adotar um Programa Nacional de Habitação, promover a participação do setor privado na construção de habitações, o uso de materiais e tecnologia de construção apropriados e de custo acessível, aumentar a disponibilidade de moradia de baixo custo e de área com saneamento básico para os membros mais necessitados da sociedade (incluindo os portadores de deficiência). (República Unida da Tanzânia, Gabinete do Vice-Presidente, 2005)

Malawi PRSP, 2006, p. 55: “Transporte ferroviário: O desenvolvimento da malha ferroviária terá de ser ligada a áreas alvo, como portos, distritos industriais e fronteiras. As estratégias principais incluem: • melhorar a eficiência operacional e a viabilidade comercial da infra-estrutura ferroviária e níveis de serviços existentes para todos os usuários, inclusive pessoas com deficiência, a custo acessível." PRSP Moçambique, 2006, p. 118: “Criar condições de livre acesso e movimento de crianças, pessoas com deficiência e idosos às praças desportivas livre de obstáculos e dentro delas.”

Mais informaçõesWiman, Ronald (STAKES) e Jim Sandhu (INDRA) (2004): Integrating Appropriate Measures for People with Disabilities in the Infrastructure Sector. Capítulo sobre Transporte do Livro de Consulta

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Capítulo sobre Água e Saneamento do Livro de Consulta Capítulo sobre Tecnologia de Comunicação do Livro de Consulta

ESCAP (1995): Promotion of Non-handicapping Physical Environments for Disabled Persons: Guidelines.

American Accessibility Guidelines for Buildings and Facilities (ADAAG) “Accessibility for the Disabled, A Design Manual for a Barrier Free Environment”, um manual para um ambiente livre de obstáculos, editado pelo Departamento de Gestão Urbana da Spcoedade Libanesa de Desenvolvimento e Reconstrução do distrito central de Beirute (SOLIDERE), em colaboração com a Comissão Social e Econômica das Nações Unidas para o Leste Asiático (ESCWA) e com aprovação do Ministério de Assuntos Sociais e do Comitê Nacional para Pessoas Portadoras de Deficiências.

Practical guidelines Access for all Helping to make participatory processes accessible for everyone Save the Children www.eenet.org.uk/bibliog/scuk/access_for_all.pdfWorld Wide Web Consortium: http://www.w3.org/Enhanced Accessibility for people with Disabilities living in urban Areas DFID (UK) www.globalride-sf.org/images/DFID.pdf

6.5.7 Outros setores

Setores:● Governança democrática e legislação

● Gênero

● Meio ambiente

● Consolidação da paz

● Políticas macroeconômicas

● Sistemas estatísticos

Governança democrática e legislaçãoComo mencionado acima, governança e legislação tratam de vários setores. Um exemplo de intervenção pode ser a provisão de leis contra discriminação. Padrões internacionais, convenções, leis e direitos humanos podem dar orientação a esse respeito.

Exemplos de PRSPsI-PRSP Afeganistão, 2006, p. 128: “O governo promoverá e protegerá os direitos das pessoas deficientes trabalhando para remover os obstáculos que as impedem de participar plenamente da sociedade, defendendo os seus interesses e elevando a percepção das suas necessidades especiais e promovendo a sua contratação."

PRSP Burkina Faso, 2006, p. 96: “Governança democrática: (vi) promover e proteger os direitos dos grupos especiais, como as mulheres, crianças e adolescente, portadores de deficiência e outros grupos pobres ou vulneráveis”.

Mais informaçõesUnited Nations Enable: International Laws and Policy Guidelines

O Livro de Consulta PRSP sobre Governança

GêneroEm relação aos grupos vulneráveis, deve-se atentar especialmente para a dupla discriminação vivida por mulheres e por crianças com deficiência. Gênero já é um tema transversal na abordagem PRSP. Como as estimativas dão conta de um número maior de mulheres e meninas com deficiência do que de homens, este grupo precisa de atenção especial. As mulheres são duplamente afetadas pela deficiência na medida em que são elas quem mais se ocupam dos cuidados aos parentes portadores de deficiência.

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Mais informaçõesDisability Awareness in Action (DAA): Disabled Women (mulheres com deficiência). Resource Kit No. 6.

Livro de Consulta PRSP sobre Gênero

Meio ambienteO meio ambiente também é um tema transversal na abordagem PRSP: desastres naturais também são causas de incapacitação; logo, a sua prevenção também contribui para reduzir o problema da deficiência.

Mais informaçõesLivro de Consulta PRSP sobre Meio Ambiente

Consolidação da pazOs países em situação de pós-guerra e pós-conflito incluem uma seção sobre manutenção da paz nos seus PRS.

PRSP Camboja, 2006, p. 15: “A desminagem é muito importante para tornar a terra arável segura para o cultivo e para prevenir a morte e as deficiências por toda vida causadas por ferimentos graves.”

Políticas macroeconômicas Um objetivo central dos PRSPs é estimular o crescimento econômico e a estabilidade ao influenciar a estrutura econômica, por exemplo, através de política tributária, gestão fiscal, administração aduaneira ou da política comercial. Todos esses aspectos também afetam as pessoas com deficiência.

Mais informaçõesO Livro de Consulta PRSP sobre Questões macroeconômicas

Sistemas estatísticosOs sistemas estatísticos nos países em desenvolvimento são geralmente muito fracos, o que dificulta o planejamento e a tomada de decisões. A situação é ainda pior no que diz respeito às estatísticas sobre deficiência, pelo que a produção de dados confiáveis sobre o assunto poderia ser um ponto de ação do PRS.

Mais informaçõesPRSP Sourcebook on Strengthening Statistical Systems

A revista Journal of the Disability Monitor Initiative in South-East Europe traz um panorama da luta contra a invibilidade mediante dados estatísticos, no artigo "Disability Statistics fight Invisibility". Disponível em: www.disabilitymonitor-see.org/documents/journal03/Journal_decemberengweb.pdf

O grupo Washington Group on Disability Statistics desenvolveu um conjunto de perguntas curtas para inclusão nos censos nacionais.

7 Gestão de projetos e processosEste capítulo tem por finalidade apresentar informações gerais sobre a identidade de qualquer movimento nacional de dificiência e sobre a gestão de projetos e processos. O objetivo final é facilitar o desenvolvimento e a implementação de uma estratégia nacional conjunta para os grupos interessados em geral e, mais especificamente, em relação ao processo PRS. Introduz os conceitos de auto-avaliação organizacional e análise dos grupos interessados: essas ferramentas permitem avaliar os potenciais existentes das OPDs e, adicionalmente, oferecem uma base para o trabalho em rede. Além disso, a parte relativa à gestão de projetos

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e processos traz informações sobre financiamento, métodos de organização do trabalho, planejamento de ações e o ciclo do projeto, com exemplos do Banco Mundial.

Conteúdo do capítulo 7● 7.1 A identidade do movimento nacional das pessoas com deficiência

�❍ 7.1.1 Por que trabalhar em rede?

�❍ 7.1.2 Auto-avaliação organizacional

�❍ 7.1.3 A identidade do movimento nacional das pessoas com deficiência

�❍ 7.1.4 Outros elementos chave

�❍ 7.1.5 Desenvolvimento de uma Estratégia Conjunta

● 7.2 Elementos importantes da gestão de projetos e processos �❍ 7.2.1 Custeio

�❍ 7.2.2 Trabalho organizativo

�❍ 7.2.3 Planejamento da ação

�❍ 7.2.4 O ciclo do projeto

7.1 A identidade do movimento nacional das pessoas com deficiênciaEste capítulo apresenta informações gerais sobre importantes elementos dos quais todos os movimentos nacionais da dificiência necessitam para desenvolver e implementar uma estratégia nacional conjunta em relação ao processo PRS. Os resultados de uma auto-avaliação organizacional e uma análise cuidadosa dos grupos interessados oferecem perspectivas realistas sobre os potenciais das OPDs, de sua capacidade de trabalhar em rede e conduzir (ou formar) um movimento da deficiência unificado.

7.1.1 Por que trabalhar em rede?Para integrar com sucesso questões relativas à deficiência no processo PRS são necessários um forte trabalho de lobby e um movimento nacional da deficiência bem organizado. Isto requer que cada organização interessada tenha uma identidade clara e consciente, e isto se aplica também ao nível de todo o movimento. A formação de redes e alianças são técnicas importantes para toda OPD e toda organização que trabalha no campo da deficiência, pois são formas eficientes de ganhar peso político e de se fazer ouvir com maior facilidade pelos representantes oficiais. Compartilhar recursos implica também maior eficiência de custos. Contudo, o trabalho em rede também acarreta um risco a ser considerado: a discussão com os aliados potenciais e a busca de consenso são processos demorados que podem, às vezes, resultar em conflito. O desafio é achar o justo equilíbrio entre a urgência e um consenso convincente.

São necessários diversos elementos importantes para formar alianças, redes e parcerias efetivas. As sub-seções a seguir explicam a importância da auto-avaliação organizacional como forma de dar uma identidade compartilhada ao movimento das pessoas com deficiência. Especialmente os resultados da análise das partes interessadas trazem informações decisivas sobre a importância e a relação das diferentes organizações e das pessoas no contexto das questões relativas à deficiência. O trabalho sobre a estratégia e o posicionamento de uma organização também oferece às partes interessadas uma oportunidade de discutir possíveis alianças, redes e parcerias. A formação de redes e alianças também requer que se levem em consideração as seguintes perguntas:

● Quem seria um parceiro aceitável para atingir os objetivos?● Quem poderia se opor ou até mesmo rejeitar ativamente este processo?

A questão do poder está no âmago de toda cooperação bilateral e multilateral. No entanto, embora seja uma questão importante e capaz de promover ou destruir qualquer parceria ou aliança, é normalmente assunto tão delicado que se torna difícil abordá-lo adequadamente. Ainda assim, todas as organizações envolvidas deveriam interessar-se em tornar mais transparentes as estruturas de poder internas e externas e os procedimentos de tomada de decisão, a fim de evitar manipulações e desconfiança mútua.

Mais informaçõesCEDPA (1999): Advocacy: Building Skills for NGO Leaders. The CEDPA Training Manual Series, Volume IX, Washington , Session Five, pp. 40-47.

Harris, Alison com Sue Enfield (2003): Disability, Equality and Human Rights: A Training Manual for Development and Humanitarian Organisations. Publicação da Oxfam em cooperação com Action Aid on Disability and Development (ADD), Oxford. Nas 224 e 225 encontra-se um exercício de brainstorming sobre

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que pessoas podem ser úteis, sobre a ordem de prioridade das pessoas a contatar, que contatos já existem, com quem se pode contar, quem precisa ser persuadido, etc.

O Manual de Parceria, de 90 páginas (em inglês).

7.1.2 Auto-avaliação organizacional

ObjetivosA auto-avaliação organizacional é um processo que fortalece toda organização que o implementa: consiste, entre outras coisas, em trabalhar a identidade da organização, analisando os seus pontos fortes e fracos internos e identificando as oportunidades e limitações ligadas ao meio. Os resultados permitem traçar um quadro realista das capacidades existentes e ajudam a organização a aprender e a adaptar-se mais facilmente às mudanças do meio. Ao mesmo tempo, a avaliação facilita o planejamento e a implementação de qualquer projeto ou atividade. Representantes que conhecem e têm uma visão concordante da identidade corporativa são capazes de agir de forma mais coerente e eficiente em qualquer campo, inclusive no setor da deficiência. No campo do desenvolvimento e cooperação, os projetos conjuntos são normalmente implementados por duas ou mais organizações que trabalham em cooperação ou independentemente. Às vezes, desta cooperação pode resultar uma identidade compartilhada capaz de criar ambivalência e insegurança dentro e fora das organizações envolvidas. Conhecer a própria identidade e estar ciente das próprias capacidades e limites facilita a cooperação e o planejamento de um projeto conjunto, por tornar mais realistas as expectativas mútuas. Uma combinação de auto-avaliação organizacional e de análise das partes interessadas transmite às pessoas e organizações envolvidas uma impressão realista do seu potencial como movimento das pessoas com deficiência. Sobre esta base, elas serão capazes de desenvolver uma estratégia de atividades conjuntas adaptada ao seu contexto nacional específico.

Questões chaveA auto-avaliação organizacional é uma análise interna da organização, realizada pelos seus representantes-chave. Tais avaliações variam consideravelmente em intensidade e alcance, dependendo do tempo e dos recursos disponíveis. Os próprios representantes fazem a avaliação sozinhos ou assistidos por um facilitador externo. É necessário discutir os seguintes pontos e perguntas: [As ferramentas no. 11-25 podem facilitar a discussão a esse respeito]

● Quem são as pessoas-chave na organização? (liderança)● Qual é a motivação e a visão delas? (trabalho em equipe, coerência interna, “identidade corporativa”)● Como é a relação entre essas pessoas-chave? ● Qual a influência dessas questões no desempenho e nas atividades da organização?● Qual é a influência de cada pessoa-chave num determinado projeto ou numa atividade específica?● Quem é responsável pelo quê? ● Qual é a história e a evolução da organização, do projeto e da parceria.

Mais informaçõesJames, Rick (1998): De-mystifying Organisational Development; Practical Capacity Building Experiences from African NGOs, INTRAC.

Gubbels, Peter and Catheryn Koss (2000): From the Roots up: Strengthening Organizational Development through Guided Self-assessment. World Neighbours.

Practice reports provide helpful hints on how to organise work.

International NGO Training and Research Centre.

International Development Research Centre.

“The Gateway to Development Information” offers numerous resources and manuals for download.

QSTG (2000): Self-assessment Workbook: Measuring Success.

CIIR (2005): Capacity Building for Local NGOs. A guidance manual for good practice.

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7.1.3 A identidade do movimento nacional das pessoas com deficiênciaConforme viamos acima, a auto-avaliação organizacional refere-se às capacidades internas e internas de toda organização e revela o seu potencial de participação e contribuição para o desenvolvimento de um movimento nacional da dificiência. A análise das partes interessadas e das suas relações dentro do setor fornece valiosos elementos para toda organização que procura encontrar uma posição apropriada dentro do sistema, facilitando a escolha de organizações parceiras para implementar atividades conjuntas. O tipo e as capacidades da organização parceira influem fortemente em todo projeto conjunto.

MetasNunca existe apenas um sistema de partes interessadas, especialmente quando já existem relações entre elas; há, sim, vários sistemas que são uma função da diversidade de perspectivas e percepções. Num ambiente dinâmico, cada sistema é influenciado pela formação, fusão e desaparecimento de organizações/instituições locais. O resultado da análise das partes interessadas depende principalmente do número e da função dos participantes. As discussões e temas mais interessantes resultam normalmente do processo de reunir um grupo de pessoas ativas no campo da deficiência, no caso ideal, os representantes de grupos interessados importantes. Ao mesmo tempo, porém, esta abordagem consome muito tempo e requer muita energia, dependendo da dinâmica específica do grupo. Esse tipo atividade já é, na verdade, por si só, uma atividade de capacitação, independente dos resultados da análise das partes interessadas. A análise das partes interessadas também pode servir de instrumento de coleta de dados. Usar as mesmas ferramentas para analisar diferentes partes interessadas permite traçar um quadro comparativo com diferentes perspectivas e pontos de vista.

Questões chaveA análise dos grupos interessados pode variar consideravelmente em termos de profundidade e alcance, dependendo dos objetivos e da abordagem escolhida. De todas as formas, será necessário discutir os seguintes pontos e perguntas: [use as ferramentas no. 11-25 para facilitar a discussão]

● Quem são as partes interessadas do movimento nacional da deficiência? Não havendo um movimento das pessoas com deficiência, quem é importante no campo da deficiência?

● Quem é uma parte interessada importante? Por quê?● Qual é a motivação e a visão dessas partes?● Qual a relação entre as principais partes interessadas dentro do movimento das pessoas com deficiência/

dentro do setor da deficiência?● Qual a influência dessas questões no desempenho e nas atividades do movimento/do setor da deficiência?● Qual a influência de cada uma das principais partes interessadas no movimento das pessoas com

deficiência/dentro do setor da deficiência?● Quem é responsável pelo quê? ● Cronologia: Qual é a história e a evolução do movimento das pessoas com deficiência?

Mais informaçõesJames, Rick (1998): De-mystifying Organisational Development; Practical Capacity Building Experiences from African NGOs, INTRAC.

Gubbels, Peter and Catheryn Koss (2000): From the Roots up: Strengthening Organizational Development through Guided Self-assessment. World Neighbours. www.wn.org

www.capacity.org: Relatórios da prática trazem sugestões úteis sobre como organizar o trabalho.

International NGO Training and Research Centre: http://www.intrac.org/

International Development Research Centre: http://www.crdi.org/

www.eldis.org: O link “The Gateway to Development Information” oferece numerosos recursos e manuais para download.

QSTG (2000): Self-assessment Workbook: Measuring Success.

CIIR (2005): Capacity Building for Local NGOs. A guidance manual for good practice.

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7.1.4 Outros elementos chaveNem tudo pode ser incluído no PRS. Por isso, é importante que as organizações que desejam “tornar o PRS mais inclusivo” estabeleçam um consenso sobre as prioridades e apresentem propostas realistas acerca dos meios e possibilidades de incluir a deficiência no PRS nacional. A base para identificar as visões, objetivos e atividades é o conhecimento acerca da indentidade e do potencial da própria organização, que se pode adquirir com a ajuda de uma auto-avaliação organizacional. O segundo passo é a análise do sistema de partes interessadas, que ajuda a compreender a identidade e as relações de todos os grupos interessados envolvidos. O passo seguinte é criar uma estratégia conjunta. Para isto, o movimento nacional da dificiência tem que mostrar um nível mínimo de união, uma visão comum, objetivos claros e uma estratégia conjunta.

VisãoUma visão será geralmente uma meta inatingível, mas, mesmo assim, é necessário dar uma direção de longo prazo e fornecer a motivação para todas as atividades. A visão costuma ser excessivamente ambiciosa ou excessivamente vaga; por exemplo: “melhorar o padrão de vida de todas as pessoas com deficiência”, ou “as pessoas com deficiência serão plenamente integradas na sociedade”.

ObjetivoUm objetivo, por outro lado, é transformar em realidade uma parte da visão. Outra coisa é o que se pode alcançar em um período de tempo determinado, como, por ex., “convencer os responsáveis pelas decisões a formular uma lei antidiscriminação”. A visão é formada por vários objetivos que representam os degraus necessários para alcançá-la. Toda organização, aliança, rede ou parceria precisa de objetivos claramente definidos. Todas os envolvidos, quer sejam os integrantes de uma organização, quer sejam as pessoas-chave à frente de uma aliança, precisam compreender e concordar com os objetivos a serem alcançados. Desde o início, é importante definir objetivos realistas e indicadores válidos.

ActividadesAs atividades, por fim, são mais específicas, contribuindo para alcançar um ou mais objetivos; por exemplo: “convidar os responsáveis pelas decisões para visitar uma creche de crianças com deficiência” ou “contatar e visitar os responsáveis pelas decisões e explicar-lhes o seu ponto de vista”.

7.1.5 Desenvolvimento de uma Estratégia ConjuntaA elaboração da estratégia ou a sua modificação baseia-se em quatro questões-chave que se sobrepõem, já mencionadas anteriormente:

● A identidade da organização: Quem somos? (auto-avaliação organizacional)● O sistema de grupos interessados: Quem são os outros? O que estão fazendo? O que querem? (identidade

do movimento nacional da deficiência)● A elaboração de uma estratégia baseada na interpretação e numa combinação dos resultados da análise: Qual é

a nossa posição e por quê? O que podemos alcançar juntos?

7.2 Elementos importantes da gestão de projetos e processosEste capítulo traz informações sobre financiamento, métodos de organização do trabalho, planejamento de ações e o ciclo do projeto, com exemplos do Banco Mundial.

7.2.1 CusteioToda fase de planejamento e de implementação do projeto necessita de recursos, inclusive material, pessoal, conhecimentos e dinheiro. Muitas agências de desenvolvimento obtém financiamento de outras fontes (por exemplo, instituições doadoras nacionais e internacionais ou doadores privados). As ONG(I)s podem solicitar verbas de instituições públicas (por ex., ministérios e departamentos) ou de fundações e organizações privadas. Normalmente, os doadores exigem relatórios e uma relação de despesas do recebedor, a fim de controlar a implementação das atividades e assegurar o uso apropriado do dinheiro. As ONG(I)s também recebem doações de particulares e de empresas privadas. Levantamento de fundos é uma profissão que adapta a estratégia à fonte de recursos visada.

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Mais informações Network Learning (2004): A Guide to Fundraising.

7.2.2 Trabalho organizativoHá muitas diferentes maneiras de reunir pessoas para trabalhar sobre temas específicos, dentre elas os seminários, grupos de estudo, conferências e oficinas, para mencionar só algumas. A freqüência das reuniões vai desde o encontro esporádico ou periódico/contínuo até as intervenções pontuais. Tudo depende da situação local, da capacidade dos organizadores e dos recursos financeiros disponíveis. A ferramenta 23 propõe uma opção de processo para organizar uma primeira oficina de representantes. Os resultados de qualquer trabalho conjunto dependerão basicamente do número e da função dos participantes: quanto maior o número de participantes, tanto maior o número de opiniões e pareceres diferentes, e possivelmente tanto mais difícil, também, estabelecer conclusões comuns a todos. O trabalho também pode tornar-se mais difícil e consumir mais tempo, dependendo da dinâmica do grupo em questão. Mesmo com muito tempo, energia e discussão, o sucesso não é garantido. Mas as vantagens da busca por uma posição comum são óbvias: os pontos em discussão e os argumentos serão apoiados pela maioria dos grupos interessados ligados às pessoas com deficiência que, juntos, terão melhor possibilidade de se fazer ouvir. A abordagem alternativa, que consistiria em atribuir a uma só pessoa a tarefa de coordenar os diferentes grupos interessados e falar no seu nome, pode ser mais eficiente e rápido do ponto de vista organizativo, mas envolve o risco de baixa representatividade e baixo nível de protagonismo. Seja qual for a abordagem adotada, é importante, ao se organizar o trabalho com pessoas com diferentes tipos de deficiência, ter conhecimento das suas deficiências individuais e ter presente como estas influem na sua capacidade de trabalhar e de participar. Na seleção das ferramentas pedagógicas e dos métodos didáticos, é necessário considerar os diferentes tipos de deficiência, assim como os desejos e necessidades especiais de cada indivíduo. É preciso considerar seriamente os dois componentes abaixo ao organizar o trabalho conjunto:

● O facilitador: É sempre conveniente ter um facilitador independente. Cabe a ele/ela estruturar a discussão e encorajar os participantes a contribuir.

● Diárias e despesas de viagem: em muitos países é de praxe pagar uma diária aos participantes. No entanto, muitas vezes é complicado encontrar o justo equilíbrio. Se o valor for muito baixo, pode ser que as pessoas não consigam vir por causa de outros compromissos ou porque não podem arcar com as despesas da viagem, etc. Se for muito alto, há o risco de as pessoas virem mais por conta do bom pagamento do que pelo interesse real no assunto.

Mais informaçõesImpact Alliance Resource Centre: Facilitation Techniques

O relato da oficina na Tanzânia dá um exemplo de como organizar o trabalho

Lista de verificação: Organizar reuniões

7.2.3 Planejamento da ação

ObjetivosA fase de planejamento da ação combina os temas, as perguntas e os resultados identificados durante a fase anterior. Traduz as idéias e sugestões em propostas realistas e representa o primeiro passo para a implementação de atividades concretas. O objetivo de todo Plano de Ação é aprimorar a integração de questões relativas à deficiência no PRSP nacional. As OPDs locais e as associações de pais devem ser os principais responsáveis pela implementação dos planos. Um Plano de Ação é uma ferramenta que traduz a visão e a estratégia comum em atividades específicas e adaptadas localmente. Ele une os diferentes grupos interessados, indica os diversos passos a serem dados e identifica os papéis e as responsabilidades de cada estágio.

Todo Plano de Ação tem que ser claro, lógico e transparente, mas, ao mesmo tempo, exige flexibilidade suficiente para se ajustar às mudanças de um meio circundante dinâmico e em rápida transformação. As duas questões-chave do planejamento da ação referem-se aos objetivos a serem alcançados e aos aliados potenciais para um acordo de cooperação, que já foram tratados detalhadamente nas sub-seções precedentes.

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Planejamento de ações como processoO planejamento da ação é um processo que inclui diversas etapas (vide também capítulo 2). Depois da fase de orientação, as reuniões com os possíveis aliados devem incluir os seguintes tópicos:

1. Quais são os pontos de entrada no processo PRS nacional? (vide também capítulo 3).

2. Que questões do campo de deficiência são as mais importantes e precisam ser incluídas no PRS nacional? (definir as prioridades)

3. Como você pode estimular e apoiar a inclusão das prioridades identificadas no PRSP nacional? Propostas do brainstorming com o grupo.

4. Quais são as vantagens e desvantagens de cada proposta? Quanto tempo, dinheiro e recursos humanos serão necessários para cada proposta?

5. Que proposta/plano deve ser aceito? (várias sugestões são possíveis).6. Quem fará o quê, quando, onde e como? (Meta plan) - responsabilidades7. O que é preciso fazer primeiro em termos de implementação? Definir os próximos passos e prioridades.8. Como monitorar as atividades implementadas? Quem será responsável pelo monitoramento? - monitoramento9. Quem deve participar da avaliação, e em que ponto é necessário fazer uma avaliação?

Mais informaçõesFerramenta: Os Oito Raios de Sol do planejamento com uma relação de oito perguntas-chave para o planejamento coerente

Ferramenta: Plano de ação ou de implementação

INTRAC Praxis Series à Experience from and for Capacity Building Practitioners

Lefevre, Pierre, Patrick Kolsteren, Marie-Paule De Wael, Francis Byekwaso and Ivan Beghin (2000): Comprehensive Participatory Planning and Evaluation.

National School Board Foundation, strategic planning tools

7.2.4 O ciclo do projetoA gestão de projetos obedece a uma lógica e estruturas pré-definidas. A estrutura lógica (ou “matriz”) é usada muito comumente, como também o ciclo do projeto. Os dois sistemas consistem em fases alternadas de ação, observação, aprendizado e ajustes (vive figura). A abordagem PRS adota o ciclo de projeto. Tanto a estrutura lógica como o ciclo de projeto são ferramentas facilitadoras da discussão e do planejamento e não devem ser preenchidas de qualquer modo. As fases de observação podem consistir em monitoramento contínuo, mas não constituem objetivos propriamente ditos. Isto significa que, ao realizar um projeto, é necessário planejar não só a implementação das medidas e atividades, mas também o método empregado, o tempo e os recursos necessários para o monitoramento e a avaliação.

A cooperação do Banco Mundial com os países segue um ciclo de projeto. Para cada passo do ciclo, o Banco usa métodos definidos e elabora documentos específicos. O ciclo começa com os PRSPs e as Estratégias de Assistência ao País (EAP), que são a planta arquitetônica da cooperação do Banco Mundial. Depois, os países e o Banco identificam as necessidades e estabelecem as prioridades das atividades. Cada etapa do ciclo de projeto forma a base da etapa seguinte.

Figura: Gestão de projetos: alternância entre ação, observação e decisão

Exemplo: Ciclos de projeto do Banco Mundial

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O próprio processo PRS é também um ciclo de aprendizagem. A análise da pobreza forma a base para identificar as necessidades e definir os objetivos. Depois, os objetivos são traduzidos em atividades. A avaliação mostra se as atividades levarão à consecução dos objetivos. Os resultados da avaliação modificam as atividades, se necessário, eventualmente levando a objetivos novos ou modificados.

Ciclo de projeto do Banco Mundial

A natureza cíclica do processo PRSP (vide Livro de Consulta, capítulo sobre participação, p. 264)

Mais informaçõesBanco Mundial: Project Cycle

8 Defesa de interesses e lobby: influindo nas políticas

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Para influir no PRS é essencial ter conhecimentos suficientes acerca de defesa de interessas e lobby. Este capítulo dá uma introdução básica a essas questões. São apresentadas algumas técnicas básicas, tais como coleta de informações, maneiras de persuadir as pessoas e como se relacionar com os meios de comunicação.

Conteúdo do capítulo 8:● 8.1 Defesa de interesses, lobby e campanha – Definições

● 8.2 Técnicas básicas �❍ 8.2.1 Coletando informações

�❍ 8.2.2 Persuasão e comunicação estratégica

�❍ 8.2.3 O trabalho com os meios de comunicação

8.1 Defesa de interesses, lobby e campanha – DefiniçõesEm política e, portanto, nas discussões em torno do PRS, é possível usar toda uma série de técnicas para iniciar ou promover mudanças. Essas formas de promoção são conhecidas como defesa de interesses, lobby ou campanha.

1. Defender interesses ou advogar uma causa significa “dar voz às pessoas”. Advogar interesses envolve um sistema de ações destinadas a mudar atitudes, políticas e práticas mediante quatro tipos chave de atividade: - Conscientização - Capacitação (interna e externa em relação à própria organização) - Formação de rede com parceiros importantes, governamentais e não-governamentais. - Lobby junto aos principais tomadores de decisões. A defesa de causa pode ser direcionada a diferentes públicos: o público em geral, ONGs, políticos, governos, outros tomadores de decisões e a sua própria organização.

2. Fazer lobby é a prática da defesa privada de interesses, visando influenciar um organismo público com o objetivo de se fazer representar o ponto de vista de um indivíduo ou de uma organização no governo, para que a legislação seja formulada e posta de prática de acordo com esses interesses. Em muitos países, a prática de lobby é regulada por lei, numa tentativa de impedir a corrupção e manipulações políticas. Os lobistas são pessoas pagas tal.

3. Fazer campanha é a soma das ações e atividades que uma organização planeja e executa a fim de influenciar a política e chamar a atenção para um tema específico. O objetivo não é só influenciar as políticas, mas também conquistar o apoio público. Uma campanha bem sucedida deve ter uma mensagem simples e forte que apele às emoções das pessoas. As celebridades podem ser muito úteis como portadoras das mensagens de uma campanha ao maior número possível de pessoas. Entre as típicas atividades de campanha estão os atos públicos como, por exemplo, as marchas ou vigílias, as exposições ou a distribuição de panfletos e cartazes.

Mais informaçõesCEDPA (1999): Advocacy: Building Skills for NGO Leaders. The CEDPA Training Manual Series, Volume IX, Washington.

Oxfam (2002): Influencing Poverty Reduction Strategies: A Guide è Section Three: Influencing the Content of Policy.

8.2 Técnicas básicasSeriedade, confiabilidade e credibilidade formam a base de qualquer discussão e dão sustentação a todos os esforços para mudar as situações existentes. Não basta criticar: um diálogo entre oponentes só é produtivo em combinação com a apresentação de soluções alternativas. Em toda discussão é importante ter argumentos razoáveis e confiáveis e estar bem informado. Por isso, para convencer a outra parte é essencial investigar o assunto em discussão, e isto representa o primeiro passo na preparação para as atividades de defesa de interesses e de lobby. A pesquisa ajuda não só a encontrar e definir a nossa própria posição, como também a coletar informações sobre as opiniões dos outros (não só dos aliados, mas também dos nossos oponentes). O segundo passo é comunicar os resultados da pesquisa e da posição alcançada. A comunicação é fundamental para atrair ouvintes, mudar o estado de coisas e resolver problemas. Conseqüentemente, a comunicação exige preparação a fundo

8.2.1 Coletando informaçõesO acesso à informação é essencial no envolvimento com a política. A internet oferece uma gama quase ilimitada de informações. Mas, apesar do uso cada vez mais difundido da internet, ela ainda não é acessível a todo mundo.

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Entre as outras fontes, fora a internet, estão:

● documentos impressos: livros, revistas, publicações oficiais, jornais● meios audiovisuais, rádio, televisão, vídeos, etc.● instituições governamentais e ministérios● universidades e outras instituições de pesquisa● ONGs● centros de informação públicos (p. ex.: Banco Mundial, ministérios, etc.)

Os meios de comunicação são uma fonte crucial, na medida em que não só fornecem informações como também refletem as opiniões de diferentes pessoas, partidos e organizações. Porém, antes de citar ou usar qualquer informação, deve-se verificar a sua confiabilidade, pois a metodologia de coleta de informações influencia em grande medida o resultado final.

A importância dos dadosOs números são uma excelente base para a discussão, mas desde que sejam confiáveis. O objetivo de toda coleta de dados sobre deficiência ou outros temas é descrever o estado de coisas real e encontrar maneiras de mudá-lo. Ao dispormos de fatos detalhados sobre uma situação, torna-se mais fácil planejar as atividades. Por exemplo, sabendo-se que há 100 crianças com capacidade auditiva diminuída em uma determinada região, é relativamente fácil calcular o número necessário de professores de linguagem de sinais e o volume de recursos para o pagamento de salários. Os dados também ajudam a comparar as situações. Por exemplo, se há dados confiáveis sobre o percentual de pessoas desempregados com deficiência em 1995 e 2005, é fácil avaliar se a política de emprego adotada nesse intervalo de tempo foi eficiente ou não. Como são necessários tempo e recursos financeiros para produzir dados de qualidade, há o risco de excluir-se a coleta de dados da lista das prioridades principais. Ao mesmo tempo, pedir mais dados e dados melhores sobre deficiência aos funcionários das instituições públicas pode ser uma importante parte do trabalho da defesa da causa.

Estatísticas sobre deficiência Ao coletar informações para a prática de lobby enfocando o PRS e questões relativas a deficiência, você provavelmente se concentrará nas estatísticas sobre deficiência. Geralmente, o número de pessoas com deficiência que vivem em um país ou região varia muito, por qualquer uma das seguintes razões:

● A situação pode ser diferente de uma área para outra. A prevalência de deficiência em países em desenvolvimento é menor porque a mortalidade infantil de crianças com deficiência é muito alta nesses países, por exemplo.

● Diferenças de definição de deficiência. ● É possível que os dados se refiram a problemas diferentes tópicos, como, por exemplo, deficiência

e incapacidade. ● Os métodos de medição também podem diferir. Alguns países fazem coletas de dados especiais sobre

deficiência, em outros os dados sobre deficiência são coletados nas pesquisas por amostra de domicílio ou no censo demográfico. Os questionários usados para determinar se alguém é portador de deficiência ou não podem variar muito, como indica a Ferramenta no. 33.

8.2.2 Persuasão e comunicação estratégicaA comunicação é sempre importante, mas as campanhas, defesa de interesses e lobby precisam de uma estratégia que atraia a atenção do público-alvo. É preciso planejar a comunicação tanto interna (dentro da organização ou da rede) como externa (voltada para os aliados e oponentes). Em todo caso, a estratégia tem que refletir com quem, sobre o que e por que você se comunica.

Quem? – o público-alvoA comunicação é sempre uma via de dois sentidos. As mensagens devem ser formuladas de acordo com o público. Portanto, o público-alvo deve ser identificado e analisado corretamente. O público-alvo não é um bloco homogêneo, pois as demais partes interessadas também podem influenciar os integrantes desse agrupamento. É essencial saber quem são os nossos oponentes e aliados, lembrando que todo o sistema é dinâmico e pode mudar a qualquer momento.

Mais informaçõesFormulário de análise do público

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Quando? - O tempo certoO tempo certo é importante na abordagem da comunicação estratégica. Faz todo sentido alinhar a defesa de interesses ou a prática de lobby com outras datas importantes, como, por exemplo, o período pré-eleitoral, quando os políticos estão mais abertos à sociedade civil, ou o dia 3 de Dezembro (Dia Internacional das Pessoas com Deficiência). Inversamente, o momento errado pode ser desastroso: por exemplo, será muito difícil forçar um político a mudar a sua posição depois que ele já o anunciou oficialmente aos meios de comunicação.

Mais informaçõesRelação dos dias especiais oficiais da ONU, bons para matérias jornalísticas.

O quê? – MensagensÉ essencial emitir mensagens claras, não obstante tratar-se de matéria necessariamente complexa e multidimensional. Para convencer os decisores e ganhar apoio público, é importante formular claramente o que se quer. As pessoas de fora não querem ou não podem investir muito tempo para compreender uma matéria, ouvir explanações ou ler textos muito longos. As mensagens têm que ser formuladas de modo a captar a atenção da audiência e devem ser imediatamente compreensíveis.

Uma mensagem clara é composta pelos seguintes elementos, ou poderia ser assim:

Elemento Mensagem

1 - Enunciado Poucas crianças com deficiência recebem educação formal.

2 - Fato Só 2% das crianças com deficiência estão matriculadas na escola.

3 - Exemplo O menino John, de 10 anos, do Quênia, tem dificuldade para andar: nunca foi à escola porque a escola mais próxima fica a 2 km de onde ele mora e os seus pais não conseguem pagar o ônibus.

4 - Chamada para a ação (elemento opcional que depende daquilo que você pretende alcançar)

Uma redução da tarifa de transporte ou um sistema de apoio financeiro ajudariam a família dele.

Como? - Modos de comunicaçãoSeja qual for o método de comunicação, é sempre necessário encontrar o tom certo, de acordo com o público-alvo. Por exemplo, os técnicos do Banco Mundial ou do Ministério das Finanças preferirão argumentos econômicos, baseados em números e cálculos.

1. Por escrito

2. Visitas e reuniões

3. Apresentações e fala em público, organizando eventos

4. Audiências em comissões e outros eventos na esfera política

5. Reuniões individuais com políticos e outros tomadores de decisões

1. Por escritoRedigir cargas, e-mails, fax, memorandos ou documentos de posicionamento são meios úteis de apresentar uma matéria ou uma posição com clareza e eficácia. A vantagem da comunicação escrita é fazer chegar mensagens a públicos-alvos difíceis de se encontrar pessoalmente. Além disso, o mesmo documento pode ser enviado a várias pessoas ao mesmo tempo para disseminar idéias. A comunicação escrita é também altamente transparente, no sentido de poder ser lida por muitas pessoas. No entanto, há que considerar o risco de algum adversário (ou a imprensa) ler as suas declarações e distorcê-las para usá-las contra você. O modo de comunicação preferido deve ser selecionado de acordo com o público-alvo: por exemplo, em determinados casos, é melhor enviar um ofício ao invés de um e-mail. No entanto, um e-mail chega ao alvo de forma mais rápida, custa menos e pode ser enviado a um número virtualmente infinito de pessoas. A longo prazo vale a pena preparar uma lista geral ou várias listas de endereço específicas de pessoas e organizações para as quais poderão enviar mensagens. É essencial atualizar continuamente essas listas. Esta atividade permite formar uma rede eficaz de grupos alvos de interessados.

Para organizações que trabalham com a questão da deficiência é vital levar em conta a problemática da acessibilidade. Textos em formato “somente texto” e textos estruturados hierarquicamente (utilizando formatos hierárquicos) são preferíveis aos documentos em PDF. Ao distribuir PDFs deve-se disponibilizar também formato de texto. Se possível, devem-se oferecer também formatos alternativos, tais como texto em letras grandes, braille, e publicar estas informações nos seus textos.

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Exemplo: declarações escritasEm Honduras, Bangladesh e Serra Leoa, a Handicap International e os seus parceiros redigiram vários documentos de posicionamento sobre o conteúdo dos PRSPs preliminares. Esses documentos foram muito úteils, ao expressar claramente as opiniões dos autores e influenciar as versões finais dos PRSPs. Os documentos de posicionamento foram úteis também para a busca e definição de uma estratégia conjunta dentro de todo o movimento das pessoas com deficiência. Finalmente, serviram para conscientizar outras partes interessadas, além do governo, e contribuíram para os temas relacionados com deficiência de modo geral. (vide Estudos de Caso, capítulo 4)

2. Visitas e reuniõesConhecer outras pessoas é importante quando se procura influir nas políticas públicas. Eventos do tipo seminários, conferências e oficinas oferecem a possibilidade de conhecer outros participantes. Os grupos de trabalho, os intervalos e outras ocasiões dão amplo espaço para estabelecer novos contatos ou aprofundar os já existentes. As reuniões oferecem uma boa oportunidade para apresentar posições. Em muitos países fazem-se reuniões, oficinas e audiências públicas sobre temas do PRSP. Muitos desses eventos chegam a reunir centenas de participantes. É útil formar alianças antecipadamente e ajustar posições conjuntas com outros grupos, uma vez que um grupo terá maior chance do que um indivíduo para falar em tais eventos.

Todas as modalidades de reuniões precisam de:

● Ampla preparação e informação acerca dos temas em discussão.● Confirmação da agenda, para definir não só as generalidades, mas também os detalhes a serem discutidos.● Se possível: um facilitador profissional e independente que estruture a discussão. ● Os participantes certos: muitas vezes, um funcionário de médio ou baixo escalão está mais informado sobre

um determinado assunto do que um ministro. Apesar de hierarquicamente inferiores, têm influência significativa e muitas vezes têm condição de dedicar mais tempo às reuniões.

● Uma atmosfera que permita discussões frutíferas, isto é, não confrontacional, mas amistoso e polido.● Seguimento dos resultados da reunião (por exemplo, minutas ou outras formas de resumos escritos).

Mais informaçõesLista de verificação: Organizar reuniões

Capítulo 7.1.1: Por que formar redes?

3. Apresentações e fala em público, organizando eventosO discurso é uma maneira de apresentar uma posição ou situação em reuniões e conferências. Isto requer preparação intensa, pois é difícil atrair e manter o interesse da audiência. Um discurso ou apresentação deve ter uma estrutura clara, e o orador deve esforçar-se por falar de maneira tão agradável quanto possível. Pode ser útil ilustrar a fala com elementos visuais como diagramas, gráficos ou slides. Nos atos de campanha em público é conveniente usar também meios de atração visual, tais como cartazes ou panfletos, para chamar a atenção dos transeuntes.

Por favor, lembre que é sempre importante oferecer alternativas às informações visuais para cegos ou portadores de deficiências visuais. Ao apresentar diagramas, por exemplo, lembre-se de explicá-los verbalmente, sem deixar de lado nenhum aspecto fundamental. Se estiver organizando o evento, exija que os demais palestrantes sigam esta regra também.

Mais informaçõesLista de verificação: Apresentações

4. Audiências em comissões e outros eventos na esfera políticaEm muitos países, comissões parlamentares organizam audiências no processo legislativo para receber recomendações de especialistas e grupos de interesses especiais. Essas audiências muitas vezes tratam de questões bastante específicas. Mesmo que você não seja convidado como especialista, muitas vezes há a possibilidade de distribuir material de informação ou declarações escritas sobre o assunto em pauta. Se a audiência for pública e a questão for importante, pode valer a pena tomar parte nela para fazer novos contatos com políticos especializados ou com outros especialistas no assunto. Às vezes, grupos parlamentares organizam eventos sobre assuntos relacionados com deficiência que oferecem

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excelentes oportunidades para o trabalho em rede.

5. Reuniões individuais com políticos e outros tomadores de decisõesÁs vezes é útil encontrar-se pessoalmente os tomadores de decisões. Deixa uma impressão mais duradoura do que uma carta ou um e-mail. É importante escolher a pessoa certa para as suas perguntas e estar bem-preparado. É preciso ter em vista o objetivo do encontro durante a preparação. A maioria dos tomadores de decisão não têm muito tempo, donde a importância de usar o tempo disponível da maneira mais eficiente possível. Muitas vezes é útil fazer uma lista de pontos a abordar. Se o assunto for muito complexo, pode ser útil fazer-se acompanhar por um especialista ou outro aliado. É sempre bom levar material informativo impresso, para que o tomador de decisões possa reler as informações ou repassá-las a outros.

Mais informaçõesLista de verificação para a organização de eventos com políticos / parlamentares

8.2.3 O trabalho com os meios de comunicaçãoA importância dos meios de comunicação está em que os jornais, rádio e televisão podem disseminar a sua mensagem e atingir um grande número de pessoas. Em muitos países, a imprensa exerce função de vigia e exerce pressão sobre os políticos. No entanto, a mídia nem sempre é independente. Em alguns países, a mídia é monopolizada pelo governo, podendo ser arriscado publicar opiniões críticas. Caso não haja possibilidade de trabalhar com os meios de comunicação nacionais, uma solução pode ser procurar os meios internacionais. Nem toda pressão sobre os meios de comunicação vem do governo: os jornais e emissoras de rádio e televisão também enfrentam dificuldades econômicas. É preciso convencer os jornalistas de que uma determinada questão é de importância para um grande número de pessoas antes que eles a incluam no seu noticiário. O objetivo dos meios de comunicação, especialmente rádio e TV, não é só o de informar, mas também de entreter. Em todo tipo de cooperação com os meios de comunicação é preciso considerar que os temas mudam rapidamente e que a imprensa têm que cumprir uma série de prazos na veiculação de matérias.

Mais informaçõesVocê pode ler mais sobre a situação internacional da liberdade de imprensa em www.rsf.org (Repórteres sem Fronteiras) e em www.freedomhouse.org.

Lista de verificação: Campanhas nos meios de comunicação

Press Release (comunicado de imprensa)Um press release é uma breve declaração escrita sobre um determinado assunto. O comunicado de imprensa deve conter informações noticiáveis, por exemplo, dados relevantes e/ou novos sobre determinados assuntos ou eventos (por exemplo, Dia Internacional das Pessoas com Deficiências) ou sobre pessoas muito importantes. O comunicado de imprensa visa informar os meios de comunicação, com a intenção de obter a sua publicação. É bom que se esteja preparado para o caso de o meio de comunicação solicitar mais informações ou uma entrevista. Assegure-se de ter à mão todo o material disponível mencionado no comunicado (p.ex., relatórios ou outros documentos). Normalmente, um press release é enviado ao maior número possível de emissoras e agências de notícias. Email e fax representam a melhor maneira de distribuir press releases, que geralmente só serão publicados se forem considerados suficientemente interessantes e merecedores de divulgação. Às vezes, um comunicado com foto atrai mais atenção do que um press release sem imagem. Depois da distribuição, é preciso realizar um seguimento sistemático para certificar-se se os jornalistas recebaram mesmo o press release e se precisam de mais informações; é uma atividade que leva muito tempo.

Envie as informações com antecedência suficiente. Procure informar-se sobre o ciclo de notícias e os hábitos de trabalho dos jornalistas do seu país. Por exemplo, em muitos países é conveniente enviar os comunicados de imprensa antes das 10h da manhã se se pretende que a informação seja divulgada no mesmo dia.

Mais informaçõesFerramenta: Estrutura do press release

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EntrevistasDar entrevistas aos meios de comunicação é outra maneira de divulgar informações, embora seja mais provável que os próprios jornalistas pedirão a entrevista se o tema já estiver no noticiário. Escrever um press release é, muitas vezes, o primeiro passo antes de dar uma entrevista. Toda entrevista requer ampla preparação, inclusive a antecipação das perguntas incômodas. É particularmente conveniente ter em mãos anotações resumidas dos principais pontos a tratar.

Durante a entrevista é importante falar espaçadamente e com clareza. As respostas precisam ser curtas e responder diretamente as perguntas, pois, do contrário, podem ser editadas, com prejuízo de detalhes importantes. Os incidentes bem-humorados e relatos autênticos ajudam a tornar um assunto mais interessante e concreto para os ouvintes/leitores. A atmosfera deve ser amistosa, educada e sincera. Não permita que os jornalistas coloquem palavras na sua boca. Para uma entrevista face a face recomenda-se pedir antes de tirar fotos.

Entrevistas coletivasEm ocasiões importantes podem-se convidar jornalistas para uma entrevista coletiva. Esta abordagem não deve ser usada para assuntos de menor importante, que devem ser comunicados através de press releases, conforme sugestão acima. Dispor de um bom elenco de contatos nos jornais, agências noticiosas, emissoras de TV, etc., é vital para divulgar a sua mensagem. Em alguns países existem diretórios de imprensa com dados úteis para contato. Quanto mais se souber sobre os hábitos profissionais dos meios de comunicação de um país, tanto mais fácil será adequar os eventos às necessidades dos jornalistas. Ao organizar uma entrevista coletiva, é importante refletir cuidadosamente sobre as mensagens a serem transmitidas. É sempre útil preparar informações sucintas impressas para a entrevista coletiva (cf. media kit).

Mais informaçõesLista de verificação: Entrevistas coletivas

Media kitSe você trabalha com freqüência com os meios de comunicação, é importante ter à mão materiais concisos e padronizados que possam ser atualizados regularmente. Pode ser útil, por exemplo, redigir fichas informativas sobre assuntos específicos, (por exemplo, a rede PRS, as posições mais importantes). Fotos e outros materiais podem ser incluídos.

Cartas ao editorUma carta ao editor é um comentário sobre um artigo ou carta publicados anteriormente. Há duas possibilidades:

● criticar o artigo, corrigindo fatos incorretos, ou● confirmar os fatos e informações publicadas, acrescentando mais informações.

As cartas têm que ser curtas, pois do contrário não serão publicadas ou serão encurtadas, com o risco de perda de partes importante.

Mais informaçõesCARE: Advocacy Tools and Guidelines.

CIVICUS: MDG Campaigning Toolkit.

CIVICUS: Handling the Media.

CIVICUS: Writing Effectively and Powerfully.

CEDPA (1999): Advocacy: Building Skills for NGO Leaders. The CEDPA Training Manual Series, Volume IX, Washington.

9 Ferramentas de workshopDentro do escopo do projeto denominado “Disseminando a Deficiência na Cooperação para o Desenvolvimento

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– A Via PRSP”, que forma a base deste manual online, a Handicap International, a GTZ e a CMB organizaram várias oficinas sobre PRS e deficiência em diferentes países em 2006-2007. Este capítulo contém as agendas, programas, ferramentas e métodos usados nessas oficinas. As ferramentas propostas foram concebidas com a intenção de pôr em andamento uma discussão sobre temas específicos e de facilitar a compilação dos resultados. Um resultado pode ser uma resposta direta a uma pergunta ou, dada a complexidade do contexto, várias respostas à mesma pergunta, ou até mesmo nenhuma resposta. Assim, um resultado do trabalho com as ferramentas propostas pode ser a modificação e adaptação da pergunta original ao contexto específico, o que pode gerar a proposta de como lidar com a pergunta no futuro, ou gerar uma resposta ou pelo menos uma resposta parcial.

As ferramentas propostas têm toda uma variedade de funções. Algumas delas ajudam o usuário a se preparar para determinadas atividades ou a contribuir para o planejamento. A maior parte das ferramentas visam a facilitar a análise da situação, por exemplo: a correlação de forças entre diferentes grupos interessados.

Estrutura deste capítuloNeste capítulo o leitor tem duas possibilidades de navegar. As ferramentas são acessíveis via agendas modelos ou via seções temáticas, conforme mostrado na tabela abaixo:

Agendas exemplares Seções temáticas

Exemplo: 6 módulos sobre PRS e deficiência PRS e grupos interessados

Camboja Oficina de introdução a PRS e deficiência, com dois dias de duração

Deficiência

Libéria: Oficina de introdução a PRS e deficiência, com dois dias de duração

Gestão de projetos e de processos (incluindo análise de grupos interessados)

Vietname: Oficina de um dia para o lançamento do projeto “A Dimensão Inclusiva do PRS”

Defesa de interesses e lobby

Vietname: Diferentes entendimentos de deficiência – deficiência e políticas - estratégias de conscientização (dois dias)

Vietname: Lobby e defesa de interesses (1 dia)

Tanzânia: Relatório da oficina

Para facilitar a impressão e uso das ferramentas na prática, todas as ferramentas estão disponíveis para download em formado PDF

Mais informaçõesO leitor tem à disposição um vasto número de publicações de introdução a temas como capacitação, participação, métodos de formação, etc. Por isso, optamos por não incluir na compilação deste manual as informações básicas sobre facilitação e questões relacionadas com a técnica de ministrar cursos. Para os leitores interessados em maiores informações recomendamos os seguintes recursos online:

http://www.fao.org/Participation/ http://www.methodfinder.net/ http://www.policy-powertools.org Impact Alliance Resource Centre: Facilitation Techniques International HIV/AIDS Alliance (2002): 100 ways to energise groups: Games to use in workshops, meetings and the community

Workshop agendas● Oficina inicial sobre PRSP e deficiência – 6 módulos

● Oficina “Deficiência e PRS no Camboja” ● Oficina inicial sobre PRSP e deficiência – programa proposto Libéria

● Vietname: Oficina inicial “Dimensão inclusiva do PRSP” ● Vietname: Esquema da oficina: “Diferentes entendimentos de deficiência - Deficiência e políticas

públicas: Estratégias de conscientização

● Vietname: Defesa de interesses e lobby

● Oficina sobre PRS e deficiência na Tanzânia

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Oficina inicial sobre PRSP e deficiência – 6 módulos

Pontos gerais ● Pontos gerais a serem decididos com antecedência

● Módulo I: Introdução geral ao PRSP

● Módulo 2: Grupos interessados

● Módulo 3: Deficiência

● Módulo 4: Influenciar as políticas públicas

● Módulo 5: Planejamento estratégico

● Módulo 6: Resumo e elaboração de um plano de ação

Pontos gerais a serem decididos com antecedência

Finalidade: Uma oficina inicial deverá proporcionar uma introdução geral à questão da “PRS e deficiência”. Ao terminar a oficina, os participantes deverão saber como e por que continuar. Um efeito paralelo da oficina deverá ser o de que os participantes fiquem a conhecer melhor uns aos outros.

Objetivo e conteúdo: Escolha e adapte os módulos de acordo com necessidades definidas.

Participantes: Número e tipo dos grupos interessados (grupo misto ou homogêneo)

Tempo: A que horas? Quanto tempo? Um bloco só? Sessões únicas?

Especialistas: Para dirigir módulos; as exposições deles devem ser divulgadas de antemão, para minimizar as duplicidades ou lacunas.

Facilitadores: por ex., um perito + membro de uma OPD

Idioma: Precisa de tradutores? Língua de sinais?

Documentos: Tradução? Braille?

Material: Canetas, papel, retroprojetor, projetor de vídeo, laptop, etc.

Local: Quantas salas? Acessibilidade? Disposição das cadeiras e mesas?

Questões de logística: viagem (acessível), refeições, etc.

Diárias: Sim/não? Quanto? Valores diferentes para participantes/especialistas, etc.?

Estrutura: Boas vindas, apresentação dos participantes (crachás), quebra-gelos, intervalos, visitas, etc.

Avaliação: Metodologia

Gravação/redação de atas: Quem e como?

Convites: Envie os convites com umas 4 semanas de antecedência e peça retorno e confirmação dos participantes com cerca de 2 semanas de antecedência.

Módulo I: Introdução geral ao PRSP

Procedimento Materiais / recursos Possíveis pessoas entendidas na matéria

Tempo Resultados esperados

1. Breve apresentação sobre as origens do PRSP e do processo PRS

- Manual, capítulos 1,5- Ferramenta nº. 1 material informativo PRSP

- Representante do Banco Mundial- Representante do governo- Representante de uma ONG envolvida (foro)- etc.

30 minutos Os participantes compreenderam o conceito de PRSP e se inteiraram do processo no seu país.

2. Debate / perguntas 30 minutos

3. Apresentação específica para o país (da pessoa entendida na matéria)

Documentos do PRS nacional

30 minutos

4. Grupos de trabalho:a. Elaboração do cronograma (Manual, Ferramenta nº. 18, adaptada)b. Resumo do conteúdo do PRSP nacional

- Ferramenta nº. 18 (cronograma) - Documentos do PRS nacional

1-2 horas

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5. Apresentação e debate dos resultados obtidos nos grupos de trabalho

1 hora

Total: 3 ½ - 4 ½ horas

Módulo 2: Grupos interessados

Procedimento Materiais / recursos Possíveis pessoas entendidas na matéria

Tempo Resultados esperados

1. Breve apresentação sobre os grupos interessados e os papéis que exercem no PRSP (governo, Banco Mundial e FMI, instituições doadoras, sociedade civil, etc.)

-Manual, capítulo 5 -Documentos PRS, relatórios sobre o processo participativo

Representantes:- do escritório nacional do PRS- do escritório regional do Banco Mundial - de uma ONG que participa (foro), etc. - OPDs

30 minutos Os participantes conhecem os principais grupos interessados no processo PRS nacional e no movimento das pessoas com deficiência. Talvez identifiquem alguns grupos para colaboração, lobby, etc. 2. Coleta de idéias sobre

os grupos interessados em deficiência: lista e classificação dos grupos interessados

-Ferramenta nº. 11 -Documentos PRS, relatórios sobre o processo participativo

30 minutos

3. Debate e dúvidas 30 minutos

4. Grupos de trabalho:- Diagrama de Venn sobre PRS e deficiência (grupos de 5 pessoas) (Manual, Ferramenta nº., 13) - Matriz de pessoas-chave/grupos interessados (Ferramenta nº. 14)

- Tool: Venn diagram - Tool: Matriz de chave de grupos interessados

1-2 horas

5. Apresenta dos resultados e debate

1 hora

Total: 3 ½ - 4 ½ horas

Módulo 3: Deficiência

Procedimento Materiais / recursos Possíveis pessoas entendidas na matéria

Tempo Resultados esperados

1. Breve apresentação: definições e modelos comuns (p.ex.: ICF, modelo social, etc.)

- Manual, capítulo 6 - OPDs- advogados / um representante do ministério ou departamento responsável por pessoas com deficiência

30 minutos Os participantes chegaram a um entendimento comum dos termos “deficiência”, “diminuição da capacidade”, etc., inteiraram-se das condições de vida específicas do país para as pessoas com deficiência e dos mecanismos legais oficiais.

2. Discussão em grupos (se todo o grupo inteiro é misto, os grupos de discussão também devem ser mistos) para encontrar uma definição que seja válida para o grupo (p.ex., exercício “nossas definições”, Oxfam Guide)

1-2 horas

3. A situação específica do país: breve apresentação das estatísticas disponíveis e dos mecanismos legais

Documentos PRP, documentos sobre os mecanismos legais, estatísticas, etc.

30 minutos

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4. Grupos de trabalho: cada grupo discute um ou dois setores do PRSP que sejam relevantes para pessoas com deficiência

Documentos do PRS nacional

1-2 horas

5. Presentation of results 30 minutos

Total: 4 ½ - 6 ½ horas

Módulo 4: Influenciar as políticas públicas

Procedimento Materiais / recursos Possíveis pessoas entendidas na matéria

Tempo Resultados esperados

1. Breve apresentação da defesa de interesses, trabalho de lobby, de campanhas, etc.

- Manual, capítulo 8- Estudos de Caso (Manual, capítulo 4)

Pessoas de OPDs/ONGs que tenham experiência no assunto

30 minutos Os participantes aprendem técnicas para influencias as políticas e sabem identificar formas apropriadas de influenciar o processo PRS

2.Troca de experiências– discuta em pequenos grupos: - O que os participantes já fizeram?- O que deve testar?- ou: Comparação entre estudos de caso

1-2 horas

3.Apresentação dos resultados 30 minutos

Total: 2-3 horas

Módulo 5: Planejamento estratégico

Procedimento Materiais / recursos Possíveis pessoas entendidas na matéria

Tempo Resultados esperados

1. Introdução: “Formação de redes de trabalho e alianças”; apresentação de idéias "Comissão Nacional de Coordenação de Deficiência / PRS”

- Manual,capítulo 7.1- Estudo de caso Camboja

Um representante experiente de uma OPD / ONG

30 minutos Os participantes compreendem as vantagens e desafios do trabalho em rede

2. Discussão da pauta 30 minutos

3. Breve introdução às ferramentas de planejamento

Manual, capítulo 7.2 30 minutos Os participantes têm uma idéia de como iniciar e planejar um projeto. Compreendem os elementos principais: visão, objetivo, atividades, etc.

4. Exercício: planejamento estratégico com um projeto fictício em pequenos grupos

1 horas

Total: 2 ½ horas

Módulo 6: Resumo e elaboração de um plano de ação

Procedimento Materiais / recursos Possíveis pessoas entendidas na matéria

Tempo Resultados esperados

1. Revisão e resumo dos resultados dos módulos anteriores

- Um representante experiente de uma OPD/ONG - Facilitadores/ especialista em capacitação

30 minutos Os participantes elaboraram uma estratégia para participar do processo PRS e estabeleceram um consenso. Elaboraram planos de ação de acordo com a estratégia e se comprometeram a assumir responsabilidade

2. Discussão: Qual é a nossa visão? O que queremos alcançar?

Manual, capítulo 7.1.4 1 hora

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3. Eleição de um Comitê de Coordenação Nacional

30 minutos

4. Coleta de idéias com os “8 raios de sol do planejamento”

- Ferramenta: 8 raios de sol do planeamento

30 minutos

5. Trabalho em grupo: plano de ação detalhado (matriz lógica / plano de implementação)

- Ferramenta: Abordagem com matriz lógica - Ferramenta: Plano de ação

1-2 horas

6. Apresentação dos resultados

1 hora

7. Acordos finais: Quem faz o quê? Quando será realizada a próxima reunião/intercâmbio?

30 minutos

Total: 5-6 horas

Oficina “Deficiência e PRS no Camboja”

Agenda, Dia 1Local: Ministério de Assuntos Sociais e Reabilitação de Veteranos e Jovens

Objetivo do Dia 1: Fornecer informações básicas sobre PRSP e Deficiência

Horário Assuntos/questões principais Orador convidado / pessoa entendida / facilitador

8:00 Inscrição dos participantes da oficina Secretaria

8:15 Apresentação dos participantes Facilitador

8:20 Instruções gerais sobre a oficina ● Justificativa, objetivos e expectativas da oficina● Objetivos específicos do Dia 1 e Dia 2● Organização dos processos da oficina: apresentações e grupos de

trabalho

Representante da organização anfitriã

8:35 Introdução ao projeto ● Justificativa e antecedentes do projeto● Objetivos do projeto e atividades propostas no Camboja● Apresentar a Comissão de Coordenação do PRSP e aliados no

Camboja e examinar as suas possibilidades de implementar o projeto● Elaborar o calendário de controle do projeto

Representante da organização anfitriã

9:00 Introdução ao PRS - Aspectos gerais ● Significado e conceito de PRS ● Os princípios essenciais do PRS: é conduzido pelo país

(protagonismo), orientado para resultados, abrangente, orientado para parceria e participativo.

● O processo do PRS é criado pelos governos dos próprios países ● Desafios importantes enfrentados pela maioria dos países no

protagonismo do PRS ● Sucessos anteriores e envolvimento de instituições doadoras em

relação ao PRS● A importância dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio do

Camboja como devedor do Banco Mundial

Especialista de uma ONG com experiência em PRS

9:30 Comentários e perguntas Facilitador

9:45 I N T E R V A L O

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10:15 Introdução ao PRS no Camboja ● Significado e conceito do NSDP ● Processo de formulação do NSDP: Ministérios envolvidos na

execução, grupos de trabalho técnicos,foro ONG● Objetivos e alvos prioritários do NSDP● Principais estratégias para implementar o NSDP ● Monitoramento e avaliação - indicadores e estrutura do

monitoramento

Especialista do Ministério do Planejamento

10:45 Comentários e perguntas Facilitador

11:00 Experiências do Foro ONG em PRS ● Pontos de entrada para a participação de ONG no PRS ● Experiências do Foro ONG no processo de formulação do PRS ● Incorporação de comentários de ONGs no NPRS e NSDP● Perspectiva de participação do Foro ONG no processo NPRS e

NSDP ● Planos das ONGs para seguir e monitorar o NSDP

Especialista do Foro de ONGs

11:45 Comentários e perguntas Facilitador

12:00 A L M O Ç O

13:30 Introdução à situação em matéria de deficiência no Camboja ● Obstáculos enfrentados pelas pessoas com deficiência● Definição de deficiência no projeto de lei● Exclusão social● Aspectos de deficiência e desenvolvimento socioeconômico● Visão geral das atividades OPD no Camboja ● O movimento em prol das pessoas com deficiência no Camboja ● Sugestões e comentários às instituições doadoras

Especialista de uma OPD

14:15 Comentários e perguntas Facilitador

14:30 I N T E R V A L O

15:00 Discussão em grupo: Diagrama de Venn ● Grupos interessados no PRSP● Grupos interessados em deficiência

Facilitador

16:20 Feedback dos grupos ● Atores chave no setor de deficiência, incluindo ● Partes interessadas chave em PRSP● Dificuldades em ter uma capacidade conjunta de expressão e

representação entre as partes interessadas

Facilitador

16:55 Breve resumo, Fim do Dia 1 Facilitador, participantes selecionados

Agenda, Dia 2Local: Ministério de Assuntos Sociais e Reabilitação de Veteranos e Jovens

Objetivo do Dia 2: Os participantes compreendem a relação entre PRS e deficiência e trocam idéias sobre outras ações

Horário Assuntos/questões principais Orador convidado / pessoa entendida / facilitador

8:00 Inscrição dos participantes da oficina Secretaria

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8:20 Síntese do Dia 1 ● Significados de PRS, NSDP ● 3 etapas fundamentais do PRS● Pontos de entrada ● Recomendações importantes ● Prazos importantes ● Informações, problemas e reconhecimento de deficiência● Resumo dos resultados do Diagrama de Venn

Facilitador

8:30 PRS e envolvimento do setor da deficiência ● Pessoas com deficiência, os pobres e a redução da pobreza no

Camboja ● Envolvimento do setor da deficiência na redução da pobreza ● Exemplos de estudos de caso: Inclusão bem-sucedida de deficiência

nos processos PRS em Honduras, Bangladesh, Serra Leoa e Tanzânia

● As idéias do trabalho em rede – lições aprendidas

Especialistas de uma OPD e uma ONG internacional

9:00 Comentários e perguntas Facilitador

9:15 Apresentação dos resultados de uma análise preliminar sobre PRS e deficiência no Camboja:● Conceito do estudo de pesquisa● Processo e fases PRSP● Possíveis pontos de entrada e estratégicas em cada fase do PRS● Perspectiva dos participantes● Comentários sobre a abordagem NSDP● Deficiência no PRS para o Camboja● Brainstorming para a discussão em grupo sobre a identificação de

pontos de entrada e estratégias

Especialista e uma ONG internacional

9:45 Comentários e perguntas Facilitadtor

10:00 I N T E R V A L O

10:30 Diversos grupos de trabalho:● Ligações entre grupos interessados em PRS e deficiência (matriz de

grupos interessados)

● Discussão sobre os pontos de entrada e estratégias propostas

Facilitador

12:00 A L M O Ç O

13:30 Feedback do grupo Facilitador de cada grupo

13:50 Apresentação: Trabalho em rede como abordagem bem-sucedida – da idéia do “Comitê Inclusivo NSDP”● Idéias de trabalho em rede para atingir os alvos e objetivos do projeto

e da sua implementação● Formação do Comitê Inclusivo NSDP para o projeto● Funções e responsabilidades dos integrantes do Comitê Inclusivo

NSDP● Possibilidades de adesão ao comitê para outras pessoas

Representante do Comitê Inclusivo NSDP

14:15 Perguntas e comentários Facilitador

14:30 I N T E R V A L O

15:00 Grupos de trabalho:● Recomendações sobre envolvimento do setor● Debate dos principais setores do PRS com vistas a incluir a deficiência

acilitador

15:30 Apresentação dos grupos de trabalho Principais setores: Legislação, proteção social, educação e emprego

Facilitador de cada grupo

16:00 Avaliação e feedback do workshop Facilitador

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16:15 Encerramento e decisão sobre futuros passos● Calendário de controle para a implementação e avaliação do projeto● Microcréditos para projetos de pequena escala

Representante da organização anfitriã

16:30 Fim do Dia 2

Oficina inicial sobre PRSP e deficiência – programa proposto LibériaObjetivo:

● Os participantes começam a se conhecer e a trocar idéias, opiniões, etc. ● Os participantes chegam a um consenso sobre questões de deficiência no contexto liberiano.● Os participantes estão informados sobre o processo PRS na Libéria e compreendem as relações deste com

a deficiência. ● Os participantes desenvolvem suas próprias idéias iniciais sobre como gostariam de influenciar o PRS e

outros programas/políticas de desenvolvimento para incluir mais a deficiência

Participantes: 35, principalmente grupos interessados em deficiência (OPDs e prestadores de serviços) Tempo: 2 dias Idioma: Inglês com tradução para língua de sinais Material: canetas, papel, retroprojetor, projetor de vídeo, laptop, quadro, flipchart, cópias de documentos para todos os participantes, etc.

Questões de logística: viagem (acesso), refeições, etc.

Dia 1

Tempo

Conteúdo Materiais / recursos Quem? Resultados esperados

8:30 Chegada e inscrições

9:00 Boas vindas/abertura Representante do Ministério da Saúde e Previdência SocialRepresentantes das organizações convidadas à oficina

9:30 Introdução: Antecedentes da oficina, objetivos, metodologia, programa, etc.

Facilitators

10:00 Apresentação individual dos participantes

10:30 INTERVALO

11:00 Exposição oral sobre as origens do processo PRS e os seus princípios básicos

● Manual, capítulo 1, capítulo 5

● Material de apoio-pontos centrais PRSP

● Projetos LCD (se disponível)

Pessoa entendida na matéria

Os participantes compreendem o conceito de PRSP 11:45 Esclarecimentos (dúvidas e

respostas)Facilitadores

12:15 Coleta de idéias (brainstorming): O que é “deficiência”?

Cartazes com afirmações + cartões(Ferramenta: Avaliação de diferentes afirmações)

Facilitadores Os participantes refletem sobre os termos “deficiência” e “diminuição da capacidade”, etc. Numa configuração ideal, os participantes chegam a

12:30 Intervalo para almoço

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uma conclusão sobre o que significa deficiência na Libéria

13:30 Aquecimento e introdução à sessão da tarde

Facilitadores

13:45 Trabalho em grupos: “Nossa definição de deficiência”

Material informativo com questões chaves Papel para flipchartPincéis atômicos

Facilitadores

14:30 Apresentação dos resultados Papel para flipchartPincéis atômicos

15:00 Discussão plenária: Discussão dos resultados: Qual a definição mais válida no contexto liberiano?

Facilitadores

15:30 INTERVALO

15:45 Apresentação: O círculo vicioso da pobreza e da deficiência

Manual, capítulo 6.4 Pessoa entendida na matéria

Os participantes compreendem as ligações entre pobreza, deficiência e redução da pobreza Os participantes conseguem transferir esta compreensão para o contexto nacional

16:00 Grupos de trabalho paralelos● GT 1: A situação das

pessoas com deficiência na Libéria Ligações pobreza e deficiência

● GT 2: Políticas e diretrizes públicas para pessoas com deficiência na Libéria

● GT 3: Quais as ligações das colunas de sustentação do PRS ou pontos específicos do PRS com a deficiência?

● GT 4: Que definição de deficiência devemos escolher para a Libéria (continua com os resultados da discussão plenária)

Material impresso com as perguntas chaves para a discussão Documentos PRS

Facilitadores + pessoas entendidas na matéria para os grupos de trabalho

16:45 Apresentação dos resultados dos grupos de trabalho

Facilitadores

17:15 Resumo e introdução para o dia seguinte

Facilitadores+ organizadores

Dia 2

Tempo

Conteúdo Materiais / recursos Quem? Resultados esperados

8:00 Chegada e inscrições

9:00 ● Abertura / aquecimento● Introdução ao Dia 2● Recapitulação do Dia 1

Facilitadores

9:30 Apresentação do processo PRS na Libéria

Representante do Ministério do Planejamento

Os participantes estão informados sobre o processo no seu país10:00 Espaço para esclarecimentos:

dúvidas e respostasFacilitadores

10:30 INTERVALO

11:00 Exposição oral sobre defesa de interesses, trabalho de lobby, de campanhas, etc.

Manual, capítulo 8 Representante de uma ONG com experiência em defesa de interesses e lobbying

Os participantes estão familiarizados com as técnicas para influencias as políticas e desenvolveram as suas próprias idéias iniciais sobre como podem influenciar o processo PRS na Libéria

11:30 Espaço para esclarecimentos: dúvidas e respostas

Facilitadores

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Page 99: Making PRSP Inclusive Port

11:45 Apresentação: “A dimensão inclusiva do PRS” – Lições aprendidas de outros países (estratégias usadas em defesa de interessas e lobbying, formação de redes, etc.)

Estudo de caso (Manual, capítulo 4)

Pessoa entendida na matéria

12:00 Espaço para esclarecimentos: dúvidas e respostas

Facilitadores

12:15 Discussão plenária: Que estratégias e métodos poderão ser úteis no contexto liberiano

Facilitadores

12:45 Almoço

13:45 Aquecimento e introdução à sessão da tarde

Facilitadores

14:00 Apresentação: A importância do trabalho em rede

Manual, capítulo 7.1.1 Facilitadores Os participantes compreendem a importância do trabalho em rede e identificaram importantes grupos interessados em PRS e deficiência

14:15 Trabalho em grupos: Relação e classificação de grupos interessados (grupos de trabalho diferentes para as partes interessadas em PRS e as partes interessadas em deficiência)

Tool: Inventory and ranking of stakeholders

Facilitadores

15:00 Apresentação dos resultados dos grupos de trabalho

Facilitadores

15:30 INTERVALO

15:45 Recapitulação dos resultados da oficina à Em que pontos identificamos possibilidades de influenciar o processo PRS?

6.4 Por que é necessário incluir a deficiência no PRS

Facilitadores Os participantes identificaram “pontos de entrada” e concordam em apoiar ações futuras

16:00 Discussão: O que podemos fazer a seguir de forma realista?

Facilitadores

17:00 Decision on next steps and closing

Vietname: Oficina inicial “Dimensão inclusiva do PRSP”

Objetivos da oficina:1. Atingir um consenso sobre o manual “A dimensão inclusiva do PRSP”2. Disseminar conhecimentos sobre o projeto multinacional sobre política de redução da pobreza e deficiência3. Conferir os pontos de entrada propostos para o Vietname e identificar futuras possibilidades de participação

Agenda:

Tempo Conteúdo Apresentado / dirigido por

8:00 ● Inscrições● Abertura da oficina● Apresentação dos participantes, objetivos da oficina e

agenda● Apresentação das ligações entre o projeto de “Apoio para

a redução da pobreza” e “A dimensão inclusiva do PRSP”

● Representante do Ministério do Trabalho, Inválidos e Previdência Social

● Facilitador ● Representante da GTZ no Vietname

9:00 ● Apresentação do projeto e do manual “A dimensão inclusiva do PRSP”, incluindo as conclusões da missão de consultas e atividades recomendadas para implementação no Vietname

● Perguntas e respostas

● Representantes da Handicap International● Facilitador

10:00 INTERVALO

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Page 100: Making PRSP Inclusive Port

10:30 ● Introdução ao trabalho em grupos sobre análise dos grupos interessados (Diagrama de Venn)

● Trabalho em grupos sobre análise de grupos interessados● Apresentação dos resultados dos grupos de trabalho● Preparação para o trabalho em grupos sobre as

atividades recomendadas para 2007

● Facilitador ● Participantes da oficina

12:30 Almoço

13:30 Trabalho em grupos sobre as atividades propostas1. Apoio entre pares2. NAP 2393. Análise aprofundada dos grupos interessados: OPDs

e grupos de ajuda mútua4. Comunicação e coordenação: a organização central

nacional5. Outros pontos: a ser discutido

Participantes /facilitador

15:00 INTERVALO

15:30-17:00 ● Apresentação dos resultados dos grupos de trabalho● Identificar os próximos passos● Resumo da oficina● Encerramento

● Participantes ● Handicap International, GTZ, facilitador● Ministério do Trabalho, Inválidos e Previdência

Social

Vietname: Esquema da oficina: “Diferentes entendimentos de deficiência - Deficiência e políticas públicas: Estratégias de conscientização

PARTE 1: Clareando o nosso entendimento de deficiência (1 dia)

Tempo Procedimento Materiais Dirigido por Objetivos

15 minutos Boas vindasIntrodução aos conteúdos e procedimentos

Cartaz com visão de conjunto da oficina

Equipe

30 minutos Opiniões comuns sobre deficiência:● Leia as declarações● Com quais delas você

concorda mais? (cada participante deve selecionar três pontos)

● Debate

Balões de fala com diferentes afirmações sobre deficiênciapontos

Pessoa entendida na matéria

Dar-se conta das crenças inconscientes a respeito da deficiência

15 minutos ● Breve visão de conjunto sobre os diferentes modelos

● Introdução ao trabalho em grupos

Documentos com informações sobre os modelos

Pessoa entendida na matéria

Aprender que existem diferentes modelos de deficiência e desenvolver um consenso

45 minutos Trabalho em grupos sobre os 3 diferentes modelos de deficiência:● Leia sobre o modelo, discuta e

descubra outros exemplos● Discuta as vantagens,

desvantagens e consequências deste modelo

● Prepare um cartaz sobre o modelo

● Escolha duas pessoas para defender este modelo no

● Instruções para o trabalho em grupos

● Cartazes● Pincéis● Cartões em branco

Pessoa entendida na matéria + Facilitador

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Page 101: Making PRSP Inclusive Port

debate subsequente sobre o tema “As melhores estratégias para lidar com a deficiência em Thanh Hoa”.

Grupo 1: O modelo caritativoGrupo 2: O modelo médicoGrupo 3: O modelo social

20 minutos Intervalo

45 minutos Plenário:● Debate com seis pessoas

sobre “As melhores estratégias para lidar com deficiência”

● Conclusão com todos os participantes Que modelo é o mais convincente?

Facilitador

20 minutos Resumo:● Os modelos focam ou a

deficiência individual ou a sociedades que faz deficientes

● A classificação da OMS● Introdução a uma abordagem

integrada

Apresentação de PowerPoint Pessoa entendida na matéria

Almoço

30 minutos Deficiência – importantes políticas e abordagens● Apresentação da Convenção

Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência.

Pessoa entendida na matéria

Conhecer e analisar as políticas e abordagens em relação à deficiência

15 +75 minutos Introdução aos trabalhos em grupos (os participantes escolhem de acordo com os seus interesses)Grupo 1: Portaria sobre Pessoas com Deficiência no Vietname:● Identificar qual é o modelo de

deficiência que serve de base● Comparar a portaria com a

convenção internacional● Preparar uma apresentação

clara e chamativa sobre as diferentes abordagens

Grupo 2: Abordagens à deficiência em elaboração (as abordagens inclusiva, baseada em direitos e de duas vias):● Elaborar exemplos das

diferentes abordagens (como seriam na prática?)

● Diga qual abordagem você prefere e explique por quê

● Preparar uma apresentação clara e chamativa sobre as diferentes abordagens

Grupo 3: deficiência e pobreza:● Elaborar um exemplo concreto

ou uma história para ilustrar o círculo vicioso de pobreza e deficiência (focalizando Thanh Hoa; poderia ser usado na campanha)

● Cópias ● Documento com instruções

para o trabalho em grupo e informações sobre as diferentes abordagens

● Cartazes● Pincéis● Cartões

Facilitador

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Page 102: Making PRSP Inclusive Port

● Decidam – usando a Ferramenta 33 (e informações pessoais sobre o Vietname) que fatos poderiam ser utilizados para convencer outras partes

● Preparem uma apresentação clara e chamativa sobre os seus resultados

20 minutos Intervalo

30 minutos Ciclo de apresentações (os participantes caminham, cada grupo escolhe um membro do grupo para fazer a apresentação)

Facilitador

15 minutos Resumo do dia e agenda do dia seguinte

Equipe

PARTE 2: Elaboração de afirmações e estratégias para a nossa campanha de conscientização (meio dia)

Tempo Conteúdo Materiais Dirigido por Objetivos

15 minutos Opiniões comuns sobre deficiência II:● Leia as afirmações novamente● Depois de discutir os

diferentes modelos de deficiência ontem: Com qual afirmação você concorda mais hoje? (Novamente, cada participante pode atribuir três pontos)

● Discussão sobre as mudanças

● Pontos em diferentes cores

Facilitador

5 minutos ● Introdução à defesa de interesses, lobbying e trabalho de campanha

● Atividades de campanha típicas

Cartões Pessoa entendida na matéria

● melhorar a capacidade de convencer e desenvolver habilidades estratégicas de comunicação

● desenvolver habilidades de campanha

● determinar o público alvo● desenvolver e chegar a um

acordo sobre as mensagens

10 minutos Visão geral sobre “Persuasão e Comunicação Estratégica”● Quem? – o público-alvo● Quando, a que horas? – o

momento certo● O quê? – mensagens● Como? - meios de

comunicação

Cartões Pessoa entendida na matéria

30 minutos Discutir no plenário: Quem? Ferramenta "Análise ao público" em cartaz grande

Facilitador

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Page 103: Making PRSP Inclusive Port

75 minutos Trabalho em grupo: O quê? Como? (3 grupos)● Elaborar afirmações,

mensagens, anúncios em cartazes: coleta de idéias para o cartaz

● selecionar 3 idéias e desenvolver as mensagens

● Preparar uma apresentação

Ficha de instruções para o trabalho em grupo

Facilitador

20 minutos Intervalo

45 minutos Apresentações e classificação: Quais são as afirmações mais convincentes?

Facilitador

30 minutos ● Resumo da oficina● Feedback dos participantes● Olhando para frente

Equipe

Vietname: Defesa de interesses e lobby

Tempo Procedimento Quem? Materiais Objetivos

08:00 Inscrições

08:30 Boas vindas e visão de conjunto do workshop (cartaz)

Facilitadores Poster with programme

Campanha de conscientização na área do projeto

08:40 Status quo do plano de trabalho e da campanha de conscientização (15 minutos)

Facilitadores ● desenvolver habilidades de campanha

● envolver novos participantes (pessoas surdas) no processo em andamento

● apresentar exemplos de cartazes e anúncios de TV da campanha

● desenvolver mais idéias e mensagens para a campanha em Thanh Hoa

● motivar e estimular os participantes a desenvolver idéias próprias

8:55 Apresente e discuta idéias para campanha de conscientização● Cartazes (Aktion Mensch/ www.

diegesellschafter.de)

● Anúncio na TV vietnamita “Reconheça os nossos potenciais, não as nossas diferenças”

Facilitadores Poster and video on notebook

9:20 Break

Trabalho de lobby09:50 Preencher o gráfico SQA com a

ajuda dos participantes● S: o que já sabemos sobre

lobby● Q: o que queremos aprender

sobre lobby

Facilitadores KWL chart ● explicitar conhecimentos implícitos (prévios) acerca de lobby e perceber as capacidades existentes no grupo

● iniciar um processo de aprendizagem consciente e autodeterminado trazendo à tona as perguntas dos participantes

● desenvolver um entendimento comum de lobby

● aprender com exemplos práticos

● analisar as lições aprendidas

10:05 Breve introdução ao trabalho de lobby

Pessoa entendida na matéria

PowerPoint presentation

10:20 O trabalho de lobby na prática● Como foi criada a OPD “Futuro

Brilhante” de Hanói● Atividades de lobby no Foro da

Deficiência

Pessoa entendida na matéria "Bright Future" and Disability Forum

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11.20 Lições aprendidas● Fazer um apanhado de fatores

críticos para o sucesso juntamente com os participantes no cartaz

● Os facilitadores resumem os fatores críticos para o sucesso, maneiras de praticar lobby e os benefícios

Facilitadores PosterPowerPoint presentation

12:00 Almoço

Importantes técnicas de lobby13:30 ● coletar informações

● trabalhar com os meios de comunicação

Facilitador ● obter uma visão geral sobre técnicas importantes

● coletar informações utilizando diferentes fontes de informação

● usar a internet como fonte de informações e descobrir links úteis

13:45 Visão de conjunto e introdução ao trabalho em grupo:● Escolha um assunto para fazer

lobby● Reúna informações sobre o

assunto● Prepare uma apresentação ou

comunicado de imprensa.

Facilitador Written instruction for group work

14:00 Trabalho em grupo (3 grupos) Coletar informaçõesjuntar os assuntos e deixar os participantes escolher, p.ex.● Deficiência no Vietname● Plano de Ação Nacional para

Pessoas com Deficiência● Grupos de ajuda mútua no

Vietname● As mulheres com deficiências

no Vietname● Empregos para pessoas com

deficiência no Vietname

Os facilitadores ajudam e mostram links na internet

● Computer room● Notebooks,● Books and brochures on

disability issues

14:45 Intervalo

Preparação de uma exposição oral ou um comunicado de imprensa

15:15 Introdução às ● Apresentações,

● press release

● and groupwork

Facilitador ● Written instructions for groupwork,

● presentation boards,● paper,● marker● pens, ● tools on a large poster

● conhecer e praticar estratégias de preparação de exposições orais

● conhecer e praticar estratégias para redigir um comunicado de imprensa

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15:30 Trabalho em grupo (3 grupos)● Grupo 1 e 2: Preparem uma

exposição oral sobre o assunto que escolheram Usem as informações que vocês coletaram e as da Ferramenta "Apresentações". Apresentem a exposição juntamente com uma introdução à ferramenta que utilizaram.

● Grupo 3: Redijam um comunicado de imprensa ao jornal local sobre o assunto que vocês escolheram. Usem as informações que vocês coletaram e as da Ferramenta "Press Release". Apresentem o comunicado de imprensa juntamente com uma introdução à ferramenta que utilizaram.

Facilitador

16:10 Exposição e feedback, reflexão sobre as ferramentas

16:45 Conclusão● Preencha o gráfico SQA com a

ajuda dos participantes: A - O que aprendemos

● Olhando para frente: o que faremos a seguir

Facilitadores

Oficina sobre PRS e deficiência na TanzâniaAs organizações Christoffel Blindenmission (CBM) e Handicap International (HI) iniciaram conjuntamente o programa PRS deficiência na Tanzânia. O objetivo do programa é promover a inclusão da deficiência no PRS tanzaniano (conhecido localmente pela abreviação MKUKUTA). A primeira etapa do projeto consistiu em planejar uma oficina:

Oficina_PRSPs_e_deficiencia.pdfOficina sobre PRS e deficiência na Tanzânia 2005

81 K

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Informação editorial

Handicap International e.V. Stefanie Ziegler and Ursula Miller Ganghoferstr. 19 80339 München GERMANY Tel.: ++ 49 (0) 89-54 76 06-0 Fax: ++ 49 (0) 89-54 76 06-20 E-Mail: info(at)handicap-international.de http://www.handicap-international.de/ Christoffel Blindenmission e.V. Andreas Pruisken Nibelungenstr. 124 64625 Bensheim GERMANY Tel.: ++49 (0) 6251-131-307 Fax: ++49 (0) 6251-131-189 E-Mail: andreas.pruisken(at)cbm.org

Publicado por

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http://www.christoffel-blindenmission.de/ Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH Andreas Gude (Project for Mainstreaming Poverty) and Dorothea Rischewski (Systems of Social Protection) P.O. Box 5180 65726 Eschborn GERMANY Tel.: ++ 49 6196 79-0 Fax.: ++ 49 6196 79-1115 E-Mail: info(at)gtz.de http://www.gtz.de/

Editor: Handicap International, Munich, Germany

Proof-Reading:SK Language Consult

Graphics: Doris Rasevic

Webdesign:concept-realisation E-Mail: info(at)concept-realisation.de http://www.concept-realisation.de/

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Handbook Content:

● 1 PRS para iniciantes

● 2 Como iniciar um processo de PRS e deficiência

● 3 Pontos de entrada da sociedade civil no processo PRS

● 4 Estudo de casos

● 5 PRSP e as partes interessadas

● 6 Deficiência

● 7 Gestão de projetos e processos

● 8 Defesa de interesses e lobby: influindo nas políticas

● 9 Ferramentas de workshop

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