madeira: tema de conversa entre a natureza e a tecnologia

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ANO XXXI - Nº 221- JULHO/AGOSTO -2008 A REVISTA DA ELETRONORTE Terras de Marcionilha Eletronorte corrente contínua corrente contínua Luz Para Todos chega a comunidades isoladas

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ANO XXXI - Nº 221- JULHO/AGOSTO -2008 A REVISTA DA ELETRONORTE

Terras de Marcionilha

Eletronorte

corrente contínuacorrente contínua

Luz Para Todoschega a

comunidadesisoladas

SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

CEP: 70.716-901Asa Norte - Brasília - DF.

Fones: (61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]

site: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

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corrente contínua Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e En-genharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone -Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso - Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cris-tina Moraes Ferreira - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalis-mo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Núcleos de Comunicação das unidades re-gionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Foto da capa: Roberto Francisco - Arte da con-tracapa: Alexandre Velloso - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral

TRANSMISSÃOLuz Para Todos: lâmpada acesa, brilho nos olhosPágina 3

ENERGIA ATIVACametá do mapará, açaí e aviúPágina 12

CIRCUITO INTERNOI Prêmio Ucel de Produtos AcadêmicosPágina 19

CORRENTE ALTERNADAA arte do futuroPágina 36

ENTREVISTAJorge Palmeira - Diretor-PresidentePágina 39

CORREIO CONTÍNUOPágina 54

FOTOLEGENDAPágina 55

MEIO AMBIENTEMadeira: tema de conversa entre a natureza e a tecnologiaPágina 43

RESPONSABILIDADE SOCIALDias melhores virãoPágina 26

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SÃO Luz Para Todos:

Érica Neiva

“Arroz no cacho, feijão florou. Milho na palha, coração cheio de amor”. O homem do campo canta e agradece a colheita que traz o pão de cada dia à sua mesa. É a celebra-ção que enche de amor o coração daqueles que têm na terra sua fonte de sustento e dignidade. Dona Ana, maranhense, agrade-ce cantando pela colheita de alimentos que sempre plantou ao longo dos seus 78 anos de idade - arroz, feijão, babaçu, quiabo, maxixe, mandioca e milho. Ela faz parte de uma família que retira da agricultura de subsistência a sobrevivência. As histórias contadas refletem o cotidiano de pessoas simples que há apenas três meses passaram a ter contato com a energia elétrica.

O povoado de Centrinho, no município maranhense de Itapecuru-Mirim, local onde reside dona Ana, está sendo contemplado pelas obras do Programa Luz Para Todos. Atividades domésticas diárias, como o uso do liquidificador, por exemplo, representam uma economia de horas de trabalho manual, o qual substituiu o pilão na trituração de alimentos. “Sempre tivemos a expectativa da vinda da energia. Comprei minha geladeira, liquidificador; já temos televisão e antena. Estamos satisfeitos”, agradece Ana MendesCosta.

Sobre as mudanças do mundo, Seu Plá-cido, 81 anos, tio de Dona Ana, observa. “Antes não havia esse negócio de estrada pra ir à cidade; só veredinha pra andar em costa de animal. Até pouco tempo a gente usava a lamparina com querosene e salgava a carne para ser conservada. Com a chegada da energia, a vida ficou melhor para o pobre”, reflete Plácido Mendes Correia.

Inclusão elétrica - A energia elétrica traz progresso, satisfação e esperança de dias melhores para os homens e as mulheres do campo. Histórias como a de dona Ana e do Seu Plácido são cada vez mais comuns devido à iniciativa do Governo Federal de criar, em

lâmpada acesa, brilho nos olhos

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2004, o Programa Luz Para Todos. Executado pelo Ministério de Minas e Energia, por meio da Eletrobrás, suas empresas controladas e as concessionárias estaduais, o Programa tem como objetivo levar energia a pelo menos dez milhões de brasileiros do meio rural até o final de 2008.

Hoje, passados quatro anos, oito milhões de pessoas já foram beneficiadas com o Luz ParaTodos. Fenômenos como a melhoria da quali-dade de vida no campo, a migração de retorno e o sucesso do agronegócio fizeram o governo prorrogar o Programa até 2010, por meio do Decreto nº 6.442, de 25 de abril de 2008. Assim, as ligações, anteriormente previstas em 2,0 milhões, alcançarão pelo menos 3,1 milhões. O investimento total para o período 2004/2008, da ordem de R$ 12,7 bilhões, pode ser ilustrado pela geração, no primeiro semestre deste ano, de 241 mil empregos diretos e indiretos, pela utilização de 569 mil unidades de transformadores, 709 mil km de cabos e 3,7 milhões de unidades de postes.

Os números são vultosos, mas a mate-rialização da felicidade nos rostos daqueles que, até bem pouco tempo, eram vítimas da exclusão elétrica, é um bem precioso que dá força ao processo de universalização do acesso e uso da energia elétrica em 100% do território brasileiro. “O Luz Para Todos não é apenas um Programa de eletrificação rural, mas de inclusão social, onde cada beneficiado acende um brilho na lâmpada, e outro nos olhos. É um brilho muito especial, de alegria, de felicidade, de dignidade e de cidadania, que nos motiva a enfrentar todas as dificuldades do dia-a-dia”, reflete o diretor Nacional do Programa Luz Para Todos, Hélio Morito Shinoda. (ver box).

O Luz Para Todos, por meio dos seus comitês gestores estaduais, prioriza o atendimento a comunidades quilombolas, indígenas, assentamentos e residências rurais, bem como os municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH. Os comitês acompanham as ações e metas estaduais de universalização e são integrados por representantes do Ministério de Minase Energia, agências reguladoras estaduais, distribuidoras de energia elétrica, governos estaduais, prefeituras e representantes da sociedade civil.

As empresas do Sistema Eletrobrás são responsáveis pela coordenação do Programaem suas respectivas regiões geoelétricas. Já a execução das obras é realizada pelas con-

cessionárias locais. A Eletronorte coordena as atividades na região geoelétrica Norte que compreende os nove estados da AmazôniaLegal. Neles já foram efetuadas 480 mil liga-ções com investimentos de R$ 3,1 bilhões.

Os recursos financeiros utilizados para a execução do Luz Para Todos provêm da Conta de Desenvolvimento Energético – CDE, e da Reserva Global de Reversão – RGR, devido à necessidade de mitigar os impactos tarifários das diversas áreas de concessão. Os contra-tos das obras são assinados pelo Governo Federal, cuja participação varia entre 75% e 80%; os governos estaduais, que entram com 10%; e as concessionárias com uma margem de 10% a 15%.

Região Norte - A meta do Programa Luz Para Todos para a Região Norte, em 2008, é de 226.166 ligações. Essa é a região geoe-létrica brasileira que conta com o maior va-lor de recursos contratados e, efetivamente liberados, em razão da execução das obras

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– mais de R$ 2 bilhões. Por trás desses va-lores estão as importantes conseqüências do Programa em termos sociais e econômicos. “O Luz Para Todos possibilita a elevação dos indicadores de qualidade de vida, o desen-volvimento econômico, novas perspectivas para as futuras gerações no que se refere à inclusão social, além de assegurar a perma-

nência das pessoas em seus locais de origem”, afirma o coordenador do Programa Luz Para Todos na Eletronorte, Henrique Luduvice (àesquerda).

No Estado do Mara-nhão, por exemplo, as obras começaram a ser executadas pela Com-panhia Energética do

Maranhão - Cemar, em 2005. Até agosto de 2008, 160.014 ligações foram efetuadas, ou seja, cerca de 800.070 pessoas foram

atendidas naquele estado; um investimento de R$ 728 milhões. “O Programa, por sua própria natureza, é de grande alcance social. Ele tem característica de capilarizar, chegar aos pontos mais distantes. Em muitas situações, construímos mais de dez quilômetros de rede para atender a uma pequena comunidade com 15 unidades consumidoras. Este é o objetivo - levar energia aos pontos mais remotos”, assegura o gerente do Programa Luz Para Todos da Cemar, Sérvio Túlio dos Santos (à direita).

As 2.166 obras realizadas no Maranhão beneficiaram 16.425 famílias em 173 assentamentos; 2.409 famílias quilombolas distribuídas em 49 comunidades; e 1.590 famílias indígenas, contabilizando 58 aldeias. Dos 217 municí-pios do estado, 200 já foram contemplados. Aproximadamente, 160 mil ligações ainda devem ser executadas até 2010.

A expressão “quebradeiras de coco babaçu” é muito conhecida no Estado do Maranhão. Diz respeito àquelas mulheres que têm no babaçu sua fonte de renda. Atéaí a história é conhecida. Mas a inserção social e a ci-dadania que essa matéria-prima vem trazendo por meio da organização das mulheres é uma página de coragem, força e união que merece ser contada.

Do coco babaçu se aproveita tudo, a começar pela casca que se transforma em carvão. O mesocarpo – subs-tância carnuda-, é usada no preparo de mingaus, pães e biscoitos; o óleo é produto da culinária e fabricação de sabonetes e as palhas da palmeira são excelentes para o artesanato. O potencial desse fruto aliado ao objetivo de disseminar princípios de cidadania com posterior geração de renda fez surgir, em 1989, na zona rural do município de Itapecuru-Mirim, o primeiro Clube de Mães.

Hoje são 32 clubes que, juntos, formam a União dos Clubes de Mães e congregam cerca de duas mil quebradeiras de coco. “Quando começamos a formar essa mulher, percebemos que, enquanto ela não se visse como cidadã, como protagonista, ela não conseguiria sair de casa. Ela passou a perceber que tem valor e, a partir daí, introduzimos a questão da geração de renda porque já tínhamos um número de mulheres que já conseguiu sair de casa e defende seus direitos com toda garra”, esclarece a coordenadora do projeto Babaçu é Vida, Maria Domingas Marques Pinto (foto acima).

Em 2001, a Associação criou a primeira fábrica

de sabonete de óleo de babaçu. Em 2004, por meio da política do desenvolvimento terri-torial, obteve a fábrica com a Sede própria, onde também são execu-tados outros projetos de desenvolvimento rural sustentável como cria-ção de porcos, galinhas, plantio de hortas e uma fábrica de ração própria.

Para a colaboradora da fábrica de sabonete, Maria Izabel Sousa Cardoso (foto abaixo), associada ao Clube de Mães, desde 1997, a vida melhorou muito depois que passou a ter renda própria. “Com a associa-ção, a mulher passou a se organizar e buscar conhe-cimento. Hoje já tenho meu dinheirinho. Quero sempre melhorar a minha renda. Ser mulher não é apenas casar, ter filhos e ficar no fundo de uma cozinha, mas sim ir à luta para viver como cidadã”, afirma categórica.

Babaçu gera inclusão social e cidadania

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Para o piauiense Luiz Adriel Vieira Neto (foto abaixo), que trabalha na Eletronorte há 26 anos e, atualmente, é o coordenador do Programa no Maranhão, “o Luz Para Todos é o melhor Programa do Governo Federal. Emtermos de inserção social, não existe outro. Apenas imagina a sua dimensão quem anda no interior, quem visita as comunidades. O rosto das pessoas retrata a felicidade. Aenergia traz o progresso, a informação e o desenvolvimento”, relata Adriel.

Povoados maranhenses - O município de Itapecuru-Mirim situa-se ao norte do Ma-ranhão, a 112 km da capital São Luís. Sua Sede localiza-se à margem direita do Rio Itapecuru, cujas águas abastecem 75% da população de São Luís e de outras cidades. De acordo com o Censo 2007 do IBGE, sua população está estimada em 54. 573 habi-tantes, ocupando uma área de 1.166 km². A região é constituída por 44 comunidades que se autodefinem quilombolas.

Com 60% dos habitantes na zona urbana, parte da renda da cidade provém das 25 fábricas de cerâmica. Por sua vez, na zona rural predomina a agricultura de subsistência - arroz, milho, feijão, mandioca e o cultivo do babaçu. No município de Itapecuru, 987 domicílios já foram atendidos pelo ProgramaLuz Para Todos. Entre os povoados contem-plados estão os de Campo Rio, Ipiranga da Carmina, Santa Rosa do Barão e Centrinho.

“Aquilo que temos vontade, Deus olha e dá pra gente”. Usando essas palavras, a pro-fessora e lavradora, Benedita Xavier Menezes, conta a sua história de sonho e luta. Desde a infância o seu desejo era ser professora e com esse objetivo começou a estudar em CampoRio, povoado onde mora. Posteriormente foi

para Itapecuru-Mirim e, por último, comple-mentou o magistério em São Luís.

Com 53 anos, Benedita (acima) foi a úni-ca da família composta por cinco irmãos a concluir os estudos. Enfrentou obstáculos e dificuldades, porém persistiu. “Estudei até realizar meu sonho, formar-me em magistério. Na minha época não existiam estradas; na escola do povoado os estudos iam apenas até à 2ª série. Passávamos a semana na cidade e no fim de semana voltávamos para a roça

Numa área de 74,3 mil km², equivalente à soma das áreas dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, na região nordeste de MatoGrosso, uma população de 60 mil habitantes da zona ru-ral vivia no escuro até 2004. O lugar, conhecido como “Vale dos Esquecidos”, não possuía essa denominação à toa. Apesar de viverem no sé-culo XXI, os moradores ainda não conheciam o conforto do asfalto, nem da energia elétrica, encarada até então como coisa de outro mundo ou artigo de luxo, mas também como a tão sonhada solução para uma vida melhor.

A realidade dessa gente começou a mudar com a sua inclusão na agenda do Programa Luz Para Todos. “Até2004, a zona rural de 15 municípios do nordeste de Mato Grosso tinha energia elétrica por apenas três horas ao dia. Essa energia era fornecida por geradores a diesel operados pelas prefeituras locais”, conta o coordenador

Em Mato Grosso, esperança para o “Vale dos Esquecidos”

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onde trabalhávamos capinando, plantando, quebrando coco e fazendo carvão”, relembra Benedita.

O povoado de Campo Rio recebeu essa de-nominação por estar localizado entre o campo

e o rio. Com mais de 80 anos, 22 famílias compõem a comunidade que passou por al-gumas mudanças, tornando mais fácil a vida dos seus moradores. Já existem estradas de acesso, água encanada e energia elétrica.

A obra do Programa Luz Para Todos foi con-cluída no povoado em 2008. Com a conquista foi possível bombear água potável de um poço subterrâneo. “Antes não tínhamos energia em casa. Era tudo turvo; só na lamparina. Coma chegada da energia compramos televisão e geladeira. Veio também o poço artesiano com a água encanada. Melhorou 100%”, enfatiza a presidente da Associação dos Produtores de Campo Rio, Maria da Paz Souza Fernandes(foto ao lado).

Ipiranga da Carmina - Ao ouvir dona Rai-munda conversar, a primeira coisa que vem à cabeça é: o seu nome é trabalho. Líder da Associação de Moradores e Lavradores do povoado maranhense de Ipiranga da Carmi-

estadual do Luz Para Todos em Mato Grosso, Gustavo Reis Vasconcelos (foto ao lado).

Não havia usinas para a geração de energia elétrica, nem linhas de transmissão para fazer o tráfego do pro-duto. Para ligar todo o trecho, de um município a outro, seriam necessários 426 km de linhas de transmissão, distância que daria para atravessar o Estado de São Paulo. “Não havia linha, mas, também não tínhamos como esperar que ela fosse construída para dar acesso à energia elétrica para essas pessoas. Então, usamos a alternativa de colocar novos grupos geradores a diesel em todos os municípios, e a partir deles instalar redes de transmissão que são gerenciadas pela distribuidora Cemat”, rememora Gustavo.

Ao mesmo tempo em que os grupos geradores são tro-cados e já conferem um novo ânimo à vida das pessoas, a linha de transmissão é construída. O primeiro trecho, de 188 km de extensão, que segue do município de Que-

rência até o de Alto Boa Vista, foi inaugurado em junho de 2008. O segundo, que vai de Alto Boa Vista até Confresa, e o último, que vai de Confresa até Vila Rica, já estarão prontos quando esta revista estiver circulando. Além dos trechos de linhas de transmissão, quatro subestações também serão construídas com investimentos de R$ 31,7 milhões.

O superintendente de Energia da Secretaria de Estadode Indústria, Comércio, Minas e Energia de Mato Grosso, José do Carmo Ferraz Filho, afirma que a região está em franca expansão e para que isso começasse a ocorrer, a energia tinha que chegar. “A energia é a ferramenta fundamental para o desenvolvimento da região e para a fixação do homem no campo. Depois do Luz para Todos,o estado teve um boom de crescimento e existem pessoas de outros estados sendo atraídas para cá em decorrência da chegada da energia”, avalia Ferraz.

(Colaborou Márcia de Oliveira, da Regional de Transmissão de Mato Grosso)

Esquecimento e escuridão... ... palavras do passado

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na, ela mora há 15 anos na comunidade e está no quarto mandato como líder. “Corro atrás dos benefícios. Se precisar vou ao Incra, ao sindicato, à casa da agricultura familiar, onde for necessário. Nos reunimos e vamos reivindicar. Uma andorinha só não faz verão. Temos que acompanhar o dia-a-dia. Essa é a nossa vida. Todos devem ter uma vida digna”, reitera Raimunda (foto acima).

O povoado de Ipiranga da Carmina é uma área de assentamento do Incra. Em 1997, a comunidade recebeu o recurso que possibilitou a construção de três açudes, da casa de farinha comunitária, de uma sede onde funciona a esco-la e acontecem as reuniões, além da obtenção de uma máquina beneficiadora de arroz.

Por último, em 2006, os moradores foram contemplados com o Luz Para Todos, que atendeu a 67 domicílios. “O Programa era um projeto muito sonhado pela comunidade. Anossa casa de farinha comunitária conta com um ralador de mandioca elétrico que facilita o nosso trabalho. Quando o lavrador tem muita farinhada, pode trabalhar à noite, pois temos a luz elétrica. Também podemos beber água gelada, guardar a comida, ver jornais, guardar as vacinas dos animais na geladeira. Pra nós essa luz é um prazer muito grande”, destaca Raimunda Bispo dos Santos.

Quinze alunos do povoado de Ipiran-ga da Carmina ocupam os assentos da Escola Municipal São Francisco. A tur-ma de Educação de Jovens e Adultos é constituída basicamente por lavradores. Para a professora da escola, Maria José Frazão Chagas, a vinda do Luz Para Todos melhorou a rotina dos alunos, que, além de terem o acesso à escola facilitado, são estimulados a permanecer em sala de aula. “É muito difícil usar lamparina durante as aulas. Muitas vezes os alunos não compareciam por problemas de visão, por não terem óculos. A falta de energia leva muitos a abandonarem os estudos”, esclarece Maria José.

Quando a Usina Hidrelétrica Tucuruí ainda iniciava suas obras, Manoel Trancoso da Rocha, 64 anos, instalava-se nas terras que hoje fazem parte do Projeto de Assenta-mento – PA São Pedro, localizado na área rural de BreuBranco, a 70 km de Tucuruí (PA). São 22 anos de trabalho, que há dois foi facilitado com a chegada da rede elétrica por meio do Programa Luz Para Todos que, desde 2004, beneficiou 103.560 pessoas em 17 municípios do entorno do lago de Tucuruí

O pequeno pecuarista criou os oito filhos com a produção de leite da sua propriedade. Manoel afirma que as dificul-dades foram muitas, mas sempre contou com a ajuda da família. Em setembro de 2006, foi um dos beneficiados pelo Governo Federal e viu o seu produto valorizado. “Me-lhorou demais com a energia. Agora, temos um resfriador elétrico aqui perto, a sete km, e o preço do leite subiu. Antes, o produto era vendido para Goianésia por um pre-ço muito baixo, a R$ 0,12 o litro. Hoje custa R$ 0,55. Valorizou muito”, conta. Em casa, Manoel garante que a energia também melhorou a qualidade de vida da família. A esposa não precisa mais ir ao rio lavar roupa, nem usar o velho ferro a brasa.

Em Tucuruí, a realização de novos sonhosMoradora há 12 anos do

PA São Pedro, Izaura RochaBarros, 51 anos, é uma das lideranças da comunidade e conhece de perto a re-alidade das 195 famílias assentadas. Por isso, sonha com novas conquistas. Uma delas está relacionada ao aproveitamento das frutas cultivadas na região, como: caju, manga, açaí, cupuaçu. “Com a energia, já é uma força para a gente, porque podemos tirar a polpa e vender na feira”, vislumbra, com olhos de uma empre-endedora nata.

Nivaldino da Silva Sena, 51 anos, cita outro equi-pamento que poderá ser adquirido, trazendo vantagens para todos que atuam na atividade leiteira da região: um resfriador elétrico comunitário. “É o que esperamos aqui pra nós, para conservarmos o leite e oferecermos um produto com mais qualidade para o cliente”, afirma.

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A energia elétrica facilitou a vida de pes-soas como a lavradora Benedita de Nazaré da Conceição, 49 anos, mãe de seis filhos e há mais de 30 anos longe dos bancos es-colares. Ela fala com orgulho do seu desejo de aprender cada vez mais. “Eu tinha muita

vontade de estudar, vim com toda garra. Mesmo em dias de chuva, ou quando estou muito cansada por causa do trabalho da roça e de problemas de saúde, venho à escola. Avinda da energia também veio colaborar com o nosso aprendizado”, enfatiza Benedita.

O presidente da Associação dos Produtores Rurais do PASão Pedro, Expedito Cavalcante Silva, 54 anos, também trabalha para conseguir mais benefícios para a comunida-de, buscando recursos e parcerias com os governos mu-nicipal, estadual e federal. Em sua propriedade, faz uma pequena apresentação da produtividade de seu quintal, enchendo em poucos minutos as mãos de tangerina.

São todos sonhos movidos à energia. Esperançade dias melhores, potencializada com a chegada do

Programa Luz Para Todos a mais de 800 mil paraenses, como Anodete da Silva Barbalho, 62 anos. A mulher que tem as mãos e o rosto marcados pelo tempo e pelo sol, comemora com alegria pequenas conquistas do dia-a-dia. “Antes da energia tudo era difícil. Agora, não preciso mais puxar água do poço. É tudo na bomba, graças à energia e a Deus. Aquele negócio de puxar na ‘gangorra’ já era!” O Programa Luz Para Todos ainda será motivo de alegria para vários moradores do entorno de Tucuruí,uma vez que, até 2010, cerca de 55 mil pessoas ainda serão atendidas.

(Colaborou Renata Gobatti, da Regionalde Produção e Comercialização de Tucuruí)

Manoel,Izaura e Nivaldino:energia,água e alimento

Maria José, dos problemas de visão para a alfabetizaçãoiluminada

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O Programa Luz Para Todos se transformou na locomotiva do desenvolvimento. Uma iniciativa que está se revelando eficaz na fixação do homem no campo. Segundo o diretor nacional do Programa, Hélio Morito, a verdadeira semente do desenvolvimen-to brasileiro é a eletricidade, sem ela outras sementes deixam de germinar. De fato, muitas tentativas de reforma agrária, onde o homem recebia a terra, mas era abandonado no campo sem energia, fracassaram. Hélio Morito fala dos avanços proporcio-nados pelo Luz Para Todos.

Quais as dificuldades que o Programa vem enfrentando?Tivemos dificuldades realmente. Vimos que as conces-

sionárias sozinhas não conseguiam executar obras em grande escala. A indústria nacional também não estava preparada para a quantidade de equipamentos a suprir. OLuz Para Todos foi lançado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, mas as obras somente começaram em outubro de 2004. Isto em função das negociações com os concessionários, discussão dos contratos, análise dos programas de obras pela Eletrobrás e a aquisição dos materiais e mão-de-obra, insuficientes até então. Esses problemas foram resolvidos até 2005. Observamos que os estados poderiam ser atendidos por expansão de redes, mas cada um tinha particularidades. O Programa já atingiu a plenitude de ligações por expansão de rede. Mas havia ainda as comunidades isoladas. A região amazônica é complexa. Por exemplo, na época de seca não se consegue chegar a determinados locais. O transporte dos materiais só é possível com os rios cheios. Temos que transportar materiais e equipamentos e armazená-los, além de exe-cutar as obras no período de seca.

De onde vêm os recursos do Programa?Os dois fundos setoriais que suprem o Luz Para Todos

são a Conta de Desenvolvimento Energético – CDE, sem juros, e a Reserva Global de Energia – RGE, com juros de 6% ao ano, do Governo Federal. Esses fundos são usados para se antecipar metas e mitigar tarifas. Elessó podem ser repassados ao Setor Elétrico, então todo o nosso trabalho é feito com os concessionários locais, que também precisam de tempo para instalar fontes alternativas, por exemplo.

Quais foram os benefícios imediatos? Pesquisas de 2006 demonstraram que 44% das

pessoas atendidas já adquiriram aparelhos de televisão. Dizem que com o anúncio da chegada de energia, logo aparecia um caminhão vendendo eletrodomésticos. Nesses locais é comum as donas de casa oferecerem orgulhosamente um copo d´água gelada ao visitante. Obrilho nos olhos delas nesse ato simples é algo comoven-te. O Programa ajuda as comunidades a alavancar a sua sustentabilidade. Os Centros Comunitários de Produção já implantados (veja matéria na página 26) mostram que as comunidades, se apoiadas, são capazes de criar alternativas econômicas, gerando emprego e renda.

Cite uma dessas alternativas.No Ministério do Desenvolvimento Social há o Pro-

grama de Aquisição de Alimentos, voltado para o leite. Fizemos uma parceria, repassamos R$ 3 milhões e eles colocaram ainda mais R$ 4 milhões para a aquisição de resfriadores a serem instalados em oito estados nordesti-nos e no norte de Minas Gerais. Com isto, 352 resfriado-res estão sendo instalados em vários municípios desses

A eletricidade é a semente!

Santa Rosa - Santa Rosa é uma terra habitada por descendentes de ex-escravos. A presença de algumas ruínas indica que o povoado foi um quilombo original. Aresistência à opressão e à discriminação constituiu-se elemento fundamental para manter a comunidade unida, sobretudo pela força cultural. Os quilombolas são levados pelos versos do mágico som que emana do tambor de crioula:

“Carrear, boi carreiro.Carrear, minha cabeça já me dói.Carrear, dentequeiro do queixar.Carrear, não digo uma coisa hoje.Carrear, para amanhã contrariar”.O tambor de crioula é a manifestação cul-

tural mais latente na localidade com cerca de 2.500 moradores. A dança afro-brasileira é uma tradição deixada na comunidade pelos

avós e pais do senhor Juvêncio Pires, 72 anos, que trata com respeito e ternura o precioso bem recebido. “Quando me entendi aqui na Santa Rosa, o meu avô era o chefe do tambor de criou-la. Com 13 anos eu já estava no tambor. Meus avós foram escravos, morreram e deixaram esta herança”, rememora Juvêncio.

Nas terras onde o tambor de crioula une desde crianças a idosos, constituindo-se numa memória viva, a chegada do ProgramaLuz Para Todos é festejada. As eletrificações foram concluídas em 2007, com 30 domi-cílios atendidos. A comunidade que usa o tambor como forma de resistência e comu-nicação tem mais um motivo para celebrar. “Foi ótimo! Vivíamos com uma lâmpada de querosene. Melhorou 100%”, destaca Juvêncio, com a certeza de dizer hoje o que certamente não será contrariado amanhã.

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informamos ao MEC que, em seguida, licitou a compra de com-putadores. A inclusão digital também avançou, pois logo que a eletricidade chegava, os computadores eram instalados, fazendo com que a inclusão digital ocorresse ao mesmo tempo e inserin-do a comunidade em um contexto mundial via internet.

E quais os benefícios em relação à saúde?Há três anos fomos procurados pela Fundação Nacional de

Saúde - Funasa, para energizar os locais onde eles criariam postos de vacinação. Demos prioridade a esse atendimento, pois havia a incidência de doenças endêmicas em muitos pontos e a energia era fundamental para o trabalho da Fun-

dação. Nas comunidades isoladas mantemos um contato direto para ouvi-las na definição dos locais que precisam da luz, para cuidar da saúde da população.

Qual a relação com outro programa de governo, o Bolsa Família?Temos um acordo interministerial para energizar co-

munidades que também estão começando a receber o benefício do Bolsa Família, pois nos primeiros meses as

pessoas não tinham como arcar com a nova despesa. Era uma contradição investir R$ 12,7 bilhões para iluminar dois milhões de domicílios e verificar que muitos tinham o benefício cortado, por falta de pagamento. Muitas vezes o problema era que a concessionária não classificava a pessoa como consumidor de baixa renda, e ela acabava pagando a tarifa normal. Os consumidores eco-nomizam cerca de R$ 40,00 por mês ao deixar de usar velas, lampiões, pilhas, etc. Se for um consumidor de baixa renda, ou seja, ocupa uma casa com três lâmpadas, uma televisão e uma geladeira, ele gastará menos que 80 quilowatts.hora, menos de R$ 40,00.

(Colaborou Byron de Quevedo)

estados. Os resfriadores proporcionam a união de todos os produtores, permitindo que o leite seja acumulado e vendido em melhores condições, podendo ser armaze-nado. Em conseqüência de tal fato ocorreu aumento na qualidade de vida e na renda, inclusive novos contratos com grandes compradores, fabricantes de doces, laticí-nios e empacotadores.

Podemos dizer que o Luz Para Todos está revertendo os fl uxos migratórios?Desde o início do Programa, 370 mil pessoas deixaram

de ir embora para as cidades. Estamos organizando uma pesquisa, este ano, a qual vai monitorar todos os movimentos migratórios de fluxo inverso, ou seja, da cidade para o campo. A sustentabilidade da comunidade também ajuda a fixar as famílias. Não sabíamos, entre-tanto, que isto se daria com tanta intensidade. Nos projetos de assentamentos feitos pelo Incra, se a energia não for instalada, poucos ficam na terra. Porém, quando acontece o assentamento com a chegada simultânea da eletricidade, a ocupação é imedia-ta. O Luz Para Todos liga apenas domicílios. Então, aqueles que permanecem garantem o benefício. Hoje se fala na inflação gerada pela falta de alimentos. Vamos supor que o Programa, como já se cons-tata, promove a volta ao campo. Então, nós estamos contribuindo para conter essa inflação.

Quais os efeitos na educação?Temos uma parceria com o MEC.

Em 2007 ligamos oito mil escolas e

A força culturaldo tambor reverenciatemposremotos e modernos

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César Fechine

Ilha de Jaracuera Grande, município de Cametá, Rio Tocantins, no Pará. Diariamente, às 4 horas da madrugada, Seu Benedito Mello Pantoja, pescador, 55 anos, levanta-se para iniciar a labuta diária. Enquanto a esposa prepara o café, Pantoja, como é conhecido, proseia com os amigos. “Alguns companheiros de pesca costumam se reunir na minha casa. Ficamos conversando, contando causos, co-memos e saímos para o Rio Tocantins”.

Cametaense “de rujão” (autêntico), qua-tro filhos, cinco netos, Pantoja considera-se pescador profissional desde que nasceu. “Nunca ocupei outra profissão senão a pesca artesanal. Comecei a acompanhar meu pai com dez anos”, diz. Ele afirma que criou os filhos apenas com os recursos da pesca: uma fez pedagogia em Cametá, outra faz en-fermagem na Universidade Estadual do Pará- Uepa, em Tucuruí; o filho faz eletricidade prática no Senai e a quarta, casada, terminou o segundo grau.

Terra de grandes águas, férteis em lendas e contos como a Iara, o Boto Encantado e a Cobra Grande (veja box), a Amazônia também revela surpresas e sustos a seus habitantes. “Era madrugada, por volta das 5 horas, e

nós avistamos umas borbulhas na água. Colocamos o casco (canoa) para passar por cima das borbulhas, para ver o que era. Então a canoa ensecou, ficou parada. Estávamosem cima das costas de uma cobra grande. Ficamos completamente parados ali por al-guns minutos. Era serpente encantada, com certeza, mas não fez mal nenhum a gente”, conta Pantoja (à esquerda).

Depois de alguns minutos, a cobra te-ria mergulhado no rio e sumido. Segundo Pantoja, o bicho devia ter uns 20 metros de comprimento e mais de um metro de diâmetro. “Eu já vi sucuri morta com mais de 15 metros”, garante.

Cametádo mapará, açaí e aviú

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Desembarque pesqueiro na área de influência de Tucuruí volta aos índices registrados antes da construção da Usina

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Susto, ele teve também há vários anos, depois da construção da Usina Hidrelétrica Tucuruí. “Depois da barragem, a pesca dimi-nuiu muito e nós sentimos a necessidade de nos mobilizarmos para preservar o mapará, que é o nosso peixe regional, além de outras espécies e do aviú (camarão pequeno)”, lembra Pantoja.

O mapará, cujo nome científico é Hypo-phthalmus marginatus, vive em cardumes e alimenta-se do limo que está no fundo do rio. A pesca, feita com redes, depende muito da maré e da lua. A lua cheia é a melhor para se pescar, pois os cardumes sobem e “arre-bentam” no rio.

Adaptação - Após a implantação da barra-gem de Tucuruí, há mais de 24 anos, houve uma redução do pescado a jusante (abaixo da Usina). Mas o ambiente e as espécies se adaptaram às mudanças, pois a quantidade de peixes capturados voltou a aumentar nos últimos anos.

Um estudo de caracterização dos desem-barques pesqueiros na área de influência de Tucuruí, feito pela Eletronorte, mostra que a pesca a jusante, de todas as espécies, incluindo o mapará, a pescada, o curimatá, o tucunaré, que são as espécies de maior interesse comercial, entre outras, somava cerca de 1.100 t por ano antes da barragem.

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Em 1999, o desembarque baixou para 400 toneladas, mas nos últimos anos a pesca voltou aos índices anteriores.

Apontadores diários localizados em várias regiões anotam o desembarque pes-queiro e mostram que, em 2006 e 2007, os índices voltaram a 1.100 toneladas aproximadamente. “Eu diria que está até superior, porque a população ribeirinha aumentou e não se tem o controle desses dados. Antes, havia cerca de 50 mil pes-soas nos municípios abaixo da barragem e hoje são 100 mil apenas em Cametá. Então dobrou o número de pessoas e a pesca está se mantendo”, declara o biólogo e analista de meio ambiente da Eletronorte, Anastácio Afonso Juras.

O material que fundamenta o estudo foi obtido na área de influência da Usina Hidrelé-trica Tucuruí no período de 2001 a 2006. Asinformações foram coletadas em duas áreas: montante (reservatório) e jusante. Os portos

de desembarque de montante estão localiza-dos nos municípios de Marabá, Itupiranga, Goianésia do Pará, Jacundá e Tucuruí; os situados a jusante estão nos municípios de Tucuruí, Baião, Mocajuba, Cametá e Limoeiro do Ajuru.

O projeto de estatística pesqueira de Tucuruí faz parte do Programa de Pesca e Ictiofauna da Eletronorte e consiste em uma série de procedimentos amostrais e um sistema de processamento de dados, a partir dos quais foi implementado um programa contínuo de coleta de dados nos portos de desembarque dos municípios que sofrem influência do barramento do Rio Tocantins.

A produção total de pescado desembarca-do na área de influência da Usina no período de 2001 a 2006 variou entre o máximo de 8.551.033 kg em 2003 e o mínimo de 5.447.934 kg em 2006, com média de 6.735.500 kg para o período.

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A lenda da Cobra GrandeA lenda da cobra Honorato ou Norato é uma das mais

conhecidas sobre Cobra Grande (ou Boiúna) na região amazônica. Conta-se que uma índia engravidou da Boiúna e teve duas crianças: uma menina que se cha-mou Maria e um menino chamado Honorato. Para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém-nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras. Maria era má, fazia de tudo para prejudicar os pescadores e ribeirinhos. Afundava barcos para que seus tripulantes morressem afogados. Enquanto seu irmão, Norato, era meigo e bondoso. Quando Maria atacava algum barco, Norato tentava salvar a tri-pulação. Um dia os irmãos travaram uma briga decisiva, quando Maria morreu, tendo antes cegado o irmão. Assim, as águas da Ama-zônia e seus habitantes ficaram livres da maldade de Maria. E Norato seguiu seu caminho solitário. Sem ter

a quem combater, Norato entendeu que seu fado já havia sido cumprido até demais e resolveu pedir para ser transformado em humano nova-mente. Para isso, precisava que alguém tivesse a

coragem de derramar “leite de peito” (leite de alguma parturiente) em sua enorme boca em uma noite de luar. Depois de jogar o leite,

a pessoa teria que provo-car um sangramento na cabeça de Norato para que a transformação ti-vesse fim. Foram muitas

as tentativas, mas ninguém conseguia ter tanta coragem. Até que um soldado de Cametá conseguiu

reunir coragem para fazer a simpatia. Foi

ele quem deu a Hono-rato a oportunidade de se ver

livre para sempre daquela cruel maldição de viver sozinho como cobra. Em agradecimento, Honorato virou soldado também. E até hoje pode ser visto nas cercanias de Cametá. Alguém duvida?

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Impactos - Entre os fatores que causam impactos negativos na produção de pesca-dos estão a sobrepesca e o desmatamento. “Alguns pescadores usam malha muito fina. Em vez de capturar com malha de seis ou sete centímetros de largura, eles utilizam malha quatro ou dois centímetros. Os peixes menores são vendidos fritos em bares, como tira-gosto, com 12, 15 centímetros, quando a legislação estabelece que a captura deveria

ser feita com 29 centímetros, no mínimo”, explica Juras.

Na Feira de Cametá (abaixo, à equerda),a procura por mapará é grande. “Mapará da terra, tem do graúdo e do pequeno. Essa é a melhor comida da região”, grita o feirante. Omapará chega duas ou três vezes por semana, logo cedo dependendo da maré.

O problema é que grande parte da popula-ção gosta de comer o mapará fifiti (pequeno), frito, ou com açaí e farinha. Jovem, o mapará é parecido com a agulhinha; abundante no Nordeste, onde os moradores gostam de comer na beira das praias.

Pantoja faz coro com Juras. “Não pode-mos permitir a pesca predatória. Quando passo na feira e vejo o mapará miúdo, não gosto nem de olhar. O pescador precisa ter consciência porque, se ele não preservar, os peixes podem acabar.” O mapará pequeno é pego com puçá (pequena rede cônica), proibido pela legislação ambiental, ou com malhas finas.

Mas há outra questão grave que é o desma-tamento. O mapará vive em regiões de poço, no fundo do rio, onde se alimenta. E muitos poços estão sendo preenchidos com sedimen-tos, impactando essa espécie que gosta de águas calmas para viver e se reproduzir.

Apóso defeso, 12 toneladas de mapará

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Defeso e culinária - Hoje, Pantoja, que tam-bém é agente ambiental, preside a Associa-ção dos Produtores Familiares de Jaracuera Grande – Acordar, criada em 1999, com 36 famílias, com média de sete filhos cada e que engloba uma área de 5,96 km².

A comunidade firmou um Acordo de Pesca com o Instituto Brasileiro do Meio Ambientee dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, com o apoio da Polícia Militar, da Colôniade Pescadores Z-16 de Cametá e de outras instituições. O Ibama delimitou por meio de GPS (Global Positioning System) a área que compõe o Acordo.

A fiscalização é feita em barcos pela co-munidade, de placa em placa nas ilhas. Seis pessoas ficam das 6 horas da tarde até 1 hora da madrugada; e seis de 1 hora da madrugada até 6 horas da manhã. Aí entra o turno do dia, composto por três homens e cinco mu-lheres. A lei é clara: na época do defeso da piracema, que vai de novembro a fevereiro, o pescador ganha um salário mínimo por mês e só pode pescar com caniço, malha de seis centímetros, com no máximo 30 metros, com direito a cinco quilos por família.

Este ano, na abertura da pesca, em mar-ço, a Associação capturou 12,4 toneladas de maparás, que foram comercializadas no município e exportadas para Belém e outros estados do Brasil. A mobilização das comu-nidades e de outras instituições garante a preservação dos pescados, bem como do comércio local.

Famílias inteiras refrescam-se na praia da Aldeia dos Parijós, à beira do Rio Tocantins,em Cametá, no mês de julho. “Os nossos peixes, aqui da região mesmo, são a pescada

e o mapará. Esses peixes são encontrados aqui todo tempo, em abundância, não faltam, dependendo da maré”, diz José Geraldo da Silva Farias, o Brasil, dono de restaurante na mais movimentada praia da cidade. Eleabriu o estabelecimento em 1995 e diz que, de lá pra cá, a praia só vem se desenvolvendo. “Quando acaba o defeso e abre a pesca, aí é ma-pará pra todo canto. E o preço despenca”, diz o microempresário.

Se quiser comer um mapará, do jeito, com ‘lixo atrás’, o local é Ca-metá. Explica-se: “abre-se o peixe por trás e o ‘lixo’ é toda a verdura que se coloca dentro do peixe para assar na brasa: tomate, cebola,

Depois do banho de rio, mapará com

‘lixo atrás’ do restaurante

do Brasil

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Patrimônio culturalO mapará pode ser reconhecido como

patrimônio cultural de Cametá. Demítryus Braga (foto ao lado), secretário de Cultura, Turismo e Desporto do município explica que há a mobilização de vereadores para elaborar e aprovar o projeto. “Omapará é o prato típico, o nosso alimento número um. E pouco a pouco podemos subir os de-graus para tentar fazer parte do patrimônio do Pará e do Brasil”,informa Demítryus.

Outros projetos devem ser encaminhados posteriormen-te. “Não só esse, mas o nosso Samba de Cacete, o Banguê, a marchinha de carnaval, que tem um estilo todo próprio. Nós estamos começando pouco a pouco a trabalhar essas questões, que estão ganhando formato, junto com a necessidade de termos um Conselho Mu-nicipal de Cultura”, explica.

A proposta está sendo estudada pela Secretaria, em parceria com a Câmara de Vereadores. Escritores nascidos em Cametá, intelectuais, artistas, pescadores, comerciantes e outros segmentos sociais aprovam a proposta.

na brasa, é só tirar com a colher e encostar ao sal. É um sabor excelente.”

Hoje, o mapará, o açaí e outros artigos tí-picos de Cametá são produtos de exportação. “Quando criança, diziam que ninguém comia mapará por ser muito remoso (prejudicial à saúde). Agora se exporta açaí que ninguém gostava e todo mundo toma. Enfim, encon-tram-se virtudes em produtos utilizados por caboclos ribeirinhos que vivem 80, 90 anos no meio da mata, sem nada”, diz Mocbel.

alho, pimentão, cheiro verde. É o mapará moqueado, uma delícia”, garante Brasil. Mas tem que lavar bem com limão, para tirar todo o pitiú (mau-cheiro), acrescenta.

Raízes - Cartorário por profissão, escritor, poeta e compositor por opção, Alberto Mocbel (foto à esquerda), 78 anos, quatro filhos, cinco netos, possui quatro livros publicados contando histórias, contos e crônicas sobre as raízes do povo cametaense. Os versos compostos por ele estão em 70% das marchi-nhas, algumas cantadas pelas ruas durante o carnaval. É uma tradição em Cametá. Foiduas vezes prefeito da cidade nos anos 1970 e 1980, mas garante que a experiência po-lítica é coisa do passado.

E o senhor é um “papa-mapará”, como se diz do cametaense? “Sim! O mapará é um dos peixes mais saborosos que existe. Você come um tucunaré, uma pescada, não têm sabor, a não ser o tempero. O mapará, se você assar

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Sobre a época em que diminuiu o pesca-do, ele admite que nem tudo foi por causa da hidrelétrica. “Diminuiu o pescado, mas também aumentou muito a população. A ex-portação também aumentou, porque é melhor exportar do que vender aqui.”

Em outra parte da cidade, a pequena Alessandra Pantoja da Cruz (foto acima), seis anos, neta de Pantoja, quer, de alguma forma, seguir os caminhos do avô e já começa a observar as lições diárias. “Quero ser enge-nheira de pesca”, diz a pequena.

“No rio eu me sinto num paraíso, na na-tureza. O rio faz parte da história da minha vida. Primeiro tem a água que a gente bebe. Depois, tem o pescado, o alimento. Eu e o rio somos parceiros, porque eu entro com a prática do trabalho e o rio constrói, cria o meu alimento”.

Lições simples, porém profundas e cheias de virtudes essas do Seu Pantoja. Porque preservar, conservar e respeitar a natureza nunca é demais.

Onde ficaCametá vem de “Caa-mutá”, e significa degraus

(casa) na mata, uma espécie de cabana que os índios de uma ramificação dos tupinambás faziam nas gran-des árvores para caçar. A cidade localiza-se no nor-deste paraense, à margem esquerda do Rio Tocantins, distante cerca de 200 km, Belém. O município possui 3.108 km² e uma população de 110 mil habitantes.

Para se chegar a Cametá utiliza-se a rodovia PA-151 até o município de Igarapé-Miri, onde são feitas

duas pequenas travessias de rios com balsas. Percorre-se mais 56 km de estrada até à localidade de Carapajó,de onde parte uma balsa grande que atravessa o Rio Tocantins em uma hora e meia. Outra opção são barcos que partem de Belém e sobem o To-cantins numa viagem que leva cerca de 8 horas.

Fundada em 1635, Cametá foi um centro político muito influente no Estado do Pará. É conhecida pelas belas praias, ilhas e natureza exube-rante às margens do Tocantins, além de possuir rico patrimônio histórico composto por belas igrejas.

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I Prêmio Ucel de Produtos Acadêmicosreconhece o foco empreendedor

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Bruna Maria Netto

Milton, Júlio, Arthur e Sós-tenes. Esses nomes não estão juntos por acaso. Eles repre-sentam a força de trabalho da Eletronorte comprometida e entusiasmada em fazer mais que o trabalho diário. São os vencedores do I Prêmio Ucel de Produtos Acadêmicos, processo que celebra a consolidação da Universidade Corporativa da Eletronorte – Ucel, incentivando os empregados envolvidos com a academia, e cujo objetivo é reconhecer as melhores pesquisas desenvolvidas pelos colaboradores, considerando sua aplica-bilidade aos processos da Empresa. Além

de conceder uma gratificação em dinheiro – R$ 30 mil no total - o Prêmio Ucel estimula a pesquisa, a criação e o compar-tilhamento de conhecimentos daqueles que buscam um curso de especialização.

Em sua primeira edição, o Prêmio integrou a I Semana Eletronorte do Conhecimento e Inovação – Seci, ocorrida em novembro de 2007(veja edição 218). Os 32 trabalhos inscritos foram classificados em duas

categorias - Melhoria Potencial, com possi-bilidade de implantação de melhorias nos processos de trabalho; e Melhoria Imple-mentada, aqueles cujas melhorias já estão aplicadas nos processos de trabalho. Do total, 27 monografias passaram pela banca de avaliação.

Francisco Fernandes Neto (foto acima),gerente de Suporte à Gestão do Conheci-mento e coordenador do Prêmio Ucel, conta que a avaliação dos produtos acadêmicos ocorreu em três fases: “Na primeira, foi feito um filtro, quando observamos o atendimento aos pré-requisitos estipulados; na segunda etapa, avaliamos os resumos estendidos dos trabalhos, para que na etapa final a pesquisa

fosse lida por completo. Clas-sificamos nove trabalhos para esta fase”.

Os trabalhos foram pontua-dos e classificados por avaliado-res da Eletronorte e profissionais de universidades renomadas, o que enriqueceu ainda mais o processo. Quem garante é Ivo Almeida Costa (foto abaixo), analista administrativo da Ele-tronorte e mestre em engenharia da produção: “O entendimento diferenciado da academia pro-porciona uma riqueza muito

grande, inclusive em examinar cada trabalho colocando facetas que nós, por vezes, não notamos. É muito rico para fazer fluir os vários entendimentos do que era analisado”. Francisco concorda com o colega: “O ponto alto do Prêmio foi essa integração e o con-senso da banca nos trabalhos finais”.

Um dos avaliadores externos é Luciana Lenhari. Economista e doutoranda em Po-lítica Científica e Tecnológica na Unicamp, ela analisou dois dos quatro trabalhos vito-riosos. “Os vencedo-res receberam meri-toriamente o Prêmio,uma vez que ficaram mais próximos do ob-jetivo e a qualidade não deixou nada a desejar. O fato de a Eletronorte apoiar os empregados que procuram a atividade acadêmica é extremamente rico e acredito que leva ao encontro de todas as iniciativas importantes tomadas no País para aproximar essas duas fontes de conhecimento, unindo a linguagem empresarial à acadêmica, que eu considero ser ‘o melhor dos mundos’, e representa um passo importante da Empresa rumo à inovação”.

A seguir, quatro histórias daqueles que, segundo Luciana, uniram o ‘melhor dos mundos’.

“Alô, Milton? Queria fazer uma entrevista com você, tens algum tempo livre?” “Sim, mas só se for agora mesmo, pois posso viajar a qualquer momento”. Entre as viagens que o engenheiro Milton Nunes da Silva faz para auxiliar na implementação e manutenção de sistemas nas unidades regionais da Eletro-norte, ele conta como conseguiu o primeiro lugar na categoria Melhoria Implementada, com o tema Sistema Inteligente para Tomada Rápida de Decisões nos Sistemas Elétricos– oriundo de tese de doutorado cursada na Universidade Federal de Engenharia de Ita-jubá – Unifei.

O gaúcho Milton, que está na Eletronortehá 22 anos, veio de uma cidade bem pe-quenininha, General Câmara. “O pessoal brinca dizendo que quando eu saí da cidade a população caiu pela metade”. No entan-to, a pequena localidade não o impediu de pensar grande e criar uma metodologia com base em técnicas de inteligência artificial. “Aidéia central foi desenvolver um conjunto de regras que auxiliassem os operadores durante a análise de ocorrências e na recomposição sistêmica da rede da Eletronorte, já que a área de sistemas elétricos gera grande nú-mero de dados, e é difícil tirar conhecimento disso. É necessário organizar e armazenar esses dados, e a proposta inicial foi criar um sistema que tivesse estrutura para organizá-los”, esclarece Milton.

Entre viagens, um doutorado sobre inteligência artificial

Para esse sistema, foi desenvolvida uma metodologia que utiliza, além de uma base de conhecimento própria, a integração com os sistemas Info-OPR, SAP/R3 e Sage, já dispo-níveis (ver edição 220 Maio/Junho 2008). “Otrabalho foi feito em vários módulos. O primei-ro, em 1998, já sofreu várias atualizações, e o que resultou na premiação foi feito em 2006. De acordo com a quantidade de cálculos a ser feita e a complexidade dos procedimentos, concluí que a consolidação de indicadores precisa da arte da computação, o que é bas-tante complexo, e o fato de trabalhar com inteligência artificial traz resistências, mas conseguimos convergir algumas situações”.

Tomada de decisões - Não é por acaso que o primeiro sistema foi criado em 1998. Foinesse ano que Milton transferiu-se para a Superintendência de Engenharia de Ope-ração e Manutenção da Transmissão. “Ainformática tinha desmobilizado a área de desenvolvimento de sistemas, com a idéia de terceirizar o serviço. Como sou engenheiro, auxiliava a área de transmissão juntamente com a de informática. Então tive a idéia de fazer um projeto, apresentei, foi aprovado e criei o primeiro sistema, o Info-OPR”.

Milton explica que, no domínio de sis-temas de potência, as decisões devem ser tomadas baseando-se em grande número de informações relevantes, cuja garantia da continuidade do serviço depende da interpretação dessas informações. Assim, a importância de se ter uma ferramenta com uma arquitetura que a torne apta a gerenciar aquelas informações, e ainda, a fornecer auxílio ao usuário em suas atividades, au-menta consideravelmente, já que estima-se por volta de 40 mil os dados diários gerados pelo sistema elétrico da Região Norte, já filtrados e selecionados como importantes e representativos.

Além disso, na tentativa de informatizar o acesso aos dados, as empresas recorrem

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“A idéia central foi desenvolver um conjunto de regras que auxiliassem os operadores durante a análise de ocorrências e

na recomposição sistêmica da rede da Eletronorte”

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Conversar com Júlio Ângelo Cordeiro Lo-pes, 24 anos de Empresa - cinco deles na Sede – não foi fácil. Júlio está de mudança para sua terra natal, Rio Branco (AC), onde irá dar apoio técnico à Regional de Produçãoe Comercialização do Acre na secretaria do Programa Manutenção Produtiva Total - TPM.Bem-humorado e muito solícito, na véspera de sua viagem, ele descreveu a trajetória que o levou a mais uma premiação na Eletronorte, pois Júlio não tirou apenas o primeiro lugar na categoria Melhoria Potencial do I PrêmioUcel, mas também foi um dos premiados no Painel Integrado da Qualidade - PIQ. “Ele é muito criativo e tem o perfil lutador e dinâ-mico movido por uma bateria que não des-carrega. Os avaliadores comentaram que sua monografia estava tão bem estruturada que parecia que o escutávamos falando conosco’, lembra Francisco. Sem descarregar a bateria, esse acreano quando começa a falar do seu trabalho já mostra que, de um bate-papo podem surgir outros produtos inovadores: “Você tem papel e caneta? É porque tenho mania de falar escrevendo”.

Papel e caneta na mão, Ângelo discorre sobre sua pesquisa - Metodologia para Aná-lise de Falhas nos Equipamentos de Geração Térmica da Eletronorte – Caso: UTE Santana. Júlio criou uma sistemática para análise de falhas nos equipamentos dos parques térmi-cos da Eletronorte, em que a Usina TérmicaSantana (AP) foi utilizada no projeto piloto. A pesquisa é fruto do trabalho de conclusão de um dos dois cursos de especialização, que fez durante os cinco anos que esteve em Bra-

a sistemas que em geral são simples ar-mazenadores destes, que oferecem pouco conhecimento. “É como se observássemos um grande álbum de fotografia, todo aberto na parede, em que devemos encontrar a foto mais importante. É possível analisar as infor-mações fragmentadamente, mas a relação entre os dados não é feita porque não temos a capacidade física e mental para isso, por ser um processamento muito grande, com milhões de informações. Por isso, tornou-se fundamental transformar esse grande volume de dados gerados em informação e conhecimento. Criamos uma ferramenta ca-paz de analisar esses efeitos que não vemos, interligando os dados”.

O trabalho de Milton permitiu a integração dos sistemas e a implantação de uma nova metodologia de extração do conhecimento, gerando um banco de conhecimento através do armazenamento dessas regras, como também a implantação de um sistema de mo-nitoramento e prevenção de novos eventos, além de ter desenvolvido uma estrutura de consolidação de indicadores de desempenho. O sistema já foi instalado em onze centros de operação. “Para um período de oito anos estima-se uma economia de R$ 20 milhões em valores atuais” revela.

Com esse grande invento, o engenheiro, já vencedor do Prêmio Muiraquitã, ganhou a Faixa Ouro no Prêmio Ucel. “Milton é um dos poucos doutores formados pela Univer-sidade Corporativa, emendando o mestrado com o doutorado. Fico imaginando a energia de colegas como ele. Havia avaliadores que conheciam seu projeto e falavam ‘esse eu conheço e está dando grandes resultados’. O pessoal cruza com o Milton, um camarada muito discreto, tranqüilo e nem imagina quem seja ele”, afirma Francisco.

A discrição foi atropelada pela alegria da boa notícia: “No dia do resultado eu estava em Coaracy Nunes (AP), numa das viagens de manutenção. Recebi a mensagem e fiquei su-perfeliz, a sala estava cheia e eu dei um pulo de alegria! Todo mundo olhou para mim e eu fiquei sem graça logo depois, mas foi uma emoção enorme”. Milton encerra lembrando da relevância do Prêmio: “Quanto mais di-vulgarmos as vantagens desses contatos aca-dêmicos, mais produtos geraremos. Se com esse trabalho eu conseguir estimular mais pessoas, já valeu a pena. O reconhecimento profissional e o ganho de conhecimentos me enriquecem muito”.

Com ele não há mais reincidências

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sília, na área de gestão empresarial. “O tema é pertinente por conta do elevado número de falhas nos equipamentos, exigindo dos gestores das instalações uma nova postura perante aos problemas, especialmente aque-les encontrados nos processos que envolvem a gestão da manutenção”, afirma.

Júlio conta que a análise de falhas foi feita principalmente em máquinas reincidentes, por serem as que mais complicam a gestão da manutenção das plantas. “O trabalho surgiu por entender que a Eletronorte necessita de uma ferramenta que possa minimizar esses problemas. O Setor Elétrico brasileiro convi-ve muito com falhas reincidentes e elas não estão apenas no equipamento, mas também nas pessoas, onde está inserido o capital intelectual para o êxito das ações. Por isso é necessário haver uma ação de contramedida, para que a falha não seja reincidente”.

Metodologia - Com a análise do número de falhas ocorridas no sistema de geração térmica da Eletronorte, entre 2003 e 2004, o aumento constatado foi de 53,94%, en-

quanto no mesmo período a Usina Santana apresentou um percentual bem maior, de 86%. “São valores re-sultantes da suspensão da Metodologia do TPM nas unidades regionais em março de 2003, considerado um dos fatores contribuintes de impacto no processo da gestão da manutenção nas instalações, já que outra for-ma de acompanhamento não foi implementada”, afirma Ângelo.

Por conta disso, Júlio pro-põe uma metodologia para análises de falhas nos equipamentos de modo que seja seguida uma sistemática, composta por sete etapas. “A primeira identifica o fenômeno sucedido, a segunda irá corrigir o equipamento, ainda sem fazer a análise, pois algumas máquinas necessitam voltar para o estado de disponibili-dade o quanto antes para atender à demanda”, ressalta. Na terceira etapa há a formação do Grupo de Análise de Ocorrência, por pessoas das mais diversas áreas. “Assim acabam as di-ficuldades como ‘quem fará o quê?’. Cada um recebe sua demanda, e a partir disso o grupo faz a análise do problema”, conclui Júlio. Na quarta etapa é programada a análise da falha

e é definida a ferramenta mais adequada para a análise crítica. “É uma série de ferramentas que guiam para a causa fundamental do pro-blema. O uso de alguma delas vai depender do que ocorreu no equipamento, e a partir de uma análise crítica são encadeadas todas as outras etapas para resolução”, afirma. Emseguida, são emitidos relatórios preliminares e finais sobre a situação da análise da falha. Já na sexta etapa ocorre o retorno de todas as anteriores, em que a eficácia é avaliada, enquanto na última etapa é implementado um sistema de informação básica integrada. “Em Porto Velho nós tivemos um exemplo prático da aplicabilidade da metodologia. Analisamos um equipamento e utilizamos uma das ferramentas, o brainstorming. Com22 pessoas na sala, foram geradas 22 possí-veis hipóteses para aquele problema. Dessas, três foram consideradas pelo grupo como as causas fundamentais para aquele problema que estava deixando a máquina há pelo me-nos 15 dias parada. A partir daí fizemos o plano de ação, no qual constam as ações de contramedida para o problema deixar de ser reincidente”, enfatiza.

Os resultados mostram que a taxa de falha na Termelétrica Santana de 2005 para cá, caiu em dez pontos. Além disso, Júlio mos-trou que sua metodologia não atende apenas à geração termelétrica. Segundo o técnico, ela pode ser aplicada em todos os processos da Eletronorte, bastando adequá-la.

Apesar de confiar na sua idéia, a modéstia de Júlio o impedia de vislumbrar o primeiro lugar conquistado. “Quando me vi entre os semifinalistas já fiquei muito feliz. Na época da divulgação do resultado eu estava voltan-do de uma viagem e, ao entrar na sala, uma das nossas colegas me deu os parabéns e eu comentei ‘mas meu aniversário é somente em outubro’ e aí a ficha caiu, e pensei ‘será?’. Depois vi que tirei o primeiro lugar, fiquei muito alegre com o reconhecimento do tra-balho, pois eu não inventei a roda, mas me embasei em toda fundamentação teórica. Eu tinha expectativa de ganhar, mas pensei que ficaria com o terceiro lugar. No dia que levei minha pesquisa para um professor na Universidade Federal de Itajubá, ele fez uma leitura rápida e falou ‘não precisa fazer mais nada, o seu trabalho já está aprovado’. Euainda falei ‘mas você nem leu direito’ e ele respondeu que não precisaria, pois estava bem encadeado. E realmente a minha mo-nografia foi aprovada com louvor”.

“O trabalho surgiu por entender que a Eletronorte necessita de uma ferramenta que possa minimizar as falhas reincidentes, e elas não estão apenas no equipamento, mas também nas pessoas”

Falar em Arthur Quirino é pensar no jor-nalista que já passou pelas áreas de serviços gerais e de benefícios, e hoje coordena a co-municação e o Plano de Eficiência Energética na Regional de Transmissão do Maranhão. Não é de se estranhar que este multimídia, com o perdão do trocadilho, está há 32 anos na Eletronorte sempre dando o que falar. A última dele foi a conquista da Faixa Prata, na catego-ria Melhoria Potencial. Essa segunda colocação é fruto de uma demanda da própria Regional, que apesar de prestar serviços há mais de 24 anos no estado, é conhecida por apenas uma pequena parcela da população local.

Os relatórios de Arthur apontaram que, em 2006, de 2.254 visitantes à Empresa, 1.593 responderam que não conheciam a Eletro-norte, totalizando 71% dos entrevistados. “Nessas visitas eu faço um questionário em que pergunto. ‘Você conhece a Eletronorte?’, e sete entre dez pessoas não conhecem, sendo um dado muito expressivo”, recorda. Com essa lacuna entre Empresa e comuni-dade, surgiu a idéia de fazer sua monografia centrada em um meio de comunicação ex-terno. “Internamente, nossa rádio corporativa funciona excelentemente, inclusive serviu de base para a implementação da rádio interna do Sebrae. Mas lá fora isso não funciona. Orapaz que está lá no interior, com seu radinho, não tem acesso às informações sobre a Ele-tronorte e, como a própria pesquisa mostra, a maioria nem sequer conhece a Empresa”,lembra Arthur.

Originário da monografia do curso de graduação, o trabalho intitulado Rádio Comunitária: Uma Nova Parceria da Co-municação Empresarial Externa, discorre sobre a importância da rádio na Empresa e o interesse em otimizar a comunicação com o público externo, especialmente nas questões referentes à conservação, racionalização e eficiência energética, fazendo com que te-nha papel fundamental de informar sobre a importância de se manter uma convivência não-predatória em relação às torres e linhas de transmissão da Empresa.

Fique Ligado - As comunidades Salina do Sacavém e Coroadinho foram as áreas de estudo para implantação do projeto-piloto,

O radialista Arthur Chapelin

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cuja população participou, inclusive, de toda a estruturação da rádio, desde o nome - o sugestivo ‘Fique Ligado’ - até à programação. “O horário de funcionamento e o nome de um personagem infantil, o Tio Torres, também foram escolhidos por eles. Dessa forma, o programa é todo voltado para a comunidade, inclusive um dos locutores será de lá”.

O programa irá possibilitar maior inte-gração entre a Regional e os moradores das comunidades que ficam na área de alcance das instalações da Empresa, assim como as comunidades que residem ao longo dos mais de 24 km das linhas de transmissão na Ilha de São Luís. Além da maior abrangência, o projeto tem como benefício o baixo custo. Em 2005, somente com a campanha contra queimadas foram gastos em torno de R$77.500,00 por mês. Com o investimento no programa de rádio, o valor cairá para R$420,00 mensais – uma economia de 99%. “Vamos alcançar um público muito maior e pessoas que não sabem ler poderão ouvir. Isso irá prevenir atos de vandalismo e apagões com a falta de energia, que ocasionam caos à sociedade e prejuízos à Eletronorte, além de denegrir a imagem da Empresa perante a sociedade”, afirma Arthur.

Ele espera aumentar o número de ouvintes levando o Fique Ligado para as demais uni-dades descentralizadas do Maranhão, abran-gendo as comunidades que estão instaladas próximas aos mais de 2.900 km das linhas de transmissão no estado. “Esse trabalho vem ao encontro dos anseios da Eletronorte, atendendo ao planejamento estratégico da Empresa em seus objetivos de reduzir custos, fortalecer a marca e a imagem e de reduzir os riscos empresariais”, lembra Quirino.

Arthur(ao centro) no estúdio: talento para comunicação

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Brasília, 14 de fevereiro, 15h. A duas ho-ras do encerramento da entrega dos planos de ação do Prêmio Ucel, um deles ainda faltava, justamente o de um dos vencedores. “Estávamos numa fase com muitas deman-das, então na última hora eu consegui a anuência do meu gerente, que estava muito atribulado. Às 16h30 entreguei o projeto, foi um alívio!”. Foi dessa forma que o tímido, porém destemido Sóstenes Aranha Caval-cante - 22 anos de Eletronorte - relatou a saga da dissertação de mestrado na PUC de Minas Gerais, que fez “Análise do Processode Modernização Empresarial a Partir dos Critérios de Excelência do Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ e Prêmio Nacional da Gestão Pública”, chegar à Faixa Bronze na categoria Melhoria Potencial e chamar a atenção dos avaliadores: “O trabalho estava muito bom do ponto de vista metodológico e a análise das entrevistas, que é o mais difícil de elaborar num trabalho dessa natureza, estava muito bem estruturada. Do ponto de vista acadêmico é um excelente trabalho”, relembra a avaliadora Luciana.

De acordo com Sóstenes, “o PNQ e outros programas de qualidade me deram embasa-mento técnico-prático. A idéia surgiu porque eu já havia trabalhado há muito tempo com isso. Aliei algo que gosto de fazer e que sem-pre estive envolvido, desde 1991, quando estava no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – PBQP. Eu e um colega fo-mos os primeiros no Prêmio de Qualidade do Governo Federal – PQGF a estruturar a parte de treinamento da metodologia para formar examinadores e consultores”.

Sóstenes coordena o programa de Aperfei-çoamento do Sistema de Gestão da Eletro-norte, objeto do estudo de caso e alvo maior das melhorias e que tem grande abrangência na Empresa, com a participação de aproxi-madamente 50 unidades em nível de supe-rintendência e o envolvimento direto de 400 empregados, entre gestores, instrutores, faci-litadores, examinadores e executores. “Movi-mentar 50 unidades é trabalhar 50 cabeças

O desafio de harmonizar programascorporativos

A relação de Arthur com a comunicação, e principalmente com a rádio, vem do seu trabalho na igreja. “Quando teve o primeiro programa de demissão voluntária, os colegas da comunicação pediram para sair e a área foi fechada, literalmente. Como eu trabalhava na igreja como locutor – me chamavam de ‘Sér-gio Chapelin’ - em alusão ao ex-apresentador do Jornal Nacional - um dos freqüentadores, que era meu chefe na Eletronorte, ficava falando ‘bota o Arthur na comunicação, que tem a voz boa’, e eu falei ‘aceito com o maior prazer, pode pegar minha mesa e levar para

lá agora’. Peguei a chave, levei o rapaz da limpeza e reabri a assessoria, em 2000. Quando surgiu o Prêmio Ucel, conversei com o gerente da Regional e ele comprou a idéia. ‘Pode se inscrever que você ganha!’ ”.

Pelo desempenho que teve na faculdade, Arthur já acreditava que seria premia-do: “Meu orientador era um carrasco - no bom sentido - e os avaliadores da banca tam-bém. Então se tirei nota má-xima é porque o trabalho está de fato bem-feito”. Quem confirma isso é a avaliadora da Unicamp: “O trabalho es-tava primoroso. Foi o primei-ro que li, e achei excelente,

deixando o meu critério de avaliação muito alto em relação aos demais. Estava amarrado, muito elaborado e sabia como poderia ser aplicado. Como sou de fora, me coloquei mui-to na posição do gerente que toma a decisão de implementar o projeto e mesmo não sendo da área de jornalismo entendi a proposta com uma enorme facilidade, e dei nota máxima em todos os requisitos avaliados, pois o trabalho do ponto de vista acadêmico e de gestão estava perfeito”. Francisco concorda com Luciana: “É um trabalho muito importante, coroando o dinamismo dele, que não fica só no quadrado, ele vai para a comunidade e cria laços além das paredes da Empresa”.

E o que Arthur espera para o futuro? “Quero que esta proposta seja um despertar não só para a Regional, mas também para outras em-presas que desejam sair do casulo e abrir as portas à comunidade onde estão instaladas, sendo porta-vozes da democratização da co-municação, interagindo com a população”.

“Quero que esta proposta seja um despertar não só para a Regional, mas também para outras empresas que desejam sair do casulo e abrir as portas à comunidade onde estão instaladas, sendo porta-vozes da democratização da comunicação, interagindo com a população”

tomada de decisão e o desen-volvimento das estratégias; a vinculação do abono da participação nos lucros e resultados ao desempenho da gestão das unidades como uma das metas para sua concessão; a crença da maior parte das lideranças nos be-nefícios da nova estratégia e a comunicação realizada para que as pessoas enten-dam os objetivos e metas estabelecidas pela organiza-ção, entre outros.

Sóstenes explica que os resultados do estudo possi-bilitam realizar uma análise

mais adequada e confiável das questões que envolvem a implantação e desenvolvimento de programas corporativos na Eletronorte, o que significa tomar ações efetivas que vão ao encontro de novas demandas decorrentes do cenário globalizado em que a Empresa está inserida. “Nenhum trabalho de gestão é fácil, porque o gestor e as pessoas estão acostumados com o status quo, com o fazer do jeito que se sabe, e qualquer mudança gera resistência, medo e insegurança, porque a pessoa sai da sua zona de conforto e isso é comprovado não só na minha monografia, mas em vários estudos aca-dêmicos. O que funcionou foi o patrocínio da liderança e o grande desafio é sincro-nizar e harmonizar essas ações. Devemos deixar de ser meramente funcionais, e trabalharmos de forma fragmentada, começando por processos integrados”, enfatiza.

Não tão enfática era a certeza de que iria levar um dos prêmios: “A gente não espera muito e uma das surpresas é que nós somos uma Empresa de engenharia e já fui duas vezes premiado no PIQ. Estávamos com trabalhos de engenharia excelentes e fiquei surpreso de estar entre os vencedores, entre tantos trabalhos técnicos”, comemora. ParaSóstenes, o agradecimento vem no Salmo 126.3: “Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres.”

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diferentes e alinhar todos nesse processo é difícil”, lembra Sóstenes. Seu trabalho trata de problemas relacionados à gestão, que, segundo ele, tem sido alvo de preocupação ao redor do mundo e que deveria receber maior atenção, especialmente no Brasil.

Sincronismo - Por conta disso, analisou o processo de modernização empresarial da Eletronorte, cujas referências aprofundam o conhecimento nas dimensões de estratégia, estrutura, processos, pessoas e recompensas. Apoiado por estudos acadêmicos e entrevistas - cujos escolhidos exerciam muita influência no processo de modernização empresarial da Eletronorte -, cita a descoberta de algumas razões que levaram o Programa TPM a ser deixado de lado em 2003. “Por conta disso vemos a relevância do papel do gestor à frente do processo, pois é dessa forma que os trabalhos caminham”, afirma.

Para Sóstenes, um dos grandes desafios da Empresa é aprimorar a gestão empresarial, buscando especialmente o sincronismo entre as pessoas, processos e objetivos estraté-gicos e pessoais que apresentem sinais de fragmentação. “O estudo poderá contribuir como instrumento de intervenção para au-xiliar a liderança da Eletronorte a repensar e melhorar seus programas corporativos”. Sua pesquisa destacou as contribuições que beneficiaram a implementação do processo de aperfeiçoamento da gestão na Eletronorte, como a coordenação e o patrocínio pela alta administração e gerências; a existência de massa crítica formada ao longo dos anos de treinamento no gerenciamento da qualidade; a autonomia concedida às gerências para a

“Nenhum trabalho de gestão é fácil, porque o gestor e as pessoas estão acostumados com o status quo, com o fazer do jeito que se sabe e qualquer mudança gera resistência, medo e insegurança, porque a pessoa sai da sua zona de conforto”

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RESP

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Dias melhores virãoByron de Quevedo

A noite é preta, não branquéééla!Onde estrelas cintilam quais diamantes só porque há negro nela.

O sol faz neles tênue silhueta dourada: amarelaO céu atrás é azul, é blue, que é coisa de negro triste,

Lá em terras estrangeirasBrancas eram as suas vestes

Entre o verde das matas hospedeirasHá algum tempo havia inclusive os vermelhos das guerras

Mas cinzas os transformaram em rosas na poeiraDos que fugiram para os quilombos

Afinal quais são as cores dos quilombolas?Com suas festas, comidas e capoeirasCertamente não são somente negras

Já que deram tantas cores da nossa bandeira.Da senzala ao Planalto foram séculosOutra eternidade do escravo ao irmão

Não mais servidão, subtração.Somaremos.

Nova era surge agora e não esperaDias melhores virão!

Os roqueiros do grupo Titãs é que estão certos - a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão, arte, cultura, lazer, saneamento básico, educação, respeito, transporte adequado, estradas boas, eletri-cidade e tudo que o mundo moderno está aí a oferecer. Temos muito o que melhorar, mas já se notam avanços aqui e acolá. Visitamos comunidades quilombolas, povos tradicionais e vilas de pescadores. Algumas nem sequer receberam o benefício da luz elétrica e vivem um tipo de pré-história da Era moderna. Um programa agressivo do Governo Federal está tentando mudar esse estado de coisas.

Trata-se do Programa de Ações Integradas, que, integrado ao Programa Luz Para Todos(veja matéria na página 3) pretende levar não só a eletricidade a essas comunidades, mas também prepará-las para criar seus ciclos econômicos a ponto de começarem a se de-senvolver. São os passos iniciais de um Brasil que ainda precisa ser descoberto.

Nesse sentido, foi firmado acordo entre o Programa das Nações Unidas para o Desen-volvimento - PNUD, o Ministério de Minas e Energia e Eletronorte, no âmbito do projeto BRA/99/-11, autorizando a implantação de Centros Comunitários de Produção – CCP e de Centros Comunitários de Informações – CCI nos estados de Mato Grosso, Pará e Tocantins. O convênio prevê a transferência de recursos para as ações integradas nas proporções de R$ 1,2 milhão por parte da Eletronorte, e R$ 751, 3 mil por parte do PNUD.

Segundo o coordenador do Programa Luz Para Todos da Eletronorte, Henrique Luduvi-

ce, a intenção é que, a partir da chegada da eletricidade nas comunidades, seja possível alavancar projetos locais de forma articulada. “Ou seja, identificando as potencialidades, a capacidade das comunidades beneficiadas com a energia elétrica e criando propostas de desenvolvimento. Quando o governo pratica a filosofia dos territórios da cidadania, levando as ações governamentais de forma articulada entre os órgãos envolvidos a locais secularmente esquecidos, essas comunidades assumem a ca-pacidade de reivindicar, de intervir, chamando a atenção para os seus problemas”.

Os CCIs, a serem construídos nas comu-nidades, são edificações com quatro salas. Aprimeira é a biblioteca comunitária rural, fruto de uma parceria com o Ministério do Desenvol-vimento Agrário, que abrigará o projeto Arcas das Letras. A segunda sala é reservada à rádio comunitária, com todos os equipamentos. Na terceira sala funcionará o telecentro, com dez computadores. Há ainda uma sala de recepção e dois banheiros. O Ministério da Indústria e Comércio doará os computadores, fará a capacitação dos operadores e fornecerá os programas. Haverá treinamentos a distância para formar multiplicadores de conhecimentos. Cada CCI terá antenas G-SAC, que possibilita-rão a comunicação via internet, gratuitamente. As comunidades arcarão com a manutenção e o material de uso. As obrigações da Eletro-norte dentro da força-tarefa oficial serão a de construir o prédio da CCP, equipar a rádio comunitária e mobiliar os telecentros.

A agente de leitura Lucinda Carvalho Silva , do quilombo Murumuru (PA), explica que sua

Projetos comunitários trazem esperança para povos tradicionais e quilombolas

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Criançase adultos na escola. Entre eles, Lucinda(abaixo,ao centro)

As iniciativas da Eletronorte também têm facilitado a integração das iniciativas públicas no meio rural, tanto no que diz respeito aos programas sociais e ações de atendimento de serviços básicos (educação, saúde, abastecimento de água), quanto às políticas de incen-tivo à agricultura familiar, aos pequenos produtores e aos comerciantes locais. O objetivo é fazer com que o acesso à energia elétrica contribua para a diminuição da pobreza e o aumento de renda das famílias atendidas.

As comunidades Entre Rios e Francisco Galvão, localizadas no município de Palmas (TO), receberam há pouco o benefício da eletricidade. Existente há oito anos, o assentamento Entre Rios é uma comunidade rural que fica a 55 km da capital. Com aproximadamente 106 famílias, seus moradores trabalham para construir uma vida digna a partir das potencialidades econômicas locais e das aptidões da comunidade. O sonho de muita gente tem sido realizado, como o de Amazila Melo de Souza, 48 anos. Ela buscava água em um carrinho de mão no córrego que fica a aproximadamente 300 metros de sua casa. Com a instalação da energia elétrica foi possível construir uma cisterna no quintal e uma horta onde já apontam pequenas melancias. “Meu sonho está realizado, será da terra que vou tirar meu sustento”, vibra Amazila.

A moradora Maria de Lurdes Conceição, que aos 51 anos comprou sua primeira geladeira, fala sobre a dificuldade que enfrentava: “Eu não podia armazenar comida em casa, porque não tinha onde guardar e por causa do calor as verduras e frutas murchavam.” Mariade Lurdes mora no assentamento desde o seu início, e conta como foi a chegada da energia elétrica na região.

Entre Rios e FranciscoGalvão: integração no meio rural em Tocantins

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função é organizar os livros, ajudar as pessoas a utilizá-los, e arquivá-los pois eles serão reu-tilizados. Nesse quilombo, o Arca das Letras não fica na escola, pois muitos precisam dos livros todos os dias. “Então, eu os levei para a minha casa e até nos sábados, domingos e feriados quem quiser pode usá-los. Fizemosum treinamento para aprender a trabalhar com a biblioteca. Sempre gostei de leitura. Aqui somos muito carentes de conhecimento. Gostaria de ser professora. Estou estudando o ensino médio. O que mais pesquisamos são as nossas origens africanas. A comunidade começou a se organizar em 1998, embora a nossa história seja bem antiga. Toda minha família é descendente de negros”.

Contatos imediatos - O programa de ações integradas não sairia das planilhas se suas equipes não se infiltrassem nas microrregiões e abrissem o diálogo com as comunidades. Thais de Paiva Mello (foto acima), da Coorde-nação de Universalização da Energia Elétrica da Eletronorte, conheceu as lideranças dos quilombos paraenses quando estava envolvida nas atividades entre os ministérios de Minase Energia, das Comunicações e a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial,que pretendiam levar rádios comunitárias aos quilombos Bom Jardim e Murumurutuba.

Porém, na reunião em Murumurutuba, as lideranças presentes protestaram, pois tinham deixado de fora comunidades mais distantes. “Voltamos para Brasília, buscamos outros parceiros e montamos o que passou a ser chamado de ‘Pacote da Cidadania’. Quando retornamos à região trouxemos junto os téc-nicos do programa Economia Solidária, que capacitaram as comunidades. Em seguida, veio também o pessoal do Arca das Letras, com benefício cultural importante. Muita gente questiona por que fazer essas ações em locais sem eletricidade? Digo que é necessário romper o círculo vicioso aonde a eletricidade não chega e o progresso também não vem

porque não há energia. Com a chegada dos benefícios a comunidade passa a reivindicar seus direitos mediante as opções de desen-volvimento que logo se apresentam”.

Sobre a titularidade de terras, Thais conta que no quilombo Mata Cavalo, em Mato Grosso (ver box), os conflitos são tão sérios que ela, várias vezes, se deparou com a comunidade na beira da estrada, expulsa por ordem judicial. Porém, tinha um pedaço de terra onde não havia conflito, e nesse trecho a Eletronorte,mediante autorização do Incra, patrocinou um projeto para o plantio de abacaxi. Quando há disputa de terras as empresas do governo não podem intervir e os projetos paralisam.

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“A luz chegou e melhorou a nossa qualidade de vida de várias formas, não vamos mais precisar de velas ou lamparina” Ela fala que os benefícios vão além: “Já pro-videnciei um horta que agora fica mais fácil de cultivar, por causa da bomba para regar, o que seria impossível sem a eletricidade”, comemora.

Associação - A dificuldade para o plantio e o abasteci-mento de água era uma das dificuldades dos moradores. Para gerenciar a nova conquista foi criada a Associaçãodos Produtores Rurais do PA Entre Rios. O presidente da Associação, Ademar Rodrigues da Silva, 39 anos, enfatiza a importância do Programa Luz Para Todos:“A oportunidade é de desenvolvimento para tirar o sus-tento das terras. Uma das nossas principais atividades econômicas no assentamento é a mandioca e agora os agricultores terão oportunidade de trabalhar com as vendas dos produtos produzidos na região. A energia elétrica também vai facilitar os meios de comunicação dos moradores, principalmente aqueles que precisam da internet como fonte de informação”.

Moacir Martins Barros, 45 anos, mora no assentamento Francisco Galvão com a esposa e três filhos. Ele conta que é preciso saber aproveitar a energia: “Ganhamos um recurso que deve ser usado corretamente, caso contrário será apenas mais uma conta a pagar.” A estudante de agronomia, Talita de Souza Dias, diz que toda a sua família está empenhada em usar racionalmente a energia elétrica. “São cinco pessoas em casa e para o consumo não ficar alto estamos empenhados em usar a luz de maneira correta.”

O assentamento Francisco Galvão, onde vivem 77 famílias, localiza-se a 22 km do centro. O presidente da Associaçãoda comunidade, Neurijn Martins Barros, enfatiza: “O uso inteligente da luz é que vai favorecer o nosso crescimento. Faremos campanhas de conscientização e promoveremos diversos projetos com o objetivo de evitar o desperdício de energia elétrica”. Outro projeto que Martins destaca é o Lei-tura Para Todos. “O sucesso do trabalho já teve repercussão e, no espaço destinado à biblioteca, as crianças promovem jogos e gincanas.”

(Colaborou Graciele Gomes Fernandes,da Regional de Transmissão do Tocantins)

Fontes alternativas - A eletrificação dos quilombos, comunidades tradicionais e vilas de pescadores começou a partir dos centros urbanos e foi até às periferias por extensão de redes. Há locais, entretanto, nos quais a energização não dá para ser feita via linha de transmissão. “Em Chipaiá, na Ilha do Marajó, faremos um CCP para o beneficia-mento do açaí. Lá, a energia é gerada por meio de um gaseificador, que transforma em eletricidade resíduos diversos, como semen-tes de açaí e cascas de árvores, e produz o gás para uma turbina que aciona o gerador de eletricidade. Existem vários projetos de P&D que poderão ser levados para essas

comunidades como este; fruto de uma par-ceria entre a Universidade Federal do Pará e a Eletronorte”, explica Thais.

Cada comunidade é entendida de acordo com a sua vocação, perfil econômico social e por meio de debates com seus habitantes. Há casos em que os recursos do projeto serão para gerar renda excedente, como Tiningu e Murumuru. Noutras comunidades os habitan-tes querem produzir a farinha, por exemplo, como complementação alimentar de quali-dade. Seja qual for a opção é necessária a cumplicidade das pessoas com os projetos: usando e mantendo em bom estado os equi-pamentos, documentos e as edificações.

Entre Rios: sonho realizado Francisco Galvão: uso inteligente

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Da África ao Pará - Nos quilombos de Ara-pemã e Saracura (PA), a situação é crítica. Não há luz elétrica. A comunidade se com-prime numa faixa de terras úmidas. Há uma cerca de uma grande fazenda atrás do vilarejo que impede os quilombolas de ocuparem a maior parte da ilha, por eles ocupada há séculos. Na época das cheias essa faixa de terra se reduz e os problemas se agravam. A proposta da Eletronorte, de acordo com o desejo das duas comunidades, é construir um CCP com a casa de farinha, uma CCI, e viabilizar algum tipo de energia alternativa, pois a extensão de rede para a ilha é prati-camente impossível.

Segundo Marcionilha de Oliveira, 72 anos, nascida e criada em Saracura; e neta da escrava da fazenda Chapal Grande, Lúcia de Oliveira, e de Dito Felipe de Oliveira, de Bar-reira; os primeiros habitantes da Ilha vieram em canoas pequenas, a remo. “Muita gente morreu nessas travessias. Depois chegaram as embarcações chamadas de batelão, a vela. Minha avó foi a primeira a chegar em Saracura. Ela foi enganada. Pegaram ela em Angola, na África, e disseram que aqui era bom, mas ela encontrou outra coisa - a escravidão. Meu avô arranjou trabalho de vaqueiro na fazenda que ela trabalhava e a convidou pra fugir, mas ela, que já tinha uma filha branquinha, disse que não iria se aventurar. Então ele comprou ela do senhor da fazenda e levou embora”.

Quanto ao desenvolvimento do quilombo, Marcionilha acredita que a comunidade não cresce, pois perderam suas terras. “A gente vive daquela cerca para cá, para lá já são fazendas. Ninguém tem escritura, tudo são posses, que um vai vendendo para o outro. Nós estamos apertadinhos neste corredor e não há onde trabalhar. Aqui era o rio, quando

a terra cresceu a gente mudou para cá. Asmelhores terras daqui são dos fazendeiros. Os alagados ficaram pra nós. Eu tive dois filhos, o menino morreu. Apesar de tudo nós somos um povo amigo. Temos lutado muito. O idoso é muito bem tratado aqui. Um dia, com fé em Deus, tudo vai dar certo”.

Sara cura! - “Saracura” não tem nada a ver com a ave do mesmo nome. Foi uma ho-menagem dada a uma curandeira chamada Sara. Quando alguém estava doente o pessoal em Santarém dizia: “Vá à ilha de Sara que ela cura”. E Saracura ficou. Quem conta a história é Aldo Santos, cantor, pescador e agricultor, atualmente presidente da Asso-ciação de Remanescentes do Quilombo de Saracura. Aldo se preocupa com a questão ‘tradicional versus desenvolvimento’. Diz que a manutenção das tradições quilombolas não significa parar no passado e rejeitar tudo que é novo. “O povo, por mais que tenha tradi-ções, não pode sobreviver em um sistema arcaico. Devemos manter a nossa cultura ligada às danças, à religião com as suas procissões de barcos e santos, à comida, às festas, à pesca, mas sabendo que é impor-tante se atualizar”.

Agora os quilombolas começaram a apare-cer. Foi muito importante constar no Decreto nº 4.887, no seu artigo 15, as características e os traços identificatórios das comunidades quilombolas. Hoje temos quilombolas de vários tipos. Há variações de cores que vão do branco, passando pelas peles morenas, até o negro. Isso mostra que o quilombola não se dá apenas pela cor, mas pela origem, que é o mestiço de afrodescendente, indígena e branco”.

Aldo alerta para uma questão ainda mais delicada: o racismo do negro contra o próprio negro. “É muito ruim quando um quilombola

Marcionilha:“A gente vive

daquela cerca para cá”

Cleide, Aldo e Thais: “o povo não pode viver em um sistema arcaico”

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nega a sua origem. Queremos acabar com esse preconceito. Os irmãos deveriam se orgulhar, pois foi difícil sobrevivermos até aqui, sem nenhuma proteção das leis do estado, já que éramos fugitivos da escravidão. Só em 2001 a maioria dos quilombolas foi percebida pelo Estado. Só para se ter uma idéia, no I Con-gresso de Raízes Negras, realizado no BaixoAmazonas, somente participaram Saracura e Arapemã, daqui de Santarém. No ano seguinte outros vieram, inclusive, um quilombo urbano da área de Umaicá, de origem do Arapemã.Então, todos os afrodescendentes devem se orgulhar desta luta de séculos”.

Já a presidente da Associação da Comuni-dade Quilombola Arapemã, Cleide da Cruz, faz outro alerta, dessa vez ambiental: “Enquantonão acabar com a criação de gado na Ilha, a agricultura e os peixes vão acabar, porque o gado pisoteia a vegetação ribeirinha que alimenta os peixes e danifica também as plantações”.

Puxirum - Presidente da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém, que representa as comunidades de Tiningu, Murumuru, Murumurutuba, Bom Jardim, Maicá, Saracura, Arapemã, Nova Vista

de Ituqui, São José do Ituqui e São Raimundodo Ituqui, Dileudo Gui-marães dos Santos (aolado), nascido em BomJardim, alerta que este é um bom momento para se levantar a questão dos quilombolas, pois vem aí a festa popular do Dia da ConsciênciaNegra, com comemo-rações nos dias 18, 19

e 20 de novembro, em homenagem ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, que, este ano, será celebrado no quilombo de várzea Arapemã.

Ele defende o envolvimento efetivo entre os programas de governo e a participação das comunidades. “Não queremos receber tudo pronto. Fico animado quando vejo as pessoas disponíveis aos objetivos. Nossa contraparti-da é o trabalho na base do ‘puxirum’ (um tipo de mutirão), uma forma de unir e trabalhar das comunidades tradicionais. Às vezes se faz o puxirum para ajudar uma só pessoa em dificuldade. Não devemos ficar só esperando por dinheiro dos projetos. Temos nossa forma

histórica de trabalhar. Foi isso o que manteve os quilombos vivos até hoje”.

O presidente da Associação Quilombola de Murumurutuba, Antônio Pereira Pinto (abai-xo), relata que a energia chegou, mas que por falta de ampliação da rede, já há 12 casas com “gatos” na vila. “Vem aí o Festival do Açaí.Contratamos uma banda que vai puxar muita eletricidade, temos frisas, bateria de açaí, mas a energia cai à toa. É importan-te que a Eletronorte continue lutando por uma energia mais confiável. Se o problema não for resolvido nada vai funcionar, mas dias melhores virão, pois a nossa documentação para a titularização está andando. Somos 72 fa-mílias com 300 pessoas. Com a vinda desse projeto da Eletronorte vai melhorar muito o nosso conforto”.

Fala Murumuru! - Luziano Pinto da Silva, 70 anos, agricultor e vice-presidente da As-sociação Quilombola Murumuru conta que seus antepassados diziam que o quilombo foi iniciado por cinco famílias fugidas da escravidão. As duas primeiras a chegar fo-ram as famílias de Antônio Colibri e de José Lavra-Pau. “Aqui armaram seus mocambos (barracos de palha). A região era desabitada e boa para se esconder. Naquela época, os feitores eram violentos e vinham atrás, mas o local era muito distante das fazendas de-les. Aqui os ex-escravos ficaram tranqüilos, foram tendo os seus filhos e formando a comunidade. Era um lugar sem nome, mas precisava de um, pois os parentes queriam saber onde a gente estava. Então, os negros,

Comunidade participa e decide unida

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Com histórico de luta intenso para garantir a posse e a escritura das terras deixadas por seus descendentes, a co-munidade de Mata Cavalo, que também receberá recursos para montar um sistema de irrigação para módulos produ-tivos de frutas, vislumbra no investimento de R$ 171,9 mil, a ser feito pela Eletronorte, a garantia da sobrevivên-cia local. Localizada no município de Nossa Senhora do Livramento, a 40 km de Cuiabá, Mata Cavalo possui 250 moradores que ainda não conseguem sobreviver apenas do que produzem, tendo que recorrer às aposentadorias e aos programas sociais do governo para conseguir permanecer na terra. Essa realidade está diretamente ligada à tensão que vivem desde 1996, quando decidiram brigar para manter a propriedade doada por uma senhora de escravos a 34 negros, em 1883.

De 1996 até hoje, uma das representantes da comuni-dade, Gonçalina Eva de Almeida e Silva, 30 anos, afirma que muita coisa mudou. Desde então, as 418 famílias cadastradas como herdeiras das terras vivem momentos de tensão, de derrotas e retiradas da área, com períodos de acampamentos em rodovias, e inclusive, ameaças por parte de fazendeiros que grilaram o território. Também tiveram muitas vitórias. Entre elas está a concessão da posse das terras pelo Governo de Mato Grosso, o reconhecimento e con-cessão do título da área pela Fundação Palmares e mesmo a atitude recente, do Estado, em indenizar os fazendeiros para que eles deixem a terra aos quilombolas. Agora, eles comemoram a mais recente vitória, a liberação dos recursos para instalar o projeto de irrigação.

O processo judicial que decidirá com quem ficará a área ainda não terminou, mas, mesmo diante de todas as adversidades, Mata Cavalo ganha contornos de uma comunidade rural que tem um futuro promissor. “Aqui é o nosso lugar e temos que trabalhar para melhorar. Da terra seca e sem nada, hoje temos uma escola num prédio

provisório, mas de alvenaria, com 230 alunos. Temosáreas com energia elétrica, água que vem de um poço artesiano e a previsão é de termos outros cinco até o ano que vem. Com o sistema de irrigação, vamos ter como produzir e vender frutas em escala comercial e poder tirar o sustento da terra”, afirma Gonçalina, que batalha há 11 anos para ver o lugar se desenvolver pelas mãos dos afrodescendentes.

Chá para a fome - Uma das moradoras do quilombo, Ma-ria Pinto de Moraes, 53 anos, a “Maria do Chá” - apelido que ganhou por ter se especializado em servir chá de todos os tipos de ervas para matar a fome das famílias, quando elas ficaram acampadas na BR-070 - é uma das que põe fé no projeto de irrigação para ter uma vida melhor. Ela e as cinco irmãs se empenharam e, junto com outras cinco pessoas, são responsáveis por um dos cinco módulos de plantio de abacaxi na comunidade. “Hoje são 50 famílias envolvidas no plantio de 15 hectares de abacaxi, onde tem 150 mil pés. Mas, como a área não está irrigada, os abacaxis não crescem e não conseguimos agregar valor. Já temos até para quem vender, mas o preço de venda será muito baixo e pode não compensar os valores investidos na produção”, afirma Gonçalina.

A colheita da fruta é feita uma vez por ano, mas com a chegada da energia elétrica em parte das terras, em 2006, e a possibilidade de construir poços artesianos para abastecer a região, a comunidade decidiu se orga-

Em Mata Cavalo,fé na irrigação

Abacaxi, banana, produção mecanizada,

caçando por aí, encontraram palmeiras na-tivas chamadas murumurueiro, daí veio o nome da nossa terra e Murumuru ficou”.

A Associação Remanescente de Qui-lombos foi fundada há seis anos. Luziano (à direita) diz que viver num quilombo é como viver em família e o trabalho é sempre coletivo “A idéia de coletividade não ficou apenas dentro do quilombo Murumuru. Nós temos dez comunidades que traba-lham unidas; parte de Várgea, Saracura, Arapemã, São Raimundo do Ituqui, São José do Ituqui e Nova Vista do Ituqui. Já

no planalto são as comunidades de BomJardim, Murumuru, Murumurutuba, Ti-ningu e mais uma em Santarém, que fica na Pérola do Umaicá. Sinceramente, eu achava que ia morrer sem ver o progresso, mas depois da Associação fundada nós só temos conseguido coisas boas. A Fundação Palmares fez as primeiras pesquisas por aqui. E a Fundação Fiocruz ajudou no reconhe-cimento do quilombo”.

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nizar e buscar formas de viabilizar o projeto de irrigação. “A Eletronorte conheceu a nossa realidade e percebeu que era possível conseguir o projeto de irrigação. Como projeto funcionando, a intenção da comunidade é dobrar a área plantada para envolver o maior número de pessoas”, afirma Rodrigo Fernandes Braga Coelho.Diversificar o tipo de frutas também é uma das vontades das famílias, assim que a irrigação estiver funcionando. “Só podemos colher uma vez por ano porque as frutas

crescem com as águas das chuvas. Mas quando o sistema estiver funcionando poderemos alternar o cultivo, com várias colheitas ao ano. Queremos fazer aqui uma escola técnica, para que a comunidade tenha acesso à saúde e ao trabalho. Com o que fizemos, já conseguimos alterar positivamente a nossa vida”, avalia Gonçalina.

Segundo os moradores, a energia elétrica também está possibilitando reflexos na saúde da população, como a re-dução de pacientes com pressão alta. Antes se usava o sal para conservar a carne, hoje se usa a geladeira. Diminuiu também a quantidade de doenças que tinham como causa a água contaminada. Agora ela já sai filtrada do poço. “Hoje temos água, puxada a motor, durante todas as estações do ano. As nossas roupas se sujavam de carvão facilmente, quando as passávamos com o ferro a brasa. Agora passar roupa é coisa simples e corriqueira”.

A agricultora Natalina Jesus da Silva, 55 anos, bisneta de escravos, que hoje pode ouvir rádio sem o uso de pilhas e cozinhar à noite, afirma: “Nossos vizinhos e as autoridades nunca nos deixaram usar o que era nosso e agora, depois de séculos de luta, temos energia e uma chance de trabalhar a terra para o nosso sustento. Conseguimos cidadania para os estudantes que vão para Nossa Senhora do Livramento. Hoje, eles não precisam andar sete quilômetros para chegar lá. Temos um ônibus que vem até a comunidade. Isso quer dizer que passaram a nos olhar como cidadãos”.

(Colaborou Márcia Oliveira, da Regionalde Transmissão de Mato Grosso)

A grande lição de paz - Raimundo Benedito da Silva Mota (à esquerda), ex-presidente da Associação Quilombola Tiningu, destaca a im-portância dos investimentos na comunidade. “São projetos fundamentais. A rádio, porque precisamos divulgar as nossas informações, e o telecentro, porque temos muitos jovens que precisam ter acesso à informática. Uma coisa boa em tudo isto foi que, embora os negros tivessem sido escravizados pelos brancos, não guardaram ódio e nunca dis-criminaram ninguém. Os primeiros negros chegaram ao Tiningu em 1844. Hoje nossa

tudo mudou com a luz ao alcance das mãos

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terra dá para prover o sustento, mas no futuro a população terá que agregar valores aos seus produtos”.

Antônio Damião Pereira da Mota (abaixo),22 anos, presidente da Associação Quilom-bola Tiningu, é bisneto de quilombola. Seus antepassados escravos vieram do Ituqui. Elese mostra preocupado com o destino dos jo-vens da comunidade, pois teme que com as facilidades do mundo desenvolvido também venham novos problemas. “Gostaria que eles

se mantivessem empregados e co-nhecessem melhor a nossa história. Queria que todos tivessem uma vida digna e que continuassem lutando pelos seus direitos. A associação está vigilante às modernidades que vêm das cidades, como as drogas, o álcool em exagero e outros modis-mos. Parei de estudar, fui picado de cobra jararaca, quebrei as pernas, quase morri, mas continuo lutando. Os projetos da Eletronorte estão

chegando na hora certa, pois o reencontro com as nossas raízes é muito importante”.

Lidinalva da Silva Mota (abaixo) é uma agricultora lutadora igual a tantas outras quilombolas, 32 anos, casada, mora no qui-lombo do Tiningu. “A minha vida é pesada. Sempre trabalhei. Cresci com os meus pais, depois me casei, tive três filhos. Nós planta-mos para manutenção: mandioca, milho, fei-jão e criamos galinha. O peixe anda escasso. Vamos vivendo. Eu sonho com as melhorias, pois o tempo vai passando e as forças vão diminuindo com a idade. Aqui, as mulheres dão o seu jeito: deixo a menina com alguém, vou para a roça, na volta tenho que ajeitar o almoço pro marido e filhos e ainda estudo à noite, fazendo a quarta etapa da oitava série. A mulher é o equilíbrio da família. Temos que manter as coisas em dia, por isso trabalho os três turnos. Não pretendo sair daqui, mas

quero melhorar as minhas condições de trabalho. Espero que essas benfeitorias da Eletronorte venham mesmo, assim como veio a energia elétrica”.

A importância da mandioca - Lenita Ferreira Santos (foto acima) explica que a maioria dos quilombos vai usar os recursos do projeto para construir e tocar casas de farinha, embora o açaí também gere boa fonte de renda. “Oque as pessoas de fora não entendem é que a mandioca é muito importante para o povo do norte” - comenta .

Então, Lenita nos diz por que a man-dioca, tanto a brava quanto a mansa, é tão importante. “O processo é assim: primeiro se roça e deixa secar. A seguir se queima, tira-se a maniva (os tocos que servem como mudas) e depois capina de novo. Espera a mandioca amadurecer para depois colher, arrancar do chão. Aí vem o trabalho de car-regar, raspar, ralar, espremer, peneirar, tirar a goma e depois cevar. O último trabalho é torrar. Com a goma a gente faz tapioquinha, o tacacá, a farinha da tapioca. A mandioca é diferente da macaxeira, que é doce. Ela é amarga e tem a folha venenosa, mas quando transformada em massa perde o veneno. Da mandioca brava se faz a farinha. A mandioca mansa é a macaxeira, que dá a folha de onde se tira a maniçoba. Só que a gente coloca a mandioca brava de molho. Daí ela amolece e sai o veneno. Da macaxeira a gente faz bolo, pudim, carrimã, beiju e outros bolos e doces. E da mandioca brava a gente faz a farinha. Continuando: aí a gente coloca de molho por três dias para se tirar a brabeza. Depois, descasca e ceva a mistura. Para tirar a brabeza da mistura a gente tira a goma.

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“Quantos anos se passaram E até hoje há a discriminação.Na escola, na rua, na festa... Não é fácil não!Castigaram, feriram, marcaramNossos antepassadosNo porão dos navios transportaram Os exiladosNo Brasil fizeram tantos quilombos que a gente não viuAs pesquisas, estudos, apontam aonde existiu.Foram mais de 300 anosQue esse povo resistiuMas parece que para as autoridades Esse povo sumiu

No Tiningu, Murumuru, ArapemãNegro sofrido, destemido,Que não abeira pra carapanã!Murumurutu, Baçaracura,Bom Jardim dos nossos sonhosSomos comunidades remanescentes de quilombos.

Nosso povo também tem cultura e tradiçãoSempre luta por melhores dias, a associaçãoO projeto de lei pelo povo já está vistoAssinando o Decreto e muito mais que istoNesta terra tem gente tomando um pedaço de chãoTem aí o artigo 68 da ConstituiçãoQue defende o direito do negroE da terra por ele ocupadaTem gente que anda falando por aíQue não valemos nada!”

Hino dos quilombolas - Para nos despedir-mos dos amigos quilombolas, vamos cantaro-lar o belo hino dos quilombolas, de autoria de Ademar Silva Santos, um grande poeta. Nos acompanham o violeiro Raimundo Ribeiro dos Santos, que diz ter aprendido tocar “de orêia”, Aldo Santos e Dileudo Guimarães dos Santos. A música está se tornando conhecida, principalmente entre os quilombos, na exe-cução da Banda Quilombo do Pará.

Agora leva a massa na água e espreme ela na peneira, daí sai o tucupi. Quando aquilo tudo assentar, a tapioca fica no fundo e o tucupi por cima. Ele é um veneno lascado e mata qualquer animal, se beber. Mas, a gente cozinha aquela água e o veneno vai embora. Aí ela pode ser usada para molho, para tomar o tacacá e outros usos. E é muito boa também para vender na feira. Da casca podemos fazer, ainda, ração para animais, e as piores cascas viram adubo”.

Jardim de índio - Zenilce de Oliveira (fotoacima), 28 anos, três filhos, é filha de BomJardim, local onde os índios fizeram um jar-dim para passear. Os negros foram chegando e os índios gostaram da nova companhia. Misturaram-se e assim nasceu este quilombo que veio a se chamar Bom Jardim. A sua avó, Francisca Oliveira Guimarães, com 105 anos, é a quilombola mais velha da região, a fundadora do quilombo. “A chegada da energia melhorou muito a comunidade. O que nos falta é um orelhão, pois temos que andar sete quilômetros para fazer um telefonema lá no posto. Precisamos também de um posto de saúde, pois o ônibus só passa por aqui ao meio-dia e depois às três horas da madrugada. Quando uma criança adoece é uma angústia. A luz elétrica nos ajudou com o açaí. A gente faz a polpa e vende. O peixe a gente pesca no Rio Umaicá. Depois que a eletricidade chegou a gente pode conservar no gelo para depois vender. Dá para manter o peixe bom por uns dias. Depois da energia, muita gente já comprou televisão, aparelho de som e está começando a aparecer novos comércios. Agente planta feijão, arroz e milho. Aqui é bom, mas pode melhorar muito ainda”.

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Viviane Vieira de Assis

Osvaldo Nogueira dos Santos, 15 anos, era um desafio para seus professores e uma preocupação constante para os pais. O aluno da Escola Estadual Dr. OswaldoPiana, do Bairro Nacional – periferia de Porto Velho (RO)-, não gostava de assistir às aulas e brigava muito com os colegas. O fator que mudou seu perfil foi a seleção para a pintura e letreiro oferecido pela Usina Térmica Rio Madeira, em parceria com a instituição de ensino.

A ação marcou o retorno de um projeto de inserção social, iniciado em 1999 pela Eletronorte, para aproximar a sociedade da Empresa e diminuir as pichações no muro da Usina. O trabalho envolveu toda a comunidade e foi adotado em várias subestações da Regional de Produção e Comercialização de Rondônia, que passa-vam pelo mesmo problema – até mesmo no interior do estado. O projeto ficou co-nhecido como pichação artística e contava com a orientação de uma artista plástica da região.

Nove anos depois, o projeto passou por uma reformulação estratégica para capacitar os jovens do Nacional. A direção da EscolaOswaldo Piana, que também participou da

A arte do futuro

primeira fase, recebeu o convite e indicou dez alunos para o projeto. O processo de seleção foi uma surpresa. Dezenas de es-tudantes demonstraram talento para a arte que estava encoberto pela revolta social. Quatorze alunos do ensino médio foram aprovados. Osvaldo Nogueira é um deles, mesmo sem ter participado do processo. Asensibilidade da responsável pela seleção, a coordenadora Thilzey da Silva Cabral, mudaria sua vida. “Ele era um aluno, dos muitos, que você olha e pensa em ajudar, pois precisava de oportunidade”, disse a orientadora.

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Em situação diferente está a estudante Je-cilane Sena Jordão (à direita), 16 anos. Seus desenhos de rosas despertaram o interesse da escola e dos colaboradores da Eletronorteenvolvidos com o projeto. Filha de uma dia-rista e de um pedreiro, cuja renda mensal é de R$ 1 .200,00 para sustentar a família de seis pessoas, ela pensa no futuro. Já fez gestão administrativa e também o curso de pintura. Está investindo na capacitação em informática, na Associação de Moradores do Bairro Nacional. Desenhar é um passatempo e uma diversão para Jecilane. Ela aproveita as horas vagas para dar asas à imaginação.

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Comprometimento - O projeto social teve a participação de dois profissionais: o pintor Agarcias de Souza Valente e o pintor-letrista Janildo Francisco Oliveira (foto abaixo). Eles ficaram à disposição dos alunos durante mais de 40 dias, orientando e repassando informações técnicas de todas as etapas da pintura do muro: preparação da parede, me-dição dos espaços, esboços dos desenhos, escolha das tintas, entre outras informações. A parte teórica ficou sob a responsabilidade dos técnicos da Usina Rio Madeira, da área de segurança no trabalho e meio ambiente. Foram 400 metros quadrados de muro pin-tados artisticamente.

O gerente da Divisão de Geração Térmica,Roberto Tomio Tomotani, destaca o aspecto social e educacional do projeto: “Estamos

proporcionando uma oportunidade de capa-citação que muitos desses adolescentes não teriam. Essa é mais uma opção para entrarem no mercado de trabalho”.

A afirmação é comprovada por Cristian da Silva Pereira (acima), 14 anos, que nunca teve uma oportunidade dessas. “Estou imen-samente agradecido por essa chance. Nunca havia me envolvido com pintura e, agora que participei do projeto, pretendo continuar me aperfeiçoando para começar a trabalhar na área até entrar na faculdade”, fala animado o estudante.

Os estudantes escolheram temas livres, mas a maioria optou por mostrar o meio ambiente. Cada grupo de três alunos foi responsável por uma pintura e, no final dos trabalhos, todos contribuíram para a realiza-ção de um mesmo desenho, um registro de uma belíssima floresta.

Os mais de 40 trabalhadores da Rio Madeira se uniram para presentear os estudantes, pelo esforço e determinação. A partir de setembro de 2008 começa a segunda etapa do projeto, a pintura em tela. Depois de concluída será produzida uma exposição itinerante que percorrerá as instalações da unidade regional da Ele-tronorte. A Escola Oswaldo Piana receberá tintas e acessórios de pintura que serão utilizados em uma revitalização externa do prédio da instituição.

Thilzey(de blusa

rosa) usou a sensibilidade:todos têm um talento a ser

descoberto

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EVIS

TA Jorge NassarPalmeira,diretor-presidente da Eletronorte

Entre 1981 a 2003, o engenheiro eletricista Jorge Nassar Palmeira fez carreira na Eletronorte. Foi gerente de Setor, de Divisão, Regional e diretor de Produção e Comercialização. Nesse período foi responsável pela operação e manutenção da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica nas concessões da Eletronorte, coordenou as negociações e administração dos contratos de compra e venda de energia e implementou melhorias na qualidade do fornecimento e suprimen-to, como a Manutenção Produtiva Total, metodologia com a qual a Empresa obteve sete prêmios de excelência concedidos pela JIPM - Japan Institute of Plant Maintenance, entre outros pioneirismos. Em 2008, Jorge Palmeira volta à Empresa, após breve período trabalhando com consultoria, para ser o Diretor-Presidente. Em seu discurso de posse, uma frase ficou na memória: “Com o tempo, a única luta que se perde é a que se abandona”. E recomeçou a lutar pela Empresa que, na verdade, nunca abandonou, pois quem passa por aqui, acaba apaixonado pela Eletronorte.

Nesta entrevista, Palmeira fala desse início de gestão e dos planos para o futuro, quando pre-tende deixar a Eletronorte do jeito que todos sonhamos: uma Empresa forte e rentável, entre as melhores do Setor Elétrico brasileiro. Confira.

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A Eletronorte concluiu Tucuruí, está participando da construção de Dardanelos e agora começa a demonstrar interesse por fontes alternativas. Qual o futuro do parque gerador da Eletronorte?

No passado, o foco foi sempre nos grandes empreendimentos, que apesar de serem fonte de alta produção de energia elétrica, carregam risco ambiental muito grande e demandam amplo tem-po para serem viabilizados. Então, não podemos ficar parados aguardando os grandes empreen-dimentos saírem, precisamos é focar também os pequenos. Para isso, criamos uma gerência espe-cífica na Coordenação de Viabilização de Negó-cios para enxergar esses pequenos negócios. Vale ressaltar que, hoje, a participação da Eletronorte no mercado brasileiro de energia elétrica é da or-dem de 10%. A tendência desse mercado é cres-cer de quatro mil a cinco mil MW ao ano. Isso significa que para manter a fatia de 10%, a Eletro-norte terá de acrescentar ao seu parque gerador cerca de 400 MW a 500 MW por ano. Para atingir essa meta vamos investir nos pequenos aprovei-tamentos e também nas fontes alternativas, como eólica, solar, biomassa e biocombustíveis.

Em relação à transmissão, a Empresa tem obtido bons resultados nos leilões promovidos pela Aneel. É possível melhorar a participação da Eletronorte nos leilões?

Vários fatores influenciam os resultados dos leilões. Um deles é que, mesmo ela-borando estudos de inventário e viabili-dade, a Eletronorte chega ao leilão sem nenhuma vantagem. No caso da in-terligação de Tucuruí com Manaus e Macapá, por exemplo, a Aneel dividiu a obra em trechos e ga-nhamos apenas um. Outro fator é o valor do dinheiro, ou seja, empresas competidoras da Ele-tronorte têm conseguido dinheiro

a preços competitivos no mercado internacional e ficamos na dependência de recursos internos, sempre mais caros. Temos que buscar novas fon-tes de financiamento para cobrir os investimen-tos, e nesse sentido criamos uma área específica de captação de recursos na Diretoria Econômico-Financeira. Outro ponto são as empresas cons-trutoras que se associam às empresas transmis-soras e geradoras, interessadas não somente na participação no empreendimento, mas também em sua execução. Por isso, estamos reformulan-do as parcerias para que a Eletronorte também participe das obras. Por fim, há a manutenção e a operação, quando tem buscado profissionais com pouca experiência na função, uma mão-de-obra mais barata, diferente da nossa, altamente espe-cializada e mais cara.

Essa reformulação ajudará também a participação em leilões de energia nova, caso de Belo Monte, da terceira etapa de Tucuruí e até a participação em empreendimentos internacionais da Eletrobrás?

Sem dúvida. Com certeza a Eletronor-te estará presente nos investimentos

internacionais da Eletrobrás, prin-cipalmente na América Latina e África. No caso da terceira etapa de Tucuruí, o projeto atual não contempla a produção de ener-

gia assegurada, ou

“Não podemos ficar parados aguardando os grandes empreendimentos saírem.

Precisamos focar também os pequenos”

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seja, aquela que podemos vender no mercado. A idéia é aproveitar a época de grandes vazões do Rio Tocantins, quando geralmente a Usina abre seus vertedouros, para gerar energia adicional, mas secundária, cujos preços não remunerariam os investimentos. Com isso, estamos estudando a interligação de Tucuruí com as usinas do Rio Caroni, na Venezuela, de forma a obter ganho de até mil MW, para que, com adaptações no marco regulatório do setor, possam ser comercializados no mercado a preços compatíveis. Já em relação à Belo Monte, os entraves principais foram elimi-nados e nesse momento a Eletronorte está ouvin-do as comunidades indígenas em suas próprias aldeias, com excelentes resultados, sinalizando a finalização dos estudos e a disputa pela conces-são em 2009.

A Eletronorte está interessada na usina Corumbá III?

Estamos com recursos razoáveis em caixa e pre-cisamos agregar energia nova e aumentar a receita, nossa meta é fazer a Empresa dar lucro. Por isso queremos fazer investimentos de forma ala-vancada, sem usar recursos próprios, mas oriundos de empréstimos de baixo custo, que possamos pagar ao longo da concessão de deter-minado empreendimento. Outra questão é a eliminação de passivos, principalmente de ICMS, e a agrega-ção de receita adicional. Nesse sen-tido pretendemos comprar alguns ativos, entre eles Corumbá III, para a qual já estamos nego-ciando taxas de retorno ade-quadas. O valor do investi-mento não é tão grande e a partir de janeiro de 2009, quando a obra estiver pronta, já poderemos nego-ciar a energia produ-zida por essa usina no mercado energético brasileiro.

A Eletronorte abriu chamada pública para selecionar parceiros visando ao leilão das linhas de transmissão associadas às usinas do Rio Madeira. Mas existe uma polêmica sobre a tecnologia mais adequada, se em corrente contínua ou corrente alternada. Essa discussão pode atrapalhar os planos da Empresa?

Em leilões de linhas com distâncias menores, a Eletronorte optou por entrar sozinha, sem parce-ria, mas em obra dessa magnitude, cerca de R$ 7,5 bilhões, só podemos participar com parceiros, que já estamos selecionando. A polêmica sobre a tecnologia ideal não vai atrapalhar em nada, pois o leilão se dará em duas fases. No primeiro mo-mento será definida qual a solução técnica a ser adotada para a interligação, se dois circuitos em corrente contínua ou se vai ser mista, um circuito em corrente contínua e outro em corrente alter-nada. Uma certeza: pelo menos uma linha de-verá ser obrigatoriamente em corrente contínua por conta das grandes distâncias que separam as usinas dos centros consumidores. No segundo momento, definida a solução tecnológica, será re-

alizado o leilão propriamente dito para a escolha das empresas que farão a obra. Independen-temente da escolha, está previsto o rebaixa-mento de tensão para atender ao Estado de Rondônia, sem prejuízo àquele mercado.

A Empresa vinha acumulando prejuízos na operação e

manutenção dos seus sistemas de transmissão. O que a Diretoria propõe para solucionar o problema?

Vínhamos acumulan-do prejuízos com três tipos de multas. Primei-ro, relativas a atrasos na

entrega de obras de am-pliação e reforma. Cria-

mos uma área para acom-

“Estamos com recursos razoáveis em caixa e precisamos agregar energia nova e aumentar a receita, nossa

meta é fazer a Empresa dar lucro”

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“Precisamos trabalhar pela harmonia: vamos dar as mãos e caminhar no mesmo sentido”

panhar de perto todos os empreendimentos de transmissão a fim de eliminar quaisquer atrasos na entrega das obras. Muitos desses atrasos eram decorrentes de licitações parceladas para o mesmo empreendimento. Bastava uma delas dar problema para impedir a conclusão na data estabelecida. Agora vamos licitar por empreitada global, em que os concorrentes devem apresen-tar deságio sobre o preço da Aneel, mas também reduzir os prazos de entrega e execução. Quem apresentar os menores prazos e o maior deságio vence o processo. Outro tipo de multa é relati-vo à Parcela Variável, por indisponibilidade de equipamentos. Para esse problema estamos re-tomando o programa TPM com força total, além de um programa de revitalização para eliminar as pendências e evitar mais quebras. Já tivemos retorno positivo com essa ação, deixando de pa-gar algo em torno de R$ 3 milhões em multas, reduzidas em julho último para apenas 10% desse valor, ou seja, R$ 300 mil. Finalmente, existem as multas aplicadas pela fiscalização da Aneel que aponta não-conformidades em nos-sos sistemas. Às vezes recebíamos o relatório da Agência, passava um ano, e a fiscalização encontrava as mesmas não-confor-midades ou até mais. Nos reunimos com os gerentes regionais e são eles, agora, os responsáveis por eliminar todas as pendências. Esperamos não ter mais surpresas em relação a esse tipo de penalidade.

Fale sobre a conclusão das eclusas de Tucuruíe a parceria com a Vale.

As obras das eclusas se-guem em ritmo normal, de acordo com a libe-ração de recursos por parte do Ministério dos Transportes. Mas a Vale está com um projeto de instalação de nova side-rúrgica em Barcarena

(PA) e uma das metas é trazer minério de Ca-rajás por via fluvial. Para isso as eclusas preci-sam estar concluídas antes do prazo previsto e a intenção da Vale é colaborar financeiramente com o Governo Federal para adiantar as obras. Por outro lado, também estamos negociando com a Vale a nossa participação em uma usina termelétrica a carvão, da ordem de 1.400 MW. Um dos problemas apontados, o uso do carvão mineral, pode ser solucionado com os moder-nos equipamentos já existentes para tratar os resíduos; e também por um processo chamado deisulfinização do enxofre, que além de redu-zir a emissão de gases poluidores transforma o resíduo do carvão mineral em gesso para a indústria da construção civil.

Uma última mensagem.

Nada se consegue fazer sem as pessoas, afi-nal empresas são organismos vivos. Em minhas viagens pelas unidades regionais tenho conver-sado muito com os empregados e vi que pre-cisamos urgentemente acabar com a distância

entre o pessoal mais antigo e o mais novo, os recém-contratados por concurso. Os

mais velhos dizem que os mais novos não vestem a camisa e os mais novos afirmam que os mais velhos não re-passam conhecimento. Ora, precisa-mos juntar as mãos e trabalhar pela harmonia: vamos dar as mãos e ca-

minhar no mesmo sentido. Para isso também estamos

revisitando o nosso pla-nejamento estratégico, que vinha rodando em nível mais alto, mas que precisa permear toda a organização. Afinal, todos precisam estar envolvi-dos, pois a força de tra-balho tem que se sentir parte da estratégia maior da Empresa em prol de objetivos comuns.

Madeira:da semente ao manejoM

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Na água ou na terra, é tempo de ouvir a conversa entre a natureza e a tecnologia

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Michele Silveira

A floresta tem mais valor quando está em pé. E o que acontece quando essa floresta está embaixo d’água? Qualquer discussão superficial remeteria somente a hipóteses de degradação ambiental. Mas é preciso dar um mergulho mais profundo para entender o complexo e dinâmico trabalho da natureza. Um mergulho como o do ribeirinho Juarez Cristiano de Jesus Gomes que, na década de 80, inventou a motosserra que permitiria a retirada da madeira submersa no lago da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Na época, já se sabia que o melhor era não abrir uma frente de desmatamento antes do enchimento do reservatório, e a sabedoria de Juarez o deixava orgulhoso de dizer que “estava ajudando a Eletronorte a conservar a mata virgem”.

Naquela época, todos os dias três barcos saíam pelo lago. O primeiro levava a equipe para identificar os locais de extração. O se-gundo, os equipamentos. Mas ainda era preci-so o terceiro, o “barco-mãe”, onde ficavam o refeitório e a moradia. De longe, nas redes ou

nos banhos de canequinha, os olhos atentos dos pequenos ribeirinhos viam saltar, alto como um peixe, toras de madeira que depois formavam “chãos de madeira” na superfície do reservatório, como o da foto abaixo.

De fato, a retirada da madeira submersa e seu valor comercial atraíram interesse mun-dial de empresas interessadas em retirá-la para comercialização. Ainda sob os argu-mentos de que a madeira seria um tesouro perdido, um foco de produção de metano ou a causa de degradação da qualidade da água, o processo de retirada trouxe à tona uma discussão surpreendente, e que a sabedoria popular resumiria numa frase: a natureza é mesmo sábia. As áreas de grandes concentra-ções de madeira submersa são, justamente, os locais preferidos de muitas espécies de peixes que procuram abrigo, reprodução, além de encontrar farta alimentação.

Em janeiro de 2003, a então Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará - Sectam, órgão responsável pelo licenciamento ambiental da Hidrelétrica Tucuruí, encaminhou à Eletronor-te a notificação nº 031/2003, na qual exigiu o encerramento do Programa de Exploração de Madeira Submersa, em razão dos “benefícios ambientais associados à fauna e gerados pela permanência dos paliteiros, considerando, também, que estes não alteram o equilíbrio das condições da qualidade da água”.

De acordo com uma nota técnica assina-da pelo analista ambiental da Eletronorte, Anastácio Afonso Juras; pelo professor da Universidade Federal Rural da Amazônia, Is-rael Cintra; e pelo pesquisador Rui Ludovino, aproximadamente 80% da área do reservató-rio não foi desmatada e, atualmente, grande parte da região marginal está representada por árvores mortas (paliteiros) que fornecem suporte a várias espécies de macrófitas aquáticas. Ainda segundo a nota, essa região parece ser a responsável pela maior parte do estoque pesqueiro do reservatório, constitu-ído principalmente por espécies carnívoras e iliófagas. Além disso, a existência dos “pali-teiros” inibe a colocação de redes de pesca, contribuindo para a manutenção do estoque pesqueiro.

Logo após o enchimento do reservatório, houve o impacto negativo na qualidade da água devido à decomposição de grande quantidade de matéria orgânica inundada. Mas o tempo revelou um novo paradigma: o maior volume dessa matéria orgânica era

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decomposto rapidamente, como folhas e galhos finos. Logo após o pico, a velocida-de de decomposição do material orgânico diminuiu, permanecendo apenas a parcela mais resistente à decomposição por ação da água. É aí que surge um novo ecossistema que, 24 anos depois, já apresenta tendência ao equilíbrio. A madeira ainda submersa tem decomposição muito lenta, não provocando impactos na qualidade da água.

Por não ter contato com o ar, a madeira mantém seu estado de preservação. “A ma-deira completamente submersa fica intacta. O que compromete é o contato com o ar e a umidade, como é o caso das árvores que ficaram apenas com uma parte submersa”, explica o diretor de Uso Sustentável da Bio-diversidade e Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel (acima). Em entrevista à Corrente Contínua, Hummel mencionou outros aspectos discutidos durante os processos de retirada de madeira. Segundo ele, em

alguns casos, a retirada consiste em uma boa alternativa para diminuir a pressão de desmatamento sobre outras áreas da floresta, mas lembra que um dos fatores que precisa ser levado em consideração nesses proces-sos é a fiscalização. “É preciso impedir que infratores ‘esquentem’ madeira derrubada ilegalmente com toras retiradas dos lagos”, afirma.

Memória – Foi ainda em 1986 que a Ele-tronorte começou a conversar com os inte-ressados em explorar a madeira submersa em Tucuruí. Numa experiência piloto, a Empresa firmou, em 1990, contratos de cessão de direitos de exploração. Vencidos os contratos, foram licitadas, em 1994, 31 glebas no lago. Diferentes empresas passaram a ser responsáveis pela retirada da madeira. Na época, a prática mostrou que os contratos de concessão para exploração da madeira submersa também precisam de fiscalização inten-sa. As auditorias realizadas nos processos apontaram o descum-primento de algumas cláusulas contratuais pelas madeireiras, como uma produção inferior ao mínimo anual de 2.000 m3 por gleba.

De acordo com o analista ambiental da Eletronorte, Rubens Ghilardi Junior (acima),das empresas que ganharam a licitação, nem

A pioneira motosserrahidráulica

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todas iniciaram o trabalho e, em fevereiro de 1998, os contratos começaram a ser revistos. Em 2000 foram rescindidos aqueles relativos às glebas que não estavam produzindo. Nes-te ano foram produzidos cerca de 18,5 mil metros cúbicos de madeira pelas empresas com direito à exploração. A fiscalização da Eletronorte, em parceria com o Ibama, con-tinuou até que os indicativos de equilíbrio ecológico apontaram para a necessidade de uma nova ação.

A área de meio ambiente da Eletronorteconsidera que não existem justificativas ambientais para a exploração da madeira submersa em Tucuruí. Ao contrário, a conti-nuidade dessa atividade representa um risco ao estoque pesqueiro do reservatório e uma ameaça à atividade produtiva de cerca de dez mil pescadores da região. Pesquisas revelam que desde o fechamento da represa, em 1984, as capturas na região do reservatório aumentaram, passando de 452 t antes do

No cenário de sustentabilidade, a floresta dá o tom. Mas apesar da abundância de espécies de madeira, o Brasilnão se caracteriza como um grande produtor e exportador de instrumentos musicais. De acordo com o pesquisador Mário Rabelo de Souza, do Laboratório de Produtos Flo-restais - LPF, esse processo é resultado da tradição de alguns fabricantes que utilizam pequena quantidade de madeiras com usos específicos para cada parte dos ins-trumentos. O resultado é um mercado internacional cada vez mais caro.

Financiada pelo Programa Institucional de Bolsa de Inicia-ção Científica – CNPq/Ibama, pesquisa do engenheiro florestal Ricardo Faustino Teles fez a “avaliação acústica de madeiras amazônicas para utilização em instrumentos musicais”. Orientado pelo dr. Mário Rabelo, Ricardo avaliou 59 espécies florestais. Segundo o relatório preliminar da pesquisa, hoje são quase 300 espécies estudadas. Os resultados mostram que as espécies nativas amazônicas selecionadas são poten-cialmente aptas à fabricação de instrumentos de qualidade. Um exemplo é a substituição da African blackwood pelasespécies selecionadas maçaranduba, jacarandá ou gombeira na fabricação de clarineta e oboés.

O som da florestaEm Manaus, a Oficina Escola de Lutheria da Ama-

zônia - Oela, criada em 20 de março de 1998, é uma entidade sem fins lucrativos que vem transformando a realidade desse mercado. Com madeiras certificadas, oriundas de áreas de manejo florestal, a Oela promove a formação profissional de jovens da zona leste de Ma-naus, por meio do curso básico de luteria. Hoje, a enti-dade qualifica jovens da Amazônia na arte da construção de instrumentos musicais de corda dedilhada, e aos ribeirinhos na produção de pequenos objetos de madeira com marchetaria. A preocupação socioambiental da Escola em usar somente madeira de origem certificada pelo Forest Stwardship Council - FSC - Conselho para o Manejo Florestal, permitiu que a Oela conquistasse o status de primeira escola de luteria a receber o Selo Socioambiental do FSC no Brasil.

Aos 20 anos, localizada no bairro do Zumbi, em Ma-naus, a Oela oferece o curso básico, com duração de um ano, para cerca de 60 alunos na faixa etária de 15 a 21 anos, que desejam se tornar aprendizes de luthier. Junto aos módulos de luteria estão atividades de educação ambiental, teoria musical e inclusão digital.

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barramento, para 1.424 t em 1988. Entre2001 e 2007 foram capturadas cerca de seis mil toneladas/ano em toda a área do reservatório.

A experiência de extração de madeira sub-mersa em Tucuruí chegou a ser exemplo para vários países. Mas, menos de 25 anos depois do enchimento do reservatório, a natureza mostrou que a melhor opção era respeitar o seu tempo, garantindo a tecnologia e o acom-panhamento necessários. Ainda em 2000, o relatório final da Comissão Mundial de Barra-gens sobre o Estudo de Caso Brasileiro - UHETucuruí definia: “O reservatório de Tucuruí,sob o ponto de vista limnológico, não pode ser considerado um sistema com evidências de comprometimento químico, físico ou microbiológico das suas águas, tanto para utilização humana como para a manutenção das comunidades aquáticas. As previsões

INFORMAÇÕES: IMAZON E IFT

negativas referentes à qualidade das águas do reservatório e dos efeitos ambientais ca-tastróficos a jusante não se concretizaram. Oque se observa atualmente é uma tendência ao equilíbrio com níveis de qualidade da água compatíveis, em quase sua totalidade, como aqueles previstos na Legislação Conama nº 20, que trata da classificação dos corpos d’ água”.

Oito anos depois, o monitoramento limno-lógico na Usina Hidrelétrica Tucuruí mostra uma tendência cada vez maior de equilíbrio ecológico e já aplica os dados coletados em pesquisas de biotecnologia. É nesse caminho de tempo e pesquisa que a floresta ganha força. Na água mostra-se intacta e produtiva, ela própria define os rumos que a ciência vai buscar. Na terra espera que o manejo sustentável de seus recursos seja a opção de quem depende dela.

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Da semente ao manejo - A relação da Ele-tronorte com a madeira da Amazônia vem de “berço”. É ainda como semente que o mogno, por exemplo, começa a viagem da Aldeia Parakanã para projetos de reflorestamento em outras regiões do País, como Minas Ge-rais e São Paulo. Hoje, a comercialização de sementes é uma das maiores fontes de renda

Por que o Cerradoé diferente?Quando empresas receberam a concessão da Eletronorte

para explorar a madeira submersa em Tucuruí, algumas op-taram por importar tecnologias. Por algum tempo um braço mecânico ocupou vários locais do lago, mas, importado do Canadá, estava acostumado com as árvores da floresta de coníferas, caracterizada por espécies de forma e espessura mais homogêneas. Na Amazônia é diferente. E por quê? Aresposta pode ser unânime, mas não isola uma das últimas grandes florestas tropicais do mundo dos demais biomas brasileiros: a biodiversidade. São mais de 40 mil espécies de plantas, 300 de mamíferos e entre três a nove mil espé-cies de peixes. No Pantanal, são cerca de 320 espécies de peixes e 3,5 mil de plantas. Na Mata Atlântica, são 20 mil espécies de plantas e no Cerrado, cerca de 300 mamíferos

e 1,2 mil de peixes. A biodiversidade pode ser até a palavra-chave na preocupação com a região amazônica, mas é hora do Brasil se conhecer melhor e interligar seus caminhos. É no Cerrado, por exemplo, que nasce o Rio Tocantins, que lá na Amazônia dá origem a um novo ecossistema.

Fora do foco principal, biomas como o Cerrado, a Caatinga, Pantanal e Pampa correm o risco de compro-meter a diversidade ambiental brasileira. O Pantanal,por exemplo, tem apenas 1,1% do território protegido por áreas federais, mas a perda de vegetação nessa área pode comprometer o suprimento de água de toda a Bacia do Rio da Prata. Fenômeno semelhante à ambientação dos tucunarés no lago de Tucuruí aconteceu no Rio Pa-raná, no trecho entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Na floresta submersa se escondem os tucunarés azul e amarelo, que, mesmo não sendo nativos dessa região, proliferaram e garantem a pesca esportiva.

Com cerca de 12 mil espécies vegetais nativas, o Cerrado tem grande potencial científico e industrial, mas

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dos índios Parakanã, que vivem no entorno de Tucuruí e que, desde 1999, recebem treinamento financiado pela Empresa para a coleta de sementes. Começaram com o mog-no seguido de copaíba, paricá e castanha. Em2000, coletaram 27,33 quilos de sementes de mogno. Em 2006, a produção chegou a 236 quilos. De acordo com a pesquisadora

da Embrapa, Noemi Vianna Martins Leão, coordenadora do Laboratório de Sementes Florestais, cada quilo tem aproximadamente 1.800 sementes de mogno e a região dos Parakanã tem exemplares de qualidade.

Noemi é também vice-coordenadora da Rede de Sementes da Amazônia, criada para agregar pessoas e instituições que apresen-

também é um ambiente ameaçado de extinção. Dos 204 milhões de hectares originais, apenas 43% continuam intactos. Hoje, pesquisadores da Universidade de Brasí-lia - UnB estão analisando as transformações no Cerrado, que cobre cerca de 22% do território nacional.

“Esta é a primeira contagem ampla do bioma no País e demonstra a riqueza biológica dessa vegeta-ção”, comemora a professora do Departamento de Engenharia Florestal, Jeanine Maria Felfili (acima). Em 1998, o mesmo grupo havia catalogado apenas

seis mil espécies, e as perspectivas indicavam um máximo de dez mil delas. Após uma década, já é possível falar com segurança em até 20 mil plantas diferentes. Os estudos também mostraram uma radiografia sobre as características do bioma em termos de biomassa. O resultado foi uma média de 300 m³ de material orgânico por hectare, número próximo àquele estimado nas áreas abertas de floresta amazônica. “Existe muita biomassa no solo. Há árvores de cinco metros de altura, cujas raízes se estendem por até 20 metros abaixo do solo”, aponta a engenheira.

Jeanine espera que a ampliação do conhecimento sobre o bioma Cerrado estimule a exploração sustentável dessa biodiversidade. “A economia na região é muito voltada para a produção de grãos. O palmito de gueroba, o baru e o açaí têm muito mais nutrientes que a mandioca ou o arroz, que são puro carboidrato”, justifica. Para a pro-fessora, a atitude é fundamental para manter a vegeta-ção. “Se quisermos manter a biodiversidade, temos que incorporá-la à economia”.

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tem interesse na área florestal e atividades socioambientais. “Hoje, qualquer pessoa no mundo pode acessar o nosso site e obter informações sobre os produtores e os tipos de sementes que desejar. Na contramão das proibições de exploração da madeira nós estamos contribuindo para que áreas já devastadas sejam reflorestadas com espécies nativas e produzidas de forma planejada”, explica. Pesquisas da Embrapa já apontam técnicas específicas para o plantio de mogno, como quantidade de árvores por hectare e utilização de enxerto, que podem resultar na produção de árvores com reduzido tempo de frutificação e sem as pragas características da espécie.

O Brasil é um dos três países que podem comercializar mogno, conforme decisão da Cites - Convenção sobre o Comércio Inter-nacional de Espécies Silvestres da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção, realizada em abril deste ano, em Genebra, na Suíça. Na 17° reunião da Cites, o mogno (Swieteniamacrophylla) entrou na categoria punitiva de “comércio significativo”. De acordo com o Ibama, isso significa que sua comerciali-zação está impedida nos países onde ocorre a espécie, até a comprovação de que a comercialização respeita as diretrizes para exploração sustentável. Brasil, Guatemala e México foram exceção.

De acordo com Hummel, o Brasilsaiu de uma posição de ilegalida-de na exploração dessa espécie para um estágio de práticas de manejo que começam a ser reconhecidas como alternativa para a exploração sustentável da

floresta. “Ainda estamos come-çando e precisamos evoluir muito em relação ao manejo florestal. Hoje temos a expectativa de fomento com

a criação do Fundo Amazônia, o que deve estimular a produção entre as comunidades da floresta”. O Fundo foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 1º de agosto

deste ano e consiste num projeto do Ministério do Meio Ambiente que pretende arrecadar cerca de US$ 900 milhões, já no primeiro ano, para financiar atividades na área ambiental.

Produção sustentável - A Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006, que dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção

sustentável, define assim o manejo florestal sustentável: “administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não-madeireiros, bem como

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a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal”.

O coordenador operacional do Instituto Floresta Tropical – IFT, engenheiro florestal Iran Paz Pires, explica que o manejo susten-tável, ou bom manejo, é a melhor solução para a exploração racional de madeira e outras riquezas não-madeireiras da floresta. Iran formou-se em São Paulo, chegou há

cerca de cinco anos no Pará e, falando com ele, o sotaque já denuncia que está integrado à floresta. Mais do que isso, Iran faz parte da equipe da primeira escola de manejo da Amazônia e aposta numa alternativa para manter a floresta em pé.

Segundo Iran, a idéia do manejo é po-tencializar o que a floresta pode oferecer. Conhecido como ‘escola de manejo’, o IFTatende empresas privadas, Governo Federal,secretarias de meio ambiente, ONGs, escolas de nível técnico e entidades de pesquisa para mapeamento e identificação da viabilidade de manejo em determinada área. “A floresta no Tapajós, por exemplo, é diferente de outros pontos da Amazônia. E é por isso que cada projeto de manejo precisa ser macroplane-jado, orientado, identificando por meio de imagens de satélite, se essa área realmente tem potencial para trabalhar”, afirma.

Hoje, a legislação de vários estados proíbe a derrubada de algumas espécies, mesmo em áreas de manejo. No Pará, por exemplo, é proi-bido o corte da castanheira e, no Amazonas,da copaíba e andiroba. Na região do município paraense de Paragominas, onde fica a escola, as madeiras mais procuradas são ipê, maça-randuba, cedro, angelim e murucatiara.

Se o manejo faz bem para a floresta, para o País e para os produtores, por que ainda é escasso? Segundo o pesquisador da Embrapa/Acre, o engenheiro florestal Henrique José Borges de Araújo, “atualmente o manejo florestal possui o aval dos mais diferentes segmentos envolvidos com o trato dos recur-sos amazônicos. O crescimento do número de projetos do chamado ‘bom’ manejo florestal, tanto comunitários como empresariais e a intensificação dos mecanismos para o con-trole de desmatamentos constituem claros indicadores da adequação e expansão do manejo florestal na região amazônica”. Mas,segundo ele, um dos principais problemas ainda é o fomento aos produtores, já que são eles que precisam sobreviver da floresta. “Uma das alternativas em discussão seria a garantia de compra da produção, pelo Poder Público, como utilização de madeira em escolas e prédios da rede pública, por exemplo”, sugere.

A opinião é compartilhada por Iran, que alerta também para o problema fundiário na Amazônia. “Hoje, existem empresários querendo trabalhar com manejo florestal, mas o problema é que não temos áreas privadas significativas disponíveis. Nos

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últimos dois anos o governo acenou com as concessões florestais, que vêm atender ao pequeno, médio ou grande empresário que pretende explorar a floresta de forma sustentável”, explica o coordenador do IFT.Outro problema destacado por Iran é a es-cassez de mão-de-obra para trabalhar com manejo. Hoje são apenas cinco centros de treinamento na Amazônia.

Concessão - A concessão florestal é o direi-to que os governos federal ou estadual, con-cedem a particulares para praticar o manejo florestal sustentável em floresta pública. Oconcessionário é escolhido em uma licitação na qual podem participar empresas ou outras pessoas jurídicas constituídas sob as leis bra-sileiras e que tenham Sede e administração no País. A licitação avalia critérios econômi-cos, o preço que os licitantes propõem a pagar por esses direitos, e técnicos, como o menor impacto ambiental e a criação de empregos. O vencedor da licitação assina um contrato que lhe permite explorar produtos ou serviços por um período de tempo claramente esta-belecido no contrato, mediante pagamento florestal, e não pressupõe a transferência da titularidade da terra. Nesse caso, a floresta continua sendo pública.

O Brasil tem 210,7 milhões de hectares de florestas públicas, segundo a versão 2008

do Cadastro Nacional de Florestas Públicas– CNFP. Desse total, 185 milhões de hec-tares são florestas protegidas em unidades de conservação federais e terras indígenas. Outros 25 milhões são de florestas localiza-das em terras sem destinação, ou seja, em áreas que não tiveram nenhuma destinação pública ou privada estabelecida oficialmente. O CNFP é uma iniciativa do Serviço FlorestalBrasileiro. A primeira versão saiu no ano passado, quando foram catalogados 193 milhões de hectares. Seu objetivo é mostrar o tamanho e onde se localizam as florestas sob administração da União, dos estados e dos municípios.

E o custo? É tão mais cara a madeira ma-nejada? Para Iran, no início do processo de certificação, em meado de 2002, havia uma diferença maior. “Hoje o sobrepreço não é mais tão significativo, além de existir a garan-tia de entrar em mercados como o europeu, por exemplo”, afirma. No Brasil, o mercado que procura madeira certificada já cresceu, mas ainda é muito pequeno diante da flores-ta. Coordenador do Projeto de Colonização Pedro Peixoto, no Acre, Henrique diz que o sobrepreço, no manejo comunitário, ainda é muito alto. “Aqui no Acre ainda temos uma diferença muito forte, da ordem de aproxima-damente 50%, em razão, principalmente, da assistência técnica”.

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Uma pesquisa inédita do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa, pode resultar numa alternativa para incrementar a oferta de proteínas nos países em desenvolvimento e com alto índice de desnutrição. Em escala ‘piloto’ na Amazônia, pesquisa-dores analisam o aproveitamento de diversos resíduos madeireiros e agroindustriais da região para o cultivo de fungos comestíveis de ocorrência na Amazônia, entre eles espécies selvagens do gênero Lentinus, Pleurotuse Polyporus, que estão sendo domesticadas.

A pesquisa vem sendo desenvolvida desde 2000 e deu origem à tese de doutorado da pesquisadora CeciSales-Campos, da Coordenação de Pesquisas de Produ-tos Florestais do Inpa. Segundo a pesquisadora, o inte-resse por cogumelos comestíveis, bastante apreciados pelos orientais e europeus, vem crescendo nos últimos anos. “O cultivo de cogumelos é um pro-cesso biotecnológico que, dependendo da espécie a ser cultivada, aproveita materiais re-siduais da agricultura, pecuária ou agroindús-tria. A utilização des-ses materiais orgânicos para o cultivo de fungo comestível é reflexo de sua extraordinária atividade metabólica”, explica. Ceci lembra ainda que a região dis-põe de grande quanti-

Hoje, as sementes produzidas pelos Pa-rakanã, ou as do Banco de Germoplasma de Tucuruí podem dar origem a áreas reflo-restadas com espécies nativas, coletadas antes do enchimento do reservatório, e que formam uma espécie de reserva do DNA da Amazônia. Nas reservas extrativistas do cha-mado Mosaico de Unidades de Conservaçãode Tucuruí, as comunidades já desenvolvem projetos de preservação do meio ambiente, com ações de educação ambiental e explo-ração sustentável da região.

E pensar que há 24 anos profissionais renomados defendiam a retirada total da floresta na área a ser alagada por Tucu-ruí – hoje, o reservatório ocupa cerca de

três mil km2 – independentemente do seu valor ambiental ou comercial. Próxima à barragem, uma grande área foi totalmente desmatada para evitar acidentes e avarias nas turbinas, mas o restante seria técnica, ambiental e economicamente inviável. Entre os engenheiros é comum ouvir que é a na-tureza que define onde pode ser construída uma hidrelétrica. O lago de Tucuruí, depois de comprovar a conservação da madeira submersa, tornou-se meio de transporte de madeira de valor econômico facilmente identificada. Depois, tornou-se berçário de peixes. E ainda gera milhões de quilowatts para o Brasil. Esse é o resultado da conversa da natureza com a tecnologia.

Inpa aproveita resíduos de madeirano cultivo de cogumelos comestíveis

dade de resíduos, cujo potencial tem sido subestimado, e que podem ser aproveitados na fungicultura. “Ademais, a biota amazônica oferece grandes oportunidades e desafios para esse tipo de estudo”, afirma.

O cultivo desses organismos tem evoluído com o tempo e atualmente é uma das atividades de importância econômica, em especial, a produção de espécies dos gêneros Agaricus,Pleurotus e Lentinus, cujas espécies mais cultivadas e conhecidas popularmente são “champignon”, “shimeji” e “shiitake”. Com alto teor protéico, a oferta desses fungos comestíveis pode fazer a diferença em ações nutricionais na região.

A importância dos cogumelos, segundo Ceci, também está ligada ao crescimento contínuo desse mercado, aos avanços tecnológicos para aumentar a produtividade, quali-dade e custo de produção, bem como às ilimitadas opções

de espécies que podem ser cultivadas. As propriedades medicinais e nutricionais de alguns cogumelos tam-bém vêm incrementando o seu valor agregado e, sob o ponto de vista empresarial, considera-se que o cultivo de cogumelos exige tecnolo-gia e, portanto, constitui-se atividade diferenciada e seletiva do ponto de vista técnico-econômico, pois a diminuição dos custos de produção pode representar um grande trunfo para o su-cesso do empreendimento. FO

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“Recebemos e agradecemos a doação da obra revista Corrente Contínua. Temos certeza de que irá enriquecer sobremaneira nosso acervo, por ser fonte de informações preciosas para os usuários desta Biblioteca”.

Maria Hilda de Medeiros Gondim - Diretora da Divisão de Desenvolvimento de Coleções da Biblioteca Central/UFPA – Belém - PA

“Prezado Byron de Quevedo, recebi na tarde de hoje o exemplar nº 220 de Corrente Contínua, do bimestrre Maio/Junho de 2008 e li a sua matéria de capa intitulada “Me-mórias de Elefante”. Muito bem escrita e interessante, mos-trando a diversidade da nossa Eletronorte. Como sugestão para a próxima matéria, e até para dar prosseguimento a esta entrevista, poderíamos abordar os novos concursados que, como você mesmo diz ‘darão continuidade à sua história’. Alguns concursados, inclusive, já dão prosseguimento ao legado deixado por pais e mães que por aqui já trabalha-ram. O meu pai é um desses casos, trabalhou na Empresade 1978 a 1991 e, por indicação dele, fiz o concurso. Acho que não seria difícil, entre tantos novos concursados haver histórias iguais, tanto na Sede como nas regionais. Mas a função primeira desta mensagem foi a de te dar os meus sinceros parabéns pela matéria. Muito completa, ilustrada e, principalmente, cheia de história. Algo de que a Eletronorte deve se orgulhar, divulgar e preservar. Um grande abraço”.

André L. G. Dória – Gerência de Administração de Forne-cimento de Material – Brasília - DF

“Cara Érica Neiva, parabéns pela matéria! Você conse-guiu, em alguns parágrafos, com muito profissionalismo, sintetizar informações e nossas entrevistas em texto agra-dável e de fácil entendimento!”

Alan Alves Ferro - Analista de Meio Ambiente – Químico - Gerência de Sistema de Gestão Ambiental - Brasília - DF

“Senhores e senhoras da Gerência de Imprensa, ao ler este número da revista fiquei com lágrimas nos olhos. Vi-me ali dentro, meus sonhos e de muita gente que faz esta Empresa com carinho e respeito. A emoção maior foi testemunhar que esta revista está humanizada de fato. É o jornalismo da Eletronorte construindo uma nova história, a partir de várias histórias de gente simples e humilde. Mostra o retrato da nossa gente, do nosso povo, da nossa nação. De Norte a Sul do País. Obrigada por registrarem com muita competência tudo o que se faz nesta e por esta Empresa. Obrigada pelo reconhecimento do trabalho do Comitê de Gênero, que é formado por homens e mulheres de bem. Parabéns a todos e todas”.

Gleide Almeida Brito - Assistente da Diretoria de Plane-jamento e Engenharia - Brasília - DF

“Bom-dia! Meu nome é Aguinaldo Antonio, trabalho na Companhia Energética de Minas Gerais - Cemig - no Centro de Operação e, participando de um Seminário tive acesso à revista Corrente Contínua nº 219. Gostei muito da qualida-de de impressão, do nível das matérias e das imagens de muito bom gosto. São informações que muito contribuem para nós que operamos diretamente o sistema elétrico. Gostaria de saber qual o procedimento para ter acesso às

próximas edições desta revista. É possível assinar? Aguardo posicionamento”.

Aguinaldo Antonio – Centro de Operação da Cemig – BeloHorizonte – MG

“Prezada Michele, cumprimento-a pela matéria sobre as concessões do serviço público de energia elétrica, que se constituiu em matéria sóbria, profunda e adequada. Inde-pendentemente de minha participação - que foi um gesto generoso de vocês -, quero manifestar que, ao ouvir dife-rentes pessoas, estimulou os colegas a formular discussões e balizar opiniões. Pelo teor da matéria, fica convocada a novas matérias dentro do mesmo padrão. Felicitações”.

Mário Dias Miranda – Assistente da Presidência da Ele-tronorte- Brasília - DF

“Alexandre, gostaria de parabenizar a todos pelo belís-simo trabalho realizado. Qual a possibilidade de mandar para mim uma cópia impressa da edição nº 220 da revista Corrente Contínua? Leio todos os jornais, mas esta revista, em especial, mostra e fala de muita gente antiga que nem eu. Gostaria de folhear e ler com calma. Obrigada”.

Maria da Conceição Costa Monteiro - Divisão de Patrocínio da Eletrobrás – Rio de Janeiro - RJ

“Prezado Byron, parabéns pela bela matéria “Memóriasdo elefante: em 35 anos forma-se uma grande integração étnica”. A revista toda está ótima, mas sua matéria, em particular, está show de bola! Aqui em BH, com a saudade dos amigos da Eletronorte me acompanhando, fico ansioso pra revista sair logo! Forte abraço”.

Jorge Ivanovitch de Sousa - Gerência de Manutenção de Infra-estrutura de Telecomunicações e Informática da Cemig – Belo Horizonte - MG

“Alexandre, parabenizo você e toda a equipe pelo ex-celente material que é a revista Corrente Contínua: textos, reportagens, fotografias etc. Sou engenheiro eletricista do Epac e professor do Cefet-PA e Faculdade Ideal – Faci, em Belém, do curso de engenharia civil. Gostaria de saber como estas instituições poderão receber exemplares desta revista em suas bibliotecas para consulta dos alunos. Solicito orientações. Desde já agradeço pela atenção”.

Sergio Tadeu Ferreira Serra - Engenheiro eletricista – Belém - PA

“Cara Michele, recebi sua mensagem, muito agradecido. Gostei bastante da proposta da revista de vocês, CorrenteContínua, muito boa mesmo. Nós temos uma revista cientí-fica eu sou o editor. Ela está toda na Internet no site http://www.ibama.gov.br/ojs/index.php/braflor/index”.

Mário Rabelo de Souza - Ibama/LPF - Brasília - DF

“Com satisfação acusamos o recebimento de um exem-plar da revista Corrente Contínua, da Eletronorte, nº 220, referente aos meses de maio e junho de 2008. Agradecendo a gentileza da remessa, renovamos os nossos protestos de especial apreço e estima”.

Marcelino Ramos Araújo - Presidente em exercício da Fecomércio do Maranhão - São Luís MA

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Texto: Alexandre AcciolyFoto: Rony Ramos