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64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 MACRÓFITAS AQUÁTICAS: ANATOMIA FOLIAR DE ESPÉCIES DE Nymphaea (NYMPHAEACEAE) OCORRENTES EM LAGOAS TEMPORÁRIAS DO SEMIÁRIDO DA BAHIA, BRASIL Rosinaldo P. Correia 1* , Carla T.Lima 2 ,Maria Lenise S. Guedes 1 , Kelly Regina B. Leite 1 ¹Universidade Federal da Bahia.; 2 Universidade Estadual de Feira de Santana; *[email protected] Introdução O semiárido é caracterizado por chuvas irregulares e longos períodos de secas. Nos curtos períodos de chuva são formadas as lagoas temporárias do semiárido, que tem diversidade complexa da flora aquática, conhecida como macrófitas aquáticas[1], as quais desempenham importante função na manutenção do equilíbrio ambiental, servindo de ecossistemas para outras espécies, promovendo a oxigenação e depuração da água [2], além de apresentarem características peculiares, que permitem o reconhecimento de diferentes formas de vida ao longo de um perfil, destacando-se aqui as espécies de Nymphaea. As Nymphaeaceae, presentes em quase todas as áreas estudadas, atuam como isolante térmico para as lagoas evitando a evaporização, pela exuberância de suas flores e principalmente pelo tamanho das folhas [3]. Estudos com espécimes de Nymphaeaceae vêm crescendo, principalmente aqueles relacionados à taxonomia da família, sendo ainda pouco conhecidos aspectos relacionados à anatomia de órgãos reprodutivos e vegetativos. Pelo exposto, este trabalho objetivou descrever a estrutura anatômica da lâmina foliar apresentada pelas Nymphaeaceae das lagoas temporárias do semiárido baiano, buscando traçar um padrão anatômico que relacionasse as diferentes espécies à forma de vida flutuante fixa, além de identificar caracteres que pudessem subsidiar estudos taxonômicos na família. Metodologia As espécies de Nymphaeaceae (Nymphaea caerulea Savigny, N. lingulata Wiersema e N. pulchella DC.), foram coletadas em lagoas temporárias do semiárido ocorrentes ao longo da BA 052, entre os municípios de Ipirá e Irecê, fixadas em FAA 70% e conservadas em álcool etílico 70%. Os vouchers encontram-se depositados no Herbário Alexandre Leal Costa (ALCB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana (HUEFS). Cortes à mão livre, paradérmicos e transversais, foram realizados nas lâminas foliares e tratadas segundo metodologia usual em anatomia vegetal [4] para observação e registro sob microscopia óptica. Resultados e Discussão Em visão paradémica as três espécies de Nymphaeaceae estudadas apresentaram células poligonais, com contorno da parede celular sinuoso na face adaxial e retos na face abaxial; folhas epiestomáticas e estômatos anomocíticos também foram características comuns à todas as espécies. Em visão transversal, foi observada em todas as espécies cutícula delgada, nervura principal com colênquima angular, mesofilo dorsiventral bastante assimétrico, feixes vasculares colaterais ocupando posição adaxial, presença de amplas lacunas de ar e astroesclereídes dispersos por toda a lâmina foliar. Os astroesclereides apresentavam longas projeções (5-8) entre os parênquimas paliçádico e lacunoso. A nervura principal era formada por 8-10 feixes vasculares em N. caerulea e N. lingulata e 10 feixes vasculares em N. pulchella. Mesmo as três espécies sendo muito semelhantes entre si, N. lingulata diferia bastante das duas outras pela maior espessura do mesofilo devido, talvez, à grande quantidade de lacunas de ar. Conclusões Aspectos anatômicos como presença de lacunas de ar são comuns ao hábito aquático, enquanto folhas exclusivamente epiestomáticas estão associadas à forma de vida flutuante. Os astroesclereides são características típicas de Nymphaeaceae. Foi observada até o momento variação apenas no número de feixes vasculares entre as espécies e espessura do mesofilo, características não consideradas suficientemente consistentes para fins taxonômicos. Agradecimentos Ao CNPq – Processo nº 562961/2010-0) e à FAPESB – Termo de Outorga APP 0036/2011 pela concessão de auxílio financeiro e à UFBA pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica. Referências Bibliográficas [1] Leite, K.R.B.; França, F. & Scatena V.L. 2009. Anatomia de espécies anfíbias de Cyperaceae de lagoas do semi-árido, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 23(3): 786-796. [2] Esteves, A.F. 1998. Fundamentos de Limnologia. 2ed. Rio de Janeiro. Interciência. [3] Lima, C.T. 2011. A Ordem Nymphaeales no Estado da Bahia, Brasil. MSc Thesis, Programa de Pós-Graduação em Botânica. Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, Brasil. pp. 1-157. [4] Kraus, J.E. & Arduin, M. 1997. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Editora Universidade Rural. Rio de Janeiro.

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Page 1: MACRÓFITAS AQUÁTICAS: ANATOMIA FOLIAR DE … · espécies e espessura do mesofilo, características não consideradas suficientemente consistentes para fins taxonômicos. Agradecimentos

64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013

MACRÓFITAS AQUÁTICAS: ANATOMIA FOLIAR DE ESPÉCIES DE Nymphaea (NYMPHAEACEAE) OCORRENTES EM LAGOAS

TEMPORÁRIAS DO SEMIÁRIDO DA BAHIA, BRASIL

Rosinaldo P. Correia 1*, Carla T.Lima2,Maria Lenise S. Guedes1, Kelly Regina B. Leite1

¹Universidade Federal da Bahia.; 2 Universidade Estadual de Feira de Santana; *[email protected]

Introdução

O semiárido é caracterizado por chuvas irregulares e longos períodos de secas. Nos curtos períodos de chuva são formadas as lagoas temporárias do semiárido, que tem diversidade complexa da flora aquática, conhecida como macrófitas aquáticas[1], as quais desempenham importante função na manutenção do equilíbrio ambiental, servindo de ecossistemas para outras espécies, promovendo a oxigenação e depuração da água [2], além de apresentarem características peculiares, que permitem o reconhecimento de diferentes formas de vida ao longo de um perfil, destacando-se aqui as espécies de Nymphaea. As Nymphaeaceae, presentes em quase todas as áreas estudadas, atuam como isolante térmico para as lagoas evitando a evaporização, pela exuberância de suas flores e principalmente pelo tamanho das folhas [3]. Estudos com espécimes de Nymphaeaceae vêm crescendo, principalmente aqueles relacionados à taxonomia da família, sendo ainda pouco conhecidos aspectos relacionados à anatomia de órgãos reprodutivos e vegetativos. Pelo exposto, este trabalho objetivou descrever a estrutura anatômica da lâmina foliar apresentada pelas Nymphaeaceae das lagoas temporárias do semiárido baiano, buscando traçar um padrão anatômico que relacionasse as diferentes espécies à forma de vida flutuante fixa, além de identificar caracteres que pudessem subsidiar estudos taxonômicos na família.

Metodologia

As espécies de Nymphaeaceae (Nymphaea caerulea

Savigny, N. lingulata Wiersema e N. pulchella DC.), foram coletadas em lagoas temporárias do semiárido ocorrentes ao longo da BA 052, entre os municípios de Ipirá e Irecê, fixadas em FAA 70% e conservadas em álcool etílico 70%. Os vouchers encontram-se depositados no Herbário Alexandre Leal Costa (ALCB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana (HUEFS). Cortes à mão livre, paradérmicos e transversais, foram realizados nas lâminas foliares e tratadas segundo metodologia usual em anatomia vegetal [4] para observação e registro sob microscopia óptica.

Resultados e Discussão

Em visão paradémica as três espécies de Nymphaeaceae estudadas apresentaram células poligonais, com contorno da parede celular sinuoso na face adaxial e retos na face abaxial; folhas epiestomáticas e estômatos anomocíticos

também foram características comuns à todas as espécies. Em visão transversal, foi observada em todas as espécies cutícula delgada, nervura principal com colênquima angular, mesofilo dorsiventral bastante assimétrico, feixes vasculares colaterais ocupando posição adaxial, presença de amplas lacunas de ar e astroesclereídes dispersos por toda a lâmina foliar. Os astroesclereides apresentavam longas projeções (5-8) entre os parênquimas paliçádico e lacunoso. A nervura principal era formada por 8-10 feixes vasculares em N. caerulea e N. lingulata e 10 feixes vasculares em N. pulchella. Mesmo as três espécies sendo muito semelhantes entre si, N. lingulata diferia bastante das duas outras pela maior espessura do mesofilo devido, talvez, à grande quantidade de lacunas de ar.

Conclusões

Aspectos anatômicos como presença de lacunas de ar são comuns ao hábito aquático, enquanto folhas exclusivamente epiestomáticas estão associadas à forma de vida flutuante. Os astroesclereides são características típicas de Nymphaeaceae. Foi observada até o momento variação apenas no número de feixes vasculares entre as espécies e espessura do mesofilo, características não consideradas suficientemente consistentes para fins taxonômicos.

Agradecimentos

Ao CNPq – Processo nº 562961/2010-0) e à FAPESB – Termo de Outorga APP 0036/2011 pela concessão de auxílio financeiro e à UFBA pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica.

Referências Bibliográficas

[1] Leite, K.R.B.; França, F. & Scatena V.L. 2009. Anatomia de espécies anfíbias de Cyperaceae de lagoas do semi-árido, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 23(3): 786-796. [2] Esteves, A.F. 1998. Fundamentos de Limnologia. 2ed. Rio de Janeiro. Interciência. [3] Lima, C.T. 2011. A Ordem Nymphaeales no Estado da Bahia, Brasil. MSc Thesis, Programa de Pós-Graduação em Botânica. Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, Brasil. pp. 1-157. [4] Kraus, J.E. & Arduin, M. 1997. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Editora Universidade Rural. Rio de Janeiro.