machismo nosso de cada dia

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Desconstrução do machismo 2014.1 (Manhã) Ciências Sociais Thaisa Alves

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Trabalho sobre etnocentrismo de gênero.

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Desconstruo do machismo

Desconstruo do machismo

2014.1 (Manh)Cincias SociaisThaisa Alves

Machismo a ideia sexista de que os homens so superiores s mulheres. Quando dito que o homem superior mulher, que este pode sentir-se livre pra fazer o que quiser com seu corpo, que pode vestir-se da maneira que quiser e dizem que a mulher no pode fazer as mesmas coisas simplesmente porque coisa de homem, isso machismo e machismo etnocentrismo de gnero.Etnocentrismo quando algum ou um grupo de pessoas estabelece sua cultura como centro de tudo no mundo e passam a menosprezar ou inferiorizar qualquer cultura que seja diferente da sua. O grupo machista da sociedade discrimina as mulheres que no se comportam dentro dos padres criados pela cultura do machismo, eles usam a sua viso etnocntrica ao julgar e criticar mulheres que ainda que quase nada se afastem desses padres.O machismo no algo que surgiu da noite para o dia, ele foi construdo socialmente desde o incio dos tempos. Demorou (e muito) para que as mulheres reclamassem seus direitos e mais ainda para que surgisse aquilo que no h muito tempo chama-se de movimento feminista. H at alguns estudiosos que creditam o surgimento do feminismo moderno ao contexto social e poltico da Revoluo Francesa (1789) e, portanto, do Iluminismo .O feminismo , muitas vezes, classificado como o contrrio de machismo, quando , na verdade, um movimento que visa igualdade dos direitos entre os gneros, tanto no mbito profissional, como no social. Uma sociedade ideal seria aquela onde uma mulher no discriminada pela roupa que veste ou pelo jeito de falar, no agredida nem verbalmente por meio de xingamentos de conotao sexual nem fisicamente, porque ela fez por merecer, uma sociedade onde a mulher no vista apenas como sexo frgil, dona de casa ou me, de maneira que essas coisas sirvam como limitantes para que ela possa ter uma carreira profissional de sucesso.No Brasil, h quem diga que nos dias atuais o movimento feminista desnecessrio, colocando em pauta que no s o machismo foi erradicado, mas tambm as condies sociais, polticas e econmicas de inferioridade da mulher, o que de fato uma grande falcia, porque o machismo est enraizado na cultura do pas.Desde a infncia, meninas ganham brinquedos que as ensinam a atuar como donas de casa: minicozinhas, bonecas, ferro de passar, mquinas de lavar, etc. Alguns pais chegam at a proibi-las de brincarem com brinquedos de menino, eis que surge a diferena j na infncia, onde o machismo comea a ser ensinado.Machismo e a propagandaNos anos 50 e 60, o machismo era comum at em propagandas. Nessa poca, os papis na sociedade eram objetivos: homem vai trabalhar e a mulher cuida da casa. Os produtos feitos e anunciados para mulheres eram quase sempre utenslios domsticos e quando a propaganda era direcionada ao homem sempre ocorria um menosprezo figura feminina.

bom ter uma mulher perto de casa. Anncio de calas da marca Dacron em uma revista americana nos anos 60.

Mostre a ela que o mundo dos homens. Anncio de gravatas da marca Van Heusen, nos anos 50.Que a publicidade evoluiu em termos de imagem da mulher na sociedade, isso fato, ou talvez, nem seja tanto assim. Hoje em dia, preciso pensar duas vezes e repensar mais quatro quando o assunto a objetificao da mulher, inclusive nas propagandas. Anncios que contm frases machistas no so mais permitidos e nem seriam bem vistos na sociedade atual, o que leva as mulheres a uma sensao de que o machismo na propaganda teve fim, porm, s preciso ligar a TV ou assistir a algum anncio na internet que possvel encontrar mulheres posando ao lado de motos, carros, perfumes ou at mesmo sensualizando com pouca roupa, esse tipo de anncio d a aluso de que se voc comprar tal produto vai estar levando um pouco dessa mulher para sua casa.

Machismo nosso de cada diaInfelizmente, atitudes e frases machistas sempre foram comuns no dia-a-dia. Quem nunca presenciou uma batida no trnsito onde um dos motoristas era uma mulher e algum soltou a seguinte frase mulher no volante, perigo constante? Ou um olhar de desdm de algum passageiro que entra num nibus onde a motorista mulher? E essas atitudes e frases nem sempre so de autoria masculina, a mulher tambm machista, afinal, como diria Simone de Beauvoir, O opressor no seria to forte se no tivesse cmplices entre os prprios oprimidos. Da mesma forma que ningum nasce racista ou homofbico, as pessoas tambm no nascem machistas. Os preconceitos so ensinados e por isso que mulheres tambm so machistas. comum vermos mulheres at mesmo dentro da nossa famlia reproduzindo discursos machistas. No ano passado, a atriz Marina Ruy Barbosa deu uma entrevista revista QUEM, afirmou ser virgem e foi assustadoramente machista em suas declaraes ao falar do seu relacionamento: No comeo, eu era mais ciumenta, mas o Klebber me passa muita segurana. Barraco, no fao. Nunca. H mulheres muito galinhas. louco, n? Acho que no se comportam e, a, os caras no valorizam. No adianta querer um prncipe se voc no uma princesa. muito difcil uma mulher rodada encontrar um cara legal. S vai encontrar sapo". Algum precisa avisar a ela que ser virgem no faz da mulher uma santa e que no ser no a desvaloriza. Na ltima sexta-feira, Dia do Escritor, a editora Aped (Apoio e Produo Editora) postou mensagens referentes data comemorativa, mas uma das postagens debochava da cantora Valesca Popozuda. A publicao continha uma foto da cantora lendo o livro Madame Bovary, do francs Gustave Flaubert. Valesca Popozuda acaba de aparecer nas redes lendo Madame Bovary, de Flaubert um magnfico livro sobre a libertao de uma mulher, escrito no sculo 18. Quero saber se ela soube interpretar (KKKKKKKKKKK) pois a maioria das pessoas ACHA que sabe ler. No contente em ser to preconceituoso nessa publicao, o colaborador seguiu com mais uma publicao atacando de forma indireta e machista a cantora. As crticas editora foram duras e instantneas. Uma leitora escreveu: Cara editora Aped Editora Aped: eu sou uma escritora prolfica, leitora voraz e abro livros ou pernas a hora que bem entender, posto que: vocs no mandam em mim. Ento sugiro que tirem a cabecinha da privada e evitem de fazer esse tipo de publicidade babaca, machista e caga-regra. Cordialmente, Clara Averbuck.Bacana saber que a posio da editora to machista. J facilita meu trabalho de jamais comprar qualquer livro de vocs, escreveu outra leitora. Um homem ainda ironizou o contedo retrgrado da publicao: To medieval que peguei peste negra. Comentrios como estes servem como evidncia de que as pessoas no acham mais tanta graa ou concordam com essa reproduo de discursos machistas em diversos aspectos sociais. A scia-diretora da editora se posicionou a respeito do caso informando que assim que soube das publicaes, pediu pessoalmente para que tal colaborador as apagasse. E disse que ele foi chamado ateno. Ser que machismo e preconceito no so motivos suficientes para demisso?Machismo na redeCom o advento das redes sociais, ainda mais visvel a predominncia da cultura machista. A (falsa) certeza da impunidade nas mdias virtuais faz com que os usurios destilem todo o seu preconceito. Carol Rossetti uma designer que h alguns meses vem conquistando espao na rede com suas ilustraes que defendem o direito de liberdade da mulher.

Existem diversas pginas machistas que deturpam e criticam as mulheres e o movimento feminista de forma desrespeitosa e que agora esto utilizando o modelo das ilustraes de Carol para propagarem discursos machistas na rede. Acreditam que a mulher no deveria ter direito de optar pelo aborto ou que mereceria ser estuprada por conta da roupa curta que usam.

Ditadura da belezaA aparncia da mulher outra questo bastante abordada pela mdia. comum vermos na TV matrias que ensinam como as mulheres devem se comportar, que moda elas devem seguir e o tipo de maquiagem que devem usar. Alm disso, existem revistas unicamente especializadas no assunto aparncia feminina, sempre com os mesmos tipos de artigos: dicas de como emagrecer, como sair melhor nas fotos, as tendncias da moda, as maquiagens do momento, etc. Toda mulher sofre presso com essa ditadura da beleza que impe padres de altura, peso, cor dos olhos, formato dos lbios e de cada pequena parte do corpo feminino, nem os coitados dos pelos (to venerados e dourados nos anos 70) passam despercebidos. Todo ano, milhares de jovens cometem suicdio por serem consideradas at mesmo por si prprias fora desse padro de beleza, mais um fruto do machismo (comum at mesmo entre as mulheres).Emer OToole uma jornalista de 28 anos que decidiu no depilar as pernas, nem raspar as axilas. Sua experincia virou notcia, o que enfatiza ainda mais a ditadura dos pelos, porque no notcia quando um homem decide fazer o contrrio do que dito como comum a eles e se depilar. Alguns comentrios referentes aparncia da jornalista destacam o modo como as pessoas discriminam aquilo que no considerado parte de sua cultura.

Um dos comentrios ainda mostra a viso etnocntrica de uma mulher em relao higiene dos europeus. O fato que mulher nenhuma obrigada a ser magra, nem a emagrecer ou tirar seus pelos s porque a sociedade acha feio ou estranho. A mulher deve se sentir bem com sua aparncia e no tentar se adequar aos padres sociais.Machismo e a cultura do estuproCinquenta mil mulheres so estupradas por ano no Brasil e milhes no mundo todo. A cultura do estupro diz s mulheres bonitas que s por serem bonitas j deveriam esperar que as estuprassem e s mulheres feias que deveriam ficar felizes com esse abuso. Em alguns lugares, a situao ainda pior, o estupro marital no considerado crime e o marido tem o direito de matar sua esposa caso ela o tenha trado. A cultura do estupro mais um triste fato que assombra as mulheres do mundo todo, todos os dias. Os casos de assdio nas ruas, no trem, no trabalho e em outros lugares parece no diminuir. Em alguns estados do Brasil, existem vages femininos, medida tomada para a diminuio dos casos de assdio e estupro dentro do trem, porm, os homens no a respeitam e viajam tranquilamente nesses vages, tirando o assento at de idosas e grvidas.H quem procure (e encontre) razes para que uma mulher ou at mesmo uma criana tenha sido estuprada. Quando se trata de uma mulher, criticam a sua roupa curta, seu batom vermelho, o modo de se comportar, a hora em que estava na rua e at mesmo o lugar que frequentava. E quando falam de uma criana, direcionam as crticas para o seu comportamento, o modo como danava msicas no apropriadas para sua idade e chegam a dizer at mesmo que apesar de criana, ela seduz como uma adulta. As mulheres que culturalmente s podem vestir burcas tambm so vtimas gritantes de estupro, mesmo vestidas da cabea aos ps. Nesse caso, a culpa de quem? Bem, na Arbia Saudita, os sauditas culpam o excesso de rmel nos olhos.Recentemente, referindo-se ao confronto entre Israel e Palestina, o ex-membro da inteligncia militar de Israel, Dr. Mordechai Kedar declarou: No estou falando sobre o que deve ou no deve ser feito. Eu estou falando sobre os fatos. A nica coisa que impede um homem-bomba saber que se ele puxa o gatilho ou se explode, sua irm ser estuprada. isso. Essa a nica coisa que vai traz-lo de volta para casa, a fim de preservar a honra de sua irm. A cultura do estupro se reflete com clareza nessa afirmao. Alm de ainda estarem sofrendo com os constantes bombardeios sua terra, as palestinas ainda devem conviver com o medo dessa afirmao ser colocada em prtica e com as acusaes de que elas esto usando seus prprios filhos como escudo.

Marcha das VadiasA Marcha das Vadias um protesto que acontece todos os anos em diversas partes do pas. Muitas pessoas (em sua maioria mulheres) marcham em protesto crena de que mulheres vtimas de estupro teriam provocado tal ato por conta de seu comportamento ou sua roupa curta. A marcha se originou de um protesto realizado em Toronto em 2011, quando um policial queria negar proteo estatal a mulheres por conta de suas roupas. Algumas mulheres marcham com os seios mostra e muitas pessoas as criticam, dizem que no faz sentido marchar assim, pois acabam se desvalorizando, porm, esse o real propsito da Marcha, mostrar que no importa o modo como as mulheres estejam vestidas ou se comportem, isso no motivo para que sejam assediadas.

Portanto, o que a parcela machista da sociedade precisa entender que de burca ou saia curta no tem desculpa, quando se trata de estupro, a culpa sempre do estuprador. Culpar a vtima e vitimar o culpado contribui ainda mais para o aumento nos casos de assdio sexual e estupro.No possvel afirmar que o machismo um dia ir acabar, mas ideal que se lute contra esse etnocentrismo de gnero e a luta diria. Todas as manhs, mulheres saem para trabalhar ou estudar e so assediadas, s vezes, em quase todo o caminho. A desconstruo do machismo dentro da sociedade deve comear desde cedo, preciso ensinar aos homens como tratar uma mulher, que ela no sua propriedade e muito menos inferior a ele, seja no aspecto social, poltico ou jurdico. E ensinar s mulheres que no h nada que um homem faa que elas no possam fazer.O feminismo diz s mulheres que elas devem se aceitar do jeito que so, porque so lindas desse jeito, que a culpa no delas quando sofrem assdio e que no devem mudar sua aparncia pra arrumarem um relacionamento e menos ainda que devam submisso a um homem, mas que elas merecem uma sociedade justa, onde o etnocentrismo de gnero no tenha espao, seja no mbito pessoal ou no profissional. Machistas no podem ter espao.

BibliografiaSite: O Globohttp://oglobo.globo.com/brasil/editora-acusada-de-post-machista-ironizou-valesca-popozuda-no-facebook-13399852Site: Propagandas Histricashttp://www.propagandashistoricas.com.brAs ilustraes foram retiradas das pginas Carol Rossetti e Filosofia Feministahttps://www.facebook.com/carolrossettidesignhttps://www.facebook.com/afilosofiafeministaSite: Facebook Pgina da editora Aped.https://www.facebook.com/EditoraAped

Cinquenta mil mulheres so estupradas por ano no Brasil. Jornal Hoje, Braslia, 21 jan. 2014. Disponvel em:http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/01/50-mil-mulheres-sao-estupradas-por-ano-no-brasil-diz-estudo.htmlSauditas culpam rmel por aumento de assdio sexual. DN Globo, Portugal, 09 jan. 2014. Disponvel em:http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3622664&seccao=M%E9dio%20OrienteFotografia da jornalista Emer OToolehttp://http://wp.clicrbs.com.br/mundoidao/2012/05/08/mulher-nao-depila-as-pernas-nem-raspa-axilas-ha-18-meses/