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Maputo, 8 de Novembro de 2013 • ANO XX • N o 1035 • Preço: 30,00 Mt • Moçambique Pemba, Caixa Postal, 260 E-mail: [email protected] M o ç a m b i q u e Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Zambézia e Sofala O horror da Beira vivido ao minuto Págs. 2 Págs. 2

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Maputo, 8 de Novembro de 2013 • ANO XX • No 1035 • Preço: 30,00 Mt • MoçambiquePemba, Caixa Postal, 260

E-mail: [email protected]

M o ç a m b i q u e

Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Zambézia e Sofala

O horror da Beira vivido ao minuto

Págs. 2Págs. 2

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TEMA DA SEMANA2 Savana 08-11-2013

A acção do governo con-

tra a Renamo conheceu

na semana passada um

novo capítulo, evoluin-

do do confronto militar para o

campo da pressão política, com

a ocupação da sede da delega-

ção provincial do partido e da

residência do seu líder, Afonso

Dhlakama, na Beira, a segunda

cidade politicamente mais impor-

tante de Moçambique e uma das

principais bases de apoio do anti-

go movimento rebelde.

Abrigada num alegado mandado

judicial, a incursão da Força de

Intervenção Rápida (FIR) teve

episódios de sevícias aos membros

do movimento encontrados na

sede. Também houve roubo e van-

dalismo, com o “desaparecimento”

de dinheiro e cheques, bem como

o espalhamento de documentos,

segundo contaram ao SAVANA

testemunhas.

De acordo com um vizinho da

sede da delegação provincial do

principal partido da oposição, o

assalto ao local teve pinceladas de

um verdadeiro fi lme policial. De

surpresa, cerca de 16 membros

da Força de Intervenção Rápida,

a polícia anti-motim, saltaram de

uma viatura Mahindra. Alguns,

com tiros ao ar, entraram nas ins-

talações da sede da Renamo, ar-

rombaram as portas e detiveram

os sete membros do partido ali

presentes. Outros “FIRis” fi caram

à entrada do edifício, de arma em

punho e prontos para qualquer

eventualidade, contou a fonte.

“Roubos”Um membro da Renamo presente

no momento da incursão, Horá-

cio Calavete, relatou ao SAVANA

que 43 cheques e 47 mil meticais

que estavam guardados no de-

partamento fi nanceiro da sede

sumiram alegadamente em con-

sequência da incursão da polícia.

Do dinheiro que “desapareceu”,

44 mil meticais resultaram de

quotas pagas pelos membros do

partido e três mil meticais da con-

tribuição da Liga Feminina, disse

Horácio Calavane.

Com torturas físicas e psicológi-

cas pelo meio, segundo Cavele, os

“homens da FIR” iam perguntan-

do por “alguém importante” es-

condido na delegação do partido

e por armas alegadamente escon-

didas no local.

“Não encontraram nenhuma

arma”, declara, resignado, o mem-

bro da Renamo, perante o suposto

falhanço de uma operação feita

com grande estardalhaço. Ainda

perturbado com o susto que viveu

durante o assalto ao seu local de

trabalho, Horácio Cavele diz que

não compreende as razões da in-

vestida da FIR, pois a tensão que

se vive no centro do país opõe

adversários armados e não civis,

como ele.

“A situação militar que se vive no

país não é da responsabilidade dos

civis, mas dos militares e eu não

sou militar”, afi rma Calavete.

VandalismoOs sinais de tumulto eram paten-

tes na sede da força política de

Afonso Dhlakama. O SAVANA

viu mobiliário destruído, incluin-

do congeladores, e tomadas dani-

fi cadas, bem como papéis e docu-

mentos de arquivo espalhados.

As marcas físicas e psicológicas

nos membros da Renamo fi caram.

“Quando eles chegaram, começa-

ram a disparar, entraram no inte-

rior da nossa delegação, disseram-

-nos que nos deitássemos no chão

e  obedecemos. Mesmo assim,

continuaram a ameaçar-nos, a

exigir que lhes entregássemos ar-

mas. Dissemos que não tínhamos

nenhuma arma e, na verdade, eles

não encontraram nenhuma arma

no local”,  conta  Fernando Je-

musse, membro da Renamo.

Após o fandango, a Renamo vol-

tou a tomar posse do seu “quartel-

-general” político em Sofala e já lá

se encontram os funcionários do

partido a trabalhar normalmente,

depois de a FIR deixar o local.

Mas o aparentemente regresso

à tranquilidade não deixa sosse-

gadas as famílias residentes nas

imediações. Vivem de malas feitas

e em posição de fuga, para o que

“der e vier”.

Nos aposentos de DhlakamaA caça à “perdiz” em Sofala tam-

bém chegou à residência de Afon-

so Dhlakama na Beira, uma vez

que foi igualmente “tomada” por

cerca de 150 elementos da FIR,

que ainda permanecem na habi-

tação.

Na residência, foram apreendidas

munições e detidos três homens,

que são, aparentemente, seguran-

ças do domicílio de Dhlakama e

continuam sob custódia policial.

Ouvido pelo SAVANA, o arcebis-

po emérito da Beira, Jaime Gon-

çalves, manifesta preocupação

com a situação política e militar

no país, evocando a destruição

provocada pelos 16 anos de guerra

civil que o país conheceu até à as-

sinatura do Acordo Geral de Paz

(AGP), em 1992.

“É preciso lembrar quantos mo-

çambicanos morreram durante

os 16 anos de guerra, não pode-

mos experimentar novamente a

guerra. É preciso entender que na

Estrada Nacional Nº 1, cada dia

que passa, a situação está a ganhar

contornos preocupantes e isso não

é bom”, afi rma o religioso.

Jaime Gonçalves assinala que a

expulsão de Afonso Dhlakama do

seu acampamento em Satunjira

deixou grupos de supostos ho-

mens da Renamo sem comando e

com poder de iniciativa capaz de

aumentar a escalada da instabili-

dade militar no centro do país.

“Os ditos homens da Renamo

estão a agir em grupos isolados e

podem não estar sob o comando

de Dhlakama e assim  não é fácil

o seu controlo. O tipo de guer-

rilha que usam não e fácil de ser

combatido, isto já vivemos em vá-

rias partes do mundo”, enfatizou

Gonçalves, um dos animadores

do processo que levou ao AGP.

Para o bispo emérito da Beira, a

falta de um entendimento entre o

Governo e a Renamo em torno da

legislação eleitoral não pode jus-

tifi car o derramamento de sangue

em Moçambique.

Carlos Mendonça Uajanja, ana-

lista, entende que o país está a

viver uma guerra não declarada,

que se traduz no alastramento de

focos de violência envolvendo o

exército e antigos guerrilheiros do

principal partido da oposição.

Por outro lado, considera Uajan-

ja, o contexto de crise política e

militar no país está a potenciar a

ocorrência de violação dos direi-

tos humanos e da lei dos partidos

políticos, como aconteceu no caso

da “invasão” da sede da Renamo e

da residência do seu líder.

Acção governamental contra Renamo evolui para novo capítuloPor Constatino André, na Beira

Perante a situação, o Chefe de Estado, Armando Guebu-

za, convidou Afonso Dhlakama para um encontro, nesta

sexta-feira em Maputo, visando discutir a actual tensão

política e militar.

O porta-voz do Presidente, Edson Macuácua, disse que o encontro

servirá para “auscultar as preocupações” da Renamo, no “âmbito dos

esforços contínuos empreendidos pelo Governo para a preservação

da paz”.

Sem demoras, a Renamo, através do seu porta-voz, Fernando Ma-

zanga, já qualifi cou o convite como “cínico e doce envenenado”,

enfatizando que não foi endereçada nenhuma proposta formal pela

Presidência da República e o convidado está em paradeiro desco-

nhecido, após ser desalojado da sua última habitação conhecida, em

Satunjira, pela ofensiva do exército.

Na capital da província de Sofala, no geral, vive-se um am-

biente de incerteza em relação ao futuro, devido à insta-

bilidade na região.

Natércia Borges, estudante secundária, vê mesmo como

inúteis os exames escolares que acabou de fazer, pois num ambiente

de guerra não terá valido a pena o esforço na formação.

“Pode haver guerra a qualquer momento. Estão a deixar-nos de-

sesperados, queremos continuar a viver em paz e entrar no ensino

superior para o bem de Moçambique. Os dois devem ouvir a voz

do povo. Não se justifi cam disparos no Macuti e Ponta Gêa, bairros

considerados de elite. Por isso, peço ao pai Guebuza e ao líder da

Renamo para pararem os disparos”, suplicou Natércia Borge.

Também descrente em relação ao futuro está Américo Francisco,

transportador de longo curso, pois sempre que saem em viagem não

sabe se voltará a casa.

“Vivemos 21 anos de paz e queremos continuar a circular livremen-

te e sem medo. O país está a desenvolver e agora querem destruir

tudo”, remata Franciso.

Apesar do clamor do povo, a irracionalidade da “guerra não decla-

rada”, como os analistas qualifi cam os confrontos entre o exército e

o governo, continua a fazer estragos.

Três militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique

(FADM) morreram esta semana durante uma emboscada atribu-

ída a homens armados da Renamo a veículos do exército e várias

pessoas foram feridas em consequência de ataques a caravanas de

carros na principal estrada do país, mesmo com a presença da es-

colta militar.

Os ataques na Estrada Nacional Nº 1, que no princípio eram es-

porádicos, sucedem-se agora a um ritmo diário, com o cortejo de

mortos e feridos a aumentar a cada dia.

“Não sei porque z exames”

“Convite cínico”

Sede da Renamo assaltada e ocupada pela FIR na Beira

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TEMA DA SEMANA 3Savana 08-11-2013 TEMA DA SEMANA

Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Construção Civil, Madeiras e Minas de Moçambique - SINTICIM, no âmbito do plano de modernização em curso, pretende contratar os seguintes pro ssionais para desempenhar as seguintes funções:

1. Jurista e ou Técnico Jurídico (3)

Para: Nampula, Maputo e Tete;

a) Quali cações e experiência requerida

Licenciatura em Direito ou conclusão das cadeiras do programa curricular

Inscrição no IPAJ e ou na Ordem dos Advogados

Fluente em Língua Portuguesa

Conhecimento de Língua inglesa

2. Técnico Pro ssional de Administração (10)

Para: Nampula, Maputo, Tete, Sofala e Cabo Delgado

Quali cações e experiência requerida

Nível Médio com formação na àrea de Adminitração

Conhecimentos de informática na óptica de utilizador

Dois ou mais anos de expriencia na área de administração de recursos humanos

Organização e gestão de processos administrativos

Follow up dos processos disciplinares e judiciais

Avaliações

Capacidades basicas nos pacotes de Software de Word, excel, power point.

3. Contabilista (5)

Para: Nampula, Maputo, Tete, Sofala e Cabo Delgado.

a) Quali cações e experiência requerida

Nível Médio Contabilidade e ou Auditoria

Conhecimentos de informática na óptica de utilizador

Ter entre 18 e 35 anos de idade

Capacidade de trabalhar sob pressao

Capacidade de trabalhar em equipa.

4. Documentação

Carta de Pedido de emprego indicando entre outras coisas o lugar para onde pretende concorrer;

CV pormenorizado e actualizado;

Cópia do BI;

Cópia autenticada de diplomas e certi cados académicos

5. As candidaturas deverão ser entregues no endereço abaixo, até às 16.00 horas do dia 12 de Novembro de 2013.

Avenida 24 de Julho, 2341 - 5ºAndar: Telefones: +258 820836808 / +258 842243005 Email: [email protected]; Fax 21312986

Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de

Construção Civil, Madeiras e Minas de Moçambique

ANÚNCIO DE VAGAS

1. O Governo vem deno-

tando inclinação cada

vez mais nítida pela op-

ção militar na sua ati-

tude face à actual crise político-

-militar. A tónica da “abertura ao

diálogo” presente no discurso do

Presidente, Armando Guebuza, é

considerada ilusória e calculística:

ocultar/confundir a opção militar,

servir de “margem de recuo” em

caso de fracasso.

Factos novos ou reforçados, con-

siderados ilustrativos da opção

militar:

-  Acentuou-se o pendor ofensi-

vo/iniciativa operacional das ac-

ções das FADM.

-   Aumentou o grau de pronti-

dão com que as necessidades de

aprovisionamento logístico das

FADM são atendidas pelo Go-

verno.

-  O SISE passou a concentrar a

sua acção de pesquisa na recolha

de informação de interesse mi-

litar.

-   Surgiram rumores internos,

considerados “pertinentes”, se-

gundo os quais terá sido solici-

tada cooperação militar específi ca

de países vizinhos.

Em meios internacionais de in-

telligence atentos à actual crise

em Moçambique são considera-

dos “verifi cados” dados segundo

os quais a opção militar tem por

alvo a eliminação física de Afon-

so Dhlakama, líder da Renamo.

Entre os adeptos de tal desfecho

predominam chefes militares e a

ala mais jovem do gabinete pre-

sidencial.

No que concerne aos militares é

especialmente apontado o actual

CEMGFA, Gen Graça Chon-

go, uma fi gura considerada apa-

gada (AM 771), que veria num

tal sucesso uma oportunidade de

afi rmação. Entre os jovens do ga-

binete presidencial avulta o por-

ta- voz, Edson Macuácua (acção

concentrada na imprensa e jorna-

listas).

2 . Em sectores chave da socie-

dade – alas do regime adversas a

A. Guebuza; oposição partidária;

organizações; igrejas e meios in-

telectuais, incluindo imprensa;

mas também na população – há a

percepção de que a opção militar

visa enfraquecer a Renamo, mas

também “reforçar” a contestada

liderança de A. Guebuza e sua

ala.

A análise respectiva é a de que,

por via de uma bem sucedida de-

monstração de força para “pôr a

Renamo na ordem”, A. Guebuza

capitalizará politicamente e em

termos de infl uência tendo em

vista:

-   Ganhar ascendente sobre a

infl uente ala que o contesta na

Frelimo, votando-a assim a um

estado de isolamento.

-  Resolver em conformidade com

os seus interesses a questão presi-

dencial; eventualmente lançando

a candidatura de sua esposa, Ma-

ria da Luz Guebuza. Há a ideia

de que A. Guebuza sempre deu

preferência a uma solução mili-

tar (AM 790), por ver na mesma

virtualidades que lhe permitiriam

resolver a seu contento os chama-

dos “factores internos adversos”.

Ao contrário, uma solução po-

lítica, por defi nição baseada em

concessões à Renamo, agravaria

os referidos factores. As conces-

sões a que a Renamo condicionou

um compromisso – recenseamen-

to eleitoral credível; composição

paritária da CNE – aumentariam

a exposição da Frelimo a futuros

reveses eleitorais; as irregularida-

des em que até agora se basearam

as vitórias seriam menos possí-

veis. Um tal cenário fragilizaria

A. Guebuza perante seus adver-

sários. A ala interna que contesta

A. Guebuza é animada por histó-

ricos da Frelimo, alguns dos quais

como Sérgio Vieira, Jorge Rebe-

lo e Óscar Monteiro, foram seus

apoiantes da sua ascensão a SG

do partido e, depois, da sua can-

didatura presidencial. Juntam-se

fi guras prestigiadas como Mar-

celino dos Santos e Graça Ma-

chel. O “protagonismo” adverso

a A. Guebuza dos históricos tem

dado azo a reacções internamente

consideradas “divisionistas”, devi-

do à sua inspiração racial ou tri-

bal. É corrente que tais reacções

são patrocinadas por funcionários

do círculo presidencial com in-

fl uências na imprensa que as vei-

cula (Domingo, em especial). 3

. A ocupação de Satunjira, pelas

FADM, 21.Out, representou uma

escalada militar das tensões face

à qual o Governo, conforme suas

próprias análises, só deverá recuar

em duas circunstâncias:

-  Circunstâncias naturais: porque

obteve em campanha clara vanta-

gem sobre a Renamo.

-  Circunstâncias de contingência:

para controlar efeitos negativos de

um insucesso e/ou previsões fun-

dadas de ocorrência do mesmo.

Esta visão das coisas por parte de

A. Guebuza é considerada decor-

rente de evidências entre as quais

avulta a impopularidade de que

goza, agora largamente alimenta-

da pela ideia de que pôs em perigo

a paz no país – um cenário me-

recedor de notório repúdio numa

população ainda com memória da

guerra.

A impopularidade de A. Guebuza

é de fácil apreensão na presente

realidade social política do país.

Na chamada vox populi, em es-

pecial nos transportes públicos, é

o tópico dominante; o fenómeno

reproduz a linha crítica em rela-

ção a A. Guebuza que a imprensa

não ofi cial deixa transparecer.

Na medição da importância social

e política das críticas internas a A.

Guebuza é considerado o facto de

congregar personalidades políti-

cas da Frelimo, Renamo e MDM

e independentes – razão pela qual

se diz que se trata de uma “união

nacional”. A sociedade civil orga-

nizada é igualmente contundente.

A. Guebuza foi o “alvo mais pre-

sente” das manifestações anti-

-governamentais (AM 793), de

31.Out, Maputo, Beira e Queli-

mane. É visto como responsável

pela crise político-militar e pela

criminalidade (raptos) em Ma-

puto. De forma discreta altos

funcionários governamentais ten-

taram impedir as manifestações.

(Áfricamonitor intelligence 794)

Opção militar para enfraquecer Renamo e isolar oposição interna na Frelimo

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TEMA DA SEMANA4 Savana 08-11-2013

Beira: Frelimo apela à coesão partidária e MDM promete mais condições O Partido Frelimo ao nível da cidade da Beira, Sofala, pediu união e coesão entre os membros do

partido com vista a garantir vitória nas eleições do próximo dia 20.

Alberto Chipande, chefe da Brigada central da Frelimo, referiu que as divisões fragilizam o partido

e potenciam os adversários pelo que é importante que o partido seja coeso para ser mais forte.

Por sua vez, o candidato da Frelimo, para o município da Beira, Jaime Neto, compromete-se a

melhorar as condições de vida dos munícipes que no seu entender, de um tempo a esta parte, estão

num total abandono.

Segundo Neto, para que isso se materialize é preciso que os munícipes da Beira votem nele.

Por sua vez, Daviz Simango, candidato do MDM, pediu aos munícipes da Beira para que partici-

pem no processo de votação e que o voto devia ser dirigido à sua pessoa bem como ao seu partido

por serem os únicos capazes de revolucionar a vida dos beirenses.

Nacala-Porto: Candidatos prometem inclusão Com estratégias de intervenção diferentes, os candidatos à presidência da autarquia de Nacala-

-Porto, Nampula, em representação dos partidos Frelimo e MDM prometem aos eleitores locais

uma inclusão na sua governação.

Trata-se de Rui Chong Saw, da Frelimo e Fátima Raene, do MDM.

Rui Chong e seus membros começaram a campanha com um desfi le intenso com cerca de uma

centena de viaturas e mais de quatro dezenas de motorizadas passeando pelos arredores da cidade

de Nacala.

Na sua intervenção, Rui Chong foi concreto e disse aos munícipes que ao pedir o voto de confi ança

destes fá-lo por ter o desejo de mudar a cidade de Nacala e levá-la a um patamar de desenvolvi-

mento inclusivo.

Prometeu que vai trabalhar com todos, desde a promoção do trabalho à satisfação das necessidades

básicas, cuja execução consta das atribuições da autarquia.

Por sua vez, Fátima Raene, que não optou por comícios nem desfi les, priorizou contactos interpes-

soais fazendo campanha porta a porta.

De forma tímida e sem

despertar muito inte-

resse popular, arran-

cou, nesta terça-feira,

05 de Novembro, nas 53 autar-

quias, a campanha eleitoral com

vista às eleições autárquicas do

próximo dia 20 de Novembro.

Os cerca de 120 candidatos às

presidências dos municípios, su-

portados por 18 partidos políti-

cos e ou/grupo de cidadãos, têm

15 dias para convencer o eleito-

rado a votar a seu favor.

Tal como se verifi ca noutras

corridas eleitorais, desta vez é

também notável, no terreno, a

disparidade de meios fi nancei-

ros e materiais. Nesta campanha

é visível a presença de candida-

tos e partidos ostentando meios

bastantes e outros sem pratica-

mente nada, enfrentando até di-

fi culdades de produzir panfl etos

de publicitação dos seus candi-

datos ou partidos.

Embora o país viva uma situa-

ção de tensão político-militar

provocada pelo diferendo entre

o Governo e a Renamo e que,

até ao momento, já resultou em

dezenas de mortes de civis e das

Forças de Defesa e Seguran-

ça bem como na destruição do

património privado, em todas as

53 autarquias, todos os candida-

tos saíram à rua para iniciarem a

campanha eleitoral.

Segundo José Beirão, porta-voz,

da Comissão Nacional de Elei-

ções (CNE), apesar de peque-

nos incidentes que se registaram

nos municípios de Quelimane

(Zambézia) e Gorongosa em

Sofala, tudo correu dentro do

planifi cado.

Outro factor que caracteriza

a campanha eleitoral, rumo às

quartas eleições autárquicas,

tem a ver com o facto de esta

não despertar muito interesse

no seio dos eleitores. As pessoas

estão mais preocupadas com a

paz do que com as eleições. A

instabilidade que caracteriza o

país vem agudizar a falta de cré-

dito a que muitos políticos estão

votados por parte dos cidadãos

devido ao incumprimento das

suas promessas. Em vez de ir

aos comícios ou ouvir políticos,

o povo prefere continuar com a

sua rotina normal.

A receptividade é ainda muito

mais precária nos candidatos

sem meios. A Frelimo e o Mo-

vimento Democrático de Mo-

çambique (MDM); a Renamo

não participa; é que arrastam

pequenas molduras humanas,

sobretudo seus membros e

crianças que se juntam na es-

perança de receber um boné ou

camiseta.

Auxiliando-se do seu poder fi -

nanceiro, na maior parte das

autarquias, a Frelimo e os seus

candidatos juntam “showmi-

cios” e contactos interpessoais

enquanto que os outros concor-

rentes, incluindo o MDM pau-

taram por desfi les e contactos

interpessoais para difundirem

as respectivas mensagens.

O poder económico-fi nanceiro

e organizacional da Frelimo

tem permitido que a campanha

deste partido seja mais notável

quando comparada com a de

outros concorrentes.

Promessas O candidato da Frelimo para

governação do município de

Maputo, David Simango, pro-

mete fazer mais em prol dos

munícipes e do desenvolvimen-

to da cidade capital do país.

David Simango, que concor-

re para a sua própria sucessão,

disse que as obras realizadas

nos últimos cinco anos e ou-

tras ainda em curso deixam-lhe

convicto de que os munícipes

da cidade de Maputo irão votar

nele e a vitória será esmagadora

e convincente.

Falando das suas glórias no

mandato prestes a fi ndar, o can-

didato da Frelimo enumerou

vários exemplos de acções con-

cretas levadas a cabo pelo seu

elenco em diversos domínios.

Reconheceu que ainda não foi

atingido o desejável, mas de for-

ma gradual os problemas estão a

ser resolvidos.

Simango, que teve a honra de

contar com a presença do pre-

sidente da Frelimo, Armando

Guebuza, na aberura da campa-

nha, prometeu levar água potá-

vel a todos os munícipes e abrir

faixas de rodagem exclusivas

para os transportes de passagei-

ros para além da construção do

metro de superfície ligando as

cidades de Maputo e Matola.

Venâncio quer salvar Mapu-to Para o candidato do MDM, Ve-

nâncio Mondlane, o Município

de Maputo está em degradação.

Ela é originada pela incapacida-

de generalizada de responder à

demanda de serviços pelos mu-

nícipes, a corrupção, incapaci-

dade de recolha do lixo, gestão

de transportes cada vez mais ca-

ótica, a pobreza urbana a níveis

sem precedentes, a incapacidade

de responder a demanda de em-

Campanha eleitoral ao rubro: novas promessas para velhos problemas- Apesar da tensão político-militar que assola o país, os políticos não desarmam e procuram votos nas 53 autarquias que vão às eleições no próximo dia 20

Por Raul Senda (Maputo) e Aunício da Silva (Nampula)

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TEMA DA SEMANA 5Savana 08-11-2013 TEMA DA SEMANA

prego pelos jovens e pelas mu-

lheres, o aumento da crimina-

lidade bem como a degradação

das infra-estruturas de interesse

público.No entender de Mondlane, com uma gestão responsável, honesta e íntegra dos fundos à disposição do município, é possível garantir aos maputen-ses uma qualidade de serviços maior e melhor, designadamen-te, na recolha de lixo, no estado das estradas e vias de acesso, no abastecimento de água, na segu-rança pública, nos transportes, na educação e na saúde.O candidato do MDM diz que é pela erradicação e proibição de células partidárias dentro das unidades municipais para além da implementação de um pro-cesso de prestação de contas. O combate à corrupção consta na lista das prioridades do candi-dato.Venâncio Mondlane promete incentivar a criação de micro-empresas jovens para recolha de lixo nos bairros periféricos; in-troduzir o subsídio de risco para os trabalhadores da salubridade, assistência médica e medica-mentosa.Na sua lista de promessas, o candidato do MDM prome-te encerrar a lixeira de Hulene num prazo de três anos.No que concerne à problemá-tica dos transportes, Venâncio Mondlane tenciona unifor-

mizar procedimentos, normas,

legislação e posturas de trans-

portes em todo o perímetro

fronteiriço com a área metropo-

litana do Grande Maputo e de-

fi nir uma política de concessões

nas principias vias.

Promete ainda instalar até ao

fi nal do mandato uma central-

-piloto de tratamento e recicla-

gem de águas residuais.

Mussá quer mudar Maputo Ismael Mussá, candidato de

Juntos Pela Cidade ( JPC), na

capital do país, entende que

Maputo é o espelho de Mo-

çambique e como munícipe não

está satisfeito com o desenvolvi-

mento da cidade.

Para Mussá, Maputo precisa de

novos rostos, ideias e formas de

encarar as coisas.

Segundo o candidato, nos últi-

mos anos, muitas são as vozes

que se levantam e reivindicam

por uma melhor qualidade, ce-

leridade e regularidade dos ser-

viços prestados pelo Conselho

Municipal de Maputo.

Mussá fala da ausência de tra-

balho de manutenção de estra-

das; da gravíssima situação do

congestionamento no tráfego

rodoviário; do dilema dos trans-

portes públicos; da ausência de

alternativas de estacionamen-

to na via pública; da defi ciente

recolha e tratamento de lixo; da

ausência de limpeza e a manu-

tenção periódica das valas de

drenagem, as construções de-

sordenadas; o desrespeito con-

tinuado e propositado das pos-

turas camarárias; a proliferação

desordenada de vendedores de

rua e de mercados informais; o

crescente número de crianças e

adultos vivendo desamparados

na rua; a ausência de uma po-

lítica social municipal; a falta de

criatividade na criação de novos

empregos; o desordenamento

urbano, entre outros problemas.

Para o candidato, estes proble-

mas resultam da ausência de

uma planifi cação rigorosa e ra-

cional que privilegie a alocação

dos recursos fi nanceiros e ma-

teriais existentes em áreas prio-

ritárias de modo a solucionar

defi nitivamente estes e outros

problemas ou pelo menos a ate-

nuar os seus efeitos nefastos na

vida dos munícipes.

Segundo Mussá, as enormes

expectativas geradas pelas pro-

messas eleitorais e não con-

cretizadas pelo actual Edil

proporcionam e reforçam o des-

contentamento geral e o visível

descrédito que caracteriza a ac-

tual governação autárquica na

Cidade de Maputo sendo que,

ele é a solução ideal para todos

os problemas.

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6 Savana 08-11-2013PUBLICIDADE

Estudo sobre percepções comunitárias quanto ao uso e proveito de tecnolo-gias de informação e comunicação

ContextoO Centro de Apoio à Informação e Comunicação Comunitária (CAICC) é um mecanismo de apoio ao melhor funcionamento dos telecentros, rádios comunitárias (RCs) e centros multimédia comunitários (CMCs) de várias origens e tipos existentes em todo o País, privilegiando o uso das Tecnolo-gias de Informação e Comunicação (TIC). Actualmente trabalha com 102 parceiros locais, maioritariamente operando a nível do distrito.

ObjectivoO CAICC pretende contratar uma consultoria para averiguar as percepções dos utilizadores em relação ao funcionamento e grau de resposta às suas necessidades por parte do CAICC e dos seus parceiros locais, e para fazer recomendações para o futuro.

ActividadeO trabalho será realizado através de uma revisão documental, recolha de dados nas zonas de 6 parceiros locais do CAICC, análise dos resultados e elaboração do relatório nal. Será efectuado em Jan-Fev 2014, e deverá levar um máximo de 25 dias úteis.

Termos de Referência Os Termos de Referência são disponíveis no website http://www.caicc.org.mz, ou podem ser solicitados via telefone, e-mail ou fax, ou levantados no gabinete do CAICC no CIUEM.

Per l do/a consultor/a • Experiência de trabalho de campo nas zonas rurais de Moçambique• Experiência de trabalho na área de comunicação social e TIC

• Conhecimento dos conceitos e debates relacionados com informação e comunicação para desenvolvimento, governação e TIC em geral

• Grau universitário numa área relevante• Nacionalidade moçambicana

PrazoPropostas incluindo um plano de trabalho, orçamento, listagem de traba-lhos relevantes recentes e c.v. devem ser entregues ate 20 de Novembro de 2013. Podem ser entregues via e-mail, fax, ou directamente no CIUEM num envelope fechado contendo a indicação “Percepções Comunitárias” dirigi-do à Coordenadora do Projecto CAICC.

ContactosCentro de Apoio à Informação e Comunicação Comunitária – CAICC Centro de Informática da UEM, Campus Universitário da UEM, Avenida Julius Nyerere, Maputo Linha Verde: 82/84 3535, 86 3535000, Telefax: +258 21 485779, Skype: caiccajudaE-mail: [email protected]: http://www.caicc.org.mz

Para uso interno - Critérios de avaliação

• Experiência especí ca prévia em trabalhos similares• Experiência de trabalho a nível de base• Conhecimento do tema e do contexto• Qualidade da metodologia proposta• Proposta de valor e calendário

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE CENTRO DE INFORMÁTICA

CENTRO DE APOIO A INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA (CAICC)

SOLICITAÇÃO DE PROPOSTAS

(Conta: MISAU-DAG-JUROS E CADERNOS DE ENCARGOS Nº 10.22.9427.10.001 - MZM)

até às 13:30 horas

do dia 19 de Novembro de 2013às 14:00 horas do dia 19 de Novembro de 2013

Ministério da SaúdeUnidade Gestora Executora das AquisiçõesAv. Eduardo Mondlane, nº 1008 – R/Chão

Maputo - Moçambique

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUEMINISTÉRIO DA SAÚDE

UNIDADE GESTORA EXECUTORA DAS AQUISIÇÕES

ANÚNCIO DE CONCURSO Serviços de produção do layout, impressão e maquetização da brochura sobre as técnicas de cultivo e conservação

das plantas medicinais e alimentares

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7Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE

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8 Savana 08-11-2013SOCIEDADE

O Banco de Moçambique (BM)

manifestou nesta terça-feira

preocupação com a fraca res-

posta dos bancos comerciais

no acompanhamento das medidas que

estão a ser tomadas ao nível das taxas

de referência, que apesar de sucessivas

reduções, ao nível do mercado continu-

am altos.

Segundo dados apresentados pelo ad-

ministrador e porta-voz do BM, Wal-

demar de Sousa, as taxas médias para o

crédito nos bancos comerciais estão ac-

tualmente em 20.45%, contra os 8.25%

que constituem a referência do Banco

Central.

Dos 18 bancos que operam no mercado

nacional, apenas oito por cento é que

estão a cobrar menos de 15% como taxa

do custo do dinheiro cedido ao merca-

do.

De acordo com os dados do BM, oito

bancos, correspondentes a  45% da

banca comercial, cobram como taxa de

juro para a cedência  entre 15 a 20%,

enquanto  seis instituições de crédito,

representando uma quota de 35.4%, co-

bram entre 20 a 25%.

No extremo mais alto estão dois ban-

cos-representando uma quota de cerca

de 11% do total das instituições de cré-

dito-que estão com uma taxa superior

a 25%.

Depois de ter fechado o ano passado

com taxas de juro médio em 21.38%,

o valor cobrado pelo mercado a reta-

lho reduziu nos meses de Março, Abril

e Maio deste ano. No primeiro mês, a

taxa média foi de 19.84%, tendo redu-

zido para 19.71% em Abril e 19.80 no

mês seguinte.

A partir de Junho, as taxas médias en-

traram numa nova escalada, contrarian-

do a tendência seguida pelo BM.

De acordo com a tabela a que tivemos

acesso, enquanto a autoridade monetá-

ria reduziu em 125 pontos base (1.25%)

as taxas de cedência entre Junho a Ou-

tubro, os bancos comerciais subiam,

quase no mesmo período, 28 pontos

base (0.28%).

ReacçõesO porta-voz do BM considera que para

a actual situação de infl ação baixa, es-

tabilidade do Metical e taxas directo-

ras também reduzidas, o valor cobrado

pelas cedências do mercado a retalho

devia estar também abaixo dos níveis

actuais.

Mesmo admitindo a existência de al-

guns riscos ou factos que, eventualmen-

te, estejam a determinar a actual actu-

ação dos bancos comeciais, considera

que o alinhamento destes às medidas

que vêm sendo tomadas pelo BM con-

tinuam aquém das expectativas.

“Neste momento estamos a estudar o

fenómeno, avaliar o que estará por de-

trás do mesmo e colher experiências de

outros países para situações similares

e, no momento certo, iremos anunciar

as possíveis medidas a tomar” , disse

Waldemar de Sousa, em conferência de

imprensa.

Crédito mal parado Dados ofi ciais indicam que o crédito

mal parado no sistema fi nanceiro na-

cional registou um aumento de um por

cento desde Setembro do ano passado,

tendo atingido a taxa de 4.5% em igual

período deste ano.

“Esta tendência resulta de uma subs-

tancial expansão do crédito que o siste-

ma fi nanceiro está a experimentar neste

ano”, precisou o porta-voz do BM, real-

çando que a situação “representa algu-

ma preocupação”.

Apesar desta situação, o BM considera

que o sistema fi nanceiro nacional con-

tinua robusto, estando com um rácio de

solvibilidade actual de 16.3%,  não obs-

tante ser o mais baixo desde Dezembro

de 2012.

Refi ra-se que habitação e aquisição de

viaturas constituem, segundo dados

ofi ciais, os tipos de crédito mais solici-

tados.

Altas taxas de juros continuam a preocupar Banco CentralAo nível dos bancos comerciais:

Por Wiliam Mapote

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUEMINISTÉRIO DA SAÚDE

UNIDADE DE GESTÃO E EXECUÇÃO DE AQUISIÇÕES(UGEA)

Anúncio de Adjudicação

De acordo com o Art. 32, nº 2, alínea “c” do Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado, aprovado pelo Decreto nº 15/2010 de 240 Maio, comunicamos que o objecto do concurso abaixo foi adjudicado à empresa seguinte:

AQUISIÇÃO DE UM APARELH O DE RX TIPO SERIGRAPH E DE UM ESTABILIZADOR DE TENSÃO

Concurso Público nº 3 8/OE/UGEA/MISAU/13

LOTE 1 - APARELHO DE RX TIPO SERIGRAPH

OFFICEMART, pelo valor monetário de 5.800.000,00 MT (cinco milhões, oitocentos mil Meticais), incluindo o IVA.

LOTE 2 - ESTABILIZADOR DE TENSÃO

POWER, pelo valor monetário de 135.439,20 MT (cento trinta e cinco mil, quatrocentos trinta nove Meticais, vinte centavos), incluindo o IVA.

Maputo, aos 25 de Outubro de 2013A Autoridade Competente

(Ilegível)

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9Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE

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10 Savana 08-11-2013INTERNACIONAL

Os cientistas suíços que ana-

lisaram os restos mortais

do líder palestiniano Yasser

Arafat encontraram nos

seus restos exumados um nível 18

vezes superior ao que seria normal

do elemento radioactivo polónio. A

sua análise aponta para que existam

83% de probabilidades de ter sido en-

venenado.

Apesar desta elevada percentagem de

certeza, os cientistas que realizaram a

investigação — a Al-Jazira teve aces-

so ao relatótio fi nal — dizem que os

dados apontam para uma “probabili-

dade moderada” de o polónio 210  ter

causado a morte ao líder histórico pal-

estiniano.

O relatório tem 108 páginas e foi

redigido pelo Centro de Medicina

Legal da Universidade de Lausanne.

Diz que os níveis mais elevados de

polónio foram encontrados na pélvis

e nas costelas de Arafat, mas também

na matéria da decomposição dos seus

órgãos moles — é nestes que melhor

se detecta o polónio. 

O único caso conhecido (e provado)

de este elemento radioactivo ter sido

usado para matar alguém é o do espião

russo Alexander Litvinenko, que mor-

reu num hospital em Londres, a 23 de

tou de um assassínio. “Encontrámos a

pistola fumegante que matou Arafat 

— disse —, mas não sabemos quem

a disparou.”

O documento, elaborado por uma eq-

uipa suíça, francesa e russa, examinou

a causa de morte do líder palestini-

ano, que morreu a  11 de Novembro

de 2004 (faz na quinta-feira  nove

anos). Mas não menciona se houve

intencionalidade na contaminação por

polónio, ou seja, não se debruça sobre

outro tema a não ser a presença do

polónio.

Yasser Arafat morreu num hospi-

tal militar francês, aos 75 anos. Foi

transferido para ali de Ramallah, na

Cisjordânia, depois de semanas a

sentir-se mal. No dia 12 de Outubro

de 2004, quatro horas após ter jantado,

o palestiniano começou a ter náuseas,

diarreia e vómitos. Os médicos pal-

estinianos diagnosticaram-lhe gripe,

mas por não melhorar foram chama-

dos médicos egípcios para o observar.

Estes também não puderam fazer

um diagnóstico e foi decidido enviar

Arafat para França, onde também não

houve um diagnóstico e onde morreu

de acidente vascular cerebral hemor-

rágico. Apesar da falta de diagnóstico,

não foi feita uma autópsia.

A tese de envenenamento foi rápida

Novembro de 2006.

Não há outro caso conhecido de in-

gestão letal de polónio 210 por seres

humanos, escrevem os cientistas no

relatório, para além do de Litvinenko.

“Mas o seu caso não foi descrito na

literatura científi ca e as únicas cara-

cterísticas clínicas conhecidas [deste

tipo de enveneamento agudo por radi-

ação são as descritas nos media].” Não

é por isso possível estabelecer um pa-

ralelo fi dedigno entre o caso do russo

e o de líder palestiniano, sublinham. 

“Yasser Arafar morreu de envena-

mento por polónio”, comentou para a

Al-Jazira o cientista forense britânico

Dave Barclay. O nível de polónio nas

costelas de Arafat era 900 milibecque-

rels (a unidade de medida para radio-

actividade). Este valor indica que há

vestígios entre 16 e 32 vezes os valores

considerados normais, variando a nor-

ma de autor para autor, diz a Al-Jazira.

Barclay está convencido de que se tra-

a surgir, com a estação de televisão

Al-Jazira a realizar um trabalho de

jornalismo de investigação  — “What

killed Arafat?”    — que culminaria

na exumação dos restos mortais, de-

pois de a viúva do líder palestiniano,

Suha Arafat, ter sido envolvida no

processo. “Foi um crime político”,

disse esta quarta-feira Suha, após re-

ceber o relatório. “A minha fi lha e eu

queremos saber quem fez isto”, disse

a viúva, citada pelo jornal Th e Guard-

ian,  defendendo que a Autoridade

Palestiniana tem de agir  para apurar

a verdade. Pediu ainda que a investi-

gação à morte do marido seja separada

do processo de paz entre os palestini-

anos e os israelitas.

Em Israel, o Governo desvalorizou o

relatório do laboratório suíço e deixou

uma advertência. “Vamos assistir a

uma nova ronda de acusações, mas

os palestinianos que não pensem que

nos vão acusar por isto”, disse o porta-

voz do Ministério dos Negócios Es-

trangeiros, Ygal Palmor. Considerou

os dados laboratoriais “não conclu-

sivos” e pediu contenção à Autoridade

Palestiniana. “Mesmo que tivessem

encontrado vestígios de polónio que

indicassem envenenamento, não há

provas de que esse envenenamento

tenha ocorrido. Há muitas perguntas

que devem ser respondidas antes de

a Autoridade Palestiniana começar a

tirar conclusões.” (Público.pt)

É “moderadamente provável” que Arafat tenha sido envenenado com polónio

Yasser Arafat

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11Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE

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12 Savana 08-11-2013SOCIEDADE

Nos últimos meses, dezenas

de crianças regressaram a

Portugal, por causa dos re-

ceios causados pela onda de

criminalidade. Há três portugueses

raptados em Moçambique

A insegurança na capital moçam-

bicana, Maputo, tem levado as

famílias portuguesas a fazer regressar

as crianças a Portugal. O secretário

de Estado das Comunidades, José

Cesário, falou de “dezenas de crian-

ças” portuguesas que têm regressado,

devido ao aumento da criminalidade.

O ambiente em Maputo é de grande

preocupação, após a notícia do rapto

de duas mulheres, uma portuguesa e

uma moçambicana, nesta terça-feira.

“Está a mexer com os nervos das pes-

soas”, conta a empresária do ramo

imobiliário, Elsa Santos, ao PÚBLI-

CO, por telefone.

Uma criança de três anos também foi

raptada, segundo adianta @Verdade.

“Os miúdos andam aterrorizados,

houve uma mãe que foi raptada em

frente a uma escola”, explica a em-

presária luso-moçambicana, acres-

centando que, nos últimos meses,

“uma grande parte das crianças já foi

embora para Portugal”.

A informação foi confi rmada por José

Cesário, que fala mesmo em “dezenas

de crianças” que regressaram a Portu-

gal. “Tenho conhecimento de pessoas

que tiraram as crianças da escola e as

mandaram para casa”, revelou.

Esta terça-feira tem sido um dos dias

mais dramáticos da vaga de crimes

que assola o país. De manhã, uma

cidadã portuguesa foi raptada den-

tro da empresa onde trabalhava, na

cidade da Matola. Ao PÚBLICO,

José Cesário garantiu que o Governo

português se tem mantido informado

dos desenvolvimentos em Maputo.

“Acreditamos que as autoridades lo-

cais vão saber lidar com a situação”,

afi rmou.

Um outro rapto, de uma moçam-

bicana de 33 anos, ocorreu no bairro

de Laulane, nos arredores da capital,

dentro da sua própria casa, perante os

seus fi lhos, irmã e cunhado, alegada-

mente por cinco homens. Também

uma criança de três anos foi alvo de

um sequestro, enquanto brincava

com o irmão de sete.

O rapto da portuguesa é o segundo

envolvendo cidadãos portugueses, de

uma onda de sequestros que começou

em 2011 e que tem visado sectores

abastados da sociedade moçambica-

na.

Os sequestros têm sido mais comuns

dentro da comunidade muçulmana

de Maputo e “só a partir do Verão é

que atingiu os portugueses”, nota José

Cesário.

Na Assembleia da República, o min-

istro da Defesa, José Pedro Aguiar-

Branco, referiu que “a  situação em

Moçambique é acompanhada com

o cuidado e a preocupação” próprias

de um país com quem Portugal tem

uma “estreita cooperação técnico-

militar”.  “Desejamos que a situação

se resolva o mais depressa possível, a

bem da tranquilidade e desenvolvi-

mento daquele país, e que se possa

incrementar, assim haja condições fi -

nanceiras para o futuro, a cooperação,

que é, em Moçambique e Angola,

das mais relevantes que Portugal tem

neste âmbito”, afi rmou, citado pela

Lusa.

Entretanto, o cônsul de Portugal em

Maputo, Gonçalo Teles Gomes, rev-

elou nesta terça-feira à agência Lusa

que há dois portugueses raptados em

Moçambique há mais de uma se-

mana.

O diplomata adiantou que um dos

casos diz respeito a um adolescente

que também tem nacionalidade

moçambicana e o outro é relativo a

um adulto do sexo masculino que é

cidadão português.

A existência destes casos era descon-

hecida da opinião pública até hoje

devido aos pedidos das respectivas

famílias.

Vigílias nocturnas nos su-búrbiosPara Elsa Santos, o aumento da

criminalidade no país está relacio-

nado com o momento de prosperi-

dade económica que o país atravessa,

depois da descoberta, em 2011, de

reservas de gás natural que podem

colocar o país entre os dez principais

produtores mundiais.

“Acho que tem que ver com aumento

da riqueza. Quando somos pobres,

ninguém quer nada connosco”, ob-

serva a empresária. Elsa Santos não

acredita que os raptos sejam obra ap-

enas de moçambicanos, considerando

haver alguma rede internacional à

cabeça. “Pode haver alguém por trás

dos crimes, custa-me a crer que os

moçambicanos sejam assim. Joanes-

burgo [na África do Sul] é aqui perto

e é um pólo de bandidagem”, sus-

tenta.

A onda de criminalidade não atinge

apenas os mais ricos, de acordo com

a percepção da empresária. Os crimi-

nosos “não olham a quem”: “Nos

subúrbios, há pessoas que não dor-

mem, andam a fazer vigílias à noite”,

explica.

O aumento do número de raptos e da

violência é um cenário real e, quando

isso acontecer, a fama de Maputo

como uma cidade calma e harmoni-

osa pode passar à história. “Começo

a acreditar que as moradias vão fi -

car vazias e as pessoas vão mudar-se

para apartamentos em condomínios

fechados, com muros altíssimos e se-

guranças enormes”, prevê Elsa San-

tos.

(Público.pt)

Raptos levam famílias portuguesas a tirar crianças do país

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13Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE

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De nada servirá mos-trar continuada-mente em inúme-ras instâncias de

debate e persuasão que a vio-

lência é desnecessária e noci-

va, se não forem desarmadas

as condições sociais que ar-

mam as mentes (as margens

que comprimem o rio) e que

contêm, ainda, o aguilhão de

épocas cuja memória perma-

nece, seja porque ainda estão

vivos os actores da violência,

seja porque a memória passa

como passam as tradições

orais: de geração em gera-

ção.

Analisar não signifi ca parti-

lhar ou aceitar o que quer que

seja. Analisar pode contri-

buir para desarmar as men-

tes armadas. Este trabalho é

rigorosamente um conjunto

de hipóteses que precisam

de ser testadas. Ao colocá-

-las, procurei que não fossem

a expressão de um discurso

panfl etário cheio de bons, de

maus e de feios. Finalmente,

seria excelente se surgissem

outros prismas de análise.

PerguntaTendo as forças armadas tomado a

base de Satunjira, que cenários pode-

mos colocar como hipóteses para o fu-

turo? Este trabalho é uma tentativa de

resposta à pergunta.

De Maputo a SatunjiraSituada na Serra da Gorongosa, pro-

víncia de Sofala, berço guerrilheiro da

Renamo, Satunjira tem sido regra geral

apresentada como quartel-general des-

se partido, como sua mera base mili-

tar. Por outras palavras: Satunjira tem

habitualmente surgido como espinha

dorsal castrense da Renamo, como seu

coração militar actual.

Porém, gostaria de sugerir uma outra

versão mais ampla, mais complexa, a

saber: Satunjira era o ícone de um cer-

to futuro abraçado a um presente tra-

balhando ao ritmo do passado. O que

pretendo dizer com tão bizarra frase? 

Vou tentar a resposta.

Como que para substituir a densidade

axiomática das expressões duramente

castrenses (“quartel-general”, “base”),

surgiu em certos círculos uma outra

expressão, única na gíria política mo-

çambicana, a saber: “academia política

de Satunjira”. Perante tão singular ex-

pressão, como encontrar o real signi-

fi cado de Satunjira, agora que Afonso

Dhlahama provavelmente reescalou

as montanhas da Gorongosa (como

já o fi zera nos anos 70 e 80 do sécu-

lo passado), um pouco como Espár-

taco o fez em relação às de Petélia?

Na verdade, a  “academia política”  foi

montada na Satunjira da Gorongosa,

rude em seu ambiente, pobre em seus

meios. Ao luxo de Maputo, Dhlakama

opôs a pobreza franciscana, protegido

por um grupo de guerrilheiros fi éis.

Aqui, como que reactivou a memória

14 Savana 08 -11-2013Savana 08 -11-2013 15NO CENTRO DO FURACÃO

guerrilheira dos anos 70 e 80 do século

passado de  Garágua em Manica e da

Casa Banana na Gorongosa de Sofala.

O dirigente partidário que tinha en-

saiado a diplomacia na bela Julius Nye-

rere de Maputo foi substituído pelo

neoguerrilheiro de Satunjira, um neo-

guerrilheiro envelhecido, mas vigoroso

na memória dos dramáticos tempos

antigos, herdeiro sem saber das virtu-

des frugais de Esparta, herdeiro, even-

tualmente também sem saber, das pro-

ezas do guerrilheiro Cambuemba que

soube tirar partido das montanhas da

Gorongosa oitocentista na luta contra

a Companhia de Moçambique, ele,

Dhlakama, que, depois de sair de Ma-

puto e antes de fi xar-se em Satunjira,

viveu algum tempo na imensa Nampu-

la de afi rmada história matriarcal.

Síntese políticaQuadro social onde tudo parece paté-

tico e irreal, onde tudo é contraditório.

Mas onde, afi nal, tudo é real e tangível.

Na verdade, Satunjira é uma espécie de

síntese política, de fecho de abóboda

das três partes do  corpo  da Renamo,

como se esta fosse o eco local da tríade

hinduísta (criação, conservação e des-

truição): simultaneamente um certo

futuro (como partido clássico jogando

desde 1992 com convicções, propagan-da, promessas e boletins de votos, ten-do estado em 1999 muito próximo da Frelimo nas legislativas e nas presiden-ciais nos resultados eleitorais), um cer-to presente (auto-evacuada das eleições deste ano e de 2014 em protesto contra a estrutura eleitoral do país) e um certo passado (organização praticando a fór-mula de Clausewitz: a guerrilha como continuação da política). Quer dizer, a Renamo deve ser analisada enquanto liga triádica, mas com pesos diferen-ciais nas três componentes.Quando Dhlakama fi xou residência em Satunjira, ele e a elite militar hege-mónica na Renamo quiseram passar a seguinte mensagem: chegou a hora de regressarmos à história. Este regressar à história signifi ca regressar à fórmula de Clausewitz, signifi ca abdicar da luta política através de eleições periódicas. Digamos que, nos termos enunciados, Maputo era o futuro, Nampula o pre-sente e Satunjira é o neopassado. Mas o regresso à história tem a ver com uma  ADN  exclusivamente guerreira, com uma espécie de movimento pe-ristáltico irremediavelmente castrense?Esta é a forma como a Renamo tem sido sistematicamente “construída” em certo imaginário, nacional e interna-cional. Mas a resposta é negativa. Sem dúvida que, com base em pessoas insa-tisfeitas com o rumo político do país pós-1975, a Renamo foi uma quinta--coluna produzida e mantida durante vários anos pelos serviços de inteli-gência da antiga Rodésia do Sul e da África do Sul da era do apartheid, mas é um produto que acabou por se mo-çambicanizar por inteiro, por se tornar autónomo, por liderar eleitoralmente uma parte do povo do país. A partir de 1992 iniciou a desguer-rilhação, procurando transformar-se num partido político clássico do tipo liberal, mas com um interior doutriná-

rio de direita, fortemente conservador

e, também, frequentemente populista.

Em 1999 esteve muito próximo da

Frelimo nos resultados eleitorais, quer

nas presidenciais, quer nas legislativas.

Mas um conjunto de problemas espe-

cialmente ocorrido entre 2004 e 2010

terá contribuído para reconduzir a Re-

namo ao aguilhão do seu nascimento e

da sua vida castrense, com um primeiro

clímax em Nampula (onde Dhlakama

fi xou residência em 2010, saído de

Maputo) e um segundo, mais pleno, na

zona sofalense da antiga guerrilha, em

Satunjira (onde Dhlakama fi xou nova

residência em 2012). Quantos e que

tipo de problemas?

Dez problemasProponho, entre outros, os seguintes

dez problemas:

1. Resultados eleitorais negativos em

2004 e 2009 e alegação de fraude;

2. Erro político e vitória de Da-

viz Simango na Beira (2008);

3. Cissiparidade política e formação do

Movimento Democrático de Moçam-

bique (2009);

4. Desobediência dos deputados do

partido na Assembleia da República;

5. Crítica permanente por parte da

Frelimo e dos partidos acomodados;

6. Sistemática recusa das propostas

apresentadas na Assembleia da Repú-

blica;

7. Criminalização dos seus membros

pelo Estado;

8. Desgaste das ameaças de ma-

nifestações de desobediência civil;

9. Atracção fi nanceira dos recursos na-

turais;

10. Nampula e Satunjira: aposta po-

lítica no sacrifício, na frugalidade, na

heroicidade e na fi delidade;

Vamos ao desenvolvimento desses

pontos.

Os resultados eleitorais de 2004 e 2009

são um sério percutor na recondu-

ção mencionada. Com efeito, Afonso

Dhlakama e a Renamo perderam as

eleições de forma signifi cativa, mas fi -

cou o registo de numerosas irregulari-

dades. Por outro lado, em 2008 a Rena-

mo cometeu um erro político: anunciou

publicamente que o seu membro Daviz

Simango seria substituído por Manuel

Pereira como candidato do partido à

presidência do município da Beira nas

eleições autárquicas realizadas a 19

de Novembro. Isso, quando, publica-

mente também, tinha anunciado que

Daviz seria o candidato. Este acabou

por concorrer como independente, ga-

nhando folgadamente. Mas não só: em

Março de 2009, Simango apresentou

o seu próprio partido, o Movimento

Democrático de Moçambique, produ-

to de uma fractura na Renamo, consu-

mando, assim, a cissiparidade política.

Em 2010, contra a decisão de Afon-

so Dhlakama, presidente da Rena-

mo (que alegou ter havido fraude nas

eleições legislativas e presidenciais do

ano anterior), os deputados do partido

ocuparam os seus lugares na Assem-

bleia da República e nas Assembleias

Provinciais. Uma clara cisão partidária.

Por outro lado, a Renamo sofria, em

crescendo, não só as críticas da Freli-

mo, quanto as dos seus antigos aliados

na oposição, pequenos partidos sem

qualquer relevo político votal mas cujos

dirigentes começaram a surgir com

grande visibilidade em certos órgãos

de informação, criticando o antigo

aliado e protector pelo que considera-

vam ser postura antidemocrática. Mas

não só: jovens intelectuais sedentos de

ascensão social e deputados de rele-

vo abandonaram o partido em 2009,

como que ampliando a sangria que

este sofria desde a expulsão em 2000

do negociador de Roma e segunda fi -

gura da organização, Raul Domingos. 

Todas as propostas de discussão ou

de alteração de não importa que cam-

po institucional e/ou legal da vida do

país, apresentadas pela Renamo, foram

e têm sido sistematicamente recusa-

das na Assembleia da República, ano

após ano, através do voto maioritário

da Frelimo, com base nos mais varia-

dos argumentos. A isso adiciona-se a

criminalização estatal constante dos

seus membros. São dois campos de

desgaste da auto-estima (permitam a

palavra da moda política) do partido.

Mas não só. As constantes promessas

de manifestações de protesto e deso-

bediência civil prometidas por porta-

-vozes há vários anos têm sido cons-

tantemente adiadas, desgastando a sua

credibilidade. Por outras palavras: a

Renamo tem sido vítima de um duplo

constrangimento, para si própria quan-

do actua na civilidade parlamentar e

não logra vencer, para outrem quan-

do promete trazer e não traz para as

ruas o que chama protestos populares. 

Vivemos no país a euforia dos recur-

sos minerais, multiplicam-se, ao mais

alto coturno, os interesses, as ofertas, as

parcerias de negócios, as empresas de

serviços, as  regalias. Recursos naturais

são recursos de poder extremamente

desejados. A Renamo não está desa-

tenta e aspira a partilhá-los. Falar de

Satunjira equivale, então e também,

a falar da aspiração a esses recursos,

abundantes, por exemplo, na província

de Tete.

Essa é uma das razões por que Satun-

jira é (talvez fosse melhor dizer “era”),

também, a expressão física dessa von-

tade. Os recursos de poder desse tipo

permitem alimentar múltiplas redes

clientelistas alicerçadas na fi delidade

pessoal e política. Ora, num país no

qual as elites seguem com extrema

atenção as revelações do grande Ca-

pital internacional sobre as riquezas

existentes em terra e mar, a Renamo

não tem com que assegurar em perma-

nência, autonomamente, a fi delidade

dos seus membros e dos seus apoiantes,

para além, ao que parece, do fundo de

cerca de três milhões de meticais que

recebe anualmente do Estado por ser

um dos partidos com assento na As-

sembleia da República.

O conjunto dos problemas apresen-

tados está na origem da transforma-

ção primeiro de Nampula e depois

de Satunjira, em centros de protesto

múltiplo e de recondução da Renamo

ao aguilhão do seu nascimento e da

sua vida castrense. O clímax estava a

ser Satunjira, lá onde o seu presiden-

te tinha criado uma espécie de palácio

governamental sombra, de Ponta Ver-melha alternativa, lá onde dava confe-

rências de imprensa, lá onde se abria ao

mundo das parangonas, lá onde repetia

que sem Renamo não era possível a

vida política do país, lá onde, opondo-

-se ao fausto de Maputo, vivia numa

casa modesta protegido pela sua guar-

da pretoriana trajada de verde.

Compensação e “efeito halo”Mas tudo isso não dizia unicamente

respeito ao resgaste da história, pois era,

também, um processo compensatório

e uma luta contra o  “efeito halo”.  A

Satunjira da Gorongosa era, também,

simbolicamente, um processo compen-

satório e um manifesto extremo con-

tra o “efeito halo”. Compensatório, no

sentido em que pelo sacrifício, pela fru-

galidade, pela heroicidade e pela fi deli-

dade, a liderança da Renamo pretendia

mostrar que estava em sintonia com a

pobreza do povo, que vivia como esse

povo. Partido conservador, partido da

direita, a Renamo tem procurado, em

linha com o populismo mais moder-

no, apresentar-se como vanguarda das

aspirações e das críticas populares. A

este nível, Satunjira foi preparada para

ser mais do que uma base guerrilheira,

foi cenicamente organizada para ser

um retorno político vistoso às origens

rurais. Como escreveu um dia Georges

Balandier, “Todo o sistema de poder

é um dispositivo destinado a produzir

efeitos, entre os quais os que se com-

param às ilusões criadas pelo teatro.

“Por outro lado, Satunjira era, também,

um manifesto extremo contra o “efeito

halo”, no sentido em que, criminaliza-

da em permanência em função do seu

passado, não importando o que fi zesse

ou faça, a Renamo procurou e procura,

pela retoma da guerrilha, pelo resgas-

te da história castrense, mostrar que

protestava e protesta defi nitivamente

contra a lógica política da soma-zero.

O resgaste da história castrense está

a ser feito à Jano. Por outras palavras:

esse resgate combina-se com a presen-

ça dos deputados do partido na As-

sembleia da República.

Vamos, agora, a quatro cenários.

O cenário da “guerrilha líqui-da” de baixa intensidadeTudo o que é sólido se desfaz, escre-

veram Marx e Engels há mais de 150

anos. No nosso caso, o que parecia

sólido (apesar de inúmeros escolhos)

em termos de gestão de rivalidades

políticas através do parlamento e das

eleições, desfez-se, os tiros estão nova-

mente à solta, as mentes rearmaram-se,

os mortos e os feridos regressaram, os

carros queimados reapareceram.

Por outras palavras: passámos da “paz

sólida” para a “paz líquida”, volátil, ir-

regular, para adaptar expressões do

sociólogo polaco Zygmunt Bauman

(“modernidade sólida”/”modernidade

líquida”).

O que sucede agora? Sucede que temos

assaltos na Estrada Nacional n.º 1. Os

cenários de pesadelo regressaram, com

pessoas mortas e feridas, com viaturas

incendiadas.

Estamos perante um dos cenários pós-

-Satunjira, o cenário da “guerrilha lí-

quida” de baixa intensidade.

Guerrilha líquida, agora não no sen-

tido de estado volátil, mas no duplo

sentido de pequenos grupos de guer-

rilheiros infi ltrando-se rapidamente

como a água (o guerrilheiro movendo-

-se como o peixe na água, diria Mao

Tse Tung) (1) seja na fl oresta e nos me-

andros sinuosos que bordejam a Estra-

da Nacional n.º 1, (2) seja em grupos

populacionais de fi delidade histórica

situados entre o Save e Muxúnguè, dos

quais devem receber apoio, protecção e

silêncio.

Pequenos grupos de guerrilheiros que,

provavelmente combinando a experi-

ência dos velhos de pré-92 com a ju-

ventude de fi lhos e parentelas associa-

das, fazendo uso de algumas armas de

fogo, são sufi cientes para provocar pro-

blemas graves a centenas de viaturas e

forças governamentais e para perturbar

severamente a economia do país.

Tal como o bater de asas de uma bor-

boleta pode infl uenciar a humanidade,

meia dúzia de tiros na Estrada Nacio-

nal nº 1 podem infl uenciar (e estão a

infl uenciar), das mais variadas manei-

ras, todo o país e, mesmo, os países

vizinhos.

Esta guerrilha-bater-de-asas de uma

Quatro cenários pós-Satunjira e o problema da soma não-zeroPor Carlos Serra

borboleta é barata, mas considera-

velmente danosa. Provavelmente o

problema principal dos guerrilheiros

poderá consistir em ter reservas per-

manentes de munições, que podem ser

obtidas por assalto ou, caso por estudar,

por fornecimento exterior.

Guerrilha barata que se pode manter

por muitos meses, com os guerrilheiros

transformando em alvo viaturas, passa-

geiros, soldados e carros de assalto.

Este cenário já foi montado na Estrada

Nacional n.º 1, já está a funcionar. E

poderá ser ampliado se da estrada pas-

sar às linhas férreas, seja, por exemplo,

a que nos liga ao Zimbabwe a partir

de Machipanda em Manica, seja a de

Sena que permite o escoamento do

carvão mineral de Moatize para o por-

to da Beira.

A guerrilha barata não precisa do con-

tributo de forças amigas nos países

vizinhos, onde, de resto, ao nível dos

partidos dirigentes, não parece haver

qualquer tipo de vontade de apoiar a

Renamo militar e logisticamente. Os

tempos da Rodésia do Sul e na África

do Sul do “apartheid” já não existem.

Mais: a guerrilha barata aqui em causa

não carece em absoluto de um coman-

do central ou de comunicações via rá-

dio ou celular. E até pode ser produto

de uma decisão tomada antes da ocu-

pação da base de Satunjira.

O cenário da “guerrilha líqui-da” de média intensidadeEste cenário torna mais complexo o

primeiro, extravando a zona Muxún-

guè/Save, podendo descer para Sul

até Inhambane e subir até Zambézia e

Nampula. Aliás, já se registou um ata-

que a poucos quilómetros da cidade de

Nampula.

A “guerrilha líquida” de média intensi-

dade poderia estar associada à criação

de redes de contacto com guerrilheiros

e à eventual reactivação das fi delidades

rurais do pré-1992, em particular no

que concerne à adesão de régulos, de-

signadamente aqueles não benefi ciados

com o estatuto de chefes comunitários

com direito a certas regalias. Poderá,

ainda, explorar frustrações sociais de

vários tipos.

Mas, mais decisivamente, este tipo de

guerrilha requer um comando central e

apoio logístico sistemático.

É muito pouco provável que a Renamo

encontre apoio nos países fronteiriços.

Por isso, é pouco provável que este ce-

nário venha a corporizar-se no país.

O cenário à Savimbi e a for-mação de uma Renamo “re-novada” sem DhlakamaClássico em Angola com Jonas Savim-

bi, mas também na Líbia com Muamar

Al Qathafi , este é um cenário previsto

por certos círculos nacionais.

A tese é a seguinte: se Afonso Dhlaka-

ma for abatido, a Renamo fi ca decapi-

tada, perdendo o seu DNA castrense.

Depois basta apenas esperar que surja

no partido um líder civil, pós-Satun-

jira, com um discurso pró-legalista e

integrador, um líder apologista da luta

pelos votos, do tipo MDM. Isso signi-

fi caria o retorno à paz e tranquilidade

do grande Capital internacional, com o

seu apetecido cortejo de regalias.

Pode acontecer que esse cenário seja do

agrado dos falcões mais musculados do

país.

Porém, a morte de Dhlakama poderia

libertar bem mais demónios do que os

desejados, do jarro moçambicano de

Pandora.

Acresce que Moçambique não é nem

Angola nem Líbia. E nenhuma his-

tória é construída num só trilho, com

papéis químicos.

O cenário político de paz pós-SatunjiraNão são poucas as vozes que, genero-

samente, têm da paz uma concepção

idealista, no sentido de que basta as

pessoas sentarem-se e conversarem

amenamente para tudo fi car resolvido.

São, digamos, concepções-aspirina,

para aproveitar a expressão “acções-

-aspirina” do pedagogo brasileiro Pau-

lo Freire (aquelas acções “cujo pressu-

posto fundamental é – escreveu ele - a

ilusão de que é possível transformar o

coração dos homens e das mulheres

deixando intactas as estruturas sociais

dentro das quais o coração não pode

ter “saúde”).

Ora, o confl ito existente nada tem de

edílico e repousa unicamente numa

coisa complexa e múltipla: partilha de

recursos de poder e prestígio.

A eventual resolução do confl ito tem a

ver com a passagem de uma situação de

soma-zero para uma situação de soma

não-zero, de uma situação em que A

ganha tudo para a situação em que B e

C também ganham.

É aí que reside o coração do problema,

seja em sua existência, seja em sua re-

solução.

As matas da Gorongosa, em toda a

sua sugestão castrense retroactiva, são

a linguagem impositiva desse desejo

de Dhlakama e do núcleo hegemónico

da Renamo. A ameaça guerrilheira do

passado almeja um futuro partilhado.

Por isso, como mecanismo de pressão,

aos votos eleitorais são opostos os votos

da mata guerrilheira. Adaptando Clau-

sewitz, a Gorongosa, especialmente na

zona Save/Muxúnguè, é a continuação

da política por outros meios.

No livro “A paz”, Aristófanes conta que

o camponês Trigeu, saturado da guer-

ra dos políticos de Atenas e Esparta,

foi ao céu falar com Zeus. Este não

estava, mas atendeu-o Hermes, que o

ajudou a tirar a paz do fundo de uma

caverna onde tinha sido metida pelos

inimigos. A paz voltou à terra, a agri-

cultura refl oresceu, as pessoas regressa-

ram à alegria, menos os fabricantes de

armas, que fi caram desesperados. Não

era apenas uma guerra entre Atenas e

Esparta, mas, como assinalou um pre-

faciador da obra, “a guerra de todos os

homens contra todos os homens, (...)

o divórcio entre os interesses dos go-

vernos e os interesses dos povos, (...) a

educação belicosa dada às crianças”.

A hipótese é a de que precisamos de

alguns Trigeus que reinventem politi-

camente o futuro do nosso país cami-

nhando e fazendo caminhar pelos tri-

lhos da soma não-zero. E que evitem

a “guerrilha líquida” de média e alta

intensidades.

Talvez, então, seja possível desarmar as

“mentes armadas” (expressão do Bispo

Dinis Sengulane) depois que forem

desarmadas as condições sociais que as

armam.

Este é um cenário difícil, mas não im-

possível – dizem os bons espíritos da

esperança - de concretizar.

FADM mantêm ocupado o “Quartel General” da Renamo em Satunjira. Foto da responsabilidade do SAVANA

Naí

ta U

ssen

e

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16 Savana 08-11-2013OPINIÃO

As manifestações em vá-

rias cidades no dia 31 de

Outubro são, até ao mo-

mento, possivelmente e

segundo certos critérios, a maior

demonstração de democracia e

de cidadania madura em Mo-

çambique. Não importa se foram

10, 20, 30 ou 40 mil nas ruas de

Maputo. Foram muitos, muitos,

muitos mais que o poder poderia

imaginar.

Primeira lição: as manifestações

decorreram com um elevado civ-

ismo. Não acrescentaram sujidade

às ruas, isto é, não deitaram lixo

para o chão, os manifestantes não

tiveram qualquer atitude agres-

siva física contra pessoas ou bens.

Possivelmente com esse receio, o

Conselho Municipal não permitiu

que a marcha se limitasse às vias

de trânsito centrais da avenida

Eduardo Mondlane. Foi uma lição

cívica para aqueles, e são muitos,

que não têm qualquer problema

em deitar qualquer objecto na rua

e passeios e, se necessário, fazer

necessidades (urinar ou mesmo

defecar). Foi também uma lição

ao Conselho Municipal que não

consegue manter a cidade limpa

e poucas ou nenhumas acções de

educação cívica realiza para que os

cidadãos cuidem da sua cidade. Os

manifestantes apontaram o dedo

ao senhor David Simango para

que este não tivesse medo de as-

saltos às lojas, aos carros e outros

bens públicos e privados quando

foi proibida que a manifestação

passasse ou terminasse na Praça

da Independência. Os cidadãos

disseram que com ou sem autori-

zação iriam à praça. E foram.

Segunda lição: os manifestantes

deram uma lição de solidarie-

dade interpessoal. Via-se fre-

quentemente que as pessoas

compartilhavam água, alimentos

e ajudavam pessoas com alguma

difi culdade de marchar. Num con-

texto do desenrasca, do salve-se

quem puder e da emergência de

uma sociedade onde os valores da

solidariedade e os sentimentos de

ajuda escasseiam, os manifestantes

deram uma lição ao que, resu-

midamente, se pode designar por

uma sociedade não solidária, e de

“cada um por si e Deus por todos”.

Num contexto onde os discursos

políticos do poder pouco ou nada

se referem aos valores reais que

unem os cidadãos e criam ambi-

entes de confi ança e solidariedade

que cimentam a cidadania e o sen-

timento de pertença a algo em co-

mum, os manifestantes foram ex-

emplares. Na manifestação houve

pequenos gestos que falam mais

que os slogans repetitivos e vazios

de conteúdo que os discursos não

se cansam em reproduzir, cansan-

do os ouvintes.

Terceira lição: as manifestações

foram bem organizadas. A dis-

tribuição de água e de camisetes,

os dísticos, a marcha, etc., revelar-

am que afi nal, quando estrutura-

dos e enquadrados, os cidadãos

são ordeiros e não querem con-

fusão. Os manifestantes deram um

puxão de orelhas carinhoso aos

que chamavam de vândalos aos

manifestantes de outras ocasiões,

incluindo todos os manifestantes

nessa categoria de desordeiros,

mesmo que existissem situações

de violência criadas por algumas

pessoas. E isso não foi devido à

presença das tais “sombras” de que

um jornal ligado ao poder afi rma,

desrespeitando a capacidade e o

civismo dos cidadãos e tratando-

os por vândalos potenciais. Se são

tão efi cientes, porquê os “sombras”

não actuam contra os raptores?

Que falta de sensatez e arrogân-

cia infantil. E aquela pessoa, que

numa anterior manifestação, ati-

rava a matar da varanda de um

prédio, era o quê e o que lhe ac-

onteceu? E os polícias quando, na

mesma manifestação, disparavam

balas reais e não de borracha con-

forme intervenções ofi ciais, como

deveriam ser apelidados? E o que

aconteceu aos mandantes dos ti-

ros? Em resumo, a sociedade sabe

organizar-se de forma autónoma.

As sociedades não necessitam de

um poder e de uma máquina ad-

ministrativa para possuir com-

portamentos cívicos positivos,

organizar-se em redor de causas

comuns, assumir e cuidar de um

bem público como seu. Os po-

deres pensam assim porque uma

sociedade madura e cidadãos con-

scientes retiram poder às burocra-

cias, que têm medo da capacidade

reivindicativa dos cidadãos.

Quarta lição: na manifestação

estava patente a riqueza da di-

versidade cultural, racial, étnica,

religiosa e de outras naturezas de

Moçambique. Todos convivendo,

solidarizando-se e apoiando-se

entre si, todos unidos por uma

causa comum. Os manifestantes

deram uma bofetada aos que de

diferentes formas e a partir de in-

stâncias do poder, de modo mais

ou menos aberto, propagam e

atiçam o racismo no seio da so-

ciedade moçambicana. E estes,

no lugar de serem criticados, são

por vezes promovidos dando le-

gitimidade à dúvida se são pro-

nunciamentos pessoais e isolados,

ou se são orientações de alguns

que revelaram atitudes racistas ao

longo de décadas. O racismo surge

sempre em momentos críticos no

seio do poder e em situações de

importantes decisões. Mas porque

se preocupar com minorias per-

centualmente tão insignifi cantes

que não representam seguramente

mais que um por cento da popu-

lação moçambicana? Serão as-

sim tão poderosos para justifi car

algumas frases como aquelas de

que eles querem mais poder e rep-

resentatividade ou participar nos

benefícios das novas riquezas. Ou

o racismo é uma forma indirecta

de se falar dos reais elementos

que necessitam de uma persis-

tente acção pedagógica concreti-

zada com factos concretos. Será

por acaso que o discurso racista

surge em simultâneo com o res-

surgimento do slogan da unidade

nacional e com a descoberta de

riquezas naturais? Será que estu-

dos atentos à estrutura accionista

de algumas empresas não reve-

lariam regionalismos, etnização e

familiaridade na formação de gru-

pos e de interesses económicos?

No lugar de se aproveitar os ben-

efícios das diversidades culturais

de Moçambique, criam-se discur-

sos patéticos como o dos genuínos

e não genuínos.

Quinta lição: os manifestantes

romperam o sentimento de medo

social. Os cidadãos vivem com re-

ceio pelo que dizem e escrevem, o

que é fundamentado por ameaças

veiculadas de diferentes formas

como “fala de mais”, “critica e não

apresenta soluções”, “agitadores”,

“anti patriotas”, apóstolos da des-

graça e tantas outras. Ou ainda,

com ameaças de perda de em-

prego, cortes de publicidade nos

órgãos de informação. É frequente

ouvir-se que não posso “cuspir na

sopa que vou comer”, discursos

diferentes da mesma pessoa (de

lambebotismo em oratórias in-

stitucionais e de crítica em con-

versas privadas). Pode-se difi cultar

ou mesmo impedir a fala pública

e a escrita, mas não se consegue

jamais impedir o pensamento,

por mais que se tente manipular.

Os manifestantes transportavam

dísticos de crítica, de indignação,

de revolta interior, fi zeram-se dis-

cursos e intervenções desafi antes.

Será que o poder ouviu e tirou

lições?

Sexta lição: o controlo da infor-

mação está ultrapassado, torna-se

cada vez menos efi caz e contra

producente para o próprio poder.

A cobertura minimalista e portan-

to forçada realizada pelos órgãos

de informação revela arrogância,

desprezo, controlo da informação

e informação de manipular a

opinião pública. O volume de

informação que circula nas redes

sociais é imparável e alarga-se

cada vez mais. Há já muitas cen-

tenas de milhares de informações

diárias (não é um número especul-

ativo), que circulam nas diferentes

formas de comunicação impos-

síveis de se controlar. O poder em

Moçambique revela-se ultrapas-

sado e incapaz de se adaptar às

novas realidades.

Sétima lição: os manifestantes

deram uma lição de democracia

ao governo. O número de mani-

festantes, a forma como a mani-

festação se desenvolveu, o civismo,

os discursos, a solidariedade in-

terpessoal, a beleza da diversidade

cultural, a ruptura com o medo

demonstraram que não há porquê

recear dos cidadãos e da democ-

racia. Em momento de risco de

perda de algumas conquistas da

democracia, os manifestantes el-

evaram a qualidade da democracia

moçambicana sem pedir autori-

zação ao governo nem ao partido

no poder. Foi uma conquista da

cidadania. Os apelos desenver-

gonhados e arrogantes de desin-

centivo aos cidadãos em participar

na manifestação caiam em saco

roto. Os cidadãos apertaram o

braço ao poder, dizendo para que

não haja medo da liberdade e da

democracia.

Oitava lição: é presumível que o

início da manifestação diante da

estátua de Mondlane e o fi m na

estátua de Samora, tenha o sig-

nifi cado de recordar homens que,

por mais defeitos e erros que ten-

ham praticado, são e serão ícones

do povo e da pátria. São referência

nestes momentos de grande preo-

cupação de todos os moçambica-

nos. Isto porque acreditam que,

com cada um deles, a situação

seria bem diferente. A memória

de Mondlane e Samora, signifi ca

que eles fazem falta. Qual ou quais

as lições que o Senhor Presidente

Armando Guebuza retira destes

sentimentos?

Nona lição, os cidadãos foram à

manifestação dizer que não que-

rem raptos e desejam viver em

paz e tranquilidade. Foram dizer,

com provas, que há pessoas pert-

encentes à polícia envolvidas nos

raptos (pelo menos em alguns).

Foram dizer que há motivos para

não acreditar em algumas institu-

ições do Estado, duvidam das suas

capacidades operativas. Há biliões

de dólares para edifícios públicos

luxuosos, infra-estrutura de prior-

idade duvidosa, armamento mili-

tar, deslocações e visitas presiden-

ciais e da senhora Primeira Dama,

mas parece não haver recursos

para capacitar as forças policiais.

Os manifestantes questionaram

de forma directa e indirecta acerca

das prioridades do governo na uti-

lização dos seus impostos.

Décima lição: os manifestantes

foram dizer não à guerra. Querem

a paz. Neste particular há um un-

íssono popular. Já não importa a

culpabilização de quem começou

a fazer o quê, quem tem discursos

belicistas, quem responde a quem.

Basta de discursos contraditórios,

cínicos e maquiavélicos de desejo

de paz, quando, em simultâneo,

se dão comandos de acções mili-

tares e de guerrilha. Esses discur-

sos servem apenas para legitimar

o ciclo da violência. Especula-se,

há muitos meses, com coerência

lógica, sobre as razões pelas quais

nenhuma das partes em confl ito

quer a paz. E as especulações têm-

se verifi cado com o tempo. So-

mente os apaniguados pelo poder

e seus benefícios (de ambos os

lados) estão interessados em saber

quem é culpado. A maioria rec-

lama apenas pela paz e já. E quem

deve preservar a paz é o mais alto

magistrado da República. Por isso,

todos os esforços de diálogo e de

Lições das manifestações de 31 de Outubro de 2013Por João Mosca

Naí

ta U

ssen

e

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17Savana 08-11-2013 OPINIÃO

negociação devem terminar com

o silenciar das armas. Fazer con-

cessões de natureza partidária, governativa ou de confl itos de personalidades, nada representa quando está em causa a paz. Nen-huma razão, para ambas as partes, justifi ca o confl ito armado. Perde o povo e perde o país. São valores demasiados altos comparativa-mente a lutas partidárias, de gru-pos e de pessoas. Isto só é difícil, quando se defende o poder pelo poder, o poder como instrumento de obtenção de riqueza, o poder como forma de organização de interesses pessoais, familiares e de grupos, incluindo os agiotas sa-télites.

Lição onze: a eventualidade da sociedade civil possuir muitas e persistentes razões de manifes-tações deste tipo pode perigar o poder. No caso de Moçambique, em grande parte, as eleições gan-ham-se no meio rural, mas pode-se perder o poder nas cidades. É necessário aprender de casos veri-fi cados em outras realidades. As manifestações do dia 31 de Ou-tubro.

Lição doze: infl uências do exteri-or. Os raptos e a situação de insta-bilidade não têm alguma infl uên-cia ou causa externa. Resulta de factores estritamente internos. Por mais “mão externa” que se invente as razões e motivações são inter-nas. Os posicionamentos do sector externo são múltiplos. Porém, de comum, está a rejeição da guerra, a condenação dos raptos e a def-esa da democracia. Há indícios claros da intenção de alguma co-operação reforçar a sociedade civil para defesa da democracia. Outros preocupam-se apenas que o au-mento da instabilidade perturbe os seus negócios. O sector externo associado aos megaprojectos a ex-istência de democracia ou autori-tarismo é-lhes indiferente. O que lhes importa são as condições para a maximização dos seus objectivos: extrair o máximo e o mais rapida-mente possível os recursos naturais

Considerações geraisOs movimentos sociais têm muita força mas também consideráveis debilidades. O primeiro, que é decisivo, é a existência de uma causa forte, comum à maioria dos cidadãos ou a um determinado extracto populacional. Na mani-festação de 31 de Outubro, existiu uma motivação próxima e forte (sobretudo os raptos) que afectou principalmente a classe média e média-alta, e daí uma possível análise dos vários perfi s de pes-soas que marcaram presença nas manifestações. Certamente que a guerra é um motivo socialmente muito mais amplo mas que even-tualmente não teve na actualidade a força equivalente dos raptos. Isto porque a instabilidade militar ainda não afectou gravemente os citadinos. O agravamento do con-fl ito armado e os possíveis efeitos

signifi cativos nas cidades poderá

gerar novos e mais fortes movi-

mentos sociais.

O poder não assumiu a manifes-

tação como uma atitude constru-

tiva de reivindicação dos cidadãos.

A fundamentar esta frase está o

desincentivo para a não partici-

pação na manifestação, as difi cul-

dades sobre o percurso das mani-

festações, a dimensão da cobertura

e a escrita desrespeitosa da comu-

nicação social ligada ao poder. O

poder manifestou-se claramente

anti democrata. Foi uma atitude

pouco inteligente.

Seria muito mais inteligente que

todos os partidos políticos (in-

cluindo a Frelimo), o governo, a

Assembleia da República, o poder

judicial, etc., estivessem presentes

ao lado dos cidadãos, numa mani-

festação cujos motivos também

são ou deveriam ser preocupação

do sistema do poder. Os raptos,

a instabilidade e a paz. A ausên-

cia dos políticos só revela temor

de se enfrentarem aos cidadãos.

Quando um poder tem medo do

seu povo … então algo de muito

grave se passa.

Finalmente, a eventualidade do

agravamento das duas motivações

das manifestações – raptos e paz/

guerra – pode perigar a democra-

cia. Será que a declaração de es-

tado de sítio está prevista?

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18 Savana 08-11-2013OPINIÃO

CartoonEDITORIAL

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*

*

Maputo-República de Moçambique

*

*

Num belo dia do longínquo

ano de 1984, quando per-

tencia a um grupo coral

de crianças da província

de Inhambane (no qual militava

com a actual Directora-Geral da

Unidade Anti-corrupção da PGR,

Ana Maria Gêmo, onde Cidá-

lia Chaúque, actual Governadora

de Nampula, era a nossa mana),

fui chamado pela mamã Benedita

Zandamela, esposa do ora Gover-

nador da província, José Pascoal

Zandamela (já falecidos), para ser

dito que daí a alguns meses iria ser

criada uma organização nacional

de crianças, que se chamaria Or-

ganização dos Continuadores da

Revolução Moçambicana e que a

mesma teria um representante em

cada província, sendo que o meu

nome teria sido apontado como

provável representante da mesma

em Inhambane.

No ano seguinte nasce, de facto,

a “Continuadores” e sou indica-

do criança-líder da mesma, em

Inhambane.

Num dos dias da semana, tinha

que me dirigir à sede da Frelimo

na Província, com o objectivo de

aprender sobre a “Continuadores”

e sobre a própria Frelimo. Para

tal, era recebido pelo “Chefe do

Departamento do Trabalho Ide-

ológico”, Hermenegildo Mateus

Infante, actual 1ºSecretário da Fre-

limo na cidade de Maputo. Claro

que não era sempre; pois algumas

vezes, por outro quadro.

Hoje, já com alguma capacidade

de análise porque adulto, tenho a

nítida percepção de que, tanto a

“Continuadores” como as “aulas”na

sede da Frelimo constituíam uma

base complementar da minha for-

mação moral, cívica e intelectual

que se iniciava no leito do berço,

em casa, desenvolvia-se na Escola

e cimentava-se na Igreja.

-Ora, tanto na “Continuadores”,

como na Frelimo, aprendia a res-

peitar os mais velhos. Aprendia a

respeitar os pais e encarregados de

educação, colegas e amigos. Apren-

dia a respeitar os nossos superiores,

ainda que não concordássemos

com uma ou outra coisa que fi -

zessem ou dissessem; aprendia a

respeitar os Governantes. Apren-

dia a respeitar uma opinião, mes-

mo que discordasse. Aprendia a

ser simples, humilde e, se possível,

discreto (uma das formas de ser e

de estar de Hermenegildo Infan-

te, até aos dias de hoje). Aprendia

a saber apontar, com frontalidade,

as coisas más de um grupo, den-

tro do próprio grupo, visando que

estas mesmas coisas más passem a

engrandecer o meu grupo perante

o público. Aprendia a ter aversão

à intriga, à maledicência, ao boato.

Aprendia a me afastar de todo o

tipo de drogas (das pesadas, pas-

sando pelo álcool, cigarro, às mais

leves); aprendia a não me orgulhar

por ser um bom bebedor de cerve-

ja. Aprendia, a nível doméstico, a

ajudar nos trabalhos de casa (var-

rer, limpar, lavar…). Aprendia que

os homens são iguais, independen-temente da raça, tribo, região…; aprendia que em Moçambique não existe preto, branco,…, pois todos somos fi lhos desta terra. Apren-dia a não humilhar a ninguém, pois ninguém é, de todo, perfeito; aprendia que não é orgulho para a sociedade ter alguém que se van-gloria por vexar outrem em público e, principalmente, vexar um supe-rior, um dirigente. Enfi m…, apren-di a ser Homem. Se hoje não sei ser e estar em sociedade; se hoje não sou homem, tenho que me queixar de mim mesmo. Hoje, queria partilhar com adultos e com jovens, aliás, principalmen-te com os jovens, este aprendizado que acima relatava; mas mais do que partilhar, queria ter a ambição de infl uenciar para que pudessem aceitar que lhes passe esta herança, acima de tudo, queria que anotas-sem com mais tonalidade, neste património que vão herdar, que em Moçambique não há e nem deve haver campo para se fomentar a guerra, a estratifi cação social à base da cor (racismo puro), do regiona-

lismo e do tribalismo e que sejam

autores de linhas; de canais; de

pensamentos concorrentes a paz,

estabilidade e harmonia social.

Tenho dito.

Os que fazem guerra devem saber fazer paz

Para que não houvesse qualquer variação no padrão de comportamento das duas partes, tivemos, no início da semana, o governo a anunciar o tão espe-rado encontro entre o Presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para esta sexta-feira, dia 8 de Novembro.

Mas mal a informação foi tornada pública através dos meios de comunicação social, era a vez da Renamo também fazer uso destes para comunicar que não havia condi-ções para a realização do referido encontro.Mais um caso de políticos a entreterem-se com o verbo, enquanto o país vai sendo engolido pelas chamas. Um encontro entre o Presidente Guebuza e Dhlakama foi sempre a última es-perança dos moçambicanos desde que o confl ito político se instalou no país, nos princípios deste ano. Mas seria de esperar que um encontro a esse nível fosse alvo de uma concertação prévia nos bastidores, sem qualquer publicidade até que chegasse o momento.Mas a julgar pelas palavras de Edson Macuácua, Porta-Voz do Presidente da Re-pública, aparentemente, foi apenas uma iniciativa do Chefe de Estado “convidar” o líder da Renamo para se deslocar a Maputo para o referido encontro. Este “convite” seria feito chegar, mais tarde, ao seu destinatário através dos canais apropriados, que também, julgando pela reacção do Porta-Voz da Renamo, Fernando Mazanga, não incluem o protocolo desta formação política.Com todo o respeito, um “convite” feito no início da semana para um encontro para um máximo de cinco dias depois, não parece que seja exequível. A logística de ter que trazer para a Cidade de Maputo alguém que é dirigente de um partido político que está em guerra (armada) com o governo, e que ainda por cima se encontra “em parte incerta”, não deve ser alguma coisa que se faz com tanta facilidade, e em menos de uma semana. Igualmente, e no estado em que as coisas se encontram, a vinda de Dhlakama a Maputo, sem quaisquer garantias de imunidade ou de amnistia, seria o equivalente a um acto de rendição, que no seu melhor cálculo, o líder da Renamo não teria a ingenuidade de cometer. Consideremos as palavras do Porta-Voz do Presidente da República, quando disse, na semana passada, que “a Renamo entrou em situação de inconstitucionalidade”, a partir do momento em que os seus guerrilheiros passaram a realizar alegados ataques contra civis, unidades militares e policiais. Por outras palavras, e tendo em conta o sangue já derramado nas várias confron-tações, na visão do governo, a Renamo tornou-se numa organização criminosa, e consequentemente ilegal. Nestas circunstâncias, o líder da Renamo tem todas as possibilidades de ao chegar a Maputo, no lugar de ser conduzido à Ponta Vermelha ou ao Gabinete da Presi-dência da República, ser apresentado com um Mandado de Captura e conduzido à prisão. O encontro com o Presidente da República era possível nos dias antes do exêrcito ter recebido ordens para assaltar o acampamento de Dhlakama em Satunjira. O governo diz que não era para matar Dhlakama, mas não se envolve o exêrcito em acções de caça desportiva. Neste momento, sem a necessária preparação, tal encon-tro seria improdutivo, sendo por isso desaconselhável.A situação de guerra em que o país se encontra exige outro tipo de intervenções que venham eventualmente conduzir a um acordo que ponha fi m a todo este confl ito. De imediato, as duas partes precisam de criar os canais necessários para negociar um acordo de cessar-fogo o mais rápido possível. O cessar-fogo deve ser seguido do reatamento imediato das negociações interrom-pidas na sua 25ª ronda. Negociações ininterruptas e não apenas às segundas-feiras. Há aqui uma vantagem. Já existe uma agenda proposta pela Renamo e acordada entre as partes. Mas a Renamo não deve ser permitida a introduzir novos pontos para discussão. A questão da Lei Eleitoral deve ser encarada com certo realismo. A paridade que é exigida pela Renamo não parece de todo praticável. O dossier sobre a Lei Eleitoral deve ser abordado na perspetiva de tornar os órgãos de administração eleitoral me-nos partidarizados e mais profi ssionalizados. Nesta perspectiva, o modelo de proporcionalidade com base na representação par-lamentar também deve ser posto de lado, dando-se preferência a uma Comissão Nacional de Eleições (CNE) que incorpore também todas as funções actualmen-te executadas pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Este novo fi gurino da CNE deve ter entre cinco a sete membros, seleccionados através de um concurso público que se baseie estritamente na competência técnica, tendo como presidente um magistrado do topo da carreira, auxiliado, na componente ope-racional, por um Director-Geral de Eleições.No que respeita às questões de defesa e segurança, a tónica deve ser sobre a ne-cessidade de não se permitir que a Renamo continue a ser um partido com um exêrcito paralelo. As negociações devem conduzir à desmobilização dos militares da Renamo, em conformidade com as modalidades acordadas no Acordo Geral de Paz de 1992. Neste contexto, a Renamo deve apresentar uma lista completa dos seus soldados, os quais devem ser tratados em igualdade de circunstâncias, ao abrigo do Estatuto Geral do Combatente. Tudo isto é possível, em tempo relativamente curto, desde que haja vontade política das duas partes. As partes devem negociar de espírito aberto, de forma descomple-xada, e sem quaisquer trunfos na manga. Até aqui a Renamo tem assumido uma posição reivindicalista, com exigências mui-to rígidas e por vezes até incomportáveis. Mas isso deve ser em resposta ao igual radicalismo do governo. Contudo, a Renamo só sairá a ganhar se mudar de postura, assumir um papel de liderança no processo e mostrar fl exibilidade quando tal se torne pertinente no in-teresse nacional, da estabilidade e prosperidade deste país.

O que herdei da Frelimo e que gostaria de partilharPor: Hermínio Paulino Chissico

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19Savana 08-11-2013 OPINIÃO

[email protected]

http://www.ofi cinadesociologia.blogspot.com

348

Vivo como toda a gente

vive, de frases feitas,

escritas ou ditas por

outros.

Na terça-feira passada, dia 05,

estava com um amigo meu a

ver telejornal onde se faziam

largas parangonas sobre a

campanha eleitoral, onde al-

guém estava com megafone

em mão a perguntar às mama-nas de um bazar informal, nos

arredores de Maputo, se não

gostariam de ser felizes, se não

gostariam de ter uma velhice

tranquila e se não sabiam que

para isso era preciso que elas

descontassem uma percenta-

gem dos seus rendimentos di-

ários para pagar ao Conselho

municipal que era para o Con-

selho Municipal ocupar aquele

dinheiro para depois elas go-

zarem quando fossem velhas.

Nunca tinha visto tanta hipo-

crisia. As próprias vendedeiras que

não são assim tão parvas também

respondiam de olhos virados para

a clientela e não para o candidato.

Sim, sim o papá tem razão.

O meu amigo disse olhando para

mim sem tirar os lábios do copo do

whisky: “todos nós temos direito a

nossa loucura”.

Eram 11:35 da manhã.

Lembrei-me de ter lido no mayom-be de Pepetela esta frase: “a verdade

é um caminho de areia no meio de

deserto”.

Lembrei-me também do Dalai

Lama ter dito: “o homem é um ani-

mal que me espanta muito. Arruína

a saúde para juntar dinheiro e de-

pois gasta esse dinheiro para recu-

perar a saúde perdida, vive como se

não fosse morrer e morre como se

nunca tivesse vivido”.

O Juan Ramón Jiménez escreveu

numa da suas obras: “a solidão é

como um grande pensamento de

A estrutura da “tribali-

dade”  nasce na inte-

racção social quando

gerimos, protegemos

ou almejamos  monopolizar re-

cursos de vida e poder funda-

mentais,  quando praticamos a

estrutura social dos semáforos:

primeiro estão, passam  ou ga-

nham  os  nossos, depois os  ou-

tros  se algo restar ou permitir-

mos  (aqui, a  “tribalidade”  não

tem a ver com o sentido clássico

de  “tribo”, mas com o sentido

múltiplo de identidade grupal e

política).

Eis o princípio ideológico:

o  nosso  grupo (família, linha-

gem, classe de idade, região,

clube desportivo, unidade mi-

litar, sindicato, partido político,

agrupamento de bairro, religião,

agrupamento científi co, clã ide-

ológico) tem o direito histórico à

preeminência, ao usufruto social

e à verdade. Esse princípio co-

manda a selecção identitária de

pessoas, adeptos, apaniguados,

crentes, militantes, funcionários

e parentes.

De alto a baixo do edifício ofi -

cial, o princípio do semáforo

social organiza a selecção e a co-

locação “tribal”.

“Tribalidade”

Frasesluz”.

O meu amigo Mazuze disse:

“quando engravidou a sua meni-

na aos 17 anos, ainda solteiros,

aquilo deu um ximoco de tama-

nho pela parte da família do

menino”.

Então ele disse ao pai em jeito

de desculpa: “papa, quem provo-

ca merda atura o cheiro”.

E o pai respondeu-lhe:

“Sim, mas não te esqueças que o

cheiro não será aturado por você

sozinho. Todos que estão à tua

volta vão ter que aturá-lo”.

O meu amigo Horácio disse-me

uma vez: “se vires um cágado em

cima duma árvore é porque al-

guém o colocou lá ou se a esteira

é curta encolhe as pernas”.

O meu pai dizia: “se até aos 30

anos não conseguiste comprar

uma cama esquece, continua a

dormir na esteira”.

Vivemos uma extraordinária úl-

tima semana de Outubro em

Moçambique. Descobrimos

o real país que sobrevive ape-

sar dos golpes físicos e psíquicos com

que é fustigado há muito e que subita-

mente se agravaram ao ponto de fazer

saltar a tampa do pote. Afi nal, estamos

vivos, somos solidários uns com os ou-

tros para além das divisões de cor de

pele, de origem geográfi ca, de fi liação

ou não fi liação a partidos políticos,

das religiões que professamos ou não

professamos, de idade, de género e de

condição social. Foi o que Maputo

mostrou ao resto do país e ao mundo

na quinta-feira da semana passada. E

o resto do país quis também reafi rmar

este ideal que nos animou na Indepen-

dência, hoje quase esquecido. Apesar

da exclusão que lhe é imposta pela

própria capital, outras cidades replica-

ram o protesto. O mundo mal notou,

mas não era para o mundo que faláva-

mos, a mensagem era para dentro das

fronteiras.

Há os que tentam desunir-nos ata-

cando fracções do todo para quebrar o

todo em pedaços: mas nós resistimos

a voltámos a afi rmar que somos todos

moçambicanos e que a dor de um é a

dor de todos. Escangalhámos o mito

racista de que moçambicano é medro-

so e cobarde e face à ameaça mete-se

na toca como coelho perseguido. Não

é verdade: são os nossos próprios fi lhos

que nos ensinam que a cidadania é um

valor, o único que nos garante a sobre-

vivência.

A manifestação pela paz e contra os

sequestros, para muitos foi reacção à

barbaridade do assassinato de Amahd

Rachid da cidade da Beira, visto no

Moçambique depois das manifestações:à espera do que aí vem Por Maria de Lourdes Torcato

noticiário da STV na segunda-feira. O

vídeo mostrando o adolescente a su-

plicar à mãe que o salvasse, fez chorar

muito espectador, incluindo esta que

escreve estas linhas. A dor da mulher,

que com a ajuda dos seus empregados

e durante três dias procurou o fi lho por

toda a cidade, exprime indignação e

fúria perante as câmaras, acusa as au-

toridades de conivência com o crime.

Foi o grito de socorro colectivo como

só uma mãe é capaz de fazer ouvir.

E depois tivemos Alice Mabota que,

com a sua coragem e discurso frontal

que já fi zeram dela uma referência

nacional admirada e respeitada, orga-

nizou e mobilizou apoios para fazer a

maior marcha de protesto organizada

na História de Moçambique. Teve os

apoios que pediu, incluindo os melho-

res e mais corajosos da comunidade

muçulmana - não esqueçamos que

muçulmanos foram vistos como os al-

vos dos sequestros nos dois primeiros

anos e quem na altura disse que “são

confl itos entre eles”, se não engoliu

ainda estas palavras é melhor fazê-lo

pois já viu que alvos da malvadez e da

ganância por dinheiro somos nós to-

dos. E a marcha avançou como Mar-

cha pela Paz e contra a Criminalidade

e Insegurança, em que todos, pobres e

menos pobres, jovens e velhos, se sen-

tiram representados.

No reino do imprevisívelEm Outubro, o mediafax publicou um

artigo cujo autor* dedica muito do seu

trabalho a este país donde partiu nos

anos 70. O artigo começa com esta

afi rmação: “Não existem condições

para o desencadear de uma nova guer-

ra civil em Moçambique”. O artigo

justifi ca a afi rmação e prevê cenários,

baseado na análise lógica das condi-

ções objectivas actuais. O problema é

que duas semanas depois, a situação

é diferente para pior, com mais con-

fl itos entre Forças de Defesa e FIR e

homens armados, presumivelmente

da Renamo, quem sabe se descoman-

dados. Bases e casas do “inimigo”, que

afi nal devia ser apenas o “adversário”

com quem se dialoga, em Sofala e

Nampula, já foram desmanteladas e

ocupadas. Dhlakama, ofi cialmente,

está em parte incerta dentro de Mo-

çambique. Qual é o objectivo fi nal

destas operações, não sabemos nem

compreendemos. A lógica das análises

não resiste à irracionalidade dos actos.

O povo que se manifesta na rua pede

paz e diálogo: “que se encontrem os

chefes e negoceiem porque não que-

remos voltar à guerra”, resume a men-

sagem mais repetida. Mas à medida

que o tempo passa cada vez mais custa

acreditar que o diálogo, que pressupõe

reconhecimento e respeito mútuo, seja

possível. E os camponeses das áreas

dos ataques andam para trás e para a

frente de trouxas à cabeça e fi lhos às

costas, à procura de lugar para descan-

sar longe do tiroteio. Os que já tinham

conseguido montar o seu pequeno

negócio perdem numa hora o esforço

de anos. Mas ainda pedem diálogo e

gritam por paz. E a resposta são mais

actos de guerra, não guerra de palavras

mas de armas, que cospem destruição

e morte.

Ainda falando de irracionalidade:

prepararam-se eleições autárquicas

como previsto, para 20 de Novembro.

A campanha começou, muitos milhões

foram gastos. Mas será que os eleito-

res face a tanta incerteza e confusão,

vão votar? Há regiões onde sabemos

que elas não terão lugar, ou porque

não há mesa de voto, ou porque não

há eleitores. Mas quem sabe, talvez

os moçambicanos se sintam ainda

mais motivados nos locais onde não

há perturbações. Tudo é imprevisível

e a abstenção pode ser quase total, ou

a afl uência pode ser tão alta que será

uma grande lição a aprender.

Imaginemos que acontecem as ne-

gociações de alto nível como pede o

povo, como aconselham os amigos de

Moçambique, como exige o clamor

dos excluídos dos “benefícios” da paz.

As armas podem calar-se mas isso não

chega para trazer o sossego. Por detrás

do grito dos pobres pela paz, está toda

a situação social que sabemos que não

se resolve sem paz, mas que tem de ser

resolvida para que eles saiam da misé-

ria e para haver real desenvolvimento:

a criminalidade que não se esgota nos

sequestros e há muito é o fl agelo dos

subúrbios das cidades, a ausência da

Saude e Educação, que o Estado lhes

promete num dia e lhes tira logo a se-

guir com a ajuda da pequena corrup-

ção. Estes são só exemplos dos gritos

de socorro à mistura com os da raiva

incontida dos que dizem “Fora!” nas

manifestações.

Penso nos mais de 20 milhões de po-

bres e excluídos deste país. Mas tam-

bém tenho amigos ricos ou pelo menos

bem na vida e sei que são patriotas. Es-

ses devem ver quanto antes que os que

se manifestam e protestam, pela justiça

e contra a impunidade dos criminosos,

são os seus verdadeiros aliados. Sem

um Estado de Direito, é muito pro-

vável que o que têm hoje lhes escape

como uma mão cheia de areia da praia

por entre os dedos. Mas se quem deve

saber mais da real situação do país do

que o comum dos cidadãos e tem o po-

der de pôr o certo e o errado no devido

lugar, nos vem dizer que a Polícia me-

rece confi ança e a culpa é da “sociedade

civil” e dos jornalistas que fomentam

instabilidade, então o colapso já está

em processo. Porque não é possível

que milhões estejam errados e só meia

dúzia pretenda que vê a verdade.

Mas esta é a situação que temos e é

impossível não fazer o paralelo histó-

rico com tantos governos totalitários

em vésperas da queda, completamente

cegos, surdos e mudos, recusando ver o

evidente e não querendo ouvir o cla-

mor dos que lhe apontam o caminho

da saída. É esta cegueira que leva os

governantes moçambicanos a gastar

os lucros que ainda não existem mas

se esperam, dos recursos naturais, não

a promover a agricultura para dar de

comer a milhões de moçambicanos

famintos, 50 por cento dos quais são

crianças malnutridas, mas armamento

pesado a começar por aviões de com-

bate. Parece que as nossas fronteiras

estão na iminência de ser violadas por

inimigos poderosos. Mas quem são

esses inimigos? Bandidos, com armas

ou sem elas, não se combatem com

obuses.

Neste quadro de irracionalidade, tudo

é possível e nada é previsível. Precisa-

mos de preservar as poucas garantias

que temos, entre as quais a Constitui-

ção que nos vai garantindo a possibi-

lidade de escolher quem nos governe.

Temos de olhar pelas instituições já

ameaçadas ou enfraquecidas, como a

imprensa que quer continuar livre e

as organizações da sociedade civil que

cumprem com honestidade o seu pa-

pel, para as defender até aos limites das

nossas forças. Dos muitos compatrio-

tas com saber, experiência e reputação

de integridade que ainda têm muito a

dar a Moçambique e estão dispostos a

servi-lo, esperamos iniciativas que pos-

samos seguir e apoiar. Não deixemos

que a morte do mártir Ahmad Rachid

e o sofrimento da sua Mãe Coragem

tenham sido em vão. As capacidades

das centenas de milhar de homens e

mulheres que sobrevivem sem vender a

sua dignidade, de jovens profi ssionais,

estudantes, trabalhadores, são a garan-

tia de que temos futuro como país.

*Fernando Jorge Cardoso do Instituto Marquês de Vale Flôr � Lisboa

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20 Savana 08-11-2013OPINIÃO

A TALHE DE FOICE

SACO AZUL | Por Luís Guevane

Por Machado da Graça

ESPINHOS DA MICAIAPor Fernando Lima

E

Ao dar ordens para que as Forças de

Defesa e Segurança atacassem as

bases de Satunjira e de Marínguè,

o Comandante em Chefe, Ar-

mando Guebuza, quebrou um equilíbrio

político-militar que durava já há 21 anos.

E que, de alguma maneira, assegurou a Paz

que o país viveu ao longo desse período.

E, a partir desse momento, o sangue dos

moçambicanos corre mais, na nossa terra, a

cada dia que passa. Os combates sucedem-

-se e o número de vítimas, muitas delas

mortais, já é de contagem impossível.

Ao empurrar Afonso Dhlakama para o

mato, em local desconhecido, as forças

militares e policiais retiraram de um qual-

quer processo de Paz, um interlocutor fun-

damental e alguém que, apesar de tudo,

mantinha algum controlo sobre os homens

armados daquele partido, procurando evi-

tar a sua instrumentalização pelos antigos

generais.

Os resultados disso tudo são já muito maus

e podem-se tornar péssimos. Não sei que

capacidade militar tem a Renamo mas, na

guerra de guerrilha, muito poucos homens,

decididos, podem paralisar um país e des-

truir a sua economia. E a Renamo tem, de

certeza, bastante mais homens do que estes

a que me refi ro.

Com tudo isto, estamos a gastar o que te-

mos e o que não temos para conseguir uma

solução militar para um problema que po-

deria, perfeitamente, ter uma solução po-

lítica. Caso houvesse uma real vontade de

negociar, por parte do Governo.

Da parte da Renamo creio que havia essa

vontade. Se bem percebo, a sua proposta

era: Queremos garantias de eleições sérias,

despartidarização do Estado e melhor dis-

tribuição da riqueza nacional e, do nosso

lado, oferecemos o desarmamento dos nos-

sos homens.

Do lado do Governo, a posição foi de

não ceder um milímetro em qualquer das

questões essenciais. Cederam em questões

de pormenor, que nem sequer cheguei al-

guma vez a saber quais foram, e por aí se

fi caram. Claramente não estavam interes-

sados na oferta da Renamo porque já ti-

nham decidido que o desarmamento dos

homens daquele partido se faria por via

militar. Enquanto se sucediam as rondas

negociais, sem qualquer sucesso, andavam

os seus agentes pelo mundo a comprar ar-

mas, munições e outro material de guerra.

Os encontros no Centro de Conferências

Joaquim Chissano não parecem ter tido

outro objectivo que não fosse ganhar tem-

po enquanto o armamento não chegava.

Igualmente os esforços do Dr. Lourenço

do Rosário e de D. Dinis Sengulane, bem

como do Observatório Eleitoral, parecem

ter tido o mesmo objectivo. Quando as

armas chegaram o Governo tirou-lhes o

tapete debaixo dos pés ao atacar Satunji-

ra. O que, imagino, não terá contribuído

para a sua felicidade na medida em que se

mostravam confi antes no sucesso da sua

mediação.

Neste momento creio que já ninguém terá

coragem de dizer que ainda estamos em

Paz e é preciso preservar essa Paz. Estamos

em guerra e há que fazer tudo para acabar

com ela.

Na mesa de negociações e não aos tiros. E

urgentemente, porque já se passou dema-

siado tempo neste teatro de má qualidade

e está a morrer gente.

Os tais jornalistas, de que o Chefe de Es-

tado não gosta, começaram a avisar de que

estávamos a avançar para isto há mais de

um ano. Mas Armando Guebuza prefere

as opiniões dos lambe-botas medíocres de

que se rodeou.

Agora está a pagar o preço por isso. E o

pior de tudo é que está o país todo a pagar

também esse preço.

Equilíbrio quebrado

O encontro, há muito esperado, en-

tre o Presidente da República de

Moçambique (Armando Guebu-

za) e o Líder da Renamo (Afonso

Dhlakama), a acontecer, poderá vir a ser

uma boa nova para todos os moçambica-

nos amantes da paz e estabilidade político-

-militar. “Boa nova” desde que resolvam,

de facto, uma série de “pendentes” à luz do

entendimento político (o que não signifi ca

atropelar a Constituição).

Não é a primeira vez que os dois se encon-

tram publicamente. O último “frente-a-

-frente”, o de Nampula, a pedido do líder

da Renamo, teve lugar no ano passado, no

dia 09 de Dezembro.

No encontro de Nampula os dois aborda-

ram a questão da retirada pouco clara dos

ofi ciais da Renamo das Forças Armadas de

Defesa de Moçambique (FADM), fi can-

Por um encontro que produza Pazdo apenas os da Frelimo. Tanto os primeiros

como os segundos teriam sido acomodados nas

FADM como resultado dos “compromissos” do

Acordo Geral de Paz. O que se sabe hoje deste

problema? Publicamente nada transpirou. Se

isso aconteceu poucos tiveram conhecimento.

Voltará este assunto à mesa?

Os mega-projectos, pela sua apetecibilidade,

não fi caram de lado nesse mesmo encontro. O

Líder da Renamo reclamou que estes só benefi -

ciam aos membros da Frelimo. Hoje, pelo com-

portamento da economia mas, sobretudo, pelo

ambiente político-militar, também percebe-se

que, publicamente, pouco ou nada mudou. Vol-

tará este assunto à mesa?

Ainda sobre o último encontro Dhlakama-

-Guebuza, em Nampula, foi abordada a pro-

blemática da partidarização do Aparelho do

Estado (AE). O ponto em questão foi a neces-

sidade de despartidarização do AE. Hoje, pelo

tom em que se discute este assunto, percebe-

-se que pouco ou nada se avançou de lá para cá

(em quase praticamente um ano). Voltará este

assunto à mesa?

Nos últimos meses e na sequência das sucessi-

vas rondas negociais, a Renamo tem insistido

na questão da lei eleitoral. Esta já teria sido

abordada também nesse encontro de Nampula.

É um importantíssimo pendente a considerar.

Voltará este assunto à mesa?

Como resultado do consenso do encontro

Dhlakama-Guebuza, do ano passado, foram

formadas equipas de trabalho. Se esta leitura

estiver certa, percebe-se que os pontos discu-

tidos nas sucessivas rondas negociais não fo-

ram mais do que uma tentativa de respeitar os

compromissos ou os aspectos acordados nesse

encontro de Nampula. Infelizmente, as rondas

negociais no Centro de Conferências Joaquim

Chissano pouco produziram que acalmassem

os ânimos dos moçambicanos. Geraram

sim, a actual situação de desconforto psi-

cológico popular diante da iminente pos-

sibilidade de retorno à guerra. A última

manifestação na Praça da Independência

foi sufi cientemente esclarecedora. Por

isso, o povo voltou a reforçar o seu pedido

de Paz que pode ser claramente produzi-

do pelo encontro entre os dois.

Cá entre nós: se admitirmos que as equipas que compõem as rondas negociais resultam ou resultaram do consenso havido no último encontro Dhlakama-Guebuza, podemos estar claros que esse foi o mais forte ganho de Dhlakama. Neste provável encontro Guebuza-Dhlakama o que teremos como novidades? Será que com este encontro se resolverão todos os pendentes para que pos-samos defi nitivamente voltar a perceber a paz? A ver vamos.

Apesar dos louros do Acordo de Roma

terem sido atribuídos ao presidente

Joaquim Chissano, é inequívoca a

quota parte que cabe a Armando

Guebuza como seu negociador chefe, num

percurso que claramente começou num plano

inclinado – bandidos armados versus governo

– para terminar num armistício sem vence-

dores nem vencidos.

E é provavelmente a partir desta premis-

sa que se construíram alguns dos equívocos

desde 1992, especialmente nos últimos nove

anos. A realização regular de eleições não

pode afastar o espírito do Acordo de Paz, o

exercício do poder em ambiente multiparti-

dário não afasta os demónios da exclusão, a

existência de vencedores não afasta responsa-

bilidades para com toda a sociedade, especial-

mente no que à paz social concerne.

Um dos argumentos e práticas subsequentes

utilizadas pelos “vencedores” do dia, é o re-

legar dos “outros” actores da sociedade polí-

tica moçambicana para subalternidades que,

tendo em conta o passado, nunca deveriam

ter acontecido. E não é apenas o problema de

“homens armados”, a “parte imperfeita” que a

urgência das assinaturas em Roma fez agora

com que o problema rebentasse aos tiros.

Só um distraído não compreende que é ne-

cessário que os processos eleitorais em Mo-

çambique sejam mais transparentes e rigo-

rosos, que há problemas de integração e de

justiça que ao longo dos 21 anos não foram

devidamente ponderados nas Forças Arma-

das no que concerne aos antigos efectivos da

Renamo, que a progressão no Aparelho de

Estado deve ser feita em função de mérito

e competência, que a equidade económica é

hoje um assunto crucial face às expectativas

sobre os recursos naturais. Parece-me por de-

mais evidente o consenso nacional em torno

destas questões. E são esses os pontos que a

Renamo resolveu colocar ao governo do dia.

Mas foi esta necessidade de debate nacional

a que o partido que dá corpo ao governo res-

pondeu com um grupo de “ilustres desconhe-

cidos”.

O que sucedeu depois, e tendo em conta a

operação militar contra Satunjira não me

parece mais que um exercício hipócrita e cí-

nico sem quaisquer resultados práticos. Face

aos resultados, é mesmo lícito questionar se

alguma vez houve vontade em abordar as-

suntos sérios. É óbvio que os benefícios são

imensos para o aparato Frelimo, mantendo

um Aparelho de Estado clientelista e basea-

do em fi delidades. Mas se a Frelimo quer ser

um partido moderno do século XXI tem que

claramente abandonar as práticas caciquis-

tas herdadas do partido único e replicadas

nos exemplos pouco edifi cantes das novas

repúblicas saídas da União Soviética. Se so-

mos economia de mercado, as oportunidades

de negócio, a disponibilidade de acções em

empresas e outros benefícios decorrentes da

“economia de sucesso” têm de ser extensivas a

todos os moçambicanos. Não é um exercício

de física nuclear mas, pelos vistos, é sufi ciente

complicado para nada se ter alcançado nestes

domínios. E quem tem o controlo da econo-

mia, do Aparelho de Estado, não é a Renamo,

é o governo do Partido Frelimo. Logo, é óbvio

quem tem que abrir a mão.

Infelizmente, o que agora parece penoso, teria

sido mais fácil se tivesse sido implementado

após 1994. Mas os “novos vencedores”, os

que nunca aceitaram a paz “sem vencedores

ou vencidos”, tudo fi zeram para que a roda da

história andasse para trás.

Agora que os tiros aumentam em progressão

alarmante, a cada dia que passa, é cada vez

mais difícil que o negociador chefe continue

a estar bem na fotografi a. E certamente que

os seus colaboradores lhe trouxeram os ecos

das palavras de ordem nas manifestações da

última semana.

Mesmo assim, e ainda falta um ano para que o

seu mandato termine, é importante que para

além dos sete bis, das onerosas Presidências

Abertas, da entrada maciça de investimento

externo, era importante que o seu nome fosse

associado indelevelmente à difícil arquitectu-

ra da paz. No antes e no agora.

Apesar da bruma e dos apóstolos do Apoca-

lipse de que se faz rodear, ainda vai a tempo.

Mr. Guebuza

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21Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE

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22 Savana 08-11-2013DESPORTO

Por Paulo Mubalo

Francisco Queirol Conde

Júnior, ou simplesmente

Chiquinho Conde para os

afi cionados pelo futebol, 47

anos de idade, a completá-los pre-

cisamente a 22 deste mês, diz que

muito do que se tem falado sobre

o seu futuro como treinador, parti-

cularmente a hipótese de vir a trei-

nar, próximo ano, um dos grandes

do nosso futebol, no caso vertente

o Maxaquene, pode não correspon-

der à verdade, isto porque nunca foi

abordado nesse sentido. Chiquinho

está ciente de que no desporto,

em particular no futebol, as coisas

podem mudar ou acontecer de dia

para noite, mas por enquanto “sou

um homem totalmente livre”, ex-

plica.

Segundo conta, por diversas vezes

a imprensa desportiva e não só tem

associado o seu nome a muito clu-

bes, entre eles, o Têxtil do Púnguè,

o Chingale, o Ferroviário de Nam-

pula, o Maxaquene, o Ferroviário

de Maputo, o Chibuto, entre ou-

tros, mas que não há rigorosamente

nada tratado com as direcções des-

ses clubes.

“Mesmo em relação à selecção na-

cional o meu nome foi muito bada-

Não tenho compromisso com nenhum clube-A rma Chiquinho Conde, que era dado como certo no Maxaquene

lado e como pode depreender não

sou treinador dos Mambas, sou

uma pessoa livre, no sentido de que

não tenho obrigações contratuais

com quem quer que seja”, afi rmou

o técnico.

Questionámos a Chiquinho Con-

de se, a avaliar pelo seu valor, po-

tencial e experiência adquirida

como jogador tanto dentro e fora

do país, por um lado, e também

com o background como técnico,

não sente que Moçambique preci-

sa muito dos seus serviços, ao que

declinou comentar.

Ante a nossa insistência afi rmou:

“A vida de um treinador é compli-

cada, hoje a pessoa é empregada e

amanhã é despedida, mas eu vou

continuar a ser a mesma pessoa hu-

milde, vou continuar a ser Chiqui-

nho Conde. Aliás, não tenho que

fi car zangado com as pessoas, com

tudo e mais alguma coisa como me

questionou, nem quero que as ati-

tudes das pessoas me deixem triste.

Até porque é bom salientar que o

campeonato nacional está prestes

a terminar e, que eu saiba, todas as

equipas têm treinadores. Já disse

que até que chegue a minha altura

há que ter calma”, observou.

Apesar de se encontrar no desem-

prego, Chiquinho diz que não anda

a fazer peditórios para sobreviver.

“Fui jogador de futebol por longos

anos, neste momento vivo normal-

mente como muitos moçambica-

nos, vivo como uma pessoa comum,

tenho a minha família”.

Sobre o futuro, Chuiquinho Conde

mostra-se muito cauteloso: “Está a

perguntar-me sobre o meu futuro?

Hoje não tenho vínculo com ne-

nhum clube, pode ser que amanhã

ou outro dia possa tê-lo, é difícil

prever o futuro”, disse Chiquinho

Conde.

Currículo de luxoFrancisco Queirol Conde Júnior

nasceu na cidade da Beira a 22 de

Novembro de 1965, na cidade da

Beira, numa família de futebolis-

tas de renome tais como os casos

de Orlando Conde, esse goleador-

mor, Felizardo Conde, entre outros.

Começou a despontar no Ferro-

viário da Beira, sendo que viria a

transferir-se para o Clube dos Des-

portos da Maxaquene, antes de in-

gressar no futebol estrangeiro. Fez

praticamente toda a sua carreira no

futebol português, sendo que mais

se destacou ao serviço do Vitória

de Setúbal, onde ganhou muita

simpatia entre os adeptos daquela

agremiação.

Jogou, igualmente, ainda no fute-

bol francês defendendo o Créteil

já em fi nal da carreira. Em terras

lusas, Conde jogou também pelo

Belenenses, Sporting de Braga,

Sporting, Alverca, Portimonense e

Imortal, tendo terminado a sua car-

reira em 2004, quando defendia o

Montijo. Conde foi jogador da se-

lecção nacional entre 1985 e 2002.

Como técnico, já foi treinador do

Maxaquene, Desportivo, Ferroviá-

rio, todos de Maputo, e Vilankulo

Futebol Clube e da selecção na-

cional. Um nome seguramente a

registar no panorama futebolístico

nacional e não só.

Chiquinho Conde, o treinador de quem se fala

O chefe do departamento

de políticas, desporto e

cooperação do Ministério

da Juventude e Desporto

(MJD), Bastos Azarias, diz que

desde a entrada da lei que regula o

controlo anti-doping no país, em

2007, ninguém foi apanhado com

a boca na botija, porém, precisou

que antes da aprovação desse

instrumento houve uma atleta, no

caso, a Argentina da Glória, que

foi detectada no seu organismo

algumas substâncias nocivas. Mas

uma coisa é certa: o país ainda

não dispõe de meios para tornar o

processo de testes mais célere.

Assim…De acordo com aquele quadro

sénior do MJD, na altura a atleta

alegou que estava a tomar alguns

medicamentos devido a uma

lesão. E diz ainda que quando um

atleta está a medicar os clubes e

os técnicos devem comunicar à

federação, o que não aconteceu, ou

seja, isso não foi verifi cado para o

caso de Argentina da Glória.

Segundo ele, por exemplo, se

um atleta estiver a consumir

medicamentos de asma, quando

for a fazer teste anti-doping pode

ser considerado como um daqueles

atletas que esteja a consumir

substâncias nocivas, por causa da

Falta de laboratórios condiciona testes anti-dopingPor Zaqueu Massala

reacção dos medicamentos. Diz

haver necessidade de os clubes

informarem às federações logo que

este ou aquele atleta estiver a tomar

qualquer medicamento.

Entretanto, apesar de Moçambique

ter aderido à convenção anti-

doping em 2007, não possui uma

estrutura nacional anti-doping

ainda que tenha uma comissão

técnica que trabalha nessa matéria

da recolha de análises dos atletas.

Seguem-se outras partes da

conversa.

Qual é o impacto do vosso trabalho no combate ao doping?

- Naturalmente, o maior impacto

desta medida é ter um desporto

limpo, é ter um desporto

verdadeiro, pois, como todos

sabem, o consumo de substâncias

nocivas só prejudica o atleta e

atenta contra a verdade desportiva.

O atleta que for apanhado nos

testes anti-doping é suspenso das

competições, isto de acordo com

a lei. As regras estão bem claras e

devem ser cumpridas. Nos jogos

olímpicos realizados em Londres,

deu-se a Moçambique um ultimato

por não ter realizado os testes anti-

doping. Para deixarmos a nossa

imagem impoluta tivemos de fazer

alguns testes antes do arranque

das provas. A partir daquela data

passamos a fazer testes a todos os

atletas antes do jogos. Por exemplo,

no Afrobasquete, realizámos cerca

de 20 testes.

Quantos tipos de testes são feitos? -Dois tipos, existem os que são

realizados dentro das competições e

outros fora das competições. Quando

falo dentro das competições, refi ro-

me àqueles testes realizados nos

campos ou nos recintos de jogos, e

os testes fora das competições são

aqueles feitos em qualquer lugar

onde quer que se encontre o atleta,

por exemplo, na praia, em casas, até

nos locais de diversão.

Quantos testes já foram feitos até hoje?-Neste momento estamos a realizar

testes fora das competições desde

Setembro do ano em curso, e esta

actividade vai até Novembro. Até

ao momento já foram realizados

16 testes e a meta é de 25 testes a

nível nacional. É preciso notar que

Moçambique não tem competições

laboratoriais, daí que todas as

recolhas das análises tenham que

ser enviadas para a vizinha África

do Sul. Este processo dura cerca de

45 dias.

Qual é o vosso maior desafi o?

-O desafi o é incentivar os agentes

desportivos a darem seriedade na

realização dos testes e não recusar

ou difi cultar a sua realização. Nós

estamos preparados e a nossa

equipa de trabalho é composta

por quatro médicos e um jurista.

Até Dezembro do ano em curso

vamos mandar um técnico na

vizinha África do Sul para uma

capacitação em questões anti-

doping. A nossa ideia é que depois

da capacitação do referido técnico,

possa transmitir os conhecimentos

a várias camadas desportivas. O

nosso maior objectivo agora é

lançar a mensagem de divulgação

sobre esta matéria, queremos que

todas as crianças das escolas a partir

dos seus 10 aos 12 anos tenham

conhecimento sobre as drogas e

consumo de bebidas.

E a fi nalizar?-Queremos deixar um apelo para

todos os dirigentes desportivos

que não se sintam alarmados

com a comissão técnica que

vai trabalhar nesta matéria de

anti-doping, devem colaborar.

As federações devem fazer a

sua parte, elas são responsáveis

por passarem a mensagem aos

clubes e associações. Nós, como

ministério, temos a obrigação de

trabalhar directamente com todas

as federações desportivas.

Bastos Azarias, do MJD

ilec

Vila

ncul

os

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23Savana 08-11-2013 DESPORTO

A Prosport, uma em-

presa de prestação de

serviços nas áreas de

marketing e comuni-

cação, vai organizar, a partir do

dia 9 deste mês, em parceria

com a Federação Moçambica-

na de Futebol (FMF) e o Mu-

nicípio de Maputo, um torneio

de futebol de praia.

Vem aí a copa 2MO evento insere-se nas actividades

que visam alavancar o desenvolvi-

mento do desporto.

O lançamento do certame vai

acontecer este sábado, na praia do

Costa do Sol pelas 17h45.

Entretanto, na conferência de

imprensa, foram apresentadas as

motivações para a realização da

competição, o sorteio das equipas,

a defi nição do calendário de

jogos ao que se seguiu a distri-

buição de equipamentos.

O lançamento compreendeu

ainda actividades culturais,

a realização de partida entre

lendas do nosso futebol, para

além de espectáculo pirotéc-

nico.

ZM

A Liga Muçulmana de Ma-

puto conquistou o seu

terceiro título, faltando

duas jornadas para o fi m

do campeonato. Contudo, mesmo

com a vitória antecipada, o treina-

dor principal da equipa de futebol,

Litos, vai deixar o clube.

A decisão de Litos verifi ca-se dias

depois do presidente do clube, Ra-

fi k Sidat, ter dito que Litos conti-

nuaria na equipa porque na equipa

que ganha não se muda.

Alega razões familiares para justifi -

car a sua saída da equipa. A direc-

ção da Liga ainda não se pronun-

ciou sobre a situação.

Depois dos títulos alcançados em

2010 e 2011, a Liga Desportiva

Muçulmana de Maputo volta ao

topo do futebol moçambicano com

a conquista de mais um campeona-

to.

Adeptos das diferentes equipas fe-

licitam a Liga, assim como todos

os seus dirigentes e adeptos, pela

conquista do título nacional de fu-

tebol. Foi um campeonato muito

competitivo e equilibrado, no en-

tanto creio que a Liga Muçulmana

de Maputo acaba por merecer este

título pelo trabalho desenvolvido

nos últimos anos.

José Marcos, estudante de gestão

na universidade Eduardo Mon-

dlane, UEM, disse que qualquer

vitória de um clube é sempre bem

vinda para o país.

“Para mim qualquer vitória de um

clube é bem vindo, mas há uma

Liga ganha mas Litos sai coisa que temos vindo verifi car,

a maioria das nossas equipas só

consegue ganhar nos campeonatos

nacionais, mas quando se deslocam

para fora do país, ou seja, quando

vão às competições internacionais

não trazem bons resultados.

Eu peço que não basta ser ven-

cedor nos eventos africanos, é

preciso mostrar esses talentos nas

competições internacionais”, con-

ta José Marcos.

Essa ideia é comungada por Cé-

sar Pedro, pedreiro, diz que num

campeonato é sempre assim. Há

equipas vencedoras e há outras

derrotadas mas, para o caso da

Liga Muçulmana, a apesar de ser

vencedora no Moçambola, deve

mostrar esses talentos além-fron-

teira”.

“Em termos de plantel, a equipa

da Liga Muçulmana está bem po-

sicionada e tem uma direcção or-

ganizada, os jogadores têm todas

as condições, daí que não consti-

tui muita novidade essa vitória. O

maior problema para mim é do

próprio treinador Litos, que vai

deixar o comando técnico, espero

que a direcção do clube encontre

um outro técnico capaz de dirigir a

equipa”, observou Victor Geraldo.

A Liga Muçulmana de Maputo

foi fundada em 1990, mas conta

já no seu palmarés com três títulos

nacionais conquistados em 2010,

2011 e agora em 2013, uma Taça

de Moçambique (2012) e uma Su-

pertaça (2013). Zaqueu Massala

O presidente da FIFA, Jose-

ph Blatter admitiu nesta

terça-feira, ser contra os

playoff s de apuramento

para o campeonato do Mundo e

que irá procurar “uma nova solu-

ção”.

“Os playoff s são uma fonte de pai-

xão, drama e emoção, em que uma

equipa é eliminada no fi nal dos

dois jogos (em casa e fora). Eu

acho que é bom para a televisão

e para o espectáculo, mas deve-

mos encontrar uma solução para

a fase fi nal de qualifi cação para o

Mundial, em que uns se qualifi cam

Blatter quer acabar com playoffs do Mundial

e outros são eliminados, mas não

os playoff s”, frisou o presidente da

FIFA.

Joseph Blatter continuou, susten-

tando que, apesar de os playoff s darem “mais intensidade”, para as

equipas que são “eliminadas dessa

forma é difícil”.

Para o Mundial’2014, no Brasil,

seis equipas vão apurar-se através

de eliminatórias a duas mãos dis-

putadas em Novembro. Quatro se-

rão provenientes da Europa, uma

será decidida entre o vencedor da

fase de qualifi cação da Oceânia

(Nova Zelândia) e o quarto classi-

fi cado da CONCA-

CAF (México) e, fi -

nalmente, uma entre

o quinto classifi cado

da região asiática

( Jordânia) e o quinto

da zona sul-america-

na (Uruguai).

Pela terceira vez

consecutiva, entre

Europeu e Mundial,

Portugal vai disputar

os playoff s, jogando

com a Suécia a 15 de

Novembro, no Está-

dio da Luz, e a 19 na

SuéciaPresidente da FIFA, Joseph Blatter

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24 Savana 08-11-2013CULTURA

Foi lançada recentemente

em Maputo a obra intitula-

da O Curandeiro: Revista

Moçambicana de Filosofi a,

cujo objectivo não é vingar fei-

ticeiramente as injustiças, não é

unicamente e sobretudo rescrever

a história do passado muitas vezes

ultrapassado, mas é o de debater e

cruzar ideias alternativas para curar

os males e pensar sobre as condi-

ções e possibilidades da existência

de uma sociedade mais humana e

mais justa.

Na introdução do livro, Severino

E. Ngoenha e José P. Castino es-

crevem o seguinte:

A distancia teórica epistemológica

que a coruja aterrasse nos trópicos

pretensamente “lusos” somente há

quinze anos quando a Universidade

Pedagógica reintroduziu os cursos

de fi losofi a. Uma das especialidades

destes cursos foi repercorrer os pas-

sos da coruja da Minerva através

das suas digressões na Grécia, no

Ocidente, em África no seu baptis-

mo como “feiticeiro” pela etnologia

ocidental, sem transcurar as suas

passagens ou paragens nas Améri-

cas ou na Ásia.

Estas nossas digressões deram a fi -

losofi a praticada em Moçambique

um cunho intelectual que não se li-

mita a ser uma narração historicista

da fi losofi a no Ocidente, mas se in-

teressa também pela maneira como

as diferentes humanidades deram e

dão razão a sua própria existência.

Dizer intercultural signifi ca postu-

lar a necessidade de fazer dialogar

as diferentes maneiras de ser ho-

mem como condição sine qua non

para se afi rmar no universal.

Este percurso, como qualquer outro

O Curandeiro: Revista Moçambicana de Filosofia

percurso humano, tem ou chega ao

seu processo de maturação. Depois

de termos formado licenciados que

transportam a coruja da Minerva

feita feiticeira nos diferentes ângu-

los e escolas deste vasto Moçambi-

que, formado mestres que dirigem,

africanamente falando, os ritos ini-

ciáticos da formação dos feiticeiros,

estamos a altura de abrir os douto-

ramentos para formar o feiticeiro-

-mor.

Lançar uma Revista Moçambicana

de Filosofi a em coincidência com

a abertura dos cursos de doutora-

mento, signifi ca reconhecer a tal

maturação da fi losofi a em Mo-

çambique e com ela, o nascimento

e a existência de uma pluridade de

ideias diferentes e até contraditó-

rias, que militam todas, e cada uma

a sua maneira, no crescimento da-

quilo que podemos chamar de mo-

çambicanidade, de consequência,

participarem a um debate de ideias

contraditórias, o que é específi co de

e na fi losofi a.

É neste espírito e com este pro-pósito que nasce O Curandeiro, cujo objectivo não é vingar fei-ticeiramente as injustiças, não é unicamente e sobretudo rescrever a história do passado muitas vezes ultrapassado, mas é o de debater e cruzar ideias alternativas para curar os males e pensar sobre as condi-ções e possibilidades da existência de uma sociedade mais humana e mais justa.Assim, O Curandeiro: Revista Mo-çambicana de Filosofi a pretende ser o espaço onde se cruzam estas duas tradições do pensar fi losófi co: por um lado um espaço de exercício de compreensão e de racionalização da nossa história do pensamento sobre nossa condição africana (mo-çambicana) de existência nela, por outro lado, um espaço de debate de ideias e utopias relativamente ao nosso futuro enquanto (africanos) moçambicanos num mundo cada vez mais global.O Curandeiro, apesar de ser uma revista nascida em Moçambique na Universidade Pedagógica, é aber-ta a todos, sobretudo aos fi lósofos africanos de língua ofi cial portu-guesa, onde a coruja da Minerva pousou em último lugar, e fi caram relativamente a margem do deba-te fi losófi co africano. Quando Di-ógenes foi perguntado sobre a sua proveniência, respondeu ser um “cidadão do mundo”.O Curandeiro pretende ser um lu-gar e espaço onde se debate como moçambicanamente e africana-mente entramos no mundo da “ci-dadania universal”. Pretende ser a voz da fi losofi a em Moçambique, nos países lusófonos, em África e no mundo. A.S

O escritor Mia Couto foi

escolhido por um júri

de nove autores inter-

nacionais para receber

o Neustadt Prémio Internacio-

nal de Literatura 2014. O pré-

mio é patrocinado pela Univer-

sidade de Oklahoma, a família

Neustadt, e World Literature

Today, premiada revista de lite-

ratura e cultura internacional da

universidade.

Ao ouvir sobre a sua vitória,

Couto respondeu: “Esse prémio

é cronometrado perfeitamente,

como Moçambique está pres-

tes a passar por um momento

difícil. Para mim, pessoalmente,

este prémio é certamente um

alívio, um raio de sol, neste mo-

mento nacional triste. Alegan-

do tratar-se de uma espécie de

“contracorrente” face à situação

no país e às ameaças à sua famí-

lia. A distinção com aquele que

é considerado o prémio Nobel

norte-americano “coincide com

o momento conturbado e de

preocupação em Moçambique

e, em particular, da minha famí-

lia, que também foi objecto de

O prémio é alívio neste momento nacional triste

ameaças”, informou o escritor.

Lembrando a “situação crispada

no país devido à possibilidade

de reacendimento da guerra”.

Nas cidades “há uma situação

de tensão grande causada pelas

ameaças de raptos, sequestros e

violência”, referiu Mia Couto.

Nascido em 1955 na cidade

da Beira, Moçambique, Couto

começou sua carreira literária

na luta pela independência de

Moçambique, durante os quais

ele editou duas publicações Raiz

de Orvalho, o primeiro livro de

Couto, de poesia, foi publicado

em 1983. Sua primeira novela

e do romance que foi o texto

representativo para o Neustadt,

Terra Sonâmbula, foi publicado

em 1992 com grande sucesso e

é amplamente considerado um

dos melhores livros africanos do

século XX.

Couto é conhecido por seu uso

de realismo mágico, bem como

a sua criatividade com a lingua-

gem. Em sua declaração de no-

meação, Ghermandi escreveu:

“Alguns críticos têm chamado

Mia Couto ‘o escritor contra-

bandista”, uma espécie de Ro-

bin Hood de palavras que rou-

ba signifi cados para torná-los

disponíveis em todas as línguas,

forçando mundos aparentemen-

te distintos para se comunicar.

Dentro de seus romances, cada

linha é como um pequeno poe-

ma”.

Este ano, Couto também rece-

beu o Prémio Camões 2013 de

Literatura, um prestigiado pré-

mio dado aos escritores de lín-

gua Portuguesa. A.SMia Couto

A situação que se vive ac-

tualmente no país está a

preocupar cada vez mais

os moçambicanos. Os

ataques que se têm assistido em

certos pontos do país fazem pairar

o clima de guerra no país. “Neste

momento de extrema importância

para Moçambique e para todos os

moçambicanos, eu, Stewart Suku-

ma, não posso ser indiferente ao

que está a acontecer no meu País,

e quero “lutar” por um verdadeiro

e melhor Moçambique para todos!

Infelizmente encontro-me ausente

do país, estando em Macau a re-

presentar Moçambique no Festival

Cultural entre a CPLP e a China.

De forma a dar o meu contributo,

pretendo lançar hoje, para assina-

lar a data o meu novo trabalho:

“Why”. Tentarei que seja passado

na TIM – Televisão Independente

de Moçambique”, explica Stewart

Artistas preocupados com a situação do país

Sukuma.

O artista mostrou-se preocupado

e fez um apelo para que os mo-

çambicanos pautem pelo respeito

mútuo. “A Todos os Moçambica-

nos, quero dizer que se todos qui-

sermos que Moçambique seja um

país onde nos sentimos seguros e

felizes comecemos pelo respeito

mútuo. Comecemos por mudar nas

nossas próprias casas. Infelizmente

o verdadeiro sofredor de todas as

tragédias que acontecem hoje não

tem voz para falar porque não tem

acesso à comunicação”, lamenta o

artista.

Contudo, advertiu aos nacionais

para que se mantenham vigilantes

e evitem todo o tipo de violência.

“Todos os moçambicanos que se

mantenham vigilantes e que evi-

tem ao máximo qualquer tipo de

violência. Uma palavra certa é mais

demolidora que qualquer arma e

cada um de nós tem uma palavra

a dizer. Viva a Paz e viva a Liber-

dade. Força amigos e viva a Paz de

verdade. Nós deste lado também

estamos a lutar”, fi naliza. A.S

O prémio Estação Imagem/

Mora para o Melhor Docu-

mentário distinguiu o fi lme

moçambicano Xilunguine

– Terra Prometida, do realizador

Inadelso Cossa. Para o júri, trata-

-se de um “fi lme onde o dispositivo

narrativo, servido por imagens do-

cumentais históricas, por entrevistas

aos protagonistas Tsonga e por um

contido enquadramento destes nos

seus contextos actuais, parece soli-

citar uma clara articulação entre o

fazer história e o fazer cinema”.

Cerca de 38 fi lmes estiveram em

competição internacional nas ca-

tegorias de Ficção, Documentário

e Animação e foram seleccionados

a partir de mais de mil inscrições,

provenientes de países como Espa-

nha, Suíça, Irão, Brasil e Moçambi-

que, além de Portugal.

Documentário vence prémio em Portugal

O fi lme Moçambicano premiado,

Xilunguine - A Terra Prometida

aborda a partir de uma pesquisa et-

nográfi ca, o processo de migração

da etnia ou povo “Tsonga” para a ci-

dade colonial de Lourenço Marques

nos anos 1930 até aos dias de hoje,

a sua interacção com outros grupos

étnicos, a condição civil e laboral, a

transformação etno-linguística e a

“periferização” da actual cidade de

Maputo.

O Prémio FIKE para a Melhor

Ficção foi atribuído ao fi lme More

Th an Two Hours, do realizador ira-

niano Ali Asgari. O júri entendeu

que o fi lme, que “aborda um tema

muito importante de uma forma

brilhante”, constitui “uma fi cção di-

recta com signifi cativa actualidade,

sem artifícios, bem fi lmada e com

uma visão clara da realidade”. A.S

Capa da primeira revista nacional de Filoso a

Stewart Sukuma lamenta a situação do país

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Do

bra

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SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1035 8 DE NOVEMBRO DE 2013

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SUPLEMENTO2 3Savana 08-11-2013Savana 08-11-2013

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27Savana 08-11-2013 OPINIÃO

Fernando Manuel (texto)Naita Ussene (Fotos)e Naita Ussene (fotos) e Naita Ussene (fotos)

Por alguma razão e é bom que não sejamos mal entendidos, numa

de que estamos a semear a divisão, as províncias do centro do país,

- Sofala, Manica e Tete - foram sempre rebeldes.

Parecem subservientes, mas na verdade não são e isso nota-se

mesmo nos moldes em que a tradição é respeitada por mulheres,

jovens, crianças e anciãos, cada um no seu lugar e cada lugar com o seu dono.

Estamos no século XXI e as Presidências Abertas, que é uma forma muito

gozada de gastar dinheiro do erário público e fazer campanha mesmo fora do

tempo, revelam isso.

Mulher que fala com o homem tem de estar de joelhos, mulher não tem pa-

lavra e etc etc.

Tudo mentira como é evidente.

Se as mulheres fossem assim tão parvas, o mundo não estaria como está.

Estaria bem melhor.

Seja como for, as mulheres não deixam de ser nossas mães e serem nossas

mulheres.

No fundo antes de virmos ao mundo, passamos nove meses no seu útero, ou

seja, dentro delas, a comermos aquilo que elas comem, a bebermos aquilo que

elas bebem e a aprender as palavras que elas nos ensinam através do cordão

umbilical.

Depois de vir ao mundo, ainda fi camos 18 meses a viver do leite que elas seg-

regam dos seus seios e é por isso que, quando crianças, elas nos batem e nós

não gritamos papá gritamos, mamanou…

Mulher é mulher vamos deixar de brincadeiras.

Por mais que tudo seja indicativo contra ela, como dizia o outro grande amigo

meu, levar cornos é natural, mas aturar a vaca é demais.

Na Beira tudo é assim, a verdade é que teremos que dividir os votos.

O espírito de Uria Simango está a vir ao de cima independentemente das

Presidências Abertas…

…No fundo todas as guerras começam do estômago e do sexo. Essa estória de

patriotismo, defesa da pátria, amor à pátria e outros ideais vem muito depois.

Como diz o ditado: na casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem

razão.

Como diz o outro: Se queres paz prepara-te para a guerra.

Paz é ter pão e vinho.

“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”

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“Nada vale marcar encontro sem garantias”

IMAGEM DA SEMANA

À HORA DO FECHOwww.savana.co.mz

Foto Naíta Ussene

8 de Novembro de 2013 • ANO XX • No 1035

Diz-se.

.. Diz-

se

Líderes religiosos consideram

que não basta apenas o facto

de o Presidente da República,

Armando Guebuza, convidar o

líder da Renamo, Afonso Dhlakama,

para um encontro, que em princípio

deveria acontecer esta sexta-feira, sem

antes criar condições para que o mesmo

ocorra.

Guebuza convidou nesta segunda-feira

o líder da Renamo, Afonso Dhlakama,

Líderes religiosos falam do encontro Guebuza-Dhlakama

em Satunjira para obrigar o Governo

da Frelimo a negociar uma nova ordem

no país.

Diálogo passa por gestos concre-tosO porta-voz da Conferência Episcopal

de Moçambique (CEM), Dom João

Carlos Nunes, considera urgente que

haja um encontro ao mais alto nível,

mas antes deve haver gestos concretos

e não apenas uma simples manifestação

de vontade.

“Como é que pode haver diálogo numa

situação em que se sabe que o convida-

do não está seguro?”, questionou.

Segundo João Carlos, não há condições

objectivas para que haja diálogo.

“É preciso que o Chefe de Estado de-

monstre comprometimento com a cau-

sa do povo através de acções visíveis

que vão levar à realização do encontro”,

frisou.

João Carlos, que falava ao SAVANA à

margem da segunda sessão ordinária da

CEM que decorre desde segunda-feira

até próximo domingo, na cidade da

Matola, província de Maputo, aponta

que a situação que o país está a viver

resulta da intransigência política.

O Bispo diz que por inúmeras vezes a

CEM chamou atenção para que o diá-

logo fosse levado a sério, mas em nada

valeu e mudam a linguagem verbal para

enveredar pela militar.

D. Dinis Sengulane, que juntamente

com o reitor da Universidade Politéc-

nica, Lourenço do Rosário, é facilitador

não ofi cial do diálogo entre Governo

e Renamo, diz que não foi informado

sobre a realização do encontro ao mais

alto nível, tendo tomado conhecimen-

to através dos órgãos de comunicação

social.

“É um convite muito encorajador”, fri-

sou Sengulane, mas precisou que não

compreende por que razão as partes

em confl ito usam armas para expressar

o seu posicionamento político, em vez

do diálogo.

Sengulane diz que espera que todos

possam contribuir para que o encon-

tro se realize e produza resultados, mas

ressalva que será necessário garantir a

deslocação em segurança do líder da

Renamo.

“É uma questão delicada. Mas é muito

• Enquanto internamente os boys do G40 se mostram impoten-

tes para conter o clamor popular contra a instabilidade polí-

tico-militar no país, lá por fora as empresas de comunicação

e imagem já estão em acção para “retocar” a imagem do ca-

chimbo. Em duas semanas, duas intervenções a partir de Paris e

de Londres com uma equipa recebida em carpete vermelha no

Chimoio. Será a próxima operação em Lisboa ou Nova Iorque?

• E como algumas pontas saem mesmo fora do baralho, a empre-

sa que não goza das preferências da ponta encarnada por uma

fábula sobre transparência e carvão, recebeu uma indesejada

visita, porque um comunicado sobre segurança de expatriados

foi considerado demasiado alarmista. Aí está o “síndrome Dia-

mantino” aplicado de outra forma. É comer e calar …

• Os homens de Bretton Woods é que se estão borrifando para

o síndrome e na mais recente visita a Maputo para largarem

mais uns milhões, foram aconselhando que os negócios como

a Ematum e um “eurobond” de USD 850 milhões sejam in-

cluídos no orçamento de 2014 e refl ectidos com transparência

nas contas orçamentais. Afi nal não é apenas um problema de

jornais e jornalistas…

• Resta saber que punição haverá para os atrevidos que divul-

garam as características do novo brinquedo presidencial anun-

ciado em primeira mão nesta modesta coluna. Provavelmente,

para redução de custos, poderá ser partilhado entre Mswati III

e prima Joyce que se desfez do seu brinquedo recentemente.

• Avisos são mais que muitos, como o sms condenando “histé-

ricas e repugnantes reportagens tendo em vista agitar a nação

contra si mesma”.

• Mas hábitos antigos demoram a morrer. Bem prega o bom do

sheik para que não se usem os brinquedos do Estado na cam-

panha eleitoral, mas como no batuque a máxima ainda vem dos

tempos de um rei europeu que disse “o Estado sou eu”, é ver

administradores e directores passearem na campanha com os

popós comprados com os impostos dos moçambicanos. É bom,

no entanto, não passarem pelo mercado Janeth na capital onde

podem ouvir coisas que o bom do Damião não gostou mesmo

• E mesmo no início de campanha e tendo em conta também as

grandes manifestações populares, anda a circular uma demo-

lidora sondagem sobre os resultados de Maputo. Será mesmo

que vai haver surpresa? Ou será como disse a mais, mais confi a-

da do chefe, que nem que haja sangue, Quelimane e Beira têm

que voltar “a ser nossos”. Nossos de quem?

• A TRAC anunciou recentemente o início das obras para a rea-

bilitação do troço Malhampsene-Moamba, na Estrada Nacio-

nal Número 4 (EN4). Só não se percebe como é que foi possí-

vel deixar uma estrada de portagem chegar a um tal estado de

degradação, sem que o Regulador tivesse uma única palavra a

dizer. Só mesmo no país do Pandza, onde a auto-estima é só

pôr fato do último corte e dizer babuseiras na tv!

Em voz baixa• Agora que parece que mais que certo que o nosso camarada de

armas Yasser Arafat foi morto por envenenamento, que tal uma

investigação aos restos do último boss da nossa secreta para

afastar as suspeitas na transição da Casa Branca?

Por Argunaldo Nhampossa

para um encontro em Maputo, na pró-

xima sexta-feira, mas o maior partido

da oposição recusa por considerar que

não estão reunidas as condições en-

quanto o seu líder estiver a ser perse-

guido pelo Exército.

O Presidente Guebuza tem alternado

entre um discurso dialogante e as ame-

aças de acções militares para repor a so-

berania. Guebuza e Dhlakama, que por

duas vezes disputaram eleições (2004 e

2009), encontraram-se pela última vez

há mais de um ano em Nampula, antes

do presidente da Renamo se instalar

mais delicado deixarmos as coisas como

estão. Se nada fi zermos, a situação vai

deteriorar-se”, vaticinou Sengulane que

várias vezes desdobrou-se entre Mapu-

to e Satunjira, num esforço para con-

cretizar o encontro entre o Presidente

da República, Armando Guebuza e o

líder da Renamo, Afonso Dhlakama.

Dom João Carlos

Dom Dinis Sengulane

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Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS

EVENTOS

Maputo, 8 de Novembro de 2013 • ANO XX • No 1035

todas as sextas-feiras às 20h:30min com Fernando Lima e Leonardo Chaúque

A Água da Namaacha foi

eleita, esta terça-feira, em

Maputo, pelo segundo

ano consecutivo, a marca

moçambicana de excelência pela

BBrands, uma agência de comuni-

cação responsável pela premiação

das Superbrands Moçambique.

A distinção da Água da Namaa-

cha deveu-se, segundo a directora

da BBrands, Patrícia Aquarelli, ao

grande potencial desta marca que

se destaca no mercado nacional em

termos de dimensão estética, social,

funcional e emocional.

Aquarelli, que falava por ocasião de

lançamento das Superbrands 2014,

afi rmou que, hoje em dia, não basta

uma marca ter produtos ou serviços

de qualidade, preço competitivo,

boa distribuição, as grandes marcas,

as marcas de excelência, garantem o

seu valor e posicionam-se com base

num forte e constante relaciona-

mento com o público.

O director de marketing da Água

da Namaacha, Miguel Padrão,

manifestou-se honrado com o pré-

mio tendo referido que Água da

Água da Namaacha premiadaNamaacha para além das apostas

constantes e fi rmes nos quadrantes

estético, social e emocional, através

de permanentes evoluções no pa-

ckaging, na construção de valores

sólidos e diferenciadores, e no for-

talecimento da consciência social,

através da presença constante em

momentos de relevância nacional e

acções de responsabilidade social, é

uma marca intimista, que acompa-

nha o público em toda a sua vida,

em todos os momentos e em todos

os espaços e passos percorridos.

De acordo com Padrão, o facto da

Água da Namaacha ter esta carac-

terística proporciona uma relação

de grande empatia com os consu-

midores.

“A Água da Namaacha é uma Su-

perbrand, uma Marca de Excelên-

cia com toda a naturalidade, dado

que a Água da Namaacha é Mo-

çambique, são as moçambicanas e

moçambicanos; o seu historial e o

seu desenvolvimento refl ectem o

próprio historial e o desenvolvi-

mento de Moçambique”, indicou

Miguel Padrão, referindo que a in-

terligação entre a Marca Água da

Namaacha e Moçambique é tão

forte que qualquer premiação com

a qual a Água da Namaacha seja

honrada é de imediato extensível a

Moçambique, às moçambicanas e

aos moçambicanos”.

Referir que a Água da Namaacha

foi recentemente considerada a

melhor marca do ano pela AJCA

(Associação Juvenil Contra a Po-

breza Absoluta). Trata-se de uma

distinção que foi feita no âmbito da

Gala Nacional de Personalidades

2013, em homenagem ao Presi-

dente da Autoridade Tributária de

Moçambique, Rosário Fernandes.

Pesou para esta distinção o cariz de

responsabilidade social e inovação

em produtos, onde se destacam os

rótulos da obra do mestre Malan-

gatana nas garrafas de 0,5L e 1,5L

de Água da Namaacha e a linha

Namaacha Júnior, que pretende

incentivar os mais jovens a consu-

mirem água mineral com grandes

benefícios para a saúde e para o de-

senvolvimento sustentado do país,

através da boa formação dos seus

recursos humanos e elevação do

nome, valores e orgulho nacional.

Daniel Paulo

A arte e cultura angolanas

continua a fazer sucesso no

mundo, especialmente em

Moçambique. A importa-

ção da moda, dança e música ango-

lanas foi sempre um investimento

de boa parte dos moçambicanos,

principalmente a camada mais jo-

vem, que se espelha nos seus ídolos

angolanos. Nota-se que boa parte

da música tocada nas rádios, dis-

cotecas, lounges e até as escutadas

pelas ruas é de origem angolana, e

o mesmo se apercebe nas músicas

e danças desenvolvidas por artistas/

músicos nos seus vídeo-clipes. Ra-

zão para se afi rmar que Moçambi-

que é um potencial mercado para a

música e cultura angolanas. É por

estes motivos que os músicos ango-

lanos têm sido convidados a parti-

cipar de vários concertos em Mo-

çambique, que na sua maioria são

um sucesso surpreendente, mesmo

em relação a de outros músicos in-

ternacionais e nacionais. Este inves-

timento da classe artística angolana

em Moçambique não data de hoje,

mas tem se observado nos últimos

tempos um maior crescimento na

Música angolana assalta MoçambiquePor Edson Bernardo

frequência e quantidade de músicos

angolanos que se deslocam ao país.

A exemplo do seu sucesso em Mo-

çambique, o músico angolano Yuri

da Cunha, que desde a sua aparição

no país, marcou a sua presença com

a vivacidade e orgulho angolano,

cantando e dançando músicas da

sua terra bem conhecidas entre os

moçambicanos, decidiu gravar um

DVD em Moçambique, em come-

moração dos seus 20 anos de car-

reira. Com uma produção LS Re-

publicanos, uma empresa angolana

e com o patrocínio do polémico ge-

neral angolano Bento Kangama, “o

empresário da Juventude”, Yuri da

cunha e a sua produção invadiram

a avenida 10 de Novembro com um

grandioso palco de luxo, usando-se

de tecnologia de ponta, entre luzes

e aparelhos de som, oferecendo ao

seu público fã, na sua maioria jo-

vens, uma noite de extremo entre-

tenimento.

A noite de chuva, trovões e ao re-

lento não conseguiu fazer com que

o público arredasse o pé do local

enquanto o músico de cartaz não

aparecesse. O show marcado para

as 21 horas da sexta-feira 1 de Ou-

tubro, mas começou perto da uma

hora do dia 2 de Outubro, altura

em que Yuri da cunha desfi lava pelo

palco, acompanho pelos seus convi-

dados, entre eles os moçambicanos

Ziqo, Mimae e Lizha James, o bra-

sileiro Jorge Aragão, e os angolanos

Big Nelo, C4 Pedro e Ary. Yuri da

Cunha, que considera Moçambi-

que a sua segunda casa, disse em

palco que a gravação deste DVD

em Moçambique era um presente

aos seus fãs e que “Nem o governo

moçambicano, nem nenhuma ins-

tituição moçambicana patrocinou o

evento. Foi tudo investimento an-

golano para Moçambique”.

Na ocasião, Yuri da Cunha e a sua

equipa anunciaram em palco na

presença do músico moçambica-

no, João Cabaço, que estariam a

oferecer-lhe um veículo automóvel,

pelo apreço que tem pela sua pessoa

como símbolo da música moçam-

bicana. Anunciaram igualmente

para breve a vinda dos músicos C4

Pedro e Big Nelo, para brindarem

os fãs com o seu mais recente tra-

balho.

Urge

l Mat

ula

Ilec

Vila

ncul

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Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS

2

A Internacional Finance

Corporation (IFC) acaba

de injectar 1,7 mil mi-

lhões de euros para apoiar

a Portucel Moçambique no desen-

volvimento dos seus projectos de

plantação de eucaliptos, produção

de papel e de energia na zona cen-

tro do país.

O acordo de fi nanciamento foi

assinado recentemente na capital

do país, pela representante do IFC

em Moçambique, Jumoke Jagun-

-Dokunmu, e o PCE da Portucel,

José Honório, num acto onde to-

maram parte renomados empresá-

rios nacionais.

O apoio da IFC visa fortalecer a

sustentabilidade das operações fl o-

restais da Portucel nas províncias

de Manica e Zambézia.

A portucel está instalada em Mo-

çambique desde 2007 a investir

num projecto de plantação inte-

grada de eucaliptos e celulose para

produção de papel e energia tendo

como principal foco gerar empre-

go para as comunidades locais.

Segundo José Honório, a parceria

com a IFC constitui uma mais-va-

lia pois contribuirá para a prosse-

cução dos projectos fl orestais cujo

potencial de produção será cerca

IFC fortalece investi-mento da Portucel

de 1,5 milhões de toneladas de ce-

lulose, que serão exportados para

continentes como Ásia, Europa e

EUA.

O projecto vai também movi-

mentar cerca de 5,5 milhões de

toneladas de madeiras por ano,

1,5 milhão de toneladas de pasta

de celulose e 300 mil toneladas de

produtos químicos.

Por sua vez, a representante da

IFC, Jumoke Jagun-Dokunmu

referiu que para além do pacote

fi nanceiro disponibilizado à Por-

tucel, a sua instituição vai cola-

borar na avaliação dos impactos

ambientais, sociais e apoio ao en-

volvimento e desenvolvimento das

comunidades das duas províncias

abrangidas pelo projecto. O IFC

demonstrou interesse em adquirir

participações da Portucel por for-

ma a potencializar mais ainda o

investimento.

Actualmente, esta empresa tem

uma área estimada em 356 hec-

tares de terras, agregando as pro-

víncias em causa onde deverá im-

plantar os projectos fl orestais que

deverão gerar cerca de 7,500 pos-

tos de trabalho com destaque para

as comunidades locais.(A.N)

Com vista a reforçar as

relações comerciais, o

Banco Comercial e de

Investimentos (BCI)

e a Empresa de Segurança

Privada G4S assinaram no dia

1 do corrente mês, em Maputo,

um Protocolo Financeiro e de

Cooperação.

Esta parceria visa por parte da

instituição bancária vantagens

comerciais à G4S e aos seus

funcionários, entre elas a

atribuição de facilidades de

Crédito de Curto Prazo, um

produto designado “Limite

BCI e G4S assinam Protocolo Financeiro e de Cooperação

Por Nélia Jamaldine

de Crédito Ordenado” às Contas

à Ordem; o Crédito à Habitação,

Crédito ao Consumo; o Leasing

Mobiliário e Imobiliário; o acesso

a diversos meios de pagamento,

através da diversa gama de

Cartões de Débito e de Crédito

que permitem a realização de

transacções em qualquer parte

do mundo, através da rede VISA,

assim como também a oferta de

um leque diversifi cado de Serviços

Electrónicos, através de uma

vasta gama de operações rápidas e

seguras.

Segundo o Administrador

do BCI, José Furtado, o

protocolo em causa constitui

apenas a formalização de um

relacionamento que já existe, na

medida em que as instituições

signatárias já desenvolvem um

relacionamento frutuoso há

bastante tempo.

Furtado acrescentou ainda que

a sua instituição tem a plena

disponibilidade em aprofundar

esta parceria, de forma a

responder às necessidades

dos funcionários daquela

instituição, nomeadamente no

que concerne à concessão de

vantagens especiais no acesso

à diversidade dos produtos e

serviços de que o Banco dispõe.

O BCI têm-se desde

sempre assumido como

um dos protagonistas

do desenvolvimento e

consolidação de um mercado

bancário nacional apto a

responder às necessidades de

empresas e particulares, tendo

simultaneamente implantado

diversos projectos de apoio

social à comunidade.

Artista e coreógrafo Dani representará Moçambique em Zimbabwe

Moçambique far-se-

-á presente no Festival

de arte contemporânea

“FIRST AFIRIPER-

FOMA BIENNIAL, que terá lu-

gar entre os dias 8 e 22 de Outubro,

em Harare, capital do Zimbabwe.

Elísio António Chindja, artistica-

mente conhecido por Dani, foi o

artista moçambicano seleccionado

a representar Moçambique com

obra “Outra Vida”. A apresentação

do número de dança contemporâ-

nea de Dani será feita com acom-

panhamento de coz, caracterizado

por sons penetrantes e “desespera-

dos”, de um além imaginário, a car-

go de Th ibile “Makhovane”, Maga-

gula, cantor de origem swazi, que já

efectuou várias apresentações em

salas de espectáculo em Maputo.

De acordo com Dani, esta obra de

sua autoria e coreografada por si

pretende ser um momento ímpar

de “interacção espiritual” entre o

movimento do corpo, refl ectido

na dança e a voz, representando a

alma, convidando o público a em-

barcar numa viagem mística pelos

mistérios da espiritualidade. Mais

conhecido pelas suas actuações de

Dança Contemporânea, Dani exe-

cuta também outros estilos, nome-

adamente Tango Argentino, Salsa,

Jazz e Ballroom. Para além de core-

ografar e efectuar apresentações de

dança, o artista tem desenvolvido

acções de formação relacionadas

com o aperfeiçoamento de técnicas

de praticantes de dança e a prepa-

ração de artistas para a participação

em workshops culturais integrando

Dança Contemporânea.

O Festival está sendo promovido

por uma organização sem fi ns lu-

crativos e um colectivo de artistas

africanos, liderado pelo conceitua-

do artista multimédia nigeriano Je-

lili Atiku1, com o objectivo de ins-

pirar e estabelecer uma plataforma

para a expansão da arte contempo-

rânea viva no continente africano.

O mesmo é o primeiro do tipo a

ser organizado em África, em es-

tabelecer fronteiras, por isso tem

como países confi rmados para além

do Zimbabwe, país anfi trião, e de

Moçambique, Nigéria, Camarões,

Gâmbia, Mali, Benim, Gabão,

Ghana, Etiópia, Egipto e Repú-

blica Democrática do Congo, e de

outros cantos do mundo estarão re-

presentados o Brasil, Chile, Portu-

gal, Holanda, Alemanha, Polónia,

Finlândia, Estados Unidos, Canadá,

República Dominicana, Haiti, Índia

e Tailândia.

Edson Bernardo Algumas das prestigia-

das marcas nacionais

estarão presentes na

segunda edição do

Superbrands Moçambique

2013-2014, a decorrer desde

esta terça-feira até Abril de

2014 em que se distinguirá a

maior marca.

Trata-se de uma iniciativa

que visa mostrar o poder das

marcas não apenas como um

serviço e produto meramente

funcional para vender no seu

mercado, mas sim as diferen-

ciar na criatividade e inovação

em cada relação com o seu pú-

blico.

Nesta 2ª edição cerca de 1000

marcas foram seleccionadas e

depois enviadas para o Con-

selho de Superbrands, onde

foram distinguidas as marcas

Superbrans de acordo com as

dimensões do goodwill, lon-

gevidade, domínio de mercado

e fi delização nas categorias e

marcas mais conhecidas, em

que confi a, com que se identi-

fi ca, que satisfazem as necessi-

dades e por fi m marcas únicas.

Superbrands reconhece grandes marcas nacionais

Segundo a Parttner Estratégi-

ca Patrícia Aquarelli, não basta

ter um produto ou serviço de

qualidade, preço competitivo e

com distribuição, uma marca

forte é aquela que vai além das

suas necessidades básicas, para

se relacionar com o seu públi-

co e para que isso aconteça é

preciso que a mesma conheça

antes mais os seus valores.

Aquarelli acrescentou ainda

que quando se trata de uma

marca a primeira impressão

é fundamental, bem como a

forma como algo nos é apre-

sentado. “O elemento estético

passou a ter um papel funda-

mental na relação das empre-

sas com os seus públicos, pois

os elementos da marca trans-

mitidos através da imagem

concretizam a sua proposta

de valor junto ao seu público-

-alvo”, enfatizou Aquarelli.

Referir que a Superbrands é

uma organização internacio-

nal independente virada para

a promoção de marcas de ex-

celência e está presente em 89

países. Nelia Jamaldine

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Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS 11PUBLICIDADE

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Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS12

O Fundo para o Revol-

vimento de Compe-

tências (FUNDAC)

acaba de disponi-

bilizar um valor orçado em

um milhão de dólares norte

-americanos para o fi nancia-

mento de 23 projectos de for-

mação profi ssional, destinado

a responder às necessidades

de formação da população

fora da escola, que se encontra

em áreas rurais.

São na verdade 3.800 pro-

vedores entre singulares e

colectivos, que em forma de

associações viram os seus pro-

jectos a serem seleccionados,

de mais de 45 apresentados.

Trata-se de projectos de for-

mação profi ssional para a

criação de auto emprego nas

áreas de construção civil, car-

pintaria, administração, hote-

laria, agro-processamento, pe-

cuária, mecânica, informática,

e outras. Os valores variam

dos 18 a 75 mil meticais, se-

gundo a sua natureza e com-

plexidade.

De entre os resultados gera-

dos desde o primeiro ciclo e

esta fase, o fundo reivindica o

fi nanciamento de 192 projec-

tos, abrangendo cerca de 45

mil benefi ciários.

�Com a implementação deste

ciclo, o número de benefi ciá-

rios vai subir para 48.800. es-

tes números são encorajado-

res, pois signifi cam que mais

moçambicanos adquiriram

através do FUNDEC, meios

e conhecimentos necessários

para se proverem a si pró-

prios e aos seus familiares

bem como iniciarem os seus

próprios negócios�, disse Ed-

mundo Jossefa, director do

Programa Integrado da Re-

forma da Educação Profi ssio-

nal (PIREP).

Para melhor gestão dos valo-

res, os provedores benefi cia-

ram de uma capacitação sobre

procedimentos administra-

tivos e fi nanceiros visando

dotá-los para uma adequada

implementação dos projectos.

Eduardo Conzo

7º ciclo do FUNDAC beneficia mais de três mil promovedores

De 2 a 4 de Novembro Mo-

çambique foi palco do pré-

-Kinani, um pequeno rito

de iniciação para o Quinto

Festival de dança contemporânea

Kinani, que terá lugar na primeira

semana de Dezembro. O pré-Kina-

ni teve o seu pontapé de partida no

Centro Cultural Universitário no

último sábado, com a apresentação

da peça Banlieue (Subúrbio).

Do coreógrafo e dançarino sene-

galês Alioune Diagne, que igual-

mente cresceu nos subúrbios do

Senegal, a mesma peça foi criada

em 2012, a primeira peça de grupo,

que relata os subúrbios do Senegal.

Os três dançarinos (Alioune Diag-

ne, Seydou Camara e Madiba Ba-

dio) que se apresentaram em palco

evocaram o desespero, a celebração

e a revolta da sobrevivência da vida

nos subúrbios.

Oscila entre a gravidade e frivoli-

dade e demonstra uma mudança da

sociedade. Foi um show vibrante,

emotivo e cheio de imaginação.

A quinta edição do Festival Kinani

irá acontecer de 2 a 6 de Dezem-

bro no Cine-África, Centro Cultu-

Maputo acolheu pré-Kinani

ral Franco-Moçambicano, Centro

Cultural Universitário, Teatro Ave-

nida com performances de artistas

moçambicanos, da Bélgica, Alema-

nha, Portugal, Senegal, África do

Sul e Suécia. Edson Bernardo

O bairro da Maxaquene, ar-

redores da cidade de Ma-

puto, conta desde pretérito

sábado com uma nova bi-

blioteca telecentro, cujas obras es-

tão orçadas em cerca de 1.5 milhão

de meticais. A biblioteca, que foi

inaugurada pelo edil de Maputo,

David Simango, conta presente-

mente com um total de 600 livros

de diversos conteúdos e 12 compu-

tadores.

David Simango disse, momentos

após a inauguração desta infra-es-

trutura, que a mesma vai minimizar

as deslocações dos jovens estudan-

Maxaquene ganha uma biblioteca telecentro

tes daquele bairro que, vezes sem

conta, eram obrigados a percorrer

longas distâncias para consultar di-

versos livros.

Como disse o edil de Maputo,

além de consultas às obras e uso

da Internet, os residentes poderão

benefi ciar de formações na área de

informática, tendo pedido aos resi-

dentes daquele bairro para que fa-

çam um bom uso da infra-estrutura

e do equipamento informático.

“Acabamos de inaugurar mais uma

obra municipal ao serviço das co-

munidades. Para mim isto constitui

uma grande alegria porque vai con-

tribuir para que os jovens residen-

tes neste bairro não percorram

mais as longas distâncias para

uma consulta de livros ”, disse.

O edil fez notar que a constru-

ção daquele centro enquadra-se

no âmbito da descentralização

de competências do Conselho

Municipal de Maputo.

Refira-se que a instalação das

bibliotecas telecentros nalguns

bairros do município de Maputo

iniciou em 2009, sendo que de lá

a esta parte mais de 600 pessoas

já beneficiaram do curso de in-

formática. Z.Massala

Dezembro do ano em curso é

o mês escolhido pela can-

tora moçambicana Dama

do Bling para lançar ofi -

cialmente o seu mais recente álbum

intitulado “Deusa”, segundo infor-

mações adiantadas durante a divul-

gação do seu single, em Maputo,

com alguns dos temas pertencentes

ao mesmo.

Trata-se do seu quinto disco com

16 temas de originais lançados com

um bónus track que conta com

algumas participações nacionais

e internacionais, em que a autora

de “Mi Love it” faz mistura de hip

hop e ragga passando pelos ritmos

tropicais, principalmente temas que

versam sobre o universo feminino.

“O álbum levou cerca de dois anos

a ser feito e tenho músicas gravadas

em 2011 que só agora estão a sair.

Foi um processo lento mas muito

cuidadoso para dar melhor quali-

dade e profi ssionalismo, por isso

acredito que o produto fi nal saiu

conforme o esperado”, disse Dama

do Bling.

Questionada sobre a difi culdade

que os músicos enfrentam, a auto-

ra de “My eish” explicou que pela

ausência de editora e de casas de

discos, os músicos não conseguem

levar os seus trabalhos ao seu pú-

blico de forma abrangente pois os

Dama do Bling lança seu quinto discoPor Nélia Jamaldine

mesmos por vezes fazem pessoal-

mente a distribuição dos discos.

Bling acrescentou ainda que outra

difi culdade é referente à pirataria,

uma problemática que cresce a vista

desarmada e com um fi nal a lon-

go prazo. Os músicos não ganham

nada com a venda dos discos por causa da pirataria pois a cultura dos discos originais já se familiarizou com as pessoas que por falta de uma

lei rígida em torno também pouco podem fazer para estancar este mal.Por outro lado, a cantora afi rmou que a meio de tanta difi culdade ainda há companheirismo e soli-dariedade no meio artístico, pois estes são companheiros e muitas vezes abraçam as mesmas causas, colaboram entre si e em conjunto participam em eventos e iniciativas de carácter social.

A Agência publicitária

GOLO foi recen-

temente galardoada

pelo Cannes. Foi um

dos maiores e mais importan-

te Festival de Publicidade do

mundo. Esta premiação foi

atribuída à agência Moçam-

bique na categoria “Outdo-

or”, com o projecto realizado

pela agência a empresa de

serviços de limpeza e lavan-

daria Clean Africa, em que

GOLO soma prémios no Cannesa iniciativa consistiu em pendurar

pelas ruas e postes da cidade, roupa

amarotada, manchada e estragada.

Esta peça, para além de ter des-

pertado a curiosidade das muitas

pessoas que circulam pelas ruas

de Maputo, abordou com humor

o quotidiano de quem entrega a

limpeza nas mãos de alguém pouco

profi ssional, incitando ao recurso

dos serviços da Clean África (Dei-

xe a limpeza para os profi ssionais).

Com este projecto, a agência

Golo não só conquistou o pré-

mio na 60ª edição do Cannes

Lions International Festival of

Creativity, como também ha-

bilitou-se automaticamente ao

Creative Effectiveness Lions

de 2014.

Para além deste galardão,

há ainda a possibilidade da

GOLO alcançar mais um tro-

féu, pois a mesma peça habili-

tou-se automaticamente.

Edson Bernardo

Ilec

Vila

ncul

o