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Maputo, 8 de Novembro de 2013 • ANO XX • No 1035 • Preço: 30,00 Mt • MoçambiquePemba, Caixa Postal, 260
E-mail: [email protected]
M o ç a m b i q u e
Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Zambézia e Sofala
O horror da Beira vivido ao minuto
Págs. 2Págs. 2
TEMA DA SEMANA2 Savana 08-11-2013
A acção do governo con-
tra a Renamo conheceu
na semana passada um
novo capítulo, evoluin-
do do confronto militar para o
campo da pressão política, com
a ocupação da sede da delega-
ção provincial do partido e da
residência do seu líder, Afonso
Dhlakama, na Beira, a segunda
cidade politicamente mais impor-
tante de Moçambique e uma das
principais bases de apoio do anti-
go movimento rebelde.
Abrigada num alegado mandado
judicial, a incursão da Força de
Intervenção Rápida (FIR) teve
episódios de sevícias aos membros
do movimento encontrados na
sede. Também houve roubo e van-
dalismo, com o “desaparecimento”
de dinheiro e cheques, bem como
o espalhamento de documentos,
segundo contaram ao SAVANA
testemunhas.
De acordo com um vizinho da
sede da delegação provincial do
principal partido da oposição, o
assalto ao local teve pinceladas de
um verdadeiro fi lme policial. De
surpresa, cerca de 16 membros
da Força de Intervenção Rápida,
a polícia anti-motim, saltaram de
uma viatura Mahindra. Alguns,
com tiros ao ar, entraram nas ins-
talações da sede da Renamo, ar-
rombaram as portas e detiveram
os sete membros do partido ali
presentes. Outros “FIRis” fi caram
à entrada do edifício, de arma em
punho e prontos para qualquer
eventualidade, contou a fonte.
“Roubos”Um membro da Renamo presente
no momento da incursão, Horá-
cio Calavete, relatou ao SAVANA
que 43 cheques e 47 mil meticais
que estavam guardados no de-
partamento fi nanceiro da sede
sumiram alegadamente em con-
sequência da incursão da polícia.
Do dinheiro que “desapareceu”,
44 mil meticais resultaram de
quotas pagas pelos membros do
partido e três mil meticais da con-
tribuição da Liga Feminina, disse
Horácio Calavane.
Com torturas físicas e psicológi-
cas pelo meio, segundo Cavele, os
“homens da FIR” iam perguntan-
do por “alguém importante” es-
condido na delegação do partido
e por armas alegadamente escon-
didas no local.
“Não encontraram nenhuma
arma”, declara, resignado, o mem-
bro da Renamo, perante o suposto
falhanço de uma operação feita
com grande estardalhaço. Ainda
perturbado com o susto que viveu
durante o assalto ao seu local de
trabalho, Horácio Cavele diz que
não compreende as razões da in-
vestida da FIR, pois a tensão que
se vive no centro do país opõe
adversários armados e não civis,
como ele.
“A situação militar que se vive no
país não é da responsabilidade dos
civis, mas dos militares e eu não
sou militar”, afi rma Calavete.
VandalismoOs sinais de tumulto eram paten-
tes na sede da força política de
Afonso Dhlakama. O SAVANA
viu mobiliário destruído, incluin-
do congeladores, e tomadas dani-
fi cadas, bem como papéis e docu-
mentos de arquivo espalhados.
As marcas físicas e psicológicas
nos membros da Renamo fi caram.
“Quando eles chegaram, começa-
ram a disparar, entraram no inte-
rior da nossa delegação, disseram-
-nos que nos deitássemos no chão
e obedecemos. Mesmo assim,
continuaram a ameaçar-nos, a
exigir que lhes entregássemos ar-
mas. Dissemos que não tínhamos
nenhuma arma e, na verdade, eles
não encontraram nenhuma arma
no local”, conta Fernando Je-
musse, membro da Renamo.
Após o fandango, a Renamo vol-
tou a tomar posse do seu “quartel-
-general” político em Sofala e já lá
se encontram os funcionários do
partido a trabalhar normalmente,
depois de a FIR deixar o local.
Mas o aparentemente regresso
à tranquilidade não deixa sosse-
gadas as famílias residentes nas
imediações. Vivem de malas feitas
e em posição de fuga, para o que
“der e vier”.
Nos aposentos de DhlakamaA caça à “perdiz” em Sofala tam-
bém chegou à residência de Afon-
so Dhlakama na Beira, uma vez
que foi igualmente “tomada” por
cerca de 150 elementos da FIR,
que ainda permanecem na habi-
tação.
Na residência, foram apreendidas
munições e detidos três homens,
que são, aparentemente, seguran-
ças do domicílio de Dhlakama e
continuam sob custódia policial.
Ouvido pelo SAVANA, o arcebis-
po emérito da Beira, Jaime Gon-
çalves, manifesta preocupação
com a situação política e militar
no país, evocando a destruição
provocada pelos 16 anos de guerra
civil que o país conheceu até à as-
sinatura do Acordo Geral de Paz
(AGP), em 1992.
“É preciso lembrar quantos mo-
çambicanos morreram durante
os 16 anos de guerra, não pode-
mos experimentar novamente a
guerra. É preciso entender que na
Estrada Nacional Nº 1, cada dia
que passa, a situação está a ganhar
contornos preocupantes e isso não
é bom”, afi rma o religioso.
Jaime Gonçalves assinala que a
expulsão de Afonso Dhlakama do
seu acampamento em Satunjira
deixou grupos de supostos ho-
mens da Renamo sem comando e
com poder de iniciativa capaz de
aumentar a escalada da instabili-
dade militar no centro do país.
“Os ditos homens da Renamo
estão a agir em grupos isolados e
podem não estar sob o comando
de Dhlakama e assim não é fácil
o seu controlo. O tipo de guer-
rilha que usam não e fácil de ser
combatido, isto já vivemos em vá-
rias partes do mundo”, enfatizou
Gonçalves, um dos animadores
do processo que levou ao AGP.
Para o bispo emérito da Beira, a
falta de um entendimento entre o
Governo e a Renamo em torno da
legislação eleitoral não pode jus-
tifi car o derramamento de sangue
em Moçambique.
Carlos Mendonça Uajanja, ana-
lista, entende que o país está a
viver uma guerra não declarada,
que se traduz no alastramento de
focos de violência envolvendo o
exército e antigos guerrilheiros do
principal partido da oposição.
Por outro lado, considera Uajan-
ja, o contexto de crise política e
militar no país está a potenciar a
ocorrência de violação dos direi-
tos humanos e da lei dos partidos
políticos, como aconteceu no caso
da “invasão” da sede da Renamo e
da residência do seu líder.
Acção governamental contra Renamo evolui para novo capítuloPor Constatino André, na Beira
Perante a situação, o Chefe de Estado, Armando Guebu-
za, convidou Afonso Dhlakama para um encontro, nesta
sexta-feira em Maputo, visando discutir a actual tensão
política e militar.
O porta-voz do Presidente, Edson Macuácua, disse que o encontro
servirá para “auscultar as preocupações” da Renamo, no “âmbito dos
esforços contínuos empreendidos pelo Governo para a preservação
da paz”.
Sem demoras, a Renamo, através do seu porta-voz, Fernando Ma-
zanga, já qualifi cou o convite como “cínico e doce envenenado”,
enfatizando que não foi endereçada nenhuma proposta formal pela
Presidência da República e o convidado está em paradeiro desco-
nhecido, após ser desalojado da sua última habitação conhecida, em
Satunjira, pela ofensiva do exército.
Na capital da província de Sofala, no geral, vive-se um am-
biente de incerteza em relação ao futuro, devido à insta-
bilidade na região.
Natércia Borges, estudante secundária, vê mesmo como
inúteis os exames escolares que acabou de fazer, pois num ambiente
de guerra não terá valido a pena o esforço na formação.
“Pode haver guerra a qualquer momento. Estão a deixar-nos de-
sesperados, queremos continuar a viver em paz e entrar no ensino
superior para o bem de Moçambique. Os dois devem ouvir a voz
do povo. Não se justifi cam disparos no Macuti e Ponta Gêa, bairros
considerados de elite. Por isso, peço ao pai Guebuza e ao líder da
Renamo para pararem os disparos”, suplicou Natércia Borge.
Também descrente em relação ao futuro está Américo Francisco,
transportador de longo curso, pois sempre que saem em viagem não
sabe se voltará a casa.
“Vivemos 21 anos de paz e queremos continuar a circular livremen-
te e sem medo. O país está a desenvolver e agora querem destruir
tudo”, remata Franciso.
Apesar do clamor do povo, a irracionalidade da “guerra não decla-
rada”, como os analistas qualifi cam os confrontos entre o exército e
o governo, continua a fazer estragos.
Três militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique
(FADM) morreram esta semana durante uma emboscada atribu-
ída a homens armados da Renamo a veículos do exército e várias
pessoas foram feridas em consequência de ataques a caravanas de
carros na principal estrada do país, mesmo com a presença da es-
colta militar.
Os ataques na Estrada Nacional Nº 1, que no princípio eram es-
porádicos, sucedem-se agora a um ritmo diário, com o cortejo de
mortos e feridos a aumentar a cada dia.
“Não sei porque z exames”
“Convite cínico”
Sede da Renamo assaltada e ocupada pela FIR na Beira
TEMA DA SEMANA 3Savana 08-11-2013 TEMA DA SEMANA
Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Construção Civil, Madeiras e Minas de Moçambique - SINTICIM, no âmbito do plano de modernização em curso, pretende contratar os seguintes pro ssionais para desempenhar as seguintes funções:
1. Jurista e ou Técnico Jurídico (3)
Para: Nampula, Maputo e Tete;
a) Quali cações e experiência requerida
Licenciatura em Direito ou conclusão das cadeiras do programa curricular
Inscrição no IPAJ e ou na Ordem dos Advogados
Fluente em Língua Portuguesa
Conhecimento de Língua inglesa
2. Técnico Pro ssional de Administração (10)
Para: Nampula, Maputo, Tete, Sofala e Cabo Delgado
Quali cações e experiência requerida
Nível Médio com formação na àrea de Adminitração
Conhecimentos de informática na óptica de utilizador
Dois ou mais anos de expriencia na área de administração de recursos humanos
Organização e gestão de processos administrativos
Follow up dos processos disciplinares e judiciais
Avaliações
Capacidades basicas nos pacotes de Software de Word, excel, power point.
3. Contabilista (5)
Para: Nampula, Maputo, Tete, Sofala e Cabo Delgado.
a) Quali cações e experiência requerida
Nível Médio Contabilidade e ou Auditoria
Conhecimentos de informática na óptica de utilizador
Ter entre 18 e 35 anos de idade
Capacidade de trabalhar sob pressao
Capacidade de trabalhar em equipa.
4. Documentação
Carta de Pedido de emprego indicando entre outras coisas o lugar para onde pretende concorrer;
CV pormenorizado e actualizado;
Cópia do BI;
Cópia autenticada de diplomas e certi cados académicos
5. As candidaturas deverão ser entregues no endereço abaixo, até às 16.00 horas do dia 12 de Novembro de 2013.
Avenida 24 de Julho, 2341 - 5ºAndar: Telefones: +258 820836808 / +258 842243005 Email: [email protected]; Fax 21312986
Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de
Construção Civil, Madeiras e Minas de Moçambique
ANÚNCIO DE VAGAS
1. O Governo vem deno-
tando inclinação cada
vez mais nítida pela op-
ção militar na sua ati-
tude face à actual crise político-
-militar. A tónica da “abertura ao
diálogo” presente no discurso do
Presidente, Armando Guebuza, é
considerada ilusória e calculística:
ocultar/confundir a opção militar,
servir de “margem de recuo” em
caso de fracasso.
Factos novos ou reforçados, con-
siderados ilustrativos da opção
militar:
- Acentuou-se o pendor ofensi-
vo/iniciativa operacional das ac-
ções das FADM.
- Aumentou o grau de pronti-
dão com que as necessidades de
aprovisionamento logístico das
FADM são atendidas pelo Go-
verno.
- O SISE passou a concentrar a
sua acção de pesquisa na recolha
de informação de interesse mi-
litar.
- Surgiram rumores internos,
considerados “pertinentes”, se-
gundo os quais terá sido solici-
tada cooperação militar específi ca
de países vizinhos.
Em meios internacionais de in-
telligence atentos à actual crise
em Moçambique são considera-
dos “verifi cados” dados segundo
os quais a opção militar tem por
alvo a eliminação física de Afon-
so Dhlakama, líder da Renamo.
Entre os adeptos de tal desfecho
predominam chefes militares e a
ala mais jovem do gabinete pre-
sidencial.
No que concerne aos militares é
especialmente apontado o actual
CEMGFA, Gen Graça Chon-
go, uma fi gura considerada apa-
gada (AM 771), que veria num
tal sucesso uma oportunidade de
afi rmação. Entre os jovens do ga-
binete presidencial avulta o por-
ta- voz, Edson Macuácua (acção
concentrada na imprensa e jorna-
listas).
2 . Em sectores chave da socie-
dade – alas do regime adversas a
A. Guebuza; oposição partidária;
organizações; igrejas e meios in-
telectuais, incluindo imprensa;
mas também na população – há a
percepção de que a opção militar
visa enfraquecer a Renamo, mas
também “reforçar” a contestada
liderança de A. Guebuza e sua
ala.
A análise respectiva é a de que,
por via de uma bem sucedida de-
monstração de força para “pôr a
Renamo na ordem”, A. Guebuza
capitalizará politicamente e em
termos de infl uência tendo em
vista:
- Ganhar ascendente sobre a
infl uente ala que o contesta na
Frelimo, votando-a assim a um
estado de isolamento.
- Resolver em conformidade com
os seus interesses a questão presi-
dencial; eventualmente lançando
a candidatura de sua esposa, Ma-
ria da Luz Guebuza. Há a ideia
de que A. Guebuza sempre deu
preferência a uma solução mili-
tar (AM 790), por ver na mesma
virtualidades que lhe permitiriam
resolver a seu contento os chama-
dos “factores internos adversos”.
Ao contrário, uma solução po-
lítica, por defi nição baseada em
concessões à Renamo, agravaria
os referidos factores. As conces-
sões a que a Renamo condicionou
um compromisso – recenseamen-
to eleitoral credível; composição
paritária da CNE – aumentariam
a exposição da Frelimo a futuros
reveses eleitorais; as irregularida-
des em que até agora se basearam
as vitórias seriam menos possí-
veis. Um tal cenário fragilizaria
A. Guebuza perante seus adver-
sários. A ala interna que contesta
A. Guebuza é animada por histó-
ricos da Frelimo, alguns dos quais
como Sérgio Vieira, Jorge Rebe-
lo e Óscar Monteiro, foram seus
apoiantes da sua ascensão a SG
do partido e, depois, da sua can-
didatura presidencial. Juntam-se
fi guras prestigiadas como Mar-
celino dos Santos e Graça Ma-
chel. O “protagonismo” adverso
a A. Guebuza dos históricos tem
dado azo a reacções internamente
consideradas “divisionistas”, devi-
do à sua inspiração racial ou tri-
bal. É corrente que tais reacções
são patrocinadas por funcionários
do círculo presidencial com in-
fl uências na imprensa que as vei-
cula (Domingo, em especial). 3
. A ocupação de Satunjira, pelas
FADM, 21.Out, representou uma
escalada militar das tensões face
à qual o Governo, conforme suas
próprias análises, só deverá recuar
em duas circunstâncias:
- Circunstâncias naturais: porque
obteve em campanha clara vanta-
gem sobre a Renamo.
- Circunstâncias de contingência:
para controlar efeitos negativos de
um insucesso e/ou previsões fun-
dadas de ocorrência do mesmo.
Esta visão das coisas por parte de
A. Guebuza é considerada decor-
rente de evidências entre as quais
avulta a impopularidade de que
goza, agora largamente alimenta-
da pela ideia de que pôs em perigo
a paz no país – um cenário me-
recedor de notório repúdio numa
população ainda com memória da
guerra.
A impopularidade de A. Guebuza
é de fácil apreensão na presente
realidade social política do país.
Na chamada vox populi, em es-
pecial nos transportes públicos, é
o tópico dominante; o fenómeno
reproduz a linha crítica em rela-
ção a A. Guebuza que a imprensa
não ofi cial deixa transparecer.
Na medição da importância social
e política das críticas internas a A.
Guebuza é considerado o facto de
congregar personalidades políti-
cas da Frelimo, Renamo e MDM
e independentes – razão pela qual
se diz que se trata de uma “união
nacional”. A sociedade civil orga-
nizada é igualmente contundente.
A. Guebuza foi o “alvo mais pre-
sente” das manifestações anti-
-governamentais (AM 793), de
31.Out, Maputo, Beira e Queli-
mane. É visto como responsável
pela crise político-militar e pela
criminalidade (raptos) em Ma-
puto. De forma discreta altos
funcionários governamentais ten-
taram impedir as manifestações.
(Áfricamonitor intelligence 794)
Opção militar para enfraquecer Renamo e isolar oposição interna na Frelimo
TEMA DA SEMANA4 Savana 08-11-2013
Beira: Frelimo apela à coesão partidária e MDM promete mais condições O Partido Frelimo ao nível da cidade da Beira, Sofala, pediu união e coesão entre os membros do
partido com vista a garantir vitória nas eleições do próximo dia 20.
Alberto Chipande, chefe da Brigada central da Frelimo, referiu que as divisões fragilizam o partido
e potenciam os adversários pelo que é importante que o partido seja coeso para ser mais forte.
Por sua vez, o candidato da Frelimo, para o município da Beira, Jaime Neto, compromete-se a
melhorar as condições de vida dos munícipes que no seu entender, de um tempo a esta parte, estão
num total abandono.
Segundo Neto, para que isso se materialize é preciso que os munícipes da Beira votem nele.
Por sua vez, Daviz Simango, candidato do MDM, pediu aos munícipes da Beira para que partici-
pem no processo de votação e que o voto devia ser dirigido à sua pessoa bem como ao seu partido
por serem os únicos capazes de revolucionar a vida dos beirenses.
Nacala-Porto: Candidatos prometem inclusão Com estratégias de intervenção diferentes, os candidatos à presidência da autarquia de Nacala-
-Porto, Nampula, em representação dos partidos Frelimo e MDM prometem aos eleitores locais
uma inclusão na sua governação.
Trata-se de Rui Chong Saw, da Frelimo e Fátima Raene, do MDM.
Rui Chong e seus membros começaram a campanha com um desfi le intenso com cerca de uma
centena de viaturas e mais de quatro dezenas de motorizadas passeando pelos arredores da cidade
de Nacala.
Na sua intervenção, Rui Chong foi concreto e disse aos munícipes que ao pedir o voto de confi ança
destes fá-lo por ter o desejo de mudar a cidade de Nacala e levá-la a um patamar de desenvolvi-
mento inclusivo.
Prometeu que vai trabalhar com todos, desde a promoção do trabalho à satisfação das necessidades
básicas, cuja execução consta das atribuições da autarquia.
Por sua vez, Fátima Raene, que não optou por comícios nem desfi les, priorizou contactos interpes-
soais fazendo campanha porta a porta.
De forma tímida e sem
despertar muito inte-
resse popular, arran-
cou, nesta terça-feira,
05 de Novembro, nas 53 autar-
quias, a campanha eleitoral com
vista às eleições autárquicas do
próximo dia 20 de Novembro.
Os cerca de 120 candidatos às
presidências dos municípios, su-
portados por 18 partidos políti-
cos e ou/grupo de cidadãos, têm
15 dias para convencer o eleito-
rado a votar a seu favor.
Tal como se verifi ca noutras
corridas eleitorais, desta vez é
também notável, no terreno, a
disparidade de meios fi nancei-
ros e materiais. Nesta campanha
é visível a presença de candida-
tos e partidos ostentando meios
bastantes e outros sem pratica-
mente nada, enfrentando até di-
fi culdades de produzir panfl etos
de publicitação dos seus candi-
datos ou partidos.
Embora o país viva uma situa-
ção de tensão político-militar
provocada pelo diferendo entre
o Governo e a Renamo e que,
até ao momento, já resultou em
dezenas de mortes de civis e das
Forças de Defesa e Seguran-
ça bem como na destruição do
património privado, em todas as
53 autarquias, todos os candida-
tos saíram à rua para iniciarem a
campanha eleitoral.
Segundo José Beirão, porta-voz,
da Comissão Nacional de Elei-
ções (CNE), apesar de peque-
nos incidentes que se registaram
nos municípios de Quelimane
(Zambézia) e Gorongosa em
Sofala, tudo correu dentro do
planifi cado.
Outro factor que caracteriza
a campanha eleitoral, rumo às
quartas eleições autárquicas,
tem a ver com o facto de esta
não despertar muito interesse
no seio dos eleitores. As pessoas
estão mais preocupadas com a
paz do que com as eleições. A
instabilidade que caracteriza o
país vem agudizar a falta de cré-
dito a que muitos políticos estão
votados por parte dos cidadãos
devido ao incumprimento das
suas promessas. Em vez de ir
aos comícios ou ouvir políticos,
o povo prefere continuar com a
sua rotina normal.
A receptividade é ainda muito
mais precária nos candidatos
sem meios. A Frelimo e o Mo-
vimento Democrático de Mo-
çambique (MDM); a Renamo
não participa; é que arrastam
pequenas molduras humanas,
sobretudo seus membros e
crianças que se juntam na es-
perança de receber um boné ou
camiseta.
Auxiliando-se do seu poder fi -
nanceiro, na maior parte das
autarquias, a Frelimo e os seus
candidatos juntam “showmi-
cios” e contactos interpessoais
enquanto que os outros concor-
rentes, incluindo o MDM pau-
taram por desfi les e contactos
interpessoais para difundirem
as respectivas mensagens.
O poder económico-fi nanceiro
e organizacional da Frelimo
tem permitido que a campanha
deste partido seja mais notável
quando comparada com a de
outros concorrentes.
Promessas O candidato da Frelimo para
governação do município de
Maputo, David Simango, pro-
mete fazer mais em prol dos
munícipes e do desenvolvimen-
to da cidade capital do país.
David Simango, que concor-
re para a sua própria sucessão,
disse que as obras realizadas
nos últimos cinco anos e ou-
tras ainda em curso deixam-lhe
convicto de que os munícipes
da cidade de Maputo irão votar
nele e a vitória será esmagadora
e convincente.
Falando das suas glórias no
mandato prestes a fi ndar, o can-
didato da Frelimo enumerou
vários exemplos de acções con-
cretas levadas a cabo pelo seu
elenco em diversos domínios.
Reconheceu que ainda não foi
atingido o desejável, mas de for-
ma gradual os problemas estão a
ser resolvidos.
Simango, que teve a honra de
contar com a presença do pre-
sidente da Frelimo, Armando
Guebuza, na aberura da campa-
nha, prometeu levar água potá-
vel a todos os munícipes e abrir
faixas de rodagem exclusivas
para os transportes de passagei-
ros para além da construção do
metro de superfície ligando as
cidades de Maputo e Matola.
Venâncio quer salvar Mapu-to Para o candidato do MDM, Ve-
nâncio Mondlane, o Município
de Maputo está em degradação.
Ela é originada pela incapacida-
de generalizada de responder à
demanda de serviços pelos mu-
nícipes, a corrupção, incapaci-
dade de recolha do lixo, gestão
de transportes cada vez mais ca-
ótica, a pobreza urbana a níveis
sem precedentes, a incapacidade
de responder a demanda de em-
Campanha eleitoral ao rubro: novas promessas para velhos problemas- Apesar da tensão político-militar que assola o país, os políticos não desarmam e procuram votos nas 53 autarquias que vão às eleições no próximo dia 20
Por Raul Senda (Maputo) e Aunício da Silva (Nampula)
TEMA DA SEMANA 5Savana 08-11-2013 TEMA DA SEMANA
prego pelos jovens e pelas mu-
lheres, o aumento da crimina-
lidade bem como a degradação
das infra-estruturas de interesse
público.No entender de Mondlane, com uma gestão responsável, honesta e íntegra dos fundos à disposição do município, é possível garantir aos maputen-ses uma qualidade de serviços maior e melhor, designadamen-te, na recolha de lixo, no estado das estradas e vias de acesso, no abastecimento de água, na segu-rança pública, nos transportes, na educação e na saúde.O candidato do MDM diz que é pela erradicação e proibição de células partidárias dentro das unidades municipais para além da implementação de um pro-cesso de prestação de contas. O combate à corrupção consta na lista das prioridades do candi-dato.Venâncio Mondlane promete incentivar a criação de micro-empresas jovens para recolha de lixo nos bairros periféricos; in-troduzir o subsídio de risco para os trabalhadores da salubridade, assistência médica e medica-mentosa.Na sua lista de promessas, o candidato do MDM prome-te encerrar a lixeira de Hulene num prazo de três anos.No que concerne à problemá-tica dos transportes, Venâncio Mondlane tenciona unifor-
mizar procedimentos, normas,
legislação e posturas de trans-
portes em todo o perímetro
fronteiriço com a área metropo-
litana do Grande Maputo e de-
fi nir uma política de concessões
nas principias vias.
Promete ainda instalar até ao
fi nal do mandato uma central-
-piloto de tratamento e recicla-
gem de águas residuais.
Mussá quer mudar Maputo Ismael Mussá, candidato de
Juntos Pela Cidade ( JPC), na
capital do país, entende que
Maputo é o espelho de Mo-
çambique e como munícipe não
está satisfeito com o desenvolvi-
mento da cidade.
Para Mussá, Maputo precisa de
novos rostos, ideias e formas de
encarar as coisas.
Segundo o candidato, nos últi-
mos anos, muitas são as vozes
que se levantam e reivindicam
por uma melhor qualidade, ce-
leridade e regularidade dos ser-
viços prestados pelo Conselho
Municipal de Maputo.
Mussá fala da ausência de tra-
balho de manutenção de estra-
das; da gravíssima situação do
congestionamento no tráfego
rodoviário; do dilema dos trans-
portes públicos; da ausência de
alternativas de estacionamen-
to na via pública; da defi ciente
recolha e tratamento de lixo; da
ausência de limpeza e a manu-
tenção periódica das valas de
drenagem, as construções de-
sordenadas; o desrespeito con-
tinuado e propositado das pos-
turas camarárias; a proliferação
desordenada de vendedores de
rua e de mercados informais; o
crescente número de crianças e
adultos vivendo desamparados
na rua; a ausência de uma po-
lítica social municipal; a falta de
criatividade na criação de novos
empregos; o desordenamento
urbano, entre outros problemas.
Para o candidato, estes proble-
mas resultam da ausência de
uma planifi cação rigorosa e ra-
cional que privilegie a alocação
dos recursos fi nanceiros e ma-
teriais existentes em áreas prio-
ritárias de modo a solucionar
defi nitivamente estes e outros
problemas ou pelo menos a ate-
nuar os seus efeitos nefastos na
vida dos munícipes.
Segundo Mussá, as enormes
expectativas geradas pelas pro-
messas eleitorais e não con-
cretizadas pelo actual Edil
proporcionam e reforçam o des-
contentamento geral e o visível
descrédito que caracteriza a ac-
tual governação autárquica na
Cidade de Maputo sendo que,
ele é a solução ideal para todos
os problemas.
6 Savana 08-11-2013PUBLICIDADE
Estudo sobre percepções comunitárias quanto ao uso e proveito de tecnolo-gias de informação e comunicação
ContextoO Centro de Apoio à Informação e Comunicação Comunitária (CAICC) é um mecanismo de apoio ao melhor funcionamento dos telecentros, rádios comunitárias (RCs) e centros multimédia comunitários (CMCs) de várias origens e tipos existentes em todo o País, privilegiando o uso das Tecnolo-gias de Informação e Comunicação (TIC). Actualmente trabalha com 102 parceiros locais, maioritariamente operando a nível do distrito.
ObjectivoO CAICC pretende contratar uma consultoria para averiguar as percepções dos utilizadores em relação ao funcionamento e grau de resposta às suas necessidades por parte do CAICC e dos seus parceiros locais, e para fazer recomendações para o futuro.
ActividadeO trabalho será realizado através de uma revisão documental, recolha de dados nas zonas de 6 parceiros locais do CAICC, análise dos resultados e elaboração do relatório nal. Será efectuado em Jan-Fev 2014, e deverá levar um máximo de 25 dias úteis.
Termos de Referência Os Termos de Referência são disponíveis no website http://www.caicc.org.mz, ou podem ser solicitados via telefone, e-mail ou fax, ou levantados no gabinete do CAICC no CIUEM.
Per l do/a consultor/a • Experiência de trabalho de campo nas zonas rurais de Moçambique• Experiência de trabalho na área de comunicação social e TIC
• Conhecimento dos conceitos e debates relacionados com informação e comunicação para desenvolvimento, governação e TIC em geral
• Grau universitário numa área relevante• Nacionalidade moçambicana
PrazoPropostas incluindo um plano de trabalho, orçamento, listagem de traba-lhos relevantes recentes e c.v. devem ser entregues ate 20 de Novembro de 2013. Podem ser entregues via e-mail, fax, ou directamente no CIUEM num envelope fechado contendo a indicação “Percepções Comunitárias” dirigi-do à Coordenadora do Projecto CAICC.
ContactosCentro de Apoio à Informação e Comunicação Comunitária – CAICC Centro de Informática da UEM, Campus Universitário da UEM, Avenida Julius Nyerere, Maputo Linha Verde: 82/84 3535, 86 3535000, Telefax: +258 21 485779, Skype: caiccajudaE-mail: [email protected]: http://www.caicc.org.mz
Para uso interno - Critérios de avaliação
• Experiência especí ca prévia em trabalhos similares• Experiência de trabalho a nível de base• Conhecimento do tema e do contexto• Qualidade da metodologia proposta• Proposta de valor e calendário
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE CENTRO DE INFORMÁTICA
CENTRO DE APOIO A INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA (CAICC)
SOLICITAÇÃO DE PROPOSTAS
(Conta: MISAU-DAG-JUROS E CADERNOS DE ENCARGOS Nº 10.22.9427.10.001 - MZM)
até às 13:30 horas
do dia 19 de Novembro de 2013às 14:00 horas do dia 19 de Novembro de 2013
Ministério da SaúdeUnidade Gestora Executora das AquisiçõesAv. Eduardo Mondlane, nº 1008 – R/Chão
Maputo - Moçambique
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUEMINISTÉRIO DA SAÚDE
UNIDADE GESTORA EXECUTORA DAS AQUISIÇÕES
ANÚNCIO DE CONCURSO Serviços de produção do layout, impressão e maquetização da brochura sobre as técnicas de cultivo e conservação
das plantas medicinais e alimentares
7Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE
8 Savana 08-11-2013SOCIEDADE
O Banco de Moçambique (BM)
manifestou nesta terça-feira
preocupação com a fraca res-
posta dos bancos comerciais
no acompanhamento das medidas que
estão a ser tomadas ao nível das taxas
de referência, que apesar de sucessivas
reduções, ao nível do mercado continu-
am altos.
Segundo dados apresentados pelo ad-
ministrador e porta-voz do BM, Wal-
demar de Sousa, as taxas médias para o
crédito nos bancos comerciais estão ac-
tualmente em 20.45%, contra os 8.25%
que constituem a referência do Banco
Central.
Dos 18 bancos que operam no mercado
nacional, apenas oito por cento é que
estão a cobrar menos de 15% como taxa
do custo do dinheiro cedido ao merca-
do.
De acordo com os dados do BM, oito
bancos, correspondentes a 45% da
banca comercial, cobram como taxa de
juro para a cedência entre 15 a 20%,
enquanto seis instituições de crédito,
representando uma quota de 35.4%, co-
bram entre 20 a 25%.
No extremo mais alto estão dois ban-
cos-representando uma quota de cerca
de 11% do total das instituições de cré-
dito-que estão com uma taxa superior
a 25%.
Depois de ter fechado o ano passado
com taxas de juro médio em 21.38%,
o valor cobrado pelo mercado a reta-
lho reduziu nos meses de Março, Abril
e Maio deste ano. No primeiro mês, a
taxa média foi de 19.84%, tendo redu-
zido para 19.71% em Abril e 19.80 no
mês seguinte.
A partir de Junho, as taxas médias en-
traram numa nova escalada, contrarian-
do a tendência seguida pelo BM.
De acordo com a tabela a que tivemos
acesso, enquanto a autoridade monetá-
ria reduziu em 125 pontos base (1.25%)
as taxas de cedência entre Junho a Ou-
tubro, os bancos comerciais subiam,
quase no mesmo período, 28 pontos
base (0.28%).
ReacçõesO porta-voz do BM considera que para
a actual situação de infl ação baixa, es-
tabilidade do Metical e taxas directo-
ras também reduzidas, o valor cobrado
pelas cedências do mercado a retalho
devia estar também abaixo dos níveis
actuais.
Mesmo admitindo a existência de al-
guns riscos ou factos que, eventualmen-
te, estejam a determinar a actual actu-
ação dos bancos comeciais, considera
que o alinhamento destes às medidas
que vêm sendo tomadas pelo BM con-
tinuam aquém das expectativas.
“Neste momento estamos a estudar o
fenómeno, avaliar o que estará por de-
trás do mesmo e colher experiências de
outros países para situações similares
e, no momento certo, iremos anunciar
as possíveis medidas a tomar” , disse
Waldemar de Sousa, em conferência de
imprensa.
Crédito mal parado Dados ofi ciais indicam que o crédito
mal parado no sistema fi nanceiro na-
cional registou um aumento de um por
cento desde Setembro do ano passado,
tendo atingido a taxa de 4.5% em igual
período deste ano.
“Esta tendência resulta de uma subs-
tancial expansão do crédito que o siste-
ma fi nanceiro está a experimentar neste
ano”, precisou o porta-voz do BM, real-
çando que a situação “representa algu-
ma preocupação”.
Apesar desta situação, o BM considera
que o sistema fi nanceiro nacional con-
tinua robusto, estando com um rácio de
solvibilidade actual de 16.3%, não obs-
tante ser o mais baixo desde Dezembro
de 2012.
Refi ra-se que habitação e aquisição de
viaturas constituem, segundo dados
ofi ciais, os tipos de crédito mais solici-
tados.
Altas taxas de juros continuam a preocupar Banco CentralAo nível dos bancos comerciais:
Por Wiliam Mapote
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUEMINISTÉRIO DA SAÚDE
UNIDADE DE GESTÃO E EXECUÇÃO DE AQUISIÇÕES(UGEA)
Anúncio de Adjudicação
De acordo com o Art. 32, nº 2, alínea “c” do Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado, aprovado pelo Decreto nº 15/2010 de 240 Maio, comunicamos que o objecto do concurso abaixo foi adjudicado à empresa seguinte:
AQUISIÇÃO DE UM APARELH O DE RX TIPO SERIGRAPH E DE UM ESTABILIZADOR DE TENSÃO
Concurso Público nº 3 8/OE/UGEA/MISAU/13
LOTE 1 - APARELHO DE RX TIPO SERIGRAPH
OFFICEMART, pelo valor monetário de 5.800.000,00 MT (cinco milhões, oitocentos mil Meticais), incluindo o IVA.
LOTE 2 - ESTABILIZADOR DE TENSÃO
POWER, pelo valor monetário de 135.439,20 MT (cento trinta e cinco mil, quatrocentos trinta nove Meticais, vinte centavos), incluindo o IVA.
Maputo, aos 25 de Outubro de 2013A Autoridade Competente
(Ilegível)
9Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE
10 Savana 08-11-2013INTERNACIONAL
Os cientistas suíços que ana-
lisaram os restos mortais
do líder palestiniano Yasser
Arafat encontraram nos
seus restos exumados um nível 18
vezes superior ao que seria normal
do elemento radioactivo polónio. A
sua análise aponta para que existam
83% de probabilidades de ter sido en-
venenado.
Apesar desta elevada percentagem de
certeza, os cientistas que realizaram a
investigação — a Al-Jazira teve aces-
so ao relatótio fi nal — dizem que os
dados apontam para uma “probabili-
dade moderada” de o polónio 210 ter
causado a morte ao líder histórico pal-
estiniano.
O relatório tem 108 páginas e foi
redigido pelo Centro de Medicina
Legal da Universidade de Lausanne.
Diz que os níveis mais elevados de
polónio foram encontrados na pélvis
e nas costelas de Arafat, mas também
na matéria da decomposição dos seus
órgãos moles — é nestes que melhor
se detecta o polónio.
O único caso conhecido (e provado)
de este elemento radioactivo ter sido
usado para matar alguém é o do espião
russo Alexander Litvinenko, que mor-
reu num hospital em Londres, a 23 de
tou de um assassínio. “Encontrámos a
pistola fumegante que matou Arafat
— disse —, mas não sabemos quem
a disparou.”
O documento, elaborado por uma eq-
uipa suíça, francesa e russa, examinou
a causa de morte do líder palestini-
ano, que morreu a 11 de Novembro
de 2004 (faz na quinta-feira nove
anos). Mas não menciona se houve
intencionalidade na contaminação por
polónio, ou seja, não se debruça sobre
outro tema a não ser a presença do
polónio.
Yasser Arafat morreu num hospi-
tal militar francês, aos 75 anos. Foi
transferido para ali de Ramallah, na
Cisjordânia, depois de semanas a
sentir-se mal. No dia 12 de Outubro
de 2004, quatro horas após ter jantado,
o palestiniano começou a ter náuseas,
diarreia e vómitos. Os médicos pal-
estinianos diagnosticaram-lhe gripe,
mas por não melhorar foram chama-
dos médicos egípcios para o observar.
Estes também não puderam fazer
um diagnóstico e foi decidido enviar
Arafat para França, onde também não
houve um diagnóstico e onde morreu
de acidente vascular cerebral hemor-
rágico. Apesar da falta de diagnóstico,
não foi feita uma autópsia.
A tese de envenenamento foi rápida
Novembro de 2006.
Não há outro caso conhecido de in-
gestão letal de polónio 210 por seres
humanos, escrevem os cientistas no
relatório, para além do de Litvinenko.
“Mas o seu caso não foi descrito na
literatura científi ca e as únicas cara-
cterísticas clínicas conhecidas [deste
tipo de enveneamento agudo por radi-
ação são as descritas nos media].” Não
é por isso possível estabelecer um pa-
ralelo fi dedigno entre o caso do russo
e o de líder palestiniano, sublinham.
“Yasser Arafar morreu de envena-
mento por polónio”, comentou para a
Al-Jazira o cientista forense britânico
Dave Barclay. O nível de polónio nas
costelas de Arafat era 900 milibecque-
rels (a unidade de medida para radio-
actividade). Este valor indica que há
vestígios entre 16 e 32 vezes os valores
considerados normais, variando a nor-
ma de autor para autor, diz a Al-Jazira.
Barclay está convencido de que se tra-
a surgir, com a estação de televisão
Al-Jazira a realizar um trabalho de
jornalismo de investigação — “What
killed Arafat?” — que culminaria
na exumação dos restos mortais, de-
pois de a viúva do líder palestiniano,
Suha Arafat, ter sido envolvida no
processo. “Foi um crime político”,
disse esta quarta-feira Suha, após re-
ceber o relatório. “A minha fi lha e eu
queremos saber quem fez isto”, disse
a viúva, citada pelo jornal Th e Guard-
ian, defendendo que a Autoridade
Palestiniana tem de agir para apurar
a verdade. Pediu ainda que a investi-
gação à morte do marido seja separada
do processo de paz entre os palestini-
anos e os israelitas.
Em Israel, o Governo desvalorizou o
relatório do laboratório suíço e deixou
uma advertência. “Vamos assistir a
uma nova ronda de acusações, mas
os palestinianos que não pensem que
nos vão acusar por isto”, disse o porta-
voz do Ministério dos Negócios Es-
trangeiros, Ygal Palmor. Considerou
os dados laboratoriais “não conclu-
sivos” e pediu contenção à Autoridade
Palestiniana. “Mesmo que tivessem
encontrado vestígios de polónio que
indicassem envenenamento, não há
provas de que esse envenenamento
tenha ocorrido. Há muitas perguntas
que devem ser respondidas antes de
a Autoridade Palestiniana começar a
tirar conclusões.” (Público.pt)
É “moderadamente provável” que Arafat tenha sido envenenado com polónio
Yasser Arafat
11Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE
12 Savana 08-11-2013SOCIEDADE
Nos últimos meses, dezenas
de crianças regressaram a
Portugal, por causa dos re-
ceios causados pela onda de
criminalidade. Há três portugueses
raptados em Moçambique
A insegurança na capital moçam-
bicana, Maputo, tem levado as
famílias portuguesas a fazer regressar
as crianças a Portugal. O secretário
de Estado das Comunidades, José
Cesário, falou de “dezenas de crian-
ças” portuguesas que têm regressado,
devido ao aumento da criminalidade.
O ambiente em Maputo é de grande
preocupação, após a notícia do rapto
de duas mulheres, uma portuguesa e
uma moçambicana, nesta terça-feira.
“Está a mexer com os nervos das pes-
soas”, conta a empresária do ramo
imobiliário, Elsa Santos, ao PÚBLI-
CO, por telefone.
Uma criança de três anos também foi
raptada, segundo adianta @Verdade.
“Os miúdos andam aterrorizados,
houve uma mãe que foi raptada em
frente a uma escola”, explica a em-
presária luso-moçambicana, acres-
centando que, nos últimos meses,
“uma grande parte das crianças já foi
embora para Portugal”.
A informação foi confi rmada por José
Cesário, que fala mesmo em “dezenas
de crianças” que regressaram a Portu-
gal. “Tenho conhecimento de pessoas
que tiraram as crianças da escola e as
mandaram para casa”, revelou.
Esta terça-feira tem sido um dos dias
mais dramáticos da vaga de crimes
que assola o país. De manhã, uma
cidadã portuguesa foi raptada den-
tro da empresa onde trabalhava, na
cidade da Matola. Ao PÚBLICO,
José Cesário garantiu que o Governo
português se tem mantido informado
dos desenvolvimentos em Maputo.
“Acreditamos que as autoridades lo-
cais vão saber lidar com a situação”,
afi rmou.
Um outro rapto, de uma moçam-
bicana de 33 anos, ocorreu no bairro
de Laulane, nos arredores da capital,
dentro da sua própria casa, perante os
seus fi lhos, irmã e cunhado, alegada-
mente por cinco homens. Também
uma criança de três anos foi alvo de
um sequestro, enquanto brincava
com o irmão de sete.
O rapto da portuguesa é o segundo
envolvendo cidadãos portugueses, de
uma onda de sequestros que começou
em 2011 e que tem visado sectores
abastados da sociedade moçambica-
na.
Os sequestros têm sido mais comuns
dentro da comunidade muçulmana
de Maputo e “só a partir do Verão é
que atingiu os portugueses”, nota José
Cesário.
Na Assembleia da República, o min-
istro da Defesa, José Pedro Aguiar-
Branco, referiu que “a situação em
Moçambique é acompanhada com
o cuidado e a preocupação” próprias
de um país com quem Portugal tem
uma “estreita cooperação técnico-
militar”. “Desejamos que a situação
se resolva o mais depressa possível, a
bem da tranquilidade e desenvolvi-
mento daquele país, e que se possa
incrementar, assim haja condições fi -
nanceiras para o futuro, a cooperação,
que é, em Moçambique e Angola,
das mais relevantes que Portugal tem
neste âmbito”, afi rmou, citado pela
Lusa.
Entretanto, o cônsul de Portugal em
Maputo, Gonçalo Teles Gomes, rev-
elou nesta terça-feira à agência Lusa
que há dois portugueses raptados em
Moçambique há mais de uma se-
mana.
O diplomata adiantou que um dos
casos diz respeito a um adolescente
que também tem nacionalidade
moçambicana e o outro é relativo a
um adulto do sexo masculino que é
cidadão português.
A existência destes casos era descon-
hecida da opinião pública até hoje
devido aos pedidos das respectivas
famílias.
Vigílias nocturnas nos su-búrbiosPara Elsa Santos, o aumento da
criminalidade no país está relacio-
nado com o momento de prosperi-
dade económica que o país atravessa,
depois da descoberta, em 2011, de
reservas de gás natural que podem
colocar o país entre os dez principais
produtores mundiais.
“Acho que tem que ver com aumento
da riqueza. Quando somos pobres,
ninguém quer nada connosco”, ob-
serva a empresária. Elsa Santos não
acredita que os raptos sejam obra ap-
enas de moçambicanos, considerando
haver alguma rede internacional à
cabeça. “Pode haver alguém por trás
dos crimes, custa-me a crer que os
moçambicanos sejam assim. Joanes-
burgo [na África do Sul] é aqui perto
e é um pólo de bandidagem”, sus-
tenta.
A onda de criminalidade não atinge
apenas os mais ricos, de acordo com
a percepção da empresária. Os crimi-
nosos “não olham a quem”: “Nos
subúrbios, há pessoas que não dor-
mem, andam a fazer vigílias à noite”,
explica.
O aumento do número de raptos e da
violência é um cenário real e, quando
isso acontecer, a fama de Maputo
como uma cidade calma e harmoni-
osa pode passar à história. “Começo
a acreditar que as moradias vão fi -
car vazias e as pessoas vão mudar-se
para apartamentos em condomínios
fechados, com muros altíssimos e se-
guranças enormes”, prevê Elsa San-
tos.
(Público.pt)
Raptos levam famílias portuguesas a tirar crianças do país
13Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE
De nada servirá mos-trar continuada-mente em inúme-ras instâncias de
debate e persuasão que a vio-
lência é desnecessária e noci-
va, se não forem desarmadas
as condições sociais que ar-
mam as mentes (as margens
que comprimem o rio) e que
contêm, ainda, o aguilhão de
épocas cuja memória perma-
nece, seja porque ainda estão
vivos os actores da violência,
seja porque a memória passa
como passam as tradições
orais: de geração em gera-
ção.
Analisar não signifi ca parti-
lhar ou aceitar o que quer que
seja. Analisar pode contri-
buir para desarmar as men-
tes armadas. Este trabalho é
rigorosamente um conjunto
de hipóteses que precisam
de ser testadas. Ao colocá-
-las, procurei que não fossem
a expressão de um discurso
panfl etário cheio de bons, de
maus e de feios. Finalmente,
seria excelente se surgissem
outros prismas de análise.
PerguntaTendo as forças armadas tomado a
base de Satunjira, que cenários pode-
mos colocar como hipóteses para o fu-
turo? Este trabalho é uma tentativa de
resposta à pergunta.
De Maputo a SatunjiraSituada na Serra da Gorongosa, pro-
víncia de Sofala, berço guerrilheiro da
Renamo, Satunjira tem sido regra geral
apresentada como quartel-general des-
se partido, como sua mera base mili-
tar. Por outras palavras: Satunjira tem
habitualmente surgido como espinha
dorsal castrense da Renamo, como seu
coração militar actual.
Porém, gostaria de sugerir uma outra
versão mais ampla, mais complexa, a
saber: Satunjira era o ícone de um cer-
to futuro abraçado a um presente tra-
balhando ao ritmo do passado. O que
pretendo dizer com tão bizarra frase?
Vou tentar a resposta.
Como que para substituir a densidade
axiomática das expressões duramente
castrenses (“quartel-general”, “base”),
surgiu em certos círculos uma outra
expressão, única na gíria política mo-
çambicana, a saber: “academia política
de Satunjira”. Perante tão singular ex-
pressão, como encontrar o real signi-
fi cado de Satunjira, agora que Afonso
Dhlahama provavelmente reescalou
as montanhas da Gorongosa (como
já o fi zera nos anos 70 e 80 do sécu-
lo passado), um pouco como Espár-
taco o fez em relação às de Petélia?
Na verdade, a “academia política” foi
montada na Satunjira da Gorongosa,
rude em seu ambiente, pobre em seus
meios. Ao luxo de Maputo, Dhlakama
opôs a pobreza franciscana, protegido
por um grupo de guerrilheiros fi éis.
Aqui, como que reactivou a memória
14 Savana 08 -11-2013Savana 08 -11-2013 15NO CENTRO DO FURACÃO
guerrilheira dos anos 70 e 80 do século
passado de Garágua em Manica e da
Casa Banana na Gorongosa de Sofala.
O dirigente partidário que tinha en-
saiado a diplomacia na bela Julius Nye-
rere de Maputo foi substituído pelo
neoguerrilheiro de Satunjira, um neo-
guerrilheiro envelhecido, mas vigoroso
na memória dos dramáticos tempos
antigos, herdeiro sem saber das virtu-
des frugais de Esparta, herdeiro, even-
tualmente também sem saber, das pro-
ezas do guerrilheiro Cambuemba que
soube tirar partido das montanhas da
Gorongosa oitocentista na luta contra
a Companhia de Moçambique, ele,
Dhlakama, que, depois de sair de Ma-
puto e antes de fi xar-se em Satunjira,
viveu algum tempo na imensa Nampu-
la de afi rmada história matriarcal.
Síntese políticaQuadro social onde tudo parece paté-
tico e irreal, onde tudo é contraditório.
Mas onde, afi nal, tudo é real e tangível.
Na verdade, Satunjira é uma espécie de
síntese política, de fecho de abóboda
das três partes do corpo da Renamo,
como se esta fosse o eco local da tríade
hinduísta (criação, conservação e des-
truição): simultaneamente um certo
futuro (como partido clássico jogando
desde 1992 com convicções, propagan-da, promessas e boletins de votos, ten-do estado em 1999 muito próximo da Frelimo nas legislativas e nas presiden-ciais nos resultados eleitorais), um cer-to presente (auto-evacuada das eleições deste ano e de 2014 em protesto contra a estrutura eleitoral do país) e um certo passado (organização praticando a fór-mula de Clausewitz: a guerrilha como continuação da política). Quer dizer, a Renamo deve ser analisada enquanto liga triádica, mas com pesos diferen-ciais nas três componentes.Quando Dhlakama fi xou residência em Satunjira, ele e a elite militar hege-mónica na Renamo quiseram passar a seguinte mensagem: chegou a hora de regressarmos à história. Este regressar à história signifi ca regressar à fórmula de Clausewitz, signifi ca abdicar da luta política através de eleições periódicas. Digamos que, nos termos enunciados, Maputo era o futuro, Nampula o pre-sente e Satunjira é o neopassado. Mas o regresso à história tem a ver com uma ADN exclusivamente guerreira, com uma espécie de movimento pe-ristáltico irremediavelmente castrense?Esta é a forma como a Renamo tem sido sistematicamente “construída” em certo imaginário, nacional e interna-cional. Mas a resposta é negativa. Sem dúvida que, com base em pessoas insa-tisfeitas com o rumo político do país pós-1975, a Renamo foi uma quinta--coluna produzida e mantida durante vários anos pelos serviços de inteli-gência da antiga Rodésia do Sul e da África do Sul da era do apartheid, mas é um produto que acabou por se mo-çambicanizar por inteiro, por se tornar autónomo, por liderar eleitoralmente uma parte do povo do país. A partir de 1992 iniciou a desguer-rilhação, procurando transformar-se num partido político clássico do tipo liberal, mas com um interior doutriná-
rio de direita, fortemente conservador
e, também, frequentemente populista.
Em 1999 esteve muito próximo da
Frelimo nos resultados eleitorais, quer
nas presidenciais, quer nas legislativas.
Mas um conjunto de problemas espe-
cialmente ocorrido entre 2004 e 2010
terá contribuído para reconduzir a Re-
namo ao aguilhão do seu nascimento e
da sua vida castrense, com um primeiro
clímax em Nampula (onde Dhlakama
fi xou residência em 2010, saído de
Maputo) e um segundo, mais pleno, na
zona sofalense da antiga guerrilha, em
Satunjira (onde Dhlakama fi xou nova
residência em 2012). Quantos e que
tipo de problemas?
Dez problemasProponho, entre outros, os seguintes
dez problemas:
1. Resultados eleitorais negativos em
2004 e 2009 e alegação de fraude;
2. Erro político e vitória de Da-
viz Simango na Beira (2008);
3. Cissiparidade política e formação do
Movimento Democrático de Moçam-
bique (2009);
4. Desobediência dos deputados do
partido na Assembleia da República;
5. Crítica permanente por parte da
Frelimo e dos partidos acomodados;
6. Sistemática recusa das propostas
apresentadas na Assembleia da Repú-
blica;
7. Criminalização dos seus membros
pelo Estado;
8. Desgaste das ameaças de ma-
nifestações de desobediência civil;
9. Atracção fi nanceira dos recursos na-
turais;
10. Nampula e Satunjira: aposta po-
lítica no sacrifício, na frugalidade, na
heroicidade e na fi delidade;
Vamos ao desenvolvimento desses
pontos.
Os resultados eleitorais de 2004 e 2009
são um sério percutor na recondu-
ção mencionada. Com efeito, Afonso
Dhlakama e a Renamo perderam as
eleições de forma signifi cativa, mas fi -
cou o registo de numerosas irregulari-
dades. Por outro lado, em 2008 a Rena-
mo cometeu um erro político: anunciou
publicamente que o seu membro Daviz
Simango seria substituído por Manuel
Pereira como candidato do partido à
presidência do município da Beira nas
eleições autárquicas realizadas a 19
de Novembro. Isso, quando, publica-
mente também, tinha anunciado que
Daviz seria o candidato. Este acabou
por concorrer como independente, ga-
nhando folgadamente. Mas não só: em
Março de 2009, Simango apresentou
o seu próprio partido, o Movimento
Democrático de Moçambique, produ-
to de uma fractura na Renamo, consu-
mando, assim, a cissiparidade política.
Em 2010, contra a decisão de Afon-
so Dhlakama, presidente da Rena-
mo (que alegou ter havido fraude nas
eleições legislativas e presidenciais do
ano anterior), os deputados do partido
ocuparam os seus lugares na Assem-
bleia da República e nas Assembleias
Provinciais. Uma clara cisão partidária.
Por outro lado, a Renamo sofria, em
crescendo, não só as críticas da Freli-
mo, quanto as dos seus antigos aliados
na oposição, pequenos partidos sem
qualquer relevo político votal mas cujos
dirigentes começaram a surgir com
grande visibilidade em certos órgãos
de informação, criticando o antigo
aliado e protector pelo que considera-
vam ser postura antidemocrática. Mas
não só: jovens intelectuais sedentos de
ascensão social e deputados de rele-
vo abandonaram o partido em 2009,
como que ampliando a sangria que
este sofria desde a expulsão em 2000
do negociador de Roma e segunda fi -
gura da organização, Raul Domingos.
Todas as propostas de discussão ou
de alteração de não importa que cam-
po institucional e/ou legal da vida do
país, apresentadas pela Renamo, foram
e têm sido sistematicamente recusa-
das na Assembleia da República, ano
após ano, através do voto maioritário
da Frelimo, com base nos mais varia-
dos argumentos. A isso adiciona-se a
criminalização estatal constante dos
seus membros. São dois campos de
desgaste da auto-estima (permitam a
palavra da moda política) do partido.
Mas não só. As constantes promessas
de manifestações de protesto e deso-
bediência civil prometidas por porta-
-vozes há vários anos têm sido cons-
tantemente adiadas, desgastando a sua
credibilidade. Por outras palavras: a
Renamo tem sido vítima de um duplo
constrangimento, para si própria quan-
do actua na civilidade parlamentar e
não logra vencer, para outrem quan-
do promete trazer e não traz para as
ruas o que chama protestos populares.
Vivemos no país a euforia dos recur-
sos minerais, multiplicam-se, ao mais
alto coturno, os interesses, as ofertas, as
parcerias de negócios, as empresas de
serviços, as regalias. Recursos naturais
são recursos de poder extremamente
desejados. A Renamo não está desa-
tenta e aspira a partilhá-los. Falar de
Satunjira equivale, então e também,
a falar da aspiração a esses recursos,
abundantes, por exemplo, na província
de Tete.
Essa é uma das razões por que Satun-
jira é (talvez fosse melhor dizer “era”),
também, a expressão física dessa von-
tade. Os recursos de poder desse tipo
permitem alimentar múltiplas redes
clientelistas alicerçadas na fi delidade
pessoal e política. Ora, num país no
qual as elites seguem com extrema
atenção as revelações do grande Ca-
pital internacional sobre as riquezas
existentes em terra e mar, a Renamo
não tem com que assegurar em perma-
nência, autonomamente, a fi delidade
dos seus membros e dos seus apoiantes,
para além, ao que parece, do fundo de
cerca de três milhões de meticais que
recebe anualmente do Estado por ser
um dos partidos com assento na As-
sembleia da República.
O conjunto dos problemas apresen-
tados está na origem da transforma-
ção primeiro de Nampula e depois
de Satunjira, em centros de protesto
múltiplo e de recondução da Renamo
ao aguilhão do seu nascimento e da
sua vida castrense. O clímax estava a
ser Satunjira, lá onde o seu presiden-
te tinha criado uma espécie de palácio
governamental sombra, de Ponta Ver-melha alternativa, lá onde dava confe-
rências de imprensa, lá onde se abria ao
mundo das parangonas, lá onde repetia
que sem Renamo não era possível a
vida política do país, lá onde, opondo-
-se ao fausto de Maputo, vivia numa
casa modesta protegido pela sua guar-
da pretoriana trajada de verde.
Compensação e “efeito halo”Mas tudo isso não dizia unicamente
respeito ao resgaste da história, pois era,
também, um processo compensatório
e uma luta contra o “efeito halo”. A
Satunjira da Gorongosa era, também,
simbolicamente, um processo compen-
satório e um manifesto extremo con-
tra o “efeito halo”. Compensatório, no
sentido em que pelo sacrifício, pela fru-
galidade, pela heroicidade e pela fi deli-
dade, a liderança da Renamo pretendia
mostrar que estava em sintonia com a
pobreza do povo, que vivia como esse
povo. Partido conservador, partido da
direita, a Renamo tem procurado, em
linha com o populismo mais moder-
no, apresentar-se como vanguarda das
aspirações e das críticas populares. A
este nível, Satunjira foi preparada para
ser mais do que uma base guerrilheira,
foi cenicamente organizada para ser
um retorno político vistoso às origens
rurais. Como escreveu um dia Georges
Balandier, “Todo o sistema de poder
é um dispositivo destinado a produzir
efeitos, entre os quais os que se com-
param às ilusões criadas pelo teatro.
“Por outro lado, Satunjira era, também,
um manifesto extremo contra o “efeito
halo”, no sentido em que, criminaliza-
da em permanência em função do seu
passado, não importando o que fi zesse
ou faça, a Renamo procurou e procura,
pela retoma da guerrilha, pelo resgas-
te da história castrense, mostrar que
protestava e protesta defi nitivamente
contra a lógica política da soma-zero.
O resgaste da história castrense está
a ser feito à Jano. Por outras palavras:
esse resgate combina-se com a presen-
ça dos deputados do partido na As-
sembleia da República.
Vamos, agora, a quatro cenários.
O cenário da “guerrilha líqui-da” de baixa intensidadeTudo o que é sólido se desfaz, escre-
veram Marx e Engels há mais de 150
anos. No nosso caso, o que parecia
sólido (apesar de inúmeros escolhos)
em termos de gestão de rivalidades
políticas através do parlamento e das
eleições, desfez-se, os tiros estão nova-
mente à solta, as mentes rearmaram-se,
os mortos e os feridos regressaram, os
carros queimados reapareceram.
Por outras palavras: passámos da “paz
sólida” para a “paz líquida”, volátil, ir-
regular, para adaptar expressões do
sociólogo polaco Zygmunt Bauman
(“modernidade sólida”/”modernidade
líquida”).
O que sucede agora? Sucede que temos
assaltos na Estrada Nacional n.º 1. Os
cenários de pesadelo regressaram, com
pessoas mortas e feridas, com viaturas
incendiadas.
Estamos perante um dos cenários pós-
-Satunjira, o cenário da “guerrilha lí-
quida” de baixa intensidade.
Guerrilha líquida, agora não no sen-
tido de estado volátil, mas no duplo
sentido de pequenos grupos de guer-
rilheiros infi ltrando-se rapidamente
como a água (o guerrilheiro movendo-
-se como o peixe na água, diria Mao
Tse Tung) (1) seja na fl oresta e nos me-
andros sinuosos que bordejam a Estra-
da Nacional n.º 1, (2) seja em grupos
populacionais de fi delidade histórica
situados entre o Save e Muxúnguè, dos
quais devem receber apoio, protecção e
silêncio.
Pequenos grupos de guerrilheiros que,
provavelmente combinando a experi-
ência dos velhos de pré-92 com a ju-
ventude de fi lhos e parentelas associa-
das, fazendo uso de algumas armas de
fogo, são sufi cientes para provocar pro-
blemas graves a centenas de viaturas e
forças governamentais e para perturbar
severamente a economia do país.
Tal como o bater de asas de uma bor-
boleta pode infl uenciar a humanidade,
meia dúzia de tiros na Estrada Nacio-
nal nº 1 podem infl uenciar (e estão a
infl uenciar), das mais variadas manei-
ras, todo o país e, mesmo, os países
vizinhos.
Esta guerrilha-bater-de-asas de uma
Quatro cenários pós-Satunjira e o problema da soma não-zeroPor Carlos Serra
borboleta é barata, mas considera-
velmente danosa. Provavelmente o
problema principal dos guerrilheiros
poderá consistir em ter reservas per-
manentes de munições, que podem ser
obtidas por assalto ou, caso por estudar,
por fornecimento exterior.
Guerrilha barata que se pode manter
por muitos meses, com os guerrilheiros
transformando em alvo viaturas, passa-
geiros, soldados e carros de assalto.
Este cenário já foi montado na Estrada
Nacional n.º 1, já está a funcionar. E
poderá ser ampliado se da estrada pas-
sar às linhas férreas, seja, por exemplo,
a que nos liga ao Zimbabwe a partir
de Machipanda em Manica, seja a de
Sena que permite o escoamento do
carvão mineral de Moatize para o por-
to da Beira.
A guerrilha barata não precisa do con-
tributo de forças amigas nos países
vizinhos, onde, de resto, ao nível dos
partidos dirigentes, não parece haver
qualquer tipo de vontade de apoiar a
Renamo militar e logisticamente. Os
tempos da Rodésia do Sul e na África
do Sul do “apartheid” já não existem.
Mais: a guerrilha barata aqui em causa
não carece em absoluto de um coman-
do central ou de comunicações via rá-
dio ou celular. E até pode ser produto
de uma decisão tomada antes da ocu-
pação da base de Satunjira.
O cenário da “guerrilha líqui-da” de média intensidadeEste cenário torna mais complexo o
primeiro, extravando a zona Muxún-
guè/Save, podendo descer para Sul
até Inhambane e subir até Zambézia e
Nampula. Aliás, já se registou um ata-
que a poucos quilómetros da cidade de
Nampula.
A “guerrilha líquida” de média intensi-
dade poderia estar associada à criação
de redes de contacto com guerrilheiros
e à eventual reactivação das fi delidades
rurais do pré-1992, em particular no
que concerne à adesão de régulos, de-
signadamente aqueles não benefi ciados
com o estatuto de chefes comunitários
com direito a certas regalias. Poderá,
ainda, explorar frustrações sociais de
vários tipos.
Mas, mais decisivamente, este tipo de
guerrilha requer um comando central e
apoio logístico sistemático.
É muito pouco provável que a Renamo
encontre apoio nos países fronteiriços.
Por isso, é pouco provável que este ce-
nário venha a corporizar-se no país.
O cenário à Savimbi e a for-mação de uma Renamo “re-novada” sem DhlakamaClássico em Angola com Jonas Savim-
bi, mas também na Líbia com Muamar
Al Qathafi , este é um cenário previsto
por certos círculos nacionais.
A tese é a seguinte: se Afonso Dhlaka-
ma for abatido, a Renamo fi ca decapi-
tada, perdendo o seu DNA castrense.
Depois basta apenas esperar que surja
no partido um líder civil, pós-Satun-
jira, com um discurso pró-legalista e
integrador, um líder apologista da luta
pelos votos, do tipo MDM. Isso signi-
fi caria o retorno à paz e tranquilidade
do grande Capital internacional, com o
seu apetecido cortejo de regalias.
Pode acontecer que esse cenário seja do
agrado dos falcões mais musculados do
país.
Porém, a morte de Dhlakama poderia
libertar bem mais demónios do que os
desejados, do jarro moçambicano de
Pandora.
Acresce que Moçambique não é nem
Angola nem Líbia. E nenhuma his-
tória é construída num só trilho, com
papéis químicos.
O cenário político de paz pós-SatunjiraNão são poucas as vozes que, genero-
samente, têm da paz uma concepção
idealista, no sentido de que basta as
pessoas sentarem-se e conversarem
amenamente para tudo fi car resolvido.
São, digamos, concepções-aspirina,
para aproveitar a expressão “acções-
-aspirina” do pedagogo brasileiro Pau-
lo Freire (aquelas acções “cujo pressu-
posto fundamental é – escreveu ele - a
ilusão de que é possível transformar o
coração dos homens e das mulheres
deixando intactas as estruturas sociais
dentro das quais o coração não pode
ter “saúde”).
Ora, o confl ito existente nada tem de
edílico e repousa unicamente numa
coisa complexa e múltipla: partilha de
recursos de poder e prestígio.
A eventual resolução do confl ito tem a
ver com a passagem de uma situação de
soma-zero para uma situação de soma
não-zero, de uma situação em que A
ganha tudo para a situação em que B e
C também ganham.
É aí que reside o coração do problema,
seja em sua existência, seja em sua re-
solução.
As matas da Gorongosa, em toda a
sua sugestão castrense retroactiva, são
a linguagem impositiva desse desejo
de Dhlakama e do núcleo hegemónico
da Renamo. A ameaça guerrilheira do
passado almeja um futuro partilhado.
Por isso, como mecanismo de pressão,
aos votos eleitorais são opostos os votos
da mata guerrilheira. Adaptando Clau-
sewitz, a Gorongosa, especialmente na
zona Save/Muxúnguè, é a continuação
da política por outros meios.
No livro “A paz”, Aristófanes conta que
o camponês Trigeu, saturado da guer-
ra dos políticos de Atenas e Esparta,
foi ao céu falar com Zeus. Este não
estava, mas atendeu-o Hermes, que o
ajudou a tirar a paz do fundo de uma
caverna onde tinha sido metida pelos
inimigos. A paz voltou à terra, a agri-
cultura refl oresceu, as pessoas regressa-
ram à alegria, menos os fabricantes de
armas, que fi caram desesperados. Não
era apenas uma guerra entre Atenas e
Esparta, mas, como assinalou um pre-
faciador da obra, “a guerra de todos os
homens contra todos os homens, (...)
o divórcio entre os interesses dos go-
vernos e os interesses dos povos, (...) a
educação belicosa dada às crianças”.
A hipótese é a de que precisamos de
alguns Trigeus que reinventem politi-
camente o futuro do nosso país cami-
nhando e fazendo caminhar pelos tri-
lhos da soma não-zero. E que evitem
a “guerrilha líquida” de média e alta
intensidades.
Talvez, então, seja possível desarmar as
“mentes armadas” (expressão do Bispo
Dinis Sengulane) depois que forem
desarmadas as condições sociais que as
armam.
Este é um cenário difícil, mas não im-
possível – dizem os bons espíritos da
esperança - de concretizar.
FADM mantêm ocupado o “Quartel General” da Renamo em Satunjira. Foto da responsabilidade do SAVANA
Naí
ta U
ssen
e
16 Savana 08-11-2013OPINIÃO
As manifestações em vá-
rias cidades no dia 31 de
Outubro são, até ao mo-
mento, possivelmente e
segundo certos critérios, a maior
demonstração de democracia e
de cidadania madura em Mo-
çambique. Não importa se foram
10, 20, 30 ou 40 mil nas ruas de
Maputo. Foram muitos, muitos,
muitos mais que o poder poderia
imaginar.
Primeira lição: as manifestações
decorreram com um elevado civ-
ismo. Não acrescentaram sujidade
às ruas, isto é, não deitaram lixo
para o chão, os manifestantes não
tiveram qualquer atitude agres-
siva física contra pessoas ou bens.
Possivelmente com esse receio, o
Conselho Municipal não permitiu
que a marcha se limitasse às vias
de trânsito centrais da avenida
Eduardo Mondlane. Foi uma lição
cívica para aqueles, e são muitos,
que não têm qualquer problema
em deitar qualquer objecto na rua
e passeios e, se necessário, fazer
necessidades (urinar ou mesmo
defecar). Foi também uma lição
ao Conselho Municipal que não
consegue manter a cidade limpa
e poucas ou nenhumas acções de
educação cívica realiza para que os
cidadãos cuidem da sua cidade. Os
manifestantes apontaram o dedo
ao senhor David Simango para
que este não tivesse medo de as-
saltos às lojas, aos carros e outros
bens públicos e privados quando
foi proibida que a manifestação
passasse ou terminasse na Praça
da Independência. Os cidadãos
disseram que com ou sem autori-
zação iriam à praça. E foram.
Segunda lição: os manifestantes
deram uma lição de solidarie-
dade interpessoal. Via-se fre-
quentemente que as pessoas
compartilhavam água, alimentos
e ajudavam pessoas com alguma
difi culdade de marchar. Num con-
texto do desenrasca, do salve-se
quem puder e da emergência de
uma sociedade onde os valores da
solidariedade e os sentimentos de
ajuda escasseiam, os manifestantes
deram uma lição ao que, resu-
midamente, se pode designar por
uma sociedade não solidária, e de
“cada um por si e Deus por todos”.
Num contexto onde os discursos
políticos do poder pouco ou nada
se referem aos valores reais que
unem os cidadãos e criam ambi-
entes de confi ança e solidariedade
que cimentam a cidadania e o sen-
timento de pertença a algo em co-
mum, os manifestantes foram ex-
emplares. Na manifestação houve
pequenos gestos que falam mais
que os slogans repetitivos e vazios
de conteúdo que os discursos não
se cansam em reproduzir, cansan-
do os ouvintes.
Terceira lição: as manifestações
foram bem organizadas. A dis-
tribuição de água e de camisetes,
os dísticos, a marcha, etc., revelar-
am que afi nal, quando estrutura-
dos e enquadrados, os cidadãos
são ordeiros e não querem con-
fusão. Os manifestantes deram um
puxão de orelhas carinhoso aos
que chamavam de vândalos aos
manifestantes de outras ocasiões,
incluindo todos os manifestantes
nessa categoria de desordeiros,
mesmo que existissem situações
de violência criadas por algumas
pessoas. E isso não foi devido à
presença das tais “sombras” de que
um jornal ligado ao poder afi rma,
desrespeitando a capacidade e o
civismo dos cidadãos e tratando-
os por vândalos potenciais. Se são
tão efi cientes, porquê os “sombras”
não actuam contra os raptores?
Que falta de sensatez e arrogân-
cia infantil. E aquela pessoa, que
numa anterior manifestação, ati-
rava a matar da varanda de um
prédio, era o quê e o que lhe ac-
onteceu? E os polícias quando, na
mesma manifestação, disparavam
balas reais e não de borracha con-
forme intervenções ofi ciais, como
deveriam ser apelidados? E o que
aconteceu aos mandantes dos ti-
ros? Em resumo, a sociedade sabe
organizar-se de forma autónoma.
As sociedades não necessitam de
um poder e de uma máquina ad-
ministrativa para possuir com-
portamentos cívicos positivos,
organizar-se em redor de causas
comuns, assumir e cuidar de um
bem público como seu. Os po-
deres pensam assim porque uma
sociedade madura e cidadãos con-
scientes retiram poder às burocra-
cias, que têm medo da capacidade
reivindicativa dos cidadãos.
Quarta lição: na manifestação
estava patente a riqueza da di-
versidade cultural, racial, étnica,
religiosa e de outras naturezas de
Moçambique. Todos convivendo,
solidarizando-se e apoiando-se
entre si, todos unidos por uma
causa comum. Os manifestantes
deram uma bofetada aos que de
diferentes formas e a partir de in-
stâncias do poder, de modo mais
ou menos aberto, propagam e
atiçam o racismo no seio da so-
ciedade moçambicana. E estes,
no lugar de serem criticados, são
por vezes promovidos dando le-
gitimidade à dúvida se são pro-
nunciamentos pessoais e isolados,
ou se são orientações de alguns
que revelaram atitudes racistas ao
longo de décadas. O racismo surge
sempre em momentos críticos no
seio do poder e em situações de
importantes decisões. Mas porque
se preocupar com minorias per-
centualmente tão insignifi cantes
que não representam seguramente
mais que um por cento da popu-
lação moçambicana? Serão as-
sim tão poderosos para justifi car
algumas frases como aquelas de
que eles querem mais poder e rep-
resentatividade ou participar nos
benefícios das novas riquezas. Ou
o racismo é uma forma indirecta
de se falar dos reais elementos
que necessitam de uma persis-
tente acção pedagógica concreti-
zada com factos concretos. Será
por acaso que o discurso racista
surge em simultâneo com o res-
surgimento do slogan da unidade
nacional e com a descoberta de
riquezas naturais? Será que estu-
dos atentos à estrutura accionista
de algumas empresas não reve-
lariam regionalismos, etnização e
familiaridade na formação de gru-
pos e de interesses económicos?
No lugar de se aproveitar os ben-
efícios das diversidades culturais
de Moçambique, criam-se discur-
sos patéticos como o dos genuínos
e não genuínos.
Quinta lição: os manifestantes
romperam o sentimento de medo
social. Os cidadãos vivem com re-
ceio pelo que dizem e escrevem, o
que é fundamentado por ameaças
veiculadas de diferentes formas
como “fala de mais”, “critica e não
apresenta soluções”, “agitadores”,
“anti patriotas”, apóstolos da des-
graça e tantas outras. Ou ainda,
com ameaças de perda de em-
prego, cortes de publicidade nos
órgãos de informação. É frequente
ouvir-se que não posso “cuspir na
sopa que vou comer”, discursos
diferentes da mesma pessoa (de
lambebotismo em oratórias in-
stitucionais e de crítica em con-
versas privadas). Pode-se difi cultar
ou mesmo impedir a fala pública
e a escrita, mas não se consegue
jamais impedir o pensamento,
por mais que se tente manipular.
Os manifestantes transportavam
dísticos de crítica, de indignação,
de revolta interior, fi zeram-se dis-
cursos e intervenções desafi antes.
Será que o poder ouviu e tirou
lições?
Sexta lição: o controlo da infor-
mação está ultrapassado, torna-se
cada vez menos efi caz e contra
producente para o próprio poder.
A cobertura minimalista e portan-
to forçada realizada pelos órgãos
de informação revela arrogância,
desprezo, controlo da informação
e informação de manipular a
opinião pública. O volume de
informação que circula nas redes
sociais é imparável e alarga-se
cada vez mais. Há já muitas cen-
tenas de milhares de informações
diárias (não é um número especul-
ativo), que circulam nas diferentes
formas de comunicação impos-
síveis de se controlar. O poder em
Moçambique revela-se ultrapas-
sado e incapaz de se adaptar às
novas realidades.
Sétima lição: os manifestantes
deram uma lição de democracia
ao governo. O número de mani-
festantes, a forma como a mani-
festação se desenvolveu, o civismo,
os discursos, a solidariedade in-
terpessoal, a beleza da diversidade
cultural, a ruptura com o medo
demonstraram que não há porquê
recear dos cidadãos e da democ-
racia. Em momento de risco de
perda de algumas conquistas da
democracia, os manifestantes el-
evaram a qualidade da democracia
moçambicana sem pedir autori-
zação ao governo nem ao partido
no poder. Foi uma conquista da
cidadania. Os apelos desenver-
gonhados e arrogantes de desin-
centivo aos cidadãos em participar
na manifestação caiam em saco
roto. Os cidadãos apertaram o
braço ao poder, dizendo para que
não haja medo da liberdade e da
democracia.
Oitava lição: é presumível que o
início da manifestação diante da
estátua de Mondlane e o fi m na
estátua de Samora, tenha o sig-
nifi cado de recordar homens que,
por mais defeitos e erros que ten-
ham praticado, são e serão ícones
do povo e da pátria. São referência
nestes momentos de grande preo-
cupação de todos os moçambica-
nos. Isto porque acreditam que,
com cada um deles, a situação
seria bem diferente. A memória
de Mondlane e Samora, signifi ca
que eles fazem falta. Qual ou quais
as lições que o Senhor Presidente
Armando Guebuza retira destes
sentimentos?
Nona lição, os cidadãos foram à
manifestação dizer que não que-
rem raptos e desejam viver em
paz e tranquilidade. Foram dizer,
com provas, que há pessoas pert-
encentes à polícia envolvidas nos
raptos (pelo menos em alguns).
Foram dizer que há motivos para
não acreditar em algumas institu-
ições do Estado, duvidam das suas
capacidades operativas. Há biliões
de dólares para edifícios públicos
luxuosos, infra-estrutura de prior-
idade duvidosa, armamento mili-
tar, deslocações e visitas presiden-
ciais e da senhora Primeira Dama,
mas parece não haver recursos
para capacitar as forças policiais.
Os manifestantes questionaram
de forma directa e indirecta acerca
das prioridades do governo na uti-
lização dos seus impostos.
Décima lição: os manifestantes
foram dizer não à guerra. Querem
a paz. Neste particular há um un-
íssono popular. Já não importa a
culpabilização de quem começou
a fazer o quê, quem tem discursos
belicistas, quem responde a quem.
Basta de discursos contraditórios,
cínicos e maquiavélicos de desejo
de paz, quando, em simultâneo,
se dão comandos de acções mili-
tares e de guerrilha. Esses discur-
sos servem apenas para legitimar
o ciclo da violência. Especula-se,
há muitos meses, com coerência
lógica, sobre as razões pelas quais
nenhuma das partes em confl ito
quer a paz. E as especulações têm-
se verifi cado com o tempo. So-
mente os apaniguados pelo poder
e seus benefícios (de ambos os
lados) estão interessados em saber
quem é culpado. A maioria rec-
lama apenas pela paz e já. E quem
deve preservar a paz é o mais alto
magistrado da República. Por isso,
todos os esforços de diálogo e de
Lições das manifestações de 31 de Outubro de 2013Por João Mosca
Naí
ta U
ssen
e
17Savana 08-11-2013 OPINIÃO
negociação devem terminar com
o silenciar das armas. Fazer con-
cessões de natureza partidária, governativa ou de confl itos de personalidades, nada representa quando está em causa a paz. Nen-huma razão, para ambas as partes, justifi ca o confl ito armado. Perde o povo e perde o país. São valores demasiados altos comparativa-mente a lutas partidárias, de gru-pos e de pessoas. Isto só é difícil, quando se defende o poder pelo poder, o poder como instrumento de obtenção de riqueza, o poder como forma de organização de interesses pessoais, familiares e de grupos, incluindo os agiotas sa-télites.
Lição onze: a eventualidade da sociedade civil possuir muitas e persistentes razões de manifes-tações deste tipo pode perigar o poder. No caso de Moçambique, em grande parte, as eleições gan-ham-se no meio rural, mas pode-se perder o poder nas cidades. É necessário aprender de casos veri-fi cados em outras realidades. As manifestações do dia 31 de Ou-tubro.
Lição doze: infl uências do exteri-or. Os raptos e a situação de insta-bilidade não têm alguma infl uên-cia ou causa externa. Resulta de factores estritamente internos. Por mais “mão externa” que se invente as razões e motivações são inter-nas. Os posicionamentos do sector externo são múltiplos. Porém, de comum, está a rejeição da guerra, a condenação dos raptos e a def-esa da democracia. Há indícios claros da intenção de alguma co-operação reforçar a sociedade civil para defesa da democracia. Outros preocupam-se apenas que o au-mento da instabilidade perturbe os seus negócios. O sector externo associado aos megaprojectos a ex-istência de democracia ou autori-tarismo é-lhes indiferente. O que lhes importa são as condições para a maximização dos seus objectivos: extrair o máximo e o mais rapida-mente possível os recursos naturais
Considerações geraisOs movimentos sociais têm muita força mas também consideráveis debilidades. O primeiro, que é decisivo, é a existência de uma causa forte, comum à maioria dos cidadãos ou a um determinado extracto populacional. Na mani-festação de 31 de Outubro, existiu uma motivação próxima e forte (sobretudo os raptos) que afectou principalmente a classe média e média-alta, e daí uma possível análise dos vários perfi s de pes-soas que marcaram presença nas manifestações. Certamente que a guerra é um motivo socialmente muito mais amplo mas que even-tualmente não teve na actualidade a força equivalente dos raptos. Isto porque a instabilidade militar ainda não afectou gravemente os citadinos. O agravamento do con-fl ito armado e os possíveis efeitos
signifi cativos nas cidades poderá
gerar novos e mais fortes movi-
mentos sociais.
O poder não assumiu a manifes-
tação como uma atitude constru-
tiva de reivindicação dos cidadãos.
A fundamentar esta frase está o
desincentivo para a não partici-
pação na manifestação, as difi cul-
dades sobre o percurso das mani-
festações, a dimensão da cobertura
e a escrita desrespeitosa da comu-
nicação social ligada ao poder. O
poder manifestou-se claramente
anti democrata. Foi uma atitude
pouco inteligente.
Seria muito mais inteligente que
todos os partidos políticos (in-
cluindo a Frelimo), o governo, a
Assembleia da República, o poder
judicial, etc., estivessem presentes
ao lado dos cidadãos, numa mani-
festação cujos motivos também
são ou deveriam ser preocupação
do sistema do poder. Os raptos,
a instabilidade e a paz. A ausên-
cia dos políticos só revela temor
de se enfrentarem aos cidadãos.
Quando um poder tem medo do
seu povo … então algo de muito
grave se passa.
Finalmente, a eventualidade do
agravamento das duas motivações
das manifestações – raptos e paz/
guerra – pode perigar a democra-
cia. Será que a declaração de es-
tado de sítio está prevista?
18 Savana 08-11-2013OPINIÃO
CartoonEDITORIAL
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*
*
Maputo-República de Moçambique
*
*
Num belo dia do longínquo
ano de 1984, quando per-
tencia a um grupo coral
de crianças da província
de Inhambane (no qual militava
com a actual Directora-Geral da
Unidade Anti-corrupção da PGR,
Ana Maria Gêmo, onde Cidá-
lia Chaúque, actual Governadora
de Nampula, era a nossa mana),
fui chamado pela mamã Benedita
Zandamela, esposa do ora Gover-
nador da província, José Pascoal
Zandamela (já falecidos), para ser
dito que daí a alguns meses iria ser
criada uma organização nacional
de crianças, que se chamaria Or-
ganização dos Continuadores da
Revolução Moçambicana e que a
mesma teria um representante em
cada província, sendo que o meu
nome teria sido apontado como
provável representante da mesma
em Inhambane.
No ano seguinte nasce, de facto,
a “Continuadores” e sou indica-
do criança-líder da mesma, em
Inhambane.
Num dos dias da semana, tinha
que me dirigir à sede da Frelimo
na Província, com o objectivo de
aprender sobre a “Continuadores”
e sobre a própria Frelimo. Para
tal, era recebido pelo “Chefe do
Departamento do Trabalho Ide-
ológico”, Hermenegildo Mateus
Infante, actual 1ºSecretário da Fre-
limo na cidade de Maputo. Claro
que não era sempre; pois algumas
vezes, por outro quadro.
Hoje, já com alguma capacidade
de análise porque adulto, tenho a
nítida percepção de que, tanto a
“Continuadores” como as “aulas”na
sede da Frelimo constituíam uma
base complementar da minha for-
mação moral, cívica e intelectual
que se iniciava no leito do berço,
em casa, desenvolvia-se na Escola
e cimentava-se na Igreja.
-Ora, tanto na “Continuadores”,
como na Frelimo, aprendia a res-
peitar os mais velhos. Aprendia a
respeitar os pais e encarregados de
educação, colegas e amigos. Apren-
dia a respeitar os nossos superiores,
ainda que não concordássemos
com uma ou outra coisa que fi -
zessem ou dissessem; aprendia a
respeitar os Governantes. Apren-
dia a respeitar uma opinião, mes-
mo que discordasse. Aprendia a
ser simples, humilde e, se possível,
discreto (uma das formas de ser e
de estar de Hermenegildo Infan-
te, até aos dias de hoje). Aprendia
a saber apontar, com frontalidade,
as coisas más de um grupo, den-
tro do próprio grupo, visando que
estas mesmas coisas más passem a
engrandecer o meu grupo perante
o público. Aprendia a ter aversão
à intriga, à maledicência, ao boato.
Aprendia a me afastar de todo o
tipo de drogas (das pesadas, pas-
sando pelo álcool, cigarro, às mais
leves); aprendia a não me orgulhar
por ser um bom bebedor de cerve-
ja. Aprendia, a nível doméstico, a
ajudar nos trabalhos de casa (var-
rer, limpar, lavar…). Aprendia que
os homens são iguais, independen-temente da raça, tribo, região…; aprendia que em Moçambique não existe preto, branco,…, pois todos somos fi lhos desta terra. Apren-dia a não humilhar a ninguém, pois ninguém é, de todo, perfeito; aprendia que não é orgulho para a sociedade ter alguém que se van-gloria por vexar outrem em público e, principalmente, vexar um supe-rior, um dirigente. Enfi m…, apren-di a ser Homem. Se hoje não sei ser e estar em sociedade; se hoje não sou homem, tenho que me queixar de mim mesmo. Hoje, queria partilhar com adultos e com jovens, aliás, principalmen-te com os jovens, este aprendizado que acima relatava; mas mais do que partilhar, queria ter a ambição de infl uenciar para que pudessem aceitar que lhes passe esta herança, acima de tudo, queria que anotas-sem com mais tonalidade, neste património que vão herdar, que em Moçambique não há e nem deve haver campo para se fomentar a guerra, a estratifi cação social à base da cor (racismo puro), do regiona-
lismo e do tribalismo e que sejam
autores de linhas; de canais; de
pensamentos concorrentes a paz,
estabilidade e harmonia social.
Tenho dito.
Os que fazem guerra devem saber fazer paz
Para que não houvesse qualquer variação no padrão de comportamento das duas partes, tivemos, no início da semana, o governo a anunciar o tão espe-rado encontro entre o Presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para esta sexta-feira, dia 8 de Novembro.
Mas mal a informação foi tornada pública através dos meios de comunicação social, era a vez da Renamo também fazer uso destes para comunicar que não havia condi-ções para a realização do referido encontro.Mais um caso de políticos a entreterem-se com o verbo, enquanto o país vai sendo engolido pelas chamas. Um encontro entre o Presidente Guebuza e Dhlakama foi sempre a última es-perança dos moçambicanos desde que o confl ito político se instalou no país, nos princípios deste ano. Mas seria de esperar que um encontro a esse nível fosse alvo de uma concertação prévia nos bastidores, sem qualquer publicidade até que chegasse o momento.Mas a julgar pelas palavras de Edson Macuácua, Porta-Voz do Presidente da Re-pública, aparentemente, foi apenas uma iniciativa do Chefe de Estado “convidar” o líder da Renamo para se deslocar a Maputo para o referido encontro. Este “convite” seria feito chegar, mais tarde, ao seu destinatário através dos canais apropriados, que também, julgando pela reacção do Porta-Voz da Renamo, Fernando Mazanga, não incluem o protocolo desta formação política.Com todo o respeito, um “convite” feito no início da semana para um encontro para um máximo de cinco dias depois, não parece que seja exequível. A logística de ter que trazer para a Cidade de Maputo alguém que é dirigente de um partido político que está em guerra (armada) com o governo, e que ainda por cima se encontra “em parte incerta”, não deve ser alguma coisa que se faz com tanta facilidade, e em menos de uma semana. Igualmente, e no estado em que as coisas se encontram, a vinda de Dhlakama a Maputo, sem quaisquer garantias de imunidade ou de amnistia, seria o equivalente a um acto de rendição, que no seu melhor cálculo, o líder da Renamo não teria a ingenuidade de cometer. Consideremos as palavras do Porta-Voz do Presidente da República, quando disse, na semana passada, que “a Renamo entrou em situação de inconstitucionalidade”, a partir do momento em que os seus guerrilheiros passaram a realizar alegados ataques contra civis, unidades militares e policiais. Por outras palavras, e tendo em conta o sangue já derramado nas várias confron-tações, na visão do governo, a Renamo tornou-se numa organização criminosa, e consequentemente ilegal. Nestas circunstâncias, o líder da Renamo tem todas as possibilidades de ao chegar a Maputo, no lugar de ser conduzido à Ponta Vermelha ou ao Gabinete da Presi-dência da República, ser apresentado com um Mandado de Captura e conduzido à prisão. O encontro com o Presidente da República era possível nos dias antes do exêrcito ter recebido ordens para assaltar o acampamento de Dhlakama em Satunjira. O governo diz que não era para matar Dhlakama, mas não se envolve o exêrcito em acções de caça desportiva. Neste momento, sem a necessária preparação, tal encon-tro seria improdutivo, sendo por isso desaconselhável.A situação de guerra em que o país se encontra exige outro tipo de intervenções que venham eventualmente conduzir a um acordo que ponha fi m a todo este confl ito. De imediato, as duas partes precisam de criar os canais necessários para negociar um acordo de cessar-fogo o mais rápido possível. O cessar-fogo deve ser seguido do reatamento imediato das negociações interrom-pidas na sua 25ª ronda. Negociações ininterruptas e não apenas às segundas-feiras. Há aqui uma vantagem. Já existe uma agenda proposta pela Renamo e acordada entre as partes. Mas a Renamo não deve ser permitida a introduzir novos pontos para discussão. A questão da Lei Eleitoral deve ser encarada com certo realismo. A paridade que é exigida pela Renamo não parece de todo praticável. O dossier sobre a Lei Eleitoral deve ser abordado na perspetiva de tornar os órgãos de administração eleitoral me-nos partidarizados e mais profi ssionalizados. Nesta perspectiva, o modelo de proporcionalidade com base na representação par-lamentar também deve ser posto de lado, dando-se preferência a uma Comissão Nacional de Eleições (CNE) que incorpore também todas as funções actualmen-te executadas pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Este novo fi gurino da CNE deve ter entre cinco a sete membros, seleccionados através de um concurso público que se baseie estritamente na competência técnica, tendo como presidente um magistrado do topo da carreira, auxiliado, na componente ope-racional, por um Director-Geral de Eleições.No que respeita às questões de defesa e segurança, a tónica deve ser sobre a ne-cessidade de não se permitir que a Renamo continue a ser um partido com um exêrcito paralelo. As negociações devem conduzir à desmobilização dos militares da Renamo, em conformidade com as modalidades acordadas no Acordo Geral de Paz de 1992. Neste contexto, a Renamo deve apresentar uma lista completa dos seus soldados, os quais devem ser tratados em igualdade de circunstâncias, ao abrigo do Estatuto Geral do Combatente. Tudo isto é possível, em tempo relativamente curto, desde que haja vontade política das duas partes. As partes devem negociar de espírito aberto, de forma descomple-xada, e sem quaisquer trunfos na manga. Até aqui a Renamo tem assumido uma posição reivindicalista, com exigências mui-to rígidas e por vezes até incomportáveis. Mas isso deve ser em resposta ao igual radicalismo do governo. Contudo, a Renamo só sairá a ganhar se mudar de postura, assumir um papel de liderança no processo e mostrar fl exibilidade quando tal se torne pertinente no in-teresse nacional, da estabilidade e prosperidade deste país.
O que herdei da Frelimo e que gostaria de partilharPor: Hermínio Paulino Chissico
19Savana 08-11-2013 OPINIÃO
http://www.ofi cinadesociologia.blogspot.com
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Vivo como toda a gente
vive, de frases feitas,
escritas ou ditas por
outros.
Na terça-feira passada, dia 05,
estava com um amigo meu a
ver telejornal onde se faziam
largas parangonas sobre a
campanha eleitoral, onde al-
guém estava com megafone
em mão a perguntar às mama-nas de um bazar informal, nos
arredores de Maputo, se não
gostariam de ser felizes, se não
gostariam de ter uma velhice
tranquila e se não sabiam que
para isso era preciso que elas
descontassem uma percenta-
gem dos seus rendimentos di-
ários para pagar ao Conselho
municipal que era para o Con-
selho Municipal ocupar aquele
dinheiro para depois elas go-
zarem quando fossem velhas.
Nunca tinha visto tanta hipo-
crisia. As próprias vendedeiras que
não são assim tão parvas também
respondiam de olhos virados para
a clientela e não para o candidato.
Sim, sim o papá tem razão.
O meu amigo disse olhando para
mim sem tirar os lábios do copo do
whisky: “todos nós temos direito a
nossa loucura”.
Eram 11:35 da manhã.
Lembrei-me de ter lido no mayom-be de Pepetela esta frase: “a verdade
é um caminho de areia no meio de
deserto”.
Lembrei-me também do Dalai
Lama ter dito: “o homem é um ani-
mal que me espanta muito. Arruína
a saúde para juntar dinheiro e de-
pois gasta esse dinheiro para recu-
perar a saúde perdida, vive como se
não fosse morrer e morre como se
nunca tivesse vivido”.
O Juan Ramón Jiménez escreveu
numa da suas obras: “a solidão é
como um grande pensamento de
A estrutura da “tribali-
dade” nasce na inte-
racção social quando
gerimos, protegemos
ou almejamos monopolizar re-
cursos de vida e poder funda-
mentais, quando praticamos a
estrutura social dos semáforos:
primeiro estão, passam ou ga-
nham os nossos, depois os ou-
tros se algo restar ou permitir-
mos (aqui, a “tribalidade” não
tem a ver com o sentido clássico
de “tribo”, mas com o sentido
múltiplo de identidade grupal e
política).
Eis o princípio ideológico:
o nosso grupo (família, linha-
gem, classe de idade, região,
clube desportivo, unidade mi-
litar, sindicato, partido político,
agrupamento de bairro, religião,
agrupamento científi co, clã ide-
ológico) tem o direito histórico à
preeminência, ao usufruto social
e à verdade. Esse princípio co-
manda a selecção identitária de
pessoas, adeptos, apaniguados,
crentes, militantes, funcionários
e parentes.
De alto a baixo do edifício ofi -
cial, o princípio do semáforo
social organiza a selecção e a co-
locação “tribal”.
“Tribalidade”
Frasesluz”.
O meu amigo Mazuze disse:
“quando engravidou a sua meni-
na aos 17 anos, ainda solteiros,
aquilo deu um ximoco de tama-
nho pela parte da família do
menino”.
Então ele disse ao pai em jeito
de desculpa: “papa, quem provo-
ca merda atura o cheiro”.
E o pai respondeu-lhe:
“Sim, mas não te esqueças que o
cheiro não será aturado por você
sozinho. Todos que estão à tua
volta vão ter que aturá-lo”.
O meu amigo Horácio disse-me
uma vez: “se vires um cágado em
cima duma árvore é porque al-
guém o colocou lá ou se a esteira
é curta encolhe as pernas”.
O meu pai dizia: “se até aos 30
anos não conseguiste comprar
uma cama esquece, continua a
dormir na esteira”.
Vivemos uma extraordinária úl-
tima semana de Outubro em
Moçambique. Descobrimos
o real país que sobrevive ape-
sar dos golpes físicos e psíquicos com
que é fustigado há muito e que subita-
mente se agravaram ao ponto de fazer
saltar a tampa do pote. Afi nal, estamos
vivos, somos solidários uns com os ou-
tros para além das divisões de cor de
pele, de origem geográfi ca, de fi liação
ou não fi liação a partidos políticos,
das religiões que professamos ou não
professamos, de idade, de género e de
condição social. Foi o que Maputo
mostrou ao resto do país e ao mundo
na quinta-feira da semana passada. E
o resto do país quis também reafi rmar
este ideal que nos animou na Indepen-
dência, hoje quase esquecido. Apesar
da exclusão que lhe é imposta pela
própria capital, outras cidades replica-
ram o protesto. O mundo mal notou,
mas não era para o mundo que faláva-
mos, a mensagem era para dentro das
fronteiras.
Há os que tentam desunir-nos ata-
cando fracções do todo para quebrar o
todo em pedaços: mas nós resistimos
a voltámos a afi rmar que somos todos
moçambicanos e que a dor de um é a
dor de todos. Escangalhámos o mito
racista de que moçambicano é medro-
so e cobarde e face à ameaça mete-se
na toca como coelho perseguido. Não
é verdade: são os nossos próprios fi lhos
que nos ensinam que a cidadania é um
valor, o único que nos garante a sobre-
vivência.
A manifestação pela paz e contra os
sequestros, para muitos foi reacção à
barbaridade do assassinato de Amahd
Rachid da cidade da Beira, visto no
Moçambique depois das manifestações:à espera do que aí vem Por Maria de Lourdes Torcato
noticiário da STV na segunda-feira. O
vídeo mostrando o adolescente a su-
plicar à mãe que o salvasse, fez chorar
muito espectador, incluindo esta que
escreve estas linhas. A dor da mulher,
que com a ajuda dos seus empregados
e durante três dias procurou o fi lho por
toda a cidade, exprime indignação e
fúria perante as câmaras, acusa as au-
toridades de conivência com o crime.
Foi o grito de socorro colectivo como
só uma mãe é capaz de fazer ouvir.
E depois tivemos Alice Mabota que,
com a sua coragem e discurso frontal
que já fi zeram dela uma referência
nacional admirada e respeitada, orga-
nizou e mobilizou apoios para fazer a
maior marcha de protesto organizada
na História de Moçambique. Teve os
apoios que pediu, incluindo os melho-
res e mais corajosos da comunidade
muçulmana - não esqueçamos que
muçulmanos foram vistos como os al-
vos dos sequestros nos dois primeiros
anos e quem na altura disse que “são
confl itos entre eles”, se não engoliu
ainda estas palavras é melhor fazê-lo
pois já viu que alvos da malvadez e da
ganância por dinheiro somos nós to-
dos. E a marcha avançou como Mar-
cha pela Paz e contra a Criminalidade
e Insegurança, em que todos, pobres e
menos pobres, jovens e velhos, se sen-
tiram representados.
No reino do imprevisívelEm Outubro, o mediafax publicou um
artigo cujo autor* dedica muito do seu
trabalho a este país donde partiu nos
anos 70. O artigo começa com esta
afi rmação: “Não existem condições
para o desencadear de uma nova guer-
ra civil em Moçambique”. O artigo
justifi ca a afi rmação e prevê cenários,
baseado na análise lógica das condi-
ções objectivas actuais. O problema é
que duas semanas depois, a situação
é diferente para pior, com mais con-
fl itos entre Forças de Defesa e FIR e
homens armados, presumivelmente
da Renamo, quem sabe se descoman-
dados. Bases e casas do “inimigo”, que
afi nal devia ser apenas o “adversário”
com quem se dialoga, em Sofala e
Nampula, já foram desmanteladas e
ocupadas. Dhlakama, ofi cialmente,
está em parte incerta dentro de Mo-
çambique. Qual é o objectivo fi nal
destas operações, não sabemos nem
compreendemos. A lógica das análises
não resiste à irracionalidade dos actos.
O povo que se manifesta na rua pede
paz e diálogo: “que se encontrem os
chefes e negoceiem porque não que-
remos voltar à guerra”, resume a men-
sagem mais repetida. Mas à medida
que o tempo passa cada vez mais custa
acreditar que o diálogo, que pressupõe
reconhecimento e respeito mútuo, seja
possível. E os camponeses das áreas
dos ataques andam para trás e para a
frente de trouxas à cabeça e fi lhos às
costas, à procura de lugar para descan-
sar longe do tiroteio. Os que já tinham
conseguido montar o seu pequeno
negócio perdem numa hora o esforço
de anos. Mas ainda pedem diálogo e
gritam por paz. E a resposta são mais
actos de guerra, não guerra de palavras
mas de armas, que cospem destruição
e morte.
Ainda falando de irracionalidade:
prepararam-se eleições autárquicas
como previsto, para 20 de Novembro.
A campanha começou, muitos milhões
foram gastos. Mas será que os eleito-
res face a tanta incerteza e confusão,
vão votar? Há regiões onde sabemos
que elas não terão lugar, ou porque
não há mesa de voto, ou porque não
há eleitores. Mas quem sabe, talvez
os moçambicanos se sintam ainda
mais motivados nos locais onde não
há perturbações. Tudo é imprevisível
e a abstenção pode ser quase total, ou
a afl uência pode ser tão alta que será
uma grande lição a aprender.
Imaginemos que acontecem as ne-
gociações de alto nível como pede o
povo, como aconselham os amigos de
Moçambique, como exige o clamor
dos excluídos dos “benefícios” da paz.
As armas podem calar-se mas isso não
chega para trazer o sossego. Por detrás
do grito dos pobres pela paz, está toda
a situação social que sabemos que não
se resolve sem paz, mas que tem de ser
resolvida para que eles saiam da misé-
ria e para haver real desenvolvimento:
a criminalidade que não se esgota nos
sequestros e há muito é o fl agelo dos
subúrbios das cidades, a ausência da
Saude e Educação, que o Estado lhes
promete num dia e lhes tira logo a se-
guir com a ajuda da pequena corrup-
ção. Estes são só exemplos dos gritos
de socorro à mistura com os da raiva
incontida dos que dizem “Fora!” nas
manifestações.
Penso nos mais de 20 milhões de po-
bres e excluídos deste país. Mas tam-
bém tenho amigos ricos ou pelo menos
bem na vida e sei que são patriotas. Es-
ses devem ver quanto antes que os que
se manifestam e protestam, pela justiça
e contra a impunidade dos criminosos,
são os seus verdadeiros aliados. Sem
um Estado de Direito, é muito pro-
vável que o que têm hoje lhes escape
como uma mão cheia de areia da praia
por entre os dedos. Mas se quem deve
saber mais da real situação do país do
que o comum dos cidadãos e tem o po-
der de pôr o certo e o errado no devido
lugar, nos vem dizer que a Polícia me-
rece confi ança e a culpa é da “sociedade
civil” e dos jornalistas que fomentam
instabilidade, então o colapso já está
em processo. Porque não é possível
que milhões estejam errados e só meia
dúzia pretenda que vê a verdade.
Mas esta é a situação que temos e é
impossível não fazer o paralelo histó-
rico com tantos governos totalitários
em vésperas da queda, completamente
cegos, surdos e mudos, recusando ver o
evidente e não querendo ouvir o cla-
mor dos que lhe apontam o caminho
da saída. É esta cegueira que leva os
governantes moçambicanos a gastar
os lucros que ainda não existem mas
se esperam, dos recursos naturais, não
a promover a agricultura para dar de
comer a milhões de moçambicanos
famintos, 50 por cento dos quais são
crianças malnutridas, mas armamento
pesado a começar por aviões de com-
bate. Parece que as nossas fronteiras
estão na iminência de ser violadas por
inimigos poderosos. Mas quem são
esses inimigos? Bandidos, com armas
ou sem elas, não se combatem com
obuses.
Neste quadro de irracionalidade, tudo
é possível e nada é previsível. Precisa-
mos de preservar as poucas garantias
que temos, entre as quais a Constitui-
ção que nos vai garantindo a possibi-
lidade de escolher quem nos governe.
Temos de olhar pelas instituições já
ameaçadas ou enfraquecidas, como a
imprensa que quer continuar livre e
as organizações da sociedade civil que
cumprem com honestidade o seu pa-
pel, para as defender até aos limites das
nossas forças. Dos muitos compatrio-
tas com saber, experiência e reputação
de integridade que ainda têm muito a
dar a Moçambique e estão dispostos a
servi-lo, esperamos iniciativas que pos-
samos seguir e apoiar. Não deixemos
que a morte do mártir Ahmad Rachid
e o sofrimento da sua Mãe Coragem
tenham sido em vão. As capacidades
das centenas de milhar de homens e
mulheres que sobrevivem sem vender a
sua dignidade, de jovens profi ssionais,
estudantes, trabalhadores, são a garan-
tia de que temos futuro como país.
*Fernando Jorge Cardoso do Instituto Marquês de Vale Flôr � Lisboa
20 Savana 08-11-2013OPINIÃO
A TALHE DE FOICE
SACO AZUL | Por Luís Guevane
Por Machado da Graça
ESPINHOS DA MICAIAPor Fernando Lima
E
Ao dar ordens para que as Forças de
Defesa e Segurança atacassem as
bases de Satunjira e de Marínguè,
o Comandante em Chefe, Ar-
mando Guebuza, quebrou um equilíbrio
político-militar que durava já há 21 anos.
E que, de alguma maneira, assegurou a Paz
que o país viveu ao longo desse período.
E, a partir desse momento, o sangue dos
moçambicanos corre mais, na nossa terra, a
cada dia que passa. Os combates sucedem-
-se e o número de vítimas, muitas delas
mortais, já é de contagem impossível.
Ao empurrar Afonso Dhlakama para o
mato, em local desconhecido, as forças
militares e policiais retiraram de um qual-
quer processo de Paz, um interlocutor fun-
damental e alguém que, apesar de tudo,
mantinha algum controlo sobre os homens
armados daquele partido, procurando evi-
tar a sua instrumentalização pelos antigos
generais.
Os resultados disso tudo são já muito maus
e podem-se tornar péssimos. Não sei que
capacidade militar tem a Renamo mas, na
guerra de guerrilha, muito poucos homens,
decididos, podem paralisar um país e des-
truir a sua economia. E a Renamo tem, de
certeza, bastante mais homens do que estes
a que me refi ro.
Com tudo isto, estamos a gastar o que te-
mos e o que não temos para conseguir uma
solução militar para um problema que po-
deria, perfeitamente, ter uma solução po-
lítica. Caso houvesse uma real vontade de
negociar, por parte do Governo.
Da parte da Renamo creio que havia essa
vontade. Se bem percebo, a sua proposta
era: Queremos garantias de eleições sérias,
despartidarização do Estado e melhor dis-
tribuição da riqueza nacional e, do nosso
lado, oferecemos o desarmamento dos nos-
sos homens.
Do lado do Governo, a posição foi de
não ceder um milímetro em qualquer das
questões essenciais. Cederam em questões
de pormenor, que nem sequer cheguei al-
guma vez a saber quais foram, e por aí se
fi caram. Claramente não estavam interes-
sados na oferta da Renamo porque já ti-
nham decidido que o desarmamento dos
homens daquele partido se faria por via
militar. Enquanto se sucediam as rondas
negociais, sem qualquer sucesso, andavam
os seus agentes pelo mundo a comprar ar-
mas, munições e outro material de guerra.
Os encontros no Centro de Conferências
Joaquim Chissano não parecem ter tido
outro objectivo que não fosse ganhar tem-
po enquanto o armamento não chegava.
Igualmente os esforços do Dr. Lourenço
do Rosário e de D. Dinis Sengulane, bem
como do Observatório Eleitoral, parecem
ter tido o mesmo objectivo. Quando as
armas chegaram o Governo tirou-lhes o
tapete debaixo dos pés ao atacar Satunji-
ra. O que, imagino, não terá contribuído
para a sua felicidade na medida em que se
mostravam confi antes no sucesso da sua
mediação.
Neste momento creio que já ninguém terá
coragem de dizer que ainda estamos em
Paz e é preciso preservar essa Paz. Estamos
em guerra e há que fazer tudo para acabar
com ela.
Na mesa de negociações e não aos tiros. E
urgentemente, porque já se passou dema-
siado tempo neste teatro de má qualidade
e está a morrer gente.
Os tais jornalistas, de que o Chefe de Es-
tado não gosta, começaram a avisar de que
estávamos a avançar para isto há mais de
um ano. Mas Armando Guebuza prefere
as opiniões dos lambe-botas medíocres de
que se rodeou.
Agora está a pagar o preço por isso. E o
pior de tudo é que está o país todo a pagar
também esse preço.
Equilíbrio quebrado
O encontro, há muito esperado, en-
tre o Presidente da República de
Moçambique (Armando Guebu-
za) e o Líder da Renamo (Afonso
Dhlakama), a acontecer, poderá vir a ser
uma boa nova para todos os moçambica-
nos amantes da paz e estabilidade político-
-militar. “Boa nova” desde que resolvam,
de facto, uma série de “pendentes” à luz do
entendimento político (o que não signifi ca
atropelar a Constituição).
Não é a primeira vez que os dois se encon-
tram publicamente. O último “frente-a-
-frente”, o de Nampula, a pedido do líder
da Renamo, teve lugar no ano passado, no
dia 09 de Dezembro.
No encontro de Nampula os dois aborda-
ram a questão da retirada pouco clara dos
ofi ciais da Renamo das Forças Armadas de
Defesa de Moçambique (FADM), fi can-
Por um encontro que produza Pazdo apenas os da Frelimo. Tanto os primeiros
como os segundos teriam sido acomodados nas
FADM como resultado dos “compromissos” do
Acordo Geral de Paz. O que se sabe hoje deste
problema? Publicamente nada transpirou. Se
isso aconteceu poucos tiveram conhecimento.
Voltará este assunto à mesa?
Os mega-projectos, pela sua apetecibilidade,
não fi caram de lado nesse mesmo encontro. O
Líder da Renamo reclamou que estes só benefi -
ciam aos membros da Frelimo. Hoje, pelo com-
portamento da economia mas, sobretudo, pelo
ambiente político-militar, também percebe-se
que, publicamente, pouco ou nada mudou. Vol-
tará este assunto à mesa?
Ainda sobre o último encontro Dhlakama-
-Guebuza, em Nampula, foi abordada a pro-
blemática da partidarização do Aparelho do
Estado (AE). O ponto em questão foi a neces-
sidade de despartidarização do AE. Hoje, pelo
tom em que se discute este assunto, percebe-
-se que pouco ou nada se avançou de lá para cá
(em quase praticamente um ano). Voltará este
assunto à mesa?
Nos últimos meses e na sequência das sucessi-
vas rondas negociais, a Renamo tem insistido
na questão da lei eleitoral. Esta já teria sido
abordada também nesse encontro de Nampula.
É um importantíssimo pendente a considerar.
Voltará este assunto à mesa?
Como resultado do consenso do encontro
Dhlakama-Guebuza, do ano passado, foram
formadas equipas de trabalho. Se esta leitura
estiver certa, percebe-se que os pontos discu-
tidos nas sucessivas rondas negociais não fo-
ram mais do que uma tentativa de respeitar os
compromissos ou os aspectos acordados nesse
encontro de Nampula. Infelizmente, as rondas
negociais no Centro de Conferências Joaquim
Chissano pouco produziram que acalmassem
os ânimos dos moçambicanos. Geraram
sim, a actual situação de desconforto psi-
cológico popular diante da iminente pos-
sibilidade de retorno à guerra. A última
manifestação na Praça da Independência
foi sufi cientemente esclarecedora. Por
isso, o povo voltou a reforçar o seu pedido
de Paz que pode ser claramente produzi-
do pelo encontro entre os dois.
Cá entre nós: se admitirmos que as equipas que compõem as rondas negociais resultam ou resultaram do consenso havido no último encontro Dhlakama-Guebuza, podemos estar claros que esse foi o mais forte ganho de Dhlakama. Neste provável encontro Guebuza-Dhlakama o que teremos como novidades? Será que com este encontro se resolverão todos os pendentes para que pos-samos defi nitivamente voltar a perceber a paz? A ver vamos.
Apesar dos louros do Acordo de Roma
terem sido atribuídos ao presidente
Joaquim Chissano, é inequívoca a
quota parte que cabe a Armando
Guebuza como seu negociador chefe, num
percurso que claramente começou num plano
inclinado – bandidos armados versus governo
– para terminar num armistício sem vence-
dores nem vencidos.
E é provavelmente a partir desta premis-
sa que se construíram alguns dos equívocos
desde 1992, especialmente nos últimos nove
anos. A realização regular de eleições não
pode afastar o espírito do Acordo de Paz, o
exercício do poder em ambiente multiparti-
dário não afasta os demónios da exclusão, a
existência de vencedores não afasta responsa-
bilidades para com toda a sociedade, especial-
mente no que à paz social concerne.
Um dos argumentos e práticas subsequentes
utilizadas pelos “vencedores” do dia, é o re-
legar dos “outros” actores da sociedade polí-
tica moçambicana para subalternidades que,
tendo em conta o passado, nunca deveriam
ter acontecido. E não é apenas o problema de
“homens armados”, a “parte imperfeita” que a
urgência das assinaturas em Roma fez agora
com que o problema rebentasse aos tiros.
Só um distraído não compreende que é ne-
cessário que os processos eleitorais em Mo-
çambique sejam mais transparentes e rigo-
rosos, que há problemas de integração e de
justiça que ao longo dos 21 anos não foram
devidamente ponderados nas Forças Arma-
das no que concerne aos antigos efectivos da
Renamo, que a progressão no Aparelho de
Estado deve ser feita em função de mérito
e competência, que a equidade económica é
hoje um assunto crucial face às expectativas
sobre os recursos naturais. Parece-me por de-
mais evidente o consenso nacional em torno
destas questões. E são esses os pontos que a
Renamo resolveu colocar ao governo do dia.
Mas foi esta necessidade de debate nacional
a que o partido que dá corpo ao governo res-
pondeu com um grupo de “ilustres desconhe-
cidos”.
O que sucedeu depois, e tendo em conta a
operação militar contra Satunjira não me
parece mais que um exercício hipócrita e cí-
nico sem quaisquer resultados práticos. Face
aos resultados, é mesmo lícito questionar se
alguma vez houve vontade em abordar as-
suntos sérios. É óbvio que os benefícios são
imensos para o aparato Frelimo, mantendo
um Aparelho de Estado clientelista e basea-
do em fi delidades. Mas se a Frelimo quer ser
um partido moderno do século XXI tem que
claramente abandonar as práticas caciquis-
tas herdadas do partido único e replicadas
nos exemplos pouco edifi cantes das novas
repúblicas saídas da União Soviética. Se so-
mos economia de mercado, as oportunidades
de negócio, a disponibilidade de acções em
empresas e outros benefícios decorrentes da
“economia de sucesso” têm de ser extensivas a
todos os moçambicanos. Não é um exercício
de física nuclear mas, pelos vistos, é sufi ciente
complicado para nada se ter alcançado nestes
domínios. E quem tem o controlo da econo-
mia, do Aparelho de Estado, não é a Renamo,
é o governo do Partido Frelimo. Logo, é óbvio
quem tem que abrir a mão.
Infelizmente, o que agora parece penoso, teria
sido mais fácil se tivesse sido implementado
após 1994. Mas os “novos vencedores”, os
que nunca aceitaram a paz “sem vencedores
ou vencidos”, tudo fi zeram para que a roda da
história andasse para trás.
Agora que os tiros aumentam em progressão
alarmante, a cada dia que passa, é cada vez
mais difícil que o negociador chefe continue
a estar bem na fotografi a. E certamente que
os seus colaboradores lhe trouxeram os ecos
das palavras de ordem nas manifestações da
última semana.
Mesmo assim, e ainda falta um ano para que o
seu mandato termine, é importante que para
além dos sete bis, das onerosas Presidências
Abertas, da entrada maciça de investimento
externo, era importante que o seu nome fosse
associado indelevelmente à difícil arquitectu-
ra da paz. No antes e no agora.
Apesar da bruma e dos apóstolos do Apoca-
lipse de que se faz rodear, ainda vai a tempo.
Mr. Guebuza
21Savana 08-11-2013 PUBLICIDADE
22 Savana 08-11-2013DESPORTO
Por Paulo Mubalo
Francisco Queirol Conde
Júnior, ou simplesmente
Chiquinho Conde para os
afi cionados pelo futebol, 47
anos de idade, a completá-los pre-
cisamente a 22 deste mês, diz que
muito do que se tem falado sobre
o seu futuro como treinador, parti-
cularmente a hipótese de vir a trei-
nar, próximo ano, um dos grandes
do nosso futebol, no caso vertente
o Maxaquene, pode não correspon-
der à verdade, isto porque nunca foi
abordado nesse sentido. Chiquinho
está ciente de que no desporto,
em particular no futebol, as coisas
podem mudar ou acontecer de dia
para noite, mas por enquanto “sou
um homem totalmente livre”, ex-
plica.
Segundo conta, por diversas vezes
a imprensa desportiva e não só tem
associado o seu nome a muito clu-
bes, entre eles, o Têxtil do Púnguè,
o Chingale, o Ferroviário de Nam-
pula, o Maxaquene, o Ferroviário
de Maputo, o Chibuto, entre ou-
tros, mas que não há rigorosamente
nada tratado com as direcções des-
ses clubes.
“Mesmo em relação à selecção na-
cional o meu nome foi muito bada-
Não tenho compromisso com nenhum clube-A rma Chiquinho Conde, que era dado como certo no Maxaquene
lado e como pode depreender não
sou treinador dos Mambas, sou
uma pessoa livre, no sentido de que
não tenho obrigações contratuais
com quem quer que seja”, afi rmou
o técnico.
Questionámos a Chiquinho Con-
de se, a avaliar pelo seu valor, po-
tencial e experiência adquirida
como jogador tanto dentro e fora
do país, por um lado, e também
com o background como técnico,
não sente que Moçambique preci-
sa muito dos seus serviços, ao que
declinou comentar.
Ante a nossa insistência afi rmou:
“A vida de um treinador é compli-
cada, hoje a pessoa é empregada e
amanhã é despedida, mas eu vou
continuar a ser a mesma pessoa hu-
milde, vou continuar a ser Chiqui-
nho Conde. Aliás, não tenho que
fi car zangado com as pessoas, com
tudo e mais alguma coisa como me
questionou, nem quero que as ati-
tudes das pessoas me deixem triste.
Até porque é bom salientar que o
campeonato nacional está prestes
a terminar e, que eu saiba, todas as
equipas têm treinadores. Já disse
que até que chegue a minha altura
há que ter calma”, observou.
Apesar de se encontrar no desem-
prego, Chiquinho diz que não anda
a fazer peditórios para sobreviver.
“Fui jogador de futebol por longos
anos, neste momento vivo normal-
mente como muitos moçambica-
nos, vivo como uma pessoa comum,
tenho a minha família”.
Sobre o futuro, Chuiquinho Conde
mostra-se muito cauteloso: “Está a
perguntar-me sobre o meu futuro?
Hoje não tenho vínculo com ne-
nhum clube, pode ser que amanhã
ou outro dia possa tê-lo, é difícil
prever o futuro”, disse Chiquinho
Conde.
Currículo de luxoFrancisco Queirol Conde Júnior
nasceu na cidade da Beira a 22 de
Novembro de 1965, na cidade da
Beira, numa família de futebolis-
tas de renome tais como os casos
de Orlando Conde, esse goleador-
mor, Felizardo Conde, entre outros.
Começou a despontar no Ferro-
viário da Beira, sendo que viria a
transferir-se para o Clube dos Des-
portos da Maxaquene, antes de in-
gressar no futebol estrangeiro. Fez
praticamente toda a sua carreira no
futebol português, sendo que mais
se destacou ao serviço do Vitória
de Setúbal, onde ganhou muita
simpatia entre os adeptos daquela
agremiação.
Jogou, igualmente, ainda no fute-
bol francês defendendo o Créteil
já em fi nal da carreira. Em terras
lusas, Conde jogou também pelo
Belenenses, Sporting de Braga,
Sporting, Alverca, Portimonense e
Imortal, tendo terminado a sua car-
reira em 2004, quando defendia o
Montijo. Conde foi jogador da se-
lecção nacional entre 1985 e 2002.
Como técnico, já foi treinador do
Maxaquene, Desportivo, Ferroviá-
rio, todos de Maputo, e Vilankulo
Futebol Clube e da selecção na-
cional. Um nome seguramente a
registar no panorama futebolístico
nacional e não só.
Chiquinho Conde, o treinador de quem se fala
O chefe do departamento
de políticas, desporto e
cooperação do Ministério
da Juventude e Desporto
(MJD), Bastos Azarias, diz que
desde a entrada da lei que regula o
controlo anti-doping no país, em
2007, ninguém foi apanhado com
a boca na botija, porém, precisou
que antes da aprovação desse
instrumento houve uma atleta, no
caso, a Argentina da Glória, que
foi detectada no seu organismo
algumas substâncias nocivas. Mas
uma coisa é certa: o país ainda
não dispõe de meios para tornar o
processo de testes mais célere.
Assim…De acordo com aquele quadro
sénior do MJD, na altura a atleta
alegou que estava a tomar alguns
medicamentos devido a uma
lesão. E diz ainda que quando um
atleta está a medicar os clubes e
os técnicos devem comunicar à
federação, o que não aconteceu, ou
seja, isso não foi verifi cado para o
caso de Argentina da Glória.
Segundo ele, por exemplo, se
um atleta estiver a consumir
medicamentos de asma, quando
for a fazer teste anti-doping pode
ser considerado como um daqueles
atletas que esteja a consumir
substâncias nocivas, por causa da
Falta de laboratórios condiciona testes anti-dopingPor Zaqueu Massala
reacção dos medicamentos. Diz
haver necessidade de os clubes
informarem às federações logo que
este ou aquele atleta estiver a tomar
qualquer medicamento.
Entretanto, apesar de Moçambique
ter aderido à convenção anti-
doping em 2007, não possui uma
estrutura nacional anti-doping
ainda que tenha uma comissão
técnica que trabalha nessa matéria
da recolha de análises dos atletas.
Seguem-se outras partes da
conversa.
Qual é o impacto do vosso trabalho no combate ao doping?
- Naturalmente, o maior impacto
desta medida é ter um desporto
limpo, é ter um desporto
verdadeiro, pois, como todos
sabem, o consumo de substâncias
nocivas só prejudica o atleta e
atenta contra a verdade desportiva.
O atleta que for apanhado nos
testes anti-doping é suspenso das
competições, isto de acordo com
a lei. As regras estão bem claras e
devem ser cumpridas. Nos jogos
olímpicos realizados em Londres,
deu-se a Moçambique um ultimato
por não ter realizado os testes anti-
doping. Para deixarmos a nossa
imagem impoluta tivemos de fazer
alguns testes antes do arranque
das provas. A partir daquela data
passamos a fazer testes a todos os
atletas antes do jogos. Por exemplo,
no Afrobasquete, realizámos cerca
de 20 testes.
Quantos tipos de testes são feitos? -Dois tipos, existem os que são
realizados dentro das competições e
outros fora das competições. Quando
falo dentro das competições, refi ro-
me àqueles testes realizados nos
campos ou nos recintos de jogos, e
os testes fora das competições são
aqueles feitos em qualquer lugar
onde quer que se encontre o atleta,
por exemplo, na praia, em casas, até
nos locais de diversão.
Quantos testes já foram feitos até hoje?-Neste momento estamos a realizar
testes fora das competições desde
Setembro do ano em curso, e esta
actividade vai até Novembro. Até
ao momento já foram realizados
16 testes e a meta é de 25 testes a
nível nacional. É preciso notar que
Moçambique não tem competições
laboratoriais, daí que todas as
recolhas das análises tenham que
ser enviadas para a vizinha África
do Sul. Este processo dura cerca de
45 dias.
Qual é o vosso maior desafi o?
-O desafi o é incentivar os agentes
desportivos a darem seriedade na
realização dos testes e não recusar
ou difi cultar a sua realização. Nós
estamos preparados e a nossa
equipa de trabalho é composta
por quatro médicos e um jurista.
Até Dezembro do ano em curso
vamos mandar um técnico na
vizinha África do Sul para uma
capacitação em questões anti-
doping. A nossa ideia é que depois
da capacitação do referido técnico,
possa transmitir os conhecimentos
a várias camadas desportivas. O
nosso maior objectivo agora é
lançar a mensagem de divulgação
sobre esta matéria, queremos que
todas as crianças das escolas a partir
dos seus 10 aos 12 anos tenham
conhecimento sobre as drogas e
consumo de bebidas.
E a fi nalizar?-Queremos deixar um apelo para
todos os dirigentes desportivos
que não se sintam alarmados
com a comissão técnica que
vai trabalhar nesta matéria de
anti-doping, devem colaborar.
As federações devem fazer a
sua parte, elas são responsáveis
por passarem a mensagem aos
clubes e associações. Nós, como
ministério, temos a obrigação de
trabalhar directamente com todas
as federações desportivas.
Bastos Azarias, do MJD
ilec
Vila
ncul
os
23Savana 08-11-2013 DESPORTO
A Prosport, uma em-
presa de prestação de
serviços nas áreas de
marketing e comuni-
cação, vai organizar, a partir do
dia 9 deste mês, em parceria
com a Federação Moçambica-
na de Futebol (FMF) e o Mu-
nicípio de Maputo, um torneio
de futebol de praia.
Vem aí a copa 2MO evento insere-se nas actividades
que visam alavancar o desenvolvi-
mento do desporto.
O lançamento do certame vai
acontecer este sábado, na praia do
Costa do Sol pelas 17h45.
Entretanto, na conferência de
imprensa, foram apresentadas as
motivações para a realização da
competição, o sorteio das equipas,
a defi nição do calendário de
jogos ao que se seguiu a distri-
buição de equipamentos.
O lançamento compreendeu
ainda actividades culturais,
a realização de partida entre
lendas do nosso futebol, para
além de espectáculo pirotéc-
nico.
ZM
A Liga Muçulmana de Ma-
puto conquistou o seu
terceiro título, faltando
duas jornadas para o fi m
do campeonato. Contudo, mesmo
com a vitória antecipada, o treina-
dor principal da equipa de futebol,
Litos, vai deixar o clube.
A decisão de Litos verifi ca-se dias
depois do presidente do clube, Ra-
fi k Sidat, ter dito que Litos conti-
nuaria na equipa porque na equipa
que ganha não se muda.
Alega razões familiares para justifi -
car a sua saída da equipa. A direc-
ção da Liga ainda não se pronun-
ciou sobre a situação.
Depois dos títulos alcançados em
2010 e 2011, a Liga Desportiva
Muçulmana de Maputo volta ao
topo do futebol moçambicano com
a conquista de mais um campeona-
to.
Adeptos das diferentes equipas fe-
licitam a Liga, assim como todos
os seus dirigentes e adeptos, pela
conquista do título nacional de fu-
tebol. Foi um campeonato muito
competitivo e equilibrado, no en-
tanto creio que a Liga Muçulmana
de Maputo acaba por merecer este
título pelo trabalho desenvolvido
nos últimos anos.
José Marcos, estudante de gestão
na universidade Eduardo Mon-
dlane, UEM, disse que qualquer
vitória de um clube é sempre bem
vinda para o país.
“Para mim qualquer vitória de um
clube é bem vindo, mas há uma
Liga ganha mas Litos sai coisa que temos vindo verifi car,
a maioria das nossas equipas só
consegue ganhar nos campeonatos
nacionais, mas quando se deslocam
para fora do país, ou seja, quando
vão às competições internacionais
não trazem bons resultados.
Eu peço que não basta ser ven-
cedor nos eventos africanos, é
preciso mostrar esses talentos nas
competições internacionais”, con-
ta José Marcos.
Essa ideia é comungada por Cé-
sar Pedro, pedreiro, diz que num
campeonato é sempre assim. Há
equipas vencedoras e há outras
derrotadas mas, para o caso da
Liga Muçulmana, a apesar de ser
vencedora no Moçambola, deve
mostrar esses talentos além-fron-
teira”.
“Em termos de plantel, a equipa
da Liga Muçulmana está bem po-
sicionada e tem uma direcção or-
ganizada, os jogadores têm todas
as condições, daí que não consti-
tui muita novidade essa vitória. O
maior problema para mim é do
próprio treinador Litos, que vai
deixar o comando técnico, espero
que a direcção do clube encontre
um outro técnico capaz de dirigir a
equipa”, observou Victor Geraldo.
A Liga Muçulmana de Maputo
foi fundada em 1990, mas conta
já no seu palmarés com três títulos
nacionais conquistados em 2010,
2011 e agora em 2013, uma Taça
de Moçambique (2012) e uma Su-
pertaça (2013). Zaqueu Massala
O presidente da FIFA, Jose-
ph Blatter admitiu nesta
terça-feira, ser contra os
playoff s de apuramento
para o campeonato do Mundo e
que irá procurar “uma nova solu-
ção”.
“Os playoff s são uma fonte de pai-
xão, drama e emoção, em que uma
equipa é eliminada no fi nal dos
dois jogos (em casa e fora). Eu
acho que é bom para a televisão
e para o espectáculo, mas deve-
mos encontrar uma solução para
a fase fi nal de qualifi cação para o
Mundial, em que uns se qualifi cam
Blatter quer acabar com playoffs do Mundial
e outros são eliminados, mas não
os playoff s”, frisou o presidente da
FIFA.
Joseph Blatter continuou, susten-
tando que, apesar de os playoff s darem “mais intensidade”, para as
equipas que são “eliminadas dessa
forma é difícil”.
Para o Mundial’2014, no Brasil,
seis equipas vão apurar-se através
de eliminatórias a duas mãos dis-
putadas em Novembro. Quatro se-
rão provenientes da Europa, uma
será decidida entre o vencedor da
fase de qualifi cação da Oceânia
(Nova Zelândia) e o quarto classi-
fi cado da CONCA-
CAF (México) e, fi -
nalmente, uma entre
o quinto classifi cado
da região asiática
( Jordânia) e o quinto
da zona sul-america-
na (Uruguai).
Pela terceira vez
consecutiva, entre
Europeu e Mundial,
Portugal vai disputar
os playoff s, jogando
com a Suécia a 15 de
Novembro, no Está-
dio da Luz, e a 19 na
SuéciaPresidente da FIFA, Joseph Blatter
24 Savana 08-11-2013CULTURA
Foi lançada recentemente
em Maputo a obra intitula-
da O Curandeiro: Revista
Moçambicana de Filosofi a,
cujo objectivo não é vingar fei-
ticeiramente as injustiças, não é
unicamente e sobretudo rescrever
a história do passado muitas vezes
ultrapassado, mas é o de debater e
cruzar ideias alternativas para curar
os males e pensar sobre as condi-
ções e possibilidades da existência
de uma sociedade mais humana e
mais justa.
Na introdução do livro, Severino
E. Ngoenha e José P. Castino es-
crevem o seguinte:
A distancia teórica epistemológica
que a coruja aterrasse nos trópicos
pretensamente “lusos” somente há
quinze anos quando a Universidade
Pedagógica reintroduziu os cursos
de fi losofi a. Uma das especialidades
destes cursos foi repercorrer os pas-
sos da coruja da Minerva através
das suas digressões na Grécia, no
Ocidente, em África no seu baptis-
mo como “feiticeiro” pela etnologia
ocidental, sem transcurar as suas
passagens ou paragens nas Améri-
cas ou na Ásia.
Estas nossas digressões deram a fi -
losofi a praticada em Moçambique
um cunho intelectual que não se li-
mita a ser uma narração historicista
da fi losofi a no Ocidente, mas se in-
teressa também pela maneira como
as diferentes humanidades deram e
dão razão a sua própria existência.
Dizer intercultural signifi ca postu-
lar a necessidade de fazer dialogar
as diferentes maneiras de ser ho-
mem como condição sine qua non
para se afi rmar no universal.
Este percurso, como qualquer outro
O Curandeiro: Revista Moçambicana de Filosofia
percurso humano, tem ou chega ao
seu processo de maturação. Depois
de termos formado licenciados que
transportam a coruja da Minerva
feita feiticeira nos diferentes ângu-
los e escolas deste vasto Moçambi-
que, formado mestres que dirigem,
africanamente falando, os ritos ini-
ciáticos da formação dos feiticeiros,
estamos a altura de abrir os douto-
ramentos para formar o feiticeiro-
-mor.
Lançar uma Revista Moçambicana
de Filosofi a em coincidência com
a abertura dos cursos de doutora-
mento, signifi ca reconhecer a tal
maturação da fi losofi a em Mo-
çambique e com ela, o nascimento
e a existência de uma pluridade de
ideias diferentes e até contraditó-
rias, que militam todas, e cada uma
a sua maneira, no crescimento da-
quilo que podemos chamar de mo-
çambicanidade, de consequência,
participarem a um debate de ideias
contraditórias, o que é específi co de
e na fi losofi a.
É neste espírito e com este pro-pósito que nasce O Curandeiro, cujo objectivo não é vingar fei-ticeiramente as injustiças, não é unicamente e sobretudo rescrever a história do passado muitas vezes ultrapassado, mas é o de debater e cruzar ideias alternativas para curar os males e pensar sobre as condi-ções e possibilidades da existência de uma sociedade mais humana e mais justa.Assim, O Curandeiro: Revista Mo-çambicana de Filosofi a pretende ser o espaço onde se cruzam estas duas tradições do pensar fi losófi co: por um lado um espaço de exercício de compreensão e de racionalização da nossa história do pensamento sobre nossa condição africana (mo-çambicana) de existência nela, por outro lado, um espaço de debate de ideias e utopias relativamente ao nosso futuro enquanto (africanos) moçambicanos num mundo cada vez mais global.O Curandeiro, apesar de ser uma revista nascida em Moçambique na Universidade Pedagógica, é aber-ta a todos, sobretudo aos fi lósofos africanos de língua ofi cial portu-guesa, onde a coruja da Minerva pousou em último lugar, e fi caram relativamente a margem do deba-te fi losófi co africano. Quando Di-ógenes foi perguntado sobre a sua proveniência, respondeu ser um “cidadão do mundo”.O Curandeiro pretende ser um lu-gar e espaço onde se debate como moçambicanamente e africana-mente entramos no mundo da “ci-dadania universal”. Pretende ser a voz da fi losofi a em Moçambique, nos países lusófonos, em África e no mundo. A.S
O escritor Mia Couto foi
escolhido por um júri
de nove autores inter-
nacionais para receber
o Neustadt Prémio Internacio-
nal de Literatura 2014. O pré-
mio é patrocinado pela Univer-
sidade de Oklahoma, a família
Neustadt, e World Literature
Today, premiada revista de lite-
ratura e cultura internacional da
universidade.
Ao ouvir sobre a sua vitória,
Couto respondeu: “Esse prémio
é cronometrado perfeitamente,
como Moçambique está pres-
tes a passar por um momento
difícil. Para mim, pessoalmente,
este prémio é certamente um
alívio, um raio de sol, neste mo-
mento nacional triste. Alegan-
do tratar-se de uma espécie de
“contracorrente” face à situação
no país e às ameaças à sua famí-
lia. A distinção com aquele que
é considerado o prémio Nobel
norte-americano “coincide com
o momento conturbado e de
preocupação em Moçambique
e, em particular, da minha famí-
lia, que também foi objecto de
O prémio é alívio neste momento nacional triste
ameaças”, informou o escritor.
Lembrando a “situação crispada
no país devido à possibilidade
de reacendimento da guerra”.
Nas cidades “há uma situação
de tensão grande causada pelas
ameaças de raptos, sequestros e
violência”, referiu Mia Couto.
Nascido em 1955 na cidade
da Beira, Moçambique, Couto
começou sua carreira literária
na luta pela independência de
Moçambique, durante os quais
ele editou duas publicações Raiz
de Orvalho, o primeiro livro de
Couto, de poesia, foi publicado
em 1983. Sua primeira novela
e do romance que foi o texto
representativo para o Neustadt,
Terra Sonâmbula, foi publicado
em 1992 com grande sucesso e
é amplamente considerado um
dos melhores livros africanos do
século XX.
Couto é conhecido por seu uso
de realismo mágico, bem como
a sua criatividade com a lingua-
gem. Em sua declaração de no-
meação, Ghermandi escreveu:
“Alguns críticos têm chamado
Mia Couto ‘o escritor contra-
bandista”, uma espécie de Ro-
bin Hood de palavras que rou-
ba signifi cados para torná-los
disponíveis em todas as línguas,
forçando mundos aparentemen-
te distintos para se comunicar.
Dentro de seus romances, cada
linha é como um pequeno poe-
ma”.
Este ano, Couto também rece-
beu o Prémio Camões 2013 de
Literatura, um prestigiado pré-
mio dado aos escritores de lín-
gua Portuguesa. A.SMia Couto
A situação que se vive ac-
tualmente no país está a
preocupar cada vez mais
os moçambicanos. Os
ataques que se têm assistido em
certos pontos do país fazem pairar
o clima de guerra no país. “Neste
momento de extrema importância
para Moçambique e para todos os
moçambicanos, eu, Stewart Suku-
ma, não posso ser indiferente ao
que está a acontecer no meu País,
e quero “lutar” por um verdadeiro
e melhor Moçambique para todos!
Infelizmente encontro-me ausente
do país, estando em Macau a re-
presentar Moçambique no Festival
Cultural entre a CPLP e a China.
De forma a dar o meu contributo,
pretendo lançar hoje, para assina-
lar a data o meu novo trabalho:
“Why”. Tentarei que seja passado
na TIM – Televisão Independente
de Moçambique”, explica Stewart
Artistas preocupados com a situação do país
Sukuma.
O artista mostrou-se preocupado
e fez um apelo para que os mo-
çambicanos pautem pelo respeito
mútuo. “A Todos os Moçambica-
nos, quero dizer que se todos qui-
sermos que Moçambique seja um
país onde nos sentimos seguros e
felizes comecemos pelo respeito
mútuo. Comecemos por mudar nas
nossas próprias casas. Infelizmente
o verdadeiro sofredor de todas as
tragédias que acontecem hoje não
tem voz para falar porque não tem
acesso à comunicação”, lamenta o
artista.
Contudo, advertiu aos nacionais
para que se mantenham vigilantes
e evitem todo o tipo de violência.
“Todos os moçambicanos que se
mantenham vigilantes e que evi-
tem ao máximo qualquer tipo de
violência. Uma palavra certa é mais
demolidora que qualquer arma e
cada um de nós tem uma palavra
a dizer. Viva a Paz e viva a Liber-
dade. Força amigos e viva a Paz de
verdade. Nós deste lado também
estamos a lutar”, fi naliza. A.S
O prémio Estação Imagem/
Mora para o Melhor Docu-
mentário distinguiu o fi lme
moçambicano Xilunguine
– Terra Prometida, do realizador
Inadelso Cossa. Para o júri, trata-
-se de um “fi lme onde o dispositivo
narrativo, servido por imagens do-
cumentais históricas, por entrevistas
aos protagonistas Tsonga e por um
contido enquadramento destes nos
seus contextos actuais, parece soli-
citar uma clara articulação entre o
fazer história e o fazer cinema”.
Cerca de 38 fi lmes estiveram em
competição internacional nas ca-
tegorias de Ficção, Documentário
e Animação e foram seleccionados
a partir de mais de mil inscrições,
provenientes de países como Espa-
nha, Suíça, Irão, Brasil e Moçambi-
que, além de Portugal.
Documentário vence prémio em Portugal
O fi lme Moçambicano premiado,
Xilunguine - A Terra Prometida
aborda a partir de uma pesquisa et-
nográfi ca, o processo de migração
da etnia ou povo “Tsonga” para a ci-
dade colonial de Lourenço Marques
nos anos 1930 até aos dias de hoje,
a sua interacção com outros grupos
étnicos, a condição civil e laboral, a
transformação etno-linguística e a
“periferização” da actual cidade de
Maputo.
O Prémio FIKE para a Melhor
Ficção foi atribuído ao fi lme More
Th an Two Hours, do realizador ira-
niano Ali Asgari. O júri entendeu
que o fi lme, que “aborda um tema
muito importante de uma forma
brilhante”, constitui “uma fi cção di-
recta com signifi cativa actualidade,
sem artifícios, bem fi lmada e com
uma visão clara da realidade”. A.S
Capa da primeira revista nacional de Filoso a
Stewart Sukuma lamenta a situação do país
Do
bra
po
r aq
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SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1035 8 DE NOVEMBRO DE 2013
SUPLEMENTO2 3Savana 08-11-2013Savana 08-11-2013
27Savana 08-11-2013 OPINIÃO
Fernando Manuel (texto)Naita Ussene (Fotos)e Naita Ussene (fotos) e Naita Ussene (fotos)
Por alguma razão e é bom que não sejamos mal entendidos, numa
de que estamos a semear a divisão, as províncias do centro do país,
- Sofala, Manica e Tete - foram sempre rebeldes.
Parecem subservientes, mas na verdade não são e isso nota-se
mesmo nos moldes em que a tradição é respeitada por mulheres,
jovens, crianças e anciãos, cada um no seu lugar e cada lugar com o seu dono.
Estamos no século XXI e as Presidências Abertas, que é uma forma muito
gozada de gastar dinheiro do erário público e fazer campanha mesmo fora do
tempo, revelam isso.
Mulher que fala com o homem tem de estar de joelhos, mulher não tem pa-
lavra e etc etc.
Tudo mentira como é evidente.
Se as mulheres fossem assim tão parvas, o mundo não estaria como está.
Estaria bem melhor.
Seja como for, as mulheres não deixam de ser nossas mães e serem nossas
mulheres.
No fundo antes de virmos ao mundo, passamos nove meses no seu útero, ou
seja, dentro delas, a comermos aquilo que elas comem, a bebermos aquilo que
elas bebem e a aprender as palavras que elas nos ensinam através do cordão
umbilical.
Depois de vir ao mundo, ainda fi camos 18 meses a viver do leite que elas seg-
regam dos seus seios e é por isso que, quando crianças, elas nos batem e nós
não gritamos papá gritamos, mamanou…
Mulher é mulher vamos deixar de brincadeiras.
Por mais que tudo seja indicativo contra ela, como dizia o outro grande amigo
meu, levar cornos é natural, mas aturar a vaca é demais.
Na Beira tudo é assim, a verdade é que teremos que dividir os votos.
O espírito de Uria Simango está a vir ao de cima independentemente das
Presidências Abertas…
…No fundo todas as guerras começam do estômago e do sexo. Essa estória de
patriotismo, defesa da pátria, amor à pátria e outros ideais vem muito depois.
Como diz o ditado: na casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem
razão.
Como diz o outro: Se queres paz prepara-te para a guerra.
Paz é ter pão e vinho.
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”
“Nada vale marcar encontro sem garantias”
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHOwww.savana.co.mz
Foto Naíta Ussene
8 de Novembro de 2013 • ANO XX • No 1035
Diz-se.
.. Diz-
se
Líderes religiosos consideram
que não basta apenas o facto
de o Presidente da República,
Armando Guebuza, convidar o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama,
para um encontro, que em princípio
deveria acontecer esta sexta-feira, sem
antes criar condições para que o mesmo
ocorra.
Guebuza convidou nesta segunda-feira
o líder da Renamo, Afonso Dhlakama,
Líderes religiosos falam do encontro Guebuza-Dhlakama
em Satunjira para obrigar o Governo
da Frelimo a negociar uma nova ordem
no país.
Diálogo passa por gestos concre-tosO porta-voz da Conferência Episcopal
de Moçambique (CEM), Dom João
Carlos Nunes, considera urgente que
haja um encontro ao mais alto nível,
mas antes deve haver gestos concretos
e não apenas uma simples manifestação
de vontade.
“Como é que pode haver diálogo numa
situação em que se sabe que o convida-
do não está seguro?”, questionou.
Segundo João Carlos, não há condições
objectivas para que haja diálogo.
“É preciso que o Chefe de Estado de-
monstre comprometimento com a cau-
sa do povo através de acções visíveis
que vão levar à realização do encontro”,
frisou.
João Carlos, que falava ao SAVANA à
margem da segunda sessão ordinária da
CEM que decorre desde segunda-feira
até próximo domingo, na cidade da
Matola, província de Maputo, aponta
que a situação que o país está a viver
resulta da intransigência política.
O Bispo diz que por inúmeras vezes a
CEM chamou atenção para que o diá-
logo fosse levado a sério, mas em nada
valeu e mudam a linguagem verbal para
enveredar pela militar.
D. Dinis Sengulane, que juntamente
com o reitor da Universidade Politéc-
nica, Lourenço do Rosário, é facilitador
não ofi cial do diálogo entre Governo
e Renamo, diz que não foi informado
sobre a realização do encontro ao mais
alto nível, tendo tomado conhecimen-
to através dos órgãos de comunicação
social.
“É um convite muito encorajador”, fri-
sou Sengulane, mas precisou que não
compreende por que razão as partes
em confl ito usam armas para expressar
o seu posicionamento político, em vez
do diálogo.
Sengulane diz que espera que todos
possam contribuir para que o encon-
tro se realize e produza resultados, mas
ressalva que será necessário garantir a
deslocação em segurança do líder da
Renamo.
“É uma questão delicada. Mas é muito
• Enquanto internamente os boys do G40 se mostram impoten-
tes para conter o clamor popular contra a instabilidade polí-
tico-militar no país, lá por fora as empresas de comunicação
e imagem já estão em acção para “retocar” a imagem do ca-
chimbo. Em duas semanas, duas intervenções a partir de Paris e
de Londres com uma equipa recebida em carpete vermelha no
Chimoio. Será a próxima operação em Lisboa ou Nova Iorque?
• E como algumas pontas saem mesmo fora do baralho, a empre-
sa que não goza das preferências da ponta encarnada por uma
fábula sobre transparência e carvão, recebeu uma indesejada
visita, porque um comunicado sobre segurança de expatriados
foi considerado demasiado alarmista. Aí está o “síndrome Dia-
mantino” aplicado de outra forma. É comer e calar …
• Os homens de Bretton Woods é que se estão borrifando para
o síndrome e na mais recente visita a Maputo para largarem
mais uns milhões, foram aconselhando que os negócios como
a Ematum e um “eurobond” de USD 850 milhões sejam in-
cluídos no orçamento de 2014 e refl ectidos com transparência
nas contas orçamentais. Afi nal não é apenas um problema de
jornais e jornalistas…
• Resta saber que punição haverá para os atrevidos que divul-
garam as características do novo brinquedo presidencial anun-
ciado em primeira mão nesta modesta coluna. Provavelmente,
para redução de custos, poderá ser partilhado entre Mswati III
e prima Joyce que se desfez do seu brinquedo recentemente.
• Avisos são mais que muitos, como o sms condenando “histé-
ricas e repugnantes reportagens tendo em vista agitar a nação
contra si mesma”.
• Mas hábitos antigos demoram a morrer. Bem prega o bom do
sheik para que não se usem os brinquedos do Estado na cam-
panha eleitoral, mas como no batuque a máxima ainda vem dos
tempos de um rei europeu que disse “o Estado sou eu”, é ver
administradores e directores passearem na campanha com os
popós comprados com os impostos dos moçambicanos. É bom,
no entanto, não passarem pelo mercado Janeth na capital onde
podem ouvir coisas que o bom do Damião não gostou mesmo
…
• E mesmo no início de campanha e tendo em conta também as
grandes manifestações populares, anda a circular uma demo-
lidora sondagem sobre os resultados de Maputo. Será mesmo
que vai haver surpresa? Ou será como disse a mais, mais confi a-
da do chefe, que nem que haja sangue, Quelimane e Beira têm
que voltar “a ser nossos”. Nossos de quem?
• A TRAC anunciou recentemente o início das obras para a rea-
bilitação do troço Malhampsene-Moamba, na Estrada Nacio-
nal Número 4 (EN4). Só não se percebe como é que foi possí-
vel deixar uma estrada de portagem chegar a um tal estado de
degradação, sem que o Regulador tivesse uma única palavra a
dizer. Só mesmo no país do Pandza, onde a auto-estima é só
pôr fato do último corte e dizer babuseiras na tv!
Em voz baixa• Agora que parece que mais que certo que o nosso camarada de
armas Yasser Arafat foi morto por envenenamento, que tal uma
investigação aos restos do último boss da nossa secreta para
afastar as suspeitas na transição da Casa Branca?
Por Argunaldo Nhampossa
para um encontro em Maputo, na pró-
xima sexta-feira, mas o maior partido
da oposição recusa por considerar que
não estão reunidas as condições en-
quanto o seu líder estiver a ser perse-
guido pelo Exército.
O Presidente Guebuza tem alternado
entre um discurso dialogante e as ame-
aças de acções militares para repor a so-
berania. Guebuza e Dhlakama, que por
duas vezes disputaram eleições (2004 e
2009), encontraram-se pela última vez
há mais de um ano em Nampula, antes
do presidente da Renamo se instalar
mais delicado deixarmos as coisas como
estão. Se nada fi zermos, a situação vai
deteriorar-se”, vaticinou Sengulane que
várias vezes desdobrou-se entre Mapu-
to e Satunjira, num esforço para con-
cretizar o encontro entre o Presidente
da República, Armando Guebuza e o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Dom João Carlos
Dom Dinis Sengulane
Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS
EVENTOS
Maputo, 8 de Novembro de 2013 • ANO XX • No 1035
todas as sextas-feiras às 20h:30min com Fernando Lima e Leonardo Chaúque
A Água da Namaacha foi
eleita, esta terça-feira, em
Maputo, pelo segundo
ano consecutivo, a marca
moçambicana de excelência pela
BBrands, uma agência de comuni-
cação responsável pela premiação
das Superbrands Moçambique.
A distinção da Água da Namaa-
cha deveu-se, segundo a directora
da BBrands, Patrícia Aquarelli, ao
grande potencial desta marca que
se destaca no mercado nacional em
termos de dimensão estética, social,
funcional e emocional.
Aquarelli, que falava por ocasião de
lançamento das Superbrands 2014,
afi rmou que, hoje em dia, não basta
uma marca ter produtos ou serviços
de qualidade, preço competitivo,
boa distribuição, as grandes marcas,
as marcas de excelência, garantem o
seu valor e posicionam-se com base
num forte e constante relaciona-
mento com o público.
O director de marketing da Água
da Namaacha, Miguel Padrão,
manifestou-se honrado com o pré-
mio tendo referido que Água da
Água da Namaacha premiadaNamaacha para além das apostas
constantes e fi rmes nos quadrantes
estético, social e emocional, através
de permanentes evoluções no pa-
ckaging, na construção de valores
sólidos e diferenciadores, e no for-
talecimento da consciência social,
através da presença constante em
momentos de relevância nacional e
acções de responsabilidade social, é
uma marca intimista, que acompa-
nha o público em toda a sua vida,
em todos os momentos e em todos
os espaços e passos percorridos.
De acordo com Padrão, o facto da
Água da Namaacha ter esta carac-
terística proporciona uma relação
de grande empatia com os consu-
midores.
“A Água da Namaacha é uma Su-
perbrand, uma Marca de Excelên-
cia com toda a naturalidade, dado
que a Água da Namaacha é Mo-
çambique, são as moçambicanas e
moçambicanos; o seu historial e o
seu desenvolvimento refl ectem o
próprio historial e o desenvolvi-
mento de Moçambique”, indicou
Miguel Padrão, referindo que a in-
terligação entre a Marca Água da
Namaacha e Moçambique é tão
forte que qualquer premiação com
a qual a Água da Namaacha seja
honrada é de imediato extensível a
Moçambique, às moçambicanas e
aos moçambicanos”.
Referir que a Água da Namaacha
foi recentemente considerada a
melhor marca do ano pela AJCA
(Associação Juvenil Contra a Po-
breza Absoluta). Trata-se de uma
distinção que foi feita no âmbito da
Gala Nacional de Personalidades
2013, em homenagem ao Presi-
dente da Autoridade Tributária de
Moçambique, Rosário Fernandes.
Pesou para esta distinção o cariz de
responsabilidade social e inovação
em produtos, onde se destacam os
rótulos da obra do mestre Malan-
gatana nas garrafas de 0,5L e 1,5L
de Água da Namaacha e a linha
Namaacha Júnior, que pretende
incentivar os mais jovens a consu-
mirem água mineral com grandes
benefícios para a saúde e para o de-
senvolvimento sustentado do país,
através da boa formação dos seus
recursos humanos e elevação do
nome, valores e orgulho nacional.
Daniel Paulo
A arte e cultura angolanas
continua a fazer sucesso no
mundo, especialmente em
Moçambique. A importa-
ção da moda, dança e música ango-
lanas foi sempre um investimento
de boa parte dos moçambicanos,
principalmente a camada mais jo-
vem, que se espelha nos seus ídolos
angolanos. Nota-se que boa parte
da música tocada nas rádios, dis-
cotecas, lounges e até as escutadas
pelas ruas é de origem angolana, e
o mesmo se apercebe nas músicas
e danças desenvolvidas por artistas/
músicos nos seus vídeo-clipes. Ra-
zão para se afi rmar que Moçambi-
que é um potencial mercado para a
música e cultura angolanas. É por
estes motivos que os músicos ango-
lanos têm sido convidados a parti-
cipar de vários concertos em Mo-
çambique, que na sua maioria são
um sucesso surpreendente, mesmo
em relação a de outros músicos in-
ternacionais e nacionais. Este inves-
timento da classe artística angolana
em Moçambique não data de hoje,
mas tem se observado nos últimos
tempos um maior crescimento na
Música angolana assalta MoçambiquePor Edson Bernardo
frequência e quantidade de músicos
angolanos que se deslocam ao país.
A exemplo do seu sucesso em Mo-
çambique, o músico angolano Yuri
da Cunha, que desde a sua aparição
no país, marcou a sua presença com
a vivacidade e orgulho angolano,
cantando e dançando músicas da
sua terra bem conhecidas entre os
moçambicanos, decidiu gravar um
DVD em Moçambique, em come-
moração dos seus 20 anos de car-
reira. Com uma produção LS Re-
publicanos, uma empresa angolana
e com o patrocínio do polémico ge-
neral angolano Bento Kangama, “o
empresário da Juventude”, Yuri da
cunha e a sua produção invadiram
a avenida 10 de Novembro com um
grandioso palco de luxo, usando-se
de tecnologia de ponta, entre luzes
e aparelhos de som, oferecendo ao
seu público fã, na sua maioria jo-
vens, uma noite de extremo entre-
tenimento.
A noite de chuva, trovões e ao re-
lento não conseguiu fazer com que
o público arredasse o pé do local
enquanto o músico de cartaz não
aparecesse. O show marcado para
as 21 horas da sexta-feira 1 de Ou-
tubro, mas começou perto da uma
hora do dia 2 de Outubro, altura
em que Yuri da cunha desfi lava pelo
palco, acompanho pelos seus convi-
dados, entre eles os moçambicanos
Ziqo, Mimae e Lizha James, o bra-
sileiro Jorge Aragão, e os angolanos
Big Nelo, C4 Pedro e Ary. Yuri da
Cunha, que considera Moçambi-
que a sua segunda casa, disse em
palco que a gravação deste DVD
em Moçambique era um presente
aos seus fãs e que “Nem o governo
moçambicano, nem nenhuma ins-
tituição moçambicana patrocinou o
evento. Foi tudo investimento an-
golano para Moçambique”.
Na ocasião, Yuri da Cunha e a sua
equipa anunciaram em palco na
presença do músico moçambica-
no, João Cabaço, que estariam a
oferecer-lhe um veículo automóvel,
pelo apreço que tem pela sua pessoa
como símbolo da música moçam-
bicana. Anunciaram igualmente
para breve a vinda dos músicos C4
Pedro e Big Nelo, para brindarem
os fãs com o seu mais recente tra-
balho.
Urge
l Mat
ula
Ilec
Vila
ncul
o
Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS
2
A Internacional Finance
Corporation (IFC) acaba
de injectar 1,7 mil mi-
lhões de euros para apoiar
a Portucel Moçambique no desen-
volvimento dos seus projectos de
plantação de eucaliptos, produção
de papel e de energia na zona cen-
tro do país.
O acordo de fi nanciamento foi
assinado recentemente na capital
do país, pela representante do IFC
em Moçambique, Jumoke Jagun-
-Dokunmu, e o PCE da Portucel,
José Honório, num acto onde to-
maram parte renomados empresá-
rios nacionais.
O apoio da IFC visa fortalecer a
sustentabilidade das operações fl o-
restais da Portucel nas províncias
de Manica e Zambézia.
A portucel está instalada em Mo-
çambique desde 2007 a investir
num projecto de plantação inte-
grada de eucaliptos e celulose para
produção de papel e energia tendo
como principal foco gerar empre-
go para as comunidades locais.
Segundo José Honório, a parceria
com a IFC constitui uma mais-va-
lia pois contribuirá para a prosse-
cução dos projectos fl orestais cujo
potencial de produção será cerca
IFC fortalece investi-mento da Portucel
de 1,5 milhões de toneladas de ce-
lulose, que serão exportados para
continentes como Ásia, Europa e
EUA.
O projecto vai também movi-
mentar cerca de 5,5 milhões de
toneladas de madeiras por ano,
1,5 milhão de toneladas de pasta
de celulose e 300 mil toneladas de
produtos químicos.
Por sua vez, a representante da
IFC, Jumoke Jagun-Dokunmu
referiu que para além do pacote
fi nanceiro disponibilizado à Por-
tucel, a sua instituição vai cola-
borar na avaliação dos impactos
ambientais, sociais e apoio ao en-
volvimento e desenvolvimento das
comunidades das duas províncias
abrangidas pelo projecto. O IFC
demonstrou interesse em adquirir
participações da Portucel por for-
ma a potencializar mais ainda o
investimento.
Actualmente, esta empresa tem
uma área estimada em 356 hec-
tares de terras, agregando as pro-
víncias em causa onde deverá im-
plantar os projectos fl orestais que
deverão gerar cerca de 7,500 pos-
tos de trabalho com destaque para
as comunidades locais.(A.N)
Com vista a reforçar as
relações comerciais, o
Banco Comercial e de
Investimentos (BCI)
e a Empresa de Segurança
Privada G4S assinaram no dia
1 do corrente mês, em Maputo,
um Protocolo Financeiro e de
Cooperação.
Esta parceria visa por parte da
instituição bancária vantagens
comerciais à G4S e aos seus
funcionários, entre elas a
atribuição de facilidades de
Crédito de Curto Prazo, um
produto designado “Limite
BCI e G4S assinam Protocolo Financeiro e de Cooperação
Por Nélia Jamaldine
de Crédito Ordenado” às Contas
à Ordem; o Crédito à Habitação,
Crédito ao Consumo; o Leasing
Mobiliário e Imobiliário; o acesso
a diversos meios de pagamento,
através da diversa gama de
Cartões de Débito e de Crédito
que permitem a realização de
transacções em qualquer parte
do mundo, através da rede VISA,
assim como também a oferta de
um leque diversifi cado de Serviços
Electrónicos, através de uma
vasta gama de operações rápidas e
seguras.
Segundo o Administrador
do BCI, José Furtado, o
protocolo em causa constitui
apenas a formalização de um
relacionamento que já existe, na
medida em que as instituições
signatárias já desenvolvem um
relacionamento frutuoso há
bastante tempo.
Furtado acrescentou ainda que
a sua instituição tem a plena
disponibilidade em aprofundar
esta parceria, de forma a
responder às necessidades
dos funcionários daquela
instituição, nomeadamente no
que concerne à concessão de
vantagens especiais no acesso
à diversidade dos produtos e
serviços de que o Banco dispõe.
O BCI têm-se desde
sempre assumido como
um dos protagonistas
do desenvolvimento e
consolidação de um mercado
bancário nacional apto a
responder às necessidades de
empresas e particulares, tendo
simultaneamente implantado
diversos projectos de apoio
social à comunidade.
Artista e coreógrafo Dani representará Moçambique em Zimbabwe
Moçambique far-se-
-á presente no Festival
de arte contemporânea
“FIRST AFIRIPER-
FOMA BIENNIAL, que terá lu-
gar entre os dias 8 e 22 de Outubro,
em Harare, capital do Zimbabwe.
Elísio António Chindja, artistica-
mente conhecido por Dani, foi o
artista moçambicano seleccionado
a representar Moçambique com
obra “Outra Vida”. A apresentação
do número de dança contemporâ-
nea de Dani será feita com acom-
panhamento de coz, caracterizado
por sons penetrantes e “desespera-
dos”, de um além imaginário, a car-
go de Th ibile “Makhovane”, Maga-
gula, cantor de origem swazi, que já
efectuou várias apresentações em
salas de espectáculo em Maputo.
De acordo com Dani, esta obra de
sua autoria e coreografada por si
pretende ser um momento ímpar
de “interacção espiritual” entre o
movimento do corpo, refl ectido
na dança e a voz, representando a
alma, convidando o público a em-
barcar numa viagem mística pelos
mistérios da espiritualidade. Mais
conhecido pelas suas actuações de
Dança Contemporânea, Dani exe-
cuta também outros estilos, nome-
adamente Tango Argentino, Salsa,
Jazz e Ballroom. Para além de core-
ografar e efectuar apresentações de
dança, o artista tem desenvolvido
acções de formação relacionadas
com o aperfeiçoamento de técnicas
de praticantes de dança e a prepa-
ração de artistas para a participação
em workshops culturais integrando
Dança Contemporânea.
O Festival está sendo promovido
por uma organização sem fi ns lu-
crativos e um colectivo de artistas
africanos, liderado pelo conceitua-
do artista multimédia nigeriano Je-
lili Atiku1, com o objectivo de ins-
pirar e estabelecer uma plataforma
para a expansão da arte contempo-
rânea viva no continente africano.
O mesmo é o primeiro do tipo a
ser organizado em África, em es-
tabelecer fronteiras, por isso tem
como países confi rmados para além
do Zimbabwe, país anfi trião, e de
Moçambique, Nigéria, Camarões,
Gâmbia, Mali, Benim, Gabão,
Ghana, Etiópia, Egipto e Repú-
blica Democrática do Congo, e de
outros cantos do mundo estarão re-
presentados o Brasil, Chile, Portu-
gal, Holanda, Alemanha, Polónia,
Finlândia, Estados Unidos, Canadá,
República Dominicana, Haiti, Índia
e Tailândia.
Edson Bernardo Algumas das prestigia-
das marcas nacionais
estarão presentes na
segunda edição do
Superbrands Moçambique
2013-2014, a decorrer desde
esta terça-feira até Abril de
2014 em que se distinguirá a
maior marca.
Trata-se de uma iniciativa
que visa mostrar o poder das
marcas não apenas como um
serviço e produto meramente
funcional para vender no seu
mercado, mas sim as diferen-
ciar na criatividade e inovação
em cada relação com o seu pú-
blico.
Nesta 2ª edição cerca de 1000
marcas foram seleccionadas e
depois enviadas para o Con-
selho de Superbrands, onde
foram distinguidas as marcas
Superbrans de acordo com as
dimensões do goodwill, lon-
gevidade, domínio de mercado
e fi delização nas categorias e
marcas mais conhecidas, em
que confi a, com que se identi-
fi ca, que satisfazem as necessi-
dades e por fi m marcas únicas.
Superbrands reconhece grandes marcas nacionais
Segundo a Parttner Estratégi-
ca Patrícia Aquarelli, não basta
ter um produto ou serviço de
qualidade, preço competitivo e
com distribuição, uma marca
forte é aquela que vai além das
suas necessidades básicas, para
se relacionar com o seu públi-
co e para que isso aconteça é
preciso que a mesma conheça
antes mais os seus valores.
Aquarelli acrescentou ainda
que quando se trata de uma
marca a primeira impressão
é fundamental, bem como a
forma como algo nos é apre-
sentado. “O elemento estético
passou a ter um papel funda-
mental na relação das empre-
sas com os seus públicos, pois
os elementos da marca trans-
mitidos através da imagem
concretizam a sua proposta
de valor junto ao seu público-
-alvo”, enfatizou Aquarelli.
Referir que a Superbrands é
uma organização internacio-
nal independente virada para
a promoção de marcas de ex-
celência e está presente em 89
países. Nelia Jamaldine
Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS 11PUBLICIDADE
Savana 08-11-2013EVENTOS EVENTOS12
O Fundo para o Revol-
vimento de Compe-
tências (FUNDAC)
acaba de disponi-
bilizar um valor orçado em
um milhão de dólares norte
-americanos para o fi nancia-
mento de 23 projectos de for-
mação profi ssional, destinado
a responder às necessidades
de formação da população
fora da escola, que se encontra
em áreas rurais.
São na verdade 3.800 pro-
vedores entre singulares e
colectivos, que em forma de
associações viram os seus pro-
jectos a serem seleccionados,
de mais de 45 apresentados.
Trata-se de projectos de for-
mação profi ssional para a
criação de auto emprego nas
áreas de construção civil, car-
pintaria, administração, hote-
laria, agro-processamento, pe-
cuária, mecânica, informática,
e outras. Os valores variam
dos 18 a 75 mil meticais, se-
gundo a sua natureza e com-
plexidade.
De entre os resultados gera-
dos desde o primeiro ciclo e
esta fase, o fundo reivindica o
fi nanciamento de 192 projec-
tos, abrangendo cerca de 45
mil benefi ciários.
�Com a implementação deste
ciclo, o número de benefi ciá-
rios vai subir para 48.800. es-
tes números são encorajado-
res, pois signifi cam que mais
moçambicanos adquiriram
através do FUNDEC, meios
e conhecimentos necessários
para se proverem a si pró-
prios e aos seus familiares
bem como iniciarem os seus
próprios negócios�, disse Ed-
mundo Jossefa, director do
Programa Integrado da Re-
forma da Educação Profi ssio-
nal (PIREP).
Para melhor gestão dos valo-
res, os provedores benefi cia-
ram de uma capacitação sobre
procedimentos administra-
tivos e fi nanceiros visando
dotá-los para uma adequada
implementação dos projectos.
Eduardo Conzo
7º ciclo do FUNDAC beneficia mais de três mil promovedores
De 2 a 4 de Novembro Mo-
çambique foi palco do pré-
-Kinani, um pequeno rito
de iniciação para o Quinto
Festival de dança contemporânea
Kinani, que terá lugar na primeira
semana de Dezembro. O pré-Kina-
ni teve o seu pontapé de partida no
Centro Cultural Universitário no
último sábado, com a apresentação
da peça Banlieue (Subúrbio).
Do coreógrafo e dançarino sene-
galês Alioune Diagne, que igual-
mente cresceu nos subúrbios do
Senegal, a mesma peça foi criada
em 2012, a primeira peça de grupo,
que relata os subúrbios do Senegal.
Os três dançarinos (Alioune Diag-
ne, Seydou Camara e Madiba Ba-
dio) que se apresentaram em palco
evocaram o desespero, a celebração
e a revolta da sobrevivência da vida
nos subúrbios.
Oscila entre a gravidade e frivoli-
dade e demonstra uma mudança da
sociedade. Foi um show vibrante,
emotivo e cheio de imaginação.
A quinta edição do Festival Kinani
irá acontecer de 2 a 6 de Dezem-
bro no Cine-África, Centro Cultu-
Maputo acolheu pré-Kinani
ral Franco-Moçambicano, Centro
Cultural Universitário, Teatro Ave-
nida com performances de artistas
moçambicanos, da Bélgica, Alema-
nha, Portugal, Senegal, África do
Sul e Suécia. Edson Bernardo
O bairro da Maxaquene, ar-
redores da cidade de Ma-
puto, conta desde pretérito
sábado com uma nova bi-
blioteca telecentro, cujas obras es-
tão orçadas em cerca de 1.5 milhão
de meticais. A biblioteca, que foi
inaugurada pelo edil de Maputo,
David Simango, conta presente-
mente com um total de 600 livros
de diversos conteúdos e 12 compu-
tadores.
David Simango disse, momentos
após a inauguração desta infra-es-
trutura, que a mesma vai minimizar
as deslocações dos jovens estudan-
Maxaquene ganha uma biblioteca telecentro
tes daquele bairro que, vezes sem
conta, eram obrigados a percorrer
longas distâncias para consultar di-
versos livros.
Como disse o edil de Maputo,
além de consultas às obras e uso
da Internet, os residentes poderão
benefi ciar de formações na área de
informática, tendo pedido aos resi-
dentes daquele bairro para que fa-
çam um bom uso da infra-estrutura
e do equipamento informático.
“Acabamos de inaugurar mais uma
obra municipal ao serviço das co-
munidades. Para mim isto constitui
uma grande alegria porque vai con-
tribuir para que os jovens residen-
tes neste bairro não percorram
mais as longas distâncias para
uma consulta de livros ”, disse.
O edil fez notar que a constru-
ção daquele centro enquadra-se
no âmbito da descentralização
de competências do Conselho
Municipal de Maputo.
Refira-se que a instalação das
bibliotecas telecentros nalguns
bairros do município de Maputo
iniciou em 2009, sendo que de lá
a esta parte mais de 600 pessoas
já beneficiaram do curso de in-
formática. Z.Massala
Dezembro do ano em curso é
o mês escolhido pela can-
tora moçambicana Dama
do Bling para lançar ofi -
cialmente o seu mais recente álbum
intitulado “Deusa”, segundo infor-
mações adiantadas durante a divul-
gação do seu single, em Maputo,
com alguns dos temas pertencentes
ao mesmo.
Trata-se do seu quinto disco com
16 temas de originais lançados com
um bónus track que conta com
algumas participações nacionais
e internacionais, em que a autora
de “Mi Love it” faz mistura de hip
hop e ragga passando pelos ritmos
tropicais, principalmente temas que
versam sobre o universo feminino.
“O álbum levou cerca de dois anos
a ser feito e tenho músicas gravadas
em 2011 que só agora estão a sair.
Foi um processo lento mas muito
cuidadoso para dar melhor quali-
dade e profi ssionalismo, por isso
acredito que o produto fi nal saiu
conforme o esperado”, disse Dama
do Bling.
Questionada sobre a difi culdade
que os músicos enfrentam, a auto-
ra de “My eish” explicou que pela
ausência de editora e de casas de
discos, os músicos não conseguem
levar os seus trabalhos ao seu pú-
blico de forma abrangente pois os
Dama do Bling lança seu quinto discoPor Nélia Jamaldine
mesmos por vezes fazem pessoal-
mente a distribuição dos discos.
Bling acrescentou ainda que outra
difi culdade é referente à pirataria,
uma problemática que cresce a vista
desarmada e com um fi nal a lon-
go prazo. Os músicos não ganham
nada com a venda dos discos por causa da pirataria pois a cultura dos discos originais já se familiarizou com as pessoas que por falta de uma
lei rígida em torno também pouco podem fazer para estancar este mal.Por outro lado, a cantora afi rmou que a meio de tanta difi culdade ainda há companheirismo e soli-dariedade no meio artístico, pois estes são companheiros e muitas vezes abraçam as mesmas causas, colaboram entre si e em conjunto participam em eventos e iniciativas de carácter social.
A Agência publicitária
GOLO foi recen-
temente galardoada
pelo Cannes. Foi um
dos maiores e mais importan-
te Festival de Publicidade do
mundo. Esta premiação foi
atribuída à agência Moçam-
bique na categoria “Outdo-
or”, com o projecto realizado
pela agência a empresa de
serviços de limpeza e lavan-
daria Clean Africa, em que
GOLO soma prémios no Cannesa iniciativa consistiu em pendurar
pelas ruas e postes da cidade, roupa
amarotada, manchada e estragada.
Esta peça, para além de ter des-
pertado a curiosidade das muitas
pessoas que circulam pelas ruas
de Maputo, abordou com humor
o quotidiano de quem entrega a
limpeza nas mãos de alguém pouco
profi ssional, incitando ao recurso
dos serviços da Clean África (Dei-
xe a limpeza para os profi ssionais).
Com este projecto, a agência
Golo não só conquistou o pré-
mio na 60ª edição do Cannes
Lions International Festival of
Creativity, como também ha-
bilitou-se automaticamente ao
Creative Effectiveness Lions
de 2014.
Para além deste galardão,
há ainda a possibilidade da
GOLO alcançar mais um tro-
féu, pois a mesma peça habili-
tou-se automaticamente.
Edson Bernardo
Ilec
Vila
ncul
o