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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018 1 Luz no Fim do Túnel: Premiações Brasileiras e Reconhecimento Profissional das Mulheres no Fotojornalismo 1 Soraya Venegas FERREIRA 2 Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, RJ Resumo: Diferenças salariais, de oportunidades de emprego e de reconhecimento profissional entre homens e mulheres não são novidade no mercado de trabalho. Não se restringem ao Brasil, ao Jornalismo e, muito menos, ao Fotojornalismo. Hoje, as mulheres brasileiras já superaram os homens em anos de escolaridade e aos poucos, ocupam cargos e exercem atividades antes consideradas apenas masculinas. Nos departamentos de reportagem, já são maioria, mas no Fotojornalismo, a situação é inversa. Como consequência, são os homens que se destacam numericamente nas premiações. Por exemplo, nos 55 anos de existência da categoria de Fotografia do Prêmio Esso de Jornalismo, só duas mulheres foram vencedoras. O Prêmio Petrobras de Jornalismo, no entanto, nos sinaliza que há “luz no fim do túnel”. Indo para sua quinta edição, essa disputa entre fotojornalistas homens e mulheres permanece nacionalmente empatada. Palavras-chave: Discriminação de Gênero, Mercado de Trabalho, Identidade Profissional, Reconhecimento, Prêmios de Fotojornalismo. I. Avanços e retrocessos: Desequilíbrio entre gêneros no mercado de trabalho A relação entre homens e mulheres no mercado de trabalho é marcada por desigualdades históricas e processos de avanços lentos, muita estagnação e até retrocessos. De acordo com o relatório Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo: Tendências para Mulheres 2018 (OIT, 2018), publicado em março de 2018, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, há pouco para se comemorar. As mulheres são menos propensas a participar do mercado de trabalho do que os homens e têm mais chances de estarem desempregadas na maior parte dos países. De acordo com o relatório, em 2018, a taxa global de participação das mulheres na força de trabalho ficou em 48,5%, contra 75% para os homens e a taxa de desemprego global feminino foi de 6% contra 5,2% do masculino. Isso quer dizer que, no total, para cada dez homens empregados, há apenas seis mulheres na mesma condição. As disparidades podem ser maiores ou menores dependendo da riqueza e da cultura de cada país. O relatório mostra que as diferenças nas taxas de desemprego entre mulheres e homens nos países desenvolvidos são relativamente pequenas e que no Leste Europeu e América do Norte, as mulheres chegam até a registrar taxas de desemprego menores do que os homens. Já nos Estados árabes e no Norte da África, as taxas de desemprego feminino são duas vezes maiores do que o masculino. 1 Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo, XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 .Doutora em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, com Pós-Doutorado em Teorias do Jornalismo pelo PPGCom-UFF. Avaliadora de Cursos do MEC-INEP. Coordenadora dos Cursos de Jornalismo e de Fotografia na Universidade Estácio de Sá Campus Niterói. Bolsista pesquisadora do Programa Pesquisa Produtividade da Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected]

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018

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Luz no Fim do Túnel: Premiações Brasileiras e Reconhecimento Profissional das Mulheres no

Fotojornalismo1

Soraya Venegas FERREIRA

2

Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ

Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, RJ

Resumo:

Diferenças salariais, de oportunidades de emprego e de reconhecimento profissional entre homens e

mulheres não são novidade no mercado de trabalho. Não se restringem ao Brasil, ao Jornalismo e, muito

menos, ao Fotojornalismo. Hoje, as mulheres brasileiras já superaram os homens em anos de escolaridade e

aos poucos, ocupam cargos e exercem atividades antes consideradas apenas masculinas. Nos departamentos

de reportagem, já são maioria, mas no Fotojornalismo, a situação é inversa. Como consequência, são os

homens que se destacam numericamente nas premiações. Por exemplo, nos 55 anos de existência da

categoria de Fotografia do Prêmio Esso de Jornalismo, só duas mulheres foram vencedoras. O Prêmio

Petrobras de Jornalismo, no entanto, nos sinaliza que há “luz no fim do túnel”. Indo para sua quinta edição,

essa disputa entre fotojornalistas homens e mulheres permanece nacionalmente empatada.

Palavras-chave: Discriminação de Gênero, Mercado de Trabalho, Identidade Profissional, Reconhecimento,

Prêmios de Fotojornalismo.

I. Avanços e retrocessos: Desequilíbrio entre gêneros no mercado de trabalho

A relação entre homens e mulheres no mercado de trabalho é marcada por desigualdades históricas e

processos de avanços lentos, muita estagnação e até retrocessos. De acordo com o relatório Perspectivas

Sociais e de Emprego no Mundo: Tendências para Mulheres 2018 (OIT, 2018), publicado em março de

2018, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, há pouco para se comemorar. As mulheres são menos

propensas a participar do mercado de trabalho do que os homens e têm mais chances de estarem

desempregadas na maior parte dos países. De acordo com o relatório, em 2018, a taxa global de participação

das mulheres na força de trabalho ficou em 48,5%, contra 75% para os homens e a taxa de desemprego

global feminino foi de 6% contra 5,2% do masculino. Isso quer dizer que, no total, para cada dez homens

empregados, há apenas seis mulheres na mesma condição.

As disparidades podem ser maiores ou menores dependendo da riqueza e da cultura de cada país. O

relatório mostra que as diferenças nas taxas de desemprego entre mulheres e homens nos países

desenvolvidos são relativamente pequenas e que no Leste Europeu e América do Norte, as mulheres chegam

até a registrar taxas de desemprego menores do que os homens. Já nos Estados árabes e no Norte da África,

as taxas de desemprego feminino são duas vezes maiores do que o masculino.

1 Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo, XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 41º

Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2.Doutora em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, com Pós-Doutorado em Teorias do Jornalismo pelo PPGCom-UFF. Avaliadora de

Cursos do MEC-INEP. Coordenadora dos Cursos de Jornalismo e de Fotografia na Universidade Estácio de Sá – Campus Niterói. Bolsista

pesquisadora do Programa Pesquisa Produtividade da Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected]

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A participação no mercado de trabalho não se limita ao fato de estar ou não empregado. O relatório

da OIT de 2018 confirma os dados de pesquisas anteriores sobre desigualdades significativas de gênero em

relação a salários e proteção social, ou seja, em relação à qualidade do emprego feminino. Há mais mulheres

no trabalho informal, especialmente nos países em desenvolvimento. E, no que concerne às mulheres que

administram empresas, o estudo mostra que, em termos globais, há quatro vezes mais homens como

empregadores do que mulheres. Essas desigualdades também se refletem em cargos de gestão, para os quais

as mulheres continuam a enfrentar barreiras de acesso.

No Brasil, tivemos alguns avanços, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Em pesquisa

apresentada no Intercom Sudeste, Ferreira e Claassen (2018) mostraram que partir da década de 1970, houve

um significativo aumento da participação feminina no mercado de trabalho nacional e pontuaram que entre

1970 e 2011, aumentou em 31,5% o número de mulheres no mercado brasileiro enquanto a participação dos

homens reduziu aproximadamente 1,1% (apud CHAVES, 2014). Segundo os dados do último trimestre de

2017 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, as mulheres ganham,

em média, 24,6% menos que os homens. Essa desigualdade está disseminada por todo país, sendo a maior

registrada em São Paulo, onde as mulheres recebem apenas 65,8% do valor dos salários dos homens. Já uma

pesquisa realizada em 2018, pela Catho entre quase 8000 profissionais, apontou que a disparidade salarial

pode atingir os 38% para o mesmo cargo. O pior é que as diferenças salariais entre os gêneros agravaram-se,

por exemplo, em grupos com maior nível de escolaridade. Os dados da Catho indicam que mulheres que têm

MBA, ganham pouco mais da metade do salário de homens com o mesmo nível de instrução.

Em relação à igualdade de gêneros, segundo o Global Gender Gap Report 2017, lançado pelo Fórum

Econômico Mundial, o Brasil está em momento de retrocesso: caiu 11 posições em relação ao ano anterior e

agora ocupa a 90.ª posição, dentre 144 nações avaliadas. Em 2016, estimava-se que seriam necessários 83

anos para alcançar a paridade geral entre gêneros. Agora, são 100 anos, na média. Se o enfoque se limitar ao

mercado de trabalho, a estimativa subiu para 217 anos.

II. Uma história de desigualdades no Jornalismo e no Fotojornalismo

Os dados globais quanto à participação feminina no mercado de trabalho nem sempre se refletem de

modo linear no Jornalismo em geral e no Fotojornalismo em particular. Segundo Eliza Casadei (2011), o

mercado de trabalho jornalístico começou como exclusivamente masculino e a inserção feminina se deu via

imprensa alternativa. A situação foi se alterando lentamente e, em 1986, as mulheres já ocupavam 36% dos

quadros profissionais do país. Vinte anos mais tarde, elas já eram maioria. Segundo os dados do Ministério

do Trabalho, em 2006, 52% das vagas de jornalistas eram ocupadas por mulheres, mostrando uma tendência

de uma maioria feminina no mercado. A tendência se mantém em pesquisa recente coordenada por Jacques

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Mick, que mostrou que 64% dos jornalistas eram mulheres. O perfil do jornalista brasileiro foi apresentado

como “majoritariamente mulheres brancas, solteiras, com até 30 anos” (MICK, 2013).

As pesquisas sobre o perfil dos jornalistas brasileiros são relativamente recentes e o quadro se agrava

quando a busca é por recortes de gênero ou de função desempenhada. A Associação Brasileira de Jornalismo

Investigativo (ABRAJI) buscou contribuir para os estudos de gênero, ao publicar, em abril de 2018, a

pesquisa Mulheres no Jornalismo Brasileiro, na qual ouviu 477 profissionais, após uma fase inicial de

levantamento quantitativo. Segundo a ABRAJI (2018), 40,8% das entrevistadas apontavam equilíbrio

quantitativo entre homens e mulheres na empresa em que trabalhavam, o que, para 53,4% das entrevistadas

não se refletia igualdade de oportunidades. Quanto aos cargos de poder, 65% eram ocupados por homens.

Isso pode justificar o fato de 83,6% das jornalistas afirmarem terem sofrido alguma situação de violência

psicológica por serem mulheres e de 73% já terem convivido com comentários ou piadas machistas no

ambiente de trabalho. Para mais de 30% das entrevistadas, sua condição feminina dificulta tanto a inserção

quanto a obtenção de maiores salários no mercado de trabalho.

No Fotojornalismo, a carência de pesquisas parece ser ainda maior. Nathália Silva (2017) aponta não

apenas a falta de pesquisas no Brasil, como indica que as fotojornalistas têm diferentes percepções quanto

aos seus colegas homens e, com base em nove entrevistas, mostrou que há dificuldade para que essas

fotojornalistas optem por não seguir o caminho de expectativas estereotipadas quanto ao gênero feminino.

Para autora, a ocupação do jornalismo pelas mulheres ocorreu, principalmente, a partir da década de 1970,

com um crescimento das questões feministas e sua inserção feminina no mercado de trabalho, o que se

intensificou nos anos 80 e 90, devido a uma maior qualificação profissional das mulheres, na medida em

que, no Brasil, em 1980, havia apenas 51 cursos de Jornalismo, número que cresceu para 317 em 2010. Mas,

essa situação não se refletiu no Fotojornalismo, que continua a se configurar como um campo

eminentemente masculino. (SILVA, 2017).

A carência de estudos não é exclusividade brasileira, tanto que, em 2015, por iniciativa da Reuters

em parceria com a World Press Photo, foi realizada uma pesquisa com 1556 fotojornalistas de mais de 100

países. Os dados da pesquisa, feita por Hadland, Campbell e Lambert, mostram que o mercado da fotografia

de imprensa é masculino. Do total de respondentes 85% de homens, 40% se identificavam como

fotojornalistas, 30% como fotógrafos documentais e 14% como fotógrafos de imprensa. Sendo que entre as

mulheres, elas tendiam a se identificar mais como fotodocumentaristas, contadoras de histórias visuais ou

jornalistas multimídia. No geral, os respondentes tiveram acesso à educação formal, sendo que mais de mais

de 67% tem nível universitário, dado que é ainda mais significativo com relação às mulheres no

fotojornalismo: 82% de mulheres, contra 69% de homens.

Para esse estudo, participaram 236 mulheres fotojornalistas, das quais 72% eram autônomas,

enquanto apenas 46,6% dos homens não eram registrados. Além disso, apenas 17% das fotojornalistas

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tinham contratos de longo prazo, enquanto cerca de 36% dos homens declaram o mesmo. Quanto à

remuneração, elas também ficaram em desvantagem. Com relação aos baixos salários, 42% das mulheres

ganharam menos de US$ 9.999 por ano em comparação a 34% dos homens. A relação menos desequilibrada

ocorre na faixa salarial mediana: 75% das mulheres contra 70% ganham menos de US$ 29.999 anuais. Já na

faixa dos US$80.000 ou mais de rendimento anual, os homens ocupam 5% do mercado, enquanto as

mulheres apenas 1,5%. De acordo com a mesma pesquisa, isso pode ser parcialmente justificado pelo fato de

as mulheres tenderem a trabalhar em tempo parcial, atuar em apenas um emprego e de a maioria ser

freelancer, o que diminui sua atuação nas pautas. Mais de 40% dos entrevistados indicam que realizam mais

de vinte tarefas por mês e 22% afirmam fazer 30 ou mais. Na categoria de volume mais alto, há mais

homens (23%) do que mulheres (16%). Os contratados produzem mais que os freelancers: 48% dos

contratados realizam mais de 30 trabalhos mensais enquanto apenas 21% dos trabalhadores independentes

atingem a mesma marca. Se há mais mulheres trabalhando de modo independente, esses números reforçam

sua menor possibilidade de submissão também nas premiações destinadas ao Fotojornalismo.

O fotojornalismo esportivo continua a ser um campo pouco afeito às mulheres. Dos respondentes da

pesquisa internacional, 16% das mulheres se dedicavam ao fotojornalismo esportivo contra 29% dos

homens. Talvez pelo fato de atuarem de modo mais independente as mulheres se destacaram no quesito

controle da edição, produção e publicação de imagens após a submissão: 51% das mulheres fotojornalistas

sentiram que tinham controle desses aspectos em comparação com os 39% dos homens. As desigualdades no

mercado de trabalho têm fundamentos históricos, embora as mulheres tenham estado presentes desde cedo

na fotografia. Julia Margaret Cameron (1815-1879), por exemplo, é uma das referências clássicas da

fotografia mundial. A artista começou a fotografar unicamente por prazer com quase 50 anos. Seu trabalho

se divide entre retratos fechados e encenações temáticas em forma de alegorias, cenas históricas ou bíblicas,

características do movimento conhecido como Pictorialismo. A atividade fotojornalística, no entanto, em

nada combinava com essa estética ou com o estereótipo feminino de fragilidade.

Como visto, mesmo no século XX e ainda no XXI, a divisão sexual do trabalho no Fotojornalismo

mantem-se marcante. Mulheres como Jessie Tarbox Beals, conhecida como a primeira fotojornalista a

publicar nos Estados Unidos, Margaret Bourke-White, autora da fotografia de capa da primeira edição da

Revista Life ou Dorothea Lange, que fotografou a Grande Depressão Norte-Americana para Farm Security

Administration (FSA) são “pontos fora da curva” (CHAPNICK, 1994). A quase inexistência de ícones

femininos na atividade em comparação com o número de homens pode desestimular ainda mais a inserção

de mulheres na atividade. Para piorar muitas das contribuições femininas para o fotojornalismo foram

diminuídas ao longo da história. Entre os exemplos mais clássicos está o da fotojornalista de guerra Gerda

Taro, cuja fama foi silenciada em prol do companheiro Robert Capa, que se tornou conhecido como um dos

maiores (senão, o maior) fotojornalista de guerra de todos os tempos. Ainda hoje, muitas mulheres se sentem

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na obrigação de trabalhar mais para compensar sua condição de gênero. E, apesar de salários menores,

precisam lutar por visibilidade e provar que podem ter o mesmo valor que os homens.

Em termos de Brasil, a história da inserção feminina na Fotografia ainda precisa ser pesquisada. É

possível perceber que a quantidade homens e mulheres nas empresas jornalísticas é especialmente desigual

nos Departamentos Fotográficos. Contudo, nesse cenário, algumas ações recentes indicam “luz no fim do

túnel”. Esse é o caso, por exemplo, dos movimentos Fotógrafas Brasileiras e o YVY Mulheres da Imagem

que, no entanto, não se restringem ao Fotojornalismo.

O Movimento Fotógrafas Brasileiras nasceu em novembro de 2016, a partir do desejo de Wania

Corredo, uma das mulheres mais premiadas no fotojornalismo brasileiro, de reencontrar suas colegas de

profissão. O que poderia ser apenas “um encontro entre amigas” acabou gerando uma foto, que foi

transformada em marco histórico para o surgimento de ações que buscam unir talentos, firmar posições,

aumentar a visibilidade profissional e resgatar memórias e histórias de mulheres que produzem imagens.

Essa foto reuniu 138 mulheres ligadas à imagem em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O click

oficial coube ao fotojornalista Júlio César Guimarães, escolhido pelas organizadoras do evento. Na ocasião,

outros profissionais vieram prestigiar o encontro e vários outros registros foram feitos. A presença

masculina foi bem-vinda por algumas integrantes da foto oficial e criticada por outras, assim como o fato do

registro ter sido feito por um homem.

As discussões e as parcerias que começaram no encontro migraram para as redes sociais digitais e

incentivaram iniciativas parecidas em todo o país, assim como dissidências e posicionamentos mais ou

menos radicais em relação às definições de gênero e aos objetivos das ações futuras. O Movimento

Fotógrafas Brasileiras declara como missão em seu site unir as fotógrafas brasileiras e promover o resgate

da história delas, em busca de maior visibilidade para as imagens que produziram. Sua visão é “ser

referência nacional e internacional como movimento fotográfico, histórico e cultural formado por mulheres”.

Para isso, o grupo estimula o protagonismo feminino, que dialogue com todos os gêneros desde que apoiem

a causa. O movimento planeja e divulga suas ações em grupos e páginas em redes sociais. No Facebook,

para entrar no grupo fechado, é preciso aceitar as regras claramente documentadas: o grupo destina-se

unicamente a mulheres de imagem (amadoras ou profissionais), não é permitido expor os membros ou vazar

comentários, sendo proibido qualquer discurso de ódio ou intolerância. Além do grupo fechado, que em

julho de 2018 contava com mais de 2600 integrantes, na mesma rede há ainda uma página pública do

movimento, com mais de 5200 seguidores, de ambos os sexos. O movimento possui ainda um perfil no

Instagram, que em meados de 2018, contava com pouco mais de 220 publicações e cerca de 1800

seguidores. Toda administração das redes é feita voluntariamente por menos de 20 fotógrafas.

Em seu site institucional http://fotografasbrasileiras.com.br,/ o Movimento Fotógrafas Brasileiras

capitaneia uma pesquisa sobre as mulheres no fotojornalismo brasileiro, que mesmo em fase de coleta de

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dados, já traz algumas informações: “No jornal O Globo, por exemplo, as mulheres são 14,7%. Nos Jogos

Olímpicos de 2016, as fotojornalistas eram 6%. Na Associação dos Repórteres Fotográficos do Rio de

Janeiro (Arfoc), elas são 10,6%” e apresenta suas ações de convocatórias para exposições e projeções e

participações em debates realizados em festivais, universidades e até conferências internacionais.

Figura 1: Foto das Fotógrafas Brasileiras feita por Júlio Cesar Guimarães

Logo após a realização da foto acima, a fotojornalista Marizilda Cruppe, que por muitos anos atuou em

O Globo e integrou o júri do World Press Photo, a mais importante premiação mundial dedicada

exclusivamente ao Fotojornalismo, propunha o início das reuniões da ABMI (Associação Brasileiras de

Mulheres da Imagem), que depois transformou-se em YVY Mulheres da Imagem. Desde 2011, Marizilda

Cruppe atua de modo independente e como mentora de oficinas de fotojornalismo focadas em temas de

Saúde e Direitos Humanos, em parceria com a World Press Photo Foundation, Tufts University e Open

Society Foundations. Segundo reportagem da Revista Trip, o grupo YVY reúne duas mil integrantes e se

define como “um movimento em busca da valorização de vozes femininas, para assim fortalecer e proteger

quem se identifica com o gênero feminino”. Seu objetivo, além de reunir fotógrafas, é discutir causas

feministas e humanitárias. Na reportagem, Cruppe conta que logo nas primeiras reuniões da YVY percebeu

que o projeto não poderia se limitar a fotografia, visto que suas integrantes transitam entre múltiplas

plataformas de linguagem: colagem, ilustração, vídeo, algo que não costuma ser contemplado pelas

premiações do campo do fotojornalismo.

III. Identidade profissional e as premiações como forma de reconhecimento

Em seu livro Ser Jornalista no Brasil, a professora Fernanda Lopes (2013) alerta que o conceito de

identidade não pode ser tomado como fixo ou imutável e que a identidade jornalística não pode ser vista

unicamente como resultado de uma prática, mas que engloba valores, mitos, crenças, saberes, representações

sociais, história, memória relações de poder entre outros aspectos, que são constantemente negociados no

espaço social. Faccin e Ferreira (2013) complementam que “em qualquer sociedade, a prática jornalística é

depositária de um conjunto de técnicas, práticas e normas que orientam a competência do profissional de

informar a sociedade sobre assuntos de relevância pública”. O relato verbal ou imagético deve ser baseado

em fatos e ter o maior senso de objetividade possível. Nelson Traquina (2008) teoriza que os jornalistas têm

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um “modo de ver, de falar e de agir” e que se empenham em executar suas atividades baseadas em

parâmetros que o próprio campo, no sentido bourdieano do termo, oferece a partir de um ethos

coletivamente construído e que se concretizam no habitus da profissão. A prática profissional é marcada

pela concorrência e, essa competição, em alguns casos, visa à conquista de prêmios oferecidos àqueles que

se destacam na atividade. Para quem resolve competir há a exigência implícita de adequação do trabalho às

normas da premiação cobiçada.

Do ponto de vista simbólico, o reconhecimento pela conquista é a melhor medalha que um jornalista

pode receber dos seus pares e os prêmios concedidos passam a funcionar como matrizes de referência,

geradoras e/ou mesmo reforçadoras de determinadas práticas que são gradativamente incorporadas ao

habitus do campo social (Bourdieu) e funcionam como paradigmas da comunidade interpretativa do

jornalismo (Traquina). Diante desta percepção, tem-se a hipótese de que algumas premiações tornam-se tão

relevantes que viram referência de bom exercício da profissão e evidenciam novos paradigmas da prática

jornalística. Ao mesmo tempo em que oferecem o coroamento de uma prática junto aos pares, também

sinalizam como deve ser a conduta dos profissionais em suas práticas cotidianas de seleção, coleta,

apuração, processamento e distribuição da informação noticiosa, que gradativamente são incorporadas

àquilo que Pierre Bourdieu denominou habitus de um campo social.

A noção de campo social de Bourdieu é fundamental para o entendimento de como os profissionais são

introduzidos na comunidade interpretativa jornalística e, paulatinamente, incorporam o seu habitus. Ele

identifica um campo social enquanto um “espaço onde se travam relações objetivas”, em que agentes (que

são os sujeitos investidos de um habitus), lutam para determinar quem tem legitimidade para falar e o que é

legítimo ser falado. O campo social é visto como um “microcosmo”, com leis próprias que determinam o

direito de entrada, o valor dos troféus em disputa, e os limites da subversão, através de um “acordo tácito”

das regras do jogo entre seus participantes. (BOURDIEU, 1997:14). Faccin e Ferreira (2013) lembram que

os esses participantes da “comunidade interpretativa jornalística formam um contingente que organiza sua

atividade pautada em uma rotina não apenas que gira em função da produção da notícia, mas por esquemas

de percepções dos seus participantes, próprios do habitus profissional”.

Outros dois aspectos lembrados pelos autores são: 1)A lógica produtiva do campo jornalístico é criada

pela luta concorrencial, que ocorre em uma situação institucionalizada, na qual os seus agentes desenvolvem

suas ações como sendo atividades regidas por regras válidas, especificamente o campo. 2) As premiações

concedidas para os jornalistas fariam parte do “capital simbólico”, que, no entendimento de Bourdieu, inclui

os méritos acumulados, prestígio e reconhecimento associado à pessoa ou posição e o desdobramento deste

capital simbólico seria a credibilidade. Bourdieu diz ainda que a concorrência, longe de ser automaticamente

geradora de originalidade e de diversidade, tende, muitas vezes, a favorecer a uma uniformidade da oferta.

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Faccin e Ferreira (2013) pontuam que as premiações jornalísticas teriam caráter de acúmulo de capital

simbólico mais pelo viés do reconhecimento do quepelo da recompensa. Enquanto no primeiro caso, temos a

ideia do valor, no segundo a da valia. Recompensa está associada ao cumprimento de uma dada tarefa e seu

oposto seria a punição. A busca pelo reconhecimento, ao contrário, faz parte da natureza do ser humano.

Embora os certames destinados aos jornalistas sejam, muitas vezes, acompanhados de prêmios em dinheiro,

não é incomum que os profissionais desejem ter seu trabalho reconhecido, independente do valor financeiro

dos prêmios.

A partir do estudo das categorias destinadas à imagem fotográfica em diversas premiações para

jornalistas, constatou-se que as fotografias de atos violentos costumam ser os destacadas pelas comissões

julgadoras. Nota-se ainda que os repórteres-fotográficos vêm se colocando em situações cada vez mais

desafiadoras e perigosas. Poucas fotografias que conquitaram premiações são advindas da editoria de

Cultura, considerada “leve” pelos profissionais. As imagens vencedoras são geralmente flagrantes que se

referem às editorias Política, Esportes, Cotidiano e, principalmente, Polícia. (FERREIRA, 2009)

Nos anos 60 e 70, o modelo de cobertura fotográfica que imperava na imprensa era o modelo

testemunhal (FERREIRA, 2008), que se caracteriza pela tentativa de invisibilidade do fotojornalista e

baseia-se na não intervenção do profissional no acontecimento. Na década de 80, na imprensa, esse modelo

foi perdendo força e dando espaço a um fotojornalismo produzido, mais direcionado às revistas. A década de

90 se caracteriza pela inserção dos recursos digitais na fotografia. Boa parte dos certames, contudo, não

acompanhou essa história e se mantém destacando imagens registradas conforme o modelo testemunhal.

Recentemente foi possível perceber que cresce o número de sequências fotográficas premiadas, o que abre a

possibilidade, ainda numericamente pouco expressiva, de valorização de ensaios fotográficos e narrativas

esteticamente mais autorais e inovadoras. Mais um sinal “luz no fim do túnel”, visto que em pesquisa citada

anteriormente, as mulheres que atuam no fotojornalismo mundial se identificaram mais como

fotodocumentaristas e contadoras de histórias visuais.

IV. A quase-invisibilidade feminina nas categorias de Fotografia das premiações brasileiras

Em estudos anteriores, já foi apontada a dificuldade de estudar as premiações brasileiras destinadas a

jornalistas, especialmente se o foco for avaliar séries históricas. Observa-se severa irregularidade na

frequência das premiações. Muitas surgem com estardalhaço e acabam, sem aviso, poucas edições depois.

Outras, em função de dificuldades financeiras, sem mantém com frequência irregular. A partir dessa

constatação, optou-se nesse artigo por observar a série histórica de duas premiações paradigmáticas no

campo que, no entanto, por ora estão interrompidas: o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Imprensa

Embratel. Essa opção busca demonstrar como as mulheres são praticamente invisíveis nas categorias que

contemplam a imagem fotográfica.

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Essas duas premiações têm muitos pontos em comum, apesar das diferenças históricas, de constituição

das empresas promotoras e de concepções do fazer jornalístico, por exemplo. Como reforço de marketing,

ambas carregam a marca da empresa promotora no nome e, justamente por isso, tiveram que ser renomeadas

como Prêmio Exxon Mobil de Jornalismo e Prêmio Imprensa Embratel-Claro. Logo após a mudança de

constituição das empresas promotoras, em ambos os casos, as premiações foram interrompidas.

As comissões julgadoras dos dois certames são formadas por jornalistas paradigmáticos do campo e, em

algumas edições, contam com profissionais em comum. O julgamento é feito em fases que envolvem uma

comissão de pré-seleção diferente da comissão de premiação e, recentemente fazem parte do julgamento via

Internet. Nos dois certames, as comissões julgadoras são majoritariamente masculinas. Embora a categoria

de Fotografia tenha tido 55 edições no Prêmio Esso e 14 no Prêmio Embratel, as mulheres foram

vencedoras em apenas duas edições de cada um, sendo que a sequência de três fotos um assassinato numa

rua em Benfica, da fotojornalista Wania Corredo, foi vencedora em ambos. As duas premiações começaram

sem contemplar o fotojornalismo como categoria, sendo incluída na sexta edição do Prêmio Esso de

Jornalismo e na segunda do Prêmio Imprensa Embratel. Mas, há também diferenças.

A mentora do Prêmio Esso aporta no país como multinacional. A Standard Oil Company chegou ao

Brasil em 1912 e tornou-se mais conhecida a partir de 1940, quando, como Esso, diversificou suas

atividades, e investiu em comunicação, a partir de três ações principais: a criação do Repórter Esso, aumento

da verba destinada a anúncios em jornais e revistas, e posteriormente, a criação do Prêmio Esso de

Jornalismo, em 1956. (CASTILHO, 2008). Para legitimar o prêmio frente aos profissionais, a Esso buscou

parceria com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e participação de jornalistas no júri. Em 1956, foi

lançada a primeira edição do Prêmio Esso de Reportagem, que depois veio a se chamar Prêmio Esso de

Jornalismo e, ao completar 60 anos, em 2016, mudou seu nome para Prêmio Exxon Mobil de Jornalismo,

encerrando as suas edições desde então.

O Prêmio Imprensa Embratel está ligado a uma empresa de telecomunicações presente em todas as

regiões do país e que ainda carrega certo traço da brasilidade, apesar das profundas transformações. A

Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), fundada em 1965, no Rio de Janeiro, constituiu-se

como empresa de capital aberto, sendo o braço estatal de longa distância da Telebras. Privatizada em 1998,

passou por vários grupos estrangeiros, até ser incorporada em 2011 pelo América Movil, detentor também

da Claro Telecom Participações. A partir de dezembro de 2014, os acionistas de Claro, Embratel

Participações (Embrapar), NET Serviços de Comunicação e Embratel aprovaram a incorporação das três

últimas pela Claro, para consolidar as estruturas e atividades das empresas em uma única sociedade.

Levando em conta essa história, não é se estranhar que a primeira edição do da premiação, em 1999, tenha

contemplado como categoria única a de reportagem de telecomunicações.

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Quanto ao funcionamento das comissões julgadoras, as diferenças ficam por conta de sistemáticas

específicas com relação às categorias de Fotografia, como é grafada no Esso e Reportagem Fotográfica, no

Embratel. No Prêmio Esso de Jornalismo, a Comissão de Seleção indica, dentre os inscritos, os cinco que

exibem melhores condições continuar na competição. Na categoria de Fotografia, contudo devem ser

indicados dez trabalhos finalistas, que serão avaliados via Internet, por uma Comissão Especial, composta

por 50 experientes profissionais, dentre os quais boa parte fotojornalistas e, muitos ex-editores de fotografia.

Ao observar os dados referentes a essas comissões entre 2000 e 2005, publicadas nominalmente no livro

comemorativo dos 50 anos do prêmio, a porcentagem de participação feminina no júri oscilou entre 8% e

25%.

No Prêmio Imprensa Embratel, tanto a comissão de pré-seleção quanto a de premiação avaliam

todas as categorias. Não há comissão especial para a Reportagem Fotográfica. O encontro da comissão de

premiação é presencial. Nesse momento é instaurado um presidente, função já ocupada diversas vezes por

uma mulher, que tem o voto de Minerva em caso de empate. A jornalista Janice Caetano, presidente do Júri

em 2007, foi responsável pelo desempate que reconheceu – interrompedo uma sequência de vencedores que

tem a violência urbana como tema - como vencedor o ensaio fotográfico O começo do fim – efeitos do

aquecimento global, no qual fotojornalista Marcos Michael mostra aspectos da seca em Pernambuco. A

comissão de premiação define ainda o vencedor do Grande Prêmio Imprensa Embratel, que por duas vezes

foi atribuido à imagem: a reportagem cinematográfica Fuga da Vila Cruzeiro, de Francisco de Assis e a

sequência fotográfica Crime à Liberdade de Imprensa, de Domingos Peixoto. Imagens jamais venceram o

premio principal do Esso. Com relação à interrupção das premiações, a atitude das promotoras também foi

diferente. Enquanto em 2016, após comemorar 60 anos, o Prêmio Esso (já renomeado Prêmio Exxon Mobil

de Jornalismo), foi suspenso oficialmente pela companhia com a explicação de que durante a pausa iria

reavaliar seu formato, o Embratel-Claro não emitiu qualquer comunicado em relação a 16° edição, sendo

que a 15° ocorreu em 2014. Até julho de 2018, nenhuma das duas premiações havia retornado à ativa e, os

sites oficiais não estavam mais no ar.

A cada premiação criada, é comum que novas diretrizes implícitas para a prática jornalística sejam

definidas, e que apontem para identidades profissionais diferentes. Isso pode ser percebido a partir da

concepção do Prêmio Imprensa Embratel, em contraponto ao Prêmio Esso de Jornalismo. Na época da sua

criação, o concurso tinha como objetivo ser um projeto mais abrangente, de âmbito nacional e capaz de

mobilizar todas as mídias do país. Definiu-se em seu site institucional como “atual e dinâmico”,

contemplando trabalhos jornalísticos que se adequassem à “nova realidade sócio, econômica e cultural do

povo brasileiro”, ao mesmo tempo em que tivesse a “capacidade de estimular e disseminar o debate coletivo

sobre temas de relevância, tais como inclusão social, consciência ambiental e o resgate dos nossos valores

culturais”. No âmbito da imagem, por exemplo, era uma das únicas premiações a contemplar a categoria

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Reportagem Cinematográfica, separada das de Reportagem Fotográfica e de Reportagem de Televisão. Na

15° edição, contudo, as duas primeiras foram unificadas em Reportagem Foto-Cinematográfica.

Mesmo com essas diferenças, houve edições em que a mesma sequência fotográfica obteve

reconhecimento nas duas premiações. Esse foi o caso de Wania Corredo que registrou em três fotos um

assassinato em Benfica. A fotógrafa foi capaz de capturar o momento do tiro e o criminoso na garupa de

uma motocicleta.

Figura 2: Sequência de Wania Corredo – Prêmio Esso de Fotografia e Prêmio Embratel de

Reportagem Fotográfica

As outras duas outras fotojornalistas premiadas foram Isa Nigri, pelo Esso (1997) e Mônica

Zarattini, pelo Embratel (2001). Isa Nigri retrata os momentos seguintes do tiro que atingiu o Cabo Valério

dos Santos durante uma rebelião na Polícia Militar de Minas Gerais. A proximidade da fotojornalista

permitiu que registrasse o socorro ao cabo.

Figura 3: Fotografia de Isa Nigri - Prêmio Esso de Fotografia de 1997

O estilo de fotojornalismo premiado pelo Esso também se reflete nessas imagens a partir do “Instante

Decisivo”, termo associado à Cartier-Bresson, que está atrelado à ideia de que há um momento fugidio de

curta duração que o clique fotográfico deve capturar e que, caso não seja capturado, se perde no tempo.

Mônica Zarattini faz uma imagem aérea da Penitenciária do Estado no Complexo do Carandiru, na zona

norte da capital paulista, durante a ocorrência de uma série de rebeliões em diversos presídios do Estado de

São Paulo, numa ação organizada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), que deixou vários mortos em

fevereiro de 2001.

Além da composição harmônica, o principal interesse da foto reside no momento registrado em

termos de critérios de noticiabilidade (Traquina). Muitas vezes, como já pontuado em pesquisas anteriores, a

escolha das imagens vencedoras nas premiações parece ser norteada pela relevância do fato retratado, mais

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do por critérios ligados especificamente à linguagem fotográfica. A imagem de Zarattini recebeu ainda no

mesmo ano o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Figura 4: Fotografia de Mônica Zarattini - Prêmio Embratel de Reportagem Fotográfica de 2001

Com base na observação de que a maior parte das fotografias premiadas nos certames de

Fotojornalismo desde os anos 80-90 retrata a violência e exige o flagrante como estética é possível inferir

que o estereótipo de “sexo frágil” faz com que alguns editores de fotografia evitem escalar mulheres para

esse tipo de pauta, o que dificulta que cheguem a condição de finalistas. Como há menos mulheres em

atividade no Fotojornalismo, há também menor número de submissões de suas imagens para premiações,

concursos, exposições coletivas, etc. Contudo, será que esse fato justifica um número tão pequeno de

vencedoras?

IV. Luz no fim do túnel: De olho no Prêmio Petrobras de Jornalismo

A terceira premiação observada parece indicar um cenário mais equilibrado entre homens e mulheres

nesses novos tempos de movimentos de conscientização e de busca pela visibilidade profissional do gênero

feminino. O Prêmio Petrobras de Jornalismo nasceu já na segunda década do século XXI, em 2013, como

parte das comemorações dos 60 anos da empresa promotora. Quando foi criado, Esso e Embratel ainda

estavam ativos. Como visto anteriormente, cada nova premiação deve propor uma perspectiva diferenciada

quanto à identidade profissional esperada. Nesse sentido, conforme o site oficial da premiação

http://www.premiopetrobras.com.br, ele visa a “reconhecer o esforço diário de repórteres, radialistas,

fotógrafos, cinegrafistas, editores e tantos outros profissionais envolvidos nessa busca pela informação.

Contempla assim as grandes reportagens, que refletem as pautas que movimentam o país”. A partir desse

objetivo, e da assertiva de que “a informação tem poder transformador, é propulsora de mudanças”, declara

que ao estimular o jornalismo contribui para o fortalecimento do regime democrático.

Além de ter uma empresa estatal como promotora, o prêmio, assim como os anteriores, conta ainda

com apoio de entidades de classe. Sua concepção inicial de categorias também buscava a diferenciação ao

contemplar separadamente para os mesmos temas - Reportagem Responsabilidade Socioambiental,

Reportagem Esportiva, Reportagem Petróleo, Gás e Energia e Reportagem Cultural, trabalhos regionais e

nacionais. Mas, a exemplo do Prêmio Imprensa Embratel, essa estrutura vem sofrendo alterações a cada

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edição. A categoria Fotojornalismo se manteve por três edições com dupla premiação: uma regional e outra

nacional. Nas duas últimas, optou-se apenas pela premiação nacional. As comissões julgadoras, que também

atuam em duas fases, continuam a ser majoritariamente masculinas.

Ao contemplarmos os vencedores das quatro edições da categoria Fotojornalismo Nacional

identificamos o que parece ser “luz no fim do túnel”: há empate entre homens e mulheres. As vencedoras

foram Mirian Fichtner (2013), com Religião afro-gaúcha: saudação a Iemanjá e Marcia Foletto (2017), com

Chernobyl Brasileira. Em ambos os casos a premiação optou por destacar ensaios fotográficos, cujos temas

não se relacionam à violência urbana, como era a tendência anterior.

Figura 5: Algumas imagens do ensaio de Miriam Fichtner – Prêmio Petrobras de Fotojornalismo (2013)

O ensaio de Fichtner foi publicado na revista Amanhã, encartada em O Globo, e mostra o culto a

Iemanjá e outros rituais de religiões afro-brasileiras no Rio Grande do Sul, onde 1,6% da população se

declara ser adepta dessas religiões. Apesar de parecer pouco, em termos proporcionais, é o estado com maior

número de adeptos. As imagens buscam mostrar as manifestações afro-religiosas dos que cultuam os orixás

(Candomblé), reverenciam os pretos-velhos e caboclos (Umbanda) e homenageiam os exus, pombagiras e

ciganos(Quimbanda).

Figura 6: Algumas imagens do ensaio de Márcia Foletto – Prêmio Petrobras de Fotojornalismo (2017)

Já a premiação de Marcia Foletto chegou através de um ensaio fotográfico realizado em Mariana

(MG) cerca de 20 dias após o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Bento

Rodrigues. Segundo a descrição do projeto disponível no site oficial do Prêmio Petrobras “o local foi

tragado pela tsunami de lama e rejeitos de minério de ferro, no maior desastre ambiental da história do

Brasil”. Assim como o primeiro trabalho, demonstra uma narrativa com forte componente autoral, distante

dos flagrantes e dos modelos tradicionais de cobertura noticiosa diária.

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V. Considerações Finais

Embora os dados numéricos referentes à participação feminina no mercado de trabalho geral, no

Jornalismo e, especialmente no Fotojornalismo sejam desanimadores, algumas ações recentes indicam “luz

no fim do túnel”. Os movimentos Fotógrafas Brasileiras e YVY Mulheres da Imagem comprovaram as

profissionais dedicadas à produção fotográfica não são tão poucas como o que as premiações anteriormente

indicavam. Contudo, sabe-se que há muito a ser feito para diminuir a invisibilidade profissional feminina e

trazer a tona relatos há muito silenciados, num cenário onde o Fotojornalismo continua a ser considerado

uma atividade masculina, e onde o reconhecimento da excelência no registro fotográfico cabe

principalmente aos homens. Não por acaso a convocatória de 2017-2018 do Movimento Fotógrafas

Brasileiras chama-se Transformar os Silêncios e parte da constatação que “nas últimas décadas, é crescente

a tomada de consciência das mulheres e de questionamento à cultura machista. São muitas as que saem às

ruas reivindicando o fim da violência sexista, equidade de gênero e o direito de decidir sobre suas próprias

vidas”.

Outro sinal positivo para as fotojornalistas é que se apenas duas foram vencedoras em 55 edições da

categoria de Fotografia do Prêmio Esso de Jornalismo, foram necessárias apenas 14 edições do Prêmio

Embratel e quatro do Prêmio Petrobras de Jornalismo para alcançar a mesma marca. Se as fotos destacadas

pelos prêmios Esso e Embratel são registros do Brasil violento e, muitas vezes, sem policiamento e o que

expõe os profissionais de imagem ao risco para captar o momento exato da ação, atendendo a máxima de

“estar no lugar certo na hora certa”, isso já não ocorre no Prêmio Petrobras de Jornalismo, que privilegia

narrativas autorais sobre temas relevantes jornalisticamente, mas não diretamente relacionados à cobertura

diária ou aos critérios de noticiabilidade dominantes. Essa mudança de foco numa premiação importante

pode levar luz à discussão sobre a identidade profissional do fotojornalista, na medida em que, como foi

visto, esse conceito não é fixo e precisa ser constantemente negociado no espaço social. Mas é preciso estar

sempre atento, pois a inserção crescente das mulheres no mercado jornalístico brasileiro foi acompanhada de

precarização das condições de trabalho e de diminuição relativa dos salários. E, mesmo no Prêmio

Petrobras de Jornalismo, se forem observadas as três edições da categoria Fotojornalismo Regional, não

houve qualquer mulher entre os vencedores. Espera-se, portanto, que a “luz no fim do túnel”, não seja uma

locomotiva em direção contrária.

VI. Referências

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