luxo e pragmáticas no pensamento económico do séc. xviii

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. Luxo e pragmáticas no pensamento económico do séc. XVIII Autor(es): Dias, Luís Fernando de Carvalho Publicado por: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/25979 Accessed : 27-Nov-2021 02:24:26 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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Luxo e pragmáticas no pensamento económico do séc. XVIII

Autor(es): Dias, Luís Fernando de Carvalho

Publicado por: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

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SUPLEMENTO AO BOLETIM DA FACULDADE DE DIREITO

REDA('TOR-DELEOADO

J. J. TEIXEIRA RIBEIRO

VOLUME V

1 956

FACULDADE DE DlRElTO

COIMBRA

Notas e comentários

Luxo e Pragmáticas no pensamento económico do séc. XVIII

(Continuação do vol. I V, n.·· 23)

DOCUMENTOS

III

Discurso político, histórico, e jUr\dico, em que se prova con· c1udentemente que o objecto, e fim das pragmáticas, e leis sumptuárias deve ser não s6 a moderação do luxo, e das des­pezas excessivas que empobrecem os vassalos e arruinam o Reino, mas também a distinção das pessoas, considera­das as diferentes gerarquias, e classes a que pertencem; e que no uso de coches, e número de bestas, de que as Cor­tes se costumam servir, se deve precisamente respeitar a mesma distinção das pessoas concedendo-se aos grandes do Reino pela grandeza e dignidade do seu título, ou dos seus empregos mais sumptuoso coche e maior número de bestas, do que se deve conceder aos fidalgos, ainda que se considerem de igual qualidade no sangue aos mesmos grandes.

2

e a leis e pragmáticas, que acertadamente se publicam para remediar os sensíveis males, e gravíssimos danos, que o luxo e a vaidade causam no reinos, e repú.blicas, não respeitas em, e aten­dessem cuidadosamente, à distinção das pessoas, à grandeza do titulo que têem, e à excelência do lugar, e dignidade que ocupam, nasceria de uma grande e feia confusão outra confusão maior e muito mais horrorosa. Todos sabem que as leis sumptuárias se -e ncaminham principalmente a evitar a perigosa confusão, que nasce

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do luxo, cresce na emulação, e se fomenta no excesso e abuso do trato, e aparato exterior, que não correspondendo à pe oas, casas, e famflias, que ordinàriamente u am dele erve de maio r vexação e ruina na cortes, e cidades, não se de tinguem os gt'andes dos pequeno, o pobres dos plebeus, os rico dos pobre .

3

.le tas com a dema ia do luxo e o tumo da vanglória e a cor te da plebe, regularmente trab Iham os hom ns por parecer o que não ão e tratam-se, como e não podem, nem devem tratar, e para se

oonhecer cada um, quem é, que renda tem, e de que vive, e q ue dis· tinção e deve praticar entre uns e outros vas alo, considerados os trê e tado , que formam o corpo do Reino, de que o Rei é ooração, que o anima, e cabeça, que o governa, se empenham a leis ump­tuária pela di tinção da pe Iloa , e oonhecimento dos eus diversos e tado , a e tabelecer a moderação, e remédio do luxo e dos outros exce o praticado no ve tir, no comer, na fábrica, e ornato dos edificios, e no u o do cocbe, e nt1mero de besta, porque são

nido , e\'itando- e por e te modo a confu ão dos va alas e apli­olndo- e remédio ao maiores male , que da mesma e originam,

4

ão tão grande, ainda e experimentaria maior, e mai periao a, se a ' novas pragmática e publica sem sem dis­tinguir a pe oas, e atender ao carácter e dignidade daqueles va -alo a quem o Rei, a leis, e o 00 tume do Reino tanto dI tinguem i

porque em ciroun tànoias tai , a não e permitir a emelhantes va alo esta bem m recida di tinção, e preci a eparação dos outros bomen , nunca o grandes eriam conhecidos, oomo quem ão, e e ta pública injúria faria maior, e mai e candalo a a c.lnfusão da Corte, porque a primeira tinha a sua origem no abu o, e no vicio, e a egunda na razão da lei, que por er contrária ao ditames da verdadeira politica, e à con ervação. e grandeza do Reino, seria conhecida como em razão, e não como lei.

5

Daqui vem, que eria indisculpável afirmar, que o objecto das pragmáticas não é con tituir di tinção da pe soa , mas evitar os exoe o no luxo, com que se enfraquecem as forças do Reino e se empobrecem a casa. e o vas aios; porquanto ainda que as prág­mática e publiquem para reformar os costumes nocivos, e reme­diar o abusos introduzidos viciosamente nas repúblicas, e para se regularem prudente, e lltilmente todas as acções públioas, e parti-

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culares dos vassalos, \lO trato conveniente, de que devem usar, em benefício universal do Reino, contudo a não se distinguir nas mes­mas leis o trato das pessoas pelo carãcter do título do emprego, e da gerarquia, faria a igualdade e indiferença do trato exterior, mais prejudiciais que úteis, mais escandalosas, que prudentes, as mesmas prag mãticas. [v'ddu8. Pel". Greg. de np. L. 4. C. 1.).

Nada é tão sabido, como a distinção, diferen ça e ordem, que o upremo Autor de todo o creado constituiu não só entre as creatu­

ras, brutas, e racionais, mas ainda entre os espíritos celeste , e bem aven tu rados, fa zendo uns superiores a outros, e di tinguindo·os nas excelênoias, e prerrogativas, com que os avantajou , e por isso se conhece, ama, e procura com tanto di svelo a paz, ordem, e harmonia do Reino de Deus, e com tanto cuidado se aborrece, e foge à desor­dem, guerra, e confusão do Reino do Abismo.

6

Esta precisa dis tin ção dos homens faz a distinção e excelência maior dos rei nos; no de Israel loubando tanto aI:' admirações da Rainha (I) de abba o mereci mento ; e a glória de alomão o que sobretudo lhe arrebatou o espírito, foi a distinção, e a ordem, e diferença , que observou nas classes, e gerarquias, do grandes, dos ministros, e dos plebeus, dando·se a ver a mesma distinção nos diferentes vestidos, e hábitos exteriores, de que usavam, cadau m dentro da gerarquia, e estado, e classe, a que pertencia; e por este princípio louvou com excesso um grande ( 2) politico a incomparã­vel sabedoria de alomão, na distribuição dali diversas ordens e gerarquias da sua Corte, e pela determinação e providência das cousas necessárias à grandeza, e utilidade do Reino, e à dignidade, autoridade e carácter, de cada um, conhecendo-se no vestido. quem era o grande, o fidalgo, o mini tro, o nobre, e até os ofioiais da sua copa, e cosinha.

7

Esta é a causa e razão prinoipal, porque (a)ssentam ooncorde­mente os políticos da primeira e melhor nota, que no cuidado e provi dência que os reis, e príncipes devem ter da administração, e governo da república, devem atender igualmente à conservação das dignidades e ordens diferentes da mesma república, e à moderação do luxo, introduzido pela vaidade, e descuido dos povo , para dano das famUias, e ruina de todo o reino, propondo nas leis, e pragmá­ticas que flzerem para o governo o remédio dos male da república ,

( I ) Regum. L. 3. c. 10 v.6. ParaI L. \1. c. 9. v .• . ( ! I Petr. Greg. de Rep. L. 22. c. S, ert. 2. vs. ' Lauda/u ,·.

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doi fln neoe ário e dep ndente um do outro, o primeiro emen­dar o abu o e reprimir o trato umptuo o dos va saio, que dá cau a ao precipício da di oloção da a a ,o egundo aoomodar as determinaçõe da me ma lei pragmátioas na moderação do luxo, ao difer nte e tado ,dignidades, ordens de que a República e compõem u ando cada um do e tido, adorno de ca a, e aparato

terior, que deve corr pond r ao eu carácter, emprego, e estado; porque e ta di Unção de pe oa, di sipando a confu ão das cortes, abre fácil caminho à ob ervància e pra. e da me ma leis; e neste geral e incontro er o ditame d política concordam Pedro regorio, o P. Adão ontzem, o erudito Pelzoffer, e o Barão de Schonau, Parada, e máxima do melhore stadi ta .

8

Pedro rego rio (3) a enta xpre samente que o cuidado do "'overno poUtico e da admini tração da Repl1blica deve atender igualmente à con er ação da ord n ; e dignidades, que aos vesti­do , e aparato exterior dos va alo , o m outro lugar resolve (4) que d tal sorte e deve formar o aparato exterior, de que um rei, um príncipe, um governador, ou outra p~ oa di tinta na repl1blica, que a dignidade e con erva, e e não possa notar exces o, ou falta no preci o para o ve tir, para o comer, para o uso dos cocbes, para o erviço dos creado e do cavalo, e para a recreação e di verti­mento hone to ; porque seria louco, o que quizesse, que aparecesse em pOblico um príncipe como um particular, um grande como um plebeu, um fidalgo de alta qualidade como um oficial mecil,nico, e reputa se superfluidade o que e deve com justiça à honra, e à razão da dignidade e do carácter e da preeminência dos mesmos prínci­pes, e pes oa distinta na rep6blica.

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No mesmo parecer concorda o douto P. Contzem ( 5) da Com­nhia afirmando = que o Príncipe para moderar o luxo, e a demasia nos ve tidos, e outros excessos, e tirar a confusão, que ordinària­mente se observa nas CortE> , e embaraça muito o conbecimento; e a distinção das pessoas, deve prescrever com graves penas impostas contra os tran gressore , a matéria e a forma dos vestidos de que ~eve usar qualquer ordem, gerarquia, e dignidade da rep6blica, e

( 3 ) de Repnb l. tt. 4. cp . 13 in princi ll. ( ' ) U. 22. cp 5 s ect. 2. ( . ) Politic. tt. 8. cp. 2'. § 6.

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confirma o eu di curso de uma pragmática feita pelo Imperador Carlos 5.°, e publicada para o governo do Império de Alemanha em 1530, na qual acertadamente declara, que é hune to, decente, e justo, que cada pessoa conforme a sua clas e, geração, ~ estado, e dignidade, use de vestido, e hábito convenil'nte à ua fortuna, e riqueza, para se conhecer fácil, e claramente o e tado, a dignidade; a pes oa e o of[cio de cada um.

10

Com a maior energia aprova, e acon elha, este ditame o erudito Pelzoffer Barão chonau (G), no meu conceito o Príncipe dos Políti­cos moderno, na sua incomparável obra dos egredos de E tado depois descrevendo o mi erável (ea/ado), a que estava rbduzido no seu tempo todo o Império de Alemanha pela vaidade; pelo luxo e pelo fau to soberbo, e incon iderado dos va salos do Império, ou se atendesse e olhasse para a magnificência do palácios, e do coches, pa.ra o número dos criados e das besta para as tapes arias, e aUaias das casas, ou se considera e a superfluidade do vestidos, e das galas e a profusão dos banquetes e das fe tas, em se conhecer di -tinção nas pessoas, e diferen<:a nos empregos, e duvidando pruden­temente, se a guerra dilatada dos inimigo, tinha causado menor dano e prejufzo às Prinvfncias Au triaca , que o demaziado luxo dos vassalos do Império, conclui, que a boa ordem, e feliz governo poUtico é o ornato e formosura da repú.blica, e q11e as im como são diferentes entre si os gráus da nobreza, a sim deve também ser diferente o aparato exterior de que cada um u a no vestido, na carruagem, etc., e que é a maior insolência que e pode con iderar não se distingam (aie = não le diatinguirem) no trato os nobres do plebeus e os grandes, e magnate dos nobre , não e permitindo (aie=permitindo·all) a todo o me mo ouro, a me ma prata o me mo vestido, e o mesmo aparato; porque estes costumes são pés imos, e introduzidos para a ú.ltima calamidade e ruina da Repú.blica.

11

Esta mesma doutrina segue e abraça o Doutor António Carva­lho de Parada (7) mostrando com evidentes razões que deve haver diferença nos vestidos conforme as diferentes qualidades das pes­soas, à maneira dos Romano que distinguiam os nobres pela toga, e pela pretexta, os soldados pela saga, os magistrados e senadores pela toga pretexta, os capitães em pú.blico triunfo pela palmata, o

( . ) Arcan. status lt 2. cp 14- . n. 21. 1 7 ) Arte de Reynsr . tl. ~. niscurs. 15

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que ob ervavam tão cuidado amente que a Mena, varão muito rico, e podero o na república proibiram trazer toga, por ter sido escravo de Pomp u; e que es ta diferença e deve com muita razão praticar na' corte I porque a liberdade de trazer cada um, o que melhor lhe parer, a cau a, de que e não saiba quais ão uns e outros, e que de ta confu ão r cebam não poucos males, enganos, roubos, e outros delito prejudiciai ao bem comum e particular da repCiblica, e que da ordem e di tinção das pe oa ó pode re ultar afronta àquele qu para fazerem, o que não devem querem fingir, o que não ão.

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A ste tlm e à ob er\'ància de ta méxima tão conveniente e (iti! à con ervação e aumento d qualquer E tado, enoaminharam muita repCibhca e reino a lei umptuárias, que fizeram, di tin­guindo empre o trato da nobreza pelo me mo motivo pois que ele e di ting ue na in tgnia , hábitos e outras particularidades oonce­

didas e pecialmente por leis e co tumes, aos grandes e ministros, e nobre de muito reinos e r públicas. A do romano conoedia ao eu cavaleiro por distinção o anel no dedo, aos patrtcios um ornato dI tinto no cavalo, de que u avam e que a mesma repO­blica lhe ofer cia por dádiva. A república de Atenas dava a conhe­cer o u grandes, e nobres, pelo colar de ouro, que traziam pendl'nte do ombros; o doge e enadores da rep(lblica de Veneza di tinguem- e pelos vestidos e hábitos, de que usam, e até entre os Turco o grandes, e nobre , a que chamam Mussulmanos, co tumam distinguir- e pela meia lua, maior ou menor, que trazem no apato; e toda e ta di tinção se pratica, para que por seme­lhante in tgnia!?, divi a ,e inai , e conheça a diferença que vai do nobre ao plebeu, e dos grandes ao nobres; e também para que o plebeu trIbutem aos nobres, e os nobres aos grandes a reverência, e re peito, que se lhe deve pelo seu carácter e dignidade, egundo o ditame do erudito Barão chonau ( 8).

E a razão mo tra claramente, que na leis sumptuárias se devem di tinguir a pes oas, a quem distinguem, e dão a conhecer a outra lei pelo inal, e di tinção do seu carácter porque a mesma razão do merecimento próprio ou dos antepassados que distingue a pe oa pelo Utulo, ou pelo emprego, que tem, pede que igualmente e di tinga no trato, e aparato exterior de que usa.

Porém mostrou e ta di tinção As uero (9), quando para pre­miar Mardocheu como pediam os seus relevantes serviços e mere­cimentos o mandou pas ear e fazer ver pllblicamente ao seu povo,

( ' ) Arcan. stat. lb 3 c. 18 n .o 6. § sic oplimales. ( ' ) Esther c. ti.

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-ornado, e vestido de pt1rpura, como o próprio Rei e a esta proporção dos (.ie) -. -

Distinguiram também outros Reis, e príncipes do mundo os seus vassalos beneméritos, honrando-os, e distribuindo conforme 08

diferentes graus do seu merecimento, os graus proporcionados da nobreza civil, em prémio e recompensa dos seus atendíveis serviços e acções louváveis, e porque umas eram egrégias, outras insignes, outras ilustres, também a nobreza ficou sendo para uns ln igne, para outros egrégia, para muitos ilustre, para alguns ínclita, impe­rial para os imperadore , e real para os reisi que com todos estes e outros muito epitetos di tingue e divide a nobreza nos seus dife­rentes graus, e classes, o sapientíssimo Pedro Gregório (10 I.

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Para a mesma nobreza se conhecer e se con tituir nestes diver­sos graus, que distinguem uns nobres do outros nobres se estabe­leceram aquelas duas máximas, e princípios, um da poHtica, outro da jurisprudência, a primeira das quais ensina (11 ). que o poder, e a grandeza dos Reis, dos príncipes, e dos magnates valerá pouco, se não valer muito a austeridade exterior e a dignidade vi ível da pessoa, concordando com esta a segunda máxima, enquanto (l t) que aos grandes é precioso e decente um grande estado, e aparato exterior, e que na Replíblica não devem ser iguais. e semelhantes os menos aos mais poderosos, e os pequenos aos grandes.

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A razão sem duvida destas duas máximas, e ditames tão pru­dentes, como decorosos, consiste em que a confusão que intruduz o luxo nas diversas ordens, e estados de qualquer monarquia, é indí. cio da sua ruina, e preságio da sua fatalidade, e a distinção. e dife­rença, com que se conservam, e separam politicamente. as mesmas ordens, e estados, é a base sólida do governo e a origem verdadeira da felicidade dos povos usando cada um de trato competente e pró­prio, conhecendo-se por este modo ser errado o ditame que afirma que o fim, e objecto das pragmáticas, não se deve constituir na dis­tinção das pessoas, e na diferença do trato mas na moderação do luxo, e no remédio dos excessivos gastos que empobrecem a república.

~ .. ) De Rep L 4. c . 2 Secl. 3 e 6. ( ,, ) Barão do chon. Arcan. stal L. 3. c. 1 . n." I.

(l . o 1. ( 11 ) I,x. in L . S. U.· de alienaI. judo Azeved . ad L. Bisp. tom. 4 L. 7 tt. 12

o

15

Provada com evidênoia a má ' ima, que impugna m comum e te erro pt'lo princípio, e ditame da verdadeira poHtica p la razão da juri prud ência, r ta ooncordá lo tamb m com a di po i­<,ão de muita I is, e pragmática d linadas ao fim de moderar os e. ce o do povo n up rfiuidade do lu . o, di tinguindo· e m­pr a pe'oa do primeiro carácter, e conh cida grandeza tauto n08 banquet ,ve tido e te. ta como no u-,o parti cu lar do coche numero de be ta , com q ue d vem r flrvldo., que ti o egundo ponto ou conclusão de te Di 'cu rso, m que mostrar i a di linção, que e concedeu m uma outra cou a aos magnate, e grande da mai' ábia, e polida oort do mundo.

16

, Homano , que tiv ram particular cuidado de distinguir as pe oa no hábito, e in,ígnias, não tiveram menos em rt'primir e moderar o luxo, e a dema ia do eu povo, procurando 'om a publica<,ão de muita lei umptuária remediar o dano e males da rt'pública.

A Lei relia (13) foi a primeira que e publicou pelos ano 5íO da fundação de Roma, que era o 3.0 da Censoria d ~. atão, endo con ule Quinto Fábio, e M. láudio, e nela se taxou o nómero do convidado para as ceias, determinando, qual devia r admitido à me a dos grand ,e dos pequeno , do' pobre,

do rico. 17

A egunda foi a L Fania ( U) que e fez pública, enol) con u­les C. Fanio e ~arco Valério :\Ie alia 1 anos depo l da L. Orélla secrundo a opinião de Auloge llo, ou 2~ ecr undo a op inião comum, que a põem no ano f'e 59~; taxou e ta L. a de peza que e devia fazer no jogo do enado e do povo, apontando os Megalense, , e outro" e determinando: que a pe oa principai fizes em maior de pfza. e meno o povo, e que todos u as em de vinho do País e na me a e não pu esse outra ave que uma galinha.

18

A 3.a L. umptuária publicou-se com o nome de Didiano (I.; ) ano 610, 18 depois da Lei Fannia, endo consules Appio Claudio

( ,. I !\1anu .. s. ele legib c 3 et 18 e Bruyer de re ciba. i. L 3 c. ~ . Buleng e vi, ii L. I c 19 e 22.

I" ) August. ele Legib . i Fan nia . PI!. fll Rruyer lõ cilõ . ( ' ) Augu8t. de Leg. I Didi. PI! 68. ROlin. alltig. Rom on. L !) c 1;1 Ursun.

de f.mil Roman . T. Didi •.

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Pulobro, e 5. 0 Metelo Maoedónioo; deolarotJ, que a L. Fannia oom­preendia não só a oidade de Roma, mas toda a Itália, e que as penas impostas para os que flzessem maior despeza nos banquet s além da taxada peJa dita lei, compreenderiam também os que assistissem e fossem oonvidados.

A 4." Lei foi a Licinia (16) feita no ano 656, 46 depois da Lei Didia, sendo consules Publio Licinio Cra so, e Eneo Lentulo; trabalharam muito os grandes da Repüblica, para que se publi­casse esta Lei, determinando a de peza que se devia fazer na mesa nas Kalendat! Nonas, e nos dias, que não fossem festivos, segundo a rendas de cada um.

19

A 5." Lei sumptuária foi a Cornélia (17), que fez L. Cornélio ulla (aie). sendo ditador, não tanto para moderar o gasto dos ban­

quetes, como para taxar certo e moderado preço às cousas comes­tíveis.

Poucos anos depois, morto o ditador Cornélio Sulla publicou o consuJ M. Aemilio Lepido no ano 675 a Lei Emília ( 18), em que não só reprimiu os ga tos das ceias ma determinou os géneros das iguarias e o modQ porque deviam ser feitas; outros (10) lhe dão por autor a M. Emílio Seauro, e dizem a publicou no ano 638; IDa con­cordada esta cronologia 110m a das leis Cornélia e Licinia bá-de ser diferente uma, e outra Lei EmIlia, porque a de M. Emílio earo proibiu nos banquetes todas as aves trazida de pai es estrangeiros e ainda as mais delicadas da Repüblica e M. Emílio Lepido taxou só o género e o modo das iguarias.

20

A 7." Lei Sumptuária foi a L. Antia (20) publioada depois da Lei EmUia, e antes da Lei Júlia: foi seu autor Antio Re tião, e nela determinou, que nenbum magi trado, ou tives e actual exercfcio, ou o esperasse ter, fo se a ceias pfiblicas, enão de certa pe Boa, que o igualassem no carácter, e dignidade.

A 8.a Lei Sumptuária foi a Lei Julia,l-I), que publicou Octávio­César Augusto sendo Imperador para moderar o excessivo gasto dos banquetes, nas festividades e casamentos; taxando despesa certa. aos vassalos.

( lO ) Au~. d. Leg. 1 Liclrla pg 1. e 1 ... Anlig. con\·iv. L . 1. c. 3. (17 ) Reui o, Antilr . Roman. L.8. o. IS. Manut. de Leg c. ( " ) Bruyer de Re Cibaria L 3. c .•. Ruein. Antig. Roman. L. 8. c. IS . ( I. ) Petese. Lexicon Ant. Rom. t. 2. verbo Lex. pg. mlli. 41R. coi!! Pigl. nl.

Rom L. 3 pg 98. PUni o lib. 8. c. 67. (10) AUI!;. de L . in Antia pg. 37. llucin. Aot. rom. L . 8. c. IS. ( 'I ) uet. c. 34. Aug. d. L. r Jutia pg. 80. Bruyer de re cibar. L. 3. c. ' .

G

82

21

'rodas e tas lei sumptuãrias e a Lei Oppia, de que em eu lugar talarei foram derivadas, como Amiano (22) Maroelino e creve da L i de Liourgo, ou oomo se oonjectura de Diodoro ioulo (23),

da 6tima e excelente lei, que deu Zaleuoo ao povo Loorence, em que determinou ( 21) a de peza do banquete, e o nfimero da tamBia , proibindo igualmente, que s6 os homens vis e criminoso da Repl1blica pu e em anéis de ouro, e vestidos delioados, e que nenhuma mulher pudes e trazer mai de uma creada, que a acom­panha e, e 'cepto e fo se dada a vinho, di correndo prudentemente o legi~lador que nenhum homem u aria de anéis, e vestidos seme­lhante', nem haveria mulher que excede e o nfimero da creada por não confe arem os eu crimes com o te temunho manite to do IUXOi o que igualmente pratioaram outros Reinos ( 2~ ) nas suas leis umptuãria permitindo 6 àS mulheres perdidas, e desonestas o

u o da eda, e de vestido de diversa cores, com o fim, dEI que nenhuma quereria pilblicamente mo trar, o que era, e se evitaria por e te modo a de onestidade e o luxo; conheoendo·se oom esta evidencia que na leis umptuãrias do romanos se atendia ao remédio da exce sivas de pe a , moderando· e egundo a quali­dade, carãoter e renda do va salos, para que e respeita 'se a di tinção da pe soas ao me mo tempo em que se prescreve o remé­dio aos dano do luxo, e ao excessos da vaidade.

22

E te importante exemplo eguiram prudentemente outros reino: o de E panha em que se cuidou muito sempre no remédio dos male pObhco com a saudãveJ medicina de muitas pragmáticas, abraçou na me ma este ditames como na que os Reis Cat6licos Fernando (26) e I abel fizeram na cidade de Granada em 30 de

etembro, e em 30 de Outubro de 1499; nas quais determinaram, que nenhuma pe 08, de qualquer qualidade que fosse vestisse roupas de brocado, ou anda se a cavalo em besta muar, ainda que fosse infante, duque, marquê , ou conde, exceptuando s6 as suas pessoas reai , a do principe, o embaixadores das Potências Estrangeiras, que vie em à Cortei em atenQão sem dOvida ao carácter, e mages­tade do principes, que representavam.

( "' ) Llb 16 Hyat. ( ti) Deodoro iCIlI. Lib. I ~ bibliotec. ( .. ) Alll(u tin . de LeRilJ. in Cornelia. pg. 61. I.) Ilada

( .) nada.

83

23

o Imperador Oarlos v, na pragmática (27) feita em Toledo a 9 de Março de 1634, proibiu a todas a pessoas de qualquer condição, -qualidade, preeminência, ou dignidade que fosse, o uso dos broca­dos de ouro, e prata, sedas. e bordaduras do mesmo. e s6 declarada­mente, exceptuou a sua Pe soa Real. a da Imperatriz sua muito amada Senhora e Mulher, a do Prfncipe, e dos Infantes seu filhos, = e o mesmo confirmou depois na pragmática (2M) publicada na cidade de Toro em 29 de Dezembro d" 1651, aonde proibindo tam­bem apertadamente bordaduras de ouro, selas, talizes, e mais guar­nições dos cavalos a todos o fidalgo, e mais pessoas do Reino, as permitiu aos Duques. Marqueses, e Condes, que não ficaram com­preendidos nesta parte, como tinham sido na proibição e geral das telas, brocados, e sedas de ouro, e prata, e nas declara~ões (29 ), que fez o mesmo imperador estando com a corte em Madrid, a esta céle­bre pragmática em 26 de Abril, e 28 de Outubro de 1562, confirmou tudo o que na mesma tinha determinado nestes pontos.

24

De sorte, que nestes, e em outros muitos exemplos o objecto das pragmáticas não s6 atende à moderação do luxo, cortando pela

-superfluidade dos vestido, e das outras coisas nocivas à rept1blica, mas tem. e deve ter sempre particular respeito à distinção das pes­soas e ainda dos pr6prios legisladores e da família real, e a se evitar a confusão, e desordem, que o luxo fomenta introduzindo- e sem dife­rença nos diversos e tados classes e gerarquias de pessoas em gravíssimo dano do bem público.

25

Nas pragmáticas, que neste Reino se publicaram em benetrcio dos povos também se atendeu em muitas à di tinção da pessoas, e ao carácter, e dignidade dos vassalos, ficando expressamente excep­tuados, menos nos casos genéricos, em que os próprios Reis com o seu exemplo e da família real se sujeitaram ao apertado preceito da suas mesmas leis, nas que se fizeram para proibir brocados, telas, sedas, ouro e prata e bordaduras do mesmo, sempre os Reis para dar exemplo aos vassalos, e observãncia às leie, se quise­ram incluir na proibição das mesmas; assim o fez EI Rei D_ João 2.0 na lei que se lavrou em Santarém em 22 de Março de 1487 que (30)

( ~ ) nada . (~. ) nada \ 29 ) .. ada. ( .. ) Rezonde. Chron. de D . .)ol o 2.' cp. 63.

4

agradou muito às Cortes e ao Reino, o mesmo fez EI-Rei D. Manuel em outra pragmática semelhante, que publicou em Évora a 28 de Agosto de 1520; e EI-Rei D. ebastião em lei proferida sobre a me ma matéria em Lisboa a 25 de Junho de 1560.

26

Depois da feliz aclamação do enhor Rei D. João 4,0 e do eu lou ável exemplo que se lê na pragmática de 9 de Julho de 1643, que praticaram até agora seus augu tos e soberanos desoendentes nas me mas leis sumptuárias, publicaram, os mesmos pruden­tes ditame, roubando à ptírpura os adornos de ouro, e prata, que proibiram no vestido dos partioulares para que se fizesse res­peitar mais a Magestade pelo exemplo, que pelo adorno da pCtrpura; e foi ju to que nestas leis não houvesse distinção dos grandes, procurando a igualdade, e a semelhança dos vestidos os mesmos monarcas.

27

Conhecidas as leis que em diferença de pessoas reprimiram ne te Reino o luxo em benefício ptíblico segue-se tratar as que di tinguiram as pessoa pelo seu carácter, e condição, permitindo­-lhe um trato mai deoente e luzido. EI-Rei D. João 3.0 na Lei, q ue publicou em ~vora a 2 de Novembro de 1534, porque proibiu que nenhuma pe soa andasse em besta muar, faca de Inglaterra, ou Irlanda, ou besta cavalar fora de certa marca, exceptuou ( 32 = aic) os clérigos de ordens sacras, e beneficiado, e por privilégio as mulheres da Casa da Rainha ua mulher, que eram as damas. El-Rei Filipe 3.· ordenando que ninguém andasse na cidade de Li boa em coche, liteira, ou besta muar, por lei feita no 1.0 de Agosto de 1625, entendeu depois a mema lei, declarando que não tinha lugar nos Clérigos da Sé de Lisboa, fundado nos muitos privilégios e isençõe que por direito lhes são concedidos. O príncipe regente o Senhor D. Pedro na pragmática, que em nome de EI-Rei D. Afonso 6.· seu irmão publicou a requerimento dos Três Estados em Cortes a 13íde Abril de 1668 distinguiu no § 4.· os títulos, os Conselheiros de Estado, e os Presidentes, de todos os outros vassalos ordenando que eles só pudessem acompanhar-se de quatro lacaios, e suas mulheres de quatro pagens, e a todas as outras pessoas de qualquer qualidade, estado, e condição q ue fossem, se permitiram dois lacaios, um moxila, e dois pagens, e da mesma sorte no § 5.· determinou, que nenhuma pessoa pudesse trazer talizes, ou xaireis nos cavalos, mulas, ou machos, excepto os Utulos, conselheiros de estado, e presidentes.

( .. ) Andr.· Cbronic. de D. João 3.· p .• 3, cap . 2.

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28

A mesma lei no § 6,· reprovando o demasiado uso dos coches, sem se praticar a distinção devida à qualidade das pessoas, excepoio­nou as que deviam andar em coche, e a pragmática de 25 de Janeiro de 1677 determinou às mesmas pessoas o n<Imero de bestas, de que nos coohes se deviam servir, mas sendo feita uma, e outra distinção com aoerto, é sem d<Ivida, que aos grandes eclesiãsticos e seculares se devia determinar distinto coohe, e maior n<Imero de bestas, que is outras pessoas exceptuadas, segundo o costume praticado nas rep<Iblicas, e impérios antigos, e nas cortes mais polidas, e bem governadas da Europa; porque a mesma, ou quase a mesma confu­são, que pollticamente se considera no trato igual de um fidalgo, e de um plebeu, de um desembargador, e de um escrivão, se oonsi­dera também habita propor.ione indefferenl. (eic) de um grande, e de um fidalgo raso, ou de um desembargador,

29

Não necessita de outra confirmação a verdade desta máxima, e o primeiro argumento deste discurso, mais que da acertadíssima disposição que fez observar DOSSO incomparável e prudentissimo mODaroa na sua lei dos tratameDtos publicada em 29 de JaDeiro de 1739, pois nela propõem como motivo a confusão, que sucedia nos tratameDtos oom tanto excesso que confundia a ordem e pervertia a distinção, que faz os tratameDtos estimáveis, cODhe­oeDdo-se deste modo ser a distinção das pessoas o objecto das leis s umptuárias.

30

Pois se a confusão, e abuso dos tratamentos e o considerar-se nestes pervertida a ordem e confundida a distinção das pessoas foi causa e objecto acertadissimo daquela lei, determinando-se nela os tratamentos das pessoas conforme a distinção dos seus títulos e empregos, e carácter, e estes mesmos pedem com igual razão que o trato, e aparato exterior corresponda também à distiDção das pes­soas, títulos e empregos, floa manifesto que o objecto das pragmá­ticas, não se deve constituir só na moderação, e remédio dos exces­sos do luxo, que se pretendem evitar, mas também e especialmente na distinção e diferença das pessoas, acomodando-se as disposições da lei, com justa proporção ao carácter e grandeza dos vassalos, e remediando-se a confusão, que introduz o mesmo luxo Da superflui­dade dos gastos que se fazem indiferentemente no vestir, no comer, no ornato e adorno dos palácios e casas, Da magnificência dos coches, na profusão das galas, e das outras superfluidades que

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mpobreoem os reinos, e arruinam a8 repúblioas; e que por esta. oausa a mesma distinção das pessoas, que justamente se observa na leis, que determinam os tratamentos ; se deve também precisamente observar nas pragmãtioa como objecto próprio porque moderando o luxo, e a demasia dos povos estabelecem o trato, e aparato exte­rior, de que devem usar, e servir· se os vassalos.

31

E ta di tinção que justa, e prudentemente, se constitui como objecto, nas pragmaticas, que ordenam a matéria e forma do trato oon eniente ao diversos estado, gerarquias e ordens de qualquer repúblic8, e deve neoessAriamente observar com os grandes deste Reino, no maior ndmero de besta, de que se hão-de servir nos seus coches em um e outro trato com distinção dos fidalgos da primeira qualidade e dos ministros do Conselho de El-Rei N. enhor, dedu­zindo-se a origem e certeza desta mb:ima da que praticaram feliz­mente a Repdblica, e Império dos Romanos, e igualmente o Império e Repdblica dos Grego, nem serã digno de repreensão ou cen ura que se faça praticar na Corte de Li boa o mesmo costume, que e observou como lei nas Corte de Roma, e Constantinopla e que tempo antes e tinha abraçado em outros muitos reinos e ainda de presente e observa nas cortes, e cidades mais luzidas da Europa.

32

Por alguns séculos foi desconhecido o uso dos coches; muitos escritore entendem que o patriarca José foi o primeiro que usou dele: pela pintura dos fingidos coches de J upiter e do sol entrou a curio idade do homens a fundir em metais a quadriga ou coche de quatro cavalos, para o formar depois de madeira com capacidade de servir ao u o dos povo; uns entendem fora eu autor Erutonio que floresceu na Grécia quando Jo ué deu principio . . . do povo de neu mas é falsa esta inteligência porque já os hebreus e outras nações u aram da quadriga, outros têm por inventores a Palas, aos povos barceos e a Calitha sacerdote de Juno porém é mais superior e te invento, porque

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De quatro animais era servido o coche, em que viu a Deus o Profeta (3' I Ezequiel, e em quadriga ou coche assistido de quatro esprritos puseram os hebreus reverentemente a Arca do Testamento,. indicio manifesto de que na sua repdblica e reino era ( 3~ ) o uso daI>

( " ) Ezechiel c. 1.

( ) ParaJip L. I. v. 18. c 28,

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quadrigas ou coches de quatro cavalos particular dos Reis, prínci­pes, e grandes, e se prova do aparato régio de alo mão de quem diz a Escritura Santa que tinha doze mil coches repartidos pelas cidades e Corte de J erusalem, todos de quatro cavalos para o seu uso, e magnificência , o que ig ualmente se confirma de muitos lugares das divinas letras ( 36 ).

34

Os Gregos usaram sempre de quadriga, ou coche de quatro cavalos especialmente nos jogos solenes, como os oHmpicos, e na grande solenidade dos mistérios da Grécia, os vencedores segundo o costume apareciam em carroça de triunfo a quatro cava los, e do mesmo estado usavam por especial graça, ou em atenção da digni­dade, e empregos, que tinbam, as pessoa da maior grandeza, e autoridade, havia cocbes cham ados perfeitos, que tirados por quatro cavalo valentes, e de grandes fo rças, corriam sem parar doze vezes o campo dos jogos públicos, e na fi ltima volta se lhe atribuia a victória com grande aplauso do vencedor. Os sacerdotes nas mes­mas festividades pas eavam em coche de q uatro cavalos pelo res. peito do seu carácter, e ob équio da ua fal a religIão.

35

Logo nos primeiros anos da fundação de Roma, imitando Rómulo o costume das matronas do antigo Lacio, apareceu com coche de quatro cavalos conseguida a vitória dos ceninenses, como afirma Oionízio, e por esta causa ofereceu no templo de Vulcano um coche com quatro cavalos de bronze. Plutarco não atribui a Rómulo, mas a Tarquínio, ou a Poplicota o uso da quadriga, e é sem dCivida, que usaria de coche Tarquino, porque sua mulher Tulia usou também doste aparato.

A repfiblica romana, que em vigilãncia, e acerto não cedeu a outra alguma repCiblica do mundo, proibiu acertadamente o uso dos coches pela dema ia e exce o com que se tinha introduzido, sem introdução e diferença de pessoas, e Portio Catão que foi o Romano da maior prudência, procurou remedear com cautela e te grande dano ; no consulado de Quinto Fabio, e LCicio empronio Graccho fez C. Oppio tribuno do povo (para) que se aceitasse a lei oppia, publicada no ano de 540 para o fim de se remediarem os grandes abusos introduzidos na República pelo luxo, pela aidade, e pelo fausto, e em um capftulo particular proibiu a mesma lei, que as matronas, e senhoras romanllS não andassem em coches, o que ela ofreram tão mal, que saíram inconsideradamente pelas rua de

( ,. ) par.lip L. t . c ... v. 26. Judith. c. 4. ParaI. I. c. 18. v., e asaim a l'ellPeito de outros grandes I>rlncipes .

8

Roma, dando vozes, e pedindo ao enado, que revogasse a dita lei De ta proibição, e o oon eguiriam, se a autoridade, e re peito de Portio Catão o não embaraçasse, ponderando vivamente DO enado os males, e repre entando a eminente ruina da República ooa io­nada por e te exoes o, e oonfu ão.

49

Ta cortes modernas é diver o e vário o u o do coches; na de Roma, que reputo a mais polida, e bem governada, ó o umo Pon­tlflce, o P rtendente, o Prínoipe ColoDa etc. e os embaixadores em função de cerimónia u am de coche com sei bestas; os eminentfs­simo cardeai, o pr[ncipe, princesas e outras pes oas di tinta u am de carroça, ou coche de dois cavalo, em poder alterar este u o me mo nas funçôe pl1blica, e de cerimonia l, em que u am de quatro cavalo.

50

I"a corte de Viena co tuma o Imperador e a sua ca a imperial andar em cocbes de 6 cavalo; e nas funçôe p(lblicas da corte u am os príncipe do Império do me mo número de bestas na suas carruagen , mas ordinàriamente audam ó a dois cavalos e assim o praticava empre o Príncipe Eugénio, menos nas oca iôe de partir para campanha em que era acompanhado de grande nl1mero de coche eu, todos a 6 cavalos pela representação do eu lugar, carácter e emprego. Naquela grande corte só distingue as pessoas 1l libré de que usam própria da sua famUia tanto as im, que pode entrar no pátio do Palácio Imperial qualquer carruagem levando os lacaio libré de príncipe, que no me mo e pos a apear, ainda que não vá nela o mesmo principe, ma pe oa de diferente estera, e por is o como a libré di tingue a pe soa, não têm e tas o cuidado de pr<Jcurar outra distinção no nlÍmero de bestas, de que usam nas carruagen .

A Corte de França depois da pragmática de Lufs XIV feita por oca ião da guerra observou cuidadosamente, que nenhuma pessoa de qualquer tltulo e dignidade, que tosse troxesse no coche mais de dois cavalos, e para que no exemplo do Rei e da !amUia real se estabelece se a observância de lei tão proveitosa, andava o Rei na Corte a dois cavalos, e só safa a sei tora da Corte, quando se ia divertir nas suas casas de campo; presentemente ouço que Ge pratica a mesma lei, e que em dias de cerimónia se dispensa aos embaixadore , prfncipes e grandes.

( ") lolerromp.mos aqui o presente manuscrito até ao 6m do § 4 , por se reCerir a faclos da história romana, respeitante a coches. matéria que nada interessa ~o presente ~ todo

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A Corte de Holanda usa inalteràvelmente de coches de dois cavaloa, sem se exceder o n(ímero por pessoa alguma da maior qualidade, e emprego que seja.

51

Na Corte de Londres andam ordinàriamente os titulas e cléri­gos em carroças, e coches de 2 cavalos porque o Governo por evitar a demasia do luxo neste trato e dar a conhecer a distinção das pes­soas, ordenou que os Duques, Marqueses, Condes e Barões, trou­xessem cada um no alto do tejadilho da carruagem a coroa que lhe compete pelas leis da armaria e os outros senhores, fidalgos, e ministros as armas, que lhe competem pela sua famma, dignidado ou emprego, evitando-se por este modo excessivas despesas, e dando-se fàcilmente a conhecer as pessoas, que são distintas na Corte pelo seu carácter.

52

Corte de Turim introduziu que por maior comodidade usas­sem ordinàriamente os grandes de carroça 2 cavalos; e a pessoa muito instruída na experiência e trato das Cortes da Europa ouvi di zer, que Madama Rial, suas irmãs, o duque de Chahlais, a Princesa de Carignano, e mUItas vezes EI-Rei de Sardenha usam de carroça e coche de 2 cavalos e que nas funções solenes da Corte vários prín­cipes, e grandes de 2 cavalos por distinção das outras pessoas.

53

As rep(íblicas de Itália têm o mesmo uso de dois cavalos em coche e só algum príncipe como o de Craon em Florença usam de coche 11 4 e 6 cavalos nos dias de cerimónia.

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Em Espanha tem sido vário e diverso o uso dos coches, e para q ue se conheça melhor mostraremos a sua origem, e as muitas determinações, que tomaram os Reis em benefício ptiblico, distin­guindo as pessoas reais e os grandes, e ocorrendo ao dano, que em diversos tempos pretenderam introduzir muitas pessoas a quem não competia semelhante distinção.

Governando EspaDha o Imperador Carlos v apareceu na sua Corte o primeiro coche no ano de 1546 causando tanta novidade como admiração; e suposto por alguns anos se não alargasse com {)emasia o luxo dos coches, contudo, morto Carlos v, e entrando a

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governar Filipe 2,· eu filho, foi tão exoe siva, e culpável a introdu_ ção do ooohes, que na Cortes de Madrid, oelebrada em 1578, pedindo o três e tados remédio a este grav{ simo mal, porque já nem as mulheres ilu tre se distinguiam das plebeias, l1em os fidal­go do que não eram, movendo-se grave e perigo as que Iões obre a antiguidade, e mer cimento da famflias de que I'e ultaram

oon equência de grande perigo à honra e à consciência, resolveu o me mo monarca, que 6 o grandes títulos, e outra pes oa excep_ tuada pude em andar, e ervir·se de coches de quatro oavalo , com certa divi a no coch iro, e ata ocheiro, proibindo o u o de coche à outra pes oas; e porque com o tempo foi e qu oendo a ob ervância da dita lei, veio a confirmá·la o me mo príncipe na célebre pragmática do último de Dezembro d 1593, que e publicou no ano eguinte de 1594; e tendo-se introduzido os corricoche a 2 cavalos, ou mula, o proibiu apertada mente a dita Lei, ficando em eu vigor a determinação da arte, obre não haverem coche, enão de quatro cavalo nem poderem u ar dele, • anão as pes oa

exceptuada, a quem se tinham concedido no ano de 157

55

' ubirlo ao trono Filipe 30 de astela, publicando em confirma­ção ua a 3 pragmátioa de 2 de Junho de 1 DO, de 3 de Fevereiro de 1611 e a de 1619, in taram com le vigorosamente muitas pe soas particulare , para que reformas e obre o u o dos coches e nú.mero de be ta ~, a pragmática de EI·Rei eu pai, e porque pe ou mai no eu grande coração o bem público, que a vaidade particular do

pretendente pô grande cuidado na ob ervância da me ma lei, de que procedeu introduzirem- e a lit ira, cujo u o pela moderação do '7a to não teve contradição, e a referida pragmática de 1593 ficou em eu viaor a re peito da pe~soa distinta" que enlão se exceptuaram, podendo levar cocheiro., e ata cocheiro com gali­nha o cardeai, embaixadore" grandes, arcebi po e bispo, e sem galinhas o Hlulo não arandes, o con alheiro de E tado, e pre i­dente do conselhos que ordinàriamente vão em cadeiras de mãos com eu coche de criados a quatro, conselheiro, alcaides da

orte e pre idente da ala anda em a quatro be tas não podendo levar otacocheiro,

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EI-Rei Filipe 4,0 vendo, que as pragmáticas dos reis eus ante­ces ores obre o u o dos coche, e nú.mero de bestas , se não ob er­vavam, declarou por carta ua de 24 de ovembro de 1656 escrita ao Duque de ~lonte Leão eu lugar·tenente, e capitão general, que por entender se tinha introduzido em algumas parte dos seus rei­no o costume de trazerem algumas pessoas seis mulas, ou cavalos.

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nos ooohes, sendo esta uma das regalias que só competiam l sua pessoa real, e a tinha, e praticava, oomo regalia sua própria, era sua vontade, que nenhuma pessoa de qualquer qualidade, e condição, que tosse, excepto os seus vice-reis a quem comunicava semelhantes regalias, pudesse usar das mesmas.

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Não me consta que os Rei quo sucederam a Filipe 4.°, fIzes­sem outra declaração contrária a esta, sendo o costume presente­mente praticado em Espanha, que os Heis, e Casa Real trazem nos coches seis bestas, e dois cocheiros descobertos como regalia pró­pria, de que só podem usar por privilégio os vice-reis no acto e exercício do governo e quatro bestas os grandes e mais pessoas referidas, com as cerimónias declaradas menos as golinhas.

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Pragmáticas do Reino

Neste Reino têm teito muitas pragmáticas, e leis sumptuárias para moderar o luxo, e reprimir o excessivo tau lo dos va salos; referirei primeiro !lS que dizem respeito a diversas espécie de luxo, e depois as que têm por objecto os coche, e o número de besta de que se devem servir. ão vi, nem tive notícia de pragmática alguma antes do Reinado d'EI·Rei D. João 2.°, e te monarca t z duas, a l.a em .'antarém a 22 de Março de 1487 com total prOibição dos brocados, telas, sedas, e bordaduras de ouro, e prata; a 2. em Lisboa no ano 1491 depois da morte do Príncipe D. Afonso, em que proibiu, que nenhum!l pessoa tives e no Reino mula de ela, nem besta cavalar, que não fosse da marca.

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El·Rei D. Manuel fez duas pragmáticas: a I.n em Lisboa 1\ 27 de Junho de 1504 para se moderarem os excessivos gastos, que e faziam nos lutos, e funerais dos mortos, a 2. 3 em Évora a 1 de Agosto de 1520, para que se não u assem brocados, edas, e borda. duras de ouro, e prata. EI-Rei D. João 3.° fez quatro pragmática; a L" em 7 de Julho de 1524, a 2.3 em 2 de Novembro de 1534, para que nenhuma pessoa andasse a cavalo em besta muar, e só em cavalllr de certa marca; a 3.& em Évora a 13 de Junho de 1535; a 4.a tam­bém em Évora a 13 de Janeiro de 1550, em que se taxou o número de criados, de que cada um se devia servir, e acompanhar.

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EI-Rei D. eba tião f z 4 pragmáticas a 1.& em Li boa a 25 de .Junho de 1560, interdita o luxo, ouro e prata nos ve tido ; a 2.-, que era um alvará com força de lei feito em Li boa a 20 de Novembro de 1565, proibia a calças imperiais, as outras dua que publicou em 1570, e 157 , antes de pas ar a África, tinham também por objecto a moderação do luxo.

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Filipe 2.° de Ca tela governando e te Reino publicou para ele uma lei de 20 de Julho de 1591, porque coartou a excessiva despe a do funerais : Filipe a.o eu filho publicou outra em 29 de Outubro de 160 , porque proibiu todo o ouro, e prata nos vestido, e adorno da ca a . o enhor Rei D. João 4.° fez outra lei sumptuária em 17 de Julho de 1643, m que proibiu apertadamente toda a casta de ouro, prata, e bordadura no vestido, o mesmo praticaram o Prln­cipe Regente o enhor D. Pedro na 2 pragmáticas de 13 de Abril de 166 , e de 21) de Janeiro de 1677 e nas outras, que publicou sendo Rei em 9 de Ago to de 1686, e em 14 de Novembro de 1698, e ll.lti­mamente . Mag.e, que Deus uarde na sua Lei sumptuária de 6 de Maio de 170 , as quais todas e encaminharam a moderar o luxo nos ve tidos, e nos outros exces os, que empobreciam o Reino.

62

O dos coches, e liteiras procurou remediar primeIro que todos EI-Rei FIlipe 4.° de Castela governando este Reino na sua Lei do 1.0 de Ago to de 1625, ordenando, que nenhuma pes oa andasse na cidade de Lisboa, passados 6 meses em coche, ou liteira, e deu-se tão pronta execução a esta Lei que não teve o Senhor Rei D. João • .­que advertir na sua pragmática referida.

6

ó no Reinado do enhor D. Afonso 6.-, governando em seu nome o prlncipe ragente o enhor D. Pedro na larga pragmática de 13 de Abril de 16G8, que se publicou no ano seguinte de 69, e foi feita a instância, e requerimento dos Tres Estados do Reino nas Cortes antecedentes; entre outras muitas cousas, que na dita lei se ordena­ram, foi disposto particularmente no § 4.° = que só os títulos, con­selheiros de Estado, e presidentes dos tribunais se pudessem acom­panhar de 4 laoaios, além de cocheiro, andando em coche, ou de dois liteireiros andando em liteira, e que suas mulheres se pudes-

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sem servir de quatro pagens; e a todas as mais pessoas de qualquer­qualidade, estado, ou condição, que tossem, se lhe permitiram só dois lacaios, um mochila, e dois pagen .

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A mesma lei no § 5.° ordenou que nenhuma pessoa pude e trazer telizes, ou xairéis nos cavalos, mulas, ou machos, excepto o títulos, Conselheiros de Estado e Presidentes dos Tribunais, e no § 6.°, falando sobre coches e atendendo igualmente à superfluidade dos gastos, e à distinçào das pessoas, determinou o eguinte. 5 =

E porquanto de alguns anos a e ta parte se tem introdu­zido o uso dos coches, e liteiras com grande dema,ia, e exce,nt:o, ga,/o" 18m di,hnçâo da qualidade da, pelsoas, estando proibida uma, e outra cousa por muitas leis, e pragmãticas pelos senho­res rei meus antecessores, não havendo licença e pecial para isso, ordeno, e mando, qu~ da publicaçào desta em diante, ,d pOliam tA.ar dos di/ol coches, OtA hteira! os li/ulol de,/e Reino, Conselheiros de Estado, Presidentes, enhores de Terras, Alcai­des-Mores, desembargadore , e fidalgos nos mesmos livros, ou suas mulheres, e querendo algumas pessoas, fora dos acima exceptuados, usar de coche, ou liteira nesta Corte, ou fora dela, me pedirão licença, que lhe concederei, quando haja cau a muito legítima para e se efeito e vista.

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Porque nesta pragmática se não determinou o nümero certo de bestas, que deviam trazer nos seus cocbes as pessoa exceptuadas, e a vaidade, e luxo foram introduzindo o uso de seis bestas, fez o mesmo Prfncipe Regente o enhor D. Pedro a sua 2.& pragmática de 25 de Janeiro de 1677, na qual declarou para remediar este exces o, o que se lê no § 8.° da mesma lei =

Nenhuma pessoa de qualquer tftulo, ou preeminencia por maior que sejo, dentro nesta cidade, ou em outro qualquer lugar, onde assistir minha pessoa, e casa real poderá Irazer nos cocheI, carroça" cale,as ou 8ltural, mais que quatro mulas ou quatro cavalos, e s6 permito, que saindo dela, se possam por seis no Convento dos Carmelitas Descalços, no Convento de Santa Clara, no de St.a Marta, e Igreja dos Anjos, e nestas mes mas partes se tirarão, quando entrarem nela.

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66

A ta pragmãtica se eguiram depois as de mesmo enbor R i D. Pedro 2.°, a primeira a 9 de Agosto de 16 6, que confirmou a de :15 de Jan iro de 1677, e a de 14 de ovembro de 1698 q ue no

::l.o tornou a pr ibir o tiro de ei be ta em cocbes, dentro de ta cort , e cidade, e que 6 fora dela se pudessem pÔr nas outra paragen , que a me ma lei determina, e que aohando- o a ditas sei be ta em algum ooobe dentro da Corte, ficassem perdid a dua be ta , por er 6 livre a permi ão de 4 à pessoas exceptuadas ne ta, e na outra pragmãtioas antecedente.

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enbor que Deus Guarde, na ua pragmãtioa de 6 deMaiode170, di põsno 2.°0 mesmo,quenalei anteceden te de 14 de .'ovembro de 1698 tinba ordenado obre o número de besta para qualquer oocbe o enhor Hei D. Pedro seu pai, conformando,se com as nova paragen e perda de bestas, declaradas na dita lei.

E ta ão a pragmãtica e lei particulares, que tenho noUcia e publica em ne~te Reino obre o uso dos coches e nt1mero de

besta, que nele devem servir.

68

Conhecida a evidência que dá na matéria presente a luz da hi I ria grega e romana, o uso das cortes da Europa e a acertada re olução do Doutores que om eu lugares referirei parece pru­dente e digno de louvor que a fazer . Magestade nova pragmãtica a querer e determinar cou a certa, e bem fundada neste ponto do u o do coches e número certo de be tas, deve o mesmo Senhor regular e conformar como co tuma a sua ábia resolução com as leis e com o co tume tão célebre pela sua antiguidade como pelo res­peito dos prínoipes, que introduziram e observaram, distinguindo igualmente os grandes do Reino para evitar a confusão da sua corte e moderando a demasia do luxo em público, e universal benefício dos seus vassalos.

69

Nem pode duvidar·se com fundamento que a distinção dos grandes no u o de mais sumptuo os coches e de nú mero maior de bestas, de que hão de ser servidos, deve ser particular objecto da nova pragmática porque esta verdade é inegãvel atendido o uso e costume antigo, das Cortes de Roma, e constante nos factos referi-

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dos, pelos quais con ta, que a RepClblica Romana, e os Imperadores distinguiram sempre com o uso dos mais ricos e sumptuosos coches, e nCimero de bestas ss primeiras dignidades e os grandes da Repú. blica, e do Império, permitindo· lhes o URO de 4 cavalos, ou mulas que era próprio, e partioular das pessoas dos Cézares e por privilé­gio da s ua augustfssima famUia, e dos parentes dos mesmos impe­radore , e tazendo diferença de te aos enadores, e mais pessoas da primeira nobresa, e honra civil, concedendo-lhes por e e motivo o uso da carroças tiradas por duas besta, que eram menos sumptuo­sas e ri cas, que os coches ou carpentos, de que USavam o me mos imperadores, e as primeiras dignidades do Preteitos Pretório , e Urbsno , dos consules, dos governadores das províncias maiores e dos vicârios do Império.

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Confirma-se também ser verdadeira a referida asserção do uso e cos tu me observado nas Cortes principais da Europa, aonde se ateude à di s tinção e carácter dos grandes no trato dos coches, e maior n úmero de bestas, especialmente nas funções sIJberanas e pCl blioa , q ue também se pratIca na Corte de Espanha em observân­cia da p ragmáticas de Filipe 2.° e 3.° e na cédula real de Filipe 4.0 e não pode deixar de se abraçar como lei, ou imitar como exemplo um costume que enobrece a sua autoridade na observância de tantos séoulos, e na prática de tantas e tão sábias Cortes.

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Também das nossas pragmáticas referidas se confirma a razão verdadeira da máxima proposta ; concederam-se aos títulos, conse­lheiros de Estado, e Pres identes na pragmâtica de 1668 para di tin­ção e difer ença das outras pessoas, o uso, e serviço de 4 lacaios, e a suas mulheres 4 pagens, e que todas as outras pessoas indife­rentemente pudessem usar, e servir·se de dois lacaio , um mochila e dois pagens õ mente, distinguiu mais a mesma lei os título, conselheiros de Estado, e presidentes na permissão do uso dos teli­zes, e xairéis, proib indo geralmente a todas as outras pessoas, cons­tituindo a mesma lei e'xpressa distinção pelo carácter e qualidade de alguns vassalos, concedeu aos títulos, conselheiros de Estado, presidentes, senhores de terras, aloaides-mores, desembargadores, e fidal gos nos seus livros o uso dos coches, e liteiras_

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Com esta inegável certeza se manifesta a distinção, que nas pragmáticas, e leis sumptuárias se fez sempre dos grandes das cor­tes mais polidas e prudentemente governadas, acomodando-se o

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trato pOblico e exterior da pe 08 ao carácter e dignidade da me ma por er objeoto pr6prio da dita leis, e pl'agmática di tinguir a grandeza, evitar a oon!u ão dos nobre, plebeus e oidadão , e r me­diar o dano, emular,: es, e di puta que ordinàriamente re u!tam do lu ,'o dema iado, quando a r pl1blioa de conhecendo a uas dis­tinta cla e. e gerarquia, e precipita cega oom o e curo fumo e lanr,:a de 1 o fogo da oberba, da emulação e da vaidade.

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Tinha e te abra ado tanto o reino de Castela quando e d li­berou Filipe 2.° o prudent a promulgar a louvável pragmática de 1593 e a confirmar o capitulo da ortes de 1578 afirmam os autores e panh6i areia, zevedo l' Perez louvando os acertados e pruden­te fio daquela lei er amai audável El prov ito a ao grande corpo da E paoha porque não havia mulher, ainda da ordem e plebe mai [nfima que não entendes e convin ha ao carácter da s ua pe oa andar m coche, na cendo de ta pre unção a louca di puta, com que e per uadiam iguai à senhoras mai ilustre, e da primeira

grandeza ; e que no homen havia a mesma contu ão, e de ordem, não di tinguindo o pobres dos rico , os nobre dos plebeus, e o grande, e magnate do nobre , por cuja cau a arbitrou o erudito Perez que eria ju ' to põr- um tributo no cavai s. e be ta dos coche. , e eges, e que nenhuma pessoa pude e trazer em carruagem meno de quatro cavalo , ou mula, e que por e te modo se evitaria o luxo, e a in olência da Corte de E panha.

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Ainda com mais energia ponderou o douto Navarr te as tri tes e pe ada consequência de te abu o, afirmando = er tão forte em E panha a emulação, que confundindo- e a ela es e as gerarq uias, não havia fidalgo particular, que para ua mulher não sair em pior coche, que as vizinha, não e anima se com vaidade, e invE'ja ao ga to, a que não podia chegar o seu patrim6nio, arri ca ndo talvez a reputação e a honra. E que parecia ser obrigação do príncipe atalhar nos seus va aios e tes inconvenientes como tez a prudência romana que 6 permitiu o cocbes às matrolla ilu tre , e ao que na repOblica ocupavam grandes postos o ofício, e em particular aos conselbeiros, e ministro, porque além de competir- lhe este trato pela autoridade do ministério, parecia justo, que os que e ocupavam de dia, e de noite no erviço da república tivessem e go as em deste privilégio, para se defender, e resistir à inclemência dos tempos = e desta verdade, e emulação, e inveja que ponderou

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Navarrete, e é muito antiga no uso dos coches, como advertiu n erudito P. Novarino, ' nasce a ruina, e o estrago, e a dissolução dOIl oostumes, nas honras, e nas fazendas em qualquer reino; que por isso se lamentava o profeta !zaias, de que Deus tinha deixado, e desamparado o seu povo, porque tedo o Reino de Israel estava cheio de oavalos, e inumeráveis ooohes.

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o penoso vloio que arruinou o mundo no primeiro homem dando orédito à voz da serpente de que igualaria na magestade, e grandeza ao mesmo Deus tem perdido e perde os reinos e repO­blicas na violenta di tinção, que afeotam no luxo e 110 uso das oarruagens todos os homens, andando nelas ptlblicamente os que não podiam nem deviam andar, e servindo-se do nú.mero de bestas, de que se não podiam nom deviam servir, de oujo exemplo culpável resultam escândalos, emulações, murmurações e ódios, descobrin­do-se por inveja os deleitos mais ocultos das famHias, das ca as, e dos avós, torcendo-se muitas vezes as penas dos oficiais pú.blicos e da ju tiça, só para se manter nas carruagens, e, nos outro efeitos do luxo e da vaidade o trato, que não compete, a di tinção que não concorda, e a autoridade se u urpa, roubando por estes meios injus­tos e de grave prejuízo a glória, a dignidade e o merecimento dos grandes e dos homens beneméritos, justamente empregados no serviço da repú.blica e no governo do reino, e padecendo este a sua maior ruina, originada de tão infeliz contusão, e cega desordem.

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Os antigos como refere eruditamente Novarino estimavam o uso dos coches, e carroças pela sua maior honra e magnificência, e por isso os romanos na Patente, que davam ao Vicário da Cidade de Roma: lhe concediam, que andasse em coche à semelhança e imitação dos grandes da repú.blica e quando conferiam a dignidade consular e declaravam ao cônsul que a glória daquele grande cargo consistia em poder andar em coche, para que por estes decorosos indlcios conhecessem que naquela aparente representação ocupa. vam OH cônsules e os vicários um lugar da maior, e da mais excelsa dignidade.

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Daqui nio, que os imperadores, e reis julgaram só próprio e particular da sua autoridade, dignidade e respeito o uso dos coohes, ficando por este principio lora do comércio dos vassalos, e proibido a todos conforme o direito, por ser semelhante fausto, regalia pró-

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pria da Magestade, como ponderam Ripol, Castilho e D. José de LeJu, em que po sa usar do me mo fau to leglti mamente proibido va alo algum, a quem e não conceda por e pecial graça e privi­légio do pr(noipe, determinando st o n(ímero de bestas maior, ou menor, conforme a maior ou menor dignidade, e grandeza do vas-alo, como eruditamente pondera Panei rolo fundl\do na lei doa

imperadore Graciano, Valentiniano, e Teodó io ji referida e no co tume do pr feito pretório, e da outra primeiras dignidades, fundando·a em direito e acre c ntando que para se di linguir a mage tade, e não introduzir a vulgaridade dos coohe (tm) desprezo de la preeminência e e tabel ceu aquela proibição. e e~ta licença do Prlnoipe, taxando o nOmero de bestas conforme a dignidade, preeminência, e carácter de cada um.

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Da mesma orte, que aos imperadores, e reis privativamente pertence taxar o número de be ta ,d que os vas alo prlviligiados podem u ar no coches, a im também lhe incumbe d clara r, que o coche permitidos ao grandes e à outras pessoa de igual preeminência hão-de er di tintos, e diferentes na magnificência, e adorno dos outros coche, permitidos aos fidalgos, aos enbores das terra, aos alcaides mores, e aos desembargadore , imitando o lou­vável co tume das cortes de Roma, e Constantinopla nas quais eram di tintos os cocbes em que andavam os prefeitos pretórios, os côn ules, e outras dignidades dos cocbes ou carroças em que anda­vam os senadores, e governadores das provincias, sendo aqueles mai altos e maiore , e tes menores e mais baixo, aqueles de maior primor, ~ tau to, estes de menor fausto e perfeição.

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E como a introdução, e uso dos cocbes que se estima como srm· bolo da maior bonra, e dignidade, re peitou sempre o decoro e reverencia devida à magestade que merece estas in (gnias como própria e particulares do seu ornato, soberania, e grandeza, e toda a permis ão e faculdade do u o dos coches e nClmero de bestas depende da generosidade e clemência dos soberanos, que são o prin· dpio, e a origem certa da dignidade, da honra, e da grandeza dos seu va saio, parece não 6 acertado que S. Mag.e que Deus g uarde, determine aos grande do eu reino e às outras pes oas a quem deu, ~u permitiu o tratamento de excelência na sua lei de 1739, a forma, e grand za do coches, de que se hão·de ervir, e o nClmoro das be ta que devem trazer, com di tinção, e e pecialidade que pede a grandeza e excelência daquele tratamento, comparado com o das ~utras pessoas, a quem se concede, ou permite a mesma lei o de

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senhoria ilustr[ssima, ou de senhoria, e com 08 ministr08 do con­selho e dos tribunais maiores, a quem 8e não concede semelhante tratamen to.

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E porque S. Mag.e pode dispensar a permi8são e regalia de 6 bestas às pessoas referida, que se podem tratar por excelência, imitando o costume dos Imperadores Romanos, que às maiores dignidades da Reptíblicll. e do Império concediam nos coches o mesmo número de be tas, de que eles usavam até DOS ptíblicos triunfo j ou permitir s6 o uso de quatro bestas em coche aos mesmos grandes, e às outras pessoas nobres, e beneméritas o de duas bes­ta , abraçando a lei dos imperadores Graciano, Valentiniano, e Teo­dósio praticada nas cortes de Roma, Constantinopla, e o costume observado na maior parte das cortes e rein08 de Europa.

Seria temerário o meu voto se interpusesse arb(trio em uma matéria, que s6 deve regular a prudente ideia, o sábio ditame, e a suprema autoridade do mesmo Senhor, que distinguindo a gran­deza, o merecimento, e a dignidade dos seus va 8alos à proporção dos tratamento, que lhe mandou dar, e permitiu atenderá igual­mente a conservá-los na diferença do trato que a remediar os abu­sos introduzido no luxo das carruagens, excessi vo ntímero de bes­tas, considerando o que podem, e o que devem à autoridade do reino, à magestade do rei, ao esplendor das famHias, e à grandeza das suas pr6prias casas.

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Nem as dtívidas que se podem ponderar em contrário ofendem a verdade, e a certeza da máxima proposta e provada com tanta evi­dência neste discursoj porque a primeira de que não parece oonve­niente, que se permita aos grandes o uso de seis bestas, porque são os que se acham em estado de tazer menos de peza, que todos, e porque contra(ram maiores empenhos para conservar esta distinção, sem a qual presentemente se acomodam,_andando em seges, tem muitas e concludentes respostas.

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Fundam-se estas em que, além de ser paradoxo que' os gran, des do reino se acham em e tado de fazer menos de peza que todos (as rendas das cnsas grandes, e titulares, ordinàriamente são maio­res que as dos outros va salos, e se a alguns que fossem exceptua­dos, se permitisse o uso de seis ou quatro bestas em coche, como aos títulos e grandes, dentro em poucos anos seria maior e mais oonsiderável o empenho daqueles que o destes, atendida a propor

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ção da rendas, e patrimónios de umas e outras oa as, e seria mais sensível o prejufzo da Repáblioa. gravando-se todos, do mesmo modo oom que os grandes se supõem gravados, e oprimidos por oausa dessa despesa

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Além de que atendida a moderação dos gastos e exoessos, que uma lei sumptuária 00 tuma acautelar nos vestidos, nos ornatos das casa, na libré, nos banquetes, no jogo, no námero dos pagens e do lacaios, e nas outras utilidade que hão-de precisamente lembrar a . Mag.-, como legislador, o mais ãbio, o mais prudente, e o mais empenhado nas fortunas, e aumentos dos seus vassalop, terão os grandes fãcil meio e cómodo remédio de se desempenhar do que devem e de evitar maiores empenhos no sustento de duas bestas mai , quando S. Mag.o lhe permita a distinção e regalia própria da sua real pessoa, e soberano caráoter de andarem a 6 bestas em coche.

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Quanto mais, que advertido o costume das oorte mais polidas da Europa, e o disvelo que empregam para di tinguir os va aios beneméritos, e coartar o exces o e profu ão das suas despesas, parecia ju to e conveniente, que na nova pragmática se ordenasse, que os grandes eclesiá ticos, e seculares, e as mais pes oas a quem se concede, ou permite na lei de 1739 o tratamento de excelência, pude sem usar de sei, ou quatro be tas em coche (como a '. Mag.e melhor parecer) nas funções páblicas de corte e de cerimónia, e que em particular, e cotidianamente pudes em andar em carruagem de qU1tro, ou duas be tas, regulado o námero, que se permitir nas funções p<íblicas, e para distinção trouxessem os grandes, e as outras pe oa condecoradas com o tratamento de excelência em cima do tejadilho, e nas costas do coche, ou de outra qualquer carruagem a coroa e as arma, que lhe pertencerem segundo as leis da armaria pelo seu título ou emprego, os duques a sua coroa ducal, os mar­que es a sua, os condes a sua, e a esta proporção os outros senho­res exceptuado, segundo o privilégio, de que gosam, e as armas próprias de que usam, imitando por este modo o louvável uso da corte de Inglaterra do qual resultaria distinguirem-se decorosa­mente as pessoas, e moderaram-se lltilmente os excessos, e gastos no serviço dos coches e no maior námero de bestas.

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Quando se reconhecesse e estimasse como importante este arbítrio, seria tambem preciso distinguir as carruagens dos gene­rais, mandando juntar às suas armas um bastão em cada lado,

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segundo o costume de França; e que os eclesiãsticos da segunda ordem e grandeza, os alcaides mores, fidalgos nos livros d'EI-Rei, e desembargadores trouxessem nas carruagens pintadas as armas, que lhe competissem, ou alguma divisa, e sinal, porque se conhe­cesse a distinção da pessoa, e o carãcter do ministério, e que fora destas, não usassem de arma, divisa ou sinal em carruagens outras pessoas, regulada esta distinção pelo tratamento de senhoria decre­tado na Lei Novíssima, e pelo emprega, e ministério das pessoas, a quem se não mandou dar especialmente e dos ministros do Con­selho de EI-Rei, e dos que ocupam lugar nos tribunais maiores.

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Quando não agrade o projecto de distinguir as pessoas pela divisa das carruagens, com que se evitava o exceAsivo luxo das mesmas e de maior nCimero de bestas seria também Citil imitar o uso de Alemanha, ordenando, que as pessoas, e empregos se distin­gam pela libré dos lacaios, e declarando, que a dos duques traga certo ainal, e a esta proporção a dos marqueses, condes, grandes eole íãsticos, e das outras pessoas referidas, e distintas pelo trata­tamento de excelênoia, e senhoria, e pelos empregos, que ooupam na paz, na guerra, e na administração da justiça.

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Por este modo e oom esta suave .. . serã fácil introduzir o uso de dua bestas nas carruagens dos grandes, fora das funções sole­nes da corte, e de cerimónia, nem se poderão queixar de sa di po­sição os eolesiá ticos, sabendo com certeza, que os eminentíssimos oardeais, e bispos, e mais prelados andam na corte de Roma, Turim e outras a dois cavalos, e na de E panha a quatro bestas; nem mos­trar-se sentidos os grandes seculares deste reino com esta determi­nação, sendo vulgarmente sabido, que nas cortes prinoipais da Europa andam ordinàriamente os grandes, e prínoipes em oarroças de dois cavalos e como se pode oonservar a distinção dos grandes pelos meios propostos neste discurso, e se evitam maiores empe­nhos para o futuro remediando-se os danos, a que se supõem redu­zidas as casas dos grandes no estado presente, pelo luxo, e super­fluidade do trato, fioa de todo postrada a força da primeira düvida.

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Com a mesma facilidade, e evidência se mostra que não pode subsistir nem deve atender-se a segunda düvida, que persuade seria oousa odiosa às pessoas de igual qualidade a separação, e distinção dos grandes, no uso de maior ntlmero de bestas, não pratioada até

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agora, porquanto supõem este argumento uma cousa falsa, e afirma outra no todo e na parte menos verdadeira; supõem que serã odiosa esta di tinção no uso dos coches, e ntlmero , d~S be tas às, pessoas de igual qualidade, e isto não passa de uposlçao, porque alDda que a qualidade de muitas famHias não tituladas seja igual à dos gran­de , com qu m conservam muito estreito e chegado parentesoo, contudo a di tinção no trato exterior das oortes não respeita pri­meiro à qualidade do sangue mas à distinção da pes.oa p lo trtulo, grandeza, caráoter e emprego que ooupa, oomo se prova dos repe· tidos exemplos, que tenho reftl rido e alegado neste di cur o e do co tume praticado nas maiores e mais polidas cortes da Europa.

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Não passa também de supo ição este sonhado ódio que se supõem ter as pes oas de igual qualidade aos grandes pela causa da referida di tin~ão; porquanto a fomentar-se em semelhantes pe soa e e ódio oontra o grandes pela diferença do trato, mais fàcilmente e fomentaria pela di tinção dos tratamentos que e e ta­beleceu na lei de 1739 pOI' er mais natural ao brio de qualquer fidalgo sofrer o trato, que lhe determinam, que o tratamento que dão ; porque no tratamento das pessoas lembra empre a qualidade do angue, e a antiguidade da fam{lia, e no trato da carruagem e di tinto ntlmero de bestas lembra só alguma vez esta qualidade, e fidalguia de sangue; e introduzido com uso o trato que a lei determina, faz observar o oostume a distinção da grandeza, sem injtlria de qualidade.

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Afirma também o argumento cou a menos verdadeira no todo, porque a distinção dos grandes no trato exterior de que usam é geralmente praticada nas maiores cortes, e persuade cousa menos verdadeira na parte, porque neste Reino também se praticou em algumas pragmáticas a di tiDçào dos grandes com diferença dos fidalgos da primeira qualidade além de outras referidas na pragmã­tioa de 1688 foram exceptuados os trtulos, conselheiros de Estado, e presidentes dos tribunais para se acompanharem de quatro lacaios, e suas mulheres de quatro pagens, e a todas as mais pes­soas de qualquer qualidade, estado, ou condição, se lhe permitiram só dois lacaios, um mochila, e dois pagens; e assim como os fidal­gos de i1u tre qualidade não sofreram então mal, nem lhe causou ódio a distinção dos grandes na permissão, de mais dois lacaios, e de mais dois pagens, assim, e do mesmo modo lhe não causarã agora ódio a distinção dos mesmos grandes na permissão de mais duas bestas e de coche diferente.

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Na mesma pragmática de 668 foram exceptuados por dístinção os títulos, conselheIros de E tado, e prE'sidentes, para que s6 eles, e nenhuma outra pessoa pudesse trazer teliztls, e xaireis nos cava· los, mulas, ou machos; e assim como os fidalgos toleraram pruden­temente esta distinção sem dela se queixar, assim e da me ma sorte sofrerão sem ódio a permis ão de coche distinto e de maior n(Ímero de bestas, considerando o titulo, dignidade e preeminência das pea.­soas que pela sua grandeza forem exceptuadas.

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Não terá lugar este fingirio ódio se considerarmos os fidalgos, e senhores de qualidade, que as im como os grandes se distinguem deles nD tratarnento, nos avisos particulares da Secretaria de E tado para a funçõds da corte e na preeminência de se cobrirem forma­rem parede e (8e) sentarem diante \l'El·Rei, por ser esta distinção de que os mesmos fidalgos sem outro carácter não go am própria dos grandes, e da sua dignidade, assim e pela mesma razão e devem distlDguir dos fidalgos na permissão de coche distinto, e de maior nlÍmero de bestas, por pedir a mesma dignidade, e grandeza esta justa distinção.

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E suposto até agora se não praticasse neste reino esta distin­ção com os grandes ares " dos fidalgos de qualidade sobre o nlÍmero das bestas de que se servem em coche, porque neste ponto não se di tinguem os grandes dos senhores das terras, alcaides mores, de embargadores, e fidalgos /lOS livros de El·Rei, talvez por­que se ignoram as pragmáticas dos reis antigos sobre o trato exte­rior dos grandes, ainda con iderada entre estes a maior dignidade de cada um, contudo é sem dlÍvida, que as pragmãticas de 668, 677, 686, 69 • e a de El·Rei N. Senhor de 6 de Maio de \708 nem e con­formaram com o direito j nem com o costume observável das pri­meiras cortes do mundo, nem com a verdade da hi tória, nem com as pragmáticas e leis antecedentes que se publicaram neste reino, para moderar o uso dos vestidos, dos luxos e dos ornatos das casas, aonde os grandes mereceram sempre alguma distinção, na quali­dade e matéria dos vestidos, alfaias, etc., e especiallDente com a pragmática e lei geral de EI·Rei D. João 3.° feita em Lisboa a 13 de Janeiro de 1660 para evitar os gastos que faziam os que andavam na sua corte, e se distinguirem as pessoas no trato do exterior con­forme o seu merecimento, e estado.

t04

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É célebre esta lei e desoonheoida até o presente dos ourios08, e polfticos; devia a sua noHoia a um oortesão de grande curiosidade, erudição e estudo; nesta pragmãtica atendida a di tinção do Utulo, oarActer, e emprego das pe oas que egundo o uso daquele tempo andavam a oavalo, ou a pé na corte, determinou El-Rei os pagene, homen de pé, escravos, e tocha, de que deviam ser ervidae, e acompanhadas as mesmas pessoa, e a este fim ordenou expressa­mente que o duque não poderiam trazer mais de até sei homens de pé, e um esoravo oom mandil / que era um pano, como aventall e sei pagens, e até seis toohas; que os marqueses poderiam trazer até oinco homens de pé, um esoravo oom mandil, oinco pagens, e até quatro tochas; que os irmãos do Duque de Bragança seu obrinho, e os filho do Mestre de antiago seu primo, e os condes poderiam trazer até quatro homens de pé, um e cravo com mandil, quatro pagen , e até quatro tooha ; e as outras pe soas que tive sem assen~ tamento; e a im as que to sem ao oon elho, e os filhos, e netos das pe oas de titulo, que jã forem herdados na casa do ditos eu pais, e avó até três homens de pé, e um e cravo com mandil, e três pagen , e até dua tocha, e todos os outros fidalgos, e a sim os de embargadores das a a da upliCJlQão, e do {vel até dois homen de pé, e um e cravo oom mandil, e os moços fidalgos, que no Paço andas em em pelote um homem de pé, e um pagem, e uma tocha: que toda as pe soas daqui para baixo poderiam trazer até doi moços, ou homens, e os moço, que trouxe sem as tocha, não se entenderiam no nümero do homen, e moços, que acima era declarado, que trouxe sem as pe soas obredita .

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Por e ta prudentí ima lei se conhece claramente que no trato exterior do grande, ainda re pectivamente, e no das outras peSr soa nomeada, que ão as mai di tintas neste Reino, havia dife· rença e distinção, ervindo- e os duque, marqueses, condes; e os enhore , que descendiam da Serení ima Ca a de Bragança, e da

grande Ca a de Aveiro, de uma comitiva mais lusida e maior no nflmero do pagens, dos homen de pé, das tochas, e dos moços, que traziam, de que se deviam servir as pessoas, que Uves em assenta­mento, as que fossem do conselho, e os filhos, e netos da pessoas .titulare, que jã herdassem, e po uí sem as casas de seus pais, e avó, e que e tes mesmos deviam ter diferente trato, e acompll­nhamento de todos os outros fidalgos;.: dos desembargadores das Ca a da uplicação, e do Cível, e do moços fidalgos, que andas­Bem no actual serviço do Paço; e que em , consequência se tinha praticado neste Reino distinção e diferença no trato, e aparato exte.

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rior dos grandes, a respeito dos fidalgos; e suposto no ponto do nllmero de bestas determinado para o uso dos coches não se tivesse feito a distinção, e diferença, que se devia fazer pelos fundamentos alegados, e talvez porque não houve notícia desta, e da outras pragmãticas do Reino, contudo bastava provar por esta lei a dife­rença, e distinção, que havia no trato, e acompanhamento dos gran_ des, quando eram acompanhados, e servidos por homens, para se conheoer também a distinção, e diferença, que presentemente devem ter nas oarruagens, e no nllmero dos lacaios, e das bestas de que se devem servir, e acompanhar.

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Nem pode vir em consideração a razão do ódio que se teme, porque assim como os grandes naquela lei tinham diferença, e dis­tinção no trato uns dos outros, em razão da maior dignidade, as im e com maior razão se devem na nova pragmática distinguir os gran­des dos fidalgos em atenção ao seu título, e grandeza; e a sim como os desembargadores, que são do Conselho de El·Rei, e ainda os que servem nos tribunais maiores, devem ter di tinção, e diferença dos outros desembargadores, por não ser justo, que o que vieram ontem da Índia, ou da Bda, e ainda os que entraram na Casa da uplicação usem do mesmo trato, e aparato exterior, de que usam aqueles grandes ministros que chegam aos lugares maiores, conuecorados com muitos anos de serviço, e e tudo, e com muitos trabalhos, ofri­dos em benefício do reino e em serviço da república, correspon­dendo a distinção dos empregos aos seus merecimentos; a si m, e da mesma sorte se devem distinguir no trato, e aparato exterior os grandes eclesiásticos e eculares, e todos os outros senhores, que gosam, ou se lhe permite o tratamento de excelência, dos outros fidalgos, que não gosam do dito tratamento e grandeza.

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Consiste o fundamento desta máxima, que é todo o argumento deste di curso na razão que propus, e que ilustrarei novamente pela autoridade de um grande po)(tico. o qual diz com grande pnergia,(38) = a virtude, e merecimento particular de cada um é digno do seu

( .. ) Frederico Ut'cndelino. Inst. I'olitic. L. 7. C. II. lhes. S. pág. 202 . l. ul ord inlbus, et dignitate clves

diferunt, ita e t vesti tu dilferre de ben ,. ralio esl. quia dillna est praomio suo vlrtus quae certa quoque dignilati~, et eminent(ae sibi deposiet insignia ln sensus incurren­ia, per quue oR nose i et avulgi (aece dignoRei queat, quod fleri neutiquam pOleU ubi cuivis gestare quod vis permissü e st Ad hanc eonfusionem prohibendam v~ tlariae Leges in bene constitulis qUlbusdam rebus publicis non taDtum ferri, sed el obser-vui Bolent. I

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prémio di tinto, e parti ou lar, o qual deve oon i tir em certa In8r­gnia de dignidade; e preeminência, que e v~jam, e intam. e pelas quai e p08 a cada um conh cer, e di tinguir do povo, o qu e não pode con eguir, se cada um u ar no ve tido, e no outro trato e te­rior do que quizer; e por e ta cau a a im como os oidadão diferem un do outro na gerarquia, a qu p rtencem, e na dignidade, que têm, a im de em diferir un do outro no vestido, e no outro apa­rato exterior, corre pondente à me ma dignidade e gerarquia.

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Por e te modo e oom a maior evidência se conhece eria indi _ culpAvel o erro, de quem afirma e, não er a di tinção da pe oas obj cto da pragmAtica, e lei umptuária, e não parecer conve­niente, que e permita aos grand sou o de eIs be tas, por ser cou a odlo a à pessoas de igual qualidade e ta di tinção. não prati­cada até agora; por ser certo, que a pragmática, e lei sumptuárias igualmente I'f'speitam a moderação do luxo, que a di tinção da p _ oa • o remértio do male, que o carflcter do vassalos, o danos da

repOblica, que a dignidade, preeminência, e título do grande, e que na perml , ão do u o do coche, e número das besta e deve atend r não à imple qualidade das pe oa, mas à grand za , titulo, e empr í!0 com que ão condecorada, egundo as máximas funda­das na verdadeira política, que procuram evitar a contu ão da corte, a ruina da repú.blica e a fatalidade de qualquer reino.

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E upo to não di tingui se o grandes dos outros fidalgos, alcaide more , enhores de terra , e de embargadores, a pragmática de 1677 no nOmero das besta ,e u o do coches, contudo es a me ma confu ão e indiferença se deve evitar na nova pragmática não s6 pelo co lume e prática observada nas primeira, e principai Cortes do mundo, ma e pecialmente pela di tinção e separação que fez a pragmática antecedente do ano de 1668 no nOmero maior de pagens e lacaio, e na permi ão dos telizes e xairéis, e pela ordem, que observou a louvável pragmática do enhor Rei D. João 3.0 obre o trato, comitiva, e aparato exterior dos grandes, fidalgos, e de embar­gadore , e mais pessoas da sua corte, atendendo· se nela igualmente à moderação do luxo, e exce o das despesas, que à dignidade, grandeza, e emprego de cada um.

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A esta proporção parece conveniente, que S. Magestade deter­mine, que no uso dos coches, e no nú.mero de bestas se distingam os

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gr~nde8, e os que gosam por privilégio seu do tratamento de exce­lência, dos fidalgos que não são grandes, e não podem g08ar de semelhante tratamento, servindo a distinção deste aparato xterior de sinal, e prémio dll mesma grandeza, dignidade, e preeminência de que os grande gosam; e provando de ta sorte o me8mo costume das cortes no trato dos grandes que evita a contusão, e impede a de ordem, o costume moderno da sua corte, fundado nas óltimas pragmáticas, que contundindo as de ordens, e gerarquia embaraça­ram a di tinção das pessoas e a diferença dos grandes, em grave dano do Reino, e detrimento da RepCiblica, usando S. Mage tade do conselho que deu neste caso Lymaco ao Imperador Theod6sio, e mandando-o observar como pr cei to, e lei sua para que os fidalgos usem de coche menos sumptuoso, e que os grandes sejam conserva­dos no uso, e distinção antiga do eu carácter .= Sumovet vehJculum cujuI cldlu. inlignior e,l, t/lud ma/umu., cuju. U'UI anliquior ; por ser justo no parecer de um erudito escritor que o uso dos coches 8ump­tuosos próprio dos Reis e permita 6 aos grandes, e se proiba indi­ferentemente aos outros vassa lo = Nae vehicula soli regi, et magna­tibus deberent permitti, omnibus autem aliis indiferenter prohlberi. ~ lugar de Azevedo, em que diz que os coches ~6 haviam de 8er para os reis e magnates = Nicolau Francisco Xavier da Silva.

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IV

Representação da Mesa do Bem Comum contra a Pragmática de 1749

enhor

A mesa do bem comum do comércio, cujo instituto tem por objecto a utilidade ptlblica, e precaver os danos que podem experi­mentar- e no futuro, se con idera obrigada a propõr na real pre­sença de V. lag.e quão pernioio a será a inteligência da lei novis­sims de 24 de Maio deste pre ente ano, se por nova apostila ou lei declaratória, não ooorrer a real providência de V. Mag.e às interpre­taçõe que e lhe podem acomodar derivadas das palavras e não da intenção verdadeira, e na certeza de que a equidade e justiça são atributo in eparáveis do real ânimo de V. Mag. e especialmente naquelas matérias, em que o comércio I fundamento elementar do e tado ptlblico / pode experimentar decadênoia, esperam os supli­cante que V. Mag.e se àigne de admitir a exposição dos convenien­tes (lIe) ponderados nesta stlplica para que con ultados por pessoas douta, a quem a experiência tem dado completo conhecimento de semelhantes negócios, cheguem os vassalos a experimentar na cau­tela do dano o remédio que tanto necessitam, máxima sem dúvida em todo o tempo praticada pelos monarcas, como V. Mag.e católicos, e ainda pelos Sumos Pontifices; porque sendo tão previdentemente acautelada as matérias que pertencem ao foro interno nas ses ões e capítulos do Sagrado Conoílio Tridentino, e sendo aquela resolução proveniente dos homen mais doutos, e acreditados em letra , e vir­tude que conheceu aquele século, achou a antidade de Gregório xv, que toda aquela providência neces itava de aditamento, e por isso promulgou a Con tituição = inscrutabili = que no § 4 dá a conhecer que a razões então de novo ponderadas fazia digna de maior provi­dência algumas das matérias decididas. Ut ibi Verum quia expe­rientia compertum est ecclesiastici regiminis rationes postulare ut decretis bujusmodi aliquid adjungatur.

I to mesmo recomenda o dou H simo Sebastião Fox. Morzill. no L. 2.0 da in tituta dos príncipes, onde depois de louvar as leis 8umptuárias, com que as reptlblicas de Veneza e Génova tinham acudido à perdição do luxo, e a exemplo destas, outrol muitos gover-

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nos monárquicos e especialmente o de Portugal estabelece no cap. 83 duas normas as mais preoisas em semelhantes leis a La ponderar-Ie O tempo, e as pessoas a quem as leis sumptuárias se tremínam (';0); porque nem todos os vassalos as podem exeoutar sem dureza nem todo o tempo é acomodado para a sua execução UI 1b quo oiroa nul­lum praeelantibu" el "abaliendo imperi, el lemperandi8 cltlium animi. pOle,' Rernedium afferri quam .i lemporum, ao per.onarum ratio". habila Lege/J ,umpluariae ti Rege 'eranlut'.

A 2.a mudar-se ou em todo ou em parte as disposições dessas leis quando o tempo, e as circunstânoias o pede. Ut ib.

Quam àe cau, a mulará quidém pro tempore, dignilate, opibu/J que hominum, Leges àe sumplibu/J poue rtalu.: abrogará vero, aut lolla 1'0'­.ui Ilratiam, .tudto, intliàia, Od10 comlemplu non ido •.

Seja pois líoito aos suplicantes, assistidos do zelo com que pro­curam o bem comum do comércio ponderar na real presença de V. MagoO as pessoas e o tempo que. a lei compreende em alguns dos seus capítulos as consequências pernicio as que podem re ultar da sua execução, o vexame e diminuição que pode exparimentar o mesmo coméroio, a baixa que infaHvelmente hão-de dar os direitos reais das alfândegas de todo o Reino, e conquistas, sem o qual se desanimam as forças em que o comércio se e tabelece.

o capitulo 1.0 proíbe a lei o uso das rendas, ou sfjam sobre­postas nos vestidos, ou na roupa branca de uso domé tico, e exte­rior: porém esta disposição parece contrária à real mente de V. Mag.· e de todas as leis sumptuáriasj porque se o primeiro objecto das mesmas leis é a utilidade dos vassalos, na proibição deste oapítulo oessa a utilidade e adianta- E'I o prejuizo transcendente dos vassalos, que fabricam rendas aos mercadores, e negociantes, que as trans­portavam para o ultramar.

São muitas as terras deste Reino, em que as famflias se ocupam, e o que mais é, que s6 se sustentam deste lucro, sem terem outro que concorra para a sua subsi tência, como se via praticado em P~niche, Cascais, em Setübal, e muita parte da provinoia do Alentejo, Algarve, e todas as outras, não havendo jamais quem arbitra se est~ trabalho por nocivo às pessoas que o exercitam, ou por excessiva a despesa às pessoas que compravam as rendas: porque o módico preço, se era bastante para a sustentação das donzelas, que traba­lham, não era insuportável, a quem dispendia comprando: e daqui resulta , ficarem os vassalos de V. Magoe destituidos da providência com que subsistiam as suas casas, uns porque lhes falta o lucro, com que sustentavam as suas casas neste inocente exercicio: outros por­que lhes falta o adorno, a que ainda as mais pequenas posses che­gavam sem desperdicio.

Que se proiba o uso das rendas de fora em que os vassalos de Vo MagoO dispendiam tanto ou mais do que nas rendas de ouro, é tão justo, como necessário, porque era um dos meios, que a nobreza

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eole iá tica e secular tinha busoado para instrumento da sua perdi. ção, di p ndendo gro a8 quantias, em uma vara de renda de fora, parece enhor que ou tando tão pouco qua lquer vara de renda da terra não pode ser proibida como a de fora. E o que mai é, que ainda ca o negado, que a rendas da terra não tiv em tão baixo preço como têm . nem por i so e verificava no seu u o aquele dia. pêndio e prejuízo dos va aios, que a lei sumptuária quer evitar; porque na rendas de fora todo esse avultado preço porque e com­pram é transmudado para o reinos e tranho , e a re peito da ren. das da terra, todo o preço da oompra que fica dentro do Reino diRper o pelos va alo de V. Mag. é luoro de tal orte, que ou se atenda à matéria ou ao laborioso do artefacto, tudo é dentro no Reino, em que e te luoro pa se aos estranho!l.

E te di our o tem fáoil comprovação, na me ma lei, porque em muito do eu capítulo querendo V. Mag.o dar exercício ao va. alo para que o ócio o não conduza à p rdiçào, proibI! a introdu­

ção de muita manufactura e tranha , acreditando a fábricas do Reino, para que ejam e timável aquelas cou as que dentro dele e fabricam, ou na fábrica pllblicamen te erectas ou na loja dos

oficiai mecânico : e e o intere e não só particular ma com um do fabricante nacionai comoveu o real ânimo de V. Mag.<- para proibir o que era e tranho, e admitir primo, el pr1fll:ipaltler O que se fabrica ne te Reino com utilidadll dos va sa los parece que a me ma utilidade há·de er causa ba,tante para V. lago permitir também as rendas da terra, pois que dentro do Reino se fabricam, e com elas e sustentalD (amflias, e ca as inteiras, que agora está deplorando a

falta de te comércio, e talvez com perigo da própria honra porque o exo feminino que neste louvável exercíoio ooupava dia, e noites ustentando·se de te lavor, agora que lhe faltam os meios tão

Hcito para a su tentação, vivem no perigo, de que o óoio, ou a neoe idade as oonduza ao pecaminoso distíirbio de que aliás vivia i entoo

Em consequênoia desfaleoeu o comércio do ultramar, porqu~ usando· e, nas partes da América a rendas que se fabricam no Reino para ornatos e ve tearia, falta e te con umo, e os interesses que dele resultavam aos fabricante, comi ários, mercadores, e todos os mais aquem semelhantes lucros se participam: circun tãn­cias todas esta que fazem digno de ponderação a tão grave prej uizo, para que novamente ponderado, seja provido de remédio.

No Capítulo 3.° proíbe V. Mag.o neste Reino e seus domínios o uso da meias de seda de valor de mais de 3.200 rs. impondo.se pena a quem a vender por mais alto preço, e suposto que para o Rei no pareça uficiente, nunca o é para a conqui ta , adonde os preços sobem, â proporção da compras, e despesas, cu ta um par de mias nesta Corte .3.200 r . despacha-se no Consulado para s transportar ao Bra ii, e se no Con ulado paga 4. por cento por saída vai pagar

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ao Bra ii 20 por cento por entrada, di pende o mercador além destes direitos o frete pelo transporte, o interesse pelo lucro do dinheiro, e a comi são pela venda, e feita a conta a todas estas despesas inegà­velmente se colige, que se não pode vender por 3.\100 rs. na América o mesmo par de meia q,ue no Reino se comprou por 3.200 rs., e que neste ca o se faz preci a a declaração, para que a certt'za do preço só se entenda a re peito das compras, e vendas celebradas neste Reino e não nas Conquistas.

No me mo capítulo 3.0 proibe V. Mag. toda a casta de tecido de seda que não for fabricado ne te Heino e seus domínios admi. tindo dos Reinos e tranhos os que torem li os de uma ó cor porém nesta parte é maior a obrigação que assi te aos suplicantes de expôr a V. Mag.e o prejuizo que resulta aos vassalos e ao comércio, e te pela gravidade a que está expo to, aqueles pela care tia que paulatina­mente vão experimentando; o prejuizo dos vassalos vai mostrando a experiência, não só nos maiore preços a que têm subido mas na pouca duração que sempre e encontrou nas fazendas lisas as quais fàcilmente se cortam, quando as lavradas ou de uma ou de diversas cores mostram maior duração no decurso dos anos: de sorte que qualquer vassalo de V Mag." que fizer um vestido de seda liso, poder-Ihe·á durar, quando muito, um ano, sendo constante e inegável que os vestidos de seda lavrada duram muito mai anos.

Nem o preço é ponderável entre a seda lavrada, e lisa, porque uma e outra correm igual paralelo, só com a diftlrença de que a seda lisa, que custa v. g. dez tostões o cõvado, não dura tanto quanto dura a lavrada que custa os mesmos dez tostões, vindo por este modo a lei a constituir os vassalos de V. Mag.· na obrigação de compra­rem as fazendas de qualidade que se conhecem menos útil deixando aquelas, em que a maior duração lhe fazia cómodo, ainda quando tecidas com diversos lavores de uma só cor.

O prejuízo do comércio é mais evidente, que todas as outras demon trações porque as fazendas ou lisas, ou la vradas de matizes de que usamos neste Reino, vem a maior parte de Itália, e algumas de H amburgo, e assim como os Italianos, Hamburguese , e mais reinos introduzem por utilidade sua estas fazendas em Portugal, assim extraem de Portugal com utilidade nossa, aqueles géneros, de que o Reino é fértil, e com que se anima o negócio como são os açúcares, tabacos, marfins, pimenta, cacau, e outros semelhantes, que a não irem para a Itália ou Hamburgo, não têm saida: nem é de presumir, que os vassalos daquelas nações, que davam consumo aos gén eros de Portugal, pelo recíproco consumo que também se dava às suas sedas, continuem agora a extrai-las vendo faltar·lhe o interesse na venda que lhe facilitava a extracção.

Nesta certeza fàcilmente se percebe a suspensão do comércio na pouca salóa dos nossos géneros, e por consequência a grande falta que se experimentará na América, e diminUIção nos direitos

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de V. Mag. porque oonsistindo a maior força dos negóoios do Ultra­mar no aço.oares, e tabaoo , que se fabrioam nos engenhos, que ooupam tantos milhares de pe soas, na oarga de tantos navios da frota, no luoro dos oomissários, no fretes e soldadas tudo i to 8e uspende não oirculando o negóoio, como até agora circulava, pois

a razão di cur iva e lá mostrando, que se o aço.car e tabaoo não tiverem arda para a Itália e Hamburgo, já no Itramar se su pen­dem a8 fábricas e oultura ,já as frotas diminuem, e já o prejufzo é tran cendente a todas as pes oa quando nas mesmas frotas e inte­res avam.

Não menos sensível é e te dano à Real Fazenda de V. Mag.e

porqu regu lando-se o inlere e dos de pachos, pela abundãncia dos géneros que ooorrem às alfãndegas é em dt1vida que se hão-de diminuir os despaohos, e direitos que deles resultam, todas as vezes que o géneros não tiverem arda para os Reinos estranhos: e aqui temo a lei umptuária produzindo ef itos contrários à real inten­ção de V. tag.c porque e e ta só se determinou ao beneffcio dos va saio ; ce a o beneficio, toda a vezes que o negócio não girar com a entrada do género e tranhos, e saída dos nosso; e nece -ita d providência in tRntãnea, e te dllno irreparável, dignando-se

V. lag.a de permitir toda e qualquer eda ou lavrada, ou lisa ou ajam chamalote , gorgorõt> , grodete , melanias, ou com matizes

toda as vezes que o preço da mai ubida não exceder à de 3.000 rs., as,inado na me ma lei, não e envolvendo no lavor ou teoido, ouro, nem prata; porque se as mais subidas podem ter o valor de 2 até 30000 r ., a outras o não têm, porque todas são de limitado preço, ficando livres as vendas na América, por maiores, ou menores pre­ço ; porque upostas as de pe a , que se fazem no Reino para os primeiros portos, e de tes para o sertão, e comarcas, é impossível con tituiro e certeza que não seja prejudicial.

No Capítulo 9.° proíbe V. Magoe aos negros, e mulatos da América, ainda aos que nasceram livres o uso de toda a sorte de eda , o tecidos de lãs finas, o esguiões, holandas e outras seme­

lhante , como também a jóia, e ornatos de ouro ou prata: isto porém que parece eficaz, e tá ameaçando um gravíssimo dano; por­que con i tindo todo o con umo das fazendas na Amérioa no que lhe dão os negros, e mulato, é sem dúvida que cessará o ooméroio toda as vezes que aos mulatos e negros se proibir o mesmo con­sumo.

É a América uma ropt1ulica composta de negros e mulatos, porque suposto para o governo, magistrados e negócios haja bran­cos, estes são tão poucos em comparação dos nE'gros, e mulatos qU6 ficam os brancos con tituindo uma parte mínima, de sorte que divididos os moradores ou habitantes da América em dez partes, uma será de brancos, porém as nove são de negros e mulatos; estas nove partes de habitantes é que consumiam toda a casta de fazenda

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que vai para a Amérioa porque oomo o mais vulto da repo.blioa oon­siste noS mulatos e negros, estes para se distinguirem entre si pró­prios, usam de sedas, panos e lãs finas, concorrendo também para o mesmo o olima do pais, que por ser nimiamente oé.lido, esté. pedindo o uso de fazendas menos pesadas. Daqui resulta que proibindo o uso daquelas fazendas aos habitadores da América, que oonstituem as nove partel! diminue o oomércio nas mesmas nove partes e por oonsequência os direitos da Real Fazenda, e o que mais é faltam aqueles meios, que serviam de transportar as riquezas da América para o Reinoi até agora Senhor, vinham as frotas carregadas dos géneros da Amérioa, porque as fazendas, que iam do Reino, 16. tinham oonsumo: vinham os oabedais do Brasil para Portugal, por­que de Portugal iam as fazendas , que no Brasil se transmudavam agora porém, que a nova pragmé.tica proibe aos negros e mulatos, usarem das fazendas que iam do Reino, oessa o meio de transmuta­ção, e fioam na América os oabedais, que em todo o tempo sempre o zelo dos oonselheiros lembrou, deviam extrair-se para o Reino, para que a demasiada opulência daqueles vassalos os não faça estra­nhos à obediência necessária.

A isto acresce outra razão não menos ponderé.vel na civilidade e tratamento i em todas as repüblicas sempre foram estimados aqueles homens, que fazendo o maior corpo não têm outros de maior esfera, que se lhe oponham, como se observa naquelas Vilas e Lugares do Reino, a donde faltam as letras, e nobreza para os car­gos po.bliooB, porq ue esta falta não opera o desprezo absoluto mas fa z que se estimem OA de menor condição, que nessa repClblica são os maiores : do mesmo modo na repClblica da América são os mula­tos os que constituem o maior corpo e parece que esta inferior con­dição com que nasceram, os não deve privar do crédito, e estimação de que se fazem credores na república donde eles constituem o maior corpo.

Há muitos que têm casa, e famnia com distinção : há outros que são senhores de engenho, e de grossos cabedais: há outros que avultaram em toda a casta de negócio : há outros que pela puridade dos costumes se fizeram dignos dos cargos honrosos; e hé. outros a quem V. Mag.e e seus governadores por patentes po.blicas têm hon­rado com postos militares servindo uns de capitães outros de sargentos mores, e outros de mestres de campo, havendo alguns, que pela fidelidade com que desmentiram na defeza da PUria o maoulado sangue, mereceram a V. Mag. a dispensa das leis, e esta­tutos para serem insigniados nas Ordem Militares.

Contra todos estes vassalos, distintos beneméritos, e acredita­dos conspira a lei , porque prescindindo de distinções na genera­lidade daqueles mesmos, que na América fazem respeité.vel a repó.­blica sejam testemunhas da verdade deste disourso os mesmos ministros de V. Mag.e e governadores do Ultramar, que para obser-

varem a8 diligêooias por V. Mag.· deoretadas, se alem daqueles mea­mos a quem a lei sumptuãria reduz ao maior de prezo, trooando-se em d sabono toda aquela e timação oom que os mini tro e gover­nadores até ao presente os honravam, e distinguiam. De orte, que sendo estes bomen ambiciosos da estimação, os que mai fielmente servem, e e empr gam no erviço de V. Mag.· só a fim de mais merecerem, e de mentirem no e timé.vel a mé.cula acidental do nasci­mento; reduzido agora ao e tado fnflmo, despida a pompa, e trata­mento oom quo se distinguiam , é infaHvel a displicência (,ie), e confu ão, deixando de oontinuar o negócio, com que eles mesmos fertilizavam, o comércio, perda em dOvida irremediãvel porque aqueles dano, que na corte têm pronta providênoia pela instantã­nea participação de V. Mag.e, na Amérioa fazem-se irreparãveis pela di tAncia que vai do Brasil ao Reino, onde as queixas muitas veze chegam oom diversa figura de que teriam se V. Mag.· imedia­tamente a presenciasse.

No caphulo 3.° da mesma lei permite V. Mag.o o uso de todas a edas do reinos e tranho , que se acharem introduzidas nestes reino ou a ele vierem nos primeiros 6 meses depois da publica­ção, e no Caphulo 8.· 3.° e declara que nas alfândegas das con· quistas, e não dê entrada às ditas sedas, passado um mês, da publicação, o que parece não pode fàcilmente combinar-se porque se . Mag.e não põe limite para o con umo dentro do Reino, pareoe que também não é da sua Real Intenção, pôr esse limite na América, e sendo certo que o consumo das fazendas só se facilita introdu­zindo-se pelas alfãndegas da América, é inegãvel que proibida a entrada, passado um mê , fica proibido o con umo que no Reino se permite.

Deinde, propondo os suplicantes a V. Mag.e antes de promul­gada a lei a incerteza em que toda a praça e tava sobre a compra das fa zendas receando que a proibição lhe fosse danosa, se dignou V. Mag.e deferir-lhe com respo ta vooal do Secretário de Estado Marco António de Azevedo outinho, que os suplicantes podiam livremente comprar porque a pragmática, havia permitir 4 anos para o consumo: e se os suplicantes nesta certeza, ordenaram as suas comissões, regulando· a pelo discurso de 4 anos para a introdução na América.

Finalmente determina V. Mag.e no Cap. 14 que os creados não possam usar de espadas, e esta proibição que é ó.til no uso coti­diano, dos que existem dentro nas cidades, vilas e lugare do Reino, é prejudicial a respeito das jornadas que fazem os negociantes, que discorrendo pelas terras ou feiras do Reino, levam consigo cabedais, e peças preciosftll; e como para guarda da pessoa, e cabedal s6 podem servir-se dos creados, vem este capitulo a proibir-lhes a defesa de que tanto necessitam nas estradas, sendo este um dos embaraços, não pequenos, que tem ocorrido i pelo que esperam o

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suplioantes, e hu mildemeote suplicam, prostrados aos reais pés de V. Mag.e queira dignar·se de mandar ver e examinar esta matéria por pessoas doutas, e prudente, para que reconhecida a verdade no que expõem nos prejuizos do comércio, seja uma nova declaração da lei a qu e evite os danos futuros, declarando·se, que s6 se enten­dem proibidas as rendas de tora, em que os va aios con umiam os cabedais, e não as da terra, de que tantas famílias e sustentam : que o preço das meias, e mais taz ilndas s6 é taxativo neste Reino, e não no Ultramar, donde as grandís imas despesas dos transportes; e regiões distantes faz que seja impraticável o limite dos preços: e que as sedas de Itália, e Hamburgo, e mais partes, se admitam com lavor, ou sem ele não excedendo (J preço da mesma lei; porque sem esta introdução, faltR o consumo dos nossos géneros, e será comum a falênola dos interesses, não s6 aos vassalos mas aos direitos reais: que o uso das sedas, lãs, e panos fmos .se não entende proibidos na América, por ser a proibição totalmente oposta aos interesses, com que o comércio se anima ficando s6 subsistindo no ouro, e prata em que o dano dos vassalos é constante; e que finalmente a estes se não proibem serem acompanhados de seus creados e esoravos com espa­das, que os defendam da invasão dos inimigos nas jornadas que fa zem, discorrendo pelo Reino, pois a proibição s6 respeita àquelee creados que com seus amos estão vivendo de assento em qualquer terra, porque desta forma se evitam aos suplicantes os danos que justamente receiam, e cumpre V. Mag.e com o tributo mais insepa· rável da soberania como reconheceu o imperador Justiniano na lei imperialiB Cod. de nupt 16 : ImpertaleB benevolocenli ae proprium eue j udicanteB, uI omni t empore Bubjeclorum commoda Iam inveBtigare, quam eis mederi procut'emuB ( I ).

E. R. M.ce

( ) Bibliottca Publica dt Éuo, a.

Códice .2....;!... l'

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Pragmática de 1749

D. João por graça de Deus etc. Faço saber aos que osta lei e pragmática virem que tendo de atalhar os prejuizos dos meus vassa­los não pude deixar de advertir com desprazer quanto lhes tem sido pernicioso o luxo, que entre eles se tem introduzido de algum tempo a esta parte. Este foi sempre um dos males que todo o sábio governo procurou impedir, como origem de ruina não 6 da fazenda, mas dos bons costumes; e contra ele se armou frequentemente a severidade das leis sumptuárias, para que evitando os povos a des­pesa, que malogravam em superfluidades, o estado se mantivesse mais rico, e se não extraisse dele a troco de frlvolos ornatos, que com um breve uso se consomem, a mais sólida substância, que convém conservar para estabilidade das suas forças, e aumento do seu comércio. Não se descuidou nesta parte o zelo dos Reis meus pre­decessores, antes se opôs à desordem dos gastos com diversas prag­máticas, que enquanto foram observadas, deram a conhecer a grande utilidade, que resultava da suas providências; mas prevalecendo, como ordinàriamente sucede, a inclinação, e gosto das novidades, paulatinamente se foram pondo em esquecimento tão proveitosas disposições ; e o dano, que vão experimentando os meus vassalos excita o meu paternal cuidado a procurar desarreigá-lo com eficazes remédios. Pelo que considerando novamente esta matéria, e ouvindo sobre ela pes oas prudentes, me pareceu extrair das anti­gas pragmátic9s o que fosse conveniente observar-se conforme o presente estado, e circunstâncias, acrescentando o mais que me pareceu a propósito, e declarar no seguiotes capítulos o que deverá inviolàvelmente praticar-se ao diante a respeito dos vestidos, m6veis, e outras despezas, e usos, que convém moderar, ou reformar.

Porém nenhuma das dispo ições desta lei se entenderá a res­peito de Igrejas e do Culto Divino ; para o qual continuarão livre­mente a fa zer-se os ornamentos como de antes por ser limitada demonstração de que devemos às cousas sllgradas tudo o que pode­mos empregar na sua decência, e riqueza. E sendo necessário para o uso das igrejas, e seus ministros, alguma cousa das que abaixo se proíbe virem de fora , se me dará parte para que eu permita a

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entrada dele.s como julgar conveniente (1). (1 margem: = vid. L. de 19-8el.o 1749. p. 38).

Cap.O 1.0

A nenhuma pessoa, de qualquer graduação, e sexo que seja, passado o tempo abaixo declarado, será Ucito trazer em parte alguma dos seus vestidos, ornatos, e enfeite!', telas, brocados, tifffis, galaoés, fitas , galões, passamanes, franj as, cordões, espiguilhas, debruns, borlas, ou qualquer outra sorte de tecido, ou obra, em que entrar prata, nem ouro flno, ou falso, nem tiço cortado à semelhança de bordado.

Assim também não será lícito trazer cousa alguma sobreposta nos vestidos, seja galão, passamane, alamar, taxa, ou bordado de seda, de lã, ou de qualquer outra matéria, sorte, ou nome que seja, exceptuando as cruzes das ordens militares.

Permito que se possam trazer botões, e fivelas de prata, ou de ouro, ou de outros metais, sendo lisos, batidos, ou fundidos, e não de fio de ouro, ou prata, nem dourados , ou prateados, nem com esmalte ou lavores. (à margem: ms. = sendo do Reino de qualquer 80"le, ou aejam lavrad08 ou lieoe).

Proíbo usaI' nos vestidos, e enfeites de fitas lavradas, ou galões de seda, nem de rendas, de qualquer matéria , ou qualidade que ejam, ou de outros lavores qu e imitem as rendas; como também

trazê-los na roupa branca, nem usar delas em lenços, toalhas, len­çóis. ou em outras algumas alfaias. (à margem: mB = sendo do Reino Be uBem).

Poderá usar-se de roupa branoa bordada de branco, ou de cores, com tanto porém que seja bordada nos meus domlnios, não de outra manufactura.

Tod a a pessoa que usar de alguma das cousas proibidas no presente oapltulo , perderá a peça em que se achar a transgressão : e pela primeira vez será oondenada a pagar vinte mil reis; pela segunda quarenta mil reis, e três meses de prisão; e pela terceira vez, pagará cem mil reis, e será degredada cinco anos para Angola.

Cap.o 2.°

Não será Hcito a pessoa alguma trazer, ou empregar no seu traje, ou ornato pessoal, cristais, nem outras pedras, ou vidros, que imitem as pedras preciosas, nem pérolas falsas , que imitem as flnas, nem vid rilhos de qualquer cor, ou forma que sejam, debaixo da

( ') o exemplar da pragmática donde a copiamos e til an otado, ii marllem Pelo interesse das anotações, embora posteriores ii lei, t ranscrevê-mo-Iu na sequen­t ia de cada capllulo .

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pena de lhe serem tomadas as peQa8, que logo se quebrarão, e das mais deolaradas no oapítulo preoedente.

Exceptuo desta proiblQão o u o dos velórios nas Oonquistas i e só para este coméroio será Holto tê ·los em venda também neste reino.

Cap.O 3.·

As melhores sedas lavradas, e lisas, riços lavrados, e não oor­tados, que se venderem em meus reinos, não poderão exoeder o preço de três mil reis por côvado ; e as meias de seda melhores não excederão o preço de 3.200 rs. por cada par. (à margem : m •. = o. manto. da. mulheres . t jam feit08 no Reino ).

E constando, que algum tabricaote, ou mercador vender alguma das ditas cousas por preços mais altos que os sobreditos, não s6 não poderá pedir o pagamento dela , ma será condenado pela L" vez em 100 000 rs., e pela 2.a em 200 000 rs. e em 3 meses de pri ão; porém não poderão trazer-se, nem usar-se em vestidos, ou móveis, ou em outra altltia as ditas seda , ri ços, setins, ou fi tas, ou algum outro tecido de seda, sendo de mai de uma cor, ou com lavare de qualquer sorte que sejam, se não forem fabrioados nos meus dom{­nio , ou trazidos da A ia em naus portuguesa .

Permito contudo que se possam usar e trazer os tecidos de seda estrangeiros de qualquer sorte (não tendo ouro, nem prata) que se acharem já introduzidos nestes reinos, e ilhas adjacen tes, ou a eles vierem nos Los seis meses da publioação da presen te lei; pas­sados os quais não será lioito introduzir de fora , se não tecidos de seda lisos, de uma só cor, e sem lavor alJ um: só se entenderão exceptuados o veludo lavrado, e damasco, de que ooncedo a introdu­ção, contanto que seja de uma só cor.

Cap.O 4.°

Para consumo dos vestidos, e mais ornatos pessoais, que se acharem já feitos diversamente do que flca expressado nesta lei, concedo nestes reinos, e ilhas adj acentes, um aDO desde o dia da sua publicação ; e Das conquistas quatro anos. (à margem: mI. feito. no Reino .im).

Cap.O 5.°

Pro!bo deste dia em diante fa zer de novo móveis alguns de casa, em que entre prata , nem ouro flno, ou falso, ou bordadura, de qualquer sorte, ou matéria que seja, e só poderão ser douradas, ou prateadas as molduras dos espelhos, painéis, placas, e pés de bofetes.

Serã outrossim proibido pratear, ou dourar paredes, teotol , portas, janelas, ou quaisquer outras partes de casas.

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Os transgressores deste capítulo incorrerão na pena de p.,rdi­mento dos móveis, e de metade do seu valor em dinheiro, como também na metade do valor do dourado, ou prateado, que se achar nas paredes, e outras partes das casas, que logo se mandar' apagar.

Permito porém, que se conserva tudo o que neste género se achar feito até o tempo da publicação desta lei ; e que as sedas com ouro, xarões, e bordados, que vierem da Ásia em naus portugues88 possam ao diante empregar-se para ornato das casas, mas não em vestidos.

Cap.O 6.0

Ordeno que se não possa usar nas carruagens, liteiras, e cadeiras de mão cousa alguma de prata, ou de ouro fino, ou falso, nem bordados, nem metal dourado, ou prateado, assim no corpo da oarruagem, como no jogo, e nas peças da amarração, e dos arreios; nem poderão ser estas, e as guias, e as coberturas das mesmas car­ruagens, liteiras e cadeiras, e dos machos, e outras bestas delas, se não de couro negro, ou de moscovia; ou de oleado, conforme o ministério a que servirem; e os tejadilhos não terão mais que uma ordem de pregaria. Somente permito que no corpo das carruagens a quatro rodas, liteiras, seges de arruar, e cadeiras de mão possam põr-se os filetes dourados, ou prateados. (à margem: mI. undo a. pintura. do Reino).

As mesmas carruagens, liteiras, e cadeiras não trarão pintadas figuras , máscaras, e pa(ses, mas somente escudos de armas, ou cifras com alguma moderada tarja: o que não terá lugar nas seges de campo ; nestas porque não permito cousa alguma dourada, ou prateada, nem pintura mais que lisa, de uma só cor, com filetes de outra.

Das carruagens, liteiras, e cadeiras que se acham já feitas diversamente do que prescreve este capHulo, se poderá usar por tempo de dois anos seguintes à publicação da presente lei; passados os quais se não poderão mais usar, sem serem reduzidos à forma acima determinada, isob pena de perdimento da carruagem, 'e da metade do valor do oomisso em dinheiro.

Debaixo da mesma pena pro(bo, que passado um ano depois da dita publicação, se use de cousa alguma de prata ou de ouro fino, ou falso, ou dourada, ou prateada, ou bordada nas selas, xaireis, col­dres, e mais jaezes das bestas de montar. Somente nos telizes pode­rão trazer armas bordadas de lã, ou seda, as pessoas, a quem é per­mitido o uso deles.

Não entendo compreender o que fica ordenado neste capHulo com as carruagens da Casa Real, nem com os jaezes dos leus oavalos.

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Cap.O 7.°

Pelo prejuízo que oausam a muitos artífioes dos meus domí. nios as oarruagens, mesa, bofete, oómodas, papeleiras, oadeiras, e tamboretes, trumóz e outras alfaias, que se trazem de fora, ordeno, que passados seis meses da publioação desta lei, fique proibida nas alfândegas deles a entrada das ditas oousas, e de tudo o que tor móvel de oasa já feito; e introduzindo·se por alto, será oonfisoado, e o transgressor pagará o tre dobro; e nas mesmas penas oom pri-ão de seis meses inoorrerá qualquer meroador, que passados dois

anos da mesma publioação tiver em venda alguma das ditas oousas feitas tora dos meus domínio.

Cap.· 8.°

Desde o dia da publicação desta lei , não se dará entrada nas alfândegas destes Reinos, e Ilhas AJjacentes a oousa alguma das que nela se proíbem, exoepto ao que se expressa no Cap.o 3 e 7.

As mais oousas proibidas, que actualmente se aoharem nas mesmas alfândegas por despachar, se farão outra vez levar para fora do reino, sem porém pagarem direitos alguns; e também os não pagarão os tecidos com ouro, ou prata, ou bordados já despachados, que se fizerem extrair para outros pa{ses.

Nas alfândegas das conquistas, desde o dia da publicação desta lei, se não dará mais entrada a fazenda alguma das que nela se proíbe virem ao diante dos países estrangeiros, e só para consumo dos teoidos com ouro, e prata, e bordados, que se aoharem já despa­chados nestes reinos, e ilhas adjacentes, e dos vestidos feitos, em que houver ouro, ou prata, ou cousa bordada, ou sobreposta, permito se admitam os mesmos teoidos, e vestidos naquelas alfândegas, sendo transportados para as conquistas dentro dos primeiros dois anos da publicação da presente lei, ou nas primeiras duas frotas, que para cada um dos portos delas sa{rem desta oidade, ou da do Porto, ainda que a segunda frota saia depois dos ditos dois anos.

Passados os termos sobre ditos, se algumas das cousas proibi. das se acharem nas embarcações, que entrarem nos portos, de sorte que possa entender-se que se trazem com o intento de as introduzir contra a proibição desta lei; ou se passado o sobredito termo dos 2 anos, ou 2 frotas, se aoharem nestes reinos e ilhas adjacentes, tecidos de ouro ou prata, ou bordados, serão confiscados; e os trans. gressores pagarão o tresdobro do valor do comisso, e além disso pelá segunda vez serão presos por 6 meses; e pela terceira, se forem estrangeiros, serão expulsos para sempre dos meus domínios; e sendo naturais, serão degredados por cinco anos para Angola, e fica­rão uns, e outros presos até serem mandados para fora.

As fazendas proibidas, em que se fizer apreensão, e que pude-

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rem ter serventia para o culto do divino, se aplicarão a alguma igreja visinha e necessitada; e as que não puderem servir para este ministério, serão logo queimadas; a dita aplicação reservo ao meu arbHrio, sendo as cousas apreendidas nesta cidade; e nas outras par­tes, tocar' aos juizes das altãndegas, e respectivamente aos outros juizes abaixo nOmeados, para executores desta lei, conforme a parte, em que os comissos forem achados.

Cap.o 9.0

Por ser ioformado dos grandes inconvenientes, que resultam nas conquistas da liberdade de trajarem os negros, e os mulatos, filhos de negro, ou mulato, ou de mãe negra, da mesma sorte que as pessoas brancas, proibo aos sobreditos, ou sejam de um ou de outro sexo, ainda que se achem forros, ou nascessem livres, o uso nio só de toda a sorte de seda, mas também de tecidos de lã flnos, olandas, esguiões, e semelhantes, ou mais finos tecidos de linho, ou de algo­dão; e muito menos lhes será Hcito trazerem sobre si ornatos de jóias, nem de ouro ou prata, por minimo que seja. Se depois de um mês da publicação desta lei na cabeça da comarca, onde residirem, trouxerem mais cousa alguma das sobreditas, lhes será confiscada; e pela primeira transgressão, pagarão de mais o valor do mesmo comisso em dinheiro; ou não tendo com que o satisfaçam, serão açoutados no lugar mais ptíblico da Vila em cujo distrito residirem; e pela Regunda transgressão, além das ditas penas, ficarão presos na cadeia pública até serem transportados em degredo para a Ilha de

. Tomé por toda a sua vida.

Cap.· 10.0

Ordeno que nas librés, que daqui em diante se fizerem, se use sõmente de pano fabricado nos meus domínios. Hei por bem reser­var a cor encarnada para as casacas, capotes e reguingotes daslibrés da Casa Real ; e nenhum particular poderá mais usá-Ia nas librés dos seus creados, excepto em canhões, forros, meias e vestias; concedo um ano para consumo das librés, que existem desta cor.

Toda a pessoa que faltar à observância do que mando neste capHulo, pagará 20:000 reis por cada libré em que se achar trans­gressão.

Cap.o 11.0

AtEmdendo à muita despesa, que se faz com lacaios escusados, e à falta que da[ resulta à cultura das terras, e a outros ministérios necessários, ordeno que as pessoas, que forem em coches e liteiras, se não façam acompanhar por mais de dois lacaios, além do cocheiro, sotacooheiro, ou liteiro~, nem as que andarem em seges, por mais de

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um, além do boleeiro; o que se observará, ainda que na mesma car­ruagem vá mais de uma pessoa. (à margem: = m,. inop,i. 10m. 2. pá.". 1. A boi. ia 2 creado. na tábua).

E toda a que se fizer aoompanhar por maior nOmero de laoaios do que fioa ordenado, pagará por oada um que trouxer de mais trinta mil reis, oada vez que for aohado nesta transgressão.

Oap.o 12.0

Todo o alfaiate, bordador, botoeiro, ourives, dourador, seleiro, sapateiro, ou ofioial de outro qualquer otrcio, que fizer obra alguma oontrária ao que nesta lei se determina, além do perdimento da obra pagará pela primeira transgres ão 60.000 rs., e será preso por seis meses; e pela segunda pagará dobrado, e fioará preso até ir em degredo por 5 anos para Angola, ou se for estrangeiro para fora dos meus domfnios para sempre.

Nas mesmas penas incorrerão as mulheres que exeroitarem algum otroio semelhante e nele tran gredirem esta lei.

E toda a vez que se achar alguma cousa contrária a ela o juiz obrigará a pessoa a quem for achada, que declare o obreiro que a fez; e não querendo declarã-lo, pagarã a pena pecuniária, que àquele tooaria pagar.

Cap.O 13.0

Proibo o uso das carapuças de rebuço, sob pena de perdimento delas, e dez mil reis em dinheiro, e de quarenta dias de prisão, pela primeira transgressão ; e pela segunda, será dobrada a pena pecuniã­ria, e a da prisão.

Debaixo das mesmas penas profbo que ninguém ande embu· çado com capote, de sorte que e lhe não veja toda a cara.

Cap.O 14.0

Para evitar os homicfdios, ferimentos , e brigas, a que dá ooa­slao o trazerem espada, ou espadim pessoas de baixa condição, ordeno que não possam trazer estas armas aprendizes de ofíoios mecânicos, laoaios, moohilas, marinheiros, barqueiros, e fragateiros, negros, e outras pessoas de igualou interior condição, sob pena do perdimento da espada ou espadim, de dez mil reip, e de prisão por tempo de 2 meses pela primeira transgressão ; e pela segunda pagarão dobrado, e terão um ano de prisão .

. s mesmas penas ficará sujeita toda a pessoa que trouxer espada, ou espadim não sendo à ointa, ainda que sejam soldados. (A margem = m,. compreendem obreiro. que trabalham a jornal: excep­tua o, m.dres, a,./f.{icer encartado" me,'r81 d. caravela" e pe.cador .. • "r."ado. d Irmandade marílima; e proíbe a lodo não traga upada ou

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fl.padim fora da o,nla e o. areado. em jornada Iragam eepada. Vid. L. de 17 de Abril de 1753).

Cap.O 16.0

Ordeno aos guardas, e porteiros do paço, não permitam nele a entrada a pessoas, que tragam alguma cousa do que nesta lei se pro[be; e aos porteiros dos tribunais, e auditórios, que lhes não dêem entrada, nem aceitem petições, com cominação a uns, e outros de um mês de prisão, se forem remissos na execução desta ordem.

Cap.O 16.0

Por me serem presentes os excessos que se têm introduzido nas jóias, vestidos, e outras dádivas que se costumam oferecer às esposas quando estão ajustados os casamentos, mando que se não possam dar semelhantes dádivas, se não uma vez sõmente, que será no dia das escrituras; nem se poderá exceder nas mesmas dãdivas o valor da quinta parte do dote, que for estipulado no contrato de casamento, e se a noiva não tiver dote, não poderão as ditas dãdi· vas exceder o valor de 600.000 rs.

Toda a pessoa que contravier ao sobredito incorrerã no meu desagrado, que deve ser reputado pela maior pena, e serã conde­nada no valor do excesso a dinh~iro.

Cap.O 17.0

(à margem = mB = LuloB )

Sendo justo atalhar as despesas que se tem introduzido na morte dos príncipes, e dos parentes, ordeno que em nenhum caso se dê luto aos familiares, nem ainda da escada acima; e que por pessoas reais, pela própria mulher, por pais, avós e bisavós, por filhos, netos e bisnetos, se traga luto sõmente seis meses; por sogro ou sogra, genro ou nora, e irmãos, e cunhados quatro meses; por tios, sobrinhos e primos coirmãos, dois meses; e não se tome luto por outros parentes mais remotos, senão por quinze dias .

As pessoas que vestem de capa e volta, não porão por causa de luto capa comprida.

E porquanto até nos caixões dos mortos tem a vaidad6 achado modo de introduzir·se, ordeno que não possa neles pôr-se cousa que não seja negra, nem possa usar-se tecido algum de seda, e muito menos cousas de prata, ou de ouro fino ou falso, nem cravação dou­rada; e só permito se cubram de nobreza, ou tafetã liso de cor ale­gre (sem contudo levarem galões de sorte alguma, ou cravação dourada) os caixões em que (orem a enterrar os inocentes

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Não será lfoito oobrir de luto as paredes, ou banoo da Igrejas, onde se fizer o enterro, ou ofíoio, mas õmente o pavimento em que se puzer o féretro, o qual e assentará sobre tarimba de um ó degrau, " ao redor dele não arderão além dos oastiçais postos à oruz mais que seis toohas.

~ tas disposiçõe se nã" entendem quanto aos funerais das dignidade eolesiá tioas, que farão oonforme o eu 00 tume.

Proíbo fazerem-se por ooa ião de luto móveis de oa a negro, nem oarruagens forrada desta oor, ou coberlae de pano negro.

Os armadores, e outros obreiros, que fizerem alguma da oousas proibidas neste capftulo, incorrerão na pena acima oomi­nadas no Oapitulo XII.

Oap.o 18.0

Por ser informado da ooasião, que dá para gastos esousados, do grande prejuízo, que oausa aos que vendem na lojas , e de outros graves danos, a que contribui oerta e pécie de gente, que anda pelas oasas vendendo em oaixas, e trouxas, ordeno que a nenhuma pessoa natural deste Reino ou estrangeira, sej a Hoito n as cidade , vilas, e lugares dellJ vender pela ruas e ca as em caixas ou trouxa , ou de outra qualquer sorte fazenda alguma, que sirva para vesti do,ou enfeite, ou m6vel, nem louça, vidros , te ouras, agulhas, e semelhan­tes quinquelharias, sob pena de perdimento da fazenda, que trouxer a vender, de 100.000 rs. em dinheiro , e de sei meses de prisão; e em caso de reincidência pagarão em dobro a pena pecuniária, e ficarão presos até serem com efeito extraminados por seis anos para Angola, se forem vassalos meus, ou se forem estrangeiros, para fora dos meus domínios ; com cominação se tornarem a eles de serem açoutados, e de pagarem 400.000 ra. da cadeia, donde serão nova. mente expulsos para fora do Reino. (à margem = mil. e"ende·,e a projbjção d, loja, flolant81 na. rua. e lugares pú blJco, à 8Smelhança de fejra, e em Dom.os em prefuíeo do comércio do. mercadorel'.

Ezuptua pano de linllo, pano, branco., botõu de pano, linha. e agulha., alfinete., dedais, te.oura., fila. de lã e de linho, pente., tudo do Reino, nem debajxo de capotei e manto.).

Oap .o 19.0

Não sendo minha intenção, que indevidamente se dê moléstia, e vexação às casas dos particulares com buscas arbitrárias das oou­sas proibidas por esta lei, ordeno que não possam os oficiais de jus· tiça entrar para esse fim nas casas sem levarem ordem por escrito do juiz, • quem tocar o qual a não passará sem estar suficiente· mente provada a transgressão; e os oficiais, que o contrário fizerem, serio presos por seis meses, e suspen sos por um anc> do seus offcios.

126

Porém se as oousas proibidas pllblicamente ae trouxerem ou expuzerem em venda, nesse oaso ordeno se faça logo apreensão, • se prooeda ao mais que fica determinado.

Oap.O 20.0

Para se incorrer nas penas cominadas por esta lei, bastará. que se prove legitimamente que com efeito se oontraveio a eis, ainda que se não ache o corpo de delito.

Oap.O 21.0

Se no mesmo vestido, ou na mesma peça se aohar mais de uma transgressão, s6 terão lugar as penas da maior.

Cap.O 22.0

No caso que 08 culpados contra esta lei sejam fidalgos ou pessoas nobres, terão a mesma pena de prisão, e pa~arão em dobro a pena pecuniá.ria; e sendo titular ou fidalgo de grande solar, será. a prisão em uma torre.

Cap.O 23.0

Pelas mulheres que não forem cabeça de oasal, e pelos filhos de fammas, pagarão as condenações pecuniá.rias inours8s por ellta lei, os homens em cujo oasal viverem.

Cap.O 24.0

As penas afliti vas cominadas nesta lei de nenhuma sorte pode­rão ser comutadas, nem modificadas por tribunal, ou ministro, ou julgador 3.lgum, de qualquer graduação que seja, nem poderão ser remidas em todo ou em parte as pecuniá.rias, e as apreensões dos comissos.

Cap.O 25.0

o valor das apreensões, e a importãncia das penas pecuniá.­rias, que se incorrerem por esta lei, se dividirá. em três partes uma para as despesas da Relação do Distrito, outra para os oficiais de justiça, que fizerem a diligência, e a terceira para o denunciante; e se o não hou ver, ou não quizer aceitar, será. nesta cidade para o Hospital de Todos os Santos, e nas outras partes para o Hospital PQblico mais visinho,

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Cap.O 26.0

Querendo quanto for pos fvel, evitar que a disposições desta lei se vão pon o em e queoimento, e desuso, oomo outras vezes tem sucedido j ordeno que impreteri velmen te os juizes abaixo nomeados, no seu auditórios na primeira audiência de cada mês, e nas alfândegas no primeiro dia não teriado também de oada mês, a façam ler em voz alta pelo porteiro, diante dos seus oficiais, e do povo, que se aohar presente, as istindo à leitura os mesmo juizes.

Cap.O 27.0

Para que não haja competência, ou perturbação das jurisdi­ções na execução desta lei, ordeno que ne ta oidade, e seu termo toque oumulativamente aos Corregedores do Crime dos Bairros, qual os denunciantes elegerem, tendo prevenção aquele, por ouja ordem primeiro se houver começado a proceder oontra o transgressor.

Nas outras terras tooará aos Corregedores e Ouvidores das Comaroas pelas transgressões oometida nas cidades, vilas e lugares da suajurisdiçãoj e pelas que se cometerem nas terras, em que houver juizes de fJra , estes conhecerão também as ditas transgressões.

uanio porém aos comi sos achados nos portos do mar nas embarcações, ou em quaisquer alfândegas, tocará a dita exeoução nesta cidade ao provedor, e nas outras partes aos juizes delas.

Cap.O 28.0

Os sobreditos jufzes executores tomarão as denóncias, e proce­derão nelas, ou pelo oorpo do delito, ou por prova de testemunhas, julgando-as sumàriamente sem figura de juizo, sem apelação, nem agravo até quantia de 20.000 rs. , e dois meses de prisão j e destas penas para cima reoeberão apelação para a Relação a que tocar; e quando 88 partes não apelarem, por serem absolutas, apelarão por parte da justiça. Pelas culpas desta pragmática se não concederão oartas de seguro, nem alvarás de fiança , mas responderão os réus presos até final sentença; e não sendo achados se procederá às suas revelias sendo oitados por éditos. E nos casos desta lei, que em si mesmo não levam penas estabelecidas fiquem arbitrárias aos jufzes pela contingência dos factos, não sendo nunca menos de 20.000 rs., e dois meses de prisão. E para melhor exeoução desta pragmátioa se tomarão as denunciações em segredo sem nome dos denunciantes.

Cap.O 29.0

Da jurisdição dos ditos juízes nos oasos desta lei não poderão isentar-se os réus por privilégio algum, que logrem, ainda que

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sejam fidalgos, desembargadores, oabos de guerra, soldados, moe­deiros, familiares do número de St.° Ofíolo, assentistas, rendeiros de minhas rendas, ou das universidades, e comunidades, estrangeiros, viúvas, órfãos, e pessoas miseráveis, e outros que tenham iguais, ou maiores, ou menores privilégios, ainda que sejam inoorporados em direito, ou sejam conoedidos em causa especial, ou onerosa j que todos para este efeito sômente hei por derrogados, como se de cada um deles fizesse expressa menção; porquanto para disposições, em que vá interessada como nas presentes a utilidade comum do estado, nunca foi minha intenção, nem dos reis meus predecesso­res, que valessem os ditos privilégios e isenções.

Proíbo aos j ufzes privativos de tais priviligiados tomar conhe­oimento, ou admitir reourso deles para declinarem a jurisdição dos ditos exeoutores, aos quais igualmente proíbo atenderem a excep­ção alguma desta natureza.

Cap.030.0

Mando que nas residências dos ditos juízes executores se per­gunte, se foram negligentes, ou desouidados na perseguição e oas­tigo dos transgressores desta lei , ou na execução de alguma das cousas nela determinadas; e que este interrogatório se acrescente aos das suas residências. E quando conste que se houveram nesta matéria oom desouido, ou dissimulação, serão condenados a não tornarem a entrar no serviço sem nova mercê minha.

Na devassa dos ofioiais fará o sindicante, o mesmo exame, e achando·os culpados, se forem proprietários serão suspensos do emprego, em que não poderão de novo entrar sem especial graça minha; e sendo serventuários serão expulsos da serventia para não entrarem mais nela.

Cap.o 31.0

Ordeno ao Regedor da Casa da Suplicação, Governador da do Porto, Vice-reis, Capitães Generais, e Governadores destes Reinos, e mais domínios, ponham grande cuidado, em que se observe pon­tualmente o conteCido nesta lei j e que os ministros encarregados da exécução dela se não descuidem de promover eficazmente a sua observAncia.

A todas as pessoas de meus reinos, e senhorios mando a cum­pram, e guardem inteiramente. E ao Desembargador José Vaz de Carvalho, do meu Conselho, que serve de Chanoeler-mór, mando a faça publicar na Chancelaria, para que a todos seja notória, e envie o traslado dela sob meu selo, e seu sinal a todos os corregedorés, ou vidores das conquistas, e das terras dos donatários, juízes de fora, e mais pessoas, a quem o conheciQlento dela pertencer, para que a

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façam também publioar nos seus distritos, e a executem, e façam por todos observar. E serã registada nos livros da Mesa do Desem. bargo do Paço, e das Relações, e mais partes, onde semelhantes leis se oostumam registar : e esta própria se lançará. na Torre do Tombo. Dada em Lisboa aos 24 de Maio de 1749. Rei

Pedro da Mota e Silva

Leã, e pragmática porql" V. Mag. ' há por bem proibir ° luxo, e tXUllO do, traje., carruagen., móveã., e 11410'. ° "'0 da. "pada. d. pe"oa, de baia:a condição, e dãverlo, oulro. abu.o. que neaeuilavam de reforma.

Para V. Mag.e ver José Vaz de Carvalho

Foi publioada esta lei, e pragmãtica na Chanoelada Mór da Corte, e Reino. Li boa, 28 de Maio de 1749.

Dom Sebastião Maldonado Regi tada na Chancelaria- 1ór da Corte, e Reino no Livro da

Lei a foI. 132. Li boa 28 de Maio de 1749. Rodrigo Xavier Álvares de Moura.

Manuel Inácio de Lemos a fez.

VI

Alvará de 19 de Setembro de 1749

Eu EI-Rei. Faço saber aos que este meu alvarâ, com força de lei virem, que na pragmática de 24 de Maio deste presente ano man­dei proibir, pelos motivos nela expressados, todas aquelas superflui­dades, e excessos; que tinha introduzido o luxo, e a vaidade em grande prej uizo de meus vassalos; e entre as cousas expressamente proibidas Coi uma delas o uso das rendas, não s6 nos vestidos, e enfeites pessoais, mas também em lenç'ls, toalhas, lenç6i , e em todas as mais alfaias, em que podia servir esta guarnição, como se contém no Cap. 1.° da dita pragmática. E atendendo também a alguns inconvenientes, que se me representaram sobre a liberdade, e excesso, que havia nos trajes dos negros, e mulatos das conquis­tas de um, e outro sexo, mandei proibir aos sobreditos o uso das sedas, e tecidos de lãs finos, de esguião, holanda, e outros semelhan­tes, ou mais finos tecidos de linho, ou algodão, como também o ornato de j6ias, ouro, ou prata, como se declara no Cap.o IX, da mesma pragmâtica. Porém por justas considerações do meu serviço, e bem dos meus vassalos sou servido declarar, que a proibição feita no dito Cap.o 1.0 sobre o uso das rendas em lenços, toalhas, lenç6i , e outras alfaias do serviço doméstico s6 tenha seu vigor, e efeito nas rendas de fora, ficando permitido o uso de todas aquelas, que e fabricarem nos meus domínios, exceptuando porém do dito uso tudo o que pertencer ao ornato das pessoas, como voltas, punhos, adere­ços de mulheres, e outras cousas semelhantes; porque nesta fica em seu vigor a proibição imposta na mesma pragmâtica. E por se me haverem representado novamente algumas razões de igual conside­ração às que me foram presentes, quando determinei a referida proi­bição a respeito dos negros, e mulatos, que assistem nas conquista expressada no cap.o IX, da dita pragmãtica: Hei por bem determi­nar, que por ora não tenha efeito, nem observãocia alguma aquela disposição no dito Capítulo IX, em que se faz a referida proibição a respeito dos negros, e mulatos, em quanto Eu não tomar sobre e ta matéria as informa~ões, que me parecerem convenientes, e a resolu· ção que for servido. E e te alvará se cumprirâ tão inteiramente, como nele se contém. Pelo que ordeno ao Regedor da Casa da Supli-

li

ISO

-cação, Governador da do Porto etc. Dado em Lisboa ao 19 de etembro de 1749.

Rei

Pedro da Mota e Silva

Alvará, porque V. Mag.' há por bem permtlir O U80 deu renda. fabricada. nOIl leU. domínio., exceptuando do dito UIIO o que pertencer ao ornato da. pe'lIoall. Como tambllm lIá por bem ordenar que por ora não lenha efeito o cap.· 9.0 da Pragmática de 24 de Maio a rellpeito do. negro. e mula/o. da. Conqui.ta •.

Para V. Mag.o ver

José Vaz de Carvalho

etc .

• • •

Extracto do Alvará de 19 de Nov.· de 1757 ( 1 )

-que sendo-me presente, em Con ulta da Junta do Comér. cio de te Reinos, e seus Domlnios, a grande desordem e considerável prejuizo que sentem os meus va salos mora. dores na Cidade de Li boa em se concederem de pouco tempo a e ta parte licenças a estrangeiros vagabundo, e de conhecidos para venderem pelas ruas, e em lojas, toda a orte de comestlveis pelo miudo; como também vinho, aguardentes, e outras muita bebidas; ampliando-se de tal modo esta liberdade, que vendem pelas ditas ruas alfeloas, obrea , jarzelim, melaço e azeitonas, ch.egando \lltimamente a intrometer·se por umas novas fábricas até no ministério de assarem castanhas; e em outras seme­lhantes vendas de géneros desta qualidade, que são proi. bidos pelas leis deste Reino, e posturas do Senado da Cãmara até aos mesmos homens nacionais, oomo exclusi­vamente destinadas para o exerclcio honesto, e precisa su tentação das muitas mulheres pobres, naturais destes reinos, que se ajudavam a viver, e com efeito viviam destes pequenos tráficos, sem que homens alguns se atreves­sem a perturbá·las neles : E sendo também informado

( ') Biblwleca Nacional de Lisboa - ecção de Reservados _ Pombalina _ Cod. ms. 453, lis . 18\ .

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de que os mesmos estrangeiros vagabundos, e desconhe­cidos se dão outras licenças para pOderem vender em lojas volantes, quinquilharias, e algumas fazendasj não s6 contra a disposição da pragmátioa de 24 de Maio de 1749 que no Oap.o XVllI.°, proíbe por termos expressos assim aos naturais oomo aos estrangeiros o venderem pelas ruas, e casas, fazenda alguma, ou ainda quinquilhariaj e oontra as posturas do Senado da Oâmara, que proibem o conce­der licenças a estrangeiros para semelhantes vendasj mas também porque uma grande parte dos ditos estrangeiros, a quem se concedem as referidas licenças, se compõem de desertores, e oriminosos fugidos, que não mereoem a minha real proteoção, para gosarem dos favores com que costumo animar os bons e louváveis comeroiantes estran­geiros, que assistem nestes meus Reinos j mas antes tem mostrado a experiência , que são receptadores de furtos, e vivem de contrabandos, e descaminhos dos meus Reais Direito, com o que também se fazem aborrecidos , e pesa­dos aos bons negociantes em grosso até das suas mesmas nações, perturbando-lhes a igualdade necessária para o -giro do verdadeiro comércio etc ... . .....•.

VII

Parecer do Desembargador do Paço Diogo Marchaã Temudo ao Senhor D. Pedro 2.° sobre as circunstâncias do Reino.

em 20 de Maio de 1698

nte de na cer servi a Pátria, e os augu tos predeces ores de Mage tade no mérito de meus pais, e avós; depois de nascido tenho em diferentes cargos servido como sei e trabalhado, como po o. Convencido no decurso da minha carreira daquela opinião de Platão, que a decadência de um estado provém não tanto da influências ceie tes, quanto da di olução do concento (sic) das cau a , tenho-me aplicado com afinco naquelas horas, que me tem permitido o meu oncio a discur ar para de cobrir e tas Causa, eca e breve, porque nenhum e tudo é mai importante ao homem, do que aquele que en ina a trabalhar eficazmente para fazer bem ao seu oberano e à ua pátria.

Vos a hge tade di se verbalmente o que hoje por ordem sua digo por e cri to. A dois pontos redu o a providência sobre a pre­sente enfermidade poHtica, à revogação, e pelo menos à reforma das dada da coroa, e à propagação da povoação.

As dadas dos direito, de po e ões da c,lroa, e de jurisdição temporal, ou segregai, civil, e criminal são a meu ver o germen mai influente, e percu siente da ruina edis olução de um estado. Tem e te ponto ido de grande peso nos gabinetes dos monarcas, aonde vacilando a poHtica entre as resoluções, e brigando a inteli­gência do dano com os receios de atalhá-lo, e tem recorrido a ter­mos mai demonstrativos e adequados a conceituar os interesses particulares, que a benetfcio p1íblico e geral, e mais a dilatar a enfermidade, que a decepá-Ia pela sua mesma origem.

Na hi tória / livro dos tempos , e escola comum do género humano se lêem factos irrefragáveis, e demonstrações esclarecidas de te argumento.

Foi costume dos reis antigos de Oviedo e Leão repartirem os personagen , que os ajudavam e serviam na guerra, as terras que iam tomando aos Mouros, assim para compensação de seus serviços, e acrescentamento dehonra, como para ficarem obrigados à defesa, e con ervação das mesmas terras defendendo-as das correrias, e

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entradas, que o inimigo fazia a cada passo, contraindo os senhores a obrigação de residirem nas mesmas terras; para alentarem os seus vassalos, e a estarem prontos a impedirem estes assaltos.

Por estas dadas se iam constituindo os doados uma espécie de soberanos relativos, que segundo os graus de sua ambição ou con­tinuavam a perceber de seus vassalos aqueles foros, q ue já pagavam aos seus enhores vencidos, ou lhos aumentavam e impunham de novo, ainda nos trabalhos mais simples, e naturais.

Este u o abraçaram pelos mesmos princlpios daquela politica os primeiros augustos fundadores desta monarquia, mas o andar dos tempos fez conhecer quanto semelhantes dadas são prejudicia­Ussimas. EnfraquElcido, e depauperado com elas o corpo mí tico do estado não podia o chefe principal ser bem obedecido por esta espécie de soberanos donatários, que estando na sua faculdade a possibilidade do abuso das dadas, podiam fazer com ele contingente, e menos duradoura a autoridade daquela, e apartando-me da exten­são, e da q ualidade de praxista aduzirei dois exemplos: 1.0 Ordonho segundo, e sua mulher Elvira Reis d'Oviedo, e Leão deram vários pri­vilégios e isenções aos moradores da freguesia de ão Tiago da Galiza do Couto do Correlhão, que El·Rei 1). Fernando confirmou. Entre outros deste privilégios foi o de poderem usar das lenhas, e matos da erra de Nó ou Nova; porém Trutesendes vigário das justiças, e valido do Rei Ordonho, que era o donatário daquelas terras, jun­tamente com seus irmãos Sesnandes Annes e Tedom Telles, se opuserem a esta determinação augusta, e nunca teve efeito. Paira. rão (8io) os povos, e abafando as queixas esperaram para tempo melhor fortuna , qual lhes veio com o Governo dos Senhores Conde D. Henrique, e D. Teresa e agravando-se a eles não só lhes confir­maram os privilégios que lhes havião sido dados em 1097 porém ainda lhos aumentaram: mas ainda em aquele mesmo tempo não se puseram em execução sl'melhantes concessões durando a preten­são de uns e a negação d'outros. 2.° O nosso Resende na Crónica do enhor 1). João 2.0 refere, que enviando este saudoso monarca corregedores às terras dos donatários se escandalizaram estes a tanto de uma medida, que é um direito inabdicável e inerente à

oberania, que começaram a haver desventuras e desares (8'0). Estes e outros exemplos, que poderia opõr, provam / como a

claridade do Sol / o estorvo, e contrariedade, que na politica inserem semelhantes dadas, como danosas tentadoras da segurança do Estado.

A felicidade de um Reino não consiste em acumular as rique­zas só em certos particulares, porque seria formar grupos de vlcios, consiste em que todos sejam ricos, e tenham de que viver, e que todo o homem necessita ser industrioso e activo em conseguir. É muito necessário conhecer o segredo das acções, e do coração do homem para o dirigir, uma e a mesma é a máquina em todos os estados, e em todos os tempos e situações i porém o grande mérito

e tá em di pô-la de truindo os hábitos VIOIOSOS para fazer dela () que de eja. Compreendo er oonveniente depois de se haver saído victorio o de uma faoção dar honro os prémios aos que trabalharam nela, porque cumpre-se com o que se deve, e com este cumprimento e animam o cobardes, e se aumenta o valor dos atrevidos: mas

também compreendo que para as acções heróicas instituiram os maiore ábio da antiguidade, não semelhantes dadas de recOm­pen a , porém sim as coroas cívicas, e murai, as estâtuas, os privi­légio ,a isenções, e a liberdades, e satisfazendo-se deste modo, se sati taz ao doi fin, premiar o esfor~o, e a virtude e oonservar-se a eguran~a intacta das perturbações domésticas que são as mais nociva à rep6blica.

A liberalidade é uma virtude própria de um Príncipe mas esta se deve regular pelo equilíbrio da prudência, que não venha a tocar nos extremos da prodigalidade, cujo vício ainda que culpável em todo, é for~o o que para se dar a um se tire a muitos, e bem 1\ pro. pó ito di e Plínio = que menor inconveniente era no dar que no quitar para dar.

s imperadores Tiodoro, e Valentiniano e tavão tão per uadi­do de te princípios que querendo fazer algumas doa~ões dão satis­fação dizendo que eles as fazem dos seus patrimónios herdado, e não do ben dotai da coroa, e que nelas não havia ofensa de ter­ceiro conforme e vê na L. 6.& Cod. Locat. praediorum = Sane qUla

non tX omni parte txcluenda 8" largila, principalis, rem divinal! domu, , .. ae impera/or, si velil, donabit ei. . flidttur enim 8uam concedere pen­,ioJ~em, non alteri f?ocere liberalitas . ..

Alon o o Sábio no Liv. 18 tt. 6.° parte 3. diz = Franqueza é dar o que se háde mi ter segundo o poder do doador dando do seu, e não do alheio, cá quem dá mais do que pode não é franco, mas gastador.

Até aos tempos de D. João 2.° não havião fundos p6blico , pelos quais os oberanos pagas em ao soldados, porque os dona­tários em virtude das mesmas dadas se obrigavam a servir com tan­tas lança, cavalos e gente, a quem pagavam; e da me ma sorte as povoações e cidadãos à propor~ão da suas rendas; porém o mesmo

enhor D. João 2.° pr[ncipe polftico com razão chamado o perfeito viu bem que não podia a magestade ser respeitada, como devia, nem o estado permanecer seguro depElndendo tudo isto dos va salos, porque negando eles a prontidão dos soldados e da paga, se achava o rei de amparado, vivendo em uma perpétua dependência, por isso abolindo e ta prática, con tituiu tropas pagas pela coroa. e para­ram desde então estas obrigações preci a dos donatário, devem também ce sar os efeitos des a dada, e reverterem em benefício do e tado pela regra = salus populi, suprema lex est = ficando desta maneira reparada a fazenda real, e terminadas as lágrimas do pobres vassalo, que choram quando vêm que o suor do seu trabalho é desvairado e levado pelo que não devem.

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Nunoa foram desoonheoidos aos nossos monarcas estes aforis­mos civis, porém fundaq,os naquele principio de Valerio, in Liv. 3., 6, que o Piloto industrioso ora alarga, ora enoolhe, e ora abranda as velas à proporção da monções dos ventos e impul o das águas, se sb tiveram de dar subitamente um golpe decisivo, com que consu­massem tão grande tobra, por serem muitos e muito poderosos, a quem tooaria o descontentamento procurando anteparar com gra­dual reversão alguns inconvenientes, quando não permanentes, ao menos transit6rios.

Exemplos deste argumento nos apresenta a Hist6ria. Tácito no Livro 7.9 dos seus Anais conta, que constituído Galba

na dignidade imperat6ria e achando o erário exausto e consumido pelas mercês exorbitantes, e inoftoiosas, que seu antecessor havia feito, oonsultou vários arbítrios para remediar tanto mal, e depois de maduro conselho se aohou, e adoptou como mais justo o anular as doa~ões e mercês reduzindo·as a uma décima parte e à proporção devida aos serviços = Proxima, diz ele, pecuniae cura, cuncla scrulan· libus jush881mum virutn uI, "Ide repeli, ubi inopiae cau.a eral, bis el vicies mille Be.'erlium Nero largilionibu. pffuderal, appellari singulo, jUB3il, decima parle ltberalilah8 apud quem que eorum rel1cla.

as Leis 15 e 17 do tt.° 10. Liv. 5 da Nova Recompilação das Leis da E panha se vêm dispo ições muito sábias neste objecto.

a grande7.a do carácter do r. D. Dinis que o mundo sempre mara­vilhará, começou logo no princípio do seu governo a fazer-lhe impressão este antigo sistema de tão prl'judiciais liberalidades, por­que em 26 de Dezembro de 1283, tendo 22 anos de idade, e 4 de rei· nado, fez por con elho de homens prudentes, que o amavam, uma revogação geral de todas as doações, quitas, e prome sas que até ali havia fei to, pois que como moço, diz ele, por induzimento de mui­tos, de quem hou vera de receber desengano, e a viso, fora enganado, dando e prometendo o que não devia, declarando que todos os monarcas deviam imitar e aproveitar·se nas promes as do não devido daquele dito sentencioso de Agesilau Rei dos Lacedem6nio , que instando com ele um vassalo para cumprir o que lhe havia pro­metido, lhe respondeu = Aquilo que se prometia injustamente, jus­tamente se negava = .

Este glorio o soberano, em cuja vida, como diz o célebre his­toriador Jer6nimo Roman, não e achava vasio, querendo precaver o mal causado pela dadas de seus antecessores, mandou pelo reino em 129 a Gonçalo Madeira, em 1303 a João Cé ar, e em 1308 a Aparício Gonçalves, homens na verdade de muita autoridade a inquirirem sobre a nobreza, doações, e abuso dos donatários, e à vista das informações anulou as que não eram legftimas e limitou as outras principalmente em quanto à jurisdi~ão e honras. É para sentir que este grande monarca tivesse tantas inquietações no decurso do seu governo causadas pelas guerras com D. Sancho

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fi D. Fernando de a tela; pe la de avenças de eu Irmão D. Afonso, de u fil ho o infante O. Aton o, porq ue tudo i to d u motivo a

(lU ele não fiz e o q ue qu ria ou não qui ze se como devia , Con-Corme e 'plica naqu la memoráv I de pedida que fez algun dia ante da _ ua de ' pedida que reter Roman.

O eDhor D. ArOD o 4.° fez um édito geral para a redução da doaçàe, o enhor D. F rnando à in tància do braço popular na corte de ..\tougia ao 13 d Set mbro de 1375, pu blicou uma lei, na qual reprova a doaç e de juri, dição, = á de ra zão, diz ele, dir ito natural, civil parec , em dÚvida porq ue mais conhe­cido ão, ti d mon trados o pod riO , e alttz do no o prinCipado, que por direito e por lei di ina humanal é com tida ao Rei , em ma l de maior e mai alto enhorio não deve er dado a outro, nem outro deve u ar deUa em o 80 Reinos = exceptua porém

pp oa. enhor D. João 1.0 r conll ceu perfeitamente que a doaçõe

qu eu antece. ore haviam feito ele me mo pl'incipa lmente ao onde .'uno ..\I\'are Pereira, a quem era umamente ob rigado, ram ex ce i a e em grande d trimento do e tado, prin cipiou a

revogar alguma i como daqut na ce em de avença mormente do ond • 'uno .Üvare com o me mo R i, com João da Regra seu

con elheiro fDtimo, para evitar o 'd io fez a Lei Men tal, que não revogando abt\rtamente a doaçõe , indir ctamen te as limitas e, e reduzi t\, cuja Lei publicou eu filho o enhor D. Duarte.

'anhor D. João 4.° (sic) mandou con tit uir a con firmações gerai, que não e acabaram.

Conclui- e do que tenho e cri to, que os soberano reconhece­ram o prejuizo, que cau a ao e tado a imensas dadas da coroa, ou ejam de direito, de po e ões, ou de juri dição, e q ue e te pre­

juizo é v rdadeiro em e'l ência. Conhecido o mal deve-se aplicar o remédio; faltar-se-ia ao devere da moderação se se não p usessem em prática a conftrmaçõe gerais ordenadas pelo enhor D. João 4.0 que têm m vi ta reverterem para o patrim6nio do estado aquilo que indevidamente tem andado de membrado, form ando-se para i o uma JUDta de mini tro , intacto de corrupção, m as cheios de abedoria para o eu conhecimento, e faltar-se-ia aos deveres da

ju tiça , e precavido o receio de maior ma l não reverterem todas a doaçõe em diferença alguma dada , nem dos bens da Coroa, no quai e compreendem não 6 os pr priarnente tais, mas os fis­cai e reguengo , p<,rque tudo deve ceder em benencio da regra = " alu populi uprema lex e t.

segunda providência, que e disse ser neces ári a para reme­diar a enfermidade actual, era promover a população. Toda a importância de qualquer estado con i te em ter o reino bem povoado, porque o povo é o baluarte, e ftr míssimo ornamento dos Reino, Cupio, diz Plínio na epist. 7, ad Tribal. patriam nOBtram omni-

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'bus quidem rebus aUDiri, maxime lamen civium numero, e.t enim oppídi. flrmiuímum ornamsntum.

O povo está firmada a força do estado, que cresce gradual­mente, ao que cresce a população, porque o povo é que faz a pátria, e não a granoeza do editrcios, e as sumptuosas muralhas, porém os homens, que a habitam, e defendem , Pa/riam di e Marflio, munícipe., n01l moenia, civila/em 11011 aedtf,cii., .ed i1l civibu. pOll/am.

Os meios para se conseguirem estes flns em um reino ador­.nado por um número de causas consumidoras, me parecem pode­rem-se reduzir à seguintes regras:

1.0 - Os prémios em honras e privilégios e i enções: convi­dando e promovendo os casamentos com diferentes pri­vilégios da mesma forma que praticavam os Romanos, os quais vendo a multiplicidade que havia de solteiros pro­puzeram prémios e privilégios ao que se casassem por cujo meio obtiveram no tempo de Cas io que todos e ca assem dentro de um ano, concedendo- e aos que tives-em certo nómero de filhos escu as de muitos cargos e

admiti-lo a certas honra. 2.° - Exortar e até mesmo obrigar por meio de lei aos testa­

dores que havendo eles de deixar alguns legados de obra pia em suas óltimas vontades, deixassem dote ou dotes para casarem donzelas pobres, antepondo as que casassem com lavradores, que é de que se necessita para estender e te precioso nervo do estado como lhe chama o Senhor D. Dinis.

3.° - Conceder algumas i eDções de direitos. O Senhor D. Dinis querendo obviar com a sua rara

política os roubos que o salteadores fazião eDtre Água de Cardiga e de Bezelga mandou eOiflcar neste terreno os lugal'e d'Assinceira, Atalaia e Tojeiraj para convidar os povoadores lhes quitou as jugadas por carta passada a 5 de etembro de 1303: o mesmo praticou na criação de outras muitas povoações que frequentemente visitava, e animava com sua presença.

-4.0 - ltepartir pelo novos povoadores porções de baldios com algumas isenções temporárias. O enhor D. João 1.0 pelo anos de 1429 chamou a Lamberto de Horques Alemão com sua mulher e filhos para estes Reinos incumbindo-lhe o convite de mai gente para povoarj deu-lhe o Castelo de Lavar JUDto a Montemor com o termo de dez léguas de comprido e três de largo, com franqueza e liberdade de tributos por espaço de vinte anos; e foi tão proveitosa a providência deste oberano, que o célebre escritor da sua vida clama pela prática deste sistema político, muito

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mai neoe ário ne tes tempos, em razão das va tas OOn­qui ta. Pareoe oontrastar esta poJ(lioa o sen timentos oontrários do antigos. Aristóteles no Liv. 5.° da ua Polftioa, e Plutaroo na Vida de Liourgo advertem, que o Laoedemónios jamais admitiam e trangeiros na Sua oidade, e que não são bon para povoarem em razão de trazerem oon igo o víoios da sua pátria oom o quai abrem a portas à ruina do reinos que o admitem: de te pareoer ão tamb m Tbuoidides, Aloibrades, Capi­tão Atenien a, Taoito, e ' alu tio, dizendo que oomo eme­lbante gente não e aoba obrigada com t ,e amor, re ulta c Ut quod commodum Iraha', rapiat ql,e, et p"aedam i nB;­n"um .uum conferat. fundando- e para i to na Lei d'Aroa­dio, Honório jferraloru, od. de Commert, et Meroator, e oomo tai re elam mai o segredo, que aloançam no Reino, e o oomunioam aos e tranhos: D. Affon o o ábio no liv. I. tt.° 11. parto 2 diz. E fazer povoar de boa

gente, e ante de seu, que do albeios, porque aquele ão enhore naturai, e e tes por prémios".

Todavia a iluminada polftioa do enhor D. João 1.0 de nenhum modo pode er e oureoida oom sem lhantes sen­timento dirigido mais pelo bubarismo do que pela oivilização e polftica.

TO ooração do homem está esorita a lei que o exoita a proourar por virtude da sua mesma oon ervação a maior fortuna, e a ocupação mais análoga às sl1as inoli­nações, e oiroun tànoia , protegidas de um poder con er­vador; é o homem oomo diz um oélebre poHtioo, um menino grande, que e maneja pelo mesmo prinoípio da emulação tão eficaz na juventude, e por i so não é o berço, • ma im o lugar que proporoionando estas oomodidade , ao que tem ânimo de aí as peroeber, que oonstitue a a pátria do homem, ele oomo sempre dispo to a conser­var a sua fortuna , o e tá também a defendê-la das vio­lênoia e da opre ões, em vi ta do que são prejuizos do entendimento e não razõe ,a que se opõem a povoar por e trangeiros. O e trangeiro é convocado com pré­mio, e oom ele pelo u o da lei da natureza procura o lugar da ua maior fortuna, que vem a ser a sua pátria, cobrin­do-se com a lei q ue a defendem; que pra un ção pois pode haver de falta de fé ne te, que não a haja n'aquele, que na oeu no me mo lugar ? O homem não é fiel, nem defende o lugar porque na oeu nele, se ele não faz a sua fortuna, e con ervação; logo é a boa sorte, e o direito que o homem tem à ua conservação, e melhoramento de for­tuna, por quem acrilica a sua vida. Promover o oh ama-

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mento de novos habitadores, com a permissão de baldios, é dar alma à indClstria, à civilização, e à oomunicação da arte de todos os pa(ses, cujas virtudes sociais planta entre os homen a preoiosa árvore da paz: enquanto a Gréoia viu os dias dos Sóorates, e dos Demostene apre­sentava ela ao mundo o modelo da ediricação, mas desa­parecendo oom eles a comunioação com o povos do mundo se tornou em um espantoso teatro de barbarismo; portanto é uma providênoia salutrfera animar a popula­ção oom o chamamento de estrangeiros.

5.° - Tirar o grande peso dos tributos, que os forais impõem sobre os ombros dos lavradores, quando eles são os mais fraoos, que os empobreoem, e impossibilitam, em razão do que recusam tomar sobre si o ónu do matri­mónio, e não se achando com este vrnoulo fàcilmente desamparam a terras, como bem con iderou Ju tiniano na Autêntioa cNullum orede/em el ex hac cau.a quoadam colonorum (uoae la/ebras peh.se. pois que não e podendo sustentar na sua Pátria, vão procurar remédio na alheia.

A condição de um lavrador sendo a mais natural, a mais bela e agradável, é o que exige a maior contem­plação da sociedade civil, porque como diz Crcero, la vrador experimentado, in ac/ione in verrem 5, se se considerar por uma parte o nenhum lucro do lavrador, que se os anos são abundantes, não têm valor os fruto, se estéreis, são tão pouoos, que não chegam para a sua sustentação, e por outra se olbarmos aos riscos da incer­teza dos tempo, da inclemência do céu, do rigor do Inverno, e d'outral! muitas irregularidades, a que o lavrador está sujeito, tiraremos como consequênoia necessária, que a condição não só deve ser desonerada de todo o peso que a oprime, mas antes deve ser grati­ficada com prerrogativas, que lhe sirvam de fruto cer­tos, já que são incertos os do seu trabalho.

6.° - - Introduzir o estabelecimento, que se ob erva em algu­mas provincias da Espanha, a que chamão montes de piedade, donde e emprestassem sementes aos lavrado· res em proporção da sua lavoura, cujos montes formas­sem pelas forças dos Prelados, Comendadores, e Igrejas; porque com estes empréstimos, socorre- e o lavrador, utiliza·se o comum, e se aumentam os dízimos e renda.

7.° - As ordens religiosas mendicantes se devem suprimir. e pelo menos reduzir ao menor nlÍmero, que for po ivel, porque estes corpos pesam sobre maneira no e tado, assim pesam os mendigos, porquanto não tendo ela outro modo de viver, se não as esmolas, se servem de

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imódica impreca~ões, com as q uai con trangidos o lavradores e o povo mormente cercado de pudor lhe dão m uitos o que pr ci am para seu filhos, ao me mo t mpo que m lembro do q ue di e t.0 gostinho, e o Impel'adore Va i nte e Valeutinian o na L, = Qu-idam ignaviae Cad. de O curionibu = que a maior parte da pe ,oa entra na ord n religiosa le adas da como. didade de fugirem ao trabalho cuidado da oCiedade, que todos dev m uportar, para irem a di frutarem (.ic) uma ocio idade anta. DeRta verdade e tava penetrado o Papa Inocêncio 3,0 quando recu ou aprova r as Ordens de '. Domingos, e de '. Franci co, que nunca a aprova. ria , e não fora aquela vi ão, que e diz, tivera de e tar o Templo Lateran n e ustentado no ombro daqueles doi varões : e nquanto à mai orden relig iosas se deve ob ervar o me mo que em França e pratica desde o tempo de lodoveo, de Popino, e de Carlos Magno de e não poder entrar na religiões sem licença de El.Rei,

porque a e te como \Tigário de Deus no temporal, e alma do e tado, e como protector da Igreja toca aber o nOmero, condi~õe , e oca ião, em que devem ser admiti­do para e não prejudicar a sociedade,

Deve V. Mag.e, falando com profunda reverência, e eu Augu tos uces ore , assim como fizeram muitos de eu Augu tos Predece ores, vi itar e :lar correições fre­

quente aos seu reinos para ver e conhecer seus vassalos, e fazer ·lhes guardar justiça, em os deixar expostos às tirania de juizes mercenário , e finalmente (vendo as ua nece idades dar-lhes o remédio conveniente) e eu ou da opinião que a obrigação que têm os soberanos de

manter a paz e j u ti~a de seu vassalos não se cumpre bem, quando os privam do amparo, e sombra da sua pre ença .

• 0 - Os podero os e abastados da corte e das cidades devem er obrigado a irem visitar seus casai , e herdades para

corrigirem as indolências ou erros de seus caseiros ou feitore , e obrigados e a i tirem nelas certa época do ano.

Foi algum tempo política e razão de estado o con­servá-los na corte, e nas cidades sem ocupação porque obrigados a maiores despesas se lhes quebrassem as for­ças e fica sem as im mais debilitados para as dissensões e novidades. Porém as razões em contrário têm mais importância, porque a diminuição a pobreza, e os empe­nhos cau ado pela dissipação são o maior despertador das novidades, como diz Aristóteles em sua Polí lica : • Nam cum ex primariiB aliqui bana àiu iparenl, hi rei

novas moliunlun e ócrates é da mesma opinião, que o demasiados gastos do nobres originavam di senç es no estado. Catilina depois de haver con umido o eu patri­mónio na corte empreendeu a conjuração, quando, como diz SalCtstio, não tinha bens que perder, nem honra que manchar.

9.° - Formar estllbeleoimentos para os vadios, e m ndigo ; é verdade que o enhor D. I~ernando a respeito de te fez uma lei famosa em 26 de Junho de 1375 e Filipe 3 .• fez dua , uma em 12 de Março de 1605, e outra em 30 de Dezembro de 1608, mas elas não dão uma providência que remedeie o todo de te mal, nem ele nunca e poderá remediar, Ae àquelas sábias providências e não juntar estabelecimentos no quais asseg"urando-se a exi tência e felicidade destes indivíduos, se introduza na clas e desta espécie humana a ordem e a indCtstria.

Houve V. Mage tade por bem ouvir ·me por seu serviço, deve também haver por bem desculpar a inferioridade, e desproporção do meu discurso para uma matéria tão importante, e me julgarei grandemente feliz se mereoer esta graça de V. Mag.-

Deus prospere por longos anos a vida a V. Mag (l, como pedimos todos os ous Vassalos. Lisboa 20 de Maio de 1698 = o Desembar­gador do Paço = Diogo Marchaã Themudo ( I l.

l' ) Biblio/eca Nacional de Lisboa, F. G. ee . de Res. Cod. 670.

VIII

Carta de Paulo de Carvalho de Mendonça ao Bispo de Coimbra

Excelentís imo Heverendí imo enhor

Recebi uma de V. Ex.e e crita no Louriçal a 22 de Outubro, e com la, o go to de saber, que a preciosa sa<íde de V. Ex.a

, se con­erva, para continuar os altos fins, a que Y. Ex.a , tão digna, e justa-

ment foi aplicado. Agradeço a V. Ex.a a ua aprovação na ordem que deixei na

Vila '::e Pombal, poi conhecendo eu aquela terra, e olhando para o intere e dela, nunca me pude per uadir daquele milagre que o povo rú tico contemplava à força da ignorãncia. O que lhe obser­vei mpre é, que a tal te ta era a ruina temporal, e espiritual daquele país, poi pelo que toca ao espiritual, V. Ex." é m ui bem informado da ua ovelha, e pelo que toca ao temporal, sempre vi arruinar quatro lavradores por ano, que em um pais pequeno, tem produzido a pobreza, que V. Ex.a conhece.

Enfim resolví-me a pa sar a Ordem de proibição <lo profano, con ervando a fe ta da igreja, que é o modo porque devemos honrar a Deu e ao santos, e agora estimo ter a inteira aprovação de

V. Ex.a

2

Vejo que V. Ex." incendido da caridade cristã me manda que comunique com meus irmãos, para que, se proibam as óperas, e haja reforma no luxo.

3

Para socegar a Vossa, (aie) no que pertence às 6peras, lhe direi que são os espectãculos, sem mulheres, e sem causa repreensível, que s6 serve a gastar o tempo, quem não tem mais a tazer.

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4

Em Roma, que é a cabeça da Igreja, as consente o Papa, e com mulheres, e se o Santo Padre as conserva, como se hão-de evitar em uma Oorte, aonde é preciso que haja alguns divertimentos, para evitar maiores males.

5

Eu me persuado que V. Ex." entende que estes teatros, são como a nossa comédia castelhana, onde houve tanta desordem ptlblica, e escandalosa como a V. Ex." lhe lembrava do tempo, em que nós éramos rapazes todos, e de que ainda hoje conservamos bons testemunhos.

6

Não, meu Senhor, o que há hoje é uma Cousa séria, que não tem mais entidade (sic), que a gente ociosa, gastar o tempo naque­les lugares, e assim socegue V. Ex.a o seu ardente espírito de cari­dade neste ponto.

7

A reforma que V. Ex." contempla na sua carta, eu também me conformo com ela: porém seria às avessas, e para que a nobr&za andasse com a decência com que eu sempre a conheci, pois seguro a V. Ex.a

, que presentemente as fidalgas, chegam a andar vestidas indecentemente, e veja V. Ex." as mulheres ordinárias que querem imitar a nobreza, em que termos se acham.

8

Não é o vestido o que causa a desordem, e V. Ex.a , experimen­tará nesse pais que as malheres ordinárias, e imundas são as mais prostituidas.

9

Terei a honra de informar a V. Ex.a, que meu irmão Francisco, achando·se governador do Pará, e sendo·lhe preciso entrar pelo mato seiscentas léguas, com uma grande tropa, logo que praticou a gente silvc;lstre, e começou a descer gente sem mais vestido que o que a natureza dá, a pouco tempo começou a experimentar entre a tropa as mesmas desordens qUtl nós contemplamos nas cortes com as mulheres enfeitadas, com aquelas reputadas como o gado naquele tempo.

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De que tiro a cODolu io, que não 6 o adorno, o que movo o e prrito, ma im a diferença do s xo. ooegue V. Ex.a o eu espí. rito, poi lhe eguro Dunoa ví Li boa tão reformada, pois não DOS COD ta de desordem p6blioa m pe oa de graduação, e bem natu. ral 6, que e houve se, havia de chegar à noUcis de quem tem obrigação de a evitar i e DOVO Eminentíssimo Prelado, e Dão de . cuidaria de fazer a sua obrigac:ão.

11

oDceda·me V. Ex.a a honra da suas orden , que terei a maior fortuna de executã·las.

Deu uarde a V. Ex.a muitos ano ossa enhora da Ajuda a 4 de Dezembro de 1762.

B. A. M. De V. Ex.a

Amigo muito fiel e reverente cativo. Paulo de Carvalho, e Mendonça ( 1 l.

Exulentíuimo e Reverenàlulmo Bi.po Conde.

Lisboa 1958.

Luís Fernando de Carvàlho Dias

( I B,bllOk:ca Nacional de Lisboa. Secção de Reservados. Colecçllo Pomba·-lina Cod. Ms. 678.