luthieria - viola caipira
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Design Digi tal
NA4
DESIGN E ARTESANATO: INSTRUMENTOS MUSICAIS
VIOLA CAIPIRA
ANA PAULA FRANCO CAVALCANTEANGELO BRUNO DE SOUZA SILVA
ARIADNE YASMIN VIEIRA DE MELOBRUNO TERUHIKO SATO
FBIO RODRIGUES DE OLIVEIRASTELLA NERY DA SILVA
VIVIANE RODRIGUES DE ALMEIDA
So Paulo2008/2
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Sumrio
Introduo .................................................................................................................. 2
1. Relaes entre Cultura, Design e Artesanato. ................................................. 3
2. Luthier ia. ............................................................................................................. 7
2.1. O que a Luthieria? ....................................................................................... 7
2.2. Luthieria de Viola Caipira ............................................................................... 7
2.3. Luthieria de Luiz Porte ................................................................................. 11
3. As funes da Viola Caipira e sua relao com o Design. ........................... 13
3.1. Funes da viola caipira ................................................................................. 15
4. Conceito de criao do Site Documental ....................................................... 18
5. Consideraes finais ....................................................................................... 19
6. Referncias ....................................................................................................... 21
Anexos ..................................................................................................................... 22
Entrevista com o Luthier Luiz Porte ....................................................................... 22
Levantamento Iconogrfico .................................................................................... 25
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Introduo
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar as relaes presentes entredesign e cultura e design e artesanato, estudar o ofcio de luthieria da viola caipira,
tomando como base o trabalho do luthier Luiz Porte e, em seguida, discutir a
questo de sustentabilidade presente no trabalho do luthier, as funes da viola
caipira e como as alteraes feitas no instrumento visando somente a esttica
podem prejudicar ou melhorar algumas dessas funes.
No primeiro captulo iremos definir os conceitos de design como o ato de
projetar e implantar este projeto utilizando-se de referncias culturais; de cultura
como o conjunto de normas, crenas, leis naturais, convenes, entre outras coisas
de uma determinada sociedade; e de artesanato como um artefato produzido por
tcnicas predominantemente manuais.
No segundo captulo iremos estudar o processo de luthieria, definindo-o como
o ofcio de fazer instrumentos musicais, o contexto histrico da viola caipira, sua
estrutura, afinaes, e mais especificamente, o trabalho de luthieria de Luiz Porte.
Por fim, no terceiro captulo, iremos abordar a questo da sustentabilidade
presente no trabalho de Luiz Porte, estudar as funes prtica, esttica e simblica
da viola caipira, como elas so desempenhadas e quando cada uma delas ocorre;
citar as alteraes estticas que os usurios normalmente fazem na viola e analisar
como essas alteraes feitas no instrumento podem prejudicar ou melhorar algumas
dessas funes.
Esta pesquisa se justifica pela importncia do estudo da cultura popular,
considerando que esta uma grande fonte de inspirao para o design, alm de
conhecimento essencial para que um projeto de design alcance seus objetivos.
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1. Relaes entre Cultura, Design e Artesanato.
Existem semelhanas e at divergncias no meio acadmico e profissional
entre as vrias definies de design. As mais comuns recorrem etimologia da
palavra, e isto acontece porque atravs da pesquisa da origem das palavras que
conseguimos entender o que de fato elas significam, sem as distores que
acontecem com o passar do tempo. Desse modo, recorremos definio
etimolgica de Cardoso (2004, p. 14), que explica:
[...] A origem imediata da palavra est na lngua inglesa, na qual o substantivo designse refere tanto idia de plano, desgnio, inteno, quanto configurao, arranjo,
estrutura [...]. A origem mais remota da palavra est no latim designare, verbo queabrange ambos os sentidos, o de designar e o desenhar. Percebe-se que, do pontode vista etimolgico, o termo j contm nas suas origens uma ambigidade, umatenso dinmica, entre um aspecto abstrato de conceber/projetar/atribuir a outroconcreto de registrar/configurar/formar.
Design seria ento o ato de projetar, desenvolver um plano (um projeto) para
depois desenvolv-lo e aplic-lo. A partir desta idia, Mnica Moura (2003b, p. 118)
observa de forma mais precisa o que design:
[...] significa ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. trabalharcom a inteno, com o cenrio futuro, executando a concepo e o planejamentodaquilo que vir a existir. Criar, desenvolver, implantar um projeto o design significa pesquisar e trabalhar com referncias culturais e estticas, com o conceitoda proposta. lidar com a forma, com o feitio, com a configurao, a elaborao, odesenvolvimento e o acompanhamento do projeto.[...] Projetar, produzir e criar no campo do design , principalmente, atuar com ainterface relao do usurio com o objeto atravs da cultura material, dainterdisciplinaridade, da produo de linguagem.
Podemos ver que o design o ato de projetar, almejar um objetivo,
desenvolver um plano (um projeto) de algo que vir a existir, para em seguidadesenvolver e aplicar este plano se utilizando de referncias culturais e estticas,
principalmente visuais, considerando que lidamos com formas (sejam elas concretas
ou digitais), a fim de criarmos uma relao agradvel entre o usurio com o objeto.
Mas embora a definio de design como projeto seja to bem aceita e
defendida, no podemos nos esquecer do cunho comercial do design afinal,
design feito para vender, seja um produto ou uma idia. Desse modo, Villas-Boas
(1998) e Barbosa (2003) completam o ponto de vista de Cardoso e Moura dizendoque so peas de design todo projeto que visem persuaso e a venda.
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E se o design usa de referncias culturais para se construir, o que seria
cultura? De acordo com Caldas (1986), a palavra cultura vem do latim colere e
significa cultivar. Por isso falamos em cultura de gado, cultura de milho, etc... Mas
j na Antiguidade a palavra cultura era usada no sentido de destacar a educao
aprimorada de uma pessoa, seu interesse pelas artes, pela cincia, filosofia, enfim,
por tudo aquilo que produzido pelo homem. Desde ento, o termo cultura vem
tomando significados cada vez mais abrangentes, por isso, importante enfatizar
que o estudo da cultura humana feito pelo estudo do modo de vida, padres de
comportamento, sistema de crenas, que so caractersticos de cada sociedade.
Cultura [...] um grupo organizado de padres culturais, normas, crenas, leis
naturais, convenes, entre outras coisas, em constante processo detransformao. (CALDAS, 1986, p. 14)
Assim como existe uma diversidade de culturas espalhadas pelo mundo,
podemos ver dentro de uma mesma cultura, outros subtipos de culturas diferentes. A
diviso mais comum se d devido estratificao de classes, pois a elite cultural,
que tendo em seu poder as instituies dominantes, e assim ela desenvolve a
concepo de cultura popular e a prpria concepo de cultura de elite, ou cultura
erudita. Desse modo, a cultura erudita abarca todas as formas de manifestaoculturais produzidas e consumidas pelas classes dominantes e possui uma base
cientfica que a legitima atravs da cincia, dos conhecimentos e saberes
produzidos nas Universidades e nas instituies cientficas. (CALDAS, 1986) Em
oposio direta a cultura popular, que de acordo com Nbrega (online, 2008) :
[...] o conjunto de criaes e manifestaes espontneas, originais e autnticas,nascidas e consumidas pelos prprios sujeitos que as geraram. Podendo at ser
influenciada por outros tipos de expresses culturais, a erudita, e a industrial massiva,o que no descaracterizaria seu carter popular.
Podemos ainda voltar a citar Caldas (1986) e dizer que a cultura popular
produzida fora do universo acadmico e que sua produo, quase sempre,
annima e coletiva, enquanto que na cultura erudita, essencial aparecer o nome
do autor, ou dos autores, das obras. No entanto, no caso do artesanato, que um
dos objetos de estudo desta pesquisa e uma das muitas manifestaes da cultural
popular, a afirmao de que sua produo annima e coletiva, s cabe aoartesanato produzido em comunidades. No caso da luthieria - artesanato de
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instrumentos musicais - essa afirmao se torna falsa, pois como o instrumento
musical feito pelo luthier assume a condio de pea nica, pois normalmente
produzido sob encomenda e possui caractersticas prprias que so produzidas
unicamente por aquele luthier, o fato do instrumento levar o nome de quem o fez,
uma questo de reconhecimento ao trabalho do luthier e tambm de identificao
daquele instrumento.
O designer trabalha dentro da cultura erudita, mas utilizando-se de elementos
da cultura popular. Isso acaba num intenso processo de troca entre o design e a
cultura geral, pois como j citamos, a cultura est sempre em constante processo de
transformao, abandonando certos elementos e adquirindo outros ao longo da sua
histria. Tudo o que transformado racionalmente cultura, portanto, o design uma manifestao cultural, o que d aos designers o poder de interferir na cultura e
de transform-la conscientemente. apropriando-se de elementos da cultura
popular, transformando-os dentro do universo intelectualizado da cultura erudita, e
devolvendo esses elementos num todo unificado e elaborado para a cultura popular,
que os designers trabalham em seus projetos.
Alm disso, o designer necessita de um certo conhecimento antropolgico
(conhecimento da cultura) para poder obter sucesso em seus objetivos. Pois almde usar referncias culturais (principalmente as visuais), para elaborar seus projetos,
o designer tambm precisa conhecer bem o pblico ao qual o seu projeto se destina,
o que ocorre tambm com o estudo da cultura na qual o seu pblico-alvo est
inserido.
Sobre artesanato, podemos dizer que o arteso a pessoa que faz o objeto
manualmente, sendo que esse objeto geralmente utilizado em comunidades. A
elaborao do objeto artesanal resultado de conhecimento, inteligncia ecriatividade agregada ao poder de criar e inovar devido s necessidades da
comunidade, onde as novas geraes devem aprender com os mais velhos, suas
tcnicas, e assim passando de gerao para gerao. O arteso geralmente
trabalha sozinho e assim pode ter o privilegio de ser autnomo para administrar seu
prprio tempo de trabalho. Uma das diferenas entre artesanato e design que o
arteso cria e renova seus objetos manualmente processo por processo e utiliza-se
de recursos naturais para a fabricao de seus objetos e pode ser livre para
construir qualquer projeto, enquanto o design utiliza-se de recursos industriais para a
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criao de seus produtos e se limita quando projeta um objeto, pois, ele deve pensar
no processo produtivo em srie.
No processo de produo artesanal o objeto produzido em pequena escala e
assim o objeto mais rico em detalhes e agrega mais valores artsticos e com isso
ele consegue ter condies de concorrer com o produto de design, o arteso que
domina o seu oficio consegue em qualquer momento da produo do seu objeto,
alterar e realizar ajustes. Enquanto no design tentamos melhorar os aspectos
funcionais e visuais e com isso o design se torna uma soluo que consegue
adicionar valores aos produtos industrializados.
Podemos tambm dizer que tanto os objetos artesanais quanto os objetos de
design so artefatos. Objeto algo que externo ao prprio ser, ou seja, est foradele, existe alm dele. O artefato o resultado da interferncia do homem na
natureza, e tanto o instrumento que o homem usa para modificar a natureza
quanto o fruto dessa modificao. o resultado de um processo de manipulao do
meio ambiente a partir do imaginrio, pois o homem consegue imaginar o artefato
antes de produzi-lo. Em suma, tudo o que produzido pelo homem a partir de um
saber um artefato. O artefato fruto de um trabalho, resultado de tcnicas
elaboradas a partir de um conhecimento. testemunha da realidade, a partir domomento em que, ao ser analisado, revela em parte a relao do homem com o seu
meio-ambiente.
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2. Luthieria.
2.1. O que a Luthieria?
Luthieria o ofcio de fazer instrumentos musicais. Podemos definir Luthier
como um arteso que tem o conhecimento de todo o processo de fabricao de um
instrumento.
O Luthier Verglio Artur de Lima (apud ROCHA, 2003) define a profisso de
luthier como engenharia de produzir sons tendo como matrias primas madeiras
trabalhadas pacientemente por conta de expedientes tcnicos, intuio aguda e
afetividade esttica e musical afloradas.
2.2. Luth ieria de Viola Caipira
De acordo com Sousa (2005), o nome viola percorreu um longo caminho at
tomar essa grafia como a conhecemos. Teria se originado na Sumria a 2.000 a.C.,
com pan-tur, que significava pequeno arco (CORRA, 2002).
Figura 1: Instrumentos fabricados pelo Luthier Luiz Porte.
Segundo Corra (2003) a viola apareceu inicialmente em Portugal no sculo
XV e foi considerada o principal instrumento dos cantores e trovadores da poca.
Pode-se identificar que j existiam dois tipos de viola em Portugal, a viola das terras
ocidentais e a viola do leste, ambas diferentes considerando-se o tamanho de sua
cintura e a quantidade de cordas, que influenciavam em sua sonoridade.
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Quando a viola foi trazida para o Brasil, no incio da colonizao, j era um
instrumento um pouco menor do que o violo e com uma cintura acentuada. A
estrutura portuguesa de modelo da viola se manteve inicialmente no Brasil, porm
com a Revoluo Industrial e a demanda baixa de emprego, alguns marceneiros
foram obrigados a empregarem sua tcnica com a madeira, para fazerem
instrumentos musicais, pois eram produtos em grande expanso considerando-se a
vinda de cantores sertanejos e a formao de novos grupos musicais vindos da
regio nordeste do Brasil para se difundirem nas grandes cidades.
A procura de violas em vrios estados do pas fez com que essa fosse
industrializada passando do mtodo artesanal para a fabricao em grande
quantidade, surgindo a preos mais acessveis.A viola de forma geral possui dez cordas, distribudas em cinco pares, existem
tambm violas com doze, onze, nove, oito, sete, seis e at de cinco cordas, porm a
Viola Caipira em especfico possui dez cordas, do contrrio segundo o luthier Luiz
Porte, se o instrumento possuir 12 cordas, por exemplo, ser considerado violo de
12 cordas e no mais uma viola. Como nos exemplifica Souza (2005), suas dez
cordas tiveram seus nomes originais mantidos em ordem decrescente, de cima para
baixo, so:
1 contra-canotilio (companhra do canutio);
2 canutilho (canutio);
3 contra-toeira (companhra da tura);
4 toeira (tura);
5 contra-turina (companhra da turina);
6 turina;
7 contra-requinta (companhra da sobreturina); 8 requinta (sobreturina);
9 contra-prima (companhra da prima);
10 prima.
Com base nas pesquisas identificamos que no Brasil existem dezenas de
afinaes, algumas so raramente utilizadas (CORRA, 2003). Algumas dessas
afinaes so conhecidas como Cebolo, a Natural, a Rio Baixo, a Boiadeira e a
Guitarra. Abaixo poderemos observar tipos de afinao que so comuns, e as notasmusicais que elas utilizam:
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Afinao Da-Viola: L, Re, F, Sustenido, L, R.
Afinao Natural: L, R, Sol, Sustenido, Si, Mi.
Afinao Meia-Guitarra: L, R, L, D Sustenido, Mi.
Afinao Guitarra: L, Mi, L D Sustenido, Mi.
Entre outros tipos de afinaes, utilizadas em cada regio do Brasil, alguns
cantores afinam a viola de acordo com suas vozes ou a tenso que preferem no
ponteio da viola (CORRA, 2003).
A afinao da viola caipira pode ser tocada de duas maneiras explica Souza
(2005), ela pode ser tocada ponteada, de forma meldica, com um dedo tocando
uma corda de cada vez; ou rasqueada (termo originrio do centro-oeste), quando as
unhas ferem vrias cordas ao mesmo tempo em que produz o som mais harmnico.
Figura 2: Partes da Viola
1 cravelha ou cravilha;
2 pestana ou trasto zero;3 trasteira, espelho, palheta ou escala;
4 castanha ou p do brao;
5 aro, faixa lateral, cinta ou ilharga;
6 cravelhal, cravelheira, palma ou
cabea;
7 trasto, tasto ou ponto;
8 casa
9 boca ou abertura;
10 cintura ou enfraque;
11 cavalete;
12 pino;13 contracavalete ou espinha;
14 tampo ou testo sonoro;
15 cordas;
16 brao;
17 bojo superior;
18 bojo inferior;
19 - fundo, costas ou testo de baixo;
20 roseta;
21 furo.
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A Viola Caipira brasileira sofreu inmeras modificaes at a atualidade
adaptando-se aos folguedos e s danas, modificada por artesos, aprimorada por
violeiros, ela se transformou num instrumento legitimamente nacional. (SOUSA,
2005, p. 44)
A viola depende de processos que so cuidadosamente vistos antes de iniciar
a sua construo. De acordo com Rocha (2003) a construo deve obedecer aos
seguintes passos:
Inicialmente deve se observar a cura da madeira. Processo de
envelhecimento da madeira que visa obter um bom resultado de acordo como nvel de adequao no binmio, som/design no tocante do instrumento
construdo.
O tempo para a produo da viola varia de acordo com o luthier. Cada um
tem seus segredos para fazer com que saia do instrumento o melhor som.
Para cada parte do instrumento o Luthier utiliza um tipo de madeira. Pinho
europeu para o tampo e para as laterais e fundo jacarand-de-baia ou pau-
marfim, madeiras de espcies raras.
No caso do Luthier Luiz Porte, ao contrrio de muitos, ele tem se preocupado
com a escassez da madeira e por isso utiliza madeira descartadas no meio
ambiente.
Figura 3: Violas em processo de secagem.
Porte (2008) nos explicou tambm que no bom fazer a Viola em dias de lua
cheia porque influncia na cura da madeira, aumentando a probabilidade dela
rachar. Seu processo de confeco demora em mdia quarenta dias, enquanto o
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luthier Verglio Artur de Lima, (apud ROCHA, 2003) demora em media duzentas
horas de trabalho, diludas entre sessenta e noventa dias. Lima s utiliza madeiras
com a cura de no mnimo seis anos. Ambos utilizam a goma laca indiana para
revestir a viola, o que d um timo acabamento e brilho ao artefato.
2.3. Luth ieria de Luiz Porte
Luiz Porte nasceu no Paran e desde pequeno conviveu com violeiros e
carpinteiros, tornando-se um apaixonado por instrumentos. A viola caipira na vida
dele uma tradio. Comeou como carpinteiro, dava aulas de msica, e medida
que os instrumentos se danificavam, Luiz Porte os consertava. Especializou-se naconstruo destes e apesar de nunca ter feito um curso sobre construo de
instrumentos, sempre procurou aperfeioar a sua tcnica como luthier.
Hoje em dia recebe de cinco a seis pedidos para confeco de violas por ms,
dentre elas, violas mais simples, violas com uma pintura especializada ou com
configuraes individuais para que o usurio se sinta mais confortvel com sua
pea. Um exemplo de customizao que Luiz Porte faz a mudana de tamanho da
cintura do instrumento, o que interfere em sua sonoridade.
Figura 4: Luiz Porte tocando. Figura 5: Luiz Porte explicando a construo das
violas caipiras.
Luiz utiliza de diferentes tipos de madeira para a construo de suas violas, e
acredita que esta necessidade feita pela escassez de madeira, acabou por colaborar
com seu trabalho, de forma que seus instrumentos possam ser mais ricos em
detalhes. Segundo Porte (2008) hoje em dia muitos luthiers fazem seus instrumentos
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utilizando grande parte dos materiais industrializados, enquanto ele fabrica, corta e
molda toda a matria-prima necessria para a construo, bem como confecciona
as ferramentas que utiliza. Afirma ainda que a maioria dos luthiers levam a
construo do instrumento para um lado mais folclrico, em que se preza a
decorao e a esttica do artefato, ao contrrio dele que preza uma boa sonoridade
e durabilidade, por isso todo o processo de construo de suas peas so manuais.
Figura 6: Forma utilizada para confeco da Viola Caipira.
Alm da Viola Caipira, Luiz Porte tambm produz violo, cavaquinho e violino.
Todos os seus instrumentos so feitos mo, afinados e testados por vrios dias
evitando problemas futuros e por fim so lustrados com muito carinho.
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3. As funes da Viola Caipira e sua relao com o Design.
Temos como delimitao dessa pesquisa, analisar as funes da Viola Caipirade acordo com uma srie de fatores que vo desde os ambientais aos desejos dos
consumidores e relacionar com Design.
A Viola Caipira possui uma funo principal que a de ser tocada, aonde o
som gerado diretamente influenciado pelo material utilizado em sua confeco,
que hoje ditado pelos problemas ambientais. Existem tambm as preferncias dos
clientes, que exigem customizaes estticas que tambm alteram o som do
instrumento.
A falta de madeira no meio ambiente o fator que mais influencia na esttica
da Viola Caipira confeccionada por Luiz Porte. So diversos retalhos de madeira que
juntos formam uma curiosa superfcie que mais parece uma colcha de retalhos, s
que de madeira.
Segundo Luiz Porte, essa juno de diversos pedaos de cores e tipos de
madeira diferentes contribui positivamente para a sonoridade da Viola Caipira, alm
de ser esteticamente muito interessante.
Figura 7: Viola feita com trs pedaos de madeira
de cores diferentes e intercalados.
A juno de materiais tambm contribui para a economia de matria prima.
Uma vez que pedaos pequenos de madeira so utilizados, o desperdcio diminui,
conseqentemente o impacto sobre o meio ambiente, que j no possui matria-
prima em abundncia, menor.
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Do ponto de vista da Sustentabilidade, Adlia Borges (2002, p.77) descreve o
consumo de madeira:
Pesquisadores da organizao no-governamental Instituto do Homem e MeioAmbiente da Amaznia, o Imazon, descobriram que apenas 35% da madeira cortada vendida e transformada em casas e mveis. Outros 22% se transformam em carvoe o restante simplesmente vira lixo.
Com isso fica clara a importncia do trabalho de Luiz Porte para o meio
ambiente porque suas peas agregam diversos restos de madeira de diversos tipos
distintos, porm adequados para a construo da viola caipira.
Analisando o conceito de sustentabilidade empregado no Design, Adlia
Borges (2002) explica que os designers de mveis utilizam madeiras amaznicas
pouco conhecidas, no aceitam a ditadura da madeira nica e no se submetem
falsa necessidade de ter ambientes em que tudo feito de uma madeira s para
combinar, o que se encaixa muito bem com o trabalho de Luiz Porte.
Ainda sobre a Sustentabilidade no Design, Borges (2002, p.78) completa que
existe uma certificao emitida pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC) para as
empresas que desenvolvem mveis e objetos de madeira, aps uma rigorosa
verificao de que a extrao feita com critrios adequados, de forma
ambientalmente adequada, socialmente justa e economicamente vivel.
particular de cada Luthier saber a procedncia do material utilizado em suas
peas quando consideramos que o cliente pode solicitar uma Viola feita com uma
madeira que no existe no Brasil e com isso seria preciso import-la, podendo no
saber se a sua procedncia legal. Luiz Porte no importa nenhuma madeira do
exterior porque seria difcil ter certeza se este material foi extrado seguindo as
normas da FSC, dando prioridade para retalhos de madeira que ele recebe de
doao ou que encontra.
Ainda com relao s exigncias dos clientes, algumas pessoas preferem que
a Viola Caipira seja revestida por um verniz preto, com objetivo simplesmente
esttico. Segundo Porte, o uso desse verniz no o agrada porque impermeabiliza o
instrumento mudando a sua sonoridade negativamente.
Por fim, o miolo da Viola tambm feito com retalhos de madeira, gerando um
curioso mosaico, que no influencia na execuo do instrumento e sim no seu
visual, uma vez que o objeto ganha uma grande riqueza de detalhes e atende asreferncias culturais relacionadas Viola Caipira, completando assim a funo
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sustentvel do trabalho de Luiz Porte que utiliza em sua maioria materiais
artesanais.
Figura 8: Materiais utilizados para customizao
e impermeabilizao das Violas.
A Viola Caipira possui como funo principal ser um instrumento musical.
Entretanto ela tambm pode ser usada como objeto de decorao. O cliente no
encomenda uma viola explicando como ir us-la, mas faz suas exigncias
estticas.
Como foi explicado anteriormente, alguns processos estticos podem
influenciar na sonoridade da Viola, o que pouco importa para quem ir us-la como
objeto de decorao. Dessa forma, o objeto perde algumas caractersticas e sua real
funo.
Relacionando com o Design Digital, mais precisamente um site documental,
produto final embasado por essa pesquisa, este no pode ter sua funo modificada.
Ao contrrio da viola, o cliente no pode pendurar o site documental na parede e
cham-lo de objeto de decorao. Entretanto, algumas exigncias podem influenciar
na usabilidade do site, fator que pode ser comparado viola. O cliente no pensa sesuas exigncias influenciaro na experincia de seus visitantes no site, assim como
no passa pela cabea do consumidor de violas que o revestimento de tinta pode
influenciar na sua sonoridade.
3.1. Funes da vio la caipira
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A Viola Caipira possui uma funo principal que a de ser tocada, sendo essa
a sua funo prtica, pois diz respeito ao processo de utilizao em nvel objetivo,
ou seja, a relao fisiolgica entre o sujeito e o produto (GOMES FILHO, 2006).
Podemos pegar como exemplo uma cadeira: ela cumpre bem a sua funo
prtica se tiver um bom projeto ergonmico, ou seja, se ela no causar nenhum tipo
de desconforto ao usurio, principalmente a longo prazo. Do mesmo modo, um
instrumento musical cumpre bem a sua funo prtica se o som que for produzido
por ele for o que se espera do instrumento em questo e se ele for adaptado a
pessoa, no causando desconforto em sua utilizao.
A viola de Luiz Porte, no geral, cumpre bem essa funo prtica, pois o luthier
se preocupa em utilizar madeiras que no prejudiquem, ou ainda, que melhorem osom produzido pelo instrumento.
A grande questo que, como Luiz Porte faz violas por encomenda, existem
tambm as preferncias dos clientes, que exigem customizaes estticas que
alteram o som do instrumento, acabando por prejudicar o som e a funo prtica
realizada pelo instrumento.
Alm da funo prtica, a viola tambm pode exercer outros tipos de funo, o
que ocorre quando o cliente compra uma viola apenas para utiliz-la comodecorao. Nesses casos a funo principal da viola muda de funo prtica para a
funo esttica. Enquanto a funo prtica importante para o bem-estar fisiolgico
do usurio, a funo esttica importante para o bem estar psicolgico, pois
considera a percepo sensorial do usurio sobre o produto e os aspectos
emocionais do comportamento perceptivo. Embora a viso seja o sentido mais
associado quando falamos de esttica, no o nico sentido envolvido nesse
processo. O cheiro de um objeto ou mesmo sua superfcie, constituem alvos deapreciao esttica. Os aspectos estticos de um objeto so principalmente os
aspectos que agradam ou desagradam o usurio, mesmo que ele no saiba
verbalizar o porqu desse. So os aspectos que influenciam comportamentos
emocionais. (GOMES FILHO, 2006)
O maior exemplo de funo esttica como principal funo no mundo do
design, se d no design de jias e acessrios. Embora esse tipo de produto tambm
tenha que ter uma boa funo prtica para no gerar desconforto na pessoa que o
utiliza, muitas vezes essa funo ignorada pelo prprio usurio em prol da funo
esttica.
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Desse modo, um instrumento cumpre bem a sua funo esttica se
agradvel a quem compra. E no caso do luthier Luiz Porte, muitas pessoas o
procuram para encomendar violas que sero utilizados somente para decorao,
pedindo diversas customizaes que iro satisfazer o julgamento esttico de cada
um.
Em ambos os casos, est presente a funo simblica, que diz respeito
adequao do produto s necessidades e desejos simblicos de casa usurio e
principalmente atribuio de significados realizada pelo usurio ao produto. A
diferenciao e o estilo de vida se constituem no ponto de partida para o
desenvolvimento do produto, na sua formao simblica. A aceitao de um produto
depende, praticamente, at que ponto consegue se conectar com as escalas devalores (sobre tudo com as escalas estticas) do grupo ou usurio de destino.
importante observar que, embora seja comum uma funo se sobressair
outra, elas no existem independentemente, esto interligadas e mudanas em uma
afetam as outras. Um usurio que pede uma viola envernizada de preto, embora
perca em funo prtica devido s alteraes que iro ocorrer no som da viola,
ganha em funo simblica, pois est tendo o desejo de ter uma viola preta
satisfeito. Satisfaz a funo simblica, pois uma viola envernizada de preto odiferencia daqueles usurios que preferem uma viola mais crua, em sua cor
natural, indicando diferentes estilos de vida.
Os msicos que pedem uma viola envernizada de preto normalmente so
msicos famosos que fazem parte do cenrio mainstream da msica popular, por
isso preferem violas diferenciadas, com um aspecto mais moderno. J os msicos
que preferem a viola em sua cor natural, so aqueles msicos do interior, msicos
mais tradicionais.O usurio que utiliza a viola somente como decorao pode at no aproveitar
a funo prtica da viola, mas estar satisfazendo sua funo esttica, e, por
conseqncia, sua funo simblica.
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4. Conceito de criao do Site Documental
Temos por objetivo demonstrar a relao design, cultura e artesanato atravs
dos meios hipermiditicos permitindo que o usurio saiba mais sobre as relaes
existentes entre design e cultura e design e artesanato e sobre os processos de
construo da Viola Caipira.
Alm de mostrar essa relao, pretendemos mostrar a comparao da
modificao na funo da Viola, dependendo dos padres utilizados para a sua
construo pedido dos clientes, fazendo uma relao dessa modificao com
meio do Design.
Sendo assim, a demonstrao da importncia das funes da viola caipira e no
meio do Design tornam-se o nosso principal objetivo.
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5. Consideraes finais
Definimos nesta pesquisa os conceitos de design, cultura e artesanato com o
intuito de embasar a contexto da produo de Violas Caipiras tendo como referncia
o trabalho do Luthier Luiz Porte.
Vimos que design significa ter e desenvolver um plano, um projeto, significa
designar. Cultura o conjunto de normas, crenas, leis naturais, convenes, entre
outras coisas de uma determinada sociedade. J o artesanato o objeto criado
manualmente, resultado de conhecimento, inteligncia e criatividade, agregados
pelo arteso atravs de suas geraes.
Estes conceitos foram importantes para a definio do que realmente o
trabalho do Luthier Luiz Porte do ponto de vista antropolgico. A sua Viola Caipira
um artesanato porque feito manualmente, mas se diferencia dos artesanatos de
comunidade, pois cada pea criada nica, possui caractersticas especficas, e
recebem o nome do arteso.
Definimos Luthieria como o ofcio de criar instrumentos musicais manualmente
e Luthier o sujeito que aprendeu o ofcio de criar instrumentos atravs de suas
geraes. Apresentamos a Viola Caipira, originada em Portugal e que aps chegarao Brasil foi facilmente incorporada cultura devido baixa demanda de empregos
e o crescimento na oferta de cantores sertanejos.
Da necessidade de encontrar um Luthier, nos deparamos com o trabalho Luiz
Porte que nasceu no Paran e conviveu com violeiros e carpinteiros onde aprendeu
e se identificou com o ofcio.
Observamos em seu trabalho a preocupao com a escassez de matria-prima
e como isso, aliado as exigncias dos clientes, influenciam na funcionalidade doinstrumento para depois comparar com a mesma situao no Design.
Conclumos com esta pesquisa que o trabalho de Luiz Porte est dentro do
conceito do Design Sustentvel porque ele utiliza retalhos de madeira jogados no
meio ambiente, evita o desperdcio de matria-prima, no compra madeira sem
conhecer a procedncia e utiliza pouco material industrializado em seus
instrumentos, tornando o seu processo praticamente todo artesanal.
Conclumos tambm que a funo da viola caipira pode ser mudada a partir dainteno de uso do cliente - us-la como instrumento musical em si, ou como objeto
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de decorao -, ou prejudicada com as alteraes que visam somente a esttica,
como quando o cliente pede para que a viola seja invernizada de preto. Ao contrrio
do que ocorre com o produto final do interdisciplinar - um site documental -, que no
pode mudar de funo.
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6. Referncias
BARBOSA, Carlos Alberto. Tkne e design: uma relao entre o conceito
aristotlico de arte e o conceito contemporneo de design. In: Faces do Design.So Paulo: Edies Rosari, 2003.
BORGES, Adlia. Designer no personal trainer. So Paulo: Edies Rosari,2002.
CALDAS, Waldenyr. Cultura. 4 ed. So Paulo: Global, 1986.
CARDOSO, Rafael. Uma introduo histria do design. 2. ed. So Paulo:Edgard Blcher, 2004.
CORRA, Roberto.A Arte de Pontear v iola. 2 ed. Braslia Viola Corra,2002
MOURA, Mnica. Design Digital: Universo da Cultura e da Hipermdia. In: Facesdo Design. So Paulo: Edies Rosari, 2003.
NBREGA, Zulmira. Cultura Popular na Ps-Modernidade. 2008. Disponvel em:. Acesso em: 16/09/2008.
SOUSA, Walter. ModaInviolada: Uma Histria da Msica Caipira. So Paulo:Quiron, 2005.
VILLAS-BOAS, Andr. O que (e o que nunca foi) design grfico. Rio de J aneiro:2AB, 1998.
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Anexos
Entrevista com o Luthier Luiz Porte
Pergunta: Voc faz viola para alguma pessoa famosa?Luiz Porte: No, pois geralmente este pessoal j tem uma pessoa especfica que faz para eles emuita das vezes eles ganham as violas.
Pergunta: Quantas violas voc produz por ms?LP: So poucas, 4 violas por ms, ou 5 pois um trabalho muito demorado. Primeiro voc v amadeira assim, crua, at voc a ver finalizada demora. A madeira precisa ir at um tambor onde cozida, como cozinhar mandioca, ela fica em um tambor cozinhando por um bom tempo at ficarmalevel o suficiente.
Pergunta: Fora confeco de viola voc trabalha com alguma outra coisa?
LP: S aula.
Pergunta: O que as pessoas procuram mais para o senhor dar aula?LP: Violo e viola, cavaquinho tem algumas pessoas, mas principalmente vilo e viola. Principalmenteviola, pois tem pouca gente que ensina, violo tem mais gente que ensina.
Pergunta: Quais so os instrumentos que voc sabe tocar?LP: violo, viola, cavaquinho, contra-baixo.
Pergunta: O senhor fez algum curso?LP: No, eu fiz curso s depois que eu comecei a tocar, quando um professor me conheceu e eucomecei a dar aula l, fizeram um teste comigo e me aprovaram para dar aula, mas eu estudava ateoria e dava aula prtica de viola. O nico curso que eu fiz foi esse mesmo.
Pergunta: Como o Senhor consegue as madeiras para fabricar os ins trumentos?LP: Se desperdiam muitas madeiras e isso est atrapalhando bastante, pranchas de 4 metros estosendo queimadas em toneladas, como pinho de riga e pinho canadense. Esto queimando alegandoque podem vir doenas junto com a madeira do exterior. Agente no pode mais pegar as madeirasnesses galpes, pois os donos alegam isso.
Pergunta: Tem alguma pessoa que j te procurou para ser um aprendiz?LP: Ah sim claro, mas eu no fao isso por que nunca fiz curso, ento eu no gosto de fazer ascoisas meio picaretas e para voc ensinar voc precisa ter a didtica das coisas e eu no tenho. Quenem vocs, que esto fazendo faculdade, depois pode ter um cara que aprendeu o que vocs estofazendo na raa, de repente o cara pode fazer melhor que vocs, s que vocs podem ensinar e eleno, por que vocs cursaram e fizeram um trabalho, conhecem a didtica e ele no. At falei na
ordem dos msicos existem pessoas dando aula e no sabem nem pegar no instrumento, por issoque para, ensinar deveria ter algum teste.
Pergunta: Se voc fosse escolher um estilo que gosta de tocar, qual seria?LP: Eu gosto de sertanejo raiz tipo Tio Carrero, estou fazendo um Cd bem raiz.
Pergunta: Quais so os grupos hoje em dia que ainda usam a viola?LP: Csar e Paulinho, mas o resto no usa a viola, Zez, mesmo s usa a viola em um trechinho damsica.
Pergunta: Voc acredita em algum tipo de mistic ismo para a const ruo da viola?LP: Isso um pouco de lenda, mas existe, o fato de lua influenciar na construo da viola, porexemplo, existe. Ainda tem o fato de que em alguns dias voc est bom para fazer as coisas e em
outros no. Mas o tempo mesmo essencial, se no estiver tempo bom, por exemplo uma pea daviola que presa s com cola, precisa estar um tempo bem legal para colar e segurar pois isso aqui
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s vai ser pressionado. Por exemplo, se voc cola num tempo frio, depois que seca a viola, o quevoc grudou se solta.
LP: O autntico violeiro que existia, tocava uma msica ponteando, por exemplo se eu cantar umamsica, o que eu falar eu tenho que pontear.
Diferente de hoje que se usa acompanhado, ento se voc for ver o violeiro hoje nem existe, poishoje banda, um dos componentes apenas toca a viola, para ser violeiro precisa ser s a pessoa e aviola.
Pergunta: Como o senhor fabrica suas violas?LP: A primeira coisa que se faz a forma.
Pergunta: O senhor faz uma frma para cada viola?LP: Sim, uma frma para cada viola, cada instrumento tem sua frma. O primeiro passo a frma,depois disso agente faz as laterais, em seguida, vem o fundo com umas trs travessas, coloco otampo, tambm com umas trs travessas. e depois coloco a boca.
Pergunta: Como o senhor faz essa boca?
LP: A boca precisa ter um tamanho certo, um mosaico. Vrios pedaos de madeira so colocadosem uma forminha. Depois que o tampo cortado coloco a boca. Existe outro tipo de fabricao, seriao sistema original, pois quando se tinha bastante madeira se fazia a viola escavada, agora no seacha mais madeira o suficiente, ento precisamos fazer com vrios pedaos de madeira. Da formaescavada a sonoridade outra coisa, bem melhor.
Pergunta: Ento para fazer a viola no usada uma madeira inteira?LP: Claro que no, pois hoje em dia no tem como fazer a viola sem a emenda. Cada vez maisestamos emendando por causa da falta de madeira, antigamente se achava uma prancha de pinhocom 80 metros, hoje em dia no se acha nem com 20 metros. Agora, para fazer o brao da viola usa-se uma madeira inteira, mais comprida com outras coladas em cada ponta, depois serra para fazer otoquinho que vai atrs da viola, pois no tem madeira sobrando para fazer o brao com uma madeiras, mas como no tem, agente obrigado a fazer isso e d bastante trabalho.
Pergunta: Como o senhor pode diferenciar a viola caipira?LP: A diferena o tipo da msica. A sonoridade sempre igual, o que muda o estilo da msica.Viola caipira tem dez cordas e a afinao de cebolo a tradicional para violeiro, seno no d pratocar, a sonoridade diferente.
Pergunta: O que o senhor pode falar sobre a mudana no tamanho da cintura da viola?LP: questo de gosto, viola cinturada, uma com bastante cintura e a sonoridade muda um pouco.
Pergunta: A viola tem um tamanho padro depois de pronta?LP:Tem dois padres, viola pequena e a mdia, que inclusive serve para qualquer coisa e a pequenano, j prpria para pontear, mas questo de gosto tambm.
Pergunta: Quanto tempo o senhor demora para fazer uma viola?LP: Em mdia de 40 dias se o tempo estiver bom, pois se estiver frio ou chovendo, mesmo sendo emestufa ela no cola bem. E ferramenta s industrializada s tem a mquina para furar e lixar a viola, oresto tudo a mo.
Pergunta: O senhor acha que seu estilo mudou com o tempo para a const ruo da viola?LP: No, posso ter aperfeioado, mas mudado meu estilo no. Teve uma poca em que as indstriasmodernizaram e quem era marceneiro ficou sem emprego, por exemplo para voc fazer uma mesahoje em dia tem cobrado 1500 reais e se voc for nas Casas Bahia por exemplo, voc a compra por700 reais, ento o marceneiro foi obrigado a fazer outras coisas, como construir instrumentos. Muitagente que no era violeiro comeou a fazer viola, por isso que as sonoridades mudaram, mas quementende de viola vai querer um instrumento com sonoridade de viola, mas no que mudou o jeito defazer, mudou por que os profissionais inventaram outras formas de fazer. Tem gente que usa amesma frma para o violo e a viola, ento o som no vai ser o mesmo. Ento se voc considerar aforma tradicional de se fazer a viola no mudou nada, no pode mudar, seno muda a sonoridade.
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Pergunta: Quem compra suas violas pode escolher a cor?LP: Sim, pode escolher, tem gente que quer viola preta, dai preciso tingir a madeira, mas o legal fazer ela sempre na cor da madeira, pois cada coisa que voc pe altera o som.
Pergunta: Se o senhor pintar a viola altera a sonoridade?
LP: Muda muito, se voc for fazer a viola s na madeira, vai lixar, passar uma seladora para tamparos buracos, lixar de novo para deixar na madeira e passar verniz. Se voc vai pintar a viola, precisacolocar um fundo, passar a tinta e depois um verniz bicomponente usado em carros, se voc colocara viola dentro d'gua no acontece nada, ela fica impermeabilizada, s que a sonoridade muda.
Pergunta: Por que voc escolheu a viola caipira?LP: Porque eu sempre estive em escola de msica, ento agente tinha muito problema para acharalgum para consertar o instrumento, porque demorava, ento eu comecei a consertar osinstrumentos, depois foi rolando e chegou ao ponto que est. Meu pai sempre mexeu com madeira,ento eu estou a quinze anos fazendo isso e nunca fiz curso, aprendi sozinho.
Pergunta: O senhor tambm toca os instrumentos?LP: Sim, eu sou msico e acredito inclusive, que para se fazer um instrumento bom preciso tocar,
tem alguns luthiers que no tocam, mas diferente de um instrumento feito por um luthier que toca,se voc toca, voc sabe quando o som est bom, se voc no msico, como voc vai testar?
Pergunta: Tem alguma coisa de especial que voc faz para viola ficar com um som bom?LP: A Lua influi bastante na viola, se voc a fizer na Lua errada, ou cortar a madeira na Lua cheia, amadeira trinca, entorta e da cupim.
Pergunta:Tem alguma madeira especfica para fazer a vio la?LP: Existem vrias madeiras, mas hoje esto escassas. Atualmente estamos usando madeirasrecicladas, semelhantes ao pinho de riga, uma madeira que posso encontrar facilmente. A madeiraideal para o tampo o pinho, para as costas da viola se usa cedro, embuia. A caixa lateral e costas embuia, cedro ou jacarand. Para o brao sempre cedro, ou pinho tambm, mas como no seencontra este tipo de madeira, se compra de casas antigas um pedao de embuia ou cedro, que a
madeira reciclada, pois na natureza no se acha mais. Existem as madeiras de contrabando tambm,mas no legal n, pois agente est colaborando com o crime, ento estamos optando por outrascoisas, por exemplo eu j fiz viola de eucalipto, que at que uma madeira que substitui o cedro, adiferena que o eucalipto da muito defeito, trinca muito.
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Levantamento Iconogrfico
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