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Page 1: LUSOFONIA AFRO-...Ática) e Para compreender Labov (Petrópolis, Vozes). O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocorísticos foi publicado em artigo científico sob o título

LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA

Modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas

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3

Vicente de Paula da Silva Martins

LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA

Modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas

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Copyright copy Vicente de Paula da Silva Martins Todos os direitos garantidos Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos do autor

Vicente de Paula da Silva Martins

Lusofonia afro-brasileira modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas Satildeo Carlos Pedro amp Joatildeo Editores 2020 283p ISBN 978-65-87645-67-4

1 Lusofonia afro-brasileira 2 Expressotildees idiomaacuteticas 3 Psicolinguiacutestica 4 Autor I Tiacutetulo

CDD ndash 410

Capa Felipe Roberto І Argila Diagramaccedilatildeo Diany Akiko Lee Editores Pedro Amaro de Moura Brito amp Joatildeo Rodrigo de Moura Brito Conselho Cientiacutefico da Pedro amp Joatildeo Editores Augusto Ponzio (BariItaacutelia) Joatildeo Wanderley Geraldi (Unicamp Brasil) Heacutelio Maacutercio Pajeuacute (UFPEBrasil) Maria Isabel de Moura (UFSCarBrasil) Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCarBrasil) Valdemir Miotello (UFSCarBrasil) Ana Claacuteudia Bortolozzi (UNESP BauruBrasil) Mariangela Lima de Almeida (UFESBrasil) Joseacute Kuiava (UNIOESTEBrasil) Marisol Barenco de Melo (UFFBrasil) Camila Caracelli Scherma (UFFSBrasil) Luiacutes Fernando Soares Zuin (USPBrasil)

Pedro amp Joatildeo Editores wwwpedroejoaoeditorescombr

13568-878 - Satildeo Carlos ndash SP 2020

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HOMENAGEM Agrave linguista e amiga Florence Detry que de tatildeo longe orientou-me passo a passo sobre os primeiros procedimentos metodoloacutegicos para construccedilatildeo dos experimentos psicolinguiacutesticos na aacuterea fraseoloacutegica e a diligente aplicaccedilatildeo de testes aos africanos lusoacutefonos

6

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS 19

CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS 67

A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas 69

Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia 71

As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas 74

As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico 74

Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo 76

Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical 79

Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto 80

Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico 82

A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas 83

A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave 84

Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas 85

ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA 89

Os experimentos de Irujo (1986) 90

Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993) 95

Os experimentos de Cooper (1999) 105

Os experimentos de Crespo e Caceres (2006) 110

Os experimentos de Detry (2010) 112

METODOLOGIA DA PESQUISA 113

Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa 113

Objetivo Geral 113

Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa 113

Perguntas da pesquisa 114

Hipoacuteteses 115

Primeiros passos metodoloacutegicos 116

8

EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS 119

Participantes 119

Refinamento dos instrumentos da pesquisa 123

Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento 126

Material e Procedimento de seleccedilatildeo 128

Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento 131

ZOOMORFISMOS 131

Matar cachorro a grito 131

Natildeo pagar mico 132

SOMATISMOS 132

Tirar mais aacutegua do joelho 132

Pocircr a boca no trombone 132

BOTANISMOS 133

Saber com quantos paus se faz uma canoa 133

Chutar o pau da barraca 133

Protocolo verbal think aloud (TA) 133

Transcriccedilatildeo de dados 134

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4 140

Material do 1ordm Experimento 142

RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 145

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

145

Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

145

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 159

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 160

Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico 160

ZOOMORFISMOS 160

Matar cachorro a grito 160

Pagar mico 161

SOMATISMOS 164

Tirar mais aacutegua do joelho 164

Pocircr a boca no trombone 165

9

BOTANISMOS 165

Saber com quantos paus se faz uma canoa 165

Chutar o pau da barraca 165

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica 166

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica 167

ZOOMORFISMOS 167

Matar cachorro a grito 167

Natildeo pagar mico 168

SOMATISMOS 169

Tirar aacutegua do joelho 169

Pocircr a boca no trombone 169

BOTANISMOS 171

Saber com quantos paus se faz uma canoa 171

Chutar o pau da barraca 171

Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 172

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

174

Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica 174

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes 178

Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica 180

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 180

ZOOMORFISMOS 180

Matar cachorro a grito 180

Natildeo pagar mico 180

SOMATISMOS 181

Tirar mais aacutegua do joelho 181

Pocircr a boca no trombone 182

BOTANISMOS 182

Saber com quantos paus se faz uma canoa 182

Chutar o pau da barraca 183

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 185

ZOOMORFISMOS 185

Matar cachorro a grito 185

Natildeo pagar mico 185

10

SOMATISMOS 186

Tirar mais aacutegua do joelho 186

Pocircr a boca no trombone 186

BOTANISMOS 186

Saber com quantos paus se faz uma canoa 186

Chutar o pau da barraca 186

Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico 187

ZOOMORFISMOS 187

Matar cachorro a grito 187

Natildeo pagar mico 187

SOMATISMOS 188

Tirar mais aacutegua do joelho 188

Pocircr a boca no trombone 188

BOTANISMOS 190

Saber com quantos paus se faz uma canoa 190

Chutar o pau da barraca 191

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica 192

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense 194

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

198

Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica 197

Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

ZOOMORFISMOS 203

Matar cachorro a grito 203

Natildeo pagar mico 206

SOMATISMOS 208

Tirar mais aacutegua do joelho 208

Pocircr a boca no trombone 209

BOTANISMOS 209

Saber com quantos paus se faz uma canoa 209

Chutar o pau da barraca 210

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 211

ZOOMORFISMOS 211

11

Matar cachorro a grito 211

Natildeo pagar mico 212

SOMATISMOS 212

Tirar mais aacutegua do joelho 212

Pocircr a boca no trombone 212

BOTANISMOS 213

Saber com quantos paus se faz uma canoa 213

Chutar o pau da barraca 213

Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 214

ZOOMORFISMOS 214

Matar cachorro a grito 214

Natildeo pagar mico 215

SOMATISMOS 216

Tirar mais aacutegua do joelho 216

Pocircr a boca no trombone 217

BOTANISMOS 218

Saber com quantos paus se faz uma canoa 218

Chutar o pau da barraca 219

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica 221

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

222

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso 231

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo 233

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625 235

ZOOMORFISMOS 235

Matar cachorro a grito 235

Natildeo pagar mico 236

SOMATISMOS 237

Tirar mais aacutegua do joelho 237

Pocircr a boca no trombone 239

BOTANISMOS 240

Saber com quantos paus se faz uma canoa 240

Chutar o pau da barraca 242

12

Estrateacutegias bem-sucedidas 245

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo 250

ZOOMORFISMOS 250

Matar cachorro a grito 250

Natildeo pagar mico 252

SOMATISMOS 253

Tirar mais aacutegua do joelho 253

Pocircr a boca no trombone 254

BOTANISMOS 255

Saber com quantos paus se faz uma canoa 255

Chutar o pau da barraca 257

BREVES CONCLUSOtildeES 261

REFEREcircNCIAS 265

ANEXOS 275

SOBRE O AUTOR 281

SOBRE A HOMENAGEADA 283

13

INTRODUCcedilAtildeO

COMO SURGIU MEU ENTUSIASMO COM A (PSICO)LINGUIacuteSTICA)

A primeira vez que vi um linguista em accedilatildeo em campo de pesquisa foi em 1983 Estudante de Letras na Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) em Fortaleza surpreendentemente vi adentrar em uma das salas de aula do Centro de Humanidades um pesquisador elegante fino voz impostada e nos saudou com um retumbante boa noite Ficamos bastante curiosos com aquela figura Em seguida pediu licenccedila ao colega professor para aplicar aos calouros de Letras um pequeno questionaacuterio sobre hipocoriacutesticos Hipocoriacutesticos Natildeo tinha a menor ideia do que pudesse ser o tema da pesquisa e o pesquisador percebendo nossos olhares atocircnitos finalmente identificou-se apresentou suas credenciais acadecircmicas e de forma muito didaacutetica falou-nos sobre os hipocoriacutesticos objeto de sua pesquisa que dizem respeito agraves palavras criadas por crianccedilas pequenas especialmente durante a aquisiccedilatildeo da linguagem com intenccedilatildeo de carinho para uso no trato familiar ou amoroso como Fafaacute [por Faacutetima] Mariinha [por Maria] Tiatildeo [por Sebastiatildeo] Estava naquele ano diante de Joseacute Lemos Monteiro um dos maiores linguistas cearenses

Anos depois li muitos artigos de Lemos sobre os processos morfoloacutegicos com especial atenccedilatildeo a dois deles ldquoProcessos de formaccedilatildeo dos hipocoriacutesticosrdquo (1983) e ldquoOs hipocoriacutesticos de Joseacute e Mariardquo (1984) bem escritos com portuguecircs escorreito estilo meliacutefluo textos bem organizados e objetivos como requerem os princiacutepios e postulados da boa ciecircncia Na verdade Lemos se dedicou de forma muito intensa nos anos 80 aos estudos dos processos morfoloacutegicos de modo especial os de natureza prosoacutedica e derivacional Trecircs dos seus livros satildeo adotados por mim em disciplina no Curso de Letras Morfologia portuguesa (Campinas Pontes) A estiliacutestica (Satildeo Paulo Aacutetica) e Para compreender Labov (Petroacutepolis Vozes)

O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocoriacutesticos foi publicado em artigo cientiacutefico sob o tiacutetulo ldquoRegras de produtividade dos hipocoriacutesticosrdquo (1982) Mais adiante jaacute no final dos anos 80 e iniacutecio da minha carreira docente no magisteacuterio de Letras descobri que Lemos

14

havia coordenado uma pesquisa ldquoDicionaacuterio de Hipocoriacutesticosrdquo realizada na cidade de Fortaleza onde coletou uma grande quantidade de nomes hipocoriacutesticos com vistas agrave elaboraccedilatildeo de um dicionaacuterio O Dicionaacuterio Hipocoriacutestico de Joseacute Lemos Monteiro nos daacute uma variedade de exemplos e muito dos nomes que nele constam fazem parte tambeacutem do nosso linguajar diaacuterio Amanda ndash Manda Mandinha Amandinha Beatriz ndash Bia Tricinha Triz Trize Bi Carla ndash Carinha Cacaacute Calu Carlota Carlita Lala e a lista vai de A a Z

As sementes de Lemos natildeo cairam em terra saacutefara aleacutem de me tornar amigo do grande pesquisador (e por diversas vezes recepcionaacute-lo em Sobral para suas magistrais conferecircncias) tambeacutem acabei por fazer agraves vezes de pesquisador agrave guisa de Lemos e realizar uma robusta e demorada pesquisa (psico) linguiacutestica ao longo de suas deacutecadas na UVA onde atuo profissionalmente desde 1994 a partir de relatos de matildees sobre as cinquenta primeiras palavras ditas por crianccedilas de 3 anos a 5 anos na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute com foco na recolha de hipocoriacutesticos material a ser ainda revisado com vistas agrave publicaccedilatildeo futura Eacute difiacutecil descrever o que se passa na mente do pesquisador e de sua equipe quando por exemplo depois de meses de aferroado trabalho de recolha e tratamento de dados de sujeitos da pesquisa ficamos diante um corpus especialmente constituiacutedo para anaacutelise (psico)linguiacutestica que apresente acircmbitos ou aacutereas de interesse acadecircmico diverso1

a)Vozes de animais ldquooarrrdquo (leatildeo) ldquofuimrdquo (porco) ldquomiaurdquo (gato) ldquoueberdquo (sapo) ldquoua-aurdquo (cachorro) ldquopiu-piurdquo (pinto) ldquobeacuteeacuterdquo (cabra) ldquomuacuteuacuterdquo (vaca) ldquoquaquardquo (pato) ldquomonrdquo (boi) ldquococoricoacuterdquo (galinha) ldquoron-ronrdquo (porco) ldquocu-curdquo (passarinho) ldquofufurdquo (coelho) ldquopiu piurdquo (pinto) ldquomeacuterdquo (cabra) b) Nomes de pessoas ldquoIardquo (Irla) ldquoIacrdquo (Isaac) ldquoInguidrdquo (Ingrid) ldquoItaiardquo(Itaacutela) ldquoSamalardquo (Samara) ldquoMarcadiordquo (Marclauacutedio) ldquoMacardquo (Magda) ldquoQuicilenerdquo (Gracilene) ldquoUiacutesrdquo (Luiacutes) ldquoAmundordquo (Raimundo) ldquoMaquederdquo (Marclede) ldquoUalardquo (Laura) ldquoKielrdquo(Macliel) ldquoMaliardquo(Maria) ldquoFaelrdquo (Rafael) ldquoGissielrdquo (Jesiel) ldquoMalenardquo (Marlene) ldquoLoanrdquo (Loratilde) ldquoSabelerdquo (Isabeli) ldquoDadardquo (Daiane) ldquoDudurdquo (Eduardo) ldquoMaconerdquo (Marcones) ldquoIquirdquo (Henrique) ldquoirdquo (Rodrigo) ldquoIgordquo (Rodrigo) ldquoDudligordquo (Rodrigo) ldquoVinirdquo (Vinicius) ldquoAndardquo (Liandra) ldquoIandardquo (Liandra) ldquoUmbertordquo (Gilberto) ldquoBunordquo (Bruno) ldquoLolenerdquo (Lorena) ldquoLorenerdquo

1 Para recolha de itens contamos com a colaboraccedilatildeo de Ana Gilvacircnia Mendes Rodrigues Francisca Magda Fernandes ArauacutejoLesliany Campos de SousaFrancisca Taiacutes Januaacuterio do Nascimento e Amanda Mesquita Paz graduandas do Curso de Letras da UVA em Sobral

15

(Lorena) ldquoAnrdquo (Alan) ldquoAnrdquo (Renan) ldquoNeiderdquo (Ivaneide) ldquoIessardquo (Vanessa) ldquoNessardquo (Vanessa) ldquoIardquo (Lira) ldquoMariruizardquo (Maria Luiza) ldquoPapardquo (Paula) ldquoQuistianrdquo (Cristian) ldquoPaul Riquirdquo (Paulo Henrique) ldquoIoinhardquo (Antocircnia) ldquoDimirrdquo (Vladimir) ldquoCreylsonrdquo (Cleyson) ldquoCade Neyrdquo (Claacuteudio Ney) ldquoVuvitordquo (Paulo Vitor) ldquoDilordquo (Danilo) ldquoManurdquo (Manoel) ldquoAnielrdquo (Daniel)

c)Nomes de animais ldquogainhardquo (galinha) ldquocassorrordquo (canhorro) ldquocabitordquo (cabrito) ldquoboboletardquo (borboleta) ldquomuquitordquo (mosquito) ldquocuelordquo (coelho) ldquopocordquo (porco) ldquokatordquo (gato) ldquopassalinhordquo (passarinho) ldquoChaninrdquo (gato) ldquopacoterdquo (capote) ldquosumigardquo (formiga) ldquodatordquo (gato) ldquonerim rdquo (carneiro) ldquogainhardquo (galinha) ldquogalrdquo (galo)

d)Nomes de alimento ldquofeisatildeordquo (feijatildeo) ldquomacaatildeordquo (macarratildeo) ldquoeiterdquo (leite) ldquoescaurdquo (nescau) ldquogalanaacuterdquo (guaranaacute) ldquoacardquo(aacutegua) ldquoagardquo (aacutegua) ldquoapordquo (aacutegua) ldquoferanterdquo(refrigerante) ldquonononerdquo (danone) ldquomananardquo (banana) ldquonanajardquo(laranja) ldquocascirdquo (abacaxi) ldquocaterdquo(abacate) ldquocucordquo (suco) ldquocangerinardquo (tangerina) ldquogagaurdquo (Mingal) ldquobicoitordquo (biscoito) ldquonanterdquo (Refrigerante) ldquochurracordquo (Churrasco) ldquomaccedilardquo ldquobolordquo ldquocarnerdquo ldquotomaterdquo ldquosucordquo ldquomucilonrdquo ldquobisscoitordquo (biscoito) ldquobocoitordquo (biscoito) ldquoalfacerdquo ldquoaquinrdquo(aacutegua) ldquoovordquo ldquonhatildenhatilderdquo (qualquer tipo de comida) ldquogoabardquo (goiaba) ldquofigeanterdquo (refrigerante) ldquotutu uvardquo (suco de uva) ldquootordquo (biscoito) ldquoanccedilardquo (maccedilatilde) ldquoArdquo (aacutegua) ldquonanardquo (banana) ldquopicalrdquo(mingau) ldquolalanjardquo (laranja) ldquopilulitordquo (pirulito) ldquoxiiacutetordquo (chilito) ldquochiqueterdquo (chiclete) ldquopizardquo(pizza) ldquozoisrdquo (arroz) ldquocarratildeordquo (macarratildeo) ldquosopardquo ldquoavozrdquo (arroz)

e)Nomes de roupas ldquoshorchrdquo (short) ldquositiatilderdquo (sutiatilde) ldquovitidordquo (vestido) ldquobusardquo (blusa)ldquobitidordquo (Vestido) ldquoshotrdquo (short) ldquocaccedilardquo (calccedila) ldquochidelardquo (chinela) ldquocacinhardquo (calcinha) ldquocuecardquo ldquosapatuacuterdquo (sapato) ldquouopardquo (roupa) ldquootardquo (bota) ldquosadaliacuteardquo (sandaacutelia) ldquobrusardquo (blusa) ldquosinelordquo (chinelo) ldquofladardquo (fralda) ldquoirtidordquo (vestido)

f)Nomes de objetos familiares e brinquedos ldquotanetardquo (caneta) ldquoaacutepisrdquo (laacutepis) ldquoivordquo (livro) ldquocaim rdquo (carrinho) ldquocompintadorrdquo (computador) ldquopacaceterdquo (capacete) ldquotevisatildeordquo (televisatildeo) ldquooacutequisrdquo (oacuteculos) ldquocadelardquo (cadeira) ldquolidificadordquo (liquidificador) ldquocamardquo ldquomonecardquo (boneca) ldquomuchilardquo (mochila) ldquocadirnordquo (caderno) ldquocolardquo ldquodinossaurordquo ldquopanelinhardquo ldquotelefonerdquo ldquocadeiardquo (cadeira) ldquocasinha de bonecardquo ldquoursordquo ldquotaordquo (carro) ldquonecardquo (boneca) ldquobiketardquo (bicicleta) ldquokeiterdquo(Skate) ldquotelesatildeordquo (televisatildeo) ldquoririnhordquo(carinho) ldquocamiagerdquo (maquiagem) ldquocopordquo ldquotupiquerdquo (topique)ldquopelhordquo (espelho) ldquocerularrdquo (celular) ldquoJaladeirardquo (geladeira) ldquobuneirordquo (banheiro) ldquopotilardquo (apostila) ldquocelaacuterdquo (celular) ldquolaternardquo(lanterna) ldquolapissirdquo (laacutepis) ldquocadelardquo(cadeira)

g)Verbos ldquocholanordquo (chorando) ldquocorrenordquo (correndo) ldquoquelordquo (quero) ldquotabalardquo (trabalha) ldquomimirdquo (dormir) ldquoatitirdquo(assistir) ldquogotordquo (gosto) ldquonihamrdquo (comer) ldquococircnirdquo (correr) ldquopulardquo (pular) ldquofazerrdquo ldquodizerrdquo ldquofalarrdquo ldquocomprarrdquo ldquoriscarrdquo ldquodeverrdquo ldquogostordquo ldquoamordquo ldquochegarrdquo ldquodescansarrdquo ldquosourdquo ldquoaprenderrdquo ldquoabaccedilarrdquo (abraccedilar) ldquofazirdquo (fazer) ldquoguadardquo (guardar) ldquocovardquo (escovar)

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ldquoesqueverdquo (escrever) ldquobincaacuterdquo (brincar) ldquoteiordquo (quero) ldquocumeacuterdquo (comer) ldquopulharrdquo (pular) ldquodessardquo (deixar) ldquosamarrdquo (chamar) ldquoblincarrdquo (brincar) ldquoconderrdquo (esconder)

h) As palavras da vida social ldquobigadordquo (obrigado) ldquodicupardquo (desculpa) ldquolixenxardquo (licenccedila) ldquopu favocircrdquo (por favor) ldquopetordquo (preto) ldquobancordquo (branco) ldquovederdquo (verde) ldquoprofessorardquo ldquoescolardquo ldquoirmatildeordquo ldquoprimordquo ldquooirdquo ldquoOlaacuterdquo ldquotiordquo ldquovovoacuterdquo ldquovovocircrdquo ldquopraiardquo ldquoamigosrdquo ldquocolegasrdquo ldquotubomrdquo (tudo bom) ldquosadaderdquo (saldade) ldquonatildeordquo ldquofrocircrdquo (flor) ldquorossardquo (rosa) ldquoufavocircrdquo (por favor) ldquononoiterdquo (boa noite) ldquobocircdiardquo (bom dia) ldquofofocircrdquo (vovocirc) ldquofofoacuterdquo (vovoacute) ldquobom tiardquo (bom dia) ldquodesculpasrdquo ldquomaezinhardquo ldquopaizinhordquo

i)Adjetivos ldquoaindardquo (linda) ldquofeardquo (feia) ldquogodardquo (gorda) ldquomacardquo (magra) ldquoninitordquo (bonito) ldquomaviosordquo (maravilhoso) ldquogacircndirdquo (grande) ldquomonitardquo (bonita) ldquoaltordquo ldquopiquenordquo (pequeno) ldquomaurdquo ldquofelizrdquo ldquobriacanhonardquo (brincalhona) ldquochatordquo ldquobilanterdquo (brilhante) ldquofofordquo ldquoalequerdquo (alegre) ldquoaltuacuterdquo (alto) ldquosaturdquo (chato) ldquoponitardquo (bonita) ldquolhegalrdquo (legal) A pequena amostra acima pode nos dar uma ideia bem aligeirada

da visibilidade dos dados de pesquisa A constituiccedilatildeo de corpus pode ser traduzido como uma espeacutecie de ldquoepifaniardquo ao longo de uma pesquisa envolvendo principalmente alunos da graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Letras Toda discussatildeo derivada de corpus eacute em geral ineacutedita Eacute um desafio para os pesquisadores desvelar os fenocircmenos e os achados linguiacutesticos O corpus eacute uma luz importante na pesquisa A constituiccedilatildeo de um corpus revela como o investigador realmente estaacute atento aos aspectos de confiabilidade e validaccedilatildeo do seu estudo Desde cedo a trajetoacuteria do pesquisador Lemos Monteiro natildeo apenas me serviu como uma fonte de inspiraccedilatildeo profissional como tambeacutem me espicaccedilou sugestivos passos metodoloacutegicos para o desenvolvimento da pesquisa na aacuterea linguiacutestica escolha do tema revisatildeo de literatura justificativa formulaccedilatildeo do problema determinaccedilatildeo de objetivos metodologia coleta de dados tabulaccedilatildeo de dados anaacutelise e discussatildeo dos resultados conclusatildeo da anaacutelise dos resultados redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo ou socializaccedilatildeo dos resultados da pesquisa Bem antes de entrar em campo o pesquisador deve enfim construir sua base teoacuterica para em segundo momento referenciar teoricamente sua metodologia A metodologia de pesquisa eacute fase decisiva do investigador (e de sua equipe) que iraacute proporcionar aos envolvidos uma compreensatildeo e anaacutelise do mundo atraveacutes da construccedilatildeo do conhecimento

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Haacute uma geraccedilatildeo de grandes pesquisadores que foram influenciados pela pesquisa de Lemos Monteiro Citarei apenas o nome da linguista Aluiza Alves de Arauacutejo (UECE) nome de peso uma pesquisadora de matildeo cheia e disciacutepula de Lemos Durante anos Aluiza vem se dedicando ao falar fortalezense na constituiccedilatildeo crescente de dois bancos de dados que se destacam por seu representativo nuacutemero de informantes o PORCUFORT (Portuguecircs Oral Culto de Fortaleza) e o NORPOFOR (Norma Oral do Portuguecircs Popular de Fortalez que adotaram na sua constituiccedilatildeo os mesmos procedimentos utilizados pelo NURC na seleccedilatildeo dos informantes e na coleta dos dados

Da minha parte haacute quinze anos me interessei pelos estudos psicolinguiacutesticos ao conhecer os trabalhos de Leonor Scliar Cabral (UFSC) Luiz Antocircnio Marcusch (UFPE) Luiz Carlos Cagliari (Unicamp) Letiacutecia Sicuro Correcirca (Unicamp) Rosemeire Monteiro-Plantin (UFC) entre outros Os congressos os livros e os artigos cientiacuteficos na aacuterea de (psico)linguiacutestica me levaram a conhecer os trabalhos de Eduardo Kenedy ( UFF) Luciana Sanchez Mendes (UFF) Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ) Andreacute Nogueira Xavier (UFPR) Elisacircngela Teixeira (UFC) Joseacute Ferrari-Neto (UFPB) Katia Abreu (UERJ) pesquisadores que atualmente participam do Grupo de Estudos e Laboratoacuterio em Psicolinguiacutestica Experimental da UFF Fora do Brasil as pesquisas de Antonio Pamies Bertraacuten Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Carmen Mellado Blanco Florence Detry e Pedro Mogorroacuten Huerta tambeacutem muito me encorajaram a fazer pesquisa sob a interface Fraseologia e Psicolinguiacutestica Tem sido uma rica experiecircncia acadecircmica compartilhar ideias e opiniotildees por e-mail com muitos destes pesquisadores supracitados

Entre os domiacutenios da linguiacutestica a psicolinguiacutestica eacute aquela aacuterea interdisciplinar que leva o pesquisador a um exaustivo estudo das hipoacuteteses sobre relaccedilotildees entre a linguagem e as chamadas funccedilotildees mentais superiores como percepccedilatildeo atenccedilatildeo e memoacuteria esta por exemplo foi um divisor de aacutegua para mim quando ao ler Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1951) descobri que nossa memoacuteria reteacutem muito melhor as palavras em grupos (expressotildees fixas) do que as palavras isoladas Um dado que fez grande diferenccedila quando resolvi montar uma seacuterie de testes psicolinguiacutesticos a aplicar a africanos lusoacutefonos durante o doutorado em linguiacutestica pela UFC Irei agora descrever brevemente os capiacutetulos deste livro que traz apenas dados

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relativos agrave primeira bateria de testes psicolinguiacutesticos (off-line) aplicados a estudantes guineenses e cabo-verdianos No futuro bem proacuteximo publicizaremos os dados de mais duas baterias de testes

No capiacutetulo 1 tratamos dos principais conceitos e aportes fraseoloacutegicos com sobretudo os conceitos de fraseologia geral unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica e locuccedilatildeo verbal Em seguida apresentamos as propriedades fraseoloacutegicas que estatildeo diretamente relacionadas agrave pesquisa a saber a polilexicalidade a frequecircncia a fixaccedilatildeo a idiomaticidade e a convencionalidade

No capiacutetulo 2 apresentamos os principais conceitos aportes teoacutericos e hipoacuteteses psicolinguiacutesticas relacionadas ao processamento fraseoloacutegico e no capiacutetulo 3 estudos empiacutericos relacionados ao tema como os experimentos de Irujo (1986 Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010)

No capiacutetulo 4 dedicamos atenccedilatildeo agrave metodologia da pesquisa em que descrevemos objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa e nossos primeiros passos metodoloacutegicos nos preacute-testes aplicados a nativos do PB e natildeo nativos e metodologia final antes de aplicarmos os trecircs experimentos aos 20 sujeitos da pesquisa Como dissemos anteriormente a descriccedilatildeo seraacute apenas de um dos trecircs experimentos com seus respectivos testes

No Capiacutetulo 5 apresentamos os dados resultados e discussotildees relacionados com o experimento psicolinguiacutestico particularmente as tarefas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica memoacuteria fraseoloacutegica idiomaticidade fraseoloacutegica e a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica para as expressotildees matar cachorro a grito e natildeo pagar mico (zoomorfismos) tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone (somatismos) e saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca (botanismos)

Vicente de Paula da Silva Martins - UVA

FortalezaSobral Ano I da Pandemia Covid-19

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CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS

Como los signos simples del sistema las combinaciones fijas pertenecen al componente leacutexico de la lengua al lexicoacuten y se hallan almacenadas en la memoria de donde tan soacutelo son rescatadas en cada acto de habla (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p15)

No bosque do Centro de Humanidades da Universidade Federal

do Cearaacute (UFC) no bairro Benfica em Fortaleza escuto numa tarde ensolarada de 2010 estrondosas gargalhadas de estudantes de Letras Um guineense ao ser perguntado por concludentes do curso sobre o significado idiomaacutetico de expressotildees bem frequentes no Portuguecircs Brasileiro (PB) como ldquoArmar um barracordquo ldquoArregaccedilar as mangasrdquo ldquoBoca de sirirdquo ldquoCara de paurdquo ldquoengolir saposrdquo ldquoencher linguiccedilardquo entre outras suas respostas eram sempre literais o suficiente para ldquogozaccedilatildeordquo dos estudantes nativos Se os africanos lusoacutefonos falam e conhecem bem a estrutura da liacutengua portuguesa e as liacutenguas criolas tambeacutem tecircm forte influecircncia do portuguecircs europeu onde residiria o ldquonoacute goacuterdiordquo para a compreensatildeo idiomaacutetica Por que para os natildeo nativos uma expressatildeo idiomaacutetica se apresenta tatildeo ambiacutegua sempre carecendo do contexto para ser guia da compreensatildeo idiomaacutetica Como explicar a dificuldade de falante natildeo nativo de natildeo entender plenamente a linguagem impliacutecita figurativa pragmaacutetica e idiomaacutetica

Eacute possiacutevel que a noccedilatildeo de ambiguidade de construccedilatildeo tenha sido uma das primeiras desconfianccedilas dos estruturalistas diante das combinaccedilotildees fixas suscetiacuteveis de vaacuterias interpretaccedilotildees de um lado o sentido literal da expressatildeo (composicional) e do outro o sentido pretendido da emissatildeo do falante (idiomaacutetico)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure (2012 [1916]) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras incursotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados

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por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo (2012 p173 grifos nossos)

No acircmbito dos estudos linguiacutesticos relacionados agrave Fraseologia o interesse por apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas eacute cada vez maior1 Haacute um claro percurso do Estruturalismo agrave Psicolinguiacutestica nas pesquisas fraseoloacutegicas das uacuteltimas trecircs deacutecadas

Uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquomatar dois coelhos com de uma soacute cajadadardquo com sentido de ldquoconseguir dois proveitos com um soacute trabalhordquo interessa tanto ao lexicoacutegrafo que a registra como subentrada da palavra coelho em seu dicionaacuterio como desperta atenccedilatildeo do psicolinguista uma vez que envolve a compreensatildeo idiomaacutetica ou natildeo literal por parte do falante em liacutengua materna (L1) ou segunda liacutengua (L2)

As principais linhas de pesquisa nesse campo da Fraseologia e Psicolinguiacutestica procuram responder questotildees do tipo como os falantes armazenam este tipo de unidades Como ocorre o processamento fraseoloacutegico Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo Conforme nos descrevem Corpas Pastor (2001) e Detry (2010)

Aproximar a Fraseologia da Psicolinguiacutestica (ou vice-versa) eacute sem duacutevida muito relevante e nos incita vivamente a explorar as relaccedilotildees entre expressotildees idiomaacuteticas e processos de compreensatildeo Natildeo eacute poreacutem uma tarefa faacutecil porque satildeo dois ramos de estudos linguiacutesticos bastante densos e aacuteridos principalmente no campo terminoloacutegico e taxionocircmico fontes preciosas para encontrarmos termos ou categorias operatoacuterias aplicaacuteveis agrave pesquisa experimental

1 A rigor falar em compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica soacute tem sentido na aquisiccedilatildeo da linguagem nas crianccedilas em situaccedilatildeo em que os bebecircs estatildeo aprendendo a liacutengua materna ou estrangeiras como L2 Depois acreditamos que a expressatildeo idiomaacutetica eacute incorporada ao leacutexico sem anaacutelise interna tanto quanto se faz com uma palavra Aquisiccedilatildeo aqui assim tem acepccedilatildeo mais ampla e alcanccedila os natildeo nativos de dada liacutengua

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Uma primeira aproximaccedilatildeo que vimos entre estes domiacutenios (ou subdomiacutenios) linguiacutesticos eacute o tratamento dado tradicionalmente pela Lexicografia agraves expressotildees idiomaacuteticas registradas nos dicionaacuterios gerais como subentradas a partir dos lexemas de base que entram na formaccedilatildeo dos lemas2

Ao definir essas expressotildees Porto Dapena (2002) assim diz Acima de tudo se trata sempre de construccedilotildees ou segmentos pluriverbais que o falante igualmente como as palavras reteacutem na memoacuteria e reproduz na fala sem por outro lado poder alteraacute-las sob pena de introduzir uma variaccedilatildeo de sentido3(p149 grifos nossos)

Sabemos poreacutem que no mundo da linguagem as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo apenas ou preferencialmente sintagmas verbais uma vez que no continuum fraseoloacutegico podem aparecer em diversas configuraccedilotildees (colocaccedilotildees proveacuterbios etc)

Depreende-se desta definiccedilatildeo lexicograacutefica de Porto Dapena que as expressotildees idiomaacuteticas (ou expressotildees fixas4) satildeo construccedilotildees retidas ou armazenadas na memoacuteria declarativa de longo prazo o que nos remete agrave Psicologia Cognitiva e desta agrave Psicolinguiacutestica agrave medida que sugere uma conexatildeo entre a linguagem e a mente (ou senatildeo a cogniccedilatildeo) o que natildeo eacute claro um achegamento inaugural nos estudos linguiacutesticos uma vez que essa ponte entre Fraseologia e Psicolinguiacutestica anteriormente indicou-nos ou senatildeo pelo menos sugeriu-nos a noccedilatildeo coseriana de discurso repetido isto eacute aquelas sequecircncias de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente (COSERIU 2007 p201) por oposiccedilatildeo agrave teacutecnica do discurso posto que as expressotildees natildeo podem ser geradas no discurso por definiccedilatildeo

O termo Fraseologia cunhado por Bally haacute mais de um seacuteculo revitaliza-se a cada dia nas teorias e abordagens linguiacutesticas mais recentes como as dos analistas do discurso

2As subentradas satildeo chamadas tambeacutem de subverbetes em que se elucidam as divisotildees espeacutecies modalidades etc do sentido do verbete principal ou das locuccedilotildees formadas com aquelas palavras 3 No original Ante todo se trata siempre de construcciones os segmentos pluriverbales que el hablante al igual que las palabras retiene en la memoria y reproduce en el discurso sin que por otro lado pueda cambiarlas sob pena de introduzir una variacioacuten de sentido 4A noccedilatildeo de expressotildees fixas foi suficientemente explorada por Zuluaga (1975 e 1980)

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A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo citamos por exemplo Charaudeau e Maingueneau dois analistas do discurso que designam Fraseologia como conjunto de expressotildees cristalizadas simples ou compostas caracteriacutesticas de uma liacutengua ou de um tipo de discurso (2008 p245)

Fraseologia alcanccedilou tambeacutem as redes sociais Para se ter uma ideia da dimensatildeo ou frequecircncia de uso do termo em diferentes e inusitados contextos o buscador Google nos informa que satildeo aproximadamente 1120000 resultados de ocorrecircncias para Fraseologia e pelo menos 190000 para o adjetivo correspondente fraseoloacutegico o que nos indica ser uma palavra de muito vigor na liacutengua portuguesa5

A palavra Fraseologia formada dos seguintes elementos frase + -o- + -logia chegou-nos pelo francecircs phraseacuteologie e aparece pela primeira vez no acircmbito dos estudos linguiacutesticos em Bally (1909 p66) De laacute para caacute satildeo muitos os linguistas que tentando desvelar a etimologia de Fraseologia mergulham nas raiacutezes gregas da palavra buscando as motivaccedilotildees lexicais ou acepccedilotildees para designaacute-la seja como o inventaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua como seu estudo (BREacuteAL 1992 MONTORO DEL ARCO 2006 p29-31 MELLADO BLANCO 2004 p13)

Esta busca natildeo eacute por acaso Eacute bastante instigante observar que o morfema lexical frase vem do latim phrasis e este do grego φράσις com o sentido de expressatildeo enquanto a vogal de ligaccedilatildeo -o- eacute tiacutepica do grego O elemento de composiccedilatildeo -logia origina-se do grego -λογία que significa tratado estudo ciecircncia

Neste trabalho Fraseologia eacute entendida como parte da Linguiacutestica que tem as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) como objeto de estudo As UFs constituem um verdadeiro universo fraseoloacutegico e satildeo divididas em pelo menos trecircs esferas (colocaccedilotildees locuccedilotildees e enunciados fraseoloacutegicos) Nesse universo fraseoloacutegico consideramos tipicamente expressotildees idiomaacuteticas as locuccedilotildees o que corresponde a esfera II segundo o modelo de Corpas Pastor (1996 p88-131)

Como satildeo muitos os tipos de locuccedilotildees cristalizadas (nominais adjetivas adverbiais verbais prepositivas conjuntivas) elegemos prioritariamente as locuccedilotildees verbais que apresentam maior congruecircncia ou consenso entre os especialistas de Fraseologia uma vez que satildeo as unidades fraseoloacutegicas que estatildeo fixadas no sistema

5 Pesquisa atualizada em 13 de agosto de 2020

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(registradas nos dicionaacuterios gerais por exemplo) e que natildeo constituem enunciados completos e geralmente funcionam como termos ou elementos oracionais (CORPAS PASTOR 1996 p88 ALVARADO ORTEGA 2007 p37)6

O recorte acima isto eacute considerar unicamente as locuccedilotildees verbais levou-nos a adotar portanto uma concepccedilatildeo reducionista de Fraseologia a mesma proposta stricto sensu formulada por Casares (1969 p 167-184)7 o maior representante desta visatildeo na Fraseologia Espanhola e mais recentemente Garciacutea-Page (2008 p 8 20-22 208) que afirma serem as locuccedilotildees o verdadeiro nuacutecleo ou o autecircntico objeto de estudo da Fraseologia

Seja considerada parte da Linguiacutestica ou subdisciplina da lexicografia meacuterito da questatildeo em que natildeo entraremos aqui filiamo-nos agrave corrente de fraseoacutelogos que postulam a Fraseologia como disciplina da Linguiacutestica cujo objeto de estudo satildeo as ldquoexpressotildees idiomaacuteticas hiperocircnimo a que ao longo deste livro repetidas vezes fazemos menccedilatildeo referindo-nos nesse caso e especificamente agraves locuccedilotildees verbais particularmente as jaacute consagradas pelo uso e registradas nos dicionaacuterios gerais definidas como combinaccedilotildees formadas por pelo menos dois ou mais elementos ou constituintes que apresentam certa fixaccedilatildeo de forma e sentido e que funcionam como termo ou elemento oracional

Estas locuccedilotildees verbais natildeo devem ser confundidas com as conjugaccedilotildees perifraacutesticas ou periacutefrases verbais estas definidas pelos gramaacuteticos e dicionaristas como o conjunto dos tempos compostos de um verbo8 Quanto a esta questatildeo nossa posiccedilatildeo eacute a mesma de Silva (2011 p163) ao se referir agraves locuccedilotildees verbais como unidades fraseoloacutegicas Excluiacutemos pois os substantivos compostos com ou sem hiacutefen natildeo sendo considerados locuccedilotildees nominais e as periacutefrases verbais ou conjugaccedilotildees perifraacutesticas por natildeo as considerarmos locuccedilotildees verbais

6 Compreendemos que as locuccedilotildees verbais a que Corpas Pastor (1996) faz referecircncia satildeo as chamadas expressotildees idiomaacuteticas termo de maior divulgaccedilatildeo nas teorias fraseoloacutegicas 7 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1950 8 A questatildeo da distinccedilatildeo entre periacutefrases verbais e locuccedilotildees verbais foi suficientemente abordada por Blasco Mateo (2005)

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Eacute preciso deixar claro que ao optarmos por excluir os substantivos compostos esta determinaccedilatildeo natildeo invalida o status de Unidades Fraseoloacutegicas (UF) de outras sequecircncias que satildeo constituiacutedas sem verbo como saia de baixo saia justa chave de cadeia a sete chaves de mala e cuia mala sem alccedila peacute do ouvido do peacute para a matildeo em peacute de guerra em peacute de igualdade no mesmo niacutevel de igual para igual dor de cotovelo dor de corno dor de veado laacutegrimas de crocodilo elas por elas de corpo e alma entre outras

Se voltarmos ao tempo jaacute na deacutecada de 50 na Espanha Julio Casares nos chamava atenccedilatildeo para a confusatildeo terminoloacutegica no campo da lexicografia Afirmava que termos como expressatildeo giro e frase eram vagos e por isso natildeo poderiam ser considerados termos teacutecnicos Segundo ele cada um daqueles termos tinha acepccedilotildees diversas presas agrave teoria gramatical e por isso natildeo ofereciam caracteriacutesticas suficientes para identificaacute-las com seguranccedila na tarefa lexicograacutefica (CASARES 1969 p185) Uma expressatildeo apropriada a essa situaccedilatildeo em portuguecircs seria a de que os lexicoacutegrafos espanhoacuteis misturavam alhos com bugalhos

Assim que liccedilatildeo ou luz esta noccedilatildeo de locuccedilatildeo em Casares (1969) poderaacute nos dar no campo da terminologia fraseoloacutegica nos dias de hoje

Tomemos um exemplo em portuguecircs Eacute possiacutevel quando lemos escutamos ou ao menos quando evocamos uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos o sentido idiomaacutetico confundir coisas ou assuntos distintos inconfundiacuteveis ou fazer grande confusatildeo prevaleccedila de forma avassaladora sobre nosso entendimento

Na expressatildeo acima pouco importa sabermos o sentido parcial de seus elementos constituintes ou de pelo menos uma das palavras que formam a expressatildeo como eacute o caso de bugalho mas natildeo cremos que isso se contraponha de alguma forma agrave proposta de anaacutelise da compreensatildeo das Expressotildees Idiomaacuteticas a partir dos componentes

Afinal o que eacute bugalho Um termo da botacircnica que significa ldquonoz de galhardquo (HOUAISS e VILLAR 2020) mas nada mais sabemos sincronicamente de sua motivaccedilatildeo fraseoloacutegica nem haacute possibilidade de recuperaccedilatildeo da metaacutefora diacrocircnica (geradora)

De igual sorte parece-nos que a maioria das divergecircncias ou confusotildees terminoloacutegicas na Fraseologia contemporacircnea encontra explicaccedilotildees nas primeiras investidas da lexicografia quando da

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elaboraccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais ao natildeo levarem em conta que agrupamentos de palavras9 tradicionalmente conhecidos na literatura cientiacutefica por termos dos mais diacutespares entre si como expressotildees idiomaacuteticas proveacuterbios clichecircs binocircmios citaccedilotildees colocaccedilotildees frases lexicais foacutermulas frases feitas proveacuterbios aforismos maacuteximas ditos adaacutegios anexins ditados sentenccedilas parecircmias tecircm em comum serem polilexicais isto eacute pertencerem ao grande e complexo continuum fraseoloacutegico no qual natildeo haacute limites riacutegidos capazes de estabelecerem com precisatildeo a diversidade de unidades lexicais maiores que a palavra e presentes em alguns dicionaacuterios semasioloacutegicos existentes em uma liacutengua (SALIBA 2000)

Na Espanha quando Casares daacute as bases teoacutericas do que hoje se denomina Fraseologia Espanhola de grande repercussatildeo na Europa jaacute se deparava na Lexicografia com denominaccedilotildees fraseoloacutegicas que careciam de sentido preciso e que apresentavam limites imprecisos Eacute o que muitos fraseoacutelogos hispacircnicos chamam de cajoacuten de sastre (GARCIacuteA PAGE-SAacuteNCHEZ 2008 p8 e QUEPONS RAMIacuteREZ 2009 p493) A expressatildeo saco de gatos10 eacute a melhor traduccedilatildeo que encontramos em portuguecircs para cajoacuten de sastre

Como assinala Corpas Pastor (1996 p16) a profusatildeo terminoloacutegica e as distintas classificaccedilotildees satildeo um dos problemas fundamentais da Fraseologia em liacutengua Espanhola Em geral a profusatildeo terminoloacutegica estaacute ligada a afiliaccedilotildees ou abordagens teoacutericas distintas e tambeacutem a objetos e objetivos especiacuteficos sendo mais uma questatildeo de relevo

Mostramos ateacute aqui que satildeo muitas as discrepacircncias e confusotildees de ordem terminoloacutegica no campo dos estudos de Fraseologia que acabam por repercutir nas definiccedilotildees e classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas o que nos leva a concluir que nesta aacuterea natildeo haacute como simplesmente jogar com as palavras

Essa medida torna-se ainda mais imperiosa quando fazemos a interface entre Fraseologia e outros ramos da Linguiacutestica em nosso caso a Psicolinguiacutestica que requer tambeacutem precisatildeo terminoloacutegica

9 No campo da Lexicografia defendemos a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo deveriam entrar dentro de verbetes por serem independentes Por exemplo os dicionaristas natildeo colocam o adjetivo infeliz dentro de feliz Assim o mesmo procedimento deveria valer para as expressotildees idiomaacuteticas 10 Popularmente saco de gatos significa negoacutecio muito confuso e encrencado

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quando trabalhamos com alguns dos seus termos operatoacuterios na pesquisa experimental

Nessas alturas uma pergunta adveacutem que unidadeexpressatildeo fraseoloacutegica seria a mais adequada aos testes psicolinguiacutesticos para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica Jaacute podemos adiantar a resposta a nossa pergunta ao defendemos que esta unidade eacute ou deve ser a expressatildeo idiomaacutetica A expressatildeo idiomaacutetica dentro ou fora do contexto pode levar um falante nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua a se deparar com a ambiguidade estrutural nesta dicotomia semacircntica sentido literal versus sentido idiomaacutetico

Por essa razatildeo deter-nos-emos nas subseccedilotildees abaixo em dissecar o maacuteximo possiacutevel as noccedilotildees de Fraseologia unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica locuccedilatildeo e outros correlatos Em seguida situamos os termos agraves teorias fraseoloacutegicas que estatildeo na ordem do dia na Europa e no Brasil

Vilela designa por Fraseologia a disciplina que tem como objeto as combinaccedilotildees fixas de uma dada liacutengua que podem assumir a funccedilatildeo e o sentido de palavras individuais ou lexemas (VILELA 2002 p170)

A definiccedilatildeo de Vilela espelha o pensamento do grupo fundador da Fraseologia na Europa a quem nos filiamos que vecirc nas expressotildees idiomaacuteticas um processo de ampliaccedilatildeo do leacutexico seja para nomeaccedilatildeo ou qualificaccedilatildeo contribuindo para a lexicalizaccedilatildeo dos conceitos e categorizaccedilatildeo de nossa experiecircncia cotidiana

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas reconhecemos como defende Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p6) um estatuto da Fraseologia como a disciplina Linguiacutestica que estuda as unidades fraseoloacutegicas e que leva em conta o grau de competecircncia fraseoloacutegica ou metafoacuterica do falante seja nativo ou natildeo nativo

Quanto agrave acepccedilatildeo mais completa de Fraseologia coerente com nosso recorte terminoloacutegico e que atende aos propoacutesitos de nosso estudo optamos pela definiccedilatildeo de Fraseologia de Monteiro-Plantin (2011) na qual assinala o estudo das combinaccedilotildees de unidades leacutexicas relativamente estaacuteveis com certo grau de idiomaticidade polilexicais que constituem a competecircncia discursiva dos falantes em primeira ou segunda liacutengua utilizadas convencionalmente em contextos precisos ainda que muitas vezes de forma inconsciente (p250)

Segundo Mellado Blanco (2004 p15) o termo Fraseologia tem sido adotado na maioria das liacutenguas europeias com exceccedilatildeo dos paiacuteses de

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origem anglo-saxocircnica onde o mais corriqueiro eacute idiomatic11 Cumpre-nos ressaltar que quer seja na Europa ou nos EUA unidade fraseoloacutegica eacute uma das denominaccedilotildees mais aceitas no acircmbito das teorias fraseoloacutegicas conforme podemos atestar em pesquisas recentes com corpora fraseoloacutegicos (NACISCIONE 2001 BEVILACQUA 2004 e LIN e ADOLPHS 2009)

Considerada como objeto de estudo da Fraseologia por Corpas Pastor (1996 p20) as unidades fraseoloacutegicas satildeo unidades lexicais formadas por mais de duas palavras ortograacuteficas em seu limite inferior cujo limite superior se situa no niacutevel de oraccedilatildeo composta12 tendo pelo menos quatro propriedades baacutesicas que podem variar em grau nos seus distintos tipos (a) polilexicalidade (b) institucionalizaccedilatildeo entendida em termos de fixaccedilatildeo e especializaccedilatildeo semacircntica (c) variaccedilotildees potenciais (d) idiomaticidade e (e) alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes13 mais adiante por noacutes mais bem descritas e discutidas

O conceito de unidade fraseoloacutegica e as propriedades baacutesicas que as caracterizam como a polilexicalidade e a fixaccedilatildeo tambeacutem estatildeo presentes pioneiramente na deacutecada de 40 nas primeiras definiccedilotildees ou acepccedilotildees dos russos (VELASCO MENEacuteNDEZ 2010) e posteriormente vindo agrave tona com as reflexotildees de Zuluaga (1980 16 19) e mais recentemente em Ruiz Gurillo (1997 p 14) e Castillo Carballo (1997-1998 p 70-75)

Quanto ao problema do status linguiacutestico das unidades fraseoloacutegicas aliamo-nos agrave postulaccedilatildeo de Zuluaga (1980) de que elas pertencem ao patrimocircnio coletivo da comunidade linguiacutestica14 e que fazem parte do acervo ou repertoacuterio de elementos linguiacutesticos anteriores ao falar conhecidos pelos falantes15 (p21) o que ao certo

11 Nesta aacuterea as pesquisas experimentais bastante frutiacuteferas nos EUA levam-nos de forma recorrente a citar os trabalhos em liacutengua inglesa onde se usa mais o termo idioms 12 No original son unidades leacutexicas formadas por maacutes de dos palabras graacuteficas en su liacutemite inferior cuyo liacutemite superior se situacutea en el niacutevel de la oracioacuten compuesta 13 Destas propriedades indicadas por Corpas Pastor (1996) a menos relevante quando se tratar de expressatildeo idiomaacutetica posto que um item leacutexico pode ser frequente ou natildeo Como todo item as expressotildees idiomaacuteticas podem ser mais ou menos frequentes 14 No original ellas pertenecen al patrimonio colectivo de la comunidade linguiacutestica 15 No original forman parte del acervo o repertorio de elementos linguiacutesticos anteriores al hablar conocidos por los hablantes

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podemos inferir como unidades polilexicais psicolinguisticamente armazenadas na memoacuteria dos usuaacuterios ou nativos da liacutengua

Conveacutem salientar que a etiqueta ou roacutetulo de Unidade Fraseoloacutegica (UF) atende agraves buscas dos fraseoacutelogos por uma denominaccedilatildeo de alcance mais internacional que responde agrave noccedilatildeo de arquilexema das locuccedilotildees e de outras formas (CORPAS PASTOR 1996) como unidades de uma seacuterie fraseoloacutegica que inclui desde refratildees citaccedilotildees e foacutermulas de rotina

Com essa noccedilatildeo de que uma unidade fraseoloacutegica eacute um arquilexema da seacuterie de denominaccedilotildees fraseoloacutegicas podemos apresentar as propriedades essenciais e definitoacuterias das chamadas unidades fraseoloacutegicas polilexicalidade frequecircncia convencionalidade fixaccedilatildeo e idiomaticidade a partir dos seguintes autores Zuluaga (1980 p141-188) Corpas Pastor (1996 p88-131) Penadeacutes Martinez (1999 p11-22) Ruiz Gurillo (2001 p15) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16-20)

Com base nos estudos acima na perspectiva da Fraseologia consideramos a expressatildeo idiomaacutetica nomeadamente a locuccedilatildeo verbal como uma unidade fraseoloacutegica por excelecircncia Unidade fraseoloacutegica eacute pois um hiperocircnimo mas neste livro praticamente tomamos expressatildeo idiomaacutetica e unidade fraseoloacutegica como termos equivalentes assim como jaacute os considera Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas haacute uma forte convergecircncia de que efetivamente as unidades fraseoloacutegicas satildeo o objeto de estudo da Fraseologia Portanto tendo o objeto de estudo bem definido natildeo haacute porque natildeo considerar a Fraseologia como um dos ramos das ciecircncias da linguagem Mas que unidades fraseoloacutegicas satildeo essas Pelo menos nove termos podem ser considerados dentro de um continuum como unidades fraseoloacutegicas uma vez que este hiperocircnimo tem um raio de alcance muito grande proveacuterbios ditos populares expressotildees idiomaacuteticas foacutermulas de rotina ou cristalizadas locuccedilotildees fixas frases feitas clichecircs chavotildees e colocaccedilotildees conforme o inventaacuterio fraseoloacutegico estabelecido por Monteiro-Plantin (2011 p250) As expressotildees fixas arroladas por Monteiro-Plantin satildeo entendidas por noacutes como sendo as expressotildees idiomaacuteticas

Neste livro quando nos referirmos agrave unidade fraseoloacutegica acolheremos as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) Penadeacutes Martinez (1999) Ruiz Gurillo (2001) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) e Monteiro-Plantin (2011)

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O conceito de expressatildeo idiomaacutetica estaacute associado agraves definiccedilotildees que anteriormente demos agrave Fraseologia e agrave unidade fraseoloacutegica Toda expressatildeo idiomaacutetica objeto de Fraseologia eacute uma unidade fraseoloacutegica mas nem toda unidade fraseoloacutegica eacute uma expressatildeo idiomaacutetica

Uma unidade fraseoloacutegica pode ser fixa e natildeo idiomaacutetica da mesma forma pode ser idiomaacutetica mas com um grau de variaccedilatildeo marcante mas com isso natildeo queremos dizer que soacute consideramos expressatildeo idiomaacutetica Ao contraacuterio existe expressatildeo idiomaacutetica menos opaca portanto transparente Quem tem juiacutezo criacutetico para dizer se uma expressatildeo eacute opaca ou transparente eacute o falante e natildeo o lexicoacutegrafo ou fraseoacutelogo a menos que o submeta a testes psicolinguiacutesticos Em Fraseologia a intuiccedilatildeo linguiacutestica16 estaacute sujeita agrave compreensatildeo do falante da liacutengu nativo ou natildeo

Isso natildeo quer dizer poreacutem que as expressotildees fixas para tomarmos o termo de Zuluaga (1980) incluindo as expressotildees idiomaacuteticas natildeo possam ser interpretadas composicionalmente pelos falantes de uma liacutengua

A uacutenica interpretaccedilatildeo de qualquer expressatildeo complexa que conhecemos como costuma acontecer com falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada deveraacute ser imediatamente a composicional e que outras consideraccedilotildees nos obrigaratildeo a aprender um sentido especiacutefico convencionalmente associado agrave expressatildeo em questatildeo17(ESCANDELL VIDAL 2011) Em outras palavras mesmo as expressotildees idiomaacuteticas consideradas opacas muitas delas podem ser interpretadas composicionalmente

No continuum das unidades fraseoloacutegicas as expressotildees idiomaacuteticas satildeo as unidades leacutexicas marcadas culturalmente As expressotildees idiomaacuteticas satildeo itens leacutexicos e portanto tatildeo culturais quanto quaisquer palavras da liacutengua

As expressotildees idiomaacuteticas por forccedila de seu caraacuteter idiossincraacutesico estatildeo mais diretamente vinculadas agrave cultura agraves ideias e agrave forma de vida

16 Em gramaacutetica gerativa refere-se agrave capacidade que tem o falante de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na sua liacutengua de interpretaacute-las de identificar a equivalecircncia com outra frase ou a sua eventual ambiguidade isto eacute perceber quando o contexto sugere sentido literal ou metafoacuterico 17 No original seraacuten luego otras consideraciones las que nos obligaraacuten a aprender un sentido especiacutefico convencionalmente asociado a la expresioacuten en cuestioacuten

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de uma sociedade (NEGRO ALOUSQUE 2010 p34) como expressotildees do tipo ir tomar banho (deixar de aborrecer) e dar as matildeos agrave palmatoacuteria (admitir o erro) Este fato se manifesta particularmente no niacutevel semacircntico isto no sentido idiomaacutetico que atribuiacutemos agrave expressatildeo18

Nessa relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura refletida no leacutexico a motivaccedilatildeo para inuacutemeras expressotildees idiomaacuteticas proveacutem de pelo menos trecircs procedecircncias segundo Negro Alousque (2010) 19

(a) alusatildeo a costumes feitos histoacutericos obras artiacutesticas lendas mitos e crenccedilas como em jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) entregar-se aos braccedilos de Morfeu (sonhar) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) bancar o cristo (pagar por culpas alheias) agradar a gregos e troianos (contentar ou satisfazer a dois lados antagocircnicos)

(b) evocaccedilatildeo a elementos que formam parte do acervo cultural de cada povo entre os quais satildeo incluiacutedos os costumes e tradiccedilotildees obras literaacuterias acontecimentos que satildeo modelos de uma situaccedilatildeo ou qualidade como dar nome aos bois (falar claramente) perder o seu latim (falar em vatildeo) ficar a ver navios (natildeo conseguir o desejado geralmente por ter sido logrado ou passado para traacutes) sair agrave francesa (sair de um local sem se despedir) e matar a cobra e mostrar o pau (afirmar alguma coisa e provaacute-la)

(c) associaccedilotildees a partir das quais se interpreta a realidade e crenccedilas como em ver o sol (nascer) quadrado (estar na cadeia) desopilar o fiacutegado (comunicar alegria e bem-estar) ficar uma onccedila (ficar irado enfurecido) pagar o justo pelo pecador (ser castigado ou repreendido aquele que natildeo tem culpa ficando impune o culpado) e jogar conversa fora (conversar sobre assuntos corriqueiros sem grande importacircncia)

Conveacutem agora definir a expressatildeo idiomaacutetica como combinaccedilatildeo uacutenica e fixa de elementos (pelo menos dois) dos quais uma parte natildeo funciona bem em quaisquer outras combinaccedilotildees deste tipo (ou em algumas ou uma uacutenica situaccedilatildeo) (ČERMAacuteK 1998 p11)

18 Em que pese o signo linguiacutestico ser arbitraacuterio conforme jaacute dizia Saussure as frases feitas decorrem do uso e da tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica 19 Muitas destas expressotildees idiomaacuteticas podem ser consideradas pelos usuaacuterios desusadas ou obsoletas ou precisariacuteamos enquanto especialistas distinguir o que eacute comum da Liacutengua Portuguesa do que eacute leacutexico regional

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definiccedilatildeo pois que enfatiza como podemos observar as propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das expressotildees fixas a que Neveu (2008) faz referecircncia

Para chegarmos ao conceito de locuccedilatildeo primeiramente definimos a Fraseologia como uma disciplina da Linguiacutestica que se ocupa de estudar as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) Em seguida apresentamos as referidas UFs como um hiperocircnimo (ou arquilexema) dos diversos termos que envolvem a terminologia fraseoloacutegica isolando operatoriamente para nosso trabalho a locuccedilatildeo verbal como sendo a mais canocircnica20 combinaccedilatildeo fixa das expressotildees idiomaacuteticas21 Nesta subseccedilatildeo trataremos mais especificamente sobre a locuccedilatildeo

Como unidade polilexical do tipo sintagmaacutetico a locuccedilatildeo que nos interessa neste trabalho eacute a que como dissemos anteriormente tem como nuacutecleo um verbo cujos constituintes natildeo satildeo o objeto de uma atualizaccedilatildeo separada e que enuncia um conceito autocircnomo como assinala Neveu (2008 p 193) A expressatildeo levar um pontapeacute no traseiro com o sentido idiomaacutetico de ser despedido abandonado eacute um exemplo de locuccedilatildeo verbal

As expressotildees idiomaacuteticas tecircm estrutura bastante restrita isto eacute caracterizadas segundo Gross (1996 p9-23) por pelo menos cinco propriedades (a) polilexicalidade (b) opacidade semacircntica (c) bloqueio das propriedades combinatoacuterias e transformacionais (d) natildeo atualizaccedilatildeo de seus elementos e (e) grau de fixaccedilatildeo

Um exame minucioso da etimologia da palavra locuccedilatildeo nos indicaraacute que esta vem do latim locutigraveo (ou loquuacutetio) com a indicaccedilatildeo de accedilatildeo ou maneira de falar locuccedilatildeo etc Do ponto de vista linguiacutestico locuccedilatildeo pode ser definida como reuniatildeo de duas palavras que conservam individualidade foneacutetica e morfoloacutegica mas

20A canonicidade das locuccedilotildees verbais decorreria no nosso entendimento de terem sua fixaccedilatildeo formal com maior grau de regularidade estrutural isto eacute serem construccedilotildees conforme agraves normas mais habituais da gramaacutetica consideradas baacutesicas como por exemplo a ordem direta (verbo + argumento) 21 As locuccedilotildees verbais podem ser canocircnicas mas natildeo prototiacutepicas no continuum fraseoloacutegico Do ponto de vista quantitativo e contrariamente ao que se acredita provavelmente as locuccedilotildees verbais natildeo satildeo a maioria As expressotildees que satildeo sintagmas preposicionais como de saco cheio a trecircs por dois de mala e cuia a torto e a direito provavelmente satildeo em maior nuacutemero

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constituem uma unidade significativa para determinada funccedilatildeo (CAcircMARA JUNIOR 2004 p162)

Do ponto de vista fraseoloacutegico Casares (1969) define as locuccedilotildees como combinaccedilotildees de vocaacutebulos que oferecem sentido unitaacuterio e uma disposiccedilatildeo ou estrutura formal inalteraacutevel (p167)

Casares descarta entatildeo as acepccedilotildees dadas agrave locuccedilatildeo pelos dicionaacuterios gerais que a definem como ldquomodo de falarrdquo ou ldquofraserdquo como vimos anteriormente Busca uma acepccedilatildeo restrita especiacutefica e teacutecnica partindo entatildeo para a reelaboraccedilatildeo da definiccedilatildeo da visatildeo tradicional ou gramatical de locuccedilatildeo como ldquoconjunto de duas ou mais palavrasrdquo pensada como um ldquoconjunto de vozes vinculadas de um modo estaacutevel e com um sentido unitaacuteriordquo (1969 p168)

Para ilustrarmos a acepccedilatildeo dada por Casares agrave locuccedilatildeo tomemos este exemplo com bater as botas Engana-se quem pensa que no Nordeste aterrissam apenas artistas em fim de carreira que vecircm ganhar alguns trocados na Ameacuterica Latina antes de bater as botas(In DN 12312008)

Na visatildeo de Casares (1969) uma sequecircncia de palavras como ldquobater as botasrdquo trata-se efetivamente de uma locuccedilatildeo verbal por trecircs razotildees (1) natildeo se pode trocar nenhuma das trecircs palavras por outra sacudir as botas bater com botas ou bater as botinas (2) natildeo se pode alterar sua colocaccedilatildeo na estrutura sem destruir o sentido botas as bater e (3) o sentido se resume a uma soacute acepccedilatildeo22 ldquomorrerrdquo

Segundo Casares (1969 p168) a inalterabilidade (fixaccedilatildeo) e a unidade de sentido (idiomaticidade) satildeo as duas caracteriacutesticas marcantes das locuccedilotildees verbais Uma terceira caracteriacutestica tambeacutem se faz necessaacuteria assinalar que eacute segundo ele a condiccedilatildeo de que as palavras de uma locuccedilatildeo natildeo formam uma ldquooraccedilatildeo cabalrdquo isto eacute uma oraccedilatildeo no sentido claacutessico ou categoacuterico dado pelos gramaacuteticos tradicionais

A definiccedilatildeo claacutessica de locuccedilatildeo feita por Casares (1969 p170) diz assim ldquocombinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos que funciona como elemento da oraccedilatildeo e cujo sentido unitaacuterio compartilhado pelos

22 Este traccedilo aplicado agrave Liacutengua Portuguesa deve ser relativizado uma vez que haacute expressotildees idiomaacuteticas com mais de uma acepccedilatildeo como por exemplo pedir penico (pedir piedade dar-se por vencido mostrar-se exausto e demonstrar medo)

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falantes natildeo se justifica sem mais como uma soma do sentido normal dos componentesrdquo23

Depreende-se da definiccedilatildeo de Casares (1969) os seguintes traccedilos das locuccedilotildees (1) combinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos portanto uma combinaccedilatildeo fixa e polilexical entendida como fixaccedilatildeo e polilexicalidade (2) emprego ou funccedilatildeo como parte da oraccedilatildeo compreendida aqui a noccedilatildeo de estrutura natildeo oracional24 e (3) sentido unitaacuterio consabido natildeo resultante da soma do sentido normal (ou absoluto) dos componentes

A ideia de ldquosentido unitaacuterio consabidordquo traduz adequadamente a noccedilatildeo de ldquosentido conhecido por todos e ao mesmo tempordquo portanto compartilhados pelos falantes nativos de uma liacutengua ou pela comunidade linguiacutestica ou no caso de uma Fraseologia Especializada por uma comunidade sociocultural esta entendida como agrupamento de falantes unidos por fatores sociais (histoacutericos profissionais raciais nacionais e geograacuteficos)

As locuccedilotildees verbais que podem funcionar como elementos oracionais de natureza nominal satildeo as formadas de verbo de ligaccedilatildeo mais predicativo diferentemente das locuccedilotildees como elementos do predicado verbal cujo nuacutecleo eacute um verbo significativo (intransitivo ou transitivo)

Satildeo exemplos de locuccedilotildees verbais com valor nominal as seguintes ser a bola da vez (estar prestes a ser objeto de anaacutelise criacutetica exclusatildeo etc) ser a palmatoacuteria do mundo (ser um sujeito metido a moralista) ser cheio de nove-horas (ser muito exigente chato) ser de carne e osso (ser humano estar sujeito a fraquezas como qualquer pessoa) estar com a faca e o queijo na matildeo (ter poder amplo) e estar com o diabo no corpo (estar assanhadiacutessimo ou muito irrequieto tanto no mau quanto no bom sentido)

As locuccedilotildees verbais satildeo refrataacuterias agrave anaacutelise sintaacutetica Segundo Casares ldquotomadas essas expressotildees em bloco e interpretadas como elementos oracionais suas funccedilotildees sintaacuteticas nem sempre coincidem

23 No original ldquocombinacioacuten estable de dois ou maacutes teacuterminos que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitaacuterio consabido no se justifica sin maacutes como uma suma del sentido normal de los componentesrdquo 24 Somos de opiniatildeo de que Casares enfatiza com este traccedilo o caraacuteter sintagmaacutetico da locuccedilatildeo parte constituinte ou elemento (de oraccedilatildeo) descartando a ideia de que a locuccedilatildeo seja considerada uma oraccedilatildeo ou seja frase ou membro de frase em que pese conter um verbo

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com as do verbo contido na locuccedilatildeordquo25(1969 p177) Em portuguecircs por exemplo quando dizemos tirar aacutegua do joelho com verbo tirar transitivo direto equivale em conjunto a ldquourinarrdquo intransitivo isto eacute a rigor natildeo se cogita do ponto de vista fraseoloacutegico que aacutegua do joelho eacute objeto direto de tirar

Segundo Casares (1969) no Espanhol natildeo se esgotam as espeacutecies de locuccedilatildeo oracional com equivalecircncia e funccedilatildeo verbal Por exemplo aplicando esta visatildeo de Casares agrave liacutengua portuguesa uma locuccedilatildeo verbal do tipo ter partes com o diabo natildeo pode ser traduzida a partir de um verbo transitivo ou intransitivo Quando essa locuccedilatildeo se aplica a uma pessoa se daacute a entender unicamente que essa pessoa eacute ldquomuito sapeca alvoroccedilada inquietardquo Se dizemos de uma pessoa que bota a alma pela boca limitamos-nos a expressar que ldquoestaacute ofegante com a respiraccedilatildeo opressardquo

Para ilustrarmos em Liacutengua Portuguesa este grupo acima citariacuteamos inuacutemeras locuccedilotildees cujo verbo expresso eacute ser estar ou algum outro verbo de significaccedilatildeo equivalente tais como andar com a pulga atraacutes da orelha (estar preocupado ou cismadordquo) ficar de cabeccedila virada (andar preso por alguma paixatildeo obsessatildeo viacutecio incontrolado ou ideia fixa) andar na linha (ser honesto) apanhar nas fuccedilas (ser agredido na cara) ter (as) costas largas (estar confiante sem receio para realizar ou falar algo por ter a proteccedilatildeo de algueacutem) estar com a corda no pescoccedilo (estar em apuros em situaccedilatildeo desesperadora geralmente financeira) ter fama (ser muito falado ou celebrado) ter coraccedilatildeo de leatildeo(ser extremamente valente) ter coraccedilatildeo de ouro (ser muito bondoso ou generoso) ter coraccedilatildeo de pedra (ser duro de sentimentos insensiacutevel) ter jogo de cintura (ser flexiacutevel para escapar a situaccedilotildees delicadas ou contornar conjunturas difiacuteceis) ter o corpo fechado (ser imune a malefiacutecios graccedilas a benzeduras e oraccedilotildees)

A funccedilatildeo verbal destas expressotildees comprova-se agrave medida que admitem modificaccedilatildeo pessoal temporal e modal e que as de caraacuteter transitivo podem fazer com que a accedilatildeo expressada por elas recaia sobre um objeto exterior como se fosse um complemento direto como podemos atestar neste exemplo com a expressatildeo esquentar a

25 ldquotomadas esas expresiones em bloque e interpretadas como elemento oracional sus funciones sintaacutecticas no siempre coinciden com las del verbo contenido em la locucioacutenrdquo

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cabeccedila (preocupar-se demasiado) Apoacutes meu uacuteltimo casamento percebi que o bom eacute natildeo esquentar a cabeccedila (risos) Ficar junto soacute se for vocecirc na sua casa e eu na minha (In atriz Elizacircngela do Amaral Vergueiro entrevista a Etienne Jacintho O Estado de Satildeo Paulo 01112008)

Segundo Zuluaga (1980) as locuccedilotildees verbais apresentam entre seus componentes um que funciona como portador das determinaccedilotildees de tempo de pessoa de nuacutemero e de modo e que pode portanto variar ao ser utilizado no discurso O referido componente pode ser reconhecido ainda fora da locuccedilatildeo como um lexema verbal do sistema leacutexico de uma liacutengua dada

As mais recentes pesquisas psicolinguiacutesticas sobre compreensatildeo idiomaacutetica especialmente para testar quais as que apresentam maior grau de dificuldade de compreensatildeo tecircm utilizado entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais as colocaccedilotildees e os refratildees sendo as locuccedilotildees entre as unidades fraseoloacutegicas as que recebem maior atenccedilatildeo por parte dos psicolinguistas por apresentarem potencialmente um grau de dificuldade maior do que as demais unidades fraseoloacutegicas26 natildeo por sua estrutura senatildeo por fatores como a familiaridade analisabilidade sintaacutetica maior grau de opacidade ou evidente transparecircncia conforme os estudos de Levorato ( 1993 p 101-128 Cacciari (1993 P 27-55) Crespo e Caceres (2006 P 77-90) Crespo Allende Alfaro Faccio e Peacuterez Herrera (2008 p95-111)

Entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais27satildeo aquelas em que os autores reconhecem maiores evidecircncias de distinccedilatildeo entre as que satildeo transparentes e as que satildeo opacas as que podem ser interpretadas literalmente e as que tendem a ser interpretadas idiomaticamente possibilitando achados empiacutericos que levam a observar o desempenho de falantes natildeo nativos do PB frente a locuccedilotildees verbais opacas e transparentes proacuteprias da variante de dada liacutengua

As muitas e diacutespares propriedades das expressotildees idiomaacuteticas satildeo fruto com certeza mais de discrepacircncias ou divergecircncias nas

26 Eacute possiacutevel que para falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro locuccedilotildees nominais como a trecircs por dois (com frequecircncia com regularidade com efeito (de fato efetivamente) podem natildeo ser de faacutecil compreensatildeo 27 Neste trabalho utilizamos de forma indistinta os termos locuccedilatildeo verbal e expressatildeo idiomaacutetica assim como procede Sevilla Muntildeoz e Arroyo Ortega (1993) Molina Garciacutea (2006) e Dovrtělovaacute (2008)

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classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas e da proacutepria definiccedilatildeo do que se entende por Fraseologia do que por fatores estruturais ou semacircnticos das combinaccedilotildees estaacuteveis ou fixas da liacutengua sejam idiomaacuteticas ou natildeo

Costumeiramente linguistas como Corpas Pastor (1996 p 19-32) Castillo Carballo (1997 p70-75) Penadeacutes Martiacutenez (1999 p14-19) Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p21-56) Martiacutenez Montoro (2002 p13-89) Montoro Del Arco (2006 (p35-70) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p23-34) Timofeeva (2008 p153-333) e Ruiz Gurillo (2010 p174-194) apontam as seguintes propriedades das unidades fraseoloacutegicas afetividade anomalia convencionalidade cristalizaccedilatildeo estabilidade estrutura natildeo oracional expressividade figuraccedilatildeo figuras de repeticcedilatildeo fixaccedilatildeo frequecircncia gradualidade idiomaticidade inflexibilidade institucionalizaccedilatildeo lexicalizaccedilatildeo natildeo composicionalidade nominaccedilatildeo pluriverbalidade polilexicalidade variabilidade entre outras28

A polilexicalidade eacute conditio sine qua non para a definiccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas A rigor natildeo haacute ou pelo menos natildeo deve ser considerada expressatildeo idiomaacutetica segmento ordenado no eixo sintagmaacutetico que natildeo seja uma combinaccedilatildeo de pelo menos dois constituintes No caso das expressotildees idiomaacuteticas representadas pelas locuccedilotildees verbais a polilexicalidade eacute uma condiccedilatildeo inerente ao proacuteprio conceito locucional como um conjunto de palavras que equivalem a um soacute vocaacutebulo por terem sentido combinaccedilatildeo proacutepria ou peculiar e funccedilatildeo gramatical uacutenica

Ao tratar dos traccedilos baacutesicos das unidades fraseoloacutegicas acertadamente Montoro del Arco (2006) diz que natildeo haacute um consenso sobre quais satildeo os limites do componente fraseoloacutegico e sobre que unidades devem ser consideradas fraseoloacutegicas Talvez segundo o linguista o uacutenico traccedilo ou propriedade fraseoloacutegica consensual seja a polilexicalidade

Para Gross (1996) a polilexicalidade eacute a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria para que se possa falar acerca da fixaccedilatildeo (cristalizaccedilatildeo) das expressotildees idiomaacuteticas e que as palavras constituintes da expressatildeo idiomaacutetica tenham uma existecircncia autocircnoma fora da construccedilatildeo ou

28 Muitos autores citam ainda a informalidade como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas mas consideramos um equiacutevoco uma vez que como todas as palavras existem as que satildeo formais e as que satildeo informais

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combinaccedilatildeo fraseoloacutegica por essa razatildeo segundo Gross satildeo excluiacutedas construccedilotildees formadas com afixo (sufixo prefixo) que se enquadram no chamado processo de derivaccedilatildeo (p 9-10)

Montoro del Arco (2009) na tradiccedilatildeo europeia particulamente a hispacircnica um segmento eacute considerado fraseoloacutegico quando eacute formado por dois ou vaacuterios componentes que aparecem separados na escrita Graccedilas a esta noccedilatildeo ortograacutefica semacircntica e morfoloacutegica pode-se tambeacutem utilizar de forma mais geral em vez de unidade fraseoloacutegica a expressatildeo unidade polilexical quando se quer se referir agrave unidade lexicalizada o que pode criar uma separaccedilatildeo ou distinccedilatildeo terminoloacutegica das unidades univerbais (ou unidades leacutexicas) que satildeo objeto de lexicologia

Cumpre-nos destacar poreacutem que a polilexicalidade natildeo eacute apenas uma traccedilo meramente formal das expressotildees idiomaacuteticas senatildeo tambeacutem de tipo psicoloacutegico significativo no sintagma fraseoloacutegico pois influi na interpretaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica (MONTORO DEL ARCO 2006 p 37) Isso certamente ocorre porque estatildeo ligados a campos conceituais diversos como podemos comprovar no dicionaacuterio de Penadeacutes Martiacutenez (2002) ao registrar as expressotildees idiomaacuteticas relacionadas a accedilotildees estados e processos proacuteprios das pessoas como seres vivos a atividades profissionais a accedilotildees e processos referentes ao sexo entre outros

Concordamos com a opiniatildeo de Montoro Del Arco (2006 p 38) quando diz que no campo da Fraseologia referindo-se agrave polilexicalidade deve ser apontada desde o comeccedilo e com suficiente clareza em toda caracterizaccedilatildeo geral das unidades que se incluem no componente fraseoloacutegico da liacutengua Espanhola29

No acircmbito dos estudos de Linguiacutestica Cognitiva haacute uma compreensatildeo de que graccedilas agrave propriedade de polilexicalidade haacute uma intensa produtividade de expressotildees fixas nas liacutenguas modernas foacutermulas binaacuterias que estabelecem o princiacutepio da ordem linear da maioria das locuccedilotildees (DELBEQUE 2008 p26)

Natildeo nos parece razoaacutevel a posiccedilatildeo de Delbeque (2008) Do ponto de vista linguiacutestico e pela proacutepria definiccedilatildeo de fraseoloacutegica uma

29 No original debe sentildealarse desde el principio y con la suficiente claridad en toda carcterizacioacuten general de las unidades que se engloban en el componente fraseoloacutegico de la lengua espantildeola

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expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva Afinal natildeo podemos utilizar parte de seus componentes ou de seus morfemas na composiccedilatildeo de novas expressotildees da mesma forma que acontece com os sufixos e prefixos nas lexias simples ou palavras unitaacuterias

Para ilustrar a noccedilatildeo de binarismo linguiacutestico proposto por Delbeque tomemos em liacutengua Portuguesa dois exemplos de unidades fraseoloacutegicas tendo como lexema de base a palavra aacutegua a) aacutegua benta (aacutegua usada para fins sacramentais e piedosos) como na frase Vocecirc jaacute experimentou o maravilhoso poder da aacutegua benta b) aacutegua na boca (forte vontade de comer grande apetecircncia grande desejo) como na frase Joatildeo ficou com aacutegua na boca ao ver a sobremesa e (c) ter bebido aacutegua de chocalho (falar demais) como na frase de alta frequecircncia no Cearaacute como em Dizem por aiacute que Joatildeo andou bebendo aacutegua de chocalho e falando o que natildeo pode provar

Na frase (a) a locuccedilatildeo nominal destacada eacute formada de duas palavras aacutegua e benta No exemplo (b) a locuccedilatildeo nominal eacute formada por trecircs constituintes aacutegua na e boca e no exemplo (c) estamos diante de uma locuccedilatildeo verbal de natureza idiomaacutetica formada por cinco elementos constituintes ter bebido aacutegua de e chocalho

Os exemplos acima nos levam a caracterizar a expressatildeo idiomaacutetica como uma combinaccedilatildeo de duas ou mais palavras Assim caracterizada a expressatildeo idiomaacutetica natildeo se confunde com unidade leacutexica simples como nas foacutermulas pragmaacuteticas ou de rotina como as interjeiccedilotildees sauacutede (voto que se faz a algueacutem que espirra) adeus (foacutermula de despedida geralmente quando se espera separaccedilatildeo longa ou definitiva) obrigado (foacutermula utilizada para quem se sente devedor de um favor de uma amabilidade)

Adverte poreacutem Garciacutea-Page (2008 p24) o seguinte O caraacuteter pluriverbal de unidades fraseoloacutegicas eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo exclusiva embora suficientemente restritiva para deixar de fora do campo de estudo da Fraseologia um grande conjunto de estruturas30 Como as demais unidades fraseoloacutegicas a expressatildeo idiomaacutetica eacute fundamentalmente polilexical

30 No original el caraacutecter pluriverbal de las unidades fraseoloacutegicas es una condicioacuten necesaria pero no privativa aunque siacute suficientemente restrictiva como para dejar fuera de campo de estudio la Fraseologiacutea un nutrido conjunto de estructuras

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Em substacircncia diriacuteamos que por resultar de um fenocircmeno de cristalizaccedilatildeo cujo grau pode variar conforme as unidades a polilexicalidade faz-se acompanhar de um certo nuacutemero de propriedades sintaacuteticas e semacircnticas e sua definiccedilatildeo eacute bastante contiacutegua de uma outra propriedade das expressotildees idiomaacuteticas a estabilidade ou fixaccedilatildeo que veremos em subseccedilatildeo mais adiante Trataremos a seguir da frequecircncia fraseoloacutegica

Depois da polilexicalidade a frequecircncia de uso (e de coapariccedilatildeo) eacute a propriedade mais sobressalente das expressotildees idiomaacuteticas Sem a frequecircncia natildeo podemos falar em convencionalidade (ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) ou dizermos por exemplo que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute antes de tudo uma expressatildeo fixa e portanto armazenada na memoacuteria dos falantes nativos

A retoacuterica claacutessica recorreu agrave noccedilatildeo de frequecircncia para designar numerosas figuras de linguagem relacionadas agrave repeticcedilatildeo como a anaacutefora a anadiplose a aliteraccedilatildeo a assonacircncia a diaacutecope a epiacutestrofe a paranomaacutesia e a epanalepse

A noccedilatildeo antiga de frequecircncia alcanccedilou tambeacutem as teorias fraseoloacutegicas Linguistas como Corpas Pastor (1997) Xatara (1998) Sanromaacuten (2001) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) tecircm proposto a frequecircncia de uso como uma caracteriacutestica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Entre as seis caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas assinaladas por Corpas Pastor (1997) estaacute a frequecircncia Eacute um traccedilo destacado das expressotildees idiomaacuteticas ao consideraacute-las como unidades leacutexicas polilexicais que se caracterizam por sua alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes (p20) No conjunto de expressotildees idiomaacuteticas de dada liacutengua evidentemente nem todas tecircm alta frequecircncia de uso isto eacute natildeo podemos generalizar esta caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas

Segundo Corpas Pastor (1997) a frequecircncia como caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas poderaacute apresentar duas vertentes conforme jaacute pudemos observar na definiccedilatildeo anterior (a) frequecircncia de uso da expressatildeo idiomaacutetica como tal e (b) frequecircncia de coapariccedilatildeo de seus elementos constituintes No caso (b) os elementos constituintes natildeo aparecem sozinhos sob pena de descaracterizar a expressatildeo idiomaacutetica

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Cremos que a frequecircncia de uso atua como um elemento fixador da expressatildeo idiomaacutetica Graccedilas agrave frequecircncia de uso as expressotildees idiomaacuteticas potencializam as funccedilotildees apelativas da linguagem oralescrita que se caracterizam pela interpelaccedilatildeo direta do interlocutor e diriacuteamos tambeacutem incrementam as mesmas funccedilotildees da linguagem natildeo verbal uma vez que estatildeo presentes por exemplo em Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) conforme nos descreve Lemos (2012) De igual modo as funccedilotildees expressivas as que se referem agraves atitudes dos locutores ou emissores com relaccedilatildeo ao conteuacutedo e ao contexto da mensagem satildeo beneficiadas pela frequecircncia de uso das unidades fraseoloacutegicas Em outras palavras diriacuteamos que a causa (frequecircncia de uso) gruda com a consequecircncia (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica)

Para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 32) cabe falar em frequecircncia de uso no acircmbito do estudo das locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas se concebemos as referidas combinaccedilotildees fixas como fios de tecido textual das mensagens e que sua presenccedila na comunicaccedilatildeo oral e escrita eacute constante A frequecircncia de uso nas expressotildees idiomaacuteticas potencial e estruturalmente ambiacuteguas evidencia o sentido idiomaacutetico ou holiacutestico prevalecendo habitualmente sobre o sentido literal originaacuterio desde que exista um contexto determinante

Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera um extremo de infrequecircncia o fato de uma combinaccedilatildeo que em princiacutepio admite duas leituras uma literal como forma livre e outra idiomaacutetica como expressatildeo fixa seja empregada com o sentido literal isto eacute como produto da teacutecnica do discurso para tomarmos uma expressatildeo de Coseriu (1981 p113-118)

Em outras palavras o que Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera infrequente ou inusual eacute a possibilidade de uma expressatildeo como em Liacutengua Portuguesa ficar a ver navios com sentido idiomaacutetico de sofrer decepccedilatildeo possa ser interpretada por um falante nativo como ficar + a + ver + navios com o sentido literal de continuar a enxergar as embarcaccedilotildees A posiccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenhez (2008) indica que a compreensatildeo de uma sequecircncia eacute preferencialmente idiomaacutetica

Quanto agrave frequecircncia de apariccedilatildeo Corpas Pastor (1996) afirma ocorrer quando as expressotildees idiomaacuteticas apresentam elementos constituintes que aparecem combinados com uma frequecircncia de aparecimento do conjunto ou bloco superior ao que se espera da frequecircncia de aparecimento individual de cada palavra na liacutengua

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A frequecircncia de coapariccedilatildeo tem uma consequecircncia imediata desde o momento em que uma combinaccedilatildeo de palavras constituiacuteda livremente a partir das regras do sistema linguiacutestico emprega-se em alguma ocasiatildeo particular ou seja estaacute disponiacutevel para ser usada no discurso pelo mesmo falante ou outro como uma combinaccedilatildeo jaacute feita

Segundo Corpas Pastor (1997 p21) quanto mais frequente o uso da combinaccedilatildeo mas chances teraacute para consolidar-se como expressatildeo fixa que os falantes nativos armazenam na memoacuteria de longo prazo

Somos da mesma opiniatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) de que natildeo faz sentido falar de frequecircncia de coapariccedilatildeo das palavras que formam a expressatildeo salvo claro as variantes fraseoloacutegicas jaacute codificadas que funcionam numa relaccedilatildeo paradigmaacutetica posto que as expressotildees idiomaacuteticas trazem a presenccedila insubstituiacutevel dos componentes

Para ilustrarmos com um exemplo em Liacutengua Portuguesa a expressatildeo abaixarapagarassentarsossegar o facho pode vir com diversos verbos mas o mais frequente nos meios de comunicaccedilatildeo eacute que apareccedila com o verbo baixar como em O Peru conseguiu baixar o facho do Sendeiro Luminoso(In Coluna FREI HERMIacuteNIO BEZERRA Caderno 3 DN 07012008) com o sentido de moderar-se conter-se

A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um traccedilo que caracteriza sobretudo as colocaccedilotildees ou as construccedilotildees em tracircnsito de fixaccedilatildeo ou que estatildeo em processo de lexicalizaccedilatildeo A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um fato sintagmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada derivado primaacuteria e fundamentalmente de seu viacutenculo semacircntico isto eacute do fato paradigmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees virtuais entre unidades suscetiacuteveis de comutarem entre si o que ao certo contribui para a fixaccedilatildeo completa e definitiva da expressatildeo idiomaacutetica

Nessa mesma linha de reflexatildeo Xatara (1998 p148) acredita que a profusatildeo das expressotildees idiomaacuteticas decorreria de duas razotildees principais (a) o poder de seus efeitos criativos e (b) a revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico ou metafoacuterico

A frequecircncia de uso segundo a linguista Xatara (1998) seria responsaacutevel por dar caraacuteter previsiacutevel e automatismo agraves expressotildees idiomaacuteticas ou mais precisamente pela convencionalidade tornando-as frequentes no discurso mas ao serem apresentadas aos usuaacuterios da liacutengua surpreendentemente revelam-se com um poder metafoacuterico

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ou idiomaacutetico de seus efeitos sobre os usuaacuterios atraveacutes do jogo entre suas relaccedilotildees sobretudo metafoacutericas e metoniacutemicas e do recurso ao seu sentido literal Num olhar mais criacutetico sobre o pensamento de Xatara (1998) diriacuteamos que natildeo haacute metaacutefora nem metoniacutemia do ponto de vista sincrocircnico pelo simples fato de que natildeo haacute processamento da expressatildeo idiomaacutetica

Quanto agrave revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico Xatara (1998) afirma que graccedilas a uma espessura simboacutelica peculiares agraves expressotildees idiomaacuteticas e por estarem retidas na memoacuteria dos falantes satildeo criadas condiccedilotildees para que durante o processamento fraseoloacutegico sejam acionadas transferecircncias semacircnticas regulares do concreto ao abstrato do fiacutesico ao psiacutequico exprimindo julgamentos sociais e compartilhando das mais diversas sensaccedilotildees e emoccedilotildees

A frequecircncia de uso de expressotildees como bater as asas bater em retirada botar o peacute no mundo cair fora dar com o peacute no mundo levantar voo meter o arco meter o peacute no mundo entre outras expressotildees em lugar do leacutexico simples fugir na verdade daacute uma maior forccedila perlocucionaacuteria ao enunciado e traduz para o leitor ou ouvinte maior forccedila de expressatildeo ou estilo 31

Emparelhada com a polilexicalidade apontamos entre propriedades essenciais das expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo ou a estabilidade

Zuluaga (1975 p 230) entende por fixaccedilatildeo ou estabilidade formal a propriedade que tem certas expressotildees de serem reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas Esta definiccedilatildeo foi posteriormente acolhida por Corpas Pastor (1996 p23)

Uma explicaccedilatildeo das teorias fraseoloacutegicas sobre o surgimento desta propriedade fraseoloacutegica eacute a de que a fixaccedilatildeo resultaria de um processo histoacuterico-diacrocircnico e da conversatildeo paulatina de uma construccedilatildeo livre e variaacutevel em uma construccedilatildeo fixa invariaacutevel soacutelida graccedilas agrave insistente repeticcedilatildeo portanto como consequecircncia de sua frequecircncia

Nesse processo de evoluccedilatildeo uma forma analiacutetica livre chegaria a adquirir em um ponto da histoacuteria um sentido idiomaacutetico (ou

31 A rigor natildeo poderiacuteamos dizer que a frequecircncia de uso eacute uma propriedade exclusiva das expressotildees idiomaacuteticas Acontece com a escolha de qualquer palavra da Liacutengua Portuguesa como por exemplo com o verbo sair ou retirar-se com seu correlato vazar

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metafoacuterico32) ou especiacutefico33 em ateacute conceber-se como um todo isto eacute uma foacutermula memorizaacutevel disponiacutevel para emprego por parte do falante no processo discursivo ao expressar um conteuacutedo que jaacute estaria condensado nela (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p25)

Este processo de conversatildeo de uma unidade sintaacutetica em expressatildeo idiomaacutetica poderia chamar-se de fraseologizaccedilatildeo embora para Garciacutea-Page Saacutenchez (p25) o fato de unidades fraseoloacutegicas terem muitas palavras eacute uma condiccedilatildeo absolutamente necessaacuteria mas natildeo exclusiva e suficientemente restritiva o que significa dizer que este fato linguiacutestico pode representar um fenocircmeno mais amplo se inclui a fixaccedilatildeo da forma e a fixaccedilatildeo semacircntica como operaccedilotildees simultacircneas uma vez que fixa tambeacutem o sentido fraseoloacutegico

Quando o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica se estabiliza a forma livre originaacuteria estruturalmente idecircntica portanto correspondente a literal (ou a teacutecnica do discurso para tomarmos a expressatildeo coseriana) seguiraacute outros caminhos semacircnticos ou ocorrecircncias semacircnticas disponiacutevel para emprego discursivo e exposta como qualquer outro signo da liacutengua a preencher-se de novos matizes semacircnticos daiacute as expressotildees idiomaacuteticas experimentarem mudanccedilas no sentido ou se tornarem arcaiacutesmos

Com relaccedilatildeo especificamente agraves expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo eacute uma propriedade marcante das mesmas em que pesem sofrerem muito com a variaccedilatildeo fraseoloacutegica Liacutenguas neolatinas como o portuguecircs e o Espanhol registram muitas variantes fraseoloacutegicas no seu leacutexico Vamos entatildeo aprofundar um pouco com alguns exemplos em liacutengua Portuguesa esta questatildeo da variaccedilatildeo nas expressotildees fixas nos paraacutegrafos a seguir

Segundo Garciacutea-Page Sanchez (2008 p213-315) os estudos filoloacutegicos tecircm mostrado que a tradiccedilatildeo oral tem favorecido ao longo dos anos ou seacuteculos a criaccedilatildeo de variantes em decorrecircncia de causas diversas do tipo (1) maior expressividade (2) etimologia popular (3)

32 Natildeo poderiacuteamos generalizar esta carga metaforicidade para todas as unidades fraseoloacutegicas Na expressatildeo de vez em quando com sentido de ocasionalmente uma vez ou outra natildeo haacute metaacutefora 33 Por exemplo em ser cheio de nove horas com sentido de rabugento impertinente como na frase O senador fluminense Lindbergh Farias ficou cheio de nove horas para dizer que aquele escritoacuterio era ateacute entatildeo uma caixa-preta (DN em Caderno 3 Coluna Eacute 08072013)

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regionalismos (4) marcas sociolinguiacutesticas (as de variaccedilatildeo diastraacutetica em particular) (5) existecircncia de modelos produtivos de uso pelos falantes34 (6) ecircnfase (7) reforccedilo do aprendizado (8) ajuda agrave memorizaccedilatildeo (9) economia linguiacutestica (10) modernizaccedilatildeo e por uacuteltimo (11) maior ou menor extensatildeo da locuccedilatildeo

Destas causas arroladas acima natildeo concordamos com a (5) por entendermos que por definiccedilatildeo uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva a menos que o autor considere a flexatildeo ou a variaccedilatildeo como processos criativos da liacutengua o que seria um contrassenso linguiacutestico

De outra maneira diriacuteamos que a fixaccedilatildeo tem um caraacuteter gradual portanto de escalaridade que se manifesta de diversos graus de uso da liacutengua Satildeo muitas as expressotildees idiomaacuteticas passiacuteveis de variaccedilotildees formais de uma ou outra natureza (focircnica graacutefica leacutexica gramatical morfoloacutegica)

Na Liacutengua Portuguesa podemos dar exemplos de variantes fraseoloacutegicas de vaacuterias expressotildees idiomaacuteticas como chutar o balde o pau da barraca escaparsair pela tangente estarficar entregue agraves baratas passar atestado de burro estuacutepidoimbecil estarou andar com a pedra no sapato estarcair ficar de cama estar ficar com aacutegua na boca estar ficar de saco cheio estar ficar no mato sem cachorros e esticar a canela as botas Esta riqueza de variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute entendida por noacutes como diferenccedilas de realizaccedilatildeo linguiacutestica (falada ou escrita) de uma expressatildeo fixa observadas entre os falantes de uma mesma liacutengua e natildeo como produtividade fraseoloacutegica

Para ficarmos em exemplo vejamos o que nos diz Houaiss e Villar (2009) sobre a expressatildeo ldquochutar o balderdquo mesmo que ldquoChutar o pau da barracardquo Portanto as duas formas ou variantes de uma mesma expressatildeo fixa compartilham os mesmos sentidos como ldquodeixar de medir as consequecircncias de qualquer ato engrossar entornar o caldordquo e ldquoabandonar desistir de um projetordquo

34 O caraacuteter produtivo das expressotildees eacute muito questionado Ao longo deste livro temos colocado que uma expressatildeo natildeo pode ser produtiva Eacute uma contradiccedilatildeo em termos Se o que caracteriza a expressatildeo eacute justamente a cristalizaccedilatildeo e a fixaccedilatildeo com o passar dos anos ela natildeo pode ser produtiva Assim ningueacutem pode fazer uma expressatildeo nova porque por definiccedilatildeo a sequecircncia tem de ser repetida durante muito tempo ateacute ser conhecida e compartilhada por todos os outros falantes da liacutengua

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No inventaacuterio de variantes fraseoloacutegicas como apresentamos na lista acima as que permanecem no uso da liacutengua sem se tornarem anacrocircnicas ou obsoletas satildeo as que satildeo geralmente codificadas e consagradas pela comunidade e previstas pelo sistema (da liacutengua) daiacute reconhecermos que a convencionalidade e a frequecircncia satildeo tambeacutem dois traccedilos definitoacuterios das expressotildees idiomaacuteticas

Para ilustrarmos com mais exemplos em Liacutengua Portuguesa lembramos que no caso do sentido idiomaacutetico de fugir ou retirar-se em debandada o Aureacutelio (2009) registra sobejamente entre outras as seguintes locuccedilotildees verbais abrir no mundo abrir no peacute abrir nos paus abrir o arco bater em retirada botar o peacute no mundo enfiar a cara no mundo ensebar as canelasentupir no oco do mundo fazer chatildeo fazer a pista ganhar o mato ganhar o mundo bater em retirada sair de fininho e elevantar voo

Por outro lado satildeo abundantes as expressotildees idiomaacuteticas que admitem modificaccedilotildees de seus elementos constituintes atraveacutes da teacutecnica do discurso proacutepria das combinaccedilotildees livres Quando expressotildees idiomaacuteticas se comportam como se fossem combinaccedilotildees livres portanto de sintaxe plena o que ocorre geralmente eacute a inclusatildeo na combinatoacuteria de incrementos leacutexicos com valor intensificador35 mas que natildeo interferem no conceito de fixaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas particularmente no caso das locuccedilotildees verbais como as seguintes abrir o (maior) bocatildeo armar (o maior) banzeacute armar o (maior) barraco ser bom (ou muito) estocircmago ser bastante (ou muito) mulher e ter bom (ou muito) estocircmago

A variaccedilatildeo como contrapartida e aparentemente contraexemplo da fixaccedilatildeo tem sido proposta juntamente com a fixaccedilatildeo como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas inclusive como um traccedilo universal fraseoloacutegico (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p213-220) Existiriam assim fatores para transgressatildeo da fixaccedilatildeo ou variaccedilatildeo fraseoloacutegica (1) a proacutepria natureza fixa da locuccedilatildeo (2) o caraacuteter travado e coeso de sua composiccedilatildeo leacutexica sintaacutetica e inclusive focircnica (relativo ao contiacutenuo sonoro que constitui a cadeia falada) e (3) seu valor de unidade memorizaacutevel

35 Muitos somatismos como em tirar mais aacutegua do joelho que traz o intensificador mais e ldquoter a liacutengua maior que o corpordquo ou ldquoter o o olho maior que a barrigardquo em que temos ldquomaiorrdquo nas combinatoacuterias fixas

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Em nosso estudo acolhemos esta visatildeo acima por considerarmos que os falantes de dada liacutengua especialmente os de L2 como por exemplo lusoacutefonos na variante africana tendem naturalmente a apresentar formas linguiacutesticas diferenciadas da nossa vertente brasileira ou europeia por determinantes sociolinguiacutesticos ou mais precisamente por fatores diatoacutepicos

A estabilidade da combinatoacuteria de uma expressatildeo idiomaacutetica ao longo de um tempo resultaria pois da consagraccedilatildeo pelo uso na comunidade linguiacutestica ainda assim e paradoxalmente tal fixaccedilatildeo natildeo se imporia como homogecircnea para todos os falantes de dada liacutengua nem mesmo os dicionaacuterios gerais ou especializados registram as expressotildees idiomaacuteticas ou as abonam de igual modo Apenas para exemplificar tomemos por exemplo as expressotildees idiomaacuteticas para o sentido de morrer contendo o lexema paletoacute fechar o paletoacute fechar o paletoacute de algueacutem vestir o paletoacute de madeira abotoar o paletoacute e vestir paletoacute de pinho

Esta particularidade da propriedade fixaccedilatildeo segundo Corpas Pastor (1996 p23) pode ser manifesta nos seus dois tipos (a) fixaccedilatildeo interna e (b) a fixaccedilatildeo externa Por fixaccedilatildeo interna entendemos a fixaccedilatildeo material marcada pela impossibilidade de reordenamento dos componentes realizaccedilatildeo foneacutetica fixa restriccedilatildeo na escolha dos componentes e fixaccedilatildeo de conteuacutedo (ou peculiaridade semacircntica)

A fixaccedilatildeo externa por sua vez pode ser sudividida em outros quatro subtipos conforme descrevemos abaixo

(1) fixaccedilatildeo situacional 36 refere-se a que se daacute como combinaccedilatildeo de certas unidades linguiacutesticaa em situaccedilotildees sociais determinadas como ocorre nas expressotildees como com licenccedila da (maacute) palavra (se me permite usar uma palavra feia desculpe-me a palavra insultuosa) pedir a matildeo de (fazer proposta de casamento ) e pedir a palavra (pedir licenccedila para falar)

(2) fixaccedilatildeo analiacutetica entende-se aquela que se daacute como consequecircncia do uso de determinadas unidades linguiacutesticas para anaacutelise jaacute estabelecida do mundo frente a outras unidades igualmente possiacuteveis teoricamente como em Liacutengua Portuguesa temos querer viver apenas agrave sombra e aacutegua fresca natildeo dizer desta aacutegua natildeo beberei e natildeo se julgar livre de fazer o que condena nos outros)

36 Este traccedilo natildeo poderiacuteamos dizer a rigor ser exclusivo das unidades fraseoloacutegicas Qualquer palavra de dada liacutengua tem sua fixaccedilatildeo situacional

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(3)fixaccedilatildeo passemaacutetica37 aquela fixaccedilatildeo originada no emprego de unidades linguiacutesticas segundo o papel do falante no ato comunicativo como nas locuccedilotildees custar os olhos da cara (ser muito caro) e dormir como uma pedra (dormir profundamente)

(4) Fixaccedilatildeo posicional entendida como a preferecircncia pelo uso de certas unidades linguiacutesticas de determinadas posiccedilotildees na forma de textos como ocorre nas foacutermulas de saudaccedilatildeo encabeccedilamentos e despedidas de cartas por exemplo Sou com todo o respeito (foacutermula de delicadeza que usa o missivista no fecho das cartas para exprimir o respeito e o apreccedilo pela pessoa a quem se dirige)

A noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo segundo Garcia Page (2008) eacute um dos traccedilos acidentais das expressotildees idiomaacuteticas que tambeacutem pode ser emparelhado com o conceito de fixaccedilatildeo Define institucionalizaccedilatildeo como ldquoo processo pela qual uma comunidade linguiacutestica adota uma expressatildeo fixa a sanciona como algo proacuteprio como moeda de troca na comunicaccedilatildeo cotidiana como componente do seu acervo linguiacutestico-cultural de seu coacutedigo idiomaacutetico como qualquer outro signo convencional e passa a formar parte do vocabulaacuteriordquo 38 (p29)

Vale ressaltar que a noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo na perspectiva de nosso trabalho como jaacute dissemos antes eacute uma propriedade acidental ou ocasional que natildeo pode ser confundida com a noccedilatildeo de convencionalidade uma propriedade essencial das expressotildees idiomaacuteticas segundo a perspectiva cognitivista (FILLMORE KAY e OCONNOR 1988 NUNBERG WASOW e SAG 1994 CROFT e CRUSE 2004 p298 TAGNIN 2005) Mais adiante daremos uma atenccedilatildeo especial agrave propriedade da convencionalidade

No caso da institucionalizaccedilatildeo a expressatildeo idiomaacutetica converte-se em produto cultural como um referente idiossincraacutesico e de uso por uma comunidade linguiacutestica embora possa ultraspassar as fronteiras e

37 Este termo nos lembra muito a noccedilatildeo de ato perlocutoacuterio (os efeitos do ato do falante nos interlocutores e audiecircncia) isto eacute o efeito que um ato ilocutoacuterio (forccedila que o enunciado produz que pode ser de pergunta de afirmaccedilatildeo ou de promessa) no alocutaacuterio (pessoa a quem o locutor dirige um ato de fala numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo oral) 38 No original el proceso por el cual una comunidad linguiacutestica adopta una expresioacuten fija la sanciona como algo propio como moneda de cambio en la comunicacioacuten cotidiana como componente de su acervo linguiacutestico-cultural de su coacutedigo idiomaacutetico como cualquier otro signo convencional y pasa a parte del vocabulario

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alcanccedilar o campo internacional isto eacute passar a fazer parte do universo fraseoloacutegico compartilhado por comunidades de falas distintas

Haacute expressotildees que surgem com forccedila e pujanccedila ou se potildeem de moda por certo tempo mas a comunidade linguiacutestica deixa de usar de uma hora para outra e a esquece e assim deixa de fazer parte do vocabulaacuterio ativo da comunidade de falantes embora por vezes continue registrada nos dicionaacuterios gerais da liacutengua

Na institucionalizaccedilatildeo de uma estrutura normalmente a accedilatildeo fixadora do uso repetido eacute precisa Ainda segundo Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) a repeticcedilatildeo continuada de uma expressatildeo conduz a sua cristalizaccedilatildeo a sua petrificaccedilatildeo agrave condiccedilatildeo de unidade disponiacutevel para seu armazenamento memorizaccedilatildeo e a sua transmissatildeo entre os falantes

No campo fraseoloacutegico o traccedilo de fixidez da instituiccedilatildeo nos leva a outra noccedilatildeo a de reprodutividade que certamente eacute a mesma que percebeu Eugenio Coseriu quando fez referecircncia a discurso repetido (2007 p201)

Por conta da repeticcedilatildeo ou reproduccedilatildeo ocorreria a institucionalizaccedilatildeo e esta tambeacutem levaria no uso da liacutengua agrave repeticcedilatildeo da expressatildeo evidenciando seus valores intriacutensecos como foacutermula ou discurso repetido conhecimento ou experiecircncia compartilhada entre os falantes sua natureza estruturalmente sinteacutetica e sua marca de identidade cultural da comunidade linguiacutestica

Outra noccedilatildeo fraseoloacutegica considerada por noacutes como acidental e que estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de anomalia Entendida em nosso estudonosso estudo como expressotildees palavras que fogem agrave regra e natildeo seguem um paradigma flexional e sendo formas anocircmalas devem ser portanto memorizadas pelos falantes de uma liacutengua dada

Tem-se apontado as construccedilotildees estruturalmente anocircmalas do tipo leacutexicas sintaacuteticas ou semacircnticas como iacutendices ou indicadores fraseoloacutegicos isto eacute marcas de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e uma prova da fixaccedilatildeo das unidades fraseoloacutegicas (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p33-34 RUIZ GURILLO 2001 p18)

No caso da Liacutengua Portuguesa enquanto para o sintaxista uma expressatildeo idiomaacutetica como aiacute eacute que a porca torce o rabo (este eacute que eacute o ponto difiacutecil da questatildeo) a presenccedila do adverbio aiacute eacute considerada uma anomalia para o fraseoacutelogo eacute um traccedilo proacuteprio de

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certas unidadesexpressotildees fraseoloacutegicas39 Em outras palavras no campo fraseoloacutegico a anomalia tem seu valor diacriacutetico

A Liacutengua Portuguesa em se tratando de casos de anomalias fraseoloacutegicas eacute bastante produtiva Por exemplo haacute casos de anomalias em expressotildees idiomaacuteticas (a maioria anacrocircnica) com a presenccedila de nomes proacuteprios ou antropocircnimos como em Messias em esperar pelo Messias (esperar por coisa pouco provaacutevel ou quase impossiacutevel Luzia em ganhar o que Luzia ganhou na horta ( ser passado para traacutes) ou Joatildeo em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (disfarccedilar-se) Estes antropocircnimos caracterizam a expressatildeo de modo a nos falar de uma fossilizaccedilatildeo de estados sincrocircnicos anteriores isto eacute constitui um resiacuteduo histoacuterico de sua consolidaccedilatildeo

As diversas anomalias presentes nas expressotildees idiomaacuteticas tendem a tornaacute-las expressotildees ambiacuteguas isto eacute potencialmente composicionais (transparentes ou literais) e natildeo composicionais (opacas e idiomaacuteticas ou natildeo literais) e por essa razatildeo o contexto desempenha um papel importante na identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas quando trazem as marcas de anomalias fraseoloacutegicas como nos exemplos mostrados acima

No acircmbito da Fraseologia existem mais exemplos de anomalias com palavras idiomaacuteticas (ou diacriacuteticas) arcaiacutesmos ou a marca do arredondamento dos laacutebios Por exemplo nas expressotildees idiomaacuteticas botar as manguinhas de fora ou pocircr as manguinhas de fora (agir revelando qualidades ou denunciando intenccedilotildees que em geral anteriormente se ocultavam) embora possa ser alternado o verbo botar para pocircr a palavra idiomaacutetica manguinhas na sua forma fossilizada no plural estaacute presente nas duas construccedilotildees sinocircnimas Manguinhas tem a funccedilatildeo de ser uma palavra diacriacutetica Eacute na expressatildeo idiomaacutetica botar as manguinhas de fora o que Gonzalez Rey (2005 p315) chama de fenocircmeno de haacutepax 40 fraseoloacutegico

Da mesma forma temos um caso de arcaiacutesmo quando o falante atual do Portuguecircs Brasileiro diante de uma expressatildeo idiomaacutetica

39 Uma outra interpretaccedilatildeo para este fenocircmeno seria a de considerar que um sintatiscista poderia ver no adveacuterbio aiacute um adjunto temporal perfeitamente justificaacutevel na liacutengua tanto do ponto de vista formal (com relaccedilatildeo agrave posiccedilatildeo na sentenccedila) quanto semacircntico 40Em lexicografia palavra ou expressatildeo de que soacute existe uma uacutenica abonaccedilatildeo nos registros da liacutengua Esta palavra vem do grego haacutepaks uma vez isto eacute haacutepaks legoacutemenon o que eacute dito uma uacutenica vez

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como bater a caccediloleta (morrer) natildeo reconhece composicionamente o sentido de caccediloleta (fuzil de espingarda ou arma de fogo semelhante que dispara com faiacutescas de pederneira sobre a qual bate a pedra adaptada ao catildeo para comunicar fogo agrave escorva) julgaraacute entatildeo por forccedila de sua intuiccedilatildeo Linguiacutestica que se trata de uma expressatildeo antiga ou desusada na verdade estaacute diante realmente de uma construccedilatildeo idiomaacutetica que caiu em desuso quer na fala quer na escrita padratildeo embora possa continuar a existir como forma dialetal ou em usos literaacuterios e com registros nos dicionaacuterios gerais41

Um bom exemplo de arredondamento dos laacutebios (ou labializaccedilatildeo) podemos observar quando a presenccedila do artigo enquanto categoria gramatical implica em diferenccedila no sentido idiomaacutetico da expressatildeo com relaccedilatildeo a sintagmas livres irmatildeos gecircmeos42 como por exemplo em chutar o balde ou chutar o pau da barraca bater a bota ou bater as botas

O que podemos assinalar nos exemplos chutar o balde e chutar o pau da barraca eacute que o artigo o indica convencionalmente a presenccedila de uma expressatildeo idiomaacutetica frente aos sintagmas livres chutar balde ou chutar pau da barraca que tecircm o sentido literal de dar chute contra o recipiente Por outro lado a presenccedila do artigo definido nas construccedilotildees idiomaacuteticas indica natildeo apenas uma determinaccedilatildeo dentre outras da mesma espeacutecie mas uma articulaccedilatildeo secundaacuteria que envolve arredondamento dos laacutebios na hora de ser proferida pelo falante

A metaacutefora a hipeacuterbole e a metoniacutemia datildeo origem a numerosas expressotildees idiomaacuteticas semanticamente anocircmalas como comer com os olhos (olhar com cobiccedila admirar demonstrando forte desejo) comer como pinto e cagar como pato ou dar o passo maior que a perna (ganhar pouco e gastar muito) comer como um lobo (comer aacutevida e exageradamente) afogar-se em pouca aacutegua (complicar-se ou preocupar-se com pequenos problemas ou com as

41 Reconhecemos que haacute inuacutemeras expressotildees com palavras que natildeo existem independemente e satildeo empregadas Por exemplo ao leacuteu ou a esmo (agrave toa) ou sem eira nem beira (na miseacuteria) Assim o fato de a expressatildeo desparecer porque seus componentes natildeo satildeo usados natildeo nos parece um fato Na verdade quando a expressatildeo desaparece o alcance eacute pleno isto eacute como grupo fraseoloacutegico Afinal a expressatildeo fixa eacute uma unidade 42 A linguista Gurillo (2001) recorre a esta expressatildeo para se referir ao homoacutefono literal de uma expressatildeo idiomaacutetica

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miacutenimas coisas sem nenhuma importacircncia abrir o coraccedilatildeo (expandir os seus sentimentos desabafar) e cortar o coraccedilatildeo (ser extremamente doloroso)

Tendo em conta que a oposiccedilatildeo entre expressotildees idiomaacuteticas em L1 e em L2 ou em L3 ocorre com frequecircncia nas liacutenguas modernas como nos aponta Belinchoacuten (1999 p359-73) diriacuteamos que a Fraseologia do Portuguecircs eacute uma das mais ricas das liacutenguas europeias por estar repleta de expressotildees que contecircm componentes leacutexicos cujo sentido resulta completamente desconhecido por muitos falantes especialmente crianccedilas e adolescentes embora em geral saibam o sentido global da expressatildeo quando esta eacute de uso frequente ou corriqueiro ou ainda quando contextualizada na fala cotidiana

Eis algumas expressotildees que ilustram melhor nossa assertiva acima estar com o peacute no estribo (estar de partida) estar na berlinda (ser alvo de comentaacuterios) fazer de um argueiro um cavaleiro (exagerar demais) fazer figas (amaldiccediloar esconjurar algueacutem ou algo) fazer mea-culpa (arrepender-se) fazer ouvidos de mercador (fingir que natildeo ouve) fazer peacute de alferes a (namorar cortejar) fazer uma fezinha (arriscar a sorte num jogo de azar) fazer uma vaquinha (dividir igualmente entre vaacuterias pessoas uma despesa qualquer) dar em aacuteguas de bacalhau (natildeo se concretizar frustrar-se)

Como pudemos facilmente mostrar componentes leacutexicos das expressotildees idiomaacuteticas arroladas acima como estribo berlinda argueiro figas mea-culpa mercador peacute de alferes fezinha vaquinha e aacuteguas de bacalhau podem ser altamente infrequentes para nativos ou natildeo nativos do PB

Assim como a polilexicalidade eacute uma propriedade emparelhada com a fixaccedilatildeo esta por seu turno eacute ligada agrave idiomaticidade

Para a renovaccedilatildeo do repertoacuterio do leacutexico de uma liacutengua eacute necessaacuterio que as expressotildees natildeo idiomaacuteticas se convertam em idiomaacuteticas isto eacute globalizem-se (polilexicalidade) e estabilizem-se (fixaccedilatildeo) A todo momento satildeo criadas novas palavras e expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo os dicionaacuterios gerais tendem a marcar passo frente agrave atualizaccedilatildeo das entradas e subentradas de seus verbetes

A idiomaticidade para alguns autores eacute determinada a partir da noccedilatildeo de interlinguiacutestica e intralinguiacutestica Eacute idiomaacutetica uma expressatildeo que ao ser traduzida para a liacutengua-alvo pelo menos um de seus

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elementos recebe um equivalente especial que aparece somente nessa expressatildeo Segundo Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p 25) a idiomaticidade entendida como especificidade diz respeito a uma liacutengua que se converte em um argumento favoraacutevel agrave relatividade Linguiacutestica 43

Gonzaacutelez-Rey (2010 p 179) defende a ideia que a idiomaticidade (ou opacidade) resultaria de uma percepccedilatildeo relativa dos usuaacuterios que satildeo os que opinam se uma expressatildeo eacute opaca ou natildeo A opacidade dependeria do grau de transparecircncia com a que se expressa uma ideia mas o que verdadeiramente determina a compreensatildeo do sentido idiomaacutetico satildeo segundo ela os conhecimentos preacutevios e os procedimentos cognitivos dos usuaacuterios Segundo a linguista a opacidade vem de uma falha da mente [dos usuaacuterios da liacutengua] ao reconhecer sua incapacidade de desmaranhar sentido 44 (idem)

Na tradiccedilatildeo Linguiacutestica o conceito de idiomaticidade tem ao menos duas concepccedilotildees por um lado uma concepccedilatildeo lato sensu (sentido amplo) daquilo que na liacutengua eacute proacuteprio particular peculiar ao sistema linguiacutestico daiacute os termos concorrentes idiotismo ou idiomatismo e por outro a concepccedilatildeo stricto sensu (sentido restrito) decorrente da noccedilatildeo fraseoloacutegica do princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ou da opacidade semacircntica (BEVILACQUA 20042005 p77)

No Brasil o termo idiomaacutetico ou idiomaticidade durante muito tempo referiu-se a uma particularidade ou a especificidade cultural nacional a que na deacutecada de 40 do seacuteculo passado evidenciou-se com a publicaccedilatildeo de obras como Tesouro da Fraseologia Brasileira (1966) 45 do filoacutelogo Antenor Nascentes e quase trecircs deacutecadas depois com a publicaccedilatildeo de Locuccedilotildees tradicionais no Brasil de Luiacutes da Cacircmara Cascudo (2004)46 Estes autores recolheram uma a uma expressotildees e ditos populares geralmente ouvidas por eles de homens simples familiares descartando as mais populares em Portugal e tendo a

43 Este termo nos remete agrave ideia de que uma determinada liacutengua eacute o reflexo da civilizaccedilatildeo e da cultura da comunidade onde ela eacute falada isto eacute a estrutura global de cada liacutengua influi diferencialmente sobre o pensamento do falante sobre sua concepccedilatildeo da realidade e seu comportamento frente a ela como apontam Rossi-Landi (1974 p30-36) e Neveu (2008 p260) 44 La opacidad procede de un fracaso de la mente al reconocer su incapacidad de desetrantildear el sentido 45 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1945 46 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute data de 1970

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preocupaccedilatildeo de buscar as suas origens ou motivaccedilotildees linguiacutesticas (CASCUDO 2004 p24)

A idiomaticidade portanto nas duas obras acima confundia-se como assinalamos anteriormente com a noccedilatildeo de idiomatismo ou idiotismo47 isto eacute traccedilo ou construccedilatildeo peculiar a uma determinada liacutengua que natildeo se encontra na maioria dos outros idiomas (na verdade mais presunccedilatildeo do que fato linguiacutestico) como ocorre em nossa liacutengua com o infinitivo pessoal ou flexionado do portuguecircs que recebe desinecircncias nuacutemero-pessoais como por exemplo na frase Se noacutes pusermos matildeos agrave obra agora terminaremos o trabalho a tempo em que flexionamos o verbo de uma expressatildeo idiomaacutetica pocircr matildeos agrave obra (comeccedilar a executar alguma coisa)

As expressotildees idiomaacuteticas no tesouro fraseoloacutegico podiam ser entendidas como elementos da tradiccedilatildeo oral de uma cultura no caso a brasileira ou em outras palavras locuccedilotildees proacuteprias de uma liacutengua cuja traduccedilatildeo literal natildeo faz sentido numa outra liacutengua de estrutura anaacuteloga por ter um sentido natildeo dedutiacutevel da simples combinaccedilatildeo dos sentidos dos elementos que a constituem

No Brasil uma das primeiras gramaacuteticas a tratar dos idiotismos foi a Gramaacutetica Expositiva curso superior publicada em 1907 pelo mineiro Eduardo Carlos Pereira e que no ano 1957 jaacute registrava sua 102ordf ediccedilatildeo o que vem comprovar sua grande aceitaccedilatildeo pelos brasileiros

Pereira (1957) definia na eacutepoca idiotismo como termo ou diccedilatildeo de uma liacutengua que natildeo tem correspondente em outra liacutengua ou ainda frases peculiares que se apartam das normas da sintaxe sendo poreacutem consagradas pelo uso de pessoas cultas (p258) Consideradas como verdadeiras belezas da liacutengua os idiotismos segundo Pereira ([1907] 1957) podiam ser divididos em duas vertentes (a) idiotismos leacutexicos e (b) idiotismos fraseoloacutegicos

Conforme nos descreve Pereira (1957) havia quatro casos de ocorrecircncias de idiotismos leacutexicos

(a) infinitivo pessoal ou flexionado forma nominal do verbo que por referir-se a um sujeito ao contraacuterio do infinitivo impessoal flexiona-se em nuacutemero e pessoa como na frase O juiz faz saber a todos quantos deste edital tomarem conhecimento e Jaacute jaacute ajustaremos contas vocecirc e eu

47 Houaiss e Villar (1999) datam o termo idiotismo de 1713 enquanto o termo idiomatismo surgiu no seacuteculo XX

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(b) a mudanccedila do sentido de certas palavras ou expressotildees pela mudanccedila do gecircnero nuacutemero e ainda da posiccedilatildeo de seus componentes no caso das expressotildees como em a cabeccedila (uma das grandes divisotildees do corpo humano) e o cabeccedila (figura preeminente em qualquer associaccedilatildeo ou grupo de seres humanos ou de animais liacuteder) a liacutengua (oacutergatildeo muscular situado na boca e na faringe) e o liacutengua (inteacuterprete tradutor) o zelo (grande cuidado e preocupaccedilatildeo que se dedica a algueacutem ou algo) e os zelos (ciuacuteme) a honra (princiacutepio que leva algueacutem a ter uma conduta virtuosa) e as honras (manifestaccedilotildees que denotam respeito consideraccedilatildeo por algueacutem que se distinguiu por sua conduta ou tiacutetulo ou cargo honoriacutefico) homem grande (crescido desenvolvido taludo) e grande homem (magnacircnimo bondoso generoso) homem simples (modesto humilde pobre) e simples homem (o mais baixo de uma escala ou hierarquia48

(c) o verbo haver empregado no singular com ausecircncia de sujeito expliacutecito ou determinado que expressa situaccedilotildees ou processos que natildeo satildeo atribuiacuteveis a nenhum ser como por exemplo Haacute certo tipo de meninos que apreciam fazer cenas e Em toda parte haacute pessoas que natildeo veem um palmo adiante do nariz

(d) a palavra saudade 49 que natildeo pode idiossincraticamente ser traduzida em outras liacutenguas por natildeo ter equivalecircncia daiacute a locuccedilatildeo genuinamente brasileira deixar na saudade com sentido idiomaacutetico de levar vantagem sobre superar sobrepujar e morrer de saudade (Sentir muita saudade)

Os idiotismos leacutexicos satildeo considerados por Pereira (1957) como idiotismos convencionais pois satildeo observadas construccedilotildees anaacutelogas em outras liacutenguas especialmente neolatinas como Espanhol e o Italiano50

Os idiotismos fraseoloacutegicos aparecem em construccedilotildees do tipo minha nossa Nossa Senhora Minha Nossa Senhora Nossa Matildee Santo Deus Virgem Maria cruz-credo triste de mim pobre do homem que constituem frases idiomaacuteticas expressivas e refrataacuterias agrave anaacutelise

Entre os idiotismos fraseoloacutegicos Pereira (1957) cita o caso dos anacolutos Mais explorada no campo da estiliacutestica ou literaacuterio a

48 Do ponto de vista da Semacircntica isso soacute reflete a polissemia caracteriacutestica de praticamente todos os itens leacutexicos 49 Interessante observar a etimologia da palavra saudade vem do latim solitate lsquosoledadersquo lsquosolidatildeorsquo pela forma arcaica soydade suydade possivelmente com influecircncia da palavra sauacutede 50 Trata-se na verdade de uma indicaccedilatildeo diacrocircnica Em Latim provavelmente havia expressatildeo idiomaacutetica Poderiacuteamos falar entatildeo em hipoacutetese filoloacutegica de reconstruccedilatildeo

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anacolutia ou frase quebrada com acepccedilatildeo fraseoloacutegica ocorre em proveacuterbio do tipo quem ama o feio bonito lhe parece (aquele que gosta muito de algueacutem ou de algo nunca lhe vecirc defeito algum)

O termo idiomaacutetico tambeacutem estava presente nas gramaacuteticas normativas para assinalar todos os fenocircmenos anocircmalos frente agraves regularidades que eram objeto real da gramaacutetica dentre os quais as expressotildees idiomaacuteticas constituiacuteam somente uma parte

O conceito de idiomaacutetico aproxima-se muito nesse contexto gramatical da noccedilatildeo de anomalia isto eacute caraacuteter de expressotildees ou construccedilotildees natildeo seguirem as regras ou paradigmas de uma liacutengua e terem caraacuteter imprevisiacutevel e irregular comparadas agraves combinaccedilotildees livres Numa segunda concepccedilatildeo a perspectiva mais estreita ou restrita do termo idiomaticidade eacute considerada como categoria pertencente agrave semacircntica composicional (ou natildeo composicional) e muito particularmente agrave forma de significar das unidades fraseoloacutegicas

Uma definiccedilatildeo que se ajusta a esta noccedilatildeo de idiomaticidade eacute a definida por Montoro del Arco (2006) que a delimita como a propriedade que apresentam certas unidades fraseoloacutegicas para o qual o sentido global da unidade natildeo eacute dedutiacutevel do sentido isolado de cada um dos elementos constitutivos (2006 p45) 51

O fenocircmeno da idiomaticidade eacute tambeacutem chamado de natildeo composicionalidade do sentido frente agrave composicionalidade do sentido dos sintagmas proacuteprios da sintaxe livre Eacute considerada por Montoro del Toro o mais alto grau de que se conhece como especializccedilaccedilatildeo semacircntica ou lexicalizaccedilatildeo em unidades fraseoloacutegicas Por exemplo na expressatildeo querer tapar o sol com peneira (ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveis) ou tirar o cavalo (ou o cavalinho) da chuva (desistir de um propoacutesito qualquer por sua absoluta impossibilidade de sucesso) por forccedila de sua idiomaticidade natildeo satildeo transparentes nem se adivinham seu sentido idiomaacutetico a partir de seus elementos componentes principalmente se os usuaacuterios natildeo satildeo nativos da liacutengua portuguesa

Na segunda concepccedilatildeo idiomaticidade eacute identificada com o sentido traslatiacutecio produto de processos metafoacutericos ou metoniacutemicos Desde esse ponto de vista unidades como tirar leite de pedra (conseguir aquilo que todos tecircm por impossiacutevel) morder a

51 Original la propiedad que presentan ciertas unidades fraseoloacutegicas por la cual el sentido global de dicha unidad no es deducible del sentido aislado de cada uno de los elementos constitutivos

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liacutengua (deixar de falar algo) ou dar murro em ponta de faca52 (pretender o impossiacutevel) seriam mais idiomaacuteticas por seu alto grau de opacidade semacircntica

Para outros pesquisadores a idiomaticidade eacute inversamente proporcional agrave motivaccedilatildeo ou restituiccedilatildeo diacrocircnica53 isto eacute sempre que podemos recuperar a origem de um sentido traslatiacutecio ou metafoacuterico a partir do sentido literal estaremos ante unidades menos idiomaacuteticas que nos casos em que este sentido eacute totalmente opaco e natildeo haacute rastro ou pegadas da referida motivaccedilatildeo Estabelece-se que este traccedilo idiomaacutetico resultaria de um processo pelo qual o sentido uacuteltimo ou final difere do original ou literal e se concebe em consequecircncia como proacuteprio do conjunto global dos componentes

Do ponto de vista da Linguiacutestica Cognitiva as pesquisas tecircm dado atenccedilatildeo natildeo ao resultado final isto eacute o sentido idiomaacutetico das expressotildees mas ao caraacuteter processual da idiomaticidade e tecircm assinalado nos seus achados que o sentido das UFs eacute composicional isto eacute consiste na soma dos sentidos parciais dos elementos componentes visatildeo que contrasta com a de Montoro del Arco (2006) como vimos anteriormente

Em Liacutengua Portuguesa expressotildees idiomaacuteticas do tipo jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) ou meter o peacute no mundo (fugir) aos olhos cognitivistas como Cuenca e Hilferty (1999) satildeo consideradas sintagmas com estrutura interna mais analisaacuteveis por que estes desempenhariam um papel importante em sua interpretaccedilatildeo e que esta possibilidade de estabelecer uma cadeia de inferecircncias sugere que a interpretaccedilatildeo natildeo eacute arbitraacuteria (CUENCA HILFERTY 1999 p117)54 Em substacircncia o que defendem os cognitivistas eacute que as expressotildees idiomaacuteticas em sua maioria satildeo bastante composicionais em particular na recepccedilatildeo uma vez que eacute preciso que faccedilam sentido (GRICE 1982) para os usuaacuterios da liacutengua mas na produccedilatildeo precisariam saber da convenccedilatildeo

Para os linguistas cognitivistas a fixaccedilatildeo dos sintagmas eacute uma questatildeo de grau e natildeo se pode confundir a sua literalidade com a natildeo

52 Tambeacutem dita dar murro em faca de ponta com uso mais regional no Brasil 53 Motivaccedilatildeo eacute entendida aqui como a presenccedila de qualquer conexatildeo necessaacuteria entre a forma (fixaccedilatildeo formal) da expressatildeo e seu sentido idiomaacutetico 54 No original esta posibilidad de estabelecer una cadena de inferencias sugiere que la interpretacioacuten no es arbitraria

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composicionalidade semacircntica O que afirmam eacute que o sentido idiomaacutetico das expressotildees leva em conta que os constituintes do sintagma seguem mantendo parte do sentido originaacuterio podemos compreender a importacircncia das partes constituintes de uma frase idiomaacutetica uma vez que satildeo elas que fornecem as pistas necessaacuterias para desvendar a interpretaccedilatildeo global da expressatildeo em questatildeo55 (CUENCA HILFERTY 1999 p118)

Sabemos que este fenocircmeno ocorre algumas vezes outras natildeo Em brigar feito catildeo e gato podemos imaginar o sentido originaacuterio mas em expressotildees como meter o bedelho (intrometer-se em assunto alheio) pintar o sete (realizar obras ou atos proacuteprios do diabo como travessuras desatinos desregramentos) tirar o cavalinho da chuva (desistir de ideia projeto ou pretensatildeo por natildeo haver hipoacutetese de ecircxito) e trepar ou pisar nas tamancas (zangar-se) observamos que natildeo eacute conservado o sentido originaacuterio

Discordando brevemente com a posiccedilatildeo dos cognitivistas cremos que quando estamos diante de expressotildees idiomaacuteticas efetivamente opacas mesmo que haja reconhecimento dos lexemas que formam a expressatildeo acessar o sentido idiomaacutetico natildeo eacute tarefa que resolve com a linguagem literal

Para defenderem suas postulaccedilotildees os linguistas cognitivos datildeo como exemplos expressotildees idiomaacuteticas do tipo ficar com as matildeos atadas (ficar impedido de agir ou de reagir) Segundo eles satildeo a rigor fraseologismos com homocircnimos livres isto eacute aqueles que estatildeo construiacutedos de acordo com os modelos sintaacuteticos e respondem agraves regras gramaticais e de combinabilidade de uma liacutengua dada Sabemos que muitas expressotildees idiomaacuteticas fogem ateacute mesmo dos paradigmas sintaacuteticos como por exemplo aiacute eacute que a porca torce o rabo aiacute eacute que vamos ver e aiacute eacute que estaacute o busiacutelis construccedilotildees consideradas por noacutes como casos de anomalia fraseoloacutegica

55 No original podemos comprender la importancia de las partes constituyentes de na frase idiomaacutetica pusto que son eacutestas las que proporcionan las pistas necesarias para desentrantildear la interpretacioacuten global de la expresioacuten en cuestioacutenrdquo Uma posiccedilatildeo criacutetica agrave autora diriacuteamos que alguns contituintes do sintagma mantecircm parte do sentido originaacuterio mas outros natildeo Em Liacutengua Portuguesa por exemplo as expressotildees sem eira nem beira misturar alhos com bugalhose tal e qual apoacuteiam-se na rima isto eacute tecircm apoio foneacutetico recorrente do segmento final das palavras (eirabeira alhosbulgalhos e talqual) do que por outros criteacuterios linguiacutesticos

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A propriedade da idiomaticidade ou o criteacuterio de natildeo composicionalidade semacircntica segundo outros estudiosos cognitivistas eacute importante porque ajuda a caracterizar muitas expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo as pesquisas nessa aacuterea tecircm investigado a relaccedilatildeo entre o literal-parcial e o metafoacuterico-global e a produtividade criativa dos distintos modelos de expressotildees idiomaacuteticas O traccedilo da idiomaticidade tanto englobaria as expressotildees idiomaacuteticas totalmente opacas como as que natildeo satildeo metafoacutericas estejam elas mais ou menos motivadas

Uma pergunta entatildeo adveacutem quando tratamos da noccedilatildeo de idiomaticidade expressotildees idiomaacuteticas de que forma estamos certos de que uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos eacute realmente opaca O mais provaacutevel eacute que a opacidade do sentido da expressatildeo decorreria da utilizaccedilatildeo de palavras que fazem referecircncia frequente a elementos histoacuterico-culturais ou a combinaccedilotildees baseadas no imaginativo (ou entatildeo como podemos supor um caso de rima) intuitivo expressivo nas quais as palavras passam a adquirir uma significaccedilatildeo simboacutelica e metafoacuterica No exemplo misturar alhos com bugalhos podemos observar que o sentido idiomaacutetico da expressatildeo natildeo poderia ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que a compotildee como propotildee Mogorroacuten Huerta (2010 p240)

Os estudos fraseoloacutegicos tecircm postulado que a exemplo da fixaccedilatildeo a idomaticidade eacute um fenocircmeno gradual Nesse caso eacute um desafio para os estudiosos assinalarem claramente os limites e as fronteiras entre o que pode ser efetivamente considerado idiomaacutetico ou opaco e o semi-idiomaacutetico ou transparente ou ainda semitransparente uma vez que essa classificaccedilatildeo dependeria em grande parte natildeo da estrutura dos sintagmas mas dos conhecimentos linguiacutesticos ou enciclopeacutedicos dos usuaacuterios ou falantes da liacutengua (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p243)

Frente a todo esse arrazoado sobre idiomaticidade segundo diversos estudiosos optamos por adotar para nosso estudo o conceito de idiomaticidade de Mogorroacuten Huerta (2010 p 240) isto eacute o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo pode ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que as compotildeem

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Ateacute aqui procuramos mostrar que a polilexicalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade satildeo propriedades linguiacutesticas (ou endoacutegenas) das expressotildees idiomaacuteticas e nos parecem explicar relativamente o fenocircmeno da convencionalidade uma propriedade efetivamente diferente das demais por ser extralinguiacutestica (exoacutegena) isto eacute derivada de fatores externos que tecircm a ver com o falante e a sociedade

Na antiguidade claacutessica em Craacutetilo (2001) - diaacutelogo escrito aproximadamente no ano 360 aC - Platatildeo ao tratar de questotildees etimoloacutegicas e linguiacutesticas jaacute nos eacute expressa a ontoloacutegica oposiccedilatildeo conceitual entre convencionalismo e o naturalismo onde Heacutermogenes travando diaacutelogo sobre a questatildeo da conformidade da linguagem e do real com Craacutetilo sustenta que somente o uso o costume portanto a convenccedilatildeo atribuem uma denominaccedilatildeo agraves coisas e por conseguinte determinam a adequaccedilatildeo das palavras agrave realidade extralinguiacutestica

Em Craacutetilo (2001) importante assinalar que Hermoacutegenes pede a Soacutecrates que intervenha na discussatildeo que manteacutem com Craacutetilo sobre se o sentido das palavras vem dado de forma natural (naturalismo conforme postulaccedilatildeo de Craacutetilo) ou se pelo contraacuterio eacute arbitraacuteria e depende do haacutebito dos falantes (convencionalismo como propotildee Hermoacutegenes)

Da discussatildeo sobre o convencionalismo e o naturalismo chegamos agrave modernidade certos de que as palavras e as expressotildees de uma liacutengua satildeo fixadas pelas convenccedilotildees e pelos acordos humanos Nessa perspectiva qualquer linguagem parte de determinados pressupostos de natureza convencional (WITTGENSTEIN 2003) o que natildeo significa todavia a perfeita arbitrariedade das convenccedilotildees linguiacutesticasrdquo (ABBAGNANO 2007 p241)

No campo da linguagem eacute possiacutevel que exista outro tipo de relaccedilatildeo de significaccedilatildeo dita natural como entre fogo e fumaccedila que estaacute presente na construccedilatildeo fraseoloacutegica onde haacute fumaccedila haacute fogo (onde haacute sinais de alguma coisa fatalmente haveraacute uma razatildeo para que eles existam)

Como vemos a questatildeo das convenccedilotildees linguiacutesticas ou mais propriamente o convencionalismo bem antes da Fraseologia jaacute era pois discutida pela Filosofia da Linguagem Loacutegica e Semacircntica

No iniacutecio do seacuteculo XX a Linguiacutestica Moderna atraveacutes do seu principal porta-voz Ferdinand de Saussure defendeu por forccedila dos

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postulados do convencionalismo filosoacutefico a independecircncia do significante em relaccedilatildeo ao sentido e o princiacutepio da arbitrariedade do signo linguiacutestico Por essa razatildeo podemos dizer que a Linguiacutestica a saussuriana eacute essencialmente convencionalista e inspirativamente platonista

Herdeiros que somos da linguiacutestica convencionalista de Saussure hoje quando dizemos que o sentido das palavras ou das expressotildees particularmente as idiomaacuteticas eacute convencional isso quer dizer que certos sons e expressotildees significam o que realmente querem dizer convencionalmente e natildeo necessariamente o que dizem as palavras que as compotildeem ipsis litteris

Saussure (2012 p108) afirmava em seu Curso de Linguiacutestica Geral que todo meio de expressatildeo aceito numa sociedade repousa em princiacutepio no haacutebito coletivo ou o que vem a dar na mesma na convenccedilatildeo citando por exemplo as foacutermulas de cortesia

Ao tratar mais adiante das frases feitas combinaccedilotildees ou sintagmas mais complexos Saussure veio a afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas (2012 p173)

Em substacircncia no acircmbito dos estudos da Linguiacutestica Moderna o conceito de convenccedilatildeo caracteriza uma relaccedilatildeo de significaccedilatildeo que resulta de uma regra em uso em uma comunidade Assim por exemplo a relaccedilatildeo entre um nome proacuteprio e o indiviacuteduo visado por este designador riacutegido ou fixo ocorre por forccedila de convenccedilatildeo

Muitas expressotildees idiomaacuteticas nos datildeo a conhecer essa condiccedilatildeo de convencionalismo linguiacutestico quando trazem entre seus componentes lexicais nomes proacuteprios como em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (ou de Miguel) (Disfarccedilar-se) ganhar o que Luzia (ou Maria) ganhou nas capoeiras (ou na horta) (ser passado para traacutes) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) cozinhar em banho-maria (adiar indefinidamente a soluccedilatildeo de um assunto) e estar como Pilatos no credo (eximir-se de qualquer responsabilidade ou interferecircncia numa questatildeo)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas Nunberg Sag e Wason (1994) apontaram a convencionalidade como um traccedilo obrigatoacuterio das expressotildees idiomaacuteticas reafirmando o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica isto eacute o sentido ou ou uso de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo resulta previsiacutevel com base nos sentidos

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parciais dos elementos constituintes que a formam Aleacutem da propriedade da convencionalidade estes autores tambeacutem assinalaram outras propriedades tiacutepicas das expressotildees idiomaacuteticas a ou fixaccedilatildeo (ou a invariabilidade) a metaforicidade proverbalidade a informalidade56 e afetividade

Estas propriedades tiacutepicas seriam relativamente acidentais com relaccedilatildeo agrave convencionalidade posto que a memoacuteria fraseoloacutegica presente em L1 ou L2 ao ser evocada pelos falantes traz agrave tona no discurso como estatildeo construiacutedas ou fixadas na liacutengua isto eacute na mente do falante e por conseguinte constituindo como nos assinala Croft e Cruse (2008 p298) uma parte do conhecimento gramatical do mesmo

Para ilustrarmos estas propriedades tiacutepicas daremos exemplos de cada uma delas observando de que forma se convencionam no acircmbito fraseoloacutegico

Um primeiro exemplo de fixaccedilatildeo (ou invariabilidade) pode ser dado na expressatildeo fazer das tripas coraccedilatildeo com o sentido de esforccedilar-se de modo sobre-humano que apresenta sintaxe restringida natildeo podendo ocorrer alteraccedilatildeo na sua combinatoacuteria como fazer coraccedilatildeo das tripas sem que afete seu sentido idiomaacutetico

Outra possibilidade num caso de modificaccedilatildeo de combinatoacuteria ao certo poderaacute resultar em forccedilar o ouvinte ou interlocutor em uma conversa a interpretaacute-la literalmente para viabilizar uma interpretaccedilatildeo possiacutevel Um exemplo de metaforicidade podemos observar na expressatildeo colocar o carro na frente dos bois com sentido de andar (algo) ao contraacuterio agraves avessas ou adiantar-se precipitadamenterdquo

Contraacuterio agrave ideia de uma convencionalidade (arbitrariedade) em termos saussurianos compreendemos que haacute uma tendecircncia agrave motivaccedilatildeo com relaccedilatildeo a estas expressotildees (pelo menos na origem do uso) Sendo esta motivaccedilatildeo de natureza corpoacuterea eou sociocultural tal hipoacutetese seraacute defendida pelos linguistas cognitivistas

Por essa razatildeo durante muito tempo a questatildeo da convencionalidade esteve relacionada ao ensino de liacutenguas estrangeiras As expressotildees maiores do que as palavras sempre foram

56 Somos de opiniatildeo de que a informalidade natildeo pode ser considerada um traccedilo tiacutepico das expressotildees idiomaacuteticas Como todo item leacutexico existem algumas mais coloquiais outras menos

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um desafio para o ensino sistemaacutetico ou expliacutecito para estrangeiros bem como um fator de obstaacuteculo para o aprendizado dos alunos

Segundo Tagnin (2005) tomando como referecircncia a liacutengua inglesa existe um continuum de unidades linguiacutesticas convencionais pertencentes ao leacutexico de dada liacutengua ainda que o aprendiz de uma liacutengua estrangeira conhecesse toda a gramaacutetica e soubesse todo o dicionaacuterio de cor natildeo teria pleno domiacutenio linguiacutestico (p11)

Eacute provaacutevel conforme Tagnin (2005) que as dificuldades relacionadas com o aprendizado das expressotildees idiomaacuteticas em L1 ou L2 tenham a ver com o fato de serem apreendidas individualmente uma a uma uma vez que natildeo existem regras que as gerem (p11) Ressalta a linguista que todas essas unidades satildeo aprendidas como um todo isto eacute em bloco (p14) A convencionalidade eacute pois o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada liacutengua ou comunidade linguiacutestica Conforme a linguista no momento em que a convenccedilatildeo passa para o niacutevel do sentido podemos falar em idiomaticidade

Recorre Tagnin (2005) entatildeo ao princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ao definir uma expressatildeo idiomaacutetica como toda expressatildeo que natildeo corresponde agrave somataacuteria do sentido parcial de cada um de seus elementos como em ter o olho maior que a barriga que natildeo significa possuir o oacutergatildeo da visatildeo superior agrave proeminecircncia externa do abdocircmen mas quer dizer ser guloso ou desejar possuir imoderadamente

Distanciando-se pois da noccedilatildeo de vernaculidade natural e proacuteprio de uma liacutengua o sentido atribuiacutedo por Tagnin (2005) agrave noccedilatildeo do que eacute idiomaacutetico eacute o de natildeo transparente ou opaco e claro existem os casos em que as expressotildees satildeo tipicamente transparentes como ancorar o barco (fixar-se ou parar) ou meter o pau (censurar ou surrar)

Tagnin (2005 p17-20) fala em niacuteveis de convencionalidade Existem segundo ela trecircs niacuteveis da convencionalidade que satildeo a saber (1) o niacutevel sintaacutetico (2) o niacutevel semacircntico e (3) o niacutevel pragmaacutetico Vamos comentar brevemente cada um deles

No niacutevel sintaacutetico estatildeo elementos como combinabilidade ordem e gramaticalidade A origem da propriedade da combinabilidade estaacute na proacutepria noccedilatildeo de combinaccedilatildeo isto eacute a relaccedilatildeo de uma unidade da liacutengua com outras unidades no plano do discurso

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A noccedilatildeo de combinabilidade nos remete tambeacutem agrave teoria estruturalista o chamado eixo sintagmaacutetico terminologia poacutes-saussuriana que se refere ao eixo das relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada isto eacute o eixo das combinaccedilotildees

A ordem por sua vez entendida como em qualquer dos niacuteveis de anaacutelise (fonoloacutegico morfoloacutegico ou sintaacutetico) sequenciamento determinado por regras das unidades que compotildeem a cadeia (da palavra locuccedilatildeo ou frase)

A gramaticalidade aleacutem da noccedilatildeo de correccedilatildeo de norma gramatical refere-se agrave caracteriacutestica de uma sentenccedila gramatical ou seja aquela que foi gerada pelas regras da gramaacutetica de uma liacutengua Nesse caso por regras de sintaxe em particular

O niacutevel semacircntico refere-se agrave relaccedilatildeo natildeo motivada entre uma expressatildeo e seu sentido Segundo Tagnin (2005) natildeo apenas o sentido de uma expressatildeo linguiacutestica eacute convencionado mas tambeacutem os esquemas imageacuteticos que o leacutexico nos proporciona decorreria dessa condiccedilatildeo por estarmos ecoloacutegica e socioculturalmente situados no mundo

Para a Linguiacutestica Cognitiva que privilegia esta perspectiva em seus estudos e pesquisas experimentais na interaccedilatildeo com o mundo o homem internaliza esquemas de imagem de natureza cinesteacutesica que formam a base de determinadas formas linguiacutesticas (MACEDO 2008 p31-32)

De acordo com Lakoff e Johnson (2002 p59) na cultura ocidental as chamadas metaacuteforas orientacionais datildeo a um conceito uma orientaccedilatildeo especial como por exemplo feliz eacute para cima o que levaria em Liacutengua Portuguesa a surgimento de expressotildees como levantar as matildeos ao (ou para o) ceacuteu com o sentido de dar-se por satisfeito com algum fato (que poderia ter sido muito pior) Quando for para baixo eacute mau como expressotildees do tipo baixar a bola com sentido de passar a ser mais humildade ou baixar a guarda que quer dizer acovardar-se e mais este olhar para o proacuteprio umbigo com o sentido de agir com egoiacutesmo

Contrastando da posiccedilatildeo de Lakoff e Johnson (2002) cremos que a noccedilatildeo de metaacuteforas conceituais soacute tem sentido no plano da diacronia isto eacute teriacuteamos que levar em conta que no passado tinham esta orientaccedilatildeo especial mas no presente na sincronia satildeo

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expressotildees arbitraacuterias na sua maioria e quando motivadas estariacuteamos falando simplesmente em origem da expressatildeo idiomaacutetica

Na Fraseologia da Liacutengua Portuguesa existem muitas expressotildees idiomaacuteticas que nos parecem indicar que essas orientaccedilotildees espaciais surgem do fato de termos os corpos que temos e do fato de eles funcionarem da maneira como funcionam no nosso ambiente fiacutesico (LAKOFF JOHNSON 2002 p59)

Assim temos em Portuguecircs expressotildees fixas do tipo ir de (ou por) aacutegua abaixo com sentido de fracassar andar por baixordquo com o sentido de estar em situaccedilatildeo difiacutecil normal ou financeira entre outras como estar de luz baixa e estar de baixo-astral com a ideia de sentir-se deprimido na fossaPara Lakoff e Johnson (2002) as orientaccedilotildees metafoacutericas que mencionamos antes natildeo satildeo arbitraacuterias e sim tecircm uma base na nossa experiecircncia fiacutesica e cultural (p 60)

No niacutevel pragmaacutetico a noccedilatildeo de convencionalidade eacute associada agrave noccedilatildeo de convenccedilatildeo social bem como agrave expressatildeo convencional ou forma convencional Este niacutevel envolveria pois o uso das expressotildees idiomaacuteticas em situaccedilotildees de interaccedilotildees entre falantes A situaccedilatildeo eacute um aspecto passiacutevel de convenccedilatildeo porque requer um certo comportamento social e o emprego adequado das palavras e expressotildees complexas Relacionam-se mais a situaccedilotildees especiacuteficas como com licenccedila meus pecircsames etc

Nesse sentido referindo-se a falecimento de pessoas podemos recorrer a diversas expressotildees idiomaacuteticas brasileirismos popularismos e giacuterias umas mais frequentes do que outras mas disponiacuteveis no leacutexico portuguecircs tais como abotoar o paletoacute bater a(s) bota(s) bater a caccediloleta bater a canastra bater a pacuera dar o uacuteltimo alento dizer adeus ao mundo entregar a alma a Deus entregar a alma ao Diabo esticar a canela esticar o cambito esticarir para a Cacuia ir para a cidade dos peacutes juntos ir(-se) desta para melhor entre outras tantas

Nesse caso de fraseologismos fuacutenebres podemos dizer tambeacutem que estas expressotildees acima se constituem verdadeiros eufemismos de que os falantes lanccedilam matildeo para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra expressatildeo idiomaacutetica em geral de sentido grosseiro inconveniente ou desagradaacutevel

Neste livro decidimos por considerar convencionalidade como o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada

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liacutengua ou comunidade linguiacutestica como assinala Tagnin (2005 p14) tendo em vista seu caraacuteter sistemaacutetico e triparticcedilatildeo criteriosa nos niacuteveis sintaacutetico semacircntico pragmaacutetico suficientemente abrangente para atender ao corpus de expressotildees idiomaacuteticas que selecionamos para aplicaccedilatildeo dos experimentos aos nossos participantes da pesquisa

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CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS

Quanto mais altas as unidades de significaccedilatildeo a serem explicadas por uma teoria psicolinguiacutestica tanto mais complexas e inacessiacuteveis a uma formalizaccedilatildeo que corresponda a como satildeo representadas em nossa mente (SCLIAR-CABRAL

1991 p75) Depois de percorrer vaacuterios periacuteodos (preacute-histoacuteria formativo

linguiacutestico e cognitivo) no acircmbito dos estudos da linguagem o estado atual da Psicolinguiacutestica tem procurado aleacutem de dar atenccedilatildeo agrave realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) reivindicar poder explanatoacuterio sobre o processamento da linguagem que eacute uma questatildeo ligada ao funcionamento da mente humana (BALIEIRO 2001 p172-181)

Eacute no processamento cognitivo das unidades fraseoloacutegicas notadamente as expressotildees idiomaacuteticas que a Psicolinguiacutestica tem se aproximado da Fraseologia buscando estabelecer as relaccedilotildees entre a organizaccedilatildeo do sistema linguiacutestico e a organizaccedilatildeo do pensamento atraveacutes do recurso agraves unidades fraseoloacutegicas e agraves teorias fraseoloacutegicas vigentes que em uacuteltima anaacutelise podem ser divididas em teorias leacutexicas e composicionais ambas baseadas nos princiacutepio da composicionalidade semacircntica de Frege ([1892] 1971)

Na tentativa de aproximaccedilatildeo da Psicolinguiacutestica da Fraseologia comecemos por explorar o termo psicolinguiacutestica formado pelos seguintes elementos psic(o)- + linguiacutestica O elemento antepositivo psico - vem do grego ψυχο este derivado do grego psukhecirc que significa sopro donde sopro de vida daiacute alma como princiacutepio de vida Aleacutem desta acepccedilatildeo psico- tambeacutem indica espiacuterito princiacutepio pensante ou atividade mental A psicolinguiacutestica por forccedila de sua etimologia eacute a ciecircncia ou parte da ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo entre a liacutengua e as caracteriacutesticas cognitivas ou comportamentais daqueles que a usam

Assim uma fraseologia que se ocupa preponderantemente das expressotildees idiomaacuteticas de alguma forma disponibiliza uma mateacuteria-prima para a Psicolinguiacutestica a saber as unidades fraseoloacutegicas com seus traccedilos culturais comportamentais e idiossincraacutesicas dos usuaacuterios

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ou falantes nativos da liacutengua daiacute o aprendizado das referidas expressotildees serem um desafio para estudantes natildeo nativos ou falantes de L2 o que nos leva a reconhecer que competecircncia fraseoloacutegica de um falante depende em grande parte do conhecimento da cultura em que o sistema de liacutengua destinado a ser adquirido estaacute imerso1 (CASTILLO CARBALLO 2003 p 209)

Este capiacutetulo trataraacute sobre as principais teorias psicolinguiacutesticas do processamento fraseoloacutegico aplicadas agrave liacutengua materna (L1) Mostraremos inicialmente como os primeiros estudos linguiacutesticos especialmente os estruturalistas envolvendo a fraseologia serviram de base para psicolinguiacutestica experimental nos nossos dias Depois sob a perspectiva da psicolinguiacutestica experimental aplicada agrave fraseologia iremos destacar dois marcos de estudos e pesquisas nesta aacuterea relacionados agraves teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico e agraves teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico

Dada a complexidade dos modelos de processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas sobre as teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico destacaremos as principais hipoacuteteses psicolinguiacutesticas como (a) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo (ldquoIdiom-list hypothesisrdquo em inglecircs) (b) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma representaccedilatildeo lexical (Lexical Representation Hypothesis en inglecircs) e (c) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto (ldquoDirect Access Hypothesisrdquo em inglecircs) Em seguida daremos uma visatildeo criacutetica das teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

Quando tratarmos sobre as teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico focalizaremos as seguintes (a) A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas e (b) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

Por fim trataremos em duas subseccedilotildees finais do capiacutetulo sobre estrateacutegias psicolinguiacutesticas e sua relaccedilatildeo com as expressotildees idiomaacuteticas e o papel da memoacuteria na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

1 No original la competencia fraseoloacutegica de un hablante depende en gran medida del conocimiento de la cultura en la que el sistema linguiacutestico que se pretende adquirir estaacute inmerso

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A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas A Psicolinguiacutestica a partir da segunda metade do seacuteculo XX

assumiu a missatildeo de pocircr em evidecircncia em suas pesquisas o problema da realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) e nesse contexto os primeiros experimentos psicolinguiacutesticos conforme nos informam Scliar-Cabral (1991) e Balieiro Jr (2001) apontaram que as referidas estruturas linguiacutesticas incluindo as complexas como as expressotildees idiomaacuteticas natildeo eram adquiridas pelos falantes de uma liacutengua separadamente de conceitos semacircnticos e funccedilotildees discursivas como ateacute entatildeo acreditavam os linguistas estruturalistas e psicoacutelogos behavioristas e sim eram submetidas aos princiacutepios cognitivos

Segundo Leitatildeo (2009 p 220) nas uacuteltimas deacutecadas o interesse central da psicolinguiacutestica pode ser resumido em trecircs questotildees baacutesicas a) Como as pessoas adquirem a linguagem b) Como as pessoas produzem a linguagem a verbal e c) Como as pessoas compreendem a linguagem verbal Em substacircncia a psicolinguiacutestica tem buscado respostas para grandes problemas relacionados com aquisiccedilatildeo o desenvolvimento e o processamento da linguagem inicialmente com pesquisas com os falantes nativos depois com crianccedilas e mais recentemente com pessoas que apresentam distuacuterbios de linguagem especialmente os de fala como as afasias (ELOINA SCHERER 2004 p 28)

Mais recentemente o conexionismo no acircmbito da Psicolinguiacutestica Experimental eacute um paradigma que vem ganhando terreno no Brasil em estudos sobre a inteligecircncia artificial aplicada agrave morfologia da liacutengua portuguesa nos quais tecircm sido realizadas simulaccedilotildees computacionais conexionistas da aquisiccedilatildeo do plural bem de um lado e do outro lado satildeo registrados inuacutemeros trabalhos acadecircmicos (dissertaccedilotildees e teses) nessa aacuterea que tratam das conexotildees entre o paradigma conexionista e aquisiccedilatildeo da linguagem como atesta Scliar-Cabral (2008)

A atenccedilatildeo das pesquisas psicolinguiacutesticas agraves unidades significativas da liacutengua maiores do que as palavras jaacute pode ser percebida pelos especialistas em fraseologia

Em artigo cientiacutefico que trata sobre as correntes atuais no campo fraseoloacutegico a linguista Gloacuteria Pastor (2001 p33-35) aponta que os

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psicolinguistas tecircm tido interesse em apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas procurando responder questotildees do tipo (a) Como os falantes de uma liacutengua armazenam as unidades fraseoloacutegicas (b) Como ocorre o processamento das expressotildees idiomaacuteticas e (c) Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo

Em nossa pesquisa apesar de consideraacute-las relevantes natildeo nos deteremos agraves questotildees de aquisiccedilatildeo e de produccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por falantes do portuguecircs como primeira liacutengua e sim voltar-nos-emos de forma mais demorada agrave compreensatildeo das referidas expressotildees por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)2

Privilegiamos a compreensatildeo por entendermos que ela ldquorealimenta o sistema de produccedilatildeo da linguagemrdquo (LEITAtildeO2009 p222)

A compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas mais recentemente recebeu atenccedilatildeo por parte do Quadro Europeu Comum de Referecircncia para as Liacutenguas (2001) dirigido aos que ensinam liacutenguas estrangeiras e que fazem parte da Comunidade Europeia Segundo este documento as expressotildees idiomaacuteticas desenvolvem a competecircncia comunicativas em trecircs dimensotildees a linguiacutestica a sociolinguiacutestica e a pragmaacutetica

Para uma atuaccedilatildeo eficaz do ponto de vista pedagoacutegico o Quadro Europeu aponta a necessidade de os alunos terem ldquoum bom domiacutenio de expressotildees idiomaacuteticas e de coloquialismos e a consciecircncia dos sentidos conotativosrdquo (p64-65) o que vem reforccedilar a necessidade de darmos em nossa pesquisa uma atenccedilatildeo especial agrave problemaacutetica da compreensatildeo dos fraseologismos com fins educacionais

Nos campos sociolinguiacutestico e pragmaacutetico o ensino sistemaacutetico da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas favorece ao certo o aprendizado das mesmas segundo os modelos pedagoacutegicos e psicolinguiacutesticos da fraseodidaacutetica (GONZAacuteLEZ-REY2004 2006 e 2007)

2 Eacute possiacutevel que no futuro outros estudos inter-relacionem a compreensatildeo (psicolinguiacutestica experimental) agraves questotildees que dizem respeito agrave aquisiccedilatildeo (psicolinguiacutestica desenvolvimentista) e agrave produccedilatildeo (psicolinguiacutestica experimental) de expressotildees idiomaacuteticas por nossos sujeitos natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro

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Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia Natildeo haacute como negar o legado dos estudos linguiacutesticos e de outras

ciecircncias humanas para melhor empreendimento nas pesquisas psicolinguiacutesticas Particularmente a linguiacutestica a lexicologia a neurolinguiacutestica a sociolinguiacutestica a linguiacutestica computacional a psicologia cognitiva e a linguiacutestica cognitiva tecircm contribuiacutedo para o que entendemos hoje por psicolinguiacutestica (STERNBERG2008 p 295)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure ([1916] 2012) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras consideraccedilotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo ( [1916] 2012 p173 grifos nossos) Disciacutepulo de Saussure o linguista Charles Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1909) esboccedilou explicitamente um princiacutepio psicoloacutegico para as expressotildees fixas ao dizer que satildeo mais bem retidas na memoacuteria as palavras que vatildeo juntas

Mais tarde as expressotildees fixas tambeacutem foram objeto de atenccedilatildeo de Coseriu (2007) que as chama de ldquocombinaccedilotildees feitas de signosrdquo ou ldquodiscurso repetidordquo (p201) Coseriu afirma que as expressotildees fixas resultam de ldquomera reproduccedilatildeo do jaacute ditordquo ouvido ou lido isto eacute quando um usuaacuterio recorre agrave unidade fraseoloacutegica nos seus atos de fala reproduziria algo que anteriormente jaacute havia dito As expressotildees fixas para Coseriu satildeo vivenciadas por ldquodeterminada comunidade linguiacutesticardquo e que ldquoseus membros as conhecemrdquo e ldquo as sabem de corrdquo (p202)

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No campo da linguiacutestica moderna as primeiras contribuiccedilotildees fraseoloacutegicas dos estruturalistas Saussure Bally e Coseriu e mais fortemente os lexicoacutelogos estilistas e fraseoacutelogos do seacuteculo XX sempre se intrigaram e se indagaram como se dava esta relaccedilatildeo entre sentido literal das sentenccedilas e o sentido da emissatildeo (idiomaacutetico) pretendido pelo falante

No caso das ldquofrases feitasrdquo ou ldquoidiomatismosrdquo como denominaram os estruturalistas e lexicoacutegrafos ateacute a primeira metade do seacuteculo XX especialmente os europeus a abordagem estruturalista eacute verdade natildeo nos deixou um ldquolegado teoacutericordquo sobre a problemaacutetica do sentido dos ldquoidiomatismosrdquo mas seus linguistas entenderam desde cedo que o sentido da emissatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica (dimensatildeo holiacutestica) eacute parcial ou totalmente diferente do sentido literal da expressatildeo emitida

Essas primeiras percepccedilotildees ou postulaccedilotildees dos estruturalistas satildeo de grande aplicaccedilatildeo teoacuterica ao nosso trabalho no sentido de podermos relativizar os conceitos de expressatildeo idiomaacutetica quanto agrave sua ldquodimensatildeo holiacutesticardquo ou melhor ao seu ldquosentido idiomaacuteticordquo Eacute possiacutevel cremos que existam expressotildees complexas e fixas na liacutengua que natildeo sejam idiomaacuteticas para outros falantes particularmente os natildeo nativos e que poderatildeo tomaacute-las no sentido mais literal Afinal a idiomaticidade natildeo estaacute apenas na estrutura das expressotildees complexas mas na mente ou na memoacuteria dos falantes Mas natildeo eacute uma tarefa faacutecil essa conduccedilatildeo teoacuterica ou sua aplicaccedilatildeo em experimentos que possam testar hipoacuteteses psicolinguiacutesticas

Reflexo certamente desse vieacutes estruturalista e melhor refinado pelos recentes estudos gerativistas temos estudos de descriccedilatildeo do portuguecircs isto eacute os da gramaacutetica descritiva em que colhemos uma das definiccedilotildees operatoacuterias de expressotildees idiomaacuteticas natildeo desprezadas em nosso trabalho como as vinda de Perini (2010) em que situa as expressotildees idiomaacuteticas no acircmbito das classes de palavras por entender que satildeo ldquosequecircncias fixas de palavras tomadas como unidades singulares que tecircm sentido proacuteprio que nem sempre eacute derivado dos sentidos das palavras componentesrdquo e em geral ldquonatildeo admitem substituiccedilatildeo de itens por sinocircnimosrdquo (p323)

Importante assinalar que esta noccedilatildeo estabelecida por Perini (2010) de que as expressotildees idiomaacuteticas satildeo ldquosequecircncias fixasrdquo percebidas como ldquounidades singularesrdquo nos permitiu quando da

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formulaccedilatildeo dos experimentos psicolinguisticos entender melhor o valor da paraacutefrase definitoacuteria quando um falante da liacutengua seja nativo ou natildeo nativo busca de equivalentes simples (verbos) das expressotildees idiomaacuteticas representadas por locuccedilotildees verbais como por exemplo em locuccedilotildees verbais como em virar as costas (sair) cozinhar o galo (morrinhar) entregar a alma a Deus(morrer) abrir nos paus (fugir) e dar mole (descuidar-se)

No campo da filosofia da linguagem a problemaacutetica do sentido das expressotildees idiomaacuteticas desde cedo foi focada pelos filoacutesofos Para Searle (2002) a idiomaticidade de uma expressatildeo complexa natildeo seria estabelecida pelo sentido presente na estrutura da proacutepria sentenccedila mas pelo sentido da emissatildeo do falante A idiomaticidade seria estabelecida pelo que o falante quer significar ao emitir a expressatildeo idiomaacutetica

Como assinala Searle (2002) ldquoum sentido metafoacuterico eacute sempre um sentido da emissatildeo de um falanterdquo (p124) um traccedilo importantiacutessimo a considerar em nossa pesquisa se definimos as fraseologias a partir de suas caracteriacutesticas mais marcantes como a forma fixa e a ambiguidade leacutexico-gramatical situadas no entrecruzamento entre o sentido literal e o sentido idiomaacutetico

Mais recentemente a abordagem sociocognitiva que embasa a chamada Gramaacutetica de Construccedilotildees defendida no Brasil por Miranda e Salomatildeo (2009) tem dado seus primeiros passos em direccedilatildeo aos estudos fraseoloacutegicos Esta abordagem linguiacutestica ao tratar da questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas comumente tem retomado ao velho axioma dos lexicoacutelogos de que ldquoo todo natildeo eacute a soma das partesrdquo ou ldquoo todo eacute maior que a soma das partesrdquo (p39)

Aqui a visatildeo sociocognitivista nos parece com resquiacutecios tradicionais das pesquisas fraseoloacutegicas presa ao velho princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica em que fica claro um esforccedilo revitalizador para que seja estabelecido um ldquocasamentordquo ou ao menos uma ldquorelaccedilatildeo estaacutevelrdquo entre a Gramaacutetica das Construccedilotildees e a Semacircntica Composicional em se tratando de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

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As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas Consideramos que nossa pesquisa se situa no acircmbito da

psicolinguiacutestica experimental por se voltar agrave investigaccedilatildeo sobre a compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada em que levamos em conta no processamento fraseoloacutegico seus aparatos cognitivo cultural dialetal e seus sistemas de memoacuteria (memoacuteria de longo prazo e memoacuteria episoacutedica em especial)

Os falantes de uma liacutengua dada sejam nativos ou natildeo nativos ao serem indagados sobre o que compreendem por exemplo da expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo (ldquoficar quieto ou calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo) recorrem a procedimentos mentais (por exemplo memoacuteria de longo prazo ou memoacuteria episoacutedica) e a taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de diversas ordens de modo a permitir o acesso ao sentido idiomaacutetico do que estaacute sendo dito aliaacutes do que natildeo estaacute sendo dito literalmente nas palavras que compotildeem o sintagma mas que traz no subentendido da sentenccedila o sentido pretendido pelo interlocutor Ocorre nesse momento o que se denomina de processamento linguiacutestico que potildee em funcionamento as habilidades cognitivas do falante (ou ouvinte) relacionadas agrave linguagem verbal (LEITAtildeO 2009 p 221)

Nossa pesquisa tambeacutem se estabelece no acircmbito da psicolinguiacutestica experimental por buscar hipoacuteteses que deem conta de explicarem como o processamento fraseoloacutegico se estrutura na mente dos falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro Daiacute lanccedilarmos matildeo de trecircs experimentos sendo construiacutedos por diversas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) caracterizados por uma seacuterie de procedimentos metodoloacutegicos para verificarmos se os referidos falantes lusoacutefonos dos paiacuteses africanos recorrem a estrateacutegias especiais para compreenderem as expressotildees idiomaacuteticas mais usuais no portuguecircs brasileiro As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

No acircmbito das pesquisas psicolinguiacutesticas a busca de soluccedilatildeo

empiacuterica da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas pode ser observada a partir dos anos 70 e 80 seacuteculo

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passado com os estudos pioneiros de Bobrow e Bell (1973) seguidos dos trabalhos de Swinney e Cutler (1979) e os de Gibbs e Gonzales (1985) e de Cacciary e Tabossi (1988) Eles pioneiramente formaram as duas grandes correntes teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico as teorias leacutexicas e as teorias composicionais que buscam explicaccedilotildees sobre a passagem do literal ao idiomaacutetico durante o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas

De modo geral as teorias leacutexicas apoiam-se na noccedilatildeo de opacidade semacircntica (em nossa pesquisa chamamos de idiomaticidade forte) que varia em funccedilatildeo do grau de cristalizaccedilatildeo das expressotildees e por suas restriccedilotildees sintaacuteticas Jaacute as teorias composicionais conforme veremos mais adiante apoiam-se na tese de Frege ([1892]1971) de que o sentido de uma expressatildeo eacute funccedilatildeo do sentido de seus componentes Uma pois afirma que o sentido idiomaacutetico natildeo se reduz aos sentidos dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico A outra em contraste postula o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes da expressatildeo idiomaacutetica

As contribuiccedilotildees teoacutericas dessas duas correntes psicolinguiacutesticas atenderam aos casos gerais de processamento das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute as pesquisas experimentais levadas a efeito por seus defensores foram realizadas em falantes nativos deixando de lado casos particulares ou especiais como por exemplo o processamento fraseoloacutegico por falantes natildeo nativos

Diante dessa condiccedilatildeo restritiva muitos modelos propostos foram voltados a verificar como ocorria a compreensatildeo idiomaacutetica que se ativa depois do armazenamento das expressotildees na memoacuteria dos falantes nativos deixando de resolver pontos obscuros como por exemplo a questatildeo do acesso inicial ao sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas ou como se dava a passagem do literal ao idiomaacutetico ou se esta passagem pelo literal efetivamente natildeo ocorria

Apesar dessa limitaccedilatildeo os resultados das pesquisas psicolinguiacutesticas ateacute aqui realizadas representam um ponto de partida teoacuterico relevante para investigaccedilotildees similares segundo Belinchoacuten (1999 p364) Mas agrave medida que natildeo sabemos ao certo como ocorre o processo de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos podemos apresentar razotildees teoacutericas e praacuteticas para uma nova pesquisa nesse campo

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Enfim precisamos fazer descobertas de soluccedilotildees para casos particulares de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos de modo a sugerir modificaccedilotildees se for o caso no campo dos estudos sobre a realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas atualmente de grande interesse dos linguistas fraseoacutelogos psicolinguistas e os chamados linguistas cognitivistas que se ocupam entre os toacutepicos mais recorrentes da pesquisa experimental de questotildees relacionadas agrave metaacutefora e agrave idiomaticidade (CUENCA1999 p 116-121) Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo

Como dissemos anteriormente os primeiros experimentos para

verificaccedilatildeo do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas parecem ter sido limitados por dois dos seus procedimentos metodoloacutegicos

(a) em primeiro lugar limitaram-se a questotildees de natureza conceitual uma vez que os pesquisadores assumiram a crenccedila com base nas definiccedilotildees tradicionais dos lexicoacutelogos de que as expressotildees idiomaacuteticas (ou fixas) eram unicamente definidas a partir de suas propriedades semacircnticas e estruturais (polilexicalidade metaforicidade idiomaticidade fixaccedilatildeo e assim por diante)

(b) em segundo lugar os participantes dos experimentos eram falantes nativos (principalmente os de liacutengua inglesa)

Estes dois procedimentos restringentes acabaram por levar os pesquisadores agrave constituiccedilatildeo de modelos psicolinguiacutesticos aplicados agrave compreensatildeo idiomaacutetica ativada somente depois de armazenamento das expressotildees idiomaacuteticas na memoacuteria de longo prazo dos falantes (BELINCHOacuteN1999 p364-365)

A rigor natildeo haacute como com sujeitos nativos de uma liacutengua sabermos efetivamente quando se deparam com expressotildees idiomaacuteticas opacas ou transparentes uma vez que a memoacuteria declarativa de longo prazo desempenha um papel importante na produccedilatildeo recuperaccedilatildeo e atribuiccedilatildeo de sentido agraves expressotildees idiomaacuteticas

Assim um falante nativo que por lapsus calami erra acidentalmente ao escrever em uma folha a expressatildeo Dar por pedras e por paus ao inveacutes de dar por paus e por pedras (cometer loucuras) ou por lapsus linguae comete um erro acidental ao falar

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em uma conversa informal a expressatildeo ser milho do mesmo saco ao contraacuterio de ser farinha do mesmo saco (ser da mesma natureza equivaler-se coisas ou pessoas) nestas duas situaccedilotildees estes erros natildeo podem ser computados como indiacutecios de opacidade nem que ocorrem por serem as expressotildees menos ou mais idiomaacuteticas menos ou mais opacas ou ainda menos ou mais transparentes

Ainda que a questatildeo dos lapsos de liacutengua sejam de interesse para a Psicolinguiacutestica e para a investigaccedilatildeo da estrutura do leacutexico mental (NOacuteBREGA 2010) cremos que estas alteraccedilotildees acima ocorrem devido a fatores que vatildeo desde agrave paralexia verbal3 a fatores linguiacutesticos de vaacuterias ordens (formal estrutural semacircntica sintaacutetica combinatoacuteria) das expressotildees retidas na memoacuteria dos falantes

A primeira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas denominada de ldquoidiom-list hypothesisrdquo considera as expressotildees idiomaacuteticas como itens lexicais que satildeo listados e recuperados como pedaccedilos do leacutexico Esta corrente psicolinguiacutestica foi assumida por Bobrow e Bell (1973) Seus defensores tiveram a crenccedila de que o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo eacute recuperado a partir dos seus constituintes individuais e que se comportam como expressotildees sintaacuteticas e semacircnticas com as mesmas propriedades das palavras Para essa corrente por exemplo natildeo haacute nada nos sentidos de ldquofazerrdquo ldquoouvidordquo ldquoderdquo e ldquomercadorrdquo que possa nos dizer o que significa ldquofazer ouvido de mercadorrdquo com sentido idiomaacutetico de ldquofingir que natildeo ouviurdquo

Os resultados dos experimentos de Bobrow e Bell (1973) mostraram a primazia da literalidade na compreensatildeo idiomaacutetica e por essa razatildeo os dois psicolinguistas propotildeem a hipoacutetese de lista de expressotildees idiomaacuteticas (ou primeira hipoacutetese literal) em nossa memoacuteria declarativa de longo prazo argumentando ainda que as expressotildees satildeo mentalmente representadas e tratadas como quaisquer outros itens lexicais

A especificidade poreacutem para o caso das expressotildees idiomaacuteticas estruturalmente mais complexas do que as palavras eacute a de que seriam de forma independente armazenadas em um ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo (ou

3 Termo no acircmbito da neurologia definido como de leitura (ou escrita) provocada pela troca de siacutelabas ou palavras que passam a formar combinaccedilotildees sem sentido No caso das expressotildees idiomaacuteticas o que fica sem sentido eacute a combinatoacuteria que em fraseologia segue os paracircmetros da fixaccedilatildeo formal interna

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ldquomemoacuteria fraseoloacutegicardquo termo de nossa preferecircncia) diferente do nosso leacutexico mental normal ou habitual de itens lexicais Segundo essa visatildeo a leitura literal natildeo eacute opcional e vem obrigatoriamente antes de o falante recuperar o sentido idiomaacutetico

O modelo de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas de Bobrow e Bell (1973) ocorreria em trecircs etapas no processamento cognitivo ou mais especificamente fraseoloacutegico na mente dos falantes Na primeira etapa o ouvinte inicialmente processaria o sentido literal Em seguida rejeitaria o sentido literal e finalmente acessaria ao ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo e forneceria entatildeo uma interpretaccedilatildeo correta isto eacute a idiomaticidade tal que esperamos encontrar nos dicionaacuterios gerais ou na aceitabilidade da comunidade linguiacutestica

Para ilustrarmos este modelo de Bobrow e Bell (1973) digamos que um leitor (ou ouvinte) assiacuteduo de jornal diaacuterio no cafeacute da manhatilde lesse a seguinte informaccedilatildeo que se refere aos chamados ldquohomens-tatusrdquo (assim rotulados aqueles que retiram areia dos terrenos baldios para a venda ilegal nos depoacutesitos de construccedilatildeo) ldquoEles satildeo como formiguinhas e agem durante a madrugada Eacute como catar agulha em palheiro A populaccedilatildeo precisa denunciar (In Caderno Cidade DN em 07112009)

Seguindo as etapas do modelo de Bobrow e Bell (1973) teriacuteamos as seguintes etapas para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoprocurar (ou catar) agulha em palheirordquo primeiramente o leitor processaria o sentido literal da expressatildeo ldquocatarrdquo + ldquoagulhardquo + ldquonordquo + ldquopalheirordquo Assim procedendo neste exemplo dado o leitor (ou ouvinte) chegaria inicial e literalmente agrave seguinte interpretaccedilatildeo ldquoBuscar varetinha de accedilo no depoacutesito de palhardquo Pelo contexto da frase logo rejeitaria essa interpretaccedilatildeo literal por ldquoinadequabilidade de sentidordquo E entatildeo acessaria agrave sua ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo e obteria o sentido idiomaacutetico e mais adequado agrave frase ldquoestar agrave cata de algo muito difiacutecil de acharrdquo ou ldquoquerer conseguir algo muito difiacutecil ou impossiacutevelrdquo

A questatildeo principal do modelo leacutexico de Bobrow e Bell (1973) que se estabelece eacute a seguinte se durante o processo de compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como no exemplo acima (ldquocatar agulha no palheirordquo) os falantes (nativos) recuperam da sua ldquo memoacuteria idiomaacuteticardquo o sentido literal ou o sentido figurado e nos casos de que os dois sejam recuperados em que ordem tem lugar estes dois sentidos Por essa razatildeo essa primeira corrente advoga pois por um processamento preacutevio do sentido literal Essa hipoacutetese psicolinguiacutestica

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nos lembra o modelo claacutessico de Grice (1982102-103) de compreensatildeo de linguagem figurada Embora o ouvinte seja levado a um niacutevel mais profundo (idiomaacutetico ou figurativo) este modelo pragmaacutetico tambeacutem favorece primeiramente a hipoacutetese literal

Os estudos de Bobrow e Bell (1973) sobre reconhecimento de unidades fraseoloacutegicas (UFS) foram realizados fora do contexto e no final dos anos 70 foram refutados conforme nos informam os estudos de Swinney e Cutler (1979) Havrila (1993) Jurafsky (1996) Corpas-Pastor (2001) Liontas (2001) Vega-Moreno(2003) e Denhiere e Verstiggel (2007) Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical

Esta corrente psicolinguiacutestica se posiciona contra a prioridade da

interpretaccedilatildeo literal na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas proposta anteriormente por Bobrow e Belle (1973) e propotildeem a hipoacutetese de representaccedilatildeo lexical que defende o processamento simultacircneo isto eacute a compreensatildeo literal e a compreensatildeo idiomaacutetica ocorreriam ao mesmo tempo na mente dos falantes

Um primeiro argumento em favor desta corrente vem dos experimentos de Swinney e Cutler (1979) Os resultados dos testes mostraram que os sujeitos natildeo apresentavam diferenccedilas de tempo para acessar o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees fixas

Vejamos um exemplo para ilustrar a hipoacutetese de Swinney e Cutler (1979) extraiacutedo de um jornal diaacuterio ldquo () Cibelle Ribeiro nos manda perturbadora seleccedilatildeo de fotos acutereimosiacutessimasacute suas e ainda (soacute pode ser modeacutestia) nos pergunta se gostamos Ora Cibelle isso eacute mesmo que perguntar se macaco quer banana minha filha o que vocecirc nos enviou foi um verdadeiro destroccedilo capaz de causar um tsunami ldquo (in Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN em 1103009 grifos nossos)

No exemplo acima segundo o modelo Swinney e Cutler (1979) o processamento cognitivo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoperguntar se macaco quer bananardquo seja ele leitor ou ouvinte natildeo indicaria diferenccedila significativa de tempo entre a atribuiccedilatildeo de sentido literal ldquoprocurar saber se siacutemio deseja comer o fruto da bananeirardquo e a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico ldquofazer pergunta absolutamente desnecessaacuteria porque dela soacute se espera na certa resposta afirmativardquo

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Embora vistas como mentalmente representadas e tratadas como itens lexicais as expressotildees idiomaacuteticas no modelo de Swinney e Cutler (1979) diferem do modelo de Bobrow e Bell (1973) pois seriam armazenadas naturalmente no leacutexico mental sem a necessidade de postulaccedilatildeo de um leacutexico especiacutefico para o armazenamento dos idiomatismos (ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo)

Como dissemos anteriormente o falante segundo esta perspectiva se nativo ao estar confrontado com uma sequecircncia fraseoloacutegica processaria de maneira simultacircnea o sentido literal e o sentido figurado

Nesse contexto outros estudos levantaram hipoacutetese de que como as expressotildees idiomaacuteticas seriam encontradas ou armazenadas na memoacuteria como simples palavras o sujeito acessaria o sentido idiomaacutetico de maneira mais direta e raacutepida que ao literal Em harmonia com isso xperimentos realizados posteriormente sobre reconhecimento leacutexical baseados na velocidade de resposta dos sujeitos parecem indicar certa preferecircncia pela leitura idiomaacutetica em primeiro lugar conforme relatam os estudos de Corpas-Pastor (2001 p34) Mendivil Giroacute (2010) e Lorente (2010) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto

A terceira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas do

processamento fraseoloacutegico eacute defendida por linguistas cognitivistas como Gibbs Jr et ali (1997) que postulam o acesso direto (ou primeira hipoacutetese figurativa) para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas o que acaba por se afastar radicalmente da corrente defendida por Bobrow e Bell (1973)

Esta hipoacutetese propotildee que as expressotildees idiomaacuteticas devam ser consideradas itens lexicais cujo sentido idiomaacutetico eacute recuperado diretamente do leacutexico mental imediatamente apoacutes o sintagma fraseoloacutegico ser ouvido pelo falante

A proposta de Gibbs et ali (1997) tambeacutem se distancia do modelo de Swinney e Cutler (1979) uma vez que comprova que o sentido idiomaacutetico (ou figurado) de expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquonatildeo dar ponto sem noacuterdquo com sentido de ldquonada fazer que natildeo seja por interesserdquo) eacute processada mais rapidamente do que o

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processamento literal natildeo + dar + ponto + sem + noacute (natildeo costurar sem entrelaccedilar fios)

Segundo o relato dos linguistas cognitivistas o grau de fixaccedilatildeo e convencionalidade de uma unidade fraseoloacutegica facilitariam sua compreensatildeo e produccedilatildeo na comunicaccedilatildeo

Esta hipoacutetese tambeacutem revelou o sentido literal natildeo vir antes do sentido idiomaacutetico mas tambeacutem poderia ser completamente ignorado Na sua linha de pensamento Gibbs et ali (1997) baseiam-se na ideia de que as palavras constituintes de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo satildeo completamente desmotivadas do sentido metafoacuterico ou idiomaacutetico da expressatildeo

Diferente das hipoacuteteses anteriores os pesquisadores cognitivistas afirmam que o contexto desempenha uma funccedilatildeo essencial na produccedilatildeo e compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora sempre em menor grau comparado com as sequecircncias literais

Por fim diriacuteamos o seguinte a partir de uma visatildeo criacutetica das trecircs correntes de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas descritas acima podemos observar que seguem de forma geral o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica de expressotildees canocircnicas efetivamente cristalizadas e memorizadas mas natildeo conseguem poreacutem explicar porque as variaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas natildeo comprometem a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico dada pelos falantes

As teorias leacutexicas da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas natildeo conseguem explicar por que locuccedilotildees verbais do tipo ldquomostrar com quantos paus se faz uma cangalhardquo e ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo onde os dicionaacuterios gerais apontam como variaccedilatildeo fraseoloacutegica em que um item ldquocangalhardquo eacute substituiacutedo (em decorrecircncia da forccedila do regionalismo linguiacutestico) por ldquocanoardquo tal alteraccedilatildeo como podemos observar em um dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico natildeo afeta o sentido idiomaacutetico em ambas construccedilotildees isto eacute as duas idiomaticamente tecircm o mesmo sentido o de ldquodar um castigordquo

Os defensores das hipoacuteteses leacutexicas tambeacutem natildeo conseguem explicar porque o sentido idiomaacutetico ldquomorrerrdquo aparece em expressotildees idiomaacuteticas formalmente distintas como ldquobater as botasrdquo ldquoir desta para a melhorrdquo rdquofechar o paletoacuterdquo Ao analisarmos a combinatoacuteria destas expressotildees sinoniacutemicas acima somos levados realmente a perguntar como podem ser estruturalmente tatildeo diferentes e ao mesmo tempo

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passiacuteveis de terem paraacutefrases tatildeo semelhantes mantendo o mesmo campo semacircntico isto eacute a ideia de morte Ao certo uma explicaccedilatildeo estaria no fato de as trecircs expressotildees que mostramos possuirem itens lexicais bastante distintos mas todas tecircm idiomaticamente o mesmo sentido idiomaacutetico de ldquochegar ao fim expirar morrerrdquo Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico

A segunda corrente de teorias psicolinguiacutesticas diz respeito agrave

representaccedilatildeo e agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas que se aliam ao princiacutepio da composicionalidade semacircntica

Os teoacutericos dessa corrente (por exemplo Gibbs 1985 Cacciari y Tabossi 1988 e Flores DArcais 1993) se posicionam contra a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo composicionais

O principal argumento desta corrente eacute que a relaccedilatildeo entre o sentido idiomaacutetico e forma linguiacutestica da maioria das expressotildees idiomaacuteticas tem um grau de motivaccedilatildeo isto eacute elas natildeo satildeo completamente arbitraacuterias

Na maioria dos casos segundo os defensores das teorias composicionais o sentido idiomaacutetico eacute de alguma forma recuperado a partir dos sentidos dos diversos componentes da cadeia sintagmaacutetica

Explicando de forma mais simplificada esta hipoacutetese por exemplo os sentidos dos itens ldquochutarrdquo ldquopaurdquo e ldquobarracardquo na expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo por exemplo teriam muito a ver com o sentido idiomaacutetico de ldquoabandonar desistir de um projetordquo Eacute como se pudeacutessemos explicar o sentido idiomaacutetico da locuccedilatildeo verbal ldquochutar o pau da barracardquo levando em conta que metaforicamente a palavra ldquochutarrdquo tem o sentido de ldquover-se livre de (algo ou algueacutem) descartar-se livrar-serdquo a palavra ldquopaurdquo tem o sentido de ldquoconflito ou briga em que se envolvem muitas pessoasrdquo e ldquobarracardquo refere-se metaforicamente agrave ldquoconstruccedilatildeo temporaacuteria de materiais leves geralmente taacutebuas e lona de faacutecil transporterdquo Tomados como constituintes metaforicamente significativos e motivados no sintagma fraseoloacutegico a expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo teria o sentido de ldquodesistir de um projeto rdquo

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A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas

Os defensores da hipoacutetese da composicionalidade das expressotildees idiomaacuteticas argumentam que a idiomaticidade eacute um fenocircmeno semacircntico ao inveacutes de fenocircmeno sintaacutetico e propotildee uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas a partir de seu grau de composicionalidade como resumidamente nos descreve Cacciari e Tabossi (1993)

Enquanto para os teoacutericos de hipoacuteteses leacutexicas os constituintes das expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquomalharrdquo e ldquoferrordquo em ldquomalhar o ferro enquanto estaacute quenterdquo) em nada contribuem para o sentido idiomaacutetico ldquoaproveitar a ocasiatildeo propiacutecia para agirrdquo os teoacutericos de hipoacuteteses composicionais advogam que os componentes individuais dos sintagmas fraseoloacutegicos contribuem literal ou metaforicamente para a interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

Para explicar a teoria acima digamos que escutemos a expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo Nesse caso seus elementos constituintes ldquometerrdquo que se refere ao ato ldquoesconder-se ocultar-serdquo ldquorabordquo que alude agrave noccedilatildeo de ldquotraseirordquo e ldquopernasrdquo que diz respeito a ldquocada um dos membros inferiores do corpo humanordquo reunidos na combinatoacuteria datildeo o sentido idiomaacutetico ldquoficar calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo Os sentidos dos constituintes da locuccedilatildeo verbal ldquometer o rabo entre as pernasrdquo teriam uma forccedila de metaforizaccedilatildeo que nos possibilita o acesso ao sentido idiomaacutetico A metaforizaccedilatildeo estaria pois previamente em nossa mente por forccedila de nossas experiecircncias corpoacutereas no mundo

Atualmente as pesquisas psicolinguiacutesticas parecem evidenciar que os sentidos das palavras constituintes do sintagma fraseoloacutegico desempenham papel importante na compreensatildeo idiomaacutetica das expressotildees fixas Embora nenhuma expressatildeo idiomaacutetica seja cultural e completamente composicional o sentido idiomaacutetico seria para os defensores desta corrente psicolinguiacutestica de alguma forma relacionado com o sentido obtido pelo caacutelculo da cadeia sintagmaacutetica

Nessa perspectiva atualmente a hipoacutetese de metaacutefora conceitual com base no trabalho de Lakoff e Johnson (2002) assume que o uso da expressatildeo idiomaacutetica eacute motivado por esquemas preacute-existentes de

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natureza corpoacuterea ou metafoacuterica4 em nossa mente que satildeo baseados como dissemos antes em nossa experiecircncia corporal no mundo Este paradigma pressupotildee a inseparabilidade entre cogniccedilatildeo e linguagem (MACEDO2006 p 31-34 2008 p35) e defende uma visatildeo atuacionista (ou corporificada) da cogniccedilatildeo (VARELA et ali 2003) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

A chamada hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave para a compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas eacute induzida pelo modelo de polissemia Os relatos mais convincentes satildeo os Cacciary e Tabossi (1993)

Esta abordagem tenta resgatar a hipoacutetese de processamento simultacircneo sem se comprometer com a ideia de que satildeo expressotildees idiomaacuteticas armazenados como itens lexicais

As expressotildees idiomaacuteticas satildeo na perspectiva da configuraccedilatildeo-chave tratadas como qualquer sequecircncia de palavras Depois de vaacuterios experimentos os pesquisadores afirmam que a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquoter bebido aacutegua de chocalhordquo com sentido de ldquofalar demaisrdquo dependeraacute de uma seleccedilatildeo por parte do ouvinteleitor do sentido adequado de cada uma de suas palavras constituintes para que o sintagma fraseoloacutegico possa ser reconhecido como uma configuraccedilatildeo Esta explicaccedilatildeo eacute feita pela chamada ldquohipoacutetese polissecircmica do idiomatismo induzidordquo (Cacciary e Tabossi 1993)

Do ponto de vista de processamento cognitivo na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave as expressotildees idiomaacuteticas satildeo inicialmente processadas literalmente ateacute que em algum momento apoacutes o iniacutecio da cadeia a configuraccedilatildeo e o sentido idiomaacutetico satildeo ativados

Dizendo de outra maneira na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave ocorreria o processamento literal e figurativo executado em paralelo por um tempo ateacute que o sentido idiomaacutetico seja alcanccedilado pelo ouvinte como a interpretaccedilatildeo pretendida Nesse caso o reconhecimento de expressotildees idiomaacuteticas seria muitas vezes dependente do contexto assim esta hipoacutetese parece sugerir que geralmente os ouvintes reconhecem que as palavras em uma expressatildeo idiomaacutetica formam uma uacutenica configuraccedilatildeo depois de o

4 Ao falarmos em esquemas metafoacutericos fazemos alusatildeo ao mapeamento (ou conceito) metafoacuterico que segundo os linguistas cognitivistas licencia a expressatildeo linguiacutestica

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falante acessar o conteuacutedo da primeira ou segunda palavra conhecida como a chave idiomaacuteticardquo no sintagma

Essa visatildeo apresenta uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas em relaccedilatildeo ao grau de composicionalidade e transparecircncia que envolve diferentes perspectivas teoacutericas de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (Cacciary e Tabossi1993) Vamos descrever cada das perspectivas

A primeira perspectiva defende que nas expressotildees idiomaacuteticas tipicamente opacas (por exemplo ldquoquerer tapar o sol com peneirardquo com sentido de ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveisrdquo) o sentido idiomaacutetico eacute arbitrariamente estipulado pelo ouvinteleitor Desta maneira acessar o sentido idiomaacutetico ocorreria no plano do sintagma fraseoloacutegico parcialmente distribuiacutedo ao longo de seus constituintes A partir daiacute os ouvintes passariam a olhar a expressatildeo linguiacutestica como quase metafoacuterica (ou alusional)

Para ilustrar a segunda perspectiva tomemos com exemplo a expressatildeo idiomaacutetica ldquopocircr sebo nas canelasrdquo com sentido de ldquofugirrdquo em que ouvintes para compreenderem seu sentido idiomaacutetico teratildeo que calcular o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes do sintagma e assim feito reconheceratildeo as ligaccedilotildees que o referido sintagma fraseoloacutegico tem convencionalmente com expressotildees idiomaacuteticas sinoniacutemicas (por exemplo ensebar as canelas meter o peacute no mundo botar o peacute no mundo passar sebo nas canelas abrir no peacute e pisar no tempo) que tecircm os mesmos sentidos idiomaacuteticos que eles representam

Enfim para esta corrente as expressotildees idiomaacuteticas satildeo linguisticamente processadas da mesma forma como outras configuraccedilotildees de expressotildees fijas com o mesmo sentido idiomaacutetico Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas

Natildeo haacute como falarmos em taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas sem deixarmos claro o que estamos a entender por compreensatildeo estrateacutegias expressotildees idiomaacuteticas e sua tipologia

Pressupomos que para cada tipo de expressatildeo idiomaacutetica eacute possiacutevel que tenhamos estrateacutegia especial para desvelar o seu sentido natildeo literal em situaccedilatildeo de uso na interaccedilatildeo verbal

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Iniciemos entatildeo pela questatildeo da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas numa perspectiva psicolinguiacutestica Considerando que a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua dada inclui informaccedilotildees que transcendem o niacutevel puramente sintaacutetico morfoloacutegico semacircntico e pragmaacutetico entendemos que o exame da questatildeo do sentido idiomaacutetico em nossa pesquisa deve ser feito agrave luz de aportes teoacutericos da (Psico)linguiacutestica e da Linguiacutestica cognitiva

Feitos esses recortes das disciplinas envolvidas na questatildeo da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico no acircmbito propriamente dito da Psicolinguiacutestica recorreremos aos conceitos de compreensatildeo estrutura cognitiva e memoacuteria de longo prazo propostos por Smith (1999 p 80 2003 p 361)

Acreditamos que a passagem do sentido literal (SL) para o sentido idiomaacutetico (SI) das expressotildees fixas portanto o acesso ao sentido fraseoloacutegico resulta de uma interpretaccedilatildeo particular (ou culturalmente marcada) dos falantes sejam nativos ou natildeo nativos a partir de sua estrutura cognitiva

Por compreensatildeo nesta pesquisa entendemos entatildeo a competecircncia semacircntica que o falante seja nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua dada tem de interpretar qualquer expressatildeo linguiacutestica complexa capaz de construir representaccedilotildees conceituais (NEVEU2008 p75) a partir de sua memoacuteria de longo prazo e de sua visatildeo de mundo (STERNBERG2008 p192)

No caso da compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes que geralmente natildeo a apreendem na primeira vez que a escutam eacute possiacutevel que a descoberta dos sentidos parciais das unidades leacutexicas e das regras por meio das quais se combinam a dita expressatildeo seja uma estrateacutegia especial de entendimento dos idiomatismos (FILLMORE et ali 1988)

Como a questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas tem sido bastante problemaacutetica ou negligenciada pelos modelos linguiacutesticos (gerativista por exemplo) recorremos aqui agrave Gramaacutetica das Construccedilotildees proposta por Fillmore Kay e OrsquoConnor (1988) que defendem a ideia de que as construccedilotildees complexas (sintagmas ou sentenccedilas) tecircm as mesmas propriedades semacircnticas e pragmaacuteticas que os itens lexicais estabelecendo a partir daiacute uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticasrdquo (FERRARI 2011 p130)

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Do ponto de vista psicolinguiacutestico tambeacutem levamos em conta em nossa pesquisa a noccedilatildeo de estrutura cognitiva Graccedilas agrave estrutura cognitiva os falantes satildeo capazes de compreender as estruturas mais complexas ou irregulares de uma liacutengua agrave medida que recorrem como sujeitos de seus atos de fala nas situaccedilotildees de interaccedilatildeo social ao seu leacutexico mental onde ativam muitas vezes de maneira automaacutetica ou involuntaacuteria informaccedilotildees sobre o que conhecem e acreditam a respeito do mundo e a partir daiacute podem estabelecer relacionamento de novas informaccedilotildees agravequilo que jaacute sabem sobre a liacutengua a cultura e a experiecircncia corpoacuterea no mundo

Smith (1999) defende a ideia de que na estrutura cognitiva estaacute ldquoa totalidade de organizaccedilatildeo de conhecimento do ceacuterebrordquo (p 80 2003 p 361)

Ao longo de nossa pesquisa tambeacutem iremos nos referir agrave estrutura cognitiva como ldquomemoacuteria de longo prazordquo ou ldquoteoria do mundo na cabeccedilardquo com o objetivo de reforccedilar o pressuposto de que a compreensatildeo eacute a fonte de prediccedilotildees ou adivinhaccedilotildees psicolinguiacutesticas que nos possibilitam encontrar sentido nos acontecimentos e na linguagem

Mais especificamente por memoacuteria declarativa de longo prazo entendemos ldquoo conhecimento e a crenccedila que fazem parte da nossa compreensatildeo mais ou menos permanente do mundordquo e que se refere a ldquo tudo o que noacutes sabemos sobre o mundo e do que eacute organizado e faz sentido (SMITH1999 p44)

Quanto agrave noccedilatildeo de estrateacutegias recorreremos ao conceito de Soleacute (1998) Segundo ela estrateacutegias satildeo procedimentos que regulam a atividade dos falantes agrave medida que sua aplicaccedilatildeo permite selecionar avaliar persistir ou abandonar determinadas accedilotildees para conseguir a meta a que nos propomos (p69) Por exemplo quando o falante escuta ou lecirc a expressatildeo idiomaacutetica ldquoandar com a pulga atraveacutes da orelhardquo e descarta em sua interpretaccedilatildeo o sentido literal ldquocaminhar com o inseto na orelhardquo em favor de ldquoestar preocupado ou cismadordquo recorre agraves suas habilidades cognitivas relacionadas com sua capacidade de perceber o proacuteprio conhecimento sobre os insetos de pensar sobre a atuaccedilatildeo ou emprego da expressatildeo no uso social da liacutengua Satildeo essas informaccedilotildees no nosso entendimento que lhes permitem o abandono de uma interpretaccedilatildeo literal em favor de uma

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interpretaccedilatildeo idiomaacutetica carregada de metaforicidade e fraseologizaccedilatildeo

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ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA Neste capiacutetulo descrevemos o meacutetodo os objetivos as

hipoacuteteses os problemas os sujeitos e os resultados das pesquisas de Irujo (1986) Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010) dentre os principais estudos empiacutericos nos uacuteltimos anos que se ocuparam de investigar em falantes nativos ou natildeo nativos de uma liacutengua dada (inglecircs italiano por exemplo) o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas Todos eles nos fundamentaram direta ou indiretamente no design dos nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos com suas respectivas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) sobre a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por sujeitos natildeo nativos do PB

O tratamento psicoloacutegico dado por noacutes agraves expressotildees idiomaacuteticas requereu de nossa parte um recorte no campo de investigaccedilatildeo da psicolinguiacutestica experimental dando um enfoque especial ao estudo dos enunciados linguiacutesticos o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas

Uma pesquisa que busca tratar da realidade psicoloacutegica dos signos linguiacutesticos sejam os de estrutura mais simples como as palavras e os mais complexos como as expressotildees idiomaacuteticas ou enunciados maiores como os proveacuterbios e os textos em seus diversos gecircneros exige a priori do pesquisador uma disposiccedilatildeo de articulaccedilatildeo com outros niacuteveis do sistema linguiacutestico como o morfoloacutegico (onde situamos expressatildeo idiomaacutetica como categoria morfoloacutegica e por isso com o mesmo comportamento de um lexema) e o sintaacutetico (lugar onde a expressatildeo idiomaacutetica se faz parte de uma frase ou oraccedilatildeo ou seja atua como elemento oracional)

Outras ldquocategorias extralinguiacutesticas como ldquoculturardquo ldquodialetordquo e ldquomemoacuteriardquo tambeacutem acabam por se associarem ao sistema da liacutengua na produccedilatildeo e na compreensatildeo dos enunciados no que tange aos sujeitos agraves situaccedilotildees comunicativas e aos conhecimentos preacutevios que os falantes compartilham (LEITAtildeO2009 p223)

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Os experimentos de Irujo (1986)

A pesquisa de Irujo (1986) partiu do pressuposto de que

aprendizes venezuelanos de segunda liacutengua encontram dificuldades de usar expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs o que os levam muitas vezes a preferir evitaacute-las completamente no cotidiano o que poderia ser chamado de idiofobia (um tipo de aversatildeo ou receio de utilizar expressotildees idiomaacuteticas) Essa dificuldade decorreria de os sujeitos natildeo compreender uma parte (ou o todo) de uma expressatildeo idiomaacutetica em Inglecircs e evitaacute-la em suas conversas em que pese natildeo encontrar dificuldade de pronunciaacute-la ou produzi-las eventualmente em seus textos orais ou escritos

O estudo realizado por Irujo buscou determinar se os alunos avanccedilados de inglecircs haviam utilizado o conhecimento da sua liacutengua materna o espanhol para compreender e produzir expressotildees em L2 (inglecircs)

Quanto aos participantes da pesquisa Irujo trabalhou com um total de 12 alunos de Inglecircs avanccedilado da Venezuela Foram escolhidos indiviacuteduos da mesma nacionalidade como garantia de que todos eles usavam a mesma variedade de espanhol e estariam familiarizados com os equivalentes espanhoacuteis das expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para o estudo De uma lista de todos os estudantes venezuelanos em uma grande universidade os sujeitos potenciais foram contactados inicialmente de forma aleatoacuteria O grupo final no entanto foi autosselecionado a partir do seu grau de interesse na pesquisa a disposiccedilatildeo de darem duas horas de seu tempo em troca de um pequeno proacute-labore

Todos os sujeitos eram alunos de graduaccedilatildeo regularmente matriculados na universidade Todos tinham tambeacutem proficiecircncia meacutedia em inglecircs e tempo meacutedio de residecircncia nos Estados Unidos de 275 anos e a idade meacutedia de 218 anos

O estudo se destinou tambeacutem a fornecer informaccedilotildees sobre as estrateacutegias que os alunos usam quando tecircm de produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabem e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de aprender

Foi aplicado um teste de muacuteltipla escolha para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica de 45 expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs

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assim distribuiacutedas1 15 expressotildees idecircnticas com equivalecircncia de forma e sentido em liacutengua espanhola (expressotildees idecircnticas) 15 expressotildees semelhantes aos seus equivalentes espanhoacuteis (expressotildees semelhantes) e 15 expressotildees diferentes a partir do correspondente espanhol (expressotildees diferentes)

Quanto ao teste de produccedilatildeo foram consideradas as mesmas 45 expressotildees idiomaacuteticas submetidas a um teste de discurso-complemento e um teste de traduccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa Irujo partiu das seguintes hipoacuteteses (a) Expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas mostram evidecircncias de transferecircncia positiva pois elas seriam mais faacuteceis de compreender e de produzir corretamente (b) expressotildees Idiomaacuteticas semelhantes mostram evidecircncia de transferecircncia negativa e a compreensatildeo pode ser tatildeo eficiente quanto para expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas e a produccedilatildeo destas expressotildees iria ser refletida na interferecircncia do primeira liacutengua e (c) para expressotildees idiomaacuteticas diferentes natildeo haacute evidenciam de qualquer transferecircncia positiva ou negativa ou seja os sujeitos compreenderiam e produziriam menos expressotildees idiomaacuteticas diferentes do que dos outros dois tipos

Quanto aos materiais utilizados na pesquisa as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas foram selecionadas com base em duas versotildees de um questionaacuterio um em Inglecircs e um em espanhol O questionaacuterio consistia de trecircs partes cada uma contendo 50 expressotildees idiomaacuteticas de um tipo (idecircntico semelhante ou diferente) Vinte e trecircs falantes nativos de espanhol e 30 falantes nativos ingleses completaram o questionaacuterio em seu idioma nativo Foi-lhes pedido para definir cada uma das expressotildees idiomaacuteticas e numa escala de 1 a 5 de frequecircncia de utilizaccedilatildeo de cada uma Com base nestes resultados 15 expressotildees idiomaacuteticas de cada tipo foram escolhidas todas tinham sido definidas de forma inequiacutevoca por todos os entrevistados com sentidos

1 Aqui devemos discriminar o seguinte (a) expressotildees idecircnticas expressotildees idiomaacuteticas que em espanhol em nada diferem das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs Seriam portanto expressotildees gecircmeas idecircnticas que apresentam as mesmas caracteriacutesticas formais e semacircnticas (b) expressotildees semelhantes expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que tecircm o mesmo campo semacircntico natureza ou forma em relaccedilatildeo a expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs e (c) expressotildees diferentes as expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que diferem parcial ou totalmente das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs

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figurativos ou fraseoloacutegicos equivalentes em ambas as liacutenguas e tinham recebido uma meacutedia de pelo menos 3 na frequecircncia na escala de uso

Os testes foram escritos para avaliarem o reconhecimento a compreensatildeo a recordaccedilatildeo e produccedilatildeo dessas expressotildees O teste de reconhecimento idiomaacutetico era um teste de muacuteltipla escolha com opccedilotildees que incluiacuteam a paraacutefrase correta da expressatildeo uma frase relacionada com a paraacutefrase correta uma frase relacionada com a interpretaccedilatildeo literal e uma sentenccedila independente

Os itens nos dois testes de compreensatildeo foram marcados como correto ou incorreto e os itens sobre os testes de produccedilatildeo foram marcados como correto incorreto ou com interferecircncia

Segundo Irujo muitas vezes foi difiacutecil determinar quando a interferecircncia havia ocorrido Neste estudo a interferecircncia foi definida como o uso incorreto de uma traduccedilatildeo de uma palavra de conteuacutedo de uma expressatildeo idiomaacutetica espanhol No entanto em muitos casos especialmente com expressotildees similares uma palavra errada na liacutengua inglesa podia ser tanto uma traduccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em espanhol ou uma generalizaccedilatildeo ou extensatildeo exagerada de uma palavra no idioma Inglecircs

Em cada um dos dois testes de compreensatildeo os indiviacuteduos foram igualmente bem-sucedidos com expressotildees idecircnticas e semelhantes mas tinham dificuldade significativamente acentuada com expressotildees idiomaacuteticas diferentes No teste de traduccedilatildeo expressotildees idiomaacuteticas semelhantes e diferentes eram igualmente difiacuteceis pelo teste discurso de conclusatildeo o desempenho diferiu em todos os trecircs tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Quando a tarefa era reconhecer o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica os participantes foram capazes de generalizar a partir do sentido na sua liacutengua materna o sentido na segunda liacutengua se o modelo fosse idecircntico ou similar

As trecircs hipoacuteteses da pesquisa foram confirmadas Os sujeitos compreenderam expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas assim como expressotildees semelhantes e ambas foram compreendidas melhor do que expressotildees diferentes

Embora os resultados deste estudo mostram que os indiviacuteduos faziam uso de sua liacutengua nativa para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda liacutengua eles tambeacutem usavam estrateacutegias relacionadas agrave liacutengua-alvo

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Irujo afirma que foi impossiacutevel com base nos dados da pesquisa fazer qualquer afirmaccedilatildeo definitiva sobre a influecircncia relativa das estrateacutegias de primeira e segunda liacutengua por causa da dificuldade de atribuir respostas a uma categoria especiacutefica

O uso da liacutengua materna na produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs variou individualmente alguns participantes mostraram praticamente nenhuma interferecircncia para qualquer tipo de expressatildeo idiomaacutetica enquanto outros tiveram altas taxas de interferecircncia de expressotildees idiomaacuteticas ao mesmo tempo parecidas e diferentes Segundo Irujo estas diferenccedilas podem ser relacionadas ao fato dos sujeitos terem mantido os seus dois sistemas linguiacutesticos separados ou natildeo

Os resultados da pesquisa apontam para a possibilidade de que alguns alunos tenham conscientemente mantido as duas liacutenguas separadas e assim terem rejeitado formas da segunda liacutengua que estatildeo muito proacuteximas agraves da primeira liacutengua

Nos dois testes de compreensatildeo parece que os sujeitos foram capazes de generalizar a partir do sentido da expressatildeo em espanhol para o seu sentido em Inglecircs mesmo quando a forma era um pouco diferente Nos dois testes de produccedilatildeo eles foram capazes de produzir corretamente muitas expressotildees idiomaacuteticas mais idecircnticas do que expressotildees idiomaacuteticas dos outros dois tipos

Ambos resultados indicam que a transferecircncia positiva estava pronta para ser utilizada Transferecircncia negativa (interferecircncia) tambeacutem foi evidente nos dois testes de produccedilatildeo mais para expressotildees semelhantes do que para expressotildees idiomaacuteticas totalmente diferentes Quando as diferenccedilas eram pequenas a tendecircncia podia ser a de generalizar e ignorar essas diferenccedilas

Os resultados deste estudo apoiam a noccedilatildeo de que os alunos avanccedilados de uma segunda liacutengua cuja primeira liacutengua estaacute relacionada com a segunda pode usar seu conhecimento (meta)linguiacutestico de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda

O estudo de Irujo tem implicaccedilotildees teoacutericas para a investigaccedilatildeo da transferecircncia na aquisiccedilatildeo de uma segunda liacutengua Os resultados sugerem que as similaridades entre as liacutenguas incentivam a interferecircncia e que expressotildees idiomaacuteticas nem sempre satildeo considerados intransferiacuteveis

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As conclusotildees da pesquisa de Irujo podem ser aplicadas ao ensino de expressotildees idiomaacuteticas em L2 Se os alunos estatildeo usando seu conhecimento de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas em segunda liacutengua os professores devem tirar proveito disso

As conclusotildees da pesquisa apontam ainda que expressotildees idiomaacuteticas infrequentes e altamente coloquiais com vocabulaacuterio difiacutecil devem ser evitadas no ensino de liacutengua estrangeira Segundo Irujo os alunos vatildeo obviamente ter dificuldade de produzi-las corretamente e aleacutem disso essas expressotildees difiacuteceis mesmo quando produzida corretamente muitas vezes soam estranha e natildeo naturalmente quando falado por falantes natildeo nativos de Inglecircs

Importante assinalar que Irujo acredita que atividades de que comparem sentidos literais e figurativos podem ajudar os alunos na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de modo perceber o absurdo (no chamariacuteamos de princiacutepio da absurdidade) dos sentidos literais e fornecer uma nova relaccedilatildeo a partir das palavras literais para o sentido idiomaacutetico

O estudo afirma que atividades que incentivem a produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas podem ser baseadas em listas de expressotildees idiomaacuteticas recolhidos pelos alunos ou fornecidos pelo professor Estas listas devem incluir expressotildees idiomaacuteticas que satildeo semelhantes nas primeira e segunda liacutenguas e satildeo portanto capazes de causar interferecircncia Os alunos podem contar histoacuterias adicionais que contenham expressotildees idiomaacuteticas recontar uma histoacuteria que ouviram expressotildees contidas escrever e apresentar peccedilas teatrais espetaacuteculos de marionetes histoacuterias ou diaacutelogos com expressotildees neles e dramatizaccedilatildeo de situaccedilotildees que se prestam agrave produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em substacircncia os resultados mostram que expressotildees idecircnticas eram mais faacuteceis de compreender e produzir Expressotildees similares foram compreendidas quase tatildeo bem mas mostraram a interferecircncia do espanhol Expressotildees Idiomaacuteticas diferentes eram as mais difiacuteceis de compreender e produzir mas mostraram menos interferecircncia do que expressotildees semelhantes

Os participantes usaram estrateacutegias inter e intralinguiacutestica para produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabiam Dentro de cada tipo as expressotildees idiomaacuteticas que foram compreendidas e produziram

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mais corretamente foram as que eram usadas com frequecircncia e que tinham um vocabulaacuterio simples e estrutura transparente

Em nossa pesquisa recorremos aos procedimentos de Irujo (1996) para a elaboraccedilatildeo do 2ordm experimento denominado Teste de Muacuteltipla Escolha com o objetivo de os participantes descobrirem os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs a partir de itens de muacuteltipla escolha Seguindo o mesmo modelo de Irujo as respostas agraves perguntas do TME foram pontuados em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993)

A pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) analisa uma seacuterie de

experimentos realizados como contribuiccedilotildees para uma teoria sobre o processamento de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de natureza verbal

Parte da ideia fregeana de que o sentido de uma frase idiomaacutetica natildeo eacute para ser reconstruiacutedo a partir do sentido dos elementos que o compotildeem Levanta entatildeo duas questotildees fundamentais como eacute a estrutura desse sentido Como estas expressotildees satildeo representadas no leacutexico mental

Segundo Flores drsquoArcais trecircs diferentes respostas podem ser dadas a estas duas questotildees que tomaram formas de hipoacuteteses de sua pesquisa (a) as expressotildees idiomaacuteticas podem ser listadas no leacutexico mental como entradas lexicais de natureza polilexical (b) as expressotildees idiomaacuteticas natildeo estatildeo listadas como tal mas satildeo reconstruiacutedas com seu sentido idiomaacutetico a partir da entrada de um ou mais das palavras de conteuacutedo que constituem a expressatildeo e (c) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo seria representado como tal em tudo mas seria calculada de cada vez com base nas unidades lexicais e da estrutura frasal por um processo de construccedilatildeo metaacutefora

A pesquisa de Flores drsquoArcais tentou encontrar respostas para cinco problemas teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico (1) o sentido literal eacute calculado durante o processo de compreensatildeo (2) as expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares usados com frequecircncia podem ser listadas no leacutexico mental ao passo que a compreensatildeo de

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expressotildees idiomaacuteticas com pouca familiaridade e que satildeo usados raramente pode exigir um caacutelculo completo O sentido literal eacute computado ou natildeo durante a leitura de expressatildeo idiomaacutetica (4) a anaacutelise completa da estrutura gramatical da cadeia de entrada estaacute ocorrendo mesmo quando a sentenccedila eacute entendida inclui uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica altamente familiar que poderia ser recuperado como uma unidade multilexical no leacutexico mental sem qualquer necessidade de anaacutelise sintaacutetica da sua estrutura interna e (5) considerando que as expressotildees metafoacutericas que satildeo compreendidas por vaacuterios processos inferenciais seriam procuradas no leacutexico de vaacuterias palavras como unidades lexicais

Flores drsquoArcais aplicou aos seus sujeitos da pesquisa cinco experimentos

O primeiro experimento buscou obter informaccedilotildees sobre familiaridade e sobre o ponto de singularidade da expressatildeo para um grande nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas

O objetivo deste experimento foi a obtenccedilatildeo de algumas indicaccedilotildees de um nuacutemero de propriedades de uma grande amostra de expressotildees idiomaacuteticas em holandecircs Contou com um grande nuacutemero de sujeitos em diferentes fases da pesquisa

Os dados obtidos foram utilizados para a seleccedilatildeo dos materiais para os experimentos seguintes Duzentas expressotildees idiomaacuteticas holandesas foram escolhidas como material de base para a pesquisa Eles foram apresentados em vaacuterios conjuntos de tarefas diferentes para um total de 294 sujeitos com o pedido para realizarem uma seacuterie de tarefas

A primeira tarefa consistiu na definiccedilatildeo de sentido da expressatildeo idiomaacutetica Os sujeitos deram uma definiccedilatildeo do sentido de cada uma das expressotildees idiomaacuteticas As definiccedilotildees apresentadas foram em seguida avaliadas por dois juiacutezes em uma escala de 3 pontos como (1) correta (2) parcialmente correta ou relacionado agrave acepccedilatildeo lexicograacutefica de expressotildees idiomaacuteticas ou (3) completamente incorreto Os valores meacutedios da escala idiomaacutetica calculada sobre todos os assuntos deram uma indicaccedilatildeo da disponibilidade ou o conhecimento do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

A segunda tarefa relacionou-se agrave questatildeo da familiaridade Consistia em dar uma estimativa da frequecircncia com que o sujeito usaria na liacutengua usando uma escala de 7 pontos de muito frequentemente

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utilizado para nunca usado Isto rendeu para cada expressatildeo idiomaacutetica um escore de frequecircncia subjetiva ou familiaridade

A terceira tarefa dizia respeito ao uso de sentido literal Os sujeitos foram instigados a interpretarem o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica quando pensavam que tinham recuperado o sentido literal da referida expressatildeo Apoacutes a resposta a esta pergunta o sujeito tinha de expressar em uma escala de 5 pontos o grau de confianccedila de ter recuperado o sentido literal

A quarta tarefa diz respeito ao ponto de singularidade idiomaacutetica Os sujeitos foram solicitados a indicar para cada expressatildeo idiomaacutetica o ponto em que palavra em uma expressatildeo idiomaacutetica tornava-se unicamente definida ou linguisticamente idiomaacutetica

Em se tratando dos resultados das tarefas aplicadas aos sujeitos da pesquisa as definiccedilotildees dadas e as classificaccedilotildees forneceram em primeiro lugar uma seacuterie de detalhes sobre as propriedades das expressotildees idiomaacuteticas que foram utilizados como uma base para outros estudos permitindo que as expressotildees idiomaacuteticas fossem divididas em duas categorias (a) bem conhecidas (alta proporccedilatildeo de definiccedilatildeo correta) e natildeo conhecidas (definiccedilotildees incorretas)

Segundo Flores drsquoArcais quando uma expressatildeo idiomaacutetica eacute bem conhecida o falante (leitor ou ouvinte) natildeo pensa que usa o sentido literal a fim de compreendecirc-la enquanto que quando a expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute bem conhecida a interpretaccedilatildeo literal eacute provaacutevel que seja usada em muitos casos

O segundo experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas que de acordo com a hipoacutetese da memoacuteria idiomaacutetica podem ser armazenadas como unidades formadas de vaacuterias palavras lexicais e portanto podem ser interpretadas como tal e ainda submetidas agrave anaacutelise sintaacutetica completa

Este experimento relacionou-se ao processamento sintaacutetico durante compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas A hipoacutetese era a de que se expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas na memoacuteria como unidades lexicais formadas polilexicalmente como afirma a lista de hipoacutetese entatildeo a anaacutelise sintaacutetica da estrutura frasal da liacutengua em princiacutepio natildeo deveria ser necessaacuteria para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

O experimento testou a hipoacutetese de que a anaacutelise sintaacutetica eacute um processo obrigatoacuterio automaacutetico que natildeo depende da estrutura

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particular ao ser processada e que eacute insensiacutevel agraves propriedades lexicais da estrutura frasal A experiecircncia investigou a questatildeo de saber se a anaacutelise sintaacutetica da expressatildeo idiomaacutetica continua mesmo quando a expressatildeo tinha sido reconhecida e o sentido idiomaacutetico apropriado foi atribuiacutedo a ele

Para estes experimentos 20 estudantes da Universidade de Leiden foram convidados a detectar violaccedilotildees sintaacuteticas em sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas verbais de familiaridade alta ou baixa

Em termos de material da pesquisa vinte e quatro frases que continham expressotildees idiomaacuteticas (12 expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares e 12 familiares) e 60 locuccedilotildees verbais a serem preenchidas que constituiacuteram o material do experimento Em 50 da apresentaccedilatildeo cada frase continha uma violaccedilatildeo gramatical tais como as seguintes (a) Violaccedilatildeo de concordacircncia de gecircnero entre artigo e substantivo e (b) Concordacircncia no pluralsingular

Em termos de procedimentos as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas foram apresentadas aos sujeitos da pesquisa em um computador uma de cada vez numa sequecircncia esquerda para direita com cada palavra exibida ocupando uma posiccedilatildeo diferente como em uma sequecircncia normal impressa No entanto cada palavra foi apresentada e permaneceu no visor por alguns segundos e depois desapareceu

Os resultados mostram que foram detectadas com sucesso pelos sujeitos das pesquisas tanto violaccedilotildees em locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas de alta e de baixa familiaridade (familiares e natildeo familiares A ausecircncia de qualquer diferenccedila na taxa de detecccedilatildeo de violaccedilotildees sintaacuteticas em expressotildees idiomaacuteticas de alta familiaridade e baixa familiaridade pode ser interpretada como tendo ocorrido em ambos os casos a anaacutelise sintaacutetica Os resultados destas tarefas permitiram concluir que a anaacutelise sintaacutetica da cadeia frasal que constitui a expressatildeo continua mesmo quando o item de familiaridade de alta foi reconhecida

O terceiro experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas altamente familiarizadas satildeo reconhecidas com facilidade sem qualquer necessidade para o caacutelculo do sentido literal ao passo que expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade exigem um esforccedilo adicional de processamento

Este experimento consistiu na leitura palavra por palavra de sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Para aplicaacute-lo Flores drsquoArcais considerou que para se compreender locuccedilotildees verbais

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idiomaacuteticas seria necessaacuterio um processamento adicional devido agrave necessidade de calcular primeiramente o sentido literal e em seguida um sentido idiomaacutetico ou a necessidade de construir duas interpretaccedilotildees em paralelo como vaacuterios dos modelos na literatura desta aacuterea sugerem alternativamente entatildeo deveria esperar aumento da carga de processamento com expressotildees idiomaacuteticas em comparaccedilatildeo com as natildeo idiomaacuteticas

Em termos de material deste experimento foram selecionadas vinte e quatro expressotildees idiomaacuteticas sendo 12 familiares e 12 muito estranhas ou natildeo familiares dos quais respectivamente 6 eram transparentes e 6 muito opacas constituiacuteram o material experimental Eles foram incluiacutedos em frases com contexto neutro literal ou idiomaacutetico Setenta e duas frases de preenchimento foram misturadas com as 24 sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Vinte e quatro dessas frases foram pareadas com sentenccedilas idecircnticas estruturas sintaacuteticas e conteuacutedos muito semelhantes agraves sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas As sentenccedilas foram apresentadas em uma palavra um monitor em situaccedilatildeo on-line sob controle dos sujeitos

Em termos de sujeitos e procedimentos da pesquisa vinte e quatro estudantes da Universidade de Leiden participaram da experiecircncia como sujeitos voluntaacuterios pagos Os tipos de frases de contexto e as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas foram randomizados de tal forma que cada indiviacuteduo recebeu duas sentenccedilas em dois contextos diferentes Os sujeitos se sentavam em frente ao monitor a uma distacircncia de cerca de 70 cm e receberam a sentenccedila de uma palavra no momento pressionando uma tecla As palavras da locuccedilatildeo verbal foram apresentadas na tela da esquerda para a direita e manteve-se visiacutevel ateacute que o fim da locuccedilatildeo verbal Algumas das frases necessitaram de duas linhas na tela

Os resultados mostraram que o tempo de inspeccedilatildeo ao ponto de singularidade da expressatildeo idiomaacutetica eram praticamente o mesmo para itens familiares e para palavras de controle que faziam parte de locuccedilotildees verbais natildeo idiomaacuteticas Expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas por outro lado necessitavam agraves vezes de inspeccedilatildeo significativamente mais longa As expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas exigem tempo de inspeccedilatildeo significativamente superior do que aqueles transparentes A interaccedilatildeo entre o tipo de frase de

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contexto e familiaridade foi significativa apenas para as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A pesquisa de Flores drsquoArcais nos sugere que a ocorrecircncia de uma expressatildeo idiomaacutetica familiarizada natildeo requer qualquer computaccedilatildeo adicional e que o processamento prossegue da mesma maneira como com uma frase contendo uma locuccedilatildeo verbal natildeo idiomaacutetica da mesma complexidade estrutural do uma expressatildeo idiomaacutetica

Por outro lado quando a palavra diacriacutetica (ou idiomaacutetica) de uma expressatildeo desconhecida for reconhecida o leitor desacelera o ritmo de leitura dela indicando assim a necessidade para a atribuiccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo alternativa para a frase no ponto de sua idiomaticidade

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais mostram que os leitores tecircm mais dificuldade na interpretaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas enquanto que eles natildeo parecem ter qualquer dificuldade na interpretaccedilatildeo de uma expressatildeo mais conhecida do que qualquer outra parte da sentenccedila

A pesquisa obteve evidecircncias para a noccedilatildeo de que expressotildees familiares satildeo processadas sem qualquer problema Por outro lado expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares quando opacas e especialmente se incorporadas num contexto neutro oferecem alguns problemas de processamento Para Flores drsquoArcais parece razoaacutevel argumentar que este material eacute compreendido em seu sentido literal ateacute o ponto em que isso natildeo eacute mais possiacutevel Neste ponto alguma computaccedilatildeo adicional parece ser necessaacuteria

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais assinalam enfim que expressotildees idiomaacuteticas familiares satildeo entendidas diretamente sem qualquer esforccedilo adicional e provavelmente sem a necessidade de computar a interpretaccedilatildeo literal Isso natildeo parece ser o caso para expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares para o qual o trabalho computacional adicional parece ser necessaacuterio e esta especialmente quando o contexto natildeo daacute qualquer sugestatildeo quanto agrave presenccedila de um sentido idiomaacutetico de uma cadeia criacutetica

O quarto e o quinto experimentos tentaram descobrir como as pessoas interpretam expressotildees desconhecidas e quais estrateacutegias que podemsatildeo utilizadas na atribuiccedilatildeo de tal interpretaccedilatildeo

O quarto experimento refere-se agrave interpretaccedilatildeo semacircntica de expressotildees familiares e natildeo familiares Neste experimento foram apresentados aos indiviacuteduos uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas e

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pedido que eles escolhessem entre quatro alternativas a frase que corretamente correspondia agrave paraacutefrase do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de material da pesquisa foram quarenta e oito expressotildees idiomaacuteticas escolhidas de tal modo a cobrir toda a gama de escalas de familiaridade determinadas no primeiro experimento Para cada locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica foram feitas quatro paraacutefrases alternativas

Uma dessas alternativas correspondia agrave interpretaccedilatildeo (definiccedilatildeo de dicionaacuterio) correta da expressatildeo idiomaacutetica os outros foram escolhidos a partir das definiccedilotildees errocircneas produzidas pelos sujeitos do estudo (piloto) ou em alguns casos criadas pelo experimentador e dois colegas

Em termos de sujeitos e procedimento participaram do experimento cinquenta estudantes da Universidade de Leiden onde lhes foi dado um livreto contendo as 48 expressotildees idiomaacuteticas com quatro alternativas cada A tarefa era escolher a paraacutefrase (maneira diferente de dizer algo que foi dito frase sinocircnima de outra) que melhor correspondia em sentido ao sentido da locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica

Os resultados apontam que para expressotildees altamente familiares a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito alta enquanto que para as expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito menor

Os sujeitos do experimento eram na maioria dos casos capazes de selecionar a paraacutefrase adequada para expressotildees idiomaacuteticas familiares Por outro lado eles tambeacutem apresentavam um desempenho melhor do que por acaso mesmo com expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas

Segundo Flores drsquoArcais natildeo eacute de surpreender que a familiaridade com a expressatildeo idiomaacutetica estaacute correlacionada com a interpretaccedilatildeo correta Para ele o fato de agraves expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ser atribuiacuteda uma paraacutefrase correta de alguma forma sugere que as pessoas satildeo capazes de usar a informaccedilatildeo semacircntica presente na cadeia sintagmaacutetica a fim de chegar a uma soluccedilatildeo

O quinto experimento testou a produccedilatildeo de paraacutefrases para locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A perguntava que guiava o experimento era que tipo de estrateacutegias ou princiacutepios que as pessoas usam na busca de uma interpretaccedilatildeo de uma locuccedilatildeo idiomaacutetica desconhecida e opaca Ou

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em outras palavras Flores drsquoArcais perguntava o seguinte que tipo de interpretaccedilatildeo as pessoas podem oferecer quando se encontram diante de uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou uma que lhe eacute muito estranha ou difiacutecil de lembrar Que tipo de estrateacutegias as pessoas usam para tentar dar sentido a essas expressotildees

No experimento foi dada aos participantes uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas com o pedido para informarem em cada caso uma paraacutefrase Em seguida foram analisadas as paraacutefrases tentando isolar os princiacutepios que os sujeitos poderiam ter usado em produzi-los

Em termos de material foram selecionadas sessenta e quatro locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas 32 familiares e 32 desconhecidas assim como foram indexadas no primeiro experimento Dentro de cada uma destas duas categorias 16 eram bastante transparentes e 16 eram expressotildees idiomaacuteticas opacas Juntamente com este material um total de 66 sentenccedilas lacunadas (cloze) foram apresentadas algumas tendo um sentido metafoacuterico figurativo algumas apenas um sentido literal

No tocante aos sujeitos foram 80 alunos da Universidade de Leiden que participaram deste estudo em grupos

Em termos procedimentais as expressotildees idiomaacuteticas foram impressas (sem contexto) em um livreto com espaccedilo adequado para o assunto para dar uma resposta Cada paacutegina continha 10 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas e a ordem das paacuteginas do livro foi variada para assegurar pelo menos a randomizaccedilatildeo do material

Quanto agrave classificaccedilatildeo das respostas foram avaliadas em primeiro lugar na base da sua correccedilatildeo A avaliaccedilatildeo consistiu de correspondecircncia da paraacutefrase com o sentido de dicionaacuterio Este trabalho foi feito por quatro juiacutezes e na maioria dos casos a avaliaccedilatildeo natildeo apresentaou qualquer problema

As interpretaccedilotildees incorretas foram classificadas independentemente pelos quatro juiacutezes com base em um nuacutemero de categorias criadas pelos proacuteprios juiacutezes durante a classificaccedilatildeo das respostas Essas categorias em seguida foram reunidas e apoacutes discussatildeo dada uma uacutenica etiqueta

As paraacutefrases em seguida foram classificadas e atribuiacutedas a uma destas categorias Quando a classificaccedilatildeo muacuteltipla foi possiacutevel em alguns casos a paraacutefrase dada foi discutida entre os juiacutezes e a

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classificaccedilatildeo foi baseada em uma escolha forccedilada entre as duas categorias possiacuteveis

Os resultados deste experimento mostraram que a proporccedilatildeo de paraacutefrases era estreitamente alinhada ao sentido das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute muito alta para as expressotildees idiomaacuteticas familiares e significativamente menor para as desconhecidas

As paraacutefrases dadas pelos sujeitos podem basearam-se em um dos seguintes princiacutepios linguiacutesticos a seguir

(a) Analogia a frase idiomaacutetica era interpretada por analogia a uma expressatildeo conhecida que continha uma palavra ou um constituinte de uma expressatildeo familiar

(b) Uso de propriedades semacircnticas de uma das palavras da expressatildeo idiomaacutetica principalmente um dos substantivos sem considerar a frase inteira

(c) Extensatildeo metafoacuterica da accedilatildeo ou estado descrito na frase (d) Sentido literal a interpretaccedilatildeo era literalmente dada Nesse

caso os sujeitos natildeo foram capazes de descobrir qualquer interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

(e) Outros nesta categoria foram classificados um nuacutemero de respostas muito pessoais ou idiossincraacutesicas no sentido de que os indiviacuteduos pareciam criaacute-las sem referecircncia a qualquer princiacutepio oacutebvio ou deram uma paraacutefrase que para todos os juiacutezes parecia completamente arbitraacuteria

Importante assinalar que a pesquisa de Flores drsquoArcais destaca que quando no experimento era apresentada uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida e pedido aos participantes para darem uma interpretaccedilatildeo eles pareciam ser capazes de dar paraacutefrases apropriadas ou adequadas e muitas vezes coincidiam com o sentido convencional da expressatildeo As interpretaccedilotildees propostas eram obtidas atraveacutes de expressotildees idiomaacuteticas familiares ou a partir de uma anaacutelise metafoacuterica A informaccedilatildeo semacircntica que constitui o sentido das unidades lexicais que fazem parte da locuccedilatildeo idiomaacutetica era usada para construir uma interpretaccedilatildeo muitas vezes adequada ou plausiacutevel

A pesquisa de Flores drsquoArcais chegou a trecircs conclusotildees Primeiro o contato inicial com a expressatildeo idiomaacutetica leva o

participante a recorrer agrave anaacutelise sintaacutetica mesmo sendo as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas muito familiares que em princiacutepio podem ser reconhecidas apoacutes as primeiras palavras da combinatoacuteria e natildeo

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necessitariam de uma anaacutelise sintaacutetica a fim de serem entendidas ou que parecem sugerir que satildeo analisadas como qualquer outra sequecircncia linguiacutestica o que significa dizer que a anaacutelise sintaacutetica eacute a rota normal e necessaacuteria para obter uma estrutura interpretaacutevel

Uma segunda conclusatildeo decorrente dos resultados da pesquisa indica que existe uma clara diferenccedila entre o processamento de expressotildees idiomaacuteticas bem conhecidas familiares e novas e desconhecidas Embora as expressotildees idiomaacuteticas conhecidas sejam normalmente processadas sem qualquer esforccedilo adicional a compreensatildeo de uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica estranha ou natildeo familiar podem exigir algum esforccedilo adicional computacional

Uma terceira conclusatildeo eacute a de que quando eacute dada uma interpretaccedilatildeo a uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida isso ocorre com base em uma seacuterie de princiacutepios Alguns deles foram isolados como prova para os processos que levam uma a uma interpretaccedilatildeo significativa

A pesquisa de Flores drsquoArcais revelou finalmente que o processamento de locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas pode apresentar alguns problemas computacionais apenas quando as expressotildees idiomaacuteticas satildeo muito ou completamente desconhecidas As interpretaccedilotildees dadas a essas expressotildees satildeo muitas vezes apropriadas ou pelo menos proacuteximas ao sentido convencional Para alcanccedilar tais interpretaccedilotildees o usuaacuterio da liacutengua adota uma seacuterie de estrateacutegias que satildeo baseadas em princiacutepios simples ou simplesmente idiossincraacutesicos

Com base em alguns dos procedimentos e princiacutepios da pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) elaboramos o 3ordm experimento de nossa pesquisa dividido em duas tarefas

Na primeira tarefa denominada Teste de Imagens Idiomaacuteticas (TII) objetivamos saber da competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pequisa em identificar e dizer os sentidos figurados ou fraseoloacutegicos a partir de imagens literais publicadas na internet que poderiam evocar expressotildees idiomaacuteticas apresentadas uma a uma ao participante

Na segunda tarefa denominada Teste da Competecircncia Fraseoloacutegica (TCF) buscamos saber sobre a competecircncia fraseoloacutegica dos sujeitos da pesquisa de modo a descobrir sentidos plausiacuteveis de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs (para efeito de anaacutelise de dados soacute consideramos seis delas) as mesmas da primeira

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tarefa a partir de determinado contexto do portuguecircs escrito (jornais de grande circulaccedilatildeo nacional no Brasil) Os experimentos de Cooper (1999)

A pesquisa de Cooper (1999) investigou as estrateacutegias de

processamento cognitivo on-line utilizadas por uma amostra de falantes natildeo nativos de Inglecircs que foram convidados a darem os sentidos de expressotildees idiomaacuteticas frequentes e apresentadas em um contexto escrito

Os dados foram coletados por meio do protocolo verbal think-aloud procedure (procedimento de pensar em voz alta) Os participantes verbalizaram como acessam os sentidos das expressotildees idiomaacuteticas

Cooper parte da noccedilatildeo fregeana de natildeo composicionalidade semacircntica de que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute uma expressatildeo cujo sentido nem sempre pode ser facilmente derivado do sentido comum dos seus elementos constitutivos Segundo ele eacute difiacutecil dizer o sentido literal por exemplo das palavras individuais (chutar balde pau barraca) em expressotildees como em portuguecircs chutar o balde e chutar o pau da barraca com o sentido de abandonar

Quanto aos participantes da pesquisa Cooper contou com um total de 18 sujeitos natildeo nativos do inglecircs Eles tinham idades entre 17 a 44 anos sendo a idade meacutedia de 293 anos Havia oito falantes nativos espanhoacuteis trecircs japoneses cinco coreanos um russo e um portuguecircs Os participantes tinham vivido nos EUA 51 anos em meacutedia e passaram de 73 meses em meacutedia estudando Inglecircs nos EUA Muitos dos participantes tinham estudado ou estavam estudando inglecircs em cursos de idiomas especiais destinados a aumentar a proficiecircncia dos estudantes estrangeiros para que eles pudessem atingir uma pontuaccedilatildeo alta o suficiente no teste de inglecircs como liacutengua estrangeira para admissatildeo em uma universidade dos EUA

No tocante aos materiais dos experimentos os participantes receberam um teste de reconhecimento idiomaacutetico no qual eles foram instados a darem oralmente os sentidos de 20 expressotildees idiomaacuteticas frequentemente usadas selecionadas de um dicionaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas americanas As expressotildees idiomaacuteticas escolhidas

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representaram uma mistura de diferentes niacuteveis de discurso (em nossa pesquisa desconsideramos este criteacuterio lexicograacutefico e adotamos um criteacuterio fraseoloacutegico)

Na seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas feita por Cooper oito das expressotildees eram representativos do inglecircs padratildeo oito eram informais ou coloquiais no niacutevel do discurso e quatro eram expressotildees do tipo giacuterias As expressotildees em inglecircs padratildeo seriam mais provaacuteveis de ocorrerem em inglecircs escrito e expressotildees de giacuteria mais no coloquial

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de uma ou duas frases selecionadas a partir de estudos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L1 Cada expressatildeo com seu contexto foi digitada em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Desta forma a pesquisa buscou aferir as medidas de compreensatildeo para que fosse analisado o processamento das expressotildees idiomaacuteticas imediatamente apoacutes a percepccedilatildeo auditiva ou visual

Para investigar os processos de compreensatildeo idiomaacutetica Cooper usou a teacutecnica do think-aloud protocols (protocolo pensar em voz alta) para coleta de dados enquanto os estudantes eram submetidos ao Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) O foco da tarefa (think-aloud protocols) era o de obter dados para relatar o conteuacutedo de sua consciecircncia imediata isto eacute os sujeitos teriam de relatar o que eles estavam pensando no momento do teste Dados oferecidos pela assistecircncia teacutecnica (experimentadores) natildeo foram tomados como reflexos diretos de processos de pensamento mas sim como dados que se correlacionaram com processos subjacentes do pensamento dos participantes

Segundo Cooper os dados do Protocolo Verbal forneceriam provas do que estava na mente do indiviacuteduo durante a tarefa permitindo ao pesquisador zerar os esforccedilos mentais envolvidos no exato momento que um sujeito natildeo nativo encontra uma expressatildeo idiomaacutetica potencialmente problemaacutetica

A principal hipoacutetese da pesquisa de Cooper (1999) foi a de que o reconhecimento da expressatildeo idiomaacutetica pode ser influenciado por fatores linguiacutesticos como o sentido de uma determinada palavra na expressatildeo idiomaacutetica e extralinguiacutesticos como as experiecircncias e conhecimentos preacutevios dos participantes Por essa razatildeo os

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participantes foram solicitados a manterem esses fatores em mente ao verbalizem seus pensamentos sobre como eles chegaram a possiacuteveis sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas

Nossa pesquisa difere brevemente deste porque levamos em conta sobretudo a memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes expressotildees memorizadas em que o informante sabe sua forma (fixaccedilatildeo) e seu conteuacutedo (idiomaticidade) natildeo podems falar em opacidade versus transparecircncia

Mesmo em casos de equivalecircncia de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (no caso dos africanos liacutenguas crioulas) consideramos estar diante de uma manifestaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica Em nossa pesquisa o recurso agrave L1 soacute foi considerado vaacutelido quando depois de constatado pelo experimentador que efetivamente o informante declarava natildeo lembrar nem saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo durante o protocolo verbal houve uma clara busca por uma estrateacutegica L1 para desvelar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2

Os dados da pesquisa foram analisados em duas fases Na primeira fase as definiccedilotildees das 20 expressotildees idiomaacuteticas pelos participantes foram pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Na segunda fase da anaacutelise as respostas dos participantes para cada expressatildeo apoacutes serem divididas em segmentos discursivos (denominadas de t- unidades) e como tais foram analisadas e marcadas de acordo com a estrateacutegia de compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica utilizada pelo participante

As estrateacutegias de compreensatildeo para os quais foram encontradas provas nos dados foram denominadas com referecircncia a estudos anteriores que lidam com a compreensatildeo on-line da expressatildeo idiomaacutetica em L1 (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993) uma vez que tal terminologia tinha se mostrado eficaz na anaacutelise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir de protocolos verbais Estas estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas entre outras foram classificadas em dois grupos as estrateacutegias de preparaccedilatildeo e as estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo

As estrateacutegias de preparaccedilatildeo permitiram aos participantes clarificar e consolidar o conhecimento sobre a expressatildeo (Estrateacutegia RP repetir ou parafrasear o idioma) para ganhar mais tempo antes de

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proferir um palpite talvez para ensaiar uma resposta e para peneirar a nova informaccedilatildeo linguiacutestica (Estrateacutegia DA discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica) e para coletar informaccedilotildees adicionais a fim de dar um palpite melhor informado sobre o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RI solicitando informaccedilotildees sobre o idioma)

As estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo representam casos em que o participante realmente arriscou uma interpretaccedilatildeo da expressatildeo e a estrateacutegia que leva agrave suposiccedilatildeo foi categorizada como descobrir o sentido idiomaacutetica da expressatildeo a partir do contexto (Estrateacutegia AC) usando o sentido literal (Estrateacutegia SL) utilizando os conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP) referindo-se a uma liacutengua L1 (Estrateacutegia L1) ou usando outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE)

Cooper (1999) observou que durante a aplicaccedilatildeo do teste a maioria dos participantes estava muito interessada em participar dos protocolos de assistecircncia teacutecnica em mateacuteria de reconhecimento expressatildeo e sempre buscavam saber os sentidos das expressotildees Eles estavam conscientes das dificuldades inerentes agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L2 e queriam mais ajuda nesta aacuterea especialmente para lidar com a frustraccedilatildeo causada para compreenderem muitas expressotildees idiomaacuteticas em L2

Os dados levantados pelo TRI permitiram apontar que oito estrateacutegias de processamento de expressotildees idiomaacuteticas foram identificadas das quais trecircs foram usadas mais frequentemente (supor o sentido idiomaacutetico que a partir do contexto usar o sentido literal da expressatildeo e discutir e analisar a linguagem) enquanto as outras cinco estavam em menos evidecircncia (referir-se a uma lingua L1 solicitar informaccedilotildees sobre a linguagem e contexto repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica utilizar o conhecimento de fundo e usar outras estrateacutegias)

Em substacircncia a pesquisa de Cooper (1999) assinala que o modelo padratildeo para explicar a compreensatildeo idiomaacutetica natildeo foi encontrado entre os conhecidos modelos de compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (teorias leacutexicas e composicionais do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas) entre outros mas trata-se um modelo heuriacutestico pelo qual os natildeo nativos do inglecircs apoacutes encontrarem uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida empregam uma variedade de estrateacutegias de uma forma de tentativa e erro para interpretar expressotildees idiomaacuteticas L2

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Modelos de aquisiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 natildeo se aplicam satisfatoriamente agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas pelos usuaacuterios L2 Algumas sugestotildees pedagoacutegicas derivadas dos achados foram incluiacutedas nas sugestotildees e recomendaccedilotildees da pesquisa de Cooper

Os procedimentos adotados por Cooper (1999) foram parcialmente aplicadas em nosso primeiro experimento Uma anaacutelise mais detida dos seus procedimentos metoloacutegicos levou-se a acrescentar algumas tarefas ao modelo estrateacutegico

Em nossa proposta introduzimos antes da tarefa de reconhecimento idiomaacutetico (denominada em nossa pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) duas tarefas identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e memoacuteria fraseoloacutegica Na primeira o informante teria que identificar a expressatildeo (grau de fixaccedilatildeo formal) e na segunda declarar se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

Com a inserccedilatildeo destas duas tarefas no modelo de Cooper (1999) pudemos entatildeo realizar a tarefa de idiomaticidade fraseoloacutegica na qual o informante atribuiacutea sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo e desconsideraacutevamos os informantes que jaacute sabiam de cor as expressotildees idiomaacuteticas do experimento

Os informantes descartados natildeo foram considerados tambeacutem no levantamento de frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de nosso experimento Estes procedimentos foram transferidos aos 2ordm e 3ordm experimentos de nossa pesquisa

Em substacircncia o experimento baseado em Cooper foi dividido em quatro tarefas nas quais objetivaacutemos fazer uma gravaccedilatildeo digital do que os participantes da pesquisa pensavam sobre quando tentavam descobrir os significados de 15 expressotildees idiomaacuteticas em PB

Inicialmente foram dados um a um 15 cartotildees com expressotildees idiomaacuteticas e pedido que lessem o pequeno texto que trazia inserida a expressatildeo idiomaacutetica mas sem quaisquer marcas de identificaccedilatildeo de sua forma (fixaccedilatildeo formal)

A segunda tarefa pedia ao informante para que dissesse se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

A terceira tarefa pedir que em voz alta dissesse ao experimentador tudo que estava pensando a partir do momento que olhasse a expressatildeo idiomaacutetica identificasse-a (ou natildeo posto que no caso de natildeo identificaacute-la tal procedimento seria feito pelo experimentador) ateacute que dizer o que ela significava no texto lido

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Na quarta tarefa o experimentador oferecia ajuda teacutecnica isto eacute estrateacutegias cognitivas (top-down) para que pudesse desvelar o sentido idiomaacutetico das expressotildees opacas Os experimentos de Crespo e Caceres (2006)

Entre as aquisiccedilotildees tardias da fala estaacute a capacidade de as

crianccedilas entenderem as frases feitas de natureza figurativa ou metafoacuterica que ocorrem na linguagem oral

Diante dessa problemaacutetica a pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) teve por objetivo descrever o desenvolvimento da compreensatildeo oral de frases metafoacutericas em crianccedilas entre 5 a 13 anos de idade matriculados em escolas puacuteblicas municipais e particulares em duas cidades no Chile

A pesquisa buscou especificamente alcanccedilar os seguintes objetivos a) apresentar as bases teoacutericas relacionadas com as frases feitas em espanhol e como as crianccedilas desenvolvem a sua compreensatildeo b) descrever o grau de compreensatildeo de frases feitas de natureza metafoacuterica em estudantes chilenos determinando a possiacutevel presenccedila de diferenccedilas significativas devido ao aumento da idade e c) determinar que tipo de frases feitas metafoacutericas satildeo mais faacuteceis ou mais difiacuteceis de entender

Os resultados indicaram diferenccedilas significativas no grau de compreensatildeo de enunciados metafoacutericos entre todos os grupos de idade considerados mais velhos

Os dados permitiram tambeacutem estabelecer que todos os enunciados fraseoloacutegicos foram relativamente faacuteceis Entre as unidades fraseoloacutegicas as colocaccedilotildees foram as que obtiveram percentuais maiores em termos de acertos quanto ao sentido idiomaacutetico seguidas dos proveacuterbios enquanto as locuccedilotildees verbais resultaram mais difiacuteceis de serem respondidas

A pesquisa permitiu estabelecer que um aluno com bom niacutevel de compreensatildeo das colocaccedilotildees tambeacutem foi capaze de lograr ecircxito em locuccedilotildees e proveacuterbios ao contrario do que ocorreu com alunos que evidenciaram um baixo niacutevel

A pesquisa teve um design natildeo experimental com as seguintes variaacuteveis consideradas idade agrupados por faixas mais largas (5-7 8-9 10-11 e 12-14 anos) definidas em grupos por idade para melhor estabelecer

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diferenccedilas entre os sujeitos e graus variaacuteveis de compreensatildeo das colocaccedilotildees locuccedilotildees e proveacuterbios que juntos constituem o grau variaacutevel de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de instrumento da pesquisa foi utilizado um software interativo que consistia de 54 itens que mediamm quatro dimensotildees relacionadas com a compreensatildeo da linguagem figurada ou idiomaacutetica Com tal procedimento fora incluiacutedos itens relacionados a atos de fala indiretos ironia expressotildees idiomaacuteticas e pressuposiccedilotildees

Os itens consistiam em diaacutelogos realizados entre personagens de desenhos animados Cada diaacutelogo apresentava uma declaraccedilatildeo natildeo literal em que a crianccedila devia interpretar adequadamente escolhendo entre as respostas possiacuteveis a serem marcados como correta (um ponto) ou incorreta (zero ponto) Primeiramente os pesquisadores buscaram estabelecer a presenccedila de diferenccedilas no grau de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em funccedilatildeo da idade

Considerando a idade relativa dos participantes e a capacidade de compreender expressotildees idiomaacuteticas os resultados da pesquisa de Crespo e Caceres (2006) indicam que com a idade aumenta capacidade de compreender idiomaticamente as expessotildees e essas diferenccedilas passam a ser significativas em crianccedilas mais novas com relaccedilatildeo agraves mais velhas Em outras palavras a idade e os processos associados ao desenvolvimento da crianccedila em idade escolar determinam o niacutevel de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

Outro fato que pode ser observado na pesquisa Crespo e Caceres (2006) eacute que embora as diferenccedilas na competecircncia idiomaacutetica sejam significativas em todas as faixas etaacuterias as diferenccedilas parecem aumentar nos primeiros trecircs grupos de idade (5-7 8-9 e 10-11) e diminuir menos de metade de um ponto entre os dois uacuteltimos (10-11 em comparaccedilatildeo com 12-14) Segundo os pesquisadores isto parece indicar que eacute nos primeiros anos escolares que o desenvolvimento da compreensatildeo idiomaacutetica torna-se mais evidente Foi observado que as colocaccedilotildees satildeo aquelas unidades fraseoloacutegicas que representam combinaccedilotildees mais simples e ao mesmo tempo mais faacutecil de serem compreendidas pelas crianccedilas

Os dados da pesquisa parecem indicar que o grau de dificuldade de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute inteiramente relacionado com a sua estrutura mas se deve a outros fatores como a familiaridade seu

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niacutevel analisabilidade sintaacutetica e o aumento da opacidade ou da transparecircncia semacircntica

Da pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) levamos como procedimento metodoloacutegico para nossa pesquisa a seleccedilatildeo das 18 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas presentes nos trecircs experimentos atraveacutes de suas tarefas uma vez que satildeo as locuccedilotildees do tipo verbo + argumento que melhor permitem observarmos o comportamento verbal dos participantes da pesquisa quanto agrave atribuiccedilatildeo de sentido literal e de sentido fraseoloacutegico agraves referidas unidades fraseoloacutegicas quando os mesmos satildeo submetidos a testes psicolinguiacutesticos Os experimentos de Detry (2010)

A pesquisa de Detry (2010) centrou-se na dimensatildeo literal-icocircnico

das expressotildees idiomaacuteticas (EI) e na possibilidade de explorar este aspecto a niacutevel cognitivo de aprendizagem na aacuterea de liacutengua estrangeira (LE)

Na parte teoacuterica de seu trabalho Detry mostra a importacircncia que as imagens formadas pelos componentes fraseoloacutegicos e seus valores metafoacutericos em jogo podem ser comparadas a partir de um ponto de vista natildeo soacute linguiacutestico mas mostram a importacircncia que as imagens podem ter tambeacutem de ordem psicolinguiacutestica de modo a contemplar a sua analisabilidade e transparecircncia (noccedilatildeo de motivaccedilatildeo semacircntica) de muitas expressotildees idiomaacuteticas

Em relaccedilatildeo ao processamento de expressotildees novas por falantes natildeo nativos Detry destacou em sua pesquisa a implicaccedilatildeo de que o tratamento especial geralmente dado agrave dimensatildeo literal levou os sujeitos da pesquisa a insistirem particularmente sobre o papel cognitivo a ser atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas semacircnticas das expressotildees

A pesquisa de Detry nos ajudou no design da primeira tarefa do 3ordm experimento que consistiu em solicitarmos dos participantes a identificaccedilatildeo das expressotildees (fixaccedilatildeo formal) a partir de imagens literais que poderiam evocar ou sugerir as seis locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas selecionadas para o experimento

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METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capiacutetulo inicialmente apresentamos como pensamos os

objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da nossa pesquisa Descrevemos como refinamos os instrumentos da pesquisa durante a aplicaccedilatildeo de preacute-testes a estudantes universitaacuterios nativos e natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

Tratamos tambeacutem da organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento psicolinguiacutestico bem como material e procedimento de seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas segundo criteacuterios fraseoloacutegicos toacutepicos que seratildeo bem detalhados uma vez que o 2ordm e 3ordm experimentos seguiratildeo os mesmos passos metodoloacutegicos do experimento

Tratamos ainda de como concebemos o Protocolo verbal think aloud (TA) e como procedemos com a gravaccedilatildeo de aacuteudios e a correspondente transcriccedilatildeo de dados que constituiacuteram o Corpus Afri

Por fim a fim de obtermos ferramentas metodologicamente adequadas para a aplicaccedilatildeo de nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos fez-se necessaacuterio um trabalho preacutevio composto por cinco etapas que descreveremos passo a passo Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa Objetivo Geral

Esta pesquisa teve por objetivo geral investigar as estrateacutegias de

compreensatildeo idiomaacutetica utilizadas por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB) em contextos de uso Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa

(a) Solicitar aos participantes que verbalizassem seus

pensamentos durante o esforccedilo de acessar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica com ou sem apoio de contexto de situaccedilatildeo ou uso da liacutengua portuguesa na vertente brasileira

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(b) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB imediatamente apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em contexto de uso (texto escrito)

(c) Verificar o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em situaccedilatildeo de contexto de uso (texto escrito lido pelos falantes) ou de forma isolada (exposiccedilatildeo oral feita pelo experimentador)

(d) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB a partir de estiacutemulos de imagens literais suscetiacuteveis de evocaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

(e) Identificar os tipos de expressotildees que os sujeitos natildeo nativos do PB natildeo reconhecem o sentido idiomaacutetico (opacas) e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de compreender (transparentes)

(f) Verificar que taacuteticas e estrateacutegias cognitivas (bottom-up e top-down) satildeo mais usadas pelos em falantes natildeo nativos do PB e quais as estrateacutegias (bem-sucedidas) que os beneficiam nos processos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uso no Brasil Perguntas da pesquisa

As dificuldades especiacuteficas com a quais nos defrontamos a partir do tema proposto e que resolvemos por intermeacutedio da pesquisa foram as seguintes

(a) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(b) De que forma expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa representadas por imagens variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(c) Ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

(d) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade intralinguiacutestica

(e) Que tipos de estrateacutegias os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas e quais delas foram bem-sucedidas

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Hipoacuteteses As respostas provaacuteveis para nossos problemas foram expressas

nas seguintes hipoacuteteses (a) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo

idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

(b) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas representadas por imagens tende a apoiar-se na memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB

(c) Os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria

(d) Os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos

(e) Os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

(f) As expressotildees que designam nomes de animais (zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(g) As expressotildees que designam nomes relacionados agrave botanismo (aacutervores) ao indumentismo (vestimenta) e ao gastronomismos (culinaacuteria) satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(h) Expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(i) O conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

(j) O fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

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(k) A idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

(l) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(m) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

Primeiros passos metodoloacutegicos

Ateacute que estabelececircssemos definitivamente os criteacuterios de seleccedilatildeo

de paiacutes lusoacutefonos os grupos de participantes da pesquisa por sexo por tempo de estada no Brasil e por instituiccedilatildeo educacional e finalmente aplicaacutessemos os experimentos ao universo de participantes dentro das minhas condiccedilotildees experimentais levamos muito para o mapeamento de todo o percurso metodoloacutegico resumidamente descrito nas cinco etapas a seguir

Na primeira etapa fizemos a seleccedilatildeo dos sujeitos constituiacutedos de estudantes universitaacuterios natildeo nativos do PB intercambistas (UFC Unilab e UECE) e regularmente matriculados em instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior (Unifor Fatene e Fanor) oriundos de dois paiacuteses africanos lusoacutefonos (Cabo Verde e Guineacute-Bissau) pertencentes agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (CPLP) Entrevistamos ainda angolanos e congoleses mas em pequeno nuacutemero o que desde cedo desconsideramos como sujeitos da pesquisa No caso dos congoleses ainda mais justificado porque o Congo natildeo tem o portuguecircs como liacutengua oficial

Na segunda etapa preparamos o material de trecircs experimentos e estabelecemos os criteacuterios de seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por categorias fraseoloacutegicas seguindo os paracircmetros metodoloacutegicos de estudos empiacutericos jaacute realizados com participantes natildeo nativos de uma liacutengua dada com foco nas pesquisas e os estudos mais recentes na aacuterea de fraseologia

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Na terceira etapa com base na literatura sobre experimentos psicolinguiacutesticos relacionados agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas organizamos a sequecircncia de tarefas de trecircs experimentos com o objetivo de averiguar a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo idiomaacutetica atraveacutes de um protocolo verbal think aloud

Na quarta etapa procedemos com o refinamento dos instrumentos da pesquisa onde inicialmente fizemos a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com 50 nativos do PB e com 10 estudantes africanos lusoacutefonos oportunidade em que obtivemos um feedback sobre se a redaccedilatildeo e a clareza do questionaacuterio eram evidentes para todos os questionados e se as questotildees ou questionaacuterios propostos faziam o mesmo sentido para todos os informantes

Na quinta e uacuteltima etapa desta fase preparatoacuteria para a realizaccedilatildeo da pesquisa para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos dos trecircs experimentos submetemos atraveacutes de troca de e-mails os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia (Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) e psicolinguiacutesticas (Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Florence Detry Luacutecia Fulgecircncio Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) ateacute que configuramos a versatildeo final de nossa pesquisa o que nos levou ao longo deste processo a uma contiacutenua e profiacutecua reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva2

Soacute a partir da realizaccedilatildeo destas etapas acima cadastramos o Projeto de Pesquisa na Plataforma Brasil para ser avaliado pelo Conselho de Eacutetica da UFC atendendo ao que estabelecem as normas da Resoluccedilatildeo 4662012 que trata de pesquisas e testes em seres humanos

2 Entre os docentes brasileiros gostariacuteamos de registrar a importacircncia das contribuiccedilatildeo das professoras Ana Cristina Pelosi Livia Marcia Tiba Radis Baptista e Maria Elias Soares ambas da UFC que por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo do projeto de pesquisa fizeram-nos refletir sobre a qualidade e validade dos experimentos com as imagens e com as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para os testes

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Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) com Parecer de nuacutemero de 3210212013

A tabulaccedilatildeo dos dados e a realizaccedilatildeo estatiacutestica foram feitas com auxilio do software Microsoft Excel 2003

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EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS

Participantes

Participaram dos experimentos psicolinguiacutesticos 20 estudantes selecionados para o Programa Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G)1 na UFC Unilab e UECE e um grupo de estudantes matriculados em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior (Unifor Fanor Fatene) no Cearaacute

O processo de recrutamento dos participantes foi feito inicialmente a partir de dados cedidos pela Coordenadoria de Assuntos Internacionais da UFC atraveacutes de uma lista com nomes de estudantes de graduaccedilatildeo da UFC em Fortaleza Sobral e Cariri com seus respectivos nuacutemeros de telefones celulares e e-mails o que nas primeiras tentativas de contato se mostrou um procedimento infrutiacutefero isto eacute natildeo foi suficiente para que o pesquisador obtivesse a adesatildeo voluntaacuteria (e creacutedito de confianccedila) dos estudantes agrave pesquisa

Posteriormente percebemos ser eficaz um processo de recrutamento atraveacutes das redes sociais em especial o Facebook com o envio de um convite aos estudantes africanos lusoacutefonos para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa contendo informaccedilotildees baacutesicas tais como o tiacutetulo da pesquisa e suas etapas equipe (pesquisador principal professora-orientadora e colaboradores) e o registro do Projeto de Pesquisa no Conselho de Eacutetica da UFCPlataforma Brasil Uma vez visualizada a primeira mensagem no Facebook enviamos nova mensagem aos participantes com solicitaccedilatildeo de amizade e confirmado individualmente o aceite por parte do destinataacuterio ativamos o bate-papo para formalizar o convite e sensibilizar o potencial sujeito para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa definindo

1 O Programa de Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G) criado oficialmente em 1965 oferece a estudantes de paiacuteses em desenvolvimento com os quais o Brasil manteacutem acordo educacional cultural ou cientiacutefico-tecnoloacutegico a oportunidade de realizarem seus estudos de graduaccedilatildeo em Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) brasileiras

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mecircs dia e horaacuterio para um encontro pessoal na UFC Centro de Humanidades nos Campi do Benfica e de Sobral

Entre os primeiros contatos pelo Facebook e o encontro pessoal com os participantes um a um para a realizaccedilatildeo dos testes muitas vezes levamos semanas ateacute que ganhaacutessemos sua confianccedila de todos participantes e despertaacutessemos neles o interesse de participar voluntariamente da pesquisa Agrave medida que fomos recebendo adesatildeo dos estudantes fomos pedindo a cada um deles que nos facilitassem contato com outros patriotas que residissem no Cearaacute Entre inuacutemeras respostas dos potenciais entrevistados recebemos estas

(a) Olaacute tdo bem Aceito participar da pesquisa Me desculpe pela demora eacute q eu estava muito ocupada faculdade Essa semana vai ser mais Light Caso decirc para senhor a gente poderia agendar logo para segunda feira d tarde Eu estudo no Benfica poderiacuteamos nos encontrar na Faculdade de Direito ou em qq lugar q fique proacuteximo ao Rualmoccedilarei laacute

(b) Olaacute Sim posso colaborar Como seria essa pesquisa Abraccedilo

(c) oi boa tardeeu aceito participar da pesquisa eu queria saber mais detalhadamente do que se trata a pesquisa

(d) oi natildeo tem problema natildeo eu posso participar da sua pesquisa sim Vc vai estar em sobral ateacute que dia bem qualquer coisa segunda a tarde da certo me liga ok tenha um bom final de semana abraccedilo e

(e) Prezado Vicente Martins Sou de Guineacute-Bissau estudante de Serviccedilo Social semestre 7deg de Faculdade Terra Nordeste - FATENECAUCAIA Podes contar com a minha participaccedilatildeo na sua pesquisa Mas gostaria de lhe salientar que faccedilo estagio no horaacuterio de manhatilde faculdade a tarde e outras atividades nos horaacuterios diferenciados Mas no momento estou de ferias na faculdade quer dizer que vou estar com disponibilidade de participar na pesquisa ateacute o final deste mecircs que eacute o fim das minhas ferias porque depois vou iniciar o meu trabalho de monografia o que vai consumir o meu tempo

Findo o processo de recrutamento dos participantes atraveacutes do Facebook contabilizamos mais de 200 estudantes africanos lusoacutefonos cabo-verdianos guineenses e angolanos interessados em participar da pesquisa o que nos levou a refinar mais uma vez a lista de potenciais sujeitos entre os que detinham mais tempo ou disponibilidade para as entrevistas ou em condiccedilotildees de deslocamento para conceder entrevista

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(modelo DID isto eacute Diaacutelogos entre Informante e Documentador ) de cerca de 1h 30min sem prejuiacutezo de suas atividades acadecircmicas Foram seis meses entre os primeiros contatos com os estudantes pelo Facebook e contatos por via celular e a conclusatildeo das gravaccedilotildees de aacuteudios com todos os sujeitos da pesquisa

O universo de sujeitos de nossa pesquisa envolveu inicialmente 32 africanos lusoacutefonos de Cabo Verde Guineacute-Bissau e Angola por serem estes paiacuteses africanos os que concentravam maior nuacutemero de estudantes-convecircnio no Cearaacute e estudantes matriculados agraves suas proacuteprias expensas em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior

Posteriormente para viabilizar o processo de transcriccedilatildeo dos aacuteudios tomamos a decisatildeo de reduzir o nuacutemero de paiacuteses (desconsideramos Angola por ter um nuacutemero reduzido de informantes entrevistados) caindo o nuacutemero de 32 para 20 informantes mantendo-se todavia ainda um nuacutemero elevado de transcriccedilotildees ortograacuteficas na ordem de mil folhas o que nos levou tambeacutem a diminuirmos o nuacutemero de itens dos testes que ateacute entatildeo eram de 45 para 18 expressotildees idiomaacuteticas ficando ao final 944 folhas de transcriccedilatildeo com 18 expressotildees idiomaacuteticas (incluindo as respostas relacionadas ao teste com imagens idiomaacuteticas) permitindo finalmente uma leitura mais detida do material transcrito e uma anaacutelise mais apurada das respostas dos informantes a partir de suas entrevistas concedidas ao pesquisador principal e agrave sua equipe de colaboradores (Mariana de Abreu Martins e Atiacutelia de Abreu Martins)

Para a anaacutelise dos dados dos experimentos psicolinguiacutesticos dividimos os informantes selecionados por paiacutes isto eacute Cabo Verde e Guineacute-Bissau em 4 grupos de 05 estudantes cada sendo

bull Grupo 1 (G1) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1234 e 5

bull Grupo 2 (G2) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 6789 e 10

bull Grupo 3 (G3) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 11121314 e 15

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bull Grupo 4 (G4) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1617 18 19 e 20

Levantamento de dados atraveacutes ficha dos informantes preenchida no dia da entrevista apontou para o seguinte quadro de representaccedilatildeo por paiacutes e curso

(a) 10 Alunos de cabo verde matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Comunicaccedilatildeo Social Publicidade e Propaganda Direito Engenharia Produccedilatildeo Mecacircnica Biotecnologia Engenharia Eleacutetrica Letras Medicina e Odontologia

(b) 10 alunos de Guineacute-Biassu matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Ciecircncias Contaacutebeis Direito Engenharia de Produccedilatildeo Mecacircnica Serviccedilo Social Engenharia Eleacutetrica Ciecircncias da Computaccedilatildeo e Letras

Como criteacuterios de exclusatildeo foram considerados os informantes com estes quatro preacute-requisitos (a) a natildeo assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil e (d) apresentarem uma postura natildeo cooperativa ou indiferente durante a aplicaccedilatildeo dos testes ou interferecircncia ocasional de circunstantes durante as gravaccedilotildees dos aacuteudios de modo a comprometer a qualidade das gravaccedilotildees e suas respectivas transcriccedilotildees ortograacuteficas Foram excluiacutedos 12 informantes que tinham pelo menos uma destas restriccedilotildees acima

Como criteacuterios de inclusatildeo foram considerados (a) a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) natildeo serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil informantes com ateacute quatro anos residindo no Brasil e(d) postura cooperativa durante a aplicaccedilatildeo dos testes e a natildeo interferecircncia ocasional de circunstantes na qualidade dos aacuteudios Observamos entre as caracteriacutesticas psicoloacutegicas dos informantes selecionados para a pesquisa as seguintes timidez vivacidade e perspicaacutecia

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Refinamento dos instrumentos da pesquisa Em nosso trabalho os preacute-testes com sujeitos nativos do

Portuguecircs Brasileiro (PB) aleacutem de nos terem possibilitado ajustes e detecccedilatildeo de incoerecircncias nos designs dos experimentos para estabelecermos graus de identificaccedilatildeo e memoacuteria fraseoloacutegicas e para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas puderam aumentar a validade do nosso instrumento da pesquisa agrave medida que imprimiram um caraacuteter rigoroso agrave metodologia de modo a evitar tomada de decisotildees aleatoacuterias

Durante a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes relativos aos trecircs experimentos com sujeitos nativos do portuguecircs brasileiro estudantes universitaacuterios da UFC e da UVA ainda natildeo eram suficientemente claros da nossa parte os passos ou procedimentos metodoloacutegicos da nossa pesquisa

Algumas perguntas nos inquietavam do tipo (a) como selecionar e categorizar as expressotildees idiomaacuteticas que vatildeo aparecer nos testes (b) uma vez selecionadas as expressotildees deveriam aparecer dentro de que tipo de gecircnero textual (jornais revistas) ou devem ser colocadas dentro de um texto que o pesquisador venha a construir em anunciados breves Que extensatildeo (nuacutemero de palavras) deveriam ter os textos em que as expressotildees vatildeo aparecer para a leitura dos informantes O experimentador identificaria a expressatildeo jaacute na pergunta do experimento ou solicitaria que apoacutes a leitura os informantes fizessem a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Uma vez sendo identificada a expressatildeo pelo informante ou pelo experimentador a pergunta seguinte deveria se referir agrave memoacuteria fraseoloacutegica ou agrave idiomaticidade semacircntica ou intralinguiacutestica levando em conta L1 e L2 Na tarefa relacionada agrave questatildeo de muacuteltipla escolha quantas alternativas deveriam ser submetidas aos participantes e quais os criteacuterios para elaboraccedilatildeo destas alternativas Como categorizar previamente as taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo Como natildeo aborrecer os informantes durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud em que a todo momento o experimentador solicitaria que pensassem em voz alta para que todos seus comentaacuterios fossem registrados nos aacuteudios digitais Na tentativa de resolver estas questotildees acabamos por desenvolver tarefas especiacuteficas para dirimir estas duacutevidas ao longo da aplicaccedilatildeo fdos testes experimentos

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procurando explicitar as quatro perguntas fundamentais da pesquisa numa sequecircncia rigorosa (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica - memoacuteria fraseoloacutegica - idiomaticidade fraseoloacutegica) fruto das observaccedilotildees e experiecircncias na anaacutelise dos dados dos preacute-testes

Em outras palavras ressaltamos que tendo em conta que a opacidade-transparecircncia depende das caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas (metaacuteforas literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo e do conhecimento de cada falante consideramos que uma expressatildeo idiomaacutetica de faacutecil reconhecimento pelo falante nativo natildeo eacute necessariamente faacutecil para um falante natildeo nativo E vice-versa

Procuramos com a seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas e a montagem dos testes assim refletir bem este zelo com um informante muito especial que em hipoacutetese nenhuma poderia ser visto por noacutes como um estrangeiro comum no Brasil por apresentarem um perfil singular satildeo falantes lusoacutefonos competentes em L2 (liacutengua portuguesa) falantes com L1 (crioulo) com base lexical em L2 residentes temporaacuterios no Brasil e com paiacuteses relativamente distintos com relaccedilatildeo agrave economia poliacutetica educaccedilatildeo e ao ensino do portuguecircs como liacutengua oficial

Durante a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com imagens idiomaacuteticas (terceira bateria de testes) observamos que os falantes nativos do PB eram capazes de reconhecer (ou natildeo) como de fato aconteceu as imagens que podiam evocar expressotildees idiomaacuteticas (ou outras unidades fraseoloacutegicas como proveacuterbios e parecircmias por exemplo) e associaacute-las diretamente ao sentido figurado que armazenam em sua memoacuteria o que nos indicaria que essa operaccedilatildeo assim dependeria sobretudo do que o falante recordava como expressotildees em sua liacutengua materna (liacutengua portuguesa na vertente brasileira)

Em outras palavras os dados do preacute-teste natildeo foram capazes de nos indicar se as expressotildees idiomaacuteticas eram transparentes ou natildeo jaacute que simplesmente os falantes nativos as armazenam em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam no seu cotidiano Por essa razatildeo quando elaboramos definitivamente os trecircs experimentos descartamos os informantes que lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

Reestruturamos os preacute-testes com imagens idiomaacuteticas e os convertemos em duas etapas na terceira bateria de testes de nossa pesquisa

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Cremos que se os falantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro diante de uma imagem de uma nova expressatildeo idiomaacutetica portanto natildeo previsiacutevel em sua liacutengua (no caso o crioulo) podem adivinhar parcial ou totalmente seu sentido figurado entatildeo isso poderia nos indicar que algo na imagem ajuda a chegar ao sentido figurado Desta forma para julgarmos o grau de transparecircncia-opacidade das expressotildees idiomaacuteticas natildeo consideramos as respostas dos nativos no preacute-teste O ineditismo do trabalho estaria pois em observarmos o comportamento verbal de informantes natildeo nativos que declarassem desconhecer a forma fixa e o sentido translato das expressotildees idiomaacuteticas

Os dados dos preacute-testes nos levaram a considerar o seguinte em nossa pesquisa a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica dependeraacute do contexto proposto O contexto poreacutem para um falante nativo pode ser ou natildeo clarificador em relaccedilatildeo ao sentido figurado ou idiomaacutetico de expressatildeo opaca No caso de um falante natildeo nativo o contexto conteacutem chaves semacircnticas para que chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica Por essa razatildeo as 45 expressotildees idiomaacuteticas utilizadas nas trecircs baterias de testes foram contextualizadas a partir de excertos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional

Posteriormente submetemos informalmente a trecircs estudantes africanos as trecircs baterias de testes Observamos que na segunda bateria e na terceira de testes uma expressatildeo idiomaacutetica posta em contexto ajudava mais que uma expressatildeo idiomaacutetica apresentada de forma isolada como ocorreu nos preacute-testes com os nativos

Se a expressatildeo eacute opaca um natildeo nativo do portuguecircs brasileiro como eacute o caso de um africano lusoacutefono natildeo teria a princiacutepio condiccedilotildees de descobrir o que eacute fora de contexto Em substacircncia fomos levados a reconhecer que o contexto realmente dirige a compreensatildeo e noacutes lusoacutefonos nativos e natildeo nativos de uma liacutengua portuguesa sempre construiacutemos o sentido Os resultados da pesquisa confirmaram que os sentidos idiomaacuteticos das expressotildees foram altamente dependentes do contexto construiacutedo

Vimos tambeacutem mesma expressatildeo idiomaacutetica pode natildeo ser compreensiacutevel num contexto (formal como em texto jornaliacutestico de circulaccedilatildeo nacional) e ser compreensiacutevel em outro (informal como por exemplo em exemplo dado pelo experimentador) Por essa razatildeo fomos levados a repensar as estrateacutegias top-down acrescentado duas delas AA (Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de

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alternativas de muacuteltipla escolha) e AT (Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal) para ajudar na codificaccedilatildeo das respostas dos informantes agraves perguntas dos testes

Os resultados da primeira fase dos preacute-testes foram bastante fraacutegeis porque as expressotildees idiomaacuteticas foram apresentadas aos participantes isoladamente mas como a discutirmos com os estudantes brasileiros especialmente os da aacuterea de Letras advertiram-nos que se as expressotildees fossem contextualizadas os dados seriam mais reveladores sobre os processos de compreensatildeo idiomaacutetica posto que o contexto desempenha importante papel na construccedilatildeo ou montagem do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacutetica

Convencidos da necessidade de utilizaccedilatildeo de contextos de uso na apresentaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas aos nossos informantes acreditamos que tal procedimento se constitui a rigor em um meacutetodo eficiente para a pesquisa sobre estrateacutegias de compreensatildeo com informantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro e que aleacutem de ser mais interessante tambeacutem pode nos oferecer melhores resultados ou respostas para os problemas desta investigaccedilatildeo como veremos mais adiante Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento

Para a realizaccedilatildeo deste experimento foram utilizados os

seguintes procedimentos a) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede CNS 19696 apresentado em voz alta pelo entrevistador antes das entrevistas e em seguida lido em voz silenciosa pelos informantes e depois de tiradas as duacutevidas devidamente assinado pelos mesmos As instruccedilotildees lidas aos participantes no momento da entrega deste documento natildeo faziam quaisquer menccedilotildees a aspectos metalinguiacutesticos da pesquisa como por exemplo a definiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica nem daacutevamos tambeacutem exemplos de locuccedilotildees verbais (o conjunto dos itens selecionado para a pesquisa) um dos tipos de expressotildees idiomaacuteticas escolhido para nossa investigaccedilatildeo

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b) Realizaccedilatildeo de uma bateria de testes ou experimentos psicolinguiacutesticos atraveacutes de quatro tarefas ou experimentos para coleta de dados obedecendo rigorosamente as etapas abaixo

(1) Tarefa 1 Teste e Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes apoacutes a leitura dos testes identificarem no texto a expressatildeo pluriverbal fixa isto eacute a forma fixa da expressatildeo idiomaacutetica (locuccedilatildeo verbal)

(2) Tarefa 2 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes antes da aplicaccedilatildeo do Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica declararem se lembravam ou haviam ouvido a expressatildeo ou se lembravam a expressatildeo mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico ou ainda se lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

(3) Tarefa 3 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica que consistiu em antes durante ou depois da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal os informantes atribuiacuterem sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo dada isto eacute apontar sua idiomaticidade semacircntica com ou sem Solicitaccedilatildeo de Informaccedilatildeo (SI) ou ajuda teacutecnica do experimentador e

(4) Tarefa 4 Teste de Verificaccedilatildeo de Estrateacutegias de Compreensatildeo que consistiu em capturar dos informantes durante a realizaccedilatildeo das entrevistas as estrateacutegias decorrentes do protocolo verbal de ajuda teacutecnica nas tarefas 1 2 e 4 de modo a evidenciar a frequecircncia de uso de estrateacutegias de compreensatildeo e as estrateacutegias bem-sucedidas relacionadas ao reconhecimento idiomaacutetico de seis expressotildees fixas

A primeira bateria de testes apresenta os seguintes itens meacutetodo (material) com suas etapas (familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando) Em seguida apresentamos seus objetivos especiacuteficos e os problemas e as hipoacuteteses a eles correlacionadas em cada uma das tarefas da bateria

Assim procedemos porque acreditamos que do ponto metodoloacutegico os objetivos e hipoacuteteses de uma pesquisa devem estar relacionados entre si e em torno dos problemas levantados (das questotildees de pesquisa) pertinentes ao objetivo de estudo

Para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos destas tarefas acima descritas submetemos os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia

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(Gloria Corpas Pastor Leonor Ruiz Gurillo Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Maria J Cuenca Pelegri Sancho Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Nina Crespo Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale Cleci Regina Bevilacqua Tatiana Rios e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin esta nossa orientadora) e psicolinguistas do Brasil e da Espanha ( Leonor Scliar Cabral Maria Elias Soares Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Luacutecia Fulgecircncio Alessandra Del Reacute Leacutelia Melo Sandra Antunes Marilei Amadeu Sabino Rosemeire Selma Monteiro-PlantinMariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Emilio Rivano Juan Pablo Larreta Zulategui e Florence Detry) ateacute que configuraacutessemos a versatildeo final o que nos levou ao longo deste processo agrave reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva Material e Procedimento de seleccedilatildeo

Como dissemos anteriormente o material e procedimentos de

seleccedilatildeo foram melhor refinados depois da aplicaccedilatildeo do preacute-teste a 50 alunos nativos do PB estudantes do Curso de Letras da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) em Fortaleza e da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) em Sobral Haviacuteamos inicialmente selecionado 55 expressotildees idiomaacuteticas todas locuccedilotildees verbais o que na fase dos testes da pesquisa se mantidas nesta totalidade tomariam muito tempo dos estudantes africanos e poderiam aborrececirc-los

Optamos por essa razatildeo pela reduccedilatildeo do nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas Entatildeo de 55 reduzimos para 45 o nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas para os trecircs testes elaborados para a pesquisa sendo que cada teste ficou com 15 itens Cada teste envolveu vaacuterias tarefas aleacutem da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal A ideia era a de ter em cada teste expressotildees suficientes para em um eventual corte termos condiccedilotildees de escolher as mais adequadas agrave pesquisa o que acabou acontecendo como descrevemos mais adiante

Vale salientar que a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes com os nativos do PB foi muito importante para a redefinirmos amiuacutede o material e procedimento de seleccedilatildeo dos informantes antes de fazermos a pesquisa de campo Haviacuteamos selecionado por exemplo para a primeira bateria de testes 15 expressotildees idiomaacuteticas subdivididas em 3 grupos (a) 1ordm grupo - brasileirismos ficar de queixo

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caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha e ver o sol (nascer) quadrado (b) 2ordm grupo - giacuterias chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga e tirar aacutegua do joelho (c) 3ordm grupo - popularismos aguentar o tranco bater as botas botar a boca no trombone sair com o rabo entre as pernas segurar as pontas

A seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas acima poreacutem mostrou-se pouco operante na fase final de seleccedilatildeo das expressotildees Jaacute observarmos durante anaacutelise dos dados dos preacute-testes aplicados aos nativos do PB que a divisatildeo em classes era contraproducente Assim abandonamos o criteacuterio lexicograacutefico de classificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (brasileirismos giacuterias popularismos) porque consideramos que este modelo de taxonomia lexicograacutefica natildeo atendia aos objetivos de nossa pesquisa sem deixarmos de mencionar que eram grupos ou classes que se superpunham isto eacute as classes propostas natildeo eram excludentes entre si

Na classificaccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais (Houaiss 2009 Aureacutelio 2009 e Sacconi 2010) uma expressatildeo era incluiacuteda na classe dos brasileirismos e outra na classe das giacuterias o que natildeo havia motivo de ordem linguiacutestica para tal procedimento Por exemplo a expressatildeo ldquomatar a cobra e mostrar o pau mostrarrdquo em um dicionaacuterio era classificada como um ldquobrasileirismordquo mas em outro dicionaacuterio recebia uma outra denominaccedilatildeo assim como ldquochutar o pau da barracardquo estaacute na classe das giacuterias e natildeo na mesma classe de ldquosair com o rabo entre as pernasrdquo assim por diante Realmente um impasse que precisava ser resolvido antes de aplicarmos os testes aos natildeo nativos do PB A distribuiccedilatildeo das expressotildees nas classes acima nos pareceu tambeacutem bastante arbitraacuteria Em uma fraseologia estaacutevamos a continuar com este modelo num beco sem saiacuteda

Diante desse embaraccedilo lexicograacutefico recorremos agrave praacutetica taxionocircmica presentes nas atuais pesquisas fraseoloacutegicas europeias nomeadamente hispacircnicas tendo a frente pesquisadores como Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p363-364) Olza Moreno (2011 p37-41) Luque Nadal ( 2012 p66-69) Mellado Blanco (2004 p15-40) o que nos levou a reclassificar as expressotildees do nosso estudo em zoomorfismos somatismos e especiais estas subdivididas dependendo do teste em botanismos indumentismos e gastronomismos

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No caso da 1ordf bateria de testes de reconhecimento ficamos com dois zoomofismos dois somatismos e dois botanismos assim excluindo as demais especiais (indumentismos e gastronomismos)

Seguindo a liccedilatildeo de Mellado Blanco (2004 p22) entendemos por zoomorfismos e somatismos as expressotildees idiomaacuteticas que contecircm pelo menos um lexema referente a nome de animais ou agrave parte do corpo humano respectivamente Nas especiais os botanismos satildeo expressotildees que trazem na sua formaccedilatildeo um lexema relacionado agrave botacircnica os indumentismos ao menos um lexema relacionado agrave vestimenta e gastronismos expressotildees idiomaacuteticas que tenham ao menos um lexema relacionado agrave arte culinaacuteria ou agraves refeiccedilotildees apuradas Os indumentismos foram utilizados na segunda e os gastronomismos na terceira bateria de testes

Como jaacute antecipamos em paraacutegrafo anterior para esta primeira bateria de testes dado o volume de informaccedilotildees contidas nas respostas agraves 15 expressotildees idiomaacuteticas contextualizadas registradas atraveacutes das respostas dadas pelos estudantes africanos lusoacutefonos agraves quatro tarefas selecionamos 06 delas para apresentaccedilatildeo destes dados classificadas conforme as taxionomias mais frequentes nas pesquisas fraseoloacutegicas atuais

Sendo assim o primeiro grupo foi formado por duas expressotildees zoomoacuterficas ou zoomorfismos matar cachorro a grito e pagar mico O segundo grupo foi formado de duas expressotildees somaacuteticas ou somatismos tirar aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone O terceiro grupo foi formado de duas expressotildees botacircnicas ou botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca

Para testarmos a frequecircncia das expressotildees idiomaacuteticas no Portuguecircs Brasileiro submetemo-las a um mecircs da data da aplicaccedilatildeo da primeira bateria de testes de reconhecimento idiomaacutetico ao Google Brasil obtendo os seguintes resultados (a) Zoomorfismos matarmatando cachorro a grito ( 247000 resultados) e pagarpagando mico (796000 resultados) (b) Somatismos tirartirando aacutegua do joelho (187000 resultados) e pocircr a boca no trombone ( 623000 resultados) e (c) Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa ( 215000 resultados ) e chutarchutando o pau da barraca( 654000 resultados) Como

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podemos observar todas as expressotildees tecircm uma frequecircncia de uso significativo nas mais diversas miacutedias no Brasil

Aleacutem do Google recorremos a obras especializadas para observamos o registro ou a presenccedila das referidas unidades fraseoloacutegicas nos dicionaacuterios de expressotildees idiomaacuteticas publicados no Brasil tendo ainda neles consultado as acepccedilotildees mais comuns com suas respectivas abonaccedilotildees como as presentes no Dicionaacuterio de locuccedilotildees e expressotildees da liacutengua portuguesa de Carlos Alberto de Macedo Rocha e Carlos Eduardo Penna de Rocha (2011) Afinal era preciso por parte do analista ter um conjunto de acepccedilotildees ou definiccedilotildees parafraacutesticas e abonaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para cotejar com as respostas dos informantes

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 06 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de situaccedilatildeo Desta maneira cada expressatildeo com seu contexto foi digitado em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Os participantes eram introduzidos agrave primeira bateria de testes com os seguintes textos extraiacutedos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional contendo as seguintes expressotildees idiomaacuteticas por categorias de classificaccedilatildeo Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Contexto de situaccedilatildeo Costuma-se pensar que artistas de modo

geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado de Satildeo Paulo 20032011)

Sentido idiomaacutetico encontrar-se em situaccedilatildeo aflitiva eou desesperadora estar sem dinheiro em difiacutecil situaccedilatildeo financeira dispondo-se a fazer qualquer coisa para dela sair

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Natildeo pagar mico Contexto de situaccedilatildeo Para quem natildeo quer pagar mico na escolha

de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012)

Sentido idiomaacutetico natildeo fazer besteira natildeo passar vergonha por situaccedilatildeo ridiacutecula

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Contexto de situaccedilatildeo Existem perguntas que alvez vocecirc soacute tinha

feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007)

Sentido idiomaacutetico urinar verter urina voluntaacuteria ou involuntariamente

Pocircr a boca no trombone Contexto de situaccedilatildeo Indignado com os desmandos em Chaval

uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog tambeacutem lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011)

Sentido idiomaacutetico Dar gritos berrar com estardalhaccedilo chorando advertindo etc reclamar em altos brados protestar revelar segredos contar tudo o que sabe

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Contexto de situaccedilatildeo A partir do dia primeiro de janeiro quando

for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210)

Sentido idiomaacutetico sofrer uma seacuteria liccedilatildeo sofrer um corretivo ou castigo em algueacutem demonstrar o proacuteprio valor

Chutar o pau da barraca Contexto de situaccedilatildeo Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso

Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes (In Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009)

Sentido idiomaacutetico mostrar-se irritado aborrecido impaciente abandonar desistir de um projeto Protocolo Verbal Think Aloud (TA)

Os experimentos off-line em psicolinguiacutestica experimental satildeo

baseados segundo Leitatildeo (2009 p223) em respostas dadas por indiviacuteduos apoacutes estes terem lido ou ouvido uma frase ou um texto permitindo que o pesquisador possa capturar reaccedilotildees e estiacutemulos linguiacutesticos quando jaacute houve uma integraccedilatildeo entre todos os niacuteveis linguiacutesticos (fonoloacutegico morfoloacutegico lexical fraseoloacutegico sintaacutetico semacircntico)

Esta metodologia experimental levou-nos entatildeo a formular um Protocolo Verbal do tipo think aloud tal qual o modelo de Cooper (1999) de experimentos similares ao que nos propusemos a esta pesquisa de modo que nos permitisse observar atraveacutes de um experimento off-line como os estudantes africanos lusoacutefonos processavam a identificaccedilatildeo a recordaccedilatildeo e a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute como verbalizavam o que lhes vinha agrave mente durante a realizaccedilatildeo das tarefas 1 2 3 e 4 da primeira bateria de testes

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Para uma pesquisa de processamento fraseoloacutegico por estudantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro cremos que o Protocolo Verbal por ser um meacutetodo introspectivo justifica-se por evitar interpretaccedilotildees ou afericcedilotildees difusas ou muito subjetivas no tocante ao processamento da compreensatildeo idiomaacutetica e tambeacutem o referido instrumento nos permite recolher com mais seguranccedila dados linguiacutesticos a partir de um processo de verbalizaccedilatildeo muito simples para os participantes tornando-se acessiacutevel a qualquer indiviacuteduo (TOMITCH 2008) e para o pesquisador empiricamente um instrumento facilitador quanto agraves atividades de transcriccedilatildeo e de codificaccedilatildeo das estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando-nos ainda levar a efeito vaacuterias tarefas psicolinguiacutesticas com objetivo de investigarmos a compreensatildeo idiomaacutetica dos falantes natildeo nativos

Os procedimentos do Protocolo verbal think aloud na primeira bateria de testes seguiram os mesmos passos metodoloacutegicos da pesquisa Cooper (1999) aplicada a 18 estudantes de Inglecircs como L2 nos EUA e os de outros estudos de L2 que tambeacutem adotaram a mesma metodologia psicolinguiacutestica (CHARTERS 2003 e BAHAMEED 2009 )

As tarefas foram registradas em gravador digital de voz (CXR190-2GE) posteriormente transcritas ortograficamente com notaccedilotildees das conversas ou comentaacuterios observados pelos transcritores e pelo entrevistador (pesquisador principal) de modo a oferecer dados para a identificaccedilatildeo recordaccedilatildeo e compreensatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas Transcriccedilatildeo de Dados

As vinte entrevistas dos sujeitos do experimento psicolinguiacutestico

foram transcritas na iacutentegra do gravador digital de voz produzindo 267 paacuteginas de degravaccedilatildeo em espaccedilo duplo contendo cerca de 25000 palavras Esta primeira bateria representou 41 das 944 paacuteginas transcritas das trecircs baterias de experimentos realizadas nesta pesquisa

Com o objetivo de agilizar o processo de transcriccedilatildeo dos 20 aacuteudios e manter a homogeneidade no tratamento dos dados instruiacutemos e constituiacutemos uma equipe de seis profissionais na aacuterea de Letras que

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juntamente com o pesquisador principal2 colaboraram com as transcriccedilotildees ortograacuteficas

Como a experiecircncia com Facebook na fase de recrutamento mostrou-se eficiente com objetivo de estimular a troca de ideias opiniotildees e tira-duacutevidas criamos um grupo fechado tambeacutem por esta miacutedia social denominado Grupo de Estudos e Transcriccedilotildees Ortograacuteficas (GESTO acesso por httpswwwfacebookcomgroupsfraseologiafref=ts) que contou com a participaccedilatildeo ativa dos seis membros ao longo de trecircs meses de atividades de transcriccedilatildeo

Aleacutem das instruccedilotildees do Alibi recorrermos agraves normas de transcriccedilotildees do NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta) elaborado por PRETI (2001 p11-12) descrito abaixo

Tabela 1 - Normas Para Transcriccedilatildeo ndash NURC

OCORREcircNCIAS SINAIS EXEMPLIFICACcedilAtildeO

Incompreensatildeo de palavras ou segmentos

( )

digamos entre aspas nesses bairros aqui ldquoAldeota Praia de Iracema Beira-Marrdquo sei laacute alguma ( ) confusatildeo assim natildeo

sei eu acho que ldquosoltar a frangardquo acho que seria arrumar

confusatildeo

Hipoacutetese do que se ouviu (hipoacutetese)

eu jaacute entendi hellip tem um outro ditado assim que na minha

terra a gente usa hellip e h tipo hellip (compra comprar sanino

dentro da cova) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip

Truncamento (havendo homografia usa-se acento indicativo da tocircnica e ou

timbre)

eacute hellip uma uma menina que tava eu natildeo tava assim dentro

do contexto que ele tava falando hellip soacute que eu tocirc

escutando hellip de queixo caiacutedo hellip

2 Esta atividade de transcriccedilatildeo soacute foi possiacutevel graccedilas agraves orientaccedilotildees dadas pela Dra Socorro Aragatildeo para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica de cinco informantes de Sobral cidade situada na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute para o Atlas Linguiacutestico do Brasil (Alibi) A partir desta experiecircncia com o Alibi pudemos aplicar os mesmos procedimentos de degravaccedilatildeo a nossa pesquisa

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Entonaccedilatildeo enfaacutetica Maiuacutesculas

PRONTO eu acho nesse caso comer com os olhos significa apreciar uma coisa alguma

comida gostar vocecirc jaacute estaacute comendo

Alongamento de vogal ou consoante (como s r)

podendo aumentar para

ou mais

Ao emprestarem os eacute o dinheiro

Silabaccedilatildeo - ((conversas ao longe))

aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae

Interrogaccedilatildeo ldquotirar mais aacutegua do

joelhordquovocecirc sabe me dizer o sentido

Qualquer pausa

ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais

aliviado

Comentaacuterios descritivos do transcritor

((minuacutesculas))

tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo

difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute

o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai

sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Comentaacuterio que quebram a sequecircncia temaacutetica da exposiccedilatildeo exposiccedilatildeo

desvio temaacutetico

-- -- ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir-- -- eacute justamente -- --

expressatildeo idiomaacutetica

Superposiccedilatildeo simultaneidade de voz

Ligando as linhas

ah hellip vocecirc passa por algueacutem e diz assim hellip cadecirc cadecirc o

Manuel hellip aiacute diz hellip rapaz o Manuel hellip pelo que eu sei

estaacute vendo o sol quadrado hellip o cara cometeu aquele crime hellip a justiccedila agora botou quente hellip a

poliacutecia veio em cima e ele agora taacute vendo o sol quadrado

hellip eu acho que ele vai passar e h

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tempo hellip vai passar uns dez anos laacute hellip ((barulho vozes ao

fundo algueacutem interpela o entrevistador que agradece a

essa pessoa))

Indicaccedilatildeo de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto

Natildeo no seu inicio por exemplo

((silecircncio)) ((silecircncio)) esse falta o povo

chutar o pau da barraca

Citaccedilotildees literais reproduccedilatildeo de discurso

direto ou leituras de textos durante a gravaccedilatildeo

ldquo rdquo

a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da

sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Entre as principais observaccedilotildees do NURC levamos em conta em

nossa pesquisa as seguintes a) As iniciais maiuacutesculas natildeo deveriam ser usadas em inicio de

periacuteodos turno e frases b) Expressotildees faacuteticas deveriam ser registradas pelos

transcritores tais como ah eacute eacute ahn eacute n uhn taacute c) Nomes comuns estrangeiros ou hipoacutetese da liacutengua crioula

grafados em negrito d) Nuacutemeros deveriam ser grafados por extenso e) Os transcritores natildeo deveriam indicar nas transcriccedilotildees o

ponto de exclamaccedilatildeo (frase exclamativa) ou o ponto de interrogaccedilatildeo (frase interrogativa) exceto as perguntas do entrevistador

f) Os transcritores natildeo deveriam fazer anotaccedilotildees ou comentaacuterios relativos ao cadenciamento da frase exceto casos bem evidentes de truncamentos

g) Os transcritores poderiam combinar sinais Por exemplo oh hellip (alongamento e pausa)

h) Os transcritores natildeo deveriam utilizar sinais de pausa tiacutepicos da liacutengua escrita como ponto-e-viacutergula ponto final dois pontos viacutergula As reticecircncias marcariam qualquer tipo de pausa

Eis um trecho de transcriccedilatildeo realizada pelo grupo Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica

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Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

Entrevistador fazer coisas baacutesicas Participante eacute ((risos)) talvez Entrevistador eacute muito bem eacute o quecirc te chama atenccedilatildeo

ah vocecirc ler a expressatildeo eacute ldquomatar cachorro a gritordquo ldquochutar o pau da barracardquo vocecirc ldquover o sol quadradordquo vocecirc apontou o quecirc que te chama atenccedilatildeo nestas frases que vocecirc taacute apontando

Participante satildeo () Entrevistador por que vocecirc apontou matar cachorro a grito e natildeo

outra Participante eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs

((risos)) essas palavras esses textos na verdade sei laacute vocecirc consegue associar alguma coisa mas assim por exemplo algueacutem natildeo tivesse nenhum conhecimento nem iria saber por exemplo aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia soacute fazendo que vocecirc entende eacute

Entrevistador muito bem obrigado Aleacutem de a equipe seguir os paracircmetros do NURC nas

transcriccedilotildees consideramos oportuno uma seacuterie de intervenccedilotildees esclarecedoras ao longo das atividades de modo a garantir um maior controle do trabalho enquanto grupo e a garantia dos mesmos mecanismos de tratamento e analise de dados mais adequados ao que pretendiacuteamos nesta pesquisa

Entre as instruccedilotildees oferecemos as seguintes (a) Primeira versatildeo realizaccedilatildeo da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo

na primeira audiccedilatildeo do aacuteudio gerando assim a versatildeo preliminar da transcriccedilatildeo isto eacute os transcritores deveriam iniciar o processo de degravaccedilatildeo a partir da primeira audiccedilatildeo do aacuteudio nessa primeira fase do processo de transcriccedilatildeo a pausa era dada a cada par de vozes (entrevistador participante) para que fosse feita a digitaccedilatildeo Orientaacutevamos para que quando houvesse alguma palavra ou termo em que o transcritor tinha ficado com duacutevidas ou natildeo lembrava na hora da transcriccedilatildeo deveriam preencher com tracinhos (- - - - -) para completaacute-los em segundo momento da transcriccedilatildeo

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(b) Segunda versatildeo aprimoramento da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo na segunda audiccedilatildeo do aacuteudio dando o transcritor continuidade agrave primeira degravaccedilatildeo do aacuteudio Orientamos que os transcritores ouvissem atentamente o aacuteudio para aprimorar o processo de degravaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ortograacutefica Nesta fase a segunda audiccedilatildeo requereria uma atenccedilatildeo redobrada e mais ativa por parte do transcritor Nessa fase tambeacutem o transcritor teria que voltar ao aacuteudio e ouvir novamente o teste no caso de duacutevidas Tambeacutem era o momento de preencher as lacunas que ficaram na primeira transcriccedilatildeo

(c) Terceira versatildeo realizaccedilatildeo da terceira audiccedilatildeo com objetivo de revisar o trabalho de transcriccedilatildeo jaacute alcanccedilado na segunda fase da transcriccedilatildeo Uma vez que todos os testes tivessem sido transcritos os transcritores deveriam ouvi-los mais uma vez para possiacuteveis correccedilotildees inclusive atentos ao emprego dos diacriacuteticos que deveriam ser assinalados jaacute na transcriccedilatildeo inicial

Consideramos tambeacutem ao longo do processo de transcriccedilatildeo fazer alguns lembretes aos transcritores quanto ao registro de suas impressotildees conforme sintetizamos a seguir

(a) Revisatildeo dos criteacuterios de pontuaccedilatildeo - usamos apenas o sinal de interrogaccedilatildeo nas falas iniciais do entrevistador as demais pausas de qualquer natureza eram sinalizadas por reticecircncias

(b) Registro de possiacuteveis ruiacutedos interrupccedilotildees e outras observaccedilotildees pertinentes que deveriam aparecer entre parecircnteses duplos (( ))

(c) Reproduccedilatildeo de todas as vozes mesmo as que natildeo conseguiam distinguir reproduzi-las entre ( ) e indicar em formato de comentaacuterio que se trata da hipoacutetese do que ouviu

(d) Reproduccedilatildeo das hipoacuteteses das falas em crioulo recorrendo em casos especiais a siacutembolos foneacuteticos para assegurar uma reproduccedilatildeo mais fiel da liacutengua africana

Por se tratar de uma transcriccedilatildeo ortograacutefica consideramos o segmento transcrito precedido ou natildeo de reticecircncia como a unidade de anaacutelise gramaticalmente admissiacutevel para ser pontuada como unidade linguiacutestica formada de acordo com as regras de construccedilatildeo das sentenccedilas de uma liacutengua

Segue abaixo o nuacutemero de palavras transcritas por grupos de informantes (1 2 3 e 4) que nos daacute uma ideia do esforccedilo que os informantes tiveram em cada uma das expressotildees idiomaacuteticas

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registradas no protocolo verbal considerando apenas o corpus da primeira bateria de testes

Tabela 2 ndash Nuacutemero de Palavras do Corpus

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

NUacuteMERO DE PALAVRAS

TOTAL M - CV

H - CV M - GB

H - GB

Matar cachorro a grito

1499 1195 1007 2358 6059

Natildeo pagar mico

1062 1087 1478 1987 5614

Tirar aacutegua do joelho

1442 764 908 1967 5081

Pocircr a boca no trombone 943 616 758 1063 3380

Chutar o pau da barraca 1760 987 1053 1420 5220

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1494 1055 1274 1263 5086

Total

8200 5704 6478 10058 30440

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4

Os dados relativos aos niacuteveis de e aos graus de memoacuteria

fraseoloacutegica (Tarefa 2) a partir dos comentaacuterios dos informantes nos protocolos verbais levaram-nos a recorrer a criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo de informantes para as tarefas 1 3 e 4 por expressatildeo idiomaacutetica 3

Foram excluiacutedos das referidas tarefas todos os informantes que foram considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Da mesma forma foram incluiacutedos todos os informantes considerados com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e os informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

Estes informantes os de niacuteveis meacutedio e baixo tiveram que atender ao pedido do experimentador para que atribuiacutessem sentido

3 Na cronologia de aplicaccedilatildeo das tarefas registrada no protocolo verbal think aloud as tarefas satildeo aplicadas em sequecircncia 1 2 3 e 4 A posteriori a Tarefa 2 passou a ser o paracircmetro para que pudeacutessemos selecionar os informantes que efetivamente teriam seus dados analisados e considerados nos caacutelculos relativos agraves meacutedias e desvios padratildeo nas demais tarefas

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translatiacutecio agrave expressatildeo idiomaacutetica contextualizada respostas que nos permitiram observar as estrateacutegias cognitivas a que recorreram para chegar ao conhecimento semacircntico da expressatildeo evidenciando-nos assim natildeo apenas as taacuteticas bottom-up e top-down usadas e as bem-sucedidas mas tambeacutem como se deu em termos de processamento fraseoloacutegico a transformaccedilatildeo da opacidade em transparecircncia semacircntica

Assim estabelecidos os criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo apresentamos as seguintes informantes consideradas na anaacutelise dos dados para as tarefas 3 e 4

(a)Na expressatildeo matar cachorro a grito excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 dois informantes situados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram considerados para Tarefa 3 e 4 trecircs informantes situados com niacutevel meacutedio de memoacuteria idiomaacutetica e 15 informantes situados como niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(b)Na expressatildeo natildeo pagar mico excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 10 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 10 participantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Natildeo houve portanto nesta situaccedilatildeo informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(c)Na expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho excluiacutemos 7 informantes considerados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos para anaacutelise dos dados das Tarefas 3 e 4 um informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 12 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(d)Na expressatildeo pocircr a boca no trombone excluiacutemos para as tarefas 3 e 4 13 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 sete informantes considerados de baixo niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(e)Na expressatildeo Saber com quantos paus se faz uma canoa foram excluiacutedos 9 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 dois informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e nove informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(f)Na expressatildeo chutar o pau da barraca excluiacutemos 4 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 1 informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 15 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

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Material do experimento O design do meacutetodo (material) do experimento psicolinguiacutestico

foi dividido em quatro partes familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando

(a) Familiarizaccedilatildeo o experimentador interagia com o sujeito e apresentava uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo contemplada no conjunto de expressotildees do experimento As expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para este experimento foram as seguintes ficar de queixo caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha ver o sol quadrado chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga tirar aacutegua do joelho aguentar o tranco bater as bota botar a boca no trombone meter o rabo entre as pernas e segurar as pontas

(b) Preacute-experimento o experimentador apresentava ao sujeito um exemplo bem parecido do que ao das tarefas aplicadas no teste com expressatildeo idiomaacutetica

Na primeiro momento um texto era assim apresentado O pessoal de esquerda anda preocupado com Hugo Chaacutevez O presidente venezuelano deu agora pra dizer que se natildeo haacute vida em Marte o capitalismo deve estar por traacutes disso Vai acabar botando minhoca na cabeccedila do Fidel Castro que como se sabe estaacute se despedindo da luta (In Humor Tutty O Estado de Satildeo Paulo 2703 2011)

Em seguida pediacuteamos que o informante o lesse em voz alta e faziacuteamos a primeira pergunta da tarefa inicial jaacute registrado em protocolo verbal apoacutes a leitura do texto neste cartatildeo vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica frase feita ou locuccedilatildeo verbal que funciona como uma unidade cujo sentido natildeo eacute literal Vocecirc lembra ou ouviu antes a expressatildeo idiomaacutetica identificada no texto dado

No segundo momento o experimentador aplicava a segunda tarefa deste experimento Vocecirc lembra ou ouviu a expressatildeo identificada e sabe seu sentido idiomaacutetico antes da aplicaccedilatildeo destes testes

No terceiro momento faziacuteamos perguntas como diga-me em voz alta qual o sentido da expressatildeo idiomaacutetica e como vocecirc fez para chegar a esse sentido O que a expressatildeo identificada quer dizer para

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vocecirc Diga-me em voz alta o pensamento que passa por sua mente como vocecirc descobriu ou tentou descobrir o sentido desta expressatildeo identificada

(a) Experimento durante aplicaccedilatildeo deste experimento reafirmamos aos participantes que estaacutevamos interessados em registrar os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Portuguecircs Brasileiro Informaacutevamos que suas respostas agraves perguntas deste experimento seriam pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei natildeo sei o que significardquo ldquonatildeo entendi a expressatildeordquo ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta

(b) Comando Vou dar-lhe 15 cartotildees um a um e vocecirc vai Pensar em Voz Alta e me dizer tudo que vocecirc estaacute pensando a partir da primeira vez que vocecirc ler o texto contido neste cartatildeo ateacute que me diga o que quer dizer a expressatildeo identificada por vocecirc (ou por mim) Para que pudeacutessemos estimular o diaacutelogo entre informante e experimentador diziacuteamos que algumas perguntas poderiam passar em sua mente depois de verem as expressotildees idiomaacuteticas do tipo Jaacute havia lido ou visto esta expressatildeo antes Jaacute sei o sentido de cor Como o contexto explica o sentido desta expressatildeo idiomaacutetica O sentido literal (ao peacute da letra) da expressatildeo tem alguma relaccedilatildeo com seu sentido figurado Seraacute que uma determinada palavra da expressatildeo foi o suficiente para eu poder dar seu sentido idiomaacutetico A expressatildeo idiomaacutetica me faz lembrar algo que ouvi algueacutem dizer antes E por fim diziacuteamos eu gostaria que vocecirc falasse em voz alta durante todo o tempo desde o momento em que lhe apresento cada expressatildeo contextualizada no cartatildeo ateacute vocecirc dar sua resposta final Por favor natildeo tente planejar o que vocecirc diz Basta agir como se vocecirc estivesse sozinho na sala falando para si mesmo Eacute mais importante que vocecirc continue falando Se vocecirc ficar em silecircncio por um periacuteodo longo de tempo vou pedir-lhe para falar

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RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

La fijacioacuten es arbitraria dese el punto de vista funcional es decir no encontramos ninguna explicacion semaacutentica ni sintaacutectica del tipo de fijacioacuten em cada caso concreto (ZULUAGA 1980 p99)

Para respondermos a esta pergunta da pesquisa aplicamos esta

Tarefa aos sujeitos da pesquisa com duraccedilatildeo meacutedia 36 minutos gravadas em aacuteudios digitais para posteriores transcriccedilotildees ortograacuteficas

Foi testada nesta tarefa a seguinte hipoacutetese de nossa pesquisa a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

As respostas dos informantes agrave principal pergunta da tarefa (ldquoApoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacuteticardquo Receberam uma pontuaccedilatildeo numa escala de 1 a 3 que nos permitiu atraveacutes doo caacutelculo de meacutedias e desvios padratildeo para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas o uma proposta de taxionomia para a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica e (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Os participantes tinham que pensar em voz alta e dizer tudo que estavam pensando a partir da primeira vez que olhavam ou liam as expressotildees idiomaacuteticas entregues uma a uma em 15 cartotildees contendo textos publicados em jornais de circulaccedilatildeo nacional (Folha de Satildeo Paulo Estado de Satildeo Paulo O Povo Diaacuterio do Nordeste Jornal do Brasil CorreioBraziliense)

Foram entregues aos participantes 15 cartotildees de cor amarela de tamanho 20 cm X 15 cm uma a uma contendo uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada e uma tarja preta cobrindo a pergunta do

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experimentador No caso de natildeo conseguir identificar a expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura em voz alta do texto o entrevistador solicitava ao participante que retirasse a tarja preta do cartatildeo e lesse a pergunta encoberta (por exemplo o que a expressatildeo bater as botas significa para vocecirc) o que levava portanto agrave identificaccedilatildeo da expressatildeo no texto dado

Mais precisamente depois da leitura do texto o entrevistador indagava ao participante se identificava alguma expressatildeo idiomaacutetica iniciando a partir deste momento a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud que consistiu em solicitar que os participantes falassem livremente ou pensassem em voz alta enquanto respondiam a questatildeo feita pelo pesquisador

Partindo do pressuposto de que a fixaccedilatildeo fraseoloacutegica (ou fixaccedilatildeo formal) e a idiomaticidade semacircntica (ou fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica) satildeo essenciais agraves unidades fraseoloacutegicas (UFs) e lhes asseguram o traccedilo ou caraacuteter de convencionalidade ou institucionalizaccedilatildeo o objetivo desta tarefa foi verificar como os participantes identificavam as expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil estabelecendo a partir dos dados coletados em suas respostas uma tipologia de formas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Mais adiante ao cruzarmos os dados com a tarefa 3 ocupar-nos-emos em verificar se expressotildees identificadas pelos participantes sejam elas modificadas ou natildeo precisariam natildeo apenas do apoio do contexto (Estrateacutegia AC) mas da ajuda teacutecnica (SI) do pesquisador Jaacute podemos adiantar que em todas as expressotildees idiomaacuteticas deste experimento psicolinguiacutestico os participantes requereram a ajuda teacutecnica (SI) Da mesma forma veremos na tarefa 4 se as expressotildees identificadas e as natildeo identificadas pelos informantes apoacutes a leitura do texto correspondem as mesmas expressotildees natildeo compreendidas ou as compreendidas pelos participantes

Segundo Alvarado Ortega (2010 p28) a fixaccedilatildeo formal e a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (esta aqui nesta pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) se associam com a ideia de institucionalizaccedilatildeo que anuncia Corpas Pastor (1996 p21) Assim sendo a noccedilatildeo que damos aqui agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica refere-se agrave estabilidade em sua reproduccedilatildeo e na frequecircncia de uso que apresentam as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) de modo geral e nas locuccedilotildees verbais em particular

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Tendo em vista que o objetivo desta tarefa era os participantes identificarem formalmente a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute anunciassem ao experimentador a fixaccedilatildeo formal da expressatildeo conforme as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) e Alvarado Ortega (2010) ficou estabelecida para definiccedilatildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica previamente a seguinte pontuaccedilatildeo que variou de 1 a 3 pontos incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo (1 ponto ) (b) parcialmente correta ou meacutedia identificaccedilatildeo (2 pontos) e (c) correta ou faacutecil identificaccedilatildeo (3 pontos)

Esta pontuaccedilatildeo se tornou necessaacuteria para calcularmos em Excell as meacutedias individuais do desempenho dos informantes por expressatildeo bem como obtermos os valores dos Desvios Padratildeo e as meacutedias das meacutedias e de posse destes dados ou valores podermos definir juntamente na tarefa 3 o grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica (ou opacidade semacircntica) contando para isso com o inventaacuterio de estrateacutegias bem (e mal sucedidas) no processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes

Na primeira situaccedilatildeo considerada incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador as respostas dos informantes agrave tarefa foram codificadas no Corpus Afri com a sigla GF-IC (Grau de Fixaccedilatildeo - Incorreta) em que o informante apoacutes a leitura declarava natildeo saber ou natildeo identificar nenhuma expressatildeo idiomaacutetica no texto dado Nesta posiccedilatildeo em alguns casos o informante apontava um trecho ou uma palavra ou expressatildeo fixa presente no texto como casos de locuccedilotildees nominais colocaccedilotildees ou compostos (como por exemplo reportagem custo-benefiacutecio na tarefa na qual a expressatildeo em foco era matar cachorro a grito) mas que natildeo consideraacutevamos como respostas vaacutelidas para uma pontuaccedilatildeo significativa na pesquisa

Neste caso recebeu um 1 ponto numa escala de 1 a 3 e esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Na segunda situaccedilatildeo assinalada como parcialmente correta ou de meacutedia identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no corpus das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada no Corpus Afri com a sigla GF-PC (Grau de Fixaccedilatildeo - Parcialmente Correta) em que o informante apoacutes a leitura citou a expressatildeo idiomaacutetica pretendida ou esperada no texto mas a alterou com algum tipo de inserccedilatildeo supressatildeo ou substituiccedilatildeo de componentes comprometendo a noccedilatildeo

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canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Por exemplo no texto em que o pesquisador esperava a identificaccedilatildeo de tirar mais aacutegua do joelho o informante anunciou soltar mais aacutegua do joelhordquo onde podemos observar a substituiccedilatildeo da palavra tirar por soltar preservando restante da expressatildeo ou em outros casos citou apenas mais aacutegua do joelho ou aacutegua do joelho permitindo todavia em qualquer dos casos a recuperaccedilatildeo da forma canocircnica

Neste caso acima a resposta do informante recebeu 2 pontos numa escala de 1 a 3 e denominamos esta situaccedilatildeo de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica uma vez que as alteraccedilotildees fraseoloacutegicas foram todas por reduccedilatildeo ou elisatildeo

Na terceira situaccedilatildeo apontada como correta ou de faacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no conjunto das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada com a sigla GF-CO (Grau de Fixaccedilatildeo-Correta) em que o informante apoacutes a leitura apontou o bloco ou grupo fraseoloacutegico tal qual aparece no texto

Nessa posiccedilatildeo acima foram trecircs situaccedilotildees consideradas plenamente corretas

(a) quando o informante apontou a fixaccedilatildeo formal na sua forma canocircnica ou dicionarizada ou tal qual aparecia no co(n) texto de situaccedilatildeo

(b) quando o informante apontou o trecho em que aparecia a expressatildeo idiomaacutetica como parte da oraccedilatildeo uma vez que uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo se constitui por si soacute uma frase cabal e

(c) quando o informante anunciava uma variante fraseoloacutegica em sua L1 (crioulo) equivalente a que aparecia no texto dado seja em L2 (por exemplo engolir sapo ou engolir o peixe pelo rabo) ou em L1 (por exemplo cume ku odjo por comer com o olho)

Um dado curioso a observar eacute que para a identificaccedilatildeo de expressatildeo pocircr a boca no trombone alguns vacilaram quanto agrave forma canocircnica ao afirmar eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone helliprdquo Neste caso consideramos a identificaccedilatildeo correta por se tratar apenas de um caso de variaccedilatildeo fraseoloacutegica de ordem lexical botarpocircr a boca no trombone recebendo 3 pontos (pontuaccedilatildeo maacutexima) Esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Do ponto de vista teoacuterico para a realizaccedilatildeo desta tarefa 1 levamos em conta as condiccedilotildees necessaacuterias descritas por Cermak

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(1998 p 144-145) para a correta identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em um texto

(a) a combinaccedilatildeo textual indicada pelos participantes teria que ser considerada estaacutevel ou fixa por haver sido ouvida ou lida mais de uma vez anteriormente agrave tarefa

(b) a combinaccedilatildeo textual escolhida pelos participantes deveria permitir algum tipo de variaccedilatildeo leacutexica ou paradigmaacutetica ou gozasse de uma relativa liberdade combinatoacuteria sem que afetasse seu sentido global (por exemplo pocircrbotar a boca no trombone) ou produzisse outra expressatildeo idiomaacutetica (por exemplo pagar mico natildeo aceitamos como sinocircnimo pagar o mico) uma vez que soacute aceitariacuteamos uma expressatildeo idiomaacutetica equivalente anunciada na L1 dos participantes (crioulo cabo-verdianoguineense) desde que pudesse recuperar o mesmo sentido idiomaacutetico da equivalente em L2 e

(c) a combinaccedilatildeo escolhida pelos participantes teria necessariamente a presenccedila de uma metaacutefora ou um grau de opacidade ou de natildeo composicionalidade semacircntica um traccedilo muito frequente das locuccedilotildees verbais estas por sua vez um dos muitos tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Para respaldar ainda mais as etapas propostas por Cermak (1998) em nossa pesquisa fomos agraves teorias fraseoloacutegicas para evidenciar as trecircs das propriedades baacutesicas e definitoacuterias das locuccedilotildees verbais a que iriacuteamos tratar nesta Tarefa 1 e na Tarefa 3 em particular a saber

(a) a pluriverbalidade ou polilexicalidade entendida como a combinaccedilatildeo estaacutevel formada por dois ou mais componentes que aparecem separados na escrita como assinala Casares ([1950] 1969 p 170 Gross (1996 p 9-10) Corpas-Pastor (1996 p19-20) Montoro Del Arco (2006 p35-38) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 23-34)

(b) a fixaccedilatildeo formal compreendida como a estabilidade formal ou interna das expressotildees idiomaacuteticas na ordem de seus componentes em suas categorias gramaticais no inventaacuterio de seus componentes a que faz alusatildeo Casares ([1950] 1969 p210-211) Zuluaga (1975p 227-2281980 p95-110) Corpas Pastor (1996 p 23-24) Alvarado Ortega (2010 p27-28) Mejri (2012 p139-156) e Garratildeo (2012 p125-131)

(c) a estrutura natildeo oracional na qual a locuccedilatildeo natildeo pode ter estrutura de oraccedilatildeo sintaticamente completa concepccedilatildeo tradicional

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apresentada por Casares ([1950] 1969 p 170) e traccedilo plenamente aceito pela fraseologia contemporacircnea

Nesta tarefa verificamos o grau de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica dentro de uma escalaridade por essa razatildeo as respostas dos participantes foram categorizadas por niacutevel de dificuldade (faacutecil meacutedia e difiacutecil identificaccedilatildeo)

Os dados coletados para a Tarefa 1 a partir do protocolo verbal apontaram que os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas individualmente variaram de 120 a 275 (ver tabela 1)

Como dissemos anteriormente para que pudeacutessemos considerar uma resposta correta os informantes durante a tarefa deveriam atender plenamente aos trecircs preacute-requisitos formais e caracterizadores das locuccedilotildees verbais a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo formal e a estrutura natildeo oracional

Pelos dados da tabela podemos observar que a uacutenica expressatildeo considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo foi pagar mico

As expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo ofereceram grandes obstaacuteculos para serem identificadas pelos participantes

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram as trecircs mais faacuteceis de serem identificadas pelos participantes

Em uma pesquisa com participantes natildeo nativos de uma liacutengua sobre o processamento fraseoloacutegico ou mais precisamente relacionada aos processos de compreensatildeo idiomaacutetica os dados de nossa pesquisa levam-nos a crer que a identificaccedilatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada lida ou ouvida pelo participante eacute uma habilidade linguiacutestica que tem forte dependecircncia da competecircncia fraseoloacutegica intercultural do leitor ou do falante em L2 o que repercutiraacute certamente na sua compreensatildeo idiomaacutetica

Acolhemos pois a hipoacutetese de que a competecircncia fraseoloacutegica dos usuaacuterios eacute um fator de opacidade nas locuccedilotildees verbais (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p 244)

A noccedilatildeo de identificaccedilatildeo aplicada agrave fraseologia corresponderia agrave segmentaccedilatildeo de acordo com a gramaacutetica de constituintes imediatos presente nas teorias da linguiacutestica estrutural procedimento que consistiria em os falantes nativos ou natildeo nativos terem a capacidade de segmentar o enunciado ou texto isto eacute dividi-los em unidades

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pluriverbais e discretas Por exemplo uma expressatildeo como ver com quantos paus se faz uma canoa poderiacuteamos segmentaacute-la em vercom quantos pausse faz uma canoa e assim por diante reduzindo-a portanto a diversos niacuteveis sintagmaacuteticos

Nesta tarefa do experimento psicolinguiacutestico podemos comprovar empiricamente que muitos componentes lexicais das expressotildees resultavam por completo desconhecidos para muitos participantes como por exemplo mico linguiccedila joelho manguinhas seda e siri

Sem a identificaccedilatildeo destas palavras por eles consideradas estranhas ou diferentes a despeito da habilidade de discriminar as palavras em seus contornos visuais ou formais a referida habilidade natildeo resultava em acesso agrave forma fraseoloacutegica e com essa restriccedilatildeo um bloqueio tambeacutem ao seu sentido idiomaacutetico

Em substacircncia pareceu-nos que uma limitaccedilatildeo na identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica significava para muitos participantes uma diminuiccedilatildeo significativa na sua habilidade ou capacidade de ativar esquemas cognitivos relacionados agrave idiomaticidade semacircntica e de relacionar a expressatildeo agrave sua proacutepria experiecircncia de leitor ouvinte e falante em L2 (estrateacutegias top-down conforme veremos mais adiante)

Vimos ao longo da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que em muitos casos apesar de decodificarem as palavras desconhecidas no texto lido natildeo chegavam agrave sua analisabilidade ou composicionalidade muito menos agrave noccedilatildeo do sentido caracterizado pela natildeo composicionalidade semacircntica Ainda assim o processo de leitura do texto pelos participantes nesse caso era flagrantemente lento sofriacutevel por vezes inaudiacutevel com repercussatildeo imediata na tentativa enganosa ou equiacutevoca de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora pudessem identificar outras unidades maiores do que a palavra mas quebrando a expectativa do analista

Dizendo de outra maneira cremos que a identificaccedilatildeo de uma palavra ou componente leacutexico de uma expressatildeo idiomaacutetica em texto em menor meacutedio ou maior grau de dificuldade desemboca no leitorouvintefalante algum grau de sentido de expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou natildeo familiar Eacute verdade que a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por si soacute natildeo garante o acesso ao sentido idiomaacutetico mas uma vez identificada a expressatildeo os participantes satildeo

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beneficiados na sua busca seletiva de estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (top-down) rumo ao sentido pretendido

Em termos de percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por participantes os valores variaram de 40 a 90

Para matar cachorro a grito e natildeo pagar mico 85 e 40 dos informantes respectivamente identificaram corretamente aos dois zoomorfismos

Para os somatismos tirar (mais) aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone os percentuais de identificaccedilatildeo correta foram de 60 em ambas as expressotildees

No caso dos botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca os percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram de 40 e 90 respectivamente

Os dados coletados revelaram que nesta tarefa os falantes natildeo nativos quando solicitados a identificar a expressatildeo apoacutes a leitura do texto dado acrescentaram o sujeito agrave expressatildeo isto eacute natildeo a isolaram como era nossa primeira (ou ingecircnua) expectativa em suas respostas Normalmente os analistas esperaram que os falantes sejam nativos ou natildeo nativos ao serem solicitados sobre a identificaccedilatildeo de uma unidade fraseoloacutegica em um texto escrito ou oral simplesmente deem respostas prontas assim como satildeo as frases feitas como unidades abstratas no campo fraseoloacutegico preacute-fabricadas cristalizadas e memorizadas na mente dos falantes

Expressas na boca dos falantes as frases feitas quando satildeo proferidas ou ouvidas em discurso com pequenas alteraccedilotildees ou variaccedilotildees que natildeo afetam agrave comunicabilidade exigiratildeo dos interlocutores naturalmente conexotildees gestaacutelticas para que percebam que a unidade fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) se acha em determinadas relaccedilotildees com suas partes (variaccedilotildees)

Nas primeiras respostas nossos participantes anunciaram um pedaccedilo do texto lido que natildeo podia ser computaacutevel literalmente todavia a habilidade de identificar a expressatildeo e estabelecer seus limites resultava em complicada ou complexa tarefa linguiacutestica conforme podemos observar mais adiante nas respostas dos informantes consideradas incorretas ou parcialmente incorretas

Os comentaacuterios dos falantes no protocolo verbal disseram-nos muito do que desejam que tenham ou faccedilam sentido quando respondem questotildees relacionadas agrave identificaccedilatildeo e agrave idiomaticidade

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fraseoloacutegicas Nesse sentido em vez de isolarem um trecho gramaticalmente incompleto como saber com quantos paus se faz uma canoa (que nem inclui tempo verbal) os falantes acrescentaram o tempo e completaram a diaacutetese verbal incluindo o elemento faltante que eacute o sujeito e assim deram sentido completo a suas respostas (ou seja a diaacutetese verbal ficou toda preenchida) e o trecho soava entatildeo sintaacutetica e semanticamente aceitaacutevel ou simplesmente viaacutevel 1

Interessante observar que os textos mais ou menos longos 2 os falantes souberam localizar o que era idiomaacutetico e o que natildeo era O que queremos dizer eacute que enquanto esperaacutevamos que os participantes apontassem apoacutes a leitura saber com quantos paus se faz uma canoa assinalaram como idiomaacutetico o trecho a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo o trecho o que ele quer eacute continuar mandando presente no texto Ou seja os falantes sabiam competentemente apontar ou identificar corretamente o trecho onde se encontrava uma sequecircncia idiomaacutetica

Para Fulgecircncio (2008 p77) a identificaccedilatildeo de estruturas ldquoprontasrdquo memorizadas em grupo diz muito da competecircncia linguiacutestica dos falantes A autora nos coloca tambeacutem que a distinccedilatildeo entre sintagma computaacutevel sequecircncia idiomaacutetica natildeo eacute soacute um tipo de anaacutelise abstrata mas faz parte real da competecircncia linguiacutestica do falante Em outras palavras esta tarefa submetida aos participantes veio mostrar a realidade psicoloacutegica dos fenocircmenos linguiacutesticos evidenciando em dados empiacutericos que natildeo eacute soacute uma teorizaccedilatildeo mas faz parte de como o ceacuterebro estaacute estruturado

Fulgecircncio (2008 p293-340) nos diz que as locuccedilotildees verbais natildeo funcionam como elementos oracionais Segundo ela as locuccedilotildees natildeo satildeo oraccedilotildees inteiras e sim um sintagma verbal [V+complemento] Deste modo ao localizar o trecho onde se encontra a sequecircncia idiomaacutetica o falante completa a diaacutetese

1 A questatildeo da diaacutetese verbal nas expressotildees fixas foi suficientemente explorada em Fulgecircncio (2008) e Perini (2008) Agradecemos agrave Fulgecircncio seus comentaacuterios e sugestotildees quando submetemos nossas primeiras reflexotildees sobre diaacutetese agrave sua apreciaccedilatildeo linguiacutestica 2 O texto que traz a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa utilizado nesta tarefa refere-se a um comentaacuterio sob o tiacutetulo Lula transformaraacute a vida de Dilma em um inferno revecirc Pliacutenio com t12 linhas e 76 palavras assinado por Braz dos Santos leitor do Jornal do Brasil (JB) e publicado no Caderno Paiacutes do Jornal do Brasil (JB) em 171210

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verbal com o sujeito para oferecer um trecho gramaticalmente completo e apresentar uma sequecircncia compreensiacutevel mas isso natildeo quer dizer segundo a linguista que a expressatildeo eacute toda a oraccedilatildeo nem que funciona como uma oraccedilatildeo

Zuluaga (1975 p244) foi um dos primeiros fraseoacutelogos a observar quanto ao comportameno verbal dos falantes nativos no uso espontacircneo ou social da liacutengua sua capacidade de identificar quando as expressotildees idiomaacuteticas sofrem modificaccedilotildees formais ou satildeo alteradas no discurso

Haacute na capacidade de o falante identificar uma alteraccedilatildeo fraseoloacutegica um niacutevel alto e apurado de refinamento de intuiccedilatildeo linguiacutestica isto eacute essa capacidade que temos enquanto falantes nativos de uma liacutengua dada de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na liacutengua bem como de interpretaacute-las e de identificar a equivalecircncia com outra frase seja em L1 ou L2

Segundo Zuluaga (1975) a reaccedilatildeo dos falantes nativos diante de uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de costumeiramente corrigir a alteraccedilatildeo ou identificar nela o cumprimento de determinadas funccedilotildees estiliacutesticas isto eacute dos chamados niacuteveis de discurso Eacute portanto atraveacutes de sua intuiccedilatildeo linguiacutestica ou de uma leitura proficiente ou escuta ativa que o falante nativo torna-se naturalmente um proficiente da sua liacutengua

Jaacute para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p25-26) a fixaccedilatildeo entre outros traccedilos eacute uma foacutermula memoraacutevel estando assim disponiacutevel para seu emprego ou repeticcedilatildeo no processo discursivo no qual o falante deseja expressar um conteuacutedo que jaacute estaacute condensado nela Corroborando com esta postulaccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez acreditamos que ao certo por traacutes de tudo isso haja um princiacutepio de economia linguiacutestica que governa as leis do menor esforccedilo na comunicaccedilatildeo espontacircnea ou criativa

Por causa da fixaccedilatildeo nem toda expressatildeo fixa ou idiomaacutetica no uso social da liacutengua requer ser citada ou anunciada em sua totalidade senatildeo em parte Por exemplo expressotildees com a pulga atraacutes da orelha e o rabo entre as pernas sem os verbos ficardeixar e ficarsair respectivamente no buscador Google Brasil registrou 1940000 e 1090000 resultados 3 respectivamente

3 Registro em 25 de julho de 2013

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Como nativos da liacutengua portuguesa sabemos ainda que em nossa L1 as expressotildees de uso frequente e estilisticamente expressivas no cotidiano especialmente as grandes miacutedias em geral vecircm acompanhadas de seus respectivos e variados verbos deve estar estarandarficar com a pulga atraacutes da orelha e meterenfiarestar comir comvoltar comcolocar o rabo entre as pernas Aqui caberia o ditado popular para bom entendedor meia palavra basta (= aquele que estaacute a par de um assunto natildeo precisa de muita explicaccedilatildeo)

Ao tratar sobre este fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica Zuluaga (1975 p 244) diz que nesses casos basta o falante mencionar expressamente somente uma parte de cada uma das expressotildees para evocaacute-las completamente fator que se deve segundo ele agrave fixaccedilatildeo

Das diversas formas que uma expressatildeo pode ser alterada a reduccedilatildeo eacute um fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica ou mais precisamente da fixaccedilatildeo que pode ser explicado pelo princiacutepio da teoria da comunicaccedilatildeo em que por ela diz-se que a quantidade de informaccedilatildeo de um signo em um contexto dado eacute definida como uma funccedilatildeo de sua probabilidade de ocorrecircncia no dito contexto Da mesma forma a maior probabilidade de ocorrecircncia redundaraacute em menor conteuacutedo informativo e maior grau de redundacircncia

A omissatildeo ou a reduccedilatildeo de componentes das expressotildees natildeo ocasiona perda de informaccedilatildeo no texto uma vez que fixaccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica tende a ocorrer inevitavelmente Podemos observar este fenocircmeno nos nossos estudos certamente depois de os informantes terem lido no texto dado para leitura anterior portanto ao pedido feito pelo entrevistador para que procedessem com a identificaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

Nos exemplos que vamos comentar a seguir assinalamos esses casos como parcialmente correto porque consideramos que uma locuccedilatildeo verbal objeto de nossa pesquisa deve vir com sua diaacutetese verbal preenchida embora saibamos a partir da frequecircncia de uso comprovada por um expressivo nuacutemero de ocorrecircncias a quantidade de informaccedilatildeo que ancora eacute nula isto eacute totalmente redundantemente e portanto natildeo necessita ser expressa materialmente para que o sentido global ou idiomaacutetico de toda a expressatildeo se faccedila presente ou seja evocada pelos falantes sejam nativos ou natildeo nativos

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A questatildeo da variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute uma categoria que de haacute muito tem preocupado os teoacutericos A fixaccedilatildeo e a variaccedilatildeo satildeo duas categorias fraseoloacutegicas que satildeo interligadas No estruturalismo claacutessico especialmente o de Saussure a ideia de fixaccedilatildeo era de um traccedilo imudaacutevel ou imexiacutevel Saussure ao se referir agraves locuciones toutes faites ou frases feitas foi um dos primeiros estruturalistas a observar o caraacuteter de fixidez das combinaccedilotildees preacute-fabricadas ao afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas ([1916] 2012 P173)

Esta propriedade da fixaccedilatildeo supotildee uma suspensatildeo da aplicaccedilatildeo das regras de combinaccedilatildeo dos elementos do discurso a que Coseriu ([1977] 1981 p113-118) chamou de discurso repetido Coseriu ([1977] 1981) ao se referir a discurso repetido corresponde agrave noccedilatildeo de locuciones toutes faites de Saussure como dissemos caracterizadas pelo natildeo improviso isto eacute eram fornecidas pela tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica

Ainda na deacutecada de 70 a noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica passou a ser entendida como a propriedade que tem certas expressotildees de ser reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas (ZULUAGA 1975 p230)

Em outras palavras Zuluaga (1975) assinala que o processo de formaccedilatildeo de uma expressatildeo fixa natildeo pode ser explicado mediante regra de sintaxe proacutepria das combinaccedilotildees livres A frequecircncia de uso de uma expressatildeo fixa e seu emprego repetido por parte da comunidade linguiacutestica ocasionaria a fixaccedilatildeo da unidade em uma forma determinada em geral canonicamente registrada nos dicionaacuterios gerais

A fraseologia contemporacircnea avanccedilou muito nos uacuteltimos anos com relaccedilatildeo agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Apesar de a fixaccedilatildeo ser considerada uma propriedade essencial das expressotildees fixas natildeo o para todas as unidades fraseoloacutegicas posto que por exemplo no caso das expressotildees idiomaacuteticas estas podem ser idiomaacuteticas mas natildeo canonicamente fixas enquanto as expressotildees fixas podem natildeo ser idiomaacuteticas

O conjunto que forma o corpus das expressotildees idiomaacuteticas desta pesquisa aleacutem de idiomaacuteticas ou seja caracterizarem-se pelo princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica satildeo tambeacutem fixas mas em muitas delas com suas variaccedilotildees fraseoloacutegicas o que

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comprova sua fixaccedilatildeo formal ou institucionalizaccedilatildeo Graccedilas agrave fixaccedilatildeo das expressotildees podemos falar em variaccedilatildeo fraseoloacutegica um fenocircmeno bastante frequente no discurso portanto na perspectiva do falante

Pelo menos trecircs das seis expressotildees idiomaacuteticas deste experimento estatildeo modificadas comparadas agrave sua fixaccedilatildeo canocircnica (dicionarizada) (a) pagar mico aparece com sua polaridade negativa natildeo pagar mico (b) tirar aacutegua do joelho comparece com a inserccedilatildeo do adveacuterbio mais ficando com a forma tirar mais aacutegua do joelho e (c) mostrar com quantos paus se faz uma canoa eacute modificada com substituiccedilatildeo lexical em saber com quantos paus se faz uma canoa

Conforme veremos mais adiante a variaccedilatildeo fraseoloacutegica natildeo significa a mudanccedila completa da expressatildeo idiomaacutetica de modo que natildeo deixem marcas ou pegadas da forma cristalizada anteriormente Como diz Molina Garciacutea (2006 P99) a noccedilatildeo de variaccedilatildeo ou variabilidade aplicada a uma unidade fraseoloacutegica requer que uma parte da unidade deva ficar sem alteraccedilatildeo de que forma que a UF seja reconhecida ou diriacuteamos de outra maneira possa ser evocada a partir da memoacuteria fraseoloacutegica ou de longo prazo dos falantes

A questatildeo da fixaccedilatildeo ou variabilidade fraseoloacutegica na deacutecada de 70 foi abordada por Fraser (1970 p39) um dos primeiros teoacutericos a observar um potencial modificador nas locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas em escala de sete niacuteveis da maior agrave menor possibilidade de realizaccedilatildeo de mudanccedila ou modificaccedilatildeo (niacutevel 6 - natildeo-restritividade niacutevel 5 - reconstituiccedilatildeo niacutevel 4 - extraccedilatildeo niacutevel 3 - substituiccedilatildeo niacutevel 2 - inserccedilatildeo niacutevel 1 - adjunccedilatildeo e o niacutevel 0 - completo congelamento)

Apesar da escala de sete niacuteveis proposta por Fraser receber criacuteticas de muitos fraseoloacutegos tendo na linha de frente Zuluaga (1975) sua proposta ao certo influenciou na evoluccedilatildeo dos estudos sobre o fenocircmeno da variabilidade fraseoloacutegica

Neste particular passou-se por exemplo a diferenciar a noccedilatildeo de variante e a de modificaccedilatildeo Assim numa perspectiva do falante nativo ou natildeo nativo questotildees que passaram a ser colocadas eram se o falante ao produzir uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica realizaria tal mudanccedila ou variaccedilatildeo de forma consciente ou a variaccedilatildeo se constituiria numa amostra de possibilidades de variabilidade que oferece o sistema fraseoloacutegico

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Graccedilas a Fraser a noccedilatildeo de modificaccedilatildeo ou modificaccedilotildees no campo fraseoloacutegico passou entatildeo a ser o centro da atenccedilatildeo de Corpas Pastor (1996 p 29-30) Segundo Corpas o grau de modificaccedilatildeo que permite que as UFs que sigam sendo reconhecidas reconhecimento idiomaacutetico diretamente proporcional ao grau de fixaccedilatildeo das mesmas (1996 p29)

De forma muito recorrente podemos perceber ao longo desta tarefa que a reduccedilatildeo foi uma das caracteriacutesticas mais recorrentes das modificaccedilotildees formais observadas nas respostas dos participantes agrave tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Cremos que esta caracteriacutestica deu um caraacuteter psicolinguiacutestico agraves respostas dos participantes uma vez que graccedilas agrave noccedilatildeo de reduccedilatildeo ou modificaccedilatildeo criativa levada a efeito pelos falantes natildeo nativos pudemos observar um processamento fraseoloacutegico de caraacuteter eminentemente psicolinguiacutestico por estas razotildees

(a) em primeiro lugar o foco de atenccedilatildeo na expressatildeo idiomaacutetica (b) em segundo lugar a preservaccedilatildeo na memoacuteria dos falantes da

parte efetivamente idiomaacutetica ou cristalizada em detrimento dos verbos que a introduzem e que sofrem variaccedilatildeo lexical (por exemplo verensinaraprendermostrarsaber com quantos paus se faz uma canoa) como veremos nos exemplos a seguir e

(c) em terceiro lugar a expressatildeo reduzida apontada pelos falantes a partir de um contexto de situaccedilatildeo foi o suficiente para que pudessem recuperar ou evocar a forma completa ou canocircnica

Em se tratando de observaccedilotildees preliminares dos dados coletados nesta tarefa antes de analisarmos as respostas dos informantes antecipamos que a expressatildeo natildeo pagar mico foi considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo

As expressotildees tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa foram consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram consideradas de faacutecil identificaccedilatildeo

Em geral os participantes apresentaram percentuais altos de identificaccedilatildeo das seis expressotildees idiomaacuteticas apresentadas nesta tarefa o que natildeo repercutiu diretamente na tarefa de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegicas das mesmas ou menor percentual de

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pedido de ajuda teacutecnica (SI) para suas estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica (top-down) como veremos mais adiante

As duas expressotildees zoomoacuterficas que chamaram nossa atenccedilatildeo na nossa anaacutelise dos dados pagar mico que obteve a meacutedia 120 e matar cachorro a grito com a meacutedia 267 Curioso eacute observarmos que as duas expressotildees em um continuum estatildeo situadas nos extremos Pagar mico como a de difiacutecil identificaccedilatildeo e matar cachorro a grito como a de faacutecil identificaccedilatildeo pelos 20 participantes

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Levando em conta que as expressotildees idiomaacuteticas podem ser

sofrer um processo de variaccedilatildeo fraseoloacutegica atraveacutes de um processo de reduccedilatildeo consciente por parte do falante propusemos numa espeacutecie de gradaccedilatildeo ou niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Tabela 3 - Identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por participante

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Pontuaccedilatildeo

IC (1p)

PC (2p)

CO (3p)

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

111820 1234 5678 91012 131415 161719

Pagar mico 358 1113 1415 1617

181920

124 679 1012

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

111215 16 20

410 14

123 567 8913 1718

19

160

Pocircr a boca no trombone

11 20 259 1617

19

134 678 1012

13 1415 18

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

111518 123 457

81014

6912 131617

1920

Chutar o pau da barraca

1120 1234 567

8910 1213 1415 1617 1819

Legendas IC = Incorreto PC = Parcialmente Correto CO = Correto

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Nesta posiccedilatildeo encontramos ocorrecircncias para as seis expressotildees

idiomaacuteticas tanto em informantes do sexo feminino como do sexo masculino de cada paiacutes

O conceito de desvio fraseoloacutegico natildeo eacute entendido aqui como uma transgressatildeo com relaccedilatildeo agrave identificaccedilatildeo da forma canocircnica da expressatildeo mas como operaccedilatildeo cognitiva que resulta da decisatildeo ou da competecircncia linguiacutestica dos falantes

O desvio ocorreu em decorrecircncia de o informante natildeo identificar em um texto dado portanto com vaacuterias ocorrecircncias linguiacutesticas uma unidade fraseoloacutegica formalmente pluriverbal e fixa

ZOOMORFISMOS Matar cachorro a grito Nesta posiccedilatildeo natildeo houve registro de ocorrecircncia para os

informantes cabo-verdianos (G1e G2)

161

Resposta de um informante feminina de Guineacute-Bissau (G3) porque na verdade hoje em dia quando uma coisa sai no repoacuterter aiacute todo mundo quer saber o quecirc que estaacute acontecendo ah eu acho que reportagem jaacute chama atenccedilatildeo pra pessoa prestar atenccedilatildeo no quecirc que estaacute acontecendo que nos sugere um determinante extralinguiacutestico associado agrave sua resposta

Respostas de dois informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) natildeo e (b) natildeo num ()

Pagar mico Com relaccedilatildeo agrave expressatildeo natildeo pagar mico a que apresentou um

grau de dificuldade de identificaccedilatildeo muito acentuado revelou que 60 dos participantes natildeo souberam fazer a identificaccedilatildeo correta da expressatildeo natildeo pagar mico traduzido por uma meacutedia de 120 - um valor bastante baixo

Os dados extraiacutedos do Protocolo Verbal apontam que a maioria dos participantes ao serem indagados se identificavam alguma expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura respondiam negativamente com expressotildees do tipo natildeo natildeo vi nenhuma nada hellip (seguido por um riso nasal registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios)

A anaacutelise das respostas dos informantes revelou o esforccedilo individual ou caracteriacutestico depreendido na tarefa proposta com comentaacuterios como expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo identifiquei nenhuma Muitos informantes respondiam ao entrevistador com um prolongado silecircncio registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios

Muitas vezes a resposta negativa vinha acompanhada de um pedido de ajuda (ato de fala indireto) que se constituiacutea um pedido de ajuda quanto ao sentido literal dos componentes lexicais da expressatildeo como em num sei a uacutenica coisa aqui seria mico Outra vez um informante depois de um prolongado silecircncio respondeu incorretamente agrave tarefa com uma repeticcedilatildeo de trechos do texto como Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem justificando nesse caso a identificaccedilatildeo pretendida com eu identifico porque assim tem uma expressatildeo no meu paiacutes quase idecircntico com isso que as pessoas dizem que que natildeo dar pra confiar nas coisas barata neacute porque natildeo presta (risos) entatildeo aiacute que eu faccedilo uma comparaccedilatildeo

162

que o preccedilo baixo natildeo significa que vocecirc vai ter que o jovem vai ter uma boa viagem por ser um preccedilo baixo e a viagem eacute ruim viajar ( ) apertado sem condiccedilotildees entatildeo isso tem a ver Em outras ocasiotildees os participantes mostravam claramente a dificuldade de chegar agrave expressatildeo pretendida como custo benefiacutecio pode ser pequeno Neste caso o que merece destaque eacute o fato de o informante praticamente parafrasear todo texto e natildeo fazer nenhuma referecircncia agrave expressatildeo natildeo pagar mico

Uma participante do sexo feminino de Cabo Verde informou conhecer paga mico e paga uma mico o que nos leva a crer que conheccedila uma expressatildeo semelhante em crioulo pagar o mico4 como na sua resposta traziam os dois dos componentes (pagamico) da expressatildeo canocircnica consideramos como parcialmente correta

Nesta tarefa os poucos que anteciparam a anunciar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo pagar mico indicavam a natureza natildeo composicional da expressatildeo ao afirmarem natildeo sei o que eacute a palavra mico noacutes soacute relacionamos a palavra ao contexto que noacutes vamos passar vergonha eacute sair envergonhando todo mundo e envergonhando a si proacuteprio mas a palavra natildeo

De acordo Mogorroacutem Huerta (2010 p251) a variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas pode ser uma fonte de opacidade para os participantes Portanto natildeo haacute como separar nessa hipoacutetese uma identificaccedilatildeo do reconhecimento idiomaacutetico ou da idiomaticidade semacircntica da expressatildeo

Palavras ou expressotildees diferentes ou estranhas como os participantes assim se referiam agrave natildeo pagar mico e a outras expressotildees que natildeo reconheciam decorreriam para Mogorroacuten Huerta do fato de os usuaacuterios da liacutengua natildeo serem conhecedores das possiacuteveis variantes paradigmaacuteticas (que micopagar mico) devido ao conhecimento limitado que cada falante tem de sua liacutengua materna ou no caso dos africanos de sua L2

A variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas foi comprovadamente em nossa pesquisa uma das fontes leacutexicas de opacidade de pagar mico para a maioria dos participantes Um dos

4 No regionalismo brasileiro pagar mico e pagar o mico natildeo satildeo expressotildees sinocircnimas Pagar mico tem o sentido de passar vergonha dar vexame e pagar o mico com o sentido de sofrer as consequecircncias portanto sinocircnimo de pagar o pato

163

participantes diz que em seu paiacutes Cabo Verde jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos)) justificando por essa razatildeo natildeo ter identificado a expressatildeo no texto lido Muitas respostas foram consideradas por noacutes incorretas por natildeo se aproximar nem ao mesmo da paraacutefrase contextual como deixa eu ver essa aqui que natildeo significa a boa viagemrdquo mas uma mera repeticcedilatildeo a trecho do lido

Vejamos a seguir as respostas dos informantes Respostas de duas informantes de Cabo Verde (G1) (a) custo

benefiacutecio pode ser pequeno e (b) ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei Ao serem indagados quanto agraves suas respostas respondem respectivamente o seguinte ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei o que nos sugere terem procurado no texto e encontrado uma combinaccedilatildeo fixa que atendesse agrave expectativa do pesquisador sem levar em conta o caraacuteter de natildeo composicionalidade semacircntica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Resposta de um informantes masculino de Cabo Verde (G2) expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo reconheci nenhuma o que pode me chamar atenccedilatildeo eacute o assunto custo-benefiacutecio que explicando eacute um assunto que a gente ou seja que o fato de ser barato natildeo quer dizer que que vai que vai ser o melhor o custo-benefiacutecio eacute quer dizer que a gente deve procurar algo num preccedilo bom com uma qualidade boa mas expressatildeo idiomaacutetica em si natildeo se reconhece aiacute

Respostas de quatro informantes femininas de Guineacute-Bissau (G3) (a) ((silecircncio)) Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (b) custo-benefiacutecio (c) deixa eu essa aqui que natildeo significa ldquoque natildeo significa a boa viagemrdquo e (d) pacote de viagem de formatura

Respostas dos informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) eacute consulte o CNPJ da empresa mas na verdade natildeo porque essa consulta aqui acho que eacute pra ter informaccedilotildees sobre a empresa neacute (b) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (c) ((silecircncio)) preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (d) ldquopreccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio

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e (e) humaqui identificocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Os dados coletados indicam que 60 dos participantes

identificaram corretamente (GF-CO) a forma fixa da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho sendo que 25 apontaram uma forma incorreta ou disseram natildeo saber identificar (GF-IC) no texto a expressatildeo e 15 se situaram numa situaccedilatildeo parcialmente correta (GF-PC)

Respostas das quatro estudantes de Guineacute-Bissau (G3) na sua maioria indicam que natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho Entre suas respostas podemos ouvir ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo natildeo e por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar onde claramente apelam para trechos do texto sem que tenha sucesso na tarefa Um caso de parcialmente correta semelhante ao que podemos registrar com suas compatriotas foi o de o participante informar aacutegua no joelhordquo mas que preservava na sua resposta elementos fixos da composiccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica A uacutenica resposta considerada correta situou-se a expressatildeo em trecho como essa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho que consideramos corretamente porque o informante procura claramente como jaacute dissemos anteriormente preencher a diaacutetese no qual o papel de agente da accedilatildeo verbal (tomar cerveja quente) se faz necessaacuterio explicitar na sua resposta

Para esta expressatildeo apenas as informantes do G3 guineenses em sua totalidade natildeo conseguiram corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho anunciando respostas como (a) ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo (b) natildeo (c) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar e (d) ldquoaacutegua no joelhordquo e (e) ((silecircncio)) tomar cerveja ((balbucio))

Do grupo G4 informantes masculinos de Guineacute-Bissau 50 dos estudantes tiveram dificuldade de identificar a expressatildeo tirar(mais)

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aacutegua do joelho situaccedilatildeo em que podemos registrar respostas como eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute e tomar cerveja Os protocolos verbais registram uma dificuldade muito grande por parte dos estudantes de lerem o texto em voz alta o que acabou por gerar em suas respostas palavras inaudiacuteveis ou por vezes balbucios

Outros 50 dos estudantes guineenses do sexo masculino responderam corretamente a expressatildeo (GF-CO) natildeo solta mas dentro de um princiacutepio diateacutesico de oferecer a expressatildeo dentro de uma estrutura com sujeito e predicado como em ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Dos 20 informantes apenas dois guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone Do grupo G3 informantes femininas de Guineacute-Bissau registramos

um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo incorreta feita por uma estudante guineense com a reposta CRIMES no municiacutepio Um estudante guineense do sexo masculino declarou natildeo saber identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta ao entrevistador natildeo

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos 20 participantes registramos apenas duas respostas das

estudantes de Guineacute-Bissau (G3) que foram consideradas incorretas (a) empossado e (b) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo

Chutar o pau da barraca Dos 20 participantes apenas duas guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo chutar o pau da barraca Uma

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informante respondeu com um natildeo descartando qualquer tentativa em seguida Um participante guineense natildeo conseguiu identificar corretamente a expressatildeo ao responder eacute queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Segundo (FULGEcircNCIO 2008 p 111) para que um falante possa

compreender uma expressatildeo fija alterada e perceber a ruptura eacute preciso primeiramente que o mesmo tenha internalizada a expressatildeo canocircnica ou de origem sendo assim a alteraccedilatildeo constitui uma extensatildeo do conhecimento leacutexico Eacute o que veremos nas respostas dos informantes abaixo

Nesta posiccedilatildeo para as expressotildees Matar cachorro a grito e Pagar mico e chutar o pau da barraca natildeo houve registro de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Tirar aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aacutegua do

joelhordquo e (b) eacute soltar mais aacutegua do joelho seraacute que eacute Resposta de registramos uma representante de Guineacute-Bissau

(G3) ldquomais aacutegua no joelhordquo Os participantes de G1 e G2 natildeo se situaram nesta posiccedilatildeo Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 registramos um caso de identificaccedilatildeo parcial feita

por uma estudante cabo-verdiana para a expressatildeo pocircr a boca no trombone a boca no trombone hellip

Do Grupo G2 registramos um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo por meio da reduccedilatildeo parcial da expressatildeo pocircr a boca no trombone por um estudante cabo-verdiano do sexo masculino ao responder ldquoboca no trombonerdquo no contexto no qual reproduz trechos do texto lido eacute falar a verdade pra todo mundo pra qualquer pra todo e qualquer pessoa sem receio de represarias eu acho que eacute isso

Respostas de informantes do sexo masculino e Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquoboca no trombonerdquo (b) tem esse ldquoboca no boca no trombonerdquo (c) ldquo a boca no trombonerdquo um advogado que atua na aacuterea Jorge

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Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta ldquoa boca no trombonerdquo

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 a maioria das estudantes cabo-verdianas identificou

a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa parcialmente correta com as seguintes respostas (a) eacutehellip com quantos paus faz uma canoa (b) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez (c) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem e (d) eacutehellip com quantos paus se faz uma canoa

Do Grupo G2 trecircs estudantes do sexo masculino de Cabo Verde identificaram parcialmente correta a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa ao anunciarem (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo (b) com quantos paus se faz uma canoa e (c) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute

Do Grupo G3 uma estudante de Guineacute-Bissau anunciou uma resposta considerada por noacutes como parcialmente correta ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino identificou assim vai hellip vai se arrepender ateacute o uacuteltimo o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedila hellip

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do Grupo G1 todas as estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos) (b) ((riso)) acho que

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e h matar cachorro a grito (c) rdquo((risos)) esse ldquomatar cachorro a gritordquo rdquo (d) matar cachorro a grito e (e) natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei

Do Grupo G2 todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) aqui a expressatildeo ldquomatar cachorro a gritordquo (c) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito (d) matar cachorro a grito e (e) ((o participante continua relendo trechos do texto em balbucios)) matar cachorro a grito

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito anunciando respostas como (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) eacute ldquomatar o cachorro a gritordquo (c) essa daqui ldquomatar cachorro a gritordquo e (d) sim assim tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito a saber (a) ((silecircncio)) natildeo identifiquei nenhuma hellip mas tem esse hellip matar cachorro a grito e h a atividade mais exercida pela maioria deles hellip (b) ldquo matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria delesrdquo (c) ldquomatar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Natildeo pagar mico Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico (a) ldquopagar micordquo (b) num sei a uacutenica coisa aqui seria mico ((riso)) ldquopagar micordquo e (c) uhn ((silecircncio)) ou pagar mico neacute

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico dando exemplos (a) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica significa quer dizer pagar mico hellip e h hellip pagar mico (b) ((pausa acentuada)) ldquomico nas escolasrdquo ldquonatildeo quer pagar micordquo (c) ldquopagar micordquo e (d) pagar mico

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Do Grupo G3 houve apenas um caso de uma estudante guineense identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico eacute muito engraccedilado neacute para quem na quer eacute pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentarrdquo

Nesta posiccedilatildeo natildeo houve ocorrecircncia para os participantes do G4 SOMATISMOS

Tirar aacutegua do joelho Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ((curto silecircncio)) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo (b) tirar mais aacutegua do joelho hellip que eu natildeo sei tirar mais aacutegua do joelho hellip acho que e h isso e (c) hum tirar mais aacutegua do joelho

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip (c) tirar aacutegua do joelho e (d) tirar aacutegua do joelho

Do Grupo G3 registramos um exemplo de identificaccedilatildeo correta da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho feita por uma estudante guineense ldquoessa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelhordquo

Respostas de trecircs participantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo (b) acho natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e (c) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 as estudantes cabo-verdianas em sua maioria

identificaram corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone (a) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (b) aqui ldquopocircs a boca no trombonerdquo ele soltou a verdade ((risos)) nem se ele resolveu

170

espalhar dizer o que sabe neacute (c) botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone hellip (d) ((silecircncio)) hum a boca no trombone rdquo

Do Grupo G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino conseguiu identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone ((silecircncio)) pocircr a boca no trombonerdquo

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos exemplificar a seguir (a) ldquobotar a boca no tromboso5rdquo (b) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (c) pocircs a boca no trombone e (d) pocircs a bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos observar a seguir (a) ldquopocircs a BOca no trombonerdquo (b) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem (c) botar a boca no trombone e (d) expressatildeo idiomaacutetica pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio rdquo

5 As palavras trombeta trombone e tromboso que aparecem nas respostas dos informantes levam-nos agrave mesma etimologia todas vecircm de tromba (antigo instrumento de sopro) Provavelmente tromba venha de trompa com as seguintes acepccedilotildees (a) espeacutecie de trombeta de chifre ou metal retorcido com um uacutenico som muito forte e (b) trombeta primitiva de forma circular usada na caccedila As respostas dos informantes tecircm um fundo biacuteblico para a motivaccedilatildeo da expressatildeo Vaacuterias satildeo as passagens biacuteblicas com a palavra trombeta Para citar apenas uma Fala aos filhos de Israel dizendo No mecircs seacutetimo ao primeiro do mecircs tereis descanso memorial com sonido de trombetas santa convocaccedilatildeo (Leviacutetico 23 24)

171

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 uma uacutenica participante cabo-verdiana identificou

corretamente a expressatildeo tem aqui a Dilma vai saber com quanto paus se mata uma canoa hellip aqui hellip essa parte aqui hellip

Respostas de dois estudantes do sexo masculino de Cabo Verde (G2) (a) ldquoa partir do primeiro dia de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com Quantos paus se faz uma canoardquo uma expressatildeo assim uma giacuteria e (b) eacute a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip

Respostas de duas estudantes guineenses (G3) (a) eacute ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoardquo quer dizer reconhecer a realidade neacute de mandar uma outra coisa tambeacutem que estaacute explicando aqui em baixo que o Lula quer continuar soacute que o mandato dele o tempo dele jaacute acabou entatildeo ele quer mesmo a Dilma vivendo laacute ela vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo aleacutem de de de de como eacute que eu posso dizer Aleacutem de en-fren-tar a dificuldade porque mandar natildeo eacute faacutecil ela ela vai tambeacutem vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo eu acho que eacute (b) Eacutetem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa

Respostas da maioria dos estudantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoardquo neacute (b) ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz um canoardquo (c) Eacutea Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip e (d) Eacute vai saber quantos paus se faz uma canoa

Chutar o pau da barraca Respostas das estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ldquochutar o pau

da barracardquo (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) falta o povo chutar o pau da barraca (d) falta o povo chutar pau da barraca e (e) o povo chutar o pau da barraca

Respostas dos os estudantes cabo-verdianos do gecircnero masculino (G2) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barraca ((riso)) que destruindo sentido literal chutar ou destruir destruir a barracardquo (b) a expressatildeo que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem

172

(c) ah ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (d) bom esse aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo e (e) chutar o pau da barraca

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ldquochutar o pau da barracardquo (b) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (c) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquo e (d) tem essa daqui falta o povo chutar o pau da barraca

Respostas da maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (b) ((silecircncio)) esse falta o povo chutar o pau da barraca (c) ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca e (d) ()ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Atribuiacutemos para as respostas dadas pelos informantes uma pontuaccedilatildeo identificaccedilatildeo correta 1 ponto identificaccedilatildeo parcialmente correta 2 pontos e identificaccedilatildeo correta 3 pontos A partir desta pontuaccedilatildeo pudemos calcular oss valores das meacutedias das seis expressotildees que variaram de 120 para natildeo pagar mico a 275 para chutar o pau da barraca A meacutedia das meacutedias foi

Os valores indicados nos caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo para o grau da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica indicam que a expressatildeo mais difiacutecil de ser identificada pelos informantes foi natildeo pagar mico com meacutedia 120

As expressotildees saber com quantos paus se faz uma canoa e tirar aacutegua do joelho foram com 209 e 207 consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees mais faacuteceis de serem identificadas foram chutar o pau da barraca com meacutedia 275 matar cachorro a grito com 267 e pocircr a boca no trombone com 242

173

Graacutefico 1 - Meacutedias da Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica por expressatildeo idiomaacutetica

Tabela 4 - Meacutedias e Desvios Padratildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Meacutedia Desvio Padratildeo

Grau de identificaccedilatildeo

Zoomorfismos Matar cachorro a grito 267 077 Faacutecil

Natildeo pagar mico 120 063 Difiacutecil

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

207

092 Meacutedia

Pocircr a boca no trombone

242 079 Faacutecil

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

209 083 Meacutedia

267

12

207242

209

275

Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar mais aacutegua dojoelho

Pocircr a boca notrombone

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Chutar o pau da barraca Meacutedia das meacutedias

275 176

068 Faacutecil

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Quando o falante usa tais construccedilotildees demonstra que utilizou um conjunto lexical presente na sua memoacuteria e natildeo construiacutedo no momento do enunciado (Fulgecircncio 2008 p 77)

Para respondermos a questatildeo desta Tarefa 2 testamos as

seguintes hipoacuteteses (a) os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria (b) os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos e (c) os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

As respostas dos informantes sobre a memoacuteria fraseoloacutegica das seis expressotildees deste experimento foram convertidos em valores numa escala de 1 a 3 para que pudeacutessemos calcular as meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegica ficando assim categorizadas os comentaacuterios dos informantes em trecircs niacuteveis (a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 1 ponto (b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 2 pontos e (c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 3 pontos Em seguida apresentamos percentuais levando em conta o nuacutemero de informantes que participaram da tarefa

A partir da pontuaccedilatildeo dada agraves respostas (niacuteveis) dos informantes pudemos fazer um novo caacutelculo o do grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica estabelecendo entatildeo estes trecircs graus (a) menos familiares (b) familiares e mais familiares

Levando em conta os niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica e considerando o grau de memoacuteria fraseoloacutegica fizemos entatildeo a seleccedilatildeo final dos informantes a serem considerados na anaacutelise dos

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dados nas tarefas 3 (Idiomaticidade Fraseoloacutegica) e 4 (Taacuteticas e Estrateacutegias de compreensatildeo)

Por fim para melhor avaliarmos as respostas dadas pelos informantes em crioulos cabo-verdiano e guineense fizemos um inventaacuterio colhido diretamente dos informantes depois da aplicaccedilatildeo da uacuteltima tarefa do experimento de modo a permitir cotejarmos suas respostas com as expectativas do pesquisador com relaccedilatildeo agrave forma canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica e as acepccedilotildees de idiomaticidade das seis expressotildees em liacutengua portuguesa (L2)

Uma vez aplicada as tarefas relacionadas com a identificaccedilatildeo e a memoacuteria fraseoloacutegias pareceu-nos muito importante discriminar as unidades jaacute conhecidas pelos informantes posto que estes resultados poderiam desvirtuar os resultados das Tarefas 3 e 4 relativos agrave verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica e agrave verificaccedilatildeo da frequecircncia de uso das estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica a partir dos dados fornecidos pelos participantes durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal Think Aloud

O objetivo desta tarefa foi submetermos os 20 participantes da pesquisa a um teste de memoacuteria fraseoloacutegica Afinal quando sabemos na condiccedilatildeo de nativos de uma liacutengua de cor ou de cor e salteado uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo podemos dizer se ela eacute opaca ou natildeo uma vez jaacute estaacute cristalizada em nossa memoacuteria de longo prazo portanto efetivamente memorizada guardada em bloco unitaacuterio e pronta para uso Por essa razatildeo centramos-nos nas expressotildees natildeo conhecidas ou natildeo lembradas nem decantadas semanticamente pelos informantes porque seguramente diratildeo se seratildeo julgadas como sendo de idiomaticidade forte (opacas) ou idiomaticidade fraca (transparentes)

Para assegurar maior confiabilidade desta tarefa recorremos ao meacutetodo conhecido por procedimento lembrarsaber desenvolvido por Tulving (1985) que consistiu em pedir aos participantes que declarassem se lembravam ou se haviam ouvido alguma vez antes da data do teste a expressatildeo idiomaacutetica objeto de apreciaccedilatildeo e na hipoacutetese de resposta afirmativa ou negativa (teste de reconhecimento de simnatildeo) teriam que imediatamente dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo evitando que colocassem em praacutetica suas taacuteticas preparatoacuterias (bottom-up) e adivinhatoacuterias (top-down) e de nossa parte apoacutes o anuacutencio dos informantes disponibilizaacutevamos as diversas

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formas de ajuda teacutecnica (SI) dentro do chamado Protocolo Verbal Think Aloud

Com esta tarefa como jaacute anunciamos anteriormente buscaacutevamos responder agrave Terceira Pergunta da nossa Pesquisa ou mais precisamente sabermos como variam as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para este estudo quanto ao seu grau de idiomaticidade intralinguiacutestica ou opacidade semacircntica especificamente de natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

A opacidade-transparecircncia depende como sabemos das caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas (metaacutefora literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) e dos conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) considerados nesta pesquisa como taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down respectivamente bastante diversas nas habilidades e competecircncias de cada falante

Mais adiante veremos que muitos falantes natildeo nativos diante de expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil surpreenderam-nos com suas respostas percepccedilotildees impressotildees inferecircncias enfim evidenciaramm estrateacutegias heuriacutesticas ou originalmente heteroacuteclitas Aliaacutes estudos recentes relacionados agrave compreensatildeo idiomaacutetica tecircm apontado que em tarefas contrastivas tem se constatado a transferecircncia bastante criativa de conhecimentos da liacutengua materna para a segunda liacutengua (DETRY 2009 p243)

Havemos tambeacutem de dizer que uma expressatildeo julgada transparente para um falante nativo natildeo eacute necessariamente transparente para um falante natildeo nativo Em geral quando falantes nativos identificam (grau de identificaccedilatildeo ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) uma expressatildeo idiomaacutetica a associa diretamente ao sentido figurado ou idiomaacutetico que armazena em sua memoacuteria de longo prazo mas natildeo sabemos ao certo se essa operaccedilatildeo acontece igualmente com falantes natildeo nativos

Certo eacute que operaccedilotildees cognitivas dependem sobretudo de como os falantes recordam como expressatildeo de sua liacutengua materna (L1) Ou seja na situaccedilatildeo em que falantes natildeo nativos declarassem conhecer e lembrar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a rigor natildeo poderiacuteamos falar em opacidade-transparecircncia jaacute que simplesmente nessa situaccedilatildeo armazenam-nas em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam Soacute podemos pois falar em opacidade-transparecircncia com

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relaccedilatildeo agraves expressotildees idiomaacuteticas somente para falantes sejam nativos ou natildeo nativos que natildeo as conhecem natildeo as lembram ou simplesmente os lexemas que as formam natildeo permitem a passagem de luz isto eacute bloqueiam nos falantes a passagem do literal para o abstrato ou do literal para o natildeo composicional sentido idiomaacutetico

A questatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica ou mais precisamente da memoacuteria de reconhecimento idiomaacutetico estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de frequecircncia de coapariccedilatildeo e de frequecircncia de uso uma vez que quanto mais usada a combinaccedilatildeo fixa pelos falantes mas consolidar-se-atildeo como expressotildees fixas que os falantes armazenaratildeo na memoacuteria (CORPAS PASTOR 1996 p21)

A fixaccedilatildeo fraseoloacutegica de que tratamos anteriormente eacute pois obra da memoacuteria idiomaacutetica a que o falante recorre para significar metaforicamente algo diferente do que a sentenccedila significa literalmente (SEARLE [1979] 2002 p121) sem a qual natildeo poderiacuteamos falar a rigor em expressatildeo fixa expressatildeo idiomaacutetica ou unidade fraseoloacutegica porque da noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica vatildeo emanar os traccedilos essenciais das unidades fraseoloacutegicas a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade

Trata-se para usarmos de um termo mais apropriado para este caso acima de fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica um traccedilo que juntamente com a fixaccedilatildeo formal eacute essencial a todas as Unidades Fraseoloacutegias (UFs) cujos participantes as recordam e as produzem em bloco como uma uacutenica unidade leacutexica e que uma vez fixada ou institucionalizada permaneceraacute na memoacuteria do falante como um todo indissoluacutevel e capaz de reproduzi-la quando a situaccedilatildeo o permitir (ALVARADO ORTEGA 2010 p28)

Para verificarmos o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa apoacutes a aplicaccedilatildeo da tarefa 1 (verificaccedilatildeo da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) perguntaacutevamos aos informantes se jaacute conheciam a expressatildeo testada antes da aplicaccedilatildeo da tarefa

As respostas dos informantes foram assim categorizadas por niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo nem sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 1 ponto

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b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar ou ter ouvido a expressatildeo mas natildeo sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 2 pontos

c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar e ter ouvido a expressatildeo e saber seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 3 pontos

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes

Na Tarefa 2 a expressatildeo matar cachorro a grito em que levamos

em conta principalmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (ou memoacuteria fraseoloacutegica) tal qual assinalada por Alvarado Ortega (2010 p28) 75 dos informantes declararam ao entrevistador durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que natildeo conheciam ou natildeo lembravam ou natildeo havia ouvido ou lido a expressatildeo antes do teste Neste teste as respostas dos informantes apontaram que 15 deles lembravam parcialmente desta expressatildeo idiomaacutetica As respostas dos informantes quanto ao sentido idiomaacutetico da referida expressatildeo confirmavam esta posiccedilatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico ficou com metade dos informantes que declararam ter conhecido ou ter ouvido a expressatildeo e a outra metade afirmou natildeo ter conhecimento ou ouvido antes a expressatildeo

No caso da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho depois da expressatildeo matar cachorro a grito foi a que obteve 60 os participantes que declararam natildeo conhecer ou natildeo ter ouvido a expressatildeo antes do teste contra 35 que afirmaram lembrar ou jaacute ter ouvido a expressatildeo antes em seu paiacutes por influecircncia em especial das novelas brasileiras

A expressatildeo pocircr a boca no trombone foi a que obteve 65 da recordaccedilatildeo pelos participantes restando 35 que alegaram natildeo conhecer a expressatildeo Facilmente os participantes encontraram em crioulo (L1) tanto os de Guineacute-Bissau como os de Cabo-Verde equivalentes que consideramos como corretas para nosso estudo

Para expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa os comentaacuterios iniciais do protocolo verbal apontam que 45 dos

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informantes declararam conhecer ou ter a expressatildeo idiomaacutetica antes principalmente em seu paiacutes de origem e os dados coletados parecem indicar que 10 dos informantes soacute conheciam parcialmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica da referida expressatildeo

Ao lado da expressatildeo matar cachorro a grito o teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica para chutar o pau da barraca indicou que 75 dos informantes declararam desconhecer ou natildeo lembrar da expressatildeo

Observemos a quadro abaixo

Tabela 5 - Verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica por percentual de falantes

CATEGORIAS

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

PONTUACcedilAtildeO

NS (1p) PS(2p) SA(3p)

ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito

75 00 10

Natildeo pagar mico 50 00 50

SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho 60 05 35

Pocircr a boca no trombone 35 00 65

BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

45 10 45

Chutar o pau da barraca

75 05 20

Legendas NC = Natildeo lembra nem ouviu a expressatildeo idiomaacutetica CN = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo sabe seu sentido CS = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica e sabe seu sentido

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Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito De G1 natildeo houve registro de respostas das informantes cabo-

verdianas que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes de Cabo Verde (G1) (a) eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs ((risos)) essas palavras esses textos aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia (b) natildeo e (c)natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei hellip

Respostas da totalidade das estudantes guineenses (G3) (a) nunca ouvi em Guineacute (b) ((silecircncio seguido de gesto negativo com a cabeccedila) (c) matar cachorro a grito natildeo (d) natildeo conheccedilo natildeo e (e) nunca ouvi essa expressatildeo de matar cachorro mas pode me dar um exemplo similar

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) e h hellip eu achei essa frase assim estranha hellip frase nova pra mim (b) ahoo cara pensa que o artista eacute rico neacuteaiacute como taacute dizendo aqui ldquo matar cachorro eacute atividade exercida por elesrdquoeacute mais faacutecil matar cachorro a giro do que ( as outras pessoas)matar cachorro a grito eacute que to achando aiacute neacutemas esta giacuteria ldquomatar cachorro a grito ldquo nunca ouvi falar (c) ((silecircncio)) natildeo ((riso)) eacute difiacutecil interpretar porque nunca nunca na verdade eu escutei (d) natildeo e (e) eu entendo assim

Natildeo pagar mico Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((riso

nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquohellip ((riso)) hellip e (b) eacute paga mico eacute sim conheccedilo paga uma mico eacute

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Respostas dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) uhn hellip conheccedilo hellip (b)jaacute (c) JAacute atraveacutes da miacutedia tambeacutem (d) pagar mico conhecia mas era porque passa sempre nas novelas laacute neacute hellip passa as novelas e essa expressatildeo acaba por escutar na televisatildeo e (e) conheccedilo tambeacutem por influecircncia da da de TV e de novela essas coisas mas acaba se usando a gente acaba usando tambeacutem laacute em Cabo Verde natildeo muito mas usa eacute isso jaacute ouvi pessoas usando isso aiacute rdquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((riso)) natildeo sei natildeo sei (b) humaqui reconheccedilocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo (c) ((silecircncio)) sei natildeo (d) eacute tipo eu jaacute ouvi mico mas natildeo sei exatamente o que significa eacute tipo uma uma pessoa que taacute fazendo uma coisa assim tipo qualquer besteira pagar mico natildeo sei exatamente isso natildeo eu nunca ouvi soacute o mico assim e (e) eacute porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacute por exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacute aiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) uhn

(b) natildeo hellip tambeacutem nunca escutei hellip ((riso nasal)) De G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-

verdianos do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas das estudantes guineenses (G3) (a) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar (b) eu natildeo sei se o vinho fica aqui no joelho o pessoa natildeo consegue andar natildeo sei eu acho que eacute mas eu natildeo conheccedilo essa palavra natildeo pra dizer a verdade eu natildeo conheccedilo (c) natildeo eu aprendi aqui natildeo (d) Natildeo conheccedilo natildeo e (e) natildeonem em Guineacute nem no BrasilParticipante entatildeo tem uma

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expressatildeo parece descarregar mesmo natildeo estou lembrando bemParticipante em crioulo eacute (missa) mas tambeacutem tem uma expressatildeo que eacute proveacuterbio mas natildeo estou lembrada tem o mesmo sentido dessa aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) natildeo (b) natildeo natildeo conhecia assim ((silecircncio)) eu eu vejo essa frase aqui estranho (c) hatilde (d) significa que tomar cerveja quente faz o cara mijar muito neacute e (e) eu conheccedilo aqui isso ocorre em parte porque o aacutelcool soacute que eu natildeo conheccedilo essa palavra aqui inibe inibe

Pocircr a boca no trombone De G1 e G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de quatro estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa PERdeu o JUIZO (b) conheccedilo natildeo natildeo ouvi natildeo (c) no Brasil eu natildeo sabia se existia tambeacutem essa aiacute assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (d) natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra expressatildeo eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha) quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assimrdquo

Respostas de dois estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae e (b) defender uma coisa

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((curto

silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra

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empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho() hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () e (b) natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente expressatildeo idiomaacuteticardquo

Resposta de um uacutenico estudante cabo-verdiano do sexo masculino (G2) essa aqui essa aqui eu jaacute eu jaacute conheccedilo hellip natildeo assim hellip a expressatildeo eu jaacute conheccedilo hellip no meu paiacutes natildeo se usa natildeo se usa pelo menos eu natildeo sei ()aqui eu jaacute aqui eu jaacute sabia hellip mas no meu paiacutes natildeo se usa essa expressatildeo hellip tem coisas que a gente usa hellip mas que no momento eu natildeo me lembro

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) Essa expressatildeo natildeo conheccedilo (ruiacutedo) (silecircncio) (ruiacutedo) e (c) por exemplo aqui estaacute dizendo espera aiacute ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedilardquo ter aceitado ser a candidata de Lula mas natildeo eacute isso natildeo eacute essa frase aqui ldquotudo o que ele quer eacute continuar mandandordquo

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) (hipoacutetese de negaccedilatildeo com gesto de cabeccedila) ((silecircncio)) natildeo hellip (b) eu natildeo eu nunca tinha visto assim hellip mas () como como e h que eu posso explicar hellip ((curto silecircncio)) tem outra expressatildeo que a gente usa laacute hellip natildeo sei se e h idecircntico hellip tipo hellip crianccedila numa gravidez assim hellip a matildee vai falar com a noiva assim hellip (tu vai ter que aprender com e h que a gente faz pra criar a crianccedila) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip natildeo sei se se identifica e (c)natildeo

Chutar o pau da barraca Respostas da maioria das estudantes cabo-verdianas (G1) (a)

ldquonatildeo hellip porque eacute um pouco diferente eacute uma frase que muda logo chama logo atenccedilatildeo das pessoas num texto assim eu acho que noacutes podemos e h por ser portuguecircs hellip cada num sei cada povo tem sua expressatildeo neacute entatildeo logo quando eu li e natildeo consegui entender

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logo o contexto do ldquofalta chutar o pau da barracardquo hellip chama logo a minha atenccedilatildeo por eu natildeo conseguir assimilar num texto desses como assim falta o povo chutar o pau da barraca eu natildeo ()L1 (deitar tudo pra altura) talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura L1(sabota tudo na espora) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) eacute hellip acho que e h hellip nunca ouvi falar nunca ouvi falar acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui num sei hellip nunca escutei natildeo hellip eu nunca escutei dizer falta o po e (d) nunca eacute isso natildeo conheccedilo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) natildeo natildeo natildeo sei natildeo conheccedilo natildeo natildeo esse aqui acho que aqui no Brasil nunca ouvi falar () existem vaacuterias expressotildees aqui no Brasil que que eu nunca ouvi falar daacute pra entender com certeza quando vocecirc claro chutar o pau da barraca se eu escutar soacute chutar o pau da barraca acho que natildeo saberei natildeo saberei dizer qual o sentido mas aliado a um contexto daacute pra entender a expressatildeo e (b) natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ((silecircncio demorado)) eu natildeo sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso Eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) tambeacutem natildeo (c) chutar o pau da barraca natildeo (risos) (silecircncio) eu acho assim porque isso essa expressatildeo eacute uma expressatildeo que o pessoal usa tipo uma giacuteria (ruiacutedo) que a pessoa utiliza por exemplo se pegar essa expressatildeo pra procurar no dicionaacuterio vai ser difiacutecil de encontrar eacute uma linguagem mesmo popular que as pessoas utilizam como giacuteria e (d) natildeo nunca nem aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquoaqui no Brasil tambeacutem eacute nunca () natildeo ouvi nunca (b) eacuteesse aqui eacute um pouco pesado mas eu acho que eacute puxapuxa para poder chegar laacutevendo Roberto Carlos cantandordquode preto cantando sambardquo isso aqui tambeacutemeacute coisa pesada heimrdquo povo chutar o pau da barracardquoessa aqui eacute pesada me

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pegou (c) ()eacutetem (d) ldquochutar o pau da barracardquo natildeo e (e) natildeo hellip pode dar um exemplo pra Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) ldquo((silecircncio)) eacute

exatamente o quecirc eu natildeo consigo associar nesse contexto eacute eu jaacute ouvi eu natildeo me lembro eacute uma amiga minha ela tava falando eacute tava acontecendo uma coisa assim ela falou essa frase mas eu natildeo consigo relacionar com o contextordquo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) essa expressatildeo jaacute ouvi no Brasil algumas vezes mas ainda natildeo peguei o sentidoaqui no Brasil e (b) difiacutecil esse aqui essa expressatildeo eu nunca tinha ouvido eacute a primeira vez que eu ouccedilo tambeacutem e mesmo pelo contexto fica um pouquinho mais complicadordquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de dois estudantes guineenses (G4) (a) ldquonatildeo natildeo natildeo conhecia helliprdquo (b) ldquo matar cachorro a grito hellip hum hellip eu natildeo sei hellip jaacute ouvi jaacute ouvi e bastante soacute no Brasilrdquo

Natildeo pagar mico De G1 G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e dos informantes guineenses do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes guineenses (G3) declararam natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo natildeo pagar mico com respostas sucintas como natildeo e natildeo sei seguidas geralmente de curto silecircncio

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SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 para esta expressatildeo surpreendentemente natildeo

houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Resposta de uma uacutenica estudante cabo-verdiana (G1) diz ter

conhecido ou ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone em seu paiacutes mas natildeo lembrava seu sentido idiomaacutetico natildeo mas a gente conhece pela influecircncia eacute

De G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos do sexo masculino e dos informantes guineenses em sua totalidade que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 G2 e G3 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar e utilizar em Guineacute a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo sabe o sentido idiomaacutetico

Chutar o pau da barraca De G1 G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos

informantes cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) apresentou um

niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ao encontrar um expressatildeo equivalente em L1 (crioulo cabo-verdiano) ldquoesse ldquomatar cachorro a gritordquo eu natildeo diria no meu paiacutes eu natildeo diria assim eacute tipo aparentemente parece que ele eacute rico mas no fundo no fundo acho que ele natildeo eacute rica natildeo deve taacute ralando oito dez aiacute taacute cosendo as meinhas taacute fazendo pezinho de meia pra poder dar certo ((riso))rdquo

De G2 um estudante cabo-verdiano declarou ter ouvido ou lembrado a expressatildeo matar cachorro a grito no Brasil e saber seu sentido idiomaacutetico ldquoconheccedilo aqui no Brasil tambeacutemrdquo

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Natildeo pagar mico Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) eacute hellip

conheccedilo hellip jaacute jaacute sabia (b) assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela eacute pela novela brasileira e outras costumeiras que o pessoal usa escuta tambeacutem fala na novela neacute aiacute ouvindo mico aiacute eu associei a que vergonha (c) eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num ()

Respostas duas estudantes guineenses (G3) (a) aprendi aqui no Brasil uma das primeiras expressotildees eu morava com uma brasileira laacute em Natal e ela sempre dizia ldquoah eu paguei micordquo porque assim pagar mico quando pagar mico natildeo eacute pagar uma coisa natildeo pagar mico eacute envergonhar mesmo passei vergonha ou seja fiquei vermelho neacute e (b) Eacute no Brasil

De G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes do sexo masculino cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

188

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo

essa frase aqui eu ouvi aqui jaacute (ir para casa de banho) ldquoeu vou fazer xixi vou pra casa de banhordquo (b) vou tirar aacutegua do joelho hellip (isabatra aacutegua do joelho) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) natildeo soacute os rapazes como toda a populaccedilatildeo cabo-verdiana aqui tatildeo usando algumas palavras brasileiras colocando hellip e (c) fazer xixi acho que natildeo tem natildeo ((risos)) fazer xixi (tona ar) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

Respostas de todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino(G2) (a) essa expressatildeo eu jaacute ouvi falar mas eu natildeo sei explicar ((riso)) assim poderia me explicar (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (c) conheccedilo essa expressatildeo no paiacutes e a gente usa a mesma expressatildeo com o mesmo significado (d) conheccedilo hellip natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e (e) jaacute jaacute ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa eu nunca ouvi assim pelo menos ateacute agora eu nunca ouvi uma mulher falando isso

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Respostas de quatro estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aqui no

Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute

189

descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) (b) eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone ((silecircncio)) ((supostamente confirma com gestos))laacute em Cabo Verde se diz poe poe ((hipoacutetese de fala em crioulo)) espalhar pro mundo ueacutehellip falar hellip (c) ldquojaacute hellip em Cabo Verde e h hellip pocircs a boca no trombone hellip eu acho que e h hellip falar algum segredo helliprdquo e (d) eu conhecia laacute em Cabo Verde tem ldquoboca no trombonerdquo ldquocolocou boca no trombonerdquo ((vozes ao fundo)) ah mas se tem alguma em crioulo natildeo sei

Resposta da totalidade dos estudantes cabo-verdianos (G2) (a) conheci essa expressatildeo aqui tambeacutem (b) sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais () (c) aqui no Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) abocanha ((riso)) falou uma coisa que ele natildeo devia ter falado ele tirou algum segredo algum sigilo ele colocou aiacute soltou pra todo mundo ver colocou na internet colocou no jornal assim que eu entendo ((riso)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio (d) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem e (e) jaacute conhecia em Cabo Verde hellip mas botar a boca no trombone hellip acho que natildeo hellip seria hellip eacute

190

o que a gente tem a gente tem mais influecircncia do brasileiro do que do portuguecircs mesmo ()

De G3 apenas uma estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta sucinta conheccedilo

Resposta de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) eu conheci aqui no crioulo tem tem mas tem mas natildeo e h eacute diferente eacute (empenha boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) empenhar boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) tipo a pessoa te apanhou a falar alguma coisa (b) eacute jaacute ouvi falar jaacute em Guineacute laacute eu escuto de vez em quando na raacutedio ldquoboca no trombonerdquo eacute e (c) botar a boca no trombone eu acho que eu conheccedilo neacute ()desde Guineacute que que aquela pessoa que vai no raacutedio na televisatildeo ou meio puacuteblico e fala as coisas neacute entatildeo a pessoa diz olha tira a boca do trombone porque natildeo eacute nem seu espaccedilo neacute ((riso)) eacute agraves vezes a pessoa diz assim (se vocecirc natildeo faz parte do carnaval eacute tire a boca se buca faze parte do carnaval tire boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) se vocecirc natildeo faz parte do carnaval tire a sua boca neacute

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo hellip

mesmo eacute de Portugal ou mesmo do Brasil hellip noacutes natildeo temos muito o haacutebito de dizer hellip mas jaacute hellip acabamos por ouvir muito hellip entatildeo daacute -se a repeticcedilatildeo por exemplo eacute noacutes temos muita influecircncia da cultura brasileira hellip entatildeo hellip tanto que somos habituados a ver as mesmas novelas daqui hellip entatildeo acabamos acabamos por ouvir a maior parte do que os brasileiros dizem eacute hellip das expressotildees hellip aiacute acabamos por conhecer e saber o significado de algumas (b) aqui que eu conheci nas novelas hellip eu ouvia nas novelas acho que eu ouvi laacute em Cabo Verde na televisatildeo e (c) eu acho que eu conheccedilo algo parecido hellip seria hellip e h (ele taacute deixa atrevimento) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip ((riso)) ou (ele taacute afronta) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip algo do gecircnero hellip acho que e h hellip que eacute do gecircnero hellip eu diria que e h isso hellip ((riso nasal)) hellip natildeo sei hellip ((riso nasal))

191

Respostas da maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) natildeo conheci aqui no Brasil (b) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute eacute exatamente eu sempre sempre escutei tambeacutem com quantos paus se faz uma canoa (c) natildeo se use muito eu jaacute tinha ouvido falar laacute em Cabo Verde mas se natildeo me engano eu jaacute ouvi jaacute ouvi mas por assistir TV e (d)jaacute em Portugal tambeacutem se usa

Do Grupo G3 uma uacutenica estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa anunciando a seguinte resposta eu conheccedilo mas natildeo dessa forma eacute espera aiacute quer dizer quantos paus se faz uma canoa eu conheccedilo mas eu esqueci hunrrum significa que vocecirc vai ver que a coisa natildeo eacute faacutecil mas natildeo estou lembrando natildeordquo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa e sabe seu sentido idiomaacutetico sim mas soacute que tem uma outra forma por exemplo por exemplo (ningueacutem pode bater a palma com uma matildeo soacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) entendeu

Chutar o pau da barraca Do Grupo GI apenas uma das estudantes cabo-verdianas

declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo chutar o pau da barraca o que comprovamos antes da ajuda teacutecnica aqui eu soacute () eacute laacute no meu paiacutes eu tipo diria eu quero ver ateacute onde vai isso eu quero ver ateacute onde daacute pra aguentar depois de nada acaba tudo e tudo laacute prefere cair tudo pro chatildeo neacute ((riso)) eu diria assim mas a expressatildeo ldquochutar o pau da barracardquo natildeo ((barulho de muacutesica ao fundo)) ldquochutar o pau da barraca seria uma expressatildeo de vocecircs brasileiros que eu vejo meus minhas colegas usando ldquorapaz essa faculdade jaacute taacute por aqui daqui a pouco eu vou chutar o pau da barraca a casa vai cair vamos simborardquo ((riso))rdquo

Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) por influecircncia eacute e chutar o pau da barraca quer dizer que que o povo devia jogar isso todo mundo devia discutir isso porque natildeo taacute certo aiacute a gente devia com eacute que eu a gente devia procurar explodir esse assunto pra todo mundo ficar tomar tomar conhecimento disso porque se natildeo taacute certo todo mundo deve saber disso acho que basicamente eacute isso (b) a expressatildeo

192

que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem no Brasil eu jaacute tinha ouvido laacute em Cabo Verde mas soacute que da mesma forma da outra () e (c) natildeo foi aqui

Do Grupo G4 formado por estudantes guineenses do sexo masculino apenas um declarou ter ouvido chutar o pau da barraca sem que pudesse atribuir agrave expressatildeo seu sentido idiomaacutetico

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Segundo Corpas Pastor (1996 p22) as expressotildees idiomaacuteticas

funcionam como unidades do leacutexico mental isto eacute armazenam-se e se satildeo utilizadas pelos falantes como entidades completas e maior ou menor grau

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo das meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegicas todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel altode memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria idiomaacutetica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo transparente

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa

193

entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas no Teste de

Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica variaram de 135 para matar cachorro a grito a 225 para a expressatildeo pocircr a boca no trombone A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 180

A partir destes valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas estabelecemos os seguintes graus de verificaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica menos familiares familiares e mais familiares

Trecircs expressotildees foram consideradas menos familiares para os participantes matar cachorro a grito com 135 chutar o pau da barraca com 145 e tirar aacutegua do joelho 175

As expressotildees consideradas familiares foram saber com quantos paus se faz uma canoa e pagar mico ambas com 200

A expressatildeo mais familiar para os participantes foi pocircr a boca no trombone com 225

Graacutefico 2 - Meacutedias da Memoacuteria Fraseoloacutegica por expressatildeo

idiomaacutetica

135

2

175225

2

145

Memoacuteria Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar aacutegua dojoelho

194

Tabela 6 - Graus da memoacuteria fraseoloacutegica por expressatildeo

CATEGORIAS EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

MEacuteDIA DESVIO GRAU DE

FAMILIARIDADE

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

135 067 Menos familiar

Natildeo pagar mico 200 102 Familiar

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

175 097 Menos familiar

Pocircr a boca no trombone

225 097 Mais familiar

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

200 097 Familiar

Chutar o pau da barraca

145 082 Menos familiar

Meacutedia das Meacutedias

18

0

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense Ao final da tarefa de verificaccedilatildeo da memoacuteria solicitamos de

alguns informantes mais cooperativos que nos dessem sempre que possiacutevel a equivalecircncia das seis expressotildees idiomaacuteticas (dos zoomorfismos dois somatismos e dois botanismos) em crioulo (cabo-verdiano e guineense) bem como sua respectiva paraacutefrase definitoacuteria para que pudeacutessemos melhor avaliar as respostas dos informantes quanto agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) e agrave idiomaticidade semacircntica e cotejarmos informaccedilotildees de L1 relacionadas agrave L2 (portuguecircs na variante brasileira) quando os mesmos nos protocolos verbais faziam referecircncia aos seus conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (CP) ou davam exemplos em suas liacutenguas maternas

Apesar de serem de paiacuteses africanos lusoacutefonos haacute uma flagrante variedade diatoacutepica em cada paiacutes o que ao certo repercute na fala e

195

na escrita em L1 (diversos crioulos cabo-verdianos e guineenses) e da mesma forma no Portuguecircs L2 sempre com as interferecircncias morfoloacutegicas e sintaacuteticas de suas liacutenguas crioulas

Selecionamos estas contribuiccedilotildees dos informantes

Quadro 1 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo cabo-verdiano

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sem kau bai

bull Mata katchor a grito

bull Desesperado

Natildeo pagar mico

Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Da burgonha

bull Passa vergonha

bull Assumi consequecircncia

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull Da ku liacutengua na denti linguara

bull Poi boka na mundo

bull Papiadera linguarada

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Tra agu di duedju

bull Fazi xixi

bull Tra agua de joelho ou xixi

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Ka liga

bull Faze kusas sem conta riba ka importa

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Mostra quenha ki ta kanta galu

bull Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa

196

Quadro 2 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo guineense

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sufridor ki ta padi fidalgu

bull Sta disisperadu ku algum kussa

bull Alguin desesperada

Pagar mico Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Y passa Borgonha ou Bu purba liti bu pidi baka

bull Vivi um situaccedilon di constrangimentu passa borgonha

bull Passa vergonha

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull I pui boca na tromboni paacute tcholoacutela

bull Konta tudu djintis di ke ku aconteci

bull Reclama ou papia um algo e faci protesto

bull

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Inaacute myccedila ou Ibay waga iagu na quintal

bull Bai missa fassi chichi

bull Micha

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros son ora ki tene mandita

bull Bu kA nteressa di nada kil ku na sedu pa i sedu

197

bull Randja confusatildeo se midi consequecircncias

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Djugude ka bai fanadu ma i kunsi udju ou na mostral Cuma Amy ki si lambe

bull Pregal um partidadal kantigu

bull Sina algueacutem pa i ka fassi cusa errado mais

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Es de aceptacioacuten general que la idiomaticidad es gradual de modo que unos fraseologismos son maacutes idiomaacuteticos que otros (PAMIES 2007 p 178)

Na tarefa 3 testamos as seguintes hipoacuteteses (a) as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(b) as expressotildees especiais que designam nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(c) as expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 ou em L2 (na vertente luso-africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(d) o conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

198

(e) o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

Ao longo desta seccedilatildeo descrevemos a partir das respostas dos informantes trecircs niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica baixo meacutedio e alto Em seguida atribuiacutemos uma pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes numa escala de 1 a 3 para em seguida calcular as meacutedias e os desvios padratildeo das expressotildees idiomaacuteticas e classificaacute-las as segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica fraca doble e forte

A classificaccedilatildeo quanto ao grau de idiomaticidade fraseoloacutegica que apresentamos ao final desta seccedilatildeo soacute foi feita apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal isto eacute de os informantes recorreram a taacuteticas e a estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando ou natildeo acessarem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees idiomaacuteticas do experimento

No campo fraseoloacutegico haacute uma relaccedilatildeo muito estreita entre idiomaticidade e memoacuteria Certa feita o ex-presidente Lula da Silva ao se referir agraves criacuteticas de seus opositores ao final de seu governo disse Quem for esperar que vou ficar sentado em Brasiacutelia pode tirar o cavalo da chuva porque vamos inaugurar obra este ano in Caderno Poliacutetica em seccedilatildeo Poder Folha de Satildeo Paulo 03022010 ) o que nos parece liacutecito supor que a expressatildeo idiomaacutetica tirar cavalinho da chuva empregada pelo ex-presidente aliado a um sistema de regras e paracircmetros foi um conjunto cristalizado e memorizado pronto para empregado no discurso poliacutetico do ex-presidente

Fulgecircncio (2008 p23) diz que a memoacuteria dos falantes atua na liacutengua natildeo somente na sua estrutura formal ou no que ela chama de esqueletos formais e das palavras isoladas mas tambeacutem no armazenamento de sequecircncias de palavras decoradas por inteiro

Consoante a este olhar psicolinguiacutestico de Fulgecircncio (2008) sobre o fenocircmeno da idiomaticidade primeiramente consideramos para a anaacutelise de dados desta nova Tarefa os resultados contidos na Tarefa anterior relativa ao Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Nesta tarefa descrevemos primeiramente as principais respostas dos informantes selecionados a partir do que denominamos de niacuteveis de Idiomaticidade fraseoloacutegica recorrendo agraves declaraccedilotildees pessoais dos informantes que natildeo lembravam nem sabiam o sentido

199

idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por NL) ou que lembravam mas natildeo sabiam o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por LN)

Foi entatildeo agregando os dados da memoacuteria fraseoloacutegica com os dados da idiomaticidade idiomaacutetica que o calculamos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica natildeo levando assim em conta em anaacutelise respostas dos participantes que declararam lembrar e conhecer o significado idiomaacutetico da expressatildeo (no Corpus Afri codificado como LS) Estes desconsiderados por lembrarem ou terem ouvido a expressatildeo e saberem seu sentido idiomaacutetico portanto consideram-na familiar e nesse caso evidentemente natildeo poderiacuteamos falar em idiomaticidade forte doble ou fraca ou em opacidade semacircntica

Em substacircncia no primeiro momento apresentamos as respostas dos informantes atraveacutes de trecircs niacuteveis (baixo meacutedio alto) de idiomaticidade fraseoloacutegica depois pontuamos cada destes niacuteveis numa escala de 1 a 3 para finalmente calcularmos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (ou intralinguiacutestica6) na seguinte escala forte doble e fraca

Na tabela 7 logo abaixo estatildeo discriminados os informantes que participaram desta tarefa Tabela 7 - Verificaccedilatildeo da Memoacuteria Fraseoloacutegica

Categorias Expressotildees idiomaacuteticas

Niacuteveis de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Baixo Meacutedio Alto7

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

13578111213 14 15 1617 181920

269 410

6 Falamos em idiomaticidade intralinguiacutestica por serem os informantes falantes lusoacutefonos sendo que a liacutengua portuguesa eacute L2 portanto sua segunda liacutengua e as liacutenguas crioulas suas liacutenguas maternas (L1) 7 Os nuacutemeros que representam os informantes para cada expressatildeo foram neste niacutevel tachados porque natildeo seratildeo considerados no caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

200

Pagar mico 131114151617 181920

24567891012 13

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

3411 121314 151617 18 1920

10 1256789

Pocircr a boca no trombone

2111213141819

13456789 10151617 20

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

14101113 14171820

1519 235 678 91216

Chutar o pau da barraca

12356711 121314 1617 1819 20

15 48910

O nuacutemero de informantes selecionados varia de item para item

Em termos de quantitativos os participantes considerados a partir da anaacutelise dos dados que fizemos na Tarefa de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica ficaram assim distribuiacutedos

(a) Matar cachorro a grito 15 participantes com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica e 3 participantes com meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(b) Pagar mico 10 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(c) Tirar aacutegua do joelho 12 participantes com niacutevel baixo e 1 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(d) Pocircr a boca no trombone 7 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(e) Saber com quantos paus se faz uma canoa 9 com niacutevel baixo e 2 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(f) Chutar o pau da barraca 15 de niacutevel baixo e 1 de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

201

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo desta tarefa todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees adiante dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo opaca

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Como dissemos a partir das respostas dos participantes

estabelecemos trecircs niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica (a) niacutevel de baixo Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por NL) (b) niacutevel meacutedio de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LN) e (c) niacutevel alto de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LS)

Estabelecidos estes niacuteveis acima a partir das respostas dos informantes quanto agrave idiomaticidade ou ao sentido global da expressatildeo idiomaacutetica em seu paiacutes de origem (L1) ou em outro paiacutes

202

lusoacutefono (Brasil Portugual etc) pudemos calcular as meacutedias do grau da idiomaticidade fraseoloacutegica

No niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica estavam situados os informantes que declararam durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud natildeo saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo ou dar uma resposta considerada incorreta No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo IC ( Incorreto)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 natildeo reconhecer idiomaticamente a expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta incorreta e ainda durante o protocolo verbal evoluir para uma posiccedilatildeo parcialmente correta ou correta era considerada a segunda informaccedilatildeo (correta) e natildeo a primeira dada (incorreta)

Para posterior caacutelculo das meacutedias do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 1 ponto numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica encontram-se os informantes que atribuiacuteram um sentido literal agrave expressatildeo idiomaacutetica resposta considerada parcialmente correta por ser possiacutevel ou viaacutevel dentro de uma ambiguidade estrutural comum agraves locuccedilotildees verbais No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo PC (parcialmente correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 reconhecer unicamente o sentido literal da expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta parcialmente correta (sentido literal) e ainda durante o protocolo verbal apresentar uma resposta incorreta ou correta era considerada ou prevalecia para efeito de codificaccedilatildeo a resposta considerada parcialmente correta sobre a incorreta e a resposta correta prevalecia sobre a parcialmente correta ou incorreta8

8 Nossa metodologia experimental permitiu-nos considerar no diaacutelogo direto com o informante natildeo apenas uma resposta mas vaacuterias respostas agrave questatildeo proposta permitindo que o mesmo tivesse consciecircncia de possiacuteveis erros acidentais ao falar (lapsus linguae) tecnicamente os ajudando a melhorar sua tomada de decisotildees e evitando de outra maneira a cometer erro de desconto parar de buscar outras

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Para posterior caacutelculo das meacutedias da verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel meacutedio valeram 2 pontos numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica estavam posicionados os informantes que anunciaram corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2 ou L1 No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo CO (correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava o sentido idiomaacutetico atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2

Para posterior caacutelculo das meacutedias de verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 3 pontos numa escala de 1 a 3 pontos Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica

Em se tratando de niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica apontaremos as respostas dos participantes classificados em niacuteveis baixo meacutedio e difiacutecil de acordo com acertos e ou erros do sentido idiomaacutetico

A essas respostas dos informantes foram atribuiacutedos uma pontuaccedilatildeo de 1 a 3 que serviu para o caacutelculo da meacutedia e a partir dessa pudemos fazer a verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Agrave medida do possiacutevel procuramos correlacionar os niacuteveis de idiomaticidade com os niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 depois do teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica

ficaram considerados para o teste de idiomaticidade fraseoloacutegica

possibilidades de respostas agrave questatildeo proposta pelo experimentador (STERNBERG 2008 p436-441)

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quatro estudantes cabo-verdianas que declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo matar cachorro a grito ou lembravam mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico

O que nos chamou a atenccedilatildeo eacute que todos os participantes deste grupo identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito e terem recorrido a vaacuterias taacuteticas bottom-up e top-dow no esforccedilo de compreender a expressatildeo

Apesar da competecircncia da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e as habilidades para o emprego de estrateacutegias cognitivas as informantes do Grupo G1 natildeo conseguiram chegar agrave idiomaticidade das expressotildees anunciando as seguintes respostas aqui extraiacutedas do Protocolo Verbal (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos)) (b) ((curto silecircncio)) hum hellip ((riso nasal)) natildeo eu tenho uma noccedilatildeo hellip mas eu natildeo sei explicar esse tem aqui que normalmente as pessoas dizem que os artistas neacute satildeo ricos porque saiu uma reportagem que um artista e h risco rico hellip sendo que a maioria deles mata cachorro a grito hellip e h hellip que a maioria deles e h tipo natildeo sei hellip eu acho que quer dizer que a maioria deles natildeo presta hellip natildeo sei hellip alguma coisa assim hellip tem uma coisa assim natildeo faz nada assim tatildeo hellip ((curto silecircncio)) natildeo sei hellip tenho alguma ideia hellip mas eu natildeo sei dizer ah hellip entendi hellip na verdade a maioria deles vive dando duro hellip e h isso hellip e (c) matar e h fazer uma coisa sem ter certeza sem ter certeza hellip ((a participante repete em coro com o entrevistador)) ((riso)) me pegou hellip viu hellip ((riso)) acho que no sentido a frase matar cachorro a grito e h uma coisa fazer uma coisa que natildeo tem certeza hellip

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

No G3 a despeito de todos os participantes terem identificado corretamente a expressatildeo mas suas respostas foram consideradas incorretas quanto agrave idiomaticidade da expressatildeo matar cachorro a grito (a) Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos

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de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo) (b) ldquomatar o cachorro a gritordquo eacute pra mim significa uma uma coisa assim famosa que todo mundo escuta no sentido aqui ela diz que todo mundo acha que os artistas tecircm dinheiro eacute satildeo pessoas rico porque qualquer coisa de de artista essas pessoas famoso o mundo o mundo ((tossiu)) satildeo divulgadas na tv o povo fala tudo e acham tambeacutem que grita eacute uma coisa real assim[ldquomatar o cachorro a grito] uma coisa expandida assim (c) que natildeo eacute seu[ natildeo sei se estou certa hunrrum passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute [ passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute] (d) sim assim tem aqui que as pessoas pensam que os artistas satildeo ricos e tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmenterdquo artista natildeo pode ficar rico sem cantar ou sem esforccedilo sem fazer o seu trabalho tipo o escritor vocecirc vai ter que escrever muito publicar bons livros para ganhar dinheiro e artista vocecirc vai ter que ter todas as habilidades de apresentar e chamar atenccedilatildeo ao puacuteblico eu acho que eacute isso tem que esforccedilar tem que mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro [mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro] e (e) o que estou entendendo eacute como posso expressar assim como os africanos quando chegaram aqui no Brasil aiacute vocecirc por exemplo os que vem no na escola privada aiacute vocecirc tem que laacute botar para poder atingir seus objetivos se nao fez isso vocecirc natildeo vai conseguir estudar aiacute vocecirc tem que trabalhar um ou dois um ou dois trabalhos pra poder sustentar sua faculdade e sustentar sua estadia no Brasil natildeo sei acho que eacute isso que queria dizerrdquo

Do G4 trecircs informantes conseguiram identificar corretamente a expressatildeo mas revelaram desconhecer seu sentido idiomaacutetico dando respostas como (a) deixa eu comeccedilar aqui(leitura em voz baixa do texto em anaacutelise)hum rum ldquomatar cachorro a gritordquo eu acho que eacute coisas que as pessoas pegam pra eacutepraque as pessoas pegam pra eacute para aplicar pensando que eacute como assimeu to to tirando aqui por exemplo aqui taacute dizendo de um famoso e quando todo mundo ver um cantor ou um autor todo mundo pensa que eacute ricoentatildeo eacute uma

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coisa falsa pode natildeo ser rico mas eacute famoso e todo mundo fala soacute neletodo mundo dizendo que ele eacute assim ele eacute assimentatildeo isso aqui pra mim significa ldquomatar cachorro a gritordquomatando vocecirc assimgritando e do mesmo jeito que eu to pensandocomo um famosoele eacute famoso e vocecirc fica soacutevocecirc pensa que ele eacute daquele jeitoque eacute ricofaz tudomas as vezes natildeo eacute soacute que pelo fato de ser famosordquo (b) natildeo num ()matar a populaccedilatildeo de fome neacute ((o entrevistador fala concomitantemente ao participante no entanto a fala do participante sobressai impedindo a compreensatildeo da fala do entrevistador)) matar a populaccedilatildeo de fome o pessoal ((silecircncio)) eu entendo assim (c) eacute daacute pra falar um pouquinho porque acho que aqui ele vai mostrar o quecirc tipo um brasileiro com um salaacuterio mata cachorro a grito tipo acho que o salaacuterio tambeacutem pode natildeo ser suficiente neacute e natildeo sendo aquele juramento eu penso assim ah matar cachorro entatildeo isso grita neacute natildeo confun tipo natildeo confunde com com matar cachorro entatildeo lamento nessa aiacute falta um tipo lamentar neacute ((riso)) faz algo mas ele taacute fazendo esse algo mas sem sem confir sem confirmidade com o ato que ele taacute fazendo neacute porque por exemplo trabalho pra receber recebe mas o trabalho que eu to fazendo eacute um trabalho que nunca compensa com meu salaacuterio rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados nesse niacutevel os representantes do G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Duas representantes do G3 natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico nem souberam depois de vaacuterias tentativas chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo como podemos atestar em suas respostas (a) porque ( ) da agecircncia exemplo do jovem que quer viajar natildeo vai querer perder vai fazer preccedilo baixo mas isso natildeo significa que vai ter boa viagem isso natildeo significa tambeacutem que ele natildeo vai ganhar nada pode ter tipo

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promoccedilotildees e eles vatildeo dar pra vocecircs mas pode ter consequecircncia na viagem pode ter muitas coisas na viagem que vocecirc natildeo pode natildeo vai poder chegar ao fim natildeo natildeo me ajuda natildeo eu to procurando exemplo para dar pra tentar explicar pagar mico eacute tipo assim vocecirc natildeo estaacute preparada para algum tipo uma festa ((a informante pronuncia fecircsta)) eu sei de festa desde a semana passada eu natildeo preparei aiacute eu vou esperar o dia da festa pra para ir para se virar e conseguir dinheiro pra estaacute laacute um exemplo acho que isso eacute certo eu natildeo tenho eu sei das coisas mas eu natildeo me preparei tipo Jesus vai chegar e eu natildeo estou preparada quando Jesus chegar eu vou dizer ldquoah Senhor eu natildeo posso ir porque eu natildeo estou preparada ((risos da informante)) natildeovocecirc tem que ir entendeu (b) ldquoa boa viagemrdquo deixa eu meu entender ldquoboa viagemrdquo ldquoembarcou comrdquo ldquoagecircnciardquo natildeo sei essa ldquoboa viagemrdquo natildeo sei pra mim como taacute referendo aos estudantes aqui neacute natildeo significa se a pessoa contatar empresa esse CNPJ significa que resolver tudo pra mim natildeo sei ah mico pagar macaco pagar um um um valor ma ma natildeo ldquopagar mico ldquopagar micordquo mico pode ser a metade do valorpagar a metade do valorrdquo

Quatro representantes do G4 natildeo apenas identificaram a expressatildeo natildeo pagar mico como tambeacutem natildeo conseguiram em sua totalidade chegar ao sentido idiomaacutetica da expressatildeo (a) ((riso)) natildeo sei natildeo seiacho que eacute vocecirc vocecirc costuma levar ela na vocecirc costuma levar ela natildeo entatildeo nesse sentido ela jaacute taacute na altura de natildeo precisa mais ser acompanhada pelo pelo pelo pai neacute senatildeo vai criar o custo mais do que vai criar mais custo neacute porque vocecirc paga pra ela e paga pra vocecirc neacute mas acho que eacute meio confuso porque depende se vocecirc tiver um carro neacute ((riso)) se vocecirc natildeo tiver carro eu acho que vai custar mais mas natildeo sei acho que eacute mais ou menos eu entendo assim (b) ((silecircncio)) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem ((silecircncio)) sei natildeo (c) ((silecircncio)) natildeo natildeo hum essa preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem como eacute que eu posso dizer eacute tipo frescura a pessoa ficar fazendo frescura assim com eacute brincar com a pessoa eacute tirar onda com a pessoa e (d) natildeo repita aiacute repita ((riso)) vai ser dividido com os colegas neacute ldquo preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio e ela significa o quecirc eacute

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porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacutepor exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacuteaiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem pagar a viagem deles neacutequando taacute viajando com elesporque assim ldquo para quem natildeo quer pagar mico na escolha e um pacote de viagemrdquo eacute pagar com ele mesmoeacute mais ou menos assimrdquo

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Das estudantes do G1 uma representante de Cabo-Verde

apontou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) ((curto silecircncio)) seria mais complicado ah associar eu associaria uma cerveja quente beber uma cerveja quente eacute muito difiacutecil eacute muito ruim natildeo eacute gostoso eacute cansativo eacute eacute pra mim eu associaria a algo cansativo eacute bebida seria uma expressatildeo cansativa eacute beber uma bebida quente vocecirc pode ficar provavelmente mais cansado pega um (drag wis) ((hipoacutetese do que se houve))mais raacutepido ter dificuldade de andar eacute mais cansativo assim num sei entendo que eacute isso ((estalos ao fundo))rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo

Do G3 apenas uma estudante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico configurando baixo niacutevel (a) ldquoah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacuterdquo

Do G4 dois participantes apresentaram respostas incorretas (a) eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico(risos) mas essa aqui natildeo taacute referindo mesmo a a umeacute essa coisa taacute querendo tirar um exemplo de outra coisa aiacute e eacute isso que eu to procurandoporque eu sei que quando vocecirc beber vocecirc fica assim querendo ir ao banheiro para poder voltar mas aiacute eu natildeo seisoacute que aiacute eu natildeo saiumas aiacute refrigerante talvez sim mas eacute algo que fica na cabeccedila vocecirc fica embriagadomas o sentido dessa aqui eacute outra coisaeu to procurandopois prontovamos continuar outra coisa (b)

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sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute sim pra mim tambeacutem vocecirc a gente pode pensar assim libertar de uma situaccedilatildeo libertar de uma situaccedilatildeo eacute por exemplo vocecirc tava chateado vocecirc tava com preocupaccedilatildeo problemas assim entendeu vocecirc podia escolher um jeito por exemplo laacute na sua casa vocecirc pode ter um problema assim com a famiacutelia vocecirc fica chateado vocecirc diz a melhor forma eacute sair de casa procurar a casa de um amigo pra ficar com seu amigo laacute conversar um pouco pra esquecer o problema entatildeo nesse sentido tambeacutem pode ser tirar aacutegua do joelho ((riso))rdquo

Pocircr a boca no trombone Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo pocircr a boca no trombone

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

D G3 apenas uma informante natildeo identificou corretamente a expressatildeo nem o sentido idiomaacutetico de pocircr a boca no trombone ao responder (a) CRIMES no municiacutepio natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa perdeu o juizo

Do G4 um informante conseguiu identificar corretamente a expressatildeo mas ao atribuir sentido agrave expressatildeo teve sua resposta considerada incorreta (a) ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone por exemplo defendeu um crime neacute defender uma coisardquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos grupos G1 G2 e G3 nenhum participante declarou incorreto o

sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa

Do G4 apenas um participante mesmo tendo identificado a expressatildeo declarou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) encontro a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoa neacute sim (barulho cadeira sendo arrastada) eacute porque eacuteque por exemplo o Brasil tem muitos estados neacutetem muitos (poliacuteticos)

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impressionados neacuteos governantesentatildeo ele quis dizer que tem que ser firmetem que saber com quantos paus se faz uma canoa o pau tem que ser firmese natildeo vai aiacutevai chegar ateacute na cabeccedila dele mesmo o mesmo sentidordquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam incorretamente o sentido

idiomaacutetico (a) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo mandar todos os inocentes pra cadeia e deixar livres os culpados natildeo fazer a justiccedila como deve ser falta o povo chutar o pau da barraca natildeo eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado eacute daacute a ideia de desistir (b)falta o povo chutar pau da barraca ((sussurros incompreensiacuteveis da participante aparentemente analisando alguma passagem do texto)) num sei hellip ((riso)) falta o povo chutar barra o pau da barraca tipo o que isso tem a ver com Cazuza e h tipo um que eles tatildeo fazendo aqui tipo uma comparaccedilatildeo de como taacute o mundo da muacutesica negoacutecio de muacutesica hoje hellip num sei hellip porque tem aqui ldquoqueria ver Roberto Carlos de pretordquo hellip como ele taacute sempre de branco cantando outro tipo de muacutesica que natildeo e h samba hellip e h tipo num sei hellip falta o povo chutar o pau da barraca que e h que o povo agora taacute assim hellip num sei hellip num sei explicar isso hellip e h tipo hellip desistir hellip sei laacute hellip comeccedila fazer uma coisa assim direito e depois o povo chutar o pau da barraca nunca ouvi falar hellip ((balbucios)) ((silecircncio)) hum hellip no sentido hellip acho que o povo chutar o pau com da barraca e h conhecer outras pessoas outros () acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo chutar o pau da barraca

Do G3 duas participantes declararam incorreto o sentido idiomaacutetico (a) ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo sim exemplo tipo o Cid que pegou o dinheiro e deu para Ivete e agora ele vai pagar chutou o pau da barraca ele natildeo sabia as consequecircncias tirou o dinheiro do povo neacute agora vai pagar pelo bolso dele mesmo ((risos dos dois)) eu acho natildeo sei mas

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eu acho que tocirc certa eacute isso vai depender dos seus atos ((risos)) mas eu tenho certeza que eacute sim ((risos da informante)) (b) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquoGI ndash ICParticipante dar uma contrapartida um comeccedilo assim dar um comeccedilo eacute comeccedilar uma coisa assim no meu entender eacute assim rdquo

Do G4 um participante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico (a) falta o povo chutar o pau da barraca ldquosinto falta do Cazuza do Nei Mato Grosso acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano falta o povo chutar o pau da barracardquoeacute cada um fugindo dodo quer dizer eacuteo que todo mundo tava querendo se for eu vou passar na frenteentatildeo era assim que todo mundo queria em ir ver opor exemplo Roberto Carlos taacute dentro da barracaeu posso falar assimaiacute todo mundo queriam veraiacute pode ser como um assumirnatildeo eu vou controlar o grupo vocecirc eacute o responsaacutevel para controlar o grupo mas quando chegar muita gente e ele cansado acaba por natildeo querer mais e tomaram a responsabilidade aiacute fica querendo desistire esse Caetano[ ( leitura em voz baixo de texto em anaacutelise)]eacute que o sentido desse aqui eu tenho que ver quando comeccedilou essa histoacuteria todaeu jaacute tenho o sentido jaacute tenho uma ideia mas aqui eacute falta o povo desistir mesmodesistir de de concorrer para entrar para concorrer querer entrar laacute pra ver o Roberto Carlos num Show que ele tava dandoele tava cantando e todo mundo queria mas com essa dificuldade de entrar o povo vatildeo acabar desistindo mesmode natildeo querer mais ir rdquo Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 uma participante declarou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico configurando um niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica (a) ldquoelas economizam () eacute tipo se esfor se esforccedilar pra ter um pouco do que ele tem ou conseguir um pouco do que ele natildeo tem mais ou menos isso rdquo

Dos grupos G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico

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Pagar mico Dos grupos G1 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os

representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquoaiacute nesse caso pra evitar de ser vocecirc dizendo aqui MANGANDO neacute aiacute vocecirc fica prefere ficar calado sem algueacutem mangar de vocecirc ou prefere ficar com duacutevida sem perguntar ao professor natildeo sei se eu estourdquo

Do G4 apenas um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquo[(leitura baixa do texto em destaque)]eacuteeacute por isso que eu estou dizendo sabemos que chipanzeacute eacute grande[( risos)] eacute uma coisa grandeentatildeo pra mim o sentido eacute o mesmoeacute essa coisa pra quem natildeo pagar um preccedilo grande na escolha de um pacote de viagem eacute isso que eu to pensandordquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Pocircr a boca no trombone De G1 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados

por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 e G2 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico (a) ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute

Do G4 um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquosim porque pra mim literalmente o que eu entendi aqui eacute mostra por exemplo a Dilma eacute presidente neacute entatildeo pra quem quer construir uma canoa natildeo basta soacute usar o pau da madeira neacute o tronco da aacutervore tem que levar mais pra pra poder construiacutes neacute entatildeo literalmente o que ele queria dizer aqui que a Dilma sozinha natildeo pode construir uma por exemplo uma canoa neacute ou um barco assim entatildeo tem que levar tem que chamar outras pessoas que vai compor o governo dela entatildeo nesse sentido que eu acho aiacuterdquo

Chutar o pau da barraca De G1 G2 e G3 nenhum dos informantes anunciou parcialmente

correto o sentido idiomaacutetico Do G4 apenas uma informante declarou parcialmente correto o

sentido idiomaacutetico (a) ldquoHum (silecircncio) Ah eu acho que chutar o pau da barraca pelo que eu entendo eacute por exemplo jogar uma pessoa pra fora assim porque essa pessoa jaacute natildeo merece mais entatildeo eu acho que essa expressatildeo eacute uma coisa rdquo

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Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 nenhuma informante anunciou correto o sentido

idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G2 todos os participantes identificaram corretamente a expressatildeo Ao serem indagados quanto ao sentido quatro participantes deram respostas consideradas corretas (a) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremashellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro)) e (b) ele tem que todo reivindicar os seus direitos gritar gritar gritar pra ver se se tem algum benefiacutecio com isso com isso seja seja sei laacute aumento do salaacuterio ou ou outro tipo de ajuda eu acho que eacute isso reivindicar os seus o que a gente a gente tem que todo dia trazer esse assunto agrave tona trazer esse assunto agrave tona e acaba todo e acaba envolvendo vaacuterias pessoas pra pensar do mesmo jeito (c) ((pausa acentuada)) acho que aqui ele diferencia os tipos de artistas que no comeccedilo fala que a maioria das pessoas pensa que qualquer artista jaacute eacute rico e que principalmente os astros de TV de cinema de novela ganham muito bem e as pessoas assim pensam que eacute faacutecil o trabalho deles pra conseguir aquele principalmente pra conseguir aquele dinheiro a maioria deles se torna pessoas puacuteblicas jaacute natildeo tem assim a privacidade a privacidade eacute apertada e que eles tecircm que trabalhar muito pra conseguir o que eles conseguem acho que eacute isso e (d) entatildeo e h a mesma coisa que dar duro dar duro hellip o cara trabalha mesmo hellip daacute

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muito duro pra conseguir o quecirc quer hellip trabalho pesado mesmo hellip ((estalos ao fundo))

Do G3 a despeito de todas as participantes terem identificado corretamente a expressatildeo nenhuma informante anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 dois participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa e h tipo hellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso)) ir agrave procura (b) aiacute todo dia tem que batalhar para alcanccedilar alguma coisanem mesmo que seja tomar alguma coisa para ajudar a famiacuteliaele vai pegar rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 dois participantes natildeo haviam identificado anteriormente

a expressatildeo mas depois de enveredarem por vaacuterias recursos cognitivos chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) nada hellip ((riso nasal)) eacute existe eu sei o que eacute tipo passar vergonha eacute fez algo e todo mundo ficou vendo ela com ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei e (b) ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico e h pagar passar vergonha hellip jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos))rdquo

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Dos grupos G3 e G4 nenhum informante de Guineacute-Bissau anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Do G1 apenas uma participante anunciou corretamente o sentido

idiomaacutetico da expressatildeo (a) ldquoe h a mesma coisa que fazer xixi hellip urinar helliprdquo Do G2 dois participantes chegaram agrave idiomaticidade da

expressatildeo tendo anteriormente feito a identificaccedilatildeo parcial por reduccedilatildeo da expressatildeo (a) fazer xixi nesse caso hellip e jaacute tinha ouvido laacute vaacuterias vezes hellip e () vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (b) ldquomais aacutegua no joelhordquo eacute eacute urinar neacute eacute vocecirc tirar o que jaacute estaacute dentro da barriga neacute ((risos)) pra botar pra dar mais espaccedilo pra colocar mais bebida neacute praticamente

Do G3 quatro estudantes guineenses conseguiu chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho em que noacutes registramos as seguintes respostas (a) Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho com certeza eu acho que faz mais a pessoa urinar ir pro banheiro de vez em quando (b) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar eacute quando como vocecirc acabou de dizer estaacute consumindo quando vocecirc consome uma duas trecircs vocecirc jaacute quer ir ao banheiro pra urinar (c) natildeo ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute (d) ldquoaacutegua no joelhordquo eacute eacute eacute fazer xixi neacute urina exemplo vocecirc vai bebe e bebe aiacute quando o estocircmago jaacute estaacute cheio vocecirc tem sensaccedilatildeo de urina vocecirc tem que urinar quando a pessoa tem urina vocecirc pode esconder mas vai sair natildeo pode ficar aiacute tem que tirar e voltar quando sai aiacute ele pode aumentar o volume que ele querrdquo

Do G4 trecircs participantes apresentaram o sentido idiomaacutetico correto da expressatildeo (a) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar tirar mais aacutegua do joelho mais aacutegua do joelho () aacutegua do joelho ((silecircncio)) eu acho que e h tipo hellip tem que fazer xixi (b) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar aacutegua do joelho mijar (riso intenso) (c) ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais aliviado rdquo

217

Pocircr a boca no trombone Do G1 apenas uma participante cabo-verdiana foi submetida agrave

anaacutelise de dados por atender as condiccedilotildees de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Apoacutes ser indagada quanto ao sentido da expressatildeo respondeu (a) ((silecircncio)) hum a boca no trombone falar tudo falar sobre os podres do outro) eacute ((silecircncio ruiacutedos ao fundo)) botar a boca no trombone eacute falar tudo falar sobre os podres do outro rdquo

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G3 trecircs informantes identificaram corretamente e chegaram ao sentido idiomaacutetico tambeacutem de forma que podemos observar nas seguintes respostas (a) POcircS a correta conforme bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica (b) pocircs a boca no trombone assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (c) ldquobotar a boca no trombosordquo botar a boca no trombosporque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

Do G4 um informante identificou parcialmente correto e chegou ao sentido corretamente como podemos observar (a) ldquo a boca no trombonerdquo ldquoum advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposa ldquo a boca no trombonerdquo () entatildeo isso que dizer com taacute dizendo aqui boca no tromboneaqui no Cearaacute utiliza boca neacutequando o cara diz boca eacutepor exemplonuma empresa que quer fazer o blog dela coloca o wwwblognatildeo sei o quecircblog eacute uma coisa que fala mais deo que fala aiacute faz neacuteentendeu fala para fazerfaz o eacute isso que dizer isso neacute ldquo boca no trombonerdquo neacuteeacute pode ateacute ser porque ldquo boca no trombonerdquo tambeacutem eacute aquela pessoa que faz confusatildeo eacute aquele cara quefala muito neacute issoo cara que fala muitocomo se fo-sse o cara que todo canto que taacute vocecirc vai ouvir a voz deletodo canto que ele taacute vocecirc

218

vai ouvir a voz dele falandoaiacute falam boca no tromboneo cara que fala muitoque fala alto rdquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do G1 duas informantes foram para a anaacutelise de dados do

Protocolo Verbal As duas haviam parcialmente identificado a expressatildeo obtendo ambas uma resposta correta quanto agrave idiomaticidade semacircntica (a) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez e (b) ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () define com natildeo ser brincadeira eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute rdquo

Do G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino teve analisado seus dados do protocolo verbal obtendo a seguinte resposta considerada correta (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo bom eacute que natildeo em nada de moleza neacute e que ela vai principalmente encontrar dificuldades porque segundo o que foi repassado pela miacutedia a a candidatura da Dilma foi muito apoiada pelo lula entatildeo a Dilma entrou como uma mulher que eacute pra decidir e ela entrou num momento que o Brasil ta-va com uma economia meio bagunccedilada en-tatildeo ela natildeo en-trou num mandato muito faacutecil entatildeo ela entrou sabendo das dificuldades que a economia tava passando naquele momento e por ser uma candidata defendida pelo Lula o povo sempre espera mais neacute sabendo que o Lula jaacute tem o renome no Brasil en-tatildeo natildeo vai ser um mandato muito faacutecil por isso que eu acho que quando a expressatildeo diz ldquoquantos paus se faz uma canoardquo mostra o grau de dificuldade que ela vai ter que natildeo vai ser faacutecil e tambeacutem tem o lado de ser histoacuterico a primeira mulher

219

no mandato do Brasil entatildeo a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Do G3 obtivemos as trecircs respostas das informantes consideradas corretas (a) Eacute tem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa entatildeo essa daqui eacute como ela foi empossada neacute aiacute ela tem que ela vai ter que enfrentar muitas coisas criacuteticas desafios aiacute eu acho que essa palavra haver com isso que ela vai ter que saber com quantos paus se faz uma canoa ela vai ter que saber quais satildeo as dificuldades de laacute quais satildeo os trabalhos que ela deve fazer ela tem que (b) ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo porque ela vai ver as dificuldades vai ver muitas coisas que pra ela mesmo RESOLVER e vaivai ter muitas pessoas que vatildeo apontar o dedo nela e ela ter que tem que tem que tentar aceitar e ter que respeitar e (c) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute eacute rdquo

Do G4 dois estudantes guineenses anunciaram corretamente o sentido da expressatildeo (a) ldquohum hellip ((curto silecircncio)) ((balbucio)) e h tipo tu vai ter que aprender mesmo e h hellip aprender a lidar com com a coisa que tu tu vai viver com mesmo hellip (b) isso se mais ou menos isso com quantos paus faz uma canoa eacute por exemplo eacute um uma conversa assim pra pra que vocecirc natildeo faz uma coisa errada neacute rdquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam correto o sentido idiomaacutetico

da expressatildeo (a) eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura (b) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim rdquo

Do G2 dois participantes declararam correto o sentido fraseoloacutegico (a) chutar o pau da barraca chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou largar tudo largar tudo (b) bom esse

220

aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo rdquo

Do G3 duas participantes declararam corretamente o sentido idiomaacutetico (a) ldquofalta o povo CHUtar o pau da barracardquo vou TENTAR eacute como se fossequando o povo jaacute estaacute revoltado aiacute quer fazer alguma coisa e tem medo ainda pra fazer aiacute depois TODO mundo se une faz uma coisa natildeo sei se eu estou ((risos da informante)) (b) quer dizer chutar o PAU da barraca significa desistir de alguma coisa neacuterdquo

Do G4 quatro participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico (a) e h a pessoa que natildeo cumpre com com o dizer hellip posso dizer assim hellip natildeo cumpre com o combinado hellip (b) falta o povo chutar o pau da barraca ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute uma revolta ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo () (c) eacute do jeito que eu to achando aiacute neacuteque o povo jaacute taacute chateadojaacute taacute cansado desse negoacutecio todo aiacuteentatildeo resolveram chutar o pau para estragar para afrontar oque taacute no poder neacuteentendeu por exemplo na poliacutetica mesmo aiacute o povo fica cansado desse negoacutecio de (mudanccedila)tirar o presidentemudar o governador aiacute jaacute taacute (farto) desse negoacuteciofalta o povo chutar o pau da barracae este Roberto Carlos cantando samba de preto catando sambafaz parte da parte racional neacuteporque ele natildeo eacute brancoe faz canccedilatildeo neacuteaiacute o cara prefere ver preto cantando( risos) (d) ((riso)) daacute pro povo chutar o pau da barraca acho que no exemplo aqui neacute se noacutes como estudante noacutes somos cidadatildeos somos um povo neacute se a gente natildeo concorda com alguma coisa a gente podia ateacute pensar na criar um iacutendice neacute de problema pegar pra derrubar neacute a direccedilatildeo ou como eacute que se diz o responsaacutevel neacute do curso ou do departamento entatildeo eu penso que essa ideia do povo derrubar ou chutar o pau da barraca quebrar uma certa hierarquia neacute tipo hierarquia hierarquicamente neacute eacute que o povo acha que natildeo eacute bom pra rdquo

221

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Atribuiacuteda pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes pudemos

calcular as meacutedias e os desvios padratildeo e classificar as expressotildees idiomaacuteticas segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (intralinguiacutestica ou lusoacutefona)

Vejamos uma tabela com os valores da idiomaticidade fraseoloacutegica a partir dos dados dos informantes

Os valores meacutedios dos itens individuais conforme vemos na tabela acima variaram de 160 para a expressatildeo natildeo pagar mico a 264 para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa conforme descreve a Tabela 1 A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 209

Tomados os valores da tabela 1 pudemos fazer uma nova classificaccedilatildeo das expressotildees quanto ao grau de idiomaticidade intralinguiacutestica fraco doble e forte9

Natildeo houve registro de idiomaticidade doble (deacutebil e forte) entre as seis expressotildees uma vez que fizemos os caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal no qual os participaram recorreram amiuacutede a taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo para tentaram chegar ao sentido idiomaacutetico das expressotildees do experimento

As expressotildees ldquonatildeo pagar micordquo ldquomatar cachorro a gritordquo e ldquochutar o pau da barracardquo com meacutedias 160 172 e 172 respectivamente foram as expressotildees idiomaacuteticas mais difiacuteceis de serem compreendidas portanto com idiomaticidade forte ou seja mais opacas para os estudantes africanos

Com a meacutedia 243 em ambas as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e ldquopocircr a boca no trombone foram as que apresentaram uma idiomaticidade fraca

Com meacutedia 264 a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa foi a uacutenica que apresentou uma idiomaticidade fraca isto eacute menos opacas

9 Recorremos a Garciacutea-Page Sanchez (2008 p 394-396) para estabelecermos os trecircs graus de idiomaticidade

222

Graacutefico 3 - Meacutedias da idiomaticidade fraseoloacutegica por expressatildeo

Tabela 8 - Meacutedias e Desvios Padratildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica

Expressotildees Idiomaacuteticas Meacutedia Desvio Graus de

Idiomaticidade

1 Natildeo pagar mico 160 084 forte

2 Matar cachorro a grito 172 096 forte

3 Chutar o pau da barraca 172 095 forte

4 Tirar (mais) aacutegua do joelho

243 094 fraca

5 Pocircr a boca no trombone 243 098 fraca

6 Saber com quantos paus se faz uma canoa

264 067 fraca

Meacutedia das meacutedias 209

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

Na Tarefa 4 testamos as seguintes hipoacuteteses

(a) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(b) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos

172

16

243243

264

231

Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tira mais aacutegua dojoelho

223

taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

(c) Satildeo estrateacutegias top-down que influenciam na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

Para respondermos a pergunta da Tarefa 4 e testarmos as hipoacuteteses acima tivemos que considerar a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo registrada nos protocolos verbais think aloud das tarefas 1 (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) 2 (memoacuteria fraseoloacutegica) e 3 (idiomaticidade fraseoloacutegica)

No Corpus Afri procuramos distinguir na transcriccedilatildeo ortograacutefica dos aacuteudios atraveacutes de codificaccedilatildeo das informaccedilotildees linguiacutesticas (por exemplo emprego de paraacutefrase codificado como RP) e psicolinguiacutesticas (por exemplo emprego de conhecimentos preacutevios codificado como CP) as taacuteticas e as estrateacutegias cognitivas usadas pelos informantes para desvelar o sentido das expressotildees idiomaacuteticas

No quadro abaixo reproduzimos a codificaccedilatildeo de ocorrecircncias de taacutetica (RP) e estrateacutegias (AC SL) em parte de entrevista feita pelo experimentador com um informante cabo-verdiano

Quadro 3 ndash Codificaccedilatildeo das estrateacutegias

Codificaccedilatildeo Entrevista

GF ndash CO GI ndash CO AC RP SL

Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica [Caso afirmativo perguntar se conhece algum equivalente em crioulo e no portuguecircs usado em Cabo Verde] Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo

224

famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

SO Entrevistador e vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes

VM ndash NC Participante natildeo natildeo natildeo conhecia hellip

SO Entrevistador natildeo conhecia no seu paiacutes ()

VM ndash NC Participante natildeo conhecia hellip

A metodologia experimental levada a efeito em nossa pesquisa

nos fez ver desde logo na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes como nascedouro das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo as respostas dos informantes aos primeiros comandos do experimentador registradas no protocolo verbal atraveacutes do qual investigaacutevamos a capacidade fraseoloacutegica dos informantes de identificar formalmente uma expressatildeo idiomaacutetica pluriverbal e fixa evocaacute-la se estivesse armazenada em sua memoacuteria de longo prazo e caso a desconhecessem imediatamente procedessem com solicitaccedilatildeo de ajuda teacutecnica ou a aceitasse do experimentador e soacute entatildeo com uma informaccedilatildeo nova definiccedilatildeo de uma palavra exemplo informal ou texto formal dados atribuiacutessem sentido translatiacutecio ou idiomaacutetico agrave expressatildeo assinalada pelo experimentador

No trecho do Corpus Afri acima observamos que taacuteticas bottom-up de compreensatildeo jaacute estavam manifestas nos diaacutelogos entre experimentador e informante na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica) assim como observamos estrateacutegias top-down mais proeminentes nas tarefas sobre memoacuteria fraseoloacutegica (Vocecirc lembra ou ouviu esta expressatildeo no Brasil ou no seu paiacutes de origem em crioulo ou em liacutengua portuguesa) e particularmente na tarefa sobre idiomaticidade fraseoloacutegica (Vocecirc saberia me dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em crioulo ou em portuguecircs falado ou escrito em seu paiacutes)

Por essa razatildeo na Tarefa 4 para discriminarmos as taacuteticas e estrateacutegias cognitivas levamos em conta as respostas dos informantes nestas trecircs tarefas descritas anteriormente

Atentos a este valor proativo do protocolo verbal a partir da primeira tarefa passamos a codificar as respostas com o fito de traccedilar os processos cognitivos relacionados agrave identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade das expressotildees idiomaacuteticas presentes neste experimento

225

Com o mesmo esmero passamos a identificar e a classificar taacuteticas e estrateacutegias cognitivas usadas recorrentes ou natildeo natildeo soacute na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica mas tambeacutem nas demais tarefas deste experimento (memoacuteria fraseoloacutegica e idiomaticidade fraseoloacutegica)

Em estudos anteriores a terminologia das estrateacutegias adotada pelos experimentadores (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993 Block 1986 Brown 1996 Cooper 1999) foi a seguinte estrateacutegias de preparaccedilatildeo (Strategy Preparatory e estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (Strategy Guessing) e se mostrou eficaz na aacutenalise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir dos protocolos de think aloud Adotamos a terminologia do modelo estrateacutegico mas com foco em duas perspectivas de estudos fraseoloacutegico e psicolinguiacutestico

Para melhor refinar nossa abordagem (psico)linguiacutestica julgamos necessaacuterio fazer pequenos ajustes na terminologia das estrateacutegias (Strategy Preparatory e Strategy Guessing) Assim sendo os novos roacutetulos das estrateacutegias foram inspirados nas outras visotildees teoacutericas que tratam da construccedilatildeo da compreensatildeo pelo leitorouvintefalante ou em outras palavras baseamos nossa terminologia nas teorias de processamento da informaccedilatildeo do texto (CATANIA 1999 p360) Desta maneira por exemplo o que Cooper (1999) chamou de strategy preparatory rebatizamos no primeiro momento em estrateacutegias bottom-up depois vimos que rigorosamente tratavam-se no diaacutelogo do experimentador com os informantes de taacuteticas bottom-up ascendentes de baixo para cima uma vez que efetivamente soacute eram usadas pelos informantes como preparaccedilatildeo para o processo adivinhatoacuterio propriamente psicolinguiacutestico que ocorria quando recorriam a strategy guessing isto eacute a estrateacutegias top-down estas sim incontestavelmente descendentes de cima para baixo da mente do falante para o texto lido ou ouvido

Na fase de preacute-testes durante da aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal think aloud a pequeno grupo de estudantes nativos e de natildeo ativos do PB observamos que diante de muitas expressotildees idiomaacuteticas o processamento de compreensatildeo dos falantes comeccedilava e era controlado pelo proacuteprio texto isto eacute ocorria a chamada teoria de fora para dentro ou processamento dirigido pelo texto em que prontamente poderiacuteamos esquadrinhar o uso de procedimentos cognitivos denominado pela literatura psicolinguiacutestica de bottom-up

226

(ascendentes ou de baixo para cima) mais apropriadamente denominadas por noacutes de taacuteticas bottom-up mas com tipos igualmente classificadas pelos teoacutericos anteriores (a) repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (RP) (b) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (DA) e (c) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (SI) Podemos observar que em nenhuma das trecircs taacuteticas estaacute previsto que o informante chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada na questatildeo do experimento

A mudanccedila numenclatoacuteria de estrateacutegias de preparaccedilatildeo para estrateacutegias bottom-up e desta para a denominada taacuteticas bottom-up decorreu de reflexatildeo nossa a partir de estudos de Loacutepez Delgado (2002) bem como de orientarmos nossa atenccedilatildeo para procedimentos linguiacutesticos dos informantes quando na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes Vimos que as bottom-up (RP DA e SI) se constituiacuteam efetivamente mais taacuteticas (do grego τακτικός este derivado de τάσσειν pocircr em ordem com a noccedilatildeo de habilidade do informante para tentar sair-se eficientemente bem na tarefa proposta) do que propriamente estrateacutegias (palavra do latim strategĭa e esta derivada do grego στρατηγία com a ideia neste trabalho de o informante aplicar eficazmente recursos cognitivos visando alcanccedilar a compreensatildeo idiomaacutetica) por serem como jaacute dissemos antes procedimentos preparatoacuterios e natildeo decisoacuterios no processamento da compreensatildeo idiomaacutetica

Nos casos em que os participantes compreenderam a expressatildeo idiomaacutetica comeccedilando e controlando a partir de experiecircncias e expectativas que traziam para o texto ocorria a chamada teoria de dentro para fora ou processamento dirigido pelo proacuteprio falante denominadas de strategy guessing por noacutes rebatizadas de estrateacutegias top-down (descendentes ou cima para baixo) sendo que previamente assinalados os seguintes tipos (a) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (AC) (b) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (AA) (c) adivinhar o sentido da expressatildeo a partir do contexto informal ou improvisado (AT) (d) usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (SL) (e) usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (CP) f) referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em l1 para entender a expressatildeo idiomaacutetica em l2 (l1 ou seja crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

227

e (g) Usar outras estrateacutegias (OE) Atraveacutes de uma ou mais estrateacutegias top-down os informantes poderiam chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada no experimento

Conservamos pois em nossa pesquisa esta denominaccedilatildeo top-down mas nesta modalidade acrescentamos novas estrateacutegias como AA e AT para atender os propoacutesitos dos trecircs experimentos de nossa pesquisa Por essa razatildeo no primeiro experimento natildeo haacute registro de AA por ter natildeo terem sido disponibilizadas questotildees de muacuteltipla escolha A estrateacutegia AA soacute aparece na segunda bateria de testes A estrateacutegia AT aparece nas trecircs baterias de testes

Durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal observamos que as taacuteticas bottom-up e as estrateacutegias top-down natildeo eram no processamento fraseoloacutegico etapas estanques isto eacute vaacuterias delas podiam funcionar juntas e concomitantes sendo as taacuteticas bottom-up as de ativaccedilatildeo cognitiva inicial enquanto estrateacutegias top-down as de caraacuteter inferencial decisoacuteria no chamado jogo de adivinhaccedilatildeo psicolinguiacutestica (GOODMAN 1967 SMITH 1999 2003)

Na fase de codificaccedilatildeo do Corpus Afri vale ressaltar que as respostas dos participantes para cada expressatildeo foram divididas em segmentos discursivos procedimento facilitador para a codificaccedilatildeo das respostas por termos feito uma transcriccedilatildeo grafemaacutetica (ou ortograacutefica) dos aacuteudios dos participantes bem como exequiacutevel para os casos de reproduccedilatildeo em nossa exposiccedilatildeo Em seguida as transcriccedilotildees jaacute codificadas foram lidas relidas analisadas marcadas e remarcadas de acordo com os recursos cognitivos utilizados pelos participantes e como jaacute assinalamos antes a partir de um conjunto de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas previamente determinadas e consensualmente aceitas para pesquisas relacionadas com compreensatildeo idiomaacutetica em L1 ou L2 ou envolvendo ambas

Segue abaixo um quadro contendo abreviaturas e descriccedilotildees das taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down que utilizamos nos trecircs experimentos Quadro 4 - Abreviaturas usadas na anaacutelise do corpus AFRI

TAacute

TI

CA

S

BO

TT

OM

-

UP

RP Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica O informante voltar a ler ou a dizer (o que jaacute leu ou ouviu) ou diz de maneira diferente o mesmo conteuacutedo em que aparece a expressatildeo idiomaacutetica no texto lido

228

DA Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou o seu contexto sem adivinhar o sentido O informante analisa a expressatildeo idiomaacutetica e levanta questotildees a respeito do seu sentido examinando detalhadamente seus elementos lexicais sem chegar poreacutem ao sentido translatiacutecio ou fraseoloacutegico da expressatildeo

SI Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica ou sobre elementos constituintes de uma imagem que pode evocar uma unidade fraseoloacutegica O informante pede ajuda teacutecnica ao examinador dos testes Com exceccedilatildeo de informaccedilotildees relacionadas ao sentido da expressatildeo idiomaacutetica o examinador fornece informaccedilotildees metalinguiacutesticas sintaacuteticas e pragmaacuteticas de modo a encorajar o informante a continuar falando sobre a expressatildeo idiomaacutetica (contexto de estiacutemulo) ou a imagem apresentada (imagem de estiacutemulo) durante a aplicaccedilatildeo dos testes

ES

TR

AT

EacuteG

IAS

TO

P-D

OW

N

AC Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal O informante consegue decifrar ou interpretar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal dado extraiacutedo de texto (mateacuteria coluna etc) de jornal de circulaccedilatildeo nacional ou de exemplo dado pelo pelo experimentador

AA Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir alternativas de muacuteltipla escolha) O examinador depois de observar a dificuldade do informante em dar uma paraacutefrase definitoacuteria da expressatildeo idiomaacutetica indicada apresenta ao informante trecircs alternativas de muacuteltipla escolha (abc) sendo uma com paraacutefrase idiomaacutetica ou contextual (correta) uma com paraacutefrase literal (parcialmente correta) e uma paraacutefrase com distrator criacutetico (incorreta)

229

AT Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir de contexto formal (texto de circulaccedilatildeo) ou de contexto informal ou improvisado(texto ad hoc) O informante solicita ao examinador um contexto formal de uso da expressatildeo idiomaacutetica ou contexto informal com a expressatildeo idiomaacutetica dada no item do questionaacuterio O examinador pode ter a iniciativa de anunciar ou disponibilizar os textos para o informante No caso de exemplo formulado pelo examinador com o mesmo sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica do texto formal caracteriza-se por seu aspecto espontacircneo e o mais proacuteximo possiacutevel da linguagem comum da variante brasileira do portuguecircs

SL Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico O informante recorre ao sentido literal da expressatildeo idiomaacutetica para desvelar seu sentido idiomaacutetico durante a realizaccedilatildeo dos testes podendo utilizar este recurso antes ou depois da leitura do contexto de estiacutemulo (texto) antes ou depois de solicitaccedilatildeo de informaccedilatildeo (SI) ou depois de fornecida uma ajuda teacutecnica pelo examinador

CP Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica O informante emprega seus conhecimentos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) relacionados agrave metalinguagem ao assunto do texto agrave intercultura e agraves experiecircncias de vida (memoacuteria cotidiana ou autobiograacutefica)

L1 Referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) O informante na construccedilatildeo ou elaboraccedilatildeo de sua compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em L2 faz referecircncia agrave sua liacutengua materna (crioulo) inclusive quando solicitado buscando uma expressatildeo nativa equivalente agrave do portuguecircs brasileiro

OE Usar outras estrateacutegias O informante recorre a uma seacuterie de operaccedilotildees

extralinguiacutesticas ou heuriacutesticas que natildeo pertencem ao sistema da liacutengua ou ao sistema fraseoloacutegico do portuguecircs associando-se agrave aplicaccedilatildeo destas na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas no que tange

230

ao sujeito eou agrave situaccedilatildeo e ao conhecimento de mundo que os falantes compartilham

As taacuteticas e as estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees

idiomaacuteticas conforme podemos observar no Quadro 1 foram distribuiacutedas em dois grupos (a) taacuteticas bottom-up e (b) estrateacutegias top-down inspiradas na terminologia strategy preparatory e strategy guessing adotada por Cooper (1999 p242-244)

As taacuteticas bottom-up permitiram aos participantes clarificarem e consolidarem o conhecimento linguiacutestico ou a informaccedilatildeo semacircntica sobre as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas (Taacutetica RP ou RP repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica) para ganhar mais tempo antes de proferir um palpite ou para ensaiar uma resposta ou ainda peneirar nova informaccedilatildeo linguiacutestica muitos participantes discutiram e analisaram (literalmente) a expressatildeo idiomaacutetica (Taacutetica DA ou DA) e para colherem informaccedilotildees adicionais a fim de comeccedilarem a falar sobre a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute dar um palpite mais seguro ou abalizado sobre o sentido fraseoloacutegico da expressatildeo idiomaacutetica os participantes solicitaram informaccedilotildees (exceto as diretamente relacionadas ao sentido idiomaacutetico) sobre a expressatildeo idiomaacutetica ( Taacutetica SI ou SI)

As estrateacutegias top-down representam em nossa pesquisa os casos em que os participantes arriscaram uma interpretaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e estas estrateacutegias foram categorizadas assim adivinhar o sentido idiomaacutetico a partir do contexto (Estrateacutegia AC ou AC) usar o sentido literal (Estrateacutegia SL ou SL) para chegar ao sentido idiomaacutetico utilizar seus conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP ou CP) referir-se agrave sua L1 (Estrateacutegia L1 ou L1) inclusive com registro de variaccedilotildees linguiacutesticas nos caso dos dialetos cabo-verdianos como Crioulo do Fogo Crioulo de SantiagoCrioulo de Satildeo Nicolau e Crioulo de Satildeo Vicente e Crioulo de Santo Antatildeo e quando usaram outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE ou OE) estas em particular aleacutem de natildeo se enquadrarem nas estrateacutegias indicadas anteriormente consistiam em situaccedilotildees a que os participantes recorriam a tentativas cegas isto eacute arriscavam uma resposta por meio tentativa-e-erro na Tarefa de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) e na Tarefa de idiomaticidade Fraseoloacutegica (opacidade semacircntica) das expressotildees idiomaacuteticas previstas neste e nos demais experimentos envolvendo

231

zoomorfismos somatismos ou especiais ( botanismos no caso do primeiro experimento)

Para assegurar a confiabilidade da pontuaccedilatildeo das tarefas dos experimentos experimento e da codificaccedilatildeo das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica treinamos um grupo de seis transcritores (estudantes do Curso de Letras da UVA em Sobral) e convidamos um segundo examinador no caso uma professora de liacutengua portuguesa experiente esta especificamente para colaborar na marcaccedilatildeo das respostas aos testes e categorizar as taacuteticas e estrateacutegias de protocolo verbal think aloud revisando tambeacutem em conjunto detidamente com o pesquisador as respostas consideradas corretas parcialmente corretas e as respostas incorretas das tarefas do experimento e na codificaccedilatildeo adequada dos segmentos discursivos de modo a chegarmos a uma concordacircncia em 100 sobre o que julgaacutevamos como sendo taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo presentes no Corpus Afri

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso

No primeiro experimento os dados referentes agrave frequecircncia de

uso de estrateacutegias levam-nos a crer que as taacuteticas bottom-up ou ascendentes (RP DA e SI) evidenciaram a luta tiacutepica dos informantes para lidar com fontes leacutexicas de opacidade semacircntica sem que pudessem chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo exceto aos informantes que jaacute a tinham na memoacuteria de longo prazo estes nesta situaccedilatildeo natildeo foram arrolados ou considerados na anaacutelise de dados com relaccedilatildeo ao caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica como tambeacutem das estrateacutegias usadas e as bem-sucedidas conforme veremos no decorrer desta seccedilatildeo

Jaacute as estrateacutegias top-down ou descendentes (AC AA AT SL CP L1 e OE) indicaram a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes de natureza intralinguiacutestica por serem lusoacutefonos como um fator de opacidade tal qual defende Mogorroacuten Huerta (2013 p 83-96)

No balanccedilo geral na tarefa 4 pudemos observar que entre procedimentos taacuteticos e estrateacutegicos o uso da estrateacutegia CP destacou-se no conjunto de demandas cognitivas dos informantes ao registrar 115 ocorrecircncias no Protocolo Verbal o equivalente a 21 de todas estrateacutegias usadas durante o teste seguida da taacutetica RP com 94 registros o equivalente a 17

232

Os dados coletados indicam que os participantes recorreram agrave L1 na busca da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas especialmente as expressotildees consideradas mais faacuteceis ou transparentes encontrando na maioria das vezes um equivalente em crioulo guineense ou cabo-verdiano

Ao mesmo tempo pudemos observar que 94 ocorrecircncias equivalente a 17 das estrateacutegias usadas pelos informantes foram dirigidas agrave taacutetica RP o que significou especialmente no processo de compreensatildeo das expressotildees tirar aacutegua do joelho matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca uma demanda expressiva por taacuteticas bottom-up mas em que pesem o esforccedilo natildeo foram suficientes para levarem os participantes imediatamente agrave compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica vindo em seguida a DA com 13 a segunda taacutetica de maior demanda por parte dos participantes entre as bottom-up

Observamos que o uso das do tempo destinado a estrateacutegias top-down chegou a 46 recurso que garantiu aos participantes em geral depois de ajuda teacutecnica acessarem o sentido idiomaacutetico sendo a CP com 21 a estrateacutegia de maior demanda por parte dos participantes registrando nesse meio-tempo uma baixa procura por informaccedilotildees relacionadas ao sentido literal (SL) agrave L1 e poucas tentativas-e-erros (OE)

A expressatildeo matar cachorro a grito foi entre as expressotildees a detentora de maior percentual de taacuteticas do bottom-up destacando o nuacutemero de SI (37) RP (33) e DA (20) Referente agraves estrateacutegias top-down a maioria dos informantes ao lidarem com a expressatildeo natildeo pagar mico solicitou a assistecircncia teacutecnica de AT (21) especialmente de textos informais com a expressatildeo dado e SL (30) isto eacute solicitaram informaccedilotildees sobre o sentido literal da referida expressatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico nos chamou a atenccedilatildeo pelo nuacutemero de informantes que analisaram a expressatildeo e o contexto sem que pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico o que pode ter justificado um percentual de 15 de SI Quanto agraves estrateacutegias top-dow os participantes recorreram a muitas estrateacutegias heuriacutesticas por meio de tentativa-e-erro em muitos casos procurando encaixar a situaccedilotildees do seu cotidiano Chama-nos a atenccedilatildeo o uso frequente da estrateacutegia SL(40) e a estrateacutegia CP (23)

233

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo Consideramos fundamental em nosso estudo a separaccedilatildeo das

taacuteticas (bottom-up) das estrateacutegias (top-down) de compreensatildeo Tal medida decorre de reconhecermos que ambos os tipos de recursos cognitivos se baseiam em recursos cognitivos distintos

As taacuteticas bottom-up estatildeo relacionadas com a mecanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo dos dados da memoacuteria ativa ou memoacuteria de trabalho Estas taacuteticas portanto estatildeo a serviccedilo da memoacuteria de curto prazo isto eacute de uma memoacuteria funcional que reteacutem brevemente aquilo que prestamos atenccedilatildeo e tambeacutem uma duraccedilatildeo muito limitada (SMITH1999 P40) Dizendo de outra forma diriacuteamos que os participantes ao utilizarem as taacuteticas bottom-up tentaram imediatamente superar suas limitaccedilotildees daiacute recorrerem a SI para poder engajar-se atraveacutes de estrateacutegias top-down nos processos de compreensatildeo idiomaacutetica

Aplicadas ao nosso estudo as taacuteticas bottom-up referem-se a um processo natildeo criativo no qual o falante processa automaticamente a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica atraveacutes da identificaccedilatildeo da unidade fraseoloacutegica (RP) depois faz a anaacutelise da fixaccedilatildeo formal (DA) e a partir daiacute evoca sua idiomaticidade semacircntica atraveacutes de sua memoacuteria de longo prazo (CP) que tambeacutem eacute criativa ou quando descartado este benefiacutecio da memoacuteria de longa duraccedilatildeo solicita informaccedilatildeo (SI) para poder chegar ou natildeo ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo atraveacutes de estrateacutegias ligadas ao contexto (AC) agrave liacutengua materna (L1) ao sentido literal (SL) ou a outras inferecircncias heuriacutesticas (OE)

As estrateacutegias RP DA e SI nos indicam como veremos nos trechos abaixo quando evidenciadas no protocolo verbal que os falantes desenvolveram uma compreensatildeo inicial da expressatildeo de forma inconsciente e a decodificaccedilatildeo10 passa a ser uma praacutetica fundamental uma frequecircncia maior no leque ou disponibilidade de recursos cognitivos Talvez por essa razatildeo os falantes natildeo nativos como podemos observar nos protocolos verbais tenham significativamente buscado acessar o sentido idiomaacutetico por meio da repeticcedilatildeo em voz

10 A acepccedilatildeo que damos agrave decodificaccedilatildeo eacute a mesma de Alliende e Condemariacuten (1987) uma operaccedilatildeo de leitura em que o leitorfalante transforma os signos graacuteficos em linguagem oral mas natildeo alcanccedila plenamente o estaacutegio da compreensatildeo isto eacute captar o sentido da mensagem escrita

234

alta da expressatildeo da repeticcedilatildeo do texto atraveacutes da leitura silenciosa da paraacutefrase textual dos pormenores do texto (por exemplo saber o sentido de CNPJ 11 que aparece no contexto da expressatildeo natildeo pagar o mico) do sentido literal das palavras incomuns encontradas no texto lido (por exemplo antideureacutetico12 que aparece no contexto da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho) daiacute diante do texto terem feito uma leitura detalhada atenta com menor velocidade para que os dados do texto pudessem guiar sua compreensatildeo idiomaacutetica tal qual nos sugere Block (1986 p 463ndash494)

Ao contraacuterio das taacuteticas bottom-up as estrateacutegias top-down satildeo criativas voltadas agrave compreensatildeo e decerto satildeo responsaacuteveis na fala espontacircnea pela reproduccedilatildeo em bloco coeso da expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes sejam eles nativos ou natildeo nativos Talvez tenha sido esta ideia de blocagem passada por Coseriu (2007 p201) ao recorrer ao termo discurso repetido sequecircncia de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente

Em relaccedilatildeo agraves estrateacutegias top-down pudemos observar que ao longo do protocolo verbal os falantes natildeo nativos ajustaram ou tentaram ajustar por meio de ajuda teacutecnica (SI) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas isoladamente ou no proacuteprio texto em que elas foram contextualizadas aos seus conhecimentos preacutevios sintaacuteticos linguiacutesticos metalinguiacutesticos culturais histoacutericos em L1 e em L2 (portuguecircs na vertente luso-africana) depois voltam ao texto para confirmar suas expectativas de leitura (AC) ou verificar se aparecia uma informaccedilatildeo nova (OE) Concebiam assim a compreensatildeo fraseoloacutegica como verificaccedilatildeo global do sentido idiomaacutetico da expressatildeo (BLOCK op cit)

11 CNPJ eacute a sigla de Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica 12 Apresentamos aos informantes a seguinte definiccedilatildeo para hormocircnio antidiureacutetico substacircncia que aumenta a pressatildeo sangue nas arteacuterias e diminui o volume da urina

235

Tabela 9 - Frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias usadas por expressatildeo idiomaacutetica

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO IDIOMAacuteTICA

BOTTOM-UP TOP-DOWN)

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

1Matar cachorro a grito

31 15 23 11 - 08 09 10 06 02

2Pagar mico 24 17 10 03 - 05 12 27 08 05

3Tirar aacutegua do joelho

22 18 Q8 07 - 13 02 16 19 01

4Pocircr a boca no trombone

21 07 07 13 - 05 00 07 16 01

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

26 07 02 18 - 01 02 34 18 01

6Chutar o pau da barraca

27 16 14 09 - 05 05 21 07 03

Total 151 80 64 61 - 37 30 115 74 13

de todas usadas

25 13 10 09 06 05 18 12 02

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625

A partir dos dados apresentados na tabela acima passemos agora a exemplificar por expressatildeo idiomaacutetica as taacuteticas e estrateacutegias mais evidenciadas pelos participantes em seus diaacutelogos com o experimentador registrados no protocolo verbal ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Em busca de encontrar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo matar

cachorro a grito os informantes recorreram a 115 estrateacutegias sendo 69 taacuteticas bottom-up e 46 estrateacutegias top-down

236

Das taacuteticas bottom-up chamou-nos a atenccedilatildeo RP com 28 do tempo dos informantes seguida de pedido de ajuda SI na ordem 20

Das estrateacutegias top-down todas pareciam estar igualmente requeridas pelos informantes O que podemos observar eacute que claramente os informantes apresentaram dificuldade de acessar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo o que podemos comprovar pelos 60 de taacuteticas bottom-up com especial destaque para a estrateacutegia RP empregada na compreensatildeo de matar cachorro a grito

Abaixo apresentamos dois exemplos de emprego de preparaccedilatildeo (RP e SI respectivamente) que se sobressaiacuteram no processo de compreensatildeo desta expressatildeo

(a) Usando RP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a

gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

(b) Usando SI Entrevistador quer alguma ajuda Participante pode ser vamo laacute Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante um exemplo hellip pode ser hellip Entrevistador vocecirc prefere um exemplo Participante se tiver outro mais faacutecil hellip neacute hellip seja mais faacutecil de

identificar (hellip) Natildeo pagar mico No esforccedilo tiacutepico para compreender a expressatildeo natildeo pagar

mico os participantes recorreram a 100 procedimentos cognitivos sendo 40 taacuteticas bottom-up e 60 estrateacutegias top-dow

Das taacuteticas bottom-up 19 foram solicitaccedilotildees de ajuda teacutecnica (SI) especialmente as relacionados com pedido sobre sentido literal do lexema mico13

13 Os reiterados pedidos sobre o sentido de mico nos levou a apresentar aos informantes duas acepccedilotildees possiacuteveis para a palavra (a) na zoologia mico eacute uma forma reduzida de mico-preto designaccedilatildeo comum aos macacos do gecircnero Cebus da famiacutelia dos cebiacutedeos e (b) na ludologia tipo de jogo de cartas infantil em que a carta que

237

Das estrateacutegias top-down a estrateacutegia de CP foi a mais empregada pelos participantes com 27 das ocorrecircncias

Vejamos a seguir trechos com SI e CP extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando SI Entrevistador natildeo sabe o que eacute vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante me explicar um pouquinho o que quer Entrevistador posso definir as palavras da expressatildeo Participante eacute Entrevistador natildeo pagar significa natildeo entregar ou restituir uma

quantia que se deve Participante eacute pagar Entrevistador e mico eacute tipo de macaco de pelagem marrom-

escura com cauda negra e geralmente com vive em bandos Participante hum ah Entrevistador te ajuda alguma coisa Pagar macaco Participante ah mico pagar macaco pagar um um um valor

ma ma natildeo ldquopagar micordquo (b) Usando CP Entrevistador e vocecirc jaacute conhece do seu paiacutes ldquopagar micordquo Participante assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a

gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Os participantes ao se depararem com a expressatildeo tirar mais

aacutegua do joelho recorreram a 100 estrateacutegias sendo 42 taacuteticas bottom-up e 58 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a DA foi a mais utilizada pelos informantes com 18 do seu tempo vindo em seguida a RP com 16 do seu tempo

apresenta a figura de um macaquinho preto natildeo tem par e aquele que acabar o jogo com ela perde o jogo

238

Das estrateacutegias top-down a mais evidenciada foi a L1 com 19 vindo em seguida a CP com 16 do tempo

Vejamos a seguir trechos com DA RP e CP extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando DA Entrevistador ldquotirar aacutegua do joelhordquovocecirc sabe me dizer o

sentido Participante ldquotomar cerveja quenterdquo aiacutefaz com quecarano

meu entender vocecirc ver que natildeo faz bemas vezes as pessoas bebem cerveja quente ficam com dor de cabeccedilaentendeu sentindo algumas coisas que natildeo taacute bom aiacute levantam com a ressaca desse negoacutecio

Entrevistador e soacute a expressatildeo ldquotirar aacutegua do joelhordquo significa o que Eacute tudo isso que vocecirc disse ldquotirar aacutegua do joelhordquo

Participante eacutemais ou menos isso Usando estrateacutegia RP Entrevistador e essa expressatildeo aiacute que aparece pela primeira vez

hellip vocecirc acha que e h o quecirc Participante ah hellip sei laacute hellip Entrevistador tirar aacutegua do joelho hellip Participante deixa eu ver hellip ((silecircncio)) num sei hellip ((riso nasal))

tirar aacutegua do joelho hellip ((a participante repete a expressatildeo e faz um breve silecircncio interrompido pelo entrevistado))

(b) Usando L1 Entrevistador tirar aacutegua do joelho que dizer o quecirc Participante e h hellip mijar hellip Entrevistador mijar hellip Participante mijar Entrevistador conhece do seu paiacutes Participante conheccedilo hellip Entrevistador eles utilizam Participante utilizam hellip Entrevistador aleacutem dessa hellip existem outros semelhantes com o

sentido de mijar que vocecirc coloca Participante natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute

fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua de batata) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

239

Entrevistador ah hellip eacute o mesmo sentido Participante e h hellip ((toque de telefone)) (c) Usando estrateacutegia CP Participante bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua

do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip

Entrevistador hum Participante e h em Santiago nesse caso em Santiago eu

natildeo sei se as outras ilhas tambeacutem usam a expressatildeo hellip mas em Santiago a gente fala tirar aacutegua do joelho que significa mijar hellip neacute ()

Pocircr a boca no trombone Para a compreensatildeo de pocircr a boca no trombone os participantes

empregaram 57 recursos cognitivos sendo 16 taacuteticas bottom-up 41 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up DA com 12 foi a mais evidenciada vindo em seguida a SI com 10 do tempo

Das estrateacutegias top-down L1 foi a que obteve o maior percentual de uso com 28 vindo em seguida CP

Estrateacutegias SL e OE natildeo foram empregadas pelos informantes Vejamos a seguir trechos com DA l1 e CP extraiacutedos do Corpus

Afri (a) Usando DA Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Juacutenior Participante ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone Entrevistador muito bem ah vocecirc saberia me dizer o sentido Participante por exemplo defendeu um crime neacute Entrevistador defender um crime Participante defender uma coisa Usando estrateacutegia SI Entrevistador A expressatildeo pocircr a boca no trombone quer dizer

o que Participante ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc

pode me dar uma dicae Entrevistador posso dizer o que eacute trombonetrombone eacute um

instrumento de sopro de metal neacuteaqueles instrumentos pesados formado por dois tubos encaixados um no outro

240

Participante() hum rum (b) Usando L1 Entrevistador reclama critica vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes Participante natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra

expressatildeo Entrevistador qual eacute mas usando a palavra trombone Participante eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha)

quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assim[pocircr a boca no trabalho] tralha

(c) Usando CP Participante bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a

boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem

Entrevistador nesse mesmo sentido que colocou agora () Participante sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees

tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute14) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais ()

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Para a compreensatildeo da expressatildeo saber com quantos paus se faz

uma canoa os participantes recorreram a 94 procedimentos e accedilotildees cognitivas sendo que sendo 20 taacuteticas bottom-up e 74 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a RP se sobressaiu com 16 do tempo dos informantes

14 Interessante assinalar que a palavra xiba em portuguecircs refere-se agrave baile popular rural com sapateado acompanhado por instrumentos de cordas dedilhaacuteveis canto e palmas sua origem eacute africana ou portuguesa com adaptaccedilotildees negras

241

Das estrateacutegias top-down evidenciaramm-se as CP com 36 AC e L1 com 19 do tempo dos informantes

Vejamos a seguir trechos com RP CP AC e L1 extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando RP Entrevistador e vocecirc acha que qual e h o sentido desta

expressatildeo que apareceu aiacute ldquosaber com quantos paus se faz uma canoardquo hellip

Participante e h tipo dizer assim meu filho tu entrou numa grande furada hellip ((risos)) tu vai ver a realidade hellip ((risos da participante e do entrevistador)) hellip e h algo parecido hellip

(b) Usando CP Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido (c) Usando AC e L1 Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao

fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo

Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

242

Chutar o pau da barraca Para a expressatildeo chutar o pau da barraca os participantes

recorreram a 102 procedimentos cognitivos sendo 52 taacuteticas bottom-up e 50 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up o recurso mais usado no protocolo verbal foi RP com 24 das demandas dos participantes

Das estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo merece destaque CP com 21 do tempo

Vejamos a seguir trechos com RP e AC extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando RP Entrevistador e o que significa chutar o pau da barracardquo Participante ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos

da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo

(b) Usando CP Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante porque o que eacute () Entrevistador o que tem a ver chutar o pau da barraca com

revolta Participante porque por exemplo Roberto ((silecircncio))

((balbucio)) Entrevistador eu soacute quero que vocecirc justi jusfique eu natildeo tocirc

nem questionando natildeo Participante eacute Entrevistador eu tocirc aceitando sua resposta soacute queria que vocecirc

me justificasse por que vocecirc acha que pau chutar e barraca tem a ver com revolta por que vocecirc acha que tem a ver

Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

243

Tabela 10 - Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica por Participantes

CATE-GO-

RIAS

EXPRESSOtildeES

IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

ZOO-MOR-FIS-

MOS

Matar cachorro a grito

1235 678 91213 1415 1617 1819 20

235 1112 1314 1516 1819 20

2368 112 1317 1819 20

1 6 789 17 19

2368 1112 13 17 1819 20

78 1317 1820

12 5 1113 1720

17 48

Pagar mico

1 3 11 14 15 1617 1920

311 14 1516 1718 1920

1114 1516 17 18 1920

1114 1516 1718 1920

1 1415 1619 20

1 3 5 78 1416 1720

13 10

SOMA-TIS-MOS

Tirar aacutegua do joelho

3 1014

3410

31011

3 31011

1415 20

145 12

6 912

244

151718 1920

141516 17 819 20

121416 1718 1920

111314 17 18 19

121416 171819 20

1517 1920

Botar a boca no trombone

2 1213 14 5 19

1118

19 12 1314 19

19 2 1213

12 13

BOTA-NIS-MOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1 4 1011 13 14 15 1718 19

11 151718 1920

18 1 4 1011 13 14 1718

18 1920

1 4 10 1719 20

1 1117 20

11

Chutar o pau da barraca

123 5 67 11 121314 151618 1920

1235 1415 16 20

2311 1214 1617

23 7 11 1214 1718 19 20

23 11 12 1617

11 1316 1819

2 67 1314 1618 19 20

236

214 18 20

Legenda RP = Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica DA = Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido SI = Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica AC = Adivinhar o sentido da expressatildeo

245

idiomaacutetica a partir do contexto formal AA = Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha AT = Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal ou improvisado(ajuda teacutecnica) SL = Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico CP = Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica L1 = Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) e OE = Usar outras estrateacutegias

Estrateacutegias bem-sucedidas

Nas seccedilotildees anteriores foram abordadas as frequecircncias de uso

das estrateacutegias de compreensatildeo sem levarmos em conta se os participantes adivinharam corretamente o sentido da expressatildeo idiomaacutetica

Nesta seccedilatildeo apresentamos dados referentes agraves estrateacutegias bem-sucedidas isto eacute estrateacutegias top-down a que os informantes recorreram durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud e ao serem indagados pelo experimentador quanto ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo anunciaram respostas consideradas corretas e que atendiam agrave expectativa da tarefa

Vale lembrar que os informantes aqui considerados satildeo apenas os que na tarefa 2 a da verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo e natildeo saber seu sentido e os que declararam lembrar mas natildeo saber sentido idiomaacutetico Imediatamente apoacutes darem estas respostas antes de quaisquer pedidos de ajuda (SI) indagamos sobre o sentido idiomaacutetico da expressatildeo mesmo com apoio de contexto de situaccedilatildeo respostas que poderiam ser dadas em L1 ou L2 e mais uma vez confirmamos que realmente natildeo entendiam a locuccedilatildeo verbal

Nesta seccedilatildeo examinamos mais especificamente as estrateacutegias que levaram os participantes a interpretar com sucesso as expressotildees idiomaacuteticas Verificamos quais as estrateacutegias cognitivas efetivamente beneficiaram os participantes na hora de anunciar corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo

Ao cogitarmos vaacuterias estrateacutegias para a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica essa postulaccedilatildeo potildee em xeque algumas das hipoacuteteses psicolinguiacutesticas (leacutexicas e composicionais) que circulam entre psicolinguistas em geral excludentes bem com o curso temporal do processamento fraseoloacutegico (por exemplo a primazia

246

da interpretaccedilatildeo literal sobre a global ou vice-versa) jaacute bem estabelecidas pelos resultados de seus experimentos questotildees que retomamos mais adiante em nosso trabalho e jaacute podemos antecipar que no modelo estrateacutegico que defendemos o processamento eacute integrador e como numa muacutesica agoacutegico com sucessatildeo de taacuteticas ascendentes (bottom-up) e estrateacutegias descendentes (top-down) e combinaccedilotildees montadas pelos participantes por vezes imprevisivelmente heuriacutesticas

Acreditamos que as explicaccedilotildees dadas pelos principais psicolinguistas sobre o processamento fraseoloacutegico podem ser ainda melhor descritas a partir das estrateacutegias cognitivas que o falante emprega no esforccedilo de compreender expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ou natildeo familiares ou simplesmente opacas Por essa razatildeo experimentos psicolinguiacutesticos com falantes natildeo nativos (ou estrangeiros) de uma liacutengua dada podem desvelar realmente o que ocorre com a mente dos falantes quando se depararam com uma expressatildeo nova ou desconhecida

No modelo estrateacutegico de compreensatildeo idiomaacutetica vemos as hipoacuteteses leacutexicas e as hipoacuteteses composicionais como sendo interdependentes Pelo menos eacute o que podemos comprovar com os dados dos falantes que diante de expressotildees natildeo familiares ou opacas esforccedilaram-se atraveacutes de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas na tentativa de desvelar seu sentido idiomaacutetico

As chamadas hipoacuteteses composicionais segundo as quais o processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas resulta necessariamente da anaacutelise gramatical total ou parcial das palavras e sintagmas que as compotildeem (BELINCHOacuteN1999 p364-369) satildeo vistas por um outro acircngulo em nossa pesquisa Primeiramente constituem-se psicolinguisticamente um conjunto de taacuteticas bottom-up (RP DA SI) traduzido em uma seacuterie sistemaacutetica de etapas no sentido de entender uma expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo o suficiente para o falante acessar o seu sentido idiomaacutetico ou fraseoloacutegico

Uma expressatildeo como pagar mico que apresentou um alto percentual de idiomaticidade forte (ou opacidade) em nossa pesquisa em que pese o esforccedilo dos falantes natildeo nativos de analisar os sentidos parciais das palavras pagar e mico e o proacuteprio em que a expressatildeo aparecia o referido empreendimento natildeo foi decisivo para a compreensatildeo idiomaacutetica levando-os diante desta expressatildeo opaca a

247

solicitar informaccedilotildees (inclusive o SL isto eacute o sentido literal) ou ajuda teacutecnica de diversas ordens (AT AA por exemplo) para continuar a sua luta individual e caracteriacutestica em direccedilatildeo ao acesso fraseoloacutegico da expressatildeo

As hipoacuteteses leacutexicas segundo as quais as expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas em uma memoacuteria especial esta entendida como uma memoacuteria que natildeo formaria parte do leacutexico comum do falante permitiriam um acesso direto ao sentido idiomaacutetico

Para os falantes nativos as hipoacuteteses leacutexicas podem realmente explicar o processamento fraseoloacutegico de expressotildees familiares mas natildeo explicam o esforccedilo dos natildeo nativos de decifrar as expressotildees desconhecidas ou natildeo familiares Se os falantes nativos as lembram e satildeo capazes de identificar sua forma fixa ou reconhecer sua idiomaticidade entatildeo natildeo podemos falar estritamente em expressotildees opacas e sim expressotildees que ficam na ponta da liacutengua na iminecircncia de ter seu sentido idiomaacutetico anunciado ou dito mas se o sentido natildeo vecircm agrave tona ao certo poderemos apenas falar em uma falha na recuperaccedilatildeo (ou esquecimento) do sentido idiomaacutetico no leacutexico mental

Pudemos observar em nosso experimento off-line que as hipoacutetese leacutexicas se manifestaram predominantemente nas estrateacutegias top-down (AC L1 etc) mas natildeo de forma isolada isto eacute dependeram para serem bem-sucedidas dos esforccedilos depreendidos pelos participantes nas taacuteticas preparatoacuterias ou bottom-up

Para natildeo enviesarmos os dados de nossa pesquisa e particularmente identificarmos as estrateacutegias bem-sucedidas consideramos soacute os participantes com baixo niacutevel e meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute os que durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal haviam declarado natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo idiomaacutetica ou quando lembravam ou declaravam ter ouvido antes natildeo conseguiam evocar seu sentido idiomaacutetico informaccedilotildees que pudemos comprovar imediatamente com suas respostas consideradas incorretas ou parcialmente corretas na tarefa 3 de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica ou semacircntica

Considerando este criteacuterio de exclusatildeo como seleccedilatildeo de participantes verificamos apoacutes anaacutelise de suas respostas que de um total de 75 itens comentados 33 foram itens respondidos corretamente (ou seja receberam uma pontuaccedilatildeo 3 na tarefa 3 de

248

verificaccedilatildeo da idiomaticidade semacircntica) variando o nuacutemero de acertos de expressatildeo para expressatildeo o que representou depois deste procedimento ou enxugamento uma taxa de sucesso de 44 entre os participantes

Em ordem de classificaccedilatildeo as estrateacutegias que levam a interpretaccedilotildees corretas (ver tabela 1) foram as seguintes

(a) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (Estrateacutegia AC 29)

(b) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (Estrateacutegia AT 16)

(c) Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (Estrateacutegia SL 7)

(d) Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia CP 28)

(e) Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) (Estrateacutegia L 17)

(f) Usar outras estrateacutegias (Estrategia OE 3) Embora em muitos casos os participantes tenham usado taacuteticas

bottom-up e mais de uma estrateacutegia top-down para ter sucesso apenas as que levaram diretamente agrave resposta correta isto eacute as top-down foram incluiacutedas nesta contagem

As taacuteticas de repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RP) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (Estrateacutegia DA) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia SI) natildeo satildeo apresentados na Tabela 1 porque embora natildeo sejam completamente prescindiacuteveis no processamento fraseoloacutegico representam recursos cognitivos que permitiram aos participantes de modo geral ganhar tempo isto eacute postergar suas respostas agraves solicitaccedilatildeo feitas continuamente pelo experimentador aguardando assim melhor momento da entrevista para anunciaacute-las o que foi relevante para nossa pesquisa e principalmente para obtermos informaccedilotildees sobre o jogo adivinhatoacuterio e esclarecermos seus pensamentos antes de anunciar o sentido definitivo da expressatildeo

Merecem uma nota s trecircs taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) que representaram 50 do conjunto de procedimentos cognitivos utilizados pelos participantes para processarem a compreensatildeo

249

idiomaacutetica mas natildeo foram suficientes para os que natildeo lembravam seu sentido idiomaacutetico total ou parcialmente responderem corretamente agrave questatildeo proposta pelo experimentador

Abaixo seguem trecircs exemplos (trechos em versatildeo de transcriccedilatildeo ortograacutefica) de como as taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) puderam configurar um palpite correto para que o participante pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo

(a) Usando RP Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui

seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

(b) Usando DA Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante gostaria Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante ((o participante reler trechos do texto em

balbucios)) hum o que se daacute pra entender eacute que o facto o fa a pessoa exerce um algum tipo de atividade a que noacutes a gente associa eacute que essa atividade vai nos tornar rico ou milionaacuterio alguma coisa do tipo matar cachorro a grito que o que daacute pra entender eacute que eacute uma expressatildeo que na verdade natildeo eacute bem assim soacute que a gente por pensar desse jeito acaba acaba influenciando todo mundo a pensar assim tambeacutem e todos noacutes acabamos dizendo que ele eacute rico eacute o que daacute pra entender de acordo com o texto

(c) Usando SI Entrevistador mico eacute eacute um animal eacute um pequeno primata

macaquinho pequeno eacute mico se alimentam principalmente de insetos e frutas isso te ajuda a entender a expressatildeo

Participante dar outra forma de explicar mais

250

Entrevistador que outra forma vocecirc quer quer um exemplo Participante um exemplo assim Entrevistador taacute certo outro exemplo um exemplo seria eacute

eu natildeo vou pra uma festa soacute de jovens eu jaacute tenho cinquenta anos

se eu chegar numa festa soacute de jovens eu posso pagar mico Participante ((silecircncio)) Entrevistador natildeo tem uma ideia Participante natildeo repita aiacute repita ((riso))

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Nos trechos que se seguem daremos exemplos das principais

estrateacutegias top-down empregadas pelos participantes no esforccedilo de encontrar o sentido idiomaacutetico das expressotildees consideradas opacas isto eacute expressotildees que os participantes haviam declarado natildeo lembrar ou ter ouvido ou lembravam mas natildeo sabiam o sentido

Na tabela 1 aparecem as taacuteticas bottom-up mas natildeo as destacamos nos trechos abaixo porque natildeo se tratam de recursos cognitivos como dissemos anteriormente em outras seccedilotildees determinantes para a definiccedilatildeo por parte dos participantes do sentido idiomaacutetico das expressotildees

As expressotildees estatildeo agrupadas em zoomorfismos somatismos e botanismos

Os trechos extraiacutedos do Corpus Afri referem-se agraves estrateacutegias top-down sobressalentes ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito No cocircmputo geral a expressatildeo matar cachorro a grito com 23

estrateacutegias equivalente a 15 ficou em quarto lugar entre as bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 foram os recursos mais utilizados pelos informantes ambos com 23 do tempo

Com 18 ficaram as estrateacutegias AC AA e AT Natildeo houve registro de OE

251

Seguem abaixo dois trechos com estrateacutegias top-down destacadas no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador O brasileiro com baixo salaacuterio ele vive matando

cachorro a grito pra puder criar os filhos o brasileiro mata cachorro a grito

Participante Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo)

(b) Usando L1 Entrevistador e e h um salaacuterio que natildeo daacute pra pessoa viver bem

hellip vive matando cachorro a grito hellip todo dia se taacute matando cachorro a grito hellip o que e h matar cachorro a grito

Participante tem outro outro sentido que a gente usa assim esse matar cachorro a grito hellip

Entrevistador vocecircs usam hellip qual o sentido Participante e h tipohellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em

crioulo)) Entrevistador hum hellip Participante caratecirc hellip Entrevistador caratecirc Participante caratecirc hellip tem (hellip) Entrevistador como e h (hellip) Participante tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma

coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa

Entrevistador como e h que vocecircs dizem Participante (dar caratecirc ) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip caratecirc

hellip a luta japonecircs Entrevistador ah hellip dar caratecirc Participante e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso))

252

Natildeo pagar mico A expressatildeo pagar mico com apenas 9 estrateacutegias equivalente

a 6 ficou em sexto e uacuteltimo lugar entre as que apresentaram estrateacutegias bem-sucedidas

Nesta expressatildeo referente agrave frequecircncia de uso basicamente foram trecircs as estrateacutegias bem-sucedidas para os participantes na tarefa de verificaccedilatildeo de idiomaticidade semacircntica Satildeo elas CP com 67 do tempo L1 com 22 e SL com 11

O que nos chamou a atenccedilatildeo foi esta expressatildeo natildeo requerer por parte dos participantes estrateacutegias como AC AT e OE registrando-se uma maior demanda de usos em estrateacutegia CP com 67 do tempo vindo em seguida as Estrateacutegias L1 e SL estas com percentuais bastante piacutefios

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias top-down sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante natildeo natildeo vi nenhuma Entrevistador natildeo entendeu Participante ldquo natildeo pagar micordquo Entrevistador ldquo natildeo pagar micordquo Participante eacute existe eu sei o que eacute tipo natildeo passar vergonha Entrevistador natildeo passar vergonha Participante eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica

mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num () Entrevistador ah vocecirc conhece laacute desde pequena () Participante eacute natildeo paga mico eacute sim conheccedilo (b) Usando L1 Entrevistador aparece aiacute tambeacutem hellip a expressatildeo eacute hellip ldquopagar

micordquo hellip vocecirc saberia me dizer o que eacute pagar mico () Participante ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo

ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico eacute pagar passar vergonha hellip

253

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Entre as seis expressotildees idiomaacuteticas a expressatildeo tirar mais aacutegua

do joelho ficou em segunda lugar com 29 estrateacutegias equivalente a 20 das demandas cognitivas

Entre as estrateacutegias de procura pelos informantes citamos a Estrateacutegia AT como a de maior destaque entre as estrateacutegias em busca do sentido idiomaacutetico da expressatildeo vindo em seguida a estrateacutegia AT com 31 das demandas cognitivas

A estrateacutegia AC compareceu ao processo de compreensatildeo idiomaacutetica dos participantes com 14 do tempo vindo em seguida com menores percentuais as estrateacutegias SL e L1 com 7 ambos

Natildeo houve registro da estrateacutegia OE Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AT Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador alguma dica Participante quero Entrevistador que tipo de dica vocecirc quer Participante um exemplo similar Entrevistador eacute algumas vezes quando eu estou numa mesa de

bar com amigos tomando cerveja quando estaacute na terceira ou quarta cerveja eu chego pro meu amigo e digo ldquoolha vou ao banheiro tirar aacutegua do joelhordquo aiacute eu vou laacute tiro aacutegua do joelho e volto e digo assim ldquoolha agora eu posso beber mais trecircs cervejas estou livre tirei aacutegua do joelho ((risos da informante)) e assim vou levando a noite inteira

Participante ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute

(b) Usando AC Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante Eu reconheccedilo Entrevistador Qual eacute Participante Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente

tirar mai aacutegua do joelho

254

Entrevistador O que eacute tirar aacutegua do joelho Participante Com certeza eu acho que faz mais a pessoa

urinar ir pro banheiro de vez em quando Pocircr a boca no trombone A expressatildeo pocircr a boca no trombone com 17 estrateacutegias

equivalente a 11 apresentou o maior nuacutemero de estrateacutegias bem sucedidas

Duas estrateacutegias se destacaram no uso pelos participantes a estrateacutegia AC com 47 do tempo e a estrateacutegia L1 com 29 dos recursos cognitivos

Registrou-se o baixo uso de Estrateacutegias AT (em geral pedido de exemplos dados pelo experimentador ) com 7 natildeo sendo registradas estrateacutegias como SL e OE para o processo de compreensatildeo idiomaacutetica

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando AC Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante ldquo botar a boca no trombosordquo15 Entrevistador e qual seria o sentido Participante reclamou Entrevistador vocecirc conhece no seu paiacutes Participante conheccedilo natildeo Entrevistador vocecirc jaacute tinha ouvido no Brasil Participante natildeo ouvi natildeo Entrevistador eacute a primeira vez que vocecirc ver Participante hunrrum Entrevistador mas o quecirc que faz com que vocecirc descubra que esta

eacute uma expressatildeo ldquobotar a boca no trombonerdquo

15 Em conversa informal com informantes guineenses a expressatildeo botar a boca no tromboso (L1) por botar a boca no trombone (L2) nos sugere estarmos diante uma corruptela fraseoloacutegica decorrente maacute compreensatildeoaudiccedilatildeo e reproduccedilatildeo nas camadas mais simples de Guineacute-Bissau muito comum nas formas de eufemismo ou nos casos de uso de expressotildees considerada inapropriadas pelas camadas mais socialmente favorecidas

255

Participante porque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

(b) Usando L1 Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante identifica () Entrevistador identificou qual Participante pocircs a boca no trombone Entrevistador trombone () Participante tem uma coisa igual essa que o pessoal diz que a

pessoa mas essa aqui eu sei colocar boca na na trombeta pra falar neacute

Entrevistador com eacute bota vocecircs dizem botar a boca () Participante na trombeta Entrevistador na trombeta Participante eacute Entrevistador e quer dizer o quecirc botar a boca na trombeta Participante assim isso quer dizer que uma quando uma

pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Cotejadas com as demais expressotildees saber com quantos paus se

faz uma canoa com uso de 23 estrateacutegias equivalente a 15 foi a que ficou em terceiro lugar entre as bem-sucedidas

Para a compreensatildeo da referida expressatildeo os participantes recorreram a Estrateacutegia AC com 43 do tempo destinado agraves estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo vindo em seguida as Estrateacutegias CP e L1 com 32 e 17 respectivamente

256

As estrateacutegias AT e OE juntas somaram um percentual de 8 do tempo empregado em uso de estrateacutegias cognitivas

Natildeo houve registro de Estrateacutegia SL Seguem abaixo trecircs exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AC Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(b) Usando CP Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante certo Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo equivalente no

crioulo Participante ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina

encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem

Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa

Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia

257

quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(c) Usando L1 Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz

uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo

natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

Entrevistador ah eacute Participante e h ((risos)) Entrevistador e que dizer o quecirc Participante e h tipo vai ver com quantos paus se faz uma

canoa ((risos)) Entrevistador ((risos)) Participante ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente

expressatildeo idiomaacutetica Chutar o pau de barraca Das 150 estrateacutegias usadas pelas participantes em benefiacutecio da

compreensatildeo a expressatildeo chutar o pau de barraca entre as seis expressotildees foi a que demandou 44 estrateacutegias equivalente a 29 das demandas cognitivas registrando-se assim o maior percentual de estrateacutegias bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 com 23 foram as duas requisitadas pelos participantes vindo em seguida com 18 as estrateacutegias AC AT e SL

Na busca da compreensatildeo de chutar o pau da barra os participantes recorreram a estrateacutegia CP com 34 do seu tempo vindo em seguida a Estrateacutegia AC com 23 do tempo despendido no processamento fraseoloacutegico

258

As estrateacutegias AT e L1 ficaram com 14 do tempo de uso dos recursos cognitivos ficando as estrateacutegias SL e OE as estrateacutegias com menores percentuais isto eacute ficaram 9 e 6 respectivamente

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica Participante ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute

um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

Entrevistador ah muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo ()

Participante nunca Entrevistador em Guineacute Participante nunca Entrevistador mas jaacute tinha ouvido aqui Participante aqui tambeacutem eacute nunca () Entrevistador nunca () Participante natildeo ouvi nunca Entrevistador aiacute mesmo assim conseguiu entender Participante entendi mais ou menos Entrevistador muito bem (b) Usando L1 Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante chutar o pau da barraca Entrevistador chutar o pau da barraca hellip vocecirc jaacute conhecia no

Brasil ou laacute em Cabo Verde ou aprendeu aqui no Brasil Participante natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip

expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip Entrevistador hum hellip e em crioulo existe ()

259

Participante e h em crioulo hellip Entrevistador alguma equivalente a essa daiacute Participante deixa eu ver hellip chutar o pau da barraca hellip

((silecircncio)) Entrevistador qual o sentido que vocecirc dar () Participante chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou

largar tudo Entrevistador vai largar tudo hellip Participante largar tudo Entrevistador e como seria no crioulo hellip no teu crioulo Participante no meu crioulo eacute hellip hum hellip chutar o pau da barraca

hellip ((estalos ao fundo)) tipo a galera usa uma expressatildeo que significa hellip laacute em minha em crioulo de Santiago hellip que e h hellip que e h hellip (espadia peacute espadia peacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip quer dizer estou saindo fora to saindo fora

Tabela 11 - Frequecircncia de estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Expressotildees Idiomaacuteticas

Taacuteticas e Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

Matar cachorro a grito

15 05 09 04 - 04 04 05 05 01

Pagar mico 02 03 00 00 - 00 01 06 02 00

Tirar aacutegua do joelho

16 12 14 09 - 12 02 04 02 00

Pocircr a boca no trombone

09

00

01

08

- 01

00

03

05

00

Saber com quantos paus se faz uma canoa

17

05

01

12

-

01

00

09

05

01

Chutar o pau da barraca

21

06

14

10

-

06

04

15

06

03

260

Total 80 31 39 43 - 24 11 42 25 05

de todas usadas

27 10 13 14 8 4 14 8 2

Taacuteticas e Estrateacutegias usadas em todos os itens - 300

261

BREVES CONCLUSOtildeES

Tarefa 1 grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Para a expressatildeo pocircr a boca no trombone de faacutecil identificaccedilatildeo

fraseoloacutegica e tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa de meacutedia identificaccedilatildeo fraseoloacutegica confirmamos a hipoacutetese de que a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico posto que as referidas expressotildees foram consideradas pelos informantes de idiomaticidade fraca (ou transparentes) As expressotildees matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca de faacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e natildeo pagar mico de difiacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram consideradaras de idiomaticidade forte (opacas) Portanto entre os seis itens natildeo pagar mico foi a uacutenica expressatildeo de difiacutecil identificaccedilatildeo e com sua correspondente idiomaticidade forte Tarefa 2 grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB

natildeo processam itens armazenados em sua memoacuteria de longo prazo atraveacutes das expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma canoa e pocircr a boca no trombone por estarem psicolinguisticamente fixadas em L1(crioulo) ou L2 (liacutengua portuguesa) paga uma mico (L2) Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa e Poi boka na mundo (L1)

As expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma

canoa e pocircr a boca no trombone apresentaram as meacutedias mais altas quanto ao alto grau de memoacuteria fraseoloacutegica Atraveacutes das respostas dos informantes em L1 pudemos comprovar a hipoacutetese de os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria como um todo unitaacuterio Nas demais expressotildees isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho e chutar o pau da barraca natildeo comprovamos nenhuma destas duas hipoacuteteses acima mencionadas

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Para as expressotildees natildeo pagar mico e saber com quantos paus se faz uma canoa comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos Nas demais expressotildees do experimento isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e chutar o pau da barraca natildeo foi comprovada esta hipoacutetese

Tarefa 3 grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

A hipoacutetese de que as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica natildeo foi confirmada para natildeo pagar mico e matar cachorro a grito Quanto a natildeo pagar mico muitos informantes afirmaram desconhecer o sentido literal da palavra mico e quanto a matar cachorro a grito entenderam-na no sentido literal Confirmamos a hipoacutetese para os somatismos tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone considerados de idiomaticidade fraca (ou transparentes) contando para desvelar o sentido idiomaacutetico das referidas expressotildees com a ajuda teacutecnica e expressotildees equivalentes em L1 (tra agua de joelho16 e poi boka na mundo)

Para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo confirmamos a hipoacutetese de que expressotildees designadoras de nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados Os conhecimentos linguiacutesticos preacutevios e expressotildees equivalentes em L1 (crioulo) tornaram ao contraacuterio a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa com a meacutedia mais alta em se tratando de reconhecimento idiomaacutetico

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma cano confirmamos a hipoacutetese de expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes

16 Segundo informantes do sexo feminino de Cabo Verde e Guineacute-Bissau os estudantes intercambistas no Cearaacute que no periacuteodo de feacuterias ou recesso acadecircmico retornam aos paiacuteses de origem levam consigo muitas expressotildees idiomaacutetica de uso frequente como eacute o caso de tirar aacutegua do joelho que aponta evidecircncia da transferecircncia de propriedades de L2 (liacutengua portuguesa na vertente brasileira) para L1 (em crioulo a expressatildeo neoloacutegica tra agua de joelho)

263

em L1 ou L2 (na vertente africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho Pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma canoa confirmamos a hipoacutetese de que o conhecimento do sentido de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica (joelho trombone pau) torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o sentido idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Confirmamos para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca a hipoacutetese de que o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuiacutedo pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo Os informantes de modo geral consideram estas trecircs expressotildees brasileiras e terem ouvido mas natildeo aprendido seu sentido idiomaacutetico atraveacutes das telenovelas e miacutedias (muacutesicas Internet etc) Tarefa 4 taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica

Levando-se em conta as seis expressotildees do experimento pudemos

comprovar a hipoacutetese de que a idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias top-down pelo contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) Os dados da pesquisa poreacutem natildeo confirmam a hipoacutetese de que sentido literal da expressatildeo (SI) nem os conhecimentos linguiacutesticos em L1 satildeo determinantes para que os informantes natildeo nativos acessassem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees do experimento

Comprovamos a hipoacutetese de que o uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB atraveacutes da variedade de uso de estrateacutegias top-down para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes cabo-verdianos e guineenses sendo os cabo-verdianos os que mais exploraram as

264

estrateacutegias AC CP e L1 ao certo por receberam mais influecircncia da cultura brasileira atraveacutes dos intercacircmbios universitaacuterios das telenovelas muacutesicas e miacutedias diversas (internet)

Natildeo confirmamos a hipoacutetese de que quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas Para as seis expressotildees os dados mostram que do ponto quantitativo as estrateacutegias top-down se igualaram ao nuacutemero de taacuteticas bottom-up sendo ativadas imediatamente depois de os informantes ativarem as taacuteticas bottom-up especialmente a repeticcedilatildeo e paraacutefrase da expressatildeo idiomaacutetica seguida de pedidos de ajuda teacutecnica

265

REFEREcircNCIAS

ABBAGNANO Nicola Dicionaacuterio de filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 2007 ALLIENDE Felipe e CONDEMARIacuteN Mabel Leitura teoria avaliaccedilatildeo e desenvolvimento Porto Alegre Artes Meacutedicas 1987 ALVARADO ORTEGA Maria Beleacuten Las foacutermulas rutinarias del espantildeol teoriacutea y aplicaciones Frankfurt am Main Peter Lang 2010 p 27-30 BAHAMEED Adel Salem ThinkndashAloud Protocols Translating Proverbs London Sayyab Books 2009 BALIEIRO JR Ari Pedro Psicolinguiacutestica In MUSSALIM Fernanda e BENTES Anna Christina (Orgs) Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica domiacutenios e fronteiras v2 Satildeo Paulo Cortez 2001p171-201 BALLY Charles Traiteacute de stylistique franccedilaise v 1 Genebra Paris Geog e Cre Klincksieck 1951 BELINCHOacuteN Mercedes Lenguaje no literal y aspectos pragmaacuteticos de la comprensioacuten In VEGA Manuel de e CUETOS Fernando (Orgs) Psicolinguistica del espantildeol Madrid Trotta 1999 Cap9 p 307-373 BLASCO MATEO Esther Similitudes entre periacutefrasis verbales de infinitivo con enlace y locuciones verbales de infinitivo In ALMELA R RAMOacuteN TRIVES E E WOTJAK G Fraseologiacutea contrastiva con ejemplos tomados del alemaacuten espantildeol franceacutes e italiano Murcia Universidade de Murcia 2005 P 197-210 BLOCK Ellen The comprehension strategies of second language readers In Tesol Quarterly nordm 20 1986 p 463ndash494 BOBROW S Y BELL S (1973) On catching on to idiomatic expressions Memory and Cognition 1 343-346 CACCIARI Cristina e TABOSSI Patrizia (Orgs) Idioms processing structure and interpretation Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Associates 1993 CACCIARI Cristina ldquoThe Place of Idioms in a Literal and Metaphoricalrdquo In CACCIARI Cristina e TABOSSI Patrizia (Orgs) Idioms Processing Structure and Interpretation Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Associates 1993 p 27-55 CASARES Julio Introduccioacuten a la lexicografiacutea moderna Madrid Consejo Superior de Investigaciones Cientiacuteficas [1950] 1969

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CASCUDO Luiacutes da Camara Locuccedilotildees tradicionais no Brasil Satildeo Paulo Global 2004 CASTILLO CARBALLO Mariacutea Auxiliadora El concepto de unidad fraseoloacutegica Revista de Lexicografia Vol IV 1997-1998 p 67-79 CERMAK František La identificacioacuten de las expresiones idiomaacuteticas In LUQUE-DURAN Juan de Dios e PAMIES-BERTRAN Antonio Lexico y Fraseologiacutea (Orgs) Granada Meacutetodo Ediciones 1998 p133-148 CHARAUDEAU Patrick e MAINGUENEAU Dominique Dicionaacuterio de anaacutelise do discurso Satildeo Paulo Contexto 2008 CHARTERS Elizabeth The Use of Think-aloud Methods in Qualitative Research An Introduction to Think-aloud Methods In Brock Education Vol 12 No 2 2003 COOPER THOMAS C Processing of Idioms by L2 Learners of English In Tesol Quarterly Vol 33 nordm 2 Summer 1999 P 233-262 CORPAS PASTOR Gloria Manual de fraseologiacutea espantildeola Madrid Gredos 1996 CORPAS-PASTOR Gloria Corrientes actuales de la investigacioacuten fraseoloacutegica en europa Disponiacutevel em Internet http91121164100dokeuskera25886pdf COSERIU Eugenio Linguiacutestica del texto introduccioacuten a la hermenecircutica del sentido Madrid Arco 2007 CRESPO Nina e CACERES Pablo La comprension oral de las frases hechas un fenomeno de desarrollo tardio del lenguaje In RLA Revista de Linguiacutestica Teoacuterica y Aplicada Concepcioacuten (Chile) 44 (2) II Sem 2006 p 77-90 CROFT William e CRUSE D Alan Linguiacutestica cognitiva Madrid Akal 2008 CUENCA Maria Josep e HILFERTY Joseph Introducioacuten a la linguiacutestica cognitiva Barcelona Ariel Linguiacutestica 1999 DETRY Florence Estrategias memoriacutesticas y aprendizaje de las expresiones idiomaacuteticas en lengua extranjera el papel cognitivo de la iconicidad fraseoloacutegica Tese (Doutorado em Linguiacutestica) - Departamento de Filologiacutea y Filosofiacutea Universidad de Girona Girona 2010 ELOINA SCHERER Amanda Uma trajetoacuteria em busca do saber Uma referecircncia na histoacuteria das ideacuteias linguiacutesticas no RS - Entrevista com Leonor Scliar Cabral In fragmentum nordm 6 Laboratoacuterio Corpus UFSM 2004 p1-34

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ESCANDELL VIDAL M Victoria Fundamentos de semaacutentica composicional Barcelona Ariel Linguiacutestica [2004] 2011 FERRARI Liliam Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica cognitiva Satildeo Paulo Contexto 2011 FILLMORE Charles J et ali ldquoRegularity and Idiomaticity in Grammatical Constructions The Case of Let Alonerdquo In Language Vol 64 No 3 (1988) pp 501-538 Disponiacutevel em httplingostanfordedusagpapersfillmore2B88pdf Acesso em 18102010 FLORES DrsquoARCAIS G B (1993) The comprehension and semantic interpretation of idioms In CACCIARI C E TABOSSI P (Orgs) Idioms Processing structure and interpretatio Hillsdale NJ Erlbaum 1993 P 79ndash98 FREGE G Estudios sobre semacircntica Barcelona Ariel 1971 FULGEcircNCIO Luacutecia Expressotildees fixas e idiomatismos do portuguecircs brasileiro Tese de doutorado em Linguiacutestica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais Belo Horizonte 2008 506f GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ M Contribuibucioacuten del leacutexico en la opacidad de las locuciones In MOGORROacuteN HUERTA Pedro e MEJRI Salah (Orgs) Opacidad idiomaticidad traduccioacuten Alicante Universidade de Alicante Paris Universiteacute Paris Manouba Universiteacute de la Manouba 2010 P129-149 GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ Mario Introduccioacuten a la fraseologiacutea espantildeola estudio de las locuciones Rubiacute (Barcelona) Antropos 2008 GARCIacuteA-PAGE Mario La fraseologia em Espantildea de Casares (1950) a la nueva gramaacutetica de la Real Academia In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa Satildeo Paulo Pontes 2011 GARRAtildeO Milena de Uzeda A identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas verbis com base em corpora In ALVAREZ Maria Luisa Ortiz (Org) Tendecircncias atuais na pesquisa descritiva e aplicada em fraseologia e paremiologia v2 Campinas SP Pontes 2012 p125-131 GIBBS JR Raymond W Et ali Metaphor in Idiom Comprehension In Journal of Memory and Language 37 1997 p 141ndash154 GIBBS R On the process of understanding idioms In Journal of Psycholinguistic Research 14(5) 1985 p465-472 GONZAacuteLEZ REY Mariacutea Isabel La nocioacuten de haacutepax en el sistema fraseoloacutegico franceacutes y espantildeol In ALMELA et ali Fraseologiacutea

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contrastiva con ejemplos tomados del alemaacuten espantildeol franceacutes e italiano Murcia Universidade de Murcia 2005 P 313-327 GONZAacuteLEZ-REY I La didactique du franccedilais idiomatique Fernelmont EME 2007 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica un eido da fraseoloxiacutea aplicada In Cadernos de fraseoloxiacutea galega ISSN 1698-7861 Nordm 6 2004 pags 113-130 Disponiacutevel em Internet httpwwwcirpespubdocscfg06pdf Acesso em 12092009 GONZAacuteLEZ-REY Maria Isabel (dir) Adquisicioacuten de las expresiones fijas metodologiacutea y recursos didaacutecticos [Idioms Acquisition metdhodology and didactic resources] Fernelmont EME 2007 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica e o Marco europeo comuacuten de referencia para as linguas In Cadernos de fraseoloxiacutea galega ISSN 1698-7861 Nordm 8 2006 pags 123-146 Disponiacutevel em Internet httpwwwcirpespubdocscfg08pdf Acesso em 12092009 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica un eido da fraseoloxiacutea aplicada In Cadernos de fraseoloxiacutea galega nordm 6 2004 p 113-130 GOODMAN K S Reading a psycholinguistic guessing game In Journal of the Reading Specialist nordm 4 1967 p126-135 GRICE H P Loacutegica e conversaccedilatildeo In DASCAL Marcelo (Org) Fundamentos Metodoloacutegicos da Linguiacutestica Vol IV Campinas Unicamp 1982p 81-103 HOUAISS Antocircnio e VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 INtildeESTA MENA Eva Mariacutea amp PAMIES BERTRAacuteN Antonio Fraseologiacutea y metaacutefora aspectos tipoloacutegicos y cognitivos Granada Granada Linguiacutestica 2002 IRUJO Suzanne Donrsquot Put Your Leg in Your Mouth Transfer in the Acquisition of Idioms in a Second Language In Tesol Quarterly vol 20 nordm 2 Jun 1986 LAKOFF George e JOHNSON Mark Metaacuteforas da vida cotidiana Satildeo Paulo EDUC 2002 LEITAtildeO Maacutercio Martins Psicolinguiacutestica experimental focalizando o processamento da linguagem In MARTELOTTA Maacuterio Eduardo (Org) Manual de linguiacutestica Satildeo Paulo Contexto 2009 P 217-234 LIN Phoebe M S e ADOLPHS Svenja Sound evidence Phraseological units in spoken corpora In BARFIELD A E GYLLSTAD H (Orgs)

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Researching collocations in another language Multiple interpretations Basingstoke Palgrave Macmillan 2009 p 34-48 LOacutePEZ DELGADO Mariacutea de la Luz Estrategias de comprensioacuten Cuenca UCLM 2005 MACEDO Ana Cristina Pelosi de e BUSSONS Aline Freitas (Orgs) Faces da metaacutefora Fortaleza Expressatildeo Graacutefica 2006 MACEDO Ana Cristina Pelosi de Cogniccedilatildeo e linguiacutestica In MACEDO Ana Cristina Pelosi de FELTES Heloisa Pedrsoso de Moraes e FARIAS Emiacutelia Maria Peixoto (Orgs) Cogniccedilatildeo e linguiacutestica explorando territoacuterios mapeamentos e percursos Caxias do Sul RS EDUCS Porto Aegre EDIPUCRS 2008 P9-37 MAINGUENEAU D Termos-chave da anaacutelise do discurso Belo Horizonte EdUFMG 2006 MARTIacuteNEZ MONTORO Jorge La fraseologiacutea en J Casares In PASTOR CESTEROS Susana e SALAZAR GARCIacuteA Ventura (Orgs) Estudios de Linguiacutestica Universidad de Alicante 2002 MEJRI Salah Deacutelimitation des uniteacutes phraseacuteologiques In ALVAREZ Maria Luisa Ortiz (Org) Tendecircncias atuais na pesquisa descritiva e aplicada em fraseologia e paremiologia v1 Campinas SP Pontes 2012 p139-156 MELLADO BLANCO Carmen Fraseologismos somaacuteticos del alemaacuten Un estudio leacutexico-semaacutentico Frankfurt am Main Peter Lang 2004 MOGORROacuteN HUERTA P Anaacutelisis de la competencia fraseoloacutegica como factor de opacidad In Fraseologiacutea Opacidad y Traduccioacuten Frankfurt an Main Peter Lang GmbH 2013p 83ndash96 MOGORROacuteN HUERTA Pedro La opacidad en las construcciones verbales fijas In MOGORROacuteN HUERTA Pedro e MEJRI Salah (Orgs) Opacidad idiomaticidad traduccioacuten Alicante Universidade de Alicante Paris Universiteacute Paris Manouba Universiteacute de la Manouba 2010 p 237-259 MOLINA GARCIacuteA Daniel Fraseologia biliacutengue un enfoque lexicograacutefico-pedagoacutegico Granada Editorial Comares 2006 MONTEIRO-PLANTIN Rosemeire Selma Gastronomismos linguiacutesticos um olhar sobre fraseologia e cultura In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Satildeo Paulo Pontes 2011 p 249-275

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MONTORO DEL ARCO Esteban Teoriacutea fraseoloacutegica de las locuciones particulares Las locuciones prepositivas conjuntivas y marcadoras en espantildeol Frankfurt Peter Lang 2006 NACISCIONE Anita Phraseological units in literary discourse Implications for teaching and learning In CAUCE - Revista de Filologiacutea y su Didaacutectica nordm 24 2001 p 53-67 NASCENTES Antenor Tesouro da fraseologia brasileira Rio de Janeiro Freitas Bastos 1966 NEGRO ALOUSQUE Isabel La traduccion de las expresiones idiomaticas marcadas culturalmente In Revista de Linguiacutestica y Lenguas Aplicadas vol 5 2010 p 133-140 NEVEU Franck Dicionaacuterio de ciecircncias da linguagem Petroacutepolis RJ Vozes 2008 NOacuteBREGA Bruna Filipa de Sousa Os lapsus linguae e o leacutexico mental Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Terapia da Fala) 2010 141f - Escola Superior de Sauacutede do Alcoitatildeo Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa Instituto de Ciecircncias da Sauacutede Universidade Catoacutelica Portuguesa Alcoitatildeo 2010 NUNBERG Geoffrey SAG Ivan A e WASOW Thomas Idioms Language Vol 70 no 3 (1994) 49 p491-538 OLZA MORENO Ineacutes Aspectos de la semaacutentica de las unidades fraseoloacutegicas La fraseologiacutea somaacutetica metalinguiacutestica del espantildeol 2009 581f Tese (Doutorado em linguiacutestica hispacircnica) ndash Programa de Doctorado em Linguiacutestica Hispaacutenica Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Navarra 2009 Disponiacutevel em httpdspaceunavesdspacebitstream1017169851Tesis20InC3a9s20Olzapdf PAMIES BERTRAacuteN Antonio (2007) ldquoDe la idiomaticidad y sus paradojasrdquo In CONDE TARRIacuteO Germaacuten (Org) Nouveaux apports agrave lrsquoeacutetude des expressions figeacutees Cortil-Wodon EME amp InterCommunications SPRL 2007 p173-204 PEREIRA Eduardo Carlos Gramaacutetica expositiva curso superior Satildeo Paulo CEN [1907] 1957 PERINI Maacuterio A Gramaacutetica do portuguecircs brasileiro Satildeo Paulo Paraacutebola 2010 PORTO DAPENA Joseacute-Aacutelvaro Manual de teacutecnica lexicograacutefica Madrid Arco 2002

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PRETI Dino Apresentaccedilatildeo In PRETI Dino (Org) Anaacutelise de textos orais Projetos Paralelos ndash NURCSP 5ed Satildeo Paulo Humanitas 2001 pp11-12 QUADRO EUROPEU COMUM DE REFEREcircNCIA PARA AS LIacuteNGUAS ndash APRENDIZAGEM ENSINO AVALIACcedilAtildeO Porto Conselho da EuropaAsa 2001 Disponiacutevel em httpwwwasaptdownloadsQuadro_Europeu_001_072pdf Acesso em 12122009 QUEPONS RAMIacuteREZ Cecilia El proceso de desautomatizacioacuten en la fraseologiacutea espantildeola un acercamiento In Memorias del V Foro de Estudios en Lenguas Internacional (FEL 2009) Universidad de Quintana Roo ndash Departamento de Lengua y Educacioacuten p409-506 ROSSI-LANDI Ferruccio Ideologiacuteas de la relatividad linguiacutestica Buenos Aires Nueva Visioacuten [1972] 1974 RUIZ GURILLO Leonor Ejercicios de fraseologiacutea Madrid Arco 2002 RUIZ GURILLO Leonor Interrelaciones entre gramaticalizacioacuten y fraseologiacutea en espantildeol In Revista De Filologiacutea Espantildeola (RFE) XC 1o 2010 p173-194 SACCONI Luiz Antonio Grande dicionaacuterio Sacconi da liacutengua portuguesa comentado criacutetico e enciclopeacutedico Satildeo Paulo Nova Geraccedilatildeo 2010 SALIBA Maacutercia de Carvalho Unidades lexicais maiores que a palavra descriccedilatildeo linguiacutestica consideraccedilotildees psicolinguiacutesiticas e implicaccedilotildees pedagoacutegicas 2000 122f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em LetrasLinguiacutestica Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2000 SALOMAtildeO Maria Margarida Martins Tudo certo como dois e dois satildeo cinco todas as construccedilotildees de uma liacutengua In MIRANDA Neusa Salim e SALOMAtildeO Maria Margarida Martins (Orgs) Construccedilotildees do portuguecircs do Brasil da gramaacutetica ao discurso Belo Horizonte UFMG 2009 P33-74 SAUSSURE Ferdinand Curso de linguiacutestica geral Satildeo Paulo Cultrix [1916] 2012 SCLIAR-CABRAL Leonor Introduccedilatildeo agrave psicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1991 SCLIAR-CABRAL Leonor Psicolinguiacutestica uma entrevista com Leonor Scliar-Cabral IN ReVELVol 6 n 11 agosto de 2008 Disponiacutevel em httpwwwrevelinfbrfilesentrevistasrevel_11_entrevista_scliar_cabralpdf

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SEARLE John R Expressatildeo e sentido estudos da teoria dos atos da fala Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 SILVA Maria Eugecircnia Oliacutempio de Oliveira Dicionaacuterios armas de dois gumes no estudo da fraseologia O caso das locuccedilotildees In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Campinas SP Pontes 2011 P161-182 SMITH Frank Leitura significativa Porto Alegre Artmed 1999 SOLEacute Isabel Estrateacutegias de leitura Porto Alegre Artmed 1998 STERNBERG Robert J Psicologia cognitiva Porto Alegre Artmed 2008 SWINNEY D E CUTLER A ldquoThe acess and processing of idiomatic expressionsrdquo In Journal of Verbal Learning and Verbal Behaviour 1979 nordm18 p 645-659 Disponiacutevel em Internet httprepositoryubnrunlbitstream20661560815998pdf Acesso em 26032010 TAGNIN Stella EO O jeito que a gente diz expressotildees convencionais e idiomaacuteticas Satildeo Paulo Disal 2005 TIMOFEEVA Larissa Acerca de los aspectos traductoloacutegicos de la fraseologiacutea espantildeola 2008 594f Tese (Doutorado em Letras) Departamento de Filologiacutea EspantildeolaLinguiacutestica General y Teoriacutea de la Literatura Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Alicante Alicante 2008 TOMITCH Lecircda Maria Braga Aspectos cognitivos e instrucionais da leitura Bauru SP EdUSC 2008 TULVING E How many memory systems are there American Psychologist 40 1985 Pp 385-39 VARELA Francisco J THOMPSON Evan e ROSCH Eleanor A mente incorporada ciecircncias cognitivas e experiecircncia humana Porto Alegre Artmed 2003 VEGA-MORENO Rosa Elena Representingand processing idioms In Working Papers in Linguistics v 15 2003 p73-109 Disponiacutevel em Internet httpwwwphonuclacukhomePUBWPL01papersvegapdf Acesso em 11022011 WITTGENSTEIN Ludwig Gramaacutetica filosoacutefica Satildeo Paulo Loyola 2003 XATARA Claudia Maria O campo minado das expressotildees idiomaacuteticas In Alfa Satildeo Paulo 42(nesp) 1998 p147-159

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ZULUAGA GOMEZ Francisco Locuciones dichos y refranes sobre el lenguaje unidades fraseoloacutegicas fijas e interaccioacuten verbal In Forma funcion Santaf de Bogot DC [online] 2005 n18 p 250-282 ZULUAGA Alberto Introduccioacuten al estudio de las expresiones fijas Frankfurt am Maim Peter D Lang 1980 ZULUAGA Alberto La fijacioacuten fraseoloacutegica In Thesaurus BICC (Boletiacuten del Instituto Caro Y Cuervo) XXX nuacuteml 1975 p 225-248

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ANEXOS

Lista completa de expressotildees idiomaacuteticas do experimento

EXPERIMENTO

Zoomorfismos

1Matar cachorro a grito

2 Natildeo pagar mico

Somatismos

3Tirar mais aacutegua do joelho

4Pocircr a boca no trombone

Botanismos

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

6Chutar o pau da barraca

Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) seguindo o modelo de Cooper (1999) I - ZOOMORFISMOS

CARTAtildeO 1

Costuma-se pensar que artistas de modo geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado e Satildeo Paulo 20 de marccedilo de 2011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 2

Para quem natildeo quer pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais

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informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

II- SOMATISMOS

CARTAtildeO 3

Existem perguntas que talvez vocecirc soacute tinha feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 4

Indignado com os desmandos em Chaval uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401 km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

III ndash BOTANISMOS

CARTAtildeO 5

A partir do dia primeiro de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

277

CARTAtildeO 6

Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes pede A conversa podia seguir mas eacute hora de desligar (in Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009 Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

Experimento 2 Teste de Muacuteltipla Escolha (TME seguindo o modelo de Flores drsquoArcais (1993) I - ZOOMORFISMOS

1 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Quase sempre que a presidente Dilma Rousseff vem ao Cearaacute assina liberaccedilatildeo de verbas para isso e aquilo Fica-se a pensar pelo discurso aplaudido (embora ilusoacuterio) que o dinheiro chega no dia seguinte E natildeo chega Cid Gomes com sorrisos de aparecircncia vive a engolir sapos (In Coluna Regina Marshall Caderno 3 DN 06032012)

A expressatildeo ENGOLIR SAPOS significa a( ) Deglutir anfiacutebios sem cauda de pele rugosa

b( ) Receber aplausos por liberaccedilatildeo de verbas

c ( ) Tolerar situaccedilotildees desagradaacuteveis sem responder

2 QUESTAtildeO 3H - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Uma das maiores atraccedilotildees do megassucesso Avenida Brasil novela da Rede Globo eacute a atriz Isis Valverde como a periguete boliviana Sueacutelen boa de cama e de mesa que faz gato e sapato dos coraccedilotildees masculinos do Divino com seu mix de maliacutecia e ingenuidade espontaneidade e malandragem e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar (In Nelson Motta O Estado de Satildeo Paulo 13 de julho de 2012)

A expressatildeo FAZER GATO E SAPATO significa

a ( ) Fazer de (algueacutem) o que se quer

278

b ( ) Criar felino e calccedilado de sola dura

c ( ) Seduzir periguete com maliacutecia

II- SOMATISMOS

3 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Em linhas gerais para quem natildeo quer esquentar a cabeccedila nem correr maiores riscos o mercado indica a destinaccedilatildeo de parcela miacutenima dos recursos natildeo mais de 10 em fundo de accedilotildees tendo como horizonte prazo de no miacutenimo cinco anos (In Caderno Negoacutecios DN 27052002)

A expressatildeo ESQUENTAR A CABECcedilA significa

a ( ) Aquecer parte do cracircnio

b ( ) Ficar muito preocupado

c ( ) Indicar prazo miacutenimo

4 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

O diretor do Big Brother Brasil J B de Oliveira o Boninho pegou um rabo de foguete ao assumir o reality show comprado agrave Endemol para muitos uma ideacuteia fascista que aproveita a sede de fama e dinheiro de boa parte da populaccedilatildeo para trancafiar anocircnimos numa casa e escancarar as fraquezas que se potencializam no confinamento(In Marcelo Migliaccio Caderno Ilustrada Folha de Satildeo Paulo 28072002)

A expressatildeo PEGAR EM RABO DE FOGUETE significa

a ( ) Prender pessoas desconhecidas ou fascistas

b ( ) Segurar a cauda do rojatildeo ou do fogo de artifiacutecio

c ( ) Assumir compromisso complicado ou perigoso III ndash INDUMENTISMOS

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Cuidado Tem especulador botando as manguinhas de fora aumentando os preccedilos das mercadorias atrelando-as ao doacutelar Deixe a preguiccedila de lado e saia em campo Pesquise pechinche e recuse os aumentos principalmente os abusivos buscando alternativas Defenda o seu real(In Colunistas DN 10031999)

279

A expressatildeo BOTAR AS MANGUINHAS DE FORA significa

a ( ) Aumentar o valor do real ou do doacutelar

b ( ) Perder a vergonha ou o acanhamento

c ( ) Pocircr as pequenas ou as poucas vestes agrave mostra

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Na uacuteltima terccedila a Globo apresentou ldquoO profetardquo agrave imprensa A novela estreacuteia dia 16 agraves 18h As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid rasgaram muita seda Mas tambeacutem mostraram que sabem brincar Depois de ouvir um elogio de Thelma a ela Duda natildeo titubeou ldquoQuero ver se na correria da novela ela continuaraacute assimrdquo Risada geral(Caderno Zoeira DN 08102006)

A expressatildeo RASGAR SEDA significa

a ( ) Fazer tecido em pedaccedilos ou tiras

b ( ) Trocar amabilidades ou gentilezas

c ( ) Ouvir brincadeiras ou risadas

280

281

SOBRE O AUTOR

Natural de Iguatu (CE)

Nasceu em 1961 Filho de Pedrina Maria da Silva Martins lavadeira matildee generosa e visionaacuteria que muito se empenhou na sua formaccedilatildeo baacutesica e se engajou diligentemente no seu ingresso e a permanecircncia no Coleacutegio Militar de Fortaleza (CMF) no periacuteodo de 1976 a

1982 Natildeo conheceu o pai Ao deixar o CMF graduou-se em Letras pela Universidade Estadual do Cearaacute (1987) fez mestrado em Educaccedilatildeo pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (FACED 1996) da Universidade Federal do Cearaacute com a dissertaccedilatildeo ldquoConstituiccedilatildeo e educaccedilatildeo anaacutelise evolutiva da educaccedilatildeo na organizaccedilatildeo constitucional do Brasilrdquo sob a orientaccedilatildeo do Dr Andreacute Haguette (UFC) e doutorado em Linguiacutestica (2013) com a tese ldquoEstrateacutegias de Compreensatildeo de Expressotildees Idiomaacuteticas por Natildeo Nativos do Portuguecircs Brasileirordquo sob a orientaccedilatildeo da Dra Rosemeire Selma Monteiro-Plantin (UFC) pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica (PPGL) da Universidade Federal do Cearaacute Em 1989 participou do processo de elaboraccedilatildeo do Capiacutetulo da Educaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo do Estado do Cearaacute com a proposiccedilatildeo e aprovaccedilatildeo de 20 artigos educacionais que hoje figuram na Carta Estadual Em 1990 tambeacutem colaborou na elaboraccedilatildeo da Lei Orgacircnica de Fortaleza com a aprovaccedilatildeo de ao menos 30 artigos na aacuterea educacional que hoje fazem parte da Carta Municipal Desde 1994 em virtude de concurso puacuteblico mudou-se com a famiacutelia para Sobral (a 220 km de FortalezaCE) onde atua como docente de Linguiacutestica do Curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Aleacutem de dedicar-se entusiasticamente a pesquisas linguiacutesticas (Psicolinguiacutestica Fraseologia Etimologia e Descriccedilatildeo do Portuguecircs)

282

tem se interessado em estudos educacionais (Legislaccedilatildeo Educacional BNCC Acordo Ortograacutefico EJA Educaccedilatildeo Baacutesica Educaccedilatildeo Inclusiva etc) e atuado ativamente nas aacutereas de Formaccedilatildeo de Professores em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo e como docente nos cursos de Especializaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e Psicopedagogia respectivamente Durante 10 anos atuou na aacuterea de ensino de Liacutengua Portuguesa e de liacutengua espanhola na educaccedilatildeo baacutesica em Fortaleza Lotado no Curso de Letras do Centro de Filosofia Educaccedilatildeo e Letras (CENFLE) da UVA em Sobral tem ao longo dos anos ministrado disciplinas como Foneacutetica e Fonologia do Portuguecircs Aquisiccedilatildeo da Linguagem e Estiliacutestica do Portuguecircs aacutereas em que escreveu muitos artigos cientiacuteficos e livros Na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tem participado como examinador externo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Universidade Federal do Cearaacute (UFC) e de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenou na UVA de 2015 a 2017 o subprojeto de Letras (Liacutengua Portuguesa) do Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBID) e coordenou de 2018-2020 o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica da CAPESMEC Possui Estaacutegio Poacutes-Doutoral em Linguiacutestica no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia sob a supervisatildeo da Profordf Dra Livia Marcia Tiba Radis Baptista (UFBA) com a pesquisa ldquoFrasemaacuterio Cultural Identificaccedilatildeo Classificaccedilatildeo e Constituiccedilatildeo de Corpus de Culturemas nos Romances do Nordeste Brasileirordquo (2016-2017) No momento cursa seu segundo estaacutegio de poacutes-doutorado pela UFC (2019-2020) na aacuterea de Linguiacutestica com pesquisa sobre ldquoOs Culturemas no Discurso Liacutetero-Musical das Letras de Canccedilatildeo Brasileirardquo sob a supervisatildeo da Profordf Dra Roseimeire Selma Monteiro-Plantan (UFC) Mais recentemente publicou livros nas aacutereas de educaccedilatildeo linguiacutestica ensino de liacutengua portuguesa e poesias todos pela editora Pedro amp Joatildeo Editores (consultar tiacutetulos em httpwwwpedroejoaoeditorescombr) Contatos para eventos e palestras em todo o Brasil presenciais ou virtuais favor enviar convite ou proposta para vicentemartinsuolcombr

283

SOBRE A HOMENAGEADA

Florence Detry eacute Licenciada em Filologia Romacircnica (Universiteacute Catholique de Louvain Beacutelgica) com mestrado em Ensino do Espanhol como Liacutengua Esttrangeira (Universidad Complutense de Madrid) e doutorado pela Universidad de Gerona Seu acircmbito de especializaccedilatildeo e linha de pesquisa

se concentram no processo cognitivo de aprendizagem da fraseologia em uma liacutengua estrangeira (particularmente espanhol e francecircs) e nas repercussotildees didaacuteticas correspondentes Eacute autora de vaacuterias publicaccedilotildees sobre este tema e de um livro ilustrado para a fraseologia do catalatildeo L2 (De cap a peus Fitxer ilmiddotlustrat de frases fetes per a la classe de catalagrave (L2) Miacutenima llibres 2014) Atualmente eacute docente nas escolas universitaacuterias anexas agrave Universidad de Gerona

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Page 2: LUSOFONIA AFRO-...Ática) e Para compreender Labov (Petrópolis, Vozes). O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocorísticos foi publicado em artigo científico sob o título

2

3

Vicente de Paula da Silva Martins

LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA

Modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas

4

Copyright copy Vicente de Paula da Silva Martins Todos os direitos garantidos Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos do autor

Vicente de Paula da Silva Martins

Lusofonia afro-brasileira modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas Satildeo Carlos Pedro amp Joatildeo Editores 2020 283p ISBN 978-65-87645-67-4

1 Lusofonia afro-brasileira 2 Expressotildees idiomaacuteticas 3 Psicolinguiacutestica 4 Autor I Tiacutetulo

CDD ndash 410

Capa Felipe Roberto І Argila Diagramaccedilatildeo Diany Akiko Lee Editores Pedro Amaro de Moura Brito amp Joatildeo Rodrigo de Moura Brito Conselho Cientiacutefico da Pedro amp Joatildeo Editores Augusto Ponzio (BariItaacutelia) Joatildeo Wanderley Geraldi (Unicamp Brasil) Heacutelio Maacutercio Pajeuacute (UFPEBrasil) Maria Isabel de Moura (UFSCarBrasil) Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCarBrasil) Valdemir Miotello (UFSCarBrasil) Ana Claacuteudia Bortolozzi (UNESP BauruBrasil) Mariangela Lima de Almeida (UFESBrasil) Joseacute Kuiava (UNIOESTEBrasil) Marisol Barenco de Melo (UFFBrasil) Camila Caracelli Scherma (UFFSBrasil) Luiacutes Fernando Soares Zuin (USPBrasil)

Pedro amp Joatildeo Editores wwwpedroejoaoeditorescombr

13568-878 - Satildeo Carlos ndash SP 2020

5

HOMENAGEM Agrave linguista e amiga Florence Detry que de tatildeo longe orientou-me passo a passo sobre os primeiros procedimentos metodoloacutegicos para construccedilatildeo dos experimentos psicolinguiacutesticos na aacuterea fraseoloacutegica e a diligente aplicaccedilatildeo de testes aos africanos lusoacutefonos

6

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS 19

CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS 67

A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas 69

Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia 71

As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas 74

As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico 74

Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo 76

Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical 79

Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto 80

Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico 82

A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas 83

A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave 84

Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas 85

ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA 89

Os experimentos de Irujo (1986) 90

Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993) 95

Os experimentos de Cooper (1999) 105

Os experimentos de Crespo e Caceres (2006) 110

Os experimentos de Detry (2010) 112

METODOLOGIA DA PESQUISA 113

Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa 113

Objetivo Geral 113

Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa 113

Perguntas da pesquisa 114

Hipoacuteteses 115

Primeiros passos metodoloacutegicos 116

8

EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS 119

Participantes 119

Refinamento dos instrumentos da pesquisa 123

Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento 126

Material e Procedimento de seleccedilatildeo 128

Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento 131

ZOOMORFISMOS 131

Matar cachorro a grito 131

Natildeo pagar mico 132

SOMATISMOS 132

Tirar mais aacutegua do joelho 132

Pocircr a boca no trombone 132

BOTANISMOS 133

Saber com quantos paus se faz uma canoa 133

Chutar o pau da barraca 133

Protocolo verbal think aloud (TA) 133

Transcriccedilatildeo de dados 134

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4 140

Material do 1ordm Experimento 142

RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 145

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

145

Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

145

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 159

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 160

Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico 160

ZOOMORFISMOS 160

Matar cachorro a grito 160

Pagar mico 161

SOMATISMOS 164

Tirar mais aacutegua do joelho 164

Pocircr a boca no trombone 165

9

BOTANISMOS 165

Saber com quantos paus se faz uma canoa 165

Chutar o pau da barraca 165

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica 166

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica 167

ZOOMORFISMOS 167

Matar cachorro a grito 167

Natildeo pagar mico 168

SOMATISMOS 169

Tirar aacutegua do joelho 169

Pocircr a boca no trombone 169

BOTANISMOS 171

Saber com quantos paus se faz uma canoa 171

Chutar o pau da barraca 171

Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 172

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

174

Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica 174

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes 178

Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica 180

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 180

ZOOMORFISMOS 180

Matar cachorro a grito 180

Natildeo pagar mico 180

SOMATISMOS 181

Tirar mais aacutegua do joelho 181

Pocircr a boca no trombone 182

BOTANISMOS 182

Saber com quantos paus se faz uma canoa 182

Chutar o pau da barraca 183

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 185

ZOOMORFISMOS 185

Matar cachorro a grito 185

Natildeo pagar mico 185

10

SOMATISMOS 186

Tirar mais aacutegua do joelho 186

Pocircr a boca no trombone 186

BOTANISMOS 186

Saber com quantos paus se faz uma canoa 186

Chutar o pau da barraca 186

Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico 187

ZOOMORFISMOS 187

Matar cachorro a grito 187

Natildeo pagar mico 187

SOMATISMOS 188

Tirar mais aacutegua do joelho 188

Pocircr a boca no trombone 188

BOTANISMOS 190

Saber com quantos paus se faz uma canoa 190

Chutar o pau da barraca 191

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica 192

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense 194

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

198

Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica 197

Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

ZOOMORFISMOS 203

Matar cachorro a grito 203

Natildeo pagar mico 206

SOMATISMOS 208

Tirar mais aacutegua do joelho 208

Pocircr a boca no trombone 209

BOTANISMOS 209

Saber com quantos paus se faz uma canoa 209

Chutar o pau da barraca 210

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 211

ZOOMORFISMOS 211

11

Matar cachorro a grito 211

Natildeo pagar mico 212

SOMATISMOS 212

Tirar mais aacutegua do joelho 212

Pocircr a boca no trombone 212

BOTANISMOS 213

Saber com quantos paus se faz uma canoa 213

Chutar o pau da barraca 213

Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 214

ZOOMORFISMOS 214

Matar cachorro a grito 214

Natildeo pagar mico 215

SOMATISMOS 216

Tirar mais aacutegua do joelho 216

Pocircr a boca no trombone 217

BOTANISMOS 218

Saber com quantos paus se faz uma canoa 218

Chutar o pau da barraca 219

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica 221

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

222

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso 231

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo 233

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625 235

ZOOMORFISMOS 235

Matar cachorro a grito 235

Natildeo pagar mico 236

SOMATISMOS 237

Tirar mais aacutegua do joelho 237

Pocircr a boca no trombone 239

BOTANISMOS 240

Saber com quantos paus se faz uma canoa 240

Chutar o pau da barraca 242

12

Estrateacutegias bem-sucedidas 245

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo 250

ZOOMORFISMOS 250

Matar cachorro a grito 250

Natildeo pagar mico 252

SOMATISMOS 253

Tirar mais aacutegua do joelho 253

Pocircr a boca no trombone 254

BOTANISMOS 255

Saber com quantos paus se faz uma canoa 255

Chutar o pau da barraca 257

BREVES CONCLUSOtildeES 261

REFEREcircNCIAS 265

ANEXOS 275

SOBRE O AUTOR 281

SOBRE A HOMENAGEADA 283

13

INTRODUCcedilAtildeO

COMO SURGIU MEU ENTUSIASMO COM A (PSICO)LINGUIacuteSTICA)

A primeira vez que vi um linguista em accedilatildeo em campo de pesquisa foi em 1983 Estudante de Letras na Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) em Fortaleza surpreendentemente vi adentrar em uma das salas de aula do Centro de Humanidades um pesquisador elegante fino voz impostada e nos saudou com um retumbante boa noite Ficamos bastante curiosos com aquela figura Em seguida pediu licenccedila ao colega professor para aplicar aos calouros de Letras um pequeno questionaacuterio sobre hipocoriacutesticos Hipocoriacutesticos Natildeo tinha a menor ideia do que pudesse ser o tema da pesquisa e o pesquisador percebendo nossos olhares atocircnitos finalmente identificou-se apresentou suas credenciais acadecircmicas e de forma muito didaacutetica falou-nos sobre os hipocoriacutesticos objeto de sua pesquisa que dizem respeito agraves palavras criadas por crianccedilas pequenas especialmente durante a aquisiccedilatildeo da linguagem com intenccedilatildeo de carinho para uso no trato familiar ou amoroso como Fafaacute [por Faacutetima] Mariinha [por Maria] Tiatildeo [por Sebastiatildeo] Estava naquele ano diante de Joseacute Lemos Monteiro um dos maiores linguistas cearenses

Anos depois li muitos artigos de Lemos sobre os processos morfoloacutegicos com especial atenccedilatildeo a dois deles ldquoProcessos de formaccedilatildeo dos hipocoriacutesticosrdquo (1983) e ldquoOs hipocoriacutesticos de Joseacute e Mariardquo (1984) bem escritos com portuguecircs escorreito estilo meliacutefluo textos bem organizados e objetivos como requerem os princiacutepios e postulados da boa ciecircncia Na verdade Lemos se dedicou de forma muito intensa nos anos 80 aos estudos dos processos morfoloacutegicos de modo especial os de natureza prosoacutedica e derivacional Trecircs dos seus livros satildeo adotados por mim em disciplina no Curso de Letras Morfologia portuguesa (Campinas Pontes) A estiliacutestica (Satildeo Paulo Aacutetica) e Para compreender Labov (Petroacutepolis Vozes)

O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocoriacutesticos foi publicado em artigo cientiacutefico sob o tiacutetulo ldquoRegras de produtividade dos hipocoriacutesticosrdquo (1982) Mais adiante jaacute no final dos anos 80 e iniacutecio da minha carreira docente no magisteacuterio de Letras descobri que Lemos

14

havia coordenado uma pesquisa ldquoDicionaacuterio de Hipocoriacutesticosrdquo realizada na cidade de Fortaleza onde coletou uma grande quantidade de nomes hipocoriacutesticos com vistas agrave elaboraccedilatildeo de um dicionaacuterio O Dicionaacuterio Hipocoriacutestico de Joseacute Lemos Monteiro nos daacute uma variedade de exemplos e muito dos nomes que nele constam fazem parte tambeacutem do nosso linguajar diaacuterio Amanda ndash Manda Mandinha Amandinha Beatriz ndash Bia Tricinha Triz Trize Bi Carla ndash Carinha Cacaacute Calu Carlota Carlita Lala e a lista vai de A a Z

As sementes de Lemos natildeo cairam em terra saacutefara aleacutem de me tornar amigo do grande pesquisador (e por diversas vezes recepcionaacute-lo em Sobral para suas magistrais conferecircncias) tambeacutem acabei por fazer agraves vezes de pesquisador agrave guisa de Lemos e realizar uma robusta e demorada pesquisa (psico) linguiacutestica ao longo de suas deacutecadas na UVA onde atuo profissionalmente desde 1994 a partir de relatos de matildees sobre as cinquenta primeiras palavras ditas por crianccedilas de 3 anos a 5 anos na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute com foco na recolha de hipocoriacutesticos material a ser ainda revisado com vistas agrave publicaccedilatildeo futura Eacute difiacutecil descrever o que se passa na mente do pesquisador e de sua equipe quando por exemplo depois de meses de aferroado trabalho de recolha e tratamento de dados de sujeitos da pesquisa ficamos diante um corpus especialmente constituiacutedo para anaacutelise (psico)linguiacutestica que apresente acircmbitos ou aacutereas de interesse acadecircmico diverso1

a)Vozes de animais ldquooarrrdquo (leatildeo) ldquofuimrdquo (porco) ldquomiaurdquo (gato) ldquoueberdquo (sapo) ldquoua-aurdquo (cachorro) ldquopiu-piurdquo (pinto) ldquobeacuteeacuterdquo (cabra) ldquomuacuteuacuterdquo (vaca) ldquoquaquardquo (pato) ldquomonrdquo (boi) ldquococoricoacuterdquo (galinha) ldquoron-ronrdquo (porco) ldquocu-curdquo (passarinho) ldquofufurdquo (coelho) ldquopiu piurdquo (pinto) ldquomeacuterdquo (cabra) b) Nomes de pessoas ldquoIardquo (Irla) ldquoIacrdquo (Isaac) ldquoInguidrdquo (Ingrid) ldquoItaiardquo(Itaacutela) ldquoSamalardquo (Samara) ldquoMarcadiordquo (Marclauacutedio) ldquoMacardquo (Magda) ldquoQuicilenerdquo (Gracilene) ldquoUiacutesrdquo (Luiacutes) ldquoAmundordquo (Raimundo) ldquoMaquederdquo (Marclede) ldquoUalardquo (Laura) ldquoKielrdquo(Macliel) ldquoMaliardquo(Maria) ldquoFaelrdquo (Rafael) ldquoGissielrdquo (Jesiel) ldquoMalenardquo (Marlene) ldquoLoanrdquo (Loratilde) ldquoSabelerdquo (Isabeli) ldquoDadardquo (Daiane) ldquoDudurdquo (Eduardo) ldquoMaconerdquo (Marcones) ldquoIquirdquo (Henrique) ldquoirdquo (Rodrigo) ldquoIgordquo (Rodrigo) ldquoDudligordquo (Rodrigo) ldquoVinirdquo (Vinicius) ldquoAndardquo (Liandra) ldquoIandardquo (Liandra) ldquoUmbertordquo (Gilberto) ldquoBunordquo (Bruno) ldquoLolenerdquo (Lorena) ldquoLorenerdquo

1 Para recolha de itens contamos com a colaboraccedilatildeo de Ana Gilvacircnia Mendes Rodrigues Francisca Magda Fernandes ArauacutejoLesliany Campos de SousaFrancisca Taiacutes Januaacuterio do Nascimento e Amanda Mesquita Paz graduandas do Curso de Letras da UVA em Sobral

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(Lorena) ldquoAnrdquo (Alan) ldquoAnrdquo (Renan) ldquoNeiderdquo (Ivaneide) ldquoIessardquo (Vanessa) ldquoNessardquo (Vanessa) ldquoIardquo (Lira) ldquoMariruizardquo (Maria Luiza) ldquoPapardquo (Paula) ldquoQuistianrdquo (Cristian) ldquoPaul Riquirdquo (Paulo Henrique) ldquoIoinhardquo (Antocircnia) ldquoDimirrdquo (Vladimir) ldquoCreylsonrdquo (Cleyson) ldquoCade Neyrdquo (Claacuteudio Ney) ldquoVuvitordquo (Paulo Vitor) ldquoDilordquo (Danilo) ldquoManurdquo (Manoel) ldquoAnielrdquo (Daniel)

c)Nomes de animais ldquogainhardquo (galinha) ldquocassorrordquo (canhorro) ldquocabitordquo (cabrito) ldquoboboletardquo (borboleta) ldquomuquitordquo (mosquito) ldquocuelordquo (coelho) ldquopocordquo (porco) ldquokatordquo (gato) ldquopassalinhordquo (passarinho) ldquoChaninrdquo (gato) ldquopacoterdquo (capote) ldquosumigardquo (formiga) ldquodatordquo (gato) ldquonerim rdquo (carneiro) ldquogainhardquo (galinha) ldquogalrdquo (galo)

d)Nomes de alimento ldquofeisatildeordquo (feijatildeo) ldquomacaatildeordquo (macarratildeo) ldquoeiterdquo (leite) ldquoescaurdquo (nescau) ldquogalanaacuterdquo (guaranaacute) ldquoacardquo(aacutegua) ldquoagardquo (aacutegua) ldquoapordquo (aacutegua) ldquoferanterdquo(refrigerante) ldquonononerdquo (danone) ldquomananardquo (banana) ldquonanajardquo(laranja) ldquocascirdquo (abacaxi) ldquocaterdquo(abacate) ldquocucordquo (suco) ldquocangerinardquo (tangerina) ldquogagaurdquo (Mingal) ldquobicoitordquo (biscoito) ldquonanterdquo (Refrigerante) ldquochurracordquo (Churrasco) ldquomaccedilardquo ldquobolordquo ldquocarnerdquo ldquotomaterdquo ldquosucordquo ldquomucilonrdquo ldquobisscoitordquo (biscoito) ldquobocoitordquo (biscoito) ldquoalfacerdquo ldquoaquinrdquo(aacutegua) ldquoovordquo ldquonhatildenhatilderdquo (qualquer tipo de comida) ldquogoabardquo (goiaba) ldquofigeanterdquo (refrigerante) ldquotutu uvardquo (suco de uva) ldquootordquo (biscoito) ldquoanccedilardquo (maccedilatilde) ldquoArdquo (aacutegua) ldquonanardquo (banana) ldquopicalrdquo(mingau) ldquolalanjardquo (laranja) ldquopilulitordquo (pirulito) ldquoxiiacutetordquo (chilito) ldquochiqueterdquo (chiclete) ldquopizardquo(pizza) ldquozoisrdquo (arroz) ldquocarratildeordquo (macarratildeo) ldquosopardquo ldquoavozrdquo (arroz)

e)Nomes de roupas ldquoshorchrdquo (short) ldquositiatilderdquo (sutiatilde) ldquovitidordquo (vestido) ldquobusardquo (blusa)ldquobitidordquo (Vestido) ldquoshotrdquo (short) ldquocaccedilardquo (calccedila) ldquochidelardquo (chinela) ldquocacinhardquo (calcinha) ldquocuecardquo ldquosapatuacuterdquo (sapato) ldquouopardquo (roupa) ldquootardquo (bota) ldquosadaliacuteardquo (sandaacutelia) ldquobrusardquo (blusa) ldquosinelordquo (chinelo) ldquofladardquo (fralda) ldquoirtidordquo (vestido)

f)Nomes de objetos familiares e brinquedos ldquotanetardquo (caneta) ldquoaacutepisrdquo (laacutepis) ldquoivordquo (livro) ldquocaim rdquo (carrinho) ldquocompintadorrdquo (computador) ldquopacaceterdquo (capacete) ldquotevisatildeordquo (televisatildeo) ldquooacutequisrdquo (oacuteculos) ldquocadelardquo (cadeira) ldquolidificadordquo (liquidificador) ldquocamardquo ldquomonecardquo (boneca) ldquomuchilardquo (mochila) ldquocadirnordquo (caderno) ldquocolardquo ldquodinossaurordquo ldquopanelinhardquo ldquotelefonerdquo ldquocadeiardquo (cadeira) ldquocasinha de bonecardquo ldquoursordquo ldquotaordquo (carro) ldquonecardquo (boneca) ldquobiketardquo (bicicleta) ldquokeiterdquo(Skate) ldquotelesatildeordquo (televisatildeo) ldquoririnhordquo(carinho) ldquocamiagerdquo (maquiagem) ldquocopordquo ldquotupiquerdquo (topique)ldquopelhordquo (espelho) ldquocerularrdquo (celular) ldquoJaladeirardquo (geladeira) ldquobuneirordquo (banheiro) ldquopotilardquo (apostila) ldquocelaacuterdquo (celular) ldquolaternardquo(lanterna) ldquolapissirdquo (laacutepis) ldquocadelardquo(cadeira)

g)Verbos ldquocholanordquo (chorando) ldquocorrenordquo (correndo) ldquoquelordquo (quero) ldquotabalardquo (trabalha) ldquomimirdquo (dormir) ldquoatitirdquo(assistir) ldquogotordquo (gosto) ldquonihamrdquo (comer) ldquococircnirdquo (correr) ldquopulardquo (pular) ldquofazerrdquo ldquodizerrdquo ldquofalarrdquo ldquocomprarrdquo ldquoriscarrdquo ldquodeverrdquo ldquogostordquo ldquoamordquo ldquochegarrdquo ldquodescansarrdquo ldquosourdquo ldquoaprenderrdquo ldquoabaccedilarrdquo (abraccedilar) ldquofazirdquo (fazer) ldquoguadardquo (guardar) ldquocovardquo (escovar)

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ldquoesqueverdquo (escrever) ldquobincaacuterdquo (brincar) ldquoteiordquo (quero) ldquocumeacuterdquo (comer) ldquopulharrdquo (pular) ldquodessardquo (deixar) ldquosamarrdquo (chamar) ldquoblincarrdquo (brincar) ldquoconderrdquo (esconder)

h) As palavras da vida social ldquobigadordquo (obrigado) ldquodicupardquo (desculpa) ldquolixenxardquo (licenccedila) ldquopu favocircrdquo (por favor) ldquopetordquo (preto) ldquobancordquo (branco) ldquovederdquo (verde) ldquoprofessorardquo ldquoescolardquo ldquoirmatildeordquo ldquoprimordquo ldquooirdquo ldquoOlaacuterdquo ldquotiordquo ldquovovoacuterdquo ldquovovocircrdquo ldquopraiardquo ldquoamigosrdquo ldquocolegasrdquo ldquotubomrdquo (tudo bom) ldquosadaderdquo (saldade) ldquonatildeordquo ldquofrocircrdquo (flor) ldquorossardquo (rosa) ldquoufavocircrdquo (por favor) ldquononoiterdquo (boa noite) ldquobocircdiardquo (bom dia) ldquofofocircrdquo (vovocirc) ldquofofoacuterdquo (vovoacute) ldquobom tiardquo (bom dia) ldquodesculpasrdquo ldquomaezinhardquo ldquopaizinhordquo

i)Adjetivos ldquoaindardquo (linda) ldquofeardquo (feia) ldquogodardquo (gorda) ldquomacardquo (magra) ldquoninitordquo (bonito) ldquomaviosordquo (maravilhoso) ldquogacircndirdquo (grande) ldquomonitardquo (bonita) ldquoaltordquo ldquopiquenordquo (pequeno) ldquomaurdquo ldquofelizrdquo ldquobriacanhonardquo (brincalhona) ldquochatordquo ldquobilanterdquo (brilhante) ldquofofordquo ldquoalequerdquo (alegre) ldquoaltuacuterdquo (alto) ldquosaturdquo (chato) ldquoponitardquo (bonita) ldquolhegalrdquo (legal) A pequena amostra acima pode nos dar uma ideia bem aligeirada

da visibilidade dos dados de pesquisa A constituiccedilatildeo de corpus pode ser traduzido como uma espeacutecie de ldquoepifaniardquo ao longo de uma pesquisa envolvendo principalmente alunos da graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Letras Toda discussatildeo derivada de corpus eacute em geral ineacutedita Eacute um desafio para os pesquisadores desvelar os fenocircmenos e os achados linguiacutesticos O corpus eacute uma luz importante na pesquisa A constituiccedilatildeo de um corpus revela como o investigador realmente estaacute atento aos aspectos de confiabilidade e validaccedilatildeo do seu estudo Desde cedo a trajetoacuteria do pesquisador Lemos Monteiro natildeo apenas me serviu como uma fonte de inspiraccedilatildeo profissional como tambeacutem me espicaccedilou sugestivos passos metodoloacutegicos para o desenvolvimento da pesquisa na aacuterea linguiacutestica escolha do tema revisatildeo de literatura justificativa formulaccedilatildeo do problema determinaccedilatildeo de objetivos metodologia coleta de dados tabulaccedilatildeo de dados anaacutelise e discussatildeo dos resultados conclusatildeo da anaacutelise dos resultados redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo ou socializaccedilatildeo dos resultados da pesquisa Bem antes de entrar em campo o pesquisador deve enfim construir sua base teoacuterica para em segundo momento referenciar teoricamente sua metodologia A metodologia de pesquisa eacute fase decisiva do investigador (e de sua equipe) que iraacute proporcionar aos envolvidos uma compreensatildeo e anaacutelise do mundo atraveacutes da construccedilatildeo do conhecimento

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Haacute uma geraccedilatildeo de grandes pesquisadores que foram influenciados pela pesquisa de Lemos Monteiro Citarei apenas o nome da linguista Aluiza Alves de Arauacutejo (UECE) nome de peso uma pesquisadora de matildeo cheia e disciacutepula de Lemos Durante anos Aluiza vem se dedicando ao falar fortalezense na constituiccedilatildeo crescente de dois bancos de dados que se destacam por seu representativo nuacutemero de informantes o PORCUFORT (Portuguecircs Oral Culto de Fortaleza) e o NORPOFOR (Norma Oral do Portuguecircs Popular de Fortalez que adotaram na sua constituiccedilatildeo os mesmos procedimentos utilizados pelo NURC na seleccedilatildeo dos informantes e na coleta dos dados

Da minha parte haacute quinze anos me interessei pelos estudos psicolinguiacutesticos ao conhecer os trabalhos de Leonor Scliar Cabral (UFSC) Luiz Antocircnio Marcusch (UFPE) Luiz Carlos Cagliari (Unicamp) Letiacutecia Sicuro Correcirca (Unicamp) Rosemeire Monteiro-Plantin (UFC) entre outros Os congressos os livros e os artigos cientiacuteficos na aacuterea de (psico)linguiacutestica me levaram a conhecer os trabalhos de Eduardo Kenedy ( UFF) Luciana Sanchez Mendes (UFF) Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ) Andreacute Nogueira Xavier (UFPR) Elisacircngela Teixeira (UFC) Joseacute Ferrari-Neto (UFPB) Katia Abreu (UERJ) pesquisadores que atualmente participam do Grupo de Estudos e Laboratoacuterio em Psicolinguiacutestica Experimental da UFF Fora do Brasil as pesquisas de Antonio Pamies Bertraacuten Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Carmen Mellado Blanco Florence Detry e Pedro Mogorroacuten Huerta tambeacutem muito me encorajaram a fazer pesquisa sob a interface Fraseologia e Psicolinguiacutestica Tem sido uma rica experiecircncia acadecircmica compartilhar ideias e opiniotildees por e-mail com muitos destes pesquisadores supracitados

Entre os domiacutenios da linguiacutestica a psicolinguiacutestica eacute aquela aacuterea interdisciplinar que leva o pesquisador a um exaustivo estudo das hipoacuteteses sobre relaccedilotildees entre a linguagem e as chamadas funccedilotildees mentais superiores como percepccedilatildeo atenccedilatildeo e memoacuteria esta por exemplo foi um divisor de aacutegua para mim quando ao ler Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1951) descobri que nossa memoacuteria reteacutem muito melhor as palavras em grupos (expressotildees fixas) do que as palavras isoladas Um dado que fez grande diferenccedila quando resolvi montar uma seacuterie de testes psicolinguiacutesticos a aplicar a africanos lusoacutefonos durante o doutorado em linguiacutestica pela UFC Irei agora descrever brevemente os capiacutetulos deste livro que traz apenas dados

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relativos agrave primeira bateria de testes psicolinguiacutesticos (off-line) aplicados a estudantes guineenses e cabo-verdianos No futuro bem proacuteximo publicizaremos os dados de mais duas baterias de testes

No capiacutetulo 1 tratamos dos principais conceitos e aportes fraseoloacutegicos com sobretudo os conceitos de fraseologia geral unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica e locuccedilatildeo verbal Em seguida apresentamos as propriedades fraseoloacutegicas que estatildeo diretamente relacionadas agrave pesquisa a saber a polilexicalidade a frequecircncia a fixaccedilatildeo a idiomaticidade e a convencionalidade

No capiacutetulo 2 apresentamos os principais conceitos aportes teoacutericos e hipoacuteteses psicolinguiacutesticas relacionadas ao processamento fraseoloacutegico e no capiacutetulo 3 estudos empiacutericos relacionados ao tema como os experimentos de Irujo (1986 Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010)

No capiacutetulo 4 dedicamos atenccedilatildeo agrave metodologia da pesquisa em que descrevemos objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa e nossos primeiros passos metodoloacutegicos nos preacute-testes aplicados a nativos do PB e natildeo nativos e metodologia final antes de aplicarmos os trecircs experimentos aos 20 sujeitos da pesquisa Como dissemos anteriormente a descriccedilatildeo seraacute apenas de um dos trecircs experimentos com seus respectivos testes

No Capiacutetulo 5 apresentamos os dados resultados e discussotildees relacionados com o experimento psicolinguiacutestico particularmente as tarefas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica memoacuteria fraseoloacutegica idiomaticidade fraseoloacutegica e a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica para as expressotildees matar cachorro a grito e natildeo pagar mico (zoomorfismos) tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone (somatismos) e saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca (botanismos)

Vicente de Paula da Silva Martins - UVA

FortalezaSobral Ano I da Pandemia Covid-19

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CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS

Como los signos simples del sistema las combinaciones fijas pertenecen al componente leacutexico de la lengua al lexicoacuten y se hallan almacenadas en la memoria de donde tan soacutelo son rescatadas en cada acto de habla (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p15)

No bosque do Centro de Humanidades da Universidade Federal

do Cearaacute (UFC) no bairro Benfica em Fortaleza escuto numa tarde ensolarada de 2010 estrondosas gargalhadas de estudantes de Letras Um guineense ao ser perguntado por concludentes do curso sobre o significado idiomaacutetico de expressotildees bem frequentes no Portuguecircs Brasileiro (PB) como ldquoArmar um barracordquo ldquoArregaccedilar as mangasrdquo ldquoBoca de sirirdquo ldquoCara de paurdquo ldquoengolir saposrdquo ldquoencher linguiccedilardquo entre outras suas respostas eram sempre literais o suficiente para ldquogozaccedilatildeordquo dos estudantes nativos Se os africanos lusoacutefonos falam e conhecem bem a estrutura da liacutengua portuguesa e as liacutenguas criolas tambeacutem tecircm forte influecircncia do portuguecircs europeu onde residiria o ldquonoacute goacuterdiordquo para a compreensatildeo idiomaacutetica Por que para os natildeo nativos uma expressatildeo idiomaacutetica se apresenta tatildeo ambiacutegua sempre carecendo do contexto para ser guia da compreensatildeo idiomaacutetica Como explicar a dificuldade de falante natildeo nativo de natildeo entender plenamente a linguagem impliacutecita figurativa pragmaacutetica e idiomaacutetica

Eacute possiacutevel que a noccedilatildeo de ambiguidade de construccedilatildeo tenha sido uma das primeiras desconfianccedilas dos estruturalistas diante das combinaccedilotildees fixas suscetiacuteveis de vaacuterias interpretaccedilotildees de um lado o sentido literal da expressatildeo (composicional) e do outro o sentido pretendido da emissatildeo do falante (idiomaacutetico)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure (2012 [1916]) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras incursotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados

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por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo (2012 p173 grifos nossos)

No acircmbito dos estudos linguiacutesticos relacionados agrave Fraseologia o interesse por apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas eacute cada vez maior1 Haacute um claro percurso do Estruturalismo agrave Psicolinguiacutestica nas pesquisas fraseoloacutegicas das uacuteltimas trecircs deacutecadas

Uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquomatar dois coelhos com de uma soacute cajadadardquo com sentido de ldquoconseguir dois proveitos com um soacute trabalhordquo interessa tanto ao lexicoacutegrafo que a registra como subentrada da palavra coelho em seu dicionaacuterio como desperta atenccedilatildeo do psicolinguista uma vez que envolve a compreensatildeo idiomaacutetica ou natildeo literal por parte do falante em liacutengua materna (L1) ou segunda liacutengua (L2)

As principais linhas de pesquisa nesse campo da Fraseologia e Psicolinguiacutestica procuram responder questotildees do tipo como os falantes armazenam este tipo de unidades Como ocorre o processamento fraseoloacutegico Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo Conforme nos descrevem Corpas Pastor (2001) e Detry (2010)

Aproximar a Fraseologia da Psicolinguiacutestica (ou vice-versa) eacute sem duacutevida muito relevante e nos incita vivamente a explorar as relaccedilotildees entre expressotildees idiomaacuteticas e processos de compreensatildeo Natildeo eacute poreacutem uma tarefa faacutecil porque satildeo dois ramos de estudos linguiacutesticos bastante densos e aacuteridos principalmente no campo terminoloacutegico e taxionocircmico fontes preciosas para encontrarmos termos ou categorias operatoacuterias aplicaacuteveis agrave pesquisa experimental

1 A rigor falar em compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica soacute tem sentido na aquisiccedilatildeo da linguagem nas crianccedilas em situaccedilatildeo em que os bebecircs estatildeo aprendendo a liacutengua materna ou estrangeiras como L2 Depois acreditamos que a expressatildeo idiomaacutetica eacute incorporada ao leacutexico sem anaacutelise interna tanto quanto se faz com uma palavra Aquisiccedilatildeo aqui assim tem acepccedilatildeo mais ampla e alcanccedila os natildeo nativos de dada liacutengua

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Uma primeira aproximaccedilatildeo que vimos entre estes domiacutenios (ou subdomiacutenios) linguiacutesticos eacute o tratamento dado tradicionalmente pela Lexicografia agraves expressotildees idiomaacuteticas registradas nos dicionaacuterios gerais como subentradas a partir dos lexemas de base que entram na formaccedilatildeo dos lemas2

Ao definir essas expressotildees Porto Dapena (2002) assim diz Acima de tudo se trata sempre de construccedilotildees ou segmentos pluriverbais que o falante igualmente como as palavras reteacutem na memoacuteria e reproduz na fala sem por outro lado poder alteraacute-las sob pena de introduzir uma variaccedilatildeo de sentido3(p149 grifos nossos)

Sabemos poreacutem que no mundo da linguagem as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo apenas ou preferencialmente sintagmas verbais uma vez que no continuum fraseoloacutegico podem aparecer em diversas configuraccedilotildees (colocaccedilotildees proveacuterbios etc)

Depreende-se desta definiccedilatildeo lexicograacutefica de Porto Dapena que as expressotildees idiomaacuteticas (ou expressotildees fixas4) satildeo construccedilotildees retidas ou armazenadas na memoacuteria declarativa de longo prazo o que nos remete agrave Psicologia Cognitiva e desta agrave Psicolinguiacutestica agrave medida que sugere uma conexatildeo entre a linguagem e a mente (ou senatildeo a cogniccedilatildeo) o que natildeo eacute claro um achegamento inaugural nos estudos linguiacutesticos uma vez que essa ponte entre Fraseologia e Psicolinguiacutestica anteriormente indicou-nos ou senatildeo pelo menos sugeriu-nos a noccedilatildeo coseriana de discurso repetido isto eacute aquelas sequecircncias de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente (COSERIU 2007 p201) por oposiccedilatildeo agrave teacutecnica do discurso posto que as expressotildees natildeo podem ser geradas no discurso por definiccedilatildeo

O termo Fraseologia cunhado por Bally haacute mais de um seacuteculo revitaliza-se a cada dia nas teorias e abordagens linguiacutesticas mais recentes como as dos analistas do discurso

2As subentradas satildeo chamadas tambeacutem de subverbetes em que se elucidam as divisotildees espeacutecies modalidades etc do sentido do verbete principal ou das locuccedilotildees formadas com aquelas palavras 3 No original Ante todo se trata siempre de construcciones os segmentos pluriverbales que el hablante al igual que las palabras retiene en la memoria y reproduce en el discurso sin que por otro lado pueda cambiarlas sob pena de introduzir una variacioacuten de sentido 4A noccedilatildeo de expressotildees fixas foi suficientemente explorada por Zuluaga (1975 e 1980)

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A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo citamos por exemplo Charaudeau e Maingueneau dois analistas do discurso que designam Fraseologia como conjunto de expressotildees cristalizadas simples ou compostas caracteriacutesticas de uma liacutengua ou de um tipo de discurso (2008 p245)

Fraseologia alcanccedilou tambeacutem as redes sociais Para se ter uma ideia da dimensatildeo ou frequecircncia de uso do termo em diferentes e inusitados contextos o buscador Google nos informa que satildeo aproximadamente 1120000 resultados de ocorrecircncias para Fraseologia e pelo menos 190000 para o adjetivo correspondente fraseoloacutegico o que nos indica ser uma palavra de muito vigor na liacutengua portuguesa5

A palavra Fraseologia formada dos seguintes elementos frase + -o- + -logia chegou-nos pelo francecircs phraseacuteologie e aparece pela primeira vez no acircmbito dos estudos linguiacutesticos em Bally (1909 p66) De laacute para caacute satildeo muitos os linguistas que tentando desvelar a etimologia de Fraseologia mergulham nas raiacutezes gregas da palavra buscando as motivaccedilotildees lexicais ou acepccedilotildees para designaacute-la seja como o inventaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua como seu estudo (BREacuteAL 1992 MONTORO DEL ARCO 2006 p29-31 MELLADO BLANCO 2004 p13)

Esta busca natildeo eacute por acaso Eacute bastante instigante observar que o morfema lexical frase vem do latim phrasis e este do grego φράσις com o sentido de expressatildeo enquanto a vogal de ligaccedilatildeo -o- eacute tiacutepica do grego O elemento de composiccedilatildeo -logia origina-se do grego -λογία que significa tratado estudo ciecircncia

Neste trabalho Fraseologia eacute entendida como parte da Linguiacutestica que tem as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) como objeto de estudo As UFs constituem um verdadeiro universo fraseoloacutegico e satildeo divididas em pelo menos trecircs esferas (colocaccedilotildees locuccedilotildees e enunciados fraseoloacutegicos) Nesse universo fraseoloacutegico consideramos tipicamente expressotildees idiomaacuteticas as locuccedilotildees o que corresponde a esfera II segundo o modelo de Corpas Pastor (1996 p88-131)

Como satildeo muitos os tipos de locuccedilotildees cristalizadas (nominais adjetivas adverbiais verbais prepositivas conjuntivas) elegemos prioritariamente as locuccedilotildees verbais que apresentam maior congruecircncia ou consenso entre os especialistas de Fraseologia uma vez que satildeo as unidades fraseoloacutegicas que estatildeo fixadas no sistema

5 Pesquisa atualizada em 13 de agosto de 2020

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(registradas nos dicionaacuterios gerais por exemplo) e que natildeo constituem enunciados completos e geralmente funcionam como termos ou elementos oracionais (CORPAS PASTOR 1996 p88 ALVARADO ORTEGA 2007 p37)6

O recorte acima isto eacute considerar unicamente as locuccedilotildees verbais levou-nos a adotar portanto uma concepccedilatildeo reducionista de Fraseologia a mesma proposta stricto sensu formulada por Casares (1969 p 167-184)7 o maior representante desta visatildeo na Fraseologia Espanhola e mais recentemente Garciacutea-Page (2008 p 8 20-22 208) que afirma serem as locuccedilotildees o verdadeiro nuacutecleo ou o autecircntico objeto de estudo da Fraseologia

Seja considerada parte da Linguiacutestica ou subdisciplina da lexicografia meacuterito da questatildeo em que natildeo entraremos aqui filiamo-nos agrave corrente de fraseoacutelogos que postulam a Fraseologia como disciplina da Linguiacutestica cujo objeto de estudo satildeo as ldquoexpressotildees idiomaacuteticas hiperocircnimo a que ao longo deste livro repetidas vezes fazemos menccedilatildeo referindo-nos nesse caso e especificamente agraves locuccedilotildees verbais particularmente as jaacute consagradas pelo uso e registradas nos dicionaacuterios gerais definidas como combinaccedilotildees formadas por pelo menos dois ou mais elementos ou constituintes que apresentam certa fixaccedilatildeo de forma e sentido e que funcionam como termo ou elemento oracional

Estas locuccedilotildees verbais natildeo devem ser confundidas com as conjugaccedilotildees perifraacutesticas ou periacutefrases verbais estas definidas pelos gramaacuteticos e dicionaristas como o conjunto dos tempos compostos de um verbo8 Quanto a esta questatildeo nossa posiccedilatildeo eacute a mesma de Silva (2011 p163) ao se referir agraves locuccedilotildees verbais como unidades fraseoloacutegicas Excluiacutemos pois os substantivos compostos com ou sem hiacutefen natildeo sendo considerados locuccedilotildees nominais e as periacutefrases verbais ou conjugaccedilotildees perifraacutesticas por natildeo as considerarmos locuccedilotildees verbais

6 Compreendemos que as locuccedilotildees verbais a que Corpas Pastor (1996) faz referecircncia satildeo as chamadas expressotildees idiomaacuteticas termo de maior divulgaccedilatildeo nas teorias fraseoloacutegicas 7 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1950 8 A questatildeo da distinccedilatildeo entre periacutefrases verbais e locuccedilotildees verbais foi suficientemente abordada por Blasco Mateo (2005)

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Eacute preciso deixar claro que ao optarmos por excluir os substantivos compostos esta determinaccedilatildeo natildeo invalida o status de Unidades Fraseoloacutegicas (UF) de outras sequecircncias que satildeo constituiacutedas sem verbo como saia de baixo saia justa chave de cadeia a sete chaves de mala e cuia mala sem alccedila peacute do ouvido do peacute para a matildeo em peacute de guerra em peacute de igualdade no mesmo niacutevel de igual para igual dor de cotovelo dor de corno dor de veado laacutegrimas de crocodilo elas por elas de corpo e alma entre outras

Se voltarmos ao tempo jaacute na deacutecada de 50 na Espanha Julio Casares nos chamava atenccedilatildeo para a confusatildeo terminoloacutegica no campo da lexicografia Afirmava que termos como expressatildeo giro e frase eram vagos e por isso natildeo poderiam ser considerados termos teacutecnicos Segundo ele cada um daqueles termos tinha acepccedilotildees diversas presas agrave teoria gramatical e por isso natildeo ofereciam caracteriacutesticas suficientes para identificaacute-las com seguranccedila na tarefa lexicograacutefica (CASARES 1969 p185) Uma expressatildeo apropriada a essa situaccedilatildeo em portuguecircs seria a de que os lexicoacutegrafos espanhoacuteis misturavam alhos com bugalhos

Assim que liccedilatildeo ou luz esta noccedilatildeo de locuccedilatildeo em Casares (1969) poderaacute nos dar no campo da terminologia fraseoloacutegica nos dias de hoje

Tomemos um exemplo em portuguecircs Eacute possiacutevel quando lemos escutamos ou ao menos quando evocamos uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos o sentido idiomaacutetico confundir coisas ou assuntos distintos inconfundiacuteveis ou fazer grande confusatildeo prevaleccedila de forma avassaladora sobre nosso entendimento

Na expressatildeo acima pouco importa sabermos o sentido parcial de seus elementos constituintes ou de pelo menos uma das palavras que formam a expressatildeo como eacute o caso de bugalho mas natildeo cremos que isso se contraponha de alguma forma agrave proposta de anaacutelise da compreensatildeo das Expressotildees Idiomaacuteticas a partir dos componentes

Afinal o que eacute bugalho Um termo da botacircnica que significa ldquonoz de galhardquo (HOUAISS e VILLAR 2020) mas nada mais sabemos sincronicamente de sua motivaccedilatildeo fraseoloacutegica nem haacute possibilidade de recuperaccedilatildeo da metaacutefora diacrocircnica (geradora)

De igual sorte parece-nos que a maioria das divergecircncias ou confusotildees terminoloacutegicas na Fraseologia contemporacircnea encontra explicaccedilotildees nas primeiras investidas da lexicografia quando da

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elaboraccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais ao natildeo levarem em conta que agrupamentos de palavras9 tradicionalmente conhecidos na literatura cientiacutefica por termos dos mais diacutespares entre si como expressotildees idiomaacuteticas proveacuterbios clichecircs binocircmios citaccedilotildees colocaccedilotildees frases lexicais foacutermulas frases feitas proveacuterbios aforismos maacuteximas ditos adaacutegios anexins ditados sentenccedilas parecircmias tecircm em comum serem polilexicais isto eacute pertencerem ao grande e complexo continuum fraseoloacutegico no qual natildeo haacute limites riacutegidos capazes de estabelecerem com precisatildeo a diversidade de unidades lexicais maiores que a palavra e presentes em alguns dicionaacuterios semasioloacutegicos existentes em uma liacutengua (SALIBA 2000)

Na Espanha quando Casares daacute as bases teoacutericas do que hoje se denomina Fraseologia Espanhola de grande repercussatildeo na Europa jaacute se deparava na Lexicografia com denominaccedilotildees fraseoloacutegicas que careciam de sentido preciso e que apresentavam limites imprecisos Eacute o que muitos fraseoacutelogos hispacircnicos chamam de cajoacuten de sastre (GARCIacuteA PAGE-SAacuteNCHEZ 2008 p8 e QUEPONS RAMIacuteREZ 2009 p493) A expressatildeo saco de gatos10 eacute a melhor traduccedilatildeo que encontramos em portuguecircs para cajoacuten de sastre

Como assinala Corpas Pastor (1996 p16) a profusatildeo terminoloacutegica e as distintas classificaccedilotildees satildeo um dos problemas fundamentais da Fraseologia em liacutengua Espanhola Em geral a profusatildeo terminoloacutegica estaacute ligada a afiliaccedilotildees ou abordagens teoacutericas distintas e tambeacutem a objetos e objetivos especiacuteficos sendo mais uma questatildeo de relevo

Mostramos ateacute aqui que satildeo muitas as discrepacircncias e confusotildees de ordem terminoloacutegica no campo dos estudos de Fraseologia que acabam por repercutir nas definiccedilotildees e classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas o que nos leva a concluir que nesta aacuterea natildeo haacute como simplesmente jogar com as palavras

Essa medida torna-se ainda mais imperiosa quando fazemos a interface entre Fraseologia e outros ramos da Linguiacutestica em nosso caso a Psicolinguiacutestica que requer tambeacutem precisatildeo terminoloacutegica

9 No campo da Lexicografia defendemos a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo deveriam entrar dentro de verbetes por serem independentes Por exemplo os dicionaristas natildeo colocam o adjetivo infeliz dentro de feliz Assim o mesmo procedimento deveria valer para as expressotildees idiomaacuteticas 10 Popularmente saco de gatos significa negoacutecio muito confuso e encrencado

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quando trabalhamos com alguns dos seus termos operatoacuterios na pesquisa experimental

Nessas alturas uma pergunta adveacutem que unidadeexpressatildeo fraseoloacutegica seria a mais adequada aos testes psicolinguiacutesticos para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica Jaacute podemos adiantar a resposta a nossa pergunta ao defendemos que esta unidade eacute ou deve ser a expressatildeo idiomaacutetica A expressatildeo idiomaacutetica dentro ou fora do contexto pode levar um falante nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua a se deparar com a ambiguidade estrutural nesta dicotomia semacircntica sentido literal versus sentido idiomaacutetico

Por essa razatildeo deter-nos-emos nas subseccedilotildees abaixo em dissecar o maacuteximo possiacutevel as noccedilotildees de Fraseologia unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica locuccedilatildeo e outros correlatos Em seguida situamos os termos agraves teorias fraseoloacutegicas que estatildeo na ordem do dia na Europa e no Brasil

Vilela designa por Fraseologia a disciplina que tem como objeto as combinaccedilotildees fixas de uma dada liacutengua que podem assumir a funccedilatildeo e o sentido de palavras individuais ou lexemas (VILELA 2002 p170)

A definiccedilatildeo de Vilela espelha o pensamento do grupo fundador da Fraseologia na Europa a quem nos filiamos que vecirc nas expressotildees idiomaacuteticas um processo de ampliaccedilatildeo do leacutexico seja para nomeaccedilatildeo ou qualificaccedilatildeo contribuindo para a lexicalizaccedilatildeo dos conceitos e categorizaccedilatildeo de nossa experiecircncia cotidiana

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas reconhecemos como defende Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p6) um estatuto da Fraseologia como a disciplina Linguiacutestica que estuda as unidades fraseoloacutegicas e que leva em conta o grau de competecircncia fraseoloacutegica ou metafoacuterica do falante seja nativo ou natildeo nativo

Quanto agrave acepccedilatildeo mais completa de Fraseologia coerente com nosso recorte terminoloacutegico e que atende aos propoacutesitos de nosso estudo optamos pela definiccedilatildeo de Fraseologia de Monteiro-Plantin (2011) na qual assinala o estudo das combinaccedilotildees de unidades leacutexicas relativamente estaacuteveis com certo grau de idiomaticidade polilexicais que constituem a competecircncia discursiva dos falantes em primeira ou segunda liacutengua utilizadas convencionalmente em contextos precisos ainda que muitas vezes de forma inconsciente (p250)

Segundo Mellado Blanco (2004 p15) o termo Fraseologia tem sido adotado na maioria das liacutenguas europeias com exceccedilatildeo dos paiacuteses de

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origem anglo-saxocircnica onde o mais corriqueiro eacute idiomatic11 Cumpre-nos ressaltar que quer seja na Europa ou nos EUA unidade fraseoloacutegica eacute uma das denominaccedilotildees mais aceitas no acircmbito das teorias fraseoloacutegicas conforme podemos atestar em pesquisas recentes com corpora fraseoloacutegicos (NACISCIONE 2001 BEVILACQUA 2004 e LIN e ADOLPHS 2009)

Considerada como objeto de estudo da Fraseologia por Corpas Pastor (1996 p20) as unidades fraseoloacutegicas satildeo unidades lexicais formadas por mais de duas palavras ortograacuteficas em seu limite inferior cujo limite superior se situa no niacutevel de oraccedilatildeo composta12 tendo pelo menos quatro propriedades baacutesicas que podem variar em grau nos seus distintos tipos (a) polilexicalidade (b) institucionalizaccedilatildeo entendida em termos de fixaccedilatildeo e especializaccedilatildeo semacircntica (c) variaccedilotildees potenciais (d) idiomaticidade e (e) alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes13 mais adiante por noacutes mais bem descritas e discutidas

O conceito de unidade fraseoloacutegica e as propriedades baacutesicas que as caracterizam como a polilexicalidade e a fixaccedilatildeo tambeacutem estatildeo presentes pioneiramente na deacutecada de 40 nas primeiras definiccedilotildees ou acepccedilotildees dos russos (VELASCO MENEacuteNDEZ 2010) e posteriormente vindo agrave tona com as reflexotildees de Zuluaga (1980 16 19) e mais recentemente em Ruiz Gurillo (1997 p 14) e Castillo Carballo (1997-1998 p 70-75)

Quanto ao problema do status linguiacutestico das unidades fraseoloacutegicas aliamo-nos agrave postulaccedilatildeo de Zuluaga (1980) de que elas pertencem ao patrimocircnio coletivo da comunidade linguiacutestica14 e que fazem parte do acervo ou repertoacuterio de elementos linguiacutesticos anteriores ao falar conhecidos pelos falantes15 (p21) o que ao certo

11 Nesta aacuterea as pesquisas experimentais bastante frutiacuteferas nos EUA levam-nos de forma recorrente a citar os trabalhos em liacutengua inglesa onde se usa mais o termo idioms 12 No original son unidades leacutexicas formadas por maacutes de dos palabras graacuteficas en su liacutemite inferior cuyo liacutemite superior se situacutea en el niacutevel de la oracioacuten compuesta 13 Destas propriedades indicadas por Corpas Pastor (1996) a menos relevante quando se tratar de expressatildeo idiomaacutetica posto que um item leacutexico pode ser frequente ou natildeo Como todo item as expressotildees idiomaacuteticas podem ser mais ou menos frequentes 14 No original ellas pertenecen al patrimonio colectivo de la comunidade linguiacutestica 15 No original forman parte del acervo o repertorio de elementos linguiacutesticos anteriores al hablar conocidos por los hablantes

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podemos inferir como unidades polilexicais psicolinguisticamente armazenadas na memoacuteria dos usuaacuterios ou nativos da liacutengua

Conveacutem salientar que a etiqueta ou roacutetulo de Unidade Fraseoloacutegica (UF) atende agraves buscas dos fraseoacutelogos por uma denominaccedilatildeo de alcance mais internacional que responde agrave noccedilatildeo de arquilexema das locuccedilotildees e de outras formas (CORPAS PASTOR 1996) como unidades de uma seacuterie fraseoloacutegica que inclui desde refratildees citaccedilotildees e foacutermulas de rotina

Com essa noccedilatildeo de que uma unidade fraseoloacutegica eacute um arquilexema da seacuterie de denominaccedilotildees fraseoloacutegicas podemos apresentar as propriedades essenciais e definitoacuterias das chamadas unidades fraseoloacutegicas polilexicalidade frequecircncia convencionalidade fixaccedilatildeo e idiomaticidade a partir dos seguintes autores Zuluaga (1980 p141-188) Corpas Pastor (1996 p88-131) Penadeacutes Martinez (1999 p11-22) Ruiz Gurillo (2001 p15) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16-20)

Com base nos estudos acima na perspectiva da Fraseologia consideramos a expressatildeo idiomaacutetica nomeadamente a locuccedilatildeo verbal como uma unidade fraseoloacutegica por excelecircncia Unidade fraseoloacutegica eacute pois um hiperocircnimo mas neste livro praticamente tomamos expressatildeo idiomaacutetica e unidade fraseoloacutegica como termos equivalentes assim como jaacute os considera Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas haacute uma forte convergecircncia de que efetivamente as unidades fraseoloacutegicas satildeo o objeto de estudo da Fraseologia Portanto tendo o objeto de estudo bem definido natildeo haacute porque natildeo considerar a Fraseologia como um dos ramos das ciecircncias da linguagem Mas que unidades fraseoloacutegicas satildeo essas Pelo menos nove termos podem ser considerados dentro de um continuum como unidades fraseoloacutegicas uma vez que este hiperocircnimo tem um raio de alcance muito grande proveacuterbios ditos populares expressotildees idiomaacuteticas foacutermulas de rotina ou cristalizadas locuccedilotildees fixas frases feitas clichecircs chavotildees e colocaccedilotildees conforme o inventaacuterio fraseoloacutegico estabelecido por Monteiro-Plantin (2011 p250) As expressotildees fixas arroladas por Monteiro-Plantin satildeo entendidas por noacutes como sendo as expressotildees idiomaacuteticas

Neste livro quando nos referirmos agrave unidade fraseoloacutegica acolheremos as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) Penadeacutes Martinez (1999) Ruiz Gurillo (2001) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) e Monteiro-Plantin (2011)

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O conceito de expressatildeo idiomaacutetica estaacute associado agraves definiccedilotildees que anteriormente demos agrave Fraseologia e agrave unidade fraseoloacutegica Toda expressatildeo idiomaacutetica objeto de Fraseologia eacute uma unidade fraseoloacutegica mas nem toda unidade fraseoloacutegica eacute uma expressatildeo idiomaacutetica

Uma unidade fraseoloacutegica pode ser fixa e natildeo idiomaacutetica da mesma forma pode ser idiomaacutetica mas com um grau de variaccedilatildeo marcante mas com isso natildeo queremos dizer que soacute consideramos expressatildeo idiomaacutetica Ao contraacuterio existe expressatildeo idiomaacutetica menos opaca portanto transparente Quem tem juiacutezo criacutetico para dizer se uma expressatildeo eacute opaca ou transparente eacute o falante e natildeo o lexicoacutegrafo ou fraseoacutelogo a menos que o submeta a testes psicolinguiacutesticos Em Fraseologia a intuiccedilatildeo linguiacutestica16 estaacute sujeita agrave compreensatildeo do falante da liacutengu nativo ou natildeo

Isso natildeo quer dizer poreacutem que as expressotildees fixas para tomarmos o termo de Zuluaga (1980) incluindo as expressotildees idiomaacuteticas natildeo possam ser interpretadas composicionalmente pelos falantes de uma liacutengua

A uacutenica interpretaccedilatildeo de qualquer expressatildeo complexa que conhecemos como costuma acontecer com falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada deveraacute ser imediatamente a composicional e que outras consideraccedilotildees nos obrigaratildeo a aprender um sentido especiacutefico convencionalmente associado agrave expressatildeo em questatildeo17(ESCANDELL VIDAL 2011) Em outras palavras mesmo as expressotildees idiomaacuteticas consideradas opacas muitas delas podem ser interpretadas composicionalmente

No continuum das unidades fraseoloacutegicas as expressotildees idiomaacuteticas satildeo as unidades leacutexicas marcadas culturalmente As expressotildees idiomaacuteticas satildeo itens leacutexicos e portanto tatildeo culturais quanto quaisquer palavras da liacutengua

As expressotildees idiomaacuteticas por forccedila de seu caraacuteter idiossincraacutesico estatildeo mais diretamente vinculadas agrave cultura agraves ideias e agrave forma de vida

16 Em gramaacutetica gerativa refere-se agrave capacidade que tem o falante de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na sua liacutengua de interpretaacute-las de identificar a equivalecircncia com outra frase ou a sua eventual ambiguidade isto eacute perceber quando o contexto sugere sentido literal ou metafoacuterico 17 No original seraacuten luego otras consideraciones las que nos obligaraacuten a aprender un sentido especiacutefico convencionalmente asociado a la expresioacuten en cuestioacuten

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de uma sociedade (NEGRO ALOUSQUE 2010 p34) como expressotildees do tipo ir tomar banho (deixar de aborrecer) e dar as matildeos agrave palmatoacuteria (admitir o erro) Este fato se manifesta particularmente no niacutevel semacircntico isto no sentido idiomaacutetico que atribuiacutemos agrave expressatildeo18

Nessa relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura refletida no leacutexico a motivaccedilatildeo para inuacutemeras expressotildees idiomaacuteticas proveacutem de pelo menos trecircs procedecircncias segundo Negro Alousque (2010) 19

(a) alusatildeo a costumes feitos histoacutericos obras artiacutesticas lendas mitos e crenccedilas como em jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) entregar-se aos braccedilos de Morfeu (sonhar) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) bancar o cristo (pagar por culpas alheias) agradar a gregos e troianos (contentar ou satisfazer a dois lados antagocircnicos)

(b) evocaccedilatildeo a elementos que formam parte do acervo cultural de cada povo entre os quais satildeo incluiacutedos os costumes e tradiccedilotildees obras literaacuterias acontecimentos que satildeo modelos de uma situaccedilatildeo ou qualidade como dar nome aos bois (falar claramente) perder o seu latim (falar em vatildeo) ficar a ver navios (natildeo conseguir o desejado geralmente por ter sido logrado ou passado para traacutes) sair agrave francesa (sair de um local sem se despedir) e matar a cobra e mostrar o pau (afirmar alguma coisa e provaacute-la)

(c) associaccedilotildees a partir das quais se interpreta a realidade e crenccedilas como em ver o sol (nascer) quadrado (estar na cadeia) desopilar o fiacutegado (comunicar alegria e bem-estar) ficar uma onccedila (ficar irado enfurecido) pagar o justo pelo pecador (ser castigado ou repreendido aquele que natildeo tem culpa ficando impune o culpado) e jogar conversa fora (conversar sobre assuntos corriqueiros sem grande importacircncia)

Conveacutem agora definir a expressatildeo idiomaacutetica como combinaccedilatildeo uacutenica e fixa de elementos (pelo menos dois) dos quais uma parte natildeo funciona bem em quaisquer outras combinaccedilotildees deste tipo (ou em algumas ou uma uacutenica situaccedilatildeo) (ČERMAacuteK 1998 p11)

18 Em que pese o signo linguiacutestico ser arbitraacuterio conforme jaacute dizia Saussure as frases feitas decorrem do uso e da tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica 19 Muitas destas expressotildees idiomaacuteticas podem ser consideradas pelos usuaacuterios desusadas ou obsoletas ou precisariacuteamos enquanto especialistas distinguir o que eacute comum da Liacutengua Portuguesa do que eacute leacutexico regional

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definiccedilatildeo pois que enfatiza como podemos observar as propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das expressotildees fixas a que Neveu (2008) faz referecircncia

Para chegarmos ao conceito de locuccedilatildeo primeiramente definimos a Fraseologia como uma disciplina da Linguiacutestica que se ocupa de estudar as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) Em seguida apresentamos as referidas UFs como um hiperocircnimo (ou arquilexema) dos diversos termos que envolvem a terminologia fraseoloacutegica isolando operatoriamente para nosso trabalho a locuccedilatildeo verbal como sendo a mais canocircnica20 combinaccedilatildeo fixa das expressotildees idiomaacuteticas21 Nesta subseccedilatildeo trataremos mais especificamente sobre a locuccedilatildeo

Como unidade polilexical do tipo sintagmaacutetico a locuccedilatildeo que nos interessa neste trabalho eacute a que como dissemos anteriormente tem como nuacutecleo um verbo cujos constituintes natildeo satildeo o objeto de uma atualizaccedilatildeo separada e que enuncia um conceito autocircnomo como assinala Neveu (2008 p 193) A expressatildeo levar um pontapeacute no traseiro com o sentido idiomaacutetico de ser despedido abandonado eacute um exemplo de locuccedilatildeo verbal

As expressotildees idiomaacuteticas tecircm estrutura bastante restrita isto eacute caracterizadas segundo Gross (1996 p9-23) por pelo menos cinco propriedades (a) polilexicalidade (b) opacidade semacircntica (c) bloqueio das propriedades combinatoacuterias e transformacionais (d) natildeo atualizaccedilatildeo de seus elementos e (e) grau de fixaccedilatildeo

Um exame minucioso da etimologia da palavra locuccedilatildeo nos indicaraacute que esta vem do latim locutigraveo (ou loquuacutetio) com a indicaccedilatildeo de accedilatildeo ou maneira de falar locuccedilatildeo etc Do ponto de vista linguiacutestico locuccedilatildeo pode ser definida como reuniatildeo de duas palavras que conservam individualidade foneacutetica e morfoloacutegica mas

20A canonicidade das locuccedilotildees verbais decorreria no nosso entendimento de terem sua fixaccedilatildeo formal com maior grau de regularidade estrutural isto eacute serem construccedilotildees conforme agraves normas mais habituais da gramaacutetica consideradas baacutesicas como por exemplo a ordem direta (verbo + argumento) 21 As locuccedilotildees verbais podem ser canocircnicas mas natildeo prototiacutepicas no continuum fraseoloacutegico Do ponto de vista quantitativo e contrariamente ao que se acredita provavelmente as locuccedilotildees verbais natildeo satildeo a maioria As expressotildees que satildeo sintagmas preposicionais como de saco cheio a trecircs por dois de mala e cuia a torto e a direito provavelmente satildeo em maior nuacutemero

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constituem uma unidade significativa para determinada funccedilatildeo (CAcircMARA JUNIOR 2004 p162)

Do ponto de vista fraseoloacutegico Casares (1969) define as locuccedilotildees como combinaccedilotildees de vocaacutebulos que oferecem sentido unitaacuterio e uma disposiccedilatildeo ou estrutura formal inalteraacutevel (p167)

Casares descarta entatildeo as acepccedilotildees dadas agrave locuccedilatildeo pelos dicionaacuterios gerais que a definem como ldquomodo de falarrdquo ou ldquofraserdquo como vimos anteriormente Busca uma acepccedilatildeo restrita especiacutefica e teacutecnica partindo entatildeo para a reelaboraccedilatildeo da definiccedilatildeo da visatildeo tradicional ou gramatical de locuccedilatildeo como ldquoconjunto de duas ou mais palavrasrdquo pensada como um ldquoconjunto de vozes vinculadas de um modo estaacutevel e com um sentido unitaacuteriordquo (1969 p168)

Para ilustrarmos a acepccedilatildeo dada por Casares agrave locuccedilatildeo tomemos este exemplo com bater as botas Engana-se quem pensa que no Nordeste aterrissam apenas artistas em fim de carreira que vecircm ganhar alguns trocados na Ameacuterica Latina antes de bater as botas(In DN 12312008)

Na visatildeo de Casares (1969) uma sequecircncia de palavras como ldquobater as botasrdquo trata-se efetivamente de uma locuccedilatildeo verbal por trecircs razotildees (1) natildeo se pode trocar nenhuma das trecircs palavras por outra sacudir as botas bater com botas ou bater as botinas (2) natildeo se pode alterar sua colocaccedilatildeo na estrutura sem destruir o sentido botas as bater e (3) o sentido se resume a uma soacute acepccedilatildeo22 ldquomorrerrdquo

Segundo Casares (1969 p168) a inalterabilidade (fixaccedilatildeo) e a unidade de sentido (idiomaticidade) satildeo as duas caracteriacutesticas marcantes das locuccedilotildees verbais Uma terceira caracteriacutestica tambeacutem se faz necessaacuteria assinalar que eacute segundo ele a condiccedilatildeo de que as palavras de uma locuccedilatildeo natildeo formam uma ldquooraccedilatildeo cabalrdquo isto eacute uma oraccedilatildeo no sentido claacutessico ou categoacuterico dado pelos gramaacuteticos tradicionais

A definiccedilatildeo claacutessica de locuccedilatildeo feita por Casares (1969 p170) diz assim ldquocombinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos que funciona como elemento da oraccedilatildeo e cujo sentido unitaacuterio compartilhado pelos

22 Este traccedilo aplicado agrave Liacutengua Portuguesa deve ser relativizado uma vez que haacute expressotildees idiomaacuteticas com mais de uma acepccedilatildeo como por exemplo pedir penico (pedir piedade dar-se por vencido mostrar-se exausto e demonstrar medo)

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falantes natildeo se justifica sem mais como uma soma do sentido normal dos componentesrdquo23

Depreende-se da definiccedilatildeo de Casares (1969) os seguintes traccedilos das locuccedilotildees (1) combinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos portanto uma combinaccedilatildeo fixa e polilexical entendida como fixaccedilatildeo e polilexicalidade (2) emprego ou funccedilatildeo como parte da oraccedilatildeo compreendida aqui a noccedilatildeo de estrutura natildeo oracional24 e (3) sentido unitaacuterio consabido natildeo resultante da soma do sentido normal (ou absoluto) dos componentes

A ideia de ldquosentido unitaacuterio consabidordquo traduz adequadamente a noccedilatildeo de ldquosentido conhecido por todos e ao mesmo tempordquo portanto compartilhados pelos falantes nativos de uma liacutengua ou pela comunidade linguiacutestica ou no caso de uma Fraseologia Especializada por uma comunidade sociocultural esta entendida como agrupamento de falantes unidos por fatores sociais (histoacutericos profissionais raciais nacionais e geograacuteficos)

As locuccedilotildees verbais que podem funcionar como elementos oracionais de natureza nominal satildeo as formadas de verbo de ligaccedilatildeo mais predicativo diferentemente das locuccedilotildees como elementos do predicado verbal cujo nuacutecleo eacute um verbo significativo (intransitivo ou transitivo)

Satildeo exemplos de locuccedilotildees verbais com valor nominal as seguintes ser a bola da vez (estar prestes a ser objeto de anaacutelise criacutetica exclusatildeo etc) ser a palmatoacuteria do mundo (ser um sujeito metido a moralista) ser cheio de nove-horas (ser muito exigente chato) ser de carne e osso (ser humano estar sujeito a fraquezas como qualquer pessoa) estar com a faca e o queijo na matildeo (ter poder amplo) e estar com o diabo no corpo (estar assanhadiacutessimo ou muito irrequieto tanto no mau quanto no bom sentido)

As locuccedilotildees verbais satildeo refrataacuterias agrave anaacutelise sintaacutetica Segundo Casares ldquotomadas essas expressotildees em bloco e interpretadas como elementos oracionais suas funccedilotildees sintaacuteticas nem sempre coincidem

23 No original ldquocombinacioacuten estable de dois ou maacutes teacuterminos que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitaacuterio consabido no se justifica sin maacutes como uma suma del sentido normal de los componentesrdquo 24 Somos de opiniatildeo de que Casares enfatiza com este traccedilo o caraacuteter sintagmaacutetico da locuccedilatildeo parte constituinte ou elemento (de oraccedilatildeo) descartando a ideia de que a locuccedilatildeo seja considerada uma oraccedilatildeo ou seja frase ou membro de frase em que pese conter um verbo

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com as do verbo contido na locuccedilatildeordquo25(1969 p177) Em portuguecircs por exemplo quando dizemos tirar aacutegua do joelho com verbo tirar transitivo direto equivale em conjunto a ldquourinarrdquo intransitivo isto eacute a rigor natildeo se cogita do ponto de vista fraseoloacutegico que aacutegua do joelho eacute objeto direto de tirar

Segundo Casares (1969) no Espanhol natildeo se esgotam as espeacutecies de locuccedilatildeo oracional com equivalecircncia e funccedilatildeo verbal Por exemplo aplicando esta visatildeo de Casares agrave liacutengua portuguesa uma locuccedilatildeo verbal do tipo ter partes com o diabo natildeo pode ser traduzida a partir de um verbo transitivo ou intransitivo Quando essa locuccedilatildeo se aplica a uma pessoa se daacute a entender unicamente que essa pessoa eacute ldquomuito sapeca alvoroccedilada inquietardquo Se dizemos de uma pessoa que bota a alma pela boca limitamos-nos a expressar que ldquoestaacute ofegante com a respiraccedilatildeo opressardquo

Para ilustrarmos em Liacutengua Portuguesa este grupo acima citariacuteamos inuacutemeras locuccedilotildees cujo verbo expresso eacute ser estar ou algum outro verbo de significaccedilatildeo equivalente tais como andar com a pulga atraacutes da orelha (estar preocupado ou cismadordquo) ficar de cabeccedila virada (andar preso por alguma paixatildeo obsessatildeo viacutecio incontrolado ou ideia fixa) andar na linha (ser honesto) apanhar nas fuccedilas (ser agredido na cara) ter (as) costas largas (estar confiante sem receio para realizar ou falar algo por ter a proteccedilatildeo de algueacutem) estar com a corda no pescoccedilo (estar em apuros em situaccedilatildeo desesperadora geralmente financeira) ter fama (ser muito falado ou celebrado) ter coraccedilatildeo de leatildeo(ser extremamente valente) ter coraccedilatildeo de ouro (ser muito bondoso ou generoso) ter coraccedilatildeo de pedra (ser duro de sentimentos insensiacutevel) ter jogo de cintura (ser flexiacutevel para escapar a situaccedilotildees delicadas ou contornar conjunturas difiacuteceis) ter o corpo fechado (ser imune a malefiacutecios graccedilas a benzeduras e oraccedilotildees)

A funccedilatildeo verbal destas expressotildees comprova-se agrave medida que admitem modificaccedilatildeo pessoal temporal e modal e que as de caraacuteter transitivo podem fazer com que a accedilatildeo expressada por elas recaia sobre um objeto exterior como se fosse um complemento direto como podemos atestar neste exemplo com a expressatildeo esquentar a

25 ldquotomadas esas expresiones em bloque e interpretadas como elemento oracional sus funciones sintaacutecticas no siempre coinciden com las del verbo contenido em la locucioacutenrdquo

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cabeccedila (preocupar-se demasiado) Apoacutes meu uacuteltimo casamento percebi que o bom eacute natildeo esquentar a cabeccedila (risos) Ficar junto soacute se for vocecirc na sua casa e eu na minha (In atriz Elizacircngela do Amaral Vergueiro entrevista a Etienne Jacintho O Estado de Satildeo Paulo 01112008)

Segundo Zuluaga (1980) as locuccedilotildees verbais apresentam entre seus componentes um que funciona como portador das determinaccedilotildees de tempo de pessoa de nuacutemero e de modo e que pode portanto variar ao ser utilizado no discurso O referido componente pode ser reconhecido ainda fora da locuccedilatildeo como um lexema verbal do sistema leacutexico de uma liacutengua dada

As mais recentes pesquisas psicolinguiacutesticas sobre compreensatildeo idiomaacutetica especialmente para testar quais as que apresentam maior grau de dificuldade de compreensatildeo tecircm utilizado entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais as colocaccedilotildees e os refratildees sendo as locuccedilotildees entre as unidades fraseoloacutegicas as que recebem maior atenccedilatildeo por parte dos psicolinguistas por apresentarem potencialmente um grau de dificuldade maior do que as demais unidades fraseoloacutegicas26 natildeo por sua estrutura senatildeo por fatores como a familiaridade analisabilidade sintaacutetica maior grau de opacidade ou evidente transparecircncia conforme os estudos de Levorato ( 1993 p 101-128 Cacciari (1993 P 27-55) Crespo e Caceres (2006 P 77-90) Crespo Allende Alfaro Faccio e Peacuterez Herrera (2008 p95-111)

Entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais27satildeo aquelas em que os autores reconhecem maiores evidecircncias de distinccedilatildeo entre as que satildeo transparentes e as que satildeo opacas as que podem ser interpretadas literalmente e as que tendem a ser interpretadas idiomaticamente possibilitando achados empiacutericos que levam a observar o desempenho de falantes natildeo nativos do PB frente a locuccedilotildees verbais opacas e transparentes proacuteprias da variante de dada liacutengua

As muitas e diacutespares propriedades das expressotildees idiomaacuteticas satildeo fruto com certeza mais de discrepacircncias ou divergecircncias nas

26 Eacute possiacutevel que para falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro locuccedilotildees nominais como a trecircs por dois (com frequecircncia com regularidade com efeito (de fato efetivamente) podem natildeo ser de faacutecil compreensatildeo 27 Neste trabalho utilizamos de forma indistinta os termos locuccedilatildeo verbal e expressatildeo idiomaacutetica assim como procede Sevilla Muntildeoz e Arroyo Ortega (1993) Molina Garciacutea (2006) e Dovrtělovaacute (2008)

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classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas e da proacutepria definiccedilatildeo do que se entende por Fraseologia do que por fatores estruturais ou semacircnticos das combinaccedilotildees estaacuteveis ou fixas da liacutengua sejam idiomaacuteticas ou natildeo

Costumeiramente linguistas como Corpas Pastor (1996 p 19-32) Castillo Carballo (1997 p70-75) Penadeacutes Martiacutenez (1999 p14-19) Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p21-56) Martiacutenez Montoro (2002 p13-89) Montoro Del Arco (2006 (p35-70) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p23-34) Timofeeva (2008 p153-333) e Ruiz Gurillo (2010 p174-194) apontam as seguintes propriedades das unidades fraseoloacutegicas afetividade anomalia convencionalidade cristalizaccedilatildeo estabilidade estrutura natildeo oracional expressividade figuraccedilatildeo figuras de repeticcedilatildeo fixaccedilatildeo frequecircncia gradualidade idiomaticidade inflexibilidade institucionalizaccedilatildeo lexicalizaccedilatildeo natildeo composicionalidade nominaccedilatildeo pluriverbalidade polilexicalidade variabilidade entre outras28

A polilexicalidade eacute conditio sine qua non para a definiccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas A rigor natildeo haacute ou pelo menos natildeo deve ser considerada expressatildeo idiomaacutetica segmento ordenado no eixo sintagmaacutetico que natildeo seja uma combinaccedilatildeo de pelo menos dois constituintes No caso das expressotildees idiomaacuteticas representadas pelas locuccedilotildees verbais a polilexicalidade eacute uma condiccedilatildeo inerente ao proacuteprio conceito locucional como um conjunto de palavras que equivalem a um soacute vocaacutebulo por terem sentido combinaccedilatildeo proacutepria ou peculiar e funccedilatildeo gramatical uacutenica

Ao tratar dos traccedilos baacutesicos das unidades fraseoloacutegicas acertadamente Montoro del Arco (2006) diz que natildeo haacute um consenso sobre quais satildeo os limites do componente fraseoloacutegico e sobre que unidades devem ser consideradas fraseoloacutegicas Talvez segundo o linguista o uacutenico traccedilo ou propriedade fraseoloacutegica consensual seja a polilexicalidade

Para Gross (1996) a polilexicalidade eacute a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria para que se possa falar acerca da fixaccedilatildeo (cristalizaccedilatildeo) das expressotildees idiomaacuteticas e que as palavras constituintes da expressatildeo idiomaacutetica tenham uma existecircncia autocircnoma fora da construccedilatildeo ou

28 Muitos autores citam ainda a informalidade como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas mas consideramos um equiacutevoco uma vez que como todas as palavras existem as que satildeo formais e as que satildeo informais

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combinaccedilatildeo fraseoloacutegica por essa razatildeo segundo Gross satildeo excluiacutedas construccedilotildees formadas com afixo (sufixo prefixo) que se enquadram no chamado processo de derivaccedilatildeo (p 9-10)

Montoro del Arco (2009) na tradiccedilatildeo europeia particulamente a hispacircnica um segmento eacute considerado fraseoloacutegico quando eacute formado por dois ou vaacuterios componentes que aparecem separados na escrita Graccedilas a esta noccedilatildeo ortograacutefica semacircntica e morfoloacutegica pode-se tambeacutem utilizar de forma mais geral em vez de unidade fraseoloacutegica a expressatildeo unidade polilexical quando se quer se referir agrave unidade lexicalizada o que pode criar uma separaccedilatildeo ou distinccedilatildeo terminoloacutegica das unidades univerbais (ou unidades leacutexicas) que satildeo objeto de lexicologia

Cumpre-nos destacar poreacutem que a polilexicalidade natildeo eacute apenas uma traccedilo meramente formal das expressotildees idiomaacuteticas senatildeo tambeacutem de tipo psicoloacutegico significativo no sintagma fraseoloacutegico pois influi na interpretaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica (MONTORO DEL ARCO 2006 p 37) Isso certamente ocorre porque estatildeo ligados a campos conceituais diversos como podemos comprovar no dicionaacuterio de Penadeacutes Martiacutenez (2002) ao registrar as expressotildees idiomaacuteticas relacionadas a accedilotildees estados e processos proacuteprios das pessoas como seres vivos a atividades profissionais a accedilotildees e processos referentes ao sexo entre outros

Concordamos com a opiniatildeo de Montoro Del Arco (2006 p 38) quando diz que no campo da Fraseologia referindo-se agrave polilexicalidade deve ser apontada desde o comeccedilo e com suficiente clareza em toda caracterizaccedilatildeo geral das unidades que se incluem no componente fraseoloacutegico da liacutengua Espanhola29

No acircmbito dos estudos de Linguiacutestica Cognitiva haacute uma compreensatildeo de que graccedilas agrave propriedade de polilexicalidade haacute uma intensa produtividade de expressotildees fixas nas liacutenguas modernas foacutermulas binaacuterias que estabelecem o princiacutepio da ordem linear da maioria das locuccedilotildees (DELBEQUE 2008 p26)

Natildeo nos parece razoaacutevel a posiccedilatildeo de Delbeque (2008) Do ponto de vista linguiacutestico e pela proacutepria definiccedilatildeo de fraseoloacutegica uma

29 No original debe sentildealarse desde el principio y con la suficiente claridad en toda carcterizacioacuten general de las unidades que se engloban en el componente fraseoloacutegico de la lengua espantildeola

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expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva Afinal natildeo podemos utilizar parte de seus componentes ou de seus morfemas na composiccedilatildeo de novas expressotildees da mesma forma que acontece com os sufixos e prefixos nas lexias simples ou palavras unitaacuterias

Para ilustrar a noccedilatildeo de binarismo linguiacutestico proposto por Delbeque tomemos em liacutengua Portuguesa dois exemplos de unidades fraseoloacutegicas tendo como lexema de base a palavra aacutegua a) aacutegua benta (aacutegua usada para fins sacramentais e piedosos) como na frase Vocecirc jaacute experimentou o maravilhoso poder da aacutegua benta b) aacutegua na boca (forte vontade de comer grande apetecircncia grande desejo) como na frase Joatildeo ficou com aacutegua na boca ao ver a sobremesa e (c) ter bebido aacutegua de chocalho (falar demais) como na frase de alta frequecircncia no Cearaacute como em Dizem por aiacute que Joatildeo andou bebendo aacutegua de chocalho e falando o que natildeo pode provar

Na frase (a) a locuccedilatildeo nominal destacada eacute formada de duas palavras aacutegua e benta No exemplo (b) a locuccedilatildeo nominal eacute formada por trecircs constituintes aacutegua na e boca e no exemplo (c) estamos diante de uma locuccedilatildeo verbal de natureza idiomaacutetica formada por cinco elementos constituintes ter bebido aacutegua de e chocalho

Os exemplos acima nos levam a caracterizar a expressatildeo idiomaacutetica como uma combinaccedilatildeo de duas ou mais palavras Assim caracterizada a expressatildeo idiomaacutetica natildeo se confunde com unidade leacutexica simples como nas foacutermulas pragmaacuteticas ou de rotina como as interjeiccedilotildees sauacutede (voto que se faz a algueacutem que espirra) adeus (foacutermula de despedida geralmente quando se espera separaccedilatildeo longa ou definitiva) obrigado (foacutermula utilizada para quem se sente devedor de um favor de uma amabilidade)

Adverte poreacutem Garciacutea-Page (2008 p24) o seguinte O caraacuteter pluriverbal de unidades fraseoloacutegicas eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo exclusiva embora suficientemente restritiva para deixar de fora do campo de estudo da Fraseologia um grande conjunto de estruturas30 Como as demais unidades fraseoloacutegicas a expressatildeo idiomaacutetica eacute fundamentalmente polilexical

30 No original el caraacutecter pluriverbal de las unidades fraseoloacutegicas es una condicioacuten necesaria pero no privativa aunque siacute suficientemente restrictiva como para dejar fuera de campo de estudio la Fraseologiacutea un nutrido conjunto de estructuras

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Em substacircncia diriacuteamos que por resultar de um fenocircmeno de cristalizaccedilatildeo cujo grau pode variar conforme as unidades a polilexicalidade faz-se acompanhar de um certo nuacutemero de propriedades sintaacuteticas e semacircnticas e sua definiccedilatildeo eacute bastante contiacutegua de uma outra propriedade das expressotildees idiomaacuteticas a estabilidade ou fixaccedilatildeo que veremos em subseccedilatildeo mais adiante Trataremos a seguir da frequecircncia fraseoloacutegica

Depois da polilexicalidade a frequecircncia de uso (e de coapariccedilatildeo) eacute a propriedade mais sobressalente das expressotildees idiomaacuteticas Sem a frequecircncia natildeo podemos falar em convencionalidade (ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) ou dizermos por exemplo que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute antes de tudo uma expressatildeo fixa e portanto armazenada na memoacuteria dos falantes nativos

A retoacuterica claacutessica recorreu agrave noccedilatildeo de frequecircncia para designar numerosas figuras de linguagem relacionadas agrave repeticcedilatildeo como a anaacutefora a anadiplose a aliteraccedilatildeo a assonacircncia a diaacutecope a epiacutestrofe a paranomaacutesia e a epanalepse

A noccedilatildeo antiga de frequecircncia alcanccedilou tambeacutem as teorias fraseoloacutegicas Linguistas como Corpas Pastor (1997) Xatara (1998) Sanromaacuten (2001) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) tecircm proposto a frequecircncia de uso como uma caracteriacutestica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Entre as seis caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas assinaladas por Corpas Pastor (1997) estaacute a frequecircncia Eacute um traccedilo destacado das expressotildees idiomaacuteticas ao consideraacute-las como unidades leacutexicas polilexicais que se caracterizam por sua alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes (p20) No conjunto de expressotildees idiomaacuteticas de dada liacutengua evidentemente nem todas tecircm alta frequecircncia de uso isto eacute natildeo podemos generalizar esta caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas

Segundo Corpas Pastor (1997) a frequecircncia como caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas poderaacute apresentar duas vertentes conforme jaacute pudemos observar na definiccedilatildeo anterior (a) frequecircncia de uso da expressatildeo idiomaacutetica como tal e (b) frequecircncia de coapariccedilatildeo de seus elementos constituintes No caso (b) os elementos constituintes natildeo aparecem sozinhos sob pena de descaracterizar a expressatildeo idiomaacutetica

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Cremos que a frequecircncia de uso atua como um elemento fixador da expressatildeo idiomaacutetica Graccedilas agrave frequecircncia de uso as expressotildees idiomaacuteticas potencializam as funccedilotildees apelativas da linguagem oralescrita que se caracterizam pela interpelaccedilatildeo direta do interlocutor e diriacuteamos tambeacutem incrementam as mesmas funccedilotildees da linguagem natildeo verbal uma vez que estatildeo presentes por exemplo em Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) conforme nos descreve Lemos (2012) De igual modo as funccedilotildees expressivas as que se referem agraves atitudes dos locutores ou emissores com relaccedilatildeo ao conteuacutedo e ao contexto da mensagem satildeo beneficiadas pela frequecircncia de uso das unidades fraseoloacutegicas Em outras palavras diriacuteamos que a causa (frequecircncia de uso) gruda com a consequecircncia (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica)

Para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 32) cabe falar em frequecircncia de uso no acircmbito do estudo das locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas se concebemos as referidas combinaccedilotildees fixas como fios de tecido textual das mensagens e que sua presenccedila na comunicaccedilatildeo oral e escrita eacute constante A frequecircncia de uso nas expressotildees idiomaacuteticas potencial e estruturalmente ambiacuteguas evidencia o sentido idiomaacutetico ou holiacutestico prevalecendo habitualmente sobre o sentido literal originaacuterio desde que exista um contexto determinante

Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera um extremo de infrequecircncia o fato de uma combinaccedilatildeo que em princiacutepio admite duas leituras uma literal como forma livre e outra idiomaacutetica como expressatildeo fixa seja empregada com o sentido literal isto eacute como produto da teacutecnica do discurso para tomarmos uma expressatildeo de Coseriu (1981 p113-118)

Em outras palavras o que Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera infrequente ou inusual eacute a possibilidade de uma expressatildeo como em Liacutengua Portuguesa ficar a ver navios com sentido idiomaacutetico de sofrer decepccedilatildeo possa ser interpretada por um falante nativo como ficar + a + ver + navios com o sentido literal de continuar a enxergar as embarcaccedilotildees A posiccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenhez (2008) indica que a compreensatildeo de uma sequecircncia eacute preferencialmente idiomaacutetica

Quanto agrave frequecircncia de apariccedilatildeo Corpas Pastor (1996) afirma ocorrer quando as expressotildees idiomaacuteticas apresentam elementos constituintes que aparecem combinados com uma frequecircncia de aparecimento do conjunto ou bloco superior ao que se espera da frequecircncia de aparecimento individual de cada palavra na liacutengua

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A frequecircncia de coapariccedilatildeo tem uma consequecircncia imediata desde o momento em que uma combinaccedilatildeo de palavras constituiacuteda livremente a partir das regras do sistema linguiacutestico emprega-se em alguma ocasiatildeo particular ou seja estaacute disponiacutevel para ser usada no discurso pelo mesmo falante ou outro como uma combinaccedilatildeo jaacute feita

Segundo Corpas Pastor (1997 p21) quanto mais frequente o uso da combinaccedilatildeo mas chances teraacute para consolidar-se como expressatildeo fixa que os falantes nativos armazenam na memoacuteria de longo prazo

Somos da mesma opiniatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) de que natildeo faz sentido falar de frequecircncia de coapariccedilatildeo das palavras que formam a expressatildeo salvo claro as variantes fraseoloacutegicas jaacute codificadas que funcionam numa relaccedilatildeo paradigmaacutetica posto que as expressotildees idiomaacuteticas trazem a presenccedila insubstituiacutevel dos componentes

Para ilustrarmos com um exemplo em Liacutengua Portuguesa a expressatildeo abaixarapagarassentarsossegar o facho pode vir com diversos verbos mas o mais frequente nos meios de comunicaccedilatildeo eacute que apareccedila com o verbo baixar como em O Peru conseguiu baixar o facho do Sendeiro Luminoso(In Coluna FREI HERMIacuteNIO BEZERRA Caderno 3 DN 07012008) com o sentido de moderar-se conter-se

A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um traccedilo que caracteriza sobretudo as colocaccedilotildees ou as construccedilotildees em tracircnsito de fixaccedilatildeo ou que estatildeo em processo de lexicalizaccedilatildeo A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um fato sintagmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada derivado primaacuteria e fundamentalmente de seu viacutenculo semacircntico isto eacute do fato paradigmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees virtuais entre unidades suscetiacuteveis de comutarem entre si o que ao certo contribui para a fixaccedilatildeo completa e definitiva da expressatildeo idiomaacutetica

Nessa mesma linha de reflexatildeo Xatara (1998 p148) acredita que a profusatildeo das expressotildees idiomaacuteticas decorreria de duas razotildees principais (a) o poder de seus efeitos criativos e (b) a revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico ou metafoacuterico

A frequecircncia de uso segundo a linguista Xatara (1998) seria responsaacutevel por dar caraacuteter previsiacutevel e automatismo agraves expressotildees idiomaacuteticas ou mais precisamente pela convencionalidade tornando-as frequentes no discurso mas ao serem apresentadas aos usuaacuterios da liacutengua surpreendentemente revelam-se com um poder metafoacuterico

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ou idiomaacutetico de seus efeitos sobre os usuaacuterios atraveacutes do jogo entre suas relaccedilotildees sobretudo metafoacutericas e metoniacutemicas e do recurso ao seu sentido literal Num olhar mais criacutetico sobre o pensamento de Xatara (1998) diriacuteamos que natildeo haacute metaacutefora nem metoniacutemia do ponto de vista sincrocircnico pelo simples fato de que natildeo haacute processamento da expressatildeo idiomaacutetica

Quanto agrave revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico Xatara (1998) afirma que graccedilas a uma espessura simboacutelica peculiares agraves expressotildees idiomaacuteticas e por estarem retidas na memoacuteria dos falantes satildeo criadas condiccedilotildees para que durante o processamento fraseoloacutegico sejam acionadas transferecircncias semacircnticas regulares do concreto ao abstrato do fiacutesico ao psiacutequico exprimindo julgamentos sociais e compartilhando das mais diversas sensaccedilotildees e emoccedilotildees

A frequecircncia de uso de expressotildees como bater as asas bater em retirada botar o peacute no mundo cair fora dar com o peacute no mundo levantar voo meter o arco meter o peacute no mundo entre outras expressotildees em lugar do leacutexico simples fugir na verdade daacute uma maior forccedila perlocucionaacuteria ao enunciado e traduz para o leitor ou ouvinte maior forccedila de expressatildeo ou estilo 31

Emparelhada com a polilexicalidade apontamos entre propriedades essenciais das expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo ou a estabilidade

Zuluaga (1975 p 230) entende por fixaccedilatildeo ou estabilidade formal a propriedade que tem certas expressotildees de serem reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas Esta definiccedilatildeo foi posteriormente acolhida por Corpas Pastor (1996 p23)

Uma explicaccedilatildeo das teorias fraseoloacutegicas sobre o surgimento desta propriedade fraseoloacutegica eacute a de que a fixaccedilatildeo resultaria de um processo histoacuterico-diacrocircnico e da conversatildeo paulatina de uma construccedilatildeo livre e variaacutevel em uma construccedilatildeo fixa invariaacutevel soacutelida graccedilas agrave insistente repeticcedilatildeo portanto como consequecircncia de sua frequecircncia

Nesse processo de evoluccedilatildeo uma forma analiacutetica livre chegaria a adquirir em um ponto da histoacuteria um sentido idiomaacutetico (ou

31 A rigor natildeo poderiacuteamos dizer que a frequecircncia de uso eacute uma propriedade exclusiva das expressotildees idiomaacuteticas Acontece com a escolha de qualquer palavra da Liacutengua Portuguesa como por exemplo com o verbo sair ou retirar-se com seu correlato vazar

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metafoacuterico32) ou especiacutefico33 em ateacute conceber-se como um todo isto eacute uma foacutermula memorizaacutevel disponiacutevel para emprego por parte do falante no processo discursivo ao expressar um conteuacutedo que jaacute estaria condensado nela (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p25)

Este processo de conversatildeo de uma unidade sintaacutetica em expressatildeo idiomaacutetica poderia chamar-se de fraseologizaccedilatildeo embora para Garciacutea-Page Saacutenchez (p25) o fato de unidades fraseoloacutegicas terem muitas palavras eacute uma condiccedilatildeo absolutamente necessaacuteria mas natildeo exclusiva e suficientemente restritiva o que significa dizer que este fato linguiacutestico pode representar um fenocircmeno mais amplo se inclui a fixaccedilatildeo da forma e a fixaccedilatildeo semacircntica como operaccedilotildees simultacircneas uma vez que fixa tambeacutem o sentido fraseoloacutegico

Quando o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica se estabiliza a forma livre originaacuteria estruturalmente idecircntica portanto correspondente a literal (ou a teacutecnica do discurso para tomarmos a expressatildeo coseriana) seguiraacute outros caminhos semacircnticos ou ocorrecircncias semacircnticas disponiacutevel para emprego discursivo e exposta como qualquer outro signo da liacutengua a preencher-se de novos matizes semacircnticos daiacute as expressotildees idiomaacuteticas experimentarem mudanccedilas no sentido ou se tornarem arcaiacutesmos

Com relaccedilatildeo especificamente agraves expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo eacute uma propriedade marcante das mesmas em que pesem sofrerem muito com a variaccedilatildeo fraseoloacutegica Liacutenguas neolatinas como o portuguecircs e o Espanhol registram muitas variantes fraseoloacutegicas no seu leacutexico Vamos entatildeo aprofundar um pouco com alguns exemplos em liacutengua Portuguesa esta questatildeo da variaccedilatildeo nas expressotildees fixas nos paraacutegrafos a seguir

Segundo Garciacutea-Page Sanchez (2008 p213-315) os estudos filoloacutegicos tecircm mostrado que a tradiccedilatildeo oral tem favorecido ao longo dos anos ou seacuteculos a criaccedilatildeo de variantes em decorrecircncia de causas diversas do tipo (1) maior expressividade (2) etimologia popular (3)

32 Natildeo poderiacuteamos generalizar esta carga metaforicidade para todas as unidades fraseoloacutegicas Na expressatildeo de vez em quando com sentido de ocasionalmente uma vez ou outra natildeo haacute metaacutefora 33 Por exemplo em ser cheio de nove horas com sentido de rabugento impertinente como na frase O senador fluminense Lindbergh Farias ficou cheio de nove horas para dizer que aquele escritoacuterio era ateacute entatildeo uma caixa-preta (DN em Caderno 3 Coluna Eacute 08072013)

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regionalismos (4) marcas sociolinguiacutesticas (as de variaccedilatildeo diastraacutetica em particular) (5) existecircncia de modelos produtivos de uso pelos falantes34 (6) ecircnfase (7) reforccedilo do aprendizado (8) ajuda agrave memorizaccedilatildeo (9) economia linguiacutestica (10) modernizaccedilatildeo e por uacuteltimo (11) maior ou menor extensatildeo da locuccedilatildeo

Destas causas arroladas acima natildeo concordamos com a (5) por entendermos que por definiccedilatildeo uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva a menos que o autor considere a flexatildeo ou a variaccedilatildeo como processos criativos da liacutengua o que seria um contrassenso linguiacutestico

De outra maneira diriacuteamos que a fixaccedilatildeo tem um caraacuteter gradual portanto de escalaridade que se manifesta de diversos graus de uso da liacutengua Satildeo muitas as expressotildees idiomaacuteticas passiacuteveis de variaccedilotildees formais de uma ou outra natureza (focircnica graacutefica leacutexica gramatical morfoloacutegica)

Na Liacutengua Portuguesa podemos dar exemplos de variantes fraseoloacutegicas de vaacuterias expressotildees idiomaacuteticas como chutar o balde o pau da barraca escaparsair pela tangente estarficar entregue agraves baratas passar atestado de burro estuacutepidoimbecil estarou andar com a pedra no sapato estarcair ficar de cama estar ficar com aacutegua na boca estar ficar de saco cheio estar ficar no mato sem cachorros e esticar a canela as botas Esta riqueza de variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute entendida por noacutes como diferenccedilas de realizaccedilatildeo linguiacutestica (falada ou escrita) de uma expressatildeo fixa observadas entre os falantes de uma mesma liacutengua e natildeo como produtividade fraseoloacutegica

Para ficarmos em exemplo vejamos o que nos diz Houaiss e Villar (2009) sobre a expressatildeo ldquochutar o balderdquo mesmo que ldquoChutar o pau da barracardquo Portanto as duas formas ou variantes de uma mesma expressatildeo fixa compartilham os mesmos sentidos como ldquodeixar de medir as consequecircncias de qualquer ato engrossar entornar o caldordquo e ldquoabandonar desistir de um projetordquo

34 O caraacuteter produtivo das expressotildees eacute muito questionado Ao longo deste livro temos colocado que uma expressatildeo natildeo pode ser produtiva Eacute uma contradiccedilatildeo em termos Se o que caracteriza a expressatildeo eacute justamente a cristalizaccedilatildeo e a fixaccedilatildeo com o passar dos anos ela natildeo pode ser produtiva Assim ningueacutem pode fazer uma expressatildeo nova porque por definiccedilatildeo a sequecircncia tem de ser repetida durante muito tempo ateacute ser conhecida e compartilhada por todos os outros falantes da liacutengua

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No inventaacuterio de variantes fraseoloacutegicas como apresentamos na lista acima as que permanecem no uso da liacutengua sem se tornarem anacrocircnicas ou obsoletas satildeo as que satildeo geralmente codificadas e consagradas pela comunidade e previstas pelo sistema (da liacutengua) daiacute reconhecermos que a convencionalidade e a frequecircncia satildeo tambeacutem dois traccedilos definitoacuterios das expressotildees idiomaacuteticas

Para ilustrarmos com mais exemplos em Liacutengua Portuguesa lembramos que no caso do sentido idiomaacutetico de fugir ou retirar-se em debandada o Aureacutelio (2009) registra sobejamente entre outras as seguintes locuccedilotildees verbais abrir no mundo abrir no peacute abrir nos paus abrir o arco bater em retirada botar o peacute no mundo enfiar a cara no mundo ensebar as canelasentupir no oco do mundo fazer chatildeo fazer a pista ganhar o mato ganhar o mundo bater em retirada sair de fininho e elevantar voo

Por outro lado satildeo abundantes as expressotildees idiomaacuteticas que admitem modificaccedilotildees de seus elementos constituintes atraveacutes da teacutecnica do discurso proacutepria das combinaccedilotildees livres Quando expressotildees idiomaacuteticas se comportam como se fossem combinaccedilotildees livres portanto de sintaxe plena o que ocorre geralmente eacute a inclusatildeo na combinatoacuteria de incrementos leacutexicos com valor intensificador35 mas que natildeo interferem no conceito de fixaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas particularmente no caso das locuccedilotildees verbais como as seguintes abrir o (maior) bocatildeo armar (o maior) banzeacute armar o (maior) barraco ser bom (ou muito) estocircmago ser bastante (ou muito) mulher e ter bom (ou muito) estocircmago

A variaccedilatildeo como contrapartida e aparentemente contraexemplo da fixaccedilatildeo tem sido proposta juntamente com a fixaccedilatildeo como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas inclusive como um traccedilo universal fraseoloacutegico (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p213-220) Existiriam assim fatores para transgressatildeo da fixaccedilatildeo ou variaccedilatildeo fraseoloacutegica (1) a proacutepria natureza fixa da locuccedilatildeo (2) o caraacuteter travado e coeso de sua composiccedilatildeo leacutexica sintaacutetica e inclusive focircnica (relativo ao contiacutenuo sonoro que constitui a cadeia falada) e (3) seu valor de unidade memorizaacutevel

35 Muitos somatismos como em tirar mais aacutegua do joelho que traz o intensificador mais e ldquoter a liacutengua maior que o corpordquo ou ldquoter o o olho maior que a barrigardquo em que temos ldquomaiorrdquo nas combinatoacuterias fixas

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Em nosso estudo acolhemos esta visatildeo acima por considerarmos que os falantes de dada liacutengua especialmente os de L2 como por exemplo lusoacutefonos na variante africana tendem naturalmente a apresentar formas linguiacutesticas diferenciadas da nossa vertente brasileira ou europeia por determinantes sociolinguiacutesticos ou mais precisamente por fatores diatoacutepicos

A estabilidade da combinatoacuteria de uma expressatildeo idiomaacutetica ao longo de um tempo resultaria pois da consagraccedilatildeo pelo uso na comunidade linguiacutestica ainda assim e paradoxalmente tal fixaccedilatildeo natildeo se imporia como homogecircnea para todos os falantes de dada liacutengua nem mesmo os dicionaacuterios gerais ou especializados registram as expressotildees idiomaacuteticas ou as abonam de igual modo Apenas para exemplificar tomemos por exemplo as expressotildees idiomaacuteticas para o sentido de morrer contendo o lexema paletoacute fechar o paletoacute fechar o paletoacute de algueacutem vestir o paletoacute de madeira abotoar o paletoacute e vestir paletoacute de pinho

Esta particularidade da propriedade fixaccedilatildeo segundo Corpas Pastor (1996 p23) pode ser manifesta nos seus dois tipos (a) fixaccedilatildeo interna e (b) a fixaccedilatildeo externa Por fixaccedilatildeo interna entendemos a fixaccedilatildeo material marcada pela impossibilidade de reordenamento dos componentes realizaccedilatildeo foneacutetica fixa restriccedilatildeo na escolha dos componentes e fixaccedilatildeo de conteuacutedo (ou peculiaridade semacircntica)

A fixaccedilatildeo externa por sua vez pode ser sudividida em outros quatro subtipos conforme descrevemos abaixo

(1) fixaccedilatildeo situacional 36 refere-se a que se daacute como combinaccedilatildeo de certas unidades linguiacutesticaa em situaccedilotildees sociais determinadas como ocorre nas expressotildees como com licenccedila da (maacute) palavra (se me permite usar uma palavra feia desculpe-me a palavra insultuosa) pedir a matildeo de (fazer proposta de casamento ) e pedir a palavra (pedir licenccedila para falar)

(2) fixaccedilatildeo analiacutetica entende-se aquela que se daacute como consequecircncia do uso de determinadas unidades linguiacutesticas para anaacutelise jaacute estabelecida do mundo frente a outras unidades igualmente possiacuteveis teoricamente como em Liacutengua Portuguesa temos querer viver apenas agrave sombra e aacutegua fresca natildeo dizer desta aacutegua natildeo beberei e natildeo se julgar livre de fazer o que condena nos outros)

36 Este traccedilo natildeo poderiacuteamos dizer a rigor ser exclusivo das unidades fraseoloacutegicas Qualquer palavra de dada liacutengua tem sua fixaccedilatildeo situacional

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(3)fixaccedilatildeo passemaacutetica37 aquela fixaccedilatildeo originada no emprego de unidades linguiacutesticas segundo o papel do falante no ato comunicativo como nas locuccedilotildees custar os olhos da cara (ser muito caro) e dormir como uma pedra (dormir profundamente)

(4) Fixaccedilatildeo posicional entendida como a preferecircncia pelo uso de certas unidades linguiacutesticas de determinadas posiccedilotildees na forma de textos como ocorre nas foacutermulas de saudaccedilatildeo encabeccedilamentos e despedidas de cartas por exemplo Sou com todo o respeito (foacutermula de delicadeza que usa o missivista no fecho das cartas para exprimir o respeito e o apreccedilo pela pessoa a quem se dirige)

A noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo segundo Garcia Page (2008) eacute um dos traccedilos acidentais das expressotildees idiomaacuteticas que tambeacutem pode ser emparelhado com o conceito de fixaccedilatildeo Define institucionalizaccedilatildeo como ldquoo processo pela qual uma comunidade linguiacutestica adota uma expressatildeo fixa a sanciona como algo proacuteprio como moeda de troca na comunicaccedilatildeo cotidiana como componente do seu acervo linguiacutestico-cultural de seu coacutedigo idiomaacutetico como qualquer outro signo convencional e passa a formar parte do vocabulaacuteriordquo 38 (p29)

Vale ressaltar que a noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo na perspectiva de nosso trabalho como jaacute dissemos antes eacute uma propriedade acidental ou ocasional que natildeo pode ser confundida com a noccedilatildeo de convencionalidade uma propriedade essencial das expressotildees idiomaacuteticas segundo a perspectiva cognitivista (FILLMORE KAY e OCONNOR 1988 NUNBERG WASOW e SAG 1994 CROFT e CRUSE 2004 p298 TAGNIN 2005) Mais adiante daremos uma atenccedilatildeo especial agrave propriedade da convencionalidade

No caso da institucionalizaccedilatildeo a expressatildeo idiomaacutetica converte-se em produto cultural como um referente idiossincraacutesico e de uso por uma comunidade linguiacutestica embora possa ultraspassar as fronteiras e

37 Este termo nos lembra muito a noccedilatildeo de ato perlocutoacuterio (os efeitos do ato do falante nos interlocutores e audiecircncia) isto eacute o efeito que um ato ilocutoacuterio (forccedila que o enunciado produz que pode ser de pergunta de afirmaccedilatildeo ou de promessa) no alocutaacuterio (pessoa a quem o locutor dirige um ato de fala numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo oral) 38 No original el proceso por el cual una comunidad linguiacutestica adopta una expresioacuten fija la sanciona como algo propio como moneda de cambio en la comunicacioacuten cotidiana como componente de su acervo linguiacutestico-cultural de su coacutedigo idiomaacutetico como cualquier otro signo convencional y pasa a parte del vocabulario

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alcanccedilar o campo internacional isto eacute passar a fazer parte do universo fraseoloacutegico compartilhado por comunidades de falas distintas

Haacute expressotildees que surgem com forccedila e pujanccedila ou se potildeem de moda por certo tempo mas a comunidade linguiacutestica deixa de usar de uma hora para outra e a esquece e assim deixa de fazer parte do vocabulaacuterio ativo da comunidade de falantes embora por vezes continue registrada nos dicionaacuterios gerais da liacutengua

Na institucionalizaccedilatildeo de uma estrutura normalmente a accedilatildeo fixadora do uso repetido eacute precisa Ainda segundo Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) a repeticcedilatildeo continuada de uma expressatildeo conduz a sua cristalizaccedilatildeo a sua petrificaccedilatildeo agrave condiccedilatildeo de unidade disponiacutevel para seu armazenamento memorizaccedilatildeo e a sua transmissatildeo entre os falantes

No campo fraseoloacutegico o traccedilo de fixidez da instituiccedilatildeo nos leva a outra noccedilatildeo a de reprodutividade que certamente eacute a mesma que percebeu Eugenio Coseriu quando fez referecircncia a discurso repetido (2007 p201)

Por conta da repeticcedilatildeo ou reproduccedilatildeo ocorreria a institucionalizaccedilatildeo e esta tambeacutem levaria no uso da liacutengua agrave repeticcedilatildeo da expressatildeo evidenciando seus valores intriacutensecos como foacutermula ou discurso repetido conhecimento ou experiecircncia compartilhada entre os falantes sua natureza estruturalmente sinteacutetica e sua marca de identidade cultural da comunidade linguiacutestica

Outra noccedilatildeo fraseoloacutegica considerada por noacutes como acidental e que estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de anomalia Entendida em nosso estudonosso estudo como expressotildees palavras que fogem agrave regra e natildeo seguem um paradigma flexional e sendo formas anocircmalas devem ser portanto memorizadas pelos falantes de uma liacutengua dada

Tem-se apontado as construccedilotildees estruturalmente anocircmalas do tipo leacutexicas sintaacuteticas ou semacircnticas como iacutendices ou indicadores fraseoloacutegicos isto eacute marcas de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e uma prova da fixaccedilatildeo das unidades fraseoloacutegicas (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p33-34 RUIZ GURILLO 2001 p18)

No caso da Liacutengua Portuguesa enquanto para o sintaxista uma expressatildeo idiomaacutetica como aiacute eacute que a porca torce o rabo (este eacute que eacute o ponto difiacutecil da questatildeo) a presenccedila do adverbio aiacute eacute considerada uma anomalia para o fraseoacutelogo eacute um traccedilo proacuteprio de

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certas unidadesexpressotildees fraseoloacutegicas39 Em outras palavras no campo fraseoloacutegico a anomalia tem seu valor diacriacutetico

A Liacutengua Portuguesa em se tratando de casos de anomalias fraseoloacutegicas eacute bastante produtiva Por exemplo haacute casos de anomalias em expressotildees idiomaacuteticas (a maioria anacrocircnica) com a presenccedila de nomes proacuteprios ou antropocircnimos como em Messias em esperar pelo Messias (esperar por coisa pouco provaacutevel ou quase impossiacutevel Luzia em ganhar o que Luzia ganhou na horta ( ser passado para traacutes) ou Joatildeo em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (disfarccedilar-se) Estes antropocircnimos caracterizam a expressatildeo de modo a nos falar de uma fossilizaccedilatildeo de estados sincrocircnicos anteriores isto eacute constitui um resiacuteduo histoacuterico de sua consolidaccedilatildeo

As diversas anomalias presentes nas expressotildees idiomaacuteticas tendem a tornaacute-las expressotildees ambiacuteguas isto eacute potencialmente composicionais (transparentes ou literais) e natildeo composicionais (opacas e idiomaacuteticas ou natildeo literais) e por essa razatildeo o contexto desempenha um papel importante na identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas quando trazem as marcas de anomalias fraseoloacutegicas como nos exemplos mostrados acima

No acircmbito da Fraseologia existem mais exemplos de anomalias com palavras idiomaacuteticas (ou diacriacuteticas) arcaiacutesmos ou a marca do arredondamento dos laacutebios Por exemplo nas expressotildees idiomaacuteticas botar as manguinhas de fora ou pocircr as manguinhas de fora (agir revelando qualidades ou denunciando intenccedilotildees que em geral anteriormente se ocultavam) embora possa ser alternado o verbo botar para pocircr a palavra idiomaacutetica manguinhas na sua forma fossilizada no plural estaacute presente nas duas construccedilotildees sinocircnimas Manguinhas tem a funccedilatildeo de ser uma palavra diacriacutetica Eacute na expressatildeo idiomaacutetica botar as manguinhas de fora o que Gonzalez Rey (2005 p315) chama de fenocircmeno de haacutepax 40 fraseoloacutegico

Da mesma forma temos um caso de arcaiacutesmo quando o falante atual do Portuguecircs Brasileiro diante de uma expressatildeo idiomaacutetica

39 Uma outra interpretaccedilatildeo para este fenocircmeno seria a de considerar que um sintatiscista poderia ver no adveacuterbio aiacute um adjunto temporal perfeitamente justificaacutevel na liacutengua tanto do ponto de vista formal (com relaccedilatildeo agrave posiccedilatildeo na sentenccedila) quanto semacircntico 40Em lexicografia palavra ou expressatildeo de que soacute existe uma uacutenica abonaccedilatildeo nos registros da liacutengua Esta palavra vem do grego haacutepaks uma vez isto eacute haacutepaks legoacutemenon o que eacute dito uma uacutenica vez

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como bater a caccediloleta (morrer) natildeo reconhece composicionamente o sentido de caccediloleta (fuzil de espingarda ou arma de fogo semelhante que dispara com faiacutescas de pederneira sobre a qual bate a pedra adaptada ao catildeo para comunicar fogo agrave escorva) julgaraacute entatildeo por forccedila de sua intuiccedilatildeo Linguiacutestica que se trata de uma expressatildeo antiga ou desusada na verdade estaacute diante realmente de uma construccedilatildeo idiomaacutetica que caiu em desuso quer na fala quer na escrita padratildeo embora possa continuar a existir como forma dialetal ou em usos literaacuterios e com registros nos dicionaacuterios gerais41

Um bom exemplo de arredondamento dos laacutebios (ou labializaccedilatildeo) podemos observar quando a presenccedila do artigo enquanto categoria gramatical implica em diferenccedila no sentido idiomaacutetico da expressatildeo com relaccedilatildeo a sintagmas livres irmatildeos gecircmeos42 como por exemplo em chutar o balde ou chutar o pau da barraca bater a bota ou bater as botas

O que podemos assinalar nos exemplos chutar o balde e chutar o pau da barraca eacute que o artigo o indica convencionalmente a presenccedila de uma expressatildeo idiomaacutetica frente aos sintagmas livres chutar balde ou chutar pau da barraca que tecircm o sentido literal de dar chute contra o recipiente Por outro lado a presenccedila do artigo definido nas construccedilotildees idiomaacuteticas indica natildeo apenas uma determinaccedilatildeo dentre outras da mesma espeacutecie mas uma articulaccedilatildeo secundaacuteria que envolve arredondamento dos laacutebios na hora de ser proferida pelo falante

A metaacutefora a hipeacuterbole e a metoniacutemia datildeo origem a numerosas expressotildees idiomaacuteticas semanticamente anocircmalas como comer com os olhos (olhar com cobiccedila admirar demonstrando forte desejo) comer como pinto e cagar como pato ou dar o passo maior que a perna (ganhar pouco e gastar muito) comer como um lobo (comer aacutevida e exageradamente) afogar-se em pouca aacutegua (complicar-se ou preocupar-se com pequenos problemas ou com as

41 Reconhecemos que haacute inuacutemeras expressotildees com palavras que natildeo existem independemente e satildeo empregadas Por exemplo ao leacuteu ou a esmo (agrave toa) ou sem eira nem beira (na miseacuteria) Assim o fato de a expressatildeo desparecer porque seus componentes natildeo satildeo usados natildeo nos parece um fato Na verdade quando a expressatildeo desaparece o alcance eacute pleno isto eacute como grupo fraseoloacutegico Afinal a expressatildeo fixa eacute uma unidade 42 A linguista Gurillo (2001) recorre a esta expressatildeo para se referir ao homoacutefono literal de uma expressatildeo idiomaacutetica

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miacutenimas coisas sem nenhuma importacircncia abrir o coraccedilatildeo (expandir os seus sentimentos desabafar) e cortar o coraccedilatildeo (ser extremamente doloroso)

Tendo em conta que a oposiccedilatildeo entre expressotildees idiomaacuteticas em L1 e em L2 ou em L3 ocorre com frequecircncia nas liacutenguas modernas como nos aponta Belinchoacuten (1999 p359-73) diriacuteamos que a Fraseologia do Portuguecircs eacute uma das mais ricas das liacutenguas europeias por estar repleta de expressotildees que contecircm componentes leacutexicos cujo sentido resulta completamente desconhecido por muitos falantes especialmente crianccedilas e adolescentes embora em geral saibam o sentido global da expressatildeo quando esta eacute de uso frequente ou corriqueiro ou ainda quando contextualizada na fala cotidiana

Eis algumas expressotildees que ilustram melhor nossa assertiva acima estar com o peacute no estribo (estar de partida) estar na berlinda (ser alvo de comentaacuterios) fazer de um argueiro um cavaleiro (exagerar demais) fazer figas (amaldiccediloar esconjurar algueacutem ou algo) fazer mea-culpa (arrepender-se) fazer ouvidos de mercador (fingir que natildeo ouve) fazer peacute de alferes a (namorar cortejar) fazer uma fezinha (arriscar a sorte num jogo de azar) fazer uma vaquinha (dividir igualmente entre vaacuterias pessoas uma despesa qualquer) dar em aacuteguas de bacalhau (natildeo se concretizar frustrar-se)

Como pudemos facilmente mostrar componentes leacutexicos das expressotildees idiomaacuteticas arroladas acima como estribo berlinda argueiro figas mea-culpa mercador peacute de alferes fezinha vaquinha e aacuteguas de bacalhau podem ser altamente infrequentes para nativos ou natildeo nativos do PB

Assim como a polilexicalidade eacute uma propriedade emparelhada com a fixaccedilatildeo esta por seu turno eacute ligada agrave idiomaticidade

Para a renovaccedilatildeo do repertoacuterio do leacutexico de uma liacutengua eacute necessaacuterio que as expressotildees natildeo idiomaacuteticas se convertam em idiomaacuteticas isto eacute globalizem-se (polilexicalidade) e estabilizem-se (fixaccedilatildeo) A todo momento satildeo criadas novas palavras e expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo os dicionaacuterios gerais tendem a marcar passo frente agrave atualizaccedilatildeo das entradas e subentradas de seus verbetes

A idiomaticidade para alguns autores eacute determinada a partir da noccedilatildeo de interlinguiacutestica e intralinguiacutestica Eacute idiomaacutetica uma expressatildeo que ao ser traduzida para a liacutengua-alvo pelo menos um de seus

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elementos recebe um equivalente especial que aparece somente nessa expressatildeo Segundo Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p 25) a idiomaticidade entendida como especificidade diz respeito a uma liacutengua que se converte em um argumento favoraacutevel agrave relatividade Linguiacutestica 43

Gonzaacutelez-Rey (2010 p 179) defende a ideia que a idiomaticidade (ou opacidade) resultaria de uma percepccedilatildeo relativa dos usuaacuterios que satildeo os que opinam se uma expressatildeo eacute opaca ou natildeo A opacidade dependeria do grau de transparecircncia com a que se expressa uma ideia mas o que verdadeiramente determina a compreensatildeo do sentido idiomaacutetico satildeo segundo ela os conhecimentos preacutevios e os procedimentos cognitivos dos usuaacuterios Segundo a linguista a opacidade vem de uma falha da mente [dos usuaacuterios da liacutengua] ao reconhecer sua incapacidade de desmaranhar sentido 44 (idem)

Na tradiccedilatildeo Linguiacutestica o conceito de idiomaticidade tem ao menos duas concepccedilotildees por um lado uma concepccedilatildeo lato sensu (sentido amplo) daquilo que na liacutengua eacute proacuteprio particular peculiar ao sistema linguiacutestico daiacute os termos concorrentes idiotismo ou idiomatismo e por outro a concepccedilatildeo stricto sensu (sentido restrito) decorrente da noccedilatildeo fraseoloacutegica do princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ou da opacidade semacircntica (BEVILACQUA 20042005 p77)

No Brasil o termo idiomaacutetico ou idiomaticidade durante muito tempo referiu-se a uma particularidade ou a especificidade cultural nacional a que na deacutecada de 40 do seacuteculo passado evidenciou-se com a publicaccedilatildeo de obras como Tesouro da Fraseologia Brasileira (1966) 45 do filoacutelogo Antenor Nascentes e quase trecircs deacutecadas depois com a publicaccedilatildeo de Locuccedilotildees tradicionais no Brasil de Luiacutes da Cacircmara Cascudo (2004)46 Estes autores recolheram uma a uma expressotildees e ditos populares geralmente ouvidas por eles de homens simples familiares descartando as mais populares em Portugal e tendo a

43 Este termo nos remete agrave ideia de que uma determinada liacutengua eacute o reflexo da civilizaccedilatildeo e da cultura da comunidade onde ela eacute falada isto eacute a estrutura global de cada liacutengua influi diferencialmente sobre o pensamento do falante sobre sua concepccedilatildeo da realidade e seu comportamento frente a ela como apontam Rossi-Landi (1974 p30-36) e Neveu (2008 p260) 44 La opacidad procede de un fracaso de la mente al reconocer su incapacidad de desetrantildear el sentido 45 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1945 46 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute data de 1970

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preocupaccedilatildeo de buscar as suas origens ou motivaccedilotildees linguiacutesticas (CASCUDO 2004 p24)

A idiomaticidade portanto nas duas obras acima confundia-se como assinalamos anteriormente com a noccedilatildeo de idiomatismo ou idiotismo47 isto eacute traccedilo ou construccedilatildeo peculiar a uma determinada liacutengua que natildeo se encontra na maioria dos outros idiomas (na verdade mais presunccedilatildeo do que fato linguiacutestico) como ocorre em nossa liacutengua com o infinitivo pessoal ou flexionado do portuguecircs que recebe desinecircncias nuacutemero-pessoais como por exemplo na frase Se noacutes pusermos matildeos agrave obra agora terminaremos o trabalho a tempo em que flexionamos o verbo de uma expressatildeo idiomaacutetica pocircr matildeos agrave obra (comeccedilar a executar alguma coisa)

As expressotildees idiomaacuteticas no tesouro fraseoloacutegico podiam ser entendidas como elementos da tradiccedilatildeo oral de uma cultura no caso a brasileira ou em outras palavras locuccedilotildees proacuteprias de uma liacutengua cuja traduccedilatildeo literal natildeo faz sentido numa outra liacutengua de estrutura anaacuteloga por ter um sentido natildeo dedutiacutevel da simples combinaccedilatildeo dos sentidos dos elementos que a constituem

No Brasil uma das primeiras gramaacuteticas a tratar dos idiotismos foi a Gramaacutetica Expositiva curso superior publicada em 1907 pelo mineiro Eduardo Carlos Pereira e que no ano 1957 jaacute registrava sua 102ordf ediccedilatildeo o que vem comprovar sua grande aceitaccedilatildeo pelos brasileiros

Pereira (1957) definia na eacutepoca idiotismo como termo ou diccedilatildeo de uma liacutengua que natildeo tem correspondente em outra liacutengua ou ainda frases peculiares que se apartam das normas da sintaxe sendo poreacutem consagradas pelo uso de pessoas cultas (p258) Consideradas como verdadeiras belezas da liacutengua os idiotismos segundo Pereira ([1907] 1957) podiam ser divididos em duas vertentes (a) idiotismos leacutexicos e (b) idiotismos fraseoloacutegicos

Conforme nos descreve Pereira (1957) havia quatro casos de ocorrecircncias de idiotismos leacutexicos

(a) infinitivo pessoal ou flexionado forma nominal do verbo que por referir-se a um sujeito ao contraacuterio do infinitivo impessoal flexiona-se em nuacutemero e pessoa como na frase O juiz faz saber a todos quantos deste edital tomarem conhecimento e Jaacute jaacute ajustaremos contas vocecirc e eu

47 Houaiss e Villar (1999) datam o termo idiotismo de 1713 enquanto o termo idiomatismo surgiu no seacuteculo XX

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(b) a mudanccedila do sentido de certas palavras ou expressotildees pela mudanccedila do gecircnero nuacutemero e ainda da posiccedilatildeo de seus componentes no caso das expressotildees como em a cabeccedila (uma das grandes divisotildees do corpo humano) e o cabeccedila (figura preeminente em qualquer associaccedilatildeo ou grupo de seres humanos ou de animais liacuteder) a liacutengua (oacutergatildeo muscular situado na boca e na faringe) e o liacutengua (inteacuterprete tradutor) o zelo (grande cuidado e preocupaccedilatildeo que se dedica a algueacutem ou algo) e os zelos (ciuacuteme) a honra (princiacutepio que leva algueacutem a ter uma conduta virtuosa) e as honras (manifestaccedilotildees que denotam respeito consideraccedilatildeo por algueacutem que se distinguiu por sua conduta ou tiacutetulo ou cargo honoriacutefico) homem grande (crescido desenvolvido taludo) e grande homem (magnacircnimo bondoso generoso) homem simples (modesto humilde pobre) e simples homem (o mais baixo de uma escala ou hierarquia48

(c) o verbo haver empregado no singular com ausecircncia de sujeito expliacutecito ou determinado que expressa situaccedilotildees ou processos que natildeo satildeo atribuiacuteveis a nenhum ser como por exemplo Haacute certo tipo de meninos que apreciam fazer cenas e Em toda parte haacute pessoas que natildeo veem um palmo adiante do nariz

(d) a palavra saudade 49 que natildeo pode idiossincraticamente ser traduzida em outras liacutenguas por natildeo ter equivalecircncia daiacute a locuccedilatildeo genuinamente brasileira deixar na saudade com sentido idiomaacutetico de levar vantagem sobre superar sobrepujar e morrer de saudade (Sentir muita saudade)

Os idiotismos leacutexicos satildeo considerados por Pereira (1957) como idiotismos convencionais pois satildeo observadas construccedilotildees anaacutelogas em outras liacutenguas especialmente neolatinas como Espanhol e o Italiano50

Os idiotismos fraseoloacutegicos aparecem em construccedilotildees do tipo minha nossa Nossa Senhora Minha Nossa Senhora Nossa Matildee Santo Deus Virgem Maria cruz-credo triste de mim pobre do homem que constituem frases idiomaacuteticas expressivas e refrataacuterias agrave anaacutelise

Entre os idiotismos fraseoloacutegicos Pereira (1957) cita o caso dos anacolutos Mais explorada no campo da estiliacutestica ou literaacuterio a

48 Do ponto de vista da Semacircntica isso soacute reflete a polissemia caracteriacutestica de praticamente todos os itens leacutexicos 49 Interessante observar a etimologia da palavra saudade vem do latim solitate lsquosoledadersquo lsquosolidatildeorsquo pela forma arcaica soydade suydade possivelmente com influecircncia da palavra sauacutede 50 Trata-se na verdade de uma indicaccedilatildeo diacrocircnica Em Latim provavelmente havia expressatildeo idiomaacutetica Poderiacuteamos falar entatildeo em hipoacutetese filoloacutegica de reconstruccedilatildeo

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anacolutia ou frase quebrada com acepccedilatildeo fraseoloacutegica ocorre em proveacuterbio do tipo quem ama o feio bonito lhe parece (aquele que gosta muito de algueacutem ou de algo nunca lhe vecirc defeito algum)

O termo idiomaacutetico tambeacutem estava presente nas gramaacuteticas normativas para assinalar todos os fenocircmenos anocircmalos frente agraves regularidades que eram objeto real da gramaacutetica dentre os quais as expressotildees idiomaacuteticas constituiacuteam somente uma parte

O conceito de idiomaacutetico aproxima-se muito nesse contexto gramatical da noccedilatildeo de anomalia isto eacute caraacuteter de expressotildees ou construccedilotildees natildeo seguirem as regras ou paradigmas de uma liacutengua e terem caraacuteter imprevisiacutevel e irregular comparadas agraves combinaccedilotildees livres Numa segunda concepccedilatildeo a perspectiva mais estreita ou restrita do termo idiomaticidade eacute considerada como categoria pertencente agrave semacircntica composicional (ou natildeo composicional) e muito particularmente agrave forma de significar das unidades fraseoloacutegicas

Uma definiccedilatildeo que se ajusta a esta noccedilatildeo de idiomaticidade eacute a definida por Montoro del Arco (2006) que a delimita como a propriedade que apresentam certas unidades fraseoloacutegicas para o qual o sentido global da unidade natildeo eacute dedutiacutevel do sentido isolado de cada um dos elementos constitutivos (2006 p45) 51

O fenocircmeno da idiomaticidade eacute tambeacutem chamado de natildeo composicionalidade do sentido frente agrave composicionalidade do sentido dos sintagmas proacuteprios da sintaxe livre Eacute considerada por Montoro del Toro o mais alto grau de que se conhece como especializccedilaccedilatildeo semacircntica ou lexicalizaccedilatildeo em unidades fraseoloacutegicas Por exemplo na expressatildeo querer tapar o sol com peneira (ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveis) ou tirar o cavalo (ou o cavalinho) da chuva (desistir de um propoacutesito qualquer por sua absoluta impossibilidade de sucesso) por forccedila de sua idiomaticidade natildeo satildeo transparentes nem se adivinham seu sentido idiomaacutetico a partir de seus elementos componentes principalmente se os usuaacuterios natildeo satildeo nativos da liacutengua portuguesa

Na segunda concepccedilatildeo idiomaticidade eacute identificada com o sentido traslatiacutecio produto de processos metafoacutericos ou metoniacutemicos Desde esse ponto de vista unidades como tirar leite de pedra (conseguir aquilo que todos tecircm por impossiacutevel) morder a

51 Original la propiedad que presentan ciertas unidades fraseoloacutegicas por la cual el sentido global de dicha unidad no es deducible del sentido aislado de cada uno de los elementos constitutivos

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liacutengua (deixar de falar algo) ou dar murro em ponta de faca52 (pretender o impossiacutevel) seriam mais idiomaacuteticas por seu alto grau de opacidade semacircntica

Para outros pesquisadores a idiomaticidade eacute inversamente proporcional agrave motivaccedilatildeo ou restituiccedilatildeo diacrocircnica53 isto eacute sempre que podemos recuperar a origem de um sentido traslatiacutecio ou metafoacuterico a partir do sentido literal estaremos ante unidades menos idiomaacuteticas que nos casos em que este sentido eacute totalmente opaco e natildeo haacute rastro ou pegadas da referida motivaccedilatildeo Estabelece-se que este traccedilo idiomaacutetico resultaria de um processo pelo qual o sentido uacuteltimo ou final difere do original ou literal e se concebe em consequecircncia como proacuteprio do conjunto global dos componentes

Do ponto de vista da Linguiacutestica Cognitiva as pesquisas tecircm dado atenccedilatildeo natildeo ao resultado final isto eacute o sentido idiomaacutetico das expressotildees mas ao caraacuteter processual da idiomaticidade e tecircm assinalado nos seus achados que o sentido das UFs eacute composicional isto eacute consiste na soma dos sentidos parciais dos elementos componentes visatildeo que contrasta com a de Montoro del Arco (2006) como vimos anteriormente

Em Liacutengua Portuguesa expressotildees idiomaacuteticas do tipo jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) ou meter o peacute no mundo (fugir) aos olhos cognitivistas como Cuenca e Hilferty (1999) satildeo consideradas sintagmas com estrutura interna mais analisaacuteveis por que estes desempenhariam um papel importante em sua interpretaccedilatildeo e que esta possibilidade de estabelecer uma cadeia de inferecircncias sugere que a interpretaccedilatildeo natildeo eacute arbitraacuteria (CUENCA HILFERTY 1999 p117)54 Em substacircncia o que defendem os cognitivistas eacute que as expressotildees idiomaacuteticas em sua maioria satildeo bastante composicionais em particular na recepccedilatildeo uma vez que eacute preciso que faccedilam sentido (GRICE 1982) para os usuaacuterios da liacutengua mas na produccedilatildeo precisariam saber da convenccedilatildeo

Para os linguistas cognitivistas a fixaccedilatildeo dos sintagmas eacute uma questatildeo de grau e natildeo se pode confundir a sua literalidade com a natildeo

52 Tambeacutem dita dar murro em faca de ponta com uso mais regional no Brasil 53 Motivaccedilatildeo eacute entendida aqui como a presenccedila de qualquer conexatildeo necessaacuteria entre a forma (fixaccedilatildeo formal) da expressatildeo e seu sentido idiomaacutetico 54 No original esta posibilidad de estabelecer una cadena de inferencias sugiere que la interpretacioacuten no es arbitraria

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composicionalidade semacircntica O que afirmam eacute que o sentido idiomaacutetico das expressotildees leva em conta que os constituintes do sintagma seguem mantendo parte do sentido originaacuterio podemos compreender a importacircncia das partes constituintes de uma frase idiomaacutetica uma vez que satildeo elas que fornecem as pistas necessaacuterias para desvendar a interpretaccedilatildeo global da expressatildeo em questatildeo55 (CUENCA HILFERTY 1999 p118)

Sabemos que este fenocircmeno ocorre algumas vezes outras natildeo Em brigar feito catildeo e gato podemos imaginar o sentido originaacuterio mas em expressotildees como meter o bedelho (intrometer-se em assunto alheio) pintar o sete (realizar obras ou atos proacuteprios do diabo como travessuras desatinos desregramentos) tirar o cavalinho da chuva (desistir de ideia projeto ou pretensatildeo por natildeo haver hipoacutetese de ecircxito) e trepar ou pisar nas tamancas (zangar-se) observamos que natildeo eacute conservado o sentido originaacuterio

Discordando brevemente com a posiccedilatildeo dos cognitivistas cremos que quando estamos diante de expressotildees idiomaacuteticas efetivamente opacas mesmo que haja reconhecimento dos lexemas que formam a expressatildeo acessar o sentido idiomaacutetico natildeo eacute tarefa que resolve com a linguagem literal

Para defenderem suas postulaccedilotildees os linguistas cognitivos datildeo como exemplos expressotildees idiomaacuteticas do tipo ficar com as matildeos atadas (ficar impedido de agir ou de reagir) Segundo eles satildeo a rigor fraseologismos com homocircnimos livres isto eacute aqueles que estatildeo construiacutedos de acordo com os modelos sintaacuteticos e respondem agraves regras gramaticais e de combinabilidade de uma liacutengua dada Sabemos que muitas expressotildees idiomaacuteticas fogem ateacute mesmo dos paradigmas sintaacuteticos como por exemplo aiacute eacute que a porca torce o rabo aiacute eacute que vamos ver e aiacute eacute que estaacute o busiacutelis construccedilotildees consideradas por noacutes como casos de anomalia fraseoloacutegica

55 No original podemos comprender la importancia de las partes constituyentes de na frase idiomaacutetica pusto que son eacutestas las que proporcionan las pistas necesarias para desentrantildear la interpretacioacuten global de la expresioacuten en cuestioacutenrdquo Uma posiccedilatildeo criacutetica agrave autora diriacuteamos que alguns contituintes do sintagma mantecircm parte do sentido originaacuterio mas outros natildeo Em Liacutengua Portuguesa por exemplo as expressotildees sem eira nem beira misturar alhos com bugalhose tal e qual apoacuteiam-se na rima isto eacute tecircm apoio foneacutetico recorrente do segmento final das palavras (eirabeira alhosbulgalhos e talqual) do que por outros criteacuterios linguiacutesticos

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A propriedade da idiomaticidade ou o criteacuterio de natildeo composicionalidade semacircntica segundo outros estudiosos cognitivistas eacute importante porque ajuda a caracterizar muitas expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo as pesquisas nessa aacuterea tecircm investigado a relaccedilatildeo entre o literal-parcial e o metafoacuterico-global e a produtividade criativa dos distintos modelos de expressotildees idiomaacuteticas O traccedilo da idiomaticidade tanto englobaria as expressotildees idiomaacuteticas totalmente opacas como as que natildeo satildeo metafoacutericas estejam elas mais ou menos motivadas

Uma pergunta entatildeo adveacutem quando tratamos da noccedilatildeo de idiomaticidade expressotildees idiomaacuteticas de que forma estamos certos de que uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos eacute realmente opaca O mais provaacutevel eacute que a opacidade do sentido da expressatildeo decorreria da utilizaccedilatildeo de palavras que fazem referecircncia frequente a elementos histoacuterico-culturais ou a combinaccedilotildees baseadas no imaginativo (ou entatildeo como podemos supor um caso de rima) intuitivo expressivo nas quais as palavras passam a adquirir uma significaccedilatildeo simboacutelica e metafoacuterica No exemplo misturar alhos com bugalhos podemos observar que o sentido idiomaacutetico da expressatildeo natildeo poderia ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que a compotildee como propotildee Mogorroacuten Huerta (2010 p240)

Os estudos fraseoloacutegicos tecircm postulado que a exemplo da fixaccedilatildeo a idomaticidade eacute um fenocircmeno gradual Nesse caso eacute um desafio para os estudiosos assinalarem claramente os limites e as fronteiras entre o que pode ser efetivamente considerado idiomaacutetico ou opaco e o semi-idiomaacutetico ou transparente ou ainda semitransparente uma vez que essa classificaccedilatildeo dependeria em grande parte natildeo da estrutura dos sintagmas mas dos conhecimentos linguiacutesticos ou enciclopeacutedicos dos usuaacuterios ou falantes da liacutengua (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p243)

Frente a todo esse arrazoado sobre idiomaticidade segundo diversos estudiosos optamos por adotar para nosso estudo o conceito de idiomaticidade de Mogorroacuten Huerta (2010 p 240) isto eacute o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo pode ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que as compotildeem

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Ateacute aqui procuramos mostrar que a polilexicalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade satildeo propriedades linguiacutesticas (ou endoacutegenas) das expressotildees idiomaacuteticas e nos parecem explicar relativamente o fenocircmeno da convencionalidade uma propriedade efetivamente diferente das demais por ser extralinguiacutestica (exoacutegena) isto eacute derivada de fatores externos que tecircm a ver com o falante e a sociedade

Na antiguidade claacutessica em Craacutetilo (2001) - diaacutelogo escrito aproximadamente no ano 360 aC - Platatildeo ao tratar de questotildees etimoloacutegicas e linguiacutesticas jaacute nos eacute expressa a ontoloacutegica oposiccedilatildeo conceitual entre convencionalismo e o naturalismo onde Heacutermogenes travando diaacutelogo sobre a questatildeo da conformidade da linguagem e do real com Craacutetilo sustenta que somente o uso o costume portanto a convenccedilatildeo atribuem uma denominaccedilatildeo agraves coisas e por conseguinte determinam a adequaccedilatildeo das palavras agrave realidade extralinguiacutestica

Em Craacutetilo (2001) importante assinalar que Hermoacutegenes pede a Soacutecrates que intervenha na discussatildeo que manteacutem com Craacutetilo sobre se o sentido das palavras vem dado de forma natural (naturalismo conforme postulaccedilatildeo de Craacutetilo) ou se pelo contraacuterio eacute arbitraacuteria e depende do haacutebito dos falantes (convencionalismo como propotildee Hermoacutegenes)

Da discussatildeo sobre o convencionalismo e o naturalismo chegamos agrave modernidade certos de que as palavras e as expressotildees de uma liacutengua satildeo fixadas pelas convenccedilotildees e pelos acordos humanos Nessa perspectiva qualquer linguagem parte de determinados pressupostos de natureza convencional (WITTGENSTEIN 2003) o que natildeo significa todavia a perfeita arbitrariedade das convenccedilotildees linguiacutesticasrdquo (ABBAGNANO 2007 p241)

No campo da linguagem eacute possiacutevel que exista outro tipo de relaccedilatildeo de significaccedilatildeo dita natural como entre fogo e fumaccedila que estaacute presente na construccedilatildeo fraseoloacutegica onde haacute fumaccedila haacute fogo (onde haacute sinais de alguma coisa fatalmente haveraacute uma razatildeo para que eles existam)

Como vemos a questatildeo das convenccedilotildees linguiacutesticas ou mais propriamente o convencionalismo bem antes da Fraseologia jaacute era pois discutida pela Filosofia da Linguagem Loacutegica e Semacircntica

No iniacutecio do seacuteculo XX a Linguiacutestica Moderna atraveacutes do seu principal porta-voz Ferdinand de Saussure defendeu por forccedila dos

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postulados do convencionalismo filosoacutefico a independecircncia do significante em relaccedilatildeo ao sentido e o princiacutepio da arbitrariedade do signo linguiacutestico Por essa razatildeo podemos dizer que a Linguiacutestica a saussuriana eacute essencialmente convencionalista e inspirativamente platonista

Herdeiros que somos da linguiacutestica convencionalista de Saussure hoje quando dizemos que o sentido das palavras ou das expressotildees particularmente as idiomaacuteticas eacute convencional isso quer dizer que certos sons e expressotildees significam o que realmente querem dizer convencionalmente e natildeo necessariamente o que dizem as palavras que as compotildeem ipsis litteris

Saussure (2012 p108) afirmava em seu Curso de Linguiacutestica Geral que todo meio de expressatildeo aceito numa sociedade repousa em princiacutepio no haacutebito coletivo ou o que vem a dar na mesma na convenccedilatildeo citando por exemplo as foacutermulas de cortesia

Ao tratar mais adiante das frases feitas combinaccedilotildees ou sintagmas mais complexos Saussure veio a afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas (2012 p173)

Em substacircncia no acircmbito dos estudos da Linguiacutestica Moderna o conceito de convenccedilatildeo caracteriza uma relaccedilatildeo de significaccedilatildeo que resulta de uma regra em uso em uma comunidade Assim por exemplo a relaccedilatildeo entre um nome proacuteprio e o indiviacuteduo visado por este designador riacutegido ou fixo ocorre por forccedila de convenccedilatildeo

Muitas expressotildees idiomaacuteticas nos datildeo a conhecer essa condiccedilatildeo de convencionalismo linguiacutestico quando trazem entre seus componentes lexicais nomes proacuteprios como em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (ou de Miguel) (Disfarccedilar-se) ganhar o que Luzia (ou Maria) ganhou nas capoeiras (ou na horta) (ser passado para traacutes) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) cozinhar em banho-maria (adiar indefinidamente a soluccedilatildeo de um assunto) e estar como Pilatos no credo (eximir-se de qualquer responsabilidade ou interferecircncia numa questatildeo)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas Nunberg Sag e Wason (1994) apontaram a convencionalidade como um traccedilo obrigatoacuterio das expressotildees idiomaacuteticas reafirmando o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica isto eacute o sentido ou ou uso de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo resulta previsiacutevel com base nos sentidos

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parciais dos elementos constituintes que a formam Aleacutem da propriedade da convencionalidade estes autores tambeacutem assinalaram outras propriedades tiacutepicas das expressotildees idiomaacuteticas a ou fixaccedilatildeo (ou a invariabilidade) a metaforicidade proverbalidade a informalidade56 e afetividade

Estas propriedades tiacutepicas seriam relativamente acidentais com relaccedilatildeo agrave convencionalidade posto que a memoacuteria fraseoloacutegica presente em L1 ou L2 ao ser evocada pelos falantes traz agrave tona no discurso como estatildeo construiacutedas ou fixadas na liacutengua isto eacute na mente do falante e por conseguinte constituindo como nos assinala Croft e Cruse (2008 p298) uma parte do conhecimento gramatical do mesmo

Para ilustrarmos estas propriedades tiacutepicas daremos exemplos de cada uma delas observando de que forma se convencionam no acircmbito fraseoloacutegico

Um primeiro exemplo de fixaccedilatildeo (ou invariabilidade) pode ser dado na expressatildeo fazer das tripas coraccedilatildeo com o sentido de esforccedilar-se de modo sobre-humano que apresenta sintaxe restringida natildeo podendo ocorrer alteraccedilatildeo na sua combinatoacuteria como fazer coraccedilatildeo das tripas sem que afete seu sentido idiomaacutetico

Outra possibilidade num caso de modificaccedilatildeo de combinatoacuteria ao certo poderaacute resultar em forccedilar o ouvinte ou interlocutor em uma conversa a interpretaacute-la literalmente para viabilizar uma interpretaccedilatildeo possiacutevel Um exemplo de metaforicidade podemos observar na expressatildeo colocar o carro na frente dos bois com sentido de andar (algo) ao contraacuterio agraves avessas ou adiantar-se precipitadamenterdquo

Contraacuterio agrave ideia de uma convencionalidade (arbitrariedade) em termos saussurianos compreendemos que haacute uma tendecircncia agrave motivaccedilatildeo com relaccedilatildeo a estas expressotildees (pelo menos na origem do uso) Sendo esta motivaccedilatildeo de natureza corpoacuterea eou sociocultural tal hipoacutetese seraacute defendida pelos linguistas cognitivistas

Por essa razatildeo durante muito tempo a questatildeo da convencionalidade esteve relacionada ao ensino de liacutenguas estrangeiras As expressotildees maiores do que as palavras sempre foram

56 Somos de opiniatildeo de que a informalidade natildeo pode ser considerada um traccedilo tiacutepico das expressotildees idiomaacuteticas Como todo item leacutexico existem algumas mais coloquiais outras menos

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um desafio para o ensino sistemaacutetico ou expliacutecito para estrangeiros bem como um fator de obstaacuteculo para o aprendizado dos alunos

Segundo Tagnin (2005) tomando como referecircncia a liacutengua inglesa existe um continuum de unidades linguiacutesticas convencionais pertencentes ao leacutexico de dada liacutengua ainda que o aprendiz de uma liacutengua estrangeira conhecesse toda a gramaacutetica e soubesse todo o dicionaacuterio de cor natildeo teria pleno domiacutenio linguiacutestico (p11)

Eacute provaacutevel conforme Tagnin (2005) que as dificuldades relacionadas com o aprendizado das expressotildees idiomaacuteticas em L1 ou L2 tenham a ver com o fato de serem apreendidas individualmente uma a uma uma vez que natildeo existem regras que as gerem (p11) Ressalta a linguista que todas essas unidades satildeo aprendidas como um todo isto eacute em bloco (p14) A convencionalidade eacute pois o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada liacutengua ou comunidade linguiacutestica Conforme a linguista no momento em que a convenccedilatildeo passa para o niacutevel do sentido podemos falar em idiomaticidade

Recorre Tagnin (2005) entatildeo ao princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ao definir uma expressatildeo idiomaacutetica como toda expressatildeo que natildeo corresponde agrave somataacuteria do sentido parcial de cada um de seus elementos como em ter o olho maior que a barriga que natildeo significa possuir o oacutergatildeo da visatildeo superior agrave proeminecircncia externa do abdocircmen mas quer dizer ser guloso ou desejar possuir imoderadamente

Distanciando-se pois da noccedilatildeo de vernaculidade natural e proacuteprio de uma liacutengua o sentido atribuiacutedo por Tagnin (2005) agrave noccedilatildeo do que eacute idiomaacutetico eacute o de natildeo transparente ou opaco e claro existem os casos em que as expressotildees satildeo tipicamente transparentes como ancorar o barco (fixar-se ou parar) ou meter o pau (censurar ou surrar)

Tagnin (2005 p17-20) fala em niacuteveis de convencionalidade Existem segundo ela trecircs niacuteveis da convencionalidade que satildeo a saber (1) o niacutevel sintaacutetico (2) o niacutevel semacircntico e (3) o niacutevel pragmaacutetico Vamos comentar brevemente cada um deles

No niacutevel sintaacutetico estatildeo elementos como combinabilidade ordem e gramaticalidade A origem da propriedade da combinabilidade estaacute na proacutepria noccedilatildeo de combinaccedilatildeo isto eacute a relaccedilatildeo de uma unidade da liacutengua com outras unidades no plano do discurso

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A noccedilatildeo de combinabilidade nos remete tambeacutem agrave teoria estruturalista o chamado eixo sintagmaacutetico terminologia poacutes-saussuriana que se refere ao eixo das relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada isto eacute o eixo das combinaccedilotildees

A ordem por sua vez entendida como em qualquer dos niacuteveis de anaacutelise (fonoloacutegico morfoloacutegico ou sintaacutetico) sequenciamento determinado por regras das unidades que compotildeem a cadeia (da palavra locuccedilatildeo ou frase)

A gramaticalidade aleacutem da noccedilatildeo de correccedilatildeo de norma gramatical refere-se agrave caracteriacutestica de uma sentenccedila gramatical ou seja aquela que foi gerada pelas regras da gramaacutetica de uma liacutengua Nesse caso por regras de sintaxe em particular

O niacutevel semacircntico refere-se agrave relaccedilatildeo natildeo motivada entre uma expressatildeo e seu sentido Segundo Tagnin (2005) natildeo apenas o sentido de uma expressatildeo linguiacutestica eacute convencionado mas tambeacutem os esquemas imageacuteticos que o leacutexico nos proporciona decorreria dessa condiccedilatildeo por estarmos ecoloacutegica e socioculturalmente situados no mundo

Para a Linguiacutestica Cognitiva que privilegia esta perspectiva em seus estudos e pesquisas experimentais na interaccedilatildeo com o mundo o homem internaliza esquemas de imagem de natureza cinesteacutesica que formam a base de determinadas formas linguiacutesticas (MACEDO 2008 p31-32)

De acordo com Lakoff e Johnson (2002 p59) na cultura ocidental as chamadas metaacuteforas orientacionais datildeo a um conceito uma orientaccedilatildeo especial como por exemplo feliz eacute para cima o que levaria em Liacutengua Portuguesa a surgimento de expressotildees como levantar as matildeos ao (ou para o) ceacuteu com o sentido de dar-se por satisfeito com algum fato (que poderia ter sido muito pior) Quando for para baixo eacute mau como expressotildees do tipo baixar a bola com sentido de passar a ser mais humildade ou baixar a guarda que quer dizer acovardar-se e mais este olhar para o proacuteprio umbigo com o sentido de agir com egoiacutesmo

Contrastando da posiccedilatildeo de Lakoff e Johnson (2002) cremos que a noccedilatildeo de metaacuteforas conceituais soacute tem sentido no plano da diacronia isto eacute teriacuteamos que levar em conta que no passado tinham esta orientaccedilatildeo especial mas no presente na sincronia satildeo

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expressotildees arbitraacuterias na sua maioria e quando motivadas estariacuteamos falando simplesmente em origem da expressatildeo idiomaacutetica

Na Fraseologia da Liacutengua Portuguesa existem muitas expressotildees idiomaacuteticas que nos parecem indicar que essas orientaccedilotildees espaciais surgem do fato de termos os corpos que temos e do fato de eles funcionarem da maneira como funcionam no nosso ambiente fiacutesico (LAKOFF JOHNSON 2002 p59)

Assim temos em Portuguecircs expressotildees fixas do tipo ir de (ou por) aacutegua abaixo com sentido de fracassar andar por baixordquo com o sentido de estar em situaccedilatildeo difiacutecil normal ou financeira entre outras como estar de luz baixa e estar de baixo-astral com a ideia de sentir-se deprimido na fossaPara Lakoff e Johnson (2002) as orientaccedilotildees metafoacutericas que mencionamos antes natildeo satildeo arbitraacuterias e sim tecircm uma base na nossa experiecircncia fiacutesica e cultural (p 60)

No niacutevel pragmaacutetico a noccedilatildeo de convencionalidade eacute associada agrave noccedilatildeo de convenccedilatildeo social bem como agrave expressatildeo convencional ou forma convencional Este niacutevel envolveria pois o uso das expressotildees idiomaacuteticas em situaccedilotildees de interaccedilotildees entre falantes A situaccedilatildeo eacute um aspecto passiacutevel de convenccedilatildeo porque requer um certo comportamento social e o emprego adequado das palavras e expressotildees complexas Relacionam-se mais a situaccedilotildees especiacuteficas como com licenccedila meus pecircsames etc

Nesse sentido referindo-se a falecimento de pessoas podemos recorrer a diversas expressotildees idiomaacuteticas brasileirismos popularismos e giacuterias umas mais frequentes do que outras mas disponiacuteveis no leacutexico portuguecircs tais como abotoar o paletoacute bater a(s) bota(s) bater a caccediloleta bater a canastra bater a pacuera dar o uacuteltimo alento dizer adeus ao mundo entregar a alma a Deus entregar a alma ao Diabo esticar a canela esticar o cambito esticarir para a Cacuia ir para a cidade dos peacutes juntos ir(-se) desta para melhor entre outras tantas

Nesse caso de fraseologismos fuacutenebres podemos dizer tambeacutem que estas expressotildees acima se constituem verdadeiros eufemismos de que os falantes lanccedilam matildeo para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra expressatildeo idiomaacutetica em geral de sentido grosseiro inconveniente ou desagradaacutevel

Neste livro decidimos por considerar convencionalidade como o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada

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liacutengua ou comunidade linguiacutestica como assinala Tagnin (2005 p14) tendo em vista seu caraacuteter sistemaacutetico e triparticcedilatildeo criteriosa nos niacuteveis sintaacutetico semacircntico pragmaacutetico suficientemente abrangente para atender ao corpus de expressotildees idiomaacuteticas que selecionamos para aplicaccedilatildeo dos experimentos aos nossos participantes da pesquisa

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CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS

Quanto mais altas as unidades de significaccedilatildeo a serem explicadas por uma teoria psicolinguiacutestica tanto mais complexas e inacessiacuteveis a uma formalizaccedilatildeo que corresponda a como satildeo representadas em nossa mente (SCLIAR-CABRAL

1991 p75) Depois de percorrer vaacuterios periacuteodos (preacute-histoacuteria formativo

linguiacutestico e cognitivo) no acircmbito dos estudos da linguagem o estado atual da Psicolinguiacutestica tem procurado aleacutem de dar atenccedilatildeo agrave realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) reivindicar poder explanatoacuterio sobre o processamento da linguagem que eacute uma questatildeo ligada ao funcionamento da mente humana (BALIEIRO 2001 p172-181)

Eacute no processamento cognitivo das unidades fraseoloacutegicas notadamente as expressotildees idiomaacuteticas que a Psicolinguiacutestica tem se aproximado da Fraseologia buscando estabelecer as relaccedilotildees entre a organizaccedilatildeo do sistema linguiacutestico e a organizaccedilatildeo do pensamento atraveacutes do recurso agraves unidades fraseoloacutegicas e agraves teorias fraseoloacutegicas vigentes que em uacuteltima anaacutelise podem ser divididas em teorias leacutexicas e composicionais ambas baseadas nos princiacutepio da composicionalidade semacircntica de Frege ([1892] 1971)

Na tentativa de aproximaccedilatildeo da Psicolinguiacutestica da Fraseologia comecemos por explorar o termo psicolinguiacutestica formado pelos seguintes elementos psic(o)- + linguiacutestica O elemento antepositivo psico - vem do grego ψυχο este derivado do grego psukhecirc que significa sopro donde sopro de vida daiacute alma como princiacutepio de vida Aleacutem desta acepccedilatildeo psico- tambeacutem indica espiacuterito princiacutepio pensante ou atividade mental A psicolinguiacutestica por forccedila de sua etimologia eacute a ciecircncia ou parte da ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo entre a liacutengua e as caracteriacutesticas cognitivas ou comportamentais daqueles que a usam

Assim uma fraseologia que se ocupa preponderantemente das expressotildees idiomaacuteticas de alguma forma disponibiliza uma mateacuteria-prima para a Psicolinguiacutestica a saber as unidades fraseoloacutegicas com seus traccedilos culturais comportamentais e idiossincraacutesicas dos usuaacuterios

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ou falantes nativos da liacutengua daiacute o aprendizado das referidas expressotildees serem um desafio para estudantes natildeo nativos ou falantes de L2 o que nos leva a reconhecer que competecircncia fraseoloacutegica de um falante depende em grande parte do conhecimento da cultura em que o sistema de liacutengua destinado a ser adquirido estaacute imerso1 (CASTILLO CARBALLO 2003 p 209)

Este capiacutetulo trataraacute sobre as principais teorias psicolinguiacutesticas do processamento fraseoloacutegico aplicadas agrave liacutengua materna (L1) Mostraremos inicialmente como os primeiros estudos linguiacutesticos especialmente os estruturalistas envolvendo a fraseologia serviram de base para psicolinguiacutestica experimental nos nossos dias Depois sob a perspectiva da psicolinguiacutestica experimental aplicada agrave fraseologia iremos destacar dois marcos de estudos e pesquisas nesta aacuterea relacionados agraves teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico e agraves teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico

Dada a complexidade dos modelos de processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas sobre as teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico destacaremos as principais hipoacuteteses psicolinguiacutesticas como (a) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo (ldquoIdiom-list hypothesisrdquo em inglecircs) (b) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma representaccedilatildeo lexical (Lexical Representation Hypothesis en inglecircs) e (c) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto (ldquoDirect Access Hypothesisrdquo em inglecircs) Em seguida daremos uma visatildeo criacutetica das teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

Quando tratarmos sobre as teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico focalizaremos as seguintes (a) A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas e (b) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

Por fim trataremos em duas subseccedilotildees finais do capiacutetulo sobre estrateacutegias psicolinguiacutesticas e sua relaccedilatildeo com as expressotildees idiomaacuteticas e o papel da memoacuteria na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

1 No original la competencia fraseoloacutegica de un hablante depende en gran medida del conocimiento de la cultura en la que el sistema linguiacutestico que se pretende adquirir estaacute inmerso

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A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas A Psicolinguiacutestica a partir da segunda metade do seacuteculo XX

assumiu a missatildeo de pocircr em evidecircncia em suas pesquisas o problema da realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) e nesse contexto os primeiros experimentos psicolinguiacutesticos conforme nos informam Scliar-Cabral (1991) e Balieiro Jr (2001) apontaram que as referidas estruturas linguiacutesticas incluindo as complexas como as expressotildees idiomaacuteticas natildeo eram adquiridas pelos falantes de uma liacutengua separadamente de conceitos semacircnticos e funccedilotildees discursivas como ateacute entatildeo acreditavam os linguistas estruturalistas e psicoacutelogos behavioristas e sim eram submetidas aos princiacutepios cognitivos

Segundo Leitatildeo (2009 p 220) nas uacuteltimas deacutecadas o interesse central da psicolinguiacutestica pode ser resumido em trecircs questotildees baacutesicas a) Como as pessoas adquirem a linguagem b) Como as pessoas produzem a linguagem a verbal e c) Como as pessoas compreendem a linguagem verbal Em substacircncia a psicolinguiacutestica tem buscado respostas para grandes problemas relacionados com aquisiccedilatildeo o desenvolvimento e o processamento da linguagem inicialmente com pesquisas com os falantes nativos depois com crianccedilas e mais recentemente com pessoas que apresentam distuacuterbios de linguagem especialmente os de fala como as afasias (ELOINA SCHERER 2004 p 28)

Mais recentemente o conexionismo no acircmbito da Psicolinguiacutestica Experimental eacute um paradigma que vem ganhando terreno no Brasil em estudos sobre a inteligecircncia artificial aplicada agrave morfologia da liacutengua portuguesa nos quais tecircm sido realizadas simulaccedilotildees computacionais conexionistas da aquisiccedilatildeo do plural bem de um lado e do outro lado satildeo registrados inuacutemeros trabalhos acadecircmicos (dissertaccedilotildees e teses) nessa aacuterea que tratam das conexotildees entre o paradigma conexionista e aquisiccedilatildeo da linguagem como atesta Scliar-Cabral (2008)

A atenccedilatildeo das pesquisas psicolinguiacutesticas agraves unidades significativas da liacutengua maiores do que as palavras jaacute pode ser percebida pelos especialistas em fraseologia

Em artigo cientiacutefico que trata sobre as correntes atuais no campo fraseoloacutegico a linguista Gloacuteria Pastor (2001 p33-35) aponta que os

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psicolinguistas tecircm tido interesse em apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas procurando responder questotildees do tipo (a) Como os falantes de uma liacutengua armazenam as unidades fraseoloacutegicas (b) Como ocorre o processamento das expressotildees idiomaacuteticas e (c) Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo

Em nossa pesquisa apesar de consideraacute-las relevantes natildeo nos deteremos agraves questotildees de aquisiccedilatildeo e de produccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por falantes do portuguecircs como primeira liacutengua e sim voltar-nos-emos de forma mais demorada agrave compreensatildeo das referidas expressotildees por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)2

Privilegiamos a compreensatildeo por entendermos que ela ldquorealimenta o sistema de produccedilatildeo da linguagemrdquo (LEITAtildeO2009 p222)

A compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas mais recentemente recebeu atenccedilatildeo por parte do Quadro Europeu Comum de Referecircncia para as Liacutenguas (2001) dirigido aos que ensinam liacutenguas estrangeiras e que fazem parte da Comunidade Europeia Segundo este documento as expressotildees idiomaacuteticas desenvolvem a competecircncia comunicativas em trecircs dimensotildees a linguiacutestica a sociolinguiacutestica e a pragmaacutetica

Para uma atuaccedilatildeo eficaz do ponto de vista pedagoacutegico o Quadro Europeu aponta a necessidade de os alunos terem ldquoum bom domiacutenio de expressotildees idiomaacuteticas e de coloquialismos e a consciecircncia dos sentidos conotativosrdquo (p64-65) o que vem reforccedilar a necessidade de darmos em nossa pesquisa uma atenccedilatildeo especial agrave problemaacutetica da compreensatildeo dos fraseologismos com fins educacionais

Nos campos sociolinguiacutestico e pragmaacutetico o ensino sistemaacutetico da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas favorece ao certo o aprendizado das mesmas segundo os modelos pedagoacutegicos e psicolinguiacutesticos da fraseodidaacutetica (GONZAacuteLEZ-REY2004 2006 e 2007)

2 Eacute possiacutevel que no futuro outros estudos inter-relacionem a compreensatildeo (psicolinguiacutestica experimental) agraves questotildees que dizem respeito agrave aquisiccedilatildeo (psicolinguiacutestica desenvolvimentista) e agrave produccedilatildeo (psicolinguiacutestica experimental) de expressotildees idiomaacuteticas por nossos sujeitos natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro

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Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia Natildeo haacute como negar o legado dos estudos linguiacutesticos e de outras

ciecircncias humanas para melhor empreendimento nas pesquisas psicolinguiacutesticas Particularmente a linguiacutestica a lexicologia a neurolinguiacutestica a sociolinguiacutestica a linguiacutestica computacional a psicologia cognitiva e a linguiacutestica cognitiva tecircm contribuiacutedo para o que entendemos hoje por psicolinguiacutestica (STERNBERG2008 p 295)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure ([1916] 2012) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras consideraccedilotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo ( [1916] 2012 p173 grifos nossos) Disciacutepulo de Saussure o linguista Charles Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1909) esboccedilou explicitamente um princiacutepio psicoloacutegico para as expressotildees fixas ao dizer que satildeo mais bem retidas na memoacuteria as palavras que vatildeo juntas

Mais tarde as expressotildees fixas tambeacutem foram objeto de atenccedilatildeo de Coseriu (2007) que as chama de ldquocombinaccedilotildees feitas de signosrdquo ou ldquodiscurso repetidordquo (p201) Coseriu afirma que as expressotildees fixas resultam de ldquomera reproduccedilatildeo do jaacute ditordquo ouvido ou lido isto eacute quando um usuaacuterio recorre agrave unidade fraseoloacutegica nos seus atos de fala reproduziria algo que anteriormente jaacute havia dito As expressotildees fixas para Coseriu satildeo vivenciadas por ldquodeterminada comunidade linguiacutesticardquo e que ldquoseus membros as conhecemrdquo e ldquo as sabem de corrdquo (p202)

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No campo da linguiacutestica moderna as primeiras contribuiccedilotildees fraseoloacutegicas dos estruturalistas Saussure Bally e Coseriu e mais fortemente os lexicoacutelogos estilistas e fraseoacutelogos do seacuteculo XX sempre se intrigaram e se indagaram como se dava esta relaccedilatildeo entre sentido literal das sentenccedilas e o sentido da emissatildeo (idiomaacutetico) pretendido pelo falante

No caso das ldquofrases feitasrdquo ou ldquoidiomatismosrdquo como denominaram os estruturalistas e lexicoacutegrafos ateacute a primeira metade do seacuteculo XX especialmente os europeus a abordagem estruturalista eacute verdade natildeo nos deixou um ldquolegado teoacutericordquo sobre a problemaacutetica do sentido dos ldquoidiomatismosrdquo mas seus linguistas entenderam desde cedo que o sentido da emissatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica (dimensatildeo holiacutestica) eacute parcial ou totalmente diferente do sentido literal da expressatildeo emitida

Essas primeiras percepccedilotildees ou postulaccedilotildees dos estruturalistas satildeo de grande aplicaccedilatildeo teoacuterica ao nosso trabalho no sentido de podermos relativizar os conceitos de expressatildeo idiomaacutetica quanto agrave sua ldquodimensatildeo holiacutesticardquo ou melhor ao seu ldquosentido idiomaacuteticordquo Eacute possiacutevel cremos que existam expressotildees complexas e fixas na liacutengua que natildeo sejam idiomaacuteticas para outros falantes particularmente os natildeo nativos e que poderatildeo tomaacute-las no sentido mais literal Afinal a idiomaticidade natildeo estaacute apenas na estrutura das expressotildees complexas mas na mente ou na memoacuteria dos falantes Mas natildeo eacute uma tarefa faacutecil essa conduccedilatildeo teoacuterica ou sua aplicaccedilatildeo em experimentos que possam testar hipoacuteteses psicolinguiacutesticas

Reflexo certamente desse vieacutes estruturalista e melhor refinado pelos recentes estudos gerativistas temos estudos de descriccedilatildeo do portuguecircs isto eacute os da gramaacutetica descritiva em que colhemos uma das definiccedilotildees operatoacuterias de expressotildees idiomaacuteticas natildeo desprezadas em nosso trabalho como as vinda de Perini (2010) em que situa as expressotildees idiomaacuteticas no acircmbito das classes de palavras por entender que satildeo ldquosequecircncias fixas de palavras tomadas como unidades singulares que tecircm sentido proacuteprio que nem sempre eacute derivado dos sentidos das palavras componentesrdquo e em geral ldquonatildeo admitem substituiccedilatildeo de itens por sinocircnimosrdquo (p323)

Importante assinalar que esta noccedilatildeo estabelecida por Perini (2010) de que as expressotildees idiomaacuteticas satildeo ldquosequecircncias fixasrdquo percebidas como ldquounidades singularesrdquo nos permitiu quando da

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formulaccedilatildeo dos experimentos psicolinguisticos entender melhor o valor da paraacutefrase definitoacuteria quando um falante da liacutengua seja nativo ou natildeo nativo busca de equivalentes simples (verbos) das expressotildees idiomaacuteticas representadas por locuccedilotildees verbais como por exemplo em locuccedilotildees verbais como em virar as costas (sair) cozinhar o galo (morrinhar) entregar a alma a Deus(morrer) abrir nos paus (fugir) e dar mole (descuidar-se)

No campo da filosofia da linguagem a problemaacutetica do sentido das expressotildees idiomaacuteticas desde cedo foi focada pelos filoacutesofos Para Searle (2002) a idiomaticidade de uma expressatildeo complexa natildeo seria estabelecida pelo sentido presente na estrutura da proacutepria sentenccedila mas pelo sentido da emissatildeo do falante A idiomaticidade seria estabelecida pelo que o falante quer significar ao emitir a expressatildeo idiomaacutetica

Como assinala Searle (2002) ldquoum sentido metafoacuterico eacute sempre um sentido da emissatildeo de um falanterdquo (p124) um traccedilo importantiacutessimo a considerar em nossa pesquisa se definimos as fraseologias a partir de suas caracteriacutesticas mais marcantes como a forma fixa e a ambiguidade leacutexico-gramatical situadas no entrecruzamento entre o sentido literal e o sentido idiomaacutetico

Mais recentemente a abordagem sociocognitiva que embasa a chamada Gramaacutetica de Construccedilotildees defendida no Brasil por Miranda e Salomatildeo (2009) tem dado seus primeiros passos em direccedilatildeo aos estudos fraseoloacutegicos Esta abordagem linguiacutestica ao tratar da questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas comumente tem retomado ao velho axioma dos lexicoacutelogos de que ldquoo todo natildeo eacute a soma das partesrdquo ou ldquoo todo eacute maior que a soma das partesrdquo (p39)

Aqui a visatildeo sociocognitivista nos parece com resquiacutecios tradicionais das pesquisas fraseoloacutegicas presa ao velho princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica em que fica claro um esforccedilo revitalizador para que seja estabelecido um ldquocasamentordquo ou ao menos uma ldquorelaccedilatildeo estaacutevelrdquo entre a Gramaacutetica das Construccedilotildees e a Semacircntica Composicional em se tratando de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

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As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas Consideramos que nossa pesquisa se situa no acircmbito da

psicolinguiacutestica experimental por se voltar agrave investigaccedilatildeo sobre a compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada em que levamos em conta no processamento fraseoloacutegico seus aparatos cognitivo cultural dialetal e seus sistemas de memoacuteria (memoacuteria de longo prazo e memoacuteria episoacutedica em especial)

Os falantes de uma liacutengua dada sejam nativos ou natildeo nativos ao serem indagados sobre o que compreendem por exemplo da expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo (ldquoficar quieto ou calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo) recorrem a procedimentos mentais (por exemplo memoacuteria de longo prazo ou memoacuteria episoacutedica) e a taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de diversas ordens de modo a permitir o acesso ao sentido idiomaacutetico do que estaacute sendo dito aliaacutes do que natildeo estaacute sendo dito literalmente nas palavras que compotildeem o sintagma mas que traz no subentendido da sentenccedila o sentido pretendido pelo interlocutor Ocorre nesse momento o que se denomina de processamento linguiacutestico que potildee em funcionamento as habilidades cognitivas do falante (ou ouvinte) relacionadas agrave linguagem verbal (LEITAtildeO 2009 p 221)

Nossa pesquisa tambeacutem se estabelece no acircmbito da psicolinguiacutestica experimental por buscar hipoacuteteses que deem conta de explicarem como o processamento fraseoloacutegico se estrutura na mente dos falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro Daiacute lanccedilarmos matildeo de trecircs experimentos sendo construiacutedos por diversas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) caracterizados por uma seacuterie de procedimentos metodoloacutegicos para verificarmos se os referidos falantes lusoacutefonos dos paiacuteses africanos recorrem a estrateacutegias especiais para compreenderem as expressotildees idiomaacuteticas mais usuais no portuguecircs brasileiro As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

No acircmbito das pesquisas psicolinguiacutesticas a busca de soluccedilatildeo

empiacuterica da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas pode ser observada a partir dos anos 70 e 80 seacuteculo

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passado com os estudos pioneiros de Bobrow e Bell (1973) seguidos dos trabalhos de Swinney e Cutler (1979) e os de Gibbs e Gonzales (1985) e de Cacciary e Tabossi (1988) Eles pioneiramente formaram as duas grandes correntes teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico as teorias leacutexicas e as teorias composicionais que buscam explicaccedilotildees sobre a passagem do literal ao idiomaacutetico durante o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas

De modo geral as teorias leacutexicas apoiam-se na noccedilatildeo de opacidade semacircntica (em nossa pesquisa chamamos de idiomaticidade forte) que varia em funccedilatildeo do grau de cristalizaccedilatildeo das expressotildees e por suas restriccedilotildees sintaacuteticas Jaacute as teorias composicionais conforme veremos mais adiante apoiam-se na tese de Frege ([1892]1971) de que o sentido de uma expressatildeo eacute funccedilatildeo do sentido de seus componentes Uma pois afirma que o sentido idiomaacutetico natildeo se reduz aos sentidos dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico A outra em contraste postula o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes da expressatildeo idiomaacutetica

As contribuiccedilotildees teoacutericas dessas duas correntes psicolinguiacutesticas atenderam aos casos gerais de processamento das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute as pesquisas experimentais levadas a efeito por seus defensores foram realizadas em falantes nativos deixando de lado casos particulares ou especiais como por exemplo o processamento fraseoloacutegico por falantes natildeo nativos

Diante dessa condiccedilatildeo restritiva muitos modelos propostos foram voltados a verificar como ocorria a compreensatildeo idiomaacutetica que se ativa depois do armazenamento das expressotildees na memoacuteria dos falantes nativos deixando de resolver pontos obscuros como por exemplo a questatildeo do acesso inicial ao sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas ou como se dava a passagem do literal ao idiomaacutetico ou se esta passagem pelo literal efetivamente natildeo ocorria

Apesar dessa limitaccedilatildeo os resultados das pesquisas psicolinguiacutesticas ateacute aqui realizadas representam um ponto de partida teoacuterico relevante para investigaccedilotildees similares segundo Belinchoacuten (1999 p364) Mas agrave medida que natildeo sabemos ao certo como ocorre o processo de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos podemos apresentar razotildees teoacutericas e praacuteticas para uma nova pesquisa nesse campo

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Enfim precisamos fazer descobertas de soluccedilotildees para casos particulares de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos de modo a sugerir modificaccedilotildees se for o caso no campo dos estudos sobre a realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas atualmente de grande interesse dos linguistas fraseoacutelogos psicolinguistas e os chamados linguistas cognitivistas que se ocupam entre os toacutepicos mais recorrentes da pesquisa experimental de questotildees relacionadas agrave metaacutefora e agrave idiomaticidade (CUENCA1999 p 116-121) Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo

Como dissemos anteriormente os primeiros experimentos para

verificaccedilatildeo do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas parecem ter sido limitados por dois dos seus procedimentos metodoloacutegicos

(a) em primeiro lugar limitaram-se a questotildees de natureza conceitual uma vez que os pesquisadores assumiram a crenccedila com base nas definiccedilotildees tradicionais dos lexicoacutelogos de que as expressotildees idiomaacuteticas (ou fixas) eram unicamente definidas a partir de suas propriedades semacircnticas e estruturais (polilexicalidade metaforicidade idiomaticidade fixaccedilatildeo e assim por diante)

(b) em segundo lugar os participantes dos experimentos eram falantes nativos (principalmente os de liacutengua inglesa)

Estes dois procedimentos restringentes acabaram por levar os pesquisadores agrave constituiccedilatildeo de modelos psicolinguiacutesticos aplicados agrave compreensatildeo idiomaacutetica ativada somente depois de armazenamento das expressotildees idiomaacuteticas na memoacuteria de longo prazo dos falantes (BELINCHOacuteN1999 p364-365)

A rigor natildeo haacute como com sujeitos nativos de uma liacutengua sabermos efetivamente quando se deparam com expressotildees idiomaacuteticas opacas ou transparentes uma vez que a memoacuteria declarativa de longo prazo desempenha um papel importante na produccedilatildeo recuperaccedilatildeo e atribuiccedilatildeo de sentido agraves expressotildees idiomaacuteticas

Assim um falante nativo que por lapsus calami erra acidentalmente ao escrever em uma folha a expressatildeo Dar por pedras e por paus ao inveacutes de dar por paus e por pedras (cometer loucuras) ou por lapsus linguae comete um erro acidental ao falar

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em uma conversa informal a expressatildeo ser milho do mesmo saco ao contraacuterio de ser farinha do mesmo saco (ser da mesma natureza equivaler-se coisas ou pessoas) nestas duas situaccedilotildees estes erros natildeo podem ser computados como indiacutecios de opacidade nem que ocorrem por serem as expressotildees menos ou mais idiomaacuteticas menos ou mais opacas ou ainda menos ou mais transparentes

Ainda que a questatildeo dos lapsos de liacutengua sejam de interesse para a Psicolinguiacutestica e para a investigaccedilatildeo da estrutura do leacutexico mental (NOacuteBREGA 2010) cremos que estas alteraccedilotildees acima ocorrem devido a fatores que vatildeo desde agrave paralexia verbal3 a fatores linguiacutesticos de vaacuterias ordens (formal estrutural semacircntica sintaacutetica combinatoacuteria) das expressotildees retidas na memoacuteria dos falantes

A primeira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas denominada de ldquoidiom-list hypothesisrdquo considera as expressotildees idiomaacuteticas como itens lexicais que satildeo listados e recuperados como pedaccedilos do leacutexico Esta corrente psicolinguiacutestica foi assumida por Bobrow e Bell (1973) Seus defensores tiveram a crenccedila de que o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo eacute recuperado a partir dos seus constituintes individuais e que se comportam como expressotildees sintaacuteticas e semacircnticas com as mesmas propriedades das palavras Para essa corrente por exemplo natildeo haacute nada nos sentidos de ldquofazerrdquo ldquoouvidordquo ldquoderdquo e ldquomercadorrdquo que possa nos dizer o que significa ldquofazer ouvido de mercadorrdquo com sentido idiomaacutetico de ldquofingir que natildeo ouviurdquo

Os resultados dos experimentos de Bobrow e Bell (1973) mostraram a primazia da literalidade na compreensatildeo idiomaacutetica e por essa razatildeo os dois psicolinguistas propotildeem a hipoacutetese de lista de expressotildees idiomaacuteticas (ou primeira hipoacutetese literal) em nossa memoacuteria declarativa de longo prazo argumentando ainda que as expressotildees satildeo mentalmente representadas e tratadas como quaisquer outros itens lexicais

A especificidade poreacutem para o caso das expressotildees idiomaacuteticas estruturalmente mais complexas do que as palavras eacute a de que seriam de forma independente armazenadas em um ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo (ou

3 Termo no acircmbito da neurologia definido como de leitura (ou escrita) provocada pela troca de siacutelabas ou palavras que passam a formar combinaccedilotildees sem sentido No caso das expressotildees idiomaacuteticas o que fica sem sentido eacute a combinatoacuteria que em fraseologia segue os paracircmetros da fixaccedilatildeo formal interna

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ldquomemoacuteria fraseoloacutegicardquo termo de nossa preferecircncia) diferente do nosso leacutexico mental normal ou habitual de itens lexicais Segundo essa visatildeo a leitura literal natildeo eacute opcional e vem obrigatoriamente antes de o falante recuperar o sentido idiomaacutetico

O modelo de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas de Bobrow e Bell (1973) ocorreria em trecircs etapas no processamento cognitivo ou mais especificamente fraseoloacutegico na mente dos falantes Na primeira etapa o ouvinte inicialmente processaria o sentido literal Em seguida rejeitaria o sentido literal e finalmente acessaria ao ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo e forneceria entatildeo uma interpretaccedilatildeo correta isto eacute a idiomaticidade tal que esperamos encontrar nos dicionaacuterios gerais ou na aceitabilidade da comunidade linguiacutestica

Para ilustrarmos este modelo de Bobrow e Bell (1973) digamos que um leitor (ou ouvinte) assiacuteduo de jornal diaacuterio no cafeacute da manhatilde lesse a seguinte informaccedilatildeo que se refere aos chamados ldquohomens-tatusrdquo (assim rotulados aqueles que retiram areia dos terrenos baldios para a venda ilegal nos depoacutesitos de construccedilatildeo) ldquoEles satildeo como formiguinhas e agem durante a madrugada Eacute como catar agulha em palheiro A populaccedilatildeo precisa denunciar (In Caderno Cidade DN em 07112009)

Seguindo as etapas do modelo de Bobrow e Bell (1973) teriacuteamos as seguintes etapas para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoprocurar (ou catar) agulha em palheirordquo primeiramente o leitor processaria o sentido literal da expressatildeo ldquocatarrdquo + ldquoagulhardquo + ldquonordquo + ldquopalheirordquo Assim procedendo neste exemplo dado o leitor (ou ouvinte) chegaria inicial e literalmente agrave seguinte interpretaccedilatildeo ldquoBuscar varetinha de accedilo no depoacutesito de palhardquo Pelo contexto da frase logo rejeitaria essa interpretaccedilatildeo literal por ldquoinadequabilidade de sentidordquo E entatildeo acessaria agrave sua ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo e obteria o sentido idiomaacutetico e mais adequado agrave frase ldquoestar agrave cata de algo muito difiacutecil de acharrdquo ou ldquoquerer conseguir algo muito difiacutecil ou impossiacutevelrdquo

A questatildeo principal do modelo leacutexico de Bobrow e Bell (1973) que se estabelece eacute a seguinte se durante o processo de compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como no exemplo acima (ldquocatar agulha no palheirordquo) os falantes (nativos) recuperam da sua ldquo memoacuteria idiomaacuteticardquo o sentido literal ou o sentido figurado e nos casos de que os dois sejam recuperados em que ordem tem lugar estes dois sentidos Por essa razatildeo essa primeira corrente advoga pois por um processamento preacutevio do sentido literal Essa hipoacutetese psicolinguiacutestica

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nos lembra o modelo claacutessico de Grice (1982102-103) de compreensatildeo de linguagem figurada Embora o ouvinte seja levado a um niacutevel mais profundo (idiomaacutetico ou figurativo) este modelo pragmaacutetico tambeacutem favorece primeiramente a hipoacutetese literal

Os estudos de Bobrow e Bell (1973) sobre reconhecimento de unidades fraseoloacutegicas (UFS) foram realizados fora do contexto e no final dos anos 70 foram refutados conforme nos informam os estudos de Swinney e Cutler (1979) Havrila (1993) Jurafsky (1996) Corpas-Pastor (2001) Liontas (2001) Vega-Moreno(2003) e Denhiere e Verstiggel (2007) Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical

Esta corrente psicolinguiacutestica se posiciona contra a prioridade da

interpretaccedilatildeo literal na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas proposta anteriormente por Bobrow e Belle (1973) e propotildeem a hipoacutetese de representaccedilatildeo lexical que defende o processamento simultacircneo isto eacute a compreensatildeo literal e a compreensatildeo idiomaacutetica ocorreriam ao mesmo tempo na mente dos falantes

Um primeiro argumento em favor desta corrente vem dos experimentos de Swinney e Cutler (1979) Os resultados dos testes mostraram que os sujeitos natildeo apresentavam diferenccedilas de tempo para acessar o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees fixas

Vejamos um exemplo para ilustrar a hipoacutetese de Swinney e Cutler (1979) extraiacutedo de um jornal diaacuterio ldquo () Cibelle Ribeiro nos manda perturbadora seleccedilatildeo de fotos acutereimosiacutessimasacute suas e ainda (soacute pode ser modeacutestia) nos pergunta se gostamos Ora Cibelle isso eacute mesmo que perguntar se macaco quer banana minha filha o que vocecirc nos enviou foi um verdadeiro destroccedilo capaz de causar um tsunami ldquo (in Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN em 1103009 grifos nossos)

No exemplo acima segundo o modelo Swinney e Cutler (1979) o processamento cognitivo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoperguntar se macaco quer bananardquo seja ele leitor ou ouvinte natildeo indicaria diferenccedila significativa de tempo entre a atribuiccedilatildeo de sentido literal ldquoprocurar saber se siacutemio deseja comer o fruto da bananeirardquo e a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico ldquofazer pergunta absolutamente desnecessaacuteria porque dela soacute se espera na certa resposta afirmativardquo

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Embora vistas como mentalmente representadas e tratadas como itens lexicais as expressotildees idiomaacuteticas no modelo de Swinney e Cutler (1979) diferem do modelo de Bobrow e Bell (1973) pois seriam armazenadas naturalmente no leacutexico mental sem a necessidade de postulaccedilatildeo de um leacutexico especiacutefico para o armazenamento dos idiomatismos (ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo)

Como dissemos anteriormente o falante segundo esta perspectiva se nativo ao estar confrontado com uma sequecircncia fraseoloacutegica processaria de maneira simultacircnea o sentido literal e o sentido figurado

Nesse contexto outros estudos levantaram hipoacutetese de que como as expressotildees idiomaacuteticas seriam encontradas ou armazenadas na memoacuteria como simples palavras o sujeito acessaria o sentido idiomaacutetico de maneira mais direta e raacutepida que ao literal Em harmonia com isso xperimentos realizados posteriormente sobre reconhecimento leacutexical baseados na velocidade de resposta dos sujeitos parecem indicar certa preferecircncia pela leitura idiomaacutetica em primeiro lugar conforme relatam os estudos de Corpas-Pastor (2001 p34) Mendivil Giroacute (2010) e Lorente (2010) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto

A terceira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas do

processamento fraseoloacutegico eacute defendida por linguistas cognitivistas como Gibbs Jr et ali (1997) que postulam o acesso direto (ou primeira hipoacutetese figurativa) para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas o que acaba por se afastar radicalmente da corrente defendida por Bobrow e Bell (1973)

Esta hipoacutetese propotildee que as expressotildees idiomaacuteticas devam ser consideradas itens lexicais cujo sentido idiomaacutetico eacute recuperado diretamente do leacutexico mental imediatamente apoacutes o sintagma fraseoloacutegico ser ouvido pelo falante

A proposta de Gibbs et ali (1997) tambeacutem se distancia do modelo de Swinney e Cutler (1979) uma vez que comprova que o sentido idiomaacutetico (ou figurado) de expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquonatildeo dar ponto sem noacuterdquo com sentido de ldquonada fazer que natildeo seja por interesserdquo) eacute processada mais rapidamente do que o

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processamento literal natildeo + dar + ponto + sem + noacute (natildeo costurar sem entrelaccedilar fios)

Segundo o relato dos linguistas cognitivistas o grau de fixaccedilatildeo e convencionalidade de uma unidade fraseoloacutegica facilitariam sua compreensatildeo e produccedilatildeo na comunicaccedilatildeo

Esta hipoacutetese tambeacutem revelou o sentido literal natildeo vir antes do sentido idiomaacutetico mas tambeacutem poderia ser completamente ignorado Na sua linha de pensamento Gibbs et ali (1997) baseiam-se na ideia de que as palavras constituintes de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo satildeo completamente desmotivadas do sentido metafoacuterico ou idiomaacutetico da expressatildeo

Diferente das hipoacuteteses anteriores os pesquisadores cognitivistas afirmam que o contexto desempenha uma funccedilatildeo essencial na produccedilatildeo e compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora sempre em menor grau comparado com as sequecircncias literais

Por fim diriacuteamos o seguinte a partir de uma visatildeo criacutetica das trecircs correntes de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas descritas acima podemos observar que seguem de forma geral o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica de expressotildees canocircnicas efetivamente cristalizadas e memorizadas mas natildeo conseguem poreacutem explicar porque as variaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas natildeo comprometem a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico dada pelos falantes

As teorias leacutexicas da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas natildeo conseguem explicar por que locuccedilotildees verbais do tipo ldquomostrar com quantos paus se faz uma cangalhardquo e ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo onde os dicionaacuterios gerais apontam como variaccedilatildeo fraseoloacutegica em que um item ldquocangalhardquo eacute substituiacutedo (em decorrecircncia da forccedila do regionalismo linguiacutestico) por ldquocanoardquo tal alteraccedilatildeo como podemos observar em um dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico natildeo afeta o sentido idiomaacutetico em ambas construccedilotildees isto eacute as duas idiomaticamente tecircm o mesmo sentido o de ldquodar um castigordquo

Os defensores das hipoacuteteses leacutexicas tambeacutem natildeo conseguem explicar porque o sentido idiomaacutetico ldquomorrerrdquo aparece em expressotildees idiomaacuteticas formalmente distintas como ldquobater as botasrdquo ldquoir desta para a melhorrdquo rdquofechar o paletoacuterdquo Ao analisarmos a combinatoacuteria destas expressotildees sinoniacutemicas acima somos levados realmente a perguntar como podem ser estruturalmente tatildeo diferentes e ao mesmo tempo

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passiacuteveis de terem paraacutefrases tatildeo semelhantes mantendo o mesmo campo semacircntico isto eacute a ideia de morte Ao certo uma explicaccedilatildeo estaria no fato de as trecircs expressotildees que mostramos possuirem itens lexicais bastante distintos mas todas tecircm idiomaticamente o mesmo sentido idiomaacutetico de ldquochegar ao fim expirar morrerrdquo Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico

A segunda corrente de teorias psicolinguiacutesticas diz respeito agrave

representaccedilatildeo e agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas que se aliam ao princiacutepio da composicionalidade semacircntica

Os teoacutericos dessa corrente (por exemplo Gibbs 1985 Cacciari y Tabossi 1988 e Flores DArcais 1993) se posicionam contra a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo composicionais

O principal argumento desta corrente eacute que a relaccedilatildeo entre o sentido idiomaacutetico e forma linguiacutestica da maioria das expressotildees idiomaacuteticas tem um grau de motivaccedilatildeo isto eacute elas natildeo satildeo completamente arbitraacuterias

Na maioria dos casos segundo os defensores das teorias composicionais o sentido idiomaacutetico eacute de alguma forma recuperado a partir dos sentidos dos diversos componentes da cadeia sintagmaacutetica

Explicando de forma mais simplificada esta hipoacutetese por exemplo os sentidos dos itens ldquochutarrdquo ldquopaurdquo e ldquobarracardquo na expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo por exemplo teriam muito a ver com o sentido idiomaacutetico de ldquoabandonar desistir de um projetordquo Eacute como se pudeacutessemos explicar o sentido idiomaacutetico da locuccedilatildeo verbal ldquochutar o pau da barracardquo levando em conta que metaforicamente a palavra ldquochutarrdquo tem o sentido de ldquover-se livre de (algo ou algueacutem) descartar-se livrar-serdquo a palavra ldquopaurdquo tem o sentido de ldquoconflito ou briga em que se envolvem muitas pessoasrdquo e ldquobarracardquo refere-se metaforicamente agrave ldquoconstruccedilatildeo temporaacuteria de materiais leves geralmente taacutebuas e lona de faacutecil transporterdquo Tomados como constituintes metaforicamente significativos e motivados no sintagma fraseoloacutegico a expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo teria o sentido de ldquodesistir de um projeto rdquo

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A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas

Os defensores da hipoacutetese da composicionalidade das expressotildees idiomaacuteticas argumentam que a idiomaticidade eacute um fenocircmeno semacircntico ao inveacutes de fenocircmeno sintaacutetico e propotildee uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas a partir de seu grau de composicionalidade como resumidamente nos descreve Cacciari e Tabossi (1993)

Enquanto para os teoacutericos de hipoacuteteses leacutexicas os constituintes das expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquomalharrdquo e ldquoferrordquo em ldquomalhar o ferro enquanto estaacute quenterdquo) em nada contribuem para o sentido idiomaacutetico ldquoaproveitar a ocasiatildeo propiacutecia para agirrdquo os teoacutericos de hipoacuteteses composicionais advogam que os componentes individuais dos sintagmas fraseoloacutegicos contribuem literal ou metaforicamente para a interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

Para explicar a teoria acima digamos que escutemos a expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo Nesse caso seus elementos constituintes ldquometerrdquo que se refere ao ato ldquoesconder-se ocultar-serdquo ldquorabordquo que alude agrave noccedilatildeo de ldquotraseirordquo e ldquopernasrdquo que diz respeito a ldquocada um dos membros inferiores do corpo humanordquo reunidos na combinatoacuteria datildeo o sentido idiomaacutetico ldquoficar calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo Os sentidos dos constituintes da locuccedilatildeo verbal ldquometer o rabo entre as pernasrdquo teriam uma forccedila de metaforizaccedilatildeo que nos possibilita o acesso ao sentido idiomaacutetico A metaforizaccedilatildeo estaria pois previamente em nossa mente por forccedila de nossas experiecircncias corpoacutereas no mundo

Atualmente as pesquisas psicolinguiacutesticas parecem evidenciar que os sentidos das palavras constituintes do sintagma fraseoloacutegico desempenham papel importante na compreensatildeo idiomaacutetica das expressotildees fixas Embora nenhuma expressatildeo idiomaacutetica seja cultural e completamente composicional o sentido idiomaacutetico seria para os defensores desta corrente psicolinguiacutestica de alguma forma relacionado com o sentido obtido pelo caacutelculo da cadeia sintagmaacutetica

Nessa perspectiva atualmente a hipoacutetese de metaacutefora conceitual com base no trabalho de Lakoff e Johnson (2002) assume que o uso da expressatildeo idiomaacutetica eacute motivado por esquemas preacute-existentes de

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natureza corpoacuterea ou metafoacuterica4 em nossa mente que satildeo baseados como dissemos antes em nossa experiecircncia corporal no mundo Este paradigma pressupotildee a inseparabilidade entre cogniccedilatildeo e linguagem (MACEDO2006 p 31-34 2008 p35) e defende uma visatildeo atuacionista (ou corporificada) da cogniccedilatildeo (VARELA et ali 2003) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

A chamada hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave para a compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas eacute induzida pelo modelo de polissemia Os relatos mais convincentes satildeo os Cacciary e Tabossi (1993)

Esta abordagem tenta resgatar a hipoacutetese de processamento simultacircneo sem se comprometer com a ideia de que satildeo expressotildees idiomaacuteticas armazenados como itens lexicais

As expressotildees idiomaacuteticas satildeo na perspectiva da configuraccedilatildeo-chave tratadas como qualquer sequecircncia de palavras Depois de vaacuterios experimentos os pesquisadores afirmam que a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquoter bebido aacutegua de chocalhordquo com sentido de ldquofalar demaisrdquo dependeraacute de uma seleccedilatildeo por parte do ouvinteleitor do sentido adequado de cada uma de suas palavras constituintes para que o sintagma fraseoloacutegico possa ser reconhecido como uma configuraccedilatildeo Esta explicaccedilatildeo eacute feita pela chamada ldquohipoacutetese polissecircmica do idiomatismo induzidordquo (Cacciary e Tabossi 1993)

Do ponto de vista de processamento cognitivo na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave as expressotildees idiomaacuteticas satildeo inicialmente processadas literalmente ateacute que em algum momento apoacutes o iniacutecio da cadeia a configuraccedilatildeo e o sentido idiomaacutetico satildeo ativados

Dizendo de outra maneira na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave ocorreria o processamento literal e figurativo executado em paralelo por um tempo ateacute que o sentido idiomaacutetico seja alcanccedilado pelo ouvinte como a interpretaccedilatildeo pretendida Nesse caso o reconhecimento de expressotildees idiomaacuteticas seria muitas vezes dependente do contexto assim esta hipoacutetese parece sugerir que geralmente os ouvintes reconhecem que as palavras em uma expressatildeo idiomaacutetica formam uma uacutenica configuraccedilatildeo depois de o

4 Ao falarmos em esquemas metafoacutericos fazemos alusatildeo ao mapeamento (ou conceito) metafoacuterico que segundo os linguistas cognitivistas licencia a expressatildeo linguiacutestica

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falante acessar o conteuacutedo da primeira ou segunda palavra conhecida como a chave idiomaacuteticardquo no sintagma

Essa visatildeo apresenta uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas em relaccedilatildeo ao grau de composicionalidade e transparecircncia que envolve diferentes perspectivas teoacutericas de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (Cacciary e Tabossi1993) Vamos descrever cada das perspectivas

A primeira perspectiva defende que nas expressotildees idiomaacuteticas tipicamente opacas (por exemplo ldquoquerer tapar o sol com peneirardquo com sentido de ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveisrdquo) o sentido idiomaacutetico eacute arbitrariamente estipulado pelo ouvinteleitor Desta maneira acessar o sentido idiomaacutetico ocorreria no plano do sintagma fraseoloacutegico parcialmente distribuiacutedo ao longo de seus constituintes A partir daiacute os ouvintes passariam a olhar a expressatildeo linguiacutestica como quase metafoacuterica (ou alusional)

Para ilustrar a segunda perspectiva tomemos com exemplo a expressatildeo idiomaacutetica ldquopocircr sebo nas canelasrdquo com sentido de ldquofugirrdquo em que ouvintes para compreenderem seu sentido idiomaacutetico teratildeo que calcular o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes do sintagma e assim feito reconheceratildeo as ligaccedilotildees que o referido sintagma fraseoloacutegico tem convencionalmente com expressotildees idiomaacuteticas sinoniacutemicas (por exemplo ensebar as canelas meter o peacute no mundo botar o peacute no mundo passar sebo nas canelas abrir no peacute e pisar no tempo) que tecircm os mesmos sentidos idiomaacuteticos que eles representam

Enfim para esta corrente as expressotildees idiomaacuteticas satildeo linguisticamente processadas da mesma forma como outras configuraccedilotildees de expressotildees fijas com o mesmo sentido idiomaacutetico Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas

Natildeo haacute como falarmos em taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas sem deixarmos claro o que estamos a entender por compreensatildeo estrateacutegias expressotildees idiomaacuteticas e sua tipologia

Pressupomos que para cada tipo de expressatildeo idiomaacutetica eacute possiacutevel que tenhamos estrateacutegia especial para desvelar o seu sentido natildeo literal em situaccedilatildeo de uso na interaccedilatildeo verbal

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Iniciemos entatildeo pela questatildeo da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas numa perspectiva psicolinguiacutestica Considerando que a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua dada inclui informaccedilotildees que transcendem o niacutevel puramente sintaacutetico morfoloacutegico semacircntico e pragmaacutetico entendemos que o exame da questatildeo do sentido idiomaacutetico em nossa pesquisa deve ser feito agrave luz de aportes teoacutericos da (Psico)linguiacutestica e da Linguiacutestica cognitiva

Feitos esses recortes das disciplinas envolvidas na questatildeo da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico no acircmbito propriamente dito da Psicolinguiacutestica recorreremos aos conceitos de compreensatildeo estrutura cognitiva e memoacuteria de longo prazo propostos por Smith (1999 p 80 2003 p 361)

Acreditamos que a passagem do sentido literal (SL) para o sentido idiomaacutetico (SI) das expressotildees fixas portanto o acesso ao sentido fraseoloacutegico resulta de uma interpretaccedilatildeo particular (ou culturalmente marcada) dos falantes sejam nativos ou natildeo nativos a partir de sua estrutura cognitiva

Por compreensatildeo nesta pesquisa entendemos entatildeo a competecircncia semacircntica que o falante seja nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua dada tem de interpretar qualquer expressatildeo linguiacutestica complexa capaz de construir representaccedilotildees conceituais (NEVEU2008 p75) a partir de sua memoacuteria de longo prazo e de sua visatildeo de mundo (STERNBERG2008 p192)

No caso da compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes que geralmente natildeo a apreendem na primeira vez que a escutam eacute possiacutevel que a descoberta dos sentidos parciais das unidades leacutexicas e das regras por meio das quais se combinam a dita expressatildeo seja uma estrateacutegia especial de entendimento dos idiomatismos (FILLMORE et ali 1988)

Como a questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas tem sido bastante problemaacutetica ou negligenciada pelos modelos linguiacutesticos (gerativista por exemplo) recorremos aqui agrave Gramaacutetica das Construccedilotildees proposta por Fillmore Kay e OrsquoConnor (1988) que defendem a ideia de que as construccedilotildees complexas (sintagmas ou sentenccedilas) tecircm as mesmas propriedades semacircnticas e pragmaacuteticas que os itens lexicais estabelecendo a partir daiacute uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticasrdquo (FERRARI 2011 p130)

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Do ponto de vista psicolinguiacutestico tambeacutem levamos em conta em nossa pesquisa a noccedilatildeo de estrutura cognitiva Graccedilas agrave estrutura cognitiva os falantes satildeo capazes de compreender as estruturas mais complexas ou irregulares de uma liacutengua agrave medida que recorrem como sujeitos de seus atos de fala nas situaccedilotildees de interaccedilatildeo social ao seu leacutexico mental onde ativam muitas vezes de maneira automaacutetica ou involuntaacuteria informaccedilotildees sobre o que conhecem e acreditam a respeito do mundo e a partir daiacute podem estabelecer relacionamento de novas informaccedilotildees agravequilo que jaacute sabem sobre a liacutengua a cultura e a experiecircncia corpoacuterea no mundo

Smith (1999) defende a ideia de que na estrutura cognitiva estaacute ldquoa totalidade de organizaccedilatildeo de conhecimento do ceacuterebrordquo (p 80 2003 p 361)

Ao longo de nossa pesquisa tambeacutem iremos nos referir agrave estrutura cognitiva como ldquomemoacuteria de longo prazordquo ou ldquoteoria do mundo na cabeccedilardquo com o objetivo de reforccedilar o pressuposto de que a compreensatildeo eacute a fonte de prediccedilotildees ou adivinhaccedilotildees psicolinguiacutesticas que nos possibilitam encontrar sentido nos acontecimentos e na linguagem

Mais especificamente por memoacuteria declarativa de longo prazo entendemos ldquoo conhecimento e a crenccedila que fazem parte da nossa compreensatildeo mais ou menos permanente do mundordquo e que se refere a ldquo tudo o que noacutes sabemos sobre o mundo e do que eacute organizado e faz sentido (SMITH1999 p44)

Quanto agrave noccedilatildeo de estrateacutegias recorreremos ao conceito de Soleacute (1998) Segundo ela estrateacutegias satildeo procedimentos que regulam a atividade dos falantes agrave medida que sua aplicaccedilatildeo permite selecionar avaliar persistir ou abandonar determinadas accedilotildees para conseguir a meta a que nos propomos (p69) Por exemplo quando o falante escuta ou lecirc a expressatildeo idiomaacutetica ldquoandar com a pulga atraveacutes da orelhardquo e descarta em sua interpretaccedilatildeo o sentido literal ldquocaminhar com o inseto na orelhardquo em favor de ldquoestar preocupado ou cismadordquo recorre agraves suas habilidades cognitivas relacionadas com sua capacidade de perceber o proacuteprio conhecimento sobre os insetos de pensar sobre a atuaccedilatildeo ou emprego da expressatildeo no uso social da liacutengua Satildeo essas informaccedilotildees no nosso entendimento que lhes permitem o abandono de uma interpretaccedilatildeo literal em favor de uma

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interpretaccedilatildeo idiomaacutetica carregada de metaforicidade e fraseologizaccedilatildeo

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ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA Neste capiacutetulo descrevemos o meacutetodo os objetivos as

hipoacuteteses os problemas os sujeitos e os resultados das pesquisas de Irujo (1986) Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010) dentre os principais estudos empiacutericos nos uacuteltimos anos que se ocuparam de investigar em falantes nativos ou natildeo nativos de uma liacutengua dada (inglecircs italiano por exemplo) o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas Todos eles nos fundamentaram direta ou indiretamente no design dos nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos com suas respectivas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) sobre a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por sujeitos natildeo nativos do PB

O tratamento psicoloacutegico dado por noacutes agraves expressotildees idiomaacuteticas requereu de nossa parte um recorte no campo de investigaccedilatildeo da psicolinguiacutestica experimental dando um enfoque especial ao estudo dos enunciados linguiacutesticos o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas

Uma pesquisa que busca tratar da realidade psicoloacutegica dos signos linguiacutesticos sejam os de estrutura mais simples como as palavras e os mais complexos como as expressotildees idiomaacuteticas ou enunciados maiores como os proveacuterbios e os textos em seus diversos gecircneros exige a priori do pesquisador uma disposiccedilatildeo de articulaccedilatildeo com outros niacuteveis do sistema linguiacutestico como o morfoloacutegico (onde situamos expressatildeo idiomaacutetica como categoria morfoloacutegica e por isso com o mesmo comportamento de um lexema) e o sintaacutetico (lugar onde a expressatildeo idiomaacutetica se faz parte de uma frase ou oraccedilatildeo ou seja atua como elemento oracional)

Outras ldquocategorias extralinguiacutesticas como ldquoculturardquo ldquodialetordquo e ldquomemoacuteriardquo tambeacutem acabam por se associarem ao sistema da liacutengua na produccedilatildeo e na compreensatildeo dos enunciados no que tange aos sujeitos agraves situaccedilotildees comunicativas e aos conhecimentos preacutevios que os falantes compartilham (LEITAtildeO2009 p223)

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Os experimentos de Irujo (1986)

A pesquisa de Irujo (1986) partiu do pressuposto de que

aprendizes venezuelanos de segunda liacutengua encontram dificuldades de usar expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs o que os levam muitas vezes a preferir evitaacute-las completamente no cotidiano o que poderia ser chamado de idiofobia (um tipo de aversatildeo ou receio de utilizar expressotildees idiomaacuteticas) Essa dificuldade decorreria de os sujeitos natildeo compreender uma parte (ou o todo) de uma expressatildeo idiomaacutetica em Inglecircs e evitaacute-la em suas conversas em que pese natildeo encontrar dificuldade de pronunciaacute-la ou produzi-las eventualmente em seus textos orais ou escritos

O estudo realizado por Irujo buscou determinar se os alunos avanccedilados de inglecircs haviam utilizado o conhecimento da sua liacutengua materna o espanhol para compreender e produzir expressotildees em L2 (inglecircs)

Quanto aos participantes da pesquisa Irujo trabalhou com um total de 12 alunos de Inglecircs avanccedilado da Venezuela Foram escolhidos indiviacuteduos da mesma nacionalidade como garantia de que todos eles usavam a mesma variedade de espanhol e estariam familiarizados com os equivalentes espanhoacuteis das expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para o estudo De uma lista de todos os estudantes venezuelanos em uma grande universidade os sujeitos potenciais foram contactados inicialmente de forma aleatoacuteria O grupo final no entanto foi autosselecionado a partir do seu grau de interesse na pesquisa a disposiccedilatildeo de darem duas horas de seu tempo em troca de um pequeno proacute-labore

Todos os sujeitos eram alunos de graduaccedilatildeo regularmente matriculados na universidade Todos tinham tambeacutem proficiecircncia meacutedia em inglecircs e tempo meacutedio de residecircncia nos Estados Unidos de 275 anos e a idade meacutedia de 218 anos

O estudo se destinou tambeacutem a fornecer informaccedilotildees sobre as estrateacutegias que os alunos usam quando tecircm de produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabem e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de aprender

Foi aplicado um teste de muacuteltipla escolha para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica de 45 expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs

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assim distribuiacutedas1 15 expressotildees idecircnticas com equivalecircncia de forma e sentido em liacutengua espanhola (expressotildees idecircnticas) 15 expressotildees semelhantes aos seus equivalentes espanhoacuteis (expressotildees semelhantes) e 15 expressotildees diferentes a partir do correspondente espanhol (expressotildees diferentes)

Quanto ao teste de produccedilatildeo foram consideradas as mesmas 45 expressotildees idiomaacuteticas submetidas a um teste de discurso-complemento e um teste de traduccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa Irujo partiu das seguintes hipoacuteteses (a) Expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas mostram evidecircncias de transferecircncia positiva pois elas seriam mais faacuteceis de compreender e de produzir corretamente (b) expressotildees Idiomaacuteticas semelhantes mostram evidecircncia de transferecircncia negativa e a compreensatildeo pode ser tatildeo eficiente quanto para expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas e a produccedilatildeo destas expressotildees iria ser refletida na interferecircncia do primeira liacutengua e (c) para expressotildees idiomaacuteticas diferentes natildeo haacute evidenciam de qualquer transferecircncia positiva ou negativa ou seja os sujeitos compreenderiam e produziriam menos expressotildees idiomaacuteticas diferentes do que dos outros dois tipos

Quanto aos materiais utilizados na pesquisa as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas foram selecionadas com base em duas versotildees de um questionaacuterio um em Inglecircs e um em espanhol O questionaacuterio consistia de trecircs partes cada uma contendo 50 expressotildees idiomaacuteticas de um tipo (idecircntico semelhante ou diferente) Vinte e trecircs falantes nativos de espanhol e 30 falantes nativos ingleses completaram o questionaacuterio em seu idioma nativo Foi-lhes pedido para definir cada uma das expressotildees idiomaacuteticas e numa escala de 1 a 5 de frequecircncia de utilizaccedilatildeo de cada uma Com base nestes resultados 15 expressotildees idiomaacuteticas de cada tipo foram escolhidas todas tinham sido definidas de forma inequiacutevoca por todos os entrevistados com sentidos

1 Aqui devemos discriminar o seguinte (a) expressotildees idecircnticas expressotildees idiomaacuteticas que em espanhol em nada diferem das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs Seriam portanto expressotildees gecircmeas idecircnticas que apresentam as mesmas caracteriacutesticas formais e semacircnticas (b) expressotildees semelhantes expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que tecircm o mesmo campo semacircntico natureza ou forma em relaccedilatildeo a expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs e (c) expressotildees diferentes as expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que diferem parcial ou totalmente das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs

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figurativos ou fraseoloacutegicos equivalentes em ambas as liacutenguas e tinham recebido uma meacutedia de pelo menos 3 na frequecircncia na escala de uso

Os testes foram escritos para avaliarem o reconhecimento a compreensatildeo a recordaccedilatildeo e produccedilatildeo dessas expressotildees O teste de reconhecimento idiomaacutetico era um teste de muacuteltipla escolha com opccedilotildees que incluiacuteam a paraacutefrase correta da expressatildeo uma frase relacionada com a paraacutefrase correta uma frase relacionada com a interpretaccedilatildeo literal e uma sentenccedila independente

Os itens nos dois testes de compreensatildeo foram marcados como correto ou incorreto e os itens sobre os testes de produccedilatildeo foram marcados como correto incorreto ou com interferecircncia

Segundo Irujo muitas vezes foi difiacutecil determinar quando a interferecircncia havia ocorrido Neste estudo a interferecircncia foi definida como o uso incorreto de uma traduccedilatildeo de uma palavra de conteuacutedo de uma expressatildeo idiomaacutetica espanhol No entanto em muitos casos especialmente com expressotildees similares uma palavra errada na liacutengua inglesa podia ser tanto uma traduccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em espanhol ou uma generalizaccedilatildeo ou extensatildeo exagerada de uma palavra no idioma Inglecircs

Em cada um dos dois testes de compreensatildeo os indiviacuteduos foram igualmente bem-sucedidos com expressotildees idecircnticas e semelhantes mas tinham dificuldade significativamente acentuada com expressotildees idiomaacuteticas diferentes No teste de traduccedilatildeo expressotildees idiomaacuteticas semelhantes e diferentes eram igualmente difiacuteceis pelo teste discurso de conclusatildeo o desempenho diferiu em todos os trecircs tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Quando a tarefa era reconhecer o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica os participantes foram capazes de generalizar a partir do sentido na sua liacutengua materna o sentido na segunda liacutengua se o modelo fosse idecircntico ou similar

As trecircs hipoacuteteses da pesquisa foram confirmadas Os sujeitos compreenderam expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas assim como expressotildees semelhantes e ambas foram compreendidas melhor do que expressotildees diferentes

Embora os resultados deste estudo mostram que os indiviacuteduos faziam uso de sua liacutengua nativa para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda liacutengua eles tambeacutem usavam estrateacutegias relacionadas agrave liacutengua-alvo

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Irujo afirma que foi impossiacutevel com base nos dados da pesquisa fazer qualquer afirmaccedilatildeo definitiva sobre a influecircncia relativa das estrateacutegias de primeira e segunda liacutengua por causa da dificuldade de atribuir respostas a uma categoria especiacutefica

O uso da liacutengua materna na produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs variou individualmente alguns participantes mostraram praticamente nenhuma interferecircncia para qualquer tipo de expressatildeo idiomaacutetica enquanto outros tiveram altas taxas de interferecircncia de expressotildees idiomaacuteticas ao mesmo tempo parecidas e diferentes Segundo Irujo estas diferenccedilas podem ser relacionadas ao fato dos sujeitos terem mantido os seus dois sistemas linguiacutesticos separados ou natildeo

Os resultados da pesquisa apontam para a possibilidade de que alguns alunos tenham conscientemente mantido as duas liacutenguas separadas e assim terem rejeitado formas da segunda liacutengua que estatildeo muito proacuteximas agraves da primeira liacutengua

Nos dois testes de compreensatildeo parece que os sujeitos foram capazes de generalizar a partir do sentido da expressatildeo em espanhol para o seu sentido em Inglecircs mesmo quando a forma era um pouco diferente Nos dois testes de produccedilatildeo eles foram capazes de produzir corretamente muitas expressotildees idiomaacuteticas mais idecircnticas do que expressotildees idiomaacuteticas dos outros dois tipos

Ambos resultados indicam que a transferecircncia positiva estava pronta para ser utilizada Transferecircncia negativa (interferecircncia) tambeacutem foi evidente nos dois testes de produccedilatildeo mais para expressotildees semelhantes do que para expressotildees idiomaacuteticas totalmente diferentes Quando as diferenccedilas eram pequenas a tendecircncia podia ser a de generalizar e ignorar essas diferenccedilas

Os resultados deste estudo apoiam a noccedilatildeo de que os alunos avanccedilados de uma segunda liacutengua cuja primeira liacutengua estaacute relacionada com a segunda pode usar seu conhecimento (meta)linguiacutestico de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda

O estudo de Irujo tem implicaccedilotildees teoacutericas para a investigaccedilatildeo da transferecircncia na aquisiccedilatildeo de uma segunda liacutengua Os resultados sugerem que as similaridades entre as liacutenguas incentivam a interferecircncia e que expressotildees idiomaacuteticas nem sempre satildeo considerados intransferiacuteveis

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As conclusotildees da pesquisa de Irujo podem ser aplicadas ao ensino de expressotildees idiomaacuteticas em L2 Se os alunos estatildeo usando seu conhecimento de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas em segunda liacutengua os professores devem tirar proveito disso

As conclusotildees da pesquisa apontam ainda que expressotildees idiomaacuteticas infrequentes e altamente coloquiais com vocabulaacuterio difiacutecil devem ser evitadas no ensino de liacutengua estrangeira Segundo Irujo os alunos vatildeo obviamente ter dificuldade de produzi-las corretamente e aleacutem disso essas expressotildees difiacuteceis mesmo quando produzida corretamente muitas vezes soam estranha e natildeo naturalmente quando falado por falantes natildeo nativos de Inglecircs

Importante assinalar que Irujo acredita que atividades de que comparem sentidos literais e figurativos podem ajudar os alunos na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de modo perceber o absurdo (no chamariacuteamos de princiacutepio da absurdidade) dos sentidos literais e fornecer uma nova relaccedilatildeo a partir das palavras literais para o sentido idiomaacutetico

O estudo afirma que atividades que incentivem a produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas podem ser baseadas em listas de expressotildees idiomaacuteticas recolhidos pelos alunos ou fornecidos pelo professor Estas listas devem incluir expressotildees idiomaacuteticas que satildeo semelhantes nas primeira e segunda liacutenguas e satildeo portanto capazes de causar interferecircncia Os alunos podem contar histoacuterias adicionais que contenham expressotildees idiomaacuteticas recontar uma histoacuteria que ouviram expressotildees contidas escrever e apresentar peccedilas teatrais espetaacuteculos de marionetes histoacuterias ou diaacutelogos com expressotildees neles e dramatizaccedilatildeo de situaccedilotildees que se prestam agrave produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em substacircncia os resultados mostram que expressotildees idecircnticas eram mais faacuteceis de compreender e produzir Expressotildees similares foram compreendidas quase tatildeo bem mas mostraram a interferecircncia do espanhol Expressotildees Idiomaacuteticas diferentes eram as mais difiacuteceis de compreender e produzir mas mostraram menos interferecircncia do que expressotildees semelhantes

Os participantes usaram estrateacutegias inter e intralinguiacutestica para produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabiam Dentro de cada tipo as expressotildees idiomaacuteticas que foram compreendidas e produziram

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mais corretamente foram as que eram usadas com frequecircncia e que tinham um vocabulaacuterio simples e estrutura transparente

Em nossa pesquisa recorremos aos procedimentos de Irujo (1996) para a elaboraccedilatildeo do 2ordm experimento denominado Teste de Muacuteltipla Escolha com o objetivo de os participantes descobrirem os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs a partir de itens de muacuteltipla escolha Seguindo o mesmo modelo de Irujo as respostas agraves perguntas do TME foram pontuados em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993)

A pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) analisa uma seacuterie de

experimentos realizados como contribuiccedilotildees para uma teoria sobre o processamento de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de natureza verbal

Parte da ideia fregeana de que o sentido de uma frase idiomaacutetica natildeo eacute para ser reconstruiacutedo a partir do sentido dos elementos que o compotildeem Levanta entatildeo duas questotildees fundamentais como eacute a estrutura desse sentido Como estas expressotildees satildeo representadas no leacutexico mental

Segundo Flores drsquoArcais trecircs diferentes respostas podem ser dadas a estas duas questotildees que tomaram formas de hipoacuteteses de sua pesquisa (a) as expressotildees idiomaacuteticas podem ser listadas no leacutexico mental como entradas lexicais de natureza polilexical (b) as expressotildees idiomaacuteticas natildeo estatildeo listadas como tal mas satildeo reconstruiacutedas com seu sentido idiomaacutetico a partir da entrada de um ou mais das palavras de conteuacutedo que constituem a expressatildeo e (c) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo seria representado como tal em tudo mas seria calculada de cada vez com base nas unidades lexicais e da estrutura frasal por um processo de construccedilatildeo metaacutefora

A pesquisa de Flores drsquoArcais tentou encontrar respostas para cinco problemas teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico (1) o sentido literal eacute calculado durante o processo de compreensatildeo (2) as expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares usados com frequecircncia podem ser listadas no leacutexico mental ao passo que a compreensatildeo de

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expressotildees idiomaacuteticas com pouca familiaridade e que satildeo usados raramente pode exigir um caacutelculo completo O sentido literal eacute computado ou natildeo durante a leitura de expressatildeo idiomaacutetica (4) a anaacutelise completa da estrutura gramatical da cadeia de entrada estaacute ocorrendo mesmo quando a sentenccedila eacute entendida inclui uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica altamente familiar que poderia ser recuperado como uma unidade multilexical no leacutexico mental sem qualquer necessidade de anaacutelise sintaacutetica da sua estrutura interna e (5) considerando que as expressotildees metafoacutericas que satildeo compreendidas por vaacuterios processos inferenciais seriam procuradas no leacutexico de vaacuterias palavras como unidades lexicais

Flores drsquoArcais aplicou aos seus sujeitos da pesquisa cinco experimentos

O primeiro experimento buscou obter informaccedilotildees sobre familiaridade e sobre o ponto de singularidade da expressatildeo para um grande nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas

O objetivo deste experimento foi a obtenccedilatildeo de algumas indicaccedilotildees de um nuacutemero de propriedades de uma grande amostra de expressotildees idiomaacuteticas em holandecircs Contou com um grande nuacutemero de sujeitos em diferentes fases da pesquisa

Os dados obtidos foram utilizados para a seleccedilatildeo dos materiais para os experimentos seguintes Duzentas expressotildees idiomaacuteticas holandesas foram escolhidas como material de base para a pesquisa Eles foram apresentados em vaacuterios conjuntos de tarefas diferentes para um total de 294 sujeitos com o pedido para realizarem uma seacuterie de tarefas

A primeira tarefa consistiu na definiccedilatildeo de sentido da expressatildeo idiomaacutetica Os sujeitos deram uma definiccedilatildeo do sentido de cada uma das expressotildees idiomaacuteticas As definiccedilotildees apresentadas foram em seguida avaliadas por dois juiacutezes em uma escala de 3 pontos como (1) correta (2) parcialmente correta ou relacionado agrave acepccedilatildeo lexicograacutefica de expressotildees idiomaacuteticas ou (3) completamente incorreto Os valores meacutedios da escala idiomaacutetica calculada sobre todos os assuntos deram uma indicaccedilatildeo da disponibilidade ou o conhecimento do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

A segunda tarefa relacionou-se agrave questatildeo da familiaridade Consistia em dar uma estimativa da frequecircncia com que o sujeito usaria na liacutengua usando uma escala de 7 pontos de muito frequentemente

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utilizado para nunca usado Isto rendeu para cada expressatildeo idiomaacutetica um escore de frequecircncia subjetiva ou familiaridade

A terceira tarefa dizia respeito ao uso de sentido literal Os sujeitos foram instigados a interpretarem o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica quando pensavam que tinham recuperado o sentido literal da referida expressatildeo Apoacutes a resposta a esta pergunta o sujeito tinha de expressar em uma escala de 5 pontos o grau de confianccedila de ter recuperado o sentido literal

A quarta tarefa diz respeito ao ponto de singularidade idiomaacutetica Os sujeitos foram solicitados a indicar para cada expressatildeo idiomaacutetica o ponto em que palavra em uma expressatildeo idiomaacutetica tornava-se unicamente definida ou linguisticamente idiomaacutetica

Em se tratando dos resultados das tarefas aplicadas aos sujeitos da pesquisa as definiccedilotildees dadas e as classificaccedilotildees forneceram em primeiro lugar uma seacuterie de detalhes sobre as propriedades das expressotildees idiomaacuteticas que foram utilizados como uma base para outros estudos permitindo que as expressotildees idiomaacuteticas fossem divididas em duas categorias (a) bem conhecidas (alta proporccedilatildeo de definiccedilatildeo correta) e natildeo conhecidas (definiccedilotildees incorretas)

Segundo Flores drsquoArcais quando uma expressatildeo idiomaacutetica eacute bem conhecida o falante (leitor ou ouvinte) natildeo pensa que usa o sentido literal a fim de compreendecirc-la enquanto que quando a expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute bem conhecida a interpretaccedilatildeo literal eacute provaacutevel que seja usada em muitos casos

O segundo experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas que de acordo com a hipoacutetese da memoacuteria idiomaacutetica podem ser armazenadas como unidades formadas de vaacuterias palavras lexicais e portanto podem ser interpretadas como tal e ainda submetidas agrave anaacutelise sintaacutetica completa

Este experimento relacionou-se ao processamento sintaacutetico durante compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas A hipoacutetese era a de que se expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas na memoacuteria como unidades lexicais formadas polilexicalmente como afirma a lista de hipoacutetese entatildeo a anaacutelise sintaacutetica da estrutura frasal da liacutengua em princiacutepio natildeo deveria ser necessaacuteria para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

O experimento testou a hipoacutetese de que a anaacutelise sintaacutetica eacute um processo obrigatoacuterio automaacutetico que natildeo depende da estrutura

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particular ao ser processada e que eacute insensiacutevel agraves propriedades lexicais da estrutura frasal A experiecircncia investigou a questatildeo de saber se a anaacutelise sintaacutetica da expressatildeo idiomaacutetica continua mesmo quando a expressatildeo tinha sido reconhecida e o sentido idiomaacutetico apropriado foi atribuiacutedo a ele

Para estes experimentos 20 estudantes da Universidade de Leiden foram convidados a detectar violaccedilotildees sintaacuteticas em sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas verbais de familiaridade alta ou baixa

Em termos de material da pesquisa vinte e quatro frases que continham expressotildees idiomaacuteticas (12 expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares e 12 familiares) e 60 locuccedilotildees verbais a serem preenchidas que constituiacuteram o material do experimento Em 50 da apresentaccedilatildeo cada frase continha uma violaccedilatildeo gramatical tais como as seguintes (a) Violaccedilatildeo de concordacircncia de gecircnero entre artigo e substantivo e (b) Concordacircncia no pluralsingular

Em termos de procedimentos as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas foram apresentadas aos sujeitos da pesquisa em um computador uma de cada vez numa sequecircncia esquerda para direita com cada palavra exibida ocupando uma posiccedilatildeo diferente como em uma sequecircncia normal impressa No entanto cada palavra foi apresentada e permaneceu no visor por alguns segundos e depois desapareceu

Os resultados mostram que foram detectadas com sucesso pelos sujeitos das pesquisas tanto violaccedilotildees em locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas de alta e de baixa familiaridade (familiares e natildeo familiares A ausecircncia de qualquer diferenccedila na taxa de detecccedilatildeo de violaccedilotildees sintaacuteticas em expressotildees idiomaacuteticas de alta familiaridade e baixa familiaridade pode ser interpretada como tendo ocorrido em ambos os casos a anaacutelise sintaacutetica Os resultados destas tarefas permitiram concluir que a anaacutelise sintaacutetica da cadeia frasal que constitui a expressatildeo continua mesmo quando o item de familiaridade de alta foi reconhecida

O terceiro experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas altamente familiarizadas satildeo reconhecidas com facilidade sem qualquer necessidade para o caacutelculo do sentido literal ao passo que expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade exigem um esforccedilo adicional de processamento

Este experimento consistiu na leitura palavra por palavra de sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Para aplicaacute-lo Flores drsquoArcais considerou que para se compreender locuccedilotildees verbais

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idiomaacuteticas seria necessaacuterio um processamento adicional devido agrave necessidade de calcular primeiramente o sentido literal e em seguida um sentido idiomaacutetico ou a necessidade de construir duas interpretaccedilotildees em paralelo como vaacuterios dos modelos na literatura desta aacuterea sugerem alternativamente entatildeo deveria esperar aumento da carga de processamento com expressotildees idiomaacuteticas em comparaccedilatildeo com as natildeo idiomaacuteticas

Em termos de material deste experimento foram selecionadas vinte e quatro expressotildees idiomaacuteticas sendo 12 familiares e 12 muito estranhas ou natildeo familiares dos quais respectivamente 6 eram transparentes e 6 muito opacas constituiacuteram o material experimental Eles foram incluiacutedos em frases com contexto neutro literal ou idiomaacutetico Setenta e duas frases de preenchimento foram misturadas com as 24 sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Vinte e quatro dessas frases foram pareadas com sentenccedilas idecircnticas estruturas sintaacuteticas e conteuacutedos muito semelhantes agraves sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas As sentenccedilas foram apresentadas em uma palavra um monitor em situaccedilatildeo on-line sob controle dos sujeitos

Em termos de sujeitos e procedimentos da pesquisa vinte e quatro estudantes da Universidade de Leiden participaram da experiecircncia como sujeitos voluntaacuterios pagos Os tipos de frases de contexto e as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas foram randomizados de tal forma que cada indiviacuteduo recebeu duas sentenccedilas em dois contextos diferentes Os sujeitos se sentavam em frente ao monitor a uma distacircncia de cerca de 70 cm e receberam a sentenccedila de uma palavra no momento pressionando uma tecla As palavras da locuccedilatildeo verbal foram apresentadas na tela da esquerda para a direita e manteve-se visiacutevel ateacute que o fim da locuccedilatildeo verbal Algumas das frases necessitaram de duas linhas na tela

Os resultados mostraram que o tempo de inspeccedilatildeo ao ponto de singularidade da expressatildeo idiomaacutetica eram praticamente o mesmo para itens familiares e para palavras de controle que faziam parte de locuccedilotildees verbais natildeo idiomaacuteticas Expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas por outro lado necessitavam agraves vezes de inspeccedilatildeo significativamente mais longa As expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas exigem tempo de inspeccedilatildeo significativamente superior do que aqueles transparentes A interaccedilatildeo entre o tipo de frase de

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contexto e familiaridade foi significativa apenas para as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A pesquisa de Flores drsquoArcais nos sugere que a ocorrecircncia de uma expressatildeo idiomaacutetica familiarizada natildeo requer qualquer computaccedilatildeo adicional e que o processamento prossegue da mesma maneira como com uma frase contendo uma locuccedilatildeo verbal natildeo idiomaacutetica da mesma complexidade estrutural do uma expressatildeo idiomaacutetica

Por outro lado quando a palavra diacriacutetica (ou idiomaacutetica) de uma expressatildeo desconhecida for reconhecida o leitor desacelera o ritmo de leitura dela indicando assim a necessidade para a atribuiccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo alternativa para a frase no ponto de sua idiomaticidade

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais mostram que os leitores tecircm mais dificuldade na interpretaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas enquanto que eles natildeo parecem ter qualquer dificuldade na interpretaccedilatildeo de uma expressatildeo mais conhecida do que qualquer outra parte da sentenccedila

A pesquisa obteve evidecircncias para a noccedilatildeo de que expressotildees familiares satildeo processadas sem qualquer problema Por outro lado expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares quando opacas e especialmente se incorporadas num contexto neutro oferecem alguns problemas de processamento Para Flores drsquoArcais parece razoaacutevel argumentar que este material eacute compreendido em seu sentido literal ateacute o ponto em que isso natildeo eacute mais possiacutevel Neste ponto alguma computaccedilatildeo adicional parece ser necessaacuteria

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais assinalam enfim que expressotildees idiomaacuteticas familiares satildeo entendidas diretamente sem qualquer esforccedilo adicional e provavelmente sem a necessidade de computar a interpretaccedilatildeo literal Isso natildeo parece ser o caso para expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares para o qual o trabalho computacional adicional parece ser necessaacuterio e esta especialmente quando o contexto natildeo daacute qualquer sugestatildeo quanto agrave presenccedila de um sentido idiomaacutetico de uma cadeia criacutetica

O quarto e o quinto experimentos tentaram descobrir como as pessoas interpretam expressotildees desconhecidas e quais estrateacutegias que podemsatildeo utilizadas na atribuiccedilatildeo de tal interpretaccedilatildeo

O quarto experimento refere-se agrave interpretaccedilatildeo semacircntica de expressotildees familiares e natildeo familiares Neste experimento foram apresentados aos indiviacuteduos uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas e

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pedido que eles escolhessem entre quatro alternativas a frase que corretamente correspondia agrave paraacutefrase do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de material da pesquisa foram quarenta e oito expressotildees idiomaacuteticas escolhidas de tal modo a cobrir toda a gama de escalas de familiaridade determinadas no primeiro experimento Para cada locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica foram feitas quatro paraacutefrases alternativas

Uma dessas alternativas correspondia agrave interpretaccedilatildeo (definiccedilatildeo de dicionaacuterio) correta da expressatildeo idiomaacutetica os outros foram escolhidos a partir das definiccedilotildees errocircneas produzidas pelos sujeitos do estudo (piloto) ou em alguns casos criadas pelo experimentador e dois colegas

Em termos de sujeitos e procedimento participaram do experimento cinquenta estudantes da Universidade de Leiden onde lhes foi dado um livreto contendo as 48 expressotildees idiomaacuteticas com quatro alternativas cada A tarefa era escolher a paraacutefrase (maneira diferente de dizer algo que foi dito frase sinocircnima de outra) que melhor correspondia em sentido ao sentido da locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica

Os resultados apontam que para expressotildees altamente familiares a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito alta enquanto que para as expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito menor

Os sujeitos do experimento eram na maioria dos casos capazes de selecionar a paraacutefrase adequada para expressotildees idiomaacuteticas familiares Por outro lado eles tambeacutem apresentavam um desempenho melhor do que por acaso mesmo com expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas

Segundo Flores drsquoArcais natildeo eacute de surpreender que a familiaridade com a expressatildeo idiomaacutetica estaacute correlacionada com a interpretaccedilatildeo correta Para ele o fato de agraves expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ser atribuiacuteda uma paraacutefrase correta de alguma forma sugere que as pessoas satildeo capazes de usar a informaccedilatildeo semacircntica presente na cadeia sintagmaacutetica a fim de chegar a uma soluccedilatildeo

O quinto experimento testou a produccedilatildeo de paraacutefrases para locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A perguntava que guiava o experimento era que tipo de estrateacutegias ou princiacutepios que as pessoas usam na busca de uma interpretaccedilatildeo de uma locuccedilatildeo idiomaacutetica desconhecida e opaca Ou

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em outras palavras Flores drsquoArcais perguntava o seguinte que tipo de interpretaccedilatildeo as pessoas podem oferecer quando se encontram diante de uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou uma que lhe eacute muito estranha ou difiacutecil de lembrar Que tipo de estrateacutegias as pessoas usam para tentar dar sentido a essas expressotildees

No experimento foi dada aos participantes uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas com o pedido para informarem em cada caso uma paraacutefrase Em seguida foram analisadas as paraacutefrases tentando isolar os princiacutepios que os sujeitos poderiam ter usado em produzi-los

Em termos de material foram selecionadas sessenta e quatro locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas 32 familiares e 32 desconhecidas assim como foram indexadas no primeiro experimento Dentro de cada uma destas duas categorias 16 eram bastante transparentes e 16 eram expressotildees idiomaacuteticas opacas Juntamente com este material um total de 66 sentenccedilas lacunadas (cloze) foram apresentadas algumas tendo um sentido metafoacuterico figurativo algumas apenas um sentido literal

No tocante aos sujeitos foram 80 alunos da Universidade de Leiden que participaram deste estudo em grupos

Em termos procedimentais as expressotildees idiomaacuteticas foram impressas (sem contexto) em um livreto com espaccedilo adequado para o assunto para dar uma resposta Cada paacutegina continha 10 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas e a ordem das paacuteginas do livro foi variada para assegurar pelo menos a randomizaccedilatildeo do material

Quanto agrave classificaccedilatildeo das respostas foram avaliadas em primeiro lugar na base da sua correccedilatildeo A avaliaccedilatildeo consistiu de correspondecircncia da paraacutefrase com o sentido de dicionaacuterio Este trabalho foi feito por quatro juiacutezes e na maioria dos casos a avaliaccedilatildeo natildeo apresentaou qualquer problema

As interpretaccedilotildees incorretas foram classificadas independentemente pelos quatro juiacutezes com base em um nuacutemero de categorias criadas pelos proacuteprios juiacutezes durante a classificaccedilatildeo das respostas Essas categorias em seguida foram reunidas e apoacutes discussatildeo dada uma uacutenica etiqueta

As paraacutefrases em seguida foram classificadas e atribuiacutedas a uma destas categorias Quando a classificaccedilatildeo muacuteltipla foi possiacutevel em alguns casos a paraacutefrase dada foi discutida entre os juiacutezes e a

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classificaccedilatildeo foi baseada em uma escolha forccedilada entre as duas categorias possiacuteveis

Os resultados deste experimento mostraram que a proporccedilatildeo de paraacutefrases era estreitamente alinhada ao sentido das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute muito alta para as expressotildees idiomaacuteticas familiares e significativamente menor para as desconhecidas

As paraacutefrases dadas pelos sujeitos podem basearam-se em um dos seguintes princiacutepios linguiacutesticos a seguir

(a) Analogia a frase idiomaacutetica era interpretada por analogia a uma expressatildeo conhecida que continha uma palavra ou um constituinte de uma expressatildeo familiar

(b) Uso de propriedades semacircnticas de uma das palavras da expressatildeo idiomaacutetica principalmente um dos substantivos sem considerar a frase inteira

(c) Extensatildeo metafoacuterica da accedilatildeo ou estado descrito na frase (d) Sentido literal a interpretaccedilatildeo era literalmente dada Nesse

caso os sujeitos natildeo foram capazes de descobrir qualquer interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

(e) Outros nesta categoria foram classificados um nuacutemero de respostas muito pessoais ou idiossincraacutesicas no sentido de que os indiviacuteduos pareciam criaacute-las sem referecircncia a qualquer princiacutepio oacutebvio ou deram uma paraacutefrase que para todos os juiacutezes parecia completamente arbitraacuteria

Importante assinalar que a pesquisa de Flores drsquoArcais destaca que quando no experimento era apresentada uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida e pedido aos participantes para darem uma interpretaccedilatildeo eles pareciam ser capazes de dar paraacutefrases apropriadas ou adequadas e muitas vezes coincidiam com o sentido convencional da expressatildeo As interpretaccedilotildees propostas eram obtidas atraveacutes de expressotildees idiomaacuteticas familiares ou a partir de uma anaacutelise metafoacuterica A informaccedilatildeo semacircntica que constitui o sentido das unidades lexicais que fazem parte da locuccedilatildeo idiomaacutetica era usada para construir uma interpretaccedilatildeo muitas vezes adequada ou plausiacutevel

A pesquisa de Flores drsquoArcais chegou a trecircs conclusotildees Primeiro o contato inicial com a expressatildeo idiomaacutetica leva o

participante a recorrer agrave anaacutelise sintaacutetica mesmo sendo as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas muito familiares que em princiacutepio podem ser reconhecidas apoacutes as primeiras palavras da combinatoacuteria e natildeo

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necessitariam de uma anaacutelise sintaacutetica a fim de serem entendidas ou que parecem sugerir que satildeo analisadas como qualquer outra sequecircncia linguiacutestica o que significa dizer que a anaacutelise sintaacutetica eacute a rota normal e necessaacuteria para obter uma estrutura interpretaacutevel

Uma segunda conclusatildeo decorrente dos resultados da pesquisa indica que existe uma clara diferenccedila entre o processamento de expressotildees idiomaacuteticas bem conhecidas familiares e novas e desconhecidas Embora as expressotildees idiomaacuteticas conhecidas sejam normalmente processadas sem qualquer esforccedilo adicional a compreensatildeo de uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica estranha ou natildeo familiar podem exigir algum esforccedilo adicional computacional

Uma terceira conclusatildeo eacute a de que quando eacute dada uma interpretaccedilatildeo a uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida isso ocorre com base em uma seacuterie de princiacutepios Alguns deles foram isolados como prova para os processos que levam uma a uma interpretaccedilatildeo significativa

A pesquisa de Flores drsquoArcais revelou finalmente que o processamento de locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas pode apresentar alguns problemas computacionais apenas quando as expressotildees idiomaacuteticas satildeo muito ou completamente desconhecidas As interpretaccedilotildees dadas a essas expressotildees satildeo muitas vezes apropriadas ou pelo menos proacuteximas ao sentido convencional Para alcanccedilar tais interpretaccedilotildees o usuaacuterio da liacutengua adota uma seacuterie de estrateacutegias que satildeo baseadas em princiacutepios simples ou simplesmente idiossincraacutesicos

Com base em alguns dos procedimentos e princiacutepios da pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) elaboramos o 3ordm experimento de nossa pesquisa dividido em duas tarefas

Na primeira tarefa denominada Teste de Imagens Idiomaacuteticas (TII) objetivamos saber da competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pequisa em identificar e dizer os sentidos figurados ou fraseoloacutegicos a partir de imagens literais publicadas na internet que poderiam evocar expressotildees idiomaacuteticas apresentadas uma a uma ao participante

Na segunda tarefa denominada Teste da Competecircncia Fraseoloacutegica (TCF) buscamos saber sobre a competecircncia fraseoloacutegica dos sujeitos da pesquisa de modo a descobrir sentidos plausiacuteveis de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs (para efeito de anaacutelise de dados soacute consideramos seis delas) as mesmas da primeira

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tarefa a partir de determinado contexto do portuguecircs escrito (jornais de grande circulaccedilatildeo nacional no Brasil) Os experimentos de Cooper (1999)

A pesquisa de Cooper (1999) investigou as estrateacutegias de

processamento cognitivo on-line utilizadas por uma amostra de falantes natildeo nativos de Inglecircs que foram convidados a darem os sentidos de expressotildees idiomaacuteticas frequentes e apresentadas em um contexto escrito

Os dados foram coletados por meio do protocolo verbal think-aloud procedure (procedimento de pensar em voz alta) Os participantes verbalizaram como acessam os sentidos das expressotildees idiomaacuteticas

Cooper parte da noccedilatildeo fregeana de natildeo composicionalidade semacircntica de que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute uma expressatildeo cujo sentido nem sempre pode ser facilmente derivado do sentido comum dos seus elementos constitutivos Segundo ele eacute difiacutecil dizer o sentido literal por exemplo das palavras individuais (chutar balde pau barraca) em expressotildees como em portuguecircs chutar o balde e chutar o pau da barraca com o sentido de abandonar

Quanto aos participantes da pesquisa Cooper contou com um total de 18 sujeitos natildeo nativos do inglecircs Eles tinham idades entre 17 a 44 anos sendo a idade meacutedia de 293 anos Havia oito falantes nativos espanhoacuteis trecircs japoneses cinco coreanos um russo e um portuguecircs Os participantes tinham vivido nos EUA 51 anos em meacutedia e passaram de 73 meses em meacutedia estudando Inglecircs nos EUA Muitos dos participantes tinham estudado ou estavam estudando inglecircs em cursos de idiomas especiais destinados a aumentar a proficiecircncia dos estudantes estrangeiros para que eles pudessem atingir uma pontuaccedilatildeo alta o suficiente no teste de inglecircs como liacutengua estrangeira para admissatildeo em uma universidade dos EUA

No tocante aos materiais dos experimentos os participantes receberam um teste de reconhecimento idiomaacutetico no qual eles foram instados a darem oralmente os sentidos de 20 expressotildees idiomaacuteticas frequentemente usadas selecionadas de um dicionaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas americanas As expressotildees idiomaacuteticas escolhidas

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representaram uma mistura de diferentes niacuteveis de discurso (em nossa pesquisa desconsideramos este criteacuterio lexicograacutefico e adotamos um criteacuterio fraseoloacutegico)

Na seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas feita por Cooper oito das expressotildees eram representativos do inglecircs padratildeo oito eram informais ou coloquiais no niacutevel do discurso e quatro eram expressotildees do tipo giacuterias As expressotildees em inglecircs padratildeo seriam mais provaacuteveis de ocorrerem em inglecircs escrito e expressotildees de giacuteria mais no coloquial

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de uma ou duas frases selecionadas a partir de estudos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L1 Cada expressatildeo com seu contexto foi digitada em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Desta forma a pesquisa buscou aferir as medidas de compreensatildeo para que fosse analisado o processamento das expressotildees idiomaacuteticas imediatamente apoacutes a percepccedilatildeo auditiva ou visual

Para investigar os processos de compreensatildeo idiomaacutetica Cooper usou a teacutecnica do think-aloud protocols (protocolo pensar em voz alta) para coleta de dados enquanto os estudantes eram submetidos ao Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) O foco da tarefa (think-aloud protocols) era o de obter dados para relatar o conteuacutedo de sua consciecircncia imediata isto eacute os sujeitos teriam de relatar o que eles estavam pensando no momento do teste Dados oferecidos pela assistecircncia teacutecnica (experimentadores) natildeo foram tomados como reflexos diretos de processos de pensamento mas sim como dados que se correlacionaram com processos subjacentes do pensamento dos participantes

Segundo Cooper os dados do Protocolo Verbal forneceriam provas do que estava na mente do indiviacuteduo durante a tarefa permitindo ao pesquisador zerar os esforccedilos mentais envolvidos no exato momento que um sujeito natildeo nativo encontra uma expressatildeo idiomaacutetica potencialmente problemaacutetica

A principal hipoacutetese da pesquisa de Cooper (1999) foi a de que o reconhecimento da expressatildeo idiomaacutetica pode ser influenciado por fatores linguiacutesticos como o sentido de uma determinada palavra na expressatildeo idiomaacutetica e extralinguiacutesticos como as experiecircncias e conhecimentos preacutevios dos participantes Por essa razatildeo os

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participantes foram solicitados a manterem esses fatores em mente ao verbalizem seus pensamentos sobre como eles chegaram a possiacuteveis sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas

Nossa pesquisa difere brevemente deste porque levamos em conta sobretudo a memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes expressotildees memorizadas em que o informante sabe sua forma (fixaccedilatildeo) e seu conteuacutedo (idiomaticidade) natildeo podems falar em opacidade versus transparecircncia

Mesmo em casos de equivalecircncia de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (no caso dos africanos liacutenguas crioulas) consideramos estar diante de uma manifestaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica Em nossa pesquisa o recurso agrave L1 soacute foi considerado vaacutelido quando depois de constatado pelo experimentador que efetivamente o informante declarava natildeo lembrar nem saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo durante o protocolo verbal houve uma clara busca por uma estrateacutegica L1 para desvelar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2

Os dados da pesquisa foram analisados em duas fases Na primeira fase as definiccedilotildees das 20 expressotildees idiomaacuteticas pelos participantes foram pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Na segunda fase da anaacutelise as respostas dos participantes para cada expressatildeo apoacutes serem divididas em segmentos discursivos (denominadas de t- unidades) e como tais foram analisadas e marcadas de acordo com a estrateacutegia de compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica utilizada pelo participante

As estrateacutegias de compreensatildeo para os quais foram encontradas provas nos dados foram denominadas com referecircncia a estudos anteriores que lidam com a compreensatildeo on-line da expressatildeo idiomaacutetica em L1 (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993) uma vez que tal terminologia tinha se mostrado eficaz na anaacutelise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir de protocolos verbais Estas estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas entre outras foram classificadas em dois grupos as estrateacutegias de preparaccedilatildeo e as estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo

As estrateacutegias de preparaccedilatildeo permitiram aos participantes clarificar e consolidar o conhecimento sobre a expressatildeo (Estrateacutegia RP repetir ou parafrasear o idioma) para ganhar mais tempo antes de

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proferir um palpite talvez para ensaiar uma resposta e para peneirar a nova informaccedilatildeo linguiacutestica (Estrateacutegia DA discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica) e para coletar informaccedilotildees adicionais a fim de dar um palpite melhor informado sobre o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RI solicitando informaccedilotildees sobre o idioma)

As estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo representam casos em que o participante realmente arriscou uma interpretaccedilatildeo da expressatildeo e a estrateacutegia que leva agrave suposiccedilatildeo foi categorizada como descobrir o sentido idiomaacutetica da expressatildeo a partir do contexto (Estrateacutegia AC) usando o sentido literal (Estrateacutegia SL) utilizando os conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP) referindo-se a uma liacutengua L1 (Estrateacutegia L1) ou usando outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE)

Cooper (1999) observou que durante a aplicaccedilatildeo do teste a maioria dos participantes estava muito interessada em participar dos protocolos de assistecircncia teacutecnica em mateacuteria de reconhecimento expressatildeo e sempre buscavam saber os sentidos das expressotildees Eles estavam conscientes das dificuldades inerentes agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L2 e queriam mais ajuda nesta aacuterea especialmente para lidar com a frustraccedilatildeo causada para compreenderem muitas expressotildees idiomaacuteticas em L2

Os dados levantados pelo TRI permitiram apontar que oito estrateacutegias de processamento de expressotildees idiomaacuteticas foram identificadas das quais trecircs foram usadas mais frequentemente (supor o sentido idiomaacutetico que a partir do contexto usar o sentido literal da expressatildeo e discutir e analisar a linguagem) enquanto as outras cinco estavam em menos evidecircncia (referir-se a uma lingua L1 solicitar informaccedilotildees sobre a linguagem e contexto repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica utilizar o conhecimento de fundo e usar outras estrateacutegias)

Em substacircncia a pesquisa de Cooper (1999) assinala que o modelo padratildeo para explicar a compreensatildeo idiomaacutetica natildeo foi encontrado entre os conhecidos modelos de compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (teorias leacutexicas e composicionais do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas) entre outros mas trata-se um modelo heuriacutestico pelo qual os natildeo nativos do inglecircs apoacutes encontrarem uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida empregam uma variedade de estrateacutegias de uma forma de tentativa e erro para interpretar expressotildees idiomaacuteticas L2

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Modelos de aquisiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 natildeo se aplicam satisfatoriamente agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas pelos usuaacuterios L2 Algumas sugestotildees pedagoacutegicas derivadas dos achados foram incluiacutedas nas sugestotildees e recomendaccedilotildees da pesquisa de Cooper

Os procedimentos adotados por Cooper (1999) foram parcialmente aplicadas em nosso primeiro experimento Uma anaacutelise mais detida dos seus procedimentos metoloacutegicos levou-se a acrescentar algumas tarefas ao modelo estrateacutegico

Em nossa proposta introduzimos antes da tarefa de reconhecimento idiomaacutetico (denominada em nossa pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) duas tarefas identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e memoacuteria fraseoloacutegica Na primeira o informante teria que identificar a expressatildeo (grau de fixaccedilatildeo formal) e na segunda declarar se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

Com a inserccedilatildeo destas duas tarefas no modelo de Cooper (1999) pudemos entatildeo realizar a tarefa de idiomaticidade fraseoloacutegica na qual o informante atribuiacutea sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo e desconsideraacutevamos os informantes que jaacute sabiam de cor as expressotildees idiomaacuteticas do experimento

Os informantes descartados natildeo foram considerados tambeacutem no levantamento de frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de nosso experimento Estes procedimentos foram transferidos aos 2ordm e 3ordm experimentos de nossa pesquisa

Em substacircncia o experimento baseado em Cooper foi dividido em quatro tarefas nas quais objetivaacutemos fazer uma gravaccedilatildeo digital do que os participantes da pesquisa pensavam sobre quando tentavam descobrir os significados de 15 expressotildees idiomaacuteticas em PB

Inicialmente foram dados um a um 15 cartotildees com expressotildees idiomaacuteticas e pedido que lessem o pequeno texto que trazia inserida a expressatildeo idiomaacutetica mas sem quaisquer marcas de identificaccedilatildeo de sua forma (fixaccedilatildeo formal)

A segunda tarefa pedia ao informante para que dissesse se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

A terceira tarefa pedir que em voz alta dissesse ao experimentador tudo que estava pensando a partir do momento que olhasse a expressatildeo idiomaacutetica identificasse-a (ou natildeo posto que no caso de natildeo identificaacute-la tal procedimento seria feito pelo experimentador) ateacute que dizer o que ela significava no texto lido

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Na quarta tarefa o experimentador oferecia ajuda teacutecnica isto eacute estrateacutegias cognitivas (top-down) para que pudesse desvelar o sentido idiomaacutetico das expressotildees opacas Os experimentos de Crespo e Caceres (2006)

Entre as aquisiccedilotildees tardias da fala estaacute a capacidade de as

crianccedilas entenderem as frases feitas de natureza figurativa ou metafoacuterica que ocorrem na linguagem oral

Diante dessa problemaacutetica a pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) teve por objetivo descrever o desenvolvimento da compreensatildeo oral de frases metafoacutericas em crianccedilas entre 5 a 13 anos de idade matriculados em escolas puacuteblicas municipais e particulares em duas cidades no Chile

A pesquisa buscou especificamente alcanccedilar os seguintes objetivos a) apresentar as bases teoacutericas relacionadas com as frases feitas em espanhol e como as crianccedilas desenvolvem a sua compreensatildeo b) descrever o grau de compreensatildeo de frases feitas de natureza metafoacuterica em estudantes chilenos determinando a possiacutevel presenccedila de diferenccedilas significativas devido ao aumento da idade e c) determinar que tipo de frases feitas metafoacutericas satildeo mais faacuteceis ou mais difiacuteceis de entender

Os resultados indicaram diferenccedilas significativas no grau de compreensatildeo de enunciados metafoacutericos entre todos os grupos de idade considerados mais velhos

Os dados permitiram tambeacutem estabelecer que todos os enunciados fraseoloacutegicos foram relativamente faacuteceis Entre as unidades fraseoloacutegicas as colocaccedilotildees foram as que obtiveram percentuais maiores em termos de acertos quanto ao sentido idiomaacutetico seguidas dos proveacuterbios enquanto as locuccedilotildees verbais resultaram mais difiacuteceis de serem respondidas

A pesquisa permitiu estabelecer que um aluno com bom niacutevel de compreensatildeo das colocaccedilotildees tambeacutem foi capaze de lograr ecircxito em locuccedilotildees e proveacuterbios ao contrario do que ocorreu com alunos que evidenciaram um baixo niacutevel

A pesquisa teve um design natildeo experimental com as seguintes variaacuteveis consideradas idade agrupados por faixas mais largas (5-7 8-9 10-11 e 12-14 anos) definidas em grupos por idade para melhor estabelecer

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diferenccedilas entre os sujeitos e graus variaacuteveis de compreensatildeo das colocaccedilotildees locuccedilotildees e proveacuterbios que juntos constituem o grau variaacutevel de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de instrumento da pesquisa foi utilizado um software interativo que consistia de 54 itens que mediamm quatro dimensotildees relacionadas com a compreensatildeo da linguagem figurada ou idiomaacutetica Com tal procedimento fora incluiacutedos itens relacionados a atos de fala indiretos ironia expressotildees idiomaacuteticas e pressuposiccedilotildees

Os itens consistiam em diaacutelogos realizados entre personagens de desenhos animados Cada diaacutelogo apresentava uma declaraccedilatildeo natildeo literal em que a crianccedila devia interpretar adequadamente escolhendo entre as respostas possiacuteveis a serem marcados como correta (um ponto) ou incorreta (zero ponto) Primeiramente os pesquisadores buscaram estabelecer a presenccedila de diferenccedilas no grau de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em funccedilatildeo da idade

Considerando a idade relativa dos participantes e a capacidade de compreender expressotildees idiomaacuteticas os resultados da pesquisa de Crespo e Caceres (2006) indicam que com a idade aumenta capacidade de compreender idiomaticamente as expessotildees e essas diferenccedilas passam a ser significativas em crianccedilas mais novas com relaccedilatildeo agraves mais velhas Em outras palavras a idade e os processos associados ao desenvolvimento da crianccedila em idade escolar determinam o niacutevel de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

Outro fato que pode ser observado na pesquisa Crespo e Caceres (2006) eacute que embora as diferenccedilas na competecircncia idiomaacutetica sejam significativas em todas as faixas etaacuterias as diferenccedilas parecem aumentar nos primeiros trecircs grupos de idade (5-7 8-9 e 10-11) e diminuir menos de metade de um ponto entre os dois uacuteltimos (10-11 em comparaccedilatildeo com 12-14) Segundo os pesquisadores isto parece indicar que eacute nos primeiros anos escolares que o desenvolvimento da compreensatildeo idiomaacutetica torna-se mais evidente Foi observado que as colocaccedilotildees satildeo aquelas unidades fraseoloacutegicas que representam combinaccedilotildees mais simples e ao mesmo tempo mais faacutecil de serem compreendidas pelas crianccedilas

Os dados da pesquisa parecem indicar que o grau de dificuldade de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute inteiramente relacionado com a sua estrutura mas se deve a outros fatores como a familiaridade seu

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niacutevel analisabilidade sintaacutetica e o aumento da opacidade ou da transparecircncia semacircntica

Da pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) levamos como procedimento metodoloacutegico para nossa pesquisa a seleccedilatildeo das 18 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas presentes nos trecircs experimentos atraveacutes de suas tarefas uma vez que satildeo as locuccedilotildees do tipo verbo + argumento que melhor permitem observarmos o comportamento verbal dos participantes da pesquisa quanto agrave atribuiccedilatildeo de sentido literal e de sentido fraseoloacutegico agraves referidas unidades fraseoloacutegicas quando os mesmos satildeo submetidos a testes psicolinguiacutesticos Os experimentos de Detry (2010)

A pesquisa de Detry (2010) centrou-se na dimensatildeo literal-icocircnico

das expressotildees idiomaacuteticas (EI) e na possibilidade de explorar este aspecto a niacutevel cognitivo de aprendizagem na aacuterea de liacutengua estrangeira (LE)

Na parte teoacuterica de seu trabalho Detry mostra a importacircncia que as imagens formadas pelos componentes fraseoloacutegicos e seus valores metafoacutericos em jogo podem ser comparadas a partir de um ponto de vista natildeo soacute linguiacutestico mas mostram a importacircncia que as imagens podem ter tambeacutem de ordem psicolinguiacutestica de modo a contemplar a sua analisabilidade e transparecircncia (noccedilatildeo de motivaccedilatildeo semacircntica) de muitas expressotildees idiomaacuteticas

Em relaccedilatildeo ao processamento de expressotildees novas por falantes natildeo nativos Detry destacou em sua pesquisa a implicaccedilatildeo de que o tratamento especial geralmente dado agrave dimensatildeo literal levou os sujeitos da pesquisa a insistirem particularmente sobre o papel cognitivo a ser atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas semacircnticas das expressotildees

A pesquisa de Detry nos ajudou no design da primeira tarefa do 3ordm experimento que consistiu em solicitarmos dos participantes a identificaccedilatildeo das expressotildees (fixaccedilatildeo formal) a partir de imagens literais que poderiam evocar ou sugerir as seis locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas selecionadas para o experimento

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METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capiacutetulo inicialmente apresentamos como pensamos os

objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da nossa pesquisa Descrevemos como refinamos os instrumentos da pesquisa durante a aplicaccedilatildeo de preacute-testes a estudantes universitaacuterios nativos e natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

Tratamos tambeacutem da organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento psicolinguiacutestico bem como material e procedimento de seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas segundo criteacuterios fraseoloacutegicos toacutepicos que seratildeo bem detalhados uma vez que o 2ordm e 3ordm experimentos seguiratildeo os mesmos passos metodoloacutegicos do experimento

Tratamos ainda de como concebemos o Protocolo verbal think aloud (TA) e como procedemos com a gravaccedilatildeo de aacuteudios e a correspondente transcriccedilatildeo de dados que constituiacuteram o Corpus Afri

Por fim a fim de obtermos ferramentas metodologicamente adequadas para a aplicaccedilatildeo de nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos fez-se necessaacuterio um trabalho preacutevio composto por cinco etapas que descreveremos passo a passo Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa Objetivo Geral

Esta pesquisa teve por objetivo geral investigar as estrateacutegias de

compreensatildeo idiomaacutetica utilizadas por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB) em contextos de uso Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa

(a) Solicitar aos participantes que verbalizassem seus

pensamentos durante o esforccedilo de acessar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica com ou sem apoio de contexto de situaccedilatildeo ou uso da liacutengua portuguesa na vertente brasileira

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(b) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB imediatamente apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em contexto de uso (texto escrito)

(c) Verificar o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em situaccedilatildeo de contexto de uso (texto escrito lido pelos falantes) ou de forma isolada (exposiccedilatildeo oral feita pelo experimentador)

(d) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB a partir de estiacutemulos de imagens literais suscetiacuteveis de evocaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

(e) Identificar os tipos de expressotildees que os sujeitos natildeo nativos do PB natildeo reconhecem o sentido idiomaacutetico (opacas) e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de compreender (transparentes)

(f) Verificar que taacuteticas e estrateacutegias cognitivas (bottom-up e top-down) satildeo mais usadas pelos em falantes natildeo nativos do PB e quais as estrateacutegias (bem-sucedidas) que os beneficiam nos processos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uso no Brasil Perguntas da pesquisa

As dificuldades especiacuteficas com a quais nos defrontamos a partir do tema proposto e que resolvemos por intermeacutedio da pesquisa foram as seguintes

(a) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(b) De que forma expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa representadas por imagens variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(c) Ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

(d) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade intralinguiacutestica

(e) Que tipos de estrateacutegias os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas e quais delas foram bem-sucedidas

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Hipoacuteteses As respostas provaacuteveis para nossos problemas foram expressas

nas seguintes hipoacuteteses (a) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo

idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

(b) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas representadas por imagens tende a apoiar-se na memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB

(c) Os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria

(d) Os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos

(e) Os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

(f) As expressotildees que designam nomes de animais (zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(g) As expressotildees que designam nomes relacionados agrave botanismo (aacutervores) ao indumentismo (vestimenta) e ao gastronomismos (culinaacuteria) satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(h) Expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(i) O conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

(j) O fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

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(k) A idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

(l) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(m) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

Primeiros passos metodoloacutegicos

Ateacute que estabelececircssemos definitivamente os criteacuterios de seleccedilatildeo

de paiacutes lusoacutefonos os grupos de participantes da pesquisa por sexo por tempo de estada no Brasil e por instituiccedilatildeo educacional e finalmente aplicaacutessemos os experimentos ao universo de participantes dentro das minhas condiccedilotildees experimentais levamos muito para o mapeamento de todo o percurso metodoloacutegico resumidamente descrito nas cinco etapas a seguir

Na primeira etapa fizemos a seleccedilatildeo dos sujeitos constituiacutedos de estudantes universitaacuterios natildeo nativos do PB intercambistas (UFC Unilab e UECE) e regularmente matriculados em instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior (Unifor Fatene e Fanor) oriundos de dois paiacuteses africanos lusoacutefonos (Cabo Verde e Guineacute-Bissau) pertencentes agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (CPLP) Entrevistamos ainda angolanos e congoleses mas em pequeno nuacutemero o que desde cedo desconsideramos como sujeitos da pesquisa No caso dos congoleses ainda mais justificado porque o Congo natildeo tem o portuguecircs como liacutengua oficial

Na segunda etapa preparamos o material de trecircs experimentos e estabelecemos os criteacuterios de seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por categorias fraseoloacutegicas seguindo os paracircmetros metodoloacutegicos de estudos empiacutericos jaacute realizados com participantes natildeo nativos de uma liacutengua dada com foco nas pesquisas e os estudos mais recentes na aacuterea de fraseologia

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Na terceira etapa com base na literatura sobre experimentos psicolinguiacutesticos relacionados agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas organizamos a sequecircncia de tarefas de trecircs experimentos com o objetivo de averiguar a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo idiomaacutetica atraveacutes de um protocolo verbal think aloud

Na quarta etapa procedemos com o refinamento dos instrumentos da pesquisa onde inicialmente fizemos a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com 50 nativos do PB e com 10 estudantes africanos lusoacutefonos oportunidade em que obtivemos um feedback sobre se a redaccedilatildeo e a clareza do questionaacuterio eram evidentes para todos os questionados e se as questotildees ou questionaacuterios propostos faziam o mesmo sentido para todos os informantes

Na quinta e uacuteltima etapa desta fase preparatoacuteria para a realizaccedilatildeo da pesquisa para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos dos trecircs experimentos submetemos atraveacutes de troca de e-mails os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia (Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) e psicolinguiacutesticas (Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Florence Detry Luacutecia Fulgecircncio Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) ateacute que configuramos a versatildeo final de nossa pesquisa o que nos levou ao longo deste processo a uma contiacutenua e profiacutecua reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva2

Soacute a partir da realizaccedilatildeo destas etapas acima cadastramos o Projeto de Pesquisa na Plataforma Brasil para ser avaliado pelo Conselho de Eacutetica da UFC atendendo ao que estabelecem as normas da Resoluccedilatildeo 4662012 que trata de pesquisas e testes em seres humanos

2 Entre os docentes brasileiros gostariacuteamos de registrar a importacircncia das contribuiccedilatildeo das professoras Ana Cristina Pelosi Livia Marcia Tiba Radis Baptista e Maria Elias Soares ambas da UFC que por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo do projeto de pesquisa fizeram-nos refletir sobre a qualidade e validade dos experimentos com as imagens e com as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para os testes

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Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) com Parecer de nuacutemero de 3210212013

A tabulaccedilatildeo dos dados e a realizaccedilatildeo estatiacutestica foram feitas com auxilio do software Microsoft Excel 2003

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EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS

Participantes

Participaram dos experimentos psicolinguiacutesticos 20 estudantes selecionados para o Programa Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G)1 na UFC Unilab e UECE e um grupo de estudantes matriculados em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior (Unifor Fanor Fatene) no Cearaacute

O processo de recrutamento dos participantes foi feito inicialmente a partir de dados cedidos pela Coordenadoria de Assuntos Internacionais da UFC atraveacutes de uma lista com nomes de estudantes de graduaccedilatildeo da UFC em Fortaleza Sobral e Cariri com seus respectivos nuacutemeros de telefones celulares e e-mails o que nas primeiras tentativas de contato se mostrou um procedimento infrutiacutefero isto eacute natildeo foi suficiente para que o pesquisador obtivesse a adesatildeo voluntaacuteria (e creacutedito de confianccedila) dos estudantes agrave pesquisa

Posteriormente percebemos ser eficaz um processo de recrutamento atraveacutes das redes sociais em especial o Facebook com o envio de um convite aos estudantes africanos lusoacutefonos para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa contendo informaccedilotildees baacutesicas tais como o tiacutetulo da pesquisa e suas etapas equipe (pesquisador principal professora-orientadora e colaboradores) e o registro do Projeto de Pesquisa no Conselho de Eacutetica da UFCPlataforma Brasil Uma vez visualizada a primeira mensagem no Facebook enviamos nova mensagem aos participantes com solicitaccedilatildeo de amizade e confirmado individualmente o aceite por parte do destinataacuterio ativamos o bate-papo para formalizar o convite e sensibilizar o potencial sujeito para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa definindo

1 O Programa de Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G) criado oficialmente em 1965 oferece a estudantes de paiacuteses em desenvolvimento com os quais o Brasil manteacutem acordo educacional cultural ou cientiacutefico-tecnoloacutegico a oportunidade de realizarem seus estudos de graduaccedilatildeo em Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) brasileiras

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mecircs dia e horaacuterio para um encontro pessoal na UFC Centro de Humanidades nos Campi do Benfica e de Sobral

Entre os primeiros contatos pelo Facebook e o encontro pessoal com os participantes um a um para a realizaccedilatildeo dos testes muitas vezes levamos semanas ateacute que ganhaacutessemos sua confianccedila de todos participantes e despertaacutessemos neles o interesse de participar voluntariamente da pesquisa Agrave medida que fomos recebendo adesatildeo dos estudantes fomos pedindo a cada um deles que nos facilitassem contato com outros patriotas que residissem no Cearaacute Entre inuacutemeras respostas dos potenciais entrevistados recebemos estas

(a) Olaacute tdo bem Aceito participar da pesquisa Me desculpe pela demora eacute q eu estava muito ocupada faculdade Essa semana vai ser mais Light Caso decirc para senhor a gente poderia agendar logo para segunda feira d tarde Eu estudo no Benfica poderiacuteamos nos encontrar na Faculdade de Direito ou em qq lugar q fique proacuteximo ao Rualmoccedilarei laacute

(b) Olaacute Sim posso colaborar Como seria essa pesquisa Abraccedilo

(c) oi boa tardeeu aceito participar da pesquisa eu queria saber mais detalhadamente do que se trata a pesquisa

(d) oi natildeo tem problema natildeo eu posso participar da sua pesquisa sim Vc vai estar em sobral ateacute que dia bem qualquer coisa segunda a tarde da certo me liga ok tenha um bom final de semana abraccedilo e

(e) Prezado Vicente Martins Sou de Guineacute-Bissau estudante de Serviccedilo Social semestre 7deg de Faculdade Terra Nordeste - FATENECAUCAIA Podes contar com a minha participaccedilatildeo na sua pesquisa Mas gostaria de lhe salientar que faccedilo estagio no horaacuterio de manhatilde faculdade a tarde e outras atividades nos horaacuterios diferenciados Mas no momento estou de ferias na faculdade quer dizer que vou estar com disponibilidade de participar na pesquisa ateacute o final deste mecircs que eacute o fim das minhas ferias porque depois vou iniciar o meu trabalho de monografia o que vai consumir o meu tempo

Findo o processo de recrutamento dos participantes atraveacutes do Facebook contabilizamos mais de 200 estudantes africanos lusoacutefonos cabo-verdianos guineenses e angolanos interessados em participar da pesquisa o que nos levou a refinar mais uma vez a lista de potenciais sujeitos entre os que detinham mais tempo ou disponibilidade para as entrevistas ou em condiccedilotildees de deslocamento para conceder entrevista

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(modelo DID isto eacute Diaacutelogos entre Informante e Documentador ) de cerca de 1h 30min sem prejuiacutezo de suas atividades acadecircmicas Foram seis meses entre os primeiros contatos com os estudantes pelo Facebook e contatos por via celular e a conclusatildeo das gravaccedilotildees de aacuteudios com todos os sujeitos da pesquisa

O universo de sujeitos de nossa pesquisa envolveu inicialmente 32 africanos lusoacutefonos de Cabo Verde Guineacute-Bissau e Angola por serem estes paiacuteses africanos os que concentravam maior nuacutemero de estudantes-convecircnio no Cearaacute e estudantes matriculados agraves suas proacuteprias expensas em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior

Posteriormente para viabilizar o processo de transcriccedilatildeo dos aacuteudios tomamos a decisatildeo de reduzir o nuacutemero de paiacuteses (desconsideramos Angola por ter um nuacutemero reduzido de informantes entrevistados) caindo o nuacutemero de 32 para 20 informantes mantendo-se todavia ainda um nuacutemero elevado de transcriccedilotildees ortograacuteficas na ordem de mil folhas o que nos levou tambeacutem a diminuirmos o nuacutemero de itens dos testes que ateacute entatildeo eram de 45 para 18 expressotildees idiomaacuteticas ficando ao final 944 folhas de transcriccedilatildeo com 18 expressotildees idiomaacuteticas (incluindo as respostas relacionadas ao teste com imagens idiomaacuteticas) permitindo finalmente uma leitura mais detida do material transcrito e uma anaacutelise mais apurada das respostas dos informantes a partir de suas entrevistas concedidas ao pesquisador principal e agrave sua equipe de colaboradores (Mariana de Abreu Martins e Atiacutelia de Abreu Martins)

Para a anaacutelise dos dados dos experimentos psicolinguiacutesticos dividimos os informantes selecionados por paiacutes isto eacute Cabo Verde e Guineacute-Bissau em 4 grupos de 05 estudantes cada sendo

bull Grupo 1 (G1) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1234 e 5

bull Grupo 2 (G2) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 6789 e 10

bull Grupo 3 (G3) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 11121314 e 15

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bull Grupo 4 (G4) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1617 18 19 e 20

Levantamento de dados atraveacutes ficha dos informantes preenchida no dia da entrevista apontou para o seguinte quadro de representaccedilatildeo por paiacutes e curso

(a) 10 Alunos de cabo verde matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Comunicaccedilatildeo Social Publicidade e Propaganda Direito Engenharia Produccedilatildeo Mecacircnica Biotecnologia Engenharia Eleacutetrica Letras Medicina e Odontologia

(b) 10 alunos de Guineacute-Biassu matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Ciecircncias Contaacutebeis Direito Engenharia de Produccedilatildeo Mecacircnica Serviccedilo Social Engenharia Eleacutetrica Ciecircncias da Computaccedilatildeo e Letras

Como criteacuterios de exclusatildeo foram considerados os informantes com estes quatro preacute-requisitos (a) a natildeo assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil e (d) apresentarem uma postura natildeo cooperativa ou indiferente durante a aplicaccedilatildeo dos testes ou interferecircncia ocasional de circunstantes durante as gravaccedilotildees dos aacuteudios de modo a comprometer a qualidade das gravaccedilotildees e suas respectivas transcriccedilotildees ortograacuteficas Foram excluiacutedos 12 informantes que tinham pelo menos uma destas restriccedilotildees acima

Como criteacuterios de inclusatildeo foram considerados (a) a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) natildeo serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil informantes com ateacute quatro anos residindo no Brasil e(d) postura cooperativa durante a aplicaccedilatildeo dos testes e a natildeo interferecircncia ocasional de circunstantes na qualidade dos aacuteudios Observamos entre as caracteriacutesticas psicoloacutegicas dos informantes selecionados para a pesquisa as seguintes timidez vivacidade e perspicaacutecia

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Refinamento dos instrumentos da pesquisa Em nosso trabalho os preacute-testes com sujeitos nativos do

Portuguecircs Brasileiro (PB) aleacutem de nos terem possibilitado ajustes e detecccedilatildeo de incoerecircncias nos designs dos experimentos para estabelecermos graus de identificaccedilatildeo e memoacuteria fraseoloacutegicas e para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas puderam aumentar a validade do nosso instrumento da pesquisa agrave medida que imprimiram um caraacuteter rigoroso agrave metodologia de modo a evitar tomada de decisotildees aleatoacuterias

Durante a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes relativos aos trecircs experimentos com sujeitos nativos do portuguecircs brasileiro estudantes universitaacuterios da UFC e da UVA ainda natildeo eram suficientemente claros da nossa parte os passos ou procedimentos metodoloacutegicos da nossa pesquisa

Algumas perguntas nos inquietavam do tipo (a) como selecionar e categorizar as expressotildees idiomaacuteticas que vatildeo aparecer nos testes (b) uma vez selecionadas as expressotildees deveriam aparecer dentro de que tipo de gecircnero textual (jornais revistas) ou devem ser colocadas dentro de um texto que o pesquisador venha a construir em anunciados breves Que extensatildeo (nuacutemero de palavras) deveriam ter os textos em que as expressotildees vatildeo aparecer para a leitura dos informantes O experimentador identificaria a expressatildeo jaacute na pergunta do experimento ou solicitaria que apoacutes a leitura os informantes fizessem a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Uma vez sendo identificada a expressatildeo pelo informante ou pelo experimentador a pergunta seguinte deveria se referir agrave memoacuteria fraseoloacutegica ou agrave idiomaticidade semacircntica ou intralinguiacutestica levando em conta L1 e L2 Na tarefa relacionada agrave questatildeo de muacuteltipla escolha quantas alternativas deveriam ser submetidas aos participantes e quais os criteacuterios para elaboraccedilatildeo destas alternativas Como categorizar previamente as taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo Como natildeo aborrecer os informantes durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud em que a todo momento o experimentador solicitaria que pensassem em voz alta para que todos seus comentaacuterios fossem registrados nos aacuteudios digitais Na tentativa de resolver estas questotildees acabamos por desenvolver tarefas especiacuteficas para dirimir estas duacutevidas ao longo da aplicaccedilatildeo fdos testes experimentos

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procurando explicitar as quatro perguntas fundamentais da pesquisa numa sequecircncia rigorosa (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica - memoacuteria fraseoloacutegica - idiomaticidade fraseoloacutegica) fruto das observaccedilotildees e experiecircncias na anaacutelise dos dados dos preacute-testes

Em outras palavras ressaltamos que tendo em conta que a opacidade-transparecircncia depende das caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas (metaacuteforas literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo e do conhecimento de cada falante consideramos que uma expressatildeo idiomaacutetica de faacutecil reconhecimento pelo falante nativo natildeo eacute necessariamente faacutecil para um falante natildeo nativo E vice-versa

Procuramos com a seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas e a montagem dos testes assim refletir bem este zelo com um informante muito especial que em hipoacutetese nenhuma poderia ser visto por noacutes como um estrangeiro comum no Brasil por apresentarem um perfil singular satildeo falantes lusoacutefonos competentes em L2 (liacutengua portuguesa) falantes com L1 (crioulo) com base lexical em L2 residentes temporaacuterios no Brasil e com paiacuteses relativamente distintos com relaccedilatildeo agrave economia poliacutetica educaccedilatildeo e ao ensino do portuguecircs como liacutengua oficial

Durante a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com imagens idiomaacuteticas (terceira bateria de testes) observamos que os falantes nativos do PB eram capazes de reconhecer (ou natildeo) como de fato aconteceu as imagens que podiam evocar expressotildees idiomaacuteticas (ou outras unidades fraseoloacutegicas como proveacuterbios e parecircmias por exemplo) e associaacute-las diretamente ao sentido figurado que armazenam em sua memoacuteria o que nos indicaria que essa operaccedilatildeo assim dependeria sobretudo do que o falante recordava como expressotildees em sua liacutengua materna (liacutengua portuguesa na vertente brasileira)

Em outras palavras os dados do preacute-teste natildeo foram capazes de nos indicar se as expressotildees idiomaacuteticas eram transparentes ou natildeo jaacute que simplesmente os falantes nativos as armazenam em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam no seu cotidiano Por essa razatildeo quando elaboramos definitivamente os trecircs experimentos descartamos os informantes que lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

Reestruturamos os preacute-testes com imagens idiomaacuteticas e os convertemos em duas etapas na terceira bateria de testes de nossa pesquisa

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Cremos que se os falantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro diante de uma imagem de uma nova expressatildeo idiomaacutetica portanto natildeo previsiacutevel em sua liacutengua (no caso o crioulo) podem adivinhar parcial ou totalmente seu sentido figurado entatildeo isso poderia nos indicar que algo na imagem ajuda a chegar ao sentido figurado Desta forma para julgarmos o grau de transparecircncia-opacidade das expressotildees idiomaacuteticas natildeo consideramos as respostas dos nativos no preacute-teste O ineditismo do trabalho estaria pois em observarmos o comportamento verbal de informantes natildeo nativos que declarassem desconhecer a forma fixa e o sentido translato das expressotildees idiomaacuteticas

Os dados dos preacute-testes nos levaram a considerar o seguinte em nossa pesquisa a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica dependeraacute do contexto proposto O contexto poreacutem para um falante nativo pode ser ou natildeo clarificador em relaccedilatildeo ao sentido figurado ou idiomaacutetico de expressatildeo opaca No caso de um falante natildeo nativo o contexto conteacutem chaves semacircnticas para que chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica Por essa razatildeo as 45 expressotildees idiomaacuteticas utilizadas nas trecircs baterias de testes foram contextualizadas a partir de excertos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional

Posteriormente submetemos informalmente a trecircs estudantes africanos as trecircs baterias de testes Observamos que na segunda bateria e na terceira de testes uma expressatildeo idiomaacutetica posta em contexto ajudava mais que uma expressatildeo idiomaacutetica apresentada de forma isolada como ocorreu nos preacute-testes com os nativos

Se a expressatildeo eacute opaca um natildeo nativo do portuguecircs brasileiro como eacute o caso de um africano lusoacutefono natildeo teria a princiacutepio condiccedilotildees de descobrir o que eacute fora de contexto Em substacircncia fomos levados a reconhecer que o contexto realmente dirige a compreensatildeo e noacutes lusoacutefonos nativos e natildeo nativos de uma liacutengua portuguesa sempre construiacutemos o sentido Os resultados da pesquisa confirmaram que os sentidos idiomaacuteticos das expressotildees foram altamente dependentes do contexto construiacutedo

Vimos tambeacutem mesma expressatildeo idiomaacutetica pode natildeo ser compreensiacutevel num contexto (formal como em texto jornaliacutestico de circulaccedilatildeo nacional) e ser compreensiacutevel em outro (informal como por exemplo em exemplo dado pelo experimentador) Por essa razatildeo fomos levados a repensar as estrateacutegias top-down acrescentado duas delas AA (Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de

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alternativas de muacuteltipla escolha) e AT (Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal) para ajudar na codificaccedilatildeo das respostas dos informantes agraves perguntas dos testes

Os resultados da primeira fase dos preacute-testes foram bastante fraacutegeis porque as expressotildees idiomaacuteticas foram apresentadas aos participantes isoladamente mas como a discutirmos com os estudantes brasileiros especialmente os da aacuterea de Letras advertiram-nos que se as expressotildees fossem contextualizadas os dados seriam mais reveladores sobre os processos de compreensatildeo idiomaacutetica posto que o contexto desempenha importante papel na construccedilatildeo ou montagem do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacutetica

Convencidos da necessidade de utilizaccedilatildeo de contextos de uso na apresentaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas aos nossos informantes acreditamos que tal procedimento se constitui a rigor em um meacutetodo eficiente para a pesquisa sobre estrateacutegias de compreensatildeo com informantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro e que aleacutem de ser mais interessante tambeacutem pode nos oferecer melhores resultados ou respostas para os problemas desta investigaccedilatildeo como veremos mais adiante Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento

Para a realizaccedilatildeo deste experimento foram utilizados os

seguintes procedimentos a) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede CNS 19696 apresentado em voz alta pelo entrevistador antes das entrevistas e em seguida lido em voz silenciosa pelos informantes e depois de tiradas as duacutevidas devidamente assinado pelos mesmos As instruccedilotildees lidas aos participantes no momento da entrega deste documento natildeo faziam quaisquer menccedilotildees a aspectos metalinguiacutesticos da pesquisa como por exemplo a definiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica nem daacutevamos tambeacutem exemplos de locuccedilotildees verbais (o conjunto dos itens selecionado para a pesquisa) um dos tipos de expressotildees idiomaacuteticas escolhido para nossa investigaccedilatildeo

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b) Realizaccedilatildeo de uma bateria de testes ou experimentos psicolinguiacutesticos atraveacutes de quatro tarefas ou experimentos para coleta de dados obedecendo rigorosamente as etapas abaixo

(1) Tarefa 1 Teste e Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes apoacutes a leitura dos testes identificarem no texto a expressatildeo pluriverbal fixa isto eacute a forma fixa da expressatildeo idiomaacutetica (locuccedilatildeo verbal)

(2) Tarefa 2 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes antes da aplicaccedilatildeo do Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica declararem se lembravam ou haviam ouvido a expressatildeo ou se lembravam a expressatildeo mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico ou ainda se lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

(3) Tarefa 3 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica que consistiu em antes durante ou depois da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal os informantes atribuiacuterem sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo dada isto eacute apontar sua idiomaticidade semacircntica com ou sem Solicitaccedilatildeo de Informaccedilatildeo (SI) ou ajuda teacutecnica do experimentador e

(4) Tarefa 4 Teste de Verificaccedilatildeo de Estrateacutegias de Compreensatildeo que consistiu em capturar dos informantes durante a realizaccedilatildeo das entrevistas as estrateacutegias decorrentes do protocolo verbal de ajuda teacutecnica nas tarefas 1 2 e 4 de modo a evidenciar a frequecircncia de uso de estrateacutegias de compreensatildeo e as estrateacutegias bem-sucedidas relacionadas ao reconhecimento idiomaacutetico de seis expressotildees fixas

A primeira bateria de testes apresenta os seguintes itens meacutetodo (material) com suas etapas (familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando) Em seguida apresentamos seus objetivos especiacuteficos e os problemas e as hipoacuteteses a eles correlacionadas em cada uma das tarefas da bateria

Assim procedemos porque acreditamos que do ponto metodoloacutegico os objetivos e hipoacuteteses de uma pesquisa devem estar relacionados entre si e em torno dos problemas levantados (das questotildees de pesquisa) pertinentes ao objetivo de estudo

Para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos destas tarefas acima descritas submetemos os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia

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(Gloria Corpas Pastor Leonor Ruiz Gurillo Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Maria J Cuenca Pelegri Sancho Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Nina Crespo Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale Cleci Regina Bevilacqua Tatiana Rios e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin esta nossa orientadora) e psicolinguistas do Brasil e da Espanha ( Leonor Scliar Cabral Maria Elias Soares Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Luacutecia Fulgecircncio Alessandra Del Reacute Leacutelia Melo Sandra Antunes Marilei Amadeu Sabino Rosemeire Selma Monteiro-PlantinMariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Emilio Rivano Juan Pablo Larreta Zulategui e Florence Detry) ateacute que configuraacutessemos a versatildeo final o que nos levou ao longo deste processo agrave reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva Material e Procedimento de seleccedilatildeo

Como dissemos anteriormente o material e procedimentos de

seleccedilatildeo foram melhor refinados depois da aplicaccedilatildeo do preacute-teste a 50 alunos nativos do PB estudantes do Curso de Letras da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) em Fortaleza e da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) em Sobral Haviacuteamos inicialmente selecionado 55 expressotildees idiomaacuteticas todas locuccedilotildees verbais o que na fase dos testes da pesquisa se mantidas nesta totalidade tomariam muito tempo dos estudantes africanos e poderiam aborrececirc-los

Optamos por essa razatildeo pela reduccedilatildeo do nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas Entatildeo de 55 reduzimos para 45 o nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas para os trecircs testes elaborados para a pesquisa sendo que cada teste ficou com 15 itens Cada teste envolveu vaacuterias tarefas aleacutem da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal A ideia era a de ter em cada teste expressotildees suficientes para em um eventual corte termos condiccedilotildees de escolher as mais adequadas agrave pesquisa o que acabou acontecendo como descrevemos mais adiante

Vale salientar que a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes com os nativos do PB foi muito importante para a redefinirmos amiuacutede o material e procedimento de seleccedilatildeo dos informantes antes de fazermos a pesquisa de campo Haviacuteamos selecionado por exemplo para a primeira bateria de testes 15 expressotildees idiomaacuteticas subdivididas em 3 grupos (a) 1ordm grupo - brasileirismos ficar de queixo

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caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha e ver o sol (nascer) quadrado (b) 2ordm grupo - giacuterias chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga e tirar aacutegua do joelho (c) 3ordm grupo - popularismos aguentar o tranco bater as botas botar a boca no trombone sair com o rabo entre as pernas segurar as pontas

A seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas acima poreacutem mostrou-se pouco operante na fase final de seleccedilatildeo das expressotildees Jaacute observarmos durante anaacutelise dos dados dos preacute-testes aplicados aos nativos do PB que a divisatildeo em classes era contraproducente Assim abandonamos o criteacuterio lexicograacutefico de classificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (brasileirismos giacuterias popularismos) porque consideramos que este modelo de taxonomia lexicograacutefica natildeo atendia aos objetivos de nossa pesquisa sem deixarmos de mencionar que eram grupos ou classes que se superpunham isto eacute as classes propostas natildeo eram excludentes entre si

Na classificaccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais (Houaiss 2009 Aureacutelio 2009 e Sacconi 2010) uma expressatildeo era incluiacuteda na classe dos brasileirismos e outra na classe das giacuterias o que natildeo havia motivo de ordem linguiacutestica para tal procedimento Por exemplo a expressatildeo ldquomatar a cobra e mostrar o pau mostrarrdquo em um dicionaacuterio era classificada como um ldquobrasileirismordquo mas em outro dicionaacuterio recebia uma outra denominaccedilatildeo assim como ldquochutar o pau da barracardquo estaacute na classe das giacuterias e natildeo na mesma classe de ldquosair com o rabo entre as pernasrdquo assim por diante Realmente um impasse que precisava ser resolvido antes de aplicarmos os testes aos natildeo nativos do PB A distribuiccedilatildeo das expressotildees nas classes acima nos pareceu tambeacutem bastante arbitraacuteria Em uma fraseologia estaacutevamos a continuar com este modelo num beco sem saiacuteda

Diante desse embaraccedilo lexicograacutefico recorremos agrave praacutetica taxionocircmica presentes nas atuais pesquisas fraseoloacutegicas europeias nomeadamente hispacircnicas tendo a frente pesquisadores como Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p363-364) Olza Moreno (2011 p37-41) Luque Nadal ( 2012 p66-69) Mellado Blanco (2004 p15-40) o que nos levou a reclassificar as expressotildees do nosso estudo em zoomorfismos somatismos e especiais estas subdivididas dependendo do teste em botanismos indumentismos e gastronomismos

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No caso da 1ordf bateria de testes de reconhecimento ficamos com dois zoomofismos dois somatismos e dois botanismos assim excluindo as demais especiais (indumentismos e gastronomismos)

Seguindo a liccedilatildeo de Mellado Blanco (2004 p22) entendemos por zoomorfismos e somatismos as expressotildees idiomaacuteticas que contecircm pelo menos um lexema referente a nome de animais ou agrave parte do corpo humano respectivamente Nas especiais os botanismos satildeo expressotildees que trazem na sua formaccedilatildeo um lexema relacionado agrave botacircnica os indumentismos ao menos um lexema relacionado agrave vestimenta e gastronismos expressotildees idiomaacuteticas que tenham ao menos um lexema relacionado agrave arte culinaacuteria ou agraves refeiccedilotildees apuradas Os indumentismos foram utilizados na segunda e os gastronomismos na terceira bateria de testes

Como jaacute antecipamos em paraacutegrafo anterior para esta primeira bateria de testes dado o volume de informaccedilotildees contidas nas respostas agraves 15 expressotildees idiomaacuteticas contextualizadas registradas atraveacutes das respostas dadas pelos estudantes africanos lusoacutefonos agraves quatro tarefas selecionamos 06 delas para apresentaccedilatildeo destes dados classificadas conforme as taxionomias mais frequentes nas pesquisas fraseoloacutegicas atuais

Sendo assim o primeiro grupo foi formado por duas expressotildees zoomoacuterficas ou zoomorfismos matar cachorro a grito e pagar mico O segundo grupo foi formado de duas expressotildees somaacuteticas ou somatismos tirar aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone O terceiro grupo foi formado de duas expressotildees botacircnicas ou botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca

Para testarmos a frequecircncia das expressotildees idiomaacuteticas no Portuguecircs Brasileiro submetemo-las a um mecircs da data da aplicaccedilatildeo da primeira bateria de testes de reconhecimento idiomaacutetico ao Google Brasil obtendo os seguintes resultados (a) Zoomorfismos matarmatando cachorro a grito ( 247000 resultados) e pagarpagando mico (796000 resultados) (b) Somatismos tirartirando aacutegua do joelho (187000 resultados) e pocircr a boca no trombone ( 623000 resultados) e (c) Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa ( 215000 resultados ) e chutarchutando o pau da barraca( 654000 resultados) Como

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podemos observar todas as expressotildees tecircm uma frequecircncia de uso significativo nas mais diversas miacutedias no Brasil

Aleacutem do Google recorremos a obras especializadas para observamos o registro ou a presenccedila das referidas unidades fraseoloacutegicas nos dicionaacuterios de expressotildees idiomaacuteticas publicados no Brasil tendo ainda neles consultado as acepccedilotildees mais comuns com suas respectivas abonaccedilotildees como as presentes no Dicionaacuterio de locuccedilotildees e expressotildees da liacutengua portuguesa de Carlos Alberto de Macedo Rocha e Carlos Eduardo Penna de Rocha (2011) Afinal era preciso por parte do analista ter um conjunto de acepccedilotildees ou definiccedilotildees parafraacutesticas e abonaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para cotejar com as respostas dos informantes

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 06 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de situaccedilatildeo Desta maneira cada expressatildeo com seu contexto foi digitado em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Os participantes eram introduzidos agrave primeira bateria de testes com os seguintes textos extraiacutedos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional contendo as seguintes expressotildees idiomaacuteticas por categorias de classificaccedilatildeo Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Contexto de situaccedilatildeo Costuma-se pensar que artistas de modo

geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado de Satildeo Paulo 20032011)

Sentido idiomaacutetico encontrar-se em situaccedilatildeo aflitiva eou desesperadora estar sem dinheiro em difiacutecil situaccedilatildeo financeira dispondo-se a fazer qualquer coisa para dela sair

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Natildeo pagar mico Contexto de situaccedilatildeo Para quem natildeo quer pagar mico na escolha

de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012)

Sentido idiomaacutetico natildeo fazer besteira natildeo passar vergonha por situaccedilatildeo ridiacutecula

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Contexto de situaccedilatildeo Existem perguntas que alvez vocecirc soacute tinha

feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007)

Sentido idiomaacutetico urinar verter urina voluntaacuteria ou involuntariamente

Pocircr a boca no trombone Contexto de situaccedilatildeo Indignado com os desmandos em Chaval

uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog tambeacutem lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011)

Sentido idiomaacutetico Dar gritos berrar com estardalhaccedilo chorando advertindo etc reclamar em altos brados protestar revelar segredos contar tudo o que sabe

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Contexto de situaccedilatildeo A partir do dia primeiro de janeiro quando

for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210)

Sentido idiomaacutetico sofrer uma seacuteria liccedilatildeo sofrer um corretivo ou castigo em algueacutem demonstrar o proacuteprio valor

Chutar o pau da barraca Contexto de situaccedilatildeo Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso

Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes (In Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009)

Sentido idiomaacutetico mostrar-se irritado aborrecido impaciente abandonar desistir de um projeto Protocolo Verbal Think Aloud (TA)

Os experimentos off-line em psicolinguiacutestica experimental satildeo

baseados segundo Leitatildeo (2009 p223) em respostas dadas por indiviacuteduos apoacutes estes terem lido ou ouvido uma frase ou um texto permitindo que o pesquisador possa capturar reaccedilotildees e estiacutemulos linguiacutesticos quando jaacute houve uma integraccedilatildeo entre todos os niacuteveis linguiacutesticos (fonoloacutegico morfoloacutegico lexical fraseoloacutegico sintaacutetico semacircntico)

Esta metodologia experimental levou-nos entatildeo a formular um Protocolo Verbal do tipo think aloud tal qual o modelo de Cooper (1999) de experimentos similares ao que nos propusemos a esta pesquisa de modo que nos permitisse observar atraveacutes de um experimento off-line como os estudantes africanos lusoacutefonos processavam a identificaccedilatildeo a recordaccedilatildeo e a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute como verbalizavam o que lhes vinha agrave mente durante a realizaccedilatildeo das tarefas 1 2 3 e 4 da primeira bateria de testes

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Para uma pesquisa de processamento fraseoloacutegico por estudantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro cremos que o Protocolo Verbal por ser um meacutetodo introspectivo justifica-se por evitar interpretaccedilotildees ou afericcedilotildees difusas ou muito subjetivas no tocante ao processamento da compreensatildeo idiomaacutetica e tambeacutem o referido instrumento nos permite recolher com mais seguranccedila dados linguiacutesticos a partir de um processo de verbalizaccedilatildeo muito simples para os participantes tornando-se acessiacutevel a qualquer indiviacuteduo (TOMITCH 2008) e para o pesquisador empiricamente um instrumento facilitador quanto agraves atividades de transcriccedilatildeo e de codificaccedilatildeo das estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando-nos ainda levar a efeito vaacuterias tarefas psicolinguiacutesticas com objetivo de investigarmos a compreensatildeo idiomaacutetica dos falantes natildeo nativos

Os procedimentos do Protocolo verbal think aloud na primeira bateria de testes seguiram os mesmos passos metodoloacutegicos da pesquisa Cooper (1999) aplicada a 18 estudantes de Inglecircs como L2 nos EUA e os de outros estudos de L2 que tambeacutem adotaram a mesma metodologia psicolinguiacutestica (CHARTERS 2003 e BAHAMEED 2009 )

As tarefas foram registradas em gravador digital de voz (CXR190-2GE) posteriormente transcritas ortograficamente com notaccedilotildees das conversas ou comentaacuterios observados pelos transcritores e pelo entrevistador (pesquisador principal) de modo a oferecer dados para a identificaccedilatildeo recordaccedilatildeo e compreensatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas Transcriccedilatildeo de Dados

As vinte entrevistas dos sujeitos do experimento psicolinguiacutestico

foram transcritas na iacutentegra do gravador digital de voz produzindo 267 paacuteginas de degravaccedilatildeo em espaccedilo duplo contendo cerca de 25000 palavras Esta primeira bateria representou 41 das 944 paacuteginas transcritas das trecircs baterias de experimentos realizadas nesta pesquisa

Com o objetivo de agilizar o processo de transcriccedilatildeo dos 20 aacuteudios e manter a homogeneidade no tratamento dos dados instruiacutemos e constituiacutemos uma equipe de seis profissionais na aacuterea de Letras que

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juntamente com o pesquisador principal2 colaboraram com as transcriccedilotildees ortograacuteficas

Como a experiecircncia com Facebook na fase de recrutamento mostrou-se eficiente com objetivo de estimular a troca de ideias opiniotildees e tira-duacutevidas criamos um grupo fechado tambeacutem por esta miacutedia social denominado Grupo de Estudos e Transcriccedilotildees Ortograacuteficas (GESTO acesso por httpswwwfacebookcomgroupsfraseologiafref=ts) que contou com a participaccedilatildeo ativa dos seis membros ao longo de trecircs meses de atividades de transcriccedilatildeo

Aleacutem das instruccedilotildees do Alibi recorrermos agraves normas de transcriccedilotildees do NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta) elaborado por PRETI (2001 p11-12) descrito abaixo

Tabela 1 - Normas Para Transcriccedilatildeo ndash NURC

OCORREcircNCIAS SINAIS EXEMPLIFICACcedilAtildeO

Incompreensatildeo de palavras ou segmentos

( )

digamos entre aspas nesses bairros aqui ldquoAldeota Praia de Iracema Beira-Marrdquo sei laacute alguma ( ) confusatildeo assim natildeo

sei eu acho que ldquosoltar a frangardquo acho que seria arrumar

confusatildeo

Hipoacutetese do que se ouviu (hipoacutetese)

eu jaacute entendi hellip tem um outro ditado assim que na minha

terra a gente usa hellip e h tipo hellip (compra comprar sanino

dentro da cova) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip

Truncamento (havendo homografia usa-se acento indicativo da tocircnica e ou

timbre)

eacute hellip uma uma menina que tava eu natildeo tava assim dentro

do contexto que ele tava falando hellip soacute que eu tocirc

escutando hellip de queixo caiacutedo hellip

2 Esta atividade de transcriccedilatildeo soacute foi possiacutevel graccedilas agraves orientaccedilotildees dadas pela Dra Socorro Aragatildeo para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica de cinco informantes de Sobral cidade situada na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute para o Atlas Linguiacutestico do Brasil (Alibi) A partir desta experiecircncia com o Alibi pudemos aplicar os mesmos procedimentos de degravaccedilatildeo a nossa pesquisa

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Entonaccedilatildeo enfaacutetica Maiuacutesculas

PRONTO eu acho nesse caso comer com os olhos significa apreciar uma coisa alguma

comida gostar vocecirc jaacute estaacute comendo

Alongamento de vogal ou consoante (como s r)

podendo aumentar para

ou mais

Ao emprestarem os eacute o dinheiro

Silabaccedilatildeo - ((conversas ao longe))

aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae

Interrogaccedilatildeo ldquotirar mais aacutegua do

joelhordquovocecirc sabe me dizer o sentido

Qualquer pausa

ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais

aliviado

Comentaacuterios descritivos do transcritor

((minuacutesculas))

tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo

difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute

o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai

sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Comentaacuterio que quebram a sequecircncia temaacutetica da exposiccedilatildeo exposiccedilatildeo

desvio temaacutetico

-- -- ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir-- -- eacute justamente -- --

expressatildeo idiomaacutetica

Superposiccedilatildeo simultaneidade de voz

Ligando as linhas

ah hellip vocecirc passa por algueacutem e diz assim hellip cadecirc cadecirc o

Manuel hellip aiacute diz hellip rapaz o Manuel hellip pelo que eu sei

estaacute vendo o sol quadrado hellip o cara cometeu aquele crime hellip a justiccedila agora botou quente hellip a

poliacutecia veio em cima e ele agora taacute vendo o sol quadrado

hellip eu acho que ele vai passar e h

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tempo hellip vai passar uns dez anos laacute hellip ((barulho vozes ao

fundo algueacutem interpela o entrevistador que agradece a

essa pessoa))

Indicaccedilatildeo de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto

Natildeo no seu inicio por exemplo

((silecircncio)) ((silecircncio)) esse falta o povo

chutar o pau da barraca

Citaccedilotildees literais reproduccedilatildeo de discurso

direto ou leituras de textos durante a gravaccedilatildeo

ldquo rdquo

a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da

sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Entre as principais observaccedilotildees do NURC levamos em conta em

nossa pesquisa as seguintes a) As iniciais maiuacutesculas natildeo deveriam ser usadas em inicio de

periacuteodos turno e frases b) Expressotildees faacuteticas deveriam ser registradas pelos

transcritores tais como ah eacute eacute ahn eacute n uhn taacute c) Nomes comuns estrangeiros ou hipoacutetese da liacutengua crioula

grafados em negrito d) Nuacutemeros deveriam ser grafados por extenso e) Os transcritores natildeo deveriam indicar nas transcriccedilotildees o

ponto de exclamaccedilatildeo (frase exclamativa) ou o ponto de interrogaccedilatildeo (frase interrogativa) exceto as perguntas do entrevistador

f) Os transcritores natildeo deveriam fazer anotaccedilotildees ou comentaacuterios relativos ao cadenciamento da frase exceto casos bem evidentes de truncamentos

g) Os transcritores poderiam combinar sinais Por exemplo oh hellip (alongamento e pausa)

h) Os transcritores natildeo deveriam utilizar sinais de pausa tiacutepicos da liacutengua escrita como ponto-e-viacutergula ponto final dois pontos viacutergula As reticecircncias marcariam qualquer tipo de pausa

Eis um trecho de transcriccedilatildeo realizada pelo grupo Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica

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Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

Entrevistador fazer coisas baacutesicas Participante eacute ((risos)) talvez Entrevistador eacute muito bem eacute o quecirc te chama atenccedilatildeo

ah vocecirc ler a expressatildeo eacute ldquomatar cachorro a gritordquo ldquochutar o pau da barracardquo vocecirc ldquover o sol quadradordquo vocecirc apontou o quecirc que te chama atenccedilatildeo nestas frases que vocecirc taacute apontando

Participante satildeo () Entrevistador por que vocecirc apontou matar cachorro a grito e natildeo

outra Participante eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs

((risos)) essas palavras esses textos na verdade sei laacute vocecirc consegue associar alguma coisa mas assim por exemplo algueacutem natildeo tivesse nenhum conhecimento nem iria saber por exemplo aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia soacute fazendo que vocecirc entende eacute

Entrevistador muito bem obrigado Aleacutem de a equipe seguir os paracircmetros do NURC nas

transcriccedilotildees consideramos oportuno uma seacuterie de intervenccedilotildees esclarecedoras ao longo das atividades de modo a garantir um maior controle do trabalho enquanto grupo e a garantia dos mesmos mecanismos de tratamento e analise de dados mais adequados ao que pretendiacuteamos nesta pesquisa

Entre as instruccedilotildees oferecemos as seguintes (a) Primeira versatildeo realizaccedilatildeo da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo

na primeira audiccedilatildeo do aacuteudio gerando assim a versatildeo preliminar da transcriccedilatildeo isto eacute os transcritores deveriam iniciar o processo de degravaccedilatildeo a partir da primeira audiccedilatildeo do aacuteudio nessa primeira fase do processo de transcriccedilatildeo a pausa era dada a cada par de vozes (entrevistador participante) para que fosse feita a digitaccedilatildeo Orientaacutevamos para que quando houvesse alguma palavra ou termo em que o transcritor tinha ficado com duacutevidas ou natildeo lembrava na hora da transcriccedilatildeo deveriam preencher com tracinhos (- - - - -) para completaacute-los em segundo momento da transcriccedilatildeo

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(b) Segunda versatildeo aprimoramento da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo na segunda audiccedilatildeo do aacuteudio dando o transcritor continuidade agrave primeira degravaccedilatildeo do aacuteudio Orientamos que os transcritores ouvissem atentamente o aacuteudio para aprimorar o processo de degravaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ortograacutefica Nesta fase a segunda audiccedilatildeo requereria uma atenccedilatildeo redobrada e mais ativa por parte do transcritor Nessa fase tambeacutem o transcritor teria que voltar ao aacuteudio e ouvir novamente o teste no caso de duacutevidas Tambeacutem era o momento de preencher as lacunas que ficaram na primeira transcriccedilatildeo

(c) Terceira versatildeo realizaccedilatildeo da terceira audiccedilatildeo com objetivo de revisar o trabalho de transcriccedilatildeo jaacute alcanccedilado na segunda fase da transcriccedilatildeo Uma vez que todos os testes tivessem sido transcritos os transcritores deveriam ouvi-los mais uma vez para possiacuteveis correccedilotildees inclusive atentos ao emprego dos diacriacuteticos que deveriam ser assinalados jaacute na transcriccedilatildeo inicial

Consideramos tambeacutem ao longo do processo de transcriccedilatildeo fazer alguns lembretes aos transcritores quanto ao registro de suas impressotildees conforme sintetizamos a seguir

(a) Revisatildeo dos criteacuterios de pontuaccedilatildeo - usamos apenas o sinal de interrogaccedilatildeo nas falas iniciais do entrevistador as demais pausas de qualquer natureza eram sinalizadas por reticecircncias

(b) Registro de possiacuteveis ruiacutedos interrupccedilotildees e outras observaccedilotildees pertinentes que deveriam aparecer entre parecircnteses duplos (( ))

(c) Reproduccedilatildeo de todas as vozes mesmo as que natildeo conseguiam distinguir reproduzi-las entre ( ) e indicar em formato de comentaacuterio que se trata da hipoacutetese do que ouviu

(d) Reproduccedilatildeo das hipoacuteteses das falas em crioulo recorrendo em casos especiais a siacutembolos foneacuteticos para assegurar uma reproduccedilatildeo mais fiel da liacutengua africana

Por se tratar de uma transcriccedilatildeo ortograacutefica consideramos o segmento transcrito precedido ou natildeo de reticecircncia como a unidade de anaacutelise gramaticalmente admissiacutevel para ser pontuada como unidade linguiacutestica formada de acordo com as regras de construccedilatildeo das sentenccedilas de uma liacutengua

Segue abaixo o nuacutemero de palavras transcritas por grupos de informantes (1 2 3 e 4) que nos daacute uma ideia do esforccedilo que os informantes tiveram em cada uma das expressotildees idiomaacuteticas

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registradas no protocolo verbal considerando apenas o corpus da primeira bateria de testes

Tabela 2 ndash Nuacutemero de Palavras do Corpus

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

NUacuteMERO DE PALAVRAS

TOTAL M - CV

H - CV M - GB

H - GB

Matar cachorro a grito

1499 1195 1007 2358 6059

Natildeo pagar mico

1062 1087 1478 1987 5614

Tirar aacutegua do joelho

1442 764 908 1967 5081

Pocircr a boca no trombone 943 616 758 1063 3380

Chutar o pau da barraca 1760 987 1053 1420 5220

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1494 1055 1274 1263 5086

Total

8200 5704 6478 10058 30440

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4

Os dados relativos aos niacuteveis de e aos graus de memoacuteria

fraseoloacutegica (Tarefa 2) a partir dos comentaacuterios dos informantes nos protocolos verbais levaram-nos a recorrer a criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo de informantes para as tarefas 1 3 e 4 por expressatildeo idiomaacutetica 3

Foram excluiacutedos das referidas tarefas todos os informantes que foram considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Da mesma forma foram incluiacutedos todos os informantes considerados com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e os informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

Estes informantes os de niacuteveis meacutedio e baixo tiveram que atender ao pedido do experimentador para que atribuiacutessem sentido

3 Na cronologia de aplicaccedilatildeo das tarefas registrada no protocolo verbal think aloud as tarefas satildeo aplicadas em sequecircncia 1 2 3 e 4 A posteriori a Tarefa 2 passou a ser o paracircmetro para que pudeacutessemos selecionar os informantes que efetivamente teriam seus dados analisados e considerados nos caacutelculos relativos agraves meacutedias e desvios padratildeo nas demais tarefas

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translatiacutecio agrave expressatildeo idiomaacutetica contextualizada respostas que nos permitiram observar as estrateacutegias cognitivas a que recorreram para chegar ao conhecimento semacircntico da expressatildeo evidenciando-nos assim natildeo apenas as taacuteticas bottom-up e top-down usadas e as bem-sucedidas mas tambeacutem como se deu em termos de processamento fraseoloacutegico a transformaccedilatildeo da opacidade em transparecircncia semacircntica

Assim estabelecidos os criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo apresentamos as seguintes informantes consideradas na anaacutelise dos dados para as tarefas 3 e 4

(a)Na expressatildeo matar cachorro a grito excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 dois informantes situados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram considerados para Tarefa 3 e 4 trecircs informantes situados com niacutevel meacutedio de memoacuteria idiomaacutetica e 15 informantes situados como niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(b)Na expressatildeo natildeo pagar mico excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 10 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 10 participantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Natildeo houve portanto nesta situaccedilatildeo informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(c)Na expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho excluiacutemos 7 informantes considerados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos para anaacutelise dos dados das Tarefas 3 e 4 um informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 12 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(d)Na expressatildeo pocircr a boca no trombone excluiacutemos para as tarefas 3 e 4 13 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 sete informantes considerados de baixo niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(e)Na expressatildeo Saber com quantos paus se faz uma canoa foram excluiacutedos 9 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 dois informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e nove informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(f)Na expressatildeo chutar o pau da barraca excluiacutemos 4 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 1 informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 15 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

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Material do experimento O design do meacutetodo (material) do experimento psicolinguiacutestico

foi dividido em quatro partes familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando

(a) Familiarizaccedilatildeo o experimentador interagia com o sujeito e apresentava uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo contemplada no conjunto de expressotildees do experimento As expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para este experimento foram as seguintes ficar de queixo caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha ver o sol quadrado chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga tirar aacutegua do joelho aguentar o tranco bater as bota botar a boca no trombone meter o rabo entre as pernas e segurar as pontas

(b) Preacute-experimento o experimentador apresentava ao sujeito um exemplo bem parecido do que ao das tarefas aplicadas no teste com expressatildeo idiomaacutetica

Na primeiro momento um texto era assim apresentado O pessoal de esquerda anda preocupado com Hugo Chaacutevez O presidente venezuelano deu agora pra dizer que se natildeo haacute vida em Marte o capitalismo deve estar por traacutes disso Vai acabar botando minhoca na cabeccedila do Fidel Castro que como se sabe estaacute se despedindo da luta (In Humor Tutty O Estado de Satildeo Paulo 2703 2011)

Em seguida pediacuteamos que o informante o lesse em voz alta e faziacuteamos a primeira pergunta da tarefa inicial jaacute registrado em protocolo verbal apoacutes a leitura do texto neste cartatildeo vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica frase feita ou locuccedilatildeo verbal que funciona como uma unidade cujo sentido natildeo eacute literal Vocecirc lembra ou ouviu antes a expressatildeo idiomaacutetica identificada no texto dado

No segundo momento o experimentador aplicava a segunda tarefa deste experimento Vocecirc lembra ou ouviu a expressatildeo identificada e sabe seu sentido idiomaacutetico antes da aplicaccedilatildeo destes testes

No terceiro momento faziacuteamos perguntas como diga-me em voz alta qual o sentido da expressatildeo idiomaacutetica e como vocecirc fez para chegar a esse sentido O que a expressatildeo identificada quer dizer para

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vocecirc Diga-me em voz alta o pensamento que passa por sua mente como vocecirc descobriu ou tentou descobrir o sentido desta expressatildeo identificada

(a) Experimento durante aplicaccedilatildeo deste experimento reafirmamos aos participantes que estaacutevamos interessados em registrar os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Portuguecircs Brasileiro Informaacutevamos que suas respostas agraves perguntas deste experimento seriam pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei natildeo sei o que significardquo ldquonatildeo entendi a expressatildeordquo ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta

(b) Comando Vou dar-lhe 15 cartotildees um a um e vocecirc vai Pensar em Voz Alta e me dizer tudo que vocecirc estaacute pensando a partir da primeira vez que vocecirc ler o texto contido neste cartatildeo ateacute que me diga o que quer dizer a expressatildeo identificada por vocecirc (ou por mim) Para que pudeacutessemos estimular o diaacutelogo entre informante e experimentador diziacuteamos que algumas perguntas poderiam passar em sua mente depois de verem as expressotildees idiomaacuteticas do tipo Jaacute havia lido ou visto esta expressatildeo antes Jaacute sei o sentido de cor Como o contexto explica o sentido desta expressatildeo idiomaacutetica O sentido literal (ao peacute da letra) da expressatildeo tem alguma relaccedilatildeo com seu sentido figurado Seraacute que uma determinada palavra da expressatildeo foi o suficiente para eu poder dar seu sentido idiomaacutetico A expressatildeo idiomaacutetica me faz lembrar algo que ouvi algueacutem dizer antes E por fim diziacuteamos eu gostaria que vocecirc falasse em voz alta durante todo o tempo desde o momento em que lhe apresento cada expressatildeo contextualizada no cartatildeo ateacute vocecirc dar sua resposta final Por favor natildeo tente planejar o que vocecirc diz Basta agir como se vocecirc estivesse sozinho na sala falando para si mesmo Eacute mais importante que vocecirc continue falando Se vocecirc ficar em silecircncio por um periacuteodo longo de tempo vou pedir-lhe para falar

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RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

La fijacioacuten es arbitraria dese el punto de vista funcional es decir no encontramos ninguna explicacion semaacutentica ni sintaacutectica del tipo de fijacioacuten em cada caso concreto (ZULUAGA 1980 p99)

Para respondermos a esta pergunta da pesquisa aplicamos esta

Tarefa aos sujeitos da pesquisa com duraccedilatildeo meacutedia 36 minutos gravadas em aacuteudios digitais para posteriores transcriccedilotildees ortograacuteficas

Foi testada nesta tarefa a seguinte hipoacutetese de nossa pesquisa a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

As respostas dos informantes agrave principal pergunta da tarefa (ldquoApoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacuteticardquo Receberam uma pontuaccedilatildeo numa escala de 1 a 3 que nos permitiu atraveacutes doo caacutelculo de meacutedias e desvios padratildeo para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas o uma proposta de taxionomia para a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica e (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Os participantes tinham que pensar em voz alta e dizer tudo que estavam pensando a partir da primeira vez que olhavam ou liam as expressotildees idiomaacuteticas entregues uma a uma em 15 cartotildees contendo textos publicados em jornais de circulaccedilatildeo nacional (Folha de Satildeo Paulo Estado de Satildeo Paulo O Povo Diaacuterio do Nordeste Jornal do Brasil CorreioBraziliense)

Foram entregues aos participantes 15 cartotildees de cor amarela de tamanho 20 cm X 15 cm uma a uma contendo uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada e uma tarja preta cobrindo a pergunta do

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experimentador No caso de natildeo conseguir identificar a expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura em voz alta do texto o entrevistador solicitava ao participante que retirasse a tarja preta do cartatildeo e lesse a pergunta encoberta (por exemplo o que a expressatildeo bater as botas significa para vocecirc) o que levava portanto agrave identificaccedilatildeo da expressatildeo no texto dado

Mais precisamente depois da leitura do texto o entrevistador indagava ao participante se identificava alguma expressatildeo idiomaacutetica iniciando a partir deste momento a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud que consistiu em solicitar que os participantes falassem livremente ou pensassem em voz alta enquanto respondiam a questatildeo feita pelo pesquisador

Partindo do pressuposto de que a fixaccedilatildeo fraseoloacutegica (ou fixaccedilatildeo formal) e a idiomaticidade semacircntica (ou fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica) satildeo essenciais agraves unidades fraseoloacutegicas (UFs) e lhes asseguram o traccedilo ou caraacuteter de convencionalidade ou institucionalizaccedilatildeo o objetivo desta tarefa foi verificar como os participantes identificavam as expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil estabelecendo a partir dos dados coletados em suas respostas uma tipologia de formas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Mais adiante ao cruzarmos os dados com a tarefa 3 ocupar-nos-emos em verificar se expressotildees identificadas pelos participantes sejam elas modificadas ou natildeo precisariam natildeo apenas do apoio do contexto (Estrateacutegia AC) mas da ajuda teacutecnica (SI) do pesquisador Jaacute podemos adiantar que em todas as expressotildees idiomaacuteticas deste experimento psicolinguiacutestico os participantes requereram a ajuda teacutecnica (SI) Da mesma forma veremos na tarefa 4 se as expressotildees identificadas e as natildeo identificadas pelos informantes apoacutes a leitura do texto correspondem as mesmas expressotildees natildeo compreendidas ou as compreendidas pelos participantes

Segundo Alvarado Ortega (2010 p28) a fixaccedilatildeo formal e a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (esta aqui nesta pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) se associam com a ideia de institucionalizaccedilatildeo que anuncia Corpas Pastor (1996 p21) Assim sendo a noccedilatildeo que damos aqui agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica refere-se agrave estabilidade em sua reproduccedilatildeo e na frequecircncia de uso que apresentam as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) de modo geral e nas locuccedilotildees verbais em particular

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Tendo em vista que o objetivo desta tarefa era os participantes identificarem formalmente a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute anunciassem ao experimentador a fixaccedilatildeo formal da expressatildeo conforme as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) e Alvarado Ortega (2010) ficou estabelecida para definiccedilatildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica previamente a seguinte pontuaccedilatildeo que variou de 1 a 3 pontos incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo (1 ponto ) (b) parcialmente correta ou meacutedia identificaccedilatildeo (2 pontos) e (c) correta ou faacutecil identificaccedilatildeo (3 pontos)

Esta pontuaccedilatildeo se tornou necessaacuteria para calcularmos em Excell as meacutedias individuais do desempenho dos informantes por expressatildeo bem como obtermos os valores dos Desvios Padratildeo e as meacutedias das meacutedias e de posse destes dados ou valores podermos definir juntamente na tarefa 3 o grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica (ou opacidade semacircntica) contando para isso com o inventaacuterio de estrateacutegias bem (e mal sucedidas) no processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes

Na primeira situaccedilatildeo considerada incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador as respostas dos informantes agrave tarefa foram codificadas no Corpus Afri com a sigla GF-IC (Grau de Fixaccedilatildeo - Incorreta) em que o informante apoacutes a leitura declarava natildeo saber ou natildeo identificar nenhuma expressatildeo idiomaacutetica no texto dado Nesta posiccedilatildeo em alguns casos o informante apontava um trecho ou uma palavra ou expressatildeo fixa presente no texto como casos de locuccedilotildees nominais colocaccedilotildees ou compostos (como por exemplo reportagem custo-benefiacutecio na tarefa na qual a expressatildeo em foco era matar cachorro a grito) mas que natildeo consideraacutevamos como respostas vaacutelidas para uma pontuaccedilatildeo significativa na pesquisa

Neste caso recebeu um 1 ponto numa escala de 1 a 3 e esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Na segunda situaccedilatildeo assinalada como parcialmente correta ou de meacutedia identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no corpus das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada no Corpus Afri com a sigla GF-PC (Grau de Fixaccedilatildeo - Parcialmente Correta) em que o informante apoacutes a leitura citou a expressatildeo idiomaacutetica pretendida ou esperada no texto mas a alterou com algum tipo de inserccedilatildeo supressatildeo ou substituiccedilatildeo de componentes comprometendo a noccedilatildeo

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canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Por exemplo no texto em que o pesquisador esperava a identificaccedilatildeo de tirar mais aacutegua do joelho o informante anunciou soltar mais aacutegua do joelhordquo onde podemos observar a substituiccedilatildeo da palavra tirar por soltar preservando restante da expressatildeo ou em outros casos citou apenas mais aacutegua do joelho ou aacutegua do joelho permitindo todavia em qualquer dos casos a recuperaccedilatildeo da forma canocircnica

Neste caso acima a resposta do informante recebeu 2 pontos numa escala de 1 a 3 e denominamos esta situaccedilatildeo de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica uma vez que as alteraccedilotildees fraseoloacutegicas foram todas por reduccedilatildeo ou elisatildeo

Na terceira situaccedilatildeo apontada como correta ou de faacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no conjunto das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada com a sigla GF-CO (Grau de Fixaccedilatildeo-Correta) em que o informante apoacutes a leitura apontou o bloco ou grupo fraseoloacutegico tal qual aparece no texto

Nessa posiccedilatildeo acima foram trecircs situaccedilotildees consideradas plenamente corretas

(a) quando o informante apontou a fixaccedilatildeo formal na sua forma canocircnica ou dicionarizada ou tal qual aparecia no co(n) texto de situaccedilatildeo

(b) quando o informante apontou o trecho em que aparecia a expressatildeo idiomaacutetica como parte da oraccedilatildeo uma vez que uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo se constitui por si soacute uma frase cabal e

(c) quando o informante anunciava uma variante fraseoloacutegica em sua L1 (crioulo) equivalente a que aparecia no texto dado seja em L2 (por exemplo engolir sapo ou engolir o peixe pelo rabo) ou em L1 (por exemplo cume ku odjo por comer com o olho)

Um dado curioso a observar eacute que para a identificaccedilatildeo de expressatildeo pocircr a boca no trombone alguns vacilaram quanto agrave forma canocircnica ao afirmar eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone helliprdquo Neste caso consideramos a identificaccedilatildeo correta por se tratar apenas de um caso de variaccedilatildeo fraseoloacutegica de ordem lexical botarpocircr a boca no trombone recebendo 3 pontos (pontuaccedilatildeo maacutexima) Esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Do ponto de vista teoacuterico para a realizaccedilatildeo desta tarefa 1 levamos em conta as condiccedilotildees necessaacuterias descritas por Cermak

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(1998 p 144-145) para a correta identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em um texto

(a) a combinaccedilatildeo textual indicada pelos participantes teria que ser considerada estaacutevel ou fixa por haver sido ouvida ou lida mais de uma vez anteriormente agrave tarefa

(b) a combinaccedilatildeo textual escolhida pelos participantes deveria permitir algum tipo de variaccedilatildeo leacutexica ou paradigmaacutetica ou gozasse de uma relativa liberdade combinatoacuteria sem que afetasse seu sentido global (por exemplo pocircrbotar a boca no trombone) ou produzisse outra expressatildeo idiomaacutetica (por exemplo pagar mico natildeo aceitamos como sinocircnimo pagar o mico) uma vez que soacute aceitariacuteamos uma expressatildeo idiomaacutetica equivalente anunciada na L1 dos participantes (crioulo cabo-verdianoguineense) desde que pudesse recuperar o mesmo sentido idiomaacutetico da equivalente em L2 e

(c) a combinaccedilatildeo escolhida pelos participantes teria necessariamente a presenccedila de uma metaacutefora ou um grau de opacidade ou de natildeo composicionalidade semacircntica um traccedilo muito frequente das locuccedilotildees verbais estas por sua vez um dos muitos tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Para respaldar ainda mais as etapas propostas por Cermak (1998) em nossa pesquisa fomos agraves teorias fraseoloacutegicas para evidenciar as trecircs das propriedades baacutesicas e definitoacuterias das locuccedilotildees verbais a que iriacuteamos tratar nesta Tarefa 1 e na Tarefa 3 em particular a saber

(a) a pluriverbalidade ou polilexicalidade entendida como a combinaccedilatildeo estaacutevel formada por dois ou mais componentes que aparecem separados na escrita como assinala Casares ([1950] 1969 p 170 Gross (1996 p 9-10) Corpas-Pastor (1996 p19-20) Montoro Del Arco (2006 p35-38) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 23-34)

(b) a fixaccedilatildeo formal compreendida como a estabilidade formal ou interna das expressotildees idiomaacuteticas na ordem de seus componentes em suas categorias gramaticais no inventaacuterio de seus componentes a que faz alusatildeo Casares ([1950] 1969 p210-211) Zuluaga (1975p 227-2281980 p95-110) Corpas Pastor (1996 p 23-24) Alvarado Ortega (2010 p27-28) Mejri (2012 p139-156) e Garratildeo (2012 p125-131)

(c) a estrutura natildeo oracional na qual a locuccedilatildeo natildeo pode ter estrutura de oraccedilatildeo sintaticamente completa concepccedilatildeo tradicional

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apresentada por Casares ([1950] 1969 p 170) e traccedilo plenamente aceito pela fraseologia contemporacircnea

Nesta tarefa verificamos o grau de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica dentro de uma escalaridade por essa razatildeo as respostas dos participantes foram categorizadas por niacutevel de dificuldade (faacutecil meacutedia e difiacutecil identificaccedilatildeo)

Os dados coletados para a Tarefa 1 a partir do protocolo verbal apontaram que os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas individualmente variaram de 120 a 275 (ver tabela 1)

Como dissemos anteriormente para que pudeacutessemos considerar uma resposta correta os informantes durante a tarefa deveriam atender plenamente aos trecircs preacute-requisitos formais e caracterizadores das locuccedilotildees verbais a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo formal e a estrutura natildeo oracional

Pelos dados da tabela podemos observar que a uacutenica expressatildeo considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo foi pagar mico

As expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo ofereceram grandes obstaacuteculos para serem identificadas pelos participantes

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram as trecircs mais faacuteceis de serem identificadas pelos participantes

Em uma pesquisa com participantes natildeo nativos de uma liacutengua sobre o processamento fraseoloacutegico ou mais precisamente relacionada aos processos de compreensatildeo idiomaacutetica os dados de nossa pesquisa levam-nos a crer que a identificaccedilatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada lida ou ouvida pelo participante eacute uma habilidade linguiacutestica que tem forte dependecircncia da competecircncia fraseoloacutegica intercultural do leitor ou do falante em L2 o que repercutiraacute certamente na sua compreensatildeo idiomaacutetica

Acolhemos pois a hipoacutetese de que a competecircncia fraseoloacutegica dos usuaacuterios eacute um fator de opacidade nas locuccedilotildees verbais (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p 244)

A noccedilatildeo de identificaccedilatildeo aplicada agrave fraseologia corresponderia agrave segmentaccedilatildeo de acordo com a gramaacutetica de constituintes imediatos presente nas teorias da linguiacutestica estrutural procedimento que consistiria em os falantes nativos ou natildeo nativos terem a capacidade de segmentar o enunciado ou texto isto eacute dividi-los em unidades

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pluriverbais e discretas Por exemplo uma expressatildeo como ver com quantos paus se faz uma canoa poderiacuteamos segmentaacute-la em vercom quantos pausse faz uma canoa e assim por diante reduzindo-a portanto a diversos niacuteveis sintagmaacuteticos

Nesta tarefa do experimento psicolinguiacutestico podemos comprovar empiricamente que muitos componentes lexicais das expressotildees resultavam por completo desconhecidos para muitos participantes como por exemplo mico linguiccedila joelho manguinhas seda e siri

Sem a identificaccedilatildeo destas palavras por eles consideradas estranhas ou diferentes a despeito da habilidade de discriminar as palavras em seus contornos visuais ou formais a referida habilidade natildeo resultava em acesso agrave forma fraseoloacutegica e com essa restriccedilatildeo um bloqueio tambeacutem ao seu sentido idiomaacutetico

Em substacircncia pareceu-nos que uma limitaccedilatildeo na identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica significava para muitos participantes uma diminuiccedilatildeo significativa na sua habilidade ou capacidade de ativar esquemas cognitivos relacionados agrave idiomaticidade semacircntica e de relacionar a expressatildeo agrave sua proacutepria experiecircncia de leitor ouvinte e falante em L2 (estrateacutegias top-down conforme veremos mais adiante)

Vimos ao longo da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que em muitos casos apesar de decodificarem as palavras desconhecidas no texto lido natildeo chegavam agrave sua analisabilidade ou composicionalidade muito menos agrave noccedilatildeo do sentido caracterizado pela natildeo composicionalidade semacircntica Ainda assim o processo de leitura do texto pelos participantes nesse caso era flagrantemente lento sofriacutevel por vezes inaudiacutevel com repercussatildeo imediata na tentativa enganosa ou equiacutevoca de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora pudessem identificar outras unidades maiores do que a palavra mas quebrando a expectativa do analista

Dizendo de outra maneira cremos que a identificaccedilatildeo de uma palavra ou componente leacutexico de uma expressatildeo idiomaacutetica em texto em menor meacutedio ou maior grau de dificuldade desemboca no leitorouvintefalante algum grau de sentido de expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou natildeo familiar Eacute verdade que a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por si soacute natildeo garante o acesso ao sentido idiomaacutetico mas uma vez identificada a expressatildeo os participantes satildeo

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beneficiados na sua busca seletiva de estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (top-down) rumo ao sentido pretendido

Em termos de percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por participantes os valores variaram de 40 a 90

Para matar cachorro a grito e natildeo pagar mico 85 e 40 dos informantes respectivamente identificaram corretamente aos dois zoomorfismos

Para os somatismos tirar (mais) aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone os percentuais de identificaccedilatildeo correta foram de 60 em ambas as expressotildees

No caso dos botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca os percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram de 40 e 90 respectivamente

Os dados coletados revelaram que nesta tarefa os falantes natildeo nativos quando solicitados a identificar a expressatildeo apoacutes a leitura do texto dado acrescentaram o sujeito agrave expressatildeo isto eacute natildeo a isolaram como era nossa primeira (ou ingecircnua) expectativa em suas respostas Normalmente os analistas esperaram que os falantes sejam nativos ou natildeo nativos ao serem solicitados sobre a identificaccedilatildeo de uma unidade fraseoloacutegica em um texto escrito ou oral simplesmente deem respostas prontas assim como satildeo as frases feitas como unidades abstratas no campo fraseoloacutegico preacute-fabricadas cristalizadas e memorizadas na mente dos falantes

Expressas na boca dos falantes as frases feitas quando satildeo proferidas ou ouvidas em discurso com pequenas alteraccedilotildees ou variaccedilotildees que natildeo afetam agrave comunicabilidade exigiratildeo dos interlocutores naturalmente conexotildees gestaacutelticas para que percebam que a unidade fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) se acha em determinadas relaccedilotildees com suas partes (variaccedilotildees)

Nas primeiras respostas nossos participantes anunciaram um pedaccedilo do texto lido que natildeo podia ser computaacutevel literalmente todavia a habilidade de identificar a expressatildeo e estabelecer seus limites resultava em complicada ou complexa tarefa linguiacutestica conforme podemos observar mais adiante nas respostas dos informantes consideradas incorretas ou parcialmente incorretas

Os comentaacuterios dos falantes no protocolo verbal disseram-nos muito do que desejam que tenham ou faccedilam sentido quando respondem questotildees relacionadas agrave identificaccedilatildeo e agrave idiomaticidade

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fraseoloacutegicas Nesse sentido em vez de isolarem um trecho gramaticalmente incompleto como saber com quantos paus se faz uma canoa (que nem inclui tempo verbal) os falantes acrescentaram o tempo e completaram a diaacutetese verbal incluindo o elemento faltante que eacute o sujeito e assim deram sentido completo a suas respostas (ou seja a diaacutetese verbal ficou toda preenchida) e o trecho soava entatildeo sintaacutetica e semanticamente aceitaacutevel ou simplesmente viaacutevel 1

Interessante observar que os textos mais ou menos longos 2 os falantes souberam localizar o que era idiomaacutetico e o que natildeo era O que queremos dizer eacute que enquanto esperaacutevamos que os participantes apontassem apoacutes a leitura saber com quantos paus se faz uma canoa assinalaram como idiomaacutetico o trecho a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo o trecho o que ele quer eacute continuar mandando presente no texto Ou seja os falantes sabiam competentemente apontar ou identificar corretamente o trecho onde se encontrava uma sequecircncia idiomaacutetica

Para Fulgecircncio (2008 p77) a identificaccedilatildeo de estruturas ldquoprontasrdquo memorizadas em grupo diz muito da competecircncia linguiacutestica dos falantes A autora nos coloca tambeacutem que a distinccedilatildeo entre sintagma computaacutevel sequecircncia idiomaacutetica natildeo eacute soacute um tipo de anaacutelise abstrata mas faz parte real da competecircncia linguiacutestica do falante Em outras palavras esta tarefa submetida aos participantes veio mostrar a realidade psicoloacutegica dos fenocircmenos linguiacutesticos evidenciando em dados empiacutericos que natildeo eacute soacute uma teorizaccedilatildeo mas faz parte de como o ceacuterebro estaacute estruturado

Fulgecircncio (2008 p293-340) nos diz que as locuccedilotildees verbais natildeo funcionam como elementos oracionais Segundo ela as locuccedilotildees natildeo satildeo oraccedilotildees inteiras e sim um sintagma verbal [V+complemento] Deste modo ao localizar o trecho onde se encontra a sequecircncia idiomaacutetica o falante completa a diaacutetese

1 A questatildeo da diaacutetese verbal nas expressotildees fixas foi suficientemente explorada em Fulgecircncio (2008) e Perini (2008) Agradecemos agrave Fulgecircncio seus comentaacuterios e sugestotildees quando submetemos nossas primeiras reflexotildees sobre diaacutetese agrave sua apreciaccedilatildeo linguiacutestica 2 O texto que traz a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa utilizado nesta tarefa refere-se a um comentaacuterio sob o tiacutetulo Lula transformaraacute a vida de Dilma em um inferno revecirc Pliacutenio com t12 linhas e 76 palavras assinado por Braz dos Santos leitor do Jornal do Brasil (JB) e publicado no Caderno Paiacutes do Jornal do Brasil (JB) em 171210

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verbal com o sujeito para oferecer um trecho gramaticalmente completo e apresentar uma sequecircncia compreensiacutevel mas isso natildeo quer dizer segundo a linguista que a expressatildeo eacute toda a oraccedilatildeo nem que funciona como uma oraccedilatildeo

Zuluaga (1975 p244) foi um dos primeiros fraseoacutelogos a observar quanto ao comportameno verbal dos falantes nativos no uso espontacircneo ou social da liacutengua sua capacidade de identificar quando as expressotildees idiomaacuteticas sofrem modificaccedilotildees formais ou satildeo alteradas no discurso

Haacute na capacidade de o falante identificar uma alteraccedilatildeo fraseoloacutegica um niacutevel alto e apurado de refinamento de intuiccedilatildeo linguiacutestica isto eacute essa capacidade que temos enquanto falantes nativos de uma liacutengua dada de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na liacutengua bem como de interpretaacute-las e de identificar a equivalecircncia com outra frase seja em L1 ou L2

Segundo Zuluaga (1975) a reaccedilatildeo dos falantes nativos diante de uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de costumeiramente corrigir a alteraccedilatildeo ou identificar nela o cumprimento de determinadas funccedilotildees estiliacutesticas isto eacute dos chamados niacuteveis de discurso Eacute portanto atraveacutes de sua intuiccedilatildeo linguiacutestica ou de uma leitura proficiente ou escuta ativa que o falante nativo torna-se naturalmente um proficiente da sua liacutengua

Jaacute para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p25-26) a fixaccedilatildeo entre outros traccedilos eacute uma foacutermula memoraacutevel estando assim disponiacutevel para seu emprego ou repeticcedilatildeo no processo discursivo no qual o falante deseja expressar um conteuacutedo que jaacute estaacute condensado nela Corroborando com esta postulaccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez acreditamos que ao certo por traacutes de tudo isso haja um princiacutepio de economia linguiacutestica que governa as leis do menor esforccedilo na comunicaccedilatildeo espontacircnea ou criativa

Por causa da fixaccedilatildeo nem toda expressatildeo fixa ou idiomaacutetica no uso social da liacutengua requer ser citada ou anunciada em sua totalidade senatildeo em parte Por exemplo expressotildees com a pulga atraacutes da orelha e o rabo entre as pernas sem os verbos ficardeixar e ficarsair respectivamente no buscador Google Brasil registrou 1940000 e 1090000 resultados 3 respectivamente

3 Registro em 25 de julho de 2013

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Como nativos da liacutengua portuguesa sabemos ainda que em nossa L1 as expressotildees de uso frequente e estilisticamente expressivas no cotidiano especialmente as grandes miacutedias em geral vecircm acompanhadas de seus respectivos e variados verbos deve estar estarandarficar com a pulga atraacutes da orelha e meterenfiarestar comir comvoltar comcolocar o rabo entre as pernas Aqui caberia o ditado popular para bom entendedor meia palavra basta (= aquele que estaacute a par de um assunto natildeo precisa de muita explicaccedilatildeo)

Ao tratar sobre este fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica Zuluaga (1975 p 244) diz que nesses casos basta o falante mencionar expressamente somente uma parte de cada uma das expressotildees para evocaacute-las completamente fator que se deve segundo ele agrave fixaccedilatildeo

Das diversas formas que uma expressatildeo pode ser alterada a reduccedilatildeo eacute um fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica ou mais precisamente da fixaccedilatildeo que pode ser explicado pelo princiacutepio da teoria da comunicaccedilatildeo em que por ela diz-se que a quantidade de informaccedilatildeo de um signo em um contexto dado eacute definida como uma funccedilatildeo de sua probabilidade de ocorrecircncia no dito contexto Da mesma forma a maior probabilidade de ocorrecircncia redundaraacute em menor conteuacutedo informativo e maior grau de redundacircncia

A omissatildeo ou a reduccedilatildeo de componentes das expressotildees natildeo ocasiona perda de informaccedilatildeo no texto uma vez que fixaccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica tende a ocorrer inevitavelmente Podemos observar este fenocircmeno nos nossos estudos certamente depois de os informantes terem lido no texto dado para leitura anterior portanto ao pedido feito pelo entrevistador para que procedessem com a identificaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

Nos exemplos que vamos comentar a seguir assinalamos esses casos como parcialmente correto porque consideramos que uma locuccedilatildeo verbal objeto de nossa pesquisa deve vir com sua diaacutetese verbal preenchida embora saibamos a partir da frequecircncia de uso comprovada por um expressivo nuacutemero de ocorrecircncias a quantidade de informaccedilatildeo que ancora eacute nula isto eacute totalmente redundantemente e portanto natildeo necessita ser expressa materialmente para que o sentido global ou idiomaacutetico de toda a expressatildeo se faccedila presente ou seja evocada pelos falantes sejam nativos ou natildeo nativos

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A questatildeo da variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute uma categoria que de haacute muito tem preocupado os teoacutericos A fixaccedilatildeo e a variaccedilatildeo satildeo duas categorias fraseoloacutegicas que satildeo interligadas No estruturalismo claacutessico especialmente o de Saussure a ideia de fixaccedilatildeo era de um traccedilo imudaacutevel ou imexiacutevel Saussure ao se referir agraves locuciones toutes faites ou frases feitas foi um dos primeiros estruturalistas a observar o caraacuteter de fixidez das combinaccedilotildees preacute-fabricadas ao afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas ([1916] 2012 P173)

Esta propriedade da fixaccedilatildeo supotildee uma suspensatildeo da aplicaccedilatildeo das regras de combinaccedilatildeo dos elementos do discurso a que Coseriu ([1977] 1981 p113-118) chamou de discurso repetido Coseriu ([1977] 1981) ao se referir a discurso repetido corresponde agrave noccedilatildeo de locuciones toutes faites de Saussure como dissemos caracterizadas pelo natildeo improviso isto eacute eram fornecidas pela tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica

Ainda na deacutecada de 70 a noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica passou a ser entendida como a propriedade que tem certas expressotildees de ser reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas (ZULUAGA 1975 p230)

Em outras palavras Zuluaga (1975) assinala que o processo de formaccedilatildeo de uma expressatildeo fixa natildeo pode ser explicado mediante regra de sintaxe proacutepria das combinaccedilotildees livres A frequecircncia de uso de uma expressatildeo fixa e seu emprego repetido por parte da comunidade linguiacutestica ocasionaria a fixaccedilatildeo da unidade em uma forma determinada em geral canonicamente registrada nos dicionaacuterios gerais

A fraseologia contemporacircnea avanccedilou muito nos uacuteltimos anos com relaccedilatildeo agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Apesar de a fixaccedilatildeo ser considerada uma propriedade essencial das expressotildees fixas natildeo o para todas as unidades fraseoloacutegicas posto que por exemplo no caso das expressotildees idiomaacuteticas estas podem ser idiomaacuteticas mas natildeo canonicamente fixas enquanto as expressotildees fixas podem natildeo ser idiomaacuteticas

O conjunto que forma o corpus das expressotildees idiomaacuteticas desta pesquisa aleacutem de idiomaacuteticas ou seja caracterizarem-se pelo princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica satildeo tambeacutem fixas mas em muitas delas com suas variaccedilotildees fraseoloacutegicas o que

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comprova sua fixaccedilatildeo formal ou institucionalizaccedilatildeo Graccedilas agrave fixaccedilatildeo das expressotildees podemos falar em variaccedilatildeo fraseoloacutegica um fenocircmeno bastante frequente no discurso portanto na perspectiva do falante

Pelo menos trecircs das seis expressotildees idiomaacuteticas deste experimento estatildeo modificadas comparadas agrave sua fixaccedilatildeo canocircnica (dicionarizada) (a) pagar mico aparece com sua polaridade negativa natildeo pagar mico (b) tirar aacutegua do joelho comparece com a inserccedilatildeo do adveacuterbio mais ficando com a forma tirar mais aacutegua do joelho e (c) mostrar com quantos paus se faz uma canoa eacute modificada com substituiccedilatildeo lexical em saber com quantos paus se faz uma canoa

Conforme veremos mais adiante a variaccedilatildeo fraseoloacutegica natildeo significa a mudanccedila completa da expressatildeo idiomaacutetica de modo que natildeo deixem marcas ou pegadas da forma cristalizada anteriormente Como diz Molina Garciacutea (2006 P99) a noccedilatildeo de variaccedilatildeo ou variabilidade aplicada a uma unidade fraseoloacutegica requer que uma parte da unidade deva ficar sem alteraccedilatildeo de que forma que a UF seja reconhecida ou diriacuteamos de outra maneira possa ser evocada a partir da memoacuteria fraseoloacutegica ou de longo prazo dos falantes

A questatildeo da fixaccedilatildeo ou variabilidade fraseoloacutegica na deacutecada de 70 foi abordada por Fraser (1970 p39) um dos primeiros teoacutericos a observar um potencial modificador nas locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas em escala de sete niacuteveis da maior agrave menor possibilidade de realizaccedilatildeo de mudanccedila ou modificaccedilatildeo (niacutevel 6 - natildeo-restritividade niacutevel 5 - reconstituiccedilatildeo niacutevel 4 - extraccedilatildeo niacutevel 3 - substituiccedilatildeo niacutevel 2 - inserccedilatildeo niacutevel 1 - adjunccedilatildeo e o niacutevel 0 - completo congelamento)

Apesar da escala de sete niacuteveis proposta por Fraser receber criacuteticas de muitos fraseoloacutegos tendo na linha de frente Zuluaga (1975) sua proposta ao certo influenciou na evoluccedilatildeo dos estudos sobre o fenocircmeno da variabilidade fraseoloacutegica

Neste particular passou-se por exemplo a diferenciar a noccedilatildeo de variante e a de modificaccedilatildeo Assim numa perspectiva do falante nativo ou natildeo nativo questotildees que passaram a ser colocadas eram se o falante ao produzir uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica realizaria tal mudanccedila ou variaccedilatildeo de forma consciente ou a variaccedilatildeo se constituiria numa amostra de possibilidades de variabilidade que oferece o sistema fraseoloacutegico

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Graccedilas a Fraser a noccedilatildeo de modificaccedilatildeo ou modificaccedilotildees no campo fraseoloacutegico passou entatildeo a ser o centro da atenccedilatildeo de Corpas Pastor (1996 p 29-30) Segundo Corpas o grau de modificaccedilatildeo que permite que as UFs que sigam sendo reconhecidas reconhecimento idiomaacutetico diretamente proporcional ao grau de fixaccedilatildeo das mesmas (1996 p29)

De forma muito recorrente podemos perceber ao longo desta tarefa que a reduccedilatildeo foi uma das caracteriacutesticas mais recorrentes das modificaccedilotildees formais observadas nas respostas dos participantes agrave tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Cremos que esta caracteriacutestica deu um caraacuteter psicolinguiacutestico agraves respostas dos participantes uma vez que graccedilas agrave noccedilatildeo de reduccedilatildeo ou modificaccedilatildeo criativa levada a efeito pelos falantes natildeo nativos pudemos observar um processamento fraseoloacutegico de caraacuteter eminentemente psicolinguiacutestico por estas razotildees

(a) em primeiro lugar o foco de atenccedilatildeo na expressatildeo idiomaacutetica (b) em segundo lugar a preservaccedilatildeo na memoacuteria dos falantes da

parte efetivamente idiomaacutetica ou cristalizada em detrimento dos verbos que a introduzem e que sofrem variaccedilatildeo lexical (por exemplo verensinaraprendermostrarsaber com quantos paus se faz uma canoa) como veremos nos exemplos a seguir e

(c) em terceiro lugar a expressatildeo reduzida apontada pelos falantes a partir de um contexto de situaccedilatildeo foi o suficiente para que pudessem recuperar ou evocar a forma completa ou canocircnica

Em se tratando de observaccedilotildees preliminares dos dados coletados nesta tarefa antes de analisarmos as respostas dos informantes antecipamos que a expressatildeo natildeo pagar mico foi considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo

As expressotildees tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa foram consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram consideradas de faacutecil identificaccedilatildeo

Em geral os participantes apresentaram percentuais altos de identificaccedilatildeo das seis expressotildees idiomaacuteticas apresentadas nesta tarefa o que natildeo repercutiu diretamente na tarefa de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegicas das mesmas ou menor percentual de

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pedido de ajuda teacutecnica (SI) para suas estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica (top-down) como veremos mais adiante

As duas expressotildees zoomoacuterficas que chamaram nossa atenccedilatildeo na nossa anaacutelise dos dados pagar mico que obteve a meacutedia 120 e matar cachorro a grito com a meacutedia 267 Curioso eacute observarmos que as duas expressotildees em um continuum estatildeo situadas nos extremos Pagar mico como a de difiacutecil identificaccedilatildeo e matar cachorro a grito como a de faacutecil identificaccedilatildeo pelos 20 participantes

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Levando em conta que as expressotildees idiomaacuteticas podem ser

sofrer um processo de variaccedilatildeo fraseoloacutegica atraveacutes de um processo de reduccedilatildeo consciente por parte do falante propusemos numa espeacutecie de gradaccedilatildeo ou niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Tabela 3 - Identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por participante

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Pontuaccedilatildeo

IC (1p)

PC (2p)

CO (3p)

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

111820 1234 5678 91012 131415 161719

Pagar mico 358 1113 1415 1617

181920

124 679 1012

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

111215 16 20

410 14

123 567 8913 1718

19

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Pocircr a boca no trombone

11 20 259 1617

19

134 678 1012

13 1415 18

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

111518 123 457

81014

6912 131617

1920

Chutar o pau da barraca

1120 1234 567

8910 1213 1415 1617 1819

Legendas IC = Incorreto PC = Parcialmente Correto CO = Correto

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Nesta posiccedilatildeo encontramos ocorrecircncias para as seis expressotildees

idiomaacuteticas tanto em informantes do sexo feminino como do sexo masculino de cada paiacutes

O conceito de desvio fraseoloacutegico natildeo eacute entendido aqui como uma transgressatildeo com relaccedilatildeo agrave identificaccedilatildeo da forma canocircnica da expressatildeo mas como operaccedilatildeo cognitiva que resulta da decisatildeo ou da competecircncia linguiacutestica dos falantes

O desvio ocorreu em decorrecircncia de o informante natildeo identificar em um texto dado portanto com vaacuterias ocorrecircncias linguiacutesticas uma unidade fraseoloacutegica formalmente pluriverbal e fixa

ZOOMORFISMOS Matar cachorro a grito Nesta posiccedilatildeo natildeo houve registro de ocorrecircncia para os

informantes cabo-verdianos (G1e G2)

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Resposta de um informante feminina de Guineacute-Bissau (G3) porque na verdade hoje em dia quando uma coisa sai no repoacuterter aiacute todo mundo quer saber o quecirc que estaacute acontecendo ah eu acho que reportagem jaacute chama atenccedilatildeo pra pessoa prestar atenccedilatildeo no quecirc que estaacute acontecendo que nos sugere um determinante extralinguiacutestico associado agrave sua resposta

Respostas de dois informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) natildeo e (b) natildeo num ()

Pagar mico Com relaccedilatildeo agrave expressatildeo natildeo pagar mico a que apresentou um

grau de dificuldade de identificaccedilatildeo muito acentuado revelou que 60 dos participantes natildeo souberam fazer a identificaccedilatildeo correta da expressatildeo natildeo pagar mico traduzido por uma meacutedia de 120 - um valor bastante baixo

Os dados extraiacutedos do Protocolo Verbal apontam que a maioria dos participantes ao serem indagados se identificavam alguma expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura respondiam negativamente com expressotildees do tipo natildeo natildeo vi nenhuma nada hellip (seguido por um riso nasal registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios)

A anaacutelise das respostas dos informantes revelou o esforccedilo individual ou caracteriacutestico depreendido na tarefa proposta com comentaacuterios como expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo identifiquei nenhuma Muitos informantes respondiam ao entrevistador com um prolongado silecircncio registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios

Muitas vezes a resposta negativa vinha acompanhada de um pedido de ajuda (ato de fala indireto) que se constituiacutea um pedido de ajuda quanto ao sentido literal dos componentes lexicais da expressatildeo como em num sei a uacutenica coisa aqui seria mico Outra vez um informante depois de um prolongado silecircncio respondeu incorretamente agrave tarefa com uma repeticcedilatildeo de trechos do texto como Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem justificando nesse caso a identificaccedilatildeo pretendida com eu identifico porque assim tem uma expressatildeo no meu paiacutes quase idecircntico com isso que as pessoas dizem que que natildeo dar pra confiar nas coisas barata neacute porque natildeo presta (risos) entatildeo aiacute que eu faccedilo uma comparaccedilatildeo

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que o preccedilo baixo natildeo significa que vocecirc vai ter que o jovem vai ter uma boa viagem por ser um preccedilo baixo e a viagem eacute ruim viajar ( ) apertado sem condiccedilotildees entatildeo isso tem a ver Em outras ocasiotildees os participantes mostravam claramente a dificuldade de chegar agrave expressatildeo pretendida como custo benefiacutecio pode ser pequeno Neste caso o que merece destaque eacute o fato de o informante praticamente parafrasear todo texto e natildeo fazer nenhuma referecircncia agrave expressatildeo natildeo pagar mico

Uma participante do sexo feminino de Cabo Verde informou conhecer paga mico e paga uma mico o que nos leva a crer que conheccedila uma expressatildeo semelhante em crioulo pagar o mico4 como na sua resposta traziam os dois dos componentes (pagamico) da expressatildeo canocircnica consideramos como parcialmente correta

Nesta tarefa os poucos que anteciparam a anunciar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo pagar mico indicavam a natureza natildeo composicional da expressatildeo ao afirmarem natildeo sei o que eacute a palavra mico noacutes soacute relacionamos a palavra ao contexto que noacutes vamos passar vergonha eacute sair envergonhando todo mundo e envergonhando a si proacuteprio mas a palavra natildeo

De acordo Mogorroacutem Huerta (2010 p251) a variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas pode ser uma fonte de opacidade para os participantes Portanto natildeo haacute como separar nessa hipoacutetese uma identificaccedilatildeo do reconhecimento idiomaacutetico ou da idiomaticidade semacircntica da expressatildeo

Palavras ou expressotildees diferentes ou estranhas como os participantes assim se referiam agrave natildeo pagar mico e a outras expressotildees que natildeo reconheciam decorreriam para Mogorroacuten Huerta do fato de os usuaacuterios da liacutengua natildeo serem conhecedores das possiacuteveis variantes paradigmaacuteticas (que micopagar mico) devido ao conhecimento limitado que cada falante tem de sua liacutengua materna ou no caso dos africanos de sua L2

A variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas foi comprovadamente em nossa pesquisa uma das fontes leacutexicas de opacidade de pagar mico para a maioria dos participantes Um dos

4 No regionalismo brasileiro pagar mico e pagar o mico natildeo satildeo expressotildees sinocircnimas Pagar mico tem o sentido de passar vergonha dar vexame e pagar o mico com o sentido de sofrer as consequecircncias portanto sinocircnimo de pagar o pato

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participantes diz que em seu paiacutes Cabo Verde jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos)) justificando por essa razatildeo natildeo ter identificado a expressatildeo no texto lido Muitas respostas foram consideradas por noacutes incorretas por natildeo se aproximar nem ao mesmo da paraacutefrase contextual como deixa eu ver essa aqui que natildeo significa a boa viagemrdquo mas uma mera repeticcedilatildeo a trecho do lido

Vejamos a seguir as respostas dos informantes Respostas de duas informantes de Cabo Verde (G1) (a) custo

benefiacutecio pode ser pequeno e (b) ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei Ao serem indagados quanto agraves suas respostas respondem respectivamente o seguinte ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei o que nos sugere terem procurado no texto e encontrado uma combinaccedilatildeo fixa que atendesse agrave expectativa do pesquisador sem levar em conta o caraacuteter de natildeo composicionalidade semacircntica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Resposta de um informantes masculino de Cabo Verde (G2) expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo reconheci nenhuma o que pode me chamar atenccedilatildeo eacute o assunto custo-benefiacutecio que explicando eacute um assunto que a gente ou seja que o fato de ser barato natildeo quer dizer que que vai que vai ser o melhor o custo-benefiacutecio eacute quer dizer que a gente deve procurar algo num preccedilo bom com uma qualidade boa mas expressatildeo idiomaacutetica em si natildeo se reconhece aiacute

Respostas de quatro informantes femininas de Guineacute-Bissau (G3) (a) ((silecircncio)) Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (b) custo-benefiacutecio (c) deixa eu essa aqui que natildeo significa ldquoque natildeo significa a boa viagemrdquo e (d) pacote de viagem de formatura

Respostas dos informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) eacute consulte o CNPJ da empresa mas na verdade natildeo porque essa consulta aqui acho que eacute pra ter informaccedilotildees sobre a empresa neacute (b) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (c) ((silecircncio)) preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (d) ldquopreccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio

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e (e) humaqui identificocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Os dados coletados indicam que 60 dos participantes

identificaram corretamente (GF-CO) a forma fixa da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho sendo que 25 apontaram uma forma incorreta ou disseram natildeo saber identificar (GF-IC) no texto a expressatildeo e 15 se situaram numa situaccedilatildeo parcialmente correta (GF-PC)

Respostas das quatro estudantes de Guineacute-Bissau (G3) na sua maioria indicam que natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho Entre suas respostas podemos ouvir ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo natildeo e por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar onde claramente apelam para trechos do texto sem que tenha sucesso na tarefa Um caso de parcialmente correta semelhante ao que podemos registrar com suas compatriotas foi o de o participante informar aacutegua no joelhordquo mas que preservava na sua resposta elementos fixos da composiccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica A uacutenica resposta considerada correta situou-se a expressatildeo em trecho como essa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho que consideramos corretamente porque o informante procura claramente como jaacute dissemos anteriormente preencher a diaacutetese no qual o papel de agente da accedilatildeo verbal (tomar cerveja quente) se faz necessaacuterio explicitar na sua resposta

Para esta expressatildeo apenas as informantes do G3 guineenses em sua totalidade natildeo conseguiram corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho anunciando respostas como (a) ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo (b) natildeo (c) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar e (d) ldquoaacutegua no joelhordquo e (e) ((silecircncio)) tomar cerveja ((balbucio))

Do grupo G4 informantes masculinos de Guineacute-Bissau 50 dos estudantes tiveram dificuldade de identificar a expressatildeo tirar(mais)

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aacutegua do joelho situaccedilatildeo em que podemos registrar respostas como eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute e tomar cerveja Os protocolos verbais registram uma dificuldade muito grande por parte dos estudantes de lerem o texto em voz alta o que acabou por gerar em suas respostas palavras inaudiacuteveis ou por vezes balbucios

Outros 50 dos estudantes guineenses do sexo masculino responderam corretamente a expressatildeo (GF-CO) natildeo solta mas dentro de um princiacutepio diateacutesico de oferecer a expressatildeo dentro de uma estrutura com sujeito e predicado como em ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Dos 20 informantes apenas dois guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone Do grupo G3 informantes femininas de Guineacute-Bissau registramos

um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo incorreta feita por uma estudante guineense com a reposta CRIMES no municiacutepio Um estudante guineense do sexo masculino declarou natildeo saber identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta ao entrevistador natildeo

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos 20 participantes registramos apenas duas respostas das

estudantes de Guineacute-Bissau (G3) que foram consideradas incorretas (a) empossado e (b) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo

Chutar o pau da barraca Dos 20 participantes apenas duas guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo chutar o pau da barraca Uma

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informante respondeu com um natildeo descartando qualquer tentativa em seguida Um participante guineense natildeo conseguiu identificar corretamente a expressatildeo ao responder eacute queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Segundo (FULGEcircNCIO 2008 p 111) para que um falante possa

compreender uma expressatildeo fija alterada e perceber a ruptura eacute preciso primeiramente que o mesmo tenha internalizada a expressatildeo canocircnica ou de origem sendo assim a alteraccedilatildeo constitui uma extensatildeo do conhecimento leacutexico Eacute o que veremos nas respostas dos informantes abaixo

Nesta posiccedilatildeo para as expressotildees Matar cachorro a grito e Pagar mico e chutar o pau da barraca natildeo houve registro de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Tirar aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aacutegua do

joelhordquo e (b) eacute soltar mais aacutegua do joelho seraacute que eacute Resposta de registramos uma representante de Guineacute-Bissau

(G3) ldquomais aacutegua no joelhordquo Os participantes de G1 e G2 natildeo se situaram nesta posiccedilatildeo Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 registramos um caso de identificaccedilatildeo parcial feita

por uma estudante cabo-verdiana para a expressatildeo pocircr a boca no trombone a boca no trombone hellip

Do Grupo G2 registramos um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo por meio da reduccedilatildeo parcial da expressatildeo pocircr a boca no trombone por um estudante cabo-verdiano do sexo masculino ao responder ldquoboca no trombonerdquo no contexto no qual reproduz trechos do texto lido eacute falar a verdade pra todo mundo pra qualquer pra todo e qualquer pessoa sem receio de represarias eu acho que eacute isso

Respostas de informantes do sexo masculino e Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquoboca no trombonerdquo (b) tem esse ldquoboca no boca no trombonerdquo (c) ldquo a boca no trombonerdquo um advogado que atua na aacuterea Jorge

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Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta ldquoa boca no trombonerdquo

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 a maioria das estudantes cabo-verdianas identificou

a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa parcialmente correta com as seguintes respostas (a) eacutehellip com quantos paus faz uma canoa (b) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez (c) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem e (d) eacutehellip com quantos paus se faz uma canoa

Do Grupo G2 trecircs estudantes do sexo masculino de Cabo Verde identificaram parcialmente correta a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa ao anunciarem (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo (b) com quantos paus se faz uma canoa e (c) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute

Do Grupo G3 uma estudante de Guineacute-Bissau anunciou uma resposta considerada por noacutes como parcialmente correta ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino identificou assim vai hellip vai se arrepender ateacute o uacuteltimo o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedila hellip

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do Grupo G1 todas as estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos) (b) ((riso)) acho que

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e h matar cachorro a grito (c) rdquo((risos)) esse ldquomatar cachorro a gritordquo rdquo (d) matar cachorro a grito e (e) natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei

Do Grupo G2 todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) aqui a expressatildeo ldquomatar cachorro a gritordquo (c) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito (d) matar cachorro a grito e (e) ((o participante continua relendo trechos do texto em balbucios)) matar cachorro a grito

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito anunciando respostas como (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) eacute ldquomatar o cachorro a gritordquo (c) essa daqui ldquomatar cachorro a gritordquo e (d) sim assim tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito a saber (a) ((silecircncio)) natildeo identifiquei nenhuma hellip mas tem esse hellip matar cachorro a grito e h a atividade mais exercida pela maioria deles hellip (b) ldquo matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria delesrdquo (c) ldquomatar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Natildeo pagar mico Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico (a) ldquopagar micordquo (b) num sei a uacutenica coisa aqui seria mico ((riso)) ldquopagar micordquo e (c) uhn ((silecircncio)) ou pagar mico neacute

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico dando exemplos (a) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica significa quer dizer pagar mico hellip e h hellip pagar mico (b) ((pausa acentuada)) ldquomico nas escolasrdquo ldquonatildeo quer pagar micordquo (c) ldquopagar micordquo e (d) pagar mico

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Do Grupo G3 houve apenas um caso de uma estudante guineense identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico eacute muito engraccedilado neacute para quem na quer eacute pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentarrdquo

Nesta posiccedilatildeo natildeo houve ocorrecircncia para os participantes do G4 SOMATISMOS

Tirar aacutegua do joelho Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ((curto silecircncio)) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo (b) tirar mais aacutegua do joelho hellip que eu natildeo sei tirar mais aacutegua do joelho hellip acho que e h isso e (c) hum tirar mais aacutegua do joelho

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip (c) tirar aacutegua do joelho e (d) tirar aacutegua do joelho

Do Grupo G3 registramos um exemplo de identificaccedilatildeo correta da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho feita por uma estudante guineense ldquoessa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelhordquo

Respostas de trecircs participantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo (b) acho natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e (c) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 as estudantes cabo-verdianas em sua maioria

identificaram corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone (a) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (b) aqui ldquopocircs a boca no trombonerdquo ele soltou a verdade ((risos)) nem se ele resolveu

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espalhar dizer o que sabe neacute (c) botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone hellip (d) ((silecircncio)) hum a boca no trombone rdquo

Do Grupo G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino conseguiu identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone ((silecircncio)) pocircr a boca no trombonerdquo

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos exemplificar a seguir (a) ldquobotar a boca no tromboso5rdquo (b) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (c) pocircs a boca no trombone e (d) pocircs a bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos observar a seguir (a) ldquopocircs a BOca no trombonerdquo (b) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem (c) botar a boca no trombone e (d) expressatildeo idiomaacutetica pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio rdquo

5 As palavras trombeta trombone e tromboso que aparecem nas respostas dos informantes levam-nos agrave mesma etimologia todas vecircm de tromba (antigo instrumento de sopro) Provavelmente tromba venha de trompa com as seguintes acepccedilotildees (a) espeacutecie de trombeta de chifre ou metal retorcido com um uacutenico som muito forte e (b) trombeta primitiva de forma circular usada na caccedila As respostas dos informantes tecircm um fundo biacuteblico para a motivaccedilatildeo da expressatildeo Vaacuterias satildeo as passagens biacuteblicas com a palavra trombeta Para citar apenas uma Fala aos filhos de Israel dizendo No mecircs seacutetimo ao primeiro do mecircs tereis descanso memorial com sonido de trombetas santa convocaccedilatildeo (Leviacutetico 23 24)

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 uma uacutenica participante cabo-verdiana identificou

corretamente a expressatildeo tem aqui a Dilma vai saber com quanto paus se mata uma canoa hellip aqui hellip essa parte aqui hellip

Respostas de dois estudantes do sexo masculino de Cabo Verde (G2) (a) ldquoa partir do primeiro dia de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com Quantos paus se faz uma canoardquo uma expressatildeo assim uma giacuteria e (b) eacute a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip

Respostas de duas estudantes guineenses (G3) (a) eacute ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoardquo quer dizer reconhecer a realidade neacute de mandar uma outra coisa tambeacutem que estaacute explicando aqui em baixo que o Lula quer continuar soacute que o mandato dele o tempo dele jaacute acabou entatildeo ele quer mesmo a Dilma vivendo laacute ela vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo aleacutem de de de de como eacute que eu posso dizer Aleacutem de en-fren-tar a dificuldade porque mandar natildeo eacute faacutecil ela ela vai tambeacutem vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo eu acho que eacute (b) Eacutetem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa

Respostas da maioria dos estudantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoardquo neacute (b) ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz um canoardquo (c) Eacutea Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip e (d) Eacute vai saber quantos paus se faz uma canoa

Chutar o pau da barraca Respostas das estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ldquochutar o pau

da barracardquo (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) falta o povo chutar o pau da barraca (d) falta o povo chutar pau da barraca e (e) o povo chutar o pau da barraca

Respostas dos os estudantes cabo-verdianos do gecircnero masculino (G2) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barraca ((riso)) que destruindo sentido literal chutar ou destruir destruir a barracardquo (b) a expressatildeo que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem

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(c) ah ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (d) bom esse aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo e (e) chutar o pau da barraca

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ldquochutar o pau da barracardquo (b) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (c) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquo e (d) tem essa daqui falta o povo chutar o pau da barraca

Respostas da maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (b) ((silecircncio)) esse falta o povo chutar o pau da barraca (c) ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca e (d) ()ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Atribuiacutemos para as respostas dadas pelos informantes uma pontuaccedilatildeo identificaccedilatildeo correta 1 ponto identificaccedilatildeo parcialmente correta 2 pontos e identificaccedilatildeo correta 3 pontos A partir desta pontuaccedilatildeo pudemos calcular oss valores das meacutedias das seis expressotildees que variaram de 120 para natildeo pagar mico a 275 para chutar o pau da barraca A meacutedia das meacutedias foi

Os valores indicados nos caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo para o grau da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica indicam que a expressatildeo mais difiacutecil de ser identificada pelos informantes foi natildeo pagar mico com meacutedia 120

As expressotildees saber com quantos paus se faz uma canoa e tirar aacutegua do joelho foram com 209 e 207 consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees mais faacuteceis de serem identificadas foram chutar o pau da barraca com meacutedia 275 matar cachorro a grito com 267 e pocircr a boca no trombone com 242

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Graacutefico 1 - Meacutedias da Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica por expressatildeo idiomaacutetica

Tabela 4 - Meacutedias e Desvios Padratildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Meacutedia Desvio Padratildeo

Grau de identificaccedilatildeo

Zoomorfismos Matar cachorro a grito 267 077 Faacutecil

Natildeo pagar mico 120 063 Difiacutecil

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

207

092 Meacutedia

Pocircr a boca no trombone

242 079 Faacutecil

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

209 083 Meacutedia

267

12

207242

209

275

Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar mais aacutegua dojoelho

Pocircr a boca notrombone

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Chutar o pau da barraca Meacutedia das meacutedias

275 176

068 Faacutecil

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Quando o falante usa tais construccedilotildees demonstra que utilizou um conjunto lexical presente na sua memoacuteria e natildeo construiacutedo no momento do enunciado (Fulgecircncio 2008 p 77)

Para respondermos a questatildeo desta Tarefa 2 testamos as

seguintes hipoacuteteses (a) os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria (b) os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos e (c) os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

As respostas dos informantes sobre a memoacuteria fraseoloacutegica das seis expressotildees deste experimento foram convertidos em valores numa escala de 1 a 3 para que pudeacutessemos calcular as meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegica ficando assim categorizadas os comentaacuterios dos informantes em trecircs niacuteveis (a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 1 ponto (b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 2 pontos e (c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 3 pontos Em seguida apresentamos percentuais levando em conta o nuacutemero de informantes que participaram da tarefa

A partir da pontuaccedilatildeo dada agraves respostas (niacuteveis) dos informantes pudemos fazer um novo caacutelculo o do grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica estabelecendo entatildeo estes trecircs graus (a) menos familiares (b) familiares e mais familiares

Levando em conta os niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica e considerando o grau de memoacuteria fraseoloacutegica fizemos entatildeo a seleccedilatildeo final dos informantes a serem considerados na anaacutelise dos

175

dados nas tarefas 3 (Idiomaticidade Fraseoloacutegica) e 4 (Taacuteticas e Estrateacutegias de compreensatildeo)

Por fim para melhor avaliarmos as respostas dadas pelos informantes em crioulos cabo-verdiano e guineense fizemos um inventaacuterio colhido diretamente dos informantes depois da aplicaccedilatildeo da uacuteltima tarefa do experimento de modo a permitir cotejarmos suas respostas com as expectativas do pesquisador com relaccedilatildeo agrave forma canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica e as acepccedilotildees de idiomaticidade das seis expressotildees em liacutengua portuguesa (L2)

Uma vez aplicada as tarefas relacionadas com a identificaccedilatildeo e a memoacuteria fraseoloacutegias pareceu-nos muito importante discriminar as unidades jaacute conhecidas pelos informantes posto que estes resultados poderiam desvirtuar os resultados das Tarefas 3 e 4 relativos agrave verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica e agrave verificaccedilatildeo da frequecircncia de uso das estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica a partir dos dados fornecidos pelos participantes durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal Think Aloud

O objetivo desta tarefa foi submetermos os 20 participantes da pesquisa a um teste de memoacuteria fraseoloacutegica Afinal quando sabemos na condiccedilatildeo de nativos de uma liacutengua de cor ou de cor e salteado uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo podemos dizer se ela eacute opaca ou natildeo uma vez jaacute estaacute cristalizada em nossa memoacuteria de longo prazo portanto efetivamente memorizada guardada em bloco unitaacuterio e pronta para uso Por essa razatildeo centramos-nos nas expressotildees natildeo conhecidas ou natildeo lembradas nem decantadas semanticamente pelos informantes porque seguramente diratildeo se seratildeo julgadas como sendo de idiomaticidade forte (opacas) ou idiomaticidade fraca (transparentes)

Para assegurar maior confiabilidade desta tarefa recorremos ao meacutetodo conhecido por procedimento lembrarsaber desenvolvido por Tulving (1985) que consistiu em pedir aos participantes que declarassem se lembravam ou se haviam ouvido alguma vez antes da data do teste a expressatildeo idiomaacutetica objeto de apreciaccedilatildeo e na hipoacutetese de resposta afirmativa ou negativa (teste de reconhecimento de simnatildeo) teriam que imediatamente dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo evitando que colocassem em praacutetica suas taacuteticas preparatoacuterias (bottom-up) e adivinhatoacuterias (top-down) e de nossa parte apoacutes o anuacutencio dos informantes disponibilizaacutevamos as diversas

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formas de ajuda teacutecnica (SI) dentro do chamado Protocolo Verbal Think Aloud

Com esta tarefa como jaacute anunciamos anteriormente buscaacutevamos responder agrave Terceira Pergunta da nossa Pesquisa ou mais precisamente sabermos como variam as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para este estudo quanto ao seu grau de idiomaticidade intralinguiacutestica ou opacidade semacircntica especificamente de natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

A opacidade-transparecircncia depende como sabemos das caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas (metaacutefora literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) e dos conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) considerados nesta pesquisa como taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down respectivamente bastante diversas nas habilidades e competecircncias de cada falante

Mais adiante veremos que muitos falantes natildeo nativos diante de expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil surpreenderam-nos com suas respostas percepccedilotildees impressotildees inferecircncias enfim evidenciaramm estrateacutegias heuriacutesticas ou originalmente heteroacuteclitas Aliaacutes estudos recentes relacionados agrave compreensatildeo idiomaacutetica tecircm apontado que em tarefas contrastivas tem se constatado a transferecircncia bastante criativa de conhecimentos da liacutengua materna para a segunda liacutengua (DETRY 2009 p243)

Havemos tambeacutem de dizer que uma expressatildeo julgada transparente para um falante nativo natildeo eacute necessariamente transparente para um falante natildeo nativo Em geral quando falantes nativos identificam (grau de identificaccedilatildeo ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) uma expressatildeo idiomaacutetica a associa diretamente ao sentido figurado ou idiomaacutetico que armazena em sua memoacuteria de longo prazo mas natildeo sabemos ao certo se essa operaccedilatildeo acontece igualmente com falantes natildeo nativos

Certo eacute que operaccedilotildees cognitivas dependem sobretudo de como os falantes recordam como expressatildeo de sua liacutengua materna (L1) Ou seja na situaccedilatildeo em que falantes natildeo nativos declarassem conhecer e lembrar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a rigor natildeo poderiacuteamos falar em opacidade-transparecircncia jaacute que simplesmente nessa situaccedilatildeo armazenam-nas em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam Soacute podemos pois falar em opacidade-transparecircncia com

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relaccedilatildeo agraves expressotildees idiomaacuteticas somente para falantes sejam nativos ou natildeo nativos que natildeo as conhecem natildeo as lembram ou simplesmente os lexemas que as formam natildeo permitem a passagem de luz isto eacute bloqueiam nos falantes a passagem do literal para o abstrato ou do literal para o natildeo composicional sentido idiomaacutetico

A questatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica ou mais precisamente da memoacuteria de reconhecimento idiomaacutetico estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de frequecircncia de coapariccedilatildeo e de frequecircncia de uso uma vez que quanto mais usada a combinaccedilatildeo fixa pelos falantes mas consolidar-se-atildeo como expressotildees fixas que os falantes armazenaratildeo na memoacuteria (CORPAS PASTOR 1996 p21)

A fixaccedilatildeo fraseoloacutegica de que tratamos anteriormente eacute pois obra da memoacuteria idiomaacutetica a que o falante recorre para significar metaforicamente algo diferente do que a sentenccedila significa literalmente (SEARLE [1979] 2002 p121) sem a qual natildeo poderiacuteamos falar a rigor em expressatildeo fixa expressatildeo idiomaacutetica ou unidade fraseoloacutegica porque da noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica vatildeo emanar os traccedilos essenciais das unidades fraseoloacutegicas a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade

Trata-se para usarmos de um termo mais apropriado para este caso acima de fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica um traccedilo que juntamente com a fixaccedilatildeo formal eacute essencial a todas as Unidades Fraseoloacutegias (UFs) cujos participantes as recordam e as produzem em bloco como uma uacutenica unidade leacutexica e que uma vez fixada ou institucionalizada permaneceraacute na memoacuteria do falante como um todo indissoluacutevel e capaz de reproduzi-la quando a situaccedilatildeo o permitir (ALVARADO ORTEGA 2010 p28)

Para verificarmos o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa apoacutes a aplicaccedilatildeo da tarefa 1 (verificaccedilatildeo da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) perguntaacutevamos aos informantes se jaacute conheciam a expressatildeo testada antes da aplicaccedilatildeo da tarefa

As respostas dos informantes foram assim categorizadas por niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo nem sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 1 ponto

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b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar ou ter ouvido a expressatildeo mas natildeo sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 2 pontos

c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar e ter ouvido a expressatildeo e saber seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 3 pontos

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes

Na Tarefa 2 a expressatildeo matar cachorro a grito em que levamos

em conta principalmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (ou memoacuteria fraseoloacutegica) tal qual assinalada por Alvarado Ortega (2010 p28) 75 dos informantes declararam ao entrevistador durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que natildeo conheciam ou natildeo lembravam ou natildeo havia ouvido ou lido a expressatildeo antes do teste Neste teste as respostas dos informantes apontaram que 15 deles lembravam parcialmente desta expressatildeo idiomaacutetica As respostas dos informantes quanto ao sentido idiomaacutetico da referida expressatildeo confirmavam esta posiccedilatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico ficou com metade dos informantes que declararam ter conhecido ou ter ouvido a expressatildeo e a outra metade afirmou natildeo ter conhecimento ou ouvido antes a expressatildeo

No caso da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho depois da expressatildeo matar cachorro a grito foi a que obteve 60 os participantes que declararam natildeo conhecer ou natildeo ter ouvido a expressatildeo antes do teste contra 35 que afirmaram lembrar ou jaacute ter ouvido a expressatildeo antes em seu paiacutes por influecircncia em especial das novelas brasileiras

A expressatildeo pocircr a boca no trombone foi a que obteve 65 da recordaccedilatildeo pelos participantes restando 35 que alegaram natildeo conhecer a expressatildeo Facilmente os participantes encontraram em crioulo (L1) tanto os de Guineacute-Bissau como os de Cabo-Verde equivalentes que consideramos como corretas para nosso estudo

Para expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa os comentaacuterios iniciais do protocolo verbal apontam que 45 dos

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informantes declararam conhecer ou ter a expressatildeo idiomaacutetica antes principalmente em seu paiacutes de origem e os dados coletados parecem indicar que 10 dos informantes soacute conheciam parcialmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica da referida expressatildeo

Ao lado da expressatildeo matar cachorro a grito o teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica para chutar o pau da barraca indicou que 75 dos informantes declararam desconhecer ou natildeo lembrar da expressatildeo

Observemos a quadro abaixo

Tabela 5 - Verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica por percentual de falantes

CATEGORIAS

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

PONTUACcedilAtildeO

NS (1p) PS(2p) SA(3p)

ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito

75 00 10

Natildeo pagar mico 50 00 50

SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho 60 05 35

Pocircr a boca no trombone 35 00 65

BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

45 10 45

Chutar o pau da barraca

75 05 20

Legendas NC = Natildeo lembra nem ouviu a expressatildeo idiomaacutetica CN = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo sabe seu sentido CS = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica e sabe seu sentido

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Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito De G1 natildeo houve registro de respostas das informantes cabo-

verdianas que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes de Cabo Verde (G1) (a) eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs ((risos)) essas palavras esses textos aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia (b) natildeo e (c)natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei hellip

Respostas da totalidade das estudantes guineenses (G3) (a) nunca ouvi em Guineacute (b) ((silecircncio seguido de gesto negativo com a cabeccedila) (c) matar cachorro a grito natildeo (d) natildeo conheccedilo natildeo e (e) nunca ouvi essa expressatildeo de matar cachorro mas pode me dar um exemplo similar

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) e h hellip eu achei essa frase assim estranha hellip frase nova pra mim (b) ahoo cara pensa que o artista eacute rico neacuteaiacute como taacute dizendo aqui ldquo matar cachorro eacute atividade exercida por elesrdquoeacute mais faacutecil matar cachorro a giro do que ( as outras pessoas)matar cachorro a grito eacute que to achando aiacute neacutemas esta giacuteria ldquomatar cachorro a grito ldquo nunca ouvi falar (c) ((silecircncio)) natildeo ((riso)) eacute difiacutecil interpretar porque nunca nunca na verdade eu escutei (d) natildeo e (e) eu entendo assim

Natildeo pagar mico Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((riso

nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquohellip ((riso)) hellip e (b) eacute paga mico eacute sim conheccedilo paga uma mico eacute

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Respostas dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) uhn hellip conheccedilo hellip (b)jaacute (c) JAacute atraveacutes da miacutedia tambeacutem (d) pagar mico conhecia mas era porque passa sempre nas novelas laacute neacute hellip passa as novelas e essa expressatildeo acaba por escutar na televisatildeo e (e) conheccedilo tambeacutem por influecircncia da da de TV e de novela essas coisas mas acaba se usando a gente acaba usando tambeacutem laacute em Cabo Verde natildeo muito mas usa eacute isso jaacute ouvi pessoas usando isso aiacute rdquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((riso)) natildeo sei natildeo sei (b) humaqui reconheccedilocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo (c) ((silecircncio)) sei natildeo (d) eacute tipo eu jaacute ouvi mico mas natildeo sei exatamente o que significa eacute tipo uma uma pessoa que taacute fazendo uma coisa assim tipo qualquer besteira pagar mico natildeo sei exatamente isso natildeo eu nunca ouvi soacute o mico assim e (e) eacute porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacute por exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacute aiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) uhn

(b) natildeo hellip tambeacutem nunca escutei hellip ((riso nasal)) De G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-

verdianos do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas das estudantes guineenses (G3) (a) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar (b) eu natildeo sei se o vinho fica aqui no joelho o pessoa natildeo consegue andar natildeo sei eu acho que eacute mas eu natildeo conheccedilo essa palavra natildeo pra dizer a verdade eu natildeo conheccedilo (c) natildeo eu aprendi aqui natildeo (d) Natildeo conheccedilo natildeo e (e) natildeonem em Guineacute nem no BrasilParticipante entatildeo tem uma

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expressatildeo parece descarregar mesmo natildeo estou lembrando bemParticipante em crioulo eacute (missa) mas tambeacutem tem uma expressatildeo que eacute proveacuterbio mas natildeo estou lembrada tem o mesmo sentido dessa aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) natildeo (b) natildeo natildeo conhecia assim ((silecircncio)) eu eu vejo essa frase aqui estranho (c) hatilde (d) significa que tomar cerveja quente faz o cara mijar muito neacute e (e) eu conheccedilo aqui isso ocorre em parte porque o aacutelcool soacute que eu natildeo conheccedilo essa palavra aqui inibe inibe

Pocircr a boca no trombone De G1 e G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de quatro estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa PERdeu o JUIZO (b) conheccedilo natildeo natildeo ouvi natildeo (c) no Brasil eu natildeo sabia se existia tambeacutem essa aiacute assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (d) natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra expressatildeo eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha) quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assimrdquo

Respostas de dois estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae e (b) defender uma coisa

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((curto

silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra

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empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho() hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () e (b) natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente expressatildeo idiomaacuteticardquo

Resposta de um uacutenico estudante cabo-verdiano do sexo masculino (G2) essa aqui essa aqui eu jaacute eu jaacute conheccedilo hellip natildeo assim hellip a expressatildeo eu jaacute conheccedilo hellip no meu paiacutes natildeo se usa natildeo se usa pelo menos eu natildeo sei ()aqui eu jaacute aqui eu jaacute sabia hellip mas no meu paiacutes natildeo se usa essa expressatildeo hellip tem coisas que a gente usa hellip mas que no momento eu natildeo me lembro

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) Essa expressatildeo natildeo conheccedilo (ruiacutedo) (silecircncio) (ruiacutedo) e (c) por exemplo aqui estaacute dizendo espera aiacute ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedilardquo ter aceitado ser a candidata de Lula mas natildeo eacute isso natildeo eacute essa frase aqui ldquotudo o que ele quer eacute continuar mandandordquo

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) (hipoacutetese de negaccedilatildeo com gesto de cabeccedila) ((silecircncio)) natildeo hellip (b) eu natildeo eu nunca tinha visto assim hellip mas () como como e h que eu posso explicar hellip ((curto silecircncio)) tem outra expressatildeo que a gente usa laacute hellip natildeo sei se e h idecircntico hellip tipo hellip crianccedila numa gravidez assim hellip a matildee vai falar com a noiva assim hellip (tu vai ter que aprender com e h que a gente faz pra criar a crianccedila) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip natildeo sei se se identifica e (c)natildeo

Chutar o pau da barraca Respostas da maioria das estudantes cabo-verdianas (G1) (a)

ldquonatildeo hellip porque eacute um pouco diferente eacute uma frase que muda logo chama logo atenccedilatildeo das pessoas num texto assim eu acho que noacutes podemos e h por ser portuguecircs hellip cada num sei cada povo tem sua expressatildeo neacute entatildeo logo quando eu li e natildeo consegui entender

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logo o contexto do ldquofalta chutar o pau da barracardquo hellip chama logo a minha atenccedilatildeo por eu natildeo conseguir assimilar num texto desses como assim falta o povo chutar o pau da barraca eu natildeo ()L1 (deitar tudo pra altura) talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura L1(sabota tudo na espora) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) eacute hellip acho que e h hellip nunca ouvi falar nunca ouvi falar acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui num sei hellip nunca escutei natildeo hellip eu nunca escutei dizer falta o po e (d) nunca eacute isso natildeo conheccedilo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) natildeo natildeo natildeo sei natildeo conheccedilo natildeo natildeo esse aqui acho que aqui no Brasil nunca ouvi falar () existem vaacuterias expressotildees aqui no Brasil que que eu nunca ouvi falar daacute pra entender com certeza quando vocecirc claro chutar o pau da barraca se eu escutar soacute chutar o pau da barraca acho que natildeo saberei natildeo saberei dizer qual o sentido mas aliado a um contexto daacute pra entender a expressatildeo e (b) natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ((silecircncio demorado)) eu natildeo sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso Eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) tambeacutem natildeo (c) chutar o pau da barraca natildeo (risos) (silecircncio) eu acho assim porque isso essa expressatildeo eacute uma expressatildeo que o pessoal usa tipo uma giacuteria (ruiacutedo) que a pessoa utiliza por exemplo se pegar essa expressatildeo pra procurar no dicionaacuterio vai ser difiacutecil de encontrar eacute uma linguagem mesmo popular que as pessoas utilizam como giacuteria e (d) natildeo nunca nem aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquoaqui no Brasil tambeacutem eacute nunca () natildeo ouvi nunca (b) eacuteesse aqui eacute um pouco pesado mas eu acho que eacute puxapuxa para poder chegar laacutevendo Roberto Carlos cantandordquode preto cantando sambardquo isso aqui tambeacutemeacute coisa pesada heimrdquo povo chutar o pau da barracardquoessa aqui eacute pesada me

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pegou (c) ()eacutetem (d) ldquochutar o pau da barracardquo natildeo e (e) natildeo hellip pode dar um exemplo pra Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) ldquo((silecircncio)) eacute

exatamente o quecirc eu natildeo consigo associar nesse contexto eacute eu jaacute ouvi eu natildeo me lembro eacute uma amiga minha ela tava falando eacute tava acontecendo uma coisa assim ela falou essa frase mas eu natildeo consigo relacionar com o contextordquo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) essa expressatildeo jaacute ouvi no Brasil algumas vezes mas ainda natildeo peguei o sentidoaqui no Brasil e (b) difiacutecil esse aqui essa expressatildeo eu nunca tinha ouvido eacute a primeira vez que eu ouccedilo tambeacutem e mesmo pelo contexto fica um pouquinho mais complicadordquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de dois estudantes guineenses (G4) (a) ldquonatildeo natildeo natildeo conhecia helliprdquo (b) ldquo matar cachorro a grito hellip hum hellip eu natildeo sei hellip jaacute ouvi jaacute ouvi e bastante soacute no Brasilrdquo

Natildeo pagar mico De G1 G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e dos informantes guineenses do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes guineenses (G3) declararam natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo natildeo pagar mico com respostas sucintas como natildeo e natildeo sei seguidas geralmente de curto silecircncio

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SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 para esta expressatildeo surpreendentemente natildeo

houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Resposta de uma uacutenica estudante cabo-verdiana (G1) diz ter

conhecido ou ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone em seu paiacutes mas natildeo lembrava seu sentido idiomaacutetico natildeo mas a gente conhece pela influecircncia eacute

De G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos do sexo masculino e dos informantes guineenses em sua totalidade que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 G2 e G3 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar e utilizar em Guineacute a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo sabe o sentido idiomaacutetico

Chutar o pau da barraca De G1 G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos

informantes cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) apresentou um

niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ao encontrar um expressatildeo equivalente em L1 (crioulo cabo-verdiano) ldquoesse ldquomatar cachorro a gritordquo eu natildeo diria no meu paiacutes eu natildeo diria assim eacute tipo aparentemente parece que ele eacute rico mas no fundo no fundo acho que ele natildeo eacute rica natildeo deve taacute ralando oito dez aiacute taacute cosendo as meinhas taacute fazendo pezinho de meia pra poder dar certo ((riso))rdquo

De G2 um estudante cabo-verdiano declarou ter ouvido ou lembrado a expressatildeo matar cachorro a grito no Brasil e saber seu sentido idiomaacutetico ldquoconheccedilo aqui no Brasil tambeacutemrdquo

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Natildeo pagar mico Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) eacute hellip

conheccedilo hellip jaacute jaacute sabia (b) assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela eacute pela novela brasileira e outras costumeiras que o pessoal usa escuta tambeacutem fala na novela neacute aiacute ouvindo mico aiacute eu associei a que vergonha (c) eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num ()

Respostas duas estudantes guineenses (G3) (a) aprendi aqui no Brasil uma das primeiras expressotildees eu morava com uma brasileira laacute em Natal e ela sempre dizia ldquoah eu paguei micordquo porque assim pagar mico quando pagar mico natildeo eacute pagar uma coisa natildeo pagar mico eacute envergonhar mesmo passei vergonha ou seja fiquei vermelho neacute e (b) Eacute no Brasil

De G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes do sexo masculino cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo

essa frase aqui eu ouvi aqui jaacute (ir para casa de banho) ldquoeu vou fazer xixi vou pra casa de banhordquo (b) vou tirar aacutegua do joelho hellip (isabatra aacutegua do joelho) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) natildeo soacute os rapazes como toda a populaccedilatildeo cabo-verdiana aqui tatildeo usando algumas palavras brasileiras colocando hellip e (c) fazer xixi acho que natildeo tem natildeo ((risos)) fazer xixi (tona ar) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

Respostas de todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino(G2) (a) essa expressatildeo eu jaacute ouvi falar mas eu natildeo sei explicar ((riso)) assim poderia me explicar (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (c) conheccedilo essa expressatildeo no paiacutes e a gente usa a mesma expressatildeo com o mesmo significado (d) conheccedilo hellip natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e (e) jaacute jaacute ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa eu nunca ouvi assim pelo menos ateacute agora eu nunca ouvi uma mulher falando isso

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Respostas de quatro estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aqui no

Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute

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descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) (b) eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone ((silecircncio)) ((supostamente confirma com gestos))laacute em Cabo Verde se diz poe poe ((hipoacutetese de fala em crioulo)) espalhar pro mundo ueacutehellip falar hellip (c) ldquojaacute hellip em Cabo Verde e h hellip pocircs a boca no trombone hellip eu acho que e h hellip falar algum segredo helliprdquo e (d) eu conhecia laacute em Cabo Verde tem ldquoboca no trombonerdquo ldquocolocou boca no trombonerdquo ((vozes ao fundo)) ah mas se tem alguma em crioulo natildeo sei

Resposta da totalidade dos estudantes cabo-verdianos (G2) (a) conheci essa expressatildeo aqui tambeacutem (b) sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais () (c) aqui no Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) abocanha ((riso)) falou uma coisa que ele natildeo devia ter falado ele tirou algum segredo algum sigilo ele colocou aiacute soltou pra todo mundo ver colocou na internet colocou no jornal assim que eu entendo ((riso)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio (d) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem e (e) jaacute conhecia em Cabo Verde hellip mas botar a boca no trombone hellip acho que natildeo hellip seria hellip eacute

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o que a gente tem a gente tem mais influecircncia do brasileiro do que do portuguecircs mesmo ()

De G3 apenas uma estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta sucinta conheccedilo

Resposta de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) eu conheci aqui no crioulo tem tem mas tem mas natildeo e h eacute diferente eacute (empenha boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) empenhar boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) tipo a pessoa te apanhou a falar alguma coisa (b) eacute jaacute ouvi falar jaacute em Guineacute laacute eu escuto de vez em quando na raacutedio ldquoboca no trombonerdquo eacute e (c) botar a boca no trombone eu acho que eu conheccedilo neacute ()desde Guineacute que que aquela pessoa que vai no raacutedio na televisatildeo ou meio puacuteblico e fala as coisas neacute entatildeo a pessoa diz olha tira a boca do trombone porque natildeo eacute nem seu espaccedilo neacute ((riso)) eacute agraves vezes a pessoa diz assim (se vocecirc natildeo faz parte do carnaval eacute tire a boca se buca faze parte do carnaval tire boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) se vocecirc natildeo faz parte do carnaval tire a sua boca neacute

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo hellip

mesmo eacute de Portugal ou mesmo do Brasil hellip noacutes natildeo temos muito o haacutebito de dizer hellip mas jaacute hellip acabamos por ouvir muito hellip entatildeo daacute -se a repeticcedilatildeo por exemplo eacute noacutes temos muita influecircncia da cultura brasileira hellip entatildeo hellip tanto que somos habituados a ver as mesmas novelas daqui hellip entatildeo acabamos acabamos por ouvir a maior parte do que os brasileiros dizem eacute hellip das expressotildees hellip aiacute acabamos por conhecer e saber o significado de algumas (b) aqui que eu conheci nas novelas hellip eu ouvia nas novelas acho que eu ouvi laacute em Cabo Verde na televisatildeo e (c) eu acho que eu conheccedilo algo parecido hellip seria hellip e h (ele taacute deixa atrevimento) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip ((riso)) ou (ele taacute afronta) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip algo do gecircnero hellip acho que e h hellip que eacute do gecircnero hellip eu diria que e h isso hellip ((riso nasal)) hellip natildeo sei hellip ((riso nasal))

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Respostas da maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) natildeo conheci aqui no Brasil (b) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute eacute exatamente eu sempre sempre escutei tambeacutem com quantos paus se faz uma canoa (c) natildeo se use muito eu jaacute tinha ouvido falar laacute em Cabo Verde mas se natildeo me engano eu jaacute ouvi jaacute ouvi mas por assistir TV e (d)jaacute em Portugal tambeacutem se usa

Do Grupo G3 uma uacutenica estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa anunciando a seguinte resposta eu conheccedilo mas natildeo dessa forma eacute espera aiacute quer dizer quantos paus se faz uma canoa eu conheccedilo mas eu esqueci hunrrum significa que vocecirc vai ver que a coisa natildeo eacute faacutecil mas natildeo estou lembrando natildeordquo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa e sabe seu sentido idiomaacutetico sim mas soacute que tem uma outra forma por exemplo por exemplo (ningueacutem pode bater a palma com uma matildeo soacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) entendeu

Chutar o pau da barraca Do Grupo GI apenas uma das estudantes cabo-verdianas

declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo chutar o pau da barraca o que comprovamos antes da ajuda teacutecnica aqui eu soacute () eacute laacute no meu paiacutes eu tipo diria eu quero ver ateacute onde vai isso eu quero ver ateacute onde daacute pra aguentar depois de nada acaba tudo e tudo laacute prefere cair tudo pro chatildeo neacute ((riso)) eu diria assim mas a expressatildeo ldquochutar o pau da barracardquo natildeo ((barulho de muacutesica ao fundo)) ldquochutar o pau da barraca seria uma expressatildeo de vocecircs brasileiros que eu vejo meus minhas colegas usando ldquorapaz essa faculdade jaacute taacute por aqui daqui a pouco eu vou chutar o pau da barraca a casa vai cair vamos simborardquo ((riso))rdquo

Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) por influecircncia eacute e chutar o pau da barraca quer dizer que que o povo devia jogar isso todo mundo devia discutir isso porque natildeo taacute certo aiacute a gente devia com eacute que eu a gente devia procurar explodir esse assunto pra todo mundo ficar tomar tomar conhecimento disso porque se natildeo taacute certo todo mundo deve saber disso acho que basicamente eacute isso (b) a expressatildeo

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que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem no Brasil eu jaacute tinha ouvido laacute em Cabo Verde mas soacute que da mesma forma da outra () e (c) natildeo foi aqui

Do Grupo G4 formado por estudantes guineenses do sexo masculino apenas um declarou ter ouvido chutar o pau da barraca sem que pudesse atribuir agrave expressatildeo seu sentido idiomaacutetico

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Segundo Corpas Pastor (1996 p22) as expressotildees idiomaacuteticas

funcionam como unidades do leacutexico mental isto eacute armazenam-se e se satildeo utilizadas pelos falantes como entidades completas e maior ou menor grau

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo das meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegicas todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel altode memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria idiomaacutetica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo transparente

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa

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entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas no Teste de

Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica variaram de 135 para matar cachorro a grito a 225 para a expressatildeo pocircr a boca no trombone A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 180

A partir destes valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas estabelecemos os seguintes graus de verificaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica menos familiares familiares e mais familiares

Trecircs expressotildees foram consideradas menos familiares para os participantes matar cachorro a grito com 135 chutar o pau da barraca com 145 e tirar aacutegua do joelho 175

As expressotildees consideradas familiares foram saber com quantos paus se faz uma canoa e pagar mico ambas com 200

A expressatildeo mais familiar para os participantes foi pocircr a boca no trombone com 225

Graacutefico 2 - Meacutedias da Memoacuteria Fraseoloacutegica por expressatildeo

idiomaacutetica

135

2

175225

2

145

Memoacuteria Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar aacutegua dojoelho

194

Tabela 6 - Graus da memoacuteria fraseoloacutegica por expressatildeo

CATEGORIAS EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

MEacuteDIA DESVIO GRAU DE

FAMILIARIDADE

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

135 067 Menos familiar

Natildeo pagar mico 200 102 Familiar

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

175 097 Menos familiar

Pocircr a boca no trombone

225 097 Mais familiar

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

200 097 Familiar

Chutar o pau da barraca

145 082 Menos familiar

Meacutedia das Meacutedias

18

0

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense Ao final da tarefa de verificaccedilatildeo da memoacuteria solicitamos de

alguns informantes mais cooperativos que nos dessem sempre que possiacutevel a equivalecircncia das seis expressotildees idiomaacuteticas (dos zoomorfismos dois somatismos e dois botanismos) em crioulo (cabo-verdiano e guineense) bem como sua respectiva paraacutefrase definitoacuteria para que pudeacutessemos melhor avaliar as respostas dos informantes quanto agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) e agrave idiomaticidade semacircntica e cotejarmos informaccedilotildees de L1 relacionadas agrave L2 (portuguecircs na variante brasileira) quando os mesmos nos protocolos verbais faziam referecircncia aos seus conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (CP) ou davam exemplos em suas liacutenguas maternas

Apesar de serem de paiacuteses africanos lusoacutefonos haacute uma flagrante variedade diatoacutepica em cada paiacutes o que ao certo repercute na fala e

195

na escrita em L1 (diversos crioulos cabo-verdianos e guineenses) e da mesma forma no Portuguecircs L2 sempre com as interferecircncias morfoloacutegicas e sintaacuteticas de suas liacutenguas crioulas

Selecionamos estas contribuiccedilotildees dos informantes

Quadro 1 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo cabo-verdiano

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sem kau bai

bull Mata katchor a grito

bull Desesperado

Natildeo pagar mico

Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Da burgonha

bull Passa vergonha

bull Assumi consequecircncia

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull Da ku liacutengua na denti linguara

bull Poi boka na mundo

bull Papiadera linguarada

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Tra agu di duedju

bull Fazi xixi

bull Tra agua de joelho ou xixi

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Ka liga

bull Faze kusas sem conta riba ka importa

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Mostra quenha ki ta kanta galu

bull Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa

196

Quadro 2 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo guineense

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sufridor ki ta padi fidalgu

bull Sta disisperadu ku algum kussa

bull Alguin desesperada

Pagar mico Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Y passa Borgonha ou Bu purba liti bu pidi baka

bull Vivi um situaccedilon di constrangimentu passa borgonha

bull Passa vergonha

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull I pui boca na tromboni paacute tcholoacutela

bull Konta tudu djintis di ke ku aconteci

bull Reclama ou papia um algo e faci protesto

bull

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Inaacute myccedila ou Ibay waga iagu na quintal

bull Bai missa fassi chichi

bull Micha

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros son ora ki tene mandita

bull Bu kA nteressa di nada kil ku na sedu pa i sedu

197

bull Randja confusatildeo se midi consequecircncias

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Djugude ka bai fanadu ma i kunsi udju ou na mostral Cuma Amy ki si lambe

bull Pregal um partidadal kantigu

bull Sina algueacutem pa i ka fassi cusa errado mais

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Es de aceptacioacuten general que la idiomaticidad es gradual de modo que unos fraseologismos son maacutes idiomaacuteticos que otros (PAMIES 2007 p 178)

Na tarefa 3 testamos as seguintes hipoacuteteses (a) as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(b) as expressotildees especiais que designam nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(c) as expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 ou em L2 (na vertente luso-africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(d) o conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

198

(e) o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

Ao longo desta seccedilatildeo descrevemos a partir das respostas dos informantes trecircs niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica baixo meacutedio e alto Em seguida atribuiacutemos uma pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes numa escala de 1 a 3 para em seguida calcular as meacutedias e os desvios padratildeo das expressotildees idiomaacuteticas e classificaacute-las as segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica fraca doble e forte

A classificaccedilatildeo quanto ao grau de idiomaticidade fraseoloacutegica que apresentamos ao final desta seccedilatildeo soacute foi feita apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal isto eacute de os informantes recorreram a taacuteticas e a estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando ou natildeo acessarem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees idiomaacuteticas do experimento

No campo fraseoloacutegico haacute uma relaccedilatildeo muito estreita entre idiomaticidade e memoacuteria Certa feita o ex-presidente Lula da Silva ao se referir agraves criacuteticas de seus opositores ao final de seu governo disse Quem for esperar que vou ficar sentado em Brasiacutelia pode tirar o cavalo da chuva porque vamos inaugurar obra este ano in Caderno Poliacutetica em seccedilatildeo Poder Folha de Satildeo Paulo 03022010 ) o que nos parece liacutecito supor que a expressatildeo idiomaacutetica tirar cavalinho da chuva empregada pelo ex-presidente aliado a um sistema de regras e paracircmetros foi um conjunto cristalizado e memorizado pronto para empregado no discurso poliacutetico do ex-presidente

Fulgecircncio (2008 p23) diz que a memoacuteria dos falantes atua na liacutengua natildeo somente na sua estrutura formal ou no que ela chama de esqueletos formais e das palavras isoladas mas tambeacutem no armazenamento de sequecircncias de palavras decoradas por inteiro

Consoante a este olhar psicolinguiacutestico de Fulgecircncio (2008) sobre o fenocircmeno da idiomaticidade primeiramente consideramos para a anaacutelise de dados desta nova Tarefa os resultados contidos na Tarefa anterior relativa ao Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Nesta tarefa descrevemos primeiramente as principais respostas dos informantes selecionados a partir do que denominamos de niacuteveis de Idiomaticidade fraseoloacutegica recorrendo agraves declaraccedilotildees pessoais dos informantes que natildeo lembravam nem sabiam o sentido

199

idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por NL) ou que lembravam mas natildeo sabiam o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por LN)

Foi entatildeo agregando os dados da memoacuteria fraseoloacutegica com os dados da idiomaticidade idiomaacutetica que o calculamos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica natildeo levando assim em conta em anaacutelise respostas dos participantes que declararam lembrar e conhecer o significado idiomaacutetico da expressatildeo (no Corpus Afri codificado como LS) Estes desconsiderados por lembrarem ou terem ouvido a expressatildeo e saberem seu sentido idiomaacutetico portanto consideram-na familiar e nesse caso evidentemente natildeo poderiacuteamos falar em idiomaticidade forte doble ou fraca ou em opacidade semacircntica

Em substacircncia no primeiro momento apresentamos as respostas dos informantes atraveacutes de trecircs niacuteveis (baixo meacutedio alto) de idiomaticidade fraseoloacutegica depois pontuamos cada destes niacuteveis numa escala de 1 a 3 para finalmente calcularmos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (ou intralinguiacutestica6) na seguinte escala forte doble e fraca

Na tabela 7 logo abaixo estatildeo discriminados os informantes que participaram desta tarefa Tabela 7 - Verificaccedilatildeo da Memoacuteria Fraseoloacutegica

Categorias Expressotildees idiomaacuteticas

Niacuteveis de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Baixo Meacutedio Alto7

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

13578111213 14 15 1617 181920

269 410

6 Falamos em idiomaticidade intralinguiacutestica por serem os informantes falantes lusoacutefonos sendo que a liacutengua portuguesa eacute L2 portanto sua segunda liacutengua e as liacutenguas crioulas suas liacutenguas maternas (L1) 7 Os nuacutemeros que representam os informantes para cada expressatildeo foram neste niacutevel tachados porque natildeo seratildeo considerados no caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

200

Pagar mico 131114151617 181920

24567891012 13

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

3411 121314 151617 18 1920

10 1256789

Pocircr a boca no trombone

2111213141819

13456789 10151617 20

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

14101113 14171820

1519 235 678 91216

Chutar o pau da barraca

12356711 121314 1617 1819 20

15 48910

O nuacutemero de informantes selecionados varia de item para item

Em termos de quantitativos os participantes considerados a partir da anaacutelise dos dados que fizemos na Tarefa de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica ficaram assim distribuiacutedos

(a) Matar cachorro a grito 15 participantes com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica e 3 participantes com meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(b) Pagar mico 10 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(c) Tirar aacutegua do joelho 12 participantes com niacutevel baixo e 1 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(d) Pocircr a boca no trombone 7 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(e) Saber com quantos paus se faz uma canoa 9 com niacutevel baixo e 2 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(f) Chutar o pau da barraca 15 de niacutevel baixo e 1 de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

201

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo desta tarefa todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees adiante dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo opaca

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Como dissemos a partir das respostas dos participantes

estabelecemos trecircs niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica (a) niacutevel de baixo Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por NL) (b) niacutevel meacutedio de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LN) e (c) niacutevel alto de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LS)

Estabelecidos estes niacuteveis acima a partir das respostas dos informantes quanto agrave idiomaticidade ou ao sentido global da expressatildeo idiomaacutetica em seu paiacutes de origem (L1) ou em outro paiacutes

202

lusoacutefono (Brasil Portugual etc) pudemos calcular as meacutedias do grau da idiomaticidade fraseoloacutegica

No niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica estavam situados os informantes que declararam durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud natildeo saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo ou dar uma resposta considerada incorreta No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo IC ( Incorreto)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 natildeo reconhecer idiomaticamente a expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta incorreta e ainda durante o protocolo verbal evoluir para uma posiccedilatildeo parcialmente correta ou correta era considerada a segunda informaccedilatildeo (correta) e natildeo a primeira dada (incorreta)

Para posterior caacutelculo das meacutedias do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 1 ponto numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica encontram-se os informantes que atribuiacuteram um sentido literal agrave expressatildeo idiomaacutetica resposta considerada parcialmente correta por ser possiacutevel ou viaacutevel dentro de uma ambiguidade estrutural comum agraves locuccedilotildees verbais No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo PC (parcialmente correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 reconhecer unicamente o sentido literal da expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta parcialmente correta (sentido literal) e ainda durante o protocolo verbal apresentar uma resposta incorreta ou correta era considerada ou prevalecia para efeito de codificaccedilatildeo a resposta considerada parcialmente correta sobre a incorreta e a resposta correta prevalecia sobre a parcialmente correta ou incorreta8

8 Nossa metodologia experimental permitiu-nos considerar no diaacutelogo direto com o informante natildeo apenas uma resposta mas vaacuterias respostas agrave questatildeo proposta permitindo que o mesmo tivesse consciecircncia de possiacuteveis erros acidentais ao falar (lapsus linguae) tecnicamente os ajudando a melhorar sua tomada de decisotildees e evitando de outra maneira a cometer erro de desconto parar de buscar outras

203

Para posterior caacutelculo das meacutedias da verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel meacutedio valeram 2 pontos numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica estavam posicionados os informantes que anunciaram corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2 ou L1 No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo CO (correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava o sentido idiomaacutetico atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2

Para posterior caacutelculo das meacutedias de verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 3 pontos numa escala de 1 a 3 pontos Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica

Em se tratando de niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica apontaremos as respostas dos participantes classificados em niacuteveis baixo meacutedio e difiacutecil de acordo com acertos e ou erros do sentido idiomaacutetico

A essas respostas dos informantes foram atribuiacutedos uma pontuaccedilatildeo de 1 a 3 que serviu para o caacutelculo da meacutedia e a partir dessa pudemos fazer a verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Agrave medida do possiacutevel procuramos correlacionar os niacuteveis de idiomaticidade com os niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 depois do teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica

ficaram considerados para o teste de idiomaticidade fraseoloacutegica

possibilidades de respostas agrave questatildeo proposta pelo experimentador (STERNBERG 2008 p436-441)

204

quatro estudantes cabo-verdianas que declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo matar cachorro a grito ou lembravam mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico

O que nos chamou a atenccedilatildeo eacute que todos os participantes deste grupo identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito e terem recorrido a vaacuterias taacuteticas bottom-up e top-dow no esforccedilo de compreender a expressatildeo

Apesar da competecircncia da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e as habilidades para o emprego de estrateacutegias cognitivas as informantes do Grupo G1 natildeo conseguiram chegar agrave idiomaticidade das expressotildees anunciando as seguintes respostas aqui extraiacutedas do Protocolo Verbal (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos)) (b) ((curto silecircncio)) hum hellip ((riso nasal)) natildeo eu tenho uma noccedilatildeo hellip mas eu natildeo sei explicar esse tem aqui que normalmente as pessoas dizem que os artistas neacute satildeo ricos porque saiu uma reportagem que um artista e h risco rico hellip sendo que a maioria deles mata cachorro a grito hellip e h hellip que a maioria deles e h tipo natildeo sei hellip eu acho que quer dizer que a maioria deles natildeo presta hellip natildeo sei hellip alguma coisa assim hellip tem uma coisa assim natildeo faz nada assim tatildeo hellip ((curto silecircncio)) natildeo sei hellip tenho alguma ideia hellip mas eu natildeo sei dizer ah hellip entendi hellip na verdade a maioria deles vive dando duro hellip e h isso hellip e (c) matar e h fazer uma coisa sem ter certeza sem ter certeza hellip ((a participante repete em coro com o entrevistador)) ((riso)) me pegou hellip viu hellip ((riso)) acho que no sentido a frase matar cachorro a grito e h uma coisa fazer uma coisa que natildeo tem certeza hellip

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

No G3 a despeito de todos os participantes terem identificado corretamente a expressatildeo mas suas respostas foram consideradas incorretas quanto agrave idiomaticidade da expressatildeo matar cachorro a grito (a) Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos

205

de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo) (b) ldquomatar o cachorro a gritordquo eacute pra mim significa uma uma coisa assim famosa que todo mundo escuta no sentido aqui ela diz que todo mundo acha que os artistas tecircm dinheiro eacute satildeo pessoas rico porque qualquer coisa de de artista essas pessoas famoso o mundo o mundo ((tossiu)) satildeo divulgadas na tv o povo fala tudo e acham tambeacutem que grita eacute uma coisa real assim[ldquomatar o cachorro a grito] uma coisa expandida assim (c) que natildeo eacute seu[ natildeo sei se estou certa hunrrum passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute [ passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute] (d) sim assim tem aqui que as pessoas pensam que os artistas satildeo ricos e tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmenterdquo artista natildeo pode ficar rico sem cantar ou sem esforccedilo sem fazer o seu trabalho tipo o escritor vocecirc vai ter que escrever muito publicar bons livros para ganhar dinheiro e artista vocecirc vai ter que ter todas as habilidades de apresentar e chamar atenccedilatildeo ao puacuteblico eu acho que eacute isso tem que esforccedilar tem que mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro [mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro] e (e) o que estou entendendo eacute como posso expressar assim como os africanos quando chegaram aqui no Brasil aiacute vocecirc por exemplo os que vem no na escola privada aiacute vocecirc tem que laacute botar para poder atingir seus objetivos se nao fez isso vocecirc natildeo vai conseguir estudar aiacute vocecirc tem que trabalhar um ou dois um ou dois trabalhos pra poder sustentar sua faculdade e sustentar sua estadia no Brasil natildeo sei acho que eacute isso que queria dizerrdquo

Do G4 trecircs informantes conseguiram identificar corretamente a expressatildeo mas revelaram desconhecer seu sentido idiomaacutetico dando respostas como (a) deixa eu comeccedilar aqui(leitura em voz baixa do texto em anaacutelise)hum rum ldquomatar cachorro a gritordquo eu acho que eacute coisas que as pessoas pegam pra eacutepraque as pessoas pegam pra eacute para aplicar pensando que eacute como assimeu to to tirando aqui por exemplo aqui taacute dizendo de um famoso e quando todo mundo ver um cantor ou um autor todo mundo pensa que eacute ricoentatildeo eacute uma

206

coisa falsa pode natildeo ser rico mas eacute famoso e todo mundo fala soacute neletodo mundo dizendo que ele eacute assim ele eacute assimentatildeo isso aqui pra mim significa ldquomatar cachorro a gritordquomatando vocecirc assimgritando e do mesmo jeito que eu to pensandocomo um famosoele eacute famoso e vocecirc fica soacutevocecirc pensa que ele eacute daquele jeitoque eacute ricofaz tudomas as vezes natildeo eacute soacute que pelo fato de ser famosordquo (b) natildeo num ()matar a populaccedilatildeo de fome neacute ((o entrevistador fala concomitantemente ao participante no entanto a fala do participante sobressai impedindo a compreensatildeo da fala do entrevistador)) matar a populaccedilatildeo de fome o pessoal ((silecircncio)) eu entendo assim (c) eacute daacute pra falar um pouquinho porque acho que aqui ele vai mostrar o quecirc tipo um brasileiro com um salaacuterio mata cachorro a grito tipo acho que o salaacuterio tambeacutem pode natildeo ser suficiente neacute e natildeo sendo aquele juramento eu penso assim ah matar cachorro entatildeo isso grita neacute natildeo confun tipo natildeo confunde com com matar cachorro entatildeo lamento nessa aiacute falta um tipo lamentar neacute ((riso)) faz algo mas ele taacute fazendo esse algo mas sem sem confir sem confirmidade com o ato que ele taacute fazendo neacute porque por exemplo trabalho pra receber recebe mas o trabalho que eu to fazendo eacute um trabalho que nunca compensa com meu salaacuterio rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados nesse niacutevel os representantes do G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Duas representantes do G3 natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico nem souberam depois de vaacuterias tentativas chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo como podemos atestar em suas respostas (a) porque ( ) da agecircncia exemplo do jovem que quer viajar natildeo vai querer perder vai fazer preccedilo baixo mas isso natildeo significa que vai ter boa viagem isso natildeo significa tambeacutem que ele natildeo vai ganhar nada pode ter tipo

207

promoccedilotildees e eles vatildeo dar pra vocecircs mas pode ter consequecircncia na viagem pode ter muitas coisas na viagem que vocecirc natildeo pode natildeo vai poder chegar ao fim natildeo natildeo me ajuda natildeo eu to procurando exemplo para dar pra tentar explicar pagar mico eacute tipo assim vocecirc natildeo estaacute preparada para algum tipo uma festa ((a informante pronuncia fecircsta)) eu sei de festa desde a semana passada eu natildeo preparei aiacute eu vou esperar o dia da festa pra para ir para se virar e conseguir dinheiro pra estaacute laacute um exemplo acho que isso eacute certo eu natildeo tenho eu sei das coisas mas eu natildeo me preparei tipo Jesus vai chegar e eu natildeo estou preparada quando Jesus chegar eu vou dizer ldquoah Senhor eu natildeo posso ir porque eu natildeo estou preparada ((risos da informante)) natildeovocecirc tem que ir entendeu (b) ldquoa boa viagemrdquo deixa eu meu entender ldquoboa viagemrdquo ldquoembarcou comrdquo ldquoagecircnciardquo natildeo sei essa ldquoboa viagemrdquo natildeo sei pra mim como taacute referendo aos estudantes aqui neacute natildeo significa se a pessoa contatar empresa esse CNPJ significa que resolver tudo pra mim natildeo sei ah mico pagar macaco pagar um um um valor ma ma natildeo ldquopagar mico ldquopagar micordquo mico pode ser a metade do valorpagar a metade do valorrdquo

Quatro representantes do G4 natildeo apenas identificaram a expressatildeo natildeo pagar mico como tambeacutem natildeo conseguiram em sua totalidade chegar ao sentido idiomaacutetica da expressatildeo (a) ((riso)) natildeo sei natildeo seiacho que eacute vocecirc vocecirc costuma levar ela na vocecirc costuma levar ela natildeo entatildeo nesse sentido ela jaacute taacute na altura de natildeo precisa mais ser acompanhada pelo pelo pelo pai neacute senatildeo vai criar o custo mais do que vai criar mais custo neacute porque vocecirc paga pra ela e paga pra vocecirc neacute mas acho que eacute meio confuso porque depende se vocecirc tiver um carro neacute ((riso)) se vocecirc natildeo tiver carro eu acho que vai custar mais mas natildeo sei acho que eacute mais ou menos eu entendo assim (b) ((silecircncio)) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem ((silecircncio)) sei natildeo (c) ((silecircncio)) natildeo natildeo hum essa preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem como eacute que eu posso dizer eacute tipo frescura a pessoa ficar fazendo frescura assim com eacute brincar com a pessoa eacute tirar onda com a pessoa e (d) natildeo repita aiacute repita ((riso)) vai ser dividido com os colegas neacute ldquo preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio e ela significa o quecirc eacute

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porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacutepor exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacuteaiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem pagar a viagem deles neacutequando taacute viajando com elesporque assim ldquo para quem natildeo quer pagar mico na escolha e um pacote de viagemrdquo eacute pagar com ele mesmoeacute mais ou menos assimrdquo

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Das estudantes do G1 uma representante de Cabo-Verde

apontou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) ((curto silecircncio)) seria mais complicado ah associar eu associaria uma cerveja quente beber uma cerveja quente eacute muito difiacutecil eacute muito ruim natildeo eacute gostoso eacute cansativo eacute eacute pra mim eu associaria a algo cansativo eacute bebida seria uma expressatildeo cansativa eacute beber uma bebida quente vocecirc pode ficar provavelmente mais cansado pega um (drag wis) ((hipoacutetese do que se houve))mais raacutepido ter dificuldade de andar eacute mais cansativo assim num sei entendo que eacute isso ((estalos ao fundo))rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo

Do G3 apenas uma estudante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico configurando baixo niacutevel (a) ldquoah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacuterdquo

Do G4 dois participantes apresentaram respostas incorretas (a) eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico(risos) mas essa aqui natildeo taacute referindo mesmo a a umeacute essa coisa taacute querendo tirar um exemplo de outra coisa aiacute e eacute isso que eu to procurandoporque eu sei que quando vocecirc beber vocecirc fica assim querendo ir ao banheiro para poder voltar mas aiacute eu natildeo seisoacute que aiacute eu natildeo saiumas aiacute refrigerante talvez sim mas eacute algo que fica na cabeccedila vocecirc fica embriagadomas o sentido dessa aqui eacute outra coisaeu to procurandopois prontovamos continuar outra coisa (b)

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sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute sim pra mim tambeacutem vocecirc a gente pode pensar assim libertar de uma situaccedilatildeo libertar de uma situaccedilatildeo eacute por exemplo vocecirc tava chateado vocecirc tava com preocupaccedilatildeo problemas assim entendeu vocecirc podia escolher um jeito por exemplo laacute na sua casa vocecirc pode ter um problema assim com a famiacutelia vocecirc fica chateado vocecirc diz a melhor forma eacute sair de casa procurar a casa de um amigo pra ficar com seu amigo laacute conversar um pouco pra esquecer o problema entatildeo nesse sentido tambeacutem pode ser tirar aacutegua do joelho ((riso))rdquo

Pocircr a boca no trombone Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo pocircr a boca no trombone

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

D G3 apenas uma informante natildeo identificou corretamente a expressatildeo nem o sentido idiomaacutetico de pocircr a boca no trombone ao responder (a) CRIMES no municiacutepio natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa perdeu o juizo

Do G4 um informante conseguiu identificar corretamente a expressatildeo mas ao atribuir sentido agrave expressatildeo teve sua resposta considerada incorreta (a) ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone por exemplo defendeu um crime neacute defender uma coisardquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos grupos G1 G2 e G3 nenhum participante declarou incorreto o

sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa

Do G4 apenas um participante mesmo tendo identificado a expressatildeo declarou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) encontro a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoa neacute sim (barulho cadeira sendo arrastada) eacute porque eacuteque por exemplo o Brasil tem muitos estados neacutetem muitos (poliacuteticos)

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impressionados neacuteos governantesentatildeo ele quis dizer que tem que ser firmetem que saber com quantos paus se faz uma canoa o pau tem que ser firmese natildeo vai aiacutevai chegar ateacute na cabeccedila dele mesmo o mesmo sentidordquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam incorretamente o sentido

idiomaacutetico (a) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo mandar todos os inocentes pra cadeia e deixar livres os culpados natildeo fazer a justiccedila como deve ser falta o povo chutar o pau da barraca natildeo eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado eacute daacute a ideia de desistir (b)falta o povo chutar pau da barraca ((sussurros incompreensiacuteveis da participante aparentemente analisando alguma passagem do texto)) num sei hellip ((riso)) falta o povo chutar barra o pau da barraca tipo o que isso tem a ver com Cazuza e h tipo um que eles tatildeo fazendo aqui tipo uma comparaccedilatildeo de como taacute o mundo da muacutesica negoacutecio de muacutesica hoje hellip num sei hellip porque tem aqui ldquoqueria ver Roberto Carlos de pretordquo hellip como ele taacute sempre de branco cantando outro tipo de muacutesica que natildeo e h samba hellip e h tipo num sei hellip falta o povo chutar o pau da barraca que e h que o povo agora taacute assim hellip num sei hellip num sei explicar isso hellip e h tipo hellip desistir hellip sei laacute hellip comeccedila fazer uma coisa assim direito e depois o povo chutar o pau da barraca nunca ouvi falar hellip ((balbucios)) ((silecircncio)) hum hellip no sentido hellip acho que o povo chutar o pau com da barraca e h conhecer outras pessoas outros () acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo chutar o pau da barraca

Do G3 duas participantes declararam incorreto o sentido idiomaacutetico (a) ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo sim exemplo tipo o Cid que pegou o dinheiro e deu para Ivete e agora ele vai pagar chutou o pau da barraca ele natildeo sabia as consequecircncias tirou o dinheiro do povo neacute agora vai pagar pelo bolso dele mesmo ((risos dos dois)) eu acho natildeo sei mas

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eu acho que tocirc certa eacute isso vai depender dos seus atos ((risos)) mas eu tenho certeza que eacute sim ((risos da informante)) (b) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquoGI ndash ICParticipante dar uma contrapartida um comeccedilo assim dar um comeccedilo eacute comeccedilar uma coisa assim no meu entender eacute assim rdquo

Do G4 um participante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico (a) falta o povo chutar o pau da barraca ldquosinto falta do Cazuza do Nei Mato Grosso acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano falta o povo chutar o pau da barracardquoeacute cada um fugindo dodo quer dizer eacuteo que todo mundo tava querendo se for eu vou passar na frenteentatildeo era assim que todo mundo queria em ir ver opor exemplo Roberto Carlos taacute dentro da barracaeu posso falar assimaiacute todo mundo queriam veraiacute pode ser como um assumirnatildeo eu vou controlar o grupo vocecirc eacute o responsaacutevel para controlar o grupo mas quando chegar muita gente e ele cansado acaba por natildeo querer mais e tomaram a responsabilidade aiacute fica querendo desistire esse Caetano[ ( leitura em voz baixo de texto em anaacutelise)]eacute que o sentido desse aqui eu tenho que ver quando comeccedilou essa histoacuteria todaeu jaacute tenho o sentido jaacute tenho uma ideia mas aqui eacute falta o povo desistir mesmodesistir de de concorrer para entrar para concorrer querer entrar laacute pra ver o Roberto Carlos num Show que ele tava dandoele tava cantando e todo mundo queria mas com essa dificuldade de entrar o povo vatildeo acabar desistindo mesmode natildeo querer mais ir rdquo Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 uma participante declarou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico configurando um niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica (a) ldquoelas economizam () eacute tipo se esfor se esforccedilar pra ter um pouco do que ele tem ou conseguir um pouco do que ele natildeo tem mais ou menos isso rdquo

Dos grupos G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico

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Pagar mico Dos grupos G1 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os

representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquoaiacute nesse caso pra evitar de ser vocecirc dizendo aqui MANGANDO neacute aiacute vocecirc fica prefere ficar calado sem algueacutem mangar de vocecirc ou prefere ficar com duacutevida sem perguntar ao professor natildeo sei se eu estourdquo

Do G4 apenas um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquo[(leitura baixa do texto em destaque)]eacuteeacute por isso que eu estou dizendo sabemos que chipanzeacute eacute grande[( risos)] eacute uma coisa grandeentatildeo pra mim o sentido eacute o mesmoeacute essa coisa pra quem natildeo pagar um preccedilo grande na escolha de um pacote de viagem eacute isso que eu to pensandordquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Pocircr a boca no trombone De G1 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados

por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 e G2 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico (a) ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute

Do G4 um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquosim porque pra mim literalmente o que eu entendi aqui eacute mostra por exemplo a Dilma eacute presidente neacute entatildeo pra quem quer construir uma canoa natildeo basta soacute usar o pau da madeira neacute o tronco da aacutervore tem que levar mais pra pra poder construiacutes neacute entatildeo literalmente o que ele queria dizer aqui que a Dilma sozinha natildeo pode construir uma por exemplo uma canoa neacute ou um barco assim entatildeo tem que levar tem que chamar outras pessoas que vai compor o governo dela entatildeo nesse sentido que eu acho aiacuterdquo

Chutar o pau da barraca De G1 G2 e G3 nenhum dos informantes anunciou parcialmente

correto o sentido idiomaacutetico Do G4 apenas uma informante declarou parcialmente correto o

sentido idiomaacutetico (a) ldquoHum (silecircncio) Ah eu acho que chutar o pau da barraca pelo que eu entendo eacute por exemplo jogar uma pessoa pra fora assim porque essa pessoa jaacute natildeo merece mais entatildeo eu acho que essa expressatildeo eacute uma coisa rdquo

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Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 nenhuma informante anunciou correto o sentido

idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G2 todos os participantes identificaram corretamente a expressatildeo Ao serem indagados quanto ao sentido quatro participantes deram respostas consideradas corretas (a) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremashellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro)) e (b) ele tem que todo reivindicar os seus direitos gritar gritar gritar pra ver se se tem algum benefiacutecio com isso com isso seja seja sei laacute aumento do salaacuterio ou ou outro tipo de ajuda eu acho que eacute isso reivindicar os seus o que a gente a gente tem que todo dia trazer esse assunto agrave tona trazer esse assunto agrave tona e acaba todo e acaba envolvendo vaacuterias pessoas pra pensar do mesmo jeito (c) ((pausa acentuada)) acho que aqui ele diferencia os tipos de artistas que no comeccedilo fala que a maioria das pessoas pensa que qualquer artista jaacute eacute rico e que principalmente os astros de TV de cinema de novela ganham muito bem e as pessoas assim pensam que eacute faacutecil o trabalho deles pra conseguir aquele principalmente pra conseguir aquele dinheiro a maioria deles se torna pessoas puacuteblicas jaacute natildeo tem assim a privacidade a privacidade eacute apertada e que eles tecircm que trabalhar muito pra conseguir o que eles conseguem acho que eacute isso e (d) entatildeo e h a mesma coisa que dar duro dar duro hellip o cara trabalha mesmo hellip daacute

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muito duro pra conseguir o quecirc quer hellip trabalho pesado mesmo hellip ((estalos ao fundo))

Do G3 a despeito de todas as participantes terem identificado corretamente a expressatildeo nenhuma informante anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 dois participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa e h tipo hellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso)) ir agrave procura (b) aiacute todo dia tem que batalhar para alcanccedilar alguma coisanem mesmo que seja tomar alguma coisa para ajudar a famiacuteliaele vai pegar rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 dois participantes natildeo haviam identificado anteriormente

a expressatildeo mas depois de enveredarem por vaacuterias recursos cognitivos chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) nada hellip ((riso nasal)) eacute existe eu sei o que eacute tipo passar vergonha eacute fez algo e todo mundo ficou vendo ela com ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei e (b) ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico e h pagar passar vergonha hellip jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos))rdquo

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Dos grupos G3 e G4 nenhum informante de Guineacute-Bissau anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Do G1 apenas uma participante anunciou corretamente o sentido

idiomaacutetico da expressatildeo (a) ldquoe h a mesma coisa que fazer xixi hellip urinar helliprdquo Do G2 dois participantes chegaram agrave idiomaticidade da

expressatildeo tendo anteriormente feito a identificaccedilatildeo parcial por reduccedilatildeo da expressatildeo (a) fazer xixi nesse caso hellip e jaacute tinha ouvido laacute vaacuterias vezes hellip e () vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (b) ldquomais aacutegua no joelhordquo eacute eacute urinar neacute eacute vocecirc tirar o que jaacute estaacute dentro da barriga neacute ((risos)) pra botar pra dar mais espaccedilo pra colocar mais bebida neacute praticamente

Do G3 quatro estudantes guineenses conseguiu chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho em que noacutes registramos as seguintes respostas (a) Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho com certeza eu acho que faz mais a pessoa urinar ir pro banheiro de vez em quando (b) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar eacute quando como vocecirc acabou de dizer estaacute consumindo quando vocecirc consome uma duas trecircs vocecirc jaacute quer ir ao banheiro pra urinar (c) natildeo ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute (d) ldquoaacutegua no joelhordquo eacute eacute eacute fazer xixi neacute urina exemplo vocecirc vai bebe e bebe aiacute quando o estocircmago jaacute estaacute cheio vocecirc tem sensaccedilatildeo de urina vocecirc tem que urinar quando a pessoa tem urina vocecirc pode esconder mas vai sair natildeo pode ficar aiacute tem que tirar e voltar quando sai aiacute ele pode aumentar o volume que ele querrdquo

Do G4 trecircs participantes apresentaram o sentido idiomaacutetico correto da expressatildeo (a) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar tirar mais aacutegua do joelho mais aacutegua do joelho () aacutegua do joelho ((silecircncio)) eu acho que e h tipo hellip tem que fazer xixi (b) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar aacutegua do joelho mijar (riso intenso) (c) ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais aliviado rdquo

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Pocircr a boca no trombone Do G1 apenas uma participante cabo-verdiana foi submetida agrave

anaacutelise de dados por atender as condiccedilotildees de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Apoacutes ser indagada quanto ao sentido da expressatildeo respondeu (a) ((silecircncio)) hum a boca no trombone falar tudo falar sobre os podres do outro) eacute ((silecircncio ruiacutedos ao fundo)) botar a boca no trombone eacute falar tudo falar sobre os podres do outro rdquo

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G3 trecircs informantes identificaram corretamente e chegaram ao sentido idiomaacutetico tambeacutem de forma que podemos observar nas seguintes respostas (a) POcircS a correta conforme bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica (b) pocircs a boca no trombone assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (c) ldquobotar a boca no trombosordquo botar a boca no trombosporque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

Do G4 um informante identificou parcialmente correto e chegou ao sentido corretamente como podemos observar (a) ldquo a boca no trombonerdquo ldquoum advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposa ldquo a boca no trombonerdquo () entatildeo isso que dizer com taacute dizendo aqui boca no tromboneaqui no Cearaacute utiliza boca neacutequando o cara diz boca eacutepor exemplonuma empresa que quer fazer o blog dela coloca o wwwblognatildeo sei o quecircblog eacute uma coisa que fala mais deo que fala aiacute faz neacuteentendeu fala para fazerfaz o eacute isso que dizer isso neacute ldquo boca no trombonerdquo neacuteeacute pode ateacute ser porque ldquo boca no trombonerdquo tambeacutem eacute aquela pessoa que faz confusatildeo eacute aquele cara quefala muito neacute issoo cara que fala muitocomo se fo-sse o cara que todo canto que taacute vocecirc vai ouvir a voz deletodo canto que ele taacute vocecirc

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vai ouvir a voz dele falandoaiacute falam boca no tromboneo cara que fala muitoque fala alto rdquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do G1 duas informantes foram para a anaacutelise de dados do

Protocolo Verbal As duas haviam parcialmente identificado a expressatildeo obtendo ambas uma resposta correta quanto agrave idiomaticidade semacircntica (a) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez e (b) ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () define com natildeo ser brincadeira eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute rdquo

Do G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino teve analisado seus dados do protocolo verbal obtendo a seguinte resposta considerada correta (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo bom eacute que natildeo em nada de moleza neacute e que ela vai principalmente encontrar dificuldades porque segundo o que foi repassado pela miacutedia a a candidatura da Dilma foi muito apoiada pelo lula entatildeo a Dilma entrou como uma mulher que eacute pra decidir e ela entrou num momento que o Brasil ta-va com uma economia meio bagunccedilada en-tatildeo ela natildeo en-trou num mandato muito faacutecil entatildeo ela entrou sabendo das dificuldades que a economia tava passando naquele momento e por ser uma candidata defendida pelo Lula o povo sempre espera mais neacute sabendo que o Lula jaacute tem o renome no Brasil en-tatildeo natildeo vai ser um mandato muito faacutecil por isso que eu acho que quando a expressatildeo diz ldquoquantos paus se faz uma canoardquo mostra o grau de dificuldade que ela vai ter que natildeo vai ser faacutecil e tambeacutem tem o lado de ser histoacuterico a primeira mulher

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no mandato do Brasil entatildeo a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Do G3 obtivemos as trecircs respostas das informantes consideradas corretas (a) Eacute tem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa entatildeo essa daqui eacute como ela foi empossada neacute aiacute ela tem que ela vai ter que enfrentar muitas coisas criacuteticas desafios aiacute eu acho que essa palavra haver com isso que ela vai ter que saber com quantos paus se faz uma canoa ela vai ter que saber quais satildeo as dificuldades de laacute quais satildeo os trabalhos que ela deve fazer ela tem que (b) ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo porque ela vai ver as dificuldades vai ver muitas coisas que pra ela mesmo RESOLVER e vaivai ter muitas pessoas que vatildeo apontar o dedo nela e ela ter que tem que tem que tentar aceitar e ter que respeitar e (c) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute eacute rdquo

Do G4 dois estudantes guineenses anunciaram corretamente o sentido da expressatildeo (a) ldquohum hellip ((curto silecircncio)) ((balbucio)) e h tipo tu vai ter que aprender mesmo e h hellip aprender a lidar com com a coisa que tu tu vai viver com mesmo hellip (b) isso se mais ou menos isso com quantos paus faz uma canoa eacute por exemplo eacute um uma conversa assim pra pra que vocecirc natildeo faz uma coisa errada neacute rdquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam correto o sentido idiomaacutetico

da expressatildeo (a) eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura (b) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim rdquo

Do G2 dois participantes declararam correto o sentido fraseoloacutegico (a) chutar o pau da barraca chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou largar tudo largar tudo (b) bom esse

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aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo rdquo

Do G3 duas participantes declararam corretamente o sentido idiomaacutetico (a) ldquofalta o povo CHUtar o pau da barracardquo vou TENTAR eacute como se fossequando o povo jaacute estaacute revoltado aiacute quer fazer alguma coisa e tem medo ainda pra fazer aiacute depois TODO mundo se une faz uma coisa natildeo sei se eu estou ((risos da informante)) (b) quer dizer chutar o PAU da barraca significa desistir de alguma coisa neacuterdquo

Do G4 quatro participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico (a) e h a pessoa que natildeo cumpre com com o dizer hellip posso dizer assim hellip natildeo cumpre com o combinado hellip (b) falta o povo chutar o pau da barraca ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute uma revolta ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo () (c) eacute do jeito que eu to achando aiacute neacuteque o povo jaacute taacute chateadojaacute taacute cansado desse negoacutecio todo aiacuteentatildeo resolveram chutar o pau para estragar para afrontar oque taacute no poder neacuteentendeu por exemplo na poliacutetica mesmo aiacute o povo fica cansado desse negoacutecio de (mudanccedila)tirar o presidentemudar o governador aiacute jaacute taacute (farto) desse negoacuteciofalta o povo chutar o pau da barracae este Roberto Carlos cantando samba de preto catando sambafaz parte da parte racional neacuteporque ele natildeo eacute brancoe faz canccedilatildeo neacuteaiacute o cara prefere ver preto cantando( risos) (d) ((riso)) daacute pro povo chutar o pau da barraca acho que no exemplo aqui neacute se noacutes como estudante noacutes somos cidadatildeos somos um povo neacute se a gente natildeo concorda com alguma coisa a gente podia ateacute pensar na criar um iacutendice neacute de problema pegar pra derrubar neacute a direccedilatildeo ou como eacute que se diz o responsaacutevel neacute do curso ou do departamento entatildeo eu penso que essa ideia do povo derrubar ou chutar o pau da barraca quebrar uma certa hierarquia neacute tipo hierarquia hierarquicamente neacute eacute que o povo acha que natildeo eacute bom pra rdquo

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Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Atribuiacuteda pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes pudemos

calcular as meacutedias e os desvios padratildeo e classificar as expressotildees idiomaacuteticas segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (intralinguiacutestica ou lusoacutefona)

Vejamos uma tabela com os valores da idiomaticidade fraseoloacutegica a partir dos dados dos informantes

Os valores meacutedios dos itens individuais conforme vemos na tabela acima variaram de 160 para a expressatildeo natildeo pagar mico a 264 para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa conforme descreve a Tabela 1 A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 209

Tomados os valores da tabela 1 pudemos fazer uma nova classificaccedilatildeo das expressotildees quanto ao grau de idiomaticidade intralinguiacutestica fraco doble e forte9

Natildeo houve registro de idiomaticidade doble (deacutebil e forte) entre as seis expressotildees uma vez que fizemos os caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal no qual os participaram recorreram amiuacutede a taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo para tentaram chegar ao sentido idiomaacutetico das expressotildees do experimento

As expressotildees ldquonatildeo pagar micordquo ldquomatar cachorro a gritordquo e ldquochutar o pau da barracardquo com meacutedias 160 172 e 172 respectivamente foram as expressotildees idiomaacuteticas mais difiacuteceis de serem compreendidas portanto com idiomaticidade forte ou seja mais opacas para os estudantes africanos

Com a meacutedia 243 em ambas as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e ldquopocircr a boca no trombone foram as que apresentaram uma idiomaticidade fraca

Com meacutedia 264 a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa foi a uacutenica que apresentou uma idiomaticidade fraca isto eacute menos opacas

9 Recorremos a Garciacutea-Page Sanchez (2008 p 394-396) para estabelecermos os trecircs graus de idiomaticidade

222

Graacutefico 3 - Meacutedias da idiomaticidade fraseoloacutegica por expressatildeo

Tabela 8 - Meacutedias e Desvios Padratildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica

Expressotildees Idiomaacuteticas Meacutedia Desvio Graus de

Idiomaticidade

1 Natildeo pagar mico 160 084 forte

2 Matar cachorro a grito 172 096 forte

3 Chutar o pau da barraca 172 095 forte

4 Tirar (mais) aacutegua do joelho

243 094 fraca

5 Pocircr a boca no trombone 243 098 fraca

6 Saber com quantos paus se faz uma canoa

264 067 fraca

Meacutedia das meacutedias 209

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

Na Tarefa 4 testamos as seguintes hipoacuteteses

(a) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(b) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos

172

16

243243

264

231

Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tira mais aacutegua dojoelho

223

taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

(c) Satildeo estrateacutegias top-down que influenciam na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

Para respondermos a pergunta da Tarefa 4 e testarmos as hipoacuteteses acima tivemos que considerar a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo registrada nos protocolos verbais think aloud das tarefas 1 (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) 2 (memoacuteria fraseoloacutegica) e 3 (idiomaticidade fraseoloacutegica)

No Corpus Afri procuramos distinguir na transcriccedilatildeo ortograacutefica dos aacuteudios atraveacutes de codificaccedilatildeo das informaccedilotildees linguiacutesticas (por exemplo emprego de paraacutefrase codificado como RP) e psicolinguiacutesticas (por exemplo emprego de conhecimentos preacutevios codificado como CP) as taacuteticas e as estrateacutegias cognitivas usadas pelos informantes para desvelar o sentido das expressotildees idiomaacuteticas

No quadro abaixo reproduzimos a codificaccedilatildeo de ocorrecircncias de taacutetica (RP) e estrateacutegias (AC SL) em parte de entrevista feita pelo experimentador com um informante cabo-verdiano

Quadro 3 ndash Codificaccedilatildeo das estrateacutegias

Codificaccedilatildeo Entrevista

GF ndash CO GI ndash CO AC RP SL

Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica [Caso afirmativo perguntar se conhece algum equivalente em crioulo e no portuguecircs usado em Cabo Verde] Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo

224

famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

SO Entrevistador e vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes

VM ndash NC Participante natildeo natildeo natildeo conhecia hellip

SO Entrevistador natildeo conhecia no seu paiacutes ()

VM ndash NC Participante natildeo conhecia hellip

A metodologia experimental levada a efeito em nossa pesquisa

nos fez ver desde logo na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes como nascedouro das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo as respostas dos informantes aos primeiros comandos do experimentador registradas no protocolo verbal atraveacutes do qual investigaacutevamos a capacidade fraseoloacutegica dos informantes de identificar formalmente uma expressatildeo idiomaacutetica pluriverbal e fixa evocaacute-la se estivesse armazenada em sua memoacuteria de longo prazo e caso a desconhecessem imediatamente procedessem com solicitaccedilatildeo de ajuda teacutecnica ou a aceitasse do experimentador e soacute entatildeo com uma informaccedilatildeo nova definiccedilatildeo de uma palavra exemplo informal ou texto formal dados atribuiacutessem sentido translatiacutecio ou idiomaacutetico agrave expressatildeo assinalada pelo experimentador

No trecho do Corpus Afri acima observamos que taacuteticas bottom-up de compreensatildeo jaacute estavam manifestas nos diaacutelogos entre experimentador e informante na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica) assim como observamos estrateacutegias top-down mais proeminentes nas tarefas sobre memoacuteria fraseoloacutegica (Vocecirc lembra ou ouviu esta expressatildeo no Brasil ou no seu paiacutes de origem em crioulo ou em liacutengua portuguesa) e particularmente na tarefa sobre idiomaticidade fraseoloacutegica (Vocecirc saberia me dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em crioulo ou em portuguecircs falado ou escrito em seu paiacutes)

Por essa razatildeo na Tarefa 4 para discriminarmos as taacuteticas e estrateacutegias cognitivas levamos em conta as respostas dos informantes nestas trecircs tarefas descritas anteriormente

Atentos a este valor proativo do protocolo verbal a partir da primeira tarefa passamos a codificar as respostas com o fito de traccedilar os processos cognitivos relacionados agrave identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade das expressotildees idiomaacuteticas presentes neste experimento

225

Com o mesmo esmero passamos a identificar e a classificar taacuteticas e estrateacutegias cognitivas usadas recorrentes ou natildeo natildeo soacute na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica mas tambeacutem nas demais tarefas deste experimento (memoacuteria fraseoloacutegica e idiomaticidade fraseoloacutegica)

Em estudos anteriores a terminologia das estrateacutegias adotada pelos experimentadores (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993 Block 1986 Brown 1996 Cooper 1999) foi a seguinte estrateacutegias de preparaccedilatildeo (Strategy Preparatory e estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (Strategy Guessing) e se mostrou eficaz na aacutenalise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir dos protocolos de think aloud Adotamos a terminologia do modelo estrateacutegico mas com foco em duas perspectivas de estudos fraseoloacutegico e psicolinguiacutestico

Para melhor refinar nossa abordagem (psico)linguiacutestica julgamos necessaacuterio fazer pequenos ajustes na terminologia das estrateacutegias (Strategy Preparatory e Strategy Guessing) Assim sendo os novos roacutetulos das estrateacutegias foram inspirados nas outras visotildees teoacutericas que tratam da construccedilatildeo da compreensatildeo pelo leitorouvintefalante ou em outras palavras baseamos nossa terminologia nas teorias de processamento da informaccedilatildeo do texto (CATANIA 1999 p360) Desta maneira por exemplo o que Cooper (1999) chamou de strategy preparatory rebatizamos no primeiro momento em estrateacutegias bottom-up depois vimos que rigorosamente tratavam-se no diaacutelogo do experimentador com os informantes de taacuteticas bottom-up ascendentes de baixo para cima uma vez que efetivamente soacute eram usadas pelos informantes como preparaccedilatildeo para o processo adivinhatoacuterio propriamente psicolinguiacutestico que ocorria quando recorriam a strategy guessing isto eacute a estrateacutegias top-down estas sim incontestavelmente descendentes de cima para baixo da mente do falante para o texto lido ou ouvido

Na fase de preacute-testes durante da aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal think aloud a pequeno grupo de estudantes nativos e de natildeo ativos do PB observamos que diante de muitas expressotildees idiomaacuteticas o processamento de compreensatildeo dos falantes comeccedilava e era controlado pelo proacuteprio texto isto eacute ocorria a chamada teoria de fora para dentro ou processamento dirigido pelo texto em que prontamente poderiacuteamos esquadrinhar o uso de procedimentos cognitivos denominado pela literatura psicolinguiacutestica de bottom-up

226

(ascendentes ou de baixo para cima) mais apropriadamente denominadas por noacutes de taacuteticas bottom-up mas com tipos igualmente classificadas pelos teoacutericos anteriores (a) repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (RP) (b) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (DA) e (c) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (SI) Podemos observar que em nenhuma das trecircs taacuteticas estaacute previsto que o informante chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada na questatildeo do experimento

A mudanccedila numenclatoacuteria de estrateacutegias de preparaccedilatildeo para estrateacutegias bottom-up e desta para a denominada taacuteticas bottom-up decorreu de reflexatildeo nossa a partir de estudos de Loacutepez Delgado (2002) bem como de orientarmos nossa atenccedilatildeo para procedimentos linguiacutesticos dos informantes quando na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes Vimos que as bottom-up (RP DA e SI) se constituiacuteam efetivamente mais taacuteticas (do grego τακτικός este derivado de τάσσειν pocircr em ordem com a noccedilatildeo de habilidade do informante para tentar sair-se eficientemente bem na tarefa proposta) do que propriamente estrateacutegias (palavra do latim strategĭa e esta derivada do grego στρατηγία com a ideia neste trabalho de o informante aplicar eficazmente recursos cognitivos visando alcanccedilar a compreensatildeo idiomaacutetica) por serem como jaacute dissemos antes procedimentos preparatoacuterios e natildeo decisoacuterios no processamento da compreensatildeo idiomaacutetica

Nos casos em que os participantes compreenderam a expressatildeo idiomaacutetica comeccedilando e controlando a partir de experiecircncias e expectativas que traziam para o texto ocorria a chamada teoria de dentro para fora ou processamento dirigido pelo proacuteprio falante denominadas de strategy guessing por noacutes rebatizadas de estrateacutegias top-down (descendentes ou cima para baixo) sendo que previamente assinalados os seguintes tipos (a) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (AC) (b) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (AA) (c) adivinhar o sentido da expressatildeo a partir do contexto informal ou improvisado (AT) (d) usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (SL) (e) usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (CP) f) referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em l1 para entender a expressatildeo idiomaacutetica em l2 (l1 ou seja crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

227

e (g) Usar outras estrateacutegias (OE) Atraveacutes de uma ou mais estrateacutegias top-down os informantes poderiam chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada no experimento

Conservamos pois em nossa pesquisa esta denominaccedilatildeo top-down mas nesta modalidade acrescentamos novas estrateacutegias como AA e AT para atender os propoacutesitos dos trecircs experimentos de nossa pesquisa Por essa razatildeo no primeiro experimento natildeo haacute registro de AA por ter natildeo terem sido disponibilizadas questotildees de muacuteltipla escolha A estrateacutegia AA soacute aparece na segunda bateria de testes A estrateacutegia AT aparece nas trecircs baterias de testes

Durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal observamos que as taacuteticas bottom-up e as estrateacutegias top-down natildeo eram no processamento fraseoloacutegico etapas estanques isto eacute vaacuterias delas podiam funcionar juntas e concomitantes sendo as taacuteticas bottom-up as de ativaccedilatildeo cognitiva inicial enquanto estrateacutegias top-down as de caraacuteter inferencial decisoacuteria no chamado jogo de adivinhaccedilatildeo psicolinguiacutestica (GOODMAN 1967 SMITH 1999 2003)

Na fase de codificaccedilatildeo do Corpus Afri vale ressaltar que as respostas dos participantes para cada expressatildeo foram divididas em segmentos discursivos procedimento facilitador para a codificaccedilatildeo das respostas por termos feito uma transcriccedilatildeo grafemaacutetica (ou ortograacutefica) dos aacuteudios dos participantes bem como exequiacutevel para os casos de reproduccedilatildeo em nossa exposiccedilatildeo Em seguida as transcriccedilotildees jaacute codificadas foram lidas relidas analisadas marcadas e remarcadas de acordo com os recursos cognitivos utilizados pelos participantes e como jaacute assinalamos antes a partir de um conjunto de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas previamente determinadas e consensualmente aceitas para pesquisas relacionadas com compreensatildeo idiomaacutetica em L1 ou L2 ou envolvendo ambas

Segue abaixo um quadro contendo abreviaturas e descriccedilotildees das taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down que utilizamos nos trecircs experimentos Quadro 4 - Abreviaturas usadas na anaacutelise do corpus AFRI

TAacute

TI

CA

S

BO

TT

OM

-

UP

RP Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica O informante voltar a ler ou a dizer (o que jaacute leu ou ouviu) ou diz de maneira diferente o mesmo conteuacutedo em que aparece a expressatildeo idiomaacutetica no texto lido

228

DA Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou o seu contexto sem adivinhar o sentido O informante analisa a expressatildeo idiomaacutetica e levanta questotildees a respeito do seu sentido examinando detalhadamente seus elementos lexicais sem chegar poreacutem ao sentido translatiacutecio ou fraseoloacutegico da expressatildeo

SI Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica ou sobre elementos constituintes de uma imagem que pode evocar uma unidade fraseoloacutegica O informante pede ajuda teacutecnica ao examinador dos testes Com exceccedilatildeo de informaccedilotildees relacionadas ao sentido da expressatildeo idiomaacutetica o examinador fornece informaccedilotildees metalinguiacutesticas sintaacuteticas e pragmaacuteticas de modo a encorajar o informante a continuar falando sobre a expressatildeo idiomaacutetica (contexto de estiacutemulo) ou a imagem apresentada (imagem de estiacutemulo) durante a aplicaccedilatildeo dos testes

ES

TR

AT

EacuteG

IAS

TO

P-D

OW

N

AC Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal O informante consegue decifrar ou interpretar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal dado extraiacutedo de texto (mateacuteria coluna etc) de jornal de circulaccedilatildeo nacional ou de exemplo dado pelo pelo experimentador

AA Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir alternativas de muacuteltipla escolha) O examinador depois de observar a dificuldade do informante em dar uma paraacutefrase definitoacuteria da expressatildeo idiomaacutetica indicada apresenta ao informante trecircs alternativas de muacuteltipla escolha (abc) sendo uma com paraacutefrase idiomaacutetica ou contextual (correta) uma com paraacutefrase literal (parcialmente correta) e uma paraacutefrase com distrator criacutetico (incorreta)

229

AT Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir de contexto formal (texto de circulaccedilatildeo) ou de contexto informal ou improvisado(texto ad hoc) O informante solicita ao examinador um contexto formal de uso da expressatildeo idiomaacutetica ou contexto informal com a expressatildeo idiomaacutetica dada no item do questionaacuterio O examinador pode ter a iniciativa de anunciar ou disponibilizar os textos para o informante No caso de exemplo formulado pelo examinador com o mesmo sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica do texto formal caracteriza-se por seu aspecto espontacircneo e o mais proacuteximo possiacutevel da linguagem comum da variante brasileira do portuguecircs

SL Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico O informante recorre ao sentido literal da expressatildeo idiomaacutetica para desvelar seu sentido idiomaacutetico durante a realizaccedilatildeo dos testes podendo utilizar este recurso antes ou depois da leitura do contexto de estiacutemulo (texto) antes ou depois de solicitaccedilatildeo de informaccedilatildeo (SI) ou depois de fornecida uma ajuda teacutecnica pelo examinador

CP Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica O informante emprega seus conhecimentos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) relacionados agrave metalinguagem ao assunto do texto agrave intercultura e agraves experiecircncias de vida (memoacuteria cotidiana ou autobiograacutefica)

L1 Referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) O informante na construccedilatildeo ou elaboraccedilatildeo de sua compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em L2 faz referecircncia agrave sua liacutengua materna (crioulo) inclusive quando solicitado buscando uma expressatildeo nativa equivalente agrave do portuguecircs brasileiro

OE Usar outras estrateacutegias O informante recorre a uma seacuterie de operaccedilotildees

extralinguiacutesticas ou heuriacutesticas que natildeo pertencem ao sistema da liacutengua ou ao sistema fraseoloacutegico do portuguecircs associando-se agrave aplicaccedilatildeo destas na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas no que tange

230

ao sujeito eou agrave situaccedilatildeo e ao conhecimento de mundo que os falantes compartilham

As taacuteticas e as estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees

idiomaacuteticas conforme podemos observar no Quadro 1 foram distribuiacutedas em dois grupos (a) taacuteticas bottom-up e (b) estrateacutegias top-down inspiradas na terminologia strategy preparatory e strategy guessing adotada por Cooper (1999 p242-244)

As taacuteticas bottom-up permitiram aos participantes clarificarem e consolidarem o conhecimento linguiacutestico ou a informaccedilatildeo semacircntica sobre as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas (Taacutetica RP ou RP repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica) para ganhar mais tempo antes de proferir um palpite ou para ensaiar uma resposta ou ainda peneirar nova informaccedilatildeo linguiacutestica muitos participantes discutiram e analisaram (literalmente) a expressatildeo idiomaacutetica (Taacutetica DA ou DA) e para colherem informaccedilotildees adicionais a fim de comeccedilarem a falar sobre a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute dar um palpite mais seguro ou abalizado sobre o sentido fraseoloacutegico da expressatildeo idiomaacutetica os participantes solicitaram informaccedilotildees (exceto as diretamente relacionadas ao sentido idiomaacutetico) sobre a expressatildeo idiomaacutetica ( Taacutetica SI ou SI)

As estrateacutegias top-down representam em nossa pesquisa os casos em que os participantes arriscaram uma interpretaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e estas estrateacutegias foram categorizadas assim adivinhar o sentido idiomaacutetico a partir do contexto (Estrateacutegia AC ou AC) usar o sentido literal (Estrateacutegia SL ou SL) para chegar ao sentido idiomaacutetico utilizar seus conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP ou CP) referir-se agrave sua L1 (Estrateacutegia L1 ou L1) inclusive com registro de variaccedilotildees linguiacutesticas nos caso dos dialetos cabo-verdianos como Crioulo do Fogo Crioulo de SantiagoCrioulo de Satildeo Nicolau e Crioulo de Satildeo Vicente e Crioulo de Santo Antatildeo e quando usaram outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE ou OE) estas em particular aleacutem de natildeo se enquadrarem nas estrateacutegias indicadas anteriormente consistiam em situaccedilotildees a que os participantes recorriam a tentativas cegas isto eacute arriscavam uma resposta por meio tentativa-e-erro na Tarefa de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) e na Tarefa de idiomaticidade Fraseoloacutegica (opacidade semacircntica) das expressotildees idiomaacuteticas previstas neste e nos demais experimentos envolvendo

231

zoomorfismos somatismos ou especiais ( botanismos no caso do primeiro experimento)

Para assegurar a confiabilidade da pontuaccedilatildeo das tarefas dos experimentos experimento e da codificaccedilatildeo das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica treinamos um grupo de seis transcritores (estudantes do Curso de Letras da UVA em Sobral) e convidamos um segundo examinador no caso uma professora de liacutengua portuguesa experiente esta especificamente para colaborar na marcaccedilatildeo das respostas aos testes e categorizar as taacuteticas e estrateacutegias de protocolo verbal think aloud revisando tambeacutem em conjunto detidamente com o pesquisador as respostas consideradas corretas parcialmente corretas e as respostas incorretas das tarefas do experimento e na codificaccedilatildeo adequada dos segmentos discursivos de modo a chegarmos a uma concordacircncia em 100 sobre o que julgaacutevamos como sendo taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo presentes no Corpus Afri

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso

No primeiro experimento os dados referentes agrave frequecircncia de

uso de estrateacutegias levam-nos a crer que as taacuteticas bottom-up ou ascendentes (RP DA e SI) evidenciaram a luta tiacutepica dos informantes para lidar com fontes leacutexicas de opacidade semacircntica sem que pudessem chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo exceto aos informantes que jaacute a tinham na memoacuteria de longo prazo estes nesta situaccedilatildeo natildeo foram arrolados ou considerados na anaacutelise de dados com relaccedilatildeo ao caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica como tambeacutem das estrateacutegias usadas e as bem-sucedidas conforme veremos no decorrer desta seccedilatildeo

Jaacute as estrateacutegias top-down ou descendentes (AC AA AT SL CP L1 e OE) indicaram a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes de natureza intralinguiacutestica por serem lusoacutefonos como um fator de opacidade tal qual defende Mogorroacuten Huerta (2013 p 83-96)

No balanccedilo geral na tarefa 4 pudemos observar que entre procedimentos taacuteticos e estrateacutegicos o uso da estrateacutegia CP destacou-se no conjunto de demandas cognitivas dos informantes ao registrar 115 ocorrecircncias no Protocolo Verbal o equivalente a 21 de todas estrateacutegias usadas durante o teste seguida da taacutetica RP com 94 registros o equivalente a 17

232

Os dados coletados indicam que os participantes recorreram agrave L1 na busca da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas especialmente as expressotildees consideradas mais faacuteceis ou transparentes encontrando na maioria das vezes um equivalente em crioulo guineense ou cabo-verdiano

Ao mesmo tempo pudemos observar que 94 ocorrecircncias equivalente a 17 das estrateacutegias usadas pelos informantes foram dirigidas agrave taacutetica RP o que significou especialmente no processo de compreensatildeo das expressotildees tirar aacutegua do joelho matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca uma demanda expressiva por taacuteticas bottom-up mas em que pesem o esforccedilo natildeo foram suficientes para levarem os participantes imediatamente agrave compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica vindo em seguida a DA com 13 a segunda taacutetica de maior demanda por parte dos participantes entre as bottom-up

Observamos que o uso das do tempo destinado a estrateacutegias top-down chegou a 46 recurso que garantiu aos participantes em geral depois de ajuda teacutecnica acessarem o sentido idiomaacutetico sendo a CP com 21 a estrateacutegia de maior demanda por parte dos participantes registrando nesse meio-tempo uma baixa procura por informaccedilotildees relacionadas ao sentido literal (SL) agrave L1 e poucas tentativas-e-erros (OE)

A expressatildeo matar cachorro a grito foi entre as expressotildees a detentora de maior percentual de taacuteticas do bottom-up destacando o nuacutemero de SI (37) RP (33) e DA (20) Referente agraves estrateacutegias top-down a maioria dos informantes ao lidarem com a expressatildeo natildeo pagar mico solicitou a assistecircncia teacutecnica de AT (21) especialmente de textos informais com a expressatildeo dado e SL (30) isto eacute solicitaram informaccedilotildees sobre o sentido literal da referida expressatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico nos chamou a atenccedilatildeo pelo nuacutemero de informantes que analisaram a expressatildeo e o contexto sem que pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico o que pode ter justificado um percentual de 15 de SI Quanto agraves estrateacutegias top-dow os participantes recorreram a muitas estrateacutegias heuriacutesticas por meio de tentativa-e-erro em muitos casos procurando encaixar a situaccedilotildees do seu cotidiano Chama-nos a atenccedilatildeo o uso frequente da estrateacutegia SL(40) e a estrateacutegia CP (23)

233

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo Consideramos fundamental em nosso estudo a separaccedilatildeo das

taacuteticas (bottom-up) das estrateacutegias (top-down) de compreensatildeo Tal medida decorre de reconhecermos que ambos os tipos de recursos cognitivos se baseiam em recursos cognitivos distintos

As taacuteticas bottom-up estatildeo relacionadas com a mecanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo dos dados da memoacuteria ativa ou memoacuteria de trabalho Estas taacuteticas portanto estatildeo a serviccedilo da memoacuteria de curto prazo isto eacute de uma memoacuteria funcional que reteacutem brevemente aquilo que prestamos atenccedilatildeo e tambeacutem uma duraccedilatildeo muito limitada (SMITH1999 P40) Dizendo de outra forma diriacuteamos que os participantes ao utilizarem as taacuteticas bottom-up tentaram imediatamente superar suas limitaccedilotildees daiacute recorrerem a SI para poder engajar-se atraveacutes de estrateacutegias top-down nos processos de compreensatildeo idiomaacutetica

Aplicadas ao nosso estudo as taacuteticas bottom-up referem-se a um processo natildeo criativo no qual o falante processa automaticamente a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica atraveacutes da identificaccedilatildeo da unidade fraseoloacutegica (RP) depois faz a anaacutelise da fixaccedilatildeo formal (DA) e a partir daiacute evoca sua idiomaticidade semacircntica atraveacutes de sua memoacuteria de longo prazo (CP) que tambeacutem eacute criativa ou quando descartado este benefiacutecio da memoacuteria de longa duraccedilatildeo solicita informaccedilatildeo (SI) para poder chegar ou natildeo ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo atraveacutes de estrateacutegias ligadas ao contexto (AC) agrave liacutengua materna (L1) ao sentido literal (SL) ou a outras inferecircncias heuriacutesticas (OE)

As estrateacutegias RP DA e SI nos indicam como veremos nos trechos abaixo quando evidenciadas no protocolo verbal que os falantes desenvolveram uma compreensatildeo inicial da expressatildeo de forma inconsciente e a decodificaccedilatildeo10 passa a ser uma praacutetica fundamental uma frequecircncia maior no leque ou disponibilidade de recursos cognitivos Talvez por essa razatildeo os falantes natildeo nativos como podemos observar nos protocolos verbais tenham significativamente buscado acessar o sentido idiomaacutetico por meio da repeticcedilatildeo em voz

10 A acepccedilatildeo que damos agrave decodificaccedilatildeo eacute a mesma de Alliende e Condemariacuten (1987) uma operaccedilatildeo de leitura em que o leitorfalante transforma os signos graacuteficos em linguagem oral mas natildeo alcanccedila plenamente o estaacutegio da compreensatildeo isto eacute captar o sentido da mensagem escrita

234

alta da expressatildeo da repeticcedilatildeo do texto atraveacutes da leitura silenciosa da paraacutefrase textual dos pormenores do texto (por exemplo saber o sentido de CNPJ 11 que aparece no contexto da expressatildeo natildeo pagar o mico) do sentido literal das palavras incomuns encontradas no texto lido (por exemplo antideureacutetico12 que aparece no contexto da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho) daiacute diante do texto terem feito uma leitura detalhada atenta com menor velocidade para que os dados do texto pudessem guiar sua compreensatildeo idiomaacutetica tal qual nos sugere Block (1986 p 463ndash494)

Ao contraacuterio das taacuteticas bottom-up as estrateacutegias top-down satildeo criativas voltadas agrave compreensatildeo e decerto satildeo responsaacuteveis na fala espontacircnea pela reproduccedilatildeo em bloco coeso da expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes sejam eles nativos ou natildeo nativos Talvez tenha sido esta ideia de blocagem passada por Coseriu (2007 p201) ao recorrer ao termo discurso repetido sequecircncia de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente

Em relaccedilatildeo agraves estrateacutegias top-down pudemos observar que ao longo do protocolo verbal os falantes natildeo nativos ajustaram ou tentaram ajustar por meio de ajuda teacutecnica (SI) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas isoladamente ou no proacuteprio texto em que elas foram contextualizadas aos seus conhecimentos preacutevios sintaacuteticos linguiacutesticos metalinguiacutesticos culturais histoacutericos em L1 e em L2 (portuguecircs na vertente luso-africana) depois voltam ao texto para confirmar suas expectativas de leitura (AC) ou verificar se aparecia uma informaccedilatildeo nova (OE) Concebiam assim a compreensatildeo fraseoloacutegica como verificaccedilatildeo global do sentido idiomaacutetico da expressatildeo (BLOCK op cit)

11 CNPJ eacute a sigla de Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica 12 Apresentamos aos informantes a seguinte definiccedilatildeo para hormocircnio antidiureacutetico substacircncia que aumenta a pressatildeo sangue nas arteacuterias e diminui o volume da urina

235

Tabela 9 - Frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias usadas por expressatildeo idiomaacutetica

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO IDIOMAacuteTICA

BOTTOM-UP TOP-DOWN)

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

1Matar cachorro a grito

31 15 23 11 - 08 09 10 06 02

2Pagar mico 24 17 10 03 - 05 12 27 08 05

3Tirar aacutegua do joelho

22 18 Q8 07 - 13 02 16 19 01

4Pocircr a boca no trombone

21 07 07 13 - 05 00 07 16 01

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

26 07 02 18 - 01 02 34 18 01

6Chutar o pau da barraca

27 16 14 09 - 05 05 21 07 03

Total 151 80 64 61 - 37 30 115 74 13

de todas usadas

25 13 10 09 06 05 18 12 02

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625

A partir dos dados apresentados na tabela acima passemos agora a exemplificar por expressatildeo idiomaacutetica as taacuteticas e estrateacutegias mais evidenciadas pelos participantes em seus diaacutelogos com o experimentador registrados no protocolo verbal ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Em busca de encontrar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo matar

cachorro a grito os informantes recorreram a 115 estrateacutegias sendo 69 taacuteticas bottom-up e 46 estrateacutegias top-down

236

Das taacuteticas bottom-up chamou-nos a atenccedilatildeo RP com 28 do tempo dos informantes seguida de pedido de ajuda SI na ordem 20

Das estrateacutegias top-down todas pareciam estar igualmente requeridas pelos informantes O que podemos observar eacute que claramente os informantes apresentaram dificuldade de acessar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo o que podemos comprovar pelos 60 de taacuteticas bottom-up com especial destaque para a estrateacutegia RP empregada na compreensatildeo de matar cachorro a grito

Abaixo apresentamos dois exemplos de emprego de preparaccedilatildeo (RP e SI respectivamente) que se sobressaiacuteram no processo de compreensatildeo desta expressatildeo

(a) Usando RP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a

gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

(b) Usando SI Entrevistador quer alguma ajuda Participante pode ser vamo laacute Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante um exemplo hellip pode ser hellip Entrevistador vocecirc prefere um exemplo Participante se tiver outro mais faacutecil hellip neacute hellip seja mais faacutecil de

identificar (hellip) Natildeo pagar mico No esforccedilo tiacutepico para compreender a expressatildeo natildeo pagar

mico os participantes recorreram a 100 procedimentos cognitivos sendo 40 taacuteticas bottom-up e 60 estrateacutegias top-dow

Das taacuteticas bottom-up 19 foram solicitaccedilotildees de ajuda teacutecnica (SI) especialmente as relacionados com pedido sobre sentido literal do lexema mico13

13 Os reiterados pedidos sobre o sentido de mico nos levou a apresentar aos informantes duas acepccedilotildees possiacuteveis para a palavra (a) na zoologia mico eacute uma forma reduzida de mico-preto designaccedilatildeo comum aos macacos do gecircnero Cebus da famiacutelia dos cebiacutedeos e (b) na ludologia tipo de jogo de cartas infantil em que a carta que

237

Das estrateacutegias top-down a estrateacutegia de CP foi a mais empregada pelos participantes com 27 das ocorrecircncias

Vejamos a seguir trechos com SI e CP extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando SI Entrevistador natildeo sabe o que eacute vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante me explicar um pouquinho o que quer Entrevistador posso definir as palavras da expressatildeo Participante eacute Entrevistador natildeo pagar significa natildeo entregar ou restituir uma

quantia que se deve Participante eacute pagar Entrevistador e mico eacute tipo de macaco de pelagem marrom-

escura com cauda negra e geralmente com vive em bandos Participante hum ah Entrevistador te ajuda alguma coisa Pagar macaco Participante ah mico pagar macaco pagar um um um valor

ma ma natildeo ldquopagar micordquo (b) Usando CP Entrevistador e vocecirc jaacute conhece do seu paiacutes ldquopagar micordquo Participante assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a

gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Os participantes ao se depararem com a expressatildeo tirar mais

aacutegua do joelho recorreram a 100 estrateacutegias sendo 42 taacuteticas bottom-up e 58 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a DA foi a mais utilizada pelos informantes com 18 do seu tempo vindo em seguida a RP com 16 do seu tempo

apresenta a figura de um macaquinho preto natildeo tem par e aquele que acabar o jogo com ela perde o jogo

238

Das estrateacutegias top-down a mais evidenciada foi a L1 com 19 vindo em seguida a CP com 16 do tempo

Vejamos a seguir trechos com DA RP e CP extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando DA Entrevistador ldquotirar aacutegua do joelhordquovocecirc sabe me dizer o

sentido Participante ldquotomar cerveja quenterdquo aiacutefaz com quecarano

meu entender vocecirc ver que natildeo faz bemas vezes as pessoas bebem cerveja quente ficam com dor de cabeccedilaentendeu sentindo algumas coisas que natildeo taacute bom aiacute levantam com a ressaca desse negoacutecio

Entrevistador e soacute a expressatildeo ldquotirar aacutegua do joelhordquo significa o que Eacute tudo isso que vocecirc disse ldquotirar aacutegua do joelhordquo

Participante eacutemais ou menos isso Usando estrateacutegia RP Entrevistador e essa expressatildeo aiacute que aparece pela primeira vez

hellip vocecirc acha que e h o quecirc Participante ah hellip sei laacute hellip Entrevistador tirar aacutegua do joelho hellip Participante deixa eu ver hellip ((silecircncio)) num sei hellip ((riso nasal))

tirar aacutegua do joelho hellip ((a participante repete a expressatildeo e faz um breve silecircncio interrompido pelo entrevistado))

(b) Usando L1 Entrevistador tirar aacutegua do joelho que dizer o quecirc Participante e h hellip mijar hellip Entrevistador mijar hellip Participante mijar Entrevistador conhece do seu paiacutes Participante conheccedilo hellip Entrevistador eles utilizam Participante utilizam hellip Entrevistador aleacutem dessa hellip existem outros semelhantes com o

sentido de mijar que vocecirc coloca Participante natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute

fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua de batata) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

239

Entrevistador ah hellip eacute o mesmo sentido Participante e h hellip ((toque de telefone)) (c) Usando estrateacutegia CP Participante bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua

do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip

Entrevistador hum Participante e h em Santiago nesse caso em Santiago eu

natildeo sei se as outras ilhas tambeacutem usam a expressatildeo hellip mas em Santiago a gente fala tirar aacutegua do joelho que significa mijar hellip neacute ()

Pocircr a boca no trombone Para a compreensatildeo de pocircr a boca no trombone os participantes

empregaram 57 recursos cognitivos sendo 16 taacuteticas bottom-up 41 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up DA com 12 foi a mais evidenciada vindo em seguida a SI com 10 do tempo

Das estrateacutegias top-down L1 foi a que obteve o maior percentual de uso com 28 vindo em seguida CP

Estrateacutegias SL e OE natildeo foram empregadas pelos informantes Vejamos a seguir trechos com DA l1 e CP extraiacutedos do Corpus

Afri (a) Usando DA Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Juacutenior Participante ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone Entrevistador muito bem ah vocecirc saberia me dizer o sentido Participante por exemplo defendeu um crime neacute Entrevistador defender um crime Participante defender uma coisa Usando estrateacutegia SI Entrevistador A expressatildeo pocircr a boca no trombone quer dizer

o que Participante ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc

pode me dar uma dicae Entrevistador posso dizer o que eacute trombonetrombone eacute um

instrumento de sopro de metal neacuteaqueles instrumentos pesados formado por dois tubos encaixados um no outro

240

Participante() hum rum (b) Usando L1 Entrevistador reclama critica vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes Participante natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra

expressatildeo Entrevistador qual eacute mas usando a palavra trombone Participante eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha)

quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assim[pocircr a boca no trabalho] tralha

(c) Usando CP Participante bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a

boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem

Entrevistador nesse mesmo sentido que colocou agora () Participante sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees

tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute14) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais ()

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Para a compreensatildeo da expressatildeo saber com quantos paus se faz

uma canoa os participantes recorreram a 94 procedimentos e accedilotildees cognitivas sendo que sendo 20 taacuteticas bottom-up e 74 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a RP se sobressaiu com 16 do tempo dos informantes

14 Interessante assinalar que a palavra xiba em portuguecircs refere-se agrave baile popular rural com sapateado acompanhado por instrumentos de cordas dedilhaacuteveis canto e palmas sua origem eacute africana ou portuguesa com adaptaccedilotildees negras

241

Das estrateacutegias top-down evidenciaramm-se as CP com 36 AC e L1 com 19 do tempo dos informantes

Vejamos a seguir trechos com RP CP AC e L1 extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando RP Entrevistador e vocecirc acha que qual e h o sentido desta

expressatildeo que apareceu aiacute ldquosaber com quantos paus se faz uma canoardquo hellip

Participante e h tipo dizer assim meu filho tu entrou numa grande furada hellip ((risos)) tu vai ver a realidade hellip ((risos da participante e do entrevistador)) hellip e h algo parecido hellip

(b) Usando CP Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido (c) Usando AC e L1 Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao

fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo

Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

242

Chutar o pau da barraca Para a expressatildeo chutar o pau da barraca os participantes

recorreram a 102 procedimentos cognitivos sendo 52 taacuteticas bottom-up e 50 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up o recurso mais usado no protocolo verbal foi RP com 24 das demandas dos participantes

Das estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo merece destaque CP com 21 do tempo

Vejamos a seguir trechos com RP e AC extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando RP Entrevistador e o que significa chutar o pau da barracardquo Participante ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos

da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo

(b) Usando CP Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante porque o que eacute () Entrevistador o que tem a ver chutar o pau da barraca com

revolta Participante porque por exemplo Roberto ((silecircncio))

((balbucio)) Entrevistador eu soacute quero que vocecirc justi jusfique eu natildeo tocirc

nem questionando natildeo Participante eacute Entrevistador eu tocirc aceitando sua resposta soacute queria que vocecirc

me justificasse por que vocecirc acha que pau chutar e barraca tem a ver com revolta por que vocecirc acha que tem a ver

Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

243

Tabela 10 - Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica por Participantes

CATE-GO-

RIAS

EXPRESSOtildeES

IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

ZOO-MOR-FIS-

MOS

Matar cachorro a grito

1235 678 91213 1415 1617 1819 20

235 1112 1314 1516 1819 20

2368 112 1317 1819 20

1 6 789 17 19

2368 1112 13 17 1819 20

78 1317 1820

12 5 1113 1720

17 48

Pagar mico

1 3 11 14 15 1617 1920

311 14 1516 1718 1920

1114 1516 17 18 1920

1114 1516 1718 1920

1 1415 1619 20

1 3 5 78 1416 1720

13 10

SOMA-TIS-MOS

Tirar aacutegua do joelho

3 1014

3410

31011

3 31011

1415 20

145 12

6 912

244

151718 1920

141516 17 819 20

121416 1718 1920

111314 17 18 19

121416 171819 20

1517 1920

Botar a boca no trombone

2 1213 14 5 19

1118

19 12 1314 19

19 2 1213

12 13

BOTA-NIS-MOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1 4 1011 13 14 15 1718 19

11 151718 1920

18 1 4 1011 13 14 1718

18 1920

1 4 10 1719 20

1 1117 20

11

Chutar o pau da barraca

123 5 67 11 121314 151618 1920

1235 1415 16 20

2311 1214 1617

23 7 11 1214 1718 19 20

23 11 12 1617

11 1316 1819

2 67 1314 1618 19 20

236

214 18 20

Legenda RP = Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica DA = Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido SI = Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica AC = Adivinhar o sentido da expressatildeo

245

idiomaacutetica a partir do contexto formal AA = Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha AT = Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal ou improvisado(ajuda teacutecnica) SL = Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico CP = Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica L1 = Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) e OE = Usar outras estrateacutegias

Estrateacutegias bem-sucedidas

Nas seccedilotildees anteriores foram abordadas as frequecircncias de uso

das estrateacutegias de compreensatildeo sem levarmos em conta se os participantes adivinharam corretamente o sentido da expressatildeo idiomaacutetica

Nesta seccedilatildeo apresentamos dados referentes agraves estrateacutegias bem-sucedidas isto eacute estrateacutegias top-down a que os informantes recorreram durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud e ao serem indagados pelo experimentador quanto ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo anunciaram respostas consideradas corretas e que atendiam agrave expectativa da tarefa

Vale lembrar que os informantes aqui considerados satildeo apenas os que na tarefa 2 a da verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo e natildeo saber seu sentido e os que declararam lembrar mas natildeo saber sentido idiomaacutetico Imediatamente apoacutes darem estas respostas antes de quaisquer pedidos de ajuda (SI) indagamos sobre o sentido idiomaacutetico da expressatildeo mesmo com apoio de contexto de situaccedilatildeo respostas que poderiam ser dadas em L1 ou L2 e mais uma vez confirmamos que realmente natildeo entendiam a locuccedilatildeo verbal

Nesta seccedilatildeo examinamos mais especificamente as estrateacutegias que levaram os participantes a interpretar com sucesso as expressotildees idiomaacuteticas Verificamos quais as estrateacutegias cognitivas efetivamente beneficiaram os participantes na hora de anunciar corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo

Ao cogitarmos vaacuterias estrateacutegias para a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica essa postulaccedilatildeo potildee em xeque algumas das hipoacuteteses psicolinguiacutesticas (leacutexicas e composicionais) que circulam entre psicolinguistas em geral excludentes bem com o curso temporal do processamento fraseoloacutegico (por exemplo a primazia

246

da interpretaccedilatildeo literal sobre a global ou vice-versa) jaacute bem estabelecidas pelos resultados de seus experimentos questotildees que retomamos mais adiante em nosso trabalho e jaacute podemos antecipar que no modelo estrateacutegico que defendemos o processamento eacute integrador e como numa muacutesica agoacutegico com sucessatildeo de taacuteticas ascendentes (bottom-up) e estrateacutegias descendentes (top-down) e combinaccedilotildees montadas pelos participantes por vezes imprevisivelmente heuriacutesticas

Acreditamos que as explicaccedilotildees dadas pelos principais psicolinguistas sobre o processamento fraseoloacutegico podem ser ainda melhor descritas a partir das estrateacutegias cognitivas que o falante emprega no esforccedilo de compreender expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ou natildeo familiares ou simplesmente opacas Por essa razatildeo experimentos psicolinguiacutesticos com falantes natildeo nativos (ou estrangeiros) de uma liacutengua dada podem desvelar realmente o que ocorre com a mente dos falantes quando se depararam com uma expressatildeo nova ou desconhecida

No modelo estrateacutegico de compreensatildeo idiomaacutetica vemos as hipoacuteteses leacutexicas e as hipoacuteteses composicionais como sendo interdependentes Pelo menos eacute o que podemos comprovar com os dados dos falantes que diante de expressotildees natildeo familiares ou opacas esforccedilaram-se atraveacutes de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas na tentativa de desvelar seu sentido idiomaacutetico

As chamadas hipoacuteteses composicionais segundo as quais o processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas resulta necessariamente da anaacutelise gramatical total ou parcial das palavras e sintagmas que as compotildeem (BELINCHOacuteN1999 p364-369) satildeo vistas por um outro acircngulo em nossa pesquisa Primeiramente constituem-se psicolinguisticamente um conjunto de taacuteticas bottom-up (RP DA SI) traduzido em uma seacuterie sistemaacutetica de etapas no sentido de entender uma expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo o suficiente para o falante acessar o seu sentido idiomaacutetico ou fraseoloacutegico

Uma expressatildeo como pagar mico que apresentou um alto percentual de idiomaticidade forte (ou opacidade) em nossa pesquisa em que pese o esforccedilo dos falantes natildeo nativos de analisar os sentidos parciais das palavras pagar e mico e o proacuteprio em que a expressatildeo aparecia o referido empreendimento natildeo foi decisivo para a compreensatildeo idiomaacutetica levando-os diante desta expressatildeo opaca a

247

solicitar informaccedilotildees (inclusive o SL isto eacute o sentido literal) ou ajuda teacutecnica de diversas ordens (AT AA por exemplo) para continuar a sua luta individual e caracteriacutestica em direccedilatildeo ao acesso fraseoloacutegico da expressatildeo

As hipoacuteteses leacutexicas segundo as quais as expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas em uma memoacuteria especial esta entendida como uma memoacuteria que natildeo formaria parte do leacutexico comum do falante permitiriam um acesso direto ao sentido idiomaacutetico

Para os falantes nativos as hipoacuteteses leacutexicas podem realmente explicar o processamento fraseoloacutegico de expressotildees familiares mas natildeo explicam o esforccedilo dos natildeo nativos de decifrar as expressotildees desconhecidas ou natildeo familiares Se os falantes nativos as lembram e satildeo capazes de identificar sua forma fixa ou reconhecer sua idiomaticidade entatildeo natildeo podemos falar estritamente em expressotildees opacas e sim expressotildees que ficam na ponta da liacutengua na iminecircncia de ter seu sentido idiomaacutetico anunciado ou dito mas se o sentido natildeo vecircm agrave tona ao certo poderemos apenas falar em uma falha na recuperaccedilatildeo (ou esquecimento) do sentido idiomaacutetico no leacutexico mental

Pudemos observar em nosso experimento off-line que as hipoacutetese leacutexicas se manifestaram predominantemente nas estrateacutegias top-down (AC L1 etc) mas natildeo de forma isolada isto eacute dependeram para serem bem-sucedidas dos esforccedilos depreendidos pelos participantes nas taacuteticas preparatoacuterias ou bottom-up

Para natildeo enviesarmos os dados de nossa pesquisa e particularmente identificarmos as estrateacutegias bem-sucedidas consideramos soacute os participantes com baixo niacutevel e meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute os que durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal haviam declarado natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo idiomaacutetica ou quando lembravam ou declaravam ter ouvido antes natildeo conseguiam evocar seu sentido idiomaacutetico informaccedilotildees que pudemos comprovar imediatamente com suas respostas consideradas incorretas ou parcialmente corretas na tarefa 3 de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica ou semacircntica

Considerando este criteacuterio de exclusatildeo como seleccedilatildeo de participantes verificamos apoacutes anaacutelise de suas respostas que de um total de 75 itens comentados 33 foram itens respondidos corretamente (ou seja receberam uma pontuaccedilatildeo 3 na tarefa 3 de

248

verificaccedilatildeo da idiomaticidade semacircntica) variando o nuacutemero de acertos de expressatildeo para expressatildeo o que representou depois deste procedimento ou enxugamento uma taxa de sucesso de 44 entre os participantes

Em ordem de classificaccedilatildeo as estrateacutegias que levam a interpretaccedilotildees corretas (ver tabela 1) foram as seguintes

(a) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (Estrateacutegia AC 29)

(b) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (Estrateacutegia AT 16)

(c) Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (Estrateacutegia SL 7)

(d) Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia CP 28)

(e) Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) (Estrateacutegia L 17)

(f) Usar outras estrateacutegias (Estrategia OE 3) Embora em muitos casos os participantes tenham usado taacuteticas

bottom-up e mais de uma estrateacutegia top-down para ter sucesso apenas as que levaram diretamente agrave resposta correta isto eacute as top-down foram incluiacutedas nesta contagem

As taacuteticas de repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RP) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (Estrateacutegia DA) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia SI) natildeo satildeo apresentados na Tabela 1 porque embora natildeo sejam completamente prescindiacuteveis no processamento fraseoloacutegico representam recursos cognitivos que permitiram aos participantes de modo geral ganhar tempo isto eacute postergar suas respostas agraves solicitaccedilatildeo feitas continuamente pelo experimentador aguardando assim melhor momento da entrevista para anunciaacute-las o que foi relevante para nossa pesquisa e principalmente para obtermos informaccedilotildees sobre o jogo adivinhatoacuterio e esclarecermos seus pensamentos antes de anunciar o sentido definitivo da expressatildeo

Merecem uma nota s trecircs taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) que representaram 50 do conjunto de procedimentos cognitivos utilizados pelos participantes para processarem a compreensatildeo

249

idiomaacutetica mas natildeo foram suficientes para os que natildeo lembravam seu sentido idiomaacutetico total ou parcialmente responderem corretamente agrave questatildeo proposta pelo experimentador

Abaixo seguem trecircs exemplos (trechos em versatildeo de transcriccedilatildeo ortograacutefica) de como as taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) puderam configurar um palpite correto para que o participante pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo

(a) Usando RP Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui

seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

(b) Usando DA Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante gostaria Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante ((o participante reler trechos do texto em

balbucios)) hum o que se daacute pra entender eacute que o facto o fa a pessoa exerce um algum tipo de atividade a que noacutes a gente associa eacute que essa atividade vai nos tornar rico ou milionaacuterio alguma coisa do tipo matar cachorro a grito que o que daacute pra entender eacute que eacute uma expressatildeo que na verdade natildeo eacute bem assim soacute que a gente por pensar desse jeito acaba acaba influenciando todo mundo a pensar assim tambeacutem e todos noacutes acabamos dizendo que ele eacute rico eacute o que daacute pra entender de acordo com o texto

(c) Usando SI Entrevistador mico eacute eacute um animal eacute um pequeno primata

macaquinho pequeno eacute mico se alimentam principalmente de insetos e frutas isso te ajuda a entender a expressatildeo

Participante dar outra forma de explicar mais

250

Entrevistador que outra forma vocecirc quer quer um exemplo Participante um exemplo assim Entrevistador taacute certo outro exemplo um exemplo seria eacute

eu natildeo vou pra uma festa soacute de jovens eu jaacute tenho cinquenta anos

se eu chegar numa festa soacute de jovens eu posso pagar mico Participante ((silecircncio)) Entrevistador natildeo tem uma ideia Participante natildeo repita aiacute repita ((riso))

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Nos trechos que se seguem daremos exemplos das principais

estrateacutegias top-down empregadas pelos participantes no esforccedilo de encontrar o sentido idiomaacutetico das expressotildees consideradas opacas isto eacute expressotildees que os participantes haviam declarado natildeo lembrar ou ter ouvido ou lembravam mas natildeo sabiam o sentido

Na tabela 1 aparecem as taacuteticas bottom-up mas natildeo as destacamos nos trechos abaixo porque natildeo se tratam de recursos cognitivos como dissemos anteriormente em outras seccedilotildees determinantes para a definiccedilatildeo por parte dos participantes do sentido idiomaacutetico das expressotildees

As expressotildees estatildeo agrupadas em zoomorfismos somatismos e botanismos

Os trechos extraiacutedos do Corpus Afri referem-se agraves estrateacutegias top-down sobressalentes ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito No cocircmputo geral a expressatildeo matar cachorro a grito com 23

estrateacutegias equivalente a 15 ficou em quarto lugar entre as bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 foram os recursos mais utilizados pelos informantes ambos com 23 do tempo

Com 18 ficaram as estrateacutegias AC AA e AT Natildeo houve registro de OE

251

Seguem abaixo dois trechos com estrateacutegias top-down destacadas no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador O brasileiro com baixo salaacuterio ele vive matando

cachorro a grito pra puder criar os filhos o brasileiro mata cachorro a grito

Participante Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo)

(b) Usando L1 Entrevistador e e h um salaacuterio que natildeo daacute pra pessoa viver bem

hellip vive matando cachorro a grito hellip todo dia se taacute matando cachorro a grito hellip o que e h matar cachorro a grito

Participante tem outro outro sentido que a gente usa assim esse matar cachorro a grito hellip

Entrevistador vocecircs usam hellip qual o sentido Participante e h tipohellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em

crioulo)) Entrevistador hum hellip Participante caratecirc hellip Entrevistador caratecirc Participante caratecirc hellip tem (hellip) Entrevistador como e h (hellip) Participante tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma

coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa

Entrevistador como e h que vocecircs dizem Participante (dar caratecirc ) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip caratecirc

hellip a luta japonecircs Entrevistador ah hellip dar caratecirc Participante e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso))

252

Natildeo pagar mico A expressatildeo pagar mico com apenas 9 estrateacutegias equivalente

a 6 ficou em sexto e uacuteltimo lugar entre as que apresentaram estrateacutegias bem-sucedidas

Nesta expressatildeo referente agrave frequecircncia de uso basicamente foram trecircs as estrateacutegias bem-sucedidas para os participantes na tarefa de verificaccedilatildeo de idiomaticidade semacircntica Satildeo elas CP com 67 do tempo L1 com 22 e SL com 11

O que nos chamou a atenccedilatildeo foi esta expressatildeo natildeo requerer por parte dos participantes estrateacutegias como AC AT e OE registrando-se uma maior demanda de usos em estrateacutegia CP com 67 do tempo vindo em seguida as Estrateacutegias L1 e SL estas com percentuais bastante piacutefios

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias top-down sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante natildeo natildeo vi nenhuma Entrevistador natildeo entendeu Participante ldquo natildeo pagar micordquo Entrevistador ldquo natildeo pagar micordquo Participante eacute existe eu sei o que eacute tipo natildeo passar vergonha Entrevistador natildeo passar vergonha Participante eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica

mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num () Entrevistador ah vocecirc conhece laacute desde pequena () Participante eacute natildeo paga mico eacute sim conheccedilo (b) Usando L1 Entrevistador aparece aiacute tambeacutem hellip a expressatildeo eacute hellip ldquopagar

micordquo hellip vocecirc saberia me dizer o que eacute pagar mico () Participante ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo

ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico eacute pagar passar vergonha hellip

253

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Entre as seis expressotildees idiomaacuteticas a expressatildeo tirar mais aacutegua

do joelho ficou em segunda lugar com 29 estrateacutegias equivalente a 20 das demandas cognitivas

Entre as estrateacutegias de procura pelos informantes citamos a Estrateacutegia AT como a de maior destaque entre as estrateacutegias em busca do sentido idiomaacutetico da expressatildeo vindo em seguida a estrateacutegia AT com 31 das demandas cognitivas

A estrateacutegia AC compareceu ao processo de compreensatildeo idiomaacutetica dos participantes com 14 do tempo vindo em seguida com menores percentuais as estrateacutegias SL e L1 com 7 ambos

Natildeo houve registro da estrateacutegia OE Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AT Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador alguma dica Participante quero Entrevistador que tipo de dica vocecirc quer Participante um exemplo similar Entrevistador eacute algumas vezes quando eu estou numa mesa de

bar com amigos tomando cerveja quando estaacute na terceira ou quarta cerveja eu chego pro meu amigo e digo ldquoolha vou ao banheiro tirar aacutegua do joelhordquo aiacute eu vou laacute tiro aacutegua do joelho e volto e digo assim ldquoolha agora eu posso beber mais trecircs cervejas estou livre tirei aacutegua do joelho ((risos da informante)) e assim vou levando a noite inteira

Participante ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute

(b) Usando AC Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante Eu reconheccedilo Entrevistador Qual eacute Participante Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente

tirar mai aacutegua do joelho

254

Entrevistador O que eacute tirar aacutegua do joelho Participante Com certeza eu acho que faz mais a pessoa

urinar ir pro banheiro de vez em quando Pocircr a boca no trombone A expressatildeo pocircr a boca no trombone com 17 estrateacutegias

equivalente a 11 apresentou o maior nuacutemero de estrateacutegias bem sucedidas

Duas estrateacutegias se destacaram no uso pelos participantes a estrateacutegia AC com 47 do tempo e a estrateacutegia L1 com 29 dos recursos cognitivos

Registrou-se o baixo uso de Estrateacutegias AT (em geral pedido de exemplos dados pelo experimentador ) com 7 natildeo sendo registradas estrateacutegias como SL e OE para o processo de compreensatildeo idiomaacutetica

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando AC Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante ldquo botar a boca no trombosordquo15 Entrevistador e qual seria o sentido Participante reclamou Entrevistador vocecirc conhece no seu paiacutes Participante conheccedilo natildeo Entrevistador vocecirc jaacute tinha ouvido no Brasil Participante natildeo ouvi natildeo Entrevistador eacute a primeira vez que vocecirc ver Participante hunrrum Entrevistador mas o quecirc que faz com que vocecirc descubra que esta

eacute uma expressatildeo ldquobotar a boca no trombonerdquo

15 Em conversa informal com informantes guineenses a expressatildeo botar a boca no tromboso (L1) por botar a boca no trombone (L2) nos sugere estarmos diante uma corruptela fraseoloacutegica decorrente maacute compreensatildeoaudiccedilatildeo e reproduccedilatildeo nas camadas mais simples de Guineacute-Bissau muito comum nas formas de eufemismo ou nos casos de uso de expressotildees considerada inapropriadas pelas camadas mais socialmente favorecidas

255

Participante porque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

(b) Usando L1 Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante identifica () Entrevistador identificou qual Participante pocircs a boca no trombone Entrevistador trombone () Participante tem uma coisa igual essa que o pessoal diz que a

pessoa mas essa aqui eu sei colocar boca na na trombeta pra falar neacute

Entrevistador com eacute bota vocecircs dizem botar a boca () Participante na trombeta Entrevistador na trombeta Participante eacute Entrevistador e quer dizer o quecirc botar a boca na trombeta Participante assim isso quer dizer que uma quando uma

pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Cotejadas com as demais expressotildees saber com quantos paus se

faz uma canoa com uso de 23 estrateacutegias equivalente a 15 foi a que ficou em terceiro lugar entre as bem-sucedidas

Para a compreensatildeo da referida expressatildeo os participantes recorreram a Estrateacutegia AC com 43 do tempo destinado agraves estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo vindo em seguida as Estrateacutegias CP e L1 com 32 e 17 respectivamente

256

As estrateacutegias AT e OE juntas somaram um percentual de 8 do tempo empregado em uso de estrateacutegias cognitivas

Natildeo houve registro de Estrateacutegia SL Seguem abaixo trecircs exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AC Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(b) Usando CP Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante certo Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo equivalente no

crioulo Participante ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina

encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem

Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa

Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia

257

quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(c) Usando L1 Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz

uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo

natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

Entrevistador ah eacute Participante e h ((risos)) Entrevistador e que dizer o quecirc Participante e h tipo vai ver com quantos paus se faz uma

canoa ((risos)) Entrevistador ((risos)) Participante ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente

expressatildeo idiomaacutetica Chutar o pau de barraca Das 150 estrateacutegias usadas pelas participantes em benefiacutecio da

compreensatildeo a expressatildeo chutar o pau de barraca entre as seis expressotildees foi a que demandou 44 estrateacutegias equivalente a 29 das demandas cognitivas registrando-se assim o maior percentual de estrateacutegias bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 com 23 foram as duas requisitadas pelos participantes vindo em seguida com 18 as estrateacutegias AC AT e SL

Na busca da compreensatildeo de chutar o pau da barra os participantes recorreram a estrateacutegia CP com 34 do seu tempo vindo em seguida a Estrateacutegia AC com 23 do tempo despendido no processamento fraseoloacutegico

258

As estrateacutegias AT e L1 ficaram com 14 do tempo de uso dos recursos cognitivos ficando as estrateacutegias SL e OE as estrateacutegias com menores percentuais isto eacute ficaram 9 e 6 respectivamente

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica Participante ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute

um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

Entrevistador ah muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo ()

Participante nunca Entrevistador em Guineacute Participante nunca Entrevistador mas jaacute tinha ouvido aqui Participante aqui tambeacutem eacute nunca () Entrevistador nunca () Participante natildeo ouvi nunca Entrevistador aiacute mesmo assim conseguiu entender Participante entendi mais ou menos Entrevistador muito bem (b) Usando L1 Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante chutar o pau da barraca Entrevistador chutar o pau da barraca hellip vocecirc jaacute conhecia no

Brasil ou laacute em Cabo Verde ou aprendeu aqui no Brasil Participante natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip

expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip Entrevistador hum hellip e em crioulo existe ()

259

Participante e h em crioulo hellip Entrevistador alguma equivalente a essa daiacute Participante deixa eu ver hellip chutar o pau da barraca hellip

((silecircncio)) Entrevistador qual o sentido que vocecirc dar () Participante chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou

largar tudo Entrevistador vai largar tudo hellip Participante largar tudo Entrevistador e como seria no crioulo hellip no teu crioulo Participante no meu crioulo eacute hellip hum hellip chutar o pau da barraca

hellip ((estalos ao fundo)) tipo a galera usa uma expressatildeo que significa hellip laacute em minha em crioulo de Santiago hellip que e h hellip que e h hellip (espadia peacute espadia peacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip quer dizer estou saindo fora to saindo fora

Tabela 11 - Frequecircncia de estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Expressotildees Idiomaacuteticas

Taacuteticas e Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

Matar cachorro a grito

15 05 09 04 - 04 04 05 05 01

Pagar mico 02 03 00 00 - 00 01 06 02 00

Tirar aacutegua do joelho

16 12 14 09 - 12 02 04 02 00

Pocircr a boca no trombone

09

00

01

08

- 01

00

03

05

00

Saber com quantos paus se faz uma canoa

17

05

01

12

-

01

00

09

05

01

Chutar o pau da barraca

21

06

14

10

-

06

04

15

06

03

260

Total 80 31 39 43 - 24 11 42 25 05

de todas usadas

27 10 13 14 8 4 14 8 2

Taacuteticas e Estrateacutegias usadas em todos os itens - 300

261

BREVES CONCLUSOtildeES

Tarefa 1 grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Para a expressatildeo pocircr a boca no trombone de faacutecil identificaccedilatildeo

fraseoloacutegica e tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa de meacutedia identificaccedilatildeo fraseoloacutegica confirmamos a hipoacutetese de que a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico posto que as referidas expressotildees foram consideradas pelos informantes de idiomaticidade fraca (ou transparentes) As expressotildees matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca de faacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e natildeo pagar mico de difiacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram consideradaras de idiomaticidade forte (opacas) Portanto entre os seis itens natildeo pagar mico foi a uacutenica expressatildeo de difiacutecil identificaccedilatildeo e com sua correspondente idiomaticidade forte Tarefa 2 grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB

natildeo processam itens armazenados em sua memoacuteria de longo prazo atraveacutes das expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma canoa e pocircr a boca no trombone por estarem psicolinguisticamente fixadas em L1(crioulo) ou L2 (liacutengua portuguesa) paga uma mico (L2) Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa e Poi boka na mundo (L1)

As expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma

canoa e pocircr a boca no trombone apresentaram as meacutedias mais altas quanto ao alto grau de memoacuteria fraseoloacutegica Atraveacutes das respostas dos informantes em L1 pudemos comprovar a hipoacutetese de os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria como um todo unitaacuterio Nas demais expressotildees isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho e chutar o pau da barraca natildeo comprovamos nenhuma destas duas hipoacuteteses acima mencionadas

262

Para as expressotildees natildeo pagar mico e saber com quantos paus se faz uma canoa comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos Nas demais expressotildees do experimento isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e chutar o pau da barraca natildeo foi comprovada esta hipoacutetese

Tarefa 3 grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

A hipoacutetese de que as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica natildeo foi confirmada para natildeo pagar mico e matar cachorro a grito Quanto a natildeo pagar mico muitos informantes afirmaram desconhecer o sentido literal da palavra mico e quanto a matar cachorro a grito entenderam-na no sentido literal Confirmamos a hipoacutetese para os somatismos tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone considerados de idiomaticidade fraca (ou transparentes) contando para desvelar o sentido idiomaacutetico das referidas expressotildees com a ajuda teacutecnica e expressotildees equivalentes em L1 (tra agua de joelho16 e poi boka na mundo)

Para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo confirmamos a hipoacutetese de que expressotildees designadoras de nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados Os conhecimentos linguiacutesticos preacutevios e expressotildees equivalentes em L1 (crioulo) tornaram ao contraacuterio a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa com a meacutedia mais alta em se tratando de reconhecimento idiomaacutetico

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma cano confirmamos a hipoacutetese de expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes

16 Segundo informantes do sexo feminino de Cabo Verde e Guineacute-Bissau os estudantes intercambistas no Cearaacute que no periacuteodo de feacuterias ou recesso acadecircmico retornam aos paiacuteses de origem levam consigo muitas expressotildees idiomaacutetica de uso frequente como eacute o caso de tirar aacutegua do joelho que aponta evidecircncia da transferecircncia de propriedades de L2 (liacutengua portuguesa na vertente brasileira) para L1 (em crioulo a expressatildeo neoloacutegica tra agua de joelho)

263

em L1 ou L2 (na vertente africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho Pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma canoa confirmamos a hipoacutetese de que o conhecimento do sentido de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica (joelho trombone pau) torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o sentido idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Confirmamos para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca a hipoacutetese de que o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuiacutedo pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo Os informantes de modo geral consideram estas trecircs expressotildees brasileiras e terem ouvido mas natildeo aprendido seu sentido idiomaacutetico atraveacutes das telenovelas e miacutedias (muacutesicas Internet etc) Tarefa 4 taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica

Levando-se em conta as seis expressotildees do experimento pudemos

comprovar a hipoacutetese de que a idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias top-down pelo contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) Os dados da pesquisa poreacutem natildeo confirmam a hipoacutetese de que sentido literal da expressatildeo (SI) nem os conhecimentos linguiacutesticos em L1 satildeo determinantes para que os informantes natildeo nativos acessassem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees do experimento

Comprovamos a hipoacutetese de que o uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB atraveacutes da variedade de uso de estrateacutegias top-down para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes cabo-verdianos e guineenses sendo os cabo-verdianos os que mais exploraram as

264

estrateacutegias AC CP e L1 ao certo por receberam mais influecircncia da cultura brasileira atraveacutes dos intercacircmbios universitaacuterios das telenovelas muacutesicas e miacutedias diversas (internet)

Natildeo confirmamos a hipoacutetese de que quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas Para as seis expressotildees os dados mostram que do ponto quantitativo as estrateacutegias top-down se igualaram ao nuacutemero de taacuteticas bottom-up sendo ativadas imediatamente depois de os informantes ativarem as taacuteticas bottom-up especialmente a repeticcedilatildeo e paraacutefrase da expressatildeo idiomaacutetica seguida de pedidos de ajuda teacutecnica

265

REFEREcircNCIAS

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ESCANDELL VIDAL M Victoria Fundamentos de semaacutentica composicional Barcelona Ariel Linguiacutestica [2004] 2011 FERRARI Liliam Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica cognitiva Satildeo Paulo Contexto 2011 FILLMORE Charles J et ali ldquoRegularity and Idiomaticity in Grammatical Constructions The Case of Let Alonerdquo In Language Vol 64 No 3 (1988) pp 501-538 Disponiacutevel em httplingostanfordedusagpapersfillmore2B88pdf Acesso em 18102010 FLORES DrsquoARCAIS G B (1993) The comprehension and semantic interpretation of idioms In CACCIARI C E TABOSSI P (Orgs) Idioms Processing structure and interpretatio Hillsdale NJ Erlbaum 1993 P 79ndash98 FREGE G Estudios sobre semacircntica Barcelona Ariel 1971 FULGEcircNCIO Luacutecia Expressotildees fixas e idiomatismos do portuguecircs brasileiro Tese de doutorado em Linguiacutestica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais Belo Horizonte 2008 506f GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ M Contribuibucioacuten del leacutexico en la opacidad de las locuciones In MOGORROacuteN HUERTA Pedro e MEJRI Salah (Orgs) Opacidad idiomaticidad traduccioacuten Alicante Universidade de Alicante Paris Universiteacute Paris Manouba Universiteacute de la Manouba 2010 P129-149 GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ Mario Introduccioacuten a la fraseologiacutea espantildeola estudio de las locuciones Rubiacute (Barcelona) Antropos 2008 GARCIacuteA-PAGE Mario La fraseologia em Espantildea de Casares (1950) a la nueva gramaacutetica de la Real Academia In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa Satildeo Paulo Pontes 2011 GARRAtildeO Milena de Uzeda A identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas verbis com base em corpora In ALVAREZ Maria Luisa Ortiz (Org) Tendecircncias atuais na pesquisa descritiva e aplicada em fraseologia e paremiologia v2 Campinas SP Pontes 2012 p125-131 GIBBS JR Raymond W Et ali Metaphor in Idiom Comprehension In Journal of Memory and Language 37 1997 p 141ndash154 GIBBS R On the process of understanding idioms In Journal of Psycholinguistic Research 14(5) 1985 p465-472 GONZAacuteLEZ REY Mariacutea Isabel La nocioacuten de haacutepax en el sistema fraseoloacutegico franceacutes y espantildeol In ALMELA et ali Fraseologiacutea

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MONTORO DEL ARCO Esteban Teoriacutea fraseoloacutegica de las locuciones particulares Las locuciones prepositivas conjuntivas y marcadoras en espantildeol Frankfurt Peter Lang 2006 NACISCIONE Anita Phraseological units in literary discourse Implications for teaching and learning In CAUCE - Revista de Filologiacutea y su Didaacutectica nordm 24 2001 p 53-67 NASCENTES Antenor Tesouro da fraseologia brasileira Rio de Janeiro Freitas Bastos 1966 NEGRO ALOUSQUE Isabel La traduccion de las expresiones idiomaticas marcadas culturalmente In Revista de Linguiacutestica y Lenguas Aplicadas vol 5 2010 p 133-140 NEVEU Franck Dicionaacuterio de ciecircncias da linguagem Petroacutepolis RJ Vozes 2008 NOacuteBREGA Bruna Filipa de Sousa Os lapsus linguae e o leacutexico mental Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Terapia da Fala) 2010 141f - Escola Superior de Sauacutede do Alcoitatildeo Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa Instituto de Ciecircncias da Sauacutede Universidade Catoacutelica Portuguesa Alcoitatildeo 2010 NUNBERG Geoffrey SAG Ivan A e WASOW Thomas Idioms Language Vol 70 no 3 (1994) 49 p491-538 OLZA MORENO Ineacutes Aspectos de la semaacutentica de las unidades fraseoloacutegicas La fraseologiacutea somaacutetica metalinguiacutestica del espantildeol 2009 581f Tese (Doutorado em linguiacutestica hispacircnica) ndash Programa de Doctorado em Linguiacutestica Hispaacutenica Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Navarra 2009 Disponiacutevel em httpdspaceunavesdspacebitstream1017169851Tesis20InC3a9s20Olzapdf PAMIES BERTRAacuteN Antonio (2007) ldquoDe la idiomaticidad y sus paradojasrdquo In CONDE TARRIacuteO Germaacuten (Org) Nouveaux apports agrave lrsquoeacutetude des expressions figeacutees Cortil-Wodon EME amp InterCommunications SPRL 2007 p173-204 PEREIRA Eduardo Carlos Gramaacutetica expositiva curso superior Satildeo Paulo CEN [1907] 1957 PERINI Maacuterio A Gramaacutetica do portuguecircs brasileiro Satildeo Paulo Paraacutebola 2010 PORTO DAPENA Joseacute-Aacutelvaro Manual de teacutecnica lexicograacutefica Madrid Arco 2002

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SEARLE John R Expressatildeo e sentido estudos da teoria dos atos da fala Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 SILVA Maria Eugecircnia Oliacutempio de Oliveira Dicionaacuterios armas de dois gumes no estudo da fraseologia O caso das locuccedilotildees In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Campinas SP Pontes 2011 P161-182 SMITH Frank Leitura significativa Porto Alegre Artmed 1999 SOLEacute Isabel Estrateacutegias de leitura Porto Alegre Artmed 1998 STERNBERG Robert J Psicologia cognitiva Porto Alegre Artmed 2008 SWINNEY D E CUTLER A ldquoThe acess and processing of idiomatic expressionsrdquo In Journal of Verbal Learning and Verbal Behaviour 1979 nordm18 p 645-659 Disponiacutevel em Internet httprepositoryubnrunlbitstream20661560815998pdf Acesso em 26032010 TAGNIN Stella EO O jeito que a gente diz expressotildees convencionais e idiomaacuteticas Satildeo Paulo Disal 2005 TIMOFEEVA Larissa Acerca de los aspectos traductoloacutegicos de la fraseologiacutea espantildeola 2008 594f Tese (Doutorado em Letras) Departamento de Filologiacutea EspantildeolaLinguiacutestica General y Teoriacutea de la Literatura Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Alicante Alicante 2008 TOMITCH Lecircda Maria Braga Aspectos cognitivos e instrucionais da leitura Bauru SP EdUSC 2008 TULVING E How many memory systems are there American Psychologist 40 1985 Pp 385-39 VARELA Francisco J THOMPSON Evan e ROSCH Eleanor A mente incorporada ciecircncias cognitivas e experiecircncia humana Porto Alegre Artmed 2003 VEGA-MORENO Rosa Elena Representingand processing idioms In Working Papers in Linguistics v 15 2003 p73-109 Disponiacutevel em Internet httpwwwphonuclacukhomePUBWPL01papersvegapdf Acesso em 11022011 WITTGENSTEIN Ludwig Gramaacutetica filosoacutefica Satildeo Paulo Loyola 2003 XATARA Claudia Maria O campo minado das expressotildees idiomaacuteticas In Alfa Satildeo Paulo 42(nesp) 1998 p147-159

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ZULUAGA GOMEZ Francisco Locuciones dichos y refranes sobre el lenguaje unidades fraseoloacutegicas fijas e interaccioacuten verbal In Forma funcion Santaf de Bogot DC [online] 2005 n18 p 250-282 ZULUAGA Alberto Introduccioacuten al estudio de las expresiones fijas Frankfurt am Maim Peter D Lang 1980 ZULUAGA Alberto La fijacioacuten fraseoloacutegica In Thesaurus BICC (Boletiacuten del Instituto Caro Y Cuervo) XXX nuacuteml 1975 p 225-248

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ANEXOS

Lista completa de expressotildees idiomaacuteticas do experimento

EXPERIMENTO

Zoomorfismos

1Matar cachorro a grito

2 Natildeo pagar mico

Somatismos

3Tirar mais aacutegua do joelho

4Pocircr a boca no trombone

Botanismos

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

6Chutar o pau da barraca

Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) seguindo o modelo de Cooper (1999) I - ZOOMORFISMOS

CARTAtildeO 1

Costuma-se pensar que artistas de modo geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado e Satildeo Paulo 20 de marccedilo de 2011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 2

Para quem natildeo quer pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais

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informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

II- SOMATISMOS

CARTAtildeO 3

Existem perguntas que talvez vocecirc soacute tinha feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 4

Indignado com os desmandos em Chaval uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401 km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

III ndash BOTANISMOS

CARTAtildeO 5

A partir do dia primeiro de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

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CARTAtildeO 6

Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes pede A conversa podia seguir mas eacute hora de desligar (in Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009 Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

Experimento 2 Teste de Muacuteltipla Escolha (TME seguindo o modelo de Flores drsquoArcais (1993) I - ZOOMORFISMOS

1 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Quase sempre que a presidente Dilma Rousseff vem ao Cearaacute assina liberaccedilatildeo de verbas para isso e aquilo Fica-se a pensar pelo discurso aplaudido (embora ilusoacuterio) que o dinheiro chega no dia seguinte E natildeo chega Cid Gomes com sorrisos de aparecircncia vive a engolir sapos (In Coluna Regina Marshall Caderno 3 DN 06032012)

A expressatildeo ENGOLIR SAPOS significa a( ) Deglutir anfiacutebios sem cauda de pele rugosa

b( ) Receber aplausos por liberaccedilatildeo de verbas

c ( ) Tolerar situaccedilotildees desagradaacuteveis sem responder

2 QUESTAtildeO 3H - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Uma das maiores atraccedilotildees do megassucesso Avenida Brasil novela da Rede Globo eacute a atriz Isis Valverde como a periguete boliviana Sueacutelen boa de cama e de mesa que faz gato e sapato dos coraccedilotildees masculinos do Divino com seu mix de maliacutecia e ingenuidade espontaneidade e malandragem e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar (In Nelson Motta O Estado de Satildeo Paulo 13 de julho de 2012)

A expressatildeo FAZER GATO E SAPATO significa

a ( ) Fazer de (algueacutem) o que se quer

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b ( ) Criar felino e calccedilado de sola dura

c ( ) Seduzir periguete com maliacutecia

II- SOMATISMOS

3 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Em linhas gerais para quem natildeo quer esquentar a cabeccedila nem correr maiores riscos o mercado indica a destinaccedilatildeo de parcela miacutenima dos recursos natildeo mais de 10 em fundo de accedilotildees tendo como horizonte prazo de no miacutenimo cinco anos (In Caderno Negoacutecios DN 27052002)

A expressatildeo ESQUENTAR A CABECcedilA significa

a ( ) Aquecer parte do cracircnio

b ( ) Ficar muito preocupado

c ( ) Indicar prazo miacutenimo

4 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

O diretor do Big Brother Brasil J B de Oliveira o Boninho pegou um rabo de foguete ao assumir o reality show comprado agrave Endemol para muitos uma ideacuteia fascista que aproveita a sede de fama e dinheiro de boa parte da populaccedilatildeo para trancafiar anocircnimos numa casa e escancarar as fraquezas que se potencializam no confinamento(In Marcelo Migliaccio Caderno Ilustrada Folha de Satildeo Paulo 28072002)

A expressatildeo PEGAR EM RABO DE FOGUETE significa

a ( ) Prender pessoas desconhecidas ou fascistas

b ( ) Segurar a cauda do rojatildeo ou do fogo de artifiacutecio

c ( ) Assumir compromisso complicado ou perigoso III ndash INDUMENTISMOS

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Cuidado Tem especulador botando as manguinhas de fora aumentando os preccedilos das mercadorias atrelando-as ao doacutelar Deixe a preguiccedila de lado e saia em campo Pesquise pechinche e recuse os aumentos principalmente os abusivos buscando alternativas Defenda o seu real(In Colunistas DN 10031999)

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A expressatildeo BOTAR AS MANGUINHAS DE FORA significa

a ( ) Aumentar o valor do real ou do doacutelar

b ( ) Perder a vergonha ou o acanhamento

c ( ) Pocircr as pequenas ou as poucas vestes agrave mostra

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Na uacuteltima terccedila a Globo apresentou ldquoO profetardquo agrave imprensa A novela estreacuteia dia 16 agraves 18h As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid rasgaram muita seda Mas tambeacutem mostraram que sabem brincar Depois de ouvir um elogio de Thelma a ela Duda natildeo titubeou ldquoQuero ver se na correria da novela ela continuaraacute assimrdquo Risada geral(Caderno Zoeira DN 08102006)

A expressatildeo RASGAR SEDA significa

a ( ) Fazer tecido em pedaccedilos ou tiras

b ( ) Trocar amabilidades ou gentilezas

c ( ) Ouvir brincadeiras ou risadas

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SOBRE O AUTOR

Natural de Iguatu (CE)

Nasceu em 1961 Filho de Pedrina Maria da Silva Martins lavadeira matildee generosa e visionaacuteria que muito se empenhou na sua formaccedilatildeo baacutesica e se engajou diligentemente no seu ingresso e a permanecircncia no Coleacutegio Militar de Fortaleza (CMF) no periacuteodo de 1976 a

1982 Natildeo conheceu o pai Ao deixar o CMF graduou-se em Letras pela Universidade Estadual do Cearaacute (1987) fez mestrado em Educaccedilatildeo pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (FACED 1996) da Universidade Federal do Cearaacute com a dissertaccedilatildeo ldquoConstituiccedilatildeo e educaccedilatildeo anaacutelise evolutiva da educaccedilatildeo na organizaccedilatildeo constitucional do Brasilrdquo sob a orientaccedilatildeo do Dr Andreacute Haguette (UFC) e doutorado em Linguiacutestica (2013) com a tese ldquoEstrateacutegias de Compreensatildeo de Expressotildees Idiomaacuteticas por Natildeo Nativos do Portuguecircs Brasileirordquo sob a orientaccedilatildeo da Dra Rosemeire Selma Monteiro-Plantin (UFC) pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica (PPGL) da Universidade Federal do Cearaacute Em 1989 participou do processo de elaboraccedilatildeo do Capiacutetulo da Educaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo do Estado do Cearaacute com a proposiccedilatildeo e aprovaccedilatildeo de 20 artigos educacionais que hoje figuram na Carta Estadual Em 1990 tambeacutem colaborou na elaboraccedilatildeo da Lei Orgacircnica de Fortaleza com a aprovaccedilatildeo de ao menos 30 artigos na aacuterea educacional que hoje fazem parte da Carta Municipal Desde 1994 em virtude de concurso puacuteblico mudou-se com a famiacutelia para Sobral (a 220 km de FortalezaCE) onde atua como docente de Linguiacutestica do Curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Aleacutem de dedicar-se entusiasticamente a pesquisas linguiacutesticas (Psicolinguiacutestica Fraseologia Etimologia e Descriccedilatildeo do Portuguecircs)

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tem se interessado em estudos educacionais (Legislaccedilatildeo Educacional BNCC Acordo Ortograacutefico EJA Educaccedilatildeo Baacutesica Educaccedilatildeo Inclusiva etc) e atuado ativamente nas aacutereas de Formaccedilatildeo de Professores em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo e como docente nos cursos de Especializaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e Psicopedagogia respectivamente Durante 10 anos atuou na aacuterea de ensino de Liacutengua Portuguesa e de liacutengua espanhola na educaccedilatildeo baacutesica em Fortaleza Lotado no Curso de Letras do Centro de Filosofia Educaccedilatildeo e Letras (CENFLE) da UVA em Sobral tem ao longo dos anos ministrado disciplinas como Foneacutetica e Fonologia do Portuguecircs Aquisiccedilatildeo da Linguagem e Estiliacutestica do Portuguecircs aacutereas em que escreveu muitos artigos cientiacuteficos e livros Na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tem participado como examinador externo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Universidade Federal do Cearaacute (UFC) e de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenou na UVA de 2015 a 2017 o subprojeto de Letras (Liacutengua Portuguesa) do Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBID) e coordenou de 2018-2020 o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica da CAPESMEC Possui Estaacutegio Poacutes-Doutoral em Linguiacutestica no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia sob a supervisatildeo da Profordf Dra Livia Marcia Tiba Radis Baptista (UFBA) com a pesquisa ldquoFrasemaacuterio Cultural Identificaccedilatildeo Classificaccedilatildeo e Constituiccedilatildeo de Corpus de Culturemas nos Romances do Nordeste Brasileirordquo (2016-2017) No momento cursa seu segundo estaacutegio de poacutes-doutorado pela UFC (2019-2020) na aacuterea de Linguiacutestica com pesquisa sobre ldquoOs Culturemas no Discurso Liacutetero-Musical das Letras de Canccedilatildeo Brasileirardquo sob a supervisatildeo da Profordf Dra Roseimeire Selma Monteiro-Plantan (UFC) Mais recentemente publicou livros nas aacutereas de educaccedilatildeo linguiacutestica ensino de liacutengua portuguesa e poesias todos pela editora Pedro amp Joatildeo Editores (consultar tiacutetulos em httpwwwpedroejoaoeditorescombr) Contatos para eventos e palestras em todo o Brasil presenciais ou virtuais favor enviar convite ou proposta para vicentemartinsuolcombr

283

SOBRE A HOMENAGEADA

Florence Detry eacute Licenciada em Filologia Romacircnica (Universiteacute Catholique de Louvain Beacutelgica) com mestrado em Ensino do Espanhol como Liacutengua Esttrangeira (Universidad Complutense de Madrid) e doutorado pela Universidad de Gerona Seu acircmbito de especializaccedilatildeo e linha de pesquisa

se concentram no processo cognitivo de aprendizagem da fraseologia em uma liacutengua estrangeira (particularmente espanhol e francecircs) e nas repercussotildees didaacuteticas correspondentes Eacute autora de vaacuterias publicaccedilotildees sobre este tema e de um livro ilustrado para a fraseologia do catalatildeo L2 (De cap a peus Fitxer ilmiddotlustrat de frases fetes per a la classe de catalagrave (L2) Miacutenima llibres 2014) Atualmente eacute docente nas escolas universitaacuterias anexas agrave Universidad de Gerona

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Page 3: LUSOFONIA AFRO-...Ática) e Para compreender Labov (Petrópolis, Vozes). O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocorísticos foi publicado em artigo científico sob o título

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Vicente de Paula da Silva Martins

LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA

Modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas

4

Copyright copy Vicente de Paula da Silva Martins Todos os direitos garantidos Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos do autor

Vicente de Paula da Silva Martins

Lusofonia afro-brasileira modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas Satildeo Carlos Pedro amp Joatildeo Editores 2020 283p ISBN 978-65-87645-67-4

1 Lusofonia afro-brasileira 2 Expressotildees idiomaacuteticas 3 Psicolinguiacutestica 4 Autor I Tiacutetulo

CDD ndash 410

Capa Felipe Roberto І Argila Diagramaccedilatildeo Diany Akiko Lee Editores Pedro Amaro de Moura Brito amp Joatildeo Rodrigo de Moura Brito Conselho Cientiacutefico da Pedro amp Joatildeo Editores Augusto Ponzio (BariItaacutelia) Joatildeo Wanderley Geraldi (Unicamp Brasil) Heacutelio Maacutercio Pajeuacute (UFPEBrasil) Maria Isabel de Moura (UFSCarBrasil) Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCarBrasil) Valdemir Miotello (UFSCarBrasil) Ana Claacuteudia Bortolozzi (UNESP BauruBrasil) Mariangela Lima de Almeida (UFESBrasil) Joseacute Kuiava (UNIOESTEBrasil) Marisol Barenco de Melo (UFFBrasil) Camila Caracelli Scherma (UFFSBrasil) Luiacutes Fernando Soares Zuin (USPBrasil)

Pedro amp Joatildeo Editores wwwpedroejoaoeditorescombr

13568-878 - Satildeo Carlos ndash SP 2020

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HOMENAGEM Agrave linguista e amiga Florence Detry que de tatildeo longe orientou-me passo a passo sobre os primeiros procedimentos metodoloacutegicos para construccedilatildeo dos experimentos psicolinguiacutesticos na aacuterea fraseoloacutegica e a diligente aplicaccedilatildeo de testes aos africanos lusoacutefonos

6

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS 19

CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS 67

A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas 69

Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia 71

As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas 74

As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico 74

Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo 76

Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical 79

Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto 80

Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico 82

A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas 83

A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave 84

Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas 85

ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA 89

Os experimentos de Irujo (1986) 90

Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993) 95

Os experimentos de Cooper (1999) 105

Os experimentos de Crespo e Caceres (2006) 110

Os experimentos de Detry (2010) 112

METODOLOGIA DA PESQUISA 113

Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa 113

Objetivo Geral 113

Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa 113

Perguntas da pesquisa 114

Hipoacuteteses 115

Primeiros passos metodoloacutegicos 116

8

EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS 119

Participantes 119

Refinamento dos instrumentos da pesquisa 123

Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento 126

Material e Procedimento de seleccedilatildeo 128

Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento 131

ZOOMORFISMOS 131

Matar cachorro a grito 131

Natildeo pagar mico 132

SOMATISMOS 132

Tirar mais aacutegua do joelho 132

Pocircr a boca no trombone 132

BOTANISMOS 133

Saber com quantos paus se faz uma canoa 133

Chutar o pau da barraca 133

Protocolo verbal think aloud (TA) 133

Transcriccedilatildeo de dados 134

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4 140

Material do 1ordm Experimento 142

RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 145

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

145

Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

145

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 159

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 160

Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico 160

ZOOMORFISMOS 160

Matar cachorro a grito 160

Pagar mico 161

SOMATISMOS 164

Tirar mais aacutegua do joelho 164

Pocircr a boca no trombone 165

9

BOTANISMOS 165

Saber com quantos paus se faz uma canoa 165

Chutar o pau da barraca 165

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica 166

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica 167

ZOOMORFISMOS 167

Matar cachorro a grito 167

Natildeo pagar mico 168

SOMATISMOS 169

Tirar aacutegua do joelho 169

Pocircr a boca no trombone 169

BOTANISMOS 171

Saber com quantos paus se faz uma canoa 171

Chutar o pau da barraca 171

Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 172

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

174

Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica 174

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes 178

Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica 180

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 180

ZOOMORFISMOS 180

Matar cachorro a grito 180

Natildeo pagar mico 180

SOMATISMOS 181

Tirar mais aacutegua do joelho 181

Pocircr a boca no trombone 182

BOTANISMOS 182

Saber com quantos paus se faz uma canoa 182

Chutar o pau da barraca 183

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 185

ZOOMORFISMOS 185

Matar cachorro a grito 185

Natildeo pagar mico 185

10

SOMATISMOS 186

Tirar mais aacutegua do joelho 186

Pocircr a boca no trombone 186

BOTANISMOS 186

Saber com quantos paus se faz uma canoa 186

Chutar o pau da barraca 186

Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico 187

ZOOMORFISMOS 187

Matar cachorro a grito 187

Natildeo pagar mico 187

SOMATISMOS 188

Tirar mais aacutegua do joelho 188

Pocircr a boca no trombone 188

BOTANISMOS 190

Saber com quantos paus se faz uma canoa 190

Chutar o pau da barraca 191

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica 192

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense 194

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

198

Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica 197

Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

ZOOMORFISMOS 203

Matar cachorro a grito 203

Natildeo pagar mico 206

SOMATISMOS 208

Tirar mais aacutegua do joelho 208

Pocircr a boca no trombone 209

BOTANISMOS 209

Saber com quantos paus se faz uma canoa 209

Chutar o pau da barraca 210

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 211

ZOOMORFISMOS 211

11

Matar cachorro a grito 211

Natildeo pagar mico 212

SOMATISMOS 212

Tirar mais aacutegua do joelho 212

Pocircr a boca no trombone 212

BOTANISMOS 213

Saber com quantos paus se faz uma canoa 213

Chutar o pau da barraca 213

Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 214

ZOOMORFISMOS 214

Matar cachorro a grito 214

Natildeo pagar mico 215

SOMATISMOS 216

Tirar mais aacutegua do joelho 216

Pocircr a boca no trombone 217

BOTANISMOS 218

Saber com quantos paus se faz uma canoa 218

Chutar o pau da barraca 219

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica 221

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

222

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso 231

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo 233

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625 235

ZOOMORFISMOS 235

Matar cachorro a grito 235

Natildeo pagar mico 236

SOMATISMOS 237

Tirar mais aacutegua do joelho 237

Pocircr a boca no trombone 239

BOTANISMOS 240

Saber com quantos paus se faz uma canoa 240

Chutar o pau da barraca 242

12

Estrateacutegias bem-sucedidas 245

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo 250

ZOOMORFISMOS 250

Matar cachorro a grito 250

Natildeo pagar mico 252

SOMATISMOS 253

Tirar mais aacutegua do joelho 253

Pocircr a boca no trombone 254

BOTANISMOS 255

Saber com quantos paus se faz uma canoa 255

Chutar o pau da barraca 257

BREVES CONCLUSOtildeES 261

REFEREcircNCIAS 265

ANEXOS 275

SOBRE O AUTOR 281

SOBRE A HOMENAGEADA 283

13

INTRODUCcedilAtildeO

COMO SURGIU MEU ENTUSIASMO COM A (PSICO)LINGUIacuteSTICA)

A primeira vez que vi um linguista em accedilatildeo em campo de pesquisa foi em 1983 Estudante de Letras na Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) em Fortaleza surpreendentemente vi adentrar em uma das salas de aula do Centro de Humanidades um pesquisador elegante fino voz impostada e nos saudou com um retumbante boa noite Ficamos bastante curiosos com aquela figura Em seguida pediu licenccedila ao colega professor para aplicar aos calouros de Letras um pequeno questionaacuterio sobre hipocoriacutesticos Hipocoriacutesticos Natildeo tinha a menor ideia do que pudesse ser o tema da pesquisa e o pesquisador percebendo nossos olhares atocircnitos finalmente identificou-se apresentou suas credenciais acadecircmicas e de forma muito didaacutetica falou-nos sobre os hipocoriacutesticos objeto de sua pesquisa que dizem respeito agraves palavras criadas por crianccedilas pequenas especialmente durante a aquisiccedilatildeo da linguagem com intenccedilatildeo de carinho para uso no trato familiar ou amoroso como Fafaacute [por Faacutetima] Mariinha [por Maria] Tiatildeo [por Sebastiatildeo] Estava naquele ano diante de Joseacute Lemos Monteiro um dos maiores linguistas cearenses

Anos depois li muitos artigos de Lemos sobre os processos morfoloacutegicos com especial atenccedilatildeo a dois deles ldquoProcessos de formaccedilatildeo dos hipocoriacutesticosrdquo (1983) e ldquoOs hipocoriacutesticos de Joseacute e Mariardquo (1984) bem escritos com portuguecircs escorreito estilo meliacutefluo textos bem organizados e objetivos como requerem os princiacutepios e postulados da boa ciecircncia Na verdade Lemos se dedicou de forma muito intensa nos anos 80 aos estudos dos processos morfoloacutegicos de modo especial os de natureza prosoacutedica e derivacional Trecircs dos seus livros satildeo adotados por mim em disciplina no Curso de Letras Morfologia portuguesa (Campinas Pontes) A estiliacutestica (Satildeo Paulo Aacutetica) e Para compreender Labov (Petroacutepolis Vozes)

O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocoriacutesticos foi publicado em artigo cientiacutefico sob o tiacutetulo ldquoRegras de produtividade dos hipocoriacutesticosrdquo (1982) Mais adiante jaacute no final dos anos 80 e iniacutecio da minha carreira docente no magisteacuterio de Letras descobri que Lemos

14

havia coordenado uma pesquisa ldquoDicionaacuterio de Hipocoriacutesticosrdquo realizada na cidade de Fortaleza onde coletou uma grande quantidade de nomes hipocoriacutesticos com vistas agrave elaboraccedilatildeo de um dicionaacuterio O Dicionaacuterio Hipocoriacutestico de Joseacute Lemos Monteiro nos daacute uma variedade de exemplos e muito dos nomes que nele constam fazem parte tambeacutem do nosso linguajar diaacuterio Amanda ndash Manda Mandinha Amandinha Beatriz ndash Bia Tricinha Triz Trize Bi Carla ndash Carinha Cacaacute Calu Carlota Carlita Lala e a lista vai de A a Z

As sementes de Lemos natildeo cairam em terra saacutefara aleacutem de me tornar amigo do grande pesquisador (e por diversas vezes recepcionaacute-lo em Sobral para suas magistrais conferecircncias) tambeacutem acabei por fazer agraves vezes de pesquisador agrave guisa de Lemos e realizar uma robusta e demorada pesquisa (psico) linguiacutestica ao longo de suas deacutecadas na UVA onde atuo profissionalmente desde 1994 a partir de relatos de matildees sobre as cinquenta primeiras palavras ditas por crianccedilas de 3 anos a 5 anos na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute com foco na recolha de hipocoriacutesticos material a ser ainda revisado com vistas agrave publicaccedilatildeo futura Eacute difiacutecil descrever o que se passa na mente do pesquisador e de sua equipe quando por exemplo depois de meses de aferroado trabalho de recolha e tratamento de dados de sujeitos da pesquisa ficamos diante um corpus especialmente constituiacutedo para anaacutelise (psico)linguiacutestica que apresente acircmbitos ou aacutereas de interesse acadecircmico diverso1

a)Vozes de animais ldquooarrrdquo (leatildeo) ldquofuimrdquo (porco) ldquomiaurdquo (gato) ldquoueberdquo (sapo) ldquoua-aurdquo (cachorro) ldquopiu-piurdquo (pinto) ldquobeacuteeacuterdquo (cabra) ldquomuacuteuacuterdquo (vaca) ldquoquaquardquo (pato) ldquomonrdquo (boi) ldquococoricoacuterdquo (galinha) ldquoron-ronrdquo (porco) ldquocu-curdquo (passarinho) ldquofufurdquo (coelho) ldquopiu piurdquo (pinto) ldquomeacuterdquo (cabra) b) Nomes de pessoas ldquoIardquo (Irla) ldquoIacrdquo (Isaac) ldquoInguidrdquo (Ingrid) ldquoItaiardquo(Itaacutela) ldquoSamalardquo (Samara) ldquoMarcadiordquo (Marclauacutedio) ldquoMacardquo (Magda) ldquoQuicilenerdquo (Gracilene) ldquoUiacutesrdquo (Luiacutes) ldquoAmundordquo (Raimundo) ldquoMaquederdquo (Marclede) ldquoUalardquo (Laura) ldquoKielrdquo(Macliel) ldquoMaliardquo(Maria) ldquoFaelrdquo (Rafael) ldquoGissielrdquo (Jesiel) ldquoMalenardquo (Marlene) ldquoLoanrdquo (Loratilde) ldquoSabelerdquo (Isabeli) ldquoDadardquo (Daiane) ldquoDudurdquo (Eduardo) ldquoMaconerdquo (Marcones) ldquoIquirdquo (Henrique) ldquoirdquo (Rodrigo) ldquoIgordquo (Rodrigo) ldquoDudligordquo (Rodrigo) ldquoVinirdquo (Vinicius) ldquoAndardquo (Liandra) ldquoIandardquo (Liandra) ldquoUmbertordquo (Gilberto) ldquoBunordquo (Bruno) ldquoLolenerdquo (Lorena) ldquoLorenerdquo

1 Para recolha de itens contamos com a colaboraccedilatildeo de Ana Gilvacircnia Mendes Rodrigues Francisca Magda Fernandes ArauacutejoLesliany Campos de SousaFrancisca Taiacutes Januaacuterio do Nascimento e Amanda Mesquita Paz graduandas do Curso de Letras da UVA em Sobral

15

(Lorena) ldquoAnrdquo (Alan) ldquoAnrdquo (Renan) ldquoNeiderdquo (Ivaneide) ldquoIessardquo (Vanessa) ldquoNessardquo (Vanessa) ldquoIardquo (Lira) ldquoMariruizardquo (Maria Luiza) ldquoPapardquo (Paula) ldquoQuistianrdquo (Cristian) ldquoPaul Riquirdquo (Paulo Henrique) ldquoIoinhardquo (Antocircnia) ldquoDimirrdquo (Vladimir) ldquoCreylsonrdquo (Cleyson) ldquoCade Neyrdquo (Claacuteudio Ney) ldquoVuvitordquo (Paulo Vitor) ldquoDilordquo (Danilo) ldquoManurdquo (Manoel) ldquoAnielrdquo (Daniel)

c)Nomes de animais ldquogainhardquo (galinha) ldquocassorrordquo (canhorro) ldquocabitordquo (cabrito) ldquoboboletardquo (borboleta) ldquomuquitordquo (mosquito) ldquocuelordquo (coelho) ldquopocordquo (porco) ldquokatordquo (gato) ldquopassalinhordquo (passarinho) ldquoChaninrdquo (gato) ldquopacoterdquo (capote) ldquosumigardquo (formiga) ldquodatordquo (gato) ldquonerim rdquo (carneiro) ldquogainhardquo (galinha) ldquogalrdquo (galo)

d)Nomes de alimento ldquofeisatildeordquo (feijatildeo) ldquomacaatildeordquo (macarratildeo) ldquoeiterdquo (leite) ldquoescaurdquo (nescau) ldquogalanaacuterdquo (guaranaacute) ldquoacardquo(aacutegua) ldquoagardquo (aacutegua) ldquoapordquo (aacutegua) ldquoferanterdquo(refrigerante) ldquonononerdquo (danone) ldquomananardquo (banana) ldquonanajardquo(laranja) ldquocascirdquo (abacaxi) ldquocaterdquo(abacate) ldquocucordquo (suco) ldquocangerinardquo (tangerina) ldquogagaurdquo (Mingal) ldquobicoitordquo (biscoito) ldquonanterdquo (Refrigerante) ldquochurracordquo (Churrasco) ldquomaccedilardquo ldquobolordquo ldquocarnerdquo ldquotomaterdquo ldquosucordquo ldquomucilonrdquo ldquobisscoitordquo (biscoito) ldquobocoitordquo (biscoito) ldquoalfacerdquo ldquoaquinrdquo(aacutegua) ldquoovordquo ldquonhatildenhatilderdquo (qualquer tipo de comida) ldquogoabardquo (goiaba) ldquofigeanterdquo (refrigerante) ldquotutu uvardquo (suco de uva) ldquootordquo (biscoito) ldquoanccedilardquo (maccedilatilde) ldquoArdquo (aacutegua) ldquonanardquo (banana) ldquopicalrdquo(mingau) ldquolalanjardquo (laranja) ldquopilulitordquo (pirulito) ldquoxiiacutetordquo (chilito) ldquochiqueterdquo (chiclete) ldquopizardquo(pizza) ldquozoisrdquo (arroz) ldquocarratildeordquo (macarratildeo) ldquosopardquo ldquoavozrdquo (arroz)

e)Nomes de roupas ldquoshorchrdquo (short) ldquositiatilderdquo (sutiatilde) ldquovitidordquo (vestido) ldquobusardquo (blusa)ldquobitidordquo (Vestido) ldquoshotrdquo (short) ldquocaccedilardquo (calccedila) ldquochidelardquo (chinela) ldquocacinhardquo (calcinha) ldquocuecardquo ldquosapatuacuterdquo (sapato) ldquouopardquo (roupa) ldquootardquo (bota) ldquosadaliacuteardquo (sandaacutelia) ldquobrusardquo (blusa) ldquosinelordquo (chinelo) ldquofladardquo (fralda) ldquoirtidordquo (vestido)

f)Nomes de objetos familiares e brinquedos ldquotanetardquo (caneta) ldquoaacutepisrdquo (laacutepis) ldquoivordquo (livro) ldquocaim rdquo (carrinho) ldquocompintadorrdquo (computador) ldquopacaceterdquo (capacete) ldquotevisatildeordquo (televisatildeo) ldquooacutequisrdquo (oacuteculos) ldquocadelardquo (cadeira) ldquolidificadordquo (liquidificador) ldquocamardquo ldquomonecardquo (boneca) ldquomuchilardquo (mochila) ldquocadirnordquo (caderno) ldquocolardquo ldquodinossaurordquo ldquopanelinhardquo ldquotelefonerdquo ldquocadeiardquo (cadeira) ldquocasinha de bonecardquo ldquoursordquo ldquotaordquo (carro) ldquonecardquo (boneca) ldquobiketardquo (bicicleta) ldquokeiterdquo(Skate) ldquotelesatildeordquo (televisatildeo) ldquoririnhordquo(carinho) ldquocamiagerdquo (maquiagem) ldquocopordquo ldquotupiquerdquo (topique)ldquopelhordquo (espelho) ldquocerularrdquo (celular) ldquoJaladeirardquo (geladeira) ldquobuneirordquo (banheiro) ldquopotilardquo (apostila) ldquocelaacuterdquo (celular) ldquolaternardquo(lanterna) ldquolapissirdquo (laacutepis) ldquocadelardquo(cadeira)

g)Verbos ldquocholanordquo (chorando) ldquocorrenordquo (correndo) ldquoquelordquo (quero) ldquotabalardquo (trabalha) ldquomimirdquo (dormir) ldquoatitirdquo(assistir) ldquogotordquo (gosto) ldquonihamrdquo (comer) ldquococircnirdquo (correr) ldquopulardquo (pular) ldquofazerrdquo ldquodizerrdquo ldquofalarrdquo ldquocomprarrdquo ldquoriscarrdquo ldquodeverrdquo ldquogostordquo ldquoamordquo ldquochegarrdquo ldquodescansarrdquo ldquosourdquo ldquoaprenderrdquo ldquoabaccedilarrdquo (abraccedilar) ldquofazirdquo (fazer) ldquoguadardquo (guardar) ldquocovardquo (escovar)

16

ldquoesqueverdquo (escrever) ldquobincaacuterdquo (brincar) ldquoteiordquo (quero) ldquocumeacuterdquo (comer) ldquopulharrdquo (pular) ldquodessardquo (deixar) ldquosamarrdquo (chamar) ldquoblincarrdquo (brincar) ldquoconderrdquo (esconder)

h) As palavras da vida social ldquobigadordquo (obrigado) ldquodicupardquo (desculpa) ldquolixenxardquo (licenccedila) ldquopu favocircrdquo (por favor) ldquopetordquo (preto) ldquobancordquo (branco) ldquovederdquo (verde) ldquoprofessorardquo ldquoescolardquo ldquoirmatildeordquo ldquoprimordquo ldquooirdquo ldquoOlaacuterdquo ldquotiordquo ldquovovoacuterdquo ldquovovocircrdquo ldquopraiardquo ldquoamigosrdquo ldquocolegasrdquo ldquotubomrdquo (tudo bom) ldquosadaderdquo (saldade) ldquonatildeordquo ldquofrocircrdquo (flor) ldquorossardquo (rosa) ldquoufavocircrdquo (por favor) ldquononoiterdquo (boa noite) ldquobocircdiardquo (bom dia) ldquofofocircrdquo (vovocirc) ldquofofoacuterdquo (vovoacute) ldquobom tiardquo (bom dia) ldquodesculpasrdquo ldquomaezinhardquo ldquopaizinhordquo

i)Adjetivos ldquoaindardquo (linda) ldquofeardquo (feia) ldquogodardquo (gorda) ldquomacardquo (magra) ldquoninitordquo (bonito) ldquomaviosordquo (maravilhoso) ldquogacircndirdquo (grande) ldquomonitardquo (bonita) ldquoaltordquo ldquopiquenordquo (pequeno) ldquomaurdquo ldquofelizrdquo ldquobriacanhonardquo (brincalhona) ldquochatordquo ldquobilanterdquo (brilhante) ldquofofordquo ldquoalequerdquo (alegre) ldquoaltuacuterdquo (alto) ldquosaturdquo (chato) ldquoponitardquo (bonita) ldquolhegalrdquo (legal) A pequena amostra acima pode nos dar uma ideia bem aligeirada

da visibilidade dos dados de pesquisa A constituiccedilatildeo de corpus pode ser traduzido como uma espeacutecie de ldquoepifaniardquo ao longo de uma pesquisa envolvendo principalmente alunos da graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Letras Toda discussatildeo derivada de corpus eacute em geral ineacutedita Eacute um desafio para os pesquisadores desvelar os fenocircmenos e os achados linguiacutesticos O corpus eacute uma luz importante na pesquisa A constituiccedilatildeo de um corpus revela como o investigador realmente estaacute atento aos aspectos de confiabilidade e validaccedilatildeo do seu estudo Desde cedo a trajetoacuteria do pesquisador Lemos Monteiro natildeo apenas me serviu como uma fonte de inspiraccedilatildeo profissional como tambeacutem me espicaccedilou sugestivos passos metodoloacutegicos para o desenvolvimento da pesquisa na aacuterea linguiacutestica escolha do tema revisatildeo de literatura justificativa formulaccedilatildeo do problema determinaccedilatildeo de objetivos metodologia coleta de dados tabulaccedilatildeo de dados anaacutelise e discussatildeo dos resultados conclusatildeo da anaacutelise dos resultados redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo ou socializaccedilatildeo dos resultados da pesquisa Bem antes de entrar em campo o pesquisador deve enfim construir sua base teoacuterica para em segundo momento referenciar teoricamente sua metodologia A metodologia de pesquisa eacute fase decisiva do investigador (e de sua equipe) que iraacute proporcionar aos envolvidos uma compreensatildeo e anaacutelise do mundo atraveacutes da construccedilatildeo do conhecimento

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Haacute uma geraccedilatildeo de grandes pesquisadores que foram influenciados pela pesquisa de Lemos Monteiro Citarei apenas o nome da linguista Aluiza Alves de Arauacutejo (UECE) nome de peso uma pesquisadora de matildeo cheia e disciacutepula de Lemos Durante anos Aluiza vem se dedicando ao falar fortalezense na constituiccedilatildeo crescente de dois bancos de dados que se destacam por seu representativo nuacutemero de informantes o PORCUFORT (Portuguecircs Oral Culto de Fortaleza) e o NORPOFOR (Norma Oral do Portuguecircs Popular de Fortalez que adotaram na sua constituiccedilatildeo os mesmos procedimentos utilizados pelo NURC na seleccedilatildeo dos informantes e na coleta dos dados

Da minha parte haacute quinze anos me interessei pelos estudos psicolinguiacutesticos ao conhecer os trabalhos de Leonor Scliar Cabral (UFSC) Luiz Antocircnio Marcusch (UFPE) Luiz Carlos Cagliari (Unicamp) Letiacutecia Sicuro Correcirca (Unicamp) Rosemeire Monteiro-Plantin (UFC) entre outros Os congressos os livros e os artigos cientiacuteficos na aacuterea de (psico)linguiacutestica me levaram a conhecer os trabalhos de Eduardo Kenedy ( UFF) Luciana Sanchez Mendes (UFF) Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ) Andreacute Nogueira Xavier (UFPR) Elisacircngela Teixeira (UFC) Joseacute Ferrari-Neto (UFPB) Katia Abreu (UERJ) pesquisadores que atualmente participam do Grupo de Estudos e Laboratoacuterio em Psicolinguiacutestica Experimental da UFF Fora do Brasil as pesquisas de Antonio Pamies Bertraacuten Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Carmen Mellado Blanco Florence Detry e Pedro Mogorroacuten Huerta tambeacutem muito me encorajaram a fazer pesquisa sob a interface Fraseologia e Psicolinguiacutestica Tem sido uma rica experiecircncia acadecircmica compartilhar ideias e opiniotildees por e-mail com muitos destes pesquisadores supracitados

Entre os domiacutenios da linguiacutestica a psicolinguiacutestica eacute aquela aacuterea interdisciplinar que leva o pesquisador a um exaustivo estudo das hipoacuteteses sobre relaccedilotildees entre a linguagem e as chamadas funccedilotildees mentais superiores como percepccedilatildeo atenccedilatildeo e memoacuteria esta por exemplo foi um divisor de aacutegua para mim quando ao ler Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1951) descobri que nossa memoacuteria reteacutem muito melhor as palavras em grupos (expressotildees fixas) do que as palavras isoladas Um dado que fez grande diferenccedila quando resolvi montar uma seacuterie de testes psicolinguiacutesticos a aplicar a africanos lusoacutefonos durante o doutorado em linguiacutestica pela UFC Irei agora descrever brevemente os capiacutetulos deste livro que traz apenas dados

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relativos agrave primeira bateria de testes psicolinguiacutesticos (off-line) aplicados a estudantes guineenses e cabo-verdianos No futuro bem proacuteximo publicizaremos os dados de mais duas baterias de testes

No capiacutetulo 1 tratamos dos principais conceitos e aportes fraseoloacutegicos com sobretudo os conceitos de fraseologia geral unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica e locuccedilatildeo verbal Em seguida apresentamos as propriedades fraseoloacutegicas que estatildeo diretamente relacionadas agrave pesquisa a saber a polilexicalidade a frequecircncia a fixaccedilatildeo a idiomaticidade e a convencionalidade

No capiacutetulo 2 apresentamos os principais conceitos aportes teoacutericos e hipoacuteteses psicolinguiacutesticas relacionadas ao processamento fraseoloacutegico e no capiacutetulo 3 estudos empiacutericos relacionados ao tema como os experimentos de Irujo (1986 Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010)

No capiacutetulo 4 dedicamos atenccedilatildeo agrave metodologia da pesquisa em que descrevemos objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa e nossos primeiros passos metodoloacutegicos nos preacute-testes aplicados a nativos do PB e natildeo nativos e metodologia final antes de aplicarmos os trecircs experimentos aos 20 sujeitos da pesquisa Como dissemos anteriormente a descriccedilatildeo seraacute apenas de um dos trecircs experimentos com seus respectivos testes

No Capiacutetulo 5 apresentamos os dados resultados e discussotildees relacionados com o experimento psicolinguiacutestico particularmente as tarefas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica memoacuteria fraseoloacutegica idiomaticidade fraseoloacutegica e a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica para as expressotildees matar cachorro a grito e natildeo pagar mico (zoomorfismos) tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone (somatismos) e saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca (botanismos)

Vicente de Paula da Silva Martins - UVA

FortalezaSobral Ano I da Pandemia Covid-19

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CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS

Como los signos simples del sistema las combinaciones fijas pertenecen al componente leacutexico de la lengua al lexicoacuten y se hallan almacenadas en la memoria de donde tan soacutelo son rescatadas en cada acto de habla (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p15)

No bosque do Centro de Humanidades da Universidade Federal

do Cearaacute (UFC) no bairro Benfica em Fortaleza escuto numa tarde ensolarada de 2010 estrondosas gargalhadas de estudantes de Letras Um guineense ao ser perguntado por concludentes do curso sobre o significado idiomaacutetico de expressotildees bem frequentes no Portuguecircs Brasileiro (PB) como ldquoArmar um barracordquo ldquoArregaccedilar as mangasrdquo ldquoBoca de sirirdquo ldquoCara de paurdquo ldquoengolir saposrdquo ldquoencher linguiccedilardquo entre outras suas respostas eram sempre literais o suficiente para ldquogozaccedilatildeordquo dos estudantes nativos Se os africanos lusoacutefonos falam e conhecem bem a estrutura da liacutengua portuguesa e as liacutenguas criolas tambeacutem tecircm forte influecircncia do portuguecircs europeu onde residiria o ldquonoacute goacuterdiordquo para a compreensatildeo idiomaacutetica Por que para os natildeo nativos uma expressatildeo idiomaacutetica se apresenta tatildeo ambiacutegua sempre carecendo do contexto para ser guia da compreensatildeo idiomaacutetica Como explicar a dificuldade de falante natildeo nativo de natildeo entender plenamente a linguagem impliacutecita figurativa pragmaacutetica e idiomaacutetica

Eacute possiacutevel que a noccedilatildeo de ambiguidade de construccedilatildeo tenha sido uma das primeiras desconfianccedilas dos estruturalistas diante das combinaccedilotildees fixas suscetiacuteveis de vaacuterias interpretaccedilotildees de um lado o sentido literal da expressatildeo (composicional) e do outro o sentido pretendido da emissatildeo do falante (idiomaacutetico)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure (2012 [1916]) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras incursotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados

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por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo (2012 p173 grifos nossos)

No acircmbito dos estudos linguiacutesticos relacionados agrave Fraseologia o interesse por apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas eacute cada vez maior1 Haacute um claro percurso do Estruturalismo agrave Psicolinguiacutestica nas pesquisas fraseoloacutegicas das uacuteltimas trecircs deacutecadas

Uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquomatar dois coelhos com de uma soacute cajadadardquo com sentido de ldquoconseguir dois proveitos com um soacute trabalhordquo interessa tanto ao lexicoacutegrafo que a registra como subentrada da palavra coelho em seu dicionaacuterio como desperta atenccedilatildeo do psicolinguista uma vez que envolve a compreensatildeo idiomaacutetica ou natildeo literal por parte do falante em liacutengua materna (L1) ou segunda liacutengua (L2)

As principais linhas de pesquisa nesse campo da Fraseologia e Psicolinguiacutestica procuram responder questotildees do tipo como os falantes armazenam este tipo de unidades Como ocorre o processamento fraseoloacutegico Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo Conforme nos descrevem Corpas Pastor (2001) e Detry (2010)

Aproximar a Fraseologia da Psicolinguiacutestica (ou vice-versa) eacute sem duacutevida muito relevante e nos incita vivamente a explorar as relaccedilotildees entre expressotildees idiomaacuteticas e processos de compreensatildeo Natildeo eacute poreacutem uma tarefa faacutecil porque satildeo dois ramos de estudos linguiacutesticos bastante densos e aacuteridos principalmente no campo terminoloacutegico e taxionocircmico fontes preciosas para encontrarmos termos ou categorias operatoacuterias aplicaacuteveis agrave pesquisa experimental

1 A rigor falar em compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica soacute tem sentido na aquisiccedilatildeo da linguagem nas crianccedilas em situaccedilatildeo em que os bebecircs estatildeo aprendendo a liacutengua materna ou estrangeiras como L2 Depois acreditamos que a expressatildeo idiomaacutetica eacute incorporada ao leacutexico sem anaacutelise interna tanto quanto se faz com uma palavra Aquisiccedilatildeo aqui assim tem acepccedilatildeo mais ampla e alcanccedila os natildeo nativos de dada liacutengua

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Uma primeira aproximaccedilatildeo que vimos entre estes domiacutenios (ou subdomiacutenios) linguiacutesticos eacute o tratamento dado tradicionalmente pela Lexicografia agraves expressotildees idiomaacuteticas registradas nos dicionaacuterios gerais como subentradas a partir dos lexemas de base que entram na formaccedilatildeo dos lemas2

Ao definir essas expressotildees Porto Dapena (2002) assim diz Acima de tudo se trata sempre de construccedilotildees ou segmentos pluriverbais que o falante igualmente como as palavras reteacutem na memoacuteria e reproduz na fala sem por outro lado poder alteraacute-las sob pena de introduzir uma variaccedilatildeo de sentido3(p149 grifos nossos)

Sabemos poreacutem que no mundo da linguagem as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo apenas ou preferencialmente sintagmas verbais uma vez que no continuum fraseoloacutegico podem aparecer em diversas configuraccedilotildees (colocaccedilotildees proveacuterbios etc)

Depreende-se desta definiccedilatildeo lexicograacutefica de Porto Dapena que as expressotildees idiomaacuteticas (ou expressotildees fixas4) satildeo construccedilotildees retidas ou armazenadas na memoacuteria declarativa de longo prazo o que nos remete agrave Psicologia Cognitiva e desta agrave Psicolinguiacutestica agrave medida que sugere uma conexatildeo entre a linguagem e a mente (ou senatildeo a cogniccedilatildeo) o que natildeo eacute claro um achegamento inaugural nos estudos linguiacutesticos uma vez que essa ponte entre Fraseologia e Psicolinguiacutestica anteriormente indicou-nos ou senatildeo pelo menos sugeriu-nos a noccedilatildeo coseriana de discurso repetido isto eacute aquelas sequecircncias de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente (COSERIU 2007 p201) por oposiccedilatildeo agrave teacutecnica do discurso posto que as expressotildees natildeo podem ser geradas no discurso por definiccedilatildeo

O termo Fraseologia cunhado por Bally haacute mais de um seacuteculo revitaliza-se a cada dia nas teorias e abordagens linguiacutesticas mais recentes como as dos analistas do discurso

2As subentradas satildeo chamadas tambeacutem de subverbetes em que se elucidam as divisotildees espeacutecies modalidades etc do sentido do verbete principal ou das locuccedilotildees formadas com aquelas palavras 3 No original Ante todo se trata siempre de construcciones os segmentos pluriverbales que el hablante al igual que las palabras retiene en la memoria y reproduce en el discurso sin que por otro lado pueda cambiarlas sob pena de introduzir una variacioacuten de sentido 4A noccedilatildeo de expressotildees fixas foi suficientemente explorada por Zuluaga (1975 e 1980)

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A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo citamos por exemplo Charaudeau e Maingueneau dois analistas do discurso que designam Fraseologia como conjunto de expressotildees cristalizadas simples ou compostas caracteriacutesticas de uma liacutengua ou de um tipo de discurso (2008 p245)

Fraseologia alcanccedilou tambeacutem as redes sociais Para se ter uma ideia da dimensatildeo ou frequecircncia de uso do termo em diferentes e inusitados contextos o buscador Google nos informa que satildeo aproximadamente 1120000 resultados de ocorrecircncias para Fraseologia e pelo menos 190000 para o adjetivo correspondente fraseoloacutegico o que nos indica ser uma palavra de muito vigor na liacutengua portuguesa5

A palavra Fraseologia formada dos seguintes elementos frase + -o- + -logia chegou-nos pelo francecircs phraseacuteologie e aparece pela primeira vez no acircmbito dos estudos linguiacutesticos em Bally (1909 p66) De laacute para caacute satildeo muitos os linguistas que tentando desvelar a etimologia de Fraseologia mergulham nas raiacutezes gregas da palavra buscando as motivaccedilotildees lexicais ou acepccedilotildees para designaacute-la seja como o inventaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua como seu estudo (BREacuteAL 1992 MONTORO DEL ARCO 2006 p29-31 MELLADO BLANCO 2004 p13)

Esta busca natildeo eacute por acaso Eacute bastante instigante observar que o morfema lexical frase vem do latim phrasis e este do grego φράσις com o sentido de expressatildeo enquanto a vogal de ligaccedilatildeo -o- eacute tiacutepica do grego O elemento de composiccedilatildeo -logia origina-se do grego -λογία que significa tratado estudo ciecircncia

Neste trabalho Fraseologia eacute entendida como parte da Linguiacutestica que tem as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) como objeto de estudo As UFs constituem um verdadeiro universo fraseoloacutegico e satildeo divididas em pelo menos trecircs esferas (colocaccedilotildees locuccedilotildees e enunciados fraseoloacutegicos) Nesse universo fraseoloacutegico consideramos tipicamente expressotildees idiomaacuteticas as locuccedilotildees o que corresponde a esfera II segundo o modelo de Corpas Pastor (1996 p88-131)

Como satildeo muitos os tipos de locuccedilotildees cristalizadas (nominais adjetivas adverbiais verbais prepositivas conjuntivas) elegemos prioritariamente as locuccedilotildees verbais que apresentam maior congruecircncia ou consenso entre os especialistas de Fraseologia uma vez que satildeo as unidades fraseoloacutegicas que estatildeo fixadas no sistema

5 Pesquisa atualizada em 13 de agosto de 2020

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(registradas nos dicionaacuterios gerais por exemplo) e que natildeo constituem enunciados completos e geralmente funcionam como termos ou elementos oracionais (CORPAS PASTOR 1996 p88 ALVARADO ORTEGA 2007 p37)6

O recorte acima isto eacute considerar unicamente as locuccedilotildees verbais levou-nos a adotar portanto uma concepccedilatildeo reducionista de Fraseologia a mesma proposta stricto sensu formulada por Casares (1969 p 167-184)7 o maior representante desta visatildeo na Fraseologia Espanhola e mais recentemente Garciacutea-Page (2008 p 8 20-22 208) que afirma serem as locuccedilotildees o verdadeiro nuacutecleo ou o autecircntico objeto de estudo da Fraseologia

Seja considerada parte da Linguiacutestica ou subdisciplina da lexicografia meacuterito da questatildeo em que natildeo entraremos aqui filiamo-nos agrave corrente de fraseoacutelogos que postulam a Fraseologia como disciplina da Linguiacutestica cujo objeto de estudo satildeo as ldquoexpressotildees idiomaacuteticas hiperocircnimo a que ao longo deste livro repetidas vezes fazemos menccedilatildeo referindo-nos nesse caso e especificamente agraves locuccedilotildees verbais particularmente as jaacute consagradas pelo uso e registradas nos dicionaacuterios gerais definidas como combinaccedilotildees formadas por pelo menos dois ou mais elementos ou constituintes que apresentam certa fixaccedilatildeo de forma e sentido e que funcionam como termo ou elemento oracional

Estas locuccedilotildees verbais natildeo devem ser confundidas com as conjugaccedilotildees perifraacutesticas ou periacutefrases verbais estas definidas pelos gramaacuteticos e dicionaristas como o conjunto dos tempos compostos de um verbo8 Quanto a esta questatildeo nossa posiccedilatildeo eacute a mesma de Silva (2011 p163) ao se referir agraves locuccedilotildees verbais como unidades fraseoloacutegicas Excluiacutemos pois os substantivos compostos com ou sem hiacutefen natildeo sendo considerados locuccedilotildees nominais e as periacutefrases verbais ou conjugaccedilotildees perifraacutesticas por natildeo as considerarmos locuccedilotildees verbais

6 Compreendemos que as locuccedilotildees verbais a que Corpas Pastor (1996) faz referecircncia satildeo as chamadas expressotildees idiomaacuteticas termo de maior divulgaccedilatildeo nas teorias fraseoloacutegicas 7 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1950 8 A questatildeo da distinccedilatildeo entre periacutefrases verbais e locuccedilotildees verbais foi suficientemente abordada por Blasco Mateo (2005)

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Eacute preciso deixar claro que ao optarmos por excluir os substantivos compostos esta determinaccedilatildeo natildeo invalida o status de Unidades Fraseoloacutegicas (UF) de outras sequecircncias que satildeo constituiacutedas sem verbo como saia de baixo saia justa chave de cadeia a sete chaves de mala e cuia mala sem alccedila peacute do ouvido do peacute para a matildeo em peacute de guerra em peacute de igualdade no mesmo niacutevel de igual para igual dor de cotovelo dor de corno dor de veado laacutegrimas de crocodilo elas por elas de corpo e alma entre outras

Se voltarmos ao tempo jaacute na deacutecada de 50 na Espanha Julio Casares nos chamava atenccedilatildeo para a confusatildeo terminoloacutegica no campo da lexicografia Afirmava que termos como expressatildeo giro e frase eram vagos e por isso natildeo poderiam ser considerados termos teacutecnicos Segundo ele cada um daqueles termos tinha acepccedilotildees diversas presas agrave teoria gramatical e por isso natildeo ofereciam caracteriacutesticas suficientes para identificaacute-las com seguranccedila na tarefa lexicograacutefica (CASARES 1969 p185) Uma expressatildeo apropriada a essa situaccedilatildeo em portuguecircs seria a de que os lexicoacutegrafos espanhoacuteis misturavam alhos com bugalhos

Assim que liccedilatildeo ou luz esta noccedilatildeo de locuccedilatildeo em Casares (1969) poderaacute nos dar no campo da terminologia fraseoloacutegica nos dias de hoje

Tomemos um exemplo em portuguecircs Eacute possiacutevel quando lemos escutamos ou ao menos quando evocamos uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos o sentido idiomaacutetico confundir coisas ou assuntos distintos inconfundiacuteveis ou fazer grande confusatildeo prevaleccedila de forma avassaladora sobre nosso entendimento

Na expressatildeo acima pouco importa sabermos o sentido parcial de seus elementos constituintes ou de pelo menos uma das palavras que formam a expressatildeo como eacute o caso de bugalho mas natildeo cremos que isso se contraponha de alguma forma agrave proposta de anaacutelise da compreensatildeo das Expressotildees Idiomaacuteticas a partir dos componentes

Afinal o que eacute bugalho Um termo da botacircnica que significa ldquonoz de galhardquo (HOUAISS e VILLAR 2020) mas nada mais sabemos sincronicamente de sua motivaccedilatildeo fraseoloacutegica nem haacute possibilidade de recuperaccedilatildeo da metaacutefora diacrocircnica (geradora)

De igual sorte parece-nos que a maioria das divergecircncias ou confusotildees terminoloacutegicas na Fraseologia contemporacircnea encontra explicaccedilotildees nas primeiras investidas da lexicografia quando da

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elaboraccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais ao natildeo levarem em conta que agrupamentos de palavras9 tradicionalmente conhecidos na literatura cientiacutefica por termos dos mais diacutespares entre si como expressotildees idiomaacuteticas proveacuterbios clichecircs binocircmios citaccedilotildees colocaccedilotildees frases lexicais foacutermulas frases feitas proveacuterbios aforismos maacuteximas ditos adaacutegios anexins ditados sentenccedilas parecircmias tecircm em comum serem polilexicais isto eacute pertencerem ao grande e complexo continuum fraseoloacutegico no qual natildeo haacute limites riacutegidos capazes de estabelecerem com precisatildeo a diversidade de unidades lexicais maiores que a palavra e presentes em alguns dicionaacuterios semasioloacutegicos existentes em uma liacutengua (SALIBA 2000)

Na Espanha quando Casares daacute as bases teoacutericas do que hoje se denomina Fraseologia Espanhola de grande repercussatildeo na Europa jaacute se deparava na Lexicografia com denominaccedilotildees fraseoloacutegicas que careciam de sentido preciso e que apresentavam limites imprecisos Eacute o que muitos fraseoacutelogos hispacircnicos chamam de cajoacuten de sastre (GARCIacuteA PAGE-SAacuteNCHEZ 2008 p8 e QUEPONS RAMIacuteREZ 2009 p493) A expressatildeo saco de gatos10 eacute a melhor traduccedilatildeo que encontramos em portuguecircs para cajoacuten de sastre

Como assinala Corpas Pastor (1996 p16) a profusatildeo terminoloacutegica e as distintas classificaccedilotildees satildeo um dos problemas fundamentais da Fraseologia em liacutengua Espanhola Em geral a profusatildeo terminoloacutegica estaacute ligada a afiliaccedilotildees ou abordagens teoacutericas distintas e tambeacutem a objetos e objetivos especiacuteficos sendo mais uma questatildeo de relevo

Mostramos ateacute aqui que satildeo muitas as discrepacircncias e confusotildees de ordem terminoloacutegica no campo dos estudos de Fraseologia que acabam por repercutir nas definiccedilotildees e classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas o que nos leva a concluir que nesta aacuterea natildeo haacute como simplesmente jogar com as palavras

Essa medida torna-se ainda mais imperiosa quando fazemos a interface entre Fraseologia e outros ramos da Linguiacutestica em nosso caso a Psicolinguiacutestica que requer tambeacutem precisatildeo terminoloacutegica

9 No campo da Lexicografia defendemos a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo deveriam entrar dentro de verbetes por serem independentes Por exemplo os dicionaristas natildeo colocam o adjetivo infeliz dentro de feliz Assim o mesmo procedimento deveria valer para as expressotildees idiomaacuteticas 10 Popularmente saco de gatos significa negoacutecio muito confuso e encrencado

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quando trabalhamos com alguns dos seus termos operatoacuterios na pesquisa experimental

Nessas alturas uma pergunta adveacutem que unidadeexpressatildeo fraseoloacutegica seria a mais adequada aos testes psicolinguiacutesticos para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica Jaacute podemos adiantar a resposta a nossa pergunta ao defendemos que esta unidade eacute ou deve ser a expressatildeo idiomaacutetica A expressatildeo idiomaacutetica dentro ou fora do contexto pode levar um falante nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua a se deparar com a ambiguidade estrutural nesta dicotomia semacircntica sentido literal versus sentido idiomaacutetico

Por essa razatildeo deter-nos-emos nas subseccedilotildees abaixo em dissecar o maacuteximo possiacutevel as noccedilotildees de Fraseologia unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica locuccedilatildeo e outros correlatos Em seguida situamos os termos agraves teorias fraseoloacutegicas que estatildeo na ordem do dia na Europa e no Brasil

Vilela designa por Fraseologia a disciplina que tem como objeto as combinaccedilotildees fixas de uma dada liacutengua que podem assumir a funccedilatildeo e o sentido de palavras individuais ou lexemas (VILELA 2002 p170)

A definiccedilatildeo de Vilela espelha o pensamento do grupo fundador da Fraseologia na Europa a quem nos filiamos que vecirc nas expressotildees idiomaacuteticas um processo de ampliaccedilatildeo do leacutexico seja para nomeaccedilatildeo ou qualificaccedilatildeo contribuindo para a lexicalizaccedilatildeo dos conceitos e categorizaccedilatildeo de nossa experiecircncia cotidiana

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas reconhecemos como defende Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p6) um estatuto da Fraseologia como a disciplina Linguiacutestica que estuda as unidades fraseoloacutegicas e que leva em conta o grau de competecircncia fraseoloacutegica ou metafoacuterica do falante seja nativo ou natildeo nativo

Quanto agrave acepccedilatildeo mais completa de Fraseologia coerente com nosso recorte terminoloacutegico e que atende aos propoacutesitos de nosso estudo optamos pela definiccedilatildeo de Fraseologia de Monteiro-Plantin (2011) na qual assinala o estudo das combinaccedilotildees de unidades leacutexicas relativamente estaacuteveis com certo grau de idiomaticidade polilexicais que constituem a competecircncia discursiva dos falantes em primeira ou segunda liacutengua utilizadas convencionalmente em contextos precisos ainda que muitas vezes de forma inconsciente (p250)

Segundo Mellado Blanco (2004 p15) o termo Fraseologia tem sido adotado na maioria das liacutenguas europeias com exceccedilatildeo dos paiacuteses de

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origem anglo-saxocircnica onde o mais corriqueiro eacute idiomatic11 Cumpre-nos ressaltar que quer seja na Europa ou nos EUA unidade fraseoloacutegica eacute uma das denominaccedilotildees mais aceitas no acircmbito das teorias fraseoloacutegicas conforme podemos atestar em pesquisas recentes com corpora fraseoloacutegicos (NACISCIONE 2001 BEVILACQUA 2004 e LIN e ADOLPHS 2009)

Considerada como objeto de estudo da Fraseologia por Corpas Pastor (1996 p20) as unidades fraseoloacutegicas satildeo unidades lexicais formadas por mais de duas palavras ortograacuteficas em seu limite inferior cujo limite superior se situa no niacutevel de oraccedilatildeo composta12 tendo pelo menos quatro propriedades baacutesicas que podem variar em grau nos seus distintos tipos (a) polilexicalidade (b) institucionalizaccedilatildeo entendida em termos de fixaccedilatildeo e especializaccedilatildeo semacircntica (c) variaccedilotildees potenciais (d) idiomaticidade e (e) alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes13 mais adiante por noacutes mais bem descritas e discutidas

O conceito de unidade fraseoloacutegica e as propriedades baacutesicas que as caracterizam como a polilexicalidade e a fixaccedilatildeo tambeacutem estatildeo presentes pioneiramente na deacutecada de 40 nas primeiras definiccedilotildees ou acepccedilotildees dos russos (VELASCO MENEacuteNDEZ 2010) e posteriormente vindo agrave tona com as reflexotildees de Zuluaga (1980 16 19) e mais recentemente em Ruiz Gurillo (1997 p 14) e Castillo Carballo (1997-1998 p 70-75)

Quanto ao problema do status linguiacutestico das unidades fraseoloacutegicas aliamo-nos agrave postulaccedilatildeo de Zuluaga (1980) de que elas pertencem ao patrimocircnio coletivo da comunidade linguiacutestica14 e que fazem parte do acervo ou repertoacuterio de elementos linguiacutesticos anteriores ao falar conhecidos pelos falantes15 (p21) o que ao certo

11 Nesta aacuterea as pesquisas experimentais bastante frutiacuteferas nos EUA levam-nos de forma recorrente a citar os trabalhos em liacutengua inglesa onde se usa mais o termo idioms 12 No original son unidades leacutexicas formadas por maacutes de dos palabras graacuteficas en su liacutemite inferior cuyo liacutemite superior se situacutea en el niacutevel de la oracioacuten compuesta 13 Destas propriedades indicadas por Corpas Pastor (1996) a menos relevante quando se tratar de expressatildeo idiomaacutetica posto que um item leacutexico pode ser frequente ou natildeo Como todo item as expressotildees idiomaacuteticas podem ser mais ou menos frequentes 14 No original ellas pertenecen al patrimonio colectivo de la comunidade linguiacutestica 15 No original forman parte del acervo o repertorio de elementos linguiacutesticos anteriores al hablar conocidos por los hablantes

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podemos inferir como unidades polilexicais psicolinguisticamente armazenadas na memoacuteria dos usuaacuterios ou nativos da liacutengua

Conveacutem salientar que a etiqueta ou roacutetulo de Unidade Fraseoloacutegica (UF) atende agraves buscas dos fraseoacutelogos por uma denominaccedilatildeo de alcance mais internacional que responde agrave noccedilatildeo de arquilexema das locuccedilotildees e de outras formas (CORPAS PASTOR 1996) como unidades de uma seacuterie fraseoloacutegica que inclui desde refratildees citaccedilotildees e foacutermulas de rotina

Com essa noccedilatildeo de que uma unidade fraseoloacutegica eacute um arquilexema da seacuterie de denominaccedilotildees fraseoloacutegicas podemos apresentar as propriedades essenciais e definitoacuterias das chamadas unidades fraseoloacutegicas polilexicalidade frequecircncia convencionalidade fixaccedilatildeo e idiomaticidade a partir dos seguintes autores Zuluaga (1980 p141-188) Corpas Pastor (1996 p88-131) Penadeacutes Martinez (1999 p11-22) Ruiz Gurillo (2001 p15) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16-20)

Com base nos estudos acima na perspectiva da Fraseologia consideramos a expressatildeo idiomaacutetica nomeadamente a locuccedilatildeo verbal como uma unidade fraseoloacutegica por excelecircncia Unidade fraseoloacutegica eacute pois um hiperocircnimo mas neste livro praticamente tomamos expressatildeo idiomaacutetica e unidade fraseoloacutegica como termos equivalentes assim como jaacute os considera Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas haacute uma forte convergecircncia de que efetivamente as unidades fraseoloacutegicas satildeo o objeto de estudo da Fraseologia Portanto tendo o objeto de estudo bem definido natildeo haacute porque natildeo considerar a Fraseologia como um dos ramos das ciecircncias da linguagem Mas que unidades fraseoloacutegicas satildeo essas Pelo menos nove termos podem ser considerados dentro de um continuum como unidades fraseoloacutegicas uma vez que este hiperocircnimo tem um raio de alcance muito grande proveacuterbios ditos populares expressotildees idiomaacuteticas foacutermulas de rotina ou cristalizadas locuccedilotildees fixas frases feitas clichecircs chavotildees e colocaccedilotildees conforme o inventaacuterio fraseoloacutegico estabelecido por Monteiro-Plantin (2011 p250) As expressotildees fixas arroladas por Monteiro-Plantin satildeo entendidas por noacutes como sendo as expressotildees idiomaacuteticas

Neste livro quando nos referirmos agrave unidade fraseoloacutegica acolheremos as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) Penadeacutes Martinez (1999) Ruiz Gurillo (2001) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) e Monteiro-Plantin (2011)

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O conceito de expressatildeo idiomaacutetica estaacute associado agraves definiccedilotildees que anteriormente demos agrave Fraseologia e agrave unidade fraseoloacutegica Toda expressatildeo idiomaacutetica objeto de Fraseologia eacute uma unidade fraseoloacutegica mas nem toda unidade fraseoloacutegica eacute uma expressatildeo idiomaacutetica

Uma unidade fraseoloacutegica pode ser fixa e natildeo idiomaacutetica da mesma forma pode ser idiomaacutetica mas com um grau de variaccedilatildeo marcante mas com isso natildeo queremos dizer que soacute consideramos expressatildeo idiomaacutetica Ao contraacuterio existe expressatildeo idiomaacutetica menos opaca portanto transparente Quem tem juiacutezo criacutetico para dizer se uma expressatildeo eacute opaca ou transparente eacute o falante e natildeo o lexicoacutegrafo ou fraseoacutelogo a menos que o submeta a testes psicolinguiacutesticos Em Fraseologia a intuiccedilatildeo linguiacutestica16 estaacute sujeita agrave compreensatildeo do falante da liacutengu nativo ou natildeo

Isso natildeo quer dizer poreacutem que as expressotildees fixas para tomarmos o termo de Zuluaga (1980) incluindo as expressotildees idiomaacuteticas natildeo possam ser interpretadas composicionalmente pelos falantes de uma liacutengua

A uacutenica interpretaccedilatildeo de qualquer expressatildeo complexa que conhecemos como costuma acontecer com falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada deveraacute ser imediatamente a composicional e que outras consideraccedilotildees nos obrigaratildeo a aprender um sentido especiacutefico convencionalmente associado agrave expressatildeo em questatildeo17(ESCANDELL VIDAL 2011) Em outras palavras mesmo as expressotildees idiomaacuteticas consideradas opacas muitas delas podem ser interpretadas composicionalmente

No continuum das unidades fraseoloacutegicas as expressotildees idiomaacuteticas satildeo as unidades leacutexicas marcadas culturalmente As expressotildees idiomaacuteticas satildeo itens leacutexicos e portanto tatildeo culturais quanto quaisquer palavras da liacutengua

As expressotildees idiomaacuteticas por forccedila de seu caraacuteter idiossincraacutesico estatildeo mais diretamente vinculadas agrave cultura agraves ideias e agrave forma de vida

16 Em gramaacutetica gerativa refere-se agrave capacidade que tem o falante de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na sua liacutengua de interpretaacute-las de identificar a equivalecircncia com outra frase ou a sua eventual ambiguidade isto eacute perceber quando o contexto sugere sentido literal ou metafoacuterico 17 No original seraacuten luego otras consideraciones las que nos obligaraacuten a aprender un sentido especiacutefico convencionalmente asociado a la expresioacuten en cuestioacuten

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de uma sociedade (NEGRO ALOUSQUE 2010 p34) como expressotildees do tipo ir tomar banho (deixar de aborrecer) e dar as matildeos agrave palmatoacuteria (admitir o erro) Este fato se manifesta particularmente no niacutevel semacircntico isto no sentido idiomaacutetico que atribuiacutemos agrave expressatildeo18

Nessa relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura refletida no leacutexico a motivaccedilatildeo para inuacutemeras expressotildees idiomaacuteticas proveacutem de pelo menos trecircs procedecircncias segundo Negro Alousque (2010) 19

(a) alusatildeo a costumes feitos histoacutericos obras artiacutesticas lendas mitos e crenccedilas como em jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) entregar-se aos braccedilos de Morfeu (sonhar) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) bancar o cristo (pagar por culpas alheias) agradar a gregos e troianos (contentar ou satisfazer a dois lados antagocircnicos)

(b) evocaccedilatildeo a elementos que formam parte do acervo cultural de cada povo entre os quais satildeo incluiacutedos os costumes e tradiccedilotildees obras literaacuterias acontecimentos que satildeo modelos de uma situaccedilatildeo ou qualidade como dar nome aos bois (falar claramente) perder o seu latim (falar em vatildeo) ficar a ver navios (natildeo conseguir o desejado geralmente por ter sido logrado ou passado para traacutes) sair agrave francesa (sair de um local sem se despedir) e matar a cobra e mostrar o pau (afirmar alguma coisa e provaacute-la)

(c) associaccedilotildees a partir das quais se interpreta a realidade e crenccedilas como em ver o sol (nascer) quadrado (estar na cadeia) desopilar o fiacutegado (comunicar alegria e bem-estar) ficar uma onccedila (ficar irado enfurecido) pagar o justo pelo pecador (ser castigado ou repreendido aquele que natildeo tem culpa ficando impune o culpado) e jogar conversa fora (conversar sobre assuntos corriqueiros sem grande importacircncia)

Conveacutem agora definir a expressatildeo idiomaacutetica como combinaccedilatildeo uacutenica e fixa de elementos (pelo menos dois) dos quais uma parte natildeo funciona bem em quaisquer outras combinaccedilotildees deste tipo (ou em algumas ou uma uacutenica situaccedilatildeo) (ČERMAacuteK 1998 p11)

18 Em que pese o signo linguiacutestico ser arbitraacuterio conforme jaacute dizia Saussure as frases feitas decorrem do uso e da tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica 19 Muitas destas expressotildees idiomaacuteticas podem ser consideradas pelos usuaacuterios desusadas ou obsoletas ou precisariacuteamos enquanto especialistas distinguir o que eacute comum da Liacutengua Portuguesa do que eacute leacutexico regional

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definiccedilatildeo pois que enfatiza como podemos observar as propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das expressotildees fixas a que Neveu (2008) faz referecircncia

Para chegarmos ao conceito de locuccedilatildeo primeiramente definimos a Fraseologia como uma disciplina da Linguiacutestica que se ocupa de estudar as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) Em seguida apresentamos as referidas UFs como um hiperocircnimo (ou arquilexema) dos diversos termos que envolvem a terminologia fraseoloacutegica isolando operatoriamente para nosso trabalho a locuccedilatildeo verbal como sendo a mais canocircnica20 combinaccedilatildeo fixa das expressotildees idiomaacuteticas21 Nesta subseccedilatildeo trataremos mais especificamente sobre a locuccedilatildeo

Como unidade polilexical do tipo sintagmaacutetico a locuccedilatildeo que nos interessa neste trabalho eacute a que como dissemos anteriormente tem como nuacutecleo um verbo cujos constituintes natildeo satildeo o objeto de uma atualizaccedilatildeo separada e que enuncia um conceito autocircnomo como assinala Neveu (2008 p 193) A expressatildeo levar um pontapeacute no traseiro com o sentido idiomaacutetico de ser despedido abandonado eacute um exemplo de locuccedilatildeo verbal

As expressotildees idiomaacuteticas tecircm estrutura bastante restrita isto eacute caracterizadas segundo Gross (1996 p9-23) por pelo menos cinco propriedades (a) polilexicalidade (b) opacidade semacircntica (c) bloqueio das propriedades combinatoacuterias e transformacionais (d) natildeo atualizaccedilatildeo de seus elementos e (e) grau de fixaccedilatildeo

Um exame minucioso da etimologia da palavra locuccedilatildeo nos indicaraacute que esta vem do latim locutigraveo (ou loquuacutetio) com a indicaccedilatildeo de accedilatildeo ou maneira de falar locuccedilatildeo etc Do ponto de vista linguiacutestico locuccedilatildeo pode ser definida como reuniatildeo de duas palavras que conservam individualidade foneacutetica e morfoloacutegica mas

20A canonicidade das locuccedilotildees verbais decorreria no nosso entendimento de terem sua fixaccedilatildeo formal com maior grau de regularidade estrutural isto eacute serem construccedilotildees conforme agraves normas mais habituais da gramaacutetica consideradas baacutesicas como por exemplo a ordem direta (verbo + argumento) 21 As locuccedilotildees verbais podem ser canocircnicas mas natildeo prototiacutepicas no continuum fraseoloacutegico Do ponto de vista quantitativo e contrariamente ao que se acredita provavelmente as locuccedilotildees verbais natildeo satildeo a maioria As expressotildees que satildeo sintagmas preposicionais como de saco cheio a trecircs por dois de mala e cuia a torto e a direito provavelmente satildeo em maior nuacutemero

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constituem uma unidade significativa para determinada funccedilatildeo (CAcircMARA JUNIOR 2004 p162)

Do ponto de vista fraseoloacutegico Casares (1969) define as locuccedilotildees como combinaccedilotildees de vocaacutebulos que oferecem sentido unitaacuterio e uma disposiccedilatildeo ou estrutura formal inalteraacutevel (p167)

Casares descarta entatildeo as acepccedilotildees dadas agrave locuccedilatildeo pelos dicionaacuterios gerais que a definem como ldquomodo de falarrdquo ou ldquofraserdquo como vimos anteriormente Busca uma acepccedilatildeo restrita especiacutefica e teacutecnica partindo entatildeo para a reelaboraccedilatildeo da definiccedilatildeo da visatildeo tradicional ou gramatical de locuccedilatildeo como ldquoconjunto de duas ou mais palavrasrdquo pensada como um ldquoconjunto de vozes vinculadas de um modo estaacutevel e com um sentido unitaacuteriordquo (1969 p168)

Para ilustrarmos a acepccedilatildeo dada por Casares agrave locuccedilatildeo tomemos este exemplo com bater as botas Engana-se quem pensa que no Nordeste aterrissam apenas artistas em fim de carreira que vecircm ganhar alguns trocados na Ameacuterica Latina antes de bater as botas(In DN 12312008)

Na visatildeo de Casares (1969) uma sequecircncia de palavras como ldquobater as botasrdquo trata-se efetivamente de uma locuccedilatildeo verbal por trecircs razotildees (1) natildeo se pode trocar nenhuma das trecircs palavras por outra sacudir as botas bater com botas ou bater as botinas (2) natildeo se pode alterar sua colocaccedilatildeo na estrutura sem destruir o sentido botas as bater e (3) o sentido se resume a uma soacute acepccedilatildeo22 ldquomorrerrdquo

Segundo Casares (1969 p168) a inalterabilidade (fixaccedilatildeo) e a unidade de sentido (idiomaticidade) satildeo as duas caracteriacutesticas marcantes das locuccedilotildees verbais Uma terceira caracteriacutestica tambeacutem se faz necessaacuteria assinalar que eacute segundo ele a condiccedilatildeo de que as palavras de uma locuccedilatildeo natildeo formam uma ldquooraccedilatildeo cabalrdquo isto eacute uma oraccedilatildeo no sentido claacutessico ou categoacuterico dado pelos gramaacuteticos tradicionais

A definiccedilatildeo claacutessica de locuccedilatildeo feita por Casares (1969 p170) diz assim ldquocombinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos que funciona como elemento da oraccedilatildeo e cujo sentido unitaacuterio compartilhado pelos

22 Este traccedilo aplicado agrave Liacutengua Portuguesa deve ser relativizado uma vez que haacute expressotildees idiomaacuteticas com mais de uma acepccedilatildeo como por exemplo pedir penico (pedir piedade dar-se por vencido mostrar-se exausto e demonstrar medo)

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falantes natildeo se justifica sem mais como uma soma do sentido normal dos componentesrdquo23

Depreende-se da definiccedilatildeo de Casares (1969) os seguintes traccedilos das locuccedilotildees (1) combinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos portanto uma combinaccedilatildeo fixa e polilexical entendida como fixaccedilatildeo e polilexicalidade (2) emprego ou funccedilatildeo como parte da oraccedilatildeo compreendida aqui a noccedilatildeo de estrutura natildeo oracional24 e (3) sentido unitaacuterio consabido natildeo resultante da soma do sentido normal (ou absoluto) dos componentes

A ideia de ldquosentido unitaacuterio consabidordquo traduz adequadamente a noccedilatildeo de ldquosentido conhecido por todos e ao mesmo tempordquo portanto compartilhados pelos falantes nativos de uma liacutengua ou pela comunidade linguiacutestica ou no caso de uma Fraseologia Especializada por uma comunidade sociocultural esta entendida como agrupamento de falantes unidos por fatores sociais (histoacutericos profissionais raciais nacionais e geograacuteficos)

As locuccedilotildees verbais que podem funcionar como elementos oracionais de natureza nominal satildeo as formadas de verbo de ligaccedilatildeo mais predicativo diferentemente das locuccedilotildees como elementos do predicado verbal cujo nuacutecleo eacute um verbo significativo (intransitivo ou transitivo)

Satildeo exemplos de locuccedilotildees verbais com valor nominal as seguintes ser a bola da vez (estar prestes a ser objeto de anaacutelise criacutetica exclusatildeo etc) ser a palmatoacuteria do mundo (ser um sujeito metido a moralista) ser cheio de nove-horas (ser muito exigente chato) ser de carne e osso (ser humano estar sujeito a fraquezas como qualquer pessoa) estar com a faca e o queijo na matildeo (ter poder amplo) e estar com o diabo no corpo (estar assanhadiacutessimo ou muito irrequieto tanto no mau quanto no bom sentido)

As locuccedilotildees verbais satildeo refrataacuterias agrave anaacutelise sintaacutetica Segundo Casares ldquotomadas essas expressotildees em bloco e interpretadas como elementos oracionais suas funccedilotildees sintaacuteticas nem sempre coincidem

23 No original ldquocombinacioacuten estable de dois ou maacutes teacuterminos que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitaacuterio consabido no se justifica sin maacutes como uma suma del sentido normal de los componentesrdquo 24 Somos de opiniatildeo de que Casares enfatiza com este traccedilo o caraacuteter sintagmaacutetico da locuccedilatildeo parte constituinte ou elemento (de oraccedilatildeo) descartando a ideia de que a locuccedilatildeo seja considerada uma oraccedilatildeo ou seja frase ou membro de frase em que pese conter um verbo

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com as do verbo contido na locuccedilatildeordquo25(1969 p177) Em portuguecircs por exemplo quando dizemos tirar aacutegua do joelho com verbo tirar transitivo direto equivale em conjunto a ldquourinarrdquo intransitivo isto eacute a rigor natildeo se cogita do ponto de vista fraseoloacutegico que aacutegua do joelho eacute objeto direto de tirar

Segundo Casares (1969) no Espanhol natildeo se esgotam as espeacutecies de locuccedilatildeo oracional com equivalecircncia e funccedilatildeo verbal Por exemplo aplicando esta visatildeo de Casares agrave liacutengua portuguesa uma locuccedilatildeo verbal do tipo ter partes com o diabo natildeo pode ser traduzida a partir de um verbo transitivo ou intransitivo Quando essa locuccedilatildeo se aplica a uma pessoa se daacute a entender unicamente que essa pessoa eacute ldquomuito sapeca alvoroccedilada inquietardquo Se dizemos de uma pessoa que bota a alma pela boca limitamos-nos a expressar que ldquoestaacute ofegante com a respiraccedilatildeo opressardquo

Para ilustrarmos em Liacutengua Portuguesa este grupo acima citariacuteamos inuacutemeras locuccedilotildees cujo verbo expresso eacute ser estar ou algum outro verbo de significaccedilatildeo equivalente tais como andar com a pulga atraacutes da orelha (estar preocupado ou cismadordquo) ficar de cabeccedila virada (andar preso por alguma paixatildeo obsessatildeo viacutecio incontrolado ou ideia fixa) andar na linha (ser honesto) apanhar nas fuccedilas (ser agredido na cara) ter (as) costas largas (estar confiante sem receio para realizar ou falar algo por ter a proteccedilatildeo de algueacutem) estar com a corda no pescoccedilo (estar em apuros em situaccedilatildeo desesperadora geralmente financeira) ter fama (ser muito falado ou celebrado) ter coraccedilatildeo de leatildeo(ser extremamente valente) ter coraccedilatildeo de ouro (ser muito bondoso ou generoso) ter coraccedilatildeo de pedra (ser duro de sentimentos insensiacutevel) ter jogo de cintura (ser flexiacutevel para escapar a situaccedilotildees delicadas ou contornar conjunturas difiacuteceis) ter o corpo fechado (ser imune a malefiacutecios graccedilas a benzeduras e oraccedilotildees)

A funccedilatildeo verbal destas expressotildees comprova-se agrave medida que admitem modificaccedilatildeo pessoal temporal e modal e que as de caraacuteter transitivo podem fazer com que a accedilatildeo expressada por elas recaia sobre um objeto exterior como se fosse um complemento direto como podemos atestar neste exemplo com a expressatildeo esquentar a

25 ldquotomadas esas expresiones em bloque e interpretadas como elemento oracional sus funciones sintaacutecticas no siempre coinciden com las del verbo contenido em la locucioacutenrdquo

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cabeccedila (preocupar-se demasiado) Apoacutes meu uacuteltimo casamento percebi que o bom eacute natildeo esquentar a cabeccedila (risos) Ficar junto soacute se for vocecirc na sua casa e eu na minha (In atriz Elizacircngela do Amaral Vergueiro entrevista a Etienne Jacintho O Estado de Satildeo Paulo 01112008)

Segundo Zuluaga (1980) as locuccedilotildees verbais apresentam entre seus componentes um que funciona como portador das determinaccedilotildees de tempo de pessoa de nuacutemero e de modo e que pode portanto variar ao ser utilizado no discurso O referido componente pode ser reconhecido ainda fora da locuccedilatildeo como um lexema verbal do sistema leacutexico de uma liacutengua dada

As mais recentes pesquisas psicolinguiacutesticas sobre compreensatildeo idiomaacutetica especialmente para testar quais as que apresentam maior grau de dificuldade de compreensatildeo tecircm utilizado entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais as colocaccedilotildees e os refratildees sendo as locuccedilotildees entre as unidades fraseoloacutegicas as que recebem maior atenccedilatildeo por parte dos psicolinguistas por apresentarem potencialmente um grau de dificuldade maior do que as demais unidades fraseoloacutegicas26 natildeo por sua estrutura senatildeo por fatores como a familiaridade analisabilidade sintaacutetica maior grau de opacidade ou evidente transparecircncia conforme os estudos de Levorato ( 1993 p 101-128 Cacciari (1993 P 27-55) Crespo e Caceres (2006 P 77-90) Crespo Allende Alfaro Faccio e Peacuterez Herrera (2008 p95-111)

Entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais27satildeo aquelas em que os autores reconhecem maiores evidecircncias de distinccedilatildeo entre as que satildeo transparentes e as que satildeo opacas as que podem ser interpretadas literalmente e as que tendem a ser interpretadas idiomaticamente possibilitando achados empiacutericos que levam a observar o desempenho de falantes natildeo nativos do PB frente a locuccedilotildees verbais opacas e transparentes proacuteprias da variante de dada liacutengua

As muitas e diacutespares propriedades das expressotildees idiomaacuteticas satildeo fruto com certeza mais de discrepacircncias ou divergecircncias nas

26 Eacute possiacutevel que para falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro locuccedilotildees nominais como a trecircs por dois (com frequecircncia com regularidade com efeito (de fato efetivamente) podem natildeo ser de faacutecil compreensatildeo 27 Neste trabalho utilizamos de forma indistinta os termos locuccedilatildeo verbal e expressatildeo idiomaacutetica assim como procede Sevilla Muntildeoz e Arroyo Ortega (1993) Molina Garciacutea (2006) e Dovrtělovaacute (2008)

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classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas e da proacutepria definiccedilatildeo do que se entende por Fraseologia do que por fatores estruturais ou semacircnticos das combinaccedilotildees estaacuteveis ou fixas da liacutengua sejam idiomaacuteticas ou natildeo

Costumeiramente linguistas como Corpas Pastor (1996 p 19-32) Castillo Carballo (1997 p70-75) Penadeacutes Martiacutenez (1999 p14-19) Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p21-56) Martiacutenez Montoro (2002 p13-89) Montoro Del Arco (2006 (p35-70) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p23-34) Timofeeva (2008 p153-333) e Ruiz Gurillo (2010 p174-194) apontam as seguintes propriedades das unidades fraseoloacutegicas afetividade anomalia convencionalidade cristalizaccedilatildeo estabilidade estrutura natildeo oracional expressividade figuraccedilatildeo figuras de repeticcedilatildeo fixaccedilatildeo frequecircncia gradualidade idiomaticidade inflexibilidade institucionalizaccedilatildeo lexicalizaccedilatildeo natildeo composicionalidade nominaccedilatildeo pluriverbalidade polilexicalidade variabilidade entre outras28

A polilexicalidade eacute conditio sine qua non para a definiccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas A rigor natildeo haacute ou pelo menos natildeo deve ser considerada expressatildeo idiomaacutetica segmento ordenado no eixo sintagmaacutetico que natildeo seja uma combinaccedilatildeo de pelo menos dois constituintes No caso das expressotildees idiomaacuteticas representadas pelas locuccedilotildees verbais a polilexicalidade eacute uma condiccedilatildeo inerente ao proacuteprio conceito locucional como um conjunto de palavras que equivalem a um soacute vocaacutebulo por terem sentido combinaccedilatildeo proacutepria ou peculiar e funccedilatildeo gramatical uacutenica

Ao tratar dos traccedilos baacutesicos das unidades fraseoloacutegicas acertadamente Montoro del Arco (2006) diz que natildeo haacute um consenso sobre quais satildeo os limites do componente fraseoloacutegico e sobre que unidades devem ser consideradas fraseoloacutegicas Talvez segundo o linguista o uacutenico traccedilo ou propriedade fraseoloacutegica consensual seja a polilexicalidade

Para Gross (1996) a polilexicalidade eacute a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria para que se possa falar acerca da fixaccedilatildeo (cristalizaccedilatildeo) das expressotildees idiomaacuteticas e que as palavras constituintes da expressatildeo idiomaacutetica tenham uma existecircncia autocircnoma fora da construccedilatildeo ou

28 Muitos autores citam ainda a informalidade como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas mas consideramos um equiacutevoco uma vez que como todas as palavras existem as que satildeo formais e as que satildeo informais

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combinaccedilatildeo fraseoloacutegica por essa razatildeo segundo Gross satildeo excluiacutedas construccedilotildees formadas com afixo (sufixo prefixo) que se enquadram no chamado processo de derivaccedilatildeo (p 9-10)

Montoro del Arco (2009) na tradiccedilatildeo europeia particulamente a hispacircnica um segmento eacute considerado fraseoloacutegico quando eacute formado por dois ou vaacuterios componentes que aparecem separados na escrita Graccedilas a esta noccedilatildeo ortograacutefica semacircntica e morfoloacutegica pode-se tambeacutem utilizar de forma mais geral em vez de unidade fraseoloacutegica a expressatildeo unidade polilexical quando se quer se referir agrave unidade lexicalizada o que pode criar uma separaccedilatildeo ou distinccedilatildeo terminoloacutegica das unidades univerbais (ou unidades leacutexicas) que satildeo objeto de lexicologia

Cumpre-nos destacar poreacutem que a polilexicalidade natildeo eacute apenas uma traccedilo meramente formal das expressotildees idiomaacuteticas senatildeo tambeacutem de tipo psicoloacutegico significativo no sintagma fraseoloacutegico pois influi na interpretaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica (MONTORO DEL ARCO 2006 p 37) Isso certamente ocorre porque estatildeo ligados a campos conceituais diversos como podemos comprovar no dicionaacuterio de Penadeacutes Martiacutenez (2002) ao registrar as expressotildees idiomaacuteticas relacionadas a accedilotildees estados e processos proacuteprios das pessoas como seres vivos a atividades profissionais a accedilotildees e processos referentes ao sexo entre outros

Concordamos com a opiniatildeo de Montoro Del Arco (2006 p 38) quando diz que no campo da Fraseologia referindo-se agrave polilexicalidade deve ser apontada desde o comeccedilo e com suficiente clareza em toda caracterizaccedilatildeo geral das unidades que se incluem no componente fraseoloacutegico da liacutengua Espanhola29

No acircmbito dos estudos de Linguiacutestica Cognitiva haacute uma compreensatildeo de que graccedilas agrave propriedade de polilexicalidade haacute uma intensa produtividade de expressotildees fixas nas liacutenguas modernas foacutermulas binaacuterias que estabelecem o princiacutepio da ordem linear da maioria das locuccedilotildees (DELBEQUE 2008 p26)

Natildeo nos parece razoaacutevel a posiccedilatildeo de Delbeque (2008) Do ponto de vista linguiacutestico e pela proacutepria definiccedilatildeo de fraseoloacutegica uma

29 No original debe sentildealarse desde el principio y con la suficiente claridad en toda carcterizacioacuten general de las unidades que se engloban en el componente fraseoloacutegico de la lengua espantildeola

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expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva Afinal natildeo podemos utilizar parte de seus componentes ou de seus morfemas na composiccedilatildeo de novas expressotildees da mesma forma que acontece com os sufixos e prefixos nas lexias simples ou palavras unitaacuterias

Para ilustrar a noccedilatildeo de binarismo linguiacutestico proposto por Delbeque tomemos em liacutengua Portuguesa dois exemplos de unidades fraseoloacutegicas tendo como lexema de base a palavra aacutegua a) aacutegua benta (aacutegua usada para fins sacramentais e piedosos) como na frase Vocecirc jaacute experimentou o maravilhoso poder da aacutegua benta b) aacutegua na boca (forte vontade de comer grande apetecircncia grande desejo) como na frase Joatildeo ficou com aacutegua na boca ao ver a sobremesa e (c) ter bebido aacutegua de chocalho (falar demais) como na frase de alta frequecircncia no Cearaacute como em Dizem por aiacute que Joatildeo andou bebendo aacutegua de chocalho e falando o que natildeo pode provar

Na frase (a) a locuccedilatildeo nominal destacada eacute formada de duas palavras aacutegua e benta No exemplo (b) a locuccedilatildeo nominal eacute formada por trecircs constituintes aacutegua na e boca e no exemplo (c) estamos diante de uma locuccedilatildeo verbal de natureza idiomaacutetica formada por cinco elementos constituintes ter bebido aacutegua de e chocalho

Os exemplos acima nos levam a caracterizar a expressatildeo idiomaacutetica como uma combinaccedilatildeo de duas ou mais palavras Assim caracterizada a expressatildeo idiomaacutetica natildeo se confunde com unidade leacutexica simples como nas foacutermulas pragmaacuteticas ou de rotina como as interjeiccedilotildees sauacutede (voto que se faz a algueacutem que espirra) adeus (foacutermula de despedida geralmente quando se espera separaccedilatildeo longa ou definitiva) obrigado (foacutermula utilizada para quem se sente devedor de um favor de uma amabilidade)

Adverte poreacutem Garciacutea-Page (2008 p24) o seguinte O caraacuteter pluriverbal de unidades fraseoloacutegicas eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo exclusiva embora suficientemente restritiva para deixar de fora do campo de estudo da Fraseologia um grande conjunto de estruturas30 Como as demais unidades fraseoloacutegicas a expressatildeo idiomaacutetica eacute fundamentalmente polilexical

30 No original el caraacutecter pluriverbal de las unidades fraseoloacutegicas es una condicioacuten necesaria pero no privativa aunque siacute suficientemente restrictiva como para dejar fuera de campo de estudio la Fraseologiacutea un nutrido conjunto de estructuras

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Em substacircncia diriacuteamos que por resultar de um fenocircmeno de cristalizaccedilatildeo cujo grau pode variar conforme as unidades a polilexicalidade faz-se acompanhar de um certo nuacutemero de propriedades sintaacuteticas e semacircnticas e sua definiccedilatildeo eacute bastante contiacutegua de uma outra propriedade das expressotildees idiomaacuteticas a estabilidade ou fixaccedilatildeo que veremos em subseccedilatildeo mais adiante Trataremos a seguir da frequecircncia fraseoloacutegica

Depois da polilexicalidade a frequecircncia de uso (e de coapariccedilatildeo) eacute a propriedade mais sobressalente das expressotildees idiomaacuteticas Sem a frequecircncia natildeo podemos falar em convencionalidade (ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) ou dizermos por exemplo que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute antes de tudo uma expressatildeo fixa e portanto armazenada na memoacuteria dos falantes nativos

A retoacuterica claacutessica recorreu agrave noccedilatildeo de frequecircncia para designar numerosas figuras de linguagem relacionadas agrave repeticcedilatildeo como a anaacutefora a anadiplose a aliteraccedilatildeo a assonacircncia a diaacutecope a epiacutestrofe a paranomaacutesia e a epanalepse

A noccedilatildeo antiga de frequecircncia alcanccedilou tambeacutem as teorias fraseoloacutegicas Linguistas como Corpas Pastor (1997) Xatara (1998) Sanromaacuten (2001) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) tecircm proposto a frequecircncia de uso como uma caracteriacutestica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Entre as seis caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas assinaladas por Corpas Pastor (1997) estaacute a frequecircncia Eacute um traccedilo destacado das expressotildees idiomaacuteticas ao consideraacute-las como unidades leacutexicas polilexicais que se caracterizam por sua alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes (p20) No conjunto de expressotildees idiomaacuteticas de dada liacutengua evidentemente nem todas tecircm alta frequecircncia de uso isto eacute natildeo podemos generalizar esta caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas

Segundo Corpas Pastor (1997) a frequecircncia como caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas poderaacute apresentar duas vertentes conforme jaacute pudemos observar na definiccedilatildeo anterior (a) frequecircncia de uso da expressatildeo idiomaacutetica como tal e (b) frequecircncia de coapariccedilatildeo de seus elementos constituintes No caso (b) os elementos constituintes natildeo aparecem sozinhos sob pena de descaracterizar a expressatildeo idiomaacutetica

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Cremos que a frequecircncia de uso atua como um elemento fixador da expressatildeo idiomaacutetica Graccedilas agrave frequecircncia de uso as expressotildees idiomaacuteticas potencializam as funccedilotildees apelativas da linguagem oralescrita que se caracterizam pela interpelaccedilatildeo direta do interlocutor e diriacuteamos tambeacutem incrementam as mesmas funccedilotildees da linguagem natildeo verbal uma vez que estatildeo presentes por exemplo em Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) conforme nos descreve Lemos (2012) De igual modo as funccedilotildees expressivas as que se referem agraves atitudes dos locutores ou emissores com relaccedilatildeo ao conteuacutedo e ao contexto da mensagem satildeo beneficiadas pela frequecircncia de uso das unidades fraseoloacutegicas Em outras palavras diriacuteamos que a causa (frequecircncia de uso) gruda com a consequecircncia (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica)

Para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 32) cabe falar em frequecircncia de uso no acircmbito do estudo das locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas se concebemos as referidas combinaccedilotildees fixas como fios de tecido textual das mensagens e que sua presenccedila na comunicaccedilatildeo oral e escrita eacute constante A frequecircncia de uso nas expressotildees idiomaacuteticas potencial e estruturalmente ambiacuteguas evidencia o sentido idiomaacutetico ou holiacutestico prevalecendo habitualmente sobre o sentido literal originaacuterio desde que exista um contexto determinante

Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera um extremo de infrequecircncia o fato de uma combinaccedilatildeo que em princiacutepio admite duas leituras uma literal como forma livre e outra idiomaacutetica como expressatildeo fixa seja empregada com o sentido literal isto eacute como produto da teacutecnica do discurso para tomarmos uma expressatildeo de Coseriu (1981 p113-118)

Em outras palavras o que Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera infrequente ou inusual eacute a possibilidade de uma expressatildeo como em Liacutengua Portuguesa ficar a ver navios com sentido idiomaacutetico de sofrer decepccedilatildeo possa ser interpretada por um falante nativo como ficar + a + ver + navios com o sentido literal de continuar a enxergar as embarcaccedilotildees A posiccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenhez (2008) indica que a compreensatildeo de uma sequecircncia eacute preferencialmente idiomaacutetica

Quanto agrave frequecircncia de apariccedilatildeo Corpas Pastor (1996) afirma ocorrer quando as expressotildees idiomaacuteticas apresentam elementos constituintes que aparecem combinados com uma frequecircncia de aparecimento do conjunto ou bloco superior ao que se espera da frequecircncia de aparecimento individual de cada palavra na liacutengua

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A frequecircncia de coapariccedilatildeo tem uma consequecircncia imediata desde o momento em que uma combinaccedilatildeo de palavras constituiacuteda livremente a partir das regras do sistema linguiacutestico emprega-se em alguma ocasiatildeo particular ou seja estaacute disponiacutevel para ser usada no discurso pelo mesmo falante ou outro como uma combinaccedilatildeo jaacute feita

Segundo Corpas Pastor (1997 p21) quanto mais frequente o uso da combinaccedilatildeo mas chances teraacute para consolidar-se como expressatildeo fixa que os falantes nativos armazenam na memoacuteria de longo prazo

Somos da mesma opiniatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) de que natildeo faz sentido falar de frequecircncia de coapariccedilatildeo das palavras que formam a expressatildeo salvo claro as variantes fraseoloacutegicas jaacute codificadas que funcionam numa relaccedilatildeo paradigmaacutetica posto que as expressotildees idiomaacuteticas trazem a presenccedila insubstituiacutevel dos componentes

Para ilustrarmos com um exemplo em Liacutengua Portuguesa a expressatildeo abaixarapagarassentarsossegar o facho pode vir com diversos verbos mas o mais frequente nos meios de comunicaccedilatildeo eacute que apareccedila com o verbo baixar como em O Peru conseguiu baixar o facho do Sendeiro Luminoso(In Coluna FREI HERMIacuteNIO BEZERRA Caderno 3 DN 07012008) com o sentido de moderar-se conter-se

A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um traccedilo que caracteriza sobretudo as colocaccedilotildees ou as construccedilotildees em tracircnsito de fixaccedilatildeo ou que estatildeo em processo de lexicalizaccedilatildeo A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um fato sintagmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada derivado primaacuteria e fundamentalmente de seu viacutenculo semacircntico isto eacute do fato paradigmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees virtuais entre unidades suscetiacuteveis de comutarem entre si o que ao certo contribui para a fixaccedilatildeo completa e definitiva da expressatildeo idiomaacutetica

Nessa mesma linha de reflexatildeo Xatara (1998 p148) acredita que a profusatildeo das expressotildees idiomaacuteticas decorreria de duas razotildees principais (a) o poder de seus efeitos criativos e (b) a revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico ou metafoacuterico

A frequecircncia de uso segundo a linguista Xatara (1998) seria responsaacutevel por dar caraacuteter previsiacutevel e automatismo agraves expressotildees idiomaacuteticas ou mais precisamente pela convencionalidade tornando-as frequentes no discurso mas ao serem apresentadas aos usuaacuterios da liacutengua surpreendentemente revelam-se com um poder metafoacuterico

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ou idiomaacutetico de seus efeitos sobre os usuaacuterios atraveacutes do jogo entre suas relaccedilotildees sobretudo metafoacutericas e metoniacutemicas e do recurso ao seu sentido literal Num olhar mais criacutetico sobre o pensamento de Xatara (1998) diriacuteamos que natildeo haacute metaacutefora nem metoniacutemia do ponto de vista sincrocircnico pelo simples fato de que natildeo haacute processamento da expressatildeo idiomaacutetica

Quanto agrave revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico Xatara (1998) afirma que graccedilas a uma espessura simboacutelica peculiares agraves expressotildees idiomaacuteticas e por estarem retidas na memoacuteria dos falantes satildeo criadas condiccedilotildees para que durante o processamento fraseoloacutegico sejam acionadas transferecircncias semacircnticas regulares do concreto ao abstrato do fiacutesico ao psiacutequico exprimindo julgamentos sociais e compartilhando das mais diversas sensaccedilotildees e emoccedilotildees

A frequecircncia de uso de expressotildees como bater as asas bater em retirada botar o peacute no mundo cair fora dar com o peacute no mundo levantar voo meter o arco meter o peacute no mundo entre outras expressotildees em lugar do leacutexico simples fugir na verdade daacute uma maior forccedila perlocucionaacuteria ao enunciado e traduz para o leitor ou ouvinte maior forccedila de expressatildeo ou estilo 31

Emparelhada com a polilexicalidade apontamos entre propriedades essenciais das expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo ou a estabilidade

Zuluaga (1975 p 230) entende por fixaccedilatildeo ou estabilidade formal a propriedade que tem certas expressotildees de serem reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas Esta definiccedilatildeo foi posteriormente acolhida por Corpas Pastor (1996 p23)

Uma explicaccedilatildeo das teorias fraseoloacutegicas sobre o surgimento desta propriedade fraseoloacutegica eacute a de que a fixaccedilatildeo resultaria de um processo histoacuterico-diacrocircnico e da conversatildeo paulatina de uma construccedilatildeo livre e variaacutevel em uma construccedilatildeo fixa invariaacutevel soacutelida graccedilas agrave insistente repeticcedilatildeo portanto como consequecircncia de sua frequecircncia

Nesse processo de evoluccedilatildeo uma forma analiacutetica livre chegaria a adquirir em um ponto da histoacuteria um sentido idiomaacutetico (ou

31 A rigor natildeo poderiacuteamos dizer que a frequecircncia de uso eacute uma propriedade exclusiva das expressotildees idiomaacuteticas Acontece com a escolha de qualquer palavra da Liacutengua Portuguesa como por exemplo com o verbo sair ou retirar-se com seu correlato vazar

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metafoacuterico32) ou especiacutefico33 em ateacute conceber-se como um todo isto eacute uma foacutermula memorizaacutevel disponiacutevel para emprego por parte do falante no processo discursivo ao expressar um conteuacutedo que jaacute estaria condensado nela (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p25)

Este processo de conversatildeo de uma unidade sintaacutetica em expressatildeo idiomaacutetica poderia chamar-se de fraseologizaccedilatildeo embora para Garciacutea-Page Saacutenchez (p25) o fato de unidades fraseoloacutegicas terem muitas palavras eacute uma condiccedilatildeo absolutamente necessaacuteria mas natildeo exclusiva e suficientemente restritiva o que significa dizer que este fato linguiacutestico pode representar um fenocircmeno mais amplo se inclui a fixaccedilatildeo da forma e a fixaccedilatildeo semacircntica como operaccedilotildees simultacircneas uma vez que fixa tambeacutem o sentido fraseoloacutegico

Quando o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica se estabiliza a forma livre originaacuteria estruturalmente idecircntica portanto correspondente a literal (ou a teacutecnica do discurso para tomarmos a expressatildeo coseriana) seguiraacute outros caminhos semacircnticos ou ocorrecircncias semacircnticas disponiacutevel para emprego discursivo e exposta como qualquer outro signo da liacutengua a preencher-se de novos matizes semacircnticos daiacute as expressotildees idiomaacuteticas experimentarem mudanccedilas no sentido ou se tornarem arcaiacutesmos

Com relaccedilatildeo especificamente agraves expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo eacute uma propriedade marcante das mesmas em que pesem sofrerem muito com a variaccedilatildeo fraseoloacutegica Liacutenguas neolatinas como o portuguecircs e o Espanhol registram muitas variantes fraseoloacutegicas no seu leacutexico Vamos entatildeo aprofundar um pouco com alguns exemplos em liacutengua Portuguesa esta questatildeo da variaccedilatildeo nas expressotildees fixas nos paraacutegrafos a seguir

Segundo Garciacutea-Page Sanchez (2008 p213-315) os estudos filoloacutegicos tecircm mostrado que a tradiccedilatildeo oral tem favorecido ao longo dos anos ou seacuteculos a criaccedilatildeo de variantes em decorrecircncia de causas diversas do tipo (1) maior expressividade (2) etimologia popular (3)

32 Natildeo poderiacuteamos generalizar esta carga metaforicidade para todas as unidades fraseoloacutegicas Na expressatildeo de vez em quando com sentido de ocasionalmente uma vez ou outra natildeo haacute metaacutefora 33 Por exemplo em ser cheio de nove horas com sentido de rabugento impertinente como na frase O senador fluminense Lindbergh Farias ficou cheio de nove horas para dizer que aquele escritoacuterio era ateacute entatildeo uma caixa-preta (DN em Caderno 3 Coluna Eacute 08072013)

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regionalismos (4) marcas sociolinguiacutesticas (as de variaccedilatildeo diastraacutetica em particular) (5) existecircncia de modelos produtivos de uso pelos falantes34 (6) ecircnfase (7) reforccedilo do aprendizado (8) ajuda agrave memorizaccedilatildeo (9) economia linguiacutestica (10) modernizaccedilatildeo e por uacuteltimo (11) maior ou menor extensatildeo da locuccedilatildeo

Destas causas arroladas acima natildeo concordamos com a (5) por entendermos que por definiccedilatildeo uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva a menos que o autor considere a flexatildeo ou a variaccedilatildeo como processos criativos da liacutengua o que seria um contrassenso linguiacutestico

De outra maneira diriacuteamos que a fixaccedilatildeo tem um caraacuteter gradual portanto de escalaridade que se manifesta de diversos graus de uso da liacutengua Satildeo muitas as expressotildees idiomaacuteticas passiacuteveis de variaccedilotildees formais de uma ou outra natureza (focircnica graacutefica leacutexica gramatical morfoloacutegica)

Na Liacutengua Portuguesa podemos dar exemplos de variantes fraseoloacutegicas de vaacuterias expressotildees idiomaacuteticas como chutar o balde o pau da barraca escaparsair pela tangente estarficar entregue agraves baratas passar atestado de burro estuacutepidoimbecil estarou andar com a pedra no sapato estarcair ficar de cama estar ficar com aacutegua na boca estar ficar de saco cheio estar ficar no mato sem cachorros e esticar a canela as botas Esta riqueza de variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute entendida por noacutes como diferenccedilas de realizaccedilatildeo linguiacutestica (falada ou escrita) de uma expressatildeo fixa observadas entre os falantes de uma mesma liacutengua e natildeo como produtividade fraseoloacutegica

Para ficarmos em exemplo vejamos o que nos diz Houaiss e Villar (2009) sobre a expressatildeo ldquochutar o balderdquo mesmo que ldquoChutar o pau da barracardquo Portanto as duas formas ou variantes de uma mesma expressatildeo fixa compartilham os mesmos sentidos como ldquodeixar de medir as consequecircncias de qualquer ato engrossar entornar o caldordquo e ldquoabandonar desistir de um projetordquo

34 O caraacuteter produtivo das expressotildees eacute muito questionado Ao longo deste livro temos colocado que uma expressatildeo natildeo pode ser produtiva Eacute uma contradiccedilatildeo em termos Se o que caracteriza a expressatildeo eacute justamente a cristalizaccedilatildeo e a fixaccedilatildeo com o passar dos anos ela natildeo pode ser produtiva Assim ningueacutem pode fazer uma expressatildeo nova porque por definiccedilatildeo a sequecircncia tem de ser repetida durante muito tempo ateacute ser conhecida e compartilhada por todos os outros falantes da liacutengua

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No inventaacuterio de variantes fraseoloacutegicas como apresentamos na lista acima as que permanecem no uso da liacutengua sem se tornarem anacrocircnicas ou obsoletas satildeo as que satildeo geralmente codificadas e consagradas pela comunidade e previstas pelo sistema (da liacutengua) daiacute reconhecermos que a convencionalidade e a frequecircncia satildeo tambeacutem dois traccedilos definitoacuterios das expressotildees idiomaacuteticas

Para ilustrarmos com mais exemplos em Liacutengua Portuguesa lembramos que no caso do sentido idiomaacutetico de fugir ou retirar-se em debandada o Aureacutelio (2009) registra sobejamente entre outras as seguintes locuccedilotildees verbais abrir no mundo abrir no peacute abrir nos paus abrir o arco bater em retirada botar o peacute no mundo enfiar a cara no mundo ensebar as canelasentupir no oco do mundo fazer chatildeo fazer a pista ganhar o mato ganhar o mundo bater em retirada sair de fininho e elevantar voo

Por outro lado satildeo abundantes as expressotildees idiomaacuteticas que admitem modificaccedilotildees de seus elementos constituintes atraveacutes da teacutecnica do discurso proacutepria das combinaccedilotildees livres Quando expressotildees idiomaacuteticas se comportam como se fossem combinaccedilotildees livres portanto de sintaxe plena o que ocorre geralmente eacute a inclusatildeo na combinatoacuteria de incrementos leacutexicos com valor intensificador35 mas que natildeo interferem no conceito de fixaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas particularmente no caso das locuccedilotildees verbais como as seguintes abrir o (maior) bocatildeo armar (o maior) banzeacute armar o (maior) barraco ser bom (ou muito) estocircmago ser bastante (ou muito) mulher e ter bom (ou muito) estocircmago

A variaccedilatildeo como contrapartida e aparentemente contraexemplo da fixaccedilatildeo tem sido proposta juntamente com a fixaccedilatildeo como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas inclusive como um traccedilo universal fraseoloacutegico (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p213-220) Existiriam assim fatores para transgressatildeo da fixaccedilatildeo ou variaccedilatildeo fraseoloacutegica (1) a proacutepria natureza fixa da locuccedilatildeo (2) o caraacuteter travado e coeso de sua composiccedilatildeo leacutexica sintaacutetica e inclusive focircnica (relativo ao contiacutenuo sonoro que constitui a cadeia falada) e (3) seu valor de unidade memorizaacutevel

35 Muitos somatismos como em tirar mais aacutegua do joelho que traz o intensificador mais e ldquoter a liacutengua maior que o corpordquo ou ldquoter o o olho maior que a barrigardquo em que temos ldquomaiorrdquo nas combinatoacuterias fixas

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Em nosso estudo acolhemos esta visatildeo acima por considerarmos que os falantes de dada liacutengua especialmente os de L2 como por exemplo lusoacutefonos na variante africana tendem naturalmente a apresentar formas linguiacutesticas diferenciadas da nossa vertente brasileira ou europeia por determinantes sociolinguiacutesticos ou mais precisamente por fatores diatoacutepicos

A estabilidade da combinatoacuteria de uma expressatildeo idiomaacutetica ao longo de um tempo resultaria pois da consagraccedilatildeo pelo uso na comunidade linguiacutestica ainda assim e paradoxalmente tal fixaccedilatildeo natildeo se imporia como homogecircnea para todos os falantes de dada liacutengua nem mesmo os dicionaacuterios gerais ou especializados registram as expressotildees idiomaacuteticas ou as abonam de igual modo Apenas para exemplificar tomemos por exemplo as expressotildees idiomaacuteticas para o sentido de morrer contendo o lexema paletoacute fechar o paletoacute fechar o paletoacute de algueacutem vestir o paletoacute de madeira abotoar o paletoacute e vestir paletoacute de pinho

Esta particularidade da propriedade fixaccedilatildeo segundo Corpas Pastor (1996 p23) pode ser manifesta nos seus dois tipos (a) fixaccedilatildeo interna e (b) a fixaccedilatildeo externa Por fixaccedilatildeo interna entendemos a fixaccedilatildeo material marcada pela impossibilidade de reordenamento dos componentes realizaccedilatildeo foneacutetica fixa restriccedilatildeo na escolha dos componentes e fixaccedilatildeo de conteuacutedo (ou peculiaridade semacircntica)

A fixaccedilatildeo externa por sua vez pode ser sudividida em outros quatro subtipos conforme descrevemos abaixo

(1) fixaccedilatildeo situacional 36 refere-se a que se daacute como combinaccedilatildeo de certas unidades linguiacutesticaa em situaccedilotildees sociais determinadas como ocorre nas expressotildees como com licenccedila da (maacute) palavra (se me permite usar uma palavra feia desculpe-me a palavra insultuosa) pedir a matildeo de (fazer proposta de casamento ) e pedir a palavra (pedir licenccedila para falar)

(2) fixaccedilatildeo analiacutetica entende-se aquela que se daacute como consequecircncia do uso de determinadas unidades linguiacutesticas para anaacutelise jaacute estabelecida do mundo frente a outras unidades igualmente possiacuteveis teoricamente como em Liacutengua Portuguesa temos querer viver apenas agrave sombra e aacutegua fresca natildeo dizer desta aacutegua natildeo beberei e natildeo se julgar livre de fazer o que condena nos outros)

36 Este traccedilo natildeo poderiacuteamos dizer a rigor ser exclusivo das unidades fraseoloacutegicas Qualquer palavra de dada liacutengua tem sua fixaccedilatildeo situacional

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(3)fixaccedilatildeo passemaacutetica37 aquela fixaccedilatildeo originada no emprego de unidades linguiacutesticas segundo o papel do falante no ato comunicativo como nas locuccedilotildees custar os olhos da cara (ser muito caro) e dormir como uma pedra (dormir profundamente)

(4) Fixaccedilatildeo posicional entendida como a preferecircncia pelo uso de certas unidades linguiacutesticas de determinadas posiccedilotildees na forma de textos como ocorre nas foacutermulas de saudaccedilatildeo encabeccedilamentos e despedidas de cartas por exemplo Sou com todo o respeito (foacutermula de delicadeza que usa o missivista no fecho das cartas para exprimir o respeito e o apreccedilo pela pessoa a quem se dirige)

A noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo segundo Garcia Page (2008) eacute um dos traccedilos acidentais das expressotildees idiomaacuteticas que tambeacutem pode ser emparelhado com o conceito de fixaccedilatildeo Define institucionalizaccedilatildeo como ldquoo processo pela qual uma comunidade linguiacutestica adota uma expressatildeo fixa a sanciona como algo proacuteprio como moeda de troca na comunicaccedilatildeo cotidiana como componente do seu acervo linguiacutestico-cultural de seu coacutedigo idiomaacutetico como qualquer outro signo convencional e passa a formar parte do vocabulaacuteriordquo 38 (p29)

Vale ressaltar que a noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo na perspectiva de nosso trabalho como jaacute dissemos antes eacute uma propriedade acidental ou ocasional que natildeo pode ser confundida com a noccedilatildeo de convencionalidade uma propriedade essencial das expressotildees idiomaacuteticas segundo a perspectiva cognitivista (FILLMORE KAY e OCONNOR 1988 NUNBERG WASOW e SAG 1994 CROFT e CRUSE 2004 p298 TAGNIN 2005) Mais adiante daremos uma atenccedilatildeo especial agrave propriedade da convencionalidade

No caso da institucionalizaccedilatildeo a expressatildeo idiomaacutetica converte-se em produto cultural como um referente idiossincraacutesico e de uso por uma comunidade linguiacutestica embora possa ultraspassar as fronteiras e

37 Este termo nos lembra muito a noccedilatildeo de ato perlocutoacuterio (os efeitos do ato do falante nos interlocutores e audiecircncia) isto eacute o efeito que um ato ilocutoacuterio (forccedila que o enunciado produz que pode ser de pergunta de afirmaccedilatildeo ou de promessa) no alocutaacuterio (pessoa a quem o locutor dirige um ato de fala numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo oral) 38 No original el proceso por el cual una comunidad linguiacutestica adopta una expresioacuten fija la sanciona como algo propio como moneda de cambio en la comunicacioacuten cotidiana como componente de su acervo linguiacutestico-cultural de su coacutedigo idiomaacutetico como cualquier otro signo convencional y pasa a parte del vocabulario

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alcanccedilar o campo internacional isto eacute passar a fazer parte do universo fraseoloacutegico compartilhado por comunidades de falas distintas

Haacute expressotildees que surgem com forccedila e pujanccedila ou se potildeem de moda por certo tempo mas a comunidade linguiacutestica deixa de usar de uma hora para outra e a esquece e assim deixa de fazer parte do vocabulaacuterio ativo da comunidade de falantes embora por vezes continue registrada nos dicionaacuterios gerais da liacutengua

Na institucionalizaccedilatildeo de uma estrutura normalmente a accedilatildeo fixadora do uso repetido eacute precisa Ainda segundo Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) a repeticcedilatildeo continuada de uma expressatildeo conduz a sua cristalizaccedilatildeo a sua petrificaccedilatildeo agrave condiccedilatildeo de unidade disponiacutevel para seu armazenamento memorizaccedilatildeo e a sua transmissatildeo entre os falantes

No campo fraseoloacutegico o traccedilo de fixidez da instituiccedilatildeo nos leva a outra noccedilatildeo a de reprodutividade que certamente eacute a mesma que percebeu Eugenio Coseriu quando fez referecircncia a discurso repetido (2007 p201)

Por conta da repeticcedilatildeo ou reproduccedilatildeo ocorreria a institucionalizaccedilatildeo e esta tambeacutem levaria no uso da liacutengua agrave repeticcedilatildeo da expressatildeo evidenciando seus valores intriacutensecos como foacutermula ou discurso repetido conhecimento ou experiecircncia compartilhada entre os falantes sua natureza estruturalmente sinteacutetica e sua marca de identidade cultural da comunidade linguiacutestica

Outra noccedilatildeo fraseoloacutegica considerada por noacutes como acidental e que estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de anomalia Entendida em nosso estudonosso estudo como expressotildees palavras que fogem agrave regra e natildeo seguem um paradigma flexional e sendo formas anocircmalas devem ser portanto memorizadas pelos falantes de uma liacutengua dada

Tem-se apontado as construccedilotildees estruturalmente anocircmalas do tipo leacutexicas sintaacuteticas ou semacircnticas como iacutendices ou indicadores fraseoloacutegicos isto eacute marcas de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e uma prova da fixaccedilatildeo das unidades fraseoloacutegicas (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p33-34 RUIZ GURILLO 2001 p18)

No caso da Liacutengua Portuguesa enquanto para o sintaxista uma expressatildeo idiomaacutetica como aiacute eacute que a porca torce o rabo (este eacute que eacute o ponto difiacutecil da questatildeo) a presenccedila do adverbio aiacute eacute considerada uma anomalia para o fraseoacutelogo eacute um traccedilo proacuteprio de

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certas unidadesexpressotildees fraseoloacutegicas39 Em outras palavras no campo fraseoloacutegico a anomalia tem seu valor diacriacutetico

A Liacutengua Portuguesa em se tratando de casos de anomalias fraseoloacutegicas eacute bastante produtiva Por exemplo haacute casos de anomalias em expressotildees idiomaacuteticas (a maioria anacrocircnica) com a presenccedila de nomes proacuteprios ou antropocircnimos como em Messias em esperar pelo Messias (esperar por coisa pouco provaacutevel ou quase impossiacutevel Luzia em ganhar o que Luzia ganhou na horta ( ser passado para traacutes) ou Joatildeo em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (disfarccedilar-se) Estes antropocircnimos caracterizam a expressatildeo de modo a nos falar de uma fossilizaccedilatildeo de estados sincrocircnicos anteriores isto eacute constitui um resiacuteduo histoacuterico de sua consolidaccedilatildeo

As diversas anomalias presentes nas expressotildees idiomaacuteticas tendem a tornaacute-las expressotildees ambiacuteguas isto eacute potencialmente composicionais (transparentes ou literais) e natildeo composicionais (opacas e idiomaacuteticas ou natildeo literais) e por essa razatildeo o contexto desempenha um papel importante na identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas quando trazem as marcas de anomalias fraseoloacutegicas como nos exemplos mostrados acima

No acircmbito da Fraseologia existem mais exemplos de anomalias com palavras idiomaacuteticas (ou diacriacuteticas) arcaiacutesmos ou a marca do arredondamento dos laacutebios Por exemplo nas expressotildees idiomaacuteticas botar as manguinhas de fora ou pocircr as manguinhas de fora (agir revelando qualidades ou denunciando intenccedilotildees que em geral anteriormente se ocultavam) embora possa ser alternado o verbo botar para pocircr a palavra idiomaacutetica manguinhas na sua forma fossilizada no plural estaacute presente nas duas construccedilotildees sinocircnimas Manguinhas tem a funccedilatildeo de ser uma palavra diacriacutetica Eacute na expressatildeo idiomaacutetica botar as manguinhas de fora o que Gonzalez Rey (2005 p315) chama de fenocircmeno de haacutepax 40 fraseoloacutegico

Da mesma forma temos um caso de arcaiacutesmo quando o falante atual do Portuguecircs Brasileiro diante de uma expressatildeo idiomaacutetica

39 Uma outra interpretaccedilatildeo para este fenocircmeno seria a de considerar que um sintatiscista poderia ver no adveacuterbio aiacute um adjunto temporal perfeitamente justificaacutevel na liacutengua tanto do ponto de vista formal (com relaccedilatildeo agrave posiccedilatildeo na sentenccedila) quanto semacircntico 40Em lexicografia palavra ou expressatildeo de que soacute existe uma uacutenica abonaccedilatildeo nos registros da liacutengua Esta palavra vem do grego haacutepaks uma vez isto eacute haacutepaks legoacutemenon o que eacute dito uma uacutenica vez

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como bater a caccediloleta (morrer) natildeo reconhece composicionamente o sentido de caccediloleta (fuzil de espingarda ou arma de fogo semelhante que dispara com faiacutescas de pederneira sobre a qual bate a pedra adaptada ao catildeo para comunicar fogo agrave escorva) julgaraacute entatildeo por forccedila de sua intuiccedilatildeo Linguiacutestica que se trata de uma expressatildeo antiga ou desusada na verdade estaacute diante realmente de uma construccedilatildeo idiomaacutetica que caiu em desuso quer na fala quer na escrita padratildeo embora possa continuar a existir como forma dialetal ou em usos literaacuterios e com registros nos dicionaacuterios gerais41

Um bom exemplo de arredondamento dos laacutebios (ou labializaccedilatildeo) podemos observar quando a presenccedila do artigo enquanto categoria gramatical implica em diferenccedila no sentido idiomaacutetico da expressatildeo com relaccedilatildeo a sintagmas livres irmatildeos gecircmeos42 como por exemplo em chutar o balde ou chutar o pau da barraca bater a bota ou bater as botas

O que podemos assinalar nos exemplos chutar o balde e chutar o pau da barraca eacute que o artigo o indica convencionalmente a presenccedila de uma expressatildeo idiomaacutetica frente aos sintagmas livres chutar balde ou chutar pau da barraca que tecircm o sentido literal de dar chute contra o recipiente Por outro lado a presenccedila do artigo definido nas construccedilotildees idiomaacuteticas indica natildeo apenas uma determinaccedilatildeo dentre outras da mesma espeacutecie mas uma articulaccedilatildeo secundaacuteria que envolve arredondamento dos laacutebios na hora de ser proferida pelo falante

A metaacutefora a hipeacuterbole e a metoniacutemia datildeo origem a numerosas expressotildees idiomaacuteticas semanticamente anocircmalas como comer com os olhos (olhar com cobiccedila admirar demonstrando forte desejo) comer como pinto e cagar como pato ou dar o passo maior que a perna (ganhar pouco e gastar muito) comer como um lobo (comer aacutevida e exageradamente) afogar-se em pouca aacutegua (complicar-se ou preocupar-se com pequenos problemas ou com as

41 Reconhecemos que haacute inuacutemeras expressotildees com palavras que natildeo existem independemente e satildeo empregadas Por exemplo ao leacuteu ou a esmo (agrave toa) ou sem eira nem beira (na miseacuteria) Assim o fato de a expressatildeo desparecer porque seus componentes natildeo satildeo usados natildeo nos parece um fato Na verdade quando a expressatildeo desaparece o alcance eacute pleno isto eacute como grupo fraseoloacutegico Afinal a expressatildeo fixa eacute uma unidade 42 A linguista Gurillo (2001) recorre a esta expressatildeo para se referir ao homoacutefono literal de uma expressatildeo idiomaacutetica

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miacutenimas coisas sem nenhuma importacircncia abrir o coraccedilatildeo (expandir os seus sentimentos desabafar) e cortar o coraccedilatildeo (ser extremamente doloroso)

Tendo em conta que a oposiccedilatildeo entre expressotildees idiomaacuteticas em L1 e em L2 ou em L3 ocorre com frequecircncia nas liacutenguas modernas como nos aponta Belinchoacuten (1999 p359-73) diriacuteamos que a Fraseologia do Portuguecircs eacute uma das mais ricas das liacutenguas europeias por estar repleta de expressotildees que contecircm componentes leacutexicos cujo sentido resulta completamente desconhecido por muitos falantes especialmente crianccedilas e adolescentes embora em geral saibam o sentido global da expressatildeo quando esta eacute de uso frequente ou corriqueiro ou ainda quando contextualizada na fala cotidiana

Eis algumas expressotildees que ilustram melhor nossa assertiva acima estar com o peacute no estribo (estar de partida) estar na berlinda (ser alvo de comentaacuterios) fazer de um argueiro um cavaleiro (exagerar demais) fazer figas (amaldiccediloar esconjurar algueacutem ou algo) fazer mea-culpa (arrepender-se) fazer ouvidos de mercador (fingir que natildeo ouve) fazer peacute de alferes a (namorar cortejar) fazer uma fezinha (arriscar a sorte num jogo de azar) fazer uma vaquinha (dividir igualmente entre vaacuterias pessoas uma despesa qualquer) dar em aacuteguas de bacalhau (natildeo se concretizar frustrar-se)

Como pudemos facilmente mostrar componentes leacutexicos das expressotildees idiomaacuteticas arroladas acima como estribo berlinda argueiro figas mea-culpa mercador peacute de alferes fezinha vaquinha e aacuteguas de bacalhau podem ser altamente infrequentes para nativos ou natildeo nativos do PB

Assim como a polilexicalidade eacute uma propriedade emparelhada com a fixaccedilatildeo esta por seu turno eacute ligada agrave idiomaticidade

Para a renovaccedilatildeo do repertoacuterio do leacutexico de uma liacutengua eacute necessaacuterio que as expressotildees natildeo idiomaacuteticas se convertam em idiomaacuteticas isto eacute globalizem-se (polilexicalidade) e estabilizem-se (fixaccedilatildeo) A todo momento satildeo criadas novas palavras e expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo os dicionaacuterios gerais tendem a marcar passo frente agrave atualizaccedilatildeo das entradas e subentradas de seus verbetes

A idiomaticidade para alguns autores eacute determinada a partir da noccedilatildeo de interlinguiacutestica e intralinguiacutestica Eacute idiomaacutetica uma expressatildeo que ao ser traduzida para a liacutengua-alvo pelo menos um de seus

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elementos recebe um equivalente especial que aparece somente nessa expressatildeo Segundo Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p 25) a idiomaticidade entendida como especificidade diz respeito a uma liacutengua que se converte em um argumento favoraacutevel agrave relatividade Linguiacutestica 43

Gonzaacutelez-Rey (2010 p 179) defende a ideia que a idiomaticidade (ou opacidade) resultaria de uma percepccedilatildeo relativa dos usuaacuterios que satildeo os que opinam se uma expressatildeo eacute opaca ou natildeo A opacidade dependeria do grau de transparecircncia com a que se expressa uma ideia mas o que verdadeiramente determina a compreensatildeo do sentido idiomaacutetico satildeo segundo ela os conhecimentos preacutevios e os procedimentos cognitivos dos usuaacuterios Segundo a linguista a opacidade vem de uma falha da mente [dos usuaacuterios da liacutengua] ao reconhecer sua incapacidade de desmaranhar sentido 44 (idem)

Na tradiccedilatildeo Linguiacutestica o conceito de idiomaticidade tem ao menos duas concepccedilotildees por um lado uma concepccedilatildeo lato sensu (sentido amplo) daquilo que na liacutengua eacute proacuteprio particular peculiar ao sistema linguiacutestico daiacute os termos concorrentes idiotismo ou idiomatismo e por outro a concepccedilatildeo stricto sensu (sentido restrito) decorrente da noccedilatildeo fraseoloacutegica do princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ou da opacidade semacircntica (BEVILACQUA 20042005 p77)

No Brasil o termo idiomaacutetico ou idiomaticidade durante muito tempo referiu-se a uma particularidade ou a especificidade cultural nacional a que na deacutecada de 40 do seacuteculo passado evidenciou-se com a publicaccedilatildeo de obras como Tesouro da Fraseologia Brasileira (1966) 45 do filoacutelogo Antenor Nascentes e quase trecircs deacutecadas depois com a publicaccedilatildeo de Locuccedilotildees tradicionais no Brasil de Luiacutes da Cacircmara Cascudo (2004)46 Estes autores recolheram uma a uma expressotildees e ditos populares geralmente ouvidas por eles de homens simples familiares descartando as mais populares em Portugal e tendo a

43 Este termo nos remete agrave ideia de que uma determinada liacutengua eacute o reflexo da civilizaccedilatildeo e da cultura da comunidade onde ela eacute falada isto eacute a estrutura global de cada liacutengua influi diferencialmente sobre o pensamento do falante sobre sua concepccedilatildeo da realidade e seu comportamento frente a ela como apontam Rossi-Landi (1974 p30-36) e Neveu (2008 p260) 44 La opacidad procede de un fracaso de la mente al reconocer su incapacidad de desetrantildear el sentido 45 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1945 46 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute data de 1970

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preocupaccedilatildeo de buscar as suas origens ou motivaccedilotildees linguiacutesticas (CASCUDO 2004 p24)

A idiomaticidade portanto nas duas obras acima confundia-se como assinalamos anteriormente com a noccedilatildeo de idiomatismo ou idiotismo47 isto eacute traccedilo ou construccedilatildeo peculiar a uma determinada liacutengua que natildeo se encontra na maioria dos outros idiomas (na verdade mais presunccedilatildeo do que fato linguiacutestico) como ocorre em nossa liacutengua com o infinitivo pessoal ou flexionado do portuguecircs que recebe desinecircncias nuacutemero-pessoais como por exemplo na frase Se noacutes pusermos matildeos agrave obra agora terminaremos o trabalho a tempo em que flexionamos o verbo de uma expressatildeo idiomaacutetica pocircr matildeos agrave obra (comeccedilar a executar alguma coisa)

As expressotildees idiomaacuteticas no tesouro fraseoloacutegico podiam ser entendidas como elementos da tradiccedilatildeo oral de uma cultura no caso a brasileira ou em outras palavras locuccedilotildees proacuteprias de uma liacutengua cuja traduccedilatildeo literal natildeo faz sentido numa outra liacutengua de estrutura anaacuteloga por ter um sentido natildeo dedutiacutevel da simples combinaccedilatildeo dos sentidos dos elementos que a constituem

No Brasil uma das primeiras gramaacuteticas a tratar dos idiotismos foi a Gramaacutetica Expositiva curso superior publicada em 1907 pelo mineiro Eduardo Carlos Pereira e que no ano 1957 jaacute registrava sua 102ordf ediccedilatildeo o que vem comprovar sua grande aceitaccedilatildeo pelos brasileiros

Pereira (1957) definia na eacutepoca idiotismo como termo ou diccedilatildeo de uma liacutengua que natildeo tem correspondente em outra liacutengua ou ainda frases peculiares que se apartam das normas da sintaxe sendo poreacutem consagradas pelo uso de pessoas cultas (p258) Consideradas como verdadeiras belezas da liacutengua os idiotismos segundo Pereira ([1907] 1957) podiam ser divididos em duas vertentes (a) idiotismos leacutexicos e (b) idiotismos fraseoloacutegicos

Conforme nos descreve Pereira (1957) havia quatro casos de ocorrecircncias de idiotismos leacutexicos

(a) infinitivo pessoal ou flexionado forma nominal do verbo que por referir-se a um sujeito ao contraacuterio do infinitivo impessoal flexiona-se em nuacutemero e pessoa como na frase O juiz faz saber a todos quantos deste edital tomarem conhecimento e Jaacute jaacute ajustaremos contas vocecirc e eu

47 Houaiss e Villar (1999) datam o termo idiotismo de 1713 enquanto o termo idiomatismo surgiu no seacuteculo XX

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(b) a mudanccedila do sentido de certas palavras ou expressotildees pela mudanccedila do gecircnero nuacutemero e ainda da posiccedilatildeo de seus componentes no caso das expressotildees como em a cabeccedila (uma das grandes divisotildees do corpo humano) e o cabeccedila (figura preeminente em qualquer associaccedilatildeo ou grupo de seres humanos ou de animais liacuteder) a liacutengua (oacutergatildeo muscular situado na boca e na faringe) e o liacutengua (inteacuterprete tradutor) o zelo (grande cuidado e preocupaccedilatildeo que se dedica a algueacutem ou algo) e os zelos (ciuacuteme) a honra (princiacutepio que leva algueacutem a ter uma conduta virtuosa) e as honras (manifestaccedilotildees que denotam respeito consideraccedilatildeo por algueacutem que se distinguiu por sua conduta ou tiacutetulo ou cargo honoriacutefico) homem grande (crescido desenvolvido taludo) e grande homem (magnacircnimo bondoso generoso) homem simples (modesto humilde pobre) e simples homem (o mais baixo de uma escala ou hierarquia48

(c) o verbo haver empregado no singular com ausecircncia de sujeito expliacutecito ou determinado que expressa situaccedilotildees ou processos que natildeo satildeo atribuiacuteveis a nenhum ser como por exemplo Haacute certo tipo de meninos que apreciam fazer cenas e Em toda parte haacute pessoas que natildeo veem um palmo adiante do nariz

(d) a palavra saudade 49 que natildeo pode idiossincraticamente ser traduzida em outras liacutenguas por natildeo ter equivalecircncia daiacute a locuccedilatildeo genuinamente brasileira deixar na saudade com sentido idiomaacutetico de levar vantagem sobre superar sobrepujar e morrer de saudade (Sentir muita saudade)

Os idiotismos leacutexicos satildeo considerados por Pereira (1957) como idiotismos convencionais pois satildeo observadas construccedilotildees anaacutelogas em outras liacutenguas especialmente neolatinas como Espanhol e o Italiano50

Os idiotismos fraseoloacutegicos aparecem em construccedilotildees do tipo minha nossa Nossa Senhora Minha Nossa Senhora Nossa Matildee Santo Deus Virgem Maria cruz-credo triste de mim pobre do homem que constituem frases idiomaacuteticas expressivas e refrataacuterias agrave anaacutelise

Entre os idiotismos fraseoloacutegicos Pereira (1957) cita o caso dos anacolutos Mais explorada no campo da estiliacutestica ou literaacuterio a

48 Do ponto de vista da Semacircntica isso soacute reflete a polissemia caracteriacutestica de praticamente todos os itens leacutexicos 49 Interessante observar a etimologia da palavra saudade vem do latim solitate lsquosoledadersquo lsquosolidatildeorsquo pela forma arcaica soydade suydade possivelmente com influecircncia da palavra sauacutede 50 Trata-se na verdade de uma indicaccedilatildeo diacrocircnica Em Latim provavelmente havia expressatildeo idiomaacutetica Poderiacuteamos falar entatildeo em hipoacutetese filoloacutegica de reconstruccedilatildeo

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anacolutia ou frase quebrada com acepccedilatildeo fraseoloacutegica ocorre em proveacuterbio do tipo quem ama o feio bonito lhe parece (aquele que gosta muito de algueacutem ou de algo nunca lhe vecirc defeito algum)

O termo idiomaacutetico tambeacutem estava presente nas gramaacuteticas normativas para assinalar todos os fenocircmenos anocircmalos frente agraves regularidades que eram objeto real da gramaacutetica dentre os quais as expressotildees idiomaacuteticas constituiacuteam somente uma parte

O conceito de idiomaacutetico aproxima-se muito nesse contexto gramatical da noccedilatildeo de anomalia isto eacute caraacuteter de expressotildees ou construccedilotildees natildeo seguirem as regras ou paradigmas de uma liacutengua e terem caraacuteter imprevisiacutevel e irregular comparadas agraves combinaccedilotildees livres Numa segunda concepccedilatildeo a perspectiva mais estreita ou restrita do termo idiomaticidade eacute considerada como categoria pertencente agrave semacircntica composicional (ou natildeo composicional) e muito particularmente agrave forma de significar das unidades fraseoloacutegicas

Uma definiccedilatildeo que se ajusta a esta noccedilatildeo de idiomaticidade eacute a definida por Montoro del Arco (2006) que a delimita como a propriedade que apresentam certas unidades fraseoloacutegicas para o qual o sentido global da unidade natildeo eacute dedutiacutevel do sentido isolado de cada um dos elementos constitutivos (2006 p45) 51

O fenocircmeno da idiomaticidade eacute tambeacutem chamado de natildeo composicionalidade do sentido frente agrave composicionalidade do sentido dos sintagmas proacuteprios da sintaxe livre Eacute considerada por Montoro del Toro o mais alto grau de que se conhece como especializccedilaccedilatildeo semacircntica ou lexicalizaccedilatildeo em unidades fraseoloacutegicas Por exemplo na expressatildeo querer tapar o sol com peneira (ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveis) ou tirar o cavalo (ou o cavalinho) da chuva (desistir de um propoacutesito qualquer por sua absoluta impossibilidade de sucesso) por forccedila de sua idiomaticidade natildeo satildeo transparentes nem se adivinham seu sentido idiomaacutetico a partir de seus elementos componentes principalmente se os usuaacuterios natildeo satildeo nativos da liacutengua portuguesa

Na segunda concepccedilatildeo idiomaticidade eacute identificada com o sentido traslatiacutecio produto de processos metafoacutericos ou metoniacutemicos Desde esse ponto de vista unidades como tirar leite de pedra (conseguir aquilo que todos tecircm por impossiacutevel) morder a

51 Original la propiedad que presentan ciertas unidades fraseoloacutegicas por la cual el sentido global de dicha unidad no es deducible del sentido aislado de cada uno de los elementos constitutivos

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liacutengua (deixar de falar algo) ou dar murro em ponta de faca52 (pretender o impossiacutevel) seriam mais idiomaacuteticas por seu alto grau de opacidade semacircntica

Para outros pesquisadores a idiomaticidade eacute inversamente proporcional agrave motivaccedilatildeo ou restituiccedilatildeo diacrocircnica53 isto eacute sempre que podemos recuperar a origem de um sentido traslatiacutecio ou metafoacuterico a partir do sentido literal estaremos ante unidades menos idiomaacuteticas que nos casos em que este sentido eacute totalmente opaco e natildeo haacute rastro ou pegadas da referida motivaccedilatildeo Estabelece-se que este traccedilo idiomaacutetico resultaria de um processo pelo qual o sentido uacuteltimo ou final difere do original ou literal e se concebe em consequecircncia como proacuteprio do conjunto global dos componentes

Do ponto de vista da Linguiacutestica Cognitiva as pesquisas tecircm dado atenccedilatildeo natildeo ao resultado final isto eacute o sentido idiomaacutetico das expressotildees mas ao caraacuteter processual da idiomaticidade e tecircm assinalado nos seus achados que o sentido das UFs eacute composicional isto eacute consiste na soma dos sentidos parciais dos elementos componentes visatildeo que contrasta com a de Montoro del Arco (2006) como vimos anteriormente

Em Liacutengua Portuguesa expressotildees idiomaacuteticas do tipo jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) ou meter o peacute no mundo (fugir) aos olhos cognitivistas como Cuenca e Hilferty (1999) satildeo consideradas sintagmas com estrutura interna mais analisaacuteveis por que estes desempenhariam um papel importante em sua interpretaccedilatildeo e que esta possibilidade de estabelecer uma cadeia de inferecircncias sugere que a interpretaccedilatildeo natildeo eacute arbitraacuteria (CUENCA HILFERTY 1999 p117)54 Em substacircncia o que defendem os cognitivistas eacute que as expressotildees idiomaacuteticas em sua maioria satildeo bastante composicionais em particular na recepccedilatildeo uma vez que eacute preciso que faccedilam sentido (GRICE 1982) para os usuaacuterios da liacutengua mas na produccedilatildeo precisariam saber da convenccedilatildeo

Para os linguistas cognitivistas a fixaccedilatildeo dos sintagmas eacute uma questatildeo de grau e natildeo se pode confundir a sua literalidade com a natildeo

52 Tambeacutem dita dar murro em faca de ponta com uso mais regional no Brasil 53 Motivaccedilatildeo eacute entendida aqui como a presenccedila de qualquer conexatildeo necessaacuteria entre a forma (fixaccedilatildeo formal) da expressatildeo e seu sentido idiomaacutetico 54 No original esta posibilidad de estabelecer una cadena de inferencias sugiere que la interpretacioacuten no es arbitraria

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composicionalidade semacircntica O que afirmam eacute que o sentido idiomaacutetico das expressotildees leva em conta que os constituintes do sintagma seguem mantendo parte do sentido originaacuterio podemos compreender a importacircncia das partes constituintes de uma frase idiomaacutetica uma vez que satildeo elas que fornecem as pistas necessaacuterias para desvendar a interpretaccedilatildeo global da expressatildeo em questatildeo55 (CUENCA HILFERTY 1999 p118)

Sabemos que este fenocircmeno ocorre algumas vezes outras natildeo Em brigar feito catildeo e gato podemos imaginar o sentido originaacuterio mas em expressotildees como meter o bedelho (intrometer-se em assunto alheio) pintar o sete (realizar obras ou atos proacuteprios do diabo como travessuras desatinos desregramentos) tirar o cavalinho da chuva (desistir de ideia projeto ou pretensatildeo por natildeo haver hipoacutetese de ecircxito) e trepar ou pisar nas tamancas (zangar-se) observamos que natildeo eacute conservado o sentido originaacuterio

Discordando brevemente com a posiccedilatildeo dos cognitivistas cremos que quando estamos diante de expressotildees idiomaacuteticas efetivamente opacas mesmo que haja reconhecimento dos lexemas que formam a expressatildeo acessar o sentido idiomaacutetico natildeo eacute tarefa que resolve com a linguagem literal

Para defenderem suas postulaccedilotildees os linguistas cognitivos datildeo como exemplos expressotildees idiomaacuteticas do tipo ficar com as matildeos atadas (ficar impedido de agir ou de reagir) Segundo eles satildeo a rigor fraseologismos com homocircnimos livres isto eacute aqueles que estatildeo construiacutedos de acordo com os modelos sintaacuteticos e respondem agraves regras gramaticais e de combinabilidade de uma liacutengua dada Sabemos que muitas expressotildees idiomaacuteticas fogem ateacute mesmo dos paradigmas sintaacuteticos como por exemplo aiacute eacute que a porca torce o rabo aiacute eacute que vamos ver e aiacute eacute que estaacute o busiacutelis construccedilotildees consideradas por noacutes como casos de anomalia fraseoloacutegica

55 No original podemos comprender la importancia de las partes constituyentes de na frase idiomaacutetica pusto que son eacutestas las que proporcionan las pistas necesarias para desentrantildear la interpretacioacuten global de la expresioacuten en cuestioacutenrdquo Uma posiccedilatildeo criacutetica agrave autora diriacuteamos que alguns contituintes do sintagma mantecircm parte do sentido originaacuterio mas outros natildeo Em Liacutengua Portuguesa por exemplo as expressotildees sem eira nem beira misturar alhos com bugalhose tal e qual apoacuteiam-se na rima isto eacute tecircm apoio foneacutetico recorrente do segmento final das palavras (eirabeira alhosbulgalhos e talqual) do que por outros criteacuterios linguiacutesticos

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A propriedade da idiomaticidade ou o criteacuterio de natildeo composicionalidade semacircntica segundo outros estudiosos cognitivistas eacute importante porque ajuda a caracterizar muitas expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo as pesquisas nessa aacuterea tecircm investigado a relaccedilatildeo entre o literal-parcial e o metafoacuterico-global e a produtividade criativa dos distintos modelos de expressotildees idiomaacuteticas O traccedilo da idiomaticidade tanto englobaria as expressotildees idiomaacuteticas totalmente opacas como as que natildeo satildeo metafoacutericas estejam elas mais ou menos motivadas

Uma pergunta entatildeo adveacutem quando tratamos da noccedilatildeo de idiomaticidade expressotildees idiomaacuteticas de que forma estamos certos de que uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos eacute realmente opaca O mais provaacutevel eacute que a opacidade do sentido da expressatildeo decorreria da utilizaccedilatildeo de palavras que fazem referecircncia frequente a elementos histoacuterico-culturais ou a combinaccedilotildees baseadas no imaginativo (ou entatildeo como podemos supor um caso de rima) intuitivo expressivo nas quais as palavras passam a adquirir uma significaccedilatildeo simboacutelica e metafoacuterica No exemplo misturar alhos com bugalhos podemos observar que o sentido idiomaacutetico da expressatildeo natildeo poderia ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que a compotildee como propotildee Mogorroacuten Huerta (2010 p240)

Os estudos fraseoloacutegicos tecircm postulado que a exemplo da fixaccedilatildeo a idomaticidade eacute um fenocircmeno gradual Nesse caso eacute um desafio para os estudiosos assinalarem claramente os limites e as fronteiras entre o que pode ser efetivamente considerado idiomaacutetico ou opaco e o semi-idiomaacutetico ou transparente ou ainda semitransparente uma vez que essa classificaccedilatildeo dependeria em grande parte natildeo da estrutura dos sintagmas mas dos conhecimentos linguiacutesticos ou enciclopeacutedicos dos usuaacuterios ou falantes da liacutengua (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p243)

Frente a todo esse arrazoado sobre idiomaticidade segundo diversos estudiosos optamos por adotar para nosso estudo o conceito de idiomaticidade de Mogorroacuten Huerta (2010 p 240) isto eacute o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo pode ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que as compotildeem

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Ateacute aqui procuramos mostrar que a polilexicalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade satildeo propriedades linguiacutesticas (ou endoacutegenas) das expressotildees idiomaacuteticas e nos parecem explicar relativamente o fenocircmeno da convencionalidade uma propriedade efetivamente diferente das demais por ser extralinguiacutestica (exoacutegena) isto eacute derivada de fatores externos que tecircm a ver com o falante e a sociedade

Na antiguidade claacutessica em Craacutetilo (2001) - diaacutelogo escrito aproximadamente no ano 360 aC - Platatildeo ao tratar de questotildees etimoloacutegicas e linguiacutesticas jaacute nos eacute expressa a ontoloacutegica oposiccedilatildeo conceitual entre convencionalismo e o naturalismo onde Heacutermogenes travando diaacutelogo sobre a questatildeo da conformidade da linguagem e do real com Craacutetilo sustenta que somente o uso o costume portanto a convenccedilatildeo atribuem uma denominaccedilatildeo agraves coisas e por conseguinte determinam a adequaccedilatildeo das palavras agrave realidade extralinguiacutestica

Em Craacutetilo (2001) importante assinalar que Hermoacutegenes pede a Soacutecrates que intervenha na discussatildeo que manteacutem com Craacutetilo sobre se o sentido das palavras vem dado de forma natural (naturalismo conforme postulaccedilatildeo de Craacutetilo) ou se pelo contraacuterio eacute arbitraacuteria e depende do haacutebito dos falantes (convencionalismo como propotildee Hermoacutegenes)

Da discussatildeo sobre o convencionalismo e o naturalismo chegamos agrave modernidade certos de que as palavras e as expressotildees de uma liacutengua satildeo fixadas pelas convenccedilotildees e pelos acordos humanos Nessa perspectiva qualquer linguagem parte de determinados pressupostos de natureza convencional (WITTGENSTEIN 2003) o que natildeo significa todavia a perfeita arbitrariedade das convenccedilotildees linguiacutesticasrdquo (ABBAGNANO 2007 p241)

No campo da linguagem eacute possiacutevel que exista outro tipo de relaccedilatildeo de significaccedilatildeo dita natural como entre fogo e fumaccedila que estaacute presente na construccedilatildeo fraseoloacutegica onde haacute fumaccedila haacute fogo (onde haacute sinais de alguma coisa fatalmente haveraacute uma razatildeo para que eles existam)

Como vemos a questatildeo das convenccedilotildees linguiacutesticas ou mais propriamente o convencionalismo bem antes da Fraseologia jaacute era pois discutida pela Filosofia da Linguagem Loacutegica e Semacircntica

No iniacutecio do seacuteculo XX a Linguiacutestica Moderna atraveacutes do seu principal porta-voz Ferdinand de Saussure defendeu por forccedila dos

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postulados do convencionalismo filosoacutefico a independecircncia do significante em relaccedilatildeo ao sentido e o princiacutepio da arbitrariedade do signo linguiacutestico Por essa razatildeo podemos dizer que a Linguiacutestica a saussuriana eacute essencialmente convencionalista e inspirativamente platonista

Herdeiros que somos da linguiacutestica convencionalista de Saussure hoje quando dizemos que o sentido das palavras ou das expressotildees particularmente as idiomaacuteticas eacute convencional isso quer dizer que certos sons e expressotildees significam o que realmente querem dizer convencionalmente e natildeo necessariamente o que dizem as palavras que as compotildeem ipsis litteris

Saussure (2012 p108) afirmava em seu Curso de Linguiacutestica Geral que todo meio de expressatildeo aceito numa sociedade repousa em princiacutepio no haacutebito coletivo ou o que vem a dar na mesma na convenccedilatildeo citando por exemplo as foacutermulas de cortesia

Ao tratar mais adiante das frases feitas combinaccedilotildees ou sintagmas mais complexos Saussure veio a afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas (2012 p173)

Em substacircncia no acircmbito dos estudos da Linguiacutestica Moderna o conceito de convenccedilatildeo caracteriza uma relaccedilatildeo de significaccedilatildeo que resulta de uma regra em uso em uma comunidade Assim por exemplo a relaccedilatildeo entre um nome proacuteprio e o indiviacuteduo visado por este designador riacutegido ou fixo ocorre por forccedila de convenccedilatildeo

Muitas expressotildees idiomaacuteticas nos datildeo a conhecer essa condiccedilatildeo de convencionalismo linguiacutestico quando trazem entre seus componentes lexicais nomes proacuteprios como em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (ou de Miguel) (Disfarccedilar-se) ganhar o que Luzia (ou Maria) ganhou nas capoeiras (ou na horta) (ser passado para traacutes) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) cozinhar em banho-maria (adiar indefinidamente a soluccedilatildeo de um assunto) e estar como Pilatos no credo (eximir-se de qualquer responsabilidade ou interferecircncia numa questatildeo)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas Nunberg Sag e Wason (1994) apontaram a convencionalidade como um traccedilo obrigatoacuterio das expressotildees idiomaacuteticas reafirmando o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica isto eacute o sentido ou ou uso de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo resulta previsiacutevel com base nos sentidos

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parciais dos elementos constituintes que a formam Aleacutem da propriedade da convencionalidade estes autores tambeacutem assinalaram outras propriedades tiacutepicas das expressotildees idiomaacuteticas a ou fixaccedilatildeo (ou a invariabilidade) a metaforicidade proverbalidade a informalidade56 e afetividade

Estas propriedades tiacutepicas seriam relativamente acidentais com relaccedilatildeo agrave convencionalidade posto que a memoacuteria fraseoloacutegica presente em L1 ou L2 ao ser evocada pelos falantes traz agrave tona no discurso como estatildeo construiacutedas ou fixadas na liacutengua isto eacute na mente do falante e por conseguinte constituindo como nos assinala Croft e Cruse (2008 p298) uma parte do conhecimento gramatical do mesmo

Para ilustrarmos estas propriedades tiacutepicas daremos exemplos de cada uma delas observando de que forma se convencionam no acircmbito fraseoloacutegico

Um primeiro exemplo de fixaccedilatildeo (ou invariabilidade) pode ser dado na expressatildeo fazer das tripas coraccedilatildeo com o sentido de esforccedilar-se de modo sobre-humano que apresenta sintaxe restringida natildeo podendo ocorrer alteraccedilatildeo na sua combinatoacuteria como fazer coraccedilatildeo das tripas sem que afete seu sentido idiomaacutetico

Outra possibilidade num caso de modificaccedilatildeo de combinatoacuteria ao certo poderaacute resultar em forccedilar o ouvinte ou interlocutor em uma conversa a interpretaacute-la literalmente para viabilizar uma interpretaccedilatildeo possiacutevel Um exemplo de metaforicidade podemos observar na expressatildeo colocar o carro na frente dos bois com sentido de andar (algo) ao contraacuterio agraves avessas ou adiantar-se precipitadamenterdquo

Contraacuterio agrave ideia de uma convencionalidade (arbitrariedade) em termos saussurianos compreendemos que haacute uma tendecircncia agrave motivaccedilatildeo com relaccedilatildeo a estas expressotildees (pelo menos na origem do uso) Sendo esta motivaccedilatildeo de natureza corpoacuterea eou sociocultural tal hipoacutetese seraacute defendida pelos linguistas cognitivistas

Por essa razatildeo durante muito tempo a questatildeo da convencionalidade esteve relacionada ao ensino de liacutenguas estrangeiras As expressotildees maiores do que as palavras sempre foram

56 Somos de opiniatildeo de que a informalidade natildeo pode ser considerada um traccedilo tiacutepico das expressotildees idiomaacuteticas Como todo item leacutexico existem algumas mais coloquiais outras menos

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um desafio para o ensino sistemaacutetico ou expliacutecito para estrangeiros bem como um fator de obstaacuteculo para o aprendizado dos alunos

Segundo Tagnin (2005) tomando como referecircncia a liacutengua inglesa existe um continuum de unidades linguiacutesticas convencionais pertencentes ao leacutexico de dada liacutengua ainda que o aprendiz de uma liacutengua estrangeira conhecesse toda a gramaacutetica e soubesse todo o dicionaacuterio de cor natildeo teria pleno domiacutenio linguiacutestico (p11)

Eacute provaacutevel conforme Tagnin (2005) que as dificuldades relacionadas com o aprendizado das expressotildees idiomaacuteticas em L1 ou L2 tenham a ver com o fato de serem apreendidas individualmente uma a uma uma vez que natildeo existem regras que as gerem (p11) Ressalta a linguista que todas essas unidades satildeo aprendidas como um todo isto eacute em bloco (p14) A convencionalidade eacute pois o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada liacutengua ou comunidade linguiacutestica Conforme a linguista no momento em que a convenccedilatildeo passa para o niacutevel do sentido podemos falar em idiomaticidade

Recorre Tagnin (2005) entatildeo ao princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ao definir uma expressatildeo idiomaacutetica como toda expressatildeo que natildeo corresponde agrave somataacuteria do sentido parcial de cada um de seus elementos como em ter o olho maior que a barriga que natildeo significa possuir o oacutergatildeo da visatildeo superior agrave proeminecircncia externa do abdocircmen mas quer dizer ser guloso ou desejar possuir imoderadamente

Distanciando-se pois da noccedilatildeo de vernaculidade natural e proacuteprio de uma liacutengua o sentido atribuiacutedo por Tagnin (2005) agrave noccedilatildeo do que eacute idiomaacutetico eacute o de natildeo transparente ou opaco e claro existem os casos em que as expressotildees satildeo tipicamente transparentes como ancorar o barco (fixar-se ou parar) ou meter o pau (censurar ou surrar)

Tagnin (2005 p17-20) fala em niacuteveis de convencionalidade Existem segundo ela trecircs niacuteveis da convencionalidade que satildeo a saber (1) o niacutevel sintaacutetico (2) o niacutevel semacircntico e (3) o niacutevel pragmaacutetico Vamos comentar brevemente cada um deles

No niacutevel sintaacutetico estatildeo elementos como combinabilidade ordem e gramaticalidade A origem da propriedade da combinabilidade estaacute na proacutepria noccedilatildeo de combinaccedilatildeo isto eacute a relaccedilatildeo de uma unidade da liacutengua com outras unidades no plano do discurso

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A noccedilatildeo de combinabilidade nos remete tambeacutem agrave teoria estruturalista o chamado eixo sintagmaacutetico terminologia poacutes-saussuriana que se refere ao eixo das relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada isto eacute o eixo das combinaccedilotildees

A ordem por sua vez entendida como em qualquer dos niacuteveis de anaacutelise (fonoloacutegico morfoloacutegico ou sintaacutetico) sequenciamento determinado por regras das unidades que compotildeem a cadeia (da palavra locuccedilatildeo ou frase)

A gramaticalidade aleacutem da noccedilatildeo de correccedilatildeo de norma gramatical refere-se agrave caracteriacutestica de uma sentenccedila gramatical ou seja aquela que foi gerada pelas regras da gramaacutetica de uma liacutengua Nesse caso por regras de sintaxe em particular

O niacutevel semacircntico refere-se agrave relaccedilatildeo natildeo motivada entre uma expressatildeo e seu sentido Segundo Tagnin (2005) natildeo apenas o sentido de uma expressatildeo linguiacutestica eacute convencionado mas tambeacutem os esquemas imageacuteticos que o leacutexico nos proporciona decorreria dessa condiccedilatildeo por estarmos ecoloacutegica e socioculturalmente situados no mundo

Para a Linguiacutestica Cognitiva que privilegia esta perspectiva em seus estudos e pesquisas experimentais na interaccedilatildeo com o mundo o homem internaliza esquemas de imagem de natureza cinesteacutesica que formam a base de determinadas formas linguiacutesticas (MACEDO 2008 p31-32)

De acordo com Lakoff e Johnson (2002 p59) na cultura ocidental as chamadas metaacuteforas orientacionais datildeo a um conceito uma orientaccedilatildeo especial como por exemplo feliz eacute para cima o que levaria em Liacutengua Portuguesa a surgimento de expressotildees como levantar as matildeos ao (ou para o) ceacuteu com o sentido de dar-se por satisfeito com algum fato (que poderia ter sido muito pior) Quando for para baixo eacute mau como expressotildees do tipo baixar a bola com sentido de passar a ser mais humildade ou baixar a guarda que quer dizer acovardar-se e mais este olhar para o proacuteprio umbigo com o sentido de agir com egoiacutesmo

Contrastando da posiccedilatildeo de Lakoff e Johnson (2002) cremos que a noccedilatildeo de metaacuteforas conceituais soacute tem sentido no plano da diacronia isto eacute teriacuteamos que levar em conta que no passado tinham esta orientaccedilatildeo especial mas no presente na sincronia satildeo

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expressotildees arbitraacuterias na sua maioria e quando motivadas estariacuteamos falando simplesmente em origem da expressatildeo idiomaacutetica

Na Fraseologia da Liacutengua Portuguesa existem muitas expressotildees idiomaacuteticas que nos parecem indicar que essas orientaccedilotildees espaciais surgem do fato de termos os corpos que temos e do fato de eles funcionarem da maneira como funcionam no nosso ambiente fiacutesico (LAKOFF JOHNSON 2002 p59)

Assim temos em Portuguecircs expressotildees fixas do tipo ir de (ou por) aacutegua abaixo com sentido de fracassar andar por baixordquo com o sentido de estar em situaccedilatildeo difiacutecil normal ou financeira entre outras como estar de luz baixa e estar de baixo-astral com a ideia de sentir-se deprimido na fossaPara Lakoff e Johnson (2002) as orientaccedilotildees metafoacutericas que mencionamos antes natildeo satildeo arbitraacuterias e sim tecircm uma base na nossa experiecircncia fiacutesica e cultural (p 60)

No niacutevel pragmaacutetico a noccedilatildeo de convencionalidade eacute associada agrave noccedilatildeo de convenccedilatildeo social bem como agrave expressatildeo convencional ou forma convencional Este niacutevel envolveria pois o uso das expressotildees idiomaacuteticas em situaccedilotildees de interaccedilotildees entre falantes A situaccedilatildeo eacute um aspecto passiacutevel de convenccedilatildeo porque requer um certo comportamento social e o emprego adequado das palavras e expressotildees complexas Relacionam-se mais a situaccedilotildees especiacuteficas como com licenccedila meus pecircsames etc

Nesse sentido referindo-se a falecimento de pessoas podemos recorrer a diversas expressotildees idiomaacuteticas brasileirismos popularismos e giacuterias umas mais frequentes do que outras mas disponiacuteveis no leacutexico portuguecircs tais como abotoar o paletoacute bater a(s) bota(s) bater a caccediloleta bater a canastra bater a pacuera dar o uacuteltimo alento dizer adeus ao mundo entregar a alma a Deus entregar a alma ao Diabo esticar a canela esticar o cambito esticarir para a Cacuia ir para a cidade dos peacutes juntos ir(-se) desta para melhor entre outras tantas

Nesse caso de fraseologismos fuacutenebres podemos dizer tambeacutem que estas expressotildees acima se constituem verdadeiros eufemismos de que os falantes lanccedilam matildeo para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra expressatildeo idiomaacutetica em geral de sentido grosseiro inconveniente ou desagradaacutevel

Neste livro decidimos por considerar convencionalidade como o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada

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liacutengua ou comunidade linguiacutestica como assinala Tagnin (2005 p14) tendo em vista seu caraacuteter sistemaacutetico e triparticcedilatildeo criteriosa nos niacuteveis sintaacutetico semacircntico pragmaacutetico suficientemente abrangente para atender ao corpus de expressotildees idiomaacuteticas que selecionamos para aplicaccedilatildeo dos experimentos aos nossos participantes da pesquisa

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CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS

Quanto mais altas as unidades de significaccedilatildeo a serem explicadas por uma teoria psicolinguiacutestica tanto mais complexas e inacessiacuteveis a uma formalizaccedilatildeo que corresponda a como satildeo representadas em nossa mente (SCLIAR-CABRAL

1991 p75) Depois de percorrer vaacuterios periacuteodos (preacute-histoacuteria formativo

linguiacutestico e cognitivo) no acircmbito dos estudos da linguagem o estado atual da Psicolinguiacutestica tem procurado aleacutem de dar atenccedilatildeo agrave realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) reivindicar poder explanatoacuterio sobre o processamento da linguagem que eacute uma questatildeo ligada ao funcionamento da mente humana (BALIEIRO 2001 p172-181)

Eacute no processamento cognitivo das unidades fraseoloacutegicas notadamente as expressotildees idiomaacuteticas que a Psicolinguiacutestica tem se aproximado da Fraseologia buscando estabelecer as relaccedilotildees entre a organizaccedilatildeo do sistema linguiacutestico e a organizaccedilatildeo do pensamento atraveacutes do recurso agraves unidades fraseoloacutegicas e agraves teorias fraseoloacutegicas vigentes que em uacuteltima anaacutelise podem ser divididas em teorias leacutexicas e composicionais ambas baseadas nos princiacutepio da composicionalidade semacircntica de Frege ([1892] 1971)

Na tentativa de aproximaccedilatildeo da Psicolinguiacutestica da Fraseologia comecemos por explorar o termo psicolinguiacutestica formado pelos seguintes elementos psic(o)- + linguiacutestica O elemento antepositivo psico - vem do grego ψυχο este derivado do grego psukhecirc que significa sopro donde sopro de vida daiacute alma como princiacutepio de vida Aleacutem desta acepccedilatildeo psico- tambeacutem indica espiacuterito princiacutepio pensante ou atividade mental A psicolinguiacutestica por forccedila de sua etimologia eacute a ciecircncia ou parte da ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo entre a liacutengua e as caracteriacutesticas cognitivas ou comportamentais daqueles que a usam

Assim uma fraseologia que se ocupa preponderantemente das expressotildees idiomaacuteticas de alguma forma disponibiliza uma mateacuteria-prima para a Psicolinguiacutestica a saber as unidades fraseoloacutegicas com seus traccedilos culturais comportamentais e idiossincraacutesicas dos usuaacuterios

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ou falantes nativos da liacutengua daiacute o aprendizado das referidas expressotildees serem um desafio para estudantes natildeo nativos ou falantes de L2 o que nos leva a reconhecer que competecircncia fraseoloacutegica de um falante depende em grande parte do conhecimento da cultura em que o sistema de liacutengua destinado a ser adquirido estaacute imerso1 (CASTILLO CARBALLO 2003 p 209)

Este capiacutetulo trataraacute sobre as principais teorias psicolinguiacutesticas do processamento fraseoloacutegico aplicadas agrave liacutengua materna (L1) Mostraremos inicialmente como os primeiros estudos linguiacutesticos especialmente os estruturalistas envolvendo a fraseologia serviram de base para psicolinguiacutestica experimental nos nossos dias Depois sob a perspectiva da psicolinguiacutestica experimental aplicada agrave fraseologia iremos destacar dois marcos de estudos e pesquisas nesta aacuterea relacionados agraves teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico e agraves teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico

Dada a complexidade dos modelos de processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas sobre as teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico destacaremos as principais hipoacuteteses psicolinguiacutesticas como (a) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo (ldquoIdiom-list hypothesisrdquo em inglecircs) (b) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma representaccedilatildeo lexical (Lexical Representation Hypothesis en inglecircs) e (c) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto (ldquoDirect Access Hypothesisrdquo em inglecircs) Em seguida daremos uma visatildeo criacutetica das teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

Quando tratarmos sobre as teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico focalizaremos as seguintes (a) A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas e (b) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

Por fim trataremos em duas subseccedilotildees finais do capiacutetulo sobre estrateacutegias psicolinguiacutesticas e sua relaccedilatildeo com as expressotildees idiomaacuteticas e o papel da memoacuteria na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

1 No original la competencia fraseoloacutegica de un hablante depende en gran medida del conocimiento de la cultura en la que el sistema linguiacutestico que se pretende adquirir estaacute inmerso

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A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas A Psicolinguiacutestica a partir da segunda metade do seacuteculo XX

assumiu a missatildeo de pocircr em evidecircncia em suas pesquisas o problema da realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) e nesse contexto os primeiros experimentos psicolinguiacutesticos conforme nos informam Scliar-Cabral (1991) e Balieiro Jr (2001) apontaram que as referidas estruturas linguiacutesticas incluindo as complexas como as expressotildees idiomaacuteticas natildeo eram adquiridas pelos falantes de uma liacutengua separadamente de conceitos semacircnticos e funccedilotildees discursivas como ateacute entatildeo acreditavam os linguistas estruturalistas e psicoacutelogos behavioristas e sim eram submetidas aos princiacutepios cognitivos

Segundo Leitatildeo (2009 p 220) nas uacuteltimas deacutecadas o interesse central da psicolinguiacutestica pode ser resumido em trecircs questotildees baacutesicas a) Como as pessoas adquirem a linguagem b) Como as pessoas produzem a linguagem a verbal e c) Como as pessoas compreendem a linguagem verbal Em substacircncia a psicolinguiacutestica tem buscado respostas para grandes problemas relacionados com aquisiccedilatildeo o desenvolvimento e o processamento da linguagem inicialmente com pesquisas com os falantes nativos depois com crianccedilas e mais recentemente com pessoas que apresentam distuacuterbios de linguagem especialmente os de fala como as afasias (ELOINA SCHERER 2004 p 28)

Mais recentemente o conexionismo no acircmbito da Psicolinguiacutestica Experimental eacute um paradigma que vem ganhando terreno no Brasil em estudos sobre a inteligecircncia artificial aplicada agrave morfologia da liacutengua portuguesa nos quais tecircm sido realizadas simulaccedilotildees computacionais conexionistas da aquisiccedilatildeo do plural bem de um lado e do outro lado satildeo registrados inuacutemeros trabalhos acadecircmicos (dissertaccedilotildees e teses) nessa aacuterea que tratam das conexotildees entre o paradigma conexionista e aquisiccedilatildeo da linguagem como atesta Scliar-Cabral (2008)

A atenccedilatildeo das pesquisas psicolinguiacutesticas agraves unidades significativas da liacutengua maiores do que as palavras jaacute pode ser percebida pelos especialistas em fraseologia

Em artigo cientiacutefico que trata sobre as correntes atuais no campo fraseoloacutegico a linguista Gloacuteria Pastor (2001 p33-35) aponta que os

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psicolinguistas tecircm tido interesse em apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas procurando responder questotildees do tipo (a) Como os falantes de uma liacutengua armazenam as unidades fraseoloacutegicas (b) Como ocorre o processamento das expressotildees idiomaacuteticas e (c) Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo

Em nossa pesquisa apesar de consideraacute-las relevantes natildeo nos deteremos agraves questotildees de aquisiccedilatildeo e de produccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por falantes do portuguecircs como primeira liacutengua e sim voltar-nos-emos de forma mais demorada agrave compreensatildeo das referidas expressotildees por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)2

Privilegiamos a compreensatildeo por entendermos que ela ldquorealimenta o sistema de produccedilatildeo da linguagemrdquo (LEITAtildeO2009 p222)

A compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas mais recentemente recebeu atenccedilatildeo por parte do Quadro Europeu Comum de Referecircncia para as Liacutenguas (2001) dirigido aos que ensinam liacutenguas estrangeiras e que fazem parte da Comunidade Europeia Segundo este documento as expressotildees idiomaacuteticas desenvolvem a competecircncia comunicativas em trecircs dimensotildees a linguiacutestica a sociolinguiacutestica e a pragmaacutetica

Para uma atuaccedilatildeo eficaz do ponto de vista pedagoacutegico o Quadro Europeu aponta a necessidade de os alunos terem ldquoum bom domiacutenio de expressotildees idiomaacuteticas e de coloquialismos e a consciecircncia dos sentidos conotativosrdquo (p64-65) o que vem reforccedilar a necessidade de darmos em nossa pesquisa uma atenccedilatildeo especial agrave problemaacutetica da compreensatildeo dos fraseologismos com fins educacionais

Nos campos sociolinguiacutestico e pragmaacutetico o ensino sistemaacutetico da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas favorece ao certo o aprendizado das mesmas segundo os modelos pedagoacutegicos e psicolinguiacutesticos da fraseodidaacutetica (GONZAacuteLEZ-REY2004 2006 e 2007)

2 Eacute possiacutevel que no futuro outros estudos inter-relacionem a compreensatildeo (psicolinguiacutestica experimental) agraves questotildees que dizem respeito agrave aquisiccedilatildeo (psicolinguiacutestica desenvolvimentista) e agrave produccedilatildeo (psicolinguiacutestica experimental) de expressotildees idiomaacuteticas por nossos sujeitos natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro

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Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia Natildeo haacute como negar o legado dos estudos linguiacutesticos e de outras

ciecircncias humanas para melhor empreendimento nas pesquisas psicolinguiacutesticas Particularmente a linguiacutestica a lexicologia a neurolinguiacutestica a sociolinguiacutestica a linguiacutestica computacional a psicologia cognitiva e a linguiacutestica cognitiva tecircm contribuiacutedo para o que entendemos hoje por psicolinguiacutestica (STERNBERG2008 p 295)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure ([1916] 2012) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras consideraccedilotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo ( [1916] 2012 p173 grifos nossos) Disciacutepulo de Saussure o linguista Charles Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1909) esboccedilou explicitamente um princiacutepio psicoloacutegico para as expressotildees fixas ao dizer que satildeo mais bem retidas na memoacuteria as palavras que vatildeo juntas

Mais tarde as expressotildees fixas tambeacutem foram objeto de atenccedilatildeo de Coseriu (2007) que as chama de ldquocombinaccedilotildees feitas de signosrdquo ou ldquodiscurso repetidordquo (p201) Coseriu afirma que as expressotildees fixas resultam de ldquomera reproduccedilatildeo do jaacute ditordquo ouvido ou lido isto eacute quando um usuaacuterio recorre agrave unidade fraseoloacutegica nos seus atos de fala reproduziria algo que anteriormente jaacute havia dito As expressotildees fixas para Coseriu satildeo vivenciadas por ldquodeterminada comunidade linguiacutesticardquo e que ldquoseus membros as conhecemrdquo e ldquo as sabem de corrdquo (p202)

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No campo da linguiacutestica moderna as primeiras contribuiccedilotildees fraseoloacutegicas dos estruturalistas Saussure Bally e Coseriu e mais fortemente os lexicoacutelogos estilistas e fraseoacutelogos do seacuteculo XX sempre se intrigaram e se indagaram como se dava esta relaccedilatildeo entre sentido literal das sentenccedilas e o sentido da emissatildeo (idiomaacutetico) pretendido pelo falante

No caso das ldquofrases feitasrdquo ou ldquoidiomatismosrdquo como denominaram os estruturalistas e lexicoacutegrafos ateacute a primeira metade do seacuteculo XX especialmente os europeus a abordagem estruturalista eacute verdade natildeo nos deixou um ldquolegado teoacutericordquo sobre a problemaacutetica do sentido dos ldquoidiomatismosrdquo mas seus linguistas entenderam desde cedo que o sentido da emissatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica (dimensatildeo holiacutestica) eacute parcial ou totalmente diferente do sentido literal da expressatildeo emitida

Essas primeiras percepccedilotildees ou postulaccedilotildees dos estruturalistas satildeo de grande aplicaccedilatildeo teoacuterica ao nosso trabalho no sentido de podermos relativizar os conceitos de expressatildeo idiomaacutetica quanto agrave sua ldquodimensatildeo holiacutesticardquo ou melhor ao seu ldquosentido idiomaacuteticordquo Eacute possiacutevel cremos que existam expressotildees complexas e fixas na liacutengua que natildeo sejam idiomaacuteticas para outros falantes particularmente os natildeo nativos e que poderatildeo tomaacute-las no sentido mais literal Afinal a idiomaticidade natildeo estaacute apenas na estrutura das expressotildees complexas mas na mente ou na memoacuteria dos falantes Mas natildeo eacute uma tarefa faacutecil essa conduccedilatildeo teoacuterica ou sua aplicaccedilatildeo em experimentos que possam testar hipoacuteteses psicolinguiacutesticas

Reflexo certamente desse vieacutes estruturalista e melhor refinado pelos recentes estudos gerativistas temos estudos de descriccedilatildeo do portuguecircs isto eacute os da gramaacutetica descritiva em que colhemos uma das definiccedilotildees operatoacuterias de expressotildees idiomaacuteticas natildeo desprezadas em nosso trabalho como as vinda de Perini (2010) em que situa as expressotildees idiomaacuteticas no acircmbito das classes de palavras por entender que satildeo ldquosequecircncias fixas de palavras tomadas como unidades singulares que tecircm sentido proacuteprio que nem sempre eacute derivado dos sentidos das palavras componentesrdquo e em geral ldquonatildeo admitem substituiccedilatildeo de itens por sinocircnimosrdquo (p323)

Importante assinalar que esta noccedilatildeo estabelecida por Perini (2010) de que as expressotildees idiomaacuteticas satildeo ldquosequecircncias fixasrdquo percebidas como ldquounidades singularesrdquo nos permitiu quando da

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formulaccedilatildeo dos experimentos psicolinguisticos entender melhor o valor da paraacutefrase definitoacuteria quando um falante da liacutengua seja nativo ou natildeo nativo busca de equivalentes simples (verbos) das expressotildees idiomaacuteticas representadas por locuccedilotildees verbais como por exemplo em locuccedilotildees verbais como em virar as costas (sair) cozinhar o galo (morrinhar) entregar a alma a Deus(morrer) abrir nos paus (fugir) e dar mole (descuidar-se)

No campo da filosofia da linguagem a problemaacutetica do sentido das expressotildees idiomaacuteticas desde cedo foi focada pelos filoacutesofos Para Searle (2002) a idiomaticidade de uma expressatildeo complexa natildeo seria estabelecida pelo sentido presente na estrutura da proacutepria sentenccedila mas pelo sentido da emissatildeo do falante A idiomaticidade seria estabelecida pelo que o falante quer significar ao emitir a expressatildeo idiomaacutetica

Como assinala Searle (2002) ldquoum sentido metafoacuterico eacute sempre um sentido da emissatildeo de um falanterdquo (p124) um traccedilo importantiacutessimo a considerar em nossa pesquisa se definimos as fraseologias a partir de suas caracteriacutesticas mais marcantes como a forma fixa e a ambiguidade leacutexico-gramatical situadas no entrecruzamento entre o sentido literal e o sentido idiomaacutetico

Mais recentemente a abordagem sociocognitiva que embasa a chamada Gramaacutetica de Construccedilotildees defendida no Brasil por Miranda e Salomatildeo (2009) tem dado seus primeiros passos em direccedilatildeo aos estudos fraseoloacutegicos Esta abordagem linguiacutestica ao tratar da questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas comumente tem retomado ao velho axioma dos lexicoacutelogos de que ldquoo todo natildeo eacute a soma das partesrdquo ou ldquoo todo eacute maior que a soma das partesrdquo (p39)

Aqui a visatildeo sociocognitivista nos parece com resquiacutecios tradicionais das pesquisas fraseoloacutegicas presa ao velho princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica em que fica claro um esforccedilo revitalizador para que seja estabelecido um ldquocasamentordquo ou ao menos uma ldquorelaccedilatildeo estaacutevelrdquo entre a Gramaacutetica das Construccedilotildees e a Semacircntica Composicional em se tratando de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

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As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas Consideramos que nossa pesquisa se situa no acircmbito da

psicolinguiacutestica experimental por se voltar agrave investigaccedilatildeo sobre a compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada em que levamos em conta no processamento fraseoloacutegico seus aparatos cognitivo cultural dialetal e seus sistemas de memoacuteria (memoacuteria de longo prazo e memoacuteria episoacutedica em especial)

Os falantes de uma liacutengua dada sejam nativos ou natildeo nativos ao serem indagados sobre o que compreendem por exemplo da expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo (ldquoficar quieto ou calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo) recorrem a procedimentos mentais (por exemplo memoacuteria de longo prazo ou memoacuteria episoacutedica) e a taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de diversas ordens de modo a permitir o acesso ao sentido idiomaacutetico do que estaacute sendo dito aliaacutes do que natildeo estaacute sendo dito literalmente nas palavras que compotildeem o sintagma mas que traz no subentendido da sentenccedila o sentido pretendido pelo interlocutor Ocorre nesse momento o que se denomina de processamento linguiacutestico que potildee em funcionamento as habilidades cognitivas do falante (ou ouvinte) relacionadas agrave linguagem verbal (LEITAtildeO 2009 p 221)

Nossa pesquisa tambeacutem se estabelece no acircmbito da psicolinguiacutestica experimental por buscar hipoacuteteses que deem conta de explicarem como o processamento fraseoloacutegico se estrutura na mente dos falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro Daiacute lanccedilarmos matildeo de trecircs experimentos sendo construiacutedos por diversas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) caracterizados por uma seacuterie de procedimentos metodoloacutegicos para verificarmos se os referidos falantes lusoacutefonos dos paiacuteses africanos recorrem a estrateacutegias especiais para compreenderem as expressotildees idiomaacuteticas mais usuais no portuguecircs brasileiro As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

No acircmbito das pesquisas psicolinguiacutesticas a busca de soluccedilatildeo

empiacuterica da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas pode ser observada a partir dos anos 70 e 80 seacuteculo

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passado com os estudos pioneiros de Bobrow e Bell (1973) seguidos dos trabalhos de Swinney e Cutler (1979) e os de Gibbs e Gonzales (1985) e de Cacciary e Tabossi (1988) Eles pioneiramente formaram as duas grandes correntes teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico as teorias leacutexicas e as teorias composicionais que buscam explicaccedilotildees sobre a passagem do literal ao idiomaacutetico durante o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas

De modo geral as teorias leacutexicas apoiam-se na noccedilatildeo de opacidade semacircntica (em nossa pesquisa chamamos de idiomaticidade forte) que varia em funccedilatildeo do grau de cristalizaccedilatildeo das expressotildees e por suas restriccedilotildees sintaacuteticas Jaacute as teorias composicionais conforme veremos mais adiante apoiam-se na tese de Frege ([1892]1971) de que o sentido de uma expressatildeo eacute funccedilatildeo do sentido de seus componentes Uma pois afirma que o sentido idiomaacutetico natildeo se reduz aos sentidos dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico A outra em contraste postula o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes da expressatildeo idiomaacutetica

As contribuiccedilotildees teoacutericas dessas duas correntes psicolinguiacutesticas atenderam aos casos gerais de processamento das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute as pesquisas experimentais levadas a efeito por seus defensores foram realizadas em falantes nativos deixando de lado casos particulares ou especiais como por exemplo o processamento fraseoloacutegico por falantes natildeo nativos

Diante dessa condiccedilatildeo restritiva muitos modelos propostos foram voltados a verificar como ocorria a compreensatildeo idiomaacutetica que se ativa depois do armazenamento das expressotildees na memoacuteria dos falantes nativos deixando de resolver pontos obscuros como por exemplo a questatildeo do acesso inicial ao sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas ou como se dava a passagem do literal ao idiomaacutetico ou se esta passagem pelo literal efetivamente natildeo ocorria

Apesar dessa limitaccedilatildeo os resultados das pesquisas psicolinguiacutesticas ateacute aqui realizadas representam um ponto de partida teoacuterico relevante para investigaccedilotildees similares segundo Belinchoacuten (1999 p364) Mas agrave medida que natildeo sabemos ao certo como ocorre o processo de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos podemos apresentar razotildees teoacutericas e praacuteticas para uma nova pesquisa nesse campo

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Enfim precisamos fazer descobertas de soluccedilotildees para casos particulares de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos de modo a sugerir modificaccedilotildees se for o caso no campo dos estudos sobre a realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas atualmente de grande interesse dos linguistas fraseoacutelogos psicolinguistas e os chamados linguistas cognitivistas que se ocupam entre os toacutepicos mais recorrentes da pesquisa experimental de questotildees relacionadas agrave metaacutefora e agrave idiomaticidade (CUENCA1999 p 116-121) Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo

Como dissemos anteriormente os primeiros experimentos para

verificaccedilatildeo do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas parecem ter sido limitados por dois dos seus procedimentos metodoloacutegicos

(a) em primeiro lugar limitaram-se a questotildees de natureza conceitual uma vez que os pesquisadores assumiram a crenccedila com base nas definiccedilotildees tradicionais dos lexicoacutelogos de que as expressotildees idiomaacuteticas (ou fixas) eram unicamente definidas a partir de suas propriedades semacircnticas e estruturais (polilexicalidade metaforicidade idiomaticidade fixaccedilatildeo e assim por diante)

(b) em segundo lugar os participantes dos experimentos eram falantes nativos (principalmente os de liacutengua inglesa)

Estes dois procedimentos restringentes acabaram por levar os pesquisadores agrave constituiccedilatildeo de modelos psicolinguiacutesticos aplicados agrave compreensatildeo idiomaacutetica ativada somente depois de armazenamento das expressotildees idiomaacuteticas na memoacuteria de longo prazo dos falantes (BELINCHOacuteN1999 p364-365)

A rigor natildeo haacute como com sujeitos nativos de uma liacutengua sabermos efetivamente quando se deparam com expressotildees idiomaacuteticas opacas ou transparentes uma vez que a memoacuteria declarativa de longo prazo desempenha um papel importante na produccedilatildeo recuperaccedilatildeo e atribuiccedilatildeo de sentido agraves expressotildees idiomaacuteticas

Assim um falante nativo que por lapsus calami erra acidentalmente ao escrever em uma folha a expressatildeo Dar por pedras e por paus ao inveacutes de dar por paus e por pedras (cometer loucuras) ou por lapsus linguae comete um erro acidental ao falar

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em uma conversa informal a expressatildeo ser milho do mesmo saco ao contraacuterio de ser farinha do mesmo saco (ser da mesma natureza equivaler-se coisas ou pessoas) nestas duas situaccedilotildees estes erros natildeo podem ser computados como indiacutecios de opacidade nem que ocorrem por serem as expressotildees menos ou mais idiomaacuteticas menos ou mais opacas ou ainda menos ou mais transparentes

Ainda que a questatildeo dos lapsos de liacutengua sejam de interesse para a Psicolinguiacutestica e para a investigaccedilatildeo da estrutura do leacutexico mental (NOacuteBREGA 2010) cremos que estas alteraccedilotildees acima ocorrem devido a fatores que vatildeo desde agrave paralexia verbal3 a fatores linguiacutesticos de vaacuterias ordens (formal estrutural semacircntica sintaacutetica combinatoacuteria) das expressotildees retidas na memoacuteria dos falantes

A primeira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas denominada de ldquoidiom-list hypothesisrdquo considera as expressotildees idiomaacuteticas como itens lexicais que satildeo listados e recuperados como pedaccedilos do leacutexico Esta corrente psicolinguiacutestica foi assumida por Bobrow e Bell (1973) Seus defensores tiveram a crenccedila de que o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo eacute recuperado a partir dos seus constituintes individuais e que se comportam como expressotildees sintaacuteticas e semacircnticas com as mesmas propriedades das palavras Para essa corrente por exemplo natildeo haacute nada nos sentidos de ldquofazerrdquo ldquoouvidordquo ldquoderdquo e ldquomercadorrdquo que possa nos dizer o que significa ldquofazer ouvido de mercadorrdquo com sentido idiomaacutetico de ldquofingir que natildeo ouviurdquo

Os resultados dos experimentos de Bobrow e Bell (1973) mostraram a primazia da literalidade na compreensatildeo idiomaacutetica e por essa razatildeo os dois psicolinguistas propotildeem a hipoacutetese de lista de expressotildees idiomaacuteticas (ou primeira hipoacutetese literal) em nossa memoacuteria declarativa de longo prazo argumentando ainda que as expressotildees satildeo mentalmente representadas e tratadas como quaisquer outros itens lexicais

A especificidade poreacutem para o caso das expressotildees idiomaacuteticas estruturalmente mais complexas do que as palavras eacute a de que seriam de forma independente armazenadas em um ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo (ou

3 Termo no acircmbito da neurologia definido como de leitura (ou escrita) provocada pela troca de siacutelabas ou palavras que passam a formar combinaccedilotildees sem sentido No caso das expressotildees idiomaacuteticas o que fica sem sentido eacute a combinatoacuteria que em fraseologia segue os paracircmetros da fixaccedilatildeo formal interna

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ldquomemoacuteria fraseoloacutegicardquo termo de nossa preferecircncia) diferente do nosso leacutexico mental normal ou habitual de itens lexicais Segundo essa visatildeo a leitura literal natildeo eacute opcional e vem obrigatoriamente antes de o falante recuperar o sentido idiomaacutetico

O modelo de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas de Bobrow e Bell (1973) ocorreria em trecircs etapas no processamento cognitivo ou mais especificamente fraseoloacutegico na mente dos falantes Na primeira etapa o ouvinte inicialmente processaria o sentido literal Em seguida rejeitaria o sentido literal e finalmente acessaria ao ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo e forneceria entatildeo uma interpretaccedilatildeo correta isto eacute a idiomaticidade tal que esperamos encontrar nos dicionaacuterios gerais ou na aceitabilidade da comunidade linguiacutestica

Para ilustrarmos este modelo de Bobrow e Bell (1973) digamos que um leitor (ou ouvinte) assiacuteduo de jornal diaacuterio no cafeacute da manhatilde lesse a seguinte informaccedilatildeo que se refere aos chamados ldquohomens-tatusrdquo (assim rotulados aqueles que retiram areia dos terrenos baldios para a venda ilegal nos depoacutesitos de construccedilatildeo) ldquoEles satildeo como formiguinhas e agem durante a madrugada Eacute como catar agulha em palheiro A populaccedilatildeo precisa denunciar (In Caderno Cidade DN em 07112009)

Seguindo as etapas do modelo de Bobrow e Bell (1973) teriacuteamos as seguintes etapas para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoprocurar (ou catar) agulha em palheirordquo primeiramente o leitor processaria o sentido literal da expressatildeo ldquocatarrdquo + ldquoagulhardquo + ldquonordquo + ldquopalheirordquo Assim procedendo neste exemplo dado o leitor (ou ouvinte) chegaria inicial e literalmente agrave seguinte interpretaccedilatildeo ldquoBuscar varetinha de accedilo no depoacutesito de palhardquo Pelo contexto da frase logo rejeitaria essa interpretaccedilatildeo literal por ldquoinadequabilidade de sentidordquo E entatildeo acessaria agrave sua ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo e obteria o sentido idiomaacutetico e mais adequado agrave frase ldquoestar agrave cata de algo muito difiacutecil de acharrdquo ou ldquoquerer conseguir algo muito difiacutecil ou impossiacutevelrdquo

A questatildeo principal do modelo leacutexico de Bobrow e Bell (1973) que se estabelece eacute a seguinte se durante o processo de compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como no exemplo acima (ldquocatar agulha no palheirordquo) os falantes (nativos) recuperam da sua ldquo memoacuteria idiomaacuteticardquo o sentido literal ou o sentido figurado e nos casos de que os dois sejam recuperados em que ordem tem lugar estes dois sentidos Por essa razatildeo essa primeira corrente advoga pois por um processamento preacutevio do sentido literal Essa hipoacutetese psicolinguiacutestica

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nos lembra o modelo claacutessico de Grice (1982102-103) de compreensatildeo de linguagem figurada Embora o ouvinte seja levado a um niacutevel mais profundo (idiomaacutetico ou figurativo) este modelo pragmaacutetico tambeacutem favorece primeiramente a hipoacutetese literal

Os estudos de Bobrow e Bell (1973) sobre reconhecimento de unidades fraseoloacutegicas (UFS) foram realizados fora do contexto e no final dos anos 70 foram refutados conforme nos informam os estudos de Swinney e Cutler (1979) Havrila (1993) Jurafsky (1996) Corpas-Pastor (2001) Liontas (2001) Vega-Moreno(2003) e Denhiere e Verstiggel (2007) Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical

Esta corrente psicolinguiacutestica se posiciona contra a prioridade da

interpretaccedilatildeo literal na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas proposta anteriormente por Bobrow e Belle (1973) e propotildeem a hipoacutetese de representaccedilatildeo lexical que defende o processamento simultacircneo isto eacute a compreensatildeo literal e a compreensatildeo idiomaacutetica ocorreriam ao mesmo tempo na mente dos falantes

Um primeiro argumento em favor desta corrente vem dos experimentos de Swinney e Cutler (1979) Os resultados dos testes mostraram que os sujeitos natildeo apresentavam diferenccedilas de tempo para acessar o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees fixas

Vejamos um exemplo para ilustrar a hipoacutetese de Swinney e Cutler (1979) extraiacutedo de um jornal diaacuterio ldquo () Cibelle Ribeiro nos manda perturbadora seleccedilatildeo de fotos acutereimosiacutessimasacute suas e ainda (soacute pode ser modeacutestia) nos pergunta se gostamos Ora Cibelle isso eacute mesmo que perguntar se macaco quer banana minha filha o que vocecirc nos enviou foi um verdadeiro destroccedilo capaz de causar um tsunami ldquo (in Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN em 1103009 grifos nossos)

No exemplo acima segundo o modelo Swinney e Cutler (1979) o processamento cognitivo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoperguntar se macaco quer bananardquo seja ele leitor ou ouvinte natildeo indicaria diferenccedila significativa de tempo entre a atribuiccedilatildeo de sentido literal ldquoprocurar saber se siacutemio deseja comer o fruto da bananeirardquo e a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico ldquofazer pergunta absolutamente desnecessaacuteria porque dela soacute se espera na certa resposta afirmativardquo

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Embora vistas como mentalmente representadas e tratadas como itens lexicais as expressotildees idiomaacuteticas no modelo de Swinney e Cutler (1979) diferem do modelo de Bobrow e Bell (1973) pois seriam armazenadas naturalmente no leacutexico mental sem a necessidade de postulaccedilatildeo de um leacutexico especiacutefico para o armazenamento dos idiomatismos (ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo)

Como dissemos anteriormente o falante segundo esta perspectiva se nativo ao estar confrontado com uma sequecircncia fraseoloacutegica processaria de maneira simultacircnea o sentido literal e o sentido figurado

Nesse contexto outros estudos levantaram hipoacutetese de que como as expressotildees idiomaacuteticas seriam encontradas ou armazenadas na memoacuteria como simples palavras o sujeito acessaria o sentido idiomaacutetico de maneira mais direta e raacutepida que ao literal Em harmonia com isso xperimentos realizados posteriormente sobre reconhecimento leacutexical baseados na velocidade de resposta dos sujeitos parecem indicar certa preferecircncia pela leitura idiomaacutetica em primeiro lugar conforme relatam os estudos de Corpas-Pastor (2001 p34) Mendivil Giroacute (2010) e Lorente (2010) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto

A terceira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas do

processamento fraseoloacutegico eacute defendida por linguistas cognitivistas como Gibbs Jr et ali (1997) que postulam o acesso direto (ou primeira hipoacutetese figurativa) para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas o que acaba por se afastar radicalmente da corrente defendida por Bobrow e Bell (1973)

Esta hipoacutetese propotildee que as expressotildees idiomaacuteticas devam ser consideradas itens lexicais cujo sentido idiomaacutetico eacute recuperado diretamente do leacutexico mental imediatamente apoacutes o sintagma fraseoloacutegico ser ouvido pelo falante

A proposta de Gibbs et ali (1997) tambeacutem se distancia do modelo de Swinney e Cutler (1979) uma vez que comprova que o sentido idiomaacutetico (ou figurado) de expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquonatildeo dar ponto sem noacuterdquo com sentido de ldquonada fazer que natildeo seja por interesserdquo) eacute processada mais rapidamente do que o

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processamento literal natildeo + dar + ponto + sem + noacute (natildeo costurar sem entrelaccedilar fios)

Segundo o relato dos linguistas cognitivistas o grau de fixaccedilatildeo e convencionalidade de uma unidade fraseoloacutegica facilitariam sua compreensatildeo e produccedilatildeo na comunicaccedilatildeo

Esta hipoacutetese tambeacutem revelou o sentido literal natildeo vir antes do sentido idiomaacutetico mas tambeacutem poderia ser completamente ignorado Na sua linha de pensamento Gibbs et ali (1997) baseiam-se na ideia de que as palavras constituintes de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo satildeo completamente desmotivadas do sentido metafoacuterico ou idiomaacutetico da expressatildeo

Diferente das hipoacuteteses anteriores os pesquisadores cognitivistas afirmam que o contexto desempenha uma funccedilatildeo essencial na produccedilatildeo e compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora sempre em menor grau comparado com as sequecircncias literais

Por fim diriacuteamos o seguinte a partir de uma visatildeo criacutetica das trecircs correntes de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas descritas acima podemos observar que seguem de forma geral o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica de expressotildees canocircnicas efetivamente cristalizadas e memorizadas mas natildeo conseguem poreacutem explicar porque as variaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas natildeo comprometem a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico dada pelos falantes

As teorias leacutexicas da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas natildeo conseguem explicar por que locuccedilotildees verbais do tipo ldquomostrar com quantos paus se faz uma cangalhardquo e ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo onde os dicionaacuterios gerais apontam como variaccedilatildeo fraseoloacutegica em que um item ldquocangalhardquo eacute substituiacutedo (em decorrecircncia da forccedila do regionalismo linguiacutestico) por ldquocanoardquo tal alteraccedilatildeo como podemos observar em um dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico natildeo afeta o sentido idiomaacutetico em ambas construccedilotildees isto eacute as duas idiomaticamente tecircm o mesmo sentido o de ldquodar um castigordquo

Os defensores das hipoacuteteses leacutexicas tambeacutem natildeo conseguem explicar porque o sentido idiomaacutetico ldquomorrerrdquo aparece em expressotildees idiomaacuteticas formalmente distintas como ldquobater as botasrdquo ldquoir desta para a melhorrdquo rdquofechar o paletoacuterdquo Ao analisarmos a combinatoacuteria destas expressotildees sinoniacutemicas acima somos levados realmente a perguntar como podem ser estruturalmente tatildeo diferentes e ao mesmo tempo

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passiacuteveis de terem paraacutefrases tatildeo semelhantes mantendo o mesmo campo semacircntico isto eacute a ideia de morte Ao certo uma explicaccedilatildeo estaria no fato de as trecircs expressotildees que mostramos possuirem itens lexicais bastante distintos mas todas tecircm idiomaticamente o mesmo sentido idiomaacutetico de ldquochegar ao fim expirar morrerrdquo Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico

A segunda corrente de teorias psicolinguiacutesticas diz respeito agrave

representaccedilatildeo e agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas que se aliam ao princiacutepio da composicionalidade semacircntica

Os teoacutericos dessa corrente (por exemplo Gibbs 1985 Cacciari y Tabossi 1988 e Flores DArcais 1993) se posicionam contra a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo composicionais

O principal argumento desta corrente eacute que a relaccedilatildeo entre o sentido idiomaacutetico e forma linguiacutestica da maioria das expressotildees idiomaacuteticas tem um grau de motivaccedilatildeo isto eacute elas natildeo satildeo completamente arbitraacuterias

Na maioria dos casos segundo os defensores das teorias composicionais o sentido idiomaacutetico eacute de alguma forma recuperado a partir dos sentidos dos diversos componentes da cadeia sintagmaacutetica

Explicando de forma mais simplificada esta hipoacutetese por exemplo os sentidos dos itens ldquochutarrdquo ldquopaurdquo e ldquobarracardquo na expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo por exemplo teriam muito a ver com o sentido idiomaacutetico de ldquoabandonar desistir de um projetordquo Eacute como se pudeacutessemos explicar o sentido idiomaacutetico da locuccedilatildeo verbal ldquochutar o pau da barracardquo levando em conta que metaforicamente a palavra ldquochutarrdquo tem o sentido de ldquover-se livre de (algo ou algueacutem) descartar-se livrar-serdquo a palavra ldquopaurdquo tem o sentido de ldquoconflito ou briga em que se envolvem muitas pessoasrdquo e ldquobarracardquo refere-se metaforicamente agrave ldquoconstruccedilatildeo temporaacuteria de materiais leves geralmente taacutebuas e lona de faacutecil transporterdquo Tomados como constituintes metaforicamente significativos e motivados no sintagma fraseoloacutegico a expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo teria o sentido de ldquodesistir de um projeto rdquo

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A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas

Os defensores da hipoacutetese da composicionalidade das expressotildees idiomaacuteticas argumentam que a idiomaticidade eacute um fenocircmeno semacircntico ao inveacutes de fenocircmeno sintaacutetico e propotildee uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas a partir de seu grau de composicionalidade como resumidamente nos descreve Cacciari e Tabossi (1993)

Enquanto para os teoacutericos de hipoacuteteses leacutexicas os constituintes das expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquomalharrdquo e ldquoferrordquo em ldquomalhar o ferro enquanto estaacute quenterdquo) em nada contribuem para o sentido idiomaacutetico ldquoaproveitar a ocasiatildeo propiacutecia para agirrdquo os teoacutericos de hipoacuteteses composicionais advogam que os componentes individuais dos sintagmas fraseoloacutegicos contribuem literal ou metaforicamente para a interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

Para explicar a teoria acima digamos que escutemos a expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo Nesse caso seus elementos constituintes ldquometerrdquo que se refere ao ato ldquoesconder-se ocultar-serdquo ldquorabordquo que alude agrave noccedilatildeo de ldquotraseirordquo e ldquopernasrdquo que diz respeito a ldquocada um dos membros inferiores do corpo humanordquo reunidos na combinatoacuteria datildeo o sentido idiomaacutetico ldquoficar calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo Os sentidos dos constituintes da locuccedilatildeo verbal ldquometer o rabo entre as pernasrdquo teriam uma forccedila de metaforizaccedilatildeo que nos possibilita o acesso ao sentido idiomaacutetico A metaforizaccedilatildeo estaria pois previamente em nossa mente por forccedila de nossas experiecircncias corpoacutereas no mundo

Atualmente as pesquisas psicolinguiacutesticas parecem evidenciar que os sentidos das palavras constituintes do sintagma fraseoloacutegico desempenham papel importante na compreensatildeo idiomaacutetica das expressotildees fixas Embora nenhuma expressatildeo idiomaacutetica seja cultural e completamente composicional o sentido idiomaacutetico seria para os defensores desta corrente psicolinguiacutestica de alguma forma relacionado com o sentido obtido pelo caacutelculo da cadeia sintagmaacutetica

Nessa perspectiva atualmente a hipoacutetese de metaacutefora conceitual com base no trabalho de Lakoff e Johnson (2002) assume que o uso da expressatildeo idiomaacutetica eacute motivado por esquemas preacute-existentes de

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natureza corpoacuterea ou metafoacuterica4 em nossa mente que satildeo baseados como dissemos antes em nossa experiecircncia corporal no mundo Este paradigma pressupotildee a inseparabilidade entre cogniccedilatildeo e linguagem (MACEDO2006 p 31-34 2008 p35) e defende uma visatildeo atuacionista (ou corporificada) da cogniccedilatildeo (VARELA et ali 2003) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

A chamada hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave para a compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas eacute induzida pelo modelo de polissemia Os relatos mais convincentes satildeo os Cacciary e Tabossi (1993)

Esta abordagem tenta resgatar a hipoacutetese de processamento simultacircneo sem se comprometer com a ideia de que satildeo expressotildees idiomaacuteticas armazenados como itens lexicais

As expressotildees idiomaacuteticas satildeo na perspectiva da configuraccedilatildeo-chave tratadas como qualquer sequecircncia de palavras Depois de vaacuterios experimentos os pesquisadores afirmam que a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquoter bebido aacutegua de chocalhordquo com sentido de ldquofalar demaisrdquo dependeraacute de uma seleccedilatildeo por parte do ouvinteleitor do sentido adequado de cada uma de suas palavras constituintes para que o sintagma fraseoloacutegico possa ser reconhecido como uma configuraccedilatildeo Esta explicaccedilatildeo eacute feita pela chamada ldquohipoacutetese polissecircmica do idiomatismo induzidordquo (Cacciary e Tabossi 1993)

Do ponto de vista de processamento cognitivo na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave as expressotildees idiomaacuteticas satildeo inicialmente processadas literalmente ateacute que em algum momento apoacutes o iniacutecio da cadeia a configuraccedilatildeo e o sentido idiomaacutetico satildeo ativados

Dizendo de outra maneira na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave ocorreria o processamento literal e figurativo executado em paralelo por um tempo ateacute que o sentido idiomaacutetico seja alcanccedilado pelo ouvinte como a interpretaccedilatildeo pretendida Nesse caso o reconhecimento de expressotildees idiomaacuteticas seria muitas vezes dependente do contexto assim esta hipoacutetese parece sugerir que geralmente os ouvintes reconhecem que as palavras em uma expressatildeo idiomaacutetica formam uma uacutenica configuraccedilatildeo depois de o

4 Ao falarmos em esquemas metafoacutericos fazemos alusatildeo ao mapeamento (ou conceito) metafoacuterico que segundo os linguistas cognitivistas licencia a expressatildeo linguiacutestica

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falante acessar o conteuacutedo da primeira ou segunda palavra conhecida como a chave idiomaacuteticardquo no sintagma

Essa visatildeo apresenta uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas em relaccedilatildeo ao grau de composicionalidade e transparecircncia que envolve diferentes perspectivas teoacutericas de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (Cacciary e Tabossi1993) Vamos descrever cada das perspectivas

A primeira perspectiva defende que nas expressotildees idiomaacuteticas tipicamente opacas (por exemplo ldquoquerer tapar o sol com peneirardquo com sentido de ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveisrdquo) o sentido idiomaacutetico eacute arbitrariamente estipulado pelo ouvinteleitor Desta maneira acessar o sentido idiomaacutetico ocorreria no plano do sintagma fraseoloacutegico parcialmente distribuiacutedo ao longo de seus constituintes A partir daiacute os ouvintes passariam a olhar a expressatildeo linguiacutestica como quase metafoacuterica (ou alusional)

Para ilustrar a segunda perspectiva tomemos com exemplo a expressatildeo idiomaacutetica ldquopocircr sebo nas canelasrdquo com sentido de ldquofugirrdquo em que ouvintes para compreenderem seu sentido idiomaacutetico teratildeo que calcular o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes do sintagma e assim feito reconheceratildeo as ligaccedilotildees que o referido sintagma fraseoloacutegico tem convencionalmente com expressotildees idiomaacuteticas sinoniacutemicas (por exemplo ensebar as canelas meter o peacute no mundo botar o peacute no mundo passar sebo nas canelas abrir no peacute e pisar no tempo) que tecircm os mesmos sentidos idiomaacuteticos que eles representam

Enfim para esta corrente as expressotildees idiomaacuteticas satildeo linguisticamente processadas da mesma forma como outras configuraccedilotildees de expressotildees fijas com o mesmo sentido idiomaacutetico Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas

Natildeo haacute como falarmos em taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas sem deixarmos claro o que estamos a entender por compreensatildeo estrateacutegias expressotildees idiomaacuteticas e sua tipologia

Pressupomos que para cada tipo de expressatildeo idiomaacutetica eacute possiacutevel que tenhamos estrateacutegia especial para desvelar o seu sentido natildeo literal em situaccedilatildeo de uso na interaccedilatildeo verbal

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Iniciemos entatildeo pela questatildeo da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas numa perspectiva psicolinguiacutestica Considerando que a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua dada inclui informaccedilotildees que transcendem o niacutevel puramente sintaacutetico morfoloacutegico semacircntico e pragmaacutetico entendemos que o exame da questatildeo do sentido idiomaacutetico em nossa pesquisa deve ser feito agrave luz de aportes teoacutericos da (Psico)linguiacutestica e da Linguiacutestica cognitiva

Feitos esses recortes das disciplinas envolvidas na questatildeo da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico no acircmbito propriamente dito da Psicolinguiacutestica recorreremos aos conceitos de compreensatildeo estrutura cognitiva e memoacuteria de longo prazo propostos por Smith (1999 p 80 2003 p 361)

Acreditamos que a passagem do sentido literal (SL) para o sentido idiomaacutetico (SI) das expressotildees fixas portanto o acesso ao sentido fraseoloacutegico resulta de uma interpretaccedilatildeo particular (ou culturalmente marcada) dos falantes sejam nativos ou natildeo nativos a partir de sua estrutura cognitiva

Por compreensatildeo nesta pesquisa entendemos entatildeo a competecircncia semacircntica que o falante seja nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua dada tem de interpretar qualquer expressatildeo linguiacutestica complexa capaz de construir representaccedilotildees conceituais (NEVEU2008 p75) a partir de sua memoacuteria de longo prazo e de sua visatildeo de mundo (STERNBERG2008 p192)

No caso da compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes que geralmente natildeo a apreendem na primeira vez que a escutam eacute possiacutevel que a descoberta dos sentidos parciais das unidades leacutexicas e das regras por meio das quais se combinam a dita expressatildeo seja uma estrateacutegia especial de entendimento dos idiomatismos (FILLMORE et ali 1988)

Como a questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas tem sido bastante problemaacutetica ou negligenciada pelos modelos linguiacutesticos (gerativista por exemplo) recorremos aqui agrave Gramaacutetica das Construccedilotildees proposta por Fillmore Kay e OrsquoConnor (1988) que defendem a ideia de que as construccedilotildees complexas (sintagmas ou sentenccedilas) tecircm as mesmas propriedades semacircnticas e pragmaacuteticas que os itens lexicais estabelecendo a partir daiacute uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticasrdquo (FERRARI 2011 p130)

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Do ponto de vista psicolinguiacutestico tambeacutem levamos em conta em nossa pesquisa a noccedilatildeo de estrutura cognitiva Graccedilas agrave estrutura cognitiva os falantes satildeo capazes de compreender as estruturas mais complexas ou irregulares de uma liacutengua agrave medida que recorrem como sujeitos de seus atos de fala nas situaccedilotildees de interaccedilatildeo social ao seu leacutexico mental onde ativam muitas vezes de maneira automaacutetica ou involuntaacuteria informaccedilotildees sobre o que conhecem e acreditam a respeito do mundo e a partir daiacute podem estabelecer relacionamento de novas informaccedilotildees agravequilo que jaacute sabem sobre a liacutengua a cultura e a experiecircncia corpoacuterea no mundo

Smith (1999) defende a ideia de que na estrutura cognitiva estaacute ldquoa totalidade de organizaccedilatildeo de conhecimento do ceacuterebrordquo (p 80 2003 p 361)

Ao longo de nossa pesquisa tambeacutem iremos nos referir agrave estrutura cognitiva como ldquomemoacuteria de longo prazordquo ou ldquoteoria do mundo na cabeccedilardquo com o objetivo de reforccedilar o pressuposto de que a compreensatildeo eacute a fonte de prediccedilotildees ou adivinhaccedilotildees psicolinguiacutesticas que nos possibilitam encontrar sentido nos acontecimentos e na linguagem

Mais especificamente por memoacuteria declarativa de longo prazo entendemos ldquoo conhecimento e a crenccedila que fazem parte da nossa compreensatildeo mais ou menos permanente do mundordquo e que se refere a ldquo tudo o que noacutes sabemos sobre o mundo e do que eacute organizado e faz sentido (SMITH1999 p44)

Quanto agrave noccedilatildeo de estrateacutegias recorreremos ao conceito de Soleacute (1998) Segundo ela estrateacutegias satildeo procedimentos que regulam a atividade dos falantes agrave medida que sua aplicaccedilatildeo permite selecionar avaliar persistir ou abandonar determinadas accedilotildees para conseguir a meta a que nos propomos (p69) Por exemplo quando o falante escuta ou lecirc a expressatildeo idiomaacutetica ldquoandar com a pulga atraveacutes da orelhardquo e descarta em sua interpretaccedilatildeo o sentido literal ldquocaminhar com o inseto na orelhardquo em favor de ldquoestar preocupado ou cismadordquo recorre agraves suas habilidades cognitivas relacionadas com sua capacidade de perceber o proacuteprio conhecimento sobre os insetos de pensar sobre a atuaccedilatildeo ou emprego da expressatildeo no uso social da liacutengua Satildeo essas informaccedilotildees no nosso entendimento que lhes permitem o abandono de uma interpretaccedilatildeo literal em favor de uma

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interpretaccedilatildeo idiomaacutetica carregada de metaforicidade e fraseologizaccedilatildeo

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ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA Neste capiacutetulo descrevemos o meacutetodo os objetivos as

hipoacuteteses os problemas os sujeitos e os resultados das pesquisas de Irujo (1986) Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010) dentre os principais estudos empiacutericos nos uacuteltimos anos que se ocuparam de investigar em falantes nativos ou natildeo nativos de uma liacutengua dada (inglecircs italiano por exemplo) o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas Todos eles nos fundamentaram direta ou indiretamente no design dos nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos com suas respectivas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) sobre a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por sujeitos natildeo nativos do PB

O tratamento psicoloacutegico dado por noacutes agraves expressotildees idiomaacuteticas requereu de nossa parte um recorte no campo de investigaccedilatildeo da psicolinguiacutestica experimental dando um enfoque especial ao estudo dos enunciados linguiacutesticos o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas

Uma pesquisa que busca tratar da realidade psicoloacutegica dos signos linguiacutesticos sejam os de estrutura mais simples como as palavras e os mais complexos como as expressotildees idiomaacuteticas ou enunciados maiores como os proveacuterbios e os textos em seus diversos gecircneros exige a priori do pesquisador uma disposiccedilatildeo de articulaccedilatildeo com outros niacuteveis do sistema linguiacutestico como o morfoloacutegico (onde situamos expressatildeo idiomaacutetica como categoria morfoloacutegica e por isso com o mesmo comportamento de um lexema) e o sintaacutetico (lugar onde a expressatildeo idiomaacutetica se faz parte de uma frase ou oraccedilatildeo ou seja atua como elemento oracional)

Outras ldquocategorias extralinguiacutesticas como ldquoculturardquo ldquodialetordquo e ldquomemoacuteriardquo tambeacutem acabam por se associarem ao sistema da liacutengua na produccedilatildeo e na compreensatildeo dos enunciados no que tange aos sujeitos agraves situaccedilotildees comunicativas e aos conhecimentos preacutevios que os falantes compartilham (LEITAtildeO2009 p223)

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Os experimentos de Irujo (1986)

A pesquisa de Irujo (1986) partiu do pressuposto de que

aprendizes venezuelanos de segunda liacutengua encontram dificuldades de usar expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs o que os levam muitas vezes a preferir evitaacute-las completamente no cotidiano o que poderia ser chamado de idiofobia (um tipo de aversatildeo ou receio de utilizar expressotildees idiomaacuteticas) Essa dificuldade decorreria de os sujeitos natildeo compreender uma parte (ou o todo) de uma expressatildeo idiomaacutetica em Inglecircs e evitaacute-la em suas conversas em que pese natildeo encontrar dificuldade de pronunciaacute-la ou produzi-las eventualmente em seus textos orais ou escritos

O estudo realizado por Irujo buscou determinar se os alunos avanccedilados de inglecircs haviam utilizado o conhecimento da sua liacutengua materna o espanhol para compreender e produzir expressotildees em L2 (inglecircs)

Quanto aos participantes da pesquisa Irujo trabalhou com um total de 12 alunos de Inglecircs avanccedilado da Venezuela Foram escolhidos indiviacuteduos da mesma nacionalidade como garantia de que todos eles usavam a mesma variedade de espanhol e estariam familiarizados com os equivalentes espanhoacuteis das expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para o estudo De uma lista de todos os estudantes venezuelanos em uma grande universidade os sujeitos potenciais foram contactados inicialmente de forma aleatoacuteria O grupo final no entanto foi autosselecionado a partir do seu grau de interesse na pesquisa a disposiccedilatildeo de darem duas horas de seu tempo em troca de um pequeno proacute-labore

Todos os sujeitos eram alunos de graduaccedilatildeo regularmente matriculados na universidade Todos tinham tambeacutem proficiecircncia meacutedia em inglecircs e tempo meacutedio de residecircncia nos Estados Unidos de 275 anos e a idade meacutedia de 218 anos

O estudo se destinou tambeacutem a fornecer informaccedilotildees sobre as estrateacutegias que os alunos usam quando tecircm de produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabem e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de aprender

Foi aplicado um teste de muacuteltipla escolha para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica de 45 expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs

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assim distribuiacutedas1 15 expressotildees idecircnticas com equivalecircncia de forma e sentido em liacutengua espanhola (expressotildees idecircnticas) 15 expressotildees semelhantes aos seus equivalentes espanhoacuteis (expressotildees semelhantes) e 15 expressotildees diferentes a partir do correspondente espanhol (expressotildees diferentes)

Quanto ao teste de produccedilatildeo foram consideradas as mesmas 45 expressotildees idiomaacuteticas submetidas a um teste de discurso-complemento e um teste de traduccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa Irujo partiu das seguintes hipoacuteteses (a) Expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas mostram evidecircncias de transferecircncia positiva pois elas seriam mais faacuteceis de compreender e de produzir corretamente (b) expressotildees Idiomaacuteticas semelhantes mostram evidecircncia de transferecircncia negativa e a compreensatildeo pode ser tatildeo eficiente quanto para expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas e a produccedilatildeo destas expressotildees iria ser refletida na interferecircncia do primeira liacutengua e (c) para expressotildees idiomaacuteticas diferentes natildeo haacute evidenciam de qualquer transferecircncia positiva ou negativa ou seja os sujeitos compreenderiam e produziriam menos expressotildees idiomaacuteticas diferentes do que dos outros dois tipos

Quanto aos materiais utilizados na pesquisa as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas foram selecionadas com base em duas versotildees de um questionaacuterio um em Inglecircs e um em espanhol O questionaacuterio consistia de trecircs partes cada uma contendo 50 expressotildees idiomaacuteticas de um tipo (idecircntico semelhante ou diferente) Vinte e trecircs falantes nativos de espanhol e 30 falantes nativos ingleses completaram o questionaacuterio em seu idioma nativo Foi-lhes pedido para definir cada uma das expressotildees idiomaacuteticas e numa escala de 1 a 5 de frequecircncia de utilizaccedilatildeo de cada uma Com base nestes resultados 15 expressotildees idiomaacuteticas de cada tipo foram escolhidas todas tinham sido definidas de forma inequiacutevoca por todos os entrevistados com sentidos

1 Aqui devemos discriminar o seguinte (a) expressotildees idecircnticas expressotildees idiomaacuteticas que em espanhol em nada diferem das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs Seriam portanto expressotildees gecircmeas idecircnticas que apresentam as mesmas caracteriacutesticas formais e semacircnticas (b) expressotildees semelhantes expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que tecircm o mesmo campo semacircntico natureza ou forma em relaccedilatildeo a expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs e (c) expressotildees diferentes as expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que diferem parcial ou totalmente das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs

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figurativos ou fraseoloacutegicos equivalentes em ambas as liacutenguas e tinham recebido uma meacutedia de pelo menos 3 na frequecircncia na escala de uso

Os testes foram escritos para avaliarem o reconhecimento a compreensatildeo a recordaccedilatildeo e produccedilatildeo dessas expressotildees O teste de reconhecimento idiomaacutetico era um teste de muacuteltipla escolha com opccedilotildees que incluiacuteam a paraacutefrase correta da expressatildeo uma frase relacionada com a paraacutefrase correta uma frase relacionada com a interpretaccedilatildeo literal e uma sentenccedila independente

Os itens nos dois testes de compreensatildeo foram marcados como correto ou incorreto e os itens sobre os testes de produccedilatildeo foram marcados como correto incorreto ou com interferecircncia

Segundo Irujo muitas vezes foi difiacutecil determinar quando a interferecircncia havia ocorrido Neste estudo a interferecircncia foi definida como o uso incorreto de uma traduccedilatildeo de uma palavra de conteuacutedo de uma expressatildeo idiomaacutetica espanhol No entanto em muitos casos especialmente com expressotildees similares uma palavra errada na liacutengua inglesa podia ser tanto uma traduccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em espanhol ou uma generalizaccedilatildeo ou extensatildeo exagerada de uma palavra no idioma Inglecircs

Em cada um dos dois testes de compreensatildeo os indiviacuteduos foram igualmente bem-sucedidos com expressotildees idecircnticas e semelhantes mas tinham dificuldade significativamente acentuada com expressotildees idiomaacuteticas diferentes No teste de traduccedilatildeo expressotildees idiomaacuteticas semelhantes e diferentes eram igualmente difiacuteceis pelo teste discurso de conclusatildeo o desempenho diferiu em todos os trecircs tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Quando a tarefa era reconhecer o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica os participantes foram capazes de generalizar a partir do sentido na sua liacutengua materna o sentido na segunda liacutengua se o modelo fosse idecircntico ou similar

As trecircs hipoacuteteses da pesquisa foram confirmadas Os sujeitos compreenderam expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas assim como expressotildees semelhantes e ambas foram compreendidas melhor do que expressotildees diferentes

Embora os resultados deste estudo mostram que os indiviacuteduos faziam uso de sua liacutengua nativa para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda liacutengua eles tambeacutem usavam estrateacutegias relacionadas agrave liacutengua-alvo

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Irujo afirma que foi impossiacutevel com base nos dados da pesquisa fazer qualquer afirmaccedilatildeo definitiva sobre a influecircncia relativa das estrateacutegias de primeira e segunda liacutengua por causa da dificuldade de atribuir respostas a uma categoria especiacutefica

O uso da liacutengua materna na produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs variou individualmente alguns participantes mostraram praticamente nenhuma interferecircncia para qualquer tipo de expressatildeo idiomaacutetica enquanto outros tiveram altas taxas de interferecircncia de expressotildees idiomaacuteticas ao mesmo tempo parecidas e diferentes Segundo Irujo estas diferenccedilas podem ser relacionadas ao fato dos sujeitos terem mantido os seus dois sistemas linguiacutesticos separados ou natildeo

Os resultados da pesquisa apontam para a possibilidade de que alguns alunos tenham conscientemente mantido as duas liacutenguas separadas e assim terem rejeitado formas da segunda liacutengua que estatildeo muito proacuteximas agraves da primeira liacutengua

Nos dois testes de compreensatildeo parece que os sujeitos foram capazes de generalizar a partir do sentido da expressatildeo em espanhol para o seu sentido em Inglecircs mesmo quando a forma era um pouco diferente Nos dois testes de produccedilatildeo eles foram capazes de produzir corretamente muitas expressotildees idiomaacuteticas mais idecircnticas do que expressotildees idiomaacuteticas dos outros dois tipos

Ambos resultados indicam que a transferecircncia positiva estava pronta para ser utilizada Transferecircncia negativa (interferecircncia) tambeacutem foi evidente nos dois testes de produccedilatildeo mais para expressotildees semelhantes do que para expressotildees idiomaacuteticas totalmente diferentes Quando as diferenccedilas eram pequenas a tendecircncia podia ser a de generalizar e ignorar essas diferenccedilas

Os resultados deste estudo apoiam a noccedilatildeo de que os alunos avanccedilados de uma segunda liacutengua cuja primeira liacutengua estaacute relacionada com a segunda pode usar seu conhecimento (meta)linguiacutestico de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda

O estudo de Irujo tem implicaccedilotildees teoacutericas para a investigaccedilatildeo da transferecircncia na aquisiccedilatildeo de uma segunda liacutengua Os resultados sugerem que as similaridades entre as liacutenguas incentivam a interferecircncia e que expressotildees idiomaacuteticas nem sempre satildeo considerados intransferiacuteveis

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As conclusotildees da pesquisa de Irujo podem ser aplicadas ao ensino de expressotildees idiomaacuteticas em L2 Se os alunos estatildeo usando seu conhecimento de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas em segunda liacutengua os professores devem tirar proveito disso

As conclusotildees da pesquisa apontam ainda que expressotildees idiomaacuteticas infrequentes e altamente coloquiais com vocabulaacuterio difiacutecil devem ser evitadas no ensino de liacutengua estrangeira Segundo Irujo os alunos vatildeo obviamente ter dificuldade de produzi-las corretamente e aleacutem disso essas expressotildees difiacuteceis mesmo quando produzida corretamente muitas vezes soam estranha e natildeo naturalmente quando falado por falantes natildeo nativos de Inglecircs

Importante assinalar que Irujo acredita que atividades de que comparem sentidos literais e figurativos podem ajudar os alunos na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de modo perceber o absurdo (no chamariacuteamos de princiacutepio da absurdidade) dos sentidos literais e fornecer uma nova relaccedilatildeo a partir das palavras literais para o sentido idiomaacutetico

O estudo afirma que atividades que incentivem a produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas podem ser baseadas em listas de expressotildees idiomaacuteticas recolhidos pelos alunos ou fornecidos pelo professor Estas listas devem incluir expressotildees idiomaacuteticas que satildeo semelhantes nas primeira e segunda liacutenguas e satildeo portanto capazes de causar interferecircncia Os alunos podem contar histoacuterias adicionais que contenham expressotildees idiomaacuteticas recontar uma histoacuteria que ouviram expressotildees contidas escrever e apresentar peccedilas teatrais espetaacuteculos de marionetes histoacuterias ou diaacutelogos com expressotildees neles e dramatizaccedilatildeo de situaccedilotildees que se prestam agrave produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em substacircncia os resultados mostram que expressotildees idecircnticas eram mais faacuteceis de compreender e produzir Expressotildees similares foram compreendidas quase tatildeo bem mas mostraram a interferecircncia do espanhol Expressotildees Idiomaacuteticas diferentes eram as mais difiacuteceis de compreender e produzir mas mostraram menos interferecircncia do que expressotildees semelhantes

Os participantes usaram estrateacutegias inter e intralinguiacutestica para produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabiam Dentro de cada tipo as expressotildees idiomaacuteticas que foram compreendidas e produziram

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mais corretamente foram as que eram usadas com frequecircncia e que tinham um vocabulaacuterio simples e estrutura transparente

Em nossa pesquisa recorremos aos procedimentos de Irujo (1996) para a elaboraccedilatildeo do 2ordm experimento denominado Teste de Muacuteltipla Escolha com o objetivo de os participantes descobrirem os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs a partir de itens de muacuteltipla escolha Seguindo o mesmo modelo de Irujo as respostas agraves perguntas do TME foram pontuados em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993)

A pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) analisa uma seacuterie de

experimentos realizados como contribuiccedilotildees para uma teoria sobre o processamento de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de natureza verbal

Parte da ideia fregeana de que o sentido de uma frase idiomaacutetica natildeo eacute para ser reconstruiacutedo a partir do sentido dos elementos que o compotildeem Levanta entatildeo duas questotildees fundamentais como eacute a estrutura desse sentido Como estas expressotildees satildeo representadas no leacutexico mental

Segundo Flores drsquoArcais trecircs diferentes respostas podem ser dadas a estas duas questotildees que tomaram formas de hipoacuteteses de sua pesquisa (a) as expressotildees idiomaacuteticas podem ser listadas no leacutexico mental como entradas lexicais de natureza polilexical (b) as expressotildees idiomaacuteticas natildeo estatildeo listadas como tal mas satildeo reconstruiacutedas com seu sentido idiomaacutetico a partir da entrada de um ou mais das palavras de conteuacutedo que constituem a expressatildeo e (c) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo seria representado como tal em tudo mas seria calculada de cada vez com base nas unidades lexicais e da estrutura frasal por um processo de construccedilatildeo metaacutefora

A pesquisa de Flores drsquoArcais tentou encontrar respostas para cinco problemas teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico (1) o sentido literal eacute calculado durante o processo de compreensatildeo (2) as expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares usados com frequecircncia podem ser listadas no leacutexico mental ao passo que a compreensatildeo de

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expressotildees idiomaacuteticas com pouca familiaridade e que satildeo usados raramente pode exigir um caacutelculo completo O sentido literal eacute computado ou natildeo durante a leitura de expressatildeo idiomaacutetica (4) a anaacutelise completa da estrutura gramatical da cadeia de entrada estaacute ocorrendo mesmo quando a sentenccedila eacute entendida inclui uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica altamente familiar que poderia ser recuperado como uma unidade multilexical no leacutexico mental sem qualquer necessidade de anaacutelise sintaacutetica da sua estrutura interna e (5) considerando que as expressotildees metafoacutericas que satildeo compreendidas por vaacuterios processos inferenciais seriam procuradas no leacutexico de vaacuterias palavras como unidades lexicais

Flores drsquoArcais aplicou aos seus sujeitos da pesquisa cinco experimentos

O primeiro experimento buscou obter informaccedilotildees sobre familiaridade e sobre o ponto de singularidade da expressatildeo para um grande nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas

O objetivo deste experimento foi a obtenccedilatildeo de algumas indicaccedilotildees de um nuacutemero de propriedades de uma grande amostra de expressotildees idiomaacuteticas em holandecircs Contou com um grande nuacutemero de sujeitos em diferentes fases da pesquisa

Os dados obtidos foram utilizados para a seleccedilatildeo dos materiais para os experimentos seguintes Duzentas expressotildees idiomaacuteticas holandesas foram escolhidas como material de base para a pesquisa Eles foram apresentados em vaacuterios conjuntos de tarefas diferentes para um total de 294 sujeitos com o pedido para realizarem uma seacuterie de tarefas

A primeira tarefa consistiu na definiccedilatildeo de sentido da expressatildeo idiomaacutetica Os sujeitos deram uma definiccedilatildeo do sentido de cada uma das expressotildees idiomaacuteticas As definiccedilotildees apresentadas foram em seguida avaliadas por dois juiacutezes em uma escala de 3 pontos como (1) correta (2) parcialmente correta ou relacionado agrave acepccedilatildeo lexicograacutefica de expressotildees idiomaacuteticas ou (3) completamente incorreto Os valores meacutedios da escala idiomaacutetica calculada sobre todos os assuntos deram uma indicaccedilatildeo da disponibilidade ou o conhecimento do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

A segunda tarefa relacionou-se agrave questatildeo da familiaridade Consistia em dar uma estimativa da frequecircncia com que o sujeito usaria na liacutengua usando uma escala de 7 pontos de muito frequentemente

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utilizado para nunca usado Isto rendeu para cada expressatildeo idiomaacutetica um escore de frequecircncia subjetiva ou familiaridade

A terceira tarefa dizia respeito ao uso de sentido literal Os sujeitos foram instigados a interpretarem o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica quando pensavam que tinham recuperado o sentido literal da referida expressatildeo Apoacutes a resposta a esta pergunta o sujeito tinha de expressar em uma escala de 5 pontos o grau de confianccedila de ter recuperado o sentido literal

A quarta tarefa diz respeito ao ponto de singularidade idiomaacutetica Os sujeitos foram solicitados a indicar para cada expressatildeo idiomaacutetica o ponto em que palavra em uma expressatildeo idiomaacutetica tornava-se unicamente definida ou linguisticamente idiomaacutetica

Em se tratando dos resultados das tarefas aplicadas aos sujeitos da pesquisa as definiccedilotildees dadas e as classificaccedilotildees forneceram em primeiro lugar uma seacuterie de detalhes sobre as propriedades das expressotildees idiomaacuteticas que foram utilizados como uma base para outros estudos permitindo que as expressotildees idiomaacuteticas fossem divididas em duas categorias (a) bem conhecidas (alta proporccedilatildeo de definiccedilatildeo correta) e natildeo conhecidas (definiccedilotildees incorretas)

Segundo Flores drsquoArcais quando uma expressatildeo idiomaacutetica eacute bem conhecida o falante (leitor ou ouvinte) natildeo pensa que usa o sentido literal a fim de compreendecirc-la enquanto que quando a expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute bem conhecida a interpretaccedilatildeo literal eacute provaacutevel que seja usada em muitos casos

O segundo experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas que de acordo com a hipoacutetese da memoacuteria idiomaacutetica podem ser armazenadas como unidades formadas de vaacuterias palavras lexicais e portanto podem ser interpretadas como tal e ainda submetidas agrave anaacutelise sintaacutetica completa

Este experimento relacionou-se ao processamento sintaacutetico durante compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas A hipoacutetese era a de que se expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas na memoacuteria como unidades lexicais formadas polilexicalmente como afirma a lista de hipoacutetese entatildeo a anaacutelise sintaacutetica da estrutura frasal da liacutengua em princiacutepio natildeo deveria ser necessaacuteria para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

O experimento testou a hipoacutetese de que a anaacutelise sintaacutetica eacute um processo obrigatoacuterio automaacutetico que natildeo depende da estrutura

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particular ao ser processada e que eacute insensiacutevel agraves propriedades lexicais da estrutura frasal A experiecircncia investigou a questatildeo de saber se a anaacutelise sintaacutetica da expressatildeo idiomaacutetica continua mesmo quando a expressatildeo tinha sido reconhecida e o sentido idiomaacutetico apropriado foi atribuiacutedo a ele

Para estes experimentos 20 estudantes da Universidade de Leiden foram convidados a detectar violaccedilotildees sintaacuteticas em sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas verbais de familiaridade alta ou baixa

Em termos de material da pesquisa vinte e quatro frases que continham expressotildees idiomaacuteticas (12 expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares e 12 familiares) e 60 locuccedilotildees verbais a serem preenchidas que constituiacuteram o material do experimento Em 50 da apresentaccedilatildeo cada frase continha uma violaccedilatildeo gramatical tais como as seguintes (a) Violaccedilatildeo de concordacircncia de gecircnero entre artigo e substantivo e (b) Concordacircncia no pluralsingular

Em termos de procedimentos as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas foram apresentadas aos sujeitos da pesquisa em um computador uma de cada vez numa sequecircncia esquerda para direita com cada palavra exibida ocupando uma posiccedilatildeo diferente como em uma sequecircncia normal impressa No entanto cada palavra foi apresentada e permaneceu no visor por alguns segundos e depois desapareceu

Os resultados mostram que foram detectadas com sucesso pelos sujeitos das pesquisas tanto violaccedilotildees em locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas de alta e de baixa familiaridade (familiares e natildeo familiares A ausecircncia de qualquer diferenccedila na taxa de detecccedilatildeo de violaccedilotildees sintaacuteticas em expressotildees idiomaacuteticas de alta familiaridade e baixa familiaridade pode ser interpretada como tendo ocorrido em ambos os casos a anaacutelise sintaacutetica Os resultados destas tarefas permitiram concluir que a anaacutelise sintaacutetica da cadeia frasal que constitui a expressatildeo continua mesmo quando o item de familiaridade de alta foi reconhecida

O terceiro experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas altamente familiarizadas satildeo reconhecidas com facilidade sem qualquer necessidade para o caacutelculo do sentido literal ao passo que expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade exigem um esforccedilo adicional de processamento

Este experimento consistiu na leitura palavra por palavra de sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Para aplicaacute-lo Flores drsquoArcais considerou que para se compreender locuccedilotildees verbais

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idiomaacuteticas seria necessaacuterio um processamento adicional devido agrave necessidade de calcular primeiramente o sentido literal e em seguida um sentido idiomaacutetico ou a necessidade de construir duas interpretaccedilotildees em paralelo como vaacuterios dos modelos na literatura desta aacuterea sugerem alternativamente entatildeo deveria esperar aumento da carga de processamento com expressotildees idiomaacuteticas em comparaccedilatildeo com as natildeo idiomaacuteticas

Em termos de material deste experimento foram selecionadas vinte e quatro expressotildees idiomaacuteticas sendo 12 familiares e 12 muito estranhas ou natildeo familiares dos quais respectivamente 6 eram transparentes e 6 muito opacas constituiacuteram o material experimental Eles foram incluiacutedos em frases com contexto neutro literal ou idiomaacutetico Setenta e duas frases de preenchimento foram misturadas com as 24 sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Vinte e quatro dessas frases foram pareadas com sentenccedilas idecircnticas estruturas sintaacuteticas e conteuacutedos muito semelhantes agraves sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas As sentenccedilas foram apresentadas em uma palavra um monitor em situaccedilatildeo on-line sob controle dos sujeitos

Em termos de sujeitos e procedimentos da pesquisa vinte e quatro estudantes da Universidade de Leiden participaram da experiecircncia como sujeitos voluntaacuterios pagos Os tipos de frases de contexto e as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas foram randomizados de tal forma que cada indiviacuteduo recebeu duas sentenccedilas em dois contextos diferentes Os sujeitos se sentavam em frente ao monitor a uma distacircncia de cerca de 70 cm e receberam a sentenccedila de uma palavra no momento pressionando uma tecla As palavras da locuccedilatildeo verbal foram apresentadas na tela da esquerda para a direita e manteve-se visiacutevel ateacute que o fim da locuccedilatildeo verbal Algumas das frases necessitaram de duas linhas na tela

Os resultados mostraram que o tempo de inspeccedilatildeo ao ponto de singularidade da expressatildeo idiomaacutetica eram praticamente o mesmo para itens familiares e para palavras de controle que faziam parte de locuccedilotildees verbais natildeo idiomaacuteticas Expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas por outro lado necessitavam agraves vezes de inspeccedilatildeo significativamente mais longa As expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas exigem tempo de inspeccedilatildeo significativamente superior do que aqueles transparentes A interaccedilatildeo entre o tipo de frase de

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contexto e familiaridade foi significativa apenas para as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A pesquisa de Flores drsquoArcais nos sugere que a ocorrecircncia de uma expressatildeo idiomaacutetica familiarizada natildeo requer qualquer computaccedilatildeo adicional e que o processamento prossegue da mesma maneira como com uma frase contendo uma locuccedilatildeo verbal natildeo idiomaacutetica da mesma complexidade estrutural do uma expressatildeo idiomaacutetica

Por outro lado quando a palavra diacriacutetica (ou idiomaacutetica) de uma expressatildeo desconhecida for reconhecida o leitor desacelera o ritmo de leitura dela indicando assim a necessidade para a atribuiccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo alternativa para a frase no ponto de sua idiomaticidade

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais mostram que os leitores tecircm mais dificuldade na interpretaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas enquanto que eles natildeo parecem ter qualquer dificuldade na interpretaccedilatildeo de uma expressatildeo mais conhecida do que qualquer outra parte da sentenccedila

A pesquisa obteve evidecircncias para a noccedilatildeo de que expressotildees familiares satildeo processadas sem qualquer problema Por outro lado expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares quando opacas e especialmente se incorporadas num contexto neutro oferecem alguns problemas de processamento Para Flores drsquoArcais parece razoaacutevel argumentar que este material eacute compreendido em seu sentido literal ateacute o ponto em que isso natildeo eacute mais possiacutevel Neste ponto alguma computaccedilatildeo adicional parece ser necessaacuteria

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais assinalam enfim que expressotildees idiomaacuteticas familiares satildeo entendidas diretamente sem qualquer esforccedilo adicional e provavelmente sem a necessidade de computar a interpretaccedilatildeo literal Isso natildeo parece ser o caso para expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares para o qual o trabalho computacional adicional parece ser necessaacuterio e esta especialmente quando o contexto natildeo daacute qualquer sugestatildeo quanto agrave presenccedila de um sentido idiomaacutetico de uma cadeia criacutetica

O quarto e o quinto experimentos tentaram descobrir como as pessoas interpretam expressotildees desconhecidas e quais estrateacutegias que podemsatildeo utilizadas na atribuiccedilatildeo de tal interpretaccedilatildeo

O quarto experimento refere-se agrave interpretaccedilatildeo semacircntica de expressotildees familiares e natildeo familiares Neste experimento foram apresentados aos indiviacuteduos uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas e

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pedido que eles escolhessem entre quatro alternativas a frase que corretamente correspondia agrave paraacutefrase do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de material da pesquisa foram quarenta e oito expressotildees idiomaacuteticas escolhidas de tal modo a cobrir toda a gama de escalas de familiaridade determinadas no primeiro experimento Para cada locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica foram feitas quatro paraacutefrases alternativas

Uma dessas alternativas correspondia agrave interpretaccedilatildeo (definiccedilatildeo de dicionaacuterio) correta da expressatildeo idiomaacutetica os outros foram escolhidos a partir das definiccedilotildees errocircneas produzidas pelos sujeitos do estudo (piloto) ou em alguns casos criadas pelo experimentador e dois colegas

Em termos de sujeitos e procedimento participaram do experimento cinquenta estudantes da Universidade de Leiden onde lhes foi dado um livreto contendo as 48 expressotildees idiomaacuteticas com quatro alternativas cada A tarefa era escolher a paraacutefrase (maneira diferente de dizer algo que foi dito frase sinocircnima de outra) que melhor correspondia em sentido ao sentido da locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica

Os resultados apontam que para expressotildees altamente familiares a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito alta enquanto que para as expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito menor

Os sujeitos do experimento eram na maioria dos casos capazes de selecionar a paraacutefrase adequada para expressotildees idiomaacuteticas familiares Por outro lado eles tambeacutem apresentavam um desempenho melhor do que por acaso mesmo com expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas

Segundo Flores drsquoArcais natildeo eacute de surpreender que a familiaridade com a expressatildeo idiomaacutetica estaacute correlacionada com a interpretaccedilatildeo correta Para ele o fato de agraves expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ser atribuiacuteda uma paraacutefrase correta de alguma forma sugere que as pessoas satildeo capazes de usar a informaccedilatildeo semacircntica presente na cadeia sintagmaacutetica a fim de chegar a uma soluccedilatildeo

O quinto experimento testou a produccedilatildeo de paraacutefrases para locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A perguntava que guiava o experimento era que tipo de estrateacutegias ou princiacutepios que as pessoas usam na busca de uma interpretaccedilatildeo de uma locuccedilatildeo idiomaacutetica desconhecida e opaca Ou

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em outras palavras Flores drsquoArcais perguntava o seguinte que tipo de interpretaccedilatildeo as pessoas podem oferecer quando se encontram diante de uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou uma que lhe eacute muito estranha ou difiacutecil de lembrar Que tipo de estrateacutegias as pessoas usam para tentar dar sentido a essas expressotildees

No experimento foi dada aos participantes uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas com o pedido para informarem em cada caso uma paraacutefrase Em seguida foram analisadas as paraacutefrases tentando isolar os princiacutepios que os sujeitos poderiam ter usado em produzi-los

Em termos de material foram selecionadas sessenta e quatro locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas 32 familiares e 32 desconhecidas assim como foram indexadas no primeiro experimento Dentro de cada uma destas duas categorias 16 eram bastante transparentes e 16 eram expressotildees idiomaacuteticas opacas Juntamente com este material um total de 66 sentenccedilas lacunadas (cloze) foram apresentadas algumas tendo um sentido metafoacuterico figurativo algumas apenas um sentido literal

No tocante aos sujeitos foram 80 alunos da Universidade de Leiden que participaram deste estudo em grupos

Em termos procedimentais as expressotildees idiomaacuteticas foram impressas (sem contexto) em um livreto com espaccedilo adequado para o assunto para dar uma resposta Cada paacutegina continha 10 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas e a ordem das paacuteginas do livro foi variada para assegurar pelo menos a randomizaccedilatildeo do material

Quanto agrave classificaccedilatildeo das respostas foram avaliadas em primeiro lugar na base da sua correccedilatildeo A avaliaccedilatildeo consistiu de correspondecircncia da paraacutefrase com o sentido de dicionaacuterio Este trabalho foi feito por quatro juiacutezes e na maioria dos casos a avaliaccedilatildeo natildeo apresentaou qualquer problema

As interpretaccedilotildees incorretas foram classificadas independentemente pelos quatro juiacutezes com base em um nuacutemero de categorias criadas pelos proacuteprios juiacutezes durante a classificaccedilatildeo das respostas Essas categorias em seguida foram reunidas e apoacutes discussatildeo dada uma uacutenica etiqueta

As paraacutefrases em seguida foram classificadas e atribuiacutedas a uma destas categorias Quando a classificaccedilatildeo muacuteltipla foi possiacutevel em alguns casos a paraacutefrase dada foi discutida entre os juiacutezes e a

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classificaccedilatildeo foi baseada em uma escolha forccedilada entre as duas categorias possiacuteveis

Os resultados deste experimento mostraram que a proporccedilatildeo de paraacutefrases era estreitamente alinhada ao sentido das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute muito alta para as expressotildees idiomaacuteticas familiares e significativamente menor para as desconhecidas

As paraacutefrases dadas pelos sujeitos podem basearam-se em um dos seguintes princiacutepios linguiacutesticos a seguir

(a) Analogia a frase idiomaacutetica era interpretada por analogia a uma expressatildeo conhecida que continha uma palavra ou um constituinte de uma expressatildeo familiar

(b) Uso de propriedades semacircnticas de uma das palavras da expressatildeo idiomaacutetica principalmente um dos substantivos sem considerar a frase inteira

(c) Extensatildeo metafoacuterica da accedilatildeo ou estado descrito na frase (d) Sentido literal a interpretaccedilatildeo era literalmente dada Nesse

caso os sujeitos natildeo foram capazes de descobrir qualquer interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

(e) Outros nesta categoria foram classificados um nuacutemero de respostas muito pessoais ou idiossincraacutesicas no sentido de que os indiviacuteduos pareciam criaacute-las sem referecircncia a qualquer princiacutepio oacutebvio ou deram uma paraacutefrase que para todos os juiacutezes parecia completamente arbitraacuteria

Importante assinalar que a pesquisa de Flores drsquoArcais destaca que quando no experimento era apresentada uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida e pedido aos participantes para darem uma interpretaccedilatildeo eles pareciam ser capazes de dar paraacutefrases apropriadas ou adequadas e muitas vezes coincidiam com o sentido convencional da expressatildeo As interpretaccedilotildees propostas eram obtidas atraveacutes de expressotildees idiomaacuteticas familiares ou a partir de uma anaacutelise metafoacuterica A informaccedilatildeo semacircntica que constitui o sentido das unidades lexicais que fazem parte da locuccedilatildeo idiomaacutetica era usada para construir uma interpretaccedilatildeo muitas vezes adequada ou plausiacutevel

A pesquisa de Flores drsquoArcais chegou a trecircs conclusotildees Primeiro o contato inicial com a expressatildeo idiomaacutetica leva o

participante a recorrer agrave anaacutelise sintaacutetica mesmo sendo as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas muito familiares que em princiacutepio podem ser reconhecidas apoacutes as primeiras palavras da combinatoacuteria e natildeo

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necessitariam de uma anaacutelise sintaacutetica a fim de serem entendidas ou que parecem sugerir que satildeo analisadas como qualquer outra sequecircncia linguiacutestica o que significa dizer que a anaacutelise sintaacutetica eacute a rota normal e necessaacuteria para obter uma estrutura interpretaacutevel

Uma segunda conclusatildeo decorrente dos resultados da pesquisa indica que existe uma clara diferenccedila entre o processamento de expressotildees idiomaacuteticas bem conhecidas familiares e novas e desconhecidas Embora as expressotildees idiomaacuteticas conhecidas sejam normalmente processadas sem qualquer esforccedilo adicional a compreensatildeo de uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica estranha ou natildeo familiar podem exigir algum esforccedilo adicional computacional

Uma terceira conclusatildeo eacute a de que quando eacute dada uma interpretaccedilatildeo a uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida isso ocorre com base em uma seacuterie de princiacutepios Alguns deles foram isolados como prova para os processos que levam uma a uma interpretaccedilatildeo significativa

A pesquisa de Flores drsquoArcais revelou finalmente que o processamento de locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas pode apresentar alguns problemas computacionais apenas quando as expressotildees idiomaacuteticas satildeo muito ou completamente desconhecidas As interpretaccedilotildees dadas a essas expressotildees satildeo muitas vezes apropriadas ou pelo menos proacuteximas ao sentido convencional Para alcanccedilar tais interpretaccedilotildees o usuaacuterio da liacutengua adota uma seacuterie de estrateacutegias que satildeo baseadas em princiacutepios simples ou simplesmente idiossincraacutesicos

Com base em alguns dos procedimentos e princiacutepios da pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) elaboramos o 3ordm experimento de nossa pesquisa dividido em duas tarefas

Na primeira tarefa denominada Teste de Imagens Idiomaacuteticas (TII) objetivamos saber da competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pequisa em identificar e dizer os sentidos figurados ou fraseoloacutegicos a partir de imagens literais publicadas na internet que poderiam evocar expressotildees idiomaacuteticas apresentadas uma a uma ao participante

Na segunda tarefa denominada Teste da Competecircncia Fraseoloacutegica (TCF) buscamos saber sobre a competecircncia fraseoloacutegica dos sujeitos da pesquisa de modo a descobrir sentidos plausiacuteveis de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs (para efeito de anaacutelise de dados soacute consideramos seis delas) as mesmas da primeira

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tarefa a partir de determinado contexto do portuguecircs escrito (jornais de grande circulaccedilatildeo nacional no Brasil) Os experimentos de Cooper (1999)

A pesquisa de Cooper (1999) investigou as estrateacutegias de

processamento cognitivo on-line utilizadas por uma amostra de falantes natildeo nativos de Inglecircs que foram convidados a darem os sentidos de expressotildees idiomaacuteticas frequentes e apresentadas em um contexto escrito

Os dados foram coletados por meio do protocolo verbal think-aloud procedure (procedimento de pensar em voz alta) Os participantes verbalizaram como acessam os sentidos das expressotildees idiomaacuteticas

Cooper parte da noccedilatildeo fregeana de natildeo composicionalidade semacircntica de que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute uma expressatildeo cujo sentido nem sempre pode ser facilmente derivado do sentido comum dos seus elementos constitutivos Segundo ele eacute difiacutecil dizer o sentido literal por exemplo das palavras individuais (chutar balde pau barraca) em expressotildees como em portuguecircs chutar o balde e chutar o pau da barraca com o sentido de abandonar

Quanto aos participantes da pesquisa Cooper contou com um total de 18 sujeitos natildeo nativos do inglecircs Eles tinham idades entre 17 a 44 anos sendo a idade meacutedia de 293 anos Havia oito falantes nativos espanhoacuteis trecircs japoneses cinco coreanos um russo e um portuguecircs Os participantes tinham vivido nos EUA 51 anos em meacutedia e passaram de 73 meses em meacutedia estudando Inglecircs nos EUA Muitos dos participantes tinham estudado ou estavam estudando inglecircs em cursos de idiomas especiais destinados a aumentar a proficiecircncia dos estudantes estrangeiros para que eles pudessem atingir uma pontuaccedilatildeo alta o suficiente no teste de inglecircs como liacutengua estrangeira para admissatildeo em uma universidade dos EUA

No tocante aos materiais dos experimentos os participantes receberam um teste de reconhecimento idiomaacutetico no qual eles foram instados a darem oralmente os sentidos de 20 expressotildees idiomaacuteticas frequentemente usadas selecionadas de um dicionaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas americanas As expressotildees idiomaacuteticas escolhidas

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representaram uma mistura de diferentes niacuteveis de discurso (em nossa pesquisa desconsideramos este criteacuterio lexicograacutefico e adotamos um criteacuterio fraseoloacutegico)

Na seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas feita por Cooper oito das expressotildees eram representativos do inglecircs padratildeo oito eram informais ou coloquiais no niacutevel do discurso e quatro eram expressotildees do tipo giacuterias As expressotildees em inglecircs padratildeo seriam mais provaacuteveis de ocorrerem em inglecircs escrito e expressotildees de giacuteria mais no coloquial

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de uma ou duas frases selecionadas a partir de estudos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L1 Cada expressatildeo com seu contexto foi digitada em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Desta forma a pesquisa buscou aferir as medidas de compreensatildeo para que fosse analisado o processamento das expressotildees idiomaacuteticas imediatamente apoacutes a percepccedilatildeo auditiva ou visual

Para investigar os processos de compreensatildeo idiomaacutetica Cooper usou a teacutecnica do think-aloud protocols (protocolo pensar em voz alta) para coleta de dados enquanto os estudantes eram submetidos ao Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) O foco da tarefa (think-aloud protocols) era o de obter dados para relatar o conteuacutedo de sua consciecircncia imediata isto eacute os sujeitos teriam de relatar o que eles estavam pensando no momento do teste Dados oferecidos pela assistecircncia teacutecnica (experimentadores) natildeo foram tomados como reflexos diretos de processos de pensamento mas sim como dados que se correlacionaram com processos subjacentes do pensamento dos participantes

Segundo Cooper os dados do Protocolo Verbal forneceriam provas do que estava na mente do indiviacuteduo durante a tarefa permitindo ao pesquisador zerar os esforccedilos mentais envolvidos no exato momento que um sujeito natildeo nativo encontra uma expressatildeo idiomaacutetica potencialmente problemaacutetica

A principal hipoacutetese da pesquisa de Cooper (1999) foi a de que o reconhecimento da expressatildeo idiomaacutetica pode ser influenciado por fatores linguiacutesticos como o sentido de uma determinada palavra na expressatildeo idiomaacutetica e extralinguiacutesticos como as experiecircncias e conhecimentos preacutevios dos participantes Por essa razatildeo os

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participantes foram solicitados a manterem esses fatores em mente ao verbalizem seus pensamentos sobre como eles chegaram a possiacuteveis sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas

Nossa pesquisa difere brevemente deste porque levamos em conta sobretudo a memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes expressotildees memorizadas em que o informante sabe sua forma (fixaccedilatildeo) e seu conteuacutedo (idiomaticidade) natildeo podems falar em opacidade versus transparecircncia

Mesmo em casos de equivalecircncia de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (no caso dos africanos liacutenguas crioulas) consideramos estar diante de uma manifestaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica Em nossa pesquisa o recurso agrave L1 soacute foi considerado vaacutelido quando depois de constatado pelo experimentador que efetivamente o informante declarava natildeo lembrar nem saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo durante o protocolo verbal houve uma clara busca por uma estrateacutegica L1 para desvelar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2

Os dados da pesquisa foram analisados em duas fases Na primeira fase as definiccedilotildees das 20 expressotildees idiomaacuteticas pelos participantes foram pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Na segunda fase da anaacutelise as respostas dos participantes para cada expressatildeo apoacutes serem divididas em segmentos discursivos (denominadas de t- unidades) e como tais foram analisadas e marcadas de acordo com a estrateacutegia de compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica utilizada pelo participante

As estrateacutegias de compreensatildeo para os quais foram encontradas provas nos dados foram denominadas com referecircncia a estudos anteriores que lidam com a compreensatildeo on-line da expressatildeo idiomaacutetica em L1 (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993) uma vez que tal terminologia tinha se mostrado eficaz na anaacutelise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir de protocolos verbais Estas estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas entre outras foram classificadas em dois grupos as estrateacutegias de preparaccedilatildeo e as estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo

As estrateacutegias de preparaccedilatildeo permitiram aos participantes clarificar e consolidar o conhecimento sobre a expressatildeo (Estrateacutegia RP repetir ou parafrasear o idioma) para ganhar mais tempo antes de

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proferir um palpite talvez para ensaiar uma resposta e para peneirar a nova informaccedilatildeo linguiacutestica (Estrateacutegia DA discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica) e para coletar informaccedilotildees adicionais a fim de dar um palpite melhor informado sobre o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RI solicitando informaccedilotildees sobre o idioma)

As estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo representam casos em que o participante realmente arriscou uma interpretaccedilatildeo da expressatildeo e a estrateacutegia que leva agrave suposiccedilatildeo foi categorizada como descobrir o sentido idiomaacutetica da expressatildeo a partir do contexto (Estrateacutegia AC) usando o sentido literal (Estrateacutegia SL) utilizando os conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP) referindo-se a uma liacutengua L1 (Estrateacutegia L1) ou usando outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE)

Cooper (1999) observou que durante a aplicaccedilatildeo do teste a maioria dos participantes estava muito interessada em participar dos protocolos de assistecircncia teacutecnica em mateacuteria de reconhecimento expressatildeo e sempre buscavam saber os sentidos das expressotildees Eles estavam conscientes das dificuldades inerentes agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L2 e queriam mais ajuda nesta aacuterea especialmente para lidar com a frustraccedilatildeo causada para compreenderem muitas expressotildees idiomaacuteticas em L2

Os dados levantados pelo TRI permitiram apontar que oito estrateacutegias de processamento de expressotildees idiomaacuteticas foram identificadas das quais trecircs foram usadas mais frequentemente (supor o sentido idiomaacutetico que a partir do contexto usar o sentido literal da expressatildeo e discutir e analisar a linguagem) enquanto as outras cinco estavam em menos evidecircncia (referir-se a uma lingua L1 solicitar informaccedilotildees sobre a linguagem e contexto repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica utilizar o conhecimento de fundo e usar outras estrateacutegias)

Em substacircncia a pesquisa de Cooper (1999) assinala que o modelo padratildeo para explicar a compreensatildeo idiomaacutetica natildeo foi encontrado entre os conhecidos modelos de compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (teorias leacutexicas e composicionais do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas) entre outros mas trata-se um modelo heuriacutestico pelo qual os natildeo nativos do inglecircs apoacutes encontrarem uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida empregam uma variedade de estrateacutegias de uma forma de tentativa e erro para interpretar expressotildees idiomaacuteticas L2

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Modelos de aquisiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 natildeo se aplicam satisfatoriamente agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas pelos usuaacuterios L2 Algumas sugestotildees pedagoacutegicas derivadas dos achados foram incluiacutedas nas sugestotildees e recomendaccedilotildees da pesquisa de Cooper

Os procedimentos adotados por Cooper (1999) foram parcialmente aplicadas em nosso primeiro experimento Uma anaacutelise mais detida dos seus procedimentos metoloacutegicos levou-se a acrescentar algumas tarefas ao modelo estrateacutegico

Em nossa proposta introduzimos antes da tarefa de reconhecimento idiomaacutetico (denominada em nossa pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) duas tarefas identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e memoacuteria fraseoloacutegica Na primeira o informante teria que identificar a expressatildeo (grau de fixaccedilatildeo formal) e na segunda declarar se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

Com a inserccedilatildeo destas duas tarefas no modelo de Cooper (1999) pudemos entatildeo realizar a tarefa de idiomaticidade fraseoloacutegica na qual o informante atribuiacutea sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo e desconsideraacutevamos os informantes que jaacute sabiam de cor as expressotildees idiomaacuteticas do experimento

Os informantes descartados natildeo foram considerados tambeacutem no levantamento de frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de nosso experimento Estes procedimentos foram transferidos aos 2ordm e 3ordm experimentos de nossa pesquisa

Em substacircncia o experimento baseado em Cooper foi dividido em quatro tarefas nas quais objetivaacutemos fazer uma gravaccedilatildeo digital do que os participantes da pesquisa pensavam sobre quando tentavam descobrir os significados de 15 expressotildees idiomaacuteticas em PB

Inicialmente foram dados um a um 15 cartotildees com expressotildees idiomaacuteticas e pedido que lessem o pequeno texto que trazia inserida a expressatildeo idiomaacutetica mas sem quaisquer marcas de identificaccedilatildeo de sua forma (fixaccedilatildeo formal)

A segunda tarefa pedia ao informante para que dissesse se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

A terceira tarefa pedir que em voz alta dissesse ao experimentador tudo que estava pensando a partir do momento que olhasse a expressatildeo idiomaacutetica identificasse-a (ou natildeo posto que no caso de natildeo identificaacute-la tal procedimento seria feito pelo experimentador) ateacute que dizer o que ela significava no texto lido

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Na quarta tarefa o experimentador oferecia ajuda teacutecnica isto eacute estrateacutegias cognitivas (top-down) para que pudesse desvelar o sentido idiomaacutetico das expressotildees opacas Os experimentos de Crespo e Caceres (2006)

Entre as aquisiccedilotildees tardias da fala estaacute a capacidade de as

crianccedilas entenderem as frases feitas de natureza figurativa ou metafoacuterica que ocorrem na linguagem oral

Diante dessa problemaacutetica a pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) teve por objetivo descrever o desenvolvimento da compreensatildeo oral de frases metafoacutericas em crianccedilas entre 5 a 13 anos de idade matriculados em escolas puacuteblicas municipais e particulares em duas cidades no Chile

A pesquisa buscou especificamente alcanccedilar os seguintes objetivos a) apresentar as bases teoacutericas relacionadas com as frases feitas em espanhol e como as crianccedilas desenvolvem a sua compreensatildeo b) descrever o grau de compreensatildeo de frases feitas de natureza metafoacuterica em estudantes chilenos determinando a possiacutevel presenccedila de diferenccedilas significativas devido ao aumento da idade e c) determinar que tipo de frases feitas metafoacutericas satildeo mais faacuteceis ou mais difiacuteceis de entender

Os resultados indicaram diferenccedilas significativas no grau de compreensatildeo de enunciados metafoacutericos entre todos os grupos de idade considerados mais velhos

Os dados permitiram tambeacutem estabelecer que todos os enunciados fraseoloacutegicos foram relativamente faacuteceis Entre as unidades fraseoloacutegicas as colocaccedilotildees foram as que obtiveram percentuais maiores em termos de acertos quanto ao sentido idiomaacutetico seguidas dos proveacuterbios enquanto as locuccedilotildees verbais resultaram mais difiacuteceis de serem respondidas

A pesquisa permitiu estabelecer que um aluno com bom niacutevel de compreensatildeo das colocaccedilotildees tambeacutem foi capaze de lograr ecircxito em locuccedilotildees e proveacuterbios ao contrario do que ocorreu com alunos que evidenciaram um baixo niacutevel

A pesquisa teve um design natildeo experimental com as seguintes variaacuteveis consideradas idade agrupados por faixas mais largas (5-7 8-9 10-11 e 12-14 anos) definidas em grupos por idade para melhor estabelecer

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diferenccedilas entre os sujeitos e graus variaacuteveis de compreensatildeo das colocaccedilotildees locuccedilotildees e proveacuterbios que juntos constituem o grau variaacutevel de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de instrumento da pesquisa foi utilizado um software interativo que consistia de 54 itens que mediamm quatro dimensotildees relacionadas com a compreensatildeo da linguagem figurada ou idiomaacutetica Com tal procedimento fora incluiacutedos itens relacionados a atos de fala indiretos ironia expressotildees idiomaacuteticas e pressuposiccedilotildees

Os itens consistiam em diaacutelogos realizados entre personagens de desenhos animados Cada diaacutelogo apresentava uma declaraccedilatildeo natildeo literal em que a crianccedila devia interpretar adequadamente escolhendo entre as respostas possiacuteveis a serem marcados como correta (um ponto) ou incorreta (zero ponto) Primeiramente os pesquisadores buscaram estabelecer a presenccedila de diferenccedilas no grau de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em funccedilatildeo da idade

Considerando a idade relativa dos participantes e a capacidade de compreender expressotildees idiomaacuteticas os resultados da pesquisa de Crespo e Caceres (2006) indicam que com a idade aumenta capacidade de compreender idiomaticamente as expessotildees e essas diferenccedilas passam a ser significativas em crianccedilas mais novas com relaccedilatildeo agraves mais velhas Em outras palavras a idade e os processos associados ao desenvolvimento da crianccedila em idade escolar determinam o niacutevel de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

Outro fato que pode ser observado na pesquisa Crespo e Caceres (2006) eacute que embora as diferenccedilas na competecircncia idiomaacutetica sejam significativas em todas as faixas etaacuterias as diferenccedilas parecem aumentar nos primeiros trecircs grupos de idade (5-7 8-9 e 10-11) e diminuir menos de metade de um ponto entre os dois uacuteltimos (10-11 em comparaccedilatildeo com 12-14) Segundo os pesquisadores isto parece indicar que eacute nos primeiros anos escolares que o desenvolvimento da compreensatildeo idiomaacutetica torna-se mais evidente Foi observado que as colocaccedilotildees satildeo aquelas unidades fraseoloacutegicas que representam combinaccedilotildees mais simples e ao mesmo tempo mais faacutecil de serem compreendidas pelas crianccedilas

Os dados da pesquisa parecem indicar que o grau de dificuldade de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute inteiramente relacionado com a sua estrutura mas se deve a outros fatores como a familiaridade seu

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niacutevel analisabilidade sintaacutetica e o aumento da opacidade ou da transparecircncia semacircntica

Da pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) levamos como procedimento metodoloacutegico para nossa pesquisa a seleccedilatildeo das 18 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas presentes nos trecircs experimentos atraveacutes de suas tarefas uma vez que satildeo as locuccedilotildees do tipo verbo + argumento que melhor permitem observarmos o comportamento verbal dos participantes da pesquisa quanto agrave atribuiccedilatildeo de sentido literal e de sentido fraseoloacutegico agraves referidas unidades fraseoloacutegicas quando os mesmos satildeo submetidos a testes psicolinguiacutesticos Os experimentos de Detry (2010)

A pesquisa de Detry (2010) centrou-se na dimensatildeo literal-icocircnico

das expressotildees idiomaacuteticas (EI) e na possibilidade de explorar este aspecto a niacutevel cognitivo de aprendizagem na aacuterea de liacutengua estrangeira (LE)

Na parte teoacuterica de seu trabalho Detry mostra a importacircncia que as imagens formadas pelos componentes fraseoloacutegicos e seus valores metafoacutericos em jogo podem ser comparadas a partir de um ponto de vista natildeo soacute linguiacutestico mas mostram a importacircncia que as imagens podem ter tambeacutem de ordem psicolinguiacutestica de modo a contemplar a sua analisabilidade e transparecircncia (noccedilatildeo de motivaccedilatildeo semacircntica) de muitas expressotildees idiomaacuteticas

Em relaccedilatildeo ao processamento de expressotildees novas por falantes natildeo nativos Detry destacou em sua pesquisa a implicaccedilatildeo de que o tratamento especial geralmente dado agrave dimensatildeo literal levou os sujeitos da pesquisa a insistirem particularmente sobre o papel cognitivo a ser atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas semacircnticas das expressotildees

A pesquisa de Detry nos ajudou no design da primeira tarefa do 3ordm experimento que consistiu em solicitarmos dos participantes a identificaccedilatildeo das expressotildees (fixaccedilatildeo formal) a partir de imagens literais que poderiam evocar ou sugerir as seis locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas selecionadas para o experimento

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METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capiacutetulo inicialmente apresentamos como pensamos os

objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da nossa pesquisa Descrevemos como refinamos os instrumentos da pesquisa durante a aplicaccedilatildeo de preacute-testes a estudantes universitaacuterios nativos e natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

Tratamos tambeacutem da organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento psicolinguiacutestico bem como material e procedimento de seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas segundo criteacuterios fraseoloacutegicos toacutepicos que seratildeo bem detalhados uma vez que o 2ordm e 3ordm experimentos seguiratildeo os mesmos passos metodoloacutegicos do experimento

Tratamos ainda de como concebemos o Protocolo verbal think aloud (TA) e como procedemos com a gravaccedilatildeo de aacuteudios e a correspondente transcriccedilatildeo de dados que constituiacuteram o Corpus Afri

Por fim a fim de obtermos ferramentas metodologicamente adequadas para a aplicaccedilatildeo de nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos fez-se necessaacuterio um trabalho preacutevio composto por cinco etapas que descreveremos passo a passo Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa Objetivo Geral

Esta pesquisa teve por objetivo geral investigar as estrateacutegias de

compreensatildeo idiomaacutetica utilizadas por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB) em contextos de uso Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa

(a) Solicitar aos participantes que verbalizassem seus

pensamentos durante o esforccedilo de acessar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica com ou sem apoio de contexto de situaccedilatildeo ou uso da liacutengua portuguesa na vertente brasileira

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(b) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB imediatamente apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em contexto de uso (texto escrito)

(c) Verificar o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em situaccedilatildeo de contexto de uso (texto escrito lido pelos falantes) ou de forma isolada (exposiccedilatildeo oral feita pelo experimentador)

(d) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB a partir de estiacutemulos de imagens literais suscetiacuteveis de evocaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

(e) Identificar os tipos de expressotildees que os sujeitos natildeo nativos do PB natildeo reconhecem o sentido idiomaacutetico (opacas) e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de compreender (transparentes)

(f) Verificar que taacuteticas e estrateacutegias cognitivas (bottom-up e top-down) satildeo mais usadas pelos em falantes natildeo nativos do PB e quais as estrateacutegias (bem-sucedidas) que os beneficiam nos processos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uso no Brasil Perguntas da pesquisa

As dificuldades especiacuteficas com a quais nos defrontamos a partir do tema proposto e que resolvemos por intermeacutedio da pesquisa foram as seguintes

(a) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(b) De que forma expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa representadas por imagens variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(c) Ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

(d) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade intralinguiacutestica

(e) Que tipos de estrateacutegias os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas e quais delas foram bem-sucedidas

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Hipoacuteteses As respostas provaacuteveis para nossos problemas foram expressas

nas seguintes hipoacuteteses (a) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo

idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

(b) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas representadas por imagens tende a apoiar-se na memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB

(c) Os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria

(d) Os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos

(e) Os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

(f) As expressotildees que designam nomes de animais (zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(g) As expressotildees que designam nomes relacionados agrave botanismo (aacutervores) ao indumentismo (vestimenta) e ao gastronomismos (culinaacuteria) satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(h) Expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(i) O conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

(j) O fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

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(k) A idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

(l) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(m) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

Primeiros passos metodoloacutegicos

Ateacute que estabelececircssemos definitivamente os criteacuterios de seleccedilatildeo

de paiacutes lusoacutefonos os grupos de participantes da pesquisa por sexo por tempo de estada no Brasil e por instituiccedilatildeo educacional e finalmente aplicaacutessemos os experimentos ao universo de participantes dentro das minhas condiccedilotildees experimentais levamos muito para o mapeamento de todo o percurso metodoloacutegico resumidamente descrito nas cinco etapas a seguir

Na primeira etapa fizemos a seleccedilatildeo dos sujeitos constituiacutedos de estudantes universitaacuterios natildeo nativos do PB intercambistas (UFC Unilab e UECE) e regularmente matriculados em instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior (Unifor Fatene e Fanor) oriundos de dois paiacuteses africanos lusoacutefonos (Cabo Verde e Guineacute-Bissau) pertencentes agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (CPLP) Entrevistamos ainda angolanos e congoleses mas em pequeno nuacutemero o que desde cedo desconsideramos como sujeitos da pesquisa No caso dos congoleses ainda mais justificado porque o Congo natildeo tem o portuguecircs como liacutengua oficial

Na segunda etapa preparamos o material de trecircs experimentos e estabelecemos os criteacuterios de seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por categorias fraseoloacutegicas seguindo os paracircmetros metodoloacutegicos de estudos empiacutericos jaacute realizados com participantes natildeo nativos de uma liacutengua dada com foco nas pesquisas e os estudos mais recentes na aacuterea de fraseologia

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Na terceira etapa com base na literatura sobre experimentos psicolinguiacutesticos relacionados agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas organizamos a sequecircncia de tarefas de trecircs experimentos com o objetivo de averiguar a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo idiomaacutetica atraveacutes de um protocolo verbal think aloud

Na quarta etapa procedemos com o refinamento dos instrumentos da pesquisa onde inicialmente fizemos a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com 50 nativos do PB e com 10 estudantes africanos lusoacutefonos oportunidade em que obtivemos um feedback sobre se a redaccedilatildeo e a clareza do questionaacuterio eram evidentes para todos os questionados e se as questotildees ou questionaacuterios propostos faziam o mesmo sentido para todos os informantes

Na quinta e uacuteltima etapa desta fase preparatoacuteria para a realizaccedilatildeo da pesquisa para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos dos trecircs experimentos submetemos atraveacutes de troca de e-mails os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia (Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) e psicolinguiacutesticas (Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Florence Detry Luacutecia Fulgecircncio Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) ateacute que configuramos a versatildeo final de nossa pesquisa o que nos levou ao longo deste processo a uma contiacutenua e profiacutecua reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva2

Soacute a partir da realizaccedilatildeo destas etapas acima cadastramos o Projeto de Pesquisa na Plataforma Brasil para ser avaliado pelo Conselho de Eacutetica da UFC atendendo ao que estabelecem as normas da Resoluccedilatildeo 4662012 que trata de pesquisas e testes em seres humanos

2 Entre os docentes brasileiros gostariacuteamos de registrar a importacircncia das contribuiccedilatildeo das professoras Ana Cristina Pelosi Livia Marcia Tiba Radis Baptista e Maria Elias Soares ambas da UFC que por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo do projeto de pesquisa fizeram-nos refletir sobre a qualidade e validade dos experimentos com as imagens e com as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para os testes

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Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) com Parecer de nuacutemero de 3210212013

A tabulaccedilatildeo dos dados e a realizaccedilatildeo estatiacutestica foram feitas com auxilio do software Microsoft Excel 2003

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EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS

Participantes

Participaram dos experimentos psicolinguiacutesticos 20 estudantes selecionados para o Programa Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G)1 na UFC Unilab e UECE e um grupo de estudantes matriculados em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior (Unifor Fanor Fatene) no Cearaacute

O processo de recrutamento dos participantes foi feito inicialmente a partir de dados cedidos pela Coordenadoria de Assuntos Internacionais da UFC atraveacutes de uma lista com nomes de estudantes de graduaccedilatildeo da UFC em Fortaleza Sobral e Cariri com seus respectivos nuacutemeros de telefones celulares e e-mails o que nas primeiras tentativas de contato se mostrou um procedimento infrutiacutefero isto eacute natildeo foi suficiente para que o pesquisador obtivesse a adesatildeo voluntaacuteria (e creacutedito de confianccedila) dos estudantes agrave pesquisa

Posteriormente percebemos ser eficaz um processo de recrutamento atraveacutes das redes sociais em especial o Facebook com o envio de um convite aos estudantes africanos lusoacutefonos para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa contendo informaccedilotildees baacutesicas tais como o tiacutetulo da pesquisa e suas etapas equipe (pesquisador principal professora-orientadora e colaboradores) e o registro do Projeto de Pesquisa no Conselho de Eacutetica da UFCPlataforma Brasil Uma vez visualizada a primeira mensagem no Facebook enviamos nova mensagem aos participantes com solicitaccedilatildeo de amizade e confirmado individualmente o aceite por parte do destinataacuterio ativamos o bate-papo para formalizar o convite e sensibilizar o potencial sujeito para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa definindo

1 O Programa de Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G) criado oficialmente em 1965 oferece a estudantes de paiacuteses em desenvolvimento com os quais o Brasil manteacutem acordo educacional cultural ou cientiacutefico-tecnoloacutegico a oportunidade de realizarem seus estudos de graduaccedilatildeo em Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) brasileiras

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mecircs dia e horaacuterio para um encontro pessoal na UFC Centro de Humanidades nos Campi do Benfica e de Sobral

Entre os primeiros contatos pelo Facebook e o encontro pessoal com os participantes um a um para a realizaccedilatildeo dos testes muitas vezes levamos semanas ateacute que ganhaacutessemos sua confianccedila de todos participantes e despertaacutessemos neles o interesse de participar voluntariamente da pesquisa Agrave medida que fomos recebendo adesatildeo dos estudantes fomos pedindo a cada um deles que nos facilitassem contato com outros patriotas que residissem no Cearaacute Entre inuacutemeras respostas dos potenciais entrevistados recebemos estas

(a) Olaacute tdo bem Aceito participar da pesquisa Me desculpe pela demora eacute q eu estava muito ocupada faculdade Essa semana vai ser mais Light Caso decirc para senhor a gente poderia agendar logo para segunda feira d tarde Eu estudo no Benfica poderiacuteamos nos encontrar na Faculdade de Direito ou em qq lugar q fique proacuteximo ao Rualmoccedilarei laacute

(b) Olaacute Sim posso colaborar Como seria essa pesquisa Abraccedilo

(c) oi boa tardeeu aceito participar da pesquisa eu queria saber mais detalhadamente do que se trata a pesquisa

(d) oi natildeo tem problema natildeo eu posso participar da sua pesquisa sim Vc vai estar em sobral ateacute que dia bem qualquer coisa segunda a tarde da certo me liga ok tenha um bom final de semana abraccedilo e

(e) Prezado Vicente Martins Sou de Guineacute-Bissau estudante de Serviccedilo Social semestre 7deg de Faculdade Terra Nordeste - FATENECAUCAIA Podes contar com a minha participaccedilatildeo na sua pesquisa Mas gostaria de lhe salientar que faccedilo estagio no horaacuterio de manhatilde faculdade a tarde e outras atividades nos horaacuterios diferenciados Mas no momento estou de ferias na faculdade quer dizer que vou estar com disponibilidade de participar na pesquisa ateacute o final deste mecircs que eacute o fim das minhas ferias porque depois vou iniciar o meu trabalho de monografia o que vai consumir o meu tempo

Findo o processo de recrutamento dos participantes atraveacutes do Facebook contabilizamos mais de 200 estudantes africanos lusoacutefonos cabo-verdianos guineenses e angolanos interessados em participar da pesquisa o que nos levou a refinar mais uma vez a lista de potenciais sujeitos entre os que detinham mais tempo ou disponibilidade para as entrevistas ou em condiccedilotildees de deslocamento para conceder entrevista

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(modelo DID isto eacute Diaacutelogos entre Informante e Documentador ) de cerca de 1h 30min sem prejuiacutezo de suas atividades acadecircmicas Foram seis meses entre os primeiros contatos com os estudantes pelo Facebook e contatos por via celular e a conclusatildeo das gravaccedilotildees de aacuteudios com todos os sujeitos da pesquisa

O universo de sujeitos de nossa pesquisa envolveu inicialmente 32 africanos lusoacutefonos de Cabo Verde Guineacute-Bissau e Angola por serem estes paiacuteses africanos os que concentravam maior nuacutemero de estudantes-convecircnio no Cearaacute e estudantes matriculados agraves suas proacuteprias expensas em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior

Posteriormente para viabilizar o processo de transcriccedilatildeo dos aacuteudios tomamos a decisatildeo de reduzir o nuacutemero de paiacuteses (desconsideramos Angola por ter um nuacutemero reduzido de informantes entrevistados) caindo o nuacutemero de 32 para 20 informantes mantendo-se todavia ainda um nuacutemero elevado de transcriccedilotildees ortograacuteficas na ordem de mil folhas o que nos levou tambeacutem a diminuirmos o nuacutemero de itens dos testes que ateacute entatildeo eram de 45 para 18 expressotildees idiomaacuteticas ficando ao final 944 folhas de transcriccedilatildeo com 18 expressotildees idiomaacuteticas (incluindo as respostas relacionadas ao teste com imagens idiomaacuteticas) permitindo finalmente uma leitura mais detida do material transcrito e uma anaacutelise mais apurada das respostas dos informantes a partir de suas entrevistas concedidas ao pesquisador principal e agrave sua equipe de colaboradores (Mariana de Abreu Martins e Atiacutelia de Abreu Martins)

Para a anaacutelise dos dados dos experimentos psicolinguiacutesticos dividimos os informantes selecionados por paiacutes isto eacute Cabo Verde e Guineacute-Bissau em 4 grupos de 05 estudantes cada sendo

bull Grupo 1 (G1) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1234 e 5

bull Grupo 2 (G2) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 6789 e 10

bull Grupo 3 (G3) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 11121314 e 15

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bull Grupo 4 (G4) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1617 18 19 e 20

Levantamento de dados atraveacutes ficha dos informantes preenchida no dia da entrevista apontou para o seguinte quadro de representaccedilatildeo por paiacutes e curso

(a) 10 Alunos de cabo verde matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Comunicaccedilatildeo Social Publicidade e Propaganda Direito Engenharia Produccedilatildeo Mecacircnica Biotecnologia Engenharia Eleacutetrica Letras Medicina e Odontologia

(b) 10 alunos de Guineacute-Biassu matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Ciecircncias Contaacutebeis Direito Engenharia de Produccedilatildeo Mecacircnica Serviccedilo Social Engenharia Eleacutetrica Ciecircncias da Computaccedilatildeo e Letras

Como criteacuterios de exclusatildeo foram considerados os informantes com estes quatro preacute-requisitos (a) a natildeo assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil e (d) apresentarem uma postura natildeo cooperativa ou indiferente durante a aplicaccedilatildeo dos testes ou interferecircncia ocasional de circunstantes durante as gravaccedilotildees dos aacuteudios de modo a comprometer a qualidade das gravaccedilotildees e suas respectivas transcriccedilotildees ortograacuteficas Foram excluiacutedos 12 informantes que tinham pelo menos uma destas restriccedilotildees acima

Como criteacuterios de inclusatildeo foram considerados (a) a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) natildeo serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil informantes com ateacute quatro anos residindo no Brasil e(d) postura cooperativa durante a aplicaccedilatildeo dos testes e a natildeo interferecircncia ocasional de circunstantes na qualidade dos aacuteudios Observamos entre as caracteriacutesticas psicoloacutegicas dos informantes selecionados para a pesquisa as seguintes timidez vivacidade e perspicaacutecia

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Refinamento dos instrumentos da pesquisa Em nosso trabalho os preacute-testes com sujeitos nativos do

Portuguecircs Brasileiro (PB) aleacutem de nos terem possibilitado ajustes e detecccedilatildeo de incoerecircncias nos designs dos experimentos para estabelecermos graus de identificaccedilatildeo e memoacuteria fraseoloacutegicas e para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas puderam aumentar a validade do nosso instrumento da pesquisa agrave medida que imprimiram um caraacuteter rigoroso agrave metodologia de modo a evitar tomada de decisotildees aleatoacuterias

Durante a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes relativos aos trecircs experimentos com sujeitos nativos do portuguecircs brasileiro estudantes universitaacuterios da UFC e da UVA ainda natildeo eram suficientemente claros da nossa parte os passos ou procedimentos metodoloacutegicos da nossa pesquisa

Algumas perguntas nos inquietavam do tipo (a) como selecionar e categorizar as expressotildees idiomaacuteticas que vatildeo aparecer nos testes (b) uma vez selecionadas as expressotildees deveriam aparecer dentro de que tipo de gecircnero textual (jornais revistas) ou devem ser colocadas dentro de um texto que o pesquisador venha a construir em anunciados breves Que extensatildeo (nuacutemero de palavras) deveriam ter os textos em que as expressotildees vatildeo aparecer para a leitura dos informantes O experimentador identificaria a expressatildeo jaacute na pergunta do experimento ou solicitaria que apoacutes a leitura os informantes fizessem a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Uma vez sendo identificada a expressatildeo pelo informante ou pelo experimentador a pergunta seguinte deveria se referir agrave memoacuteria fraseoloacutegica ou agrave idiomaticidade semacircntica ou intralinguiacutestica levando em conta L1 e L2 Na tarefa relacionada agrave questatildeo de muacuteltipla escolha quantas alternativas deveriam ser submetidas aos participantes e quais os criteacuterios para elaboraccedilatildeo destas alternativas Como categorizar previamente as taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo Como natildeo aborrecer os informantes durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud em que a todo momento o experimentador solicitaria que pensassem em voz alta para que todos seus comentaacuterios fossem registrados nos aacuteudios digitais Na tentativa de resolver estas questotildees acabamos por desenvolver tarefas especiacuteficas para dirimir estas duacutevidas ao longo da aplicaccedilatildeo fdos testes experimentos

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procurando explicitar as quatro perguntas fundamentais da pesquisa numa sequecircncia rigorosa (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica - memoacuteria fraseoloacutegica - idiomaticidade fraseoloacutegica) fruto das observaccedilotildees e experiecircncias na anaacutelise dos dados dos preacute-testes

Em outras palavras ressaltamos que tendo em conta que a opacidade-transparecircncia depende das caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas (metaacuteforas literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo e do conhecimento de cada falante consideramos que uma expressatildeo idiomaacutetica de faacutecil reconhecimento pelo falante nativo natildeo eacute necessariamente faacutecil para um falante natildeo nativo E vice-versa

Procuramos com a seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas e a montagem dos testes assim refletir bem este zelo com um informante muito especial que em hipoacutetese nenhuma poderia ser visto por noacutes como um estrangeiro comum no Brasil por apresentarem um perfil singular satildeo falantes lusoacutefonos competentes em L2 (liacutengua portuguesa) falantes com L1 (crioulo) com base lexical em L2 residentes temporaacuterios no Brasil e com paiacuteses relativamente distintos com relaccedilatildeo agrave economia poliacutetica educaccedilatildeo e ao ensino do portuguecircs como liacutengua oficial

Durante a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com imagens idiomaacuteticas (terceira bateria de testes) observamos que os falantes nativos do PB eram capazes de reconhecer (ou natildeo) como de fato aconteceu as imagens que podiam evocar expressotildees idiomaacuteticas (ou outras unidades fraseoloacutegicas como proveacuterbios e parecircmias por exemplo) e associaacute-las diretamente ao sentido figurado que armazenam em sua memoacuteria o que nos indicaria que essa operaccedilatildeo assim dependeria sobretudo do que o falante recordava como expressotildees em sua liacutengua materna (liacutengua portuguesa na vertente brasileira)

Em outras palavras os dados do preacute-teste natildeo foram capazes de nos indicar se as expressotildees idiomaacuteticas eram transparentes ou natildeo jaacute que simplesmente os falantes nativos as armazenam em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam no seu cotidiano Por essa razatildeo quando elaboramos definitivamente os trecircs experimentos descartamos os informantes que lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

Reestruturamos os preacute-testes com imagens idiomaacuteticas e os convertemos em duas etapas na terceira bateria de testes de nossa pesquisa

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Cremos que se os falantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro diante de uma imagem de uma nova expressatildeo idiomaacutetica portanto natildeo previsiacutevel em sua liacutengua (no caso o crioulo) podem adivinhar parcial ou totalmente seu sentido figurado entatildeo isso poderia nos indicar que algo na imagem ajuda a chegar ao sentido figurado Desta forma para julgarmos o grau de transparecircncia-opacidade das expressotildees idiomaacuteticas natildeo consideramos as respostas dos nativos no preacute-teste O ineditismo do trabalho estaria pois em observarmos o comportamento verbal de informantes natildeo nativos que declarassem desconhecer a forma fixa e o sentido translato das expressotildees idiomaacuteticas

Os dados dos preacute-testes nos levaram a considerar o seguinte em nossa pesquisa a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica dependeraacute do contexto proposto O contexto poreacutem para um falante nativo pode ser ou natildeo clarificador em relaccedilatildeo ao sentido figurado ou idiomaacutetico de expressatildeo opaca No caso de um falante natildeo nativo o contexto conteacutem chaves semacircnticas para que chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica Por essa razatildeo as 45 expressotildees idiomaacuteticas utilizadas nas trecircs baterias de testes foram contextualizadas a partir de excertos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional

Posteriormente submetemos informalmente a trecircs estudantes africanos as trecircs baterias de testes Observamos que na segunda bateria e na terceira de testes uma expressatildeo idiomaacutetica posta em contexto ajudava mais que uma expressatildeo idiomaacutetica apresentada de forma isolada como ocorreu nos preacute-testes com os nativos

Se a expressatildeo eacute opaca um natildeo nativo do portuguecircs brasileiro como eacute o caso de um africano lusoacutefono natildeo teria a princiacutepio condiccedilotildees de descobrir o que eacute fora de contexto Em substacircncia fomos levados a reconhecer que o contexto realmente dirige a compreensatildeo e noacutes lusoacutefonos nativos e natildeo nativos de uma liacutengua portuguesa sempre construiacutemos o sentido Os resultados da pesquisa confirmaram que os sentidos idiomaacuteticos das expressotildees foram altamente dependentes do contexto construiacutedo

Vimos tambeacutem mesma expressatildeo idiomaacutetica pode natildeo ser compreensiacutevel num contexto (formal como em texto jornaliacutestico de circulaccedilatildeo nacional) e ser compreensiacutevel em outro (informal como por exemplo em exemplo dado pelo experimentador) Por essa razatildeo fomos levados a repensar as estrateacutegias top-down acrescentado duas delas AA (Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de

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alternativas de muacuteltipla escolha) e AT (Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal) para ajudar na codificaccedilatildeo das respostas dos informantes agraves perguntas dos testes

Os resultados da primeira fase dos preacute-testes foram bastante fraacutegeis porque as expressotildees idiomaacuteticas foram apresentadas aos participantes isoladamente mas como a discutirmos com os estudantes brasileiros especialmente os da aacuterea de Letras advertiram-nos que se as expressotildees fossem contextualizadas os dados seriam mais reveladores sobre os processos de compreensatildeo idiomaacutetica posto que o contexto desempenha importante papel na construccedilatildeo ou montagem do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacutetica

Convencidos da necessidade de utilizaccedilatildeo de contextos de uso na apresentaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas aos nossos informantes acreditamos que tal procedimento se constitui a rigor em um meacutetodo eficiente para a pesquisa sobre estrateacutegias de compreensatildeo com informantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro e que aleacutem de ser mais interessante tambeacutem pode nos oferecer melhores resultados ou respostas para os problemas desta investigaccedilatildeo como veremos mais adiante Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento

Para a realizaccedilatildeo deste experimento foram utilizados os

seguintes procedimentos a) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede CNS 19696 apresentado em voz alta pelo entrevistador antes das entrevistas e em seguida lido em voz silenciosa pelos informantes e depois de tiradas as duacutevidas devidamente assinado pelos mesmos As instruccedilotildees lidas aos participantes no momento da entrega deste documento natildeo faziam quaisquer menccedilotildees a aspectos metalinguiacutesticos da pesquisa como por exemplo a definiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica nem daacutevamos tambeacutem exemplos de locuccedilotildees verbais (o conjunto dos itens selecionado para a pesquisa) um dos tipos de expressotildees idiomaacuteticas escolhido para nossa investigaccedilatildeo

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b) Realizaccedilatildeo de uma bateria de testes ou experimentos psicolinguiacutesticos atraveacutes de quatro tarefas ou experimentos para coleta de dados obedecendo rigorosamente as etapas abaixo

(1) Tarefa 1 Teste e Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes apoacutes a leitura dos testes identificarem no texto a expressatildeo pluriverbal fixa isto eacute a forma fixa da expressatildeo idiomaacutetica (locuccedilatildeo verbal)

(2) Tarefa 2 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes antes da aplicaccedilatildeo do Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica declararem se lembravam ou haviam ouvido a expressatildeo ou se lembravam a expressatildeo mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico ou ainda se lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

(3) Tarefa 3 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica que consistiu em antes durante ou depois da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal os informantes atribuiacuterem sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo dada isto eacute apontar sua idiomaticidade semacircntica com ou sem Solicitaccedilatildeo de Informaccedilatildeo (SI) ou ajuda teacutecnica do experimentador e

(4) Tarefa 4 Teste de Verificaccedilatildeo de Estrateacutegias de Compreensatildeo que consistiu em capturar dos informantes durante a realizaccedilatildeo das entrevistas as estrateacutegias decorrentes do protocolo verbal de ajuda teacutecnica nas tarefas 1 2 e 4 de modo a evidenciar a frequecircncia de uso de estrateacutegias de compreensatildeo e as estrateacutegias bem-sucedidas relacionadas ao reconhecimento idiomaacutetico de seis expressotildees fixas

A primeira bateria de testes apresenta os seguintes itens meacutetodo (material) com suas etapas (familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando) Em seguida apresentamos seus objetivos especiacuteficos e os problemas e as hipoacuteteses a eles correlacionadas em cada uma das tarefas da bateria

Assim procedemos porque acreditamos que do ponto metodoloacutegico os objetivos e hipoacuteteses de uma pesquisa devem estar relacionados entre si e em torno dos problemas levantados (das questotildees de pesquisa) pertinentes ao objetivo de estudo

Para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos destas tarefas acima descritas submetemos os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia

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(Gloria Corpas Pastor Leonor Ruiz Gurillo Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Maria J Cuenca Pelegri Sancho Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Nina Crespo Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale Cleci Regina Bevilacqua Tatiana Rios e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin esta nossa orientadora) e psicolinguistas do Brasil e da Espanha ( Leonor Scliar Cabral Maria Elias Soares Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Luacutecia Fulgecircncio Alessandra Del Reacute Leacutelia Melo Sandra Antunes Marilei Amadeu Sabino Rosemeire Selma Monteiro-PlantinMariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Emilio Rivano Juan Pablo Larreta Zulategui e Florence Detry) ateacute que configuraacutessemos a versatildeo final o que nos levou ao longo deste processo agrave reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva Material e Procedimento de seleccedilatildeo

Como dissemos anteriormente o material e procedimentos de

seleccedilatildeo foram melhor refinados depois da aplicaccedilatildeo do preacute-teste a 50 alunos nativos do PB estudantes do Curso de Letras da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) em Fortaleza e da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) em Sobral Haviacuteamos inicialmente selecionado 55 expressotildees idiomaacuteticas todas locuccedilotildees verbais o que na fase dos testes da pesquisa se mantidas nesta totalidade tomariam muito tempo dos estudantes africanos e poderiam aborrececirc-los

Optamos por essa razatildeo pela reduccedilatildeo do nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas Entatildeo de 55 reduzimos para 45 o nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas para os trecircs testes elaborados para a pesquisa sendo que cada teste ficou com 15 itens Cada teste envolveu vaacuterias tarefas aleacutem da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal A ideia era a de ter em cada teste expressotildees suficientes para em um eventual corte termos condiccedilotildees de escolher as mais adequadas agrave pesquisa o que acabou acontecendo como descrevemos mais adiante

Vale salientar que a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes com os nativos do PB foi muito importante para a redefinirmos amiuacutede o material e procedimento de seleccedilatildeo dos informantes antes de fazermos a pesquisa de campo Haviacuteamos selecionado por exemplo para a primeira bateria de testes 15 expressotildees idiomaacuteticas subdivididas em 3 grupos (a) 1ordm grupo - brasileirismos ficar de queixo

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caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha e ver o sol (nascer) quadrado (b) 2ordm grupo - giacuterias chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga e tirar aacutegua do joelho (c) 3ordm grupo - popularismos aguentar o tranco bater as botas botar a boca no trombone sair com o rabo entre as pernas segurar as pontas

A seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas acima poreacutem mostrou-se pouco operante na fase final de seleccedilatildeo das expressotildees Jaacute observarmos durante anaacutelise dos dados dos preacute-testes aplicados aos nativos do PB que a divisatildeo em classes era contraproducente Assim abandonamos o criteacuterio lexicograacutefico de classificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (brasileirismos giacuterias popularismos) porque consideramos que este modelo de taxonomia lexicograacutefica natildeo atendia aos objetivos de nossa pesquisa sem deixarmos de mencionar que eram grupos ou classes que se superpunham isto eacute as classes propostas natildeo eram excludentes entre si

Na classificaccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais (Houaiss 2009 Aureacutelio 2009 e Sacconi 2010) uma expressatildeo era incluiacuteda na classe dos brasileirismos e outra na classe das giacuterias o que natildeo havia motivo de ordem linguiacutestica para tal procedimento Por exemplo a expressatildeo ldquomatar a cobra e mostrar o pau mostrarrdquo em um dicionaacuterio era classificada como um ldquobrasileirismordquo mas em outro dicionaacuterio recebia uma outra denominaccedilatildeo assim como ldquochutar o pau da barracardquo estaacute na classe das giacuterias e natildeo na mesma classe de ldquosair com o rabo entre as pernasrdquo assim por diante Realmente um impasse que precisava ser resolvido antes de aplicarmos os testes aos natildeo nativos do PB A distribuiccedilatildeo das expressotildees nas classes acima nos pareceu tambeacutem bastante arbitraacuteria Em uma fraseologia estaacutevamos a continuar com este modelo num beco sem saiacuteda

Diante desse embaraccedilo lexicograacutefico recorremos agrave praacutetica taxionocircmica presentes nas atuais pesquisas fraseoloacutegicas europeias nomeadamente hispacircnicas tendo a frente pesquisadores como Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p363-364) Olza Moreno (2011 p37-41) Luque Nadal ( 2012 p66-69) Mellado Blanco (2004 p15-40) o que nos levou a reclassificar as expressotildees do nosso estudo em zoomorfismos somatismos e especiais estas subdivididas dependendo do teste em botanismos indumentismos e gastronomismos

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No caso da 1ordf bateria de testes de reconhecimento ficamos com dois zoomofismos dois somatismos e dois botanismos assim excluindo as demais especiais (indumentismos e gastronomismos)

Seguindo a liccedilatildeo de Mellado Blanco (2004 p22) entendemos por zoomorfismos e somatismos as expressotildees idiomaacuteticas que contecircm pelo menos um lexema referente a nome de animais ou agrave parte do corpo humano respectivamente Nas especiais os botanismos satildeo expressotildees que trazem na sua formaccedilatildeo um lexema relacionado agrave botacircnica os indumentismos ao menos um lexema relacionado agrave vestimenta e gastronismos expressotildees idiomaacuteticas que tenham ao menos um lexema relacionado agrave arte culinaacuteria ou agraves refeiccedilotildees apuradas Os indumentismos foram utilizados na segunda e os gastronomismos na terceira bateria de testes

Como jaacute antecipamos em paraacutegrafo anterior para esta primeira bateria de testes dado o volume de informaccedilotildees contidas nas respostas agraves 15 expressotildees idiomaacuteticas contextualizadas registradas atraveacutes das respostas dadas pelos estudantes africanos lusoacutefonos agraves quatro tarefas selecionamos 06 delas para apresentaccedilatildeo destes dados classificadas conforme as taxionomias mais frequentes nas pesquisas fraseoloacutegicas atuais

Sendo assim o primeiro grupo foi formado por duas expressotildees zoomoacuterficas ou zoomorfismos matar cachorro a grito e pagar mico O segundo grupo foi formado de duas expressotildees somaacuteticas ou somatismos tirar aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone O terceiro grupo foi formado de duas expressotildees botacircnicas ou botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca

Para testarmos a frequecircncia das expressotildees idiomaacuteticas no Portuguecircs Brasileiro submetemo-las a um mecircs da data da aplicaccedilatildeo da primeira bateria de testes de reconhecimento idiomaacutetico ao Google Brasil obtendo os seguintes resultados (a) Zoomorfismos matarmatando cachorro a grito ( 247000 resultados) e pagarpagando mico (796000 resultados) (b) Somatismos tirartirando aacutegua do joelho (187000 resultados) e pocircr a boca no trombone ( 623000 resultados) e (c) Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa ( 215000 resultados ) e chutarchutando o pau da barraca( 654000 resultados) Como

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podemos observar todas as expressotildees tecircm uma frequecircncia de uso significativo nas mais diversas miacutedias no Brasil

Aleacutem do Google recorremos a obras especializadas para observamos o registro ou a presenccedila das referidas unidades fraseoloacutegicas nos dicionaacuterios de expressotildees idiomaacuteticas publicados no Brasil tendo ainda neles consultado as acepccedilotildees mais comuns com suas respectivas abonaccedilotildees como as presentes no Dicionaacuterio de locuccedilotildees e expressotildees da liacutengua portuguesa de Carlos Alberto de Macedo Rocha e Carlos Eduardo Penna de Rocha (2011) Afinal era preciso por parte do analista ter um conjunto de acepccedilotildees ou definiccedilotildees parafraacutesticas e abonaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para cotejar com as respostas dos informantes

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 06 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de situaccedilatildeo Desta maneira cada expressatildeo com seu contexto foi digitado em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Os participantes eram introduzidos agrave primeira bateria de testes com os seguintes textos extraiacutedos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional contendo as seguintes expressotildees idiomaacuteticas por categorias de classificaccedilatildeo Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Contexto de situaccedilatildeo Costuma-se pensar que artistas de modo

geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado de Satildeo Paulo 20032011)

Sentido idiomaacutetico encontrar-se em situaccedilatildeo aflitiva eou desesperadora estar sem dinheiro em difiacutecil situaccedilatildeo financeira dispondo-se a fazer qualquer coisa para dela sair

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Natildeo pagar mico Contexto de situaccedilatildeo Para quem natildeo quer pagar mico na escolha

de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012)

Sentido idiomaacutetico natildeo fazer besteira natildeo passar vergonha por situaccedilatildeo ridiacutecula

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Contexto de situaccedilatildeo Existem perguntas que alvez vocecirc soacute tinha

feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007)

Sentido idiomaacutetico urinar verter urina voluntaacuteria ou involuntariamente

Pocircr a boca no trombone Contexto de situaccedilatildeo Indignado com os desmandos em Chaval

uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog tambeacutem lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011)

Sentido idiomaacutetico Dar gritos berrar com estardalhaccedilo chorando advertindo etc reclamar em altos brados protestar revelar segredos contar tudo o que sabe

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Contexto de situaccedilatildeo A partir do dia primeiro de janeiro quando

for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210)

Sentido idiomaacutetico sofrer uma seacuteria liccedilatildeo sofrer um corretivo ou castigo em algueacutem demonstrar o proacuteprio valor

Chutar o pau da barraca Contexto de situaccedilatildeo Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso

Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes (In Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009)

Sentido idiomaacutetico mostrar-se irritado aborrecido impaciente abandonar desistir de um projeto Protocolo Verbal Think Aloud (TA)

Os experimentos off-line em psicolinguiacutestica experimental satildeo

baseados segundo Leitatildeo (2009 p223) em respostas dadas por indiviacuteduos apoacutes estes terem lido ou ouvido uma frase ou um texto permitindo que o pesquisador possa capturar reaccedilotildees e estiacutemulos linguiacutesticos quando jaacute houve uma integraccedilatildeo entre todos os niacuteveis linguiacutesticos (fonoloacutegico morfoloacutegico lexical fraseoloacutegico sintaacutetico semacircntico)

Esta metodologia experimental levou-nos entatildeo a formular um Protocolo Verbal do tipo think aloud tal qual o modelo de Cooper (1999) de experimentos similares ao que nos propusemos a esta pesquisa de modo que nos permitisse observar atraveacutes de um experimento off-line como os estudantes africanos lusoacutefonos processavam a identificaccedilatildeo a recordaccedilatildeo e a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute como verbalizavam o que lhes vinha agrave mente durante a realizaccedilatildeo das tarefas 1 2 3 e 4 da primeira bateria de testes

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Para uma pesquisa de processamento fraseoloacutegico por estudantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro cremos que o Protocolo Verbal por ser um meacutetodo introspectivo justifica-se por evitar interpretaccedilotildees ou afericcedilotildees difusas ou muito subjetivas no tocante ao processamento da compreensatildeo idiomaacutetica e tambeacutem o referido instrumento nos permite recolher com mais seguranccedila dados linguiacutesticos a partir de um processo de verbalizaccedilatildeo muito simples para os participantes tornando-se acessiacutevel a qualquer indiviacuteduo (TOMITCH 2008) e para o pesquisador empiricamente um instrumento facilitador quanto agraves atividades de transcriccedilatildeo e de codificaccedilatildeo das estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando-nos ainda levar a efeito vaacuterias tarefas psicolinguiacutesticas com objetivo de investigarmos a compreensatildeo idiomaacutetica dos falantes natildeo nativos

Os procedimentos do Protocolo verbal think aloud na primeira bateria de testes seguiram os mesmos passos metodoloacutegicos da pesquisa Cooper (1999) aplicada a 18 estudantes de Inglecircs como L2 nos EUA e os de outros estudos de L2 que tambeacutem adotaram a mesma metodologia psicolinguiacutestica (CHARTERS 2003 e BAHAMEED 2009 )

As tarefas foram registradas em gravador digital de voz (CXR190-2GE) posteriormente transcritas ortograficamente com notaccedilotildees das conversas ou comentaacuterios observados pelos transcritores e pelo entrevistador (pesquisador principal) de modo a oferecer dados para a identificaccedilatildeo recordaccedilatildeo e compreensatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas Transcriccedilatildeo de Dados

As vinte entrevistas dos sujeitos do experimento psicolinguiacutestico

foram transcritas na iacutentegra do gravador digital de voz produzindo 267 paacuteginas de degravaccedilatildeo em espaccedilo duplo contendo cerca de 25000 palavras Esta primeira bateria representou 41 das 944 paacuteginas transcritas das trecircs baterias de experimentos realizadas nesta pesquisa

Com o objetivo de agilizar o processo de transcriccedilatildeo dos 20 aacuteudios e manter a homogeneidade no tratamento dos dados instruiacutemos e constituiacutemos uma equipe de seis profissionais na aacuterea de Letras que

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juntamente com o pesquisador principal2 colaboraram com as transcriccedilotildees ortograacuteficas

Como a experiecircncia com Facebook na fase de recrutamento mostrou-se eficiente com objetivo de estimular a troca de ideias opiniotildees e tira-duacutevidas criamos um grupo fechado tambeacutem por esta miacutedia social denominado Grupo de Estudos e Transcriccedilotildees Ortograacuteficas (GESTO acesso por httpswwwfacebookcomgroupsfraseologiafref=ts) que contou com a participaccedilatildeo ativa dos seis membros ao longo de trecircs meses de atividades de transcriccedilatildeo

Aleacutem das instruccedilotildees do Alibi recorrermos agraves normas de transcriccedilotildees do NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta) elaborado por PRETI (2001 p11-12) descrito abaixo

Tabela 1 - Normas Para Transcriccedilatildeo ndash NURC

OCORREcircNCIAS SINAIS EXEMPLIFICACcedilAtildeO

Incompreensatildeo de palavras ou segmentos

( )

digamos entre aspas nesses bairros aqui ldquoAldeota Praia de Iracema Beira-Marrdquo sei laacute alguma ( ) confusatildeo assim natildeo

sei eu acho que ldquosoltar a frangardquo acho que seria arrumar

confusatildeo

Hipoacutetese do que se ouviu (hipoacutetese)

eu jaacute entendi hellip tem um outro ditado assim que na minha

terra a gente usa hellip e h tipo hellip (compra comprar sanino

dentro da cova) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip

Truncamento (havendo homografia usa-se acento indicativo da tocircnica e ou

timbre)

eacute hellip uma uma menina que tava eu natildeo tava assim dentro

do contexto que ele tava falando hellip soacute que eu tocirc

escutando hellip de queixo caiacutedo hellip

2 Esta atividade de transcriccedilatildeo soacute foi possiacutevel graccedilas agraves orientaccedilotildees dadas pela Dra Socorro Aragatildeo para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica de cinco informantes de Sobral cidade situada na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute para o Atlas Linguiacutestico do Brasil (Alibi) A partir desta experiecircncia com o Alibi pudemos aplicar os mesmos procedimentos de degravaccedilatildeo a nossa pesquisa

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Entonaccedilatildeo enfaacutetica Maiuacutesculas

PRONTO eu acho nesse caso comer com os olhos significa apreciar uma coisa alguma

comida gostar vocecirc jaacute estaacute comendo

Alongamento de vogal ou consoante (como s r)

podendo aumentar para

ou mais

Ao emprestarem os eacute o dinheiro

Silabaccedilatildeo - ((conversas ao longe))

aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae

Interrogaccedilatildeo ldquotirar mais aacutegua do

joelhordquovocecirc sabe me dizer o sentido

Qualquer pausa

ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais

aliviado

Comentaacuterios descritivos do transcritor

((minuacutesculas))

tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo

difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute

o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai

sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Comentaacuterio que quebram a sequecircncia temaacutetica da exposiccedilatildeo exposiccedilatildeo

desvio temaacutetico

-- -- ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir-- -- eacute justamente -- --

expressatildeo idiomaacutetica

Superposiccedilatildeo simultaneidade de voz

Ligando as linhas

ah hellip vocecirc passa por algueacutem e diz assim hellip cadecirc cadecirc o

Manuel hellip aiacute diz hellip rapaz o Manuel hellip pelo que eu sei

estaacute vendo o sol quadrado hellip o cara cometeu aquele crime hellip a justiccedila agora botou quente hellip a

poliacutecia veio em cima e ele agora taacute vendo o sol quadrado

hellip eu acho que ele vai passar e h

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tempo hellip vai passar uns dez anos laacute hellip ((barulho vozes ao

fundo algueacutem interpela o entrevistador que agradece a

essa pessoa))

Indicaccedilatildeo de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto

Natildeo no seu inicio por exemplo

((silecircncio)) ((silecircncio)) esse falta o povo

chutar o pau da barraca

Citaccedilotildees literais reproduccedilatildeo de discurso

direto ou leituras de textos durante a gravaccedilatildeo

ldquo rdquo

a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da

sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Entre as principais observaccedilotildees do NURC levamos em conta em

nossa pesquisa as seguintes a) As iniciais maiuacutesculas natildeo deveriam ser usadas em inicio de

periacuteodos turno e frases b) Expressotildees faacuteticas deveriam ser registradas pelos

transcritores tais como ah eacute eacute ahn eacute n uhn taacute c) Nomes comuns estrangeiros ou hipoacutetese da liacutengua crioula

grafados em negrito d) Nuacutemeros deveriam ser grafados por extenso e) Os transcritores natildeo deveriam indicar nas transcriccedilotildees o

ponto de exclamaccedilatildeo (frase exclamativa) ou o ponto de interrogaccedilatildeo (frase interrogativa) exceto as perguntas do entrevistador

f) Os transcritores natildeo deveriam fazer anotaccedilotildees ou comentaacuterios relativos ao cadenciamento da frase exceto casos bem evidentes de truncamentos

g) Os transcritores poderiam combinar sinais Por exemplo oh hellip (alongamento e pausa)

h) Os transcritores natildeo deveriam utilizar sinais de pausa tiacutepicos da liacutengua escrita como ponto-e-viacutergula ponto final dois pontos viacutergula As reticecircncias marcariam qualquer tipo de pausa

Eis um trecho de transcriccedilatildeo realizada pelo grupo Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica

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Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

Entrevistador fazer coisas baacutesicas Participante eacute ((risos)) talvez Entrevistador eacute muito bem eacute o quecirc te chama atenccedilatildeo

ah vocecirc ler a expressatildeo eacute ldquomatar cachorro a gritordquo ldquochutar o pau da barracardquo vocecirc ldquover o sol quadradordquo vocecirc apontou o quecirc que te chama atenccedilatildeo nestas frases que vocecirc taacute apontando

Participante satildeo () Entrevistador por que vocecirc apontou matar cachorro a grito e natildeo

outra Participante eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs

((risos)) essas palavras esses textos na verdade sei laacute vocecirc consegue associar alguma coisa mas assim por exemplo algueacutem natildeo tivesse nenhum conhecimento nem iria saber por exemplo aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia soacute fazendo que vocecirc entende eacute

Entrevistador muito bem obrigado Aleacutem de a equipe seguir os paracircmetros do NURC nas

transcriccedilotildees consideramos oportuno uma seacuterie de intervenccedilotildees esclarecedoras ao longo das atividades de modo a garantir um maior controle do trabalho enquanto grupo e a garantia dos mesmos mecanismos de tratamento e analise de dados mais adequados ao que pretendiacuteamos nesta pesquisa

Entre as instruccedilotildees oferecemos as seguintes (a) Primeira versatildeo realizaccedilatildeo da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo

na primeira audiccedilatildeo do aacuteudio gerando assim a versatildeo preliminar da transcriccedilatildeo isto eacute os transcritores deveriam iniciar o processo de degravaccedilatildeo a partir da primeira audiccedilatildeo do aacuteudio nessa primeira fase do processo de transcriccedilatildeo a pausa era dada a cada par de vozes (entrevistador participante) para que fosse feita a digitaccedilatildeo Orientaacutevamos para que quando houvesse alguma palavra ou termo em que o transcritor tinha ficado com duacutevidas ou natildeo lembrava na hora da transcriccedilatildeo deveriam preencher com tracinhos (- - - - -) para completaacute-los em segundo momento da transcriccedilatildeo

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(b) Segunda versatildeo aprimoramento da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo na segunda audiccedilatildeo do aacuteudio dando o transcritor continuidade agrave primeira degravaccedilatildeo do aacuteudio Orientamos que os transcritores ouvissem atentamente o aacuteudio para aprimorar o processo de degravaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ortograacutefica Nesta fase a segunda audiccedilatildeo requereria uma atenccedilatildeo redobrada e mais ativa por parte do transcritor Nessa fase tambeacutem o transcritor teria que voltar ao aacuteudio e ouvir novamente o teste no caso de duacutevidas Tambeacutem era o momento de preencher as lacunas que ficaram na primeira transcriccedilatildeo

(c) Terceira versatildeo realizaccedilatildeo da terceira audiccedilatildeo com objetivo de revisar o trabalho de transcriccedilatildeo jaacute alcanccedilado na segunda fase da transcriccedilatildeo Uma vez que todos os testes tivessem sido transcritos os transcritores deveriam ouvi-los mais uma vez para possiacuteveis correccedilotildees inclusive atentos ao emprego dos diacriacuteticos que deveriam ser assinalados jaacute na transcriccedilatildeo inicial

Consideramos tambeacutem ao longo do processo de transcriccedilatildeo fazer alguns lembretes aos transcritores quanto ao registro de suas impressotildees conforme sintetizamos a seguir

(a) Revisatildeo dos criteacuterios de pontuaccedilatildeo - usamos apenas o sinal de interrogaccedilatildeo nas falas iniciais do entrevistador as demais pausas de qualquer natureza eram sinalizadas por reticecircncias

(b) Registro de possiacuteveis ruiacutedos interrupccedilotildees e outras observaccedilotildees pertinentes que deveriam aparecer entre parecircnteses duplos (( ))

(c) Reproduccedilatildeo de todas as vozes mesmo as que natildeo conseguiam distinguir reproduzi-las entre ( ) e indicar em formato de comentaacuterio que se trata da hipoacutetese do que ouviu

(d) Reproduccedilatildeo das hipoacuteteses das falas em crioulo recorrendo em casos especiais a siacutembolos foneacuteticos para assegurar uma reproduccedilatildeo mais fiel da liacutengua africana

Por se tratar de uma transcriccedilatildeo ortograacutefica consideramos o segmento transcrito precedido ou natildeo de reticecircncia como a unidade de anaacutelise gramaticalmente admissiacutevel para ser pontuada como unidade linguiacutestica formada de acordo com as regras de construccedilatildeo das sentenccedilas de uma liacutengua

Segue abaixo o nuacutemero de palavras transcritas por grupos de informantes (1 2 3 e 4) que nos daacute uma ideia do esforccedilo que os informantes tiveram em cada uma das expressotildees idiomaacuteticas

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registradas no protocolo verbal considerando apenas o corpus da primeira bateria de testes

Tabela 2 ndash Nuacutemero de Palavras do Corpus

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

NUacuteMERO DE PALAVRAS

TOTAL M - CV

H - CV M - GB

H - GB

Matar cachorro a grito

1499 1195 1007 2358 6059

Natildeo pagar mico

1062 1087 1478 1987 5614

Tirar aacutegua do joelho

1442 764 908 1967 5081

Pocircr a boca no trombone 943 616 758 1063 3380

Chutar o pau da barraca 1760 987 1053 1420 5220

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1494 1055 1274 1263 5086

Total

8200 5704 6478 10058 30440

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4

Os dados relativos aos niacuteveis de e aos graus de memoacuteria

fraseoloacutegica (Tarefa 2) a partir dos comentaacuterios dos informantes nos protocolos verbais levaram-nos a recorrer a criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo de informantes para as tarefas 1 3 e 4 por expressatildeo idiomaacutetica 3

Foram excluiacutedos das referidas tarefas todos os informantes que foram considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Da mesma forma foram incluiacutedos todos os informantes considerados com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e os informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

Estes informantes os de niacuteveis meacutedio e baixo tiveram que atender ao pedido do experimentador para que atribuiacutessem sentido

3 Na cronologia de aplicaccedilatildeo das tarefas registrada no protocolo verbal think aloud as tarefas satildeo aplicadas em sequecircncia 1 2 3 e 4 A posteriori a Tarefa 2 passou a ser o paracircmetro para que pudeacutessemos selecionar os informantes que efetivamente teriam seus dados analisados e considerados nos caacutelculos relativos agraves meacutedias e desvios padratildeo nas demais tarefas

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translatiacutecio agrave expressatildeo idiomaacutetica contextualizada respostas que nos permitiram observar as estrateacutegias cognitivas a que recorreram para chegar ao conhecimento semacircntico da expressatildeo evidenciando-nos assim natildeo apenas as taacuteticas bottom-up e top-down usadas e as bem-sucedidas mas tambeacutem como se deu em termos de processamento fraseoloacutegico a transformaccedilatildeo da opacidade em transparecircncia semacircntica

Assim estabelecidos os criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo apresentamos as seguintes informantes consideradas na anaacutelise dos dados para as tarefas 3 e 4

(a)Na expressatildeo matar cachorro a grito excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 dois informantes situados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram considerados para Tarefa 3 e 4 trecircs informantes situados com niacutevel meacutedio de memoacuteria idiomaacutetica e 15 informantes situados como niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(b)Na expressatildeo natildeo pagar mico excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 10 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 10 participantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Natildeo houve portanto nesta situaccedilatildeo informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(c)Na expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho excluiacutemos 7 informantes considerados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos para anaacutelise dos dados das Tarefas 3 e 4 um informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 12 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(d)Na expressatildeo pocircr a boca no trombone excluiacutemos para as tarefas 3 e 4 13 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 sete informantes considerados de baixo niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(e)Na expressatildeo Saber com quantos paus se faz uma canoa foram excluiacutedos 9 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 dois informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e nove informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(f)Na expressatildeo chutar o pau da barraca excluiacutemos 4 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 1 informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 15 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

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Material do experimento O design do meacutetodo (material) do experimento psicolinguiacutestico

foi dividido em quatro partes familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando

(a) Familiarizaccedilatildeo o experimentador interagia com o sujeito e apresentava uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo contemplada no conjunto de expressotildees do experimento As expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para este experimento foram as seguintes ficar de queixo caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha ver o sol quadrado chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga tirar aacutegua do joelho aguentar o tranco bater as bota botar a boca no trombone meter o rabo entre as pernas e segurar as pontas

(b) Preacute-experimento o experimentador apresentava ao sujeito um exemplo bem parecido do que ao das tarefas aplicadas no teste com expressatildeo idiomaacutetica

Na primeiro momento um texto era assim apresentado O pessoal de esquerda anda preocupado com Hugo Chaacutevez O presidente venezuelano deu agora pra dizer que se natildeo haacute vida em Marte o capitalismo deve estar por traacutes disso Vai acabar botando minhoca na cabeccedila do Fidel Castro que como se sabe estaacute se despedindo da luta (In Humor Tutty O Estado de Satildeo Paulo 2703 2011)

Em seguida pediacuteamos que o informante o lesse em voz alta e faziacuteamos a primeira pergunta da tarefa inicial jaacute registrado em protocolo verbal apoacutes a leitura do texto neste cartatildeo vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica frase feita ou locuccedilatildeo verbal que funciona como uma unidade cujo sentido natildeo eacute literal Vocecirc lembra ou ouviu antes a expressatildeo idiomaacutetica identificada no texto dado

No segundo momento o experimentador aplicava a segunda tarefa deste experimento Vocecirc lembra ou ouviu a expressatildeo identificada e sabe seu sentido idiomaacutetico antes da aplicaccedilatildeo destes testes

No terceiro momento faziacuteamos perguntas como diga-me em voz alta qual o sentido da expressatildeo idiomaacutetica e como vocecirc fez para chegar a esse sentido O que a expressatildeo identificada quer dizer para

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vocecirc Diga-me em voz alta o pensamento que passa por sua mente como vocecirc descobriu ou tentou descobrir o sentido desta expressatildeo identificada

(a) Experimento durante aplicaccedilatildeo deste experimento reafirmamos aos participantes que estaacutevamos interessados em registrar os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Portuguecircs Brasileiro Informaacutevamos que suas respostas agraves perguntas deste experimento seriam pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei natildeo sei o que significardquo ldquonatildeo entendi a expressatildeordquo ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta

(b) Comando Vou dar-lhe 15 cartotildees um a um e vocecirc vai Pensar em Voz Alta e me dizer tudo que vocecirc estaacute pensando a partir da primeira vez que vocecirc ler o texto contido neste cartatildeo ateacute que me diga o que quer dizer a expressatildeo identificada por vocecirc (ou por mim) Para que pudeacutessemos estimular o diaacutelogo entre informante e experimentador diziacuteamos que algumas perguntas poderiam passar em sua mente depois de verem as expressotildees idiomaacuteticas do tipo Jaacute havia lido ou visto esta expressatildeo antes Jaacute sei o sentido de cor Como o contexto explica o sentido desta expressatildeo idiomaacutetica O sentido literal (ao peacute da letra) da expressatildeo tem alguma relaccedilatildeo com seu sentido figurado Seraacute que uma determinada palavra da expressatildeo foi o suficiente para eu poder dar seu sentido idiomaacutetico A expressatildeo idiomaacutetica me faz lembrar algo que ouvi algueacutem dizer antes E por fim diziacuteamos eu gostaria que vocecirc falasse em voz alta durante todo o tempo desde o momento em que lhe apresento cada expressatildeo contextualizada no cartatildeo ateacute vocecirc dar sua resposta final Por favor natildeo tente planejar o que vocecirc diz Basta agir como se vocecirc estivesse sozinho na sala falando para si mesmo Eacute mais importante que vocecirc continue falando Se vocecirc ficar em silecircncio por um periacuteodo longo de tempo vou pedir-lhe para falar

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RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

La fijacioacuten es arbitraria dese el punto de vista funcional es decir no encontramos ninguna explicacion semaacutentica ni sintaacutectica del tipo de fijacioacuten em cada caso concreto (ZULUAGA 1980 p99)

Para respondermos a esta pergunta da pesquisa aplicamos esta

Tarefa aos sujeitos da pesquisa com duraccedilatildeo meacutedia 36 minutos gravadas em aacuteudios digitais para posteriores transcriccedilotildees ortograacuteficas

Foi testada nesta tarefa a seguinte hipoacutetese de nossa pesquisa a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

As respostas dos informantes agrave principal pergunta da tarefa (ldquoApoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacuteticardquo Receberam uma pontuaccedilatildeo numa escala de 1 a 3 que nos permitiu atraveacutes doo caacutelculo de meacutedias e desvios padratildeo para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas o uma proposta de taxionomia para a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica e (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Os participantes tinham que pensar em voz alta e dizer tudo que estavam pensando a partir da primeira vez que olhavam ou liam as expressotildees idiomaacuteticas entregues uma a uma em 15 cartotildees contendo textos publicados em jornais de circulaccedilatildeo nacional (Folha de Satildeo Paulo Estado de Satildeo Paulo O Povo Diaacuterio do Nordeste Jornal do Brasil CorreioBraziliense)

Foram entregues aos participantes 15 cartotildees de cor amarela de tamanho 20 cm X 15 cm uma a uma contendo uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada e uma tarja preta cobrindo a pergunta do

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experimentador No caso de natildeo conseguir identificar a expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura em voz alta do texto o entrevistador solicitava ao participante que retirasse a tarja preta do cartatildeo e lesse a pergunta encoberta (por exemplo o que a expressatildeo bater as botas significa para vocecirc) o que levava portanto agrave identificaccedilatildeo da expressatildeo no texto dado

Mais precisamente depois da leitura do texto o entrevistador indagava ao participante se identificava alguma expressatildeo idiomaacutetica iniciando a partir deste momento a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud que consistiu em solicitar que os participantes falassem livremente ou pensassem em voz alta enquanto respondiam a questatildeo feita pelo pesquisador

Partindo do pressuposto de que a fixaccedilatildeo fraseoloacutegica (ou fixaccedilatildeo formal) e a idiomaticidade semacircntica (ou fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica) satildeo essenciais agraves unidades fraseoloacutegicas (UFs) e lhes asseguram o traccedilo ou caraacuteter de convencionalidade ou institucionalizaccedilatildeo o objetivo desta tarefa foi verificar como os participantes identificavam as expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil estabelecendo a partir dos dados coletados em suas respostas uma tipologia de formas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Mais adiante ao cruzarmos os dados com a tarefa 3 ocupar-nos-emos em verificar se expressotildees identificadas pelos participantes sejam elas modificadas ou natildeo precisariam natildeo apenas do apoio do contexto (Estrateacutegia AC) mas da ajuda teacutecnica (SI) do pesquisador Jaacute podemos adiantar que em todas as expressotildees idiomaacuteticas deste experimento psicolinguiacutestico os participantes requereram a ajuda teacutecnica (SI) Da mesma forma veremos na tarefa 4 se as expressotildees identificadas e as natildeo identificadas pelos informantes apoacutes a leitura do texto correspondem as mesmas expressotildees natildeo compreendidas ou as compreendidas pelos participantes

Segundo Alvarado Ortega (2010 p28) a fixaccedilatildeo formal e a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (esta aqui nesta pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) se associam com a ideia de institucionalizaccedilatildeo que anuncia Corpas Pastor (1996 p21) Assim sendo a noccedilatildeo que damos aqui agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica refere-se agrave estabilidade em sua reproduccedilatildeo e na frequecircncia de uso que apresentam as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) de modo geral e nas locuccedilotildees verbais em particular

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Tendo em vista que o objetivo desta tarefa era os participantes identificarem formalmente a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute anunciassem ao experimentador a fixaccedilatildeo formal da expressatildeo conforme as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) e Alvarado Ortega (2010) ficou estabelecida para definiccedilatildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica previamente a seguinte pontuaccedilatildeo que variou de 1 a 3 pontos incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo (1 ponto ) (b) parcialmente correta ou meacutedia identificaccedilatildeo (2 pontos) e (c) correta ou faacutecil identificaccedilatildeo (3 pontos)

Esta pontuaccedilatildeo se tornou necessaacuteria para calcularmos em Excell as meacutedias individuais do desempenho dos informantes por expressatildeo bem como obtermos os valores dos Desvios Padratildeo e as meacutedias das meacutedias e de posse destes dados ou valores podermos definir juntamente na tarefa 3 o grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica (ou opacidade semacircntica) contando para isso com o inventaacuterio de estrateacutegias bem (e mal sucedidas) no processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes

Na primeira situaccedilatildeo considerada incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador as respostas dos informantes agrave tarefa foram codificadas no Corpus Afri com a sigla GF-IC (Grau de Fixaccedilatildeo - Incorreta) em que o informante apoacutes a leitura declarava natildeo saber ou natildeo identificar nenhuma expressatildeo idiomaacutetica no texto dado Nesta posiccedilatildeo em alguns casos o informante apontava um trecho ou uma palavra ou expressatildeo fixa presente no texto como casos de locuccedilotildees nominais colocaccedilotildees ou compostos (como por exemplo reportagem custo-benefiacutecio na tarefa na qual a expressatildeo em foco era matar cachorro a grito) mas que natildeo consideraacutevamos como respostas vaacutelidas para uma pontuaccedilatildeo significativa na pesquisa

Neste caso recebeu um 1 ponto numa escala de 1 a 3 e esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Na segunda situaccedilatildeo assinalada como parcialmente correta ou de meacutedia identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no corpus das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada no Corpus Afri com a sigla GF-PC (Grau de Fixaccedilatildeo - Parcialmente Correta) em que o informante apoacutes a leitura citou a expressatildeo idiomaacutetica pretendida ou esperada no texto mas a alterou com algum tipo de inserccedilatildeo supressatildeo ou substituiccedilatildeo de componentes comprometendo a noccedilatildeo

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canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Por exemplo no texto em que o pesquisador esperava a identificaccedilatildeo de tirar mais aacutegua do joelho o informante anunciou soltar mais aacutegua do joelhordquo onde podemos observar a substituiccedilatildeo da palavra tirar por soltar preservando restante da expressatildeo ou em outros casos citou apenas mais aacutegua do joelho ou aacutegua do joelho permitindo todavia em qualquer dos casos a recuperaccedilatildeo da forma canocircnica

Neste caso acima a resposta do informante recebeu 2 pontos numa escala de 1 a 3 e denominamos esta situaccedilatildeo de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica uma vez que as alteraccedilotildees fraseoloacutegicas foram todas por reduccedilatildeo ou elisatildeo

Na terceira situaccedilatildeo apontada como correta ou de faacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no conjunto das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada com a sigla GF-CO (Grau de Fixaccedilatildeo-Correta) em que o informante apoacutes a leitura apontou o bloco ou grupo fraseoloacutegico tal qual aparece no texto

Nessa posiccedilatildeo acima foram trecircs situaccedilotildees consideradas plenamente corretas

(a) quando o informante apontou a fixaccedilatildeo formal na sua forma canocircnica ou dicionarizada ou tal qual aparecia no co(n) texto de situaccedilatildeo

(b) quando o informante apontou o trecho em que aparecia a expressatildeo idiomaacutetica como parte da oraccedilatildeo uma vez que uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo se constitui por si soacute uma frase cabal e

(c) quando o informante anunciava uma variante fraseoloacutegica em sua L1 (crioulo) equivalente a que aparecia no texto dado seja em L2 (por exemplo engolir sapo ou engolir o peixe pelo rabo) ou em L1 (por exemplo cume ku odjo por comer com o olho)

Um dado curioso a observar eacute que para a identificaccedilatildeo de expressatildeo pocircr a boca no trombone alguns vacilaram quanto agrave forma canocircnica ao afirmar eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone helliprdquo Neste caso consideramos a identificaccedilatildeo correta por se tratar apenas de um caso de variaccedilatildeo fraseoloacutegica de ordem lexical botarpocircr a boca no trombone recebendo 3 pontos (pontuaccedilatildeo maacutexima) Esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Do ponto de vista teoacuterico para a realizaccedilatildeo desta tarefa 1 levamos em conta as condiccedilotildees necessaacuterias descritas por Cermak

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(1998 p 144-145) para a correta identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em um texto

(a) a combinaccedilatildeo textual indicada pelos participantes teria que ser considerada estaacutevel ou fixa por haver sido ouvida ou lida mais de uma vez anteriormente agrave tarefa

(b) a combinaccedilatildeo textual escolhida pelos participantes deveria permitir algum tipo de variaccedilatildeo leacutexica ou paradigmaacutetica ou gozasse de uma relativa liberdade combinatoacuteria sem que afetasse seu sentido global (por exemplo pocircrbotar a boca no trombone) ou produzisse outra expressatildeo idiomaacutetica (por exemplo pagar mico natildeo aceitamos como sinocircnimo pagar o mico) uma vez que soacute aceitariacuteamos uma expressatildeo idiomaacutetica equivalente anunciada na L1 dos participantes (crioulo cabo-verdianoguineense) desde que pudesse recuperar o mesmo sentido idiomaacutetico da equivalente em L2 e

(c) a combinaccedilatildeo escolhida pelos participantes teria necessariamente a presenccedila de uma metaacutefora ou um grau de opacidade ou de natildeo composicionalidade semacircntica um traccedilo muito frequente das locuccedilotildees verbais estas por sua vez um dos muitos tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Para respaldar ainda mais as etapas propostas por Cermak (1998) em nossa pesquisa fomos agraves teorias fraseoloacutegicas para evidenciar as trecircs das propriedades baacutesicas e definitoacuterias das locuccedilotildees verbais a que iriacuteamos tratar nesta Tarefa 1 e na Tarefa 3 em particular a saber

(a) a pluriverbalidade ou polilexicalidade entendida como a combinaccedilatildeo estaacutevel formada por dois ou mais componentes que aparecem separados na escrita como assinala Casares ([1950] 1969 p 170 Gross (1996 p 9-10) Corpas-Pastor (1996 p19-20) Montoro Del Arco (2006 p35-38) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 23-34)

(b) a fixaccedilatildeo formal compreendida como a estabilidade formal ou interna das expressotildees idiomaacuteticas na ordem de seus componentes em suas categorias gramaticais no inventaacuterio de seus componentes a que faz alusatildeo Casares ([1950] 1969 p210-211) Zuluaga (1975p 227-2281980 p95-110) Corpas Pastor (1996 p 23-24) Alvarado Ortega (2010 p27-28) Mejri (2012 p139-156) e Garratildeo (2012 p125-131)

(c) a estrutura natildeo oracional na qual a locuccedilatildeo natildeo pode ter estrutura de oraccedilatildeo sintaticamente completa concepccedilatildeo tradicional

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apresentada por Casares ([1950] 1969 p 170) e traccedilo plenamente aceito pela fraseologia contemporacircnea

Nesta tarefa verificamos o grau de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica dentro de uma escalaridade por essa razatildeo as respostas dos participantes foram categorizadas por niacutevel de dificuldade (faacutecil meacutedia e difiacutecil identificaccedilatildeo)

Os dados coletados para a Tarefa 1 a partir do protocolo verbal apontaram que os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas individualmente variaram de 120 a 275 (ver tabela 1)

Como dissemos anteriormente para que pudeacutessemos considerar uma resposta correta os informantes durante a tarefa deveriam atender plenamente aos trecircs preacute-requisitos formais e caracterizadores das locuccedilotildees verbais a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo formal e a estrutura natildeo oracional

Pelos dados da tabela podemos observar que a uacutenica expressatildeo considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo foi pagar mico

As expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo ofereceram grandes obstaacuteculos para serem identificadas pelos participantes

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram as trecircs mais faacuteceis de serem identificadas pelos participantes

Em uma pesquisa com participantes natildeo nativos de uma liacutengua sobre o processamento fraseoloacutegico ou mais precisamente relacionada aos processos de compreensatildeo idiomaacutetica os dados de nossa pesquisa levam-nos a crer que a identificaccedilatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada lida ou ouvida pelo participante eacute uma habilidade linguiacutestica que tem forte dependecircncia da competecircncia fraseoloacutegica intercultural do leitor ou do falante em L2 o que repercutiraacute certamente na sua compreensatildeo idiomaacutetica

Acolhemos pois a hipoacutetese de que a competecircncia fraseoloacutegica dos usuaacuterios eacute um fator de opacidade nas locuccedilotildees verbais (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p 244)

A noccedilatildeo de identificaccedilatildeo aplicada agrave fraseologia corresponderia agrave segmentaccedilatildeo de acordo com a gramaacutetica de constituintes imediatos presente nas teorias da linguiacutestica estrutural procedimento que consistiria em os falantes nativos ou natildeo nativos terem a capacidade de segmentar o enunciado ou texto isto eacute dividi-los em unidades

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pluriverbais e discretas Por exemplo uma expressatildeo como ver com quantos paus se faz uma canoa poderiacuteamos segmentaacute-la em vercom quantos pausse faz uma canoa e assim por diante reduzindo-a portanto a diversos niacuteveis sintagmaacuteticos

Nesta tarefa do experimento psicolinguiacutestico podemos comprovar empiricamente que muitos componentes lexicais das expressotildees resultavam por completo desconhecidos para muitos participantes como por exemplo mico linguiccedila joelho manguinhas seda e siri

Sem a identificaccedilatildeo destas palavras por eles consideradas estranhas ou diferentes a despeito da habilidade de discriminar as palavras em seus contornos visuais ou formais a referida habilidade natildeo resultava em acesso agrave forma fraseoloacutegica e com essa restriccedilatildeo um bloqueio tambeacutem ao seu sentido idiomaacutetico

Em substacircncia pareceu-nos que uma limitaccedilatildeo na identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica significava para muitos participantes uma diminuiccedilatildeo significativa na sua habilidade ou capacidade de ativar esquemas cognitivos relacionados agrave idiomaticidade semacircntica e de relacionar a expressatildeo agrave sua proacutepria experiecircncia de leitor ouvinte e falante em L2 (estrateacutegias top-down conforme veremos mais adiante)

Vimos ao longo da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que em muitos casos apesar de decodificarem as palavras desconhecidas no texto lido natildeo chegavam agrave sua analisabilidade ou composicionalidade muito menos agrave noccedilatildeo do sentido caracterizado pela natildeo composicionalidade semacircntica Ainda assim o processo de leitura do texto pelos participantes nesse caso era flagrantemente lento sofriacutevel por vezes inaudiacutevel com repercussatildeo imediata na tentativa enganosa ou equiacutevoca de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora pudessem identificar outras unidades maiores do que a palavra mas quebrando a expectativa do analista

Dizendo de outra maneira cremos que a identificaccedilatildeo de uma palavra ou componente leacutexico de uma expressatildeo idiomaacutetica em texto em menor meacutedio ou maior grau de dificuldade desemboca no leitorouvintefalante algum grau de sentido de expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou natildeo familiar Eacute verdade que a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por si soacute natildeo garante o acesso ao sentido idiomaacutetico mas uma vez identificada a expressatildeo os participantes satildeo

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beneficiados na sua busca seletiva de estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (top-down) rumo ao sentido pretendido

Em termos de percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por participantes os valores variaram de 40 a 90

Para matar cachorro a grito e natildeo pagar mico 85 e 40 dos informantes respectivamente identificaram corretamente aos dois zoomorfismos

Para os somatismos tirar (mais) aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone os percentuais de identificaccedilatildeo correta foram de 60 em ambas as expressotildees

No caso dos botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca os percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram de 40 e 90 respectivamente

Os dados coletados revelaram que nesta tarefa os falantes natildeo nativos quando solicitados a identificar a expressatildeo apoacutes a leitura do texto dado acrescentaram o sujeito agrave expressatildeo isto eacute natildeo a isolaram como era nossa primeira (ou ingecircnua) expectativa em suas respostas Normalmente os analistas esperaram que os falantes sejam nativos ou natildeo nativos ao serem solicitados sobre a identificaccedilatildeo de uma unidade fraseoloacutegica em um texto escrito ou oral simplesmente deem respostas prontas assim como satildeo as frases feitas como unidades abstratas no campo fraseoloacutegico preacute-fabricadas cristalizadas e memorizadas na mente dos falantes

Expressas na boca dos falantes as frases feitas quando satildeo proferidas ou ouvidas em discurso com pequenas alteraccedilotildees ou variaccedilotildees que natildeo afetam agrave comunicabilidade exigiratildeo dos interlocutores naturalmente conexotildees gestaacutelticas para que percebam que a unidade fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) se acha em determinadas relaccedilotildees com suas partes (variaccedilotildees)

Nas primeiras respostas nossos participantes anunciaram um pedaccedilo do texto lido que natildeo podia ser computaacutevel literalmente todavia a habilidade de identificar a expressatildeo e estabelecer seus limites resultava em complicada ou complexa tarefa linguiacutestica conforme podemos observar mais adiante nas respostas dos informantes consideradas incorretas ou parcialmente incorretas

Os comentaacuterios dos falantes no protocolo verbal disseram-nos muito do que desejam que tenham ou faccedilam sentido quando respondem questotildees relacionadas agrave identificaccedilatildeo e agrave idiomaticidade

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fraseoloacutegicas Nesse sentido em vez de isolarem um trecho gramaticalmente incompleto como saber com quantos paus se faz uma canoa (que nem inclui tempo verbal) os falantes acrescentaram o tempo e completaram a diaacutetese verbal incluindo o elemento faltante que eacute o sujeito e assim deram sentido completo a suas respostas (ou seja a diaacutetese verbal ficou toda preenchida) e o trecho soava entatildeo sintaacutetica e semanticamente aceitaacutevel ou simplesmente viaacutevel 1

Interessante observar que os textos mais ou menos longos 2 os falantes souberam localizar o que era idiomaacutetico e o que natildeo era O que queremos dizer eacute que enquanto esperaacutevamos que os participantes apontassem apoacutes a leitura saber com quantos paus se faz uma canoa assinalaram como idiomaacutetico o trecho a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo o trecho o que ele quer eacute continuar mandando presente no texto Ou seja os falantes sabiam competentemente apontar ou identificar corretamente o trecho onde se encontrava uma sequecircncia idiomaacutetica

Para Fulgecircncio (2008 p77) a identificaccedilatildeo de estruturas ldquoprontasrdquo memorizadas em grupo diz muito da competecircncia linguiacutestica dos falantes A autora nos coloca tambeacutem que a distinccedilatildeo entre sintagma computaacutevel sequecircncia idiomaacutetica natildeo eacute soacute um tipo de anaacutelise abstrata mas faz parte real da competecircncia linguiacutestica do falante Em outras palavras esta tarefa submetida aos participantes veio mostrar a realidade psicoloacutegica dos fenocircmenos linguiacutesticos evidenciando em dados empiacutericos que natildeo eacute soacute uma teorizaccedilatildeo mas faz parte de como o ceacuterebro estaacute estruturado

Fulgecircncio (2008 p293-340) nos diz que as locuccedilotildees verbais natildeo funcionam como elementos oracionais Segundo ela as locuccedilotildees natildeo satildeo oraccedilotildees inteiras e sim um sintagma verbal [V+complemento] Deste modo ao localizar o trecho onde se encontra a sequecircncia idiomaacutetica o falante completa a diaacutetese

1 A questatildeo da diaacutetese verbal nas expressotildees fixas foi suficientemente explorada em Fulgecircncio (2008) e Perini (2008) Agradecemos agrave Fulgecircncio seus comentaacuterios e sugestotildees quando submetemos nossas primeiras reflexotildees sobre diaacutetese agrave sua apreciaccedilatildeo linguiacutestica 2 O texto que traz a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa utilizado nesta tarefa refere-se a um comentaacuterio sob o tiacutetulo Lula transformaraacute a vida de Dilma em um inferno revecirc Pliacutenio com t12 linhas e 76 palavras assinado por Braz dos Santos leitor do Jornal do Brasil (JB) e publicado no Caderno Paiacutes do Jornal do Brasil (JB) em 171210

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verbal com o sujeito para oferecer um trecho gramaticalmente completo e apresentar uma sequecircncia compreensiacutevel mas isso natildeo quer dizer segundo a linguista que a expressatildeo eacute toda a oraccedilatildeo nem que funciona como uma oraccedilatildeo

Zuluaga (1975 p244) foi um dos primeiros fraseoacutelogos a observar quanto ao comportameno verbal dos falantes nativos no uso espontacircneo ou social da liacutengua sua capacidade de identificar quando as expressotildees idiomaacuteticas sofrem modificaccedilotildees formais ou satildeo alteradas no discurso

Haacute na capacidade de o falante identificar uma alteraccedilatildeo fraseoloacutegica um niacutevel alto e apurado de refinamento de intuiccedilatildeo linguiacutestica isto eacute essa capacidade que temos enquanto falantes nativos de uma liacutengua dada de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na liacutengua bem como de interpretaacute-las e de identificar a equivalecircncia com outra frase seja em L1 ou L2

Segundo Zuluaga (1975) a reaccedilatildeo dos falantes nativos diante de uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de costumeiramente corrigir a alteraccedilatildeo ou identificar nela o cumprimento de determinadas funccedilotildees estiliacutesticas isto eacute dos chamados niacuteveis de discurso Eacute portanto atraveacutes de sua intuiccedilatildeo linguiacutestica ou de uma leitura proficiente ou escuta ativa que o falante nativo torna-se naturalmente um proficiente da sua liacutengua

Jaacute para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p25-26) a fixaccedilatildeo entre outros traccedilos eacute uma foacutermula memoraacutevel estando assim disponiacutevel para seu emprego ou repeticcedilatildeo no processo discursivo no qual o falante deseja expressar um conteuacutedo que jaacute estaacute condensado nela Corroborando com esta postulaccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez acreditamos que ao certo por traacutes de tudo isso haja um princiacutepio de economia linguiacutestica que governa as leis do menor esforccedilo na comunicaccedilatildeo espontacircnea ou criativa

Por causa da fixaccedilatildeo nem toda expressatildeo fixa ou idiomaacutetica no uso social da liacutengua requer ser citada ou anunciada em sua totalidade senatildeo em parte Por exemplo expressotildees com a pulga atraacutes da orelha e o rabo entre as pernas sem os verbos ficardeixar e ficarsair respectivamente no buscador Google Brasil registrou 1940000 e 1090000 resultados 3 respectivamente

3 Registro em 25 de julho de 2013

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Como nativos da liacutengua portuguesa sabemos ainda que em nossa L1 as expressotildees de uso frequente e estilisticamente expressivas no cotidiano especialmente as grandes miacutedias em geral vecircm acompanhadas de seus respectivos e variados verbos deve estar estarandarficar com a pulga atraacutes da orelha e meterenfiarestar comir comvoltar comcolocar o rabo entre as pernas Aqui caberia o ditado popular para bom entendedor meia palavra basta (= aquele que estaacute a par de um assunto natildeo precisa de muita explicaccedilatildeo)

Ao tratar sobre este fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica Zuluaga (1975 p 244) diz que nesses casos basta o falante mencionar expressamente somente uma parte de cada uma das expressotildees para evocaacute-las completamente fator que se deve segundo ele agrave fixaccedilatildeo

Das diversas formas que uma expressatildeo pode ser alterada a reduccedilatildeo eacute um fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica ou mais precisamente da fixaccedilatildeo que pode ser explicado pelo princiacutepio da teoria da comunicaccedilatildeo em que por ela diz-se que a quantidade de informaccedilatildeo de um signo em um contexto dado eacute definida como uma funccedilatildeo de sua probabilidade de ocorrecircncia no dito contexto Da mesma forma a maior probabilidade de ocorrecircncia redundaraacute em menor conteuacutedo informativo e maior grau de redundacircncia

A omissatildeo ou a reduccedilatildeo de componentes das expressotildees natildeo ocasiona perda de informaccedilatildeo no texto uma vez que fixaccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica tende a ocorrer inevitavelmente Podemos observar este fenocircmeno nos nossos estudos certamente depois de os informantes terem lido no texto dado para leitura anterior portanto ao pedido feito pelo entrevistador para que procedessem com a identificaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

Nos exemplos que vamos comentar a seguir assinalamos esses casos como parcialmente correto porque consideramos que uma locuccedilatildeo verbal objeto de nossa pesquisa deve vir com sua diaacutetese verbal preenchida embora saibamos a partir da frequecircncia de uso comprovada por um expressivo nuacutemero de ocorrecircncias a quantidade de informaccedilatildeo que ancora eacute nula isto eacute totalmente redundantemente e portanto natildeo necessita ser expressa materialmente para que o sentido global ou idiomaacutetico de toda a expressatildeo se faccedila presente ou seja evocada pelos falantes sejam nativos ou natildeo nativos

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A questatildeo da variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute uma categoria que de haacute muito tem preocupado os teoacutericos A fixaccedilatildeo e a variaccedilatildeo satildeo duas categorias fraseoloacutegicas que satildeo interligadas No estruturalismo claacutessico especialmente o de Saussure a ideia de fixaccedilatildeo era de um traccedilo imudaacutevel ou imexiacutevel Saussure ao se referir agraves locuciones toutes faites ou frases feitas foi um dos primeiros estruturalistas a observar o caraacuteter de fixidez das combinaccedilotildees preacute-fabricadas ao afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas ([1916] 2012 P173)

Esta propriedade da fixaccedilatildeo supotildee uma suspensatildeo da aplicaccedilatildeo das regras de combinaccedilatildeo dos elementos do discurso a que Coseriu ([1977] 1981 p113-118) chamou de discurso repetido Coseriu ([1977] 1981) ao se referir a discurso repetido corresponde agrave noccedilatildeo de locuciones toutes faites de Saussure como dissemos caracterizadas pelo natildeo improviso isto eacute eram fornecidas pela tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica

Ainda na deacutecada de 70 a noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica passou a ser entendida como a propriedade que tem certas expressotildees de ser reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas (ZULUAGA 1975 p230)

Em outras palavras Zuluaga (1975) assinala que o processo de formaccedilatildeo de uma expressatildeo fixa natildeo pode ser explicado mediante regra de sintaxe proacutepria das combinaccedilotildees livres A frequecircncia de uso de uma expressatildeo fixa e seu emprego repetido por parte da comunidade linguiacutestica ocasionaria a fixaccedilatildeo da unidade em uma forma determinada em geral canonicamente registrada nos dicionaacuterios gerais

A fraseologia contemporacircnea avanccedilou muito nos uacuteltimos anos com relaccedilatildeo agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Apesar de a fixaccedilatildeo ser considerada uma propriedade essencial das expressotildees fixas natildeo o para todas as unidades fraseoloacutegicas posto que por exemplo no caso das expressotildees idiomaacuteticas estas podem ser idiomaacuteticas mas natildeo canonicamente fixas enquanto as expressotildees fixas podem natildeo ser idiomaacuteticas

O conjunto que forma o corpus das expressotildees idiomaacuteticas desta pesquisa aleacutem de idiomaacuteticas ou seja caracterizarem-se pelo princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica satildeo tambeacutem fixas mas em muitas delas com suas variaccedilotildees fraseoloacutegicas o que

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comprova sua fixaccedilatildeo formal ou institucionalizaccedilatildeo Graccedilas agrave fixaccedilatildeo das expressotildees podemos falar em variaccedilatildeo fraseoloacutegica um fenocircmeno bastante frequente no discurso portanto na perspectiva do falante

Pelo menos trecircs das seis expressotildees idiomaacuteticas deste experimento estatildeo modificadas comparadas agrave sua fixaccedilatildeo canocircnica (dicionarizada) (a) pagar mico aparece com sua polaridade negativa natildeo pagar mico (b) tirar aacutegua do joelho comparece com a inserccedilatildeo do adveacuterbio mais ficando com a forma tirar mais aacutegua do joelho e (c) mostrar com quantos paus se faz uma canoa eacute modificada com substituiccedilatildeo lexical em saber com quantos paus se faz uma canoa

Conforme veremos mais adiante a variaccedilatildeo fraseoloacutegica natildeo significa a mudanccedila completa da expressatildeo idiomaacutetica de modo que natildeo deixem marcas ou pegadas da forma cristalizada anteriormente Como diz Molina Garciacutea (2006 P99) a noccedilatildeo de variaccedilatildeo ou variabilidade aplicada a uma unidade fraseoloacutegica requer que uma parte da unidade deva ficar sem alteraccedilatildeo de que forma que a UF seja reconhecida ou diriacuteamos de outra maneira possa ser evocada a partir da memoacuteria fraseoloacutegica ou de longo prazo dos falantes

A questatildeo da fixaccedilatildeo ou variabilidade fraseoloacutegica na deacutecada de 70 foi abordada por Fraser (1970 p39) um dos primeiros teoacutericos a observar um potencial modificador nas locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas em escala de sete niacuteveis da maior agrave menor possibilidade de realizaccedilatildeo de mudanccedila ou modificaccedilatildeo (niacutevel 6 - natildeo-restritividade niacutevel 5 - reconstituiccedilatildeo niacutevel 4 - extraccedilatildeo niacutevel 3 - substituiccedilatildeo niacutevel 2 - inserccedilatildeo niacutevel 1 - adjunccedilatildeo e o niacutevel 0 - completo congelamento)

Apesar da escala de sete niacuteveis proposta por Fraser receber criacuteticas de muitos fraseoloacutegos tendo na linha de frente Zuluaga (1975) sua proposta ao certo influenciou na evoluccedilatildeo dos estudos sobre o fenocircmeno da variabilidade fraseoloacutegica

Neste particular passou-se por exemplo a diferenciar a noccedilatildeo de variante e a de modificaccedilatildeo Assim numa perspectiva do falante nativo ou natildeo nativo questotildees que passaram a ser colocadas eram se o falante ao produzir uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica realizaria tal mudanccedila ou variaccedilatildeo de forma consciente ou a variaccedilatildeo se constituiria numa amostra de possibilidades de variabilidade que oferece o sistema fraseoloacutegico

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Graccedilas a Fraser a noccedilatildeo de modificaccedilatildeo ou modificaccedilotildees no campo fraseoloacutegico passou entatildeo a ser o centro da atenccedilatildeo de Corpas Pastor (1996 p 29-30) Segundo Corpas o grau de modificaccedilatildeo que permite que as UFs que sigam sendo reconhecidas reconhecimento idiomaacutetico diretamente proporcional ao grau de fixaccedilatildeo das mesmas (1996 p29)

De forma muito recorrente podemos perceber ao longo desta tarefa que a reduccedilatildeo foi uma das caracteriacutesticas mais recorrentes das modificaccedilotildees formais observadas nas respostas dos participantes agrave tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Cremos que esta caracteriacutestica deu um caraacuteter psicolinguiacutestico agraves respostas dos participantes uma vez que graccedilas agrave noccedilatildeo de reduccedilatildeo ou modificaccedilatildeo criativa levada a efeito pelos falantes natildeo nativos pudemos observar um processamento fraseoloacutegico de caraacuteter eminentemente psicolinguiacutestico por estas razotildees

(a) em primeiro lugar o foco de atenccedilatildeo na expressatildeo idiomaacutetica (b) em segundo lugar a preservaccedilatildeo na memoacuteria dos falantes da

parte efetivamente idiomaacutetica ou cristalizada em detrimento dos verbos que a introduzem e que sofrem variaccedilatildeo lexical (por exemplo verensinaraprendermostrarsaber com quantos paus se faz uma canoa) como veremos nos exemplos a seguir e

(c) em terceiro lugar a expressatildeo reduzida apontada pelos falantes a partir de um contexto de situaccedilatildeo foi o suficiente para que pudessem recuperar ou evocar a forma completa ou canocircnica

Em se tratando de observaccedilotildees preliminares dos dados coletados nesta tarefa antes de analisarmos as respostas dos informantes antecipamos que a expressatildeo natildeo pagar mico foi considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo

As expressotildees tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa foram consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram consideradas de faacutecil identificaccedilatildeo

Em geral os participantes apresentaram percentuais altos de identificaccedilatildeo das seis expressotildees idiomaacuteticas apresentadas nesta tarefa o que natildeo repercutiu diretamente na tarefa de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegicas das mesmas ou menor percentual de

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pedido de ajuda teacutecnica (SI) para suas estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica (top-down) como veremos mais adiante

As duas expressotildees zoomoacuterficas que chamaram nossa atenccedilatildeo na nossa anaacutelise dos dados pagar mico que obteve a meacutedia 120 e matar cachorro a grito com a meacutedia 267 Curioso eacute observarmos que as duas expressotildees em um continuum estatildeo situadas nos extremos Pagar mico como a de difiacutecil identificaccedilatildeo e matar cachorro a grito como a de faacutecil identificaccedilatildeo pelos 20 participantes

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Levando em conta que as expressotildees idiomaacuteticas podem ser

sofrer um processo de variaccedilatildeo fraseoloacutegica atraveacutes de um processo de reduccedilatildeo consciente por parte do falante propusemos numa espeacutecie de gradaccedilatildeo ou niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Tabela 3 - Identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por participante

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Pontuaccedilatildeo

IC (1p)

PC (2p)

CO (3p)

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

111820 1234 5678 91012 131415 161719

Pagar mico 358 1113 1415 1617

181920

124 679 1012

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

111215 16 20

410 14

123 567 8913 1718

19

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Pocircr a boca no trombone

11 20 259 1617

19

134 678 1012

13 1415 18

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

111518 123 457

81014

6912 131617

1920

Chutar o pau da barraca

1120 1234 567

8910 1213 1415 1617 1819

Legendas IC = Incorreto PC = Parcialmente Correto CO = Correto

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Nesta posiccedilatildeo encontramos ocorrecircncias para as seis expressotildees

idiomaacuteticas tanto em informantes do sexo feminino como do sexo masculino de cada paiacutes

O conceito de desvio fraseoloacutegico natildeo eacute entendido aqui como uma transgressatildeo com relaccedilatildeo agrave identificaccedilatildeo da forma canocircnica da expressatildeo mas como operaccedilatildeo cognitiva que resulta da decisatildeo ou da competecircncia linguiacutestica dos falantes

O desvio ocorreu em decorrecircncia de o informante natildeo identificar em um texto dado portanto com vaacuterias ocorrecircncias linguiacutesticas uma unidade fraseoloacutegica formalmente pluriverbal e fixa

ZOOMORFISMOS Matar cachorro a grito Nesta posiccedilatildeo natildeo houve registro de ocorrecircncia para os

informantes cabo-verdianos (G1e G2)

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Resposta de um informante feminina de Guineacute-Bissau (G3) porque na verdade hoje em dia quando uma coisa sai no repoacuterter aiacute todo mundo quer saber o quecirc que estaacute acontecendo ah eu acho que reportagem jaacute chama atenccedilatildeo pra pessoa prestar atenccedilatildeo no quecirc que estaacute acontecendo que nos sugere um determinante extralinguiacutestico associado agrave sua resposta

Respostas de dois informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) natildeo e (b) natildeo num ()

Pagar mico Com relaccedilatildeo agrave expressatildeo natildeo pagar mico a que apresentou um

grau de dificuldade de identificaccedilatildeo muito acentuado revelou que 60 dos participantes natildeo souberam fazer a identificaccedilatildeo correta da expressatildeo natildeo pagar mico traduzido por uma meacutedia de 120 - um valor bastante baixo

Os dados extraiacutedos do Protocolo Verbal apontam que a maioria dos participantes ao serem indagados se identificavam alguma expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura respondiam negativamente com expressotildees do tipo natildeo natildeo vi nenhuma nada hellip (seguido por um riso nasal registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios)

A anaacutelise das respostas dos informantes revelou o esforccedilo individual ou caracteriacutestico depreendido na tarefa proposta com comentaacuterios como expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo identifiquei nenhuma Muitos informantes respondiam ao entrevistador com um prolongado silecircncio registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios

Muitas vezes a resposta negativa vinha acompanhada de um pedido de ajuda (ato de fala indireto) que se constituiacutea um pedido de ajuda quanto ao sentido literal dos componentes lexicais da expressatildeo como em num sei a uacutenica coisa aqui seria mico Outra vez um informante depois de um prolongado silecircncio respondeu incorretamente agrave tarefa com uma repeticcedilatildeo de trechos do texto como Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem justificando nesse caso a identificaccedilatildeo pretendida com eu identifico porque assim tem uma expressatildeo no meu paiacutes quase idecircntico com isso que as pessoas dizem que que natildeo dar pra confiar nas coisas barata neacute porque natildeo presta (risos) entatildeo aiacute que eu faccedilo uma comparaccedilatildeo

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que o preccedilo baixo natildeo significa que vocecirc vai ter que o jovem vai ter uma boa viagem por ser um preccedilo baixo e a viagem eacute ruim viajar ( ) apertado sem condiccedilotildees entatildeo isso tem a ver Em outras ocasiotildees os participantes mostravam claramente a dificuldade de chegar agrave expressatildeo pretendida como custo benefiacutecio pode ser pequeno Neste caso o que merece destaque eacute o fato de o informante praticamente parafrasear todo texto e natildeo fazer nenhuma referecircncia agrave expressatildeo natildeo pagar mico

Uma participante do sexo feminino de Cabo Verde informou conhecer paga mico e paga uma mico o que nos leva a crer que conheccedila uma expressatildeo semelhante em crioulo pagar o mico4 como na sua resposta traziam os dois dos componentes (pagamico) da expressatildeo canocircnica consideramos como parcialmente correta

Nesta tarefa os poucos que anteciparam a anunciar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo pagar mico indicavam a natureza natildeo composicional da expressatildeo ao afirmarem natildeo sei o que eacute a palavra mico noacutes soacute relacionamos a palavra ao contexto que noacutes vamos passar vergonha eacute sair envergonhando todo mundo e envergonhando a si proacuteprio mas a palavra natildeo

De acordo Mogorroacutem Huerta (2010 p251) a variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas pode ser uma fonte de opacidade para os participantes Portanto natildeo haacute como separar nessa hipoacutetese uma identificaccedilatildeo do reconhecimento idiomaacutetico ou da idiomaticidade semacircntica da expressatildeo

Palavras ou expressotildees diferentes ou estranhas como os participantes assim se referiam agrave natildeo pagar mico e a outras expressotildees que natildeo reconheciam decorreriam para Mogorroacuten Huerta do fato de os usuaacuterios da liacutengua natildeo serem conhecedores das possiacuteveis variantes paradigmaacuteticas (que micopagar mico) devido ao conhecimento limitado que cada falante tem de sua liacutengua materna ou no caso dos africanos de sua L2

A variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas foi comprovadamente em nossa pesquisa uma das fontes leacutexicas de opacidade de pagar mico para a maioria dos participantes Um dos

4 No regionalismo brasileiro pagar mico e pagar o mico natildeo satildeo expressotildees sinocircnimas Pagar mico tem o sentido de passar vergonha dar vexame e pagar o mico com o sentido de sofrer as consequecircncias portanto sinocircnimo de pagar o pato

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participantes diz que em seu paiacutes Cabo Verde jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos)) justificando por essa razatildeo natildeo ter identificado a expressatildeo no texto lido Muitas respostas foram consideradas por noacutes incorretas por natildeo se aproximar nem ao mesmo da paraacutefrase contextual como deixa eu ver essa aqui que natildeo significa a boa viagemrdquo mas uma mera repeticcedilatildeo a trecho do lido

Vejamos a seguir as respostas dos informantes Respostas de duas informantes de Cabo Verde (G1) (a) custo

benefiacutecio pode ser pequeno e (b) ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei Ao serem indagados quanto agraves suas respostas respondem respectivamente o seguinte ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei o que nos sugere terem procurado no texto e encontrado uma combinaccedilatildeo fixa que atendesse agrave expectativa do pesquisador sem levar em conta o caraacuteter de natildeo composicionalidade semacircntica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Resposta de um informantes masculino de Cabo Verde (G2) expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo reconheci nenhuma o que pode me chamar atenccedilatildeo eacute o assunto custo-benefiacutecio que explicando eacute um assunto que a gente ou seja que o fato de ser barato natildeo quer dizer que que vai que vai ser o melhor o custo-benefiacutecio eacute quer dizer que a gente deve procurar algo num preccedilo bom com uma qualidade boa mas expressatildeo idiomaacutetica em si natildeo se reconhece aiacute

Respostas de quatro informantes femininas de Guineacute-Bissau (G3) (a) ((silecircncio)) Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (b) custo-benefiacutecio (c) deixa eu essa aqui que natildeo significa ldquoque natildeo significa a boa viagemrdquo e (d) pacote de viagem de formatura

Respostas dos informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) eacute consulte o CNPJ da empresa mas na verdade natildeo porque essa consulta aqui acho que eacute pra ter informaccedilotildees sobre a empresa neacute (b) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (c) ((silecircncio)) preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (d) ldquopreccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio

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e (e) humaqui identificocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Os dados coletados indicam que 60 dos participantes

identificaram corretamente (GF-CO) a forma fixa da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho sendo que 25 apontaram uma forma incorreta ou disseram natildeo saber identificar (GF-IC) no texto a expressatildeo e 15 se situaram numa situaccedilatildeo parcialmente correta (GF-PC)

Respostas das quatro estudantes de Guineacute-Bissau (G3) na sua maioria indicam que natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho Entre suas respostas podemos ouvir ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo natildeo e por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar onde claramente apelam para trechos do texto sem que tenha sucesso na tarefa Um caso de parcialmente correta semelhante ao que podemos registrar com suas compatriotas foi o de o participante informar aacutegua no joelhordquo mas que preservava na sua resposta elementos fixos da composiccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica A uacutenica resposta considerada correta situou-se a expressatildeo em trecho como essa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho que consideramos corretamente porque o informante procura claramente como jaacute dissemos anteriormente preencher a diaacutetese no qual o papel de agente da accedilatildeo verbal (tomar cerveja quente) se faz necessaacuterio explicitar na sua resposta

Para esta expressatildeo apenas as informantes do G3 guineenses em sua totalidade natildeo conseguiram corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho anunciando respostas como (a) ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo (b) natildeo (c) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar e (d) ldquoaacutegua no joelhordquo e (e) ((silecircncio)) tomar cerveja ((balbucio))

Do grupo G4 informantes masculinos de Guineacute-Bissau 50 dos estudantes tiveram dificuldade de identificar a expressatildeo tirar(mais)

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aacutegua do joelho situaccedilatildeo em que podemos registrar respostas como eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute e tomar cerveja Os protocolos verbais registram uma dificuldade muito grande por parte dos estudantes de lerem o texto em voz alta o que acabou por gerar em suas respostas palavras inaudiacuteveis ou por vezes balbucios

Outros 50 dos estudantes guineenses do sexo masculino responderam corretamente a expressatildeo (GF-CO) natildeo solta mas dentro de um princiacutepio diateacutesico de oferecer a expressatildeo dentro de uma estrutura com sujeito e predicado como em ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Dos 20 informantes apenas dois guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone Do grupo G3 informantes femininas de Guineacute-Bissau registramos

um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo incorreta feita por uma estudante guineense com a reposta CRIMES no municiacutepio Um estudante guineense do sexo masculino declarou natildeo saber identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta ao entrevistador natildeo

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos 20 participantes registramos apenas duas respostas das

estudantes de Guineacute-Bissau (G3) que foram consideradas incorretas (a) empossado e (b) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo

Chutar o pau da barraca Dos 20 participantes apenas duas guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo chutar o pau da barraca Uma

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informante respondeu com um natildeo descartando qualquer tentativa em seguida Um participante guineense natildeo conseguiu identificar corretamente a expressatildeo ao responder eacute queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Segundo (FULGEcircNCIO 2008 p 111) para que um falante possa

compreender uma expressatildeo fija alterada e perceber a ruptura eacute preciso primeiramente que o mesmo tenha internalizada a expressatildeo canocircnica ou de origem sendo assim a alteraccedilatildeo constitui uma extensatildeo do conhecimento leacutexico Eacute o que veremos nas respostas dos informantes abaixo

Nesta posiccedilatildeo para as expressotildees Matar cachorro a grito e Pagar mico e chutar o pau da barraca natildeo houve registro de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Tirar aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aacutegua do

joelhordquo e (b) eacute soltar mais aacutegua do joelho seraacute que eacute Resposta de registramos uma representante de Guineacute-Bissau

(G3) ldquomais aacutegua no joelhordquo Os participantes de G1 e G2 natildeo se situaram nesta posiccedilatildeo Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 registramos um caso de identificaccedilatildeo parcial feita

por uma estudante cabo-verdiana para a expressatildeo pocircr a boca no trombone a boca no trombone hellip

Do Grupo G2 registramos um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo por meio da reduccedilatildeo parcial da expressatildeo pocircr a boca no trombone por um estudante cabo-verdiano do sexo masculino ao responder ldquoboca no trombonerdquo no contexto no qual reproduz trechos do texto lido eacute falar a verdade pra todo mundo pra qualquer pra todo e qualquer pessoa sem receio de represarias eu acho que eacute isso

Respostas de informantes do sexo masculino e Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquoboca no trombonerdquo (b) tem esse ldquoboca no boca no trombonerdquo (c) ldquo a boca no trombonerdquo um advogado que atua na aacuterea Jorge

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Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta ldquoa boca no trombonerdquo

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 a maioria das estudantes cabo-verdianas identificou

a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa parcialmente correta com as seguintes respostas (a) eacutehellip com quantos paus faz uma canoa (b) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez (c) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem e (d) eacutehellip com quantos paus se faz uma canoa

Do Grupo G2 trecircs estudantes do sexo masculino de Cabo Verde identificaram parcialmente correta a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa ao anunciarem (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo (b) com quantos paus se faz uma canoa e (c) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute

Do Grupo G3 uma estudante de Guineacute-Bissau anunciou uma resposta considerada por noacutes como parcialmente correta ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino identificou assim vai hellip vai se arrepender ateacute o uacuteltimo o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedila hellip

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do Grupo G1 todas as estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos) (b) ((riso)) acho que

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e h matar cachorro a grito (c) rdquo((risos)) esse ldquomatar cachorro a gritordquo rdquo (d) matar cachorro a grito e (e) natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei

Do Grupo G2 todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) aqui a expressatildeo ldquomatar cachorro a gritordquo (c) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito (d) matar cachorro a grito e (e) ((o participante continua relendo trechos do texto em balbucios)) matar cachorro a grito

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito anunciando respostas como (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) eacute ldquomatar o cachorro a gritordquo (c) essa daqui ldquomatar cachorro a gritordquo e (d) sim assim tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito a saber (a) ((silecircncio)) natildeo identifiquei nenhuma hellip mas tem esse hellip matar cachorro a grito e h a atividade mais exercida pela maioria deles hellip (b) ldquo matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria delesrdquo (c) ldquomatar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Natildeo pagar mico Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico (a) ldquopagar micordquo (b) num sei a uacutenica coisa aqui seria mico ((riso)) ldquopagar micordquo e (c) uhn ((silecircncio)) ou pagar mico neacute

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico dando exemplos (a) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica significa quer dizer pagar mico hellip e h hellip pagar mico (b) ((pausa acentuada)) ldquomico nas escolasrdquo ldquonatildeo quer pagar micordquo (c) ldquopagar micordquo e (d) pagar mico

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Do Grupo G3 houve apenas um caso de uma estudante guineense identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico eacute muito engraccedilado neacute para quem na quer eacute pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentarrdquo

Nesta posiccedilatildeo natildeo houve ocorrecircncia para os participantes do G4 SOMATISMOS

Tirar aacutegua do joelho Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ((curto silecircncio)) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo (b) tirar mais aacutegua do joelho hellip que eu natildeo sei tirar mais aacutegua do joelho hellip acho que e h isso e (c) hum tirar mais aacutegua do joelho

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip (c) tirar aacutegua do joelho e (d) tirar aacutegua do joelho

Do Grupo G3 registramos um exemplo de identificaccedilatildeo correta da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho feita por uma estudante guineense ldquoessa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelhordquo

Respostas de trecircs participantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo (b) acho natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e (c) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 as estudantes cabo-verdianas em sua maioria

identificaram corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone (a) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (b) aqui ldquopocircs a boca no trombonerdquo ele soltou a verdade ((risos)) nem se ele resolveu

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espalhar dizer o que sabe neacute (c) botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone hellip (d) ((silecircncio)) hum a boca no trombone rdquo

Do Grupo G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino conseguiu identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone ((silecircncio)) pocircr a boca no trombonerdquo

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos exemplificar a seguir (a) ldquobotar a boca no tromboso5rdquo (b) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (c) pocircs a boca no trombone e (d) pocircs a bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos observar a seguir (a) ldquopocircs a BOca no trombonerdquo (b) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem (c) botar a boca no trombone e (d) expressatildeo idiomaacutetica pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio rdquo

5 As palavras trombeta trombone e tromboso que aparecem nas respostas dos informantes levam-nos agrave mesma etimologia todas vecircm de tromba (antigo instrumento de sopro) Provavelmente tromba venha de trompa com as seguintes acepccedilotildees (a) espeacutecie de trombeta de chifre ou metal retorcido com um uacutenico som muito forte e (b) trombeta primitiva de forma circular usada na caccedila As respostas dos informantes tecircm um fundo biacuteblico para a motivaccedilatildeo da expressatildeo Vaacuterias satildeo as passagens biacuteblicas com a palavra trombeta Para citar apenas uma Fala aos filhos de Israel dizendo No mecircs seacutetimo ao primeiro do mecircs tereis descanso memorial com sonido de trombetas santa convocaccedilatildeo (Leviacutetico 23 24)

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 uma uacutenica participante cabo-verdiana identificou

corretamente a expressatildeo tem aqui a Dilma vai saber com quanto paus se mata uma canoa hellip aqui hellip essa parte aqui hellip

Respostas de dois estudantes do sexo masculino de Cabo Verde (G2) (a) ldquoa partir do primeiro dia de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com Quantos paus se faz uma canoardquo uma expressatildeo assim uma giacuteria e (b) eacute a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip

Respostas de duas estudantes guineenses (G3) (a) eacute ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoardquo quer dizer reconhecer a realidade neacute de mandar uma outra coisa tambeacutem que estaacute explicando aqui em baixo que o Lula quer continuar soacute que o mandato dele o tempo dele jaacute acabou entatildeo ele quer mesmo a Dilma vivendo laacute ela vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo aleacutem de de de de como eacute que eu posso dizer Aleacutem de en-fren-tar a dificuldade porque mandar natildeo eacute faacutecil ela ela vai tambeacutem vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo eu acho que eacute (b) Eacutetem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa

Respostas da maioria dos estudantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoardquo neacute (b) ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz um canoardquo (c) Eacutea Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip e (d) Eacute vai saber quantos paus se faz uma canoa

Chutar o pau da barraca Respostas das estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ldquochutar o pau

da barracardquo (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) falta o povo chutar o pau da barraca (d) falta o povo chutar pau da barraca e (e) o povo chutar o pau da barraca

Respostas dos os estudantes cabo-verdianos do gecircnero masculino (G2) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barraca ((riso)) que destruindo sentido literal chutar ou destruir destruir a barracardquo (b) a expressatildeo que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem

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(c) ah ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (d) bom esse aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo e (e) chutar o pau da barraca

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ldquochutar o pau da barracardquo (b) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (c) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquo e (d) tem essa daqui falta o povo chutar o pau da barraca

Respostas da maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (b) ((silecircncio)) esse falta o povo chutar o pau da barraca (c) ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca e (d) ()ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Atribuiacutemos para as respostas dadas pelos informantes uma pontuaccedilatildeo identificaccedilatildeo correta 1 ponto identificaccedilatildeo parcialmente correta 2 pontos e identificaccedilatildeo correta 3 pontos A partir desta pontuaccedilatildeo pudemos calcular oss valores das meacutedias das seis expressotildees que variaram de 120 para natildeo pagar mico a 275 para chutar o pau da barraca A meacutedia das meacutedias foi

Os valores indicados nos caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo para o grau da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica indicam que a expressatildeo mais difiacutecil de ser identificada pelos informantes foi natildeo pagar mico com meacutedia 120

As expressotildees saber com quantos paus se faz uma canoa e tirar aacutegua do joelho foram com 209 e 207 consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees mais faacuteceis de serem identificadas foram chutar o pau da barraca com meacutedia 275 matar cachorro a grito com 267 e pocircr a boca no trombone com 242

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Graacutefico 1 - Meacutedias da Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica por expressatildeo idiomaacutetica

Tabela 4 - Meacutedias e Desvios Padratildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Meacutedia Desvio Padratildeo

Grau de identificaccedilatildeo

Zoomorfismos Matar cachorro a grito 267 077 Faacutecil

Natildeo pagar mico 120 063 Difiacutecil

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

207

092 Meacutedia

Pocircr a boca no trombone

242 079 Faacutecil

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

209 083 Meacutedia

267

12

207242

209

275

Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar mais aacutegua dojoelho

Pocircr a boca notrombone

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Chutar o pau da barraca Meacutedia das meacutedias

275 176

068 Faacutecil

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Quando o falante usa tais construccedilotildees demonstra que utilizou um conjunto lexical presente na sua memoacuteria e natildeo construiacutedo no momento do enunciado (Fulgecircncio 2008 p 77)

Para respondermos a questatildeo desta Tarefa 2 testamos as

seguintes hipoacuteteses (a) os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria (b) os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos e (c) os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

As respostas dos informantes sobre a memoacuteria fraseoloacutegica das seis expressotildees deste experimento foram convertidos em valores numa escala de 1 a 3 para que pudeacutessemos calcular as meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegica ficando assim categorizadas os comentaacuterios dos informantes em trecircs niacuteveis (a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 1 ponto (b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 2 pontos e (c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 3 pontos Em seguida apresentamos percentuais levando em conta o nuacutemero de informantes que participaram da tarefa

A partir da pontuaccedilatildeo dada agraves respostas (niacuteveis) dos informantes pudemos fazer um novo caacutelculo o do grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica estabelecendo entatildeo estes trecircs graus (a) menos familiares (b) familiares e mais familiares

Levando em conta os niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica e considerando o grau de memoacuteria fraseoloacutegica fizemos entatildeo a seleccedilatildeo final dos informantes a serem considerados na anaacutelise dos

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dados nas tarefas 3 (Idiomaticidade Fraseoloacutegica) e 4 (Taacuteticas e Estrateacutegias de compreensatildeo)

Por fim para melhor avaliarmos as respostas dadas pelos informantes em crioulos cabo-verdiano e guineense fizemos um inventaacuterio colhido diretamente dos informantes depois da aplicaccedilatildeo da uacuteltima tarefa do experimento de modo a permitir cotejarmos suas respostas com as expectativas do pesquisador com relaccedilatildeo agrave forma canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica e as acepccedilotildees de idiomaticidade das seis expressotildees em liacutengua portuguesa (L2)

Uma vez aplicada as tarefas relacionadas com a identificaccedilatildeo e a memoacuteria fraseoloacutegias pareceu-nos muito importante discriminar as unidades jaacute conhecidas pelos informantes posto que estes resultados poderiam desvirtuar os resultados das Tarefas 3 e 4 relativos agrave verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica e agrave verificaccedilatildeo da frequecircncia de uso das estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica a partir dos dados fornecidos pelos participantes durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal Think Aloud

O objetivo desta tarefa foi submetermos os 20 participantes da pesquisa a um teste de memoacuteria fraseoloacutegica Afinal quando sabemos na condiccedilatildeo de nativos de uma liacutengua de cor ou de cor e salteado uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo podemos dizer se ela eacute opaca ou natildeo uma vez jaacute estaacute cristalizada em nossa memoacuteria de longo prazo portanto efetivamente memorizada guardada em bloco unitaacuterio e pronta para uso Por essa razatildeo centramos-nos nas expressotildees natildeo conhecidas ou natildeo lembradas nem decantadas semanticamente pelos informantes porque seguramente diratildeo se seratildeo julgadas como sendo de idiomaticidade forte (opacas) ou idiomaticidade fraca (transparentes)

Para assegurar maior confiabilidade desta tarefa recorremos ao meacutetodo conhecido por procedimento lembrarsaber desenvolvido por Tulving (1985) que consistiu em pedir aos participantes que declarassem se lembravam ou se haviam ouvido alguma vez antes da data do teste a expressatildeo idiomaacutetica objeto de apreciaccedilatildeo e na hipoacutetese de resposta afirmativa ou negativa (teste de reconhecimento de simnatildeo) teriam que imediatamente dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo evitando que colocassem em praacutetica suas taacuteticas preparatoacuterias (bottom-up) e adivinhatoacuterias (top-down) e de nossa parte apoacutes o anuacutencio dos informantes disponibilizaacutevamos as diversas

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formas de ajuda teacutecnica (SI) dentro do chamado Protocolo Verbal Think Aloud

Com esta tarefa como jaacute anunciamos anteriormente buscaacutevamos responder agrave Terceira Pergunta da nossa Pesquisa ou mais precisamente sabermos como variam as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para este estudo quanto ao seu grau de idiomaticidade intralinguiacutestica ou opacidade semacircntica especificamente de natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

A opacidade-transparecircncia depende como sabemos das caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas (metaacutefora literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) e dos conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) considerados nesta pesquisa como taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down respectivamente bastante diversas nas habilidades e competecircncias de cada falante

Mais adiante veremos que muitos falantes natildeo nativos diante de expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil surpreenderam-nos com suas respostas percepccedilotildees impressotildees inferecircncias enfim evidenciaramm estrateacutegias heuriacutesticas ou originalmente heteroacuteclitas Aliaacutes estudos recentes relacionados agrave compreensatildeo idiomaacutetica tecircm apontado que em tarefas contrastivas tem se constatado a transferecircncia bastante criativa de conhecimentos da liacutengua materna para a segunda liacutengua (DETRY 2009 p243)

Havemos tambeacutem de dizer que uma expressatildeo julgada transparente para um falante nativo natildeo eacute necessariamente transparente para um falante natildeo nativo Em geral quando falantes nativos identificam (grau de identificaccedilatildeo ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) uma expressatildeo idiomaacutetica a associa diretamente ao sentido figurado ou idiomaacutetico que armazena em sua memoacuteria de longo prazo mas natildeo sabemos ao certo se essa operaccedilatildeo acontece igualmente com falantes natildeo nativos

Certo eacute que operaccedilotildees cognitivas dependem sobretudo de como os falantes recordam como expressatildeo de sua liacutengua materna (L1) Ou seja na situaccedilatildeo em que falantes natildeo nativos declarassem conhecer e lembrar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a rigor natildeo poderiacuteamos falar em opacidade-transparecircncia jaacute que simplesmente nessa situaccedilatildeo armazenam-nas em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam Soacute podemos pois falar em opacidade-transparecircncia com

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relaccedilatildeo agraves expressotildees idiomaacuteticas somente para falantes sejam nativos ou natildeo nativos que natildeo as conhecem natildeo as lembram ou simplesmente os lexemas que as formam natildeo permitem a passagem de luz isto eacute bloqueiam nos falantes a passagem do literal para o abstrato ou do literal para o natildeo composicional sentido idiomaacutetico

A questatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica ou mais precisamente da memoacuteria de reconhecimento idiomaacutetico estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de frequecircncia de coapariccedilatildeo e de frequecircncia de uso uma vez que quanto mais usada a combinaccedilatildeo fixa pelos falantes mas consolidar-se-atildeo como expressotildees fixas que os falantes armazenaratildeo na memoacuteria (CORPAS PASTOR 1996 p21)

A fixaccedilatildeo fraseoloacutegica de que tratamos anteriormente eacute pois obra da memoacuteria idiomaacutetica a que o falante recorre para significar metaforicamente algo diferente do que a sentenccedila significa literalmente (SEARLE [1979] 2002 p121) sem a qual natildeo poderiacuteamos falar a rigor em expressatildeo fixa expressatildeo idiomaacutetica ou unidade fraseoloacutegica porque da noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica vatildeo emanar os traccedilos essenciais das unidades fraseoloacutegicas a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade

Trata-se para usarmos de um termo mais apropriado para este caso acima de fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica um traccedilo que juntamente com a fixaccedilatildeo formal eacute essencial a todas as Unidades Fraseoloacutegias (UFs) cujos participantes as recordam e as produzem em bloco como uma uacutenica unidade leacutexica e que uma vez fixada ou institucionalizada permaneceraacute na memoacuteria do falante como um todo indissoluacutevel e capaz de reproduzi-la quando a situaccedilatildeo o permitir (ALVARADO ORTEGA 2010 p28)

Para verificarmos o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa apoacutes a aplicaccedilatildeo da tarefa 1 (verificaccedilatildeo da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) perguntaacutevamos aos informantes se jaacute conheciam a expressatildeo testada antes da aplicaccedilatildeo da tarefa

As respostas dos informantes foram assim categorizadas por niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo nem sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 1 ponto

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b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar ou ter ouvido a expressatildeo mas natildeo sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 2 pontos

c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar e ter ouvido a expressatildeo e saber seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 3 pontos

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes

Na Tarefa 2 a expressatildeo matar cachorro a grito em que levamos

em conta principalmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (ou memoacuteria fraseoloacutegica) tal qual assinalada por Alvarado Ortega (2010 p28) 75 dos informantes declararam ao entrevistador durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que natildeo conheciam ou natildeo lembravam ou natildeo havia ouvido ou lido a expressatildeo antes do teste Neste teste as respostas dos informantes apontaram que 15 deles lembravam parcialmente desta expressatildeo idiomaacutetica As respostas dos informantes quanto ao sentido idiomaacutetico da referida expressatildeo confirmavam esta posiccedilatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico ficou com metade dos informantes que declararam ter conhecido ou ter ouvido a expressatildeo e a outra metade afirmou natildeo ter conhecimento ou ouvido antes a expressatildeo

No caso da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho depois da expressatildeo matar cachorro a grito foi a que obteve 60 os participantes que declararam natildeo conhecer ou natildeo ter ouvido a expressatildeo antes do teste contra 35 que afirmaram lembrar ou jaacute ter ouvido a expressatildeo antes em seu paiacutes por influecircncia em especial das novelas brasileiras

A expressatildeo pocircr a boca no trombone foi a que obteve 65 da recordaccedilatildeo pelos participantes restando 35 que alegaram natildeo conhecer a expressatildeo Facilmente os participantes encontraram em crioulo (L1) tanto os de Guineacute-Bissau como os de Cabo-Verde equivalentes que consideramos como corretas para nosso estudo

Para expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa os comentaacuterios iniciais do protocolo verbal apontam que 45 dos

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informantes declararam conhecer ou ter a expressatildeo idiomaacutetica antes principalmente em seu paiacutes de origem e os dados coletados parecem indicar que 10 dos informantes soacute conheciam parcialmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica da referida expressatildeo

Ao lado da expressatildeo matar cachorro a grito o teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica para chutar o pau da barraca indicou que 75 dos informantes declararam desconhecer ou natildeo lembrar da expressatildeo

Observemos a quadro abaixo

Tabela 5 - Verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica por percentual de falantes

CATEGORIAS

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

PONTUACcedilAtildeO

NS (1p) PS(2p) SA(3p)

ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito

75 00 10

Natildeo pagar mico 50 00 50

SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho 60 05 35

Pocircr a boca no trombone 35 00 65

BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

45 10 45

Chutar o pau da barraca

75 05 20

Legendas NC = Natildeo lembra nem ouviu a expressatildeo idiomaacutetica CN = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo sabe seu sentido CS = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica e sabe seu sentido

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Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito De G1 natildeo houve registro de respostas das informantes cabo-

verdianas que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes de Cabo Verde (G1) (a) eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs ((risos)) essas palavras esses textos aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia (b) natildeo e (c)natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei hellip

Respostas da totalidade das estudantes guineenses (G3) (a) nunca ouvi em Guineacute (b) ((silecircncio seguido de gesto negativo com a cabeccedila) (c) matar cachorro a grito natildeo (d) natildeo conheccedilo natildeo e (e) nunca ouvi essa expressatildeo de matar cachorro mas pode me dar um exemplo similar

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) e h hellip eu achei essa frase assim estranha hellip frase nova pra mim (b) ahoo cara pensa que o artista eacute rico neacuteaiacute como taacute dizendo aqui ldquo matar cachorro eacute atividade exercida por elesrdquoeacute mais faacutecil matar cachorro a giro do que ( as outras pessoas)matar cachorro a grito eacute que to achando aiacute neacutemas esta giacuteria ldquomatar cachorro a grito ldquo nunca ouvi falar (c) ((silecircncio)) natildeo ((riso)) eacute difiacutecil interpretar porque nunca nunca na verdade eu escutei (d) natildeo e (e) eu entendo assim

Natildeo pagar mico Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((riso

nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquohellip ((riso)) hellip e (b) eacute paga mico eacute sim conheccedilo paga uma mico eacute

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Respostas dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) uhn hellip conheccedilo hellip (b)jaacute (c) JAacute atraveacutes da miacutedia tambeacutem (d) pagar mico conhecia mas era porque passa sempre nas novelas laacute neacute hellip passa as novelas e essa expressatildeo acaba por escutar na televisatildeo e (e) conheccedilo tambeacutem por influecircncia da da de TV e de novela essas coisas mas acaba se usando a gente acaba usando tambeacutem laacute em Cabo Verde natildeo muito mas usa eacute isso jaacute ouvi pessoas usando isso aiacute rdquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((riso)) natildeo sei natildeo sei (b) humaqui reconheccedilocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo (c) ((silecircncio)) sei natildeo (d) eacute tipo eu jaacute ouvi mico mas natildeo sei exatamente o que significa eacute tipo uma uma pessoa que taacute fazendo uma coisa assim tipo qualquer besteira pagar mico natildeo sei exatamente isso natildeo eu nunca ouvi soacute o mico assim e (e) eacute porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacute por exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacute aiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) uhn

(b) natildeo hellip tambeacutem nunca escutei hellip ((riso nasal)) De G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-

verdianos do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas das estudantes guineenses (G3) (a) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar (b) eu natildeo sei se o vinho fica aqui no joelho o pessoa natildeo consegue andar natildeo sei eu acho que eacute mas eu natildeo conheccedilo essa palavra natildeo pra dizer a verdade eu natildeo conheccedilo (c) natildeo eu aprendi aqui natildeo (d) Natildeo conheccedilo natildeo e (e) natildeonem em Guineacute nem no BrasilParticipante entatildeo tem uma

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expressatildeo parece descarregar mesmo natildeo estou lembrando bemParticipante em crioulo eacute (missa) mas tambeacutem tem uma expressatildeo que eacute proveacuterbio mas natildeo estou lembrada tem o mesmo sentido dessa aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) natildeo (b) natildeo natildeo conhecia assim ((silecircncio)) eu eu vejo essa frase aqui estranho (c) hatilde (d) significa que tomar cerveja quente faz o cara mijar muito neacute e (e) eu conheccedilo aqui isso ocorre em parte porque o aacutelcool soacute que eu natildeo conheccedilo essa palavra aqui inibe inibe

Pocircr a boca no trombone De G1 e G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de quatro estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa PERdeu o JUIZO (b) conheccedilo natildeo natildeo ouvi natildeo (c) no Brasil eu natildeo sabia se existia tambeacutem essa aiacute assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (d) natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra expressatildeo eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha) quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assimrdquo

Respostas de dois estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae e (b) defender uma coisa

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((curto

silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra

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empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho() hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () e (b) natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente expressatildeo idiomaacuteticardquo

Resposta de um uacutenico estudante cabo-verdiano do sexo masculino (G2) essa aqui essa aqui eu jaacute eu jaacute conheccedilo hellip natildeo assim hellip a expressatildeo eu jaacute conheccedilo hellip no meu paiacutes natildeo se usa natildeo se usa pelo menos eu natildeo sei ()aqui eu jaacute aqui eu jaacute sabia hellip mas no meu paiacutes natildeo se usa essa expressatildeo hellip tem coisas que a gente usa hellip mas que no momento eu natildeo me lembro

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) Essa expressatildeo natildeo conheccedilo (ruiacutedo) (silecircncio) (ruiacutedo) e (c) por exemplo aqui estaacute dizendo espera aiacute ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedilardquo ter aceitado ser a candidata de Lula mas natildeo eacute isso natildeo eacute essa frase aqui ldquotudo o que ele quer eacute continuar mandandordquo

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) (hipoacutetese de negaccedilatildeo com gesto de cabeccedila) ((silecircncio)) natildeo hellip (b) eu natildeo eu nunca tinha visto assim hellip mas () como como e h que eu posso explicar hellip ((curto silecircncio)) tem outra expressatildeo que a gente usa laacute hellip natildeo sei se e h idecircntico hellip tipo hellip crianccedila numa gravidez assim hellip a matildee vai falar com a noiva assim hellip (tu vai ter que aprender com e h que a gente faz pra criar a crianccedila) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip natildeo sei se se identifica e (c)natildeo

Chutar o pau da barraca Respostas da maioria das estudantes cabo-verdianas (G1) (a)

ldquonatildeo hellip porque eacute um pouco diferente eacute uma frase que muda logo chama logo atenccedilatildeo das pessoas num texto assim eu acho que noacutes podemos e h por ser portuguecircs hellip cada num sei cada povo tem sua expressatildeo neacute entatildeo logo quando eu li e natildeo consegui entender

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logo o contexto do ldquofalta chutar o pau da barracardquo hellip chama logo a minha atenccedilatildeo por eu natildeo conseguir assimilar num texto desses como assim falta o povo chutar o pau da barraca eu natildeo ()L1 (deitar tudo pra altura) talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura L1(sabota tudo na espora) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) eacute hellip acho que e h hellip nunca ouvi falar nunca ouvi falar acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui num sei hellip nunca escutei natildeo hellip eu nunca escutei dizer falta o po e (d) nunca eacute isso natildeo conheccedilo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) natildeo natildeo natildeo sei natildeo conheccedilo natildeo natildeo esse aqui acho que aqui no Brasil nunca ouvi falar () existem vaacuterias expressotildees aqui no Brasil que que eu nunca ouvi falar daacute pra entender com certeza quando vocecirc claro chutar o pau da barraca se eu escutar soacute chutar o pau da barraca acho que natildeo saberei natildeo saberei dizer qual o sentido mas aliado a um contexto daacute pra entender a expressatildeo e (b) natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ((silecircncio demorado)) eu natildeo sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso Eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) tambeacutem natildeo (c) chutar o pau da barraca natildeo (risos) (silecircncio) eu acho assim porque isso essa expressatildeo eacute uma expressatildeo que o pessoal usa tipo uma giacuteria (ruiacutedo) que a pessoa utiliza por exemplo se pegar essa expressatildeo pra procurar no dicionaacuterio vai ser difiacutecil de encontrar eacute uma linguagem mesmo popular que as pessoas utilizam como giacuteria e (d) natildeo nunca nem aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquoaqui no Brasil tambeacutem eacute nunca () natildeo ouvi nunca (b) eacuteesse aqui eacute um pouco pesado mas eu acho que eacute puxapuxa para poder chegar laacutevendo Roberto Carlos cantandordquode preto cantando sambardquo isso aqui tambeacutemeacute coisa pesada heimrdquo povo chutar o pau da barracardquoessa aqui eacute pesada me

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pegou (c) ()eacutetem (d) ldquochutar o pau da barracardquo natildeo e (e) natildeo hellip pode dar um exemplo pra Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) ldquo((silecircncio)) eacute

exatamente o quecirc eu natildeo consigo associar nesse contexto eacute eu jaacute ouvi eu natildeo me lembro eacute uma amiga minha ela tava falando eacute tava acontecendo uma coisa assim ela falou essa frase mas eu natildeo consigo relacionar com o contextordquo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) essa expressatildeo jaacute ouvi no Brasil algumas vezes mas ainda natildeo peguei o sentidoaqui no Brasil e (b) difiacutecil esse aqui essa expressatildeo eu nunca tinha ouvido eacute a primeira vez que eu ouccedilo tambeacutem e mesmo pelo contexto fica um pouquinho mais complicadordquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de dois estudantes guineenses (G4) (a) ldquonatildeo natildeo natildeo conhecia helliprdquo (b) ldquo matar cachorro a grito hellip hum hellip eu natildeo sei hellip jaacute ouvi jaacute ouvi e bastante soacute no Brasilrdquo

Natildeo pagar mico De G1 G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e dos informantes guineenses do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes guineenses (G3) declararam natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo natildeo pagar mico com respostas sucintas como natildeo e natildeo sei seguidas geralmente de curto silecircncio

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SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 para esta expressatildeo surpreendentemente natildeo

houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Resposta de uma uacutenica estudante cabo-verdiana (G1) diz ter

conhecido ou ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone em seu paiacutes mas natildeo lembrava seu sentido idiomaacutetico natildeo mas a gente conhece pela influecircncia eacute

De G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos do sexo masculino e dos informantes guineenses em sua totalidade que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 G2 e G3 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar e utilizar em Guineacute a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo sabe o sentido idiomaacutetico

Chutar o pau da barraca De G1 G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos

informantes cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) apresentou um

niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ao encontrar um expressatildeo equivalente em L1 (crioulo cabo-verdiano) ldquoesse ldquomatar cachorro a gritordquo eu natildeo diria no meu paiacutes eu natildeo diria assim eacute tipo aparentemente parece que ele eacute rico mas no fundo no fundo acho que ele natildeo eacute rica natildeo deve taacute ralando oito dez aiacute taacute cosendo as meinhas taacute fazendo pezinho de meia pra poder dar certo ((riso))rdquo

De G2 um estudante cabo-verdiano declarou ter ouvido ou lembrado a expressatildeo matar cachorro a grito no Brasil e saber seu sentido idiomaacutetico ldquoconheccedilo aqui no Brasil tambeacutemrdquo

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Natildeo pagar mico Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) eacute hellip

conheccedilo hellip jaacute jaacute sabia (b) assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela eacute pela novela brasileira e outras costumeiras que o pessoal usa escuta tambeacutem fala na novela neacute aiacute ouvindo mico aiacute eu associei a que vergonha (c) eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num ()

Respostas duas estudantes guineenses (G3) (a) aprendi aqui no Brasil uma das primeiras expressotildees eu morava com uma brasileira laacute em Natal e ela sempre dizia ldquoah eu paguei micordquo porque assim pagar mico quando pagar mico natildeo eacute pagar uma coisa natildeo pagar mico eacute envergonhar mesmo passei vergonha ou seja fiquei vermelho neacute e (b) Eacute no Brasil

De G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes do sexo masculino cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo

essa frase aqui eu ouvi aqui jaacute (ir para casa de banho) ldquoeu vou fazer xixi vou pra casa de banhordquo (b) vou tirar aacutegua do joelho hellip (isabatra aacutegua do joelho) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) natildeo soacute os rapazes como toda a populaccedilatildeo cabo-verdiana aqui tatildeo usando algumas palavras brasileiras colocando hellip e (c) fazer xixi acho que natildeo tem natildeo ((risos)) fazer xixi (tona ar) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

Respostas de todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino(G2) (a) essa expressatildeo eu jaacute ouvi falar mas eu natildeo sei explicar ((riso)) assim poderia me explicar (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (c) conheccedilo essa expressatildeo no paiacutes e a gente usa a mesma expressatildeo com o mesmo significado (d) conheccedilo hellip natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e (e) jaacute jaacute ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa eu nunca ouvi assim pelo menos ateacute agora eu nunca ouvi uma mulher falando isso

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Respostas de quatro estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aqui no

Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute

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descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) (b) eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone ((silecircncio)) ((supostamente confirma com gestos))laacute em Cabo Verde se diz poe poe ((hipoacutetese de fala em crioulo)) espalhar pro mundo ueacutehellip falar hellip (c) ldquojaacute hellip em Cabo Verde e h hellip pocircs a boca no trombone hellip eu acho que e h hellip falar algum segredo helliprdquo e (d) eu conhecia laacute em Cabo Verde tem ldquoboca no trombonerdquo ldquocolocou boca no trombonerdquo ((vozes ao fundo)) ah mas se tem alguma em crioulo natildeo sei

Resposta da totalidade dos estudantes cabo-verdianos (G2) (a) conheci essa expressatildeo aqui tambeacutem (b) sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais () (c) aqui no Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) abocanha ((riso)) falou uma coisa que ele natildeo devia ter falado ele tirou algum segredo algum sigilo ele colocou aiacute soltou pra todo mundo ver colocou na internet colocou no jornal assim que eu entendo ((riso)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio (d) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem e (e) jaacute conhecia em Cabo Verde hellip mas botar a boca no trombone hellip acho que natildeo hellip seria hellip eacute

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o que a gente tem a gente tem mais influecircncia do brasileiro do que do portuguecircs mesmo ()

De G3 apenas uma estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta sucinta conheccedilo

Resposta de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) eu conheci aqui no crioulo tem tem mas tem mas natildeo e h eacute diferente eacute (empenha boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) empenhar boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) tipo a pessoa te apanhou a falar alguma coisa (b) eacute jaacute ouvi falar jaacute em Guineacute laacute eu escuto de vez em quando na raacutedio ldquoboca no trombonerdquo eacute e (c) botar a boca no trombone eu acho que eu conheccedilo neacute ()desde Guineacute que que aquela pessoa que vai no raacutedio na televisatildeo ou meio puacuteblico e fala as coisas neacute entatildeo a pessoa diz olha tira a boca do trombone porque natildeo eacute nem seu espaccedilo neacute ((riso)) eacute agraves vezes a pessoa diz assim (se vocecirc natildeo faz parte do carnaval eacute tire a boca se buca faze parte do carnaval tire boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) se vocecirc natildeo faz parte do carnaval tire a sua boca neacute

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo hellip

mesmo eacute de Portugal ou mesmo do Brasil hellip noacutes natildeo temos muito o haacutebito de dizer hellip mas jaacute hellip acabamos por ouvir muito hellip entatildeo daacute -se a repeticcedilatildeo por exemplo eacute noacutes temos muita influecircncia da cultura brasileira hellip entatildeo hellip tanto que somos habituados a ver as mesmas novelas daqui hellip entatildeo acabamos acabamos por ouvir a maior parte do que os brasileiros dizem eacute hellip das expressotildees hellip aiacute acabamos por conhecer e saber o significado de algumas (b) aqui que eu conheci nas novelas hellip eu ouvia nas novelas acho que eu ouvi laacute em Cabo Verde na televisatildeo e (c) eu acho que eu conheccedilo algo parecido hellip seria hellip e h (ele taacute deixa atrevimento) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip ((riso)) ou (ele taacute afronta) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip algo do gecircnero hellip acho que e h hellip que eacute do gecircnero hellip eu diria que e h isso hellip ((riso nasal)) hellip natildeo sei hellip ((riso nasal))

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Respostas da maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) natildeo conheci aqui no Brasil (b) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute eacute exatamente eu sempre sempre escutei tambeacutem com quantos paus se faz uma canoa (c) natildeo se use muito eu jaacute tinha ouvido falar laacute em Cabo Verde mas se natildeo me engano eu jaacute ouvi jaacute ouvi mas por assistir TV e (d)jaacute em Portugal tambeacutem se usa

Do Grupo G3 uma uacutenica estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa anunciando a seguinte resposta eu conheccedilo mas natildeo dessa forma eacute espera aiacute quer dizer quantos paus se faz uma canoa eu conheccedilo mas eu esqueci hunrrum significa que vocecirc vai ver que a coisa natildeo eacute faacutecil mas natildeo estou lembrando natildeordquo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa e sabe seu sentido idiomaacutetico sim mas soacute que tem uma outra forma por exemplo por exemplo (ningueacutem pode bater a palma com uma matildeo soacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) entendeu

Chutar o pau da barraca Do Grupo GI apenas uma das estudantes cabo-verdianas

declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo chutar o pau da barraca o que comprovamos antes da ajuda teacutecnica aqui eu soacute () eacute laacute no meu paiacutes eu tipo diria eu quero ver ateacute onde vai isso eu quero ver ateacute onde daacute pra aguentar depois de nada acaba tudo e tudo laacute prefere cair tudo pro chatildeo neacute ((riso)) eu diria assim mas a expressatildeo ldquochutar o pau da barracardquo natildeo ((barulho de muacutesica ao fundo)) ldquochutar o pau da barraca seria uma expressatildeo de vocecircs brasileiros que eu vejo meus minhas colegas usando ldquorapaz essa faculdade jaacute taacute por aqui daqui a pouco eu vou chutar o pau da barraca a casa vai cair vamos simborardquo ((riso))rdquo

Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) por influecircncia eacute e chutar o pau da barraca quer dizer que que o povo devia jogar isso todo mundo devia discutir isso porque natildeo taacute certo aiacute a gente devia com eacute que eu a gente devia procurar explodir esse assunto pra todo mundo ficar tomar tomar conhecimento disso porque se natildeo taacute certo todo mundo deve saber disso acho que basicamente eacute isso (b) a expressatildeo

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que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem no Brasil eu jaacute tinha ouvido laacute em Cabo Verde mas soacute que da mesma forma da outra () e (c) natildeo foi aqui

Do Grupo G4 formado por estudantes guineenses do sexo masculino apenas um declarou ter ouvido chutar o pau da barraca sem que pudesse atribuir agrave expressatildeo seu sentido idiomaacutetico

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Segundo Corpas Pastor (1996 p22) as expressotildees idiomaacuteticas

funcionam como unidades do leacutexico mental isto eacute armazenam-se e se satildeo utilizadas pelos falantes como entidades completas e maior ou menor grau

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo das meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegicas todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel altode memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria idiomaacutetica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo transparente

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa

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entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas no Teste de

Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica variaram de 135 para matar cachorro a grito a 225 para a expressatildeo pocircr a boca no trombone A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 180

A partir destes valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas estabelecemos os seguintes graus de verificaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica menos familiares familiares e mais familiares

Trecircs expressotildees foram consideradas menos familiares para os participantes matar cachorro a grito com 135 chutar o pau da barraca com 145 e tirar aacutegua do joelho 175

As expressotildees consideradas familiares foram saber com quantos paus se faz uma canoa e pagar mico ambas com 200

A expressatildeo mais familiar para os participantes foi pocircr a boca no trombone com 225

Graacutefico 2 - Meacutedias da Memoacuteria Fraseoloacutegica por expressatildeo

idiomaacutetica

135

2

175225

2

145

Memoacuteria Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar aacutegua dojoelho

194

Tabela 6 - Graus da memoacuteria fraseoloacutegica por expressatildeo

CATEGORIAS EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

MEacuteDIA DESVIO GRAU DE

FAMILIARIDADE

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

135 067 Menos familiar

Natildeo pagar mico 200 102 Familiar

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

175 097 Menos familiar

Pocircr a boca no trombone

225 097 Mais familiar

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

200 097 Familiar

Chutar o pau da barraca

145 082 Menos familiar

Meacutedia das Meacutedias

18

0

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense Ao final da tarefa de verificaccedilatildeo da memoacuteria solicitamos de

alguns informantes mais cooperativos que nos dessem sempre que possiacutevel a equivalecircncia das seis expressotildees idiomaacuteticas (dos zoomorfismos dois somatismos e dois botanismos) em crioulo (cabo-verdiano e guineense) bem como sua respectiva paraacutefrase definitoacuteria para que pudeacutessemos melhor avaliar as respostas dos informantes quanto agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) e agrave idiomaticidade semacircntica e cotejarmos informaccedilotildees de L1 relacionadas agrave L2 (portuguecircs na variante brasileira) quando os mesmos nos protocolos verbais faziam referecircncia aos seus conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (CP) ou davam exemplos em suas liacutenguas maternas

Apesar de serem de paiacuteses africanos lusoacutefonos haacute uma flagrante variedade diatoacutepica em cada paiacutes o que ao certo repercute na fala e

195

na escrita em L1 (diversos crioulos cabo-verdianos e guineenses) e da mesma forma no Portuguecircs L2 sempre com as interferecircncias morfoloacutegicas e sintaacuteticas de suas liacutenguas crioulas

Selecionamos estas contribuiccedilotildees dos informantes

Quadro 1 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo cabo-verdiano

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sem kau bai

bull Mata katchor a grito

bull Desesperado

Natildeo pagar mico

Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Da burgonha

bull Passa vergonha

bull Assumi consequecircncia

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull Da ku liacutengua na denti linguara

bull Poi boka na mundo

bull Papiadera linguarada

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Tra agu di duedju

bull Fazi xixi

bull Tra agua de joelho ou xixi

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Ka liga

bull Faze kusas sem conta riba ka importa

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Mostra quenha ki ta kanta galu

bull Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa

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Quadro 2 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo guineense

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sufridor ki ta padi fidalgu

bull Sta disisperadu ku algum kussa

bull Alguin desesperada

Pagar mico Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Y passa Borgonha ou Bu purba liti bu pidi baka

bull Vivi um situaccedilon di constrangimentu passa borgonha

bull Passa vergonha

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull I pui boca na tromboni paacute tcholoacutela

bull Konta tudu djintis di ke ku aconteci

bull Reclama ou papia um algo e faci protesto

bull

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Inaacute myccedila ou Ibay waga iagu na quintal

bull Bai missa fassi chichi

bull Micha

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros son ora ki tene mandita

bull Bu kA nteressa di nada kil ku na sedu pa i sedu

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bull Randja confusatildeo se midi consequecircncias

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Djugude ka bai fanadu ma i kunsi udju ou na mostral Cuma Amy ki si lambe

bull Pregal um partidadal kantigu

bull Sina algueacutem pa i ka fassi cusa errado mais

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Es de aceptacioacuten general que la idiomaticidad es gradual de modo que unos fraseologismos son maacutes idiomaacuteticos que otros (PAMIES 2007 p 178)

Na tarefa 3 testamos as seguintes hipoacuteteses (a) as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(b) as expressotildees especiais que designam nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(c) as expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 ou em L2 (na vertente luso-africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(d) o conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

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(e) o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

Ao longo desta seccedilatildeo descrevemos a partir das respostas dos informantes trecircs niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica baixo meacutedio e alto Em seguida atribuiacutemos uma pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes numa escala de 1 a 3 para em seguida calcular as meacutedias e os desvios padratildeo das expressotildees idiomaacuteticas e classificaacute-las as segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica fraca doble e forte

A classificaccedilatildeo quanto ao grau de idiomaticidade fraseoloacutegica que apresentamos ao final desta seccedilatildeo soacute foi feita apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal isto eacute de os informantes recorreram a taacuteticas e a estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando ou natildeo acessarem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees idiomaacuteticas do experimento

No campo fraseoloacutegico haacute uma relaccedilatildeo muito estreita entre idiomaticidade e memoacuteria Certa feita o ex-presidente Lula da Silva ao se referir agraves criacuteticas de seus opositores ao final de seu governo disse Quem for esperar que vou ficar sentado em Brasiacutelia pode tirar o cavalo da chuva porque vamos inaugurar obra este ano in Caderno Poliacutetica em seccedilatildeo Poder Folha de Satildeo Paulo 03022010 ) o que nos parece liacutecito supor que a expressatildeo idiomaacutetica tirar cavalinho da chuva empregada pelo ex-presidente aliado a um sistema de regras e paracircmetros foi um conjunto cristalizado e memorizado pronto para empregado no discurso poliacutetico do ex-presidente

Fulgecircncio (2008 p23) diz que a memoacuteria dos falantes atua na liacutengua natildeo somente na sua estrutura formal ou no que ela chama de esqueletos formais e das palavras isoladas mas tambeacutem no armazenamento de sequecircncias de palavras decoradas por inteiro

Consoante a este olhar psicolinguiacutestico de Fulgecircncio (2008) sobre o fenocircmeno da idiomaticidade primeiramente consideramos para a anaacutelise de dados desta nova Tarefa os resultados contidos na Tarefa anterior relativa ao Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Nesta tarefa descrevemos primeiramente as principais respostas dos informantes selecionados a partir do que denominamos de niacuteveis de Idiomaticidade fraseoloacutegica recorrendo agraves declaraccedilotildees pessoais dos informantes que natildeo lembravam nem sabiam o sentido

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idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por NL) ou que lembravam mas natildeo sabiam o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por LN)

Foi entatildeo agregando os dados da memoacuteria fraseoloacutegica com os dados da idiomaticidade idiomaacutetica que o calculamos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica natildeo levando assim em conta em anaacutelise respostas dos participantes que declararam lembrar e conhecer o significado idiomaacutetico da expressatildeo (no Corpus Afri codificado como LS) Estes desconsiderados por lembrarem ou terem ouvido a expressatildeo e saberem seu sentido idiomaacutetico portanto consideram-na familiar e nesse caso evidentemente natildeo poderiacuteamos falar em idiomaticidade forte doble ou fraca ou em opacidade semacircntica

Em substacircncia no primeiro momento apresentamos as respostas dos informantes atraveacutes de trecircs niacuteveis (baixo meacutedio alto) de idiomaticidade fraseoloacutegica depois pontuamos cada destes niacuteveis numa escala de 1 a 3 para finalmente calcularmos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (ou intralinguiacutestica6) na seguinte escala forte doble e fraca

Na tabela 7 logo abaixo estatildeo discriminados os informantes que participaram desta tarefa Tabela 7 - Verificaccedilatildeo da Memoacuteria Fraseoloacutegica

Categorias Expressotildees idiomaacuteticas

Niacuteveis de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Baixo Meacutedio Alto7

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

13578111213 14 15 1617 181920

269 410

6 Falamos em idiomaticidade intralinguiacutestica por serem os informantes falantes lusoacutefonos sendo que a liacutengua portuguesa eacute L2 portanto sua segunda liacutengua e as liacutenguas crioulas suas liacutenguas maternas (L1) 7 Os nuacutemeros que representam os informantes para cada expressatildeo foram neste niacutevel tachados porque natildeo seratildeo considerados no caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

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Pagar mico 131114151617 181920

24567891012 13

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

3411 121314 151617 18 1920

10 1256789

Pocircr a boca no trombone

2111213141819

13456789 10151617 20

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

14101113 14171820

1519 235 678 91216

Chutar o pau da barraca

12356711 121314 1617 1819 20

15 48910

O nuacutemero de informantes selecionados varia de item para item

Em termos de quantitativos os participantes considerados a partir da anaacutelise dos dados que fizemos na Tarefa de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica ficaram assim distribuiacutedos

(a) Matar cachorro a grito 15 participantes com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica e 3 participantes com meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(b) Pagar mico 10 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(c) Tirar aacutegua do joelho 12 participantes com niacutevel baixo e 1 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(d) Pocircr a boca no trombone 7 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(e) Saber com quantos paus se faz uma canoa 9 com niacutevel baixo e 2 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(f) Chutar o pau da barraca 15 de niacutevel baixo e 1 de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

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Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo desta tarefa todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees adiante dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo opaca

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Como dissemos a partir das respostas dos participantes

estabelecemos trecircs niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica (a) niacutevel de baixo Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por NL) (b) niacutevel meacutedio de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LN) e (c) niacutevel alto de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LS)

Estabelecidos estes niacuteveis acima a partir das respostas dos informantes quanto agrave idiomaticidade ou ao sentido global da expressatildeo idiomaacutetica em seu paiacutes de origem (L1) ou em outro paiacutes

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lusoacutefono (Brasil Portugual etc) pudemos calcular as meacutedias do grau da idiomaticidade fraseoloacutegica

No niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica estavam situados os informantes que declararam durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud natildeo saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo ou dar uma resposta considerada incorreta No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo IC ( Incorreto)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 natildeo reconhecer idiomaticamente a expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta incorreta e ainda durante o protocolo verbal evoluir para uma posiccedilatildeo parcialmente correta ou correta era considerada a segunda informaccedilatildeo (correta) e natildeo a primeira dada (incorreta)

Para posterior caacutelculo das meacutedias do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 1 ponto numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica encontram-se os informantes que atribuiacuteram um sentido literal agrave expressatildeo idiomaacutetica resposta considerada parcialmente correta por ser possiacutevel ou viaacutevel dentro de uma ambiguidade estrutural comum agraves locuccedilotildees verbais No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo PC (parcialmente correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 reconhecer unicamente o sentido literal da expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta parcialmente correta (sentido literal) e ainda durante o protocolo verbal apresentar uma resposta incorreta ou correta era considerada ou prevalecia para efeito de codificaccedilatildeo a resposta considerada parcialmente correta sobre a incorreta e a resposta correta prevalecia sobre a parcialmente correta ou incorreta8

8 Nossa metodologia experimental permitiu-nos considerar no diaacutelogo direto com o informante natildeo apenas uma resposta mas vaacuterias respostas agrave questatildeo proposta permitindo que o mesmo tivesse consciecircncia de possiacuteveis erros acidentais ao falar (lapsus linguae) tecnicamente os ajudando a melhorar sua tomada de decisotildees e evitando de outra maneira a cometer erro de desconto parar de buscar outras

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Para posterior caacutelculo das meacutedias da verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel meacutedio valeram 2 pontos numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica estavam posicionados os informantes que anunciaram corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2 ou L1 No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo CO (correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava o sentido idiomaacutetico atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2

Para posterior caacutelculo das meacutedias de verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 3 pontos numa escala de 1 a 3 pontos Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica

Em se tratando de niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica apontaremos as respostas dos participantes classificados em niacuteveis baixo meacutedio e difiacutecil de acordo com acertos e ou erros do sentido idiomaacutetico

A essas respostas dos informantes foram atribuiacutedos uma pontuaccedilatildeo de 1 a 3 que serviu para o caacutelculo da meacutedia e a partir dessa pudemos fazer a verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Agrave medida do possiacutevel procuramos correlacionar os niacuteveis de idiomaticidade com os niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 depois do teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica

ficaram considerados para o teste de idiomaticidade fraseoloacutegica

possibilidades de respostas agrave questatildeo proposta pelo experimentador (STERNBERG 2008 p436-441)

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quatro estudantes cabo-verdianas que declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo matar cachorro a grito ou lembravam mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico

O que nos chamou a atenccedilatildeo eacute que todos os participantes deste grupo identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito e terem recorrido a vaacuterias taacuteticas bottom-up e top-dow no esforccedilo de compreender a expressatildeo

Apesar da competecircncia da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e as habilidades para o emprego de estrateacutegias cognitivas as informantes do Grupo G1 natildeo conseguiram chegar agrave idiomaticidade das expressotildees anunciando as seguintes respostas aqui extraiacutedas do Protocolo Verbal (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos)) (b) ((curto silecircncio)) hum hellip ((riso nasal)) natildeo eu tenho uma noccedilatildeo hellip mas eu natildeo sei explicar esse tem aqui que normalmente as pessoas dizem que os artistas neacute satildeo ricos porque saiu uma reportagem que um artista e h risco rico hellip sendo que a maioria deles mata cachorro a grito hellip e h hellip que a maioria deles e h tipo natildeo sei hellip eu acho que quer dizer que a maioria deles natildeo presta hellip natildeo sei hellip alguma coisa assim hellip tem uma coisa assim natildeo faz nada assim tatildeo hellip ((curto silecircncio)) natildeo sei hellip tenho alguma ideia hellip mas eu natildeo sei dizer ah hellip entendi hellip na verdade a maioria deles vive dando duro hellip e h isso hellip e (c) matar e h fazer uma coisa sem ter certeza sem ter certeza hellip ((a participante repete em coro com o entrevistador)) ((riso)) me pegou hellip viu hellip ((riso)) acho que no sentido a frase matar cachorro a grito e h uma coisa fazer uma coisa que natildeo tem certeza hellip

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

No G3 a despeito de todos os participantes terem identificado corretamente a expressatildeo mas suas respostas foram consideradas incorretas quanto agrave idiomaticidade da expressatildeo matar cachorro a grito (a) Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos

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de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo) (b) ldquomatar o cachorro a gritordquo eacute pra mim significa uma uma coisa assim famosa que todo mundo escuta no sentido aqui ela diz que todo mundo acha que os artistas tecircm dinheiro eacute satildeo pessoas rico porque qualquer coisa de de artista essas pessoas famoso o mundo o mundo ((tossiu)) satildeo divulgadas na tv o povo fala tudo e acham tambeacutem que grita eacute uma coisa real assim[ldquomatar o cachorro a grito] uma coisa expandida assim (c) que natildeo eacute seu[ natildeo sei se estou certa hunrrum passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute [ passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute] (d) sim assim tem aqui que as pessoas pensam que os artistas satildeo ricos e tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmenterdquo artista natildeo pode ficar rico sem cantar ou sem esforccedilo sem fazer o seu trabalho tipo o escritor vocecirc vai ter que escrever muito publicar bons livros para ganhar dinheiro e artista vocecirc vai ter que ter todas as habilidades de apresentar e chamar atenccedilatildeo ao puacuteblico eu acho que eacute isso tem que esforccedilar tem que mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro [mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro] e (e) o que estou entendendo eacute como posso expressar assim como os africanos quando chegaram aqui no Brasil aiacute vocecirc por exemplo os que vem no na escola privada aiacute vocecirc tem que laacute botar para poder atingir seus objetivos se nao fez isso vocecirc natildeo vai conseguir estudar aiacute vocecirc tem que trabalhar um ou dois um ou dois trabalhos pra poder sustentar sua faculdade e sustentar sua estadia no Brasil natildeo sei acho que eacute isso que queria dizerrdquo

Do G4 trecircs informantes conseguiram identificar corretamente a expressatildeo mas revelaram desconhecer seu sentido idiomaacutetico dando respostas como (a) deixa eu comeccedilar aqui(leitura em voz baixa do texto em anaacutelise)hum rum ldquomatar cachorro a gritordquo eu acho que eacute coisas que as pessoas pegam pra eacutepraque as pessoas pegam pra eacute para aplicar pensando que eacute como assimeu to to tirando aqui por exemplo aqui taacute dizendo de um famoso e quando todo mundo ver um cantor ou um autor todo mundo pensa que eacute ricoentatildeo eacute uma

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coisa falsa pode natildeo ser rico mas eacute famoso e todo mundo fala soacute neletodo mundo dizendo que ele eacute assim ele eacute assimentatildeo isso aqui pra mim significa ldquomatar cachorro a gritordquomatando vocecirc assimgritando e do mesmo jeito que eu to pensandocomo um famosoele eacute famoso e vocecirc fica soacutevocecirc pensa que ele eacute daquele jeitoque eacute ricofaz tudomas as vezes natildeo eacute soacute que pelo fato de ser famosordquo (b) natildeo num ()matar a populaccedilatildeo de fome neacute ((o entrevistador fala concomitantemente ao participante no entanto a fala do participante sobressai impedindo a compreensatildeo da fala do entrevistador)) matar a populaccedilatildeo de fome o pessoal ((silecircncio)) eu entendo assim (c) eacute daacute pra falar um pouquinho porque acho que aqui ele vai mostrar o quecirc tipo um brasileiro com um salaacuterio mata cachorro a grito tipo acho que o salaacuterio tambeacutem pode natildeo ser suficiente neacute e natildeo sendo aquele juramento eu penso assim ah matar cachorro entatildeo isso grita neacute natildeo confun tipo natildeo confunde com com matar cachorro entatildeo lamento nessa aiacute falta um tipo lamentar neacute ((riso)) faz algo mas ele taacute fazendo esse algo mas sem sem confir sem confirmidade com o ato que ele taacute fazendo neacute porque por exemplo trabalho pra receber recebe mas o trabalho que eu to fazendo eacute um trabalho que nunca compensa com meu salaacuterio rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados nesse niacutevel os representantes do G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Duas representantes do G3 natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico nem souberam depois de vaacuterias tentativas chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo como podemos atestar em suas respostas (a) porque ( ) da agecircncia exemplo do jovem que quer viajar natildeo vai querer perder vai fazer preccedilo baixo mas isso natildeo significa que vai ter boa viagem isso natildeo significa tambeacutem que ele natildeo vai ganhar nada pode ter tipo

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promoccedilotildees e eles vatildeo dar pra vocecircs mas pode ter consequecircncia na viagem pode ter muitas coisas na viagem que vocecirc natildeo pode natildeo vai poder chegar ao fim natildeo natildeo me ajuda natildeo eu to procurando exemplo para dar pra tentar explicar pagar mico eacute tipo assim vocecirc natildeo estaacute preparada para algum tipo uma festa ((a informante pronuncia fecircsta)) eu sei de festa desde a semana passada eu natildeo preparei aiacute eu vou esperar o dia da festa pra para ir para se virar e conseguir dinheiro pra estaacute laacute um exemplo acho que isso eacute certo eu natildeo tenho eu sei das coisas mas eu natildeo me preparei tipo Jesus vai chegar e eu natildeo estou preparada quando Jesus chegar eu vou dizer ldquoah Senhor eu natildeo posso ir porque eu natildeo estou preparada ((risos da informante)) natildeovocecirc tem que ir entendeu (b) ldquoa boa viagemrdquo deixa eu meu entender ldquoboa viagemrdquo ldquoembarcou comrdquo ldquoagecircnciardquo natildeo sei essa ldquoboa viagemrdquo natildeo sei pra mim como taacute referendo aos estudantes aqui neacute natildeo significa se a pessoa contatar empresa esse CNPJ significa que resolver tudo pra mim natildeo sei ah mico pagar macaco pagar um um um valor ma ma natildeo ldquopagar mico ldquopagar micordquo mico pode ser a metade do valorpagar a metade do valorrdquo

Quatro representantes do G4 natildeo apenas identificaram a expressatildeo natildeo pagar mico como tambeacutem natildeo conseguiram em sua totalidade chegar ao sentido idiomaacutetica da expressatildeo (a) ((riso)) natildeo sei natildeo seiacho que eacute vocecirc vocecirc costuma levar ela na vocecirc costuma levar ela natildeo entatildeo nesse sentido ela jaacute taacute na altura de natildeo precisa mais ser acompanhada pelo pelo pelo pai neacute senatildeo vai criar o custo mais do que vai criar mais custo neacute porque vocecirc paga pra ela e paga pra vocecirc neacute mas acho que eacute meio confuso porque depende se vocecirc tiver um carro neacute ((riso)) se vocecirc natildeo tiver carro eu acho que vai custar mais mas natildeo sei acho que eacute mais ou menos eu entendo assim (b) ((silecircncio)) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem ((silecircncio)) sei natildeo (c) ((silecircncio)) natildeo natildeo hum essa preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem como eacute que eu posso dizer eacute tipo frescura a pessoa ficar fazendo frescura assim com eacute brincar com a pessoa eacute tirar onda com a pessoa e (d) natildeo repita aiacute repita ((riso)) vai ser dividido com os colegas neacute ldquo preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio e ela significa o quecirc eacute

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porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacutepor exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacuteaiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem pagar a viagem deles neacutequando taacute viajando com elesporque assim ldquo para quem natildeo quer pagar mico na escolha e um pacote de viagemrdquo eacute pagar com ele mesmoeacute mais ou menos assimrdquo

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Das estudantes do G1 uma representante de Cabo-Verde

apontou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) ((curto silecircncio)) seria mais complicado ah associar eu associaria uma cerveja quente beber uma cerveja quente eacute muito difiacutecil eacute muito ruim natildeo eacute gostoso eacute cansativo eacute eacute pra mim eu associaria a algo cansativo eacute bebida seria uma expressatildeo cansativa eacute beber uma bebida quente vocecirc pode ficar provavelmente mais cansado pega um (drag wis) ((hipoacutetese do que se houve))mais raacutepido ter dificuldade de andar eacute mais cansativo assim num sei entendo que eacute isso ((estalos ao fundo))rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo

Do G3 apenas uma estudante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico configurando baixo niacutevel (a) ldquoah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacuterdquo

Do G4 dois participantes apresentaram respostas incorretas (a) eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico(risos) mas essa aqui natildeo taacute referindo mesmo a a umeacute essa coisa taacute querendo tirar um exemplo de outra coisa aiacute e eacute isso que eu to procurandoporque eu sei que quando vocecirc beber vocecirc fica assim querendo ir ao banheiro para poder voltar mas aiacute eu natildeo seisoacute que aiacute eu natildeo saiumas aiacute refrigerante talvez sim mas eacute algo que fica na cabeccedila vocecirc fica embriagadomas o sentido dessa aqui eacute outra coisaeu to procurandopois prontovamos continuar outra coisa (b)

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sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute sim pra mim tambeacutem vocecirc a gente pode pensar assim libertar de uma situaccedilatildeo libertar de uma situaccedilatildeo eacute por exemplo vocecirc tava chateado vocecirc tava com preocupaccedilatildeo problemas assim entendeu vocecirc podia escolher um jeito por exemplo laacute na sua casa vocecirc pode ter um problema assim com a famiacutelia vocecirc fica chateado vocecirc diz a melhor forma eacute sair de casa procurar a casa de um amigo pra ficar com seu amigo laacute conversar um pouco pra esquecer o problema entatildeo nesse sentido tambeacutem pode ser tirar aacutegua do joelho ((riso))rdquo

Pocircr a boca no trombone Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo pocircr a boca no trombone

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

D G3 apenas uma informante natildeo identificou corretamente a expressatildeo nem o sentido idiomaacutetico de pocircr a boca no trombone ao responder (a) CRIMES no municiacutepio natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa perdeu o juizo

Do G4 um informante conseguiu identificar corretamente a expressatildeo mas ao atribuir sentido agrave expressatildeo teve sua resposta considerada incorreta (a) ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone por exemplo defendeu um crime neacute defender uma coisardquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos grupos G1 G2 e G3 nenhum participante declarou incorreto o

sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa

Do G4 apenas um participante mesmo tendo identificado a expressatildeo declarou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) encontro a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoa neacute sim (barulho cadeira sendo arrastada) eacute porque eacuteque por exemplo o Brasil tem muitos estados neacutetem muitos (poliacuteticos)

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impressionados neacuteos governantesentatildeo ele quis dizer que tem que ser firmetem que saber com quantos paus se faz uma canoa o pau tem que ser firmese natildeo vai aiacutevai chegar ateacute na cabeccedila dele mesmo o mesmo sentidordquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam incorretamente o sentido

idiomaacutetico (a) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo mandar todos os inocentes pra cadeia e deixar livres os culpados natildeo fazer a justiccedila como deve ser falta o povo chutar o pau da barraca natildeo eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado eacute daacute a ideia de desistir (b)falta o povo chutar pau da barraca ((sussurros incompreensiacuteveis da participante aparentemente analisando alguma passagem do texto)) num sei hellip ((riso)) falta o povo chutar barra o pau da barraca tipo o que isso tem a ver com Cazuza e h tipo um que eles tatildeo fazendo aqui tipo uma comparaccedilatildeo de como taacute o mundo da muacutesica negoacutecio de muacutesica hoje hellip num sei hellip porque tem aqui ldquoqueria ver Roberto Carlos de pretordquo hellip como ele taacute sempre de branco cantando outro tipo de muacutesica que natildeo e h samba hellip e h tipo num sei hellip falta o povo chutar o pau da barraca que e h que o povo agora taacute assim hellip num sei hellip num sei explicar isso hellip e h tipo hellip desistir hellip sei laacute hellip comeccedila fazer uma coisa assim direito e depois o povo chutar o pau da barraca nunca ouvi falar hellip ((balbucios)) ((silecircncio)) hum hellip no sentido hellip acho que o povo chutar o pau com da barraca e h conhecer outras pessoas outros () acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo chutar o pau da barraca

Do G3 duas participantes declararam incorreto o sentido idiomaacutetico (a) ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo sim exemplo tipo o Cid que pegou o dinheiro e deu para Ivete e agora ele vai pagar chutou o pau da barraca ele natildeo sabia as consequecircncias tirou o dinheiro do povo neacute agora vai pagar pelo bolso dele mesmo ((risos dos dois)) eu acho natildeo sei mas

211

eu acho que tocirc certa eacute isso vai depender dos seus atos ((risos)) mas eu tenho certeza que eacute sim ((risos da informante)) (b) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquoGI ndash ICParticipante dar uma contrapartida um comeccedilo assim dar um comeccedilo eacute comeccedilar uma coisa assim no meu entender eacute assim rdquo

Do G4 um participante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico (a) falta o povo chutar o pau da barraca ldquosinto falta do Cazuza do Nei Mato Grosso acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano falta o povo chutar o pau da barracardquoeacute cada um fugindo dodo quer dizer eacuteo que todo mundo tava querendo se for eu vou passar na frenteentatildeo era assim que todo mundo queria em ir ver opor exemplo Roberto Carlos taacute dentro da barracaeu posso falar assimaiacute todo mundo queriam veraiacute pode ser como um assumirnatildeo eu vou controlar o grupo vocecirc eacute o responsaacutevel para controlar o grupo mas quando chegar muita gente e ele cansado acaba por natildeo querer mais e tomaram a responsabilidade aiacute fica querendo desistire esse Caetano[ ( leitura em voz baixo de texto em anaacutelise)]eacute que o sentido desse aqui eu tenho que ver quando comeccedilou essa histoacuteria todaeu jaacute tenho o sentido jaacute tenho uma ideia mas aqui eacute falta o povo desistir mesmodesistir de de concorrer para entrar para concorrer querer entrar laacute pra ver o Roberto Carlos num Show que ele tava dandoele tava cantando e todo mundo queria mas com essa dificuldade de entrar o povo vatildeo acabar desistindo mesmode natildeo querer mais ir rdquo Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 uma participante declarou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico configurando um niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica (a) ldquoelas economizam () eacute tipo se esfor se esforccedilar pra ter um pouco do que ele tem ou conseguir um pouco do que ele natildeo tem mais ou menos isso rdquo

Dos grupos G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico

212

Pagar mico Dos grupos G1 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os

representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquoaiacute nesse caso pra evitar de ser vocecirc dizendo aqui MANGANDO neacute aiacute vocecirc fica prefere ficar calado sem algueacutem mangar de vocecirc ou prefere ficar com duacutevida sem perguntar ao professor natildeo sei se eu estourdquo

Do G4 apenas um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquo[(leitura baixa do texto em destaque)]eacuteeacute por isso que eu estou dizendo sabemos que chipanzeacute eacute grande[( risos)] eacute uma coisa grandeentatildeo pra mim o sentido eacute o mesmoeacute essa coisa pra quem natildeo pagar um preccedilo grande na escolha de um pacote de viagem eacute isso que eu to pensandordquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Pocircr a boca no trombone De G1 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados

por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 e G2 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico (a) ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute

Do G4 um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquosim porque pra mim literalmente o que eu entendi aqui eacute mostra por exemplo a Dilma eacute presidente neacute entatildeo pra quem quer construir uma canoa natildeo basta soacute usar o pau da madeira neacute o tronco da aacutervore tem que levar mais pra pra poder construiacutes neacute entatildeo literalmente o que ele queria dizer aqui que a Dilma sozinha natildeo pode construir uma por exemplo uma canoa neacute ou um barco assim entatildeo tem que levar tem que chamar outras pessoas que vai compor o governo dela entatildeo nesse sentido que eu acho aiacuterdquo

Chutar o pau da barraca De G1 G2 e G3 nenhum dos informantes anunciou parcialmente

correto o sentido idiomaacutetico Do G4 apenas uma informante declarou parcialmente correto o

sentido idiomaacutetico (a) ldquoHum (silecircncio) Ah eu acho que chutar o pau da barraca pelo que eu entendo eacute por exemplo jogar uma pessoa pra fora assim porque essa pessoa jaacute natildeo merece mais entatildeo eu acho que essa expressatildeo eacute uma coisa rdquo

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Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 nenhuma informante anunciou correto o sentido

idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G2 todos os participantes identificaram corretamente a expressatildeo Ao serem indagados quanto ao sentido quatro participantes deram respostas consideradas corretas (a) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremashellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro)) e (b) ele tem que todo reivindicar os seus direitos gritar gritar gritar pra ver se se tem algum benefiacutecio com isso com isso seja seja sei laacute aumento do salaacuterio ou ou outro tipo de ajuda eu acho que eacute isso reivindicar os seus o que a gente a gente tem que todo dia trazer esse assunto agrave tona trazer esse assunto agrave tona e acaba todo e acaba envolvendo vaacuterias pessoas pra pensar do mesmo jeito (c) ((pausa acentuada)) acho que aqui ele diferencia os tipos de artistas que no comeccedilo fala que a maioria das pessoas pensa que qualquer artista jaacute eacute rico e que principalmente os astros de TV de cinema de novela ganham muito bem e as pessoas assim pensam que eacute faacutecil o trabalho deles pra conseguir aquele principalmente pra conseguir aquele dinheiro a maioria deles se torna pessoas puacuteblicas jaacute natildeo tem assim a privacidade a privacidade eacute apertada e que eles tecircm que trabalhar muito pra conseguir o que eles conseguem acho que eacute isso e (d) entatildeo e h a mesma coisa que dar duro dar duro hellip o cara trabalha mesmo hellip daacute

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muito duro pra conseguir o quecirc quer hellip trabalho pesado mesmo hellip ((estalos ao fundo))

Do G3 a despeito de todas as participantes terem identificado corretamente a expressatildeo nenhuma informante anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 dois participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa e h tipo hellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso)) ir agrave procura (b) aiacute todo dia tem que batalhar para alcanccedilar alguma coisanem mesmo que seja tomar alguma coisa para ajudar a famiacuteliaele vai pegar rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 dois participantes natildeo haviam identificado anteriormente

a expressatildeo mas depois de enveredarem por vaacuterias recursos cognitivos chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) nada hellip ((riso nasal)) eacute existe eu sei o que eacute tipo passar vergonha eacute fez algo e todo mundo ficou vendo ela com ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei e (b) ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico e h pagar passar vergonha hellip jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos))rdquo

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Dos grupos G3 e G4 nenhum informante de Guineacute-Bissau anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Do G1 apenas uma participante anunciou corretamente o sentido

idiomaacutetico da expressatildeo (a) ldquoe h a mesma coisa que fazer xixi hellip urinar helliprdquo Do G2 dois participantes chegaram agrave idiomaticidade da

expressatildeo tendo anteriormente feito a identificaccedilatildeo parcial por reduccedilatildeo da expressatildeo (a) fazer xixi nesse caso hellip e jaacute tinha ouvido laacute vaacuterias vezes hellip e () vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (b) ldquomais aacutegua no joelhordquo eacute eacute urinar neacute eacute vocecirc tirar o que jaacute estaacute dentro da barriga neacute ((risos)) pra botar pra dar mais espaccedilo pra colocar mais bebida neacute praticamente

Do G3 quatro estudantes guineenses conseguiu chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho em que noacutes registramos as seguintes respostas (a) Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho com certeza eu acho que faz mais a pessoa urinar ir pro banheiro de vez em quando (b) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar eacute quando como vocecirc acabou de dizer estaacute consumindo quando vocecirc consome uma duas trecircs vocecirc jaacute quer ir ao banheiro pra urinar (c) natildeo ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute (d) ldquoaacutegua no joelhordquo eacute eacute eacute fazer xixi neacute urina exemplo vocecirc vai bebe e bebe aiacute quando o estocircmago jaacute estaacute cheio vocecirc tem sensaccedilatildeo de urina vocecirc tem que urinar quando a pessoa tem urina vocecirc pode esconder mas vai sair natildeo pode ficar aiacute tem que tirar e voltar quando sai aiacute ele pode aumentar o volume que ele querrdquo

Do G4 trecircs participantes apresentaram o sentido idiomaacutetico correto da expressatildeo (a) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar tirar mais aacutegua do joelho mais aacutegua do joelho () aacutegua do joelho ((silecircncio)) eu acho que e h tipo hellip tem que fazer xixi (b) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar aacutegua do joelho mijar (riso intenso) (c) ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais aliviado rdquo

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Pocircr a boca no trombone Do G1 apenas uma participante cabo-verdiana foi submetida agrave

anaacutelise de dados por atender as condiccedilotildees de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Apoacutes ser indagada quanto ao sentido da expressatildeo respondeu (a) ((silecircncio)) hum a boca no trombone falar tudo falar sobre os podres do outro) eacute ((silecircncio ruiacutedos ao fundo)) botar a boca no trombone eacute falar tudo falar sobre os podres do outro rdquo

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G3 trecircs informantes identificaram corretamente e chegaram ao sentido idiomaacutetico tambeacutem de forma que podemos observar nas seguintes respostas (a) POcircS a correta conforme bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica (b) pocircs a boca no trombone assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (c) ldquobotar a boca no trombosordquo botar a boca no trombosporque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

Do G4 um informante identificou parcialmente correto e chegou ao sentido corretamente como podemos observar (a) ldquo a boca no trombonerdquo ldquoum advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposa ldquo a boca no trombonerdquo () entatildeo isso que dizer com taacute dizendo aqui boca no tromboneaqui no Cearaacute utiliza boca neacutequando o cara diz boca eacutepor exemplonuma empresa que quer fazer o blog dela coloca o wwwblognatildeo sei o quecircblog eacute uma coisa que fala mais deo que fala aiacute faz neacuteentendeu fala para fazerfaz o eacute isso que dizer isso neacute ldquo boca no trombonerdquo neacuteeacute pode ateacute ser porque ldquo boca no trombonerdquo tambeacutem eacute aquela pessoa que faz confusatildeo eacute aquele cara quefala muito neacute issoo cara que fala muitocomo se fo-sse o cara que todo canto que taacute vocecirc vai ouvir a voz deletodo canto que ele taacute vocecirc

218

vai ouvir a voz dele falandoaiacute falam boca no tromboneo cara que fala muitoque fala alto rdquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do G1 duas informantes foram para a anaacutelise de dados do

Protocolo Verbal As duas haviam parcialmente identificado a expressatildeo obtendo ambas uma resposta correta quanto agrave idiomaticidade semacircntica (a) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez e (b) ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () define com natildeo ser brincadeira eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute rdquo

Do G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino teve analisado seus dados do protocolo verbal obtendo a seguinte resposta considerada correta (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo bom eacute que natildeo em nada de moleza neacute e que ela vai principalmente encontrar dificuldades porque segundo o que foi repassado pela miacutedia a a candidatura da Dilma foi muito apoiada pelo lula entatildeo a Dilma entrou como uma mulher que eacute pra decidir e ela entrou num momento que o Brasil ta-va com uma economia meio bagunccedilada en-tatildeo ela natildeo en-trou num mandato muito faacutecil entatildeo ela entrou sabendo das dificuldades que a economia tava passando naquele momento e por ser uma candidata defendida pelo Lula o povo sempre espera mais neacute sabendo que o Lula jaacute tem o renome no Brasil en-tatildeo natildeo vai ser um mandato muito faacutecil por isso que eu acho que quando a expressatildeo diz ldquoquantos paus se faz uma canoardquo mostra o grau de dificuldade que ela vai ter que natildeo vai ser faacutecil e tambeacutem tem o lado de ser histoacuterico a primeira mulher

219

no mandato do Brasil entatildeo a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Do G3 obtivemos as trecircs respostas das informantes consideradas corretas (a) Eacute tem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa entatildeo essa daqui eacute como ela foi empossada neacute aiacute ela tem que ela vai ter que enfrentar muitas coisas criacuteticas desafios aiacute eu acho que essa palavra haver com isso que ela vai ter que saber com quantos paus se faz uma canoa ela vai ter que saber quais satildeo as dificuldades de laacute quais satildeo os trabalhos que ela deve fazer ela tem que (b) ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo porque ela vai ver as dificuldades vai ver muitas coisas que pra ela mesmo RESOLVER e vaivai ter muitas pessoas que vatildeo apontar o dedo nela e ela ter que tem que tem que tentar aceitar e ter que respeitar e (c) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute eacute rdquo

Do G4 dois estudantes guineenses anunciaram corretamente o sentido da expressatildeo (a) ldquohum hellip ((curto silecircncio)) ((balbucio)) e h tipo tu vai ter que aprender mesmo e h hellip aprender a lidar com com a coisa que tu tu vai viver com mesmo hellip (b) isso se mais ou menos isso com quantos paus faz uma canoa eacute por exemplo eacute um uma conversa assim pra pra que vocecirc natildeo faz uma coisa errada neacute rdquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam correto o sentido idiomaacutetico

da expressatildeo (a) eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura (b) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim rdquo

Do G2 dois participantes declararam correto o sentido fraseoloacutegico (a) chutar o pau da barraca chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou largar tudo largar tudo (b) bom esse

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aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo rdquo

Do G3 duas participantes declararam corretamente o sentido idiomaacutetico (a) ldquofalta o povo CHUtar o pau da barracardquo vou TENTAR eacute como se fossequando o povo jaacute estaacute revoltado aiacute quer fazer alguma coisa e tem medo ainda pra fazer aiacute depois TODO mundo se une faz uma coisa natildeo sei se eu estou ((risos da informante)) (b) quer dizer chutar o PAU da barraca significa desistir de alguma coisa neacuterdquo

Do G4 quatro participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico (a) e h a pessoa que natildeo cumpre com com o dizer hellip posso dizer assim hellip natildeo cumpre com o combinado hellip (b) falta o povo chutar o pau da barraca ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute uma revolta ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo () (c) eacute do jeito que eu to achando aiacute neacuteque o povo jaacute taacute chateadojaacute taacute cansado desse negoacutecio todo aiacuteentatildeo resolveram chutar o pau para estragar para afrontar oque taacute no poder neacuteentendeu por exemplo na poliacutetica mesmo aiacute o povo fica cansado desse negoacutecio de (mudanccedila)tirar o presidentemudar o governador aiacute jaacute taacute (farto) desse negoacuteciofalta o povo chutar o pau da barracae este Roberto Carlos cantando samba de preto catando sambafaz parte da parte racional neacuteporque ele natildeo eacute brancoe faz canccedilatildeo neacuteaiacute o cara prefere ver preto cantando( risos) (d) ((riso)) daacute pro povo chutar o pau da barraca acho que no exemplo aqui neacute se noacutes como estudante noacutes somos cidadatildeos somos um povo neacute se a gente natildeo concorda com alguma coisa a gente podia ateacute pensar na criar um iacutendice neacute de problema pegar pra derrubar neacute a direccedilatildeo ou como eacute que se diz o responsaacutevel neacute do curso ou do departamento entatildeo eu penso que essa ideia do povo derrubar ou chutar o pau da barraca quebrar uma certa hierarquia neacute tipo hierarquia hierarquicamente neacute eacute que o povo acha que natildeo eacute bom pra rdquo

221

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Atribuiacuteda pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes pudemos

calcular as meacutedias e os desvios padratildeo e classificar as expressotildees idiomaacuteticas segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (intralinguiacutestica ou lusoacutefona)

Vejamos uma tabela com os valores da idiomaticidade fraseoloacutegica a partir dos dados dos informantes

Os valores meacutedios dos itens individuais conforme vemos na tabela acima variaram de 160 para a expressatildeo natildeo pagar mico a 264 para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa conforme descreve a Tabela 1 A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 209

Tomados os valores da tabela 1 pudemos fazer uma nova classificaccedilatildeo das expressotildees quanto ao grau de idiomaticidade intralinguiacutestica fraco doble e forte9

Natildeo houve registro de idiomaticidade doble (deacutebil e forte) entre as seis expressotildees uma vez que fizemos os caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal no qual os participaram recorreram amiuacutede a taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo para tentaram chegar ao sentido idiomaacutetico das expressotildees do experimento

As expressotildees ldquonatildeo pagar micordquo ldquomatar cachorro a gritordquo e ldquochutar o pau da barracardquo com meacutedias 160 172 e 172 respectivamente foram as expressotildees idiomaacuteticas mais difiacuteceis de serem compreendidas portanto com idiomaticidade forte ou seja mais opacas para os estudantes africanos

Com a meacutedia 243 em ambas as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e ldquopocircr a boca no trombone foram as que apresentaram uma idiomaticidade fraca

Com meacutedia 264 a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa foi a uacutenica que apresentou uma idiomaticidade fraca isto eacute menos opacas

9 Recorremos a Garciacutea-Page Sanchez (2008 p 394-396) para estabelecermos os trecircs graus de idiomaticidade

222

Graacutefico 3 - Meacutedias da idiomaticidade fraseoloacutegica por expressatildeo

Tabela 8 - Meacutedias e Desvios Padratildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica

Expressotildees Idiomaacuteticas Meacutedia Desvio Graus de

Idiomaticidade

1 Natildeo pagar mico 160 084 forte

2 Matar cachorro a grito 172 096 forte

3 Chutar o pau da barraca 172 095 forte

4 Tirar (mais) aacutegua do joelho

243 094 fraca

5 Pocircr a boca no trombone 243 098 fraca

6 Saber com quantos paus se faz uma canoa

264 067 fraca

Meacutedia das meacutedias 209

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

Na Tarefa 4 testamos as seguintes hipoacuteteses

(a) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(b) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos

172

16

243243

264

231

Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tira mais aacutegua dojoelho

223

taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

(c) Satildeo estrateacutegias top-down que influenciam na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

Para respondermos a pergunta da Tarefa 4 e testarmos as hipoacuteteses acima tivemos que considerar a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo registrada nos protocolos verbais think aloud das tarefas 1 (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) 2 (memoacuteria fraseoloacutegica) e 3 (idiomaticidade fraseoloacutegica)

No Corpus Afri procuramos distinguir na transcriccedilatildeo ortograacutefica dos aacuteudios atraveacutes de codificaccedilatildeo das informaccedilotildees linguiacutesticas (por exemplo emprego de paraacutefrase codificado como RP) e psicolinguiacutesticas (por exemplo emprego de conhecimentos preacutevios codificado como CP) as taacuteticas e as estrateacutegias cognitivas usadas pelos informantes para desvelar o sentido das expressotildees idiomaacuteticas

No quadro abaixo reproduzimos a codificaccedilatildeo de ocorrecircncias de taacutetica (RP) e estrateacutegias (AC SL) em parte de entrevista feita pelo experimentador com um informante cabo-verdiano

Quadro 3 ndash Codificaccedilatildeo das estrateacutegias

Codificaccedilatildeo Entrevista

GF ndash CO GI ndash CO AC RP SL

Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica [Caso afirmativo perguntar se conhece algum equivalente em crioulo e no portuguecircs usado em Cabo Verde] Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo

224

famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

SO Entrevistador e vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes

VM ndash NC Participante natildeo natildeo natildeo conhecia hellip

SO Entrevistador natildeo conhecia no seu paiacutes ()

VM ndash NC Participante natildeo conhecia hellip

A metodologia experimental levada a efeito em nossa pesquisa

nos fez ver desde logo na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes como nascedouro das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo as respostas dos informantes aos primeiros comandos do experimentador registradas no protocolo verbal atraveacutes do qual investigaacutevamos a capacidade fraseoloacutegica dos informantes de identificar formalmente uma expressatildeo idiomaacutetica pluriverbal e fixa evocaacute-la se estivesse armazenada em sua memoacuteria de longo prazo e caso a desconhecessem imediatamente procedessem com solicitaccedilatildeo de ajuda teacutecnica ou a aceitasse do experimentador e soacute entatildeo com uma informaccedilatildeo nova definiccedilatildeo de uma palavra exemplo informal ou texto formal dados atribuiacutessem sentido translatiacutecio ou idiomaacutetico agrave expressatildeo assinalada pelo experimentador

No trecho do Corpus Afri acima observamos que taacuteticas bottom-up de compreensatildeo jaacute estavam manifestas nos diaacutelogos entre experimentador e informante na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica) assim como observamos estrateacutegias top-down mais proeminentes nas tarefas sobre memoacuteria fraseoloacutegica (Vocecirc lembra ou ouviu esta expressatildeo no Brasil ou no seu paiacutes de origem em crioulo ou em liacutengua portuguesa) e particularmente na tarefa sobre idiomaticidade fraseoloacutegica (Vocecirc saberia me dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em crioulo ou em portuguecircs falado ou escrito em seu paiacutes)

Por essa razatildeo na Tarefa 4 para discriminarmos as taacuteticas e estrateacutegias cognitivas levamos em conta as respostas dos informantes nestas trecircs tarefas descritas anteriormente

Atentos a este valor proativo do protocolo verbal a partir da primeira tarefa passamos a codificar as respostas com o fito de traccedilar os processos cognitivos relacionados agrave identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade das expressotildees idiomaacuteticas presentes neste experimento

225

Com o mesmo esmero passamos a identificar e a classificar taacuteticas e estrateacutegias cognitivas usadas recorrentes ou natildeo natildeo soacute na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica mas tambeacutem nas demais tarefas deste experimento (memoacuteria fraseoloacutegica e idiomaticidade fraseoloacutegica)

Em estudos anteriores a terminologia das estrateacutegias adotada pelos experimentadores (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993 Block 1986 Brown 1996 Cooper 1999) foi a seguinte estrateacutegias de preparaccedilatildeo (Strategy Preparatory e estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (Strategy Guessing) e se mostrou eficaz na aacutenalise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir dos protocolos de think aloud Adotamos a terminologia do modelo estrateacutegico mas com foco em duas perspectivas de estudos fraseoloacutegico e psicolinguiacutestico

Para melhor refinar nossa abordagem (psico)linguiacutestica julgamos necessaacuterio fazer pequenos ajustes na terminologia das estrateacutegias (Strategy Preparatory e Strategy Guessing) Assim sendo os novos roacutetulos das estrateacutegias foram inspirados nas outras visotildees teoacutericas que tratam da construccedilatildeo da compreensatildeo pelo leitorouvintefalante ou em outras palavras baseamos nossa terminologia nas teorias de processamento da informaccedilatildeo do texto (CATANIA 1999 p360) Desta maneira por exemplo o que Cooper (1999) chamou de strategy preparatory rebatizamos no primeiro momento em estrateacutegias bottom-up depois vimos que rigorosamente tratavam-se no diaacutelogo do experimentador com os informantes de taacuteticas bottom-up ascendentes de baixo para cima uma vez que efetivamente soacute eram usadas pelos informantes como preparaccedilatildeo para o processo adivinhatoacuterio propriamente psicolinguiacutestico que ocorria quando recorriam a strategy guessing isto eacute a estrateacutegias top-down estas sim incontestavelmente descendentes de cima para baixo da mente do falante para o texto lido ou ouvido

Na fase de preacute-testes durante da aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal think aloud a pequeno grupo de estudantes nativos e de natildeo ativos do PB observamos que diante de muitas expressotildees idiomaacuteticas o processamento de compreensatildeo dos falantes comeccedilava e era controlado pelo proacuteprio texto isto eacute ocorria a chamada teoria de fora para dentro ou processamento dirigido pelo texto em que prontamente poderiacuteamos esquadrinhar o uso de procedimentos cognitivos denominado pela literatura psicolinguiacutestica de bottom-up

226

(ascendentes ou de baixo para cima) mais apropriadamente denominadas por noacutes de taacuteticas bottom-up mas com tipos igualmente classificadas pelos teoacutericos anteriores (a) repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (RP) (b) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (DA) e (c) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (SI) Podemos observar que em nenhuma das trecircs taacuteticas estaacute previsto que o informante chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada na questatildeo do experimento

A mudanccedila numenclatoacuteria de estrateacutegias de preparaccedilatildeo para estrateacutegias bottom-up e desta para a denominada taacuteticas bottom-up decorreu de reflexatildeo nossa a partir de estudos de Loacutepez Delgado (2002) bem como de orientarmos nossa atenccedilatildeo para procedimentos linguiacutesticos dos informantes quando na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes Vimos que as bottom-up (RP DA e SI) se constituiacuteam efetivamente mais taacuteticas (do grego τακτικός este derivado de τάσσειν pocircr em ordem com a noccedilatildeo de habilidade do informante para tentar sair-se eficientemente bem na tarefa proposta) do que propriamente estrateacutegias (palavra do latim strategĭa e esta derivada do grego στρατηγία com a ideia neste trabalho de o informante aplicar eficazmente recursos cognitivos visando alcanccedilar a compreensatildeo idiomaacutetica) por serem como jaacute dissemos antes procedimentos preparatoacuterios e natildeo decisoacuterios no processamento da compreensatildeo idiomaacutetica

Nos casos em que os participantes compreenderam a expressatildeo idiomaacutetica comeccedilando e controlando a partir de experiecircncias e expectativas que traziam para o texto ocorria a chamada teoria de dentro para fora ou processamento dirigido pelo proacuteprio falante denominadas de strategy guessing por noacutes rebatizadas de estrateacutegias top-down (descendentes ou cima para baixo) sendo que previamente assinalados os seguintes tipos (a) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (AC) (b) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (AA) (c) adivinhar o sentido da expressatildeo a partir do contexto informal ou improvisado (AT) (d) usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (SL) (e) usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (CP) f) referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em l1 para entender a expressatildeo idiomaacutetica em l2 (l1 ou seja crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

227

e (g) Usar outras estrateacutegias (OE) Atraveacutes de uma ou mais estrateacutegias top-down os informantes poderiam chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada no experimento

Conservamos pois em nossa pesquisa esta denominaccedilatildeo top-down mas nesta modalidade acrescentamos novas estrateacutegias como AA e AT para atender os propoacutesitos dos trecircs experimentos de nossa pesquisa Por essa razatildeo no primeiro experimento natildeo haacute registro de AA por ter natildeo terem sido disponibilizadas questotildees de muacuteltipla escolha A estrateacutegia AA soacute aparece na segunda bateria de testes A estrateacutegia AT aparece nas trecircs baterias de testes

Durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal observamos que as taacuteticas bottom-up e as estrateacutegias top-down natildeo eram no processamento fraseoloacutegico etapas estanques isto eacute vaacuterias delas podiam funcionar juntas e concomitantes sendo as taacuteticas bottom-up as de ativaccedilatildeo cognitiva inicial enquanto estrateacutegias top-down as de caraacuteter inferencial decisoacuteria no chamado jogo de adivinhaccedilatildeo psicolinguiacutestica (GOODMAN 1967 SMITH 1999 2003)

Na fase de codificaccedilatildeo do Corpus Afri vale ressaltar que as respostas dos participantes para cada expressatildeo foram divididas em segmentos discursivos procedimento facilitador para a codificaccedilatildeo das respostas por termos feito uma transcriccedilatildeo grafemaacutetica (ou ortograacutefica) dos aacuteudios dos participantes bem como exequiacutevel para os casos de reproduccedilatildeo em nossa exposiccedilatildeo Em seguida as transcriccedilotildees jaacute codificadas foram lidas relidas analisadas marcadas e remarcadas de acordo com os recursos cognitivos utilizados pelos participantes e como jaacute assinalamos antes a partir de um conjunto de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas previamente determinadas e consensualmente aceitas para pesquisas relacionadas com compreensatildeo idiomaacutetica em L1 ou L2 ou envolvendo ambas

Segue abaixo um quadro contendo abreviaturas e descriccedilotildees das taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down que utilizamos nos trecircs experimentos Quadro 4 - Abreviaturas usadas na anaacutelise do corpus AFRI

TAacute

TI

CA

S

BO

TT

OM

-

UP

RP Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica O informante voltar a ler ou a dizer (o que jaacute leu ou ouviu) ou diz de maneira diferente o mesmo conteuacutedo em que aparece a expressatildeo idiomaacutetica no texto lido

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DA Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou o seu contexto sem adivinhar o sentido O informante analisa a expressatildeo idiomaacutetica e levanta questotildees a respeito do seu sentido examinando detalhadamente seus elementos lexicais sem chegar poreacutem ao sentido translatiacutecio ou fraseoloacutegico da expressatildeo

SI Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica ou sobre elementos constituintes de uma imagem que pode evocar uma unidade fraseoloacutegica O informante pede ajuda teacutecnica ao examinador dos testes Com exceccedilatildeo de informaccedilotildees relacionadas ao sentido da expressatildeo idiomaacutetica o examinador fornece informaccedilotildees metalinguiacutesticas sintaacuteticas e pragmaacuteticas de modo a encorajar o informante a continuar falando sobre a expressatildeo idiomaacutetica (contexto de estiacutemulo) ou a imagem apresentada (imagem de estiacutemulo) durante a aplicaccedilatildeo dos testes

ES

TR

AT

EacuteG

IAS

TO

P-D

OW

N

AC Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal O informante consegue decifrar ou interpretar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal dado extraiacutedo de texto (mateacuteria coluna etc) de jornal de circulaccedilatildeo nacional ou de exemplo dado pelo pelo experimentador

AA Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir alternativas de muacuteltipla escolha) O examinador depois de observar a dificuldade do informante em dar uma paraacutefrase definitoacuteria da expressatildeo idiomaacutetica indicada apresenta ao informante trecircs alternativas de muacuteltipla escolha (abc) sendo uma com paraacutefrase idiomaacutetica ou contextual (correta) uma com paraacutefrase literal (parcialmente correta) e uma paraacutefrase com distrator criacutetico (incorreta)

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AT Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir de contexto formal (texto de circulaccedilatildeo) ou de contexto informal ou improvisado(texto ad hoc) O informante solicita ao examinador um contexto formal de uso da expressatildeo idiomaacutetica ou contexto informal com a expressatildeo idiomaacutetica dada no item do questionaacuterio O examinador pode ter a iniciativa de anunciar ou disponibilizar os textos para o informante No caso de exemplo formulado pelo examinador com o mesmo sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica do texto formal caracteriza-se por seu aspecto espontacircneo e o mais proacuteximo possiacutevel da linguagem comum da variante brasileira do portuguecircs

SL Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico O informante recorre ao sentido literal da expressatildeo idiomaacutetica para desvelar seu sentido idiomaacutetico durante a realizaccedilatildeo dos testes podendo utilizar este recurso antes ou depois da leitura do contexto de estiacutemulo (texto) antes ou depois de solicitaccedilatildeo de informaccedilatildeo (SI) ou depois de fornecida uma ajuda teacutecnica pelo examinador

CP Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica O informante emprega seus conhecimentos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) relacionados agrave metalinguagem ao assunto do texto agrave intercultura e agraves experiecircncias de vida (memoacuteria cotidiana ou autobiograacutefica)

L1 Referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) O informante na construccedilatildeo ou elaboraccedilatildeo de sua compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em L2 faz referecircncia agrave sua liacutengua materna (crioulo) inclusive quando solicitado buscando uma expressatildeo nativa equivalente agrave do portuguecircs brasileiro

OE Usar outras estrateacutegias O informante recorre a uma seacuterie de operaccedilotildees

extralinguiacutesticas ou heuriacutesticas que natildeo pertencem ao sistema da liacutengua ou ao sistema fraseoloacutegico do portuguecircs associando-se agrave aplicaccedilatildeo destas na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas no que tange

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ao sujeito eou agrave situaccedilatildeo e ao conhecimento de mundo que os falantes compartilham

As taacuteticas e as estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees

idiomaacuteticas conforme podemos observar no Quadro 1 foram distribuiacutedas em dois grupos (a) taacuteticas bottom-up e (b) estrateacutegias top-down inspiradas na terminologia strategy preparatory e strategy guessing adotada por Cooper (1999 p242-244)

As taacuteticas bottom-up permitiram aos participantes clarificarem e consolidarem o conhecimento linguiacutestico ou a informaccedilatildeo semacircntica sobre as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas (Taacutetica RP ou RP repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica) para ganhar mais tempo antes de proferir um palpite ou para ensaiar uma resposta ou ainda peneirar nova informaccedilatildeo linguiacutestica muitos participantes discutiram e analisaram (literalmente) a expressatildeo idiomaacutetica (Taacutetica DA ou DA) e para colherem informaccedilotildees adicionais a fim de comeccedilarem a falar sobre a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute dar um palpite mais seguro ou abalizado sobre o sentido fraseoloacutegico da expressatildeo idiomaacutetica os participantes solicitaram informaccedilotildees (exceto as diretamente relacionadas ao sentido idiomaacutetico) sobre a expressatildeo idiomaacutetica ( Taacutetica SI ou SI)

As estrateacutegias top-down representam em nossa pesquisa os casos em que os participantes arriscaram uma interpretaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e estas estrateacutegias foram categorizadas assim adivinhar o sentido idiomaacutetico a partir do contexto (Estrateacutegia AC ou AC) usar o sentido literal (Estrateacutegia SL ou SL) para chegar ao sentido idiomaacutetico utilizar seus conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP ou CP) referir-se agrave sua L1 (Estrateacutegia L1 ou L1) inclusive com registro de variaccedilotildees linguiacutesticas nos caso dos dialetos cabo-verdianos como Crioulo do Fogo Crioulo de SantiagoCrioulo de Satildeo Nicolau e Crioulo de Satildeo Vicente e Crioulo de Santo Antatildeo e quando usaram outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE ou OE) estas em particular aleacutem de natildeo se enquadrarem nas estrateacutegias indicadas anteriormente consistiam em situaccedilotildees a que os participantes recorriam a tentativas cegas isto eacute arriscavam uma resposta por meio tentativa-e-erro na Tarefa de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) e na Tarefa de idiomaticidade Fraseoloacutegica (opacidade semacircntica) das expressotildees idiomaacuteticas previstas neste e nos demais experimentos envolvendo

231

zoomorfismos somatismos ou especiais ( botanismos no caso do primeiro experimento)

Para assegurar a confiabilidade da pontuaccedilatildeo das tarefas dos experimentos experimento e da codificaccedilatildeo das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica treinamos um grupo de seis transcritores (estudantes do Curso de Letras da UVA em Sobral) e convidamos um segundo examinador no caso uma professora de liacutengua portuguesa experiente esta especificamente para colaborar na marcaccedilatildeo das respostas aos testes e categorizar as taacuteticas e estrateacutegias de protocolo verbal think aloud revisando tambeacutem em conjunto detidamente com o pesquisador as respostas consideradas corretas parcialmente corretas e as respostas incorretas das tarefas do experimento e na codificaccedilatildeo adequada dos segmentos discursivos de modo a chegarmos a uma concordacircncia em 100 sobre o que julgaacutevamos como sendo taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo presentes no Corpus Afri

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso

No primeiro experimento os dados referentes agrave frequecircncia de

uso de estrateacutegias levam-nos a crer que as taacuteticas bottom-up ou ascendentes (RP DA e SI) evidenciaram a luta tiacutepica dos informantes para lidar com fontes leacutexicas de opacidade semacircntica sem que pudessem chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo exceto aos informantes que jaacute a tinham na memoacuteria de longo prazo estes nesta situaccedilatildeo natildeo foram arrolados ou considerados na anaacutelise de dados com relaccedilatildeo ao caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica como tambeacutem das estrateacutegias usadas e as bem-sucedidas conforme veremos no decorrer desta seccedilatildeo

Jaacute as estrateacutegias top-down ou descendentes (AC AA AT SL CP L1 e OE) indicaram a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes de natureza intralinguiacutestica por serem lusoacutefonos como um fator de opacidade tal qual defende Mogorroacuten Huerta (2013 p 83-96)

No balanccedilo geral na tarefa 4 pudemos observar que entre procedimentos taacuteticos e estrateacutegicos o uso da estrateacutegia CP destacou-se no conjunto de demandas cognitivas dos informantes ao registrar 115 ocorrecircncias no Protocolo Verbal o equivalente a 21 de todas estrateacutegias usadas durante o teste seguida da taacutetica RP com 94 registros o equivalente a 17

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Os dados coletados indicam que os participantes recorreram agrave L1 na busca da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas especialmente as expressotildees consideradas mais faacuteceis ou transparentes encontrando na maioria das vezes um equivalente em crioulo guineense ou cabo-verdiano

Ao mesmo tempo pudemos observar que 94 ocorrecircncias equivalente a 17 das estrateacutegias usadas pelos informantes foram dirigidas agrave taacutetica RP o que significou especialmente no processo de compreensatildeo das expressotildees tirar aacutegua do joelho matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca uma demanda expressiva por taacuteticas bottom-up mas em que pesem o esforccedilo natildeo foram suficientes para levarem os participantes imediatamente agrave compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica vindo em seguida a DA com 13 a segunda taacutetica de maior demanda por parte dos participantes entre as bottom-up

Observamos que o uso das do tempo destinado a estrateacutegias top-down chegou a 46 recurso que garantiu aos participantes em geral depois de ajuda teacutecnica acessarem o sentido idiomaacutetico sendo a CP com 21 a estrateacutegia de maior demanda por parte dos participantes registrando nesse meio-tempo uma baixa procura por informaccedilotildees relacionadas ao sentido literal (SL) agrave L1 e poucas tentativas-e-erros (OE)

A expressatildeo matar cachorro a grito foi entre as expressotildees a detentora de maior percentual de taacuteticas do bottom-up destacando o nuacutemero de SI (37) RP (33) e DA (20) Referente agraves estrateacutegias top-down a maioria dos informantes ao lidarem com a expressatildeo natildeo pagar mico solicitou a assistecircncia teacutecnica de AT (21) especialmente de textos informais com a expressatildeo dado e SL (30) isto eacute solicitaram informaccedilotildees sobre o sentido literal da referida expressatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico nos chamou a atenccedilatildeo pelo nuacutemero de informantes que analisaram a expressatildeo e o contexto sem que pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico o que pode ter justificado um percentual de 15 de SI Quanto agraves estrateacutegias top-dow os participantes recorreram a muitas estrateacutegias heuriacutesticas por meio de tentativa-e-erro em muitos casos procurando encaixar a situaccedilotildees do seu cotidiano Chama-nos a atenccedilatildeo o uso frequente da estrateacutegia SL(40) e a estrateacutegia CP (23)

233

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo Consideramos fundamental em nosso estudo a separaccedilatildeo das

taacuteticas (bottom-up) das estrateacutegias (top-down) de compreensatildeo Tal medida decorre de reconhecermos que ambos os tipos de recursos cognitivos se baseiam em recursos cognitivos distintos

As taacuteticas bottom-up estatildeo relacionadas com a mecanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo dos dados da memoacuteria ativa ou memoacuteria de trabalho Estas taacuteticas portanto estatildeo a serviccedilo da memoacuteria de curto prazo isto eacute de uma memoacuteria funcional que reteacutem brevemente aquilo que prestamos atenccedilatildeo e tambeacutem uma duraccedilatildeo muito limitada (SMITH1999 P40) Dizendo de outra forma diriacuteamos que os participantes ao utilizarem as taacuteticas bottom-up tentaram imediatamente superar suas limitaccedilotildees daiacute recorrerem a SI para poder engajar-se atraveacutes de estrateacutegias top-down nos processos de compreensatildeo idiomaacutetica

Aplicadas ao nosso estudo as taacuteticas bottom-up referem-se a um processo natildeo criativo no qual o falante processa automaticamente a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica atraveacutes da identificaccedilatildeo da unidade fraseoloacutegica (RP) depois faz a anaacutelise da fixaccedilatildeo formal (DA) e a partir daiacute evoca sua idiomaticidade semacircntica atraveacutes de sua memoacuteria de longo prazo (CP) que tambeacutem eacute criativa ou quando descartado este benefiacutecio da memoacuteria de longa duraccedilatildeo solicita informaccedilatildeo (SI) para poder chegar ou natildeo ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo atraveacutes de estrateacutegias ligadas ao contexto (AC) agrave liacutengua materna (L1) ao sentido literal (SL) ou a outras inferecircncias heuriacutesticas (OE)

As estrateacutegias RP DA e SI nos indicam como veremos nos trechos abaixo quando evidenciadas no protocolo verbal que os falantes desenvolveram uma compreensatildeo inicial da expressatildeo de forma inconsciente e a decodificaccedilatildeo10 passa a ser uma praacutetica fundamental uma frequecircncia maior no leque ou disponibilidade de recursos cognitivos Talvez por essa razatildeo os falantes natildeo nativos como podemos observar nos protocolos verbais tenham significativamente buscado acessar o sentido idiomaacutetico por meio da repeticcedilatildeo em voz

10 A acepccedilatildeo que damos agrave decodificaccedilatildeo eacute a mesma de Alliende e Condemariacuten (1987) uma operaccedilatildeo de leitura em que o leitorfalante transforma os signos graacuteficos em linguagem oral mas natildeo alcanccedila plenamente o estaacutegio da compreensatildeo isto eacute captar o sentido da mensagem escrita

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alta da expressatildeo da repeticcedilatildeo do texto atraveacutes da leitura silenciosa da paraacutefrase textual dos pormenores do texto (por exemplo saber o sentido de CNPJ 11 que aparece no contexto da expressatildeo natildeo pagar o mico) do sentido literal das palavras incomuns encontradas no texto lido (por exemplo antideureacutetico12 que aparece no contexto da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho) daiacute diante do texto terem feito uma leitura detalhada atenta com menor velocidade para que os dados do texto pudessem guiar sua compreensatildeo idiomaacutetica tal qual nos sugere Block (1986 p 463ndash494)

Ao contraacuterio das taacuteticas bottom-up as estrateacutegias top-down satildeo criativas voltadas agrave compreensatildeo e decerto satildeo responsaacuteveis na fala espontacircnea pela reproduccedilatildeo em bloco coeso da expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes sejam eles nativos ou natildeo nativos Talvez tenha sido esta ideia de blocagem passada por Coseriu (2007 p201) ao recorrer ao termo discurso repetido sequecircncia de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente

Em relaccedilatildeo agraves estrateacutegias top-down pudemos observar que ao longo do protocolo verbal os falantes natildeo nativos ajustaram ou tentaram ajustar por meio de ajuda teacutecnica (SI) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas isoladamente ou no proacuteprio texto em que elas foram contextualizadas aos seus conhecimentos preacutevios sintaacuteticos linguiacutesticos metalinguiacutesticos culturais histoacutericos em L1 e em L2 (portuguecircs na vertente luso-africana) depois voltam ao texto para confirmar suas expectativas de leitura (AC) ou verificar se aparecia uma informaccedilatildeo nova (OE) Concebiam assim a compreensatildeo fraseoloacutegica como verificaccedilatildeo global do sentido idiomaacutetico da expressatildeo (BLOCK op cit)

11 CNPJ eacute a sigla de Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica 12 Apresentamos aos informantes a seguinte definiccedilatildeo para hormocircnio antidiureacutetico substacircncia que aumenta a pressatildeo sangue nas arteacuterias e diminui o volume da urina

235

Tabela 9 - Frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias usadas por expressatildeo idiomaacutetica

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO IDIOMAacuteTICA

BOTTOM-UP TOP-DOWN)

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

1Matar cachorro a grito

31 15 23 11 - 08 09 10 06 02

2Pagar mico 24 17 10 03 - 05 12 27 08 05

3Tirar aacutegua do joelho

22 18 Q8 07 - 13 02 16 19 01

4Pocircr a boca no trombone

21 07 07 13 - 05 00 07 16 01

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

26 07 02 18 - 01 02 34 18 01

6Chutar o pau da barraca

27 16 14 09 - 05 05 21 07 03

Total 151 80 64 61 - 37 30 115 74 13

de todas usadas

25 13 10 09 06 05 18 12 02

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625

A partir dos dados apresentados na tabela acima passemos agora a exemplificar por expressatildeo idiomaacutetica as taacuteticas e estrateacutegias mais evidenciadas pelos participantes em seus diaacutelogos com o experimentador registrados no protocolo verbal ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Em busca de encontrar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo matar

cachorro a grito os informantes recorreram a 115 estrateacutegias sendo 69 taacuteticas bottom-up e 46 estrateacutegias top-down

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Das taacuteticas bottom-up chamou-nos a atenccedilatildeo RP com 28 do tempo dos informantes seguida de pedido de ajuda SI na ordem 20

Das estrateacutegias top-down todas pareciam estar igualmente requeridas pelos informantes O que podemos observar eacute que claramente os informantes apresentaram dificuldade de acessar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo o que podemos comprovar pelos 60 de taacuteticas bottom-up com especial destaque para a estrateacutegia RP empregada na compreensatildeo de matar cachorro a grito

Abaixo apresentamos dois exemplos de emprego de preparaccedilatildeo (RP e SI respectivamente) que se sobressaiacuteram no processo de compreensatildeo desta expressatildeo

(a) Usando RP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a

gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

(b) Usando SI Entrevistador quer alguma ajuda Participante pode ser vamo laacute Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante um exemplo hellip pode ser hellip Entrevistador vocecirc prefere um exemplo Participante se tiver outro mais faacutecil hellip neacute hellip seja mais faacutecil de

identificar (hellip) Natildeo pagar mico No esforccedilo tiacutepico para compreender a expressatildeo natildeo pagar

mico os participantes recorreram a 100 procedimentos cognitivos sendo 40 taacuteticas bottom-up e 60 estrateacutegias top-dow

Das taacuteticas bottom-up 19 foram solicitaccedilotildees de ajuda teacutecnica (SI) especialmente as relacionados com pedido sobre sentido literal do lexema mico13

13 Os reiterados pedidos sobre o sentido de mico nos levou a apresentar aos informantes duas acepccedilotildees possiacuteveis para a palavra (a) na zoologia mico eacute uma forma reduzida de mico-preto designaccedilatildeo comum aos macacos do gecircnero Cebus da famiacutelia dos cebiacutedeos e (b) na ludologia tipo de jogo de cartas infantil em que a carta que

237

Das estrateacutegias top-down a estrateacutegia de CP foi a mais empregada pelos participantes com 27 das ocorrecircncias

Vejamos a seguir trechos com SI e CP extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando SI Entrevistador natildeo sabe o que eacute vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante me explicar um pouquinho o que quer Entrevistador posso definir as palavras da expressatildeo Participante eacute Entrevistador natildeo pagar significa natildeo entregar ou restituir uma

quantia que se deve Participante eacute pagar Entrevistador e mico eacute tipo de macaco de pelagem marrom-

escura com cauda negra e geralmente com vive em bandos Participante hum ah Entrevistador te ajuda alguma coisa Pagar macaco Participante ah mico pagar macaco pagar um um um valor

ma ma natildeo ldquopagar micordquo (b) Usando CP Entrevistador e vocecirc jaacute conhece do seu paiacutes ldquopagar micordquo Participante assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a

gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Os participantes ao se depararem com a expressatildeo tirar mais

aacutegua do joelho recorreram a 100 estrateacutegias sendo 42 taacuteticas bottom-up e 58 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a DA foi a mais utilizada pelos informantes com 18 do seu tempo vindo em seguida a RP com 16 do seu tempo

apresenta a figura de um macaquinho preto natildeo tem par e aquele que acabar o jogo com ela perde o jogo

238

Das estrateacutegias top-down a mais evidenciada foi a L1 com 19 vindo em seguida a CP com 16 do tempo

Vejamos a seguir trechos com DA RP e CP extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando DA Entrevistador ldquotirar aacutegua do joelhordquovocecirc sabe me dizer o

sentido Participante ldquotomar cerveja quenterdquo aiacutefaz com quecarano

meu entender vocecirc ver que natildeo faz bemas vezes as pessoas bebem cerveja quente ficam com dor de cabeccedilaentendeu sentindo algumas coisas que natildeo taacute bom aiacute levantam com a ressaca desse negoacutecio

Entrevistador e soacute a expressatildeo ldquotirar aacutegua do joelhordquo significa o que Eacute tudo isso que vocecirc disse ldquotirar aacutegua do joelhordquo

Participante eacutemais ou menos isso Usando estrateacutegia RP Entrevistador e essa expressatildeo aiacute que aparece pela primeira vez

hellip vocecirc acha que e h o quecirc Participante ah hellip sei laacute hellip Entrevistador tirar aacutegua do joelho hellip Participante deixa eu ver hellip ((silecircncio)) num sei hellip ((riso nasal))

tirar aacutegua do joelho hellip ((a participante repete a expressatildeo e faz um breve silecircncio interrompido pelo entrevistado))

(b) Usando L1 Entrevistador tirar aacutegua do joelho que dizer o quecirc Participante e h hellip mijar hellip Entrevistador mijar hellip Participante mijar Entrevistador conhece do seu paiacutes Participante conheccedilo hellip Entrevistador eles utilizam Participante utilizam hellip Entrevistador aleacutem dessa hellip existem outros semelhantes com o

sentido de mijar que vocecirc coloca Participante natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute

fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua de batata) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

239

Entrevistador ah hellip eacute o mesmo sentido Participante e h hellip ((toque de telefone)) (c) Usando estrateacutegia CP Participante bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua

do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip

Entrevistador hum Participante e h em Santiago nesse caso em Santiago eu

natildeo sei se as outras ilhas tambeacutem usam a expressatildeo hellip mas em Santiago a gente fala tirar aacutegua do joelho que significa mijar hellip neacute ()

Pocircr a boca no trombone Para a compreensatildeo de pocircr a boca no trombone os participantes

empregaram 57 recursos cognitivos sendo 16 taacuteticas bottom-up 41 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up DA com 12 foi a mais evidenciada vindo em seguida a SI com 10 do tempo

Das estrateacutegias top-down L1 foi a que obteve o maior percentual de uso com 28 vindo em seguida CP

Estrateacutegias SL e OE natildeo foram empregadas pelos informantes Vejamos a seguir trechos com DA l1 e CP extraiacutedos do Corpus

Afri (a) Usando DA Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Juacutenior Participante ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone Entrevistador muito bem ah vocecirc saberia me dizer o sentido Participante por exemplo defendeu um crime neacute Entrevistador defender um crime Participante defender uma coisa Usando estrateacutegia SI Entrevistador A expressatildeo pocircr a boca no trombone quer dizer

o que Participante ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc

pode me dar uma dicae Entrevistador posso dizer o que eacute trombonetrombone eacute um

instrumento de sopro de metal neacuteaqueles instrumentos pesados formado por dois tubos encaixados um no outro

240

Participante() hum rum (b) Usando L1 Entrevistador reclama critica vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes Participante natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra

expressatildeo Entrevistador qual eacute mas usando a palavra trombone Participante eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha)

quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assim[pocircr a boca no trabalho] tralha

(c) Usando CP Participante bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a

boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem

Entrevistador nesse mesmo sentido que colocou agora () Participante sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees

tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute14) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais ()

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Para a compreensatildeo da expressatildeo saber com quantos paus se faz

uma canoa os participantes recorreram a 94 procedimentos e accedilotildees cognitivas sendo que sendo 20 taacuteticas bottom-up e 74 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a RP se sobressaiu com 16 do tempo dos informantes

14 Interessante assinalar que a palavra xiba em portuguecircs refere-se agrave baile popular rural com sapateado acompanhado por instrumentos de cordas dedilhaacuteveis canto e palmas sua origem eacute africana ou portuguesa com adaptaccedilotildees negras

241

Das estrateacutegias top-down evidenciaramm-se as CP com 36 AC e L1 com 19 do tempo dos informantes

Vejamos a seguir trechos com RP CP AC e L1 extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando RP Entrevistador e vocecirc acha que qual e h o sentido desta

expressatildeo que apareceu aiacute ldquosaber com quantos paus se faz uma canoardquo hellip

Participante e h tipo dizer assim meu filho tu entrou numa grande furada hellip ((risos)) tu vai ver a realidade hellip ((risos da participante e do entrevistador)) hellip e h algo parecido hellip

(b) Usando CP Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido (c) Usando AC e L1 Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao

fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo

Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

242

Chutar o pau da barraca Para a expressatildeo chutar o pau da barraca os participantes

recorreram a 102 procedimentos cognitivos sendo 52 taacuteticas bottom-up e 50 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up o recurso mais usado no protocolo verbal foi RP com 24 das demandas dos participantes

Das estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo merece destaque CP com 21 do tempo

Vejamos a seguir trechos com RP e AC extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando RP Entrevistador e o que significa chutar o pau da barracardquo Participante ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos

da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo

(b) Usando CP Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante porque o que eacute () Entrevistador o que tem a ver chutar o pau da barraca com

revolta Participante porque por exemplo Roberto ((silecircncio))

((balbucio)) Entrevistador eu soacute quero que vocecirc justi jusfique eu natildeo tocirc

nem questionando natildeo Participante eacute Entrevistador eu tocirc aceitando sua resposta soacute queria que vocecirc

me justificasse por que vocecirc acha que pau chutar e barraca tem a ver com revolta por que vocecirc acha que tem a ver

Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

243

Tabela 10 - Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica por Participantes

CATE-GO-

RIAS

EXPRESSOtildeES

IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

ZOO-MOR-FIS-

MOS

Matar cachorro a grito

1235 678 91213 1415 1617 1819 20

235 1112 1314 1516 1819 20

2368 112 1317 1819 20

1 6 789 17 19

2368 1112 13 17 1819 20

78 1317 1820

12 5 1113 1720

17 48

Pagar mico

1 3 11 14 15 1617 1920

311 14 1516 1718 1920

1114 1516 17 18 1920

1114 1516 1718 1920

1 1415 1619 20

1 3 5 78 1416 1720

13 10

SOMA-TIS-MOS

Tirar aacutegua do joelho

3 1014

3410

31011

3 31011

1415 20

145 12

6 912

244

151718 1920

141516 17 819 20

121416 1718 1920

111314 17 18 19

121416 171819 20

1517 1920

Botar a boca no trombone

2 1213 14 5 19

1118

19 12 1314 19

19 2 1213

12 13

BOTA-NIS-MOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1 4 1011 13 14 15 1718 19

11 151718 1920

18 1 4 1011 13 14 1718

18 1920

1 4 10 1719 20

1 1117 20

11

Chutar o pau da barraca

123 5 67 11 121314 151618 1920

1235 1415 16 20

2311 1214 1617

23 7 11 1214 1718 19 20

23 11 12 1617

11 1316 1819

2 67 1314 1618 19 20

236

214 18 20

Legenda RP = Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica DA = Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido SI = Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica AC = Adivinhar o sentido da expressatildeo

245

idiomaacutetica a partir do contexto formal AA = Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha AT = Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal ou improvisado(ajuda teacutecnica) SL = Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico CP = Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica L1 = Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) e OE = Usar outras estrateacutegias

Estrateacutegias bem-sucedidas

Nas seccedilotildees anteriores foram abordadas as frequecircncias de uso

das estrateacutegias de compreensatildeo sem levarmos em conta se os participantes adivinharam corretamente o sentido da expressatildeo idiomaacutetica

Nesta seccedilatildeo apresentamos dados referentes agraves estrateacutegias bem-sucedidas isto eacute estrateacutegias top-down a que os informantes recorreram durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud e ao serem indagados pelo experimentador quanto ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo anunciaram respostas consideradas corretas e que atendiam agrave expectativa da tarefa

Vale lembrar que os informantes aqui considerados satildeo apenas os que na tarefa 2 a da verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo e natildeo saber seu sentido e os que declararam lembrar mas natildeo saber sentido idiomaacutetico Imediatamente apoacutes darem estas respostas antes de quaisquer pedidos de ajuda (SI) indagamos sobre o sentido idiomaacutetico da expressatildeo mesmo com apoio de contexto de situaccedilatildeo respostas que poderiam ser dadas em L1 ou L2 e mais uma vez confirmamos que realmente natildeo entendiam a locuccedilatildeo verbal

Nesta seccedilatildeo examinamos mais especificamente as estrateacutegias que levaram os participantes a interpretar com sucesso as expressotildees idiomaacuteticas Verificamos quais as estrateacutegias cognitivas efetivamente beneficiaram os participantes na hora de anunciar corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo

Ao cogitarmos vaacuterias estrateacutegias para a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica essa postulaccedilatildeo potildee em xeque algumas das hipoacuteteses psicolinguiacutesticas (leacutexicas e composicionais) que circulam entre psicolinguistas em geral excludentes bem com o curso temporal do processamento fraseoloacutegico (por exemplo a primazia

246

da interpretaccedilatildeo literal sobre a global ou vice-versa) jaacute bem estabelecidas pelos resultados de seus experimentos questotildees que retomamos mais adiante em nosso trabalho e jaacute podemos antecipar que no modelo estrateacutegico que defendemos o processamento eacute integrador e como numa muacutesica agoacutegico com sucessatildeo de taacuteticas ascendentes (bottom-up) e estrateacutegias descendentes (top-down) e combinaccedilotildees montadas pelos participantes por vezes imprevisivelmente heuriacutesticas

Acreditamos que as explicaccedilotildees dadas pelos principais psicolinguistas sobre o processamento fraseoloacutegico podem ser ainda melhor descritas a partir das estrateacutegias cognitivas que o falante emprega no esforccedilo de compreender expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ou natildeo familiares ou simplesmente opacas Por essa razatildeo experimentos psicolinguiacutesticos com falantes natildeo nativos (ou estrangeiros) de uma liacutengua dada podem desvelar realmente o que ocorre com a mente dos falantes quando se depararam com uma expressatildeo nova ou desconhecida

No modelo estrateacutegico de compreensatildeo idiomaacutetica vemos as hipoacuteteses leacutexicas e as hipoacuteteses composicionais como sendo interdependentes Pelo menos eacute o que podemos comprovar com os dados dos falantes que diante de expressotildees natildeo familiares ou opacas esforccedilaram-se atraveacutes de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas na tentativa de desvelar seu sentido idiomaacutetico

As chamadas hipoacuteteses composicionais segundo as quais o processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas resulta necessariamente da anaacutelise gramatical total ou parcial das palavras e sintagmas que as compotildeem (BELINCHOacuteN1999 p364-369) satildeo vistas por um outro acircngulo em nossa pesquisa Primeiramente constituem-se psicolinguisticamente um conjunto de taacuteticas bottom-up (RP DA SI) traduzido em uma seacuterie sistemaacutetica de etapas no sentido de entender uma expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo o suficiente para o falante acessar o seu sentido idiomaacutetico ou fraseoloacutegico

Uma expressatildeo como pagar mico que apresentou um alto percentual de idiomaticidade forte (ou opacidade) em nossa pesquisa em que pese o esforccedilo dos falantes natildeo nativos de analisar os sentidos parciais das palavras pagar e mico e o proacuteprio em que a expressatildeo aparecia o referido empreendimento natildeo foi decisivo para a compreensatildeo idiomaacutetica levando-os diante desta expressatildeo opaca a

247

solicitar informaccedilotildees (inclusive o SL isto eacute o sentido literal) ou ajuda teacutecnica de diversas ordens (AT AA por exemplo) para continuar a sua luta individual e caracteriacutestica em direccedilatildeo ao acesso fraseoloacutegico da expressatildeo

As hipoacuteteses leacutexicas segundo as quais as expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas em uma memoacuteria especial esta entendida como uma memoacuteria que natildeo formaria parte do leacutexico comum do falante permitiriam um acesso direto ao sentido idiomaacutetico

Para os falantes nativos as hipoacuteteses leacutexicas podem realmente explicar o processamento fraseoloacutegico de expressotildees familiares mas natildeo explicam o esforccedilo dos natildeo nativos de decifrar as expressotildees desconhecidas ou natildeo familiares Se os falantes nativos as lembram e satildeo capazes de identificar sua forma fixa ou reconhecer sua idiomaticidade entatildeo natildeo podemos falar estritamente em expressotildees opacas e sim expressotildees que ficam na ponta da liacutengua na iminecircncia de ter seu sentido idiomaacutetico anunciado ou dito mas se o sentido natildeo vecircm agrave tona ao certo poderemos apenas falar em uma falha na recuperaccedilatildeo (ou esquecimento) do sentido idiomaacutetico no leacutexico mental

Pudemos observar em nosso experimento off-line que as hipoacutetese leacutexicas se manifestaram predominantemente nas estrateacutegias top-down (AC L1 etc) mas natildeo de forma isolada isto eacute dependeram para serem bem-sucedidas dos esforccedilos depreendidos pelos participantes nas taacuteticas preparatoacuterias ou bottom-up

Para natildeo enviesarmos os dados de nossa pesquisa e particularmente identificarmos as estrateacutegias bem-sucedidas consideramos soacute os participantes com baixo niacutevel e meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute os que durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal haviam declarado natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo idiomaacutetica ou quando lembravam ou declaravam ter ouvido antes natildeo conseguiam evocar seu sentido idiomaacutetico informaccedilotildees que pudemos comprovar imediatamente com suas respostas consideradas incorretas ou parcialmente corretas na tarefa 3 de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica ou semacircntica

Considerando este criteacuterio de exclusatildeo como seleccedilatildeo de participantes verificamos apoacutes anaacutelise de suas respostas que de um total de 75 itens comentados 33 foram itens respondidos corretamente (ou seja receberam uma pontuaccedilatildeo 3 na tarefa 3 de

248

verificaccedilatildeo da idiomaticidade semacircntica) variando o nuacutemero de acertos de expressatildeo para expressatildeo o que representou depois deste procedimento ou enxugamento uma taxa de sucesso de 44 entre os participantes

Em ordem de classificaccedilatildeo as estrateacutegias que levam a interpretaccedilotildees corretas (ver tabela 1) foram as seguintes

(a) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (Estrateacutegia AC 29)

(b) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (Estrateacutegia AT 16)

(c) Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (Estrateacutegia SL 7)

(d) Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia CP 28)

(e) Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) (Estrateacutegia L 17)

(f) Usar outras estrateacutegias (Estrategia OE 3) Embora em muitos casos os participantes tenham usado taacuteticas

bottom-up e mais de uma estrateacutegia top-down para ter sucesso apenas as que levaram diretamente agrave resposta correta isto eacute as top-down foram incluiacutedas nesta contagem

As taacuteticas de repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RP) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (Estrateacutegia DA) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia SI) natildeo satildeo apresentados na Tabela 1 porque embora natildeo sejam completamente prescindiacuteveis no processamento fraseoloacutegico representam recursos cognitivos que permitiram aos participantes de modo geral ganhar tempo isto eacute postergar suas respostas agraves solicitaccedilatildeo feitas continuamente pelo experimentador aguardando assim melhor momento da entrevista para anunciaacute-las o que foi relevante para nossa pesquisa e principalmente para obtermos informaccedilotildees sobre o jogo adivinhatoacuterio e esclarecermos seus pensamentos antes de anunciar o sentido definitivo da expressatildeo

Merecem uma nota s trecircs taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) que representaram 50 do conjunto de procedimentos cognitivos utilizados pelos participantes para processarem a compreensatildeo

249

idiomaacutetica mas natildeo foram suficientes para os que natildeo lembravam seu sentido idiomaacutetico total ou parcialmente responderem corretamente agrave questatildeo proposta pelo experimentador

Abaixo seguem trecircs exemplos (trechos em versatildeo de transcriccedilatildeo ortograacutefica) de como as taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) puderam configurar um palpite correto para que o participante pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo

(a) Usando RP Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui

seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

(b) Usando DA Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante gostaria Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante ((o participante reler trechos do texto em

balbucios)) hum o que se daacute pra entender eacute que o facto o fa a pessoa exerce um algum tipo de atividade a que noacutes a gente associa eacute que essa atividade vai nos tornar rico ou milionaacuterio alguma coisa do tipo matar cachorro a grito que o que daacute pra entender eacute que eacute uma expressatildeo que na verdade natildeo eacute bem assim soacute que a gente por pensar desse jeito acaba acaba influenciando todo mundo a pensar assim tambeacutem e todos noacutes acabamos dizendo que ele eacute rico eacute o que daacute pra entender de acordo com o texto

(c) Usando SI Entrevistador mico eacute eacute um animal eacute um pequeno primata

macaquinho pequeno eacute mico se alimentam principalmente de insetos e frutas isso te ajuda a entender a expressatildeo

Participante dar outra forma de explicar mais

250

Entrevistador que outra forma vocecirc quer quer um exemplo Participante um exemplo assim Entrevistador taacute certo outro exemplo um exemplo seria eacute

eu natildeo vou pra uma festa soacute de jovens eu jaacute tenho cinquenta anos

se eu chegar numa festa soacute de jovens eu posso pagar mico Participante ((silecircncio)) Entrevistador natildeo tem uma ideia Participante natildeo repita aiacute repita ((riso))

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Nos trechos que se seguem daremos exemplos das principais

estrateacutegias top-down empregadas pelos participantes no esforccedilo de encontrar o sentido idiomaacutetico das expressotildees consideradas opacas isto eacute expressotildees que os participantes haviam declarado natildeo lembrar ou ter ouvido ou lembravam mas natildeo sabiam o sentido

Na tabela 1 aparecem as taacuteticas bottom-up mas natildeo as destacamos nos trechos abaixo porque natildeo se tratam de recursos cognitivos como dissemos anteriormente em outras seccedilotildees determinantes para a definiccedilatildeo por parte dos participantes do sentido idiomaacutetico das expressotildees

As expressotildees estatildeo agrupadas em zoomorfismos somatismos e botanismos

Os trechos extraiacutedos do Corpus Afri referem-se agraves estrateacutegias top-down sobressalentes ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito No cocircmputo geral a expressatildeo matar cachorro a grito com 23

estrateacutegias equivalente a 15 ficou em quarto lugar entre as bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 foram os recursos mais utilizados pelos informantes ambos com 23 do tempo

Com 18 ficaram as estrateacutegias AC AA e AT Natildeo houve registro de OE

251

Seguem abaixo dois trechos com estrateacutegias top-down destacadas no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador O brasileiro com baixo salaacuterio ele vive matando

cachorro a grito pra puder criar os filhos o brasileiro mata cachorro a grito

Participante Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo)

(b) Usando L1 Entrevistador e e h um salaacuterio que natildeo daacute pra pessoa viver bem

hellip vive matando cachorro a grito hellip todo dia se taacute matando cachorro a grito hellip o que e h matar cachorro a grito

Participante tem outro outro sentido que a gente usa assim esse matar cachorro a grito hellip

Entrevistador vocecircs usam hellip qual o sentido Participante e h tipohellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em

crioulo)) Entrevistador hum hellip Participante caratecirc hellip Entrevistador caratecirc Participante caratecirc hellip tem (hellip) Entrevistador como e h (hellip) Participante tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma

coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa

Entrevistador como e h que vocecircs dizem Participante (dar caratecirc ) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip caratecirc

hellip a luta japonecircs Entrevistador ah hellip dar caratecirc Participante e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso))

252

Natildeo pagar mico A expressatildeo pagar mico com apenas 9 estrateacutegias equivalente

a 6 ficou em sexto e uacuteltimo lugar entre as que apresentaram estrateacutegias bem-sucedidas

Nesta expressatildeo referente agrave frequecircncia de uso basicamente foram trecircs as estrateacutegias bem-sucedidas para os participantes na tarefa de verificaccedilatildeo de idiomaticidade semacircntica Satildeo elas CP com 67 do tempo L1 com 22 e SL com 11

O que nos chamou a atenccedilatildeo foi esta expressatildeo natildeo requerer por parte dos participantes estrateacutegias como AC AT e OE registrando-se uma maior demanda de usos em estrateacutegia CP com 67 do tempo vindo em seguida as Estrateacutegias L1 e SL estas com percentuais bastante piacutefios

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias top-down sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante natildeo natildeo vi nenhuma Entrevistador natildeo entendeu Participante ldquo natildeo pagar micordquo Entrevistador ldquo natildeo pagar micordquo Participante eacute existe eu sei o que eacute tipo natildeo passar vergonha Entrevistador natildeo passar vergonha Participante eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica

mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num () Entrevistador ah vocecirc conhece laacute desde pequena () Participante eacute natildeo paga mico eacute sim conheccedilo (b) Usando L1 Entrevistador aparece aiacute tambeacutem hellip a expressatildeo eacute hellip ldquopagar

micordquo hellip vocecirc saberia me dizer o que eacute pagar mico () Participante ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo

ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico eacute pagar passar vergonha hellip

253

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Entre as seis expressotildees idiomaacuteticas a expressatildeo tirar mais aacutegua

do joelho ficou em segunda lugar com 29 estrateacutegias equivalente a 20 das demandas cognitivas

Entre as estrateacutegias de procura pelos informantes citamos a Estrateacutegia AT como a de maior destaque entre as estrateacutegias em busca do sentido idiomaacutetico da expressatildeo vindo em seguida a estrateacutegia AT com 31 das demandas cognitivas

A estrateacutegia AC compareceu ao processo de compreensatildeo idiomaacutetica dos participantes com 14 do tempo vindo em seguida com menores percentuais as estrateacutegias SL e L1 com 7 ambos

Natildeo houve registro da estrateacutegia OE Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AT Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador alguma dica Participante quero Entrevistador que tipo de dica vocecirc quer Participante um exemplo similar Entrevistador eacute algumas vezes quando eu estou numa mesa de

bar com amigos tomando cerveja quando estaacute na terceira ou quarta cerveja eu chego pro meu amigo e digo ldquoolha vou ao banheiro tirar aacutegua do joelhordquo aiacute eu vou laacute tiro aacutegua do joelho e volto e digo assim ldquoolha agora eu posso beber mais trecircs cervejas estou livre tirei aacutegua do joelho ((risos da informante)) e assim vou levando a noite inteira

Participante ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute

(b) Usando AC Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante Eu reconheccedilo Entrevistador Qual eacute Participante Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente

tirar mai aacutegua do joelho

254

Entrevistador O que eacute tirar aacutegua do joelho Participante Com certeza eu acho que faz mais a pessoa

urinar ir pro banheiro de vez em quando Pocircr a boca no trombone A expressatildeo pocircr a boca no trombone com 17 estrateacutegias

equivalente a 11 apresentou o maior nuacutemero de estrateacutegias bem sucedidas

Duas estrateacutegias se destacaram no uso pelos participantes a estrateacutegia AC com 47 do tempo e a estrateacutegia L1 com 29 dos recursos cognitivos

Registrou-se o baixo uso de Estrateacutegias AT (em geral pedido de exemplos dados pelo experimentador ) com 7 natildeo sendo registradas estrateacutegias como SL e OE para o processo de compreensatildeo idiomaacutetica

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando AC Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante ldquo botar a boca no trombosordquo15 Entrevistador e qual seria o sentido Participante reclamou Entrevistador vocecirc conhece no seu paiacutes Participante conheccedilo natildeo Entrevistador vocecirc jaacute tinha ouvido no Brasil Participante natildeo ouvi natildeo Entrevistador eacute a primeira vez que vocecirc ver Participante hunrrum Entrevistador mas o quecirc que faz com que vocecirc descubra que esta

eacute uma expressatildeo ldquobotar a boca no trombonerdquo

15 Em conversa informal com informantes guineenses a expressatildeo botar a boca no tromboso (L1) por botar a boca no trombone (L2) nos sugere estarmos diante uma corruptela fraseoloacutegica decorrente maacute compreensatildeoaudiccedilatildeo e reproduccedilatildeo nas camadas mais simples de Guineacute-Bissau muito comum nas formas de eufemismo ou nos casos de uso de expressotildees considerada inapropriadas pelas camadas mais socialmente favorecidas

255

Participante porque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

(b) Usando L1 Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante identifica () Entrevistador identificou qual Participante pocircs a boca no trombone Entrevistador trombone () Participante tem uma coisa igual essa que o pessoal diz que a

pessoa mas essa aqui eu sei colocar boca na na trombeta pra falar neacute

Entrevistador com eacute bota vocecircs dizem botar a boca () Participante na trombeta Entrevistador na trombeta Participante eacute Entrevistador e quer dizer o quecirc botar a boca na trombeta Participante assim isso quer dizer que uma quando uma

pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Cotejadas com as demais expressotildees saber com quantos paus se

faz uma canoa com uso de 23 estrateacutegias equivalente a 15 foi a que ficou em terceiro lugar entre as bem-sucedidas

Para a compreensatildeo da referida expressatildeo os participantes recorreram a Estrateacutegia AC com 43 do tempo destinado agraves estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo vindo em seguida as Estrateacutegias CP e L1 com 32 e 17 respectivamente

256

As estrateacutegias AT e OE juntas somaram um percentual de 8 do tempo empregado em uso de estrateacutegias cognitivas

Natildeo houve registro de Estrateacutegia SL Seguem abaixo trecircs exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AC Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(b) Usando CP Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante certo Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo equivalente no

crioulo Participante ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina

encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem

Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa

Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia

257

quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(c) Usando L1 Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz

uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo

natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

Entrevistador ah eacute Participante e h ((risos)) Entrevistador e que dizer o quecirc Participante e h tipo vai ver com quantos paus se faz uma

canoa ((risos)) Entrevistador ((risos)) Participante ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente

expressatildeo idiomaacutetica Chutar o pau de barraca Das 150 estrateacutegias usadas pelas participantes em benefiacutecio da

compreensatildeo a expressatildeo chutar o pau de barraca entre as seis expressotildees foi a que demandou 44 estrateacutegias equivalente a 29 das demandas cognitivas registrando-se assim o maior percentual de estrateacutegias bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 com 23 foram as duas requisitadas pelos participantes vindo em seguida com 18 as estrateacutegias AC AT e SL

Na busca da compreensatildeo de chutar o pau da barra os participantes recorreram a estrateacutegia CP com 34 do seu tempo vindo em seguida a Estrateacutegia AC com 23 do tempo despendido no processamento fraseoloacutegico

258

As estrateacutegias AT e L1 ficaram com 14 do tempo de uso dos recursos cognitivos ficando as estrateacutegias SL e OE as estrateacutegias com menores percentuais isto eacute ficaram 9 e 6 respectivamente

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica Participante ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute

um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

Entrevistador ah muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo ()

Participante nunca Entrevistador em Guineacute Participante nunca Entrevistador mas jaacute tinha ouvido aqui Participante aqui tambeacutem eacute nunca () Entrevistador nunca () Participante natildeo ouvi nunca Entrevistador aiacute mesmo assim conseguiu entender Participante entendi mais ou menos Entrevistador muito bem (b) Usando L1 Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante chutar o pau da barraca Entrevistador chutar o pau da barraca hellip vocecirc jaacute conhecia no

Brasil ou laacute em Cabo Verde ou aprendeu aqui no Brasil Participante natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip

expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip Entrevistador hum hellip e em crioulo existe ()

259

Participante e h em crioulo hellip Entrevistador alguma equivalente a essa daiacute Participante deixa eu ver hellip chutar o pau da barraca hellip

((silecircncio)) Entrevistador qual o sentido que vocecirc dar () Participante chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou

largar tudo Entrevistador vai largar tudo hellip Participante largar tudo Entrevistador e como seria no crioulo hellip no teu crioulo Participante no meu crioulo eacute hellip hum hellip chutar o pau da barraca

hellip ((estalos ao fundo)) tipo a galera usa uma expressatildeo que significa hellip laacute em minha em crioulo de Santiago hellip que e h hellip que e h hellip (espadia peacute espadia peacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip quer dizer estou saindo fora to saindo fora

Tabela 11 - Frequecircncia de estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Expressotildees Idiomaacuteticas

Taacuteticas e Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

Matar cachorro a grito

15 05 09 04 - 04 04 05 05 01

Pagar mico 02 03 00 00 - 00 01 06 02 00

Tirar aacutegua do joelho

16 12 14 09 - 12 02 04 02 00

Pocircr a boca no trombone

09

00

01

08

- 01

00

03

05

00

Saber com quantos paus se faz uma canoa

17

05

01

12

-

01

00

09

05

01

Chutar o pau da barraca

21

06

14

10

-

06

04

15

06

03

260

Total 80 31 39 43 - 24 11 42 25 05

de todas usadas

27 10 13 14 8 4 14 8 2

Taacuteticas e Estrateacutegias usadas em todos os itens - 300

261

BREVES CONCLUSOtildeES

Tarefa 1 grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Para a expressatildeo pocircr a boca no trombone de faacutecil identificaccedilatildeo

fraseoloacutegica e tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa de meacutedia identificaccedilatildeo fraseoloacutegica confirmamos a hipoacutetese de que a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico posto que as referidas expressotildees foram consideradas pelos informantes de idiomaticidade fraca (ou transparentes) As expressotildees matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca de faacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e natildeo pagar mico de difiacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram consideradaras de idiomaticidade forte (opacas) Portanto entre os seis itens natildeo pagar mico foi a uacutenica expressatildeo de difiacutecil identificaccedilatildeo e com sua correspondente idiomaticidade forte Tarefa 2 grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB

natildeo processam itens armazenados em sua memoacuteria de longo prazo atraveacutes das expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma canoa e pocircr a boca no trombone por estarem psicolinguisticamente fixadas em L1(crioulo) ou L2 (liacutengua portuguesa) paga uma mico (L2) Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa e Poi boka na mundo (L1)

As expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma

canoa e pocircr a boca no trombone apresentaram as meacutedias mais altas quanto ao alto grau de memoacuteria fraseoloacutegica Atraveacutes das respostas dos informantes em L1 pudemos comprovar a hipoacutetese de os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria como um todo unitaacuterio Nas demais expressotildees isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho e chutar o pau da barraca natildeo comprovamos nenhuma destas duas hipoacuteteses acima mencionadas

262

Para as expressotildees natildeo pagar mico e saber com quantos paus se faz uma canoa comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos Nas demais expressotildees do experimento isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e chutar o pau da barraca natildeo foi comprovada esta hipoacutetese

Tarefa 3 grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

A hipoacutetese de que as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica natildeo foi confirmada para natildeo pagar mico e matar cachorro a grito Quanto a natildeo pagar mico muitos informantes afirmaram desconhecer o sentido literal da palavra mico e quanto a matar cachorro a grito entenderam-na no sentido literal Confirmamos a hipoacutetese para os somatismos tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone considerados de idiomaticidade fraca (ou transparentes) contando para desvelar o sentido idiomaacutetico das referidas expressotildees com a ajuda teacutecnica e expressotildees equivalentes em L1 (tra agua de joelho16 e poi boka na mundo)

Para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo confirmamos a hipoacutetese de que expressotildees designadoras de nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados Os conhecimentos linguiacutesticos preacutevios e expressotildees equivalentes em L1 (crioulo) tornaram ao contraacuterio a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa com a meacutedia mais alta em se tratando de reconhecimento idiomaacutetico

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma cano confirmamos a hipoacutetese de expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes

16 Segundo informantes do sexo feminino de Cabo Verde e Guineacute-Bissau os estudantes intercambistas no Cearaacute que no periacuteodo de feacuterias ou recesso acadecircmico retornam aos paiacuteses de origem levam consigo muitas expressotildees idiomaacutetica de uso frequente como eacute o caso de tirar aacutegua do joelho que aponta evidecircncia da transferecircncia de propriedades de L2 (liacutengua portuguesa na vertente brasileira) para L1 (em crioulo a expressatildeo neoloacutegica tra agua de joelho)

263

em L1 ou L2 (na vertente africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho Pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma canoa confirmamos a hipoacutetese de que o conhecimento do sentido de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica (joelho trombone pau) torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o sentido idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Confirmamos para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca a hipoacutetese de que o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuiacutedo pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo Os informantes de modo geral consideram estas trecircs expressotildees brasileiras e terem ouvido mas natildeo aprendido seu sentido idiomaacutetico atraveacutes das telenovelas e miacutedias (muacutesicas Internet etc) Tarefa 4 taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica

Levando-se em conta as seis expressotildees do experimento pudemos

comprovar a hipoacutetese de que a idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias top-down pelo contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) Os dados da pesquisa poreacutem natildeo confirmam a hipoacutetese de que sentido literal da expressatildeo (SI) nem os conhecimentos linguiacutesticos em L1 satildeo determinantes para que os informantes natildeo nativos acessassem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees do experimento

Comprovamos a hipoacutetese de que o uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB atraveacutes da variedade de uso de estrateacutegias top-down para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes cabo-verdianos e guineenses sendo os cabo-verdianos os que mais exploraram as

264

estrateacutegias AC CP e L1 ao certo por receberam mais influecircncia da cultura brasileira atraveacutes dos intercacircmbios universitaacuterios das telenovelas muacutesicas e miacutedias diversas (internet)

Natildeo confirmamos a hipoacutetese de que quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas Para as seis expressotildees os dados mostram que do ponto quantitativo as estrateacutegias top-down se igualaram ao nuacutemero de taacuteticas bottom-up sendo ativadas imediatamente depois de os informantes ativarem as taacuteticas bottom-up especialmente a repeticcedilatildeo e paraacutefrase da expressatildeo idiomaacutetica seguida de pedidos de ajuda teacutecnica

265

REFEREcircNCIAS

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contrastiva con ejemplos tomados del alemaacuten espantildeol franceacutes e italiano Murcia Universidade de Murcia 2005 P 313-327 GONZAacuteLEZ-REY I La didactique du franccedilais idiomatique Fernelmont EME 2007 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica un eido da fraseoloxiacutea aplicada In Cadernos de fraseoloxiacutea galega ISSN 1698-7861 Nordm 6 2004 pags 113-130 Disponiacutevel em Internet httpwwwcirpespubdocscfg06pdf Acesso em 12092009 GONZAacuteLEZ-REY Maria Isabel (dir) Adquisicioacuten de las expresiones fijas metodologiacutea y recursos didaacutecticos [Idioms Acquisition metdhodology and didactic resources] Fernelmont EME 2007 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica e o Marco europeo comuacuten de referencia para as linguas In Cadernos de fraseoloxiacutea galega ISSN 1698-7861 Nordm 8 2006 pags 123-146 Disponiacutevel em Internet httpwwwcirpespubdocscfg08pdf Acesso em 12092009 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica un eido da fraseoloxiacutea aplicada In Cadernos de fraseoloxiacutea galega nordm 6 2004 p 113-130 GOODMAN K S Reading a psycholinguistic guessing game In Journal of the Reading Specialist nordm 4 1967 p126-135 GRICE H P Loacutegica e conversaccedilatildeo In DASCAL Marcelo (Org) Fundamentos Metodoloacutegicos da Linguiacutestica Vol IV Campinas Unicamp 1982p 81-103 HOUAISS Antocircnio e VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 INtildeESTA MENA Eva Mariacutea amp PAMIES BERTRAacuteN Antonio Fraseologiacutea y metaacutefora aspectos tipoloacutegicos y cognitivos Granada Granada Linguiacutestica 2002 IRUJO Suzanne Donrsquot Put Your Leg in Your Mouth Transfer in the Acquisition of Idioms in a Second Language In Tesol Quarterly vol 20 nordm 2 Jun 1986 LAKOFF George e JOHNSON Mark Metaacuteforas da vida cotidiana Satildeo Paulo EDUC 2002 LEITAtildeO Maacutercio Martins Psicolinguiacutestica experimental focalizando o processamento da linguagem In MARTELOTTA Maacuterio Eduardo (Org) Manual de linguiacutestica Satildeo Paulo Contexto 2009 P 217-234 LIN Phoebe M S e ADOLPHS Svenja Sound evidence Phraseological units in spoken corpora In BARFIELD A E GYLLSTAD H (Orgs)

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Researching collocations in another language Multiple interpretations Basingstoke Palgrave Macmillan 2009 p 34-48 LOacutePEZ DELGADO Mariacutea de la Luz Estrategias de comprensioacuten Cuenca UCLM 2005 MACEDO Ana Cristina Pelosi de e BUSSONS Aline Freitas (Orgs) Faces da metaacutefora Fortaleza Expressatildeo Graacutefica 2006 MACEDO Ana Cristina Pelosi de Cogniccedilatildeo e linguiacutestica In MACEDO Ana Cristina Pelosi de FELTES Heloisa Pedrsoso de Moraes e FARIAS Emiacutelia Maria Peixoto (Orgs) Cogniccedilatildeo e linguiacutestica explorando territoacuterios mapeamentos e percursos Caxias do Sul RS EDUCS Porto Aegre EDIPUCRS 2008 P9-37 MAINGUENEAU D Termos-chave da anaacutelise do discurso Belo Horizonte EdUFMG 2006 MARTIacuteNEZ MONTORO Jorge La fraseologiacutea en J Casares In PASTOR CESTEROS Susana e SALAZAR GARCIacuteA Ventura (Orgs) Estudios de Linguiacutestica Universidad de Alicante 2002 MEJRI Salah Deacutelimitation des uniteacutes phraseacuteologiques In ALVAREZ Maria Luisa Ortiz (Org) Tendecircncias atuais na pesquisa descritiva e aplicada em fraseologia e paremiologia v1 Campinas SP Pontes 2012 p139-156 MELLADO BLANCO Carmen Fraseologismos somaacuteticos del alemaacuten Un estudio leacutexico-semaacutentico Frankfurt am Main Peter Lang 2004 MOGORROacuteN HUERTA P Anaacutelisis de la competencia fraseoloacutegica como factor de opacidad In Fraseologiacutea Opacidad y Traduccioacuten Frankfurt an Main Peter Lang GmbH 2013p 83ndash96 MOGORROacuteN HUERTA Pedro La opacidad en las construcciones verbales fijas In MOGORROacuteN HUERTA Pedro e MEJRI Salah (Orgs) Opacidad idiomaticidad traduccioacuten Alicante Universidade de Alicante Paris Universiteacute Paris Manouba Universiteacute de la Manouba 2010 p 237-259 MOLINA GARCIacuteA Daniel Fraseologia biliacutengue un enfoque lexicograacutefico-pedagoacutegico Granada Editorial Comares 2006 MONTEIRO-PLANTIN Rosemeire Selma Gastronomismos linguiacutesticos um olhar sobre fraseologia e cultura In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Satildeo Paulo Pontes 2011 p 249-275

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MONTORO DEL ARCO Esteban Teoriacutea fraseoloacutegica de las locuciones particulares Las locuciones prepositivas conjuntivas y marcadoras en espantildeol Frankfurt Peter Lang 2006 NACISCIONE Anita Phraseological units in literary discourse Implications for teaching and learning In CAUCE - Revista de Filologiacutea y su Didaacutectica nordm 24 2001 p 53-67 NASCENTES Antenor Tesouro da fraseologia brasileira Rio de Janeiro Freitas Bastos 1966 NEGRO ALOUSQUE Isabel La traduccion de las expresiones idiomaticas marcadas culturalmente In Revista de Linguiacutestica y Lenguas Aplicadas vol 5 2010 p 133-140 NEVEU Franck Dicionaacuterio de ciecircncias da linguagem Petroacutepolis RJ Vozes 2008 NOacuteBREGA Bruna Filipa de Sousa Os lapsus linguae e o leacutexico mental Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Terapia da Fala) 2010 141f - Escola Superior de Sauacutede do Alcoitatildeo Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa Instituto de Ciecircncias da Sauacutede Universidade Catoacutelica Portuguesa Alcoitatildeo 2010 NUNBERG Geoffrey SAG Ivan A e WASOW Thomas Idioms Language Vol 70 no 3 (1994) 49 p491-538 OLZA MORENO Ineacutes Aspectos de la semaacutentica de las unidades fraseoloacutegicas La fraseologiacutea somaacutetica metalinguiacutestica del espantildeol 2009 581f Tese (Doutorado em linguiacutestica hispacircnica) ndash Programa de Doctorado em Linguiacutestica Hispaacutenica Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Navarra 2009 Disponiacutevel em httpdspaceunavesdspacebitstream1017169851Tesis20InC3a9s20Olzapdf PAMIES BERTRAacuteN Antonio (2007) ldquoDe la idiomaticidad y sus paradojasrdquo In CONDE TARRIacuteO Germaacuten (Org) Nouveaux apports agrave lrsquoeacutetude des expressions figeacutees Cortil-Wodon EME amp InterCommunications SPRL 2007 p173-204 PEREIRA Eduardo Carlos Gramaacutetica expositiva curso superior Satildeo Paulo CEN [1907] 1957 PERINI Maacuterio A Gramaacutetica do portuguecircs brasileiro Satildeo Paulo Paraacutebola 2010 PORTO DAPENA Joseacute-Aacutelvaro Manual de teacutecnica lexicograacutefica Madrid Arco 2002

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PRETI Dino Apresentaccedilatildeo In PRETI Dino (Org) Anaacutelise de textos orais Projetos Paralelos ndash NURCSP 5ed Satildeo Paulo Humanitas 2001 pp11-12 QUADRO EUROPEU COMUM DE REFEREcircNCIA PARA AS LIacuteNGUAS ndash APRENDIZAGEM ENSINO AVALIACcedilAtildeO Porto Conselho da EuropaAsa 2001 Disponiacutevel em httpwwwasaptdownloadsQuadro_Europeu_001_072pdf Acesso em 12122009 QUEPONS RAMIacuteREZ Cecilia El proceso de desautomatizacioacuten en la fraseologiacutea espantildeola un acercamiento In Memorias del V Foro de Estudios en Lenguas Internacional (FEL 2009) Universidad de Quintana Roo ndash Departamento de Lengua y Educacioacuten p409-506 ROSSI-LANDI Ferruccio Ideologiacuteas de la relatividad linguiacutestica Buenos Aires Nueva Visioacuten [1972] 1974 RUIZ GURILLO Leonor Ejercicios de fraseologiacutea Madrid Arco 2002 RUIZ GURILLO Leonor Interrelaciones entre gramaticalizacioacuten y fraseologiacutea en espantildeol In Revista De Filologiacutea Espantildeola (RFE) XC 1o 2010 p173-194 SACCONI Luiz Antonio Grande dicionaacuterio Sacconi da liacutengua portuguesa comentado criacutetico e enciclopeacutedico Satildeo Paulo Nova Geraccedilatildeo 2010 SALIBA Maacutercia de Carvalho Unidades lexicais maiores que a palavra descriccedilatildeo linguiacutestica consideraccedilotildees psicolinguiacutesiticas e implicaccedilotildees pedagoacutegicas 2000 122f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em LetrasLinguiacutestica Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2000 SALOMAtildeO Maria Margarida Martins Tudo certo como dois e dois satildeo cinco todas as construccedilotildees de uma liacutengua In MIRANDA Neusa Salim e SALOMAtildeO Maria Margarida Martins (Orgs) Construccedilotildees do portuguecircs do Brasil da gramaacutetica ao discurso Belo Horizonte UFMG 2009 P33-74 SAUSSURE Ferdinand Curso de linguiacutestica geral Satildeo Paulo Cultrix [1916] 2012 SCLIAR-CABRAL Leonor Introduccedilatildeo agrave psicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1991 SCLIAR-CABRAL Leonor Psicolinguiacutestica uma entrevista com Leonor Scliar-Cabral IN ReVELVol 6 n 11 agosto de 2008 Disponiacutevel em httpwwwrevelinfbrfilesentrevistasrevel_11_entrevista_scliar_cabralpdf

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SEARLE John R Expressatildeo e sentido estudos da teoria dos atos da fala Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 SILVA Maria Eugecircnia Oliacutempio de Oliveira Dicionaacuterios armas de dois gumes no estudo da fraseologia O caso das locuccedilotildees In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Campinas SP Pontes 2011 P161-182 SMITH Frank Leitura significativa Porto Alegre Artmed 1999 SOLEacute Isabel Estrateacutegias de leitura Porto Alegre Artmed 1998 STERNBERG Robert J Psicologia cognitiva Porto Alegre Artmed 2008 SWINNEY D E CUTLER A ldquoThe acess and processing of idiomatic expressionsrdquo In Journal of Verbal Learning and Verbal Behaviour 1979 nordm18 p 645-659 Disponiacutevel em Internet httprepositoryubnrunlbitstream20661560815998pdf Acesso em 26032010 TAGNIN Stella EO O jeito que a gente diz expressotildees convencionais e idiomaacuteticas Satildeo Paulo Disal 2005 TIMOFEEVA Larissa Acerca de los aspectos traductoloacutegicos de la fraseologiacutea espantildeola 2008 594f Tese (Doutorado em Letras) Departamento de Filologiacutea EspantildeolaLinguiacutestica General y Teoriacutea de la Literatura Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Alicante Alicante 2008 TOMITCH Lecircda Maria Braga Aspectos cognitivos e instrucionais da leitura Bauru SP EdUSC 2008 TULVING E How many memory systems are there American Psychologist 40 1985 Pp 385-39 VARELA Francisco J THOMPSON Evan e ROSCH Eleanor A mente incorporada ciecircncias cognitivas e experiecircncia humana Porto Alegre Artmed 2003 VEGA-MORENO Rosa Elena Representingand processing idioms In Working Papers in Linguistics v 15 2003 p73-109 Disponiacutevel em Internet httpwwwphonuclacukhomePUBWPL01papersvegapdf Acesso em 11022011 WITTGENSTEIN Ludwig Gramaacutetica filosoacutefica Satildeo Paulo Loyola 2003 XATARA Claudia Maria O campo minado das expressotildees idiomaacuteticas In Alfa Satildeo Paulo 42(nesp) 1998 p147-159

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ZULUAGA GOMEZ Francisco Locuciones dichos y refranes sobre el lenguaje unidades fraseoloacutegicas fijas e interaccioacuten verbal In Forma funcion Santaf de Bogot DC [online] 2005 n18 p 250-282 ZULUAGA Alberto Introduccioacuten al estudio de las expresiones fijas Frankfurt am Maim Peter D Lang 1980 ZULUAGA Alberto La fijacioacuten fraseoloacutegica In Thesaurus BICC (Boletiacuten del Instituto Caro Y Cuervo) XXX nuacuteml 1975 p 225-248

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ANEXOS

Lista completa de expressotildees idiomaacuteticas do experimento

EXPERIMENTO

Zoomorfismos

1Matar cachorro a grito

2 Natildeo pagar mico

Somatismos

3Tirar mais aacutegua do joelho

4Pocircr a boca no trombone

Botanismos

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

6Chutar o pau da barraca

Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) seguindo o modelo de Cooper (1999) I - ZOOMORFISMOS

CARTAtildeO 1

Costuma-se pensar que artistas de modo geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado e Satildeo Paulo 20 de marccedilo de 2011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 2

Para quem natildeo quer pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais

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informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

II- SOMATISMOS

CARTAtildeO 3

Existem perguntas que talvez vocecirc soacute tinha feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 4

Indignado com os desmandos em Chaval uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401 km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

III ndash BOTANISMOS

CARTAtildeO 5

A partir do dia primeiro de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

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CARTAtildeO 6

Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes pede A conversa podia seguir mas eacute hora de desligar (in Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009 Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

Experimento 2 Teste de Muacuteltipla Escolha (TME seguindo o modelo de Flores drsquoArcais (1993) I - ZOOMORFISMOS

1 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Quase sempre que a presidente Dilma Rousseff vem ao Cearaacute assina liberaccedilatildeo de verbas para isso e aquilo Fica-se a pensar pelo discurso aplaudido (embora ilusoacuterio) que o dinheiro chega no dia seguinte E natildeo chega Cid Gomes com sorrisos de aparecircncia vive a engolir sapos (In Coluna Regina Marshall Caderno 3 DN 06032012)

A expressatildeo ENGOLIR SAPOS significa a( ) Deglutir anfiacutebios sem cauda de pele rugosa

b( ) Receber aplausos por liberaccedilatildeo de verbas

c ( ) Tolerar situaccedilotildees desagradaacuteveis sem responder

2 QUESTAtildeO 3H - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Uma das maiores atraccedilotildees do megassucesso Avenida Brasil novela da Rede Globo eacute a atriz Isis Valverde como a periguete boliviana Sueacutelen boa de cama e de mesa que faz gato e sapato dos coraccedilotildees masculinos do Divino com seu mix de maliacutecia e ingenuidade espontaneidade e malandragem e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar (In Nelson Motta O Estado de Satildeo Paulo 13 de julho de 2012)

A expressatildeo FAZER GATO E SAPATO significa

a ( ) Fazer de (algueacutem) o que se quer

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b ( ) Criar felino e calccedilado de sola dura

c ( ) Seduzir periguete com maliacutecia

II- SOMATISMOS

3 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Em linhas gerais para quem natildeo quer esquentar a cabeccedila nem correr maiores riscos o mercado indica a destinaccedilatildeo de parcela miacutenima dos recursos natildeo mais de 10 em fundo de accedilotildees tendo como horizonte prazo de no miacutenimo cinco anos (In Caderno Negoacutecios DN 27052002)

A expressatildeo ESQUENTAR A CABECcedilA significa

a ( ) Aquecer parte do cracircnio

b ( ) Ficar muito preocupado

c ( ) Indicar prazo miacutenimo

4 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

O diretor do Big Brother Brasil J B de Oliveira o Boninho pegou um rabo de foguete ao assumir o reality show comprado agrave Endemol para muitos uma ideacuteia fascista que aproveita a sede de fama e dinheiro de boa parte da populaccedilatildeo para trancafiar anocircnimos numa casa e escancarar as fraquezas que se potencializam no confinamento(In Marcelo Migliaccio Caderno Ilustrada Folha de Satildeo Paulo 28072002)

A expressatildeo PEGAR EM RABO DE FOGUETE significa

a ( ) Prender pessoas desconhecidas ou fascistas

b ( ) Segurar a cauda do rojatildeo ou do fogo de artifiacutecio

c ( ) Assumir compromisso complicado ou perigoso III ndash INDUMENTISMOS

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Cuidado Tem especulador botando as manguinhas de fora aumentando os preccedilos das mercadorias atrelando-as ao doacutelar Deixe a preguiccedila de lado e saia em campo Pesquise pechinche e recuse os aumentos principalmente os abusivos buscando alternativas Defenda o seu real(In Colunistas DN 10031999)

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A expressatildeo BOTAR AS MANGUINHAS DE FORA significa

a ( ) Aumentar o valor do real ou do doacutelar

b ( ) Perder a vergonha ou o acanhamento

c ( ) Pocircr as pequenas ou as poucas vestes agrave mostra

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Na uacuteltima terccedila a Globo apresentou ldquoO profetardquo agrave imprensa A novela estreacuteia dia 16 agraves 18h As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid rasgaram muita seda Mas tambeacutem mostraram que sabem brincar Depois de ouvir um elogio de Thelma a ela Duda natildeo titubeou ldquoQuero ver se na correria da novela ela continuaraacute assimrdquo Risada geral(Caderno Zoeira DN 08102006)

A expressatildeo RASGAR SEDA significa

a ( ) Fazer tecido em pedaccedilos ou tiras

b ( ) Trocar amabilidades ou gentilezas

c ( ) Ouvir brincadeiras ou risadas

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SOBRE O AUTOR

Natural de Iguatu (CE)

Nasceu em 1961 Filho de Pedrina Maria da Silva Martins lavadeira matildee generosa e visionaacuteria que muito se empenhou na sua formaccedilatildeo baacutesica e se engajou diligentemente no seu ingresso e a permanecircncia no Coleacutegio Militar de Fortaleza (CMF) no periacuteodo de 1976 a

1982 Natildeo conheceu o pai Ao deixar o CMF graduou-se em Letras pela Universidade Estadual do Cearaacute (1987) fez mestrado em Educaccedilatildeo pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (FACED 1996) da Universidade Federal do Cearaacute com a dissertaccedilatildeo ldquoConstituiccedilatildeo e educaccedilatildeo anaacutelise evolutiva da educaccedilatildeo na organizaccedilatildeo constitucional do Brasilrdquo sob a orientaccedilatildeo do Dr Andreacute Haguette (UFC) e doutorado em Linguiacutestica (2013) com a tese ldquoEstrateacutegias de Compreensatildeo de Expressotildees Idiomaacuteticas por Natildeo Nativos do Portuguecircs Brasileirordquo sob a orientaccedilatildeo da Dra Rosemeire Selma Monteiro-Plantin (UFC) pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica (PPGL) da Universidade Federal do Cearaacute Em 1989 participou do processo de elaboraccedilatildeo do Capiacutetulo da Educaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo do Estado do Cearaacute com a proposiccedilatildeo e aprovaccedilatildeo de 20 artigos educacionais que hoje figuram na Carta Estadual Em 1990 tambeacutem colaborou na elaboraccedilatildeo da Lei Orgacircnica de Fortaleza com a aprovaccedilatildeo de ao menos 30 artigos na aacuterea educacional que hoje fazem parte da Carta Municipal Desde 1994 em virtude de concurso puacuteblico mudou-se com a famiacutelia para Sobral (a 220 km de FortalezaCE) onde atua como docente de Linguiacutestica do Curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Aleacutem de dedicar-se entusiasticamente a pesquisas linguiacutesticas (Psicolinguiacutestica Fraseologia Etimologia e Descriccedilatildeo do Portuguecircs)

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tem se interessado em estudos educacionais (Legislaccedilatildeo Educacional BNCC Acordo Ortograacutefico EJA Educaccedilatildeo Baacutesica Educaccedilatildeo Inclusiva etc) e atuado ativamente nas aacutereas de Formaccedilatildeo de Professores em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo e como docente nos cursos de Especializaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e Psicopedagogia respectivamente Durante 10 anos atuou na aacuterea de ensino de Liacutengua Portuguesa e de liacutengua espanhola na educaccedilatildeo baacutesica em Fortaleza Lotado no Curso de Letras do Centro de Filosofia Educaccedilatildeo e Letras (CENFLE) da UVA em Sobral tem ao longo dos anos ministrado disciplinas como Foneacutetica e Fonologia do Portuguecircs Aquisiccedilatildeo da Linguagem e Estiliacutestica do Portuguecircs aacutereas em que escreveu muitos artigos cientiacuteficos e livros Na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tem participado como examinador externo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Universidade Federal do Cearaacute (UFC) e de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenou na UVA de 2015 a 2017 o subprojeto de Letras (Liacutengua Portuguesa) do Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBID) e coordenou de 2018-2020 o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica da CAPESMEC Possui Estaacutegio Poacutes-Doutoral em Linguiacutestica no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia sob a supervisatildeo da Profordf Dra Livia Marcia Tiba Radis Baptista (UFBA) com a pesquisa ldquoFrasemaacuterio Cultural Identificaccedilatildeo Classificaccedilatildeo e Constituiccedilatildeo de Corpus de Culturemas nos Romances do Nordeste Brasileirordquo (2016-2017) No momento cursa seu segundo estaacutegio de poacutes-doutorado pela UFC (2019-2020) na aacuterea de Linguiacutestica com pesquisa sobre ldquoOs Culturemas no Discurso Liacutetero-Musical das Letras de Canccedilatildeo Brasileirardquo sob a supervisatildeo da Profordf Dra Roseimeire Selma Monteiro-Plantan (UFC) Mais recentemente publicou livros nas aacutereas de educaccedilatildeo linguiacutestica ensino de liacutengua portuguesa e poesias todos pela editora Pedro amp Joatildeo Editores (consultar tiacutetulos em httpwwwpedroejoaoeditorescombr) Contatos para eventos e palestras em todo o Brasil presenciais ou virtuais favor enviar convite ou proposta para vicentemartinsuolcombr

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SOBRE A HOMENAGEADA

Florence Detry eacute Licenciada em Filologia Romacircnica (Universiteacute Catholique de Louvain Beacutelgica) com mestrado em Ensino do Espanhol como Liacutengua Esttrangeira (Universidad Complutense de Madrid) e doutorado pela Universidad de Gerona Seu acircmbito de especializaccedilatildeo e linha de pesquisa

se concentram no processo cognitivo de aprendizagem da fraseologia em uma liacutengua estrangeira (particularmente espanhol e francecircs) e nas repercussotildees didaacuteticas correspondentes Eacute autora de vaacuterias publicaccedilotildees sobre este tema e de um livro ilustrado para a fraseologia do catalatildeo L2 (De cap a peus Fitxer ilmiddotlustrat de frases fetes per a la classe de catalagrave (L2) Miacutenima llibres 2014) Atualmente eacute docente nas escolas universitaacuterias anexas agrave Universidad de Gerona

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Page 4: LUSOFONIA AFRO-...Ática) e Para compreender Labov (Petrópolis, Vozes). O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocorísticos foi publicado em artigo científico sob o título

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Copyright copy Vicente de Paula da Silva Martins Todos os direitos garantidos Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos do autor

Vicente de Paula da Silva Martins

Lusofonia afro-brasileira modos de compreender as expressotildees idiomaacuteticas Satildeo Carlos Pedro amp Joatildeo Editores 2020 283p ISBN 978-65-87645-67-4

1 Lusofonia afro-brasileira 2 Expressotildees idiomaacuteticas 3 Psicolinguiacutestica 4 Autor I Tiacutetulo

CDD ndash 410

Capa Felipe Roberto І Argila Diagramaccedilatildeo Diany Akiko Lee Editores Pedro Amaro de Moura Brito amp Joatildeo Rodrigo de Moura Brito Conselho Cientiacutefico da Pedro amp Joatildeo Editores Augusto Ponzio (BariItaacutelia) Joatildeo Wanderley Geraldi (Unicamp Brasil) Heacutelio Maacutercio Pajeuacute (UFPEBrasil) Maria Isabel de Moura (UFSCarBrasil) Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCarBrasil) Valdemir Miotello (UFSCarBrasil) Ana Claacuteudia Bortolozzi (UNESP BauruBrasil) Mariangela Lima de Almeida (UFESBrasil) Joseacute Kuiava (UNIOESTEBrasil) Marisol Barenco de Melo (UFFBrasil) Camila Caracelli Scherma (UFFSBrasil) Luiacutes Fernando Soares Zuin (USPBrasil)

Pedro amp Joatildeo Editores wwwpedroejoaoeditorescombr

13568-878 - Satildeo Carlos ndash SP 2020

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HOMENAGEM Agrave linguista e amiga Florence Detry que de tatildeo longe orientou-me passo a passo sobre os primeiros procedimentos metodoloacutegicos para construccedilatildeo dos experimentos psicolinguiacutesticos na aacuterea fraseoloacutegica e a diligente aplicaccedilatildeo de testes aos africanos lusoacutefonos

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SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS 19

CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS 67

A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas 69

Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia 71

As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas 74

As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico 74

Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo 76

Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical 79

Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto 80

Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico 82

A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas 83

A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave 84

Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas 85

ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA 89

Os experimentos de Irujo (1986) 90

Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993) 95

Os experimentos de Cooper (1999) 105

Os experimentos de Crespo e Caceres (2006) 110

Os experimentos de Detry (2010) 112

METODOLOGIA DA PESQUISA 113

Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa 113

Objetivo Geral 113

Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa 113

Perguntas da pesquisa 114

Hipoacuteteses 115

Primeiros passos metodoloacutegicos 116

8

EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS 119

Participantes 119

Refinamento dos instrumentos da pesquisa 123

Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento 126

Material e Procedimento de seleccedilatildeo 128

Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento 131

ZOOMORFISMOS 131

Matar cachorro a grito 131

Natildeo pagar mico 132

SOMATISMOS 132

Tirar mais aacutegua do joelho 132

Pocircr a boca no trombone 132

BOTANISMOS 133

Saber com quantos paus se faz uma canoa 133

Chutar o pau da barraca 133

Protocolo verbal think aloud (TA) 133

Transcriccedilatildeo de dados 134

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4 140

Material do 1ordm Experimento 142

RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 145

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

145

Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

145

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 159

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 160

Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico 160

ZOOMORFISMOS 160

Matar cachorro a grito 160

Pagar mico 161

SOMATISMOS 164

Tirar mais aacutegua do joelho 164

Pocircr a boca no trombone 165

9

BOTANISMOS 165

Saber com quantos paus se faz uma canoa 165

Chutar o pau da barraca 165

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica 166

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica 167

ZOOMORFISMOS 167

Matar cachorro a grito 167

Natildeo pagar mico 168

SOMATISMOS 169

Tirar aacutegua do joelho 169

Pocircr a boca no trombone 169

BOTANISMOS 171

Saber com quantos paus se faz uma canoa 171

Chutar o pau da barraca 171

Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica 172

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

174

Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica 174

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes 178

Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica 180

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 180

ZOOMORFISMOS 180

Matar cachorro a grito 180

Natildeo pagar mico 180

SOMATISMOS 181

Tirar mais aacutegua do joelho 181

Pocircr a boca no trombone 182

BOTANISMOS 182

Saber com quantos paus se faz uma canoa 182

Chutar o pau da barraca 183

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 185

ZOOMORFISMOS 185

Matar cachorro a grito 185

Natildeo pagar mico 185

10

SOMATISMOS 186

Tirar mais aacutegua do joelho 186

Pocircr a boca no trombone 186

BOTANISMOS 186

Saber com quantos paus se faz uma canoa 186

Chutar o pau da barraca 186

Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico 187

ZOOMORFISMOS 187

Matar cachorro a grito 187

Natildeo pagar mico 187

SOMATISMOS 188

Tirar mais aacutegua do joelho 188

Pocircr a boca no trombone 188

BOTANISMOS 190

Saber com quantos paus se faz uma canoa 190

Chutar o pau da barraca 191

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica 192

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense 194

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

198

Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica 197

Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica 203

ZOOMORFISMOS 203

Matar cachorro a grito 203

Natildeo pagar mico 206

SOMATISMOS 208

Tirar mais aacutegua do joelho 208

Pocircr a boca no trombone 209

BOTANISMOS 209

Saber com quantos paus se faz uma canoa 209

Chutar o pau da barraca 210

Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 211

ZOOMORFISMOS 211

11

Matar cachorro a grito 211

Natildeo pagar mico 212

SOMATISMOS 212

Tirar mais aacutegua do joelho 212

Pocircr a boca no trombone 212

BOTANISMOS 213

Saber com quantos paus se faz uma canoa 213

Chutar o pau da barraca 213

Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 214

ZOOMORFISMOS 214

Matar cachorro a grito 214

Natildeo pagar mico 215

SOMATISMOS 216

Tirar mais aacutegua do joelho 216

Pocircr a boca no trombone 217

BOTANISMOS 218

Saber com quantos paus se faz uma canoa 218

Chutar o pau da barraca 219

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica 221

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

222

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso 231

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo 233

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625 235

ZOOMORFISMOS 235

Matar cachorro a grito 235

Natildeo pagar mico 236

SOMATISMOS 237

Tirar mais aacutegua do joelho 237

Pocircr a boca no trombone 239

BOTANISMOS 240

Saber com quantos paus se faz uma canoa 240

Chutar o pau da barraca 242

12

Estrateacutegias bem-sucedidas 245

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo 250

ZOOMORFISMOS 250

Matar cachorro a grito 250

Natildeo pagar mico 252

SOMATISMOS 253

Tirar mais aacutegua do joelho 253

Pocircr a boca no trombone 254

BOTANISMOS 255

Saber com quantos paus se faz uma canoa 255

Chutar o pau da barraca 257

BREVES CONCLUSOtildeES 261

REFEREcircNCIAS 265

ANEXOS 275

SOBRE O AUTOR 281

SOBRE A HOMENAGEADA 283

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INTRODUCcedilAtildeO

COMO SURGIU MEU ENTUSIASMO COM A (PSICO)LINGUIacuteSTICA)

A primeira vez que vi um linguista em accedilatildeo em campo de pesquisa foi em 1983 Estudante de Letras na Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) em Fortaleza surpreendentemente vi adentrar em uma das salas de aula do Centro de Humanidades um pesquisador elegante fino voz impostada e nos saudou com um retumbante boa noite Ficamos bastante curiosos com aquela figura Em seguida pediu licenccedila ao colega professor para aplicar aos calouros de Letras um pequeno questionaacuterio sobre hipocoriacutesticos Hipocoriacutesticos Natildeo tinha a menor ideia do que pudesse ser o tema da pesquisa e o pesquisador percebendo nossos olhares atocircnitos finalmente identificou-se apresentou suas credenciais acadecircmicas e de forma muito didaacutetica falou-nos sobre os hipocoriacutesticos objeto de sua pesquisa que dizem respeito agraves palavras criadas por crianccedilas pequenas especialmente durante a aquisiccedilatildeo da linguagem com intenccedilatildeo de carinho para uso no trato familiar ou amoroso como Fafaacute [por Faacutetima] Mariinha [por Maria] Tiatildeo [por Sebastiatildeo] Estava naquele ano diante de Joseacute Lemos Monteiro um dos maiores linguistas cearenses

Anos depois li muitos artigos de Lemos sobre os processos morfoloacutegicos com especial atenccedilatildeo a dois deles ldquoProcessos de formaccedilatildeo dos hipocoriacutesticosrdquo (1983) e ldquoOs hipocoriacutesticos de Joseacute e Mariardquo (1984) bem escritos com portuguecircs escorreito estilo meliacutefluo textos bem organizados e objetivos como requerem os princiacutepios e postulados da boa ciecircncia Na verdade Lemos se dedicou de forma muito intensa nos anos 80 aos estudos dos processos morfoloacutegicos de modo especial os de natureza prosoacutedica e derivacional Trecircs dos seus livros satildeo adotados por mim em disciplina no Curso de Letras Morfologia portuguesa (Campinas Pontes) A estiliacutestica (Satildeo Paulo Aacutetica) e Para compreender Labov (Petroacutepolis Vozes)

O primeiro estudo de Lemos Monteiro sobre hipocoriacutesticos foi publicado em artigo cientiacutefico sob o tiacutetulo ldquoRegras de produtividade dos hipocoriacutesticosrdquo (1982) Mais adiante jaacute no final dos anos 80 e iniacutecio da minha carreira docente no magisteacuterio de Letras descobri que Lemos

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havia coordenado uma pesquisa ldquoDicionaacuterio de Hipocoriacutesticosrdquo realizada na cidade de Fortaleza onde coletou uma grande quantidade de nomes hipocoriacutesticos com vistas agrave elaboraccedilatildeo de um dicionaacuterio O Dicionaacuterio Hipocoriacutestico de Joseacute Lemos Monteiro nos daacute uma variedade de exemplos e muito dos nomes que nele constam fazem parte tambeacutem do nosso linguajar diaacuterio Amanda ndash Manda Mandinha Amandinha Beatriz ndash Bia Tricinha Triz Trize Bi Carla ndash Carinha Cacaacute Calu Carlota Carlita Lala e a lista vai de A a Z

As sementes de Lemos natildeo cairam em terra saacutefara aleacutem de me tornar amigo do grande pesquisador (e por diversas vezes recepcionaacute-lo em Sobral para suas magistrais conferecircncias) tambeacutem acabei por fazer agraves vezes de pesquisador agrave guisa de Lemos e realizar uma robusta e demorada pesquisa (psico) linguiacutestica ao longo de suas deacutecadas na UVA onde atuo profissionalmente desde 1994 a partir de relatos de matildees sobre as cinquenta primeiras palavras ditas por crianccedilas de 3 anos a 5 anos na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute com foco na recolha de hipocoriacutesticos material a ser ainda revisado com vistas agrave publicaccedilatildeo futura Eacute difiacutecil descrever o que se passa na mente do pesquisador e de sua equipe quando por exemplo depois de meses de aferroado trabalho de recolha e tratamento de dados de sujeitos da pesquisa ficamos diante um corpus especialmente constituiacutedo para anaacutelise (psico)linguiacutestica que apresente acircmbitos ou aacutereas de interesse acadecircmico diverso1

a)Vozes de animais ldquooarrrdquo (leatildeo) ldquofuimrdquo (porco) ldquomiaurdquo (gato) ldquoueberdquo (sapo) ldquoua-aurdquo (cachorro) ldquopiu-piurdquo (pinto) ldquobeacuteeacuterdquo (cabra) ldquomuacuteuacuterdquo (vaca) ldquoquaquardquo (pato) ldquomonrdquo (boi) ldquococoricoacuterdquo (galinha) ldquoron-ronrdquo (porco) ldquocu-curdquo (passarinho) ldquofufurdquo (coelho) ldquopiu piurdquo (pinto) ldquomeacuterdquo (cabra) b) Nomes de pessoas ldquoIardquo (Irla) ldquoIacrdquo (Isaac) ldquoInguidrdquo (Ingrid) ldquoItaiardquo(Itaacutela) ldquoSamalardquo (Samara) ldquoMarcadiordquo (Marclauacutedio) ldquoMacardquo (Magda) ldquoQuicilenerdquo (Gracilene) ldquoUiacutesrdquo (Luiacutes) ldquoAmundordquo (Raimundo) ldquoMaquederdquo (Marclede) ldquoUalardquo (Laura) ldquoKielrdquo(Macliel) ldquoMaliardquo(Maria) ldquoFaelrdquo (Rafael) ldquoGissielrdquo (Jesiel) ldquoMalenardquo (Marlene) ldquoLoanrdquo (Loratilde) ldquoSabelerdquo (Isabeli) ldquoDadardquo (Daiane) ldquoDudurdquo (Eduardo) ldquoMaconerdquo (Marcones) ldquoIquirdquo (Henrique) ldquoirdquo (Rodrigo) ldquoIgordquo (Rodrigo) ldquoDudligordquo (Rodrigo) ldquoVinirdquo (Vinicius) ldquoAndardquo (Liandra) ldquoIandardquo (Liandra) ldquoUmbertordquo (Gilberto) ldquoBunordquo (Bruno) ldquoLolenerdquo (Lorena) ldquoLorenerdquo

1 Para recolha de itens contamos com a colaboraccedilatildeo de Ana Gilvacircnia Mendes Rodrigues Francisca Magda Fernandes ArauacutejoLesliany Campos de SousaFrancisca Taiacutes Januaacuterio do Nascimento e Amanda Mesquita Paz graduandas do Curso de Letras da UVA em Sobral

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(Lorena) ldquoAnrdquo (Alan) ldquoAnrdquo (Renan) ldquoNeiderdquo (Ivaneide) ldquoIessardquo (Vanessa) ldquoNessardquo (Vanessa) ldquoIardquo (Lira) ldquoMariruizardquo (Maria Luiza) ldquoPapardquo (Paula) ldquoQuistianrdquo (Cristian) ldquoPaul Riquirdquo (Paulo Henrique) ldquoIoinhardquo (Antocircnia) ldquoDimirrdquo (Vladimir) ldquoCreylsonrdquo (Cleyson) ldquoCade Neyrdquo (Claacuteudio Ney) ldquoVuvitordquo (Paulo Vitor) ldquoDilordquo (Danilo) ldquoManurdquo (Manoel) ldquoAnielrdquo (Daniel)

c)Nomes de animais ldquogainhardquo (galinha) ldquocassorrordquo (canhorro) ldquocabitordquo (cabrito) ldquoboboletardquo (borboleta) ldquomuquitordquo (mosquito) ldquocuelordquo (coelho) ldquopocordquo (porco) ldquokatordquo (gato) ldquopassalinhordquo (passarinho) ldquoChaninrdquo (gato) ldquopacoterdquo (capote) ldquosumigardquo (formiga) ldquodatordquo (gato) ldquonerim rdquo (carneiro) ldquogainhardquo (galinha) ldquogalrdquo (galo)

d)Nomes de alimento ldquofeisatildeordquo (feijatildeo) ldquomacaatildeordquo (macarratildeo) ldquoeiterdquo (leite) ldquoescaurdquo (nescau) ldquogalanaacuterdquo (guaranaacute) ldquoacardquo(aacutegua) ldquoagardquo (aacutegua) ldquoapordquo (aacutegua) ldquoferanterdquo(refrigerante) ldquonononerdquo (danone) ldquomananardquo (banana) ldquonanajardquo(laranja) ldquocascirdquo (abacaxi) ldquocaterdquo(abacate) ldquocucordquo (suco) ldquocangerinardquo (tangerina) ldquogagaurdquo (Mingal) ldquobicoitordquo (biscoito) ldquonanterdquo (Refrigerante) ldquochurracordquo (Churrasco) ldquomaccedilardquo ldquobolordquo ldquocarnerdquo ldquotomaterdquo ldquosucordquo ldquomucilonrdquo ldquobisscoitordquo (biscoito) ldquobocoitordquo (biscoito) ldquoalfacerdquo ldquoaquinrdquo(aacutegua) ldquoovordquo ldquonhatildenhatilderdquo (qualquer tipo de comida) ldquogoabardquo (goiaba) ldquofigeanterdquo (refrigerante) ldquotutu uvardquo (suco de uva) ldquootordquo (biscoito) ldquoanccedilardquo (maccedilatilde) ldquoArdquo (aacutegua) ldquonanardquo (banana) ldquopicalrdquo(mingau) ldquolalanjardquo (laranja) ldquopilulitordquo (pirulito) ldquoxiiacutetordquo (chilito) ldquochiqueterdquo (chiclete) ldquopizardquo(pizza) ldquozoisrdquo (arroz) ldquocarratildeordquo (macarratildeo) ldquosopardquo ldquoavozrdquo (arroz)

e)Nomes de roupas ldquoshorchrdquo (short) ldquositiatilderdquo (sutiatilde) ldquovitidordquo (vestido) ldquobusardquo (blusa)ldquobitidordquo (Vestido) ldquoshotrdquo (short) ldquocaccedilardquo (calccedila) ldquochidelardquo (chinela) ldquocacinhardquo (calcinha) ldquocuecardquo ldquosapatuacuterdquo (sapato) ldquouopardquo (roupa) ldquootardquo (bota) ldquosadaliacuteardquo (sandaacutelia) ldquobrusardquo (blusa) ldquosinelordquo (chinelo) ldquofladardquo (fralda) ldquoirtidordquo (vestido)

f)Nomes de objetos familiares e brinquedos ldquotanetardquo (caneta) ldquoaacutepisrdquo (laacutepis) ldquoivordquo (livro) ldquocaim rdquo (carrinho) ldquocompintadorrdquo (computador) ldquopacaceterdquo (capacete) ldquotevisatildeordquo (televisatildeo) ldquooacutequisrdquo (oacuteculos) ldquocadelardquo (cadeira) ldquolidificadordquo (liquidificador) ldquocamardquo ldquomonecardquo (boneca) ldquomuchilardquo (mochila) ldquocadirnordquo (caderno) ldquocolardquo ldquodinossaurordquo ldquopanelinhardquo ldquotelefonerdquo ldquocadeiardquo (cadeira) ldquocasinha de bonecardquo ldquoursordquo ldquotaordquo (carro) ldquonecardquo (boneca) ldquobiketardquo (bicicleta) ldquokeiterdquo(Skate) ldquotelesatildeordquo (televisatildeo) ldquoririnhordquo(carinho) ldquocamiagerdquo (maquiagem) ldquocopordquo ldquotupiquerdquo (topique)ldquopelhordquo (espelho) ldquocerularrdquo (celular) ldquoJaladeirardquo (geladeira) ldquobuneirordquo (banheiro) ldquopotilardquo (apostila) ldquocelaacuterdquo (celular) ldquolaternardquo(lanterna) ldquolapissirdquo (laacutepis) ldquocadelardquo(cadeira)

g)Verbos ldquocholanordquo (chorando) ldquocorrenordquo (correndo) ldquoquelordquo (quero) ldquotabalardquo (trabalha) ldquomimirdquo (dormir) ldquoatitirdquo(assistir) ldquogotordquo (gosto) ldquonihamrdquo (comer) ldquococircnirdquo (correr) ldquopulardquo (pular) ldquofazerrdquo ldquodizerrdquo ldquofalarrdquo ldquocomprarrdquo ldquoriscarrdquo ldquodeverrdquo ldquogostordquo ldquoamordquo ldquochegarrdquo ldquodescansarrdquo ldquosourdquo ldquoaprenderrdquo ldquoabaccedilarrdquo (abraccedilar) ldquofazirdquo (fazer) ldquoguadardquo (guardar) ldquocovardquo (escovar)

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ldquoesqueverdquo (escrever) ldquobincaacuterdquo (brincar) ldquoteiordquo (quero) ldquocumeacuterdquo (comer) ldquopulharrdquo (pular) ldquodessardquo (deixar) ldquosamarrdquo (chamar) ldquoblincarrdquo (brincar) ldquoconderrdquo (esconder)

h) As palavras da vida social ldquobigadordquo (obrigado) ldquodicupardquo (desculpa) ldquolixenxardquo (licenccedila) ldquopu favocircrdquo (por favor) ldquopetordquo (preto) ldquobancordquo (branco) ldquovederdquo (verde) ldquoprofessorardquo ldquoescolardquo ldquoirmatildeordquo ldquoprimordquo ldquooirdquo ldquoOlaacuterdquo ldquotiordquo ldquovovoacuterdquo ldquovovocircrdquo ldquopraiardquo ldquoamigosrdquo ldquocolegasrdquo ldquotubomrdquo (tudo bom) ldquosadaderdquo (saldade) ldquonatildeordquo ldquofrocircrdquo (flor) ldquorossardquo (rosa) ldquoufavocircrdquo (por favor) ldquononoiterdquo (boa noite) ldquobocircdiardquo (bom dia) ldquofofocircrdquo (vovocirc) ldquofofoacuterdquo (vovoacute) ldquobom tiardquo (bom dia) ldquodesculpasrdquo ldquomaezinhardquo ldquopaizinhordquo

i)Adjetivos ldquoaindardquo (linda) ldquofeardquo (feia) ldquogodardquo (gorda) ldquomacardquo (magra) ldquoninitordquo (bonito) ldquomaviosordquo (maravilhoso) ldquogacircndirdquo (grande) ldquomonitardquo (bonita) ldquoaltordquo ldquopiquenordquo (pequeno) ldquomaurdquo ldquofelizrdquo ldquobriacanhonardquo (brincalhona) ldquochatordquo ldquobilanterdquo (brilhante) ldquofofordquo ldquoalequerdquo (alegre) ldquoaltuacuterdquo (alto) ldquosaturdquo (chato) ldquoponitardquo (bonita) ldquolhegalrdquo (legal) A pequena amostra acima pode nos dar uma ideia bem aligeirada

da visibilidade dos dados de pesquisa A constituiccedilatildeo de corpus pode ser traduzido como uma espeacutecie de ldquoepifaniardquo ao longo de uma pesquisa envolvendo principalmente alunos da graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Letras Toda discussatildeo derivada de corpus eacute em geral ineacutedita Eacute um desafio para os pesquisadores desvelar os fenocircmenos e os achados linguiacutesticos O corpus eacute uma luz importante na pesquisa A constituiccedilatildeo de um corpus revela como o investigador realmente estaacute atento aos aspectos de confiabilidade e validaccedilatildeo do seu estudo Desde cedo a trajetoacuteria do pesquisador Lemos Monteiro natildeo apenas me serviu como uma fonte de inspiraccedilatildeo profissional como tambeacutem me espicaccedilou sugestivos passos metodoloacutegicos para o desenvolvimento da pesquisa na aacuterea linguiacutestica escolha do tema revisatildeo de literatura justificativa formulaccedilatildeo do problema determinaccedilatildeo de objetivos metodologia coleta de dados tabulaccedilatildeo de dados anaacutelise e discussatildeo dos resultados conclusatildeo da anaacutelise dos resultados redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo ou socializaccedilatildeo dos resultados da pesquisa Bem antes de entrar em campo o pesquisador deve enfim construir sua base teoacuterica para em segundo momento referenciar teoricamente sua metodologia A metodologia de pesquisa eacute fase decisiva do investigador (e de sua equipe) que iraacute proporcionar aos envolvidos uma compreensatildeo e anaacutelise do mundo atraveacutes da construccedilatildeo do conhecimento

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Haacute uma geraccedilatildeo de grandes pesquisadores que foram influenciados pela pesquisa de Lemos Monteiro Citarei apenas o nome da linguista Aluiza Alves de Arauacutejo (UECE) nome de peso uma pesquisadora de matildeo cheia e disciacutepula de Lemos Durante anos Aluiza vem se dedicando ao falar fortalezense na constituiccedilatildeo crescente de dois bancos de dados que se destacam por seu representativo nuacutemero de informantes o PORCUFORT (Portuguecircs Oral Culto de Fortaleza) e o NORPOFOR (Norma Oral do Portuguecircs Popular de Fortalez que adotaram na sua constituiccedilatildeo os mesmos procedimentos utilizados pelo NURC na seleccedilatildeo dos informantes e na coleta dos dados

Da minha parte haacute quinze anos me interessei pelos estudos psicolinguiacutesticos ao conhecer os trabalhos de Leonor Scliar Cabral (UFSC) Luiz Antocircnio Marcusch (UFPE) Luiz Carlos Cagliari (Unicamp) Letiacutecia Sicuro Correcirca (Unicamp) Rosemeire Monteiro-Plantin (UFC) entre outros Os congressos os livros e os artigos cientiacuteficos na aacuterea de (psico)linguiacutestica me levaram a conhecer os trabalhos de Eduardo Kenedy ( UFF) Luciana Sanchez Mendes (UFF) Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ) Andreacute Nogueira Xavier (UFPR) Elisacircngela Teixeira (UFC) Joseacute Ferrari-Neto (UFPB) Katia Abreu (UERJ) pesquisadores que atualmente participam do Grupo de Estudos e Laboratoacuterio em Psicolinguiacutestica Experimental da UFF Fora do Brasil as pesquisas de Antonio Pamies Bertraacuten Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Carmen Mellado Blanco Florence Detry e Pedro Mogorroacuten Huerta tambeacutem muito me encorajaram a fazer pesquisa sob a interface Fraseologia e Psicolinguiacutestica Tem sido uma rica experiecircncia acadecircmica compartilhar ideias e opiniotildees por e-mail com muitos destes pesquisadores supracitados

Entre os domiacutenios da linguiacutestica a psicolinguiacutestica eacute aquela aacuterea interdisciplinar que leva o pesquisador a um exaustivo estudo das hipoacuteteses sobre relaccedilotildees entre a linguagem e as chamadas funccedilotildees mentais superiores como percepccedilatildeo atenccedilatildeo e memoacuteria esta por exemplo foi um divisor de aacutegua para mim quando ao ler Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1951) descobri que nossa memoacuteria reteacutem muito melhor as palavras em grupos (expressotildees fixas) do que as palavras isoladas Um dado que fez grande diferenccedila quando resolvi montar uma seacuterie de testes psicolinguiacutesticos a aplicar a africanos lusoacutefonos durante o doutorado em linguiacutestica pela UFC Irei agora descrever brevemente os capiacutetulos deste livro que traz apenas dados

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relativos agrave primeira bateria de testes psicolinguiacutesticos (off-line) aplicados a estudantes guineenses e cabo-verdianos No futuro bem proacuteximo publicizaremos os dados de mais duas baterias de testes

No capiacutetulo 1 tratamos dos principais conceitos e aportes fraseoloacutegicos com sobretudo os conceitos de fraseologia geral unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica e locuccedilatildeo verbal Em seguida apresentamos as propriedades fraseoloacutegicas que estatildeo diretamente relacionadas agrave pesquisa a saber a polilexicalidade a frequecircncia a fixaccedilatildeo a idiomaticidade e a convencionalidade

No capiacutetulo 2 apresentamos os principais conceitos aportes teoacutericos e hipoacuteteses psicolinguiacutesticas relacionadas ao processamento fraseoloacutegico e no capiacutetulo 3 estudos empiacutericos relacionados ao tema como os experimentos de Irujo (1986 Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010)

No capiacutetulo 4 dedicamos atenccedilatildeo agrave metodologia da pesquisa em que descrevemos objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa e nossos primeiros passos metodoloacutegicos nos preacute-testes aplicados a nativos do PB e natildeo nativos e metodologia final antes de aplicarmos os trecircs experimentos aos 20 sujeitos da pesquisa Como dissemos anteriormente a descriccedilatildeo seraacute apenas de um dos trecircs experimentos com seus respectivos testes

No Capiacutetulo 5 apresentamos os dados resultados e discussotildees relacionados com o experimento psicolinguiacutestico particularmente as tarefas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica memoacuteria fraseoloacutegica idiomaticidade fraseoloacutegica e a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica para as expressotildees matar cachorro a grito e natildeo pagar mico (zoomorfismos) tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone (somatismos) e saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca (botanismos)

Vicente de Paula da Silva Martins - UVA

FortalezaSobral Ano I da Pandemia Covid-19

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CONCEITOS E APORTES FRASEOLOacuteGICOS

Como los signos simples del sistema las combinaciones fijas pertenecen al componente leacutexico de la lengua al lexicoacuten y se hallan almacenadas en la memoria de donde tan soacutelo son rescatadas en cada acto de habla (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p15)

No bosque do Centro de Humanidades da Universidade Federal

do Cearaacute (UFC) no bairro Benfica em Fortaleza escuto numa tarde ensolarada de 2010 estrondosas gargalhadas de estudantes de Letras Um guineense ao ser perguntado por concludentes do curso sobre o significado idiomaacutetico de expressotildees bem frequentes no Portuguecircs Brasileiro (PB) como ldquoArmar um barracordquo ldquoArregaccedilar as mangasrdquo ldquoBoca de sirirdquo ldquoCara de paurdquo ldquoengolir saposrdquo ldquoencher linguiccedilardquo entre outras suas respostas eram sempre literais o suficiente para ldquogozaccedilatildeordquo dos estudantes nativos Se os africanos lusoacutefonos falam e conhecem bem a estrutura da liacutengua portuguesa e as liacutenguas criolas tambeacutem tecircm forte influecircncia do portuguecircs europeu onde residiria o ldquonoacute goacuterdiordquo para a compreensatildeo idiomaacutetica Por que para os natildeo nativos uma expressatildeo idiomaacutetica se apresenta tatildeo ambiacutegua sempre carecendo do contexto para ser guia da compreensatildeo idiomaacutetica Como explicar a dificuldade de falante natildeo nativo de natildeo entender plenamente a linguagem impliacutecita figurativa pragmaacutetica e idiomaacutetica

Eacute possiacutevel que a noccedilatildeo de ambiguidade de construccedilatildeo tenha sido uma das primeiras desconfianccedilas dos estruturalistas diante das combinaccedilotildees fixas suscetiacuteveis de vaacuterias interpretaccedilotildees de um lado o sentido literal da expressatildeo (composicional) e do outro o sentido pretendido da emissatildeo do falante (idiomaacutetico)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure (2012 [1916]) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras incursotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados

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por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo (2012 p173 grifos nossos)

No acircmbito dos estudos linguiacutesticos relacionados agrave Fraseologia o interesse por apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas eacute cada vez maior1 Haacute um claro percurso do Estruturalismo agrave Psicolinguiacutestica nas pesquisas fraseoloacutegicas das uacuteltimas trecircs deacutecadas

Uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquomatar dois coelhos com de uma soacute cajadadardquo com sentido de ldquoconseguir dois proveitos com um soacute trabalhordquo interessa tanto ao lexicoacutegrafo que a registra como subentrada da palavra coelho em seu dicionaacuterio como desperta atenccedilatildeo do psicolinguista uma vez que envolve a compreensatildeo idiomaacutetica ou natildeo literal por parte do falante em liacutengua materna (L1) ou segunda liacutengua (L2)

As principais linhas de pesquisa nesse campo da Fraseologia e Psicolinguiacutestica procuram responder questotildees do tipo como os falantes armazenam este tipo de unidades Como ocorre o processamento fraseoloacutegico Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo Conforme nos descrevem Corpas Pastor (2001) e Detry (2010)

Aproximar a Fraseologia da Psicolinguiacutestica (ou vice-versa) eacute sem duacutevida muito relevante e nos incita vivamente a explorar as relaccedilotildees entre expressotildees idiomaacuteticas e processos de compreensatildeo Natildeo eacute poreacutem uma tarefa faacutecil porque satildeo dois ramos de estudos linguiacutesticos bastante densos e aacuteridos principalmente no campo terminoloacutegico e taxionocircmico fontes preciosas para encontrarmos termos ou categorias operatoacuterias aplicaacuteveis agrave pesquisa experimental

1 A rigor falar em compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica soacute tem sentido na aquisiccedilatildeo da linguagem nas crianccedilas em situaccedilatildeo em que os bebecircs estatildeo aprendendo a liacutengua materna ou estrangeiras como L2 Depois acreditamos que a expressatildeo idiomaacutetica eacute incorporada ao leacutexico sem anaacutelise interna tanto quanto se faz com uma palavra Aquisiccedilatildeo aqui assim tem acepccedilatildeo mais ampla e alcanccedila os natildeo nativos de dada liacutengua

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Uma primeira aproximaccedilatildeo que vimos entre estes domiacutenios (ou subdomiacutenios) linguiacutesticos eacute o tratamento dado tradicionalmente pela Lexicografia agraves expressotildees idiomaacuteticas registradas nos dicionaacuterios gerais como subentradas a partir dos lexemas de base que entram na formaccedilatildeo dos lemas2

Ao definir essas expressotildees Porto Dapena (2002) assim diz Acima de tudo se trata sempre de construccedilotildees ou segmentos pluriverbais que o falante igualmente como as palavras reteacutem na memoacuteria e reproduz na fala sem por outro lado poder alteraacute-las sob pena de introduzir uma variaccedilatildeo de sentido3(p149 grifos nossos)

Sabemos poreacutem que no mundo da linguagem as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo apenas ou preferencialmente sintagmas verbais uma vez que no continuum fraseoloacutegico podem aparecer em diversas configuraccedilotildees (colocaccedilotildees proveacuterbios etc)

Depreende-se desta definiccedilatildeo lexicograacutefica de Porto Dapena que as expressotildees idiomaacuteticas (ou expressotildees fixas4) satildeo construccedilotildees retidas ou armazenadas na memoacuteria declarativa de longo prazo o que nos remete agrave Psicologia Cognitiva e desta agrave Psicolinguiacutestica agrave medida que sugere uma conexatildeo entre a linguagem e a mente (ou senatildeo a cogniccedilatildeo) o que natildeo eacute claro um achegamento inaugural nos estudos linguiacutesticos uma vez que essa ponte entre Fraseologia e Psicolinguiacutestica anteriormente indicou-nos ou senatildeo pelo menos sugeriu-nos a noccedilatildeo coseriana de discurso repetido isto eacute aquelas sequecircncias de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente (COSERIU 2007 p201) por oposiccedilatildeo agrave teacutecnica do discurso posto que as expressotildees natildeo podem ser geradas no discurso por definiccedilatildeo

O termo Fraseologia cunhado por Bally haacute mais de um seacuteculo revitaliza-se a cada dia nas teorias e abordagens linguiacutesticas mais recentes como as dos analistas do discurso

2As subentradas satildeo chamadas tambeacutem de subverbetes em que se elucidam as divisotildees espeacutecies modalidades etc do sentido do verbete principal ou das locuccedilotildees formadas com aquelas palavras 3 No original Ante todo se trata siempre de construcciones os segmentos pluriverbales que el hablante al igual que las palabras retiene en la memoria y reproduce en el discurso sin que por otro lado pueda cambiarlas sob pena de introduzir una variacioacuten de sentido 4A noccedilatildeo de expressotildees fixas foi suficientemente explorada por Zuluaga (1975 e 1980)

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A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo citamos por exemplo Charaudeau e Maingueneau dois analistas do discurso que designam Fraseologia como conjunto de expressotildees cristalizadas simples ou compostas caracteriacutesticas de uma liacutengua ou de um tipo de discurso (2008 p245)

Fraseologia alcanccedilou tambeacutem as redes sociais Para se ter uma ideia da dimensatildeo ou frequecircncia de uso do termo em diferentes e inusitados contextos o buscador Google nos informa que satildeo aproximadamente 1120000 resultados de ocorrecircncias para Fraseologia e pelo menos 190000 para o adjetivo correspondente fraseoloacutegico o que nos indica ser uma palavra de muito vigor na liacutengua portuguesa5

A palavra Fraseologia formada dos seguintes elementos frase + -o- + -logia chegou-nos pelo francecircs phraseacuteologie e aparece pela primeira vez no acircmbito dos estudos linguiacutesticos em Bally (1909 p66) De laacute para caacute satildeo muitos os linguistas que tentando desvelar a etimologia de Fraseologia mergulham nas raiacutezes gregas da palavra buscando as motivaccedilotildees lexicais ou acepccedilotildees para designaacute-la seja como o inventaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua como seu estudo (BREacuteAL 1992 MONTORO DEL ARCO 2006 p29-31 MELLADO BLANCO 2004 p13)

Esta busca natildeo eacute por acaso Eacute bastante instigante observar que o morfema lexical frase vem do latim phrasis e este do grego φράσις com o sentido de expressatildeo enquanto a vogal de ligaccedilatildeo -o- eacute tiacutepica do grego O elemento de composiccedilatildeo -logia origina-se do grego -λογία que significa tratado estudo ciecircncia

Neste trabalho Fraseologia eacute entendida como parte da Linguiacutestica que tem as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) como objeto de estudo As UFs constituem um verdadeiro universo fraseoloacutegico e satildeo divididas em pelo menos trecircs esferas (colocaccedilotildees locuccedilotildees e enunciados fraseoloacutegicos) Nesse universo fraseoloacutegico consideramos tipicamente expressotildees idiomaacuteticas as locuccedilotildees o que corresponde a esfera II segundo o modelo de Corpas Pastor (1996 p88-131)

Como satildeo muitos os tipos de locuccedilotildees cristalizadas (nominais adjetivas adverbiais verbais prepositivas conjuntivas) elegemos prioritariamente as locuccedilotildees verbais que apresentam maior congruecircncia ou consenso entre os especialistas de Fraseologia uma vez que satildeo as unidades fraseoloacutegicas que estatildeo fixadas no sistema

5 Pesquisa atualizada em 13 de agosto de 2020

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(registradas nos dicionaacuterios gerais por exemplo) e que natildeo constituem enunciados completos e geralmente funcionam como termos ou elementos oracionais (CORPAS PASTOR 1996 p88 ALVARADO ORTEGA 2007 p37)6

O recorte acima isto eacute considerar unicamente as locuccedilotildees verbais levou-nos a adotar portanto uma concepccedilatildeo reducionista de Fraseologia a mesma proposta stricto sensu formulada por Casares (1969 p 167-184)7 o maior representante desta visatildeo na Fraseologia Espanhola e mais recentemente Garciacutea-Page (2008 p 8 20-22 208) que afirma serem as locuccedilotildees o verdadeiro nuacutecleo ou o autecircntico objeto de estudo da Fraseologia

Seja considerada parte da Linguiacutestica ou subdisciplina da lexicografia meacuterito da questatildeo em que natildeo entraremos aqui filiamo-nos agrave corrente de fraseoacutelogos que postulam a Fraseologia como disciplina da Linguiacutestica cujo objeto de estudo satildeo as ldquoexpressotildees idiomaacuteticas hiperocircnimo a que ao longo deste livro repetidas vezes fazemos menccedilatildeo referindo-nos nesse caso e especificamente agraves locuccedilotildees verbais particularmente as jaacute consagradas pelo uso e registradas nos dicionaacuterios gerais definidas como combinaccedilotildees formadas por pelo menos dois ou mais elementos ou constituintes que apresentam certa fixaccedilatildeo de forma e sentido e que funcionam como termo ou elemento oracional

Estas locuccedilotildees verbais natildeo devem ser confundidas com as conjugaccedilotildees perifraacutesticas ou periacutefrases verbais estas definidas pelos gramaacuteticos e dicionaristas como o conjunto dos tempos compostos de um verbo8 Quanto a esta questatildeo nossa posiccedilatildeo eacute a mesma de Silva (2011 p163) ao se referir agraves locuccedilotildees verbais como unidades fraseoloacutegicas Excluiacutemos pois os substantivos compostos com ou sem hiacutefen natildeo sendo considerados locuccedilotildees nominais e as periacutefrases verbais ou conjugaccedilotildees perifraacutesticas por natildeo as considerarmos locuccedilotildees verbais

6 Compreendemos que as locuccedilotildees verbais a que Corpas Pastor (1996) faz referecircncia satildeo as chamadas expressotildees idiomaacuteticas termo de maior divulgaccedilatildeo nas teorias fraseoloacutegicas 7 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1950 8 A questatildeo da distinccedilatildeo entre periacutefrases verbais e locuccedilotildees verbais foi suficientemente abordada por Blasco Mateo (2005)

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Eacute preciso deixar claro que ao optarmos por excluir os substantivos compostos esta determinaccedilatildeo natildeo invalida o status de Unidades Fraseoloacutegicas (UF) de outras sequecircncias que satildeo constituiacutedas sem verbo como saia de baixo saia justa chave de cadeia a sete chaves de mala e cuia mala sem alccedila peacute do ouvido do peacute para a matildeo em peacute de guerra em peacute de igualdade no mesmo niacutevel de igual para igual dor de cotovelo dor de corno dor de veado laacutegrimas de crocodilo elas por elas de corpo e alma entre outras

Se voltarmos ao tempo jaacute na deacutecada de 50 na Espanha Julio Casares nos chamava atenccedilatildeo para a confusatildeo terminoloacutegica no campo da lexicografia Afirmava que termos como expressatildeo giro e frase eram vagos e por isso natildeo poderiam ser considerados termos teacutecnicos Segundo ele cada um daqueles termos tinha acepccedilotildees diversas presas agrave teoria gramatical e por isso natildeo ofereciam caracteriacutesticas suficientes para identificaacute-las com seguranccedila na tarefa lexicograacutefica (CASARES 1969 p185) Uma expressatildeo apropriada a essa situaccedilatildeo em portuguecircs seria a de que os lexicoacutegrafos espanhoacuteis misturavam alhos com bugalhos

Assim que liccedilatildeo ou luz esta noccedilatildeo de locuccedilatildeo em Casares (1969) poderaacute nos dar no campo da terminologia fraseoloacutegica nos dias de hoje

Tomemos um exemplo em portuguecircs Eacute possiacutevel quando lemos escutamos ou ao menos quando evocamos uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos o sentido idiomaacutetico confundir coisas ou assuntos distintos inconfundiacuteveis ou fazer grande confusatildeo prevaleccedila de forma avassaladora sobre nosso entendimento

Na expressatildeo acima pouco importa sabermos o sentido parcial de seus elementos constituintes ou de pelo menos uma das palavras que formam a expressatildeo como eacute o caso de bugalho mas natildeo cremos que isso se contraponha de alguma forma agrave proposta de anaacutelise da compreensatildeo das Expressotildees Idiomaacuteticas a partir dos componentes

Afinal o que eacute bugalho Um termo da botacircnica que significa ldquonoz de galhardquo (HOUAISS e VILLAR 2020) mas nada mais sabemos sincronicamente de sua motivaccedilatildeo fraseoloacutegica nem haacute possibilidade de recuperaccedilatildeo da metaacutefora diacrocircnica (geradora)

De igual sorte parece-nos que a maioria das divergecircncias ou confusotildees terminoloacutegicas na Fraseologia contemporacircnea encontra explicaccedilotildees nas primeiras investidas da lexicografia quando da

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elaboraccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais ao natildeo levarem em conta que agrupamentos de palavras9 tradicionalmente conhecidos na literatura cientiacutefica por termos dos mais diacutespares entre si como expressotildees idiomaacuteticas proveacuterbios clichecircs binocircmios citaccedilotildees colocaccedilotildees frases lexicais foacutermulas frases feitas proveacuterbios aforismos maacuteximas ditos adaacutegios anexins ditados sentenccedilas parecircmias tecircm em comum serem polilexicais isto eacute pertencerem ao grande e complexo continuum fraseoloacutegico no qual natildeo haacute limites riacutegidos capazes de estabelecerem com precisatildeo a diversidade de unidades lexicais maiores que a palavra e presentes em alguns dicionaacuterios semasioloacutegicos existentes em uma liacutengua (SALIBA 2000)

Na Espanha quando Casares daacute as bases teoacutericas do que hoje se denomina Fraseologia Espanhola de grande repercussatildeo na Europa jaacute se deparava na Lexicografia com denominaccedilotildees fraseoloacutegicas que careciam de sentido preciso e que apresentavam limites imprecisos Eacute o que muitos fraseoacutelogos hispacircnicos chamam de cajoacuten de sastre (GARCIacuteA PAGE-SAacuteNCHEZ 2008 p8 e QUEPONS RAMIacuteREZ 2009 p493) A expressatildeo saco de gatos10 eacute a melhor traduccedilatildeo que encontramos em portuguecircs para cajoacuten de sastre

Como assinala Corpas Pastor (1996 p16) a profusatildeo terminoloacutegica e as distintas classificaccedilotildees satildeo um dos problemas fundamentais da Fraseologia em liacutengua Espanhola Em geral a profusatildeo terminoloacutegica estaacute ligada a afiliaccedilotildees ou abordagens teoacutericas distintas e tambeacutem a objetos e objetivos especiacuteficos sendo mais uma questatildeo de relevo

Mostramos ateacute aqui que satildeo muitas as discrepacircncias e confusotildees de ordem terminoloacutegica no campo dos estudos de Fraseologia que acabam por repercutir nas definiccedilotildees e classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas o que nos leva a concluir que nesta aacuterea natildeo haacute como simplesmente jogar com as palavras

Essa medida torna-se ainda mais imperiosa quando fazemos a interface entre Fraseologia e outros ramos da Linguiacutestica em nosso caso a Psicolinguiacutestica que requer tambeacutem precisatildeo terminoloacutegica

9 No campo da Lexicografia defendemos a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo deveriam entrar dentro de verbetes por serem independentes Por exemplo os dicionaristas natildeo colocam o adjetivo infeliz dentro de feliz Assim o mesmo procedimento deveria valer para as expressotildees idiomaacuteticas 10 Popularmente saco de gatos significa negoacutecio muito confuso e encrencado

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quando trabalhamos com alguns dos seus termos operatoacuterios na pesquisa experimental

Nessas alturas uma pergunta adveacutem que unidadeexpressatildeo fraseoloacutegica seria a mais adequada aos testes psicolinguiacutesticos para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica Jaacute podemos adiantar a resposta a nossa pergunta ao defendemos que esta unidade eacute ou deve ser a expressatildeo idiomaacutetica A expressatildeo idiomaacutetica dentro ou fora do contexto pode levar um falante nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua a se deparar com a ambiguidade estrutural nesta dicotomia semacircntica sentido literal versus sentido idiomaacutetico

Por essa razatildeo deter-nos-emos nas subseccedilotildees abaixo em dissecar o maacuteximo possiacutevel as noccedilotildees de Fraseologia unidade fraseoloacutegica expressatildeo idiomaacutetica locuccedilatildeo e outros correlatos Em seguida situamos os termos agraves teorias fraseoloacutegicas que estatildeo na ordem do dia na Europa e no Brasil

Vilela designa por Fraseologia a disciplina que tem como objeto as combinaccedilotildees fixas de uma dada liacutengua que podem assumir a funccedilatildeo e o sentido de palavras individuais ou lexemas (VILELA 2002 p170)

A definiccedilatildeo de Vilela espelha o pensamento do grupo fundador da Fraseologia na Europa a quem nos filiamos que vecirc nas expressotildees idiomaacuteticas um processo de ampliaccedilatildeo do leacutexico seja para nomeaccedilatildeo ou qualificaccedilatildeo contribuindo para a lexicalizaccedilatildeo dos conceitos e categorizaccedilatildeo de nossa experiecircncia cotidiana

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas reconhecemos como defende Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p6) um estatuto da Fraseologia como a disciplina Linguiacutestica que estuda as unidades fraseoloacutegicas e que leva em conta o grau de competecircncia fraseoloacutegica ou metafoacuterica do falante seja nativo ou natildeo nativo

Quanto agrave acepccedilatildeo mais completa de Fraseologia coerente com nosso recorte terminoloacutegico e que atende aos propoacutesitos de nosso estudo optamos pela definiccedilatildeo de Fraseologia de Monteiro-Plantin (2011) na qual assinala o estudo das combinaccedilotildees de unidades leacutexicas relativamente estaacuteveis com certo grau de idiomaticidade polilexicais que constituem a competecircncia discursiva dos falantes em primeira ou segunda liacutengua utilizadas convencionalmente em contextos precisos ainda que muitas vezes de forma inconsciente (p250)

Segundo Mellado Blanco (2004 p15) o termo Fraseologia tem sido adotado na maioria das liacutenguas europeias com exceccedilatildeo dos paiacuteses de

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origem anglo-saxocircnica onde o mais corriqueiro eacute idiomatic11 Cumpre-nos ressaltar que quer seja na Europa ou nos EUA unidade fraseoloacutegica eacute uma das denominaccedilotildees mais aceitas no acircmbito das teorias fraseoloacutegicas conforme podemos atestar em pesquisas recentes com corpora fraseoloacutegicos (NACISCIONE 2001 BEVILACQUA 2004 e LIN e ADOLPHS 2009)

Considerada como objeto de estudo da Fraseologia por Corpas Pastor (1996 p20) as unidades fraseoloacutegicas satildeo unidades lexicais formadas por mais de duas palavras ortograacuteficas em seu limite inferior cujo limite superior se situa no niacutevel de oraccedilatildeo composta12 tendo pelo menos quatro propriedades baacutesicas que podem variar em grau nos seus distintos tipos (a) polilexicalidade (b) institucionalizaccedilatildeo entendida em termos de fixaccedilatildeo e especializaccedilatildeo semacircntica (c) variaccedilotildees potenciais (d) idiomaticidade e (e) alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes13 mais adiante por noacutes mais bem descritas e discutidas

O conceito de unidade fraseoloacutegica e as propriedades baacutesicas que as caracterizam como a polilexicalidade e a fixaccedilatildeo tambeacutem estatildeo presentes pioneiramente na deacutecada de 40 nas primeiras definiccedilotildees ou acepccedilotildees dos russos (VELASCO MENEacuteNDEZ 2010) e posteriormente vindo agrave tona com as reflexotildees de Zuluaga (1980 16 19) e mais recentemente em Ruiz Gurillo (1997 p 14) e Castillo Carballo (1997-1998 p 70-75)

Quanto ao problema do status linguiacutestico das unidades fraseoloacutegicas aliamo-nos agrave postulaccedilatildeo de Zuluaga (1980) de que elas pertencem ao patrimocircnio coletivo da comunidade linguiacutestica14 e que fazem parte do acervo ou repertoacuterio de elementos linguiacutesticos anteriores ao falar conhecidos pelos falantes15 (p21) o que ao certo

11 Nesta aacuterea as pesquisas experimentais bastante frutiacuteferas nos EUA levam-nos de forma recorrente a citar os trabalhos em liacutengua inglesa onde se usa mais o termo idioms 12 No original son unidades leacutexicas formadas por maacutes de dos palabras graacuteficas en su liacutemite inferior cuyo liacutemite superior se situacutea en el niacutevel de la oracioacuten compuesta 13 Destas propriedades indicadas por Corpas Pastor (1996) a menos relevante quando se tratar de expressatildeo idiomaacutetica posto que um item leacutexico pode ser frequente ou natildeo Como todo item as expressotildees idiomaacuteticas podem ser mais ou menos frequentes 14 No original ellas pertenecen al patrimonio colectivo de la comunidade linguiacutestica 15 No original forman parte del acervo o repertorio de elementos linguiacutesticos anteriores al hablar conocidos por los hablantes

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podemos inferir como unidades polilexicais psicolinguisticamente armazenadas na memoacuteria dos usuaacuterios ou nativos da liacutengua

Conveacutem salientar que a etiqueta ou roacutetulo de Unidade Fraseoloacutegica (UF) atende agraves buscas dos fraseoacutelogos por uma denominaccedilatildeo de alcance mais internacional que responde agrave noccedilatildeo de arquilexema das locuccedilotildees e de outras formas (CORPAS PASTOR 1996) como unidades de uma seacuterie fraseoloacutegica que inclui desde refratildees citaccedilotildees e foacutermulas de rotina

Com essa noccedilatildeo de que uma unidade fraseoloacutegica eacute um arquilexema da seacuterie de denominaccedilotildees fraseoloacutegicas podemos apresentar as propriedades essenciais e definitoacuterias das chamadas unidades fraseoloacutegicas polilexicalidade frequecircncia convencionalidade fixaccedilatildeo e idiomaticidade a partir dos seguintes autores Zuluaga (1980 p141-188) Corpas Pastor (1996 p88-131) Penadeacutes Martinez (1999 p11-22) Ruiz Gurillo (2001 p15) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16-20)

Com base nos estudos acima na perspectiva da Fraseologia consideramos a expressatildeo idiomaacutetica nomeadamente a locuccedilatildeo verbal como uma unidade fraseoloacutegica por excelecircncia Unidade fraseoloacutegica eacute pois um hiperocircnimo mas neste livro praticamente tomamos expressatildeo idiomaacutetica e unidade fraseoloacutegica como termos equivalentes assim como jaacute os considera Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p16)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas haacute uma forte convergecircncia de que efetivamente as unidades fraseoloacutegicas satildeo o objeto de estudo da Fraseologia Portanto tendo o objeto de estudo bem definido natildeo haacute porque natildeo considerar a Fraseologia como um dos ramos das ciecircncias da linguagem Mas que unidades fraseoloacutegicas satildeo essas Pelo menos nove termos podem ser considerados dentro de um continuum como unidades fraseoloacutegicas uma vez que este hiperocircnimo tem um raio de alcance muito grande proveacuterbios ditos populares expressotildees idiomaacuteticas foacutermulas de rotina ou cristalizadas locuccedilotildees fixas frases feitas clichecircs chavotildees e colocaccedilotildees conforme o inventaacuterio fraseoloacutegico estabelecido por Monteiro-Plantin (2011 p250) As expressotildees fixas arroladas por Monteiro-Plantin satildeo entendidas por noacutes como sendo as expressotildees idiomaacuteticas

Neste livro quando nos referirmos agrave unidade fraseoloacutegica acolheremos as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) Penadeacutes Martinez (1999) Ruiz Gurillo (2001) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) e Monteiro-Plantin (2011)

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O conceito de expressatildeo idiomaacutetica estaacute associado agraves definiccedilotildees que anteriormente demos agrave Fraseologia e agrave unidade fraseoloacutegica Toda expressatildeo idiomaacutetica objeto de Fraseologia eacute uma unidade fraseoloacutegica mas nem toda unidade fraseoloacutegica eacute uma expressatildeo idiomaacutetica

Uma unidade fraseoloacutegica pode ser fixa e natildeo idiomaacutetica da mesma forma pode ser idiomaacutetica mas com um grau de variaccedilatildeo marcante mas com isso natildeo queremos dizer que soacute consideramos expressatildeo idiomaacutetica Ao contraacuterio existe expressatildeo idiomaacutetica menos opaca portanto transparente Quem tem juiacutezo criacutetico para dizer se uma expressatildeo eacute opaca ou transparente eacute o falante e natildeo o lexicoacutegrafo ou fraseoacutelogo a menos que o submeta a testes psicolinguiacutesticos Em Fraseologia a intuiccedilatildeo linguiacutestica16 estaacute sujeita agrave compreensatildeo do falante da liacutengu nativo ou natildeo

Isso natildeo quer dizer poreacutem que as expressotildees fixas para tomarmos o termo de Zuluaga (1980) incluindo as expressotildees idiomaacuteticas natildeo possam ser interpretadas composicionalmente pelos falantes de uma liacutengua

A uacutenica interpretaccedilatildeo de qualquer expressatildeo complexa que conhecemos como costuma acontecer com falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada deveraacute ser imediatamente a composicional e que outras consideraccedilotildees nos obrigaratildeo a aprender um sentido especiacutefico convencionalmente associado agrave expressatildeo em questatildeo17(ESCANDELL VIDAL 2011) Em outras palavras mesmo as expressotildees idiomaacuteticas consideradas opacas muitas delas podem ser interpretadas composicionalmente

No continuum das unidades fraseoloacutegicas as expressotildees idiomaacuteticas satildeo as unidades leacutexicas marcadas culturalmente As expressotildees idiomaacuteticas satildeo itens leacutexicos e portanto tatildeo culturais quanto quaisquer palavras da liacutengua

As expressotildees idiomaacuteticas por forccedila de seu caraacuteter idiossincraacutesico estatildeo mais diretamente vinculadas agrave cultura agraves ideias e agrave forma de vida

16 Em gramaacutetica gerativa refere-se agrave capacidade que tem o falante de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na sua liacutengua de interpretaacute-las de identificar a equivalecircncia com outra frase ou a sua eventual ambiguidade isto eacute perceber quando o contexto sugere sentido literal ou metafoacuterico 17 No original seraacuten luego otras consideraciones las que nos obligaraacuten a aprender un sentido especiacutefico convencionalmente asociado a la expresioacuten en cuestioacuten

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de uma sociedade (NEGRO ALOUSQUE 2010 p34) como expressotildees do tipo ir tomar banho (deixar de aborrecer) e dar as matildeos agrave palmatoacuteria (admitir o erro) Este fato se manifesta particularmente no niacutevel semacircntico isto no sentido idiomaacutetico que atribuiacutemos agrave expressatildeo18

Nessa relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura refletida no leacutexico a motivaccedilatildeo para inuacutemeras expressotildees idiomaacuteticas proveacutem de pelo menos trecircs procedecircncias segundo Negro Alousque (2010) 19

(a) alusatildeo a costumes feitos histoacutericos obras artiacutesticas lendas mitos e crenccedilas como em jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) entregar-se aos braccedilos de Morfeu (sonhar) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) bancar o cristo (pagar por culpas alheias) agradar a gregos e troianos (contentar ou satisfazer a dois lados antagocircnicos)

(b) evocaccedilatildeo a elementos que formam parte do acervo cultural de cada povo entre os quais satildeo incluiacutedos os costumes e tradiccedilotildees obras literaacuterias acontecimentos que satildeo modelos de uma situaccedilatildeo ou qualidade como dar nome aos bois (falar claramente) perder o seu latim (falar em vatildeo) ficar a ver navios (natildeo conseguir o desejado geralmente por ter sido logrado ou passado para traacutes) sair agrave francesa (sair de um local sem se despedir) e matar a cobra e mostrar o pau (afirmar alguma coisa e provaacute-la)

(c) associaccedilotildees a partir das quais se interpreta a realidade e crenccedilas como em ver o sol (nascer) quadrado (estar na cadeia) desopilar o fiacutegado (comunicar alegria e bem-estar) ficar uma onccedila (ficar irado enfurecido) pagar o justo pelo pecador (ser castigado ou repreendido aquele que natildeo tem culpa ficando impune o culpado) e jogar conversa fora (conversar sobre assuntos corriqueiros sem grande importacircncia)

Conveacutem agora definir a expressatildeo idiomaacutetica como combinaccedilatildeo uacutenica e fixa de elementos (pelo menos dois) dos quais uma parte natildeo funciona bem em quaisquer outras combinaccedilotildees deste tipo (ou em algumas ou uma uacutenica situaccedilatildeo) (ČERMAacuteK 1998 p11)

18 Em que pese o signo linguiacutestico ser arbitraacuterio conforme jaacute dizia Saussure as frases feitas decorrem do uso e da tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica 19 Muitas destas expressotildees idiomaacuteticas podem ser consideradas pelos usuaacuterios desusadas ou obsoletas ou precisariacuteamos enquanto especialistas distinguir o que eacute comum da Liacutengua Portuguesa do que eacute leacutexico regional

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definiccedilatildeo pois que enfatiza como podemos observar as propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das expressotildees fixas a que Neveu (2008) faz referecircncia

Para chegarmos ao conceito de locuccedilatildeo primeiramente definimos a Fraseologia como uma disciplina da Linguiacutestica que se ocupa de estudar as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) Em seguida apresentamos as referidas UFs como um hiperocircnimo (ou arquilexema) dos diversos termos que envolvem a terminologia fraseoloacutegica isolando operatoriamente para nosso trabalho a locuccedilatildeo verbal como sendo a mais canocircnica20 combinaccedilatildeo fixa das expressotildees idiomaacuteticas21 Nesta subseccedilatildeo trataremos mais especificamente sobre a locuccedilatildeo

Como unidade polilexical do tipo sintagmaacutetico a locuccedilatildeo que nos interessa neste trabalho eacute a que como dissemos anteriormente tem como nuacutecleo um verbo cujos constituintes natildeo satildeo o objeto de uma atualizaccedilatildeo separada e que enuncia um conceito autocircnomo como assinala Neveu (2008 p 193) A expressatildeo levar um pontapeacute no traseiro com o sentido idiomaacutetico de ser despedido abandonado eacute um exemplo de locuccedilatildeo verbal

As expressotildees idiomaacuteticas tecircm estrutura bastante restrita isto eacute caracterizadas segundo Gross (1996 p9-23) por pelo menos cinco propriedades (a) polilexicalidade (b) opacidade semacircntica (c) bloqueio das propriedades combinatoacuterias e transformacionais (d) natildeo atualizaccedilatildeo de seus elementos e (e) grau de fixaccedilatildeo

Um exame minucioso da etimologia da palavra locuccedilatildeo nos indicaraacute que esta vem do latim locutigraveo (ou loquuacutetio) com a indicaccedilatildeo de accedilatildeo ou maneira de falar locuccedilatildeo etc Do ponto de vista linguiacutestico locuccedilatildeo pode ser definida como reuniatildeo de duas palavras que conservam individualidade foneacutetica e morfoloacutegica mas

20A canonicidade das locuccedilotildees verbais decorreria no nosso entendimento de terem sua fixaccedilatildeo formal com maior grau de regularidade estrutural isto eacute serem construccedilotildees conforme agraves normas mais habituais da gramaacutetica consideradas baacutesicas como por exemplo a ordem direta (verbo + argumento) 21 As locuccedilotildees verbais podem ser canocircnicas mas natildeo prototiacutepicas no continuum fraseoloacutegico Do ponto de vista quantitativo e contrariamente ao que se acredita provavelmente as locuccedilotildees verbais natildeo satildeo a maioria As expressotildees que satildeo sintagmas preposicionais como de saco cheio a trecircs por dois de mala e cuia a torto e a direito provavelmente satildeo em maior nuacutemero

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constituem uma unidade significativa para determinada funccedilatildeo (CAcircMARA JUNIOR 2004 p162)

Do ponto de vista fraseoloacutegico Casares (1969) define as locuccedilotildees como combinaccedilotildees de vocaacutebulos que oferecem sentido unitaacuterio e uma disposiccedilatildeo ou estrutura formal inalteraacutevel (p167)

Casares descarta entatildeo as acepccedilotildees dadas agrave locuccedilatildeo pelos dicionaacuterios gerais que a definem como ldquomodo de falarrdquo ou ldquofraserdquo como vimos anteriormente Busca uma acepccedilatildeo restrita especiacutefica e teacutecnica partindo entatildeo para a reelaboraccedilatildeo da definiccedilatildeo da visatildeo tradicional ou gramatical de locuccedilatildeo como ldquoconjunto de duas ou mais palavrasrdquo pensada como um ldquoconjunto de vozes vinculadas de um modo estaacutevel e com um sentido unitaacuteriordquo (1969 p168)

Para ilustrarmos a acepccedilatildeo dada por Casares agrave locuccedilatildeo tomemos este exemplo com bater as botas Engana-se quem pensa que no Nordeste aterrissam apenas artistas em fim de carreira que vecircm ganhar alguns trocados na Ameacuterica Latina antes de bater as botas(In DN 12312008)

Na visatildeo de Casares (1969) uma sequecircncia de palavras como ldquobater as botasrdquo trata-se efetivamente de uma locuccedilatildeo verbal por trecircs razotildees (1) natildeo se pode trocar nenhuma das trecircs palavras por outra sacudir as botas bater com botas ou bater as botinas (2) natildeo se pode alterar sua colocaccedilatildeo na estrutura sem destruir o sentido botas as bater e (3) o sentido se resume a uma soacute acepccedilatildeo22 ldquomorrerrdquo

Segundo Casares (1969 p168) a inalterabilidade (fixaccedilatildeo) e a unidade de sentido (idiomaticidade) satildeo as duas caracteriacutesticas marcantes das locuccedilotildees verbais Uma terceira caracteriacutestica tambeacutem se faz necessaacuteria assinalar que eacute segundo ele a condiccedilatildeo de que as palavras de uma locuccedilatildeo natildeo formam uma ldquooraccedilatildeo cabalrdquo isto eacute uma oraccedilatildeo no sentido claacutessico ou categoacuterico dado pelos gramaacuteticos tradicionais

A definiccedilatildeo claacutessica de locuccedilatildeo feita por Casares (1969 p170) diz assim ldquocombinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos que funciona como elemento da oraccedilatildeo e cujo sentido unitaacuterio compartilhado pelos

22 Este traccedilo aplicado agrave Liacutengua Portuguesa deve ser relativizado uma vez que haacute expressotildees idiomaacuteticas com mais de uma acepccedilatildeo como por exemplo pedir penico (pedir piedade dar-se por vencido mostrar-se exausto e demonstrar medo)

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falantes natildeo se justifica sem mais como uma soma do sentido normal dos componentesrdquo23

Depreende-se da definiccedilatildeo de Casares (1969) os seguintes traccedilos das locuccedilotildees (1) combinaccedilatildeo estaacutevel de dois ou mais termos portanto uma combinaccedilatildeo fixa e polilexical entendida como fixaccedilatildeo e polilexicalidade (2) emprego ou funccedilatildeo como parte da oraccedilatildeo compreendida aqui a noccedilatildeo de estrutura natildeo oracional24 e (3) sentido unitaacuterio consabido natildeo resultante da soma do sentido normal (ou absoluto) dos componentes

A ideia de ldquosentido unitaacuterio consabidordquo traduz adequadamente a noccedilatildeo de ldquosentido conhecido por todos e ao mesmo tempordquo portanto compartilhados pelos falantes nativos de uma liacutengua ou pela comunidade linguiacutestica ou no caso de uma Fraseologia Especializada por uma comunidade sociocultural esta entendida como agrupamento de falantes unidos por fatores sociais (histoacutericos profissionais raciais nacionais e geograacuteficos)

As locuccedilotildees verbais que podem funcionar como elementos oracionais de natureza nominal satildeo as formadas de verbo de ligaccedilatildeo mais predicativo diferentemente das locuccedilotildees como elementos do predicado verbal cujo nuacutecleo eacute um verbo significativo (intransitivo ou transitivo)

Satildeo exemplos de locuccedilotildees verbais com valor nominal as seguintes ser a bola da vez (estar prestes a ser objeto de anaacutelise criacutetica exclusatildeo etc) ser a palmatoacuteria do mundo (ser um sujeito metido a moralista) ser cheio de nove-horas (ser muito exigente chato) ser de carne e osso (ser humano estar sujeito a fraquezas como qualquer pessoa) estar com a faca e o queijo na matildeo (ter poder amplo) e estar com o diabo no corpo (estar assanhadiacutessimo ou muito irrequieto tanto no mau quanto no bom sentido)

As locuccedilotildees verbais satildeo refrataacuterias agrave anaacutelise sintaacutetica Segundo Casares ldquotomadas essas expressotildees em bloco e interpretadas como elementos oracionais suas funccedilotildees sintaacuteticas nem sempre coincidem

23 No original ldquocombinacioacuten estable de dois ou maacutes teacuterminos que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitaacuterio consabido no se justifica sin maacutes como uma suma del sentido normal de los componentesrdquo 24 Somos de opiniatildeo de que Casares enfatiza com este traccedilo o caraacuteter sintagmaacutetico da locuccedilatildeo parte constituinte ou elemento (de oraccedilatildeo) descartando a ideia de que a locuccedilatildeo seja considerada uma oraccedilatildeo ou seja frase ou membro de frase em que pese conter um verbo

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com as do verbo contido na locuccedilatildeordquo25(1969 p177) Em portuguecircs por exemplo quando dizemos tirar aacutegua do joelho com verbo tirar transitivo direto equivale em conjunto a ldquourinarrdquo intransitivo isto eacute a rigor natildeo se cogita do ponto de vista fraseoloacutegico que aacutegua do joelho eacute objeto direto de tirar

Segundo Casares (1969) no Espanhol natildeo se esgotam as espeacutecies de locuccedilatildeo oracional com equivalecircncia e funccedilatildeo verbal Por exemplo aplicando esta visatildeo de Casares agrave liacutengua portuguesa uma locuccedilatildeo verbal do tipo ter partes com o diabo natildeo pode ser traduzida a partir de um verbo transitivo ou intransitivo Quando essa locuccedilatildeo se aplica a uma pessoa se daacute a entender unicamente que essa pessoa eacute ldquomuito sapeca alvoroccedilada inquietardquo Se dizemos de uma pessoa que bota a alma pela boca limitamos-nos a expressar que ldquoestaacute ofegante com a respiraccedilatildeo opressardquo

Para ilustrarmos em Liacutengua Portuguesa este grupo acima citariacuteamos inuacutemeras locuccedilotildees cujo verbo expresso eacute ser estar ou algum outro verbo de significaccedilatildeo equivalente tais como andar com a pulga atraacutes da orelha (estar preocupado ou cismadordquo) ficar de cabeccedila virada (andar preso por alguma paixatildeo obsessatildeo viacutecio incontrolado ou ideia fixa) andar na linha (ser honesto) apanhar nas fuccedilas (ser agredido na cara) ter (as) costas largas (estar confiante sem receio para realizar ou falar algo por ter a proteccedilatildeo de algueacutem) estar com a corda no pescoccedilo (estar em apuros em situaccedilatildeo desesperadora geralmente financeira) ter fama (ser muito falado ou celebrado) ter coraccedilatildeo de leatildeo(ser extremamente valente) ter coraccedilatildeo de ouro (ser muito bondoso ou generoso) ter coraccedilatildeo de pedra (ser duro de sentimentos insensiacutevel) ter jogo de cintura (ser flexiacutevel para escapar a situaccedilotildees delicadas ou contornar conjunturas difiacuteceis) ter o corpo fechado (ser imune a malefiacutecios graccedilas a benzeduras e oraccedilotildees)

A funccedilatildeo verbal destas expressotildees comprova-se agrave medida que admitem modificaccedilatildeo pessoal temporal e modal e que as de caraacuteter transitivo podem fazer com que a accedilatildeo expressada por elas recaia sobre um objeto exterior como se fosse um complemento direto como podemos atestar neste exemplo com a expressatildeo esquentar a

25 ldquotomadas esas expresiones em bloque e interpretadas como elemento oracional sus funciones sintaacutecticas no siempre coinciden com las del verbo contenido em la locucioacutenrdquo

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cabeccedila (preocupar-se demasiado) Apoacutes meu uacuteltimo casamento percebi que o bom eacute natildeo esquentar a cabeccedila (risos) Ficar junto soacute se for vocecirc na sua casa e eu na minha (In atriz Elizacircngela do Amaral Vergueiro entrevista a Etienne Jacintho O Estado de Satildeo Paulo 01112008)

Segundo Zuluaga (1980) as locuccedilotildees verbais apresentam entre seus componentes um que funciona como portador das determinaccedilotildees de tempo de pessoa de nuacutemero e de modo e que pode portanto variar ao ser utilizado no discurso O referido componente pode ser reconhecido ainda fora da locuccedilatildeo como um lexema verbal do sistema leacutexico de uma liacutengua dada

As mais recentes pesquisas psicolinguiacutesticas sobre compreensatildeo idiomaacutetica especialmente para testar quais as que apresentam maior grau de dificuldade de compreensatildeo tecircm utilizado entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais as colocaccedilotildees e os refratildees sendo as locuccedilotildees entre as unidades fraseoloacutegicas as que recebem maior atenccedilatildeo por parte dos psicolinguistas por apresentarem potencialmente um grau de dificuldade maior do que as demais unidades fraseoloacutegicas26 natildeo por sua estrutura senatildeo por fatores como a familiaridade analisabilidade sintaacutetica maior grau de opacidade ou evidente transparecircncia conforme os estudos de Levorato ( 1993 p 101-128 Cacciari (1993 P 27-55) Crespo e Caceres (2006 P 77-90) Crespo Allende Alfaro Faccio e Peacuterez Herrera (2008 p95-111)

Entre as unidades fraseoloacutegicas as locuccedilotildees verbais27satildeo aquelas em que os autores reconhecem maiores evidecircncias de distinccedilatildeo entre as que satildeo transparentes e as que satildeo opacas as que podem ser interpretadas literalmente e as que tendem a ser interpretadas idiomaticamente possibilitando achados empiacutericos que levam a observar o desempenho de falantes natildeo nativos do PB frente a locuccedilotildees verbais opacas e transparentes proacuteprias da variante de dada liacutengua

As muitas e diacutespares propriedades das expressotildees idiomaacuteticas satildeo fruto com certeza mais de discrepacircncias ou divergecircncias nas

26 Eacute possiacutevel que para falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro locuccedilotildees nominais como a trecircs por dois (com frequecircncia com regularidade com efeito (de fato efetivamente) podem natildeo ser de faacutecil compreensatildeo 27 Neste trabalho utilizamos de forma indistinta os termos locuccedilatildeo verbal e expressatildeo idiomaacutetica assim como procede Sevilla Muntildeoz e Arroyo Ortega (1993) Molina Garciacutea (2006) e Dovrtělovaacute (2008)

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classificaccedilotildees das unidades fraseoloacutegicas e da proacutepria definiccedilatildeo do que se entende por Fraseologia do que por fatores estruturais ou semacircnticos das combinaccedilotildees estaacuteveis ou fixas da liacutengua sejam idiomaacuteticas ou natildeo

Costumeiramente linguistas como Corpas Pastor (1996 p 19-32) Castillo Carballo (1997 p70-75) Penadeacutes Martiacutenez (1999 p14-19) Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p21-56) Martiacutenez Montoro (2002 p13-89) Montoro Del Arco (2006 (p35-70) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p23-34) Timofeeva (2008 p153-333) e Ruiz Gurillo (2010 p174-194) apontam as seguintes propriedades das unidades fraseoloacutegicas afetividade anomalia convencionalidade cristalizaccedilatildeo estabilidade estrutura natildeo oracional expressividade figuraccedilatildeo figuras de repeticcedilatildeo fixaccedilatildeo frequecircncia gradualidade idiomaticidade inflexibilidade institucionalizaccedilatildeo lexicalizaccedilatildeo natildeo composicionalidade nominaccedilatildeo pluriverbalidade polilexicalidade variabilidade entre outras28

A polilexicalidade eacute conditio sine qua non para a definiccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas A rigor natildeo haacute ou pelo menos natildeo deve ser considerada expressatildeo idiomaacutetica segmento ordenado no eixo sintagmaacutetico que natildeo seja uma combinaccedilatildeo de pelo menos dois constituintes No caso das expressotildees idiomaacuteticas representadas pelas locuccedilotildees verbais a polilexicalidade eacute uma condiccedilatildeo inerente ao proacuteprio conceito locucional como um conjunto de palavras que equivalem a um soacute vocaacutebulo por terem sentido combinaccedilatildeo proacutepria ou peculiar e funccedilatildeo gramatical uacutenica

Ao tratar dos traccedilos baacutesicos das unidades fraseoloacutegicas acertadamente Montoro del Arco (2006) diz que natildeo haacute um consenso sobre quais satildeo os limites do componente fraseoloacutegico e sobre que unidades devem ser consideradas fraseoloacutegicas Talvez segundo o linguista o uacutenico traccedilo ou propriedade fraseoloacutegica consensual seja a polilexicalidade

Para Gross (1996) a polilexicalidade eacute a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria para que se possa falar acerca da fixaccedilatildeo (cristalizaccedilatildeo) das expressotildees idiomaacuteticas e que as palavras constituintes da expressatildeo idiomaacutetica tenham uma existecircncia autocircnoma fora da construccedilatildeo ou

28 Muitos autores citam ainda a informalidade como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas mas consideramos um equiacutevoco uma vez que como todas as palavras existem as que satildeo formais e as que satildeo informais

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combinaccedilatildeo fraseoloacutegica por essa razatildeo segundo Gross satildeo excluiacutedas construccedilotildees formadas com afixo (sufixo prefixo) que se enquadram no chamado processo de derivaccedilatildeo (p 9-10)

Montoro del Arco (2009) na tradiccedilatildeo europeia particulamente a hispacircnica um segmento eacute considerado fraseoloacutegico quando eacute formado por dois ou vaacuterios componentes que aparecem separados na escrita Graccedilas a esta noccedilatildeo ortograacutefica semacircntica e morfoloacutegica pode-se tambeacutem utilizar de forma mais geral em vez de unidade fraseoloacutegica a expressatildeo unidade polilexical quando se quer se referir agrave unidade lexicalizada o que pode criar uma separaccedilatildeo ou distinccedilatildeo terminoloacutegica das unidades univerbais (ou unidades leacutexicas) que satildeo objeto de lexicologia

Cumpre-nos destacar poreacutem que a polilexicalidade natildeo eacute apenas uma traccedilo meramente formal das expressotildees idiomaacuteticas senatildeo tambeacutem de tipo psicoloacutegico significativo no sintagma fraseoloacutegico pois influi na interpretaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica (MONTORO DEL ARCO 2006 p 37) Isso certamente ocorre porque estatildeo ligados a campos conceituais diversos como podemos comprovar no dicionaacuterio de Penadeacutes Martiacutenez (2002) ao registrar as expressotildees idiomaacuteticas relacionadas a accedilotildees estados e processos proacuteprios das pessoas como seres vivos a atividades profissionais a accedilotildees e processos referentes ao sexo entre outros

Concordamos com a opiniatildeo de Montoro Del Arco (2006 p 38) quando diz que no campo da Fraseologia referindo-se agrave polilexicalidade deve ser apontada desde o comeccedilo e com suficiente clareza em toda caracterizaccedilatildeo geral das unidades que se incluem no componente fraseoloacutegico da liacutengua Espanhola29

No acircmbito dos estudos de Linguiacutestica Cognitiva haacute uma compreensatildeo de que graccedilas agrave propriedade de polilexicalidade haacute uma intensa produtividade de expressotildees fixas nas liacutenguas modernas foacutermulas binaacuterias que estabelecem o princiacutepio da ordem linear da maioria das locuccedilotildees (DELBEQUE 2008 p26)

Natildeo nos parece razoaacutevel a posiccedilatildeo de Delbeque (2008) Do ponto de vista linguiacutestico e pela proacutepria definiccedilatildeo de fraseoloacutegica uma

29 No original debe sentildealarse desde el principio y con la suficiente claridad en toda carcterizacioacuten general de las unidades que se engloban en el componente fraseoloacutegico de la lengua espantildeola

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expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva Afinal natildeo podemos utilizar parte de seus componentes ou de seus morfemas na composiccedilatildeo de novas expressotildees da mesma forma que acontece com os sufixos e prefixos nas lexias simples ou palavras unitaacuterias

Para ilustrar a noccedilatildeo de binarismo linguiacutestico proposto por Delbeque tomemos em liacutengua Portuguesa dois exemplos de unidades fraseoloacutegicas tendo como lexema de base a palavra aacutegua a) aacutegua benta (aacutegua usada para fins sacramentais e piedosos) como na frase Vocecirc jaacute experimentou o maravilhoso poder da aacutegua benta b) aacutegua na boca (forte vontade de comer grande apetecircncia grande desejo) como na frase Joatildeo ficou com aacutegua na boca ao ver a sobremesa e (c) ter bebido aacutegua de chocalho (falar demais) como na frase de alta frequecircncia no Cearaacute como em Dizem por aiacute que Joatildeo andou bebendo aacutegua de chocalho e falando o que natildeo pode provar

Na frase (a) a locuccedilatildeo nominal destacada eacute formada de duas palavras aacutegua e benta No exemplo (b) a locuccedilatildeo nominal eacute formada por trecircs constituintes aacutegua na e boca e no exemplo (c) estamos diante de uma locuccedilatildeo verbal de natureza idiomaacutetica formada por cinco elementos constituintes ter bebido aacutegua de e chocalho

Os exemplos acima nos levam a caracterizar a expressatildeo idiomaacutetica como uma combinaccedilatildeo de duas ou mais palavras Assim caracterizada a expressatildeo idiomaacutetica natildeo se confunde com unidade leacutexica simples como nas foacutermulas pragmaacuteticas ou de rotina como as interjeiccedilotildees sauacutede (voto que se faz a algueacutem que espirra) adeus (foacutermula de despedida geralmente quando se espera separaccedilatildeo longa ou definitiva) obrigado (foacutermula utilizada para quem se sente devedor de um favor de uma amabilidade)

Adverte poreacutem Garciacutea-Page (2008 p24) o seguinte O caraacuteter pluriverbal de unidades fraseoloacutegicas eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo exclusiva embora suficientemente restritiva para deixar de fora do campo de estudo da Fraseologia um grande conjunto de estruturas30 Como as demais unidades fraseoloacutegicas a expressatildeo idiomaacutetica eacute fundamentalmente polilexical

30 No original el caraacutecter pluriverbal de las unidades fraseoloacutegicas es una condicioacuten necesaria pero no privativa aunque siacute suficientemente restrictiva como para dejar fuera de campo de estudio la Fraseologiacutea un nutrido conjunto de estructuras

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Em substacircncia diriacuteamos que por resultar de um fenocircmeno de cristalizaccedilatildeo cujo grau pode variar conforme as unidades a polilexicalidade faz-se acompanhar de um certo nuacutemero de propriedades sintaacuteticas e semacircnticas e sua definiccedilatildeo eacute bastante contiacutegua de uma outra propriedade das expressotildees idiomaacuteticas a estabilidade ou fixaccedilatildeo que veremos em subseccedilatildeo mais adiante Trataremos a seguir da frequecircncia fraseoloacutegica

Depois da polilexicalidade a frequecircncia de uso (e de coapariccedilatildeo) eacute a propriedade mais sobressalente das expressotildees idiomaacuteticas Sem a frequecircncia natildeo podemos falar em convencionalidade (ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) ou dizermos por exemplo que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute antes de tudo uma expressatildeo fixa e portanto armazenada na memoacuteria dos falantes nativos

A retoacuterica claacutessica recorreu agrave noccedilatildeo de frequecircncia para designar numerosas figuras de linguagem relacionadas agrave repeticcedilatildeo como a anaacutefora a anadiplose a aliteraccedilatildeo a assonacircncia a diaacutecope a epiacutestrofe a paranomaacutesia e a epanalepse

A noccedilatildeo antiga de frequecircncia alcanccedilou tambeacutem as teorias fraseoloacutegicas Linguistas como Corpas Pastor (1997) Xatara (1998) Sanromaacuten (2001) e Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) tecircm proposto a frequecircncia de uso como uma caracteriacutestica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Entre as seis caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas assinaladas por Corpas Pastor (1997) estaacute a frequecircncia Eacute um traccedilo destacado das expressotildees idiomaacuteticas ao consideraacute-las como unidades leacutexicas polilexicais que se caracterizam por sua alta frequecircncia de uso e de coapariccedilatildeo de seus elementos integrantes (p20) No conjunto de expressotildees idiomaacuteticas de dada liacutengua evidentemente nem todas tecircm alta frequecircncia de uso isto eacute natildeo podemos generalizar esta caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas

Segundo Corpas Pastor (1997) a frequecircncia como caracteriacutestica linguiacutestica das expressotildees idiomaacuteticas poderaacute apresentar duas vertentes conforme jaacute pudemos observar na definiccedilatildeo anterior (a) frequecircncia de uso da expressatildeo idiomaacutetica como tal e (b) frequecircncia de coapariccedilatildeo de seus elementos constituintes No caso (b) os elementos constituintes natildeo aparecem sozinhos sob pena de descaracterizar a expressatildeo idiomaacutetica

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Cremos que a frequecircncia de uso atua como um elemento fixador da expressatildeo idiomaacutetica Graccedilas agrave frequecircncia de uso as expressotildees idiomaacuteticas potencializam as funccedilotildees apelativas da linguagem oralescrita que se caracterizam pela interpelaccedilatildeo direta do interlocutor e diriacuteamos tambeacutem incrementam as mesmas funccedilotildees da linguagem natildeo verbal uma vez que estatildeo presentes por exemplo em Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) conforme nos descreve Lemos (2012) De igual modo as funccedilotildees expressivas as que se referem agraves atitudes dos locutores ou emissores com relaccedilatildeo ao conteuacutedo e ao contexto da mensagem satildeo beneficiadas pela frequecircncia de uso das unidades fraseoloacutegicas Em outras palavras diriacuteamos que a causa (frequecircncia de uso) gruda com a consequecircncia (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica)

Para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 32) cabe falar em frequecircncia de uso no acircmbito do estudo das locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas se concebemos as referidas combinaccedilotildees fixas como fios de tecido textual das mensagens e que sua presenccedila na comunicaccedilatildeo oral e escrita eacute constante A frequecircncia de uso nas expressotildees idiomaacuteticas potencial e estruturalmente ambiacuteguas evidencia o sentido idiomaacutetico ou holiacutestico prevalecendo habitualmente sobre o sentido literal originaacuterio desde que exista um contexto determinante

Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera um extremo de infrequecircncia o fato de uma combinaccedilatildeo que em princiacutepio admite duas leituras uma literal como forma livre e outra idiomaacutetica como expressatildeo fixa seja empregada com o sentido literal isto eacute como produto da teacutecnica do discurso para tomarmos uma expressatildeo de Coseriu (1981 p113-118)

Em outras palavras o que Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) considera infrequente ou inusual eacute a possibilidade de uma expressatildeo como em Liacutengua Portuguesa ficar a ver navios com sentido idiomaacutetico de sofrer decepccedilatildeo possa ser interpretada por um falante nativo como ficar + a + ver + navios com o sentido literal de continuar a enxergar as embarcaccedilotildees A posiccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenhez (2008) indica que a compreensatildeo de uma sequecircncia eacute preferencialmente idiomaacutetica

Quanto agrave frequecircncia de apariccedilatildeo Corpas Pastor (1996) afirma ocorrer quando as expressotildees idiomaacuteticas apresentam elementos constituintes que aparecem combinados com uma frequecircncia de aparecimento do conjunto ou bloco superior ao que se espera da frequecircncia de aparecimento individual de cada palavra na liacutengua

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A frequecircncia de coapariccedilatildeo tem uma consequecircncia imediata desde o momento em que uma combinaccedilatildeo de palavras constituiacuteda livremente a partir das regras do sistema linguiacutestico emprega-se em alguma ocasiatildeo particular ou seja estaacute disponiacutevel para ser usada no discurso pelo mesmo falante ou outro como uma combinaccedilatildeo jaacute feita

Segundo Corpas Pastor (1997 p21) quanto mais frequente o uso da combinaccedilatildeo mas chances teraacute para consolidar-se como expressatildeo fixa que os falantes nativos armazenam na memoacuteria de longo prazo

Somos da mesma opiniatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) de que natildeo faz sentido falar de frequecircncia de coapariccedilatildeo das palavras que formam a expressatildeo salvo claro as variantes fraseoloacutegicas jaacute codificadas que funcionam numa relaccedilatildeo paradigmaacutetica posto que as expressotildees idiomaacuteticas trazem a presenccedila insubstituiacutevel dos componentes

Para ilustrarmos com um exemplo em Liacutengua Portuguesa a expressatildeo abaixarapagarassentarsossegar o facho pode vir com diversos verbos mas o mais frequente nos meios de comunicaccedilatildeo eacute que apareccedila com o verbo baixar como em O Peru conseguiu baixar o facho do Sendeiro Luminoso(In Coluna FREI HERMIacuteNIO BEZERRA Caderno 3 DN 07012008) com o sentido de moderar-se conter-se

A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um traccedilo que caracteriza sobretudo as colocaccedilotildees ou as construccedilotildees em tracircnsito de fixaccedilatildeo ou que estatildeo em processo de lexicalizaccedilatildeo A frequecircncia de coapariccedilatildeo eacute um fato sintagmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada derivado primaacuteria e fundamentalmente de seu viacutenculo semacircntico isto eacute do fato paradigmaacutetico marcado pelas relaccedilotildees virtuais entre unidades suscetiacuteveis de comutarem entre si o que ao certo contribui para a fixaccedilatildeo completa e definitiva da expressatildeo idiomaacutetica

Nessa mesma linha de reflexatildeo Xatara (1998 p148) acredita que a profusatildeo das expressotildees idiomaacuteticas decorreria de duas razotildees principais (a) o poder de seus efeitos criativos e (b) a revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico ou metafoacuterico

A frequecircncia de uso segundo a linguista Xatara (1998) seria responsaacutevel por dar caraacuteter previsiacutevel e automatismo agraves expressotildees idiomaacuteticas ou mais precisamente pela convencionalidade tornando-as frequentes no discurso mas ao serem apresentadas aos usuaacuterios da liacutengua surpreendentemente revelam-se com um poder metafoacuterico

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ou idiomaacutetico de seus efeitos sobre os usuaacuterios atraveacutes do jogo entre suas relaccedilotildees sobretudo metafoacutericas e metoniacutemicas e do recurso ao seu sentido literal Num olhar mais criacutetico sobre o pensamento de Xatara (1998) diriacuteamos que natildeo haacute metaacutefora nem metoniacutemia do ponto de vista sincrocircnico pelo simples fato de que natildeo haacute processamento da expressatildeo idiomaacutetica

Quanto agrave revelaccedilatildeo do mundo simboacutelico Xatara (1998) afirma que graccedilas a uma espessura simboacutelica peculiares agraves expressotildees idiomaacuteticas e por estarem retidas na memoacuteria dos falantes satildeo criadas condiccedilotildees para que durante o processamento fraseoloacutegico sejam acionadas transferecircncias semacircnticas regulares do concreto ao abstrato do fiacutesico ao psiacutequico exprimindo julgamentos sociais e compartilhando das mais diversas sensaccedilotildees e emoccedilotildees

A frequecircncia de uso de expressotildees como bater as asas bater em retirada botar o peacute no mundo cair fora dar com o peacute no mundo levantar voo meter o arco meter o peacute no mundo entre outras expressotildees em lugar do leacutexico simples fugir na verdade daacute uma maior forccedila perlocucionaacuteria ao enunciado e traduz para o leitor ou ouvinte maior forccedila de expressatildeo ou estilo 31

Emparelhada com a polilexicalidade apontamos entre propriedades essenciais das expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo ou a estabilidade

Zuluaga (1975 p 230) entende por fixaccedilatildeo ou estabilidade formal a propriedade que tem certas expressotildees de serem reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas Esta definiccedilatildeo foi posteriormente acolhida por Corpas Pastor (1996 p23)

Uma explicaccedilatildeo das teorias fraseoloacutegicas sobre o surgimento desta propriedade fraseoloacutegica eacute a de que a fixaccedilatildeo resultaria de um processo histoacuterico-diacrocircnico e da conversatildeo paulatina de uma construccedilatildeo livre e variaacutevel em uma construccedilatildeo fixa invariaacutevel soacutelida graccedilas agrave insistente repeticcedilatildeo portanto como consequecircncia de sua frequecircncia

Nesse processo de evoluccedilatildeo uma forma analiacutetica livre chegaria a adquirir em um ponto da histoacuteria um sentido idiomaacutetico (ou

31 A rigor natildeo poderiacuteamos dizer que a frequecircncia de uso eacute uma propriedade exclusiva das expressotildees idiomaacuteticas Acontece com a escolha de qualquer palavra da Liacutengua Portuguesa como por exemplo com o verbo sair ou retirar-se com seu correlato vazar

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metafoacuterico32) ou especiacutefico33 em ateacute conceber-se como um todo isto eacute uma foacutermula memorizaacutevel disponiacutevel para emprego por parte do falante no processo discursivo ao expressar um conteuacutedo que jaacute estaria condensado nela (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p25)

Este processo de conversatildeo de uma unidade sintaacutetica em expressatildeo idiomaacutetica poderia chamar-se de fraseologizaccedilatildeo embora para Garciacutea-Page Saacutenchez (p25) o fato de unidades fraseoloacutegicas terem muitas palavras eacute uma condiccedilatildeo absolutamente necessaacuteria mas natildeo exclusiva e suficientemente restritiva o que significa dizer que este fato linguiacutestico pode representar um fenocircmeno mais amplo se inclui a fixaccedilatildeo da forma e a fixaccedilatildeo semacircntica como operaccedilotildees simultacircneas uma vez que fixa tambeacutem o sentido fraseoloacutegico

Quando o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica se estabiliza a forma livre originaacuteria estruturalmente idecircntica portanto correspondente a literal (ou a teacutecnica do discurso para tomarmos a expressatildeo coseriana) seguiraacute outros caminhos semacircnticos ou ocorrecircncias semacircnticas disponiacutevel para emprego discursivo e exposta como qualquer outro signo da liacutengua a preencher-se de novos matizes semacircnticos daiacute as expressotildees idiomaacuteticas experimentarem mudanccedilas no sentido ou se tornarem arcaiacutesmos

Com relaccedilatildeo especificamente agraves expressotildees idiomaacuteticas a fixaccedilatildeo eacute uma propriedade marcante das mesmas em que pesem sofrerem muito com a variaccedilatildeo fraseoloacutegica Liacutenguas neolatinas como o portuguecircs e o Espanhol registram muitas variantes fraseoloacutegicas no seu leacutexico Vamos entatildeo aprofundar um pouco com alguns exemplos em liacutengua Portuguesa esta questatildeo da variaccedilatildeo nas expressotildees fixas nos paraacutegrafos a seguir

Segundo Garciacutea-Page Sanchez (2008 p213-315) os estudos filoloacutegicos tecircm mostrado que a tradiccedilatildeo oral tem favorecido ao longo dos anos ou seacuteculos a criaccedilatildeo de variantes em decorrecircncia de causas diversas do tipo (1) maior expressividade (2) etimologia popular (3)

32 Natildeo poderiacuteamos generalizar esta carga metaforicidade para todas as unidades fraseoloacutegicas Na expressatildeo de vez em quando com sentido de ocasionalmente uma vez ou outra natildeo haacute metaacutefora 33 Por exemplo em ser cheio de nove horas com sentido de rabugento impertinente como na frase O senador fluminense Lindbergh Farias ficou cheio de nove horas para dizer que aquele escritoacuterio era ateacute entatildeo uma caixa-preta (DN em Caderno 3 Coluna Eacute 08072013)

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regionalismos (4) marcas sociolinguiacutesticas (as de variaccedilatildeo diastraacutetica em particular) (5) existecircncia de modelos produtivos de uso pelos falantes34 (6) ecircnfase (7) reforccedilo do aprendizado (8) ajuda agrave memorizaccedilatildeo (9) economia linguiacutestica (10) modernizaccedilatildeo e por uacuteltimo (11) maior ou menor extensatildeo da locuccedilatildeo

Destas causas arroladas acima natildeo concordamos com a (5) por entendermos que por definiccedilatildeo uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo pode ser produtiva a menos que o autor considere a flexatildeo ou a variaccedilatildeo como processos criativos da liacutengua o que seria um contrassenso linguiacutestico

De outra maneira diriacuteamos que a fixaccedilatildeo tem um caraacuteter gradual portanto de escalaridade que se manifesta de diversos graus de uso da liacutengua Satildeo muitas as expressotildees idiomaacuteticas passiacuteveis de variaccedilotildees formais de uma ou outra natureza (focircnica graacutefica leacutexica gramatical morfoloacutegica)

Na Liacutengua Portuguesa podemos dar exemplos de variantes fraseoloacutegicas de vaacuterias expressotildees idiomaacuteticas como chutar o balde o pau da barraca escaparsair pela tangente estarficar entregue agraves baratas passar atestado de burro estuacutepidoimbecil estarou andar com a pedra no sapato estarcair ficar de cama estar ficar com aacutegua na boca estar ficar de saco cheio estar ficar no mato sem cachorros e esticar a canela as botas Esta riqueza de variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute entendida por noacutes como diferenccedilas de realizaccedilatildeo linguiacutestica (falada ou escrita) de uma expressatildeo fixa observadas entre os falantes de uma mesma liacutengua e natildeo como produtividade fraseoloacutegica

Para ficarmos em exemplo vejamos o que nos diz Houaiss e Villar (2009) sobre a expressatildeo ldquochutar o balderdquo mesmo que ldquoChutar o pau da barracardquo Portanto as duas formas ou variantes de uma mesma expressatildeo fixa compartilham os mesmos sentidos como ldquodeixar de medir as consequecircncias de qualquer ato engrossar entornar o caldordquo e ldquoabandonar desistir de um projetordquo

34 O caraacuteter produtivo das expressotildees eacute muito questionado Ao longo deste livro temos colocado que uma expressatildeo natildeo pode ser produtiva Eacute uma contradiccedilatildeo em termos Se o que caracteriza a expressatildeo eacute justamente a cristalizaccedilatildeo e a fixaccedilatildeo com o passar dos anos ela natildeo pode ser produtiva Assim ningueacutem pode fazer uma expressatildeo nova porque por definiccedilatildeo a sequecircncia tem de ser repetida durante muito tempo ateacute ser conhecida e compartilhada por todos os outros falantes da liacutengua

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No inventaacuterio de variantes fraseoloacutegicas como apresentamos na lista acima as que permanecem no uso da liacutengua sem se tornarem anacrocircnicas ou obsoletas satildeo as que satildeo geralmente codificadas e consagradas pela comunidade e previstas pelo sistema (da liacutengua) daiacute reconhecermos que a convencionalidade e a frequecircncia satildeo tambeacutem dois traccedilos definitoacuterios das expressotildees idiomaacuteticas

Para ilustrarmos com mais exemplos em Liacutengua Portuguesa lembramos que no caso do sentido idiomaacutetico de fugir ou retirar-se em debandada o Aureacutelio (2009) registra sobejamente entre outras as seguintes locuccedilotildees verbais abrir no mundo abrir no peacute abrir nos paus abrir o arco bater em retirada botar o peacute no mundo enfiar a cara no mundo ensebar as canelasentupir no oco do mundo fazer chatildeo fazer a pista ganhar o mato ganhar o mundo bater em retirada sair de fininho e elevantar voo

Por outro lado satildeo abundantes as expressotildees idiomaacuteticas que admitem modificaccedilotildees de seus elementos constituintes atraveacutes da teacutecnica do discurso proacutepria das combinaccedilotildees livres Quando expressotildees idiomaacuteticas se comportam como se fossem combinaccedilotildees livres portanto de sintaxe plena o que ocorre geralmente eacute a inclusatildeo na combinatoacuteria de incrementos leacutexicos com valor intensificador35 mas que natildeo interferem no conceito de fixaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas particularmente no caso das locuccedilotildees verbais como as seguintes abrir o (maior) bocatildeo armar (o maior) banzeacute armar o (maior) barraco ser bom (ou muito) estocircmago ser bastante (ou muito) mulher e ter bom (ou muito) estocircmago

A variaccedilatildeo como contrapartida e aparentemente contraexemplo da fixaccedilatildeo tem sido proposta juntamente com a fixaccedilatildeo como propriedade das expressotildees idiomaacuteticas inclusive como um traccedilo universal fraseoloacutegico (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p213-220) Existiriam assim fatores para transgressatildeo da fixaccedilatildeo ou variaccedilatildeo fraseoloacutegica (1) a proacutepria natureza fixa da locuccedilatildeo (2) o caraacuteter travado e coeso de sua composiccedilatildeo leacutexica sintaacutetica e inclusive focircnica (relativo ao contiacutenuo sonoro que constitui a cadeia falada) e (3) seu valor de unidade memorizaacutevel

35 Muitos somatismos como em tirar mais aacutegua do joelho que traz o intensificador mais e ldquoter a liacutengua maior que o corpordquo ou ldquoter o o olho maior que a barrigardquo em que temos ldquomaiorrdquo nas combinatoacuterias fixas

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Em nosso estudo acolhemos esta visatildeo acima por considerarmos que os falantes de dada liacutengua especialmente os de L2 como por exemplo lusoacutefonos na variante africana tendem naturalmente a apresentar formas linguiacutesticas diferenciadas da nossa vertente brasileira ou europeia por determinantes sociolinguiacutesticos ou mais precisamente por fatores diatoacutepicos

A estabilidade da combinatoacuteria de uma expressatildeo idiomaacutetica ao longo de um tempo resultaria pois da consagraccedilatildeo pelo uso na comunidade linguiacutestica ainda assim e paradoxalmente tal fixaccedilatildeo natildeo se imporia como homogecircnea para todos os falantes de dada liacutengua nem mesmo os dicionaacuterios gerais ou especializados registram as expressotildees idiomaacuteticas ou as abonam de igual modo Apenas para exemplificar tomemos por exemplo as expressotildees idiomaacuteticas para o sentido de morrer contendo o lexema paletoacute fechar o paletoacute fechar o paletoacute de algueacutem vestir o paletoacute de madeira abotoar o paletoacute e vestir paletoacute de pinho

Esta particularidade da propriedade fixaccedilatildeo segundo Corpas Pastor (1996 p23) pode ser manifesta nos seus dois tipos (a) fixaccedilatildeo interna e (b) a fixaccedilatildeo externa Por fixaccedilatildeo interna entendemos a fixaccedilatildeo material marcada pela impossibilidade de reordenamento dos componentes realizaccedilatildeo foneacutetica fixa restriccedilatildeo na escolha dos componentes e fixaccedilatildeo de conteuacutedo (ou peculiaridade semacircntica)

A fixaccedilatildeo externa por sua vez pode ser sudividida em outros quatro subtipos conforme descrevemos abaixo

(1) fixaccedilatildeo situacional 36 refere-se a que se daacute como combinaccedilatildeo de certas unidades linguiacutesticaa em situaccedilotildees sociais determinadas como ocorre nas expressotildees como com licenccedila da (maacute) palavra (se me permite usar uma palavra feia desculpe-me a palavra insultuosa) pedir a matildeo de (fazer proposta de casamento ) e pedir a palavra (pedir licenccedila para falar)

(2) fixaccedilatildeo analiacutetica entende-se aquela que se daacute como consequecircncia do uso de determinadas unidades linguiacutesticas para anaacutelise jaacute estabelecida do mundo frente a outras unidades igualmente possiacuteveis teoricamente como em Liacutengua Portuguesa temos querer viver apenas agrave sombra e aacutegua fresca natildeo dizer desta aacutegua natildeo beberei e natildeo se julgar livre de fazer o que condena nos outros)

36 Este traccedilo natildeo poderiacuteamos dizer a rigor ser exclusivo das unidades fraseoloacutegicas Qualquer palavra de dada liacutengua tem sua fixaccedilatildeo situacional

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(3)fixaccedilatildeo passemaacutetica37 aquela fixaccedilatildeo originada no emprego de unidades linguiacutesticas segundo o papel do falante no ato comunicativo como nas locuccedilotildees custar os olhos da cara (ser muito caro) e dormir como uma pedra (dormir profundamente)

(4) Fixaccedilatildeo posicional entendida como a preferecircncia pelo uso de certas unidades linguiacutesticas de determinadas posiccedilotildees na forma de textos como ocorre nas foacutermulas de saudaccedilatildeo encabeccedilamentos e despedidas de cartas por exemplo Sou com todo o respeito (foacutermula de delicadeza que usa o missivista no fecho das cartas para exprimir o respeito e o apreccedilo pela pessoa a quem se dirige)

A noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo segundo Garcia Page (2008) eacute um dos traccedilos acidentais das expressotildees idiomaacuteticas que tambeacutem pode ser emparelhado com o conceito de fixaccedilatildeo Define institucionalizaccedilatildeo como ldquoo processo pela qual uma comunidade linguiacutestica adota uma expressatildeo fixa a sanciona como algo proacuteprio como moeda de troca na comunicaccedilatildeo cotidiana como componente do seu acervo linguiacutestico-cultural de seu coacutedigo idiomaacutetico como qualquer outro signo convencional e passa a formar parte do vocabulaacuteriordquo 38 (p29)

Vale ressaltar que a noccedilatildeo de institucionalizaccedilatildeo na perspectiva de nosso trabalho como jaacute dissemos antes eacute uma propriedade acidental ou ocasional que natildeo pode ser confundida com a noccedilatildeo de convencionalidade uma propriedade essencial das expressotildees idiomaacuteticas segundo a perspectiva cognitivista (FILLMORE KAY e OCONNOR 1988 NUNBERG WASOW e SAG 1994 CROFT e CRUSE 2004 p298 TAGNIN 2005) Mais adiante daremos uma atenccedilatildeo especial agrave propriedade da convencionalidade

No caso da institucionalizaccedilatildeo a expressatildeo idiomaacutetica converte-se em produto cultural como um referente idiossincraacutesico e de uso por uma comunidade linguiacutestica embora possa ultraspassar as fronteiras e

37 Este termo nos lembra muito a noccedilatildeo de ato perlocutoacuterio (os efeitos do ato do falante nos interlocutores e audiecircncia) isto eacute o efeito que um ato ilocutoacuterio (forccedila que o enunciado produz que pode ser de pergunta de afirmaccedilatildeo ou de promessa) no alocutaacuterio (pessoa a quem o locutor dirige um ato de fala numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo oral) 38 No original el proceso por el cual una comunidad linguiacutestica adopta una expresioacuten fija la sanciona como algo propio como moneda de cambio en la comunicacioacuten cotidiana como componente de su acervo linguiacutestico-cultural de su coacutedigo idiomaacutetico como cualquier otro signo convencional y pasa a parte del vocabulario

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alcanccedilar o campo internacional isto eacute passar a fazer parte do universo fraseoloacutegico compartilhado por comunidades de falas distintas

Haacute expressotildees que surgem com forccedila e pujanccedila ou se potildeem de moda por certo tempo mas a comunidade linguiacutestica deixa de usar de uma hora para outra e a esquece e assim deixa de fazer parte do vocabulaacuterio ativo da comunidade de falantes embora por vezes continue registrada nos dicionaacuterios gerais da liacutengua

Na institucionalizaccedilatildeo de uma estrutura normalmente a accedilatildeo fixadora do uso repetido eacute precisa Ainda segundo Garciacutea-Page Saacutenchez (2008) a repeticcedilatildeo continuada de uma expressatildeo conduz a sua cristalizaccedilatildeo a sua petrificaccedilatildeo agrave condiccedilatildeo de unidade disponiacutevel para seu armazenamento memorizaccedilatildeo e a sua transmissatildeo entre os falantes

No campo fraseoloacutegico o traccedilo de fixidez da instituiccedilatildeo nos leva a outra noccedilatildeo a de reprodutividade que certamente eacute a mesma que percebeu Eugenio Coseriu quando fez referecircncia a discurso repetido (2007 p201)

Por conta da repeticcedilatildeo ou reproduccedilatildeo ocorreria a institucionalizaccedilatildeo e esta tambeacutem levaria no uso da liacutengua agrave repeticcedilatildeo da expressatildeo evidenciando seus valores intriacutensecos como foacutermula ou discurso repetido conhecimento ou experiecircncia compartilhada entre os falantes sua natureza estruturalmente sinteacutetica e sua marca de identidade cultural da comunidade linguiacutestica

Outra noccedilatildeo fraseoloacutegica considerada por noacutes como acidental e que estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de anomalia Entendida em nosso estudonosso estudo como expressotildees palavras que fogem agrave regra e natildeo seguem um paradigma flexional e sendo formas anocircmalas devem ser portanto memorizadas pelos falantes de uma liacutengua dada

Tem-se apontado as construccedilotildees estruturalmente anocircmalas do tipo leacutexicas sintaacuteticas ou semacircnticas como iacutendices ou indicadores fraseoloacutegicos isto eacute marcas de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e uma prova da fixaccedilatildeo das unidades fraseoloacutegicas (GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ 2008 p33-34 RUIZ GURILLO 2001 p18)

No caso da Liacutengua Portuguesa enquanto para o sintaxista uma expressatildeo idiomaacutetica como aiacute eacute que a porca torce o rabo (este eacute que eacute o ponto difiacutecil da questatildeo) a presenccedila do adverbio aiacute eacute considerada uma anomalia para o fraseoacutelogo eacute um traccedilo proacuteprio de

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certas unidadesexpressotildees fraseoloacutegicas39 Em outras palavras no campo fraseoloacutegico a anomalia tem seu valor diacriacutetico

A Liacutengua Portuguesa em se tratando de casos de anomalias fraseoloacutegicas eacute bastante produtiva Por exemplo haacute casos de anomalias em expressotildees idiomaacuteticas (a maioria anacrocircnica) com a presenccedila de nomes proacuteprios ou antropocircnimos como em Messias em esperar pelo Messias (esperar por coisa pouco provaacutevel ou quase impossiacutevel Luzia em ganhar o que Luzia ganhou na horta ( ser passado para traacutes) ou Joatildeo em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (disfarccedilar-se) Estes antropocircnimos caracterizam a expressatildeo de modo a nos falar de uma fossilizaccedilatildeo de estados sincrocircnicos anteriores isto eacute constitui um resiacuteduo histoacuterico de sua consolidaccedilatildeo

As diversas anomalias presentes nas expressotildees idiomaacuteticas tendem a tornaacute-las expressotildees ambiacuteguas isto eacute potencialmente composicionais (transparentes ou literais) e natildeo composicionais (opacas e idiomaacuteticas ou natildeo literais) e por essa razatildeo o contexto desempenha um papel importante na identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas quando trazem as marcas de anomalias fraseoloacutegicas como nos exemplos mostrados acima

No acircmbito da Fraseologia existem mais exemplos de anomalias com palavras idiomaacuteticas (ou diacriacuteticas) arcaiacutesmos ou a marca do arredondamento dos laacutebios Por exemplo nas expressotildees idiomaacuteticas botar as manguinhas de fora ou pocircr as manguinhas de fora (agir revelando qualidades ou denunciando intenccedilotildees que em geral anteriormente se ocultavam) embora possa ser alternado o verbo botar para pocircr a palavra idiomaacutetica manguinhas na sua forma fossilizada no plural estaacute presente nas duas construccedilotildees sinocircnimas Manguinhas tem a funccedilatildeo de ser uma palavra diacriacutetica Eacute na expressatildeo idiomaacutetica botar as manguinhas de fora o que Gonzalez Rey (2005 p315) chama de fenocircmeno de haacutepax 40 fraseoloacutegico

Da mesma forma temos um caso de arcaiacutesmo quando o falante atual do Portuguecircs Brasileiro diante de uma expressatildeo idiomaacutetica

39 Uma outra interpretaccedilatildeo para este fenocircmeno seria a de considerar que um sintatiscista poderia ver no adveacuterbio aiacute um adjunto temporal perfeitamente justificaacutevel na liacutengua tanto do ponto de vista formal (com relaccedilatildeo agrave posiccedilatildeo na sentenccedila) quanto semacircntico 40Em lexicografia palavra ou expressatildeo de que soacute existe uma uacutenica abonaccedilatildeo nos registros da liacutengua Esta palavra vem do grego haacutepaks uma vez isto eacute haacutepaks legoacutemenon o que eacute dito uma uacutenica vez

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como bater a caccediloleta (morrer) natildeo reconhece composicionamente o sentido de caccediloleta (fuzil de espingarda ou arma de fogo semelhante que dispara com faiacutescas de pederneira sobre a qual bate a pedra adaptada ao catildeo para comunicar fogo agrave escorva) julgaraacute entatildeo por forccedila de sua intuiccedilatildeo Linguiacutestica que se trata de uma expressatildeo antiga ou desusada na verdade estaacute diante realmente de uma construccedilatildeo idiomaacutetica que caiu em desuso quer na fala quer na escrita padratildeo embora possa continuar a existir como forma dialetal ou em usos literaacuterios e com registros nos dicionaacuterios gerais41

Um bom exemplo de arredondamento dos laacutebios (ou labializaccedilatildeo) podemos observar quando a presenccedila do artigo enquanto categoria gramatical implica em diferenccedila no sentido idiomaacutetico da expressatildeo com relaccedilatildeo a sintagmas livres irmatildeos gecircmeos42 como por exemplo em chutar o balde ou chutar o pau da barraca bater a bota ou bater as botas

O que podemos assinalar nos exemplos chutar o balde e chutar o pau da barraca eacute que o artigo o indica convencionalmente a presenccedila de uma expressatildeo idiomaacutetica frente aos sintagmas livres chutar balde ou chutar pau da barraca que tecircm o sentido literal de dar chute contra o recipiente Por outro lado a presenccedila do artigo definido nas construccedilotildees idiomaacuteticas indica natildeo apenas uma determinaccedilatildeo dentre outras da mesma espeacutecie mas uma articulaccedilatildeo secundaacuteria que envolve arredondamento dos laacutebios na hora de ser proferida pelo falante

A metaacutefora a hipeacuterbole e a metoniacutemia datildeo origem a numerosas expressotildees idiomaacuteticas semanticamente anocircmalas como comer com os olhos (olhar com cobiccedila admirar demonstrando forte desejo) comer como pinto e cagar como pato ou dar o passo maior que a perna (ganhar pouco e gastar muito) comer como um lobo (comer aacutevida e exageradamente) afogar-se em pouca aacutegua (complicar-se ou preocupar-se com pequenos problemas ou com as

41 Reconhecemos que haacute inuacutemeras expressotildees com palavras que natildeo existem independemente e satildeo empregadas Por exemplo ao leacuteu ou a esmo (agrave toa) ou sem eira nem beira (na miseacuteria) Assim o fato de a expressatildeo desparecer porque seus componentes natildeo satildeo usados natildeo nos parece um fato Na verdade quando a expressatildeo desaparece o alcance eacute pleno isto eacute como grupo fraseoloacutegico Afinal a expressatildeo fixa eacute uma unidade 42 A linguista Gurillo (2001) recorre a esta expressatildeo para se referir ao homoacutefono literal de uma expressatildeo idiomaacutetica

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miacutenimas coisas sem nenhuma importacircncia abrir o coraccedilatildeo (expandir os seus sentimentos desabafar) e cortar o coraccedilatildeo (ser extremamente doloroso)

Tendo em conta que a oposiccedilatildeo entre expressotildees idiomaacuteticas em L1 e em L2 ou em L3 ocorre com frequecircncia nas liacutenguas modernas como nos aponta Belinchoacuten (1999 p359-73) diriacuteamos que a Fraseologia do Portuguecircs eacute uma das mais ricas das liacutenguas europeias por estar repleta de expressotildees que contecircm componentes leacutexicos cujo sentido resulta completamente desconhecido por muitos falantes especialmente crianccedilas e adolescentes embora em geral saibam o sentido global da expressatildeo quando esta eacute de uso frequente ou corriqueiro ou ainda quando contextualizada na fala cotidiana

Eis algumas expressotildees que ilustram melhor nossa assertiva acima estar com o peacute no estribo (estar de partida) estar na berlinda (ser alvo de comentaacuterios) fazer de um argueiro um cavaleiro (exagerar demais) fazer figas (amaldiccediloar esconjurar algueacutem ou algo) fazer mea-culpa (arrepender-se) fazer ouvidos de mercador (fingir que natildeo ouve) fazer peacute de alferes a (namorar cortejar) fazer uma fezinha (arriscar a sorte num jogo de azar) fazer uma vaquinha (dividir igualmente entre vaacuterias pessoas uma despesa qualquer) dar em aacuteguas de bacalhau (natildeo se concretizar frustrar-se)

Como pudemos facilmente mostrar componentes leacutexicos das expressotildees idiomaacuteticas arroladas acima como estribo berlinda argueiro figas mea-culpa mercador peacute de alferes fezinha vaquinha e aacuteguas de bacalhau podem ser altamente infrequentes para nativos ou natildeo nativos do PB

Assim como a polilexicalidade eacute uma propriedade emparelhada com a fixaccedilatildeo esta por seu turno eacute ligada agrave idiomaticidade

Para a renovaccedilatildeo do repertoacuterio do leacutexico de uma liacutengua eacute necessaacuterio que as expressotildees natildeo idiomaacuteticas se convertam em idiomaacuteticas isto eacute globalizem-se (polilexicalidade) e estabilizem-se (fixaccedilatildeo) A todo momento satildeo criadas novas palavras e expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo os dicionaacuterios gerais tendem a marcar passo frente agrave atualizaccedilatildeo das entradas e subentradas de seus verbetes

A idiomaticidade para alguns autores eacute determinada a partir da noccedilatildeo de interlinguiacutestica e intralinguiacutestica Eacute idiomaacutetica uma expressatildeo que ao ser traduzida para a liacutengua-alvo pelo menos um de seus

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elementos recebe um equivalente especial que aparece somente nessa expressatildeo Segundo Intildeesta Mena e Pamies Bertraacuten (2002 p 25) a idiomaticidade entendida como especificidade diz respeito a uma liacutengua que se converte em um argumento favoraacutevel agrave relatividade Linguiacutestica 43

Gonzaacutelez-Rey (2010 p 179) defende a ideia que a idiomaticidade (ou opacidade) resultaria de uma percepccedilatildeo relativa dos usuaacuterios que satildeo os que opinam se uma expressatildeo eacute opaca ou natildeo A opacidade dependeria do grau de transparecircncia com a que se expressa uma ideia mas o que verdadeiramente determina a compreensatildeo do sentido idiomaacutetico satildeo segundo ela os conhecimentos preacutevios e os procedimentos cognitivos dos usuaacuterios Segundo a linguista a opacidade vem de uma falha da mente [dos usuaacuterios da liacutengua] ao reconhecer sua incapacidade de desmaranhar sentido 44 (idem)

Na tradiccedilatildeo Linguiacutestica o conceito de idiomaticidade tem ao menos duas concepccedilotildees por um lado uma concepccedilatildeo lato sensu (sentido amplo) daquilo que na liacutengua eacute proacuteprio particular peculiar ao sistema linguiacutestico daiacute os termos concorrentes idiotismo ou idiomatismo e por outro a concepccedilatildeo stricto sensu (sentido restrito) decorrente da noccedilatildeo fraseoloacutegica do princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ou da opacidade semacircntica (BEVILACQUA 20042005 p77)

No Brasil o termo idiomaacutetico ou idiomaticidade durante muito tempo referiu-se a uma particularidade ou a especificidade cultural nacional a que na deacutecada de 40 do seacuteculo passado evidenciou-se com a publicaccedilatildeo de obras como Tesouro da Fraseologia Brasileira (1966) 45 do filoacutelogo Antenor Nascentes e quase trecircs deacutecadas depois com a publicaccedilatildeo de Locuccedilotildees tradicionais no Brasil de Luiacutes da Cacircmara Cascudo (2004)46 Estes autores recolheram uma a uma expressotildees e ditos populares geralmente ouvidas por eles de homens simples familiares descartando as mais populares em Portugal e tendo a

43 Este termo nos remete agrave ideia de que uma determinada liacutengua eacute o reflexo da civilizaccedilatildeo e da cultura da comunidade onde ela eacute falada isto eacute a estrutura global de cada liacutengua influi diferencialmente sobre o pensamento do falante sobre sua concepccedilatildeo da realidade e seu comportamento frente a ela como apontam Rossi-Landi (1974 p30-36) e Neveu (2008 p260) 44 La opacidad procede de un fracaso de la mente al reconocer su incapacidad de desetrantildear el sentido 45 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute datada de 1945 46 A primeira ediccedilatildeo desta obra eacute data de 1970

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preocupaccedilatildeo de buscar as suas origens ou motivaccedilotildees linguiacutesticas (CASCUDO 2004 p24)

A idiomaticidade portanto nas duas obras acima confundia-se como assinalamos anteriormente com a noccedilatildeo de idiomatismo ou idiotismo47 isto eacute traccedilo ou construccedilatildeo peculiar a uma determinada liacutengua que natildeo se encontra na maioria dos outros idiomas (na verdade mais presunccedilatildeo do que fato linguiacutestico) como ocorre em nossa liacutengua com o infinitivo pessoal ou flexionado do portuguecircs que recebe desinecircncias nuacutemero-pessoais como por exemplo na frase Se noacutes pusermos matildeos agrave obra agora terminaremos o trabalho a tempo em que flexionamos o verbo de uma expressatildeo idiomaacutetica pocircr matildeos agrave obra (comeccedilar a executar alguma coisa)

As expressotildees idiomaacuteticas no tesouro fraseoloacutegico podiam ser entendidas como elementos da tradiccedilatildeo oral de uma cultura no caso a brasileira ou em outras palavras locuccedilotildees proacuteprias de uma liacutengua cuja traduccedilatildeo literal natildeo faz sentido numa outra liacutengua de estrutura anaacuteloga por ter um sentido natildeo dedutiacutevel da simples combinaccedilatildeo dos sentidos dos elementos que a constituem

No Brasil uma das primeiras gramaacuteticas a tratar dos idiotismos foi a Gramaacutetica Expositiva curso superior publicada em 1907 pelo mineiro Eduardo Carlos Pereira e que no ano 1957 jaacute registrava sua 102ordf ediccedilatildeo o que vem comprovar sua grande aceitaccedilatildeo pelos brasileiros

Pereira (1957) definia na eacutepoca idiotismo como termo ou diccedilatildeo de uma liacutengua que natildeo tem correspondente em outra liacutengua ou ainda frases peculiares que se apartam das normas da sintaxe sendo poreacutem consagradas pelo uso de pessoas cultas (p258) Consideradas como verdadeiras belezas da liacutengua os idiotismos segundo Pereira ([1907] 1957) podiam ser divididos em duas vertentes (a) idiotismos leacutexicos e (b) idiotismos fraseoloacutegicos

Conforme nos descreve Pereira (1957) havia quatro casos de ocorrecircncias de idiotismos leacutexicos

(a) infinitivo pessoal ou flexionado forma nominal do verbo que por referir-se a um sujeito ao contraacuterio do infinitivo impessoal flexiona-se em nuacutemero e pessoa como na frase O juiz faz saber a todos quantos deste edital tomarem conhecimento e Jaacute jaacute ajustaremos contas vocecirc e eu

47 Houaiss e Villar (1999) datam o termo idiotismo de 1713 enquanto o termo idiomatismo surgiu no seacuteculo XX

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(b) a mudanccedila do sentido de certas palavras ou expressotildees pela mudanccedila do gecircnero nuacutemero e ainda da posiccedilatildeo de seus componentes no caso das expressotildees como em a cabeccedila (uma das grandes divisotildees do corpo humano) e o cabeccedila (figura preeminente em qualquer associaccedilatildeo ou grupo de seres humanos ou de animais liacuteder) a liacutengua (oacutergatildeo muscular situado na boca e na faringe) e o liacutengua (inteacuterprete tradutor) o zelo (grande cuidado e preocupaccedilatildeo que se dedica a algueacutem ou algo) e os zelos (ciuacuteme) a honra (princiacutepio que leva algueacutem a ter uma conduta virtuosa) e as honras (manifestaccedilotildees que denotam respeito consideraccedilatildeo por algueacutem que se distinguiu por sua conduta ou tiacutetulo ou cargo honoriacutefico) homem grande (crescido desenvolvido taludo) e grande homem (magnacircnimo bondoso generoso) homem simples (modesto humilde pobre) e simples homem (o mais baixo de uma escala ou hierarquia48

(c) o verbo haver empregado no singular com ausecircncia de sujeito expliacutecito ou determinado que expressa situaccedilotildees ou processos que natildeo satildeo atribuiacuteveis a nenhum ser como por exemplo Haacute certo tipo de meninos que apreciam fazer cenas e Em toda parte haacute pessoas que natildeo veem um palmo adiante do nariz

(d) a palavra saudade 49 que natildeo pode idiossincraticamente ser traduzida em outras liacutenguas por natildeo ter equivalecircncia daiacute a locuccedilatildeo genuinamente brasileira deixar na saudade com sentido idiomaacutetico de levar vantagem sobre superar sobrepujar e morrer de saudade (Sentir muita saudade)

Os idiotismos leacutexicos satildeo considerados por Pereira (1957) como idiotismos convencionais pois satildeo observadas construccedilotildees anaacutelogas em outras liacutenguas especialmente neolatinas como Espanhol e o Italiano50

Os idiotismos fraseoloacutegicos aparecem em construccedilotildees do tipo minha nossa Nossa Senhora Minha Nossa Senhora Nossa Matildee Santo Deus Virgem Maria cruz-credo triste de mim pobre do homem que constituem frases idiomaacuteticas expressivas e refrataacuterias agrave anaacutelise

Entre os idiotismos fraseoloacutegicos Pereira (1957) cita o caso dos anacolutos Mais explorada no campo da estiliacutestica ou literaacuterio a

48 Do ponto de vista da Semacircntica isso soacute reflete a polissemia caracteriacutestica de praticamente todos os itens leacutexicos 49 Interessante observar a etimologia da palavra saudade vem do latim solitate lsquosoledadersquo lsquosolidatildeorsquo pela forma arcaica soydade suydade possivelmente com influecircncia da palavra sauacutede 50 Trata-se na verdade de uma indicaccedilatildeo diacrocircnica Em Latim provavelmente havia expressatildeo idiomaacutetica Poderiacuteamos falar entatildeo em hipoacutetese filoloacutegica de reconstruccedilatildeo

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anacolutia ou frase quebrada com acepccedilatildeo fraseoloacutegica ocorre em proveacuterbio do tipo quem ama o feio bonito lhe parece (aquele que gosta muito de algueacutem ou de algo nunca lhe vecirc defeito algum)

O termo idiomaacutetico tambeacutem estava presente nas gramaacuteticas normativas para assinalar todos os fenocircmenos anocircmalos frente agraves regularidades que eram objeto real da gramaacutetica dentre os quais as expressotildees idiomaacuteticas constituiacuteam somente uma parte

O conceito de idiomaacutetico aproxima-se muito nesse contexto gramatical da noccedilatildeo de anomalia isto eacute caraacuteter de expressotildees ou construccedilotildees natildeo seguirem as regras ou paradigmas de uma liacutengua e terem caraacuteter imprevisiacutevel e irregular comparadas agraves combinaccedilotildees livres Numa segunda concepccedilatildeo a perspectiva mais estreita ou restrita do termo idiomaticidade eacute considerada como categoria pertencente agrave semacircntica composicional (ou natildeo composicional) e muito particularmente agrave forma de significar das unidades fraseoloacutegicas

Uma definiccedilatildeo que se ajusta a esta noccedilatildeo de idiomaticidade eacute a definida por Montoro del Arco (2006) que a delimita como a propriedade que apresentam certas unidades fraseoloacutegicas para o qual o sentido global da unidade natildeo eacute dedutiacutevel do sentido isolado de cada um dos elementos constitutivos (2006 p45) 51

O fenocircmeno da idiomaticidade eacute tambeacutem chamado de natildeo composicionalidade do sentido frente agrave composicionalidade do sentido dos sintagmas proacuteprios da sintaxe livre Eacute considerada por Montoro del Toro o mais alto grau de que se conhece como especializccedilaccedilatildeo semacircntica ou lexicalizaccedilatildeo em unidades fraseoloacutegicas Por exemplo na expressatildeo querer tapar o sol com peneira (ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveis) ou tirar o cavalo (ou o cavalinho) da chuva (desistir de um propoacutesito qualquer por sua absoluta impossibilidade de sucesso) por forccedila de sua idiomaticidade natildeo satildeo transparentes nem se adivinham seu sentido idiomaacutetico a partir de seus elementos componentes principalmente se os usuaacuterios natildeo satildeo nativos da liacutengua portuguesa

Na segunda concepccedilatildeo idiomaticidade eacute identificada com o sentido traslatiacutecio produto de processos metafoacutericos ou metoniacutemicos Desde esse ponto de vista unidades como tirar leite de pedra (conseguir aquilo que todos tecircm por impossiacutevel) morder a

51 Original la propiedad que presentan ciertas unidades fraseoloacutegicas por la cual el sentido global de dicha unidad no es deducible del sentido aislado de cada uno de los elementos constitutivos

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liacutengua (deixar de falar algo) ou dar murro em ponta de faca52 (pretender o impossiacutevel) seriam mais idiomaacuteticas por seu alto grau de opacidade semacircntica

Para outros pesquisadores a idiomaticidade eacute inversamente proporcional agrave motivaccedilatildeo ou restituiccedilatildeo diacrocircnica53 isto eacute sempre que podemos recuperar a origem de um sentido traslatiacutecio ou metafoacuterico a partir do sentido literal estaremos ante unidades menos idiomaacuteticas que nos casos em que este sentido eacute totalmente opaco e natildeo haacute rastro ou pegadas da referida motivaccedilatildeo Estabelece-se que este traccedilo idiomaacutetico resultaria de um processo pelo qual o sentido uacuteltimo ou final difere do original ou literal e se concebe em consequecircncia como proacuteprio do conjunto global dos componentes

Do ponto de vista da Linguiacutestica Cognitiva as pesquisas tecircm dado atenccedilatildeo natildeo ao resultado final isto eacute o sentido idiomaacutetico das expressotildees mas ao caraacuteter processual da idiomaticidade e tecircm assinalado nos seus achados que o sentido das UFs eacute composicional isto eacute consiste na soma dos sentidos parciais dos elementos componentes visatildeo que contrasta com a de Montoro del Arco (2006) como vimos anteriormente

Em Liacutengua Portuguesa expressotildees idiomaacuteticas do tipo jogar lenha na fogueira (piorar uma situaccedilatildeo que jaacute eacute caoacutetica) ou meter o peacute no mundo (fugir) aos olhos cognitivistas como Cuenca e Hilferty (1999) satildeo consideradas sintagmas com estrutura interna mais analisaacuteveis por que estes desempenhariam um papel importante em sua interpretaccedilatildeo e que esta possibilidade de estabelecer uma cadeia de inferecircncias sugere que a interpretaccedilatildeo natildeo eacute arbitraacuteria (CUENCA HILFERTY 1999 p117)54 Em substacircncia o que defendem os cognitivistas eacute que as expressotildees idiomaacuteticas em sua maioria satildeo bastante composicionais em particular na recepccedilatildeo uma vez que eacute preciso que faccedilam sentido (GRICE 1982) para os usuaacuterios da liacutengua mas na produccedilatildeo precisariam saber da convenccedilatildeo

Para os linguistas cognitivistas a fixaccedilatildeo dos sintagmas eacute uma questatildeo de grau e natildeo se pode confundir a sua literalidade com a natildeo

52 Tambeacutem dita dar murro em faca de ponta com uso mais regional no Brasil 53 Motivaccedilatildeo eacute entendida aqui como a presenccedila de qualquer conexatildeo necessaacuteria entre a forma (fixaccedilatildeo formal) da expressatildeo e seu sentido idiomaacutetico 54 No original esta posibilidad de estabelecer una cadena de inferencias sugiere que la interpretacioacuten no es arbitraria

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composicionalidade semacircntica O que afirmam eacute que o sentido idiomaacutetico das expressotildees leva em conta que os constituintes do sintagma seguem mantendo parte do sentido originaacuterio podemos compreender a importacircncia das partes constituintes de uma frase idiomaacutetica uma vez que satildeo elas que fornecem as pistas necessaacuterias para desvendar a interpretaccedilatildeo global da expressatildeo em questatildeo55 (CUENCA HILFERTY 1999 p118)

Sabemos que este fenocircmeno ocorre algumas vezes outras natildeo Em brigar feito catildeo e gato podemos imaginar o sentido originaacuterio mas em expressotildees como meter o bedelho (intrometer-se em assunto alheio) pintar o sete (realizar obras ou atos proacuteprios do diabo como travessuras desatinos desregramentos) tirar o cavalinho da chuva (desistir de ideia projeto ou pretensatildeo por natildeo haver hipoacutetese de ecircxito) e trepar ou pisar nas tamancas (zangar-se) observamos que natildeo eacute conservado o sentido originaacuterio

Discordando brevemente com a posiccedilatildeo dos cognitivistas cremos que quando estamos diante de expressotildees idiomaacuteticas efetivamente opacas mesmo que haja reconhecimento dos lexemas que formam a expressatildeo acessar o sentido idiomaacutetico natildeo eacute tarefa que resolve com a linguagem literal

Para defenderem suas postulaccedilotildees os linguistas cognitivos datildeo como exemplos expressotildees idiomaacuteticas do tipo ficar com as matildeos atadas (ficar impedido de agir ou de reagir) Segundo eles satildeo a rigor fraseologismos com homocircnimos livres isto eacute aqueles que estatildeo construiacutedos de acordo com os modelos sintaacuteticos e respondem agraves regras gramaticais e de combinabilidade de uma liacutengua dada Sabemos que muitas expressotildees idiomaacuteticas fogem ateacute mesmo dos paradigmas sintaacuteticos como por exemplo aiacute eacute que a porca torce o rabo aiacute eacute que vamos ver e aiacute eacute que estaacute o busiacutelis construccedilotildees consideradas por noacutes como casos de anomalia fraseoloacutegica

55 No original podemos comprender la importancia de las partes constituyentes de na frase idiomaacutetica pusto que son eacutestas las que proporcionan las pistas necesarias para desentrantildear la interpretacioacuten global de la expresioacuten en cuestioacutenrdquo Uma posiccedilatildeo criacutetica agrave autora diriacuteamos que alguns contituintes do sintagma mantecircm parte do sentido originaacuterio mas outros natildeo Em Liacutengua Portuguesa por exemplo as expressotildees sem eira nem beira misturar alhos com bugalhose tal e qual apoacuteiam-se na rima isto eacute tecircm apoio foneacutetico recorrente do segmento final das palavras (eirabeira alhosbulgalhos e talqual) do que por outros criteacuterios linguiacutesticos

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A propriedade da idiomaticidade ou o criteacuterio de natildeo composicionalidade semacircntica segundo outros estudiosos cognitivistas eacute importante porque ajuda a caracterizar muitas expressotildees idiomaacuteticas Por essa razatildeo as pesquisas nessa aacuterea tecircm investigado a relaccedilatildeo entre o literal-parcial e o metafoacuterico-global e a produtividade criativa dos distintos modelos de expressotildees idiomaacuteticas O traccedilo da idiomaticidade tanto englobaria as expressotildees idiomaacuteticas totalmente opacas como as que natildeo satildeo metafoacutericas estejam elas mais ou menos motivadas

Uma pergunta entatildeo adveacutem quando tratamos da noccedilatildeo de idiomaticidade expressotildees idiomaacuteticas de que forma estamos certos de que uma expressatildeo como misturar alhos com bugalhos eacute realmente opaca O mais provaacutevel eacute que a opacidade do sentido da expressatildeo decorreria da utilizaccedilatildeo de palavras que fazem referecircncia frequente a elementos histoacuterico-culturais ou a combinaccedilotildees baseadas no imaginativo (ou entatildeo como podemos supor um caso de rima) intuitivo expressivo nas quais as palavras passam a adquirir uma significaccedilatildeo simboacutelica e metafoacuterica No exemplo misturar alhos com bugalhos podemos observar que o sentido idiomaacutetico da expressatildeo natildeo poderia ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que a compotildee como propotildee Mogorroacuten Huerta (2010 p240)

Os estudos fraseoloacutegicos tecircm postulado que a exemplo da fixaccedilatildeo a idomaticidade eacute um fenocircmeno gradual Nesse caso eacute um desafio para os estudiosos assinalarem claramente os limites e as fronteiras entre o que pode ser efetivamente considerado idiomaacutetico ou opaco e o semi-idiomaacutetico ou transparente ou ainda semitransparente uma vez que essa classificaccedilatildeo dependeria em grande parte natildeo da estrutura dos sintagmas mas dos conhecimentos linguiacutesticos ou enciclopeacutedicos dos usuaacuterios ou falantes da liacutengua (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p243)

Frente a todo esse arrazoado sobre idiomaticidade segundo diversos estudiosos optamos por adotar para nosso estudo o conceito de idiomaticidade de Mogorroacuten Huerta (2010 p 240) isto eacute o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo pode ser deduzido ou interpretado a partir do sentido de cada um dos elementos leacutexicos que as compotildeem

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Ateacute aqui procuramos mostrar que a polilexicalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade satildeo propriedades linguiacutesticas (ou endoacutegenas) das expressotildees idiomaacuteticas e nos parecem explicar relativamente o fenocircmeno da convencionalidade uma propriedade efetivamente diferente das demais por ser extralinguiacutestica (exoacutegena) isto eacute derivada de fatores externos que tecircm a ver com o falante e a sociedade

Na antiguidade claacutessica em Craacutetilo (2001) - diaacutelogo escrito aproximadamente no ano 360 aC - Platatildeo ao tratar de questotildees etimoloacutegicas e linguiacutesticas jaacute nos eacute expressa a ontoloacutegica oposiccedilatildeo conceitual entre convencionalismo e o naturalismo onde Heacutermogenes travando diaacutelogo sobre a questatildeo da conformidade da linguagem e do real com Craacutetilo sustenta que somente o uso o costume portanto a convenccedilatildeo atribuem uma denominaccedilatildeo agraves coisas e por conseguinte determinam a adequaccedilatildeo das palavras agrave realidade extralinguiacutestica

Em Craacutetilo (2001) importante assinalar que Hermoacutegenes pede a Soacutecrates que intervenha na discussatildeo que manteacutem com Craacutetilo sobre se o sentido das palavras vem dado de forma natural (naturalismo conforme postulaccedilatildeo de Craacutetilo) ou se pelo contraacuterio eacute arbitraacuteria e depende do haacutebito dos falantes (convencionalismo como propotildee Hermoacutegenes)

Da discussatildeo sobre o convencionalismo e o naturalismo chegamos agrave modernidade certos de que as palavras e as expressotildees de uma liacutengua satildeo fixadas pelas convenccedilotildees e pelos acordos humanos Nessa perspectiva qualquer linguagem parte de determinados pressupostos de natureza convencional (WITTGENSTEIN 2003) o que natildeo significa todavia a perfeita arbitrariedade das convenccedilotildees linguiacutesticasrdquo (ABBAGNANO 2007 p241)

No campo da linguagem eacute possiacutevel que exista outro tipo de relaccedilatildeo de significaccedilatildeo dita natural como entre fogo e fumaccedila que estaacute presente na construccedilatildeo fraseoloacutegica onde haacute fumaccedila haacute fogo (onde haacute sinais de alguma coisa fatalmente haveraacute uma razatildeo para que eles existam)

Como vemos a questatildeo das convenccedilotildees linguiacutesticas ou mais propriamente o convencionalismo bem antes da Fraseologia jaacute era pois discutida pela Filosofia da Linguagem Loacutegica e Semacircntica

No iniacutecio do seacuteculo XX a Linguiacutestica Moderna atraveacutes do seu principal porta-voz Ferdinand de Saussure defendeu por forccedila dos

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postulados do convencionalismo filosoacutefico a independecircncia do significante em relaccedilatildeo ao sentido e o princiacutepio da arbitrariedade do signo linguiacutestico Por essa razatildeo podemos dizer que a Linguiacutestica a saussuriana eacute essencialmente convencionalista e inspirativamente platonista

Herdeiros que somos da linguiacutestica convencionalista de Saussure hoje quando dizemos que o sentido das palavras ou das expressotildees particularmente as idiomaacuteticas eacute convencional isso quer dizer que certos sons e expressotildees significam o que realmente querem dizer convencionalmente e natildeo necessariamente o que dizem as palavras que as compotildeem ipsis litteris

Saussure (2012 p108) afirmava em seu Curso de Linguiacutestica Geral que todo meio de expressatildeo aceito numa sociedade repousa em princiacutepio no haacutebito coletivo ou o que vem a dar na mesma na convenccedilatildeo citando por exemplo as foacutermulas de cortesia

Ao tratar mais adiante das frases feitas combinaccedilotildees ou sintagmas mais complexos Saussure veio a afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas (2012 p173)

Em substacircncia no acircmbito dos estudos da Linguiacutestica Moderna o conceito de convenccedilatildeo caracteriza uma relaccedilatildeo de significaccedilatildeo que resulta de uma regra em uso em uma comunidade Assim por exemplo a relaccedilatildeo entre um nome proacuteprio e o indiviacuteduo visado por este designador riacutegido ou fixo ocorre por forccedila de convenccedilatildeo

Muitas expressotildees idiomaacuteticas nos datildeo a conhecer essa condiccedilatildeo de convencionalismo linguiacutestico quando trazem entre seus componentes lexicais nomes proacuteprios como em dar uma de joatildeo-sem-braccedilo (ou de Miguel) (Disfarccedilar-se) ganhar o que Luzia (ou Maria) ganhou nas capoeiras (ou na horta) (ser passado para traacutes) ser como a mulher de Ceacutesar (ser mulher de reputaccedilatildeo inatacaacutevel) cozinhar em banho-maria (adiar indefinidamente a soluccedilatildeo de um assunto) e estar como Pilatos no credo (eximir-se de qualquer responsabilidade ou interferecircncia numa questatildeo)

No acircmbito das teorias fraseoloacutegicas Nunberg Sag e Wason (1994) apontaram a convencionalidade como um traccedilo obrigatoacuterio das expressotildees idiomaacuteticas reafirmando o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica isto eacute o sentido ou ou uso de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo resulta previsiacutevel com base nos sentidos

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parciais dos elementos constituintes que a formam Aleacutem da propriedade da convencionalidade estes autores tambeacutem assinalaram outras propriedades tiacutepicas das expressotildees idiomaacuteticas a ou fixaccedilatildeo (ou a invariabilidade) a metaforicidade proverbalidade a informalidade56 e afetividade

Estas propriedades tiacutepicas seriam relativamente acidentais com relaccedilatildeo agrave convencionalidade posto que a memoacuteria fraseoloacutegica presente em L1 ou L2 ao ser evocada pelos falantes traz agrave tona no discurso como estatildeo construiacutedas ou fixadas na liacutengua isto eacute na mente do falante e por conseguinte constituindo como nos assinala Croft e Cruse (2008 p298) uma parte do conhecimento gramatical do mesmo

Para ilustrarmos estas propriedades tiacutepicas daremos exemplos de cada uma delas observando de que forma se convencionam no acircmbito fraseoloacutegico

Um primeiro exemplo de fixaccedilatildeo (ou invariabilidade) pode ser dado na expressatildeo fazer das tripas coraccedilatildeo com o sentido de esforccedilar-se de modo sobre-humano que apresenta sintaxe restringida natildeo podendo ocorrer alteraccedilatildeo na sua combinatoacuteria como fazer coraccedilatildeo das tripas sem que afete seu sentido idiomaacutetico

Outra possibilidade num caso de modificaccedilatildeo de combinatoacuteria ao certo poderaacute resultar em forccedilar o ouvinte ou interlocutor em uma conversa a interpretaacute-la literalmente para viabilizar uma interpretaccedilatildeo possiacutevel Um exemplo de metaforicidade podemos observar na expressatildeo colocar o carro na frente dos bois com sentido de andar (algo) ao contraacuterio agraves avessas ou adiantar-se precipitadamenterdquo

Contraacuterio agrave ideia de uma convencionalidade (arbitrariedade) em termos saussurianos compreendemos que haacute uma tendecircncia agrave motivaccedilatildeo com relaccedilatildeo a estas expressotildees (pelo menos na origem do uso) Sendo esta motivaccedilatildeo de natureza corpoacuterea eou sociocultural tal hipoacutetese seraacute defendida pelos linguistas cognitivistas

Por essa razatildeo durante muito tempo a questatildeo da convencionalidade esteve relacionada ao ensino de liacutenguas estrangeiras As expressotildees maiores do que as palavras sempre foram

56 Somos de opiniatildeo de que a informalidade natildeo pode ser considerada um traccedilo tiacutepico das expressotildees idiomaacuteticas Como todo item leacutexico existem algumas mais coloquiais outras menos

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um desafio para o ensino sistemaacutetico ou expliacutecito para estrangeiros bem como um fator de obstaacuteculo para o aprendizado dos alunos

Segundo Tagnin (2005) tomando como referecircncia a liacutengua inglesa existe um continuum de unidades linguiacutesticas convencionais pertencentes ao leacutexico de dada liacutengua ainda que o aprendiz de uma liacutengua estrangeira conhecesse toda a gramaacutetica e soubesse todo o dicionaacuterio de cor natildeo teria pleno domiacutenio linguiacutestico (p11)

Eacute provaacutevel conforme Tagnin (2005) que as dificuldades relacionadas com o aprendizado das expressotildees idiomaacuteticas em L1 ou L2 tenham a ver com o fato de serem apreendidas individualmente uma a uma uma vez que natildeo existem regras que as gerem (p11) Ressalta a linguista que todas essas unidades satildeo aprendidas como um todo isto eacute em bloco (p14) A convencionalidade eacute pois o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada liacutengua ou comunidade linguiacutestica Conforme a linguista no momento em que a convenccedilatildeo passa para o niacutevel do sentido podemos falar em idiomaticidade

Recorre Tagnin (2005) entatildeo ao princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica ao definir uma expressatildeo idiomaacutetica como toda expressatildeo que natildeo corresponde agrave somataacuteria do sentido parcial de cada um de seus elementos como em ter o olho maior que a barriga que natildeo significa possuir o oacutergatildeo da visatildeo superior agrave proeminecircncia externa do abdocircmen mas quer dizer ser guloso ou desejar possuir imoderadamente

Distanciando-se pois da noccedilatildeo de vernaculidade natural e proacuteprio de uma liacutengua o sentido atribuiacutedo por Tagnin (2005) agrave noccedilatildeo do que eacute idiomaacutetico eacute o de natildeo transparente ou opaco e claro existem os casos em que as expressotildees satildeo tipicamente transparentes como ancorar o barco (fixar-se ou parar) ou meter o pau (censurar ou surrar)

Tagnin (2005 p17-20) fala em niacuteveis de convencionalidade Existem segundo ela trecircs niacuteveis da convencionalidade que satildeo a saber (1) o niacutevel sintaacutetico (2) o niacutevel semacircntico e (3) o niacutevel pragmaacutetico Vamos comentar brevemente cada um deles

No niacutevel sintaacutetico estatildeo elementos como combinabilidade ordem e gramaticalidade A origem da propriedade da combinabilidade estaacute na proacutepria noccedilatildeo de combinaccedilatildeo isto eacute a relaccedilatildeo de uma unidade da liacutengua com outras unidades no plano do discurso

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A noccedilatildeo de combinabilidade nos remete tambeacutem agrave teoria estruturalista o chamado eixo sintagmaacutetico terminologia poacutes-saussuriana que se refere ao eixo das relaccedilotildees entre unidades que se sucedem na cadeia falada isto eacute o eixo das combinaccedilotildees

A ordem por sua vez entendida como em qualquer dos niacuteveis de anaacutelise (fonoloacutegico morfoloacutegico ou sintaacutetico) sequenciamento determinado por regras das unidades que compotildeem a cadeia (da palavra locuccedilatildeo ou frase)

A gramaticalidade aleacutem da noccedilatildeo de correccedilatildeo de norma gramatical refere-se agrave caracteriacutestica de uma sentenccedila gramatical ou seja aquela que foi gerada pelas regras da gramaacutetica de uma liacutengua Nesse caso por regras de sintaxe em particular

O niacutevel semacircntico refere-se agrave relaccedilatildeo natildeo motivada entre uma expressatildeo e seu sentido Segundo Tagnin (2005) natildeo apenas o sentido de uma expressatildeo linguiacutestica eacute convencionado mas tambeacutem os esquemas imageacuteticos que o leacutexico nos proporciona decorreria dessa condiccedilatildeo por estarmos ecoloacutegica e socioculturalmente situados no mundo

Para a Linguiacutestica Cognitiva que privilegia esta perspectiva em seus estudos e pesquisas experimentais na interaccedilatildeo com o mundo o homem internaliza esquemas de imagem de natureza cinesteacutesica que formam a base de determinadas formas linguiacutesticas (MACEDO 2008 p31-32)

De acordo com Lakoff e Johnson (2002 p59) na cultura ocidental as chamadas metaacuteforas orientacionais datildeo a um conceito uma orientaccedilatildeo especial como por exemplo feliz eacute para cima o que levaria em Liacutengua Portuguesa a surgimento de expressotildees como levantar as matildeos ao (ou para o) ceacuteu com o sentido de dar-se por satisfeito com algum fato (que poderia ter sido muito pior) Quando for para baixo eacute mau como expressotildees do tipo baixar a bola com sentido de passar a ser mais humildade ou baixar a guarda que quer dizer acovardar-se e mais este olhar para o proacuteprio umbigo com o sentido de agir com egoiacutesmo

Contrastando da posiccedilatildeo de Lakoff e Johnson (2002) cremos que a noccedilatildeo de metaacuteforas conceituais soacute tem sentido no plano da diacronia isto eacute teriacuteamos que levar em conta que no passado tinham esta orientaccedilatildeo especial mas no presente na sincronia satildeo

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expressotildees arbitraacuterias na sua maioria e quando motivadas estariacuteamos falando simplesmente em origem da expressatildeo idiomaacutetica

Na Fraseologia da Liacutengua Portuguesa existem muitas expressotildees idiomaacuteticas que nos parecem indicar que essas orientaccedilotildees espaciais surgem do fato de termos os corpos que temos e do fato de eles funcionarem da maneira como funcionam no nosso ambiente fiacutesico (LAKOFF JOHNSON 2002 p59)

Assim temos em Portuguecircs expressotildees fixas do tipo ir de (ou por) aacutegua abaixo com sentido de fracassar andar por baixordquo com o sentido de estar em situaccedilatildeo difiacutecil normal ou financeira entre outras como estar de luz baixa e estar de baixo-astral com a ideia de sentir-se deprimido na fossaPara Lakoff e Johnson (2002) as orientaccedilotildees metafoacutericas que mencionamos antes natildeo satildeo arbitraacuterias e sim tecircm uma base na nossa experiecircncia fiacutesica e cultural (p 60)

No niacutevel pragmaacutetico a noccedilatildeo de convencionalidade eacute associada agrave noccedilatildeo de convenccedilatildeo social bem como agrave expressatildeo convencional ou forma convencional Este niacutevel envolveria pois o uso das expressotildees idiomaacuteticas em situaccedilotildees de interaccedilotildees entre falantes A situaccedilatildeo eacute um aspecto passiacutevel de convenccedilatildeo porque requer um certo comportamento social e o emprego adequado das palavras e expressotildees complexas Relacionam-se mais a situaccedilotildees especiacuteficas como com licenccedila meus pecircsames etc

Nesse sentido referindo-se a falecimento de pessoas podemos recorrer a diversas expressotildees idiomaacuteticas brasileirismos popularismos e giacuterias umas mais frequentes do que outras mas disponiacuteveis no leacutexico portuguecircs tais como abotoar o paletoacute bater a(s) bota(s) bater a caccediloleta bater a canastra bater a pacuera dar o uacuteltimo alento dizer adeus ao mundo entregar a alma a Deus entregar a alma ao Diabo esticar a canela esticar o cambito esticarir para a Cacuia ir para a cidade dos peacutes juntos ir(-se) desta para melhor entre outras tantas

Nesse caso de fraseologismos fuacutenebres podemos dizer tambeacutem que estas expressotildees acima se constituem verdadeiros eufemismos de que os falantes lanccedilam matildeo para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra expressatildeo idiomaacutetica em geral de sentido grosseiro inconveniente ou desagradaacutevel

Neste livro decidimos por considerar convencionalidade como o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressatildeo numa dada

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liacutengua ou comunidade linguiacutestica como assinala Tagnin (2005 p14) tendo em vista seu caraacuteter sistemaacutetico e triparticcedilatildeo criteriosa nos niacuteveis sintaacutetico semacircntico pragmaacutetico suficientemente abrangente para atender ao corpus de expressotildees idiomaacuteticas que selecionamos para aplicaccedilatildeo dos experimentos aos nossos participantes da pesquisa

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CONCEITOS E APORTES PSICOLINGUIacuteSTICOS

Quanto mais altas as unidades de significaccedilatildeo a serem explicadas por uma teoria psicolinguiacutestica tanto mais complexas e inacessiacuteveis a uma formalizaccedilatildeo que corresponda a como satildeo representadas em nossa mente (SCLIAR-CABRAL

1991 p75) Depois de percorrer vaacuterios periacuteodos (preacute-histoacuteria formativo

linguiacutestico e cognitivo) no acircmbito dos estudos da linguagem o estado atual da Psicolinguiacutestica tem procurado aleacutem de dar atenccedilatildeo agrave realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) reivindicar poder explanatoacuterio sobre o processamento da linguagem que eacute uma questatildeo ligada ao funcionamento da mente humana (BALIEIRO 2001 p172-181)

Eacute no processamento cognitivo das unidades fraseoloacutegicas notadamente as expressotildees idiomaacuteticas que a Psicolinguiacutestica tem se aproximado da Fraseologia buscando estabelecer as relaccedilotildees entre a organizaccedilatildeo do sistema linguiacutestico e a organizaccedilatildeo do pensamento atraveacutes do recurso agraves unidades fraseoloacutegicas e agraves teorias fraseoloacutegicas vigentes que em uacuteltima anaacutelise podem ser divididas em teorias leacutexicas e composicionais ambas baseadas nos princiacutepio da composicionalidade semacircntica de Frege ([1892] 1971)

Na tentativa de aproximaccedilatildeo da Psicolinguiacutestica da Fraseologia comecemos por explorar o termo psicolinguiacutestica formado pelos seguintes elementos psic(o)- + linguiacutestica O elemento antepositivo psico - vem do grego ψυχο este derivado do grego psukhecirc que significa sopro donde sopro de vida daiacute alma como princiacutepio de vida Aleacutem desta acepccedilatildeo psico- tambeacutem indica espiacuterito princiacutepio pensante ou atividade mental A psicolinguiacutestica por forccedila de sua etimologia eacute a ciecircncia ou parte da ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo entre a liacutengua e as caracteriacutesticas cognitivas ou comportamentais daqueles que a usam

Assim uma fraseologia que se ocupa preponderantemente das expressotildees idiomaacuteticas de alguma forma disponibiliza uma mateacuteria-prima para a Psicolinguiacutestica a saber as unidades fraseoloacutegicas com seus traccedilos culturais comportamentais e idiossincraacutesicas dos usuaacuterios

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ou falantes nativos da liacutengua daiacute o aprendizado das referidas expressotildees serem um desafio para estudantes natildeo nativos ou falantes de L2 o que nos leva a reconhecer que competecircncia fraseoloacutegica de um falante depende em grande parte do conhecimento da cultura em que o sistema de liacutengua destinado a ser adquirido estaacute imerso1 (CASTILLO CARBALLO 2003 p 209)

Este capiacutetulo trataraacute sobre as principais teorias psicolinguiacutesticas do processamento fraseoloacutegico aplicadas agrave liacutengua materna (L1) Mostraremos inicialmente como os primeiros estudos linguiacutesticos especialmente os estruturalistas envolvendo a fraseologia serviram de base para psicolinguiacutestica experimental nos nossos dias Depois sob a perspectiva da psicolinguiacutestica experimental aplicada agrave fraseologia iremos destacar dois marcos de estudos e pesquisas nesta aacuterea relacionados agraves teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico e agraves teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico

Dada a complexidade dos modelos de processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas sobre as teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico destacaremos as principais hipoacuteteses psicolinguiacutesticas como (a) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo (ldquoIdiom-list hypothesisrdquo em inglecircs) (b) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de uma representaccedilatildeo lexical (Lexical Representation Hypothesis en inglecircs) e (c) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto (ldquoDirect Access Hypothesisrdquo em inglecircs) Em seguida daremos uma visatildeo criacutetica das teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

Quando tratarmos sobre as teorias composicionais do processamento fraseoloacutegico focalizaremos as seguintes (a) A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas e (b) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

Por fim trataremos em duas subseccedilotildees finais do capiacutetulo sobre estrateacutegias psicolinguiacutesticas e sua relaccedilatildeo com as expressotildees idiomaacuteticas e o papel da memoacuteria na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

1 No original la competencia fraseoloacutegica de un hablante depende en gran medida del conocimiento de la cultura en la que el sistema linguiacutestico que se pretende adquirir estaacute inmerso

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A realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas A Psicolinguiacutestica a partir da segunda metade do seacuteculo XX

assumiu a missatildeo de pocircr em evidecircncia em suas pesquisas o problema da realidade psicoloacutegica das unidades linguiacutesticas (ou sintaacuteticas) e nesse contexto os primeiros experimentos psicolinguiacutesticos conforme nos informam Scliar-Cabral (1991) e Balieiro Jr (2001) apontaram que as referidas estruturas linguiacutesticas incluindo as complexas como as expressotildees idiomaacuteticas natildeo eram adquiridas pelos falantes de uma liacutengua separadamente de conceitos semacircnticos e funccedilotildees discursivas como ateacute entatildeo acreditavam os linguistas estruturalistas e psicoacutelogos behavioristas e sim eram submetidas aos princiacutepios cognitivos

Segundo Leitatildeo (2009 p 220) nas uacuteltimas deacutecadas o interesse central da psicolinguiacutestica pode ser resumido em trecircs questotildees baacutesicas a) Como as pessoas adquirem a linguagem b) Como as pessoas produzem a linguagem a verbal e c) Como as pessoas compreendem a linguagem verbal Em substacircncia a psicolinguiacutestica tem buscado respostas para grandes problemas relacionados com aquisiccedilatildeo o desenvolvimento e o processamento da linguagem inicialmente com pesquisas com os falantes nativos depois com crianccedilas e mais recentemente com pessoas que apresentam distuacuterbios de linguagem especialmente os de fala como as afasias (ELOINA SCHERER 2004 p 28)

Mais recentemente o conexionismo no acircmbito da Psicolinguiacutestica Experimental eacute um paradigma que vem ganhando terreno no Brasil em estudos sobre a inteligecircncia artificial aplicada agrave morfologia da liacutengua portuguesa nos quais tecircm sido realizadas simulaccedilotildees computacionais conexionistas da aquisiccedilatildeo do plural bem de um lado e do outro lado satildeo registrados inuacutemeros trabalhos acadecircmicos (dissertaccedilotildees e teses) nessa aacuterea que tratam das conexotildees entre o paradigma conexionista e aquisiccedilatildeo da linguagem como atesta Scliar-Cabral (2008)

A atenccedilatildeo das pesquisas psicolinguiacutesticas agraves unidades significativas da liacutengua maiores do que as palavras jaacute pode ser percebida pelos especialistas em fraseologia

Em artigo cientiacutefico que trata sobre as correntes atuais no campo fraseoloacutegico a linguista Gloacuteria Pastor (2001 p33-35) aponta que os

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psicolinguistas tecircm tido interesse em apreender a realidade psicoloacutegica das unidades fraseoloacutegicas procurando responder questotildees do tipo (a) Como os falantes de uma liacutengua armazenam as unidades fraseoloacutegicas (b) Como ocorre o processamento das expressotildees idiomaacuteticas e (c) Que funccedilotildees desempenham tais unidades na interaccedilatildeo

Em nossa pesquisa apesar de consideraacute-las relevantes natildeo nos deteremos agraves questotildees de aquisiccedilatildeo e de produccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por falantes do portuguecircs como primeira liacutengua e sim voltar-nos-emos de forma mais demorada agrave compreensatildeo das referidas expressotildees por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)2

Privilegiamos a compreensatildeo por entendermos que ela ldquorealimenta o sistema de produccedilatildeo da linguagemrdquo (LEITAtildeO2009 p222)

A compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas mais recentemente recebeu atenccedilatildeo por parte do Quadro Europeu Comum de Referecircncia para as Liacutenguas (2001) dirigido aos que ensinam liacutenguas estrangeiras e que fazem parte da Comunidade Europeia Segundo este documento as expressotildees idiomaacuteticas desenvolvem a competecircncia comunicativas em trecircs dimensotildees a linguiacutestica a sociolinguiacutestica e a pragmaacutetica

Para uma atuaccedilatildeo eficaz do ponto de vista pedagoacutegico o Quadro Europeu aponta a necessidade de os alunos terem ldquoum bom domiacutenio de expressotildees idiomaacuteticas e de coloquialismos e a consciecircncia dos sentidos conotativosrdquo (p64-65) o que vem reforccedilar a necessidade de darmos em nossa pesquisa uma atenccedilatildeo especial agrave problemaacutetica da compreensatildeo dos fraseologismos com fins educacionais

Nos campos sociolinguiacutestico e pragmaacutetico o ensino sistemaacutetico da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas favorece ao certo o aprendizado das mesmas segundo os modelos pedagoacutegicos e psicolinguiacutesticos da fraseodidaacutetica (GONZAacuteLEZ-REY2004 2006 e 2007)

2 Eacute possiacutevel que no futuro outros estudos inter-relacionem a compreensatildeo (psicolinguiacutestica experimental) agraves questotildees que dizem respeito agrave aquisiccedilatildeo (psicolinguiacutestica desenvolvimentista) e agrave produccedilatildeo (psicolinguiacutestica experimental) de expressotildees idiomaacuteticas por nossos sujeitos natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro

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Os Estudos linguiacutesticos aplicados agrave fraseologia Natildeo haacute como negar o legado dos estudos linguiacutesticos e de outras

ciecircncias humanas para melhor empreendimento nas pesquisas psicolinguiacutesticas Particularmente a linguiacutestica a lexicologia a neurolinguiacutestica a sociolinguiacutestica a linguiacutestica computacional a psicologia cognitiva e a linguiacutestica cognitiva tecircm contribuiacutedo para o que entendemos hoje por psicolinguiacutestica (STERNBERG2008 p 295)

O linguista franco-suiccedilo Ferdinand de Saussure ([1916] 2012) observou pioneiramente uma quantidade significativa de ldquoexpressotildees que pertencem agrave liacutengua rdquodenominadas por ele de frases feitas nas quais segundo o linguista o ldquo uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativasrdquo (p173)

Foi graccedilas a essas primeiras consideraccedilotildees linguiacutesticas de Saussure que passamos a ver as ldquoas frases feitasrdquo como manifestaccedilotildees de uma cultura definidas como ldquotorneiosrdquo que ldquonatildeo podem ser improvisados por serem fornecidos pela tradiccedilatildeordquo cuja evocaccedilatildeo livre segundo o mestre genebrino eacute ldquopossiacutevel pela lembranccedila de um nuacutemero suficiente de palavras semelhantes pertencentes agrave liacutenguardquo em que ressalta ainda a natureza psicoloacutegica das ldquofrases e grupos de palavras estabelecidos sobre padrotildees regularesrdquo e por terem segundo ele uma ldquobase na liacutengua sob a forma de recordaccedilotildees concretasrdquo ( [1916] 2012 p173 grifos nossos) Disciacutepulo de Saussure o linguista Charles Bally em seu Traiteacute de Stylistique Franccedilaise (1909) esboccedilou explicitamente um princiacutepio psicoloacutegico para as expressotildees fixas ao dizer que satildeo mais bem retidas na memoacuteria as palavras que vatildeo juntas

Mais tarde as expressotildees fixas tambeacutem foram objeto de atenccedilatildeo de Coseriu (2007) que as chama de ldquocombinaccedilotildees feitas de signosrdquo ou ldquodiscurso repetidordquo (p201) Coseriu afirma que as expressotildees fixas resultam de ldquomera reproduccedilatildeo do jaacute ditordquo ouvido ou lido isto eacute quando um usuaacuterio recorre agrave unidade fraseoloacutegica nos seus atos de fala reproduziria algo que anteriormente jaacute havia dito As expressotildees fixas para Coseriu satildeo vivenciadas por ldquodeterminada comunidade linguiacutesticardquo e que ldquoseus membros as conhecemrdquo e ldquo as sabem de corrdquo (p202)

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No campo da linguiacutestica moderna as primeiras contribuiccedilotildees fraseoloacutegicas dos estruturalistas Saussure Bally e Coseriu e mais fortemente os lexicoacutelogos estilistas e fraseoacutelogos do seacuteculo XX sempre se intrigaram e se indagaram como se dava esta relaccedilatildeo entre sentido literal das sentenccedilas e o sentido da emissatildeo (idiomaacutetico) pretendido pelo falante

No caso das ldquofrases feitasrdquo ou ldquoidiomatismosrdquo como denominaram os estruturalistas e lexicoacutegrafos ateacute a primeira metade do seacuteculo XX especialmente os europeus a abordagem estruturalista eacute verdade natildeo nos deixou um ldquolegado teoacutericordquo sobre a problemaacutetica do sentido dos ldquoidiomatismosrdquo mas seus linguistas entenderam desde cedo que o sentido da emissatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica (dimensatildeo holiacutestica) eacute parcial ou totalmente diferente do sentido literal da expressatildeo emitida

Essas primeiras percepccedilotildees ou postulaccedilotildees dos estruturalistas satildeo de grande aplicaccedilatildeo teoacuterica ao nosso trabalho no sentido de podermos relativizar os conceitos de expressatildeo idiomaacutetica quanto agrave sua ldquodimensatildeo holiacutesticardquo ou melhor ao seu ldquosentido idiomaacuteticordquo Eacute possiacutevel cremos que existam expressotildees complexas e fixas na liacutengua que natildeo sejam idiomaacuteticas para outros falantes particularmente os natildeo nativos e que poderatildeo tomaacute-las no sentido mais literal Afinal a idiomaticidade natildeo estaacute apenas na estrutura das expressotildees complexas mas na mente ou na memoacuteria dos falantes Mas natildeo eacute uma tarefa faacutecil essa conduccedilatildeo teoacuterica ou sua aplicaccedilatildeo em experimentos que possam testar hipoacuteteses psicolinguiacutesticas

Reflexo certamente desse vieacutes estruturalista e melhor refinado pelos recentes estudos gerativistas temos estudos de descriccedilatildeo do portuguecircs isto eacute os da gramaacutetica descritiva em que colhemos uma das definiccedilotildees operatoacuterias de expressotildees idiomaacuteticas natildeo desprezadas em nosso trabalho como as vinda de Perini (2010) em que situa as expressotildees idiomaacuteticas no acircmbito das classes de palavras por entender que satildeo ldquosequecircncias fixas de palavras tomadas como unidades singulares que tecircm sentido proacuteprio que nem sempre eacute derivado dos sentidos das palavras componentesrdquo e em geral ldquonatildeo admitem substituiccedilatildeo de itens por sinocircnimosrdquo (p323)

Importante assinalar que esta noccedilatildeo estabelecida por Perini (2010) de que as expressotildees idiomaacuteticas satildeo ldquosequecircncias fixasrdquo percebidas como ldquounidades singularesrdquo nos permitiu quando da

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formulaccedilatildeo dos experimentos psicolinguisticos entender melhor o valor da paraacutefrase definitoacuteria quando um falante da liacutengua seja nativo ou natildeo nativo busca de equivalentes simples (verbos) das expressotildees idiomaacuteticas representadas por locuccedilotildees verbais como por exemplo em locuccedilotildees verbais como em virar as costas (sair) cozinhar o galo (morrinhar) entregar a alma a Deus(morrer) abrir nos paus (fugir) e dar mole (descuidar-se)

No campo da filosofia da linguagem a problemaacutetica do sentido das expressotildees idiomaacuteticas desde cedo foi focada pelos filoacutesofos Para Searle (2002) a idiomaticidade de uma expressatildeo complexa natildeo seria estabelecida pelo sentido presente na estrutura da proacutepria sentenccedila mas pelo sentido da emissatildeo do falante A idiomaticidade seria estabelecida pelo que o falante quer significar ao emitir a expressatildeo idiomaacutetica

Como assinala Searle (2002) ldquoum sentido metafoacuterico eacute sempre um sentido da emissatildeo de um falanterdquo (p124) um traccedilo importantiacutessimo a considerar em nossa pesquisa se definimos as fraseologias a partir de suas caracteriacutesticas mais marcantes como a forma fixa e a ambiguidade leacutexico-gramatical situadas no entrecruzamento entre o sentido literal e o sentido idiomaacutetico

Mais recentemente a abordagem sociocognitiva que embasa a chamada Gramaacutetica de Construccedilotildees defendida no Brasil por Miranda e Salomatildeo (2009) tem dado seus primeiros passos em direccedilatildeo aos estudos fraseoloacutegicos Esta abordagem linguiacutestica ao tratar da questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas comumente tem retomado ao velho axioma dos lexicoacutelogos de que ldquoo todo natildeo eacute a soma das partesrdquo ou ldquoo todo eacute maior que a soma das partesrdquo (p39)

Aqui a visatildeo sociocognitivista nos parece com resquiacutecios tradicionais das pesquisas fraseoloacutegicas presa ao velho princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica em que fica claro um esforccedilo revitalizador para que seja estabelecido um ldquocasamentordquo ou ao menos uma ldquorelaccedilatildeo estaacutevelrdquo entre a Gramaacutetica das Construccedilotildees e a Semacircntica Composicional em se tratando de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

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As pesquisas experimentais com expressotildees idiomaacuteticas Consideramos que nossa pesquisa se situa no acircmbito da

psicolinguiacutestica experimental por se voltar agrave investigaccedilatildeo sobre a compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por falantes natildeo nativos de uma liacutengua dada em que levamos em conta no processamento fraseoloacutegico seus aparatos cognitivo cultural dialetal e seus sistemas de memoacuteria (memoacuteria de longo prazo e memoacuteria episoacutedica em especial)

Os falantes de uma liacutengua dada sejam nativos ou natildeo nativos ao serem indagados sobre o que compreendem por exemplo da expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo (ldquoficar quieto ou calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo) recorrem a procedimentos mentais (por exemplo memoacuteria de longo prazo ou memoacuteria episoacutedica) e a taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de diversas ordens de modo a permitir o acesso ao sentido idiomaacutetico do que estaacute sendo dito aliaacutes do que natildeo estaacute sendo dito literalmente nas palavras que compotildeem o sintagma mas que traz no subentendido da sentenccedila o sentido pretendido pelo interlocutor Ocorre nesse momento o que se denomina de processamento linguiacutestico que potildee em funcionamento as habilidades cognitivas do falante (ou ouvinte) relacionadas agrave linguagem verbal (LEITAtildeO 2009 p 221)

Nossa pesquisa tambeacutem se estabelece no acircmbito da psicolinguiacutestica experimental por buscar hipoacuteteses que deem conta de explicarem como o processamento fraseoloacutegico se estrutura na mente dos falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro Daiacute lanccedilarmos matildeo de trecircs experimentos sendo construiacutedos por diversas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) caracterizados por uma seacuterie de procedimentos metodoloacutegicos para verificarmos se os referidos falantes lusoacutefonos dos paiacuteses africanos recorrem a estrateacutegias especiais para compreenderem as expressotildees idiomaacuteticas mais usuais no portuguecircs brasileiro As teorias leacutexicas do processamento fraseoloacutegico

No acircmbito das pesquisas psicolinguiacutesticas a busca de soluccedilatildeo

empiacuterica da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas pode ser observada a partir dos anos 70 e 80 seacuteculo

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passado com os estudos pioneiros de Bobrow e Bell (1973) seguidos dos trabalhos de Swinney e Cutler (1979) e os de Gibbs e Gonzales (1985) e de Cacciary e Tabossi (1988) Eles pioneiramente formaram as duas grandes correntes teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico as teorias leacutexicas e as teorias composicionais que buscam explicaccedilotildees sobre a passagem do literal ao idiomaacutetico durante o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas

De modo geral as teorias leacutexicas apoiam-se na noccedilatildeo de opacidade semacircntica (em nossa pesquisa chamamos de idiomaticidade forte) que varia em funccedilatildeo do grau de cristalizaccedilatildeo das expressotildees e por suas restriccedilotildees sintaacuteticas Jaacute as teorias composicionais conforme veremos mais adiante apoiam-se na tese de Frege ([1892]1971) de que o sentido de uma expressatildeo eacute funccedilatildeo do sentido de seus componentes Uma pois afirma que o sentido idiomaacutetico natildeo se reduz aos sentidos dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico A outra em contraste postula o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes da expressatildeo idiomaacutetica

As contribuiccedilotildees teoacutericas dessas duas correntes psicolinguiacutesticas atenderam aos casos gerais de processamento das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute as pesquisas experimentais levadas a efeito por seus defensores foram realizadas em falantes nativos deixando de lado casos particulares ou especiais como por exemplo o processamento fraseoloacutegico por falantes natildeo nativos

Diante dessa condiccedilatildeo restritiva muitos modelos propostos foram voltados a verificar como ocorria a compreensatildeo idiomaacutetica que se ativa depois do armazenamento das expressotildees na memoacuteria dos falantes nativos deixando de resolver pontos obscuros como por exemplo a questatildeo do acesso inicial ao sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas ou como se dava a passagem do literal ao idiomaacutetico ou se esta passagem pelo literal efetivamente natildeo ocorria

Apesar dessa limitaccedilatildeo os resultados das pesquisas psicolinguiacutesticas ateacute aqui realizadas representam um ponto de partida teoacuterico relevante para investigaccedilotildees similares segundo Belinchoacuten (1999 p364) Mas agrave medida que natildeo sabemos ao certo como ocorre o processo de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos podemos apresentar razotildees teoacutericas e praacuteticas para uma nova pesquisa nesse campo

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Enfim precisamos fazer descobertas de soluccedilotildees para casos particulares de compreensatildeo idiomaacutetica por sujeitos natildeo nativos de modo a sugerir modificaccedilotildees se for o caso no campo dos estudos sobre a realidade psicoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas atualmente de grande interesse dos linguistas fraseoacutelogos psicolinguistas e os chamados linguistas cognitivistas que se ocupam entre os toacutepicos mais recorrentes da pesquisa experimental de questotildees relacionadas agrave metaacutefora e agrave idiomaticidade (CUENCA1999 p 116-121) Hipoacutetese de uma ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo

Como dissemos anteriormente os primeiros experimentos para

verificaccedilatildeo do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas parecem ter sido limitados por dois dos seus procedimentos metodoloacutegicos

(a) em primeiro lugar limitaram-se a questotildees de natureza conceitual uma vez que os pesquisadores assumiram a crenccedila com base nas definiccedilotildees tradicionais dos lexicoacutelogos de que as expressotildees idiomaacuteticas (ou fixas) eram unicamente definidas a partir de suas propriedades semacircnticas e estruturais (polilexicalidade metaforicidade idiomaticidade fixaccedilatildeo e assim por diante)

(b) em segundo lugar os participantes dos experimentos eram falantes nativos (principalmente os de liacutengua inglesa)

Estes dois procedimentos restringentes acabaram por levar os pesquisadores agrave constituiccedilatildeo de modelos psicolinguiacutesticos aplicados agrave compreensatildeo idiomaacutetica ativada somente depois de armazenamento das expressotildees idiomaacuteticas na memoacuteria de longo prazo dos falantes (BELINCHOacuteN1999 p364-365)

A rigor natildeo haacute como com sujeitos nativos de uma liacutengua sabermos efetivamente quando se deparam com expressotildees idiomaacuteticas opacas ou transparentes uma vez que a memoacuteria declarativa de longo prazo desempenha um papel importante na produccedilatildeo recuperaccedilatildeo e atribuiccedilatildeo de sentido agraves expressotildees idiomaacuteticas

Assim um falante nativo que por lapsus calami erra acidentalmente ao escrever em uma folha a expressatildeo Dar por pedras e por paus ao inveacutes de dar por paus e por pedras (cometer loucuras) ou por lapsus linguae comete um erro acidental ao falar

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em uma conversa informal a expressatildeo ser milho do mesmo saco ao contraacuterio de ser farinha do mesmo saco (ser da mesma natureza equivaler-se coisas ou pessoas) nestas duas situaccedilotildees estes erros natildeo podem ser computados como indiacutecios de opacidade nem que ocorrem por serem as expressotildees menos ou mais idiomaacuteticas menos ou mais opacas ou ainda menos ou mais transparentes

Ainda que a questatildeo dos lapsos de liacutengua sejam de interesse para a Psicolinguiacutestica e para a investigaccedilatildeo da estrutura do leacutexico mental (NOacuteBREGA 2010) cremos que estas alteraccedilotildees acima ocorrem devido a fatores que vatildeo desde agrave paralexia verbal3 a fatores linguiacutesticos de vaacuterias ordens (formal estrutural semacircntica sintaacutetica combinatoacuteria) das expressotildees retidas na memoacuteria dos falantes

A primeira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas denominada de ldquoidiom-list hypothesisrdquo considera as expressotildees idiomaacuteticas como itens lexicais que satildeo listados e recuperados como pedaccedilos do leacutexico Esta corrente psicolinguiacutestica foi assumida por Bobrow e Bell (1973) Seus defensores tiveram a crenccedila de que o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo eacute recuperado a partir dos seus constituintes individuais e que se comportam como expressotildees sintaacuteticas e semacircnticas com as mesmas propriedades das palavras Para essa corrente por exemplo natildeo haacute nada nos sentidos de ldquofazerrdquo ldquoouvidordquo ldquoderdquo e ldquomercadorrdquo que possa nos dizer o que significa ldquofazer ouvido de mercadorrdquo com sentido idiomaacutetico de ldquofingir que natildeo ouviurdquo

Os resultados dos experimentos de Bobrow e Bell (1973) mostraram a primazia da literalidade na compreensatildeo idiomaacutetica e por essa razatildeo os dois psicolinguistas propotildeem a hipoacutetese de lista de expressotildees idiomaacuteticas (ou primeira hipoacutetese literal) em nossa memoacuteria declarativa de longo prazo argumentando ainda que as expressotildees satildeo mentalmente representadas e tratadas como quaisquer outros itens lexicais

A especificidade poreacutem para o caso das expressotildees idiomaacuteticas estruturalmente mais complexas do que as palavras eacute a de que seriam de forma independente armazenadas em um ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo (ou

3 Termo no acircmbito da neurologia definido como de leitura (ou escrita) provocada pela troca de siacutelabas ou palavras que passam a formar combinaccedilotildees sem sentido No caso das expressotildees idiomaacuteticas o que fica sem sentido eacute a combinatoacuteria que em fraseologia segue os paracircmetros da fixaccedilatildeo formal interna

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ldquomemoacuteria fraseoloacutegicardquo termo de nossa preferecircncia) diferente do nosso leacutexico mental normal ou habitual de itens lexicais Segundo essa visatildeo a leitura literal natildeo eacute opcional e vem obrigatoriamente antes de o falante recuperar o sentido idiomaacutetico

O modelo de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas de Bobrow e Bell (1973) ocorreria em trecircs etapas no processamento cognitivo ou mais especificamente fraseoloacutegico na mente dos falantes Na primeira etapa o ouvinte inicialmente processaria o sentido literal Em seguida rejeitaria o sentido literal e finalmente acessaria ao ldquoleacutexico idiomaacuteticordquo e forneceria entatildeo uma interpretaccedilatildeo correta isto eacute a idiomaticidade tal que esperamos encontrar nos dicionaacuterios gerais ou na aceitabilidade da comunidade linguiacutestica

Para ilustrarmos este modelo de Bobrow e Bell (1973) digamos que um leitor (ou ouvinte) assiacuteduo de jornal diaacuterio no cafeacute da manhatilde lesse a seguinte informaccedilatildeo que se refere aos chamados ldquohomens-tatusrdquo (assim rotulados aqueles que retiram areia dos terrenos baldios para a venda ilegal nos depoacutesitos de construccedilatildeo) ldquoEles satildeo como formiguinhas e agem durante a madrugada Eacute como catar agulha em palheiro A populaccedilatildeo precisa denunciar (In Caderno Cidade DN em 07112009)

Seguindo as etapas do modelo de Bobrow e Bell (1973) teriacuteamos as seguintes etapas para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoprocurar (ou catar) agulha em palheirordquo primeiramente o leitor processaria o sentido literal da expressatildeo ldquocatarrdquo + ldquoagulhardquo + ldquonordquo + ldquopalheirordquo Assim procedendo neste exemplo dado o leitor (ou ouvinte) chegaria inicial e literalmente agrave seguinte interpretaccedilatildeo ldquoBuscar varetinha de accedilo no depoacutesito de palhardquo Pelo contexto da frase logo rejeitaria essa interpretaccedilatildeo literal por ldquoinadequabilidade de sentidordquo E entatildeo acessaria agrave sua ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo e obteria o sentido idiomaacutetico e mais adequado agrave frase ldquoestar agrave cata de algo muito difiacutecil de acharrdquo ou ldquoquerer conseguir algo muito difiacutecil ou impossiacutevelrdquo

A questatildeo principal do modelo leacutexico de Bobrow e Bell (1973) que se estabelece eacute a seguinte se durante o processo de compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como no exemplo acima (ldquocatar agulha no palheirordquo) os falantes (nativos) recuperam da sua ldquo memoacuteria idiomaacuteticardquo o sentido literal ou o sentido figurado e nos casos de que os dois sejam recuperados em que ordem tem lugar estes dois sentidos Por essa razatildeo essa primeira corrente advoga pois por um processamento preacutevio do sentido literal Essa hipoacutetese psicolinguiacutestica

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nos lembra o modelo claacutessico de Grice (1982102-103) de compreensatildeo de linguagem figurada Embora o ouvinte seja levado a um niacutevel mais profundo (idiomaacutetico ou figurativo) este modelo pragmaacutetico tambeacutem favorece primeiramente a hipoacutetese literal

Os estudos de Bobrow e Bell (1973) sobre reconhecimento de unidades fraseoloacutegicas (UFS) foram realizados fora do contexto e no final dos anos 70 foram refutados conforme nos informam os estudos de Swinney e Cutler (1979) Havrila (1993) Jurafsky (1996) Corpas-Pastor (2001) Liontas (2001) Vega-Moreno(2003) e Denhiere e Verstiggel (2007) Hipoacutetese de uma representaccedilatildeo lexical

Esta corrente psicolinguiacutestica se posiciona contra a prioridade da

interpretaccedilatildeo literal na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas proposta anteriormente por Bobrow e Belle (1973) e propotildeem a hipoacutetese de representaccedilatildeo lexical que defende o processamento simultacircneo isto eacute a compreensatildeo literal e a compreensatildeo idiomaacutetica ocorreriam ao mesmo tempo na mente dos falantes

Um primeiro argumento em favor desta corrente vem dos experimentos de Swinney e Cutler (1979) Os resultados dos testes mostraram que os sujeitos natildeo apresentavam diferenccedilas de tempo para acessar o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees fixas

Vejamos um exemplo para ilustrar a hipoacutetese de Swinney e Cutler (1979) extraiacutedo de um jornal diaacuterio ldquo () Cibelle Ribeiro nos manda perturbadora seleccedilatildeo de fotos acutereimosiacutessimasacute suas e ainda (soacute pode ser modeacutestia) nos pergunta se gostamos Ora Cibelle isso eacute mesmo que perguntar se macaco quer banana minha filha o que vocecirc nos enviou foi um verdadeiro destroccedilo capaz de causar um tsunami ldquo (in Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN em 1103009 grifos nossos)

No exemplo acima segundo o modelo Swinney e Cutler (1979) o processamento cognitivo da expressatildeo idiomaacutetica ldquoperguntar se macaco quer bananardquo seja ele leitor ou ouvinte natildeo indicaria diferenccedila significativa de tempo entre a atribuiccedilatildeo de sentido literal ldquoprocurar saber se siacutemio deseja comer o fruto da bananeirardquo e a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico ldquofazer pergunta absolutamente desnecessaacuteria porque dela soacute se espera na certa resposta afirmativardquo

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Embora vistas como mentalmente representadas e tratadas como itens lexicais as expressotildees idiomaacuteticas no modelo de Swinney e Cutler (1979) diferem do modelo de Bobrow e Bell (1973) pois seriam armazenadas naturalmente no leacutexico mental sem a necessidade de postulaccedilatildeo de um leacutexico especiacutefico para o armazenamento dos idiomatismos (ldquomemoacuteria idiomaacuteticardquo)

Como dissemos anteriormente o falante segundo esta perspectiva se nativo ao estar confrontado com uma sequecircncia fraseoloacutegica processaria de maneira simultacircnea o sentido literal e o sentido figurado

Nesse contexto outros estudos levantaram hipoacutetese de que como as expressotildees idiomaacuteticas seriam encontradas ou armazenadas na memoacuteria como simples palavras o sujeito acessaria o sentido idiomaacutetico de maneira mais direta e raacutepida que ao literal Em harmonia com isso xperimentos realizados posteriormente sobre reconhecimento leacutexical baseados na velocidade de resposta dos sujeitos parecem indicar certa preferecircncia pela leitura idiomaacutetica em primeiro lugar conforme relatam os estudos de Corpas-Pastor (2001 p34) Mendivil Giroacute (2010) e Lorente (2010) Hipoacutetese psicolinguiacutestica de acesso direto

A terceira corrente de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas do

processamento fraseoloacutegico eacute defendida por linguistas cognitivistas como Gibbs Jr et ali (1997) que postulam o acesso direto (ou primeira hipoacutetese figurativa) para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas o que acaba por se afastar radicalmente da corrente defendida por Bobrow e Bell (1973)

Esta hipoacutetese propotildee que as expressotildees idiomaacuteticas devam ser consideradas itens lexicais cujo sentido idiomaacutetico eacute recuperado diretamente do leacutexico mental imediatamente apoacutes o sintagma fraseoloacutegico ser ouvido pelo falante

A proposta de Gibbs et ali (1997) tambeacutem se distancia do modelo de Swinney e Cutler (1979) uma vez que comprova que o sentido idiomaacutetico (ou figurado) de expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquonatildeo dar ponto sem noacuterdquo com sentido de ldquonada fazer que natildeo seja por interesserdquo) eacute processada mais rapidamente do que o

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processamento literal natildeo + dar + ponto + sem + noacute (natildeo costurar sem entrelaccedilar fios)

Segundo o relato dos linguistas cognitivistas o grau de fixaccedilatildeo e convencionalidade de uma unidade fraseoloacutegica facilitariam sua compreensatildeo e produccedilatildeo na comunicaccedilatildeo

Esta hipoacutetese tambeacutem revelou o sentido literal natildeo vir antes do sentido idiomaacutetico mas tambeacutem poderia ser completamente ignorado Na sua linha de pensamento Gibbs et ali (1997) baseiam-se na ideia de que as palavras constituintes de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo satildeo completamente desmotivadas do sentido metafoacuterico ou idiomaacutetico da expressatildeo

Diferente das hipoacuteteses anteriores os pesquisadores cognitivistas afirmam que o contexto desempenha uma funccedilatildeo essencial na produccedilatildeo e compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora sempre em menor grau comparado com as sequecircncias literais

Por fim diriacuteamos o seguinte a partir de uma visatildeo criacutetica das trecircs correntes de hipoacuteteses psicolinguiacutesticas descritas acima podemos observar que seguem de forma geral o princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica de expressotildees canocircnicas efetivamente cristalizadas e memorizadas mas natildeo conseguem poreacutem explicar porque as variaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas natildeo comprometem a atribuiccedilatildeo do sentido idiomaacutetico dada pelos falantes

As teorias leacutexicas da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas natildeo conseguem explicar por que locuccedilotildees verbais do tipo ldquomostrar com quantos paus se faz uma cangalhardquo e ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo onde os dicionaacuterios gerais apontam como variaccedilatildeo fraseoloacutegica em que um item ldquocangalhardquo eacute substituiacutedo (em decorrecircncia da forccedila do regionalismo linguiacutestico) por ldquocanoardquo tal alteraccedilatildeo como podemos observar em um dos constituintes do sintagma fraseoloacutegico natildeo afeta o sentido idiomaacutetico em ambas construccedilotildees isto eacute as duas idiomaticamente tecircm o mesmo sentido o de ldquodar um castigordquo

Os defensores das hipoacuteteses leacutexicas tambeacutem natildeo conseguem explicar porque o sentido idiomaacutetico ldquomorrerrdquo aparece em expressotildees idiomaacuteticas formalmente distintas como ldquobater as botasrdquo ldquoir desta para a melhorrdquo rdquofechar o paletoacuterdquo Ao analisarmos a combinatoacuteria destas expressotildees sinoniacutemicas acima somos levados realmente a perguntar como podem ser estruturalmente tatildeo diferentes e ao mesmo tempo

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passiacuteveis de terem paraacutefrases tatildeo semelhantes mantendo o mesmo campo semacircntico isto eacute a ideia de morte Ao certo uma explicaccedilatildeo estaria no fato de as trecircs expressotildees que mostramos possuirem itens lexicais bastante distintos mas todas tecircm idiomaticamente o mesmo sentido idiomaacutetico de ldquochegar ao fim expirar morrerrdquo Teorias Composicionais do processamento fraseoloacutegico

A segunda corrente de teorias psicolinguiacutesticas diz respeito agrave

representaccedilatildeo e agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas que se aliam ao princiacutepio da composicionalidade semacircntica

Os teoacutericos dessa corrente (por exemplo Gibbs 1985 Cacciari y Tabossi 1988 e Flores DArcais 1993) se posicionam contra a ideia de que as expressotildees idiomaacuteticas natildeo satildeo composicionais

O principal argumento desta corrente eacute que a relaccedilatildeo entre o sentido idiomaacutetico e forma linguiacutestica da maioria das expressotildees idiomaacuteticas tem um grau de motivaccedilatildeo isto eacute elas natildeo satildeo completamente arbitraacuterias

Na maioria dos casos segundo os defensores das teorias composicionais o sentido idiomaacutetico eacute de alguma forma recuperado a partir dos sentidos dos diversos componentes da cadeia sintagmaacutetica

Explicando de forma mais simplificada esta hipoacutetese por exemplo os sentidos dos itens ldquochutarrdquo ldquopaurdquo e ldquobarracardquo na expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo por exemplo teriam muito a ver com o sentido idiomaacutetico de ldquoabandonar desistir de um projetordquo Eacute como se pudeacutessemos explicar o sentido idiomaacutetico da locuccedilatildeo verbal ldquochutar o pau da barracardquo levando em conta que metaforicamente a palavra ldquochutarrdquo tem o sentido de ldquover-se livre de (algo ou algueacutem) descartar-se livrar-serdquo a palavra ldquopaurdquo tem o sentido de ldquoconflito ou briga em que se envolvem muitas pessoasrdquo e ldquobarracardquo refere-se metaforicamente agrave ldquoconstruccedilatildeo temporaacuteria de materiais leves geralmente taacutebuas e lona de faacutecil transporterdquo Tomados como constituintes metaforicamente significativos e motivados no sintagma fraseoloacutegico a expressatildeo idiomaacutetica ldquochutar o pau da barracardquo teria o sentido de ldquodesistir de um projeto rdquo

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A hipoacutetese psicolinguiacutestica dos linguistas cognitivistas

Os defensores da hipoacutetese da composicionalidade das expressotildees idiomaacuteticas argumentam que a idiomaticidade eacute um fenocircmeno semacircntico ao inveacutes de fenocircmeno sintaacutetico e propotildee uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas a partir de seu grau de composicionalidade como resumidamente nos descreve Cacciari e Tabossi (1993)

Enquanto para os teoacutericos de hipoacuteteses leacutexicas os constituintes das expressotildees idiomaacuteticas (por exemplo ldquomalharrdquo e ldquoferrordquo em ldquomalhar o ferro enquanto estaacute quenterdquo) em nada contribuem para o sentido idiomaacutetico ldquoaproveitar a ocasiatildeo propiacutecia para agirrdquo os teoacutericos de hipoacuteteses composicionais advogam que os componentes individuais dos sintagmas fraseoloacutegicos contribuem literal ou metaforicamente para a interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

Para explicar a teoria acima digamos que escutemos a expressatildeo idiomaacutetica ldquometer o rabo entre as pernasrdquo Nesse caso seus elementos constituintes ldquometerrdquo que se refere ao ato ldquoesconder-se ocultar-serdquo ldquorabordquo que alude agrave noccedilatildeo de ldquotraseirordquo e ldquopernasrdquo que diz respeito a ldquocada um dos membros inferiores do corpo humanordquo reunidos na combinatoacuteria datildeo o sentido idiomaacutetico ldquoficar calado por se sentir sem razatildeo culpado ou amedrontadordquo Os sentidos dos constituintes da locuccedilatildeo verbal ldquometer o rabo entre as pernasrdquo teriam uma forccedila de metaforizaccedilatildeo que nos possibilita o acesso ao sentido idiomaacutetico A metaforizaccedilatildeo estaria pois previamente em nossa mente por forccedila de nossas experiecircncias corpoacutereas no mundo

Atualmente as pesquisas psicolinguiacutesticas parecem evidenciar que os sentidos das palavras constituintes do sintagma fraseoloacutegico desempenham papel importante na compreensatildeo idiomaacutetica das expressotildees fixas Embora nenhuma expressatildeo idiomaacutetica seja cultural e completamente composicional o sentido idiomaacutetico seria para os defensores desta corrente psicolinguiacutestica de alguma forma relacionado com o sentido obtido pelo caacutelculo da cadeia sintagmaacutetica

Nessa perspectiva atualmente a hipoacutetese de metaacutefora conceitual com base no trabalho de Lakoff e Johnson (2002) assume que o uso da expressatildeo idiomaacutetica eacute motivado por esquemas preacute-existentes de

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natureza corpoacuterea ou metafoacuterica4 em nossa mente que satildeo baseados como dissemos antes em nossa experiecircncia corporal no mundo Este paradigma pressupotildee a inseparabilidade entre cogniccedilatildeo e linguagem (MACEDO2006 p 31-34 2008 p35) e defende uma visatildeo atuacionista (ou corporificada) da cogniccedilatildeo (VARELA et ali 2003) A hipoacutetese psicolinguiacutestica da configuraccedilatildeo-chave

A chamada hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave para a compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas eacute induzida pelo modelo de polissemia Os relatos mais convincentes satildeo os Cacciary e Tabossi (1993)

Esta abordagem tenta resgatar a hipoacutetese de processamento simultacircneo sem se comprometer com a ideia de que satildeo expressotildees idiomaacuteticas armazenados como itens lexicais

As expressotildees idiomaacuteticas satildeo na perspectiva da configuraccedilatildeo-chave tratadas como qualquer sequecircncia de palavras Depois de vaacuterios experimentos os pesquisadores afirmam que a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica como ldquoter bebido aacutegua de chocalhordquo com sentido de ldquofalar demaisrdquo dependeraacute de uma seleccedilatildeo por parte do ouvinteleitor do sentido adequado de cada uma de suas palavras constituintes para que o sintagma fraseoloacutegico possa ser reconhecido como uma configuraccedilatildeo Esta explicaccedilatildeo eacute feita pela chamada ldquohipoacutetese polissecircmica do idiomatismo induzidordquo (Cacciary e Tabossi 1993)

Do ponto de vista de processamento cognitivo na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave as expressotildees idiomaacuteticas satildeo inicialmente processadas literalmente ateacute que em algum momento apoacutes o iniacutecio da cadeia a configuraccedilatildeo e o sentido idiomaacutetico satildeo ativados

Dizendo de outra maneira na hipoacutetese de configuraccedilatildeo-chave ocorreria o processamento literal e figurativo executado em paralelo por um tempo ateacute que o sentido idiomaacutetico seja alcanccedilado pelo ouvinte como a interpretaccedilatildeo pretendida Nesse caso o reconhecimento de expressotildees idiomaacuteticas seria muitas vezes dependente do contexto assim esta hipoacutetese parece sugerir que geralmente os ouvintes reconhecem que as palavras em uma expressatildeo idiomaacutetica formam uma uacutenica configuraccedilatildeo depois de o

4 Ao falarmos em esquemas metafoacutericos fazemos alusatildeo ao mapeamento (ou conceito) metafoacuterico que segundo os linguistas cognitivistas licencia a expressatildeo linguiacutestica

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falante acessar o conteuacutedo da primeira ou segunda palavra conhecida como a chave idiomaacuteticardquo no sintagma

Essa visatildeo apresenta uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticas em relaccedilatildeo ao grau de composicionalidade e transparecircncia que envolve diferentes perspectivas teoacutericas de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (Cacciary e Tabossi1993) Vamos descrever cada das perspectivas

A primeira perspectiva defende que nas expressotildees idiomaacuteticas tipicamente opacas (por exemplo ldquoquerer tapar o sol com peneirardquo com sentido de ldquotentar negar fatos palpaacuteveis ou incontestaacuteveisrdquo) o sentido idiomaacutetico eacute arbitrariamente estipulado pelo ouvinteleitor Desta maneira acessar o sentido idiomaacutetico ocorreria no plano do sintagma fraseoloacutegico parcialmente distribuiacutedo ao longo de seus constituintes A partir daiacute os ouvintes passariam a olhar a expressatildeo linguiacutestica como quase metafoacuterica (ou alusional)

Para ilustrar a segunda perspectiva tomemos com exemplo a expressatildeo idiomaacutetica ldquopocircr sebo nas canelasrdquo com sentido de ldquofugirrdquo em que ouvintes para compreenderem seu sentido idiomaacutetico teratildeo que calcular o sentido idiomaacutetico a partir dos constituintes do sintagma e assim feito reconheceratildeo as ligaccedilotildees que o referido sintagma fraseoloacutegico tem convencionalmente com expressotildees idiomaacuteticas sinoniacutemicas (por exemplo ensebar as canelas meter o peacute no mundo botar o peacute no mundo passar sebo nas canelas abrir no peacute e pisar no tempo) que tecircm os mesmos sentidos idiomaacuteticos que eles representam

Enfim para esta corrente as expressotildees idiomaacuteticas satildeo linguisticamente processadas da mesma forma como outras configuraccedilotildees de expressotildees fijas com o mesmo sentido idiomaacutetico Estrateacutegias psicolinguiacutesticas e expressotildees idiomaacuteticas

Natildeo haacute como falarmos em taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo

das expressotildees idiomaacuteticas sem deixarmos claro o que estamos a entender por compreensatildeo estrateacutegias expressotildees idiomaacuteticas e sua tipologia

Pressupomos que para cada tipo de expressatildeo idiomaacutetica eacute possiacutevel que tenhamos estrateacutegia especial para desvelar o seu sentido natildeo literal em situaccedilatildeo de uso na interaccedilatildeo verbal

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Iniciemos entatildeo pela questatildeo da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas numa perspectiva psicolinguiacutestica Considerando que a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uma liacutengua dada inclui informaccedilotildees que transcendem o niacutevel puramente sintaacutetico morfoloacutegico semacircntico e pragmaacutetico entendemos que o exame da questatildeo do sentido idiomaacutetico em nossa pesquisa deve ser feito agrave luz de aportes teoacutericos da (Psico)linguiacutestica e da Linguiacutestica cognitiva

Feitos esses recortes das disciplinas envolvidas na questatildeo da problemaacutetica do sentido idiomaacutetico no acircmbito propriamente dito da Psicolinguiacutestica recorreremos aos conceitos de compreensatildeo estrutura cognitiva e memoacuteria de longo prazo propostos por Smith (1999 p 80 2003 p 361)

Acreditamos que a passagem do sentido literal (SL) para o sentido idiomaacutetico (SI) das expressotildees fixas portanto o acesso ao sentido fraseoloacutegico resulta de uma interpretaccedilatildeo particular (ou culturalmente marcada) dos falantes sejam nativos ou natildeo nativos a partir de sua estrutura cognitiva

Por compreensatildeo nesta pesquisa entendemos entatildeo a competecircncia semacircntica que o falante seja nativo ou natildeo nativo de uma liacutengua dada tem de interpretar qualquer expressatildeo linguiacutestica complexa capaz de construir representaccedilotildees conceituais (NEVEU2008 p75) a partir de sua memoacuteria de longo prazo e de sua visatildeo de mundo (STERNBERG2008 p192)

No caso da compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes que geralmente natildeo a apreendem na primeira vez que a escutam eacute possiacutevel que a descoberta dos sentidos parciais das unidades leacutexicas e das regras por meio das quais se combinam a dita expressatildeo seja uma estrateacutegia especial de entendimento dos idiomatismos (FILLMORE et ali 1988)

Como a questatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas tem sido bastante problemaacutetica ou negligenciada pelos modelos linguiacutesticos (gerativista por exemplo) recorremos aqui agrave Gramaacutetica das Construccedilotildees proposta por Fillmore Kay e OrsquoConnor (1988) que defendem a ideia de que as construccedilotildees complexas (sintagmas ou sentenccedilas) tecircm as mesmas propriedades semacircnticas e pragmaacuteticas que os itens lexicais estabelecendo a partir daiacute uma tipologia de expressotildees idiomaacuteticasrdquo (FERRARI 2011 p130)

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Do ponto de vista psicolinguiacutestico tambeacutem levamos em conta em nossa pesquisa a noccedilatildeo de estrutura cognitiva Graccedilas agrave estrutura cognitiva os falantes satildeo capazes de compreender as estruturas mais complexas ou irregulares de uma liacutengua agrave medida que recorrem como sujeitos de seus atos de fala nas situaccedilotildees de interaccedilatildeo social ao seu leacutexico mental onde ativam muitas vezes de maneira automaacutetica ou involuntaacuteria informaccedilotildees sobre o que conhecem e acreditam a respeito do mundo e a partir daiacute podem estabelecer relacionamento de novas informaccedilotildees agravequilo que jaacute sabem sobre a liacutengua a cultura e a experiecircncia corpoacuterea no mundo

Smith (1999) defende a ideia de que na estrutura cognitiva estaacute ldquoa totalidade de organizaccedilatildeo de conhecimento do ceacuterebrordquo (p 80 2003 p 361)

Ao longo de nossa pesquisa tambeacutem iremos nos referir agrave estrutura cognitiva como ldquomemoacuteria de longo prazordquo ou ldquoteoria do mundo na cabeccedilardquo com o objetivo de reforccedilar o pressuposto de que a compreensatildeo eacute a fonte de prediccedilotildees ou adivinhaccedilotildees psicolinguiacutesticas que nos possibilitam encontrar sentido nos acontecimentos e na linguagem

Mais especificamente por memoacuteria declarativa de longo prazo entendemos ldquoo conhecimento e a crenccedila que fazem parte da nossa compreensatildeo mais ou menos permanente do mundordquo e que se refere a ldquo tudo o que noacutes sabemos sobre o mundo e do que eacute organizado e faz sentido (SMITH1999 p44)

Quanto agrave noccedilatildeo de estrateacutegias recorreremos ao conceito de Soleacute (1998) Segundo ela estrateacutegias satildeo procedimentos que regulam a atividade dos falantes agrave medida que sua aplicaccedilatildeo permite selecionar avaliar persistir ou abandonar determinadas accedilotildees para conseguir a meta a que nos propomos (p69) Por exemplo quando o falante escuta ou lecirc a expressatildeo idiomaacutetica ldquoandar com a pulga atraveacutes da orelhardquo e descarta em sua interpretaccedilatildeo o sentido literal ldquocaminhar com o inseto na orelhardquo em favor de ldquoestar preocupado ou cismadordquo recorre agraves suas habilidades cognitivas relacionadas com sua capacidade de perceber o proacuteprio conhecimento sobre os insetos de pensar sobre a atuaccedilatildeo ou emprego da expressatildeo no uso social da liacutengua Satildeo essas informaccedilotildees no nosso entendimento que lhes permitem o abandono de uma interpretaccedilatildeo literal em favor de uma

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interpretaccedilatildeo idiomaacutetica carregada de metaforicidade e fraseologizaccedilatildeo

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ESTUDOS EMPIacuteRICOS RELACIONADOS AO TEMA Neste capiacutetulo descrevemos o meacutetodo os objetivos as

hipoacuteteses os problemas os sujeitos e os resultados das pesquisas de Irujo (1986) Flores drsquoArcais (1993) Cooper (1999) Crespo e Caceres (2006) e Detry (2010) dentre os principais estudos empiacutericos nos uacuteltimos anos que se ocuparam de investigar em falantes nativos ou natildeo nativos de uma liacutengua dada (inglecircs italiano por exemplo) o processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas Todos eles nos fundamentaram direta ou indiretamente no design dos nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos com suas respectivas tarefas (identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade) sobre a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por sujeitos natildeo nativos do PB

O tratamento psicoloacutegico dado por noacutes agraves expressotildees idiomaacuteticas requereu de nossa parte um recorte no campo de investigaccedilatildeo da psicolinguiacutestica experimental dando um enfoque especial ao estudo dos enunciados linguiacutesticos o sentido literal e o sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacuteticas

Uma pesquisa que busca tratar da realidade psicoloacutegica dos signos linguiacutesticos sejam os de estrutura mais simples como as palavras e os mais complexos como as expressotildees idiomaacuteticas ou enunciados maiores como os proveacuterbios e os textos em seus diversos gecircneros exige a priori do pesquisador uma disposiccedilatildeo de articulaccedilatildeo com outros niacuteveis do sistema linguiacutestico como o morfoloacutegico (onde situamos expressatildeo idiomaacutetica como categoria morfoloacutegica e por isso com o mesmo comportamento de um lexema) e o sintaacutetico (lugar onde a expressatildeo idiomaacutetica se faz parte de uma frase ou oraccedilatildeo ou seja atua como elemento oracional)

Outras ldquocategorias extralinguiacutesticas como ldquoculturardquo ldquodialetordquo e ldquomemoacuteriardquo tambeacutem acabam por se associarem ao sistema da liacutengua na produccedilatildeo e na compreensatildeo dos enunciados no que tange aos sujeitos agraves situaccedilotildees comunicativas e aos conhecimentos preacutevios que os falantes compartilham (LEITAtildeO2009 p223)

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Os experimentos de Irujo (1986)

A pesquisa de Irujo (1986) partiu do pressuposto de que

aprendizes venezuelanos de segunda liacutengua encontram dificuldades de usar expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs o que os levam muitas vezes a preferir evitaacute-las completamente no cotidiano o que poderia ser chamado de idiofobia (um tipo de aversatildeo ou receio de utilizar expressotildees idiomaacuteticas) Essa dificuldade decorreria de os sujeitos natildeo compreender uma parte (ou o todo) de uma expressatildeo idiomaacutetica em Inglecircs e evitaacute-la em suas conversas em que pese natildeo encontrar dificuldade de pronunciaacute-la ou produzi-las eventualmente em seus textos orais ou escritos

O estudo realizado por Irujo buscou determinar se os alunos avanccedilados de inglecircs haviam utilizado o conhecimento da sua liacutengua materna o espanhol para compreender e produzir expressotildees em L2 (inglecircs)

Quanto aos participantes da pesquisa Irujo trabalhou com um total de 12 alunos de Inglecircs avanccedilado da Venezuela Foram escolhidos indiviacuteduos da mesma nacionalidade como garantia de que todos eles usavam a mesma variedade de espanhol e estariam familiarizados com os equivalentes espanhoacuteis das expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para o estudo De uma lista de todos os estudantes venezuelanos em uma grande universidade os sujeitos potenciais foram contactados inicialmente de forma aleatoacuteria O grupo final no entanto foi autosselecionado a partir do seu grau de interesse na pesquisa a disposiccedilatildeo de darem duas horas de seu tempo em troca de um pequeno proacute-labore

Todos os sujeitos eram alunos de graduaccedilatildeo regularmente matriculados na universidade Todos tinham tambeacutem proficiecircncia meacutedia em inglecircs e tempo meacutedio de residecircncia nos Estados Unidos de 275 anos e a idade meacutedia de 218 anos

O estudo se destinou tambeacutem a fornecer informaccedilotildees sobre as estrateacutegias que os alunos usam quando tecircm de produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabem e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de aprender

Foi aplicado um teste de muacuteltipla escolha para aferir a compreensatildeo idiomaacutetica de 45 expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs

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assim distribuiacutedas1 15 expressotildees idecircnticas com equivalecircncia de forma e sentido em liacutengua espanhola (expressotildees idecircnticas) 15 expressotildees semelhantes aos seus equivalentes espanhoacuteis (expressotildees semelhantes) e 15 expressotildees diferentes a partir do correspondente espanhol (expressotildees diferentes)

Quanto ao teste de produccedilatildeo foram consideradas as mesmas 45 expressotildees idiomaacuteticas submetidas a um teste de discurso-complemento e um teste de traduccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa Irujo partiu das seguintes hipoacuteteses (a) Expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas mostram evidecircncias de transferecircncia positiva pois elas seriam mais faacuteceis de compreender e de produzir corretamente (b) expressotildees Idiomaacuteticas semelhantes mostram evidecircncia de transferecircncia negativa e a compreensatildeo pode ser tatildeo eficiente quanto para expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas e a produccedilatildeo destas expressotildees iria ser refletida na interferecircncia do primeira liacutengua e (c) para expressotildees idiomaacuteticas diferentes natildeo haacute evidenciam de qualquer transferecircncia positiva ou negativa ou seja os sujeitos compreenderiam e produziriam menos expressotildees idiomaacuteticas diferentes do que dos outros dois tipos

Quanto aos materiais utilizados na pesquisa as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas foram selecionadas com base em duas versotildees de um questionaacuterio um em Inglecircs e um em espanhol O questionaacuterio consistia de trecircs partes cada uma contendo 50 expressotildees idiomaacuteticas de um tipo (idecircntico semelhante ou diferente) Vinte e trecircs falantes nativos de espanhol e 30 falantes nativos ingleses completaram o questionaacuterio em seu idioma nativo Foi-lhes pedido para definir cada uma das expressotildees idiomaacuteticas e numa escala de 1 a 5 de frequecircncia de utilizaccedilatildeo de cada uma Com base nestes resultados 15 expressotildees idiomaacuteticas de cada tipo foram escolhidas todas tinham sido definidas de forma inequiacutevoca por todos os entrevistados com sentidos

1 Aqui devemos discriminar o seguinte (a) expressotildees idecircnticas expressotildees idiomaacuteticas que em espanhol em nada diferem das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs Seriam portanto expressotildees gecircmeas idecircnticas que apresentam as mesmas caracteriacutesticas formais e semacircnticas (b) expressotildees semelhantes expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que tecircm o mesmo campo semacircntico natureza ou forma em relaccedilatildeo a expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs e (c) expressotildees diferentes as expressotildees idiomaacuteticas em espanhol que diferem parcial ou totalmente das expressotildees idiomaacuteticas em inglecircs

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figurativos ou fraseoloacutegicos equivalentes em ambas as liacutenguas e tinham recebido uma meacutedia de pelo menos 3 na frequecircncia na escala de uso

Os testes foram escritos para avaliarem o reconhecimento a compreensatildeo a recordaccedilatildeo e produccedilatildeo dessas expressotildees O teste de reconhecimento idiomaacutetico era um teste de muacuteltipla escolha com opccedilotildees que incluiacuteam a paraacutefrase correta da expressatildeo uma frase relacionada com a paraacutefrase correta uma frase relacionada com a interpretaccedilatildeo literal e uma sentenccedila independente

Os itens nos dois testes de compreensatildeo foram marcados como correto ou incorreto e os itens sobre os testes de produccedilatildeo foram marcados como correto incorreto ou com interferecircncia

Segundo Irujo muitas vezes foi difiacutecil determinar quando a interferecircncia havia ocorrido Neste estudo a interferecircncia foi definida como o uso incorreto de uma traduccedilatildeo de uma palavra de conteuacutedo de uma expressatildeo idiomaacutetica espanhol No entanto em muitos casos especialmente com expressotildees similares uma palavra errada na liacutengua inglesa podia ser tanto uma traduccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em espanhol ou uma generalizaccedilatildeo ou extensatildeo exagerada de uma palavra no idioma Inglecircs

Em cada um dos dois testes de compreensatildeo os indiviacuteduos foram igualmente bem-sucedidos com expressotildees idecircnticas e semelhantes mas tinham dificuldade significativamente acentuada com expressotildees idiomaacuteticas diferentes No teste de traduccedilatildeo expressotildees idiomaacuteticas semelhantes e diferentes eram igualmente difiacuteceis pelo teste discurso de conclusatildeo o desempenho diferiu em todos os trecircs tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Quando a tarefa era reconhecer o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica os participantes foram capazes de generalizar a partir do sentido na sua liacutengua materna o sentido na segunda liacutengua se o modelo fosse idecircntico ou similar

As trecircs hipoacuteteses da pesquisa foram confirmadas Os sujeitos compreenderam expressotildees idiomaacuteticas idecircnticas assim como expressotildees semelhantes e ambas foram compreendidas melhor do que expressotildees diferentes

Embora os resultados deste estudo mostram que os indiviacuteduos faziam uso de sua liacutengua nativa para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda liacutengua eles tambeacutem usavam estrateacutegias relacionadas agrave liacutengua-alvo

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Irujo afirma que foi impossiacutevel com base nos dados da pesquisa fazer qualquer afirmaccedilatildeo definitiva sobre a influecircncia relativa das estrateacutegias de primeira e segunda liacutengua por causa da dificuldade de atribuir respostas a uma categoria especiacutefica

O uso da liacutengua materna na produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em Inglecircs variou individualmente alguns participantes mostraram praticamente nenhuma interferecircncia para qualquer tipo de expressatildeo idiomaacutetica enquanto outros tiveram altas taxas de interferecircncia de expressotildees idiomaacuteticas ao mesmo tempo parecidas e diferentes Segundo Irujo estas diferenccedilas podem ser relacionadas ao fato dos sujeitos terem mantido os seus dois sistemas linguiacutesticos separados ou natildeo

Os resultados da pesquisa apontam para a possibilidade de que alguns alunos tenham conscientemente mantido as duas liacutenguas separadas e assim terem rejeitado formas da segunda liacutengua que estatildeo muito proacuteximas agraves da primeira liacutengua

Nos dois testes de compreensatildeo parece que os sujeitos foram capazes de generalizar a partir do sentido da expressatildeo em espanhol para o seu sentido em Inglecircs mesmo quando a forma era um pouco diferente Nos dois testes de produccedilatildeo eles foram capazes de produzir corretamente muitas expressotildees idiomaacuteticas mais idecircnticas do que expressotildees idiomaacuteticas dos outros dois tipos

Ambos resultados indicam que a transferecircncia positiva estava pronta para ser utilizada Transferecircncia negativa (interferecircncia) tambeacutem foi evidente nos dois testes de produccedilatildeo mais para expressotildees semelhantes do que para expressotildees idiomaacuteticas totalmente diferentes Quando as diferenccedilas eram pequenas a tendecircncia podia ser a de generalizar e ignorar essas diferenccedilas

Os resultados deste estudo apoiam a noccedilatildeo de que os alunos avanccedilados de uma segunda liacutengua cuja primeira liacutengua estaacute relacionada com a segunda pode usar seu conhecimento (meta)linguiacutestico de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas na segunda

O estudo de Irujo tem implicaccedilotildees teoacutericas para a investigaccedilatildeo da transferecircncia na aquisiccedilatildeo de uma segunda liacutengua Os resultados sugerem que as similaridades entre as liacutenguas incentivam a interferecircncia e que expressotildees idiomaacuteticas nem sempre satildeo considerados intransferiacuteveis

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As conclusotildees da pesquisa de Irujo podem ser aplicadas ao ensino de expressotildees idiomaacuteticas em L2 Se os alunos estatildeo usando seu conhecimento de expressotildees idiomaacuteticas na sua liacutengua materna para compreender e produzir expressotildees idiomaacuteticas em segunda liacutengua os professores devem tirar proveito disso

As conclusotildees da pesquisa apontam ainda que expressotildees idiomaacuteticas infrequentes e altamente coloquiais com vocabulaacuterio difiacutecil devem ser evitadas no ensino de liacutengua estrangeira Segundo Irujo os alunos vatildeo obviamente ter dificuldade de produzi-las corretamente e aleacutem disso essas expressotildees difiacuteceis mesmo quando produzida corretamente muitas vezes soam estranha e natildeo naturalmente quando falado por falantes natildeo nativos de Inglecircs

Importante assinalar que Irujo acredita que atividades de que comparem sentidos literais e figurativos podem ajudar os alunos na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de modo perceber o absurdo (no chamariacuteamos de princiacutepio da absurdidade) dos sentidos literais e fornecer uma nova relaccedilatildeo a partir das palavras literais para o sentido idiomaacutetico

O estudo afirma que atividades que incentivem a produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas podem ser baseadas em listas de expressotildees idiomaacuteticas recolhidos pelos alunos ou fornecidos pelo professor Estas listas devem incluir expressotildees idiomaacuteticas que satildeo semelhantes nas primeira e segunda liacutenguas e satildeo portanto capazes de causar interferecircncia Os alunos podem contar histoacuterias adicionais que contenham expressotildees idiomaacuteticas recontar uma histoacuteria que ouviram expressotildees contidas escrever e apresentar peccedilas teatrais espetaacuteculos de marionetes histoacuterias ou diaacutelogos com expressotildees neles e dramatizaccedilatildeo de situaccedilotildees que se prestam agrave produccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em substacircncia os resultados mostram que expressotildees idecircnticas eram mais faacuteceis de compreender e produzir Expressotildees similares foram compreendidas quase tatildeo bem mas mostraram a interferecircncia do espanhol Expressotildees Idiomaacuteticas diferentes eram as mais difiacuteceis de compreender e produzir mas mostraram menos interferecircncia do que expressotildees semelhantes

Os participantes usaram estrateacutegias inter e intralinguiacutestica para produzir expressotildees idiomaacuteticas que natildeo sabiam Dentro de cada tipo as expressotildees idiomaacuteticas que foram compreendidas e produziram

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mais corretamente foram as que eram usadas com frequecircncia e que tinham um vocabulaacuterio simples e estrutura transparente

Em nossa pesquisa recorremos aos procedimentos de Irujo (1996) para a elaboraccedilatildeo do 2ordm experimento denominado Teste de Muacuteltipla Escolha com o objetivo de os participantes descobrirem os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs a partir de itens de muacuteltipla escolha Seguindo o mesmo modelo de Irujo as respostas agraves perguntas do TME foram pontuados em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Os experimentos de Flores drsquoArcais (1993)

A pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) analisa uma seacuterie de

experimentos realizados como contribuiccedilotildees para uma teoria sobre o processamento de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de natureza verbal

Parte da ideia fregeana de que o sentido de uma frase idiomaacutetica natildeo eacute para ser reconstruiacutedo a partir do sentido dos elementos que o compotildeem Levanta entatildeo duas questotildees fundamentais como eacute a estrutura desse sentido Como estas expressotildees satildeo representadas no leacutexico mental

Segundo Flores drsquoArcais trecircs diferentes respostas podem ser dadas a estas duas questotildees que tomaram formas de hipoacuteteses de sua pesquisa (a) as expressotildees idiomaacuteticas podem ser listadas no leacutexico mental como entradas lexicais de natureza polilexical (b) as expressotildees idiomaacuteticas natildeo estatildeo listadas como tal mas satildeo reconstruiacutedas com seu sentido idiomaacutetico a partir da entrada de um ou mais das palavras de conteuacutedo que constituem a expressatildeo e (c) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas natildeo seria representado como tal em tudo mas seria calculada de cada vez com base nas unidades lexicais e da estrutura frasal por um processo de construccedilatildeo metaacutefora

A pesquisa de Flores drsquoArcais tentou encontrar respostas para cinco problemas teoacutericas sobre o processamento fraseoloacutegico (1) o sentido literal eacute calculado durante o processo de compreensatildeo (2) as expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares usados com frequecircncia podem ser listadas no leacutexico mental ao passo que a compreensatildeo de

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expressotildees idiomaacuteticas com pouca familiaridade e que satildeo usados raramente pode exigir um caacutelculo completo O sentido literal eacute computado ou natildeo durante a leitura de expressatildeo idiomaacutetica (4) a anaacutelise completa da estrutura gramatical da cadeia de entrada estaacute ocorrendo mesmo quando a sentenccedila eacute entendida inclui uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica altamente familiar que poderia ser recuperado como uma unidade multilexical no leacutexico mental sem qualquer necessidade de anaacutelise sintaacutetica da sua estrutura interna e (5) considerando que as expressotildees metafoacutericas que satildeo compreendidas por vaacuterios processos inferenciais seriam procuradas no leacutexico de vaacuterias palavras como unidades lexicais

Flores drsquoArcais aplicou aos seus sujeitos da pesquisa cinco experimentos

O primeiro experimento buscou obter informaccedilotildees sobre familiaridade e sobre o ponto de singularidade da expressatildeo para um grande nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas

O objetivo deste experimento foi a obtenccedilatildeo de algumas indicaccedilotildees de um nuacutemero de propriedades de uma grande amostra de expressotildees idiomaacuteticas em holandecircs Contou com um grande nuacutemero de sujeitos em diferentes fases da pesquisa

Os dados obtidos foram utilizados para a seleccedilatildeo dos materiais para os experimentos seguintes Duzentas expressotildees idiomaacuteticas holandesas foram escolhidas como material de base para a pesquisa Eles foram apresentados em vaacuterios conjuntos de tarefas diferentes para um total de 294 sujeitos com o pedido para realizarem uma seacuterie de tarefas

A primeira tarefa consistiu na definiccedilatildeo de sentido da expressatildeo idiomaacutetica Os sujeitos deram uma definiccedilatildeo do sentido de cada uma das expressotildees idiomaacuteticas As definiccedilotildees apresentadas foram em seguida avaliadas por dois juiacutezes em uma escala de 3 pontos como (1) correta (2) parcialmente correta ou relacionado agrave acepccedilatildeo lexicograacutefica de expressotildees idiomaacuteticas ou (3) completamente incorreto Os valores meacutedios da escala idiomaacutetica calculada sobre todos os assuntos deram uma indicaccedilatildeo da disponibilidade ou o conhecimento do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

A segunda tarefa relacionou-se agrave questatildeo da familiaridade Consistia em dar uma estimativa da frequecircncia com que o sujeito usaria na liacutengua usando uma escala de 7 pontos de muito frequentemente

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utilizado para nunca usado Isto rendeu para cada expressatildeo idiomaacutetica um escore de frequecircncia subjetiva ou familiaridade

A terceira tarefa dizia respeito ao uso de sentido literal Os sujeitos foram instigados a interpretarem o sentido de uma expressatildeo idiomaacutetica quando pensavam que tinham recuperado o sentido literal da referida expressatildeo Apoacutes a resposta a esta pergunta o sujeito tinha de expressar em uma escala de 5 pontos o grau de confianccedila de ter recuperado o sentido literal

A quarta tarefa diz respeito ao ponto de singularidade idiomaacutetica Os sujeitos foram solicitados a indicar para cada expressatildeo idiomaacutetica o ponto em que palavra em uma expressatildeo idiomaacutetica tornava-se unicamente definida ou linguisticamente idiomaacutetica

Em se tratando dos resultados das tarefas aplicadas aos sujeitos da pesquisa as definiccedilotildees dadas e as classificaccedilotildees forneceram em primeiro lugar uma seacuterie de detalhes sobre as propriedades das expressotildees idiomaacuteticas que foram utilizados como uma base para outros estudos permitindo que as expressotildees idiomaacuteticas fossem divididas em duas categorias (a) bem conhecidas (alta proporccedilatildeo de definiccedilatildeo correta) e natildeo conhecidas (definiccedilotildees incorretas)

Segundo Flores drsquoArcais quando uma expressatildeo idiomaacutetica eacute bem conhecida o falante (leitor ou ouvinte) natildeo pensa que usa o sentido literal a fim de compreendecirc-la enquanto que quando a expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute bem conhecida a interpretaccedilatildeo literal eacute provaacutevel que seja usada em muitos casos

O segundo experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas que de acordo com a hipoacutetese da memoacuteria idiomaacutetica podem ser armazenadas como unidades formadas de vaacuterias palavras lexicais e portanto podem ser interpretadas como tal e ainda submetidas agrave anaacutelise sintaacutetica completa

Este experimento relacionou-se ao processamento sintaacutetico durante compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas A hipoacutetese era a de que se expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas na memoacuteria como unidades lexicais formadas polilexicalmente como afirma a lista de hipoacutetese entatildeo a anaacutelise sintaacutetica da estrutura frasal da liacutengua em princiacutepio natildeo deveria ser necessaacuteria para a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

O experimento testou a hipoacutetese de que a anaacutelise sintaacutetica eacute um processo obrigatoacuterio automaacutetico que natildeo depende da estrutura

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particular ao ser processada e que eacute insensiacutevel agraves propriedades lexicais da estrutura frasal A experiecircncia investigou a questatildeo de saber se a anaacutelise sintaacutetica da expressatildeo idiomaacutetica continua mesmo quando a expressatildeo tinha sido reconhecida e o sentido idiomaacutetico apropriado foi atribuiacutedo a ele

Para estes experimentos 20 estudantes da Universidade de Leiden foram convidados a detectar violaccedilotildees sintaacuteticas em sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas verbais de familiaridade alta ou baixa

Em termos de material da pesquisa vinte e quatro frases que continham expressotildees idiomaacuteticas (12 expressotildees idiomaacuteticas altamente familiares e 12 familiares) e 60 locuccedilotildees verbais a serem preenchidas que constituiacuteram o material do experimento Em 50 da apresentaccedilatildeo cada frase continha uma violaccedilatildeo gramatical tais como as seguintes (a) Violaccedilatildeo de concordacircncia de gecircnero entre artigo e substantivo e (b) Concordacircncia no pluralsingular

Em termos de procedimentos as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas foram apresentadas aos sujeitos da pesquisa em um computador uma de cada vez numa sequecircncia esquerda para direita com cada palavra exibida ocupando uma posiccedilatildeo diferente como em uma sequecircncia normal impressa No entanto cada palavra foi apresentada e permaneceu no visor por alguns segundos e depois desapareceu

Os resultados mostram que foram detectadas com sucesso pelos sujeitos das pesquisas tanto violaccedilotildees em locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas de alta e de baixa familiaridade (familiares e natildeo familiares A ausecircncia de qualquer diferenccedila na taxa de detecccedilatildeo de violaccedilotildees sintaacuteticas em expressotildees idiomaacuteticas de alta familiaridade e baixa familiaridade pode ser interpretada como tendo ocorrido em ambos os casos a anaacutelise sintaacutetica Os resultados destas tarefas permitiram concluir que a anaacutelise sintaacutetica da cadeia frasal que constitui a expressatildeo continua mesmo quando o item de familiaridade de alta foi reconhecida

O terceiro experimento testou a hipoacutetese de que expressotildees idiomaacuteticas altamente familiarizadas satildeo reconhecidas com facilidade sem qualquer necessidade para o caacutelculo do sentido literal ao passo que expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade exigem um esforccedilo adicional de processamento

Este experimento consistiu na leitura palavra por palavra de sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Para aplicaacute-lo Flores drsquoArcais considerou que para se compreender locuccedilotildees verbais

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idiomaacuteticas seria necessaacuterio um processamento adicional devido agrave necessidade de calcular primeiramente o sentido literal e em seguida um sentido idiomaacutetico ou a necessidade de construir duas interpretaccedilotildees em paralelo como vaacuterios dos modelos na literatura desta aacuterea sugerem alternativamente entatildeo deveria esperar aumento da carga de processamento com expressotildees idiomaacuteticas em comparaccedilatildeo com as natildeo idiomaacuteticas

Em termos de material deste experimento foram selecionadas vinte e quatro expressotildees idiomaacuteticas sendo 12 familiares e 12 muito estranhas ou natildeo familiares dos quais respectivamente 6 eram transparentes e 6 muito opacas constituiacuteram o material experimental Eles foram incluiacutedos em frases com contexto neutro literal ou idiomaacutetico Setenta e duas frases de preenchimento foram misturadas com as 24 sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas Vinte e quatro dessas frases foram pareadas com sentenccedilas idecircnticas estruturas sintaacuteticas e conteuacutedos muito semelhantes agraves sentenccedilas contendo expressotildees idiomaacuteticas As sentenccedilas foram apresentadas em uma palavra um monitor em situaccedilatildeo on-line sob controle dos sujeitos

Em termos de sujeitos e procedimentos da pesquisa vinte e quatro estudantes da Universidade de Leiden participaram da experiecircncia como sujeitos voluntaacuterios pagos Os tipos de frases de contexto e as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas foram randomizados de tal forma que cada indiviacuteduo recebeu duas sentenccedilas em dois contextos diferentes Os sujeitos se sentavam em frente ao monitor a uma distacircncia de cerca de 70 cm e receberam a sentenccedila de uma palavra no momento pressionando uma tecla As palavras da locuccedilatildeo verbal foram apresentadas na tela da esquerda para a direita e manteve-se visiacutevel ateacute que o fim da locuccedilatildeo verbal Algumas das frases necessitaram de duas linhas na tela

Os resultados mostraram que o tempo de inspeccedilatildeo ao ponto de singularidade da expressatildeo idiomaacutetica eram praticamente o mesmo para itens familiares e para palavras de controle que faziam parte de locuccedilotildees verbais natildeo idiomaacuteticas Expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas por outro lado necessitavam agraves vezes de inspeccedilatildeo significativamente mais longa As expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas exigem tempo de inspeccedilatildeo significativamente superior do que aqueles transparentes A interaccedilatildeo entre o tipo de frase de

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contexto e familiaridade foi significativa apenas para as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A pesquisa de Flores drsquoArcais nos sugere que a ocorrecircncia de uma expressatildeo idiomaacutetica familiarizada natildeo requer qualquer computaccedilatildeo adicional e que o processamento prossegue da mesma maneira como com uma frase contendo uma locuccedilatildeo verbal natildeo idiomaacutetica da mesma complexidade estrutural do uma expressatildeo idiomaacutetica

Por outro lado quando a palavra diacriacutetica (ou idiomaacutetica) de uma expressatildeo desconhecida for reconhecida o leitor desacelera o ritmo de leitura dela indicando assim a necessidade para a atribuiccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo alternativa para a frase no ponto de sua idiomaticidade

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais mostram que os leitores tecircm mais dificuldade na interpretaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas enquanto que eles natildeo parecem ter qualquer dificuldade na interpretaccedilatildeo de uma expressatildeo mais conhecida do que qualquer outra parte da sentenccedila

A pesquisa obteve evidecircncias para a noccedilatildeo de que expressotildees familiares satildeo processadas sem qualquer problema Por outro lado expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares quando opacas e especialmente se incorporadas num contexto neutro oferecem alguns problemas de processamento Para Flores drsquoArcais parece razoaacutevel argumentar que este material eacute compreendido em seu sentido literal ateacute o ponto em que isso natildeo eacute mais possiacutevel Neste ponto alguma computaccedilatildeo adicional parece ser necessaacuteria

Os dados da pesquisa de Flores drsquoArcais assinalam enfim que expressotildees idiomaacuteticas familiares satildeo entendidas diretamente sem qualquer esforccedilo adicional e provavelmente sem a necessidade de computar a interpretaccedilatildeo literal Isso natildeo parece ser o caso para expressotildees idiomaacuteticas natildeo familiares para o qual o trabalho computacional adicional parece ser necessaacuterio e esta especialmente quando o contexto natildeo daacute qualquer sugestatildeo quanto agrave presenccedila de um sentido idiomaacutetico de uma cadeia criacutetica

O quarto e o quinto experimentos tentaram descobrir como as pessoas interpretam expressotildees desconhecidas e quais estrateacutegias que podemsatildeo utilizadas na atribuiccedilatildeo de tal interpretaccedilatildeo

O quarto experimento refere-se agrave interpretaccedilatildeo semacircntica de expressotildees familiares e natildeo familiares Neste experimento foram apresentados aos indiviacuteduos uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas e

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pedido que eles escolhessem entre quatro alternativas a frase que corretamente correspondia agrave paraacutefrase do sentido das expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de material da pesquisa foram quarenta e oito expressotildees idiomaacuteticas escolhidas de tal modo a cobrir toda a gama de escalas de familiaridade determinadas no primeiro experimento Para cada locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica foram feitas quatro paraacutefrases alternativas

Uma dessas alternativas correspondia agrave interpretaccedilatildeo (definiccedilatildeo de dicionaacuterio) correta da expressatildeo idiomaacutetica os outros foram escolhidos a partir das definiccedilotildees errocircneas produzidas pelos sujeitos do estudo (piloto) ou em alguns casos criadas pelo experimentador e dois colegas

Em termos de sujeitos e procedimento participaram do experimento cinquenta estudantes da Universidade de Leiden onde lhes foi dado um livreto contendo as 48 expressotildees idiomaacuteticas com quatro alternativas cada A tarefa era escolher a paraacutefrase (maneira diferente de dizer algo que foi dito frase sinocircnima de outra) que melhor correspondia em sentido ao sentido da locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica

Os resultados apontam que para expressotildees altamente familiares a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito alta enquanto que para as expressotildees idiomaacuteticas de baixa familiaridade a proporccedilatildeo de escolhas corretas foi muito menor

Os sujeitos do experimento eram na maioria dos casos capazes de selecionar a paraacutefrase adequada para expressotildees idiomaacuteticas familiares Por outro lado eles tambeacutem apresentavam um desempenho melhor do que por acaso mesmo com expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas

Segundo Flores drsquoArcais natildeo eacute de surpreender que a familiaridade com a expressatildeo idiomaacutetica estaacute correlacionada com a interpretaccedilatildeo correta Para ele o fato de agraves expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ser atribuiacuteda uma paraacutefrase correta de alguma forma sugere que as pessoas satildeo capazes de usar a informaccedilatildeo semacircntica presente na cadeia sintagmaacutetica a fim de chegar a uma soluccedilatildeo

O quinto experimento testou a produccedilatildeo de paraacutefrases para locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas desconhecidas

A perguntava que guiava o experimento era que tipo de estrateacutegias ou princiacutepios que as pessoas usam na busca de uma interpretaccedilatildeo de uma locuccedilatildeo idiomaacutetica desconhecida e opaca Ou

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em outras palavras Flores drsquoArcais perguntava o seguinte que tipo de interpretaccedilatildeo as pessoas podem oferecer quando se encontram diante de uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou uma que lhe eacute muito estranha ou difiacutecil de lembrar Que tipo de estrateacutegias as pessoas usam para tentar dar sentido a essas expressotildees

No experimento foi dada aos participantes uma seacuterie de expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas com o pedido para informarem em cada caso uma paraacutefrase Em seguida foram analisadas as paraacutefrases tentando isolar os princiacutepios que os sujeitos poderiam ter usado em produzi-los

Em termos de material foram selecionadas sessenta e quatro locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas 32 familiares e 32 desconhecidas assim como foram indexadas no primeiro experimento Dentro de cada uma destas duas categorias 16 eram bastante transparentes e 16 eram expressotildees idiomaacuteticas opacas Juntamente com este material um total de 66 sentenccedilas lacunadas (cloze) foram apresentadas algumas tendo um sentido metafoacuterico figurativo algumas apenas um sentido literal

No tocante aos sujeitos foram 80 alunos da Universidade de Leiden que participaram deste estudo em grupos

Em termos procedimentais as expressotildees idiomaacuteticas foram impressas (sem contexto) em um livreto com espaccedilo adequado para o assunto para dar uma resposta Cada paacutegina continha 10 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas e a ordem das paacuteginas do livro foi variada para assegurar pelo menos a randomizaccedilatildeo do material

Quanto agrave classificaccedilatildeo das respostas foram avaliadas em primeiro lugar na base da sua correccedilatildeo A avaliaccedilatildeo consistiu de correspondecircncia da paraacutefrase com o sentido de dicionaacuterio Este trabalho foi feito por quatro juiacutezes e na maioria dos casos a avaliaccedilatildeo natildeo apresentaou qualquer problema

As interpretaccedilotildees incorretas foram classificadas independentemente pelos quatro juiacutezes com base em um nuacutemero de categorias criadas pelos proacuteprios juiacutezes durante a classificaccedilatildeo das respostas Essas categorias em seguida foram reunidas e apoacutes discussatildeo dada uma uacutenica etiqueta

As paraacutefrases em seguida foram classificadas e atribuiacutedas a uma destas categorias Quando a classificaccedilatildeo muacuteltipla foi possiacutevel em alguns casos a paraacutefrase dada foi discutida entre os juiacutezes e a

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classificaccedilatildeo foi baseada em uma escolha forccedilada entre as duas categorias possiacuteveis

Os resultados deste experimento mostraram que a proporccedilatildeo de paraacutefrases era estreitamente alinhada ao sentido das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute muito alta para as expressotildees idiomaacuteticas familiares e significativamente menor para as desconhecidas

As paraacutefrases dadas pelos sujeitos podem basearam-se em um dos seguintes princiacutepios linguiacutesticos a seguir

(a) Analogia a frase idiomaacutetica era interpretada por analogia a uma expressatildeo conhecida que continha uma palavra ou um constituinte de uma expressatildeo familiar

(b) Uso de propriedades semacircnticas de uma das palavras da expressatildeo idiomaacutetica principalmente um dos substantivos sem considerar a frase inteira

(c) Extensatildeo metafoacuterica da accedilatildeo ou estado descrito na frase (d) Sentido literal a interpretaccedilatildeo era literalmente dada Nesse

caso os sujeitos natildeo foram capazes de descobrir qualquer interpretaccedilatildeo idiomaacutetica

(e) Outros nesta categoria foram classificados um nuacutemero de respostas muito pessoais ou idiossincraacutesicas no sentido de que os indiviacuteduos pareciam criaacute-las sem referecircncia a qualquer princiacutepio oacutebvio ou deram uma paraacutefrase que para todos os juiacutezes parecia completamente arbitraacuteria

Importante assinalar que a pesquisa de Flores drsquoArcais destaca que quando no experimento era apresentada uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida e pedido aos participantes para darem uma interpretaccedilatildeo eles pareciam ser capazes de dar paraacutefrases apropriadas ou adequadas e muitas vezes coincidiam com o sentido convencional da expressatildeo As interpretaccedilotildees propostas eram obtidas atraveacutes de expressotildees idiomaacuteticas familiares ou a partir de uma anaacutelise metafoacuterica A informaccedilatildeo semacircntica que constitui o sentido das unidades lexicais que fazem parte da locuccedilatildeo idiomaacutetica era usada para construir uma interpretaccedilatildeo muitas vezes adequada ou plausiacutevel

A pesquisa de Flores drsquoArcais chegou a trecircs conclusotildees Primeiro o contato inicial com a expressatildeo idiomaacutetica leva o

participante a recorrer agrave anaacutelise sintaacutetica mesmo sendo as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas muito familiares que em princiacutepio podem ser reconhecidas apoacutes as primeiras palavras da combinatoacuteria e natildeo

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necessitariam de uma anaacutelise sintaacutetica a fim de serem entendidas ou que parecem sugerir que satildeo analisadas como qualquer outra sequecircncia linguiacutestica o que significa dizer que a anaacutelise sintaacutetica eacute a rota normal e necessaacuteria para obter uma estrutura interpretaacutevel

Uma segunda conclusatildeo decorrente dos resultados da pesquisa indica que existe uma clara diferenccedila entre o processamento de expressotildees idiomaacuteticas bem conhecidas familiares e novas e desconhecidas Embora as expressotildees idiomaacuteticas conhecidas sejam normalmente processadas sem qualquer esforccedilo adicional a compreensatildeo de uma locuccedilatildeo verbal idiomaacutetica estranha ou natildeo familiar podem exigir algum esforccedilo adicional computacional

Uma terceira conclusatildeo eacute a de que quando eacute dada uma interpretaccedilatildeo a uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida isso ocorre com base em uma seacuterie de princiacutepios Alguns deles foram isolados como prova para os processos que levam uma a uma interpretaccedilatildeo significativa

A pesquisa de Flores drsquoArcais revelou finalmente que o processamento de locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas pode apresentar alguns problemas computacionais apenas quando as expressotildees idiomaacuteticas satildeo muito ou completamente desconhecidas As interpretaccedilotildees dadas a essas expressotildees satildeo muitas vezes apropriadas ou pelo menos proacuteximas ao sentido convencional Para alcanccedilar tais interpretaccedilotildees o usuaacuterio da liacutengua adota uma seacuterie de estrateacutegias que satildeo baseadas em princiacutepios simples ou simplesmente idiossincraacutesicos

Com base em alguns dos procedimentos e princiacutepios da pesquisa de Flores drsquoArcais (1993) elaboramos o 3ordm experimento de nossa pesquisa dividido em duas tarefas

Na primeira tarefa denominada Teste de Imagens Idiomaacuteticas (TII) objetivamos saber da competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pequisa em identificar e dizer os sentidos figurados ou fraseoloacutegicos a partir de imagens literais publicadas na internet que poderiam evocar expressotildees idiomaacuteticas apresentadas uma a uma ao participante

Na segunda tarefa denominada Teste da Competecircncia Fraseoloacutegica (TCF) buscamos saber sobre a competecircncia fraseoloacutegica dos sujeitos da pesquisa de modo a descobrir sentidos plausiacuteveis de 15 expressotildees idiomaacuteticas em Portuguecircs (para efeito de anaacutelise de dados soacute consideramos seis delas) as mesmas da primeira

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tarefa a partir de determinado contexto do portuguecircs escrito (jornais de grande circulaccedilatildeo nacional no Brasil) Os experimentos de Cooper (1999)

A pesquisa de Cooper (1999) investigou as estrateacutegias de

processamento cognitivo on-line utilizadas por uma amostra de falantes natildeo nativos de Inglecircs que foram convidados a darem os sentidos de expressotildees idiomaacuteticas frequentes e apresentadas em um contexto escrito

Os dados foram coletados por meio do protocolo verbal think-aloud procedure (procedimento de pensar em voz alta) Os participantes verbalizaram como acessam os sentidos das expressotildees idiomaacuteticas

Cooper parte da noccedilatildeo fregeana de natildeo composicionalidade semacircntica de que uma expressatildeo idiomaacutetica eacute uma expressatildeo cujo sentido nem sempre pode ser facilmente derivado do sentido comum dos seus elementos constitutivos Segundo ele eacute difiacutecil dizer o sentido literal por exemplo das palavras individuais (chutar balde pau barraca) em expressotildees como em portuguecircs chutar o balde e chutar o pau da barraca com o sentido de abandonar

Quanto aos participantes da pesquisa Cooper contou com um total de 18 sujeitos natildeo nativos do inglecircs Eles tinham idades entre 17 a 44 anos sendo a idade meacutedia de 293 anos Havia oito falantes nativos espanhoacuteis trecircs japoneses cinco coreanos um russo e um portuguecircs Os participantes tinham vivido nos EUA 51 anos em meacutedia e passaram de 73 meses em meacutedia estudando Inglecircs nos EUA Muitos dos participantes tinham estudado ou estavam estudando inglecircs em cursos de idiomas especiais destinados a aumentar a proficiecircncia dos estudantes estrangeiros para que eles pudessem atingir uma pontuaccedilatildeo alta o suficiente no teste de inglecircs como liacutengua estrangeira para admissatildeo em uma universidade dos EUA

No tocante aos materiais dos experimentos os participantes receberam um teste de reconhecimento idiomaacutetico no qual eles foram instados a darem oralmente os sentidos de 20 expressotildees idiomaacuteticas frequentemente usadas selecionadas de um dicionaacuterio de expressotildees idiomaacuteticas americanas As expressotildees idiomaacuteticas escolhidas

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representaram uma mistura de diferentes niacuteveis de discurso (em nossa pesquisa desconsideramos este criteacuterio lexicograacutefico e adotamos um criteacuterio fraseoloacutegico)

Na seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas feita por Cooper oito das expressotildees eram representativos do inglecircs padratildeo oito eram informais ou coloquiais no niacutevel do discurso e quatro eram expressotildees do tipo giacuterias As expressotildees em inglecircs padratildeo seriam mais provaacuteveis de ocorrerem em inglecircs escrito e expressotildees de giacuteria mais no coloquial

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de uma ou duas frases selecionadas a partir de estudos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L1 Cada expressatildeo com seu contexto foi digitada em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Desta forma a pesquisa buscou aferir as medidas de compreensatildeo para que fosse analisado o processamento das expressotildees idiomaacuteticas imediatamente apoacutes a percepccedilatildeo auditiva ou visual

Para investigar os processos de compreensatildeo idiomaacutetica Cooper usou a teacutecnica do think-aloud protocols (protocolo pensar em voz alta) para coleta de dados enquanto os estudantes eram submetidos ao Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) O foco da tarefa (think-aloud protocols) era o de obter dados para relatar o conteuacutedo de sua consciecircncia imediata isto eacute os sujeitos teriam de relatar o que eles estavam pensando no momento do teste Dados oferecidos pela assistecircncia teacutecnica (experimentadores) natildeo foram tomados como reflexos diretos de processos de pensamento mas sim como dados que se correlacionaram com processos subjacentes do pensamento dos participantes

Segundo Cooper os dados do Protocolo Verbal forneceriam provas do que estava na mente do indiviacuteduo durante a tarefa permitindo ao pesquisador zerar os esforccedilos mentais envolvidos no exato momento que um sujeito natildeo nativo encontra uma expressatildeo idiomaacutetica potencialmente problemaacutetica

A principal hipoacutetese da pesquisa de Cooper (1999) foi a de que o reconhecimento da expressatildeo idiomaacutetica pode ser influenciado por fatores linguiacutesticos como o sentido de uma determinada palavra na expressatildeo idiomaacutetica e extralinguiacutesticos como as experiecircncias e conhecimentos preacutevios dos participantes Por essa razatildeo os

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participantes foram solicitados a manterem esses fatores em mente ao verbalizem seus pensamentos sobre como eles chegaram a possiacuteveis sentidos das 20 expressotildees idiomaacuteticas

Nossa pesquisa difere brevemente deste porque levamos em conta sobretudo a memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes expressotildees memorizadas em que o informante sabe sua forma (fixaccedilatildeo) e seu conteuacutedo (idiomaticidade) natildeo podems falar em opacidade versus transparecircncia

Mesmo em casos de equivalecircncia de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (no caso dos africanos liacutenguas crioulas) consideramos estar diante de uma manifestaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica Em nossa pesquisa o recurso agrave L1 soacute foi considerado vaacutelido quando depois de constatado pelo experimentador que efetivamente o informante declarava natildeo lembrar nem saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo durante o protocolo verbal houve uma clara busca por uma estrateacutegica L1 para desvelar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2

Os dados da pesquisa foram analisados em duas fases Na primeira fase as definiccedilotildees das 20 expressotildees idiomaacuteticas pelos participantes foram pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta Na segunda fase da anaacutelise as respostas dos participantes para cada expressatildeo apoacutes serem divididas em segmentos discursivos (denominadas de t- unidades) e como tais foram analisadas e marcadas de acordo com a estrateacutegia de compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica utilizada pelo participante

As estrateacutegias de compreensatildeo para os quais foram encontradas provas nos dados foram denominadas com referecircncia a estudos anteriores que lidam com a compreensatildeo on-line da expressatildeo idiomaacutetica em L1 (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993) uma vez que tal terminologia tinha se mostrado eficaz na anaacutelise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir de protocolos verbais Estas estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas entre outras foram classificadas em dois grupos as estrateacutegias de preparaccedilatildeo e as estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo

As estrateacutegias de preparaccedilatildeo permitiram aos participantes clarificar e consolidar o conhecimento sobre a expressatildeo (Estrateacutegia RP repetir ou parafrasear o idioma) para ganhar mais tempo antes de

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proferir um palpite talvez para ensaiar uma resposta e para peneirar a nova informaccedilatildeo linguiacutestica (Estrateacutegia DA discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica) e para coletar informaccedilotildees adicionais a fim de dar um palpite melhor informado sobre o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RI solicitando informaccedilotildees sobre o idioma)

As estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo representam casos em que o participante realmente arriscou uma interpretaccedilatildeo da expressatildeo e a estrateacutegia que leva agrave suposiccedilatildeo foi categorizada como descobrir o sentido idiomaacutetica da expressatildeo a partir do contexto (Estrateacutegia AC) usando o sentido literal (Estrateacutegia SL) utilizando os conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP) referindo-se a uma liacutengua L1 (Estrateacutegia L1) ou usando outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE)

Cooper (1999) observou que durante a aplicaccedilatildeo do teste a maioria dos participantes estava muito interessada em participar dos protocolos de assistecircncia teacutecnica em mateacuteria de reconhecimento expressatildeo e sempre buscavam saber os sentidos das expressotildees Eles estavam conscientes das dificuldades inerentes agrave compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em L2 e queriam mais ajuda nesta aacuterea especialmente para lidar com a frustraccedilatildeo causada para compreenderem muitas expressotildees idiomaacuteticas em L2

Os dados levantados pelo TRI permitiram apontar que oito estrateacutegias de processamento de expressotildees idiomaacuteticas foram identificadas das quais trecircs foram usadas mais frequentemente (supor o sentido idiomaacutetico que a partir do contexto usar o sentido literal da expressatildeo e discutir e analisar a linguagem) enquanto as outras cinco estavam em menos evidecircncia (referir-se a uma lingua L1 solicitar informaccedilotildees sobre a linguagem e contexto repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica utilizar o conhecimento de fundo e usar outras estrateacutegias)

Em substacircncia a pesquisa de Cooper (1999) assinala que o modelo padratildeo para explicar a compreensatildeo idiomaacutetica natildeo foi encontrado entre os conhecidos modelos de compreensatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 (teorias leacutexicas e composicionais do processamento cognitivo das expressotildees idiomaacuteticas) entre outros mas trata-se um modelo heuriacutestico pelo qual os natildeo nativos do inglecircs apoacutes encontrarem uma expressatildeo idiomaacutetica desconhecida empregam uma variedade de estrateacutegias de uma forma de tentativa e erro para interpretar expressotildees idiomaacuteticas L2

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Modelos de aquisiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica em L1 natildeo se aplicam satisfatoriamente agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas pelos usuaacuterios L2 Algumas sugestotildees pedagoacutegicas derivadas dos achados foram incluiacutedas nas sugestotildees e recomendaccedilotildees da pesquisa de Cooper

Os procedimentos adotados por Cooper (1999) foram parcialmente aplicadas em nosso primeiro experimento Uma anaacutelise mais detida dos seus procedimentos metoloacutegicos levou-se a acrescentar algumas tarefas ao modelo estrateacutegico

Em nossa proposta introduzimos antes da tarefa de reconhecimento idiomaacutetico (denominada em nossa pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) duas tarefas identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e memoacuteria fraseoloacutegica Na primeira o informante teria que identificar a expressatildeo (grau de fixaccedilatildeo formal) e na segunda declarar se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

Com a inserccedilatildeo destas duas tarefas no modelo de Cooper (1999) pudemos entatildeo realizar a tarefa de idiomaticidade fraseoloacutegica na qual o informante atribuiacutea sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo e desconsideraacutevamos os informantes que jaacute sabiam de cor as expressotildees idiomaacuteticas do experimento

Os informantes descartados natildeo foram considerados tambeacutem no levantamento de frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas de nosso experimento Estes procedimentos foram transferidos aos 2ordm e 3ordm experimentos de nossa pesquisa

Em substacircncia o experimento baseado em Cooper foi dividido em quatro tarefas nas quais objetivaacutemos fazer uma gravaccedilatildeo digital do que os participantes da pesquisa pensavam sobre quando tentavam descobrir os significados de 15 expressotildees idiomaacuteticas em PB

Inicialmente foram dados um a um 15 cartotildees com expressotildees idiomaacuteticas e pedido que lessem o pequeno texto que trazia inserida a expressatildeo idiomaacutetica mas sem quaisquer marcas de identificaccedilatildeo de sua forma (fixaccedilatildeo formal)

A segunda tarefa pedia ao informante para que dissesse se lembrava ou natildeo da expressatildeo e de seu sentido idiomaacutetico

A terceira tarefa pedir que em voz alta dissesse ao experimentador tudo que estava pensando a partir do momento que olhasse a expressatildeo idiomaacutetica identificasse-a (ou natildeo posto que no caso de natildeo identificaacute-la tal procedimento seria feito pelo experimentador) ateacute que dizer o que ela significava no texto lido

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Na quarta tarefa o experimentador oferecia ajuda teacutecnica isto eacute estrateacutegias cognitivas (top-down) para que pudesse desvelar o sentido idiomaacutetico das expressotildees opacas Os experimentos de Crespo e Caceres (2006)

Entre as aquisiccedilotildees tardias da fala estaacute a capacidade de as

crianccedilas entenderem as frases feitas de natureza figurativa ou metafoacuterica que ocorrem na linguagem oral

Diante dessa problemaacutetica a pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) teve por objetivo descrever o desenvolvimento da compreensatildeo oral de frases metafoacutericas em crianccedilas entre 5 a 13 anos de idade matriculados em escolas puacuteblicas municipais e particulares em duas cidades no Chile

A pesquisa buscou especificamente alcanccedilar os seguintes objetivos a) apresentar as bases teoacutericas relacionadas com as frases feitas em espanhol e como as crianccedilas desenvolvem a sua compreensatildeo b) descrever o grau de compreensatildeo de frases feitas de natureza metafoacuterica em estudantes chilenos determinando a possiacutevel presenccedila de diferenccedilas significativas devido ao aumento da idade e c) determinar que tipo de frases feitas metafoacutericas satildeo mais faacuteceis ou mais difiacuteceis de entender

Os resultados indicaram diferenccedilas significativas no grau de compreensatildeo de enunciados metafoacutericos entre todos os grupos de idade considerados mais velhos

Os dados permitiram tambeacutem estabelecer que todos os enunciados fraseoloacutegicos foram relativamente faacuteceis Entre as unidades fraseoloacutegicas as colocaccedilotildees foram as que obtiveram percentuais maiores em termos de acertos quanto ao sentido idiomaacutetico seguidas dos proveacuterbios enquanto as locuccedilotildees verbais resultaram mais difiacuteceis de serem respondidas

A pesquisa permitiu estabelecer que um aluno com bom niacutevel de compreensatildeo das colocaccedilotildees tambeacutem foi capaze de lograr ecircxito em locuccedilotildees e proveacuterbios ao contrario do que ocorreu com alunos que evidenciaram um baixo niacutevel

A pesquisa teve um design natildeo experimental com as seguintes variaacuteveis consideradas idade agrupados por faixas mais largas (5-7 8-9 10-11 e 12-14 anos) definidas em grupos por idade para melhor estabelecer

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diferenccedilas entre os sujeitos e graus variaacuteveis de compreensatildeo das colocaccedilotildees locuccedilotildees e proveacuterbios que juntos constituem o grau variaacutevel de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

Em termos de instrumento da pesquisa foi utilizado um software interativo que consistia de 54 itens que mediamm quatro dimensotildees relacionadas com a compreensatildeo da linguagem figurada ou idiomaacutetica Com tal procedimento fora incluiacutedos itens relacionados a atos de fala indiretos ironia expressotildees idiomaacuteticas e pressuposiccedilotildees

Os itens consistiam em diaacutelogos realizados entre personagens de desenhos animados Cada diaacutelogo apresentava uma declaraccedilatildeo natildeo literal em que a crianccedila devia interpretar adequadamente escolhendo entre as respostas possiacuteveis a serem marcados como correta (um ponto) ou incorreta (zero ponto) Primeiramente os pesquisadores buscaram estabelecer a presenccedila de diferenccedilas no grau de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em funccedilatildeo da idade

Considerando a idade relativa dos participantes e a capacidade de compreender expressotildees idiomaacuteticas os resultados da pesquisa de Crespo e Caceres (2006) indicam que com a idade aumenta capacidade de compreender idiomaticamente as expessotildees e essas diferenccedilas passam a ser significativas em crianccedilas mais novas com relaccedilatildeo agraves mais velhas Em outras palavras a idade e os processos associados ao desenvolvimento da crianccedila em idade escolar determinam o niacutevel de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas

Outro fato que pode ser observado na pesquisa Crespo e Caceres (2006) eacute que embora as diferenccedilas na competecircncia idiomaacutetica sejam significativas em todas as faixas etaacuterias as diferenccedilas parecem aumentar nos primeiros trecircs grupos de idade (5-7 8-9 e 10-11) e diminuir menos de metade de um ponto entre os dois uacuteltimos (10-11 em comparaccedilatildeo com 12-14) Segundo os pesquisadores isto parece indicar que eacute nos primeiros anos escolares que o desenvolvimento da compreensatildeo idiomaacutetica torna-se mais evidente Foi observado que as colocaccedilotildees satildeo aquelas unidades fraseoloacutegicas que representam combinaccedilotildees mais simples e ao mesmo tempo mais faacutecil de serem compreendidas pelas crianccedilas

Os dados da pesquisa parecem indicar que o grau de dificuldade de uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo eacute inteiramente relacionado com a sua estrutura mas se deve a outros fatores como a familiaridade seu

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niacutevel analisabilidade sintaacutetica e o aumento da opacidade ou da transparecircncia semacircntica

Da pesquisa de Crespo e Caacuteceres (2006) levamos como procedimento metodoloacutegico para nossa pesquisa a seleccedilatildeo das 18 locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas presentes nos trecircs experimentos atraveacutes de suas tarefas uma vez que satildeo as locuccedilotildees do tipo verbo + argumento que melhor permitem observarmos o comportamento verbal dos participantes da pesquisa quanto agrave atribuiccedilatildeo de sentido literal e de sentido fraseoloacutegico agraves referidas unidades fraseoloacutegicas quando os mesmos satildeo submetidos a testes psicolinguiacutesticos Os experimentos de Detry (2010)

A pesquisa de Detry (2010) centrou-se na dimensatildeo literal-icocircnico

das expressotildees idiomaacuteticas (EI) e na possibilidade de explorar este aspecto a niacutevel cognitivo de aprendizagem na aacuterea de liacutengua estrangeira (LE)

Na parte teoacuterica de seu trabalho Detry mostra a importacircncia que as imagens formadas pelos componentes fraseoloacutegicos e seus valores metafoacutericos em jogo podem ser comparadas a partir de um ponto de vista natildeo soacute linguiacutestico mas mostram a importacircncia que as imagens podem ter tambeacutem de ordem psicolinguiacutestica de modo a contemplar a sua analisabilidade e transparecircncia (noccedilatildeo de motivaccedilatildeo semacircntica) de muitas expressotildees idiomaacuteticas

Em relaccedilatildeo ao processamento de expressotildees novas por falantes natildeo nativos Detry destacou em sua pesquisa a implicaccedilatildeo de que o tratamento especial geralmente dado agrave dimensatildeo literal levou os sujeitos da pesquisa a insistirem particularmente sobre o papel cognitivo a ser atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas semacircnticas das expressotildees

A pesquisa de Detry nos ajudou no design da primeira tarefa do 3ordm experimento que consistiu em solicitarmos dos participantes a identificaccedilatildeo das expressotildees (fixaccedilatildeo formal) a partir de imagens literais que poderiam evocar ou sugerir as seis locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas selecionadas para o experimento

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METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capiacutetulo inicialmente apresentamos como pensamos os

objetivos geral e especiacuteficos perguntas e hipoacuteteses da nossa pesquisa Descrevemos como refinamos os instrumentos da pesquisa durante a aplicaccedilatildeo de preacute-testes a estudantes universitaacuterios nativos e natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

Tratamos tambeacutem da organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento psicolinguiacutestico bem como material e procedimento de seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas segundo criteacuterios fraseoloacutegicos toacutepicos que seratildeo bem detalhados uma vez que o 2ordm e 3ordm experimentos seguiratildeo os mesmos passos metodoloacutegicos do experimento

Tratamos ainda de como concebemos o Protocolo verbal think aloud (TA) e como procedemos com a gravaccedilatildeo de aacuteudios e a correspondente transcriccedilatildeo de dados que constituiacuteram o Corpus Afri

Por fim a fim de obtermos ferramentas metodologicamente adequadas para a aplicaccedilatildeo de nossos trecircs experimentos psicolinguiacutesticos fez-se necessaacuterio um trabalho preacutevio composto por cinco etapas que descreveremos passo a passo Objetivos perguntas e hipoacuteteses da pesquisa Objetivo Geral

Esta pesquisa teve por objetivo geral investigar as estrateacutegias de

compreensatildeo idiomaacutetica utilizadas por falantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB) em contextos de uso Objetivos especiacuteficos de nossa pesquisa

(a) Solicitar aos participantes que verbalizassem seus

pensamentos durante o esforccedilo de acessar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica com ou sem apoio de contexto de situaccedilatildeo ou uso da liacutengua portuguesa na vertente brasileira

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(b) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB imediatamente apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em contexto de uso (texto escrito)

(c) Verificar o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB apoacutes lerem ou ouviram uma expressatildeo idiomaacutetica em situaccedilatildeo de contexto de uso (texto escrito lido pelos falantes) ou de forma isolada (exposiccedilatildeo oral feita pelo experimentador)

(d) Verificar o grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB a partir de estiacutemulos de imagens literais suscetiacuteveis de evocaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas

(e) Identificar os tipos de expressotildees que os sujeitos natildeo nativos do PB natildeo reconhecem o sentido idiomaacutetico (opacas) e as caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas que satildeo mais faacuteceis de compreender (transparentes)

(f) Verificar que taacuteticas e estrateacutegias cognitivas (bottom-up e top-down) satildeo mais usadas pelos em falantes natildeo nativos do PB e quais as estrateacutegias (bem-sucedidas) que os beneficiam nos processos de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas de uso no Brasil Perguntas da pesquisa

As dificuldades especiacuteficas com a quais nos defrontamos a partir do tema proposto e que resolvemos por intermeacutedio da pesquisa foram as seguintes

(a) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(b) De que forma expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa representadas por imagens variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(c) Ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico

(d) Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade intralinguiacutestica

(e) Que tipos de estrateacutegias os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas e quais delas foram bem-sucedidas

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Hipoacuteteses As respostas provaacuteveis para nossos problemas foram expressas

nas seguintes hipoacuteteses (a) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo

idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

(b) A identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica das expressotildees idiomaacuteticas representadas por imagens tende a apoiar-se na memoacuteria fraseoloacutegica dos falantes natildeo nativos do PB

(c) Os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria

(d) Os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos

(e) Os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

(f) As expressotildees que designam nomes de animais (zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(g) As expressotildees que designam nomes relacionados agrave botanismo (aacutervores) ao indumentismo (vestimenta) e ao gastronomismos (culinaacuteria) satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(h) Expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(i) O conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

(j) O fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

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(k) A idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

(l) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(m) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

Primeiros passos metodoloacutegicos

Ateacute que estabelececircssemos definitivamente os criteacuterios de seleccedilatildeo

de paiacutes lusoacutefonos os grupos de participantes da pesquisa por sexo por tempo de estada no Brasil e por instituiccedilatildeo educacional e finalmente aplicaacutessemos os experimentos ao universo de participantes dentro das minhas condiccedilotildees experimentais levamos muito para o mapeamento de todo o percurso metodoloacutegico resumidamente descrito nas cinco etapas a seguir

Na primeira etapa fizemos a seleccedilatildeo dos sujeitos constituiacutedos de estudantes universitaacuterios natildeo nativos do PB intercambistas (UFC Unilab e UECE) e regularmente matriculados em instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior (Unifor Fatene e Fanor) oriundos de dois paiacuteses africanos lusoacutefonos (Cabo Verde e Guineacute-Bissau) pertencentes agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (CPLP) Entrevistamos ainda angolanos e congoleses mas em pequeno nuacutemero o que desde cedo desconsideramos como sujeitos da pesquisa No caso dos congoleses ainda mais justificado porque o Congo natildeo tem o portuguecircs como liacutengua oficial

Na segunda etapa preparamos o material de trecircs experimentos e estabelecemos os criteacuterios de seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas por categorias fraseoloacutegicas seguindo os paracircmetros metodoloacutegicos de estudos empiacutericos jaacute realizados com participantes natildeo nativos de uma liacutengua dada com foco nas pesquisas e os estudos mais recentes na aacuterea de fraseologia

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Na terceira etapa com base na literatura sobre experimentos psicolinguiacutesticos relacionados agrave compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas organizamos a sequecircncia de tarefas de trecircs experimentos com o objetivo de averiguar a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo idiomaacutetica atraveacutes de um protocolo verbal think aloud

Na quarta etapa procedemos com o refinamento dos instrumentos da pesquisa onde inicialmente fizemos a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com 50 nativos do PB e com 10 estudantes africanos lusoacutefonos oportunidade em que obtivemos um feedback sobre se a redaccedilatildeo e a clareza do questionaacuterio eram evidentes para todos os questionados e se as questotildees ou questionaacuterios propostos faziam o mesmo sentido para todos os informantes

Na quinta e uacuteltima etapa desta fase preparatoacuteria para a realizaccedilatildeo da pesquisa para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos dos trecircs experimentos submetemos atraveacutes de troca de e-mails os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia (Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) e psicolinguiacutesticas (Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Florence Detry Luacutecia Fulgecircncio Mariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin) ateacute que configuramos a versatildeo final de nossa pesquisa o que nos levou ao longo deste processo a uma contiacutenua e profiacutecua reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva2

Soacute a partir da realizaccedilatildeo destas etapas acima cadastramos o Projeto de Pesquisa na Plataforma Brasil para ser avaliado pelo Conselho de Eacutetica da UFC atendendo ao que estabelecem as normas da Resoluccedilatildeo 4662012 que trata de pesquisas e testes em seres humanos

2 Entre os docentes brasileiros gostariacuteamos de registrar a importacircncia das contribuiccedilatildeo das professoras Ana Cristina Pelosi Livia Marcia Tiba Radis Baptista e Maria Elias Soares ambas da UFC que por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo do projeto de pesquisa fizeram-nos refletir sobre a qualidade e validade dos experimentos com as imagens e com as expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para os testes

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Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) com Parecer de nuacutemero de 3210212013

A tabulaccedilatildeo dos dados e a realizaccedilatildeo estatiacutestica foram feitas com auxilio do software Microsoft Excel 2003

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EXPERIMENTO E TAREFAS PSICOLINGUIacuteSTICAS

Participantes

Participaram dos experimentos psicolinguiacutesticos 20 estudantes selecionados para o Programa Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G)1 na UFC Unilab e UECE e um grupo de estudantes matriculados em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior (Unifor Fanor Fatene) no Cearaacute

O processo de recrutamento dos participantes foi feito inicialmente a partir de dados cedidos pela Coordenadoria de Assuntos Internacionais da UFC atraveacutes de uma lista com nomes de estudantes de graduaccedilatildeo da UFC em Fortaleza Sobral e Cariri com seus respectivos nuacutemeros de telefones celulares e e-mails o que nas primeiras tentativas de contato se mostrou um procedimento infrutiacutefero isto eacute natildeo foi suficiente para que o pesquisador obtivesse a adesatildeo voluntaacuteria (e creacutedito de confianccedila) dos estudantes agrave pesquisa

Posteriormente percebemos ser eficaz um processo de recrutamento atraveacutes das redes sociais em especial o Facebook com o envio de um convite aos estudantes africanos lusoacutefonos para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa contendo informaccedilotildees baacutesicas tais como o tiacutetulo da pesquisa e suas etapas equipe (pesquisador principal professora-orientadora e colaboradores) e o registro do Projeto de Pesquisa no Conselho de Eacutetica da UFCPlataforma Brasil Uma vez visualizada a primeira mensagem no Facebook enviamos nova mensagem aos participantes com solicitaccedilatildeo de amizade e confirmado individualmente o aceite por parte do destinataacuterio ativamos o bate-papo para formalizar o convite e sensibilizar o potencial sujeito para participaccedilatildeo voluntaacuteria na pesquisa definindo

1 O Programa de Estudantes-Convecircnio de Graduaccedilatildeo (PEC-G) criado oficialmente em 1965 oferece a estudantes de paiacuteses em desenvolvimento com os quais o Brasil manteacutem acordo educacional cultural ou cientiacutefico-tecnoloacutegico a oportunidade de realizarem seus estudos de graduaccedilatildeo em Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) brasileiras

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mecircs dia e horaacuterio para um encontro pessoal na UFC Centro de Humanidades nos Campi do Benfica e de Sobral

Entre os primeiros contatos pelo Facebook e o encontro pessoal com os participantes um a um para a realizaccedilatildeo dos testes muitas vezes levamos semanas ateacute que ganhaacutessemos sua confianccedila de todos participantes e despertaacutessemos neles o interesse de participar voluntariamente da pesquisa Agrave medida que fomos recebendo adesatildeo dos estudantes fomos pedindo a cada um deles que nos facilitassem contato com outros patriotas que residissem no Cearaacute Entre inuacutemeras respostas dos potenciais entrevistados recebemos estas

(a) Olaacute tdo bem Aceito participar da pesquisa Me desculpe pela demora eacute q eu estava muito ocupada faculdade Essa semana vai ser mais Light Caso decirc para senhor a gente poderia agendar logo para segunda feira d tarde Eu estudo no Benfica poderiacuteamos nos encontrar na Faculdade de Direito ou em qq lugar q fique proacuteximo ao Rualmoccedilarei laacute

(b) Olaacute Sim posso colaborar Como seria essa pesquisa Abraccedilo

(c) oi boa tardeeu aceito participar da pesquisa eu queria saber mais detalhadamente do que se trata a pesquisa

(d) oi natildeo tem problema natildeo eu posso participar da sua pesquisa sim Vc vai estar em sobral ateacute que dia bem qualquer coisa segunda a tarde da certo me liga ok tenha um bom final de semana abraccedilo e

(e) Prezado Vicente Martins Sou de Guineacute-Bissau estudante de Serviccedilo Social semestre 7deg de Faculdade Terra Nordeste - FATENECAUCAIA Podes contar com a minha participaccedilatildeo na sua pesquisa Mas gostaria de lhe salientar que faccedilo estagio no horaacuterio de manhatilde faculdade a tarde e outras atividades nos horaacuterios diferenciados Mas no momento estou de ferias na faculdade quer dizer que vou estar com disponibilidade de participar na pesquisa ateacute o final deste mecircs que eacute o fim das minhas ferias porque depois vou iniciar o meu trabalho de monografia o que vai consumir o meu tempo

Findo o processo de recrutamento dos participantes atraveacutes do Facebook contabilizamos mais de 200 estudantes africanos lusoacutefonos cabo-verdianos guineenses e angolanos interessados em participar da pesquisa o que nos levou a refinar mais uma vez a lista de potenciais sujeitos entre os que detinham mais tempo ou disponibilidade para as entrevistas ou em condiccedilotildees de deslocamento para conceder entrevista

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(modelo DID isto eacute Diaacutelogos entre Informante e Documentador ) de cerca de 1h 30min sem prejuiacutezo de suas atividades acadecircmicas Foram seis meses entre os primeiros contatos com os estudantes pelo Facebook e contatos por via celular e a conclusatildeo das gravaccedilotildees de aacuteudios com todos os sujeitos da pesquisa

O universo de sujeitos de nossa pesquisa envolveu inicialmente 32 africanos lusoacutefonos de Cabo Verde Guineacute-Bissau e Angola por serem estes paiacuteses africanos os que concentravam maior nuacutemero de estudantes-convecircnio no Cearaacute e estudantes matriculados agraves suas proacuteprias expensas em instituiccedilotildees privadas de educaccedilatildeo superior

Posteriormente para viabilizar o processo de transcriccedilatildeo dos aacuteudios tomamos a decisatildeo de reduzir o nuacutemero de paiacuteses (desconsideramos Angola por ter um nuacutemero reduzido de informantes entrevistados) caindo o nuacutemero de 32 para 20 informantes mantendo-se todavia ainda um nuacutemero elevado de transcriccedilotildees ortograacuteficas na ordem de mil folhas o que nos levou tambeacutem a diminuirmos o nuacutemero de itens dos testes que ateacute entatildeo eram de 45 para 18 expressotildees idiomaacuteticas ficando ao final 944 folhas de transcriccedilatildeo com 18 expressotildees idiomaacuteticas (incluindo as respostas relacionadas ao teste com imagens idiomaacuteticas) permitindo finalmente uma leitura mais detida do material transcrito e uma anaacutelise mais apurada das respostas dos informantes a partir de suas entrevistas concedidas ao pesquisador principal e agrave sua equipe de colaboradores (Mariana de Abreu Martins e Atiacutelia de Abreu Martins)

Para a anaacutelise dos dados dos experimentos psicolinguiacutesticos dividimos os informantes selecionados por paiacutes isto eacute Cabo Verde e Guineacute-Bissau em 4 grupos de 05 estudantes cada sendo

bull Grupo 1 (G1) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1234 e 5

bull Grupo 2 (G2) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Cabo Verde Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 6789 e 10

bull Grupo 3 (G3) composto por 05 estudantes do gecircnero feminino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 11121314 e 15

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bull Grupo 4 (G4) composto por 05 estudantes do gecircnero masculino de Guineacute-Bissau Nas tabelas os participantes deste Grupo estatildeo representados pelos nuacutemeros 1617 18 19 e 20

Levantamento de dados atraveacutes ficha dos informantes preenchida no dia da entrevista apontou para o seguinte quadro de representaccedilatildeo por paiacutes e curso

(a) 10 Alunos de cabo verde matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Comunicaccedilatildeo Social Publicidade e Propaganda Direito Engenharia Produccedilatildeo Mecacircnica Biotecnologia Engenharia Eleacutetrica Letras Medicina e Odontologia

(b) 10 alunos de Guineacute-Biassu matriculados nos cursos de Administraccedilatildeo Arquitetura e Urbanismo Ciecircncias Econocircmicas Ciecircncias Contaacutebeis Direito Engenharia de Produccedilatildeo Mecacircnica Serviccedilo Social Engenharia Eleacutetrica Ciecircncias da Computaccedilatildeo e Letras

Como criteacuterios de exclusatildeo foram considerados os informantes com estes quatro preacute-requisitos (a) a natildeo assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil e (d) apresentarem uma postura natildeo cooperativa ou indiferente durante a aplicaccedilatildeo dos testes ou interferecircncia ocasional de circunstantes durante as gravaccedilotildees dos aacuteudios de modo a comprometer a qualidade das gravaccedilotildees e suas respectivas transcriccedilotildees ortograacuteficas Foram excluiacutedos 12 informantes que tinham pelo menos uma destas restriccedilotildees acima

Como criteacuterios de inclusatildeo foram considerados (a) a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (b) natildeo serem concludentes ou estarem no uacuteltimo semestre da graduaccedilatildeo (c) informantes com mais de quatro anos residindo no Brasil informantes com ateacute quatro anos residindo no Brasil e(d) postura cooperativa durante a aplicaccedilatildeo dos testes e a natildeo interferecircncia ocasional de circunstantes na qualidade dos aacuteudios Observamos entre as caracteriacutesticas psicoloacutegicas dos informantes selecionados para a pesquisa as seguintes timidez vivacidade e perspicaacutecia

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Refinamento dos instrumentos da pesquisa Em nosso trabalho os preacute-testes com sujeitos nativos do

Portuguecircs Brasileiro (PB) aleacutem de nos terem possibilitado ajustes e detecccedilatildeo de incoerecircncias nos designs dos experimentos para estabelecermos graus de identificaccedilatildeo e memoacuteria fraseoloacutegicas e para a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas puderam aumentar a validade do nosso instrumento da pesquisa agrave medida que imprimiram um caraacuteter rigoroso agrave metodologia de modo a evitar tomada de decisotildees aleatoacuterias

Durante a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes relativos aos trecircs experimentos com sujeitos nativos do portuguecircs brasileiro estudantes universitaacuterios da UFC e da UVA ainda natildeo eram suficientemente claros da nossa parte os passos ou procedimentos metodoloacutegicos da nossa pesquisa

Algumas perguntas nos inquietavam do tipo (a) como selecionar e categorizar as expressotildees idiomaacuteticas que vatildeo aparecer nos testes (b) uma vez selecionadas as expressotildees deveriam aparecer dentro de que tipo de gecircnero textual (jornais revistas) ou devem ser colocadas dentro de um texto que o pesquisador venha a construir em anunciados breves Que extensatildeo (nuacutemero de palavras) deveriam ter os textos em que as expressotildees vatildeo aparecer para a leitura dos informantes O experimentador identificaria a expressatildeo jaacute na pergunta do experimento ou solicitaria que apoacutes a leitura os informantes fizessem a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Uma vez sendo identificada a expressatildeo pelo informante ou pelo experimentador a pergunta seguinte deveria se referir agrave memoacuteria fraseoloacutegica ou agrave idiomaticidade semacircntica ou intralinguiacutestica levando em conta L1 e L2 Na tarefa relacionada agrave questatildeo de muacuteltipla escolha quantas alternativas deveriam ser submetidas aos participantes e quais os criteacuterios para elaboraccedilatildeo destas alternativas Como categorizar previamente as taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo Como natildeo aborrecer os informantes durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud em que a todo momento o experimentador solicitaria que pensassem em voz alta para que todos seus comentaacuterios fossem registrados nos aacuteudios digitais Na tentativa de resolver estas questotildees acabamos por desenvolver tarefas especiacuteficas para dirimir estas duacutevidas ao longo da aplicaccedilatildeo fdos testes experimentos

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procurando explicitar as quatro perguntas fundamentais da pesquisa numa sequecircncia rigorosa (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica - memoacuteria fraseoloacutegica - idiomaticidade fraseoloacutegica) fruto das observaccedilotildees e experiecircncias na anaacutelise dos dados dos preacute-testes

Em outras palavras ressaltamos que tendo em conta que a opacidade-transparecircncia depende das caracteriacutesticas das unidades fraseoloacutegicas (metaacuteforas literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo e do conhecimento de cada falante consideramos que uma expressatildeo idiomaacutetica de faacutecil reconhecimento pelo falante nativo natildeo eacute necessariamente faacutecil para um falante natildeo nativo E vice-versa

Procuramos com a seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas e a montagem dos testes assim refletir bem este zelo com um informante muito especial que em hipoacutetese nenhuma poderia ser visto por noacutes como um estrangeiro comum no Brasil por apresentarem um perfil singular satildeo falantes lusoacutefonos competentes em L2 (liacutengua portuguesa) falantes com L1 (crioulo) com base lexical em L2 residentes temporaacuterios no Brasil e com paiacuteses relativamente distintos com relaccedilatildeo agrave economia poliacutetica educaccedilatildeo e ao ensino do portuguecircs como liacutengua oficial

Durante a aplicaccedilatildeo dos preacute-testes com imagens idiomaacuteticas (terceira bateria de testes) observamos que os falantes nativos do PB eram capazes de reconhecer (ou natildeo) como de fato aconteceu as imagens que podiam evocar expressotildees idiomaacuteticas (ou outras unidades fraseoloacutegicas como proveacuterbios e parecircmias por exemplo) e associaacute-las diretamente ao sentido figurado que armazenam em sua memoacuteria o que nos indicaria que essa operaccedilatildeo assim dependeria sobretudo do que o falante recordava como expressotildees em sua liacutengua materna (liacutengua portuguesa na vertente brasileira)

Em outras palavras os dados do preacute-teste natildeo foram capazes de nos indicar se as expressotildees idiomaacuteticas eram transparentes ou natildeo jaacute que simplesmente os falantes nativos as armazenam em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam no seu cotidiano Por essa razatildeo quando elaboramos definitivamente os trecircs experimentos descartamos os informantes que lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

Reestruturamos os preacute-testes com imagens idiomaacuteticas e os convertemos em duas etapas na terceira bateria de testes de nossa pesquisa

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Cremos que se os falantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro diante de uma imagem de uma nova expressatildeo idiomaacutetica portanto natildeo previsiacutevel em sua liacutengua (no caso o crioulo) podem adivinhar parcial ou totalmente seu sentido figurado entatildeo isso poderia nos indicar que algo na imagem ajuda a chegar ao sentido figurado Desta forma para julgarmos o grau de transparecircncia-opacidade das expressotildees idiomaacuteticas natildeo consideramos as respostas dos nativos no preacute-teste O ineditismo do trabalho estaria pois em observarmos o comportamento verbal de informantes natildeo nativos que declarassem desconhecer a forma fixa e o sentido translato das expressotildees idiomaacuteticas

Os dados dos preacute-testes nos levaram a considerar o seguinte em nossa pesquisa a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica dependeraacute do contexto proposto O contexto poreacutem para um falante nativo pode ser ou natildeo clarificador em relaccedilatildeo ao sentido figurado ou idiomaacutetico de expressatildeo opaca No caso de um falante natildeo nativo o contexto conteacutem chaves semacircnticas para que chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica Por essa razatildeo as 45 expressotildees idiomaacuteticas utilizadas nas trecircs baterias de testes foram contextualizadas a partir de excertos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional

Posteriormente submetemos informalmente a trecircs estudantes africanos as trecircs baterias de testes Observamos que na segunda bateria e na terceira de testes uma expressatildeo idiomaacutetica posta em contexto ajudava mais que uma expressatildeo idiomaacutetica apresentada de forma isolada como ocorreu nos preacute-testes com os nativos

Se a expressatildeo eacute opaca um natildeo nativo do portuguecircs brasileiro como eacute o caso de um africano lusoacutefono natildeo teria a princiacutepio condiccedilotildees de descobrir o que eacute fora de contexto Em substacircncia fomos levados a reconhecer que o contexto realmente dirige a compreensatildeo e noacutes lusoacutefonos nativos e natildeo nativos de uma liacutengua portuguesa sempre construiacutemos o sentido Os resultados da pesquisa confirmaram que os sentidos idiomaacuteticos das expressotildees foram altamente dependentes do contexto construiacutedo

Vimos tambeacutem mesma expressatildeo idiomaacutetica pode natildeo ser compreensiacutevel num contexto (formal como em texto jornaliacutestico de circulaccedilatildeo nacional) e ser compreensiacutevel em outro (informal como por exemplo em exemplo dado pelo experimentador) Por essa razatildeo fomos levados a repensar as estrateacutegias top-down acrescentado duas delas AA (Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de

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alternativas de muacuteltipla escolha) e AT (Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal) para ajudar na codificaccedilatildeo das respostas dos informantes agraves perguntas dos testes

Os resultados da primeira fase dos preacute-testes foram bastante fraacutegeis porque as expressotildees idiomaacuteticas foram apresentadas aos participantes isoladamente mas como a discutirmos com os estudantes brasileiros especialmente os da aacuterea de Letras advertiram-nos que se as expressotildees fossem contextualizadas os dados seriam mais reveladores sobre os processos de compreensatildeo idiomaacutetica posto que o contexto desempenha importante papel na construccedilatildeo ou montagem do sentido idiomaacutetico das expressotildees idiomaacutetica

Convencidos da necessidade de utilizaccedilatildeo de contextos de uso na apresentaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas aos nossos informantes acreditamos que tal procedimento se constitui a rigor em um meacutetodo eficiente para a pesquisa sobre estrateacutegias de compreensatildeo com informantes natildeo nativos do portuguecircs brasileiro e que aleacutem de ser mais interessante tambeacutem pode nos oferecer melhores resultados ou respostas para os problemas desta investigaccedilatildeo como veremos mais adiante Organizaccedilatildeo apresentaccedilatildeo e conteuacutedo do experimento

Para a realizaccedilatildeo deste experimento foram utilizados os

seguintes procedimentos a) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede CNS 19696 apresentado em voz alta pelo entrevistador antes das entrevistas e em seguida lido em voz silenciosa pelos informantes e depois de tiradas as duacutevidas devidamente assinado pelos mesmos As instruccedilotildees lidas aos participantes no momento da entrega deste documento natildeo faziam quaisquer menccedilotildees a aspectos metalinguiacutesticos da pesquisa como por exemplo a definiccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica nem daacutevamos tambeacutem exemplos de locuccedilotildees verbais (o conjunto dos itens selecionado para a pesquisa) um dos tipos de expressotildees idiomaacuteticas escolhido para nossa investigaccedilatildeo

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b) Realizaccedilatildeo de uma bateria de testes ou experimentos psicolinguiacutesticos atraveacutes de quatro tarefas ou experimentos para coleta de dados obedecendo rigorosamente as etapas abaixo

(1) Tarefa 1 Teste e Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes apoacutes a leitura dos testes identificarem no texto a expressatildeo pluriverbal fixa isto eacute a forma fixa da expressatildeo idiomaacutetica (locuccedilatildeo verbal)

(2) Tarefa 2 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica que consistiu em os informantes antes da aplicaccedilatildeo do Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica declararem se lembravam ou haviam ouvido a expressatildeo ou se lembravam a expressatildeo mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico ou ainda se lembravam a expressatildeo e sabiam seu sentido idiomaacutetico

(3) Tarefa 3 Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica que consistiu em antes durante ou depois da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal os informantes atribuiacuterem sentido idiomaacutetico agrave expressatildeo dada isto eacute apontar sua idiomaticidade semacircntica com ou sem Solicitaccedilatildeo de Informaccedilatildeo (SI) ou ajuda teacutecnica do experimentador e

(4) Tarefa 4 Teste de Verificaccedilatildeo de Estrateacutegias de Compreensatildeo que consistiu em capturar dos informantes durante a realizaccedilatildeo das entrevistas as estrateacutegias decorrentes do protocolo verbal de ajuda teacutecnica nas tarefas 1 2 e 4 de modo a evidenciar a frequecircncia de uso de estrateacutegias de compreensatildeo e as estrateacutegias bem-sucedidas relacionadas ao reconhecimento idiomaacutetico de seis expressotildees fixas

A primeira bateria de testes apresenta os seguintes itens meacutetodo (material) com suas etapas (familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando) Em seguida apresentamos seus objetivos especiacuteficos e os problemas e as hipoacuteteses a eles correlacionadas em cada uma das tarefas da bateria

Assim procedemos porque acreditamos que do ponto metodoloacutegico os objetivos e hipoacuteteses de uma pesquisa devem estar relacionados entre si e em torno dos problemas levantados (das questotildees de pesquisa) pertinentes ao objetivo de estudo

Para assegurarmos a validaccedilatildeo do conteuacutedo e confiabilidade dos procedimentos destas tarefas acima descritas submetemos os designs dos experimentos agrave apreciaccedilatildeo de especialistas em fraseologia

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(Gloria Corpas Pastor Leonor Ruiz Gurillo Antonio Pamies Bertraacuten Carmen Mellado Blanco Gaston Gross Maria J Cuenca Pelegri Sancho Inmaculada Penadeacutes Martiacutenez Nina Crespo Liacutevia Maacutercia Tiba Raacutedis Baptista Mario Garciacutea-Page Saacutenchez Oto Vale Cleci Regina Bevilacqua Tatiana Rios e Rosemeire Selma Monteiro-Plantin esta nossa orientadora) e psicolinguistas do Brasil e da Espanha ( Leonor Scliar Cabral Maria Elias Soares Ana Cristina Pelosi Silva de Macedo Luacutecia Fulgecircncio Alessandra Del Reacute Leacutelia Melo Sandra Antunes Marilei Amadeu Sabino Rosemeire Selma Monteiro-PlantinMariacutea Isabel Gonzaacutelez Rey Emilio Rivano Juan Pablo Larreta Zulategui e Florence Detry) ateacute que configuraacutessemos a versatildeo final o que nos levou ao longo deste processo agrave reestruturaccedilatildeo dos itens dos testes e das instruccedilotildees dirigidas aos participantes da pesquisa definitiva Material e Procedimento de seleccedilatildeo

Como dissemos anteriormente o material e procedimentos de

seleccedilatildeo foram melhor refinados depois da aplicaccedilatildeo do preacute-teste a 50 alunos nativos do PB estudantes do Curso de Letras da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) em Fortaleza e da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) em Sobral Haviacuteamos inicialmente selecionado 55 expressotildees idiomaacuteticas todas locuccedilotildees verbais o que na fase dos testes da pesquisa se mantidas nesta totalidade tomariam muito tempo dos estudantes africanos e poderiam aborrececirc-los

Optamos por essa razatildeo pela reduccedilatildeo do nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas Entatildeo de 55 reduzimos para 45 o nuacutemero de expressotildees idiomaacuteticas para os trecircs testes elaborados para a pesquisa sendo que cada teste ficou com 15 itens Cada teste envolveu vaacuterias tarefas aleacutem da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal A ideia era a de ter em cada teste expressotildees suficientes para em um eventual corte termos condiccedilotildees de escolher as mais adequadas agrave pesquisa o que acabou acontecendo como descrevemos mais adiante

Vale salientar que a fase de realizaccedilatildeo dos preacute-testes com os nativos do PB foi muito importante para a redefinirmos amiuacutede o material e procedimento de seleccedilatildeo dos informantes antes de fazermos a pesquisa de campo Haviacuteamos selecionado por exemplo para a primeira bateria de testes 15 expressotildees idiomaacuteticas subdivididas em 3 grupos (a) 1ordm grupo - brasileirismos ficar de queixo

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caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha e ver o sol (nascer) quadrado (b) 2ordm grupo - giacuterias chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga e tirar aacutegua do joelho (c) 3ordm grupo - popularismos aguentar o tranco bater as botas botar a boca no trombone sair com o rabo entre as pernas segurar as pontas

A seleccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas acima poreacutem mostrou-se pouco operante na fase final de seleccedilatildeo das expressotildees Jaacute observarmos durante anaacutelise dos dados dos preacute-testes aplicados aos nativos do PB que a divisatildeo em classes era contraproducente Assim abandonamos o criteacuterio lexicograacutefico de classificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (brasileirismos giacuterias popularismos) porque consideramos que este modelo de taxonomia lexicograacutefica natildeo atendia aos objetivos de nossa pesquisa sem deixarmos de mencionar que eram grupos ou classes que se superpunham isto eacute as classes propostas natildeo eram excludentes entre si

Na classificaccedilatildeo dos dicionaacuterios gerais (Houaiss 2009 Aureacutelio 2009 e Sacconi 2010) uma expressatildeo era incluiacuteda na classe dos brasileirismos e outra na classe das giacuterias o que natildeo havia motivo de ordem linguiacutestica para tal procedimento Por exemplo a expressatildeo ldquomatar a cobra e mostrar o pau mostrarrdquo em um dicionaacuterio era classificada como um ldquobrasileirismordquo mas em outro dicionaacuterio recebia uma outra denominaccedilatildeo assim como ldquochutar o pau da barracardquo estaacute na classe das giacuterias e natildeo na mesma classe de ldquosair com o rabo entre as pernasrdquo assim por diante Realmente um impasse que precisava ser resolvido antes de aplicarmos os testes aos natildeo nativos do PB A distribuiccedilatildeo das expressotildees nas classes acima nos pareceu tambeacutem bastante arbitraacuteria Em uma fraseologia estaacutevamos a continuar com este modelo num beco sem saiacuteda

Diante desse embaraccedilo lexicograacutefico recorremos agrave praacutetica taxionocircmica presentes nas atuais pesquisas fraseoloacutegicas europeias nomeadamente hispacircnicas tendo a frente pesquisadores como Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p363-364) Olza Moreno (2011 p37-41) Luque Nadal ( 2012 p66-69) Mellado Blanco (2004 p15-40) o que nos levou a reclassificar as expressotildees do nosso estudo em zoomorfismos somatismos e especiais estas subdivididas dependendo do teste em botanismos indumentismos e gastronomismos

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No caso da 1ordf bateria de testes de reconhecimento ficamos com dois zoomofismos dois somatismos e dois botanismos assim excluindo as demais especiais (indumentismos e gastronomismos)

Seguindo a liccedilatildeo de Mellado Blanco (2004 p22) entendemos por zoomorfismos e somatismos as expressotildees idiomaacuteticas que contecircm pelo menos um lexema referente a nome de animais ou agrave parte do corpo humano respectivamente Nas especiais os botanismos satildeo expressotildees que trazem na sua formaccedilatildeo um lexema relacionado agrave botacircnica os indumentismos ao menos um lexema relacionado agrave vestimenta e gastronismos expressotildees idiomaacuteticas que tenham ao menos um lexema relacionado agrave arte culinaacuteria ou agraves refeiccedilotildees apuradas Os indumentismos foram utilizados na segunda e os gastronomismos na terceira bateria de testes

Como jaacute antecipamos em paraacutegrafo anterior para esta primeira bateria de testes dado o volume de informaccedilotildees contidas nas respostas agraves 15 expressotildees idiomaacuteticas contextualizadas registradas atraveacutes das respostas dadas pelos estudantes africanos lusoacutefonos agraves quatro tarefas selecionamos 06 delas para apresentaccedilatildeo destes dados classificadas conforme as taxionomias mais frequentes nas pesquisas fraseoloacutegicas atuais

Sendo assim o primeiro grupo foi formado por duas expressotildees zoomoacuterficas ou zoomorfismos matar cachorro a grito e pagar mico O segundo grupo foi formado de duas expressotildees somaacuteticas ou somatismos tirar aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone O terceiro grupo foi formado de duas expressotildees botacircnicas ou botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca

Para testarmos a frequecircncia das expressotildees idiomaacuteticas no Portuguecircs Brasileiro submetemo-las a um mecircs da data da aplicaccedilatildeo da primeira bateria de testes de reconhecimento idiomaacutetico ao Google Brasil obtendo os seguintes resultados (a) Zoomorfismos matarmatando cachorro a grito ( 247000 resultados) e pagarpagando mico (796000 resultados) (b) Somatismos tirartirando aacutegua do joelho (187000 resultados) e pocircr a boca no trombone ( 623000 resultados) e (c) Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa ( 215000 resultados ) e chutarchutando o pau da barraca( 654000 resultados) Como

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podemos observar todas as expressotildees tecircm uma frequecircncia de uso significativo nas mais diversas miacutedias no Brasil

Aleacutem do Google recorremos a obras especializadas para observamos o registro ou a presenccedila das referidas unidades fraseoloacutegicas nos dicionaacuterios de expressotildees idiomaacuteticas publicados no Brasil tendo ainda neles consultado as acepccedilotildees mais comuns com suas respectivas abonaccedilotildees como as presentes no Dicionaacuterio de locuccedilotildees e expressotildees da liacutengua portuguesa de Carlos Alberto de Macedo Rocha e Carlos Eduardo Penna de Rocha (2011) Afinal era preciso por parte do analista ter um conjunto de acepccedilotildees ou definiccedilotildees parafraacutesticas e abonaccedilotildees das expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para cotejar com as respostas dos informantes

Para auxiliar os participantes a decifrar os sentidos das 06 expressotildees idiomaacuteticas cada expressatildeo foi incorporada em um contexto de situaccedilatildeo Desta maneira cada expressatildeo com seu contexto foi digitado em um cartatildeo de nota separada e entregue aos participantes em sequecircncia Os participantes eram introduzidos agrave primeira bateria de testes com os seguintes textos extraiacutedos de jornais de grande circulaccedilatildeo nacional contendo as seguintes expressotildees idiomaacuteticas por categorias de classificaccedilatildeo Seleccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas do Experimento ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Contexto de situaccedilatildeo Costuma-se pensar que artistas de modo

geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado de Satildeo Paulo 20032011)

Sentido idiomaacutetico encontrar-se em situaccedilatildeo aflitiva eou desesperadora estar sem dinheiro em difiacutecil situaccedilatildeo financeira dispondo-se a fazer qualquer coisa para dela sair

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Natildeo pagar mico Contexto de situaccedilatildeo Para quem natildeo quer pagar mico na escolha

de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012)

Sentido idiomaacutetico natildeo fazer besteira natildeo passar vergonha por situaccedilatildeo ridiacutecula

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Contexto de situaccedilatildeo Existem perguntas que alvez vocecirc soacute tinha

feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007)

Sentido idiomaacutetico urinar verter urina voluntaacuteria ou involuntariamente

Pocircr a boca no trombone Contexto de situaccedilatildeo Indignado com os desmandos em Chaval

uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog tambeacutem lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011)

Sentido idiomaacutetico Dar gritos berrar com estardalhaccedilo chorando advertindo etc reclamar em altos brados protestar revelar segredos contar tudo o que sabe

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Contexto de situaccedilatildeo A partir do dia primeiro de janeiro quando

for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210)

Sentido idiomaacutetico sofrer uma seacuteria liccedilatildeo sofrer um corretivo ou castigo em algueacutem demonstrar o proacuteprio valor

Chutar o pau da barraca Contexto de situaccedilatildeo Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso

Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes (In Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009)

Sentido idiomaacutetico mostrar-se irritado aborrecido impaciente abandonar desistir de um projeto Protocolo Verbal Think Aloud (TA)

Os experimentos off-line em psicolinguiacutestica experimental satildeo

baseados segundo Leitatildeo (2009 p223) em respostas dadas por indiviacuteduos apoacutes estes terem lido ou ouvido uma frase ou um texto permitindo que o pesquisador possa capturar reaccedilotildees e estiacutemulos linguiacutesticos quando jaacute houve uma integraccedilatildeo entre todos os niacuteveis linguiacutesticos (fonoloacutegico morfoloacutegico lexical fraseoloacutegico sintaacutetico semacircntico)

Esta metodologia experimental levou-nos entatildeo a formular um Protocolo Verbal do tipo think aloud tal qual o modelo de Cooper (1999) de experimentos similares ao que nos propusemos a esta pesquisa de modo que nos permitisse observar atraveacutes de um experimento off-line como os estudantes africanos lusoacutefonos processavam a identificaccedilatildeo a recordaccedilatildeo e a compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas isto eacute como verbalizavam o que lhes vinha agrave mente durante a realizaccedilatildeo das tarefas 1 2 3 e 4 da primeira bateria de testes

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Para uma pesquisa de processamento fraseoloacutegico por estudantes natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro cremos que o Protocolo Verbal por ser um meacutetodo introspectivo justifica-se por evitar interpretaccedilotildees ou afericcedilotildees difusas ou muito subjetivas no tocante ao processamento da compreensatildeo idiomaacutetica e tambeacutem o referido instrumento nos permite recolher com mais seguranccedila dados linguiacutesticos a partir de um processo de verbalizaccedilatildeo muito simples para os participantes tornando-se acessiacutevel a qualquer indiviacuteduo (TOMITCH 2008) e para o pesquisador empiricamente um instrumento facilitador quanto agraves atividades de transcriccedilatildeo e de codificaccedilatildeo das estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando-nos ainda levar a efeito vaacuterias tarefas psicolinguiacutesticas com objetivo de investigarmos a compreensatildeo idiomaacutetica dos falantes natildeo nativos

Os procedimentos do Protocolo verbal think aloud na primeira bateria de testes seguiram os mesmos passos metodoloacutegicos da pesquisa Cooper (1999) aplicada a 18 estudantes de Inglecircs como L2 nos EUA e os de outros estudos de L2 que tambeacutem adotaram a mesma metodologia psicolinguiacutestica (CHARTERS 2003 e BAHAMEED 2009 )

As tarefas foram registradas em gravador digital de voz (CXR190-2GE) posteriormente transcritas ortograficamente com notaccedilotildees das conversas ou comentaacuterios observados pelos transcritores e pelo entrevistador (pesquisador principal) de modo a oferecer dados para a identificaccedilatildeo recordaccedilatildeo e compreensatildeo do sentido das expressotildees idiomaacuteticas Transcriccedilatildeo de Dados

As vinte entrevistas dos sujeitos do experimento psicolinguiacutestico

foram transcritas na iacutentegra do gravador digital de voz produzindo 267 paacuteginas de degravaccedilatildeo em espaccedilo duplo contendo cerca de 25000 palavras Esta primeira bateria representou 41 das 944 paacuteginas transcritas das trecircs baterias de experimentos realizadas nesta pesquisa

Com o objetivo de agilizar o processo de transcriccedilatildeo dos 20 aacuteudios e manter a homogeneidade no tratamento dos dados instruiacutemos e constituiacutemos uma equipe de seis profissionais na aacuterea de Letras que

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juntamente com o pesquisador principal2 colaboraram com as transcriccedilotildees ortograacuteficas

Como a experiecircncia com Facebook na fase de recrutamento mostrou-se eficiente com objetivo de estimular a troca de ideias opiniotildees e tira-duacutevidas criamos um grupo fechado tambeacutem por esta miacutedia social denominado Grupo de Estudos e Transcriccedilotildees Ortograacuteficas (GESTO acesso por httpswwwfacebookcomgroupsfraseologiafref=ts) que contou com a participaccedilatildeo ativa dos seis membros ao longo de trecircs meses de atividades de transcriccedilatildeo

Aleacutem das instruccedilotildees do Alibi recorrermos agraves normas de transcriccedilotildees do NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta) elaborado por PRETI (2001 p11-12) descrito abaixo

Tabela 1 - Normas Para Transcriccedilatildeo ndash NURC

OCORREcircNCIAS SINAIS EXEMPLIFICACcedilAtildeO

Incompreensatildeo de palavras ou segmentos

( )

digamos entre aspas nesses bairros aqui ldquoAldeota Praia de Iracema Beira-Marrdquo sei laacute alguma ( ) confusatildeo assim natildeo

sei eu acho que ldquosoltar a frangardquo acho que seria arrumar

confusatildeo

Hipoacutetese do que se ouviu (hipoacutetese)

eu jaacute entendi hellip tem um outro ditado assim que na minha

terra a gente usa hellip e h tipo hellip (compra comprar sanino

dentro da cova) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip

Truncamento (havendo homografia usa-se acento indicativo da tocircnica e ou

timbre)

eacute hellip uma uma menina que tava eu natildeo tava assim dentro

do contexto que ele tava falando hellip soacute que eu tocirc

escutando hellip de queixo caiacutedo hellip

2 Esta atividade de transcriccedilatildeo soacute foi possiacutevel graccedilas agraves orientaccedilotildees dadas pela Dra Socorro Aragatildeo para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica de cinco informantes de Sobral cidade situada na mesorregiatildeo noroeste do Estado do Cearaacute para o Atlas Linguiacutestico do Brasil (Alibi) A partir desta experiecircncia com o Alibi pudemos aplicar os mesmos procedimentos de degravaccedilatildeo a nossa pesquisa

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Entonaccedilatildeo enfaacutetica Maiuacutesculas

PRONTO eu acho nesse caso comer com os olhos significa apreciar uma coisa alguma

comida gostar vocecirc jaacute estaacute comendo

Alongamento de vogal ou consoante (como s r)

podendo aumentar para

ou mais

Ao emprestarem os eacute o dinheiro

Silabaccedilatildeo - ((conversas ao longe))

aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae

Interrogaccedilatildeo ldquotirar mais aacutegua do

joelhordquovocecirc sabe me dizer o sentido

Qualquer pausa

ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais

aliviado

Comentaacuterios descritivos do transcritor

((minuacutesculas))

tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo

difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute

o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai

sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Comentaacuterio que quebram a sequecircncia temaacutetica da exposiccedilatildeo exposiccedilatildeo

desvio temaacutetico

-- -- ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir-- -- eacute justamente -- --

expressatildeo idiomaacutetica

Superposiccedilatildeo simultaneidade de voz

Ligando as linhas

ah hellip vocecirc passa por algueacutem e diz assim hellip cadecirc cadecirc o

Manuel hellip aiacute diz hellip rapaz o Manuel hellip pelo que eu sei

estaacute vendo o sol quadrado hellip o cara cometeu aquele crime hellip a justiccedila agora botou quente hellip a

poliacutecia veio em cima e ele agora taacute vendo o sol quadrado

hellip eu acho que ele vai passar e h

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tempo hellip vai passar uns dez anos laacute hellip ((barulho vozes ao

fundo algueacutem interpela o entrevistador que agradece a

essa pessoa))

Indicaccedilatildeo de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto

Natildeo no seu inicio por exemplo

((silecircncio)) ((silecircncio)) esse falta o povo

chutar o pau da barraca

Citaccedilotildees literais reproduccedilatildeo de discurso

direto ou leituras de textos durante a gravaccedilatildeo

ldquo rdquo

a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da

sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Entre as principais observaccedilotildees do NURC levamos em conta em

nossa pesquisa as seguintes a) As iniciais maiuacutesculas natildeo deveriam ser usadas em inicio de

periacuteodos turno e frases b) Expressotildees faacuteticas deveriam ser registradas pelos

transcritores tais como ah eacute eacute ahn eacute n uhn taacute c) Nomes comuns estrangeiros ou hipoacutetese da liacutengua crioula

grafados em negrito d) Nuacutemeros deveriam ser grafados por extenso e) Os transcritores natildeo deveriam indicar nas transcriccedilotildees o

ponto de exclamaccedilatildeo (frase exclamativa) ou o ponto de interrogaccedilatildeo (frase interrogativa) exceto as perguntas do entrevistador

f) Os transcritores natildeo deveriam fazer anotaccedilotildees ou comentaacuterios relativos ao cadenciamento da frase exceto casos bem evidentes de truncamentos

g) Os transcritores poderiam combinar sinais Por exemplo oh hellip (alongamento e pausa)

h) Os transcritores natildeo deveriam utilizar sinais de pausa tiacutepicos da liacutengua escrita como ponto-e-viacutergula ponto final dois pontos viacutergula As reticecircncias marcariam qualquer tipo de pausa

Eis um trecho de transcriccedilatildeo realizada pelo grupo Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica

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Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

Entrevistador fazer coisas baacutesicas Participante eacute ((risos)) talvez Entrevistador eacute muito bem eacute o quecirc te chama atenccedilatildeo

ah vocecirc ler a expressatildeo eacute ldquomatar cachorro a gritordquo ldquochutar o pau da barracardquo vocecirc ldquover o sol quadradordquo vocecirc apontou o quecirc que te chama atenccedilatildeo nestas frases que vocecirc taacute apontando

Participante satildeo () Entrevistador por que vocecirc apontou matar cachorro a grito e natildeo

outra Participante eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs

((risos)) essas palavras esses textos na verdade sei laacute vocecirc consegue associar alguma coisa mas assim por exemplo algueacutem natildeo tivesse nenhum conhecimento nem iria saber por exemplo aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia soacute fazendo que vocecirc entende eacute

Entrevistador muito bem obrigado Aleacutem de a equipe seguir os paracircmetros do NURC nas

transcriccedilotildees consideramos oportuno uma seacuterie de intervenccedilotildees esclarecedoras ao longo das atividades de modo a garantir um maior controle do trabalho enquanto grupo e a garantia dos mesmos mecanismos de tratamento e analise de dados mais adequados ao que pretendiacuteamos nesta pesquisa

Entre as instruccedilotildees oferecemos as seguintes (a) Primeira versatildeo realizaccedilatildeo da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo

na primeira audiccedilatildeo do aacuteudio gerando assim a versatildeo preliminar da transcriccedilatildeo isto eacute os transcritores deveriam iniciar o processo de degravaccedilatildeo a partir da primeira audiccedilatildeo do aacuteudio nessa primeira fase do processo de transcriccedilatildeo a pausa era dada a cada par de vozes (entrevistador participante) para que fosse feita a digitaccedilatildeo Orientaacutevamos para que quando houvesse alguma palavra ou termo em que o transcritor tinha ficado com duacutevidas ou natildeo lembrava na hora da transcriccedilatildeo deveriam preencher com tracinhos (- - - - -) para completaacute-los em segundo momento da transcriccedilatildeo

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(b) Segunda versatildeo aprimoramento da primeira versatildeo da transcriccedilatildeo na segunda audiccedilatildeo do aacuteudio dando o transcritor continuidade agrave primeira degravaccedilatildeo do aacuteudio Orientamos que os transcritores ouvissem atentamente o aacuteudio para aprimorar o processo de degravaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ortograacutefica Nesta fase a segunda audiccedilatildeo requereria uma atenccedilatildeo redobrada e mais ativa por parte do transcritor Nessa fase tambeacutem o transcritor teria que voltar ao aacuteudio e ouvir novamente o teste no caso de duacutevidas Tambeacutem era o momento de preencher as lacunas que ficaram na primeira transcriccedilatildeo

(c) Terceira versatildeo realizaccedilatildeo da terceira audiccedilatildeo com objetivo de revisar o trabalho de transcriccedilatildeo jaacute alcanccedilado na segunda fase da transcriccedilatildeo Uma vez que todos os testes tivessem sido transcritos os transcritores deveriam ouvi-los mais uma vez para possiacuteveis correccedilotildees inclusive atentos ao emprego dos diacriacuteticos que deveriam ser assinalados jaacute na transcriccedilatildeo inicial

Consideramos tambeacutem ao longo do processo de transcriccedilatildeo fazer alguns lembretes aos transcritores quanto ao registro de suas impressotildees conforme sintetizamos a seguir

(a) Revisatildeo dos criteacuterios de pontuaccedilatildeo - usamos apenas o sinal de interrogaccedilatildeo nas falas iniciais do entrevistador as demais pausas de qualquer natureza eram sinalizadas por reticecircncias

(b) Registro de possiacuteveis ruiacutedos interrupccedilotildees e outras observaccedilotildees pertinentes que deveriam aparecer entre parecircnteses duplos (( ))

(c) Reproduccedilatildeo de todas as vozes mesmo as que natildeo conseguiam distinguir reproduzi-las entre ( ) e indicar em formato de comentaacuterio que se trata da hipoacutetese do que ouviu

(d) Reproduccedilatildeo das hipoacuteteses das falas em crioulo recorrendo em casos especiais a siacutembolos foneacuteticos para assegurar uma reproduccedilatildeo mais fiel da liacutengua africana

Por se tratar de uma transcriccedilatildeo ortograacutefica consideramos o segmento transcrito precedido ou natildeo de reticecircncia como a unidade de anaacutelise gramaticalmente admissiacutevel para ser pontuada como unidade linguiacutestica formada de acordo com as regras de construccedilatildeo das sentenccedilas de uma liacutengua

Segue abaixo o nuacutemero de palavras transcritas por grupos de informantes (1 2 3 e 4) que nos daacute uma ideia do esforccedilo que os informantes tiveram em cada uma das expressotildees idiomaacuteticas

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registradas no protocolo verbal considerando apenas o corpus da primeira bateria de testes

Tabela 2 ndash Nuacutemero de Palavras do Corpus

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

NUacuteMERO DE PALAVRAS

TOTAL M - CV

H - CV M - GB

H - GB

Matar cachorro a grito

1499 1195 1007 2358 6059

Natildeo pagar mico

1062 1087 1478 1987 5614

Tirar aacutegua do joelho

1442 764 908 1967 5081

Pocircr a boca no trombone 943 616 758 1063 3380

Chutar o pau da barraca 1760 987 1053 1420 5220

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1494 1055 1274 1263 5086

Total

8200 5704 6478 10058 30440

Seleccedilatildeo final dos informantes para as tarefas 1 3 e 4

Os dados relativos aos niacuteveis de e aos graus de memoacuteria

fraseoloacutegica (Tarefa 2) a partir dos comentaacuterios dos informantes nos protocolos verbais levaram-nos a recorrer a criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo de informantes para as tarefas 1 3 e 4 por expressatildeo idiomaacutetica 3

Foram excluiacutedos das referidas tarefas todos os informantes que foram considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Da mesma forma foram incluiacutedos todos os informantes considerados com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e os informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

Estes informantes os de niacuteveis meacutedio e baixo tiveram que atender ao pedido do experimentador para que atribuiacutessem sentido

3 Na cronologia de aplicaccedilatildeo das tarefas registrada no protocolo verbal think aloud as tarefas satildeo aplicadas em sequecircncia 1 2 3 e 4 A posteriori a Tarefa 2 passou a ser o paracircmetro para que pudeacutessemos selecionar os informantes que efetivamente teriam seus dados analisados e considerados nos caacutelculos relativos agraves meacutedias e desvios padratildeo nas demais tarefas

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translatiacutecio agrave expressatildeo idiomaacutetica contextualizada respostas que nos permitiram observar as estrateacutegias cognitivas a que recorreram para chegar ao conhecimento semacircntico da expressatildeo evidenciando-nos assim natildeo apenas as taacuteticas bottom-up e top-down usadas e as bem-sucedidas mas tambeacutem como se deu em termos de processamento fraseoloacutegico a transformaccedilatildeo da opacidade em transparecircncia semacircntica

Assim estabelecidos os criteacuterios de exclusatildeo e de inclusatildeo apresentamos as seguintes informantes consideradas na anaacutelise dos dados para as tarefas 3 e 4

(a)Na expressatildeo matar cachorro a grito excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 dois informantes situados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram considerados para Tarefa 3 e 4 trecircs informantes situados com niacutevel meacutedio de memoacuteria idiomaacutetica e 15 informantes situados como niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(b)Na expressatildeo natildeo pagar mico excluiacutemos para a Tarefa 3 e 4 10 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 10 participantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Natildeo houve portanto nesta situaccedilatildeo informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(c)Na expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho excluiacutemos 7 informantes considerados com niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos para anaacutelise dos dados das Tarefas 3 e 4 um informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 12 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(d)Na expressatildeo pocircr a boca no trombone excluiacutemos para as tarefas 3 e 4 13 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 sete informantes considerados de baixo niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(e)Na expressatildeo Saber com quantos paus se faz uma canoa foram excluiacutedos 9 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos nas tarefas 3 e 4 dois informantes considerados de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e nove informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria idiomaacutetica

(f)Na expressatildeo chutar o pau da barraca excluiacutemos 4 informantes considerados de niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica Foram incluiacutedos 1 informante considerado de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica e 15 informantes considerados de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

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Material do experimento O design do meacutetodo (material) do experimento psicolinguiacutestico

foi dividido em quatro partes familiarizaccedilatildeo preacute-experimento experimento e comando

(a) Familiarizaccedilatildeo o experimentador interagia com o sujeito e apresentava uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo contemplada no conjunto de expressotildees do experimento As expressotildees idiomaacuteticas selecionadas para este experimento foram as seguintes ficar de queixo caiacutedo matar a cobra e mostrar o pau mostrar com quantos paus se faz uma canoa contar com o ovo dentro da galinha ver o sol quadrado chutar o pau da barraca matar cachorro a grito pagar mico soltar a franga tirar aacutegua do joelho aguentar o tranco bater as bota botar a boca no trombone meter o rabo entre as pernas e segurar as pontas

(b) Preacute-experimento o experimentador apresentava ao sujeito um exemplo bem parecido do que ao das tarefas aplicadas no teste com expressatildeo idiomaacutetica

Na primeiro momento um texto era assim apresentado O pessoal de esquerda anda preocupado com Hugo Chaacutevez O presidente venezuelano deu agora pra dizer que se natildeo haacute vida em Marte o capitalismo deve estar por traacutes disso Vai acabar botando minhoca na cabeccedila do Fidel Castro que como se sabe estaacute se despedindo da luta (In Humor Tutty O Estado de Satildeo Paulo 2703 2011)

Em seguida pediacuteamos que o informante o lesse em voz alta e faziacuteamos a primeira pergunta da tarefa inicial jaacute registrado em protocolo verbal apoacutes a leitura do texto neste cartatildeo vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica frase feita ou locuccedilatildeo verbal que funciona como uma unidade cujo sentido natildeo eacute literal Vocecirc lembra ou ouviu antes a expressatildeo idiomaacutetica identificada no texto dado

No segundo momento o experimentador aplicava a segunda tarefa deste experimento Vocecirc lembra ou ouviu a expressatildeo identificada e sabe seu sentido idiomaacutetico antes da aplicaccedilatildeo destes testes

No terceiro momento faziacuteamos perguntas como diga-me em voz alta qual o sentido da expressatildeo idiomaacutetica e como vocecirc fez para chegar a esse sentido O que a expressatildeo identificada quer dizer para

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vocecirc Diga-me em voz alta o pensamento que passa por sua mente como vocecirc descobriu ou tentou descobrir o sentido desta expressatildeo identificada

(a) Experimento durante aplicaccedilatildeo deste experimento reafirmamos aos participantes que estaacutevamos interessados em registrar os sentidos de 15 expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Portuguecircs Brasileiro Informaacutevamos que suas respostas agraves perguntas deste experimento seriam pontuadas em uma escala de 3 pontos (a) 1 ponto foi dado para uma resposta natildeo sei natildeo sei o que significardquo ldquonatildeo entendi a expressatildeordquo ou para uma definiccedilatildeo errada (b) 2 pontos para uma resposta considerada parcialmente correta e (c) 3 pontos para uma definiccedilatildeo correta

(b) Comando Vou dar-lhe 15 cartotildees um a um e vocecirc vai Pensar em Voz Alta e me dizer tudo que vocecirc estaacute pensando a partir da primeira vez que vocecirc ler o texto contido neste cartatildeo ateacute que me diga o que quer dizer a expressatildeo identificada por vocecirc (ou por mim) Para que pudeacutessemos estimular o diaacutelogo entre informante e experimentador diziacuteamos que algumas perguntas poderiam passar em sua mente depois de verem as expressotildees idiomaacuteticas do tipo Jaacute havia lido ou visto esta expressatildeo antes Jaacute sei o sentido de cor Como o contexto explica o sentido desta expressatildeo idiomaacutetica O sentido literal (ao peacute da letra) da expressatildeo tem alguma relaccedilatildeo com seu sentido figurado Seraacute que uma determinada palavra da expressatildeo foi o suficiente para eu poder dar seu sentido idiomaacutetico A expressatildeo idiomaacutetica me faz lembrar algo que ouvi algueacutem dizer antes E por fim diziacuteamos eu gostaria que vocecirc falasse em voz alta durante todo o tempo desde o momento em que lhe apresento cada expressatildeo contextualizada no cartatildeo ateacute vocecirc dar sua resposta final Por favor natildeo tente planejar o que vocecirc diz Basta agir como se vocecirc estivesse sozinho na sala falando para si mesmo Eacute mais importante que vocecirc continue falando Se vocecirc ficar em silecircncio por um periacuteodo longo de tempo vou pedir-lhe para falar

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RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

Primeira Pergunta da Pesquisa Em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Tarefa 1 - Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

La fijacioacuten es arbitraria dese el punto de vista funcional es decir no encontramos ninguna explicacion semaacutentica ni sintaacutectica del tipo de fijacioacuten em cada caso concreto (ZULUAGA 1980 p99)

Para respondermos a esta pergunta da pesquisa aplicamos esta

Tarefa aos sujeitos da pesquisa com duraccedilatildeo meacutedia 36 minutos gravadas em aacuteudios digitais para posteriores transcriccedilotildees ortograacuteficas

Foi testada nesta tarefa a seguinte hipoacutetese de nossa pesquisa a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico

As respostas dos informantes agrave principal pergunta da tarefa (ldquoApoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacuteticardquo Receberam uma pontuaccedilatildeo numa escala de 1 a 3 que nos permitiu atraveacutes doo caacutelculo de meacutedias e desvios padratildeo para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas o uma proposta de taxionomia para a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica e (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Os participantes tinham que pensar em voz alta e dizer tudo que estavam pensando a partir da primeira vez que olhavam ou liam as expressotildees idiomaacuteticas entregues uma a uma em 15 cartotildees contendo textos publicados em jornais de circulaccedilatildeo nacional (Folha de Satildeo Paulo Estado de Satildeo Paulo O Povo Diaacuterio do Nordeste Jornal do Brasil CorreioBraziliense)

Foram entregues aos participantes 15 cartotildees de cor amarela de tamanho 20 cm X 15 cm uma a uma contendo uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada e uma tarja preta cobrindo a pergunta do

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experimentador No caso de natildeo conseguir identificar a expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura em voz alta do texto o entrevistador solicitava ao participante que retirasse a tarja preta do cartatildeo e lesse a pergunta encoberta (por exemplo o que a expressatildeo bater as botas significa para vocecirc) o que levava portanto agrave identificaccedilatildeo da expressatildeo no texto dado

Mais precisamente depois da leitura do texto o entrevistador indagava ao participante se identificava alguma expressatildeo idiomaacutetica iniciando a partir deste momento a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud que consistiu em solicitar que os participantes falassem livremente ou pensassem em voz alta enquanto respondiam a questatildeo feita pelo pesquisador

Partindo do pressuposto de que a fixaccedilatildeo fraseoloacutegica (ou fixaccedilatildeo formal) e a idiomaticidade semacircntica (ou fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica) satildeo essenciais agraves unidades fraseoloacutegicas (UFs) e lhes asseguram o traccedilo ou caraacuteter de convencionalidade ou institucionalizaccedilatildeo o objetivo desta tarefa foi verificar como os participantes identificavam as expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil estabelecendo a partir dos dados coletados em suas respostas uma tipologia de formas de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Mais adiante ao cruzarmos os dados com a tarefa 3 ocupar-nos-emos em verificar se expressotildees identificadas pelos participantes sejam elas modificadas ou natildeo precisariam natildeo apenas do apoio do contexto (Estrateacutegia AC) mas da ajuda teacutecnica (SI) do pesquisador Jaacute podemos adiantar que em todas as expressotildees idiomaacuteticas deste experimento psicolinguiacutestico os participantes requereram a ajuda teacutecnica (SI) Da mesma forma veremos na tarefa 4 se as expressotildees identificadas e as natildeo identificadas pelos informantes apoacutes a leitura do texto correspondem as mesmas expressotildees natildeo compreendidas ou as compreendidas pelos participantes

Segundo Alvarado Ortega (2010 p28) a fixaccedilatildeo formal e a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (esta aqui nesta pesquisa idiomaticidade fraseoloacutegica) se associam com a ideia de institucionalizaccedilatildeo que anuncia Corpas Pastor (1996 p21) Assim sendo a noccedilatildeo que damos aqui agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica refere-se agrave estabilidade em sua reproduccedilatildeo e na frequecircncia de uso que apresentam as Unidades Fraseoloacutegicas (UFs) de modo geral e nas locuccedilotildees verbais em particular

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Tendo em vista que o objetivo desta tarefa era os participantes identificarem formalmente a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute anunciassem ao experimentador a fixaccedilatildeo formal da expressatildeo conforme as definiccedilotildees de Zuluaga (1980) Corpas Pastor (1996) e Alvarado Ortega (2010) ficou estabelecida para definiccedilatildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica previamente a seguinte pontuaccedilatildeo que variou de 1 a 3 pontos incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo (1 ponto ) (b) parcialmente correta ou meacutedia identificaccedilatildeo (2 pontos) e (c) correta ou faacutecil identificaccedilatildeo (3 pontos)

Esta pontuaccedilatildeo se tornou necessaacuteria para calcularmos em Excell as meacutedias individuais do desempenho dos informantes por expressatildeo bem como obtermos os valores dos Desvios Padratildeo e as meacutedias das meacutedias e de posse destes dados ou valores podermos definir juntamente na tarefa 3 o grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica (ou opacidade semacircntica) contando para isso com o inventaacuterio de estrateacutegias bem (e mal sucedidas) no processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes

Na primeira situaccedilatildeo considerada incorreta ou difiacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador as respostas dos informantes agrave tarefa foram codificadas no Corpus Afri com a sigla GF-IC (Grau de Fixaccedilatildeo - Incorreta) em que o informante apoacutes a leitura declarava natildeo saber ou natildeo identificar nenhuma expressatildeo idiomaacutetica no texto dado Nesta posiccedilatildeo em alguns casos o informante apontava um trecho ou uma palavra ou expressatildeo fixa presente no texto como casos de locuccedilotildees nominais colocaccedilotildees ou compostos (como por exemplo reportagem custo-benefiacutecio na tarefa na qual a expressatildeo em foco era matar cachorro a grito) mas que natildeo consideraacutevamos como respostas vaacutelidas para uma pontuaccedilatildeo significativa na pesquisa

Neste caso recebeu um 1 ponto numa escala de 1 a 3 e esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Na segunda situaccedilatildeo assinalada como parcialmente correta ou de meacutedia identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no corpus das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada no Corpus Afri com a sigla GF-PC (Grau de Fixaccedilatildeo - Parcialmente Correta) em que o informante apoacutes a leitura citou a expressatildeo idiomaacutetica pretendida ou esperada no texto mas a alterou com algum tipo de inserccedilatildeo supressatildeo ou substituiccedilatildeo de componentes comprometendo a noccedilatildeo

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canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Por exemplo no texto em que o pesquisador esperava a identificaccedilatildeo de tirar mais aacutegua do joelho o informante anunciou soltar mais aacutegua do joelhordquo onde podemos observar a substituiccedilatildeo da palavra tirar por soltar preservando restante da expressatildeo ou em outros casos citou apenas mais aacutegua do joelho ou aacutegua do joelho permitindo todavia em qualquer dos casos a recuperaccedilatildeo da forma canocircnica

Neste caso acima a resposta do informante recebeu 2 pontos numa escala de 1 a 3 e denominamos esta situaccedilatildeo de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica uma vez que as alteraccedilotildees fraseoloacutegicas foram todas por reduccedilatildeo ou elisatildeo

Na terceira situaccedilatildeo apontada como correta ou de faacutecil identificaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo feita pelo pesquisador no conjunto das respostas dos informantes agrave tarefa foi codificada com a sigla GF-CO (Grau de Fixaccedilatildeo-Correta) em que o informante apoacutes a leitura apontou o bloco ou grupo fraseoloacutegico tal qual aparece no texto

Nessa posiccedilatildeo acima foram trecircs situaccedilotildees consideradas plenamente corretas

(a) quando o informante apontou a fixaccedilatildeo formal na sua forma canocircnica ou dicionarizada ou tal qual aparecia no co(n) texto de situaccedilatildeo

(b) quando o informante apontou o trecho em que aparecia a expressatildeo idiomaacutetica como parte da oraccedilatildeo uma vez que uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo se constitui por si soacute uma frase cabal e

(c) quando o informante anunciava uma variante fraseoloacutegica em sua L1 (crioulo) equivalente a que aparecia no texto dado seja em L2 (por exemplo engolir sapo ou engolir o peixe pelo rabo) ou em L1 (por exemplo cume ku odjo por comer com o olho)

Um dado curioso a observar eacute que para a identificaccedilatildeo de expressatildeo pocircr a boca no trombone alguns vacilaram quanto agrave forma canocircnica ao afirmar eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone helliprdquo Neste caso consideramos a identificaccedilatildeo correta por se tratar apenas de um caso de variaccedilatildeo fraseoloacutegica de ordem lexical botarpocircr a boca no trombone recebendo 3 pontos (pontuaccedilatildeo maacutexima) Esta situaccedilatildeo foi denominada de identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Do ponto de vista teoacuterico para a realizaccedilatildeo desta tarefa 1 levamos em conta as condiccedilotildees necessaacuterias descritas por Cermak

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(1998 p 144-145) para a correta identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas em um texto

(a) a combinaccedilatildeo textual indicada pelos participantes teria que ser considerada estaacutevel ou fixa por haver sido ouvida ou lida mais de uma vez anteriormente agrave tarefa

(b) a combinaccedilatildeo textual escolhida pelos participantes deveria permitir algum tipo de variaccedilatildeo leacutexica ou paradigmaacutetica ou gozasse de uma relativa liberdade combinatoacuteria sem que afetasse seu sentido global (por exemplo pocircrbotar a boca no trombone) ou produzisse outra expressatildeo idiomaacutetica (por exemplo pagar mico natildeo aceitamos como sinocircnimo pagar o mico) uma vez que soacute aceitariacuteamos uma expressatildeo idiomaacutetica equivalente anunciada na L1 dos participantes (crioulo cabo-verdianoguineense) desde que pudesse recuperar o mesmo sentido idiomaacutetico da equivalente em L2 e

(c) a combinaccedilatildeo escolhida pelos participantes teria necessariamente a presenccedila de uma metaacutefora ou um grau de opacidade ou de natildeo composicionalidade semacircntica um traccedilo muito frequente das locuccedilotildees verbais estas por sua vez um dos muitos tipos de expressotildees idiomaacuteticas

Para respaldar ainda mais as etapas propostas por Cermak (1998) em nossa pesquisa fomos agraves teorias fraseoloacutegicas para evidenciar as trecircs das propriedades baacutesicas e definitoacuterias das locuccedilotildees verbais a que iriacuteamos tratar nesta Tarefa 1 e na Tarefa 3 em particular a saber

(a) a pluriverbalidade ou polilexicalidade entendida como a combinaccedilatildeo estaacutevel formada por dois ou mais componentes que aparecem separados na escrita como assinala Casares ([1950] 1969 p 170 Gross (1996 p 9-10) Corpas-Pastor (1996 p19-20) Montoro Del Arco (2006 p35-38) Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p 23-34)

(b) a fixaccedilatildeo formal compreendida como a estabilidade formal ou interna das expressotildees idiomaacuteticas na ordem de seus componentes em suas categorias gramaticais no inventaacuterio de seus componentes a que faz alusatildeo Casares ([1950] 1969 p210-211) Zuluaga (1975p 227-2281980 p95-110) Corpas Pastor (1996 p 23-24) Alvarado Ortega (2010 p27-28) Mejri (2012 p139-156) e Garratildeo (2012 p125-131)

(c) a estrutura natildeo oracional na qual a locuccedilatildeo natildeo pode ter estrutura de oraccedilatildeo sintaticamente completa concepccedilatildeo tradicional

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apresentada por Casares ([1950] 1969 p 170) e traccedilo plenamente aceito pela fraseologia contemporacircnea

Nesta tarefa verificamos o grau de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica dentro de uma escalaridade por essa razatildeo as respostas dos participantes foram categorizadas por niacutevel de dificuldade (faacutecil meacutedia e difiacutecil identificaccedilatildeo)

Os dados coletados para a Tarefa 1 a partir do protocolo verbal apontaram que os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas individualmente variaram de 120 a 275 (ver tabela 1)

Como dissemos anteriormente para que pudeacutessemos considerar uma resposta correta os informantes durante a tarefa deveriam atender plenamente aos trecircs preacute-requisitos formais e caracterizadores das locuccedilotildees verbais a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo formal e a estrutura natildeo oracional

Pelos dados da tabela podemos observar que a uacutenica expressatildeo considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo foi pagar mico

As expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo ofereceram grandes obstaacuteculos para serem identificadas pelos participantes

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram as trecircs mais faacuteceis de serem identificadas pelos participantes

Em uma pesquisa com participantes natildeo nativos de uma liacutengua sobre o processamento fraseoloacutegico ou mais precisamente relacionada aos processos de compreensatildeo idiomaacutetica os dados de nossa pesquisa levam-nos a crer que a identificaccedilatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica contextualizada lida ou ouvida pelo participante eacute uma habilidade linguiacutestica que tem forte dependecircncia da competecircncia fraseoloacutegica intercultural do leitor ou do falante em L2 o que repercutiraacute certamente na sua compreensatildeo idiomaacutetica

Acolhemos pois a hipoacutetese de que a competecircncia fraseoloacutegica dos usuaacuterios eacute um fator de opacidade nas locuccedilotildees verbais (MOGORROacuteN HUERTA 2010 p 244)

A noccedilatildeo de identificaccedilatildeo aplicada agrave fraseologia corresponderia agrave segmentaccedilatildeo de acordo com a gramaacutetica de constituintes imediatos presente nas teorias da linguiacutestica estrutural procedimento que consistiria em os falantes nativos ou natildeo nativos terem a capacidade de segmentar o enunciado ou texto isto eacute dividi-los em unidades

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pluriverbais e discretas Por exemplo uma expressatildeo como ver com quantos paus se faz uma canoa poderiacuteamos segmentaacute-la em vercom quantos pausse faz uma canoa e assim por diante reduzindo-a portanto a diversos niacuteveis sintagmaacuteticos

Nesta tarefa do experimento psicolinguiacutestico podemos comprovar empiricamente que muitos componentes lexicais das expressotildees resultavam por completo desconhecidos para muitos participantes como por exemplo mico linguiccedila joelho manguinhas seda e siri

Sem a identificaccedilatildeo destas palavras por eles consideradas estranhas ou diferentes a despeito da habilidade de discriminar as palavras em seus contornos visuais ou formais a referida habilidade natildeo resultava em acesso agrave forma fraseoloacutegica e com essa restriccedilatildeo um bloqueio tambeacutem ao seu sentido idiomaacutetico

Em substacircncia pareceu-nos que uma limitaccedilatildeo na identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica significava para muitos participantes uma diminuiccedilatildeo significativa na sua habilidade ou capacidade de ativar esquemas cognitivos relacionados agrave idiomaticidade semacircntica e de relacionar a expressatildeo agrave sua proacutepria experiecircncia de leitor ouvinte e falante em L2 (estrateacutegias top-down conforme veremos mais adiante)

Vimos ao longo da aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que em muitos casos apesar de decodificarem as palavras desconhecidas no texto lido natildeo chegavam agrave sua analisabilidade ou composicionalidade muito menos agrave noccedilatildeo do sentido caracterizado pela natildeo composicionalidade semacircntica Ainda assim o processo de leitura do texto pelos participantes nesse caso era flagrantemente lento sofriacutevel por vezes inaudiacutevel com repercussatildeo imediata na tentativa enganosa ou equiacutevoca de identificaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas embora pudessem identificar outras unidades maiores do que a palavra mas quebrando a expectativa do analista

Dizendo de outra maneira cremos que a identificaccedilatildeo de uma palavra ou componente leacutexico de uma expressatildeo idiomaacutetica em texto em menor meacutedio ou maior grau de dificuldade desemboca no leitorouvintefalante algum grau de sentido de expressatildeo idiomaacutetica desconhecida ou natildeo familiar Eacute verdade que a identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por si soacute natildeo garante o acesso ao sentido idiomaacutetico mas uma vez identificada a expressatildeo os participantes satildeo

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beneficiados na sua busca seletiva de estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (top-down) rumo ao sentido pretendido

Em termos de percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica por participantes os valores variaram de 40 a 90

Para matar cachorro a grito e natildeo pagar mico 85 e 40 dos informantes respectivamente identificaram corretamente aos dois zoomorfismos

Para os somatismos tirar (mais) aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone os percentuais de identificaccedilatildeo correta foram de 60 em ambas as expressotildees

No caso dos botanismos saber com quantos paus se faz uma canoa e chutar o pau da barraca os percentuais de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram de 40 e 90 respectivamente

Os dados coletados revelaram que nesta tarefa os falantes natildeo nativos quando solicitados a identificar a expressatildeo apoacutes a leitura do texto dado acrescentaram o sujeito agrave expressatildeo isto eacute natildeo a isolaram como era nossa primeira (ou ingecircnua) expectativa em suas respostas Normalmente os analistas esperaram que os falantes sejam nativos ou natildeo nativos ao serem solicitados sobre a identificaccedilatildeo de uma unidade fraseoloacutegica em um texto escrito ou oral simplesmente deem respostas prontas assim como satildeo as frases feitas como unidades abstratas no campo fraseoloacutegico preacute-fabricadas cristalizadas e memorizadas na mente dos falantes

Expressas na boca dos falantes as frases feitas quando satildeo proferidas ou ouvidas em discurso com pequenas alteraccedilotildees ou variaccedilotildees que natildeo afetam agrave comunicabilidade exigiratildeo dos interlocutores naturalmente conexotildees gestaacutelticas para que percebam que a unidade fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) se acha em determinadas relaccedilotildees com suas partes (variaccedilotildees)

Nas primeiras respostas nossos participantes anunciaram um pedaccedilo do texto lido que natildeo podia ser computaacutevel literalmente todavia a habilidade de identificar a expressatildeo e estabelecer seus limites resultava em complicada ou complexa tarefa linguiacutestica conforme podemos observar mais adiante nas respostas dos informantes consideradas incorretas ou parcialmente incorretas

Os comentaacuterios dos falantes no protocolo verbal disseram-nos muito do que desejam que tenham ou faccedilam sentido quando respondem questotildees relacionadas agrave identificaccedilatildeo e agrave idiomaticidade

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fraseoloacutegicas Nesse sentido em vez de isolarem um trecho gramaticalmente incompleto como saber com quantos paus se faz uma canoa (que nem inclui tempo verbal) os falantes acrescentaram o tempo e completaram a diaacutetese verbal incluindo o elemento faltante que eacute o sujeito e assim deram sentido completo a suas respostas (ou seja a diaacutetese verbal ficou toda preenchida) e o trecho soava entatildeo sintaacutetica e semanticamente aceitaacutevel ou simplesmente viaacutevel 1

Interessante observar que os textos mais ou menos longos 2 os falantes souberam localizar o que era idiomaacutetico e o que natildeo era O que queremos dizer eacute que enquanto esperaacutevamos que os participantes apontassem apoacutes a leitura saber com quantos paus se faz uma canoa assinalaram como idiomaacutetico o trecho a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo o trecho o que ele quer eacute continuar mandando presente no texto Ou seja os falantes sabiam competentemente apontar ou identificar corretamente o trecho onde se encontrava uma sequecircncia idiomaacutetica

Para Fulgecircncio (2008 p77) a identificaccedilatildeo de estruturas ldquoprontasrdquo memorizadas em grupo diz muito da competecircncia linguiacutestica dos falantes A autora nos coloca tambeacutem que a distinccedilatildeo entre sintagma computaacutevel sequecircncia idiomaacutetica natildeo eacute soacute um tipo de anaacutelise abstrata mas faz parte real da competecircncia linguiacutestica do falante Em outras palavras esta tarefa submetida aos participantes veio mostrar a realidade psicoloacutegica dos fenocircmenos linguiacutesticos evidenciando em dados empiacutericos que natildeo eacute soacute uma teorizaccedilatildeo mas faz parte de como o ceacuterebro estaacute estruturado

Fulgecircncio (2008 p293-340) nos diz que as locuccedilotildees verbais natildeo funcionam como elementos oracionais Segundo ela as locuccedilotildees natildeo satildeo oraccedilotildees inteiras e sim um sintagma verbal [V+complemento] Deste modo ao localizar o trecho onde se encontra a sequecircncia idiomaacutetica o falante completa a diaacutetese

1 A questatildeo da diaacutetese verbal nas expressotildees fixas foi suficientemente explorada em Fulgecircncio (2008) e Perini (2008) Agradecemos agrave Fulgecircncio seus comentaacuterios e sugestotildees quando submetemos nossas primeiras reflexotildees sobre diaacutetese agrave sua apreciaccedilatildeo linguiacutestica 2 O texto que traz a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa utilizado nesta tarefa refere-se a um comentaacuterio sob o tiacutetulo Lula transformaraacute a vida de Dilma em um inferno revecirc Pliacutenio com t12 linhas e 76 palavras assinado por Braz dos Santos leitor do Jornal do Brasil (JB) e publicado no Caderno Paiacutes do Jornal do Brasil (JB) em 171210

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verbal com o sujeito para oferecer um trecho gramaticalmente completo e apresentar uma sequecircncia compreensiacutevel mas isso natildeo quer dizer segundo a linguista que a expressatildeo eacute toda a oraccedilatildeo nem que funciona como uma oraccedilatildeo

Zuluaga (1975 p244) foi um dos primeiros fraseoacutelogos a observar quanto ao comportameno verbal dos falantes nativos no uso espontacircneo ou social da liacutengua sua capacidade de identificar quando as expressotildees idiomaacuteticas sofrem modificaccedilotildees formais ou satildeo alteradas no discurso

Haacute na capacidade de o falante identificar uma alteraccedilatildeo fraseoloacutegica um niacutevel alto e apurado de refinamento de intuiccedilatildeo linguiacutestica isto eacute essa capacidade que temos enquanto falantes nativos de uma liacutengua dada de reconhecer a aceitabilidade ou gramaticalidade das sentenccedilas produzidas na liacutengua bem como de interpretaacute-las e de identificar a equivalecircncia com outra frase seja em L1 ou L2

Segundo Zuluaga (1975) a reaccedilatildeo dos falantes nativos diante de uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute a de costumeiramente corrigir a alteraccedilatildeo ou identificar nela o cumprimento de determinadas funccedilotildees estiliacutesticas isto eacute dos chamados niacuteveis de discurso Eacute portanto atraveacutes de sua intuiccedilatildeo linguiacutestica ou de uma leitura proficiente ou escuta ativa que o falante nativo torna-se naturalmente um proficiente da sua liacutengua

Jaacute para Garciacutea-Page Saacutenchez (2008 p25-26) a fixaccedilatildeo entre outros traccedilos eacute uma foacutermula memoraacutevel estando assim disponiacutevel para seu emprego ou repeticcedilatildeo no processo discursivo no qual o falante deseja expressar um conteuacutedo que jaacute estaacute condensado nela Corroborando com esta postulaccedilatildeo de Garciacutea-Page Saacutenchez acreditamos que ao certo por traacutes de tudo isso haja um princiacutepio de economia linguiacutestica que governa as leis do menor esforccedilo na comunicaccedilatildeo espontacircnea ou criativa

Por causa da fixaccedilatildeo nem toda expressatildeo fixa ou idiomaacutetica no uso social da liacutengua requer ser citada ou anunciada em sua totalidade senatildeo em parte Por exemplo expressotildees com a pulga atraacutes da orelha e o rabo entre as pernas sem os verbos ficardeixar e ficarsair respectivamente no buscador Google Brasil registrou 1940000 e 1090000 resultados 3 respectivamente

3 Registro em 25 de julho de 2013

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Como nativos da liacutengua portuguesa sabemos ainda que em nossa L1 as expressotildees de uso frequente e estilisticamente expressivas no cotidiano especialmente as grandes miacutedias em geral vecircm acompanhadas de seus respectivos e variados verbos deve estar estarandarficar com a pulga atraacutes da orelha e meterenfiarestar comir comvoltar comcolocar o rabo entre as pernas Aqui caberia o ditado popular para bom entendedor meia palavra basta (= aquele que estaacute a par de um assunto natildeo precisa de muita explicaccedilatildeo)

Ao tratar sobre este fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica Zuluaga (1975 p 244) diz que nesses casos basta o falante mencionar expressamente somente uma parte de cada uma das expressotildees para evocaacute-las completamente fator que se deve segundo ele agrave fixaccedilatildeo

Das diversas formas que uma expressatildeo pode ser alterada a reduccedilatildeo eacute um fenocircmeno da variaccedilatildeo fraseoloacutegica ou mais precisamente da fixaccedilatildeo que pode ser explicado pelo princiacutepio da teoria da comunicaccedilatildeo em que por ela diz-se que a quantidade de informaccedilatildeo de um signo em um contexto dado eacute definida como uma funccedilatildeo de sua probabilidade de ocorrecircncia no dito contexto Da mesma forma a maior probabilidade de ocorrecircncia redundaraacute em menor conteuacutedo informativo e maior grau de redundacircncia

A omissatildeo ou a reduccedilatildeo de componentes das expressotildees natildeo ocasiona perda de informaccedilatildeo no texto uma vez que fixaccedilatildeo de expressatildeo idiomaacutetica tende a ocorrer inevitavelmente Podemos observar este fenocircmeno nos nossos estudos certamente depois de os informantes terem lido no texto dado para leitura anterior portanto ao pedido feito pelo entrevistador para que procedessem com a identificaccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica

Nos exemplos que vamos comentar a seguir assinalamos esses casos como parcialmente correto porque consideramos que uma locuccedilatildeo verbal objeto de nossa pesquisa deve vir com sua diaacutetese verbal preenchida embora saibamos a partir da frequecircncia de uso comprovada por um expressivo nuacutemero de ocorrecircncias a quantidade de informaccedilatildeo que ancora eacute nula isto eacute totalmente redundantemente e portanto natildeo necessita ser expressa materialmente para que o sentido global ou idiomaacutetico de toda a expressatildeo se faccedila presente ou seja evocada pelos falantes sejam nativos ou natildeo nativos

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A questatildeo da variaccedilatildeo fraseoloacutegica eacute uma categoria que de haacute muito tem preocupado os teoacutericos A fixaccedilatildeo e a variaccedilatildeo satildeo duas categorias fraseoloacutegicas que satildeo interligadas No estruturalismo claacutessico especialmente o de Saussure a ideia de fixaccedilatildeo era de um traccedilo imudaacutevel ou imexiacutevel Saussure ao se referir agraves locuciones toutes faites ou frases feitas foi um dos primeiros estruturalistas a observar o caraacuteter de fixidez das combinaccedilotildees preacute-fabricadas ao afirmar que o uso proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo mesmo quando seja possiacutevel distinguir pela reflexatildeo as partes significativas ([1916] 2012 P173)

Esta propriedade da fixaccedilatildeo supotildee uma suspensatildeo da aplicaccedilatildeo das regras de combinaccedilatildeo dos elementos do discurso a que Coseriu ([1977] 1981 p113-118) chamou de discurso repetido Coseriu ([1977] 1981) ao se referir a discurso repetido corresponde agrave noccedilatildeo de locuciones toutes faites de Saussure como dissemos caracterizadas pelo natildeo improviso isto eacute eram fornecidas pela tradiccedilatildeo da comunidade linguiacutestica

Ainda na deacutecada de 70 a noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica passou a ser entendida como a propriedade que tem certas expressotildees de ser reproduzidas no falar como combinaccedilotildees previamente feitas (ZULUAGA 1975 p230)

Em outras palavras Zuluaga (1975) assinala que o processo de formaccedilatildeo de uma expressatildeo fixa natildeo pode ser explicado mediante regra de sintaxe proacutepria das combinaccedilotildees livres A frequecircncia de uso de uma expressatildeo fixa e seu emprego repetido por parte da comunidade linguiacutestica ocasionaria a fixaccedilatildeo da unidade em uma forma determinada em geral canonicamente registrada nos dicionaacuterios gerais

A fraseologia contemporacircnea avanccedilou muito nos uacuteltimos anos com relaccedilatildeo agrave noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica Apesar de a fixaccedilatildeo ser considerada uma propriedade essencial das expressotildees fixas natildeo o para todas as unidades fraseoloacutegicas posto que por exemplo no caso das expressotildees idiomaacuteticas estas podem ser idiomaacuteticas mas natildeo canonicamente fixas enquanto as expressotildees fixas podem natildeo ser idiomaacuteticas

O conjunto que forma o corpus das expressotildees idiomaacuteticas desta pesquisa aleacutem de idiomaacuteticas ou seja caracterizarem-se pelo princiacutepio da natildeo composicionalidade semacircntica satildeo tambeacutem fixas mas em muitas delas com suas variaccedilotildees fraseoloacutegicas o que

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comprova sua fixaccedilatildeo formal ou institucionalizaccedilatildeo Graccedilas agrave fixaccedilatildeo das expressotildees podemos falar em variaccedilatildeo fraseoloacutegica um fenocircmeno bastante frequente no discurso portanto na perspectiva do falante

Pelo menos trecircs das seis expressotildees idiomaacuteticas deste experimento estatildeo modificadas comparadas agrave sua fixaccedilatildeo canocircnica (dicionarizada) (a) pagar mico aparece com sua polaridade negativa natildeo pagar mico (b) tirar aacutegua do joelho comparece com a inserccedilatildeo do adveacuterbio mais ficando com a forma tirar mais aacutegua do joelho e (c) mostrar com quantos paus se faz uma canoa eacute modificada com substituiccedilatildeo lexical em saber com quantos paus se faz uma canoa

Conforme veremos mais adiante a variaccedilatildeo fraseoloacutegica natildeo significa a mudanccedila completa da expressatildeo idiomaacutetica de modo que natildeo deixem marcas ou pegadas da forma cristalizada anteriormente Como diz Molina Garciacutea (2006 P99) a noccedilatildeo de variaccedilatildeo ou variabilidade aplicada a uma unidade fraseoloacutegica requer que uma parte da unidade deva ficar sem alteraccedilatildeo de que forma que a UF seja reconhecida ou diriacuteamos de outra maneira possa ser evocada a partir da memoacuteria fraseoloacutegica ou de longo prazo dos falantes

A questatildeo da fixaccedilatildeo ou variabilidade fraseoloacutegica na deacutecada de 70 foi abordada por Fraser (1970 p39) um dos primeiros teoacutericos a observar um potencial modificador nas locuccedilotildees ou expressotildees idiomaacuteticas em escala de sete niacuteveis da maior agrave menor possibilidade de realizaccedilatildeo de mudanccedila ou modificaccedilatildeo (niacutevel 6 - natildeo-restritividade niacutevel 5 - reconstituiccedilatildeo niacutevel 4 - extraccedilatildeo niacutevel 3 - substituiccedilatildeo niacutevel 2 - inserccedilatildeo niacutevel 1 - adjunccedilatildeo e o niacutevel 0 - completo congelamento)

Apesar da escala de sete niacuteveis proposta por Fraser receber criacuteticas de muitos fraseoloacutegos tendo na linha de frente Zuluaga (1975) sua proposta ao certo influenciou na evoluccedilatildeo dos estudos sobre o fenocircmeno da variabilidade fraseoloacutegica

Neste particular passou-se por exemplo a diferenciar a noccedilatildeo de variante e a de modificaccedilatildeo Assim numa perspectiva do falante nativo ou natildeo nativo questotildees que passaram a ser colocadas eram se o falante ao produzir uma variaccedilatildeo fraseoloacutegica realizaria tal mudanccedila ou variaccedilatildeo de forma consciente ou a variaccedilatildeo se constituiria numa amostra de possibilidades de variabilidade que oferece o sistema fraseoloacutegico

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Graccedilas a Fraser a noccedilatildeo de modificaccedilatildeo ou modificaccedilotildees no campo fraseoloacutegico passou entatildeo a ser o centro da atenccedilatildeo de Corpas Pastor (1996 p 29-30) Segundo Corpas o grau de modificaccedilatildeo que permite que as UFs que sigam sendo reconhecidas reconhecimento idiomaacutetico diretamente proporcional ao grau de fixaccedilatildeo das mesmas (1996 p29)

De forma muito recorrente podemos perceber ao longo desta tarefa que a reduccedilatildeo foi uma das caracteriacutesticas mais recorrentes das modificaccedilotildees formais observadas nas respostas dos participantes agrave tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Cremos que esta caracteriacutestica deu um caraacuteter psicolinguiacutestico agraves respostas dos participantes uma vez que graccedilas agrave noccedilatildeo de reduccedilatildeo ou modificaccedilatildeo criativa levada a efeito pelos falantes natildeo nativos pudemos observar um processamento fraseoloacutegico de caraacuteter eminentemente psicolinguiacutestico por estas razotildees

(a) em primeiro lugar o foco de atenccedilatildeo na expressatildeo idiomaacutetica (b) em segundo lugar a preservaccedilatildeo na memoacuteria dos falantes da

parte efetivamente idiomaacutetica ou cristalizada em detrimento dos verbos que a introduzem e que sofrem variaccedilatildeo lexical (por exemplo verensinaraprendermostrarsaber com quantos paus se faz uma canoa) como veremos nos exemplos a seguir e

(c) em terceiro lugar a expressatildeo reduzida apontada pelos falantes a partir de um contexto de situaccedilatildeo foi o suficiente para que pudessem recuperar ou evocar a forma completa ou canocircnica

Em se tratando de observaccedilotildees preliminares dos dados coletados nesta tarefa antes de analisarmos as respostas dos informantes antecipamos que a expressatildeo natildeo pagar mico foi considerada de difiacutecil identificaccedilatildeo

As expressotildees tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa foram consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees pocircr a boca no trombone matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca foram consideradas de faacutecil identificaccedilatildeo

Em geral os participantes apresentaram percentuais altos de identificaccedilatildeo das seis expressotildees idiomaacuteticas apresentadas nesta tarefa o que natildeo repercutiu diretamente na tarefa de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegicas das mesmas ou menor percentual de

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pedido de ajuda teacutecnica (SI) para suas estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica (top-down) como veremos mais adiante

As duas expressotildees zoomoacuterficas que chamaram nossa atenccedilatildeo na nossa anaacutelise dos dados pagar mico que obteve a meacutedia 120 e matar cachorro a grito com a meacutedia 267 Curioso eacute observarmos que as duas expressotildees em um continuum estatildeo situadas nos extremos Pagar mico como a de difiacutecil identificaccedilatildeo e matar cachorro a grito como a de faacutecil identificaccedilatildeo pelos 20 participantes

Taxionomia de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Levando em conta que as expressotildees idiomaacuteticas podem ser

sofrer um processo de variaccedilatildeo fraseoloacutegica atraveacutes de um processo de reduccedilatildeo consciente por parte do falante propusemos numa espeacutecie de gradaccedilatildeo ou niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

(a) Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico (b) Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica (c) identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica

Tabela 3 - Identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas por participante

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Pontuaccedilatildeo

IC (1p)

PC (2p)

CO (3p)

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

111820 1234 5678 91012 131415 161719

Pagar mico 358 1113 1415 1617

181920

124 679 1012

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

111215 16 20

410 14

123 567 8913 1718

19

160

Pocircr a boca no trombone

11 20 259 1617

19

134 678 1012

13 1415 18

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

111518 123 457

81014

6912 131617

1920

Chutar o pau da barraca

1120 1234 567

8910 1213 1415 1617 1819

Legendas IC = Incorreto PC = Parcialmente Correto CO = Correto

Tipos de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Identificaccedilatildeo por desvio fraseoloacutegico

Nesta posiccedilatildeo encontramos ocorrecircncias para as seis expressotildees

idiomaacuteticas tanto em informantes do sexo feminino como do sexo masculino de cada paiacutes

O conceito de desvio fraseoloacutegico natildeo eacute entendido aqui como uma transgressatildeo com relaccedilatildeo agrave identificaccedilatildeo da forma canocircnica da expressatildeo mas como operaccedilatildeo cognitiva que resulta da decisatildeo ou da competecircncia linguiacutestica dos falantes

O desvio ocorreu em decorrecircncia de o informante natildeo identificar em um texto dado portanto com vaacuterias ocorrecircncias linguiacutesticas uma unidade fraseoloacutegica formalmente pluriverbal e fixa

ZOOMORFISMOS Matar cachorro a grito Nesta posiccedilatildeo natildeo houve registro de ocorrecircncia para os

informantes cabo-verdianos (G1e G2)

161

Resposta de um informante feminina de Guineacute-Bissau (G3) porque na verdade hoje em dia quando uma coisa sai no repoacuterter aiacute todo mundo quer saber o quecirc que estaacute acontecendo ah eu acho que reportagem jaacute chama atenccedilatildeo pra pessoa prestar atenccedilatildeo no quecirc que estaacute acontecendo que nos sugere um determinante extralinguiacutestico associado agrave sua resposta

Respostas de dois informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) natildeo e (b) natildeo num ()

Pagar mico Com relaccedilatildeo agrave expressatildeo natildeo pagar mico a que apresentou um

grau de dificuldade de identificaccedilatildeo muito acentuado revelou que 60 dos participantes natildeo souberam fazer a identificaccedilatildeo correta da expressatildeo natildeo pagar mico traduzido por uma meacutedia de 120 - um valor bastante baixo

Os dados extraiacutedos do Protocolo Verbal apontam que a maioria dos participantes ao serem indagados se identificavam alguma expressatildeo idiomaacutetica apoacutes a leitura respondiam negativamente com expressotildees do tipo natildeo natildeo vi nenhuma nada hellip (seguido por um riso nasal registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios)

A anaacutelise das respostas dos informantes revelou o esforccedilo individual ou caracteriacutestico depreendido na tarefa proposta com comentaacuterios como expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo identifiquei nenhuma Muitos informantes respondiam ao entrevistador com um prolongado silecircncio registrado na transcriccedilatildeo dos aacuteudios

Muitas vezes a resposta negativa vinha acompanhada de um pedido de ajuda (ato de fala indireto) que se constituiacutea um pedido de ajuda quanto ao sentido literal dos componentes lexicais da expressatildeo como em num sei a uacutenica coisa aqui seria mico Outra vez um informante depois de um prolongado silecircncio respondeu incorretamente agrave tarefa com uma repeticcedilatildeo de trechos do texto como Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem justificando nesse caso a identificaccedilatildeo pretendida com eu identifico porque assim tem uma expressatildeo no meu paiacutes quase idecircntico com isso que as pessoas dizem que que natildeo dar pra confiar nas coisas barata neacute porque natildeo presta (risos) entatildeo aiacute que eu faccedilo uma comparaccedilatildeo

162

que o preccedilo baixo natildeo significa que vocecirc vai ter que o jovem vai ter uma boa viagem por ser um preccedilo baixo e a viagem eacute ruim viajar ( ) apertado sem condiccedilotildees entatildeo isso tem a ver Em outras ocasiotildees os participantes mostravam claramente a dificuldade de chegar agrave expressatildeo pretendida como custo benefiacutecio pode ser pequeno Neste caso o que merece destaque eacute o fato de o informante praticamente parafrasear todo texto e natildeo fazer nenhuma referecircncia agrave expressatildeo natildeo pagar mico

Uma participante do sexo feminino de Cabo Verde informou conhecer paga mico e paga uma mico o que nos leva a crer que conheccedila uma expressatildeo semelhante em crioulo pagar o mico4 como na sua resposta traziam os dois dos componentes (pagamico) da expressatildeo canocircnica consideramos como parcialmente correta

Nesta tarefa os poucos que anteciparam a anunciar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo pagar mico indicavam a natureza natildeo composicional da expressatildeo ao afirmarem natildeo sei o que eacute a palavra mico noacutes soacute relacionamos a palavra ao contexto que noacutes vamos passar vergonha eacute sair envergonhando todo mundo e envergonhando a si proacuteprio mas a palavra natildeo

De acordo Mogorroacutem Huerta (2010 p251) a variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas pode ser uma fonte de opacidade para os participantes Portanto natildeo haacute como separar nessa hipoacutetese uma identificaccedilatildeo do reconhecimento idiomaacutetico ou da idiomaticidade semacircntica da expressatildeo

Palavras ou expressotildees diferentes ou estranhas como os participantes assim se referiam agrave natildeo pagar mico e a outras expressotildees que natildeo reconheciam decorreriam para Mogorroacuten Huerta do fato de os usuaacuterios da liacutengua natildeo serem conhecedores das possiacuteveis variantes paradigmaacuteticas (que micopagar mico) devido ao conhecimento limitado que cada falante tem de sua liacutengua materna ou no caso dos africanos de sua L2

A variaccedilatildeo dentro das expressotildees idiomaacuteticas foi comprovadamente em nossa pesquisa uma das fontes leacutexicas de opacidade de pagar mico para a maioria dos participantes Um dos

4 No regionalismo brasileiro pagar mico e pagar o mico natildeo satildeo expressotildees sinocircnimas Pagar mico tem o sentido de passar vergonha dar vexame e pagar o mico com o sentido de sofrer as consequecircncias portanto sinocircnimo de pagar o pato

163

participantes diz que em seu paiacutes Cabo Verde jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos)) justificando por essa razatildeo natildeo ter identificado a expressatildeo no texto lido Muitas respostas foram consideradas por noacutes incorretas por natildeo se aproximar nem ao mesmo da paraacutefrase contextual como deixa eu ver essa aqui que natildeo significa a boa viagemrdquo mas uma mera repeticcedilatildeo a trecho do lido

Vejamos a seguir as respostas dos informantes Respostas de duas informantes de Cabo Verde (G1) (a) custo

benefiacutecio pode ser pequeno e (b) ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei Ao serem indagados quanto agraves suas respostas respondem respectivamente o seguinte ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei o que nos sugere terem procurado no texto e encontrado uma combinaccedilatildeo fixa que atendesse agrave expectativa do pesquisador sem levar em conta o caraacuteter de natildeo composicionalidade semacircntica definitoacuteria das expressotildees idiomaacuteticas

Resposta de um informantes masculino de Cabo Verde (G2) expressatildeo idiomaacutetica da forma que a gente taacute analisando as outras eu natildeo reconheci nenhuma o que pode me chamar atenccedilatildeo eacute o assunto custo-benefiacutecio que explicando eacute um assunto que a gente ou seja que o fato de ser barato natildeo quer dizer que que vai que vai ser o melhor o custo-benefiacutecio eacute quer dizer que a gente deve procurar algo num preccedilo bom com uma qualidade boa mas expressatildeo idiomaacutetica em si natildeo se reconhece aiacute

Respostas de quatro informantes femininas de Guineacute-Bissau (G3) (a) ((silecircncio)) Eu acho que essa expressatildeo de preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (b) custo-benefiacutecio (c) deixa eu essa aqui que natildeo significa ldquoque natildeo significa a boa viagemrdquo e (d) pacote de viagem de formatura

Respostas dos informantes masculinos de Guineacute-Bissau (G4) (a) eacute consulte o CNPJ da empresa mas na verdade natildeo porque essa consulta aqui acho que eacute pra ter informaccedilotildees sobre a empresa neacute (b) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (c) ((silecircncio)) preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem (d) ldquopreccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio

164

e (e) humaqui identificocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Os dados coletados indicam que 60 dos participantes

identificaram corretamente (GF-CO) a forma fixa da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho sendo que 25 apontaram uma forma incorreta ou disseram natildeo saber identificar (GF-IC) no texto a expressatildeo e 15 se situaram numa situaccedilatildeo parcialmente correta (GF-PC)

Respostas das quatro estudantes de Guineacute-Bissau (G3) na sua maioria indicam que natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho Entre suas respostas podemos ouvir ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo natildeo e por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar onde claramente apelam para trechos do texto sem que tenha sucesso na tarefa Um caso de parcialmente correta semelhante ao que podemos registrar com suas compatriotas foi o de o participante informar aacutegua no joelhordquo mas que preservava na sua resposta elementos fixos da composiccedilatildeo da expressatildeo idiomaacutetica A uacutenica resposta considerada correta situou-se a expressatildeo em trecho como essa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho que consideramos corretamente porque o informante procura claramente como jaacute dissemos anteriormente preencher a diaacutetese no qual o papel de agente da accedilatildeo verbal (tomar cerveja quente) se faz necessaacuterio explicitar na sua resposta

Para esta expressatildeo apenas as informantes do G3 guineenses em sua totalidade natildeo conseguiram corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho anunciando respostas como (a) ldquotomar liacutequido quenterdquo ((risos)) esse ldquotomar o liacutequido quenterdquo (b) natildeo (c) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar e (d) ldquoaacutegua no joelhordquo e (e) ((silecircncio)) tomar cerveja ((balbucio))

Do grupo G4 informantes masculinos de Guineacute-Bissau 50 dos estudantes tiveram dificuldade de identificar a expressatildeo tirar(mais)

165

aacutegua do joelho situaccedilatildeo em que podemos registrar respostas como eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute e tomar cerveja Os protocolos verbais registram uma dificuldade muito grande por parte dos estudantes de lerem o texto em voz alta o que acabou por gerar em suas respostas palavras inaudiacuteveis ou por vezes balbucios

Outros 50 dos estudantes guineenses do sexo masculino responderam corretamente a expressatildeo (GF-CO) natildeo solta mas dentro de um princiacutepio diateacutesico de oferecer a expressatildeo dentro de uma estrutura com sujeito e predicado como em ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Dos 20 informantes apenas dois guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone Do grupo G3 informantes femininas de Guineacute-Bissau registramos

um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo incorreta feita por uma estudante guineense com a reposta CRIMES no municiacutepio Um estudante guineense do sexo masculino declarou natildeo saber identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta ao entrevistador natildeo

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos 20 participantes registramos apenas duas respostas das

estudantes de Guineacute-Bissau (G3) que foram consideradas incorretas (a) empossado e (b) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo

Chutar o pau da barraca Dos 20 participantes apenas duas guineenses natildeo conseguiram

identificar corretamente a expressatildeo chutar o pau da barraca Uma

166

informante respondeu com um natildeo descartando qualquer tentativa em seguida Um participante guineense natildeo conseguiu identificar corretamente a expressatildeo ao responder eacute queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba

Identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Segundo (FULGEcircNCIO 2008 p 111) para que um falante possa

compreender uma expressatildeo fija alterada e perceber a ruptura eacute preciso primeiramente que o mesmo tenha internalizada a expressatildeo canocircnica ou de origem sendo assim a alteraccedilatildeo constitui uma extensatildeo do conhecimento leacutexico Eacute o que veremos nas respostas dos informantes abaixo

Nesta posiccedilatildeo para as expressotildees Matar cachorro a grito e Pagar mico e chutar o pau da barraca natildeo houve registro de identificaccedilatildeo por reduccedilatildeo fraseoloacutegica

Tirar aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aacutegua do

joelhordquo e (b) eacute soltar mais aacutegua do joelho seraacute que eacute Resposta de registramos uma representante de Guineacute-Bissau

(G3) ldquomais aacutegua no joelhordquo Os participantes de G1 e G2 natildeo se situaram nesta posiccedilatildeo Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 registramos um caso de identificaccedilatildeo parcial feita

por uma estudante cabo-verdiana para a expressatildeo pocircr a boca no trombone a boca no trombone hellip

Do Grupo G2 registramos um uacutenico exemplo de identificaccedilatildeo por meio da reduccedilatildeo parcial da expressatildeo pocircr a boca no trombone por um estudante cabo-verdiano do sexo masculino ao responder ldquoboca no trombonerdquo no contexto no qual reproduz trechos do texto lido eacute falar a verdade pra todo mundo pra qualquer pra todo e qualquer pessoa sem receio de represarias eu acho que eacute isso

Respostas de informantes do sexo masculino e Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquoboca no trombonerdquo (b) tem esse ldquoboca no boca no trombonerdquo (c) ldquo a boca no trombonerdquo um advogado que atua na aacuterea Jorge

167

Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta ldquoa boca no trombonerdquo

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 a maioria das estudantes cabo-verdianas identificou

a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa parcialmente correta com as seguintes respostas (a) eacutehellip com quantos paus faz uma canoa (b) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez (c) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem e (d) eacutehellip com quantos paus se faz uma canoa

Do Grupo G2 trecircs estudantes do sexo masculino de Cabo Verde identificaram parcialmente correta a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa ao anunciarem (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo (b) com quantos paus se faz uma canoa e (c) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute

Do Grupo G3 uma estudante de Guineacute-Bissau anunciou uma resposta considerada por noacutes como parcialmente correta ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino identificou assim vai hellip vai se arrepender ateacute o uacuteltimo o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedila hellip

Identificaccedilatildeo por diaacutetese fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do Grupo G1 todas as estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos) (b) ((riso)) acho que

168

e h matar cachorro a grito (c) rdquo((risos)) esse ldquomatar cachorro a gritordquo rdquo (d) matar cachorro a grito e (e) natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei

Do Grupo G2 todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) aqui a expressatildeo ldquomatar cachorro a gritordquo (c) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito (d) matar cachorro a grito e (e) ((o participante continua relendo trechos do texto em balbucios)) matar cachorro a grito

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito anunciando respostas como (a) ldquomatar cachorro a gritordquo (b) eacute ldquomatar o cachorro a gritordquo (c) essa daqui ldquomatar cachorro a gritordquo e (d) sim assim tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito a saber (a) ((silecircncio)) natildeo identifiquei nenhuma hellip mas tem esse hellip matar cachorro a grito e h a atividade mais exercida pela maioria deles hellip (b) ldquo matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria delesrdquo (c) ldquomatar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente

Natildeo pagar mico Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico (a) ldquopagar micordquo (b) num sei a uacutenica coisa aqui seria mico ((riso)) ldquopagar micordquo e (c) uhn ((silecircncio)) ou pagar mico neacute

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico dando exemplos (a) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica significa quer dizer pagar mico hellip e h hellip pagar mico (b) ((pausa acentuada)) ldquomico nas escolasrdquo ldquonatildeo quer pagar micordquo (c) ldquopagar micordquo e (d) pagar mico

169

Do Grupo G3 houve apenas um caso de uma estudante guineense identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico eacute muito engraccedilado neacute para quem na quer eacute pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentarrdquo

Nesta posiccedilatildeo natildeo houve ocorrecircncia para os participantes do G4 SOMATISMOS

Tirar aacutegua do joelho Do Grupo G1 trecircs estudantes cabo-verdianas identificaram

corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ((curto silecircncio)) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo (b) tirar mais aacutegua do joelho hellip que eu natildeo sei tirar mais aacutegua do joelho hellip acho que e h isso e (c) hum tirar mais aacutegua do joelho

Do Grupo G2 a maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho (a) ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip (c) tirar aacutegua do joelho e (d) tirar aacutegua do joelho

Do Grupo G3 registramos um exemplo de identificaccedilatildeo correta da expressatildeo tirar (mais) aacutegua do joelho feita por uma estudante guineense ldquoessa daqui tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelhordquo

Respostas de trecircs participantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) ldquotomar cerveja quente faz a gente tirar aacutegua do joelhordquo (b) acho natildeo natildeo ((silecircncio)) o que eu acho aqui mas taacute tu pode me dizer neacute tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho e (c) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho

Pocircr a boca no trombone Do Grupo G1 as estudantes cabo-verdianas em sua maioria

identificaram corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone (a) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (b) aqui ldquopocircs a boca no trombonerdquo ele soltou a verdade ((risos)) nem se ele resolveu

170

espalhar dizer o que sabe neacute (c) botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone hellip (d) ((silecircncio)) hum a boca no trombone rdquo

Do Grupo G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino conseguiu identificar a expressatildeo pocircr a boca no trombone ((silecircncio)) pocircr a boca no trombonerdquo

Do Grupo G3 a maioria das estudantes guineenses identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos exemplificar a seguir (a) ldquobotar a boca no tromboso5rdquo (b) ldquopocircs a boca no trombonerdquo (c) pocircs a boca no trombone e (d) pocircs a bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica

Do Grupo G4 a maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino identificou corretamente a expressatildeo pocircr a boca no trombone conforme podemos observar a seguir (a) ldquopocircs a BOca no trombonerdquo (b) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem (c) botar a boca no trombone e (d) expressatildeo idiomaacutetica pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio rdquo

5 As palavras trombeta trombone e tromboso que aparecem nas respostas dos informantes levam-nos agrave mesma etimologia todas vecircm de tromba (antigo instrumento de sopro) Provavelmente tromba venha de trompa com as seguintes acepccedilotildees (a) espeacutecie de trombeta de chifre ou metal retorcido com um uacutenico som muito forte e (b) trombeta primitiva de forma circular usada na caccedila As respostas dos informantes tecircm um fundo biacuteblico para a motivaccedilatildeo da expressatildeo Vaacuterias satildeo as passagens biacuteblicas com a palavra trombeta Para citar apenas uma Fala aos filhos de Israel dizendo No mecircs seacutetimo ao primeiro do mecircs tereis descanso memorial com sonido de trombetas santa convocaccedilatildeo (Leviacutetico 23 24)

171

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Do Grupo G1 uma uacutenica participante cabo-verdiana identificou

corretamente a expressatildeo tem aqui a Dilma vai saber com quanto paus se mata uma canoa hellip aqui hellip essa parte aqui hellip

Respostas de dois estudantes do sexo masculino de Cabo Verde (G2) (a) ldquoa partir do primeiro dia de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com Quantos paus se faz uma canoardquo uma expressatildeo assim uma giacuteria e (b) eacute a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip

Respostas de duas estudantes guineenses (G3) (a) eacute ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoardquo quer dizer reconhecer a realidade neacute de mandar uma outra coisa tambeacutem que estaacute explicando aqui em baixo que o Lula quer continuar soacute que o mandato dele o tempo dele jaacute acabou entatildeo ele quer mesmo a Dilma vivendo laacute ela vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo aleacutem de de de de como eacute que eu posso dizer Aleacutem de en-fren-tar a dificuldade porque mandar natildeo eacute faacutecil ela ela vai tambeacutem vai sofrer influecircncia do do do Lula entatildeo eu acho que eacute (b) Eacutetem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa

Respostas da maioria dos estudantes do sexo masculino de Guineacute-Bissau (G4) (a) a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoardquo neacute (b) ldquoa Dilma vai saber com quantos paus se faz um canoardquo (c) Eacutea Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa hellip e (d) Eacute vai saber quantos paus se faz uma canoa

Chutar o pau da barraca Respostas das estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ldquochutar o pau

da barracardquo (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) falta o povo chutar o pau da barraca (d) falta o povo chutar pau da barraca e (e) o povo chutar o pau da barraca

Respostas dos os estudantes cabo-verdianos do gecircnero masculino (G2) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barraca ((riso)) que destruindo sentido literal chutar ou destruir destruir a barracardquo (b) a expressatildeo que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem

172

(c) ah ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (d) bom esse aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo e (e) chutar o pau da barraca

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ldquochutar o pau da barracardquo (b) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (c) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquo e (d) tem essa daqui falta o povo chutar o pau da barraca

Respostas da maioria dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo (b) ((silecircncio)) esse falta o povo chutar o pau da barraca (c) ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca e (d) ()ldquofalta o povo chutar o pau da barracardquo Grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Atribuiacutemos para as respostas dadas pelos informantes uma pontuaccedilatildeo identificaccedilatildeo correta 1 ponto identificaccedilatildeo parcialmente correta 2 pontos e identificaccedilatildeo correta 3 pontos A partir desta pontuaccedilatildeo pudemos calcular oss valores das meacutedias das seis expressotildees que variaram de 120 para natildeo pagar mico a 275 para chutar o pau da barraca A meacutedia das meacutedias foi

Os valores indicados nos caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo para o grau da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica indicam que a expressatildeo mais difiacutecil de ser identificada pelos informantes foi natildeo pagar mico com meacutedia 120

As expressotildees saber com quantos paus se faz uma canoa e tirar aacutegua do joelho foram com 209 e 207 consideradas de meacutedia identificaccedilatildeo

As expressotildees mais faacuteceis de serem identificadas foram chutar o pau da barraca com meacutedia 275 matar cachorro a grito com 267 e pocircr a boca no trombone com 242

173

Graacutefico 1 - Meacutedias da Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica por expressatildeo idiomaacutetica

Tabela 4 - Meacutedias e Desvios Padratildeo do grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Categorias Fraseoloacutegicas

Expressotildees Idiomaacuteticas

Meacutedia Desvio Padratildeo

Grau de identificaccedilatildeo

Zoomorfismos Matar cachorro a grito 267 077 Faacutecil

Natildeo pagar mico 120 063 Difiacutecil

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

207

092 Meacutedia

Pocircr a boca no trombone

242 079 Faacutecil

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

209 083 Meacutedia

267

12

207242

209

275

Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar mais aacutegua dojoelho

Pocircr a boca notrombone

174

Chutar o pau da barraca Meacutedia das meacutedias

275 176

068 Faacutecil

Segunda Pergunta da Pesquisa ateacute que ponto os participantes lembram-se das expressotildees escolhidas para este estudo e sabem seu sentido idiomaacutetico Tarefa 2 - Verificaccedilatildeo do grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Quando o falante usa tais construccedilotildees demonstra que utilizou um conjunto lexical presente na sua memoacuteria e natildeo construiacutedo no momento do enunciado (Fulgecircncio 2008 p 77)

Para respondermos a questatildeo desta Tarefa 2 testamos as

seguintes hipoacuteteses (a) os falantes natildeo nativos do PB natildeo processam as expressotildees idiomaacuteticas memorizadas ndash soacute retoma o que jaacute estaacute psicolinguisticamente fixado na sua memoacuteria (b) os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos e (c) os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria dos falantes nativos do PB como um todo unitaacuterio

As respostas dos informantes sobre a memoacuteria fraseoloacutegica das seis expressotildees deste experimento foram convertidos em valores numa escala de 1 a 3 para que pudeacutessemos calcular as meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegica ficando assim categorizadas os comentaacuterios dos informantes em trecircs niacuteveis (a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica 1 ponto (b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica 2 pontos e (c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica 3 pontos Em seguida apresentamos percentuais levando em conta o nuacutemero de informantes que participaram da tarefa

A partir da pontuaccedilatildeo dada agraves respostas (niacuteveis) dos informantes pudemos fazer um novo caacutelculo o do grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica estabelecendo entatildeo estes trecircs graus (a) menos familiares (b) familiares e mais familiares

Levando em conta os niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica e considerando o grau de memoacuteria fraseoloacutegica fizemos entatildeo a seleccedilatildeo final dos informantes a serem considerados na anaacutelise dos

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dados nas tarefas 3 (Idiomaticidade Fraseoloacutegica) e 4 (Taacuteticas e Estrateacutegias de compreensatildeo)

Por fim para melhor avaliarmos as respostas dadas pelos informantes em crioulos cabo-verdiano e guineense fizemos um inventaacuterio colhido diretamente dos informantes depois da aplicaccedilatildeo da uacuteltima tarefa do experimento de modo a permitir cotejarmos suas respostas com as expectativas do pesquisador com relaccedilatildeo agrave forma canocircnica de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica e as acepccedilotildees de idiomaticidade das seis expressotildees em liacutengua portuguesa (L2)

Uma vez aplicada as tarefas relacionadas com a identificaccedilatildeo e a memoacuteria fraseoloacutegias pareceu-nos muito importante discriminar as unidades jaacute conhecidas pelos informantes posto que estes resultados poderiam desvirtuar os resultados das Tarefas 3 e 4 relativos agrave verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica e agrave verificaccedilatildeo da frequecircncia de uso das estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica a partir dos dados fornecidos pelos participantes durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal Think Aloud

O objetivo desta tarefa foi submetermos os 20 participantes da pesquisa a um teste de memoacuteria fraseoloacutegica Afinal quando sabemos na condiccedilatildeo de nativos de uma liacutengua de cor ou de cor e salteado uma expressatildeo idiomaacutetica natildeo podemos dizer se ela eacute opaca ou natildeo uma vez jaacute estaacute cristalizada em nossa memoacuteria de longo prazo portanto efetivamente memorizada guardada em bloco unitaacuterio e pronta para uso Por essa razatildeo centramos-nos nas expressotildees natildeo conhecidas ou natildeo lembradas nem decantadas semanticamente pelos informantes porque seguramente diratildeo se seratildeo julgadas como sendo de idiomaticidade forte (opacas) ou idiomaticidade fraca (transparentes)

Para assegurar maior confiabilidade desta tarefa recorremos ao meacutetodo conhecido por procedimento lembrarsaber desenvolvido por Tulving (1985) que consistiu em pedir aos participantes que declarassem se lembravam ou se haviam ouvido alguma vez antes da data do teste a expressatildeo idiomaacutetica objeto de apreciaccedilatildeo e na hipoacutetese de resposta afirmativa ou negativa (teste de reconhecimento de simnatildeo) teriam que imediatamente dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo evitando que colocassem em praacutetica suas taacuteticas preparatoacuterias (bottom-up) e adivinhatoacuterias (top-down) e de nossa parte apoacutes o anuacutencio dos informantes disponibilizaacutevamos as diversas

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formas de ajuda teacutecnica (SI) dentro do chamado Protocolo Verbal Think Aloud

Com esta tarefa como jaacute anunciamos anteriormente buscaacutevamos responder agrave Terceira Pergunta da nossa Pesquisa ou mais precisamente sabermos como variam as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para este estudo quanto ao seu grau de idiomaticidade intralinguiacutestica ou opacidade semacircntica especificamente de natildeo nativos do Portuguecircs Brasileiro (PB)

A opacidade-transparecircncia depende como sabemos das caracteriacutesticas das expressotildees idiomaacuteticas (metaacutefora literalidade do sintagma etc) e tambeacutem da percepccedilatildeo (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) e dos conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) considerados nesta pesquisa como taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down respectivamente bastante diversas nas habilidades e competecircncias de cada falante

Mais adiante veremos que muitos falantes natildeo nativos diante de expressotildees idiomaacuteticas de uso frequente no Brasil surpreenderam-nos com suas respostas percepccedilotildees impressotildees inferecircncias enfim evidenciaramm estrateacutegias heuriacutesticas ou originalmente heteroacuteclitas Aliaacutes estudos recentes relacionados agrave compreensatildeo idiomaacutetica tecircm apontado que em tarefas contrastivas tem se constatado a transferecircncia bastante criativa de conhecimentos da liacutengua materna para a segunda liacutengua (DETRY 2009 p243)

Havemos tambeacutem de dizer que uma expressatildeo julgada transparente para um falante nativo natildeo eacute necessariamente transparente para um falante natildeo nativo Em geral quando falantes nativos identificam (grau de identificaccedilatildeo ou fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) uma expressatildeo idiomaacutetica a associa diretamente ao sentido figurado ou idiomaacutetico que armazena em sua memoacuteria de longo prazo mas natildeo sabemos ao certo se essa operaccedilatildeo acontece igualmente com falantes natildeo nativos

Certo eacute que operaccedilotildees cognitivas dependem sobretudo de como os falantes recordam como expressatildeo de sua liacutengua materna (L1) Ou seja na situaccedilatildeo em que falantes natildeo nativos declarassem conhecer e lembrar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a rigor natildeo poderiacuteamos falar em opacidade-transparecircncia jaacute que simplesmente nessa situaccedilatildeo armazenam-nas em sua memoacuteria e as recuperam quando as necessitam Soacute podemos pois falar em opacidade-transparecircncia com

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relaccedilatildeo agraves expressotildees idiomaacuteticas somente para falantes sejam nativos ou natildeo nativos que natildeo as conhecem natildeo as lembram ou simplesmente os lexemas que as formam natildeo permitem a passagem de luz isto eacute bloqueiam nos falantes a passagem do literal para o abstrato ou do literal para o natildeo composicional sentido idiomaacutetico

A questatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica ou mais precisamente da memoacuteria de reconhecimento idiomaacutetico estaacute muito ligada agrave noccedilatildeo de frequecircncia de coapariccedilatildeo e de frequecircncia de uso uma vez que quanto mais usada a combinaccedilatildeo fixa pelos falantes mas consolidar-se-atildeo como expressotildees fixas que os falantes armazenaratildeo na memoacuteria (CORPAS PASTOR 1996 p21)

A fixaccedilatildeo fraseoloacutegica de que tratamos anteriormente eacute pois obra da memoacuteria idiomaacutetica a que o falante recorre para significar metaforicamente algo diferente do que a sentenccedila significa literalmente (SEARLE [1979] 2002 p121) sem a qual natildeo poderiacuteamos falar a rigor em expressatildeo fixa expressatildeo idiomaacutetica ou unidade fraseoloacutegica porque da noccedilatildeo de fixaccedilatildeo fraseoloacutegica vatildeo emanar os traccedilos essenciais das unidades fraseoloacutegicas a pluriverbalidade a fixaccedilatildeo e a idiomaticidade

Trata-se para usarmos de um termo mais apropriado para este caso acima de fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica um traccedilo que juntamente com a fixaccedilatildeo formal eacute essencial a todas as Unidades Fraseoloacutegias (UFs) cujos participantes as recordam e as produzem em bloco como uma uacutenica unidade leacutexica e que uma vez fixada ou institucionalizada permaneceraacute na memoacuteria do falante como um todo indissoluacutevel e capaz de reproduzi-la quando a situaccedilatildeo o permitir (ALVARADO ORTEGA 2010 p28)

Para verificarmos o grau de memoacuteria fraseoloacutegica dos participantes da pesquisa apoacutes a aplicaccedilatildeo da tarefa 1 (verificaccedilatildeo da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) perguntaacutevamos aos informantes se jaacute conheciam a expressatildeo testada antes da aplicaccedilatildeo da tarefa

As respostas dos informantes foram assim categorizadas por niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

a) Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo nem sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 1 ponto

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b) Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar ou ter ouvido a expressatildeo mas natildeo sabia seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 2 pontos

c) Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica em que o participante declarava lembrar e ter ouvido a expressatildeo e saber seu sentido idiomaacutetico em L1 (crioulo cabo-verdianoguineense) ou L2 (portuguecircs na variante cabo-verdianaguineense) Numa escala de 1 a 3 pontos para esta situaccedilatildeo a resposta do informante recebeu 3 pontos

Memoacuteria fraseoloacutegica na perspectiva dos falantes

Na Tarefa 2 a expressatildeo matar cachorro a grito em que levamos

em conta principalmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica (ou memoacuteria fraseoloacutegica) tal qual assinalada por Alvarado Ortega (2010 p28) 75 dos informantes declararam ao entrevistador durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal que natildeo conheciam ou natildeo lembravam ou natildeo havia ouvido ou lido a expressatildeo antes do teste Neste teste as respostas dos informantes apontaram que 15 deles lembravam parcialmente desta expressatildeo idiomaacutetica As respostas dos informantes quanto ao sentido idiomaacutetico da referida expressatildeo confirmavam esta posiccedilatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico ficou com metade dos informantes que declararam ter conhecido ou ter ouvido a expressatildeo e a outra metade afirmou natildeo ter conhecimento ou ouvido antes a expressatildeo

No caso da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho depois da expressatildeo matar cachorro a grito foi a que obteve 60 os participantes que declararam natildeo conhecer ou natildeo ter ouvido a expressatildeo antes do teste contra 35 que afirmaram lembrar ou jaacute ter ouvido a expressatildeo antes em seu paiacutes por influecircncia em especial das novelas brasileiras

A expressatildeo pocircr a boca no trombone foi a que obteve 65 da recordaccedilatildeo pelos participantes restando 35 que alegaram natildeo conhecer a expressatildeo Facilmente os participantes encontraram em crioulo (L1) tanto os de Guineacute-Bissau como os de Cabo-Verde equivalentes que consideramos como corretas para nosso estudo

Para expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa os comentaacuterios iniciais do protocolo verbal apontam que 45 dos

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informantes declararam conhecer ou ter a expressatildeo idiomaacutetica antes principalmente em seu paiacutes de origem e os dados coletados parecem indicar que 10 dos informantes soacute conheciam parcialmente a fixaccedilatildeo psicolinguiacutestica da referida expressatildeo

Ao lado da expressatildeo matar cachorro a grito o teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica para chutar o pau da barraca indicou que 75 dos informantes declararam desconhecer ou natildeo lembrar da expressatildeo

Observemos a quadro abaixo

Tabela 5 - Verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica por percentual de falantes

CATEGORIAS

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

PONTUACcedilAtildeO

NS (1p) PS(2p) SA(3p)

ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito

75 00 10

Natildeo pagar mico 50 00 50

SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho 60 05 35

Pocircr a boca no trombone 35 00 65

BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

45 10 45

Chutar o pau da barraca

75 05 20

Legendas NC = Natildeo lembra nem ouviu a expressatildeo idiomaacutetica CN = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo sabe seu sentido CS = Lembra ou ouviu a expressatildeo idiomaacutetica e sabe seu sentido

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Niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica

Niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito De G1 natildeo houve registro de respostas das informantes cabo-

verdianas que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes de Cabo Verde (G1) (a) eacute porque pra mim natildeo existe em portuguecircs ((risos)) essas palavras esses textos aquela frases aquelas expressotildees que eu natildeo soube descrever o que satildeo porque eu realmente natildeo conheccedilo natildeo faccedilo ideia (b) natildeo e (c)natildeo sei hellip costuma-se pensar nah nah hellip ((participante reler trecho)) ((silecircncio)) nah hellip tem essa parte aqui que na verdade matar cachorro a grito e h a atividade das mais exercida pela maioria deles hellip ((silecircncio)) num sei hellip

Respostas da totalidade das estudantes guineenses (G3) (a) nunca ouvi em Guineacute (b) ((silecircncio seguido de gesto negativo com a cabeccedila) (c) matar cachorro a grito natildeo (d) natildeo conheccedilo natildeo e (e) nunca ouvi essa expressatildeo de matar cachorro mas pode me dar um exemplo similar

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) e h hellip eu achei essa frase assim estranha hellip frase nova pra mim (b) ahoo cara pensa que o artista eacute rico neacuteaiacute como taacute dizendo aqui ldquo matar cachorro eacute atividade exercida por elesrdquoeacute mais faacutecil matar cachorro a giro do que ( as outras pessoas)matar cachorro a grito eacute que to achando aiacute neacutemas esta giacuteria ldquomatar cachorro a grito ldquo nunca ouvi falar (c) ((silecircncio)) natildeo ((riso)) eacute difiacutecil interpretar porque nunca nunca na verdade eu escutei (d) natildeo e (e) eu entendo assim

Natildeo pagar mico Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((riso

nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquohellip ((riso)) hellip e (b) eacute paga mico eacute sim conheccedilo paga uma mico eacute

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Respostas dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) uhn hellip conheccedilo hellip (b)jaacute (c) JAacute atraveacutes da miacutedia tambeacutem (d) pagar mico conhecia mas era porque passa sempre nas novelas laacute neacute hellip passa as novelas e essa expressatildeo acaba por escutar na televisatildeo e (e) conheccedilo tambeacutem por influecircncia da da de TV e de novela essas coisas mas acaba se usando a gente acaba usando tambeacutem laacute em Cabo Verde natildeo muito mas usa eacute isso jaacute ouvi pessoas usando isso aiacute rdquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((riso)) natildeo sei natildeo sei (b) humaqui reconheccedilocadecirc ldquo o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagemrdquo (c) ((silecircncio)) sei natildeo (d) eacute tipo eu jaacute ouvi mico mas natildeo sei exatamente o que significa eacute tipo uma uma pessoa que taacute fazendo uma coisa assim tipo qualquer besteira pagar mico natildeo sei exatamente isso natildeo eu nunca ouvi soacute o mico assim e (e) eacute porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacute por exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacute aiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) uhn

(b) natildeo hellip tambeacutem nunca escutei hellip ((riso nasal)) De G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-

verdianos do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas das estudantes guineenses (G3) (a) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar (b) eu natildeo sei se o vinho fica aqui no joelho o pessoa natildeo consegue andar natildeo sei eu acho que eacute mas eu natildeo conheccedilo essa palavra natildeo pra dizer a verdade eu natildeo conheccedilo (c) natildeo eu aprendi aqui natildeo (d) Natildeo conheccedilo natildeo e (e) natildeonem em Guineacute nem no BrasilParticipante entatildeo tem uma

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expressatildeo parece descarregar mesmo natildeo estou lembrando bemParticipante em crioulo eacute (missa) mas tambeacutem tem uma expressatildeo que eacute proveacuterbio mas natildeo estou lembrada tem o mesmo sentido dessa aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) natildeo (b) natildeo natildeo conhecia assim ((silecircncio)) eu eu vejo essa frase aqui estranho (c) hatilde (d) significa que tomar cerveja quente faz o cara mijar muito neacute e (e) eu conheccedilo aqui isso ocorre em parte porque o aacutelcool soacute que eu natildeo conheccedilo essa palavra aqui inibe inibe

Pocircr a boca no trombone De G1 e G2 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de quatro estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa PERdeu o JUIZO (b) conheccedilo natildeo natildeo ouvi natildeo (c) no Brasil eu natildeo sabia se existia tambeacutem essa aiacute assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (d) natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra expressatildeo eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha) quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assimrdquo

Respostas de dois estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc pode me dar uma dicae e (b) defender uma coisa

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de duas estudantes cabo-verdianas (G1) (a) ((curto

silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra

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empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho() hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () e (b) natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente expressatildeo idiomaacuteticardquo

Resposta de um uacutenico estudante cabo-verdiano do sexo masculino (G2) essa aqui essa aqui eu jaacute eu jaacute conheccedilo hellip natildeo assim hellip a expressatildeo eu jaacute conheccedilo hellip no meu paiacutes natildeo se usa natildeo se usa pelo menos eu natildeo sei ()aqui eu jaacute aqui eu jaacute sabia hellip mas no meu paiacutes natildeo se usa essa expressatildeo hellip tem coisas que a gente usa hellip mas que no momento eu natildeo me lembro

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo feminino (G3) (a) natildeo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) Essa expressatildeo natildeo conheccedilo (ruiacutedo) (silecircncio) (ruiacutedo) e (c) por exemplo aqui estaacute dizendo espera aiacute ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo da sua pobre cabeccedilardquo ter aceitado ser a candidata de Lula mas natildeo eacute isso natildeo eacute essa frase aqui ldquotudo o que ele quer eacute continuar mandandordquo

Respostas de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) (hipoacutetese de negaccedilatildeo com gesto de cabeccedila) ((silecircncio)) natildeo hellip (b) eu natildeo eu nunca tinha visto assim hellip mas () como como e h que eu posso explicar hellip ((curto silecircncio)) tem outra expressatildeo que a gente usa laacute hellip natildeo sei se e h idecircntico hellip tipo hellip crianccedila numa gravidez assim hellip a matildee vai falar com a noiva assim hellip (tu vai ter que aprender com e h que a gente faz pra criar a crianccedila) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip natildeo sei se se identifica e (c)natildeo

Chutar o pau da barraca Respostas da maioria das estudantes cabo-verdianas (G1) (a)

ldquonatildeo hellip porque eacute um pouco diferente eacute uma frase que muda logo chama logo atenccedilatildeo das pessoas num texto assim eu acho que noacutes podemos e h por ser portuguecircs hellip cada num sei cada povo tem sua expressatildeo neacute entatildeo logo quando eu li e natildeo consegui entender

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logo o contexto do ldquofalta chutar o pau da barracardquo hellip chama logo a minha atenccedilatildeo por eu natildeo conseguir assimilar num texto desses como assim falta o povo chutar o pau da barraca eu natildeo ()L1 (deitar tudo pra altura) talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura L1(sabota tudo na espora) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim (b) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo (c) eacute hellip acho que e h hellip nunca ouvi falar nunca ouvi falar acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui num sei hellip nunca escutei natildeo hellip eu nunca escutei dizer falta o po e (d) nunca eacute isso natildeo conheccedilo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) natildeo natildeo natildeo sei natildeo conheccedilo natildeo natildeo esse aqui acho que aqui no Brasil nunca ouvi falar () existem vaacuterias expressotildees aqui no Brasil que que eu nunca ouvi falar daacute pra entender com certeza quando vocecirc claro chutar o pau da barraca se eu escutar soacute chutar o pau da barraca acho que natildeo saberei natildeo saberei dizer qual o sentido mas aliado a um contexto daacute pra entender a expressatildeo e (b) natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip

Respostas da maioria das estudantes guineenses (G3) (a) ((silecircncio demorado)) eu natildeo sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso Eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo (b) tambeacutem natildeo (c) chutar o pau da barraca natildeo (risos) (silecircncio) eu acho assim porque isso essa expressatildeo eacute uma expressatildeo que o pessoal usa tipo uma giacuteria (ruiacutedo) que a pessoa utiliza por exemplo se pegar essa expressatildeo pra procurar no dicionaacuterio vai ser difiacutecil de encontrar eacute uma linguagem mesmo popular que as pessoas utilizam como giacuteria e (d) natildeo nunca nem aquirdquo

Respostas da totalidade dos estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) ldquoaqui no Brasil tambeacutem eacute nunca () natildeo ouvi nunca (b) eacuteesse aqui eacute um pouco pesado mas eu acho que eacute puxapuxa para poder chegar laacutevendo Roberto Carlos cantandordquode preto cantando sambardquo isso aqui tambeacutemeacute coisa pesada heimrdquo povo chutar o pau da barracardquoessa aqui eacute pesada me

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pegou (c) ()eacutetem (d) ldquochutar o pau da barracardquo natildeo e (e) natildeo hellip pode dar um exemplo pra Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) ldquo((silecircncio)) eacute

exatamente o quecirc eu natildeo consigo associar nesse contexto eacute eu jaacute ouvi eu natildeo me lembro eacute uma amiga minha ela tava falando eacute tava acontecendo uma coisa assim ela falou essa frase mas eu natildeo consigo relacionar com o contextordquo

Respostas de dois estudantes cabo-verdianos (G2) (a) essa expressatildeo jaacute ouvi no Brasil algumas vezes mas ainda natildeo peguei o sentidoaqui no Brasil e (b) difiacutecil esse aqui essa expressatildeo eu nunca tinha ouvido eacute a primeira vez que eu ouccedilo tambeacutem e mesmo pelo contexto fica um pouquinho mais complicadordquo

De G3 natildeo houve registro de respostas das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de dois estudantes guineenses (G4) (a) ldquonatildeo natildeo natildeo conhecia helliprdquo (b) ldquo matar cachorro a grito hellip hum hellip eu natildeo sei hellip jaacute ouvi jaacute ouvi e bastante soacute no Brasilrdquo

Natildeo pagar mico De G1 G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e dos informantes guineenses do sexo masculino que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Respostas de trecircs estudantes guineenses (G3) declararam natildeo lembrar nem ter ouvido a expressatildeo natildeo pagar mico com respostas sucintas como natildeo e natildeo sei seguidas geralmente de curto silecircncio

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SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 para esta expressatildeo surpreendentemente natildeo

houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Resposta de uma uacutenica estudante cabo-verdiana (G1) diz ter

conhecido ou ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone em seu paiacutes mas natildeo lembrava seu sentido idiomaacutetico natildeo mas a gente conhece pela influecircncia eacute

De G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes cabo-verdianos do sexo masculino e dos informantes guineenses em sua totalidade que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 G2 e G3 natildeo houve registro de respostas dos informantes

cabo-verdianos e das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar e utilizar em Guineacute a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa mas natildeo sabe o sentido idiomaacutetico

Chutar o pau da barraca De G1 G2 G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos

informantes cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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Niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Resposta de uma participante de Cabo Verde (G1) apresentou um

niacutevel alto de reconhecimento idiomaacutetico ao encontrar um expressatildeo equivalente em L1 (crioulo cabo-verdiano) ldquoesse ldquomatar cachorro a gritordquo eu natildeo diria no meu paiacutes eu natildeo diria assim eacute tipo aparentemente parece que ele eacute rico mas no fundo no fundo acho que ele natildeo eacute rica natildeo deve taacute ralando oito dez aiacute taacute cosendo as meinhas taacute fazendo pezinho de meia pra poder dar certo ((riso))rdquo

De G2 um estudante cabo-verdiano declarou ter ouvido ou lembrado a expressatildeo matar cachorro a grito no Brasil e saber seu sentido idiomaacutetico ldquoconheccedilo aqui no Brasil tambeacutemrdquo

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes das informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Natildeo pagar mico Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) eacute hellip

conheccedilo hellip jaacute jaacute sabia (b) assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela eacute pela novela brasileira e outras costumeiras que o pessoal usa escuta tambeacutem fala na novela neacute aiacute ouvindo mico aiacute eu associei a que vergonha (c) eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num ()

Respostas duas estudantes guineenses (G3) (a) aprendi aqui no Brasil uma das primeiras expressotildees eu morava com uma brasileira laacute em Natal e ela sempre dizia ldquoah eu paguei micordquo porque assim pagar mico quando pagar mico natildeo eacute pagar uma coisa natildeo pagar mico eacute envergonhar mesmo passei vergonha ou seja fiquei vermelho neacute e (b) Eacute no Brasil

De G2 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes do sexo masculino cabo-verdianos e guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

188

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo

essa frase aqui eu ouvi aqui jaacute (ir para casa de banho) ldquoeu vou fazer xixi vou pra casa de banhordquo (b) vou tirar aacutegua do joelho hellip (isabatra aacutegua do joelho) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) natildeo soacute os rapazes como toda a populaccedilatildeo cabo-verdiana aqui tatildeo usando algumas palavras brasileiras colocando hellip e (c) fazer xixi acho que natildeo tem natildeo ((risos)) fazer xixi (tona ar) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

Respostas de todos os estudantes cabo-verdianos do sexo masculino(G2) (a) essa expressatildeo eu jaacute ouvi falar mas eu natildeo sei explicar ((riso)) assim poderia me explicar (b) bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (c) conheccedilo essa expressatildeo no paiacutes e a gente usa a mesma expressatildeo com o mesmo significado (d) conheccedilo hellip natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e (e) jaacute jaacute ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo que eacute a expressatildeo a maioria assim a maioria dos homens usa eu nunca ouvi assim pelo menos ateacute agora eu nunca ouvi uma mulher falando isso

De G3 e G4 natildeo houve registro de respostas dos informantes guineenses que pudeacutessemos classificar neste niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Pocircr a boca no trombone Respostas de quatro estudantes cabo-verdianas (G1) (a) aqui no

Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute

189

descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) (b) eacute botar hellip onde tem pocircs a boca no trombone ((silecircncio)) ((supostamente confirma com gestos))laacute em Cabo Verde se diz poe poe ((hipoacutetese de fala em crioulo)) espalhar pro mundo ueacutehellip falar hellip (c) ldquojaacute hellip em Cabo Verde e h hellip pocircs a boca no trombone hellip eu acho que e h hellip falar algum segredo helliprdquo e (d) eu conhecia laacute em Cabo Verde tem ldquoboca no trombonerdquo ldquocolocou boca no trombonerdquo ((vozes ao fundo)) ah mas se tem alguma em crioulo natildeo sei

Resposta da totalidade dos estudantes cabo-verdianos (G2) (a) conheci essa expressatildeo aqui tambeacutem (b) sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais () (c) aqui no Brasil boca no tromb eu natildeo entendia natildeo sabia nem o que era trombone eu entendia trombole o pessoal fala tatildeo raacutepido boca no trombone eu eacute colocou a boca no trombole mas natildeo eacute assim natildeo no meu paiacutes eu chamaria de (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) abocanha ((riso)) falou uma coisa que ele natildeo devia ter falado ele tirou algum segredo algum sigilo ele colocou aiacute soltou pra todo mundo ver colocou na internet colocou no jornal assim que eu entendo ((riso)) (enebuquer) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) o cara ele falou tudo neacute eacute assim descobriu o santinho do povo aiacute neacute descobriu todo segredo varreu todo lixo ((risos)) debaixo do tapete ((riso)) pocircs a boca no trombone a gente usa em em Cabo verde a gente usa e em com o significado de de trazer agrave tona de algueacutem tem de explicar falar eu vou trazer agrave tona esse assunto e no caso do texto quem eacute o assunto o judiciaacuterio em relaccedilatildeo a crimes no municiacutepio (d) bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem e (e) jaacute conhecia em Cabo Verde hellip mas botar a boca no trombone hellip acho que natildeo hellip seria hellip eacute

190

o que a gente tem a gente tem mais influecircncia do brasileiro do que do portuguecircs mesmo ()

De G3 apenas uma estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo pocircr a boca no trombone dando como resposta sucinta conheccedilo

Resposta de trecircs estudantes guineenses do sexo masculino (G4) (a) eu conheci aqui no crioulo tem tem mas tem mas natildeo e h eacute diferente eacute (empenha boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) empenhar boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) tipo a pessoa te apanhou a falar alguma coisa (b) eacute jaacute ouvi falar jaacute em Guineacute laacute eu escuto de vez em quando na raacutedio ldquoboca no trombonerdquo eacute e (c) botar a boca no trombone eu acho que eu conheccedilo neacute ()desde Guineacute que que aquela pessoa que vai no raacutedio na televisatildeo ou meio puacuteblico e fala as coisas neacute entatildeo a pessoa diz olha tira a boca do trombone porque natildeo eacute nem seu espaccedilo neacute ((riso)) eacute agraves vezes a pessoa diz assim (se vocecirc natildeo faz parte do carnaval eacute tire a boca se buca faze parte do carnaval tire boca) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) se vocecirc natildeo faz parte do carnaval tire a sua boca neacute

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianas (G1) (a) natildeo hellip

mesmo eacute de Portugal ou mesmo do Brasil hellip noacutes natildeo temos muito o haacutebito de dizer hellip mas jaacute hellip acabamos por ouvir muito hellip entatildeo daacute -se a repeticcedilatildeo por exemplo eacute noacutes temos muita influecircncia da cultura brasileira hellip entatildeo hellip tanto que somos habituados a ver as mesmas novelas daqui hellip entatildeo acabamos acabamos por ouvir a maior parte do que os brasileiros dizem eacute hellip das expressotildees hellip aiacute acabamos por conhecer e saber o significado de algumas (b) aqui que eu conheci nas novelas hellip eu ouvia nas novelas acho que eu ouvi laacute em Cabo Verde na televisatildeo e (c) eu acho que eu conheccedilo algo parecido hellip seria hellip e h (ele taacute deixa atrevimento) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip ((riso)) ou (ele taacute afronta) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip algo do gecircnero hellip acho que e h hellip que eacute do gecircnero hellip eu diria que e h isso hellip ((riso nasal)) hellip natildeo sei hellip ((riso nasal))

191

Respostas da maioria dos estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) natildeo conheci aqui no Brasil (b) sim com quantos paus se faz uma canoa e jaacute eacute conhecida laacute eacute exatamente eu sempre sempre escutei tambeacutem com quantos paus se faz uma canoa (c) natildeo se use muito eu jaacute tinha ouvido falar laacute em Cabo Verde mas se natildeo me engano eu jaacute ouvi jaacute ouvi mas por assistir TV e (d)jaacute em Portugal tambeacutem se usa

Do Grupo G3 uma uacutenica estudante guineense declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa anunciando a seguinte resposta eu conheccedilo mas natildeo dessa forma eacute espera aiacute quer dizer quantos paus se faz uma canoa eu conheccedilo mas eu esqueci hunrrum significa que vocecirc vai ver que a coisa natildeo eacute faacutecil mas natildeo estou lembrando natildeordquo

Do Grupo G4 um estudante guineense do sexo masculino disse lembrar ou ter ouvido a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa e sabe seu sentido idiomaacutetico sim mas soacute que tem uma outra forma por exemplo por exemplo (ningueacutem pode bater a palma com uma matildeo soacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) entendeu

Chutar o pau da barraca Do Grupo GI apenas uma das estudantes cabo-verdianas

declarou lembrar ou ter ouvido a expressatildeo chutar o pau da barraca o que comprovamos antes da ajuda teacutecnica aqui eu soacute () eacute laacute no meu paiacutes eu tipo diria eu quero ver ateacute onde vai isso eu quero ver ateacute onde daacute pra aguentar depois de nada acaba tudo e tudo laacute prefere cair tudo pro chatildeo neacute ((riso)) eu diria assim mas a expressatildeo ldquochutar o pau da barracardquo natildeo ((barulho de muacutesica ao fundo)) ldquochutar o pau da barraca seria uma expressatildeo de vocecircs brasileiros que eu vejo meus minhas colegas usando ldquorapaz essa faculdade jaacute taacute por aqui daqui a pouco eu vou chutar o pau da barraca a casa vai cair vamos simborardquo ((riso))rdquo

Respostas de trecircs estudantes cabo-verdianos do sexo masculino (G2) (a) por influecircncia eacute e chutar o pau da barraca quer dizer que que o povo devia jogar isso todo mundo devia discutir isso porque natildeo taacute certo aiacute a gente devia com eacute que eu a gente devia procurar explodir esse assunto pra todo mundo ficar tomar tomar conhecimento disso porque se natildeo taacute certo todo mundo deve saber disso acho que basicamente eacute isso (b) a expressatildeo

192

que eu que eu consegui identificar aqui eacute chutar o pau da barraca que pelo contexto daacute pra ver eu jaacute tinha ouvido tambeacutem no Brasil eu jaacute tinha ouvido laacute em Cabo Verde mas soacute que da mesma forma da outra () e (c) natildeo foi aqui

Do Grupo G4 formado por estudantes guineenses do sexo masculino apenas um declarou ter ouvido chutar o pau da barraca sem que pudesse atribuir agrave expressatildeo seu sentido idiomaacutetico

Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Segundo Corpas Pastor (1996 p22) as expressotildees idiomaacuteticas

funcionam como unidades do leacutexico mental isto eacute armazenam-se e se satildeo utilizadas pelos falantes como entidades completas e maior ou menor grau

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo das meacutedias do grau de memoacuteria fraseoloacutegicas todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel altode memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria idiomaacutetica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo transparente

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa

193

entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Os valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas no Teste de

Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica variaram de 135 para matar cachorro a grito a 225 para a expressatildeo pocircr a boca no trombone A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 180

A partir destes valores meacutedios das expressotildees idiomaacuteticas estabelecemos os seguintes graus de verificaccedilatildeo de memoacuteria fraseoloacutegica menos familiares familiares e mais familiares

Trecircs expressotildees foram consideradas menos familiares para os participantes matar cachorro a grito com 135 chutar o pau da barraca com 145 e tirar aacutegua do joelho 175

As expressotildees consideradas familiares foram saber com quantos paus se faz uma canoa e pagar mico ambas com 200

A expressatildeo mais familiar para os participantes foi pocircr a boca no trombone com 225

Graacutefico 2 - Meacutedias da Memoacuteria Fraseoloacutegica por expressatildeo

idiomaacutetica

135

2

175225

2

145

Memoacuteria Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tirar aacutegua dojoelho

194

Tabela 6 - Graus da memoacuteria fraseoloacutegica por expressatildeo

CATEGORIAS EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

MEacuteDIA DESVIO GRAU DE

FAMILIARIDADE

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

135 067 Menos familiar

Natildeo pagar mico 200 102 Familiar

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

175 097 Menos familiar

Pocircr a boca no trombone

225 097 Mais familiar

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

200 097 Familiar

Chutar o pau da barraca

145 082 Menos familiar

Meacutedia das Meacutedias

18

0

Expressotildees em crioulos cabo-verdiano e guineense Ao final da tarefa de verificaccedilatildeo da memoacuteria solicitamos de

alguns informantes mais cooperativos que nos dessem sempre que possiacutevel a equivalecircncia das seis expressotildees idiomaacuteticas (dos zoomorfismos dois somatismos e dois botanismos) em crioulo (cabo-verdiano e guineense) bem como sua respectiva paraacutefrase definitoacuteria para que pudeacutessemos melhor avaliar as respostas dos informantes quanto agrave identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo formal) e agrave idiomaticidade semacircntica e cotejarmos informaccedilotildees de L1 relacionadas agrave L2 (portuguecircs na variante brasileira) quando os mesmos nos protocolos verbais faziam referecircncia aos seus conhecimentos linguiacutesticos preacutevios (CP) ou davam exemplos em suas liacutenguas maternas

Apesar de serem de paiacuteses africanos lusoacutefonos haacute uma flagrante variedade diatoacutepica em cada paiacutes o que ao certo repercute na fala e

195

na escrita em L1 (diversos crioulos cabo-verdianos e guineenses) e da mesma forma no Portuguecircs L2 sempre com as interferecircncias morfoloacutegicas e sintaacuteticas de suas liacutenguas crioulas

Selecionamos estas contribuiccedilotildees dos informantes

Quadro 1 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo cabo-verdiano

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sem kau bai

bull Mata katchor a grito

bull Desesperado

Natildeo pagar mico

Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Da burgonha

bull Passa vergonha

bull Assumi consequecircncia

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull Da ku liacutengua na denti linguara

bull Poi boka na mundo

bull Papiadera linguarada

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Tra agu di duedju

bull Fazi xixi

bull Tra agua de joelho ou xixi

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Ka liga

bull Faze kusas sem conta riba ka importa

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Mostra quenha ki ta kanta galu

bull Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa

196

Quadro 2 - Expressotildees Idiomaacuteticas em crioulo guineense

Categorias Fraseoloacutegicas

Fraseologia em

Portuguecircs

O que significa em portuguecircs

Fraseologia em crioulo

Zoomorfismos

Matar cachorro a grito

Estar em condiccedilatildeo ou situaccedilatildeo aflitiva ou desesperadora

bull Sufridor ki ta padi fidalgu

bull Sta disisperadu ku algum kussa

bull Alguin desesperada

Pagar mico Ver-se em situaccedilatildeo embaraccedilosa ou vexatoacuteria passando muita vergonha

bull Y passa Borgonha ou Bu purba liti bu pidi baka

bull Vivi um situaccedilon di constrangimentu passa borgonha

bull Passa vergonha

Somatismos

Botar a boca no trombone

reclamar protestar denunciar algo

bull I pui boca na tromboni paacute tcholoacutela

bull Konta tudu djintis di ke ku aconteci

bull Reclama ou papia um algo e faci protesto

bull

Tirar aacutegua do joelho

Urinar bull Inaacute myccedila ou Ibay waga iagu na quintal

bull Bai missa fassi chichi

bull Micha

Botanismos

Chutar o pau da barraca

deixar de medir as consequecircncias de qualquer ato

bull Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros son ora ki tene mandita

bull Bu kA nteressa di nada kil ku na sedu pa i sedu

197

bull Randja confusatildeo se midi consequecircncias

Mostrar com quantos paus se faz uma canoa

Aplicar um corretivo dar uma liccedilatildeo

bull Djugude ka bai fanadu ma i kunsi udju ou na mostral Cuma Amy ki si lambe

bull Pregal um partidadal kantigu

bull Sina algueacutem pa i ka fassi cusa errado mais

Terceira Pergunta da Pesquisa em que medida as expressotildees idiomaacuteticas escolhidas para a pesquisa variam em grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Es de aceptacioacuten general que la idiomaticidad es gradual de modo que unos fraseologismos son maacutes idiomaacuteticos que otros (PAMIES 2007 p 178)

Na tarefa 3 testamos as seguintes hipoacuteteses (a) as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica

(b) as expressotildees especiais que designam nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados

(c) as expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes em L1 ou em L2 (na vertente luso-africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB

(d) o conhecimento do significado de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o significado idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica

198

(e) o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuacuteido pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo

Ao longo desta seccedilatildeo descrevemos a partir das respostas dos informantes trecircs niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica baixo meacutedio e alto Em seguida atribuiacutemos uma pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes numa escala de 1 a 3 para em seguida calcular as meacutedias e os desvios padratildeo das expressotildees idiomaacuteticas e classificaacute-las as segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica fraca doble e forte

A classificaccedilatildeo quanto ao grau de idiomaticidade fraseoloacutegica que apresentamos ao final desta seccedilatildeo soacute foi feita apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal isto eacute de os informantes recorreram a taacuteticas e a estrateacutegias de compreensatildeo possibilitando ou natildeo acessarem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees idiomaacuteticas do experimento

No campo fraseoloacutegico haacute uma relaccedilatildeo muito estreita entre idiomaticidade e memoacuteria Certa feita o ex-presidente Lula da Silva ao se referir agraves criacuteticas de seus opositores ao final de seu governo disse Quem for esperar que vou ficar sentado em Brasiacutelia pode tirar o cavalo da chuva porque vamos inaugurar obra este ano in Caderno Poliacutetica em seccedilatildeo Poder Folha de Satildeo Paulo 03022010 ) o que nos parece liacutecito supor que a expressatildeo idiomaacutetica tirar cavalinho da chuva empregada pelo ex-presidente aliado a um sistema de regras e paracircmetros foi um conjunto cristalizado e memorizado pronto para empregado no discurso poliacutetico do ex-presidente

Fulgecircncio (2008 p23) diz que a memoacuteria dos falantes atua na liacutengua natildeo somente na sua estrutura formal ou no que ela chama de esqueletos formais e das palavras isoladas mas tambeacutem no armazenamento de sequecircncias de palavras decoradas por inteiro

Consoante a este olhar psicolinguiacutestico de Fulgecircncio (2008) sobre o fenocircmeno da idiomaticidade primeiramente consideramos para a anaacutelise de dados desta nova Tarefa os resultados contidos na Tarefa anterior relativa ao Teste de Verificaccedilatildeo do Grau de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Nesta tarefa descrevemos primeiramente as principais respostas dos informantes selecionados a partir do que denominamos de niacuteveis de Idiomaticidade fraseoloacutegica recorrendo agraves declaraccedilotildees pessoais dos informantes que natildeo lembravam nem sabiam o sentido

199

idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por NL) ou que lembravam mas natildeo sabiam o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (no corpus Afri codificado por LN)

Foi entatildeo agregando os dados da memoacuteria fraseoloacutegica com os dados da idiomaticidade idiomaacutetica que o calculamos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica natildeo levando assim em conta em anaacutelise respostas dos participantes que declararam lembrar e conhecer o significado idiomaacutetico da expressatildeo (no Corpus Afri codificado como LS) Estes desconsiderados por lembrarem ou terem ouvido a expressatildeo e saberem seu sentido idiomaacutetico portanto consideram-na familiar e nesse caso evidentemente natildeo poderiacuteamos falar em idiomaticidade forte doble ou fraca ou em opacidade semacircntica

Em substacircncia no primeiro momento apresentamos as respostas dos informantes atraveacutes de trecircs niacuteveis (baixo meacutedio alto) de idiomaticidade fraseoloacutegica depois pontuamos cada destes niacuteveis numa escala de 1 a 3 para finalmente calcularmos o grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (ou intralinguiacutestica6) na seguinte escala forte doble e fraca

Na tabela 7 logo abaixo estatildeo discriminados os informantes que participaram desta tarefa Tabela 7 - Verificaccedilatildeo da Memoacuteria Fraseoloacutegica

Categorias Expressotildees idiomaacuteticas

Niacuteveis de Memoacuteria Fraseoloacutegica

Baixo Meacutedio Alto7

Zoomorfismos Matar cachorro a grito

13578111213 14 15 1617 181920

269 410

6 Falamos em idiomaticidade intralinguiacutestica por serem os informantes falantes lusoacutefonos sendo que a liacutengua portuguesa eacute L2 portanto sua segunda liacutengua e as liacutenguas crioulas suas liacutenguas maternas (L1) 7 Os nuacutemeros que representam os informantes para cada expressatildeo foram neste niacutevel tachados porque natildeo seratildeo considerados no caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

200

Pagar mico 131114151617 181920

24567891012 13

Somatismos Tirar aacutegua do joelho

3411 121314 151617 18 1920

10 1256789

Pocircr a boca no trombone

2111213141819

13456789 10151617 20

Botanismos Saber com quantos paus se faz uma canoa

14101113 14171820

1519 235 678 91216

Chutar o pau da barraca

12356711 121314 1617 1819 20

15 48910

O nuacutemero de informantes selecionados varia de item para item

Em termos de quantitativos os participantes considerados a partir da anaacutelise dos dados que fizemos na Tarefa de Verificaccedilatildeo do Grau de Idiomaticidade Intralinguiacutestica ficaram assim distribuiacutedos

(a) Matar cachorro a grito 15 participantes com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica e 3 participantes com meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

(b) Pagar mico 10 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(c) Tirar aacutegua do joelho 12 participantes com niacutevel baixo e 1 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(d) Pocircr a boca no trombone 7 participantes todos com niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica

(e) Saber com quantos paus se faz uma canoa 9 com niacutevel baixo e 2 com niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

(f) Chutar o pau da barraca 15 de niacutevel baixo e 1 de niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica

201

Como medida de confiabilidade para a realizaccedilatildeo desta tarefa todos os participantes que declararam lembrar ou ter ouvido antes a expressatildeo idiomaacutetica uma a uma das seis submetidas ao teste situando-se como parte do grupo dos informantes que detinham um niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica natildeo foram considerados nesta tarefa

Vejamos os comentaacuterios extraiacutedos do protocolo verbal em que um informante cabo-verdiano do sexo masculino natildeo foi considerado nesta tarefa por apresentar um niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica condiccedilatildeo que natildeo permitiria se levaacutessemos suas informaccedilotildees adiante dizermos que a matar cachorro a grito seria efetivamente uma expressatildeo opaca

Entrevistador Apoacutes a leitura do texto vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica

Participante ldquomatar cachorro a gritordquo Entrevistador e qual o sentido que vocecirc daacute aiacute Participante eacute uma pessoa que trabalha muito e ganha pouco

neacute eacute eacute vocecirc ((riso)) fazer um es-for-ccedilo muito grande sabendo que o salaacuterio natildeo eacute laacute essas coisas E segundo o texto diz que muitos artistas tem alguns artistas que satildeo famosos e acho que ganham bem mas vocecirc natildeo pode incluir todo mundo na mesma condiccedilatildeo entatildeo tem artista que dificilmente vai ganhar bem tem artista que por exemplo que que toca a noite em bares faz como se diz aqui no Brasil uma outra expressatildeo que eacute ldquofaz bicordquo parte da noite paga taxa entatildeo vocecirc natildeo pode enquadrar todo mundo numa condiccedilatildeo que todo mundo ganha bem entatildeo por isso que tecircm alguns que trabalham MUIto e o cachecirc deles natildeo eacute como o da Ivete Sangalo

Entrevistador ((risos)) muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo antes

Participante Conheci aqui no Brasil Como dissemos a partir das respostas dos participantes

estabelecemos trecircs niacuteveis de memoacuteria fraseoloacutegica (a) niacutevel de baixo Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por NL) (b) niacutevel meacutedio de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LN) e (c) niacutevel alto de Memoacuteria Fraseoloacutegica (no Corpus Afri codificado por LS)

Estabelecidos estes niacuteveis acima a partir das respostas dos informantes quanto agrave idiomaticidade ou ao sentido global da expressatildeo idiomaacutetica em seu paiacutes de origem (L1) ou em outro paiacutes

202

lusoacutefono (Brasil Portugual etc) pudemos calcular as meacutedias do grau da idiomaticidade fraseoloacutegica

No niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica estavam situados os informantes que declararam durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud natildeo saber o sentido idiomaacutetico da expressatildeo ou dar uma resposta considerada incorreta No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo IC ( Incorreto)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 natildeo reconhecer idiomaticamente a expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta incorreta e ainda durante o protocolo verbal evoluir para uma posiccedilatildeo parcialmente correta ou correta era considerada a segunda informaccedilatildeo (correta) e natildeo a primeira dada (incorreta)

Para posterior caacutelculo das meacutedias do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 1 ponto numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica encontram-se os informantes que atribuiacuteram um sentido literal agrave expressatildeo idiomaacutetica resposta considerada parcialmente correta por ser possiacutevel ou viaacutevel dentro de uma ambiguidade estrutural comum agraves locuccedilotildees verbais No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo PC (parcialmente correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2 reconhecer unicamente o sentido literal da expressatildeo em L1 ou L2 No caso de no primeiro momento o informante informar uma resposta parcialmente correta (sentido literal) e ainda durante o protocolo verbal apresentar uma resposta incorreta ou correta era considerada ou prevalecia para efeito de codificaccedilatildeo a resposta considerada parcialmente correta sobre a incorreta e a resposta correta prevalecia sobre a parcialmente correta ou incorreta8

8 Nossa metodologia experimental permitiu-nos considerar no diaacutelogo direto com o informante natildeo apenas uma resposta mas vaacuterias respostas agrave questatildeo proposta permitindo que o mesmo tivesse consciecircncia de possiacuteveis erros acidentais ao falar (lapsus linguae) tecnicamente os ajudando a melhorar sua tomada de decisotildees e evitando de outra maneira a cometer erro de desconto parar de buscar outras

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Para posterior caacutelculo das meacutedias da verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de niacutevel meacutedio valeram 2 pontos numa escala de 1 a 3 pontos

No niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica estavam posicionados os informantes que anunciaram corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em L2 ou L1 No Corpus Afri estas respostas foram assinaladas pelo coacutedigo CO (correta)

Para testar a confiabilidade da resposta dada o informante por solicitaccedilatildeo do entrevistador confirmava o sentido idiomaacutetico atraveacutes de repeticcedilatildeo ou paraacutefrase fraseoloacutegica em L1 ou L2

Para posterior caacutelculo das meacutedias de verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade intralinguiacutestica as respostas dos informantes consideradas de alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica valeram 3 pontos numa escala de 1 a 3 pontos Niacuteveis de idiomaticidade intralinguiacutestica

Em se tratando de niacuteveis de idiomaticidade fraseoloacutegica apontaremos as respostas dos participantes classificados em niacuteveis baixo meacutedio e difiacutecil de acordo com acertos e ou erros do sentido idiomaacutetico

A essas respostas dos informantes foram atribuiacutedos uma pontuaccedilatildeo de 1 a 3 que serviu para o caacutelculo da meacutedia e a partir dessa pudemos fazer a verificaccedilatildeo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Agrave medida do possiacutevel procuramos correlacionar os niacuteveis de idiomaticidade com os niacuteveis de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica Niacutevel baixo de idiomaticidade intralinguiacutestica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 depois do teste de verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica

ficaram considerados para o teste de idiomaticidade fraseoloacutegica

possibilidades de respostas agrave questatildeo proposta pelo experimentador (STERNBERG 2008 p436-441)

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quatro estudantes cabo-verdianas que declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo matar cachorro a grito ou lembravam mas natildeo sabiam seu sentido idiomaacutetico

O que nos chamou a atenccedilatildeo eacute que todos os participantes deste grupo identificaram corretamente a expressatildeo matar cachorro a grito e terem recorrido a vaacuterias taacuteticas bottom-up e top-dow no esforccedilo de compreender a expressatildeo

Apesar da competecircncia da identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e as habilidades para o emprego de estrateacutegias cognitivas as informantes do Grupo G1 natildeo conseguiram chegar agrave idiomaticidade das expressotildees anunciando as seguintes respostas aqui extraiacutedas do Protocolo Verbal (a) matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos)) (b) ((curto silecircncio)) hum hellip ((riso nasal)) natildeo eu tenho uma noccedilatildeo hellip mas eu natildeo sei explicar esse tem aqui que normalmente as pessoas dizem que os artistas neacute satildeo ricos porque saiu uma reportagem que um artista e h risco rico hellip sendo que a maioria deles mata cachorro a grito hellip e h hellip que a maioria deles e h tipo natildeo sei hellip eu acho que quer dizer que a maioria deles natildeo presta hellip natildeo sei hellip alguma coisa assim hellip tem uma coisa assim natildeo faz nada assim tatildeo hellip ((curto silecircncio)) natildeo sei hellip tenho alguma ideia hellip mas eu natildeo sei dizer ah hellip entendi hellip na verdade a maioria deles vive dando duro hellip e h isso hellip e (c) matar e h fazer uma coisa sem ter certeza sem ter certeza hellip ((a participante repete em coro com o entrevistador)) ((riso)) me pegou hellip viu hellip ((riso)) acho que no sentido a frase matar cachorro a grito e h uma coisa fazer uma coisa que natildeo tem certeza hellip

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

No G3 a despeito de todos os participantes terem identificado corretamente a expressatildeo mas suas respostas foram consideradas incorretas quanto agrave idiomaticidade da expressatildeo matar cachorro a grito (a) Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos

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de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo) (b) ldquomatar o cachorro a gritordquo eacute pra mim significa uma uma coisa assim famosa que todo mundo escuta no sentido aqui ela diz que todo mundo acha que os artistas tecircm dinheiro eacute satildeo pessoas rico porque qualquer coisa de de artista essas pessoas famoso o mundo o mundo ((tossiu)) satildeo divulgadas na tv o povo fala tudo e acham tambeacutem que grita eacute uma coisa real assim[ldquomatar o cachorro a grito] uma coisa expandida assim (c) que natildeo eacute seu[ natildeo sei se estou certa hunrrum passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute [ passar influecircncia mostrando o que eacute mas natildeo eacute] (d) sim assim tem aqui que as pessoas pensam que os artistas satildeo ricos e tem uma outra parte que diz assim ldquona verdade matar cachorro a grito eacute a atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmenterdquo artista natildeo pode ficar rico sem cantar ou sem esforccedilo sem fazer o seu trabalho tipo o escritor vocecirc vai ter que escrever muito publicar bons livros para ganhar dinheiro e artista vocecirc vai ter que ter todas as habilidades de apresentar e chamar atenccedilatildeo ao puacuteblico eu acho que eacute isso tem que esforccedilar tem que mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro [mostrar quem eacute vocecirc pra ganhar dinheiro] e (e) o que estou entendendo eacute como posso expressar assim como os africanos quando chegaram aqui no Brasil aiacute vocecirc por exemplo os que vem no na escola privada aiacute vocecirc tem que laacute botar para poder atingir seus objetivos se nao fez isso vocecirc natildeo vai conseguir estudar aiacute vocecirc tem que trabalhar um ou dois um ou dois trabalhos pra poder sustentar sua faculdade e sustentar sua estadia no Brasil natildeo sei acho que eacute isso que queria dizerrdquo

Do G4 trecircs informantes conseguiram identificar corretamente a expressatildeo mas revelaram desconhecer seu sentido idiomaacutetico dando respostas como (a) deixa eu comeccedilar aqui(leitura em voz baixa do texto em anaacutelise)hum rum ldquomatar cachorro a gritordquo eu acho que eacute coisas que as pessoas pegam pra eacutepraque as pessoas pegam pra eacute para aplicar pensando que eacute como assimeu to to tirando aqui por exemplo aqui taacute dizendo de um famoso e quando todo mundo ver um cantor ou um autor todo mundo pensa que eacute ricoentatildeo eacute uma

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coisa falsa pode natildeo ser rico mas eacute famoso e todo mundo fala soacute neletodo mundo dizendo que ele eacute assim ele eacute assimentatildeo isso aqui pra mim significa ldquomatar cachorro a gritordquomatando vocecirc assimgritando e do mesmo jeito que eu to pensandocomo um famosoele eacute famoso e vocecirc fica soacutevocecirc pensa que ele eacute daquele jeitoque eacute ricofaz tudomas as vezes natildeo eacute soacute que pelo fato de ser famosordquo (b) natildeo num ()matar a populaccedilatildeo de fome neacute ((o entrevistador fala concomitantemente ao participante no entanto a fala do participante sobressai impedindo a compreensatildeo da fala do entrevistador)) matar a populaccedilatildeo de fome o pessoal ((silecircncio)) eu entendo assim (c) eacute daacute pra falar um pouquinho porque acho que aqui ele vai mostrar o quecirc tipo um brasileiro com um salaacuterio mata cachorro a grito tipo acho que o salaacuterio tambeacutem pode natildeo ser suficiente neacute e natildeo sendo aquele juramento eu penso assim ah matar cachorro entatildeo isso grita neacute natildeo confun tipo natildeo confunde com com matar cachorro entatildeo lamento nessa aiacute falta um tipo lamentar neacute ((riso)) faz algo mas ele taacute fazendo esse algo mas sem sem confir sem confirmidade com o ato que ele taacute fazendo neacute porque por exemplo trabalho pra receber recebe mas o trabalho que eu to fazendo eacute um trabalho que nunca compensa com meu salaacuterio rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo matar cachorro a grito

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados nesse niacutevel os representantes do G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Duas representantes do G3 natildeo conseguiram identificar corretamente a expressatildeo natildeo pagar mico nem souberam depois de vaacuterias tentativas chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo como podemos atestar em suas respostas (a) porque ( ) da agecircncia exemplo do jovem que quer viajar natildeo vai querer perder vai fazer preccedilo baixo mas isso natildeo significa que vai ter boa viagem isso natildeo significa tambeacutem que ele natildeo vai ganhar nada pode ter tipo

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promoccedilotildees e eles vatildeo dar pra vocecircs mas pode ter consequecircncia na viagem pode ter muitas coisas na viagem que vocecirc natildeo pode natildeo vai poder chegar ao fim natildeo natildeo me ajuda natildeo eu to procurando exemplo para dar pra tentar explicar pagar mico eacute tipo assim vocecirc natildeo estaacute preparada para algum tipo uma festa ((a informante pronuncia fecircsta)) eu sei de festa desde a semana passada eu natildeo preparei aiacute eu vou esperar o dia da festa pra para ir para se virar e conseguir dinheiro pra estaacute laacute um exemplo acho que isso eacute certo eu natildeo tenho eu sei das coisas mas eu natildeo me preparei tipo Jesus vai chegar e eu natildeo estou preparada quando Jesus chegar eu vou dizer ldquoah Senhor eu natildeo posso ir porque eu natildeo estou preparada ((risos da informante)) natildeovocecirc tem que ir entendeu (b) ldquoa boa viagemrdquo deixa eu meu entender ldquoboa viagemrdquo ldquoembarcou comrdquo ldquoagecircnciardquo natildeo sei essa ldquoboa viagemrdquo natildeo sei pra mim como taacute referendo aos estudantes aqui neacute natildeo significa se a pessoa contatar empresa esse CNPJ significa que resolver tudo pra mim natildeo sei ah mico pagar macaco pagar um um um valor ma ma natildeo ldquopagar mico ldquopagar micordquo mico pode ser a metade do valorpagar a metade do valorrdquo

Quatro representantes do G4 natildeo apenas identificaram a expressatildeo natildeo pagar mico como tambeacutem natildeo conseguiram em sua totalidade chegar ao sentido idiomaacutetica da expressatildeo (a) ((riso)) natildeo sei natildeo seiacho que eacute vocecirc vocecirc costuma levar ela na vocecirc costuma levar ela natildeo entatildeo nesse sentido ela jaacute taacute na altura de natildeo precisa mais ser acompanhada pelo pelo pelo pai neacute senatildeo vai criar o custo mais do que vai criar mais custo neacute porque vocecirc paga pra ela e paga pra vocecirc neacute mas acho que eacute meio confuso porque depende se vocecirc tiver um carro neacute ((riso)) se vocecirc natildeo tiver carro eu acho que vai custar mais mas natildeo sei acho que eacute mais ou menos eu entendo assim (b) ((silecircncio)) ((silecircncio)) eu natildeo entendi essa o preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem ((silecircncio)) sei natildeo (c) ((silecircncio)) natildeo natildeo hum essa preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem como eacute que eu posso dizer eacute tipo frescura a pessoa ficar fazendo frescura assim com eacute brincar com a pessoa eacute tirar onda com a pessoa e (d) natildeo repita aiacute repita ((riso)) vai ser dividido com os colegas neacute ldquo preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagempois o custo benefiacutecio e ela significa o quecirc eacute

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porque coisas baratas neacutenatildeo significa que satildeo melhores coisas neacutepor exemplo tu quer viajar numa boa viagem com preccedilo baixo neacuteaiacute entatildeo tu acha que eacute uma boa viagem comcusto beneficio porque custa tatildeo baratoas vezes natildeo eacuteas vezes o mais caro tem mais benefiacuteciomais tranquilidadepode uma boa viagem pagar a viagem deles neacutequando taacute viajando com elesporque assim ldquo para quem natildeo quer pagar mico na escolha e um pacote de viagemrdquo eacute pagar com ele mesmoeacute mais ou menos assimrdquo

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Das estudantes do G1 uma representante de Cabo-Verde

apontou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) ((curto silecircncio)) seria mais complicado ah associar eu associaria uma cerveja quente beber uma cerveja quente eacute muito difiacutecil eacute muito ruim natildeo eacute gostoso eacute cansativo eacute eacute pra mim eu associaria a algo cansativo eacute bebida seria uma expressatildeo cansativa eacute beber uma bebida quente vocecirc pode ficar provavelmente mais cansado pega um (drag wis) ((hipoacutetese do que se houve))mais raacutepido ter dificuldade de andar eacute mais cansativo assim num sei entendo que eacute isso ((estalos ao fundo))rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo ldquotirar mais aacutegua do joelhordquo

Do G3 apenas uma estudante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico configurando baixo niacutevel (a) ldquoah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacuterdquo

Do G4 dois participantes apresentaram respostas incorretas (a) eacute hormocircnio anti auto eacute antidiudioreacutetico an-ti-di-u-reacute-ti-co [(risos)]essa aqui hormocircnio antidiureacutetico(risos) mas essa aqui natildeo taacute referindo mesmo a a umeacute essa coisa taacute querendo tirar um exemplo de outra coisa aiacute e eacute isso que eu to procurandoporque eu sei que quando vocecirc beber vocecirc fica assim querendo ir ao banheiro para poder voltar mas aiacute eu natildeo seisoacute que aiacute eu natildeo saiumas aiacute refrigerante talvez sim mas eacute algo que fica na cabeccedila vocecirc fica embriagadomas o sentido dessa aqui eacute outra coisaeu to procurandopois prontovamos continuar outra coisa (b)

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sim tipo as pessoas tomam praqueles que bebem cerveja neacute sim pra mim tambeacutem vocecirc a gente pode pensar assim libertar de uma situaccedilatildeo libertar de uma situaccedilatildeo eacute por exemplo vocecirc tava chateado vocecirc tava com preocupaccedilatildeo problemas assim entendeu vocecirc podia escolher um jeito por exemplo laacute na sua casa vocecirc pode ter um problema assim com a famiacutelia vocecirc fica chateado vocecirc diz a melhor forma eacute sair de casa procurar a casa de um amigo pra ficar com seu amigo laacute conversar um pouco pra esquecer o problema entatildeo nesse sentido tambeacutem pode ser tirar aacutegua do joelho ((riso))rdquo

Pocircr a boca no trombone Do G1 nenhum participante declarou incorreto o sentido

fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo pocircr a boca no trombone

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

D G3 apenas uma informante natildeo identificou corretamente a expressatildeo nem o sentido idiomaacutetico de pocircr a boca no trombone ao responder (a) CRIMES no municiacutepio natildeo sei se eacute a mesma coisa mas o que eu estou entendendo eacute quando uma pessoa perdeu o juizo

Do G4 um informante conseguiu identificar corretamente a expressatildeo mas ao atribuir sentido agrave expressatildeo teve sua resposta considerada incorreta (a) ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone por exemplo defendeu um crime neacute defender uma coisardquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Dos grupos G1 G2 e G3 nenhum participante declarou incorreto o

sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa

Do G4 apenas um participante mesmo tendo identificado a expressatildeo declarou incorretamente o sentido idiomaacutetico (a) encontro a Dilma vai saber com quantos paus de faz uma canoa neacute sim (barulho cadeira sendo arrastada) eacute porque eacuteque por exemplo o Brasil tem muitos estados neacutetem muitos (poliacuteticos)

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impressionados neacuteos governantesentatildeo ele quis dizer que tem que ser firmetem que saber com quantos paus se faz uma canoa o pau tem que ser firmese natildeo vai aiacutevai chegar ateacute na cabeccedila dele mesmo o mesmo sentidordquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam incorretamente o sentido

idiomaacutetico (a) ldquochutar o pau da barracardquo ((risos)) natildeo conheccedilo mandar todos os inocentes pra cadeia e deixar livres os culpados natildeo fazer a justiccedila como deve ser falta o povo chutar o pau da barraca natildeo eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado eacute daacute a ideia de desistir (b)falta o povo chutar pau da barraca ((sussurros incompreensiacuteveis da participante aparentemente analisando alguma passagem do texto)) num sei hellip ((riso)) falta o povo chutar barra o pau da barraca tipo o que isso tem a ver com Cazuza e h tipo um que eles tatildeo fazendo aqui tipo uma comparaccedilatildeo de como taacute o mundo da muacutesica negoacutecio de muacutesica hoje hellip num sei hellip porque tem aqui ldquoqueria ver Roberto Carlos de pretordquo hellip como ele taacute sempre de branco cantando outro tipo de muacutesica que natildeo e h samba hellip e h tipo num sei hellip falta o povo chutar o pau da barraca que e h que o povo agora taacute assim hellip num sei hellip num sei explicar isso hellip e h tipo hellip desistir hellip sei laacute hellip comeccedila fazer uma coisa assim direito e depois o povo chutar o pau da barraca nunca ouvi falar hellip ((balbucios)) ((silecircncio)) hum hellip no sentido hellip acho que o povo chutar o pau com da barraca e h conhecer outras pessoas outros () acho hellip que e h hellip nunca ouvi nunca ouvi falar essa aqui rdquo

Do G2 nenhum participante declarou incorreto o sentido fraseoloacutegico natildeo tendo portanto representante desse grupo de baixo niacutevel fraseoloacutegico em relaccedilatildeo a expressatildeo chutar o pau da barraca

Do G3 duas participantes declararam incorreto o sentido idiomaacutetico (a) ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo sim exemplo tipo o Cid que pegou o dinheiro e deu para Ivete e agora ele vai pagar chutou o pau da barraca ele natildeo sabia as consequecircncias tirou o dinheiro do povo neacute agora vai pagar pelo bolso dele mesmo ((risos dos dois)) eu acho natildeo sei mas

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eu acho que tocirc certa eacute isso vai depender dos seus atos ((risos)) mas eu tenho certeza que eacute sim ((risos da informante)) (b) essa aqui o povo ldquoo povo chutar o pau do barracordquoGI ndash ICParticipante dar uma contrapartida um comeccedilo assim dar um comeccedilo eacute comeccedilar uma coisa assim no meu entender eacute assim rdquo

Do G4 um participante declarou incorreto o sentido idiomaacutetico (a) falta o povo chutar o pau da barraca ldquosinto falta do Cazuza do Nei Mato Grosso acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano falta o povo chutar o pau da barracardquoeacute cada um fugindo dodo quer dizer eacuteo que todo mundo tava querendo se for eu vou passar na frenteentatildeo era assim que todo mundo queria em ir ver opor exemplo Roberto Carlos taacute dentro da barracaeu posso falar assimaiacute todo mundo queriam veraiacute pode ser como um assumirnatildeo eu vou controlar o grupo vocecirc eacute o responsaacutevel para controlar o grupo mas quando chegar muita gente e ele cansado acaba por natildeo querer mais e tomaram a responsabilidade aiacute fica querendo desistire esse Caetano[ ( leitura em voz baixo de texto em anaacutelise)]eacute que o sentido desse aqui eu tenho que ver quando comeccedilou essa histoacuteria todaeu jaacute tenho o sentido jaacute tenho uma ideia mas aqui eacute falta o povo desistir mesmodesistir de de concorrer para entrar para concorrer querer entrar laacute pra ver o Roberto Carlos num Show que ele tava dandoele tava cantando e todo mundo queria mas com essa dificuldade de entrar o povo vatildeo acabar desistindo mesmode natildeo querer mais ir rdquo Niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 uma participante declarou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico configurando um niacutevel meacutedio de memoacuteria fraseoloacutegica (a) ldquoelas economizam () eacute tipo se esfor se esforccedilar pra ter um pouco do que ele tem ou conseguir um pouco do que ele natildeo tem mais ou menos isso rdquo

Dos grupos G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico

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Pagar mico Dos grupos G1 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os

representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquoaiacute nesse caso pra evitar de ser vocecirc dizendo aqui MANGANDO neacute aiacute vocecirc fica prefere ficar calado sem algueacutem mangar de vocecirc ou prefere ficar com duacutevida sem perguntar ao professor natildeo sei se eu estourdquo

Do G4 apenas um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquo[(leitura baixa do texto em destaque)]eacuteeacute por isso que eu estou dizendo sabemos que chipanzeacute eacute grande[( risos)] eacute uma coisa grandeentatildeo pra mim o sentido eacute o mesmoeacute essa coisa pra quem natildeo pagar um preccedilo grande na escolha de um pacote de viagem eacute isso que eu to pensandordquo SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho De G1 G2 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Pocircr a boca no trombone De G1 G3 e G4 nenhum dos informantes de Cabo Verde e de

Guineacute-Bissau anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados

por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

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BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa De G1 e G2 nenhum dos informantes de Cabo Verde anunciou

parcialmente correto o sentido idiomaacutetico Do G3 uma participante anunciou parcialmente correto o sentido

idiomaacutetico (a) ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute

Do G4 um participante anunciou parcialmente correto o sentido idiomaacutetico (a) ldquosim porque pra mim literalmente o que eu entendi aqui eacute mostra por exemplo a Dilma eacute presidente neacute entatildeo pra quem quer construir uma canoa natildeo basta soacute usar o pau da madeira neacute o tronco da aacutervore tem que levar mais pra pra poder construiacutes neacute entatildeo literalmente o que ele queria dizer aqui que a Dilma sozinha natildeo pode construir uma por exemplo uma canoa neacute ou um barco assim entatildeo tem que levar tem que chamar outras pessoas que vai compor o governo dela entatildeo nesse sentido que eu acho aiacuterdquo

Chutar o pau da barraca De G1 G2 e G3 nenhum dos informantes anunciou parcialmente

correto o sentido idiomaacutetico Do G4 apenas uma informante declarou parcialmente correto o

sentido idiomaacutetico (a) ldquoHum (silecircncio) Ah eu acho que chutar o pau da barraca pelo que eu entendo eacute por exemplo jogar uma pessoa pra fora assim porque essa pessoa jaacute natildeo merece mais entatildeo eu acho que essa expressatildeo eacute uma coisa rdquo

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Niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Do G1 nenhuma informante anunciou correto o sentido

idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G2 todos os participantes identificaram corretamente a expressatildeo Ao serem indagados quanto ao sentido quatro participantes deram respostas consideradas corretas (a) bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremashellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro)) e (b) ele tem que todo reivindicar os seus direitos gritar gritar gritar pra ver se se tem algum benefiacutecio com isso com isso seja seja sei laacute aumento do salaacuterio ou ou outro tipo de ajuda eu acho que eacute isso reivindicar os seus o que a gente a gente tem que todo dia trazer esse assunto agrave tona trazer esse assunto agrave tona e acaba todo e acaba envolvendo vaacuterias pessoas pra pensar do mesmo jeito (c) ((pausa acentuada)) acho que aqui ele diferencia os tipos de artistas que no comeccedilo fala que a maioria das pessoas pensa que qualquer artista jaacute eacute rico e que principalmente os astros de TV de cinema de novela ganham muito bem e as pessoas assim pensam que eacute faacutecil o trabalho deles pra conseguir aquele principalmente pra conseguir aquele dinheiro a maioria deles se torna pessoas puacuteblicas jaacute natildeo tem assim a privacidade a privacidade eacute apertada e que eles tecircm que trabalhar muito pra conseguir o que eles conseguem acho que eacute isso e (d) entatildeo e h a mesma coisa que dar duro dar duro hellip o cara trabalha mesmo hellip daacute

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muito duro pra conseguir o quecirc quer hellip trabalho pesado mesmo hellip ((estalos ao fundo))

Do G3 a despeito de todas as participantes terem identificado corretamente a expressatildeo nenhuma informante anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G4 dois participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa e h tipo hellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em crioulo)) e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso)) ir agrave procura (b) aiacute todo dia tem que batalhar para alcanccedilar alguma coisanem mesmo que seja tomar alguma coisa para ajudar a famiacuteliaele vai pegar rdquo

Natildeo pagar mico Do G1 dois participantes natildeo haviam identificado anteriormente

a expressatildeo mas depois de enveredarem por vaacuterias recursos cognitivos chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo (a) nada hellip ((riso nasal)) eacute existe eu sei o que eacute tipo passar vergonha eacute fez algo e todo mundo ficou vendo ela com ah hellip pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno hellip o custo-benefiacutecio hellip num sei e (b) ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico e h pagar passar vergonha hellip jaacute hellip eu falo constantemente hellip ldquoque micordquo ((risos)) hellip tocirc sempre falando hellip ((risos))rdquo

Para o teste com esta expressatildeo natildeo foram considerados os representantes G2 porque apresentaram niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute foram capazes de lembrar ou declaram ter ouvido a expressatildeo bem como sabiam do seu sentido idiomaacutetico comprovados durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal

Dos grupos G3 e G4 nenhum informante de Guineacute-Bissau anunciou correto o sentido idiomaacutetico natildeo tendo dentre os selecionados nenhuma participante com alto niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica

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SOMATISMOS

Tirar mais aacutegua do joelho Do G1 apenas uma participante anunciou corretamente o sentido

idiomaacutetico da expressatildeo (a) ldquoe h a mesma coisa que fazer xixi hellip urinar helliprdquo Do G2 dois participantes chegaram agrave idiomaticidade da

expressatildeo tendo anteriormente feito a identificaccedilatildeo parcial por reduccedilatildeo da expressatildeo (a) fazer xixi nesse caso hellip e jaacute tinha ouvido laacute vaacuterias vezes hellip e () vou vou a expressatildeo hellip vou fazer uma aacutegua de batata hellip por exemplo hellip ((riso)) aacutegua de batata por causa da cor hellip neacute hellip da verde hellip o pessoal diz aacutegua de batata (b) ldquomais aacutegua no joelhordquo eacute eacute urinar neacute eacute vocecirc tirar o que jaacute estaacute dentro da barriga neacute ((risos)) pra botar pra dar mais espaccedilo pra colocar mais bebida neacute praticamente

Do G3 quatro estudantes guineenses conseguiu chegaram ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho em que noacutes registramos as seguintes respostas (a) Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente tirar mai aacutegua do joelho com certeza eu acho que faz mais a pessoa urinar ir pro banheiro de vez em quando (b) por exemplo a primeira ida ao banheiro a vontade de urinar eacute quando como vocecirc acabou de dizer estaacute consumindo quando vocecirc consome uma duas trecircs vocecirc jaacute quer ir ao banheiro pra urinar (c) natildeo ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute (d) ldquoaacutegua no joelhordquo eacute eacute eacute fazer xixi neacute urina exemplo vocecirc vai bebe e bebe aiacute quando o estocircmago jaacute estaacute cheio vocecirc tem sensaccedilatildeo de urina vocecirc tem que urinar quando a pessoa tem urina vocecirc pode esconder mas vai sair natildeo pode ficar aiacute tem que tirar e voltar quando sai aiacute ele pode aumentar o volume que ele querrdquo

Do G4 trecircs participantes apresentaram o sentido idiomaacutetico correto da expressatildeo (a) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar tirar mais aacutegua do joelho mais aacutegua do joelho () aacutegua do joelho ((silecircncio)) eu acho que e h tipo hellip tem que fazer xixi (b) tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho tirar aacutegua do joelho mijar (riso intenso) (c) ele foi laacute para fazer urinamijarou entatildeo para vomitar neacutepara ficar mais aliviado rdquo

217

Pocircr a boca no trombone Do G1 apenas uma participante cabo-verdiana foi submetida agrave

anaacutelise de dados por atender as condiccedilotildees de niacutevel baixo de memoacuteria fraseoloacutegica Apoacutes ser indagada quanto ao sentido da expressatildeo respondeu (a) ((silecircncio)) hum a boca no trombone falar tudo falar sobre os podres do outro) eacute ((silecircncio ruiacutedos ao fundo)) botar a boca no trombone eacute falar tudo falar sobre os podres do outro rdquo

Do G2 todos os informantes natildeo tiveram seus dados analisados por terem niacutevel alto de memoacuteria fraseoloacutegica

Do G3 trecircs informantes identificaram corretamente e chegaram ao sentido idiomaacutetico tambeacutem de forma que podemos observar nas seguintes respostas (a) POcircS a correta conforme bo-cao trombone neacute pocircr a boca no trombone quer dizer reclama critica (b) pocircs a boca no trombone assim isso quer dizer que uma quando uma pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta e (c) ldquobotar a boca no trombosordquo botar a boca no trombosporque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

Do G4 um informante identificou parcialmente correto e chegou ao sentido corretamente como podemos observar (a) ldquo a boca no trombonerdquo ldquoum advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposa ldquo a boca no trombonerdquo () entatildeo isso que dizer com taacute dizendo aqui boca no tromboneaqui no Cearaacute utiliza boca neacutequando o cara diz boca eacutepor exemplonuma empresa que quer fazer o blog dela coloca o wwwblognatildeo sei o quecircblog eacute uma coisa que fala mais deo que fala aiacute faz neacuteentendeu fala para fazerfaz o eacute isso que dizer isso neacute ldquo boca no trombonerdquo neacuteeacute pode ateacute ser porque ldquo boca no trombonerdquo tambeacutem eacute aquela pessoa que faz confusatildeo eacute aquele cara quefala muito neacute issoo cara que fala muitocomo se fo-sse o cara que todo canto que taacute vocecirc vai ouvir a voz deletodo canto que ele taacute vocecirc

218

vai ouvir a voz dele falandoaiacute falam boca no tromboneo cara que fala muitoque fala alto rdquo BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Do G1 duas informantes foram para a anaacutelise de dados do

Protocolo Verbal As duas haviam parcialmente identificado a expressatildeo obtendo ambas uma resposta correta quanto agrave idiomaticidade semacircntica (a) tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez e (b) ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () define com natildeo ser brincadeira eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute rdquo

Do G2 apenas um estudante cabo-verdiano do sexo masculino teve analisado seus dados do protocolo verbal obtendo a seguinte resposta considerada correta (a) ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo bom eacute que natildeo em nada de moleza neacute e que ela vai principalmente encontrar dificuldades porque segundo o que foi repassado pela miacutedia a a candidatura da Dilma foi muito apoiada pelo lula entatildeo a Dilma entrou como uma mulher que eacute pra decidir e ela entrou num momento que o Brasil ta-va com uma economia meio bagunccedilada en-tatildeo ela natildeo en-trou num mandato muito faacutecil entatildeo ela entrou sabendo das dificuldades que a economia tava passando naquele momento e por ser uma candidata defendida pelo Lula o povo sempre espera mais neacute sabendo que o Lula jaacute tem o renome no Brasil en-tatildeo natildeo vai ser um mandato muito faacutecil por isso que eu acho que quando a expressatildeo diz ldquoquantos paus se faz uma canoardquo mostra o grau de dificuldade que ela vai ter que natildeo vai ser faacutecil e tambeacutem tem o lado de ser histoacuterico a primeira mulher

219

no mandato do Brasil entatildeo a dificuldade se-gun-do diTADOS populares que ldquoa mulher eacute a parte FRAca da sociedaderdquo entatildeo a dificuldade eacute maior entatildeo

Do G3 obtivemos as trecircs respostas das informantes consideradas corretas (a) Eacute tem uma expressatildeo daqui que a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa entatildeo essa daqui eacute como ela foi empossada neacute aiacute ela tem que ela vai ter que enfrentar muitas coisas criacuteticas desafios aiacute eu acho que essa palavra haver com isso que ela vai ter que saber com quantos paus se faz uma canoa ela vai ter que saber quais satildeo as dificuldades de laacute quais satildeo os trabalhos que ela deve fazer ela tem que (b) ldquoquantos paus se faz uma canoardquo eacute isso que me chama atenccedilatildeo porque ela vai ver as dificuldades vai ver muitas coisas que pra ela mesmo RESOLVER e vaivai ter muitas pessoas que vatildeo apontar o dedo nela e ela ter que tem que tem que tentar aceitar e ter que respeitar e (c) esse ldquovai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo ldquose arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo eacute uma coisa assim que por exemplo uma marca que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer vai acontecer uma uma coisa na sua vida que vocecirc natildeo vai conseguir esquecer ele ela vai saber como o jeito de governar acho que eacute eacute rdquo

Do G4 dois estudantes guineenses anunciaram corretamente o sentido da expressatildeo (a) ldquohum hellip ((curto silecircncio)) ((balbucio)) e h tipo tu vai ter que aprender mesmo e h hellip aprender a lidar com com a coisa que tu tu vai viver com mesmo hellip (b) isso se mais ou menos isso com quantos paus faz uma canoa eacute por exemplo eacute um uma conversa assim pra pra que vocecirc natildeo faz uma coisa errada neacute rdquo

Chutar o pau da barraca Do G1 duas informantes declararam correto o sentido idiomaacutetico

da expressatildeo (a) eacute desistir do que a pessoa taacute fazendo por algum motivo que tenha aborrecido essa pessoa natildeo tenha gostado talvez e h deixar tudo pro e h deitar tudo pra altura (b) eacute de certa maneira a gente pode dizer ah natildeo cansei vou deixar tudo nas matildeos de Deus vou deitar vou a gente diz eacute (sabota tudo na espora) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute mais ou menos assim rdquo

Do G2 dois participantes declararam correto o sentido fraseoloacutegico (a) chutar o pau da barraca chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou largar tudo largar tudo (b) bom esse

220

aqui tambeacutem deu pra entender muito bem a expressatildeo aqui seria o povo chutar o pau da barraca e e aqui acho que o povo chutar o pau da barraca quer dizer que ele quer ver mudar quer mudar as coisas quer sair fora do padratildeo rdquo

Do G3 duas participantes declararam corretamente o sentido idiomaacutetico (a) ldquofalta o povo CHUtar o pau da barracardquo vou TENTAR eacute como se fossequando o povo jaacute estaacute revoltado aiacute quer fazer alguma coisa e tem medo ainda pra fazer aiacute depois TODO mundo se une faz uma coisa natildeo sei se eu estou ((risos da informante)) (b) quer dizer chutar o PAU da barraca significa desistir de alguma coisa neacuterdquo

Do G4 quatro participantes declararam correto o sentido idiomaacutetico (a) e h a pessoa que natildeo cumpre com com o dizer hellip posso dizer assim hellip natildeo cumpre com o combinado hellip (b) falta o povo chutar o pau da barraca ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute uma revolta ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo () (c) eacute do jeito que eu to achando aiacute neacuteque o povo jaacute taacute chateadojaacute taacute cansado desse negoacutecio todo aiacuteentatildeo resolveram chutar o pau para estragar para afrontar oque taacute no poder neacuteentendeu por exemplo na poliacutetica mesmo aiacute o povo fica cansado desse negoacutecio de (mudanccedila)tirar o presidentemudar o governador aiacute jaacute taacute (farto) desse negoacuteciofalta o povo chutar o pau da barracae este Roberto Carlos cantando samba de preto catando sambafaz parte da parte racional neacuteporque ele natildeo eacute brancoe faz canccedilatildeo neacuteaiacute o cara prefere ver preto cantando( risos) (d) ((riso)) daacute pro povo chutar o pau da barraca acho que no exemplo aqui neacute se noacutes como estudante noacutes somos cidadatildeos somos um povo neacute se a gente natildeo concorda com alguma coisa a gente podia ateacute pensar na criar um iacutendice neacute de problema pegar pra derrubar neacute a direccedilatildeo ou como eacute que se diz o responsaacutevel neacute do curso ou do departamento entatildeo eu penso que essa ideia do povo derrubar ou chutar o pau da barraca quebrar uma certa hierarquia neacute tipo hierarquia hierarquicamente neacute eacute que o povo acha que natildeo eacute bom pra rdquo

221

Grau de idiomaticidade fraseoloacutegica Atribuiacuteda pontuaccedilatildeo agraves respostas dos informantes pudemos

calcular as meacutedias e os desvios padratildeo e classificar as expressotildees idiomaacuteticas segundo seu grau de idiomaticidade fraseoloacutegica (intralinguiacutestica ou lusoacutefona)

Vejamos uma tabela com os valores da idiomaticidade fraseoloacutegica a partir dos dados dos informantes

Os valores meacutedios dos itens individuais conforme vemos na tabela acima variaram de 160 para a expressatildeo natildeo pagar mico a 264 para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa conforme descreve a Tabela 1 A pontuaccedilatildeo meacutedia foi de 209

Tomados os valores da tabela 1 pudemos fazer uma nova classificaccedilatildeo das expressotildees quanto ao grau de idiomaticidade intralinguiacutestica fraco doble e forte9

Natildeo houve registro de idiomaticidade doble (deacutebil e forte) entre as seis expressotildees uma vez que fizemos os caacutelculos das meacutedias e desvios padratildeo apoacutes a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal no qual os participaram recorreram amiuacutede a taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo para tentaram chegar ao sentido idiomaacutetico das expressotildees do experimento

As expressotildees ldquonatildeo pagar micordquo ldquomatar cachorro a gritordquo e ldquochutar o pau da barracardquo com meacutedias 160 172 e 172 respectivamente foram as expressotildees idiomaacuteticas mais difiacuteceis de serem compreendidas portanto com idiomaticidade forte ou seja mais opacas para os estudantes africanos

Com a meacutedia 243 em ambas as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho e ldquopocircr a boca no trombone foram as que apresentaram uma idiomaticidade fraca

Com meacutedia 264 a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa foi a uacutenica que apresentou uma idiomaticidade fraca isto eacute menos opacas

9 Recorremos a Garciacutea-Page Sanchez (2008 p 394-396) para estabelecermos os trecircs graus de idiomaticidade

222

Graacutefico 3 - Meacutedias da idiomaticidade fraseoloacutegica por expressatildeo

Tabela 8 - Meacutedias e Desvios Padratildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica

Expressotildees Idiomaacuteticas Meacutedia Desvio Graus de

Idiomaticidade

1 Natildeo pagar mico 160 084 forte

2 Matar cachorro a grito 172 096 forte

3 Chutar o pau da barraca 172 095 forte

4 Tirar (mais) aacutegua do joelho

243 094 fraca

5 Pocircr a boca no trombone 243 098 fraca

6 Saber com quantos paus se faz uma canoa

264 067 fraca

Meacutedia das meacutedias 209

Quarta pergunta da Pesquisa Que tipos de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas os participantes utilizam para compreender as expressotildees idiomaacuteticas deste estudo

Na Tarefa 4 testamos as seguintes hipoacuteteses

(a) O uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB

(b) Quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos

172

16

243243

264

231

Idiomaticidade Fraseoloacutegica

Matar cachorro agrito

Pagar mico

Tira mais aacutegua dojoelho

223

taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas

(c) Satildeo estrateacutegias top-down que influenciam na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas (i) contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (ii) sentido literal da expressatildeo (SI) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

Para respondermos a pergunta da Tarefa 4 e testarmos as hipoacuteteses acima tivemos que considerar a frequecircncia de uso de taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo registrada nos protocolos verbais think aloud das tarefas 1 (identificaccedilatildeo fraseoloacutegica) 2 (memoacuteria fraseoloacutegica) e 3 (idiomaticidade fraseoloacutegica)

No Corpus Afri procuramos distinguir na transcriccedilatildeo ortograacutefica dos aacuteudios atraveacutes de codificaccedilatildeo das informaccedilotildees linguiacutesticas (por exemplo emprego de paraacutefrase codificado como RP) e psicolinguiacutesticas (por exemplo emprego de conhecimentos preacutevios codificado como CP) as taacuteticas e as estrateacutegias cognitivas usadas pelos informantes para desvelar o sentido das expressotildees idiomaacuteticas

No quadro abaixo reproduzimos a codificaccedilatildeo de ocorrecircncias de taacutetica (RP) e estrateacutegias (AC SL) em parte de entrevista feita pelo experimentador com um informante cabo-verdiano

Quadro 3 ndash Codificaccedilatildeo das estrateacutegias

Codificaccedilatildeo Entrevista

GF ndash CO GI ndash CO AC RP SL

Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica [Caso afirmativo perguntar se conhece algum equivalente em crioulo e no portuguecircs usado em Cabo Verde] Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo

224

famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

SO Entrevistador e vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes

VM ndash NC Participante natildeo natildeo natildeo conhecia hellip

SO Entrevistador natildeo conhecia no seu paiacutes ()

VM ndash NC Participante natildeo conhecia hellip

A metodologia experimental levada a efeito em nossa pesquisa

nos fez ver desde logo na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes como nascedouro das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo as respostas dos informantes aos primeiros comandos do experimentador registradas no protocolo verbal atraveacutes do qual investigaacutevamos a capacidade fraseoloacutegica dos informantes de identificar formalmente uma expressatildeo idiomaacutetica pluriverbal e fixa evocaacute-la se estivesse armazenada em sua memoacuteria de longo prazo e caso a desconhecessem imediatamente procedessem com solicitaccedilatildeo de ajuda teacutecnica ou a aceitasse do experimentador e soacute entatildeo com uma informaccedilatildeo nova definiccedilatildeo de uma palavra exemplo informal ou texto formal dados atribuiacutessem sentido translatiacutecio ou idiomaacutetico agrave expressatildeo assinalada pelo experimentador

No trecho do Corpus Afri acima observamos que taacuteticas bottom-up de compreensatildeo jaacute estavam manifestas nos diaacutelogos entre experimentador e informante na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica (Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo idiomaacutetica) assim como observamos estrateacutegias top-down mais proeminentes nas tarefas sobre memoacuteria fraseoloacutegica (Vocecirc lembra ou ouviu esta expressatildeo no Brasil ou no seu paiacutes de origem em crioulo ou em liacutengua portuguesa) e particularmente na tarefa sobre idiomaticidade fraseoloacutegica (Vocecirc saberia me dizer o sentido idiomaacutetico da expressatildeo em crioulo ou em portuguecircs falado ou escrito em seu paiacutes)

Por essa razatildeo na Tarefa 4 para discriminarmos as taacuteticas e estrateacutegias cognitivas levamos em conta as respostas dos informantes nestas trecircs tarefas descritas anteriormente

Atentos a este valor proativo do protocolo verbal a partir da primeira tarefa passamos a codificar as respostas com o fito de traccedilar os processos cognitivos relacionados agrave identificaccedilatildeo memoacuteria e idiomaticidade das expressotildees idiomaacuteticas presentes neste experimento

225

Com o mesmo esmero passamos a identificar e a classificar taacuteticas e estrateacutegias cognitivas usadas recorrentes ou natildeo natildeo soacute na tarefa de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica mas tambeacutem nas demais tarefas deste experimento (memoacuteria fraseoloacutegica e idiomaticidade fraseoloacutegica)

Em estudos anteriores a terminologia das estrateacutegias adotada pelos experimentadores (Cacciari 1993 Flores dArcais 1993 Block 1986 Brown 1996 Cooper 1999) foi a seguinte estrateacutegias de preparaccedilatildeo (Strategy Preparatory e estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo (Strategy Guessing) e se mostrou eficaz na aacutenalise e categorizaccedilatildeo dos dados a partir dos protocolos de think aloud Adotamos a terminologia do modelo estrateacutegico mas com foco em duas perspectivas de estudos fraseoloacutegico e psicolinguiacutestico

Para melhor refinar nossa abordagem (psico)linguiacutestica julgamos necessaacuterio fazer pequenos ajustes na terminologia das estrateacutegias (Strategy Preparatory e Strategy Guessing) Assim sendo os novos roacutetulos das estrateacutegias foram inspirados nas outras visotildees teoacutericas que tratam da construccedilatildeo da compreensatildeo pelo leitorouvintefalante ou em outras palavras baseamos nossa terminologia nas teorias de processamento da informaccedilatildeo do texto (CATANIA 1999 p360) Desta maneira por exemplo o que Cooper (1999) chamou de strategy preparatory rebatizamos no primeiro momento em estrateacutegias bottom-up depois vimos que rigorosamente tratavam-se no diaacutelogo do experimentador com os informantes de taacuteticas bottom-up ascendentes de baixo para cima uma vez que efetivamente soacute eram usadas pelos informantes como preparaccedilatildeo para o processo adivinhatoacuterio propriamente psicolinguiacutestico que ocorria quando recorriam a strategy guessing isto eacute a estrateacutegias top-down estas sim incontestavelmente descendentes de cima para baixo da mente do falante para o texto lido ou ouvido

Na fase de preacute-testes durante da aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal think aloud a pequeno grupo de estudantes nativos e de natildeo ativos do PB observamos que diante de muitas expressotildees idiomaacuteticas o processamento de compreensatildeo dos falantes comeccedilava e era controlado pelo proacuteprio texto isto eacute ocorria a chamada teoria de fora para dentro ou processamento dirigido pelo texto em que prontamente poderiacuteamos esquadrinhar o uso de procedimentos cognitivos denominado pela literatura psicolinguiacutestica de bottom-up

226

(ascendentes ou de baixo para cima) mais apropriadamente denominadas por noacutes de taacuteticas bottom-up mas com tipos igualmente classificadas pelos teoacutericos anteriores (a) repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (RP) (b) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (DA) e (c) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (SI) Podemos observar que em nenhuma das trecircs taacuteticas estaacute previsto que o informante chegue ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada na questatildeo do experimento

A mudanccedila numenclatoacuteria de estrateacutegias de preparaccedilatildeo para estrateacutegias bottom-up e desta para a denominada taacuteticas bottom-up decorreu de reflexatildeo nossa a partir de estudos de Loacutepez Delgado (2002) bem como de orientarmos nossa atenccedilatildeo para procedimentos linguiacutesticos dos informantes quando na fase de aplicaccedilatildeo de preacute-testes Vimos que as bottom-up (RP DA e SI) se constituiacuteam efetivamente mais taacuteticas (do grego τακτικός este derivado de τάσσειν pocircr em ordem com a noccedilatildeo de habilidade do informante para tentar sair-se eficientemente bem na tarefa proposta) do que propriamente estrateacutegias (palavra do latim strategĭa e esta derivada do grego στρατηγία com a ideia neste trabalho de o informante aplicar eficazmente recursos cognitivos visando alcanccedilar a compreensatildeo idiomaacutetica) por serem como jaacute dissemos antes procedimentos preparatoacuterios e natildeo decisoacuterios no processamento da compreensatildeo idiomaacutetica

Nos casos em que os participantes compreenderam a expressatildeo idiomaacutetica comeccedilando e controlando a partir de experiecircncias e expectativas que traziam para o texto ocorria a chamada teoria de dentro para fora ou processamento dirigido pelo proacuteprio falante denominadas de strategy guessing por noacutes rebatizadas de estrateacutegias top-down (descendentes ou cima para baixo) sendo que previamente assinalados os seguintes tipos (a) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (AC) (b) adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (AA) (c) adivinhar o sentido da expressatildeo a partir do contexto informal ou improvisado (AT) (d) usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (SL) (e) usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (CP) f) referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em l1 para entender a expressatildeo idiomaacutetica em l2 (l1 ou seja crioulo cabo-verdianocrioulo guineense)

227

e (g) Usar outras estrateacutegias (OE) Atraveacutes de uma ou mais estrateacutegias top-down os informantes poderiam chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo dada no experimento

Conservamos pois em nossa pesquisa esta denominaccedilatildeo top-down mas nesta modalidade acrescentamos novas estrateacutegias como AA e AT para atender os propoacutesitos dos trecircs experimentos de nossa pesquisa Por essa razatildeo no primeiro experimento natildeo haacute registro de AA por ter natildeo terem sido disponibilizadas questotildees de muacuteltipla escolha A estrateacutegia AA soacute aparece na segunda bateria de testes A estrateacutegia AT aparece nas trecircs baterias de testes

Durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal observamos que as taacuteticas bottom-up e as estrateacutegias top-down natildeo eram no processamento fraseoloacutegico etapas estanques isto eacute vaacuterias delas podiam funcionar juntas e concomitantes sendo as taacuteticas bottom-up as de ativaccedilatildeo cognitiva inicial enquanto estrateacutegias top-down as de caraacuteter inferencial decisoacuteria no chamado jogo de adivinhaccedilatildeo psicolinguiacutestica (GOODMAN 1967 SMITH 1999 2003)

Na fase de codificaccedilatildeo do Corpus Afri vale ressaltar que as respostas dos participantes para cada expressatildeo foram divididas em segmentos discursivos procedimento facilitador para a codificaccedilatildeo das respostas por termos feito uma transcriccedilatildeo grafemaacutetica (ou ortograacutefica) dos aacuteudios dos participantes bem como exequiacutevel para os casos de reproduccedilatildeo em nossa exposiccedilatildeo Em seguida as transcriccedilotildees jaacute codificadas foram lidas relidas analisadas marcadas e remarcadas de acordo com os recursos cognitivos utilizados pelos participantes e como jaacute assinalamos antes a partir de um conjunto de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas previamente determinadas e consensualmente aceitas para pesquisas relacionadas com compreensatildeo idiomaacutetica em L1 ou L2 ou envolvendo ambas

Segue abaixo um quadro contendo abreviaturas e descriccedilotildees das taacuteticas bottom-up e estrateacutegias top-down que utilizamos nos trecircs experimentos Quadro 4 - Abreviaturas usadas na anaacutelise do corpus AFRI

TAacute

TI

CA

S

BO

TT

OM

-

UP

RP Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica O informante voltar a ler ou a dizer (o que jaacute leu ou ouviu) ou diz de maneira diferente o mesmo conteuacutedo em que aparece a expressatildeo idiomaacutetica no texto lido

228

DA Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou o seu contexto sem adivinhar o sentido O informante analisa a expressatildeo idiomaacutetica e levanta questotildees a respeito do seu sentido examinando detalhadamente seus elementos lexicais sem chegar poreacutem ao sentido translatiacutecio ou fraseoloacutegico da expressatildeo

SI Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica ou sobre elementos constituintes de uma imagem que pode evocar uma unidade fraseoloacutegica O informante pede ajuda teacutecnica ao examinador dos testes Com exceccedilatildeo de informaccedilotildees relacionadas ao sentido da expressatildeo idiomaacutetica o examinador fornece informaccedilotildees metalinguiacutesticas sintaacuteticas e pragmaacuteticas de modo a encorajar o informante a continuar falando sobre a expressatildeo idiomaacutetica (contexto de estiacutemulo) ou a imagem apresentada (imagem de estiacutemulo) durante a aplicaccedilatildeo dos testes

ES

TR

AT

EacuteG

IAS

TO

P-D

OW

N

AC Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal O informante consegue decifrar ou interpretar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal dado extraiacutedo de texto (mateacuteria coluna etc) de jornal de circulaccedilatildeo nacional ou de exemplo dado pelo pelo experimentador

AA Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir alternativas de muacuteltipla escolha) O examinador depois de observar a dificuldade do informante em dar uma paraacutefrase definitoacuteria da expressatildeo idiomaacutetica indicada apresenta ao informante trecircs alternativas de muacuteltipla escolha (abc) sendo uma com paraacutefrase idiomaacutetica ou contextual (correta) uma com paraacutefrase literal (parcialmente correta) e uma paraacutefrase com distrator criacutetico (incorreta)

229

AT Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir de contexto formal (texto de circulaccedilatildeo) ou de contexto informal ou improvisado(texto ad hoc) O informante solicita ao examinador um contexto formal de uso da expressatildeo idiomaacutetica ou contexto informal com a expressatildeo idiomaacutetica dada no item do questionaacuterio O examinador pode ter a iniciativa de anunciar ou disponibilizar os textos para o informante No caso de exemplo formulado pelo examinador com o mesmo sentido idiomaacutetico da expressatildeo idiomaacutetica do texto formal caracteriza-se por seu aspecto espontacircneo e o mais proacuteximo possiacutevel da linguagem comum da variante brasileira do portuguecircs

SL Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico O informante recorre ao sentido literal da expressatildeo idiomaacutetica para desvelar seu sentido idiomaacutetico durante a realizaccedilatildeo dos testes podendo utilizar este recurso antes ou depois da leitura do contexto de estiacutemulo (texto) antes ou depois de solicitaccedilatildeo de informaccedilatildeo (SI) ou depois de fornecida uma ajuda teacutecnica pelo examinador

CP Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica O informante emprega seus conhecimentos preacutevios (memoacuteria de longo prazo) relacionados agrave metalinguagem ao assunto do texto agrave intercultura e agraves experiecircncias de vida (memoacuteria cotidiana ou autobiograacutefica)

L1 Referir-se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) O informante na construccedilatildeo ou elaboraccedilatildeo de sua compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica em L2 faz referecircncia agrave sua liacutengua materna (crioulo) inclusive quando solicitado buscando uma expressatildeo nativa equivalente agrave do portuguecircs brasileiro

OE Usar outras estrateacutegias O informante recorre a uma seacuterie de operaccedilotildees

extralinguiacutesticas ou heuriacutesticas que natildeo pertencem ao sistema da liacutengua ou ao sistema fraseoloacutegico do portuguecircs associando-se agrave aplicaccedilatildeo destas na compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas no que tange

230

ao sujeito eou agrave situaccedilatildeo e ao conhecimento de mundo que os falantes compartilham

As taacuteticas e as estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees

idiomaacuteticas conforme podemos observar no Quadro 1 foram distribuiacutedas em dois grupos (a) taacuteticas bottom-up e (b) estrateacutegias top-down inspiradas na terminologia strategy preparatory e strategy guessing adotada por Cooper (1999 p242-244)

As taacuteticas bottom-up permitiram aos participantes clarificarem e consolidarem o conhecimento linguiacutestico ou a informaccedilatildeo semacircntica sobre as locuccedilotildees verbais idiomaacuteticas (Taacutetica RP ou RP repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica) para ganhar mais tempo antes de proferir um palpite ou para ensaiar uma resposta ou ainda peneirar nova informaccedilatildeo linguiacutestica muitos participantes discutiram e analisaram (literalmente) a expressatildeo idiomaacutetica (Taacutetica DA ou DA) e para colherem informaccedilotildees adicionais a fim de comeccedilarem a falar sobre a expressatildeo idiomaacutetica isto eacute dar um palpite mais seguro ou abalizado sobre o sentido fraseoloacutegico da expressatildeo idiomaacutetica os participantes solicitaram informaccedilotildees (exceto as diretamente relacionadas ao sentido idiomaacutetico) sobre a expressatildeo idiomaacutetica ( Taacutetica SI ou SI)

As estrateacutegias top-down representam em nossa pesquisa os casos em que os participantes arriscaram uma interpretaccedilatildeo das expressotildees idiomaacuteticas e estas estrateacutegias foram categorizadas assim adivinhar o sentido idiomaacutetico a partir do contexto (Estrateacutegia AC ou AC) usar o sentido literal (Estrateacutegia SL ou SL) para chegar ao sentido idiomaacutetico utilizar seus conhecimentos preacutevios (Estrateacutegia CP ou CP) referir-se agrave sua L1 (Estrateacutegia L1 ou L1) inclusive com registro de variaccedilotildees linguiacutesticas nos caso dos dialetos cabo-verdianos como Crioulo do Fogo Crioulo de SantiagoCrioulo de Satildeo Nicolau e Crioulo de Satildeo Vicente e Crioulo de Santo Antatildeo e quando usaram outras estrateacutegias (Estrateacutegia OE ou OE) estas em particular aleacutem de natildeo se enquadrarem nas estrateacutegias indicadas anteriormente consistiam em situaccedilotildees a que os participantes recorriam a tentativas cegas isto eacute arriscavam uma resposta por meio tentativa-e-erro na Tarefa de Identificaccedilatildeo Fraseoloacutegica (fixaccedilatildeo fraseoloacutegica) e na Tarefa de idiomaticidade Fraseoloacutegica (opacidade semacircntica) das expressotildees idiomaacuteticas previstas neste e nos demais experimentos envolvendo

231

zoomorfismos somatismos ou especiais ( botanismos no caso do primeiro experimento)

Para assegurar a confiabilidade da pontuaccedilatildeo das tarefas dos experimentos experimento e da codificaccedilatildeo das taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica treinamos um grupo de seis transcritores (estudantes do Curso de Letras da UVA em Sobral) e convidamos um segundo examinador no caso uma professora de liacutengua portuguesa experiente esta especificamente para colaborar na marcaccedilatildeo das respostas aos testes e categorizar as taacuteticas e estrateacutegias de protocolo verbal think aloud revisando tambeacutem em conjunto detidamente com o pesquisador as respostas consideradas corretas parcialmente corretas e as respostas incorretas das tarefas do experimento e na codificaccedilatildeo adequada dos segmentos discursivos de modo a chegarmos a uma concordacircncia em 100 sobre o que julgaacutevamos como sendo taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo presentes no Corpus Afri

Taacuteticas e Estrateacutegias pela frequecircncia de uso

No primeiro experimento os dados referentes agrave frequecircncia de

uso de estrateacutegias levam-nos a crer que as taacuteticas bottom-up ou ascendentes (RP DA e SI) evidenciaram a luta tiacutepica dos informantes para lidar com fontes leacutexicas de opacidade semacircntica sem que pudessem chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo exceto aos informantes que jaacute a tinham na memoacuteria de longo prazo estes nesta situaccedilatildeo natildeo foram arrolados ou considerados na anaacutelise de dados com relaccedilatildeo ao caacutelculo do grau de idiomaticidade fraseoloacutegica como tambeacutem das estrateacutegias usadas e as bem-sucedidas conforme veremos no decorrer desta seccedilatildeo

Jaacute as estrateacutegias top-down ou descendentes (AC AA AT SL CP L1 e OE) indicaram a competecircncia fraseoloacutegica dos participantes de natureza intralinguiacutestica por serem lusoacutefonos como um fator de opacidade tal qual defende Mogorroacuten Huerta (2013 p 83-96)

No balanccedilo geral na tarefa 4 pudemos observar que entre procedimentos taacuteticos e estrateacutegicos o uso da estrateacutegia CP destacou-se no conjunto de demandas cognitivas dos informantes ao registrar 115 ocorrecircncias no Protocolo Verbal o equivalente a 21 de todas estrateacutegias usadas durante o teste seguida da taacutetica RP com 94 registros o equivalente a 17

232

Os dados coletados indicam que os participantes recorreram agrave L1 na busca da compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas especialmente as expressotildees consideradas mais faacuteceis ou transparentes encontrando na maioria das vezes um equivalente em crioulo guineense ou cabo-verdiano

Ao mesmo tempo pudemos observar que 94 ocorrecircncias equivalente a 17 das estrateacutegias usadas pelos informantes foram dirigidas agrave taacutetica RP o que significou especialmente no processo de compreensatildeo das expressotildees tirar aacutegua do joelho matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca uma demanda expressiva por taacuteticas bottom-up mas em que pesem o esforccedilo natildeo foram suficientes para levarem os participantes imediatamente agrave compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica vindo em seguida a DA com 13 a segunda taacutetica de maior demanda por parte dos participantes entre as bottom-up

Observamos que o uso das do tempo destinado a estrateacutegias top-down chegou a 46 recurso que garantiu aos participantes em geral depois de ajuda teacutecnica acessarem o sentido idiomaacutetico sendo a CP com 21 a estrateacutegia de maior demanda por parte dos participantes registrando nesse meio-tempo uma baixa procura por informaccedilotildees relacionadas ao sentido literal (SL) agrave L1 e poucas tentativas-e-erros (OE)

A expressatildeo matar cachorro a grito foi entre as expressotildees a detentora de maior percentual de taacuteticas do bottom-up destacando o nuacutemero de SI (37) RP (33) e DA (20) Referente agraves estrateacutegias top-down a maioria dos informantes ao lidarem com a expressatildeo natildeo pagar mico solicitou a assistecircncia teacutecnica de AT (21) especialmente de textos informais com a expressatildeo dado e SL (30) isto eacute solicitaram informaccedilotildees sobre o sentido literal da referida expressatildeo

A expressatildeo natildeo pagar mico nos chamou a atenccedilatildeo pelo nuacutemero de informantes que analisaram a expressatildeo e o contexto sem que pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico o que pode ter justificado um percentual de 15 de SI Quanto agraves estrateacutegias top-dow os participantes recorreram a muitas estrateacutegias heuriacutesticas por meio de tentativa-e-erro em muitos casos procurando encaixar a situaccedilotildees do seu cotidiano Chama-nos a atenccedilatildeo o uso frequente da estrateacutegia SL(40) e a estrateacutegia CP (23)

233

Estrateacutegias de compreensatildeo por expressatildeo Consideramos fundamental em nosso estudo a separaccedilatildeo das

taacuteticas (bottom-up) das estrateacutegias (top-down) de compreensatildeo Tal medida decorre de reconhecermos que ambos os tipos de recursos cognitivos se baseiam em recursos cognitivos distintos

As taacuteticas bottom-up estatildeo relacionadas com a mecanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo dos dados da memoacuteria ativa ou memoacuteria de trabalho Estas taacuteticas portanto estatildeo a serviccedilo da memoacuteria de curto prazo isto eacute de uma memoacuteria funcional que reteacutem brevemente aquilo que prestamos atenccedilatildeo e tambeacutem uma duraccedilatildeo muito limitada (SMITH1999 P40) Dizendo de outra forma diriacuteamos que os participantes ao utilizarem as taacuteticas bottom-up tentaram imediatamente superar suas limitaccedilotildees daiacute recorrerem a SI para poder engajar-se atraveacutes de estrateacutegias top-down nos processos de compreensatildeo idiomaacutetica

Aplicadas ao nosso estudo as taacuteticas bottom-up referem-se a um processo natildeo criativo no qual o falante processa automaticamente a compreensatildeo da expressatildeo idiomaacutetica atraveacutes da identificaccedilatildeo da unidade fraseoloacutegica (RP) depois faz a anaacutelise da fixaccedilatildeo formal (DA) e a partir daiacute evoca sua idiomaticidade semacircntica atraveacutes de sua memoacuteria de longo prazo (CP) que tambeacutem eacute criativa ou quando descartado este benefiacutecio da memoacuteria de longa duraccedilatildeo solicita informaccedilatildeo (SI) para poder chegar ou natildeo ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo atraveacutes de estrateacutegias ligadas ao contexto (AC) agrave liacutengua materna (L1) ao sentido literal (SL) ou a outras inferecircncias heuriacutesticas (OE)

As estrateacutegias RP DA e SI nos indicam como veremos nos trechos abaixo quando evidenciadas no protocolo verbal que os falantes desenvolveram uma compreensatildeo inicial da expressatildeo de forma inconsciente e a decodificaccedilatildeo10 passa a ser uma praacutetica fundamental uma frequecircncia maior no leque ou disponibilidade de recursos cognitivos Talvez por essa razatildeo os falantes natildeo nativos como podemos observar nos protocolos verbais tenham significativamente buscado acessar o sentido idiomaacutetico por meio da repeticcedilatildeo em voz

10 A acepccedilatildeo que damos agrave decodificaccedilatildeo eacute a mesma de Alliende e Condemariacuten (1987) uma operaccedilatildeo de leitura em que o leitorfalante transforma os signos graacuteficos em linguagem oral mas natildeo alcanccedila plenamente o estaacutegio da compreensatildeo isto eacute captar o sentido da mensagem escrita

234

alta da expressatildeo da repeticcedilatildeo do texto atraveacutes da leitura silenciosa da paraacutefrase textual dos pormenores do texto (por exemplo saber o sentido de CNPJ 11 que aparece no contexto da expressatildeo natildeo pagar o mico) do sentido literal das palavras incomuns encontradas no texto lido (por exemplo antideureacutetico12 que aparece no contexto da expressatildeo tirar mais aacutegua do joelho) daiacute diante do texto terem feito uma leitura detalhada atenta com menor velocidade para que os dados do texto pudessem guiar sua compreensatildeo idiomaacutetica tal qual nos sugere Block (1986 p 463ndash494)

Ao contraacuterio das taacuteticas bottom-up as estrateacutegias top-down satildeo criativas voltadas agrave compreensatildeo e decerto satildeo responsaacuteveis na fala espontacircnea pela reproduccedilatildeo em bloco coeso da expressatildeo idiomaacutetica pelos falantes sejam eles nativos ou natildeo nativos Talvez tenha sido esta ideia de blocagem passada por Coseriu (2007 p201) ao recorrer ao termo discurso repetido sequecircncia de combinaccedilotildees feitas de signos que se transmitem integralmente

Em relaccedilatildeo agraves estrateacutegias top-down pudemos observar que ao longo do protocolo verbal os falantes natildeo nativos ajustaram ou tentaram ajustar por meio de ajuda teacutecnica (SI) o sentido das expressotildees idiomaacuteticas isoladamente ou no proacuteprio texto em que elas foram contextualizadas aos seus conhecimentos preacutevios sintaacuteticos linguiacutesticos metalinguiacutesticos culturais histoacutericos em L1 e em L2 (portuguecircs na vertente luso-africana) depois voltam ao texto para confirmar suas expectativas de leitura (AC) ou verificar se aparecia uma informaccedilatildeo nova (OE) Concebiam assim a compreensatildeo fraseoloacutegica como verificaccedilatildeo global do sentido idiomaacutetico da expressatildeo (BLOCK op cit)

11 CNPJ eacute a sigla de Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica 12 Apresentamos aos informantes a seguinte definiccedilatildeo para hormocircnio antidiureacutetico substacircncia que aumenta a pressatildeo sangue nas arteacuterias e diminui o volume da urina

235

Tabela 9 - Frequecircncia de taacuteticas e estrateacutegias usadas por expressatildeo idiomaacutetica

EXPRESSOtildeES IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO IDIOMAacuteTICA

BOTTOM-UP TOP-DOWN)

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

1Matar cachorro a grito

31 15 23 11 - 08 09 10 06 02

2Pagar mico 24 17 10 03 - 05 12 27 08 05

3Tirar aacutegua do joelho

22 18 Q8 07 - 13 02 16 19 01

4Pocircr a boca no trombone

21 07 07 13 - 05 00 07 16 01

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

26 07 02 18 - 01 02 34 18 01

6Chutar o pau da barraca

27 16 14 09 - 05 05 21 07 03

Total 151 80 64 61 - 37 30 115 74 13

de todas usadas

25 13 10 09 06 05 18 12 02

Total de estrateacutegias usadas em todos os itens ndash 625

A partir dos dados apresentados na tabela acima passemos agora a exemplificar por expressatildeo idiomaacutetica as taacuteticas e estrateacutegias mais evidenciadas pelos participantes em seus diaacutelogos com o experimentador registrados no protocolo verbal ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito Em busca de encontrar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo matar

cachorro a grito os informantes recorreram a 115 estrateacutegias sendo 69 taacuteticas bottom-up e 46 estrateacutegias top-down

236

Das taacuteticas bottom-up chamou-nos a atenccedilatildeo RP com 28 do tempo dos informantes seguida de pedido de ajuda SI na ordem 20

Das estrateacutegias top-down todas pareciam estar igualmente requeridas pelos informantes O que podemos observar eacute que claramente os informantes apresentaram dificuldade de acessar o sentido idiomaacutetico da expressatildeo o que podemos comprovar pelos 60 de taacuteticas bottom-up com especial destaque para a estrateacutegia RP empregada na compreensatildeo de matar cachorro a grito

Abaixo apresentamos dois exemplos de emprego de preparaccedilatildeo (RP e SI respectivamente) que se sobressaiacuteram no processo de compreensatildeo desta expressatildeo

(a) Usando RP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante matar cachorro deixa eu ver ldquomatar cachorro a

gritordquo eles natildeo satildeo ricos como a tv mostra eles fazem outra coisa que talvez nem seja desse niacutevel eacute fazer coisas baacutesicas ((risos))

(b) Usando SI Entrevistador quer alguma ajuda Participante pode ser vamo laacute Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante um exemplo hellip pode ser hellip Entrevistador vocecirc prefere um exemplo Participante se tiver outro mais faacutecil hellip neacute hellip seja mais faacutecil de

identificar (hellip) Natildeo pagar mico No esforccedilo tiacutepico para compreender a expressatildeo natildeo pagar

mico os participantes recorreram a 100 procedimentos cognitivos sendo 40 taacuteticas bottom-up e 60 estrateacutegias top-dow

Das taacuteticas bottom-up 19 foram solicitaccedilotildees de ajuda teacutecnica (SI) especialmente as relacionados com pedido sobre sentido literal do lexema mico13

13 Os reiterados pedidos sobre o sentido de mico nos levou a apresentar aos informantes duas acepccedilotildees possiacuteveis para a palavra (a) na zoologia mico eacute uma forma reduzida de mico-preto designaccedilatildeo comum aos macacos do gecircnero Cebus da famiacutelia dos cebiacutedeos e (b) na ludologia tipo de jogo de cartas infantil em que a carta que

237

Das estrateacutegias top-down a estrateacutegia de CP foi a mais empregada pelos participantes com 27 das ocorrecircncias

Vejamos a seguir trechos com SI e CP extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando SI Entrevistador natildeo sabe o que eacute vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante me explicar um pouquinho o que quer Entrevistador posso definir as palavras da expressatildeo Participante eacute Entrevistador natildeo pagar significa natildeo entregar ou restituir uma

quantia que se deve Participante eacute pagar Entrevistador e mico eacute tipo de macaco de pelagem marrom-

escura com cauda negra e geralmente com vive em bandos Participante hum ah Entrevistador te ajuda alguma coisa Pagar macaco Participante ah mico pagar macaco pagar um um um valor

ma ma natildeo ldquopagar micordquo (b) Usando CP Entrevistador e vocecirc jaacute conhece do seu paiacutes ldquopagar micordquo Participante assim eu conheccedilo no meu paiacutes natildeo porque a

gente usa ela porque a liacutengua crioula natildeo tem essa expressotildees assim neacute mas pela influecircncia da novela

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Os participantes ao se depararem com a expressatildeo tirar mais

aacutegua do joelho recorreram a 100 estrateacutegias sendo 42 taacuteticas bottom-up e 58 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a DA foi a mais utilizada pelos informantes com 18 do seu tempo vindo em seguida a RP com 16 do seu tempo

apresenta a figura de um macaquinho preto natildeo tem par e aquele que acabar o jogo com ela perde o jogo

238

Das estrateacutegias top-down a mais evidenciada foi a L1 com 19 vindo em seguida a CP com 16 do tempo

Vejamos a seguir trechos com DA RP e CP extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando DA Entrevistador ldquotirar aacutegua do joelhordquovocecirc sabe me dizer o

sentido Participante ldquotomar cerveja quenterdquo aiacutefaz com quecarano

meu entender vocecirc ver que natildeo faz bemas vezes as pessoas bebem cerveja quente ficam com dor de cabeccedilaentendeu sentindo algumas coisas que natildeo taacute bom aiacute levantam com a ressaca desse negoacutecio

Entrevistador e soacute a expressatildeo ldquotirar aacutegua do joelhordquo significa o que Eacute tudo isso que vocecirc disse ldquotirar aacutegua do joelhordquo

Participante eacutemais ou menos isso Usando estrateacutegia RP Entrevistador e essa expressatildeo aiacute que aparece pela primeira vez

hellip vocecirc acha que e h o quecirc Participante ah hellip sei laacute hellip Entrevistador tirar aacutegua do joelho hellip Participante deixa eu ver hellip ((silecircncio)) num sei hellip ((riso nasal))

tirar aacutegua do joelho hellip ((a participante repete a expressatildeo e faz um breve silecircncio interrompido pelo entrevistado))

(b) Usando L1 Entrevistador tirar aacutegua do joelho que dizer o quecirc Participante e h hellip mijar hellip Entrevistador mijar hellip Participante mijar Entrevistador conhece do seu paiacutes Participante conheccedilo hellip Entrevistador eles utilizam Participante utilizam hellip Entrevistador aleacutem dessa hellip existem outros semelhantes com o

sentido de mijar que vocecirc coloca Participante natildeo e h o pessoal a gente fala assim hellip tipo (taacute

fazendo aacutegua) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) eacute tipo assim eacute o termo tirar aacutegua do joelho hellip (taacute fazendo aacutegua de batata) ((hipoacutetese de fala em crioulo))

239

Entrevistador ah hellip eacute o mesmo sentido Participante e h hellip ((toque de telefone)) (c) Usando estrateacutegia CP Participante bom hellip a expressatildeo aqui e h tirar aacutegua ma aacutegua

do joelho hellip neacute e tirar aacutegua do joelho e h uma expressatildeo que a gente usa laacute em Cabo Verde hellip

Entrevistador hum Participante e h em Santiago nesse caso em Santiago eu

natildeo sei se as outras ilhas tambeacutem usam a expressatildeo hellip mas em Santiago a gente fala tirar aacutegua do joelho que significa mijar hellip neacute ()

Pocircr a boca no trombone Para a compreensatildeo de pocircr a boca no trombone os participantes

empregaram 57 recursos cognitivos sendo 16 taacuteticas bottom-up 41 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up DA com 12 foi a mais evidenciada vindo em seguida a SI com 10 do tempo

Das estrateacutegias top-down L1 foi a que obteve o maior percentual de uso com 28 vindo em seguida CP

Estrateacutegias SL e OE natildeo foram empregadas pelos informantes Vejamos a seguir trechos com DA l1 e CP extraiacutedos do Corpus

Afri (a) Usando DA Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Juacutenior Participante ((silecircncio)) pocircr a boca no trombone Entrevistador muito bem ah vocecirc saberia me dizer o sentido Participante por exemplo defendeu um crime neacute Entrevistador defender um crime Participante defender uma coisa Usando estrateacutegia SI Entrevistador A expressatildeo pocircr a boca no trombone quer dizer

o que Participante ((conversas ao longe)) aquitrom-bo-ne eacute vocecirc

pode me dar uma dicae Entrevistador posso dizer o que eacute trombonetrombone eacute um

instrumento de sopro de metal neacuteaqueles instrumentos pesados formado por dois tubos encaixados um no outro

240

Participante() hum rum (b) Usando L1 Entrevistador reclama critica vocecirc jaacute conhecia no seu paiacutes Participante natildeo natildeo existe essa expressatildeo natildeo tem uma outra

expressatildeo Entrevistador qual eacute mas usando a palavra trombone Participante eacute a gente em crioulo pocircr a boca na (trabalha)

quer dizer pocircr a boca no trabalho ((risos)) natildeo sei natildeo conheccedilo essa expressatildeo em portuguecircs mas em crioulo eu digo assim[pocircr a boca no trabalho] tralha

(c) Usando CP Participante bom hellip aqui a expressatildeo idiomaacutetica ser eacute o pocircs a

boca no trombone neacute hellip que eacute quer dizer aqui que e h que denunciou e h denunciou a os desmandos na cidade hellip e em Cabo Verde existe tambeacutem essa essa expressatildeo colocar a boca no trombone hellip acho que e h bem tipo acho que tem natildeo sei se e h tiacutepico hellip mas jaacute tinha escutado laacute vaacuterias vezes hellip na televisatildeo e pessoas falando tambeacutem

Entrevistador nesse mesmo sentido que colocou agora () Participante sim hellip e laacute em Cabo Verde temos outras expressotildees

tambeacutem para para a pra se falar parecido com boca no trombone hellip nesse caso seria (xibaacute xibaacute14) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) hellip existem outras tambeacutem chibaacute mas chibaacute e h uma das que eu conheccedilo mais ()

BOTANISMOS Saber com quantos paus se faz uma canoa Para a compreensatildeo da expressatildeo saber com quantos paus se faz

uma canoa os participantes recorreram a 94 procedimentos e accedilotildees cognitivas sendo que sendo 20 taacuteticas bottom-up e 74 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up a RP se sobressaiu com 16 do tempo dos informantes

14 Interessante assinalar que a palavra xiba em portuguecircs refere-se agrave baile popular rural com sapateado acompanhado por instrumentos de cordas dedilhaacuteveis canto e palmas sua origem eacute africana ou portuguesa com adaptaccedilotildees negras

241

Das estrateacutegias top-down evidenciaramm-se as CP com 36 AC e L1 com 19 do tempo dos informantes

Vejamos a seguir trechos com RP CP AC e L1 extraiacutedos do Corpus Afri

(a) Usando RP Entrevistador e vocecirc acha que qual e h o sentido desta

expressatildeo que apareceu aiacute ldquosaber com quantos paus se faz uma canoardquo hellip

Participante e h tipo dizer assim meu filho tu entrou numa grande furada hellip ((risos)) tu vai ver a realidade hellip ((risos da participante e do entrevistador)) hellip e h algo parecido hellip

(b) Usando CP Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido (c) Usando AC e L1 Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante tem hellip eu conheccedilo dois aqui ((muacutesica melodia ao

fundo))hellip e h hellip ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo hellip ela vai ver quatildeo difiacutecil eacute esse cargo hellip e vai sofrer muito hellip e tem mais um hellip ateacute o uacuteltimo ldquovai sofrer ateacute o uacuteltimo fio de cabelordquo hellip vai sofrer ateacute natildeo aguentar mais hellip talvez

Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo

Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

242

Chutar o pau da barraca Para a expressatildeo chutar o pau da barraca os participantes

recorreram a 102 procedimentos cognitivos sendo 52 taacuteticas bottom-up e 50 estrateacutegias top-down

Das taacuteticas bottom-up o recurso mais usado no protocolo verbal foi RP com 24 das demandas dos participantes

Das estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo merece destaque CP com 21 do tempo

Vejamos a seguir trechos com RP e AC extraiacutedos do Corpus Afri (a) Usando RP Entrevistador e o que significa chutar o pau da barracardquo Participante ((silecircncio demorado)) eu NAtildeO sei explicar ((risos

da informante)) coisa difiacutecil por quecirc que tu botou essa frase hein ldquochutar o pau da barracardquo ((ruiacutedo)) oh que eacute assim ver o Roberto Carlos junto com a populaccedilatildeo fazendo bagunccedila eacute isso eu natildeo sei ldquochutar o pau da barracardquo eu natildeo conheccedilo natildeo

(b) Usando CP Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante porque o que eacute () Entrevistador o que tem a ver chutar o pau da barraca com

revolta Participante porque por exemplo Roberto ((silecircncio))

((balbucio)) Entrevistador eu soacute quero que vocecirc justi jusfique eu natildeo tocirc

nem questionando natildeo Participante eacute Entrevistador eu tocirc aceitando sua resposta soacute queria que vocecirc

me justificasse por que vocecirc acha que pau chutar e barraca tem a ver com revolta por que vocecirc acha que tem a ver

Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

243

Tabela 10 - Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica por Participantes

CATE-GO-

RIAS

EXPRESSOtildeES

IDIOMAacuteTICAS

TAacuteTICAS E ESTRATEacuteGIAS DE COMPREENSAtildeO

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

ZOO-MOR-FIS-

MOS

Matar cachorro a grito

1235 678 91213 1415 1617 1819 20

235 1112 1314 1516 1819 20

2368 112 1317 1819 20

1 6 789 17 19

2368 1112 13 17 1819 20

78 1317 1820

12 5 1113 1720

17 48

Pagar mico

1 3 11 14 15 1617 1920

311 14 1516 1718 1920

1114 1516 17 18 1920

1114 1516 1718 1920

1 1415 1619 20

1 3 5 78 1416 1720

13 10

SOMA-TIS-MOS

Tirar aacutegua do joelho

3 1014

3410

31011

3 31011

1415 20

145 12

6 912

244

151718 1920

141516 17 819 20

121416 1718 1920

111314 17 18 19

121416 171819 20

1517 1920

Botar a boca no trombone

2 1213 14 5 19

1118

19 12 1314 19

19 2 1213

12 13

BOTA-NIS-MOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa

1 4 1011 13 14 15 1718 19

11 151718 1920

18 1 4 1011 13 14 1718

18 1920

1 4 10 1719 20

1 1117 20

11

Chutar o pau da barraca

123 5 67 11 121314 151618 1920

1235 1415 16 20

2311 1214 1617

23 7 11 1214 1718 19 20

23 11 12 1617

11 1316 1819

2 67 1314 1618 19 20

236

214 18 20

Legenda RP = Repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica DA = Discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido SI = Solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica AC = Adivinhar o sentido da expressatildeo

245

idiomaacutetica a partir do contexto formal AA = Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha AT = Adivinhar o sentido da expressatildeo a partir da contexto informal ou improvisado(ajuda teacutecnica) SL = Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico CP = Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica L1 = Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) e OE = Usar outras estrateacutegias

Estrateacutegias bem-sucedidas

Nas seccedilotildees anteriores foram abordadas as frequecircncias de uso

das estrateacutegias de compreensatildeo sem levarmos em conta se os participantes adivinharam corretamente o sentido da expressatildeo idiomaacutetica

Nesta seccedilatildeo apresentamos dados referentes agraves estrateacutegias bem-sucedidas isto eacute estrateacutegias top-down a que os informantes recorreram durante a aplicaccedilatildeo do protocolo verbal think aloud e ao serem indagados pelo experimentador quanto ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo anunciaram respostas consideradas corretas e que atendiam agrave expectativa da tarefa

Vale lembrar que os informantes aqui considerados satildeo apenas os que na tarefa 2 a da verificaccedilatildeo da memoacuteria fraseoloacutegica declararam natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo e natildeo saber seu sentido e os que declararam lembrar mas natildeo saber sentido idiomaacutetico Imediatamente apoacutes darem estas respostas antes de quaisquer pedidos de ajuda (SI) indagamos sobre o sentido idiomaacutetico da expressatildeo mesmo com apoio de contexto de situaccedilatildeo respostas que poderiam ser dadas em L1 ou L2 e mais uma vez confirmamos que realmente natildeo entendiam a locuccedilatildeo verbal

Nesta seccedilatildeo examinamos mais especificamente as estrateacutegias que levaram os participantes a interpretar com sucesso as expressotildees idiomaacuteticas Verificamos quais as estrateacutegias cognitivas efetivamente beneficiaram os participantes na hora de anunciar corretamente o sentido idiomaacutetico da expressatildeo

Ao cogitarmos vaacuterias estrateacutegias para a compreensatildeo de uma expressatildeo idiomaacutetica essa postulaccedilatildeo potildee em xeque algumas das hipoacuteteses psicolinguiacutesticas (leacutexicas e composicionais) que circulam entre psicolinguistas em geral excludentes bem com o curso temporal do processamento fraseoloacutegico (por exemplo a primazia

246

da interpretaccedilatildeo literal sobre a global ou vice-versa) jaacute bem estabelecidas pelos resultados de seus experimentos questotildees que retomamos mais adiante em nosso trabalho e jaacute podemos antecipar que no modelo estrateacutegico que defendemos o processamento eacute integrador e como numa muacutesica agoacutegico com sucessatildeo de taacuteticas ascendentes (bottom-up) e estrateacutegias descendentes (top-down) e combinaccedilotildees montadas pelos participantes por vezes imprevisivelmente heuriacutesticas

Acreditamos que as explicaccedilotildees dadas pelos principais psicolinguistas sobre o processamento fraseoloacutegico podem ser ainda melhor descritas a partir das estrateacutegias cognitivas que o falante emprega no esforccedilo de compreender expressotildees idiomaacuteticas desconhecidas ou natildeo familiares ou simplesmente opacas Por essa razatildeo experimentos psicolinguiacutesticos com falantes natildeo nativos (ou estrangeiros) de uma liacutengua dada podem desvelar realmente o que ocorre com a mente dos falantes quando se depararam com uma expressatildeo nova ou desconhecida

No modelo estrateacutegico de compreensatildeo idiomaacutetica vemos as hipoacuteteses leacutexicas e as hipoacuteteses composicionais como sendo interdependentes Pelo menos eacute o que podemos comprovar com os dados dos falantes que diante de expressotildees natildeo familiares ou opacas esforccedilaram-se atraveacutes de taacuteticas e estrateacutegias cognitivas na tentativa de desvelar seu sentido idiomaacutetico

As chamadas hipoacuteteses composicionais segundo as quais o processo de compreensatildeo das expressotildees idiomaacuteticas resulta necessariamente da anaacutelise gramatical total ou parcial das palavras e sintagmas que as compotildeem (BELINCHOacuteN1999 p364-369) satildeo vistas por um outro acircngulo em nossa pesquisa Primeiramente constituem-se psicolinguisticamente um conjunto de taacuteticas bottom-up (RP DA SI) traduzido em uma seacuterie sistemaacutetica de etapas no sentido de entender uma expressatildeo idiomaacutetica mas natildeo o suficiente para o falante acessar o seu sentido idiomaacutetico ou fraseoloacutegico

Uma expressatildeo como pagar mico que apresentou um alto percentual de idiomaticidade forte (ou opacidade) em nossa pesquisa em que pese o esforccedilo dos falantes natildeo nativos de analisar os sentidos parciais das palavras pagar e mico e o proacuteprio em que a expressatildeo aparecia o referido empreendimento natildeo foi decisivo para a compreensatildeo idiomaacutetica levando-os diante desta expressatildeo opaca a

247

solicitar informaccedilotildees (inclusive o SL isto eacute o sentido literal) ou ajuda teacutecnica de diversas ordens (AT AA por exemplo) para continuar a sua luta individual e caracteriacutestica em direccedilatildeo ao acesso fraseoloacutegico da expressatildeo

As hipoacuteteses leacutexicas segundo as quais as expressotildees idiomaacuteticas satildeo armazenadas em uma memoacuteria especial esta entendida como uma memoacuteria que natildeo formaria parte do leacutexico comum do falante permitiriam um acesso direto ao sentido idiomaacutetico

Para os falantes nativos as hipoacuteteses leacutexicas podem realmente explicar o processamento fraseoloacutegico de expressotildees familiares mas natildeo explicam o esforccedilo dos natildeo nativos de decifrar as expressotildees desconhecidas ou natildeo familiares Se os falantes nativos as lembram e satildeo capazes de identificar sua forma fixa ou reconhecer sua idiomaticidade entatildeo natildeo podemos falar estritamente em expressotildees opacas e sim expressotildees que ficam na ponta da liacutengua na iminecircncia de ter seu sentido idiomaacutetico anunciado ou dito mas se o sentido natildeo vecircm agrave tona ao certo poderemos apenas falar em uma falha na recuperaccedilatildeo (ou esquecimento) do sentido idiomaacutetico no leacutexico mental

Pudemos observar em nosso experimento off-line que as hipoacutetese leacutexicas se manifestaram predominantemente nas estrateacutegias top-down (AC L1 etc) mas natildeo de forma isolada isto eacute dependeram para serem bem-sucedidas dos esforccedilos depreendidos pelos participantes nas taacuteticas preparatoacuterias ou bottom-up

Para natildeo enviesarmos os dados de nossa pesquisa e particularmente identificarmos as estrateacutegias bem-sucedidas consideramos soacute os participantes com baixo niacutevel e meacutedio niacutevel de memoacuteria fraseoloacutegica isto eacute os que durante a aplicaccedilatildeo do Protocolo Verbal haviam declarado natildeo lembrar ou natildeo ter ouvido a expressatildeo idiomaacutetica ou quando lembravam ou declaravam ter ouvido antes natildeo conseguiam evocar seu sentido idiomaacutetico informaccedilotildees que pudemos comprovar imediatamente com suas respostas consideradas incorretas ou parcialmente corretas na tarefa 3 de verificaccedilatildeo da idiomaticidade fraseoloacutegica ou semacircntica

Considerando este criteacuterio de exclusatildeo como seleccedilatildeo de participantes verificamos apoacutes anaacutelise de suas respostas que de um total de 75 itens comentados 33 foram itens respondidos corretamente (ou seja receberam uma pontuaccedilatildeo 3 na tarefa 3 de

248

verificaccedilatildeo da idiomaticidade semacircntica) variando o nuacutemero de acertos de expressatildeo para expressatildeo o que representou depois deste procedimento ou enxugamento uma taxa de sucesso de 44 entre os participantes

Em ordem de classificaccedilatildeo as estrateacutegias que levam a interpretaccedilotildees corretas (ver tabela 1) foram as seguintes

(a) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir do contexto formal (Estrateacutegia AC 29)

(b) Adivinhar o sentido da expressatildeo idiomaacutetica a partir de alternativas de muacuteltipla escolha (Estrateacutegia AT 16)

(c) Usar o sentido literal da expressatildeo como uma chave para o seu sentido idiomaacutetico (Estrateacutegia SL 7)

(d) Usar os conhecimentos preacutevios para descobrir o sentido da expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia CP 28)

(e) Referir se a uma expressatildeo idiomaacutetica em L1 (crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) para entender a expressatildeo idiomaacutetica em L2 (a variante brasileira da Liacutengua Portuguesa) (Estrateacutegia L 17)

(f) Usar outras estrateacutegias (Estrategia OE 3) Embora em muitos casos os participantes tenham usado taacuteticas

bottom-up e mais de uma estrateacutegia top-down para ter sucesso apenas as que levaram diretamente agrave resposta correta isto eacute as top-down foram incluiacutedas nesta contagem

As taacuteticas de repetir ou parafrasear a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia RP) discutir e analisar a expressatildeo idiomaacutetica ou seu contexto sem adivinhar o sentido (Estrateacutegia DA) solicitar informaccedilotildees sobre a expressatildeo idiomaacutetica (Estrateacutegia SI) natildeo satildeo apresentados na Tabela 1 porque embora natildeo sejam completamente prescindiacuteveis no processamento fraseoloacutegico representam recursos cognitivos que permitiram aos participantes de modo geral ganhar tempo isto eacute postergar suas respostas agraves solicitaccedilatildeo feitas continuamente pelo experimentador aguardando assim melhor momento da entrevista para anunciaacute-las o que foi relevante para nossa pesquisa e principalmente para obtermos informaccedilotildees sobre o jogo adivinhatoacuterio e esclarecermos seus pensamentos antes de anunciar o sentido definitivo da expressatildeo

Merecem uma nota s trecircs taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) que representaram 50 do conjunto de procedimentos cognitivos utilizados pelos participantes para processarem a compreensatildeo

249

idiomaacutetica mas natildeo foram suficientes para os que natildeo lembravam seu sentido idiomaacutetico total ou parcialmente responderem corretamente agrave questatildeo proposta pelo experimentador

Abaixo seguem trecircs exemplos (trechos em versatildeo de transcriccedilatildeo ortograacutefica) de como as taacuteticas bottom-up (RP DA e SI) puderam configurar um palpite correto para que o participante pudesse chegar ao sentido idiomaacutetico da expressatildeo

(a) Usando RP Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante bom aqui nesse aqui acho que a expressatildeo aqui

seria seraacute eacute nesse caso matar cachorro a grito e eu acho que matar cachorro a grito seria ah que eacute passar por dificuldades passa por dificuldades extremas hellip neacute hellip tipo matar cachorro a rico a grito eacute uma coisa que vocecirc quiser querer matar um cachorro a grito vocecirc teraacute que sofrer muito hellip tem que gritar gritar muito ((riso do entrevistador)) e ter muita neacute muita garganta hellip e taacute falando aqui das prin das dificuldades neacute que os outros artiacutestico porque mostram os artistas um ou dois mas com certeza existem vaacuterios artistas no mundo e nem todos satildeo famosos hellip mas mesmo assim natildeo deixam de ser artistas hellip ((pigarro))

(b) Usando DA Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante gostaria Entrevistador que tipo de ajuda vocecirc quer Participante ((o participante reler trechos do texto em

balbucios)) hum o que se daacute pra entender eacute que o facto o fa a pessoa exerce um algum tipo de atividade a que noacutes a gente associa eacute que essa atividade vai nos tornar rico ou milionaacuterio alguma coisa do tipo matar cachorro a grito que o que daacute pra entender eacute que eacute uma expressatildeo que na verdade natildeo eacute bem assim soacute que a gente por pensar desse jeito acaba acaba influenciando todo mundo a pensar assim tambeacutem e todos noacutes acabamos dizendo que ele eacute rico eacute o que daacute pra entender de acordo com o texto

(c) Usando SI Entrevistador mico eacute eacute um animal eacute um pequeno primata

macaquinho pequeno eacute mico se alimentam principalmente de insetos e frutas isso te ajuda a entender a expressatildeo

Participante dar outra forma de explicar mais

250

Entrevistador que outra forma vocecirc quer quer um exemplo Participante um exemplo assim Entrevistador taacute certo outro exemplo um exemplo seria eacute

eu natildeo vou pra uma festa soacute de jovens eu jaacute tenho cinquenta anos

se eu chegar numa festa soacute de jovens eu posso pagar mico Participante ((silecircncio)) Entrevistador natildeo tem uma ideia Participante natildeo repita aiacute repita ((riso))

Estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Nos trechos que se seguem daremos exemplos das principais

estrateacutegias top-down empregadas pelos participantes no esforccedilo de encontrar o sentido idiomaacutetico das expressotildees consideradas opacas isto eacute expressotildees que os participantes haviam declarado natildeo lembrar ou ter ouvido ou lembravam mas natildeo sabiam o sentido

Na tabela 1 aparecem as taacuteticas bottom-up mas natildeo as destacamos nos trechos abaixo porque natildeo se tratam de recursos cognitivos como dissemos anteriormente em outras seccedilotildees determinantes para a definiccedilatildeo por parte dos participantes do sentido idiomaacutetico das expressotildees

As expressotildees estatildeo agrupadas em zoomorfismos somatismos e botanismos

Os trechos extraiacutedos do Corpus Afri referem-se agraves estrateacutegias top-down sobressalentes ZOOMORFISMOS

Matar cachorro a grito No cocircmputo geral a expressatildeo matar cachorro a grito com 23

estrateacutegias equivalente a 15 ficou em quarto lugar entre as bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 foram os recursos mais utilizados pelos informantes ambos com 23 do tempo

Com 18 ficaram as estrateacutegias AC AA e AT Natildeo houve registro de OE

251

Seguem abaixo dois trechos com estrateacutegias top-down destacadas no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador O brasileiro com baixo salaacuterio ele vive matando

cachorro a grito pra puder criar os filhos o brasileiro mata cachorro a grito

Participante Entatildeo matar cachorro a grito neacute entatildeo acho que quer dizer que uma uma pessoa tem que tem que se trabalhar muito os exemplo aqui vou dar um exemplo na minha aacuterea neacute os enfermeiros tem que ir pra enfermagem os enfermeiros ou teacutecnicos de enfermagemas vezes pra pessoa se sobreviver porque o salaacuterio eacute pouco a pessoa tem que ter mais de trecircs plantatildeo em locais diferentes entatildeo eu acho que essa ldquomatar cachorro a gritordquo tem haver com isso tem que ralar muito pra (ruiacutedo) Pra pra ter dinheiro (ruiacutedo) pra conseguir se sustentar (ruiacutedo)

(b) Usando L1 Entrevistador e e h um salaacuterio que natildeo daacute pra pessoa viver bem

hellip vive matando cachorro a grito hellip todo dia se taacute matando cachorro a grito hellip o que e h matar cachorro a grito

Participante tem outro outro sentido que a gente usa assim esse matar cachorro a grito hellip

Entrevistador vocecircs usam hellip qual o sentido Participante e h tipohellip dar caratecirchellip ((hipoacutetese de fala em

crioulo)) Entrevistador hum hellip Participante caratecirc hellip Entrevistador caratecirc Participante caratecirc hellip tem (hellip) Entrevistador como e h (hellip) Participante tem que tem que lutar muito pra conseguir hellip uma

coisa assim hellip tipo assim hellip com o pouco salaacuterio pra sustentar a casa

Entrevistador como e h que vocecircs dizem Participante (dar caratecirc ) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip caratecirc

hellip a luta japonecircs Entrevistador ah hellip dar caratecirc Participante e h hellip tem que lutar muito pra conseguir (hellip) ((riso))

252

Natildeo pagar mico A expressatildeo pagar mico com apenas 9 estrateacutegias equivalente

a 6 ficou em sexto e uacuteltimo lugar entre as que apresentaram estrateacutegias bem-sucedidas

Nesta expressatildeo referente agrave frequecircncia de uso basicamente foram trecircs as estrateacutegias bem-sucedidas para os participantes na tarefa de verificaccedilatildeo de idiomaticidade semacircntica Satildeo elas CP com 67 do tempo L1 com 22 e SL com 11

O que nos chamou a atenccedilatildeo foi esta expressatildeo natildeo requerer por parte dos participantes estrateacutegias como AC AT e OE registrando-se uma maior demanda de usos em estrateacutegia CP com 67 do tempo vindo em seguida as Estrateacutegias L1 e SL estas com percentuais bastante piacutefios

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias top-down sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP [Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica] Participante natildeo natildeo vi nenhuma Entrevistador natildeo entendeu Participante ldquo natildeo pagar micordquo Entrevistador ldquo natildeo pagar micordquo Participante eacute existe eu sei o que eacute tipo natildeo passar vergonha Entrevistador natildeo passar vergonha Participante eacute mas deve ser mas uma expressatildeo linguiacutestica

mas eu conheccedilo desde pequena aiacute eu num () Entrevistador ah vocecirc conhece laacute desde pequena () Participante eacute natildeo paga mico eacute sim conheccedilo (b) Usando L1 Entrevistador aparece aiacute tambeacutem hellip a expressatildeo eacute hellip ldquopagar

micordquo hellip vocecirc saberia me dizer o que eacute pagar mico () Participante ((riso nasal)) isso tambeacutem eu natildeo conhece eu falo

ldquoque micordquo hellip ((riso)) hellip pagar mico eacute pagar passar vergonha hellip

253

SOMATISMOS Tirar mais aacutegua do joelho Entre as seis expressotildees idiomaacuteticas a expressatildeo tirar mais aacutegua

do joelho ficou em segunda lugar com 29 estrateacutegias equivalente a 20 das demandas cognitivas

Entre as estrateacutegias de procura pelos informantes citamos a Estrateacutegia AT como a de maior destaque entre as estrateacutegias em busca do sentido idiomaacutetico da expressatildeo vindo em seguida a estrateacutegia AT com 31 das demandas cognitivas

A estrateacutegia AC compareceu ao processo de compreensatildeo idiomaacutetica dos participantes com 14 do tempo vindo em seguida com menores percentuais as estrateacutegias SL e L1 com 7 ambos

Natildeo houve registro da estrateacutegia OE Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AT Entrevistador vocecirc quer alguma ajuda Participante quero Entrevistador alguma dica Participante quero Entrevistador que tipo de dica vocecirc quer Participante um exemplo similar Entrevistador eacute algumas vezes quando eu estou numa mesa de

bar com amigos tomando cerveja quando estaacute na terceira ou quarta cerveja eu chego pro meu amigo e digo ldquoolha vou ao banheiro tirar aacutegua do joelhordquo aiacute eu vou laacute tiro aacutegua do joelho e volto e digo assim ldquoolha agora eu posso beber mais trecircs cervejas estou livre tirei aacutegua do joelho ((risos da informante)) e assim vou levando a noite inteira

Participante ah entatildeo tirar aacutegua do joelho quer dizer descarregar neacute aquilo que vocecirc bebeu urinar neacute

(b) Usando AC Entrevistador Apoacutes a leitura vocecirc reconhece alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante Eu reconheccedilo Entrevistador Qual eacute Participante Essa daqui Tomar cerveja quente faz a gente

tirar mai aacutegua do joelho

254

Entrevistador O que eacute tirar aacutegua do joelho Participante Com certeza eu acho que faz mais a pessoa

urinar ir pro banheiro de vez em quando Pocircr a boca no trombone A expressatildeo pocircr a boca no trombone com 17 estrateacutegias

equivalente a 11 apresentou o maior nuacutemero de estrateacutegias bem sucedidas

Duas estrateacutegias se destacaram no uso pelos participantes a estrateacutegia AC com 47 do tempo e a estrateacutegia L1 com 29 dos recursos cognitivos

Registrou-se o baixo uso de Estrateacutegias AT (em geral pedido de exemplos dados pelo experimentador ) com 7 natildeo sendo registradas estrateacutegias como SL e OE para o processo de compreensatildeo idiomaacutetica

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando AC Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante ldquo botar a boca no trombosordquo15 Entrevistador e qual seria o sentido Participante reclamou Entrevistador vocecirc conhece no seu paiacutes Participante conheccedilo natildeo Entrevistador vocecirc jaacute tinha ouvido no Brasil Participante natildeo ouvi natildeo Entrevistador eacute a primeira vez que vocecirc ver Participante hunrrum Entrevistador mas o quecirc que faz com que vocecirc descubra que esta

eacute uma expressatildeo ldquobotar a boca no trombonerdquo

15 Em conversa informal com informantes guineenses a expressatildeo botar a boca no tromboso (L1) por botar a boca no trombone (L2) nos sugere estarmos diante uma corruptela fraseoloacutegica decorrente maacute compreensatildeoaudiccedilatildeo e reproduccedilatildeo nas camadas mais simples de Guineacute-Bissau muito comum nas formas de eufemismo ou nos casos de uso de expressotildees considerada inapropriadas pelas camadas mais socialmente favorecidas

255

Participante porque ele estaacute cuidando de cidade e tem exemplos muitas coisas de violecircncia e como que ele eacute responsaacutevel o que acontecer na cidade ele tem que tem que explicar para todas as pessoas que querem saber aiacute ele natildeo quer tipo pra ele ficar soacute com as dificuldades e ele pediu e falou ou criticou para ter respostas no municiacutepio

(b) Usando L1 Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante identifica () Entrevistador identificou qual Participante pocircs a boca no trombone Entrevistador trombone () Participante tem uma coisa igual essa que o pessoal diz que a

pessoa mas essa aqui eu sei colocar boca na na trombeta pra falar neacute

Entrevistador com eacute bota vocecircs dizem botar a boca () Participante na trombeta Entrevistador na trombeta Participante eacute Entrevistador e quer dizer o quecirc botar a boca na trombeta Participante assim isso quer dizer que uma quando uma

pessoa natildeo se vocecirc natildeo estiver de acordo com uma coisa isso eacute mais tambeacutem mais com os poliacuteticos que tatildeo prejudicando os outros aiacute a pessoa fala o prefeito falar pela miacutedia pela televisatildeo aiacute eles dizem que a pessoa bota a boca na trombeta BOTANISMOS

Saber com quantos paus se faz uma canoa Cotejadas com as demais expressotildees saber com quantos paus se

faz uma canoa com uso de 23 estrateacutegias equivalente a 15 foi a que ficou em terceiro lugar entre as bem-sucedidas

Para a compreensatildeo da referida expressatildeo os participantes recorreram a Estrateacutegia AC com 43 do tempo destinado agraves estrateacutegias de adivinhaccedilatildeo vindo em seguida as Estrateacutegias CP e L1 com 32 e 17 respectivamente

256

As estrateacutegias AT e OE juntas somaram um percentual de 8 do tempo empregado em uso de estrateacutegias cognitivas

Natildeo houve registro de Estrateacutegia SL Seguem abaixo trecircs exemplos com estrateacutegias sobressalentes no

processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes (a) Usando AC Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma

canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela

vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(b) Usando CP Entrevistador apoacutes a leitura vocecirc identifica alguma expressatildeo

idiomaacutetica Participante certo Entrevistador vocecirc encontra alguma expressatildeo equivalente no

crioulo Participante ((curto silecircncio)) eu natildeo escuto assim neacute rotina

encontrar a palavra empossada todo dia neacute ldquoquantos paus faz uma canoardquo tambeacutem

Entrevistador esta expressatildeo ldquocom quantos paus se faz uma canoardquo vocecirc saberia dizer o que significa

Participante eacute ela vai saber com quantos paus uma canoa ela vai saber o quanto eacute difiacutecil o quanto natildeo eacute faacutecil aiacute em Cabo Verde a gente diz assim deixa eu ver a expressatildeo que minha avoacute usava muito eu esqueci agraves vezes a gente aprontava as coisa ela dizia

257

quanto vocecirc chegar eu vou te mostrar com eacute que se faz tal tal coisa mas no sentido de que vocecirc vai apanhar vocecirc vai cho()

Entrevistador certo () Participante hoje vocecirc vai chorar viu ((riso do entrevistador

ao fundo)) vai ser brincadeira natildeo vai ser mole natildeo entatildeo com () Entrevistador vocecirc acha que eacute o mesmo sentido Participante eacute eu entenderia que aqui ela taacute dizendo que

quando ela assumir o mandato ela vai ver que a coisa natildeo eacute brincadeira natildeo que eacute mais difiacutecil mais do quecirc ela taacute imaginando neacute

(c) Usando L1 Entrevistador essa expressatildeo ldquomostrar com quantos paus se faz

uma canoardquo hellip vocecirc jaacute conhecia esta expressatildeo Participante natildeo hellip assim natildeo hellip mas em Cabo Verde eacute (entatildeo

natildeo te ilune hellip vocecirc vai ver fogo) ((hipoacutetese de fala em crioulo)) ((risos))

Entrevistador ah eacute Participante e h ((risos)) Entrevistador e que dizer o quecirc Participante e h tipo vai ver com quantos paus se faz uma

canoa ((risos)) Entrevistador ((risos)) Participante ((risos)) eacute porque eu natildeo sei traduzir eacute justamente

expressatildeo idiomaacutetica Chutar o pau de barraca Das 150 estrateacutegias usadas pelas participantes em benefiacutecio da

compreensatildeo a expressatildeo chutar o pau de barraca entre as seis expressotildees foi a que demandou 44 estrateacutegias equivalente a 29 das demandas cognitivas registrando-se assim o maior percentual de estrateacutegias bem-sucedidas

As estrateacutegias CP e L1 com 23 foram as duas requisitadas pelos participantes vindo em seguida com 18 as estrateacutegias AC AT e SL

Na busca da compreensatildeo de chutar o pau da barra os participantes recorreram a estrateacutegia CP com 34 do seu tempo vindo em seguida a Estrateacutegia AC com 23 do tempo despendido no processamento fraseoloacutegico

258

As estrateacutegias AT e L1 ficaram com 14 do tempo de uso dos recursos cognitivos ficando as estrateacutegias SL e OE as estrateacutegias com menores percentuais isto eacute ficaram 9 e 6 respectivamente

Seguem abaixo dois exemplos com estrateacutegias sobressalentes no processo de compreensatildeo desta expressatildeo pelos participantes

(a) Usando CP Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica Participante ((silecircncio)) falta o povo chutar o pau da barraca Entrevistador muito bem vocecirc saberia me dizer o que significa

chutar o pau da barraca Participante ((silecircncio)) chutar o pau da barraca acho eu eacute

uma revolta Entrevistador hum por que vocecirc acha que eacute uma revolta Participante ah bom por exemplo assim por exemplo tu eacute

um candidato neacute e tu na campanha tu mostrou soacute promessa e ganhou eleiccedilatildeo e tu natildeo cumpriu e o povo fica revoltado contigo eu acho que eacute igual chutar o pau da barraca tu eacute uma barraca eles vatildeo criticar eles vatildeo ()

Entrevistador ah muito bem vocecirc jaacute conhecia essa expressatildeo ()

Participante nunca Entrevistador em Guineacute Participante nunca Entrevistador mas jaacute tinha ouvido aqui Participante aqui tambeacutem eacute nunca () Entrevistador nunca () Participante natildeo ouvi nunca Entrevistador aiacute mesmo assim conseguiu entender Participante entendi mais ou menos Entrevistador muito bem (b) Usando L1 Entrevistador vocecirc reconhece alguma expressatildeo idiomaacutetica aiacute Participante chutar o pau da barraca Entrevistador chutar o pau da barraca hellip vocecirc jaacute conhecia no

Brasil ou laacute em Cabo Verde ou aprendeu aqui no Brasil Participante natildeo porque e h assim hellip em Cabo Verde hellip

expressotildees que a gente usa hellip a gente usa em crioulo hellip Entrevistador hum hellip e em crioulo existe ()

259

Participante e h em crioulo hellip Entrevistador alguma equivalente a essa daiacute Participante deixa eu ver hellip chutar o pau da barraca hellip

((silecircncio)) Entrevistador qual o sentido que vocecirc dar () Participante chu chutar o pau da barraca hellip tipo hellip vou vou

largar tudo Entrevistador vai largar tudo hellip Participante largar tudo Entrevistador e como seria no crioulo hellip no teu crioulo Participante no meu crioulo eacute hellip hum hellip chutar o pau da barraca

hellip ((estalos ao fundo)) tipo a galera usa uma expressatildeo que significa hellip laacute em minha em crioulo de Santiago hellip que e h hellip que e h hellip (espadia peacute espadia peacute) ((hipoacutetese de fala em crioulo))hellip quer dizer estou saindo fora to saindo fora

Tabela 11 - Frequecircncia de estrateacutegias bem-sucedidas por expressatildeo

Expressotildees Idiomaacuteticas

Taacuteticas e Estrateacutegias de Compreensatildeo Idiomaacutetica

BOTTOM-UP TOP-DOWN

RP DA SI AC AA AT SL CP L1 OE

Matar cachorro a grito

15 05 09 04 - 04 04 05 05 01

Pagar mico 02 03 00 00 - 00 01 06 02 00

Tirar aacutegua do joelho

16 12 14 09 - 12 02 04 02 00

Pocircr a boca no trombone

09

00

01

08

- 01

00

03

05

00

Saber com quantos paus se faz uma canoa

17

05

01

12

-

01

00

09

05

01

Chutar o pau da barraca

21

06

14

10

-

06

04

15

06

03

260

Total 80 31 39 43 - 24 11 42 25 05

de todas usadas

27 10 13 14 8 4 14 8 2

Taacuteticas e Estrateacutegias usadas em todos os itens - 300

261

BREVES CONCLUSOtildeES

Tarefa 1 grau de identificaccedilatildeo fraseoloacutegica

Para a expressatildeo pocircr a boca no trombone de faacutecil identificaccedilatildeo

fraseoloacutegica e tirar aacutegua do joelho e saber com quantos paus se faz uma canoa de meacutedia identificaccedilatildeo fraseoloacutegica confirmamos a hipoacutetese de que a identificaccedilatildeo da fixaccedilatildeo fraseoloacutegica da expressatildeo idiomaacutetica pelo falante natildeo nativo favorece o correto emprego do seu sentido idiomaacutetico posto que as referidas expressotildees foram consideradas pelos informantes de idiomaticidade fraca (ou transparentes) As expressotildees matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca de faacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica e natildeo pagar mico de difiacutecil identificaccedilatildeo fraseoloacutegica foram consideradaras de idiomaticidade forte (opacas) Portanto entre os seis itens natildeo pagar mico foi a uacutenica expressatildeo de difiacutecil identificaccedilatildeo e com sua correspondente idiomaticidade forte Tarefa 2 grau de memoacuteria fraseoloacutegica

Comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB

natildeo processam itens armazenados em sua memoacuteria de longo prazo atraveacutes das expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma canoa e pocircr a boca no trombone por estarem psicolinguisticamente fixadas em L1(crioulo) ou L2 (liacutengua portuguesa) paga uma mico (L2) Mostrou ku kantu poacute ta fazedu um kanoa e Poi boka na mundo (L1)

As expressotildees natildeo pagar mico saber com quantos paus se faz uma

canoa e pocircr a boca no trombone apresentaram as meacutedias mais altas quanto ao alto grau de memoacuteria fraseoloacutegica Atraveacutes das respostas dos informantes em L1 pudemos comprovar a hipoacutetese de os falantes natildeo nativos do PB tem noccedilatildeo da frequecircncia de construccedilotildees linguiacutesticas jaacute guardadas e recuperadas da memoacuteria como um todo unitaacuterio Nas demais expressotildees isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho e chutar o pau da barraca natildeo comprovamos nenhuma destas duas hipoacuteteses acima mencionadas

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Para as expressotildees natildeo pagar mico e saber com quantos paus se faz uma canoa comprovamos a hipoacutetese de que os falantes natildeo nativos do PB tecircm na memoacuteria fraseoloacutegica ao mesmo tempo a expressatildeo idiomaacutetica e seus paracircmetros sintaacuteticos Nas demais expressotildees do experimento isto eacute matar cachorro a grito tirar aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e chutar o pau da barraca natildeo foi comprovada esta hipoacutetese

Tarefa 3 grau de idiomaticidade fraseoloacutegica

A hipoacutetese de que as expressotildees que designam nomes de animais

(zoomorfismos) e partes do corpo (somatismos) favorecem a idiomaticidade fraca (transparecircncia) por sua analisabilidade ou composicionalidade semacircntica natildeo foi confirmada para natildeo pagar mico e matar cachorro a grito Quanto a natildeo pagar mico muitos informantes afirmaram desconhecer o sentido literal da palavra mico e quanto a matar cachorro a grito entenderam-na no sentido literal Confirmamos a hipoacutetese para os somatismos tirar mais aacutegua do joelho e pocircr a boca no trombone considerados de idiomaticidade fraca (ou transparentes) contando para desvelar o sentido idiomaacutetico das referidas expressotildees com a ajuda teacutecnica e expressotildees equivalentes em L1 (tra agua de joelho16 e poi boka na mundo)

Para a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa natildeo confirmamos a hipoacutetese de que expressotildees designadoras de nomes relacionados a botanismos satildeo de idiomaticidade forte por serem semanticamente menos motivados Os conhecimentos linguiacutesticos preacutevios e expressotildees equivalentes em L1 (crioulo) tornaram ao contraacuterio a expressatildeo saber com quantos paus se faz uma canoa com a meacutedia mais alta em se tratando de reconhecimento idiomaacutetico

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma cano confirmamos a hipoacutetese de expressotildees idiomaacuteticas em L2 com padrotildees semelhantes

16 Segundo informantes do sexo feminino de Cabo Verde e Guineacute-Bissau os estudantes intercambistas no Cearaacute que no periacuteodo de feacuterias ou recesso acadecircmico retornam aos paiacuteses de origem levam consigo muitas expressotildees idiomaacutetica de uso frequente como eacute o caso de tirar aacutegua do joelho que aponta evidecircncia da transferecircncia de propriedades de L2 (liacutengua portuguesa na vertente brasileira) para L1 (em crioulo a expressatildeo neoloacutegica tra agua de joelho)

263

em L1 ou L2 (na vertente africana) satildeo mais faacuteceis de serem corretamente compreendidas pelos falantes natildeo nativos do PB A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Para as expressotildees tirar mais aacutegua do joelho Pocircr a boca no trombone e saber com quantos paus se faz uma canoa confirmamos a hipoacutetese de que o conhecimento do sentido de um ou mais elementos da expressatildeo idiomaacutetica (joelho trombone pau) torna acessiacutevel ao falante de Portuguecircs L2 a motivaccedilatildeo semacircntica (o sentido idiomaacutetico) da expressatildeo idiomaacutetica A hipoacutetese natildeo foi confirmada para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca

Confirmamos para as expressotildees natildeo pagar mico matar cachorro a grito e chutar o pau da barraca a hipoacutetese de que o fenocircmeno da idiomaticidade fraseoloacutegica supotildee uma dificuldade de compreensatildeo para falantes natildeo nativos do PB que desconhecem o sentido idiomaacutetico atribuiacutedo pela comunidade linguiacutestica agrave expressatildeo Os informantes de modo geral consideram estas trecircs expressotildees brasileiras e terem ouvido mas natildeo aprendido seu sentido idiomaacutetico atraveacutes das telenovelas e miacutedias (muacutesicas Internet etc) Tarefa 4 taacuteticas e estrateacutegias de compreensatildeo idiomaacutetica

Levando-se em conta as seis expressotildees do experimento pudemos

comprovar a hipoacutetese de que a idiomaticidade fraseoloacutegica pode ser influenciada pelas seguintes estrateacutegias top-down pelo contexto de situaccedilatildeo dado formal ou informal (AC) (iii) conhecimentos preacutevios dos participantes (CP) e (iv) conhecimentos linguiacutesticos em L1 (L1 relacionada ao crioulo cabo-verdianocrioulo guineense) Os dados da pesquisa poreacutem natildeo confirmam a hipoacutetese de que sentido literal da expressatildeo (SI) nem os conhecimentos linguiacutesticos em L1 satildeo determinantes para que os informantes natildeo nativos acessassem o sentido idiomaacutetico das seis expressotildees do experimento

Comprovamos a hipoacutetese de que o uso de estrateacutegias de compreensatildeo de expressotildees idiomaacuteticas em L2 varia de acordo com a competecircncia fraseoloacutegica de cada falante natildeo nativo do PB atraveacutes da variedade de uso de estrateacutegias top-down para cada uma das expressotildees idiomaacuteticas pelos informantes cabo-verdianos e guineenses sendo os cabo-verdianos os que mais exploraram as

264

estrateacutegias AC CP e L1 ao certo por receberam mais influecircncia da cultura brasileira atraveacutes dos intercacircmbios universitaacuterios das telenovelas muacutesicas e miacutedias diversas (internet)

Natildeo confirmamos a hipoacutetese de que quanto mais os informantes natildeo nativos do PB empregam estrateacutegias top-down no processamento fraseoloacutegico menos taacuteticas bottom-up precisam para compreender corretamente as expressotildees idiomaacuteticas Para as seis expressotildees os dados mostram que do ponto quantitativo as estrateacutegias top-down se igualaram ao nuacutemero de taacuteticas bottom-up sendo ativadas imediatamente depois de os informantes ativarem as taacuteticas bottom-up especialmente a repeticcedilatildeo e paraacutefrase da expressatildeo idiomaacutetica seguida de pedidos de ajuda teacutecnica

265

REFEREcircNCIAS

ABBAGNANO Nicola Dicionaacuterio de filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 2007 ALLIENDE Felipe e CONDEMARIacuteN Mabel Leitura teoria avaliaccedilatildeo e desenvolvimento Porto Alegre Artes Meacutedicas 1987 ALVARADO ORTEGA Maria Beleacuten Las foacutermulas rutinarias del espantildeol teoriacutea y aplicaciones Frankfurt am Main Peter Lang 2010 p 27-30 BAHAMEED Adel Salem ThinkndashAloud Protocols Translating Proverbs London Sayyab Books 2009 BALIEIRO JR Ari Pedro Psicolinguiacutestica In MUSSALIM Fernanda e BENTES Anna Christina (Orgs) Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica domiacutenios e fronteiras v2 Satildeo Paulo Cortez 2001p171-201 BALLY Charles Traiteacute de stylistique franccedilaise v 1 Genebra Paris Geog e Cre Klincksieck 1951 BELINCHOacuteN Mercedes Lenguaje no literal y aspectos pragmaacuteticos de la comprensioacuten In VEGA Manuel de e CUETOS Fernando (Orgs) Psicolinguistica del espantildeol Madrid Trotta 1999 Cap9 p 307-373 BLASCO MATEO Esther Similitudes entre periacutefrasis verbales de infinitivo con enlace y locuciones verbales de infinitivo In ALMELA R RAMOacuteN TRIVES E E WOTJAK G Fraseologiacutea contrastiva con ejemplos tomados del alemaacuten espantildeol franceacutes e italiano Murcia Universidade de Murcia 2005 P 197-210 BLOCK Ellen The comprehension strategies of second language readers In Tesol Quarterly nordm 20 1986 p 463ndash494 BOBROW S Y BELL S (1973) On catching on to idiomatic expressions Memory and Cognition 1 343-346 CACCIARI Cristina e TABOSSI Patrizia (Orgs) Idioms processing structure and interpretation Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Associates 1993 CACCIARI Cristina ldquoThe Place of Idioms in a Literal and Metaphoricalrdquo In CACCIARI Cristina e TABOSSI Patrizia (Orgs) Idioms Processing Structure and Interpretation Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Associates 1993 p 27-55 CASARES Julio Introduccioacuten a la lexicografiacutea moderna Madrid Consejo Superior de Investigaciones Cientiacuteficas [1950] 1969

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CASCUDO Luiacutes da Camara Locuccedilotildees tradicionais no Brasil Satildeo Paulo Global 2004 CASTILLO CARBALLO Mariacutea Auxiliadora El concepto de unidad fraseoloacutegica Revista de Lexicografia Vol IV 1997-1998 p 67-79 CERMAK František La identificacioacuten de las expresiones idiomaacuteticas In LUQUE-DURAN Juan de Dios e PAMIES-BERTRAN Antonio Lexico y Fraseologiacutea (Orgs) Granada Meacutetodo Ediciones 1998 p133-148 CHARAUDEAU Patrick e MAINGUENEAU Dominique Dicionaacuterio de anaacutelise do discurso Satildeo Paulo Contexto 2008 CHARTERS Elizabeth The Use of Think-aloud Methods in Qualitative Research An Introduction to Think-aloud Methods In Brock Education Vol 12 No 2 2003 COOPER THOMAS C Processing of Idioms by L2 Learners of English In Tesol Quarterly Vol 33 nordm 2 Summer 1999 P 233-262 CORPAS PASTOR Gloria Manual de fraseologiacutea espantildeola Madrid Gredos 1996 CORPAS-PASTOR Gloria Corrientes actuales de la investigacioacuten fraseoloacutegica en europa Disponiacutevel em Internet http91121164100dokeuskera25886pdf COSERIU Eugenio Linguiacutestica del texto introduccioacuten a la hermenecircutica del sentido Madrid Arco 2007 CRESPO Nina e CACERES Pablo La comprension oral de las frases hechas un fenomeno de desarrollo tardio del lenguaje In RLA Revista de Linguiacutestica Teoacuterica y Aplicada Concepcioacuten (Chile) 44 (2) II Sem 2006 p 77-90 CROFT William e CRUSE D Alan Linguiacutestica cognitiva Madrid Akal 2008 CUENCA Maria Josep e HILFERTY Joseph Introducioacuten a la linguiacutestica cognitiva Barcelona Ariel Linguiacutestica 1999 DETRY Florence Estrategias memoriacutesticas y aprendizaje de las expresiones idiomaacuteticas en lengua extranjera el papel cognitivo de la iconicidad fraseoloacutegica Tese (Doutorado em Linguiacutestica) - Departamento de Filologiacutea y Filosofiacutea Universidad de Girona Girona 2010 ELOINA SCHERER Amanda Uma trajetoacuteria em busca do saber Uma referecircncia na histoacuteria das ideacuteias linguiacutesticas no RS - Entrevista com Leonor Scliar Cabral In fragmentum nordm 6 Laboratoacuterio Corpus UFSM 2004 p1-34

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ESCANDELL VIDAL M Victoria Fundamentos de semaacutentica composicional Barcelona Ariel Linguiacutestica [2004] 2011 FERRARI Liliam Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica cognitiva Satildeo Paulo Contexto 2011 FILLMORE Charles J et ali ldquoRegularity and Idiomaticity in Grammatical Constructions The Case of Let Alonerdquo In Language Vol 64 No 3 (1988) pp 501-538 Disponiacutevel em httplingostanfordedusagpapersfillmore2B88pdf Acesso em 18102010 FLORES DrsquoARCAIS G B (1993) The comprehension and semantic interpretation of idioms In CACCIARI C E TABOSSI P (Orgs) Idioms Processing structure and interpretatio Hillsdale NJ Erlbaum 1993 P 79ndash98 FREGE G Estudios sobre semacircntica Barcelona Ariel 1971 FULGEcircNCIO Luacutecia Expressotildees fixas e idiomatismos do portuguecircs brasileiro Tese de doutorado em Linguiacutestica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais Belo Horizonte 2008 506f GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ M Contribuibucioacuten del leacutexico en la opacidad de las locuciones In MOGORROacuteN HUERTA Pedro e MEJRI Salah (Orgs) Opacidad idiomaticidad traduccioacuten Alicante Universidade de Alicante Paris Universiteacute Paris Manouba Universiteacute de la Manouba 2010 P129-149 GARCIacuteA-PAGE SAacuteNCHEZ Mario Introduccioacuten a la fraseologiacutea espantildeola estudio de las locuciones Rubiacute (Barcelona) Antropos 2008 GARCIacuteA-PAGE Mario La fraseologia em Espantildea de Casares (1950) a la nueva gramaacutetica de la Real Academia In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa Satildeo Paulo Pontes 2011 GARRAtildeO Milena de Uzeda A identificaccedilatildeo de expressotildees idiomaacuteticas verbis com base em corpora In ALVAREZ Maria Luisa Ortiz (Org) Tendecircncias atuais na pesquisa descritiva e aplicada em fraseologia e paremiologia v2 Campinas SP Pontes 2012 p125-131 GIBBS JR Raymond W Et ali Metaphor in Idiom Comprehension In Journal of Memory and Language 37 1997 p 141ndash154 GIBBS R On the process of understanding idioms In Journal of Psycholinguistic Research 14(5) 1985 p465-472 GONZAacuteLEZ REY Mariacutea Isabel La nocioacuten de haacutepax en el sistema fraseoloacutegico franceacutes y espantildeol In ALMELA et ali Fraseologiacutea

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contrastiva con ejemplos tomados del alemaacuten espantildeol franceacutes e italiano Murcia Universidade de Murcia 2005 P 313-327 GONZAacuteLEZ-REY I La didactique du franccedilais idiomatique Fernelmont EME 2007 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica un eido da fraseoloxiacutea aplicada In Cadernos de fraseoloxiacutea galega ISSN 1698-7861 Nordm 6 2004 pags 113-130 Disponiacutevel em Internet httpwwwcirpespubdocscfg06pdf Acesso em 12092009 GONZAacuteLEZ-REY Maria Isabel (dir) Adquisicioacuten de las expresiones fijas metodologiacutea y recursos didaacutecticos [Idioms Acquisition metdhodology and didactic resources] Fernelmont EME 2007 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica e o Marco europeo comuacuten de referencia para as linguas In Cadernos de fraseoloxiacutea galega ISSN 1698-7861 Nordm 8 2006 pags 123-146 Disponiacutevel em Internet httpwwwcirpespubdocscfg08pdf Acesso em 12092009 GONZAacuteLEZ-REY Mariacutea Isabel A fraseodidaacutectica un eido da fraseoloxiacutea aplicada In Cadernos de fraseoloxiacutea galega nordm 6 2004 p 113-130 GOODMAN K S Reading a psycholinguistic guessing game In Journal of the Reading Specialist nordm 4 1967 p126-135 GRICE H P Loacutegica e conversaccedilatildeo In DASCAL Marcelo (Org) Fundamentos Metodoloacutegicos da Linguiacutestica Vol IV Campinas Unicamp 1982p 81-103 HOUAISS Antocircnio e VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 INtildeESTA MENA Eva Mariacutea amp PAMIES BERTRAacuteN Antonio Fraseologiacutea y metaacutefora aspectos tipoloacutegicos y cognitivos Granada Granada Linguiacutestica 2002 IRUJO Suzanne Donrsquot Put Your Leg in Your Mouth Transfer in the Acquisition of Idioms in a Second Language In Tesol Quarterly vol 20 nordm 2 Jun 1986 LAKOFF George e JOHNSON Mark Metaacuteforas da vida cotidiana Satildeo Paulo EDUC 2002 LEITAtildeO Maacutercio Martins Psicolinguiacutestica experimental focalizando o processamento da linguagem In MARTELOTTA Maacuterio Eduardo (Org) Manual de linguiacutestica Satildeo Paulo Contexto 2009 P 217-234 LIN Phoebe M S e ADOLPHS Svenja Sound evidence Phraseological units in spoken corpora In BARFIELD A E GYLLSTAD H (Orgs)

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Researching collocations in another language Multiple interpretations Basingstoke Palgrave Macmillan 2009 p 34-48 LOacutePEZ DELGADO Mariacutea de la Luz Estrategias de comprensioacuten Cuenca UCLM 2005 MACEDO Ana Cristina Pelosi de e BUSSONS Aline Freitas (Orgs) Faces da metaacutefora Fortaleza Expressatildeo Graacutefica 2006 MACEDO Ana Cristina Pelosi de Cogniccedilatildeo e linguiacutestica In MACEDO Ana Cristina Pelosi de FELTES Heloisa Pedrsoso de Moraes e FARIAS Emiacutelia Maria Peixoto (Orgs) Cogniccedilatildeo e linguiacutestica explorando territoacuterios mapeamentos e percursos Caxias do Sul RS EDUCS Porto Aegre EDIPUCRS 2008 P9-37 MAINGUENEAU D Termos-chave da anaacutelise do discurso Belo Horizonte EdUFMG 2006 MARTIacuteNEZ MONTORO Jorge La fraseologiacutea en J Casares In PASTOR CESTEROS Susana e SALAZAR GARCIacuteA Ventura (Orgs) Estudios de Linguiacutestica Universidad de Alicante 2002 MEJRI Salah Deacutelimitation des uniteacutes phraseacuteologiques In ALVAREZ Maria Luisa Ortiz (Org) Tendecircncias atuais na pesquisa descritiva e aplicada em fraseologia e paremiologia v1 Campinas SP Pontes 2012 p139-156 MELLADO BLANCO Carmen Fraseologismos somaacuteticos del alemaacuten Un estudio leacutexico-semaacutentico Frankfurt am Main Peter Lang 2004 MOGORROacuteN HUERTA P Anaacutelisis de la competencia fraseoloacutegica como factor de opacidad In Fraseologiacutea Opacidad y Traduccioacuten Frankfurt an Main Peter Lang GmbH 2013p 83ndash96 MOGORROacuteN HUERTA Pedro La opacidad en las construcciones verbales fijas In MOGORROacuteN HUERTA Pedro e MEJRI Salah (Orgs) Opacidad idiomaticidad traduccioacuten Alicante Universidade de Alicante Paris Universiteacute Paris Manouba Universiteacute de la Manouba 2010 p 237-259 MOLINA GARCIacuteA Daniel Fraseologia biliacutengue un enfoque lexicograacutefico-pedagoacutegico Granada Editorial Comares 2006 MONTEIRO-PLANTIN Rosemeire Selma Gastronomismos linguiacutesticos um olhar sobre fraseologia e cultura In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Satildeo Paulo Pontes 2011 p 249-275

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MONTORO DEL ARCO Esteban Teoriacutea fraseoloacutegica de las locuciones particulares Las locuciones prepositivas conjuntivas y marcadoras en espantildeol Frankfurt Peter Lang 2006 NACISCIONE Anita Phraseological units in literary discourse Implications for teaching and learning In CAUCE - Revista de Filologiacutea y su Didaacutectica nordm 24 2001 p 53-67 NASCENTES Antenor Tesouro da fraseologia brasileira Rio de Janeiro Freitas Bastos 1966 NEGRO ALOUSQUE Isabel La traduccion de las expresiones idiomaticas marcadas culturalmente In Revista de Linguiacutestica y Lenguas Aplicadas vol 5 2010 p 133-140 NEVEU Franck Dicionaacuterio de ciecircncias da linguagem Petroacutepolis RJ Vozes 2008 NOacuteBREGA Bruna Filipa de Sousa Os lapsus linguae e o leacutexico mental Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Terapia da Fala) 2010 141f - Escola Superior de Sauacutede do Alcoitatildeo Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa Instituto de Ciecircncias da Sauacutede Universidade Catoacutelica Portuguesa Alcoitatildeo 2010 NUNBERG Geoffrey SAG Ivan A e WASOW Thomas Idioms Language Vol 70 no 3 (1994) 49 p491-538 OLZA MORENO Ineacutes Aspectos de la semaacutentica de las unidades fraseoloacutegicas La fraseologiacutea somaacutetica metalinguiacutestica del espantildeol 2009 581f Tese (Doutorado em linguiacutestica hispacircnica) ndash Programa de Doctorado em Linguiacutestica Hispaacutenica Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Navarra 2009 Disponiacutevel em httpdspaceunavesdspacebitstream1017169851Tesis20InC3a9s20Olzapdf PAMIES BERTRAacuteN Antonio (2007) ldquoDe la idiomaticidad y sus paradojasrdquo In CONDE TARRIacuteO Germaacuten (Org) Nouveaux apports agrave lrsquoeacutetude des expressions figeacutees Cortil-Wodon EME amp InterCommunications SPRL 2007 p173-204 PEREIRA Eduardo Carlos Gramaacutetica expositiva curso superior Satildeo Paulo CEN [1907] 1957 PERINI Maacuterio A Gramaacutetica do portuguecircs brasileiro Satildeo Paulo Paraacutebola 2010 PORTO DAPENA Joseacute-Aacutelvaro Manual de teacutecnica lexicograacutefica Madrid Arco 2002

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PRETI Dino Apresentaccedilatildeo In PRETI Dino (Org) Anaacutelise de textos orais Projetos Paralelos ndash NURCSP 5ed Satildeo Paulo Humanitas 2001 pp11-12 QUADRO EUROPEU COMUM DE REFEREcircNCIA PARA AS LIacuteNGUAS ndash APRENDIZAGEM ENSINO AVALIACcedilAtildeO Porto Conselho da EuropaAsa 2001 Disponiacutevel em httpwwwasaptdownloadsQuadro_Europeu_001_072pdf Acesso em 12122009 QUEPONS RAMIacuteREZ Cecilia El proceso de desautomatizacioacuten en la fraseologiacutea espantildeola un acercamiento In Memorias del V Foro de Estudios en Lenguas Internacional (FEL 2009) Universidad de Quintana Roo ndash Departamento de Lengua y Educacioacuten p409-506 ROSSI-LANDI Ferruccio Ideologiacuteas de la relatividad linguiacutestica Buenos Aires Nueva Visioacuten [1972] 1974 RUIZ GURILLO Leonor Ejercicios de fraseologiacutea Madrid Arco 2002 RUIZ GURILLO Leonor Interrelaciones entre gramaticalizacioacuten y fraseologiacutea en espantildeol In Revista De Filologiacutea Espantildeola (RFE) XC 1o 2010 p173-194 SACCONI Luiz Antonio Grande dicionaacuterio Sacconi da liacutengua portuguesa comentado criacutetico e enciclopeacutedico Satildeo Paulo Nova Geraccedilatildeo 2010 SALIBA Maacutercia de Carvalho Unidades lexicais maiores que a palavra descriccedilatildeo linguiacutestica consideraccedilotildees psicolinguiacutesiticas e implicaccedilotildees pedagoacutegicas 2000 122f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em LetrasLinguiacutestica Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2000 SALOMAtildeO Maria Margarida Martins Tudo certo como dois e dois satildeo cinco todas as construccedilotildees de uma liacutengua In MIRANDA Neusa Salim e SALOMAtildeO Maria Margarida Martins (Orgs) Construccedilotildees do portuguecircs do Brasil da gramaacutetica ao discurso Belo Horizonte UFMG 2009 P33-74 SAUSSURE Ferdinand Curso de linguiacutestica geral Satildeo Paulo Cultrix [1916] 2012 SCLIAR-CABRAL Leonor Introduccedilatildeo agrave psicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1991 SCLIAR-CABRAL Leonor Psicolinguiacutestica uma entrevista com Leonor Scliar-Cabral IN ReVELVol 6 n 11 agosto de 2008 Disponiacutevel em httpwwwrevelinfbrfilesentrevistasrevel_11_entrevista_scliar_cabralpdf

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SEARLE John R Expressatildeo e sentido estudos da teoria dos atos da fala Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 SILVA Maria Eugecircnia Oliacutempio de Oliveira Dicionaacuterios armas de dois gumes no estudo da fraseologia O caso das locuccedilotildees In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva (Orgs) Uma (re)visatildeo da teoria e da pesquisa fraseoloacutegicas Campinas SP Pontes 2011 P161-182 SMITH Frank Leitura significativa Porto Alegre Artmed 1999 SOLEacute Isabel Estrateacutegias de leitura Porto Alegre Artmed 1998 STERNBERG Robert J Psicologia cognitiva Porto Alegre Artmed 2008 SWINNEY D E CUTLER A ldquoThe acess and processing of idiomatic expressionsrdquo In Journal of Verbal Learning and Verbal Behaviour 1979 nordm18 p 645-659 Disponiacutevel em Internet httprepositoryubnrunlbitstream20661560815998pdf Acesso em 26032010 TAGNIN Stella EO O jeito que a gente diz expressotildees convencionais e idiomaacuteticas Satildeo Paulo Disal 2005 TIMOFEEVA Larissa Acerca de los aspectos traductoloacutegicos de la fraseologiacutea espantildeola 2008 594f Tese (Doutorado em Letras) Departamento de Filologiacutea EspantildeolaLinguiacutestica General y Teoriacutea de la Literatura Facultad de Filosofiacutea y Letras Universidad de Alicante Alicante 2008 TOMITCH Lecircda Maria Braga Aspectos cognitivos e instrucionais da leitura Bauru SP EdUSC 2008 TULVING E How many memory systems are there American Psychologist 40 1985 Pp 385-39 VARELA Francisco J THOMPSON Evan e ROSCH Eleanor A mente incorporada ciecircncias cognitivas e experiecircncia humana Porto Alegre Artmed 2003 VEGA-MORENO Rosa Elena Representingand processing idioms In Working Papers in Linguistics v 15 2003 p73-109 Disponiacutevel em Internet httpwwwphonuclacukhomePUBWPL01papersvegapdf Acesso em 11022011 WITTGENSTEIN Ludwig Gramaacutetica filosoacutefica Satildeo Paulo Loyola 2003 XATARA Claudia Maria O campo minado das expressotildees idiomaacuteticas In Alfa Satildeo Paulo 42(nesp) 1998 p147-159

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ZULUAGA GOMEZ Francisco Locuciones dichos y refranes sobre el lenguaje unidades fraseoloacutegicas fijas e interaccioacuten verbal In Forma funcion Santaf de Bogot DC [online] 2005 n18 p 250-282 ZULUAGA Alberto Introduccioacuten al estudio de las expresiones fijas Frankfurt am Maim Peter D Lang 1980 ZULUAGA Alberto La fijacioacuten fraseoloacutegica In Thesaurus BICC (Boletiacuten del Instituto Caro Y Cuervo) XXX nuacuteml 1975 p 225-248

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ANEXOS

Lista completa de expressotildees idiomaacuteticas do experimento

EXPERIMENTO

Zoomorfismos

1Matar cachorro a grito

2 Natildeo pagar mico

Somatismos

3Tirar mais aacutegua do joelho

4Pocircr a boca no trombone

Botanismos

5Saber com quantos paus se faz uma canoa

6Chutar o pau da barraca

Teste de Reconhecimento Idiomaacutetico (TRI) seguindo o modelo de Cooper (1999) I - ZOOMORFISMOS

CARTAtildeO 1

Costuma-se pensar que artistas de modo geral inclusive os escritores satildeo ricos Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daiacute se difunde a crenccedila de que artista eacute rico quando na verdade matar cachorro a grito eacute atividade das mais exercidas pela maioria deles mundialmente (In Joatildeo Ubaldo Ribeiro Caderno Cultura Notiacutecias O Estado e Satildeo Paulo 20 de marccedilo de 2011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 2

Para quem natildeo quer pagar mico na escolha de um pacote de viagem de formatura eacute oportuno atentar para algumas dicas deve-se ouvir sempre as sugestotildees de quem jaacute embarcou com a agecircncia ou operadora escolhidas consulte o CNPJ da empresa para colher mais

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informaccedilotildees e preccedilo baixo natildeo significa que o jovem teraacute uma boa viagem pois o custo-benefiacutecio pode ser pequeno(In Caderno Tur DN 17052012) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

II- SOMATISMOS

CARTAtildeO 3

Existem perguntas que talvez vocecirc soacute tinha feito a si mesmo (e portanto nunca obteve resposta) A primeira por que depois da primeira ida ao banheiro a vontade de urinar aumenta Isso ocorre em parte porque o aacutelcool inibe a accedilatildeo do hormocircnio antidiureacutetico o que aumenta o volume da urina A segunda tomar cerveja quente faz a gente tirar mais aacutegua do joelho Natildeo A velocidade de absorccedilatildeo dos liacutequidos eacute maior para as bebidas frias (In Coluna Claacuteudio Cabral Caderno Zoeira DN 09082007) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

CARTAtildeO 4

Indignado com os desmandos em Chaval uma pequenina cidade ai extremo norte do Estado (a 401 km de Fortaleza) um advogado que atua na aacuterea Jorge Umbelino pocircs a boca no trombone e em seu blog lamentou a falta de resposta do Judiciaacuterio para crimes no municiacutepio (In Heacutelio Passos Coluna Em vez Caderno Gente DN 20022011) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

III ndash BOTANISMOS

CARTAtildeO 5

A partir do dia primeiro de janeiro quando for empossada a Dilma vai saber com quantos paus se faz uma canoa Ela vai se arrepender ateacute o uacuteltimo fio de cabelo de sua pobre cabeccedila ter aceitado ser a candidata do Lula porque tudo o que ele quer eacute continuar mandando (In Braz dos Santos comentaacuterio ao Caderno Paiacutes JB 1210) Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

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CARTAtildeO 6

Sinto falta do Cazuza do Ney Matogrosso Acho que o uacutenico transgressor ainda eacute Caetano Falta o povo chutar o pau da barraca Queria ver Roberto Carlos de preto cantando samba Queria ver coisas diferentes pede A conversa podia seguir mas eacute hora de desligar (in Luiz Caldas entrevista a Caderno Zoeira Diaacuterio do Nordeste 27112009 Vocecirc identifica no texto lido alguma expressatildeo idiomaacutetica

Experimento 2 Teste de Muacuteltipla Escolha (TME seguindo o modelo de Flores drsquoArcais (1993) I - ZOOMORFISMOS

1 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Quase sempre que a presidente Dilma Rousseff vem ao Cearaacute assina liberaccedilatildeo de verbas para isso e aquilo Fica-se a pensar pelo discurso aplaudido (embora ilusoacuterio) que o dinheiro chega no dia seguinte E natildeo chega Cid Gomes com sorrisos de aparecircncia vive a engolir sapos (In Coluna Regina Marshall Caderno 3 DN 06032012)

A expressatildeo ENGOLIR SAPOS significa a( ) Deglutir anfiacutebios sem cauda de pele rugosa

b( ) Receber aplausos por liberaccedilatildeo de verbas

c ( ) Tolerar situaccedilotildees desagradaacuteveis sem responder

2 QUESTAtildeO 3H - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Uma das maiores atraccedilotildees do megassucesso Avenida Brasil novela da Rede Globo eacute a atriz Isis Valverde como a periguete boliviana Sueacutelen boa de cama e de mesa que faz gato e sapato dos coraccedilotildees masculinos do Divino com seu mix de maliacutecia e ingenuidade espontaneidade e malandragem e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar (In Nelson Motta O Estado de Satildeo Paulo 13 de julho de 2012)

A expressatildeo FAZER GATO E SAPATO significa

a ( ) Fazer de (algueacutem) o que se quer

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b ( ) Criar felino e calccedilado de sola dura

c ( ) Seduzir periguete com maliacutecia

II- SOMATISMOS

3 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Em linhas gerais para quem natildeo quer esquentar a cabeccedila nem correr maiores riscos o mercado indica a destinaccedilatildeo de parcela miacutenima dos recursos natildeo mais de 10 em fundo de accedilotildees tendo como horizonte prazo de no miacutenimo cinco anos (In Caderno Negoacutecios DN 27052002)

A expressatildeo ESQUENTAR A CABECcedilA significa

a ( ) Aquecer parte do cracircnio

b ( ) Ficar muito preocupado

c ( ) Indicar prazo miacutenimo

4 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

O diretor do Big Brother Brasil J B de Oliveira o Boninho pegou um rabo de foguete ao assumir o reality show comprado agrave Endemol para muitos uma ideacuteia fascista que aproveita a sede de fama e dinheiro de boa parte da populaccedilatildeo para trancafiar anocircnimos numa casa e escancarar as fraquezas que se potencializam no confinamento(In Marcelo Migliaccio Caderno Ilustrada Folha de Satildeo Paulo 28072002)

A expressatildeo PEGAR EM RABO DE FOGUETE significa

a ( ) Prender pessoas desconhecidas ou fascistas

b ( ) Segurar a cauda do rojatildeo ou do fogo de artifiacutecio

c ( ) Assumir compromisso complicado ou perigoso III ndash INDUMENTISMOS

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Cuidado Tem especulador botando as manguinhas de fora aumentando os preccedilos das mercadorias atrelando-as ao doacutelar Deixe a preguiccedila de lado e saia em campo Pesquise pechinche e recuse os aumentos principalmente os abusivos buscando alternativas Defenda o seu real(In Colunistas DN 10031999)

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A expressatildeo BOTAR AS MANGUINHAS DE FORA significa

a ( ) Aumentar o valor do real ou do doacutelar

b ( ) Perder a vergonha ou o acanhamento

c ( ) Pocircr as pequenas ou as poucas vestes agrave mostra

6 QUESTAtildeO - Leia atentamente o texto e responda agrave questatildeo

Na uacuteltima terccedila a Globo apresentou ldquoO profetardquo agrave imprensa A novela estreacuteia dia 16 agraves 18h As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid rasgaram muita seda Mas tambeacutem mostraram que sabem brincar Depois de ouvir um elogio de Thelma a ela Duda natildeo titubeou ldquoQuero ver se na correria da novela ela continuaraacute assimrdquo Risada geral(Caderno Zoeira DN 08102006)

A expressatildeo RASGAR SEDA significa

a ( ) Fazer tecido em pedaccedilos ou tiras

b ( ) Trocar amabilidades ou gentilezas

c ( ) Ouvir brincadeiras ou risadas

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SOBRE O AUTOR

Natural de Iguatu (CE)

Nasceu em 1961 Filho de Pedrina Maria da Silva Martins lavadeira matildee generosa e visionaacuteria que muito se empenhou na sua formaccedilatildeo baacutesica e se engajou diligentemente no seu ingresso e a permanecircncia no Coleacutegio Militar de Fortaleza (CMF) no periacuteodo de 1976 a

1982 Natildeo conheceu o pai Ao deixar o CMF graduou-se em Letras pela Universidade Estadual do Cearaacute (1987) fez mestrado em Educaccedilatildeo pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (FACED 1996) da Universidade Federal do Cearaacute com a dissertaccedilatildeo ldquoConstituiccedilatildeo e educaccedilatildeo anaacutelise evolutiva da educaccedilatildeo na organizaccedilatildeo constitucional do Brasilrdquo sob a orientaccedilatildeo do Dr Andreacute Haguette (UFC) e doutorado em Linguiacutestica (2013) com a tese ldquoEstrateacutegias de Compreensatildeo de Expressotildees Idiomaacuteticas por Natildeo Nativos do Portuguecircs Brasileirordquo sob a orientaccedilatildeo da Dra Rosemeire Selma Monteiro-Plantin (UFC) pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica (PPGL) da Universidade Federal do Cearaacute Em 1989 participou do processo de elaboraccedilatildeo do Capiacutetulo da Educaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo do Estado do Cearaacute com a proposiccedilatildeo e aprovaccedilatildeo de 20 artigos educacionais que hoje figuram na Carta Estadual Em 1990 tambeacutem colaborou na elaboraccedilatildeo da Lei Orgacircnica de Fortaleza com a aprovaccedilatildeo de ao menos 30 artigos na aacuterea educacional que hoje fazem parte da Carta Municipal Desde 1994 em virtude de concurso puacuteblico mudou-se com a famiacutelia para Sobral (a 220 km de FortalezaCE) onde atua como docente de Linguiacutestica do Curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Aleacutem de dedicar-se entusiasticamente a pesquisas linguiacutesticas (Psicolinguiacutestica Fraseologia Etimologia e Descriccedilatildeo do Portuguecircs)

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tem se interessado em estudos educacionais (Legislaccedilatildeo Educacional BNCC Acordo Ortograacutefico EJA Educaccedilatildeo Baacutesica Educaccedilatildeo Inclusiva etc) e atuado ativamente nas aacutereas de Formaccedilatildeo de Professores em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo e como docente nos cursos de Especializaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e Psicopedagogia respectivamente Durante 10 anos atuou na aacuterea de ensino de Liacutengua Portuguesa e de liacutengua espanhola na educaccedilatildeo baacutesica em Fortaleza Lotado no Curso de Letras do Centro de Filosofia Educaccedilatildeo e Letras (CENFLE) da UVA em Sobral tem ao longo dos anos ministrado disciplinas como Foneacutetica e Fonologia do Portuguecircs Aquisiccedilatildeo da Linguagem e Estiliacutestica do Portuguecircs aacutereas em que escreveu muitos artigos cientiacuteficos e livros Na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tem participado como examinador externo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Universidade Federal do Cearaacute (UFC) e de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenou na UVA de 2015 a 2017 o subprojeto de Letras (Liacutengua Portuguesa) do Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBID) e coordenou de 2018-2020 o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica da CAPESMEC Possui Estaacutegio Poacutes-Doutoral em Linguiacutestica no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia sob a supervisatildeo da Profordf Dra Livia Marcia Tiba Radis Baptista (UFBA) com a pesquisa ldquoFrasemaacuterio Cultural Identificaccedilatildeo Classificaccedilatildeo e Constituiccedilatildeo de Corpus de Culturemas nos Romances do Nordeste Brasileirordquo (2016-2017) No momento cursa seu segundo estaacutegio de poacutes-doutorado pela UFC (2019-2020) na aacuterea de Linguiacutestica com pesquisa sobre ldquoOs Culturemas no Discurso Liacutetero-Musical das Letras de Canccedilatildeo Brasileirardquo sob a supervisatildeo da Profordf Dra Roseimeire Selma Monteiro-Plantan (UFC) Mais recentemente publicou livros nas aacutereas de educaccedilatildeo linguiacutestica ensino de liacutengua portuguesa e poesias todos pela editora Pedro amp Joatildeo Editores (consultar tiacutetulos em httpwwwpedroejoaoeditorescombr) Contatos para eventos e palestras em todo o Brasil presenciais ou virtuais favor enviar convite ou proposta para vicentemartinsuolcombr

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SOBRE A HOMENAGEADA

Florence Detry eacute Licenciada em Filologia Romacircnica (Universiteacute Catholique de Louvain Beacutelgica) com mestrado em Ensino do Espanhol como Liacutengua Esttrangeira (Universidad Complutense de Madrid) e doutorado pela Universidad de Gerona Seu acircmbito de especializaccedilatildeo e linha de pesquisa

se concentram no processo cognitivo de aprendizagem da fraseologia em uma liacutengua estrangeira (particularmente espanhol e francecircs) e nas repercussotildees didaacuteticas correspondentes Eacute autora de vaacuterias publicaccedilotildees sobre este tema e de um livro ilustrado para a fraseologia do catalatildeo L2 (De cap a peus Fitxer ilmiddotlustrat de frases fetes per a la classe de catalagrave (L2) Miacutenima llibres 2014) Atualmente eacute docente nas escolas universitaacuterias anexas agrave Universidad de Gerona

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