luna, francisco vidal. minas gerais: escravos e senhores. análise

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1 LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise da Estrutura Populacional e Econômica de Alguns Núcleos Mineratórios (1718-1804). São Paulo, FEA-USP, 1980, 224 p. Tese não publicada, mimeo.

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LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senho res. Análise da Estrutura Popu lacional e Econômica de Algun s Núcleos Mineratórios (1718-1804). São Paulo, FEA-USP, 1980, 224 p. Tese não pub licada, mimeo.

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA E ADMINSTRAÇÃO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

MINAS GERAIS: ESCRAVOS E SENHORES – ANÁLISE DA ESTRUTURA POPULACIONAL E ECONÔMICA DE ALGUNS

CENTROS MINERATÓRIOS (1718-1804).

FRANCISCO VIDAL LUNA

Orientador: Profa. Dra. Alice Piffer Canabrava

SÃO PAULO 1980

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FRANCISCO VIDAL LUNA

MINAS GERAIS: ESCRAVOS E SENHORES. ANÁLISE DA ESTRUTURA POPULACIONAL E ECONÔMICA DE ALGUNS CENTROS

MINERATÓRIOS (1718-1804).

Tese apresentada à Faculdade de Econo mia e Administração da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor.

São Paulo 1980

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................................4 CAPÍTULO I – OS METAIS E O POVOAMENTO DAS MINAS ...................................................6 I - Os Paulistas e o Povoamento das Gerais .........................................................................7 II - Atividades Econômicas Geradas pela Mineração ............................................................11 III - Formação dos Núcleos Urbanos......................................................................................13 IV - Núcleos Urbanos Estudados............................................................................................14 Notas .......................................................................................................................................18 CAPÍTULO II – LEGISLAÇÃO MINEIRA E MÉTODOS EXTRATIVOS ADOTADOS.................23 I - Legislação Mineira – Datas Minerais................................................................................23 II - Ocorrência do Ouro e Técnicas Extrativas.......................................................................24 III - Análise da Técnica Adotada ............................................................................................30 IV - A “Racionalidade” do Mineiro e o Interesse Metropolitano ...............................................32 Notas .......................................................................................................................................35 CAPÍTULO III – CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DE ALGUMAS LOCALIDADES MINEIRAS ................................................................................................................................38 I - Vila de Pitangui (1718-1723)........................................................................................... 38 II - Comarca do Serro do Frio (1738) ................................................................................... 44 III - Freguesia de Congonhas do Sabará (1771) ................................................................... 53 IV - Freguesia de Congonhas do Sabará (1790) ................................................................... 57 V - Distrito de São Caetano (1804)....................................................................................... 59 VI - Vila Rica (1804) .............................................................................................................. 66 Notas ........................................................................................................................................72 CAPÍTULO IV – ALGUNS ELEMENTOS DA ESTRUTURA SOCIOECONÕMICA DE MINAS GERAIS ....................................................................................................................................73 I - Proprietários: Estrutura de Posse de Escravos, Atividade e Sexo....................................73 II - Forros Enquanto Proprietários de Escravos.....................................................................78 III - Escravos: Origem, Estrutura Etária e Sexo ......................................................................82 Notas ........................................................................................................................................89 CONCLUSÕES.........................................................................................................................90 GLOSSÁRIO DE TERMOS MINEIROS, CONFORME SEU USO NO SÉCULO XVIII e XIX .....95 APÊNDICE 1 – DATAS MINERAIS – ESTUDO DE UM DOCUMENTO ORIGINAL................101 APÊNDICE 2 – DESCRIÇÃO DAS FONTES PRIMÁRIAS E TRATAMENTO DISPENSADO AOS DADOS...................................................................................................................................108 Notas ......................................................................................................................................114 APÊNDICE ESTATÍSTICO .....................................................................................................115 FONTES E BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................136

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Agradecer, em trabalho como este, que se prolonga por anos, torna-se extremamente embaraçoso. Cometem-se, fatalmente, injustiças, tanto pelo esquecimento como principalmente pela dificuldade em nomear todos os que colaboraram de alguma maneira para tornar possível a consecução desta pesquisa. Gostaríamos, inicialmente, de extenar nosso mais sincero reconhecimento e apreço à Professora Doutora Alice Piffer Canabrava, nossa orientadora e que nos conduziu ao árduo, mas gratificante, campo da pesquisa em História Econômica. Desejamos, ademais, lembrar a contínua e frutífera colaboração de Iraci del Nero da Costa. Aos demais amigos da área de História Econômica da Faculdade de Economia e Administração – Antonio Emílio Muniz Barreto, Ibrahim João Elias, Flávio Marques de Saes, Nelson Hideiki Nozoe, Thomas de Aquino Nogueira e Zélia Maria Cardoso de Mello-, bem como aos Professores Reinero Antonio Lérias, Júlio Marcos Penalves Rocha e Idili Affonso Golçalves, nossos agradecimentos pelo auxílio e sugestões propiciadas aos longo deste estudo. Muito contribuíram também os profissionais do setor de programação da FIPE, especialmente Sérgio Eduardo Arbulo de Mendonça. Ajuda essencial emprestaram os auxiliares de pesquisa Ana Maria Nogueira, Maria Eliana Medeiros e Valéria F. de Paula, bem como Elizabeth Keiko Makibara e Maria Ivone Teixeira na datilografia do texto. Quanto às fontes primárias das quais nos servimos, enfatizamos o empenho do pesquisador Tarquínio J.B. de Oliveira, em nos facilitar o acesso ao rico acervo pertencente à Casa dos Contos, em Ouro Preto; somos gratos, ainda, aos funcionários do Arquivo Nacional, no qual obtivemos parte da documentação compulsada. Cabe-nos realçar o apoio financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, bem como o estímulo dos Professores Adroaldo Moura da Silva e Denizard Cnéio Oliveira Alves. Por fim, nossa gratidão a Matiko, esposa e companheira, pela permanente compreensão e interesse com que nos socorreu por todo o desenrolar desta pesquisa.

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INTRODUÇÃO

Minas Gerais, no transcurso do século dezoito, foi palco de uma verdadeira epopéia, alimentada tanto pela cobiça e coragem dos participantes como pela riqueza em ouro ali encontrada.

Em pouco tempo estabeleceu-se em área até então desconhecida pelo colonizador – que tão somente realizara esporádicas incursões exploratórias e de caça ao gentio – uma complexa economia, cuja energia derivava da atividade mineratória.

Nenhum obstáculo, por mais árduo, foi capaz de impedir o rápido povoamento das Gerais e o acelerado expandir da lide mineira. Conhecida sua potencialidade econômica, a Coroa procurou, de imediato, impor normas tanto para ordenar o relacionamento – nem sempre pacífico – entre a população concentrada nas minas, bem como no sentido de obter para si, via tributação, uma significativa parcela da riqueza dali extraída.

A atividade mineira exigia técnicas não usuais para o Brasil de então, essencialmente agrícola. Tais técnicas foram introduzidas a seu tempo e na medida que se fizeram necessárias; rudes, mas adaptadas ao meio físico e aos recursos materiais e humanos disponíveis.

Em meados do século XVIII a Capitania vivia uma fase de fausto e esplendor, como, provavelmente, nenhuma outra área brasileira teve oportunidade de usufruir. Sem embargo, a riqueza exauriu-se com extrema velocidade; o esgotamento rápido e inexorável dos veios auríferos, exploráveis com a técnica então disponível, abateu-se sobre Minas Gerais. Como reflexo, sua economia perdeu o dinamismo e entrou em processo de decadência; seu povo empobreceu-se e consumiu na própria atividade extrativa, já pouco produtiva, a maior parte dos escravos acumulados na fase precedente.

A forma de ocorrência do ouro, a condicionar a própria técnica adotada; a localização da região aurífera, em pleno sertão da Colônia, bem como a elevada densidade populacional ali concentrada, propiciaram, como sabido, o surgimento nas Gerais de uma estrutura sócio-econômica peculiar nos quadros do Brasil colonial. Identificar e analisar aspectos específicos da estrutura populacional e econômica de alguns centros mineratórios representa o objetivo básico deste trabalho. Pretendemos, por meio da análise de várias localidades mineiras, distanciadas espacial e temporalmente, captar os elementos que emprestaram caráter homogêneo aos vários núcleos estudados, bem como identificar algumas das transformações verificadas no transcurso do século, mudanças estas engendradas pela própria dinâmica da atividade dominante.

Analisamos, primeiramente, a estrutura de posse da mão-de-obra escrava, principal fator de produção utilizado na lide extrativa e, provavelmente, um dos componentes de maior importância no estoque de riqueza individual em Minas, na época em apreço. Estudaremos, ainda, algumas características dos proprietários de escravos, tais como: sexo, cor e atividade. Em relação aos cativos, nosso interesse concentrar-se-á na estrutura etária, sexo e origem. Sob este último aspecto, objetivamos verificar a composição da massa escrava segmentada em Africanos e Coloniais; para os primeiros, analisaremos também o peso relativo de Bantos e Sudaneses.

Merecerá especial realce a possibilidade de alforria propiciada pela sociedade mineira. Em sociedades divididas em dois grandes segmentos – senhores e escravos – o mais significativo indicador de mobilidade vertical consubstancia-se na possibilidade de manumissão e, ainda mais, na passagem do próprio ex-escravo, o chamada forro, à condição de senhor de cativos. Cremos ser possível evidenciar que a mineração representou, sob tal aspecto, uma sociedade relativamente permeável, se comparada à rígida estrutura social nas demais áreas no Brasil-Colônia.

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Para alcançar os objetivos colimados, dividimos a pesquisa em duas partes. Na primeira, apresentamos um quadro geral do evolver da atividade mineira. Sob tal aspecto discutimos o povoamento das Gerais, seus efeitos sobre as demais economias da Colônia, o controle exercido pela Coroa, as normas legais impostas e, por fim, as técnicas extrativas adotadas.

Na segunda parte, consideramos os aspectos socioeconômicos apontados. Tal análise realizar-se-á em dois planos. Em primeiro lugar, tomaremos cada núcleo isoladamente; tal procedimento fornecer-nos-á, para um determinado momento, as características peculiares de cada localidade considerada. A seguir, objetivamos comparar, no tempo, eventuais semelhanças e divergências nas características analisadas, à luz do quadro de referência apresentado na primeira parte deste trabalho.

Para o estabelecimento de uma visão ampla da dinâmica da sociedade mineira, tomamos para estudo cinco diferentes localidades, em fases distintas do evolver da atividade extrativa. Estudamos a Vila de Pitangui, nos anos de 1718 a 1723, em fase de consolidação da lide mineira; analisamos o Serro do Frio, em 1738, momento próximo ao apogeu da mineração, quando a mesma encontrava-se definitivamente assentada; a terceira localidade correspondeu a Congonhas do Sabará, em duas épocas distintas: em 1771, quando se evidenciavam os primeiros sinais de esgotamento das minas e, no ano de 1790, quando a decadência se mostrava mais evidente e irreversível. Por fim, estudamos Vila Rica e o Distrito de São Caetano, ambos em 1804, quando a economia mineira se encontrava em franco recesso, com o empobrecimento da população estabelecida nas Gerais e o esvaziamento dos núcleos urbanos ali existentes.

O estudo baseou-se em seis fontes primárias, das quais cinco encontram-se manuscritas e uma impressa; destes documentos, dois referem-se a livros anotados com a finalidade tributária de arrecadação dos quintos e os demais correspondem a censos populacionais realizados em Minas.

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CAPÍTULO I OS METAIS E O POVOAMENTO DAS MINAS Na análise da estrutura produtiva implantada nas várias áreas do Brasil, ao longo

de seus primeiros séculos de existência, deve-se levar em conta, além das condições peculiares da economia em apreço, o Sistema Colonial então vigente. Em larga medida, o evolver econômico e social da Colônia, neste período, condicionou-se e direcionou-se em função das regras impostas por aquele sistema, no qual se superpunham os interesses da Metrópole aos da Colônia. A “colonização portuguesa na América não é um fato isolado, a aventura sem precedente e sem seguimento de uma determinada nação empreendedora; ou mesmo uma ordem de acontecimentos, paralela a outras semelhantes, mas independente delas. É apenas a parte de um todo, incompleto sem a visão deste todo. Incompleto que se disfarça muitas vezes sob noções que damos como claras e que dispensam explicações; mas que não resultam senão de hábitos viciados de pensamento” (1)

Os vultosos investimentos efetuados no Brasil por Portugal e seus súditos visavam, em essência, ao fortalecimento do Estado Metropolitano, através dos recursos obtidos tanto pela Coroa como pelos indivíduos participantes da arriscada empreitada. Os gastos incorridos com a colonização do território, as obras de infra-estrutura realizadas e os investimentos produtivos aqui implantados objetivavam, na realidade, desenvolver atividades econômicas que possibilitassem gerar excedentes líquidos transferíveis à Metrópole.

Nesse sentido, a exploração dos metais preciosos significava a forma mais simples de obter tais resultados. O papel desempenhado pelo ouro e a prata no contexto do mercantilismo propiciava a tais mercadorias importância fundamental, pois constituíam o principal meio de troca, utilizado tanto nas transações internas como no comércio exterior.

Os países sem extração própria de metais viam-se obrigados a obtê-los indiretamente, através de superávit no comércio externo, com a exportação de bens produzidos em território metropolitano ou nas colônias ultramarinas.

No caso de Portugal, o sonho dourado dos metais revelou-se uma constante ao longo dos séculos XVI e XVII. As lendas do Eldorado e do Sabarabuçú exerceram um permanente fascínio. “É de crer que, entre os fatores dominantes da ocupação efetiva do Brasil pela Coroa portuguesa estava, mais do que o intento de defendê-lo simplesmente de rivais cobiçosos, ao tempo em que abandonava praças marroquinas que davam honra sem proveito, a esperança de fabulosas riquezas, sugeridas pela vizinhança do Perú. Não é provavelmente por acaso que a instituição do governo geral da Bahia de Todos os Santos, significando uma interferência mais direta nos negócios americanos, ocorrerá apenas quatro anos depois do achado da veia rica de Potosi. De qualquer modo, a associação entre as minas pretendidas e essa proximidade do Perú, não raro forçada pela cartografia da época, já é, ao tempo de Tomé de Souza, uma idéia fixa de povoadores e administradores”

(2). No princípio, as riquezas aparecem mais como fruto da imaginação e das

esperanças do colonizador português. Elas existiam idealmente, a expressar as esperanças dos que adentravam os sertões: num primeiro momento com o intuito de explorar o território e, num segundo, na captura dos índios.

Pedro de Magalhães Gandavo e Gabriel Soares (3), no século XVI, constituem a expressão deste período inicial. Ao tempo em que a produção da Colônia resumia-se ao “pau de tinta” tenderam a exaltar os tesouros minerais apenas imaginados ou quando muito, vislumbrados. Gandavo fala de “riquezas que se esperam”, “de ouro e pedrarias

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de que se tem grandes esperanças”, enquanto Gabriel Soares refere-se ao ouro e à prata dos quais a terra da Bahia possuía “tanta parte quanto se pode imaginar”.

I – OS PAULISTAS E O POVOAMENTO DAS GERAIS Durante o primeiro século da colonização, acreditou-se na proximidade física entre

o Peru e o Brasil (4). As primeiras incursões, organizadas pela Coroa, partiam da Bahia e suas vizinhanças e, é de crer, “que o governo, interessado, porventura, em centralizar os trabalhos de pesquisa mineral, tanto quanto possível, junto à sua sede no Brasil, não estimulasse a penetrações nas áreas onde se supunha geralmente que estivessem os tesouros naturais, a partir de lugares que, dada a distância, escapavam mais facilmente à sua fiscalização”.

“Seja como for, as expedições realizadas a esse tempo e depois na capitania sulina (São Vicente), independeram largamente das iniciativas oficiais e visaram menos a busca de ouro, prata ou pedras coradas, do que à captura do gentio para as lavouras naquela e em outras regiões”

(5). Os paulistas representavam um núcleo diferenciado dentro da Colônia. Verificada

a inviabilidade econômica para a grande lavoura canavieira ao início da colonização, os povos da Capitania de São Vicente concentraram-se na captura do silvícola, atividade de reduzida potencialidade econômica, portanto, sem atrativos para a Coroa, cujo controle sobre a região revelou-se superficial. Ao inexistirem excedentes a extrair, justificava-se esse relativo distanciamento da Metrópole.

Isolados dos demais núcleos da Colônia, sem alternativas econômicas mais promissoras, os habitantes de São Vicente voltaram-se para o sertão. “Fatores de ordem geográfica, determinantes de ordem econômica, motivos de ordem psicológica fazem do paulista o bandeirante. Na história de São Paulo de Piratininga sentimos a cada momento a presença do sertão, nume propício ou gênio maléfico, a presidir a vida e a morte. Perdemo-lo de vista algumas vezes, quando nos embrenhamos em certos rincões do passado. Mas, por muito longe que ele nos pareça, a paisagem se rasga de repente num cotovelo brusco do caminho e no horizonte se debuxa o perfil das serras miraculosas: Martírios, Esmeraldas, Sabarabussú (…). Desde a primeira infância o paulista dos séculos XVI e XVII respira uma atmosfera saturada do sertanismo”(6).

Os habitantes de São Paulo, desde o século XVI, palmilharam extensas áreas do sertão, concentrados na captura do elemento indígena, base de sua mão-de-obra e seu principal “produto” de exportação. Em 1636, em documento encaminhado a El-Rei, afirmava-se que nos tempos passados os naturais de São Paulo ainda tiravam algum ouro, entretanto, nessa época, não havia nada que os fizesse ir à procura dos metais (7).

Isso explica as palavras do padre Mansila quando tomado de indignação “escreve que a vida dos paulistas, no segundo quartel do século XVII, se resume em um constante ir e vir e trazer e vender índios, e que na vila inteira de São Paulo somente haverá um ou dois moradores que não se entregam ao comércio de gado humano, indo em pessoa ou mandando filhos e agregados ao sertão” (8).

Tal atividade econômica possibilitava efetuar, subsidiariamente, a pesquisa mineral. Na medida em que a procura dos metais não se constituía normalmente no objetivo principal das dispendiosas bandeiras, resultados negativos, mesmo persistentes, não inviabilizavam sua continuidade; enquanto houvesse gentio a capturar e mercado comprador para tal mão-de-obra, os sertanistas poder-se-iam manter em atividade. A nosso ver, não deve ser minimizada a importância dos paulistas desempenharem uma função econômica efetiva – a captura do gentio – e só marginalmente se dedicarem à pesquisa mineral. Em 1798, quando a mineração encontrava-se em franco processo de decadência, Joze Eloi Ottoni via como alternativa válida “que se animassem os Bandeiristas excitando-se o projeto de novos descobrimentos por meio de graças, privilégios e indultos concedidos aqueles que inflamados de um zelo patriótico entrarem pela mata geral não com o espírito de conquista, sim como hóspedes sensíveis e

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humanos, que encarando somente o objeto da sociedade vão libertar diversas tribos errantes do infame jugo da estupidez e da inércia”(9).

Com a gradativa escassez de silvícolas nas áreas próximas a São Paulo, os bandeirantes viram-se obrigados a penetrar profundamente no sertão à sua procura, o que contribuiu para alargar as fronteiras do Brasil.

Em meados do século XVII, a Coroa, desiludida com os fracos resultados obtidos nas pesquisas que promovera, passou a centralizar sua atenção nos paulistas, profundos conhecedores do território e possuidores de alguma experiência mineira, adquirida nas “magras faisqueiras do litoral”(10) – nas vizinhanças do Paranaguá e no planalto em torno do Jaraguá – todas de rendimento insignificante.

A gente de São Paulo tornava-se a esperança do possível reerguimento do Estado Português, que atravessava profunda crise econômica, inclusive com persistente escassez de metais amoedáveis(11). A Coroa, com a finalidade de estimular os sertanistas, passou a oferecer-lhes títulos e honrarias, além da legislação em vigor propiciar, aos descobridores, a virtual exclusividade nas betas localizadas. Vários representantes régios aconselhavam a Corte a servir-se dos paulistas na pesquisa mineral. Como exemplo pode-se citar o Governador fluminense Antonio Paes de Sande que, em 1693, afirmava:”… expedições sertanistas e explorações mineiras excusado seria entregá-las no Brasil a quem quer que fosse a não ser paulistas. Erradamente haviam procedido as autoridades que de outro modo tinham agido” (12).

Embora voltasse sua atenção para São Paulo, a Coroa nas recomendações efetuadas a Fernão Dias determinava que, uma vez descobertas as minas, o sertanista e seu grupo se encaminhassem à Bahia de Todos os Santos, preferencialmente pelo Espírito Santo ou Porto Seguro, ao invés de retornarem a São Paulo. “As entradas poderiam ser organizadas em São Paulo, onde se recrutariam mais facilmente os práticos do sertão, mas o minério encontrado se escoaria pela Bahia, onde a fiscalização das autoridades centrais impediria melhor os descaminhos” (13).

Ao findar-se o século XVII, os anseios portugueses, quanto aos metais, realizar-se-iam. Durante a última década do século XVII, surgiram notícias de descobrimentos efetivos, de considerável porte, no território que viria a constituir a capitania de Minas Gerais.

O longo espaço temporal transcorrido entre as primeiras penetrações em busca dos metais e a descoberta das ricas áreas extrativas das Gerais deve ser creditado, a nosso ver, tanto à falta de preparo técnico dos sertanistas como às características físicas da zona aurífera.

De modo geral, o conhecimento sobre mineração por parte dos indivíduos que adentravam ao sertão, inclusive paulistas, revelava-se o mais rudimentar. Em várias oportunidades, segundo consta, a Coroa enviou “técnicos conhecedores da atividade mineira” com resultados insatisfatórios. Em 1693, o Governador Antonio Paes de Sande solicitou à Coroa a vinda de “pessoas inteligentes em condições de conhecer os serros, penetrar as betas e fundir os metais até os reduzir a prata e ouro (…). Escolhidos estes técnicos então mandasse sua Majestade expedir provisões e alvarás de recompensas aos paulistas (…). Incitasse o Rei a que estes se pusessem a campo para se descobrirem as célebres minas de prata de Sabarabussú ou outras de rendimentos reais(…)” (14).

As características do meio físico podem ser apontadas como dificuldade adicional na descoberta das minas. A área onde encontrou-se efetivamente o ouro representava o sertão inóspito, de difícil acesso e no qual o elemento branco ainda não se estabelecera. “O continente das minas é situado em uma grande altura sobre montes mais ou menos elevados, entrecortados de serras e quase todo cercado em roda, pela natureza, de muitas e continuadas serras altíssimas, que lhe servem como de baluarte e de muralha, que o dividem de todas as outras capitanias de beira mar” (15).

A zona onde predominaria a faina extrativa localiza-se na Serra do Espinhaço – ramificação do maciço da Mantiqueira; este acidente geográfico corta, no sentido norte-sul, o atual Estado de Minas Gerais e separa a Bacia do Rio Doce (a Leste) da Bacia do São Francisco (a Oeste). Para chegar-se à área aurífera necessitava-se não só escalar a

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barreira constituída pela Serra da Mantiqueira como vencer uma série de rios caudalosos que cortam a região.

Ainda hoje não se sabe com certeza a quem coube a primazia dos descobrimentos(16); acredita-se que os primeiros achados tenham ocorrido na última década do século dezessete por gente de São Paulo e Taubaté (17). Divulgada a notícia da descoberta do metal, iniciou-se verdadeira corrida do ouro. De todos os pontos da Colônia e do Reino chegavam indivíduos ávidos de riqueza (18). Segundo Antonil, a “sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente lá estão (…). Cada ano, vêm nas frotas quantidades de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos (…)”(19). Formava-se pela vez primeira intenso fluxo de portugueses para as terras do Brasil. Transferência realizada com recursos individuais e sem qualquer tipo de oferecimento de honrarias ou terras por parte da Coroa. O metal precioso propiciava o estímulo.

A corrida do ouro justificava-se pelo tipo de ocorrência do metal. Encontrado na forma aluvional permitia, na primeira fase extrativa, um rendimento elevado e possibilitava o exercício da atividade mineira a qualquer indivíduo, mesmo aqueles sem recursos para adquirir um único escravo; poderiam trabalhar como faiscadores até acumular capital suficiente para adquirir sua própria mão-de-obra cativa.

A rapidez com que se deu o povoamento, a pobreza de alguns (20), a imprevidência de outros (21), a concentração de esforços na atividade extrativa, a dificuldade de acesso à zona mineira e sua localização em zona despovoada trouxeram como conseqüência uma insuficiência inicial de gêneros alimentícios e inclusive duas grandes crises de fome (1697/1698 e 1700/1701). Nesses anos esgotaram-se totalmente os gêneros e muitos dos pioneiros necessitaram abandonar suas betas e dispersaram-se em busca de alimentos; evento que provavelmente contribuiu para a descoberta de novas áreas auríferas (22).

A migração descontrolada do elemento livre e o envio maciço de escravos às minas abateu-se imediatamente sobre outras atividades econômicas da Colônia e provocou, até mesmo, enfraquecimento militar de determinadas áreas litorâneas do Brasil.

A economia açucareira revelou-se, de início, a mais afetada pelo rápido deslocamento às Gerais. Da região açucareira retiravam-se tanto lavradores com seus escravos como indivíduos livres possuidores das mais variadas qualificações, muitos dos quais trabalhavam em engenhos. Ademais, o alto preço alcançado pelos escravos estimulava sua venda para a mineração (23).

No que se refere ao enfraquecimento militar de outras áreas pode-se lembrar a Carta Régia de 1711, na qual se estabeleciam providências para evitar a deserção de soldados sediados no Rio de Janeiro, pois a “maior parte da Infantaria dos Terços que guarnecem esta Praça tem desertado, e fugido para as Minas, sem haver nenhum remédio para se proibir o seu retiro (…)” (24)

. No próprio Reino fez-se sentir o impacto da emigração para as minas. Apesar das

inúmeras restrições ao deslocamento para a Colônia – medidas de 1709 e 1711 – ainda em 1720 várias regiões de Portugal continuavam a sentir os efeitos da febre do ouro, conforme pode ser atestado pela determinação da Coroa daquele ano: “Faço saber aos que esta minha lei virem que não tendo sido bastantes as providências que até o presente tenho dado (…) para proibir que deste Reino passe as Capitanias do Estado do Brasil a muita gente que todos os anos se ausenta dele principalmente da Província do Minho, que sendo a mais povoada, se acha hoje em estado que não há a gente necessária para a cultura das terras, nem para o serviço dos Povos, cuja falta se faz tão sensível, que necessita de acudir-lhe com o remédio pronto, e tão eficaz que se evite a freqüência com que se vai despovoando o Reino” (25).

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O rápido povoamento das minas gerou, de início, inúmeros conflitos na própria zona mineratória. Alguns destes atritos representavam exclusivamente o reflexo da febre do ouro. Os “camaradas que iam junto fazer o seu negócio ou de retirada com algum ouro matavam uns a outros pela ambição de ficarem com ele (…)” (26). Outros conflitos revelaram-se mais amplos. Assim, entre 1707 e 1710, ocorreu a chamada Guerra dos Emboabas, choque violento entre os bandeirantes e os demais indivíduos que os seguiram, atraídos pelo ouro. Estes – denominados pejorativamente por Emboabas – englobavam tanto pessoas provenientes de outras regiões da Colônia, como também os reinóis deslocados para as Gerais. Várias são as causas usualmente apontadas para tal confronto como, por exemplo, o relativo monopólio no abastecimento levado a efeito por componentes do segmento dos Emboabas (27).

Revelou-se também fator da maior importância a animosidade existente, desde os primeiros anos da corrida do ouro, entre os bandeirantes, efetivos descobridores das minas, e os demais indivíduos que para lá acorreram ao espalhar-se a notícia das ricas betas localizadas. Os paulistas consideravam-se com direito a exclusividade na atividade extrativa das Gerais, pois o ouro fora encontrado por sua iniciativa e com o dispêndio de seus recursos; os mesmos, desde o início das lides mineiras, pleiteavam tal direito, conforme atesta a petição da Câmara de São Paulo, endereçada a D. Pedro II, datada aos 7 de abril de 1700: “(…) temos notícia que os moradores da Cidade do Rio de Janeiro pedem ou querem pedir datas nas terras das Minas dos Cataguás e seu distrito, assim campos como matos lavradios, sem serem conquistadores nem descobridores das ditas minas, porque é notório a V.Majestade que os moradores da vila de São Paulo e das vilas anexas foram os conquistadores e descobridores das ditas minas, à custa de suas vidas e gasto da sua fazenda sem dispêndio da fazenda real. Por este título pedimos a V.Majestade seja servido mandar uma ordem para que as ditas terras, assim campos como matos, sejam dadas aos paulistas por cartas de data passadas por pessoa a quem V.Majestade for servido ordenar, o que fazemos por requerimento dos principais e bons do povo desta vila de São Paulo que nos requereram em Câmara e nela nos representaram todo o referido” (28).

Entretanto, apesar da insistência, a Coroa não lhes concedeu os privilégios pretendidos. Apesar de São Paulo encontrar-se praticamente despovoada, pela maciça transferência de seus habitantes às minas, o peso relativo dos paulistas nas Gerais reduzia-se, frente ao crescente número de Emboabas na área extrativa (29).

Com a Guerra dos Emboabas deu-se uma expulsão temporária da gente de São Paulo e graças à intervenção que levou a efeito, a Coroa conseguiu fazer-se senhora da situação, o que até então, apesar de seus esforços, não conseguira (30).

A Metrópole, conhecida a potencialidade da área aurífera, tratou de impor seu domínio sobre a atividade mineira. De imediato procurou exercer restrições ao afluxo populacional às minas. A imigração descontrolada e o envio maciço de escravos às Gerais, além do eventual enfraquecimento econômico e militar de outras regiões, poderia constituir sério obstáculo ao controle régio sobre a riqueza que se materializava após séculos de espera. Impunha-se amortecer a corrida às minas, enquanto se estabelecia uma nova estrutura administrativa na Colônia, mais impositiva e capaz de executar com eficácia seu principal papel, ou seja, arrecadar os tributos devidos à Coroa, em particular os famigerados quintos sobre o ouro, “a sua sagrada parte nos metais” (31).

Em 1695 institui-se, em Taubaté, uma Casa de Fundição e em 1703 outra no Rio de Janeiro; no ano de 1701 o Governador Artur de Sá Menezes visitou a região mineira; em 1702 decretou-se novo regimento para ser observado nas minas (32) em “substituição” às normas anteriores.

Em 1709 criou-se a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, separada da Capitania do Rio de Janeiro. “Ainda era pouco, no entanto. O poder da Coroa precisava estar mais próximo. Os chefes da nova unidade não podiam ficar em São Paulo, uma vez que os interesses e a rebeldia se localizavam no sertão”, por essa razão, em 1720, Minas foi desmembrada de São Paulo (33).

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Os paulistas, que haviam exercido um poder de fato e de direito nas Gerais nos primeiros anos da mineração, perderam tal posição privilegiada: primeiro com a Guerra dos Emboabas ao final da primeira década do século XVIII e, em seguida, com o gradativo controle da Coroa, consolidado definitivamente a partir de 1720, quando sufocou séria revolta em Minas. “Os paulistas transitoriamente restabelecidos nos seus direitos de conquistadores, perdem com a presença do militar português, seus privilégios. A autoridade tem agora cunho burocrático e militar (…). Os paulistas já não serviam aos desígnios da Metrópole, extraviados na espúria aliança com os mineradores, eles próprios mais mineradores do que proto-funcionários. O Estado estava fascinado apenas pelos tributos e quintos (…)” (34).

A estrutura de dominação colonial vigente nos dois primeiros séculos de colonização dava lugar a outra, nos quadros da qual a centralização do poder do Estado e os vínculos coloniais ampliavam-se. “Sobre a colônia descem as sufocadoras garras da administração colonial, cortadas nos conselhos do reino, sem respeito pelas peculiaridades do trópico (…). O Estado sobrepõe-se, estranho, alheio, distante à sociedade, amputando todos os membros que resistissem ao domínio (…). Nenhum contato, nenhuma onda vitalizadora flui entre o governador e as populações: a ordem se traduz na obediência passiva ou no silêncio” (35).

Tal estrutura administrativa, voltada essencialmente para a arrecadação dos quintos, acabou por refletir-se na própria organização da atividade produtiva mineira e na sociedade formada em Minas Gerais ao longo do século XVIII.

II – ATIVIDADES ECONÔMICAS GERADAS PELA MINERAÇÃO Após os primeiros anos da lide extrativa e as apontadas crises de fome, o

abastecimento de gêneros gradativamente normalizou-se, com mercadorias provenientes das mais variadas partes da Colônia e de Portugal. Segundo Antonil, “tanto que se viu a abundância do ouro que se tirava e a largueza com que se pagava o que lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que chegava nos navios do Reino e de outras partes, assim de mantimentos como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França, que lá também foram dar. E, a este respeito, de todas as partes do Brasil se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro não somente grande mas excessivo”(36). Minas logo se tornou o principal centro consumidor da Colônia e para lá convergiram mercadorias dos mais variados tipos e procedências.

Ao percurso originalmente utilizado pelos paulistas, o “caminho geral do sertão”, somou-se espontaneamente o do São Francisco – ligação com a Bahia – e, mais tarde, o “caminho novo”. Este último, aberto ao princípio do século XVIII, sob estímulo da Coroa(37), partia do Rio de Janeiro e permitia acesso relativamente fácil às Gerais, quando comparado ao “caminho geral do sertão”.

Em várias regiões da Colônia desenvolveram-se atividades econômicas voltadas para a produção de bens demandados na região mineira cujos preços se haviam elevado violentamente. Os paulistas, por exemplo, que de início limitavam-se a mandar para as Gerais os excedentes de sua minguada produção, estimulados pelos preços alcançados pelas mercadorias nas minas, intensificaram seu nível de atividade, “com o fito de vender cada vez mais, ainda que fosse com sacrifício dos consumidores locais. Em seguida, não contentes com isso, foram buscar em regiões, por vezes distanciadas tudo aquilo que os mineiros careciam e que eles mesmo não podiam produzir”(38). Foi o caso da pecuária implantada pela gente de São Paulo em outras áreas para abastecer o mercado mineiro: gado bovino nos campos de Piratininga e Paranaguá e muares no extremo sul.

A área ao norte das minas também sentiu o efeito dinâmico da mineração; logo o caminho do São Francisco tornou-se uma importante via de abastecimento das Gerais – e de descaminho do ouro. A dificuldade no controle de tal rota levou a Coroa a proibir seu uso, sem resultados efetivos, pois continuou a ser largamente utilizada. Estabeleceu-se,

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inclusive, ao longo deste caminho, importante zona de criação, voltada essencialmente para o fornecimento às minas.

A Coroa preocupava-se de tal maneira com o possível contrabando realizado por esta rota que, por Carta Régia de 1703, procurou estimular a criação de gado na própria zona aurífera, com o objetivo de evitar contatos comerciais com as áreas situadas mais ao norte. “Para que essa capitania e as mais do sul abundem em gado e se possam prover com ele as minas, sem lhes ser necessário abrir possa (sic) delas para a Bahia, e se evitarem os descaminhos que desta comunicação podem resultar dos quintos do ouro. Me pareceu ordenar-vos deis de Sesmaria a maior parte que vos for possível das terras dos campos das minas que se estendem para a parte dessa Capitania até junto a Serra dos Órgãos a que mais perto for do Rio de Janeiro, com obrigações, de cada um dos donatários por curral de gado dentro de dois até três anos no sítio que se lhes der, por se entender que com a facilidade destas terras abundarão essas capitanias em gados e a Fazenda Real terá um grande lucro nos dízimos (…)”(39).

Entretanto, o maior impacto positivo estaria reservado para o Rio de Janeiro. Estrategicamente situada, a partir da abertura do caminho novo, esta localidade logo transformar-se-ia no principal centro de comércio com as minas. De lá partia a maior parte das mercadorias demandadas nas Gerais, principalmente produtos importados – inclusive escravos. Também o escoamento do ouro – ao menos o metal legalmente exportado das Gerais – realizava-se por aquele porto.

O enriquecimento do Rio de Janeiro, bem como o desejo da Coroa em centralizar a administração colonial mais próxima à zona produtiva do ouro, seria uma das razões a explicar a transferência, em 1763, da sede do vice-reinado de Salvador para o Rio de Janeiro. Perdia o Nordeste, cada vez mais, a posição de realce que ocupara nos dois primeiros séculos de nossa história, em favor da região sul, que até essa época representara um papel econômico e político secundário.

No século XVIII, Minas representou o centro catalisador da Colônia; ali consolidara-se uma sociedade com elevado poder de compra, tanto pela densidade populacional como pela relativa pulverização da riqueza gerada (40). Segundo Iglésias, esta área veio a constituir o primeiro mercado nacional, que contribuiu para a ligação de unidades até então fechadas em si mesmas e que só agora se abriam pelo comércio uma à outras. Daí dizer-se que Minas dá a primeira nota de integração nacional (41).

Na própria região mineira surgiram, com a lide aurífera, inúmeras atividades paralelas. Embora a mineração representasse o objetivo básico a explicar o rápido povoamento, uma significativa parcela da população ali estabelecida veio a dedicar-se a outras atividades econômicas.

A densidade populacional, o grande número de núcleos urbanos, a dificuldade de acesso, o transporte de mercadorias realizado por árduos caminhos e em lombo de mula, bem como a ganância fiscal da Coroa, a tributar pesadamente os produtos enviados às minas, estimularam o surgimento de significativa divisão do trabalho na área. De acordo com Sérgio Buarque de Holanda, “em meados do século, o negócio dos metais e das gemas preciosas não ocuparia senão o terço, ou bem menos, da população, segundo os cálculos mais generosos, cuja finalidade, todavia, não é dado averiguar com certeza. O grosso dessa gente compõe-se de mercadores de tenda aberta, oficiais dos mais variados ofícios, boticários, prestamistas, estalajadeiros, taberneiros, advogados, médicos, cirurgiões, barbeiros, burocratas, clérigos, mestre-escolas, tropeiros, soldados da milícia paga ou, desde 1766, do corpo auxiliar (…)”(42).

Passada a febre inicial do ouro e sob o estímulo dos altos preços alcançados pelos alimentos, passou-se a produzir, ao longo dos caminhos que demandavam as áreas extrativas e mesmo junto às minas, larga variedade de gêneros para o fornecimento tanto aos viajantes como aos centros urbanos formados nas Gerais. Ao tempo de Antonil já existiam, segundo seu relato, roças de milho, abóbora, feijão e batatas, bem como a criação de porcos e de galinhas (43).

Também o artesanato desenvolveu-se intensamente nos populosos centros urbanos mineiros. “Em razão do sistema colonial, bens e serviços tenderam a concentrar-

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se nas mercadorias de subsistência, mas algum artesanato desenvolveu-se também, em especial a ourivesaria, sem contar os múltiplos ofícios ligados às construções civis e religiosas, que os núcleos urbanos vieram propiciar” (44). Com a elevada demanda de serviços nas Gerais, os indivíduos conhecedores de ofícios terminavam por exercer tais atividades, mesmo quando se haviam deslocado às minas com o anseio de dedicar-se exclusivamente à mineração (45).

O comércio representou outra ocupação grandemente atrativa. A elevada demanda de mercadorias, entre as quais incluíam-se gêneros de subsistência, produtos de luxo, materiais para construção, bens destinados à mineração, escravos, etc. – em área onde tudo se pagava a peso de ouro – estimulava a concentrar-se na mercancia, significativa parcela da gente ali estabelecida. Em 1705, D. Rodrigo da Costa escrevia ao Superintendente das Minas, Borba Gato, a fim de levar a gente de São Paulo a dedicar-se com mais denodo à descoberta do ouro “deixando o trato mercantil, de que nunca o brio dos Paulistas usou, senão agora, tornando-se de Martes valorosos em sáfios chatins, baixeza que certamente não cabe em ânimos tão generosos, como de todo o mundo testemunha; e que tão bem souberam apertar o punho da espada, fazendo-se, com o seu brioso valor, conhecer entre os mais fortes soldados” (46).

A atividade mercantil ao longo de todo o século XVIII constituiu uma das principais formas de descaminho do ouro (47); também através do comércio, os escravos conseguiam utilizar o ouro eventualmente furtado. Antonil assim referiu-se ao interesse despertado pelo comércio: “Também com vender coisas comestíveis, água ardente e garapas, muitos em breve tempo acumularam quantidade considerável de ouro. Porque, como os negros e os índios escondem bastante oitavas quando catam nos ribeiros e nos dias santos e nas últimas horas do dia, tiram ouro para si, a maior parte deste ouro se gasta em comer e beber, e insensivelmente dá aos vendedores grande lucro como continuando a regá-lo sem estrondo, os faz muito férteis. E, costuma dar a chuva miúda aos campos, a qual, continuando a regá-los sem estrondo, os faz muito férteis. E, por isso, até os homens de maior cabedal, não deixaram de se aproveitar por este caminho dessa mina à flor da terra, tendo negras cozinheiras, mulatas doceiras e crioulos taverneiros, ocupados nesta rendosíssima lavra e mandando vir dos portos do mar tudo o que a gula costuma apetecer e buscar” (48).

III – FORMAÇÃO DOS NÚCLEOS URBANOS Os primeiros povoadores das Gerais viviam da forma a mais rudimentar, habitando

choças espalhadas pelos ribeirões nos quais efetuavam sus faina extrativa. A característica do ouro encontrado, aluvionário, de fácil extração e rápido esgotamento, não estimulava o assentamento dos mineradores; tanto a atividade como a moradia revelavam-se, por assim dizer, nômades. “Só depois de iniciado o século XVIII é que na área mineira foram-se radicando, em número considerável, famílias ao solo. Até então, a zona do ouro se achava salpicada menos de vilas e de casas de fazenda do que de bandos de aventureiros, sem lugar fixo de atividade nem Organização Cristã de família. Arraiais movediços atrás das minas e de escravos. Burgos cenógrafos que desapareciam e reapareciam como se fossem cenários de teatro de feira” (49).

Várias causas podem ser apontadas como responsáveis, ao menos em parte, pelo surgimento dos primeiros núcleos estáveis. O comércio pode ser considerado uma delas. Normalizado o fluxo das mercadorias necessárias à sobrevivência da gente aglomerada na região mineira, as tropas de mercadores estabeleceram certos locais aos quais levavam seus produtos para serem comercializados. Em tais locais fixaram-se vendas e ergueram-se rústicas capelas para aproveitar a afluência da população, sobretudo aos domingos (50). Com o tempo, alguns mineiros construíram casas nesses arraiais, para residência ou para pousarem aos domingos (51). “Trocam-se as possibilidades tentadoras que isoladamente cada um ambicionava, pela maior segurança da vida coletiva” (52).

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Com o esgotamento dos depósitos auríferos mais facilmente exploráveis, os mineradores viram-se obrigados a executar trabalhos de maior envergadura; a própria atividade mineira tornou-se mais estável e tal fato contribuiu para estimular a concentração em núcleos relativamente populosos. Aos poucos, com a união de arraiais próximos (53), formaram-se núcleos maiores, que ganhavam feições marcantemente urbanas; ergueram-se igrejas e instalaram-se as autoridades régias.

Em 1711 criavam-se as primeiras Vilas nas Gerais; Vila de Nossa Senhora do Carmo (Mariana), Vila Rica (Ouro Preto), Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará. Entre 1713 e 1715 quatro outras vilas foram instituídas: S.João d’El Rei (1713); Vila Nova da Rainha (Caeté-1714), Vila do Príncipe (Serro do Frio-1714) e Vila de Nossa Senhora da Piedade do Pitangui (1715). No ano de 1714 estabeleceram-se as três primeiras comarcas na região; a de Vila Rica, a do Rio das Velhas, com sede em Sabará e a do Rio das Mortes, sediada em S. João d’El Rei (54). Em 1720, a Comarca do Rio das Velhas foi desmembrada, com a criação da Comarca do Serro do Frio , sediada na Vila do Príncipe (55). No ano de 1720, a área mineira separava-se da Capitania de São Paulo e instituía-se a Capitania de Minas Gerais, com sede em Vila Rica.

IV – NÚCLEOS URBANOS ESTUDADOS Neste trabalho analisamos documentos referentes a cinco localidades da Capitania

de Minas Gerais: Pitangui (1718 a 1723); Serro do Frio (1738); Freguesia de Congonhas do Sabará (1771 e 1790); Vila Rica (1804) e São Caetano (1804).

VILA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE DO PITANGUI

Estudamos a Vila de Nossa Senhora da Piedade do Pitangui – pertencente à

Comarca do Rio das Velhas – ao final da segunda década e início da terceira do século dezoito. Esta localidade (56), descoberta e explorada por paulistas, constituiu-se no principal reduto da gente de São Paulo quando ocorreu o conflito dos Emboabas. Segundo Taunay, ali estabeleceram-se alguns dos mais notórios bandeirantes que fizeram “saber aos reinóis e forasteiros que lhes não permitiam a presença por lá, ameaçando-os das maiores violências (…). A criação da nova Vila, obtida do Capitão General, fora um meio pelo qual estes irredutíveis mineradores fugiram à jurisdição municipal de Sabará, onde havia preponderância de reinóis” (57).

Além de opor-se ao estabelecimento de emboabas nessa parte do território das Gerais, os paulistas, residentes em Pitangui, entraram em confronto com as autoridades régias, quando estas desejaram aumentar seu grau de controle sobre a atividade aurífera; não aceitavam a intromissão da Coroa no referente à distribuição das datas e negavam-se a pagar os quintos reais. A gente de Pitangui chegou a ameaçar com a pena de morte aqueles que pagassem tal tributo (58).

O vulto alcançado pelo conflito fez com que, por volta de 1718, muitos dos moradores preferissem deixar Pitangui a submeter-se às autoridades. Por outro lado, os representantes da Coroa, esgotadas as possibilidades de acordo, decidiram fazer uso da violência; enviaram, em 1720, uma expedição militar à Vila, só assim a Coroa conseguiu impor seu efetivo controle sobre a localidade.

COMARCA DO SERRO DO FRIO As descobertas auríferas do final do século XVII avançaram até as cabeceiras do

Rio Jequitinhonha. Apesar das dificuldades do meio e da distância em relação aos

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demais centros extrativos, logo formaram-se diversos arraiais nessa área setentrional da futura capitania de Minas Gerais. Os dois mais importantes núcleos corresponderam aos arraiais de Nossa Senhora da Conceição do Serro do Frio e do Tejuco. O crescimento desses povoados pode ser atestado pela elevação do primeiro, em 1714, à categoria de Vila: a denominada Vila do Príncipe (59). Em 1720, essa região desmembrou-se da Comarca do Rio das Velhas com a criação da Comarca do Serro do Frio, sediada na Vila do Príncipe.

Em torno do ano de 1729 descobriram-se os primeiros diamantes nessa área (60), considerada até então como puramente aurífera, o que provocou uma verdadeira corrida à área diamantífera. “Mais entusiasmo ainda que o ouro se é possível, despertou o descobrimento. De toda a parte, e da própria região das minas, em corrida vertiginosa, se precipitam as ambições” (61).

Conhecida a riqueza da extração, a Coroa logo tratou de controlar a atividade e cobrar seus tributos. Em 1730, promulgava-se o primeiro regimento dos diamantes, pelo qual os quintos arrecadavam-se por capitação sobre os escravos. “Grandes quantidades de diamantes seguiam para Lisboa, uma opulência deslumbradora reinava no arraial do Tijuco, onde não obstante a distância dos portos de mar e a precariedade dos meios de transporte, todo ele em costas de animais, se levava uma vida de luxo e regalo como na própria metrópole.

“Com as notícias dessa prosperidade afluíam novos imigrantes, mas a Corte de Lisboa inquietava-se, sabendo-se lesada e premeditando um meio de aumentar sua parte nessa colheita de lucros” (62).

Em 1732, por ordem régia, suspenderam-se os trabalhos extrativos e expulsaram-se os povos da área diamantífera (63). A Coroa, sob o argumento de ínfimos resultados obtidos com a capitação sobre os escravos, pretendeu arrendar as datas minerais, exigindo, para tanto, pesadas contribuições (64). Sem embargo, a revolta dos mineradores levou as autoridades régias a manter a livre extração e a forma de cobrança dos quintos, embora fosse elevada consideravelmente a taxa de capitação cobrada (65).

Entretanto, em 1734, proibiam-se os serviços extrativos dentro do distrito a ser demarcado (66). A excessiva oferta de diamantes no mercado internacional depreciava seus preços e assim a Coroa optou por restringir ao máximo a oferta com o objetivo de recuperar o nível de preços. Para tanto, impediu-se a livre extração dos diamantes e institui-se, em 1739, o sistema de contratos. Estes arrematavam o direito de exclusividade de explorar a Demarcação Diamantina, já delimitada. Abolia-se, assim, a livre extração de diamantes nas Gerais.

Destarte, à época em que estudamos o Serro do Frio, 1738, a atividade de extração de diamantes encontrava-se paralisada; assim, é de supor-se estar a população estabelecida nessa área dedicada à faina aurífera.

CONGONHAS DO SABARÁ Descoberta por Manoel da Borba Gato a área próxima ao Rio das Velhas foi

rapidamente explorada, em função dos ricos veios auríferos ali localizados. No caso específico de Congonhas do Sabará, segundo o Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais, a primazia deve ser creditada ao “paulista Domingos Rodrigues da Fonseca Leme, que depois de acompanhar seu cunhado, Garcia Rodrigues Pais, por cerca de quatro anos à procura de esmeraldas do Sabarabuçú, andou explorando os sertões de Minas, com seu irmão, Sebastião Pinheiro da Fonseca Rapozo, e, por volta de 1700, descobriu dois córregos auríferos na região de Nova Lima (denominação atual de Congonhas do Sabará). Pouco tempo se demorou ali. Outros mineiros, entretanto, fixaram-se a explorar as minas, que foram recebendo os nomes de Bela Fama, Cachaça, Vieira, Urubu, Gara, Gabriela, Faria Garces, Batista e Morro Velho. ‘Congonhas das

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Minas do Ouro’ era como se denominava o lugar, designado também, comumente, apenas por Congonhas (…)” (67).

Tão importante tornou-se a região do Rio das Velhas que, em 1711, o chamado Arraial do Sabará foi elevado à categoria de Vila, com a denominação de Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará.

Congonhas do Sabará, arraial pertencente à Vila recém-criada, adquiriu a condição de freguesia em 1748 e de distrito em 1836. Por fim, em 1891, foi elevado à Vila – desmembrada de Sabará – e seu antigo nome modificou-se para Vila de Nova Lima.

DISTRITO DE SÃO CAETANO O Ribeirão do Carmo, descoberto nos primeiros anos da mineração, ainda no

século XVII, logo revelar-se-ia núcleo dos mais ricos de toda a área aurífera. À suas margens assentaram-se inúmeros arraiais, entre os quais merecem realce o Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, Furquim e São Caetano. Pela importância adquirida, o primeiro arraial nomeado alcançou, em 1711, a categoria de Vila; os demais tornaram-se então parte de seu termo. Em 1745 essa Vila, das mais prósperas de Minas Gerais, tornou-se sede do Bispado recém-criado e obteve a categoria de cidade, com a denominação de Mariana.

Quanto às “povoações de S. Sebastião, Sumidouro, São Caetano e Furquim, compuseram por algum tempo uma só Freguesia (…). Progredindo, porém, as Povoações do Ribeirão do Carmo, o Reverendo Bispo dividiu esta extensa Paróquia em 4 partes, criando as freguesias do Furquim, São Sebastião, Sumidouro e São Caetano, sendo provido nesta última o Padre Manoel Pires de Carvalho”(68).

Em 1943, a antiga Freguesia de São Caetano, então distrito pertencente a Mariana, teve sua denominação alterada; passou a chamar-se Monsenhor Horta.

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VILA RICA

Divulgada a fama das riquezas encontradas, levas de novos sertanistas

espalharam-se pela área onde os metais haviam sido localizados. No “mesmo tempo saiu à luz Antonio Dias, natural também de Vila de Taubaté, com o descobrimento do Ouro Preto e Antonio Dias; lugares ambos em que se acha situada Vila Rica que compreendendo Antonio Dias, denominação que lhe ficou de seu próprio descobridor (...). Ao mesmo tempo na vizinhança destes riquíssimos córregos, descobriu o Rev. Padre João Faria Fialho, natural da Vila de São Sebastião, que tinha vindo por capelão das tropas taubateanas, o córrego chamado Padre Faria, denominação derivada do seu próprio nome, a qual situação compreendeu a extensão de Vila Rica” (69). Estes locais revelaram-se, de imediato, dos mais ricos da Capitania; transformados em populosos arraiais deram origem, em 1711, a Vila Rica (70).

Essa urbe, sede da administração da Coroa e núcleo dos mais ricos e populosos das Gerais, logo adquiriu feições nitidamente urbanas (71), com uma gama variada de atividades, tanto artesanais como comerciais. Sua riqueza e esplendor podem ser atestados por um trecho do Triunfo Eucarístico : “Nesta Vila habitam os homens de maior comércio, cujo tráfego e importância excede em comparação o maior dos maiores homens de Portugal, a ela como a porta se encaminham, e recolhem as grandiosas somas de ouro de todas as minas na real casa da moeda; nela residem os homens de maior letras, seculares, e eclesiásticos: nela têm assento toda a nobreza, e força da milícia, é por situação da natureza cabeça de toda a América, pela opulência das riquezas, a pérola preciosa do Brasil” (72).

As marcas dessa riqueza ainda podem ser avaliadas pelos imponentes edifícios e igrejas ali existentes. Dentre os primeiros sobressaem a Casa dos Contos, o Palácio dos Governadores e a antiga Casa do Conselho. Dentre as inúmeras igrejas merecem realce, por seu traço e riqueza, a de São Francisco de Assis, de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do Pilar.

Sem embargo, o esgotamento das minas, ocorrido na segunda metade do século dezoito, refletiu-se sobre a localidade, que entrou em franco processo de empobrecimento e de retração populacional. Ao final do século XVIII, Vila Rica revelava marcantes sinais de decadência, apontados pelas memórias coevas e pelos viajantes que a visitaram no primeiro quartel do século XIX.

Em 1816, quando Saint-Hilaire esteve em Vila Rica defrontou-se com um claro processo de esvaziamento da urbe: “contam-se em Vila Rica cerca de duas mil casas. Esta Vila floresceu enquanto os terrenos que a rodeiam forneciam ouro em abundância; à medida, porém, que o metal foi se tornando raro ou de extração mais difícil, os habitantes foram pouco a pouco tentar fortuna em outros lugares, e, em algumas ruas, as casas estão quase abandonadas. A população de Vila Rica que a ser de 20 mil almas, está atualmente reduzida a 8 mil e essa Vila estaria mais deserta ainda se não fosse a capital da província, a sede da administração e a residência de um regimento”

(73). Deste modo, o ano por nós estudado, 1804, enquadra-se numa fase de franco

recesso de Vila Rica, decadência da qual as mais importantes Vilas do século do ouro não conseguiram escapar. “As velhas cidades mineradoras conservam-se então como cenário de uma representação que tivesse acabado. Nenhuma edificação, nenhuma mudança inerente a uma nova atividade, vem perturbar a atmosfera tranquila do século XVIII. E as belas fachadas esculpidas das igrejas envelhecem emolduradas pelo casario autêntico da época, como se um fenômeno cósmico o tivesse fossilizado” (74). Ao longo deste capítulo inicial, objetivamos apresentar um amplo quadro de referência, relativo ao processo de procura persistente de metais e pedras preciosas; riquezas que os portugueses acreditavam existir, no interior do território de sua Colônia americana. Relatamos a corrida do ouro então verificada, o rápido povoamento das áreas extrativas, a formação dos primeiros núcleos urbanos e as restrições exercidas pela Coroa sob a faina extrativa. Tal controle consubstanciou-se tanto na organização

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burocrática então implantada, como nas normas legais impostas, parte das quais discutiremos no próximo capítulo, juntamente aos processos técnicos adotados pelos mineradores.

N O T A S

(1) PRADO JÚNIOR, Caio - Formação do Brasil Contemporâneo (Colônia), Editora Brasiliense, 9ª.edição, São Paulo, 1969, p.20/21.

(2) HOLANDA, Sérgio Buarque de – “A Mineração: Antecedentes Luso-Brasileiros”, in História Geral da

Civilização Brasileira, tomo I – A Época Colonial, 2º .vol., Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1973, pp. 236/237.

(3) GANDAVO, Pero de Magalhães de - Tratado da Província do Brasil (introdução, leitura,

comentários e índice de vocabulário por Emmanuel Pereira Filho), Instituto Nacional do Livro, MEC, Rio de Janeiro, 1965.

SOARES DE SOUZA, Gabriel – Notícias do Brasil (Introdução, comentários e notas pelo Professor Pirajá da Silva), Martins Editora, São Paulo, 1939, 2 vol.

(4) Sobre a mineração nas áreas de colonização espanhola na América, vide a obra de BARGALLO,

Modesto – La mineria y la metalurgia em la América Espanõla durante la época Colonial, Fondo de Cultura Economica, México, 1955

(5) HOLANDA, Sérgio Buarque de – Visão do Paraíso, Livraria José Olympio Editora, 1ª.edição, Rio de

Janeiro, 1959, pp. 54/55. (6) MACHADO, Alcântara – Vida e Morte do Bandeirante, Livraria Martins Editora, V volume da

Biblioteca de Literatura Brasileira, il., São Paulo, 1943, p. 221. (7) O documento ainda afirma que “todo ha cessado desde que tratan de ir a cautivar indios, porque

trayendoles (…) los venden a varios o de esta tierra, o de la isla de San Sebastian, o para otras partes del Brasil, y del precio no pagan quintos como lo havian de hacer del oro, y tienen mas esclavos hombres desventurados en esta villa, que vassalos algunos Senõres de España” informe de Manuel Juan de Morales de las cosas de San Pablo y maldades de sus moradores hecho a su Magestad (…), in HOLANDA, Sérgio Buarque de – Visão do Paraíso, p. 67.

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(8) MACHADO, Alcântara – op.cit., p. 223. (9) “Memória sobre o estado da Capitania de Minas Gerais por Joze Eloi Ottoni, estando em Lisboa no

ano de 1798”, in Anais da Biblioteca Nacional, vol.30, (1908), Of. Gráfica da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1912, p.311.

(10) TAUNAY, Affonso de E. – História Geral das Bandeiras Paulistas, Edição do Museu Paulista,

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, tomo 9, São Paulo, 1948, p.19. (11) GODINHO, Vitorino de Magalhães – “Portugal, as Frotas do Açúcar e as Frotas do Ouro”, in Revista

de História, nº .15, 1953, pp.69/88. (12) TAUNAY, Affonso de E. - op.cit., p.22. (13) HOLANDA, Sérgio Buarque de - op.cit., p. 68/69. (14) TAUNAY, Affonso de E. - op.cit., p.27. (15) COUTINHO, José Joaquim da Cunha Azeredo – “Discurso sobre o Estado Atual das Minas do

Brasil. Impressão Régia ano MDCCCIV, por ordem superior”, in Obras Econômicas de J.J. da Cunha de Azeredo Coutinho (1794-1804), Cia. Editora Nacional, Coleção Roteiro do Brasil, vol. 1, São Paulo, 1966, p.215.

(16) “Não se pôde, até hoje, apurar a quem cabe atribuir-se a primazia do achado dos riquíssimos

jazigos auríferos do Espinhaço (…)”. TAUNAY, Affonso de E. – História das Bandeiras Paulistas, Edições Melhoramentos, 2ª.edição, São Paulo, 1961, il., p. 215. Sobre o tema dos descobrimentos auríferos, veja-se também CANABRAVA, Alice P. – “Bandeiras”, in MORAIS, R.B. e BERRIEN, W. (diretores) – Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros, Gráfica Editora Souza, Rio de Janeiro, 1949, pp.492-526.

(17) “O grande número de concorrentes que buscavam as Minas, e a emulação que logo se ascendeu,

entre os da vila de S.Paulo, e os naturais de Taubaté, fez que entendidos por várias partes, buscasse cada um, novo descobrimento em que se estabelecesse (…) – ROCHA, José Joaquim da (presumido) – “Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol.II, Imprensa Oficial de Minas Gerais, Ouro Preto, 1897, p. 428.

(18) “ (…) em breve tempo das cidades, e lugares marítimos sobreveio inumerável multidão; uns com

cobiça de fácil fortuna, outros anhelando remédio à necessidade. Os mesmos ecos, levados nas asas da fama sobre os mares voaram à Europa: foram ouvidos em Portugal com atenções de estranha novidade, e alvoroços de alegria (…)” – MACHADO, Simão Ferreira – Triunfo Eucarístico – Exemplar da cristandade lusitana em pública exaltação da Fé na solene transladação do Diviníssimo Sacramento da Igreja de Senhora do Rosário para um novo templo da Senhora do Pilar em Vila Rica, corte da capitania das Minas aos 24 de maio de 1733, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol. VI, 1901, p. 994.

(19) ANTONIL, André João (Pseud. De João Antônio Andreoni) – Cultura e Opulência do Brasil,

introdução e vocabulário por Alice P. Canabrava, 2ª.edição, Editora Nacional, São Paulo, s/d., (Roteiro do Brasil, vol. 2) p.264.

(20) “Os aventureiros que concorriam às minas, vindos de vários pontos do Brasil, e de algumas

Províncias de Portugal principalmente, eram tão pobres, que conduziam às costas quanto possuíam (…)”. MENDONÇA, Coronel Bento Fernandes Furtado de – “Primeiros Descobridores das Minas do Ouro, na Capitania de Minas Gerais”, notícia resumida por M.J.P. da Silva Ponte, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol. IV, 1899, p.97.

(21) “A viagem de São Paulo às Minas que primeiro se povoaram exigia de 30 a 40 dias de marcha. Os

aventureiros eram tão imprudentes que confiando na caça eventual não traziam mantimentos. Daqui resultou morrerem alguns deles a míngua e chegaram outros desfalecidos”. MENDONÇA, Coronel Bento Fernandes Furtado de – op.cit., p.97.

(22) TAUNAY, Affonso de E. – História Geral das Bandeiras Paulistas, op.cit., p. 154. (23) AZEVEDO, João Lúcio – Épocas de Portugal Econômico, Livraria Clássica Editora, 3ª.edição,

Lisboa, 1928, p. 322.

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(24) Carta Régia de 28/03/1711 estabelecendo providências para se evitar a deserção de soldados da guarnição do Rio de Janeiro para as Minas, in Documentos Interessantes, nº.49, de 1929, p.21.

(25) Lei promulgada em 20/3/1720, in Anaes da Biblioteca Nacional, volume XXVIII de 1906, Oficinas de

Artes Gráficas da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1908, p.145 e seguintes. (26) Relação do princípio descoberto destas Minas Gerais e os sucessos de algumas coisas mais

memoráveis que sucederam de seu princípio até o tempo que a veio governar o Exmo. Sr. Dom Braz de Silveira, in TAUNAY, Affonso de E. – Relatos Sertanistas, publicação comemorativa do IV Centenário da Cidade de São Paulo, Biblioteca Histórica Paulista, vol. VII, São Paulo, 1953, p.62.

(27) ZEMELLA, Mafalda P. – O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no Século XVIII, Boletim

118 da História da Civilização Brasileira, editado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, São Paulo, 1957, p.225.

(28) TAUNAY, Affonso de E. – História das Bandeiras Paulistas, op.cit., p.247. (29) “Entre 1698 e 1705 o rio S. Francisco encheu-se de barcos conduzindo às minas as multidões do

reino e do nordeste armadas e maltrapilhas. Manuel Nunes Viana comandou a entrada dos “calçudos” indistintamente reinóis e baianos. Ocupou solidamente o distrito aurífero. Chegou a possuir 50 arrobas de ouro. Graças à disciplina imposta aos portugueses, ao espírito organizador e à sua política, os paulistas cederam aos forasteiros as principais jazidas de minas que tinham achado e começado a explorar”. TAUNAY, Affonso de E. – História das Bandeiras Paulistas, op.cit., pp.257/258.

(30) “Se os mineiros se tivessem conservado unidos, poderiam ter desafiado facilmente o controle

efetivo da Coroa durante mais tempo, mas a eclosão, em 1709, da guerra civil entre os primeiros paulistas e os recém-chegados, quase todos de origem européia, deu oportunidade aos representantes da coroa, no ano seguinte, de firmar sua autoridade”. BOXER, C.R. – A Idade de Ouro do Brasil, Cia. Editora Nacional, S.Paulo, 1963, il., p.55.

(31) FAORO, Raymundo – Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro, 2ª.edição

revista e aumentada, Globo, Porto alegre; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1975, p. 163.

(32) Regimento de 1702, in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida, Notícias das Minas de São Paulo e

dos Sertões da mesma Capitania. Introdução e notas de Affonso de E. Taunay, Publicações Comemorativas da Cidade de São Paulo, Biblioteca Histórica Paulista, X volume, São Paulo, 1954.

(33) IGLESIAS, Francisco – “Minas Gerais”, in História Geral da Civilização Brasileira, tomo II – O Brasil

Monárquico, 2º.volume, Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1972, p. 366. (34) FAORO, Raymundo – op.cit., p.163. (35) FAORO, Raymundo – op.cit., p. 164/165. (36) ANTONIL, André João (pseud. de João Antonio Andreoni) – Cultura e Opulência do Brasil, op.cit.,

p.267. (37) DERBY, Orville A. – “Os Primeiros Descobrimentos de Ouro em Minas Gerais”, in Revista do

Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol.V, de 1899-1900, p.240 e seguintes. Sobre as rotas de abastecimento, vide também ANTONIL, André João (pseud. De João Antonio Andreoni) – op.cit., ELLIS, Myriam – Contribuição ao Estudo do Abastecimento das Zonas Mineradoras do Brasil no Século XVIII, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1961, (Os Cadernos de Cultura, nº. 124).

(38) ZEMELLA, Mafalda P. – op.cit., p. 54/55. (39) Carta Régia de 7/5/1703, endereçada ao Governador D. Álvaro da Silveira e Albuquerque, in MS.

Do Arquivo Nacional, “Coleção Governadores do Rio de Janeiro”, vol. XII, p. 122, apud, ZEMELLA (Mafalda P.), O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no Século XVIII, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, São Paulo, 1975. (Boletim de História da Civilização Brasileira, vol. 118), p. 235.

(40) Conforme pretendemos demonstrar no corpo deste trabalho.

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(41) IGLESIAS, Francisco – “Minas Gerais, Polo de Desenvolvimento no Século XVIII”, in Primeira Semana de Estudos Históricos (O Brasil Século XVIII – O Século Mineiro), Ponte Nova, Minas Gerais, 1972, pp. 86/87.

(42) HOLANDA, Sérgio Buarque de – “Metais e Pedras Preciosas”, in História Geral da Civilização

Brasileira, tomo I – A Época Colonial, 2º . Vol., Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1973, p.289. (43) ANTONIL, André João (pseud. de João Antônio Andreoni) – op.cit., p.286. (44) CANABRAVA, Alice P. – in ANTONIL, André João (pseud. de João Antônio Andreoni), op.cit., p.89. (45) LIMA JÚNIOR, Augusto de – A Capitania de Minas Gerais, Livraria Editora Zélio Valverde, Rio de

Janeiro, 2ª.edição, 1943, il., p.79. (46) Carta do Governador Geral D. Rodrigo da Costa, datada de 17 de março de 1705, in Documentos

Históricos, Correspondência dos Governadores Gerais, vol.XLI – 1705 a 1711, Tip. Baptista de Souza, Rio de Janeiro, 1938, p. 14 e seguintes.

(47) “A propósito, convém frisar de princípio, que o contrabando de ouro não era praticado pelo mineiro,

mas tão somente pelo comerciante. O próprio D. Rodrigo José de Meneses, em Carta ao Ministro Martinho de Melo e Castro, frisou: ‘O negociante é o contrabandista, não o mineiro’. BARBOSA, Waldemar de Almeida – “O Ouro, sua Exploração”, in 1ª. Semana de Estudos Históricos, U.C.M.G. – F.C.H. Ponte Nova, Minas Gerais, 1972 (palestra proferida na Faculdade de Filosofia de Ponte Nova em 05/06/1972), p.24.

(48) ANTONIL, André João (pseud. de João Antônio Andreoni) – op.cit., p.271. (49) FREYRE, Gilberto – Sobrados e Mocambos, Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento

Urbano, 2ª. Edição, José Olympio, Rio de Janeiro, 1951 (Coleção Documentos Brasileiros – 66), 1º vol., p.159.

(50) “Em o mês de Dezembro de 1706 anos, cheguei a estas minas do Rio das Velhas aonde estou

vivendo até agora e não havia mais que três freguesias em todo o termo desta Vila de Sabará, Roça Grande e Raposos e o mesmo Sabará; estas três tinham vigários e mais arraiais tinha clérigos (sic) que diziam missa nos terrenos dos moradores que os ranchos eram de capim e beira; no chão armavam altares com estacas e tapados com esteiras de taquara diziam missa e confessavam e desobrigavam”. Relação do princípio descoberto destas Minas Gerais e os sucessos de algumas coisas mais memoráveis que sucederam de seu princípio até o tempo que a veio governar o Exmo. Sr. Dom Braz da Silveira”, in TAUNAY, Affonso de E. – Relatos Sertanistas, op.cit., pp. 70/71.

(51) LIMA JÚNIOR, Augusto de – A Capitania das Minas Gerais, op.cit., p.99. (52) LATIF, Miran M. de Barros – As Minas Gerais, a Aventura Portuguesa, a Obra Paulista, a Capitania

e a Província, Editora S/A A Noite, Rio de Janeiro, s/d., il., p.91. (53) “A reunião dos arraiais mineiros formou as atuais cidades, que ainda se estendem pelas colinas

acima e descem para os vales, com longas ruas tortuosas e escadarias íngremes a unir núcleos primitivos. Aquela forma descosida de instalação de vilas pode ser claramente identificada hoje em cidades tais como Ouro Preto, Sabará e São João d’El Rei, onde alguns dos bairros conservam o nome dos moradores iniciais, como por exemplo, o de Antonio Dias, em Ouro Preto”. BOXER, C.R. – op.cit., p. 61-62.

(54) LIMA JÚNIOR, Augusto de – op.cit., p.92. (55) Edital do Governador Conde de Assumar a respeito da Repartição das Comarcas de Sabará e do

Serro do Frio, datado de 26 de abril de 1721, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol. II, 1901, pp. 8/9.

(56) “As riquezas das minas de Paracatu, descobertas por Lourenço Castanho, atraíram diversos

exploradores que capitaneados por Domingos Rodrigues do Prado e José Bernardo de Campos Bicudo, que partiram em 1709, à procura dessas minas. Morrendo seu guia, resolveram voltar para Sabará; mas em caminho descobriram minas de ouro nas margens de um rio, habitadas por uma aldeia de índios, onde era tão grande o número de crianças, que lhes fez dar ao lugar o nome de Pitangui (rio das crianças)”.

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MAIA, Aristides de Araujo – “História da Província de Minas Gerais”, publicada em artigos no “Liberal Mineiro”, de Ouro Preto, de 1885 a 1886, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol. VII de 1902, p.39.

(57) TAUNAY, Affonso de E. – História Geral das Bandeiras Paulistas, op.cit., pp. 293/294. (58) HOLANDA, Sérgio Buarque de – “Metais e Pedras Preciosas”, op.cit., p.272. (59) A Vila do Príncipe corresponde à atual cidade do Serro, enquanto o arraial do Tejuco é hoje a

cidade de Diamantina. (60) Não é menos difícil dizer quem for a o primeiro descobridor, ou antes o primeiro conhecedor dos

diamantes entre nós. Uns querem que for a Bernardo da Fonseca Lobo, que os descobriu e manifestara à Coroa. Outra tradição diz que um frade, cujo nome não se declara, tendo vindo ao Tejuco depois de ter estado em Golconda, onde já se minerava o diamante, vendo os tentos de que se serviam os tejuquenses para marcar o jogo, conheceu que eram diamantes (…)”. SANTOS, Joaquim Felício dos – Memórias do Distrito Diamantino, Livraria Itatiaia Editora Ltda./EDUSP, São Paulo, 4ª.edição, 1976, (Coleção Reconquista do Brasil – vol.26), p. 49.

(61) AZEVEDO, João Lúcio – op.cit., p.355. (62) LIMA JÚNIOR, Augusto – História dos Diamantes nas Minas Gerais, Edições Dois Mundos, Rio de

Janeiro, 1945, p.37. (63) Bando de 7 de janeiro de 1732, do Governador D. Lourenço de Almeida. Memória Histórica do

Descobrimento dos Diamantes e Diferentes Métodos que se tem praticado na sua extração; oriunda dos manuscritos da Coleção Martins adquirida pela Biblioteca Nacional em fins do século XIX; in Anais da Biblioteca Nacional, vol.80 de 1960, Rio de Janeiro, 1964, p.99 e seguintes.

(64) LIMA JÚNIOR, Augusto – História dos Diamantes nas Minas Gerais, op.cit., p.32. (65) Bando de 22 de abril de 1732 do Governador D. Lourenço de Almeida, in Anais da Biblioteca

Nacional, op.cit., p. 109/111. (66) Bando de 19 de julho de 1734, do Governador Conde de Galveas, in Anais da Biblioteca Nacional,

op.cit., p. 116/117. (67) BARBOSA, Waldemar de Almeida – Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Editora

Saterb Ltda., Belo Horizonte, 1971. (68) MENDONÇA, Coronel Bento Fernandes Furtado de – op.cit., p. 96. (69) Notícia – 1ª. Pratica que dá ao P. Mº . Diogo Soares e Alferes José Peixoto da Silva Braga, do que

passou na Primeira Bandeira, que entrou ao descobrimento das Minas do Guayases até sair na Cidade de Belém do Grão-Pará, in TAUNAY, Affonso de E. – Relatos Sertanistas, op.cit., p.26.

(70) Elevado em 1823 à categoria de cidade com a denominação de Ouro Preto. (71) Sobre o assunto, veja-se LUNA, F.V. e COSTA, I.N. – “Contribuição ao Estudo de um Núcleo

Urbano Colonial (Vila Rica-1804)”, in Revista Estudos Econômicos, vol. 8, nº .3, set/dez. 1978, IPE/USP, São Paulo, 1978, p. 41-68.

(72) MACHADO, Simão Ferreira – “Triunfo Eucarístico”, op.cit., p.996. (73) SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Livraria

Itatiaia Editora Ltda., EDUSP, Trad. De Vivaldi Moreira, São Paulo, 1975, (Coleção Reconquista do Brasil – vol. 4), pp. 69/70.

(74) LATIF, Miran M. de Barros – op.cit., p. 208.

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CAPÍTULO II LEGISLAÇÃO MINEIRA E MÉTODOS EXTRATIVOS ADOTADOS Pretendemos, neste capítulo, discutir as técnicas extrativas adotadas no Brasil no transcorrer do século XVIII. Atividade não usual na Colônia, a lide aurífera exigiu novas formas de organização do trabalho. Condicionaram-nas as peculiaridades do meio, os recursos disponíveis – inclusive força de trabalho – e os interesses metropolitanos; consubstanciados, estes últimos, no arcabouço legal e administrativo aqui implantado pela Coroa. Apresentaremos, inicialmente, um resumo da legislação pertinente às datas minerais e a seguir, uma descrição, relativamente pormenorizada, das técnicas empregadas pelos mineiros. Com tal quadro de referência pretendemos efetuar a análise da estrutura produtiva estabelecida em Minas, realçar seus aspectos particulares e seus possíveis reflexos sobre a formação da sociedade que se desenvolveu nas Gerais. I. LEGISLAÇÃO MINEIRA – DATAS MINERAIS

Divulgada a notícia, ao princípio do século XVII, da descoberta do ouro nas terras do Brasil , reafirmou-se a secular esperança portuguesa de encontrar imensas riquezas mineiras nas sua Colônia americana. Para controlar essa atividade – ainda mais imaginária do que real – e garantir a participação da Metrópole nos tesouros que viessem

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a ser obtidos criaram-se normas legais específicas que, em essência, reproduziam as bases da legislação portuguesa, consubstanciadas nas Ordenações Filipinas de 1603 (1).

Neste mesmo ano, instituiu-se o Regimento das Minas do Brasil(2), complementado pelo de 1618 (3), aqui divulgados somente no ano de 1652. Segundo Eschwege, até esse ano não existia lei alguma a regular o trabalho mineiro na Colônia; isto indica a pouca importância atribuída às faisqueiras até então descobertas, além do que essas normas legais mostravam-se totalmente inadequadas às condições peculiares do Brasil (4).

Enquanto a extração de ouro “mal compensava a sua lavra, e as esperanças postas continuamente em maiores riquezas logo se desvaneciam, pareceu desnecessário à Metrópole mudar radicalmente uma legislação de pouco efeito e já consagrada pelo tempo. A partir do último decênio do século XVII, no entanto, com o início da verdadeira Idade de Ouro, o descaso com que até então se considerava a necessidade de novas medidas tendentes à proteção e expansão da atividade mineradora, evidenciou-se de súbito. A importância sem exemplo dos achados de Minas Gerais serviu para pôr em destaque as graves deficiências do velho código mineiro, que entrou logo em colapso” (5).

O Regimento de 1702 (6), principal documento legal a regular a atividade extrativa mineral nas Gerais, surgiu como reflexo da confirmação da existência e ouro na Colônia. Entretanto, a legislação mineira não se resumiria a esse regimento; ao longo do século XVIII a Coroa contemplou a Colônia com vastíssima coleção de normas. De modo geral, a legislação mineira visava atender primordialmente os interesses da Coroa; na verdade, a exploração de ouro, prata e pedras preciosas constituíam, por assim dizer, um negócio do rei. Ao invés da extração direta, a Coroa concedia lavras a particulares para estimular novos descobertos. Sem embargo, localizada nova beta, a Coroa exercia o controle da atividade de forma a carrear para as burras da Fazenda Real, através da taxação, uma significativa parcela do produto.

Pelo Regimento de 1603 qualquer indivíduo poderia buscar e seguir veios, mesmo em terra alheia, desde que fornecesse fiança e pagasse ao proprietário o dano porventura ocasionado à terra (7). Sobre a questão da posse do subsolo, assim opina Fernando H.M. de Almeida ao comentar as Ordenações Filipinas: “A história da legislação das minas e veeiros no Brasil é tortuosa, no que respeita à propriedade do subsolo das terras em que elas se achavam ou se acham. Podemos, atento a esse aspecto, dividí-la em 4 fases.

Na 1ª.fase (a do Direito Real, a que faz expressa menção a Ordenação Filipina do livro segundo título 26, 16º .parágrafo) as minas se reputavam em ‘cravos realengos’ (…) porque a referida e citada Ordenação a pôs entre os Direitos Reais (…). Assim, pois, naquela primeira fase as minas (e também os terrenos diamantinos) eram direitos do Rei pouco importando, em suma, que o principal de que fosse acessão pertencesse a particular (…)” (8).

Pelo Regimento de 1702, comunicada a descoberta de uma área explorável, o Superintendente das Minas – principal agente da Coroa quanto aos assuntos pertinentes ao ouro – devia através do guarda-mor, reparti-la entre os mineiros interessados “regulando-se pelos escravos que cada um tiver que em chegando a doze escravos e daí para cima, fará repartição de uma data de trinta braças(9) conforme o estilo e aquelas pessoas que não chegarem a ter doze escravos lhes serão repartidas duas braças e meia por cada escravo para que igualmente fiquem todos lucrando da mercê que lhes faço (…)” (10).

A ordem de escolha das áreas realizava-se por sorteio, para evitar qualquer tipo de favorecimento. Entretanto, antes dessa partilha, concedia-se “data à pessoa que descobriu o Ribeiro à qual se há de dar na parte que ele apontar e logo repartirá outra data para a minha fazenda no mais bem parado do dito Ribeiro e ao descobridor dará logo outra data como lavrador em outra qualquer parte que ele apontar por convir que os descobridores sejam em tudo favorecidos e esta mercê os animem a fazerem muitos descobrimentos (…)” (11).

Aos mineiros que comparecessem com mais de doze escravos somente seriam concedidas áreas adicionais quando, satisfeitos todos os indivíduos presentes, houvesse terra ainda a repartir (12).

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O Regimento impedia a venda de datas e além disso exigia o início da exploração no prazo máximo de quarenta dias, sob o risco de perda do direito à concessão, exceto em alguns casos especificados – problemas de saúde, falta de alimentos, distância ou invernada – a vista dos quais o prazo poderia dilatar-se; ao receber uma data, o minerador ficava automaticamente impedido de pleitear outras áreas até realizar a lavra da primeira.

A data da Coroa devia ser colocada em leilão público; caso não surgissem lances compensadores cabia explorá-la diretamente por conta da Fazenda Real, “para o que puxará pelos índios que lhe forem necessários, e lhes pagará pela minha fazenda o mesmo que costumam pagar os particulares quando os servem (…)” (13).

De acordo com Alice Piffer Canabrava, “a feição mais importante e característica da legislação de 1702 está no modo da repartição das terras de mineração. Abandonando o critério de dimensões fixas, que caracterizava os preceitos anteriores, consagrou a força de trabalho como fator determinante da extensão das datas”

(14).

II – OCORRÊNCIA DO OURO E TÉCNICAS EXTRATIVAS O ouro encontrado nas Gerais, ao longo do século dezoito, correspondia

predominantemente ao chamado “ouro de aluvião” (15). A rocha matriz desse metal ao sofrer a ação milenar das águas, fragmentou-se em minúsculas partículas que se haviam depositado nos vales, leitos de rios e mesmo nas encostas. A facilidade de extração representou, sem dúvida, uma das principais causas a explicar o rápido esgotamento do ouro secularmente acumulado.

Após anos de tentativas infrutíferas, os bandeirantes localizaram depósitos aluvianos ao longo de córregos e rios; de início, na falta de outros utensílios de trabalho, os sertanistas serviam-se dos pratos de estanho – que normalmente carregavam como objeto de uso pessoal – para separar os materiais estéreis que acompanham o ouro.

O aperfeiçoamento dos processos extrativos deu-se gradativamente, graças à experiência acumulada pelos próprios mineradores, e pelos conhecimentos transmitidos por elementos que chegavam às minas, inclusive os escravos. Sabe-se que várias “nações” africanas estavam habituadas à faina aurífera, em particular os oriundos da Costa da Mina, largamente representados nas Gerais, Eschwege credita aos escravos a responsabilidade pela introdução, em Minas Gerais, das canoas (sobre os termos técnicos, como utilizados no século XVIII, vide glossário apenso a este trabalho) e bateias de madeira, dois dos utensílios mais importantes para os mineradores por todo o século XVIII (16).

Destarte, apesar das dificuldades materiais enfrentadas e na medida que se tornaram necessárias, os mineradores sofisticaram suas técnicas e executaram verdadeiras obras de engenharia: desviaram rios, construíram barragens, transportaram água de longas distâncias, perfuraram galerias, cortaram morros etc. Ainda hoje, transcorridos mais de dois séculos, Minas Gerais guarda a marca dessas realizações, levadas a efeito com limitado concurso de equipamentos e baseadas no uso intensivo do fator trabalho, representado essencialmente pela mão-de-obra escrava.

EXTRAÇÃO DO METAL AURÍFERO O metal aluvial, encontrado nos leitos e margens dos rios, constituiu-se no primeiro tipo de ocorrência explorada e que não se abandonou mesmo quando os mineradores dominaram técnicas que viabilizavam serviços em outros tipos de ocorrência como os tabuleiros, gupiaras e veios. A forma de extrair-se o metal dos rios variava, a depender basicamente da condição física dos locais explorados e da disponibilidade dos recursos. Desse modo, encontravam-se nos leitos dos rios desde faiscadores- identificados com o

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modo mais rudimentar e pobre de trabalho – até formas sofisticadas e custosas de extração, como aquelas que exigiam a realização de obras civis de vulto. O faiscador, indivíduo a labutar isoladamente – em geral, sem escravo algum, servia-se de um único instrumento de trabalho: a bateia. Como bem ressaltou Prado Júnior (17), o trabalho de faiscar sempre existiu e, em certas condições – como em rios pouco caudalosos ou em locais de baixo teor aurífero – o seu rendimento comparava-se ou suplantava o de lavras dispendiosas. Seu número tendeu a crescer com o esgotamento das jazidas ou quando os recursos dos mineradores escassearam com a decadência da atividade. Saint-Hilaire, em suas viagens pelas Gerais, notou que grande parte da exploração realizava-se através desse método rudimentar; e assim descreveu o trabalho de um faiscador: “Ao pé da cascata, um velho mulato, metido na água até os joelhos, lavava a areia para extrair-lhe o ouro. A ocupação a que se entregava, e a miséria de que oferecia imagem, apresentavam um bizarro contraste. Alguns andrajos, presos ao corpo por cadarços, cobriam-lhe o peito e os ombros; tinha as pernas e as coxas nuas e, à cintura prendia-se pequeno saco de couro bastante grosso. Uma grande gamela servia-lhe, primeiramente para apanhar as pedras do fundo d’água; depois disso enchia-se de areia mais ou menos até a metade e, com a mão retirava os seixos misturados com a areia. Voltando em seguida no sentido da corrente, inclinava sua gamela para a superfície da água, e balançava-a com muita habilidade e ligeireza. A cada balanço, fazia-se entrar um pouco de água que levava a areia; o ouro em pó ficava no fundo do vaso, e ele o fazia escorrer para o seu pequeno saco de couro”(18). Essa figura descrita no começo do século passado, pode ser vista ainda em nossos dias, pois subsistem, em Minas Gerais, indivíduos que praticam a faiscação, como atividade principal ou suplementar. O leito dos rios não se prestava apenas ao trabalho do faiscador, mas também aos serviços levados a efeito por mineiros com modesta ou avultada escravaria. Um processo descrito por Antonil, simples mas largamente utilizado nas Gerais, correspondia ao “cerco”. Recorria-se a este método quando não se conseguia desviar todo o curso das águas do rio. Representava o cercamento de pequena parte do curso d’água, junto à margem e, em seguida, sujeito a secamento. De início, esgotava-se a água apenas com bateias ou carumbés: a vasilha cheia passava de mão em mão, até onde devia ser despejada. Tal sistema somente foi substituído, ou simplesmente complementado, em torno de 1740, quando se introduziram as noras, equipamento muito antigo e ainda em uso ao principiar-se o século XIX. Conforme registrou Eschwege, “Essas noras, chamadas rosários pelos mineiros, quando pequenas, eram postas em movimento pelos escravos, por meio de um manejo, quando maiores, por meio de uma roda hidráulica com admissão por cima ou debaixo do eixo. Elas correspondem perfeitamente ao fim a que se destinam sem falhas. Mesmo nas minas, elas são usadas, pois o emprego das bombas, até o tempo de minha chegada ao Brasil, onde fui o primeiro a usá-la, era totalmente desconhecida”(19). Para se ter uma idéia das dimensões dessa máquina, vejamos como foi descrita por Antonio Pires da Silva Pontes: “(…) máquinas há destas, que consta de quatrocentas chapas de ferro, e cada chapa de oito libras, de peso, fora as covilhas e chavetas do mesmo metal, o que as faz sumamente dispendiosas (…)”(20). Pela descrição pode-se avaliar o custo de utensílio desse porte e as dificuldades inerentes a seu emprego, principalmente quando havia necessidade de transportá-la. Caso o rio se revelasse pouco caudaloso e existisse espaço lateral, efetuava-se o represamento das águas, posteriormente desviadas para um leito artificial, aberto em paralelo ao curso original, ou para um bicame – canaleta de madeira a se estender sobre o leito existente; depois promovia-se o esgotamento das águas pelos processos já descritos, com a finalidade de alcançar o cascalho depositado no fundo. Os trabalhos de extração do cascalho realizavam-se, geralmente, no período mais seco do ano – de abril a setembro. Quando chegavam as chuvas, a fúria das águas destruía grande parte das obras anteriormente realizadas. Não raro, uma tempestade fora de época, imprevista, arrasava as lavras, carregava ferramentas e equipamentos em uso e chegava a matar grande número de escravos que se encontravam em serviço.

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A extração do ouro não se realizava exclusivamente no leito dos rios e riachos. Os mineiros, com o tempo, adquiriram conhecimento que lhes possibilitava realizar trabalhos nos tabuleiros, gupiaras e, inclusive, diretamente nas rochas auríferas. Denominavam-se tabuleiros as terras secas às margens dos rios, onde em muitos casos encontrava-se cascalho aurífero. De início, os mineiros não conheciam outra técnica de trabalho nos tabuleiros além das chamadas “catas”. Consistia na retirada dos materiais estéreis por meio de perfuração, até alcançar o cascalho. Tais buracos possuíam, aproximadamente, 4,0 m em quadro e alcançavam, segundo Calógeras, mais de 17 m de profundidade, a demandar custosos trabalhos de escoramento. As catas, entretanto, apresentavam inúmeros problemas. A terra retirada e amontoada dificultava a exploração das áreas vizinhas; quando chovia, o poço inundava-se, o que exigia penosos serviços de esgotamento d’água com vasilhas ou rosários; isto quando não ocorria desmoronamento, que destruía todo o trabalho realizado com risco de vida dos que nele estavam. Devido ao esgotamento dos depósitos mais facilmente exploráveis e com o acúmulo de conhecimentos, os mineradores buscaram novas alternativas de trabalho, como expôs o Coronel Bento de Mendonça: “os mineiros, no tirocínio da arte, não conheciam outro método de extração, que o de formar catas, cavando as areias até a rocha do fundamento, e transportando-as em bateias para as margens dos córregos e ribeiros, e o de mergulhar, isto é, de levar grandes bateias ao fundo dos rios e ribeirões, revolvendo os cascalhos e trazendo-os à superfície. No ano de 1707, porém, observando os mesmos mineiros o efeito das enxurradas sobre os terrenos em declive, adotaram o meio de desmontar, com água canalizada, a terra vegetal que cobria os cascalhos dos tabuleiros (…)”(21). Ou seja, os mineiros passaram a servir-se da força hidráulica ao invés de tê-la como inimiga. Dentre os inúmeros processos pelos quais os mineiros serviam-se d’água, podem-se citar os chamados “canais paralelos”, apropriados para o serviço nos tabuleiros; consistiam em valetas de, aproximadamente, 2,4 m de largura por 0,3 m de profundidade, ao longo da margem de um rio previamente represado. Desviavam-se as águas para o canal e com elas efetuava-se a lavagem das areias e dos seixos que os escravos revolviam com o auxílio de almocafres. Devido ao maior peso específico do ouro, este metal depositava-se ao longo do canal, enquanto se escoavam os materiais mais leves; esse trabalho exigia grande cuidado, pois havia o risco das águas arrastarem também partículas de ouro. Em seguida, a areia pesada depositada ao longo do canal era retirada e transportada para uma canoa Interrompia-se a extração do cascalho ao atingir-se a piçarra ou quando o canal se havia aprofundado de forma a impossibilitar o uso da força hidráulica. As gupiaras, depósitos de cascalho aurífero existentes na meia encosta dos morros, também constituíram áreas intensamente exploradas. Neste tipo de serviço a disponibilidade de água, que devia ser precipitada do topo da elevação, representava o elemento fundamental. Trazia-se esse líquido, por vezes de longas distâncias, através de colossais aquedutos – os bicames (22). Segundo Saint-Hilaire, “aquilo em que os mineiros são competentes é na maneira de conduzir a água para os lugares em que a lavagem do ouro a torna necessária”(23). Quando não se obtinha suficiente quantidade de água corrente, formavam-se grandes reservatórios no alto dos morros, pois era necessário que a massa líquida, quando precipitada pela encosta, exercesse força hidráulica suficiente para desbastar as camadas superficiais. A partir do ponto de lançamento da água, abriam-se canais em direção à parte da encosta a ser desagregada, previamente cavada pelos escravos. Facilitava-se, desse modo, o trabalho das águas que arrastavam os materiais soltos na direção do vale, onde se construíra um canal de degraus; enquanto a massa líquida corria para o fundo do vale, o material aurífero, mais pesado, acumulava-se nos degraus do canal. Parado o desmonte, efetuava-se o enriquecimento da lama depositada, transportada, posteriormente, para as canoas. Também exploravam-se as gupiaras por meio de “catas”, de modo similar ao descrito no caso dos tabuleiros.

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Os métodos arrolados correspondiam à extração do ouro encontrado em cascalho aurífero, ou seja, metal desprendido da rocha matriz e acumulado ao longo dos séculos nas partes mais baixas do terreno. Durante anos, os mineiros concentraram-se em pesquisar e explorar esses locais de bom rendimento. Com o adensamento da população e o persistente trabalho nas minas, esgotaram-se os depósitos aluvianos; as concentrações ainda existentes tornaram-se difíceis de alcançar pelo acúmulo de detritos nos vales e no leito dos rios, fruto do incessante uso da água na procura do cascalho. Quando esses trabalhos tornaram-se pouco produtivos, procurou-se explorar as rochas matrizes, servindo-se inicialmente de processos similares àqueles aplicados nos depósitos de aluvião. Pode-se distinguir dois tipos de rochas onde o metal ocorria. Primeiramente, “as camadas de itabiritos auríferos, ou de chapéus de viveiros, de quartzo mais ou menos piritoso, cariado, profundamente decomposto, aflorando no fundo do vale. O material a tratar era mole, podre como o chamavam, e apresentava-se à remoção com os instrumentos primitivos de que dispunham”(24). Ao segundo tipo, correspondiam “as partes mais sãs, em rocha viva, que desafiavam a erosão das correntes líquidas; em outros lugares, os próprios afloramentos, já eram em quartzo duro, inatacável pelos processos hidráulicos da época, ou situados em pontos onde não era possível a adução da água”(25). No caso das rochas friáveis, decompostas, de ocorrência nos vales, utilizavam-se “catas”; quando as rochas “podres” encontravam-se nas encostas dos morros, contemplava-se um processo similar ao descrito para as gupiaras, mas em escala maior. Dado o vulto dos desmontes, instalavam-se, em geral, os chamados mundéus. Correspondiam a conjuntos formados por um canal de pedra, receptor da água das lavagens, e terminados em caixas construídas em blocos de pedra com muros de até 2,0 m de espessura e dimensões que chegavam a 24 m de largura por três e seis de altura. Existiam, normalmente, baterias destas caixas em diferentes níveis de acordo com o canal de pedra receptor que servia a todas. À entrada da caixa colocava-se uma espécie de grade para impedir a introdução de pedras de grande tamanho. Na face oposta à entrada, havia, de alto a baixo, uma fenda com, aproximadamente, 1,5 m de largura e fechada com pranchas, com as quais controlava-se o nível de lama depositada no interior da caixa; quando ocorria a decantação, a água podia ser extraída e introduzida nova carga de desmonte. Por esse processo, recolhia-se o material aurífero para posterior apuração em dispositivos especiais – os bolinetes – construídos, normalmente, em frente à fenda vertical da caixa. Esses conjuntos possuíam, em geral, grande capacidade de armazenamento. Eschwege cita alguns, como o da vila da Campanha, apurado uma só vez por ano e com rendimento de trinta a cinqüenta mil cruzados de ouro – de 35 a 57 quilos de ouro. Com o gradativo esgotamento das rochas auríferas decompostas procurou-se atacar a “rocha viva”, imbatível pelos processos tradicionais; para tanto os mineiros necessitaram efetuar trabalhos subterrâneos, à procura dos veios. “Perseguem-se as camadas e os veios em todas as direções enquanto puderam os serviços dar lucros, razão pela qual tal método, sobretudo aplicado a uma possante camada, dá um perfeito labirinto de tocas de topeiras”(26). Enormes dificuldades apresentavam-se aos mineradores nesse tipo de exploração. O principal entrave correspondia, sem dúvida, à falta de conhecimento técnico e instrumentos apropriados para penetrar na rocha compacta; desse modo as galerias cavadas apresentavam-se extremamente inseguras. Não se construíam, em geral, canais auxiliares para o escoamento da água infiltrada que extraia-se, usualmente, através de carumbés carregados por escravos ou, mais raramente, com o uso de rosários. Normalmente, não se abriam respiradouros, assim o “arejamento era nulo e em pouco tempo as minas viravam aparelhos de asfixia”(27). Quando a galeria situava-se na encosta de um morro, tornava-se mais fácil realizar tais melhoramentos com a abertura de canais paralelos. Isso somente se tornava possível quando o mineiro dispunha de espaço lateral suficiente; entretanto, em geral, esse espaço não existia dada a pequena dimensão das datas distribuídas pela Coroa. Em certas áreas, como nas proximidades de Vila Rica, as

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escavações tornaram-se de tal ordem numerosas e contíguas que pareciam verdadeiras esponjas, “os tatus na expressiva linguagem mineira”(28). ENRIQUECIMENTO E APURAÇÃO DO OURO Os processos descritos de extração do minério colocava disponível volumosa massa de material, ainda com baixo teor aurífero, para efetuar-se a apuração final. Os mineiros serviam-se de canoas e bolinetes para o enriquecimento desses materiais. Somente após a fase intermediária de enriquecimento, a areia passava para a apuração dita, levada a efeito com o auxílio de bateias. A canoa, aparelho de enorme utilidade apesar de sua simplicidade e baixo custo, consistia num canal cavado à margem do rio, composto basicamente de duas partes. Uma levemente inclinada de 1,0 a 1,5 m de comprimento, 0,5 a 0,7 m de largura e 0,10 a 0,40 m de altura; começava na cabeceira, ou seja, na parte pela qual penetrava a água e descia no sentido da bica- seção inclinada com aproximadamente 2,0 m de comprimento e ângulo de 15° a 20° - por onde escorria o líquido. Sobre a bica colocavam-se baetas ou couros com os pelos virados para cima: daí sua denominação de “cabeceira dos panos”. Os bolinetes correspondiam a canoas em tamanho maior, construídos geralmente com pranchões de madeira. Apresentavam dimensões de 1,5 a 3,0 m de comprimento e 0,9 e 1,1 m de largura na cabeceira, estreitando-se em direção à bica. Para propiciar o aumento de sua capacidade colocavam-se, na extremidade inferior, travessas ou madeiras que formavam uma barreira cuja altura podia ser controlada. Para evitar as perdas ocorridas quando a água da lavagem carregava consigo o ouro, colocavam-se vários bolinetes em linha com pequena diferença de nível entre os mesmos, com o objetivo de provocar a queda d’água em degraus e facilitar a separação do ouro. O serviço de lavagem nas canoas e bolinetes realizava-se através de método relativamente simples e baseava-se, essencialmente, no princípio da separação de metais por levigação. Depositava-se grande quantidade de cascalho junto à canoa e um escravo puxava com o almocafre parte dele para a cabeceira e fazia a água cair sobre o material. A operação consistia provocar o choque do líquido com o cascalho e assim eliminar os materiais mais leves, os quais escorriam em direção à bica. O cativo, para alimentar continuamente o processo, empurrava o material em direção à entrada d’água e o revolvia com o objetivo de facilitar a separação; o ouro, mais pesado, depositava-se no fundo da canoa onde formava concentrados extremamente ricos. Completada a lavagem da parcela do cascalho introduzido, colocava-se nova porção no aparelho. Esse processo continuava até a areia enriquecida cobrir o fundo da canoa. Retiravam-se os couros e baetas da bica, cuja finalidade consistia em reter os materiais mais pesados – o ouro em particular – carregados pela água; a seguir, efetuava-se, em recipientes apropriados, a lavagem dos panos felpudos ou couros para extrair o ouro ali depositado. Os escravos, após recolocarem os couros e baetas na bica, deixavam correr uma pequena quantidade de água enquanto revolviam, com o almocafre, a areia enriquecida depositada no fundo da canoa. Com esse movimento, as partes estéreis, mais leves, vinham à superfície e a água acabava por carregá-las; a esta fase os mineiros denominavam “rebaixar a canoa”. Diminuía-se, a seguir, ainda mais, o fluxo d’água e apurava-se a canoa. Com o auxílio de pedaço de madeira raspava-se o fundo do canal e arrastava-se o material depositado para junto da entrada d’água, com o objetivo de aumentar ainda mais o teor de ouro e prepará-lo, em definitivo, para a apuração final. Lavavam-se novamente os panos felpudos e couros e recomeçava-se a operação de enriquecimento com nova quantidade de cascalho. Uma vez enriquecido o material aurífero, passava-se à apuração do ouro, executada com o auxílio da bateia. Este serviço mostrava-se semelhante àquele descrito quando tratamos dos faiscadores. O apurador trabalhava com a bateia dentro de uma

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fossa, com água até o joelho. Ao imprimir movimentos ritmados à bateia, na qual se colocavam material enriquecido e água, as partes mais pesadas concentravam-se no fundo. Depois de eliminados os materiais mais leves, necessitava-se separar o ouro das demais partículas pesadas depositadas no fundo, o esmeril. O apurador eliminava o líquido contendo as partes estéreis em suspensão, introduzia nova porção de água e reiniciava os movimentos circulares, executados nesta fase com mais força. De quando em quando, inclinava a bateia para despejar a água lamacenta e colocar mais água, com a qual lavava o material existente na borda; a seguir, separava o ouro que pintava e jogava o esmeril. Repetia-se esta operação sucessivamente até esgotar a lama depositada no fundo da bateia. Como nesse processo a água servida carregava normalmente partículas de ouro, era usual construírem-se as fossas no interior de recintos fechados para permitir uma futura extração do ouro acumulado dentro delas. De todas as fases do trabalho extrativo, a apuração constituía a mais vigiada para evitar furtos por parte dos cativos responsáveis pelo serviço. Usualmente, o proprietário da lavra controlava pessoalmente esta operação. Quando o ouro explorado apresentava-se extremamente fino, tornava-se necessário extremo cuidado a fim de evitar que as partículas permanecessem em suspensão. Os mineradores descobriram algumas plantas, cujo suco, quando colocado na bateia, precipitava o metal para o fundo. Calógeras revelou que mesmo em sua época, no início do século XX, utilizava-se tal processo, com o uso, entre outros, do suco de maracujá, de mata-pasto, de jurubeba e outros. Outro modo de apurar o ouro, mais adiantado tecnicamente, correspondia à amalgamação. Consistia em juntar o mercúrio à lama concentrada na bateia, amassá-la para que o mercúrio retivesse o ouro. Lavava-se a mistura e se a colocava sobre o fogo, onde ocorria a separação dos metais; recuperava-se o mercúrio desprendido pelo calor, colocando-se uma folha de figueira pouco acima do material em aquecimento. III. ANÁLISE DA TÉCNICA ADOTADA Pelo exposto na seção anterior, pode-se aquilatar o imenso desafio enfrentado pelos mineradores ao longo do século XVIII. Embora dispusessem de limitados recursos técnicos e materiais, esses homens encontraram, a seu tempo, as soluções necessárias à exploração da riqueza mineral secularmente acumulada nas Gerais. Para tanto, serviram-se largamente do trabalho humano, representado fundamentalmente pela mão-de-obra escrava. Essa preponderância do fator trabalho talvez possa ser explicada tanto pelas regras do Sistema Colonial, então vigente, em cujos quadros o tráfico negreiro desempenhava importante papel na acumulação Metropolitana (29), como pelas próprias características da lide extrativa nas Gerais. Ao revelar-se “nômade” a própria atividade, a mobilidade constituía uma das condicionantes da preferência pelo trabalho humano, vis-à-vis máquinas e equipamentos. Desenvolvida em área de relevo acidentado, com inúmeros cursos d’água, dos quais alguns caudalosos, tornava-se penoso transportar maquinário com a rapidez exigida pela mineração. Nos próprios locais onde realizava-se a extração, muitos de difícil acesso e movimentação, o trabalho humano revelava-se insubstituível. O próprio Eschwege – ferrenho defensor da melhoria técnica e do uso de processos mecânicos na atividade mineira – ao visitar um serviço de diamantes, onde os escravos transportavam cascalho, duvidou das vantagens dos equipamentos frente ao trabalho humano. “Enquanto uns extraem o cascalho, outros enchem os carumbés. Outros, ainda, colocam-nos à cabeça e se afastam, para voltar rapidamente e tomar nova carga, que pesa, no máximo 30 a 40 libras. “Em compensação, a ligeireza com que é transportada, sobretudo se promete aos carregadores uma pequena recompensa, não deixa nada a desejar.

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“Além disso, o baixo aluguel que se paga por escravo empregado (30) e a diminuta despesa que exige sua alimentação, tem me feito duvidar mais de uma vez se seria de fato preferível substituir o trabalho escravo pelo das máquinas. Há a considerar, ainda, a necessidade contínua de transportar o maquinismo de um para outro lugar, em terreno escorregadio e acidentado, como acontece geralmente. “Os negros, ao contrário, possuem facilidade de movimento e produzem bastante, quer sob o estímulo de uma pequena recompensa, quer sob a ameaça do chicote do feitor. Mesmo o transporte nos carrinhos de mão comuns se torna mais difícil. Já os escravos estão perfeitamente habituados ao serviço, fazendo viagens de ida e volta no tempo em que o carrinho gasta para fazer uma somente”(31). Outro fato a obstar o uso da maquinaria correspondia à dificuldade de enviar objetos pesados e volumosos do litoral para as minas, quando tal transporte dava-se em lombo de mula, por caminhos acidentados e de péssima qualidade. A própria carga fiscal onerava sobremaneira tal tipo de produto. O ferro, por exemplo, elemento básico na construção de qualquer ferramenta ou equipamento, sofria uma superposição de taxas que o tornava economicamente inacessível. Azevedo Coutinho, ao analisar as principais causas da decadência das minas, apontava como uma delas o alto custo do ferro, cujo quintal custava no Reino 3800 réis e se vendia nas Minas Gerais ao preço de 19200 réis, “pois que, além do seu preço e dos transportes, principalmente em bestas, desde os portos do mar até o interior das minas, são desproporcionados os direitos que carregam sobre estes gêneros tão necessários e de primeira necessidade para a extração do ouro”(32). A reforçar essa tendência ao uso do fator trabalho, sabe-se que na atividade extrativa, mesmo a implantação de custosos processos mecânicos, não garantia resultados satisfatórios. O próprio Eschwege, em seu afã de introduzir melhorias técnicas nas Gerais, construiu um complexo aparelho mecânico, em local que acreditou apropriado tecnicamente e no qual poderia ser visto pelos mineradores a fim de estimulá-los, pelo exemplo, a contemplarem suas lavras com tais inovações. “Nesse lugar, eu construí um engenho de socamento hidráulico, destinado a moer as numerosas rochas auríferas que as águas arrancam da serra, e coloquei-o em circuito com um grande lavadouro, para aproveitar a areia aurífera do rio, que constitui meio de vida para muitos negros pobres. Dificuldades extraordinárias tive que vencer para conseguir a queda d’água necessária. Trabalhei durante quatro meses para estabelecer uma barragem de vinte metros de altura no ribeirão do Carmo e, quando estava quase terminada, veio, à noite, um temporal extraordinariamente violento, que engrossou o ribeirão e aniquilou a barragem até a base”(33). Eschwege, ao criticar os mineiros, fornece uma visão clara da posição desses indivíduos quanto à introdução de máquinas em suas lavras. Os mineiros não mostravam preconceito com respeito às máquinas, o que não os levava a adquiri-las para satisfazer um mero capricho; preocupavam-se com o efetivo resultado econômico da inovação a ser implantada, sem empolgar-se pelo engenho em si mesmo. “O mineiro brasileiro, que só pude conhecer bem depois de bastante trabalho, ajuíza em geral da utilidade de um trabalho ou de uma máquina, não pelo que ele ou ela pode realizar, mas só pelo que é capaz de produzir, sem levar em consideração as circunstâncias que constituem óbice ao fim colimado. “Sua primeira pergunta, por exemplo é: quanto ouro tem-se conseguido com isso? Se a resposta não é inteiramente satisfatória, logo pontifica que o trabalho ou a máquina de nada vale, sem considerar o fato de o terreno poder produzir ouro ou não. Ele exige maravilhas do maquinário”(34). Porque trocar a certeza do trabalho escravo por algo incerto e oneroso? De incerto bastava o próprio rendimento da data. Os mineiros, embora não se servissem usualmente de máquinas e equipamentos sofisticados, construíram obras civis de grande envergadura como extensos aquedutos, a demonstrar conhecimentos práticos de hidráulica; mundéus de grande capacidade e canais suspensos ou paralelos para mudança do leito dos rios. A própria realização

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dessas obras fundamentava-se no uso intensivo e quase exclusivo do trabalho humano, ou seja, da mão-de-obra escrava. A forma como organizou-se a produção nas Gerais, que possibilitava o surgimento de pequenas e médias unidades produtivas, pode sugerir que a mineração demandasse um montante total de investimentos relativamente reduzido. Entretanto, a nosso ver, isso não corresponde à realidade. Embora proliferassem unidades de pequenas e médias dimensões, no agregado, a lide extrativa representou um investimento de largas proporções, alocado preponderantemente em escravos (35). Como peculiaridade da economia mineira, conforme praticada nas Gerais, pode-se apontar um aspecto de extrema relevância para o entendimento da sociedade ali estabelecida. Em primeiro lugar, o ouro representava um produto final, acabado, pois tratava-se de metal aluvial, já desagregado da rocha matriz. Se compararmos a mineração à atividade açucareira, verificaremos a grande diferença existente sob tal aspecto. Nas Gerais, o minerador, mesmo o de escassos recursos, extraído o ouro, podia encaminhá-lo diretamente às Casas de Fundição, onde obtinha um preço fixo, único, pela sua mercadoria. Na lavoura canavieira, entretanto, o produtor sem engenho – arrendatário ou proprietário da terra – ficava à mercê de um senhor de engenho para moer sua cama, ao qual remunerava com mais da metade do açúcar obtido. Como expôs Alice P. Canabrava, “apenas os lavradores com partido próprio, livres quanto à moagem de suas canas, obtinham no engenho a metade da produção líquida; os que plantavam em terras do engenho, em sítio favorecido pela fertilidade e meios de comunicação, recebiam apenas um terço, ou seja, 33%; a grande maioria se beneficiava com 40%, isto é, dois quintos de produção. Temos que acrescentar a estas porcentagens indicadas os açúcares de recuperação, o que quer dizer, os batidos ou panelas que, juntamente com o mel e o remel cabiam apenas ao senhor de engenho. “Esta era a estrutura de produção, vigente na época de Andreoni, sancionada jurídica e socialmente. Constituía, em grande parte, o alicerce em que se firmava o desenvolvimento do poderio econômico dos senhores de engenho, e resume as enormes vantagens usufruídas por ele dentro do sistema”(36). Assim, embora existissem produtores de cana de medianos ou apoucados recursos, esses indivíduos não constituíam uma unidade produtiva completa, autônoma; estavam vinculados umbilicalmente a algum engenho, que representava a unidade básica daquela economia. A nosso ver, essa diferença entre as duas atividades fundamentava-se essencialmente na divisibilidade do investimento. Enquanto na mineração a unidade produtiva mínima fracionava-se até o montante representado por um único escravo, na economia açucareira a unidade mínima completa, que incluía o engenho, representava um investimento de elevadas proporções e só realizável por indivíduo de grande cabedal. IV. A “ RACIONALIDADE” DO MINEIRO E O INTERESSE METROPOLITANO

Como expusemos anteriormente, a facilidade extrativa do minério de aluvião encontrado nas Gerais estimulou o rápido afluxo de indivíduos com diferentes níveis de riqueza. De início, a atividade produtiva, da forma como se organizava, permitia o ingresso de todos na faina aurífera e mais. Igualava a produtividade física por cativo de pequenos e grandes empresários, que deveria variar mais pela riqueza da beta explorada do que pelo porte do minerador. “O mesmo veio, que é rico no princípio se faz muitas vezes bem pobre na sua continuação e seguimento (…)”(37).

A ordem na escolha das datas minerais distribuídas pela Coroa realizava-se por sorteio. Ao minerador contemplado dava-se o direito de escolher a área que mais lhe conviesse, com o tamanho proporcional aos escravos possuídos, até doze cativos. Quem se apresentasse com escravaria acima desse número, recebia, na ordem do sorteio, data proporcional ao máximo de doze escravos e aguardava a eventual sobra de terra explorável, após concederem-se datas a todos os mineradores presentes. Deste modo,

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pode-se supor que a área adicional obtida, que não havia merecido a escolha de qualquer dos mineiros sorteados, devia constituir um risco de insucesso relativamente alto, se comparado ao das datas inicialmente distribuídas (38).

Em relação às minas, conforme foi dito, o interesse da Coroa revelava-se essencialmente fiscal, arrecadador. Pretendia tirar da mineração, a curto prazo, o máximo de rendimentos para a Fazenda Real. Consciente ou inconscientemente, a Coroa obteve tal resultado pelas próprias normas legais impostas.

No regimento de 1702 e nas medidas posteriores transparece o espírito de abrir a atividade a todos os que se dispusessem a exercer efetivamente a mineração. E mais, igualar as oportunidades de grandes e pequenos proprietários de escravos. Nesse sentido, podemos ilustrar a posição da Coroa com o seguinte texto legal:

“E porque muitas vezes bem sucedido esbulhar alguns poderosos a um pobre miserável em parte pela sua data pela a achar com pinta rica, convir muito conservar a cada um no que lhe pertence (…)”(39).

“E porque é muito prejudicial repartirem-se aos poderosos em cada Ribeiro que se descobre sua data, ficando por esta causa, muitos pobres sem elas (…)”(40);

“(…) e aquelas pessoas que não chegarem a ter doze escravos lhes serão repartidas duas braças e meia por cada escravo para que igualmente fiquem todos lucrando a mercê que lhes faço, e para que não haja a queixa nem dos pobres nem ricos por dizerem que na repartição houve dolo, repartindo-se a uns melhor sítio, que a outros por amizade ou respeito, o guarda-mór mandará fazer tantos escritos quantas forem as pessoas com quem se houver de repartir e com o nome de cada deitará em um vaso embrulhado, por um menino de menor idade que achar mandará tira cada um dos escritos e o primeiro que sair lhe assinará sua data (…)”(41).

Porque esse interesse pelos pobres frente aos poderosos? A nosso ver, a razão prende-se exclusivamente ao objetivo de maximizar a produção, por unidade de tempo, para ampliar sua própria receita. Na medida em que ricos e pobres obtinham rendimentos comparáveis, por escravo alocado na atividade aurífera, impunha-se estimular o afluxo de mão-de-obra escrava às minas, dando-se oportunidade a todos.

A defesa dos “pobres” e a relativa igualdade de todos os mineradores, ocorrida na primeira fase da atividade aurífera, quando o metal extraía-se facilmente, amorteceu-se, provavelmente, na medida em que os trabalhos exigiam maior vulto e, portanto, indivíduos com elevados recursos materiais. O chamado “Privilégio da Trintena” – lei de 1752 que concedia aos mineiros, senhores de mais de trinta cativos, o privilégio de excluir a penhora de escravos e lavras, quando executados por dívidas – reflete, a nosso ver, uma mudança na orientação da Coroa. Como nas Gerais, os negócios realizavam-se, em sua quase totalidade, a crédito, pode-se imaginar o alcance de tal determinação régia. “Todos sabem que o sistema de negócio deste país é muito diverso do que se pratica em outra qualquer parte, porque de quantos gêneros que nela encontram, nenhum se vende com o ouro de contado, mas fiado por anos (…)”(42). Mesmo nessa época, José João Teixeira Coelho, ao comparar grandes e medianos proprietários, mostrava as vantagens dos últimos em termos de produção. “Além disso, certamente não é mais útil ao interesse público um Mineiro de trinta Escravos, do que três Mineiros, cada um de dez, antes tem mostrado a experiência, que estes pequenos Mineiros fazem crescer mais o Quinto do que os grandes; e parece que todos se fazem dignos do mesmo privilégio, ou que nenhum deve ter” (43).

Ao distribuir datas na proporção dos escravos possuídos, a Coroa estimulava cada mineiro a concentrar a maior parte de seus recursos disponíveis – além de sua capacidade de endividamento – na aquisição de mais cativos. Como reflexo criava-se maior potencial produtivo, com a entrada de mais escravos nas Gerais e aumentava-se a arrecadação da Fazenda Real, pelas inúmeras taxações incidentes sobre a escravaria – tanto no tráfico, como no seu deslocamento do litoral para as minas. Note-se que, criar uma demanda persistente por escravos, enquadrava-se perfeitamente nas regras do Sistema Colonial, que tinha no tráfico uma de suas principais fontes de acumulação.

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Vários outros itens legais refletem o anseio em estimular a produção e, portanto, o excedente apropriado pela Metrópole. Por exemplo, estipulava-se um prazo para o início dos trabalhos (quarenta dias) e não se concedia uma segunda data antes do minerador haver “lavrado” a primeira. Alegava-se que o indivíduo ao receber várias datas ou as vendia ou as deixava sem explorar, em prejuízo de outros mineiros e dos quintos reais. “E porque é muito prejudicial repartirem-se aos poderosos em cada Ribeiro que se descobre sua data, ficando por esta causa, muitos pobres sem elas ou sucede ordinariamente por não poderem lavrar tantas datas venderem os pobres, ou estarem muito tempo por lavrar o que não é somente em prejuízo dos meus Vassalos, mas também dos meus Quintos, pois podendo-se tirar logo se dilatam (…)”(44).

Do ponto de vista do mineiro, havia o interesse em obter o máximo de produção, dada a restrição do número de escravos possuídos. Ao condicionar-se o recebimento de uma segunda data à lavra da primeira e havendo novas áreas descobertas, o minerador sentia-se estimulado a realizar uma extração rápida na data recebida, ainda que superficial, e logo candidatar-se ao recebimento de uma nova data. Tal modo de agir pode ser considerado coerente do ponto de vista do minerador, pois esperava extrair uma quantidade maior de ouro por escravo alocado na lavra virgem do que na lavra parcialmente explorada; abria-se, ademais, a possibilidade de ser contemplado com uma daquelas datas excepcionalmente ricas, que eram o sonho de todos os participantes daquela empreitada.

Destarte, por atender tanto ao interesse individual do mineiro, como ao desejo arrecadador da Coroa, as minas foram rapidamente exploradas e esgotadas – com o abandono de algum ouro no cascalho parcialmente explorado. Explica-se dessa forma a apontada destruição dos recursos naturais tanto pela racionalidade dos mineiros como pelo interesse Metropolitano em apropriar-se de parcelas significativas da riqueza então extraída.

* * *

Neste capítulo, procuramos descrever e analisar a técnica extrativa da qual se

serviram os mineradores nas Gerais, no período em que ali predominou a faina aurífera. Objetivamos demonstrar como tais processos produtivos regularam-se tanto pelas condições do meio a recursos materiais disponíveis, como pela racionalidade dos mineiros e interesse Metropolitano, consubstanciado, este último, no arcabouço legal e administrativo implantado.

Na segunda parte, estudamos alguns núcleos mineratórios no período em questão e verificamos em que medida as características sócio-econômicas ali encontradas refletem o quadro de referência apresentado nos dois primeiros capítulos.

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N O T A S (1) FERREIRA, Waldemar Martins – História do Direito Brasileiro, Max Limonad Editor, 1956, São

Paulo, tomo IV, p. 144. (2) “Regimento das Minas do Brasil de Treze de Agosto de Mil Seiscentos e Três”, in PAES LEME,

Pedro Taques de Almeida – Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da mesma Capitania. Introdução e notas de Afonso de E. Taunay. Publicações Comemorativas da Cidade de São Paulo. Biblioteca Histórica Paulista, X volume, São Paulo, pp. 161 a 175. Sobre o tema, veja-se: COELHO, José João Teixeira – “Instrução para o Governo da Capitania de Minas Gerais”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol. VIII de 1903, p.490 e seguintes. COELHO, José João Teixeira – “Do quinto do Ouro e das diversas formas de sua cobrança”, in Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico, nº . 23, outubro de 1844, p.284 e seguintes. VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de – “Minas e os Quintos do Ouro”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, nº . VI de 1901, p. 857 e seguintes. “Regimento da Capitação, conforme cópia assinada por D. Martinho de Mendonça de Pena e de Proença, em Vila Rica aos 27 de março de 1734”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, nº . III de 1898, p. 37 e seguintes. FERREIRA, Waldemar Martins – História do Direito Brasileiro, Max Limonad Editor, 1956, São Paulo, tomo IV. CALÓGERAS, João Pandiá – As Minas do Brasil e sua Legislação, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1905.

(3) “Regimento de mil seiscentos e dezoito”, in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida – op.cit., pp.

175 a 180. (4) ESCHWEGE, W.L. von – Pluto Brasiliensis, Editora Nacional, São Paulo, 1944, il., 2 vol.,

(Brasiliana, Biblioteca Pedagógica Brasileira, vol. 257 e 257-A), pp. 162/163.

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(5) HOLANDA, Sérgio Buarque de – “Metais e Pedras Preciosas”, in História Geral da Civilização Brasileira, tomo I – A Época Colonial, 2º . Vol., Difusão Européia do Livro. São Paulo, 1973, p. 269.

(6) “Regimento das Minas de 1702”, in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida – op.cit., p. 199 e

seguintes. (7) “Regimento das Minas do Brasil de 1603, artigo 21”, in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida –

op.cit., p. 167. (8) O autor continua e afirma: “Mas ficariam ao depois de propriedade do Estado, quando então

começaria a segunda fase (…). Veio a Constituição Federal de 1891 e reconduzindo-nos à teoria de que o acessório segue o principal, declarou “As minas pertencem ao proprietário do solo”. É a terceira fase que se prolongou até 1937 (10 de outubro), quando a Constituição então outorgada diversificou um tanto a orientação anterior, para reestatizar o subsolo mineiro. Surgiu assim a quarta fase, que indo de 1937 a 1946 que, em nada teve alterada a essência da anterior (…)”. Ordenações e Leis do reino de Portugal, Recopiladas por mandato d’El Rei D. Felipe, o Primeiro. Texto com Introdução, breves notas e remissões redigidas por ALMEIDA, Fernando H. Mendes, Editora Saraiva, São Paulo, 1967, p. 104 e seguintes.

(9) Essa área, em quadra, correspondia a 4356 m². (10) Regimento de 1702, artigo 5º , in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida – op.cit., p. 190. (11) Sobre a distribuição de datas, vide o Apêndice: Datas Minerais – Estudo de um Documento Original. (12) Idem, cap. 29, pp. 197/198. (13) CANABRAVA, Alice P. – “João Antônio Andreoni e sua Obra”, in ANTONIL, André João (pseud.de

João Antônio Andreoni) – Cultura e Opulência do Brasil. Introdução e vocabulário por A.P. Canabrava, 2ª.edição, Editora Nacional, São Paulo, s/d., (Roteiro do Brasil, vol.2), p.98.

(14) O presente trabalho contém, em anexo, um GLOSSÁRIO, com termos técnicos utilizados nas

Gerais no século XVIII. (15) ESCHWEGE, W.L. von – op.cit., p. 305/307. (16) PRADO JÚNIOR, Caio – Formação do Brasil Contemporâneo (Colônia), Editora Brasiliense,

9ª.edição, São Paulo, 1969, p. 179. (17) SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Livraria

Itatiaia Editora Ltda., EDUSP, trad. De Vivaldi Moreira, São Paulo, 1975, (Coleção Reconquista do Brasil – vol.4), p. 116.

(18) ESCHWEGE, W.L. von – op.cit., p.307. (19) LEME, Antonio Pires da Silva Pontes – Memória: “Sobre a utilidade pública de se extrair o ouro das

Minas, e os motivos dos poucos interesses que fazem os particulares, que minarão atualmente no Brazil”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, nº. 1, Imprensa Oficial de Minas Gerais, Ouro Preto, 1896, p. 420. Tal memória, sem data, deve ter sido escrita em fins do século XVIII ou início do XIX, uma vez que o autor nasceu em meados do século XVIII e faleceu em 1805, tendo em 1800 assumido o Governo da Capitania do Espírito Santo.

(20) MENDONÇA, Coronel Bento Fernandes Furtado de – “Primeiros Descobridores das Minas do Ouro,

na Capitania de Minas Gerais”. Notícia resumida por M.J.P. da Silva Ponte, in Revista do Arquivo Público Mineiro, nº . IV, Imprensa Oficial de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1899, p. 95.

(21) LIMA JÚNIOR, Augusto de - A Capitania das Minas Gerais, Livraria Editora Zélio Valverde, Rio de

Janeiro, 2ª.edição, 1943, il., p. 113. Saint-Hilaire assim se refere a eles: “Observei um desses aquedutos rústicos que os mineradores constróem para conduzir a água, as vezes de muito longe, até suas lavagens. Esses aquedutos, que consistem simplesmente em condutos de madeira descobertos e suportados por longos esteios, formam, às vezes, como o da Passagem, curvaturas bastante largas, e produzem na passagem um efeito bastante decorativo”. SAINT-HILAIRE, Auguste de – op.cit., p.78.

(22) SAINT-HILAIRE, Auguste de – op.cit., p. 110.

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(23) CALÓGERAS, João Pandiá – As Minas do Brasil e sua Legislação, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1905, p. 121.

(24) CALÓGERAS, João Pandiá – op.cit., p. 124. (25) ESCHWEGE, W.L. von – op.cit., p. 324. (26) CALÓGERAS, João Pandiá – op.cit., p. 125. (27) CALÓGERAS, João Pandiá – op.cit., p. 125/126. (28) Sobre o Sistema Colonial e o papel do tráfico na acumulação metropolitana, veja-se NOVAIS,

Fernando A. – Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), Editora Hucitec, São Paulo, 1979, (Coleção Estudos Históricos), p. 57 e seguintes e WILLIANS, Eric – Capitalismo e Escravidão, Editora Americana, Rio de Janeiro, 1975.

(29) A partir de 1771, a extração diamantina esteve a cargo da Coroa, que alugava os escravos

necessários às lavras, ao invés de possuir escravaria própria. (30) ESCHWEGE, W.L. von – op.cit., p. 196. (31) COUTINHO, José Joaquim da Cunha Azeredo – “Discurso sobre o Estado Atual das Minas do

Brasil, Imprensa Régia ano MDCCCIV, por ordem superior”, in Obras Econômicas de J.J. da Cunha Azeredo Coutinho (1794-1804), Cia. Editora Nacional, Coleção Roteiro do Brasil, vol. 1, São Paulo, 1966, p. 199.

(32) ESCHWEGE, W.L. von – op.cit., p. 69. (33) IDEM, IBIDEM. (34) Apenas como exercício, estimemos a quantidade de ouro equivalente aos 7937 escravos sobre os

quais se pagou a capitação na Comarca do Serro do Frio, em 1738. Pode-se admitir que o cativo adulto, produtivo, alcançasse nas Gerais, um preço em torno de trezentos mil réis, ou seja, 717 g de ouro (considerado o valor de 1500 réis por oitava). Assim, os escravos tributados no Serro, certamente dedicados em sua grande maioria, à faina extrativa, representariam o equivalente a 5692 kg de ouro (379,5 arrobas). Se tomarmos as estimativas de Noya Pinto, o período de maior extração de ouro em Minas Gerais corresponderia ao qüinqüênio 1735/1739, quando se obtiveram 10.637 kg por ano. Portanto, nossa avaliação, quanto ao valor da escravaria anotada no Serro em 1738, representaria 53,5% daquele total. Sobre a produção de ouro no Brasil – Colônia, veja-se PINTO, Virgilio Noya – O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-Português, Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1979, (Coleção Brasiliana, vol. 371), p.114; ESCHWEGE, W.L. von – op.cit., e SIMONSEN, Roberto C. – História Econômica do Brasil (1500-1800), Cia. Editora Nacional, 6ª.edição, São Paulo, 1960, il., (Coleção Brasileira), Série Grande Formato, vol.10). A respeito do preço de escravos em Minas Gerais, em meados do século XVIII, veja-se COELHO, Lucinda Coutinho de Mello – “Mão-de-Obra Escrava na Mineração e Tráfico Negreiro no Rio de Janeiro”, in Anais do VI Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Trabalho Livre e Trabalho Escravo), vol.I, FFLCH-USP, São Paulo, 1973, pp. 449/489.

(35) CANABRAVA, Alice P. – op.cit., p. 50. (36) COUTINHO, José Joaquim da Cunha Azeredo – op.cit., p. 196. (37) CANO, Wilson – “Economia do Ouro em Minas Gerais (Século XVIII)”, in Contexto, nº . 3, julho de

1977. (38) Regimento de 1702, artigo 4, in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida, op.cit., p. 189. (39) IDEM, IBIDEM, artigo 7, p. 191. (40) IDEM, IBIDEM, artigo 5, p. 190. (41) “Protestos das Câmaras Municipais de Minas Gerais contra a taxa de capitação em 1741-51, Códice

Costa Matoso. Biblioteca Municipal de São Paulo. (42) COELHO, José João Teixeira – “Instrução para o Governo da Capitania de Minas Gerais”, op.cit.,

p.507.

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(43) Regimento de 1702, artigo 4, in PAES LEME, Pedro Taques de Almeida, op.cit., artigo 7, p. 191. CAPÍTULO III

CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DE ALGUMAS LOCALIDADES MINEIRAS A mineração, atividade implantada em pleno sertão do Brasil, ao longo do século XVIII, revelou, como vimos, formas de povoamento e estrutura produtiva singulares. Tal fato refletiu-se na própria organização da sociedade assentada nas Gerais, como procuraremos demonstrar com base no estudo de diversos centros mineiros, em diferentes anos: Vila de Pitangui (1718 a 1723), Comarca de Serro do Frio (1738), Freguesia de Congonhas do Sabará (1771 a 1790), Distrito de São Caetano e Vila Rica (1804). A análise da estrutura socioeconômica realizar-se-á em dois níveis. Neste capítulo tomaremos cada localidade isoladamente, de modo a extrair dos documentos compulsados, o maior volume possível de informações; no capítulo seguinte, estudaremos pontos específicos, com o objetivo de comparações intertemporais dos resultados. I. VILA DE PITANGUI (1718-1723)

A análise dos números relativos a Pitangui – dos quais contamos com informações, excluído o ano de 1721, para o período 1718-1723 -, propicia sugestivas ilações a respeito dos proprietários de escravos e sobre a própria massa de cativos.

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Evento dos mais marcantes refere-se ao crescimento dos elementos anotados no período citado. A massa escrava viu-se quase triplicada nesses cinco anos analisados, a acompanhar um expandir semelhante no número de proprietários.

Tomados em conjunto – escravos e proprietários – em 1718 anotaram-se 349 pessoas; em 1719, esse número alcançava 477, manteve-se estável em 1720 (com 481) e atingiu mais de um milhar em 1722/1723.

Os proprietários somavam 49 em 1718 e 62 em 1720, perfaziam 124 em 1722 e 135 em 1723, ou seja, evoluíram em 175%, num quinquênio. Simultaneamente, a massa escrava, de um total de 300 indivíduos, em 1718, e 419 em 1720, expandiu-se para 893 em 1722 (cf.tabela 1 e AE-1 do Anexo Estatístico).

Os dados apresentados podem ser complementados pelo número de lojas e vendas taxadas – cinco relativas a 1720, contra vinte correspondentes a 1722 (Tabela AE-2).

Tabela 1

PROPRIETÁRIOS E ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO SEXO

(Vila de Pitangui – 1718 a 1723)

Qualific. PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS TOTAL ANOS H M H+M H M H+M H M H+M

1718 48 1 49 255 43 300 303 44 349

1719 61 1 62 350 65 415 411 66 477

1720 58 4 62 350 69 419 408 73 481

1722 114 10 124 739 146 893 853 156 1017

1723 127 8 135 702 141 867 829 149 1002

OBS.: A diferença entre a coluna (H+M) e a soma das colunas (H) e (M) corresponde aos indivíduos para os quais não se indicou o sexo. O período estudado (1718-1723) correspondeu, como vimos, a uma fase conturbada da vida de Pitangui. Sendo o códice compulsado um documento fiscal, pode-se explicar o rápido expandir das pessoas anotadas a partir de 1720. Deveria refletir não só o aumento da população da urbe, ocorrida após o fim das hostilidades, mas também a redução do número de sonegadores dos quintos. A análise do sexo das pessoas arroladas revela franco predomínio masculino em todos os anos considerados. Em 1718, por exemplo, em meia centena de senhores, registrou-se apenas um elemento feminino. Em 1723, as mulheres somavam oito, face o total de 127 homens (cf. Tabela AE-1). Embora os indivíduos do sexo masculino também predominassem entre os cativos, a desproporção não alcançava os níveis verificados para os proprietários; as mulheres representaram, nos cincos períodos, um peso relativo de, aproximadamente, 15% contra 85% do sexo oposto (cf.tabela AE-1 e AE-3). Outra informação possível de ser obtida refere-se à origem dos escravos. Nota-se o marcante peso relativo dos africanos, com mais de 80% nos anos considerados, fato inequivocamente associado à fase inicial da atividade mineira (cf. Tabela 2).

Tabela 2

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Vila de Pitangui – 1718 a 1723)

ORIGEM COLONIAIS ANOS

AFRICANOS ÍNDIOS OUTROS TOTAL

1718 245 28 25 53

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1719 342 37 33 70

1720 346 37 33 70

1722 731 54 90 144

1723 695 45 80 125

O rápido expandir dos trabalhos extrativos exigia correlato incremento da mão-de-obra escrava; esta necessidade atendia-se através do amplo contingente de cativos oriundos do território africano. Quanto ao elemento “colonial”, ou seja, nascido na Colônia, cabe realçar a significativa parcela de indígenas reduzidos à condição de escravos: representavam, em 1718, 9,3% do total da escravaria, contra 8,3% de coloniais com ascendência africana. A elevada presença de índios explica-se pelo predomínio dos paulistas na Vila, os quais, segundo relatou Antonil, serviam-se em larga medida dos silvícolas. Nota-se, entretanto, a contínua queda, ao longo dos anos, na participação dos indígenas: em 1723 representavam, tão somente, 5,2% da massa de cativos. O incremento, em termos absolutos, dos silvícolas – de 28 em 1718 passaram a 45 em 1723 – colocou-se, portanto, bem abaixo do relativo aos escravos africanos e dos demais indivíduos de origem colonial. Por outro lado, o componente referente aos últimos manteve-se estável, em que pese a quebra percentual dos índios. Este comportamento relacionou-se com o significativo acréscimo, em termos absolutos e relativos, dos cativos coloniais de ascendência africana (cf.tabelas 2 e AE-4). Pode-se estudar, também, a repartição dos escravos africanos segundo grandes grupos de origem. Os dados revelam, por um lado, o incremento de escravos africanos – de 245 para 695 no período 1718-23 – e, por outro, a participação crescente, no correr do período, dos Sudaneses – do percentual de 44,6% em 1718, para 49,8% em 1723. Este aumento deu-se, sobretudo, pela maior presença dos Minas que, em termos absolutos, passaram de 77 para 295 nos anos estudados. Corresponde este incremento à taxa de 283%, superior, portanto, à verificada para a massa de cativos em conjunto – 156,3% (cf.tabela 3 e AE-5). Dentre os Bantos revelaram-se importantes, quantitativamente, diversas “nações”: Congos – que constituíram, nos anos considerados, aproximadamente 30% do total desse grupo – Bengalas, Angolas e Monjolos. Como vemos, o rápido crescimento da escravaria observado em Pitangui, deveu-se, em grande parte, aos africanos, com predominância dos Sudaneses. Em verdade, não dispomos de elementos para inferir se os escravos efetivamente chegados a esta Vila provinham diretamente da África ou representavam movimentos populacionais dentro da própria Colônia. Possivelmente, os dois processos ocorriam, ao mesmo tempo, podendo-se supor que os Sudaneses deveriam ter importância relativa, quantitativamente, tanto no estoque de escravos existentes em outras áreas do Brasil, como no fluxo de cativos dirigidos às minas, vido dos portos do Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo.

Tabela 3

ESCRAVOS AFRICANOS, REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Vila de Pitangui – 1718 a 1723)

Grupos/Nações ANOS

SUDANESES BANTOS OUTROS (*)

TOTAL

1718 107 133 5 245

1719 148 190 4 342

1720 145 194 7 346

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1722 347 363 21 731

1723 338 341 16 695

(*) Africanos para os quais não constavam informações para o enquadramento nos dois grupos. Os dados compulsados permitem algumas ilações quanto à forma como os escravos distribuíam-se entre os senhores. Conforme anteriormente exposto, os escravos constituíam o principal fator de produção, privilegiado tanto pela técnica adotada como pela legislação que vinculava o tamanho das datas à escravaria possuída pelos mineiros. As informações obtidas demonstram predomínio de senhores com reduzido número de escravos. Em Pitangui, em 1718, apenas dois indivíduos anotaram-se com mais de vinte cativos – Capitão Antonio Furquim, com 22 e Antonio Roiz Velho, com 24. Este “fazia parte de uma família de nobres bandeirantes paulistas, descobrindo-se-lhe, pelos apelidos, o parentesco com o celebrado, desbravador de sertão Garcia Rodrigues Velho, de quem era, talvez, irmão”(1), tendo sido um dos primeiros juízes ordinários da Vila. Por outro lado, doze dentre os 49 proprietários possuíam dois escravos e vinte e quatro detinham quatro ou menos cativos (cf.tabela 4 e AE-6).

Tabela 4

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Vila de Pitangui – 1718 a 1723)

ANOS 1718 1723

PROPRIETÁRIOS ESCR.POSSUÍDOS PROPRIETÁRIOS ESCR.POSSUÍDOS Número Escravos Possuídos Nº . % Nº . % Nº . % Nº . %

1 2 4,1 2 0,7 22 16,3 22 2,5

2 12 24,4 24 8,0 23 17,0 46 5,3

3 2 4,1 6 2,0 21 15,6 63 7,3

4 7 14,3 28 9,3 13 9,6 52 6,0

5 5 10,2 25 8,3 15 11,1 75 8,6

6 a 10 15 30,6 112 37,4 21 15,6 160 18,5

11 a 20 4 8,2 57 19,0 12 8,9 185 21,3

Mais de 20 2 4,1 46 15,3 8 5,9 264 30,5

TOTAL 49 100,0 300 100,0 135 100,0 867 100,0

Em 1719, registraram-se quatro senhores com vinte ou mais escravos, entre os quais Antonio Roiz Velho, com 24 e Joseph de Campos Bueno, este, com 31 cativos,

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constituíam-se nos mais representativos proprietários da Vila. No ano seguinte, apareceram novamente quatro mineiros com quantidade igual ou superior a vinte escravos, com supremacia de Manoel Lopez Castello Branco, possuidor de escravaria composta de quarenta elementos. A maior freqüência situou-se em dois escravos, com treze proprietários nessa classe. Os mineiros com quantidade igual ou inferior a quatro escravos representavam a metade dos senhores e possuíam, em conjunto, a parcela de 18,6% dos cativos da urbe. A partir de 1722, os proprietários com duas ou mais dezenas de escravos tornaram-se mais numerosos. Nesse ano, registraram-se dez indivíduos nessa condição, dos quais três – Antonio Roiz Velho, Joseph de Campos Bicudo e Manoel Lopez Castello Branco – com quatro dezenas de cativos cada um. Os mineiros com cinco ou menos escravos constituíam 52,4% dos proprietários e possuíam, em conjunto, 18% da escravaria. Se tomarmos os senhores com dez ou menos escravos, tais participações alcançavam 81,5% e 44,6%, respectivamente (cf.gráfico 1).

Por fim, em 1723, nove mineiros apresentaram-se com quantidade superior a

dezenove escravos. O predomínio na posse de escravos coube a Manoel de Sa Figueiredo, com quarenta e quatro, seguido por Antonio Roiz Velho, com quarenta e um. Nesse ano deu-se significativo crescimento no número de proprietários com apenas um escravo: corresponderam a 22 contra dez no ano anterior e quatro em 1720. Dessa forma, ocorria uma elevada concentração de indivíduos com escravaria composta de três ou menos elementos, 48,9% dos proprietários, os quais controlavam 15,1% dos escravos. Pode-se, adicionalmente, processar por métodos estatísticos os dados obtidos. A moda (2) – excluído o ano de 1719 - situou-se em dois em todo o período. A mediana (3) alcançou cinco nos dois primeiros anos e quatro nos demais. A média crescente entre 1718 e 1722 (de 6,1 passou a 7,2) apresentou uma queda no ano seguinte (6,4). Por fim, o Índice de Gini (4), indicador largamente utilizado como medida de concentração, mostrou-se relativamente modesto, mas aumentou anualmente no período considerado, exceto entre 1718 e 1719; de 0,403 em 1718, o Gini atingiu 0,532 em 1723, a indicar uma

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relativa concentração na posse de escravos. O período entre 1719 e 1720 parece ter sido crítico para essa alteração na estrutura de posse de cativos, pois o Índice expandiu-se de 0,397 para 0,480 (cf.tabela 5). Essa mudança na estrutura de posse de escravos pode ser também acompanhada através das curvas de Lorentz (4)

apresentadas a seguir. Como se nota, as curvas tornam-se a cada ano mais convexas, a evidenciar uma situação gradativamente mais concentrada na posse da escravaria existente na Vila em apreço (cf.página 72).

Tabela 5

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Vila de Pitangui – 1718 a 1723)

INDICADORES ANOS

MODA MEDIANA MÉDIA ÍNDICE DE GINI

1718 2 5 6,1 0,403

1719 4 5 6,7 0,397

1720 2 4 6,8 0,480

1722 2 4 7,2 0,508

1723 2 4 6,4 0,532

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Apresentamos, a seguir, as raras qualificações anotadas para os proprietários. As mais freqüentes correspondiam às Patentes Militares (quatro casos em 1718 e nove em 1723) e aos Eclesiásticos – cinco de 1720 a 1723. Em 1723, os indivíduos anotados com patentes detinham 150 escravos (16,7 em média) e os Eclesiásticos controlavam 55 cativos (média de 11,0). Quanto aos forros, contaram-se três casos em 1722 e quatro no ano seguinte; neste último ano, possuíam dez escravos, ou seja, 2,5 em média (cf.tabela AE-7). A falta de elementos informativos impede identificar as atividades produtivas desenvolvidas na Vila. Possivelmente, os indivíduos ali estabelecidos dedicavam-se, em sua maioria, à mineração, pois as demais atividades econômicas ainda se encontravam em fase embrionária nas Gerais. Por fim, consideremos algumas informações referentes às taxas cobradas e ao total arrecadado em Pitangui. Pelos acertos de conta de 1718 a 1722, verifica-se que a taxação por escravo alcançou três oitavas e doze vinténs em 1718; reduziu-se para duas oitavas e três quartos, em 1719; elevou-se para três oitavas em 1720 e apresentou significativa queda em 1722, quando foi de apenas uma oitava e dois tostões. Quanto às lojas e vendas, a tributação manteve-se em dez oitavas nos anos de 1718 a 1720 e reduziu-se para seis oitavas e meia em 1722. O total arrecadado atingiu 1.050 oitavas em 1718, aumentou para 1.130 oitavas em 1719 e manteve-se em 1.312 em 1720 e 1722 (5). O total arrecadado fazia parte da finta que os mineiros se haviam comprometido a pagar anualmente, em troca da circulação livre do ouro sem o funcionamento das Casas de Fundição. A mudança na importância ajustada – 25 arrobas a partir de 1718 e 37 arrobas após 1722 – e o aumento da população escrava refletiu-se no valor do tributo cobrado por cativo e por loja ou venda (cf.tabela 6).

Tabela 6

TRIBUTOS SOBRE ESCRAVOS E LOJAS

(Vila de Pitangui – 1718 a 1723)

TAXAÇÃO ANO

Taxa por escravo Taxa por loja ou

venda Total Arrecadado

1718 3 oitavas e 12 vinténs 10 oitavas 1050 oitavas

1719 2.3/4 oitavas 10 oitavas

1130 oitavas

1720 3 oitavas 10 oitavas

1312 oitavas

1722 1 oitava e 2 tostões 6.1/2 oitavas

1312 oitavas

OBS:- Para 1723, as informações relativas à tributação encontram-se ilegíveis. II. COMARCA DO SERRO DO FRIO (1738) O documento analisado (6), referente à Comarca do Serro do Frio, serviu à cobrança dos quintos, através do Sistema da capitação, adotado a partir de 1735 na capitania mineira. A riqueza do documento permite o estudo de variados aspectos da sociedade mineira, em 1738, ou seja, ainda na fase ascendente da atividade, mas quando a estrutura ali estabelecida já teria seus contornos nitidamente definidos. Encontram-se no manuscrito informações referentes a 1.744 indivíduos livres e 7.937 escravos; entre os elementos livres, contam-se 387 (22,2%) na condição de forros.

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Quanto ao sexo dos proprietários, evidenciou-se a predominância masculina, 83,6% contra 16,4% do sexo oposto. No segmento dos “não-forros” ocorria a maior desproporção entre o peso relativo dos dois sexos; enquanto os homens participavam com 97,4%, as mulheres representavam tão somente 2,6%. Para os forros, as cifras mostraram-se muito diferentes, com a supremacia dos elementos do sexo feminino. Dos 387 proprietários registrados como forros, as mulheres correspondiam a 63,0%, com 244 elementos, enquanto os homens somavam 143 indivíduos, ou seja, 37,0% (cf.tabela 7). Relativamente aos cativos, também revelou-se marcante supremacia masculina, 83,5% contra uma reduzida proporção de mulheres – 16,5% (Gráfico II).

Tabela 7

PROPRIETÁRIOS E ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O SEXO

(Serro do Frio – 1738)

Sexo MASCULINO FEMININO Caracterização Número % Número %

TOTAL

Proprietários 1458 83,60 286 16,40 1744 Não Forros 1315 97,40 42 2,59 1350 Forros 143 36,95 244 63,05 387

Escravos 6627 83,49 1310 16,50 7937 TOTAL 8085 1596 9681

Com as informações contidas no códice em questão, pode-se, também, estudar a estrutura etária da massa de cativos da análise dos dados salta à vista a concentração de indivíduos em determinadas idades, ou seja, a cada cinco anos, a partir dos doze, Desse modo, as idades terminadas em dois e sete revelavam porcentagens significativamente altas, em relação às demais em torno delas. Por exemplo, com vinte e dois anos contaram-se 877 escravos – 11,1% -, enquanto com vinte e um e vinte e três anos anotaram-se apenas 227 e 127 cativos, respectivamente. Desproporção similar repete-se em vinte e sete, trinta e dois, trinta e sete e assim por diante (cf.tabela AE-8).

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Com o uso de faixas etárias, pode-se contornar essa descontinuidade nas idades encontradas no códice. Evidencia-se, de imediato, a reduzida porcentagem de cativos com menos de quinze anos – 3,3%; a partir da faixa dos 15-19 anos, a participação manteve-se elevada: 10,8% nesta faixa, 24,3% na classe de 20-24, 21,9% no segmento de 25-29 e 18,1% no de 30-34anos. Assim, ao considerarmos o segmento de cativos com idades de 15 a 34 anos, obtemos uma participação de três quartos da escravaria (75,1%). Por outro lado, a faixa dos 30 e 49 anos – que pode ser considerada elevada para elementos reduzidos à condição de escravos – somava mais de um terço da escravaria: 35,6% (cf.tabela 8). O Gráfico III permite-nos avaliar a representatividade dos indivíduos em “idade ativa” (15 a 64 anos); nesse segmento concentrava-se nada menos de 96,0% da massa cativa. Por outro lado, as “crianças” – pessoas com menos de quinze anos – representavam 3,3% e os “anciões” – escravos com mais de 64 anos – apenas 0,5% (cf.tabela AE-9). Duas ressalvas devem ser feitas quanto aos resultados apresentados. Em primeiro lugar, a classificação utilizada foi elaborada para indivíduos livres, eventualmente imprópria para uma população escrava, colocada a trabalhar relativamente cedo e com baixa esperança de vida, muito inferior aos 65 anos, extremo superior do segmento considerado para a “idade ativa”. A segunda observação refere-se às características da massa de escravos sobre a qual se baseia este estudo. Trata-se do rol dos moradores do Serro, anotados com a finalidade de cobrança da capitação sobre os escravos, a recair sobre os africanos de qualquer idade e sobre os coloniais a partir dos quatorze anos ou antes, se utilizados em atividades produtivas.

Tabela 8

ESCRAVOS: ESTRUTURA ETÁRIA

(Serro do Frio – 1738)

FAIXAS ETÁRIAS Nº . DE PESSOAS NA

FAIXA PORCENTAGEM NA

FAIXA 0 - 09 3 0,04 10 - 14 257 3,24 15 - 19 860 10,83 20 - 24 1931 24,31 25 - 29 1739 21,90 30 - 34 1435 18,06 35 - 39 605 7,62 40 - 44 619 7,80 45 - 49 168 2,17 50 - 54 170 2,14 55 - 59 35 0,44 60 - 64 60 0,76 65 - 69 4 0,05 70 - 74 23 0,29 75 - 79 1 0,01 80 a 98 14 0,18 Não Consta 13 0,16

TOTAL 7937

100,00%

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Através da pirâmide de idades dos cativos vemos, de imediato, a desproporção entre o peso relativo dos sexos. Ademais, a pirâmide não mostra o perfil de uma população comum. Ocorria concentração elevada na faixa de idade entre 20 e 29 anos; tal fato verifica-se tanto para homens como para mulheres. Entretanto, no caso deste último grupo, notamos relativo equilíbrio entre a faixa de 10 a 19 e a dos 30 aos 39 anos; já para os homens, a faixa de 30 a 39 anos participava com um peso duas vezes superior ao da faixa de 10 a 19 anos. Estes dados mostram que os elementos do sexo masculino compunham um segmento populacional relativamente mais velho do que o das mulheres (cf.gráfico IV).

Tal conclusão também pode ser verificada através do estudo da razão de masculinidade – número de homens para cada grupo de cem mulheres – da massa escrava segundo faixas etárias. Esse indicador, alto para todos os segmentos etários, mostrou-se tanto maior quanto mais avançada a idade dos indivíduos. Na faixa de 10 a 19 anos a razão de masculinidade apresentava o valor 313,7; no segmento relativo aos 30 a 39 anos essa medida atingia 613,3, enquanto na faixa de 60 a 69 anos alcançava seu ponto máximo – 1180 (Gráfico V e Tabela AE-10).

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Estudemos a origem dos escravos. Verificamos, de imediato, a preponderância dos africanos, 7.491 sobre 7.937 cativos (94,4%), a demonstrar a importância das pessoas trazidas da África na força de trabalho das Gerais. No ano em questão, 1738, embora houvesse transcorrido cerca de quatro décadas desde o estabelecimento da faina aurífera, ainda não se criara em Minas massa de escravos de origem colonial suficiente para atender as crescentes necessidades de mão-de-obra. Assim, os coloniais, 399 elementos, constituíam, tão somente, 5,0% da escravaria anotada; destes, a maior parcela, ou seja, 261 cativos, anotou-se como crioulos, enquanto os mulatos e outros somaram 131. Ainda entre os coloniais, contaram-se sete índios (cf.tabela 9).

Tabela 9

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Serro do Frio – 1738)

ESCRAVOS ORIGEM NÚMERO PORCENTAGEM

AFRICANOS 7.491 94,38 COLONIAIS 399 5,03 - de ascendência Africana 392 4,94 - Índios 7 0,09 REINÓIS 11 0,14 Sem Especificação 36 0,45

TOTAL 7.937 100,00

Quanto aos africanos, preponderaram os Sudaneses com 5.912 componentes, ou

seja, 78,9%; os Bantos, com 1.579 indivíduos, participavam com 21,1% (cf.gráfico VI). Entre os Sudaneses predominavam os Minas (54,8%), seguidos pelos Coura e Coura Mina (13,4%). O maior contingente, dentre os Bantos, coube aos Angolas com 56,5%,

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seguidos pelos Bengalas (20,5%), Moçambiques (7,2%) e Congos (7,2%) (cf.tabela AE-11).

O cruzamento da origem dos cativos com a idade dos mesmos permite ilações

complementares. Os indivíduos na faixa etária de 20 a 29 anos predominavam entre os Bantos (37,6%), seguidos pelos elementos com idades entre 30 e 39 anos (25,8%) e de 40 a 49 anos – 14,4% (cf.tabela AE-12).

Quanto aos Sudaneses, na faixa de maior importância quantitativa – entre 20 e 29 anos – concentrava-se quase a metade dos indivíduos desse grupo (49,0%); o segundo nível em representatividade – de 30 a 39 anos – absorvia um quarto dos Sudaneses (25,9%). A faixa de 10 a 19 anos constituía-se na terceira em peso relativo, com 13,1%, seguida por aquela que englobava os elementos entre 40 e 49 anos – 9,0%.

Para os Bantos, contrariamente ao verificado com respeito aos Sudaneses, a participação do segmento etário entre 40 e 49 anos revelava-se equivalente à dos cativos anotados com idades entre 15 e 19 anos. Para os Sudaneses, a importância relativa do segmento entre 20 e 29 anos mostrou-se superior àquela apresentada pela massa de escravos Bantos.

Dessa forma, conforme pode ser visualizado no Gráfico VII, os Sudaneses revelaram uma estrutura etária relativamente mais jovem do que a dos Bantos. Para aqueles, 62,1% da escravaria possuía idade inferior a trinta anos, enquanto entre os Bantos, os indivíduos nesse segmento representavam 52,3%. Por outro lado, os cativos com idade igual ou superior a trinta anos e inferior a sessenta perfaziam 36,8% dos Sudaneses e 45,3% dos Bantos.

A mesma análise pode ser realizada para os Coloniais. Para estes, a faixa etária preponderante – indivíduos entre 20 e 29 anos – englobava 41,9% dos cativos; a seguir, vinham os escravos com idade na faixa dos trinta anos, com 22,8%; em terceiro lugar, com o peso relativo de 26,3%, colocava-se a faixa etária dos 10 a 19 anos.

A comparação entre os grupos Colonial e Africano demonstra que o último apresentava uma estrutura etária “mais velha”; enquanto entre os africanos 13,5% tinham menos de vinte anos, para os Coloniais este segmento etário respondia por 26,6% da massa escrava. Para os primeiros verificava-se a concentração de 72,5% entre 20 e 39 anos, enquanto no grupo Colonial contava-se 64,7% nesta faixa etária (cf.gráfico VIII).

O segmento composto pelos africanos não deveria representar elevada parcela de indivíduos de tenra idade que, de modo geral, os negreiros evitavam adquirir na África: o elemento preferido correspondia ao negro jovem, fisicamente pronto para o trabalho braçal. Por outro lado, se tomássemos toda a população de escravos Coloniais e não apenas o segmento produtivo para o qual dispomos de informações, provavelmente

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encontraríamos uma estrutura etária com peso relativamente alto nas idades mais baixas, configurando uma pirâmide etária mais próxima das comumente observadas.

Estudemos agora a estrutura de posse de escravos. Percebemos claramente o

predomínio quantitativo das pessoas possuidoras de apenas um cativo; representavam 37,6% dos proprietários e detinham, em conjunto, 8,3% da escravaria. Se tomarmos o segmento dos mineiros com um número não superior a quatro cativos, encontramos a significativa parcela de 73,9% dos senhores, os quais absorviam 30,0% da massa escrava (cf.gráfico IX e tabela AE-13).

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Por outro lado, os elementos com vinte ou mais escravos perfaziam 3,7% dos

proprietários, com o controle sobre um quarto da escravaria (27,0%); possuíam cinquenta ou mais escravos, sete mineiros deste grupo, dentre os quais merecem realce José Baptista e Manoel Teixeira da Silva, detentores de 79 e 77 cativos, respectivamente; os maiores proprietários do Serro na época em apreço (cf.tabela 10).

Tabela 10

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Serro do Frio – 1738)

PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS POSSUÍDOS NÚMERO DE ESCRAVOS NÚMERO % NÚMERO %

1 655 37,6 655 8,3

2 320 18,4 640 8,1

3 177 10,1 531 6,7

4 137 7,8 548 6,9

5 78 4,5 390 4,9

6 a 10 210 12,0 1608 20,2

11 a 20 103 5,9 1422 17,9

21 a 40 49 2,8 1339 16,9

41 e mais 15 0,9 804 10,1

TOTAL 1744 100,0 7937 100,0

Para os senhores anotados, a média de escravos por proprietário alcançou o valor

4,6; a moda foi de um e a mediana, dois. Estes indicadores demonstram o peso relativo dos senhores com reduzida escravaria. Por fim, o Índice de Gini era de 0,573 (cf.tabela 11) no Gráfico X vê-se a curva de Lorentz relativa à população em estudo.

Como complemento à análise, podemos relacionar as qualificações anotadas para mineiros e correspondentes escravos possuídos. Desde logo, conforme já salientado,

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merece realce o elevado número de proprietários forros (387). Estes libertos, embora possuíssem, em média, reduzido número de cativos (dois por elemento), detinham uma parcela considerável da escravaria relacionada no manuscrito (9,9%).

Tabela 11

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Serro do Frio – 1738)

ÍNDICES VALOR

ÍNDICE DE GINI 0,573

MÉDIA 4,55

MODA 1

MEDIANA 2

Os eclesiásticos compreendiam outro importante segmento da população:

contaram-se quarenta e um com 294 escravos, ou seja, com a significativa média de sete cativos por senhor. Entre esses membros da Igreja, alguns revelaram-se grandes proprietários, como o Padre Albano Pereira Coelho com trinta e três, o Reverendo José Garces Cavalcant com vinte e sete e o Padre Luis Pinto com vinte e seis cativos.

Outro grupo correspondeu às Patentes, Militares e Funcionários. Dentre os últimos merecem realce, por seus cargos, o Intendente dos Diamantes Raphael Pires Pardinho e o Intendente do Ouro, Plácido de Almeida Montoro. Dentre as Patentes e Militares anotaram-se grande proprietários como o Capitão Manoel de Souza Tavera, com trinta e quatro; o Capitão Mor Francisco Moreira Carneiro, com quarenta e dois; o Coronel Antonio de Mayteles Machado, com trinta e dois, e outros mineiros com mais de vinte escravos, o que elevou a média do segmento para 13,9 cativos por proprietário, relativamente alta quando comparada tanto à média geral como àquela apresentada pelos demais segmentos (cf.tabela AE-14).

Fato digno de nota prende-se à ocorrência de uma proprietária Índia – Teodozia Maria – caracterizada como “gentio da terra”, possuidora de uma escrava Mina.

Por fim, consideremos algumas informações adicionais extraídas do documento. Para quarenta e nove escravos constou qualificação profissional: ferreiros, mineiros, ferradores, sapateiros, alfaiates, barbeiros, cozinheiros e boticários (Tabela AE-15).

Ocorreram, também, casos de escravos casados, conforme abaixo exemplificado: 1. Bernardo mina casado, 37 anos

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Joana mina casada, 18 anos 2. Antonio mina casado, 27 anos

Francisca Cabo Verde casada, 39 anos

3. José casado mina, 42 anos Tereza casada Angola, 32 anos

4. Fao casado, 32 anos Mina casada, 27 anos

5. João casado Cobú, 42 anos Roza casada Courana, 32 anos Note-se que as uniões também davam-se entre indivíduos de nações distintas.

III. FREGUESIA DE CONGONHAS DO SABARÁ (1771) No manuscrito referente a Congonhas do Sabará (7), arrolaram-se as pessoas que se confessaram e comungaram na freguesia em questão, em 1771. Para manter homogêneo o tratamento dispensado aos dados e permitir confrontos, extraímos apenas as informações pertinentes aos indivíduos proprietários de cativos e respectiva escravaria. Contaram-se, em Congonhas do Sabará, 235 senhores, dos quais cinquenta e um caracterizaram-se como forros (21,7%); a população escrava alcançou o total de 1.350 indivíduos. No conjunto dos proprietários predominou o sexo masculino (77,4%), embora no segmento dos libertos ocorresse supremacia feminina (53%). O elevado peso dos homens no grupo dos “não forros” – 85,9% - explica a elevada proporção masculina no total dos senhores (cf.gráfico XI). Na massa escrava repetiu-se a maioria masculina, 860 elementos (73,1%) contra 317 pertencentes aos sexo oposto (26,9%), havendo, ainda, 173 escravos para os quais não se obteve a especificação do sexo (cf.tabela 12). No referente à origem dos escravos, verificou-se a seguinte distribuição: os africanos compreendiam 783 pessoas e os coloniais somavam 346. Com respeito aos africanos, observou-se relativo equilíbrio entre Sudaneses (398) e Bantos (385). Os escravos anotados como mina constituíam a quase totalidade dos Sudaneses (377 elementos), enquanto no segmento dos Bantos tal supremacia cabia aos angolas – 365 indivíduos (cf.tabela 13 e AE-16).

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Tabela 12

ESCRAVOS E PROPRIETÁRIOS: SEGUNDO SEXO E CONDIÇÃO SOCIAL

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1771)

Sexo Masculino Feminino Caracterização Número % Número %

Não especificado TOTAL

Proprietários 182 77,4 53 22,6 235

- Não Forros 158 85,9 26 14,1 184

- Forros 24 47,0 27 53,0 51

Escravos 860 73,1 317 26,9 173 1350

TOTAL 1042

370

1585

Tabela 13

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1771)

ORIGEM ESCRAVOS

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NÚMERO PORCENTAGEM AFRICANOS 783 58,0 - Sudaneses 398 29,5 - Bantos 385 28,5 COLONIAIS 346 25,6 Sem Especificação 221 16,4

TOTAL 1350 100,00

Quanto à estrutura de posse de escravos, evidenciou-se predomínio dos

“pequenos” proprietários. Assim, mais de uma centena dos senhores (44,3%) possuía até dois cativos, detendo, em conjunto, 11,0% da escravaria. Anotaram-se 150 indivíduos (63,8%) com quatro ou menos escravos; esse mesmo segmento controlava 296 elementos submetidos à condição escrava, ou seja, 22,5% dos cativos.

No extremo oposto, os indivíduos com vinte ou mais escravos perfaziam nove pessoas (3,8%) e seus cativos representavam 23,0% do total da escravaria. Apenas dois senhores possuíam mais de quarenta escravos, sendo o Alferes Alexandre de Oliveira Braga, com cinqüenta e sete, o maior proprietário (cf.tabela 14).

Tabela 14

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1771)

PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS POSSUÍDOS NÚMERO DE

ESCRAVOS NÚMERO % NÚMERO % (*)

1 63 26,8 63 4,8

2 41 17,4 82 6,2

3 33 14,0 99 7,6

4 13 5,5 52 4,0

5 17 7,2 85 6,5

6 10 30 12,8 227 17,3

11 a 20 30 12,8 424 32,3

21 a 40 6 2,6 175 13,3

41 e mais 2 0,9 107 8,0

TOTAL 235 100,0 1314 100,0

(*) Porcentagem relativa aos 1314 escravos para os quais indicaram-se os proprietários. Por fim, senhores com escravaria entre cinco e dezenove cativos representavam

32,3% dos proprietários e detinham 54,5% dos escravos (cf.tabela AE-17 e Gráfico XII).

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A média de escravos por proprietário foi de 5,6; a moda alcançou um e a mediana

três, valores que refletem a significativa proporção de indivíduos com reduzido número de escravos. O cálculo do Índice de Gini apresentou o resultado de 0,549 (cf.tabela 15).

Tabela 15

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1771)

ÍNDICES VALOR

Índice de Gini 0,549

Média 5,59

Moda 1

Mediana 3

Ao analisarmos a condição social dos proprietários de escravos, salta à vista, de

imediato, o elevado número de forros: cinqüenta e um elementos que, em conjunto, possuíam 134 escravos, ou seja, média de 2,6 cativos por indivíduo. Dos forros, 82,3% detinham escravaria composta de três ou menos cativos: note-se que dois dos libertos declararam-se possuidores do expressivo número de doze cativos (cf.tabela 16).

No que diz respeito às qualificações dos senhores, contaram-se nove com Patentes e massa de escravos da ordem de 166 elementos, o que perfaz a média de 18,4 escravos por proprietário; cinco Eclesiásticos cuja média de cativos alcançava 3,4 e, por

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fim, quatro Doutores e Licenciados com uma escravaria constituída de vinte e dois indivíduos, portanto, um número médio de 5,5 (cf.tabela AE-18).

Tabela 16

FORROS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1771)

Número de Proprietários Número de Escravos H M Total

Escravos Possuídos

1 8 10 18 18

2 6 7 13 26

3 3 8 11 33

4 3 3 12

5 1 2 3 15

6 1 1 6

12 2 2 24

TOTAL 24 27 51 134

No documento em apreço, evidencia-se um problema comum aos dois primeiros

códices compulsados neste estudo, qual seja, quase total inexistência de caracterização quanto à atividade produtiva dos senhores, a dificultar a análise da efetiva divisão de trabalho praticada nesses núcleos. Na Freguesia de Congonhas do Sabará, em 1771, onde contaram-se mais de duas centenas de proprietários, para apenas dois especificou-se a atividade econômica: um deles declarou-se possuidor de doze escravos em sua roça, outro anotou-se com vinte e dois cativos ocupados em seu engenho. IV. FREGUESIA DE CONGONHAS DO SABARÁ (1790)

Através de documento censitário referente à Freguesia de Congonhas do Sabará, efetuado em 1790 (8), podem-se obter evidências empíricas quanto à estrutura socioeconômica prevalecente nesta localidade, em época de franca decadência da lide aurífera.

Contaram-se na Freguesia um total de 124 proprietários, dos quais oitenta e seis (69,4%) representavam elementos do sexo masculino e trinta e oito (30,6%) do sexo oposto. Tais senhores possuíam, em conjunto, escravaria constituída de 559 cativos (cf.tabela 17).

Tabela 17

ESCRAVOS E PROPRIETÁRIOS: SEGUNDO SEXO E CONDIÇÃO SOCIAL

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1790)

SEXO MASCULINO FEMININO CARACTERIZAÇÃO Número % Número %

TOTAL

Proprietários 86 69,4 38 30,6 124

- Não forros 86 69,4 38 30,6 124

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- Forros

Escravos 559

TOTAL 683

O estudo dos dados pertinentes à estrutura de posse de escravos demonstra a

significativa participação dos proprietários de “pequeno porte”, principalmente daqueles com apenas um escravo, a perfazer 33,1% dos senhores registrados. Ao tomarmos os indivíduos com escravaria inferior a quatro cativos, nota-se seu franco predomínio dentre os proprietários , pois representavam 71,9% dos mesmos. Tal segmento possuía, em conjunto, 31,1% da massa de cativos contada no núcleo em apreço (cf.gráfico XIII).

Apenas quatro senhores detinham número igual ou superior a vinte cativos. Esse grupo representava pouco mais de três por cento dos proprietários e controlava um quinto da escravaria (cf.tabelas 18 e AE-19). O Capitão Domingos Carvalho da Costa, maior proprietário da localidade, anotou-se com trinta e sete escravos.

Tabela 18

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Freguesia de Congonh as do Sabará – 1790)

PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS POSSUÍDOS NÚMERO DE ESCRAVOS NÚMERO % NÚMERO %

1 41 33,1 41 7,4

2 24 19,4 48 8,6

3 12 9,7 36 6,5

4 12 9,7 48 8,6

5 4 3,2 20 3,6

6 a 10 20 16,1 145 26,1

11 a 20 8 6,4 122 22,0

21 e mais 3 2,4 96 17,2

TOTAL 124 100,0 556 100,0

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Ainda quanto à estrutura de posse, a média de cativos por proprietário alcançou

4,5, a moda, um e a mediana, dois; valores a confirmar o expressivo peso relativo dos senhores com reduzida massa de cativos. Por fim, o cálculo do Índice de Gini resultou 0,537 (cf.tabela 19).

O documento em pauta fornece escassas informações quanto a atividades produtivas. As qualificações indicadas referem-se ao grupo das Patentes, Funcionários e Militares – dezesseis casos com um total de 118 escravos (média de 7,4) – e ao dos Eclesiásticos, sete ocorrências com uma escravaria de cinqüenta e um cativos, dos quais trinta pertencentes à “Casa do Reverendíssimo Vigário Geral”. Anotou-se, também, indivíduo identificado como Licenciado e possuidor de seis cativos (cf.tabela AE-20).

Tabela 19

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1790)

ÍNDICES (*) VALOR

Índice de Gini 0,537

Média 4,48

Moda 1

Mediana 2

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(*) Excluídos três escravos para os quais não se identificou o proprietário.

V. DISTRITO DE SÃO CAETANO (1804) O censo realizado em 1804, em várias localidades de Minas Gerais, constitui rico manancial de informações sobre a sociedade mineira no início do século XIX, quando a atividade aurífera mostrava evidentes sinais de decadência, com reflexo nas demais atividades econômicas da região e na própria estrutura social ali assentada. São Caetano, distrito de Mariana, foi um dos núcleos urbanos onde se levou a efeito tal levantamento censitário, documentado no manuscrito identificado como “Relação de todos os indivíduos, suas qualidades, estabelecimentos, ofícios e números de escravos (…)” e do qual nos servimos para o estudo do Distrito em questão (9). Os dados levantados apontam, para São Caetano, um total de cento e quatro proprietários de escravos, dos quais setenta e quatro pertenciam ao sexo masculino e trinta ao sexo oposto; dentre tais indivíduos apenas um identificou-se como forro. Quanto à população escrava, contaram-se 681 elementos, dos quais os homens respondiam por 66,7%, ou seja, 454 escravos, contra 227 mulheres, correspondente a 33,3% da escravaria (cf.tabela 20).

Tabela 20

ESCRAVOS E PROPRIETÁRIOS: SEGUNDO SEXO E CONDIÇÃO SOCIAL

(Distri to de São Caetano – 1804)

SEXO MASCULINO FEMININO

Caracterização Número % Número % TOTAL

Proprietários 74(*) 71,1 30 28,9 104(*)

- Não forros 73 70,9 30 29,1 103

- Forros 1 100,0 1

Escravos 454 66,7 227 33,3 681

TOTAL 528 257 785

(*) Excluído um proprietário anotado como falecido As informações, contidas no códice em apreço, permitem o estudo da estrutura etária da massa de cativos. Em São Caetano, similarmente ao Serro do Frio, nota-se a concentração de escravos em determinadas idades, sem uma continuidade regular, a refletir seu caráter estimativo, sem corresponder, necessariamente, à idade efetiva dos cativos. Sem embargo, ao contrário do Serro do Frio, no Distrito ora em estudo, a concentração ocorria, a partir dos vinte anos, nas idades com final zero e cinco. Assim, por exemplo, com vinte anos anotaram-se trinta e nove escravos, contra quatro e três,

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respectivamente, com dezenove e vinte e um anos. Nos vinte e cinco, trinta e cinco etc., tal comportamento repete-se (cf.tabela AE-21). O enquadramento das idades, segundo faixas de cinco anos, revela uma distribuição mais harmônica entre os grupos etários: quatro por cento na faixa de 0 a 9 anos, cinco por cento no segmento de 10 a 14, oito por cento na divisão seguinte e assim por diante até a faixa de 30 a 34 anos à qual corresponde a participação máxima de 14,4%. Nos dois segmentos subseqüentes, o peso relativo ainda se mantém elevado (9,7% e 9,8%, respectivamente), reduzindo-se com certa intensidade a partir do intervalo de 45 a 49 anos (5,6%). Assim, os cativos com idades até dezenove anos representavam 17,0% dos escravos; aqueles com idades na faixa dos 20 a 34 anos correspondiam a 38,3% e, por fim, os indivíduos com mais de trinta e quatro anos perfaziam 44,7% da escravaria (cf.tabela 21). Ao segmentarmos a massa escrava segundo grupos correspondentes a “crianças”, “população ativa” e “anciões”, verifica-se completo predomínio do grupo etário classificado como “população ativa” (15 a 64 anos): 86,0% do total, contra nove por cento das crianças e cinco por cento dos anciões (cf.tabela AE-22 e Gráfico XIV). No que se refere à origem dos escravos, verifica-se relativo predomínio dos cativos coloniais frente aos africanos; assim, dentre os cativos para os quais foi possível identificar a origem, os primeiros participavam com 59,2% e os últimos com 40,8%. No segmento dos coloniais, o maior peso relativo coube aos crioulos (80,5%), seguidos pelos pardos e cabras aos quais corresponderam, respectivamente, as participações de 13,4% e 6,1% (cf.tabela 22).

Tabela 21

ESCRAVOS: ESTRUTURA ETÁRIA

(Distri to de São Caetano – 1804)

Faixas Etárias Nº . Pessoas na

Faixa Porcentagem na

Faixa

0 - 9 27 3,96

10 – 14 34 4,99

15 - 19 55 8,08

20 - 24 76 11,16

25 - 29 87 12,78

30 - 34 98 14,38

35 - 39 66 9,69

40 - 44 67 9,84

45 - 49 38 5,58

50 - 54 35 5,14

55 - 59 20 2,94

60 - 64 44 6,46

65 - 69 14 2,06

70 - 74 13 1,91

Page 64: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

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75 - 79 5 0,73

80 - 98 2 0,30

TOTAL 681 100,00

Tabela 22

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Distri to de São Caetano – 1804)

E S C R A V O S ORIGEM Número Porcentagem

AFRICANOS 262 38,47

- Sudaneses 24 3,52

- Bantos 238 34,95

COLONIAIS 380 55,80

Sem Especificação 39 5,73

TOTAL 681 100,00%

Quanto aos africanos, nota-se a preponderância dos cativos classificados como

Bantos: dos 262 africanos anotados, nada menos de 238 (90,8%) correspondiam a elementos dessa origem, contra vinte e quatro escravos Sudaneses. No grupo dos Bantos, o maior peso relativo coube aos Angolas, 62,6%; em posição mais modesta

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65

apareceram os Bengalas (17,9%), Rebolos e Congos. Dentre os Sudaneses, os escravos anotados como Minas constituíam ampla maioria – 95,8% (cf.tabela AE-23).

A análise da estrutura de posse de escravos mostra a ampla participação dos senhores com quantidade igual ou inferior a quatro escravos; representavam 63,5% dos proprietários e detinham, em conjunto, 21,1% da escravaria. Quanto aos indivíduos possuidores de cativos em número superior a quatro e inferior a vinte, o peso relativo alcançava 30,7% dos senhores e 42,6% dos escravos (cf.gráfico XV). Por fim, os elementos com vinte ou mais cativos correspondiam a tão somente 6,0% dos proprietários, mas controlavam 36,3% da escravaria (cf.tabelas 23 e AE-24).

Tabela 23

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Distri to de São Caetano – 1804)

PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS POSSUÍDOS NÚMERO DE ESCRAVOS NÚMERO % NÚMERO(*) %

1 20 19,2 20 3,0

2 22 21,2 44 6,6

3 19 18,3 57 8,5

4 5 4,8 20 3,0

5 7 6,7 35 5,2

6 a 10 16 15,4 125 18,7

11 a 20 9 8,7 125 18,7

21 e mais 6 5,7 243 36,3

TOTAL 104 100,0 669 100,0

(*) Excluído um proprietário falecido, possuidor de doze escravos)

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Ao processarmos estatisticamente os dados apresentados, obtemos a média de escravos por proprietário de 6,5, a moda de dois, a mediana de três e o Índice de Gini de 0,573 (cf.tabela 24).

Tabela 24

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Distri to de São Caetano-1804)

ÍNDICES VALOR

Índice de Gini 0,573

Média 6,48

Moda 2

Mediana 3

No documento em apreço, discriminaram-se atividades econômicas da maioria dos

proprietários de escravos. A maior freqüência coube aos proprietários dedicados a atividades extrativas

minerais, trinta e três ocorrências, os quais, em conjunto, possuíam 274 escravos (média de 8,3); destes senhores, dezenove pertenciam ao sexo masculino e quatorze ao sexo oposto. Ao subdividirmos a lide extrativa em atividade mineira e faiscação, verifica-se a marcante diferença existente entre as mesmas. Nove indivíduos registraram-se como mineiros com escravaria composta de duzentos e seis cativos. Dentre estes senhores, merecem realce dois reverendos- com um total de oitenta e cinco escravos – e um elemento voltado à “mineração e roça”, cujos cativos somavam cinqüenta e um. Quanto aos faiscadores, que totalizavam vinte e quatro (doze homens e doze mulheres), declararam-se proprietários de sessenta e oito cativos. Note-se a significativa diferença quanto aos escravos possuídos por estes dois segmentos: enquanto a média de escravos por mineiro situava-se em 22,9, tal indicador alcançava o reduzido valor de 2,8 para os faiscadores.

A segunda categoria em importância quantitativa correspondeu aos indivíduos dedicados à agricultura. A ela vinculavam-se vinte e nove dos proprietários de escravos do Distrito de São Caetano; sua escravaria somava 279 elementos – média de 9,6 cativos por proprietário. Destes senhores, dezesseis anotaram-se com roça, com um total de duzentos e seis cativos (média de 12,9); outro, um reverendo com “roça e engenho”, possuía vinte e oito escravos; nove proprietários dedicavam-se à “roça para seu sustento” (com trinta e três escravos) e dois declararam “plantar de favor”. A atividade agrícola, embora exercida predominantemente por proprietários do sexo masculino (17 elementos), absorvia também um número elevado de mulheres (12 casos), concentradas principalmente na “roça”.

As lides artesanais absorviam doze proprietários, dos quais nove do sexo masculino. Anotaram-se os ofícios: carpinteiro, oleiro, ferrador, ferreiro, alfaiate e indivíduos que viviam de tecer e de costurar. As duas últimas ocupações, desenvolviam-nas tão somente mulheres, às demais voltavam-se apenas integrantes do sexo oposto. Em conjunto, sua escravaria somava trinta e seis elementos, o que representava um valor médio de três cativos por senhor.

Sete proprietários com vinte e sete escravos concentravam-se no comércio de “fazenda seca”, de alimentos e de negros. Os serviços – cobrança e arte da música – englobavam dois senhores com seis escravos.

Os eclesiásticos, que “viviam de suas ordens”, totalizavam sete religiosos que, em conjunto, possuíam dezenove escravos. Note-se que computamos, anteriormente, outros três eclesiásticos em atividades específicas de roça e mineração. Se somarmos todos os

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escravos de propriedade de eclesiásticos, alcançaremos um total de 132 cativos, o que representa 19,4% da escravaria do núcleo em questão.

Inúmeras outras funções discriminaram-se no códice: feitor de roça, administrador de fazenda, administrador de dízimos, jornal de negros etc. Nomearam-se, ademais, uma proprietária, caracterizada como pobre, com um escravo, e dois homens sem ofício, um dos quais possuía nove cativos (cf.tabelas 25 e AE-25).

Tabela 25

PROPRIETÁRIOS: POR SEGMENTO ECONÔMICO E ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Distri to de São Caetano – 1804)

NÚMERO DE PROPRIETÁRIOS SEGMENTOS SÓCIO-ECONÕMICOS H M H + M

ESCRAVOS POSSUÍDOS

Nº MÉDIO POR PROPRIETÁRIO

Atividade extrativa 19 14 33 274 8,3

Agricultura (*) 17 12 29 279 9,6

Artesanato 9 3 12 36 3,0

Comércio 7 7 27 3,9

Serviços 2 2 6 3,0

Eclesiásticos 7 7 19 2,7

Diversos 12 12 33 2,7

S/Especificação 2 1 3 7 2,3

TOTAL 75 30 105 681 6,48

(*) Inclui proprietário falecido dedicado à roça Do acima exposto evidencia-se a ampla diversificação de atividades econômicas

no Distrito de São Caetano, com relativo equilíbrio entre mineração e agricultura; enquanto à lide extrativa dedicavam-se trinta e três proprietários, com 274 escravos (média de 8,3), na agricultura somavam-se vinte e nove senhores com um número de cativos praticamente igual (279) e média de 9,6 cativos.

As duas atividades marcaram-se por uma relativa concentração; os três maiores proprietários dedicados à mineração possuíam, em conjunto, 136 escravos, ou seja, quase a metade da escravaria deste segmento; um destes três senhores, com cinqüenta e um escravos, vivia de mineração e roça. Quanto à agricultura, conjuntamente, os três maiores proprietários detinham 107 escravos, ou seja, mais de um terço da escravaria aloucada nessa faina.

Os demais quarenta e três proprietários distribuíam-se em uma série de atividades diversificadas, com relativo equilíbrio, quanto à posse de escravos. Nesse segmento, a média de cativos por senhor alcançava o valor três.

Por fim, podemos considerar o departimento dos proprietários segundo a cor e relacionar tal informação com a respectiva atividade econômica. No documento em apreço, para oitenta e um proprietários constou a especificação da cor. Destes, trinta e nove anotaram-se como brancos e quarenta e dois como pardos. Entre os vinte e quatro senhores para os quais não constou a especificação da cor, incluem-se os dez eclesiásticos e um senhor com trinta e um escravos, que vivia de sua roça (cf.tabela AE-26).

No referente às atividades econômicas, na lide extrativa anotaram-se quatorze indivíduos brancos e igual número de pardos; entre os vinte e quatro dedicados à faiscação, os pardos somavam treze. Na agricultura, na qual se concentravam vinte e nove senhores, o predomínio coube aos brancos com quatorze elementos, seguidos pelos pardos com dez. Entre os indivíduos registrados com roça, dez apareciam como brancos

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e três como pardos; no grupo dos proprietários com “roça para o seu sustento”, os pardos, com seis elementos, representavam a maioria.

Quanto aos artesãos, das doze pessoas anotadas, seis caracterizavam-se como pardos e quatro como brancos. No comércio verificava-se predomínio dos brancos (quatro elementos), seguidos pelos pardos com dois (cf.tabela 26).

Tabela 26

PROPRIETÁRIOS: SEGUNDO A COR E SEGMENTO SÓCIO ECONÔMICO

(Distri to de São Caetano – 1804)

COR DO PROPRIETÁRIO SEGMENTO SÓCIO ECONÔMICO Branco Pardo S/Espec.

Atividade extrativa mineral 14 14 5

Agricultura 14 10 5

Artesanato 4 6 2

Comércio 4 2 1

Serviços 1 1

Eclesiástico 7

Diversos 2 6 4

S/Especificação 3

TOTAL 39 42 24

I. VILA RICA (1804) Para o estudo de Vila Rica servimo-nos do censo populacional realizado em Minas Gerais, em 1804, revelado, em parte, por Herculano Gomes Mathias (10). A área divulgada corresponde aos distritos de Antonio Dias, Ouro Preto, Alto da Cruz, Padre Faria, Cabeças e Morro, correspondentes ao atual perímetro urbano de Ouro Preto. Exceto os aspectos a seguir discutidos – relacionados com a estrutura de posse de escravos -, o referido censo foi exaustivamente analisado por Costa, em Vila Rica: População (1719-1826) (11). Computaram-se, em Vila Rica, setecentos e cinqüenta e sete proprietários de escravos – 475 indivíduos do sexo masculino e 282 mulheres. Considerada a parcela da população total referente aos elementos livres com mais de quatorze anos (1705 homens e 2383 elementos do sexo oposto), verifica-se que os senhores de escravos representavam 18,5% do número de adultos (aqui entendidos como aqueles com quinze ou mais anos). Dentre os homens, 27,9% possuíam escravos, para as mulheres a cifra atingia 11,8%. Os cativos somavam 2839 indivíduos, dos quais 1649 elementos do sexo masculino e 1190 do sexo oposto (cf.tabela 27).

Tabela 27

PROPRIETÁRIOS E ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO SEXO

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(Vila Rica – 1804)

SEXO MASCULINO FEMININO CARACTERIZAÇÃO Número % Número %

TOTAL

Proprietários 475 62,7 282 37,3 757

- Não Forros 470 63,9 265 36,1 735

- Forros 5 22,7 17 77,3 22

Escravos 1649 58,0 1190 42,0 2839

TOTAL 2124 1472 3596

Analisemos a estrutura de posse de escravos. De início, vamos nos preocupar com Vila Rica como um todo e, a seguir, tomaremos cada um dos distritos mencionados. De imediato, salta à vista o peso relativo, quanto aos senhores, dos indivíduos possuidores de um reduzido número de escravos. Assim, mais de um terço dos proprietários enquadravam-se entre os proprietários de apenas um cativo; o segmento dos senhores com uma quantidade igual ou inferior a quatro escravos representava a expressiva parcela de 77,1% dos proprietários e, conjuntamente, possuíam 40,2% dos cativos. O grupo intermediário dos proprietários, ou seja, o correspondente àqueles com mais de quatro escravos e menos de vinte, também mostrava um significativo peso. Dele participavam 21,8% dos senhores e 47,0% dos cativos. Por fim, os “grandes” proprietários, considerados aqui os indivíduos com mais de vinte escravos, representavam apenas 1,1% dos proprietários e detinham 12,8% da escravaria (cf.tabela 28 e Gráfico XVI).

Tabela 28

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Vila Rica – 1804)

PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS POSSUÍDOS NÚMERO DE

ESCRAVOS NÚMERO % NÚMERO %

1 268 35,3 268 9,4

2 149 19,6 298 10,5

3 95 12,6 285 10,0

4 73 9,6 292 10,3

5 39 5,2 195 6,9

6 a 10 92 12,2 685 24,1

11 a 20 33 4,4 453 16,0

21 a 40 6 0,8 168 5,9

41 e mais 2 0,3 195 6,9

TOTAL 757 100,0 2839 100,0

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Em Vila Rica, no ano em apreço, encontramos o mais importante proprietário, em termos quantitativos, de todos os analisados neste trabalho. Trata-se do Cel. José Velloso Carmo, que “vivia de minerar” e possuía cento e vinte e seis escravos. Este senhor representava um dos últimos grandes mineradores da região, conforme o testemunho de vários viajantes da época. O segundo proprietário a merecer realce pela quantidade de cativos – o Capitão Francisco Caetano Ribeiro – possuía uma escravaria de sessenta e nove elementos (cf.tabela AE-27).

A apontada estrutura de posse de escravos, na qual os “pequenos” proprietários participavam de forma decisiva, refletiu-se nos resultados encontrados para alguns indicadores estatísticos de Vila Rica. A média alcançou o reduzido valor de 3,7, a moda, um e a mediana, dois; o próprio Índice de Gini revelou-se baixo: 0,502 (cf.tabela 29).

Tabela 29

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Vila Rica – 1804)

ÍNDICE VALOR

Índice de Gini 0,502

Média 3,7

Moda 1

Mediana 2

Analisemos a situação específica de cada um dos seis distritos de Vila Rica. No que se refere à média, seu valor variou de um mínimo de 3,5, em Ouro Preto e Alto da Cruz, ao máximo de 4,8, em Cabeças. Para o Índice de Gini revelaram-se significativas variações em torno do valor apontado para a urbe como um todo (0,502). Como

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resultado, verifica-se menor concentração nos distritos de Padre Faria (0,424) e Ouro Preto (0,437); o valor máximo correspondeu ao distrito de Cabeças (0,599). Nas demais unidades distritais, o Índice assumiu níveis intermediários: Antonio Dias (0,519), Morro (0,520) e Alto da Cruz (0,536) (cf.tabela 30). Cabem, desde logo, algumas observações quanto aos valores acima arrolados. No distrito de Cabeças, o alto índice de concentração deveu-se à presença do Cel. José Velloso Carmo que possuía elevadíssimo número de escravos vis-à-vis a média vigente na urbe.

Tabela 30

INDICADORES ESTATÍSTICOS

(Vila Rica – Censo de 1804)

DISTRITOS Índice de Gini Média

Antonio Dias 0,519 3,6

Ouro Preto 0,437 3,5

Alto da Cruz 0,536 3,5

Cabeças 0,599 4,8

Padre Faria, Água Limpa e Taquaral

0,424 3,8

Morro 0,520 4,0

TOTAL 0,502 3,7

Com respeito ao Alto da Cruz, nela residia o Capitão Francisco Caetano Ribeiro, com seus sessenta e nove escravos, o que representava quase um quarto da escravaria do distrito. No Morro, predominavam os faiscadores e mineiros. Entre os últimos, apareciam três senhores com cerca de 22% do total de escravos do distrito, o que correspondia a 58% dos cativos pertencentes aos mineradores ali residentes. O Índice de Antônio Dias explica-se pela presença dos dignitários da administração pública e militar, detentores de significativa parcela de cativos. A distribuição existente no Padre Faria, local em que se verificou o menor Índice de Gini, justifica-se pela existência de um conjunto de senhores composto, ao que parece, de indivíduos de medianas posses. Por outro lado, conquanto ali residissem muitos mineiros e faiscadores, a parcela dos mesmos, possuidora de escravos, revelou-se ínfima. No distrito de Ouro Preto, cujo Índice mostrou-se pouco superior ao do Padre Faria e abaixo do vigente na urbe, inexistiam mineiros e os lavradores mostravam-se praticamente ausentes. Os escravos distribuíam-se entre uma gama variada de senhores – desde altos funcionários da administração pública e militar até elementos forros – sem que se verificassem grandes discrepâncias no número médio de cativos pertencentes a cada segmento de proprietários. Evidentemente, poder-se-ia argüir os elementos explicativos arrolados acima, com base em seu caráter ad-hoc. No entanto, a análise a nível mais desagregado parece confirmar o conteúdo substantivo dos mesmos. Para tanto, vejamos o que revelam os dados da Tabela 31. Consideremos, inicialmente, os segmentos referentes aos mineiros e agricultores. Chama a atenção, desde logo, o elevado número médio de cativos correspondente a estes dois grupos (11,8 e 13,0, respectivamente). Tais cifras apresentaram-se excêntricas em relação às prevalecentes para as outras categorias e, em conseqüência,

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muito superiores ao número médio de 3,7, referente à totalidade dos distritos componentes da área urbana de Vila Rica. Caso efetuássemos ajustes cabíveis, ou seja, se eliminássemos, da população, dois senhores – um minerador e outro agricultor – possuidores de, respectivamente, 126 e 69 cativos (números a discrepar excessivamente dos padrões vigentes na comunidade em foco), ainda chegaríamos a valores médios muito superiores aos demais segmentos: 6,6 para os mineiros e, quanto aos agricultores, 7,4. Tais atividades permitiam, portanto, ainda que para reduzida parcela dos elementos a elas vinculadas, a manutenção de número razoável de escravos. Por outro lado, deve-se lembrar que por sua própria natureza tanto a lide agrícola quanto a mineira tendiam a utilizar intensivamente o fator trabalho. Como seria de se esperar, aos faiscadores cabia número médio de cativos muito inferior àquele relativo aos mineiros (2,0 versus 11,8). Ademais, da massa de escravos, somente 0,7% achava-se em poder dos proprietários ocupados com a faiscação - estes, por sua vez, representavam 1,3% do número total de possuidores de escravos. Por outro lado, os mineiros – 3,0% dos proprietários – detinham 9,6% da escravaria. Analisemos duas outras categorias econômicas – artesãos e comerciantes – altamente representativas, quer em termos do peso relativo de proprietários (27%), seja quanto à parcela de escravos a elas adstrita – 21,5%. Nestes segmentos relativamente aos demais, os cativos distribuíam-se mais harmoniosamente; disto deveriam decorrer as pequenas oscilações do número médio de cativos por proprietário entre os seis distritos considerados. A modéstia da média de cativos por senhor (2,9 para comerciantes e 3,0 correspondente aos artesãos), aliada ao ponderável peso relativo destas categorias, tanto sobre o total de proprietários como no respeitante à escravaria, patenteiam, por um lado, a existência de avultada quantidade de pequenos negócios e, por outro, o caráter francamente citadino de Vila Rica. Esta última asserção vê-se corroborada pela maciça presença de funcionários, eclesiásticos e indivíduos portadores de patentes. Em conjunto, estas categorias representavam 20,6% dos proprietários e possuíam pouco

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mais de um quarto (25,6%) da escravaria. De modo geral, com respeito aos distritos e estritamente válido para a vila como um todo, os segmentos em foco detinham maior número médio de cativos por senhor do que o verificado para artesãos e comerciantes. Finalmente, ocupemo-nos dos forros. Concentrados em Antônio Dias e Ouro Preto, atingiam 2,9% dos proprietários e controlavam 1,7% da massa de cativos. O número médio de escravos por senhor forro (2,2) colocava-se muito abaixo das cifras correspondentes aos outros segmentos, exceto os faiscadores (2,0). * * * Procuramos apresentar, nesse capítulo, os resultados obtidos com a análise de documentação original pertinente a diversas localidades mineiras. Objetivou-se, com tal procedimento, evidenciar as características peculiares de cada núcleo em determinado momento. Ademais, buscou-se extrair das fontes compulsadas, o maior volume possível de informações, que devem servir de base para o estudo de alguns elementos da estrutura socioeconômico de Minas Gerais.

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N O T A S (1) COELI, Paulo de Medina – “Pitanguy de Outros Tempos”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, nº .

XXIII, Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1929, p.333. (2) Moda, medida de posição, que representa a classe para a qual as variáveis se apresentam mais

concentradas. (3) Mediana, medida estatística, que corresponde ao valor da variável onde a freqüência acumulada

atinge a metade da amostra. (4) O índice de Gini corresponde a um coeficiente estatístico, largamente utilizado para medir

concentração de renda ou riqueza. Constitui. Na verdade, a relação entre áreas de um quadrado, construído de forma a representar, num dos eixos (o horizonte), a população segmentada em percentil e no outro (o vertical), a riqueza ou renda (também dividida em percentil) da coletividade estudada. Caso os detentores de renda (ou riqueza) e esta se distribuíssem de maneira absolutamente igualitária, a cada ponto do eixo horizontal corresponderia outro na diagonal do quadrado. Como geralmente isso não ocorre, quando se pilotam esses valores no quadrado, obtêm-se uma curva, chamada de “Lorentz”. Dividindo a área entre a curva de Lorentz e a diagonal pela área triangular sob a diagonal, determina-se o índice de Gini. Dessa forma, quanto mais igualmente se distribui a renda ou riqueza, mais próximo de zero estará o valor do índice (zero no limite); correlativamente, quanto mais concentrado estiver a riqueza ou renda, maior será o valor do aludido índice que, no máximo, iguala-se à unidade. Existem evidências empíricas da alta correlação entre a posse de escravos e a distribuição de riqueza, nas Gerais, em princípio do século XVIII. Tal resultado permitiria que se utilizasse a variável posse de escravos como proxi da variável riqueza.

(5) MSS – Cod. nº . 1038. Pitangui: Quintos e Capitação. Acervo da Casa dos Contos. (6) MSS – Cod. nº . 1068. Serro do Frio: Escravos, Livro de Matrícula. Acervo da Casa dos Contos. (7) Arquivo Nacional (Rio de Janeiro, R.J.) – MSS – Arquivo da Casa dos Contos, Rol das Pessoas que

Confessam e Comungam na Freguesia de Congonhas do Sabará, 1771, Caixa 202, pacote único. (8) Arquivo Nacional (Rio de Janeiro-RJ). MSS – Arquivo da Casa dos Contos, Pessoas Existentes na

Freguesia de Congonhas do Sabará no ano de 1790, Caixa 230, pacote único. (9) Arquivo Nacional (Rio de Janeiro-RJ). MSS – Arquivo da Casa dos Contos, Relação de todos os

indivíduos, suas qualidades, Estabelecimentos, Ofícios e Números de Escravos do Distrito de São Caetano de que é Comandante Francisco Jozé Xavier de Mello Brandam”, Caixa 276, pacote único.

(10) MATHIAS, Herculano Gomes – Um Recenseamento na Capitania de Minas Gerais (Vila Rica-1804),

Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1969, il., XXXVI mais 209 p. (11) COSTA, Iraci del Nero da – Vila Rica: População (1719-1826), IPE-USP, São Paulo, 1979, (Ensaios

Econômicos, 1).

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CAPÍTULO IV ALGUNS ELEMENTOS DA ESTRUTURA SOCIOECONÔMICA DE MINAS GERAIS Objetivamos, neste capítulo, analisar certos elementos, a nosso ver essenciais, da estrutura socioeconômica de Minas Gerais, a partir dos resultados apresentados e discutidos isoladamente no capítulo anterior deste trabalho. Estamos conscientes das limitações envolvidas no confronto entre os dados de distintas localidades, em diferentes épocas do tempo. Entretanto, não nos foi possível obter – exceto para Pìtangui (1718 a 1723) e Congonhas do Sabará (1771 e 1790) – informações para um mesmo núcleo, relativas a uma seqüência temporal, que possibilitasse uma análise mais profunda da dinâmica socioeconômica da área contemplada nesta pesquisa. Mesmo com tais problemas, acreditamos que os resultados a serem discutidos possibilitam estabelecer indicadores confiáveis do aludido processo (1). Nossa atenção prender-se-á a três problemas dos mais relevantes para a compreensão da estrutura da sociedade mineira. Em primeiro lugar, consideraremos determinadas características dos proprietários de escravos, ou seja: sexo, atividade produtiva e a estrutura de posse de escravos. A seguir, discutiremos a permeabilidade da sociedade mineira quanto à mobilidade social. Para tanto, analisaremos os forros enquanto proprietários de escravos, ou seja, indivíduos que passaram do cativeiro, extremo inferior da sociedade colonial, para a valorizada condição de senhor de escravos. Por fim, estudaremos algumas características da massa escrava então existente em Minas, tais como: sexo, idade e origem. Sob este último aspecto, cremos que os dados empíricos disponíveis relativos à participação de Bantos e Sudaneses, devem demonstrar o peso dos elementos de origem Sudanesa nas Gerais. I. PROPRIETÁRIOS: ESTRUTURA DE POSSE DE ESCRAVOS, ATIVIDADE E SEXO O primeiro aspecto a ser tratado refere-se à estrutura de posse de cativos e às atividades exercidas pelos senhores de escravos. Seu conhecimento, além de lançar luz sobre a estratificação social vigente na sociedade sob análise e representar valioso subsídio para o lineamento das atividades produtivas de maior significância em cada momento histórico, apresenta-se como elemento altamente relevante no estabelecimento do nível relativo de riqueza dos segmentos socioeconômicos em que se podem decompor a comunidade. À vista disso, evidencia-se claramente o substantivo contributo que trará, ao entendimento das características das localidades em foco, a identificação da aludida estrutura. Cremos, ademais, que a estrutura de posse de escravos revelava – ao menos nas fases iniciais da lide mineira – estreita correlação com a própria forma como a riqueza distribuía-se entre os mineradores, na medida em que, como foi visto, os mesmos procuravam concentrar larga parte de seus recursos na compra de escravos, principal fator de produção nas minas e elemento essencial para a obtenção das datas minerais distribuídas pela Coroa. Salta à vista, de imediato, a elevada porcentagem de senhores com reduzido número de cativos. Em todas as localidades estudadas, a maior freqüência coube aos proprietários com um e dois escravos; na maioria delas seu peso relativo ultrapassava os quarenta por cento, com as maiores marcas no Serro do Frio, em 1738, com 56,0% e Vila Rica, em 1804, com 54,9%. Pitangui, em 1718 e 1723, constituía o núcleo de menor participação relativa do segmento em apreço, com valores de 28,5% e 33,3%, respectivamente (cf.tabela 32).

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Tabela 32

PROPRIETÁRIOS: DISTRIBUIÇÃO QUANTO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DOS PROPRIETÁRIOS

Pitangui Serro do Frio

Congonhas do Sabará São Caetano

Vila Rica NÚMERO DE ESCRAVOS POSSUÍDOS

1718 1723 1738 1771 1790 1804 1804

1 4,1 16,3 37,6 26,8 33,1 19,2 35,3

2 24,4 17,0 18,4 17,4 19,4 21,2 19,6

3 4,1 15,6 10,1 14,0 9,7 18,3 12,6

4 14,3 9,6 7,8 5,5 9,7 4,8 9,6

5 10,2 11,1 4,5 7,2 3,2 6,7 5,2

1 a 5 57,1 69,6 78,4 70,9 75,1 70,2 82,3

6 a 10 30,6 15,6 12,0 12,8 16,1 15,4 12,2

11 a 20 8,2 8,9 5,9 12,8 6,4 8,7 4,4

21 a 40 4,1 4,4 2,8 2,6 2,4 2,9 0,8

41 e mais 1,5 0,9 0,9 2,8 0,3

Note-se, ademais, a absoluta preponderância do conjunto de senhores com cinco ou menos cativos; sua participação – exceto em Pitangui, em 1718 (57,1%) – superou a 70%. Em relação aos escravos possuídos, estes proprietários detinham uma proporção a variar entre o mínimo de 26,3% e o máximo de 47,1%, ambos em 1804, o primeiro em São Caetano e o último em Vila Rica. O peso dos proprietários com uma quantidade entre seis e vinte escravos situou-se, no que se refere aos senhores, entre 16,6% (1804) e 38,8% (1718) e, quanto aos cativos, entre 37,4% (1804) e 56,4% (1718) – cf.tabela 33.

Tabela 33

PROPRIETÁRIOS: DISTRIBUIÇÃO QUANTO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE ESCRAVOS

Pitangui Serro do

Frio Congonhas do Sabará São

Caetano Vila Rica NÚMERO DE ESCRAVOS POSSUÍDOS

1718 1723 1738 1771 1790 1804 1804

1 0,7 2,5 8,3 4,8 7,4 3,0 9,4

2 8,0 5,3 8,1 6,2 8,6 6,6 10,5

3 2,0 7,3 6,7 7,6 6,5 8,5 10,0

4 9,3 6,0 6,9 4,0 8,6 3,0 10,3

5 8,3 8,6 4,9 6,5 3,6 5,2 6,9

1 a 5 28,3 29,7 34,9 29,1 34,7 26,3 47,1

6 a 10 37,4 18,5 20,2 17,3 26,1 18,7 24,1

11 a 20 19,0 21,3 17,9 32,3 22,0 18,7 16,0

21 a 40 15,3 20,7 16,9 13,3 17,2 15,2 5,9

41 e mais 9,8 10,1 8,0 21,1 6,9

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Os senhores de grande cabedal – proprietários de escravaria superior a quarenta cativos – compareceram em reduzido número em todos os anos considerados; mesmo sua participação na massa escrava não se revelou de grande monta. Exceto em São Caetano (1804), nas demais localidades seu peso entre os proprietários alcançou um máximo de 1,5% e entre os escravos possuídos não ultrapassou a marca dos 10,1%. Os resultados obtidos com alguns indicadores estatísticos permitem uma análise adicional dos dados em foco. A média de escravos por proprietário colocou-se entre o máximo de 6,5 – em São Caetano – e o mínimo de 3,7 – em Vila Rica – ambos correspondentes ao ano de 1804. Em Pitangui, tal resultado alcançou números acima de seis para os dois anos considerados; no Serro a média situou-se em 4,6 e, em Congonhas do Sabará, 5,6 e 4,5, respectivamente, nos anos de 1771 e 1790. Quanto à moda, em todos os núcleos em apreço, os valores encontrados foram um ou dois; a mediana variou de um máximo de cinco, em 1718, a um mínimo de dois em três diferentes localidades (cf.tabela 34)

Tabela 34

INDICADORES ESTATÍSTICOS

LOCALIDADE ANO ÍNDICE DE GINI

MÉDIA MODA MEDIANA

1718 0,403 6,1 2 5 Pitangui

1723 0,532 6,4 2 4

Serro do Frio 1738 0,573 4,6 1 2

1771 0,549 5,6 1 3 Congonhas do Sabará

1790 0,537 4,5 1 2

São Caetano 1804 0,573 6,5 2 3

Vila Rica 1804 0,502 3,7 1 2

De modo geral, os resultados apresentados, quanto à estrutura de posse de cativos, demonstram uma sociedade na qual predominavam, incontestavelmente, os pequenos proprietários; indivíduos possuidores de escravaria de um, dois ou, no máximo, cinco escravos. Raros os proprietários de grande escravaria; assim, por exemplo, dentre todos os senhores computados neste trabalho, que compreendem cerca de 3.400, apenas vinte e seis possuíam mais de quarenta cativos; acima de sessenta anotaram-se seis pessoas e com massa superior a cem, encontramos, tão somente, um proprietário (com 126 cativos). Assim, a nosso ver, em Minas, as grandes lavras devem ter constituído a exceção e não a regra quanto à organização da estrutura produtiva. De modo geral, não se obtiveram evidências de mudanças ao longo do tempo na estrutura de posse de cativos, a acompanhar as várias fases da economia mineira. Mesmo se tomarmos os dados do Serro do Frio e de Vila Rica – dos centros aqui estudados, os de maior densidade populacional – correspondente a dois momentos radicalmente distintos da atividade extrativa, 1738 e 1804, não encontramos diferenças marcantes na estrutura de posse de cativos. Como complemento à análise realizada, vejamos os resultados obtidos pelo cálculo do Índice de Gini. Exceto para 1718, em Pitangui, nos demais anos este indicador estatístico pouco variou, com valores compreendidos entre 0,502 e 0,573. Tais cifras, que podem ser consideradas baixas, confirmam as observações anteriormente feitas, pois revelam uma distribuição de escravos relativamente proporcionada. Como ilustração, podemos comparar os resultados ora apresentados com índices calculados por Alice P. Canabrava (2) e referentes à posse de riqueza em várias localidades da Capitania de São Paulo, no século XVIII, e que levou em conta apenas a

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população cujos testamentos apresentavam algum tipo de bem. Vê-se, de imediato, que os números obtidos para São Paulo são relativamente altos quando confrontados aos de Minas Gerais; assim, dentre oito índices calculados, três situaram-se entre 0,60 e 0,70 (mínimo de 0,61) e cinco alcançaram valores acima de 0,70 (máximo de 0,78) (cf.tabela 35).

Tabela 35

ÍNDICE DE GINI – DIVERSAS LOCALIDADES

CAPITANIA DE SÃO PAULO – 1765/1767

LOCALIDADE ANO ÍNDICE DE GINI

São Paulo 1765 0,74

Juqueri 1766/67 0,67

Sorocaba 1765 0,74

Mogi-Guaçu 1765 0,66

Taubaté 0,76

Pindamonhangaba 1766/67 0,70

Santos 1765 0,78

Ubatuba 1765 0,61

Obs.: Índice de Gini calculado sobre a posse de riqueza na região de São Paulo, levando-se em conta apenas os indivíduos para os quais constou algum tipo de bem no testamento. (Canabrava, Alice P. – Uma Economia em Decadência: os Níveis de Riqueza na Capitania de São Paulo, in R.B.E., volume 26, Nº. 4, out/dez., 1972, p. 112). Para finalizar, analisemos a média de escravos possuídos por proprietário, divididos, os últimos, segundo as qualificações anotadas. Desde logo sobressai a maior riqueza das informações relativas a Vila Rica e São Caetano. Estes documentos revelam a existência, em tais localidades, de uma multiplicidade de atividades econômicas, com predomínio, em termos de posse de escravos, dos mineradores e agricultores. Os primeiros detinham em média 22,9, por senhor, em São Caetano, e 11,8, em Vila Rica; nas mesmas localidades, os faiscadores possuíam, em média, menos de três escravos. Na agricultura, os números médios alcançaram 9,6 e 13,0 para São Caetano e Vila Rica, respectivamente. Os artesãos, nos dois núcleos em apreço, mantiveram média igual a três; quanto aos comerciantes, os resultados obtidos foram inferiores a quatro para os dois núcleos. Referentemente aos eclesiásticos, as médias alcançaram 2,7 e 4,9 para São Caetano e Vila Rica, respectivamente. Deve-se esclarecer que, no primeiro núcleo, três reverendos foram excluídos do item eclesiásticos, pois haviam sido considerados como mineradores e agricultores. Caso tomássemos também estes três clérigos, a média elevar-se-ia para 13,2 (cf.tabela 36).

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Tabela 36

PROPRIETÁRIOS: POR CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA E

NÚMERO DE ESCRAVOS POSSUÍDOS

MÉDIA DE ESCRAVOS POR PROPRIETÁRIO

Pitangui Serro do

Frio Congonhas do Sabará São

Caetano Vila Rica SEGMENTOS

SÓCIO ECONÔMICOS

1723 1738 1771 1790 1804 1804

Mineiros 22,9 11,8

Faiscadores 2,8 2,0

Agricultores 17,0 9,6 13,0

Artesãos 3,0 3,0

Comerciantes 3,9 2,9

Funcionários, Militantes e Milicianos

16,7 10,1 7,4 4,6

Eclesiásticos 11,0 7,0 3,4 7,3 2,7 4,9

Para as demais localidades, as informações relativas às atividades econômicas dos proprietários revelam-se insuficientes. De modo geral, somente especificaram-se patentes, cargos ou a condição do eclesiástico das pessoas arroladas. Outro aspecto a ser contemplado refere-se à distribuição dos proprietários de escravos segundo o sexo. Nos vários anos e locais analisados, ocorreu franco predomínio masculino. Entretanto, ao longo do século dezoito e início do dezenove, nota-se uma gradativa tendência ao equilíbrio. De uma primeira fase, ainda de consolidação da atividade e na qual o espírito de aventura levava à preponderância masculina nos centros mineiros, vê-se que, lenta, mas persistentemente, as mulheres ampliaram sua participação no segmento dos proprietários de escravos. Destarte, no período 1718-23, na Vila de Pitangui, o peso relativo dos homens alcançou marca superior a noventa por cento a atestar sua ampla maioria. Em 1738, no Serro do Frio, esse percentual reduziu-se significativamente, mas ainda se manteve elevado (83,6%). Na Freguesia de Congonhas do Sabará, verificou-se aumento na importância relativa das mulheres: 22,6% em 1771 e 30,6% em 1790. Por fim, em Vila Rica e Distrito de São Caetano (1804), o sexo feminino correspondeu a 37,3% e 28,9%, respectivamente (cf.gráfico XVII).

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Tais números podem ser confirmados pela razão de masculinidade dos proprietários, que se reduziu, sistematicamente, de valores superiores a 1.100 em Pitangui (1718-23), para 168,4 e 246,7, respectivamente, em Vila Rica e São Caetano, em 1804 (cf.tabela 37).

Tabela 37

PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O SEXO

PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS HOMENS MULHERES LOCAL ANO Número % Número %

TOTAL Razão de Mascul.

1718 48 98,0 1 2,0 49 4800,0

1719 61 98,4 1 1,6 62 6100,0

1720 58 93,5 4 6,5 62 1450,0

1722 114 91,9 10 8,1 124 1140,0

Vila de Pitangui

1723 127 94,1 8 5,9 135 1587,5

Serro do Frio 1738 1458 83,60 286 16,40 1744 509,8

1771 182 77,4 53 22,6 235 343,3 Freguesia de Congonhas do Sabará 1790 86 69,4 38 30,6 124 226,3

Distrito de São Caetano

1804 74 71,1 30 28,9 104 246,7

Vila Rica 1804 475 62,7 282 37,3 757 168,4

II. FORROS ENQUANTO PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS Nesta parte da pesquisa, estudaremos os forros enquanto proprietários de escravos. Tema da maior importância para compreender-se a estrutura social vigente nas Gerais, pois permite-nos estudar um dos aspectos da mobilidade vertical na sociedade mineira. Na maioria das localidades estudadas, encontramos o forro como proprietário de escravos. Em Pitangui (1722), anotaram-se três libertos que possuíam nove escravos; em 1723, seu número subiu para quatro, com dez cativos, correspondente ao peso relativo de três por cento quanto aos proprietários e 1,2% referentemente aos escravos. Em 1738 e 1771, no Serro do Frio e em Congonhas do Sabará, respectivamente, sua participação revelou-se extremamente significativa. Na primeira localidade, os forros proprietários somaram nada menos de 387 indivíduos, ou seja, 22,2% dos senhores; em conjunto, tais indivíduos detinham 783 cativos, 9,9% da massa escrava ali existente. Em Congonhas do Sabará, o peso relativo foi da mesma ordem. Contaram-se 51 forros – que perfaziam 21,7% dos senhores – com 134 cativos, 10,2% da escravaria (cf.tabela 38).

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Tabela 38

FORROS: ESTRUTURA DE POSSE DE ESCRAVOS

PROPRIETÁRIOS FORROS

LOCAL ANO TOTAL (a)

FORROS (b)

(b) / (a) (%)

Escravos Possuídos

(*) %

Média Escravos Possuídos

1722 124 3 2,4 9 1,0 3,0 Pitangui

1723 135 4 3,0 10 1,2 2,5

Serro do Frio 1738 1744 387 22,2 783 9,9 2,0

Congonhas do Sabará

1771 235 51 21,7 134 10,2 2,6

São Caetano 1804 105 1 1,0 3 0,4 3,0

Vila Rica 1804 757 22 2,9 49 1,4 2,2

(*) Porcentagem dos cativos possuídos pelos forros em relação ao total de escravos Ao tomarmos os dados disponíveis para 1804, nos dois núcleos estudados, vê-se a menor expressão dos forros entre os proprietários. Em Vila Rica somavam 22 indivíduos, ou seja, 2,9% dos proprietários; em São Caetano encontrou-se apenas um liberto numa centena de senhores. Os resultados acima nos levam a especular sobre a possível relação entre as fases de maior produtividade extrativa e o processo de alforria e ascensão dos libertos ao nível de proprietários. A forma como se organizou a lide mineira possibilitou aos cativos um grau de liberdade relativamente alto, possivelmente maior do que nas demais atividades coloniais. Por mais rigoroso e constante que fosse o controle exercido sobre os cativos, em particular na lavagem do cascalho, necessitava-se contar com sua iniciativa e responsabilidade na localização tanto do ouro como dos diamantes. Por esta razão, os mineradores procuravam estimular seus escravos de diversas formas. Concediam prêmios por produção; permitiam aos cativos exercerem a mineração em proveito próprio por certas horas, após satisfazerem a quota devida ao proprietário; na exploração dos diamantes existia uma série de recompensas estipuladas – inclusive a alforria – para aqueles que localizassem pedras acima de determinado quilate. Ademais, o tipo de atividade permitia e estimulava furtos impossíveis de evitar, por mais rigorosamente que se fiscalizassem as áreas extrativas. Ao cativo que viesse a obter ou comprar a liberdade, tornava-se relativamente fácil dedicar-se, como faiscador, à atividade mineira; o resultado de seu esforço individual poderia proporcionar-lhe os recursos para tornar-se, ele próprio, um senhor de escravos. Nos quadros da escravidão, por excelência dicotômica entre senhor e escravo a passagem do cativo à categoria de proprietário tem particular importância e revela alto grau de mobilidade social. * * * Ainda com respeito aos forros proprietários, cabe realçar a predominância feminina. Assim, por exemplo, dos libertos anotados no Serro do Frio, as mulheres representavam 63,0% em Congonhas do Sabará seu peso relativo alcançou 53,0% e, em Vila Rica, os elementos do sexo feminino representavam 77,3% (cf.tabela 39).

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Tabela 39

FORROS: DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O SEXO

HOMENS MULHERES LOCALIDADE ANO NÚMERO % NÚMERO %

1722 3 100,0 Pitangui

1723 3 75,0 1 25,0

Serro do Frio 1738 143 37,0 244 63,0

Congonhas do Sabará 1771 24 47,0 27 53,0

São Caetano 1804 1 100,0

Vila Rica 1804 5 22,7 17 77,3

No caso específico dos escravos do sexo feminino, pelas próprias características da sociedade estabelecida nas Gerais, ampliavam-se as oportunidades de alforria. Na população livre, o marcante desequilíbrio quantitativo entre os elementos do sexo masculino e feminino, em favor dos primeiros, propiciava o intercurso sexual entre senhores e escravas (3). “Cada um deles, ou por não ter, ou por deixar em Portugal suas famílias, ligava-se a escravas africanas ou mulatas, que por essa procura, atingem preços altíssimos”(4). Adicionalmente, grande número de escravas e forras dedicava-se ao comércio ou à prostituição. Sobre o assunto, lembremos o Bando de 1733, do Governador e Capitão General de Minas Gerais, no qual se lê: “(…) e contando-me juntamente, que nos córregos, e sítios onde se minarão diamantes andam negras com tabuleiros, e outras vendendo cachaça, o que em todas estas Minas é proibido, qualquer delas, que for achada nas ditas paragens, além de perder toda a mercancia, que levar, será presa e não sairá da cadeia, sem primeiro pagar cem mil réis, ou seja forra, ou cativa (…)”(5). Por fim, a arduidade dos trabalhos extrativos tornava, possivelmente, as mulheres pouco aptas ao desempenho de tal atividade, o que ampliava sua oportunidade de alforria face à oferecida aos elementos do sexo oposto. Deste modo, cremos que as causas apontadas – intercurso sexual, o comércio, a prostituição e a menor adaptabilidade aos trabalhos extrativos – provavelmente agiam em conjunto e no mesmo sentido, de modo a tornar mais comum a alforria dos elementos do sexo feminino (6). * * * As informações disponíveis no códice correspondente ao Serro do Frio, em 1738, permitem aprofundarmos a análise do tema em epígrafe. Para tanto, servir-nos-emos da Tabela 40. Nela aparecem três corpos distintos: um correspondente à estrutura dos proprietários em geral (ao centro), outro referente ao forro proprietário (à esquerda) e, por fim, um terceiro pertinente aos proprietários “não forros” (à direita).

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Conforme já se havia exposto, aos forros correspondia a expressiva parcela de 22,2% dos senhores, com 387 elementos. Note-se que, enquanto entre os “não forros” os elementos do sexo feminino representavam tão somente 3,1% dos proprietários anotados, no segmento dos forros este percentual alcançava a significativa cifra de 63,0%. As libertas possuíam, em conjunto, 55,6% dos escravos pertencentes aos forros, enquanto entre os “não forros”, as mulheres detinham apenas 1,9%. Evidencia-se, ademais, certa correspondência entre o sexo do proprietário e o dos respectivos escravos, tanto no conjunto dos forros como no relativo aos “não forros”. Assim, para os forros homens, os escravos do mesmo sexo participavam com 71,0%, enquanto na escravaria pertencente aos forros do sexo feminino o percentual referente aos cativos homens reduzia-se a 42,3%. Fato similar ocorria no grupo dos “não forros”: no contingente de cativos pertencentes aos homens deste segmento, os elementos do sexo masculino representavam a elevada parcela de 87,3% enquanto, na massa escrava possuída pelas mulheres, os indivíduos do sexo masculino participavam com 49,6%. Quanto à estrutura de posse, os forros detinham 783 cativos – 9,9% da escravaria. Os indivíduos com um cativo perfaziam 60,2% dos forros (contra 31,1% dos “não forros”); os libertos com dois escravos participavam com 17,8% de seu segmento (contra 18,5% dos “não forros”). Os forros possuidores de 3 a 6 cativos representavam 18,3% do total, enquanto para os “não forros” o peso relativo correspondente alcançava 28,1%. Por fim, apenas 3,7% dos libertos detinham uma escravaria superior a sete cativos; para os “não forros” a cifra respectiva alcançava 22,3%. Do exposto, percebe-se claramente constituírem os libertos um grupo relativamente “pobre” quando comparado ao segmento oposto. Isso se confirma através do confronto da média de cativos por proprietário dos dois grupos: 2,0 entre os forros e 5,3 relativamente aos “não forros”. Os escravos possuídos pelos forros revelavam características diferentes face aos pertencentes aos “não forros”. Quanto ao sexo, os homens participavam com peso relativo menor na escravaria pertencente aos forros – 55,0% contra 86,6% concernentes aos “não forros”. No referente à origem, a massa escrava dos forros denotava uma participação relativa dos Sudaneses (82,9%) maior do que a verificada no estoque dos

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“não forros” (73,5%). Na medida em que os Sudaneses representavam os elementos preferidos nas Gerais, conclui-se que, sob tal aspecto, a escravaria dos forros apresentava melhor “qualidade” do que a massa de cativos dos “não forros”. Quanto à estrutura etária, os escravos pertencentes aos forros revelavam-se mais jovens. Assim, o estrato dos cativos com idade igual ou superior a quarenta anos representava 10,7% da escravaria dos forros e 14,3% do total de escravos dos “não forros”. O inverso ocorria com os cativos de idade inferior a vinte anos: 22,2% no contingente de escravos dos forros e de 13,2% no dos “não forros”. III. ESCRAVOS: ORIGEM, ESTRUTURA ETÁRIA E SEXO Atenhamo-nos à origem dos escravos africanos, residentes nas Gerais, durante o período de predomínio da faina aurífera. Desde há muito, pesquisadores têm tratado do assunto de forma particular para Minas, ou de modo mais abrangente com estudos que cobrem várias regiões brasileiras. No século passado, acreditava-se na total predominância dos africanos pertencentes ao grupo dos Bantos, dentre aqueles trazidos para o Brasil. Entretanto, provou-se, ao iniciar-se o século XX (7), a grande importância quantitativa dos Sudaneses que, afirmava-se, teriam se restringido a algumas áreas no Nordeste; ao Sul, os Bantos constituiriam ampla maioria. Em época recente, novos estudos (8) vieram demonstrar a elevada participação do grupo Sudanês em áreas meridionais, inclusive em Minas Gerais. Paralelamente, firma-se o consenso de terem os Sudaneses sido trazidos às Gerais em razão de possuírem conhecimento técnico relativamente avançado quando comparado ao dos Bantos e estarem familiarizados com o trabalho extrativo mineral em suas “nações” de origem (9). As habilidades, as qualificações relativas, assim como a adaptabilidade dos Bantos e Sudaneses à lide mineira foram, desde os primórdios do estabelecimento da economia mineira, avaliadas de forma divergente. O confronto de textos legais coevos evidencia as mudanças verificadas na apreciação destes dois grupos. Em Carta Régia de 1711, lê-se: “Me pareceu resolver que os negros que entrarem neste Estado do (Brasil) vindos de Angola (Bantos), e forem enviados por negócio para as minas paguem de saída a seis mil réis a que chamam peça das Índias, e os lotados ao mesmo respeito, e os que forem da costa da mina (Sudaneses), e se remeterem também para as Minas, paguem três mil réis por cabeça e que chamam peça, e os lotados na mesma forma, por serem inferiores, e de menos serviço que os de Angola” (10). Em documento datado de 28 de julho de 1714, revelava-se opinião discrepante: “Pela cópia do edital que com esta remeto será presente a Vossa Majestade ter-se dado cumprimento ao que foi servido ordenar por esta Provisão e como nela se determina que os negros viessem de Angola para esta praça e dela fossem por negócio para as minas pagassem a saída seis mil réis por cabeça, sendo peças da Índia e os da Costa da Mina a três mil réis por serem inferiores e de menos serviço que os de Angola, o que é tanto pelo contrário, que os que vêm da Mina se vendem mais subido por ter mostrado a experiência dos mineiros serem estes mais forte e capazes para aturar o trabalho a que os aplicam; o que me obrigou a consultar esta matéria com os Ministros, e pessoas de mais inteligência e resolvi que vista a equivocação que houve no valor de uns e outros negros pagassem todos igualmente quatro mil e quinhentos por cabeça e nesta forma interessa à Real Fazenda de Vossa Majestade, os mesmos direitos de três a seis…” (11). Passados onze anos (em 1725), voltava-se ao tema e reafirmava-se a “superioridade” do elemento Sudanês: “As Minas é certo, que se não podem cultivar senão com negros (…) os negros mina são os de maior reputação para aquele trabalho, dizendo os Mineiros que são os mais fortes e vigorosos, mas eu entendo que adquiriram aquela reputação por serem tidos por feiticeiros, e têm introduzido o diabo, que só eles

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descobrem ouro, e pela mesma causa não há Mineiro que se possa viver sem nem uma negra mina, dizendo que só com elas tem fortuna… (12). Pelos documentos expostos torna-se patente que, apesar da divergência inicial de avaliação por parte da Coroa, logo evidenciou-se a preferência dos mineiros pelos negros minas. Provavelmente, seu propalado poder diabólico para encontrar ouro nada mais fosse do que o resultado de conhecimentos minerais, adquiridos na África. Isto posto, vejamos a composição dos escravos anotados nos documentos compulsados. Desde logo, nota-se o elevado peso relativo dos Sudaneses na massa escrava. Em Pitangui, no período 1718 a 1723, a parcela correspondente aos Sudaneses, dentre os africanos, expandiu-se de um percentual de quarenta e cinco para cinqüenta por cento. Apesar do acelerado aumento pelo qual passava o contingente de escravos da Vila em apreço, ampliava-se o peso relativo dos Sudaneses, o que faz supor participarem esses elementos em significativa proporção no fluxo de cativos trazidos da África nesse espaço temporal de cinco anos e/ou no estoque de escravos existentes na Colônia – inclusive nas Gerais – e que se deslocava, em alguma medida, para Pitangui. No Serro, cujos dados referem-se a um período de maior consolidação e próximo ao apogeu da atividade extrativa, verifica-se o predomínio do elemento Sudanês, com proporção superior a dois terços dos africanos ali arrolados (cf.tabela 41).

Tabela 41

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

ESCRAVOS SUDANESES BANTOS LOCAL ANO

NÚMERO % NÚMERO %

1718 107 44,6 133 55,4

1719 148 43,8 190 56,2

1720 145 42,8 194 57,2

1722 347 48,9 363 51,1

Vila de Pitangui

1723 338 49,8 341 50,2

Serro do Frio 1738 5912 78,9 1579 21,1

Freguesia de Congonhas do Sabará

1771 398 50,8 385 49,2

Distrito de São Caetano 1804 24 9,2 238 90,8

Vila Rica 1804 175 15,2 976 84,8

Em Congonhas do Sabará, em 1771, portanto já na fase descendente da lide mineira, a participação dos Sudaneses reduzia-se para cinqüenta por cento. Por fim, em 1804, quando a mineração se encontrava em franco processo de decadência, o peso relativo do elemento Sudanês na massa de africanos, havia-se retraído de forma drástica; assim, em Vila Rica, sua participação alcançava 15,2% e, em São Caetano, 9,2%. À vista dos resultados obtidos, evidencia-se a ocorrência de significativas mudanças, no correr do tempo na composição dos escravos africanos existentes nas Gerais. A nosso ver, o predomínio de um ou outro grupo condicionou-se, de um lado, pelo evolver da atividade mineira e, por outro, pelas condições de oferta de escravos, sobretudo as relativas às áreas africanas fornecedoras dessa mão-de-obra. Destarte, ressalvadas as transformações ocorridas nas zonas da qual eram oriundos os africanos e dada a preferência dos mineradores pelos Sudaneses, em geral, e pelos “Mina”, em particular, no período de ascensão da lide exploratória, ocorreu concomitante incremento no percentual correspondente ao grupo em apreço (gráfico XVIII).

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À época do auge da faina aurífera parece ter havido preponderância do grupo Sudanês; reciprocamente, ao tempo da decadência, passaram a dominar os Bantos. Revelou-se, paralelamente, a tendência a “substituir” aqueles por estes, fato a comprovar o estreito liame entre o elemento Sudanês e o trabalho exploratório. Note-se que a possível redução – mais do que o proporcional àquela verificada para o elemento Banto – no fluxo de cativos de origem sudanesa evidenciou, em Vila Rica, no ano de 1804, uma estrutura etária na qual este último grupo aparece claramente como “envelhecido”, quando comparado ao segmento dos Bantos (13). Em complemento ao tema em foco – origem dos cativos – vejamos a participação relativa de Coloniais e Africanos na massa de cativos. No período ascensional da atividade mineira, quando se necessitava de um permanente fluxo de escravos e a mineração propiciava os recursos necessários para a sua aquisição, verificava-se a marcante predominância do elemento africano. Assim, nos dois primeiros núcleos estudados, correspondentes aos anos de 1718/1723 e 1738, a parcela de africanos na massa escrava colocava-se entre 82,2% e 84,8%, em Pitangui, e 94,9% no Serro do Frio (cf.tabela 42).

Tabela 42

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

ESCRAVOS AFRICANOS COLONIAIS LOCAL ANO

NÚMERO % NÚMERO %

1718 245 82,2 53 17,8

1719 342 83,0 70 17,0

1720 346 83,2 70 16,8

1722 731 83,5 144 16,5

Vila de Pitangui

1723 695 84,8 125 15,2

Serro do Frio 1738 7491 94,9 399 5,1

Freguesia de Congonhas do Sabará

1771 783 69,4 346 30,6

Distrito de São Caetano 1804 262 40,8 380 59,2

Vila Rica 1804 1151 40,5 1688 59,5

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Iniciada a decadência mineira, provavelmente reduziu-se a capacidade de adquirir novos escravos do exterior; esse fato, aliado ao próprio crescimento da massa de coloniais, modificou gradativamente a composição da escravaria, com aumento proporcional dos cativos nascidos na Colônia. Desse modo, já em 1771 o percentual de africanos reduzia-se para 69,4% e, em 1804, nas duas localidades estudadas, sua participação foi praticamente igual, ou seja, 40,8% em São Caetano e 40,5% em Vila Rica (cf.gráfico XIX).

Por fim, analisemos a estrutura etária dos cativos e sua distribuição segundo o sexo. Quanto a este último aspecto, nota-se franca predominância masculina, elemento mais apto ao exaustivo trabalho de extração mineral. Tal supremacia quantitativa tornou-se relativamente menor com a própria decadência da atividade mineira, quando deixou de haver a reposição dos escravos e, além disso, enviaram-se muitos para outras áreas da Colônia. Outro fator a contribuir para o equilíbrio no peso relativo de homens e mulheres foi, sem dúvida, o aumento da participação do elemento colonial na massa escrava. Assim, em Pitangui e no Serro do Frio, no período aqui estudado, a parcela respeitante aos homens alcançava um peso superior a oitenta por cento; já em 1771, na Freguesia do Sabará, esse peso relativo alcançava 73,1%. Em 1804, a participação masculina na massa escrava situou-se em 66,7% e 58,0%, respectivamente, em São Caetano e Vila Rica (cf.tabela 43).

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Tabela 43

ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O SEXO

ESCRAVOS HOMENS MULHERES LOCAL ANO

NÚMERO % NÚMERO %

TOTAL (*)

1718 255 85,6 43 14,4 300

1719 350 84,3 65 15,7 415

1720 350 83,5 69 16,5 419

1722 739 83,5 146 16,5 893

Vila de Pitangui

1723 702 83,3 141 16,7 867

Serro do Frio 1738 6627 83,5 1310 16,5 7937

Freguesia de Congonhas do Sabará

1771 860 73,1 317 26,9 1350

Distrito de S. Caetano 1804 454 66,7 227 33,3 681

Vila Rica 1804 1649 58,0 1190 42,0 2839

(*) A eventual diferença entre os valores desta coluna e a soma de homens e mulheres corresponde a escravos para os quais foi impossível identificar o sexo. Quanto à estrutura etária, as informações disponíveis permitem comparar duas localidades para as quais constou a idade dos escravos: Serro do Frio (1738) e São Caetano (1804). Vê-se, de imediato, que a estrutura etária de São Caetano revelava perfil relativamente equilibrado quando comparado ao Serro do Frio. Nesta última, a massa escrava anotada – referente à escravaria sobre a qual incidiu a capitação – apresentava, em 1738, uma composição voltada essencialmente para o trabalho extrativo; isso explica a elevada concentração dos cativos em idades produtivas. Em São Caetano, por outro lado, estamos a tratar com documento relativo a levantamento censitário e, ademais, nesta localidade mostrava-se maior o peso do elemento colonial, o qual, evidentemente, revelava distribuição etária distinta da observada para escravos africanos. Assim, por exemplo, o segmento etário compreendido entre 15 e 39 anos participava com 82,7% dos cativos anotados no Serro, contra apenas 56,1% em São Caetano (cf.tabela 44 e gráfico XX).

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Tabela 44

ESCRAVOS: ESTRUTURA ETÁRIA

PORCENTAGEM NA FAIXA FAIXAS ETÁRIAS Serro do Frio

(1738) São Caetano

(1804)

0 - 9 0,04 3,96

10 - 14 3,24 4,99

15 - 19 10,83 8,08

20 - 24 24,31 11,16

25 - 29 21,90 12,78

30 - 34 18,06 14,38

35 - 39 7,62 9,69

40 - 44 7,80 9,84

45 - 49 2,17 5,58

50 - 54 2,14 5,14

55 - 59 0,44 2,94

60 - 64 0,76 6,46

65 - 69 0,05 2,06

70 - 74 0,29 1,91

75 - 79 0,01 0,73

80 e mais 0,18 0,30

Não consta 0,16

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Estudamos, com base no quadro de referência apresentado na primeira parte desta pesquisa e nos resultados obtidos nas fontes primárias compulsadas, alguns elementos da estrutura socioeconômica das Gerais, a nosso ver, essenciais no entendimento da sociedade mineira.

Consideramos, inicialmente, a estrutura de posse de escravos e as atividades exercidas pelos senhores. Evidenciou-se elevada participação dos pequenos proprietários e raros os indivíduos que compareceram com grande escravaria. A seguir, verificamos a representatividade dos libertos enquanto proprietários de escravos.

Por fim, analisamos algumas características específicas da massa escrava arroladas, sob tal aspecto, demonstramos o peso dos elementos de origem Sudanesa nas Gerais.

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N O T A S (1) Com referência ao século XVIII, exceto para 1718, não localizamos documentação que

permitisse análise mais ampla quanto aos aspectos considerados nesta pesquisa. As informações relativas ao supracitado ano foram analisadas pormenorizadamente no trabalho: LUNA, F.V. – Características da Massa Escrava em Minas Gerais – Século XVIII, IPE-USP, São Paulo, 1980, 265 p.

(2) CANABRAVA, Alice P.–“Uma Economia em Decadência: Os Níveis de Riqueza na

Capitania de São Paulo”, in Revista Brasileira de Economia,vol.26,nº .4, out/dez.1972,p. 112.

(3) Note-se que o intercurso sexual entre cativas e senhores deveria, pela eventual alforria que se dava ao nascer aos filhos dessas ligações, ampliar o contingente de alforriados.

(4) LIMA JÚNIOR, Augusto de – A Capitania das Minas Gerais, Livraria Editora Zélio Valverde,

Rio de Janeiro, 2ª.edição, 1943, il., p. 142.

(5) Bando do Governador e Capitão General das Minas de Ouro, André de Mello e Castro, Conde de Galvêas, datado de dois de dezembro de 1733.

(6) Sobre o tema do intercurso sexual nas Gerais e alforrias, veja-se LUNA, F.V. e COSTA,

I.N. – Devassa nas Minas Gerais: Observações sobre os casos de concubinato, FEA-USP, São Paulo, 1980, mimeo.

(7) RAMOS, Arthur – As Culturas Negras no Novo Mundo, Civilização Brasileira, Rio de

Janeiro, 1937, (Biblioteca de Divulgação Científica, vol. XII), e RODRIGUES, Nina - Os Africanos no Brasil, 4ª.edição, Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1976, (Coleção Brasiliana, vol. 9).

(8) SALZANO, F.M. e FREIRE-MAIA, M. – Populações Brasileiras – Aspectos Demográficos,

Genéticos e Antropológicos, Editora Nacional e Editora da USP, São Paulo, 1967; COELHO, Lucinda Coutinho de Mello – “Mão-de-Obra Escrava na Mineração e Tráfico Negreiro no Rio de Janeiro”, in Anais do VI Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Trabalho Livre e Trabalho Escravo), vol. I, FFLCH-USP, São Paulo, 1973; COSTA, Iraci del Nero da Vila Rica: População (1719-1826), IPE-USP, São Paulo, 1979, (Ensaios Econômicos, nº . 1), LUNA, F.V. e COSTA, I.N. da “Algumas Características do Contingente de Cativos em Minas Gerais”, in Anais do Museu Paulista, tomo XXIX, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1979, p.79-97. Sobre o fluxo de escravos africanos para o Brasil, veja-se GOULART, Maurício – Escravidão Africana no Brasil (Das Origens à Extinção do Tráfico), Livraria Martins Editora S.A., São Paulo, 1949, 300 pp.

(9) Cf. por exemplo, CARNEIRO, Edison – Ladinos e Crioulos (Estudos sobre o negro no

Brasil), Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1964, (Retratos do Brasil, vol. 28), pp. 17-18 e RUSSEL-WOOD, A.J.R. – “Technology and Society: The Impact of Gold Mining on the Institution of Slavery in Portuguese America”, in The Journal of Economic History, vol. 37, nº . 1, março de 1977, Johns Hopkins University, pp. 59-83.

(10) “Carta Régia estabelecendo novas providências sobre a venda e remessa de escravos

Africanos para as Minas” datada aos 27 de fevereiro de 1711, in Documentos Interessantes, vol. 49, Arquivo do Estado de São Paulo, São Paulo, 1929.

(11) “Carta do Vice-Rei do Brasil Marquês de Angeja, datada de 28 de julho de 1714”, apud,

AMARAL, (Braz do) “Contribuição para o Estudo das Questões de que trata a tese 6ª.da Seção de História, das Explorações Arqueológicas e Etnográficas”, in Anais do 1º Congresso de História Nacional, vol. II, Rio de Janeiro, 1915.

(12) “Carta do Governador da Capitania do Rio de Janeiro ao Rei, dando as informações

determinadas pela provisão de 18 de junho de 1715, relativa aos negros que mais conviriam às Minas”, de 5 de julho de 1726, in Documentos Interessantes, vol.50, Arquivo do Estado de São Paulo, São Paulo, 1929.

(13) “Quanto à participação, segundo faixas etárias, dos cativos africanos, verifica-se o

predomínio dos Bantos até a faixa dos 30 a 39 anos, já os Sudaneses aparecem com peso relativo maior para as idades mais avançadas”, in LUNA (F.V.) e COSTA (I.N.), Algumas Características dos Contingentes de Cativos em Minas Gerais, op.cit., p. 86.

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CONCLUSÕES Objetivamos, ao longo deste trabalho, discutir, a partir de fontes primárias originais, alguns elementos essenciais da estrutura socioeconômica prevalecente nas Gerais ao tempo em que predominou a faina aurífera. Sociedade sem par na Colônia, seu rápido pulsar refletiu-se de forma marcante nas demais regiões, tanto na fase de esplendor, pelos efeitos dinâmicos dela emanados, quanto na sua decadência, quando ocorreu um rápido esvaziamento econômico e demográfico da área mineira. O entendimento de seu evolver impõe, a nosso ver, o estudo não só das condições peculiares do meio, como do Sistema Colonial então vigente, que o condicionou e direcionou. O povoamento da Colônia americana, a exigir de Portugal consideráveis recursos materiais e humanos, justificava-se pela expectativa de carrear vultosos excedentes líquidos para a Metrópole, de preferência na forma de metais preciosos. Mesmo quando se encontraram alternativas que viabilizaram a exploração econômica de parte do território brasileiro, persistiu a secular esperança de localizar ricos depósitos de metais e pedras preciosas, apesar de dois séculos de resultados decepcionantes na procura do ouro. A localização da área aurífera deve ser creditada aos bandeirantes que palmilharam extensas porções do Brasil; esses sertanistas dedicavam-se à captura do silvícola, base de sua mão-de-obra e seu principal “produto” de exportação. Tal atividade exigia a exploração do sertão e lhes possibilitava efetuar, subsidiariamente, a pesquisa mineral. Como a procura de metais não constituía, normalmente, o objetivo principal das incursões, resultados negativos, mesmo persistentes, não inviabilizavam sua continuidade. Enquanto houvesse gentio a prear e mercado comprador para esta mão-de-obra, os paulistas poderiam continuar a exercer a atividade de captura que os distinguia. O longo espaço temporal transcorrido entre as primeiras penetrações ao interior da Colônia e a descoberta das ricas aluviões auríferas das Gerais pode ser imputado tanto à falta de preparo técnico dos paulistas, como às características físicas da zona mineira. A área que se tornaria a principal fonte extrativa constituía o sertão inóspito, de difícil acesso, onde o elemento branco ainda não se estabelecera. As dificuldades do meio físico refletiram-se na própria forma de exploração dos metais e na estrutura da sociedade ali assentada. Ademais, o relativo distanciamento do litoral e dos portos isolava esta área e contribuiu para ali gerar uma sociedade peculiar. Divulgada a notícia da descoberta do metal, iniciou-se uma verdadeira corrida do ouro; de todos os pontos da Colônia chegavam indivíduos ávidos de riqueza. A Coroa procurou, de imediato, impor restrições ao deslocamento às minas, pois o afluxo descontrolado de pessoas e o envio maciço de escravos às Gerais poderia representar o enfraquecimento econômico e mesmo militar de outras partes do território colonial. Do próprio Reino formou-se intensa corrente migratória, sobre a qual a Coroa tentou impor seu controle. A corrida às minas justificava-se pelo tipo de ocorrência do ouro. Encontrado na forma de depósito aluviano propiciava, na primeira fase extrativa, rendimento elevado e na qual praticamente se igualava a produtividade por escravo de pequenos e grandes proprietários. Assim, o exercício da atividade abria-se mesmo aos indivíduos sem posses para adquirir um único escravo; dedicavam-se a faiscar até acumular recursos suficientes para obter mão-de-obra cativa, básica para a extração em maior escala. Conhecida a potencialidade da área, a Coroa passou a estabelecer a estrutura administrativa e o arcabouço legal, visando a absorver parte do produto das minas. Implantou a máquina arrecadadora dos quintos; criou uma complexa organização burocrática na qual se confundiam funções executivas, legislativas e judiciárias; definiu regras para a concessão de datas minerais e impôs inúmeras taxações sobre mercadorias e escravos enviados às Gerais. Impunha-se estruturar a máquina administrativa e arrecadadora, sob pena de perder o domínio da situação.

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A análise ampla das normas impostas pela Coroa revela o anseio de obter o máximo de rendimento para a Metrópole e sob tal aspecto, a legislação, a nosso ver, mostrou-se conseqüente, coerente e eficaz. Ao monopolizar o direito de distribuir datas minerais e ao exercer controle sobre o fluxo de escravos encaminhados às zonas extrativas, a Coroa detinha o virtual domínio da atividade e condicionava a organização da própria estrutura produtiva. A distribuição de datas, proporcional ao número de escravos de cada proprietário, induzia o mineiro a concentrar seus recursos em mais braços. Isto representava maior potencial tributário em termos de quintos; aumentava a receita derivada de taxas sobre os cativos enviados às minas e representava uma forma indireta de fortalecimento da Metrópole, via tráfico negreiro. Ao achar-se condicionada a concessão de uma segunda data mineral à exploração da primeira, os mineradores viam-se estimulados a realizar um rápido serviço extrativo nas áreas recebidas. Como se tratava de minério de aluvião, a fase inicial de lavagem do cascalho revelava normalmente maior teor de ouro do que as sucessivas lavagens do mesmo cascalho; assim, colocava-se ao mineiro a opção de efetuar inúmeras lavagens do material aurífero ou executar um trabalho superficial para obter uma data ainda virgem e potencialmente mais produtiva. De modo geral, na primeira fase da atividade mineira, quando se multiplicavam as novas áreas descobertas, a segunda opção tornava-se a mais atraente. Tal forma de exploração atendia à racionalidade do mineiro e enquadrava-se perfeitamente nas normas coloniais então vigentes. Permitia também o aumento imediato da produção e, portanto, dos quintos reais, embora se comprometesse a própria sobrevivência da atividade. As eventuais medidas restritivas à produção de metais e pedras preciosas, a limitar a ânsia extrativa estimulada pela Coroa, derivavam de possíveis excessos de oferta ou dificuldade na fiscalização e cobrança dos tributos. A forma de ocorrência do metal, ouro de aluvião, privilegiava métodos extrativos intensivos em mão-de-obra, fator de produção de grande mobilidade, característica importante em atividade permanentemente em movimento. As próprias condições físicas da área onde se concentravam os serviços, com topografia acidentada, rios caudalosos, elevadas taxas pluviométricas e caminhos dos piores da Colônia, dificultavam o uso de máquinas e equipamentos de grande porte. Além disso, a inexistência de produção local de ferro tornava a atividade mineira dependente do abastecimento externo deste produto, extremamente caro nas Gerais, tanto pelo custo de transporte, quanto pelas diversas taxas incidentes sobre o mesmo. A própria Coroa, como foi visto, promovia, por meio da legislação, a utilização de práticas intensivas em mão-de-obra, na medida em que distribuía datas minerais com área proporcional ao número de cativos de cada indivíduo. Por fim, a pequena dimensão das datas obstava à realização de trabalhos de maior envergadura. A água revelou-se, ao início da atividade extrativa, o principal inimigo dos mineiros, pois fazia-se necessário retirar o cascalho aurífero depositado no leito dos rios ou nos tabuleiros. Com freqüência os serviços realizados eram destruídos pela força hidráulica, principalmente na época das chuvas. Com o tempo, sem embargo, os mineiros conseguiram controlar tal forma de energia e torná-la sua principal aliada. A água, lançada morro abaixo, desbastava as encostas e permitia a extração e o acúmulo da lama rica em ouro. Para viabilizar esse processo, impunha-se dirigir o grande volume de água para o topo das elevações, a exigir a construção de aquedutos, com quilômetros de extensão, pelos quais se transportava a massa líquida. Para receber, armazenar e enriquecer o material aurífero, serviam-se de caixas de pedras de grandes proporções, os mundéus. Além desses reservatórios e dos bicames, os mineiros executaram grandes obras de represamento e mudança do curso de rios através da construção de leitos artificiais abertos em calhas paralelas ou de canaletas de madeira suspensas sobre o canal original. Tais obras civis, efetuadas particularmente quando se esgotavam os depósitos auríferos mais facilmente exploráveis, foram realizadas com o intenso emprego de mão-de-obra e de materiais disponíveis na região.

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Pelo exposto, pode-se aquilatar a importância do trabalho escravo na mineração. Dele dependia tanto o trabalho extrativo propriamente dito, como a realização dos investimentos físicos efetuados nas Gerais e representados, quase exclusivamente, por obras civis. Desse modo, o estudo das características dos proprietários de escravos e da massa de cativos existentes em Minas torna-se, a nosso ver, elemento de fundamental importância para o entendimento da sociedade ali estabelecida. Sob tal aspecto, estudamos a composição da massa escrava em várias localidades mineiras no período 1718-1804. Quanto ao sexo, evidenciou-se amplo predomínio masculino, em particular nas fases iniciais da lide mineira. No que se refere à estrutura etária, os dados disponíveis revelam uma significativa concentração da escravaria na faixa que pode ser considerada de maior vigor físico, dos 15 aos 44 anos. Por fim, no que diz respeito à origem dos escravos, notou-se, no período ascensional da lide aurífera, marcante superioridade quantitativa do elemento africano. Com a decadência reduziu-se, provavelmente, a capacidade aquisitiva dos mineradores para comprar novos escravos do exterior; tal fato, paralelamente ao próprio crescimento da massa escrava existente em Minas, modificou a participação relativa, com aumento proporcional dos cativos nascidos na Colônia. Ainda sob o aspecto da origem da massa escrava, os resultados obtidos demonstram o elevado peso relativo dos elementos Sudaneses entre os cativos africanos, principalmente na fase de ascensão da atividade aurífera, quando ocorreu, concomitantemente, incremento no percentual do grupo em apreço, que se revelava o preferido para a lide extrativa. Relativamente aos proprietários de escravos, evidenciou-se predomínio dos indivíduos com número reduzido de cativos (entre um e quatro), raramente compareceram grandes senhores de escravos. Dentre os milhares de mineiros computados, poucos registraram-se com mais de quatro dezenas de escravos e apenas um ultrapassou a centena. Para cada uma das localidades estudadas, o número médio de escravos por proprietário – que variou entre 3,7 e 6,5 – revelou relativa estabilidade, apesar de refletirem tanto épocas de ascensão da faina aurífera como de sua decadência. Ao fazermos uso do Índice de Gini, medida estatística largamente utilizada nos estudos a respeito de distribuição de riqueza, obtivemos resultados – entre 0,403 e 0,573 – a refletir uma sociedade na qual a propriedade, neste caso medida pela posse de cativos, encontrava-se relativamente bem distribuída, possivelmente de forma mais equilibrada no que a prevalecente nas demais regiões da Colônia. Ademais, a mineração parece ter propiciado aos escravos maiores oportunidades, não só de alforria mas também de tornarem-se proprietários de cativos. Isto pode ser ilustrado pelos dados obtidos a partir do manuscrito referente à capitação dos escravos no Serro do Frio, em 1738. Nessa localidade dentre os 1.744 indivíduos listados que pagaram o tributo devido, proporcional aos cativos possuídos, nada menos de 387, ou seja, 22,2% constituíam-se de forros. Estes, em conjunto, detinham 758 escravos, ou seja, 9,9% da escravaria taxada. Condições semelhantes repetiram-se na localidade de Congonhas do Sabará (1771) na qual os forros perfaziam 21,7% dos senhores e sua massa cativa representava 10,2% do total. A partir das idéias e evidências empíricas apresentadas ao longo deste trabalho, vamos nos permitir algumas considerações a respeito das características essenciais do Brasil Colônia: a grande lavoura, a monocultura e a escravidão. As peculiaridades da atividade mineira propiciaram a formação de uma estrutura singular nas Gerais. De modo geral, aquilo que se pode comparar à “grande lavoura” ali não predominou. Por força de variadas circunstâncias, inclusive pela orientação Metropolitana, a atividade não se assentou no grande produtor; tal linha de conduta não constituiu mudança inexplicável nas regras do Sistema Colonial, representou, na verdade, uma adaptação de tais normas às características próprias da mineração, mantendo-se, entretanto, o objetivo básico do Sistema, qual seja, promover a transferência do máximo possível de excedentes à Metrópole. Se a atividade açucareira aqui implantada exigiu a grande lavoura o mesmo não ocorreu com a mineração. Os quadros do Sistema Colonial permitiam, ou mesmo

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estimulavam, a extração aurífera através de uma estrutura produtiva que pode ser caracterizada como de “pequena propriedade”. Neste sentido, reveste-se de importância fundamental o fato dos indivíduos – tanto da Colônia como do Reino – deslocarem-se para as minas por iniciativa própria, sem necessitarem de estímulos do Estado, como a concessão de extensas glebas de terra, características de outras áreas da Colônia e que acabava por condicionar a estrutura de propriedade nelas imperante. Embora fundamentado no escravismo, o regime de trabalho na mineração revelou-se sui-generis. A atividade mineira permitia aos cativos relativa liberdade de ação e maior oportunidade socioeconômica quando comparada às outras economias coloniais. A forma como efetuavam-se os trabalhos extrativos exigia do escravo, além do esforço físico, certo grau de concentração e empenho, principalmente daqueles dedicados às tarefas de enriquecimento e apuração do ouro. Apesar do intenso controle e fiscalização a recair sobre os cativos, somente através de estímulos obtinha-se efetivo empenho dos escravos. Ofereciam-se determinados tipos de recompensas, em geral materiais, ou se concedia relativa liberdade de trabalho ao cativo. Eram freqüentes os casos de proprietários que autorizavam escravos a dedicarem-se, por algumas horas, à extração em benefício próprio, após o desempenho da jornada de trabalho previamente estipulada ou depois de obterem determinado volume mínimo de produto. Com isto, muitos cativos obtinham recursos para a compra de sua própria liberdade. Ademais, as cativas podiam voltar-se à prostituição e ao concubinato: tendência reforçada pela desproporção numérica entre os sexos. Talvez tais observações expliquem o elevado percentual de forros proprietários existente no Serro do Frio e em Congonhas do Sabará. Note-se que os forros listados nos documentos estudados representam os libertos que haviam ascendido à categoria de senhores de escravos; não dispomos de elementos para estabelecer o número de forros não proprietários, dedicados quer à mineração, como a outras atividades. Outra característica básica do sistema colonial a merecer qualificação no que se refere às Gerais prende-se à chamada “monocultura”, ou seja, grande concentração de esforços produtivos em um só produto. Ao implantar-se a atividade extrativa mineral, no início do século XVIII, somente a expectativa de elevados ganhos movia os empreendedores. Provavelmente, a grande maioria da massa populacional atraída para a zona mineira pretendia dedicar-se diretamente à própria atividade aurífera. As Gerais distavam muito dos portos e dos demais núcleos econômicos da Colônia, entretanto, os mineiros e sua escravaria necessitavam de gama variada de bens, quer os destinados à sua sobrevivência, quer os materiais exigidos pela lide exploratória. Apesar de grande maioria desses produtos provirem de outras áreas, desenvolveram-se nas Gerais inúmeras atividades não voltadas diretamente à extração mineral mas cuja força vital derivava da dinâmica da mineração. As dificuldades de transporte; a distância em relação as outras áreas produtivas da Colônia e dos portos de embarque; a elevada concentração populacional nas zonas produtivas e o desenvolvimento rápido de alguns núcleos urbanos de grande porte foram responsáveis pela implantação de inúmeras e variadas atividades na região. Neste sentido, existiam nos núcleos urbanos indivíduos dedicados tanto ao artesanato, como a prestação dos mais variados serviços. A própria agricultura ali desenvolvida chegou a ter representatividade no abastecimento da população mineira. Certas localidades, como Vila Rica, representaram, no século XVIII, áreas urbanas de grande densidade populacional e onde se observou intensa divisão social de trabalho. Assim, embora a economia mineira tendesse, em princípio, a voltar-se à “monocultura” extrativa, a própria dinâmica de seu crescimento possibilitou o surgimento de variadas atividades. No presente trabalho evidenciamos características indispensáveis ao perfeito entendimento da economia mineira implantada nas Gerais. Pelas características singulares da sociedade ali estabelecida, acreditamos que a maioria dos conceitos gerais acerca da economia e sociedade colonial brasileira devem merecer qualificação quando aplicados àquela área.

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Esperamos que as evidências empíricas apresentadas possam contribuir para o alargamento de nosso conhecimento a respeito do evolver socioeconômico de Minas Gerais, que se nos apresenta de fundamental importância para a compreensão tanto do processo unificador da Colônia como do deslocamento de seu eixo econômico do Norte para o Centro-Sul. O estudo da sociedade mineira e de sua decadência permite, ademais, lançar luz sobre a origem da massa populacional concentrada na região de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro e que veio a compor parcela significativa da mão-de-obra empregada nas atividades econômicas ali desenvolvidas, particularmente a pecuária e a cafeicultura.

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GLOSSÁRIO DE TERMOS MINEIROS, CONFORME SEU USO NO SÉCULO XVIII e XIX Ao estudarmos as técnicas das quais se serviram os mineradores no Brasil, ao longo do período colonial, defrontamo-nos, freqüentemente, com uma série de termos cujo sentido modificou-se ou perdeu o uso corrente pela própria mudança dos métodos extrativos. Com o objetivo de facilitar o entendimento das técnicas mineiras procuramos compor, baseados principalmente em memórias coevas e relatos de viajantes, um glossário de termos conforme seu uso em Minas Gerais, durante o século XVIII e princípios do XIX, quadra na qual predominou a faina aurífera. ALAVANCA – Barra de Ferro com cerca de 0,9 a 1,2 m de comprimento; apresentava numa das

extremidades a forma de cunha e na outra a de ponta de pirâmide quadrangular. Usava-se para desagregar o minério quando mole.

ALCATRUZ – Vaso de barro, normalmente cilíndrico, com bojo ou curvatura convexa do fundo até o meio e

com o qual se elevava a água, preso, o alcatruz, a uma corda ou corrente de ferro que passava pela circunferência de uma roda.

ALMOCAFRE – Enxada estreita e pontiaguda com a folha dobrada em ângulo reto. Servia, entre outros

fins, para ajuntar o minério e depositá-lo nos carumbés destinados ao transporte. ALVIÃO - Cavadeira munida com ponteira de ferro, utensílio próprio para arrancar terra e pedras. AMALGAMAR - Processo complementar à bateia para apurar-se o ouro quando este ocorria em partículas

muito pequenas. Juntava-se à lama da bateia um pouco de mercúrio para absorver o ouro, a seguir, pela volatilização do mercúrio através do fogo, separavam-se os dois elementos.

APURAR A CANOA - Depois do rebaixamento da canoa, procedia-se a sua apuração. Consistia em

raspar o material do fundo da canoa com um sarrafo e acumulá-lo debaixo de queda d’água, a fim de que as partes mais leves se desprendessem do ouro.

APURAR O OURO - Representava o processo final de separação do ouro, usualmente efetuado com a bateia após o prévio enriquecimento do material com emprego da canoa ou bolinete. APURADORES - Escravos a trabalhar com bateias na apuração do ouro. AREIA DE ESTANHO - Arenito ferruginoso. AZOUGUE - Nome vulgar do mercúrio. BACALHAU - Chicote de cinco tranças de couro, próprio para castigar os escravos. BACO - Cuba de tábuas, abertas em um dos lados, pelo qual penetrava água corrente. BAETA - Tecido de lã, grosseiro e felpudo utilizado pelos mineiros nos serviços das canoas. A água

barrenta, após a lavagem do cascalho, passava por sobre baetas ou pedaços de couro, onde as partes mais pesadas – ouro em particular – depositavam-se.

BATEA - O mesmo que bateia. BATEIA - Instrumento fundamental do mineiro quando atuava como faiscador e nos processos de

apuração do ouro, no caso das lavras. Tratava-se de uma gamela especial de madeira – em geral cedro – com diâmetro aproximado de 0,5 m, a terça parte da altura e com fundo em ponta.

BATATAL - O mesmo que gupiara. BECAME - O mesmo que bicame. BETA - Escavação profunda realizada nas rochas de onde se extraía o ouro.

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BICA - Parte inferior, muito inclinada, das canoas e bolinetes, sobre a qual geralmente colocavam-se couros ou panos felpudos.

BICAME - Apropriada à exploração do metal existente nos rios. Correspondia a leito artificial, de madeira,

para o qual se desviava o curso da água; tal procedimento permitia o acesso às partes ricas em cascalho aurífero. Chamavam-se pelo mesmo nome os aquedutos de madeira; a água conduzida de longas distâncias prestava-se aos serviços desenvolvidos nas lavras.

BOLINETE - Canaletas inclinadas – construídas em madeira – com dimensões de 1,5 a 3,0 m de

comprimento; 0,9 a 1,1 m de largura na parte superior e com 0,1 a 0,2 m na extremidade oposta. Representavam, na verdade, grandes canoas; destinavam-se aos mesmos fins destas últimas, porém apresentavam maior capacidade operacional.

BUCHOS AURÍFEROS - Depósitos de ouro, concentrados nas rochas. BURGALHÃO - Seixos quartzosos, comumente angulosos. CABECEIRA DA CANOA - Parte levemente inclinada da canoa; terminava na bica. CABECEIRA DE PANOS - Segmento das canoas e bolinetes onde se colocavam panos felpudos, as

baetas, ou couros – com os pelos para cima – para reter as partículas de ouro carregadas pela água da lavagem.

CABESTRANTE OU (CABESTANTE) - Máquina de madeira e ferro, com a forma de um cilindro

perpendicular atravessado por várias barras ou braços e que gira ao redor de seu eixo, movida pela força humana ou animal. Com o movimento giratório, um cabo preso ao cilindro enrola-se, e desloca algum peso colocado na extremidade oposta ao cabo. Entre outros fins, servia para transportar o cascalho aurífero da fonte de extração, para o local onde apurava-se o ouro.

CACO - Prato de cobre com diâmetro de 15 a 25 cm; a ele se recorria após o trabalho de bateia – para

apurar-se o ouro, quando o mesmo se revelava muito fino. Colocava-se o material enriquecido no caco e adicionava-se o suco de certos vegetais. Este produto operava no sentido de favorecer o depósito, no fundo do prato, das partículas de ouro, normalmente a boiar na água. Destarte, sua apuração via-se facilitada.

CALHAU - Fragmento de rocha, seixos. CANAIS PARALELOS - Canais abertos nos tabuleiros, com aproximadamente 25 cm de profundidade por

2,0 m de largura; por eles derivava-se a água de córrego represado e, enquanto a mesma fluía, os escravos, postados dentro ou ao lado do canal, remexiam o cascalho com almocrafes. Passado certo tempo estancava-se o fluxo de água, retirava-se o material contido no canal e posteriormente se o apurava.

CANGA - Conglomerado de minerais de ferro cimentados por óxido desse elemento. CANOA - Canal retangular com 1,0 a 1,5 m de comprimento; 0,5 a 0,7 m de largura e 0,1 a 0,6 m de

profundidade, com o fundo ligeiramente inclinado no sentido da corrente de água, admitida por uma das extremidades; esta parte, quase horizontal, denominava-se cabeceira. Na face oposta à entrada do líquido pospunha-se longo declive, chamado bica, sobre o qual se colocavam os panos felpudos e couros para reter o ouro carregado pela água lamacenta das lavagens. O ângulo formado pela bica, cujo comprimento oscilava em torno de 2 m, variava entre 15° e 25º em função da natureza do material em processo. Os mineradores socorriam-se da canoa para proceder ao enriquecimento do cascalho aurífero.

CARUMBÉ - Vasilha de madeira com aproximadamente 0,4 m de diâmetro, formato cônico e destinada,

nas lavras, para o transporte do cascalho rico. CARVOEIRO - Assim chamavam, os mineiros, o depósito aurífero muito rico quando encontrado na rocha.

Com jatos d’água arrancavam as camadas rochosas e depois as trituravam para retirar o metal precioso. CASCALHO - Mistura de pedras e areia grossa na qual se encontravam partículas de ouro. CASCALHO BRAVO - Cascalho pobre, estéril. CASCALHO GELADO - Assim caracterizado quando se apresentava em conglomerado compacto e

perfeitamente cimentado.

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CASCALHO DE TABULEIRO - Representava aquele existente nos terrenos planos à margem dos rios. De pouca espessura, encontrava-se a uma profundidade de 0,6 a 1,1 m.

CASCALHO DE VEIO DE RIO - Cascalho cuja ocorrência dava-se no leito dos rios. CASCALHO VIRGEM - No início dos trabalhos mineiros o leito dos rios e córregos continha apenas

cascalho depositado pela ação secular das águas. Denominava-se cascalho virgem e, no correr do tempo, viu-se encoberto pelos detritos decorrentes da atividade extrativa.

CATAS - Desconhecendo outros processos de trabalho, os primeiros exploradores das Gerais

estabeleceram as chamadas catas; escavações profundas, com as quais procuravam alcançar o cascalho aurífero.

CAVADEIRA - Chapa de ferro cortante na extremidade, com largura de 8 a 10 cm, que se utilizava para

remover a terra da parte superior das galerias, cavadas em busca dos filões (ou veios) de ouro. CAXAMBU - Significava monte, na língua dos negros da Mina. Dava-se esse nome a um processo de

trabalho nas gupiaras sem abundância de água. Extraído o cascalho, retiravam-se as pedras maiores e depois se formava o chamado caxambu, ou seja, fazia-se um monte; de sobre o cume lançava-se o material retirado que, rolando para baixo, separava terra e pedras. Tal procedimento mostrava-se ineficiente, pois perdia-se muito ouro.

CERCO - Barragem – com madeira, pedra e terra – de uma parte de rio ou córrego. Da área isolada

esgotava-se a água e retirava-se o cascalho aurífero. CINTA - O mesmo que veio. CORTAR - No trabalho com a bateia, mantinha inclinada, lançavam-se para dentro pequenas quantidades

de água a fim de lavar o material acumulado na borda e, quando já não havia partícula de ouro visível, jogava-se o material estéril para fora. Os lavadores denominavam essa operação cortar.

CRIVOS - Bateias nas quais se abriam o fundo e se pregavam círculos de folhas de flandres com buracos

miúdos. Funcionavam como peneiras para o cascalho. DATA - Área legalmente distribuída pela Coroa aos mineiros para a extração de ouro. DESMONTE - Chamava-se desmonte aos materiais provenientes da ação da água a rolar sobre a encosta,

nas gupiaras. Antonil emprestou um sentido diferente à palavra: “abrindo catas e cavando-a primeiro em altura de dez, vinte ou trinta palmos, em se acabando de tirar esta terra, que de ordinário é vermelho, achava-se logo um pedregulho, a que chamam desmonte, e vem a ser seixos miúdos com areia, unidos de tal sorte com a terra, que mais parece obra artificial do que obra da natureza”.

ENCERCA - Diques altos, construídos para elevar as águas do rio em direção ao bicame, quando se

estava mudando o curso das águas para retirar-se o cascalho. ENRIQUECIMENTO DO CASCALHO - Trabalho exercido em canoas ou bolinetes nos quais se lavava o

cascalho aurífero. Os componentes mais leves viam-se arrastados pela água e obtinha-se um material rico em ouro.

ESMERIL - Partículas pequenas de ferro. ESPEQUES - Estacas que sustentavam as galerias, escavadas em busca de ouro. ESTOPA - Fibras vegetais, usadas para calafetar os bicames. FAISCADORES - Indivíduo que, isoladamente, dedicava-se à extração do ouro com o auxílio exclusivo da

bateia. FAISCAR - Ato da lavagem do cascalho, nos rios e córregos, por faiscador. Designava, igualmente, o

brilho do ouro na bateia. FAZER UM BURACO - Perfuração com a finalidade de investigar o teor de ouro dos veios das rochas

compactas. FERRO ATRATÓRIO - Imã usado pelos mineiros para separar o ferro do ouro.

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FORMAÇÃO - O mesmo que veio. FOSSA - Buraco cavado à margem dos rios ou dentro de construções especiais e que se enchiam de água

até a altura do joelho de uma pessoa. Neles, apurava-se o ouro com bateia. GAMELA - Bateia. GARIMPEIRO - Indivíduo que, apesar das normas rigorosas impostas pela Coroa na extração de

diamantes, dedicava-se a essa atividade. Considerados bandoleiros pelas autoridades eram, no entanto, respeitados pela população.

GARIMPO - Local onde se executava a extração diamantífera. Significava, também, a atividade

desenvolvida pelos garimpeiros. GORGULHO - Cascalho existente na gupiara. GRÃO - Medida de peso correspondente a 0,05 gramas. GRUPIARA, GUAPIARA e GUPIARA - Camada de cascalho aurífero. INFICIONADO - Ouro de má qualidade. ITAIPAVA - Utilizado no mesmo sentido que gupiara. JAÇAS - Pontos interiores, verdes ou pretos, cuja ocorrência dava-se em diamantes encontrados nas

Gerais. JACUTINGA - Areia fina e, via de regra, aurífera. LAVAGEM - Processo para separar o ouro dos materiais com os quais se apresentava. Significava,

também, o mesmo que desmonte. LAVRA - Jazidas de onde se extraía ouro. LAVRADORES - Termo para designar quem trabalha na lavra mineral. LAVRADOUROS - Lugares nos quais se dava a lavagem do cascalho. LEVIGAÇÃO - Processo de separação dos componentes sólidos de uma mistura pulverulenta, mediante o

arraste preferencial das partículas menos densas por um fluido que escoa através do sólido. LINHA, MADRE - O mesmo que veio. MANEJO - O mesmo que cabrestante. MERGULHO - Método empregado pelos faiscadores para se obter, com um mergulho, cascalho do fundo

dos rios ou córregos. MINERAÇÃO EM TALHO ABERTO - Corte em perpendicular no morro até chegar-se ao veio de ouro. MUNDÉU - Conjunto composto por um longo canal receptor de desmonte; uma bateria de grandes caixas

de decantação, construídas com pedras e, por fim, aparelhos – tipo de canoa – para efetuar-se a operação de lavagem.

OITAVA - Oitava parte da onça, ou 3,586 g. OURO DE PEDRA - Ouro extraído dos filões de quartzo. OURO PRETO - Ouro que se apresentava envolto em areia negra e brilhante de minério de ferro. PAIOL - Local onde se guardava o cascalho para posterior lavagem. PESCARIA DO CASCALHO - Processo para extrair-se o cascalho do leito dos rios com uma espécie de

draga manual, composta de um aro de ferro de borda cortante ao qual prendia-se um saco de couro.

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PIÇARRA - Camada de argila estéril, existente abaixo do cascalho produtivo. Daí nasceu a expressão “deu na piçarra” que significava o esgotamento da jazida.

PINTA - Representava o rendimento de ouro. Uma pinta era dita rica se superior a 112 miligramas, ou

pobre se inferior a 28 miligramas (por bateia). PINTAR - Brilhar algumas faíscas de ouro na bateia. QUELHA - Calha de tábuas. QUILATE - Um quilate equivale a quatro grãos. Cada grão corresponde a 0,05 g. RABO DE CANOA OU DO BOLINETE - Parte oposta à cabeceira. REBAIXAR A CANOA - Após a lavagem do ouro na canoa o escravo passava a revolver o material

enriquecido, enterrando o almocafre. Com isso as partes mais leves vinham para a superfície e o ouro concentrava-se no fundo.

REGOS - Aquedutos térreos. RESTINGA - Rebotalho das terras já lavradas, ali os mineiros pobres procuravam diamantes. ROCHA PODRE - Rocha decomposta e friável. ROCHA VIVA - Rocha compacta, não decomposta. ROZÁRIOS - Grandes máquinas utilizadas para esgotar a água (noras). SAIBRO - Rocha decomposta, na qual ainda se pode reconhecer a textura primitiva. SARILHO - Cilindro disposto horizontalmente e no qual se enrola cabo ou corda; usava-se para

movimentar pesos. SATÉLITES - Minerais geralmente associados aos diamantes e que os mineiros consideravam um

precioso indicador da existência dessas pedras. SEIXO - Fragmento de rocha ou mineral, com tamanho superior à areia grossa e inferior ao cascalho. SERAPILHEIRA (OURO DE) - Em memória do século XVIII, reproduzida por Augusto Lima Júnior, consta

que os mineiros perfuraram um morro composto de uma só pedra, esta, quando rompida, deixou à mostra um barro vermelho, onde às vezes encontrava-se ouro, chamado ouro de serapilheira.

SERVIÇO - Local onde se estava a extrair o cascalho diamantífero. SOCAVÃO - Perfurações realizadas pelos mineiros para exame do cascalho existente. SOCAVAÇÃO - O mesmo que socavão. SOLAPÃO - Cavidade nas ribanceiras dos rios, produzida pela erosão. SUMIDOUROS - Locais por onde as águas de um rio desapareciam em cavernas subterrâneas. TABULEIRO - Áreas planas ao lado das margens dos rios e que, em muitos casos, continham cascalho

aurífero. TAPANHUACANGA - O mesmo que canga. TATUS - Nome dado pelos mineiros às galerias, que se perfuravam nas Gerais. TEJUCAL - O mesmo que tabuleiro. TIRAR UMA PINTA - Retirar de uma cata uma certa quantidade de cascalho para se pesquisar seu

rendimento provável. TOQUE - Título do ouro.

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TRADO - Instrumento de forma helicoidal com que se fazem furos de sondagens nos solos. VEIA - O mesmo que veio. VEIO - Local onde se concentra o ouro. VIEIRO - O mesmo que veio. VENULA - Pequeno veio encontrável na rocha. VERRUMA - Instrumento de perfuração usado por carpinteiros.

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APÊNDICE 1 DATAS MINERAIS – ESTUDO DE UM DOCUMENTO ORIGINAL Pretende-se nesta seção apresentar, como ilustração, os dados obtidos em manuscrito referente à distribuição de datas minerais, em Sabará, no período 1715 a 1721(1) Foi possível extrair informações sobre 78 registros onde aparecem, em geral, o nome do beneficiário, tamanho da data, local e dia do registro e da posse; em alguns casos, consta também a qualificação do beneficiário (cf.quadro I). Dentre os mineiros contemplados com uma data e para os quais anotou-se a respectiva área (sessenta casos), nada menos de cinqüenta haviam recebido datas de trinta braças. Como se concediam 2 ½ braças por escravo, pode-se supor que cada um desses mineradores se tivesse apresentado com doze cativos. A menor data distribuída alcançou 12 ½ braças, correspondente a cinco escravos. Três mineiros, dentre os favorecidos com uma data, fizeram jus a área superiores a trinta braças, sendo a maior delas de 52 ½ braças (cf.tabela 1).

Tabela 1

TAMANHO DAS DATAS CONCEDIDAS

(1 DATA POR INDIVÍDUO)

TAMANHO (BRAÇAS)

NÚMERO PRESUMÍVEL ESCRAVOS

NÚMERO OCORRÊNCIAS

12 ½ 5 1

15 6 1

25 10 5

30 12 50

40 16 1

50 20 1

52 ½ 21 1

Dentre os registros observam-se quatro casos nos quais concederam-se mais de uma data ao mesmo indivíduo. Um deles, o Licenciado João de Lima, anotou-se com “dez datas de trinta braças”. Outro mineiro – Bento Rodrigues de Andrade – obteve duas datas, uma de cinqüenta braças e outra de cento e vinte (cf.tabela 2).

Page 105: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

105

Tabela 2

NÚMERO DE DATAS CONCEDIDAS E TAMANHO

(INDIVÍDUOS QUE RECEBERAM MAIS DE UMA)

NÚMERO DATAS RECEBIDAS

TAMANHO EM BRAÇAS (CADA)

NÚMERO PRESUMÍVEL DE ESCRAVOS

2 30 24

2 30 24

2 50/120 60

10 30 120

Dentre os mineiros, qualificaram-se dez capitães, dois alferes, um tenente, um mestre de campo, um sargento mor, um capitão mor, um licenciado, dois padres e dois forros; os últimos receberam áreas de trinta braças cada (cf.tabela 3).

A maioria dos mineiros tomou posse rapidamente da data mineral recebida. Assim, trinta e quatro tardaram, no máximo, sete dias e cinqüenta e cinco, no prazo de até quarenta dias. Em cinco casos, a posse efetuou-se transcorrido mais de quarenta dias, sem especificar a causa do atraso.

Tabela 3

QUALIFICAÇÃO DOS MINEIROS

NÚMERO DE CASOS TAMANHO DATAS EM BRANCAS QUALIFICAÇÃO

30 50 52 1/2 2 x 30 10 x 30 Desconhecida

CAPITÃO 5 3 2

ALFERES 2

FORRO 2

LICENCIADO 1 1

AJUDANTE 1

PADRE 1 1

TENENTE 1

MESTRE CAMPO 1

SARGENTO MOR (*) 1 1

CAPITÃO MAIOR 1

(*) – Junto com mestre de campo Para dezoito registros não foi possível identificar tal prazo (cf.tabela 4).

Page 106: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

106

Tabela 4

TEMPO TRANSCORRIDO ENTRE O REGISTRO E A POSSE

DIAS CASOS

Mesmo dia 5

1 a 7 dias 29

8 a 15 dias 9

16 a 30 dias 4

Menos de 30 dias 4

31 a 40 dias 4

Menos de 40 dias 55

Mais de 41 dias 5

Desconhecido 18

Page 107: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

107

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1

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1715

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bra

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715

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1715

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1715

6 –

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1715

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1715

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1715

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1715

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16

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30 b

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1715

17

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Rio

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15

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1716

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1716

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16

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1716

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1716

23

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1716

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1717

24

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25 –

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04.0

5.17

16

Page 108: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

108

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16

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Rio

das

Vel

has

04.0

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5.17

16

38 –

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30

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ças

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Vel

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04.0

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16

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5.17

16

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30 b

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1716

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1716

41

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1716

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1716

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1716

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1716

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1716

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16

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30 b

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s (2

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16

54 –

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30 b

raça

s R

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7.17

16

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16

55 –

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30

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7.17

16

21.0

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16

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raça

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7.17

16

57 –

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raça

s …

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.10.

1716

58

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1716

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16

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1716

61

- …

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s R

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s …

..01.

1717

……

1717

62 -

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seca

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re D

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1717

05

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1717

63 –

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25 b

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s N

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1716

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1717

64

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.12.

1716

09

.01.

1717

65

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1716

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717

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1.17

17

67 –

Man

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raça

s R

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as V

elha

s 28

.01.

1717

29

.01.

1717

Page 109: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

109

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Q

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1.17

17

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1.17

17

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1717

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1717

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30

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1717

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1717

71

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1717

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1717

13

.11.

1717

75 –

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1719

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1720

76

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110

APÊNDICE 2 DESCRIÇÃO DAS FONTES PRIMÁRIAS E TRATAMENTO DISPENSADO AOS DADOS ________________________________________________________________________ 1. FONTES PRIMÁRIAS MANUSCRITAS

Neste trabalho servimo-nos como fonte principal de dados primários, do acervo conhecido como “Arquivo da Casa dos Contos”, salvo da destruição por José Afonso Mendonça de Azevedo, no início deste século. O núcleo original foi então disperso em três diferentes instituições: Arquivo Público Mineiro, Arquivo Nacional e Biblioteca Nacional.

De nossa parte, localizamos tal acervo no Arquivo Nacional e na Casa dos Contos. Na primeira instituição forneceram-nos reproduções dos originais ali conservados, referentes a São Caetano, em 1804, e a Congonhas do Sabará, em 1771 e 1790. Quanto à Casa dos Contos, obteve-se do acervo ali existente, microfilmado, cópias dos códices pertinentes à Vila Pitangui (1718 a 1723) e ao Serro do Frio (1738).

Os documentos por nós utilizados, neste trabalho, encontram-se em bom estado de conservação e permitem leituras relativamente seguras, conforme exposto a seguir:

1.1. CASA DOS CONTOS: CÓDICE 1038 (1)

Manuscrito completo, mas relativamente deteriorado, em particular a partir da folha número 59. O documento correspondente aos anos de 1718 a 1724 (exceto 1721) serviu para efetuar-se o rol dos moradores da Vila de Nossa Senhora da Piedade de Pitangui, com a finalidade fiscal de cobrança dos quintos.

O segmento final do manuscrito, que se encontra ilegível, abrange uma pequena parte dos assentos pertinentes a 1723 e à totalidade dos referentes ao ano de 1724. Tal fato levou-nos a evitar a análise deste último ano, pela grande quantidade de falhas no documento e sua dificuldade de leitura.

O documento contém, em geral, o nome do senhor de escravos, a descrição destes – nome e origem – bem como um resumo final. Embora este corresponda ao esquema básico, em diversos casos os dados anotados fogem ao padrão. Por exemplo:

Omissão da origem do escravo

- Antonio pequeno - Domingos moleque - Francisco casado - Antonio seleiro - José mulato

Características dos proprietários: - Capitão Mor Pedro da Rocha Gandavo - Reverendo Joseph Pomeo - Manoel Ferreira Forro

Como exemplificação do códice, apresentamos um assento contido no mesmo: 1718 – Lista dos Escravos dos Moradores desta Villa de Nossa Senhora da Piedade de Pitangui este ano de 1718

Page 111: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

111

8 – O Capitão Francisco Bueno de Camargo oito escravos cujos nomes vão abaixo declarados:

Antonio Mina João Caboverde Sebastião Monjollo Domingos Mina Bento Gervazio

Carijó Congo

Francisco Crioulo Pedro Moçambique

(assinatura Alvarenga) 1.2. CASA DOS CONTOS: CÓDICE 1068 (2)

Manuscrito cujas folhas não se encontram numeradas; entretanto, a cada proprietário listado corresponde um número de 1 a 1787. Pelo exame da seqüência notou-se a falta de seis folhas no documento, utilizado pela Fazenda Real com a finalidade de cobrança da capitação dos escravos na comarca do Serro do Frio, em 1738. Tal códice contém, basicamente, os dados descritos para o Códice 1038; enquadra-se também nas observações realizadas quanto à omissão da origem do escravo e às características dos proprietários; adicionalmente, apresenta informação de grande valor, qual seja, a idade dos escravos. Abaixo, transcreve-se um exemplo dos registros, conforme constam no livro em apreço: Nº. 45 José Manoel de Moura soldado morador no Tejuco 1 Joana Mina de ……………………………..22 (anos) 1 Luis Mina de ……………………………….20 (anos) 1 Antonio Cobú………………………………22 (anos)

Assinaturas

1.3. ARQUIVO NACIONAL: CAIXA 202, PACOTE ÚNICO (3) Manuscrito sem termo de encerramento e cujas folhas não se encontram numeradas; em bom estado de conservação serviu para efetuar-se o rol das pessoas que confessavam e comungavam na Freguesia de Congonhas do Sabará, no ano de 1771. Contém informações pertinentes tanto aos cativos como aos elementos livres em geral. Para manter a coerência do trabalho, preocupamo-nos exclusivamente com os indivíduos proprietários de escravos e com a massa de cativos da localidade. Ou seja, deixamos de lado os elementos livres não proprietários de escravos. A seguir, transcreve-se um exemplo para conhecimento do códice: Luiza Pinta ……………………..preta forra……………………………..CC Manoel………………………….filho……………………………………..CC Escravos Maria ………………………….. mina……………………………………CC Joana………………………….. mina……………………………………CC Manoel………………………… mina……………………………………CC Joaquim……………………….. pardo…………………………………..CC

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112

1.4. ARQUIVO NACIONAL: CAIXA 230, PACOTE ÚNICO (4) Códice correspondente às “Pessoas existentes na Freguesia de Congonhas do

Sabará ano de 1790”. Embora não contenha termo de encerramento, nem numeração das páginas, pode-se admitir que o mesmo esteja completo; seu bom estado de conservação permite leitura relativamente segura.

No documento em questão, estão arrolados os moradores, chefes de domicílio, suas esposas e agregados. Quanto aos filhos dos senhores e aos escravos possuídos, o manuscrito não contém a especificação correspondente, apenas os enumera.

Como exemplo, vejamos a forma como os lançamentos se apresentam no manuscrito.

Filhos Escravos

Luiz Machado Ribeiro 5 2 Joana Maria de Jesus, mulher Joze Gonçalves Lopes Felippa de Souza, mulher Anna Perpetua Vianna 6 Rose Roiz, agregado Euzébia, agregada Anna crioula, agregada

1.5. ARQUIVO NACIONAL: CAIXA 276, PACOTE ÚNICO (5)

Manuscrito sem numeração e termo de encerramento; corresponde à “Relação de todos os indivíduos, suas qualidades, Estabelecimentos, Ofícios, e números de escravos do Distrito de S.Caetano, de que é Comandante Francisco José Xavier de Mello Brandam”. Embora não conste a data de tal censo, por suas características, acreditamos referir-se ao ano de 1804, quando realizou-se o recenseamento de inúmeras localidades mineiras. O documento em apreço encontra-se certamente incompleto, mas deve abarcar a maioria esmagadora da população do distrito. A seguir, transcrevem-se alguns lançamentos, conforme se encontram anotados no códice: O Reverendo Vigário encomendado Sylverio da Costa e Oliveira …………………..43 anos

Escravos Symplicio Crioulo………………………………………………………………………….. 26 anos Antonio Modesto Pardo agregado……………………………………………………… 19 anos O.S.M. Custódio Coelho Duarte, Branco e Droguista de que vive……………………73 anos

Escravos Domingos Angola…………………………………………………………………………..33 anos José Mina……………………………………………………………………………………36 anos Francisco Angola…………………………………………………………………………...45 anos Luzia Crioula………………………………………………………………………………..20 anos André Luiz, Pardo, sem ofício…………………………………………………………….45 anos 2. FONTES PRIMÁRIAS IMPRESSAS

Além dos códices nomeados, servimo-nos do Recenseamento de Vila Rica, referente ao ano de 1804, divulgado por Herculano Torres Mathias (6). Tal documento foi exaustivamente analisado por Costa (7), exceto na estrutura de posse de cativos,

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113

gentilmente omitida em seu estudo, pois tratava-se de um dos temas básicos desta pesquisa, que já se encontrava em andamento. 3. CRÍTICA AOS DADOS

O manuseio de manuscritos, referentes a épocas pretéritas, exige rigorosa crítica

quanto às informações coletadas. No nosso caso específico, a variedade de documentos compulsados e de informações neles anotados exigiu um grande esforço de entendimento quanto ao seu conteúdo, antes de realizar-se a coleta e processamento dos dados. 3.1. PROPRIETÁRIOS 3.1.1. Nome

Levou-se em conta o nome do senhor tão somente no códice 1038; neste, tomou-

se o nome na forma literal, pois pretendia-se acompanhar o mesmo proprietário nos vários anos registrados no documento. Apesar de extraídas e mantidas em arquivo, não se realizou qualquer análise com tais informações, que se prestam, por exemplo, para o estudo das famílias da localidade.

Deve-se ressaltar as dificuldades envolvidas em análise desse tipo, pois, nos manuscritos compulsados, os nomes dos senhores não se grafavam sistematicamente de modo homogêneo e completo. Além disso, como se sabe, no século XVIII, os membros de uma mesma família possuíam, freqüentemente, sobrenomes diferentes. 3.1.2. Sexo O levantamento do sexo, quanto aos proprietários, foi possível graças ao nome do indivíduo, geralmente anotado. 3.1.3. Cor Exceto no códice referente a São Caetano, nos demais tal dado mostra-se raro. Os forros representam o único segmento populacional para o qual anotou-se, com freqüência, tal informação. Estes aparecem listados, usualmente, da seguinte forma: “Maria preta forra”, “José preto forro” etc (8). 3.1.4. Caracterização Socioeconô mica Procuramos identificar as atividades sócio-econômicas exercidas pelos proprietários de escravos; entretanto, tal informação raramente aparece anotada nos documentos compulsados, exceto nos censos de Vila Rica e São Caetano, ambos de 1804. 3.1.5. Número de Escravos por Proprietário De modo geral, procurou-se estudar documentos que contivessem tal informação, que constitui um dos pontos centrais deste trabalho. Dois dos códices utilizados serviram à Coroa para arrecadar-se os quintos proporcionais aos escravos possuídos por

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114

indivíduo. Isso pode ter ocasionado omissões por parte dos proprietários, com a finalidade de sonegar tais tributos. Entretanto, não cremos que tal fosse de ordem a comprometer os resultados obtidos, pois ocultar escravos apresentava alto risco, pelo rigor fiscalizador da Coroa e as severas penalidades impostas aos sonegadores. Estimulava-se, inclusive, a delação, tanto através de recompensas aos denunciantes, como por castigos impostos aos indivíduos que, ao terem conhecimento de alguma fraude, não a comunicassem às autoridades. 3.2. Escravos 3.2.1. Sexo

Informação coletada de forma semelhante àquela descrita quando nos referimos aos proprietários.

3.2.2. Cor

Como no caso dos proprietários, identificar a cor dos cativos apresenta alguns problemas. No que se refere aos escravos africanos, não se especificava a cor correspondente. Embora na África existam indivíduos com diferentes tonalidades de pele, nos documentos não constava tal informação. Quantos aos elementos nascidos no Brasil, associava-se, usualmente, uma caracterização representativa da sua cor, incorporando, provavelmente, elevado grau de subjetividade. 3.2.3. Origem

Nos documentos analisados encontrou-se uma significativa variedade de indicações que permitem, direta ou indiretamente, caracterizar a “nação” de origem dos escravos africanos ou sua condição de nascido no Brasil. Vejamos alguns exemplos:

João Mina Antonio Bengala José Angola Maria Crioula Francisco Mulato Isabel Carijó O estudo da origem africana tornou-se complexo, pois a mesma “nação” aparecia

escrita de diferentes maneiras agregadas ao final do trabalho, quando se realizou a análise dos resultados. Note-se que o conceito de “nação” deve ser tomado com extremo cuidado, pois a informação anotada nos manuscritos pode representar seu grupo étnico, sua língua, localidade onde nasceu ou foi capturado, porto de embarque etc. Nosso objetivo básico residiu na separação dos africanos em dois grandes segmentos – Bantos e Sudaneses – e, dentre estes grupos, identificar as “nações” mais representativas quantitativamente.

Os cativos nascidos no Brasil, denominados “coloniais” neste trabalho, foram identificados de forma indireta. Os índios apareciam anotados, usualmente, como “carijós”, nome genérico recebido pelos indígenas nas Gerais. Embora tal denominação constituísse a maciça maioria, também encontramos os termos “vermelho do gentio”, “gentio da terra”, “carijó das minas”, “carijó do sertão”, “tapuia”, “caité” etc.

Para identificar-se os demais escravos “coloniais” recorreu-se a um processo indireto: considerou-se como nascidos no Brasil todos os cativos anotados como “crioulos”, “mulatos”, “pardos”, “cabras” e “mestiços”. Em poucos casos especificava-se

Page 115: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

115

claramente o local de nascimento do escravo dito “colonial”. Por exemplo: “mulato de Minas”, “crioulo das Minas”, “crioulo do Brasil”, etc. 3.2.4. Idade

Infelizmente, em apenas dois manuscritos constava a idade dos escravos. Além

disso, os resultados obtidos devem ser tomados com cuidado, pois, na época em estudo, principalmente no que se refere aos escravos africanos, a idade era estimada, dando margem a certo grau de subjetividade na avaliação.

Page 116: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

116

N O T A S

(1) Arquivo da Casa dos Contos (Ouro Preto-MG) – MSS. – Cod. nº. 1038. Pitangui: Quintos e Capitação.

(2) Arquivo da Casa dos Contos (Ouro Preto-MG) – MSS. – Cod. nº. 1068. Serro do Frio: Escravos,

Livro de Matrícula. (3) Arquivo Nacional (Rio de Janeiro-RJ) – MSS. – Arquivo da Casa dos Contos, Rol das Pessoas que

Confessam e Comungam na Freguesia de Congonhas do Sabará, 1771. Caixa 202, pacote único. (4) Arquivo Nacional (Rio de Janeiro-RJ) – MSS. – Arquivo da Casa dos Contos, Pessoas Existentes na

Freguesia de Congonhas do Sabará, no ano de 1790, Caixa 230, pacote único. (5) Arquivo Nacional (Rio de Janeiro-RJ) – MSS. – Arquivo da Casa dos Contos, Relação de todos os

Indivíduos, suas qualidades, Estabelecimentos, Ofícios e números de escravos do Distrito de S. Caetano de que é Comandante Francisco José Xavier de Mello Brandam, Caixa 276, pacote único.

(6) MATHIAS, Herculano Gomes – Um Recenseamento na Capitania de Minas Gerais, Vila Rica –

1804, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1969. (7) COSTA, Iraci del Nero da – Vila Rica: População (1719-1826), IPE-USP, São Paulo, 1979, (Ensaios

Econômicos, 1). (8) Embora tivéssemos extraído dos documentos a informação quanto à cor dos proprietários, evitamos

utilizá-la, exceto para São Caetano. Mesmo quando consta, tal dado exige muito cuidado ao ser interpretado, pois devido ao preconceito de cor então existente, deveria ser extremamente subjetiva a determinação da cor das pessoas arroladas.

Page 117: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

117

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Page 118: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

118

Tabela AE-2

LOJAS E VENDAS

(Pitangui – 1718 a 1723)

ANOS LOJAS/VENDAS

1718 04

1719 05

1720 05

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Tabela AE-3

ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O SEXO

(Pitangui – 1718 a 1723)

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1722 739 82,8 146 16,3 8 0,9 893

1723 702 81,0 141 16,3 24 2,7 867

Tabela AE-4

ESCRAVOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Pitangui – 1718 a 1723)

ANO ORIGEM

1718 1719 1720 1722 1723

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Page 119: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

119

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Page 120: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

120

Tabela AE-6

PROPRIETÁRIOS EM RELAÇÃO AO NÚMERO DE ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Pitangui – 1718 a 1723)

N Ú M E R O D E P R O P R I E T Á R I O S Número de Escravos

Possuídos 1718 1719 1720 1722 1723 1 2 1 4 10 22 2 12 8 13 25 23 3 2 9 8 19 21 4 7 10 6 11 13 5 5 7 5 13 15 6 6 9 9 9 8 7 1 2 3 3 1 8 4 3 1 4 6 9 3 1 3 5 3

10 1 3 1 2 3 11 1 12 1 1 2 1 1 13 1 2 2 14 1 1 2 2 15 3 2 16 4 2 17 1 2 18 1 1 1 2 1 19 20 2 1 1 21 2 1 22 1 1 23 24 1 1 1 1 1 25 26 27 28 29 1 30 2 31 1 2 32 33 34 1 35 36 37 38 1 39 40 1 3 1 41 1 42 43 44 1

TOTAL 49 62 62 124 135

Page 121: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

121

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Page 122: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

122

Tabela AE-8

ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA

(Serro do Frio – 1738)

IDADE NÚMERO % IDADE NÚMERO %

8 1 0,01 41 62 0,78 9 2 0,03 42 457 5,76

10 18 0,22 43 21 0,27 11 23 0,29 44 17 0,21 12 56 0,70 45 16 0,20 13 42 0,57 46 22 0,28 14 118 1,49 47 102 1,29 15 86 1,08 48 21 0,26 16 165 2,08 49 7 0,09 17 239 3,01 50 13 0,16 18 224 2,82 51 21 0,26 19 146 1,84 52 127 1,60 20 503 6,34 53 7 0,09 21 227 2,86 54 2 0,03 22 877 11,06 56 10 0,13 23 127 1,60 57 19 0,24 24 197 2,48 58 6 0,08 25 183 2,30 60 5 0,06 26 286 3,60 61 7 0,09 27 971 12,23 62 47 0,59 28 180 2,27 64 1 0,01 29 119 1,50 65 2 0,03 30 280 3,53 67 2 0,03 31 138 1,74 70 1 0,01 32 883 11,13 71 4 0,05 33 56 0,71 72 18 0,23 34 78 0,98 77 1 0,01 35 41 0,52 80 1 0,01 36 92 1,16 82 11 0,14 37 372 4,69 86 1 0,01 38 71 0,89 93 1 0,01 39 29 0,37 Não Consta 13 0,16 40 62 0,78 TOTAL 7937 100,0%

Tabela AE-9

ESTRUTURA POPULACIONAL DA MASSA ESCRAVA

(Serro do Frio – 1738)

ESTRUTURA

POPULACIONAL NÚMERO PERCENTAGEM

Crianças 260 3,27

População Ativa 7622 96,04

Anciões 42 0,53

Não Consta 13 0,16

Page 123: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

123

Tabela AE-10

ESCRAVOS: RAZÃO DE MASCULINIDADE

(Serro do Frio – 1738)

FAIXAS ETÁRIAS RAZÃO DE MASCULINIDADE

0 - 9 200,0

10 - 19 313,7

20 - 29 477,9

30 - 39 613,3

40 - 49 774,4

50 - 59 925,0

60 - 69 1180,0

70 - 79 700,0

80 e mais

Page 124: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

124

Tabela AE-11

REPARTIÇÃO DOS ESCRAVOS AFRICANOS, SEGUNDO A ORIGEM

(Serro do Frio – 1738)

P A R T I C I P A Ç Ã O

GRANDES GRUPOS E “NAÇÕES”

NÚMERO ESCRAVOS Dentre os

Africanos Dentre os

Sudaneses Dentre os Bantos

SUDANESES

- Mina 3241 43,3 54,8

- Coura e Coura Mina 791 10,6 13,4

- Cobu e Cobu Mina 342 4,56 5,8

- Sabarú e Sabarú Mina 277 3,7 4,7

- Lada e Lada Mina 249 3,3 4,2

- Fom e Fom Mina 302 4,0 5,1

- Nagô e Nagô Mina 181 2,4 3,1

- Cabo Verde 122 1,6 2,1

- Xambá 65 0,9 1,1

- Ladano 52 0,7 0,9

- Timbú 33 0,4 0,6

- Outros Sudaneses 257 3,4 4,4

TOTAL SUDANESES 5912 78,92 100,0

BANTOS

- Angola 892 11,9 56,5

- Bengala 323 4,3 20,5

- Moçambique 114 1,5 7,2

- Congo 114 1,5 7,2

- Monjolo 36 0,5 2,3

- Massangano 30 0,4 1,9

- Ganguella 29 0,4 1,8

- Outros Bantos 41 0,5 2,6

TOTAL DE BANTOS 1579 21,1 100,0

TOTAL DE AFRICANOS 7491 100,0 100,0

Page 125: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

125

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Page 126: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

126

Tabela AE-13

PROPRIETÁRIOS EM RELAÇÃO AO NÚMERO DE ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Serro do Frio – 1738)

T O T A L NÚMERO DE

ESCRAVOS Nº Proprietários % Proprietários Escravos Possuídos % Escravos 1 655 37,6 655 8,3 2 320 18,4 640 8,1 3 177 10,1 531 6,7 4 137 7,8 548 6,9 5 78 4,5 390 4,9 6 63 3,6 378 4,7 7 44 2,5 308 3,8 8 34 1,9 272 3,4 9 40 2,3 360 4,5

10 29 1,6 290 3,6 11 15 0,8 165 2,1 12 29 1,6 348 4,4 13 15 0,8 195 2,5 14 7 0,4 98 1,2 15 9 0,5 135 1,7 16 10 0,5 160 2,0 17 8 0,5 136 1,7 18 7 0,4 126 1,6 19 1 0,1 19 0,2 20 2 0,1 40 0,5 21 6 0,3 126 1,6 22 8 0,5 176 2,2 23 2 0,1 46 0,6 24 1 0,1 24 0,3 25 2 0,1 50 0,6 26 2 0,1 52 0,7 27 6 0,3 162 2,0 28 5 0,3 140 1,8 29 3 0,2 87 1,1 30 2 0,1 60 0,8 31 32 2 0,1 64 0,8 33 4 0,2 132 1,7 34 2 0,1 68 0,9 38 4 0,2 152 1,9 41 2 0,1 82 1,0 42 2 0,1 84 1,1 43 1 0,1 43 0,5 44 1 0,1 44 0,6 46 1 0,1 46 0,6 48 1 0,1 48 0,6 50 1 0,1 50 0,6 54 1 0,1 54 0,7 57 1 0,1 57 0,7 64 1 0,1 64 0,8 76 1 0,1 76 1,0 77 1 0,1 77 1,0 79 1 0,1 79 1,0

TOTAL 1744 100,0 7937 100,0

Page 127: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

127

Tabela AE-14

PROPRIETÁRIOS : POR SEGMENTO SOCIOECONÔMICO E ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Serro do Frio – 1738)

SEGMENTOS SOCIOECONÔMICO

NÚMERO DE PROPRIETÁRIOS

ESCRAVOS POSSUÍDOS

Nº. MÉDIO POR PROPRIETÁRIOS

Funcionários, Militares e Milicianos 34 343 10,1

Doutor, Desembargador e Licenciado 9 47 5,2

Eclesiásticos 50 347 7,0

Índio 1 1 1,0

Forros 374 758

2,0

Tabela AE-15

QUALIFICAÇÃO ANOTADAS PARA ESCRAVOS

(Serro do Frio – 1738)

ATIVIDADE Nº. DE ESCRAVOS NA ATIVIDADE

ORIGEM Nº. DE ESCRAVOS DA ORIGEM

Mineiro 1 Mina 1

Ferreiro 10 Mina 5

Ferreiro Fom 1

Ferreiro Sabaru 1

Ferreiro Angola 3

Barbeiro 23 Mina 10

Barbeiro Cobu 1

Barbeiro Fom 1

Barbeiro Outros Sudaneses 1

Barbeiro Angola 10

Sapateiro 9 Mina 2

Sapateiro Angola 3

Sapateiro Coloniais 4

Alfaiate 2 Angola 1

Alfaiate Colonial 1

Cozinheiro 2 Mina 1

Cozinheiro Bengala 1

Ferrador 1 Reinol 1

Boticadoria 1 Mina 1

Page 128: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

128

Tabela AE-16

ESCRAVOS AFRICANOS: REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1771)

P A R T I C I P A Ç Ã O GRANDES GRUPOS e “NAÇÕES”

NÚMERO DE ESCRAVOS Dentre os

Africanos Dentre os

Sudaneses Dentre os Bantos

SUDANESES

Mina 377 48,1 94,6

Cabo Verde 11 1,4 2,8

Nagô 5 0,6 1,3

Courano 2 0,3 0,5

Outros 3 0,4 0,8

Total Sudaneses 398 50,8 100,0

BANTOS

Angola 365 46,6 94,8

Bengala 13 1,7 3,4

Moçambique 5 0,6 1,3

Outros 2 0,3 0,5

Total de Bantos 385 49,2 100,0

TOTAL AFRICANOS 783 100,0

Page 129: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

129

Tabela AE-17

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Congonhas do Sabará – 1771)

Nº. DE ESCRAVOS

Nº. DE PROPRIETÁRIOS

% NOS PROPRIETÁRIOS

ESCRAVOS POSSUÍDOS

% NOS ESCRAVOS

1 63 26,8 63 4,8

2 41 17,4 82 6,2

3 33 14,0 99 7,6

4 13 5,5 52 4,0

5 17 7,2 85 6,5

6 9 3,8 54 4,1

7 7 3,0 49 3,7

8 7 3,0 56 4,3

9 2 0,9 18 1,4

10 5 2,1 50 3,8

11 6 2,6 66 5,0

12 7 3,0 84 6,4

13 2 0,9 26 2,0

14 4 1,7 56 4,3

15 2 0,9 30 2,3

16 2 0,9 32 2,4

17 1 0,4 17 1,3

18 2 0,9 36 2,7

19 3 1,3 57 4,3

20 1 0,4 20 1,5

22 1 0,4 22 1,7

24 1 0,4 24 1,8

27 1 0,4 27 2,1

33 2 0,9 66 5,0

36 1 0,4 36 2,7

50 1 0,4 50 3,8

57 1 0,4 57 4,3

SUBTOTAL 235 100,0 1314 100,0

Escravos sem proprietário definido 36

TOTAL 1350

Page 130: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

130

Tabela AE-18

PROPRIETÁRIOS : POR SEGMENTO SOCIOECONÔMICO E ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Freguesia Congonhas do Sabará-1771)

NÚMERO DE PROPRIETÁRIOS

ESCRAVOS POSSUÍDOS SEGMENTO SOCIOECONÔMICO

Número % Número %

Nº. MÉDIO POR PROPRIETÁRIO

Patentes 9 3,8 166 12,6 18,4

Doutores e Licenciados 4 1,7 22 1,7 5,5

Roça, Engenho 2 0,9 34 2,6 17,0

Eclesiásticos 5 2,1 17 1,3 3,4

Sem Especificação 215 91,5 1075 81,8 5,00

TOTAL 235 100,0 1314 100,0 5,59

FORROS 51 21,7 134 10,2 2,6

Tabela AE-19

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Freguesia de Congonhas do Sabará – 1790)

Número de Escravos

Número de Proprietários

% Nos Proprietários

Escravos Possuídos

% Nos Escravos

1 41 33,1 41 7,4

2 24 19,4 48 8,6

3 12 9,7 36 6,5

4 12 9,7 48 8,6

5 4 3,2 20 3,6

6 11 8,9 66 11,9

7 2 1,6 14 2,5

8 1 0,8 8 1,4

9 3 2,4 27 4,9

10 3 2,4 30 5,4

12 1 0,8 12 2,2

13 2 1,6 26 4,7

15 2 1,6 30 5,4

17 2 1,6 34 6,1

20 1 0,8 20 3,6

29 1 0,8 29 5,2

30 1 0,8 30 5,4

37 1 0,8 37 6,6

TOTAL 124 100,0 556(*) 100,0

(*) Não inclui três escravos para os quais não se identificou o proprietário

Page 131: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

131

Tabela AE-20

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Freguesia de Congonhas do Sabará-1790)

SEGMENTOS SÓCIO-ECONÔMICOS

Nº. DE PROPRIETÁRIOS % ESCRAVOS

POSSUÍDOS % Nº. MÉDIO POR

PROPRIETÁRIO Funcionários, Militares e Milicianos

16 12,9 118 21,0 7,37

Desembargadores e Licenciados

1 0,8 6 1,1 6,00

Eclesiásticos

7 (*) 5,6 51 9,0 7,28

S/ Especificação

100 80,7 388 68,9 3,88

TOTAL 124 100,0 563(**) 100,0 4,54

(* ) Inclui os escravos pertencentes à Casa do Reverendíssimo Vigário Geral. (**) Não inclui três escravos para os quais não se caracterizou o proprietário.

Page 132: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

132

Tabela AE-21

ESCRAVOS: DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA

(Distri to de São Caetano -1804)

IDADE NÚMERO % IDADE NÚMERO %

1 46 5 0,7 2 47 4 0,6 3 48 8 1,2 4 49 2 0,3 5 50 27 4,0 6 51 2 0,3 7 13 1,9 52 1 0,1 8 7 1,0 53 2 0,3 9 7 1,0 54 3 0,4

10 9 1,3 55 11 1,6 11 5 0,7 56 2 0,3 12 11 1,6 57 1 0,1 13 2 0,3 58 5 0,7 14 7 1,0 59 1 0,1 15 5 1,3 60 34 5,0 16 23 3,4 61 17 3 0,4 62 2 0,3 18 16 2,3 63 1 0,1 19 4 0,6 64 7 1,0 20 39 5,6 65 7 1,0 21 3 0,4 66 2 0,3 22 12 1,8 67 4 0,6 23 5 0,7 68 1 0,1 24 17 2,5 69 25 50 7,2 70 12 1,8 26 11 1,6 71 1 0,1 27 5 0,7 72 28 15 2,2 73 29 6 0,9 74 30 70 10,2 75 31 2 0,3 76 1 0,1 32 11 1,6 77 1 0,1 33 7 1,0 78 3 0,4 34 8 1,2 79 35 35 4,5 80 36 14 2,1 81 37 7 1,0 82 38 9 1,3 83 39 5 0,7 84 40 53 7,7 85 1 0,1 41 1 1,5 86 42 6 0,9 87 43 2 0,3 88 44 5 0,7 89 45 19 2,8 90 1 0,1

TOTAL 681 100,0%

Page 133: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

133

Tabela AE-22

ESCRAVOS: ESTRUTURA POPULACIONAL

(Distri to de São Caetano – 1804)

Estrutura Populacional Número Porcentagem

Crianças 61 8,95

População Ativa 586 86,05

Anciões 34 5,00

TOTAL 681 100,00

Tabela AE-23

ESCRAVOS AFRICANOS : REPARTIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM

(Distri to de São Caetano – 1804)

P A R T I C I P A Ç Ã O Grandes Grupos e “Nações”

Números de Escravos Dentre os

Africanos % Dentre os

Sudaneses % Dentre os Bantos

% SUDANESES - Mina 23 8,8 95,8 - Cobu 1 0,4 4,2

TOTAL DOS SUDANESES 24 9,2 100,0

BANTOS - Angola 164 62,6 68,9 - Bengala 47 17,9 19,7 - Rebolo 13 5,0 5,5 - Congo 10 3,8 4,2 - Outros 4 1,5 1,7 TOTAL DE BANTOS 238 90,8 100,0

TOTAL DE AFRICANOS 262 100,0

Page 134: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

134

Tabela AE-24

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Distri to de São Caetano – 1804)

Número de Escravos

Número de Proprietários

% Nos Proprietários

Escravos Possuídos

% Nos Escravos

1 20 19,1 20 3,0

2 22 21,1 44 6,6

3 19 18,3 57 8,5

4 5 4,8 20 3,0

5 7 6,7 35 5,2

6 5 4,8 30 4,5

7 1 1,0 7 1,0

8 4 3,8 32 4,8

9 4 3,8 36 5,4

10 2 1,9 20 3,0

11 2 1,9 22 3,3

13 2 1,9 26 3,9

14 1 1,0 14 2,1

15 3 2,9 45 6,7

18 1 1,0 18 2,7

28 1 1,0 28 4,2

31 1 1,0 31 4,6

40 1 1,0 40 6,0

45 1 1,0 45 6,7

48 1 1,0 48 7,2

51 1 1,0 51 7,6

Sub Total

104 100,0 669 100,0

Proprietário Falecido

1 12

TOTAL

105 681

Page 135: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

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Tabela AE-25

PROPRIETÁRIOS: POR SEGMENTO SÓCIO ECONÔMICO E ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Distri to São Caetano – 1804)

NÚMERO DE PROPRIETÁRIOS

SEGMENTOS SÓCIO-ECONÔMICO

H M H + M

ESCRAVOS POSSUÍDOS

NÚMERO MÉDIO POR

PROPRIETÁRIO ATIVIDADE EXTRATIVA MINERAL 19 14 33 274 8,3 - Mineração 4 2 6 70 11,7 - Mineração (Reverendo) 2 2 85 42,5 - Mineração e Roça 1 1 51 51,0 - Faiscar 12 12 24 68 2,8 AGRICULTURA 17 12 29 279 9,6 - Roça (*) 7 9 16 206 12,9 - Roça/Engenho (Reverendo) 1 1 28 28,0 - Roça para seu sustento 7 2 9 33 3,7 - Plantar (e tear) 1 1 8 8,0 - Plantar de Favor 1 1 2 4 2,0 ARTESANATO 9 3 12 36 3,0 - Tecer 2 2 4 2,0 - Ferrador 1 1 4 4,0 - Carpinteiro 5 5 17 3,4 - Oleiro 1 1 2 2,0 - Costurar 1 1 6 6,0 - Ferreiro 1 1 1,0 - Alfaiate 1 1 2 2,0 COMÉRCIO 7 7 27 3,9 - Fazenda seca 1 1 11 11,0 - Comércio alimentos 3 3 6 2,0 - Negócio negros 2 2 4 2,0 - Negócio negros e mulas 1 1 6 6,0 SERVIÇOS 2 2 6 3,0 - Cobranças 1 1 5 5,0 - Arte da música 1 1 1 1,0 ECLESIÁSTICOS 7 7 19 2,7 - Vive de suas ordens 7 7 19 2,7 DIVERSOS 12 12 33 2,7 - Sem ofício 2 2 10 5,0 - Pobre 1 1 2 2,0 - Administração Dízimos 1 1 3 3,0 - Jornal de Negros 1 1 2 2,0 - Feitor Roça 1 1 2 2,0 - Administração Fazenda 1 1 2 2,0 - Droguista 1 1 4 4,0 - Venda da terra 2 2 4 2,0 - Carreiro 1 1 1 1,0 - Corte 1 1 3 3,0 - Ajustar com Tropas (Forro) 1 1 3 3,0 SEM ESPECIFICAÇÃO 1 1 2 4 2,0

TOTAL 75 30 105 681 6,48

(*) Inclui proprietário falecido que se dedicava à roça.

Page 136: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

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Tabela AE-26

PROPRIETÁRIOS: PELA COR E SEGMENTO SÓCIO-ECONÔMICO

(Distri to São Caetano – 1804)

C O R Segmento Sócio-Econômico Branco Pardo Crioulo s/especif.

TOTAL

ATIVIDADE EXTRATIVA MINERAL 14 14 3 2 33 - Mineração 5 1 6 - Mineração (Reverendo) 2 2 - Mineração e Roça 1 1 - Faiscar 8 13 3 24 AGRICULTURA 14 10 5 29 - Roça 10 3 3 (*) 16 - Roça/Engenho (Reverendo) 1 1 - Roça para seu sustento 2 6 1 9 - Plantar e tear 1 1 - Plantar de favor 1 1 2 ARTESANATO 4 6 2 12 - Tecer 2 2 - Ferrador 1 1 - Carpinteiro 3 2 5 - Oleiro 1 1 - Costurar 1 1 - Ferreiro 1 1 - Alfaiate 1 1 COMÉRCIO 4 2 1 7 - Fazenda Seca 1 1 - Comércio Alimentos 1 1 1 3 - Negócios Negros 2 2 - Negócios Negros e Mulas 1 1 SERVIÇOS 1 1 2 - Cobranças 1 1 - Arte da Música 1 1 ECLESIÁSTICOS 7 7 DIVERSOS 2 6 2 2 12 - Sem Ofício 1 1 2 - Pobre 1 1 - Administração Dízimos 1 1 - Jornal Negros 1 1 - Feitor Roça 1 1 - Admin. Fazenda 1 1 - Droguista 1 - Venda da Terra 2 2 - Carreiro 1 1 - Corte 1 1 - Ajustar com Tropas (Forro) 1 1 SEM ESPECIFICAÇÃO 2 2

TOTAL 39 42 7 17 105

(*) Inclui proprietário falecido que se dedicava à roça

Page 137: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

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Tabela AE-27

PROPRIETÁRIOS: EM RELAÇÃO AOS ESCRAVOS POSSUÍDOS

(Vila Rica – 1804)

P R O P R I E T Á R I O S ESCRAVOS POSSUÍDOS NÚMERO DE ESCRAVOS NÚMERO % NÚMERO %

1 268 35,5 268 9,4

2 149 19,7 298 10,6

3 95 12,6 285 10,0

4 73 9,6 292 10,3

5 39 5,2 195 6,9

6 34 4,5 204 7,2

7 19 2,5 133 4,7

8 15 2,0 120 4,2

9 12 1,6 108 3,8

10 12 1,6 120 4,2

11 6 0,8 66 2,3

12 6 0,8 72 2,5

13 7 0,9 91 3,2

14 4 0,5 56 2,0

15 3 0,4 45 1,6

16 1 0,1 16 0,6

17 3 0,4 51 1,8

18 1 0,1 18 0,6

19 2 0,3 38 1,3

22 1 0,1 22 0,8

25 1 0,1 25 0,9

28 1 0,1 28 1,0

29 1 0,1 29 1,0

32 2 0,3 64 2,3

69 1 0,1 69 2,4

126 1 0,1 126 4,4

TOTAL 757 100,0 2839 100,0

Page 138: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

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FONTES E BIBLIOGRAFIA ______________________________________________________________________________________ I - FONTES PRIMÁRIAS MANUSCRITAS

- Arquivo da Casa dos Contos (Ouro Preto-MG) “Pitangui: Quintos e Capitação”, Cod. nº. 1038. “Serro do Frio : Escravos, Livro de Matrícula”, Cod. nº. 1068.

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- Arquivo Nacional (Rio de Janeiro-RJ) “Rol das Pessoas que Confessam e Comungam na Freguesia de Congonhas do Sabará, 1771”. Caixa 202, pacote único. “Pessoas Existentes na Freguesia de Congonhas do Sabará, ano de 1790”. Caixa 230, pacote único . “Relação de todos os Indivíduos, suas qualidades, Estabelecimentos, Ofícios e números de escravos do Distrito de S. Caetano de que é Comandante Francisco José Xavier de Mello Brandam”. Caixa 276, pacote único. - Biblioteca Municipal de São Paulo “Protestos das Câmaras Municipais de Minas Gerais contra a taxa de capitação em 1741-51”, in Códice Costa Matoso.

II - FONTES PRIMÁRIAS IMPRESSAS

- Levantamento Censitário: MATHIAS (Herculano Gomes), Um Recenseamento na Capitania de Minas Gerais (Vila Rica-1804), Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1969, (Publicações do Arquivo Nacional, 1ª. Série, vol. 63). - Memórias e Relatos de Viajantes: ANTONIL (André João) (João Antônio Andreoni) – Cultura e Opulência do Brasil, Introdução e vocabulário por Alice P. Canabrava, 2ª.edição, Editora Nacional, São Paulo, s/d., (Roteiro do Brasil, vol. 2). BRAGA (José Peixoto da Silva), “Notícia – 1ª. Pratica que dá ao P.Mº . Diogo Soares o Alferes José Peixoto da Silva Braga, do que passou na Primeira Bandeira, que entrou ao descobrimento das Minas do Guayases até sair na Cidade de Belém do Grão-Pará, in TAUNAY (Affonso de E.), Relatos Sertanistas, vol.VII, São Paulo, 1953. (Biblioteca Histórica Paulista).

COELHO (José João Teixeira), “Do Quinto do Ouro e das Diversas Formas de sua Cobrança”, in Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 23, Rio de Janeiro, outubro de 1844.

COELHO (José João Teixeira), “Instrução para o Governo da Capitania de Minas Gerais”, in Revista

do Arquivo Público Mineiro, vol.VIII, Belo Horizonte, (1903). COUTINHO (José Joaquim da Cunha Azeredo), “Discurso sobre o Estado Atual das Minas do Brasil”,

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Page 139: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

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“Informe de Manuel Juan de Morales de las cosas de San Pablo y maldades de sus moradores hecho a sua Magestad (…)”, in HOLANDA (Sérgio Buarque de), Visão do Paraíso, Livraria José Olympio Editora, 1ª .edição, Rio de Janeiro, 1959.

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Minas, e os motivos dos poucos interesses que fazem os particulares, que minarão atualmente no Brasil”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, nº . 1, Imprensa Oficial de Minas Gerais, Ouro Preto, 1896.

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exaltação da Fé na solene transladação do Di viníssimo Sacramento da Igreja de Senhora do Rosário para um novo templo da Senhora do Pilar em Vila Rica, corte da capitania das Minas aos 24 de maio de 1733”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, vol.VI, Belo Horizonte, 1901.

“Memória sobre o estado da Capitania de Minas Gerais por Joze Eloi Ottoni, estando em Lisboa no

ano de 1798”, in Anais da Biblioteca Nacional, vol.30, (1908), Of. Gráfica da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1912.

MENDONÇA (Coronel Bento Fernandes Furtado de), “Primeiros Descobridores das Minas do Ouro,

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PAES LEME (Pedro Taques de Almeida), Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da mesma

Capitania. Introdução e notas de Affonso de E. Taunay, Publicações Comemorativas da Cidade de São Paulo, Biblioteca Histórica Paulista, X volume, São Paulo, 1954.

“Relação do princípio descoberto destas Mina s Gerais e os sucessos de algumas coisas mais

memoráveis que sucederam de seu princípio até o tempo que a veio governar o Exmo.Sr. Dom Braz da Silveira”, in TAUNAY, Affonso de E. – Relatos Sertanistas, vol.VII, São Paulo, 1953, (Biblioteca Histórica Paulista).

ROCHA (José Joaquim da), (presumido), “Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais”, in

Revista do Arquivo Público Mineiro, vol.II, Imprensa Oficial de Minas Gerais, Ouro Preto, 1897. SAINT-HILAIRE (Auguste de), Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, trad.de

Vivaldi Moreira, Livraria Itatiaia Editora Ltda./EDUSP, São Paulo, 1975, (Coleção Reconquista do Brasil, vol.4).

SANTOS (Joaquim Felício dos), Memórias do Distrito Diamantino, 4ª .edição., Livraria Itatiaia

Ltda./EDUSP, São Paulo, 1976, (Coleção Reconquista do Brasil -vol.26). SOARES DE SOUZA (Gabriel), Notícias do Brasil, Introdução, comentários e notas pelo professor

Pirajá da Silva, Martins Editora, São Paulo, 1939, 2 vol.

- Bandos, Cartas, Regimentos e Outros: “Bando de 7 de janeiro de 1732, do Governador D. Lourenço de Almeida. Memória Histórica do Descobrimento dos Diamantes e Diferentes Métodos que se tem praticado na sua extração; oriunda dos manuscritos da Coleção Martins adquirida pela Biblioteca Nacional em fins do século XIX”, in Anais da Biblioteca Nacional, vol. 80 (1960), Rio de Janeiro, 1964. “Bando de 22 de abril de 1732, do Governador D. Lourenço de Almeida”, in Anais da Biblioteca Nacional, vol.80, (1960), Rio de Janeiro, 1964. “Carta ao Governador Geral D. Rodrigo da Costa, datada de 17 de março de 1705”, in Documentos Históricos, Correspondência dos Governadores Gerais, vol.XLI – 1705 a 1711, Tip. Baptista de Souza, Rio de Janeiro, 1938. “Carta do Governador da Capitania do Rio de Janeiro ao Rei, dando as informações determinadas pela provisão de 18 de junho de 1725, relativa aos negros que mais conviriam às Minas, de 5 de julho de 1726”, in Documentos Interessantes, vol.50, Arquivo do Estado de São Paulo, São Paulo, 1929. “Carta Régia de 7/5/1703, endereçada ao Governador D. Álvaro da Silveira e Albuquerque”, in MS.do Arquivo Nacional, “Coleção Governadores do Rio de Janeiro”, vol.XII, p.122, apud, ZEMELLA (Mafalda

Page 140: LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise

140

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III - FONTES SECUNDÁRIAS (AUTORES CITADOS) AZEVEDO (João Lúcio de), Épocas de Portugal Econômico, 3ª.edição, Livraria Clássica Editora,

Lisboa, 1928. BARBOSA (Waldemar de Almeida), Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Editora Saterb

Ltda., Belo Horizonte, 1971. BARBOSA (Waldemar de Almeida), “O Ouro, sua Exploração”, in 1ª. Semana de Estudos Históricos,

U.C.M.G. – F.C.H. Ponte Nova, Minas Gerais, 1972, (palestra proferida na Faculdade de Filosofia de Ponte Nova, Minas Gerais, 1972, (palestra proferida na Faculdade de Filosofia de Ponte Nova em 05/06/1972).

BARGALLO (Modesto), La mineria y la metalurgia en la America Espanõla durante la época colonial,

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CANABRAVA (Alice P.), “Uma economia em Decadência: os níveis de riqueza na capitania de São

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1977. CARNEIRO (Edison), Ladinos e Crioulos (Estudos sobre o negro no Brasil), Civilização Brasileira, Rio

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COELI (Paulo de Medina), “Pitanguy de Outros Tempos”, in Revista do Arquivo Público Mineiro, nº .

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ESCHWEGE (W.L.von), Pluto Brasiliensis, Editora Nacional, São Paulo, 1944, 2 vol., (Brasiliana,

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GODINHO (Vitorino de Magalhães), “Portugal, as Frotas do Açúcar e as Frotas do Ouro”, in Revista

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Martins Editora S.A., São Paulo, 1949. HOLANDA (Sérgio Buarque de), “A Mineração: Antecedentes Luso-Brasileiros”, in História Geral da

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LATIF (Miran M. de Barros), As Minas Gerais, a Aventura Portuguesa, a Obra Paulista, a Capitania e

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