luiza cadioli, médica de família e comunidade: “acabar com...

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Pág. 4 Pág. 4 Pág. 5 Jornal do Simesp Nº 14 Publicação mensal do SIMESP Sindicato dos Médicos de São Paulo • Julho | 2016 Pág. 3 Estado Representantes do Simesp entregam pauta de reivindicação ao secretário estadual da Saúde, David Uip. Profissionais do Estado estão há três anos sem reajuste Paralisada Câmara Municipal de Taboão da Serra aprova Lei de Diretrizes Orçamentárias sem previsão de reajuste para os médicos. Discussão do PCCV também não avança SUS em risco Professor Mário Scheffer destaca que proposta de orçamento zero do governo interino é “um desastre para a saúde”. Ele foi palestrante do Simesp Debate Transição de gestão provoca transtornos Mudança promovida pela prefeitura, que vem trocando as OSs gestoras das unidades de saúde, tem causado insegurança aos trabalhadores e ameaçado a qualidade de atendimento Entrevista Luiza Cadioli, médica de família e comunidade: “Acabar com a medicalização excessiva e intervenções desnecessárias” Pág. 7

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Jornal do SimespNº 14 • Publicação mensal do SIMESP Sindicato dos Médicos de São Paulo • Julho | 2016

Pág. 3

Estado Representantes do Simesp entregampauta de reivindicação ao secretário

estadual da Saúde, David Uip. Profissionais do Estado estão há três

anos sem reajuste

ParalisadaCâmara Municipal de Taboão da

Serra aprova Lei de Diretrizes Orçamentárias sem previsão de

reajuste para os médicos. Discussão do PCCV também não avança

SUS em riscoProfessor Mário Scheffer destaca que proposta de orçamento zero

do governo interino é “um desastrepara a saúde”. Ele foi palestrante

do Simesp Debate

Transição de gestão provoca transtornosMudança promovida pela prefeitura, que vem trocando as OSs gestoras das unidades de saúde, tem causado insegurança aos trabalhadores e ameaçado a qualidade de atendimento

Entrevista Luiza Cadioli, médica de família e comunidade: “Acabar com a medicalização excessiva e intervenções desnecessárias” Pág. 7

DIRETORIAPresidente Eder Gatti [email protected]

““O HU tem o foco no ensino,

eles formam recursos humanos, não é qualquer hospital. Precisa ter

funcionários preparados para a academia e formação”

Eder Gatti, presidente do Simesp, sobre a crise doHospital Universitário da Universidade de São Paulo

9 de julho – Jornal da Band

“A lógica da Estratégia Saúde da Família (ESF) é o médico se fixar em uma região e criar uma referência para desenvolver

um trabalho de longo prazo. Mas na rede básica da capital isso parece estar

longe de acontecer”Eder Gatti, presidente do Simesp,

sobre a falta de médicos na UBS Vila Piauí.19 de julho - Diário de S.Paulo

Em 2014, a Prefeitura Municipal de São Paulo lançou um novo modelo de contratação de orga-nizações sociais (OSs), dividindo a cidade em 23 fragmentos e lan-çando editais de chamamento. Por este sistema, cada território passou a ser gerido por apenas uma OS (antes, elas se dividiam por serviços, o que fazia com que bairros ou até Unidades Bá-sicas de Saúde tivessem várias delas como gestoras), em con-tratos de cinco anos. A mudan-ça tem provocado transtornos, especialmente para médicos e demais trabalhadores, que têm tido seus contratos de trabalho transferidos de uma organiza-ção para outra.

Este Sindicato já denunciou problemas ocorridos na troca de gestão de unidades do Butantã, quando a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Me-dina (SPDM) assumiu aquela região no lugar da Fundação Faculdade de Medicina (FFM). A nova gestora promoveu de-missões em massa e, ainda que nenhum médico tenha sido desligado, nossa categoria se mostrou forte e atuante, saindo em defesa da manutenção das equipes das UBSs e de condições adequadas de trabalho, tanto na atenção primária quanto na ur-gência e emergência.

Editorial Clipping

Mais recentemente, novo ca-pítulo teve início: profissionais que trabalhavam para o Insti-tuto de Responsabilidade Social do Hospital Sírio Libanês (IR-SSL), que fazia a gestão de uni-dades do centro da capital, tive-ram seus contratos sub-rogados (com perdas ao trabalhador) para o Instituto de Atenção Bá-sica e Avançada à Saúde (Iabas).

O Simesp organizou as de-mandas dos médicos e buscou mediação do Ministério Públi-co do Trabalho, onde as OSs en-volvidas na sucessão e o gestor municipal estão sendo cobra-dos a tomarem providências.

Continuaremos empenha-dos e cobrando. O município é responsável por prover serviços de saúde e não pode eximir-se da gestão das políticas de saúde incluindo recursos humanos. É lamentável que a prefeitura tenha feito editais que delegam às organizações sociais terri-tórios inteiros, com um nível de autonomia que permite to-das as arbitrariedades que têm acontecido. Não toleraremos qualquer desrespeito por parte das contratantes, que aceita-ram participar de concorrên-cia cujo critério de seleção foi o menor valor cobrado para exe-cução dos serviços, às custas dos trabalhadores.

Respeito ao trabalho

SECRETARIASGeralDenize Ornelas P. S. de Oliveira Comunicação e Imprensa Gerson Salvador AdministraçãoEderli M. A. Grimaldi de CarvalhoFinançasJuliana Salles de CarvalhoAssuntos JurídicosGerson MazzucatoFormação Sindical e SindicalizaçãoMarly A. L. Alonso Mazzucato Relações do TrabalhoJosé Erivalder Guimarães de OliveiraRelações Sindicais e AssociativasOtelo Chino Júnior

EQUIPE DO JORNAL DO SIMESPDiretorGerson Salvador Editora-chefe e redaçãoIvone SilvaReportagem e revisãoAdriana CardosoLeonardo Gomes Nogueira Nádia MachadoFotosOsmar Bustos Relações-PúblicasJuliana Carla Ponceano Moreira IlustraçãoCélio LuigiRedação e administraçãoRua Maria Paula, 78, 3° andar

Todas as matérias publicadas terão seus direitos resguardados pelo Jornal do Simesp e só poderão ser publicadas (parcial ou integralmente) com a autorização, por escrito, do Sindicato.

A versão digital desta publicação está disponível no site do Simesp. Caso não queira receber a edição impressa, basta mandar e-mail para [email protected]

2 • Jornal do Simesp

01319-000 – SP – Fone: (11) [email protected]

PROJETO GRÁFICOMed Idea - Design para médicosOscar Freire, 2189, Pinheiros São Paulo/SP 05409-011 Fone: (11) [email protected] www.medidea.com.brEditor de Arte e diagramaçãoIgor Bittencourt

Tiragem: 14 mil exemplaresCirculação: Estado de São Paulo

“Logo no princípio da sua gestão, ele (reitor da USP, Marco Antonio

Zago) deixou claro que tinha a impressão de que a universidade

era grande demais”Gerson Salvador, secretário de Comunicação e

Imprensa do Simesp, sobre os problemas no HU5 de julho – Revista Brasileiros

Diretoria do Simesp

A onda de mudanças nas tercei-rizações, promovida pela Pre-feitura Municipal de São Paulo nos equipamentos de saúde, vem provocando o esfacela-mento nas relações trabalhistas e a consequente deterioração do serviço prestado. Do dia para a noite, profissionais são surpre-endidos com a troca de organi-zações sociais (OSs) na gestão de unidades e núcleos vinculados à Secretaria Municipal de Saú-de (SMS), processo feito, ao que parece, de improviso.

Problemas foram registra-dos, por exemplo, na região do Butantã, na zona oeste da ca-pital, onde a Associação Pau-lista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) substitui a Fundação Faculdade de Me-dicina (FFM) desde 1º de junho. À época, médicos procuraram o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) para denunciar que a nova gestora havia fei-to demissões em massa (exce-to médicos) sem prévio aviso, deixando buracos nas equipes, sub-rogando contratos, além de não deixarem claros os termos da nova contratação.

Com a intermediação do Si-mesp, foi formada uma mesa de negociação permanente para correção de distorções na tran-sição.

Novo capítuloRecentemente, imbróglio pare-cido ocorreu quando o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) ganhou o contra-to para substituir o Instituto de Responsabilidade Social do Hospital Sírio-Libanês (IRSSL) como gestor de algumas uni-

dades de saúde municipais do centro da capital.

Médicos enviaram denún-cias ao Simesp relatando que, em reunião realizada em 10 de junho, o IRSSL comunicou a sub-rogação de todos os con-tratos de trabalho. “Eles foram informados que o novo contra-to traria perdas de benefícios e que, se não aceitassem, deve-riam se demitir. A reclamação é de diminuição de benefícios como planos de saúde e odon-tológico, auxílio-farmácia e va-le-refeição”, destaca Eder Gatti, presidente do Sindicato.

De acordo com as denúncias, os médicos não foram formal-mente informados. “Fomos avi-sados verbalmente da mudança de regime de horistas para men-salistas, o que implica redução de salários especialmente nos meses em que há cinco plan-tões”, exemplifica uma médica.

Em 13 de julho, houve uma reunião entre representantes do Sindicato e das organizações sociais com o procurador do Trabalho Rodrigo Barbosa de Castilho (Ministério Público do

Capa

Jornal do Simesp • 3

Profissionais são surpreendidos com troca de OSs

Adriana Cardoso

Trabalho), que determinou que o Iabas e o Sírio tinham até o dia 18 daquele mês para respon-derem sobre o que aconteceria com os médicos que não acei-tassem manter-se vinculados ao Iabas.

Na reunião, o próprio Iabas assumiu que retirou os bene-fícios, enquanto o Sírio confir-mou que orientou os médicos a aceitarem o novo contrato ou se demitirem. Essas informações estão descritas em ata da audi-ência. “Na prática, os médicos foram coagidos pelo Sírio. E isso é inadmissível”, critica o presi-dente do Simesp.

“Entendemos que não im-porta para quem o funcionário trabalhe, o que importa são as condições de trabalho. Isso sig-nifica que o trabalhador tem que continuar a receber seus benefícios, independentemen-te de quem é o empregador”, diz o coordenador do departamen-to Jurídico do Sindicato, José Carlos Callegari.

O Simesp orientou os traba-lhadores a não assinarem qual-quer documento apresentado

pelo Iabas até que as negocia-ções sejam finalizadas.

ReincidênciaEsta não é a primeira vez em que são registrados problemas com o Sírio e com o Iabas. Após as denúncias dos médicos das unidades do centro da cidade, problemas semelhantes foram identificados na sub-rogação da administração de AMAs do Butantã do IRSSL para a SPDM.

“A Prefeitura de São Paulo é a principal responsável por es-ses problemas, uma vez que é quem contrata as OSs. Estas, por sua vez, são coniventes com a situação quando se submetem a esses contratos e quando come-tem irregularidades trabalhis-tas em nome do poder público”, avalia Gatti.

A assessoria de imprensa da SMS informou que desde ou-tubro de 2014 adotou um novo modelo de contratação de OSs, sendo a principal mudança a territorialização da cidade, di-vidida em 23 territórios, com a presença de apenas uma OS em cada um deles.

Contratos de trabalho são transferidos sem prévio conhecimento de funcionários. Problemas ocorreram quando SPDM assumiu a região do Butantã e, recentemente, com o Iabas assumindo seis serviços geridos pelo Sírio-Libanês

> Simesp orienta médicos a não assinarem documento até o encerramento das negociações

Campanha do Estado

4 • Jornal do Simesp

Cremesp constata crise no Hospital Universitário da USP

Fiscalização

Vistoria realizada pelo Conse-lho Federal de Medicina do Es-tado de São Paulo (Cremesp), de abril de 2015 a maio de 2016, constatou redução de 20% do número de leitos e sobrecarga de trabalho dos profissionais do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).

De acordo com o Cremesp, a situação prejudica o aten-dimento das cerca de 450 mil pessoas da região do Butantã, na zona oeste da capital.

O conselho identificou o- corrência inédita de surto da bactéria Enterobacter aeroge-nes em neonatos, o que provo-cou o bloqueio da UTI neona-tal e do berçário.

É tão grave a falta de pro-fissionais que provocou o fe-chamento do pronto-socorro

infantil no período noturno e dos atendimentos de oftal-mologia e otorrinolaringo-logia. A assistência à gestante também sofreu com redução de aproximadamente 27% em relação aos partos realizados e de 50% do ambulatório de pré--natal, serviços que passaram a ser encaminhados a outros hospitais do município. A fis-calização também detectou que são feitos 18 mil atendi-mentos mensais no pronto--socorro, dois mil a menos quando comparado a março de 2015.

Diante da grave crise, os médicos entraram em greve no dia 30 de maio, exigindo a contratação imediata de tra-balhadores. Há um déficit de 213 funcionários no hospital, sendo 50 médicos.

Diretoria do Simesp cobra David Uip

A pauta de reivindicações da Campanha Salarial dos médicos do Estado de São Paulo, que es-tão há três anos sem reajuste, foi entregue ao secretário de Estado da Saúde, David Uip, no dia 6 de julho.

Entre os principais pontos reivindicados estão a contrata-ção de médicos por concursos públicos, recomposição salarial de 25% e revisão da lei que insti-tuiu a carreira do Estado, em 2013. O presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Eder Gatti, e o secretário de Co-municação e Imprensa, Gerson Salvador, disseram a Uip que a quantidade insuficiente de mé-dicos é responsável por boa parte dos problemas da rede pública.

SobrecargaDe acordo com os representan-tes do Simesp, a falta de pro-fissionais ocorre pela ausência de concursos públicos, carreira pouco atrativa e baixos salários, se comparados ao que é pago pela iniciativa privada e organi-zações sociais (OSs). “A redução no número de médicos levou à sobrecarga de trabalho dos ser-vidores ativos e ao fechamento de leitos”, informa Gatti.

A terceirização e quarteiri-zação na saúde também esti-veram na pauta da reunião. Os diretores do Simesp alegaram que, para combater o fecha-mento de leitos, o Estado ter-ceiriza para as organizações sociais a mão de obra médica. “Essas organizações, por sua vez, quarteirizaram os recursos humanos para empresas mé-dicas, as quais mantêm profis-sionais sem vínculo emprega-tício regular. Não há controle da qualidade do serviço, além de haver violação de direitos trabalhistas em hospitais esta-duais. E o governo do Estado é conivente”, critica o presidente do Sindicato.

Para melhorar a situação do setor, os representantes dos médicos cobraram, além de concursos, carreira e salários dignos. De acordo com Gatti, o secretário reconheceu os pro-blemas e atribui-os à queda na arrecadação. Houve compro-misso com novas contratações por meio de concursos públicos e o secretário levará a questão salarial ao governador Geraldo Alckmin. Houve também com-promisso de manter as conver-sas entre as partes.

> Gerson Salvador e Eder Gatti discutem demandas dos médicos do Estado

Taboão da Serra

LDO não prevê reajuste salarial a médicosOs médicos de Taboão da Ser-ra, na Grande São Paulo, estão indignados com a adminis-tração municipal. A Lei de Di-retrizes Orçamentárias (LDO) de 2017, aprovada por unani-midade pela Câmara Munici-pal em 21 de junho, não prevê reajuste no próximo ano para a categoria. O que não consta na lei não poderá estar no Or-çamento do município.

O secretário de Relações de Trabalho do Simesp, José Erivalder Guimarães de Oli-veira, classificou a situação como absurda. “Vem sendo discutido um PCCV (Plano de Cargos, Carreira e Ven-cimentos) justamente para

reestruturar o sistema de re-muneração dos médicos. Se a LDO não inclui previsão de reajuste, isso joga por terra o sentido da discussão do pla-no”, pontua.

Erivalder também criti-ca o fato de as discussões do PCCV não terem avançado. “O debate sobre o esboço do plano começou, mas está pa-ralisado e não há nenhum si-nal de sua continuidade”, diz.

Em 6 de abril, houve uma reunião do secretário munici-pal de Gestão de Pessoas, Gil-mar Leone, com representan-tes da categoria para discutir o plano. A partir daí, as nego-ciações não avançaram mais.

Concursos, carreira e recomposição salarial de 25% estão entre as reivindicações da categoria

Jornal do Simesp • 5

Simesp Debate

Capital estrangeiro e a exploração da saúde

A expansão do capital inter-nacional na saúde brasileira está intrinsicamente conecta-da ao atual desmantelamento do Sistema Único de Saúde (SUS). “O capital estrangeiro é uma das peças do quebra-cabeça de leis e normas (ins-tituídas ao longo dos anos) para acabar com o SUS”, disse Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Scheffer foi palestrante do Simesp Debate de 23 de junho, evento promovido pelo Sindi-cato dos Médicos de São Pau-lo, que trouxe o tema “Capital Financeiro Internacional na Saúde Suplementar”.

O foco do debate foi a Lei 13.097, aprovada no fim de 2014 pelo Congresso Nacional, e sancionada pela presidente afastada, Dilma Rousseff, em

janeiro de 2015. A lei, que altera trechos da 8.080/1990, que criou o SUS, amplia a permissão para que o capital estrangeiro, antes restrito aos planos e seguros, possa atuar em hospitais (in-clusive filantrópicos), clínicas e laboratórios.

Durante sua exposição, Sche-ffer traçou uma linha do tempo das brechas abertas pelo gover-no ao longo dos anos para que chegássemos até aqui, cenário que poderá nos levar à privatiza-ção total do setor e à consequen-te perda de um direito universal garantido pela Constituição Fe-deral: o à saúde.

“Vivemos um momento mui-to difícil do SUS. A proposta de orçamento zero do Temer (PEC 241/16, que, em linhas gerais, con-gela os gastos públicos por 20 anos, incluindo saúde e educação) é uma calamidade, um desastre para a saúde”, criticou.

Como a lei foi aprovada sem

que fosse debatida, o professor conclamou entidades ligadas ao setor e aos trabalhadores a se mobilizarem, a fim de que, daqui a alguns anos, “não che-guemos ao ponto do que ocor-reu com as OSs (organizações sociais), que surgiram, foram se disseminando” e tiveram sua existência legitimada no con-texto da saúde do país.

“Se há uma notícia boa nisso tudo, talvez seja a de que essa crise está reascendendo uma mobilização conjunta, de novo, em defesa da saúde enquanto direito”, elogiou.

O presidente do Simesp, Eder Gatti, pontuou que a presença do capital estrangeiro tende a precarizar ainda mais as rela-

ções de trabalho. “Temos que lembrar qual é o nosso lado nessa disputa entre capital e trabalho e, é claro, estamos do lado do trabalho. O único objetivo do capital estrangei-ro é obter lucro por meio do barateamento e exploração da mão de obra.”

Para a secretária de Finan-ças do Simesp, Juliana Salles, mediadora do evento, a entra-da do capital estrangeiro gera “uma desigualdade dentro do sistema de saúde” como um todo. “Isso vai prejudicar não só a população atendida pelos planos de saúde e pelo SUS, mas também os trabalhado-res que exercem sua profissão dentro desse sistema.”

> Juliana Salles e Mário Scheffer durante debate na sede do Simesp

Sindicato inicia rodadas de negociação

Setor Privado

A pauta de reivindicações da Campanha Salarial dos médicos do setor privado (que traba-lham para instituições filan-trópicas e organizações sociais em hospitais privados, clínicas, laboratórios, empresas de me-dicinas de grupo e santas casas de misericórdia) já foi entregue aos sindicatos patronais. Uma reunião de negociação entre o Simesp e o Sindicato dos Hos-

pitais Filantrópicos e Santas Casas (Sindhosfil) estava agen-dada para 21 de julho.

Com data-base em setem-bro, a categoria aprovou a pauta de reivindicações em as-sembleia realizada no dia 13 de junho, na sede do Simesp. Entre os pontos reivindicados estão correção salarial de 15% e piso de R$ 13 mil reais para jornada de 20 horas semanais.

Os médicos reivindicam ain-da licença-paternidade de 20 dias consecutivos após o nascimento do filho e estabilidade para os médicos designados como dele-gados sindicais nos termos do estatuto social do Simesp entre outros.

O coordenador do departa-mento Jurídico do Simesp, José Carlos Callegari, destaca que o Sindicato é o único ente que

tem autorização legal para ne-gociar em nome da categoria. As negociações coletivas são feitas em nome de todos os médicos da base territorial do Simesp, gran-de parte do estado de São Paulo (leia mais na página 6).

O departamento Jurídico do Simesp também enviou a pau-ta aos sindicatos patronais — Sindhosp, Sindhclor, Sinamge, Sindhosfil-São Paulo, Sindhos-fil-Vale do Paraíba e Sindhosfil-Ribeirão Preto, Sindhosfil-Bai-xada Santista, Litoral Norte e Sul.

Professor Mário Scheffer falou das brechas abertas pelos governos ao longo dos anos para se chegar ao cenário atual, que poderá levar à privatização total do setor da saúde

Plantão Médico

6 • Jornal do Simesp

Caminhos cruzados: quando menino, médico costumava brincar pelos corredores da Santa Casa

O Sindicato iniciou a Campanha Salarial 2016 do setor privado e algumas dúvidas sempre surgem: o que é acordo coletivo? Dissídio Coletivo? A resposta é dada pelo coordenador do departamento Jurídico do Simesp, José Carlos Callegari

Negociação coletiva

Como funciona uma Campanha Salarial? As negociações coletivas são feitas em nome de todos os mé-dicos da nossa base territorial (grande parte do estado) com os sindicatos patronais, que repre-sentam uma série de empresas. Próximos da data-base (desig-nada para o reajuste dos salá-rios), 1º de setembro, os sindica-tos iniciam as negociações.

O Simesp negocia com vários sindicatos, realizando negocia-ção coletiva específica a partir

de uma pauta de reivindicações única aprovada em assembleia geral. Se desse processo resultar um acordo amigável, é assinada a Convenção Coletiva de Traba-lho (CCT), documento que es-tabelece uma série de direitos, entre eles o índice de correção salarial.

E se não houver acordo?Para solucionar o impasse exis-te o Dissídio Coletivo, popular-mente usado como sinônimo de convenção coletiva. Ele ocorre

> O que você gostaria de ler na próxima edição? Mande suas sugestões: [email protected] <

Leia em nosso portal a íntegra doartigo de José Carlos Callegari

http://goo.gl/G7zp3Y

Jurídico Responde

quando os sindicatos entram com processo e a Justiça do Tra-balho decide os direitos da cate-goria, o que pode levar mais tem-po. Então, apesar de todo mundo falar que o aumento veio “por causa do dissídio”, na maioria das vezes veio por causa da Con-venção Coletiva de Trabalho.

Há ainda o Acordo Coletivo de Trabalho?Sim. O acordo é o documento assinado entre sindicato e uma empresa específica, como ocor-

re na área bancária. O sindicato negocia com a Fenaban, faz uma Convenção Coletiva de Trabalho e depois assina acordos coletivos individuais com os bancos, para definir a PLR, por exemplo.

O Simesp acredita que a CCT é o instrumento mais eficaz de negociação, pois leva em conta a realidade de cada setor.

Adriana Cardoso

Ensino atrelado à assistência

> Alexandre Sizilio atua no Centro de Saúde Escola Barra Funda

A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, no bairro de Santa Cecília, região central da capi-tal paulista, foi praticamente o quintal da casa do médico Ale-xandre Sizilio, 43 anos, quando ele ainda era um menino. “Mi-nha mãe era enfermeira lá, nós morávamos perto. Então, eu vi-via nos corredores ou na lancho-nete do hospital comendo um doce”, recorda. Por essa razão, o hoje ginecologista, médico de família e comunidade e profes-sor não pensou em fazer outra coisa da vida e, já grandinho, foi

estudar medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Por razões que a própria ra-zão desconhece, quis o destino que os caminhos de Sizilio e da Santa Casa se cruzassem nova-mente. Há cinco anos, ele é mé-dico e coordenador da residência em saúde da família e comuni-dade do Centro de Saúde Escola Barra Funda, um braço do hos-pital filantrópico na Barra Fun-da, zona oeste da cidade, que, no começo deste ano, correu o risco de fechar as portas por conta de

um imbróglio entre a Secretaria Municipal de Saúde e a irman-dade que gere a Santa Casa so-bre o custeio do local. Graças à mobilização dos trabalhadores – incluindo o próprio Sizilio –, há dois meses a prefeitura e a ir-mandade firmaram um acordo que manteve garantido o aten-dimento de 16 mil pacientes por mês e a manutenção do ensino de 50 residentes.

“Depois do fechamento do acordo, estamos numa situação mais confortável. Centros de saúde como o da Barra Funda,

que aliam ensino e atendimen-to, são extremamente impor-tantes para fortalecer a aten- ção primária. Como produzimos tecnologia, conseguimos obter uma resolutibilidade de 80% dos casos”, assegura.

Para ele, o ensino atrelado a um serviço de assistência “qua-lifica o ensino e a assistência, uma vez que o ensino sempre traz uma visão atualizada”. “É um círculo, pois os profissio-nais formados ali vão acabar voltando para a rede pública”, observa.

Célio

Lui

gi

Jornal do Simesp • 7

Entrevista

Como funciona e como sur-giu o Coletivo Feminista Se-xualidade e Saúde?O coletivo foi fundado em 1985 por um grupo de mulhe-res que achava que nós me-recíamos um atendimento mais humanizado. Aquelas que nos procuram têm quei-xas especialmente no sentido de que o corpo é muito me-dicalizado. Lá, promovemos atendimentos ambulatoriais particulares, mas também atendemos gratuitamente quem não tem condições de pagar pela consulta (R$ 230). Nossa equipe é formada por três obstetrizes, dois psicólo-gos, três médicas de família e uma ginecologista/obstetra. Atendemos cerca de 50 pesso-

as por semana de várias regiões da cidade e até de outros estados

Qual o diferencial de vocês para tornar o atendimento mais hu-manizado?Normalmente quem nos procu-ra já sabe de nosso histórico e, justamente por isso, busca um olhar mais feminino e femi-nista. Somos um coletivo que é referência nas questões da vio-lência de gênero e medição do diafragma (método contracep-tivo), procedimento que não é feito por outros profissionais. Especialmente, nosso diferen-cial é não julgar a paciente, pois muitas delas se sentem assim quando vão ao médico, princi-palmente as que buscam mé-todos alternativos, não hormo-

nais. Promovemos uma relação mais horizontal pela escuta. Além disso, buscamos instru-mentalizá-la para que conheça o próprio corpo, deixando que ela mesma introduza o espéculo (nos exames de papanicolau) e deixando que olhe o colo do úte-ro pelo espelho.

Quais são, na sua opinião, os principais entraves para que um trabalho como o que vocês fazem chegue à rede pública?Durante nossa formação na fa-culdade de medicina aprende-mos a olhar o corpo da mulher e procurar um defeito e não nos é mostrado novas formas de vê-lo. Sou preceptora de saúde da família em postos de saúde da Universidade de São Paulo

(USP) e asseguro que, quan-do apresento novas propos-tas aos alunos, eles se inte-ressam e tenho certeza de que se interessariam se fos-se colocado na formação.

Creio que os dois princi-pais desafios são acabar com a medicalização excessiva e a realização de interven-ções desnecessárias, como colposcopia e ultrassom de mama, que são muito agres-sivas quando feitas sem ne-cessidade. O outro é fazer uma ponte com o Sistema Único de Saúde (SUS) para que mais gente tenha acesso ao tratamento mais huma-nizado, instrumentalizando seus profissionais de saúde para esse fim.

Quando cursava os últimos anos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a médica de família e comunidade Luiza Magalhães Cadioli, 28 anos, teve contato com o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, cujo foco principal é promover às mulheres um atendimento mais humanizado. “Incentivamos a mulher a conhecer o próprio corpo”, afirma

Adriana Cardoso

“Nosso diferencial é não julgar a paciente”

Cultura

8 • Jornal do Simesp

Mais culturaEnsaio abertoA Orquestra Experimental de

Repertório (OER) fará ensaios

abertos gratuitos nos dias 3 de

agosto e 25 de novembro no

vão livre da Praça das Artes.

Por meio dos ensaios, o público

terá a oportunidade de ver os

músicos sob outra perspectiva,

além de acompanhar o proces-

so artístico em um ambiente

menos formal. Os ensaios serão

às 17h. A Praça das Artes fica na

Avenida São João, 281, Centro.

BeethovenOs fãs de música clássica terão

uma grande oportunidade de

assistir, num mesmo palco, a

Orquestra Sinfônica Municipal

de São Paulo, o Coro Lírico Mu-

nicipal de São Paulo e o Coral

Paulistano Mário de Andrade,

sob a regência de John Nes-

chling. Eles estarão na Abertu-

ra do Festival Beethoven, em

10 agosto, no Theatro Munici-

pal de São Paulo. A entrada vai

de R$ 25 a R$ 90 (meia-entrada

para estudantes, aposentados

maiores de 60 anos e professo-

res da rede pública).

Bienal de São PauloCom o tema “Incerteza Viva”, a

32ª Bienal de São Paulo trará

uma lista de 81 participantes,

entre artistas e coletivos, de 33

países. Mais da metade deles é

de mulheres. Com curadoria de

Jochen Volz, a mostra enfoca

noções de incerteza e entro-

pia, a fim de refletir sobre as

condições atuais da vida e as

possibilidades oferecidas pela

arte contemporânea para abri-

gar e habitar incertezas. De 10

de setembro a 11 de dezembro,

no Pavilhão Ciccillo Matarazzo,

Portão 3, Parque Ibirapuera.

Obra de Dulce Soares encerra ciclo do Instituto Moreira Salles na Rua Piauí

> Exposição recupera duas séries da fotógrafa carioca produzidas no final dos anos 70

Uma exposição da fotógra-fa carioca radicada em São Paulo Dulce Soares encerrará um ciclo do Instituto Moreira Salles (IMS) na capital pau-lista. A unidade localizada em Higienópolis desde 1996 — tradicional bairro nobre da cidade — encerrará suas atividades no fim deste ano. Mas não é preciso lamentar, pelo contrário. O IMS irá para um imponente prédio quase na esquina das poético-boê-mias Avenida Paulista e Rua da Consolação a partir de 2017.

O novo prédio, que vem sendo construído desde 2013 pelo escritório Andrade Mo-rettin Arquitetos, terá sete pavimentos - todos com pé direito duplo -, onde funcio-nará como um grande cen-tro cultural, basicamente nos mesmos moldes de como opera no Rio de Janeiro. Além das exposições, contará com cursos, oficinas, mostras de cinema, debates, seminários, café, lojinha e uma série de atividades ligadas à cultura para gostos diversos. Mas, de acordo com a assessoria de imprensa do instituto, os acervos continuarão na sede

carioca do instituto, localizada na Gávea.

A construção do IMS na Pau-lista vem somar ainda mais para transformar a avenida de um grande polo comercial para uma das principais (se não a principal) artéria cultural da cidade. Pertinho dali, estão íco-nes como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), Livraria Cul-tura do Conjunto Nacional e o Caixa Belas Artes, para citar so-mente alguns.

Até que a metrópole ganhe esse presentão, os amantes de fotografia podem visitar gratui-tamente a unidade de Higienó-polis. A mostra de Dulce Soares, intitulada “Vitrines e Fachadas, Dois Ensaios Paulistanos de Dulce Soares”, teria início em 30 de julho indo até novembro.

A exposição recupera duas séries fotográficas realizadas no fim dos anos 1970 — Barra Funda e São Caetano —, já exi-bidas no Museu de Arte de São Paulo em 1979 e 1981.

As séries foram encomenda-das pela Comissão de Fotografia e Artes Aplicadas, criada em 1976 pela Secretaria da Cultura para documentar o patrimônio histórico de São Paulo.

Com as fotos, Dulce nos traz um retrato das transformações ocorridas no bairro Barra Fun-da, na zona oeste, com sua ocu-pação mista, detalhes arquitetô-nicos, urbanização e decadência.

O olhar apurado durante as caminhadas pelo bairro a leva até os ateliês e vitrines das lojas da Rua São Caetano, mais co-nhecida como Rua das Noivas, com seus vestidos, manequins, costureiras e ateliês.

De gravador em punho, Dul-ce Soares colheu depoimentos de personagens desse cenário sobre o sonho do casamento, o intenso comércio da rua e a tra-dição do vestido.

Trata-se de uma bela home-nagem a um lugar específico, mas que desvela o caos, as contra-dições e os sonhos paulistanos.

Adriana Cardoso

Prédio em construção na Avenida Paulista deve ser inaugurado em 2017 e funcionará como um grande centro cultural

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ServiçoInstituto Moreira SallesRua Piauí, 844, HigienópolisDe terça a sexta-feira, das 13h às 19hAos sábados e domingos, das 13h às 18hTel.: (11) 3825-2560Mais informações no site: www.ims.com.br