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LUÍS VAZ DE CAMÕES Busque Amor novas artes, novo engenho para matar-me, e novas esquivanças; que não pode tirar-me as esperanças, que mal me tirará o que não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes, nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal que mata e não se vê. Que dias há que na alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê. Camões. Retrato de Fernão Gomes. IAN/Torre do Tombo

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LUÍS VAZ DE CAMÕESBusque Amor novas artes, novo engenhopara matar-me, e novas esquivanças;que não pode tirar-me as esperanças,que mal me tirará o que não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenhoVede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes, nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho.

  Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal que mata e não se vê.

 Que dias há que na alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê.

Camões. Retrato de Fernão Gomes. IAN/Torre do Tombo

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QUANDO TUDO ACONTECEU...

1524 ou 1525: Datas prováveis do nascimento de Luís Vaz de Camões, talvez em Lisboa.

1531-1541: Frequentou a universidade de Coimbra, onde aprofundou os seus estudos.

1548: Desterro no Ribatejo; alista-se no Ultramar. 1549: Embarca para Ceuta; perde o olho direito numa

escaramuça contra os Mouros. 1551: Regressa a Lisboa. 1552: Numa briga, fere um funcionário da Cavalariça

Real e é preso. 1553: É libertado; embarca para o Oriente. 1554: Parte de Goa em perseguição a navios

mercantes mouros, sob o comando de Fernando de Meneses.

1556: É nomeado provedor-mor em Macau; naufraga nas Costas do Camboja.

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UMA BIOGRAFIA INCERTA…

1562: É preso por dívidas não pagas; é libertado pelo vice-rei Conde de Redondo e distinguido seu protegido.

1568: Segue para Moçambique.

1570: Regressa a Lisboa na nau Santa Clara.

1572: Sai a primeira edição d’Os Lusíadas.

1579 ou 1580: Morre de peste, em Lisboa, a 10 de Junho.

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UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA…

TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA:

O AMOR O Amor é lei do universo, princípio da existência e força

espiritual. As contradições do Amor. Transformação do amador na coisa amada. Amor platónico: sentimento de adoração do objecto

amado, que leva à contemplação; amor espiritualizado. Amor físico: sentimento que deseja a posse física do

objecto amado. A poesia amorosa camoniana é dramática, dilacerada

em contradições, entre o amor físico e o amor platónico.

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UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA…

TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA:

A MULHER

A mulher petrarquista: ideal de beleza - cabelos de ouro, pele branca, sorriso longínquo, gesto suave, pensar maduro, alegria saudosa, algo de incorpóreo. É uma espécie de deusa que aparece em visões ao poeta e contamina a natureza, embelezando-a. O protótipo da mulher petrarquista é Laura, a musa inspiradora de Petrarca.

A mulher carnal: contornos físicos bem definidos e atraentes que despertam o desejo e a volúpia dos sentidos. É Vénus, a deusa do Amor na mitologia romana.

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UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA…

TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA:

A SAUDADE

A saudade da mulher petrarquista (inacessível). A saudade da mulher carnal que não lhe

corresponde ou que morreu. A saudade da pátria ausente: o exílio. A saudade de Jerusalém: a terra é lugar de exílio,

o homem sente-se exilado do Paraíso.

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UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA…

TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA:

A MUDANÇA

A mudança reversível da Natureza / a mudança irreversível do homem.

A mudança da própria mudança.A mudança como algo negativo

(pessimismo e morte).

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UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA…

TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA:

VIDA, MORTE, DEUS

As injustiças sociais, constatadas pelo poeta.

Os cataclismos naturais e desconcertantes: a morte sempre no horizonte e sem explicações lógicas; o fracasso dos sonhos e dos projectos; o desconcerto do mundo.

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UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA…

TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA:

A NATUREZA

Personificação da natureza.Meio de engrandecimento das

graças da amada.Participação da natureza nos

estados de espírito do poeta.

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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

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RENASCIMENTO O Renascimento foi um movimento cultural e

intelectual que teve origem em Itália, no século XIV, e seu apogeu, no século XV, alastrando ao resto da Europa, no século XVI.

O Renascimento é um movimento de renovação, caracteriza-se por uma renovação científica, literária e artística, com base na imitação de modelos e valores artísticos da Antiguidade Clássica (enquanto época literária, designa-se por Classicismo).

Em Portugal, o séc. XVI apresenta uma fisionomia particular. A grande contribuição portuguesa para o Renascimento foram os Descobrimentos, que desvendaram novos climas, paisagens, faunas, floras, costumes, alargando assim o conhecimento do Mundo e do Homem, dando alimento à fome do exótico, aguçando o sentido do relativo, ostentando a primazia da observação e da experiência sobre o saber livresco.

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AS FORMAS NA LÍRICA CAMONIANA

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Entre dois estilos…A lírica camoniana caracteriza-

se por uma grande variedade quanto à forma.

O estilo engenhoso: os textos dão continuidade aos do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (a medida velha – redondilhas; temas da lírica trovadoresca).

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Entre dois estilos… O estilo clássico: composições em medida nova – o soneto

(com 10 sílabas métricas) e outros sub-géneros de herança clássica (a canção; a ode; a elegia; a écloga). A influência é italiana, sobretudo de Petrarca, e ainda de autores clássicos como Virgílio (na maneira de ver a natureza), Ovídio (nos temas da mudança) e Horácio (no tema da “aurea mediocritas” – a áurea mediania). Alguns temas são influência da poesia provençal e do romance cortês:

◦ a mulher como ser superior, quase divino, de grande beleza;◦ a atitude reverente do amante perante a Senhora-Amada;◦ o sentido da distância que separa os amantes;◦ a morte por amor, etc. Estes temas foram aprofundados por Petrarca que introduz:◦ os impulsos contraditórios;◦ os desejos opostos;◦ a melancolia;◦ a consciência do pecado;◦ o orgulho.

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O TEXTO LÍRICO

Tipologia textual:

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Características:É a expressão privilegiada de

sentimentos atribuídos a um sujeito poético (≠ de poeta).

Predomina o discurso de primeira pessoa, centrado no eu/nós.

Há recorrência a uma linguagem subjectiva, conotativa e polissémica.

Prevalecem as funções poética e emotiva da linguagem.

A mensagem veiculada pelo eu caracteriza-se pela atemporalidade.

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

O texto lírico engloba uma série de características versificatórias:

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Verso, estrofe e metroO verso é cada uma das linhas de

uma composição poética, podendo ter uma ou mais palavras.

O número de sílabas métricas é variável, dependendo o ritmo, precisamente, do número de sílabas existentes no verso.

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Verso, estrofe e metroConforme a acentuação da última palavra

do verso, este adquire diferentes denominações:◦ Verso agudo – a sílaba tónica é a última;◦ Verso grave – a sílaba tónica é a penúltima;◦ Verso esdrúxulo – a sílaba tónica é a

antepenúltima.A um conjunto de versos chama-se

estrofe, estância ou copla.

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Verso, estrofe e metro Consoante o número de versos, as estrofes têm

designações diferentes: Monóstico – um verso; Dístico ou parelha – dois versos; Terceto – três versos; Quadra – quatro versos; Quintilha – cinco versos; Sextilha – seis versos; Sétima – sete versos; Oitava – oito versos; Nona – nove versos; Décima – dez versos.

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Verso, estrofe e metroCada verso tem um determinado número de

sílabas métricas – o metro.A contagem de sílabas métricas, à qual se

chama escansão, assenta em sons captados pelo ouvido e no cumprimento de duas regras fundamentais:1. Contam-se as sílabas de um verso até à

última sílaba tónica da palavra final do verso;2. Faz-se a elisão da vogal átona de palavra

sempre que a palavra seguinte começa por vogal (tónica ou átona).

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Verso, estrofe e metro Em função do número de sílabas métricas que constituem cada

verso, atribui-se uma denominação diferente:◦ Verso com uma sílaba – monossílabo;◦ Verso com duas sílabas – dissílabo;◦ Verso com três sílabas – trissílabo;◦ Verso com quatro sílabas – tetrassílabo;◦ Verso com cinco sílabas – pentassílabo ou redondilha menor;◦ Verso com seis sílabas – hexassílabo ou heróico quebrado;◦ Verso com sete sílabas – heptassílabo ou redondilha maior;◦ Verso com oito sílabas – octossílabo;◦ Verso com nove sílabas – eneassílabo;◦ Versos com dez sílabas – decassílabo;◦ Versos com onze sílabas – hendecassílabo;◦ Versos com doze sílabas – dodecassílabo ou alexandrino;◦ Verso livre – com mais de doze sílabas métricas.

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

RimaTipos de rima:◦ Rima consoante ou perfeita: quando há correspondência

total de sons a partir da última sílaba tónica.Ex: Não quero cantar.

Quero gritar!José Gomes Ferreira

◦ Rima toante ou imperfeita: quando há correspondência de sons na vogal tónica mas, a partir daí, não é totalmente igual.Ex: Desemparadas, inocentes,leves.Eugénio de Andrade

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Rima◦ Rima rica: quando as palavras que rimam pertencem a

uma classe morfológica diferente.Ex: Posto à sombra dos cedros seculares, (adjectivo)Como um levita à sombra dos altares, (nome)Antero de Quental

◦ Rima pobre: quando as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical.

Ex: Meninas, lindas meninas!Qual de vós é meu ideal?Meninas, lindas meninas (nomes)Do reino de Portugal!António Nobre

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Esquema rimático

É habitual atribuir-se a mesma letra a versos cuja rima é igual. Ao conjunto das letras que constituem o poema chama-se esquema rimático.

Busque Amor novas artes, novo engenho Apara matar-me, e novas esquivanças; Bque não pode tirar-me as esperanças, Bque mal me tirará o que não tenho. A

Olhai de que esperanças me mantenho AVede que perigosas seguranças!

B Que não temo contrastes, nem mudanças, B andando em bravo mar, perdido o lenho. A

 Mas, conquanto não pode haver desgosto C onde esperança falta, lá me esconde D Amor um mal que mata e não se vê. E

Que dias há que na alma me tem posto C um não sei quê, que nasce não sei onde Dvem não sei como e dói não sei porquê.E

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NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

Classificação da rima:

Rima emparelhada: sempre que os versos rimam seguidamente dois a dois ou três a três.

Rima interpolada (ou intercalada): sempre que entre dois versos que rimam há dois ou mais versos cuja rima é diferente.

Rima cruzada (ou alternada): sempre que os versos rimam alternadamente.

Verso solto ou branco: não rima com nenhum outro do poema.