ludo martens - balanço do colapso da união soviética

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    Para a Histria do Socialismo

    Documentos

    www.hist-socialismo.net

    Traduo do ingls (cotejado com a verso em castelhano) e edio por CN, 18.04.2012

    _____________________________Balano do colapso da Unio Sovitica

    Sobre as causas de uma traio e as tarefas futuras dos comunistas1

    Ludo Martens

    2 de Abril de 1992

    Na Unio Sovitica, o primeiro Estado socialista do mundo, o pas natal de Lnine e deStline, onde, aps esforos hericos e sacrifcios imensos, os trabalhadores criaram uma

    nova sociedade sem classes exploradoras, neste pas, caro aos revolucionrios do mundointeiro, o capitalismo foi agora restaurado.

    dever de todos os revolucionrios do mundo inteiro reflectir sobre as causas destatragdia e fazer uma anlise meticulosa dos factos em causa.

    Obviamente, os capitalistas dos cinco continentes aproveitaram este acontecimentoinesperado para propagar milhes de vezes a mensagem de que o socialismo nofunciona e o capitalismo cria prosperidade. E em todos os pases, os oportunistasdesertaram para o lado da democracia imperialista, fechando os olhos ao facto de ocapitalismo, que funciona to bem, assentar em milhes de cadveres, vtimas daopresso e da explorao do Terceiro Mundo.

    Porm, ecoava ainda o clamor da vitria histrica do capitalismo, tivemos de concluirque o restabelecimento do capitalismo na Europa Oriental e na Unio Sovitica haviaagravado todas as contradies fundamentais no mundo, e que nos aguardavam grandesconvulses e agitaes. Longe de testemunharmos o fim da histria, como haviadeclarado um membro do governo norte-americano, ou assistirmos ao fim da luta declasses, estvamos no incio de uma nova fase da luta global dos oprimidos contra umsistema imperialista mundial que se tornara incompatvel com a simples sobrevivnciade centenas de milhes de seres humanos. Efectivamente, a revoluo socialistatransformara-se numa questo de sobrevivncia para a vasta maioria da populaomundial. A traio final do revisionismo no podia apresentar com maior clareza esta

    situao.

    1Ttulo original: Balance of the collapse of the Soviet Union, on the causes of a betrayal and

    the tasks ahead for communists (retirado em 15.06.2011 de: http:/wpb.be/doc/doc.htm). Este

    documento, encontrado na altura apenas em ingls, deixou entretanto de constar no referido

    site, podendo ser consultado em castelhano em: http://accioncomunista.jimdo.com/

    descargas/libros/

    Com a publicao deste artigo queremos tambm assinalar a passagem do primeiro

    aniversrio sobre a morte de Ludo Martens (24 de Maro de 1946 - 5 de Junho de 2011),

    cuja obra precursora constitui um valioso contributo para a desmontagem das

    falsificaes sobre a construo do socialismo na URSS, para a anlise das causas da

    sua derrota e para o desmascaramento e combate ao revisionismo moderno(N. Ed.)

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    No entanto, se a parte oprimida da humanidade tem de avanar para a sua libertao,ela precisa da ajuda de organizaes combativas que tenham uma compreenso clara dasleis fundamentais da revoluo. Os comunistas de todo o mundo tm de reavaliar o rumotomado na Unio Sovitica. Tero de distinguir claramente revoluo de contra-revoluo e marxismo-leninismo de revisionismo. O resultado do curso oportunistatomado na Unio Sovitica permite-nos colocar algumas questes fundamentais, que tm

    sido objecto de acaloradas discusses desde 1956. As experincias positivas bem como asnegativas provam que a adopo de uma linha orientadora justa decisiva para o futurodo Partido Comunista e da revoluo.

    Lnine, Stline e a ditadura do proletariado

    As primeiras fbricas, os grmenes da sociedade industrial europeia, surgiram nasequncia do genocdio dos povos da frica negra e da Amrica. Levando a civilizaoaos imprios asteca e inca, os exploradores europeus causaram cerca de 60 milhes demortos entre a populao nativa. Isto, claro, alm de terem saqueado enormesquantidades de ouro e prata. Desde princpios do sculo XVI, os comerciantes europeus

    capturaram e venderam entre 100 milhes a 200 milhes de escravos africanos. Dezenasde milhes de homens e mulheres perderam a suas vidas na sia e na frica medidaque as conquistas coloniais do sculo XIX lanavam as sociedades locais no caos,provocando a fome, transmitindo doenas desconhecidas, difundindo o abuso do lcool edo pio. Durante os sculos XVIII e XIX, a revoluo industrial na Europa causou, entreoutras convulses, a expulso violenta de milhes de camponeses das suas terras e otrabalho forado de mulheres e crianas de 12 a 15 horas por dia. Na I Guerra Mundial, osestados burgueses europeus lanaram-se s gargantas uns dos outros, com o fim de umanova partilha dos domnios coloniais. Dez milhes de trabalhadores pagaram com as suasvidas esta rivalidade colonial.

    Perante estas realidades, o socialismo no podia desenvolver-se e sobreviver senoatravs da organizao da ditadura do proletariado, para unir todas as classes popularescontra a burguesia. Esta experincia fundamental de Lnine e de Stline adquiriu umimportante significado no recente contexto dos povos que aspiram a libertar-se dademocracia imperialista. A derrota da via reformista no Chile em 1973 e a eliminaodo poder sandinista na Nicargua, depois de amplas concesses burguesia, mostram aimportncia destes princpios revolucionrios defendidos por Lnine e Stline.

    Os operrios e camponeses russos j sofriam a opresso tsarista h sculos quandopagaram um preo excessivamente alto durante a I Guerra Mundial: quase trs milhesde mortos. Deste sofrimento insuportvel, os bolcheviques extraram a energia, acoragem e a determinao necessrias para organizar a revoluo socialista e quebrar aditadura burguesa pela fora. A terra e os meios de produo tornaram-se propriedadepblica, a mquina opressiva do Estado do regime tsarista foi sistematicamentedesmantelada e substituda por um Estado de operrios e camponeses.

    Apoiados pelos exrcitos intervencionistas britnicos, franceses e checos e outrastropas estrangeiras, as classes reaccionrias e as foras tsaristas desencadearam o TerrorBranco contra o socialismo. Praticamente sozinhos contra o resto do mundo, osbolcheviques conseguiram trazer para o lado da classe operria as amplas massas decamponeses e organizaram o terror em massa contra os seus inimigos. Neste baptismo defogo, o bolchevismo criou razes firmes nas classes do campesinato e entre os pobres.Sem este decidido Terror Vermelho, o socialismo no teria triunfado na Rssia e o TerrorBranco teria restabelecido o aparelho opressivo, que mantm os operrios e povosinteiros sob o seu jugo. Teria reinstalado esse baluarte da reaco mundial, que constituao tsarismo.

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    Foi Lnine que elaborou os princpios essenciais do desenvolvimento socialista sob aditadura do proletariado. Todavia, quando morreu em 1924, o seu trabalho tinha apenascomeado.

    Entre 1924 e 1953, o Partido Bolchevique, sob a liderana do camarada Stline, levou acabo a parte essencial dos planos de Lnine. Com um herosmo popular sem precedentes,a Unio Sovitica construiu o sistema socialista e defendeu-o da agresso fascista. Em

    geral, o Partido Bolchevique e o povo sovitico, sob a liderana de Stline, conseguiramrealizar as tarefas colocadas por Lnine.

    O Partido Bolchevique realizou a industrializao socialista entre 1921 e 1941, o quepermitiu responder s necessidades bsicas dos trabalhadores e adiar o ataque dosexrcitos fascistas.

    A colectivizao da agricultura contrariou eficazmente a tendncia espontnea para adiferenciao de classes no campo, em particular o desenvolvimento dos kulaques, aclasse dos proprietrios fundirios ricos, que seriam uma ameaa fatal para odesenvolvimento do socialismo na URSS. Graas colectivizao, o sistema foi capaz dealimentar a populao urbana em rpida expanso.

    Com a organizao da revoluo cultural, a Unio Sovitica conseguiu, em apenas 15anos, que dezenas de milhes de camponeses analfabetos, que viviam em condiesmedievais, entrassem no sculo XX. Este esforo produziu um exrcito de tcnicos eespecialistas bem qualificados e politicamente conscientes, que desempenharam umimportante papel na guerra antifascista.

    Desde os anos 20 at aos anos 50, o Partido Bolchevique contribuiu decisivamentepara o reforo do movimento comunista internacional. A simples existncia da UnioSovitica tornou possveis revolues socialistas na Europa Oriental e a revoluo naChina, que foi uma vitria com ressonncia mundial. O xito da reconstruo socialistana Unio Sovitica, combinado com uma poltica externa que promovia a independncia

    e a paz, deu um forte impulso ao movimento de descolonizao na frica e na sia.Aqui chegados importante reflectir um pouco sobre certos aspectos da luta liderada

    por Stline, que continua a provocar intensa controvrsia. Referimo-nos colectivizaoe s purgas.

    Na Unio Sovitica, em 1928, sete por cento dos camponeses no tinham terra, 35 porcento eram camponeses pobres, 53 por cento podiam classificar-se como relativamenteabastados e cinco por cento eram agricultores ricos, os chamados kulaques, quecontrolavam 20 por cento dos cereais comercializados. O curso natural da situaoreforou esta classe de ricos agricultores, dado que, atravs do seu crescente controlosobre os stocks de cereais colocados no mercado, podiam privar de alimentos as cidades e

    sabotar a industrializao socialista. A modernizao da agricultura medieval, em quepredominavam ainda os arados de madeira e a traco animal, era uma necessidadeabsoluta para o xito da industrializao. Se a mecanizao fosse introduzida no campo,mediante os meios de capital fornecidos pela classe rica dos kulaques, a explorao, amisria e a fome teriam sido uma consequncia inevitvel para a maioria doscamponeses. Alm disso, uma classe burguesa agrria revigorada teria indubitavelmenteatacado o socialismo, assim que se sentisse capaz disso. Para defender o poder dostrabalhadores no havia outra via seno a colectivizao. Neste processo libertou-se odio reprimido durante anos pelos camponeses pobres contra a classe rica dos kulaques.Esta luta de classes organizada pelos camponeses pobres e mdios demonstrou ser o

    facto decisivo na colectivizao. Como o Partido Bolchevique no dispunha mais do que200 mil membros no campo, o seu impacto permaneceu limitado naqueles primeirosanos. O processo de colectivizao decorreu medida que a guerra civil eclodia de novo

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    no campo. Os ricos proprietrios fundirios assassinaram um grande nmero de quadrose lderes camponeses e abateram parte do gado para sabotar a economia colectiva. Arepresso conduzida pelos camponeses pobres contra os kulaques foi em grande parteuma reaco a sculos de opresso e de humilhao que se tornou incontrolvel.

    As purgas organizadas pelo Partido Bolchevique, entre 1937 e 1938, justificavam-setendo em conta a aproximao da guerra. No entanto, estas purgas foram acompanhadas

    de graves erros, na sua maior parte inevitveis dada a complexidade da luta. Stline sabiabem que a deteriorao da situao internacional e a possibilidade crescente de umaguerra de agresso contra a Unio Sovitica lanava uma luz particular sobre a lutapoltica no interior do Partido. Tendo em conta a aproximao do conflito mundial,suspeitou justamente que a Alemanha nazi e outras potncias imperialistas estavam aenviar espies, sabotadores e outros agentes para o pas. Entre as classes burguesasderrotadas, dentro e fora da Unio Sovitica, havia bastantes candidatos ciosos devingana para ajudar a causa imperialista. Oportunistas e derrotistas no interior doPartido, impressionados pela superioridade do sistema imperialista, podiam tentarestabelecer contacto com o inimigo. Stline organizou uma vasta mobilizao do povo em

    apoio purga. A depurao do movimento visava dois tipos de adversrios do socialismo.O primeiro tipo eram elementos das antigas classes opressoras, que desejavam vingar-seda sua derrota, capitulacionistas e elementos pr-germnicos, que esperavam que oataque nazi os viesse libertar. O segundo tipo de inimigos que o poder popularcombateu eram burocratas e tecnocratas, que se tinham afastado das massas e seestavam rapidamente a transformar-se numa nova burguesia, pronta a submeter-se aomais poderoso, ou seja, Alemanha de Hitler, com vista a defender as sua posies.Assim, a purga do movimento socialista era uma necessidade poltica absoluta. Nascondies da poca, isso tambm significava que muitos erros seriam seguramentecometidos. Por vezes os burocratas conseguiam desviar o escrutnio para pessoas

    inocentes, com o fim de defenderem as suas posies. Oportunistas faziam acusaesfalsas para subirem nas suas carreiras partidrias. Agentes inimigos infiltrados noPartido fabricavam provas para incriminar comunistas leais, e comunistas honestoscometeram excessos esquerdistas. Em geral, no entanto, as purgas atingiram os seusobjectivos. Isto ficou demonstrado na guerra antifascista, quando, contrariamente situao de outros pases, houve muito poucos colaboracionistas que apoiaram os nazisna Unio Sovitica. Na Europa Ocidental, como Stline previra, muitos oportunistasjuntaram-se s fileiras das foras nazis ocupantes. Proeminentes figuras dos sociais-democratas belgas aclamaram publicamente Hitler como um libertador. Em Frana, amaioria dos sociais-democratas votou a favor da atribuio de plenos poderes ao regimecolaboracionista de Ptain. Se tivermos em mente estes factos, no surpreende que as

    faces burguesas denunciem unanimemente as purgas criminosas organizadas peloPartido Bolchevique. O poder estabelecido, a maior parte dos bares da indstria, osbanqueiros, quadros de partidos nacionalistas, partidos cristos, liberais e sociais-democratas, todos colaboraram com os nazis enquanto a sua vitria parecia assegurada.

    Perante a recente restaurao completa do capitalismo na URSS sob Gorbatchov,podemos agora compreender melhor alguns aspectos das purgas de 1937-38. Stlineafirmou que os trotskistas, os partidrios de Bukhrine e os nacionalistas burguesesdefendiam uma poltica burguesa e, de facto, os interesses das classes opressorasderrotadas. Com as suas aces ajudaram estas classes e outros grupos anti-socialistas areagrupar foras. Khruchov iniciou o processo afirmando que esta anlise era errnea e

    tinha levado a actos arbitrrios. As teses nacionalistas e as ideias de Trtski e deBukhrine comearam a reaparecer nas polticas do PCUS. Finalmente, Gorbatchovreabilitou os trotskistas, os bukharinistas e os nacionalistas burgueses como gente boa

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    e vtimas do stalinismo. Dois anos mais tarde, a restaurao do capitalismo tornou-seum facto. A histria provou que viso de Stline sobre esta questo estava inteiramentecorrecta.

    Khruchov: a primeira ruptura com a revoluo socialista

    Recordemos agora quatro teses essenciais apresentadas h 30 anos por Khruchov, que

    nos permitiro compreender melhor os acontecimentos recentes na URSS.Primeira tese: Na Unio Sovitica o poder deixou de ser da classe operria. O Estado

    da classe operria foi substitudo pelo Estado de todo o povo, um Estado para todas asclasses. Assegurada a vitria total e definitiva do socialismo a primeira fase docomunismo e a transio da sociedade para a construo em grande escala docomunismo, a ditadura do proletariado cumpriu a sua misso histrica e do ponto devista dos objectivos do desenvolvimento interno deixou de ser necessria na URSS. OEstado, que surgiu como Estado da ditadura do proletariado, transformou-se na actualnova etapa no Estado de todo do povo, num rgo que expressa os interesses e avontade de todo o povo.2

    Esta ideia conduziu ao abandono da luta contra as tendncias burguesas ereaccionrias sob influncia do imperialismo. Igualmente tornou possvel uma espcie detranquilidade para a burocracia que procurava separar-se dos trabalhadores. NumEstado de todo o povo, esta burocracia podia instalar-se confortavelmente, adquirirprivilgios e obter benefcios pessoais atravs dos cargos polticos e econmicos. Afinalde contas, j no podiam desenvolver-se contradies de classe entre ela e as massaslaboriosas, pelo menos assim foi declarado.

    Segunda tese: Khruchov anunciou, em 1962, que a Unio Sovitica alcanaria ocomunismo em 1980 e que, nessa altura, teria ultrapassado os Estados Unidos. Nodemorar muito at que a Unio Sovitica ultrapasse os Estados Unidos no campo

    econmico. Na competio pacfica com os Estados Unidos, a Unio Soviticaalcanar uma vitria histrica de importncia universal() Teremos ns tudo o que preciso para criar a base material e tcnica do comunismo no espao de duas dcadas?Sim, camaradas, temos tudo o que precisamos.3 Assim, actualmente, a Unio Soviticadeveria estar a gozar a eterna felicidade do comunismo totalmente desenvolvido, aabundncia para todos, e tudo isto desde 1980. Na realidade, estas promessas de umfuturo ideal serviram para acalmar as massas, nas quais as ideias da revoluo, dosocialismo e do comunismo eram muito populares, e para consolidar as posies dosburocratas e tecnocratas no poder.

    Terceira tese de Khruchov: Declarou que o capitalismo entraria em colapso em todo o

    mundo medida que o socialismo marchava para a vitria final. O rpido progresso daUnio Sovitica atrairia a simpatia dos trabalhadores em todo o mundo, enquanto ocapitalismo, gravemente enfraquecido, no seria capaz de resistir. Explicava-se assim queseria possvel tomar o poder na Europa e no resto do mundo por via pacfica eparlamentar. Na sequncia da vitria do socialismo na Unio Sovitica, surgiramcondies mais propcias para a vitria do socialismo noutros pases. O vasto campo de

    2XXII Congresso do Partido Comunista da Unio Sovitica, 17-31 de Outubro de 1961,

    relato estenogrfico, Gossudrstvenoi Izdtelstvo Polittcheskoi Literaturi, Moscovo, 1962, t. 3,

    p. 303. [O autor no menciona referncias bibliogrficas neste artigo. A presente citao

    encontrmo-la por semelhana no Programa do PCUSaprovado no XXII Congresso. (N. Ed.)]3

    Idem, Discurso de Khruchov sobre o Programa do PCUS, ed. cit., t.1, p.169. Apenas a

    ltima frase constitui uma citao exacta deste discurso, estando a anterior presente em vrias

    passagens, o que nos leva a concluir que se trata de uma sntese do autor. (N. Ed.)

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    pases socialistas, cuja populao j ultrapassa os 900 milhes de habitantes, continuaa crescer e a reforar-se. As ideias do socialismo criaram profundas razes no espritoem toda a classe operria. O capitalismo tornou-se muito mais fraco. Os partidosburgueses de direita e os seus governos fracassam cada vez mais. Isto cria apossibilidade de conquistar uma maioria slida no parlamento e transformar esteparlamento num instrumento de verdadeiro poder popular.4 Estas posies, que

    embelezam a sociedade imperialista e a ditadura da burguesia, constituem uma mudanaradical de poltica.

    O quarto ponto de Khruchov refere-se atitude para com os Estados Unidos. Asuperpotncia imperialista havia sido at ento considerada como o polcia mundialnmero um, intervindo e perseguindo agressivamente os seus interesses nos cincocontinentes. Entretanto, Khruchov declarou: Queremos ser amigos dos Estados Unidose cooperar com eles na luta pela paz e segurana dos povos. Comprometemo-nos aalcanar este fim com boas intenes e sem propsitos ocultos. Isto foi dito nummomento em que as naes do Terceiro Mundo, na sua maioria, seja na sia, frica ouAmrica do Sul, estavam envolvidas num luta terrvel contra o imperialismo americano,

    que queria submet-las ao domnio neocolonial.

    Brjnev: a degenerao acelera-se

    Depois chegou Brjnev. Alguns comunistas pensaram que ele se tinha distanciadopessoalmente dos erros mais flagrantes de Khruchov. A anlise dos quatro congressosrealizados sob a sua presidncia no confirma esta opinio.

    Nikita Khruchov tinha proclamado trs temas chave: o fim da luta de classes, umEstado de todo o povo, a defesa da burocracia privilegiada.

    Brjnev continuou por este caminho. Apresentou ao pblico imagens brilhantes deuma sociedade sem classes, que ocultava uma crescente diferenciao de classes e

    estratos sociais. Aplaudiu a eliminao do fosso entre classes e grupos sociais. Anossa intelligentsia considera ser seu dever dedicar toda a sua energia criativa construo da sociedade comunista. Dizia isto apesar de nesse momento uma parteimportante desta intelligentsia j estar completamente despolitizada e fascinada peloOcidente. Nos sonhos de Brjnev, no eram s as diferenas de classe que desapareciam,mas tambm as distines entre nacionalidades. Brjnev inventou a noo de povosovitico, segundo a qual as classes e as nacionalidades teriam desaparecido sem deixarrasto. No nosso pas temos sido testemunhas da formao de uma nova comunidadehistrica: o povo sovitico. Novas relaes harmoniosas entre classes, grupos sociais e

    4

    No programa do PCUS aprovado no XXII Congresso do PCUC, atrs citado, pode ler-seuma afirmao com contedo semelhante a esta citao no referenciada pelo autor: Nas

    condies actuais, numa srie de pases capitalistas, a classe operria, dirigida pelo seu

    destacamento de vanguarda, tem a possibilidade, na base de uma frente operria e popular e

    de outras formas possveis de acordos e de cooperao poltica com diferentes partidos e

    organizaes sociais, de unir a maioria do povo, conquistar o poder de Estado sem guerra civil

    e assegurar a passagem dos principais meios de produo para as mos do povo. Apoiando-

    se na maioria do povo e repudiando decididamente os elementos oportunistas, incapazes de

    recusar a poltica de conciliao com os capitalistas e latifundirios, a classe operria tem a

    possibilidade de derrotar as foras reaccionrias e antipopulares, conquistar uma slida

    maioria no parlamento, transform-lo em instrumento ao servio do povo trabalhador,

    desenvolver fora do parlamento uma ampla luta de massas, quebrar a resistncia das forasreaccionrias e criar as condies necessrias para a realizao pacfica da revoluo

    socialista. Programa do PCUS, XXII Congresso do Partido Comunista da Unio Sovitica, 17-

    31 de Outubro de 1961, ed.cit., t. 3, pp. 256-257. (N. Ed.)

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    entre naes e nacionalidades surgiram do trabalho comum. Com Brjnev, omarxismo-leninismo transformou-se de cincia da luta de classes em ideologia. Porideologia entendemos aqui a falsa conscincia que representa os interesses de umgrupo privilegiado separado dos trabalhadores. Nunca naqueles quatro congressos,Brjnev abordou a realidade viva das diferentes classes, estratos sociais e foras polticas,com vista a definir algumas orientaes de luta ou de mobilizao.

    Sob o regime de Brjnev, a elite burocrtica entrincheirou-se quase completamente. Obrejnevismo assegurou o conforto nova classe burguesa. Um dos partidrios deKhruchov, Jaurs Medvdiev, escreveu: Na poca de Stline, os dirigentes do Partidosentiam mais a potencial ameaa do aparelho de segurana do que os cidadoscomuns. E acrescenta: Brjnev no era um verdadeiro lder em 1964. Era mais orepresentante da burocracia, que procurava uma vida fcil com privilgios crescentes egarantidos. O seu eleitorado era a elite burocrtica. Neste aspecto, Brjnev tambmmudou o sistema porque, mais do que qualquer outro, criou as condies propciaspara a expanso de uma autntica elite privilegiada, uma autntica nomenklatura.

    Com uma vida confortvel assegurada, os membros da elite no se contentaram com

    os seus rendimentos legais. A estabilidade garantida elite teve um outro efeitonegativo. A corrupo dos funcionrios desenvolveu-se rapidamente em todos os nveis.A disciplina do partido diminuiu, o nepotismo tornou-se uma prtica corrente e oprestgio ideolgico e administrativo do Partido foi conspurcado. A grande corrupodos altos funcionrios soviticos tornou-se numa espcie de doena profissional. Adistino entre propriedade pblica e privada deixou de ser respeitada.

    Longe de denunciar os erros de Khruchov, Brjnev seguiu pelo mesmo caminhodesastroso, tornando ainda pior o desvio revisionista.

    Alm disso, Brjnev imprimiu uma orientao militarista a toda a poltica sovitica.Contava quase exclusivamente com a expanso do poder militar sovitico para defender e

    ampliar as posies da Unio Sovitica. O reforo do Estado sovitico pressupe aexpanso mxima da capacidade de defesa da nossa ptria. Congratulou-se com oequilbrio militar e estratgico atingido pela URSS e pelos Estados Unidos. O caminhopara a paridade militar e nuclear com o complexo militar-industrial ocidental no erapraticvel e era destrutivo para um pas socialista. Estando j no Museu da Histria amobilizao das massas, a continuao da luta de classes e a educao revolucionria,Brjnev optou por um conceito militar digno dos seus adversrios. Tudo aquilo queconstitua a fora de defesa do socialismo na poca de Stline desapareceu. O esforomilitar desproporcionado minou por completo a economia civil da Unio Sovitica.

    Efectivamente, atravs dos efeitos combinados do revisionismo e do hegemonismo,

    Brjnev arruinou o movimento comunista internacional. Em 1966 excomungou aChina e a Albnia, acusando estes pases de stalinismo e de desvios esquerdistas,porque tinham manifestado a sua desaprovao ao revisionismo de Khruchov. Trs anosmais tarde, Brjnev transformou a poltica de confrontao com a China num conflitoarmado.

    Intoxicados com as novas ideias de Khruchov, numerosos partidos comunistasinclinaram-se para a reconciliao com a burguesia nos seus prprios pases, provocandoa ulterior desintegrao do movimento comunista internacional.

    Nos pases socialistas da Europa de Leste, Dubcek e outros da sua laia propuseram aliquidao dos ltimos vestgios da ditadura do proletariado e a introduo do sistema

    social-democrata burgus. Os partidos que recusaram aceitar o modelo sovitico como anica referncia e que se opuseram aos ditames e interveno sovitica forammarginalizados por Brjnev pelo seu nacionalismo e anti-sovietismo. Finalmente s

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    restaram aqueles que mostravam uma lealdade incondicional URSS. Brjnev chamou-lhes autnticos marxistas-leninistas. Dado que o revisionismo corroa as bases dosocialismo na Europa de Leste, Brjnev teve de recorrer ao controlo militar para manter aaparncia de unidade no seu campo. Proclamou ento: As fronteiras da comunidadesocialista so inviolveis e inexpugnveis. A irmandade dos pases socialistas unidos a melhor defesa contra as foras que tentam atacar e enfraquecer o campo socialista.

    Sob qualquer ponto de vista, a Unio Sovitica demonstra deste modo a sua lealdade aointernacionalismo proletrio. Mas a sua interferncia e tendncia crescente para ocontrolo directo desgastaram este socialismo enfermo. A teoria de defender a UnioSovitica como a melhor proteco do socialismo era um fiasco. A melhor defesa dosocialismo ser sempre a mobilizao dos trabalhadores, o desenvolvimento da suaconscincia, o seu esforo independente para defender o seu poder. Nesta base, um passocialista pode pedir ajuda a outra nao amiga, mas apenas em circunstnciasexcepcionais e por um perodo de tempo limitado. Assim fez por exemplo a RepblicaDemocrtica da Coreia quando foi atacada pelo exrcito norte-americano em 1950.

    A revoluo mundial, tal como era vista por Brjnev, consistia essencialmente no

    alargamento da influncia sovitica a todo o globo, seguindo o modelo da Europa deLeste. Brjnev negou que o socialismo mundial nasceria da mistura de diferentesexperincias revolucionrias nacionais. No reconheceu o facto de que os partidosrevolucionrios tm de estar ancorados na realidade especfica do seu pas, que devemmobilizar as amplas massas para a luta revolucionria e que tm de esmagar oimperialismo e a reaco local. Brjnev rejeitou a ideia de que s as massas popularesarmadas podem constituir um baluarte eficaz contra o imperialismo e a reaco.Continuou a enganar os povos do Terceiro Mundo apresentando o Exrcito Soviticocomo o garante da sua liberdade. Brjnev: O socialismo a melhor defesa dos povosque lutam pela sua libertao e independncia. Sob a liderana de Brjnev, a Unio

    Sovitica apoiou reformistas (Chile), putchistas e aventureiros (Etipia, Afeganisto),bem como militaristas (Egipto, Sria), os quais apresentava invariavelmente comoartesos da revoluo socialista. Como a Unio Sovitica estava do seu lado e o seuexrcito constitua a melhor defesa da sua liberdade, Brjnev interveio em vriospases para manter as foras reformistas pr-soviticas no poder. Esta polticaaventureira atingiu o auge com as invases do Kampuchea e do Afeganisto.

    Gorbatchov: a restaurao do capitalismo

    A melhor anlise das realidades existentes nos pases socialistas durante o perodoentre 1956 e 1990 continua a ser a que foi feita, nos anos 60, pelo camarada Mao Ts-Tung. Hoje esta anlise pode ser definida como mais preciso e corrigida em alguns

    pontos, luz dos recentes acontecimentos ocorridos na Europa de Leste, na URSS e naChina.

    Mao via assim o futuro do socialismo:

    A sociedade socialista cobre um perodo histrico extremamente largo. Durantetodo este perodo a luta de classes entre a burguesia e o proletariado continua. Aquesto sobre qual sistema sair vitorioso, o capitalismo ou o a via socialista,permanecer em aberto durante este perodo. Isto significa que o perigo da restauraodo capitalismo se mantm. A revoluo socialista realizada exclusivamente nocampo econmico (no que respeita propriedade dos meios de produo) no suficiente e no garante a estabilidade. Tem de haver tambm uma revoluo socialistacompleta nos campos da poltica e da ideologia. No domnio da poltica e da ideologia,a luta para decidir a disputa entre capitalismo e socialismo prolongar-se- por muitotempo. Algumas dcadas certamente que no sero suficientes; cem, talvez centenas de

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    anos sero necessrios para a vitria final. Durante este perodo histrico dosocialismo temos de manter a ditadura do proletariado e levar a revoluo socialistaat ao fim, se quisermos prevenir a restaurao do capitalismo. Temos de empreendera reconstruo socialista de modo a criar as condies necessrias para a passagem aocomunismo.Antes de Khruchov chegar ao poder, as actividades dos novos elementosburgueses eram limitadas e em grande parte reprimidas. Mas desde que Khruchov

    chegou ao poder, e gradualmente tomou o controlo da direco do Partido e do Estado,esses novos elementos burgueses comearam a aparecer em posies dominantes nocorao do Partido e do governo, no campo da economia, assim como no sector dacultura e outros. Tornaram-se uma classe privilegiada na sociedade sovitica.Mesmo sob o domnio de Khruchov e da sua faco, a massa dos membros do PCUS edo povo seguiu as gloriosas tradies revolucionrias cultivadas por Lnine e porStline, aderindo ao socialismo e aspirando avanar para o comunismo. Um grandenmero de quadros soviticos continua a apoiar as posies revolucionrias doproletariado na via para o socialismo. Esto firmemente contra o revisionismo deKhruchov. A luta de classes, a luta pela produo e a experimentao cientfica so

    os trs movimentos revolucionrios principais na construo de uma nao socialistapoderosa. Estes movimentos representam uma garantia segura, que permite aoscomunistas combater a burocracia, armarem-se eles prprios contra o revisionismo edogmatismo e manterem-se invencveis para sempre. Constituem a garantia futura quepermitir ao proletariado unir as amplas massas laboriosas e praticar uma ditadurademocrtica. Vamos supor que, na ausncia destes movimentos, os latifundirios, osagrrios ricos, os contra-revolucionrios, os elementos obscuros e outras criaturas dediversos tipos tero rdea solta. Suponhamos ainda que, em certos casos, os nossosquadros fecham os olhos e j no distinguem entre o inimigo e ns prprios e quecolaboram com o inimigo e se deixam corromper e desmoralizar. Se os nossos quadrosforam atrados desta maneira para o campo do inimigo ou se o inimigo logrouinfiltrar-se nas nossas fileiras e se muitos dos nossos operrios, camponeses eintelectuais ficaram indefesos perante as tcticas brutais do inimigo, se estassuposies se tornarem realidade, ento num curto espao de tempo, talvez alguns anosou um dcada, ter lugar inevitavelmente uma restaurao contra-revolucionria escala nacional. Neste caso no demorar muito at o Partido marxista-leninista setornar num partido revisionista ou fascista e toda a China mudar de cor .

    No pas de Lnine, Khruchov tomou o poder em 1956, depois de trs anos de hbeismanobras e complexos preparativos. Depois de assumir o controlo, teve de consolidar oseu poder dentro do partido eliminando a maioria doBureau Poltico, no decurso da lutacontra o grupo antipartido de Mlotov, Malenkov e Kaganvitch. Com ataques

    polticos e ideolgicos contra os princpios essenciais da construo do socialismo,Khruchov prosseguiu a alterao da orientao fundamental do PCUS. Isto serviu depretexto para permitir que os quadros burocrticos e oportunistas adquirissemprivilgios e se desenvolvessem numa classe social distinta. J depois do afastamento deKhruchov, alguns quadros destacados fizeram tentativas para regressar aos princpiosmarxistas-leninistas. A base da sociedade socialismo ainda no tinha sido destruda emilhes de comunistas prosseguiam o seu trabalho revolucionrio. No entanto, durante operodo de Brjnev, a classe dirigente continuou a acumular privilgios e a enriquecer porvias ilegais, vegetando como parasitas numa base econmica e poltica que no lhespertencia. Os verdadeiros comunistas continuavam a defender um conjunto de

    conquistas da classe operria. As leis socialistas, medidas favorveis aos trabalhadores ea ideologia marxista-leninista continuavam a exercer uma grande influncia em toda asociedade. Mas a classe dirigente reduziu o marxismo a uma srie de frmulas feitas e

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    importou todo o tipo de teorias ideolgicas do Ocidente. Enquanto o pensamentosocialista era mutilado, ideologias burguesas ultrapassadas ganhavam um novo impulso.Num nmero crescente de sectores, os novos elementos burgueses transformaram osmeios de produo e a propriedade do Estado em propriedade privada sua. Permitiam oalargamento do sector informal e faziam acordos secretos com os novos capitalistas, cujosurgimento favoreceram.

    No final da era de Brjnev, uma nova classe capitalista tinha-se consolidado eperseguia os seus prprios interesses, opostos aos interesses dos trabalhadores. Estanova classe, agora totalmente desenvolvida, tentava cada vez mais instalar abertamente asua prpria ditadura. Para isso tinha de desenvencilhar o pas das ltimas influncias eaparncias do marxismo-leninismo. Em Gorbatchov encontrou uma bandeira, naglasnost um meio de expresso e na perestroika a legitimao dos seus projectosrestauracionistas. Depois de um perodo de paralisia, conformismo e militarismo, sob aliderana de Brjnev, tivemos a impresso de que as coisas estavam a mudar e que algunsdos erros mais graves de Brjnev estavam a ser revelados. Mas depressa se tornou claroque Gorbatchov criticava Brjnev a partir do ponto de vista dos liberais e pr-ocidentais.

    Gorbatchov apenas aprofundou o revisionismo de Khruchov e de Brjnev, o que conduziu renncia total e aberta dos princpios marxistas-leninistas.

    A Unio Sovitica teve dois pontos de ruptura com o socialismo: o relatrio deKhruchov, em 1956, que continha a rejeio de alguns princpios essenciais do leninismo,e a perestroika de Gorbatchov, que preparou o terreno para o restabelecimento daeconomia de mercado em 1990.

    O revisionismo de Khruchov abriu o perodo de transio do socialismo para ocapitalismo. Os velhos e novos elementos burgueses precisaram de 3o anos para ganharfora suficiente para tomar e consolidar as suas posies na poltica, no campo daideologia e na economia. O processo de degenerao, iniciado em 1956, precisou de trs

    dcadas para acabar com o socialismo.Os ataques contra o legado de Stline desempenharam um papel importante ao longo

    de todo este processo de degenerao. Na Unio Sovitica, os revisionistas trabalharam35 anos para demolir Stline. Uma vez Stline demolido, Lnine seguiu-se quase deimediato. Khruchov incitou toda a gente contra Stline, e Gorbatchov, durante os cincoanos da sua glasnost, prosseguiu a cruzada contra stalinismo. Algum ter reparado quea demolio das esttuas de Lnine no foi precedida de nenhuma campanha polticacontra a sua obra? A campanha contra Stline foi suficiente. Dado que todas as ideiaspolticas de Stline foram atacadas, denegridas e arrasadas, era simples concluir, aomesmo tempo, que as ideias de Lnine tambm tinham sido destrudas. Khruchov iniciou

    a sua misso destruidora, sublinhando que criticava o culto da personalidade deStline, com vista a restabelecer o leninismo na sua forma pura e melhorar o sistemacomunista. Gorbatchov fez a mesma promessa enganosa para desorientar as foras deesquerda. Hoje podemos ver o bvio: usando o pretexto de um regresso a Lnine,Gorbatchov convidou o tsar, e usando o pretexto de melhorar o socialismo, implantou ocapitalismo selvagem.

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    As lies histricas da experincia

    da Unio Sovitica e dos pases do Leste da Europa

    A liderana do Partido Comunista decisiva na construo do socialismo

    No decurso do desenvolvimento da luta de classes temos visto, em muitos pases, quetodos partidos burgueses e pequeno-burgueses tentam contrariar as forasrevolucionrias. Em pases to diferentes como a Rssia, China, Cuba ou a RepblicaDemocrtica Alem, a revoluo acabou por triunfar sob a direco do PartidoComunista, o nico partido verdadeiramente revolucionrio. Para a vitria da revoluo ea construo do socialismo, necessria a direco poltica justa do Partido Comunista,aplicando criativamente os princpios do socialismo cientfico, de acordo com a realidadede cada pas. Fora do Partido Comunista no pode haver qualquer futuro para osocialismo!

    Para a burguesia, que vive sob o socialismo, a questo chave : Como alargar ademocracia? Para os burgueses muito importante criar um espao legal para os seusvelhos partidos destroados durante a revoluo. Para o proletariado e os trabalhadores apergunta chave a seguinte: Como assegurar que o Partido Comunista mantm o seuesprito revolucionrio, a sua linha socialista e a sua ligao s massas? Se o Partidocometer demasiados erros graves, a revoluo ser derrotada ou a construo dosocialismo entrar numa crise que pode ser fatal.

    O revisionismo no Partido Comunista representa a influncia e a presso da burguesiae do imperialismo. Se os quadros agem de uma forma burocrtica, perdem o contactocom as massas, se apropriam de vantagens e privilgios e se comportam como

    tecnocratas sem conscincia revolucionria, sucumbindo corrupo, ento,inevitavelmente, desenvolve-se uma tendncia oportunista no Partido favorvel aoretorno velha ordem, baseada na sociedade de classes e na explorao do homem pelohomem.

    No socialismo, a luta de classes tem de ser prosseguida para consolidar a

    ditadura do proletariado

    Os trabalhadores tm de estar ideolgica e praticamente preparados para travar abatalha contra as foras anti-socialistas, desenvolvida pelos inimigos de classe eencorajada pela interveno e subverso organizada pelo imperialismo.

    Enquanto existir, o imperialismo nunca deixar de preparar o seu regresso aos pasessocialistas. Primeiro tentar ocupar o campo poltico-ideolgico, apoiando forassinistras hostis ao Partido Comunista, exigindo liberdade para a imprensa burguesa,encorajando os sindicatos a agir independentemente do Partido Comunista e criandopartidos legais e ilegais hostis aos comunistas.

    A luta para eliminar as bases internas e externas para a restaurao do capitalismo uma luta de vrias geraes. Durante um longo perodo histrico, a ditadura das massaslaboriosas tem de ser mantida contra os velhos e os novos exploradores. Se a ditadura dasmassas laboriosas relaxada, a burguesia renascer e iniciar a batalha para arestaurao da sua prpria ditadura.

    Na Unio Sovitica formos testemunhas disso: mesmo passados 70 anos da suaderrota, os partidrios do tsarismo, os feudalistas, os burgueses e kulaques tinham

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    conseguido manter, e mais tarde alargar, a sua influncia ideolgica e poltica numa partedas massas.

    Tendo em conta o desenvolvimento das foras produtivas e o aumento da produoem geral, possvel que um pas socialista seja obrigado a aceitar, durante um perodo detempo significativo, a existncia de um sector de pequenos capitalistas e empresriosprivados e mesmo investimentos capitalistas estrangeiros. Ser igualmente necessrio

    aceitar vrias formas de relaes comerciais, financeiras e cientficas com o mundoimperialista. Todos estes factores tornam o reforo do trabalho ideolgico e amanuteno da ditadura do proletariado uma necessidade absoluta.

    No socialismo, o Partido tem de utilizar a cincia marxista para analisar de um modomaterialista a diferenciao social que se desenvolve na sociedade. Na Unio Sovitica, osrevisionistas afirmaram que as camadas exploradoras j no existiam e que os operrios,camponeses e intelectuais tinham o mesmo interesse em defender o socialismo.Fomentando este ponto de vista, destruram a vigilncia de classe e permitiram odesenvolvimento da burocracia, do oportunismo e da tecnocracia nas fileiras dos quadrose intelectuais. Deste modo, uma nova classe surgiu no corao da sociedade socialista.

    O Partido Comunista o instrumento essencial para a correcta aplicao da ditadurado proletariado. Se o Partido for tomado por tendncias oportunistas, o corao dosocialismo ser infectado. O Partido tem de permanecer uma organizao de luta poltica,educando e mobilizando os trabalhadores para a consolidao do seu poder. O exrcitosocialista e a milcia popular tm de estar prontos para responder a eventuais aces deforas hostis e agresses das foras imperialistas em geral.

    O socialismo consolida-se atravs da democracia socialista

    Se o Partido Comunista actuar de maneira verdadeiramente revolucionria, e a luta declasses for mantida correctamente contra os inimigos do socialismo, a democracia

    socialista tem um amplo espao para se desenvolver.O modo como a democracia socialista se desenvolve depende, naturalmente, da

    situao nacional e internacional da luta de classes. O Partido Comunista tem de seesforar para aperfeioar e alargar continuamente a democracia socialista. Um dosaspectos mais fundamentais desta democracia a possibilidade das massas laboriosaspoderem observar e julgar as aces e posies dos membros e quadros do Partido e dosfuncionrios do Estado socialista.

    Para desenvolver esta democracia, o governo socialista tem de assegurar umaeducao geral cientfica de alta qualidade, treino e educao poltica a todos os cidados.

    O Partido Comunista tem de criar as condies para a participao activa dos

    trabalhadores e das suas organizaes representativas de massas na governao nosassuntos locais e na governao regional e nacional. A lei tem de estabelecer os direitos eas obrigaes dos cidados no quadro da sociedade socialista.

    A revoluo cientfica e tecnolgica essencial para demonstrar a

    superioridade do socialismo

    O desenvolvimento da cincia e da tecnologia tem grande importncia na luta globalentre socialismo e capitalismo. Nestes campos, apoiando-se em cinco sculos depilhagem em todo o mundo, o imperialismo continua a dispor de grande vantagem. Osocialismo no poder nunca alicerar-se sem adquirir o conhecimento cientfico mais

    avanado. A revoluo cultural, cientfica e tecnolgica deve ser firmemente estimuladasob a direco da ideologia socialista. Um pas socialista tem de fazer todos os esforospara assimilar as descobertas cientficas e tecnolgicas e o uso das tcnicas desenvolvidas

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    no mundo capitalista. No obstante, preciso ter sempre em conta que todas estasdescobertas foram feitas no contexto da estrutura social burguesa baseada na exploraodos trabalhadores. Com frequncia, pertencendo burguesia e vivendo em condiesprivilegiadas a maioria dos cientistas, engenheiros e gestores do mundo capitalistamantm uma viso burguesa ou mesmo reaccionria do mundo. Esta ideologia reflecte-se inclusivamente na concepo e aplicao de algumas das suas descobertas cientficas.

    A assimilao da cincia e da tecnologia do mundo capitalista tem de ser feita sob adireco do Partido e a partir de um ponto de vista socialista. A educao marxista-leninista e a luta poltica contra as influncias burguesas tm de acompanhar esteprocesso de assimilao. Este um aspecto importante da luta de classes sob a ditadurado proletariado. Efectivamente, a experincia da Unio Sovitica demonstra o papelcontra-revolucionrio desempenhado por numerosos cientistas e outras intelectuaisaltamente prestigiados, que se comprometeram inteiramente com a concepo burguesado mundo.

    O Partido tem de manter o marxismo-leninismo e o internacionalismo

    proletrio adoptar uma posio independente

    H aqui dois aspectos de uma contradio, cujas relaes e oposies devemosdiscernir com clareza.

    Acima de tudo essencial a linha marxista-leninista e uma prtica consistente dointernacionalismo proletrio. A classe operria eminentemente uma classeinternacionalista. A sua posio em todas as sociedades exploradoras fundamentalmente a mesma, e as leis bsicas que podem ser deduzidas da lutarevolucionria so, em sentido lato, comuns a todos os pases.

    Beneficiando de uma viso retrospectiva, podemos ver claramente que certosoportunistas recusaram estas posies bsicas, invocando injustamente o princpio de

    uma posio independente. Em 1948, Tito defendeu o direito de seguir naJugoslvia uma via especfica para o socialismo. Sob este pretexto apregoou de factouma poltica de reconciliao e de oposio ditadura do proletariado. A recentecatstrofe na Jugoslvia, devastada por guerras civis de tipo nacional e fascista, foi altima consequncia desta posio de Tito.

    Durante os anos 70 e 80, o Partido Comunista Italiano tambm fez grande alaridosobre a sua independncia, elogiando os mritos da via italiana para o socialismo.Sob esta bandeira desfizeram-se dos ltimos princpios do marxismo-leninismo,romperam todos os laos com a Unio Sovitica e finalmente entraram no campo dasposies verdadeiramente sociais-democratas.

    Se um Partido Comunista faz uma viragem numa direco oportunista, a intervenode outros partidos comunistas nos assuntos internos desse Partido no pode resolver oproblema, antes pelo contrrio. No obstante, o internacionalismo proletrio significaque os outros partidos, durante as suas discusses com o Partido em causa, devem travaruma luta de princpios contra o oportunismo e o revisionismo. O partido criticado pode,com toda a independncia, aceitar ou recusar essa anlise e observaes, uma vez quecontinuar a ser o nico responsvel pela sua linha poltica perante a classe operria e opovo do seu pas.

    Um problema de natureza completamente diferente surgiu nos pases socialistas doLeste da Europa. Em 1945, os partidos comunistas destes pases eram muito fracos, mas

    com a ajuda do Partido Bolchevique, travaram a luta de classes, implantaram a ditadurado proletariado e lanaram as fundaes de uma economia socialista independente. Apsa morte de Stline, Khruchov interveio nos seus assuntos internos para afastar os

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    quadros revolucionrios que foram rotulados de stalinistas. Os oportunistas queposteriormente chegaram ao poder aceitaram todas as teses antimarxistas de Khruchov.A maioria no s liquidou o marxismo-leninismo, mas tambm vendeu barato a suaindependncia, seguindo todas as voltas e reviravoltas da poltica sovitica. O PartidoComunista Romeno, embora tenha tambm secundado as posies advogadas porKhruchov, manteve no entanto uma certa independncia. A rejeio tanto do marxismo-

    leninismo como do princpio da independncia foi a causa do fracasso do socialismo nospases do Leste da Europa.

    Na poca, todavia, um outro pequeno pas socialista mostrou uma via alternativa. OPartido do Trabalho da Coreia manteve sempre contactos com os partidos do Leste daEuropa, que poderiam ter beneficiado da experincia coreana. Na verdade, mesmo antesde o revisionista Khruchov ter tomado o poder, Kim Il Sung afirmou o seguinte:

    O que que ns estamos a fazer? No estamos a fazer a revoluo num pasestrangeiro, mas sim a revoluo na Coreia. Todo o trabalho ideolgico tem de sesubordinar aos interesses da revoluo coreana. Se estudamos a histria do PCUS ouda revoluo chinesa, ou se estudamos os princpios universais do marxismo-leninismo,

    apenas o fazemos com vista a realizar correctamente a nossa revoluo . Devemosestudar cuidadosamente a nossa prpria realidade e aprender a conhec-la muito bem.De contrrio no seremos capazes de resolver os novos problemas, com que nosconfrontaremos, de uma forma criativa, que esteja em consonncia com a nossarealidade.Vrios camaradas bebem de um trago o marxismo-leninismo em vez de odigerir e aprender a utiliz-lo. perfeitamente lgico que no possam empreenderiniciativas revolucionrias. Devemos reger-nos inexoravelmente pelos princpiosmarxistas-leninistas e aplic-los de modo criativo, em funo das condies concretasdo nosso pas e da nossa nao. O marxismo-leninismo no um dogma, um guiapara a aco e uma doutrina criativa. O marxismo-leninismo s pode dar provas do

    deu poder invencvel se for aplicado de uma forma criativa em funo da situaoconcreta de cada pas.

    Em 1970, quando Brjnev praticava a poltica de soberania limitada Kim Il Sungexps o conceito fundamental da independncia com ainda maior clareza:

    O estabelecimento da ideia de Juche5 significa a adopo de uma boa atitude emrelao revoluo e reconstruo do prprio pas. Significa manter uma posioindependente, rejeitando o esprito de dependncia em relao aos outros; significa terconfiana nos prprios lderes e nas nossas prprias foras e, mantendo um espritorevolucionrio, resolver sempre os problemas assumindo a nossa prpriaresponsabilidade. Tambm significa adoptar uma posio criativa, contrria ao

    dogmatismo. Os princpios universais do marxismo-leninismo e as experincias deoutros pases devem ser aplicadas de acordo com as condies histricas ecaractersticas nacionais do nosso prprio pas. A experincia histrica mostra que se oPartido se submeter s grandes potncias, isso conduzir declnio da revoluo e dodesenvolvimento.

    importante sublinhar que o conceito de independncia desenvolvido por Kim IlSung se baseia na lealdade aos princpios revolucionrios. Manter uma posioindependente acima de tudo confiar nas prprias foras para fazer a revoluo e

    5O Juche um sistema filosfico e ideolgico desenvolvido pelo prprio Kim Il Sung, como

    adaptao do marxismo-leninismo cultura local e s especificidades da revoluo coreana.Baseia-se na ideia de que o indivduo responsvel pelo seu prprio destino e tem a sua parte de

    responsabilidade no destino da comunidade, devendo por isso participar com independncia e

    criatividade na revoluo e reconstruo do pas. (N. Ed.)

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    construir o socialismo, dando assim uma importante contribuio para a luta pelalibertao do proletariado mundial. No obstante, o Partido no pode vencer um inimigopoderoso, levar a cabo experincias sociais e resistir presso, sabotagem e interveno imperialista se no educar o povo num autntico esprito marxista-leninista.Sem este esprito, o Partido no poder suster-se sobre os seus prprios ps (ou seja, assuas prprias massas conscientes e organizadas), e por conseguinte no ser capaz de

    manter o sistema socialista e a sua independncia face interferncia e agresso domundo imperialista.

    Podemos tambm dizer que durante o Grande Debate no movimento comunistainternacional (1956-1964), o Partido do Trabalho da Coreia viu claramente o perigo dorevisionismo, adoptou uma posio independente e fez um esforo para manter aunidade do movimento comunista internacional.

    Neste preciso momento, quando vemos certos antigos pases socialistas restaurar ainiciativa privada e promover a invaso das multinacionais, interessante recordar aanlise que Kim Il Sung fez do revisionismo em 1970:

    O revisionismo uma corrente ideolgica oportunista, que tende a privar o

    marxismo-leninismo do seu esprito revolucionrio. O revisionismo prejudicial porquenega a linha marxista-leninista do Partido e a ditadura do proletariado. Ope-se lutade classes, faz com que as demarcaes entre ns e o inimigo paream nebulosas eincertas e capitula face ao imperialismo norte-americano, assustado com a chantagemnuclear. tambm prejudicial devido aos seus comprometimentos com o imperialismo,enquanto alega manter as suas posies anti-imperialistas; desiste da luta contra oimperialismo e procura arranjar acordos com ele. O revisionismo significa espalharmedo da guerra, as ideias pacifistas burguesas e iluses sobre o imperialismo e areaco em geral, com vista a desarmar o povo ideologicamente. Detesta os povosoprimidos e impede as suas revolues. Por fim preciso sublinhar que o revisionismo

    ainda mais prejudicial porque se ope disciplina da organizao revolucionria;promove o liberalismo burgus, incentiva o egosmo e leva o povo indiferena, decadncia e indolncia. Em resumo, o revisionismo uma ideologia perigosa, quemina o socialismo e conduz restaurao do capitalismo.

    Esta anlise, estas predies revelaram-se exactas. E hoje devemos reconhecer que osoportunistas ignoraram estes alertas em nome da luta contra o dogmatismo e ostalinismo, para, passo a passo, retirarem para o campo do imperialismo, da guerra e doterror contra os povos.

    No caminho de grandes convulses no mundo

    A nova burguesia na Unio Sovitica proclamou a sua ditadura poltica sobre asociedade durante o XXVIII Congresso do Partido Comunista da Unio Sovitica, emJulho de 1990. A partir desse momento, a interveno poltica e o controlo financeiro eeconmico dos Estados Unidos e da Alemanha cresceram sistematicamente, conduzindoao colapso da Unio Sovitica e criao de repblicas independentes apoiadas pelomundo imperialista. A acelerao do processo contra-revolucionrio foi saudada pelaburguesia no Ocidente como uma autntica revoluo que garantiria a paz,liberdade e democracia para toda a eternidade. Na Blgica, todas as formaesburguesas e pequeno-burguesas, desde os fascistas aos sociais-democratas, dosecologistas aos restos do moribundo Partido Comunista, todos saudaram estarevoluo de paz, liberdade e democracia. Passaram dois anos apenas, e no entantopodemos ver facilmente que a contra-revoluo no Leste e na Unio Sovitica no

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    conduziu paz, liberdade e democracia, mas guerra, opresso, explorao e aofascismo.

    Pouco tempo depois de a Unio Sovitica ter desertado para o campo ocidental, oimperialismo desencadeou uma guerra de agresso contra o povo iraquiano, queprovocou entre 150 mil e 250 mil mortos iraquianos, civis e militares. A manuteno doboicote econmico desde a guerra custou a vida de mais de 170 mil crianas at agora.

    Esta guerra criminosa revelou uma srie de caractersticas novas nos mtodos usadospelo imperialismo para dominar o Terceiro Mundo. As grandes potncias imperialistasesto prontas a utilizar as mais sofisticadas tecnologias militares, como fizeram noIraque, contra os pases do Terceiro Mundo que ousem defender a sua independncia esoberania. Somos testemunhas do desenvolvimento de um terrorismo de Estadodesumano e brbaro.

    A Guerra do Golfo nunca teve como objectivo salvaguardar a independncia doKuwait, mas sim assegurar a sua separao do mundo rabe, a sua anexao como umaespcie de 53. estado americano, e o confisco por parte do Ocidente dos recursospetrolferos do Mdio Oriente.

    O dever de intervir o novo slogan com o qual o imperialismo recusa a soberaniaaos pases do Terceiro Mundo e desmantela o direito internacional, para o substituirpelas seus prprios regulamentos de tipo colonial, criando enclaves, estrangulandolentamente pases com o boicote econmico e organizando abertamente foras polticaspr-imperialistas.

    As condies de rendio impostas ao Iraque provam que a recolonizao econmica,em grande parte realizada nos anos 80, foi agora completada com a recolonizaopoltica e militar. Estamos a regressar com efeito escravatura colonial.

    Os partidos Democrata e Republicano nos Estados Unidos, os partidos democratas-cristos, liberais, nacionalistas, conservadores e socialistas na Europa, tomaram todos

    parte na agresso. A democracia ocidental demonstra uma vez mais desta forma que oseu pluralismo funciona principalmente a favor das foras que apoiam a barbrieimperialista.

    O Ocidente est pronto para mobilizar todo o seu capital e toda a sua tecnologia paraalargar a explorao e o terror. O imperialismo transformou-se num sistema diablicocuja existncia incompatvel com a simples sobrevivncia de milhares de milhes depessoas no Terceiro Mundo.

    Para esmagar um pequeno pas com 18 milhes de habitantes no Terceiro Mundo, osEstados Unidos tiveram de mobilizar uma quantidade considervel de dinheiro e deforas armadas. Esta grande fora destrutiva concentrada num pequeno ponto do globo

    revela fraqueza no plano estratgico. Num momento em que a opresso e a misria setornam cada vez mais intolerveis, desenvolvem-se favoravelmente as condiesobjectivas para um movimento revolucionrio em grande escala. Arruinados e gemendosob a presso de uma crise aps outra, os pases do Terceiro Mundo oferecem algumasoportunidades para investimentos lucrativos. Por conseguinte, para conservar umsistema injusto, as potncias imperialistas so obrigadas a recorrer cada vez mais soluo militar para manter a ordem. O imperialismo no tem mais nada a oferecer smassas do Terceiro Mundo e alvo de um dio crescente por parte dos povos.

    Depois do colapso do socialismo no Leste, idelogos famosos anunciaram que, a partirde agora, seria apenas o capitalismo a escrever a histria. Mas o capitalismo aparece sob

    a forma de trs grandes potncias que se vigiam nervosamente umas s outras, prontaspara empunhar as suas armas. O mercado mundial, que agora se expande muitolentamente, tornou-se demasiado pequeno para acomodar os trs gangsters insaciveis

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    Estados Unidos, Japo e Alemanha. Cada um mantm a sua parte com a ajuda deinvestimentos colossais, sempre crescentes, aumentando a tendncia para a baixa da taxade lucro. As suas modernas instalaes produzem em srie enormes quantidades deprodutos, que so absorvidos com dificuldade por mercados que quase no se expandem.A cada dia surge um novo conflito comercial entre as trs grandes potncias nos sectoresda produo automvel, do desenvolvimento da indstria aeronutica e espacial, das

    comunicaes, dos qumicos, etc. O mundo imperialista dirige-se lentamente para umagrande crise econmica e financeira.

    Se as estruturas minadas do socialismo na Europa de Leste se desmoronaram todepressa quando demora a demolir um muro, a frgil estrutura do mundo capitalistapode ruir to subitamente como a do seu adversrio. Sob a presso de trs poderes que seconfrontam entre si, o futuro do mundo capitalista apresenta-se sombrio.

    Afirmou-se que o colapso do socialismo era a prova do perfeito estado de sade dosistema capitalista e que proporcionaria ao capitalismo novas oportunidades deexpanso. verdade que a conquista do Leste pode acrescentar mais cinco por cento taxa de crescimento da economia germnica nos prximos anos. Mas isto ser feito

    custa da destruio das estruturas econmicas do Leste e da antiga Unio Sovitica, ondej se verificou uma queda de 20 por cento do Produto Nacional Bruto no espao de doisanos. Graas livre iniciativa, cerca de dez milhes de trabalhadores, dos quais 2,2milhes s na Polnia, j perderam os seus meios de subsistncia.

    Os desempregados, que no beneficiam de qualquer proteco social, e os pensionistasidosos encontram-se num pantanal de misria. Os nmeros dos suicdios aumentam, talcomo sobe a taxa de criminalidade. Desenvolve-se um capitalismo sem escrpulos,criminoso, selvagem: aqueles que prometeram um socialismo de rosto humanotrouxeram o capitalismo mais desumano que conhecemos. Em 1989, o Ocidenteestimulou o xodo dos alemes de Leste para desestabilizar politica e economicamente a

    RDA. Aqueles que passaram a fronteira foram aclamados como heris da liberdadepela imprensa burguesa. Hoje h milhes de potenciais heris da liberdade desses,milhes de polacos, hngaros, romenos que tentam fugir pobreza e encontrar umtrabalho no Ocidente. Agora, a mesma imprensa burguesa manifesta-se preocupada como perigo de uma invaso de Leste e apela ao encerramento das fronteiras.

    As revolues da liberdade foram amplamente aclamadas. Certamente que aprincipal liberdade de um povo a independncia de qualquer dominao estrangeira.Em apenas alguns anos, os antigos pases socialistas caram numa situao de crescentedependncia econmica e financeira. O imperialismo dita as suas leis, tal como o faria emqualquer pas neocolonial do Terceiro Mundo. A Unio Sovitica tinha um dfice

    nacional de 30 mil milhes de dlares em 1985. Hoje atingiu os 80 mil milhes econtinua a aumentar. A nova burguesia fez crer ao povo que o capital ocidental iriainvestir no seu bem-estar. Todavia, o grande negcio no correu riscos e limitou os seusinvestimentos, comprando as melhores empresas a preos muito baixos. A riquezanacional dos antigos pases socialistas foi assim desbaratada.

    O pas que sem dvida mais tem ganho com estas vendas a Alemanha, que tambmbeneficia das relaes da RDA com os outros antigos pases socialistas. A Alemanha delonge o maior credor e o mais activo a comprar empresas altamente lucrativas. o maisimportante parceiro comercial. Deste modo, graas ao seu domnio sobre a Europa deLeste, a Alemanha possui alguns trunfos na luta global que trava com os concorrentes

    japoneses e americanos. J dominante dentro da Comunidade Europeia, a Alemanhaabre um novo campo imenso de explorao no Leste. Isto agudiza as tenses entre estegigante dominador e os pases menos bem sucedidos da Comunidade Europeia.

  • 7/31/2019 Ludo Martens - Balano do colapso da Unio Sovitica

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    Em dois anos, a democracia nos antigos pases socialistas, ou seja a democraciaburguesa, promoveu a reabilitao dos lderes fascistas da II Guerra Mundial: StepanBandera na Ucrnia, Tiso na Eslovquia, Antonescu na Romnia e Ante Pavelic naCrocia. A nova burguesia no Leste e na antiga Unio Sovitica refugiou-se nochauvinismo e na ideologia nacionalista para granjear o apoio dos trabalhadores aos seusnovos exploradores. As velhas formaes nacionalistas e fascistas que medraram sob o

    regime nazi esto a regressar em fora. A Jugoslvia j est a ser devastada por guerrascivis reaccionrias. Guerras civis nacionalistas tambm esto em curso entre armnios eazris, russo e moldavos. Graves distrbios esto a ser preparados na Ucrnia.

    Prevendo um colapso econmico, o caos total e a guerra civil na Unio Sovitica, aAlemanha e a Frana, esta um aliado incmodo da primeira, pressionam para a criaode um exrcito europeu, capaz de manter a ordem no Leste e em certas repblicasindependentes. Um envolvimento militar num tal pantanal poder ter consequnciasimprevisveis, como demonstraram os acontecimentos que conduziram I GuerraMundial nesta regio.

    No auge do seu triunfo, o capitalismo demonstra que no tem mais nada para oferecer

    seno fome, represso severa, agresso militar e destruio geral. Nas runas dosocialismo derrotado, o capitalismo no tem nada para oferecer seno desemprego,pobreza, sobre-explorao, fascismo e guerra civil. Mesmo no corao do mundocivilizado, o capitalismo s pode prometer um futuro de desemprego e de regressosocial, a que se deve acrescentar o racismo, o crime, o fascismo e a interveno militar.

    A traio dos revisionistas no pode encobrir de forma nenhuma a verdadeiranatureza do capitalismo e do imperialismo. A verdadeira natureza do capitalismo revelaum sistema sangrento e desumano, que no decurso da sua expanso provoca contnuascrises econmicas, sociais, polticas e morais, as quais, medida que o tempo passa, seaprofundam cada vez mais escala mundial.

    A dura realidade deste mundo exps totalmente a falsa arrogncia do oportunismo.Quando a burguesia proclama o colapso final do comunismo, socorre-se da triste

    bancarrota do revisionismo na Europa de Leste e na Unio Sovitica para reafirmar o seudio inestimvel obra realizada no passado por Marx e Engels, Lnine e Stline. Aofaz-lo, a burguesia pensa mais no futuro do que no passado. A burguesia quer fazer-nosacreditar que o marxismo-leninismo foi enterrado para sempre, porque conhece muitobem a actualidade e a vitalidade da anlise comunista na presente situao do mundo. Osquadros da burguesia tambm fazem avaliaes cientficas sobre o futuro do mundo.Tambm predizem grandes crises, convulses globais e guerras de todo o tipo. Ante oabismo do desemprego, da pobreza, da explorao e da violncia, que se abre para as

    massas laboriosas em todo o mundo, s o marxismo-leninismo pode mostrar o caminhopara a libertao nacional e social. Cabe aos comunistas de todo o mundo assumir estedesafio.