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Disciplina: Multiletramentos, Linguagens e Mdias Introduo ________________________________________________________________________________________ Estamos iniciando as disciplinas do Mdulo 3 do Curso de Lngua Portuguesa. Na disciplina LP005 - Multiletramentos, Linguagens e Mdias, vamos abordar as maneiras pelas quais a linguagem e as tecnologias vm afetando uma outra ao longo da Histria. Inicialmente refletiremos sobre a tecnologia da escrita que j nos familiar e, depois, focalizando a Internet e o meio digital, vamos destacar as principais caractersticas dos textos digitais e da comunicao mediada por computador. Mais tarde, partindo da noo de multiletramentos, vamos apresentar a voc certas maneiras prticas de lidar produtiva e criticamente com os desafios e oportunidades trazidos por esse novo meio e essas novas prticas, dentro e fora da sala de aula. Ao final da disciplina, como sempre, sero propostos temas que voc poder desenvolver em seu TCC. Bom trabalho! 1 Clique aqui para acessar o vdeo de introduo disciplina. ________________________________________________________________________________________

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http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/X6814B9X8HO5/

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Disciplina: Multiletramentos, Linguagens e Mdias Tema: 1. Tecnologias e Prticas Comunicativas Tpico 1 - Processos de naturalizao das tecnologias: o caso da escrita alfabtica

Ponto de Partida fato que, ao longo da Histria, as comunidades sempre sentiram a necessidade de usar recursos externos para ampliar 2 as possibilidades de trocas de informao. Somos seres sociais e precisamos da linguagem para interaes que viabilizam trocas que so essenciais para a construo, manuteno e evoluo das culturas comunitrias. Muitos desses recursos hoje so to antigos que j ficaram quase to "naturais" quanto a fala. Recordar um pouco desse percurso 3 talvez nos ajude a entender as tecnologias digitais e as mudanas que elas trazem para nosso cotidiano. Vamos comear o Tema 1 - "Tecnologias e Prticas Comunicativas" - refletindo um pouco sobre algumas afirmaes que comumente so feitas sobre o computador, a Internet e a aula de Lngua Portuguesa nos dias de hoje. Voc concorda ou discorda de tais afirmaes? A seguir, leia os comentrios feitos para cada resposta. 1) O aluno precisa aprender a usar o computador para conseguir obter melhores empregos. 4 Concordo 5 Discordo 2) O computador uma tecnologia cara que no acessvel a todos. Para que colocar o computador na escola se o aluno no pode us-lo fora dela? 6 Concordo 7 Discordo 3) O computador s mais um "modismo", como tantos outros, colocados para o professor de Lngua Portuguesa. Se o aluno souber ler e escrever bem, ele no vai precisar do computador para estudar ou atuar na sociedade. 8 Concordo 9 Discordo

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http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/lev-vygotsky-307440.shtml Tecnologias de comunicao e informao, tambm denominadas TICs. A possibilidade de ter um emprego melhor depende mais das condies do mercado de trabalho. Alunos que sabem ler e escrever bem no necessariamente tm garantia de empregos bem pagos. Na prtica, se o empregador quiser, funes mais simples relacionadas a certas atividades podem ser adquiridas durante o trabalho, com a ajuda de colegas, por exemplo. As mesmas promessas de melhoria social, antes associadas ao domnio da lngua escrita, so agora atribudas ao letramento digital. O letramento (digital ou no) pode ser usado como fator de excluso de certas funes, nunca como um passaporte que garante o acesso a certos empregos e/ou prticas sociais. Sua avaliao est correta. Voc se lembra do tempo em que a imprensa falava que precisvamos alfabetizar a populao para que as pessoas tivessem melhor raciocnio, melhor lugar na sociedade ou pudessem contribuir de fato para o desenvolvimento econmico do pas? A teoria j criticou e apresentou contra-argumentos para todos esse mitos. Agora a mdia, em geral, fala as mesmas coisas, s que em vez de alfabetizao e letramento, o tema agora o domnio da tecnologia digital. falso acreditar que o jovem da escola pblica no tem nenhum acesso internet ou a computadores. Muitos usam computadores de amigos e vizinhos (assim como fazamos com a televiso) ou acessam essa tecnologia nas lan houses ou em centros comunitrios espalhados pela periferia urbana. Alm disso, h projetos para fornecer computadores mais baratos para as escolas e possvel prever que tanto as mquinas quanto a internet se tornaro mais baratos no futuro. Voc tem dvida disso? Lembra quando os telefones celulares eram s para pessoas que tinham muito dinheiro? Tem razo. assustador como tal tecnologia evoluiu e se torna mais barata a cada dia. H 25 anos atrs, ter um computador pessoal era um sonho de consumo. Hoje, em alguns contextos como o universitrio os laptops e os palms substituem livros para consulta e cadernos de anotaes. O acesso amplo tecnologia sempre uma questo de tempo. O governo brasileiro tem investido na instalao de redes de comunicao, que a infraestrutura necessria para ampliar o acesso Internet. Em termos de acesso informao, acaba sendo muito mais barato usar os recursos da internet do que s contar com materiais impressos. Voc pensaria em dar aula hoje sem usar a escrita? Pois , saiba que nem sempre foi assim. Os gregos na Antiguidade, por exemplo, discutiam se a leitura de textos escritos poderia ser uma fonte de aprendizado. Para Scrates para quem o ensino era centrado na conversa entre discpulos e o mestre -, depender da escrita iria prejudicar a memria (pois os textos eram memorizados) e ler o texto na ausncia do seu autor s iria favorecer interpretaes erradas. Os temores que vemos explicitados hoje por alguns professores em relao aos malefcios do computador so semelhantes dvida que Scrates tinha sobre o uso do texto escrito em processos educativos. A questo da memorizao, salientada em algumas comunidades orais, importante se a circulao de registro escrito na comunidade for precria, ou o custo da reproduo escrita muito caro e difcil (como acontecia na poca dos manuscritos em rolos e no cdex).

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________________________________________________________________________________________ Voc j parou para pensar que o formato do livro que usamos atualmente o produto de uma tecnologia que foi desenvolvida e aprimorada ao longo de muitos sculos? 10 Assista ao vdeo abaixo, tendo em mente este questionamento que foi apresentado. Reflita agora sobre a referncia irnica que o texto faz s demais qualidades hoje atribudas aos recursos 11 oferecidos pelas TICs . ________________________________________________________________________________________

Mos Obra

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Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=aH9Pe5yUJJE&feature=player_embedded#at=84, acesso em 14/02/2011. Tecnologias de Informao e Comunicao

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________________________________________________________________________________________ A tecnologia criada para atender ou facilitar as necessidades que temos que enfrentar em nosso cotidiano. fato tambm que, uma vez criada, se o acesso a esses recursos ampliado na sociedade, ela muda a natureza do cotidiano. Uma das questes que refletimos no nosso Ponto de Partida foi sobre a relao entre 12 escrita e prticas educativas. Nessa reflexo inicial, mencionamos as colocaes de Scrates sobre a 13 14 escrita. Para o filsofo , a escrita era um problema para a educao e no uma fonte de apoio. Isso parece estranho na realidade de hoje, na qual o texto escrito uma ferramenta fundamental para nossas prticas de ensino. Na realidade, a escrita to "natural" que, muitas vezes, at no nos damos conta de que o texto escrito - impresso ou no - um produto da tecnologia. Se voltarmos na Histria, fcil entender os temores de Scrates e ver como eles encontram paralelos nos 15 dias atuais. Na poca desse filsofo, os gregos j tinham desenvolvido a escrita, mas a produo de textos 16 17 escritos era relativamente pequena, dada a dificuldade e custo do papiro e de pergaminhos e a consulta desses textos tambm era complicada. Os rolos eram tiras enormes de papis (papiros e pergaminhos) e, medida em que uma mo desenrolava uma parte, a outra tinha que enrolar a parte oposta. No dava para ler e tomar notas, como fazemos hoje. Logo, era mas simples e eficiente "decorar" os textos.

Colocando os conhecimentos em jogo 1

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http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/vidadesocrates.htm http://www.cfh.ufsc.br/%7Ewfil/textos.htm https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/Fedro-1.doc.pdf http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u6.jhtm http://www.discoverybrasil.com/egito/alfabetizacao/papiro/index.shtml Nome dado a uma pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, que era preparada para servir de suporte da escrita.

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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ A popularizao da escrita, que ocorreu com a produo de texto em massa, propiciada tanto pela 18 tecnologia da imprensa quanto da de produo de papel, permitiu que dispensssemos a prtica de decorar textos. Hoje usamos nossa memria de uma forma eficiente, que envolve processos complexos de consulta a diferentes textos escritos. Nesse processo de construo de conhecimento, usamos tambm notas manuscritas ou digitalizadas como estratgias de estudo. A naturalizao da escrita nas prticas educativas nos leva a estranhar as crticas feitas por Scrates. No entanto, no estranhamos tanto quando as pessoas acreditam que o uso de mquinas calculadoras fez com que as pessoas mais jovens perdessem a capacidade de fazer "contas de cabea". Como a mquina realiza operaes numricas de forma gil e confivel, certos tipos de conhecimento, que antes precisavam ser memorizados, hoje so realizados de outra forma. Isso permite que, em princpio, nossos recursos de memria sejam explorados para operaes mais complexas. possvel que, no futuro, lendo sobre as crticas feitas hoje s calculadoras, as pessoas sintam o mesmo estranhamento que sentimos ao ler as colocaes feitas por Scrates ao texto escrito. E, no entanto, sem o registro escrito, hoje no teramos condies de ter acesso e refletir sobre as colocaes de Scrates feitas em um perodo to distante na Histria. Trazendo esse problema para uma realidade mais atual, hoje muitas pessoas avaliam os recursos oferecidos pelo computador e pela Internet com a mesma preocupao e suspeita que os gregos clssicos tinham sobre o texto escrito. Cabe avaliarmos essa questo entendendo de forma mais esclarecida as possibilidades e os limites que a tecnologia digital traz para as prticas comunicativas que fazem parte do nosso cotidiano atual. ________________________________________________________________________________________

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http://veja.abril.com.br/historia/descobrimento/imprensa-gutemberg-revolucao-cultural.shtml

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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ A construo da cultura depende da comunicao e a fala e a linguagem gestual so as formas mais naturais de comunicao, j que sua produo e recepo, em condies normais, no dependem de recursos externos ao nosso organismo. Mas, medida que os conhecimentos e valores culturais foram se ampliando ao longo da histria das diferentes comunidades, os indivduos passaram a sentir a necessidade de formas alternativas de usar a linguagem e de ampliar seu potencial de trocas comunicativas. Para isso, comearam a criar recursos materiais que permitissem o registro de informaes ou mensagens (nas paredes das cavernas, nas placas de pedra, barro ou madeira, em pedaos de couro de animais ou, posteriormente, na manipulao de fibras de plantas usadas para fabricar os papiros). Gradativamente, foram tambm criando novas convenes de linguagem que permitiam a troca de mensagens, mesmo se as pessoas estivessem distantes. Sinais de fumaa, o som de batidas em rvores e tambores e o som de cornos de animais usados como trompetas foram, possivelmente, as formas mais primitivas de comunicao a distncia criadas pelos seres humanos.

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________________________________________________________________________________________ Os estudos histricos indicam que as primeiras expresses escritas e figurativas, como as registradas nas pinturas rupestres, tinham inicialmente uma funo mstica. Mas, gradativamente, elas no s migraram para outros tipos de suporte textuais - como as placas de pedra ou argila - como tambm passaram a cumprir funes mais cotidianas, registrando, para consulta posterior, informaes sobre as mais diversas atividades culturais e transaes comerciais. Esse processo, mesmo em sua fase primitiva, foi fruto de tecnologia, j que o ser humano teve que "criar" ferramentas apropriadas para o registro das informaes e escolher ou criar meios de suporte textual que permitissem tal registro. Isso veio com novas convenes de linguagem, j que havia uma distncia muito grande entre a quantidade de informao que poderia ser comunicada pela fala em interaes face a face e o que poderia ser registrado nos limites impostos pelos suportes textuais primitivos. Gradativamente, as comunidades foram sentindo necessidade de tipos de suporte que fossem suficientemente prticos para facilitar o registro, o transporte e o armazenamento da informao escrita. A criao do papiro veio solucionar alguns desses problemas. Posteriormente, o uso do papiro em rolos viabilizou o registro de textos mais longos e mais complexos. No entanto, a consulta nos rolos de papiro ainda era muito complicada. Isso motivou alternativas mais 19 prticas como o cdex , criado por volta do sculo II a.C. e construdo por folhas de pergaminho produzidas a partir do couro de animal. No cdex, folhas manuscritas eram posteriormente encadernadas para preservao. Nesse tipo de suporte, consultas a partes especficas do texto poderiam ser realizadas de uma forma mais gil, como hoje ocorre com nossas consultas a livros impressos ou cadernos manuscritos. Toda essa tecnologia de suporte j estava bem desenvolvida quando foi criada a imprensa. __________________________________________________________________

Colocando os conhecimentos em jogo 4

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https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/Codex_Sinaiticus.jpg

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Finalizando...

________________________________________________________________________________________ Neste tpico, refletimos de forma geral sobre o uso de tecnologia em prticas comunicativas. Comumente, quando se fala em tecnologia e comunicao, logo nos vm mente os diferentes recursos oferecidos pelas TICs. Por estarmos to familiarizados hoje com a escrita, comum no lembrarmos que ela tambm produto de uma tecnologia que se desenvolveu ao longo de milhares de anos. Refletir sobre o passado pode nos ajudar a pensar o presente. Historicamente, o desenvolvimento da tecnologia envolveu a escolha e criao de meios adequados para o registro do texto (tecnologia de suporte textual) e tambm instrumentos que permitiram realizar tais registros. Essa nova tecnologia foi gradativamente sendo aprimorada, de modo a facilitar a consulta e o transporte de material escrito. 20 Basta compararmos os cdex antigos , extremamente pesados, com os livros de bolso que temos hoje. Como era de se esperar, esses avanos na tecnologia de suporte, assim como o custo da reproduo de material escrito, tambm afetaram as situaes e condies de leitura de texto. Assim, os livros acabaram saindo dos sacrrios e bibliotecas para nossas casas e foram incorporados tambm em nossas atividades de lazer. Alm dessas mudanas na tecnologia de suporte, a popularizao do uso da escrita tambm se deve s mudanas que ocorreram nas normas lingusticas, as quais foram adequando de forma cada vez mais eficiente a linguagem s possibilidades e limites dos novos suportes textuais.

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https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/Codex_Gigas_facsimile.jpg

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Tpicos: Tpico 2 - As TICs e o processo de remidiao

Ponto de partida ________________________________________________________________________________________ A Internet uma fonte de diferentes opinies e posies e por isso precisa ser explorada de forma crtica. O 21 vdeo abaixo foi produzido plela empresa portuguesa Excentric e mostra uma mensagem natalina que chama a ateno do internauta para o fato de que os tempos mudam (as formas de comunicao tambm), mas os sentimentos permanecem. Algumas pessoas questionaram, na prpria Internet, essa mensagem, considerando-a pouco respeitosa (veja os comentrio sobre o vdeo no YouTube). Outras ressaltaram a criatividade dos autores, que mostram os diferentes recursos que as TICs oferecem para comunicao fcil e gil. interessante vermos esse material para refletirmos sobre os conflitos de vozes sociais que aparecem na Internet. 22 Voc conseguiu identificar algumas das TICs presentes no vdeo ? H alguma que voc no conhece? D 23 uma olhada neste arquivo e confira a lista de recursos usados e conhea um pouco mais sobre eles. __________________________________________________________________

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http://www.excentric.pt/#/home/ Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=tgtnNc1Zplc&feature=player_embedded, acesso em 14/02/2011. https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/recursosnatividadedigital.pdf

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Mos obra __________________________________________________________________O vdeo que segue projeta problemas que poderiam ser enfrentados por leitores acostumados a consultar rolos (ou telas de computadores), ao se depararem com o cdex. O que na atualidade parece trivial e mesmo engraado para comunidades letradas, pode ter sido fonte de problemas para seus primeiros usurios. Coloque as suas reflexes sobre esse tema no Dirio de Bordo disponvel no TelEduc para podermos ponderar o quanto a tecnologia da escrita j mudou, mesmo no tempo curto de nossas vidas. 24

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Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=jo3rl2kxB4g&feature=player_embedded, acesso em 14/02/2011.

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Colocando os conhecimentos em jogo 1 __________________________________________________________________Como vimos no tpico anterior, a tecnologia da imprensa ampliou e popularizou o acesso ao material escrito. No entanto, isso no resolveu o problema de comunicao a distncia que as novas organizaes sociais passaram a sentir necessidade. Esses problemas, aliados s possibilidades propiciadas pelas novas descobertas, como a eletricidade, foram o cerne do que hoje chamamos TICs, ou seja, Tecnologias de Informao e Comunicao. Passamos por meios que permitiam acesso imediato a 25 mensagens curtas, como os telgrafos , a formas que possibilitavam a transmisso e recuperao de udio, como o 26 rdio , ou que abriram canais para a comunicao a distncia, como o telefone. O registro de imagens tambm passou por mudanas significativas: em preto e branco, fotografia a cores, imagens em movimento exploradas pelo cinema, vdeo e programas da televiso. Surgiram as mquinas fotocopiadoras - substituindo os antigos mimegrafos - e aparelhos de fax facilitaram a reproduo e envio de textos a pontos remotos. A tecnologia digital permitiu que essas diferentes formas e possibilidades de construo de sentidos pudessem ser acessadas em uma nica mquina: o computador. Com a Internet, na fase conhecida como Web 2.0, foi viabilizada a comunicao em tempo real ou quase real, que central para a construo das redes sociais virtuais. Esses diferentes recursos de acesso informao e trocas interativas, antes dependentes de um computador fixo ligado Internet, hoje tornaram-se mveis: aparelhos celulares, palms e laptops, por exemplo, fazem parte da tecnologia que nos permite estar conectados nessa era em que a cultura torna-se simultaneamente local e global.

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http://www.batlab.ufms.br/%7Erubens/TEL%C3%89GRAFO, A REVOLU%C3%87%C3%83O NA MAREIRA DE SE COMUNICAR.htm http://blogdajully.wordpress.com/2008/03/03/linha-do-tempo-inovacoes-tecnologicas-radio-1900-a-1950-internet-1951-a-2005-e- nokia-morph-de-2010-em-diante/

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Colocando os conhecimentos em jogo 2 __________________________________________________________________Nos anos 1980, durante uma iniciativa educacional realizada em uma comunidade isolada no Nordeste brasileiro, os professores envolvidos ficaram espantados ao constatar que as crianas pequenas no conseguiam identificar que o animal representado em uma fotografia era um jegue, um tipo de animal muito comum na regio. Na realidade, em centros urbanos, estamos to imersos em representaes grficas que esquecemos que o jegue em uma fotografia no passa de uma representao do animal real: a foto bidimensional e no tem nem o tamanho nem o cheiro do animal, o que dificulta o reconhecimento do animal pelas crianas. Transferindo essa comparao para o texto escrito, como professores de Lngua Portuguesa, nem sempre temos clareza sobre o quanto a forma que falamos difere das normas esperadas em um texto escrito. Isso fica mais claro quando analisamos textos transcritos. 27 D uma olhada no texto abaixo. Essa a transcrio de um trecho de uma aula de histria e foi feita mantendo as marcas de oralidade, tais como pausas, repeties e oraes inacabadas: "o que uma revoluo... uma revoluo significa o qu? uma mudana... de classe... em assumindo o poder... voc v por exemplo... a Revoluo Francesa... o que ela significa? ns vimos... voc tem uma classe que sobe... e outra classe que desce... no isso? A burguesia cresceu... ela ti / a burguesia possua... o poder... econmica... mas ela no tem prestgio social... nem poder poltico... ento... atravs do poder econmico dessa burguesia... que controlava o comrcio... que tinha nas mos... a economia da Frana... tava nas mos da classe burguesa... que crescera... desde o sculo XV... com a Revoluo Comercial... ns temos o crescimento da burguesia... essa burguesia quer... quer...o poder... ela quer o poder poltico...e o prestgio social... ela quer entrar em Versalhes... ento ns vamos ver que atravs... de uma revoluo... ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso uma revoluo porque significa a ascenso de uma classe e a queda da outra... mas qual a classe que cai? a aristocracia... tanto que... o Rei teve a cabea cortada... no isso? Caiu... o poder das classe privilegiadas e uma nova classe subiu ao poder... voc diz... por exemplo... que a Revoluo RUSSA de dezessete... uma verdadeira revoluo... por qu? Porque significa... a ascenso duma nova classe... que tem o poder... ou melhor... que assume o poder... o proletariado... e a queda... das outras classes... no isso? O poder decisrio... o poder de dirigir... vai caber a essa classe que emerge...e as outras classe decrescem... PERdem o poder... a mudana do poder... uma classe que sobe e a outra que cai... isso que o que mostra... o que uma revoluo".

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O trecho foi extrado do banco de dados do Projeto de Norma Urbana Culta (NURC).

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Colocando os conhecimentos em jogo 3 __________________________________________________________________Embora a transcrio mostrada na pgina anterior consiga capturar muitas das caractersticas da oralidade, ela nunca ser como uma interao face a face, pois nesse tipo de interao temos elementos como a entonao e os gestos que complementam e que contribuem para a construo de sentido do que est sendo falado. Sem esses elementos, a informao verbal que se encontra transcrita acima parece catica. Abaixo, encontra-se uma possvel verso escrita da aula de Histria sobre a Revoluo Francesa: "Revoluo significa mudana de classe no poder. No caso especfico da Revoluo Francesa, a classe que tomou o poder foi a burguesia, que desde o sculo XV possua o poderia econmico francs, mas no o poltico, e tampouco o prestgio social. De forma bastante violenta, atravs de uma revoluo, a burguesia conseguiu tomar o poder. Para isso foi preciso depor e decapitar o rei, smbolo das classes at ento privilegiadas. A essncia de uma revoluo est na mudana da classe que detm o poder. O desejo de tal mudana, para citar mais um exemplo, tambm foi o estopim da Revoluo Russa, em 1917, quando o poder passou para as mos do proletariado. Sempre, numa revoluo, uma classe toma, de forma violenta, o poder que antes era ocupado por outra". Voc notou como as pausas - indicadas pelas reticncias - e as hesitaes desapareceram, a repetio diminuiu, assim como a forma que as idias foram apresentadas foi mais elaborada? E se tivssemos que transformar essa ltima verso do texto em um hipertexto, de que forma ele ficaria? Aqui temos uma possibilidade. 28 Revoluo significa mudana de classe no poder. No 29 30 sculo XV , na Frana, a burguesia tinha o poder econmico, mas no o poltico ou o privilgio social. Com a Revoluo Francesa, o rei - smbolo das classes privilegiadas - foi deposto e decapitado. Outro exemplo 31 de revoluo foi a Revoluo Russa , em 1917. Resumindo, numa revoluo, uma classe toma, de forma violenta, o poder que antes era ocupado por outra.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XV http://mais.uol.com.br/view/m0yiwic42nfl/a-revolucao-burguesa-e-suas-interpretacoes-o-fim-de-um-long- 04021C3772D8890346?types=A& http://www.youtube.com/watch?v=NpMVZ1khv7A

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Colocando os conhecimentos em jogo 5

__________________________________________________________________No comeo, o registro escrito no tinha a forma to distinta da transcrio de fala. Textos antigos, muitas vezes, eram "ditados" para escribas e sua recepo pressupunha a leitura em voz alta. Historicamente, a escrita foi gradativamente se afastando do padro da linguagem oral e criando novos padres que facilitassem modos de recepo visual. Por isso, o texto escrito hoje difere significativamente da transcrio de um texto oral, como vimos no exemplo dado no "Colocando os conhecimentos em jogo 2" deste tpico. 32 O texto em anexo ilustra um documento formal que concede direitos a um escritor cego. Lendo o texto possvel perceber que ele foi construdo de forma ditada. Isso fica evidente por algumas marcas de referncia que so comuns na oralidade (em que o falante pode apontar ou contar com o conhecimento compartilhado do contexto) e tambm por expanses de tpico por associao de idias, que so mais tpicas de construes textuais orais.

33 As consideraes feitas por Illich (1997) sobre a histria do texto nos ajudam a entender esse processo. Refletir sobre o que j aconteceu com a mediao da tecnologia escrita pode nos auxiliar a estar mais receptivos s mudanas que esto ocorrendo nessa passagem da escrita para a comunicao digital. ______________________________________________________________________________________

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https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/cartaBaltazarDias.pdf https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/A_HISTORIA_DO_TEXTO1.pdf

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Colocando os conhecimentos em jogo 4

__________________________________________________________________A comunicao depende de convenes de sentindo atreladas a signos especficos. Esse progresso de 34 construo e produo de significados denominado na literatura de semiose . A comunicao tambm ocorre em meios especficos. As interaes face a face, por exemplo, compem sentidos explorando linguagem verbal e linguagem gestual. Portanto, o meio, neste caso, o nosso prprio 35 corpo, com seus recursos de som (aparelho fonador ) e gestos. Cada meio privilegia uma linguagem, sendo exemplos de outros meios o impresso, o rdio, a televiso, o telefone e o computador. Chamamos linguagens porque as convenes de sentidos so especficas de cada recurso expressivo explorado pelo meio/linguagem e variam de cultura para cultura. Por exemplo, no Brasil, se as coisas esto acontecendo de acordo com o previsto, fazemos um sinal de positivo. J a cultura americana para expressar o mesmo sentido, usa o sinal de OK, que at recentemente era interpretado como um gesto ofensivo no Brasil. O impacto da cultura americana na brasileira, atravs da mdia flmica e televisiva diminuram a conotao ofensiva que esse sinal causava nos anos 1960 se usado no Brasil. Ou seja, essas convenes mudam de um grupo cultural para outro. Mudam historicamente e tambm mudam o seu sentido na passagem de uma mediao (mdia) para outra. O exemplo dos "smiles" ilustra bem a questo. Na mdia digital, em contextos de uso como e-mails e chats, essa representao grfica passou a ser usada com uma funo que no existia antes: ela registra, em interaes informais escritas, que a pessoa est, por exemplo, brincando ou sendo irnica. Tal funo tambm representada por formas escritas que buscam mostrar, de modo mais onomatopaico, o som de risos ("hehehe" ou "rsrsrs" ou "kkkk").

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Semiose http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u42.jhtm

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Atividade Autocorrigvel 1 __________________________________________________________________Com base nos exemplos dados, decida se as afirmaes abaixo so verdadeiras ou falsas. Em seguida, pouse o cursor em suas escolhas, para ler os comentrios. (1) O texto oral fragmentado, pouco claro e desconexo. Por isso, precisamos da escrita para ter maior clareza. Verdadeiro36 Falso37 (2) Grias, informalidade, falta de cuidado com a norma culta da lngua so marcas de oralidade no texto escrito. Verdadeiro38 Falso39 (3) Materiais impressos facilitam o estudo e a construo do conhecimento mais que os textos da Internet. Verdadeiro40 Falso41

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Incorreto: a fala pode ser to clara e coerente como textos escritos. Na transcrio, perdemos o registro da entoao e dos gestos que compem o sentido do texto oral. Por isso, fica s vezes difcil a compreenso. Alm disso, a fala no editada, mas isso atrapalha o leitor e no ouvinte. Textos escritos lidos em voz alta so difceis de processar. Correto: o texto oral perfeitamente adequado para interaes face a face. Alm de contar com o auxlio da prosdia e do gestos, as repeties auxiliam o ouvinte a construir o sentido e o que parece fragmentado na transcrio (que registra o processo de reflexo do falante) passa despercebido quando ouvimos o texto oral. Isso s fica evidente na transcrio da fala. Incorreto: essas marcas esto relacionadas ao gnero e adequao situao de uso e no s questes de modalidade lingustica (modalidade oral ou escrita). H textos escritos informais e formais, assim como h situaes de fala que variam em grau de formalidade. Correto: textos escritos como textos orais podem ser mais formais ou informais dependendo do gnero que adequado situao de uso. Um bom exemplo o internets. As pessoas cultas que estranham abreviaes como vc esquecem que, em situaes informais, falam enunciados do tipo que que c qu? Incorreto: novas modalidades lingusticas no excluem as anteriores. Na poca de Scrates, o ensino era s atravs das trocas orais. Hoje, nossos alunos j so escolarizados atravs da oralidade e da escrita. Agora e cada vez mais no futuro, oralidade e escrita iro se mesclar com textos digitais, j que a Internet tambm um grande repositrio de informaes. Mas para atividades de ensino, o professor precisa saber selecionar e ensinar o aluno a consultar a Internet de forma crtica. Correto: os letramentos digitais ampliam nossas formas de construo de sentido. Na Internet, temos a possibilidade de acesso a um volume enorme de informaes, a facilidade de consulta propiciada pelos links e a vantagem de explorarmos outras formas de linguagem junto com a escrita: arquivos de imagem, voz, vdeos e animaes, por exemplo.

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Finalizando __________________________________________________________________Como discutido neste tpico, a histria da comunicao mediada por tecnologia (escrita, rdio, telefone, televiso, computador e Internet) sempre demanda um processo de remidiao - passagem do sentido textual de um meio para outro. Para facilitar a comunicao, cada meio exige que o texto seja adequado s normas que se tornaram convencionais nas suas prticas de uso. Vimos nesse tpico que a mediao tecnolgica contribuiu para expandir, de diferentes formas, as nossas possibilidades de comunicao, seja criando alternativas para registro de textos - que permitiram a quebra dos limites temporais e espaciais que tipificam a comunicao face a face -, seja oferecendo os recursos de novas semioses. Embora a interpretao de determinados recursos expressivos seja padronizada e "naturalizada" em situaes prticas de usos, importante considerarmos, como professores, que o sentido desses padres sempre aprendido. Um bom exemplo disso o sentido que atribumos s fotografias. Na prtica concebemos as fotografias como representativas de uma "realidade", embora a relao de verossimilhana que lhe atribumos seja questionvel, como ilustrou o caso do reconhecimento da foto de um jegue por crianas pouco expostas a imagens impressas. A histria da comunicao mediada por tecnologia revela que a construo de textos para circular em determinados meios demanda ajustes significativos no nvel da linguagem, j que cada meio oferece recursos especficos e tambm coloca restries particulares para a comunicao. diferente falarmos por telefone e pelo skype, por exemplo. Dada a especificidade das linguagens para cada meio, a remidiao ou a passagem de um texto de um meio para outro (oral para escrita, escrita no papel para tela), envolve sempre um processo de retextualizao. Dominar as normas e entender as convenes de sentido que regem as diferentes semioses necessrio para sermos leitores e produtores crticos.

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Ampliando o conhecimento 1 __________________________________________________________________Aqui, voc ir encontrar sugestes de textos - como artigos e livros - tanto em formato digital quanto impresso, que complementam e expandem o contedo do Tema 1: BRAGA, D. B. A constituio hbrida da escrita na internet: a linguagem nas salas de bate-papo e na construo de hipertextos. Leitura: Teoria e Prtica, n 34 Campinas: ALB - Associao de Leitura do Brasil, Dezembro de 1999. Este texto contempla um momento inicial das reflexes sobre letramentos digitais. Apesar de defasado, o texto ilustra bem como diferentes modalidades lingusticas (oral, escrita e digital) se integram de forma complementar nas prticas de sala de aula. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. So Paulo:Unesp, 1997. Neste livro, Chartier nos mostra uma retrospectiva histrica da evoluo da tecnologia de suporte e seu impacto em prticas sociais. HAVELLOCK, E. Os gregos antes da escrita. In: _____. A revoluo da escrita na Grcia e suas implicaes culturais. So Paulo: Paz e Terra, 1994. O nono captulo deste livro apresenta uma srie de exemplos que sustentam a tese de que, embora a escrita j fosse conhecida pelos gregos, eles no a adotavam como prtica usual, nem mesmo para atividades acadmicas. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita. Atividades de retextualizao. So Paulo: Cortez, 2000. Conceitos como oralidade e escrita so discutidos nesta obra atravs de uma variada exemplificao que demonstra como, a partir de situaes cotidianas, ocorrem as alteraes quando os textos migram de uma modalidade para a outra. _____. O hipertexto como um novo espao de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino, Vol. 4, No. 1, 2001 (79-111). Disponvel neste link42. Neste artigo, Marcuschi reflete sobre o hipertexto como um novo espao da escrita. XAVIER, A. Letramento digital e ensino. Disponvel neste link43. Como as novas tecnologias afetam o processo de ensino/aprendizagem? Xavier ir refletir sobre as possveis mudanas que o desenvolvimento de tais tecnologias causaro no processo educacional.

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42 43

http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v4n1/f_marcuschi.pdf http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento digital e ensino.pdf

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Ampliando o conhecimento 2 __________________________________________________________________Algumas referncias mltimdia para quem deseja saber mais sobre a relao entre escrita e novas tecnologias: 44 A) Neste vdeo , o Prof. Dr. Marcelo Buzato ir comentar as dvidas que existem sobre conceitos como

"letramento digital". B) Um vdeo que exemplifica a evoluo de uma importante ferramenta de escrita - a caneta - pode ser visto 45 aqui. 46 C) "You've got mail" uma comdia romntica com os atores Meg Ryan e Tom Hanks que mostra como a 47 troca de emails pode mudar a vida de duas pessoas. O seu trailer pode ser visto aqui.

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44 45 46 47

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=0-Fc0i0x7oA&feature=player_embedded, acesso em 12/02/2011. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=7-fh-_IgDW0, acesso em 12/02/2011. http://www.epipoca.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1893 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=jCetfaS7GAo, acesso em 12/02/2011.

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Referncias Bibliogrficas __________________________________________________________________Referncias Bibliogrficas BRAGA, D.; RICARTE, I. Letramento e Tecnologia. Campinas: CEFIEL / Braslia: MEC, 2005. Disponvel em: 48 http://www.iel.unicamp.br/cefiel/imagens/cursos/19.pdf , acesso em 12/02/2011. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. So Paulo: Martins Fontes, 1994. OLSON, D. R.; TORRANCE, N. (Orgs.). Cultura escrita e oralidade. So Paulo: tica, 1997.

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48

http://www.iel.unicamp.br/cefiel/imagens/cursos/19.pdf

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Disciplina: Multiletramentos, Linguagens e Mdias Tema: 2. A linguagem nos/dos novos meios

Tpico 1 - Fundamentos da CMC

Ponto de Partida________________________________________________________________________________________ 49 Assista ao curtametragem "Meu computador, minha vida ", produzido por um aluno do Curso de Comunicao da Universidade Federal do Tocantins e disponibilizado no You Tube. Em seguida, reflita sobre os pontos indicados pelas perguntas 1, 2 e 3.

Perguntas: 1) Voc diria que o curtametragem "realista" ou apenas uma piada? 2) Acha que a mensagem implcita nele uma crtica ou um elogio comunicao mediada por computadores? 3) Se voc tivesse encontrado esse vdeo no YouTube e quisesse deixar um comentrio para o autor, o que escreveria? ________________________________________________________________________________________

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Fonte: http://www.youtube.com/v/5HzpLEFzJyU, acesso em 17/01/2011.

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Mos Obra __________________________________________________________________A comunicao mediada por computadores, ou CMC, uma modalidade de comunicao na qual as mensagens so produzidas, estocadas, enviadas e recebidas por meio de computadores vinculados a redes telemticas. Tais redes incluem todos os tipos de dispositivos digitais que utilizem microprocessadores e possam ser contectados entre si para transmitir dados, como, por exemplo, telefones celulares e tocadores de udio digital dos tipos mais recentes, que acessam a Internet por meio de redes sem-fio. A rigor a prpria WWW pode ser considerada uma forma de CMC, embora o termo costume 50 nos trazer mente outros programas e servios especficos da Internet tais como e-mail , mensagens 51 52 53 54 instantneas , SMS (torpedos), chat e blog . Uma das caractersticas mais importantes da CMC a velocidade com que ela continua evoluindo medida em que novos servios e novos formatos digitais vo sendo agregados aos j existentes. Alm disso, formas at ento distintas de CMC esto constantemente se reinventando ao se articularem umas s outras. Um 55 exemplo disso o famoso Twitter , do qual se fala muito hoje na TV e no rdio. Trata-se de uma rede social que funciona por meio de uma fuso entre blog e mensageiro instantneo. Quem esteve atento histria recente desse servio ter notado que ele foi incluindo novas funcionalidades, tais como a transmisso em vdeo, e que passou a ser incorporado por outras redes sociais e outros sites da Internet. O mesmo podemos dizer de vrios tipos de CMC hoje.

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50 51 52 53 54 55

http://pt.wikipedia.org/wiki/Email http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensageiro_instant%C3%A2neo http://pt.wikipedia.org/wiki/Servi%C3%A7o_de_mensagens_curtas http://pt.wikipedia.org/wiki/Chat http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog http://pt.wikipedia.org/wiki/Twitter

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Colocando os conhecimentos em jogo 1 __________________________________________________________________Existem muitas maneiras de classificar as ferramentas de CMC, todas elas de alguma forma limitadas e limitantes quando consideramos a capacidade que essas ferramentas apresentam de se transformarem e se integrarem umas s outras a todo momento. Uma dessas formas de classificao utiliza como critrio os cruzamentos possveis entre padres de interlocuo e tipos de temporalidade caractersticos das interaes. Os padres de interlocuo se referem no apenas ao nmero de interlocutores envolvidos, mas tambm direcionalidade das mensagens (ou seja, se todos podem emitir e receber mensagens, ou se alguns podem apenas receber enquanto outros apenas as emitem). Com relao s temporalidades, se os participantes que emitem e recebem mensagens o fazem simultaneamente (como em um telefonema), essa forma de CMC ser considerada sncrona. Caso exista um intervalo considervel de tempo entre a emisso e a recepo da mensagem, diremos que aquela forma de CMC assncrona. Veja no quadro abaixo como ficariam classificadas algumas das formas mais populares de CMC em uso hoje: Sncrona Um-para-um Um-para-muitos Muitos-paramuitos Chat do mensageiro instantneo (entre duas pessoas apenas) Transmisso ao vivo56 via Web (ou "streaming57") Chat coletivo Assncrona E-mail (entre duas pessoas apenas) Podcasts (veja como funciona58) Frum (veja um exemplo59)60

Todas as classificaes das ferramentas de CMC acabam se pautando em tipos ideais , pois, na prtica, quase sempre se pode dar um jeito de contornar o critrio supostamente definidor daquela ferramenta. Mesmo no que tange s modalidades semiticas e mdias envolvidas nas mensagens, essas classificaes tendem a ser difceis. Podemos pensar, por exemplo, que e-mail e chat so basicamente formas de CMC baseadas em texto. Porm, nada impede as pessoas de anexarem arquivos de udio e vdeo a seus emails, 61 ou de enviarem links para fotos ou msicas durante seus chats, alm de usarem emoticons , tornando as mensagens inegavelmente multimodais. Alm disso, os programas de CMC cada vez mais passam a integrar 62 diversos servios, como, por exemplo, nos sistemas de videoconferncia na web . O importante, para ns, ter em mente que a linguagem usada nas interaes via CMC varia e se especializa de forma sistemtica e que alguns desses critrios podem ajudar a entender como isso acontece.

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http://www.radios.com.br/novo/midia.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Streaming http://videos.hsw.uol.com.br/criar-podcast-2-video.htm http://br.answers.yahoo.com/dir/index;_ylt=AnUezCMFEFDX2RG6SDm3Er7V7At.;_ylv=3?sid=396545136&link=list "Tipo ideal" um termo cunhado pelo socilogo Max Weber e utilizado nas Cincias Humanas para descrever as caractersticas gerais de um fenmeno ou conjunto de elementos que, embora existam na realidade, no coincidem exatamente com a descrio analtica que se pode fazer deles. Um tipo ideal, portanto, no corresponde realidade, mas pode ajudar na sua compreenso, porque funciona como um guia que permite ao cientista racionalizar o estudo de um conjunto de casos, elementos ou fenmenos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Emoticons http://videos.hsw.uol.com.br/videoconferencia-1-video.htm

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Colocando os conhecimentos em jogo 2 __________________________________________________________________Nossos usos de linguagem sempre variam de acordo com as mediaes (tecnolgicas) que empregamos. Os linguistas chamam esse fenmeno de variao diamsica e costumam exemplific-lo comparando nossos 63 usos da lngua na fala e na escrita . Para nos aproximarmos de como essa variao se manifesta na CMC, podemos comear pensando no caso do telefone. Quando falamos ao telefone, seguimos certos rituais tais como dizer "al" e "quem fala?", antes de entrar no assunto da conversa, e dizer "ento est bom", em determinado momento da conversa, para sinalizar para o interlocutor que precisamos encerrar a ligao. Evitamos alguns tipos de palavras, tais como diticos espaciais, e passamos a levar em conta, de forma mais atenta, a entoao e o tom de voz que utilizamos. A depender da comunidade e da situao especfica em que se usam essas mediaes, a variao diamsica pode incluir o uso de cdigos especializados, que, aos demais, podem soar como extravagantes, hermticos ou mesmo ofensivos lngua tal como a concebem. Um exemplo de cdigo induzido por uma mediao 64 tecnolgica o alfabeto aeronutico , utilizado pelos os trabalhadores da aviao para soletrar. Esse exemplo interessante porque mostra que a variao diamsica muitas vezes induzida por alguma limitao da tecnologia empregada. Nesse caso, porque, como os interlocutores no podem ler lbios, nem fazer gestos ao falarem ao rdio ou telefone, letras com nomes parecidos, tais como "b" e "p"ou "s" e "f", tendem a ser confundidas, o que, no caso da aviao, pode gerar um acidente. O mais interessante que a soluo encontrada foi basicamente a mesma que utilizamos no dia-a-dia quando dizemos " b de bola, no p de pato": usa-se uma palavra iniciada pela letra para designar a letra. Como a aviao uma atividade institucionalizada e sujeita a forte regulamentao, esse recurso foi padronizado e imposto aos participantes dessa comunidade profissional. Mas, em outros casos, variaes e especializaes ligadas mediao tecnolgica podem surgir espontaneamente e no convergir para um padro rgido. De qualquer forma, o caso do alfabeto aeronutico ilustra um princpio fundamental que explica, em parte, porque a CMC como ela : maneiras especiais de utilizar a linguagem associadas a meios tecnolgicos especficos so respostas dadas por comunidades de usurios, mediante certas prticas comunicativas suas, s limitaes e s propiciaes dos meios utilizados. 65 Antes de prosseguir, assista a essa apresentao sobre o internets .

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Por exemplo, sabemos que a organizao textual da fala, normalmente, exibe maior freqncia de redundncias, repeties e elipses do que a da escrita, e que na escrita, normalmente, aparecem tens lexicais mais precisos e especficos do que na fala. https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/LP_D5_T2_I03.JPG http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/K3BMKNO2YW5O/

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Colocando os conhecimentos em jogo 3 __________________________________________________________________Convm notar que, com o tempo, usos especiais da linguagem relacionados a variaes diamsicas tornam- se saberes que identificam as comunidades onde surgiram. Como saberes de certos grupos frequentemente so contestados por outros grupos, existe a uma possibilidade de conflito e polmica. No caso do internets, so muitas as discusses em torno do seu status frente lngua escrita padro. Em muitos espaos de interao na Internet considerados "srios", exstem, inclusive, formas de represso ao 66 internets instituidas por especialistas em informtica. Contudo, o julgamento do senso comum sobre o internets, frequentemente preconceituoso e impreciso, no coincide necessariamente com o dos especialistas em estudos da linguagem, como voc pode conferir nessa matria jornalstica publicada 67 recentemente na Revista Lngua . Como todos esses debates comeam com pressupostos sobre o que a lngua e sobre qual o papel dos seus usurios e das tecnologias na sua mudana, talvez o debate sobre o internets estivesse melhor situado dentro da sala de aula de Lngua Portuguesa, sendo o tema abordado a partir, sobretudo, das experincias pessoais e concretas de alunos (e dos professores) com esse saber no oficial. Dificilmente, porm, se pode acessar, de dentro da escola, os espaos interativos em que o internets "a norma", mesmo quando existem bons equipamentos e conexes disponveis. Na maioria das vezes, esse acesso bloqueado em nome da segurana das redes de computador e das prprias crianas. Fica-se a perguntar, porm, como ensinar as crianas a protegerem a si e a seus computadores nesses espaos, se o professor, que poderia orient-los, no pode ter acesso a eles na escola, com seus alunos. De qualquer forma, no se pode avanar no debate sobre a CMC na escola sem que o professor tenha sua prpria posio sobre o assunto, uma posio formulada sobre bases realistas e bem informadas, sobre a qual possa contrapor-se ao preconceito lingustico. Veja o quanto voc conseguiu avanar rumo construo desses saberes sobre o internets fazendo a atividade autocorrigvel 2.

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http://blogs.forumpcs.com.br/paulo_couto/2005/06/10/eu-sei-escrever/ http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11061

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Atividade autocorrigvel 2 __________________________________________________________________Em qual dessas alternativas h apenas afirmaes corretas sobre a Comunicao Mediada por Computadores? (168) O modo como usamos a lngua em prticas comunicativas mediadas por tecnologias varia de acordo com o tipo de mediao tecnolgica empregada pelos interlocutores. Os fatores limitantes impostos pelo meio tecnolgico, assim como suas propriaes, so os nicos responsveis pelas alteraes e especializaes da linguagem que passam a existir nas comunidades em que essas prticas acontecem. O internets, por exemplo, usa muitas abreviaes porque falta espao na tela, e porque a digitao tem que ser rpida para que o ritmo da "conversa" seja mantido. (269) O internets a linguagem que se usa na internet exclusivamente para interaes sncronas, realizadas por escrito, em atividades comunicativas informais. Quando as interaes so assncronas (por exemplo, email, frum, torpedo) no h razo para algum usar o internets. (370) Como o internets ameaa a integridade da lngua portuguesa e torna o seu usurio menos capaz de entender e produzir textos no portugus escrito padro, importante que o professor conhea o internets, para poder explicar o que est errado nele e como o aluno pode se proteger. (471) Com a popularizao de mais e mais novos dispositivos digitais, que esto se tornando menores, mais fceis de operar, mais sofisticados e mais baratos, e em especial com os novos telefones celulares e os televisores digitais, todas as pessoas vo usar mais o internets e, com isso, ele vai se padronizar e se transformar em uma norma. (572) Nenhuma das anteriores totalmente correta.

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Alternativa errada. Comentrio: Se certo que as limitaes e propiciaes do meio tecnolgico esto diretamente ligadas variao diamsica, no verdade que esse seja o nico fator responsvel pelas especializaes que a linguagem passa a sofrer quando usada nesse meio. necessrio levar em conta, tambm, quais so os propsitos comunicativos envolvidos, e em que esfera de atividade discursiva - se profissional, do quotidiano, acadmica, etc. - essas interaes acontecem (como no caso do alfabeto aeronutico em comparao com estratgias do quotidiano do tipo "b de bola?"). Alternativa errada. Comentrio: Primeiramente, duvidoso afirmar que o internets seja uma linguagem, j que ele no seria capaz de comunicar o que comunica sem lanar mo do portugus oral e escrito, essa sim uma linguagem, com todos os recursos que uma linguagem tem que ter. O internets melhor definido como uma grafia especializada do portugus oral, como vimos. Em segundo lugar, embora o internets seja uma resposta dos usurios da internet para as situaes de interao sncronas, ele usado tambm em modos assncronos de CMC. Isso assim porque o internets no se limita a uma funo utilitria (comunicar agilmente, como na fala), mas tambm a funo de expressar o pertencimento cultural e a identidade pessoal dos seus usurios, sendo parte integrante do perfil estilstico de muitos gneros discursivos que circulam no meio digital. Alternativa incorreta.Antes de mais nada, o internets no ameaa a integridade da lngua portuguesa porque ele simplesmente uma forma de grafar o portugus oral, cujas regras morfosintticas e fonolgicas ele preserva. Da mesma forma como a taquigrafia ou mesmo as reformas ortogrficas oficiais pelas quais a lngua passa periodicamente no constituem ameaa lngua em si, o internets no altera a lngua. Assim sendo, no h nada de "errado" no internets em si. H algo de incompatvel , isto sim, entre o internets e certos tipos de produo textual dentro e fora da internet, assim como h incompatibilidades da ortografia oficial do portugus com certos gneros digitais. Alternativa incorreta. Como voc viu em "mos obra", uma das caractersticas mais importantes da CMC a velocidade com que ela continua evoluindo, medida em que novos servios, ferramentas e formatos vo sendo agregados aos j existentes, e medida em que formas at ento distintas de CMC se articulam, dando origem a novas formas. S isso j nos leva a duvidar seriamente de que uma estabilizao das variaes e especializaes de uso da linguagem na CMC esteja vista. Alm disso, ainda que as tecnologias digitais da comunicao e da informao j fossem to estveis quanto so a imprensa, o rdio e o telefone convencional, os modos de utilizar a linguagem continuariam a se diversificar por conta das diferenas entre os grupos sociais e prticas sociais envolvidos. Isso outra maneira de dizer que, tal como a lngua, as novas tecnologias tambm so heterogneas e tambm esto sujeitas a foras centrpetas (de centralizao e unificao) e centrfugas (de expanso e diversificao) simultaneamente. Finalmente, mesmo que isso fosse desejvel, seria muito difcil padronizar ou normatizar o internets porque no existe uma instituio por trs dele e porque formas de controle tais como a seleo editorial no esto disponveis em todos os contextos de produo textual em que o internets circula. Essa a alternativa correta porque todas as outras contm pelo menos uma afirmao incorreta sobre a CMC. Mesmo que voc tenha acertado "de primeira", vale a pena olhar os comentrios das demais alternativas para conferir se o que voc identificou de errado nelas coincide com o que os elaboradores dessa atividade autocorrigvel destacaram.

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Finalizando __________________________________________________________________Neste tpico, vimos que os modos de CMC podem ser classificados segundo padres de interlocuo e tipos de temporalidade e que, conforme variam esses critrios, usos especiais da linguagem vo sendo desenvolvidos pelos usurios da CMC em suas prticas quotidianas, resultando em formas lingsticas/semiticas que refletem a natureza da mediao tecnolgica. Esta, por sua vez, pode ser pensada em termos de restries e propiciaes especficas, as quais que influem diretamente no que pode ser dito e no como. Tomando o internets como um caso de destaque, pudemos perceber que, embora muitos leigos o vejam como um cdigo esdrxulo ou mesmo uma linguagem perniciosa em relao tanto lngua portuguesa, quanto formao do leitor/escritor do portugus, ele meramente uma grafia alternativa do portugus oral do quotidiano. Essas grafia, embora afronte as regras da ortografia oficial, no destituda de regularidades e pode mesmo trazer tona intuies lingusticas do falante que remetem a variedades antigas do portugus escrito. Vimos tambm que o internets to heterogneo como a prpria lngua portuguesa, e que possvel, inclusive, falarmos em "interneteses". Finalmente, compreendemos que todas as formas de CMC que conhecemos hoje so passageiras e esto sujeitas a mudanas muito rpidas, j que elas vo sendo integradas umas s outras em novos programas e servios, e j que os usurios, diversos entre si, esto incessantemente descobrindo novas propiciaes do meio e as aplicando a seus propsitos sociais e comunicativos especficos, em contextos especficos de uso. No prximo tpico, vamos expandir esses conceitos pensando no meio digital como um todo, a partir de trs de suas propriedades mais importantes: a hipertextualidade, a multimodalidade e a interatividade.

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Tpicos: Tpico 2 - Interatividade, hipertextualidade e multimodalidade

Ponto de partida

_______________________________________________________________________________________ Ao longo desta disciplina, temos nos referido ao computador (e, mais ainda, s redes telemticas) como um meio, o meio digital. Enquanto meio, o digital comparvel com outros meios ou mdias, tais como a televiso, o rdio e a imprensa. Longe, porm, de ser apenas uma mera extenso desses outros meios, o digital os remidiou , dando, com isso, apoio a mudanas qualitativas em nossa relao com os meios, com seus contedos e com os produtores desses contedos. Neste tpico, vamos tentar identificar algumas dessas mudanas qualitativas partindo de trs palavras- 73 chave: interatividade, hipertextualidade e multimodalidade. Para comear, assista ao vdeo "Web 2.0 - A 74 75 mquina somos ns" , uma traduo e adaptao, atribuda Escola do Futuro , do vdeo norteamericano 76 77 "The Machine is Us/ing Us ", de autoria de Michael Wesch , disponibilizado pelo autor na WWW. Voc notou que, no ttulo da verso original do vdeo, em ingls, h um jogo de palavras que resulta em "The machine is using us" (a mquina est nos usando). Agora que assistiu ao vdeo, voc atribuiria a essa frase um sentido positivo ou negativo? Em que sentido, na sua experincia pessoal, possvel dizer que o computador "usa voc"? ________________________________________________________________________________________

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http://www.youtube.com/v/NJsacDCsiPg&feature=related Fonte: http://www.youtube.com/v/NJsacDCsiPg, acesso em 03/02/2011. http://futuro.usp.br/portal/website.ef;jsessionid=7F91457A8DC90C01BB3C75D5644F9C1F http://www.youtube.com/watch?v=6gmP4nk0EOE http://ksuanth.weebly.com/wesch.html

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_______________________________________________________________________________________ Um dos conceitos que nos permite entender como o meio digital nos usa ao mesmo tempo em que ns o usamos o de interatividade. Mas, para isso, temos que nos afastar do significado que a palavra interatividade ganhou no senso comum, via publicidade, qual seja, o de um atributo que pode estar embutido em um aparelho digital (por exemplo, uma "lousa digital interativa") ou em contedo digital (por 78 exemplo, uma apostila interativa), e nos fixar no significado que lhe foi dado pelo filsofo Pierry Lvy , em 79 seu livro Cibercultura . Para Lvy, a interatividade "assinala muito mais um problema, a necessidade de um novo trabalho de observao, de concepo e avaliao dos modos de comunicao, do que uma caracterstica simples e unvoca atribuvel a um sistema especfico80 81 Tentando contribuir para o entendimento desse "problema", Andr Lemos definiu a interatividade como uma relao dialgica entre o homem e a tcnica e, em seu artigo Anjos Interativos e Retribalizao do 82 83 Mundo , de 1997, props a existncia de nveis de interatividade tpicos de cada meio e de cada poca. Podemos dizer que, quanto maior for o seu nvel de interatividade, mais um meio permitir a manifestao 84 de trs tendncias da comunicao social contempornea apontadas por Marco Silva , no artigo "O que 85 Interatividade ", de 1998: 86 participao-interveno 87 bidirecionalidade-hibridao 88 permutabilidade-potencialidade Para Marco Silva, as aes educacionais sero tanto mais interativas quanto mais se adequarem a essas tendncias, independentemente, inclusive, da presena de computadores no processo! Entretanto, essas caractersticas da comunicao contempornea encontram forte apoio em um outro fundamento do meio digital: a hipertextualidade. ________________________________________________________________________________________

Mos obra

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http://www.youtube.com/watch?v=Wk76VURNdgw http://books.google.com.br/books?id=7L29Np0d2YcC&printsec=frontcover&dq=Cibercultura&source=bl&ots=ggYwBHVvel&sig=GitYY a3avFmeedrpzzSpPghkp64&hl=pt- BR&ei=9_MMTeirCYa0lQewgbmwDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC4Q6AEwAQ#v=onepage&q&f=false LVY, P. Cibercultura. So Paulo: Ed. 34, 1999. P. 82. http://www.andrelemos.info/ http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interativo.pdf https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/grausdeinteratividade.jpg http://www.saladeaulainterativa.pro.br/index.html http://www.senac.br/informativo/bts/242/boltec242d.htm "O emissor pressupe a participao-interveno do receptor. Participar muito mais que responder sim ou no, muito mais que escolher uma opo dada. Participar modificar, interferir na mensagem." (SILVA, 1998, p. 7) "Comunicar pressupe recurso da emisso e recepo. A comunicao produo conjunta da emisso e da recepo. O emissor receptor em potencial e o receptor emissor em potencial. Os dois plos codificam e decodificam". (SILVA, 1998, p. 7) "O emissor disponibiliza a possibidade de mltiplas redes articulatrias. Ele no prope uma mensagem fechada, ao contrrio, oferece informao em redes de conexes permitindo ao receptor ampla liberdade de associao e significaes." (SILVA, 1998, p. 7)

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Colocando os conhecimentos em jogo 1 _______________________________________________________________________________________ O crtico literrio Grard Genette foi um dos primeiros acadmicos a utilizar o termo hipertextualidade, na sua obra Palimpsestes. Para ele, a palavra designaria toda relao que une um texto (texto B - hipertexto) a outro texto (texto A - hipotexto), de modo que o segundo passasse a ter, em relao ao primeiro, o valor de comentrio ou de 89 pardia. Com o desenvolvimento de protocolos de redes telemticas, tais como o HTTP, e de linguagens de marcao 90 de textos eletrnicos, tais como a HTML , passou a ser possvel estabelecer vnculos entre textos eletrnicos de forma automtica e praticamente instantnea, na tela do computadhiperor. A partir da, a palavra hipertextualidade passou a 91 ser utilizada mais frequentemente para designar aquilo que caracteriza a existncia de hipertexto(s) . 92 O filsofo e professor de literatura Theodore Nelson foi quem pela primeira vez utilizou o termo hipertexto para se 93 referir a um conjunto de relaes entre textos atualizveis via computador, no contexto do seu Projeto Xanadu . Nelson tinha em mente, poca, relaes estabelecidas entre textos literrios. Hoje, porm, podemos dizer que hipertexto designa um modo no-linear (ou multilinear) de apresentar e consultar documentos eletrnicos (ou hiperdocumentos) vinculados entre si por meio de hiperlinks (ligaes eletrnicas) de modo a que tais (hiper)documentos (ou partes 94 deles) passem a funcionar como ns de uma rede associativa, atualizvel por diferentes percursos de leitura . Como so mltiplas as possibilidades de seleo e sequenciamento de lexias nos percursos de leitura realizados no hipertexto, diz-se que ele borrou a linha de fronteira que dividia os papis de autor e de leitor no caso dos textos impressos. Isso porque, mais ainda do que no caso dos textos impressos, em que o formato fsico do texto induz um certo percurso de leitura, no hipertexto, o leitor acaba se envolvendo mais ativamente no estabelecimento do percurso 95 de leitura e, portanto, na construo do sentido ao longo das unidades (hiper)textuais percorridas em sua travessia . Na prtica, porm, toda travessia no hipertexto vai depender apenas em parte da vontade do leitor. Isto porque o 96 construtor dos hiperdocumentos utilizar diferentes tipos de links para implementar padres de navegao e de 97 estruturao das informaes que sugerem certos percursos e bloqueiam outros para o leitor. Tendo o leitor, entretanto, o conhecimento e os recursos tcnicos necessrios, ele poder, muitas vezes, burlar essas restries, usando caminhos alternativos. Em suma, existe uma relao direta entre hipertextualidade e interatividade no meio digital, mas, nem por isso, o leitor de hipertextos automaticamente mais livre ou o autor necessariamente mais impotente para controlar percursos e sentidos.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/HTTP http://pt.wikipedia.org/wiki/HTML Podemos falar em hipertexto, no singular, e hipertextos, no plural. No primeiro caso (singular), estamos nos referindo a uma entidade abstrata, que descreve uma forma de apresentao e concatenao de textos (eletrnicos). No segundo caso (plural), falamos de manifestaes concretas dessa entidade abstrata em algum contexto enunciativo, via tela de computador. Por exemplo, podemos dizer que, nesse momento, voc est lendo um dos diversos hipertextos (plural) que compem a disciplina "Multiletramentos, linguagens e mdias". Mas tambm poderamos dizer que o contedo da disciplina foi escrito em hipertexto (singular). http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/natal_digital_2005/p_048.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_Xanadu Esses percursos de leitura podem incluir no apenas textos verbais, como tambm outras modalidades semiticas e outras mdias. Podem tambm passar inclusive por diferentes servios acessveis via hiperdocumentos, tais como consultas a bancos de dados e a buscas na WWW. Chamamos de "travessia" a totalidade de um percurso de leitura realizado por um leitor de hipertexto em uma "sentada". Essa travessia pode, e geralmente assim o , levar o leitor a cruzar distintas fontes informativas, gneros discursivos, mdias (digitalizadas) e sistemas de representao. https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/imagemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_ midias/LP_D5_T2_I05.jpg https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_mi dias/PadroesHipertexto.gif

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Colocando os conhecimentos em jogo 2

_______________________________________________________________________________________ O terceiro dos conceitos chave que nos ajuda a compreender as particularidades dos textos no meio digital 98 o de multimodalidade. Em Semitica , a palavra modalidade se refere organizao abstrata e sistemtica das possibilidades de um conjunto de recursos materiais especficos para produzir significados nas prticas comunicativas de uma comunidade. Assim, tanto podemos pensar em modalidades como sendo diferentes canais de percepo e transmisso des mensagens, como tambm nos referimos 99 a modalidades enquanto sistemas de representao disponveis numa cultura, com suas respectivas gramticas e possibilidades expressivas. Multimodalidade, portanto, seria a integrao entre duas ou mais modalidades em um mesmo objeto textual para a expresso material de discursos. Mesmo sendo possvel, em teoria, falarmos sobre as modalidades isoladamente, na prtica muito difcil de sustentar a existncia de modalidades "puras", j que a prpria natureza do material especfico utilizado para comunicar em uma modalidade d oportunidade produo de significados em outras 100 modalidades . Alm disso, quando trabalhamos com os textos em suas situaes concretas de uso, vamos notar que os interlocutores normalmente lanam mo de combinaes de modalidades para produzir mensagens menos ambguas e mais contundentes. Por exemplo, ao falar com algum face a face, utilizamos 101 expresses faciais, gestos e posicionamentos corporais juntamente com nossos enunciados verbais . Assim tambm, quando escrevemos para algum, utilizamos a organizao visual da pgina para organizar nossas idias e conduzir, at onde possvel, o olhar de nosso interlocutor sobre o que escrevemos. Finalmente, quando observamos uma foto de jornal ou assistimos a uma reportagem de telejornal, tendemos a compreender o que est representado visualmente com a ajuda das palavras que precedem ou esto integradas com a imagem (manchetes, legendas, crditos etc.). Alm de dificilmente isolveis umas das outras nas prticas comunicativas reais, as modalidades tambm no so plenamente comensurveis entre si, isto , h significados possveis em cada uma delas que so 102 impossveis de reproduzir nas outras. Assim sendo, cada modalidade apresenta diferentes propiciaes que tornam a tarefa de produzir certos tipos de significado, e no outros, mais fcil ou mais difcil (veja um 103 exemplo ). por isso que, nas esferas de atividade discursiva em que significados mais precisos, mais complexos e mais sofisticados so valorizados (como na Cincia e na Arte), os textos que ali circulam tendem a ser assumidamente multimodais. A pergunta que se faz, ento, : como o leitor/espectador consegue lidar com essa complexidade? ________________________________________________________________________________________

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Disciplina que se ocupa do estudo dos signos e de sua organizao em diferentes sistemas de representao. Por exemplo, a fala, a escrita, a msica, os gestos, a simbologia das cores e assim por diante. Por exemplo, quando deixamos um recado por escrito ou uma mensagem na caixa postal de um telefone celular, ainda que usemos exatamente as mesmas palavras, na mesma lngua, estaremos utilizando modalidades semiticas distintas. Ocorre que, o tom, volume e timbre de nossa voz, no caso do recado, assim como a textura do papel e a aparncia de nossa caligrafia, no caso do bilhete, acabam participando do significado global da mensagem.

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Como voc viu na apresentao sobre o internets, essa dimenso visual da fala pode ser recuperada na CMC por meio de diferentes estratgias envolvendo os smbolos disponveis no teclado do computador. Retomando o que j foi explicado no Tpico 1 deste tema, "propiciao", ou seja, ao para tornar algo propcio, o termo que os autores que estudam novos letramentos tm utilizado para traduzir o conceito de "affordance", advindo da psicologia e da teoria do design. A palavra designa as possibilidades de ao ofertadas a algum por um objeto, material, ou artefato em um determinado ambiente. Fonte da imagem: http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/conteudo/aplicacoes/temperatura.htm. Acesso em 22/12/2010.

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Colocando os conhecimentos em jogo 3 _______________________________________________________________________________________ Para disciplinar, reduzindo ao que cognitivamente possvel para o ser humano, a enorme quantidade de significados 104 potenciais disponveis nos textos multimodais , cada cultura lana mo de determinadas convenes formais e interpretativas, que conferem aos textos multimodais uma certa previsibilidade. Outra forma de dizer o mesmo que conseguimos "navegar" de maneira produtiva por arranjos multimodais complexos porque nossa cultura monta esses arranjos por meio de gneros multimodais. Assim, quando lemos um jornal (texto + fotos), assistimos a um filme (imagens + fala + legendas + msica) ou jogamos videogame de aventura (imagem + fala + escrita + gestos + msica + movimentos corpreos), recorremos a certos padres que os autores/designers desses textos utilizam conscientemente e que ns reconhecemos, mesmo que inconscientemente, por fora da experincia adquirida em prticas sociais em que esses textos so utilizados competentemente. Os gneros multimodais estabelecem, portanto, funes especficas para os elementos oriundos de cada modalidade, os quais se coagenciam funcionalmente. Por exemplo, fotos jornalsticas vm sempre acompanhadas de legendas que estabelecem para o leitor o nvel timo de interpretao denotativa daquela imagem (ou seja, tm uma funo 105 referencial , que os semioticistas chamam de ancoragem). No cinema, a msica serve no apenas para dramatizar o contedo visual, mas tambm para indicar a quem assiste ao filme que duas ou mais cenas fazem parte de uma mesma sequncia ou subunidade composicional do filme (ou seja, a msica tem uma funo organizacional ligada coeso do filme). Num debate face-a-face entre vrias pessoas, a direo dos olhares estabelece e interrompe o contato entre os interlocutores e nos diz quem est sendo chamado a intervir ou reagir a cada fala (isto , o olhar tem uma funo ftica e conativa). No meio digital a multimodalidade alia-se hipertextualidade. A essa reunio damos o nome de hipermodalidade e 106 107 dizemos que, assim como a hipertextualidade est para o hipertexto, a hipermodalidade est para a hipermdia . A hipermdia, como o prefixo "hiper-" j diz, no "mais uma mdia", apenas. Ela pode vir a conter e combinar contedos 108 109 oriundos de quaisquer mdias, desde que devidamente digitalizados (veja como feito) . 110 Mas, j que todos esses contedos, oriundos de todas essas mdias, so traduzidos por uma linguagem de mquina que lhes comum, abrem-se a inmeras possibilidades de manipulao e sequenciamento desses contedos multi/hipermodais para a produo de textos que vo sendo incorporados em nossas prticas socioculturais quotidianamente. Aos poucos, essas possibilidades vo se estabilizando, mesmo que temporariamente, e nos permitindo dizer que tais textos pertencem a gneros digitais hipermodais.

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O conceito de texto, nesse caso, incide tanto sobre textos verbais escritos quanto sobre textos no sentido extensivo a outras semioses. Assim, textos multimodais podem pertencer a diferentes gneros e circular em mdias diferentes, ou seja, podem ser IMPRESSOS/QUIROGRFICOS (por exemplo, histrias em quadrinhos, reportagens de jornal e anncios publicitrios), ORAIS (tais como seminrios escolares, jograis ou um debates face-a-face), AUDIOVISUAIS (como por exemplo, novela televisiva, filme de aventura, videodocumentrio) e, finalmente, DIGITAIS (tais como blogs pessoais reflexivos, apresentaes de slides digitais ou formulrios de busca na web), ENTRE OUTROS. http://www.brasilescola.com/redacao/as-funcoes-linguagem.htm Conforme LEMKE, J. L. Travels in hypermodality. Visual Communication, 1(3): 299-325, 2002.

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O conceito de "hipermdia" muito prximo do de hipertexto, ou seja "um modo no-linear (ou multilinear) de apresentar e consultar documentos eletrnicos, NOS QUAIS DIVERSAS MDIAS (texto, udio, vdeo) ESTO INTEGRADAS POR MEIO DE SOFTWARE, vinculados entre si meio de hiperlinks (ligaes eletrnicas) de modo a que tais (hiper)documentos (ou partes deles) passem a funcionar como ns de uma rede associativa, atualizvel por diferentes percursos de leitura". Digitalizar alguma coisa o mesmo que convert-la em um conjunto de elementos discretos que podem ser representados de forma binria (ou seja, na forma dos nmeros 0 e 1, que representam "ligar" e "desligar") de modo que esse contedo (imagem, texto, vdeo, udio etc.) possa ser armazenado, tratado e transmitido via computador. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=R_PAONWmKpA&NR=1, acesso em 17/01/2011. http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_m%C3%A1quina

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_______________________________________________________________________________________ A primeira coisa que precisamos ter em mente quando falamos em gneros digitais enquanto "novos gneros" que os textos a eles pertencentes circulam por diversos espaos sociais em que esto disponveis aparelhos digitais e no apenas na WWW (veja o exemplo das "retrospectivas digitais"). Devemos tambm nos lembrar sempre de que esses gneros no se limitam ao espao da tela do computador: eles esto vinculados, por um lado, s escritas tcnicas e linguagens artificiais que fazem o computador funcionar ; por outro lado, a modos de fazer que vo alm do que ocorre entre o usurio e a tela. porque incorporam as atitudes perante o texto e contexto que encontram apoio na interatividade, na hipertextualidade e na multimodalidade. Nesse sentido, um gnero hipermodal (ou digital, de forma mais ampla) ser efetivamente "novo" se nele a hipermdia puder realmente promover diferenas qualitativamente significativas na relao dos leitores/produtores com os textos,os sistemas semiticos, as mdias, e as "formas de fazer as coisas" nos e com os textos. Essas diferenas qualitativamente significativas, por sua vez, esto relacionadas ao que poderamos chamar de uma "mentalidade digital", diferente da mentalidade sobre a qual a cultura letrada 111 vinha se apoiando at ento. Veja no quadro abaixo um sumrio dessas diferenas de mentalidade.

Colocando os conhecimentos em jogo 4

"Mentalidade Industrial" (fsico-material/analgica)

"Mentalidade ps-industrial" (no-material/digital)

O conhecimento especializado est localizado em pessoas e instituies

O conhecimento especializado est distribudo em fontes diversas interconectadas

O mundo tem centro e periferia; sua organizao hierrquica

O mundo plano e descentrado; sua organizao reticular

Ferramentas de produo

Ferramentas de mediao e de relacionamento

O indivduo a unidade de produo, competncia e inteligncia

Coletivos como unidades de produo, competncia e inteligncia

Espao e tempo encapsulados e segmentados para propsitos especficos

Espao e tempo so abertos, fluidos e contnuos

Ordem textual estvel; gneros e modalidades bem delimitados

Textos em transformao; gneros e modalidades em novas hibridizaes

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Adaptado de: KNOBEL, M.;LANKSHEAR, C. Sampling the new in new literacies. In: ______ (Org). A new literacies sampler. New York: Peter Lang, 2007. Pp. 1-24, nossa traduo.

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Finalizando

_______________________________________________________________________________________ Neste tpico vimos como trs propriedades fundamentais do meio digital, a interatividade, a hipertextualidade e a multimodalidade (hipermodalidade) esto postas em relao direta com novas atitudes perante o texto e linguagem, e novas maneiras de fazer as coisas no mbito da cultura digital. Vimos, inicialmente, que a interatividade se estabelece tanto na relao entre o homem e as mquinas (miditicas), como na relao entre os participantes e contedos de um evento ou uma prtica comunicativa, sendo, por isso mesmo, mais interessante pensarmos em graus de interatividade do que rotular mquinas ou situaes como inerentemente interativas. Relacionamos, em seguida, a interatividade com a hipertextualidade, procurando ressaltar as maneiras como o(s) hipertexto(s) borra(m) a linha de fronteira que dividia os papis de autor e de leitor no caso dos textos impressos, sem que isso signifique, necessariamente, que o leitor de hipertextos automaticamente mais livre, ou o autor necessariamente mais impotente para controlar percursos e sentidos da leitura. Finalmente, definimos multimodalidade como a integrao entre duas ou mais modalidades em um mesmo objeto textual para a expresso material de discursos, e vimos que o meio digital especialmente propcio produo e circulao de textos multimodais que, nesse caso, sero melhor descritos como hipermodais. No prximo tpico, vamos ver como esses princpios mais gerais do meio digital se manifestam concretamente nas situaes sociais mediadas por textos a partir do conceito de "gneros digitais", no sem, antes, tomar o cuidado de discernir ferramentas e servios de Internet de gneros (discursivos) digitais propriamente ditos. ________________________________________________________________________________________

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Tpicos: Tpico 3 - Gneros digitais

Ponto de Partida

_______________________________________________________________________________________ Se verdade que o meio digital chegou acompanhado de certas maneiras de pensar e de fazer, tambm certo que a insero de computadores no quotidiano de uma comunidade ou instituio no significa que 112 haver, automaticamente, a adoo dos modos de fazer e de pensar que so tpicos da cultura digital, 113 114 com sua linguagem . O vdeo abaixo, produzido por alunos de uma universidade mineira, tenta, de alguma forma, traduzir essa idia. Assista-o e reflita sobre a seguinte questo: voc concorda com a idia de que o problema de natureza metodolgica? Se no , de que natureza seria? Voc talvez tenha concludo que o problema est alm das metodologias, ou seja, est situado em um nvel mais amplo e abstrato, que o nvel da cultura. Em outras palavras, deve estar havendo, nesses casos, uma incompatibilidade entre a 115 116 cultura escolar e a cultura digital . Partindo do pressuposto de que os modos de fazer e de pensar prprios de uma cultura esto vinculados a gneros discursivos especficos, convm que busquemos entender as especificidades dos gneros digitais.__________________________________________________________________________________ ______

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O conceito de cultura bastante complexo e multifacetado, mas, para nosso propsito, suficiente pensarmos em cultura como a rede de significados compartilhados por um grupo social e que do um sentido particular ao mundo que o cerca, diferente daquele partilhado por outros grupos sociais em outros tempos e lugares. Recordando: a linguagem digital marcada fortemente pelos princpios da hipertextualidade, multimodalidade e interatividade. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=IJY-NIhdw_4&feature=player_embedded, acesso em 17/01/2011. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_escolar http://culturadigital.br/o-programa/conceito-de-cultura-digital/

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Mos obra

_______________________________________________________________________________________ Antes de falarmos sobre os gneros digitais propriamente ditos, precisamos e