lourival de oliveira santos - perse.com.br · boris fausto . 5 resumo ... 3 o processo de...
TRANSCRIPT
1
O GOLPE DE 64 E O REGIME MILITAR (1964-1985): O
governo dos generais
Lourival de Oliveira Santos
2
Santos, Lourival de Oliveira.
C681g O golpe de 64 e o regime militar (1694-1985) o
governo dos generais – Buriticupu, 2012.
60p
1. Regime militar. 2. Ditadura. 3. Atos institucionais.
CDU 981
3
AGRADECIMENTOS
Considerando esta pesquisa como produto de
uma caminhada que principiou no primeiro semestre de
2009, agradecer pode não ser tarefa fácil, nem justa. Para
não correr o risco da injustiça, agradecemos de antemão a
todos que de alguma forma passaram por nossas vidas e
contribuíram para a construção de quem somos hoje.
A Deus o criador do universo por nossa
existência.
Agradecemos, particularmente, a algumas
pessoas pela contribuição direta na construção deste
trabalho:
Ao professor Daniel Epifânio Miglio pela
discussão teórica nas disciplinas específicas do curso de
História que subsidiou novas reflexões e construções em
nossa prática pedagógica e pelas recorrentes "discussões"
que travávamos dentro e fora das salas de aula.
À professora Ana Cristina Gomes
Albuquerque, pela sensibilidade que a diferencia como
4
educadora e por sua disposição em ser nossa orientadora
na construção deste trabalho. Aos nossos familiares por
terem acreditado em nosso potencial e compreendido a
nossa ausência em alguns momentos importantes do
convívio familiar.
A verdadeira história existe na
medida em que a história não é
uma fantasia, ela é feita a partir de
fatos sociais. Mas ao mesmo
tempo tudo isso é objeto de uma
interpretação do historiador. A
história não apresenta uma verdade
absoluta.
Boris Fausto
5
RESUMO
O regime militar foi um grande causador de danos em
todos os aspectos sociais no Brasil, pois não poupou nem
mesmo cidadãos que lutavam apenas por melhorias para
suas comunidades. Na luta por estas reivindicações houve
a participação da juventude operária de orientação
socialista na época, além de estudantes que, muitas vezes
foram presos e torturados e outros pagaram com a vida por
orientarem e educarem as comunidades. Os governos
militares adotaram um movimento político de duplo
sentido: autoritário e capitalista. O presente trabalho
almeja refletir sobre a forma de atuação dos militares
brasileiros num dos períodos considerados mais sombrios
da história brasileira - a Ditadura Militar. Pretende
enfatizar também a aliança entre a classe dominante,
exército e governo norte americano. Faz uma análise a
respeito dos generais que foram eleitos presidentes por
força de decretos conhecidos como Atos Institucionais.
Pretende informar e conscientizar a sociedade brasileira, a
respeito das transformações que nosso país passou no
período de 1964 a 1985, além de esclarecer os fatores que
6
deflagraram o golpe de 64, dentre outros. Fundamentado
em ampla pesquisa bibliográfica e na análise crítica de
alguns documentos, buscou esclarecer o contexto histórico
em que se deu o Golpe de 64, e o Regime Militar.
Palavras-chave: Regime Militar. Ditadura. Atos
Institucionais. Golpe de 64.
7
Sumário
INTRODUÇÃO............................................................... 08
1 A INTERVENÇÃO DOS MILITARES AO LONGO DA HISTORIA
BRASILEIRA...........................................................................
13
1.1 As intenções conspiratórias e o governo de JK....................... 22
1.2 Posse e renúncia de Jânio Quadros........................................ 25
1.3 João Goulart e germinação do golpe...................................... 29
2 O GOLPE DE 64 E O REGIME MILITAR....................................... 34
2.1 O governo do General Castelo Branco (1964-1967)................ 39
2.2 O governo do General Costa e Silva (1967- 1969)................... 46
2.2.1 A Frente Ampla.......................................................................... 49
2.2.2 Grupos e organizações de esquerda............................................ 50
2.2.3 A articulação dos estudantes....................................................... 52
2.2.4 O ano que não acabou (1968 ).................................................. 53
2.3 O governo do General Médici.................................................. 58
2.4 O governo do General Ernesto Geisel (1974-1979)................ 64
2.5 O governo do general João Batista Figueiredo (1979-1985) 69
3 O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL 73
CONCLUSÃO........................................................................... 78
REFERÊNCIAS....................................................................... 81
8
INTRODUÇÃO
O regime militar foi um grande causador de
danos em todos os aspectos sociais no Brasil, pois por sua
atuação o país não se desenvolveu como deveria, pois até
mesmo em lugares remotos não foi poupado nem mesmo
cidadãos que lutavam apenas por melhorias para suas
comunidades.
Na luta por estas reivindicações houve a
participação da juventude operária de orientação socialista
na época, além de estudantes que ousavam ajudar as
pessoas da comunidade a se politizarem. Muitas vezes
esses cidadãos desconhecidos da história nacional foram
presos e torturados e outros pagaram com a vida por
orientarem e educarem as comunidades.
Os governos militares adotaram um
movimento político de duplo sentido: ao mesmo tempo em
que suprimiam as liberdades democráticas e instituíam
instrumentos jurídicos de caráter autoritário e repressivo,
levavam à prática os mecanismos de modernização do
9
Estado nacional, no sentido de acelerar o processo de
modernização do capitalismo brasileiro.
O presente trabalho almeja refletir sobre a
forma de atuação dos militares brasileiros num dos
períodos considerados mais sombrios da história brasileira
- a Ditadura Militar. Podemos definir a Ditadura Militar
como sendo o período da política brasileira em que os
militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a
1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão
de direitos constitucionais, censura perseguição política e
repressão aos que eram contra o regime.
Pretende enfatizar também a idéia de que a
classe dominante aliada ao exército sob a influência do
capital e governo norte americano, depôs o presidente
constitucional João Goulart, com o argumento de proteger
a sociedade capitalista do perigo comunista que estava
sendo disseminado e impregnado em nosso meio.
Faz uma análise a respeito dos generais que
foram eleitos presidentes por força de decretos conhecidos
como: Atos Institucionais, que desprezaram
completamente a Constituição do país, desde a tomada do
poder em 31 de março de 1964, suspendendo os direitos
10
individuais, políticos, fechando o Congresso Nacional, e
perseguindo todos aqueles que se opunham ao novo
regime ditatorial.
Além disso, tem como objetivo, informar e
conscientizar a sociedade brasileira, a respeito das
transformações que nosso país passou entre o período de
1964 a 1985, no qual os direitos civis dos brasileiros
foram ignorados, sendo que o próprio governo ditatorial
assumiu as funções da justiça. Também é nosso objetivo
esclarecer os fatores que deflagraram o golpe de 64,
analisarmos a reação do governo legal ao golpe militar, e
compreender que o movimento de redemocratização do
país foi possível após uma política de distensão lenta,
gradual e segura do regime ditatorial.
Desta forma, considerando-se a importância
desse período para a compreensão da História do país, nós
decidimos pelo tema: O Golpe de 64, e o Regime Militar
para o presente trabalho.
A partir de uma concepção dinâmica, este
trabalho toma por base as questões relativas à estruturação
da sociedade capitalista brasileira e suas relações internas
11
e externas, para analisar, sob a ótica dialética do
materialismo histórico, os fatores das contradições
ideológicas e os diversos aspectos dos movimentos
políticos subjacentes aos conflitos que culminaram com o
Golpe de 64, no Brasil.
Fundamentado em ampla pesquisa
bibliográfica e na análise crítica de alguns documentos,
buscou esclarecer o contexto histórico em que se deu o
Golpe de 64, e o Regime Militar, para que a veracidade
das informações chegasse a todos os interessados no tema,
através do uso de fontes capazes de evidenciar o
pensamento tecnocrático tal como ele foi formulado pelos
intelectuais do regime.
Esta pesquisa está dividida em três partes,
além da introdução e da conclusão: a primeira faz uma
retrospectiva histórica sobre a influência e a sucessiva
intervenção do Exército brasileiro nos conflitos internos
desde sua esplêndida vitoria na Guerra do Paraguai; a
segunda faz uma análise sobre as possíveis causas e
condições que levaram ao golpe de 64, e a instalação de
quase 21 anos de regime militar no Brasil, debatendo
assuntos que o circundam como, por exemplo, a suspensão
12
dos direitos individuais, políticos e a política econômica
dos governos ditatoriais; o terceiro e último capítulo
aborda sobre o processo de redemocratização do país, que
foi possível logo após as Diretas-já.
13
Capítulo 1 - A INTERVENÇÃO DOS MILITARES
AO LONGO DA HISTORIA BRASILEIRA
O golpe de 64, que instalou o regime militar
não pode ser compreendido se encarado como um fato
isolado, produto de circunstâncias históricas ou o
resultado de ações de um ou mais grupos. Muito antes da
Proclamação da República, ocorria a interferência ou a
participação dos militares em episódios onde as classes
dominantes sentiam a necessidade de reprimir
movimentos ou lutas populares. Essa realidade,
comprovada em inúmeros registros históricos, demostra
por outro ângulo, que o brasileiro não é o tipo
caracteristicamente cordial e submisso, como se
disseminou através dos anos.
Ainda no período monárquico, registraram-se
sucessivas revoltas populares em defesa da igualdade
nacional e contra a pressão política, as quais são provas de
que o brasileiro também é capaz de indignar-se.
Em 1824 eclodiu, em Pernambuco, a
Confederação do Equador, movimento liderado por Frei
14
Caneca, que acabou sendo executado; Em 1835,
desencadeou-se a Cabanagem, que foi reprimida com tal
violência que dizimou metade da população da então
Província do Pará; Em 1837, novo levante na Bahia,
chamado de Sabinada, foi também reprimido com
desmedida e sangrenta crueldade;
Em 1838, deflagrou-se no Maranhão, a
Balaiada, mais uma vez assustando as classes dominantes
e despertando impiedosa reação; Em 1842, em Minas
Gerais e São Paulo, a Revolta Liberal, que já tinha seus
líderes organizados em partido de elite, também foi
sufocada; Em 1848, deflagrava em Pernambuco a
Revolução Praieira, um movimento liberal que não resistiu
à repressão imperial. Veja o que Vita diz a respeito dos
conflitos sertanejos.
Entre os conflitos sociais no mundo
sertanejo que mais estranheza e horror
provocaram, assim como as reações mais
violentas, encontraram-se os movimentos
messiânicos. Quando o sertanejo lutou
por suas convicções religiosas (o que não
significa que as motivações para esses
movimentos fossem religiosas), ele o fez
de uma forma completamente
incompreensível para o homem
“civilizado”. Por isso mesmo foram
considerados muitas vezes simplesmente
15
como produto do “fanatismo” caboclo ou
então como “delírios coletivos” de
populações mergulhadas na miséria, na
ignorância e mantidas sob o jugo de
latifundiários mandões. (VITA, 2004, p.
65).
Em outubro de 1897, o exército nacional
reprime violentamente o movimento messiânico, liderado
pelo beato Antonio Conselheiro, em Canudos no sertão
baiano, movimento este que discordava das cobranças de
impostos, da secularização dos cemitérios e do casamento
civil. As forças oficiais precisaram de 8.000 soldados para
aniquilar o movimento e destruir o acampamento de
Canudos.
Em 1912, surge o Movimento Messiânico do
Contestado, um conflito que se desenrolou até 1916, nos
sertões de Santa Catarina e do Paraná, deixando mais de
6.000 camponeses mortos em confronto direto com o
exército.
Embora todos os levantes populares
verificados no decorrer dos últimos séculos tenham sido,
de uma forma ou de outra, sufocada pela repressão oficial,
deixaram a mostra uma historia de lutas. Em todas elas, o