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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 646 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011 Mulher na política Papel do Jornalismo na construção social Mulheres e Negros Somos um país em crescimento, que se desenvolve eco- nomicamente, mas com severas desigualdades, ainda in- capaz de proporcionar aos seus cidadãos e cidadãs todos os direitos assegurados constitucionalmente. Mulher negra: história e preconceito Brasil revisitado Política de cotas Palmital dos Pretos

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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lona.up.com.br

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 646Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mulher na política Papel do Jornalismo na construção social

Mulheres e NegrosSomos um país em crescimento, que se desenvolve eco-nomicamente, mas com severas desigualdades, ainda in-capaz de proporcionar aos seus cidadãos e cidadãs todos os direitos assegurados constitucionalmente.

Mulher negra: história e preconceito

Brasil revisitado

Política de cotas

Palmital dos Pretos

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Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Na década de 60, em Atlantic City, cerca de 400 mulheres protestaram contra a imposição da sociedade que ditava regras de beleza. Le-varam vários símbolos femininos com a inten-ção de queimá-los. Porém, a prefeitura não au-torizou que a queima ocorresse. A partir daí, a vontade da mulher pelos mesmos direitos dos homens se acentuou e o movimento feminista ganhou força no século XX.

A mulher ascendeu socialmente, ganhou es-paço e melhor salário – ainda que não equiva-lente ao dos homens –, além do direito ao voto. Porém, algumas coisas ainda restam ser muda-das nessa sociedade machista em que somos inseridos.

Cultura, religião, educação: não importa o motivo pelo qual a mulher se submete à violên-cia doméstica, há meios de denunciá-la. E, para isso, existe a Delegacia de Defesa da Mulher, que aumentou entre os meses de janeiro e julho, no ano de 2010, cerca de 112% a mais de denún-

cias se comparando com o mesmo período de 2009.

Isso não significa necessariamente que os casos de violência aumentaram. Na verdade, uma das hipóteses é de que a mulher está buscando mais esse direito que deixou de ser vergonhoso e constrangedor. É importante en-tender que em “violência” compreende-se mais que lesão corporal: existe a psicológica, amea-ças, estupro, atentado ao pudor, constrangi-mento ilegal e muitas outras que as mulheres desconhecem ou que passam despercebidas.

Aliada às delegacias, a Lei Maria da Penha, que foi sancionada em 2006, alterou o Código Penal Brasileiro e decreta como crime qualquer tipo de violência atribuída às mulheres, levan-do o agressor a cumprir pena de até três anos, não podendo mais ser punido com penas alter-nativas. O conhecimento da lei ainda é peque-no. Uma pesquisa feita pela Ibope/Avon, em 2009, apontou que a região do Brasil que me-nos conhece a lei é o Sudeste (55%) e que a que mais conhece é a parte Norte e Centro-Oeste do país (83%).

Registro de violência contra a mulher aumenta 112%

Daiane Nogoceke Julia Willich Larissa Cavallin

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Expediente

Editorial

Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Con-sentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientado-res: Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Professora-orientadora da edição especial: Eliane Basilio de Oliveira | Editores-chefes: Daniel Zanella, Laura Beal Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jorna-lismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30 Fone: (41) 3317-3044.

Opinião

O jornalismo cumpre uma função bem mais am-pla e retórica do que simplesmente informar. Cabe -nos também a criação e discussão de um espaço social menos desigual, de oportunidades para todos, independente de credo, etnia, gêne-ro, sexualidade e condição financeira.Esta edição especial sobre a condição da mulher e do negro em nosso contexto civil é a busca por uma conscientização que atravesse a barreira dos estereótipos e leve você, leitor, a uma neces-sária reflexão sobre o status quo: um país que se moderniza, elege a primeira presidenta, não deve mais a fundos monetários internacionais, que sobrevive com uma certa tranquilidade às crises econômicas que assolam diversos países - outrora, símbolos capitalistas - e que, mesmo as-sim, ainda admite que mulheres negras ganhem menos do que homens e mulheres brancas, que ainda questione políticas de inclusão racial e não reconheça a dívida histórica que temos com os negros, sumariamente escravizados, estigma-tizados e relegados ao limbo social.Gilberto Freire alega em linhas tortas que a re-lação entre senhores de engenho e escravas não era uma relação de exploração, era apenas um processo de miscigenação que auxiliou na cria-ção desse Brasil pandeiro. Ora.Fomos um país, por intermináveis anos, domi-nado por um povo de espírito de rapina, uma malta imperial que, através de seu próprio exemplo, serve para melhor entender a desi-gualdade brasileira.Entretanto, as relíquias históricas não nos ser-vem mais, e nisso o Jornalismo tem fundamental importância: a desconstrução dos preconceitos e a busca por uma sociedade mais igualitária.Uma boa leitura a todos.

Soy loca por ti, AméricaSuelen Lorianny

É surpreendente como as mulheres latino americanas são apaixonantes. Somos milhares. Temos esperança em nossos olhares, vontade de mudar e viver. Eu tenho orgulho de muitas de nós, poderia citar vários nomes exemplares. Mas quero chamar atenção para os números tristes que ainda existem entre a gente.

Mesmo sendo cheias de vida, em muitos pa-íses latinoamericanos ainda sofremos pelo ma-chismo, ainda somos violentadas e abusadas. A nossa querida ex-presidenta chilena, Michel-le Bachelet, que hoje comanda a ONU Mulher, trouxe os números das mulheres latinas e, se pre-pare, porque ainda são altos.

Na América Latina, a situação da violência doméstica é delicada: um terço das latinoameri-canas declararam já ter sido vítima de agressão física e 16% de agressão sexual em algum mo-mento de sua vida.

O que deveria nos deixar menos triste é o fato de sermos as mais “sortudas”, o Brasil é o país que está à frente nesse caso. Somos as pioneiras na medida: a primeira delegacia da mulher na

América Latina foi criada em São Paulo, em 1985. Hoje já são mais de 450 espalhadas pelo país. O relatório feito pela ONU também elogia a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, e que trata com mais rigor os casos de violência doméstica. Para a ONU Mulher, os principais desafios de hoje são a falta de representação política, a dife-rença salarial e a falta de proteção no trabalho.

Com isso, precisamos continuar firmes na luta, pois muitas mulheres ainda têm medo e receio de exigir seus direitos na lei e ir até a de-legacia, muitas ainda são ameaçadas e quando finalmente criam coragem, retiram a queixa por-que temem a perseguição do companheiro se ele escapar da punição.

Se aqui no Brasil já é difícil tendo toda uma es-trutura, imaginem nos países vizinhos. O nosso combate rompe fronteiras, precisamos ser fortes.

Sou apaixonada por todas essas mulheres e quero vida digna para cada uma delas. Acredito que com a nossa união podemos vencer muitas barreiras. Contra o machismo e contra a violên-cia, porque machismo mata.

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Mulheres representam apenas 8,7% da Câmara Federal

Na relação que contabili-za o número de mulheres no quadro político de cada país, realizada pela União Inter-Parlamentar (UIP), o Brasil se encontra em 107º lugar. Con-siderando os países latino-americanos, está em último. Desde que conquistaram o direito ao voto, em 1932, as mulheres vêm ascendendo no cenário político nacional, tan-to como candidatas, quanto como eleitoras. Nas eleições de 2002, por exemplo, segun-do dados do Tribunal Su-perior Eleitoral, as votantes representaram 51% do eleito-rado nacional, confirmando sua importância nas decisões político-administrativas do país. Já nas bancadas do po-der, apesar de vir, aos poucos, conquistando seu espaço, a participação feminina é ainda quantitativamente muito in-ferior à masculina. Isso pode ser observado na composição da Câmara: de um total de 513 deputados federais, ape-nas 45 são mulheres.

Em 1996, com o intuito de garantir maior participação feminina na política nacio-nal, foi criada a Lei das Cotas. Ao estabelecer aos partidos a candidatura obrigatória de, pelo menos, 30% de mulhe-res, essa lei se tornou um dos temas centrais das discussões de gênero e política. Além disso, significou, segundo as feministas, um aumento do reconhecimento público das mulheres. Após seu surgi-mento, a Lei das Cotas pas-sou a ser driblada por alguns

partidos políticos. Muitos deles passaram a preencher a porcentagem com candidatas laranjas, ou seja, que, prova-velmente, não seriam eleitas. Falhas como essas resultaram em contestações ao projeto de lei original. Como exemplo, pode-se citar a proposta da deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), que defende 30% de cotas para a presença efetiva de mulheres nos cargos po-líticos e não apenas para sua candidatura. Com 2002 en-trevistas em 142 municípios de todas as regiões do país, a pesquisa Ibope/Instituto Pa-trícia Galvão/Cultura Data, realizada em fevereiro de 2011, com apoio da Secreta-ria Especial de Políticas para as Mulheres, revelou que 75% dos entrevistados é a favor das cotas e que 86% apoia a punição dos partidos políti-cos que não cumprem a atual legislação.

Entre as eleições de 1994 e 2006, a quantidade de mu-lheres na política brasileira aumentou. De 1998 a 2002, por exemplo, o número de deputadas federais passou de 29 a 42 e, em 2006, alcançou seu auge com 45 eleitas. Esse número manteve-se o mesmo em 2010. Em contrapartida, foram registrados progressos. A Câmara Distrital, em que o número de mulheres passou de 123 para 136, é um bom exemplo. Além disso, com a eleição da primeira mulher presidente, os Ministérios também se feminizaram. No atual governo, cumprindo sua promessa de campanha, Dilma Rousseff nomeou nove mulheres para administrá-los - quatro a mais do que no governo de Lula. Presencia-

se, portanto, um período em que o mais alto cargo do país está nas mãos de uma mulher, além de inúmeros outros de extrema importância. Como já bem disse a filósofa belga Chantal Mouffe, há espaços em que a diferença sexual não é pertinente. A política vem provando que é um deles.

Paraná Segundo dados do Tri-

bunal Superior Eleitoral, a região Sul foi a que menos elegeu mulheres para deputa-das federais no ano de 2010. Foram apenas cinco eleitas, representando um percentual de 6,5%. Já em se tratando de deputados estaduais, de um total de 149, a região elegeu 16 mulheres. Tendo alcança-do 10,74% de participação fe-minina na bancada estadual, o Sul ficou em terceiro lugar - abaixo de Norte e Nordeste - quando comparado às demais

Pamela Castilho CoheneAmanda Lima Ana Carolina Vieira Krüger Isabela Aguiar de Lucena

regiões do país. Dos estados da região

Sul, o Paraná foi o que mais elegeu deputadas federais. Das 30 vagas, duas foram conquistadas por mulheres, correspondendo a 6,66% do total. Em contrapartida, o es-tado foi o que menos elegeu deputadas estaduais, alcan-çando o percentual de 7,41% de eleitas, enquanto Santa Catarina e Rio Grande do Sul alcançaram, respectivamente, 10% e 14,55%.

Em entrevista ao LONA, a vereadora Professora Jose-te (PT-PR) expôs sua opinião sobre a participação feminina na política brasileira. Quando lembrada da atual composi-ção da Câmara Municipal de Curitiba (de 38 vereadores, apenas cinco são mulheres), a vereadora diz que essa situa-ção influencia negativamente na aprovação de projetos em prol do público feminino.

“Vários projetos que lutam pelos direitos das mulheres não são aprovados, devido aos votos contra – que, em sua maioria, são dos homens. E a maioria das mulheres que não vota a favor é por determina-ção do partido e não devido à questão de valores e ideais”, completa.

Em abril deste ano, a Co-missão de Reforma Política no Senado aprovou a cota de 50% de participação das mu-lheres na lista de candidatos dos partidos políticos, modi-ficando a Lei original de 1996, que previa 30%. A vereadora Professora Josete afirma que “os homens estão preparados para se colocar publicamen-te com qualidade, já que a maioria que milita é do sexo masculino” e, devido a esse fato, o sistema de cotas é um mecanismo fundamental para igualar homens e mulheres no cenário político.

Segundo TSE, Região Sul foi a que menos elegeu deputadas estaduais, com somente 5 representantes.

Divulgação

Registro de violência contra a mulher aumenta 112%

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Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

São inúmeras as pesqui-sas que demonstram que o preconceito contra a mulher negra é forte e presente. Ge-ralmente, a mulher negra apresenta menor nível de es-colaridade e trabalha mais, porém com salário menor.

As mulheres negras que conquistam melhores cargos no mercado de trabalho de-pendem de uma força muito maior do que em outros seto-res da sociedade. Muitas aca-bam abdicando do lazer, da realização da maternidade, do namoro ou casamento.

Além da necessidade de comprovar sua competência profissional, têm de lidar com o preconceito e a discrimi-nação racial que lhes exigem maiores esforços para a con-quista do ideal pretendido.

A mulher negra trabalha, normalmente, em posições menos qualificadas e recebe os mais baixos salários. Poucas mulheres negras conseguem ascender socialmente.

O professor de antropolo-gia da UFPR Marcos Silveira alega que acontece um proble-ma de dupla discriminação. “Por ser negra e ser mulher, ela tem desvantagens sociais”.

O conceito de democracia racial no Brasil se mostra, na verdade, um grande equívo-co. O IBGE mostra isso de for-ma clara. Constatou-se que o preconceito está presente em diversos aspectos do cotidia-no, inclusive na saúde.

Muitas mulheres negras nunca fizeram o exame clínico de mama, capaz de identificar o câncer em estágios iniciais. O quantitativo de mulheres brancas que nunca tiveram acesso a essa medida profilá-tica é bem menor.

A mídia também contri-bui para que esse preconceito

continue existindo, como diz a professora de Direito Civil, Glenda Gondim. “A mídia forma opiniões, incluindo es-tereótipos de beleza”. Silveira concorda. “As diversas mídias tendem a naturalizar uma ima-gem de Brasil moderno ideal: branco europeizado e tropical, na qual cabem os “temperos” negro, indígena e regional. Os negros tendem a aparecer em campanhas bem específicas como combate à pobreza, desi-gualdades sociais e preconcei-to”. Segundo Gondim, depois da Revista Raça surgir, a mídia mudou um pouco a imagem da mulher negra: “Verificou-se que existia um mercado de mulheres negras que estava começando a se formar e que possuía poder aquisitivo. Com o aumento de vendas da revis-ta, a mídia virou os olhos para esse mercado e para tanto, teve que se despir dos estere-ótipos anteriores, assumindo a diversidade de raça da mulher brasileira”.

No Brasil, as discrimina-ções raciais têm atuado como eixos estruturantes dos pa-drões de exclusão social. Esta lógica se reflete no mercado de trabalho, no qual as mulheres negras vivenciam situações desfavoráveis. Embora esteja-mos vivenciando tantos avan-ços, lutas por transformações nas relações de gênero, raça/etnia e de classe social, o re-trato formulado pelas estatís-ticas ainda é preocupante. A desigualdade no Brasil ainda é muito grande e precisa ser combatida.

O negro e a colonizaçãoMilhões de africanos, a

partir do século XVI, aden-traram território brasileiro na condição de escravos dos brancos colonizadores e por mais de 300 anos permanece-ram sob essa condição. Esse cenário modificou-se somen-te no dia 13 de maio de 1888, quando foram libertados pela Lei Áurea.

Grande parte dos negros escravos não sabiam ler e es-crever. Cerca da metade da po-pulação brasileira é formada por negros e mestiços e, mes-mo tendo grande influência na cultura nacional, sua partici-pação social, econômica e polí-tica ainda é menor do que a de outras etnias, possuindo baixa renda, enfrentando o precon-ceito no mercado de trabalho, convivendo com a persegui-ção policial e exploração com baixos salários, fazendo parte do acervo de piadas em vários círculos sociais.

É uma herança cultural que a Lei Áurea de l888 não conseguiu abolir da socieda-de brasileira, motivo de muita polêmica, visto que nossa so-ciedade não admite ser racista. O conflito racial no Brasil não é aberto como em outros paí-ses, o que impede que muitos negros se identifiquem com sua própria negritude e lu-tem por seus direitos através de uma ação política eficaz e consciente.

A conscientização da ne-

Carolina PereiraGiuliana NogaraVitoria PelusoJuliano ZimmerLeonardo Piaskowski Castelo

gritude brasileira está se ma-terializando a medida que os negros conquistam maior po-der aquisitivo, representando um nicho de consumidores importantes ao sistema capita-lista, ao mesmo tempo em que disputam espaços sociais ante-riormente pertencentes exclu-sivamente aos brancos.

A mulher negraAté a Constituição de 1988

a mulher era legalmente se-gunda categoria em relação ao homem, ficando mais abai-xo do que as brancas. Era po-bre, negra e não sabia ler nem escrever.

No Brasil, sua história é marcada pela exploração sexual, violência e não per-missão de exercer sua plena cidadania.

O tempo passou, mas a sua submissão existe e impõe seu papel a empregos desvaloriza-dos, altos índices de prostitui-ção e condições precárias de saúde e educação. No entanto, a luta para modificar essa re-alidade ganhou força a partir

da década de 70 com a partici-pação das mulheres negras no movimento feminista e apari-ção na vida política, que an-tes ficava nas mãos de poucas mulheres brancas, escolariza-das e de classe média alta.

A partir dos anos 80, as mulheres conquistaram di-reitos significantes. Passaram a frequentar discussões na Assembleia Nacional Consti-tuinte e conseguiram reduzir a supremacia dos homens nas questões familiares; o direi-to da mulher casada declarar separadamente seu imposto de renda; os mesmos direitos para os filhos nascidos fora do casamento e matrimônio; os mesmos direitos para os ca-sados e para os parceiros em uniões consensuais; licença-maternidade remunerada de 120 dias e licença-paternidade remunerada de 5 dias; a clas-sificação da violência sexual como crime contra os direitos humanos e não como crime moral; direitos trabalhistas e previdenciários estendidos aos trabalhadores domésticos.

Mulheres negras trabalham mais e são menos remuneradas do que homens e mulheres brancas

Diego Silva

Segundo especialistas, apesar de avanços, a cultura brasileira mudou pouco seu olhar sobre afrodescendentes

Mulher negra: históriae preconceito

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Mulher negra: históriae preconceito

Brasil revisitado

Lona: O preconceito contra a população negra na sociedade remonta à es-cravidão, como uma ques-tão cultural e de exclusão social, ou seria uma ques-tão política?

Silveira: Não faz sentido falar em preconceito contra

a população negra no Brasil colonial, devido ao status da escravidão. Este proble-ma se coloca seriamente a partir da independência do país, quando, em tese, de-veria surgir uma cidadania universal. O preconceito racial contra os negros que nós conhecemos, surge nes-te momento, negando aos negros uma condição de igualdade a partir de uma suposta igualdade jurídica, que a república instaurou. É uma questão cultural, já que confirma o cotidiano das pessoas e é política, tendo raízes profundas no projeto da nação brasilei-

ra, que entendia que negros e índios seriam atrasados frente aos brancos e euro-peus. Portanto, deveriam ficar em segundo plano.

Lona: No mercado de trabalho os negros ainda possuem os menores salá-rios em relação a população branca e ainda sofrem pre-conceito quando concorrem a uma vaga de emprego. Dificilmente ocupam car-gos de confiança nem gran-des empresas, de acordo com os dados do DIEESE registrado em 2009.

Silveira: Os dados esta-

Carolina PereiraGiuliana NogaraVitoria PelusoJuliano ZimmerLeonardo Piaskowski Castelo

tísticos revelam este qua-dro de discriminação e os depoimentos de negros e negros bem sucedidos pro-fissionalmente confirmam. Candidatos brancos são preferencialmente escolhi-dos frente a candidatos ne-gros, exceto quando outros fatores entram em jogo, como compromissos políti-cos, competência, afinida-des culturais e pessoais.

Lona: Como é o posicio-namento da mídia em rela-ção ao preconceito?

Silveira: As diversas mídias tendem a natura-

lizar uma imagem de bra-sil moderno ideal: branco europeizado e tropical, na qual cabem os “temperos” negro, indígena e regional. Os negros tendem a apare-cer em campanhas bem es-pecíficas, como combate a pobreza, desigualdades so-ciais e preconceito. Geral-mente, são campanhas ofi-ciais, e em certas situações nas quais ficam bem repre-sentando a nação, como no futebol, no carnaval, no samba, na praia. Mas as imagens do Brasil moderno e do progresso do país cos-tumam enfatizar pessoas brancas.

Lona entrevista Marcos Silveira, professor de Antropologia da UFPR, e Glenda G. Gondim, professora de Direito Civil

Marcos Silveira

Lona: De acordo com a Constituição brasileira de 1988, todos são iguais peran-te a lei, sem qualquer tipo de distinção. Como isso é retra-tado em relação aos negros e negras?

Gondim: A Constituição Federal, além de apresentar o princípio da igualdade, proi-biu toda prática de racismo no artigo 5º, que prevê os direitos fundamentais do cidadão.

Lona: De que modo o Di-reito Civil avalia a represen-tação da mulher negra na so-ciedade brasileira?

Gondim: O Direito civil tem como objeto de estudo as relações entre as pessoas no campo das titularidades, projeto parental e trânsito jurídico. Nesses campos, tra-ta as pessoas como um todo, sem realizar distinções. Por isso, o Direito civil, em si, não se ocupa com representações em sociedade, mas sim cada caso que venha discutir um problema específico.

Lona: Mídia: representa-ção das mulheres negras.

Gondim: Após o advento da revista Raça existiu uma inovação. Verificou-se que existia um mercado de mu-lheres negras que estava co-meçando a se formar e que possuía poder aquisitivo. Com o aumento de vendas da revista, a mídia virou os olhos para esse mercado e para tan-to, teve que se despir dos este-reótipos anteriores, assumin-do a diversidade de raça da mulher brasileira. Não apenas a mulher negra não era inseri-da na mídia, mas também, a mulher oriental. Atualmente, tem-se que o pluralismo não é apenas cultural, mas também do conceito de “belo”.

Lona: De que maneira o Direito Civil encarrega-se de assegurar os direitos iguais e o combate ao preconceito?

Gondim: O Direito civil pretende regular as relações sociais entre as pessoas para que tenha como fundamen-to a dignidade humana. Para tanto, esse ramo do Direito

tenta igualar as relações so-ciais nos ramos mencionados acima (titularidades, projeto parental e trânsito jurídico). Portanto, no Direito civil será assegurado a todos, indepen-dentemente de característi-cas pessoais, a possibilidade de formação de família como bem entender, a possibilidade de ser proprietário e também de contratar. O Direito em si, englobando principalmente o Direito Constitucional, possui medidas diferentes para asse-gurar o princípio da isonomia que se resume em igualar os iguais e desigualar os desi-guais na medida de sua desi-gualdade.

Lona: Como pode ser ex-plicado o percentual de 1% de negros e, principalmente, das mulheres negras no corpo do-cente das Universidades do país?

Gondim: Neste ponto existe uma característica so-cial extremamente importan-te que caracteriza a ausência de acesso ao nível universi-tário e demais programas de pós graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Não

é a Universidade que sele-ciona, não é a Universidade que segrega, mas a condição econômica que impede que a pessoa alcance tal patamar. Na Universidade, como gra-duandos, é possível encontrar mulheres negras, mas é difícil como pós-graduandos. Para alterar o quadro é necessário qualificar as mulheres negras e depois exigir a sua inserção no mercado de trabalho em geral. Desta maneira, primei-ro devemos virar nossos olhos para a condição econômica, auxiliar a sua qualificação e permanência nos estudos até a pós-graduação stricto sensu e posteriormente, nos preo-cuparmos com o mercado de trabalho, se existirá precon-ceito ou não.

Lona: No âmbito do Di-reito Civil, o que precisa ser feito para que a mulher negra consiga ocupar as mesmas posições e o mesmo modo de representação das mulheres brancas?

Gondim: Não adianta criar leis que tentem igualar, quando a igualdade deve ser social. O problema é a educa-

ção básica e a permanência de todos na escola, com mesmas condições. A lei regulamenta a educação, que é direito de todos, determinada condições mínimas da educação, mas sabemos que não é a realida-de social. Entendo, portanto, que o Direito possui subsídios para igualar todos os cida-dãos, mas na prática o que ve-mos não é isso. Desta forma, não é o Direito que deve fazer algo, somos nós. O Direito já fez, falta a nossa atitude de praticar os preceitos constitu-cionais.

Lona: As políticas com-pensatórias ou de ação afir-mativa são capazes de repa-rar tantos anos de escravidão e desrespeito aos negros?

Gondim: Não. É preci-so lembrar onde estamos: o problema brasileiro é ante-rior à universidade. A atitu-de imediatista pode ser ado-tada para tentar solucionar e igualar no agora, mas por tais ações afirmativas iniciou uma distinção das pessoas pela sua cor, o que não acontecia antes. As ações afirmativas incitam o racismo.

Glenda Gondim

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Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ao observar o compor-tamento da sociedade atual, percebe-se que mesmo com toda divulgação contra o ra-cismo e a criação de um am-biente civilizado, ainda há muito chão para se percorrer contra esse preconceito.

Segundo o estudo “Mapa da Violência 2011”, publica-do no site do grupo Sangari e com apoio do ministério da justiça do Brasil, morreram proporcionalmente 67,1% mais negros do que brancos no país em 2005 e em 2008, 103,4%, mais que o dobro de brancos.

De acordo com o livro “Ci-dadania em Preto e Branco”, de Maria Aparecida S. Ben-to, na época da escravidão, os brancos acreditavam que somente pelo fato de os po-vos que habitavam a África possuírem diferenças físicas, eram considerados inferiores mentalmente. Especialistas derrubaram essa teoria ao mostrar que essas diferenças são provenientes do ambien-te que habitam e também pela herança genética.

A discriminação foi muito acentuada desde a escravi-dão e até tempos antes, pois o ideal era ser branco, rico e consumidor, como os donos do engenho. Infelizmente, em muitas culturas ainda conti-nua.

O filósofo Aristóteles di-zia, como justificativa de vio-lência que era a escravidão, que alguns homens por natu-reza estavam predestinados a serem livres e comandar, já outros, a serem escravos e servir.

Com a chegada das teorias do racismo no Brasil, os ricos decidiram “embranquecer” o país, trazendo imigrantes brancos, pois com a misci-genação ao longo do tempo iria tornar a nação mais bran-ca, segundo os cientistas da

Racismo é herança da formação cultural brasileiraFlávia Proença PintoJessica RossignolRenata M. O. S. Pinto

época. O que não aconteceu. Como pode ser observado hoje a população do país é mista.

Na escola, crianças bran-cas chegam a discriminar as negras, mas elas não nascem racistas ou com sentimento de superioridade. Assim, per-cebe-se que o racismo nada mais é do que uma péssima herança cultural passada de geração em geração. Ou até mesmo pelo sistema educa-cional, como aponta o livro de Maria Aparecida Bento.

Discriminação do diferente

A desigualdade é causada pela discriminação que, por sua vez, é concretizada e re-afirmada pela sociedade, se-gundo o professor de psicolo-gia Ney Ricardo de Souza, da Universidade Positivo. Ações consideradas inofensivas, como contar piadas racistas, são as que mais perpetuam essa cultura na sociedade.

A discriminação do dife-rente pode ser considerada algo natural. Segundo o pro-fessor, os seres estranham aqueles que não são iguais, não possuem os mesmos va-lores e normas. Um exemplo é o comportamento hostil por parte de animais de diferentes bandos. Isso, no entanto, não deveria acontecer com o ser humano civilizado, que supe-rou o comportamento instin-tivo.

Se a pessoa foi criada em um ambiente possuindo suas crenças muito concretas e inalteradas, e ainda conviver com pessoas violentas, há uma grande tendência de ser preconceituosa com os dife-rentes e de praticar a violên-cia contra estes.

Ao ser questionado so-bre o preconceito das crianças numa sala de aula em relação aos colegas, o professor afirma que nem sempre isso ocorre por influência dos pais. Muitas vezes se deve ao próprio gru-po social em que a criança está inserida.

O professor afirma ainda

que a divulgação de exemplos positivos poderia combater o racismo. O professor Ney acre-dita que o que existe é a falta de divulgação de negros famosos na história. Pelo fato de a cul-tura branca ter maior presen-ça nos meios de comunicação, os feitos ou as pessoas negras importantes acabaram sendo pouco ou nada divulgados.

As pessoas só aprendem a lidar com as diferenças, assim tendo uma convivência me-lhor, se no contexto em que vi-vem há essa harmonização. O fato de existirem mais negros em ambiente carcerário é um reflexo da desigualdade social, da falta de educação e opor-tunidades para as classes com menor poder econômico.

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Ações afirmativas po-dem ser consideradas todas as ações, públicas ou priva-das, que busquem promover a justiça e a igualdade social. Independente da forma e do tipo da discriminação, seja ela racial, religiosa, de gênero, étnica e toda e qualquer for-ma de segregação. Políticas afirmativas são diferentes de políticas antidiscriminatórias, baseadas em leis. O amparo jurídico tem caráter meramen-te proibitivo e propicia à víti-ma recursos legais para o uso de instrumentos previstos na lei que visem a reparação, ex post facto, de um ato discri-minatório. Em contrapartida, as políticas afirmativas, são ações que, compulsória, fa-cultativa ou voluntariamente são utilizadas para promover a igualdade ante uma herança

Políticas de enfrentamento ao racismo ainda são insuficientesAngelo de Barros Sfair Iara de Paula Fernandes Oscar Carlos Cidri Neto

cultural, civilizatória ou se-gregadora que, ao longo dos anos, minou uma desejável re-lação de equilíbrio e equidade entre os cidadãos de determi-nada sociedade.

Embora o maior exemplo do emprego da expressão: po-líticas afirmativas, se reporte aos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XX, outros países, já usavam o termo para definir formas de discriminação positiva. Os EUA se tornam um exemplo emblemático pelo históri-co conflito racial que, com o passar dos anos, mesmo que amenizado, perdura até hoje. Mas podemos nos reportar à Índia que, em 1948, por in-termédio do artigo 16 de sua Constituição estabelece cotas para membros de “castas ca-talogadas”. Outro exemplo é o Líbano que estabelece cotas para a participação pública de diferentes seitas religiosas. Na extinta URSS, existiam co-tas para alunos oriundos da

Sibéria, uma atrasada região daquele país. Um exemplo que nos é próximo é o caso da Colômbia, que reserva cadei-ras parlamentares para afro-colombianos. No Brasil temos uma histórica e inadimplente dívida social com os afrodes-cendentes que, na condição de escravos, foram trazidos para o trabalho forçado em nosso país. Entre os séculos XVI e XIX, cerca de 3,6 milhões de africanos penaram como mão de obra à exploração dos pro-dutos primários produzidos pela antiga colônia de Por-tugal. Fomos os últimos das Américas a abolir a escravidão e, para piorar ainda mais a si-tuação dos ex-escravos, nosso governo adotou políticas pú-blicas de “branqueamento” da população, promovendo e estimulando a substituição de mão de obra negra pela euro-peia. Com base nestes poucos dados, pode-se perceber que, por mais que a sociedade bra-sileira, sensibilizada com esta

realidade resolvesse concen-trar esforços no sentido de promover políticas afirmati-vas, seriam necessários mui-tos anos, quiçá gerações, para saldar a dívida com estes que se constituíram nos alicerces laborais da construção dos primeiros 400 anos de nosso

país. Um dado governamen-tal que pode se traduzir num alento às perspectivas futuras é o fato de os gastos públicos para a promoção da igual-dade racial cresceu de pouco mais de R$ 7 milhões em 2003, para quase R$ 68 milhões em 2005.

Hoje, no Brasil, a maioria da população é constituída por negros. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amos-tra de Domicílios (PNAD) de 2009, esse grupo representa 51,1% da população, apro-ximadamente 98 milhões de indivíduos; diferente de 2004, quando essa porcentagem era de 48%.

Nesse período a população branca passou de 51,4% para 48,2%, ou 92,5 milhões de pes-soas em números absolutos. Apesar de serem maioria, os negros ocupam parcelas mui-to desiguais em relação aos não negros nos quadros de funcionários de empresas.

O Instituto Sindical Inte-

Mercado de trabalho discrimina o negroCamila Tuleski TebetJoana CastroMarcella BorbaMaria Luiza Britto de PaulaMichelle PatríciaStephany Guebur

ramericano pela Igualdade Racial (INSPIR) realizou em 1998, em seis regiões metropo-litanas do país, uma pesquisa indicando a desigualdade ra-cial no mercado de trabalho.

Foram coletados dados em São Paulo, Salvador, Recife, Distrito Federal, Belo Hori-zonte e Porto Alegre. Em to-das elas a taxa de desemprego foi maior para negros do que não-negros. A pesquisa tam-bém demonstra a desigualda-de na distribuição de renda: em São Paulo, os negros ga-nham em média R$ 2,94 por dia, enquanto os brancos rece-bem R$ 5,50.

De acordo com Marcilene Garcia de Souza, doutora em Sociologia, são vários os obs-táculos enfrentados pelos ne-gros no mundo de trabalho. O primeiro e maior de todos é o processo de admissão: os bran-cos sempre terão prioridade. Para que um negro seja aceito, ele deve possuir cerca de duas

ou três vezes mais currículo. Ele também sofre problemas de remuneração, ganhando muitas vezes a metade do sa-lário do homem branco. Ele ra-ramente será promovido e tem grandes chances de demissão.

Para a socióloga, essa desi-gualdade pode ser resultado de um longo processo históri-co de exclusão e opressão exer-cida pelo homem branco sobre o homem negro. Assim como a estrutura do Estado, que não coíbe práticas de discrimina-

ção. A educação também é um fator importante a se conside-rar: poucos negros têm opor-tunidades neste meio, o que dificulta ainda mais a entrada no mundo de trabalho.

Como abordado no livro Cidadania em Preto e Branco de Maria Aparecida S. Ben-to, muitas empresas não pos-suem medidas que incentivem a participação dos negros no mundo de trabalho e muitas delas não falam para o traba-lhador o real motivo de ele

não ser aceito no emprego. Na maioria das vezes são usados discursos como: “Escolhemos outro candidato melhor qua-lificado” ou “Aguarde nosso contato”. Esse fator aliado ao de que nenhuma empresa ad-mite o fato de não empregar negros, realça algumas carac-terísticas do racismo brasilei-ro: dissimulação, disfarce e ardilosidade.

Divulgação

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Curitiba, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ENSAIO FOTOGRÁFICO 8

Palmital dos Pretos é uma remanescente co-munidade quilombola, situada a 50 quilôme-tros da cidade de Campo Largo. Trata-se de uma comunidade com menos de 100 famílias que, como muitos remanescentes de quilom-bos, tem lutado pela posse da terra. As foto-grafias foram tiradas em novembro de 2009, quando os alunos da disciplina de Comuni-cação, Comunidade e Movimentos Sociais, acompanhados pela professora Eliane Basilio, rodaram um documentário sobre os morado-res e suas principais dificuldades.

Palmital dos PretosFotos: Eliane Basilio de Oliveira Texto: Daniel Zanella