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LOGISTICA REVERSA: CONCEITOS E APLICAÇÕES OBSERVADOS NUMA COOPERATIVA DE COLETADORES

Autoria: Humberto Santiago Pazzini, Nerlandes Nunes de Oliveira, Cláudio Roberto Marques Gurgel

RESUMO

De acordo com Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR

para que o setor de reciclagem brasileiro continue crescendo é necessário atentar-se para a categoria dos catadores, que, de maneira geral, trabalham em condições degradantes. A grande maioria destes vivem desarticulados e desprovidos de capital e qualquer tipo de equipamento de segurança individual. Os catadores são os primeiros agentes da cadeia produtiva de reciclagem, assim sem o trabalho deles volumes significativos de matéria-prima reciclável deixariam de chegar às indústrias, incorrendo em desperdícios e problemas de toda ordem.

Especificamente, com relação ao município de Viçosa- MG, em 1981, a lei nº 7.772 proibiu em Minas Gerais o depósito de resíduos em locais sem nenhum tratamento. Viçosa, coibida pela legislação, transformou o lixão a céu aberto em aterro controlado, processo que se concluiu apenas em 2000. Tal medida proibiu os coletadores de trabalharem no aterro controlado e aliado a outros fatores alterou significativamente os processos e agentes de coleta de lixo.

O artigo procurou entender e mostrar melhorias dos processos de coleta de resíduos plásticos por meio de associação de catadores em Viçosa. Especificamente, visa identificar o perfil destes catadores e seus processos de coleta, assim como identificar oportunidades de melhorias e propor ações de agregação de valor.

O presente trabalho, além desta introdução, conta com quatro seções. No primeiro bloco informações sobre logística reversa, reciclagem e classificação do lixo serão expostas, para que as bases teóricas utilizadas possam ser mais bem contextualizadas. Além disso, conceitos essenciais de problemas relacionados ao descarte inadequado do lixo serão esclarecidos, já tendo em vista a influencia e os impactos causados no ambiente.

A segunda sessão descreve o método de coleta e levantamento de informações, inicialmente descrevendo as características dos três principais agentes de coleta de materiais recicláveis do município de Viçosa. Posteriormente, foram elencados os critérios utilizados e as justificativas para a seleção dos coletadores munidos de galpão e dos coletadores individuais em detrimento dos trabalhadores da usina como fenômeno a ser estudado. Nessa sessão ainda discutiu-se a operacionalização das variáveis da pesquisa.

No terceiro bloco, a associação de coletadores foi analisada e discutida, observando sua evolução histórica, características e principais agentes envolvidos. Ainda nesta sessão visando aumentar a eficiência das operações de coleta e comercialização, assim como gerar renda e melhoria de qualidade de vida para os coletadores foi proposto uma agregação de valor adequada para os materiais recicláveis coletados.

No ultimo capitulo as considerações finais demonstraram as dificuldades para otimizar a cadeia de logística reversa de reciclagem, assim como a necessidade de uma gestão integrada como solução sustentável que beneficie tanto meio ambiente, coletadores e sociedade. Durante todo o texto serão incluídas informações relacionadas à reciclagem, seus agentes e suas implicações , seja por meio de referências teóricas, históricas, legais ou hipotéticas

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1. INTRODUÇÃO O século XX assistiu o desenvolvimento sustentável ganhar impulso nos anos 80 tendo

dentre outros fatores a proliferação de ONGs e uma maior intensificação da proteção do meio ambiente.

A ideologia para conter o avanço da degradação ambiental e a busca de competitividade contribuiu sobremaneira para que as indústrias incorporassem em seus planejamentos estratégicos a variável ambiental. Nesse aspecto, há evidencias de que uma responsabilidade sócio-ambiental efetiva pode trazer vantagens competitivas para as organizações, principalmente quando estas enfocam a prevenção da geração de resíduos ou o seu reaproveitamento. Além disso, a reciclagem pode contribuir com a diminuição da poluição, a geração de empregos para a população não qualificada, a valorização da limpeza pública e formação de uma consciência ecológica.

É neste contexto de preservação ambiental, concorrência acirrada e pressão da sociedade que se insere o setor de reciclagem brasileiro movimenta R$12 bilhões. Por ano, gerando renda para 1.000.000 mil catadores. O Brasil é referência para os países em desenvolvimento, mas a reciclagem atinge apenas 25% da população e 13% do lixo urbano. Segundo o Instituto de Economia Aplicada - IPEA 2010, o potencial de reciclagem é muito maior, pois o Brasil perde anualmente R$ 8 bilhões por enterrar materiais recicláveis que podem voltar a produção industrial. O plástico corresponde por 22% do total de materiais reciclados e é utilizado na composição dos mais diferentes produtos e setores da economia. Apesar da reciclagem de plástico PET gerar, anualmente, 1 bilhão em negócios no país, apenas 21,2% do plástico consumido em 2009 foram reciclados.(CEMPRE, 2010)

De acordo com Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis – MNCRpara que o setor de reciclagem brasileiro continue crescendo é necessário atentar-se para a categoria dos catadores, que, de maneira geral, trabalham em condições degradantes. Além disso, a grande maioria destes vivem desarticulados e desprovidos de capital e qualquer tipo de equipamento de segurança individual. Os catadores são os primeiros agentes da cadeia produtiva de reciclagem, assim sem o trabalho deles volumes significativos de matéria-prima reciclável deixariam de chegar às indústrias, incorrendo em desperdícios e problemas de toda ordem. Em resumo, os resultados do setor de reciclagem foram alcançados mais pela iniciativa privada e a sua vontade do que pelo apoio do poder público, em longo prazo, esse cenário denota preocupação, já que experiências de sucesso mostraram-se mais eficazes e eficientes quando havia sinergia entre diferentes agentes. (CARVALHO, 2008)

Especificamente, com relação ao município de Viçosa- MG, em 1981, a lei nº 7.772 proibiu no Estado de Minas Gerais o depósito de resíduos em locais sem nenhum tratamento. Viçosa coibida pela legislação transformou o lixão a céu aberto em aterro controlado, processo que se concluiu apenas em 2000. Tal medida proibiu os coletadores de trabalharem no aterro controlado e aliado a outros fatores alterou significativamente os processos e agentes de coleta de lixo.

O presente trabalho tem a finalidade de entender e mostrar melhorias dos processos de coleta de resíduos plásticos por meio de associação de catadores em Viçosa. Especificamente, visa identificar o perfil destes catadores e seus processos de coleta, assim como identificar oportunidades de melhorias e propor ações de agregação de valor.

O artigo, além desta introdução, conta com quatro seções. No primeiro bloco informações sobre logística reversa, reciclagem e classificação do lixo serão expostas, para que as bases teóricas utilizadas possam ser mais bem contextualizadas. Além disso, conceitos essenciais de problemas relacionados ao descarte inadequado do lixo serão esclarecidos, já tendo em vista a influencia e os impactos causados no ambiente.

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A segunda sessão descreve o método de coleta e levantamento de informações, inicialmente descrevendo as características dos três principais agentes de coleta de materiais recicláveis do município de Viçosa. Posteriormente, foram elencados os critérios utilizados e as justificativas para a seleção dos coletadores munidos de galpão e dos coletadores individuais em detrimento dos trabalhadores da usina como fenômeno a ser estudado. Nessa sessão ainda discutiu-se a operacionalização das variáveis da pesquisa.

No terceiro bloco, a associação de coletadores foi analisada e discutida, observando sua evolução histórica, características e principais agentes envolvidos. Ainda nesta sessão visando aumentar a eficiência das operações de coleta e comercialização, assim como gerar renda e melhoria de qualidade de vida para os coletadores foi proposto uma agregação de valor adequada para os materiais recicláveis coletados.

No ultimo capitulo as considerações finais demonstraram as dificuldades para otimizar a cadeia de logística reversa de reciclagem, assim como a necessidade de uma gestão integrada como solução sustentável que beneficie tanto meio ambiente, coletadores e sociedade. Durante todo o texto serão incluídas informações relacionadas à reciclagem, seus agentes e suas implicações , seja por meio de referências teóricas, históricas, legais ou hipotéticas

2. REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1 Logística reversa Leite (2003) conceitua logística reversa como a área da logística empresarial que

planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.

Ainda, o mesmo autor discorre sobre as principais razões e incentivos da aplicação da logística reversa numa empresa. Dentre elas, existe a legislação ambiental que obriga as empresas cada vez mais a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário. O decreto 7.404/2010 que estabelece as normas para a execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei 12.305/2010 - é prova da fiscalização e interesse governamental na direção de uma política mais consciente e socialmente responsável. Esta lei institui, dentre outras providencias, a responsabilidade dos portos pelo tratamento e destino adequado dos resíduos descartados em suas respectivas áreas, incluindo o processo de logística reversa, quando necessário. (UNESP, 2010)

A normatização e fiscalização governamental quanto à logística reversa, atrelada a maior conscientização sócio-ambiental dos consumidores podem originar diferenciação e valor agregado, melhorando a competitividade da empresa. Além desses motivos, com a utilização da logística reversa de maneira eficiente a empresa poderá obter benefícios econômicos como o uso de produtos que retornarem ao processo de produção, ao invés dos altos custos do correto descarte do lixo. Através dessas medidas a empresa pode ainda limpar seu canal de distribuição, proteger a margem de lucro e recuperar parte do valor de ativos.

De acordo com Nogueira (2006), a vida de um produto não termina com sua entrega ao consumidor. Há diversas maneiras dos bens retornarem ao local de origem invertendo o fluxo de distribuição. Estes podem se tornar obsoletos, danificados, ou não funcionarem e devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados. Outra maneira refere-se a produtos adquiridos pela internet, em que o consumidor tem o direito de arrepender-se da compra em até uma semana a contar da data de recebimento do produto. Há também o caso de retorno de embalagens, em que acontece

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basicamente em função da sua reutilização - fator econômico ou devido a restrições legais - fator ambiental.

Existem dois subsistemas reversos: os canais reversos de reciclagem e os canais reversos de reuso. Além disso, observa-se que parte dos produtos de pós - consumo tanto pode ser destinado a sistemas de descarte final mais seguro que não danifiquem o meio ambiente quanto àqueles que provocam impactos maiores. Especificamente, do consumidor final, os produtos podem seguir para um local seguro de descarte como aterros sanitários e depósitos específicos, descartado incorretamente na natureza e poluindo o ambiente ou retornar a cadeia de distribuição reversa. Já em relação aos canais de distribuição reversos de pós-venda os bens retornam, com pouco ou nenhum uso. Estes fluem no sentido contrário, do consumidor ao varejista ou ao fabricante, entre empresas por razões comerciais, problemas na qualidade como falhas de funcionamento, garantias dadas pelos fabricantes ou erros nos processamentos de pedidos LEITE (2003).

2.2 Classificação de depósito do lixo. O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais -

CREA-MG classifica como o lixo é depositado em: Lixão: são depósitos de lixo a céu abertos, geralmente localizados nas

periferias das cidades. Os caminhões de lixo depositam o seu conteúdo nesses locais sem nenhum tratamento. Deriva da deposição de lixo, o chorume, que é um liquido tóxico com múltiplos agentes patogênicos que se infiltra no solo contaminando lençóis freáticos e cursos d’água. Atrai pragas como insetos e ratos, podendo provocar doenças em pessoas e criações. Além disso, produz gás inflamável e odores.

Aterro Controlado: Há uma contenção do lixo que, depois de lançado no depósito, é coberto por uma camada de terra. Este sistema minimiza o mau cheiro e o impacto visual, porem, não dispõe de impermeabilização de base (contaminando o solo e o lençol d’água) nem de sistema de tratamento do chorume ou do biogás.

Aterro Sanitário: O diferencial do aterro sanitário é a maior responsabilidade com o tratamento do lixo. Desde a seleção da área, até a preparação do terreno, operação, determinação de vida útil e recuperação da área após o seu encerramento, tudo é pensado, preparado e operado de maneira racional para evitar danos ambientais e a saúde pública. O terreno de um aterro sanitário é impermeabilizado para evitar que o chorume contamine o solo e o lençol freático, além de ter um sistema de captação desse liquido para posterior encaminhamento para tratamento. O lixo é compactado e recoberto periodicamente com uma camada de terra. Não há catadores em atividade no terreno e a quantidade de resíduos que entra é controlado. Há um sistema de captação e armazenamento ou queima do gás metano resultante da decomposição da matéria orgânica. Ao final da vida útil, a empresa que opera é responsável por efetuar um plano de recuperação do terreno.

2.3 - Considerações e Motivos para reciclar De acordo com as informações do sítio virtual Ambiente Brasil (2008), reciclagem é

um processo industrial que converte o lixo descartado (matéria-prima secundária) em produto semelhante ao inicial ou outro. O sitio virtual, também destaca os principais benefícios da reciclagem a seguir.

Contribuir para diminuir a poluição do solo, água e ar. Melhora a limpeza da cidade e a qualidade de vida da população. Prolonga a vida útil de aterros sanitários. Melhora a produção de compostos orgânicos.

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Gera empregos para a população não qualificada. Gera receita com a comercialização dos recicláveis. Estimula a concorrência, uma vez que produtos gerados a partir dos reciclados

são comercializados em paralelo àqueles gerados a partir de matérias-primas virgens. Contribui para a valorização da limpeza pública e para formar uma consciência

ecológica. Um conceito diretamente relacionado com a reciclagem seria a coleta seletiva, essa

seria o reaproveitamento de resíduos que normalmente é chamado de lixo e deve sempre fazer parte de um sistema de gerenciamento integrado de materiais recicláveis, tais como papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados na fonte geradora. Estes materiais são vendidos às indústrias recicladoras ou aos sucateiros.

Conforme CEMPRE (2008) a coleta seletiva pode-se dividir em quatro modalidades principais: domiciliar, em postos de entrega voluntária, em postos de troca e por catadores. A domiciliar assemelha-se ao procedimento clássico de coleta normal de lixo. Porém, os veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que não coincidam com a coleta normal. Já a coleta em PEV - Postos de Entrega Voluntária ou em LEV - Locais de Entrega Voluntária utiliza normalmente contêineres ou pequenos depósitos, colocados em pontos fixos, onde o cidadão, espontaneamente, deposita os recicláveis. A modalidade de coleta seletiva em postos de troca se baseia na troca do material entregue por algum bem ou benefício e por fim os catadores realizam a coleta seletiva em domicílios, nas ruas e pontos comerciais.

O sucesso da coleta seletiva está diretamente associado aos investimentos feitos para sensibilização e conscientização da população. Geralmente, quanto maior a participação voluntária em programas de coleta seletiva, menor é seu custo de administração. Não se pode esquecer também a existência do mercado para os recicláveis.

3. METODOLOGIA Conforme os objetivos propostos, este trabalho se classifica como Diagnóstico e

Desenvolvimento. Uma das metodologias empregadas para o desenvolvimento foi o diagnóstico do meio-ambiente. Segundo Ferrari (1982, p. 308), meio ambiente é um conjunto de circunstancias ou de condições dentro dos quais os agentes devem ser observados. Estas condições podem afetar o comportamento dos agentes, mas esses efeitos não constituem o objetivo do trabalho.

Os três principais agentes de materiais recicláveis em Viçosa são pertencentes à Associação de Catadores de Viçosa - ACAMARC – ACAT. Estes se dividem em coletadores munidos de um galpão, coletadores individuais e trabalhadores da usina de reciclagem – usineiros/manipuladores.

O trabalho focou nos dez coletadores munidos de um galpão, localizado na região central deste município, no entanto os catadores individuais, também foram entrevistados. Além destes, os trabalhadores da usina de reciclagem também contribuíram para a elaboração do artigo.

Para a coleta de dados foram usadas fontes primárias e secundárias. Para tanto, foram consultados periódicos, livros, artigos de revistas da área de logística reversa, cooperativas, autogestão, reciclagem e afins, sítios eletrônicos, discussões e trocas de informações com agentes envolvidos, assim como entrevistas.

Os coletadores individuais responderam os questionários nas ruas do município de Viçosa e no Centro de Referencia de Assistência Social - CRAS-II. Estes centros são também conhecidos como Casas da Família, espaços físicos localizados estrategicamente em áreas de pobreza, onde acontecem os serviços, programas e projetos para famílias em situação de

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vulnerabilidade social. Pelo exposto, verifica-se a relevância desta entidade para os coletadores viçosenses, que são pertencentes de famílias que, em decorrência da pobreza, estão vulneráveis, privadas de renda, educação e do acesso a serviços públicos. Já os coletadores munidos de um galpão responderam no CRAS – II e na ACAMARC-ACAT. Além disso, foram realizadas entrevistas com a secretária de agricultura de Viçosa, com a coordenadora do CRAS-II, responsável pela criação da ACAT e com os manipuladores de materiais reciclados.

Segundo o critério de classificação de pesquisa proposto por Vergara (2010,48), quantos aos fins, o trabalho trata-se de uma pesquisa aplicada. Este tipo de pesquisa possui finalidade pratica que é motivada, essencialmente, pela necessidade de solucionar problemas concretos, mais imediatos ou não. Assim, o trabalho expõe as características do processo de coleta de lixo do município de Viçosa. Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa de campo, porque foi realizada uma investigação empírica num local onde ocorreu um fenômeno.

3.2 Operacionalização das variáveis A população de catadores de materiais recicláveis de Viçosa é de trinta catadores,

composta de dez munidos do galpão e vinte individuais. Destes, vinte e oito foram entrevistados. O critério adotado na elaboração da amostra foi a conveniência e facilidade de acesso a informações.

Além disso, a coleta de dados realizou-se por meio de observação participante, regulamentos e entrevistas com a Assistente Social responsável pela ACAMARC, desde sua formação em 2000. Os trabalhadores da usina, antigos catadores do lixão a céu aberto, não foram entrevistados, devido, principalmente a menor acessibilidade.

No Brasil, a composição do plástico no total de materiais recicláveis é da ordem de 22%. Como o acesso aos registros da quantidade de plástico, tanto dos coletadores munidos de galpão, dos individuais e dos trabalhadores da usina de reciclagem foi dificultado, esta proporção de 22% foi utilizada para estabelecer o volume do plástico no total de materiais recicláveis coletados por estes agentes. CEMPRE (2008)

Mais de 98% dos 22% do peso do plástico são de plástico firme, objeto de estudo da pesquisa, já que os preços e considerações foram embasados neste tipo de plástico. Assim a baixa proporção de outros plásticos no total da composição de 1 a 2 %, portanto não afetará significativamente a pesquisa.

Os preços verificados na pesquisa não servem de base para análise nos meses de: dezembro, janeiro e fevereiro, devido entre outros fatores a queda dos mesmos nesta época de baixa demanda. As indústrias que “puxam” a cadeia estão devidamente abastecidas, influenciando no preço de toda a cadeia.

Devido à dificuldade de acesso ao registro do volume coletado pelos 20 coletadores individuais e considerando que as características de trabalho sejam semelhantes foi feita uma interpolação que resultou no volume coletado desta categoria. Para tal, foi usada a proporção de 2/1, já que o número de catadores individuais (20) é o dobro dos coletadores munidos de galpão (10) estipulou-se que o volume por eles coletados seja aproximadamente 30.000 kg, isto é, o dobro da quantidade dos 15.000 kg coletados, atualmente, pelos coletadores munidos de galpão.

Para analise de agregação de valor foram demonstradas cinco maneiras de comercialização dos materiais, incluindo as atuais e hipóteses. Na análise do resultado foram criadas duas categorias de separação de lixo: a rudimentar e a apropriada. A primeira não separa eficazmente os materiais, o que prejudica a agregação de valor. A outra separa rótulos, tampinhas plásticas e tipos de plásticos por categoria, medida que incorre em maior agregação de valor.

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4 - ANÁLISE E DISCUSSÃO 4.1 - Diagnóstico da situação da ACAMARC-ACAT 4.1.1 - Histórico Em meados dos anos 80, havia basicamente dois grupos de catadores de lixo em

Viçosa; os que coletavam materiais recicláveis do lixão localizado na Rodovia Viçosa – Porto Firme e os do centro, que realizavam suas coletas nas ruas da cidade.

Em 1981, a Comissão de Política Ambiental – COPAM, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 5º da lei nº 7.772 proibiu no Estado de Minas Gerais o depósito de resíduos em locais sem nenhum tratamento. Assim, os municípios foram obrigados a transformarem os lixões a céu aberto, no mínimo, em aterro controlado. Apesar da imposição legislativa, a medida seria apoiada pelo governo estadual que contribuiria através de recursos financeiros e capacitações de acordo com a necessidade especifica de cada município. Os recursos foram sendo destinados para a transformação do lixão a céu aberto em aterro controlado, processo que perdurou até o ano 2000. No entanto, a concretização do aterro controlado, sem atentar para suas conseqüências, prejudicou significativamente as pessoas que dependiam direta ou indiretamente da atividade de coleta do lixo, como por exemplo, o grupo de catadores do lixão, que foram impedidos de trabalhar no mesmo.

Concomitantemente, com o intuito de amenizar as conseqüências sociais do fechamento do lixão, foi firmada uma parceria entre a Universidade Federal de Viçosa – UFV, Prefeitura Municipal de Viçosa - PMV e os catadores de ruas e do lixão. A parceria originou a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Viçosa - ACAMARC em que a UFV disponibilizaria pelo prazo de dez anos sua usina de reciclagem, situada nos arredores do município de Viçosa. A prefeitura se responsabilizaria pelo abastecimento, finalização e manutenção da usina, além de maquinários e equipamentos necessários à operação da mesma. Ademais, contribuiu com a disponibilização de um funcionário responsável pelo patrimônio e manutenção da usina. A Secretaria de Assistência Social de Viçosa, dentre outras atribuições, ficou responsável pela formalização e legitimação da ACAMARC, além de orientar e organizar do trabalho dos catadores. Por fim, os catadores forneceriam a mão de obra necessária às operações.

Com a ACAMARC as pessoas que anteriormente vinham trabalhando no lixão a céu aberto foram alocadas para usina de reciclagem, tornando-se manipuladores/usineiros. Os outros catadores que já trabalhavam na cidade, antes da transformação do lixão, em aterro controlado permaneceram coletando materiais no mesmo local.

Inicialmente, a ACAMARC previa o trabalho em conjunto entre os catadores de ruas e os trabalhadores da usina. Os materiais coletados pelos catadores da cidade seriam transportados para a usina, para então serem beneficiados pelos usineiros/manipuladores. No entanto, devido à falta de veículos para este transporte a prefeitura não cumpriu o estabelecido e passou a transportar somente materiais oriundos da coleta regular do município de Viçosa. Desta maneira, os catadores da cidade, sem condições de transportar os materiais para a usina, então precisaram trabalhar separados dos trabalhadores da usina.

Visando facilitar as operações logísticas e comerciais dos coletadores, a ACAMARC proporcionou um galpão no centro de Viçosa. Contudo, como o espaço físico destinado não foi suficiente para todos os catadores, estes se dividiram em dois grupos. Um munido do galpão que praticava a comercialização em conjunto e os restantes que, por não usufruírem de um local de armazenamento, bem como outros fatores, entregavam os materiais coletados para atravessadores de Viçosa.

Com o intuito de suprir as carências dos catadores e assim melhor ampará-los a

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Secretaria de Assistência Social destinou alguns dos seus funcionários para o acompanhamento da situação. No qual, em 2005, em conjunto com professores do Departamento de Nutrição da UFV submeteram um projeto de extensão para o CNPQ - Conselho Nacional de Fomento a Pesquisa. O projeto visava criar um programa dentro da ACAMARC, ou seja, Associação de Catadores - ACAT para arrecadar fundos para bens, equipamentos e uniformes para melhorar a situação dos catadores do galpão e dos individuais, além de bolsas de extensão para que os estudantes da UFV, também pudessem acompanhá-los. As bolsas foram destinadas para que os catadores tivessem acompanhamentos de exercícios físicos e ergonométricos.

Com a aprovação do projeto e criação da ACAT foram conseguidos recursos de natureza diversas como bolsas, bens e equipamentos. A ACAT, associação de todos os catadores de Viçosa, também foi formada pela dificuldade dos catadores do galpão e os dos individuais trabalharem em conjunto com os usineiros/manipuladores. Para fins da pesquisa, ACAMARC-ACAT é a junção da ACAMARC e seu outro braço denominado ACAT.

Atualmente, o galpão localizado na região central de Viçosa, onde ocorre operações de seleção e comercialização de materiais recicláveis, é também sede da ACAMARC-ACAT. Esta associação é formada pela junção dos coletadores munidos de galpão, dos coletadores individuais e pelos trabalhadores da usina. No entanto, com exceção dos trabalhadores do galpão, que comercializam em conjunto, repartindo os custos, não há sinergia entre estes agentes.

4.1.2 - Características dos agentes da ACAMARC-ACAT 4.1.2.1 Os catadores do galpão Os catadores do galpão são remanescentes do acordo que resultou na criação da

ACAMARC em 2000. No entanto, ressalta-se que sempre realizaram sua coleta de lixo no centro, até mesmo depois da criação da associação. Coletam nessa região pela comodidade em relação à proximidade do galpão e a conveniência de adquirir materiais recicláveis dos comerciantes, que contribuem com parcela significativa no total coletado.

Em 2009, dez catadores operavam num galpão de aproximadamente 200 m², destinado à estocagem dos materiais. A despesa do galpão é compartilhada entre prefeitura e catadores. Apesar de o galpão possuir treze baias, que são divisões destinadas à estocagem do material recolhido, apenas dez apresentava-se ocupadas na época do estudo. A organização atual é de uma baia para cada catador, com as despesas sendo compartilhadas entre prefeitura e catadores.

Quanto aos procedimentos, verificou que a coleta tem seu inicio no trajeto das casas dos catadores até o galpão. Neste local apanham o carrinho da associação, realizam a coleta nas ruas, pontos comerciais, condomínios e retornam ao galpão. A separação dos materiais e prensagem em fardos varia com a disponibilidade de tempo e modo de trabalho de cada catador, que pode ser diariamente, semanalmente ou até quinzenalmente. A freqüência do trajeto local trabalho-galpão pode atingir quatro vezes por dia, dependendo da oferta dos materiais recicláveis. A separação e prensagem do material são seguidas pela pesagem, que deve ser formalizada tanto em caderneta própria do catador quanto no livro de controle geral, especificando nome do catador, data da operação e quantidade prensada. Esta fase, a exemplo das fases anteriores, varia de acordo com a disponibilidade de tempo e maneira de trabalho do catador. Depois de separado, prensado e pesado o lixo apresenta-se pronto para a comercialização.

O volume de materiais recicláveis recolhidos, mensalmente, pelos dez catadores munidos do galpão é da ordem de 15.000 kg. Deste montante, papel, papelão e plástico são

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destinados para a Indústria Paraibuna Embalagens, localizada no município de Juiz de Fora – MG. Outros materiais, como o alumínio, são comercializados com atravessadores primários de Viçosa. Geralmente, a Paraibuna realiza a coleta dos materiais mensalmente, mas a peridiocidade e a freqüência podem variar de acordo com o volume de materiais disponíveis no galpão, necessidade dos catadores ou da própria empresa.

A Paraibuna coleta os materiais recicláveis por meio de veículos próprios, sem nenhum ônus à associação, desde que esta operação seja superior a 5.000 kg de papel, papelão e plástico. Ela assume o compromisso de adquirir os produtos recicláveis por um valor acima do mercado. Os contatos entre a empresa e associação são realizados por telefone e o pagamento é realizado de acordo com a necessidade dos catadores, podendo ser pessoalmente ou por intermédio de agencias bancárias. Convém ressaltar que não existe uma pessoa especifica encarregada dessas tarefas.

A ACAMARC-ACAT é formada por coletadores munidos de um galpão, coletadores individuais e trabalhadores da usina de reciclagem – usineiros/manipuladores. É composta pelo seguinte corpo administrativo: Presidente, Vice-Presidente, Tesoureiro (2), Secretário (2) e Fiscal (2), todos catadores, eleitos em Assembléia. Contudo, seus representantes, quase sempre, advém dos coletadores do galpão, as vezes pelos coletadores individuais e raramente pelos usineiros/manipuladores. Essa estrutura denota cada vez mais o distanciamento entre os agentes formadores da associação.

Os representantes desenvolvem tarefas multifuncionais, muitas vezes, não relacionadas com a função do cargo ocupado. A estrutura organizacional estabelecida foi pré-requisito para a formação da Associação. O acesso aos regimentos e normas da ACAMARC-ACAT não foi possível, mas em entrevista com os seus responsáveis e catadores estabeleceram-se, informalmente, as atribuições, procedimentos normas e regulamentos da associação.

O regimento impõe termo de compromisso para o novo associado de seis meses a um ano, dependendo da situação. Os associados devem primar pela manutenção e limpeza do galpão no horário comercial que é estabelecido das 07h00minh às 18h00minh. A pesagem dos materiais coletados deve ser realizada semanalmente. E sua comercialização realizada em conjunto. Além disso, por medida de segurança, os catadores não devem empurrar carrinhos acima do limite de peso estabelecido. Essas normas e regulamentos são dirigidos especificamente aos associados munidos do galpão.

Os catadores são apoiados por atividades das mais diversas possíveis como: reuniões intra-organizacionais, cursos de capacitação como trabalho em equipe, alfabetização, artesanato, técnicas de reciclagem; saneamento e acompanhamento relacionado à Ergonometria e a prática de exercícios físicos.

4.1.2.2 - Catadores individuais O volume coletado pelos catadores individuais é da ordem de 30.000 kg. Estes

trabalhadores coletam os materiais recicláveis no centro de Viçosa, principalmente pela proximidade com intermediários primários (sucateiros) e comerciantes, provedores de materiais recicláveis oriundos de seus negócios. Os intermediários primários além de comprarem dos coletadores individuais, fornecem os carrinhos para a coleta. Essa relação é desigual, gerando dependência e endividamento dos coletadores para com os sucateiros.

Os coletadores individuais possuem praticamente os mesmos acompanhamentos, treinamentos e instruções que os catadores munidos do galpão. Na sede da ACAMARC – ACAT há três baias desocupadas, portanto, suficiente para três catadores adicionais. No entanto, os coletadores individuais alegam diversos motivos para não utilizarem o galpão. Enquanto uns declaram dependência dos intermediários primários, por endividamento; outros

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declaram a necessidade de uma renda diária, situação incomum no grupo munido de galpão, principalmente, por causa comercialização com a Paraibuna, que se realiza mensalmente. E ainda há aqueles - menor parcela- que alegam a distancia do galpão em relação ao centro de coleta, como sendo o principal fator desmotivador de inclusão.

A presente pesquisa revelou a cadeia de logística reversa dos coletadores individuais. Esta se inicia com os coletadores individuais, que comercializam o material reciclável com sucateiros de Viçosa (intermediários primários), que por sua vez repassam para outro intermediário localizado na região dos municípios de Cataguases ou Leopoldina. Os materiais coletados destas localidades seguem para intermediários de Juiz de Fora. Finalmente, estes intermediários repassam para fabricas de grande porte em cidades como Brasília e Rio de Janeiro, bem como para os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Vale ressaltar que, a cadeia descrita, apesar de comum, não é a única.

4.1.2.4 - Usineiros/ Manipuladores O terceiro elo da ACAMARC-ACAT, mas não menos importante, é formado por 58

usineiros/manipuladores. A maior parte destes trabalhadores são ex-catadores que trabalhavam no lixão da Rodovia Viçosa – Porto Firme, antes de sua transformação em aterro controlado. Contudo, como a mão de obra necessária para as operações na usina era insuficiente foram recrutados outros colaboradores.

A usina, localizada nos arredores do município de Viçosa é responsável pela prensa de cerca de 15.000 Kg de materiais recicláveis.

Os manipuladores, trabalhadores responsáveis pela triagem e prensa do lixo, não racionalizam o processo de reciclagem, incorrendo em ineficiência e baixa lucratividade. O clima organizacional também prima por intervenções, tanto que para evitar conflitos e interrupções das operações, foi necessário a criação de turnos de trabalho diferenciados. As tarefas dos manipuladores são operacionais, padronizadas e fáceis de serem apropriadas, consequentemente, estes trabalhadores são facilmente substituídos. No entanto, optou-se pela criação de turnos porque a usina de reciclagem tem um cunho social muito enraizado.

As operações se iniciam com a prefeitura, que transporta o lixo da coleta convencional para a usina. Este material, dependendo da qualidade, possui dois destinos. O primeiro e mais comum é a transposição para o aterro controlado, situação verificada quando o lixo está impregnado de material orgânico. Tal combinação desvaloriza consideravelmente os produtos ofertados, porque a limpeza do lixo, além de desperdiçar tempo, não recupera o seu valor. Dependendo da quantidade e qualidade do material reciclável os manipuladores/usineiros têm duas opções. A primeira é comercializar com intermediários maiores que, exigem melhor tratamento do lixo, mas pagam preços mais altos. Outra opção são os sucateiros locais - intermediários primários -, que pagam preço inferior, mas com menor grau de exigências.

Quanto a equipamentos, os usineiros/manipuladores estão munidos de prensas, carrinhos de transporte, uniformes, equipamentos de segurança.

5.2 – Análise do perfil dos catadores O perfil e as condições de trabalho dos catadores foram definidos a partir dos dados

coletados na aplicação dos questionários. Foram aplicados vinte e sete questionários de um universo de trinta catadores.

Na analise demográfica foi verificado que 16/27 da mão de obra era feminina e que 14/27 era composta por indivíduos acima dos 50 anos de idade. Além disso, 15/27 afirmaram possuir renda inferior ao salário mínimo. Do total, 4/27 recebiam aproximadamente um salário e meio. Vale ressaltar que, o restante da amostra optou por não revelar a renda. A

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pesquisa ainda mostrou que 27 entrevistados não concluíram o segundo ano do ensino fundamental. Destes 21/27 trabalham com os familiares, sendo 19/27 com o respectivo cônjuge.

Quanto às condições e métodos de trabalho apenas 3/27 alegaram trabalhar mais de 44 horas semanais, fazendo alusão à jornada de trabalho semanal prevista na Constituição Brasileira.

Ao serem indagados quanto à separação do plástico, 16/27 dos entrevistados responderam separar o plástico, no entanto o grau de separação pode ser questionado, pois nenhum deles retira rótulos e ou tampinhas das garrafas PET, por exemplo. A questão do tempo de separação do plástico incluiu também aqueles catadores que não realizam a separação, mas que pela experiência tem condições de responder. A pesquisa revelou que aproximadamente 18/27 dos entrevistados gastam ou poderiam gastar de dois a três dias no mês para separar o plástico.

5.3 – Análise da Agregação de Valor Foi realizada a análise de cenários atuais e propostos da cadeia de pós-consumo do

plástico, com o intuito de verificar a agregação de valor no decorrer da cadeia de distribuição desse material. O item quantidade mínimo verificado nas tabelas abaixo representa o volume mínimo exigidos pelos atravessadores para coletarem os materiais e praticarem o preço estabelecido nos quadros. Os preços de materiais recicláveis empregados na pesquisa são referentes ao ano de 2009.

5.3.1 - Cenários com atual capacidade produtiva A Tabela 1 mostra a situação dos catadores que não são munidos de galpão. Estes

comercializam os materiais coletados de maneira individual. Esta independência fortalece o poder de barganha dos intermediários primários (sucateiros viçosenses), que pagam valores aquém do mercado, em detrimento dos catadores individuais.

A desigualdade das relações e de poder de barganha decorre da individualidade na comercialização, não utilização de um local para armazenagem e falta de beneficiamento do lixo.

O montante de plástico coletado pelos catadores individuais é da ordem de 6.600 kg, alcançado pelo seguinte produto (15 toneladas de materiais recicláveis x 22% de plástico x fator 2 ( esse fator foi utilizado porque o numero de coletadores individuais (20) é exatamente o dobro dos coletadores munidos de galpão(10)). Esse volume significativo, não agrega valor ao material coletado porque a comercialização é realizada individualmente. Essa medida enfraquece o poder de barganha e dificulta o ganho de escala. Assim, pela individualidade de ações, não beneficiamento dos materiais e escala alcançada o quilograma do plástico é comercializado na faixa de 0,2 a 0,3 reais.

Tabela 1- Capacidade de plástico 6.600 kg (coletadores individuais)

Preço (R$) Quantidade mínima (kg) Agregação de valor

Plástico 0.20 - 0.30

Qualquer Nenhuma (nível 1)

Fontes: Dados da pesquisa

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O Tabela 2, relacionado aos catadores munidos de galpão, que trabalham de maneira conjunta, ilustra duas proposições: a proposição 1 que retrata a atual situação e a proposição 2 que propõe um novo cenário.

A proposição 1 retrata que a união dos catadores fortalece o poder de negociação dos mesmos. Isso ocorre devido à comercialização conjunta propiciada pela utilização de um local para armazenagem e pelo incipiente, mas existente tratamento do lixo.

O plástico é separado em três categorias: plástico firme, PETs e outros plásticos, incluindo sacolas, por exemplo. Os plásticos PET ainda são separados por cores. Posteriormente, todas categorias são prensadas num mesmo fardo. Essa maneira de seleção e beneficiamento é rudimentar, pois não separa o material apropriadamente e assim não alcança grande agregação de valor.

O plástico dos coletadores munidos de galpão, cerca de 3.300 kg mensais, é adquirido pela empresa Embalagens Paraibuna pelo preço de 0.5 reais/kg. No entanto, para realizar esta transação é exigido o mínimo de 5000 kg de materiais reciclávies (papel, papelão, plástico). Por esta razão, a quantidade cinco toneladas foi utilizada como parâmetro para a tabela 2.

A comercialização em conjunto, atrelado ao tratamento do material, colabora positivamente para a valorização do lixo como verificado no quadro 2 em comparação com o quadro 1.

A tabela 2 ainda apresenta a proposição 2, hipótese de beneficiamento com maior valor agregado do que as proposições anteriores , no qual o plástico seria comercializado numa faixa entre 1 a 1.15 reais. Nesse caso, seria necessário separar o material em mais de três categorias, superando a separação rudimentar. Faz se necessário classificar o plástico firme em mais categorias; quanto as garrafas Pets, além da separação por cores, é essencial retirar rótulos e as tampinhas, e por fim subclassificar a categoria outros plásticos. Ademais, é indispensável prensar o material em fardos para cada categoria e conscientizar os catadores quanto aos benefícios da maior racionalização dos materiais recicláveis.

Tabela 2 - Capacidade de plástico 5000 kg (coletadores do galpão)

Preço (R$) Qtd mínima (Kg) Agregação de valor

Proposição 1

0.50 5.000 kg

Separação rudimentar

Prensa conjunta do plástico. (Nível 2)

Proposição 2

1.10 - 1.15 5.000 kg

Separação apropriada Sem rotulo/tampinha Prensa por categoria

(Nível 3)

Fonte: Dados da pesquisa

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5.3. 2 – Cenário (ideal) com capacidade produtiva ampliada. A Tabela 3 revela uma situação hipotética com maior agregação de valor possível para

o município de Viçosa. Essa proposição prevê sinergia entre coletadores munidos de galpão, coletadores individuais e trabalhadores da usina de reciclagem. Vale ressaltar que, a união dos agentes manipuladores de materiais recicláveis de Viçosa continua sendo o objetivo principal da ACAMARC, desde sua criação, em 2000.

A união desses agentes elevaria consideravelmente a capacidade produtiva e, por conseguinte o poder de negociação do grupo. A sinergia destes agentes elevaria o montante a 13.000 kg de plástico que poderia ser comercializado diretamente com indústrias cariocas e paulistanas, praticamente eliminando os atravessadores. Plásticos com tratamentos similares à proposição 2, potencializados pelo maior volume, poderiam ser comercializados na faixa de 2.20 a 2.40 kg. Contudo, para a concretização deste cenário hipotético far-se-a necessário mais investimentos financeiros e de produção, além da capacitação e a conscientização dos catadores quanto aos benefícios dessa união.

Tabela 3- Capacidade 60.000kg (Galpão, individuais e usineiros)

Preço (R$) Qtd mínima (Kg) Agregação de valor

Plástico 2.20 - 2.40

13.000 kg

Separação apropriada Sem rotulo/tampinha Prensa do plástico por categoria (nível 4)

Fonte: Dados da pesquisa

6 - CONCLUSÃO Apesar do significativo valor econômico, social e ambiental atribuído ao tema

reciclagem foi verificado que Viçosa apresenta-se aquém do padrão estabelecido pelas autoridades, entidades e órgãos que fiscalizam, normatizam ou influenciam estas operações.

Em 2009, o trabalho analisou os coletadores individuais, trabalhadores da usina de reciclagem e coletadores munidos de galpão, principais grupos de manipuladores de materiais recicláveis de Viçosa. Apesar de estes agentes pertencerem a ACAMARC-ACT, associação que previa a união de todos envolvidos no processo de reciclagem viçosense, apenas os coletadores do galpão comercializam em conjunto e, por conseguinte auferiam benesses de agregação de valor, proporcionadas pelo ganho de escala e poder de barganha. No entanto, essa união ainda se encontra num estágio rudimentar e incipiente no que tange à agregação de valor.

De maneira geral, a separação dos materiais e mais especificamente dos plásticos não é eficiente, o que contribui para a perda da agregação de valor.

Para se ter uma idéia da importância deste fator, a pesquisa revelou que partindo da situação dos coletadores individuais, por sinal mais preocupante, ineficiente e sem agregação de valor (tabela 1), para uma situação sinérgica (tabela 3) e de maior agregação de valor, obtém - se um ganho de receita superior a sete vezes. O maior nível de agregacao de valor proposto na tabela 3 é desafiador, porquanto exige visão e praticas integrada da cadeia logística reversa de reciclagem de Viçosa. Far-se a necessário racionalização dos procedimentos operacionais, recursos financeiros e de produção, além da capacitação e a conscientização dos catadores quanto aos benefícios da união.

Nem é necessário tamanho esforço e integração, pois se a agregação de valor fosse,

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pelo menos, duplicada, isso significaria duplicação de renda de trabalhadores que, em sua maioria, sobrevivem por intermédio de salário mínimo. Ademais, eficiência neste caso, significa mais leite e pão na cesta de gente que sofre diretamente os efeitos da baixa instrução, descaso do poder publico e preconceito.

Apesar da precária situação dos catadores e trabalhadores da usina de reciclagem a criação da ACAMARC, assim como seu complemento ACAT contribuíram positivamente para a gestão sócio-ambiental, por conseguinte para o município de Viçosa. Os agentes recicladores foram unânimes quanto à evolução verificada com o fechamento do lixão a céu aberto e conseqüente criação da ACAMARC. A usina contribuiu sobremaneira para melhorias no tratamento do lixo, que outrora era apenas despejado a céu aberto. Além disso, foi responsável pela geração de postos de trabalho para famílias em situação de vulnerabilidade social. Os catadores munidos de galpão, como exposto anteriormente, obtiveram vantagens da comercialização em conjunto. Até mesmo para os catadores individuais, elo mais vulnerável da cadeia de logística reversa viçosense, foram observadas melhorias, pois todos agentes do setor de reciclagem tiveram acesso a cursos de capacitação, acompanhamento biopsicossocial, máquinas e equipamentos.

Se os ganhos auferidos da agregação de valor, como mostrou o trabalho, é significativamente evidente e relevante, então por que motivo ainda existem três espaços desocupados no galpão, sem que nenhum coletador individual se interessasse por eles? A questão é mais profunda e complexa do que parece, assim não pôde ser respondida realisticamente pelo intermédio de questionários. Estes revelaram que, de maneira geral, os coletadores individuais não fazem menção de comercializarem em conjunto porque necessitam de renda semanal ou até mesmo diária, situação impraticável, devido aos acordos de acumulação mínima, quando comercializam em conjunto. Além disso, consideram o percurso do galpão aos locais de coletas de materiais, significativamente longo, por conseguinte dificultador do trabalho.

Examinando esta situação criticamente inferem-se algumas conclusões. Apesar dos coletadores do galpão e individuais coletarem seus materiais praticamente na mesma região, a distancia percorrida do galpão aos locais de coleta é percebida de maneira distinta. Os primeiros, ao contrário dos individuais, não consideram esta distancia excessiva. Aliada, ao fato de que ambas as categorias de catadores situam-se na mesma faixa etária, infere-se que a distancia, provavelmente não é fator impeditivo para a união em torno da comercialização do galpão. Segundo, em entrevistas, com alguns cônjuges e familiares próximos aos catadores individuais, verifica-se a dependência e endividamento destes com os intermediários viçosenses (sucateiros). Situação, também confirmada em entrevistas com os coletadores do galpão, que mantém em sua maioria relação de proximidade e de amizade com seus pares individuais. Como se não bastasse, a literatura especifica cita como agravante da situação de coletadores informais ou autônomos a exploração, coibição e em alguns casos até escravização advinda dos intermediários.

Pelo exposto, infere-se que a precária situação dos coletadores de maneira geral, e especificamente dos individuais é agravada pela figura do atravessador, que de maneira geral, adquiri os materiais com preços abaixo do mercado. Assim, não associam aos catadores do galpão porque estão atrelados e dependentes dos atravessadores.

Para mitigar o poder da “máfia da reciclagem” e dependência de atravessadores, os coletadores podem trabalhar em galpões de reciclagem, mais equipados e com melhor infraestrutura, principalmente sob as formas de cooperativas. Nestes locais, unem forças para manterem a qualidade, aumentar a quantidade, e agregar valores aos materiais separados do lixo. Assim, obtêm preços mais atraentes no mercado e renda mais elevadas, com ganhos sociais, situação que ocorre guardada as devidas proporções, com os catadores munidos de galpão de Viçosa.

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Uma cooperativa, dependendo do nível de interação entre associados e tomada de decisões compartilhadas, pode ou não, estar inserida no bojo da gestão social, que “é um processo gerencial dialógico em que a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação (ação que possa ocorrer em qualquer tipo de sistema social – público, privado ou de organizações não governamentais.” (TENÓRIO apud PEREIRA et al., 2010). No entanto, apesar de comercializarem em conjunto e dividirem os custos das operações, não há gestão social na associação de catadores munidos de galpão. Essa situação contraditória ocorre porque, dentre outros fatores, os catadores de Viçosa sofrem com baixa instrução e educação, dificultando assim suas participações efetivas nas tomadas de decisões . Algumas vezes, medidas incompreendidas pelos coletadores ou até mesmo arbitrarias, são tomadas por pessoas alheias à associação favorecendo interesses pessoais em detrimento do coletivo.

7 - REFERÊNCIAS

Ambiente Brasil. A reciclagem. Recuperado em 10 de outubro, 2008, de http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=residuos/index.php3&conteudo=./residuos/reciclagem/plastico.html. CARVALHO, V. (2008). Catadores enfrentam condições degradantes de trabalho. Recuperado em 10 de agosto, 2010, de http://www.rts.org.br/noticias CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. Pesquisa Ciclosoft 2010. Recuperado em 05 de novembro, 2010, de http:/pesquisaciclosoft.com.br CREA – MG- Conselho regional de engenharia de Minas Gerais. Fiscalizações Regionalizadas Direcionadas. Informativo; Minas Gerais, Ano XII, nº 113. Julho/agosto. 2008 FERRARI, A.T. Metodologia da pesquisa cientifica. São Paulo: McGraw - Hill, 1982. p 308 LEITE, P. R. (2003). Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitividade. São Paulo: Prenctice Hall.

NOGUEIRA, Amarildo. Logística Reversa no Brasil. Recuperado em 03 de outubro, 2008, de http://www.ogerente.com.br/log/dt/logdt-an-logistica_reversa_brasil.htm.

PEREIRA, J. R; TENÓRIO, F. G; CANÇADO, A.C. Gestão social: uma proposta para a delimitação de um campo em construção. (2010) UNESP- Universidade do Estado de São Paulo. Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS - Lei 12.305/2010-. Recuperado em 07 de outubro, 2010, de http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/download/Projeto%20PNRS.pdf VERGARA S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2010. p 148.