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Lógica e Produção de Textos 2º PERÍODO Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto PALMAS-TO/ 2006 1

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EAD UNITINS – LÓGICA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS

Lógica e Produção de Textos

2º PERÍODO

o

Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazott

PALMAS-TO/ 2006

1

EAD UNITINS – LÓGICA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICI

ÁRIAS

2

Fundação Universidade do Tocantins

Reitor: Humberto Luiz Falcão Coelho Pró-Reitor Acadêmico: Galileu Marcos Guarenghi

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Extensão: Maria Luiza C. P. do Nascimento

Pró-Reitora de Pesquisa: Antônia Custodia Pedreira

Pró-Reitor de Administração e Finanças: Maria Valdênia Rodrigues Noleto

Diretor de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais: Claudemir

Andreaci

Equipe Pedagógica – Unitins Coordenação do Curso: José Kasuo Otsuka

Conteúdos da Disciplina: Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto

EAD UNITINS – LÓGICA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS

Apresentação Recomeçando...

Lógica e Produção de Textos

Você está recebendo agora o material do 2º semestre referente à Língua

Portuguesa. Neste momento, aprofundaremos nossos estudos em Linguagem Jurídica, além de construirmos, passo a passo, as peças que fazem parte de

um Processo Cível em primeira instância.

No 1º período, na disciplina de Matrizes e Métodos da Linguagem Forense, tentamos entender o universo do Discurso Jurídico. Aprendemos

que há vários níveis de linguagem na nossa língua, e que devemos respeitar

todos. Porém, o nível utilizado na linguagem jurídica é o nível da Língua Padrão, acrescentado a ele os termos técnicos jurídicos. Vimos uma peça

jurídica chamada Petição Inicial, formas de discurso e argumentação, as

informações implícitas e os operadores argumentativos. Além disso,

tivemos contato com a estilística da linguagem jurídica e com a importância da

argumentação por meio da leitura do livro de Antônio Suárez Abreu “A Arte de Argumentar”.

Neste período, estamos interessados na produção de textos jurídicos. Para que entendamos esse novo gênero, retomaremos alguns

pontos como: linguagem verbal e não-verbal, os níveis de linguagem e

também os níveis da linguagem técnica jurídica, e os operadores argumentativos. Acrescentaremos às nossas informações, os tipos de discursos na linguagem jurídica e a produção de textos jurídicos que fazem

parte de um Processo Cível em primeira instância. Como em todas as peças

desse processo utilizamos, além da linguagem técnica, a língua padrão,

também aprofundaremos nossos estudos gramaticais analisando as regras

de concordância verbal, formas de utilização do particípio e algumas

dificuldades de uso, principalmente de palavras parônimas.

Os temas deste semestre devem ser complementados pela leitura dos

livros indicados na referência bibliográfica.

Lembre-se de que, para acompanhar as discussões, você precisa

assistir às aulas, estudar e resolver os exercícios propostos.

Bons estudos!

“O escrever não tem fim.”

Scribendi nullus finis.

Fedro - Fábulas

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Plano de Ensino

CURSO: Seqüencial de Formação Específica em Fundamentos e Práticas Judiciárias PERÍODO: 2º DISCIPLINA: Lógica e Produção de Textos

EMENTA

Leitura e produção de textos jurídicos e acadêmicos. Linguagem verbal

e não-verbal. Cisão e coerência. Argumentação. Normas e usos do português

padrão. Reconhecimento e utilização da apresentação de um problema;

unidade expressiva; argumentação exaustiva e coerente; recursos retóricos

persuasivos; apresentação de contra-argumentação; finalização; distinção

entre diferentes usos do texto jurídico.

OBJETIVOS

• Incentivar o desenvolvimento reflexivo-teórico sobre a língua e níveis

de linguagem jurídica;

• ler, interpretar e redigir textos do gênero jurídico;

• conhecer as condições argumentativas de produção textual de vários

gêneros jurídicos;

• dominar e perceber as várias formas de argumentar.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

• Linguagem Verbal e Não-Verbal

• Níveis de Linguagem

• Tipos de Discurso

• Operadores Argumentativos

• Produção Textual Jurídica:

• Petição Inicial

• Contestação

• Impugnação

• Decisão Saneadora

• Alegações Finais: autor/réu

• Sentença

• Concordância Verbal e Formas de Particípio

• Metodologias de Leitura e Compreensão de Textos

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 12.ed. São Paulo: Ática, 2004.

ANDRADE, Maria Margarida de; HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa:

noções básicas para cursos superiores. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2004.

BARBOSA, E.; AMARAL, E. Escrever é desvendar o mundo: a linguagem

criadora e o pensamento lógico. 3.ed. São Paulo: Papirus, 1988.

COELHO, Fábio Ulhoa. Roteiro de lógica jurídica. 5.ed. São Paulo: Saraiva,

2004.

RODRÍGUEZ, Victor Gabriel. Argumentação Jurídica - Técnicas de persuasão

e lógica informal. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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Sumário Tema 1 – Linguagem Verbal e Não-Verbal

Introdução .................................................................................................. 08 Elementos da Comunicação........................................................................10

Funções da Linguagem ...............................................................................11 Língua Oral e Língua Escrita...................................................................... 13 Níveis de Linguagem- Níveis da Linguagem Jurídica ............................... 14 Atividades .................................................................................................. 16

Tema 2 – Tipos de Discurso

Introdução ..................................................................................................19 Argumentação e Fundamentação ............................................................. 20 Progressão Discursiva e Coerência............................................................20 Tipos de Argumento....................................................................................23 Atividades .................................................................................................. 26

Tema 3 – Operadores Argumentativos

Introdução ................................................................................................ 28 Articulação Sintática de Oposição ............................................................ 28 Articulação Sintática de Causa...................................................................30 Articulação Sintática de Condição..............................................................30 Articulação Sintática de Fim.......................................................................31 Articulação Sintática de Conclusão............................................................31 Articulação Sintática de Adição..................................................................32 Articulação Sintática de Disjunção.............................................................32 Atividades ..................................................................................................33

Tema 4 – Produção Textual Jurídica I

Introdução .................................................................................................. 35 Petição Inicial............................................................................................. 36 Contestação................................................................................................41 Atividades .................................................................................................. 47

Tema 5 – Produção Textual Jurídica II Impugnação............................................................................................... 48 Decisão Saneadora....................................................................................51 Atividades ................................................................................................. 52

Tema 6 – Produção Textual Jurídica III Alegações Finais.........................................................................................54 Autor............................................................................................................54 Réu..............................................................................................................55 Atividades .................................................................................................. 56

Tema 7 – Produção Textual Jurídica IV Sentença................................................ ................................................... 57 Atividades .................................................................................................. 61

Tema 8 – Algumas Normas e Usos do Português Padrão Introdução .................................................................................................. 62 Concordância Verbal.................................................................................. 62 Atividades....................................................................................................65

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Usos do Particípio.......................................................................................66 Guia de Dificuldades...................................................................................68 Atividades .................................................................................................. 67

Tema 9 – Metodologias de Leitura e Compreensão de Textos Introdução .................................................................................................. 75 O Ato de Ler................................................................................................75 Resumo.......................................................................................................76 Atividades .................................................................................................. 79

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Tema 01

Linguagem Verbal e Não-Verbal Objetivos

Conhecer modos de comunicação verbais e não-verbais e utilizá-las de modo

adequado;

Identificar as várias funções da linguagem para aplicá-las no cotidiano;

Distinguir características básicas da linguagem oral e da linguagem escrita para

melhor redigir textos;

Relembrar os níveis de linguagem e aprofundar-se nos níveis da linguagem

jurídica;

Estudar as normas da língua padrão.

Introdução

Em muitos estudos e pesquisas realizadas sobre as competências e

habilidades que devemos possuir para termos sucesso pessoal e profissional,

nesse século, sempre estão marcadamente presentes, segundo Antônio

Suárez Abreu (2001, p.11), as capacidades do “gerenciamento da informação

por meio da comunicação oral e escrita, ou seja, a capacidade de ler, falar e

escrever bem” (grifos meus).

Como podemos atingir o objetivo de “ler, falar e escrever bem?” A

resposta é simples: lendo, falando e escrevendo...

O desenvolvimento dessas capacidades está intimamente relacionado

ao exercício diário, à persistência e, principalmente, ao conhecimento da nossa

língua. São muitas as possibilidades que temos para ler um texto e

compreendê-lo, para nos expressarmos oralmente e sermos bem sucedidos,

de escrevermos e sabermos utilizar argumentos convincentes e persuasivos.

Em primeiro lugar, precisamos acabar com o que Lucília Helena do

Carmo Garcez (2001, p.2) chama de “mitos que cercam o ato de escrever”. São eles: escrever é um dom que poucas pessoas têm; é um ato espontâneo

que não exige empenho; é uma questão que se resolve com algumas dicas; é

um ato isolado, desligado da leitura; é algo desnecessário no mundo moderno;

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é um ato autônomo, desvinculado das práticas sociais. Se não conseguirmos

nos livrar dessas falsas crenças, seremos profissionais inseguros em relação à

própria expressão oral e escrita.

Em segundo lugar, temos de ter novas atitudes em relação à escrita e

à leitura, como escrever e ler todos os dias, acreditar que podemos escrever

bem, querer saber muito mais, ser curioso, ativo e reconhecer que pela escrita

e leitura participamos mais do mundo que nos rodeia.

Para que atinjamos os objetivos a que nos propomos – ler, falar e

escrever bem -, tão importantes no nosso fazer profissional diário, estudaremos

alguns conceitos sobre a comunicação, seus elementos, funções e níveis.

1. Linguagem Verbal e Não-Verbal Todo texto, para cumprir a função de trazer em si uma mensagem, uma

significação, precisa ser um todo, conjunto de palavras e frases que tenham

sentido. Como já vimos no semestre passado, para produzirmos um texto

precisamos ter em mente o nosso destinatário para adequarmos a linguagem,

sabermos que gênero textual utilizar, quais argumentos são adequados etc.

Assim, temos mais chances de sermos convincentes e atingirmos o objetivo

que temos em mente.

Veremos no próximo item que temos vários elementos no circuito da

comunicação: emissor, mensagem, receptor, contexto, canal e código. Para

entendermos o vem a ser a linguagem verbal e não-verbal, iremos nos

concentrar neste momento no código que utilizamos na comunicação.

O código pode ser verbal ou não-verbal. Vejamos os exemplos abaixo:

Código Não-Verbal Código Verbal: “Proibido seguir em frente.”

Podemos notar nos exemplos acima que ambos, tanto a

placa de trânsito com um símbolo quanto a placa com um aviso, querem dizer

a mesma coisa, mas foram ditas de forma diferente: uma utilizando um

“desenho”, uma “imagem”; e outro, as palavras.

Assim, sabemos que não nos comunicamos somente por meio de

palavras, mas de várias outras formas não-verbais, como por meio de: gestos,

imagens, sons, artes etc. Modernamente, estuda-se o modo de falar, vestir,

portar-se, andar etc. como formas de comunicação entre nós. Além da

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comunicação da mídia que nos bombardeia com imagens significativas e

ideológicas que devem ser “compreendidas”, lidas cuidadosamente.

A diferença entre a linguagem verbal e não-verbal é que a verbal utiliza

palavras como códigos, e a não-verbal utiliza vários outros recursos que não

a palavra.

2. Elementos da Comunicação Sabemos que utilizamos a linguagem para vários fins, mas aqui

veremos esse ato como processo de comunicação. Para tanto, é necessário

que tenhamos um emissor, um receptor, uma mensagem, um contexto, um

canal de comunicação e um código. Vejamos o circuito da comunicação:

CONTEXTO

EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR

CANAL

CÓDIGO

Vamos ver alguns desses elementos do circuito da comunicação na

análise de uma manchete de uma reportagem da Revista Jurídica Consulex,

ano IX – nº 204, de 15 de julho/2005, p.44, escrita por Cláudia Timóteo,

advogada.

Mensagem: todo significado que a imagem e o texto conseguiram passar para o receptor. Emissor: Cláudia Timóteo, advogada. Canal: a revista em que a reportagem foi publicada. Código: variado: Verbal: “Benefícios para

deficientes”, “respeitem!” Não Verbal: imagem de um símbolo

de Brasília; um deficiente em uma cadeira de rodas.

Contexto: quando foi publicada, em que revista, quem escreveu etc.

Assim, notamos que os elementos da comunicação estão presentes

em todas formas de interação por meio da linguagem – seja verbal ou não.

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Conforme a ênfase que damos aos elementos desse circuito, elegemos

uma determinada função da linguagem, conforme a nossa intenção ao

produzirmos um texto. Vejamos quais são essas funções.

3. Funções da Linguagem O esquema das funções da linguagem mais moderno que podemos

adotar é o de Roman Jakobson. Nele estão relacionados os elementos da linguagem às funções que a linguagem assume ao privilegiar um ou outro

item do circuito da comunicação. Podemos agora adicionar as funções aos

elementos da linguagem no circuito da comunicação.

CONTEXTO

Função Referencial ou Denotativa

EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR Função Função Poética Função Conativa Emotiva ou Apelativa

CANAL

Função Fática

CÓDIGO Função Metalingüística

Os exemplos que analisaremos agora acompanhados da teoria nos

auxiliarão no entendimento de como as funções da linguagem atuam nos

enunciados que produzimos, conforme o objetivo que estabelecemos.

Função Emotiva: quando utilizamos essa função, damos ênfase ao emissor. Há uma carga emocional, com linguagem subjetiva, exteriorização de

sensações e reflexões pessoais. Cardoso (2001, p.21) destaca que “sendo

uma mensagem centrada na própria pessoa que fala (emissor), é de se esperar

que o texto seja escrito em primeira pessoa, caracterizando-se pela

subjetividade (...).”

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Ex.: Sou a favor da legalização da eutanásia. É uma louvável alternativa que o homem

encontrou para morrer com dignidade, para evitar o suplício das dores vãs. (André Petry,

Revista Veja, 14/9/2005, p. 79)

Função Conativa ou Apelativa: centrada no receptor, essa função é muito

utilizada em publicidade, sermões e discursos, pois tem caráter persuasivo e se

aproxima do receptor para seduzi-lo, mudar seu comportamento. Também

Cardoso (2001, p.25) complementa que “como se volta para o receptor, esta

função marca-se pelo predomínio do imperativo e do vocativo”.

Ex.: As melhores práticas sobre gestão de pessoas em um só evento: VII ENCONTRO

DAS MELHORES EMPRESAS PARA VOCÊ TRABALHAR. (Anúncio da Guia VocêS/A

Exame, veiculado na Revista Veja, 26/10/2005, p.120) Função Poética: tendo como centro das atenções a mensagem, dá atenção à

elaboração do enunciado, o que conta é a construção do texto, tornando as

palavras instrumentos poéticos. Cuida-se da seleção e combinação das

palavras, podendo ter rimas e ritmo. Andrade e Henriques (2004, p.26) também

chamam essa função de estética, pois crêem que “há preocupação com a

beleza do texto. A linguagem é criativa, afetiva, recorre a figuras, ornatos,

apresenta ritmo, sonoridade”.

Ex.: “Os teus olhos são frios como espadas,/ E claros como os trágicos punhais;/ Têm

brilhos cortantes de metais/ E fulgores de lâminas geladas.” (Florbela Espanca, Frieza, in

Sonetos) Função Referencial ou Denotativa: essa função é utilizada quando se

privilegia o contexto. Assim, é própria para textos argumentativos,

dissertativos, informativos. Andrade e Henriques (2004, p.25) dizem que essa

função “destina-se a transmitir a informação objetiva, sem comentários de juízo

de valor. Seu objetivo é a notícia – isso. É, por excelência, a linguagem do

jornalismo, dos noticiários”.

Ex.: O Comitê da ONU entende que o direito à água deve ser previsto

constitucionalmente, pois, assim, as vítimas das violações perpetradas a este direito

terão assegurada uma adequada reparação e garantia da não-repetição de tais atos, de

maneira que, independentemente de qualquer circunstância, todos gozem de um

mínimo de água, tendo em vista a fragilidade da vida humana e a sua necessidade por

água limpa e saudável, como elemento vital à sobrevivência. (Revista Jurídica Consulex,

ano IX – nº 204, de 15 de julho/2005, p.53)

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Função Metalingüística: esta é centrada no código. A linguagem fala da

própria linguagem, como em dicionários, livros didáticos etc. Mas também a

poesia pode falar dela mesma, o cinema, a novela. Utilizamos essa função

para definir, explicar, ensinar algo.

Ex.: “Art.231. (redação antiga) Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de

mulher que nele venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no

estrangeiro: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.” Comentário de Thales Tácito:

o legislador acrescentou o verbo ‘intermediar’, bem como substituiu a expressão

‘mulher’ por ‘pessoa’; o sujeito passivo agora é mulher ou homem, tanto faz. (Revista

Jurídica Consulex, ano IX – nº 202, de 15 de junho/2005, p.48)

Função Fática: como é centrada no canal, tem por função estabelecer,

manter ou interromper o canal de comunicação. São expressões normalmente

sem conteúdo significativo.

Ex.: Bom dia! Como está quente, não? Será que vai chover?

4. Língua Oral e Língua Escrita

Quando temos claro que a linguagem oral e a escrita têm

características diferentes importantes, poderemos compreender melhor o

processo da oralidade e da produção textual. Daí a expressão tão conhecida

de que “ninguém fala como escreve”, ou vice versa.

Na oralidade temos muitos recursos expressivos que utilizamos para

ajudar na comunicação. Já na escrita, dispomos apenas da pontuação para

nos ajudar na organização e exposição das idéias, emoções, desejos etc.

Vamos acompanhar na tabela as principais diferenças na produção da

linguagem oral e escrita.

Fala Escrita

Interação face a face Interação a distância Planejamento simultâneo ou quase simultâneo à produção

Planejamento anterior à produção

Criação coletiva Criação individual Impossibilidade de apagamento Possibilidade de revisão Sem condições de consulta a outros textos Livre consulta A reformulação pode ser promovida tanto pelo falante como pelo interlocutor

A reformulação é promovida apenas pelo escritor

Acesso imediato às reações do interlocutor Sem possibilidade de acesso imediato O falante pode processar o texto, redirecionando-o a partir das reações do interlocutor

O escritor pode processar o texto a partir das possíveis reações do leitor

O texto mostra todo o seu processo de criação

O texto tende a esconder o seu processo de criação, mostrando o resultado

Ampla variedade lingüística Modalidade única (“língua padrão”) Elementos extralingüísticos, entonação Sinais gráficos

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Frases curtas Frases mais longas Redundâncias Concisão Flutuação da unidade temática Rigidez de unidade temática Aprendizagem ‘natural’ Aprendizagem ‘artificial’ Vamos ler uma conversação espontânea transcrita, e depois leremos

o texto escrito relacionado à conversação. Preste atenção nas diferenças!

L1 escuta... vai pintar um show com Chitãozinho e Xororó amanhã na PRAia cara...

vamos? ((animado))

L2 onde? ((sem muito interesse))

L1 lá no Boqueirão...

L2 amanhã? ((já com ar de impossibilidade))

L1 é: vamos embora logo cedo?

L2 não dá cara... tô cheio de serviço até a cabe::ça...

L1 ah::: faz o possível pra dar conta pelo menos até a hora do almo::ço... ((meio

indignado))

L2 mas tá choven::do... ((eles iriam de moto))

L1 qual é cara? No Ano Novo eu desci na maior CHUva e lá fez um sol legal... deu pra

aproveitar a praia... e:: chuva faz bem... Chuva dá SO::Rte cara... vamos lá...

L2 vou pensar...

L1 tá bom mas ó... dá um je::ito... vamos lá:: pô você só traba::lha... qual é::?...

Texto escrito Convidei um amigo para ir à praia do Boqueirão, de moto, assistir ao show de

Chitãozinho e Xororó que iria acontecer durante as comemorações do aniversário de São

Paulo. Ele não aceitou o convite de imediato, alegando que estava com muito serviço.

Fiquei indignado e pedi que ele fizesse o possível para dar conta até a hora do almoço,

mas ele arrumou outra desculpa: a de que estava chovendo. Comentei com ele que no

Ano Novo eu tinha ido com chuva e que lá estava um sol bom que até deu para

aproveitar a praia: além disso, disse-lhe que chuva fazia bem e que dava sorte, mas ele

ainda assim disse que iria pensar. Tem gente que é complicada!

5. Níveis de Linguagem

Aqui vamos somente revisar os níveis de linguagem estudados no

semestre anterior para nos aprofundarmos nos níveis de linguagem jurídica,

que é objeto de nosso estudo.

Vimos que há variação tanto no processo vertical (níveis

sociolingüísticos, profissional, classe social, cultural, grau de escolaridade,

sexo etc.) quanto no processo horizontal (motivos geográficos). E

classificamos essa variação lingüística em:

• Língua Culta ou Língua Padrão

• Língua Coloquial

• Língua Familiar

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• Língua Popular

• Língua Grupal:

• Regionalismos

• Gírias

• Línguas técnicas

Dentro da Língua Grupal temos as Línguas Técnicas, da qual faz

parte a Linguagem Jurídica. Mas a Linguagem Jurídica também tem

subníveis, conforme o objetivo da produção do texto e seu destinatário.

Podemos dividi-la em:

• Linguagem Legislativa: utilizada nos textos normativos;

• Linguagem Judiciária: utilizada nas peças de decisões judiciais;

• Linguagem Convencional: mais usada em contratos;

• Linguagem Administrativa: utilizada em editais, ofícios, ordens de

serviço;

• Linguagem Doutrinal: encontrada em artigos e obras de

interpretação jurídica. Essa classificação é importante para o estudo do discurso jurídico. Mas

não devemos nos prender a essa classificação, e sim identificar o que é próprio

de cada nível e o que é comum a todos, ou seja, a linguagem jurídica.

Vamos aos exemplos: Linguagem Legislativa

“Art.5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-

se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...).”(PETRI, 2004, p.45)

Linguagem Judiciária

“Isto posto, pronuncio Fulano de Tal, qualificado nos autos, nos termos do disposto no

artigo 408, caput, do Código de Processo Penal, como incurso nas penas do artigo 121,

parágrafo 2º, incisos III e IV do Código Penal. Expeça-se mandado de prisão.” (PETRI,

2004, p.45)

Linguagem Convencional “(...) poderes para o foro em geral, com a cláusula “ad judicia”, em qualquer juízo,

instância ou Tribunais Superiores, podendo propor em nome do Outorgante as ações

competentes e necessárias e defendê-lo nas contrárias, seguindo umas e outras, até

final decisão, usando de todos os meios legais para obter êxito nos pleitos formulados,

podendo confessar, desistir, transigir, firmar compromisso arbitral ou acordo, receber e

dar quitação, agindo em conjunto ou separadamente, podendo ainda estabelecer esta

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em outrem, com ou sem reservas de iguais poderes, dando tudo por bom, firme e

valioso.”

Linguagem Administrativa

“Aos cinco dias do mês de novembro de 2005, às 14 horas, no Fórum de São

Sebastião, com sede na Rua dos Mananciais, nº 167, São Sebastião-PP, reuniram-se

os promotores de justiça , defensores públicos e juízes. Assim reunidos, deliberaram

(...)”

Linguagem Doutrinal

“Consoante a definição de Clóvis (Comentários ao Código Civil), prescrição é a perda da

ação atribuída a um direito, e de toda sua capacidade defensiva, em conseqüência do

não uso dela, durante determinado espaço de tempo. Esse conceito aplica-se

exclusivamente à prescrição extintiva, também chamada prescrição liberatória.” (PETRI,

2004, p.45) Agora que já conhecemos os níveis da linguagem jurídica,

estudaremos os tipos de discursos, e qual o mais adequado para a produção

textual jurídica.

Síntese do tema

Nesta aula diferenciamos a linguagem oral da linguagem escrita, a linguagem verbal da não-verbal; e conceituamos os elementos da comunicação, suas funções e seus níveis, aprofundando-nos nos níveis da linguagem jurídica.

Atividades

1. Vimos que há muitas diferenças entre a produção oral e a produção escrita,

como redundâncias, variação lingüística, pausas etc. Leia o segmento e

transponha o texto para a modalidade escrita, eliminando qualquer

característica da linguagem oral.

Descrição de um museu Inf. – bom... eu:: fui a:: a:: a Paris e visitei o Louvre... e estive:: no Louvre eu

acho que umas eu passei uma semana só em Paris mas eu fui umas quatro

vezes ao Louvre... porque realmente o que a gente vê no Louvre é indiscutível...

é:: é aquilo que a gente está costumado a ver em livros e:: álbuns sobre:: obras

célebres... ( ) ter oportunidade de ver lá e:: e:: examinar... dá assim uma

sensação uma emoção até:: inenarrável porque::... é completamente é é

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indescritível.. entendeu?... eu fui também a a ao Museu do Prado... fui algumas

vezes no Museu do Prado em:: em:: na capital da Espanha... lá em:: Madri... e::

na Itália também tive oportunidade de conhecer bonitos museus...

principalmente em Florença... (NURC-SP-DID 160, linhas 129-141, p. 7)

2. A linguagem técnica jurídica também se divide em subníveis, conforme o

gênero textual escolhido, o emissor e seu receptor, além de outros fatores que

já estudamos. Leia os trechos abaixo e classifique-os em linguagem doutrinal, administrativa, convencional, judiciária ou legislativa.

a. “(...) a arrecadação atinge todos os bens em poder da empresa falida ou em

recuperação judicial. É possível, entretanto, que, entre os bens arrecadados,

haja alguns que estejam vinculados a terceiros, em virtude de direito real ou de

contrato.” (ROQUE, 2005, p.73)

b. “Pelo presente Edital, ficam convocados os senhores delegados dos

Sindicatos filiados, membros do Conselho de Representantes dessa Federação,

que se encontram no gozo de seus direitos, (...)” (MEDEIROS, 1998, 92)

c. Pelo presente instrumento de contrato que se ajustam entre si as partes, de

um lado XXXXXXXXXXXX, brasileira, casada, professora, RG XXXXXX SP-

XX, CPFXXXXXXX, residente e domiciliada XXXXXX, Lotes XXXX, XXXX - TO,

doravante denominada CONTRATADA, e, de outro lado, XXXXXXX, pessoa

XXXXXX, CNPJXXXX, com sede na Rua XXXXX, XXX, Centro, XXX-TO,

doravante denominado CONTRATANTE, têm justo e acertado o que segue(...).

d. “Art.134. A defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do

Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos

necessitados, na forma do art.5º, LXXIV.”

e. “O feito respeitou o princípio do devido processo legal, não havendo

nenhuma nulidade a ser decretada, pois estão presentes os pressupostos

processuais de instauração e desenvolvimento válido e regular do processo. As

partes são legítimas e estão bem representadas, bem como presentes as

condições da ação. Portanto, estando os autos alimpados e maduros para

receberem a eficaz e esperada providência jurisdicional, com a apreciação do

"meritum causae".”

Comentário sobre as atividades Para resolver os exercícios propostos, você deverá dominar: (1) as marcas

específicas da linguagem oral para transpô-la para a linguagem escrita,

eliminando repetições, pausas, frases curtas etc.; (2) e os subníveis da

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linguagem técnica jurídica: linguagem doutrinal, administrativa,

convencional, judiciária ou legislativa. Note que estes subníveis se

classificam de acordo com o propósito a que o texto de destina: explicativo,

instrumento de comunicação no trabalho, firmar contratos, partes de processos

ou estabelecimento de normas.

Referências ANDRADE, Maria Margarida de; HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa:

noções básicas para cursos superiores. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2004.

ESPANCA, F. Sonetos. São Paulo: Martin Claret, 2003.

GARCEZ, L.H.C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem

escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

CARDOSO, J.B. Teoria e prática de leitura, apreensão e produção de texto. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001.

MEDEIROS, J.B. Redação empresarial. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1998.

PETRI, M.J.C. Linguagem jurídica. 7.ed. São Paulo: Plêiade, 2004

ROQUE, S.J. Direito de recuperação de empresas. São Paulo: Ícone, 2005.

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EAD UNITINS – LÓGICA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS

Tema 02

Tipos de Discurso

Objetivos

Definir tipos de discurso, segundo Aristóteles;

Diferenciar argumentação de fundamentação;

Estabelecer progressão discursiva por meio da unidade de sentido, não-

contradição e verossimilhança;

Compreender tipos argumentativos e seus valores de uso.

Introdução Neste ponto dos nossos estudos já estamos prontos para avançarmos

na compreensão da arte de argumentar. Quando argumentamos usamos o

discurso que, quanto mais coeso e coerente for, mais chances teremos de

convencer e persuadir o ouvinte.

O ouvinte aqui pode ser entendido como nosso auditório, ou seja, os

receptores, destinatários de nossas mensagens. Aristóteles, por meio da

definição do auditório, adota uma divisão tripartite entre os tipos de discursos. São eles:

O discurso deliberativo Tem como destinatário uma assembléia. São situações em que se discutem

questões políticas, tomada de decisões para determinado grupo.

O discurso judiciário O seu auditório seria o juiz ou um tribunal. Esse discurso visa a decidir questões

passadas que terão determinada conseqüência. Para Aristóteles, pode ser um

discurso de acusação ou de defesa. E é esse que mais nos interessa por tratar da argumentação jurídica.

O discurso epidíctico ou demonstrativo

Como exemplo desse tipo de discurso, temos os comícios políticos, em que não há

interação com a platéia, pois essa está ali porque, na maioria das vezes, já

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concorda com o que vai ouvir. Então não precisa posicionar-se com o que está

sendo censurado ou elogiado.

Devemos estar cientes de que o Discurso Jurídico exige tomada de

posições, decisões, pois há disputa, uma lide entre os participantes. Como

veremos mais profundamente no Tema 4, o Processo é uma atividade

triangular na qual o juiz ocupa um dos vértices, como presidente do Processo,

e as partes litigantes ocupam os dois outros vértices. Desta forma, o poder

argumentativo ganha destaque na “disputa” por um veredicto.

Sabemos que em Direito não pode haver duas verdades, mas é

natural que as partes sempre creiam estar com a razão, creiam estar do lado

do que é justo. Então, trabalharemos com a seguinte tese: duas verdades

opostas não podem existir, mas isso não significa que o argumento de um dos

lados seja errado.

Assim, argumentar não é provar a verdade, mas sim uma arma

destinada a convencer, persuadir.

1. Argumentação e Fundamentação

Como a ciência do Direito não é exata como da Matemática, devemos

levar em conta, ao utilizarmos a argumentação, que ela não está em busca da veracidade científica, mas sim que há um determinado auditório a ser

convencido, e que a lide está inserida em um determinado contexto. Ou seja,

se só dominarmos os conhecimentos jurídicos, talvez não consigamos aplicá-

los em contextos tão diversos que nos aparecem no dia-a-dia da profissão.

Como conseqüência, temos uma distinção entre argumentação e

fundamentação jurídica.

Qualquer decisão deve ser muito bem fundamentada, pois, do

contrário, o julgador pode não convencer seu auditório de que sua decisão é a

mais correta. Mas quando um advogado argumenta, procura a adesão de seu

auditório podendo explicar o seu próprio motivo de convencimento, ou afastar-

se dele, se assim lhe convier.

Daí a importância de se conhecer seu auditório, sua ideologia, crenças

etc. Por quê? Simplesmente porque podemos querer defender uma

determinada tese que, para certo público, seria indefensável.

2. Progressão Discursiva e Coerência Quando selecionamos argumentos para a defesa de uma determinada

tese, devemos ordená-los de forma lógica, ainda que não formal, mas que haja

coerência entre os enunciados, entre as idéias apresentadas. Assim, haverá

uma unidade de sentido, primeira condição para termos um bom texto.

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Se retomamos o assunto por meio de elementos coesivos, se

organizamos as informações de forma coerente, podemos contar menos com o

conhecimento prévio do ouvinte. Caso contrário, poderá haver ruptura de

raciocínio e não conseguiremos que nosso auditório chegue à conclusão de

que desejamos. O exemplo abaixo mostra como um texto pode ter coesão, no

entanto, não apresentar coerência por falta de unidade temática.

Ex.: João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também

os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da

relatividade o espaço é curvo. A geometria Rimaniana dá conta desse fenômeno. (MARCUSCHI, 1983, p.31, in KOCH; TRAVAGLIA, 1998, p.49)

Note como a coesão é realizada: padaria retoma padaria; tijolos retoma

tijolos; o conceito de caríssimo retoma caríssimo; mísseis retoma mísseis;

espaço retoma espaço; e fenômeno retoma espaço curvo. Ou seja, há coesão

textual, o texto foi “costurado”, mas citam-se quatro temas: padaria, tijolos,

mísseis e espaço. Então não há unidade temática.

A segunda condição para a boa argumentação é a não-contradição.

Quando levamos o auditório a esperar uma determinada conclusão pela

progressão das idéias apresentadas e há um desvio, certamente estaremos

sendo contraditórios. E a contradição é um grande aliado do fracasso

argumentativo. O texto que veremos agora demonstra isso.

Ex.: “A residência da vítima é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas

as tardes ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-do-sol.

Sabendo disso, o assaltante aproveitou-se desse momento para atacá-lo.” (Adaptado de

KOCH; TRAVAGLIA, 1998, p.37)

Como pode a varanda da casa ser voltada para o Leste e a vítima à

tarde observar, dela, o pôr-do-sol? Há contradição textual. Sabemos que ao

Leste nasce o Sol, e não se põe.

Podemos citar como terceiro item para se conseguir um bom texto

argumentativo a questão da verossimilhança. A tese defendida deve estar de

acordo com o conhecimento de mundo da sociedade em que estamos

inseridos. Se a proposição não for verdadeira ou “possível”, certamente

seremos desacreditados e de nada valerá a argumentação. Vejamos o

exemplo para analisarmos se faz parte do real, do nosso conhecimento de

mundo.

Ex.: “Era meia-noite. O Sol brilhava. Pássaros cantavam pulando de galho em galho. O

homem cego, sentado à mesa de roupão, esperava que lhe servissem o desjejum.

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Enquanto esperava, passava a mão na faca sobre a mesa como se a acariciasse tendo

idéias, enquanto olhava fixamente a esposa sentada à sua frente. Esta, que lia o jornal,

absorta em seus pensamentos, de repente começou a chorar, pois o telegrama lhe

trazia a notícia de que o irmão se enforcara num pé de alface. (...)” (KOCH; TRAVAGLIA,

1998, p.49)

Neste “conto”, notamos várias contradições com os conhecimentos que

temos do mundo real: meia-noite e o sol brilhando; o cego olhando fixamente

para a esposa; a esposa lia o jornal e viu um telegrama; o irmão que se

enforcara num pé de alface etc. Essas informações não têm verossimilhança

com nossa realidade, por isso não poderiam ser consideradas válidas se

usadas em um texto para a defesa de alguma tese.

As meta-regras da coerência

Em uma palestra, Antônio Suárez Abreu, citando um estudioso francês

chamado Michel Charolles, estabeleceu quatro princípios fundamentais

responsáveis pela coerência textual. Chamou-os de meta-regras da coerência. São as seguintes:

1. Meta-regra da repetição — nada mais é do que aquilo que chamamos de

coesão textual. O fato de, em uma frase, recuperarmos termos de frases

anteriores, por meio de pronomes, apagamentos ou elementos lexicais

constitui um processo de repetição ou recorrência. A coesão textual é,

portanto, a primeira condição para que um texto seja coerente. Aqui está

presente a unidade textual.

2. Meta-regra de progressão — um texto coerente deve apresentar

renovação do suporte semântico. Vejamos o exemplo:

Ex.: Essa criança não come nada. Fica apenas brincando com os talheres, ou seja:

pega a colher, o garfo e não olha para o prato de comida. Ela não se alimenta. Brinca

apenas. Diverte-se com uma colher e um garfo e o prato fica na mesa. O ato de brincar

substitui o ato de alimentar-se.

Não há no exemplo dado informações significativas novas, há sim

repetição do que já foi dito. Poderíamos reduzir esta informação a: “Essa

criança não come nada. Fica apenas brincando com os talheres. O ato de

brincar substitui o ato de alimentar-se”.

3. Meta-regra da não-contradição — Em um texto coerente, o que se diz

depois não pode contradizer o que se disse antes ou o que ficou

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pressuposto. Cada pedaço do texto deve "fazer sentido" com o que se

disse antes. Vejamos o texto abaixo:

Ex.: Para as tropas aliadas, o dia 4 de junho foi um dia terrível. Os homens da 4a

Divisão de Infantaria ficaram o dia inteiro no mar. Os navios-transporte e as

embarcações de desembarque faziam círculos ao largo da ilha de Wight. As ondas

arrebentavam sobre os lados, caía uma chuva forte. Os homens estavam prontos para

o combate, mas sem destino nenhum. Depois dessa exaustiva caminhada, todos

estavam cansados. Nesse dia 3 de junho, ninguém queria jogar dados ou pôquer, ou ler

um livro ou ouvir outra instrução. O desânimo tomava conta de todos.

Sabemos que a primeira qualidade de um bom texto é não haver

contradição, e no texto do exemplo há. Vejamos: primeiro diz que a data é 4 de

junho, depois que é 3 de junho; que faziam círculos ao largo da ilha de Wight, e

depois é citado que estavam sem destino algum etc. É um texto sem

credibilidade argumentativa.

4. Meta-regra de relação — Em um texto coerente, seu conteúdo deve estar

adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis.

Vejamos o seguinte texto:

O município de São José do Rio Preto abrange uma região imensa que é composta por vários Estados limítrofes que ocupam uma área respeitável [...] Conta ainda com uma superpopulação, com uma maioria de pessoas cultas e uma juventude com grandes recursos educacionais, cursando as várias escolas e faculdades. Isto posto, nossa cidade sente falta urgente de uma Capela Crematória. Para os leigos é preciso esclarecer, que para um corpo ser exumado através do forno crematório, há necessidade que ele registre esta vontade em duas testemunhas. Somente o interessado poderá usar esta forma de suprir seu desejo, caso contrário a exumação seria da forma natural ou seja: o sepultamento. (Trechos de uma carta escrita por um leitor para o jornal Diário da Região de S. J. do Rio Preto, em 15.4.98)

Aqui voltamos a falar de verossimilhança. O que mais chama a

atenção neste texto é a definição que o autor faz de “exumação”. Em

conseqüência, traz outras informações absurdas, como somente o interessado

(cadáver) poder optar por ser cremado etc., além de citar que São José do Rio

Preto faz divisa com vários outros estados... Não pode ser levado a sério.

3. Tipos de Argumento

Esse item visa à apresentação de tipos de argumentos mais usuais

na área de Direito, e iremos expor uma variedade deles. No entanto, o melhor

texto argumentativo não é aquele que tem maior quantidade de argumentos, e

sim o que tem qualidade argumentativa, com articulação de argumentos, e não

repetição de estratégias. Vejamos alguns exemplos.

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3.1 Argumento de autoridade

Rodríguez (2005, p.110) diz que “argumento de autoridade é aquele

que se utiliza da lição de pessoa conhecida e reconhecida em determinada

área do saber para corroborar a tese do argumentante”. Mas, em alguns

casos, a autoridade pode parecer parcial aos fatos. Então, em Direito, além

desse argumento, utiliza-se comumente a citação da doutrina, aperfeiçoando

esse tipo de argumentação.

Quando utilizamos o argumento de autoridade, procuramos,

principalmente, mostrar a ciência e a verdade por meio dos especialistas

citados, pois normalmente o auditório confia na opinião de pessoas que são

especialistas em determinados assuntos, acha válida sua posição. Como

exemplifica o trecho da Petição Inicial que se encontra no Tema 4 do nosso

material.

Ex.: 12. O comportamento negligente do Réu causou danos de enormes proporções ao Autor, lesando seu "Patrimônio Moral" que, no dizer de Cunha Gonçalves, vem a ser "a honra, a dignidade, o bom nome ou a boa reputação, a solidariedade familiar, o prestígio pessoal ou consideração, o renome profissional, o crédito, o respeito ..." 1. 13. O Código Civil prevê, in verbis:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Art. 927. Aquele que,por ato ilícito (Arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Neste trecho da Petição Inicial, utilizamos o Argumento de Autoridade com citação da Doutrina, dando mais credibilidade ainda ao

argumento.

3.2 Argumento por analogia Devido a se esperar da Justiça um tratamento igual aos iguais, ou seja,

que um caso ocorrido que tenha analogia, semelhança com outro seja tratado

de forma parecida, o argumento por analogia é muito utilizado no meio

jurídico.

Às vezes confundimos esse argumento com o argumento por

autoridade. Mas vejamos: quando argumentamos por meio de analogia,

citamos um caso parecido com o ocorrido no momento e que já tenha sido

julgado por uma autoridade, para solicitarmos o mesmo procedimento aplicado

(claro que se favorável a nós). No argumento por autoridade não citamos casos

semelhantes, e sim o que diz tal autoridade sobre o assunto em pauta. No

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exemplo a seguir, também recortado da Petição Inicial de nossos estudos,

podemos notar essa diferença.

Ex.: 17. Em um dos julgados que deram origem à Súmula 37 do STJ, assim se expressou o Min. Athos Carneiro:

“Ainda com referência ao dano moral, os apelantes merecem recebê-lo como compensação econômica para a dor sofrida, (...), fazendo com que a melhor situação econômica, sirva de lenitivo para outros interesses na vida, esquecendo um pouco a tristeza pela perda irreparável, fazendo com que sirva, de um lado, para estímulo para novos interesses e de outro, para também estimular a coletividade em geral, e em especial a recorrida, para que tenha maior consideração com a vida humana, procurando evitar a indenização e acautelando-se mais nos meios de evitar tais danos...” (grifamos).

Vejamos: no argumento por autoridade, foi transcrito o que certo

especialista pensa sobre determinado assunto e, junto a essa citação, a

Doutrina que confirma essa afirmação. Já no argumento por analogia,

conta-se um caso ocorrido que tenha semelhança com o julgamento em tela e

qual a sentença dada. Assim, argumenta-se em favor da mesma decisão para

o caso atual, já que há analogia entre ambos.

3.3 Argumento por meio de exemplo

A argumentação pelo exemplo ocorre quando sugerimos situações

com as quais queremos comprovar a relação entre conceitos abstratos e fatos

concretos. Assim, ao utilizarmos esse tipo de argumento, devemos expor mais

do que um exemplo, pois assim comprovaremos que o fato é regra, e não

exceção.

No exemplo a seguir, também recortado da Petição Inicial de nossos

estudos, podemos ver uma exemplificação que leva do subjetivo ao objetivo.

Ex.: 20. Quanto à fixação do dever de indenizar do Réu, ainda que nos pautássemos pela teoria subjetiva da responsabilidade civil, o mesmo restaria inconteste. Eis que estão presentes todos os requisitos do dever de indenizar por ato ilícito, quais sejam: o fato, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do agente causador do dano. Os três primeiros elementos já foram demonstrados na exposição dos fatos e culpa encontra-se caracterizada pelo comportamento extremamente negligente do Réu na prestação de seus serviços. 21. Porém, por tratar-se de relação de prestação de serviços, a matéria está regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, mais especificamente no §

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2º do artigo 3º, e a teoria a ser aplicada para a caracterização da responsabilidade civil é a objetiva.

Síntese da Aula

Nesta aula definimos os três tipos de discurso, segundo Aristóteles: deliberativo, judiciário e epidíctico ou demonstrativo. Diferenciamos argumentação de fundamentação jurídica e estabelecemos modos de progressão discursiva por meio da unidade de sentido, não-contradição e verossimilhança. Conhecemos formas de argumentativas e seus valores: argumento por autoridade, por analogia e por exemplo. Vimos também as quatro meta-regras da coerêcia, que não devem ser infringidas.

Atividades

1. Neste tema vimos muitos conceitos novos. Entre eles, as meta-regras que

não podemos infringir, sob pena de prejudicarmos a coerência do nosso texto.

Vamos praticar um pouco? Identifique, em cada um dos textos a seguir,

retirados de uma página da Internet, a meta-regra de coerência que foi

infringida.

Frases Publicadas em Alguns Jornais

a."A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a cada ano." Jornal do Brasil

b."Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente." O GLOBO

c."Os sete artistas compõem um trio de talento." EXTRA

d."A vítima foi estrangulada a golpes de facão." O DIA

e."Os nossos leitores nos desculparão por esse erro indesculpável." O GLOBO

f."No corredor do hospital psiquiátrico os doentes corriam como loucos." O DIA

g. "Ela contraiu a doença na época que ainda estava viva." JORNAL DO BRASIL

h. "Parece que ela foi morta pelo seu assassino." EXTRA

i."Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça." O DIA

j."O acidente foi no triste e célebre Retângulo; das Bermudas." EXTRA

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l. "O tribunal, após breve deliberação, foi condenado a um mês de prisão." O DIA.

m. "O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se suicidou." O DIA

n."A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço." EXTRA

o."Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para a satisfação dos habitantes." JORNAL DO BRASIL

p. "Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens." O GLOBO

q. "O aumento do desemprego foi de 0% em novembro." EXTRA

r. "O presidente de honra é um jovem septuagenário de 81 anos." JORNAL DO BRASIL

s. "Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio." O GLOBO

t. "Na chegada da polícia, o cadáver se encontrava rigorosamente imóvel." EXTRA

u."O cadáver foi encontrado morto dentro do carro." O GLOBO

v."Prefeito de interior vai dormir bem, e acorda morto." O DIA

(http://www.bombanet.com.br/?page=secoes/frasesdejornais&local=Bombanet%3EFrases%20De%

20Jornais)

2. Reúna-se com seus colegas e tentem criar três textos argumentativos

utilizando um tipo de argumento em cada um: por autoridade, por analogia e

por exemplo.

Comentário sobre as atividades Essas atividades visam à identificação de meta-regras que não

podemos infringir para obtermos bons textos. Devemos cuidar para não

confundirmos a meta-regra da contradição com a meta-regra da relação. A

primeira diz respeito a não dizermos algo contrário ao que já foi dito; e a

segunda, a não dizermos algo que não faça parte da nossa realidade, ou seja,

que não possa ocorrer no mundo do qual fazemos parte.

Referências KOCH; I.G.V.;TRAVAGLIA, L.C. A coerência textual. 8.ed. São Paulo: Contexto, 1998. MEDEIROS, João Bosco e TOMASI, Carolina. Português Forense – a

produção do sentido. São Paulo: Atlas, 2004.

RODRÍGUEZ, Victor Gabriel. Argumentação Jurídica - Técnicas de persuasão

e lógica informal. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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Tema 03

Operadores Argumentativos

OObbjjeettiivvoo

Identificar os operadores argumentativos, suas particularidades de uso nos

textos e utilizá-los com eficiência.

Introdução

Como vimos no semestre passado, os operadores argumentativos

orientam o discurso para determinadas conclusões. Quando os utilizamos,

estamos fazendo a coesão textual, o que resultará em um texto coerente. Mas

devemos nos lembrar de que só a coesão não traz coerência a um texto.

Também não pode haver problemas de unidade temática, de não-contradição e verossimilhança nas informações dadas.

Nos textos jurídicos utilizamos muito os operadores argumentativos e

devemos atentar para o uso adequado deles, que dependerá muito da nossa

intenção, da força ilocucional que queremos atingir. Estudaremos agora

alguns deles, segundo a classificação de Antônio Suárez Abreu (2002, p.22), e

suas particularidades.

1. Articulação sintática de oposição Quando articulamos as idéias por meio de articuladores de oposição,

podemos utilizar os seguintes conectivos: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto. Vamos analisar os exemplos:

Ex.: “Entendo que não deveria interessar ao mundo da língua portuguesa a conquista

no plano material dos espaços, mas sim (deveria interessar) a conquista no plano da

produção cultural e da espiritualidade.” (Gilberto Gil, Revista Língua Portuguesa, ano I, nº ,

2005, p.7)

Se substituíssemos o mas por porém, poderíamos ter as seguintes

estruturas:

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Ex.: “Entendo que não deveria interessar ao mundo da língua portuguesa a conquista

no plano material dos espaços, porém (deveria interessar) sim a conquista no plano da

produção cultural e da espiritualidade.”

Ou

Ex.: “Entendo que não deveria interessar ao mundo da língua portuguesa a conquista

no plano material dos espaços, a conquista, porém, (deveria interessar) sim no plano

da produção cultural e da espiritualidade.”

Ou

Ex.: “Entendo que não deveria interessar ao mundo da língua portuguesa a conquista

no plano material dos espaços, a conquista no plano da produção cultural e da

espiritualidade (deveria interessar) sim, porém.”

Podemos notar que o articulador mas é fixo no início da oração que

introduz, ao contrário dos outros articuladores, que são móveis, como

demonstram os exemplos vistos.

Também são articuladores de oposição: embora, muito embora, ainda que, conquanto, posto que, apesar de, a despeito de, não obstante.

Mas estes articuladores têm algumas particularidades. Vejamos.

Ex.: “Embora entenda que não deveria interessar ao mundo da língua portuguesa a

conquista no plano material dos espaços, (deveria interessar) sim a conquista no plano

da produção cultural e da espiritualidade.”

1. Observe o verbo: quando utilizamos o articulador embora, este exige o

modo subjuntivo nas orações que introduzem.

Ex.: “Apesar de entender que não deveria interessar ao mundo da língua portuguesa a

conquista no plano material dos espaços, (deveria interessar) sim a conquista no plano

da produção cultural e da espiritualidade.”

2. Já as articulações realizadas com locuções prepositivas reduzem as

orações que introduzem à forma infinitiva.

Podemos utilizar na construção de articulações opositivas ambos

conjuntos de articuladores. A nossa escolha dependerá da força ilocucional que pretendemos dar ao enunciado.

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Note que o primeiro grupo de articuladores surpreende o interlocutor,

pois há um desvio de expectativa. Já o segundo grupo antecipa a mensagem,

deixando explícito que o encaminhamento do raciocínio será contrário ao

esperado.

2. Articulação sintática de causa Os principais articuladores sintáticos de causa são: - conjunções:

porque, pois, como, por isso que, já que, visto que, uma vez que; -

locuções prepositivas: por, por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em conseqüência de, por motivo de, por razões de. Aqui também há particularidades quanto à escolha de conjunções ou

de locuções prepositivas. Vamos aos exemplos.

Ex.: “Nossas palavras são uma forma de complacência, porque fazem sentido, e o que

temos à nossa volta não faz.” (Samuel Beckett, Revista Língua Portuguesa, ano I, nº , 2005,

p.7) Neste exemplo, o verbo se mantém no finito com uso de conjunção,

mas o mesmo não ocorre com o uso de locuções prepositivas. Veja o seguinte

exemplo.

Ex.: “Nossas palavras são uma forma de complacência, devido a fazer sentido, e o que

temos à nossa volta não faz.”

Podemos também notar que as orações podem ser mudadas de

posição sem prejuízo do significado do enunciado. Menos com a conjunção

pois, que não pode ser invertida sob pena de ficar inaceitável a construção.

Ex.: “Nossas palavras são uma forma de complacência, pois fazem sentido, e o que

temos à nossa volta não faz.” 3. Articulação sintática de condição O articulador sintático de condição mais utilizado é o se, e este leva o

verbo para o futuro do subjuntivo.

Ex.: “Se o acento da crase for abolido, é óbvio que várias frases teriam de ser

reformuladas.” (Josué Machado, Revista Língua Portuguesa, ano I, nº , 2005, p.34) Os outros articuladores são: caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que.

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Ex.: “Caso o acento da crase seja abolido, é óbvio que várias frases teriam de ser

reformuladas.”

Já esses outros articuladores levam o verbo para o presente do

subjuntivo, diferentemente da conjunção se.

4. Articulação sintática de fim Neste tipo de articulação de finalidade, a conjunção mais comum é

para. Mas temos outras, como a fim de, com o propósito de, com a intenção de, com o fito de, com o intuito de, com o objetivo de. Ex.: “A África do Sul começa a introduzir português como língua opcional nos currículos

escolares a partir de janeiro. A medida busca estreitar as relações internacionais do país

com Portugal e Brasil, ao preparar futuros profissionais para atuar no mercado de língua

portuguesa.” (Revista Língua Portuguesa, ano I, nº , 2005, p.9)

Normalmente não temos problemas ao utilizarmos os articuladores de

finalidade, e é de se observar que eles também podem iniciar as orações sem

prejuízo de interpretação.

Ex.: “Para atuar no mercado de língua portuguesa, a África do Sul começa a introduzir

português como língua opcional nos currículos escolares a partir de janeiro. A medida

busca estreitar as relações internacionais do país com Portugal e Brasil, ao preparar

futuros profissionais.” 5. Articulação sintática de conclusão A fim de concluirmos nossas exposições, podemos utilizar os

articuladores de conclusão: logo, portanto, então, assim, por isso, por conseguinte, pois (posposto ao verbo), de modo que, em vista disso. Ex.: “Termos técnicos têm de ser mantidos, pois têm significados próprios. Já os

arcaísmos, podem ser substituídos.” (Hélide Campos, Revista Língua Portuguesa, ano I, nº ,

2005, p.23)

Algumas destas conjunções só podem ser usadas antes dos verbos,

como logo, de modo que; já a conjunção pois só se emprega depois do

verbo; porém, as outras podem ser empregadas antes ou depois do verbo.

Para Coelho (2004, p.35), poderíamos acrescentar mais dois tipos de

articuladores: de adição e de disjunção.

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6. Articulador sintático de Adição Operando de forma simples, as conjunções aditivas apenas

acrescentam um enunciado ao outro, dando mais informações sobre

determinada coisa ou fato.

Ex.: “A organização de um escritório deve ser cuidadosamente pensada e executada. É

certo que fará toda diferença para a realização do trabalho e aos olhos do cliente

também.” (Revista Jurídica Consulex, ano IX, nº204 , 15/7/2005, p.11)

7. Articulação de Disjunção O uso do conectivo ou revela uma alternatividade, com a

particularidade de que pode ser de inclusão ou de exclusão. Será de exclusão

quando os elementos implicados não puderem conviver. E de inclusão se os

elementos puderem, além de conviver, também se admitir a hipótese de se

excluírem. Os exemplos podem deixar esses conceitos mais claros.

Ex.: Maria procurará a justiça ou esquecerá o incidente ocorrido?

Ex.: “Não tenho nenhum sentimento político ou social. Tenho, porém, num sentido, um

alto sentimento patriótico. Minha pátria é minha língua portuguesa.” (Fernando Pessoa,

Revista Jurídica Consulex, ano IX, nº204 , 15/7/2005, p.7) No primeiro exemplo, temos uma disjunção de exclusão, pois é

impossível Maria ‘procurar a justiça’ e ‘esquecer o incidente’ ao mesmo tempo.

No segundo temos uma disjunção de inclusão, pois seria possível que

Fernando Pessoa não tivesse nenhum sentimento político e social, além de

que poderia não ter também um sentimento e ter outro. Uma dica é substituir o

ou por e. Se não alterar o sentido, se não resultar em contradição o enunciado,

então será disjunção de inclusão.

Este articulador de disjunção é muito utilizado na linguagem técnica

jurídica. Por isso, devemos atentar muito para seu uso e identificar se é de

inclusão ou exclusão, porque esse detalhe faz muita diferença na

interpretação textual, principalmente de leis.

Síntese da Aula Relembramos nesta aula o uso dos operadores argumentativos de oposição, causa, condição, finalidade, conclusão, adição e disjunção, suas particularidades de uso e como utilizá-los conforme a força ilocucional que queremos impor ao texto.

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Atividades

1. Leia o texto “Provérbios” e indique em que sentido os articuladores grifados

foram utilizados.

Provérbios

Sem eira nem beira

A frase feita para falar de quem perdeu todas as posses tem duas

explicações, mas nada assegura que não sejam igualmente fantasiosas. Viria,

primeiro, de Portugal. Eira seria um terreno de terra batida ou cimento onde

grãos ficavam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma

eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. No

Nordeste brasileiro, a explicação é que as casas dos coronéis de antigamente

tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira, como era conhecida a parte

mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer

esse telhado triplo, então construíam somente a tribeira, ficando assim “sem

eira nem beira”. (Revista Língua Portuguesa, Ano I, nº 2, 2005, p.11)

2. Para reforçarmos mais ainda nossos conhecimentos sobre coesão e

coerência textual por meio de articuladores, responda as questões propostas:

a. Leia as frases e atente para os elementos de coesão grifados. -“Estamos vestidos de alfabeto, entretanto não sabemos nosso nome.”

-“Um artista encontra seu estilo ali onde não pode fazer outra coisa. Portanto, o

caminho até o estilo é encontrar-te a ti mesmo.”

-“A poesia pode nos fazer ver o mundo sob um novo aspecto, ou nos fazer

descobrir aspectos até então desconhecidos desse mundo; porque pode

chamar nossa atenção sobre os sentimentos sem nome e mais profundos em

que raramente penetramos.”

Os elementos de coesão indicam, respectivamente:

a. oposição; conclusão; causa.

b. dedução; oposição; causa.

c. concessão; dedução; oposição.

d. oposição; causa; concessão.

e. dedução; conclusão; causa.

b. “Os livros são, como é óbvio, a principal fonte de instrução já inventada pelo

homem. E para aprender com os livros, são necessárias apenas duas

condições: saber lê-los e poder adquiri-los. Pelo menos 23% dos brasileiros já

encontraram um obstáculo intransponível na primeira condição. Um número

incalculável, mas certamente bastante alto, esbarra na segunda.”

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Os termos já, para, apenas, pelo menos, já, mas estabelecem no texto

relações, respectivamente, de:

a. tempo, finalidade, exclusão, restrição, certeza, oposição.

b. tempo, finalidade, inclusão, distanciamento, tempo, objeção.

c. espaço, conseqüência, intensificação, restrição, tempo, oposição.

d. tempo, causalidade, exclusão, ressalva, certeza, conseqüência.

e. intensificação, tempo, retificação, realce, espaço, causalidade.

Comentário sobre as atividades Esses exercícios farão com que você tenha um maior domínio sobre os

articuladores utilizados na produção de textos. Para resolvê-los, revise o

conceito dado de cada um e que força ilocucional eles estabelecem.

Referências ABREU, A.S. Curso de Redação. 11.ed. São Paulo: Ática, 2002. COELHO, Fábio Ulhoa. Roteiro de Lógica Jurídica. 5.ed. São Paulo: Saraiva,

2004.

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Tema 04

Produção Textual Jurídica I Petição Inicial Contestação

OObbjjeettiivvooss

Conhecer peças processuais básicas;

Identificar características estruturas e argumentativas dos gêneros textuais

Petição Inicial e Contestação.

Introdução O Processo é uma atividade triangular na qual o juiz ocupa um dos

vértices, como presidente do Processo, e as partes litigantes ocupam os dois

outros vértices. Especialmente em razão do princípio constitucional do

contraditório, a atividade das partes é eminentemente dialógica, ou seja,

sempre que uma parte se manifesta, é garantido à parte contrária responder.

Cada parte, portanto, busca, por meio de peças processuais, convencer o juiz

da veracidade e validade de suas alegações e de que o acatamento de sua

tese é o que melhor corresponde ao ideal de justiça, positivado no Direito.

Juiz

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Autor Réu Começaremos, então, a estudar as peças processuais básicas de um

Processo Cível, em primeira instância de jurisdição, que são: Petição Inicial,

Contestação, Impugnação, Decisão Seneadora, Alegações Finais e Sentença.

As peças processuais que serão apresentadas como exemplo fazem parte de

um mesmo processo, a fim de facilitar a assimilação da idéia de que um

processo é um conjunto de fases logicamente encadeadas. Lembramos que

apontamos aqui as peças processuais básicas, pois em um processo podem

ocorrer incidentes que exigem a formulação de diversas outras peças, gerando

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até, por vezes, processos separados que tramitam em apenso ao processo

principal.

1. Petição Inicial

A Petição Inicial é o meio pelo qual a pessoa que se sente lesada leva

o seu problema ao conhecimento do juiz e requer do Estado, por meio do

Poder Judiciário, uma providência que possa atendê-la, concedendo-lhe aquilo

que entende ser de seu direito.

Vejamos o exemplo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE XXX – TO

EMILIANO PERNETA, brasileiro, casado, comerciante, RG 1.546.010 SSP-GO, CPF 450.764.561-15, residente e domiciliado a Av. Carlos Braga, Quadra M, Lote 18, Setor Aeroporto, XXX – TO, através de seus advogados - com escritório profissional à rua José Teixeira, 107, Centro, XXX – TO, onde recebem notificações e intimações - vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência para propor AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS em desfavor de BANCO SÃO VALÉRIO S.A., pessoa jurídica de direito privado, com agência à Praça do Céu, s/n, Centro, XXX - TO, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

PREFACIALMENTE, o Autor é pessoa pobre, e não dispõe de recursos financeiros para arcar com as despesas do presente pedido, sem que isso ponha em risco a sua sobrevivência e a dos seus. Por isso, requer desde já a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, nos termos da Lei 1.060/50.

DOS FATOS

1. o Autor é cliente do Réu desde maio de 1994, sendo titular da conta corrente nº XXXX-Y, da Agência ABCD-E. Como o Autor sempre foi um cliente exemplar, o Réu concedeu-lhe crédito pré-aprovado, dentro de um determinado limite, na modalidade de Cheque Diferenciado, com limite de crédito automático de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

2. o Autor é proprietário de uma loja de móveis, utensílios domésticos e

eletrodomésticos usados. Quando adquire os produtos usados para revenda, é comum pagá-los em prestações, pois também assim os revende. Nesses casos, o Autor entrega aos vendedores cheques pré-datados de sua conta pessoal.

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3. No mês de abril de 2004, o Autor entregou 12 folhas de cheques a 4

pessoas diferentes, das quais comprara móveis usados. Também pagou as contas de água, energia elétrica e telefone com folhas do mesmo talonário.

4. Nos dias que se seguiram à emissão dos cheques, as pessoas em favor

das quais o Autor os emitiu passaram a telefonar-lhe comunicando que os cheques dados para pagar, a vista, a primeira parcela dos débitos estavam sendo devolvidos, sob a alegação de que havia sido dada contra-ordem do emitente para o não pagamento dos valores representados pelos cheques (Motivo 20). Também foram devolvidos os cheques repassados a uma Casa Lotérica para pagar as contas de água, energia elétrica e telefone.

5. O Autor procurou então o Banco São Valério e foi constatado que

realmente constava no sistema computadorizado de controle do banco que todos os cheques do supra referido talonário estavam com contra-ordem de pagamento, muito embora o banco não tivesse em seu poder nenhum registro de contra-ordem de pagamento emitida pelo Autor.

6. Constatado o problema, funcionários do Réu afirmaram ao que os

outros cheques, quando apresentados, seriam devidamente pagos, desde que a conta corrente tivesse provisão de fundos. O Autor repassou essa informação às pessoas que tinham seus cheques pré-datados e resgatou os cheques que haviam sido devolvidos, pagando os valores correspondentes

7. Quando foram apresentados os cheques pré-datados correspondentes

às segundas parcelas das compras que o Autor efetuara, os mesmos igualmente foram devolvidos, pelo mesmo motivo: contra-ordem do emitente. O Autor, então, começou a passar por situações de grande vexame e constrangimento, pois as pessoas que receberam cheques do Autor e que não puderam sacar os valores representados pelos mesmos, especialmente aquelas que tiveram os cheques devolvidos por duas vezes, julgavam ser inverossímil a história do Autor, pois não acreditavam que um banco pudesse ter agido, por duas vezes, com tamanha desídia e negligência na prestação dos seus serviços. Diziam que aquilo mais parecia um golpe do Autor, para ganhar tempo no pagamento das prestações. O Autor foi chamado de caloteiro, mentiroso, mau pagador, estelionatário, além de outros termos de baixo calão.

8. Quando procurou o Réu, o Autor foi informado que nada poderia ser

feito e que cabia a ele, Autor, resgatar os cheques, pois “o sistema” não aceitaria mais o pagamento de cheques daquele talonário. Além disso, por mais absurdo que possa parecer, foi informado ao Autor que o Réu cobraria tarifa pelos cheques devolvidos.

9. Diante da truculência e do poderio do Réu, somente restou ao Autor,

naquele momento, procurar as pessoas para as quais entregara cheques do talonário cancelado e trocá-los por outro, ou pagar os valores correspondentes. Além de pagar tarifas pelos cheques devolvidos por obra e graça do Réu.

10. Do exposto depreende-se que o Autor sofreu danos morais em altíssimo

grau, pois além dos constrangimentos suportados, da auto-estima abalada, da perda da paz de espírito, teve sua imagem conspurcada perante a sociedade e seu crédito comprometido junto aos clientes.

11. Os valores dos cheques cujos pagamentos foram sustados por obra

exclusiva do Réu, nas duas oportunidades, somaram R$ 4.293,28 (quatro mil duzentos e noventa e três reais e vinte e oito centavos).

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DO DIREITO

12. O comportamento negligente do Réu causou danos de enormes

proporções ao Autor, lesando seu "Patrimônio Moral" que, no dizer de Cunha Gonçalves, vem a ser "a honra, a dignidade, o bom nome ou a boa reputação, a solidariedade familiar, o prestígio pessoal ou consideração, o renome profissional, o crédito, o respeito ..." 1.

13. O Código Civil prevê, in verbis:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Art. 927. Aquele que,por ato ilícito (Arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

14. É pacífico que a pessoa que tem seu patrimônio lesado por obra de outrem tem direito à indenização pelos prejuízos sofridos. Além de ter direito à indenização por danos materiais, também tem direito à compensação pelos danos morais sofridos por ação ou omissão de pessoa física ou jurídica.

15. Carlos Alberto Bittar2 afirma ter direito à indenização por danos morais aquele que, por obra de outrem, experimenta

"...sentimentos negativos, dores, desprestígio, redução ou diminuição de patrimônio, desequilíbrio em sua situação psíquica, enfim transtornos em sua integridade pessoal, moral ou patrimonial".

16. Não se pode, a bem da Justiça, conceber que o Réu fique impune,

isento de ressarcir pelos prejuízos morais que causou ao Autor, e que este em nada seja ressarcido pelo abalo moral a que foi injusta e cruelmente submetido.

17. Em um dos julgados que deram origem à Súmula 37 do STJ, assim se

expressou o Min. Athos Carneiro:

“Ainda com referência ao dano moral, os apelantes merecem recebê-lo como compensação econômica para a dor sofrida, (...), fazendo com que a melhor situação econômica, sirva de lenitivo para outros interesses na vida, esquecendo um pouco a tristeza pela perda irreparável, fazendo com que sirva, de um lado, para estímulo para novos interesses e de outro, para também estimular a coletividade em geral, e em especial a recorrida, para que tenha maior consideração com a vida humana, procurando evitar a indenização e acautelando-se mais nos meios de evitar tais danos...” (grifamos).

18. Ressalte ainda que mesmo que o Autor não tivesse sofrido nenhum

prejuízo de ordem material decorrente do dano moral faria jus a indenização pelos danos morais pura e simplesmente. Vejamos mais uma vez o sábio ensinamento de Carlos Alberto Bittar, exposto na obra já citada:

1 in Reparação Civil Por Danos Morais, Carlos Alberto Bittar, 3ª Ed., Ed. Dos Tribunais, p.49 2 Reparação Civil por Dano Moral, 3ª ed., Editora Rev. dos Tribunais, p. 31

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"Tem-se, de início, com respeito à constatação do dano, que a responsabilização do agente deriva, quanto aos morais, do simples fato da violação (ex facto) tornando-se, portanto, desnecessária a prova do reflexo no âmbito material do lesado, ademais, nem sempre realizável. Contenta-se o sistema, nesse passo, com a simples causação, diante da consciência que se tem que certos fatos atingem a esfera da moralidade coletiva, ou individual, lesionando-a, como nas várias situações expostas (damnum in re ipsa). Não se cogita, mais, pois, de prova de prejuízo moral" (grifamos) (In Reparação Civil por Danos Morais, Editora RT, 3ª Ed., São Paulo, 1997, p. 211).

19. No mesmo sentido caminha o entendimento jurisprudencial. Vejamos:

DANO MORAL – REGISTRO NO CADASTRO DE DEVEDORES DO SERASA – IRRELEVÂNCIA DA EXISTÊNCIA DE PREJUÍZO – A jurisprudência desta Corte está consolidada no sentido de que na concepção moderna da reparação do dano moral prevalece a orientação de que a responsabilização do agente se opera por força do simples fato da violação, de modo a tornar-se desnecessária a prova do prejuízo em concreto. A existência de vários registros, na mesma época, de outros débitos dos recorrentes, no cadastro de devedores do SERASA, não afasta a presunção de existência do dano moral, que decorre in re ipsa, vale dizer, do próprio registro de fato inexistente. Hipótese em que as instâncias locais reconheceram categoricamente que foi ilícita a conduta da recorrida em manter, indevidamente, os nomes dos recorrentes, em cadastro de devedores, mesmo após a quitação da dívida. (grifamos) (STJ – REsp 196.024 – MG – 4ª T. – Rel. Min. Cesar Asfor Rocha – DJU 02.08.1999) (grifamos)

20. Quanto à fixação do dever de indenizar do Réu, ainda que nos

pautássemos pela teoria subjetiva da responsabilidade civil, o mesmo restaria inconteste. Eis que estão presentes todos os requisitos do dever de indenizar por ato ilícito, quais sejam: o fato, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do agente causador do dano. Os três primeiros elementos já foram demonstrados na exposição dos fatos e culpa encontra-se caracterizada pelo comportamento extremamente negligente do Réu na prestação de seus serviços.

21. Porém, por tratar-se de relação de prestação de serviços, a matéria está

regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, mais especificamente no § 2º do artigo 3º, e a teoria a ser aplicada para a caracterização da responsabilidade civil é a objetiva.

22. Prevê o CDC em seu art. 14, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

23. O § 3º do mesmo artigo estabelece:

§ 3º. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

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I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

24. Nesse sentido, atentemos para o seguinte entendimento jurisprudencial:

RESPONSABILIDADE CIVIL DE BANCO – SERVIÇOS BANCÁRIOS – CHEQUE – DEVOLUÇÃO DE CHEQUE – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – ART. 3 – § 2º – ART. 14 – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – Código de Defesa do Consumidor. Serviço bancário. Cheques indevidamente devolvidos. Responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços. Conforme o § 2º do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, “serviço é qualquer atividade fornecida ao mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária”. E o art. 14, estabelece a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, dispondo que “o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços”. Assim, se o banco confessa que vários cheques foram devolvidos por insuficiência de fundos, por falha de seus serviços, é irrecusável a sua responsabilidade pelos danos morais causados ao consumidor, que sofreu o vexame de ser tido como pessoa desonesta perante as casas comerciais com as quais manteve relações de consumo. Embargos infringentes rejeitados. (TJRJ – EI-AC 144/97 – (Reg. 241197) – Cód. 97.005.00144 – RJ – V G.C.Cív. – Rel. Des. Nílson de Castro Dião – J. 09.10.1997)

DO PEDIDO

25. Considerando-se a proporção dos danos causados, a condição social

do Autor, a capacidade econômica do Réu, a extensão dos danos causados e a gravidade da culpa do Réu, o Autor pleiteia compensação por danos morais no importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

DO REQUERIMENTO

Ante o exposto, requer:

a) A citação do Réu para, querendo, contestar a presente ação sob pena de, não o fazendo, sofrer os efeitos da revelia, especialmente a confissão ficta sobre a matéria fática;

b) A condenação do Réu a pagar compensação ao Autor, por danos

morais, no importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais).;

c) A condenação do Réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes no montante equivalente a 20% do valor da condenação;

d) A concessão do benefício da assistência judiciária gratuita.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, especificamente pelo depoimento do representante legal do Réu, por documentos, perícias e depoimentos de testemunhas. Dá à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Pede deferimento.

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XXXXXXXXXX – TO, ___ de _______ de 200X

Nononono Hohoho Zozozozo

OAB-TO 99.999

Note-se que a estrutura da Petição Inicial segue um encadeamento

lógico, com a intenção de convencer o julgador. São expostos os fatos, a lesão

sofrida pelo autor, o direito que ampara sua pretensão de compensação pelos

danos que lhe foram causados, concluindo com o pedido para que o julgador

faça a correta aplicação do Direito, que é teórico, ao caso concreto.

2. Contestação Desde que adequada, o juiz recebe a Petição Inicial e manda citar o

réu. Em seguida, dando início à atividade dialógica, o réu, querendo, apresenta

Contestação.

Diz-se que o objeto do processo é a lide, que é um conflito de

interesses caracterizado por uma pretensão resistida. A Contestação é,

justamente, o meio pelo qual o réu manifesta a sua resistência à pretensão

exposta pelo autor na Petição Inicial. Dando seqüência aos nossos estudos, vejamos um modelo de

Contestação em resposta à Petição Inicial apresentada.

EXCELENTíSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XXª VARA CÍVEL DA COMARCA DE XXXXXXXX -TO Processo n° XXXX/04 Requerente: EMILIANO PERNETA Requerido: Banco São Valério S.A.

BANCO SÃO VALÉRIO S.A., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ 01.023.045/0001-99com agência na Rua do Desterro, 4.904, Centro, XXXXXX - TO, por seu Advogado, com escritório na Rua da Paz, 5.782, Centro, YYYYYY - TOACSE 01, , onde recebe intimações, vem, respeitosamente, perante V. Exa., nos autos da AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS, que lhe move EMILIANO PERNETA, já qualificado, para, tempestivamente, apresentar sua CONTESTAÇÃO, consoante as razões de fato e direito a seguir expostas.

DAS ALEGAÇÕES DO REQUERENTE O Requerente alegou, em síntese, que é cliente do Requerido; que é titular de conta corrente, com cheque diferencial; que emitiu cheques, alguns pré-datados, para pagamento de suas obrigações; que os cheques foram

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devolvidos por cancelamento de todo um talonário, por ato do Requerido; que os cheques emitidos foram devolvidos como se tivessem recebido contra-ordem de pagamento pelo emitente e que tais fatos lhe causaram abalo de crédito e danos morais. Pleiteou indenização no importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Requereu as providências processuais de praxe. DA VERDADE DOS FATOS A pretensão do Requerente não pode encontrar amparo do Estado, através do Poder Judiciário, uma vez que na Inicial não ficou evidenciado qualquer prejuízo. Também não há nos autos qualquer comprovação dos danos alegados pelo Requerente. Não é verdadeira a afirmação de que o Requerido, através de funcionários, afirmou ao Requerente que o problema estava resolvido, quando este procurou a agência bancária para informar-se da razão da devolução dos cheques. Foi informado ao Requerente que não havia como reverter o cancelamento, lhe foi entregue um novo talonário de cheques, o Requerente foi instruído a destruir ou devolver o talonário antigo e o Requerente afirmou que não teria problemas em recuperar os cheques emitidos. Tanto é verdade, que o Requerente não emitiu mais cheques do talonário que apresentara problema. Quanto às alegações de que as pessoas que receberam os cheques que foram devolvidos irrogaram ofensas em desfavor do Requerente, o Requerido tem a aduzir que não pode ser responsabilizado por atos de terceiros. Se aquelas pessoas realmente ofenderam o Requerente, conforme afirmado na Inicial, é contra elas que o Requerente deve propor ações compensatórias por danos morais e não contra o Requerido. Não há nexo causal entre a conduta atribuída ao Requerido e os danos alegados pelo Requerente. FATOS RELEVANTES PARA O CONHECIMENTO DESTE JUÍZO Conforme comprovam documentos anexos, no período compreendido entre XXX/03 e YYY/04 o Requerente emitiu 4 (quatro) cheques que foram devolvidos por falta de provisão de fundos. Um deles, o de nº 999888, foi devolvido por duas vezes, o que levou à inscrição do nome do Requerente junto aos órgãos de proteção ao crédito. Se o Requerente teve a sua moral abalada, não foi por culpa do Requerido e, sim, pelos seus próprios atos. Se o Requerente tivesse solicitado, o Requerido teria lhe fornecido declaração escrita, em quantas cópias fossem necessárias, explicando o problema ocorrido. O Requerente poderia apresentar a declaração a seus credores e estes certamente entenderiam o problema. Mas não. O Requerente quis submeter aos constrangimentos que alega ter sofrido – se é que os sofreu – para, depois, buscar locupletar-se indevidamente. PRELIMINARMENTE INÉPCIA DA INICIAL Impossibilidade Jurídica do Pedido Conforme anteriormente exposto, não se pode impingir ao Requerido a responsabilidade pelos danos morais que a Requerente alega ter sofrido, primeiro porque antes mesmo dos fatos apontados o nome do Requerente estava inscrito nos órgãos de proteção ao crédito e, segundo, porque as ofensas que alega ter sofrido não partiram do Requerido, mas de terceiros. Ensina Yussef Said Cahali: "Portanto, em sede indenizatória por danos patrimonial e moral, mesmo levando-se em conta a teoria da distribuição do ônus da prova, a cabência desta está ao encargo do autor a provar o nexo causal constituidor da obrigação ressarcitória, pois, inexistindo causalidadejurídica, ausente está a

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relação de causa e efeito, mesmo porque actore non probante, reus absolvitur". (Dano Moral, p. 702, 2a ed. rev. atual. e ampl. - São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1998). O entendimento jurisprudencial caminha no mesmo sentido. Vejamos: "A prova do nexo de causalidade é do autor" (TJRJ - 8a C. - Ap. - ReI. Dourado de Gusmão- j. 22.3.83 - RT 573/202)". Ao propor a ação de compensação por danos morais, o Requerente deveria a apresentar provas contundentes da viabilidade de sua pretensão e não se restringir a alegações aleatórias. Diante da evidente impossibilidade do pedido formulado, a inicial revela-se inepta, impondo-se a extinção do processo sem julgamento do mérito, de acordo com o artigo 295, I, Parágrafo único, 111, do CPC. DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR Carvalho Santos nos ensina: "É regra de eqüidade e de sábia política que o Estado tenha o cuidado de verificar se a demanda proposta em juízo é útil ao titular do suposto direito, recusando-se, conseqüentemente, a prestar a proteção jurisdicional se o direito se faz valer em juízo apenas com o espírito de vingança e com o escopo de causar dano ao sujeito passivo do mesmo direito (cfr. Mortara, obra Cit., pág. 594)". (AS DEVOLUÇÕES DE CHEQUES E AS ALEGAÇÕES DE DANO. 1CARVALHO SANTOS, J. M. de. "Código Civil Brasileiro Interpretado". Ed. Freitas Bastos SA, 11a Edição, Rio de Janeiro, 1982, pág. 247.) E concluindo: "Assim, aquele que intenta uma ação, não para obter um proveito qualquer, mas somente para causar dano a outrem, para lhe impor um sacrifício, deve decair da ação que intenta, porque seu interesse aí não seria legítimo, mas consistiria em um ato de vingança, caracterizador de um verdadeiro abuso de direito (cfr. Bonnecase, obro Cit., volume 3, n. 224). Considerando que o Requerente já tinha o seu nome inscrito nos órgãos de proteção ao crédito e considerando que é evidente o intuito do Requerente de tão somente utilizar-se do processo como meio fácil de obter vantagem financeira, é imperioso o reconhecimento da ausência de interesse de agir do Requerente, tornando-o carecedor de ação. Também por esta razão o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil. MÉRITO Na remota hipótese de não acatamento das preliminares, a pretensão do Requerente, no mérito, não merece acolhida. Salvo raras exceções, a crescente onda de ações de compensação por danos morais revela, na verdade, um completo desvirtuamento da finalidade da lei, e tem se mostrado, a cada dia, uma expectativa de enriquecimento fácil e sem causa, a ponto de muitas pessoas permanecerem à espera de um equívoco qualquer, de um contratempo qualquer, para então, num lance de sorte, como em uma loteria, pleitear altas indenizações.

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Há, na sociedade, um decréscimo do senso do moral e de ética. E a indústria do dano moral tentando avançar e prosperar, sem medida, sem ética, sem razoabilidade. Em artigo na revista CONSULEX, N° 26 fevereiro de 1999, CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA CRUZ, professor da UNISINOS, assim se expressou para manifestar a sua indignação com a chamada indústria do dano moral: "Se Papai Noel efetivamente existisse (como pensam nossos filhos), não estaria ele imune à responsabilidade, abusiva e ainda incontida da indústria do dano moral. " E nesse mesmo artigo, cita o pronunciamento do Desembargador Décio Antônio Erpen, em julgamento da Sexta Câmara Cível do Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul: "o direito existe para viabilizar a vida, e a vingar a tese generosa do dano moral sempre que houver um contratempo, vai culminar em truncá-Ia, mercê de um criação artificiosa. Num acidente de trânsito, haverá do dano material, sempre seguido de moral. No atraso do vôo , haverá a tarifa, mas o dano moral será maior, Nessa nave do dano moral em praticamente em todas as relações humanas não pretendo embarcar. Vamos atingir os namoros desfeitos, as separações, os atrasos no pagamento. Ou seja, a vida a serviço dos profissionais de Direito11 (Apelação Cíveln° 596185181). E conclui com o seguinte apelo: "Advogados, juizes e professores devem trabalhar para por fim a indústria do dano moral, reservando a sua aplicação para as hipóteses devidamente justificadas". Conforme já exposto, o Requerente já tinha seu nome inscrito nos órgãos de proteção ao crédito, pela emissão de cheques sem fundos. Como então afirmar que a devolução dos cheques abalou seu crédito? Como abalar o que já é manifestamente titubeante? . Nesse sentido o entendimento manifestado por Ronaldo Nogueira Martins Pinto, em situação análoga: "... Se a parte inconformada com a ocorrência que lhe traria efeitos na concessão de crédito, insurgindo-se contrariamente através de ação indenizatória, verificar que consta em seu demérito, V.g. protesto de outro título já certificado o auto pelo Tabelionato, e desde que se o primeiro protesto ocorreu por inadimplência, inexiste qualquer supedâneo que justifique seu inconformismo. Na realidade não há possibilidade e alegar mácula em sua moral já que a imagem de IImau-pagador" persistia, pois (no exemplo acima) primeiro protesto decorreu de um ato regular de direito. " Assim, conclui-se que é improcedente o abalo de crédito do Requerente, alegado na Inicial, razão pela qual requer seja indeferido os pedidos por ele formulados. DOS REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil, isto é, a obrigação de indenizar o dano por dano causado, decorre do ato ilícito. Assim preceitua o Código Civil em seu artigo 186, in verbis: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Note-se que é requisito essencial para o estabelecimento do dever de indenizar que alguém tenha suportado prejuízo causado por outrem, e que o lesante tenha apresentado comportamento "culposo" ou"doloso" do agente. É imprescindível que haja prova efetiva do dano, já que não se admite a indenização do dano hipotético ou presumido. Nesse sentido, vejamos o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul: APELAÇÃO CíVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - ALEGAÇÃO DE PROTESTO DO TíTULO APÓS SEU PAGAMENTO - INSCRIÇÃO NO SPC - MÁ-FÉ DO REQUERENTE - AUSÊNCIA DE PREJUíZo – RECURSO IMPROVIDO.

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A pretensão indenizatória por dano moral tem que estar arrimada em algum prejuízo sofrido, não bastando demonstrar que determinada ocorrência é passível de causar dano, mas, sim, que o fato realmente o causou. Apelação cível, classe B. n067.380-9,Relator Des. Claudionor Miguel Abss Duarte, Terceira Turma, Votação unânime, DJ de 30.09.1999. (grifamos) Em síntese, nosso direito assenta a responsabilidade civil por culpa aquiliana sobre um tripé formado pelo dano da vítima, a culpa do agente, e o nexo causal entre a lesão daquela e a conduta ilícita deste, sendo certo que faltando qualquer desses requisitos, não se pode impor a ninguém o dever jurídico de indenizar. A INEXISTÊNCIA DOS DANOS ALEGADOS Já prelecionava José de Aguiar Dias: "O prejuízo deve ser certo, é regra essencial da reparação". Com isso se estabelece que o dano hipotético não justifica a reparação. Em regra, os efeitos do ato danoso incidem no patrimônio atual, cuja diminuição ele acarreta." Por pertinente, é importante esclarecer que, quanto a alegada existência do dano moral, há que se considerar, que o Requerente não foi incluído em qualquer órgão de proteção ao crédito pelos fatos por ele noticiados. O Requerente já possui restrições cadastrais. A jurisprudência é pacífica em afirmar que não há responsabilidade sem prejuízo. Vejamos: "Somente danos diretos e efetivos, por efeito imediato do ato culposo, encontram no Código Civil suporte de ressarcimento. Se dano não houver, falta matéria para a indenização. Incerto e eventual é o dano quando resultaria de hipotético agravamento da lesão". (TJSP - 18 C., ap. ReI. Octávio Stucchi -j.20. 08.85 - RT612/44)" RESPONSABILIDADE CIVIL - Indenização por abalo de crédito - provadas a ausência de dano e a contumácia na emissão de cheque sem fundo nada existe a indenizar. Na mesma linha de entendimento a Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no julgamento da Apelação Civel n° 593150840,: RESPONSABILIDADECIVIL DO BANCO DEVOLUÇÃO INDEVIDA DE CHEQUES.DANO MATERIAL E DANO MORAL (.u) Dano moral indevido. Aquele que busca ressarcimento por dano moral, não pode ter concorrido, de qualquer modo, para sua ocorrência. Fonte Jurisprudência TJRS, C-Cíveis, 1994, V-2, T-15, p. 180- 183. o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, já decidiu: RESPONSABILIDADE CIVIL - Inclusão do nome de devedores, reús em ação de cobrança e com títulos protestados em banco de dados ou cadastro de consumidores inadimplentes (SPC). Não constitui ato ilícito a gerar obrigação de indenizar, a inclusão no SPC do nome de sócios da empresa devedora, gerente na proporção de 50% do capital, com título protestado e alvo de ação judicial de cobrança. Dano material não provado e dano moral inexistente porque também antes' da inclusão dos seus nomes do SPC em 1988, já sofriam as autores restriçõs de crédito em 1987. (.u) 11 (TJRJ,AC 5.860'92, 48 C. - Rei Des. Décio Xavier Gama – DORJ 19.08.93). É descabido o Requerente alegar mácula em sua honra e abalo de crédito, se já desde antes das ocorrências por ele relatadas como ensejadoras do dano, já havia emitido cheques sem de fundos e já estava com seu nome inscrito nos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito.

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DO VALOR PLEITEADO No exagero da pretensão já se percebe a intenção de enriquecimento fácil e sem causa, mormente quando se verifica que a ocorrência não teve repercussão no meio comercial ou social, que não houve a inclusão em órgãos de proteção ao crédito (SERASA, SPC),. que o Requerente possuía várias outras devoluções de cheques. O Requerente pretende ganhar com o presente processo o que demoraria anos para ganhar trabalhando. Sonha com loteria jurídica. Tratando-se de danos morais, é cediço que, além dos critérios que a Doutrina e Jurisprudências patentearam à fixação do quantum indenizatório - extensão do dano, posição social da vítima, condição econômica do ofensor, etc. - o peso maior é o animus, ou seja, a existência do dolo, ou em sua falta, o grau de culpa do ofensor. Décio Antônio Erpen, citado anteriormente, manifestou à respeito das indenização pleiteadas: assim se "Examinando algumas demandas onde são pleiteados valores efetivamente exagerados, tive dificuldades em deferir, na ausência de critérios legais precisos, indenizações a título de dano moral, também chamado de dano extra-patrimonial, nos casos de ilicitude relativa. A realidade é alarmante e a preocupação tem razão de ser porque estar-se-iam estimulando demandas pela via pretoriana. Periclita, em tais casos, um dos suportes da via em sociedade, qual seja, a segurança jurídica. No campo da Sociologia o Judiciário, ao invés de ser instituição de integração social, de concórdia, de solvedor de litígios, passaria a ser elemento da desagregação social. Na busca de reparação estabelece-se uma verdadeira loteria jurídica, formulando equação perversa onde as variáveis, levadas a grau de extremo, são a dor do ofendido e a necessária punição ao ofensor. Ocorre que nessa esfera do direíto a dupla aferição, fica entregue ao subjetivismo puro do juiz." (grifamos) A pretensão do Requerente deixa patente uma altíssima dose de oportunismo buscando beneficiar-se da onda de litigiosidade interesseira, em busca do enriquecimento sem justa causa, olvidando-se completamente dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, que devem nortear a atividade judiciária. Por fim, considerando que o Requerente desvirtuou a verdade e buscar utilizar o processo para obter vantagem indevida, deve o mesmo se condenado às penas aplicáveis aos litigantes de má-fé, na forma do art. 18 do CPC. Ante todo o exposto, requer: Sejam acatadas as preliminares argüidas, com a conseqüente extinção do processo sem julgamento do mérito, conforme dispõe o art. 267, VI, do CPC; No caso de superação das preliminares, que, no mérito, seja a ação julgada totalmente improcedente, com a condenação da Requerente nas verbas sucumbenciais, inclusive honorários advocatícios. Além da prova documental já produzida, requer o depoimento pessoal da Requerente sob pena de confisão, juntada de novos documentos, oitiva de testemunhas e todas as demais provas admitidas em direito. Caso Vossa Excelência. julgue necessário, requer seja oficiado a SERASA no endereço XXXXXXXXXX,, para determinar que apresente os dados constantes em seus arquivos em nome do Requerente, nos últimos 05 (cinco) anos.

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Nestes Termos, Pede Deferimento. XXXXXXXX (TO), ___ de ________ de 2004.

Síntese da Aula

Nesta aula relembramos a estrutura de uma Petição Inicial e conhecemos uma outra peça processual, a Contestação.

Atividades

1. Analise detalhadamente, as etapas, a estrutura que uma Petição Inicial e

uma Contestação devem ter e qual a finalidade de cada ação presente

nessas peças.

2. Identifique, no mínimo, dez operadores argumentativos em cada peça,

e classifique-os conforme o sentido que estabelecem no texto.

Comentário sobre as atividades Ao analisarmos a estrutura das peças estudadas, conseguiremos

compreender melhor as etapas que devem conter cada uma delas.

Procuraremos sempre relembrar os operadores argumentativos nos textos

estudados pela importância que o domínio deles têm nas produções textuais.

Referências MEDEIROS, João Bosco e TOMASI, Carolina. Português Forense – a

produção do sentido. São Paulo: Atlas, 2004.

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Tema 05

Produção Textual Jurídica II

Impugnação Decisão Saneadora

Objetivos Conhecer peças processuais básicas;

Identificar características estruturas e argumentativas dos gêneros textuais

Impugnação e Decisão Saneadora.

Introdução

1. Impugnação A Impugnação à Contestação representa a oportunidade de o Autor

manifestar-se sobre as alegações do Réu e sobre os documentos que trouxe

aos Autos. Decorre do princípio constitucional do contraditório e do princípio da

igualdade entre as partes. Assim como o Réu teve oportunidade de conhecer a

tese do Autor e os documentos que juntou e manifestar-se sobre eles, ao Autor

deve ser garantida a mesma prerrogativa. Não podemos esquecer que o

processo é um conjunto dialógico em que as partes buscam convencer o

Juiz. Em razão disso, deve ser garantido às partes que tenham oportunidades

iguais de combater as teses e documentos da parte contrária.

Examinaremos agora como esta Impugnação foi construída. EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA Xª VARA CÍVEL DA COMARCA DE XXXX – TO AUTOS XYZV/0Y

EMILIANO PERNETA, através de seus advogados, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência para apresentar IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO E DOCUMENTOS, nos termos que seguem:

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1. Descurando-se da boa técnica processual, o Réu apresentou razões de mérito, depois preliminares e, depois, novamente alegações de mérito.

2. O Autor impugna as questões preliminares, as alegações de mérito e

os documentos nos seguintes termos:

3. DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL POR IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO – o Réu alegou que o pedido apresentado no inicial era juridicamente impossível em razão de que “deveria o Autor apresentar provas mais contundentes de sua pretensão, e não apenas fazer alegações descabidas sem qualquer nexo, esperando que o juízo acredite somente em suas palavras”.

4. A Alegação do Réu é descabida, além de atabalhoada. A) o Autor

juntou documentos hábeis a comprovar a conduta indevida do Réu que redundou em danos morais àquele; B) o Autor não pretende que o juízo acredite em suas palavras, mas juntou documentos comprobatórios de suas alegações e ainda se terá pela frente a instrução processual; C) As alegações apresentadas pelo Autor não são descabidas e todas elas são hialinamente claras e contextualizadas, decorrendo logicamente dos fatos ocorridos e comprovados pelos documentos juntados, e ainda a serem comprovadas mais uma vez na instrução; D) um pedido é juridicamente impossível quando a pretensão deduzida em juízo não pode ser amparada pelo ordenamento jurídico vigente. Ora, uma vez devidamente comprovada a conduta lesiva do Réu em relação ao Autor e os danos sofridos por este, não há nenhuma impossibilidade jurídica de ser deferido o que pleiteia.

5. Deve ser, portanto, afastada a preliminar de inépcia da inicial por

impossibilidade jurídica do pedido.

6. DA PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR – o Réu afirmou, ao alegar a citada preliminar, que o Autor propôs ação com “mero interesse de obter vantagem financeira, ou a utilização do processo como meio de vingança”. Da doutrina colacionada, deduz-se que o Réu quis afirmar que o Autor visava prejudicar o Réu sem interesse de obter vantagem útil para si. O Réu é contraditório em seus próprios termos. Além disso, a preliminar argüida não pode prosperar, uma vez que o Réu agiu de forma contrária ao direito e causou grandes danos ao Autor. Este, portanto, tem legítimo interesse em ver-se compensado pelos prejuízos que sofreu. Como o Autor tem direito material a ser protegido, ipso facto, tem interesse processual de agir, posto que, a todo direito corresponde uma ação que o assegura.

7. Deve, pois, ser afastada a preliminar acima guerreada.

DO MÉRITO

8. Repetindo a velha cantilena das instituições bancárias que,

negligenciando no cumprimento de suas obrigações, causam danos a seus clientes, o Réu afirma que o Autor pretende enriquecer-se de modo fácil, pleiteando indenização milionária. Sem nenhuma criatividade, repete que o presente processo faz parte de uma indústria do dano moral.

9. Talvez por entender que o processo seja lugar adequado para

brincadeirinhas de mau gosto, transcreve texto de um artigo atribuído a Carlos Alberto de Oliveira Cruz, afirmando que “Se Papai Noel efetivamente existisse, (como pensam nossos filhos), não estaria ele

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imune à responsabilidade, abusiva e ainda incontida da indústria do dano moral.” Efetivamente, se Papai Noel existisse e fosse desidioso e negligente como o foi o Réu, no caso discutido nos presentes autos, por certo seria compelido a indenizar àqueles a quem causasse danos morais, pois se Papai Noel existisse não estaria acima da lei.

10. Alega o Réu que o Autor não faz jus a ser compensado por danos

morais porque o seu histórico na relação bancária com o Réu já teve cheques devolvidos por insuficiência de fundos. De fato, o Autor, a exemplo de milhões de correntistas, já teve cheques devolvidos por razoes várias. Quando ocorreu devolução de cheque do Autor, tal se deu, ou por algum problema imprevisto que impossibilitou a provisão de fundos em poder do sacado no momento devido, ou porque algum cheque pré-datado foi depositado antes da data avençada. Ressalte-se porém, que quando tais fatos ocorreram os cheques foram devolvidos uma única vez e quando de seu redepósito foram devidamente compensados em razão do Autor já ter provido devidamente sua conta bancária.

11. No caso em tela, um grande número de cheques emitidos pelo Autor,

com provisão em conta corrente, foram devolvidos porque, por obra exclusiva do Réu, no momento da compensação, aparecia sustação do pagamento dos mesmos. Existe uma abissal diferença entre uma primeira devolução de um cheque por insuficiência de fundos e a devolução de vários cheques por contra-ordem de pagamento. Isso porque, quando o sacador de um cheque o recebe, em devolução, tendo como causa desta a sustação do pagamento, a primeira idéia que lhe vem à cabeça é a de que o emitente, dolosamente, procura furtar-se ao cumprimento de obrigação assumida.

12. No caso em tela, o Réu agiu de forma negligente e desidiosa, com

culpa em altíssimo grau, uma vez que o problema de sustação automática de cheques emitidos pelo Autor aconteceu por duas vezes, como apontado na inicial e se vê nos documentos.

13. Aduza-se, por fim, que o fato do Autor já ter tido cheque devolvido não

autorizaria o Réu a agir de forma negligente e desidiosa, e causar danos ao Requerente.

14. A alegação do Réu de que não há nexo causal entre a sua conduta e

os danos sofridos pelo Autor em razão de esta ter sido ofendida por sacadores dos cheques sustados, também não merece ser acolhida. Por óbvio, se o Réu não tivesse provocado a devolução indevida dos cheques, o Autor não teria sido exposto ao constrangimento de ser xingado e de ter que explicar para credores incrédulos que não fora por ato seu que os cheques foram sustados. Existe liame perfeito entre a conduta indevida do Réu e os danos sofridos pelo Autor.

15. Alegou ainda o Réu que inexistiram os danos morais alegados pelo

fato de que o nome do Autor não foi incluído em qualquer órgão de proteção ao crédito. Há que se aduzir que existem danos materiais decorrentes de dano moral, em razão de abalo de crédito e dano moral puro. No presente caso o Autor foi vítima de ambos. Conforme exposto na inicial, muito embora o Autor não tenha tido seu nome inscrito em órgãos de proteção ao crédito, teve seu crédito abalado perante as pessoas em favor de quem havia emitido os cheques que foram indevidamente sustados. Também é patente o dano moral puro em razão dos constrangimentos explicitados na inicial.

16. No que tange ao valor pleiteado, o Réu alegou genericamente que o

mesmo é exagerado, mas não apontou qual seria o valor que julga ser o correto. Da mesma forma que o pedido deve ser certo e determinado,

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a impugnação ao pedido também não pode ser genérica. A contestação do Réu no que tange ao valor pleiteado é, portanto, processualmente inepta. Por outro lado o pedido formulado guarda perfeitas proporções tanto em relação ao binômio: condições de pagamento do lesante e posição sócio-econômica do lesado, bem como aos parâmetros que vêm sendo fixados pelo entendimento jurisprudencial.

17. Quanto aos pedidos, o Autor impugna a pretensão de extinção do

processo sem julgamento do mérito e do pedido de improcedência da ação pelas razões acima argüidas. Quanto ao pedido de remessa de ofício à Serasa para que apresente os dados supostamente contidos em seus artigos, com relação ao Autor, o mesmo é descabido, uma porque o Réu tem acesso aos dados da Serasa e poderia ter providenciado tal documento; duas, porque cabe a parte e não ao juízo providenciar os documentos com os quais aquela pretende provar as suas alegações. Quanto ao pedido de prazo de 30 dias para juntada de novos documentos, o mesmo perdeu a razão de ser, pelo fato de que passados mais de 30 dias desde o protocolo da contestação, nenhum documento foi juntado.

Ante o exposto, impugna a peça contestatória ofertada pelo Réu, pugnando mais uma vez pela procedência da ação.

XXX – TO, ___ de ________ de 200X

Nononono Hohoho Zozozozo OAB-TO 99.999

2. Decisão Saneadora A Decisão Saneadora serve basicamente para que o juiz declare que

estão presentes as condições da ação e os pressupostos indispensáveis à

constituição e desenvolvimento válido e regular do processo. Se for constatado

algum problema que não possa ser corrigido, o juiz extingue o processo sem se

manifestar sobre o mérito da causa, ou seja, não se pronuncia a respeito de

que tem razão.

Se for verificada alguma irregularidade que possa ser sanada, o juiz

determina à parte a quem couber sanar o problema que o faça. Se o fizer, o

processo continua; se não o fizer, o juiz extingue o processo sem julgamento

do mérito. Quando, na Contestação, o Réu alegou questões preliminares,

estava justamente buscando a extinção do processo sem julgamento do mérito.

Note-se, portanto, que a Decisão Saneadora é voltada para os requisitos

formais do processo.

Vejamos a estrutura desse gênero jurídico.

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Ref.: Decisão Saneadora

Vistos etc.

Cuida-se de Acão Ordinária de Compensação por Danos Morais promovida por EMILIANO PERNETA em face do BANCO SÃO VALÉRIO S/A. Após contestação e réplica, realizada a audiência de tentativa de conciliação prevista no artigo 331 do CPC, restou esta inexitosa. Depois as partes especificaram provas.

D e c i d o: Rejeito as preliminares, eis que suscitadas sem qualquer consistência. A inicial não é inepta, tanto que fora devidamente recebida, dando ensejo à defesa. O pedido afigura-me juridicamente possível e o Autor demonstrou interesse na demanda (interesse-necessidade na medida em que não houve a resolução do conflito de interesses de forma amistosa e extrajudicial. Além do interesse-adequação em virtude da ação correta,qual seja, a ordinária). Os assuntos outros trazidos à baila pelas partes encerram matéria meritória, cujo deslinde deve ser antecedido de oportunidade para produção de provas que ainda não se encontram no bojo dos autos, de modo que os relego para o momento oportuno. Diante do exposto e nos termos do artigo 331, § 2° do Código de Processo Civil, declaro saneado o presente processo. Defiro as provas úteis que foram requeridas tempestivamente e também a oitiva de testemunhas conforme já peticionado pelas partes, designando o dia __/__/2004, às 14h para audiência de instrução e julgamento. Pedido de ofício à Serasa: Indefiro, eis que a providência é de interesse da parte Requerida e o documento pode ser facilmente obtido por ela, sem a necessidade de diligência do Juízo. Intimem-se. Síntese da Aula

Nesta aula continuamos a analisar as peças de um processo cível

em primeira instância: Impugnação e Decisão Saneadora.

Atividades No início dos nossos estudos, dissemos que só podemos atingir o

objetivo de “ler, falar e escrever bem” lendo, falando e escrevendo... pois o

desenvolvimento dessas capacidades está intimamente relacionado ao

exercício diário, à persistência e, principalmente, ao conhecimento da nossa

língua. Desta forma, exercitaremos um pouco mais sobre o reconhecimento do

sentido produzido pelos articuladores.

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1. Releia a peça Impugnação e atente para os itens de 10 a 16. Há

articuladores grifados (ou, ou, porque, uma vez que, e, se, pelo fato de que,

mas, portanto) neles. Identifique o significado que encerram.

Comentário sobre as atividades Mais uma vez, vamos trabalhar o uso adequado dos articuladores

textuais. No texto em questão, todos foram utilizados corretamente. Esse

exercício destina-se à identificação, por sua parte, do significado ilocucional

que eles estabelecem no texto.

Referências MEDEIROS, João Bosco e TOMASI, Carolina. Português Forense – a

produção do sentido. São Paulo: Atlas, 2004.

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Tema 06

Produção Textual Jurídica III

Alegações Finais

OObbjjeettiivvooss

Conhecer peças processuais básicas;

Identificar características estruturas e argumentativas do gênero textual

Alegações Finais do Autor e do Réu.

Introdução 1. Alegações Finais

Após a decisão saneadora tem início a fase da instrução do processo,

na qual são produzidas as provas. Não discorreremos sobre a fase de

instrução porque interessa ao nosso estudo as produções textuais

dissertativas. É certo que na fase de instrução também se produzem textos,

mas estes são normalmente relatoriais.

Concluída a fase de instrução, as partes, primeiro o Autor e depois o

Réu, têm a oportunidade de produzirem Alegações Finais, que podem ser

escritas ou orais. Se escritas, as partes dispõem de prazos sucessivos para

apresentá-las; se orais, as partes apresentam suas Alegações Finais, primeiro

o Autor e depois o Réu, ao final da Audiência em que foram ouvidas as partes

e as testemunhas.

Os textos de Alegações Finais, tanto do Autor quanto do Réu podem

ser analisados nos exemplos que seguem.

1.1 Autor

Alegações Finais orais: Pelo Autor: MM. Juiz, a história trazida aos autos pelo Autor, é a mais cândida verdade dos fatos. DA INVERSAO DO ÔNUS DA PROVA - apesar das

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instituições bancárias se oporem à aplicação do Código de Defesa do Consumidor às relações entre bancos e clientes, o entendimento majoritário dos nossos Tribunais é no sentido de que o Código Consumeirista aplica-se às referidas instituições bancárias. No caso em tela, por absoluta impossibilidade do Autor de provar fatos ocorridos, e tendo em vista que o Réu dispõe, ou deveria dispor, de documentos e provas que comprovam a veracidade dos fatos alegados pelo Autor, impõe-se, no presente caso a aplicação do instituto da inversão do ônus da prova, codificado no art. 6° , inc. 3° do CDC. Assim, prima facie, requer seja aplicado tal instituto, no caso em tela. Com relação aos danos morais sofridos pelo Autor, os mesmos restaram incontroversos. Em, primeiro lugar, há que se levar em conta o grande número de cheques devolvidos indevidamente pelo Réu, sob a alegação de que o Autor teria ofertado contra-ordem de pagamento, o que não ocorreu. Em segundo lugar, há que se levar em conta, na apreciação do quantum debeatur a ser o Réu condenado, o fato de o Réu ter garantido que o problema da devolução dos cheques havia sido solucionado, informação esta que o Autor repassou a seus credores, gerando-lhe mais descrédito, quando da renovação da devolução dos cheques. Em terceiro lugar, não podemos desprezar o grande esforço que o Autor teve que despender para colocar em ordem a sua vida e os seus negócios. Em quanto lugar, a que se levar também em conta o elevadíssimo grau de culpa do Réu, pelos fatos e motivos já discorridos nos autos. Assim, restados incontroversos os danos morais sofridos pelo Autor, o agir culposo do Réu e o nexo de causalidade entre um e outro, é imperioso que o Réu seja condenado a compensar o Autor pelos danos morais por este sofridos, nos termos do pedido contido na Inicial. Reitera, pois os termos e pedidos da Inicial. Pede deferimento. 1.2 Réu Pelo Réu: MM. Juiz, as argumentações trazidas em alegações finais pelo Requerente, praticamente repetem o conteúdo da Inicial. A alegação de que as pessoas às quais foram passados os cheques lhe causaram constrangimentos e vexames não é verdadeiro, pois os depoimentos das testemunhas revelaram o contrário. Segundo as testemunhas, alguns dos cheques foram resgatados em empresa de factoring, sem maiores problemas. O depoimento da testemunha Sr. ZZZZZ, proprietário da casa lotérica onde foram pagas as contas de água, energia elétrica e telefone, afirmou que jamais deixou de reconhecer o Requerente como pessoa idônea. Quanto ao alegado abalo de crédito, cabe evidenciar que o nome do Requerente já constava dos cadastros restritivos da Serasa e do CCF, pesquisa junto ao Banco Central, onde consta apontamento por emissão de cheque sem fundos, antes mesmo dos fatos relatados nos presentes Autos. Restou, pois, demonstrado que não assiste nenhuma razão ao Requerente. Desta forma, reitera-se os termos da Contestacão, evocando as provas carreadas aos autos para requerer que a presente ação seja julgada improcedente. Pede deferimento. Notamos que nas Alegações Finais o Autor procura convencer o juiz

de que as provas que foram produzidas corroboram as teses apresentadas na

Petição Inicial, ao passo que o Réu visa a convencer o juiz de que as provas

que foram produzidas corroboram as teses apresentadas na Contestação.

Síntese da Aula

Nesta aula analisamos as Alegações Finais orais de um Processo, tanto do Autor quanto do Réu, e seus objetos de argumentação.

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Atividades

Estudamos várias formas de argumentação na defesa de nossas teses,

idéias. O reconhecimento da organização dos argumentos utilizados é muito

importante, tanto para a eficiência da argumentação quanto para contestarmos

a argumentação do outro. Exercitaremos agora esse reconhecimento.

1. Analise as Alegações Finais orais do Réu. Há uma ordenação de

argumentos feita por enumeração. Quais elementos lingüísticos foram

utilizados para esta ordenação?

2. Nas Alegações Finais do Autor, há vários argumentos utilizados para

tentar provar duas teses. Identifique-as.

Comentário sobre as atividades Conforme vimos no semestre passado, existem várias formas de

ordenação do desenvolvimento dos parágrafos. É bom relembrá-los para pôr

em prática as possibilidades que a língua nos oferece na confecção de textos.

Além disso, quando conseguimos identificar os argumentos utilizados por um

autor de um texto, as chances de conseguirmos convencê-lo do contrário são

muito maiores. Daí a importância dessa atividade.

Referências MEDEIROS, João Bosco e TOMASI, Carolina. Português Forense – a

produção do sentido. São Paulo: Atlas, 2004.

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Tema 07

Produção Textual Jurídica IV

Sentença

OObbjjeettiivvooss

Conhecer peças processuais básicas;

Identificar características estruturas e argumentativas do gênero textual

Sentença.

Introdução 1. Sentença

A Sentença é uma produção dialética complexa. Para ser válida,

deve ser composta de relatório, fundamentação e parte dispositiva (CPC, art.

458).

O raciocínio dialético comporta tese, antítese e síntese. Na sentença

considera-se a Petição Inicial e Impugnação e Alegações Finais do Autor

(tese) a Contestação e Alegações Finais do Réu (antítese), mas a conclusão

não será a síntese de ambas. Na sentença o juiz deve considerar o conteúdo

da Petição Inicial e da Contestação, pois deve julgar segundo a pretensão das partes, e deverá aplicar o direito ao caso concreto. Poderá acolher

totalmente a pretensão do Autor (procedência), desacolher totalmente a

pretensão do Autor, acatando, portanto, as alegações do Réu (improcedência)

ou acolher parcialmente a pretensão do Autor, por entender que o Réu

conseguiu demonstrar fatos modificativos do direito pretendido pelo Autor

(procedência parcial). Pode ocorrer ainda que o Autor apresentou uma

determinada pretensão que não tem amparo no Direito; o Réu não contestou a

pretensão. Mesmo assim o juiz não concederá ao Autor aquilo que pretendeu

sem amparo jurídico, pois o Estado não pode conceder a ninguém aquilo a que

não tem direito. A sentença é, pois, a concretização do Direito.

Esta é a última peça que veremos nesse semestre e é muito importante

que seja analisada nos seus mínimos detalhes, pois aqui poderemos notar a

argumentação utilizada pelas partes, a decisão do juiz, ou seja, a tese,

antítese e síntese.

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Sentença COMARCA DE XXXXXX - TO .XXª Vara Cível Autos nº XXXX/04 Ação de Compensação por Danos Morais Requerente: Emiliano Perneta Requerido: Banco São Valério S. A. Autos nº YYYY/04 Impugnação à Assistência Judiciária Gratuita Concedida Requerente: Banco São Valério S. A. Requerida: Emiliano Perneta

Vistos etc.

Pelos autos n° XXXX/04, busca o Requerente a condenação do Requerido a indenizar-lhe pelos danos morais que lhe causou, por ato de seus funcionários. Alega que retirou junto ao Requerido, agência local, um talão de cheques e utilizou-os para pagar produtos que comprou para sua loja de móveis, utensílios domésticos e eletrodomésticos usados e para pagamento de contas de água, energia elétrica e telefone. Que cheques foram devolvidos, como se ele, Requerente, tivesse dado contra-ordem de pagamento. Que procurou o Requerido e este reconheceu que houve uma falha em seu sistema computadorizado, mas que o problema já estava resolvido. Que repassou essa informação a seus credores, detentores de cheques pré-datados. Que os outros cheques pré-datados foram devolvidos, pelo mesmo motivo. Que, por causa disso passo por dissabores diversos, passando por situações constrangedoras,vez que tinha que tentar explicar aos credores que não tinha culpa pelo ocorrido.. Que, desta vez, os funcionários do banco disseram que nada podiam fazer. Que, os valores cujos pagamentos foram sustados por obra exclusiva do Requerido somaram R$ 4.293,28 (quatro mil duzentos e noventa e três reais e vinte e oito centavos). Juntou documentos e pediu indenização no importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais), mais verbas de sucumbência. O Requerido foi citado. Contestou o pedido, alegando preliminares de inépcia da inicial e falta de interesse de agir.No mérito, alegou que não praticou ato que causasse dano algum ao Requerente. Que, quando ocorreram as devoluções mencionadas a autora já tinha cheques devolvidos por insuficiência de fundos. Que não causou danos ao Requerente e, por isto, nada tem a indenizar. Que o valor pleiteado é um exagero e visa enriquecimento ilícito. Pugnou pela improcedência total da ação. A contestação foi impugnada. As partes postularam produção de prova testemunhal em audiência. Saneou-se o feito e deferiu- se a produção das provas postuladas. Realizou-se a audiência na qual foi tomado o depoimento pessoal do Requerente e inquiridas as testemunhas constantes dos termos dos autos. Em alegações finais orais, pelo Requerente, postulou-se a procedência total da inicial e pelo Requerido a improcedência total da ação e procedência da Contestação.

É o Relatório,

Decido

O feito respeitou o princípio do devido processo legal, não havendo nenhuma nulidade a ser decretada, pois estão presentes os pressupostos processuais de instauração e desenvolvimento válido e regular do processo. As partes são legítimas e estão bem representadas, bem como presentes as condições da ação. Portanto, estando os autos alimpados e maduros para receberem a

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EAD UNITINS – LÓGICA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS

eficaz e esperada providência jurisdicional, com a apreciação do "meritum causae". É o que ora passo a fazer. Quando do seu depoimento pessoal, disse o Requerente: "(...) que visa com o presente processo resgatar parte dos danos que sofreu (...)”. No restante, confirmou a narrativa apresentada na Petição inicial. Restou incontroverso que foi o Requerido foi quem entregou ao Autor o talonário de cheques e que os cheques daquele talonário foram devolvidos, alegando motivo de contra-ordem de pagamento do emitente, mas que tal contra-ordem se deu por obra do Requerido, por motivos não esclarecidos. O que se sabe, é que o Autor não foi quem deu a mencionada contra-ordem. O art. 2°, letra "a" e "b", do regulamento anexo à Resolução n° 1.631, de 24.08.89, do Banco Central, está assim redigido: "art. 2.. No fornecimento de talonário de cheques, deve-se observar: a) é vedada a entrega se o correntista ou o seu procurador figurar no cadastro de emitentes de cheques sem fundos (CCF) de que trata o capítulo TIl deste regulamento; b) o estabelecimento bancário pode, a seu critério, suspender a entrega cheques ao correntista ou a seu procurador, se houver restrição cadastral. O Requerido alega que o Requerente já havia emitido diversos cheques sem fundos. Entretanto, os extratos que fez juntar, somente nos dão conta de tais ocorrências, em datas muito após os fatos aqui narrados e, ao que consta, independentes. O Autor, por sua vez, alega a ocorrência de diversos danos que lhe foram causados pela conduta do Requerido. Quando de seu depoimento pessoal, alega que não teve redução de suas atividades comerciais por causa da devolução de seus cheques. Afirmou que, por causa dos fatos narrados nos presentes autos, não teve seu nome inscrito na Serasa e em outros órgãos de proteção ao crédito, mas que tal já ocorreu por outras dificuldades financeiras. Afirma a autora que sofreu danos morais incalculáveis, vez que se viu lançada em um turbilhão de constrangimentos. A testemunha ZZZZZZ, proprietário da Casa Lotérica onde o Autor pagou contas de água, energia elétrica e telefone, cujo cheque de pagamento foi devolvido, afirmou que entendeu o problema ocorrido e nunca deixou de ter o Autor como pessoa idônea. O abalo de crédito noticiado, não restou demonstrado. O autor disse que passara por dificuldades financeiras e, por isto, teve seu nome inscrito no Serasa, não pelo Requerido. Logo, seu descontrole financeiro nada tem a ver com o que se discute nos presentes Autos. Quanto à caracterização do dano moral, vejamos: "Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima... Não é também qualquer dissabor comezinho da vida que pode acarretar a indenização. Aqui, também é importante o critério objetivo do homem médio, o bonus pater familias: não se levará em conta o psiquismo do homem de pouca ou nenhuma sensibilidade,capaz de resistir sempre às rudezas do destino." – (Direito Civil, por Sílvio de Salvo Venosa, 33.ed. atualizada, editora Atlas, volume 4, - 2003, p. 33.)

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Mais adiante, preceitua: O protesto indevido de um cheque, por exemplo, causará sensível dor moral a quem nunca sofreu essa experiência, mas será particularmente indiferente ao devedor contumaz. ... Por essas premissas, não há que identificar o dano moral exclusivamente com a dor física ou psíquica. Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida do indivíduo; uma inconveniência de comportamento ou, como definimos, um desconforto comportamental a ser examinado em cada caso". – (Op. Cit., p. 33.) Para que fique totalmente esclarecido o tema, volto, ainda, citar mais afirmação do mencionado mestre: "Como apontamos, o dano moral não se caracteriza unicamente por um conceito de dor psíquica, mas por um desconforto comportamental na pessoa, que extrapoIa os limites do aceitável". – (Op. Cit., p. 20). Como se pode ver, os danos que o Autor quer fazer crer ter sofrido, não ocorreram como declarado. Aconteceram, sim, alguns aborrecimentos, nos casos de resgate dos cheques já emitidos, em poder dos credores. Entretanto, tais fatos não autorizam o reconhecimento do direito que pretende ter o Autor. Pelo disposto no art. 333, inciso I, do Código de Processo Civil, cabe a quem alega, fazer prova do fato constitutivo do seu direito. Entendo que os fatos imputados ao Requerido, atingiram a honra do Autor, porém não com a gravidade apontada por este. Pelo que ficou provado nos autos, jamais a situação vivenciada pelo Autor causou-lhe os danos imensuráveis, como quer o mesmo que se reconheça. Danos existiram, mas de gravidade mediana. Quanto ao valor pedido, mais uma vez, recorro às preciosas lições do eminente Juiz de Alçada: "Responsabilidade civil - Calúnia, injúria e difamação. A Lei 4.117, de 27.8.1962, que instituiu o Código Brasileiro de Comunicações,mais explícito (art. 1.547, parágrafo único, do Código Civil), manda que se repare o dano moral ( art. 81) e indica os critérios para a estimação dessa indenização (art. 84). Aliás, o simples fato dessa indenização poder ser fixada pelo Juiz em importância maior ou menor prova que não se cuida de ressarcir. um dano patrimonial determinado.Também aqui deve-se entender que, existindo difamação, injúria ou calúnia, o legislador presume a ocorrência de prejuízo para o ofendido, presunção que exime a vítima do ônus de provar o dano (RJTJSP, 1:22)." Op. Cit., p. 44. Referida lei manda que a indenização, nestes casos, não seja inferior a cinco vezes, nem superior a cem vezes o salário mínimo. Por outro lado, no arbitramento da indenização, deve o juiz levar em consideração a intensidade do sofrimento da vítima, a gravidade e a natureza e repercussão da ofensa, grau de culpa do ofensor e a situação econômica de ambos. Assim, entendo que a ação proposta deve ser julgada parcialmente procedente, com a ressalva de que o valor da compensação será feito por prudente arbitramento, segundo os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Por outro lado, o Requerido não demonstrou que o Autor tivesse condições de pagar as custas do processo, sem que afetasse a sua manutenção e de sua família. Ademais, as provas dos autos nos demonstram que ele não possui

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situação financeira confortável. O próprio Requerido afirmou que o Requerente já teve vários cheques devolvidos por insuficiência de fundos, o que faz presumir que não dispõe de recursos financeiros de grande monta. Logo, não merece procedência a impugnação à concessão da gratuidade da justiça deferida ao Autor. PELO EXPOSTO e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE o pedido inserto na inicial do feito n° XXXX/04 e, por conseqüência, condeno o Requerido a pagar ao Autor, a título de compensação por danos morais a ele causados o valor de R$ 25.000,00 (vinte cinco mil reais), com fundamento no artigo 269, inciso I do Código de Processo Civil. Juros de mora a partir da sentença, em razão a atual fixação da obrigação e da conseqüente iliquidez anterior. Condeno ainda o Requerido ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes no importe de 15% (quinze por cento), calculados sobre o valor da condenação. JULGO IMPROCEDENTE a impugnação ao pedido de assistência judiciária gratuita, em apenso, feito n° YYYY/04, pelos motivos já elencados, condenando o impugnante ao pagamento das custas processuais do mencionado incidente. Traslade-se cópia desta sentença para os mencionados autos. P.R.I. XXXXXXX - TO, ___ de _________ de 2004. Síntese da Aula

Nesta aula analisamos uma Sentença, última peça básica de um Processo Cível em primeira instância. Completamos nossos estudos nesse semestre em relação à produção textual jurídica e, como resultado do nosso trabalho, podemos dizer que temos um processo do início ao fim, com: Petição Inicial, Contestação, Impugnação, Decisão Saneadora, Alegações Finais tanto do Autor quanto do Réu e a Sentença .

Atividades

Relacionar a sentença dada pelo juiz aos pedidos feitos por ambas as

partes, unindo pedido e resultado obtido.

Comentário sobre a atividade

Com o término dos estudos sobre gêneros textuais jurídicos, já

podemos ter uma noção geral de um processo cível. Desta forma, a atividade

proposta busca a relação de coerência que houve em todo o processo. Por isso

a importância da identificação de cada pedido à sentença dada pelo juiz.

Referências MEDEIROS, João Bosco e TOMASI, Carolina. Português Forense – a

produção do sentido. São Paulo: Atlas, 2004.

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Tema 08

Algumas Normas e Usos do Português Padrão

OObbjjeettiivvoo

Ampliar o conhecimento de regras gramaticais que norteiam a Língua Padrão,

como principais casos de concordância verbal, uso de particípio e palavras e

expressões que apresentam dificuldades no uso do dia-a-dia.

Introdução Os estudos a que nos propusemos este semestre estão intimamente

ligados à linguagem, principalmente à da técnica jurídica e à produção textual

de gênero dessa área. Sabemos que esse nível de linguagem tem como base

a Língua Padrão. Assim, é muito importante dominarmos essa variedade para

aplicarmos aos nossos textos. Veremos agora a concordância verbal, que tanta

dúvida nos traz na hora da conjugação; o uso de particípios redundantes; e

algumas expressões que relutamos em utilizar por não saber qual é a certa.

Lembre-se de que regras não nos ‘transformam’ em bons leitores ou

escritores, mas ajudam a desenvolver a leitura e a escrita.

Para facilitar nossos estudos, já que neste Tema trabalharemos com

regras, as atividades relacionadas a cada item virão imediatamente após a

teoria dada.

I. Concordância Verbal Vamos agora ver um dos aspectos mais ricos da Língua Portuguesa: a

concordância verbal. Abordaremos aqui os casos mais importantes que a

gramática Normativa preconiza.

Regra Geral: o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.

Ex.: Os concursos ocorrem freqüentemente no estado do Tocantins.

Concurso ocorre freqüentemente no estado do Tocantins.

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Outros Casos:

1. Sujeito Composto 1.1 Antes do verbo = verbo no plural Ex.: Concursos e seleções ocorrem freqüentemente no estado do

Tocantins.

1.2 Depois do verbo = concorda com o mais próximo ou com os

dois.

Ex.: Ocorre concurso e seleção freqüentemente no estado do Tocantins.

Ocorrem concurso e seleção freqüentemente no estado do Tocantins.

Obs.: se há reciprocidade, o verbo deverá ir para o plural.

Ex.: Ofenderam-se o Deputado e o Senador.

1.3 Pessoas gramaticais diferentes = 1ª prevalece sobre a 2ª, a 2ª prevalece sobre a 3ª (ou fica na 3ª)

Ex.: Teus primos, tu e eu atuaremos na área jurídica. 3ª 2ª 1ª 1ªpp

Teus primos e tu atuareis / atuarão na área jurídica. 3ª 2ª 2ªpp 3ªpp

2. Verbo HAVER Se o verbo haver estiver no sentido de existência, acontecimento ou

tempo decorrido, será impessoal, ou seja, não irá se flexionar, devendo

permanecer sempre na 3ª pessoa do singular.

Ex.: Há Deputados e Senadores que trabalham honestamente. Existem...

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Houve um julgamento muito esperado pela população. Aconteceu...

Há cinco anos me mudei para o Tocantins. Decorreram... 3. Verbo FAZER

O verbo fazer, utilizado no sentido de tempo decorrido, assim como o

verbo haver, será impessoal e deverá permanecer na 3ª pessoa do singular,

não podendo ser flexionado.

Ex.: Faz dois anos que voltei a estudar. Decorreram...

4. Verbo SER

O verbo ser tem alguns casos particulares.

4.1 Entre dois substantivos comuns, um no singular e outro no

plural, o verbo ficará no plural, independente se estiver

concordando com o sujeito ou com o predicado.

Ex.: Justiça são os louros da vitória.

4.2 Entre um nome próprio/pronome pessoal e outro comum, o

verbo concordará com o próprio/pronome pessoal.

Ex.: João foi as vitórias da mãe.

4.3 Entre um substantivo e um pronome não pessoal, concordará com

o substantivo.

Ex.: Tudo eram sonhos na sua nova profissão.

4.4 Se indicar quantidade, será invariável, ou seja, permanecerá na 3ª

pessoa do singular.

Ex.: Duas horas é muito para se esperar.

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4.5 Quando o verbo ser estiver indicando tempo, concordará com a

expressão numérica mais próxima.

Ex.: São duas horas.

Atividades 1. Assinale a alternativa que completa as frases abaixo: I. O homem ... ilusões. II. Que horas ...? III. Dois milhões ... mais do que precisamos. a) são; seriam; são c) é; seria; são b) é; seriam; é d) são; seriam; é 2. Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal: a) Sou eu que primeiro saio. b) É cinco horas da tarde. c) Da cidade à praia é dois quilômetros. d) Dois metros de tecido são pouco para o terno. e) Nenhuma das anteriores está correta. 3. Reescreva as frases abaixo, substituindo "existir" por "haver" e vice-versa: a) "Existiam jardins e manhãs naquele tempo: havia paz em toda parte." b) "Se existissem mais homens honestos, não haveria tantas brigas e injustiças.” 4. Indique a única alternativa que não serve para completar a frase: "... fazer dois dias que ele partiu." a) Deve b) Pode c) Vai d) Iam e) Ia 5. Assinale a alternativa onde o verbo haver não admite plural e, por isso, está errado: a) Os soldados se houveram como heróis. b) Os condenados houveram o perdão para seus erros. c) Se eles não vierem, eles se haverão comigo. d) Será que ainda haverão vagas no estacionamento? e) Os jogadores já haviam deixado o campo. 6. O verbo está no plural porque o sujeito é composto em: a) À autora e à maioria.das pessoas não interessam as vantagens da morte. b) Os sentimentos de gratidão e de amor só conseguem ser eternos enquanto duram. c) Amigos e amigas, não me chamem de inesquecível. d) Pedaços de dor e de saudade cobrem a minha alma esbagaçada. e) Limpos estão os meus olhos e o meu coração. 7. ... mais trens neste percurso, pois já ...duas horas que aguardamos. . a) Deviam haver - fazem c) Devia haverem. fazem b) Deviam haver - faz d) Devia haver – faz 8. O período em que a expressão verbal destacada aparece inconvenientemente flexionada é: a) Fazem dez anos que ela partiu. b) Vai fazer dois meses que estou aqui.

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c) Nunca houve tantos candidatos como desta vez. d) Hoje são 23 de julho.

Comentário sobre as atividades Para atingirmos o nosso objetivo de dominar a língua padrão, o uso

correto dos verbos é muito importante, pois utilizá-los de forma

inadequada demonstra pouco conhecimento da própria língua.

II. Uso de Particípios A forma nominal particípio é classificada como verbos abundantes,

pois apresentam, às vezes, mais de uma flexão. Além das formas regulares do

particípio – terminadas em ADO / IDO – há também formas irregulares (ou

curtas/breves). Mas há regras para que saibamos quando utilizarmos a forma

regular ou a irregular. Vejamos.

1. Com os verbos auxiliares TER e HAVER utilizamos os

particípios regulares.

Ex.: tinha / havia limpado tinha / havia morrido

2. Já com os auxiliares SER e ESTAR normalmente

empregamos os particípios irregulares.

Ex.: foi / estava aceso foi / estava impresso

3. Os verbos GANHAR, GASTAR e PAGAR têm uma

particularidade: utilizamos as formas irregulares com TER,

HAVER, SER e ESTAR, mas as regulares somente com

TER e HAVER. Desta forma, para não cometer equívocos,

podemos optar somente pelo uso do particípio irregular desses verbos.

Ex.: tinha / havia / foi / estava ganho gasto pago tinha / havia ganhado gastado pagado

4. ABRIR, COBRIR e ESCREVER e seus derivados

apresentam somente particípios irregulares, ou seja, não existem particípios regulares para esses verbos (abrido,

cobrido, escrevido).

Ex.: tinha / havia / foi / estava aberto coberto escrito

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Observe a tabela abaixo com os particípios abundantes.

Infinitivo impessoal Particípio Regular Particípio irregular

1ª Conjugação aceitar aceitado aceito

entregar entregado entregue

enxugar enxugado enxuto

expressar expressado expresso

expulsar expulsado expulso

findar findado findo

isentar isentado isento

limpar limpado limpo

matar matado morto

salvar salvado salvo

segurar segurado seguro

soltar soltado solto

2ª Conjugação acender acendido aceso

benzer benzido bento

eleger elegido eleito

morrer morrido Morto

prender prendido Preso

suspender suspendido suspenso

3ª Conjugação emergir emergido emerso

expelir expelido expulso

exprimir exprimido expresso

extinguir extinguido extinto

imergir imergido imerso

imprimir imprimido impresso

inserir inserido inserto

omitir omitido omisso

submergir submergido submerso

(Tabela retirada de PASQUALE; ULISSES. 2003, p.169)

Obs.: não existem os particípios irregulares dos verbos COMPRAR e FALAR,

ou seja, nunca utiliza as expressões ‘tinha compro’, ‘tinha falo’.

Atividades

1. Preencha as lacunas com o particípio adequado para cada

situação.

a. O Presidente foi ___________ com a maioria dos votos.

Mas muitos que o haviam ___________ dizem que não o

farão novamente. (eleger)

b. A tese jamais foi __________ pelo juiz. Porém, há alguns

que crêem que o juiz já tinha __________ a história do réu.

(aceitar)

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c. As custas já foram _________, e o acusado diz que todo

seu dinheiro já foi __________ e que ele não tem

perspectivas de que outra quantia seja __________.

(pagar/ gastar / ganhar)

d. João havia _________ a porta para sair sem ser

_________ , e contaria a todos o que havia sido ________

e __________ na reunião. (entreabrir/ ver/ dizer/ escrever)

Comentário sobre as atividades Da mesma forma que a concordância verbal é importante para

atingirmos o nosso objetivo de dominar a língua padrão, o uso correto

dos verbos no particípio também é muito importante, pois a nossa

língua nos dá várias possibilidades de uso, mas com alguns mais

privilegiados..

III. Guia de Dificuldades

Dúvidas do dia-a-dia

Algumas dificuldades gramaticais

1.Mal - Mau Mal - Como substantivo e como advérbio opõe-se a bem.

- Como conjunção, equivale a quando, assim que, apenas. Mau - Como adjetivo e como substantivo (com artigo) opõe-se a bom.

"O chato da bebida não é o ______ que ela nos pode trazer, são os bêbados

que ela nos traz." (Leon Eliachar)

"Para se trilhar o caminho do _______ é indispensável não se importar com o

congestionamento." (Fraga - humorista)

"Andam _______ os versos de pé quebrado." (Jaab - humorista)

"Varam o espaço foguetes _______ intencionados." (Cecília Meireles)

2. Porquês Porque - explicações e respostas.

Por que - nas interrogações.

- como pronome relativo, equivalendo a o qual, a qual, os quais, as

quais.

Por quê - no final da frase.

- isolado por uma pausa.

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Porquê - é substantivo e, então, varia em número; normalmente, o artigo “o” o

precede.

"Vende-se um segredo de cofre a quem conseguir abrir o cofre, _______ o

dono não consegue." (Leon Eliachar)

"Os macróbios são macróbios _______ não acreditam em micróbios." (Mário

Quintana)

” - Diga-me cá, _______ foi que você não apareceu mais lá em casa?"

(Graciliano Ramos)

"Elegante para outra: 'Seu vestido está muito chique, _______ não o vestiu

todo'?" (Leon Eliachar)

"Contavam fatos da vida, incidentes perigosos ________ tinham passado."

(José Lins do Rego)

3. À toa - À-toa À-toa - como adjetivo, modificando um substantivo.

À toa - tem valor de advérbio e significa sem rumo, a esmo, sem direção.

“- Com certeza eram malinhas ______. . . “ (C.D.A.)

"De resto, algumas palavras ______." (Adolfo Caminha)

"A onça não vale nada, seu Firmino, a onça é coisa ______." (Graciliano

Ramos)

"O doutor andava horas e horas ______." (José Lins do Rego)

“- O senhor mexeu na bomba ______: é o dínamo que está esquentando."

(Fernando Sabino)

4. A - Há – Ah Há - tempo passado. - quando é forma do verbo haver.

A - tempo futuro.

Ah - interjeição enfatizante.

“- Estou muito doente. _____ dez anos venho sofrendo de mal súbito." (Aldu -

humorista)

"Isso aconteceu _____ quatro ou cinco anos." (Rubem Braga)

"O mais triste das prisões políticas é quando o advogado consegue o habeas-

corpus para o seu cliente, já não _____ mais corpo." (Fraga - humorista)

"O garçom era atencioso, você sabia que _____ garçons atenciosos?" (C.D.A.)

“... mas daí _____ pouco tinha a explicação." (Machado de Assis)

“Fui casado, disse ele, depois de algum tempo, e daqui _____ três meses

posso dizer outra vez: sou casado." (Machado de Assis)

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5. Senão – Se não Senão - conjunção adversativa, no sentido de em caso contrário, de outra

forma, mas sim, a não ser. - substantivo, com o sentido de falha, defeito, imperfeição.

Se não – se (conjunção condicional) + não (advérbio de negação)

“Cala a boca, mulher, _______ aparece a polícia.” (Rachel de Queiroz)

“Ele, a quem eu nada podia dar ______ minha sinceridade, passou a ser uma

acusação de minha pobreza.” (Clarice Lispector)

“Esfregaram as mãos, têm júbilos de solteironas histéricas, dão pulinhos,

apenas porque encontram ______ miúdos nas páginas que não saberiam

compor.” (Josué Montello)

6. Onde – Aonde – Donde Onde - usa-se com os verbos chamados de repouso, situação, fixação, como

o verbo ser e suas modalidades (estar-permanecer) e outros (ficar, estacionar

etc.); corresponde a lugar: no qual. Aonde - usa-se com verbos chamados de movimento, como ir. andar,

caminhar etc.; corresponde a lugar: ao qual.

Donde - equivale a de onde e apresenta idéias de afastamento; corresponde a

lugar: do qual.

“______ foi inventado o feijão com arroz?" (Clarice Lispector)

"Vende-se uma bússola enguiçada. Infelizmente não sei ______ estou, senão

não venderia a bússola." (Leon Eliachar)

"Tal prática era possível na cidade ______ ainda não haviam chegado os

automóveis." (M.B.)

"Se chegares sempre ______ quiseres, ganhaste." (Paulo Mendes Campos)

"Tomás estava, mas encerrara-se no quarto, ______ só saíra..." (Machado de

Assis)

7. Mas – Más – Mais Mas - conjunção adversativa (oposição, retificação).

Más - plural feminino de mau. Mais - advérbio de intensidade ( diferente de menos).

"Sinto muito, doutor, ______ não sinto nada." (Aldu - humorista)

"O dinheiro não traz felicidade, ______ acalma os nervos."

"Não tinha ______ qualidades, ou se as tinha, eram de pouca monta."

(Machado de Assis)

"Não há coisas, na vida, inteiramente ______." (Mário Quintana)

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"As fantasias ______ usadas no carnaval são: homem vestido de mulher e

mulher vestida de nada." (Leon Eliachar - humorista)

8. A cerca - Acerca - Cerca de - Há cerca A cerca - trata-se do artigo “a” e do substantivo “cerca”.

Acerca - é advérbio com sentido de: a respeito de, com referência a, perto

de.

Cerca de - é o mesmo que acerca de.

Há cerca de - verbo haver e locução prepositiva: aproximadamente, perto de,

mais ou menos.

"Certos decretos sarneicos exigem tanta burocracia que, na verdade, decretam

a falência- ______ fica mais cara que o cercado." (Millôr Fernandes -

humorista)

"Cobrindo _________ alta, um jasmineiro todo estrelado de flores." (Rachel de

Queiroz)

"Aludia às conversas que tiveram ambos os velhos _________o enlace

matrimonial dos pequenos." (Machado de Assis)

"Na rua interrogado _________ longa ausência, não achou resposta adequada.

. . “ (idem)

9. A par - Ao par A par - tem o significado de conhecer, saber, tomar conhecimento.

Ao par - tem o significado de igual, equilibrado, paralelo.

Estamos ______ da evolução técnica.

"Trata-se, _______ uma lição elementar de jornalismo, de um recurso legítimo

e legal." (Isto É)

O câmbio está ______.

10. Afim de - A fim de Afim - é adjetivo com o sentido de conexo, próximo. A fim de - é locução prepositiva, equivale a para (finalidade).

“... era meu parente _______, interrogou-nos de cara amarrada e mandou-nos

embora." (C.D.A.)

Viajou ______ se esconder.

"Metade da massa ralada vai para a rede da goma, ______ se lhe tirar o

excesso de amido..." (Rachel de Queiroz)

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11. Todo - Todo o Todo (a) - corresponde a qualquer, com idéia de generalização, de totalidade

numérica.

Todo o, Toda a - corresponde a inteiro, total, com idéia de especificação, de

totalidade das partes.

"________ nordestino fica danado da vida quando..." (Rachel de Queiroz)

“..._________ viajante é boquiaberto por definição." (C.D.A.)

"_______ político sábio fala duas vezes antes de pensar." (Millôr Fernandes)

"Minhas senhoras, eu tenho sessenta anos e já li __________ os grandes

poemas e __________ as literaturas; li _______ Homero, _________ Virgílio...”

12. A Princípio - Em Princípio A princípio - tem conotação temporal, equivalente a no começo.

Em princípio - tem conotação concessiva, com idéia de aceitação.

"__________, o território neutro do edifício Tandaia era ocupado por mamães e

babás... “ (C.D.A.)

"__________ dizia-se que ele era médico." (José Lins do Rego)

“...continua, pois um elefante morto é, ____________, tão elefante como

qualquer outro." (R. B.)

" .. mas como ele aceitava ______________ a sua corte, estava Alberto

resolvido a pleitear a causa." (Machado de Assis)

13. Sequer - Se Quer Sequer - é advérbio e significa ao menos, pelo menos. Se quer - Trata-se da conjunção “se” + a 3ª pessoa do singular do verbo

“querer”.

“D. Feliciana duvidava uma vez ________ do marido.. ." (Machado de Assis)

"Não via a mulher, nem o lugar, nem o instrumento __________. . . (idem)

"___________ ir à Itália, leia sobre ela o que está nos livros." (Domingos

Barbosa)

14. Sobre – Sob Sob - significa debaixo de ou a respeito de, em hipótese.

Sobre - significa em cima de, na parte superior de, a respeito de. "_______ o sol forte, as cigarras cantavam nas árvores da Avenida Presidente

Wilson, defronte da Academia." (Josué Montello)

"Usa vestido elegante, ______ a capa elegante." (C.D.A.)

"Uma delicada leitora me escreve: não gostou de uma crônica minha, de outro

dia, ________ dois amantes que se mataram." (Rubem Braga)

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"Todo o céu fica a noite inteira ____________ o último andar." (Cecília

Meireles)

15. Trás - Traz Trás - é preposição e significa depois de, após; corresponde a atrás.

Traz - é a terceira pessoa do singular do presente do indicativo ou segunda do

singular do imperativo do verbo trazer.

"Por ______ dele o pescador de bigodes brancos me faz sinal para não

comprar." (Rubem Braga)

"Um dia os militares inventarão um projétil tão perfeito que dará volta ao mundo

e os pegará por________. . . “ (Mário Quintana)

"O dinheiro não _________ felicidade. Manda buscar." (Aldu - humorista)

"Garçom, me ____________ um prato com menos 3,9% de arroz, 7,8% de

feijão e 42,5% de carne, para compensar a alta dos preços." (Leon Eliachar)

16. Tampouco - Tão Pouco Tampouco - advérbio de valor negativo (muito menos).

Tão pouco - o tão é apenas reforçativo; é advérbio de intensidade.

Não o atendi, _______________ abri a porta.

____________ tempo é a vida.

17. Ao encontro de - De encontro a Ao encontro de - estabelece relação de harmonia, concordância.

De encontro a - estabelece relação de oposição, discordância.

A proposta veio _____________ de meu desejo.

O carro bateu _______________ ao muro.

18. Demais - De mais Demais - pode ser: a) Advérbio: idéia de modo ou intensidade (em excesso,

em demasia).

b) Pronome: equivale a restantes, os outros.

c) Preposição: equivalente a além de.

De mais - é advérbio de quantidade ( oposto de de menos).

"O bonde vinha cheio até ___________..." (Mário de Andrade)

Morreram cinqüenta; os ___________ desapareceram.

___________ de ser rico, é bondoso.

"Comprei calças ___________". (Napoleão M. de Almeida)

"Acha-me vírgulas ___________". (Rui Barbosa) .

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19. Na medida em que - À medida que Na medida em que - exprime relação de causa e equivale a porque, já que,

uma vez que.

À medida que - indica proporção, desenvolvimento simultâneo, gradual. Equivale a à proporção que.

0 fornecimento de combustível foi interrompidos ___________________ os

pagamentos não vinham sendo efetuados.

___________ os projetos foram abandonados, a população carente ficou

entregue à própria sorte.

Os verdadeiros motivos da renúncia foram ficando claros _________________

as investigações iam obtendo resultados.

A ansiedade aumentava __________________ o prazo fixado ia chegando ao

fim. Exercícios retirados de ANDRADE, M.M.; HENRIQUES, A.Língua Portuguesa: noções básicas para cursos superiores. São Paulo: Atlas, 1992

Comentário sobre as atividades Os vários itens vistos como dificuldades da nossa língua trazem

insegurança quando os utilizamos. Então, pratique e sempre recorra a

uma gramática e a um dicionário quando sentir necessidade.

Síntese da Aula

Nesta aula relembramos normas gramaticais referentes à concordância verbal de alguns verbos que temos mais dificuldades, o uso correto de particípios abundantes e tiramos dúvidas sobre várias expressões do nosso dia-a-dia.

Referências ANDRADE, M.M.; HENRIQUES, A.Língua Portuguesa: noções básicas para

cursos superiores. São Paulo: Atlas, 1992.

PASQUALE; ULISSES. Gramática da Língua Portuguesa.São Paulo: Scipione, 2003.

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Tema 09

Metodologias de Leitura e Compreensão de Textos Resumo

OObbjjeettiivvooss

Conhecer técnicas de leitura que facilitem a compreensão de textos;

Exercitar a escrita do gênero resumo para tê-lo como auxílio nos estudos

diários.

Introdução Quando lemos o livro “A arte de Argumentar”, de Antônio Suárez

Abreu, vimos o quão importante é a leitura para podermos gerenciar

informações nos dias de hoje. Garcez acrescenta a essa idéia que “a leitura é a

forma primordial de enriquecimento da memória, do senso crítico e do

conhecimento sobre os diversos assuntos acerca dos quais se pode escrever”

(GARCEZ, 2001, p.23).

Mas temos dificuldades que se apresentam na hora da leitura de textos

diversos. O que fazer? Vamos ver algumas idéias expostas pela Garcez para

facilitar nossa leitura, para conseguirmos assimilar, compreender melhor o que

lemos. Dentre vários temas abordados por ela, iremos nos concentrar em dois

itens: nos tipos de leitura e seus objetivos e em alguns procedimentos

estratégicos de leitura. Após, estudaremos uma técnica de estudo e leitura

fundamentar para quem quer aprofundar seus conhecimentos, o resumo.

1. O ato de ler

É fundamental que tenhamos estabelecido um objetivo para nossa

leitura, pois assim escolheremos que ‘tipo’ de leitura faremos para atingirmos o

que foi estabelecido por nós. Vejamos alguns.

a. Os tipos de leitura e seus objetivos

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• Por prazer;

• para obter informações;

• para estudar;

• para seguir instruções;

• para comunicar;

• para revisar um texto.

Conforme o objetivo que estabelecemos para uma leitura, vamos

eleger um tipo de leitura: com atenção, sublinhando, corrigindo, sem

comprometimento etc. Assim também poderemos escolher um procedimento estratégico para a leitura, como veremos agora.

b. Procedimentos estratégicos de leitura

• Estabelecer um objetivo claro;

• identificar e sublinhar com lápis as palavras-chave;

• tomar notas;

• estudar o vocabulário;

• destacar divisões do texto para agrupá-las posteriormente;

• simplificação

• identificação da coerência textual;

• percepção da intertextualidade;

• monitoramento e concentração: fidelidade ao planejamento;

detecção de erros no processo de leitura; ajuste de velocidade;

tolerância e paciência.

(GARCEZ, L.H.C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo:

Martins Fontes, 2001.)

2. Resumo e Sumarização

2.1 Resumo

Resumo é uma condensação fiel das idéias ou dos fatos contidos no

texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem

perder de vista três elementos:

a) cada uma das partes essenciais do texto;

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b) a progressão em que elas se sucedem;

c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.

O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar

suas idéias essenciais, na progressão e no encadeamento em que aparecem

no texto.

Quem resume deve exprimir, em estilo objetivo, os elementos

essenciais do texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários ou

julgamentos ao que está sendo condensado.

Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de

frases do texto original, construindo uma espécie de "colagem". Essa

"colagem" de fragmentos do texto original não é um resumo. Resumir é

apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. A

reprodução de frases do texto, em geral, atesta que ele não foi compreendido.

Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o

conteúdo global do texto. Não é possível ir resumindo à medida que se vai

fazendo a primeira leitura.

É evidente que o grau de dificuldade para resumir um texto depende

basicamente de dois fatores:

a) da complexidade do próprio texto (seu vocabulário, sua estruturação

sintático-semântica, suas relações lógicas, o tipo de assunto tratado

etc.);

b) da competência do leitor (seu grau de amadurecimento intelectual, o

repertório de informações que possui, a familiaridade com os temas

explorados).

O uso de um procedimento apropriado pode diminuir as dificuldades de

elaboração do resumo.

Aconselhamos as seguintes passadas:

1. Ler uma vez o texto ininterruptamente, do começo ao fim. Um texto não

é um aglomerado de frases: sem ter noção do conjunto, é mais difícil

entender o significado preciso de cada uma das partes. Essa primeira

leitura deve ser feita com a preocupação de responder genericamente

à seguinte pergunta: do que trata o texto?

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2. Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com

interrupções, com o lápis na mão, para compreender melhor o

significado de palavras difíceis (se preciso, recorra ao dicionário) e

para captar o sentido de frases mais complexas (longas, com

inversões, com elementos ocultos). Nessa leitura, deve-se ter a

preocupação sobretudo de compreender bem o sentido das palavras

relacionais (articuladores), responsáveis pelo estabelecimento das

conexões (assim, isto, isso, aquilo, aqui, lá, daí, seu, sua, ele, ela, etc.).

3. Num terceiro momento, tentar fazer uma segmentação do texto em

blocos de idéias que tenham alguma unidade de significação.

Ao resumir um texto pequeno, pode-se adotar como primeiro critério de

segmentação a divisão em parágrafos. Pode ser que se encontre uma

segmentação mais ajustada que a dos parágrafos, mas como início de

trabalho, o parágrafo pode ser um bom indicador.

Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por

exemplo), é conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o

que vai depender de cada texto (as oposições entre os personagens, as

oposições de espaço, de tempo).

Em seguida, com palavras abstratas e mais abrangentes, tenta-se

resumir a idéia ou as idéias centrais de cada fragmento.

4. Fazer a redação final com suas palavras, procurando não só

condensar os segmentos, mas encadeá-los na progressão em que se

sucedem no texto e estabelecer as relações entre eles.

FIORIN, J.L.; SAVIOLI, F.P. Para entender o texto. 6.ed. São Paulo: Ática, 1998.

Vamos ver um exemplo de um resumo? Leia o texto que segue.

“Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de

direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de

ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito

de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto

além da infâmia para adivinhar o outro impossível:

- o ar estará livre do veneno que não vier dos medos humanos e das humanas

paixões;

- nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães;

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- as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo

computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo

televisor.” (Eduardo Galeano, Fórum Social Mundial 2001. Caros Amigos 01/2000)

Poderíamos resumir o texto de Eduardo Galeano assim:

“O autor aponta a contradição entre a existência de extensas listas de direitos

humanos e o fato de a maioria da humanidade não ter nenhum. Diante disso,

convida o leitor a sonhar com um mundo possível e elenca algumas das

características desse mundo.”

Exemplo retirado de MACHADO, A.R.; LOUSADA, E.G.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resumo.

São Paulo: Parábola, 2004, p. 51) 2.2 Sumarização: processo essencial para a produção de resumos

Este é um dos processos mentais essenciais para a produção de

resumos, o processo de sumarização, que sempre ocorre durante a leitura,

mesmo quando não produzimos um resumo oral ou escrito. Esse processo não

é aleatório, mas guia-se por uma certa lógica. Veja o exemplo.

a. No Tribunal, o réu encontrou a vítima, que estava usando uma roupa preta.

Sumarização: O réu encontrou a vítima.

Informações excluídas: circunstâncias que envolvem o fato (no Tribunal),

qualificações/ descrições de personagens (que estava usando uma roupa

preta).

Note que somente a informação essencial deve permanecer. Assim,

dados, exemplos, citações não devem permanecer em resumos e

sumarizações.

Síntese da Aula

Nesta aula revisamos a importância do ato de ler e vimos técnicas que podem nos ajudar na compreensão de textos. Também foi mostrado como podemos fazer resumos e sumarizar textos, ambos importantes para a vida estudantil.

Atividades

1. Sumarize os períodos abaixo, quando possível. À medida que for

fazendo cada exemplo, assinale o procedimento que você utilizou,

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preenchendo os parêntesis com as letras dos períodos correspondentes.

Obs.: a letra ‘a’ já está resolvida. O trecho grifado é o que seria eliminado.

(a) Apagamento de conteúdos facilmente inferíveis a partir de nosso

conhecimento de mundo.

( ) Apagamento de seqüências de expressões que indicam sinonímia ou

explicação.

( ) Apagamento de exemplos.

( ) Apagamento das justificativas de uma afirmação.

( ) Apagamento de argumentos contra a posição do autor.

( ) Reformulação das informações, utilizando termos mais genéricos. (ex:

homem, gato, cachorro, mamíferos)

( ) Conservação de todas as informações, dado que elas não são resumíveis.

a. Maria era uma pessoa muito boa. Gostava de ajudar as pessoas.

b. Discutiremos a construção de textos argumentativos, isto é, aqueles textos

nos quais o autor defende determinado ponto de vista por meio do uso de

argumentos, procurando convencer o leitor da sua posição.

c. Não corra tanto com seu carro, pois, quando se corre muito, não é possível

ver a paisagem e, além disso, o número de acidentes fatais aumenta com a

velocidade.

d. O principal suspeito do assassinato era o marido: era ciumento e não tinha

um álibi, dado que afirma ter ficado rodando a casa para ver se a mulher se

encontrava com o amante.

e. De manhã, lavou a louça, varreu a casa, tirou o pó e passou roupa. À tarde,

foi ao banco pagar contas, retirar talão de cheques e extrato e, à noite,

preparou aula, corrigiu os trabalhos e elaborou a prova.

f. O Iluminismo ataca as injustiças, a intolerância religiosa e os privilégios

típicos do Antigo Regime.

g. A pena de morte tem muitos argumentos a seu favor, mas nada justifica tirar

a vida de nosso semelhante.

h. No resumo de uma narração, podem-se suprimir as descrições de lugar, de

tempo, de pessoas ou de objetos, se elas não são condições necessárias para

a realização da ação. Por exemplo, descrever um homem como ciumento pode

ser relevante e, portanto, essa descrição não poderá ser suprimida, se esta

qualidade é que determinará que o homem assassine sua esposa. Já a sua

descrição como alto e magro poderá nesse caso ser suprimida.

2. Resuma os períodos abaixo ao mínimo, tendo como meta a avaliação da

compreensão de suas idéias globais desses trechos. Use os procedimentos de

sumarização já vistos no exercício anterior.

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a) Com a evolução política da humanidade, dois valores fundamentais

consolidaram o ideal democrático: a liberdade e a igualdade, valores que foram

traduzidos como objetivos maiores dos seres humanos em todas as épocas.

Mas os avanços e as conquistas populares em direção a esses objetivos nem

sempre se desenvolveram de forma pacífica. Guerras, destituições e

enforcamentos de reis e monarcas, revoluções populares e golpes de Estado

marcaram a trajetória da humanidade em sua busca de liberdade e igualdade. (Clóvis Brigagão & Gilberto M. A. Rodrigues. 1988. Globalização a olho nu: o mundo conectado.

São Paulo: Moderna).

b) A cultura indígena é complexa, como a de qualquer outra sociedade. Seu

grande diferencial, porém, que foge à regra geral de todas as outras, é a não-

existência de desníveis econômicos. Na sociedade indígena não existem

também normas estabelecidas que confiram a alguém as prerrogativas de

mandante ou líder do núcleo populacional. Aquele que é chamado de cacique

não tem privilégios de autoridade, tem somente os de conselheiro. Não é um

escolhido, é ligado, até quando possível, a uma linhagem lendária. E, quando

essa condição desaparece, passa a responder como conselheiro da aldeia

aquele que pelo número de aparentados alcança essa posição mais

respeitada(...). (O. Villas-Bôas. 2000. A arte dos pajés. Impressões sobre o universo espiritual

do índio xinguano. São Paulo: Globo. p. 25).

c) Na linguagem comum e mesmo culta, ética e moral são sinônimos. Assim

dizemos: "Aqui há um problema ético" ou "um problema moral". Com isso

emitimos um juízo de valor sobre alguma prática pessoal ou social, se boa, se

má ou duvidosa. Mas aprofundando a questão, percebemos que ética e moral

não são sinônimos. A ética é parte da filosofia. Considera concepções de

fundo, princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é

ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem

caráter e boa índole. A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das

pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma

pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores

estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma

pessoa pode ser moral (segue costumes) mas não necessariamente ética

(obedece a princípios). (http://www.leonardoboff.com/)

(MACHADO, A.R.; LOUSADA, E.G.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004)

Comentário sobre as atividades Na introdução do tema 1, vimos que só aprendemos técnicas de leitura,

oralidade e escrita praticando. Assim, essa aula trouxe para nós um

complemento de como podemos ler e escrever de forma mais eficaz e

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com resultados positivos. Não devemos imaginar o resumo e a

sumarização como textos de menor importância, pois quem sabe

resumir e sumarizar textos é porque consegue compreender o que lê e

é mais objetivo nos textos que produz.

Referências FIORIN, J.L.; SAVIOLI, F.P. Para entender o texto. 6.ed. São Paulo: Ática,

1998.

GARCEZ, L.H.C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem

escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MACHADO, A.R.; LOUSADA, E.G.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004.

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