[lnp] sayonara piano sonata vol.1 cap.3

8/13/2019 [LNP] Sayonara Piano Sonata Vol.1 Cap.3

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1Light Novel Project

Capítulo 3 – Mentiras, Marmita, Partita1

Durante a primeira aula no começo da manhã, nosso professor – apelidado de Aposentado

(por parecer com Mito Koumon2) – trouxe aquela garota para a sala de aula, a atmosfera na

sala congelou por um instante. Não percebi a mudança na atmosfera já que estava tirando

uma soneca enquanto ouvia meu discman.

Foi só depois que Chiaki, que estava sentada na minha frente, se virou e me cutucou

no ombro, que removi apressadamente meus fones de ouvido. Independente do que se

tratava a aula, a sala sempre vai estar cheia de conversa no começo da manhã. Entretanto, eusó conseguia ouvir alguns dos meus colegas sussurrando agora.

— Ei, ela é...

— Sim, deve ser.

— Ebisawa...

— Eh? Ela mesma? Eles não disseram que seu paradeiro era desconhecido?

Olhei para a bancada, e meu discman quase caiu no chão. A garota na bancada usava

seu cabelo para trás. Como era o mesmo penteado das propagandas, todos a reconheceram

imediatamente. Era, de fato, Ebisawa Mafuyu. Ela usava nosso uniforme escolar, mas parecia

que alguém pregava uma peça em nós. O que há com isso? Não ouvi o que o Aposentado disse,

e por um momento não consegui entender que ela estava transferindo para o nosso colégio.

— Ebisawa se apresentará para nós.

Aposentado disse isso calmamente e passou o giz para ela. Mafuyu pegou o giz apenas

com seu dedão e indicador. Depois de encará-lo por um tempo e seu rosto empalidecer, ela

girou para ficar de frente com o quadro. Então, o giz escorregou de seus longos e magros

dedos, e o inesperado som do giz quebrando fez com que a sala ficasse novamente em silêncio.

1 Partita foi, originalmente, o nome para uma música de instrumento único (séculos XVI e XVII),mas Johan Kuhnau, e mais tarde compositores alemães (em especial Bach) a usaram para coleções

musicais, como um sinônimo de suíte.2 Nome de um personagem que protagoniza uma famosa série japonesa de mesmo nome.




Um silêncio asfixiante seguiu-se a isso. Tudo que Mafuyu fez foi olhar inerte para o

(provavelmente esfarelado) giz. Aposentado estava apenas alisando seu estimado cavanhaque

lentamente. Até nós alunos, que só estávamos aqui há um mês, entendíamos que isso era umaação que significava que nosso professor estava incerto sobre o que acontecia.

— Mmm, bem... — Nosso professor mal fez um som, e depois de pegar o giz que

estava quebrado ao meio, ele o deu para Mafuyu. Entretanto, quando Mafuyu pegou o giz,

seus dedos já estavam tremendo, de forma que todos conseguiam ver.

Finalmente, Mafuyu olhou para o chão e balançou sua cabeça. Ela colocou o giz no

suporte.

— Eu não quero escrever o meu nome.

Assim que ela disse isso, pareceu que o ar na sala de aula havia sido eletrocutado.

Espera, o que exatamente essa garota está dizendo?

— É só um nome, então não deve ter problema, certo? — Aposentado disse. Ele falava

devagar e num tom baixo, mas claramente não sabia sobre o que fazer, visto que suas mãos e

moviam-se de um lado para outro perto de suas coxas.

— Não quero.

— Mmm... Por quê?

— Não gosto de meu sobrenome.

As palavras de Mafuyu tiveram um efeito similar com o de despejar ar líquido na já

congelada sala de aula. Notei a expressão de Mafuyu quando ela mordeu seus lábios inferiores.

Era a mesma daquele dia – o dia que nos conhecemos, a expressão que ela tinha quando nos

despedimos.

Mas é claro, eu não diria uma só palavra. A pessoa que salvou o dia foi uma colega de

sala sentada na frente.

— Professor, isso não importa. Todos nós já sabemos que ela é.




— Sim. O nome dela é Ebisawa Mafuyu, certo?

— Aham...

A atmosfera na sala ficou realmente estranha. Sussurros como “Ela é a pianista” e “Já

vi os comerciais dela”, surgiam um depois do outro. Percebi que seus esbeltos membros

tremiam levemente por causa das reações. Provavelmente, fui a única pessoa que percebeu os

sinais de perigo.

— Ah, mmm, então... — Aposentado olhou para Mafuyu, e disse calmamente, —

Ebisawa, você tem algo a dizer para os seus colegas?

De repente, uma garota levantou sua mão e perguntou — posso saber quando você vai

lançar o seu próximo álbum?

Eu não me lembrava exatamente do nome da garota, mas lembro dela ser tagarela.

Essa pergunta foi o gatilho para o ataque de perguntas.

— Você não disse que estudaria na Faculdade de Música?

—Por quê não há nenhuma propaganda nova com você?

Alguns dos meninos que ainda estavam confusos com a situação perguntaram, “Que

propaganda?” “É aquele comercial de seguro. Você não sabe?” “Ah, aquele comercial. Eu sei.”

“Hmm? Sério?” A sala de repente ficou barulhenta.

Mafuyu estava olhando para o teto com um rosto rígido, e foi então que ela falou de

repente, com uma voz clara e forte.

— Por favor, esqueçam tudo.

O silencio que pairou na sala foi como a superfície de um lago congelado.

A sua voz tensa continuou a ecoar pela sala – assim como daquela vez.

— ...Eu vou embora em junho, então, por favor, me esqueçam.




Ninguém falou depois de ouvir Mafuyu dizer isso, nem sabiam o que dizer. O que nos

salvou de ficarmos perdidos sobre o que fazer foi o sinal que marcou o final da aula.

— Ah, é-é mesmo? Então... Mafuyu, por favor, sente-se naquela cadeira.

Aposentado apontou para o fim da sala. Quando voltei aos meus sentidos, percebi que

havia um lugar vazio à minha esquerda.

— A representante da classe é Terada, então se sinta livre para tirar qualquer dúvida

que você venha a ter com ela.

Terada foi a primeira pessoa a perguntar algo a Mafuyu. Aposentado então juntou oregistro de presença com os já bagunçados papeis embaixo do seu braço e saiu rapidamente

da sala.

Mafuyu engoliu em seco e regulou um pouco sua respiração. Depois inspecionou a sala

com um olhar cauteloso e hostil, antes de se afastar silenciosamente da bancada. A sala estava

extremamente quieta. Todos olhavam fixamente para cada movimento seu enquanto ela

andava pelo corredor entre as cadeiras. Será que Mafuyu sumiria em um instante se todos os

olhares parassem por um breve momento? Não, isso soa incrivelmente estúpido – é impossível,

mas ainda assim me juntei a eles. Talvez tenha sido esse o motivo, mas Mafuyu escondia

deliberadamente seu rosto enquanto passava pelo meu assento. Os sons dos passos de

repente pararam ao meu lado—

—...Ah!

Ela percebeu. Mafuyu apontou seu dedo, que estava levemente tremendo, em minha

direção e gritou em choque: — P-P-Por que você está aqui? — abracei a minha cabeça e areclinei para a mesa. Percebi que todos na sala tinham seus olhos em mim. Dá um tempo.

— O quê? Vocês dois se conhecem?

Chiaki olhou para Mafuyu, e então para mim. Balancei minha cabeça repetidamente,

como se eu quisesse limpar a mesa com minha testa.

— Não não não, eu não conheço ela. Ela deve ter se enganado de pessoa.




Mas Mafuyu disse: — Por que você está mentindo?

— É você que queria que eu me esquecesse de você, certo?

— Viu, você lembra! Eu pedi para você me esquecer!

Ahhhhh... Não sei mais de nada.

— Mmm, é por isso que eu estou falando para você, já me esqueci de tudo. Quem é

você mesmo?

— Mentiroso!

Imagino que nossa conversa pareça realmente retardada. A discussão entre nossos

colegas estava ficando cada vez mais alta, enquanto o olhar curioso de Chiaki era ainda mais

penetrante. O segundo período era literatura antiga, a que eu mais odiava, mas nesse exato

momento, a visão da velha bruxa que era a professora de línguas foi como a de um salvador

diante de meus olhos.

Mesmo levando em consideração seu rosto inacreditavelmente bonito e seu status de

celebridade, Mafuyu é o tipo de garota quem não quero me aproximar por vontade própria.

Desde o dia que ela se transferiu para cá, esteve cercada por um grupo de garotas curiosas e

lhe perguntavam várias coisas. Mas além dos ocasionais “Não sei” e “Não quero responder”,

ela raramente respondia qualquer pergunta.

— Por que ela se transferiu para cá numa época tão estranha?

Durante nosso intervalo de almoço, Chiaki olhou para o grupo de pessoas e perguntou,

— Nosso colégio é só um colégio comum e ela escolheu belas artes como a sua eletiva.

Então por quê?

Em nosso colégio, temos que escolher entre música, belas artes e caligrafia como

nossa eletiva de artes. Sinceramente, é bastante estranho para uma pianista não escolher o

campo em que ela é boa.




— Apenas pergunte à pessoa em questão que terá a resposta.

Chiaki balançou suas mãos e disse: — Eu não consigo passar pela parede humana que

a cerca — ela então pegou algumas coisas da minha marmita e as comeu com mordidas

gigantes. Venho preparando mais comida na minha marmita recentemente, antecipando que

ela vá pegar suas porções.

— Mas então, quando e onde você a conheceu?

— ...Nos meus sonhos?

— Quer fazer uma visita à enfermaria?

— Não. Cara, é complicado explicar tudo.

— Ainda temos bastante tempo até o intervalo acabar, então você pode explicar tudo

desde o começo — o olhar de Chiaki era inflexível apesar de seu sorriso. Enquanto eu tentava

evitar o tópico, ela já terminara meu almoço tão rápido quanto possível.

Mafuyu continuou com seu comportamento antissocial durante as aulas sem dar a

mínima – ela não anotava e seus livros frequentemente caiam no chão. Alguns professores não

a davam nenhum tratamento especial apesar de ser uma aluna transferida, e pediam que ela

fosse para frente da sala imediatamente, mas ela insistia em ficar sentada e respondia, “Não

quero.” Para ser honesto, achei que ela era realmente corajosa, visto que eu não poderia ter

feito isso nem que quisesse. Pelo que Chiaki me disse, tudo que ela fez durante a aula de

educação física foi sentar e olhar da lateral.

Durante o intervalo do seu segundo dia, parecia que Mafuyu achava sua situação de

ser cercada por garotas curiosas algo bastante insuportável, e pedira minha ajuda algumas

vezes por meio de olhares suplicantes através do espaço da parede humana. Bem, não posso

ajudar mesmo que você queira.

A maior parte das perguntas feitas pelas garotas eram coisas mundanas, como que

tipo de lugar era o estúdio, quais celebridades estavam na emissora de TV e se ela conheceu

alguma delas. No momento que eu estava para me levantar e me afastar desse grupo de

pessoas, ouvi alguém batendo na mesa e um *bam* repentino. Me virei para olhar e vi




Mafuyu levantada no centro do grupo de garotas e apontando para mim através de uma

brecha na parede humana. Ela disse com lágrimas nos olhos — vão perguntar para aquele

garoto ali. Aquele pervertido tem todos os meus álbuns, e deve saber muito sobre mim.

Eh? O quê?

Mafuyu derrubou a cadeira e passou correndo por mim, para fora da sala de aula em

um instante.

Incontáveis olhares pararam em mim, e a representante da classe, Terada, foi a

primeira a falar — ...Qual o relacionamento desse pervertido e Ebisawa? — Por que elas me

chamaram de pervertido?

— Levando em conta a conversa que teve com ela, parece que já a conhecia.

— Sim.

Maldita seja essa garota, ela realmente disse algo tão irresponsável quanto aquilo só

para poder fugir delas...

Então certo garoto disse — esse cara provavelmente a conhece porque o pai é crítico

musical.

— Ah, música clássica, hein.

— Então você já a conhece?

— Seu pai deve saber várias coisas sobre ela, certo?

— Pergunte algumas coisas quando voltar para casa! Coisas como por que Ebisawa

escolheu estudar nesse colégio. Ebisawa se recusa a dizer qualquer coisa sobre si mesma.

É impossível eu saber sobre coisas como essa, não é? Vocês acham que o mundo da

música clássica é pequeno? Apesar de estar pensando isso, dei um aceno ambíguo para poder

escapar de lá.

Mesmo assim, ela ainda queria falar com Mafuyu apesar de ser tratada tão friamente.

Isso era uma tentativa bondosa da representante de classe para fazer Mafuyu se misturar com




a turma, ou era a sua grande resistência por causa da curiosidade? Eu não fazia ideia.

Provavelmente um pouco dos dois.

Depois de voltar para casa naquele dia, finalmente entendi como o mundo é um lugar

pequeno.

— Tetsurou, você ainda se lembra de Ebisawa Mafuyu?

Enquanto eu preparava o jantar fiz essa pergunta ao meu pai, que estava na sala de

jantar nessa hora. Já me esqueci de quando comecei a chamar meu pai pelo nome – provavelmente algum tempo depois de minha mãe sair de casa? Não sei o porquê, mas não

conseguia mais tratar ele como pai pouco depois daquilo.

Testsurou estava agachado na cadeira com seu suéter. Ele estava batucando em uma

tigela com seus hashis no ritmo da valsa de Tchaikovsky, que estava retumbando no volume

máximo dos alto-falantes. Ele gritava repetidamente “O jantar ainda não está pronto?” é assim

que um homem nos seus quarenta anos – e com um filho ainda por cima – deveria se

comportar?

— ...O que você disse?

Tetsurou virou a cabeça, mas suas mãos continuavam a batucar. Uma raiva repentina

inflou dentro de mim. Peguei seus hashis e desliguei o alto-falante. Tetsurou não fez nada

além de se emburrar como uma criança.

— O que eu perguntei foi se você ainda se lembra de uma pessoa chamada Ebisawa

Mafuyu?

— Hmm? Sim, eu lembro. Ebisawa Mafuyu, hein, Bach ainda é o que mais combina

com ela. Tem algumas partes que não fluem suavemente em quase toda sua partitura, mas

essa é a parte fascinante sobre elas. Ocasionalmente, aparecem alguns poucos jovens que

conseguem tocar a música de Bach impressionantemente bem. Tome como exemplo...

— Chega, eu não quero ouvir sua visão sobre essas coisas.




Esquece. Ela é provavelmente uma dos vários pianistas nos olhos de Tetsurou, então é

compreensível que ele só fale de coisas relacionadas à música. Mas assim que eu voltava para

a cozinha pensando isso, Tetsurou falou novamente,

— Mas ouvi dizer que ela transferiu para o seu colégio.

— Como você sabe?

Me virei surpreso, e quase cai após tropeçar em um pote.

— Ebichiri e eu fomos antigos colegas de sala no seu colégio. E já que Ebichiri é o

diretor do colégio, ele definitivamente iria forçá-la a estudar lá insensatamente.

— Ah... certo, ela é filha dele.

Ebisawa Chisato – ou popularmente conhecido como Ebichiri – é um dos poucos e

raros maestros bem conhecidos. Ele costumava trabalhar apenas como maestro para a

Orquestra Sinfônica de Boston e Chicago e é um músico mundialmente reconhecido. A

propósito, Tetsurou foi quem deu o seu apelido – críticos são um bando realmente assustador.

Um dos assuntos muito discutidos durante a estreia de Mafuyu, foi que seu pai é o

“mundialmente conhecido Ebichiri”. Devem ter tido pessoas que tentaram colocar pai e filha

para tocar no mesmo palco, mas Mafuyu desapareceu do cenário musical antes que qualquer

performance do tipo virasse realidade.

— O problema é que nosso colégio não tem mais música como matéria curricular,

então por que se transferir para lá?

— Eu ouvi dizer que é por causa das constantes reclamações da filha dele. Fora

decidido que ela se matricularia na Faculdade de Música, mas sua filha disse que não queria.

Ele ficou sem escolha além de permitir que ela estudasse em um colégio normal, e então ela

foi transferida para o seu colégio. Ela não toca mais o piano, correto? Eu senti que era daquele

tipo de pianista destrutivo após ouvi algumas de suas peças pela primeira vez. A sua contra

melodia soava como uma briga entre familiares.

Hmm? Mas...




Eu a ouvi tocando o piano naquele dia na <Loja de Departamentos dos Desejos do

Coração>.

Ela... Não toca mais o piano? Por quê?

— Ei, o jantar ainda não está pronto?

— O jantar~ ainda não~ está pronto~? — Tetsurou começou a cantar essas músicas junto com a melodia de Non più andrai3 de As Bodas de Fígaro4. Droga, você é barulhentodemais. Vá mastigar suas gravações ou alguma coisa!

Se ela realmente desistiu do piano por alguma razão, e decidiu se matricular na minha

escola ao invés da Faculdade de Música de última hora, então faz sentido a época estranha desua transferência. Mas ainda assim, por que ela desistiu do piano?

Balancei minha cabeça e desejei não pensar nisso mais a fundo. Se eles ouvissem as

coisas que meu pai me disse, meus colegas provavelmente pensariam que eu realmente sei

muito sobre a Mafuyu. Somos apenas colegas de classe que sentam um ao lado do outro, e

parece que ela tem algo que não deseja que os outros saibam. Como vai ser impossível para

ela interferir na minha vida por vontade própria, tudo que me resta é ignorar isso, certo?

Entretanto, Mafuyu se intrometeu na minha vida no dia seguinte...

...de uma forma totalmente inesperada.

3 http://www.youtube.com/watch?v=yz8n2tVyGwc& 4 As bodas de Fígaro é uma ópera-bufa em quatro atos composta por Wolfgang Amadeus

Mozart, sobre libreto de Lorenzo da Ponte, com base na peça homônima de Pierre-Augustin Caron deBeaumarchais (Le Marriage de Figaro).

http://www.youtube.com/watch?v=yz8n2tVyGwc&




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