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PLANO DE AULA APOSTILADO Escola Superior de Teologia do Espírito Santo Livros Poéticos e Proféticos Livros Poéticos e Proféticos Livros Poéticos e Proféticos Livros Poéticos e Proféticos A poesia e o profetismo na vida do povo de Israel Escola Superior de Teologia do ES

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PLANO DE AULA APOSTILADO

Escola Superior de Teologia do Espírito Santo

Livros Poéticos e ProféticosLivros Poéticos e ProféticosLivros Poéticos e ProféticosLivros Poéticos e Proféticos A poesia e o profetismo na vida do povo de Israel

Escola Superior de Teologia do ES

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A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer

241/99 da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais

avançados sistemas de ensino da atualidade. Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia

O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão.

A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila, segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda,

bem como bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.

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__________

SSSSSSSSuuuuuuuummmmmmmmáááááááárrrrrrrriiiiiiiioooooooo

_______ _______ _______ _______

Os livros poéticos - Introdução .................................................... Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.

Jó ................................................................................................ Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.

Salmos ................................................................................................................................ 10

Provérbios........................................................................................................................... 14

Eclesiastes.......................................................................................................................... 16

Cantares de salomão .......................................................................................................... 18

Os livros proféticos.............................................................................................................. 21

Tema e conteúdo ................................................................................................................ 24

Isaías................................................................................................................................... 26

Jeremias ............................................................................................................................. 29

Lamentações....................................................................................................................... 32

Ezequiel .............................................................................................................................. 34

Daniel.................................................................................................................................. 36

Oséias................................................................................................................................. 42

Joel ..................................................................................................................................... 44

Amós................................................................................................................................... 47

Obadias............................................................................................................................... 50

Jonas .................................................................................................................................. 53

Miquéias.............................................................................................................................. 56

Naum .................................................................................................................................. 59

Habacuque.......................................................................................................................... 62

Sofonias .............................................................................................................................. 64

Ageu.................................................................................................................................... 66

Zacarias .............................................................................................................................. 68

Malaquias............................................................................................................................ 71

Bibliografia .......................................................................................................................... 74

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OOss lliivvrrooss PPooééttiiccooss –– IInnttrroodduuççããoo

Os livros Hagiógrafos do Antigo Testamento são para os judeus o que nós chamamos de Livros Poéticos e compreendem: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, e Cantares, alguns dos nossos estudiosos incluem neste grupo as Lamentações de Jeremias.

No cânon hebraico tradicional, contudo, apenas Jó, Salmos, e Provérbios são chamados de "poesia". Eclesiastes e Cantares fazem parte do grupo de livros chamados "os 5 rolos", lidos anualmente por ocasião das 5 festas sagradas dos judeus.

Estes livros não são chamados poéticos por romancearem seus relatos ou por tratarem de assuntos imaginários ou irreais, mas este nome se deve à forma literária em que foram escritos, à elegância do estilo e das expressões usadas e ao Paralelismo de idéias.

Paralelismo

O Paralelismo é o nome dado à principal característica da poesia hebraica, onde há correspondência ou no pensamento ou na linguagem de uma frase com a outra. Esta correspondência pode ser por repetição, ênfase ou contraste de idéias, assim o ritmo não se obtém pela repetição de sons semelhantes (rima) e nem pela métrica.

"A poesia hebraica enfatiza o ritmo da idéia e não o ritmo do som, pois a mente oriental está mais interessada no conteúdo da idéia do que nos meros artifícios literários". Staniey Eilisen

Tipos de paralelismo

Eles são de muitos tipos:

a) Sinônimo: Uma frase encontra expressão sinônima na frase seguinte. Ex.: SI. 24:1 - "Ao Senhor pertence a terra, e tudo o que nela contém; o mundo e os que nele habitam". Sl. 19:1 - "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de Suas mãos". SI. 19:2 - "Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite".

b) Antitético: Uma frase expressa idéia contrária à outra frase. O realce é pelo contraste. Ex.: SI. 1:6 - "Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá".

c) Sintético ou Construtivo: As frases vão se completando e correspondendo, como uma construção. Ex.: Pv. 15:17 - "Melhor é um prato de hortaliças onde há amor, do que o boi cevado e com ele ódio". SI. 19:7 - "A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma, o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples".

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Pv. 10:22 - "A bênção do Senhor enriquece, e com ela não traz desgosto".

d) Há certos tipos de paralelismo menos importantes como: Analítico (SI. 23:1), climático (SI. 29:1), emblemático (SI. 103:1), quiasmo (SI. 51:1).

O valor do PARALELISMO está em que:

a) A correspondência de uma frase do período com outra, quer pelo sinônimo ou pela antítese, muitas vezes ajuda o leitor na interpretação de uma idéia difícil ou ambígua do texto. b) Ele realça e amplia o brilho do texto. c) Como independe de métrica ou rima, a beleza do texto e da mensagem não se perde nas traduções e versões para outros idiomas, como acontece com a Bíblia.

Acrósticos

Por vezes os versos hebraicos estão escritos em ordem alfabética, sendo a primeira letra de cada linha ou verso, as letras do alfabeto hebraico na devida ordem. Ex.: Salmos 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119, 145. (Veja também as Lamentações de Jeremias).

Isto tinha como finalidade para eles facilitar a memorização, mas para nós este valor se perde na tradução.

Os livros são escritos por homens de Deus, inspirados pelo Espírito Santo, os quais vivem uma variedade de experiências do cotidiano, semelhantes às nossas, e que nos são úteis na medida em que apareceram no texto sagrado interpretadas. São aplicadas a nós pelo mesmo Espírito Santo que produziu estas experiências e inspirou os autores sagrados a registrarem-nas.

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JJóó

NOME - Assim como Ester, o nome do livro não é o nome do seu autor, mas do seu personagem principal.

No hebraico Jó "IYYOB" que pode significar "o perseguido", enquanto no árabe quer dizer "arrependimento". Como a história parece se dar na parte norte da Arábia, o significado mais plausível é o segundo.

AUTOR - O livro é anônimo, e vários são os cogitados como autores: Jó, Eliú (Jó 32:6), Jeremias, e mais fortemente, Moisés ou Salomão. A tradição hebraica crê ser Moisés, o qual conheceu a história durante o período de sua vida que esteve em Midiã. Outros estudiosos, comparando o estilo e o conteúdo de Eclesiastes com Jó, afirmam ser Salomão o seu autor.

DATA DA ESCRITA - Como não se conhece com precisão seu autor, não se conhece, por conseguinte sua data de escrita.

Se foi Eliú a data é o XXII século a.C.; se Moisés, em torno de 1450 a.C.; se Salomão, em torno de 950 a.C..

TEMPO DA AÇÃO - Embora não se saiba ao certo quando este livro foi escrito, parece haver, no entanto poucas dúvidas de que Jó foi realmente um personagem histórico e não alguém fictício criado para fins de lições morais e espirituais (Ez. 14:14; Tg. 5:11), habitou a cidade de Uz (Jó 1:1), cidade à sudeste da Palestina, norte da Arábia, vizinha de Edom; e que esta história verídica se deu no período patriarcal antes de Moisés e Abraão, mas apôs o dilúvio (portanto entre Gênesis 11 e 12). As razões para que se creia nisto são:

a) Jó vive com sua família numa organização de clãs, no estilo patriarcal. b) Jó não faz nenhuma referência ao povo de Israel ou à lei Mosaica. c) Jó cumpre as funções de pai e sacerdote (Jó 1:5). d) Jó teve longa vida, como era comum aos homens do antigo patriarcado (Jó 42:16). Alguns poucos questionam se este Jó era o mesmo 3° filho de Issacar (Gn. 46:13).

VERSO-CHAVE - É o 23:10 - "Mas Ele sabe o meu caminho; se Ele me privasse, sairia eu como o ouro."

Mas também poderia ser o 1:21 - "Nú saí do ventre de minha mãe, e nú voltarei; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!"

TEMA: "POR QUÊ O JUSTO SOFRE?"

CONTEÚDO

Este livro nos mostra as diferentes facetas interpretativas, humanas e teológicas, que compõem a discussão do problema do sofrimento humano, em especial, do sofrimento do justo.

Aqui aparecem a perspectiva satânica, a do piedoso sofredor, a de seus amigos de fora do problema, e a de Deus.

Dentre muitos objetivos, o livro destaca como a soberania de Deus está acima do

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poder de Satanás, e pode usá-lo para que através do sofrimento, amadureça, purifique e estimule a fé de seu povo.

A história começa com a apresentação de Jó como um homem íntegro e temente a Deus (Jó 1:1), próspero e feliz (Jó 1:2-3).

Satanás aparece diante de Deus entre os seus anjos, e claramente é descrito não como "uma força impessoal" ou um "espírito mau", mas uma pessoa angelical, poderosa, inimiga de Deus e do homem, que observa atentamente o ser humano procurando uma brecha para derrotá-lo (compare: Jó 1:6-11 e 2:1-5; com II Co. 2:11; 11:14; Ef. 2:2; I Pe. 5:8).

Satanás acusa (Ap. 12:10) Jó de ser interesseiro e mercenário, pois sendo rico e feliz não podia servir de exemplo de amor e temor a Deus. Deus permite a Satanás tirar-lhe os seus bens materiais e a saúde sem, contudo tirar-lhe a vida (compare: Jó 1:12 e 2:6 com I Co. 10:13).

Ao lhe sobrevir terríveis sofrimentos, Jó é incentivado por sua néscia esposa a maldizer e abandonar Deus (Jó 2:9), porém Jó permanece fiel ao Senhor crendo que Deus era o Senhor de todas as coisas (Jó 2:10).

É neste ponto que surgem três amigos (Elifaz, Zofar e Bildade) os quais possuem a virtude de não abandoná-lo na dor, de condoerem-se, de chorarem com ele, e de uma forma ou outra tentarem ajudá-lo (Jó 2:11-13).

Em que seus amigos foram maus conselheiros? Na aplicação de sua “teologia insensível da prosperidade" ou "lei da causa e efeito do Deus que retribui o bem com o bem e o mal com o mal."

Eles criam, como muitos ainda em nossos dias, que por serem ricos e saudáveis, eram justos, e que doença e pobreza eram sinais de impiedade castigada. Era um legalismo insensível. Deus estaria sempre disposto a abençoar o homem com bênçãos materiais, espirituais e de saúde, desde que o homem merecesse, não havendo outra forma de Deus revelar sua graça.

Transmitiram isto a Jó, concluindo que ele estava em pecado, portanto merecedor de castigo, e o não reconhecer isto, além de ser blasfêmia contra Deus, o impediria de ser abençoado.

Jó reage a esta teologia, e o livro todo é uma resposta a esta terrível "teologia insensível da prosperidade", de um Deus "toma-lá-dá-cá", de um "Deus monótono" em sua ação abençoadora. Jó buscou a verdadeira teologia que pudesse firmar-lhe a fé, vendo a graça de Deus em meio ao sofrimento.

Há justos que sofrem e são pobres, enquanto há ímpios prósperos e felizes (ver Sl. 37 e 73).

Quando lemos os discursos dos três amigos de Jó, devemos nos lembrar que a Palavra de Deus ali é o registro inspirado dos discursos, servindo-nos como ilustrações e não propriamente o conteúdo de suas argumentações (o mesmo princípio se aplica às palavras de Satanás que aparecem na Bíblia).

Em meio a estes debates surge Eliú, o qual não é citado no prólogo (Jó 2:11) porque aparece quando os discursos já iam adiantados. É ele quem mais se aproxima da verdade, enaltecendo a perfeita justiça de Deus e o caráter educacional do sofrimento na vida do justo (Jó 32 a 37). No entanto também Eliú não traz a verdade completa e não apresenta soluções concretas.

O fim dos debates é marcado por dois grandes discursos do Senhor, o qual antes de

discutir com Jó as razões do sofrimento e as respostas às questões a Ele feitas, discorre sobre Seu grande poder criador e controlador de todo o Universo, visando propósitos bem definidos seus, e incalculáveis pela limitada mente de Jó (Jó 38 a 41).

O Senhor condena a auto-piedade e justiça-própria, reclamados por Jó (Jó 29).

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Na conclusão do livro, Jó alcança os propósitos de Deus para a sua provação. Jó reconhece a soberania, o poder e a sabedoria de Deus. Vendo mais realmente a Deus, Jó viu-se melhor. É como a experiência de Isaías 6:1-5. Jó viu suas limitações e fraquezas, sua total dependência de Deus. Este atual, experiencial e profundo conhecimento de Deus, contrasta-se com o anterior teórico conhecimento quando em meio à prosperidade (Jó 42:1-6).

Deus então lhe restaura em dobro tudo o que ele tinha antes das provações (Jó 42:10).

DIVISÃO - Há duas formas distintas de dividirmos didaticamente o livro de Jó:

1a) Jó é um poema com duas prosas no prólogo e epílogo, intermediados por um diálogo. Dividiríamos o livro então:

a) Prólogo - caps. 1 a 2:10 - A vida de Jó e os ataques satânicos contra ele. b) Diálogo - caps. 2:11 a 42:6 - Jó com seus amigos e Deus. c) Epílogo - caps. 42: 7 a 17 - Deus restaura a vida e os bens de Jó.

2a) Poderíamos dividi-lo também, segundo a presença dos personagens que surgem na história:

a) Jó - cap. 1:1-6 b) Deus e Satanás - cap. 1:6-2:10 c) Jó e seus amigos - cap. 2:11-37 d) Deus e Jó - caps. 38 a 42 COMENTÁRIOS 1 - “As perspectivas para o sofrimento dos justos que aparecem no livro de Jó, são as seguintes”:

a) a de Satanás: ele usa o sofrimento para forçar o justo a abandonar Deus (1:11 e 2: 4 e 5). b) a de Bildade, Zofar e Elifaz - o sofrimento é a recompensa do pecado (4:7-9; 8:3-6; 11:13-15). c) a de Eliú: o sofrimento tem fins disciplinares (33:13-17 e 29). d) a de Jó: - o sofrimento é para o iníquo e não para o justo (6:24 e 7:20). - o sofrimento é um processo refinador como se produz ouro (23:10). e) a de Deus: - o sofrimento é um privilégio que Deus dá ao seu povo, para ajudá-lo a cumprir algum propósito, tal como refutar Satanás (1:8 a 12). - o sofrimento é um apelo para confiar, mesmo quando não entendemos o propósito (13:15). - o sofrimento pode ser um meio de Deus trazer alguém a um ponto em que ele já não saiba mais o que fazer, e de tal forma indefeso, faça de Deus seu único possível defensor (42:3-7). 2 - As causas do sofrimento humano são basicamente quatro:

a) o mundo, decaído junto com o homem, tornou-se imperfeito e foi condenado a produzir cardos, abrolhos, suor e tristezas até o dia de sua transformação (Gn. 3:17- 19; Rm. 8:19-23; Jo. 16:33).

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b) Nossa desobediência às leis naturais e espirituais que regem a terra. Deus criou este mundo e o faz existir sob leis naturais. Da mesma forma, relaciona-se com o homem sob leis espirituais. O infringir tais leis, trará sobre nós inevitavelmente sofrimentos.

c) Satanás - Ele é o príncipe deste mundo que alimenta o ódio contra Deu e contra o homem, em especial contra aqueles que buscam aproximar-se de Deus (I Pe. 5:8; II Tm. 3:12; Lc. 22:31).

d) Os propósitos de Deus - Na vida do homem. Deus é quem permite e controla a

ação do que podem produzir Satanás e o mundo como agentes de sofrimento, e o faz sempre visando propósitos gloriosos para o homem e para próprio Deus (I Co. 10:13; II Co. 12:7-10; II Co. 4:16-18; II Co. 4:7-10; II Co. 1:6-7; Rm. 8:18; Rm. 5:3-5; Hb. 12:3-13; Tg. 1:2-4; I Pé. 1:5-9; I Pé. 2:19-21; I Pé. 4:12-19).

3 - Em oposição clara aos argumentos dos amigos de Jó, de que sofrimento sempre significa pecado ou distanciamento de Deus temos: a) Os textos listados acima que revelam os propósitos de Deus na vida dos seus servos, através do sofrimento. b) Os ímpios que, em contrapartida, prosperam. c) O testemunho de Jó, Estêvão (At. 7:59), Paulo (II Co. 12:7) e Jesus (I Pé. 2:21; Hb. 5:8).

4 - Jó é o livro mais antigo da Bíblia junto com o Gênesis, no entanto fala de conhecimentos modernos da ciência, como a pressão barométrica (Jó 28:24 e 25), a evaporação e hidrometria (Jó 36:27 e 28).

Traz ainda uma série de revelações teológicas como: atividades angelicais (Hb. 1:14), o caráter satânico (Ap. 12:10; Lc. 22:31; I Pé. 5:8) o ministério do Messias (Jó 16:19), a ressurreição dos mortos (Jó 19:26 e 27), a ressurreição de Jesus (Jó 19:25), e o combate à reencarnação (Jó 7:9 e 10; 10:19-22; 14:7-14).

5 - O nome de Deus mais citado em Jó é "Shaddai" que significa "Onipotente", "Todo-poderoso", aparecendo neste livro 32 vezes, ou seja, duas vezes mais que em todos os outros livros da Bíblia juntos.

6 - Este é o terceiro livro do cânon, que embora apareça em seqüência aos demais, no entanto contém fatos concomitantes a outros livros precedentes. Veja: Rute é concomitante aos Juizes, Ester é concomitante ao relato de Esdras e Jó está situado cronologicamente entre Gênesis 11 e 12.

7 - Staniey Eilisen em seu livro "Conheça melhor o Antigo Testamento" - Ed. VIDA faz as seguintes e interessantes comparações entre Jó e Ester:

a) Ambas as histórias são dramas - Em Ester o herói passa da pobreza à riqueza a fim de servir a Deus e ao seu povo. Em Jó o herói passa da riqueza à pobreza para servir a Deus e ao seu povo.

b) Ambas ressaltam a maneira sutil do diabo procurar a destruição do povo de Deus: Em Ester o povo é preservado durante os ataques satânicos.

c) Ambos descrevem a derrota de Satanás.

8 – Apenas como curiosidade, Jó 3.2 é o menor versículo da Bíblia.

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Salmos

NOME - O nome que usamos é derivado do grego "PSALMOI" que significa poemas cantados com instrumentos musicais", e no hebraico o título do livro é Sefer Tehillim ou "livro de louvores".

É uma característica do livro de Salmos, dar nomes ou títulos também a muitos de seus capítulos, títulos estes, que parece terem sido dados não originalmente, mas antes da versão da Septuaginta. Ex.: Mizmor (canção para ser acompanhada com instrumentos de corda) - SI. 76 Shiggayon - (salmo penitenciai) - SI. 7 Ao mestre de canto (instrução musical) - SI. 75

Estes títulos na Bíblia hebraica foram incorporados ao texto, tornando-se os primeiros versos destes capítulos.

AUTOR - São muitos os autores, os quais são conhecidos pelos títulos apostos aos salmos, já que em si mesmos os salmos não declaram sua autoria.

Os salmos são muitas vezes chamados de "Salmos de Davi" porque ele foi o autor da maioria deles, mas há entre títulos apostos e informações da tradição judaica, cerca de 12 autores:

- Davi compôs 73 salmos. - Asafe (I Cr. 6:39, I Cr. 16:4 e 5 e II Cr. 29:30) era diretor de louvor no templo e também profeta, compôs 12 salmos - o 50 e os de 73 a 83. - os filhos de Coré (I Cr. 26:1 e I Cr. 9:19) eram cantores e porteiros do templo, compuseram 12 salmos - os de 42 - 49, 84, 85, 87 e 88. - Salomão, compôs os 72 e 127. - Hemã (I Cr. 6:33 e I Rs. 4:31), o 88. -Etã (ICr. 15:19), o 89. - Moisés, o 90. - Jeremias, o 137. - Ageu, o 146. - Zacarias, o 147. - Esdras, o 119. - e há cerca de 48 salmos anônimos.

DATA DA ESCRITA - A data da composição é diferente da data da organização do livro, pois a maioria dos autores não pensava estar compondo para uma futura coletânea que serviria à liturgia do templo.

As datas de composição são tão distantes quanto. Moisés em tomo de 1440 a.C. (o SI. 90) e (talvez) Esdras em tomo de 450 a.C. (o SI. 119), ou ainda os de n° 126 e 137.

A história da organização final do saltério poderia ser resumida da seguinte maneira: a) Era comum ao povo judeu, manifestar-se em ocasiões especiais de grande gozo,

com poemas cantados em adoração ao Senhor. Exemplo - Êx. 15, Jz. 5, I Sm. 2 e o SI. 90. b) Davi, o rei poeta e músico, dedicou-se à organização do serviço litúrgico para o 1°

templo. Compôs 73 salmos, alguns de caráter muito íntimo (51) e outros para louvor público (67, 115), mas quase sempre retratando nos livros alguns acontecimentos de sua vida (3, 18,

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34, etc.). Certamente ele foi o primeiro a arrumar um hinário para ser usado nos cultos, é o que

nos revela o texto de SI. 72:20. c) Salomão constrói o templo, compõe seus salmos assim como Asafe, os filhos de

Core, Etã e Hemã. 4000 cantores entoavam os Salmos sob a direção dos diretores de música Asafe, Hemã

e Jedutum (I Cr. 23:5 e 25:1). d) Alguns salmos foram compostos no período do cativeiro e pós-cativeiro, quando

seria reerguido o 2° templo. (Já que o 1° de Salomão fora destruído por Nabucodonosor). Parece ter sido Esdras o colecionador, e organizador final do saltério com os 150 salmos que hoje temos.

TEMPO DA AÇÃO - Os Salmos são sempre expressões de acontecimentos vivenciados pelos seus próprios autores, e assim o tempo da ação do livro de Salmos percorre cerca de 1000 anos, indo de Moisés no ano 1440 a.C. a Esdras em torno de 450 a.C.

VERSOS-CHAVE - São 150:1 e 2. "Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder. Louvai-o pelos seus poderosos feitos; Louvai-o consoante a sua muita grandeza!"

TEMA - LOUVOR A DEUS EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA. CONTEÚDO

Este é o livro da Bíblia mais lido, conhecido e citado, por homens e pelos próprios outros livros das Escrituras Sagradas. Isto se deve sem dúvida alguma à abrangência, utilidade, pragmatismo, beleza e profundidade que há em seu conteúdo.

São todas as nossas situações cotidianas encontrando explicações, soluções e curas. São expressões de ações de graça, adoração, quebrantamento, perplexidade, dúvidas, clamor por libertação, lágrimas e júbilo, traduzidos sob forma de louvor diante do Senhor.

Traz-nos, em seu conteúdo, confissão de pecados, a recordação da atuação divina na história de Israel com poder e misericórdia, profecias sobre o Messias em seu poder, obras, vida, morte e ressurreição, e ainda teologia a respeito do caráter, vontade e atributos de Deus.

DIVISÃO - Há uma divisão existente no próprio livro que divide os Salmos em cinco livros. Na opinião de muitos estudiosos eles foram assim divididos para corresponderem ao Pentateuco, terminando sempre cada um dos livros com uma doxologia. Desta forma teríamos:

a) Livro I - SI. 1 ao 41 - Corresponde ao Gênesis, e seu tema principal é o homem, seu estado de bem aventurança, queda e restauração. Exemplo: Salmo 8. Quase a totalidade destes salmos pertence a Davi. b) Livro II - SI. 42 a 72 - Corresponde ao Êxodo, e seu tema principal é o cativeiro de Israel, sua redenção e o Redentor.

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Exemplo: SI. 42 e 68. Alguns destes salmos são dos filhos de Coré, mas a maior parte é de Davi. c) Livro III - SI. 73 a 89 - Corresponde ao Levítico, e seu tema principal é o santuário. Exemplos: SI. 73 e 84. Alguns salmos são dos filhos de Core, porém a maioria é de Asafe. d) Livro IV - SI. 90 a 106 - Corresponde a Números, e seu tema principal é a peregrinação na terra, o deserto. Exemplos: Sl. 106 e 90. A maioria destes salmos é anônima. e) Livro V - SI. 107 a 150 - Corresponde a Deuteronômio e seu tema principal é a Palavra de Deus. Exemplo: SI. 119. Muitos deles são de Davi, mas a maioria é anônima.

COMENTÁRIOS

1 - Os autores sagrados citam os salmos 112 vezes em seus escritos, abrangendo 97 dos 150 Salmos. Damos aqui alguns poucos exemplos: Ef. 4:26 e SL 4:4; I Pe. 2:3 e SL 34:8; Lc. 1:53 e SL 107:9; Ap. 5:9 e SL 144:9; SL 14:1-3 e Rm. 3:10-18. 2 – A palavra "Selá" (Sl. 66:15) que aparece cerca de 70 vezes nos salmos pode ter vários significados:

a) Mudança na melodia do acompanhamento. b) Pausa musical com descanso para as vozes. c) Uma exclamação de louvor, como: Glória a Deus! d) Início de uma nova estrofe. e) Sinal para elevação da voz. 3 - A palavra "Aleluia" deve ser traduzida como "Louvai ao Senhor". Ela é uma palavra composta de duas outras: hallel (louvar) e Yah (abreviatura de Yahweh-Senhor).

4 - Muitos encontram dificuldades no entendimento dos Salmos imprecatórios, onde o salmista pede a Deus que derrame sua ira sobre os seus inimigos, chegando mesmo a usar expressões violentas. Alguns estudiosos do assunto nos dizem que:

a) Na maioria das vezes o inimigo focalizado no Salmo não deve ser visto como um indivíduo pessoal que guerreia com outro indivíduo, mas o simbolismo de inimigos do próprio Deus, como sejam Satanás ou sistemas sobre os quais realmente recaem terríveis maldições.

b) Nem sempre é possível distinguir no hebraico o significado das expressões "que

isto aconteça" e "isto acontecerá". Desta forma o que é expresso como um desejo do salmista, pode ser na verdade um anúncio profético.

c) Os salmistas não estão vivendo sob o espírito do evangelho, mas sob a antiga lei da

retribuição de Lv. 24:17-20.

5 - Staniey Elissen, em seu livro "Conheça melhor o Antigo Testamento" Ed. VIDA nos diz que os cinco salmos finais (146-150) dão ao livro de Salmos seu clímax de encerramento e síntese. Cada um desses capítulos começa e termina com "Aleluia" ou "Louvai ao Senhor". SI. 146 - Quando louvar ao Senhor? - "Enquanto eu viver". SI. 147 - Por quê? - "Porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus".

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SI. 148 - Quem? - "Toda a criação, todos os povos". Si. 149 - Onde? - "No santuário, nas festas, nos leitos, nas guerras". Si. 150 - É o resumo: quem, onde, por quê, como e por quem será dado o louvor.

6 - Uma outra divisão do livro dos Salmos, citada por Henrietta Mears em seu livro "Estudo Panorâmico da Bíblia" - Ed. VIDA é:

a) Livro I - SI. l a 41 - o Homem, sua bem-aventurança, queda e restauração. b) Livro II - SI. 42 a 72 - Israel. c) Livro III - SI. 73 a 89 - o santuário. d) Livro IV - SI. 90 a 106 - a terra. e) Livro V - SI. 107 a 150 - a Palavra de Deus.

7 - Há algumas diferenças de correspondência entre os números dos Salmos de nossa Bíblia protestante e a Bíblia católica. Isto se deve a:

a) Na Septuaginta, versão grega, de onde procedem a Vulgata Latina e a Bíblia católica, os Salmos 9 e 10 foram reunidos em um só, e desta forma até o Salmo 114, o número dos Salmos da Bíblia católica é inferior em um número aos nossos Salmos.

b) Na Septuaginta, o Salmo 114 foi unido com o 115 formando um só, tendo na Bíblia

católica, portanto esta união o salmo de número 113. A diferença numérica é, portanto agora de dois números, mas...

c) Nosso Salmo 116 é dividido em dois Salmos na Septuaginta, correspondendo então

aos de número 114 e 115 da Bíblia católica. d) Da mesma forma o nosso Salmo 147 foi desmembrado nos Salmos 146 e 147 da

Bíblia católica, encerrando os dois saltérios, o protestante e o católico com 150 salmos.

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Provérbios

NOME - No hebraico é "Mishle Shelomoh" ou "Provérbios de Salomão". Provérbios são expressões curtas e concisas contendo lições morais. São princípios de

vida por analogias, máximas que expressam uma verdade de forma sucinta, sentenças curtas extraídas de longas experiências de vida.

Esta era uma forma de ensino muito comum no antigo Oriente por chamar a atenção, despertar a reflexão no ouvinte, e facilitar a memorização.

AUTOR - Salomão foi o autor e compilador da maioria dos provérbios (Pv. 1:1; I Reis 4:32), apresentados entre os capítulos 1 ao 24. Foi também o autor dos provérbios que estão contidos nos capítulos 25 ao 29 (Pv. 25:1), os quais foram, no entanto, compilados pelos escribas do rei Ezequias (profetas Isaías e Miquéias?). Agur e o rei Lemuel foram os autores dos capítulos 30 e 31, mas são pessoas desconhecidas para nós.

Quando analisamos a disposição do livro, ele parece apresentar uma conclusão no capítulo 24, provérbios estes que precedem o período do reinado de Ezequias. Este rei provavelmente reuniu então provérbios adicionais, durante o período de avivamento espiritual experimentado em seu reino.

DATA DA ESCRITA - Segundo o relato de I Rs. 4:32, Salomão durante o seu reinado (971-931 a.C.) compôs cerca de 3000 provérbios, porém o livro só apresenta 400 destes.

Quando e como, estes foram selecionados? Quando foram acrescentadas as composições de outros sábios (Pv. 22:17), Agur e Lemuel?

Uma resposta precisa não se tem, mas o próprio livro de Provérbios declara ter

havido uma seleção de provérbios feita pelos sábios do tempo do rei Ezequias (± 700 a.C.), crendo-se então girar em torno desta data a compilação final do livro de Provérbios. Coincide este fato com o período de reformas implantadas pelo rei Ezequias. (II Cr. 29:25-30)

TEMPO DE AÇÃO - Como já vimos, este livro cobre vários séculos de produção literária. São quase 300 anos, pois há composições de Salomão (971 a.C.), seleção dos sábios de Ezequias (700 a.C.) e obras de prováveis contemporâneos de Ezequias como Agur e Lemuel.

VERSO-CHAVE - É o 1:7 ou 9:10 - "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria".

TEMA - A SABEDORIA PRÁTICA FUNDAMENTA-SE NO TEMOR DO SENHOR.

CONTEÚDO Salomão foi o homem mais sábio que já viveu sobre a terra (I Rs. 4:29-32), e esta sabedoria foi recebida de Deus, a qual também está ao nosso alcance (Tg. 1:5 e 6).

O tema central deste livro é a sabedoria de forma prática, não apenas para viver uma "boa vida", mas para viver no temor do Senhor. Deus é a sua fonte, e o princípio dela é o próprio temor do Senhor. Todas as máximas apresentadas no livro objetivam gerar homens saudáveis e redimidos, bem sucedidos na vida, segundo o projeto de Deus para nós.

Os princípios de vida são divinamente inspirados e apresentados sob a forma de

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ditados, que por contraste ou comparação, retraíam as experiências, características e o caminhar do sábio e do tolo, do justo, do preguiçoso, do bom e do mau, do insensato, da mulher virtuosa, etc.

Esta sabedoria atravessa gerações e deve ser a base para nosso viver diário, bem como parâmetro para avaliação de nossa conduta.

Os provérbios não são princípios infalíveis de sucesso, mas normas gerais de Deus trabalhar. As exceções, por exemplo, um justo que não goza paz, felicidade ou longevidade devem-se a projetos e propósitos particulares de Deus para aquelas vidas.

É ampla a gama de assuntos no livro abordado: o uso das riquezas, o tratamento para com os pobres, amigos e vizinhos, o controle da língua, a honestidade, a justiça, a obediência aos pais, etc.

Poderíamos dizer de forma prática, que os Provérbios no A.T. corresponde ou equivale ao Tiago no N.T..

DIVISÃO - Adotamos a divisão que é aceita pela maioria dos estudiosos: a) Exortação aos jovens - caps. l a 9. O valor da sabedoria e como adquiri-la. b) Provérbios variados de Salomão - caps. 10-24. c) Provérbios de Salomão colecionados pelos sábios de Ezequias -caps. 25-29. b) Embora esta reflexão acima seja necessária, no entanto os provérbios não devem ser "retirados" individualmente e aplicados sem a cuidadosa observação de seu contexto.

2 - Jesus muito amava o livro de Provérbios, é o que demonstram suas aplicações parabólicas.

Veja: Jo. 3:13 e Pv. 30:4; Lc. 14:8-10 e Pv. 25:6 e 7; Mt. 7:24-27 e Pv. 14:11; Lc. 16:19-31 e Pv. 27:1.

Talvez tenha sido com o Mestre amado, que Pedro os aprendeu a amar também: I Pe. 2:17 e Pv. 24:21; I Pe. 3:13 e Pv. 16:7; I Pé. 4:8 e Pv. 10:12; I Pe. 4:18 e Pv. 11:31; II Pe. 2:22 e Pv. 26:11.

3 - Stanley Ellisen, em seu livro "Conheça melhor o Antigo Testamento" - Ed. VIDA, diz que Provérbios nos apresenta três níveis de insensatez: a) O simples ou néscio - É o ingênuo, o inocente, que se deixa levar facilmente. b) O louco ou insensato - os que rejeitam a verdade, desprezam a sabedoria, odeiam o conhecimento. c) O escarnecedor - O desordeiro que deliberadamente zomba da integridade e ridiculariza qualquer tipo de correção.

4 - O objetivo do livro de Provérbios é apresentar-nos a Sabedoria, suas vantagens e origem, cremos que faz referência a Jesus em seus textos: cap. 1:20-23; cap. 8; cap. 9:1-6. Jesus é a Palavra eterna de Deus, o "como" e "para quem" tudo foi criado. Veja I Co. 1:24 e 30; Cl. 2:3; Jo. l:2e3;Hb. 1:2; Cl. 1:16 e 17.

5 - O belíssimo texto da mulher virtuosa está descrito em acróstico (Pv. 31:10-31).

6 - Entendemos melhor o paralelismo contrastante de Pv. 26:4 e 5 desta forma: a) No verso 4 o texto significa: "Não converse com o insensato com semelhante

estultícia, fazendo-se do seu mesmo nível". b) No verso 5 a abordagem é diferente: "Responda ao insensato de acordo com a

estultícia de sua pergunta, ou seja, reprovando-o por meio da sabedoria".

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Eclesiastes

NOME - No hebraico é "Qoheleth" que significa "o pregador" (em uma assembléia). No grego é Eclesiastes ou "palavras do pregador". Talvez este material tenha sido discursado publicamente, com finalidades instrutivas, aos seus ouvintes.

AUTOR - Como o próprio livro, a autoria é enigmática. Alguns crêem ser Salomão, baseando-se para isto nos versos 1:1, 12 e 16 e 12:9. Mas outros contestam questionando: Como ser Salomão se ele afirma em 1:12, "Fui rei" (no hebraico), e "a sabedoria estava longe de mim" em 7:23? Os argumentos a favor e contra a autoria de Salomão são os seguintes:

A FAVOR

a) O autor ao identificar-se apresenta-se como o sábio rei de Israel, filho de Davi (1:1, 12 e 16; 2:9).

b) Compôs e reuniu muitos provérbios (12:9). c) A tradição judaica afirma ser Salomão o autor. d) O autor do livro é sábio, rico, vitorioso, que passou por momentos de queda

espiritual e ao final se levanta novamente. Como a história de Salomão.

CONTRA

a) O nome de Salomão não aparece neste livro, tal como aparece em Cantares e Provérbios.

b) A linguagem, o estilo, algumas palavras não se adequam ao tempo contemporâneo a Salomão, e sim ao período pós-exílico.

c) Muitos dos estudiosos de hoje descrêem da autoria de Salomão. DATA DA ESCRITA - Aceitando Salomão como autor do Eclesiastes, a data da escrita deve ter sido ao final de seu reinado, aproximadamente 935 a.C. TEMPO DA AÇÃO - Este livro seria um discurso reflexivo de arrependimento ao final de sua vida, o que solucionaria a questão deixada em I Reis 11 sobre a apostasia de Salomão.

VERSO-CHAVE - É o 2:11 - "Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento e nenhum proveito havia debaixo do sol". TEMA - A FUTILIDADE DA VIDA HUMANA SEM DEUS. CONTEÚDO

O livro do Eclesiastes é sem dúvida nenhuma um dos mais difíceis de análise e interpretação em toda Bíblia. Sua construção é complexa, onde intercala testemunhos pessimistas, apáticos, quase pagãos (1:13; 1:16-18; 2:3; 2:8-11; 2:24; 4:2 e 3) com confissões de fé piedosa (12:1, 13 e 14).

É um sermão dialético onde dois pontos de vista intercalam-se sucessivamente até o

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fim. Ao final de sua vida, depois de grandes obras e de usar santamente a sabedoria e os

recursos materiais dados por Deus, Salomão desviou-se do Senhor (I Rs. 11:1-8) passando a viver na idolatria e no pecado (Ec. 2:1-11) e aí aplicando sua sabedoria na busca do significado da vida humana, agora sem a perspectiva de Deus.

Há 4 frases-chave no livro e elas nos ajudam, por sua freqüência de repetições, a compreender o estado de Salomão e seus propósitos.

"Eu vi" "debaixo do sol", retraíam a limitação em que ele se encontrava sem a presença de Deus e a perspectiva que tinha da vida e de tudo sem olhar para cima, descrendo dos propósitos e da intervenção de Deus na existência humana. Como resultado desta situação, deste estado, ele conclui que "tudo era vaidade" e "correr atrás do vento", tudo era futilidade, vazio.

As conclusões apresentadas no livro, deste tempo distante de Deus, não são inspiradas por Deus, porém o registro delas sim, servem-nos para nossa reflexão quanto à visão da vida, e a interpretação dos fatos, para um homem sem Deus.

Eclesiastes é um discurso de Salomão ante uma assembléia, após novamente cair em si e arrepender-se, e em meio às suas perplexas lembranças do seu tempo de pecado, ele acaba concluindo suas palavras e compartilhando a seus ouvintes, fortes afirmações piedosas, (caps. 11 e 12)

DIVISÃO - O livro pode ser dividido em três partes:

a) A experiência do pregador - caps. l a 4. A vaidade das coisas terrenas. b) Exortação à luz desta experiência - caps. 5 a 10 c) Conclusão do pregador - caps. 11 e 12.

COMENTÁRIOS 1 - Neste livro o nome de Deus, Jeová, aquele com o qual o Senhor se apresenta e trata com o homem em missão redentora, não aparece.

Entretanto a sabedoria de Deus e seu poder criador são enfatizados pelo nome de Deus, Elohim, que aparece mais de 40 vezes.

2 - Eclesiastes também enfatiza a eternidade da vida e o juízo de Deus através dos textos (3:11 e 17; 11:9; 12:5,7 e 14).

3 - Henrietta Mears, em seu livro "Estudo Panorâmico da Bíblia" - Ed. VIDA, nos diz que o problema de Salomão era: como achar felicidade e satisfação longe de Deus? (Ec. 1:1- 3).

Ele busca na ciência (1:4-11), e na filosofia (1: 12-18), mas em vão. Descobre que o prazer (2:1-11), a alegria (2:1), a bebida (2:3), a construção (2:4), as

possessões (2:5-7), a riqueza e a música (2:8), são todos vazios. Em termos de correntes filosóficas, ele experimentou o materialismo (2:12-26), o

fatalismo (3:1-15), o deísmo (3:1-4:16), mas também eram vãos. A religião (5:1-18)), a riqueza (5:9 - 6:12) e até a moralidade (7:1 - 12:12), são igualmente inúteis. Sua conclusão é 12:13: "teme a Deus e guarda seus mandamentos".

4- O livro do Eclesiastes é lido anualmente na Festa dos Tabernáculos.

5 - Se compararmos os dois livros da sabedoria de Salomão, Provérbios e Eclesiastes, concluiremos que Provérbios foi escrito no período em que ele estava próximo de Deus e fala da sabedoria humana aliada ao temor do Senhor, enquanto Eclesiastes reflete o período de sua distância de Deus, tratando da sabedoria humana sem a perspectiva de Deus.

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Cantares de Salomão

NOME - No hebraico o nome do livro é "Cântico dos Cânticos" pois as primeiras palavras do livro são: Cântico dos Cânticos de Salomão, e representam o principal dos 1005 cânticos compostos por Salomão (I Rs 4:32).

AUTOR - Salomão é o autor. (Ct.1:1)

Alguns estudiosos modernos tentam negar esta autoria afirmando haver no livro, palavras persas, aramaicas e gregas. Porém a autoria de Salomão é confirmada, pois:

a) Salomão era um rei com intensa relação exterior em seu reino e comércio, além de ter-se casado com várias esposas estrangeiras, explicando seu rico vocabulário.

b) Salomão era profundo conhecedor de plantas e animais (IRs. 4:33) e menciona em Cantares, vinte e uma espécies diferentes de plantas (rosa de sarom, lírios, macieiras, canela, etc.) e quinze espécies de animais (cervos, gazelas, pombas, etc...).

c) A tradição judaica afirma ser Salomão. d) Semelhanças terminológicas com Provérbios e Eclesiastes. e) Faz referências geográficas ao Sul e ao Norte de Israel, como uma nação ainda

unida, já que após sua morte o reino foi dividido.

DATA DA ESCRITA - Provavelmente no inicio do reinado de Salomão -965 a.C..

TEMPO DA AÇÃO - Salomão já era rei, e já tinha expandido seu reino até Jezreel, porém seu harém ainda era relativamente pequeno (Ct. 6:8 e 9). Cantares parece corresponder ao inicio do reinado de Salomão, assim como Provérbios ao meio de seu reinado e Eclesiastes ao final. Em tomo de 965 a.C.

VERSO-CHAVE - É o 6:3 - "Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios”. TEMA - AS DELÍCIAS DO PURO AMOR CONJUGAL CONTEÚDO

Este é talvez o principal cântico, dos cânticos de Salomão, contando a história do conhecimento, noivado e casamento de dois personagens: o rei Salomão ("Príncipe da paz") e a Sunamita ("a pretendente da Paz"). O poema não tem pausas, é entrecortado subitamente por um coro de jovens, e traz a fala dos dois personagens passando da voz de um para a voz do outro de forma repentina.

Na história do poema (idílio lírico), uma camponesa da cidade de Suném, na encosta do monte Hermon, apascentava cordeiros e lavrava a vinha da família, que na verdade pertencia ao rei Salomão. Um dia, estando a cuidar do rebanho, encontrou-se com um formoso estranho (era Salomão disfarçado de pastor) ao qual se afeiçoou. Eles convivem durante um tempo, prometem-se em casamento até que um dia este estranho parte prometendo voltar. Ela esperou muito tempo crendo na promessa e sonhando com este dia.

Certo dia ele volta, e vem com grande séqüito proclamando-a sua esposa, levando-a

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então para o palácio. E aí no palácio que o poema é cantado, fazendo-se recordações do passado.

O livro de Cantares em primeiro lugar, enaltece a beleza e pureza do casamento, permeio da história de Salomão e sua esposa; em segundo lugar, traz na história uma revelação figurada do amor de Deus para com Israel, o povo de sua aliança (Is. 54:5 e 6; 62:4 e 5; Os. 2:16-23); e em terceiro lugar, aqui os cristãos podem encontrar uma interpretação alegórica do relacionamento entre Cristo e sua noiva celestial, a Igreja (II Co.ll:! e 2; Ef. 5:25; Ap.19:7 e 8; 21:2 e 9).

DIVISÃO

É preciso conhecer bem o estilo de escrita de Cantares para que o possamos entender e dividir. As falas parecem por vezes confundirem os personagens e o desenvolvimento da história não é simples de se compreender.

Além das muitas metáforas na linguagem poética este poema é um idílio lírico, ou seja, uma história campestre, contada sob a forma de um poema onde o relato não segue uma seqüência lógica cronológica, mas há "flash-backs" e coros entrecortando o relato. Dividiremos o livro em cinco cenas:

a) A noiva nos jardins de Salomão - cap. 1:1 a 2:7. b) As recordações da noiva - cap. 2:8 a 3:5. c) As núpcias - cap. 3:6 a 5:1. d) Os dois no palácio - cap. 5:2 a 8:4. e) O lar da esposa - cap. 8:5 a 14.

COMENTÁRIOS

1 - Alguns estudiosos modernos analisam o texto não como um idílio lírico, mas como um drama onde a Sunamita seria noiva de um pastor como ela, em sua terra. Salomão a encontra em sua vinha e a leva para seu palácio em Jerusalém fazendo todo esforço para convencê-la a desposá-lo, ela, contudo permanece fiel ao seu noivo. Até que por fim, com a aprovação do rei, ela retorna à sua terra para desposar seu noivo, enaltecendo a fidelidade do amor.

Esta hipótese é rejeitada pela maioria porque:

a) O estilo da narrativa não é de um drama com um conflito, onde haveria uma seqüência lógica e cronológica de narrativa.

b) Este é o cântico mais belo e importante de Salomão, e não um triste relato de um fracasso amoroso.

c) Considerar o belo amor de Salomão pela Sunamita justifica sua presença no Cânon Sagrado e a leitura anual do livro na festa da Páscoa dos Judeus.

É um lindo conto de amor conjugal, trazendo simbolismo para o relacionamento entre Deus e Israel, Cristo e a Igreja.

2 - O livro, tal como Ester, não traz uma vez sequer o nome de Deus. Não é um conto religioso, ou um estímulo à fé. Mas é tão belo, tão verdadeiro, tão sincero, que foi considerado sagrado pêlos judeus porque este relacionamento amoroso é perfeita alegoria para o amor entre Deus e seu povo Israel.

Por este motivo, o livro é lido anualmente por ocasião da festa da Páscoa, a comemoração mais importante para os judeus.

3 - Podemos afirmar sem sombra de dúvida, que Cantares é o livro menos lido e menos pregado em nossas igrejas. É o livro mais deturpado pelos ascetas e pelos sensuais, sendo

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contudo de grande importância nos dias que vivemos. A má interpretação dada ao livro divide os cristãos em dois grandes grupos:

a - Aqueles que acham o livro dispensável, vendo nele um conto erótico, que faz enrubescer, pela mera leitura. b - Aqueles que o espiritualizam completamente, transcendentalizam-no, tornam seu relato sobrenatural. Crêem que é uma história alegórica e tentam encontrar significados espirituais para cada detalhe da história, das palavras e dos acontecimentos.

Gostaríamos, no entanto de destacar o seguinte:

a) O livro é um belo poema, cantado na comemoração do casamento de Salomão com sua bela e apaixonada noiva (talvez a Abisaque de I Rs. 1:3).

Casamento real, entre duas pessoas reais e históricas, motivado por amor e paixão, e não por interesses políticos como era comum ao próprio Salomão. Este foi um amor diferenciado, puro. Salomão expressa sua alegria, seu prazer, vendo a beleza de sua esposa e as delícias do casamento como uma dádiva alegre de Deus. Enaltece a união conjugal e adverte quanto à necessidade de manter a castidade e a pureza sexual até o seu momento devido. Só a visão da historicidade deste relato o pode tomar útil a uma interpretação típica ou alegórica.

b) Os judeus viram nesta história real uma bela figura alegórica para o relacionamento amoroso entre Deus e seu povo Israel. A igreja primitiva, entretanto relaciona a história de Cantares com Cristo e sua noiva, a Igreja.

c) A alegorização, no entanto, total do texto é absurda, difícil e por incrível quanto pareça,

quase pagã. Como a história é uma verdadeira história, pode servir-nos para alegorizar ou tipificar o relacionamento entre Deus e Israel, Cristo e a Igreja, nos seus pontos centrais, mas não em todos os detalhes como querem aqueles que vêem no poema, uma mera e total alegoria. Torna-se difícil e requer "mágica" encontrar significados espirituais para cada palavra do noivo, da noiva, ou detalhe físico destacado e enaltecido por um dos noivos, por exemplo. E a visão grega do ascetismo, que condena o que é físico, carnal, material, a algo inferior, considerando sublime apenas o que é espiritual, que, foi assumida por grande parte dos cristãos ainda hoje. É pagã esta visão! O físico, criado por Deus também é belo, inspirador e deve ser cuidado, embelezado e enaltecido, sem pecaminosa vaidade. O corpo é tão importante que seremos eternamente espíritos com corpos glorificados, não corruptíveis, tal como Cristo é hoje.

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Os livros proféticos

"O Senhor advertiu a Israel e Judá por intermédio de todos os profetas e de todos os videntes dizendo: Voltai-vos dos vossos maus caminhos e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, segundo toda a lei que prescrevi a vossos pais e que vos enviei por intermédio dos meus servos os profetas". II Rs. 17:13.

"Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas". Am 3:7.

NOME

Os nomes de todos os livros proféticos são sempre os nomes de seus autores e mensageiros, os quais identificam-se no primeiro versículo (exceto Daniel).

Além disto, o significado de seus nomes expressa quase sempre de maneira magnífica o conteúdo de suas mensagens.

Deus a princípio falava diretamente ao homem. Seu plano de comunicação não contava com intermediários, mas o pecado afastou o homem, de Deus. Este decidiu usar os Patriarcas como seus porta-vozes e falar às famílias através de seus líderes comprometidos com Ele.

Com a organização da nação de Israel o ofício profético passa aos levitas os quais

tinham a responsabilidade de representar Deus na terra, ensinar e aplicar a lei aos assuntos do cotidiano. A medida que os sacerdotes e levitas foram tornando-se "profissionais", "técnicos", distantes do compromisso de santidade e envolvidos com o pecado e com o decadente sistema secular, a fim de que a verdadeira mensagem de Deus se mantivesse íntegra, Deus decidiu mudar de porta-vozes e chamar homens de outras tribos de Israel, em diferentes tempos e lugares, fazendo-os seus confiáveis porta-vozes.

Estes homens, de vida santa, consagrada a Deus, foram enviados com mensagens aos

sacerdotes, aos reis e autoridades, ao povo de Israel e às nações pagãs. Entendemos um pouco mais do que representa o ministério profético a partir do

significado dos nomes atribuídos aos profetas de forma geral nas Escrituras Sagradas. Há cinco palavras ou expressões usadas na descrição ou denominação dos profetas:

a) Nabi (hebraico)- Êx 7:1 e Jr 7:25. Significa "alguém que fala em nome de alguém" ou "em lugar de alguém" Intérprete, arauto, mensageiro, porta-voz.

Os profetas (nabis) sempre diziam: "Assim diz o Senhor..." b) Vidente -1 Sm 9:9

Eram assim chamados porque viam o que os olhos humanos comuns não podiam ver. Não era uma questão de possuírem psicologia profunda, inteligência incomparável ou uma manifestação de ocultismo. E verdade que Deus revelava sua mensagem muitas vezes sob forma de visões (Am 1:1), mas esse nome vinha, sobretudo pelo

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fato deles receberem o ponto de vista de Deus. Eles viam as coisas como Deus as via e não iludidos pela aparência externa delas.

c) Homem de Deus -1 Rs. 13:4 e II Rs. 4:9 Esta expressão evidencia uma ligação intensa com Deus, um compromisso profundo e total com Ele.

Pertencimento, dedicação, consagração, caráter santo, justo e reto.

d) Servo de Deus - II Rs. 17:23 Homens a serviço de Deus e com uma missão a cumprir, chamados para uma tarefa, um ministério específico. Muitas vezes suas vontades pessoais se contrapunham à vocação.

Ex: Jonas; Is 6:5-8; Ez. 2 e 3:4-7 e) Homem do Espírito - Os 9:7

Relacionamento íntimo e domínio pelo Espírito Santo, que lhes conferia poder e autoridade.

AUTOR

Didaticamente chamamos Profetas canônicos, aqueles que registraram por escrito suas profecias e suas mensagens compõem nosso Cânon Bíblico. Nós os classificamos em maiores ou menores segundo a extensão do seu registro profético.

Para Deus, contudo não havia profetas maiores nem menores, todos da mesma forma eram instrumentos úteis ao tempo e local em que eram vocacionados.

Há na Bíblia ainda os profetas anônimos e os profetas orais. Profetas anônimos são aqueles que foram usados por Deus com ministérios

específicos mas cujos nomes desconhecemos. Ex.: II Rs. 9:1-10 e I Rs. 18:13 Chamamos de profetas orais aqueles cujos nomes e ministérios são conhecidos, mas

que nada deixaram escrito compondo o Cânon Sagrado. Suas mensagens e missões foram aplicadas apenas a crises contemporâneas.

Ex.: Nata, Gade, Aias, Micaías.

DATA DA ESCRITA E TEMPO DA AÇÃO

Os profetas eram levantados em primeiro lugar para trazer mensagens aos seus próprios contemporâneos, assim o seu contexto histórico e geográfico, social, político e espiritual, não eram somente o pano de fundo, mas a razão e o alvo primeiro dos seus ministérios.

Eles falavam:

a) Ao seu próprio reino O reino do Norte e do Sul em muito se assemelhavam. Progressiva decadência,

sincretismo religioso que envolvia o povo e a própria liderança religiosa, idolatria, prostituição, injustiças sociais e etc. Deus levantou homens no reino do Norte (Oséias) e no Sul (Joel) para advertirem seu próprio povo e seus líderes.

b) Ao reino vizinho

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Diante da semelhança do contexto, Deus muitas vezes ao falar através de um profeta ao seu próprio reino, o conduzia (ou às suas mensagens) ao reino vizinho também. Exemplo disto são Miquéias e Amós. c) Aos inimigos circunvizinhos

Freqüentemente a história do povo de Israel é marcada pela presença de povos circunvizinhos quase sempre em situações adversas. Filístia, Edom, Moabe, Síria, Egito, são inimigos constantes. Contra eles também muitas vezes Deus levantou seus profetas, anunciando-lhes juízo.

Exemplo: Isaías capítulos 7, 15, 17, 18, 19, 21 e 23. d) Aos grandes impérios mundiais

Os profetas canônicos viveram e ministraram durante quase 500 anos, entre os anos 850 - 400 a.C., tempo este de soberania mundial sucessiva dos impérios Assírio, Babilônico e Persa.

Virá sobre todos igualmente. Algumas vezes Deus se serviu destes impérios para executar juízo sobre o seu povo, e

algumas vezes enviou-lhes sua mensagem de juízo. Exemplo: Jonas e Naum contra a Assíria. Jeremias contra a Babilônia.

O tempo em que os profetas ministraram e escreveram suas mensagens, é aproximadamente o que se segue:

931 a.C. - Israel divide-se em dois reinos, Judá ao Sul e Israel ao Norte.

Joel (840 - 830 a.C.) - em Judá Jonas (790 - 770 a.C.) - em Israel Amos (780 - 740 a.C.) - em Israel Oséias (760 - 720 a.C.) - em Israel Miquéias (740 - 700 a.C.) - em Judá Isaías (740 - 695 a.C.) - em Judá

722 a.C. - A Assíria invade e destrói o reino do Norte.

Sofonias (639 - 608 a.C.) - em Judá

Naum (630 - 610 a.C.) - em Judá

Jeremias (626 - 586 a.C.) - em Judá

Habacuque (606 - 586 a.C.) - em Judá

605 a.C. - A Babilônia cerca pela primeira vez o reino do Sul.

Daniel (605 - 584 a.C.) - durante o cativeiro

Ezequiel (592 - 570 a.C.) - durante o cativeiro

586 a.C. - A Babilônia leva Judá para o cativeiro. Obadias (586 a.C.) - Em Judá, quando é cativo.

537 a.C. - Judá retorna do cativeiro. Ageu (520 - 516 a.C.) - Em Judá, após o cativeiro Zacarias (520 - 516 a.C.) - Em Judá, após o cativeiro

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Malaquias (450 - 400 a.C.) - Em Judá, após o cativeiro

Em relação ao cativeiro Babilônico, classificamos os profetas em:

EXÍLICOS - Daniel e Ezequiel

PÓS-EXÍLICOS - Ageu, Zacarias e Malaquias

PRÉ-EXÍLICOS - Todos os demais profetas

Após Malaquias, Deus faz um silêncio profético, só voltando a falar através de João Batista.

Tema e conteúdo

Algumas vezes as mensagens dos profetas eram simples, diretas e objetivas, voltadas às nações pagãs:

Jonas vai a Nínive pregar arrependimento. Naum prega juízo contra Nínive. Obadias prega juízo contra Edom.

Exceto isto, na grande maioria das vezes encontramos três elementos na mensagem dos profetas:

a) Os profetas sempre revelam o notório estado de decadência e pecado do povo de Deus, idólatra, com liderança corrupta, sacerdotes pervertidos, imoralidade, fazendo-lhes advertências contra os pecados e anunciando juízo.

b) No entanto, o Deus misericordioso tem um plano para o seu povo, ainda que não possa aceitar o pecado, oferece uma oportunidade, fazendo convites ao arrependimento e à conversão sincera.

c) Sempre está presente também, na mensagem profética em maior ou menor extensão, uma revelação Messiânica ou escatológica, alertando o povo quanto aos propósitos de Deus para seu povo, revelando que o amor de Deus, ainda que agora os julgue e condene, não se apartou deles. O Senhor do Universo e da História a tudo restaurará através do Messias, o Rei da paz, que inaugurará um novo e diferente reino, diferente de tudo o que até então eles experimentaram.

COMENTÁRIOS

1 - Podemos avaliar a importância do estudo destes livros e o papel que eles possuem no Cânon Sagrado segundo alguns parâmetros: a) Pelo espaço que ocupam no Cânon.

Toda a Bíblia é Palavra de Deus para nossas vidas, nada nela é vão ou desprezível. Em toda ela Deus nos fala revelando seu caráter, sua vontade, seu querer, etc. Ela expõe-nos a nós mesmos como um espelho. Esta Palavra é eterna, pois foi para ontem, é para hoje e o será para amanhã.

Ao estudarmos a Bíblia, descobrimos que 25% do Antigo Testamento é profecia, isto significa quase 20% de toda a Bíblia.

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Se não atentarmos para os livros proféticos do Antigo Testamento sob conteúdo alcançava gerações futuras, dava-lhes uma visão completa e complexa, onde incluía ao mesmo tempo elementos do presente, de um futuro próximo e de um futuro distante ou remoto, tudo ao mesmo tempo, sem que fosse dado ao profeta, discernimento completo sobre o que pertencia a que tempo, e quanto tempo decorria entre um evento e outro.

E algo que se assemelha a contemplarmos uma serra montanhosa à distância. Aparentemente uma montanha se justapõe à outra, parecendo estarem intimamente ou continuamente ligadas. À medida, no entanto que nos aproximamos, percebemos que há enormes distâncias separando as montanhas com belíssimos detalhes não percebidos à distância como vales, rios, cascadas, etc.

Na mensagem profética, proveniente de semelhante revelação, há eventos por vezes descritos como se fossem contemporâneos, mas que estão na verdade separados por milhares de anos (Is. 9:6). Há profecias sobre a vinda do Messias, que contém elementos de sua primeira e da segunda vinda.

Veja Joel 1: 4 a 6 - Há a praga contemporânea, o juízo num futuro imediato através dos Assírios e o juízo final.

3 - Os profetas falavam de coisas espirituais a seres humanos, falavam de revelações, que trazendo conteúdo transtemporal, atravessariam a história e, precisariam ser entendidos por todos os homens em todos os tempos, épocas e lugares. Isto tornou necessário o uso de uma linguagem poética e simbólica. Freqüentemente os profetas usam hipérboles, figura de linguagem que parece exagerar, aumentar, realçar o fato descrito (Jl. 2:3).

Eles usaram metáforas, valendo-se sempre das imagens às quais mais estavam familiarizados.

Usavam por exemplo: * Israel e Judá, para falarem do povo de Deus. * Babilônia, Assíria e Moabe, para falarem dos ímpios. * Davi, como figura de Jesus. * Jerusalém, ou o tabernáculo, como figura do céu.

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Isaías

NOME - Isaías quer dizer "Salvação de Jeová".

AUTOR - O autor é Isaías, filho de Amós, marido de uma profetiza e pai de dois filhos (1:1 e 8:3). Membro da família real, neto do rei Joás, primo do rei Uzias, foi profeta no palácio por cerca de 50 anos, durante os reinados de Uzias Jotão, Acaz e Ezequias.

Morreu, segundo a tradição judaica, serrado ao meio, após ser enterrado vivo dentro de um tronco oco, sob as ordens do terrível rei Manassés (ver Hb. 11:37).

Sua autoria única de todo o livro é contestada por muitos estudiosos da alta crítica, porque o livro nitidamente possui duas partes (caps. 1 a 39 e caps. 40 a 66) diferentes quanto à abordagem teológica, temática e conteúdo.

A segunda parte do livro teria sido escrita por outro autor durante o período pós-exílico, pois nesta 2a parte:

a) Jerusalém está em ruínas, Babilônia os aflige, e Ciro é apresentado como o libertador. Enquanto Isaías está vivendo mais de um século antes disto tudo.

b) O estilo literário é bem diferente da 1a parte. c) A ênfase teológica sobre a pessoa de Deus e seus atributos é diferente. No entanto

os argumentos pela autoria única de Isaías são: a) O cap. 1:1 apresenta o autor Isaías como único autor. b) Os profetas seus contemporâneos, fazem citações a trechos da chamada segunda

parte do livro (Is. 52:7; Sf. 2:15 e Is. 47:8; Jr. 31:35 e Is. 51:15). c) Os evangelistas atribuem a Isaías trechos da segunda parte do livro (Mt. 3:3 e Is.

40:3; Jo. 12:38-41 e Is. 53:1). d) A temática da 2a parte do livro é enfática quanto à condenação da idolatria e este é

um problema grave antes do exílio. e) A tradição judaica afirma ser Isaías o único autor. f) As profecias de Isaías já cumpridas, em especial as da 2a parte do livro, evidenciam

a autenticidade do autor. (Is. 41:21-26; 44:28 com Dt. 18:21,22) DATA DA ESCRITA - Por volta do ano 700 a.C. TEMPO DA AÇÃO - Seu ministério profético durou cerca de 50 anos respondendo aos últimos dias do reino do Norte. Isaías profetiza no reino Sul, entre 740 - 695 a.C. e são seus contemporâneos Amós, Oséias e Miquéias.

Um pouco antes e durante a primeira parte de seu ministério, por volta 40 a.C., Amós e a seguir Oséias, profetizavam no reino do Norte, enquanto Miquéias era conterrâneo e contemporâneo de Isaías no reino do Sul, falando ovo do interior, já que Isaías era profeta palaciano.

VERSO-CHAVE - 53:6 - "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos."

Muitos são os versos-chaves deste livro, segundo cada autor diferente, parece-me que este exprime melhor a dupla intenção e os objetivos do autor do livro, denunciar o pecado de

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Israel, e apontar o Messias e sua graça. TEMA - A GRAÇA E O LIVRAMENTO DE DEUS PARA COM ISRAEL CONTEÚDO

Isaías é considerado o maior dos profetas do A.T., sendo ao mesmo tempo profeta, poeta, estadista e grande orador. Deus o usa, assim como usou Amós, o boiadeiro agricultor, revelando com isto não fazer acepção de pessoas e sua disposição de usar homens independentemente de suas qualidades ou utributos pessoais. Seu livro contém variadíssimo material profético, pois ele denunciou o mal em Israel e Judá, ameaçou os inimigos circunvizinhos como Egito, Assíria, Moabe, Filístia, Síria e Edom (cap. 13 a 23), aconselhou reis como Ezequias (caps. 36 a 39), anunciou o Messias com tal riqueza de detalhes que é chamado de "o profeta evangélico", anunciou a queda do reino do Norte pela Assíria (8:4) e presenciou o cumprimento de sua profecia, quase 200 anos predisse o cativeiro babilônico e até o nome do futuro libertador (41:25; 44:28 e 45:1). Seu estilo literário é belíssimo, usando em sua mensagem inúmeras figuras de linguagem (3:16-24; 5:1-7; 26) e figuras dramáticas (7:3; 4; 20:2 e 3).

Começa seu ministério sob os reinados de Uzias e Jotão (caps. 1 a 6, ver 6:1) falando contra a ganância de alianças com povos pagãos e idolatria. Prosseguiu falando quando o mau rei Acaz subiu ao trono (caps. 7 a 14, ver 7: 1), este era um rei idólatra declarado e por isto sofreu castigos de Deus como invasões freqüentes em seu reino. É um tempo de profetizar juízo (cap. 8) e anunciar a esperança messiânica (caps. 7 e 9, 10 e 11). Babilônia, futura inimiga, também seria destruída (caps. 13 e 14). Morre Acaz, mas segundo Isaías, não morreram as opressões sobre um povo distante de Deus (14:28-32).

O rei Ezequias assume o trono, é um período fundamental na história do povo de Deus e ocupa a maior parte das mensagens proféticas de Isaías (caps. 15 a 66). Um rei piedoso, que começou bem seu reinado, mas terminou mal. Durante o 6° ano de seu reinado a Assíria invadiu o Norte e destruiu Israel, vindo após oito anos a invadir também o reino de Judá, Ezequias adoeceu mortalmente. Isaías foi forte apoio ao rei neste período crítico (caps 36 a 39; II Rs. 18 a 20).

Isaías freqüentemente neste período condena a idolatria e as alianças espúrias, tal como a que Ezequias fez com o Egito para livrar-se da Assíria.

Os capítulos 40 a 66 trazem principalmente uma mensagem de consolação e restauração, enfatizando a graça de Deus e a vinda do Messias, o "servo sofredor". O capítulo 53 é o central não só numericamente quanto tematicamente.

DIVISÃO - Há formas diversas de dividir o rico livro de Isaías. Uma delas é a que apresentamos no conteúdo do livro, correspondendo ao período dos reis:

a) Sob Jotão e Uzias - caps. l a 6 b) Sob Acaz - caps. 7 a 14 c) Sob Ezequias - caps. 15 a 66. Alguns questionam se o trecho do "servo sofredor" (caps. 40 a 66) não poderia

pertencer ao período de sofrimento do profeta Isaías sob o governo do rei Manassés. Uma segunda forma de dividir o livro é aquela que o faz em três partes, quanto ao seu objetivo e conteúdo profético:

a) Denúncias, julgamentos e condenação para Israel, Judá e circunvizinhos - caps. 1 a 35

b) A história do rei Ezequias - caps. 36 a 39

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c) Libertação, redenção e consolo - caps, 40 a 66.

A maioria dos autores, contudo, adota uma divisão mais simples e concisa: a) Denúncia e condenação - caps. 1 a 39 b) Conforto e consolação - caps. 40 a 66.

COMENTÁRIOS

1 - Isaías é "o profeta evangélico" ou "o profeta messiânico" porque é rico nas predições e em seus detalhes a respeito de Jesus. Fala:

a) do nome e forma de nascimento - (7:14) b) de seus atributos - (9:6 e 7; 11:1,2 e 5; 32:1; 40:11; 41:14; 42:1-3; 49:26; 51:12; 53:2-7). c) do seu ministério – (11:2-4; 25:8; 35:4-6; 40:3; 44:6; 53:1, 5, 6 e 9; 63:1-6) d) do seu sofrimento - (53)

2 - Isaías apresenta um servo sofredor de Jeová, entre os capítulos 42 a 53. Jesus veio a serviço do Senhor, cumprindo Sua vontade e trazendo redenção a Israel e ao mundo pelo caminho do sofrimento. Ele foi o último sacrifício derramado pelo pecado de todos nós. 3 - Isaías 14:12-23 e Ezequiel 28:12-19, são os dois textos mais ricos da Bíblia sobre a beleza e perfeição original de Satanás, e os motivos de sua queda. Os profetas o apresentam como o "rei da Babilônia" e o "rei de Tiro", na verdade tomando, numa figura de linguagem, as figuras pelo figurado (Satanás) que estava por trás de seus reinados satânicos.

Daniel usa a mesma figura em Dn. 10:20.

4 - Quase todos os estudiosos de Isaías apresentam seu livro como uma Mini-Bíblia, diante de tantas "coincidências". Vejamos:

a) A Bíblia tem 66 livros, Isaías tem 66 capítulos. b) A Bíblia se divide em duas partes: A.T. com 39 livros e N.T. 27 livros; e Isaías tem

duas partes, a primeira fala de julgamento e condenação (caps. 1 a 39) e a segunda fala de graça e redenção (cap. 40 a 66).

c) A primeira parte da Bíblia (V. T.), se encerra com profecias messiânicas e é assim

que termina a primeira parte de Isaías (cap.34 e 35). A segunda parte da Bíblia (N.T.) se abre com o precursor do Messias (João Batista) e trata da pessoa e obra de Jesus. A segunda parte de Isaías (cap. 40) começa falando de João Batista e anuncia a graça salvadora do Messias.

d) A Bíblia termina com o Apocalipse e Isaías termina com a visão de um novo céu e

uma nova terra (cap. 65:17) e) Entre a primeira (A.T.) e segunda (N.T.) partes da Bíblia há um interlúdio histórico,

onde Israel é ameaçado por 2 grandes impérios mundiais, o grego e o romano. Entre a primeira (caps. 1-36) e a segunda (caps. 40-66) parte de Isaías, há um

interlúdio histórico, onde Israel é ameaçado pelos dois grandes impérios mundiais de então, o Assírio e o Babilônico (caps. 36-39).

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Jeremias NOME - Jeremias quer dizer "Jeová estabelece".

AUTOR - O autor é o profeta Jeremias, com seu escrivão Baruque fazendo as anotações (36:4).

É o livro profético que mais nos apresenta seu próprio autor. Era filho de Hilquias, o sumo-sacerdote que achou o livro da Lei no tempo da reforma do rei Josias (II Rs. 22:8-20). Hilquias foi bisavô de Esdras (Ed. 7:1).

Jeremias foi vocacionado ainda jovem, e tentou fugir do duríssimo ministério que se vislumbrava. Mas Deus o havia vocacionado ainda no ventre de sua mãe, e tocou-lhe os lábios, pondo-lhe na boca suas santas palavras (1:4-10).

Profetizou durante 40 anos, pelo reinado de cinco reis e um governador de Judá, sendo sempre desprezado, perseguido e castigado.

Só sobreviveu porque realmente "Jeová o estabeleceu". Era jovem, tímido e sensível. Chorava com facilidade (9:1 e 13:17). Só teve

reconhecido seu valor, depois de morto, pelo povo que voltou do exílio, segundo cumprimento de suas profecias.

Foi contemporâneo de: Habacuque, Sofonias, Naum, Obadias, Ezequiel e Daniel.

DATA DA ESCRITA - Jeremias recebe ordens de Deus, no meio do seu ministério, para escrever as suas profecias. (36:1 e 2) - 605 a.C.

Seu escrivão Baruque registra suas profecias, e Jeremias é preso. Baruque lê as profecias no templo e no palácio (36: 6-19), e enraivecido, o rei Jeoaquim rasga o rolo e o lança ao fogo.

Jeremias reescreve as profecias e acrescenta ainda mais novas palavras. Registra até próximo ao final do seu ministério. Cerca de (586 a.C.).

TEMPO DE AÇÃO - Jeremias foi chamado a profetizar com 20 anos de idade, durante o reinado de Josias (626 a.C.) e ministrou até pouco antes de sua morte no Egito (586 a.C.).

VERSO-CHAVE - É o 1:18 - "Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra todo o país, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo". TEMA - ADVERTÊNCIAS QUANTO A JULGAMENTOS IMINENTES CONTEÚDO Jeremias era um jovem tímido e sensível e foi chamado por Deus com uma missão duríssima (vide o verso-chave), anunciar o juízo de Deus contra Judá, diante da severa oposição do povo, dos líderes políticos, reis e sacerdotes. Ninguém a seu favor, ninguém a lhe reconhecer méritos, ninguém a se converter, durante as décadas que seu ministério duraria.

Começa a profetizar durante o reinado do também jovem rei Josias e o ajuda em suas reformas e avivamento religioso (II Cr. 34 e 35). As profecias do reinado de Josias são as dos capítulos 2 a 12, e em sua maioria são um apelo à conversão de Judá. As lutas contra ele começam e seus próprios conterrâneos querem matá-lo (cap. 11).

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No ano 609 a.C. o rei Josias é morto na batalha de Megido contra o Egito, e isto traz intensa comoção em Judá (II Cr. 35:20-27).

Jeoacaz, filho de Josias só reina por 3 meses, pois é preso pelo rei Neco do Egito e vem a morrer cativo. Neco nomeia Jeoaquim como rei de sua confiança em Judá (II Rs. 23:28-37).

Durante o reinado de Jeoaquim, Jeremias profetiza o que aparece registrado nos

capítulos 13 a 20; 25 a 27:1; 35 e 36. Intensamente anuncia o juízo de Deus, combate ferrenhamente os falsos profetas e também anuncia o cativeiro babilônico (25). Foi um péssimo reinado o de Jeoaquim, subserviente ao rei egípcio, massacrava o povo de Judá (II Rs. 22:35).

No ano 605 a.C. Nabucodonosor, rei da Babilônia, na batalha de Carquemis, derrota o Egito (poucos anos depois de ter também derrotado a Assíria) assumindo a soberania mundial. Cerca a Palestina, faz cativo o rei Jeoaquim, e leva para a Babilônia os melhores jovens e líderes de Judá, entre eles Daniel (II Rs. 24:1-7).

É por este tempo que Deus ordena a Jeremias que escreva suas profecias. Cerca de onze anos depois, Jeoaquim morre e seu filho Joaquim assume o trono; inicia-

se uma pequena rebelião em Judá contra o domínio babilônico. O profeta Jeremias queria conduzir o povo ao arrependimento, e a Deus. Neste tempo

de início de resistência, ele anunciava que o cativeiro era inevitável e a resistência era inútil. O povo ainda mais o odiou, bem como os líderes, e ele foi acusado de antipatriota (Jr. 26:8-15). Joaquim só reinou por 3 meses e Nabucodonosor cerca novamente o reino de Judá, (597 a.C.), leva os objetos do templo e mais líderes e gente importante do povo, entre eles o profeta Ezequiel (II Rs. 24:10-17). Joaquim é preso e Nabucodonosor nomeia Zedequias, filho de Josias e irmão de Jeoaquim, rei em Judá, homem de sua confiança (II Rs. 24:17).

Jeremias previra um cativeiro de 70 anos contra as profecias de rápida libertação

anunciadas pelos falsos profetas de seu tempo, assim agravavam-se ainda mais contra ele as oposições (cap. 29).

Conselheiros de Zedequias o aconselhavam a aliar-se ao Egito e batalharem contra a Babilônia, porém Jeremias insistiu na inutilidade disto (37:3-10). Lançaram Jeremias no cárcere, uma cisterna lamacenta, mas de lá o Senhor o tirou com vida (3 7 e 38). Zedequias rebela-se contra Nabucodonosor, e este cerca Jerusalém pela terceira e última vez. Após 18 meses de cerco, a invade e destrói (a cidade e o templo) levando cativo todo o povo que restara, deixando apenas os doentes, loucos, fracos, e por respeito, o profeta Jeremias. Era o ano 586 a.C. (cap. 39 e 52). Jeremias vê toda a desgraça que anunciara e chora, compondo suas Lamentações. Jeremias profetiza que também a própria Babilônia seria arrasada (51:37-43).

Gedalias é nomeado governador em Judá, por Nabucodonosor (cap. 40), mas o restante do povo que ali ficara, resolve fugir para o Egito pensando lá encontrar abrigo e acolhida. Jeremias novamente se opõe a isto, mas é levado a contra-gosto (cap. 40-44).

O livro se encerra com profecias diversas a respeito dos povos circunvizinhos, escritas em tempos variados.

O estilo do livro é tão político e choroso quanto o temperamento do seu autor e não apresenta as profecias em ordem cronológica, como podemos ver em todo este relato.

DIVISÃO As profecias de Jeremias não estão arrumadas cronologicamente, tornando difícil a sua divisão didática e memorização.

É bom lembrarmos que suas profecias foram escritas em um rolo, já no meio de seu ministério, o que tornou necessário buscar muita coisa de memória, em meio a

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acontecimentos atuais para ele, que as registrava. Além disto, seu rolo profético foi queimado, e tudo precisou ser reescrito, num trabalho que deve ter durado anos. Isto explica a desarrumação cronológica.

A maioria dos autores rearranja os capítulos de acordo com o período dos reis de Judá, ao tempo em que Jeremias profetiza:

a) No reinado de Josias - caps. 1 a 12. b) No reinado de Jeoaquim - caps. 13 a 20; 25 a 27:11; 35 e 36. c) No reinado de Zedequias - caps. 21 a 24; 27 a 34; 37 a 39. d) Durante o cativeiro - caps. 40 a 44. e) Em tempos diversos aos povos circunvizinhos - caps. 45 a 52.

COMENTÁRIOS 1 - Jeremias dramatizava freqüentemente suas profecias para torná-las mais inteligíveis e memorizáveis.

Vejam alguns exemplos: a) A vara de amendoeira e a panela ao fogo - no capítulo 1. b) O cinto de linho e o jarro quebrado - no capítulo 13. c) O vaso do oleiro - no capítulo 18. d) A botija quebrada - no capítulo 19. e) Os canzis - no capítulo 27. f) A compra de um campo - no capítulo 32. g) As grandes pedras - em 43:9-13. h) O livro lançado no Eufrates - em 51:63 e 64.

2 - A Palavra de Deus é apresentada por Jeremias como o martelo que esmiúça a penha em 23:29. Outros textos belíssimos e muito conhecidos são: 9:23 e 24; 10:10-13 e 23; 17:5 a 10; 20:9 e 12; 22:13 a 16; 23:1, 5 e 6,23 e 24, 31 e 32; 29:7.

3 - Jeremias é quem anuncia o tempo de duração do cativeiro Babilônico -25:1-15, e Daniel ao estudar esta profecia acorda para o fato de que o tempo chegara ao fim - (Dn 9:2).

4 - As perseguições e sofrimentos prenunciados por Deus (1:18-19) foram constantes em seu ministério (11:21; 12:6; 20:2 e 7; 26:8; 28; 37; 43).

5 - O período de Jeremias é de intensa importância histórica para Israel e para o mundo. E o tempo de guerras entre a Babilônia, a Assíria e o Egito, dando à Babilônia a

supremacia mundial, e é o tempo do cativeiro Babilônico para Judá.

6 - Jeremias foi o mais perseguido e impopular profeta que a Bíblia apresenta. Pregou mais de 40 anos sem que aparentemente fosse ouvido.

Contudo após a sua morte, suas palavras foram fonte de esperança e alegria para os milhares de judeus que estavam cativos.

7 - Isaías pregou o arrependimento e a condenação ao desânimo, pedindo que o povo de Deus confiasse no poder libertador do Senhor.

Jeremias veio pregando juízo, e que o povo devia submeter-se ao castigo do Senhor por mãos dos Babilônicos. A sentença já era irrevogável (Jr. 7:16; 11:14; 14:11; 15:1).

Ênfases diversas, em tempo diversos, ao mesmo povo, com os mesmos pecados. 8 - Há poucos textos messiânicos e anunciadores da graça do Senhor em Jeremias (23:

5 e 6; 33:14-26), mas destaca-se em todo o Velho Testamento.

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Lamentações

NOME - No grego o livro chama-se "threnoi" que quer dizer, "alto choro", "lamentação". Os hebreus o chamavam "Ekah" ou "Como!”... que é a primeira palavra do livro no

hebraico. Posteriormente os rabinos passaram a entitulá-lo "qunoth" que significa "pranto", "alto choro", "lamentação".

AUTOR - O livro não fala quem é o seu autor, mas não há dúvidas de que foi Jeremias. Esta é a crença tanto das tradições judaicas quanto cristãs, inclusive este livro fazia

parte da profecia de Jeremias, de onde foi separado. Ninguém melhor que o profeta Jeremias podia escrever este livro, como sua própria

profecia, através do seu escrivão Baruque. Ninguém amava tanto Jerusalém, ninguém anunciou tanto este doloroso fim,

ninguém tão presente ao quadro podia revelar tão íntima dor, como este sentimental profeta.

DATA DA ESCRITA - 586 a.C., durante a invasão Babilônica e cativeiro de Judá, na destruição completa da cidade e do templo.

TEMPO DA AÇÃO - A data da invasão e destruição foi 7 de agosto de 586 a.C. É este o tempo da ação a que se refere o livro.

No ano 70 A.D., em 9 de agosto, o general romano Tito, destrói Jerusalém pela segunda vez. A data 9 de agosto é celebrada anualmente pelos judeus, por causa das duas destruições do templo e, por ocasião deste dia, o livro de Lamentações é lido nas sinagogas.

VERSO-CHAVE - 2: 5 e 6 - “Tornou-se o Senhor como inimigo, devorou Israel, devorou todos os seus palácios, destruiu as suas fortalezas, e multiplicou, na filha de Judá, o pranto e a lamentação”.

Demoliu com violência o tabernáculo, como se fosse uma horta; destruiu o lugar de sua congregação, o Senhor em Sião pôs em esquecimento as festas e o sábado, e na indignação da sua ira, rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote."

TEMA - LAMENTAÇÕES SOBRE A CIDADE DE JERUSALÉM CONTEÚDO

Após os dois primeiros cercos a Jerusalém promovidos por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 605 a.C. e 597 a.C, o rei Zedequias foi colocado no trono de Judá como homem de confiança de Nabucodonosor. Zedequias, contudo traiu esta confiança e aliou-se ao rei do Egito contra a Babilônia.

Durante 40 anos o profeta Jeremias advertiu contra o pecado e anunciou este provável castigo por mãos Babilônicas. Condenou Zedequias e aconselhou-o e, ao povo, que se entregassem ao juízo de Deus. Agora, no ano 586 a.C., Nabucodonosor, invade Jerusalém

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leva cativo o povo e o rei Zedequias, a quem fura os olhos (Jr. 39:6 e 7), arrasa a cidade, queima e destrói tudo, inclusive o templo do Senhor, bela, imponente, majestosa, sagrada obra, inestimavelmente amada pelo povo.

Era o fim de tudo quanto o povo considerava inviolável e invencível, a cidade e o templo. Quem sabe o povo até continuava pecando, apesar das advertências proféticas, porque julgava impossível Deus abandonar seu povo, sua cidade e seu templo. Mas como prometera, cumprira. Deus é de palavra. O juízo veio, como Jeremias advertira em sua mensagem. E, ele, que sabia com certeza que tudo isto ia acontecer, é, contudo o mais surpreso, ou melhor, estupefato; há tristeza, dor, lamento.

Suas lamentações expressam a dor de quem vê tudo em cinzas, de quem vê a glória de Deus afastar-se dali, de quem vê Deus cumprir sua palavra, castigando o pecado (2:17).

Esta ação foi divina e não Babilônica, é a mensagem de Jeremias neste livro. Os nomes de Nabucodonosor e da Babilônia não aparecem em meio a todo o caos, em suas lamentações (3:1).

E o cumprimento da Palavra de Deus, e da consciência de ter sido Ele autor de tudo, que traz ainda, em meio à dor, alento e esperança. "Ele fez a ferida, e a atará" (Os. 6:1).

Jeremias traz à memória o que lhe pode dar esperança (Lm. 3:21): Deus justo, fiel, bom e misericordioso. "O Senhor não nos rejeitará para sempre" (Lm. 3:31), arrependam-se dos seus pecados, voltemo-nos para Deus, é a inclusão e exortação do profeta ao povo que foi para o cativeiro (Lm. 3:22-42).

DIVISÃO

O livro pode ser dividido em seus próprios cinco capítulos que são cinco poesias, ou cinco hinos fúnebres, e onde, em cada capítulo, a cidade é representada por uma figura metafórica.

a) Capítulo 1 - A cidade é uma viúva chorando. b) Capítulo 2 - A cidade é uma mulher com véu, chorando entre as ruínas. c) Capítulo 3 - A cidade é o profeta chorando ante um juiz que é Jeová. d) Capítulo 4 - A cidade é como ouro embaçado, degradado. e) Capítulo 5 - A cidade é um suplicante diante de Deus.

COMENTÁRIOS

1 - É de Lamentações um dos trechos bíblicos mais belos e conhecidos da Bíblia, o capítulo 3:21 a 42.

2 - A Bíblia hebraica só possui três livros poéticos (Salmos, Provérbios e Jó) e são chamados Hagiógrafos.

O livro de Lamentações faz parte de um grupo chamado Megilloth, ou "os cinco rolos", onde cada um dos rolos é lido numa das cinco festas mais importantes dos judeus. São eles: Cantares - lido na Páscoa Rute - lido no Pentecostes Eclesiastes - lido na Festa dos Tabernáculos Ester - lido no Purim Lamentações - lido no aniversário da destruição de Jerusalém, todo 9 de agosto, e por muitas sinagogas de Israel, em toda sexta-feira, no "muro das Lamentações". 3 - Jerusalém foi destruída novamente no ano 70 A.D. pelo general romano Tito, cumprindo a profecia de Jesus em Lc. 19:41-44.

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Ezequiel

NOME - Ezequiel significa "Deus fortalece". Veja; Ez. 2:1-7 e 3:4-11.

AUTOR - A autoria de Ezequiel é universalmente aceita. Ele é um profeta que fala ao povo de Deus durante o exílio, sendo contemporâneo de

Daniel, o qual tinha aproximadamente sua mesma idade. Enquanto Daniel tinha acesso ao palácio babilônico, Ezequiel falava ao povo nas ruas e nas casas, na Babilônia.

Ambos, Daniel e Ezequiel, foram também contemporâneos do final do ministério profético de Jeremias, o qual falava ao povo que restou lá em Judá, quando a maior parte foi trazida para o cativeiro babilônico.

Ezequiel além de profeta era também sacerdote (Ez. 1:3), embora sem templo e sem sacrifícios. Nascera durante o reinado de Josias e aos trinta anos, quando deveria assumir o sacerdócio, em 597 a.C., foi trazido cativo para a Babilônia, no segundo cerco a Jerusalém, de Nabucodonosor. Na Babilônia, vivia numa casa junto ao rio Quebar, na colônia judia chamada Tel-Abibe. (Ez.. 1:1 e 3:15).

DATA DA ESCRITA - Ezequiel datou todas as suas mensagens, e as escrevia na medida em que profetizava. Escreveu-as entre 592 a 570 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - Seu livro, e ministério, começa no quinto ano do cativeiro do rei Joaquim (II Rs. 25:10 -16), em 5 de julho de 592 a.C. (Ez. 1:2), e suas últimas profecias são: (Ez: 40:1) que é uma visão ocupando os últimos capítulos do livro, e que está datada de 10 de abril de 572 a.C., e ainda Ez. 29:17, onde há uma profecia contra o Egito, em l de abril de 570 a.C.

VERSOS-CHAVE - São os 1:1 e 3:17 "... estando eu no meio dos exilados, junto ao rio Quebar, se abriram os céus e eu tive

visões de Deus" "Filho do homem eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; da minha boca ouvirás a

palavra e os avisarás de minha parte." TEMA - JULGAMENTO E GLÓRIA

A frase "a glória de Deus" aparece doze vezes nos primeiros onze capítulos. Ela se retira do templo de Jerusalém por causa do pecado de idolatria do povo. Vem a destruição de Jerusalém e do templo, pelo julgamento e juízo divinos.

A glória, contudo retorna, na restauração de Israel, nos capítulos 43 e 44. CONTEÚDO

Ezequiel era sacerdote. Antes que iniciasse seu ministério sacerdotal em Judá, foi levado cativo aos 30 anos, para a Babilônia, na 2a leva de exilados, em 597 a.C.

Um grupo de importantes pessoas, entre elas Daniel, já estava no exílio desde 605 a.C. Ele passa cinco anos em Tel Abibe quando então, é vocacionado para ministério

profético através de uma visão (592 a.C.). Seu ministério era específico, devia admoestar o povo no cativeiro a lembrar-se

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constantemente do porquê de estarem ali, anunciar o juízo iminente sobre Jerusalém (fato que se deu no ano de 586 a.C.), anunciar ainda juízo de Deus sobre as nações poderosas, inimigas de Judá, e por fim, sumular a esperança e confiança do povo na reunião dos judeus e na restauração da cidade e do templo.

Suas profecias estão cronologicamente arrumadas e datadas. Ezequiel um profeta de visões, sinais, parábolas e símbolos, assemelhando-se em muito João e seu Apocalipse.

A primeira parte do ministério de Ezequiel (caps. 1-24), vai do ano 592 C. ao ano da queda de Jerusalém 586 a.C. Durante estes seis anos ele fala contra “obstinados” e "surdos" exilados e sua mensagem procura mostrar-lhes os pecados como causa de estarem ali na Babilônia (caps. 11-24), fazendo-os esquecer da idéia pregada por alguns de que logo estariam de volta à Jerusalém. Preparava-lhes para a breve destruição da cidade e do templo, que viria como manifestação final do juízo de Deus.

O fato de que seu contemporâneo Daniel, nesta altura, já ter galgado lições de honra no palácio babilônico, dava certo conforto e bom tratamento àqueles milhares de cativos exilados.

Isaías (39:6) e Miquéias (4:10) já haviam dezenas de anos antes, inunciado o cativeiro, Jeremias (25) recentemente revelara a sua duração, mas povo ainda não cria no que estava vendo e vivendo. Ainda não haviam se voltado arrependidos ao Senhor. Era isto que ocupava o ministério de Ezequiel. Era seu povo, mas gente de dura cerviz e duro coração (Ez. 3:4-11 e 16-22).

Ezequiel fala da glória de Deus, que significava a presença de Deus, a qual ocupava o Santo dos Santos no templo, sobre o propiciatório entre os querubins (Êx. 25:17-22). Em suas profecias deste período, nos onze primeiros capítulos, ele descreve esta glória gradativamente retirando-se do templo, como sinal de juízo e condenação ao pecado. (8:3 e 4; 9:3; 10:4,18,19; 11:22-24). Esta glória só retornará ao templo e à profecia de Ezequiel em sua última parte ministerial, quando anuncia a restauração de Israel.

Ainda nesta primeira parte de seu ministério anuncia o cerco final a Jerusalém, sua destruição e o destino dos sitiados. (Ez.. 4:1-3; 4-8; 9-17 e 5:1-17). Roga pela manutenção de um remanescente a ser restaurado (Ez.. 11:13-21).

Quando Jerusalém é sitiada e invadida (586 a.C,), Ezequiel passa à segunda etapa de seu ministério e anuncia o juízo de Deus, vindo também sobre os inimigos de Judá (caps. 25 a 32).

A queda anunciada por ele, da cidade e do templo, dá também início a uma palavra de consolo e esperança: "Deus julgará nossos inimigos", e "Israel, será restaurado".

Sua terceira e última etapa ministerial têm a ênfase sobre o futuro de Israel. Ele apresenta-se como um atalaia (cap. 33), anuncia o Messias como o Pastor descendente de Davi, que contrasta com os pastores infiéis que Israel conhecera até ali (cap.34). Virá um tempo de ressurreição para Israel (cap. 37), o Espírito vivificará a nação, não só daqueles cativos ali após 70 anos, mas num futuro longínquo, judeus de todas as nações. É uma palavra também escatológica (cap. 38 e 39).

Sua última visão é a do templo restaurado (caps. 40-46), onde a glória do Senhor tornará a habitar. Este templo tem cumprimento profético em parte, no templo reconstruído e visitado por Jesus, e em parte, na igreja do Novo Testamento como templo e santuário do Altíssimo, e por fim no templo escatológico do milênio.

DIVISÃO - Podemos, como vimos acima, dividir a profecia de Ezequiel em 3 fases: a) Profecias antes do cerco final a Jerusalém - caps. 1 a 24 b) Profecias durante o cerco a Jerusalém - caps. 25 a 32 Referem-se às nações gentias. c) Profecias após o cerco e tomada de Jerusalém - caps. 33 a 48 referem-se à

restauração de Israel.

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COMENTÁRIOS

1 - Expressões que aparecem muitas vezes neste livro são: a) A Glória de Deus. b) Veio a mim a palavra do Senhor" - aparece 49 vezes. c) "Filho do homem" - Por 93 vezes, Deus se dirige a Ezequiel tratando-o desta forma. Só Daniel (Dn. 8:17) uma vez, e Jesus por 80 vezes, recebem esta denominação. A expressão nos assegura a identificação que o profeta cativo tinha para com os seus

contemporâneos também cativos. Era um profeta cativo, falando para seu próprio povo cativo, não alguém de fora da dor ou da tragédia, mas dentro do mesmo quadro.

2 - O ministério de Ezequiel começou nas casas dos judeus no exílio (1:3 e 5). Provavelmente este foi o embrião das sinagogas. No cativeiro não havia templo, altar ou sacrifícios. Ezequiel era sacerdote, e no tempo

que iniciaria sua missão sacerdotal foi levado cativo.

3 - O texto de Ez. 37, é um dos capítulos mais ricos da Bíblia, em lições sobre reavivamento.

a) Deus mostra a Ezequiel que aquele vale de ossos secos não era a reunião simbólica dos ímpios, mas o quadro em que o "povo de Deus" se encontrava (37:11). Israel havia desprezado a Palavra de Deus (II Cr. 33:10; 34:14-21; 36:15 e 16).

b) Deus fez de Ezequiel um instrumento útil (Ez. 2; 3:1-3; 37:1-3, 7 e 10), humilde, quebrantado, comprometido, alimentando-se da Palavra, obediente, cheio do Espírito Santo.

c) O reavivamento começa pelo "ouvir" da Palavra de Deus (Ez. 37;4; Mt. 11:15; Ap. 2

e 3). Ouvir no sentido completo da palavra (Mt. 7:24-27 e Tg. 1:22-25). d) O reavivamento é produzido pelo sopro de vida do Espírito Santo (Ez. 37:5 e 9). e) Quando o reavivamento chega a uma igreja: - restaura-se a vida e a saúde da comunidade (Ez. 37: 11 e 5). - restaura

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Daniel

NOME - Daniel significa no hebraico, "Deus é meu juiz". Isto já sugere o tema e conteúdo do livro, a soberania do Senhor sobre todas as

nações.

AUTOR - O profeta Daniel é o autor do livro. Ele nascera durante o governo do rei Josias em Judá, era de nobre família (1:3) e foi

levado cativo por Nabucodonosor junto com outros jovens, no primeiro cerco a Jerusalém (605 a.C.). Lá foi separado com seus amigos para urna alimentação especial e estudos de preparação. Ganhou um novo nome: Beltessazar - "Que Bel proteja sua vida".

Após dois anos interpretou um sonho de Nabucodonosor (cap. 2), sendo por isto declarado governador da província, chefe dos sábios do reino e conselheiro do rei. (2:48)

Permaneceu no palácio por quase 70 anos, servindo a cinco governadores babilônicos e a dois persas (Nabucodonosor, Evil-Merodaque, Neriglizar, Nabonido, Belsazar, Dario e Ciro).

A autoria de Daniel não é universalmente aceita, alguns afirmam ser alguém vivendo no período pós exílico, talvez no período interbíblico (± 165 a.C.). Entretanto Ezequiel, seu contemporâneo, reconhece sua historicidade, sua notável sabedoria e integridade de caráter (Ez.. 14; 14, 20; 28:3).

Jesus (Mt. 24:15), as tradições judaicas e cristãs, reconhecem a autoria de Daniel. Ressalte-se que a septuaginta, escrita em tomo de 250 a.C., já apresentava em seu

cânon o livro de Daniel. O historiador Josefo relata que Alexandre o Grande, ao entrar em Jerusalém (332 a.C.) impressionou-se muito com as profecias de Daniel a ele apresentadas pelo sacerdote Jádua.

DATA DA ESCRITA - Em tomo de 535 a.C., após 70 anos na Babilônia, quando recebe e registra sua última visão.(10: 1)

TEMPO DA AÇÃO - O ministério profético de Daniel se deu durante todo o período do exílio, ou seja, entre 605 e 535 a.C.

VERSOS-CHAVE - São os 4:34 e 35 -"... eu Nabucodonosor levantei os olhos ao céu, ... eu bendisse o Altíssimo e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno e cujo reino é de geração em geração.

Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?"

TEMA - A SOBERANIA DO SENHOR SOBRE TODAS AS NAÇÕES

CONTEÚDO O livro de Daniel, embora pequeno, abrange um período histórico de 70 anos, que é o tempo do cativeiro.

Daniel foi levado com alguns jovens importantes e nobres de Judá, para a Babilônia, na ocasião do primeiro cerco de Nabucodonosor ao reino de Judá, no ano 605 a.C.

Toda sua vida praticamente é vivida lá na Babilônia, pois com aproximadamente 90

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anos, ele assiste a última leva de judeus voltar do exílio, mas ele, já muito idoso, permanece por lá.

Nestes 70 anos de cativeiro para os judeus, e de vida profética para Daniel, ele assistiu a ascensão e a queda de grandes impérios, sendo este o tema de suas mensagens, as quais revelam a soberania de Deus sobre nações e antecipam muito do calendário histórico de reinos gentios, que Deus através de visões, lhe mostrou.

Daniel assiste a queda da Assíria (612 a.C.), participa do 1° cerco Babilônico a Judá (605 a.C.) onde é feito cativo, assiste a queda de Jerusalém (586 a.C.) e a queda da própria Babilônia ante o exército persa (539 a.C.).

Sua história começa aos 16 anos de idade, chegando cativo na Babilônia, foi instalado no palácio com seus amigos, e naquele meio de liberdade moral e idolatria espiritual, recebem treinamento e preparação a ocuparem altos postos no governo como assessores de Nabucodonosor.

A primeira decisão que tomam é de não se contaminarem com as s iguarias da mesa real, pois eram deliciosos manjares antes oferecidos criticados aos deuses Babilônicos. Gozavam do carinho do chefe dos eunucos, Aspenaz, que além de lhes mudar os nomes (1:6 e 7) aceita lhes mudar os nomes (1.6,7) aceita lhes servir apenas água e legumes. (1:8-20)

No ano seguinte, Nabucodonosor tem um sonho e ninguém, senão Daniel, consegue interpretá-lo (cap. 2).

A grande estátua feita de vários metais era a sucessão de reinos e impérios mundiais, chamados pela Bíblia "o tempo dos gentios", pois se referem ao governo não exercido pelos judeus.

Quatro grandes impérios mundiais se sucederiam no governo do mundo, desde Nabucodonosor até o fim de tudo.

A Babilônia era a cabeça de ouro; o peito e os braços de prata, seriam o império sucessor medo-persa. O ventre e os quadris de bronze eram a Grécia que sucedeu a Pérsia, sob o governo de Alexandre o Grande. O quarto e último reino é uma mistura de ferro e barro, numa liga que não se une. Este último reino começa sendo representado pelas pernas de ferro, o Império romano, mas sua continuidade histórica nos pés de ferro e barro, são uma confederação de dez nações cujos governos são inconciliáveis, marcando o fim de tudo e a chegada do reino messiânico.

O interessante é que, à medida que o tempo passar, e os reinos se sucederem (representados na estátua pela ordem da cabeça para os pés), os reinos serão cada vez mais fracos (metais de menor valor) e divididos (até a desunião e desarmonia dos 10 dedos dos pés de ferro e barro). Não é este o tempo em que temos vivido, no esforço da reunião de reinos tão diversos quanto são o ferro e o barro, e a evidente fraqueza destas pretensas ligações?

Daniel acrescenta ainda que um outro reino invencível e indestrutível será levantado por Deus (2:44) e como uma pedra esmiuçará todos os demais reinos, quando a estátua for "apedrejada" (2:34 e 35). Esta pedra é o reino eterno e final de Cristo sobre a Terra (SI 118:2; Is 8:14; 28:16; e Zc. 3:9).

Por causa desta interpretação, é alçado à posição de governador da província da Babilônia (2:47-49).

Alguns anos se passaram, e não sabemos quantos, quando se dá o acontecimento da estátua de ouro e dos companheiros de Daniel lançados na fornalha (cap. 3). O livramento dado a eles fez com que Nabucodonosor incluísse "o Deus deles" na galeria dos deuses adorados na Babilônia, com muito realce e importância, mas sem conversão.

O capítulo quatro nos conta de um novo sonho dado a Nabucodonosor, o da grande árvore, que significava ele mesmo, e revelava a mão de Deus pesando sobre ele até que glorificasse e bendissesse o Senhor, como o verdadeiro Deus. É o fim do reinado de

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Nabucodonosor, e Daniel tem cerca de 60 anos. Quando iniciamos a leitura do capítulo cinco, já é Belsazar quem está no trono.

Portanto os capítulos 1 a 4 referem-se ao tempo do reinado de Nabucodonosor (607 - 562 a.C.).

Belsazar é neto de Nabucodonosor e reina com seu pai Nabonido após o ano de 556 a.C.

Há uma grande festa, onde os utensílios usados eram os do templo do Senhor, carregados quando Jerusalém foi invadida (597 a.C. - II Rs. 24:13). Nesta festa o Senhor escreve na parede, e Daniel com 82 anos é chamado para interpretar, anunciando o fim do império Babilônico e sua derrota para os medos e persas, fato este que se cumpriu naquela mesma noite.

Esta festa foi no ano 539 a.C. Belsazar reinou entre 556 e 539 a.C. Dario, o medo, é deixado no trono Babilônico enquanto Ciro, o persa, prossegue em

suas conquistas. Daniel logo lhe foi querido, e o evento narrado no capítulo seis, surge como manifestação de ciúme dos demais governadores e Sátrapas (homens de confiança de Dario). Dario se entristeceu (6:14), mas por decreto foi obrigado a lançar Daniel aos 83 anos na cova dos leões. O livramento dado pelo Senhor alegrou Dario, e o “Deus de Daniel" foi engrandecido novamente em toda a Babilônia.

Daniel continuava a gozar de prestígio entre os reis na Babilônia (6:2-8). Os capítulos 7 e 8 de Daniel estão fora da ordem cronológica, pois referem-se a visões

tidas no início do reinado de Belsazar, datados de 553 a.C. (a visão do capítulo 7) e 551 a.C. (a visão do capítulo 8).

Os quatro animais selvagens vistos no capítulo sete são figuras nas para os quatro grandes reinos do sonho de Nabucodonosor interpretado no capítulo 2.

Daniel os interpreta (7: 17-23) como: a Babilônia era o leão com as de águia (a cabeça de ouro da estátua em 2:37 e 38), a Pérsia era o urso (o peito e os braços de prata da estátua em 2:32, 39), um leopardo asas e quatro cabeças era a Grécia (o ventre e os quadris de bronze da estátua em 2:32 e 39), o quarto animal era terrível e sobremodo forte, tinha dez chifres (como os dez dedos que compunham os pés da estátua em 2:33, 40-44). O pequeno chifre, do último reino, é o anticristo (Ap.13.1), veja Dn. 7:25, cujo governo será encerrado pelo eterno reino do Altíssimo (Dn. 7:27 e 2:44).

A visão do capítulo oito, com o carneiro e o bode, referem-se aos reinos da Pérsia e Grécia (Dn. 8: 20 e 21) que imediatamente sucederiam o reino da Babilônia. O rei Antíoco Epifânio era o pequeno chifre de 8:9-13, que no ano 175 a.C. invade Jerusalém e profana o templo e o altar do Senhor.

No capitulo nove voltamos ao período do governo de Dano (tal como o capítulo 6). Ele está orando e lendo as profecias de Jeremias quando descobre que os 70 anos do cativeiro já se haviam findado (605 - 536 a.C.), intercedendo então ao Senhor em favor do seu povo.

Deus lhe responde com a visão das setenta semanas. Se as visões anteriores referiam-se aos governos gentios, estas 70 semanas referiam-se

ao povo de Israel. As setenta semanas são setenta períodos de sete anos, portanto 490 anos. As primeiras

69 semanas incluíram a reconstrução da cidade, dos muros e do templo, sob tempos angustiosos (vide Esdras e Neemias), e este período se encerraria com a morte de Cristo (9:26, no ano 30 A.D.).

Antes de a história entrar na última semana para os judeus há um espaço de tempo, um parêntese, onde nós nos encontramos agora. É o tempo da Igreja, no tempo dos gentios.

Na última semana, Deus vai tratar exclusivamente com os judeus, é o tempo que inclui a presença do anticristo.

Os capítulos 10 a 12 são o registro da última visão de Daniel, sob o governo de Ciro,

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no ano 536 a.C., quando o povo preparava-se para retornar à Jerusalém, voltando do cativeiro. São revelações mais detalhadas sobre os reinos da Pérsia e da Grécia, encerrando-se com o capítulo 12 que fala do tempo do fim e da grande tribulação. DIVISÃO - A maioria dos autores divide o livro de Daniel em duas partes:

a) História - caps. 1 a 6 b) Profecias - caps. 7 a 12 (cronologicamente concomitantes aos caps.1 a 6) Há também uma forma de dividi-lo segundo os acontecimentos referentes ao período de cada rei, ou seja: a) Sob o reinado de Nabucodonosor - caps. 1 a 4 b) Sob o reinado de Belsazar - caps. 5, 7 e 8 c) Sob o reinado de Dario - caps. 6 e 9 d) Sob o reinado de Ciro - caps. 10 a 12

COMENTÁRIOS

1 - Daniel foi primeiro ministro no governo de 3 reis, Nabucodonosor, Belsazar e Dario. Esta sua posição em muito foi favorável aos cativos em terras babilônicas, e ao decreto

de libertação, já que certamente Daniel foi o responsável por Ciro saber-se profetizado como libertador do povo (Is. 44 e 45) cerca de 150 anos antes.

2 - Daniel é junto com Isaías, o autor do A.T. mais discutido como verdadeiro. Os argumentos para isto usados são:

a) "Ele não é incluído entre os "profetas" no cânon hebraico, mas sim entre os "escritos", último grupo de livros a serem aceitos como canônicos entre os judeus."

Este argumento é rebatido pelo fato de que outros livros que foram incluídos entre os escritos, foram escritos bem antes de Daniel como Salmos, Provérbios, Jó, etc.

b) "A presença de termos medos e persas, bem como gregos no livro, apontam para um escritor do período interbíblico.". Daniel no entanto viveu o tempo persa, e os gregos eram já bem conhecidos, em especial para um nobre que viveu 70 anos na corte babilônica. c) "Profecias do capítulo 11 são detalhadamente cumpridas no período Macabeu (interbíblico)." Só quem descrê da revelação divina, pode duvidar que Deus tenha dado estes detalhes a Daniel. 3 - O livro de Daniel tem enfoque nas profecias sobre a soberania de Deus em relação a história dos reinos gentios. Foi fortemente influenciado por sua formação nobre e política, pela vida toda no palácio, e por presenciar ascensão e queda de impérios. Seu livro é na maior parte escrita em aramaico (2:4 a 7:28), a língua que falava na Babilônia.

4 - Daniel é um profeta apocalíptico, e muitos dos eventos descritos no livro de João só são bem entendidos após o estudo das profecias de Daniel. Entretanto não podemos nos esquecer que as ênfases da vida piedosa do profeta são extremamente práticas e imutáveis: vida pura e santa, estudo da palavra de Deus, intensa oração. 6 - Contado, pesado, divivido, são as traduções literais das palavras escritas na parede. Parsim é o plural de Peres. Embora na própria língua dos caldeus só Daniel as pode ler e

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interpretar (5:5,8,25-28). 7 - Porque Daniel orava voltado para as bandas de Jerusalém (6:10)? Em cumprimento às prescrições de IRs. 8:46-50.

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Oséias NOME - Oséias quer dizer "salvação".

AUTOR - E o próprio profeta Oséias, filho de Beeri, contemporâneo dos profetas Amós, Miquéias e Isaias (1:1). DATA DA ESCRITA - Em torno do ano 740 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - O primeiro verso no livro nos informa que Oséias profetizou durante o tempo do reinado do rei Jeroboão II em Israel (794 - 753 a.C.), contemporaneamente aos reis Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (791 - 696 a.C.) em Judá.

Ao conciliarmos as datas, e observarmos que sua profecia advertia principalmente Israel quanto à sua infidelidade e ao seu iminente castigo, o qual veio pelos Assírios em 722 a.C., concluímos que seu ministério profético deu-se entre 760 - 720 a.C., portanto alcançando todos os reis citados.

VERSO-CHAVE - É o 1:2 -"... vai toma uma mulher de prostituições, e terás filhos de prostituição, porque a terra se prostituiu, desviando-se do Senhor." TEMA - ISRAEL, A ESPOSA INFIEL CONTEÚDO Oséias é vocacionado no reino do Norte, ao tempo em que o rei Jeroboão II reinava.

Politicamente era um tempo áureo, pois Israel se expandira bastante (II Rs. 14:23-29 a II Rs. 17), mas espiritualmente vivia um tempo negro.

Os profetas Elias, Eliseu e recentemente Amos, advertiram Israel de seus maus caminhos, mas nada mudara. Pecado disseminado, idolatria tal que prostitutas cultuais e sacrifícios infantis ali eram realizados, sacerdotes corrompidos e ladrões, cultos vazios e hipócritas, graves injustiças sociais, eram o terrível retraio deste que se chamava povo de Deus (Os. 4:2, 9, 12, 13, 17, 18). Povo infiel, adúltero e traidor.

O juízo em breve viria, se não houvesse conversão sincera (Os. 6:1-7). Deus então usa a mensagem do profeta através de sua história familiar. Oséias casa-se com uma mulher prostituta por orientação de Deus (se o profeta já sabia ser ela prostituta antes de casar-se ou não, a Bíblia não nos diz). Ele a ama intensamente, mas ela o trai, foge, prostitui-se e se toma escrava (Os. l e 2). Oséias, contudo continua a amá-la e a perdoa, compra-a (Os. 3).

Todo este quadro representava o casamento de Deus com Israel e sua traição (Os. 2:19).

Oséias revela ao povo a sua infidelidade para com o Senhor, e o juízo que adviria disto (Os. 4-10), porém como seu nome o diz, aponta ao final da mensagem, um caminho de arrependimento, graça e salvação (Os. 11:14). "Volta ó Israel para o Senhor" (Os. 14:1). O amor de Deus era um amor antigo: "Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho" (Os. 11:1). Promete cura e restauração: "curarei a sua infidelidade... serei para Israel como orvalho" (Os. 14:4, 5).

Israel, contudo não ouviu esta mensagem e foi destruído no ano 722 a.C., pelos

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Assírios.

DIVISÃO - O livro de Oséias é tradicionalmente dividido, segundo esta figura de casamento, em:

a) Separação: Israel, a esposa infiel - caps. 1 a 3 b) Condenação: Israel, a nação pecaminosa - caps. 4 a 13:8 c) Reconciliação: Israel, a nação restaurada - caps. 13:9 - 14:9

No entanto podemos dividi-lo também segundo os três elementos contidos na mensagem profética (vide introdução aos livros proféticos).

a) Advertências contra o pecado - Juízo: caps. 1 a 3,4 a 10, e 13 "Eu castigarei a todos eles". b) Convite ao arrependimento: caps. 11,12,14:1-3; 6:4-6 e 2:19. c) Revelações escatológicas: caps. 14:4-9 “Israel florescerá como o lírio”.

COMENTÁRIOS

1 - Oséias dirige sua profecia a Israel, ou seja, às 10 tribos do reino do Norte após a divisão ocorrida no ano 931 a.C. (I Rs. 12). Algumas vezes ele chama Israel de Efraim, porque esta era a mais importante tribo entre as 10 que compunham o Reino do Norte (Os. 3:1; 4 e 5; 5:3 e 11 - 14). Anuncia com toda a clareza, o destino em breve do povo a ser submetido aos assírios (Os. 11:5).

2 - A imagem de esposa e marido, noivo e noiva é comumente usada por Deus em Sua Palavra, é uma figura rica que fala entre outras coisas de: complementação, ajuda, proteção, sustento, carinho, amor, fidelidade, dependência, relação prazerosa etc ... Veja: Is. 62:5; Jr. 3:14; Ef. 5:31-33; Ap. 19:6-8; Ap. 21:2, 9 e 10; Jo. 3:28 e 29; Lc. 5:34 e 35; Mt. 25:1-13.

3 - Oséias é contemporâneo de Miquéias e Isaías. Enquanto Oséias falava ao reino do Norte (Israel), Miquéias e Isaías falavam ao reino do Sul (Judá). Os três profetas eram sucessores imediatos de Amos, profeta ainda vivo na ocasião, que fora chamado por Deus para falar ao reino do Sul e reino do Norte. ""Mais de 100 anos depois, Jeremias é levantado no reino do Sul com o mesmo significado profético que Oséias teve para o Norte. Ambos falaram a um povo reincidentemente pecador, distante de Deus, ouvidos fechados, corruptos moral, social e espiritualmente, alertando-os para o iminente juízo de Deus, que se deu para o Norte (Assíria 722 a.C.) e para o Sul (Babilônia 586 a.C.) nos últimos dias de vida desses profetas.

4 - A palavra profética "do Egito chamei meu filho" (Os. 11:1)

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Joel

NOME - Joel significa "Jeová é Deus".

AUTOR - É o profeta Joel, filho de Petuel, falando ao reino do Sul, Judá (1:1 e 3:1). Provavelmente tenha sido criança no tempo dos ministérios de Elias e Eliseu.

DATA DA ESCRITA - O tempo em que profetizou e escreveu, não aparece revelado em seu livro, mas acredita-se estar em tomo do ano 830 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - Como dissemos, o tempo preciso de sua palavra e ministério é desconhecido, sabe-se pelo texto que foi logo após uma praga de gafanhotos que assolou a terra. Presume-se que tenha sido durante o reinado de Joás (II Rs. 11:4 a 12:19; II Cr. 23 e 24) porque:

a) Joás subiu ao trono com seis anos de idade, e neste tempo, na prática, o povo foi governado pelo sumo-sacerdote Joiada. Joel não fala de nenhum rei em Judá.

b) Neste tempo os impérios Assírio, Babilônico e Persa, não existiam como tal, e não aparecem citados como inimigos no texto de Joel.

c) Faz referência ao vale de Josafá (3:2), recente rei bom, morto próximo àquela época. Seu ministério profético deve ter se dado entre 840 - 825 a.C.

VERSO-CHAVE - É o 1:15 - "Ah! que dia! porque o dia do Senhor está perto, e vem como assolação do Todo Poderoso".

TEMA - O DIA DO SENHOR SERÁ TERRÍVEL COMO A PRAGA DOS GAFANHOTOS.

CONTEÚDO

A terra acabara de ser assolada por uma praga de gafanhotos que devorara toda a plantação, promovendo fome, seca e desemprego. Morriam o povo e os animais. O desespero era incomparável. Esta é a ocasião em que o profeta se levanta em nome do Senhor anunciando-lhes que a praga era juízo imediato ao estado de pecado e indiferença do povo para com Deus; era também símbolo do juízo final, do "dia do Senhor".

Joel é detalhado em sua mensagem descrevendo vivamente o que acontecera. Nós, seus leitores, acompanhamos seu relato como se contemplando o evento.

Nada antes assim havia acontecido (l: 2) e até mesmo os alienados bêbados sentiriam os efeitos da desgraça (1:5).

Não havia o que colher, o que plantar, o que comer ou mesmo oferecer no templo (1:9-12).

Os gafanhotos foram comparados a "um povo com dentes de leoa" (1:6), Isto é, na visão profética, mais do que a constatação do juízo imediato pela praga, é o anúncio de um juízo em futuro breve, por mãos dos Assírios cujo símbolo de seus exércitos era o leão.

O "dia do Senhor está perto" (1:15), vamos nos arrepender e jejuar (1:13 e 14).

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Novamente há aqui uma visão completa e complexa, pois o dia do Senhor é profeticamente um dia escatológico, o dia do juízo final, mas era naquela hora também o dia da praga de gafanhotos e o dia da invasão dos Assírios, dias estes onde o Senhor, em escala menor, manifestara e manifestaria o seu juízo.

Há um convite de Deus à conversão (2:12 e 13). Deus lhes promete então a restauração (2:21-27) incluindo aqui a promessa futura do

Pentecostes (2:28-32). Veja Atos 2:16. Haverá também juízo para as nações que cercavam e ameaçavam o povo de Deus, pois Deus é o Senhor do Universo e não somente de Judá (cap. 3).

DIVISÃO - O livro de Joel pode didaticamente ser dividido em três partes:

a) A praga de gafanhotos, o dia do Senhor hoje - cap. 1. b) A invasão Assíria, o dia do Senhor em breve - cap. 2: 1-27 c) O juízo final, o dia do Senhor escatológico - cap. 2:28 - 3:21

Segundo o conteúdo da mensagem dos profetas (vide capítulo 18 - introdução aos livros proféticos) poderíamos ainda dividir o livro da seguinte forma:

a) Advertências contra o pecado - Juízo - cap. 1 a 2:11 "Virá o terrível dia do Senhor" b) Convite ao arrependimento - cap. 2:12-27 "Rasgai o vosso coração" c) Revelação escatológica - cap. 2:28 - 3:21 Pentecostes, Graça Salvadora, Juízo final e Jerusalém Celestial.

COMENTÁRIOS

1 -As revelações messiânicas e escatológicas de Joel são: (Ap. 9:3, 7 e 8).

a) O Pentecostes - 2:28 e 29 - At. 2:16-21 b) Sinais do fim - 2:30 e 31 - Ap. 6:12-17 - Mt. 24:29 c) Salvação pela graça - 2:32 - Rm. 10:13 d) Juízo final - 3:1-17 - Ap. 20:11-15 e) A Jerusalém celestial - 3:18-21 - Ap. 21

2 - Joel recebe uma visão transtemporal, complexa, a qual nos transmite em seu livro. Vejamos:

a) Ele vê a praga dos gafanhotos, e sua devastação é enorme, patente aos seus olhos (1:4).

b) Imediatamente ele vê a praga como "um povo" poderoso e inumerável que tem dentes de leão (1:6).

Mais à frente ainda descrevendo a desgraça, fala de cavalos e cavaleiros, carros, fogo e combate (2:4-9).

Deus ao lhe consolar, fala que vai remover o "exército" que vem do Norte (2:20). Toda esta descrição encaixa-se perfeitamente na destruição iminente, que em breve

(alguns anos) sobreviria ao Reino do Norte por mãos do terrível e poderoso exército Assírio, o qual viria do Norte e possuía como símbolo o leão.

c) Na mesma visão ainda ele chora e lamenta pelo terrível "dia do Senhor" (1:15; 2:1;

2:11; 2:31; 3:14). O "dia do Senhor", dia do juízo do Senhor, de uma certa forma era mesmo o dia da

praga dos gafanhotos e o dia do juízo Assírio, alguns anos depois. Porém isto numa forma

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bem restrita. O profeta ao descrever este dia, o faz como um evento futuro e tão tremendamente

grande, que não se cumpriria apenas com a invasão Assíria, pois inclui acontecimentos universais (2:2; 2:10 e 11; 2:28-32). O "dia do Senhor" em sua versão completa e final envolverá todas as nações (3:1 e 2), e mudará a história do mundo (3:18-21).

d) É uma visão só, com elementos do presente (a praga) de um futuro próximo (a

invasão Assíria), de um futuro distante (o Pentecostes) e de um futuro escatológico (o Juízo Final).

Tudo porém visto a um só tempo, sem que o profeta discernisse espaços de tempo entre os eventos.

3 - A expressão "o dia do Senhor" tão freqüente na profecia de Joel, não é

exclusividade de sua mensagem, pois cerca de nove profetas falaram deste dia. O dia do Senhor, num sentido mais restrito é todo e qualquer dia, na história, onde o

Senhor faça uso de seu poder, soberania, glória e majestade, para executar justiça e juízo sobre os homens. Por isto, desta forma, a praga de gafanhotos e a invasão assíria, foram expressões locais do dia do Senhor.

No sentido mais amplo e completo, contudo, refere-se ao evento final onde o Senhor julgará todas as nações, segundo as suas obras. Alguns autores, contudo crêem que esta expressão refere-se ao juízo pré-milenário de Cristo.

Falam deste dia: a) Isaías - 2:12; 13:6 e 9 - Dia de assolação contra os soberbos. b) Jeremias - 46:10 - Como um dia de vingança contra seus adversários. c) Ezequiel - 13:5 e 30:3 - Como um dia de luta e espada, em especial contra os gentios. d) Joel - Como um terrível dia de destruição. e) Amos - 5:18 e 20 - Como um dia de trevas. f) Obadias - 15 - Como um dia de juízo e retribuição. g) Sofonias - l. / e 14 - Como um dia amargo. h) Zacarias - 14:1 - Como um dia de vingança de Deus contra os inimigos. i) Malaquias - 4:5 - Como um dia histórico, que será precedido da vinda do "profeta

Elias", na verdade João Batista.

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Amós

NOME - Seu nome significa "fardos" ou "quem carrega fardos".

AUTOR - O autor é o próprio Amós, que se apresenta como pastor, boiadeiro e colhedor de sicômoros (1:1 e 7:14). Até ser vocacionado não fazia parte do grupo de religiosos de Israel, já que não era profeta, filho de profeta, aluno da escola de profetas e nem mesmo sacerdote.

Ainda que com um linguajar rude, rural, direto, objetivo, seu estilo de escrita é belo e seu livro bem coordenado, com seções de mensagens marcadas pela repetição periódica de expressões tais como: "Assim diz o Senhor", "Ouvi a palavra" e "O Senhor Jeová assim me fez ver".

Natural de Tecoa, aldeia que ficava 20 Km ao sul de Jerusalém, e, embora morasse em Judá (Reino do Sul), é enviado a pregar em Betel, centro religioso de Israel (Reino do Norte).

É contemporâneo de Oséias, falando ao mesmo povo, quase ao mesmo tempo e sob o mesmo contexto. É interessante ler estes dois livros em conjunto.

Quando menino, deve ter conhecido Jonas, Eliseu e Joel. O final de seu ministério coincide com o início do ministério, no reino do Sul, dos profetas Isaias e Miquéias.

DATA DA ESCRITA - Provavelmente foi escrito entre 760-750 a.C., pouco tempo depois do terremoto que ele descreve em 1:1.

O terremoto aconteceu em 763 a.C., suas visões proféticas começaram dois anos antes, mas sua escrita deu-se logo após isto.

TEMPO DA AÇÃO - Amos declara que profetizou durante os reinados de Uzias em Judá, e Jeroboão II em Israel, isto significa entre 790-752 a.C. O terremoto que marca o início de seu ministério aconteceu em 763 a.C., e foi tão importante que até Zacarias refere-se a ele, quase 300 anos depois (Zc. 14:5).

VERSO-CHAVE - Há dois versos muito conhecidos neste livro e que sintetizam a ênfase do livro:

É o 4:12 - "Portanto assim te farei, ó Israel! E porque isto te farei, prepara-te, ó Israel para te encontrares com teu Deus". E o 5:24 - "Antes corra o juízo como as águas e a justiça como ribeiro perene".

TEMA - DEUS CONTRA A INJUSTIÇA SOCIAL

CONTEÚDO

O tempo do reinado de Jeroboão II é um tempo áureo no campo político e expansionista.

Israel está em paz, próspero, com seus pequenos inimigos circunvizinhos subjugados e sem ameaças de qualquer grande império mundial.

O contrário se dá em sua vida moral, espiritual e social. É um dos períodos negros de sua história. Ainda adoravam ao bezerro de ouro dedicado a Baal, desde o tempo de

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Jeroboão I, quando houve a divisão dos dois reinos - 931 a.C. (ver I Rs. 12:25-33), seus sacerdotes eram escolhidos politicamente (tal como o atual Amazias - Am. 7:10-17), corruptos, ladrões e hipócritas, os cultos eram mecânicos e vazios, os juizes eram subornáveis, os pobres eram oprimidos pelos ricos, havia adultério e promiscuidade, tudo realizado por um povo que se chamava "Povo de Deus".

Como havia paz e prosperidade econômica, eles se achavam protegidos do Senhor e isentos de qualquer juízo condenatório. Deus então levanta um insuspeito não profeta, não religioso, no reino do Sul, com visões simbólicas, e o envia a Israel.

Amós vai parar no centro religioso corrupto do reino do Norte, Betel (IRs 12:25-33), e ali começa a entregar suas mensagens.

Sabiamente reúne auditório em torno de si mesmo, ao iniciar suas palavras de juízo contra as nações inimigas (cap. 1 e 2:1-3). O auditório aumentava e vibrava. Logo depois invocou juízo de Deus contra o vizinho reino do Sul, Judá (cap. 2:4 e 5), até que inesperadamente dirige-se ante o grande e boquiaberto auditório, contra o próprio povo de Israel (2:6-16).

Amós é firme, objetivo e claro. De nada adiantou Deus ter sido bom para com Israel,

pois agora o juízo viria de forma dura e eles não resistiriam: "o mais corajoso entre os valentes fugirá nu".

Israel é sim nação escolhida (3:2) mas não para prevalecer-se disto e exercer idolatria, impiedade e injustiça, pelo contrário, Deus os responsabiliza ante o mundo para serem modelo e exemplo. O juízo virá (e veio pelos Assírios cerca de 40 anos depois) e de nada adiantará esconderem-se em seus palácios de verão ou fazendas de inverno, construídas com o dinheiro de roubo e exploração dos pobres (3:15).

As mulheres de Samaria estavam belas, fortes, gordas tais como, as vacas tratadas no monte Basã (4:1), mas tão irracionais quanto elas.

Preparem-se para o juízo, no encontro com seu Deus! (4:12) Vós que praticais a injustiça social, buscai a Deus, em verdade e sinceridade para que

vivais (5:4-14), Deus estava enojado de cultos hipócritas de um povo que era idólatra e opressor do pobre. De que vale um culto sem a respectiva vida que cultua no cotidiano? (5:21-27)

O juízo virá inevitavelmente (cap. 6). Deus dá a Amós uma sucessão de cinco visões a respeito do iminente juízo que lhes

traria por mão dos Assírios. Cada visão a ser relatada é iniciada pela expressão "O Senhor me fez ver". São as visões de 7: 1-3 (os gafanhotos); 7; 4-6 (o fogo); 7: 7-11 (o prumo); 8: 1-3 (o cesto de frutos) e 9: 1-10 (o Senhor junto ao altar).

Ao findar suas mensagens, o sacerdote e falso profeta Amazias, com autorização do rei Jeroboão II, expulsa Amós de Israel, mandando-o de volta à sua terra, Judá (7: 10-17).

Amós encerra seu ministério ali, anunciando um tempo de restauração ao final de tudo, é a mensagem messiânica de esperança (9:11-15). Os dispersos de Israel serão reunidos, Jerusalém será capital poderosa, haverá paz e prosperidade entre o povo de Deus.

Oséias e Amos falam quase ao mesmo tempo, ao mesmo povo, mas com ênfases distintas.

Oséias enfatiza o amor de Deus que foi traído pela idolatria, Amos enfatiza a justiça de Deus que se fará sobre seu povo, o qual em nome de Deus, oprimia os pobres.

DIVISÃO - O livro pode didaticamente ser dividido em: a) Juízo contra as nações - cap. 1 e 2 b) Juízo contra Israel - cap. 3-9:10 c) A restauração de Israel - cap. 9: 11-15

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Mas também de acordo com os três elementos que aparecem na mensagem profética, segundo os apresentamos na introdução aos livros proféticos, podemos dividir Amós em:

a) Advertências contra o pecado - Juízo - cap. 1; 4:11; 5:16 e 9:10 "Oprimis os pobres e

esmagais os necessitados." "Levantarei contra vós uma nação que os oprimirá." b) Convite ao arrependimento - cap. 4:12 e 5:15. "Buscai a Deus e vivei." c) Revelação messiânica e escatológica - cap. 9: 11-15 "A Israel celestial".

COMENTÁRIOS 1- O tempo histórico de Jeroboão e Uzias aparece relatado em II Rs. 14:23-29 e II Cr. 26. Este tempo de paz e prosperidade fez parecer loucura aos olhos do povo a mensagem de juízo iminente trazida por Amos. A Assíria, em 722 a.C., entretanto fez cumprir-se o juízo anunciado.

2 - A grande ênfase de Amos era contra a injustiça social, a exploração do pobre, efetuada por um povo que trazia o nome de Deus: 2:6 e 7; 3:15; 5:11 e 12; 5:24; 6:3-7; 8:4-7. Ser povo de Deus não atenua responsabilidades, pelo contrário, as aumenta, e não nos isenta de prestarmos conta de nossos erros (5:21-24 e 6: 3-6).

3 - As visões de juízo de Amos são esclarecedoras: a) Não virá pela fome (7:3). b) Não virá pelo fogo (7:6). c) O juízo é inevitável, contudo (7:8 e 9). d) O tempo do juízo é chegado, a nação está madura para ele, como os frutos (8:2). e) O povo será disperso por toda a terra (9:9).

4 - Amós fala do "dia do Senhor" (5:18), como um dia de trevas.

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Obadias NOME - Obadias, significa "servo de Jeová". AUTOR - O autor é o próprio profeta Obadias, contemporâneo de Jeremias. DATA DA ESCRITA - Em torno de 586 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - A profecia é uma visão dada ao profeta, a respeito do futuro reservado ao vizinho reino de Edom, nos dias da invasão e destruição de Jerusalém através dos caldeus liderados por Nabucodonosor.

VERSO-CHAVE - É o 21- "Salvadores hão de subir no monte Sião para julgarem o monte de Esaú; e o reino será do Senhor." TEMA - O FIM DE EDOM CONTEÚDO Este livro é uma profecia de um só capítulo, é o menor livro do Velho Testamento. Estamos no ano 586 a.C., o povo de Deus agora se resumia ao reino de Judá, pois o reino de Israel ao Norte havia sido dispersado pela Assíria em 722 a.C.

Apesar das recentes advertências de Jeremias, o povo de Judá não muda seus maus caminhos e é cercado e invadido pelos babilônicos, exército de Nabucodonosor. Derrubam as muralhas, invadem as casas, saqueiam e seqüestram famílias, pisoteiam crianças, matam pessoas, arrasam plantações, pilham bens, destroem o sagrado templo do Senhor. Levam tudo e todos cativos para a Babilônia, deixando apenas naquela terra desolada os aleijados, os loucos e os velhos. Jeremias fica entre eles compondo suas Lamentações.

Nesta terrível invasão, os babilônicos contam com a inesperada ajuda do pequeno vizinho de Judá, o inimigo reino de Edom.

Edom presenciou o cerco e ajudou a invasão (v. 11), alegrando-se com isso (v. 12), colaborando na pilhagem (v. 13 e 14) e na entrega dos fugitivos (SI. 137:7 e Lm. 4:21).

Judá é desolado, angustiado, entristecido e arruinado, enquanto em Edom havia alegria, júbilo, orgulho, festa, sensação de vitória.

Neste contexto Deus levanta Obadias com uma visão sobre o juízo de Deus vindo contra Edom. Aquele comportamento enchera a taça da ira do Senhor. "Assim diz o Senhor Deus a respeito de Edom: Eis que te fiz pequeno entre as nações; tu és mui desprezado... tu serás exterminado para sempre..." (2,10). A rixa entre Edom e Judá era bem antiga e remonta às origens dos povos, já que Edom é descendência de Esaú, e Judá é descendência de Jacó. Obadias tem em mente esta história dos antepassados, pois freqüentemente chama Esaú a Edom, e Jacó a Judá (6, 8, 10, 17- 19). Antes do evento de 586 a.C., muitas outras intrigas e guerras entre eles já houvera: 1406 a.C. (Nm. 20:14-21); 992 a.C, (II Sm. 8:13); 860 a.C. (II Cr. 20); 847 a.C. (11 Cr. 21:8); 845 a.C. (II Cr. 21:16 e 17); 785 a.C. (II Cr. 25: 11 e 12); 735 a.C. (II Cr. 28:17).

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Deus não suportava mais nada de Edom, em especial por causa da traição desta hora. Edom era pequeno, mas aparentemente inexpugnável, pois estava localizada numa cadeia de montanhas e sua capital Sela (ou Petra) era inacessível como um ninho de águia, sua única entrada era um desfiladeiro de dois quilômetros entre penhascos de 200 metros de altura. Orgulhava-se de seus homens, eram valentes e sábios.

Pois a mensagem de juízo do Senhor começa por desprezar toda esta arrogância geográfica e humana (veja os versos 3, 4, 8 e 9), anunciando-lhes o juízo por mãos dos seus próprios aliados (7) que lhe saqueariam mais do que necessitariam (5 e 6). Tal ocorreu inicialmente pêlos babilônicos cerca de cinco anos depois desta profecia, e pêlos árabes em torno de 70 A.D., a quem aliaram-se na destruição que os romanos efetuaram sobre Jerusalém no mesmo ano 70 A.D..

O profeta termina fazendo uma comparação surpreendentemente, diante do contexto daquela hora, favorável à Judá e desfavorável a Edom.

O dia do Senhor virá e será dia de retribuição (15). O monte Sião, monte sagrado de

Judá, será monte de vitória, de libertação, e o monte Seir, monte de Edom, será destruído. A casa de Jacó será chama, fogo, e a casa de Esaú será cinzas, restolho (18). Os agora desalojados terão suas terras, mas os atuais alegres edomitas deixarão de

existir e então o reino será do Senhor (19 a 21).

DIVISÃO - Podemos dividir o livro em duas partes:

a) Juízo sobre Edom - vs. 1-16 b) Livramento de Sião - vs. 17-21

Mas se quisermos podemos ainda, segundo os elementos contidos na mensagem profética, dividir Obadias assim:

a) Juízo - vs. 1-16 b) Revelação escatológica - vs. 17-21

Obadias, assim como Habacuque, Jonas e Naum, são profecias dirigidas a povos

pagãos.

1 - Não há unanimidade quanto à data de 586 a.C. para a profecia de Obadias. Grande parte dos estudiosos acredita que esta invasão e pilhagem de Edom, é datada de 845 a.C., junto com a invasão pêlos filisteus, segundo descrição de II Cr.21:16 e 17.

Argumentam a este favor: a) O livro está colocado no cânon, junto aos profetas mais antigos, dentre os profetas

menores. b) Obadias não fala de uma destruição completa e exílio. c) Obadias é citado em Jr. 49:7-22, o que o faz necessariamente anterior a Jeremias.

Nós, contudo, nos posicionamos ao lado da maior parte dos estudiosos que situa Obadias em 586 a.C.

2 - O início de toda esta rixa e desgraça foi um problema familiar na casa de servos de Deus. Jacó era o filho preferido de sua mãe Rebeca e Esaú o preferido do pai Isaque. Além das preferências, há a agravante de que os pais deixaram isto ser percebido e

tramaram em favor dos seus filhos. Leia com atenção os textos de Gn. 25:19-34 e Gn.27.

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A ira e amargura fizeram morada no coração de Esaú, de tal forma que contaminou toda a sua descendência. Leia Hb. 12: 15-17.

Até Herodes que era edomita ou idumeu, descendente, portanto de Esaú, perseguiu Jesus, ao tornar-se rei da Judéia, imposto ali pelo Império Romano.

3 - Os fatos, a aparência visível das coisas, não são a única realidade para os que crêem no Senhor.

Em 586 a.C. os fatos apontaram a desgraça, a destruição total, o desterro, o cativeiro de Judá, e a vitória, o júbilo de Edom. Mas aquela não era úItima palavra, Deus anunciou por Obadias que Judá teria seu monte Sião de volta e possuiria suas herdades; quanto a Edom seria banido da história eternamente.

Naquela hora tudo isto parecia loucura, mas era a palavra de Deus. Tal se Cumpriu e hoje nada mais de Edom se conhece.

A última palavra vem da boca do Senhor, pois os fatos espirituais (invisíveis) são tão reais quanto os de concretude material (visíveis).

4 - Contemplar a desgraça era terrível para Obadias, porém mais terrível ainda constatar a aparente vitória do ímpio.

Deus, contudo não é amoral ou omisso e vem anunciando a justiça. Veja 73 e o SI. 37. Deus por vezes usa uma temporária vitória do ímpio e fracasso do justo, com fins

didáticos e disciplinares. . Veja: II Co. 4:8-11, 17 e 18; Tg. 1:2-4; Hb. 12: 11-23 e I Pe. 1: 6 e 7.

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Jonas

NOME - Seu nome significa "pombo" e este é na verdade o melhor símbolo para o seu ministério profético, levando uma mensagem de paz à Nínive, capital da Assíria.

AUTOR - O autor é o próprio Jonas embora o livro esteja escrito na terceira pessoa. É um personagem verdadeiramente histórico, e não fictício ou simbólico. É filho de Amitai (1: 1 e II Rs. 14:25-27), morador de Gate-Hefer, aldeia situada mais ou menos a três quilômetros à nordeste de Nazaré, em Israel, reino do Norte.

DATA DA ESCRITA - Em torno de 770 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - Jonas viveu e ministrou no tempo do rei Jeroboão II entre 790 - 770, de acordo com II Rs 14:25. Falou-lhes da misericórdia de Deus para com eles e que o Senhor lhes concederia prosperidade. Além de profetizar estas coisas ao povo de Deus em Israel, Deus o levou a entregar uma mensagem de arrependimento e paz a Nínive.

Provavelmente no seu retorno, ao final de seu ministério, ele escreveu este livro como uma lição a Israel. É bom destacarmos que este livro foi escrito para o povo de Deus, embora o seu conteúdo relate o ministério de Jonas em Nínive. Foi pensando em seu povo, e nas lições que aqueles acontecimentos podiam lhes trazer que Jonas, pela ordenança de Deus, escreveu sua história.

VERSO-CHAVE - É o 3:2 - "Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive, e proclama contra ela a mensagem que eu te digo”.

TEMA -A MISERICÓRDIA DE DEUS.

É uma rica ilustração no Velho Testamento ao texto de Atos 11: 18.

CONTEÚDO Nos dias do rei Jeroboão II havia paz e prosperidade política em Israel. Israel se expandia e não se sentia ainda ameaçado pela Assíria, que era o grande império mundial, e um inimigo potencial de todas as pequenas nações.

Jonas era profeta de Deus em Israel e falava bastante da misericórdia, de Deus (II Rs. 14:25-27).

Chegou o momento de Deus testar a visão que Jonas tinha desta misericórdia, e o envia a pregar arrependimento em Nínive, capital da Assíria, e eles não se arrependessem Deus os destruiria. Jonas bem consciente da vontade de Deus, objetiva e claramente apresentada, foge, provavelmente desejando que o juízo logo se manifestasse contra o grande e terrível império Assírio. Uma visão estreita e preconceituosa, de um Deus local e particular, que não ama e não tem planos para mais ninguém que não Israel.

"Que me importa eles?” Deus se importa.

Fora da vontade de Deus o homem só desce, à Jope (1:3), ao navio, ao porão do navio (1:5), ao fundo do mar (1:15) e ao ventre do grande peixe (1:17).

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Lá, ele após 3 dias de reflexão, descobriu-se fugitivo de Deus e portanto desgraçado. Clamou por socorro e o peixe o devolveu à praia.

Deus não mudara de planos e o vocaciona com a mesma mensagem; Jonas levantou-se e foi.

Sua mensagem era curta e simples, atravessando a enorme, bela, importante e cosmopolita Nínive, com a frase: "Ainda quarenta dias e Nínive subvertida". Era mesmo uma palavra de Deus, pois imediatamente toda a cidade converteu-se desde o povo até as mais altas autoridades (cap. 3). Deus não os destruiria mais. Mas Jonas desgostou-se e ficou irado (4:1). "Eu sabia que és Deus clemente e

misericordioso!". Enquanto ele resmungava, Deus fez subir uma planta que o abrigou com sombra, e o

alegrou sobremaneira (4: 5 e 6), mas no dia seguinte mandou um verme destruir toda a planta (4:7).

Novamente Jonas desgostou-se, porque a agradável plantinha que lhe servia, morreu precocemente. Deus completa sua lição, comparando seu sentimento humano e imperfeito por uma plantinha, com a compaixão e misericórdia divinos por todas as suas criaturas (4:8-11).

Um servo de Deus deve ter como objetivo de vida, alcançar os perdidos com a mensagem da graça salvadora de Deus, mediante o arrependimento sincero. Quaisquer que sejam os nomes, endereços ou aparências destes perdidos. A graça e o juízo de Deus são para todos.

DIVISÃO - O livro é classicamente dividido segundo seus próprios quatro capítulos. a) Jonas fugindo - cap. 1 b) Jonas no peixe - cap. 2 c) Jonas pregando - cap. 3 d) Jonas exortado - cap. 4

COMENTÁRIOS 1 - Jonas e Adão são os dois personagens bíblicos mais inverossímeis aos olhos humanos naturais. Parecem ser alegorias e não história.

O que traz esta visão humana sobre o profeta Jonas é a riqueza de milagres sobrenaturais que seu curto livro apresenta:

a) A tempestade súbita por estar ele no navio fugindo de Deus. b) A tempestade que cessa ao ser ele arremetido ao mar. c) O grande peixe que o engole vivo. d) Sua permanência vivo no ventre do peixe por três dias. e) O grande peixe obedecendo às ordens de Deus. f) Ser devolvido vivo pelo peixe, e pronto a profetizar. g) A conversão da idólatra Nínive, em sua totalidade, mediante a palavra de um desconhecido, de outra terra, com uma curta mensagem. Sua pregação não contou com solos de hino ao fundo, músicas comoventes, e nem rica e convincente oratória. h) A planta cresce em um dia. i) O verme obediente que providencialmente come aquela planta em um dia.

No entanto Jonas é verdade histórica, personagem real da história de Israel (Jn. 1:1 e II Rs. 14:25). Deus é pródigo neste livro em milagres, porém isto apenas consulta a sua vontade e seus propósitos, como Senhor dos céus e da terra.

2 - Jesus Cristo confirma a realidade histórica e a importância de Jonas, ao responder

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aos escribas e fariseus que lhe pediram um sinal que avalizasse suas afirmações. (Mt. 12:38-40)

Aponta Jonas, figura reconhecida pelos sábios da lei de Israel, como um tipo seu, dizendo que assim como Jonas esteve oculto três dias e três noites no ventre do peixe e de lá saiu vivo, com mensagem de vida, assim também aconteceria com Ele após sua morte. (Mt. 16:4). Jonas é tão histórico quanto Salomão (Mt.12:41, 42).

3 - Nínive era capital do império Assírio, ficava a quase 1000 Km de Israel, necessitando de uma viagem longa até lá, talvez cerca de três meses naquele tempo.

Era uma cidade rica, bela, idólatra, mantendo relações políticas e culturais com muitas outras nações.

Estava cercada e protegida por várias muralhas, cujas alturas chegavam a 30 metros e cujas larguras permitiam que três carros, lado-a-lado andassem sobre elas.

Sua gente era sensual, promíscua e adúltera; seus exércitos, cruéis e sanguinários. Dizem alguns autores, que ajudou a conversão de Nínive o fato de que um dos deuses

adorados naquela cidade era o deus Dagom, meio homem meio peixe, e que provavelmente acompanhava Jonas a informação de ter ele sido entregue àquela terra, vivo, de dentro de um grande peixe.

4 - É interessante o contraste entre os ministérios de Jonas e Jeremias. Jonas, contra a sua própria vontade, pregou durante pouco tempo, uma curtíssima

mensagem, e toda a cidade ímpia de Nínive imediatamente se converteu. Jeremias amando intensamente seu povo e ministério pregou, durante décadas, uma

insistente mensagem de arrependimento, e Israel não o escutou.

5 - A afirmação de 3:10, onde diz o texto que "Deus se arrependeu", deve ser entendida como uma figura de linguagem chamada "antropopatia". É a atribuição a Deus de sentimentos humanos.

Deus contudo é imutável em sua essência e em sua vontade, planos e propósitos (Nm. 23:19 e I Sm. 15:29).

Deus julga com equidade e não os condenaria, tal como afirmou a Jonas. É Jonas quem, ao verificar a misericórdia de Deus, afirma que o Senhor "mudara de idéia", arrependendo-se de seus intentos.

6 - A tradição judaica afirma que Jonas era o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado por Elias. (I Rs. 17:8-24) Não há provas bíblicas disto, mas cronologicamente isto seria possível.

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Miquéias

NOME - Miquéias significa "Quem é semelhante a Jeová?" - expressão que curiosamente aparece em Mq. 7: 18

AUTOR - O profeta Miquéias é o seu autor, morador da cidadela interiorana de Morastite, a 320 Km sudoeste de Jerusalém, na fronteira com a Filístia.

Era contemporâneo de Oséias e Isaías. Isaías pregava em Jerusalém, capital de Judá, entre os nobres e palacianos. Oséias

pregava ao Norte, em Israel e Miquéias entre o povo do Sul, porém sua mensagem dirigia-se tanto ao Norte (Israel) quanto ao sul (Judá).

DATA DA ESCRITA - Provavelmente entre 730 - 725 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - No verso um do primeiro capítulo, o profeta informa que seu ministério se deu durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, reino onde morava.

Este período compreende aproximadamente 750-700 a.C. Com certeza ele, assim como Isaías, presenciou a invasão Assíria e a destruição do

reino do Norte em 722 a.C., mas nada sobre isto é dito em sua profecia, pelo contrário, ele ainda está advertindo o povo, em Samaria (capital do reino de Israel) a respeito de seus pecados.

Por esta causa cremos que sua profecia neste livro situa-se um pouco antes do ano 722 a.C.

Por ser contemporâneo de Oséias e Isaías, e ter recentemente findado o ministério profético de Amós, sugerimos a leitura dos conteúdos referentes a estes livros, para melhor compreensão do contexto em que Miquéias profetiza.

VERSO-CHAVE - É o 6:8 - "Ele te declarou ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?" TEMA - O JULGAMENTO DE UMA LIDERANÇA CORROMPIDA CONTEÚDO

Miquéias vive e profetiza no reino do Sul, em Judá, mas sua mensagem se dirige a ambos os reinos que viviam momentos semelhantes, Samaria capital de Israel e Jerusalém capital de Judá.

Idolatria, prostituição, religiosidade hipócrita, e, sobretudo opressão aos pobres por graves injustiças sociais promovidas pelos líderes políticos e religiosos (2:1).

Deus não admite pecado de ninguém, sobretudo dos poderosos que oprimem os pobres, daqueles que receberam autoridade e poder, para dirigir e decidir, e, no entanto prevaricam em seus ministérios.

Miquéias é homem humilde, do povo, de formação não tão nobre, culta e palaciana

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quanto Isaías, e talvez por isto, embora contemporâneos, notemos diferenças em suas mensagens.

Isaías fala sobre os inimigos externos de Judá, estendendo a eles a palavra de juízo e condenando alianças políticas que contrariam o Senhor. Miquéias, no entanto desenvolve com obstinada objetividade uma palavra direta aos líderes de Judá e Israel, condenando as injustiças sociais e os pecados pessoais que trariam iminentes juízos sobre ambos os reinos.

Miquéias e Isaías, ao lado de suas palavras de juízo, anunciaram a vinda futura do Messias, o qual, no dizer de Miquéias, trará paz (5:5).

A lista de pecados condenados por Deus, segundo Miquéias era longa (2:1-3; 2: 9 e 11; 3: 1-3; 3: 9-11; 7: 2-7). O reino do Norte já estava condenado e sem possibilidade de cura (1:9), seu juízo, poucos anos depois, veio por mãos assírias. Esta contaminação atingira Judá (1:9), a qual seria levada para a Babilônia (4:10). A profecia é dada mais de 140 anos antes que tal fato viesse a acontecer.

Os falsos profetas recriminavam Miquéias, dizendo: "Não fale bobagens Miquéias" (2:6), mas ele respondia: "eu estou cheio do poder do

Espírito do Senhor" (3:8). "Tanto Samaria quanto Jerusalém serão destruídas e reduzidas a um montão de

pedras" (l: 6 e 7 e 3: 12). Miquéias chamava o povo a um diálogo com Deus. Se eles não aceitavam que eram

pecadores, que se apresentassem ante Deus, o Juiz, e defendessem sua causa (1:2; 5:1; 6: 1-8). Deus é misericordioso, um justo juiz, e os convida a uma sincera e verdadeira

conversão (6:8; 7: 18 e 19). Completa sua mensagem com o anúncio da vinda do Messias (5:2-5) o qual implantará um reino de paz e justiça sobre aqueles de Israel que permanecessem fiéis ao Senhor (2:12; 4:7; 5:7; 7:20).

DIVISÃO - Podemos dividir a profecia de Miquéias em três partes, seguindo suas naturais três seções, todas iniciadas pela conclamação: ouvi!, e encerradas por promessas:

a) Ouvi, todos os povos - 1:2 - 2:13 Trata dos pecados de Israel e Judá e anuncia por fim a promessa de livramento - 2: 12 e 13

b) Ouvi, líderes-3:1-5:15 Trata dos pecados, sobretudo da liderança corrupta; anuncia o Messias.

c) Ouvi, montes - 6: 1 e 2 - 7:20 Chama o povo para um confronto judicial, onde o fórum seria a própria criação. Anuncia por fim a restauração ao remanescente fiel.

Outra forma de dividirmos o livro, como temos feito com todos os livros proféticos, é segundo os elementos contidos na mensagem profética.

a) Advertências quanto ao pecado - Juízo - caps. 1 a 3 "Injustiças Sociais" b) Revelações messiânicas e escatológicas - caps. 4 e 5 "De ti me sairá o que há de

reinar" c) Convite ao arrependimento - caps. 6 e 7 "Um tribunal divino"

COMENTÁRIOS 1 - Certa vez, uma profecia de Miquéias salva o profeta Jeremias (Jr. 26: 10-19). 2 - É linda a verdade de que Deus bane de sua presença para sempre os nossos pecados confessados e deixados, lançando-os no fundo do mar (7: 18 e 19). 3 - Miquéias nos ensina que Deus não se deixa enganar por uma religiosidade de aparências, e nem requer de nós algo complexo e misterioso, mas:

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a) Vida prática, justa, coerente com a justiça Dele. b) Coração amoroso, compassivo e misericordioso no trato com o semelhante. c) Convivência e relacionamento, em humildade, diário com Deus. É a explicação do

texto 6:8.

4 - É Miquéias quem anuncia a cidade natal do Messias, servindo de bússola aos magos do Oriente para encontrarem e adorarem o Senhor Jesus (5:2 e Mt. 2:6),

5 - Aproveitar-se do poder, em qualquer uma de suas formas, para subjugar, injustiçar e oprimir o pobre é trazer sobre si a ira do Senhor. É a síntese mais objetiva da profecia de Miquéias.

E interessante o reforço desta lição com o anúncio Messiânico de que Ele viria de Belém, cidade pequena e aparentemente fraca (5:2).

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Naum

NOME - Naum significa "alívio", "conforto". Como entender isto se a ênfase de sua mensagem é de juízo e destruição para Nínive? Veja: 1:12 e 13. A destruição da Assíria, traria alívio e conforto para Judá.

AUTOR - É o próprio Naum, chamado "o elcosíta". Contemporâneo de Jeremias, Sofonias e talvez de Habacuque.

Naum devia ser natural da Galiléia, de uma cidadela posteriormente chamada "Cafarnaum" (cidade de Naum), e de lá teria fugido para Elcós que fica no Sul de Judá, isto por ocasião da invasão e destruição Assíria ao Reino do Norte. (722 a.C.)

DATA DA ESCRITA - Como não há datas marcadas na profecia de Naum, há grande dificuldade de precisarmos a data de sua escrita. Cada autor traz uma informação diferente sobre a data da escrita de Naum.

Podemos, no entanto estimá-la da seguinte forma: a) A profecia fala da futura destruição de Nínive, que se deu no ano 612 a.C., pelos

medos e babilônicos. b) Cita como exemplo o saque de Tebas, ou Nô- Amon, pelos próprios , assírios (3:8-

10), acontecido entre 661-663 a.C., c) Há na profecia um espírito de animação e festa, aparentemente verificado também

em Judá. Talvez isto se deva ao avivamento produzido pelo rei Josias quando o livro da lei foi encontrado. (621 a.C.)

Veja Na. 1:15 e II Rs. 22 e 23. Concluímos que a data deve estar entre 663 a.C. e 612

a.C., talvez próxima a 620 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - Como vimos acima, a profecia, provavelmente está se dando em torno de 620 a.C., e seu cumprimento, ou seja, a destruição da cidade de Nínive, se deu por mãos dos medos e babilônios em 612 a.C., após uma enchente que destruiu as muralhas que a cercavam. (1:8 e 2:6 e 8)

VERSO-CHAVE - E o 3:7 - "Há de ser que todos os que te virem fugirão de ti e dirão: Nínive está destruída; quem terá compaixão dela? De onde buscarei os que te

consolem?"

TEMA - A REVELAÇÃO DA JUSTIÇA DE DEUS.

Nínive nos dá na Bíblia a oportunidade de conhecermos dois maravilhosos atributos de Deus. Jonas é uma revelação da Sua Misericórdia, e Naum, da Sua Justiça.

CONTEÚDO A Assíria era o grande império mundial, expansão esta realizada através de invasões, saques, destruição cruel e sanguinária, corrupção e exploração das terras ocupadas.

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Pelo seu poderio militar, pela sua história e pela fortaleza quase inexpugnável de sua capital Nínive, a Assíria julgava-se invencível e indestrutível. Desafiava, enfrentava e vencia todos os pequenos povos que queria.

Após destruir o reino do Norte em 722 a.C., rumava para o Sul, e significava constante ameaça para o povo de Judá.

A Assíria e Nínive eram sinônimos de poderio, violência, crueldade, corrupção,

luxúria, auto-suficiência, impiedade e paganismo. Naum então é levantada por Deus com uma mensagem clara e objetiva que anunciava

o fim de Nínive, e o fazia de uma forma tão viva, tão bela, tão dinâmica, tão descritiva, tão detalhada, que seus ouvintes e nós seus leitores, parecemos estar presenciando os eventos.

Há poucos ensinos teológicos, morais ou religiosos em Naum, não há mensagens exortando Judá, mas é o anúncio de um grande momento onde a Justiça de Deus se revela intervindo na história, e este é um dos atributos mais belos e fundamentais (se é que podemos dizer assim) do Senhor.

Fica claro que há dois pecados condenados: o violento uso de seu poderio militar (2:8-

13); a corrupção e o comércio sem escrúpulos (3:1-5). Naum dirige-se a Nínive inicialmente e apresenta a sentença proveniente do tribunal

do Senhor, Deus de Israel e Senhor do Universo. (1:1) O Juiz é apresentado em todo o primeiro capítulo, como um Deus soberano, zeloso,

vingador, reto, longânimo e misericordioso (Nínive já provara isto com o ministério de Jonas), mas que não inocenta o culpado.

A seguir, após apresentar o juiz, Naum apresenta a sentença e descreve o seu cumprimento. O juízo viria por mãos dos medos (exército vermelho, 2:3) e babilônicos, após inundação que destruiria parte das inexpugnáveis muralhas (2:6). O Leão feroz (símbolo dos Assírios), fugiria atônito e apavorado. (2:11-13; 2:4, 5, 7-10). Há ironia em Naum, o que agrava a própria dor do juízo (2:1 e 3:5, 12-15), mas este era definitivo (3:19).

Uma fama, um império, com terror construído ao longo de séculos, dava à Assíria, ante o mundo, a imagem de alguém que simbolizava onipotência, injustiça, maldade e invencibilidade, até que o único e verdadeiro Senhor dos céus e terra, o Santo e Justo Juiz, Soberano Deus, bate o martelo em seu tribunal e decreta a chegada de seu tempo do fim,

DIVISÃO - Didaticamente poderíamos dividir o livro em duas partes:

a) O Senhor é o Justo Juiz - cap. 1 b) O Justo Juízo do Senhor - caps. 2 e 3.

COMENTÁRIOS 1 - A Assíria foi por cerca de 500 anos um dos maiores impérios do mundo antigo, e um terrível flagelo para as pequenas nações. E considerado por muitos, o mais poderoso e implacável inimigo que o povo de Deus já teve.

Ela aparece citada em dez dos livros dos profetas do A.T., sempre advertida ou condenada por sua impiedade.

Nínive era cidade fortaleza, cercada por muralhas de 100 Km de circunferência e 30 metros de altura com largura suficiente para que três carros andassem lado a lado sobre elas.

Havia ainda um fosso de 40 metros de largura por 30 metros de profundidade guarnecendo as muralhas.

2 - Os últimos três reis conhecidos da Assíria foram:

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- Senaqueribe - o qual afirmou após chegar de uma de suas cruéis jornadas: “Varri esta terra como um furacão, devastei 34 cidades queimando-as com fogo, a fumaça delas obscureceu o céu". E o personagem de graves momentos de cerco e opressão ao povo de Judá em I Rs. 18:13-37 e 19:1-20.

- Esar-Hadom - Deus refere-se a ele em Is. 19:4, como "um senhor duro, um rei feroz". - Assurbanipal - declarou que rasgou os lábios e as mãos dos reis

inimigos, pondo arreios em três reis capturados, obrigando-os a puxar seu carro de guerra.

3 - A alegria e o júbilo de Naum ante a destruição de Nínive não eram apenas fruto da contemplação da derrota de um aterrorizante inimigo, mas, sobretudo fruto de vitória da Santidade do Deus Todo-poderoso.

O profeta não era apenas um nacionalista vingativo, mas alguém comprometido com a causa do seu Senhor cuja santidade e justiça ansiava ver vitoriosa sobre a tirania desumana de um reino pagão que pisoteava brutalmente as nações súditas e se ufanava de sua crueldade.

Naum podia, pelo Espírito Santo, discernir que aquele castigo era a operação da justiça de Deus.

4 - O profeta Joel, ao contemplar a devastação produzido pela praga de gafanhotos na terra de Judá, anuncia profeticamente a invasão Assíria ao Reino do Norte, fato que efetivamente aconteceu no ano 722 a.C..

Há uma correlação de figuras entre os gafanhotos, insetos reais, e o exército de homens assírios, tão devastadores quanto os gafanhotos.

Contudo, Joel os apresenta também como leões, simbolizando o exército Assírio. Veja Joel 1:4-7; 2:4-8 e 20. Agora Naum ao dirigir-se ao povo Assírio novamente usa a linguagem figurada,

chamando-os de gafanhotos (3:15-17), embora sabendo-os representados pelo leão (2:11- 13).

5 - Ainda que a conversão tivesse vindo sobre Nínive quando Jonas ali esteve (Jn. 3:10), ela não permaneceu, e cerca de 150 anos depois chega esta palavra de juízo.

Deus lhes assegura que não haverá deles descendência (Na. 1:14), e a verdade é que Nínive hoje é só ruínas.

Quando Alexandre o Grande esteve ali perto em 331 a.C., nem sabia que houvera ali uma cidade, tal a ausência de vestígios.

6- Naum e Obadias são dois livros proféticos, cujas mensagens exclusivamente dirigem juízo a povos pagãos.

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Habacuque

NOME - Habacuque significa "abraçar" ou "abraçado".

AUTOR-É o profeta Habacuque (1:1 e 3:1), contemporâneo de Jeremias e Obadias (talvez também de Naum).

DATA DA ESCRITA - Aproximadamente 607 a.C..

TEMPO DA AÇÃO - Habacuque está assustado com a proximidade dos caldeus e suas ascensão militar (1:6). É um tempo de violência e graves pecados em Judá. (1:2-4). Não há nenhuma referência aos Assírios, mas juízo também é anunciado contra os caldeus (2:6- 20). Historicamente falando, os caldeus (Babilônicos) haviam destruído Nínive, a capital da Assíria em 612 a.C. Por volta do ano 609 a.C., o rei Josias, de Judá, é morto, e grave conturbação política, social e espiritual isto causou em Judá. No ano 605 a.C., a Babilônia marchou sobre Jerusalém e cercou o reino de Judá. Habacuque deve estar presenciando tudo isto e sua profecia, está certamente entre 605 e 609 a.C., ou talvez no tempo do próprio cerco.

VERSO-CHAVE - É o 2:4: "... mas o justo viverá pela fé”.

TEMA - O "OUT-DOOR" DIVINO: O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ. CONTEÚDO

A Assíria caíra ante a Babilônia em 612 a.C., o Egito fora derrotado pela mesma Babilônia em 605 a.C., e agora o rei Nabucodonosor marchava para cercar o povo de Deus em Judá.

Internamente, os problemas não eram menores, Josias morrera, suas reformas e avivamento não atingiram efeitos profundos e prolongados, e o iníquo rei, Jeoaquim assumira o trono (II Rs. 23:31-24:9). Judá estava às voltas com graves pecados sociais e espirituais.

Jeremias profetizava sem ser ouvido. A derrota do reino do Norte, subjugado pela

Assíria (também por causa de pecados) 120 anos antes, em nada convencera o reino do Sul a rever seu comportamento.

Em meio a tudo isto o profeta Habacuque ergue-se orando e dialogando com o Senhor. Faz perguntas difíceis e espera respostas.

Não conseguia conciliar sua fé com os fatos que presenciava. Por que Deus não ouvia aos seus clamores? (1:2) Violência, injustiça, idolatria em Judá, sem intervenção divina? Deus lhe respondeu dizendo que agia e agiria de uma forma tão maravilhosa, que

eles não creriam ao lhes ser contado (1:5). Deus estava trazendo os caldeus sobre eles como manifestação de juízo (1:6). Esta resposta perturba ainda mais o profeta.

Por que Deus, santo, usa instrumentos iníquos? (1:12 e 13) Pôs-se a aguardar resposta. (2:1) Deus é o Senhor do Universo, e dispõe, e usa, quem quer, como quer, para o fim que

desejar. Os caldeus também teriam o seu juízo. O ímpio não prosperará para sempre, e quanto ao justo, este viverá pela fé. (2:2-20)

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O justo não vive pelo que vê, não se pauta pela aparência das coisas, não tem também em suas mãos o poder de decidir e solucionar seus problemas, sobretudo precisa andar e viver pela fé no Senhor, seu criador, mantenedor e salvador.

Habacuque entende as respostas e ora cantando, (ou canta orando?), Deus é o Senhor do Universo e faz cumprir os seus propósitos. O justo confia, espera, pela fé, na salvação do Senhor (3:13). A passageira luta, a momentânea dificuldade, não podem abater aquele que faz do Senhor sua fortaleza (3:17-19).

DIVISÃO - Podemos dividir a profecia de Habacuque em cinco partes:

a) a primeira pergunta do profeta - 1:1-4 b) a primeira resposta de Deus - 1:5-11 c) a segunda pergunta do profeta - 1:12-17 d) a segunda resposta de Deus - capítulo 2 e) a oração de Habacuque. - capítulo 3.

COMENTÁRIOS

1 - O juízo sobre os caldeus, anunciado por Habacuque cumpre-se aproximadamente 70 anos depois, através dos medos e persas (539 a.C.).

2 - Naum e Habacuque são seqüenciados em nosso cânon; anunciam juízo final para os dois maiores impérios mundiais de então, os quais foram executores do juízo de Deus sobre o seu próprio povo.

A Assíria trouxe juízo sobre Israel, o reino do Norte, em 722 a.C. e Naum anuncia o seu fim.

A Babilônia trouxe juízo sobre Judá, o reino do sul, em 605 a.C., 597 a.C, e por fim 586 a.C.

Habacuque profetiza juízo sobre eles.

3 - O verso chave deste livro, 2:4, é "o justo viverá pela fé". Ele foi citado por Paulo em sua doutrina de justificação nas cartas aos Romanos (1:17), aos Gálatas (3:11); e pelo autor da carta aos Hebreus (10:38).

Neste texto também, Lutero encontrou inspiração para a Reforma Protestante.

4-Textos belíssimos de Habacuque são: 1:5; l: 12 e 13; 2:1, 2 e 4; 2:14; 2:20; 3:2; 3:17-19.

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Sofonias

NOME - Sofonias quer dizer "Jeová guardou" ou "Jeová escondeu", e em meio a palavras fortíssimas de juízo e condenação, Deus anuncia ter guardado para si um remanescente fiel (3:12, 13 e 15).

AUTOR - É o profeta Sofonias, trineto do rei Ezequias, vivendo e ministrando ao tempo do bom rei Josias (1:1). É contemporâneo de Jeremias e Naum.

DATA DA ESCRITA - Entre 630 - 625 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - Sofonias é profeta durante o reinado de Josias, que reinou entre 639 - 609 a.C. Dois fatos nos ajudam a estimar aproximadamente a data de sua mensagem:

a) Anuncia um futuro juízo contra Nínive, tal como Naum (2:13-15). Este juízo aconteceu em 612 a.C.

b) Faz ameaças contra os pecados de Judá, e sabemos que houve um reavivamento durante o reinado de Josias, logo após ser reencontrado o livro da lei do Senhor, na reforma do templo (II Rs. 22 e 23 - 621 a.C.).

Assim Sofonias deve estar profetizando logo no início do reinado de Josias, em seqüência aos péssimos e pecaminosos reinados dos antecessores Manassés e Amom.

VERSO-CHAVE - É o 1:14 - "Está perto o grande dia do Senhor, está perto e muito se apressa. Atenção o dia do Senhor é amargo e nele clama até o homem poderoso." TEMA - JUÍZO CONTRA A APOSTASIA: ESTÁ PERTO O DIA DO SENHOR CONTEÚDO Sofonias se levanta num dos períodos mais negros da história de Judá.

Israel, ao Norte, havia sido dizimado pela Assíria por causa de seus pecados, há quase 100 anos.

Isaías e Miquéias já haviam se calado há 70 anos. Mas nada fizera o reino de Judá demover-se de seus maus caminhos, caminhos estes precipitados ainda mais pelos seus dois últimos reis, os piores reis de Judá, Manassés e Amom.

Idolatria, sincretismo religioso, sacrifícios infantis a Moleque, prostituição, opressão aos pobres, falsos profetas, sacerdotes ladrões, e tudo o de pior que se possa pensar.

Tudo isso se reflete na mais dura e objetiva profecia de juízo dos profetas menores, a de Sofonias. Veja o capítulo 1 e o 3: 1-7.

Sofonias anuncia, tal como Joel, a vinda do "dia do Senhor" Cl.7, 14; 2:2). Dia de juízo, de angústia e desolação. De uma certa forma seria o dia da invasão babilônica, será o dia da grande tribulação, será o dia do juízo final.

O juízo do Senhor não virá apenas sobre o seu povo, mas estender-se-á aos vizinhos pagãos também (cap. 2).

No que se refere à Nínive, suas palavras assemelham-se à profecias de Naum (2:13-15

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e Na. 2:10; 3:19). Faz um convite ao concerto com Deus, valendo-se do recurso do significado de seu

nome "Jeová escondeu" (2:3). Conclui sua mensagem profetizando a restauração futura de Israel. O remanescente

voltará a Sião, e a beleza das palavras parece não limitá-las aos sobreviventes do cativeiro babilônico, mas à Israel final que terá Cristo sobre seu trono reinando em grande glória (3:8-20). Leia este trecho e veja a beleza das suas palavras e promessas.

Veja também Romanos 11:15 e Isaías 1:9.

DIVISÃO - Podemos didaticamente dividir o livro de Sofonias em três partes, segundo os três elementos que aparecem na mensagem dos profetas menores;

a) Advertências quanto ao pecado - Juízo - cap. 1-3:7 "Contra Judá e seus inimigos"

b) Convite ao arrependimento - 2:1-3 "Buscai o Senhor" c) Revelação escatológica - 3:8-20 "A Israel eterna"

COMENTÁRIOS 1 - Sofonias é como Joel, o profeta do "dia do Senhor". Esta expressão aparece algumas vezes também em outros profetas e refere-se a um tempo especial na economia divina, em que Ele mais nitidamente assume o governo do mundo e faz revelar sua glória, seu poder, sua soberania e seu juízo.

É contemporaneamente, o dia em que o Senhor manifesta seu juízo local como foi o da Assíria sobre o Reino de Israel, e o da Babilônia sobre o Reino de Judá.

Mas escatologicamente é, segundo alguns estudiosos, o dia da Grande Tribulação e do reinado milenar de Cristo. Para outros, será o dia do juízo final.

2 - Sofonias revela a ira do Senhor contra os pecados de falsas expressões de culto e religiosidade.

a) Adoradores de Baal (1:4) b) Adoradores de astros e estrelas (1:5) c) Sincretistas (1:5) d) Indiferentes, embora chamem-se povo de Deus (1:6) e) Os que julgam Deus fraco ou indiferente (1:12)

3 - Sofonias e Jeremias certamente foram inspiradores, com suas mensagens, às grandes reformas religiosas e avivamento promovidos pelo jovem rei Josias, que violenta e decididamente arremeteu contra a idolatria em seu reino (II Rs. 23:4-27).

4- Sofonias profetizou a conversão dos gentios e a possibilidade de Deus ser adorado em qualquer lugar, e não somente em Jerusalém, como criam os judeus (2:11 e 3:9).

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Ageu

NOME - Ageu significa "festivo" ou "minha festa". Seu nome deve estar ligado ao fato de ter nascido no dia de alguma festa dos judeus,

ou ao seu ministério que constou de estimular o povo a terminar a reconstrução do templo e reiniciar a celebração das festividades religiosas dos judeus.

AUTOR - É o profeta Ageu (1:1). Aparece várias vezes em seu próprio livro como o mensageiro de Deus (1:1, 3, 12, 13;

2:1, 10, 13, 14 e 20), e também em Esdras 5:1 e 6:14. A tradição afirma ter ele nascido na Babilônia durante o cativeiro, e veio para

Jerusalém após o retorno da primeira leva de judeus (537 a.C.), pois seu nome não aparece na lista de Esdras 2.

Era contemporâneo de Zacarias.

DATA DA ESCRITA - Sua mensagem aparece bem datada (l: l, 2: l, 2:10 e 20), e seu ministério se dá no segundo ano do rei Dario Histaspes, rei da Pérsia, Portanto no ano 520 a.C.

TEMPO DA AÇÃO - Após o decreto de libertação promulgado por Ciro em 537 a.C., a primeira leva de judeus retorna sob a liderança de Zorobabel, governador nomeado para Jerusalém (Esdras 2 e 3). Eles então iniciam a reconstrução do templo.

Esta reconstrução é interrompida (534 a.C.) pela ação ameaçadora dos samaritanos, os quais conseguem a chancela oficial para este impedimento, com o rei Cambises (529-522 a.C.).

Dario Histaspes sobe ao trono em 521 a.C., e só então o templo recomeça a ser reconstruído, com a interveniência de Ageu e Zacarias (Esdras 5:1 e 2, e Ageu 1:14 e 15)

A ação profética de Ageu vai de l de setembro a 24 de dezembro de 520 a.C.

VERSO-CHAVE - É o 1:4 - "Acaso é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas?"

TEMA - A RECONSTRUÇÃO DO TEMPLO CONTEÚDO A primeira leva do povo de Deus que volta do cativeiro, sob o comando do governador Zorobabel e do sumo-sacerdote Josué, contava apenas com cerca de 42 mil homens. Eram pobres e logo após iniciarem a reconstrução do templo com o lançamento de seus alicerces, sofreram oposição dos samaritanos. A resistência a esta oposição foi pequena, e seguiu-se a esta parada um desânimo completo, diante de toda sorte de dificuldades que encontravam.

Voltaram-se imediatamente então para seus interesses pessoais, em plantar, colher e construir suas próprias casas. Nisto investindo cerca de 14 anos (534-520 a.C.).

A princípio Deus os advertiu do pecado da negligência para com Sua casa através de secas, más colheitas e toda sorte de dificuldades econômicas (Ag. 1:2-11), mas eles não entenderam a mensagem, necessitando que o profeta fosse levantado com uma palavra de

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advertência, exortação e estímulo (Ag. 1:12). Era tempo de reconstruir totalmente o templo do Senhor. Cerca de um mês e meio depois (1:1 e 2:1), o Senhor volta a falar ao povo e aos líderes através do profeta Ageu. A causa desta nova mensagem era o fato de que a reconstrução pobre do segundo templo chocava, entristecia, desanimava aqueles que conheceram a majestade, riqueza, beleza e glória do primeiro templo erguido por Salomão, (ver Ed. 3:8-13).

O estímulo que o Senhor lhes dava era que não somente Ele estava entre eles (Ag. 2:5), como a glória do Senhor, o "desejado das nações" estaria naquela casa, profeticamente anunciando o Messias, o Senhor Jesus, como um dos freqüentadores daquele segundo templo. (Ag. 2:7-9)

Após três meses e meio de reinicio da reconstrução do templo o Senhor volta a falar-lhes, e a mostrar-lhes que a impureza do povo e o pecado do abandono da casa do Senhor. Eram causadores de juízo de Deus sobre eles (Ag. 2:10-19). Mas a partir da retomada, do novo ânimo, da priorização às coisas do Senhor, então o Senhor estava com eles (Ag. 2:19).

Neste mesmo dia, Ageu entrega uma mensagem ao governador Zorobabel, príncipe de Judá, pois era neto do rei Joaquim (ou Jeconias) que fora levado cativo por Nabucodonosor (II Rs. 24:10-12). Deus abalará os tronos dos reinos gentios (Ag. 2:21 e 22), e faz-lhe uma promessa: "Serás como um anel de selar". Sinal de autoridade e reconhecimento. Seu avô, descendente de Davi, o rei Joaquim (Jeconias) havia sido amaldiçoado por Deus, mas agora, na preservação da linhagem davídica, para a vinda do Messias, Zorobabel estava sendo restaurado e abençoado por Deus. Veja: Jeremias 22:24-30, Mt.1:11 e 12.

DIVISÃO - Há duas mensagens de exortação e advertência e três mensagens de ânimo e fortalecimento, poderíamos portanto dividir didaticamente o livro assim:

a) a primeira mensagem de exortação - cap. 1:1-11 b) a primeira mensagem de fortalecimento - cap. 1:12-15 c) a segunda mensagem de fortalecimento - cap. 2:1-9 d) a segunda mensagem de exortação - cap. 2:10-19 e) a terceira mensagem de fortalecimento - cap. 2:20-23.

COMENTÁRIOS 1 - Ageu é o segundo menor livro do Velho Testamento, só maior que Obadias,

2 - Ageu e seu contemporâneo Zacarias profetizam logo após o retorno do cativeiro. Ageu tem seu ministério bem curto, só quatro meses, enquanto Zacarias profetiza por cerca de três anos.

As mensagens de Ageu são curtas, mas poderosas, freqüentemente reforçados pela esclarecedora confissão de que suas palavras eram "assim diz o Senhor" (26 vezes nos seus 38 versículos).

3 - Embora a prata e o ouro pertençam ao Senhor (Ag. 2:8), este segundo templo era, materialmente, infinitamente mais pobre que o primeiro templo construído por Salomão.

No entanto a glória desta segunda casa seria maior porque "as coisas preciosas" ou numa melhor tradução, "o desejado das nações" (Ag. 2:7) estaria dentro daquele templo.

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Zacarias

NOME - Zacarias significa "Jeová se lembra". Sua mensagem para um povo desanimado ante tantas dificuldades é a de que o Senhor se lembra de seu povo e das promessas maravilhosas que fez para Israel.

AUTOR - Zacarias é o autor de seu livro profético. É sacerdote, filho do sacerdote Baraquias e neto do sacerdote Ido. Eles foram como sacerdotes, os maiores incentivadores da primeira leva que retornou à Jerusalém, do cativeiro babilônico, sob a liderança do governador Zorobabel. (Ne. 12:4 e 16).

Era jovem, nascido na Babilônia, e contemporâneo do velho profeta Ageu.

DATA DA ESCRITA - A maioria dos capítulos proféticos aparece datada, exceto os seis últimos, e assim podemos estimar a data da escrita entre 520 e 480 a.C. Veja: 1:1-1° de novembro de 520 a.C. 1:7 - 24 de fevereiro de 519 a.C. 7:1 - 4 de dezembro de 518 a.C. 9:13 - aproximadamente 480 a.C. quando a Grécia tornou-se o grande império.

TEMPO DA AÇÃO - Zacarias é contemporâneo de heróis bíblicos pós-exílicos como Ageu, Esdras, Neemias, o governador Zorobabel e o sumo sacerdote Josué.

Seu ministério é mais longo que o de Ageu, mas inicialmente profetizam concomitantemente, estimulando o povo a enfrentar as dificuldades que os desanimavam na obra de reconstrução do templo. (Ed. 4:24 e 5:1; 6:14) O templo foi terminado em 3 de março de 516 a.C. (Ed. 6:14 e 15). Este ministério junto ao templo, nitidamente termina no capítulo oito de Zacarias. A partir do capítulo nove, Zacarias não data mais suas profecias, mas elas tem como pano de fundo a expansão grega trazendo derrota aos persas e aos povos vizinhos de Jerusalém. Historicamente isto se dá entre 490-480 a.C.

VERSO-CHAVE - É o 9:9 - "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumento". Confira esta palavra com Mt. 21:1-11. TEMA - RESTAURAÇÃO

O profeta começa tratando da restauração do templo e conclui com a restauração a nação.

CONTEÚDO Zacarias volta na primeira leva do povo que vem do exílio babilônico e chega à Jerusalém em ruínas. O povo além das dificuldades próprias de uma reconstrução penosa e cansativa encontra oposição dos samaritanos (Ed. 4). Há desânimo e uma parada de cerca de 14 anos nas obras. Deus os adverte através de seca, calor, colheitas estéreis, e levanta os profetas Ageu e Zacarias (Ed. 5:1 e 6:14).

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Os primeiros oito capítulos de Zacarias tratam deste objetivo, a reconstrução do templo. Ele os está advertindo, mas ao mesmo tempo restaurando confiança própria e esperança. O povo se sentia fraco, impotente, desamparado. Zacarias investe aí quase quatro anos de ministério, de 520-516 a.C.

"Nem por força, e nem por poder, mas pelo Espírito" (4:6) Numa só noite (1:8) ele recebe oito visões, e as compartilha, sendo elas referentes a

assuntos diversos. (1:7 e 8; 1:18; 2:1; 3:1; 4:1; 5:1; 5:5 e 9; 6:1) Estas visões falam dos pecados de Israel, de suas derrotas, mas também da esperança

de restauração da nação, de seu papel mundial, do Messias que haveria de vir, da justiça de Deus que seria sobre todas as nações.

Este trecho da profecia se encerra com um ato simbólico muito lindo e significativo. Deus ordena a Zacarias que faça uma coroa com prata e ouro e a coloque sobre a

cabeça do sacerdote Josué (6:11). Neste ato Deus estava anunciando que o Messias, o Renovo, Jesus (o mesmo Josué no grego), reuniria em si mesmo os ministérios de sacerdote e Rei, ministrando a Deus em nome dos homens, sendo caminho para o Pai, e ao mesmo tempo reinando em glória, assentado sobre o trono eterno de Deus. (6:12-13). Desde que o pecado entrou na história humana, o poder humano, político e o poder espiritual, de representação divina, não puderam conciliar-se, até que Cristo pode reunir em si não somente estes dois, mas também o ministério profético. Jesus foi Profeta, Sacerdote e Rei, projeto de Deus para todo o homem, projeto frustrado pelo pecado.

Dois anos depois destas visões (7: 1) o profeta recebe uma comitiva (7:2 e 3) que vem consultar os sacerdotes sobre a necessidade e oportunidade de manterem a prática de jejuns por ocasião de suas festas comemorativas. Deus os surpreende perguntando se realmente foi para Ele aqueles jejuns (7:5 e 6).

Também lhes fala novamente das razões de seu cativeiro, exortando-os à prática sincera de justiça e vida santa em lugar de ritos de pausa alimentar (Veja [Sm. 15:22; Mq. 6.8; Am. 5:24; Os. 6:6; Is. 1:11-17)

Que lindo este capítulo oito! Deus lhes anuncia a restauração futura de Israel, é maravilhoso o futuro de Israel. (8:23)

Deus ainda os exorta à obediência, apresentando-lhes promessas de futuras bênçãos. Os planos do Senhor para Sião são que esta seja uma cidade de paz, verdade e justiça (8:16-19). Os fatos neste capítulo descrito são de cumprimento escatológico, no reino milenial. Compare Is. 65:20 e 22 com os versos 8: 4 e 5, 10-12. Estas palavras ainda são respostas de Deus através de Zacarias ao povo, naquele momento de consulta (7:1-3), quando o povo carecia de estímulos em meio às obras de reconstrução do templo. Os jejuns deviam transformar-se em festas (8:18 e 19).

Nesta primeira parte da profecia de Zacarias, entre os capítulos um ao oito, o tempo enfocado é o próprio tempo do profeta, incentivando o povo à reconstrução do templo, porém na segunda parte que se inicia no capítulo neve e vai até o quatorze, o foco está sobre o futuro e deve ter sido escrito muito tempo depois dos primeiros oito capítulos.

Nos capítulos 9 e 10, Israel aparece sob o domínio grego (9:13), no capítulo 11 sob o domínio romano, enquanto nos capítulos 12 a 14, Israel vive seus últimos dias de história nacional.

O capítulo nove apresenta um contraste belíssimo, descreve nos versos 1 - 8 a futura caminhada vitoriosa de Alexandre Magno, imperador grego, e a preservação de Judá dos exércitos gregos introduzindo a humilde, porém invencível, caminhada do Messias (versos 9-17), em sua primeira (v.9) e segunda (v. 10) vinda. Neste capítulo os versos 13 a 17, parecem descrever a vitória dos irmãos Macabeus contra os gregos, por volta do século II antes de Cristo.

O capítulo 10 é de uma certa forma o prosseguimento do 9, onde Zacarias continua a

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descrever as bênçãos de Deus sobre Judá, através da obediência do povo, não se limitando ao tempo dos Macabeus, mas ao tempo do reinado do Messias sobre Israel (10:4), o qual tornar-se-á então invencível.

Zacarias está antevendo no capítulo 11, a rejeição do bom pastor Jesus, quando Israel

esteve sob domínio romano, pois O vendeu por 30 moedas de prata (11: 12 e 13 e Mt. 27:9 e 10), preço de um escravo doente.

O juízo sobre eles veio no ano 70 A.D. quando por mãos dos exércitos romanos, um milhão e rneio de judeus foram mortos, como também o templo foi definitivamente destruído (11:6 e 9). O pastor inútil e insensato que virá, por certo será o Anticristo, sobre quem também virá juízo ao final (11:17).

Assim como os capítulos 9 a 11 estão interligados, o mesmo acontece com os capítulos 12 a 14, onde se trata da consumação histórica de Israel.

No capítulo 12, Zacarias profetiza o cerco final dos inimigos contra Jerusalém e sua vitória pelo braço do Senhor com a conseqüente conversão de Israel (12:10), em um pranto de arrependimento nacional (12:11-14).

O capítulo 13 continua a tratar da conversão de Israel, onde os versos de 7 a 9 falam de Jesus, o pastor ferido, aquele que é homem e ao mesmo tempo companheiro ("um com") de Deus (13:7).

O tempo e a descrição dos eventos no capítulo 14 são os mesmos do capítulo 12, trata-se da guerra do Armagedom. É o "dia do Senhor", tão falado por Joel, Sofonias, etc...

Compare 14:4 com Atos 1:11 e 12; 14:5 com ITs. 3:13 e 4:14; 14:8 com Ap. 22:1; 14:9 com Ap. 11:15 e 19:16.

Enfim a santidade será universal e permeará todos os aspectos da vida dos homens (14:20 e 21). As panelas das casas serão tão sagradas quanto às que serviram como utensílios no templo. Não haverá mais mercador (ou "cananeu") todos serão santos, do povo de Deus. Aleluia!

DIVISÃO - Podemos didaticamente dividir o livro de Zacarias, como a maioria dos autores o faz, em duas partes:

a) O povo e o templo - o presente para Zacarias - cap. 1 a 8 b) O Messias e a Israel eterna - o futuro para Zacarias - cap. 9 a 14

COMENTÁRIOS 1 - Há duas expressões que aparecem muito freqüentemente nesta profecia:

"Assim diz o Senhor" - 89 vezes "O Senhor dos exércitos" - 36 vezes

2 - Zacarias parece ter sido morto no templo - Mt. 23:35.

3 - Tal como Isaías, alguns estudiosos da alta crítica contestam ser o livro de Zacarias uma unidade escrita apenas por ele. A firmam que a segunda parte do livro, dos caps. 9 a 14 deve ser contemporânea do período interbíblico escrita por outro autor.

Contudo em nossa maneira de ver a questão, concordamos com a tradição judaica e cristã, bem como com a maioria dos estudiosos que asseguram a unidade do livro e a fiel autoria de Zacarias.

4 - Zacarias é considerado um livro messiânico e apocalíptico, tal a riqueza de revelações do fim, em tão poucas páginas.

Anuncia a volta de Cristo sobre o monte das Oliveiras, entre outras belas e detalhadas revelações messiânicas. (14:3 e 4 e At. 1:11 e 12, Ap. 16:18-20).

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Malaquias

NOME - Malaquias significa "mensageiro de Jeová".

AUTOR - Nada se conhece sobre o autor Malaqmas (1:1). Alguns poucos estudiosos crêem que "Malaquias" é mais a referência a um atributo de

um anônimo que um nome próprio, mas isto é rejeitado pela maioria. Ele é contemporâneo de Esdras e Neemias.

DATA DA ESCRITA - Provavelmente em torno de 430 a.C. Os temas da mensagem profética equivalem a assuntos tratados contemporaneamente

entre Esdras 7 e Neemias 13, o que nos ajuda a situar o livro próximo à volta de Neemias da Pérsia, 430 a.C. (Ne. 13:6-31). Compare: Ne. 13:10-12 com Ml. 3:8-10 Ne. 13:23-28 com Ml. 2:10-16 Ne. 13:29 com Ml. 2:8.

TEMPO DA AÇÃO - Cerca de 100 anos já haviam se passado desde a volta do povo do cativeiro babilônico. O templo fora reconstruído (516 a.C.) sob o incentivo de Ageu e Zacarias, o culto restaurado por Esdras (457 a.C.), e os muros reerguidos com Neemias (444 a.C.). Mas as grandes esperanças, o reavivamento espiritual e a fidelidade a Deus começavam a desaparecer ante a vida duríssima que experimentavam. Deixaram de dizimar e sofriam desemprego, baixas colheitas, fome, seca, etc.

Tudo os levava a duvidar do amor de Deus (Ml. 1:20) e a invejar a prosperidade dos ímpios (Ml. 3:14 e 15).

Divorciavam-se de suas mulheres judias por motivos fúteis (Ml. 2:10-16) e cumpriam uma religião fria e formal, inclusive com a colaboração de sacerdotes corrompidos. Renasciam a feitiçaria, o adultério, a desonestidade e a opressão aos pobres (Ml. 3:5).

Neste contexto todo, entre 445 - 400 a.C., Malaquias é levantado com um ministério bastante claro e objetivo.

VERSO-CHAVE - É o 3: 1 - "Eis que eu envio o meu mensageiro que preparará o caminho diante de mim, de repente virá ao seu templo o Senhor a quem vós buscais, o Anjo da aliança a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos". TEMA - A ÚLTIMA MENSAGEM DE JEOVÁ. CONTEÚDO Malaquias é levantado e põe-se ao lado de Neemias naquele momento terrível do povo de Deus. Ele exorta o povo, mas é questionado provocante e freqüentemente (1:2, 6, 12; 2:14, 17; 3:7 e 13).

Começa sua mensagem atacando a irreverência do povo contra Deus, o que no fim explicava em grande parte tudo o que acontecia. Um contraste entre o amor de Deus e a incredulidade deles nisto (1:1-5).

A seguir os sacerdotes são duramente reprovados por sua falta de reverência (1:6),

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pelas ofertas defeituosas (1:7-14) que os tornavam desprezíveis e às suas ofertas (1:10). Nem entre os adoradores do Senhor que havia entre os povos pagãos, tal comportamento era visto (1:11 e 14). O sacerdócio era relaxado, e esquecido da aliança de Levi (2:1-9).

Suas exortações então se dirigem à nação como um todo, em especial por causa dos divórcios fáceis e casamentos com estrangeiras (2:10-16), Profanação e traição para com Deus (2:10-11) e para com suas esposas (2:14).

O povo não cria mais no justo juízo de Deus e em seu caráter santo e reto, afrouxando na vida moral e invejando os idólatras que prosperavam. (2:17; 3:5, 13-15).

Deus lhes responde assegurando-lhes sua presença, poder e ação. O Messias virá em breve, precedido por um mensageiro (3: 1), e quando este dia

chegar quem poderá resistir à sua purificadora justiça? (3:2-4) Quanto ao aparente sucesso dos ímpios, Deus possui uma memória inapagável, e fará

justiça (3:16-18). Suas advertências completam-se na advertência quanto à sonegação dos dízimos, e

por isto são chamados de ladrões (3:6-9). A bênção da fartura e prosperidade vem como conseqüência à fidelidade na entrega do que pertence ao Senhor (3:10-12).

O A.T. se encerra com a reafirmação de Malaquias quanto à chegada do "dia do Senhor". Dia de glória e vitória, de governo completo, justo e definitivo do Senhor. Este dia nascerá com o levantar do Sol da Justiça. Sol que promoverá luz, vida, alegria aos justos, tal como os bezerros soltos num campo, em um belo dia claro e ensolarado; mas este mesmo sol será causticante, fogo consumidor a abrasar os ímpios que, como reles ervas daninhas, serão destruídos sem deixar marcas ou raízes (4:1-3).

O apelo é para que voltem à obediência, à observância da lei de Moisés! (4:4) Não é este verso uma síntese de todo o A.T.?

O sinal mais breve de que tudo isto se cumprirá será o envio de um mensageiro, um preparador de caminhos, um anunciador profético, o qual chegará com o mesmo poder, autoridade, sinais, prodígios e mensagem (arrependimento) com que Elias veio a Israel centenas de anos antes. (4:5 e 6).

Seguem-se 400 anos de silêncio profético. Tudo estava dito e anunciado. Era tempo agora de meditarem, arrependerem-se e

aguardarem o Messias.

DIVISÃO - Podemos didaticamente dividir o livro de Malaquias em quatro partes:

a) O amor de Deus por Israel - cap. 1:1-5 b) Mensagens contra os sacerdotes - cap. 1:6 - 2:9 c) Mensagens contra o povo - cap. 2:10 - 3:18 d) O dia do Senhor e o Sol da Justiça - cap. 4

COMENTÁRIOS

1 - A primeira palavra de Deus para aquele calamitoso Israel é: "Eu vos tenho amado”. A consciência completa, total do amor de Deus por nós, é o remédio, o bálsamo, a

resposta a todos os nossos males e dores. Quando temos absoluta certeza de que Deus nos ama, tudo o mais, mesmo os mais graves problemas, tornam-se sem importância.

2 - "O Senhor dos exércitos" é um nome referente a Deus que aparece mais de 20 vezes nesta profecia.

3 - Quem, como aqueles sacerdotes, traz oferendas defeituosas ao Senhor: a) Não ama verdadeiramente a Deus.

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b) Despreza o culto e o altar do Senhor. c) É mesquinho, guardando para seu uso próprio o que possui de melhor, ofertando a

Deus o que lhe é dispensável, sobra, desprezível. d) Não vê Deus como o Senhor de todas as coisas. e) Julga Deus alguém pequeno, tolo e inepto. Como se Deus não soubesse reconhecer

o que é bom, vindo a conformar-se, distrair-se, alegrar-se em receber o que é defeituoso.

f) Cultua por formalidade, com enfado e canseira, não motivado espiritualmente.

4 - Deus não aceita este tipo de culto, vazio, formal, hipócrita, fraudulento, com ofertas que procedem de um coração distante.

Tal mensagem aparece em: Ml. 1:10; Is. 1:10-17; Am. 5:21-24; Mq. 6:6-8 etc.

5 - Deus condena os sacerdotes pelo exercício relaxado do seu ministério, amaldiçoando-os por isso. (Ml. 2:1 e 2)

A aliança sacerdotal feita entre Deus e Levi (Nm. 13:6-13) envolvia da parte de Deus, concessão de vida e paz (Ml. 2:5), unção e revelação da verdade (Ml. 2:6), e da parte dos sacerdotes, retidão, santidade e dedicação (Ml. 2:7).

Em Cristo, todos os seus verdadeiros discípulos são investidos do ministério sacerdotal (I Pé. 2:5 e 9; Rm. 12:1; Hb. 13:15-16), requerendo de nós os mesmos compromissos.

6 - Malaquias, como Joel e Sofonias, anuncia o "dia do Senhor".

7 - João Batista não é a reencarnação de Elias (Ml. 3:5), pois esta doutrina não faz parte das Escrituras, pelo contrário é claramente oposta às suas revelações (Hb. 9:27; Lc. 16:22-31; Jó 7:9 e 10; Jó 14:14).

João e Elias assemelhavam-se fisicamente, em suas vestimentas e hábitos, em seus ministérios, em suas mensagens, no contexto de opressão e apostasia que viveram, no poder e força do Espírito que os vocacionou.

8 - O Velho Testamento termina com a palavra "maldição", pois quem vivia em pecado e sob o domínio da lei, assim realmente se encontrava.

Cristo surge nos evangelhos, e em todo o Novo Testamento, com a mensagem de Salvação, da graça redentora e abençoadora de Deus. (Gl. 3:13 e 14)

Nas Bíblias hebraicas, o verso cinco é repetido após o verso seis, para que as Escrituras não se encerrem com esta palavra de condenação. A mesma coisa acontece nos livros de Isaías, Lamentações e Eclesiastes.

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Bibliografia • GAGLIARDI, Ângelo Jr – Panorama do Velho Testamento – 2 ª Ed. Rio de

Janeiro, Vinde, 1995. • PEARLMAN, Myer – Através da Bíblia Livro por Livro – 18ª impressão. São

Paulo, Vida, 1996.

É proibida a reprodução total e/ou parcial deste material, sem prévia autorização. Ele é de USO EXCLUSIVO da ESUTES, e protegido pela Lei nº 6.896/80 que regula direitos autorais e de compilação de obra, sendo proibida a sua utilização em outro estabelecimento de ensino

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AVALIAÇÃO DO MÓDULO DE A.T. – LIVROS POÉTICOS E PROFÉTICOS

1- Qual o significado do livro de Salmos; quem são os seus autores; qual sua característica; qual o seu tema?

2- Sabemos que o livro de Cantares de Salomão é um poema de amor e por isso é ainda hoje um livro discriminado por muitos. Porém, há neste livro um simbolismo espiritual. Explique:

3- Cite as cinco formas pelas quais eram chamados ou denominados os profetas: 4- Os profetas de Deus eram usados por Ele para trazerem mensagens de cunho

profético e escatológico. A quem eles falavam? Cite pelo menos uma passagem que comprove como Deus os usava diversificadamente a vários povos:

5- Cite os livros que compõe os profetas maiores. Quem são seus autores? Faça um paralelo entre eles (Quando foram escritos, a quem profetizaram, qual o conteúdo de suas profecias):

6- Malaquias foi o último profeta usado por Deus no período Vétero-testamentário. Faça um breve comentário sobre o livro de Malaquias.

TRABALHO DE PESQUISA: (Valor: 4 Pontos) Pesquisar sobre o profeta Isaías (Sua vida e seu ministério em geral). OBS: Não se esqueça de colocar nome em sua avaliação

a) O aluno deverá enviar a avaliação para o e-mail: [email protected]@[email protected]@esutes.com.br b) O tempo para envio da avaliação corrigida para o aluno é de até 15 dias após o recebimento da

avaliação Enquanto a prova é corrigida o aluno já pode solicitar NOVO MÓDULONOVO MÓDULONOVO MÓDULONOVO MÓDULO

c) Alunos que recebem o MÓDULO IMPRESSOMÓDULO IMPRESSOMÓDULO IMPRESSOMÓDULO IMPRESSO podem enviar sua avaliação também para e-mail: [email protected]@[email protected]@esutes.com.br

Caso opte por mandar sua avaliação pelo correio envie para o endereço abaixo: Rua Bariri, 716 – Glória - Vila Velha ES - CEP: 29.122-230

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DICAS DE ESTUDO ON-LINE

1- Procure utilizar em seu computador um protetor de tela para minimizar a claridade do monitor. Temos que cuidar de nossa visão

2- Se for estudar a noite, duas dicas:

a) Não deixe para estudar muito tarde, pois o sono pode atrapalhá-lo em sua concentração;

b) Não deixe a luz do ambiente em que estiver, apagada, pois a claridade da tela do computador torna-se ainda maior, provocando dor de cabeça e irritabilidade.

3- Pense na possibilidade de imprimir sua apostila, pois pode ser que isso dê a

opção, por exemplo, de carregá-la para onde quiser e de grifar com caneta, partes que ache importante.