livro romulo versao final

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    PASTAS ROSASVol. 1

    mulo, em 1954. A partir de 1956, formou uma equipe de pesquisadores no Instituto de Economia e Finanas da Bahia, que sobreviveu alguns anos mais.

    Naquele momento, Rmulo inovou nos modos de traba-lho em planejamento, constituindo comisses mistas que combinavam funcionrios pblicos com empresrios, em torno de temas reconhecidos como essenciais da Bahia. Os Cadernos Rosa foram os textos sintticos elaborados pelo prprio Rmulo, marcando um estilo de trabalho. Sua aparncia artesanal encobre um processo comple-xo de trabalho, vido de observar a realidade social e de ampliar seu horizonte de referncias internacionais, com um dilogo com alguns dos pensadores renomados dos temas do desenvolvimento, como Prebisch, Hirschmann, Herrera e vrios outros.

    Uma avaliao da relao entre os aspectos tcnicos e os polticos daquele processo permite visualizar as limi-taes histricas do planejamento estadual. O apareci-mento dos Cadernos revelou dois problemas essenciais do planejamento, que seriam, primeiro, a necessidade de criar um espao de comunicao com as elites baia-nas, reconhecendo seu apego aos modos autoritrios tradicionais, mas procurando opes de revitalizao do

    sistema produtivo arcaizado. Segundo, o imperativo de

    formular uma proposta de modernizao econmica. No

    primeiro captulo, houve uma tentativa de recuperao

    da indstria txtil e da produo cacaueira. No segundo

    caso, foi o desenho de um modelo duplo, compreendendo

    o polo industrial apoiado no projeto de siderrgica e o

    sistema Fundagro.

    Os Cadernos anunciaram a divergncia ideolgica entre o

    projeto de modernizao que levaria superao daquela

    elite ps-escravista e a estrutura de poder politico base-

    ada em sua continuidade. Essa contradio se revelaria

    entre os empresrios que dependiam do governo para

    recuperar indstrias superadas e outros que se identifica-

    vam com projetos novos. Os Cadernos mostraram, ainda,

    a contradio entre a racionalidade modernizante e a da

    reproduo do poder tradicional. Seu prprio nome re-

    velador. Chamaram-se Cadernos Rosa porque no havia

    recursos para reproduzir os textos em mimegrafo e foi

    preciso usar o papel disponvel na Escola de Enferma-

    gem, que incidentalmente era cor-de-rosa.

    Fernando Cardoso PedroDocente livre e Doutor em Economia pela UFBA, Professor da Universida-de Salvador, Professor Visitante da Universidade Federal do Recncavo, Presidente do Instituto de Pesquisas Sociais

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    Sem entrar em consideraes tericas, j que no vi-samos uma planiicao rigorosa do desenvolvimento econmico-social (coisa alis impossvel numa escala provincial), tomamos como pressuposto a necessida-de do planejamento, como processo de racionalizao das atividades do Estado e do uso dos fatores de pro-duo e de desenvolvimento.

    Partimos ainda da necessidade permanente do planejamento, pois que no basta traar um plano, mas preciso constantemente aperfeio-lo, em funo de novos conhecimentos que se adquire sobre os fatores e as tcnicas a empregar, bem como do comportamento das variveis independentes; e ainda em funo dos erros veriicados no curso da execuo dos programas. Erros sempre inevitveis, embora o objetivo do planejamento seja prever e evitar ou reduzir os erros futuros.

    O planejamento consiste essencialmente em:a) Pesquisa,b) Planejamento e programao, propriamente:

    ixao das diretrizes e dos alvos;c) Controle de resultados;d) Reviso dos alvos;e) Deliberao poltica, que antes de a estabelece os

    pr-requisitos, as inalidades e objetivos gerais, e, depois de b, adota ou no o plano.

    O planejamento, como processo organizado, s com tempo adquire maior preciso. Mas desde logo realiza seu objetivo, evitando desperdcios e promo-vendo maior eficincia, naturalmente se realizado com os elementos tcnicos mnimos. Est claro que, nas condies da Bahia, h quase tudo a investigar, no que toca aos recursos e s tcnicas da ao. Assim, se impe a continuidade dos trabalhos feitos nos l-timos trs meses, em meio a um ambiente de confu-so nacional, sem a influncia do poder para obter certos subsdios e sem os meios materiais e organi-zacionais necessrios.

    Convm advertir que no eiciente realizar, per-manente ou ocasionalmente, a funo do planejamen-to atravs da estrutura de execuo, embora esta cola-bore, j que os executivos, por um lado, no tem tem-po ou calma para as tarefas crticas do planejamento, e, por outro, tendem a tomar compromisso com suas

    atitudes, antes que pensar livremente em melhores solues. Assim, os rgos de planejamento devem ser nitidamente separados dos de execuo, conquan-to se articulem no nvel da deliberao.

    Estrutura do planejamento para o Estado

    A estrutura do planejamento deve ser centralizado num rgo de deliberao, servido por uma secretaria tcnica de planejamento e/ou em comisses tcnicas e consultivas.

    Esse rgo seria o Conselho Tcnico de Economia e Finanas, devidamente aparelhado, ou Conselho Estadual de Economia e Finanas (nota anexa), com a sua subordinao a um rgo deliberativo superior.

    O planejamento deve ser econmico e administra-tivo. Donde convir a articulao do D.S.P. que assim funcionaria mais ainado com os objetivos econmi-cos do Governo e da Bahia.

    Aim de assegurar a coordenao crescente com o setor federal, o rgo central de planejamento do Es-tado seria assistido por uma misso oicial de repre-sentante da Unio, solicitada pelo Estado, e nomeada em decreto do Presidente da Repblica. Essa misso poderia ser constituda de trs membros que aqui se estabelecessem com essa funo (exercendo comple-mentarmente a de coordenao das autoridades fede-rais entre si, e entre estas e as do Estado): um do setor agrcola, outro do setor transportes e energia, outro do setor inanceiro e econmico geral.

    O CTEF no tem atualmente aparelhamento tcni-co e auxiliar que o capacite para a funo. Num pro-grama parcimonioso e prtico, sua secretaria poderia ser enriquecida com a maior parte dos recursos do Departamento de Industria e Comrcio e de outros rgos, como o prprio DAC, que pouco podem fazer presentemente e que ganhariam experincia e nova vida com o trabalho do planejamento. O D.I.C. se pre-pararia para ser realmente um centro de informaes e de fomento indstria, ao comrcio e ao turismo.

    O rgo central coordenaria os rgos secund-rios ou seccionais de planejamento, nas secretarias e entidades autnomas. Aos poucos se deveria ir desenvolvendo a funo do planejamento em cada setor da administrao, a comear pelo trabalho de

    Planejamento. Observaes preliminares coleta sistemtica de dados para o rgo central de recepo e retransmisso das informaes e estu-dos deste. Os departamentos ou servios de admi-nistrao e seces tcnicas especiais deveriam se orientar nesse sentido, realizando a programao e o controle de resultados da administrao sectorial, dentro do plano geral.

    Entre esses rgos secundrios assume impor-tncia especial o servio do oramento, que deve ser organizado tecnicamente, na Secretaria da Fazenda.

    Dada a incipincia dos estudos imprescindveis ao planejamento e a falta de suiciente pessoal expe-rimentado disponvel nos quadros do Estado, in-dispensvel contratar servios tcnicos para tarefas bsicas de pesquisa em economia (estrutura geral, setores e regies) e em administrao pblica, pros-seguindo no esforo pioneiro j feito.

    O Governo, em 1952 ou 1953, j fez, com a Cam-panha Brasileira de Engenharia, um contrato no levado a efeito, para a realizao de uma lista de monograias. Sugere-se que o Governo o contrate com o Centro que se est organizando na Universi-dade para estudos econmicos e administrativos (e que praticamente j estreou com o presente traba-lho). O Centro realizaria, da mesma maneira que a C.B.E., o contrato de especialistas, com a vantagem de ixar alguns deles na Bahia por certo tempo, de obrig-los a participar de trabalhos universitrios e treinar pessoal daqui e de, assim, contribuir para o estabelecimento permanente de um ncleo de es-tudos especializados na Bahia o que constitui uma reserva tcnica importante para o Governo e a inicia-tiva particular.

    A Universidade contribuir para o centro (ali-viando o dispndio do Estado ou dando a este maior rendimento) e o Centro, na Universidade, teria pos-sibilidades de obter misses de assistncia tcnica, nacionais e internacionais, com custo reduzido.

    A importncia desse programa para a maior aproximao entre a Universidade e os problemas da comunidade considervel.

    Algumas misses de assistncia tcnica, que so oferecidas s a Governos, seriam obtidas para o CTEF ou rgos especializados. (Ver documento so-bre assistncia tcnica).

    Articular-se-ia tambm o rgo central de pla-nejamento com as entidades representativas das foras sociais e com os centros de informao, num

    sistema de consultas e de informaes sobre o re-sultado dos estudos, as perspectivas e os progra-mas do Estado.

    De par com os estudos oiciais de zonas tpicas do Estado, seriam promovidas consultas e informaes regionais, atravs de entidades, comits especiais e reunies peridicas destinadas a esse im.

    Anexo a planejamento

    Notas sobre a Lei 155, de 31.12.1948, que cria o Conse-lho Estadual de Economia e Finanas (no instalado).

    DEFEITOS1. O CEEF sofre do mesmo defeito do Conselho Na-

    cional de Economia. O planejamento deve ser realizado em rgo iso-

    lado da estrutura de execuo, mas a este articu-lado no nvel de deliberao. Faz-se planejamen-to para ins e objetivos, conforme pressupostos ou pr-requisitos, de natureza poltica, estabele-cidos pelo rgo de deliberao.

    O CEEF pode transformar-se, na melhor das hi-pteses, numa academia, sem essa vinculao.

    2. Esse sistema, o prestgio necessrio para mobi-lizar a informao dos servios pblicos e exa-minar os problemas a cargo dos mesmos diicil-mente ser alcanado pelo CEEF, mesmo se seus membros forem homens eminentes.

    3. dicil conseguir seis conselheiros competen-tes, prestigiosos e abnegados. Os competentes so poucos e super ocupados. Diicilmente pode-riam dar o tempo previsto com uma remunera-o de $ 750,00 por semana. Termina o ttulo de conselheiro se transformando num bico.

    CORREO4. Assim, sugere-se: a) Restabelecer o nvel de deliberao do CTEF

    ou vincular o CEEF ao Gabinete dos Secretrios de Estado;

    b) Iniciar o nvel tcnico com um secretariado no colegiado, o qual no futuro se poder trans-formar num rgo colegiado, constitudo dos chefes dos departamentos tcnicos em que ele se desenvolver;

    c) Estabelecer os rgos de planejamento nas se-cretarias (bastar decreto executivo na base dos arts. 6 e 150).

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    1.0. Condies Gerais de Desenvolvimento

    1.1.1. Notas sobre a acelerao do desenvolvimento econmico da Bahia (Amrico Barbosa de Oliveira BNDE)

    1.1.2. Estudo comparativo da Renda na Bahia (Aristeu Barreto de Almeida ETENE BNB)

    1.2. Balano de Pagamentos (Sydney Lattini Domar Campos SUMOC)

    1.3. Migraes Internas no Brasil e no Estado da Bahia (T. Pompeu Accioly Borges ETENE BNB).

    Condies gerais de desenvolvimento1. O sentido geral de um programa econmico para a

    Bahia alcanar uma elevao da renda real per ca-pita e sua manuteno da forma mais estvel e com-patvel com a natureza dos recursos e os interesses da economia nacional.

    INSTABILIDADE

    2. O problema econmico da Bahia , em primeiro lu-gar, o da instabilidade. A reduo da instabilidade, por si s, representa uma elevao da renda, num perodo maior, mesmo que no haja elevao nos anos melhores, se se realizar mediante elevao da renda nos anos maus. Num programa integrado, os dois efeitos se podem realizar cumulativamente, determinando elevao inclusive nos bens.

    3. Os fatores fundamentais de instabilidade so: a) grande dependncia da agricultura, agravada

    com a incidncia da seca no territrio baiano; b) grande dependncia do comrcio exterior.4. Embora ampliando a produo agrcola e as expor-

    taes, preciso diversiicar a produo e obter maior segurana para a economia agrcola, desen-volver a indstria e produzir mais para os merca-dos locais e nacionais. Isto : fazer depender menos a economia baiana dos azares das safras e dos mer-cados e preos no Exterior.

    EXPORTAES PARA O EXTERIOR

    5. A Bahia, nas condies atuais, no tem interesse em expandir exportaes para o Exterior, a no ser no caso de produo exportvel obtida com excepcio-nal produtividade, mediante uso de recursos que no possam ser utilizados, em condies aproxima-das, para produzir safras de mercado interno.

    6. A Bahia deve, todavia, desenvolver, em benecio da economia nacional, sua j comprovada vocao para produzir bens que competem nos mercados

    internacionais, vocao comprovada a despeito dos custos de produo gravados pelos altos preos (relativos) dos bens de consumo nacionais e dos transportes de cabotagem e vias internas.

    7. Essa contribuio para a economia brasileira deve ser feita do mesmo passo que um programa visando reduo dos desequilbrios e do desgaste no inter-cmbio comercial, que constitui o segundo grande problema de desenvolvimento, para a Bahia.

    8. Dessa forma provvel que o aumento geral da produtividade (menores custos internos) supere os efeitos da concorrncia s exportaes na utilizao de fatores; e, por outro lado, a crescente utilizao de cambiais pela economia baiana estimule mais o esforo exportador, na medida em que ele eicaz.

    9. Advertimos sobre este ltimo ponto: as exporta-es para o Exterior dependem mais de condies peculiares, em regra oligonsmicas, dos mercados exteriores, de que nossos esforos, embora estes sejam sempre importantes para quem parte de vo-lumes reduzidos de vendas.

    10. O segundo fator de retardamento da economia baiana reside no desequilbrio e desgaste no in-tercmbio comercial. Esse fenmeno ocorreu e se agravou desde o momento que (h cerca de 50 anos) avultou a exportao para o Exterior e se reduziu relativamente a destinada aos mercados internos (devido provavelmente a dois fatores: fra-casso das indstrias, motivado pela instabilidade interna, e desenvolvimento das indstrias compe-titivas nos mercados do Sul e Pernambuco).

    11. A situao a seguinte: o saldo de intercmbio com o Exterior aplicado em compras no pas. Mesmo nos perodos em que a taxa de cmbio era justa ou de paridade (para a compra de letras de exporta-o), essas compras eram feitas a preos afetados por tarifas aduaneiras e pela escassez de cmbio,

    com o sobrecusto dos transportes internos. O pa-pel da Bahia, dessa forma e h muitos decnios, tem sido o de inanciar o desenvolvimento do Sul, o multiplicador de suas exportaes opera em bene-cio do resto do Brasil. O mesmo deve ser dito do efeito de acelerao.

    12. Pelo regime de restries quantitativas e qualitati-vas de cmbio, com estabelecimento de prioridades para importaes essenciais, os saldos da Bahia no intercmbio com o Exterior produzem capital nos centros importadores desses bens de capital.

    13. A situao se agravou com o sistema de taxas arti-icialmente baixas de cmbio, evidentemente longe da paridade, sobretudo quando requintado pelas diferenciais, reduzidas para o cacau e subsidiadas para importaes que no favorecem o Estado. Ainda hoje, a liquidao do cacau para exportao na base de CR$ 37,00 enquanto as importaes do pas regulam pelas categorias 4 a 5. A inlao, certamente, agrava esta situao.

    14. Nada disso ter importncia quando a Bahia absor-ver, direta ou indiretamente, o cmbio que produz e estiver apta a desenvolver atividades para o mer-cado interno, sob a proteo das tarifas aduaneiras e principalmente da escassez cambial; reduzindo assim o impacto da inlao sobre sua economia de rendas menos inlacionais, de vez que mais depen-de do exterior.

    15. Essa observao no implica em condenao cate-grica do sistema cambial, do ponto de vista nacio-nal; mas apenas em ixar seus efeitos sobre a Bahia.

    16. No se pretende defender a idia, que h tempos surgiu (acreditamos que por mero propsito pol-tico), de reivindicar a Bahia, em lei, uma quota cor-respondente s divisas que produz, salvo a contri-buio para programas nacionais indivisveis. Tal contingentamento regional ou estadual colidiria frontalmente com a unidade cambial, aduaneira e econmica do pas. Tecnicamente indefensvel. Estabelecido um sistema de prioridade nas impor-taes, o mercado de cmbio tem que ser nacional. Ento, o que veriicamos na Bahia? Mesmo para uma quantidade muito reduzida de cambiais licita-das em Salvador, a demanda local mais fraca de que em vrias outras praas do pas.

    17. O problema , pois: a) criar condies para aumentar a demanda de im-

    portaes essenciais na Bahia e assim de cmbio;

    b) dar prioridade regional para importaes essen-ciais, em igualdade de outras condies com estados que no contribuem com saldos de exportaes e as-sim no sofrem o mesmo desgaste no intercmbio.

    MELHOR APROVEITAMENTO DA CAPACIDADE DE IMPORTAR

    18. Mesmo com as lutuaes severas e com o desgaste sofrido no intercmbio, a economia baiana poderia ter maior desenvolvimento, se melhor aproveitas-se sua atual capacidade de importar. Uma grande percentagem das importaes baianas so bens de consumo agrcolas e industriais que a Bahia pode produzir para seu consumo (ou em certos casos para competir nos mercados nacionais) uti-lizando seu poder de importar na compra de bens de capital (equipamento e materiais).

    19. Se essa melhor utilizao do poder de importar se estender s parcelas que a Bahia no aufere em consequncia de que das sanveis nos nveis de produo para exportar, a temos a segunda pers-pectiva que se abre para a Bahia, atravs da capita-lizao que isso enseja e do consequente desenvol-vimento das atividades produtivas.

    BAIXA EFICINCIA MARGINAL DO CAPITAL

    20. Pergunta-se: por que no se opera automatica-mente esse melhor aproveitamento da capacida-de de importar (mesmo reduzida pelo desgaste no intercmbio)? Pela comprovao histrica do alto risco, ou da baixa produtividade marginal do capi-tal, na Bahia, em comparao com outras regies ou centros do pas. (J hoje inluir talvez mais o resduo psicolgico, traduzido no derrotismo, que sucessivos fracassos industriais deixaram na Bahia ou a respeito dela, as condies histricas vem melhorando, ao menos no que se refere ao capital social adiante referido).

    21. Esse fato se deve provavelmente aos seguin-tes fatores:

    a) lutuao dos mercados locais e barreira dos trans-portes interestaduais para expanso dos mercados;

    b) grande deicincia do capital social (transpor-tes, comunicaes, energia, gua, etc.), e de outras economias externas;

    c) deicincia dos fatores institucionais (tributao, clima social favorvel s iniciativas e ao progresso tcnico, ao promocional do Estado, etc).

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    22. Nessas condies, o capital que se forma espas-modicamente na Bahia, esgotadas as aplicaes de maior eicincia marginal (como gado, compra de terras e melhorias nos cacauais), procura emigrar as condies de ixao e de atrao restam fracas.

    23. Esse fator determina o mau aproveitamento da capacidade de importar vice-versa. So fatores que se identiicam.

    24. A soluo para esses fatores negativos a mesma que levar a uma elevao geral da produtividade (em termos reais e sociais) do capital investido no Estado e da capacidade de poupar e investir.

    RECURSOS E ATRAO DE CAPITAIS E TCNICA

    25. At agora temos considerado os recursos de capi-tal formados na Bahia, inclusive os que, institucio-nalmente, atravs do intercmbio, so subtrados sua economia. J seria um grande passo, como icou dito, ix-los e dar-lhes maior produtividade.

    26. Entretanto, para um desenvolvimento mais rpido, preciso aproveitar as possibilidades de atrao de capitais e de tcnica. Mesmo para a mobiliza-o de seus prprios recursos, a Bahia precisa de incorporar a experincia de homens de empresa e de tcnicos: esta uma economia externa impor-tante muito escassa num Estado que se deixou in-sular e em que certos fatores histricos reduziram a propores mnimas a antiga iniciativa industrial que foi relativamente vigorosa.

    27. As possibilidades de atrao de capital e tcnica so, sem dvida, muito considerveis. Os recursos naturais, amplos e variados. Os humanos, bastan-te positivos, em qualidade, se considerarmos os padres nacionais. O mercado estadual pode ser conquistado por muitos artigos produzidos com vantagens na Bahia.

    Desde j, com a melhoria dos transportes no inte-rior e a energia de Paulo Afonso, as condies de atratividade melhoraram sensivelmente. A isso se impe acrescentar o importante fator que um meio comercial e bancrio estvel e relativamente forte e esclarecido.

    28. Depende do Estado o impulso ao processo do de-senvolvimento; preparar o terreno, com um pro-grama integrado e irme, para o aproveitamento e a aplicao dessas perspectivas. Entretanto, os poderes pblicos tm sido fracos no seu esforo de fomento e, em muitas leis e instituies, tm levan-

    tado entraves ao surto de iniciativas e ao progresso dos investimentos e das oportunidades de empre-go produtivo na Bahia.

    PAPEL DO ESTADO

    29. O papel do Estado decisivo e insubstituvel no processo do desenvolvimento da Bahia (insubs-tituvel porque a Unio no se inclina nem est preparada para um papel ativo num planejamento econmico para o nosso Estado ou para a regio).

    30. O capital social, de que depende a produtividade dos outros investimentos, no est na tradio nem na capacidade dos particulares fazerem: energia, transportes, comunicaes, gua e outros servi-os pblicos. Entretanto, o Estado tem produzido a quota de inverses, nos seus crescentes dispn-dios, e tem comprometido em despesas de custeio at as receitas dos anos de vacas gordas.

    31. O desenvolvimento das iniciativas depende muito da remoo de diiculdades institucionais (inclusi-ve iscais), e da criao de facilidades e estmulos. A legislao iscal e administrao do Estado re-trgada em muitos pontos e ainda no se registrou uma atividade positiva do governo estadual no sen-tido de estimular a aplicao de capitais na Bahia.

    32. Entretanto, alm dessas medidas clssicas de fo-mento, preciso que o Estado v alm:

    a) planeje o desenvolvimento; b) coordene os investimentos municipais e

    particulares para pontos decisivos no processo de desenvolvimento;

    c) promova a coordenao dos investimentos fede-rais no sentido de um plano comum;

    d) supra a deicincia da iniciativa (o capital) par-ticular, no perodo pioneiro, em empreendimentos de rentabilidade reduzida ou lenta, ou diicilmen-te previsvel, mas de produtividade social eleva-da [constituindo uma segunda esfera entre a dos empreendimentos do capital social (overhead) e a grande esfera da pura iniciativa privada].

    33. A coordenao referida nos itens b e c do pargrafo anterior importantssima, pois a maior produtivi-dade dos investimentos pblicos e privados depen-de de sua complementariedade e sincronismo.

    34. Para ser causa de todo esse esforo bsico deve o Estado: a) prosseguir no trabalho de planejamento, com

    a colaborao das instituies federais ou mes-mo internacionais;

    b) promover uma adaptao da mquina adminis-trativa s novas responsabilidade do Estado no de-senvolvimento econmico;

    c) organizar-se financeiramente, distinguindo o custeio do oramento de investimentos e criando os meios de aplicao eficiente dos capitais do Estado e de seu controle;

    d) evitar disperso de recursos, mesmo para fins teis, e concentr-los num programa inte-grado de medidas visando ao desenvolvimento econmico, ou seja, aplicaes nos pontos de maior fecundidade.

    PAPEL E INTERESSE DA UNIO

    35. A Unio Federal tem interesse especial no desen-volvimento da Bahia por duas razes principais:

    a) utilizao da capacidade da Bahia de exportar para o exterior, contribuindo para reduzir a crise cambial brasileira;

    b) variedade e relativa riqueza de recursos em po-tencial numa grande rea que est na costa, ocu-pando a maior extenso do litoral brasileiro e exa-tamente a meia distncia dos extremos.

    Acrescente-se uma terceira razo, por dever: c) importncia de justia de compensar os desfal-

    ques da economia baiana em consequncia do de-sequilbrio no intercmbio.

    Deixamos de lado o interesse geral, que se relacio-na a todo o territrio nacional.

    36. Assim, os investimentos federais (incluindo en-tidades financeiras) na Bahia devem e podem vantajosamente aumentar. Mas, do mesmo pas-so, ou antes, devem melhorar de produtividade, por isso que, alcanando a casa do bilho de contos anuais, so entretanto muito dispersivos, descontnuos e desperdiados; e, alm de tudo isso, quase inteiramente descoordenados com o esforo estadual.

    PROGRAMAS SOCIAIS E DESENVOLVIMENTO

    37. ponto fundamental, uma conscincia realstica da situao, irmar o princpio de que o bem-estar, numa economia atrasada, como a nossa, antes uma consequncia ou um sub-produto de desen-volvimento do que o efeito de programas desti-nados diretamente a esse im. O progresso social resulta essencialmente do aumento dos investi-mentos para criar empregos produtivos, produzir

    mais e elevar os salrios reais, ou seja, o poder de compra das populaes. O socialismo, no estgio do nosso desenvolvimento, proporcional, pois o distributivismo assistencial tem eicincia reduzi-da, face ao pouco que distribui, e assim se torna privilgio de alguns; como tambm contrapro-ducente, diante da necessidade social imperiosa de capitais (privados ou pblicos) para atender s carncias gritantes de servios e produtos de primeira necessidade, ao mesmo tempo que de maiores oportunidades de emprego produti-vo para a populao crescente e sub-empregada, quando no desempregada, e em processo de xo-do para o Sul.

    38. Militam, porm, contra essa concepo correla-ta do problema o surto das reivindicaes ime-diatas animadas:

    a) pela impacincia e revoltas justas, resultantes do no atendimento das necessidades mnimas de subsistncias;

    b) pelos exemplos dos padres de vida de ou-tros povos transmitidos pelos meios modernos de difuso;

    c) pela contemplao dos padres de vida exage-rados e at absurdos, nas condies do Brasil, das classes melhor situadas, inclusive funcionrios de maior categoria;

    d) pela competio dos polticos na conquista da simpatia das massas ou mesmo de pequenos grupos;

    e) pelo sentimentalismo e iluso, na massa e mes-mo em homens de elite, mal instrudos em elemen-tos de economia, sobre as possibilidades e os efei-tos dos programas de assistncia direta.

    39. No est ao alcance do Estado adotar uma pol-tica correta que, antes de mais nada, deve partir da reduo drstica dos consumos sunturios e convencionais, no s objetivando aumentar a propenso social a poupar (capacidade de inves-tir), mas tambm com o objetivo sociolgico de ganhar autoridade, que economicamente se pode caracterizar pela elevao da quota de poupana na renda, e pela utilizao dos dispndios de con-sumo nas linhas de maior utilidade vital, econ-mica e cultural.

    40. O que cabe ao Estado, ao lado da poltica de fomen-to s inverses, que resultam em mais e melhores empregos, aumentar a produo de bens de con-sumo essencial, com que se elevam os salrios

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    reais; e, ao lado disso, realizar, ajudar e estimular os programas e iniciativas destinados a melhorar as condies de sade, de educao e eicincia, de segurana e ajustamento social. So programas para a valorizao do capital humano e o estabele-cimento de condies melhores de produtividade geral. Impe-se investir nesses campos. Mas, ain-da aqui foroso considerar: primeiro, que sade, educao e outros benecios sociais so mais fre-quentemente produtos do desenvolvimento econ-mico que vice-versa; segundo, de que o campo para a assistncia direta to vasto, que impe priorida-des, tendo em mira sua maior contribuio para o programa de desenvolvimento econmico.

    Os programas de ordem cultural tambm devem, tanto quanto possvel, ajudar o processo de desenvol-vimento econmico, at porque somente com este possvel pagar a cultura, que um servio caro.

    CONCLUSESSNTESE DO PROBLEMA DO DESENVOLVIMENTO

    41. O problema do desenvolvimento consiste, em sntese: a) na elevao do investimento lquido (aumen-

    to na poupana, particulares e pblicas, fixao do capital formado no Estado, atrao do capital de fora);

    b) na elevao de produtividade dos capitais apli-cados, isto , maximizao da relao produto-ca-pital, considerado no conjunto da economia.

    42. O papel do Estado decisivo atravs dos investi-mentos bsicos, das outras economias externas, do planejamento, que revela os investimentos p-blicos e particulares socialmente mais produtivos, e da iniciativa, suplente, que assegure, com os de-mais fatores, melhor grau de complementariedade e sincronismo no conjunto dos investimentos.

    PLANO COM EFEITOS QUANTITATIVOS

    43. A falta de elementos bsicos documentais elabo-rados, e a pobreza de recursos materiais com que contou o grupo tcnico sob nossa orientao, ape-sar do auxlio da Universidade da Bahia e de al-gumas instituies federais, tornaram impossvel atingir-se a uma quantiicao do efeito dos fatores de retardamento indicados e das sugestes desti-nadas a corrigi-los ou a remedi-los.

    44. Na segunda etapa do trabalho de pesquisa e pla-nejamento se dever chegar a projees futuras

    do desenvolvimento da economia baiana, prevale-cendo as condies atuais e pondo-se em ao um plano conveniente; isto na medida em que a expe-rincia de estudos semelhantes j permite prever, deixando-se contudo sem possibilidade de previ-so mais segura os fatores estranhos ao controle estadual (embora sobre eles uma boa conscincia dos seus problemas e efeitos possa orientar uma ao modestamente eiciente): safras agrcolas (natureza), comrcio exterior e, mesmo, a poltica econmico-inanceira nacional.

    DIRETRIZES IMEDIATAS

    45. Antes, porm, de estudos meios apurados ou quantiicados da estrutura da economia baiana, podemos seguramente, luz dos princpios e dos fatores de retardamento, identiicados, sugerir as seguintes diretrizes para um programa imediato do desenvolvimento da Bahia:

    PLANEJAMENTO

    I Prosseguir o Estado no planejamento ou promov--lo com a elaborao da Unio e de misses de as-sistncia tcnica, e por ele promover a coordenao dos esforos das trs esferas oiciais e da iniciativa privada (um planejamento mais acurado da ao futura , em si mesmo, uma obra de governo).

    II Organizar-se o Estado administrativa e finan-ceiramente, para que sejam mais eficientes os seus dispndios e, assim, sua participao no processo do desenvolvimento. Ampliar e organi-zar o seu esforo de investimento, orientando-o para os pontos chave, reduzindo relativamente as despesas ordinrias de custeio, adotando um oramento que distinga custeio e investimento, relacionado com as flutuaes das finanas do Estado e um sistema de controle tcnico-econ-mico da eficincia dos dispndios e da arrecada-o. Criao do Banco do Estado e de um Fundo Especial de Investimentos.

    ESTMULOS INICIATIVA

    III Ajustar ou aperfeioar o Estado suas leis e insti-tuies no sentido de estimular iniciativas e aplica-es de capitais particulares:

    a) leis e atitudes iscais e administrativas; b) ensino ajustado s necessidades da produo; c) pesquisas de recursos, mercados e tecnologia (o

    planejamento, de que este documento um relat-rio preliminar, constitui um passo nesse sentido);

    d) informaes e assistncia direta; e) seleo e orientao dos programas no direta-

    mente econmicos, tendo em vista o desenvolvimento.

    AJUDA A MUNICPIOS E INICIATIVA PRIVADA

    IV Organizar a colaborao tcnica e inanceira com os municpios e particulares, no sentido de mobi-lizar e coordenar recursos para o plano geral de desenvolvimento, devendo, quando necessrio realizao deste, suprir, parcial ou totalmente, as deicincias da iniciativa particular ou pblica lo-cal. Princpio fundamental para esta colaborao, alm de sua necessidade ou alta convenincia eco-nmica: apoiar o esforo prprio dos interessados diretos. Como se evitar: autorizar os recursos do auxlio estadual no af de atender ao maior nme-ro, impossibilitando o Estado de atacar os pontos de maior poder de germinao.

    Os itens II e IV levaro a realizar o mximo sem de-pendncia direta do oramento comum do Estado, e mobilizando o quanto possvel o esforo inan-ceiro e a responsabilidade administrativa local ou indiretamente interessada.

    RECURSOS NOS PONTOS CHAVES

    V Ao tempo em que instala um mecanismo de as-sistncia geral voltado para todo o Estado e para todas as atividades, procurando ajudar a quem se ajuda dentro de programas prioritrios (me-canismo de coordenao dos recursos pblicos locais e particulares no sentido do plano), deve o Estado concentrar o mximo de recursos em empreendimentos e atividades e em locais ou linhas geogrficas que resultem em maior pro-dutividade para a economia conjunta do Estado (e assim propiciem mais cedo a produo de recursos para maior assistncia direta a outras reas ou pontos). o princpio da concentrao de recursos em pontos seletivos, estratgicos, mais fecundos ou germinativos, ou de maior pro-dutividade marginal, do ponto de vista social, cuja adoo indispensvel a um programa de desenvolvimento. No sentido desta diretriz se deve orientar o programa de regionalizao dos servios da administrao estadual.

    URBANISMO E HABITAO

    VI Urbanismo e Habitao Popular Nas linhas da diretriz anterior e das referentes coordenao de recursos de diversas fontes, deve ser traado um programa especial, em que o efeito social e cultural se case ao da maior e mais rpida reprodutividade econmica dos investimentos neste setor. Assim a prioridade no a de orient-los para onde houver mais misria, mas sim para onde contribuem para dar maior produtividade aos outros investimentos, ou para atra-los, ou seja, onde mais ajudem a pro-duo, criando inclusive mais empregos produtivos e reduzindo potencialmente o xodo para pontos tradicionais de atrao, como a capital. Dois exem-plos: facilitar habitaes operrias para a localiza-o de indstrias; evitar os enormes desperdcios de capital que se vm realizando com o crescimen-to vigoroso, mas desordenado, das povoaes, vilas e cidades das zonas em crescimento, com a do Sul, cujos oramentos municipais nada mais podem fa-zer que pagar indenizaes para alargar ruas.

    A ttulo de exemplo de como os programas se devem integrar, lembramos que o deste setor deve ser causa e efeito do de produo de ma-teriais de construo e instalaes, na Bahia, na medida do possvel.

    INVERSES FEDERAIS

    VII Promover investimentos da Unio e entidades fe-derais, compensatrios do desgaste tradicional no intercmbio, e essenciais mobilizao dos recur-sos potenciais do Estado e ampliao das expor-taes (alm da coordenao deles no plano geral e de sua maior eicincia isolada e conjuntamente).

    VIII Obter, mediante preparao tcnica e polti-ca, favorecimentos especiais no regime cambial, tendo em vista os fatores acima. A lei 1.807 j prev o caso de um plano para a Bahia, salvo o fator compensao.

    CAPITAL SOCIAL

    IX Capital Social Promover assim um programa conjunto das trs esferas administrativas, com a ajuda possvel de particulares, para o provimento do capital social necessrio utilizao dos re-cursos naturais, no desenvolvimento das ativida-des e maior eicincia dos capitais, obedecendo a

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    prioridade de acordo com a maior produtividade de cada projeto:

    a) Transportes um plano geral, tendo em vista o sis-tema ou servio de transportes, e no seccionados;

    b) Comunicaes complemento indispensvel de transportes;

    c) Energia inclusive lorestal; d) gua industrial (e agrcola); e) Saneamento.

    PROGRAMA AGRCOLA

    X Programa de reduo das lutuaes da economia agrcola ou de suas consequncias sobre o abaste-cimento e a economia geral do Estado:

    a) reduzir a irregularidade das rendas do agricul-tor e sua dependncia dos intermedirios, bem como as perdas vultosas das safras, a irregulari-dade (ineicincia) do luxo dos transportes e do abastecimento: armazns (e silos) e, subsidiaria-mente, usinas de beneiciamento e processamento de produtos agropecurios;

    b) gua (aproveitamento dos rios, audes e poos para irrigao);

    c) diversiicao maior da produo agrcola.XI Programa agrcola tendo em vista o objetivo an-

    terior, propiciar as condies gerais para o desen-volvimento da agricultura e do abastecimento e a estabilidade da economia agrria, conservao de recursos naturais, promover diretamente a expan-so ou introduo de produes especicas que te-nham mercado atual, previsto ou planejado (abas-tecimento, com a colaborao inanceira do Estado nos termos do item IV).

    FLORESTAL

    XIII Programa de produo lorestal tendo em vista reduzir a dependncia do estado das lutuaes, reduzir o desperdcio das matas em desbaste acele-rado, manter e criar reservas de energia e matrias primas lorestais, defesa de recursos de solos e gua.

    MINERAL

    XIV Programa material tendo em vista tambm re-duzir a dependncia das lutuaes, aproveitar recursos variados (ainda mal conhecidos) e assim ampliar a produo de minrios, para exportao e para desenvolver indstrias na Bahia.

    INDUSTRIAL

    XV Programa industrial, tendo em vista tambm re-duzir a dependncia das lutuaes, melhor apro-veitar a capacidade de importar e todos os conhe-cidos efeitos sobre os demais setores da economia e a renda geral. um programa fundamental. Para ele concorrem todas as medidas apontadas, mas ele requer tambm o estabelecimento de critrios especiais e de uma atitude mais participante do Es-tado, tendo em vista facilitar localizao e recursos tcnicos, assegurar mercado em compra do Estado, ajudar a criao de certas indstrias e atividades das quais dependem as outras, ajudar a ecloso de um conjunto de indstrias que se completam nas economias externas de produo (indstrias isola-das tm condies muito diceis de vida).

    PEQUENA PRODUO ARTESANAL E AUTO-ABASTECIMENTO

    XVI Assistncia e fomento pequena produo ar-tesanal e domstica e produo agrcola para abastecimento prprio ou local, que se impem, nas condies da nossa economia, pelos seguintes motivos:

    a) limitao do capital (e do poder aquisitivo) para o desenvolvimento da produo mercantil na esca-la necessria para empregar e abastecer, num pa-dro mnimo razovel, a toda a populao;

    b) virtualidade desse programa para elevar os pa-dres de alimentao, vesturio, etc;

    c) contribuio desse programa para a formao de operrios tcnicos e homens de empresa que se comprovam ao plano de economia mercantil;

    d) fecundidade cultural (criao artstica, equilbrio psico-social) do artesanato e produo caseira;

    e) certas possibilidades efetivas de, com assistn-cia tcnica, defesa e organizao para o mercado, a produo artesanal concorrer aqui nos mercados dominados pela produo fabril;

    f) contribuio, talvez importante, para elevar a renda real, ainda que parcialmente em forma no computvel monetariamente.

    PROGRAMAS SOCIAIS

    XVII Programas de interesse cultural direto, que contribuam para o processo de desenvolvimento segundo programas estudados para este im:

    a) sade: reduo da mortalidade e da insanidade; b) elevao dos nveis de alimentao e nutrio; c) elevao dos nveis de educao geral, tcnica

    e cientfica; d) elevao dos nveis da habitao popular; e) informao e orientao para emprego, melhor

    produtividade e ajustamento social; f) condies de segurana social e bem estar psico-

    -social, que levem ao lorescimento da personalida-de da conscincia proissional, do gosto pelo traba-lho e da produtividade. Uma ordem social aprazvel importante para o desenvolvimento, tanto mais que no se o deseja em termos puramente materiais.

    Notas Sobre a Acelerao do Desenvolvimento Econmico da Bahia (*)

    Os estudos referentes ao desenvolvimento econmi-co da Bahia devero obedecer a mesma sequncia de outros congneres, isto : primeiramente, um esforo concentrado no sentido de diagnosticar as causas do ritmo insuiciente de desenvolvimento, e depois, o pla-nejamento das medidas a adotar para intensiicao do crescimento econmico.

    O diagnstico dever ser baseado em ampla pes-quisa para identiicar os bices ao desenvolvimento.

    O planejamento ter de ser estudado em bases regio-nais, considerando todos os setores da economia, na rea. Os problemas relativos ao setor pblico e os prprios do setor privado tero de ser equacionados de modo dife-rente. Os primeiros, mediante reformas administrativas ou polticas de coordenao entre os rgos das esferas federal, estadual, municipal ou autrquicas; os segundos, mediante vigorosa e esclarecida poltica de fomento.

    I DIAGNSTICO

    A pesquisa deve ser conduzida de forma a desvendar o mecanismo do desenvolvimento econmico da Bahia. Para isso teremos de observar a evoluo da economia baiana nos ltimos dez ou quinze anos.

    Essa observao exige anlise acurada das princi-pais variveis que interessam ao estudo do crescimen-to econmico.Entre essas variveis a estudar devemos incluir:1. Renda territorial bruta e lquida a preos de merca-do e a custo de fatores

    2. Dispndio (ou disponibilidade de bens e servios) 2.1 Bens importados 2.2 Bens de produo interna3. Investimentos brutos e lquidos 3.1 No setor pblico 3.2 No setor privado 3.3 Em bens de produo interna 3.4 Em bens importados do estrangeiro 3.5 Em bens importados de outros estados4. Consumo 4.1 Em bens de produo interna 4.2 Em bens importados do estrangeiro 4.3 Em bens importados dos outros estados5. Poupana 5.1 Bruta 5.2 Lquida6. Entrada e sada de capitais7. Intercmbio com o estrangeiro 7.1 Bens de consumo 7.2 Bens de capital 7.3 Bens intermdios8. Intercmbio com os outros estados 8.1 Bens de consumo 8.2 Bens de capital 8.3 Bens intermdios9. Utilizao da capacidade para importar, crtica 9.1 Do estrangeiro 9.2 Dos outros estados10. Relao dos preos de intercmbio com o exte-

    rior e com outros estados11. Estoque de capital segundo setores12. Produo 12.1 Para mercado interno 12.2 Para mercados do resto do brasil 12.3 Para mercados estrangeiros

    Com o conhecimento dessas variveis ser possvel ex-plicar porque a renda real cresce to lentamente (ou decresce, quem sabe?); essa explicao sugerir as me-didas a adotar para neutralizar alguns bices, atenuar outros e dinamizar algumas atividades chave.

    Poderemos saber se a renda no cresce por efeito da evoluo desfavorvel dos preos de intercmbio ou por estagnao da produo real? Se a Bahia tem ou

    (*) Relatrio do Engo Amrico Barbosa de Oliveira ao BNDE, que o ps disposio da misso de estudos sobre a Bahia. O Dr. Amrico presidiu os trabalhos do grupo do Rio, realizando numerosas reunies, e visitou durante duas semanas a Bahia.

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    no capacidade competitiva com outras partes do pas? Se as causas predominantes do no-desenvolvimento se encontram na reduzida taxa de investimento, na bai-xa produtividade do capital social, na escassez de fato-res, na instabilidade da produo? A transferncia de recursos para o exterior realizada pelo setor privado ser uma faceta do problema? Os investimentos seriam afetados pela poupana muito reduzida e diicultados pela m utilizao da capacidade para importar?

    Qualquer interpretao que se adote sem estudo tem o valor de mera hiptese e, como tal, ofereceria pre-cria orientao para os planos destinados a acelerar o desenvolvimento e poderia ignorar fatores relevantes.

    claro, entretanto, que algumas ideias prelimina-res podem ser apresentadas sem maiores estudos, tais como as relativas ao fomento de certas produes, e poltica administrativa no setor pblico.

    No anexo I apresentamos algumas dessas indicaes preliminares, visando acelerar o desenvolvimento da Bahia, independente de um diagnstico mais completo. Baseia-se aquelas indicaes preliminares em alguns postulados que podemos aceitar sem sombra de dvida.

    Tais indicaes apresentam grande interesse pr-tico, pois o novo Governo do Estado deseja atuar sem mais demora na orientao nacional do crescimento da economia baiana.

    Uma atuao mais completa e mais eiciente de-pende do diagnstico a que nos referimos.

    II PLANEJAMENTO

    O planejamento dever ser posto em execuo em pra-zo longo e ser orientado por projees globais e seto-riais por um decnio, pelo menos.

    A anlise macro-econmica realizada para o DIAG-NSTICO vai orientar-nos na elaborao das projees da atividade econmica. Tais projees abrangero des-de prognsticos simples baseados na ausncia das me-didas de planejamento at modelos especicos constru-dos com base em alguns tipos de planejamento.

    As projees globais da economia indicaro o nvel provvel da renda e do consumo num perodo futuro para algumas hipteses de desenvolvimento.

    Com base no crescimento da renda e na anlise da dinmica da procura de bens de consumo, pos-svel prever as modiicaes estruturais que ocor-rero e planejar com segurana as medidas que se impuserem.

    ANEXO

    INDICAES PRELIMINARES PARA UMA POLTICA DE ACELERAO DO DESENVOLVIMENTO

    As indicaes preliminares para uma poltica econ-mica a ser praticada imediatamente fundamentam-se em algumas airmaes que poderamos aceitar como postulados. So os seguintes:1. O ritmo de desenvolvimento da economia baiana de-

    masiadamente lento e irregular;2. Os recursos naturais e humanos esto sub-utilizados;3. Por efeito da poltica cambial brasileira, a Bahia tem

    auferido a menor renda de sua produo, o que vem reduzindo sensivelmente sua poupana e, portanto, sua capacidade de crescimento;

    4. A renda no utilizada de forma a maximizar os efei-tos sobre o desenvolvimento, isto :

    4.1 A taxa de inverses baixa; 4.2 As inverses no so racionalmente orientadas; 4.3 A capacidade para importar est sendo

    mal utilizada;5. H deicincias lagrantes nos servios de utilizao

    geral, como transportes, comunicaes, energia eltrica no abastecimento dos centros populosos e armazm para fazer frente s irregularidades da produo agrcola.

    Embora esses postulados se mantenham no plano das generalidades, possvel deduzir algumas de ordem prtica. Vejamos:

    Estando a Bahia economicamente integrada na Federao Brasileira e ligada aos mercados mundiais atravs de vultosas exportaes, na poltica de co-mrcio que dever ser buscada a frmula mais eicaz para acelerar o desenvolvimento do Estado. Assim, para orientar a ao imediata, poderamos enunciar o seguinte princpio: modiicar a forma de utilizao da capacidade para importar e procurar aumentar esta capacidade.

    Tal meta poder ser efetiva mediante incremento na produo de certos artigos para os quais existe mer-cado, tais como os:1. que venham substituir importaes.2. que sejam exportveis.

    O incremento, de produo acima indicado s pode ser conseguido mediante investimentos, apropriao de recursos naturais e ajustamento da mo de obra s ta-refas produtivas. Os dois ltimos fatores no oferecem

    problemas srios na fase atual da economia baiana. O primeiro os investimentos constitui o fator limitan-te principal do desenvolvimento.

    S poder haver crescimento econmico em ritmo mais acelerado se o montante dos investimentos au-mentar tambm.

    Ora, os investimentos dependem da poupana local e do afluxo de capitais, seja de outros Estados, seja do exterior.

    O aumento da poupana no operao fcil a no ser atravs do sistema tributrio e em escala reduzida.

    O aluxo de capitais pode ser incrementado pela obteno de crditos em instituies pblicas ou pri-vadas do resto do pas ou do estrangeiro. tambm possvel, embora mais dicil, criar condies de atra-es para o setor privado realizar investimentos dire-tos na Bahia.

    Vamos por ora deixar de lado o exame das solues relativas ao inanciamento das inverses e voltar ao problema da escolha das atividades para as quais os investimentos devem ser canalizados.

    A fim de elucidar essa questo interessante examinar o mecanismo pelo qual a economia regio-nal ter de ir adaptando-se a essa maior entrada de bens de capital.

    Admitindo que a economia local recebe bens de capital inanciados para um impulso inicial, visando o incremento daqueles tipos de produo, a continui-dade do processo sob o aspecto do balano de contas poderia ser assegurado no perodo seguinte atravs de utilizao de capacidade para importar anteriormente liberada em novas importaes de bens de capital.

    Em alguns anos de continuidade dessa poltica, se-ria sensvel a mudana na estrutura tanto do comrcio exterior como do interestadual. Alis, oportuno acen-tuar que todo o problema da capacidade para impor-tar deve ser desdobrado nos setores do comrcio com o estrangeiro e com o resto do Brasil.

    Redobra de interesse a modificao de estrutura assinalada, quando se observa que os bens de capi-tal necessrios expanso dos servios de energia eltrica, transporte, comunicao precisam ser em grande parte importados, seja do estrangeiro, seja de outros estados.

    Dentro de orientao geral apresentada, uma po-ltica de fomento da produo dos seguintes artigos encontraria ento ampla justiicativa:

    a) PARA O MERCADO INTERNO, VISANDO MELHORAR O ABASTECIMENTO E SUBSTITUIR IMPORTAES:

    algodo feijo milho arroz frutas legumes batata inglesa cebola e alho charque e carne verde leiteMANUFATURA vesturio mobilirio louas calados bebidas (cerveja) farinhas conservas (carnes, peixes, frutas) doces banha laticniosb) PARA EXPORTAO DESTINADA A OUTROS ESTADOS borracha dend cco cacau em amndoas, pasta de cacau, manteiga de

    cacau e chocolates cidos gordurosos para indstrias de saboaria

    (extrados do cco) leos e gorduras vegetais condimentos cromatos diversos derivados da cromita tijolos refratrios derivados de magnesita amianto cimento gasolina leo diesel leos lubriicantesc) PARA EXPORTAO DESTINADA AO EXTERIOR cacau amndoas pasta torta chocolate manteiga fumo

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    cco babau sisal piaava mamona madeiras peles e couros

    Estudo Comparativo da Renda da Bahia

    Por que a renda per capita da Bahia est to abaixo da mesma renda para o Brasil?

    Tentativa de Anlise por Aristeu Barreto de Almei-da, do Escritrio Tcnico de Estudos Econmicos do Nordeste (ETENE) do BNB.

    NOTA PRVIA

    O presente trabalho se refere Bahia de 1950, compa-rada com o Brasil no mesmo ano.

    Na anlise da indstria, do comrcio e dos ser-vios, fomos obrigados a utilizar a mdia mensal de operrios ocupados em 1949, bem como o total dos salrios pagos durante esse ano. Tal fato, entretanto, praticamente no afeta os elementos de 1950. As-sim no decurso deste trabalho, bem como nos qua-dros que lhe serviram de base, anotaremos sempre o ano referido a determinado dado, caso no seja o ano de 1950.

    SUMRIO DOS PRINCIPAIS FATOS ECONMICOS

    1. Populao: 4.834.575 Populao ativa remunerada: 1.515.8602. Renda total: Cr$ 10.038,1 milhes3. Renda Per Capita: Cr$ 2.076 da populao ativa: Cr$ 6.6224. Agricultura: a) Renda Total: Cr$ 3.910,8 milhes b) Renda Mdia por trabalhadores: Cr$ 3.764 c) Principais Produtos: Cacau, Mandioca, Caf,

    Cana, Fumo, Feijo, Mamona e Milho.5. Indstria: a) Renda Total: Cr$1.237,7 milhes b) Sub divises: Salrios Cr$ 436,1 (R.B.E. F.G.V) e

    232,4 (Censo). c) Renda Mdia por operrio: Cr$ 10.180 d) Principais Indstrias.6. Comrcio: a) Renda total: Cr$ 2.424,4 milhes b) Renda mdia por operrio: Cr$ 21.852

    7. Servios (inclusive proisses liberais) a) Renda total: Cr$ 1.467,2 milhes b) Renda mdia por trabalhador: Cr$ 11.2648. Governo: a) Renda total: Cr$ 540,7 milhes b) Renda mdia por trabalhador: Cr$ 12.979

    FATORES ESTRUTURAIS DE ORDEM GERAL

    1. Populao economicamente ativa. Na Bahia 69,2% da populao composta de pessoas de

    10 anos e mais, a qual est assim distribuda: atividades domsticas 31,1%, inativo 6,8% e populao ativa re-munerada 31,4%. No Brasil a composio ligeiramen-te diferente conforme se observa no quadro seguinte.

    Sendo a populao ativa remunerada inferior do Brasil, essa diferena 33,0 31,4 = 1,6 acarretar, su-pondo-se idnticas as demais variveis, um dicit de renda proporcional a essa diferena.

    Se com 31,4% de populao ativa remunerada a Bahia tem 49% da renda per capita do Brasil, qual ser a % dessa renda se a participao da populao ativa remunerada for igual a do Brasil, isto , 33%?Ento teremos:

    31,4____4933______ x = 1617 = 51,5% 31,4

    ESTRUTURA DE EMPREGO

    Comparativamente ao Brasil, a Bahia um estado cuja oferta de trabalho muito maior no setor da atividade primria, sobretudo na agricultura, que emprega 73% da populao ativa, contra 60,6% para o Brasil.

    O quadro abaixo nos mostra as diferenas percen-tuais de trabalhadores que se dedicam s diferentes atividades na Bahia e no Brasil, onde se constata que s na agricultura a Bahia maior.

    Se calcularmos a renda que teria a Bahia, caso pos-susse a mesma distribuio de emprego que tem o Brasil, isto , multiplicando os operrios assim redis-tribudos pelas rendas mdias baianas, encontraremos para o Estado uma renda global de Cr$ 11.822 milhes, quando efetivamente ela de Cr$ 10.038,1 milhes.

    Se a renda global de Cr$ 10.038,1 milhes d 49 da renda per capita do Brasil, qual ser essa renda se a renda global ascender a Cr$ 11.822 milhes?

    10.038,1______49 de renda11,822______x = 579278 = 57,71 10.038,1

    25

    A renda hipottica (17,136,9 milhes) menos a renda efetiva (10.038,1 milhes) dar 7.098,8 milhes de dicit de renda, oriunda das citadas diferenas geo-gricas de remunerao por ramos de atividades.

    Pois bem, se izermos essa diferena igual a 100, acharemos as porcentagens da deicincia total de cada setor sobre esse somatrio e teremos a respon-sabilidade relativa dos dicits respectivos para a eco-nomia estadual; tais porcentagens esto contidas na ltima coluna do quadro citado, 4.

    Como a deicincia geogrica de apenas 38,56% dos 51% da deicincia global da renda per capita, che-garemos s deicincias efetivas de cada setor da pro-duo mediante as seguintes relaes, ainda recorren-do ltima coluna do quadro 4:

    Da concluirmos que as deicincias efetivas das rendas geogricas de cada um desses ramos, as quais entram na composio do dicit geral de 51% da ren-da per capita da Bahia em relao do Pas, so as indi-cadas na ltima coluna do quadro anterior, que, soma-das, do 38,56%, ou seja, a deicincia geogrica geral.

    Do que podemos inferir que, se tornarmos igual no Brasil a renda de cada um desses setores, permanecen-do constantes as demais variveis, a renda per capita da Bahia aumentar o correspondente deicincia inal apontada, isto , exempliicando, se a renda per capi-ta na agricultura baiana passar a ser igual do Brasil, permanecendo constante a estrutura de emprego, a per-centagem da renda per capita da Bahia, em relao do Brasil aumentar de 21,86%. No ano estudado, a referi-da renda seria de 49% + 21,86% = 70,86% da brasileira.

    Tomada separadamente, a renda por trabalhador da agricultura baiana representa 50,9% da referente brasileira, o que nos d um dicit de 49,1% em relao ao Brasil. Como se v, a agricultura baiana apesar de ser o fundamento de sua economia, em praticamente nada contribui para aliviar a desvantagem da renda es-tadual com a do pas.

    A vantagem de 1,9% sobre a renda per capita fa-cilmente anulada com as desvantagens marcantes nas remuneraes de aluguis e de suplementos a salrios e ordenados. Isoladamente, a mdia da indstria re-presenta 57% e a dos demais setores esto acima de 68,9% da mdia brasileira.

    Examinados os trs fatores iniciais, passaremos a examinar com mais detalhes cada ramo de ativida-des econmicas.

    DIFERENA GEOGRFICA DA RENDA mais importante e decorre das diferenas de ren-dimento por trabalhador, veriicadas nos diferentes ramos de atividades entre a Bahia e o Brasil, o que sempre favorvel ao conjunto do pas.

    A multiplicao da renda mdia de cada atividade no Brasil pelo nmero efetivo de trabalhadores baia-nos nessas atividades nos daria uma renda global de Cr$ 16.964,1 milhes, quando efetivamente ela de Cr$ 10.0,8,1 milhes.

    Com a renda total de Cr$ 10.038,1 milhes a % de renda per capita do Brasil de 49; se ela for de Cr$ 16.964,1, a renda per capita da Bahia ser 82,8% da do Brasil, como se ver:

    10,038,1_______4917,136,9_______x _ 83,65A renda hipottica da Bahia, atravs dos rendimen-

    tos mdios do Brasil, consta do seguinte quadro:

    TABELA

    Como se v, os trs fatores citados, tomados isolada-mente, tiveram responsabilidade crescente na expli-cao da deicincia da renda per capita do Estado da Bahia, em relao ao Brasil, nas seguintes medidas:

    Deicincia Encontrada1. 2,52. 8,73. 54,7 45,9

    Sendo a deicincia absoluta de renda por capita de 51%, as responsabilidades dos trs fatores estudados so respectivamente 2,83%, 9,86 e 38,31%.

    DEFICINCIA GEOGRFICA ENTRE OS RAMOS DE ATIVIDADE

    Para um dicit global de renda per capita de 51%, a deicincia geogrica da renda de 38,56, isto re-presenta 75,53% do total. Isso posto, quais sero as carncias de rendimentos dos principais setores de atividade econmica?

    Voltando ao quadro 4, onde temos a renda efetiva segundo os ramos de atividades na Bahia e o clcu-lo da renda estadual pressupondo-se a renda mdia auferida pelo trabalhador brasileiro em cada uma dessas atividades, notaremos substanciais diferen-as de rendimentos.

    Efetiva

    38,5651,00

  • 26 2726 27

    AGRICULTURA

    A Agricultura o principal ramo de atividade do Estado, tanto do ponto de vista da renda, como do nmero de pessoas que a ela se dedicam. Ela absorve quase da populao ativa remunerada que, mesmo auferindo bai-xo rendimento por trabalhador, totalizam 4,4% da renda global da Bahia. Na composio dessa renda, as lavou-ras, a produo animal e a extrativa vegetal entram res-pectivamente com 67,5, 22,8 e 9,7%, o que signiica: que o valor da produo do conjunto das lavouras represen-ta isoladamente 28% da renda estadual; que a produo de origem animal, isto , o valor de rezes abatidas, de produtos derivados e do aumento dos rebanhos bovino, suno, ouvino e caprino, representa 9,4%; e que a extra-tiva vegetal contribui com 4% da renda baiana.

    A defasagem observada, entre os 73% de trabalha-dores agrcolas e a contribuio de apenas 41,4% para a renda estadual, a principal responsvel pela peque-nez de sua renda baiana.

    RENDA DA TERRA

    De maneira geral, o rendimento mdio da terra me-lhor que o do pas, do nordeste, assim como em muitas culturas, os rendimentos por hectares so superiores aos dos estados de maior produo.

    Assim, a Bahia tem 8 produtos (mandioca, feijo, milho, mamona, algodo, arroz, fava e trigo), que re-presentam 28,5% do valor da produo, cujas rendas mdias por hectare so inferiores renda mdia geral da lavoura do pas. Essas culturas, exceto a de mandio-ca, e, inclusive, a do amendoim, esto na mesma situ-ao e representam 41,1% do valor da produo da lavoura brasileira.

    Donde se conclui que as terras cultivadas baianas, isoladamente, no tm qualquer responsabilidade na deicincia da renda agrcola do Estado, representan-do, pelo contrrio, um fator positivo em sua conjun-tura agrria.

    USO DA TERRA

    Em relao s reas totais, a utilizao das terras baia-nas com a agro-pecuria bastante inferior do pas.

    O quadro abaixo, que contm a distribuio abso-luta e relativa das terras na Bahia e no Brasil, mostra a deicincia baiana no uso econmico de seu territrio.

    Analisando-se as propriedades recenseadas em 1950, observa-se que a sua utilizao signiicativa-

    mente maior no Brasil (53,6%) que na Bahia (34,0%). Inversamente, a disponibilidade de terras incultas e improdutivas signiicativamente maior na Bahia do que nas propriedades recenseadas do pas.

    A deficincia de aproveitamento das terras no pode ser, portanto, devido sua carncia; quer nas fazendas, quer no conjunto do Estado, h farta dis-ponibilidade. Qual ser ento o motivo dessa peque-na utilizao?

    PRODUTIVIDADE FSICA DO SOLO

    A Bahia est bem situada no que se refere a produti-vidade sica do solo, isso em comparao no s com as mdias do Nordeste e do Brasil, como tambm do maior Estado produtor. Assim, por exemplo, as lavou-ras de cacau, mandioca, cana, mamona, amendoim, arroz, fava e uva apresentam melhores mdias que o Nordeste e o Brasil. A Bahia o maior Estado produtor de alguns desses produtos; em outros, como o caf, a produo por hectare de 375 kg, contra 334 kg em S. Paulo. O quadro 14 d a produtividade sica de cada cultura relativamente s outras reas.

    Esses dados, entretanto, isoladamente, no so muito signiicativos, podendo ser a conseqncia de 3 fatores:1. maior densidade demogrica, signiicando maior tra-

    balho por unidade de rea;2. maior densidade de capital por hectare, ou seja, mais

    dispndio em adubos ou no amanho do solo;3. solos mais apropriados.Do que constamos e sem outro exame, no podemos atri-buir fertilidade do solo, a grosso modo, responsabilida-des pela deicincia da renda estudada.

    RENDA POR HECTARES Cr$ / ha

    A rentabilidade do hectare cultivado (Cr$ 3,319) supe-rior do Brasil (Cr$ 3,096) em 7,2%.

    H inmeros produtos cujas rentabilidades mdias so vantajosas, comparativamente s mdias nacionais, do nordeste e do maior Estado produtor.

    Trs das oito principais culturas: mandioca, caf e mi-lho, que representam 27,6% do valor da produo agrco-la, auferem, respectivamente, 80,5, 71,2 e 55,9% das ren-das mdias por hectare no Brasil.

    Logo, a concentrao nesses produtos, bem como no algodo, abacaxi, alho, arroz, batatas doce e inglesa, cebo-la, coco da Bahia, tomate e trigo, cuja soma 34,6% do va-lor de produo, que proporcionam rendimentos por hec-tares bastante inferiores aos do pas, um fator negativo

    para a agricultura baiana, se abstrairmos outras conside-raes, sobretudo a possibilidade de comrcio, atravs de aproveitamento de custos comparativos mais favorveis.

    PREOS

    De maneira geral, a lavoura baiana pior remunerada que a do pas. O cacau, por exemplo, cujo primeiro produtor a Bahia, aufere 6,707 cruzeiros por toneladas contra 6,736 para o Brasil, ou seja, 99,6% deste.

    Nos demais produtos em que a Bahia o maior pro-dutor ocorre o mesmo fenmeno: mandioca, mamona e coco da Bahia tm preos bastante abaixo da mdia brasi-leira, dos quais representam, respectivamente, 73,2, 85,6 e 94%, conforme se ver no quadro 14.

    Alm desses, fumo, caf, milho, abacaxi, agave, algo-do, amendoim e fava so produtos que esto nas mesmas condies de inferioridade de preos.

    O cacau representa 37,5% e os demais produtos apontados 42,4% do valor da produo das lavouras, to-talizando portanto 79,9% desse valor. Os produtos nessa situao obtiveram preos leves ou signiicativamente in-feriores aos nacionais.

    Consequentemente, as 24 lavouras apuradas pelo Mi-nistrio da Agricultura, como valor da produo de Cr$ 2.639,o milhes, teria esse valor aumentado para Cr$ 2.825,2 milhes, caso obtivessem os preos mdios bra-sileiros. Logo, as diferenas de preos, ora favorveis, ora desfavorveis, so responsveis globalmente por apenas 7,3% de deicincia em sua renda total, conforme de-monstram os clculos do quadro 16.

    Caso existissem dados referentes distribuio de trabalhadores nas diferentes culturas, ento seria possvel determinar as diferenas de rendimentos per capita para cada cultura da diferena de renda mdia nesse setor. Isto , teramos a concentrao de trabalhadores em ativida-des melhor ou pior remuneradas.

    REA CULTIVADA POR TRABALHADOR

    A rea cultivada por trabalhador (0,809 ha) apenas 41,1% da rea do Brasil (1,798 ha).

    Embora a renda por hectare (3,319) seja supe-rior do pas (3,096) em 23,7%, esse rendimento por hectare precisaria mais que duplicar afim de que a renda per capita atingisse a do brasileiro, isso , cada hectare de terra cultivada na Bahia deveria ren-der Cr$ 7,533. Ou ento, conservando o mesmo ren-dimento, o Estado precisaria cultivar 1.586 hectares por trabalhador, em vez de apenas 0,809, para que a

    renda mdia do trabalhador baiano fosse igual do brasileiro, isto , Cr$ 7.397 anuais.

    CAPITAL

    As atividades agropecurias, inclusive a produo ex-trativa vegetal, so bastante menos capitalizadas na Bahia que no resto do pas.

    Enquanto na Bahia o capital (1) por pessoa ocupa-da nessas atividades de Cr$ 9,037, essa mdia para o Brasil de Cr$ 15,043, ou seja, apenas 60,1% deste.

    Inversamente, como o nmero de hectares por tra-balhador muito mais reduzido, o capital investido por hectare acentuadamente superior ao do Brasil.

    Assim, considerando o capital investido apenas para as lavouras, encontraremos para a Bahia Cr$ 1.819 por hectare cultivado, contra Cr$ 1.245, ou seja, mais 46,1% de capital aplicado por hectare do que a mdia brasileira. Do que se conclui que, tomando as va-riveis terra e capital, ser preciso um aumento subs-tancial numa delas ou em ambas, para que a renda per capita iguale do pas.

    Consideramos capital na agricultura a soma dos valores de terras, animais de servio, construes e benfeitorias e os equipamentos agrcolas, segundo os dados do censo de 1950.

    CONCLUSO

    Em sntese, a deficincia na renda da lavoura baiana comparada brasileira causada pela conjuntura de fatores desfavorveis para a Bahia, que aparecem, isoladamente, com as respectivas deficincias em relao ao pas.1. Menos terra aproveitada na rea estadual 26,7%2. Menos terra por trabalhador 58,9%3. Menos capital por trabalhador 39,9%4. Preos mais baixos 7,3%5. Diferena estrutural na agricultura(se a Bahia tivesse a mesma distribuio % de quantidade produzida que o Brasil nas diferentes culturas)

    Tais deicincias so ligeiramente atenuadas pela maior concentrao de capital por hectare, o qual entretanto no determina rentabilidade proporcio-nal. Para o capital investido por hectare superior em 46,1% ao brasileiro, a renda da terra sobrepuja a na-cional em apenas 7,2%.

    PECURIA

    A pecuria ocupa importante papel na composio da renda do Estado, com uma contribuio de Cr$ 892,2

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    milhes, ou seja, 9,4% da sua renda. No Brasil sua participao de 7,3%.

    A participao percentual dos rebanhos baianos em relao ao Brasil bastante superior participao no valor da produo, o que se constata ao cotejar o quadro seguinte. Tal fato indica que a produtividade do gado baiano bastante inferior ao brasileiro, sobretu-do no que se refere a produtos derivados.

    Segundo as reas de pastagens encontradas pelo Censo, o valor da produo animal por hectare de Cr$ 192 contra Cr$ 147 no Brasil, conirmando a vantagem do mesmo rendimento nas lavouras.

    Entretanto, a disponibilidade de terras para a cria-o bastante favorvel ao Brasil.

    Se dividirmos as pastagens pelo nmero de cabe-as de gado bovino, encontraremos 2 hectares para cada boi no Brasil, contra 1,4 hectares para a Bahia, ou seja, a desvantagem de pastagens de 30%.

    Outro fator a considerar para explicar a diferena da renda da pecuria, a diferena de preos veriicada nos produtos de origem animal.

    Em sntese, a deicincia de rendimentos observa-da entre a Bahia e o Brasil em funo de 3 fatores:1. Menos produtividade por cabea. Ser que esse fato

    consequncia de maior proporo de gado sele-cionado no Brasil que na Bahia, ou apenas diferen-a regional de renda?

    2. Menos 30% da rea por cabea, a qual no total-mente compensada por maior rendimento por hec-tare, ou seja, terras mais ricas em alimentos para a criao. Esses 2 elementos conjugados daro ainda 8,6% de dicit para o Estado.

    3. Diferenas de preos.

    INDSTRIA

    Compulsando os dados fornecidos pelo Censo Indus-trial de 1950, notaremos que o valor da transformao industrial da Bahia de apenas 51,1% do correspon-dente ao Brasil. Enquanto isso, os dados da renda na-cional, aliados aos dados de emprego do censo demo-grico, apresentam uma renda mdia por trabalhador de 57,0% do Brasil.

    As diferenas de dados entre as diferentes fontes so patentes, bastando para exempliicar a disparida-de entre 121.579 trabalhadores industriais encontra-dos pelo censo demogrico, contra a mdia mensal de 35.622 apresentada pelo censo industrial para a Bahia.

    TAMANHO DO SETOR INDUSTRIAL No DE OPERRIOS OCUPADOS

    Segundo o censo demogrico, a Bahia e o Brasil tm, respectivamente, 2,41 e 4,30% de suas populaes ocupadas na indstria, isto , as pessoas ocupadas na indstria baiana relativamente populao represen-tam 58,37% das do pas.

    Como esse ramo aufere renda maior que a mdia geral do Estado, o seu incremento signiicaria, caso ou-tras variveis continuassem contantes, um incremento geral na renda mdia do conjunto.

    VALOR ADICIONADO NA INDSTRIA

    O valor total de transformao por operrio de Cr$ 41.683 no Brasil, ou seja, 51,1% deste. Apenas a indstria de couros, peles e produtos similares apresenta valor superior ao brasileiro, o que nada representa para contrabalanar o dficit geral de-vido a esse ramo representar 2,34% do operariado industrial baiano, como tambm e principalmente devido ao fato de que esta vantagem especfica in-ferior ao valor mdio da transformao no conjunto da indstria brasileira.

    Acima desta mdia a Bahia s apresenta Servio Industrial de Utilidade Pblica, com um valor adicio-nado de Cr$ 110,231 por trabalhador, enquanto no Brasil a mdia de Cr$ 131.026.

    Esse setor, com os 110.231 cruzeiros por trabalha-dor, ou seja, de 260% da mdia global brasileira, repre-senta apenas 1,46% do nmero de operrios e portan-to pouco inlui no alevantamento da mdia geral.

    Como se v, 98,54% dos operrios baianos produ-zem cerca de metade do valor do que produz o brasilei-ro mdio ocupado na indstria.

    Por outro lado, 50,3% dos operrios baianos traba-lham em indstrias de rendimento inferiores media do Estado. Entre estas trs tm particular importncia: 1. Fumo com 10,52% dos trabalhadores e renda m-

    dia de Cr$ 11.057 enquanto no Brasil a renda de 51.756 para 1,43% dos operrios.

    2. Transformao de minerais no metlicos com 12,61% de operrios e renda de Cr$ 10.675.

    3. Txtil, com 15,98% de operrios da transformao e renda de Cr$ 15.994 por operrio.

    A responsabilidade das indstrias na diferena do valor adicionado efetivo e o valor adicionado que tero caso as indstrias baianas tivessem as mdias

    brasileiras de valor adicional por trabalhador de-terminada por 2 variveis principais:1. Nmero de trabalhadores ocupados;2. Diferena veriicada no valor da transformao ou

    valor adicionado.Assim, a indstria de alimentao a principal respon-svel pela diferena da renda industrial, cobrindo 26% do dicit. seguida pela do fumo, 61%; dos minerais no metlicos, 12%; e txtil, 11%.

    DIFERENA DE ESTRUTURA

    Praticamente no inlui. Se a Bahia tivesse a mesma distribuio percentual de seus operrios como tem o Brasil, sua renda acresceria de apenas Cr$ 4 milhes, ou seja, apenas de 0,53%, conforme clculo do quadro 23.

    SALRIO DA INDSTRIA

    Individualmente, todas as atividades remuneram pior na Bahia. No conjunto, o salrio mdio pago na inds-tria representa 59,84% da mdia nacional.

    A indstria metalrgica paga mais 8,86% por ope-rrio que a mdia do conjunto da indstria do pas, o mesmo ocorrendo com a Construo Civil, cuja vanta-gem de 2,88%, e os Servios Industriais de Utilidade Pblica, que pagam apenas 0,12% a mais da mdia de salrios industriais do Brasil.

    O quadro 22 mostra essas diferenas.

    ESTABELECIMENTOS CONCENTRAO DA PRODUO

    No conjunto da indstria, a mdia de operrios por esta-belecimento na Bahia (9,9%) 60,96% da do Brasil (14,6).

    Cada estabelecimento da indstria extrativa vege-tal dispe em mdia de 36,1 operrios, contra 7,7 no Brasil, ou seja, 468,8% a mais. Tal vantagem anulada pelas grandes deicincias de capital e de cavalos va-por por trabalhador, que representam apenas 33,4% e 39,7% das mdias brasileiras, ou seja, a Bahia dispe de Cr$ 9.279 e 1,21 c.v. por trabalhador, contra Cr$ 27.508 e 3,05 c.v. para o Brasil.

    Entre os ramos da indstria de transformao, apenas as indstrias Txtil, com 129,4 operrios, e de fumo, com 79,8, contra 106,1 e 56,3 respectivamente para o Brasil, apresentam maior nmero de operrios por estabelecimento recenseado, o que denota maior concentrao industrial.

    As empresas de construo civil tambm apresen-tam maior nmero de operrios (65) contra 33 para as congneres brasileiras.

    Os ramos acima apontados tm capital aplicado a fora motriz por operrio inferior ao Brasil, bem como o valor de sua transformao industrial. [trecho ileg-vel no documento original]

    CAPITAL POR OPERRIO

    No que tange a capital, o estado pior servido que a nao.

    A mdia geral de capital por operrio de Cr$ 21.423 e a do Brasil Cr$ 39.821. A mdia baiana de apenas 53,8% da brasileira.

    Apenas 2 ramos de indstrias apresentam inver-ses superiores s brasileiras: Industriais Qumicas e Farmacuticas e Industriais de Fumo, que repre-sentam apenas 4,86% dos estabelecimentos, 30,82% do capital aplicado, 10,81% do nmero de operrios, 9,26% dos salrios pagos e 8,49% do valor da trans-misso industrial.

    Os ramos citados, bem com as indstrias me-talrgicas, de Papel e Papelo e os Servios Indus-triais de Utilidade Pblica tm capital por operrio bem acima da mdia geral brasileira. Esses ramos representam entretanto 9,12% dos estabelecimen-tos, 40,45% do capital aplicado, 15,73% dos oper-rios, 11,95% dos salrios pagos e 16,40% do valor da transformao industrial, como se ver nos qua-dro 19 e 20.

    FORA MOTRIZ

    No seu conjunto a indstria baiana dispe de apenas 1,07 cavalos vapor por operrio, enquanto o Brasil conta com 2,06, ou seja, de apenas 51,9%.

    Na indstria da madeira a disponibilidade idn-tica. A Bahia s leva pequenas vantagens nesse par-ticular em 2 ramos industriais: Couros, pelos e pro-dutos ains e em Indstrias-Diversas, cujas mdias por operrio so, respectivamente, 2,24 e 1,41 c.v. para a Bahia, contra 2,15 e 1,29 para o Brasil. Esses dados constam de quadro 20.

    CONCLUSO

    Sintetizando, o quadro abaixo mostra a posio da Bahia em relao ao Brasil em cada um dos fatores iso-lados, os quais, conjugados, determinam o menor ren-dimento por trabalhador.Um fator importantssimo para esta anlise im-possvel de ser estudado nas condies do presente trabalho. Este fator a diferena de preos entre os

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    produtos regionais e nacionais, bem como as dife-renas de qualidade dos produtos.

    COMRCIO

    Os dados do censo demogrico, combinados com os da renda nacional da F.G.V., nos do uma renda de Cr$ 21.852 por trabalhador contra 27.103 para o Brasil, isto no conjunto de comrcio, transporte, comunica-es e intermedirios inanceiros.

    Analisando o contedo numrico do censo comer-cial de 1950, nota-se maior concentrao comercial no Brasil; com maior nmero de pessoas por irma em 1.150; maior volume de vendas em 1949 e maior esto-que no im de 1949. As mdias baianas representaram respectivamente 72,9, 69,8 e 76,6% das do pas, con-forme se ver no quadro 24.

    A remunerao entretanto melhor que a brasi-leira em 10,4%.

    O comrcio exterior tem uma importncia funda-mental para a economia baiana.

    As vendas realizadas para o exterior representa-ram 57,1% das realizadas para consumo interno, en-quanto que no Brasil elas s representaram 19,6% das vendas para o mesmo im.

    No comrcio exterior o saldo favorvel ao Estado foi de Cr$ 1.686,8 milhes.

    J no comrcio de cabotagem se deu o inverso, como normalmente acontece, apresentando um dicit de Cr$ 1.366,6 milhes, que naturalmente coberto pelo saldo de divisas.

    Dos produtos agrcolas estudados alguns so de ex-portao para o exterior. A exportao de cacau foi Cr$ 1.414 milhes, inclusive pasta e torta de cacau; fumo, charutos, etc., atingiu Cr$ 313,5 milhes; mamona Cr$ 768 milhes; a exportao de caf foi de Cr$ 28,7 mi-lhes para o exterior e 37,7 milhes para outros esta-dos; a de agrave foi de Cr$ 13,2 milhes.

    Do exterior a principal importao a de trigo em gro e farinha, que se elevou a 64,5 milhes, seguida do bacalhau que alcanou 15,7 milhes.

    Quanto ao comrcio de cabotagem a Bahia apre-senta uma importao de Cr$ 523,9 milhes de gne-ros alimentcios, contra apenas Cr$ 124,9 milhes de exportao desses gneros, para a qual o caf contribui com 34,7 milhes.

    A grande deficincia baiana no que se refere a importao de gneros alimentcios, e de carne e de-rivados. A importao de xarque foi de 130 milhes

    de cruzeiros e a de leite condensado e em p, man-teiga e queijo 50,5 milhes, seguida de arroz sem casca com 52,9 milhes.

    A importao de cebola, Cr$ 7,4 milhes, foi supe-rior produo estadual, 6,6 milhes; e a batata, 6,8 milhes, correspondeu a da produo. Ainda pelo comrcio de cabotagem a Bahia importou Cr$ 6 mi-lhes de trigo em gro.

    A importao de origem animal (carne seca, leite, manteiga, queijo) repesentou 20% da produo estadual.

    O comrcio baiano substancialmente determi-nado pelos preos de seus produtos de exportao, sobretudo do cacau, seguido pelo fumo. Assim, no ano estudado, para uma exportao global de Cr$ 2.115 mi-lhes, s o cacau em gro contribuiu com 1.369,6 mi-lhes. A soma de cacau em gro, torta e pasta de cacau, fumo, charutos, etc., mamona e agrave d Cr$ 1.839 milhes de exportao.

    A nosso ver, o comrcio de cabotagem no exprime o comrcio interestadual, pois que o intercmbio por vias terrestres tem ganho importncia com a cobertura de estradas e o crescente trfego rodovirio.

    SERVIOS

    Os servios constituem importante setor na renda geral do Estado, da qual representam 14,6% da renda total.

    A renda total de Cr$ 1.467,2 milhes, segundo os Estudos da Renda Nacional da F.G.V., sendo a renda por pessoa ocupada nesse ramo de Cr$ 11.264, bastante superior mdia geral de rendimentos dos trabalha-dores. Entretanto ela est abaixo do rendimento mdio do trabalhador brasileiro, do qual representa 91%, e est ainda mais baixo do rendimento mdio dos servi-os do pas, do qual representa 69%.

    Segundo a sinopse preliminar do Censo dos Ser-vios, que abrange (a) servios de confeco, conser-vao e reparao, (b) alojamento e alimentao, (c) higiene pessoal e (d) servios de diverso e radiodifu-so, a receita lquida por trabalhador na Bahia, isto , a receita menos despesas de consumo, na produo dos servios, representa 48,2% do Brasil, conforme se ver no quadro a seguir:

    Como se nota, os dados da Renda Nacional, no que se refere a rendimentos, est um pouco acima do Cen-so. talvez a conseqncia da incluso das proisses liberais no clculo da F.G.V.

    As relaes mais detalhadas se poder chegar, se trabalharmos com mais detalhes no quadro anexo,

    n 25, onde aparecem separadamente os diferentes setores dos servios.

    GOVERNO

    1. Quando abordamos a diferena geogrica entre os mais importantes ramos de atividades, fomos obri-gados a reunir sob a rubrica Governo os seguin-tes itens do Censo cujo nmero de servidores est abaixo indicado.

    Agimos de forma a im de tornar comparveis os dados do Censo com o da Renda Nacional.2. A renda geral desses ramos foi de Cr$ 540,7 mi-

    lhes e a renda mdia dos que se dedicam a essas atividades Cr$ 12.297, contra 16.991 para o Brasil, ou seja, 73,3% deste.No obstante essa renda representar quase o du-plo da renda mdia da populao ativa ela ainda inferior renda mdia da populao ativa do Brasil (Cr$ 12.822).

    3. No que se refere a nmero de servidores, damos no quadro a seguir o nmero de servidores para cada 1.000 habitantes, nas atividades propria-mente governamentais, nas atividades sociais e no conjunto.

    A comparao desses dados nos permite inferir que o servio pblico baiano menos oneroso sua econo-mia que o Brasil com ou sem o D. Federal, isto , absor-ve menos trabalhadores.

    ALUGUIS

    No que se refere renda proveniente de aluguis, que para a Bahia de Cr$ 540,7 milhes e representa 1,5% de sua renda, a desvantagem em relao ao pas marcante, onde esse ramo representa 3,8% de sua renda total.

    Como o nmero de pessoas que vivem s de alu-guis deve ser muito pequeno em comparao com os que vivem tambm de outras atividades e como no h dados referentes a pessoas empregadas nesse ramo, dividimos as rendas globais da Bahia e do Brasil pelo total das populaes ativas e encontramos Cr$ 98 de renda por trabalhador para a Bahia, contra Cr$ 483 para o Brasil. Logo o rendimento per capita assim con-siderado de 20,3% o do Brasil.

    ANLISE DAS LIMITAES DOS DADOS EMPREGADOS

    Os dados consultados e reelaborados para a presente anlise foram coligidos do Censo Demogrico, dos Cen-

    sos econmicos da indstria, do comrcio e dos servi-os, do grupo de Renda Nacional da Fundao Getlio Vargas, do Servio de Estatstica da Produo do Minis-trio da Agricultura, do S.E.E.F do Ministrio da Fazenda, muitos dos quais transcritos do Anurio do IBGE.

    NO CORRESPONDNCIA DE DADOS

    Esses dados, entretanto, de uma s fonte ou de mais de uma fonte, nem sempre so comparveis devido a dife-renas de estrutura entre dados de uma e de outra proce-dncia. Assim, por exemplo, os dados de renda nacional segundo ramos de atividades, no encontra correspon-dncia para todos esses ramos nos fornecidos pela distri-buio da populao ativa pelo Censo Demogrico.

    Da ser inelutvel termos que combinar ramos da renda nacional com os do censo demogrico para ser possvel comparaes.

    Mesmo entre resultados colhidos e apresentados por uma nica repartio, o Censo, h uma disparida-de entre o censo demogrico e os censos econmicos, no que se refere a populao ativa nos diferentes seto-res da atividade. Assim, por exemplo, enquanto para a Bahia o censo industrial apresenta 35,6 mil operrios ocupados nas diferentes indstrias, o censo demogr-ico apresenta 121,6 mil trabalhadores.

    A rea cultivada apresentada pelo censo agrcola para a Bahia cerca de 50% superior apresentada pelo Servio de Estatstica da Produo do Ministrio da Agricultura, enquanto que a diferena para o Brasil de menos de 15%.

    ESTIMATIVAS

    Tanto os dados do censo como os dados do SEP, co-lhidos pelos agentes municipais de estatstica, so estimativas, fornecidas por milhares de informantes e tomadas por milhares de agentes municipais e recen-seadores. Nem sempre os agentes de estatstica se in-formam minuciosamente entre agricultura ou pessoas conhecedoras da economia municipal, aim de remeter aos Departamentos de Estatstica estimativas coeren-tes. Da resulta enorme variabilidade entre informa-es boas e ms entre diferentes municpios, estados, ou entre si, de um ano para outro.

    EXPORTAES E IMPORTAES

    O intercmbio realizado com o exterior e entre os estados por via martima conhecido atravs das estatsticas de comrcio exterior e de cabotagem, fornecidas pelo SEEF.

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    O mesmo no acontece com o intercmbio por vias terrestres, rodovias, ferrovias e aquovias, cuja impor-tncia, sobretudo das rodovias, tem aumentado de ano para ano.

    Devido a essa importantssima lacuna, impossvel saber-se exatamente o valor do comrcio entre dife-rentes unidades da federao, sobretudo no polgono, onde as rodovias tm uma importncia fundamental.

    DIFERENAS DE PREOS E QUALIDADES

    Ao compararmos dados entre produtos agrcolas e in-dstrias, principalmente, notaremos sensveis diferen-as entre o valor da transformao industrial por ope-rrio entre o Brasil e a Bahia. Com os dados de sinopse do industrial no nos possvel determinar a causa dessa diferena: a) se a inferioridade do produto, b) se a menor produtividade sica do operrio, ou c) se a desvantagem nos preos.

    So desconhecidas as condies pedolgicas das reas destinadas s diferentes culturas, nos diferentes estados e lugares. Assim, no se sabe se as diferenas para mais e para menos na produtividade sica por hectare decorrem de melhores ou piores terras.

    Os dados disponveis, proporcionando uma viso geral da ecoomia, no podem ser utilizados para an-lises rigorosas.

    RECOMENDAES PARA ESTUDOS POSTERIORES NECESSRIOS

    So tambm desconhecidas as qualiicaes tcnicas dos trabalhadores baianos, nas diferentes atividades, em comparao com as dos brasileiros mdios, do que logicamente deveria resultar diferenas de produtivi-dade e consequentemente de salrios.1. Para uma anlise econmica rigorosa e minuciosa,

    que proporcione o conhecimento da responsabili-dade das variveis dos fenmenos econmicos, necessrio uma aprofundada e planiicada inves-tigao de cada setor de atividade. Quantiicada a importncia dos fatores de produo, possvel traar-se uma poltica econmica destinada a supe-rar ou compensar as diferenas globais ocorridas entre indstrias, entre municpios, estados e regi-es e entre estes e o pas.

    2. A disperso ou a concentrao das atividades econmicas tambm muito importante para a anlise da economia estadual. A Bahia muito grande, apresentando zonas de grande e de baixa

    densidade demogrfica entre as quais h diferen-as de rendimentos, de produtividade, de merca-do, de transporte, para atividades difundidas por todo o estado.

    3. So necessrios mapas com divises municipais e com dados referentes a topografia, sistema hidrogrfico, estradas, vegetao, tipos de so-los, pluviosidade, temperatura, etc, para o mais perfeito estudo, bem como para a projeo dos planos do desenvolvimento que exigem esses e outros dados fundamentais.

    4. No que se refere a populao ativa, poderemos determinar a concentrao em grupos de idade mais ou menos avanada, o que de certo influir no aumento.

    5. Armazenagem o clima e a tradio na produo extensiva tm sido os fatores primordiais da impre-vidncia brasileira no que se refere conservao de alimento. H uma deicincia geral de silos e ar-mazns gerais, que precisa ser superada. Para isto faz-me mister investigar a existncia e distribuio desses estabelecimentos no Estado, bem como a ei-cincia no seu funcionamento, aim de se projetar e construir silos ou armazns gerais nas localidades produtoras, os quais devero propiciar aos agricul-tores armazenagem e preo no proibitivo e eicien-te servio, sem complicaes burocrticas.

    6. Como a Bahia um Estado essencialmente agrcola, e como no dispe de bastante capital para gran-des programas de investimentos industriais, seria interessante o estudo do comrcio internacional de matrias primas e produtos agrcolas, a im de de-senvolver riquezas potenciais do estado. Esse desen-volvimento ser no sentido de: a) ampliar, selecio-nar, ou fundar novas culturas, cuja produo seja em bases econmicas e procura internacional seja mais ou menos garantida; b) intensiicar a criao, com a seleo progressiva do rebanho bovino, que propor-cionar mais carne e derivados, produtos esses de grande elasticidade de procura; e c) desenvolver a pesquisa e a minerao de minerais exportveis.

    7. O estudo detalhado da importao de produtos manufaturados, para ver quais indstrias de-vem acelerar ou aperfeioar a produo, as que precisam ser ampliadas e as que podero e de-vero surgir, a fim de propiciar maior nmero de artigos mais baratos, o que no s aumentar a renda do Estado, como tambm melhorar os

    termos de troca de outros produtos com os re-cm produzidos. Parece-me inconcebvel a ine-xistncia da indstria de cerveja, por exemplo, o que acarreta elevado preo para o produto, como conseqncia de seu transporte, que feito com a bebida j engarrafada.

    No que se refere ao cacau, no se poderia beneici--lo em maior escala, fabricando balas e gelia de ca-cau, por exemplo, produto esse quase desconheci-do e que, de certo, teria larga aceitao como doce para sobremesa?

    O problema pesquisar as indstrias que produ-zem ou podero produzir a custos comparativos mais favorveis.

    Balano de Pagamentos da Bahia1951 / 1954

    I FATOS EM RELEVO

    O presente trabalho um ensaio do que se convencio-nou chamar Balano de Pagamentos da Bahia, ressen-tindo-se de alguns dados fundamentais, cuja apurao se tornou impossvel no momento; disso resultam al-gumas deicincias, principalmente a que se refere omisso das contas compensatrias que mostrariam a aplicao dos saldos ou inanciamentos do dicit re-sultante do confronto das entradas e sadas de recur-sos classiicados nas rubricas de Mercadorias, Ser-vios e Capitais.

    O levantamento em causa cobre um perodo de 4 anos; para sua elaborao foram utilizadas apuraes estatsticas oiciais (Servio de Estatstica Econmica e Financeira do Ministrio da Fazenda, Instituto Brasilei-ro de Geograia e Estatstica e Estatstica Nacional das Operaes de Cmbio), demandando, ainda, pesquisas especiais e o recurso a estimativas para suprir deici-ncias de dados referentes s rubricas mencionadas.

    O grupo Mercadorias, exceo do binio 1951/52, representa saldos elevados, merc da contri-buio de exportaes baiana, para o exterior, deven-do considerar-se, porm, que no comrcio domstico a Bahia recebe valor maior de suprimentos de outros Estados do que lhes fornece.

    A Bahia, portanto, contribui para o fortalecimento do Balano de Pagamentos do Pas, pelo saldo que dei-xa na conta de Mercadorias, e concorre ainda para a maior integrao do mercado in