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PROJETO CONSERVADOR DAS ÁGUAS PASSO A PASSO SÉRIE ÁGUA, CLIMA E FLORESTA VOLUME IV

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Projeto Conservador Das Aguas - Passo a Passo

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Page 1: Livro Projeto Conservador Das Aguas

Projeto Conservador das ÁguasPasso a Passo

série Água, Clima e Florestavolume iv

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expediente

The Nature Conservancy –TNCSRTVS, Qd.701, Conj.D, Bl.B, Sala 246,Edifício Brasília Design CenterBrasília- DF CEP: 70340-907nature.org/brasil

Diretor regional da TNC para a América Latina: Joe KeenanDiretor da TNC para o Programa de Conservação da Mata Atlântica e das Savanas Centrais- AFCS: João CampariGerente de Agricultura e Áreas Protegidas do AFCS: Henrique Garcia dos SantosGerente de Serviços Ambientais do AFCS: Fernando VeigaGerente de Marketing do Brasil: Alexander RoseEspecialista de Marketing do AFCS: Marli Santos

Equipe técnica da TNC:Anita Diederichsen (Cientista Senior)Aurélio Padovezi (Coordenador de Restauração Ecológica)

Revisão:Anita DiederichsenAurélio PadoveziDevanir Garcia dos SantosFernando VeigaPaulo Henrique PereiraRicardo Aguilar Galeno

Foto da capa:Leandro Baumgarten/TNC

Revisão ortográfica:Luiz Ribeiro – Assertiva Produções Editoriais

Edição de Imagens:Ana Flávia Andrade (Estagiária de Marketing TNC)

Projeto Gráfico e editoração eletrônica:SuperNova Design e Matiz Design

Iniciativa: Prefeitura Municipal de ExtremaInstituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG)Agência Nacional de Águas (ANA)TNC

Apoio à esta publicação: Fundação 3M

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P962 Projeto Conservador das Águas Passo a Passo: Uma Descrição Didática sobre o Desenvolvimento da Primeira Experiência de Pagamento por uma Prefeitura Municipal no Brasil/ Adriana Kfouri e Fabiana Favero.- Brasília, DF: The Nature Conservancy do Brasil, 2011.

60 p.-(Série Água, Clima e Floresta, Projeto Extrema-v.IV-1a edição)

1. Água 2. Restauração Ecológica 3. Projeto Conservador das Águas 4. Município de Extrema 5. Microbacia do ribeirão das Posses

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Page 4: Livro Projeto Conservador Das Aguas

série Água, Clima e Florestavolume iv – 1ª ediÇÃo

BRASíLIA - DF

2011

ORGAniZAdOReS Aurélio Padovezi

Anita DiederichsenFernando Veiga

AUtOReS Adriana KfouriFabiana Favero

COLABORAdOReSDevanir Garcia dos Santos

Paulo Henrique PereiraRicardo Aguilar Galeno

editORThe Nature Conservancy do Brasil

Projeto Conservador das Águas Passo a Passo

Uma descrição didática sobre o desenvolvimento da primeira experiência de Pagamento Por Serviços Ambientais por uma prefeitura municipal no Brasil

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Prezados Leitores,

A série Água, Clima e Floresta foi elaborada com muita dedicação da equipe técnica da The Nature Conservancy (TNC), parceiros e consultores, unidos em prol de um objetivo comum: contribuir para a conservação do meio ambiente e o sucesso na execução de

projetos ambientais. Suas publicações visam expor, de forma didática, técnicas, métodos procedi-mentos e ideias acumuladas pela vasta experiência da TNC em projetos de campo.

Neste livro a TNC apresenta uma descrição sobre o desenvolvimento da primeira experiência de Pa-gamento por Serviços Ambientais por uma prefeitura municipal no Brasil. Esse registro é o resultado do Projeto Conservador de Águas desenvolvido pela TNC e parceiros no município de Extrema, em Minas Gerais.

A TNC espera que esse manual seja uma importante ferramenta de auxílio e incentivo ao desenvolvi-mento e implantação de projetos que remunerem o proprietário da terra pela restauração e conser-vação de de áreas importantes para a biodiversidade e para o bem estar humano.

O programa de conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais agradece a todos que colabora-ram com a elaboração desse valioso registro.

Boa leitura!

apresentação

joão CampariDiretor do Programa de conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais

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introdução

cenário ambiental/hídrico/populacional

pagamento por serviços ambientais

serviçosambientais

o projetoconservador das águas

referênciasbibliográficas

e quanto vale este serviço?

40passo a passo

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sumário

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introduçãoprodutor de agua.indd 11 11/03/2011 12:35:45

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Concebido pela Agência Nacional de Águas (ANA), o conceito do Programa Produtor de Água foi implementado de

forma pioneira na cidade de Extrema (MG), com o nome de Projeto Conservador das Águas, em 2005. Desde então, os parceiros do projeto – a Prefeitura Municipal de Extrema, o Instituto Estadual de Florestas do Estado de Minas Gerais (IEF-MG), a Agência Nacional de Águas e a The Nature Conservancy (TNC) – têm recebido inúmeros contatos de prefeituras, secretarias de meio ambiente e outras orga-nizações para entender, conhecer o projeto e implementá-lo em suas localidades.

A The Nature Conservancy, em conjunto com seus parceiros, apresenta este manual para faci-litar o entendimento sobre o projeto e auxiliar os técnicos e tomadores de decisão a desenvolver e implantar projetos de Pagamento por Serviços Ambientais baseados na experiência desenvol-vida na microbacia do ribeirão das Posses, no município de Extrema.

O conceito do Programa Produtor de Água tem foco no serviço ambiental “água” e visa propiciar melhorias na qualidade da água e na regularização das vazões médias dos rios em bacias hidrográficas que abastecem grande parte da população, e por isso tem importância estratégica para o País, por meio da redução da erosão e do assoreamento de mananciais no meio rural, de ações de conservação e restaura-ção de florestas nativas e de ações e práticas de conservação de solo.

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Sem a firme disposição da Prefeitura Municipal de Extrema em implementá-lo, o Conservador das Águas, tão cuidadosamente desenvolvido e preparado ao longo de vários anos, não teria conquistado sucesso. Os resultados elevaram o município de Extrema ao primeiro lugar no ranking dos municípios do estado de Minas Gerais no critério meio ambiente do Índice Mi-neiro de Responsabilidade Social, realizado pela Fundação João Pinheiro e publicado em abril de 2010. Também teria sido muito mais difícil para a prefeitura avançar nessa empreitada sem a colaboração dos parceiros acima citados e sem o apoio do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí (Comitê PCJ).

Esperamos, com esta publicação, dividir a experiência da implementação do Conservador das Águas na Bacia das Posses, em Extrema, e ajudar no desafio de remunerar aqueles que protegem a natureza e, de maneira direta ou indireta, beneficiam milhares de pessoas com os serviços ambientais prestados pelas suas propriedades rurais. Dessa maneira, certamente caminharemos para o maior reconhecimento do valor dos serviços ambientais e da necessidade urgente da sua conservação e restauração, para o benefício da sociedade humana e de todos os seres vivos.

Boa leitura! Fernando VeigaGerente de Serviços Ambientais do Programa de Conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais da TNC

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cenário ambiental,hídrico e populacional

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“A disponibilidade de água de qualidade é uma condição indis-pensável para a pró-pria vida e, mais que qualquer outro fator, a qualidade de água condiciona a qualida-de de vida”Organização Pan-Americana de Saúde

2.1 Quanta água ainda temos?

A água e o bem-estar humano estão intimamente ligados. A cada dia, nós nos damos conta de que a água é um

bem escasso e finito e precisamos fazer nossa parte para garantir que continue em nossas torneiras. Apenas 3% da água do planeta está disponível como água doce, e, desse total, so-mente 15% estão disponíveis superficialmente, para consumo (TUNDISI, 2003). É um recurso natural compartilhado por todos e que deve ser utilizado com racionalidade, uma vez que cerca de 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável, segundo dados da Organização Mundial da Saúde de 2010.

No Brasil, nosso clima tropical úmido resulta em maior descarga de água doce, distribuída nas várias bacias hidrográficas, que são extensas, densas e, em sua maioria, perenes. Apesar de 13,8% da água disponível para consumo do pla-neta estar no Brasil, ela não é bem distribuída: 68,5% estão na Região Norte do País, onde se encontra a Amazônia, e, 15,7%, no Centro-Oes-te, onde está a maior parte do Cerrado. Já nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste, onde há maior predominância da Mata Atlântica, há apenas 15,8% da água disponível no Brasil (TOMAZ, 2001). É nestas três últimas regiões que se

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concentra a maior parte da população brasileira – só na Mata Atlântica são mais de 112 milhões de habitantes, em 3.222 municípios, segundo o IBGE –, e a pressão do crescimento econômico e populacional leva a uma exploração inadequa-da desse recurso natural.

No campo, muitas vezes o cenário é conflitante, pois as margens, fundamentais para proteção de rios, córregos e nascentes, estão degradadas. Essas áreas ajudam a conservar a água, pois agem como filtro de sedimentos, impurezas e agrotóxicos, diminuindo o assoreamento e a perda de qualidade de água, e deveriam ser mantidas com sua vegetação nativa intacta.

Entretanto, exatamente por estarem muito próxi-mas aos cursos d’água, essas áreas apresentam

elevado teor de matéria orgânica e umidade, o que confere uma boa produtividade nas culturas agrícolas ou na criação de animais. Como con-vencer o produtor rural sobre a importância de as áreas ciliares serem destinadas para conser-vação em detrimento da produção? Como res-saltar a relação entre a floresta e a água e ajudar esses proprietários a restaurar e conservar as Áreas de Preservação Permanente?

Uma possível solução para essa situação pode estar no chamado Pagamento por Serviços Ambientais: o estabelecimento de incentivos econômicos que reconheçam o valor dos benefícios que obtemos da natureza destinados àqueles que trabalham para a manutenção e a restauração desses serviços, tão importantes para as sociedades humanas.

Área de Preservação Permanente: área, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade e o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Podem ser margens de rios e cursos d’água, olhos d’água, nascentes, topos de morros, montes, montanhas e serras e suas encostas, restingas, bordas de tabuleiros ou chapadas e áreas em altitude superior a 1.800 m (Código Florestal, Lei no 4.771/65).

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serviços ecossistêmicos são aqueles prestados pelos ecossistemas naturais e as espécies que os compõem, na sustentação e no preenchimento das condições para a permanência da vida humana na Terra (Daily, 1997).

serviços ambientais são as iniciativas individuais ou co-letivas que podem favorecer a manutenção, a recuperação ou o melhoramento dos serviços ecossistêmicos.

3.1 serviços ambientais: fundamentais para a vida

São várias as definições para os serviços ecossistêmicos, e todas se voltam para os benefícios gerados pelos ecossis-temas para a sociedade e que garantem a vida humana no

planeta. Os serviços ambientais são parte do conceito de eco-nomia sustentável: aquela que proporciona bem-estar humano e, ao mesmo tempo, protege o meio ambiente, numa equação economicamente equilibrada.

É a conservação da floresta que gera um serviço ecossistêmi-co, como a manutenção do fluxo de água com qualidade para consumo. Existem outros serviços ecossistêmicos que possibilitam a nossa sobrevivência, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), como a purificação do ar, a geração e a renova-ção do solo e de sua fertilidade e a polinização das culturas e da vegetação natural.

Manter um ecossistema saudável e bem conservado é essencial para garantir a provisão desses serviços. No caso da água, a mata ciliar preservada tem a função de reduzir a sedimentação e fontes difusas de poluição que chegam aos cursos d’água. Manter essa área preservada, portanto, é um serviço ambiental.

Leis e políticas públicas de incentivo econômico podem estimular proprietários rurais a conservar e restaurar ecossistemas naturais e, consequentemente, contribuir para os serviços ecossistêmicos diariamente providos para a manutenção da vida na Terra.

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pagamento porserviços ambientais

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4.1 para proteger os serviços da natureza...

A discussão em torno da valoração e da necessidade do pagamento por serviços ambientais começou quando a sociedade percebeu que serviços ecossistêmicos não

durarão para sempre, já que estão cada vez mais escassos e degradados, e que são imprescindíveis para a sobrevivência humana na Terra.

Em se tratando de recursos finitos, é preciso haver racionalidade de seu uso, uma vez que os serviços ecossistêmicos sempre foram usufruídos de forma gratuita. Atualmente, o Pagamento por Serviços Ambientais é colocado em pauta como uma grande estratégia para conservação por cien-tistas, por organizações não governamentais e, principalmente, pela imprensa, que alardeia a degradação ambiental e sensibiliza a sociedade.

Um dos princípios que regem o Direito Ambiental, o princípio do poluidor/usuário-pagador estabelece que quem utiliza o recurso natural deve suportar seus custos. Por outro lado, o princípio do provedor-recebedor reconhece a importância do incentivo econômico àqueles que protegem os serviços oferecidos pelo meio ambiente para a nossa sobrevivência. A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97) incorpora essa visão e prevê a cobrança pelo uso desses recursos, reconhecendo a água como um bem econômico.

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4.2 LegisLação

No Brasil, a legislação sobre os recursos hídricos é relativamente recente: foi apenas em 1997 que a lei nº 9.433/97 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, amplamente discutida com a sociedade e que incorpora os princípios do poluidor/usuário-pagador e do provedor-recebedor, reconhecendo a água como bem econômico e de domínio público, e como recurso natural limitado. Na prática, a lei criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e definiu, ainda, a outorga e a cobrança pelo uso desses recursos.

O município de Extrema foi pioneiro no Brasil ao aprovar uma legislação que regulamentou o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), em 2005. Já o estado do Espírito Santo aprovou, em 2008, a lei que institui o PSA. Outros estados seguem a tendência, como São Paulo e Minas Gerais. Também tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 792/07, sobre serviços am-bientais, que visa instituir a Política Nacional dos Serviços Ambientais e a criação de incentivos financeiros para a conservação e a restauração de ecossistemas naturais.

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4.3 por Que pagar?

O chamado Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é uma forma de pagar e recompensar aqueles que ajudam a garantir um serviço ambiental e, por consequência, a manter o bem--estar das pessoas que dele se beneficiam.

Desde a descoberta do Brasil, a degradação ambiental a favor do desenvolvimento econô-mico foi incentivada e, hoje, com a crescente percepção da importância das áreas naturais

para manutenção dos serviços ecossistêmicos, ampliam-se a visão da sociedade e o interesse econômico em preservá-las ou, até mesmo, em restaurá-las.

Os serviços ecossistêmicos são gratuitamente prestados pela natureza, mas a conservação dos ecossistemas para que estes serviços continuem a ser prestados pode gerar custos. A conserva-ção e restauração dos ecossistemas e, respecti-vamente, dos serviços ambientais, via de regra, é bastante custosa. Portanto, é importante reconhecer e valorizar o responsável por esse serviço – o produtor rural. O PSA pode ser uma fonte adicional de renda para esses proprietários, que precisam isolar as áreas que ajudam a gerar o serviço ambiental e não podem produzir comercialmente nessas faixas de terra.

No entanto, toda a sociedade se beneficia dessas faixas de terra, por isso é importante que ajude na sua conservação. É o que os economistas chamam de “incorporar a externa-lidade positiva”, que acontece quando incluímos os custos de produção e conservação de um bem na conta final, paga por quem consome o serviço ambiental prestado. Assim, valorizamos o meio ambiente conservado e pagamos a quem, de fato, conserva.

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Externalidades ocorrem toda vez que um agente econômico causa uma perda (ou um ganho) de bem-estar em outro agente econômico e essa perda (ou ganho) não é compensada. Os custos socioambientais, comumente excluídos da con-tabilidade nos cálculos econômicos das práticas produtivas, podem ser considerados como externalidades negativas, assim como a provisão de serviços ambientais, quando não remunera-da, pode ser considerada externalidade positiva.

• O meio ambiente fornece gratuitamente esses bens e serviços, que são de interesse direto ou indireto do ser humano;

• O proprietário rural tem papel de prota-gonista na conservação dos ecossistemas naturais e é importante que a sociedade reconheça esse papel;

• O sistema de PSA é apontado como um caminho para inserir as externalidades positivas na economia e gerar renda aos proprietários rurais que produzem manten-do os serviços ambientais;

• Além de reconhecer a importância dos serviços ecossistêmicos para a manutenção da vida na Terra, o PSA contribui para o de-senvolvimento econômico, para a geração de empregos e novas oportunidades de renda e para a diversificação das atividades nas propriedades rurais.

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e quanto valeesse serviço?

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O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é um instrumento econômico formulado para manter as matas ciliares

e recuperá-las, onde estiverem degradadas, contribuindo diretamente para a qualidade e o equilíbrio sazonal dos corpos d´água. Con-servar ecossistemas íntegros é a chave para a manutenção dos serviços ambientais – no caso de Extrema, o recurso hídrico –, e o PSA é um instrumento para esse fim.

Uma das discussões trazidas pelo PSA é: qual o valor da manutenção dos serviços ecossistê-micos para o bem-estar humano? Isso pode ser, basicamente, determinado por aquilo que o po-der público, os comitês de bacias e as empresas – ou o “comprador” – estão dispostos a pagar pela manutenção daquilo que o provedor (pro-dutor rural) – ou o “vendedor”– está disposto a aceitar. É uma negociação de mercado, entre oferta e demanda.

Mas a oferta e a demanda, unicamente, não são suficientes para garantir o sucesso de um sistema de PSA. Antes de tudo, é preciso que as instituições que operam a compra e a venda do serviço sejam confiáveis e que o produtor rural compreenda que, se ele deixar de produzir em uma área e a floresta ali crescer, ele receberá por pela conservação dessa floresta, que se

De acordo com o Decreto nº 3.000/99, produtor rural é a pessoa física ou na-tural dedicada a atividades agrícolas e pecuárias, extração e exploração vegetal e animal e exploração da apicultura, da avicultura, da suinocultura, da sericicultura, da piscicultura (pesca artesanal de captura do pescado in natura) e outras criações de pequenos animais. Também está inserida nesse contexto a transformação de produ-tos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura. Para o Conservador das Águas, o produtor rural é o agente que potencializa o serviço ambiental por meio de ações de conservação e restauração em determinado espaço territorial. Não importa se produza bens ou serviços, ou ambos: se ele conserva ou é parceiro na restauração de um ecossistema, ele é um provedor de serviços ambientais e, como tal, deverá ser remunerado.

torna tão importante quanto se fosse uma área cultivada, e que haverá mudanças/restrições no uso da terra em sua propriedade.

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Também é importantíssimo que os critérios para a compra e a venda desse serviço sejam claros e acordados por todos os envolvidos: o “ven-dedor” precisa saber o que exatamente vende, como seu valor é calculado e como será feito seu monitoramento, e o “comprador” precisa saber exatamente o produto ou serviço que compra: a recuperação da área degradada ou a manutenção de uma floresta, por exemplo.

Além dessas precondições para o sucesso de um PSA, podemos utilizar outros critérios para chegar ao valor pago por um serviço ambiental: o estado de conservação do solo, a cobertura vegetal e seu estágio sucessional, a adequação ambiental da propriedade à legislação ambiental vigente, a quantidade de nascentes na proprie-dade, o saneamento dentro das propriedades, a existência de coleta seletiva de lixo e outros.

Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação per-manente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e à reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas (Lei nº 4.771/65, Código Florestal).

Também precisamos levar em conta:

o valor econômico, que é a quantificação dos benefícios econômicos dos serviços a partir de um ponto de vista social, que traga benefí-cios para o vendedor e para o comprador;

o valor financeiro, que combina alguns fatores:• o custo de oportunidade, que é o custo de

algo em termos de uma oportunidade não exercida. Por exemplo, quanto renderia pro-duzir soja ou criar gado em vez de manter a mata em uma determinada área;

• o valor dos benefícios financeiros estimados com base nos custos que haveria em uma substituição de um serviço ecossistêmico se este fosse danificado ou não estivesse disponível;

• os custos, para o proprietário, da gestão dos recursos necessários para as mudan-ças, tais como os custos da restauração de ecossistemas florestais e ripários;

• os custos de desenvolvimento de todo o projeto para a implementação do PSA, incluindo a elaboração de um plano de práticas para mudar e melhorar os fluxos dos serviços do ecossistema;

os custos relativos a projetos alternativos, tais como o investimento feito em serviços ambientais para melhorar a qualidade da água captada versus a construção de um sistema de tratamento de água;

o mercado ou preço de transação, que reflete os riscos e a incerteza do negócio, bem como o poder de barganha das partes; por isso, as instituições que operam o negócio de compra e venda de um serviço devem ser confiáveis e transparentes;

os preços de ofertas semelhantes: a concorrência na oferta e na demanda é fun-damental. Os compradores tendem a procurar aqueles fornecedores que terão menor custo dos serviços.

No Conservador das Águas de Extrema, o critério utilizado para calcular o valor do serviço ambiental foi o custo de oportunidade, explicada em detalhes mais adiante.

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5.1 de onde vem o dinheiro para o pagamento do serviço?

Existem diferentes arranjos para pagar e receber por serviços ambientais. Tudo vai depender de quem são as partes envolvidas nas transações. Os

exemplos mais comuns de como o sistema funciona para incentivar a conser-vação do meio ambiente, do ponto de vista da fonte de recursos, são:

via Comitê de Bacias Hidrográficas: Comitê de Bacias convencido a respeito dos benefícios dos Esquemas de PSA para assegurar qualidade de

água e regularização de vazões. Nesse caso, a fonte dos recursos é a cobrança pelo uso da água – Lei nº 9.433 de 1997.

pela legislação: estabelecimento de um arcabouço legal específico e um arranjo institucional que crie condições para o estabelecimento dos Esquemas de PSA, cujas

fontes dos recursos são orçamentos, royalties ou outros recursos carimbados.

pelo livre mercado: compradores voluntários dos serviços ambientais (grandes usuários de água) convencidos a respeito dos benefícios promovi-

dos pelo PSA para garantir qualidade de água e regularização de vazões (fontes dos recursos: pagamentos voluntários realizados pelos usuários

de água e empresas de saneamento); ou grandes usuários de água compensando ou mitigando a sua “pegada hídrica” através da contri-

buição a Esquemas de PSA (fontes dos recursos: pagamentos realiza-dos por grandes usuários buscando reduzir sua “pegada hídrica”).

Em Extrema, os pagamentos pelos serviços ambientais foram assumidos no orçamento da prefeitura municipal, conforme determinado pela legislação

municipal que regulamenta o Pagamento por Serviços Ambientais. A fonte desse recurso é o Fundo Municipal para Pagamentos por Serviços Ambientais

(FMPSA). O pagamento é feito pela propriedade como um todo, pois o objetivo é ter toda ela adequada do ponto de vista ambiental. Para isso, são três os crité-

rios verificados: cobertura vegetal, conservação do solo e saneamento, como veremos mais adiante.

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O Conservador das Águasé uma ação inédita realiza-da pela Prefeitura Municipal de Extrema, em parceria com entidades ligadas ao meio am-biente, que teve início com a promulgação da Lei Municipal nº 2.100, de 2005. Entre outras atuações, o projeto prevê a uti-lização de recursos municipais no pagamento de incentivos ao produtor rural que se dispõe a adequar suas propriedades com o objetivo de oferecer melhorias na qualidade da água e ampliar sua oferta.

6.1 extrema

O município de Extrema está localizado no extremo sul de Minas Gerais, em uma região com inúmeras nascentes

de água. É um dos quatro municípios mineiros que integram a Bacia Hidrográfica Piracicaba--Capivari-Jundiaí (Bacia PCJ).

A sub-bacia dos rios Jaguari e Jacareí, que corta a região, é responsável por 22 m³/s dos 33 m³/s de água destinados ao abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), por meio do Sistema Cantareira. Quase metade da população da RMSP, ou mais de 9 milhões de pessoas, utiliza a água produzida pelo Sistema Cantareira.

6.2 por Que extrema?

O Projeto Conservador das Águas pôde ser im-plementado com tanto sucesso principalmente porque o município de Extrema tem uma con-tinuidade político-administrativa de 24 anos. O município é um “produtor de água”, uma vez que possui inúmeras nascentes que garantem tanto o volume de água quanto a sua boa qualidade, e a aposta na conservação da natureza e na manutenção dos serviços hídricos de Extrema vem sendo conduzida pelo município há mais de 15 anos, tempo em que foi possível diagnosticar,

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planejar, implementar ações e monitorá-las, sem nunca haver ocorrido interrupções nos investi-mentos e nas ações de conservação graças a essa continuidade.

Baseado no Programa Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas (ANA), o Conser-vador das Águas tornou-se o primeiro projeto brasileiro a fazer pagamentos por serviços am-bientais a proprietários rurais. É um projeto com potencial de reverter uma tendência em relação aos futuros cenários de escassez de água, po-dendo ser adequado e implementado em outros municípios e territórios do Brasil.

6.3 histórico

As iniciativas de Extrema para conservar a água começaram em 1996, com o Projeto Recupe-rar e Preservar a Quantidade e Qualidade das Águas dos Mananciais de Consumo e Desen-volvimento do Médio Sapucaí, em parceria com mais seis municípios do sul de Minas, que exe-cutou ações como plantio em topos de morros, práticas conservacionistas de solo, implantação de fossas sépticas e monitoramento da qualida-de e quantidade do curso d’água. Esse projeto mostrou a necessidade da elaboração de um diagnóstico ambiental mais detalhado dos recur-sos hídricos nas sub-bacias.

Em 2001, foi implementado o Projeto Água é Vida, componente do Plano Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que tinha como meta a obtenção do Diagnóstico Ambiental de Extrema por meio da elaboração de diversos mapas que utilizaram imagens de satélite de alta resolução.

Além do diagnóstico, outras práticas visando à conservação ambiental foram desenvolvidas. Em paralelo, a Agência Nacional de Águas (ANA) vinha trabalhando no Produtor de Água, programa que incentiva práticas que contribuem para a preservação dos recursos naturais, em especial a água. Com um diagnóstico detalhadoem mãos, era hora de passar para a prática ede fato envolver os proprietários rurais paraconseguir os ganhos desejados para a conser-vação. Extrema se inspirou no Produtor de Água e, depois de muitas conversas com diferentes parceiros e adaptações, o município iniciou a implementação do Conservador das Águas.

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Projeto Água é Vida

Conceito que nasceu em 1999 dentro do Projeto de Execução Descentralizada (PED), compo-nente do Plano Nacional de Meio Ambiente (PNMA), direcionado para o manejo de bacias hidrográficas. Por meio desse projeto, foi feito um trabalho de melhorias das estradas rurais com a construção de bacias de contenção e monitoramento dos principais cursos d’água do município, tanto no aspecto qualitativo quanto quantitativo. Esse trabalho, associado com a par-ticipação ativa dos representantes dos Comitês PCJ e a interação com a equipe da Agência Nacional de Águas (ANA), constituiu a base do Conservador das Águas.

Produtor de Água

Idealizado pela ANA em 2001, é um programa voluntário baseado no pagamento por serviços ambientais, no qual são beneficiados produto-res rurais que, por meio de práticas e manejos conservacionistas e de melhoria da cobertura vegetal, contribuam para o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação e para o aumento da infiltração de água. Foi modificado em 2005, passando a considerar também o pagamento de incentivos para a recuperação e a proteção de nascentes e o reflorestamento.

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Já vimos que são várias as formas e os arranjos institucionais para implementar projetos de Pagamento por Serviços Ambientais, cada um com seus desafios – tudo vai depender das parcerias e dos objetivos de cada um. A lógica para a implementação de um projeto de Paga-

mento por Serviços Ambientais deve, em geral, seguir os passos abaixo:

É importante dizer que, em Extrema, o projeto se iniciou pela microbacia mais degradada do município na época de sua implementação: a microbacia de ribeirão das Posses. Neste capítulo, vamos nos dedicar a mostrar como o Projeto Conservador das Águas foi implementa-do no ribeirão das Posses, passo a passo. Vale ressaltar que muitas das ações, aqui divididas didaticamente, foram acontecendo simultanea-mente ao longo da implementação do projeto, portanto, a ordem da leitura não necessariamen-te é cronológica.

1. CRiAR pARCeRiAS enGAJAndO inStitUiÇÕeS ReLeVAnteS, deFinin-dO pApeiS e ReSpOnSABiLidAdeSJá vimos que, dependendo de onde vem o recurso financeiro para o pagamento do serviço ambiental, há diferentes modelos de Pagamento por Serviços Ambientais. Vimos também que o município de Extrema já vinha desenvolvendo

ações para a conservação da água há algum tempo. Em Extrema, a vocação do município é a produção de água, mas tão importante quanto o município ter água é haver usuários interessados por esse recurso. De acordo com o Atlas de Abastecimento Ur-bano de Água, da ANA, quase dois terços das captações no Brasil estão associadas a manan-ciais superficiais, em muitos casos localizados em outras bacias hidrográficas, implicando importantes transferências de vazões. Nesses casos, há interesse pela água de determinado município e é preciso dar valor econômico para esse bem, além de encontrar os parceiros dis-postos a investir, com muita transparência sobre o que precisa ser feito para que o projeto seja implementado com sucesso. Para isso, um agente local – ou proponente – precisa identificar a problemática e ter força institucional para executar o projeto e garantir sua continuidade. É o agente local – que pode

• Celebração dos Contratos

• Implantação das Ações

• Metas verificadas e certificadas

• Pagamentos efetuados

• Monitoramento

Fundos alocados para o pSA

Definir o valor do pSd

engajar os proprie-tários Rurais

pSA suportado por arca-bouço legal específico

elaborar o diagnóstico Sócio-Ambiental da Bacia

Fazer a valoração econô-mica do serviço ambiental

Criar a parceria engajando insti-tuições relevan-

tes

Definição de papeis e respon-

sabilidades

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ser uma associação local ou uma ONG, e não apenas a prefeitura municipal – que levará essa bandeira: fará as conversas com os parceiros, as agências de água, os Comitês de Bacia Hidro-gráfica, as negociações com proprietários, a implementação e o acompanhamento. Sem essa figura, o projeto não acontece. No Conservador das Águas, a tarefa essencial de fazer a articulação das parcerias coube à prefeitura municipal. Foram as parcerias bem definidas que viabilizaram o projeto e permitiram que o orçamento da prefeitura fosse exclusivo para as despesas referentes aos pagamentos dos serviços ambientais. A mão de obra para o cercamento das APPs, ou as mudas e os plantios, por exemplo, foram provenientes das parcerias. Foi um grande movimento de ideias, esforços e conclusões, e da percepção da existência de interesses comuns, que resultou no primeiro Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil. As parcerias tiveram papel crucial para o sucesso do Conservador das Águas em Extre-ma, atraídas por seu caráter inovador. Uma vez reconhecidas as parcerias, os papeis e as responsabilidades de cada um foram defi-nidos. Em Extrema, cada parceiro contribui com uma parte para o projeto, e a prefeitura munici-pal executa as atividades no município: • prefeitura Municipal de extrema

Responsável pelo pagamento aos produ-

tores rurais, pela formulação e implemen-tação das leis que garantem o recurso e o pagamento aos produtores e pela gestão e execução do projeto.

• the nature Conservancy (tnC) Organização não governamental (ONG) responsável por financiar atividades de plantio, manutenção e cercamento das áreas (mão de obra). Também auxilia, com assessoria técnica, na gestão do projeto, no monitoramento dos resultados, na sua sus-tentabilidade e na definição dos próximos passos. A TNC desenvolve esse projeto por meio do apoio recebido de instituições privadas tais como a Fundação Caterpillar, a Fundação 3M e a Fundação Johnson & Johnson, e dos doadores individuais, Dottie Woodcock, Brenda Shapiro e Nancy Winter.

• Agência nacional das Águas (AnA)Parceiro federal que apoia financeiramente as ações de conservação do solo, como as barraginhas, obras para impedir o escoa-mento das chuvas, e o monitoramento de água, além do apoio técnico para a execu-ção das ações.

• instituto estadual de Florestas (ieF--MG) Parceiro estadual que financia os insumos para o cercamento das áreas e para as ações de restauração (cercas, adubos, cal-

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cário, herbicidas), além de apoiar as ações de comando e controle e a averbação das Reservas Legais (RL) das propriedades rurais.

• Comitê piracicaba-Capivari-Jundiaí (pCJ) Parceiro que financia Projetos Executivos por meio dos recursos da cobrança pelo uso da água.

• SOS Mata Atlântica Organização não governamental que forne-ce as mudas para as restaurações, por meio do seu programa Clickarvore.

• Melhoramentos Florestal Empresa florestal que doou insumos para o cercamento e o plantio, como mourões e mudas de árvores nativas.

2. deFiniÇÃO dO MOdeLO de pSAQuando o Conservador das Águas foi concebido para Extrema, optou-se por um sistema de PSA realizado pelo próprio município. No entanto, esse modelo trazia uma questão: como fazer o repasse de recursos do município para o produ-tor rural?

A solução encontrada foi via legal: a promul-gação da primeira lei municipal no Brasil que prevê o pagamento aos produtores rurais pelos serviços ambientais por eles prestados, a Lei

Municipal 2.100/05, que criou o Projeto Con-servador das Águas e regulamentou o Paga-mento por Serviços Ambientais relacionados à água. Além de permitir o apoio financeiro aos produtores que executam ações para atingir as metas estabelecidas, a lei autorizou o município a firmar convênios com parceiros, possibilitando apoio técnico e financeiro, o que facilitou em muito a construção de parcerias.

A novidade da lei é o artigo 2º, que autori-za o Executivo a prestar apoio financeiro aos proprietários rurais que aderirem ao Projeto Conservador das Águas mediante cumpri-mento das METAS estabelecidas.

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No entanto, há alternativas para aquele municí-pio que não conseguiu aprovar uma lei munici-pal para o Pagamento por Serviços Ambientais. É possível trabalhar, por exemplo, por meio de editais para a seleção de projetos.

• O Conservador de Águas teve início oficial com a promulgação da Lei Municipal nº 2.100, de 21 de dezembro de 2005.

• Em abril de 2006, o Poder Executivo pro-mulgou o Decreto nº 1.703, que regula-mentou a Lei Municipal nº 2.100/2005, estabelecendo que o apoio financeiro aos produtores rurais que aderissem ao Projeto Conservador das Águas se daria quando as metas definidas fossem cumpridas:

MetA 1: adoção de práticas conservacionistas de solo, com finalidade de abatimento efetivo da erosão e da sedimentação;MetA 2: implantação de sistema de sanea-mento ambiental rural;MetA 3: implantação e manutenção de APPs;MetA 4: implantação por meio de averbação em cartório da Reserva Legal.

• Em setembro de 2006 foi promulgado o Decreto nº 1.801, também regulamenta-dor da Lei Municipal nº 2.100/2005. Ele estabeleceu normas técnicas, conforme determina o artigo 4º da lei municipal, para a escolha das sub-bacias hidrográficas da região de Extrema a serem beneficiadas com o projeto. As seguintes características estão estabelecidas no decreto e devem ser levadas em conta:

i – o projeto será implantado primeiro nas sete sub-bacias já estudadas e monitoradas através do Projeto Água Viva;ii – a sequência de implantação será da sub--bacia com menos cobertura vegetal para a com maior cobertura vegetal, na seguinte ordem: 1º das Posses, 2º do Salto de Cima, 3º do Juncal,

4º das Furnas, 5º dos Tenentes, 6º do Matão e 7º dos Forjos;iii – a implantação das atividades, previstas no projeto dentro da sub-bacia, será realizada nas propriedades rurais de montante para jusante do sistema hídrico, ou seja, das nascentes para a foz do curso d’água.

Com a Lei 2.100/05 e os decretos 1.703/06 e 1.801/06, estabeleceu-se o arcabouço legal que viabilizaria os pagamentos pelos serviços ambientais prestados pelos produtores rurais em Extrema e sua implementação.

3. OS CUStOS dO COnSeRVAdOR dAS ÁGUASNa cidade de Extrema, o pagamento aos produ-tores consta no orçamento anual e é realizado pela prefeitura municipal, que aprovou a Lei 2.100/05 para o repasse do pagamento. No en-tanto, havia o desafio de encontrar formas para a continuidade dos pagamentos por serviços ambientais e, ainda, obter novos investimentos para que o PSA fosse ampliado nas demais bacias hidrográficas do município, já que o projeto se iniciara pela microbacia das Posses. A solução encontrada foi o Fundo Municipal para Pagamentos por Serviços Ambientais (FMPSA), Lei nº 2.482, publicada em fevereiro de 2009. A lei permite que o FMPSA receba repasses do Comitê de Bacias Hidrográficas e de outros parceiros, como o governo estadual, ou ainda receba créditos da venda de carbono ou doação de empresas e/ou pessoas, por exemplo. O FMPSA é administrado pelo Executivo munici-pal, sob a responsabilidade técnica do Depar-tamento Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (DSUMA). O Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental (Codema) é o responsável por analisar e deliberar sobre o projeto técnico elaborado pelo DSUMA para implantação do projeto nas propriedades rurais, em busca de obtenção do apoio financeiro, e, a cada seis meses, avalia o desenvolvimento do projeto e o cumprimento das metas.

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Esquema do Conservador das Águas em Extrema

Orçamento da pre-feitura de extrema

Fundo Municipal de pagamento por

Serviços Ambientaisnegociação com o proprietário rural

Serviço ambiental

pagamento

Monitoramento mensal

projeto para a pro-priedade e compro-misso com as metas

Contrato prefeitura/proprietário

Lei Municipal

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4. eLABORAÇÃO dO diAGnÓStiCO SOCiOAMBientAL de pOSSeSUma vez que o município de Extrema já traba-lhava no manejo de suas bacias hidrográficas desde 1999, diferentes estudos foram realizados em diferentes momentos. O primeiro foi um diagnóstico ambiental dos 24.730 hectares do município, que mostrou: • cobertura vegetal em 22% da área; • as espécies da flora da região: 156 espécies

de formações vegetais, incluindo a canela sassafrás, em perigo de extinção, de acordo com o Ibama;

• as espécies da fauna da região: 194 espé-cies de aves, como a siriema e o jaçanã, e 23 espécies de mamíferos, entre eles o macaco-barbado, também conhecido como bugio (Allouatta fusca), que está na lista vermelha internacional de espécies amea-çadas de extinção;

• recursos hídricos: apontou as sete princi-pais microbacias de Extrema.

O diagnóstico mostrou, ainda, as áreas sujeitas à erosão, principalmente nas estradas rurais, e a identificação de cada proprietário de terra em Extrema. Esse diagnóstico permitiu avaliar a degradação das microbacias e a definição em lei para se iniciar o Conservador das Águas pela mais degradada na época em que o estudo foi realizado: ribeirão das Posses, com área total de 1.202 hectares e 108 propriedades.Assim que Posses foi definida como a primeira microbacia a receber o Conservador das Águas, foi realizado um segundo estudo, o diagnóstico socioeconômico dos proprietários de Posses. Seu objetivo foi apontar a percepção dos pro-prietários ao conceito de PSA, o tamanho das propriedades e o tipo de agricultor, e foi impor-tante do ponto de vista econômico, uma vez que permitiu entender os ganhos do produtor rural.O terceiro estudo, realizado em 2004, teve o objetivo específico de mostrar o uso do solo da microbacia no início do projeto: o uso agropecuário ocupava mais de 70% da área, principalmente em forma de pastagens para a bovinocultura. De posse de todos os diagnósticos e saben-do como era cada uma das propriedades de Posses e o que precisava ser feito para garantir a conservação, realizar a restauração e manter o serviço ambiental, era hora de trazer para o projeto o produtor rural.

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5. enGAJAMentO dOS pROpRietÁ-RiOS RURAiS Desde o princípio, o município de Extrema entendeu que o principal ator nesse projeto seria o produtor rural, que, como incentivo para conservar ou restaurar suas nascentes e matas ciliares – tornando-se o provedor-recebedor –, poderia ser remunerado pelo usuário – o usuário-pagador. Sem a adesão do produtor, não haveria projeto.

A microbacia de ribeirão das Posses abriga os primeiros participantes do Conservador das Águas. Para se chegar à assinatura dos con-tratos, um longo caminho foi percorrido. As atividades em Posses se iniciaram a partir das reuniões com os representantes dos produtores rurais, quando, ainda durante a discussão do então Projeto de Lei 2.100/05, os responsáveis pela gestão ambiental de Extrema procuraram os produtores rurais da microbacia das Posses para buscar a adesão para sua implementação.Os produtores do bairro já estavam organizados formalmente por uma associação, e a estraté-gia utilizada pela prefeitura foi fortalecer essa organização para que pudesse, em nome dos produtores, fazer as suas contribuições para a Lei do Conservador das Águas. Muitas visitas técnicas e muitas conversas depois, os 108 proprietários, de 1,2 mil hectares da microbacia das Posses, convenceram-se da importância da conservação do ecossistema para o provimento de água em quantidade e qualidade, hoje e também para o futuro. Havia, em Extrema, uma parte interessada em comprar e outra parte interessada em vender o serviço ambiental. E essa vontade de negocia-ção entre as partes foi crucial para se chegar a “quem paga o quê”, sendo importante ressaltar que em cada município pode ser feito um arran-jo diferente. A gestão continuada no município, as políticas

Sem a adesão do produtor, não haveria projeto.

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voltadas para o recurso hídrico e o projeto Con-servador das Águas em Extrema passaram a ser um vetor de desenvolvimento do município. Com a lógica do PSA estabelecida, projeto em cam-po, restaurações iniciadas, vem a conservação das estradas; a comunidade, compreendendo a importância de sensibilizar para a temática am-biental, passou a se organizar para usar espaços democráticos e a trabalhar na educação socio-ambiental; com informação, a saúde vai sendo melhorada e, assim, ganho a ganho se ampliam. A gestão da água passou a ser uma estratégia de crescimento sustentado para o município.

6. VALORAÇÃO eCOnÔMiCA dO SeR-ViÇO AMBientAL e deFiniÇÃO dO VALOR dO pSATão importante quanto a definição das respon-sabilidades e do custo de cada uma das ações propostas pelo projeto era definir quanto cus-tava o serviço ambiental prestado pela floresta

e quanto seria pago aos produtores de água de Extrema, especialmente da primeira microbacia onde o projeto seria implementado, o ribeirão das Posses. Para valorar o serviço ambiental prestado, muito se conversou com os produtores rurais, sempre levando em consideração os fatores já expostos anteriormente. Os produtores de leite são maio-ria na microbacia das Posses, e muitos utilizavam as Áreas de Proteção Permanente como pasta-gens. O cálculo não poderia deixar de levar em consideração o custo de oportunidade da terra, ou seja, o ganho desses produtores com o seu gado leiteiro, já que, diminuindo-se a área de pasto, seria necessário diminuir as cabeças de gado e, assim, a produção de leite. Também foi levado em consideração o fato de que o projeto seria aplicado na área total das propriedades, não somente em suas áreas ripárias.A valoração pode se dar de maneiras distintas em diferentes territórios. É possível levar em

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consideração, por exemplo, a extensão das flo-restas existentes em determinada propriedade, ou ainda a qualidade dessas florestas, as áreas de maior ocorrência de chuvas, áreas ativas de rios, áreas suscetíveis à erosão e áreas de maior declividade, entre outros fatores. O valor estabelecido em lei em Extrema para o pagamento pelos serviços ambientais é de 100 Unidades Fiscais de Extrema (Ufex) por hectare por ano, correspondentes, na data de assinatu-ra dos primeiros contratos, em 2007, a R$ 152 hectares/ano. A Ufex é reajustada anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).A lição aprendida na microbacia das Posses é de que, junto com o sistema de PSA, inicia-se a mudança na forma de olhar para o mundo. O Conservador das Águas, por meio do sistema de PSA e, principalmente, da conservação dos ecossistemas que fornecem os serviços ambien-tais, incentivou os proprietários rurais a adota-rem práticas para a manutenção ou melhoria da qualidade da água ofertada à sociedade, sem inviabilizar as atividades econômicas da sua propriedade.

7. Os custos do Conservador das Águas Já comentamos sobre o valor de um serviço ambiental e o que deve ser levado em conside-ração para que os pagamentos aos prestadores

do serviço sejam adequados do ponto de vista econômico, social e ambiental. Mas, além do pagamento aos proprietários, quais foram os custos para a implementação do Conservador das Águas em Extrema?Para mensurar esses custos foi realizado um fluxo financeiro, que é uma tabela em que os valores de cada convênio celebrado entre os parceiros são lançados – que estimou a aquisi-ção de mudas, os insumos para o cercamento das APPs e as ações de conservação do solo, entre outros – e como esses valores seriam distribuídos ao longo do tempo. Foram ainda estimados os valores para a mão de obra, tanto a utilizada na gestão do projeto quanto na sua operacionalização, e os valores para o monitora-mento das ações e o pagamento aos produtores pelo serviço ambiental prestado.

Conservador das Águas na microbacia das Possespré-implementação

Construção do projeto R$ 20.000,00

Diagnóstico geral R$ 36.000,00

implementação

Gestão R$ 170.000,00

PSA R$ 490.000,00

Restauração florestal R$ 667.000,00

Mapeamento das propriedades R$ 70.000,00

Cercamento R$ 276.000,00

Conservação de solo R$ 293.000,00

pós-implementação

Monitoramento R$ 150.000,00

TOTAL R$ 2.172.000,00

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8. DEFINIÇÃO DAS ATIVIDADES, ASSINATURA DE CONTRA-TOS E REALIZAÇÃO DOS PAGAMENTOS

Proprietário engajado, solo mapeado, chega a hora de definir as áreas ideais para a proteção de nascentes, corpos d’água e APPs. Nessa hora é preciso

levar em consideração as vias de acesso das propriedades, o abastecimento de água para o gado e a circulação do animal no pasto, sem se esquecer da

localização dos corpos d’água dentro da propriedade. É a elaboração do projeto técnico de cada propriedade, realizado pelo Departamento Municipal

de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (DSUMA) de Extrema, que também define as ações e as metas a serem atingidas em função das características de

cada propriedade. Depois de muita conversa e negociação, e tudo o que está acordado é firmado em

um Termo de Compromisso. No Conservador das Águas, cada termo assinado entre o produtor rural e a prefeitura municipal estabelece, com base na Lei nº 2.100/2005,

alguns critérios de pagamento:• o valor estabelecido em contrato é de 100 Unidades Fiscais de Extrema (Ufex)

por hectare por ano, correspondentes, na data de assinatura do contrato, a R$ 152 hectares/ano;

• os pagamentos, quando as metas forem executadas corretamente e houver o cumprimento da lei, são de responsabilidade do município de Extrema e das entidades conveniadas;

• o valor é multiplicado pela área total da propriedade e é pago em 12 parcelas fixas mensais, realizadas até o dia 10 de cada mês;

• os pagamentos são realizados após o relatório expedido pelo Depar-tamento de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (DSUMA), elaborado

mensalmente por propriedade, atestando o cumprimento das metas;• o pagamento em Extrema é realizado por área total de imóvel, e não somente

as áreas trabalhadas com conservação de solo.Na microbacia das Posses, foram assinados 53 contratos, com adesão de 49%

dos proprietários da microbacia. Cada propriedade representa um contrato assinado, e, juntas, as 53 propriedades somam 925 hectares, ou seja, 74%

da área total da microbacia. Nas demais propriedades, que são pequenas, foram feitos alguns trabalhos de cercamento mediante negociação e auto-

rização dos proprietários; porém, os proprietários não recebem pagamento pelos serviços ambientais prestados. Os valores foram repassados em forma

de outros recursos, como insumos agrícolas.

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9. iMpLeMentAÇÃO dAS AtiVidAdeS de COnSeRVAÇÃO/ReStAURAÇÃO Com o contrato assinado, chega-se à fase da execução do trabalho na microbacia das Posses: Primeiro, controlando os fatores de degradação, por meio do cercamento das áreas, para impedir o trânsito dos animais nas áreas de entorno das nascentes, que pisoteiam os cursos d’água até se transformarem em brejos e secarem. Assim, foi realizado o cercamento dos pastos, deixando livres as APPs. Depois de cercado, começa o trabalho de res-tauração das áreas indicadas. Tudo tem de ser muito bem planejado para que essa fase tenha sucesso. É necessário levantar algumas ques-tões: que árvores devem ser plantadas? Quantas espécies são necessárias? Quais os insumos e quantidades a serem utilizados? Quantas pessoas serão necessárias para executar o trabalho? Quanto tempo vai demorar? Como será o transporte de pessoas, mudas e insumos à área? Qual a previsão de chuvas na região? Qual o recurso financeiro e humano necessário e disponível? Na microbacia das Posses, 16 pessoas, muitas delas da própria zona rural, fizeram o trabalho de cercamento e de restauração. Esta fase contou ainda com dois técnicos e um coordenador. As-sim que a equipe da cerca, com quatro pessoas,

finalizava uma área e o acesso do gado estava controlado, já entrava a equipe do plantio ou condução da regeneração natural, com outras doze pessoas, abrindo os berços, distribuindo as mudas no campo, adubando e, finalmente, plantando as mudas, que foram selecionadas a partir da identificação das espécies da região. Ao todo, 75.000 mudas de espécies nativas foram plantadas na microbacia das Posses. As mesmas pessoas que fizeram o replantio são responsáveis por monitorá-los.

• A área total do Conservador das Águas, na microbacia das Posses, em Extrema, englo-ba 1.202 hectares.

• O projeto restaurou 85,1 hectares de área ciliar e aumentou em 20% a cobertura florestal na microbacia.

• Foram implementadas práticas conserva-cionistas, como a construção de bacias de infiltração (barraginhas) para captação e infiltração de água e a execução de práticas de readequação de estradas em 17 quilô-metros.

• Atividades de educação ambiental são desenvolvidas na comunidade, inicialmente com os alunos dos produtores rurais já en-volvidos no projeto para, em seguida, serem replicadas em outras escolas.

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10. MOnitORAR e AVALiAR AS AtiVi-dAdeS de COnSeRVAÇÃO e de ReS-tAURAÇÃO

Monitorar a evolução do projeto é indispensável para a realização do pagamento ao produtor. As atividades na bacia das Posses foram finalizadas em 2009, mas o uso da terra, a vazão e a quali-dade da água e a cobertura vegetal continuarão sendo monitorados ao logo dos anos. Mensalmente, os técnicos do projeto visitam todas as propriedades beneficiadas e avaliam cada área implantada pelo projeto para ates-tar o cumprimento das metas estabelecidas nos termos e leis e, assim, dar continuidade ao pagamento. Também são feitos replantios de mudas, se necessário, e a manutenção de cercas e roçadas.Além do monitoramento realizado nas proprie-dades, é feito o monitoramento da qualidade de água da bacia, da precipitação e da vazão, em pontos estratégicos. São duas réguas de medição de vazão e cinco pluviômetros instala-dos, cuja leitura é feita diariamente. Já a análise da qualidade da água é feita em campanhas bimestrais, com a análise de cinco parâmetros: temperatura, condutividade, turbidez, oxigênio dissolvido (OD) e pH. O monitoramento dos recursos hídricos é feito através de convênio com a ANA.

O Conservador das Águas também realizará uma caracterização bastante intensa da quali-dade da água de toda a microbacia das Posses, por meio de parceria com a Universidade de São Paulo. Todos esses dados ajudarão a mensu-rar a mudança de uso do solo e verificar seus impactos na qualidade da sazonalidade do fluxo dos corpos d’água.

Resultados e próximos passos

A implementação do projeto na primeira bacia hidrográfica do município de Extrema, a de Posses, com 1.202 hectares, já foi finalizada. As APPs foram demarcadas em consonância com os produtores rurais, e essas áreas já foram restauradas. Entretanto, espera-se que as áreas sejam ampliadas por negociação com os pro-prietários da microbacia das Posses numa fase de implantação.Em 2009, foi realizado um estudo comparativo do uso do solo da microbacia das Posses, com resultados bastante promissores: a cobertura de vegetação secundária inicial aumentou de 21,2 hectares para 63,9 hectares, mais de 200%, e a cobertura de vegetação secundária médio--avançada aumentou de 18,5 hectares para 19,7 hectares.Os trabalhos na segunda e maior bacia hidro-gráfica de Extrema, a de Salto, já foram iniciados. Para implementar o Conservador das Águas nas demais bacias e dar continuidade ao paga-mento pelo serviço ambiental prestado pelas sete microbacias hidrográficas de Extrema, a TNC, em parceria com a Prefeitura de Extrema e demais parceiros do projeto, finaliza um plano de sequestro de carbono abrangendo toda a extensão do município. Dessa forma, os valores gerados pelos créditos de carbono poderão ser somados ao Fundo Municipal para Serviços Ambientais e podem contribuir para a manuten-ção e a expansão do PSA para as demais bacias e outros proprietários do município.

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Além da sua importância per se, o Projeto Conservador das Águas implementado em Extrema tem uma importância muito grande por ter sido o precursor de um expressivo movimento no País. Em diferentes regiões brasileiras, o conceito do Produtor de Água vem tomando corpo, e diversos proje-tos vêm sendo desenhados. Outros já saíram do papel e estão sendo implementados na prática. São eles:

pROJetO LOCALidAde pARCeiROS ÁReA VALOR dO pSAConservador das Águas – Extrema-MG

Microbacia das Pos-ses, Extrema-MG

PM Extrema, TNC, Pro--Mata IAF-MG, ANA e Comites PCJ

1.200 hetares R$ 175 por hectare da propriedade/ano

Produtor de Água – Bacia PCJ (SP)

Bacias do rios Moinho (Nazaré Paulista) e Cancã (Joanópolis)

ANA, Projeto de Restau-ração de Matas Ciliares/SMA-SP, Cati-SAA-SP e TNC

1.278 hectares R$ 25 a R$ 125 por hectare conservado e restaurado/ano

Produtores de Águas e Florestas – Bacia Guandu (RJ)

Microbacia do rio das Pedras (Rio Claro)

SEA/Inea, Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Guandu, Instituto Terra de Preservação Ambiental, TNC e Prefeitura Municipal de Rio Claro (RJ)

3.677 hectares R$ 10 a R$ 60 por hectare conservado e restaurado/ano

Produtores de Água – Bacia Benevente (ES)

Bacia do rio Beneven-te (Alfredo Chaves)

Iema, Instittuto BioAtlântica, Bandes, ANA, Comitê da Bacia do Benevente e Pre-feitura Municipal de Alfredo Chaves

112 hectares R$ 80 a R$ 340 por hectare conservado/ano

Produtores de Água – Bacia Guandu (ES)

Bacia do rio Guandu Iema, Instituto BioAtlântica, BNDES, ANA, Comitê da Bacia do Guandu e Prefei-turas Municipais de Afonso Cláudio e Brejetuba

200 hectares R$ 80 a R$ 340 por hectare conservado/ano

Oásis São Paulo (SP) Bacias de Guarapiran-ga e Billings

Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e Fundação Mitsubishi

900 hectares R$ 75 a R$ 370 por hectare conservado/ano

Oásis Apucarana (PR) Bacias dos rios Tibagi e Pirapó

Secretaria de Meio Am-biente e Turismo de Apuca-rana (Sematur), Sanepar e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

40 hectares R$ 93 a R$ 563 por propriedade/ano

Programa de Gestão Ambiental da Região dos Mananciais – SOS Nascentes – Joinville (SC)

Bacias hidrográficas dos rios Cubatão e Piraí

Secretaria do Meio Am-biente de Joinville, Funde-ma e Fundação Municipal 25 de Julho

200 hectares R$ 175 a R$ 577 por hectare/mês

Também é importante mencionar que, além dos projetos citados acima, os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo apresentam nascentes programas de Pagamento por Serviços Ambientais, alguns deles inspirados pelo exemplo de Extrema, o que torna essa experiência ainda mais relevante.

Outros projetos para o Brasil

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referências bibLiográficas

AVALIAÇÃO Ecossistêmica do Milênio, Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2005.

BRASIL, Lei 9.433/97, de 8 de janeiro de 1997, regulamenta a Política Nacional de Recursos Hídricos.

DAILY, G.C. (Ed.) Nature’s Services: Societal Dependence on Natural Ecosystems. Washington, DC: Island Press, 1997.

EXTREMA (MG), Decreto Municipal 1.703/2006, que regulamentou a Lei Municipal 2.100/2005.

EXTREMA (MG), Decreto Municipal 1.801/2006, que regulamentou a Lei Municipal 2.100/2005.

EXTREMA (MG), Lei Municipal 2.100/2005, criou o Projeto Conservador das Águas.

EXTREMA (MG), Lei Municipal 2.482/2009, criou o Fundo Municipal para Pagamentos por Serviços Ambientais (FMPSA).

FUNDAMENTOS de la Economía de Conservación, The Katoomba Group e Ecosystem Marketplace, 2007.

INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) <http://ibge.gov.br> Acesso em: maio de 2010.

ORGANIZAÇÃO Mundial da Saúde. <http://www.who.int/globalchange/ecosystems/water/en/> Acesso em: maio de 2010.

PAYMENTS for Ecosystem Services Getting Started: a Primer, The Katoomba Group e Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2008

ROBERTS, Jackie P., WAAGE, Sissel. Negociando por los Servicios de la Naturaleza: um documento introductorio para vendedores de servicios ambientales para la identificación y acercamiento a com-pradores potenciales del sector privado. The Katoomba Group e Ecosystem Marketplace, 2007.

TOMAZ, Plínio. Economia de água para empresas e residências. 1ª Ed. São Paulo: Navegar Editora, 2001.

TUNDISI, José Galizia. Água no século XXI – Enfrentando a escassez. Rima, iie, 2003.

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Projeto Conservador das ÁguasPasso a Passo

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