livro poesia nao vende

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O que Ivan Lins, Barbara Paz, Frank Aguiar e Moacyr Scliar têm em comum? A resposta é simples: todos eles estão no livro “Poesia não vende”, lançado pelo escritor e poeta Rodrigo Capella.“A obra é um grande manifesto à favor da poesia e defende que a arte poética não está presente apenas no papel, mas também nas diversas expressões artísticas, como teatro, cinema, dança e pintura”, ressalta Capella, que já publicou também “Transroca, o navio proibido”, livro que está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer.Ao longo das 88 páginas de “Poesia não vende”, os leitores têm acesso a poesias inéditas de Capella sobre os mais variados temas e podem ler também textos especiais de Ivan Lins, Barbara Paz, Frank Aguiar, Moacyr Scliar, Carlos Reichenbach e Sérgio Ferro.O cantor Ivan Lins fala, por exemplo, sobre a relação entre poesia e música; Sérgio Ferro diz se os pintores da Renascença sofreram influência dos poetas; Bárbara Paz discorre sobre a utilização da poesia dentro do teatro; Frank Aguiar conta se os versos têm relação com a dança; Moacyr Scliar defende que a poesia é, em alguns casos, mais importante do que a prosa; e Carlos Reichenbach sustenta que o cinema não existe sem a arte poética.“Entre esses depoimentos, estarão os meus versos, pobres, mas meus. Romantismo, sofrimento, angústia, perdão. Poema. Ah! Vou falar de poesia. Mostrarei que rimar faz mal, afinal coitado do poeta, que, por qualquer razão, quer juntar, rimar, grudar”, finaliza Capella.Parceria e outros projetos - O escritor e poeta Rodrigo Capella e o cantor Homero Baroni, que participou do programa “Fama”, da TV Globo, acabam de fechar uma parceria, que inclui transformar os versos do livro “Poesia não vende”, de Capella, em diversas músicas, além de apresentações artísticas em parceria, sempre mesclando poesias e músicas. Capella também tem outros projetos para 2009: seu livro “Rir ou Chorar”, que desvenda os bastidores do cinema, será transformado em e-book e estará disponível na internet. Além disso, o escritor finalizou o perfil do fotógrafo Boris Kossoy, que será lançado em breve, e trabalha também na pesquisa que vai originar a biografia do cineasta Paulo Morelli.

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“A Eternidade é muito longa.

E dentro dela tu te moves, eterno”.

(Cecília Meireles, a melhor poeta)

“Uma construção insigne torna-se factível,

uma insípida nasce sem asserção”.

(Rodrigo Capella, um poeta aprendiz)

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Para minha avó Leda (in memoriam)

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Foi-se o tempo que.... Vamos a alguns números: no Brasil, existem, aproximadamente, 1.700 livrarias

concentradas em apenas 10% de nossos municípios. Elas recebem, de acordo com

entitadades do setor, em torno de 200 novos títulos ao mês, a grande maioria prosa. No

meio desse contexto, não muito animador, o gênero poesia tenta sobreviver e chegar ás

mãos de novos e habituados leitores.

A solução encontrada por muitos poetas foi a de publicar poemas na Internet,

criando blogs e páginas pessoais ou até mesmo enviando textos para os inúmeros sites

literários. Há, portanto, uma esperança, embora a poesia tenha perdido força e brilhantismo.

Foi-se o tempo em que estudantes disputavam livros em biblioteca, buscando novas

expressões artísticas; foi-se o tempo em que havia incentivo para se lançar obras poéticas;

foi-se o tempo em que era fácil encontrar pessoas sentadas no banco de uma praça para

recitar uma pequena estrofe; foi-se o tempo em que havia um sarau em cada esquina, foi-se

o tempo em que....

O mundo literário agora é outro, mudou radicalmente. E o pior: não existe

necessariamente um culpado, há apenas indagações. Se vende ou não, se sobrevive ou não,

se é lida ou não são questões que permeiam cada vez mais as atitudes e composições dos

poetas. Minha história, de certa forma, está enraizada nisso e convido-o, a seguir, para ler

alguns capítulos, formatado em parágrafos.

Devia ter uns doze anos quando minha avó ensinou-me os primeiros versos. Com

mãos trêmulas e olhos lagrimejados, a senhora de casaco de lã azul apertava a caneta e

buscava nitidez nas letras. Chuva, vento, raios e artistas cantando na televisão. Fosse o que

fosse, nada a fazia abdicar desse momento.

Durante anos a fio e a base de muito suco de uva, o nosso preferido, escrevemos

versos variados, uns interessante; outros nem tanto. Uma poesia, esboçada numa quarta-

feira de carnaval, marcou-me bastante. Talvez pela realidade, pela força das palavras ou

por, simplesmente, falar de meu país:

Brasil, um país de ouro, mas hoje muito pobre,

tivemos muitas riquezas,

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mas não foram aproveitadas.

“Poema oculto” foi o título escolhido, após uma votação que envolveu vizinhos e

familiares e quase terminou em briga, pois não acatamos a sugestão da sindica do prédio,

que sugeriu o nome de “Meu país pobre”. Um título interessante, mas triste demais.

As linhas desse poema, como se vê, trazem uma crítica feraz ao Brasil e seu povo,

não poupando estilingadas para todos os lados. Percebi, ao reler os versos pela quinta vez,

que poesia é uma expressão artística, ganhando sentido, característica e cor se lida por

pessoas que apreciam esse gênero. Parece óbvio, mas demorei para fazer esse registro e

formular uma frase, que pretendo seguir eternamente: sem você, o leitor, as poesias

perderiam a sua definição maior.

Pronto! Depois desse aprendizado, eu já poderia escrever os meus próprios versos.

E fui adiante... Carregando um bloco no bolso e uma caneta azul, que sempre vazava tinta,

eu fazia anotações, escrevia frases e procurava descrever o cotidiano em forma de poesia.

Registrava os momentos, sentimentos e situações incomuns. Era delicioso!

Escrevia sobre temas diversos, sempre tentando rimar as palavras. Mal sabia eu que

rimar faz mal e tira toda a criatividade do poeta. Enviava os textos para amigo e leitores,

que faziam comentários muito elogiosos. Animei-me bastante com a pronta aprovação e

segui mais adiante...

Com a ajuda de um amigo, montei um blog, chamando-o de Poemas do Rodrigo

Capella, um nome não muito criativo. A idéia era expor as minhas poesias e, porque não,

conquistar novos e fiéis leitores, o que de fato aconteceu. Minha animação redobrou.

A atualização era semanal, com direito a novas fotos, desenhos e a meus

comentários sempre associados ao tema abordado no texto. Eu simplesmente adorava!

Quando publiquei no blog o poema Atitude, um leitor questionou se eu tinha algum livro de

poesia nas livrarias. Respondi prontamente que não, mas que estava pensando em escrever

um. E era verdade.

Eu já tinha publicado três livros, Enigmas e Passaportes, Como Mimar Seu Cão e

Transroca, o navio proibido, mas sentia a necessidade de lançar uma obra poética.

Precisava seguir ainda mais adiante e decidi não publicar mais textos no blog. Dediquei-me

a escrever poemas num caderninho velho e envelhecido pelo tempo, abordando sempre

temas românticos, medievais e recheados de elementos transformatórios.

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Mas, antes de tentar publicar o primeiro livro de poesias, eu precisava de alguns

testes para saber se os meus versos tinham alma. Segui as instruções de uma professora e

enviei poemas para algumas antologias. Se fossem selecionados, eu pegaria o caderninho

para escrever ainda mais. Agora, se a avaliação fosse negativa, eu pararia por aqui, no meio

do caminho, como se fosse uma pedra.

A resposta foi muito positiva e chegou até a me surpreender. Não demorou muito

para eu ter os meus textos publicados em obras que contaram também com a participação

de ótimos poetas. Pronto, estava na hora de eu ter o meu primeiro livro de poesias. E não

demorou....

Meus pensamentos perturbavam-me constantemente, conduzindo-me a montar um

livro diferente para denunciar as transformações da poesia ao longo dos anos. Nasceu

então, em menos de nove meses de gestão, Poesia não vende, um projeto simples, com

pitadas de ousadia para acompanhar as complexidades literárias do mundo, do país, do

bairro.

Entre essas complexidades, está a associação da poesia com as diversas expressões

artísticas. Para contextualizar melhor, convidei alguns profissionais renomados que

discutem, no decorrer do livro, a relação dos versos com cinema, literatura, música, teatro,

pintura e dança. Prepare-se, então, para estranhar Poesia não vende. O cantor Ivan Lins

fala sobre a relação entre poesia e música; Sérgio Ferro diz se os pintores da Renascença

sofreram influência dos poetas; Bárbara Paz discorre sobre a utilização da poesia dentro do

teatro; Frank Aguiar conta se os versos têm relação com a dança; Moacyr Scliar defende

que a poesia é, em alguns casos, mais importante do que a prosa; e Carlos Reichenbach

sustenta que o cinema não existe sem a arte poética.

Entre esses depoimentos, publicarei os meus versos, pobres, mas meus.

Romantismo, sofrimento, angústia, perdão. Poema. Ah! Vou falar de poesia. Mostrarei que

rimar faz mal, coitado do poeta, que, por qualquer razão, quer juntar, rimar, grudar. Prefiro

versos...

O autor

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Agora Fúnebre momento hilário, Percorre toques de olhar, Calafrio, imensidão, O contrário digo não. Veias da imaginação, Suar entre gestos, Sublime a minha volta, Corda, a toda hora Ventos que sopram calados, Amaldiçoados, coitados, Tempo, vago atado, Correr, sangue intenso. Eu mesmo perdido, Tardio é meu vão, Coração triste e oco, Nem pensar em perdão. Caramba, senso não há, Palavras perdidas, O que cita ação, Intensa, revolta, agora.

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Esperança Adorno de madrugada, Mil fatos a dizer, Coitada de ti, pobre alma, Perdida, acabada, ignorada. Soma toda prova, Palavras a rimar, Essência oculta e má, Vamos terminar. Agonia e tristes versos, Ossos e acasos, Eu quero você criança, Que doce lembrança.

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Não! O presente é triste e cruel, Uma estrela a sumir, Entre nuvens a cair, O mar, a terra, o som, Cada um tem o seu tom. Queria ser biólogo, Minha mãe apoiou, Meu pai ignorou, Tentei a matemática, Foi triste, faltou eficácia. Persistência, eu tive, Não deu resultado, Calado, magoado, Sem resistência. Fiz jornalismo, perfeccionismo, vaidade, caramba, quanta verdade.

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Floresta Verde límpida e quente, Quanta gente, Desmatando, roubando, Queimando. Nadando no vazio, Cinza e fogo, Perpétua a alma, Que insiste em guiar, Limpar, a consciência. Ciência, ignorância!

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Atitude Rimar faz mal, coitado do poeta, que por qualquer razão, quer ligar, rimar, juntar. Prefiro versos soltos, pequenos e grandes, cheios de gentes, cantantes, falantes, antes. Porra! O que eu faço? versos e rimas, narro fatos. Reflito o momento, comento, assuntos assim, não vejo essência, em fazer versos pra mim.

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Bom Brava agonia presente, dedos aflitos, cantantes, ao remorso da vida, toda deprimida. Digo sim, e daí? o galo percorre, o momento escala. Sombras aparecem. na extremidade aconteceu, o sincero descompasso.

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Ção Jóia brilhante, unida entre dois poros, linda ao extremo, igual a morte, amada por mim, não tenha ação, alegria, minha inspiração.

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POESIA E LITERATURA Moacyr Scliar*

“Poesia é algo que corresponde a uma necessidade interior do ser humano.

Se eu tivesse que resumir esta necessidade em três palavras seriam: ritmo,

beleza e emoção. O ritmo que encontra eco nas batidas de nosso coração, nos

movimentos de nossa respiração (principalmente na inspiração). A beleza e a

emoção que dão sentido à nossa vida. Para ser um poeta, portanto, é preciso ter

uma sensibilidade especial para captar estas coisas e um grande domínio da

palavra.

Sob muitos aspectos, a poesia é superior à literatura. Na prosa, a palavra é

freqüentemente um instrumento; na poesia ela é a matéria prima essencial. Mais:

prosa é análise, poesia é síntese. E o nosso mundo precisa tanto de análise

quanto de síntese.” *Natural de Porto Alegre (RS), Moacyr Scliar nasceu em 1937. Autor de diversos livros, entre eles “O exército de um homem só”, “Livro da medicina” e “O mistério da Casa Verde”, Scliar é considerado, tanto pela crítica quanto pelo público, um dos melhores escritores brasileiros. Membro da Academia Brasileira de Letras, ganhou várias vezes o Prêmio Jabuti.

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Ada-Magia Mágica, malvada, carência. Não ser, mágica, aguada, arada, Vasculhada, amada? cadê o verso programado Onde esta a rima ajeitada sumiu? foi mágica?

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Imune Percorres jeito, assumes tempestade, procuras majestade, quer ser alguém, mitos! Imito, ao céu tenso, no caminho percorre, ventos, exala perfume, me faz imune.

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? Espantalho, me deram, nome, não tem, de chapéu amarelo, de pote ausente, Os tons variam, do rosa ao verde, cinza, azul e vermelho, não esqueça do espelho. Corro os traços, uso aparelho, forço a imaginação, quero atenção.

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Fúria Percorre mente sã, na eterna eficiência, de um garoto acordado, no rio se faz hoje. Atordoado pelo vento, presença muito longe. aos berros, tolero, no mar fúria. Esbelto solar ao tom, único gesto de amor. Corpos coloridos, imitações pálidas. Ganância e pudor, procurando estou.

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Castigo Toques sublimes, não há, exatidão no correr, da alma. Vida, castigo, adormecidos, estância, percorre jeitos, paciência. O que há de errado? laços, vidas, trapaças? maços, encantos, matos?

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Razões Colorido corpo comum, ao toque encanto, percebo rosas e canto, a todo instante. Lua disse palavras, amor, loucuras, ares, penetra sensações continuas, ritmo acelerado. Palavra, minha intensa, gestos, ternuras, vidas, raios turvos. Mares densos, razões perdidas.

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Mundo Pequeno, dá voltas, azul, acorda! Mude ações, corações transformados, amadas, pálidas. Gente de tipo estranho, provas ao bem danado, acordado, musicado, apavorado!

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Escapada Cerca idealizada, na casa que escolherei, amada sob o monte, escondida ao longe. Ventos gelados e úmidos, toque de vidas alegres, sem pedir perdão, ardendo coração. Decisão oportuna, vejo fortuna, largo tudo, beijo, abraço. Risco de memória vazia, bem de casos alados, arrepios, imensidões, cor, amor, pavor!

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POESIA E PINTURA Sérgio Ferro* “Palavra livre. Poesia é uma palavra livre. O que significa que a poesia está

em má situação, pois liberdade hoje é privilégio. E privilégio e liberdade hoje são

incompatíveis.

Liberdade não é sinônimo de arbitrariedade; é livre o que tem todas as

razões de ser o que é em si, o que também é definição de necessidade. Poeta é o

que transforma a necessidade escrita em seu tempo em manifestação de sua

própria liberdade.

Desde a Renascença, a pintura quis ter a mesma liberdade imaginária do

que a poesia. Titiano, Poussin e outros trabalharam muito nesse sentido.

Entretanto, também na pintura, a liberdade coalhou.”

(*) Sérgio Ferro nasceu em Florianópolis (SC), no ano de 1938. É hoje um dos pintores brasileiros mais respeitados no exterior, com obras expostas em importantes museus, tais como o de Grenoble, na França, e o de Thessalonique, na Grécia. Desde a década de 70, mora na França, de onde acompanha de perto as mudanças na pintura brasileira.

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Bêbado Sangue ao tenso instante, campo, voa atento, pássaros de três hastes, percorrem vastos, mitos, martes. Alarde! corpo esbelto, atrás da vida inteira, procuro beira. Sem olhares castanhos, sorriso, colorido, pássaros, risos, ilha. onde esta alegria?

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Mente Angústia de esperar, assobio, voltas, planejar sucesso, aparente! Ausente? Corpo, caneta brilhante, penso em certa amantes, vivo presente, recheados de semente. Rimar com a mente, percorrer os sonhos, avisar o que foi, torcer, alcançar, salvar.

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Maldade Terços de belas amantes, versos de tom claro, procuro momento certo sinto mar, alegro. Flutua no bem igual, bolhas de tensões amplas, retratos de pressões, Amigas de vaidade, perdido no chão, maldade!

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Fluxo Magnitude plena e fugaz, atrás de montes raros, olhando vinhos caros, procuro a paz. Mensagem delirante, em tópicos e rifas, contatos anônimos, garantias de cifra. Acordo cedo, tarde se faz gente, sob luz de vela, outrora vida bela.

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Altar Escreveste risos e lindas, verdades de ti, querida andaste no distante momento, percorreste ventos, chuva e tormentos. Procurei lembranças, contornando devassas, olhando matanças. Lados, sem alternativa, amores, sombrio e vítima. Vou me matar, acordaste, longe, distante, dormirei no altar.

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Lágrima Ventos, atrás de cores vivas, lindas, noites cruas O quê? Ventos, molhados, úmidos secos, ventos.

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Momentos como esse Luzes de Lindos Lábios, Raios Tênues e Cristais, Momentos de Desejada Dor, Fantasias e Mágicos Sonhos. És tão bela e insensata, carícias sem abraços, dores de belas canções, beijos, sensações. Venero-a como uma flor, puras luzes obscuras, tua rara beleza. Desejos como esse, jamais terei. Pensar em você, não morro por quê?

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Arado Em constante harmonia, o sol se encontra com a lua, o mar se derrete na areia, você me desdenha. O triunfo a toda vista, perpétua a solidão, ao retorno da dor, risco, seu traço incolor. Corres, a vida breve, cultuas, o sonho encantado, contes, detalhes avessos, pedra, um bem Arado.

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14 (Catorze) Número da voz, me disse, apesar da crença, acredito na presença, força, esperança, não vou ignorar. Poema sem formato, vida do acaso, é preciso inovar, para não... Apagar os momentos. Gosto desse número, porra! Tenho sentimentos, no andar da tristeza, vem o ar da alegria. No constante jogo, o número é adorno, catorze, aposto nele, por que desperdiçar, algo que veio de graça? desgraça!

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POESIA E DANÇA Frank Aguiar*

“Dança é um estado de espírito, é a música e a arte do corpo. É a

representação mais harmoniosa de sentimentos e emoções que as letras e as

palavras sozinhas não conseguem dizer.”

(*) Cantor, compositor e tecladista, Frank Aguiar é hoje um dos mais consagrados músicos brasileiros. Nascido em 1970, na cidade de Itainópolis (PI), Aguiar construiu, ao longo dos anos, uma sólida carreira musical, lançando mais de dez discos, entre eles Frank Aguiar – Coração e Frank Aguiar – 10 anos ao vivo. Em 2006, Frank Aguiar e o Estado do Piauí foram tema do samba-enredo da Tom Maior, tradicional escola de samba do Carnaval paulista.

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Beijo na boca Ardente, água, amálgama, sem nexo. Pretexto, agora, sem texto.... Cadê, o resto do poema? sem tema.

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Chuva, Chuva, Fuja! Raio de brilho omisso, terra, de mim desgastada, entre ofícios e ócios, vida apagada. Tempo de ternura e agonia, vento com chuva carregada, prefiro momento controlado, vida, tempo confiscado. Quadro sem luz, caminho tortuoso de moral. Ternura, agonia, fuja, enquanto é carnaval.

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Retoque Poema em branco, garrancho, ai, que me perdoar. Sonhos, repletos, vozes você, calado, e os gestos?

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Capeta Ser um poeta? capeta, perneta, desperta o mundo de letras, abafa. Sem ritmo, curvas, sem som, além, exala, Regresso, o tom, quem disse que para ser poeta é preciso algum Dom?

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Conferida Fogo no corredor, morte, ardente e cruel, não sei se vou viver, pra ver o que é seu. A vida traz lembranças, ás vezes cansa, cabeça, adoeceu? liberdade plebeu. Identidade conferida. mudança de ares. troco sons e mares. Ignoro a idade, vida em vão, sem paternidade, dor no coração.

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Do lado Condição abstrata, maltrata, fios de cabelo, desespero. sinto falta, toques, olhares de ti, selvagem. não aprendi o todo, caramba, faltou esboço, não vivi escombros, caramba, sou tolo.

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Aqui! Malvada, de olhos azuis, linda, cabelos loiros. Perfuras, esperanças afins, sorriso, veneno, sem dó em fim. Apaixonante, malvada preversa, é melhor tê-la assim, do que longe de mim.

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POESIA E TEATRO Bárbara Paz*

“Aqui da minha casa vazia ...

... observando a alma com as pupilas de uma mente inquieta ...

Mexendo o corpo feito bicho...silenciando as retinas com o sopro de um violino

...Tento achar a face dessa personagem, a cor do seu cotidiano, o tom da sua voz.

Sem saber onde chegar , que porto parar ..vou navegando , intuindo os

sentimentos através do silencio do mar ...

Atuar - perder-se de si mesma ... - Traduzir a vida representar a morte ..

Estar à deriva sempre ...

Gosto desse passeio pelo desconhecido ,essa busca pela poesia , esse

transcender...

Saborear palavras , se alimentar de histórias ,

Esse palco que ecoa a nudez - do intelecto, do corpo e da alma

Como se morresse a cada estréia , como se cada autor fosse um pai e cada

diretor uma bíblia...

Nascer para poder gerar , criar para poder sentir .

...O teatro só se faz presente através da poesia do ser humano , e a poesia só

existe quando o silêncio da nossa interpretação se torna a metáfora da vida ...

Teatro e Poesia - um não existe sem o outro.”

(*) Bárbara Paz é atriz e modelo. Nascida no ano de 1974, Bárbara mostrou seu talento em mais de quinze peças, entre elas A Babá, escrita por Juca de Oliveira e com direção assinada por Bibi Ferreira, e Vestir o Pai, autoria de Mário Viana e direção do ótimo Paulo Autran.

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Abertura Torneira de idéias exatas, mar de papéis, olhar ventres, coadjuvante e anéis. Florestas de vida, passadas e más, ao reverso da ação, pura tentação. luz brilhante, quanto desespero, menos tempero, mais angústia.

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Poeta Triste Menino de idéias oblíquas, atravessa pensamentos quadrados, procura sobreviver, sem ao menos ler. Pra quê fazer versos, se o mundo os ignora, se as pessoas acham, que letras são toras. Rabiscos e esboços, vão se congelar, prefiro refletir e esperar, Reviravolta tensa e distante, nesse instante, só me resta, chorar.

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Diversos Sons e imagens se misturam, no sincronismo impreciso, na transmissão sem identidade, na pior das verdades. O que resta é jogo de interesse, é perda de controle, humanos contidos, no mar sortido.

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Globalização Invadiu o poema, entre letras e abrigo, quer mudar o esquema, prefiro modo antigo. Controle global, ditadura de regras, palhaço anormal. Quero escrever sem dizerem, o que eu tenho que fazer!

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Mais Um! Improvisar o texto, ler no calabouço, rimar algumas palavras, contabilizar o prejuízo. Ser um homem simples, mais um no universo. Olhar o horizonte, ser contente, pelo menos por um minuto.

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Cálice 2006 Acenaram-me da calçada, era um cálice de vinho, com lenço branco e úmido, sorriso nas hastes, pedia amor. Sonhador, como sou, imaginei-me em seus braços. beijando-lhe o rosto, enroscando-me aos lados. Apertando-lhe os lábios, desejando-me pudor. Ah! Que vontade de amar, tocar e ser desejado. Que vontade de ser amado, de acordar e dividir o lençol, de tomar café com meu cálice. Ah! Acho que eu seria mais feliz, seria um homem completo. Sem perder a esperança, eu aceno para o cálice, e ele se vai. Admiro-o com um simples olhar, acho que acabei de me apaixonar.

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Descalabro No descalabro contínuo, eis os traços perversos, a aliança constrói pudores, eu, em busca de meus amores. Metafísica explica, injustiças, latidões e atitudes bloqueiam ansejos e vontades, lutam contra projetos e verdades. Homens egoístas observam o passar do tempo, o futuro adversário, a matança cruel, no descalabro contínuo.

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Esquecer O orgulho perpétuo em linha, se faz preciso, chega a ser inexistente, alcança o patamar da esperança, mas não evolui. Ambiente tenso e fechado, percorre condições inusitadas, no eterno calafrio minh’ alma Ambiente torna-se orgulho, ambos competem por momentos, ambos querem ser destaque, Por que temos que aparecer, se o ser humano tende a nos esquecer?

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Adoecer Paradigma inerente de veladas cinzas, pó eliminado ecoa gemidos gritos, num descontínuo espaço de tempo, procurando grãos para se compactar. O alerta ilumina com tons diversos, afasta estruturas sólidas e atrai jeitos descompassados, muda sons recheados de prazer, traz situações, me leva a adoecer.

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Mordo Olhar gostoso de mel, os pincéis traçam o manto, decido os passos, corro aos prantos. Mordo os lábios, veneno percorre bocas, admiro suas caretas e risadas, quero amá-la para sempre. Linda, tu me ignoras, preferes apalpar o vão do que guiar um solitário, acostumado a ouvir não.

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POESIA E CINEMA Carlos Reichenbach*

(parafraseando Pasolini, Skolimovski e Murilo Mendes)

“Já que o cinema é o conglomerado de todas as artes, a poesia deve ser o

seu maior manancial. Ela coloca em evidência a questão crucial da criação: forma

+ conteúdo. Importa tanto o que está sendo narrado, quanto o como está sendo

mostrado. Na poesia e no cinema, as idéias abstratas, de tanto as tocar, tornam-

se concretas. No cinema é preciso fazer o tempo passear a música, para restaurá-

lo. ”

*Carlos Reichenbach é hoje um dos ícones do cinema brasileiro, tendo forte atuação na Boca do Lixo e na Retomada, importantes movimentos da cinematografia nacional. Dirigiu filmes clássicos, como “A Ilha dos Prazeres proibidos” (1980), “Extremos do Prazer” (1984) e “Alma Corsária” (1994). Carlão, como é conhecido no meio cinematográfico, nasceu em Porto Alegre (RS), no ano de 1945, e atualmente mantém um blog, o Reduto do Comodoro.

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Liberdade corro entre ventos, agonias e afins, vejo o contraste de ti, minha amada, infeliz. ao toque do semblante, desejos se faz ao monte, no despertar do encanto, eis, os versos, estou em pranto. observo o horizonte, a vida se faz presente, ignoro o passado, busco sabedoria, num mundo, onde a ironia, se faz cada vez mais agonizante.

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Putaria Lâmina fria aponta ao horizonte, O que foi desordem agora é lei, Até magnitude brotou, Descompasso momentâneo se criou. Isento, giro em mundo, supero obstáculos, miro tentação, a arma não dispara. A putaria cultivou, em tempos prolixos, ganância e pudor, o poeta se matou.

Page 55: Livro Poesia Nao Vende

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Barro Sai na revista, Entrelinha Que agonia, Minha cria? Porra! Poema doido, Vou me matar, Tô louco? Assim não dá, Cadê Minha criação de barro? Ela não sai nem em jornal de bairro!

Page 56: Livro Poesia Nao Vende

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Obrigada Dizem que falo “obrigada”, Tô nem aí me dou risada, A vida continua, Toda nua. Da barriga, o homem vem, E depois debocha, Queria ver, Se todas as mães fossem brochas. Fortes, palavras femininas, Colorido, não falta, Areia, luz e flauta. Porra! Amplo, conceito, Falar das masculinas? Foda-se o preconceito! Tênis, carro, vídeo, Que graça tem? Prefiro cachaça, Que minha vizinha serve como ninguém.

Page 57: Livro Poesia Nao Vende

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Tenha paciência! Chamaram minha obra de “livrinho”, Que cara mesquinho, Vive tirando sarro, Que otário! A roda gira, Topo e chão, Enquanto ele se acha, Tem gente de nobre coração, Dono do mundo, Que prepotência, Ele se intitula, Deus, o soberano. Nossa, quanto ENGANO!

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Sobra Destruição rodando mundo, Matando gente, Levando sangue, Num corpo ardente. Sangue sem proteína, Gente à solta, Vida querendo pigma, Som do mar-alto. Vermelho intenso, Morte agora. Nesse amor imenso, O que sobra é antora.

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Ante Paranóia ambulante, A todo instante, Conquista lares, latidos e mares. Malabares em punho, Retração alado, Vivência que cansa, O olhar matança. Toques tintos e tantos, Sofrimento ao vermelho, O azul que some no ar, A escolha do nada ter. Esperança no sentido oculto, Galhos de traços comuns, Mulheres, homens e gentes, Morros na ilha, Mortes no sangue. Caramba! Cadê a vida, estRESSANTE No mundo, Ante!

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Ar Raio de risco rápido, Ao som do mar, Vou me apaixonar, Num toque do ar, Observo o seu caminhar. Linda e bela, Um anjo colossal, Dorme no sorriso, Segurança no tiso. Observo com atenção, Talvez uma adoração, Charmosa e formosa, Você me ignora, Não vou embora. Aproximo, com cinismo, Quero saber, quero falar, Cadê você, meu anjo do ar?

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Atenção Agonia de esperar, O tempo, envolvente, Caminhos, então, A viver, observar, atenção! Minha mente, cheia de desejos, Lutar, planejar os manejos, As paixões, a beira do abismo. Sem perder o ludismo, Num toque de inocência, Na volta da constância, Entre raios e um trovão. Eu repito: atenção!

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Ciga, Ro, ciga! Acender cigarro macio, Sem ter medo do clio, Avante raciocínio, No mundo obliquo. Vem da terra, o ar de esperança, Vem dele, O segredo da criança. Devagar o mundo adentro, Procurar o seu espaço, Não fuja do compasso. Vida de plebeu, Você já acendeu o seu?

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Desprezo! Olhos, omissos e ousados, Corpo, traço sublime Leve, momento alterado, Mudado: eterna vivência. Perco, sentido e movimento Detalhes de preconceitos, Entre fábulas e narrativas, Cadê você, minha estiva? Atrás da vida intensa, Esconde a sabedoria, Atrás da ignorância, Vem a energia. Dos raios, o melhor, Tempo, de dizer, A ti, o desejo, Imenso, arrogante, Eterno, desprezo!

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Ci no ismo Beijo ardente, Não muito quente, Ar sombrio e pesado, Tudo muito claro. Vida sem mim, Em constante conformismo, A migrar de um paraíso, Não sei, que cinismo? Registro enterrado, Memória inocente, Sombrio mundo quente, Quer alguém contente?

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Sem dor Horizonte trás vento, Até que ponto, Venho a dizer, Orgulho de te ver. A vida sombria, Na noite, se mostra crua, Dia, falta luz, Quem é que produz? Talvez bela e cinza, Agora se faz prisma, Na vez do outono, Faltou contorno. Não vejo solução, Quero te ver, Encontrar o amor, Uma vez, sem dor.

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Calado Trovões, mundo aqui Não quero dizer, Não vou pensar, Me deixe, quero calar! Adormecida estás, Entorno da ilha, Querendo gritar, Ao som de uma gralha. Fogo cruzado, Amor desgastado, Estou aqui, Por enquanto, calado.

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Caramba Inclinação, moda antiga, Passando do entrelaço, Ditar essa cantiga, Quanta preguiça. Olhos do avesso, Penso esperança, No andar ditongo, Vejo a crença. O primor na barreira Entre avanços e sonhos, Passo a fronteira, Entre carros e carroças, Toque de pirraça. Caramba, o que eu estou falando? Não sei, vou embora. Já deu a minha hora!

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Sorte Tentações ao olhar mútuo, Ar de vidas passadas, Você, a deriva do outro. O sentido contagiado. Agora se faz presente, Toques, jeitos, gente, Nunca se cai a lágrima, Nunca se perde a lástima. Você no olhar brilha, Aberto ao horizonte, Ventos do norte, Sopra a minha morte Ou será sorte?

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Ausente Corpo adormece nu, Ao lado de flores, Vento sopra do mar, Repleto em dores. Ao toque do som, Eis meu Dom, Na vida iguala, O olhar senzala. Do sopro pra mim, Realidade assim, Horizonte partindo. Suspense exila, O triste momento, Coração agiu, Distorce a mente, o que resta? Você, ausente?

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POESIA E MÚSICA Ivan Lins*

“A música é a maneira que o homem tem de se expressar, de se comunicar

com o meio exterior através de notas musicais encadeadas que formam uma

melodia.

Copía dos pássaros, que são os seres mais queridos de Deus. A música se

liga à poesia, quando a comunicação envolve palavras também. E para que haja

comunhão sonora entre melodia e palavras essas últimas têm que quase ter uma

melodia em sons e rimas de forma que pareçam uma coisa só.

A poesia sozinha expressa verbalmente, em ritmo e sonoridade, o

sentimento do homem, sem que precise de uma música. É texto da alma...”

*Ivan Lins mostrou-se, durante a Ditadura Militar, um verdadeiro opositor a esse regime, lançando músicas, como “Aos nossos filhos” e “Desesperar Jamais”, que se tornaram hinos a favor da liberdade do povo. Em 1999, ele ganhou o primeiro disco de platina com o álbum “Um Novo Tempo” e fez a trilha sonora do ótimo longa “Dois Córregos”, de Carlos Reichenbach. Ao longo da carreira, Ivan Lins tornou-se um dos compositores brasileiros mais conhecidos no

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Preciso dizer o título? Troca de sensações, Gemidos e ternuras, Ao toque de amores, Ela e dores. Tremenda angustia, Beijos nos lábios, Entre jeitos e sábios, O amor que tinha Uma vida eterna. Estava perto dela Sem nunca estar AO LADO.

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Essência Sangue de minh’ ama, Adormecida e cansada, Aos passos corridos, Aos ventos do nada. Estão presente e ausente, Num mundo distante, Correndo e lutando, Ao mundo, cantando. Se queres falar, A vida intensa, A morte, vivência Aqui, essência.

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Bela Chuva de palavras sem fim, Vocábulos correm de mim, Ao som da ciência, Perco coerência. Percorro os palais, Entre riscos e sinais, Retoque dos tantos, Entre cantos e prantos. Céu sem estrela, cadê ela? Momento prela. Era bela!

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Agora Alegria de prisma, Sonhei os mundos, Passei fronteiras, Do sonho, traçado. Pura maldade Por quê lutado? Apesar da ordem, Viver, alarde. Na constante pura, Do aqui, a hora. Tropecei, morri, Não sei, agora?

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O sopro de um cochilo Ao cochilo do esperar, Entre trovas, acordar, O constante calafrio, Da mulher amada. Ah! Que alegria de tê-lo, O corpo do sonho, Ao olhar do arrepio, Mente devassa, Coração, assobio, No teclado, ela morte, No acorde, som de montanha, A vida acanha. Raio triste promissor, Etapa de ventos afins, Olhar de vermelhos brilhos, Cadê, você minha amada. Acho que sonhei contigo, Você estava no trilho, parada, No cochilo, Olhando ao norte.

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Cupim de Natal A árvore piscava com tal fervura, Bolas brancas e vermelhas davam o realce, Enfeites de laços e cavalos carregavam ternura, No olhar da criança. Piscava num ritmo prolixo, Fixamente olhava o enfeite mais alto, Era um papai noel no topo da árvore, Despertando nuança no olhar meigo. A criança, enfeitiçada estava A admirar o falso real, A crer que papai noel iria, Descer da árvore e dá-lhe Um beijo no rosto. Observava a árvore diariamente, Como se buscasse um algo mais, Percorria ao redor dos galhos, Sentia o perfume vago. Fixava os olhos atrás da árvore, Abria e fechava a porta do armário, Passava a mão num furo, Feito por cupim. Observava a árvore, Canto por canto, Estava quase aos prantos, Queria ver se o furo, Ia contaminar os enfeites, Derrubar os galhos, Estragar papai noel E paralisar os cavalos.

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Baladas de amor Vento como palha, navalha, toque sublime, foi show de verão. Num passar de vida, sofrida, foi teu jeito de amar. Alucinação, doce como vento, quero te olhar. Baladas de amor, sentidos guiados, por traços de limites. Ah! Meu doce desejo, contido em formas, prensados, desejos. Ah! Meu doce, em formas, de sejos.

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Maramar Mar, A vida é mar, Amar a vida, Sem Ter pressa De encontrar O seu destino, Meu amor, Se faz menino Reflete o Dom, Da matemática, Da inspiração, De um punhado de ação Do encontrar, Alguém, No mar Reflete o som, Do borbulhar, Do seu jeito de amar.