livro plano viver sem limite 2014
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Livro Plano Viver Sem Limite 2014TRANSCRIPT
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Dilma RousseffPresidenta da Repblica
Michel TemerVice-Presidente da Repblica
Ideli SalvattiMinistra de Estado Chefe da Secretaria deDireitos Humanos da Presidncia da Repblica
Claudinei do NascimentoSecretrio Executivo da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidncia da Repblica
Antonio Jos FerreiraSecretrio Nacional de Promoo dosDireitos da Pessoa com Deficincia
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Braslia, 2014
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PRESIDNCIA DA REPBLICA
SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS SDH
SECRETARIA NACIONAL DE PROMOO DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICINCIA SNPD
Setor Comercial Sul B Quadra 9 Lote C Edifcio Parque Cidade Corporate Torre A
CEP: 70308-200 Braslia-DF Brasil
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2014 Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica
Reproduo autorizada, desde que citada a fonte de referncia e que no seja para fins comerciais.Impresso no Brasil Printed in Brazil. Tiragem: 50.000 exemplares (1 Edio), distribuio gratuita.
REDAO E EDIO DE TEXTO:
Ex-Libris Comunicao Integradaeditor responsvel Jayme Brener
redao Renan Perondi
reportagem Fernanda Mira e Nathalia Nicola
consultoria Daniela Karmeli
PRODUO:
fotografias Acervo SECOM, Acervo SDH/PR, Daniel Dino, Jefferson D. Modesto, Jssica Mendes, Jorge Amaro e Yusseff Abrahim.descrio de grficos e tabelas no formato acessvel Jorge Amaro e Rodrigo Abreu de Freitas Machadocoordenao Joo Paulo Gurgeledio Luiza de Andrade Penidoprojeto grfico, diagramao e capa Daniel Dino
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
DEFICINCIA, Viver sem Limite Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com / Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos da Pessoa com Deficincia (SNPD) VIVER SEM LIMITE Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia : SDH-PR/SNPD, 2014.
180 p.
1. Acessibilidade, Legislao, Brasil. 2. Pessoa com Deficincia, Legislao, Brasil. I. Ttulo, Leis, etc.
CDD 323.362.4
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Sumrio
Apresentao
Uma grande conquista de toda a sociedade ........................................................................................................................9
Parte 1 | Contexto Histrico do Plano Viver sem Limite
Captulo 1 | Processo histrico de construo do primeiro Plano Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficincia | Viver sem Limite ................................................................................................15Captulo 2 | O desafio da construo de uma poltica intersetorial e transversal............................................ 27Captulo 3 | A participao da sociedade civil organizada na elaborao
e monitoramento do Viver sem Limite ...............................................................................................................................43Captulo 4 | A relao dos entes federativos e os reflexos do plano nas
polticas estaduais e municipais ............................................................................................................................................53
Parte 2 | Contedo do Plano Contribuies dos Eixos
Captulo 5 | Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de educao inclusiva ................................63Captulo 6 | Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de sade ...........................................................83
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Captulo 7 | Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de assistncia social ....................................99Captulo 8 | Contribuies do Viver sem Limite para as polticas de estruturao e
desenvolvimento de pesquisa e tecnologias assistivas ................................................................................................111Captulo 9 | Contribuies do Viver sem Limite para as politicas de acessibilidade ....................................127
Parte 3 | Processo de Gesto do Plano Viver sem Limite
Captulo 10 | Gesto compartilhada da coordenao do Viver sem Limite ......................................................137Captulo 11 | Instrumentos e mecanismos de gesto da informao ...................................................................145
Parte 4 | Outras Aes e Polticas Pblicas
Captulo 12 Aes complementares do Governo Federal pelos direitos de
pessoas com deficincia ............................................................................................................................................ 151
Concluso
Conquistas para o presente, legado para o futuro ....................................................................................................175
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 9
Apresentao
Uma grande conquista de toda a sociedade
com muito orgulho que a Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos da Pessoa com Deficincia, da Secretaria
de Direitos Humanos da Presidncia
da Repblica, traz a voc este livro,
com o objetivo de realizar um registro
sobre a elaborao, a implementao
e o monitoramento do Plano
Nacional dos Direitos da Pessoa
com Deficincia Viver sem Limite.
O Viver sem Limite uma
grande conquista de toda a
sociedade brasileira e no apenas
dos movimentos e das pessoas com
deficincia. Alm de ser o primeiro
plano federal implantado com a
misso de promover os direitos das
pessoas com deficincia, o Viver
sem Limite criou novas polticas
pblicas, articuladas em quatro
eixos temticos: Acesso Educao;
Ateno Sade; Incluso Social e
Acessibilidade. Outra inovao do
plano foi seu enfoque transversal,
em um esforo que envolveu
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10 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
15 ministrios , contando com a
adeso de 25 estados e do Distrito
Federal, assim como de mais de
mil municpios, induzindo criao
de planos estaduais e municipais
voltados ao tema.
A ideia do livro servir de
referncia para a populao em
geral, sociedade civil organizada,
pesquisadores, estudantes e
gestores pblicos que queiram
conhecer de maneira aprofundada
as aes do plano. Dividida em
trs partes e com 12 captulos,
a publicao tenta abarcar o
contexto histrico da criao do
plano; as aes contidas em cada
um dos quatro eixos temticos
e os processos de gesto e
monitoramento desenvolvidos para
o Viver sem Limite.
Nos primeiros quatro captulos,
relata-se a luta pelo reconhecimento
dos direitos das pessoas com
deficincia; a convocao feita pela
presidenta Dilma Rousseff para
que os ministrios realizassem um
plano transversal e intersetorial
com recursos das prprias pastas;
a participao da sociedade
civil na elaborao do plano e as
articulaes com outros entes
da Federao para disseminar o
conjunto de aes.
Nos cinco captulos que formam
a segunda parte do livro so
abordadas as aes contidas nos
quatro eixos do plano. Por meio
de entrevistas realizadas com
gestores de todos os ministrios
envolvidos, so apresentadas as
metas e os resultados alcanados.
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 11
Como o livro trata de aes
destinadas a beneficiar sujeitos de
direitos, ao final de cada captulo
voc conhecer o caso de algum
brasileiro ou brasileira que tenha
sido abarcado pelo plano.
J os trs ltimos captulos do
livro abordam os mecanismos de
gerenciamento e monitoramento
do plano e as aes criadas por
ministrios que no estavam
originalmente no Viver sem Limite.
Nosso objetivo, ao planejar e
desenvolver este livro, foi escapar
do relato frio e burocrtico
de metas e resultados, para
apresentar um histrico vivo das
razes, da criao, desenvolvimento
e implementao do Viver sem
Limite e de seus impactos sobre
milhes de pessoas com ou sem
deficincia em todo o pas.
Esperamos que todos
aproveitem bem a leitura.
Antonio Jos FerreiraSecretrio Nacional de Promoo dos
Direitos da Pessoa com Deficincia
Ideli SalvattiMinistra de Estado Chefe da
Secretaria de Direitos Humanos da
Presidncia da Repblica
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Foi a partir do final da dcada de 1970 que o movimento das pessoas com deficincia se desenvolveu. Pela primeira vez, elas mesmas protagonizavam suas lutas e buscavam ser agentes da prpria histria
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Parte 1Contexto Histrico do
Plano Viver sem Limite
Foi a partir do final da dcada de 1970 que o movimento das pessoas com deficincia se desenvolveu. Pela primeira vez, elas mesmas protagonizavam suas lutas e buscavam ser agentes da prpria histria
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 15
O debate internacional em torno da pessoa com deficincia disseminou-se por todo o mundo ao longo
dos sculos XIX e XX, alimentado
pelas guerras, com seu terrvel
saldo de populaes prejudicadas.
Surgiram inmeros movimentos e
iniciativas para atender aos tipos
de deficincia (fsica, mental/
psicossocial, intelectual e sensorial),
mas foi s a partir da dcada de
1960 e da Guerra do Vietn que se
verificou, inicialmente nos Estados
Unidos, uma politizao maior da
questo, liderada por movimentos
que exigiam do Poder Pblico a
devida ateno ao tema.
Aquele perodo foi marcado
por lutas nas Amricas e na
Europa pelo reconhecimento dos
direitos de grupos considerados
marginalizados ou discriminados,
assinalando a emergncia de um
conjunto variado e rico de novos
atores sociais no cenrio poltico.
Captulo 1
Processo histrico de construo do primeiro Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficincia | Viver sem Limite
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16 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Generalizaram-se, ento, os
movimentos em defesa dos direitos
de mulheres, negros, homossexuais,
assim como iniciativas ecolgicas e
voltadas ao bem-estar dos animais,
reivindicando novos espaos.
No Brasil, esses movimentos
deram um novo significado ao
processo de redemocratizao,
aps duas dcadas de regime
militar (1964-1985).
Pessoas com deficincia
A opresso contra as pessoas
com deficincia manifesta-se
historicamente na forma da
restrio de seus direitos civis
e, especificamente, da limitao
imposta pela tutela da famlia e
de instituies. Sempre houve
pouco ou nenhum espao para
que esse segmento da populao
participasse das decises em
assuntos que lhes diziam respeito.
Ao longo de todo o sculo XX
surgiram iniciativas voltadas para
as pessoas com deficincia
especialmente na rea educacional
e na forma de obras caritativas
e assistencialistas. No Brasil, por
exemplo, em 1926 foi criado em
Canoas (RS) o Instituto Pestalozzi,
inspirado no pedagogo suo
Johann Heinrich Pestalozzi
(1746-1827), dedicado educao
especial. Em 1954 era fundada,
no Rio de Janeiro, a primeira
Associao dos Pais e Amigos
dos Excepcionais (APAE). No
mesmo ano abria as portas a
Associao Brasileira Beneficente
de Reabilitao (ABBR).
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 17
Mas foi a partir do final da
dcada de 1970 que o movimento
das pessoas com deficincia se
desenvolveu. Pela primeira vez,
elas mesmas protagonizavam
suas lutas e buscavam ser
agentes da prpria histria, e a
mudana de postura contaminou
positivamente boa parte das
entidades que haviam nascido e
se espalhado por todo o pas nas
dcadas anteriores.
Mulheres conversam durante a 3 Conferncia Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
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18 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Esse impulso gerou vrias
medidas para combater a
discriminao e garantir s pessoas
com deficincia a igualdade de
acesso aos direitos civis, sociais
e polticos.
O entendimento
sobre o que
deficincia comeou a
ser alterado, inclusive
para as prprias
pessoas do segmento.
Um passo importante,
para o Brasil, foi a
criao, em 1986, da
Coordenadoria Nacional
para Integrao da
Pessoa com Deficincia (Corde) e,
em 1999, do Conselho Nacional dos
Direitos das Pessoas com Deficincia
(Conade), vinculado ao Ministrio
da Justia, imaginados como caixas
de ressonncia do conjunto das
associaes para dentro do
Poder Pblico.
Historicamente, a deficincia
era vista como um
impedimento mental ou
fsico, passvel de ser
tratado e resolvido
por meio da ajuda
de especialistas,
possibilitando
que a pessoa se
adaptasse forma
como a sociedade
se organizava. A
consequncia era uma
concepo assistencialista, que
pouco valorizava a autonomia, a
dignidade e a garantia de direitos
dos sujeitos. Mas, aos poucos, esse
A opresso contra as pessoas com
deficincia manifesta-se historicamente na forma da restrio
de direitos civis e da limitao imposta pela
tutela da famlia e de instituies
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 19
paradigma foi cedendo espao
para uma concepo que via na
excluso algo gerado pela prpria
organizao social atual, repleta de
barreiras fsicas e culturais.
Era o comeo da transio
rumo a uma concepo que encara
a deficincia como mais uma
caracterstica humana, no como
fator que impede cidados de
terem igualdade de condies e
oportunidades diante de qualquer
outra pessoa.
A nova concepo passou a
demandar mudanas drsticas na
forma como o Estado interagia com
a questo; as aes das entidades
assistencialistas tambm tiveram
que ser reavaliadas; e as prprias
pessoas com deficincia puderam
se empoderar e comearam a
participar dos debates na esfera
pblica. Passou-se a se exigir
que os ambientes, as formas de
comunicao e de transporte
fossem transformados para garantir
a acessibilidade de todos. Em
suma, a meta agora no era mudar
o indivduo com deficincia e, sim,
transformar a sociedade para que
esse indivduo tivesse seus direitos
garantidos e suas oportunidades,
equiparadas aos demais.
O processo exigia que marcos
legais fossem estabelecidos para
assegurar as mudanas. Um passo
fundamental foi dado em 1981,
que a Organizao das Naes
Unidas (ONU) declarou como
Ano Internacional da Pessoa com
Deficincia. No ano seguinte foi
criado o Programa de Ao Mundial
para Pessoas com Deficincia.
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Homem cadeirante fotografa; O movimento das pessoas com deficincia luta para que elas sejam protagonistas de sua histria
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 21
J em 1999, a Organizao dos
Estados Americanos (OEA) editou
a Conveno Interamericana para
a Eliminao de Todas as Formas
de Discriminao contra as Pessoas
com Deficincia.
Esses documentos destacam o
direito de o segmento se beneficiar
de melhores condies de vida
e de oportunidades iguais. Eles
tambm promoveram diretrizes que
orientariam a elaborao de polticas
pblicas dos Estados membros.
No Brasil
A promulgao da Constituio
de 1988, resultado de um
longo processo de luta pela
redemocratizao do Brasil,
consolidou os direitos fundamentais
de todos os cidados. Em seu artigo
23, inciso II, a Constituio determina
que competncia comum da
Unio, dos estados, do Distrito
Federal e dos municpios cuidar
da sade e assistncia pblica, da
proteo e garantia das pessoas
com deficincia. O Brasil tambm
incorporou a Conveno da OEA
por meio do Decreto n 3.956/01.
Nos anos seguintes, a
comunidade internacional e o
Estado brasileiro iriam reiterar
seu compromisso. A ratificao,
pelo Brasil, da Conveno da
ONU sobre os Direitos da Pessoa
com Deficincia e seu Protocolo
Facultativo, em 2009, por meio
do Decreto Legislativo n 186,
de 9 de julho de 2008 e do
Decreto Executivo n 6.949, de
25 de agosto de 2009, foi um marco
Homem cadeirante fotografa; O movimento das pessoas com deficincia luta para que elas sejam protagonistas de sua histria
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22 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
histrico na luta dos brasileiros
com deficincia.
Essas medidas tiveram extrema
importncia, mas no garantem,
por si s, que as transformaes
aconteam. A Conveno da ONU
estabeleceu parmetros para
o desenvolvimento da poltica
nacional sobre o tema, mas colocou
novos desafios, a comear por sua
aplicao e fiscalizao.
Em resumo, tratava-se de realizar
a meta de promover, proteger
e assegurar o exerccio pleno e
equitativo de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais
por todas as pessoas com
deficincia e promover o respeito
pela sua dignidade inerente, o
que apontava a necessidade de o
Poder Pblico gerar uma poltica
global coerente e estruturada, que
abarcasse todos os mbitos da vida
da pessoa com deficincia.
Plano Viver sem Limite
A histria do Plano Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficincia
Viver sem Limite tem incio
durante a campanha presidencial
de 2010, quando a ento candidata
Dilma Rousseff visitou vrias
instituies que trabalhavam em
prol da pessoa com deficincia,
recebendo suas reivindicaes.
Pouco depois das eleies, em
julho de 2011, ocorreu a primeira
reunio entre a j presidenta e
15 ministros, com o objetivo de
iniciar a elaborao de um plano
nacional que garantisse autonomia,
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 23
cidadania e equiparao de
oportunidades das pessoas com
deficincia. Partiu da presidenta
a ideia de que o plano deveria
atuar de forma intersetorial e
transversal, aprofundando polticas
j existentes e inovando de acordo
com as demandas apresentadas,
sob a coordenao da Casa Civil e
da Secretaria de Direitos Humanos
(SDH) da Presidncia da Repblica.
A ento ministra-chefe da SDH,
Maria do Rosrio Nunes, delegou a
responsabilidade da coordenao
do plano ao secretrio nacional de
Promoo dos Direitos da Pessoa
com Deficincia (SNPD), Antonio
Jos do Nascimento Ferreira, que
tem longo histrico de militncia no
movimento social das pessoas com
deficincia. Deficiente visual, foi
presidente da Organizao Nacional
dos Cegos do Brasil (ONCB); em
2012, trabalhou como coordenador-
geral de Promoo dos Direitos
da Pessoa com Deficincia; e, no
comeo de 2011, exerceu por alguns
meses a chefia de gabinete da
SNPD, para depois assumir a Pasta.
Trs dias aps o primeiro
encontro ministerial, os envolvidos
se reuniram novamente para iniciar
o desenho do novo plano. A partir
daquele momento, os ministrios
comearam a trazer mesa de
discusso as aes que estavam
desenvolvendo sobre o tema. Para
Antonio Ferreira, um fator muito
positivo na elaborao do plano foi
que ele no exigiu uma sistemtica
nova para funcionar, uma vez
que utilizava os projetos que j
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24 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
vinham sendo implementados pelos
ministrios. E isso potencializa as
aes na quantidade e na qualidade.
Definiram-se, nesse processo, os
quatro eixos temticos do plano:
1. Acesso educao, que
investe em recursos e servios
de apoio educao bsica e
compreende a busca ativa de
alunos, transporte acessvel,
aprendizagem, acessibilidade
e qualificao profissional;
2. Ateno sade, que cria a
Rede de Cuidados Pessoa
com Deficincia e contempla
aes voltadas para a
preveno e reabilitao;
3. Incluso social, que
desenvolve aes de
participao social e de
combate s desigualdades,
visando a incluir as pessoas
com deficincia na sociedade,
tanto no trabalho, quanto no
cuidado dirio de pessoas em
situao de pobreza;
4. Acessibilidade, na forma da
busca de acesso tecnologia
e ao desenvolvimento
tecnolgico, moradia e
aquisio de equipamentos.
O primeiro eixo temtico estaria
a cargo do Ministrio da Educao;
o segundo, do Ministrio da Sade;
no terceiro eixo, que envolvia a
seguridade dos direitos da pessoa
com deficincia, foi acertada a
colaborao de vrios ministrios; e
o quarto associava a ao de quase
todas as Pastas.
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 25
So 15 os rgos federais
que integram o Viver sem
Limite: Casa Civil; Secretaria de
Direitos Humanos da Presidncia
da Repblica; Secretaria-Geral
da Presidncia da Repblica;
Ministrios da Educao;
Sade; Trabalho e Emprego;
Desenvolvimento Social e Combate
Fome; Cincia, Tecnologia e
Inovao; Cidades; Fazenda;
Esporte; Cultura; Comunicaes;
Previdncia Social; e Planejamento,
Oramento e Gesto.
Desde esse momento ficou
acertado que um dos desafios seria
unir as aes para garantir, de parte
do Poder Pblico, a promoo dos
direitos da pessoa com deficincia
do nascimento at a velhice. A
inteno no era realizar uma
poltica assistencialista, mas, sim,
uma poltica de promoo
de direitos.
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 27
O Plano Viver sem Limite nasceu sintonizado com as anlises mais amplas sobre a deficincia, que rompem
com o paradigma assistencialista
e promovem os conceitos de
incluso, como independncia e
empoderamento das pessoas. Essas
concepes convergem em um
ponto central: a deficincia envolve
uma multiplicidade de dimenses e
fatores de origem socioeconmica,
cultural, familiar, individual
e institucional, conformando
trajetrias distintas e demandando
aes pblicas com abrangncia e
objetivos diversos.
Assim, a multidimensionalidade
exige polticas diversificadas
e, para abarcar todas elas,
necessrio o desenvolvimento de
estratgias de interveno capazes
de interligar distintos setores das
polticas pblicas, de maneira a
resultar numa ao conjunta de
vrios programas.
Captulo 2
O desafio da construo deuma poltica intersetorial e transversal
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28 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Para o Governo Federal, essa
exigncia se traduziu em um
plano que valoriza as intervenes
intersetoriais e transversais; um
modelo de gesto governamental
relacional, com redes horizontais
e multinveis.
A arquitetura do projeto
demandou amplos esforos. Cada
ministrio elaborou um plano de
ao para definir quais seriam os
passos necessrios de forma a
atingir as metas. A inter-relao das
propostas teve a participao da
Casa Civil, que tambm auxiliou na
criao do Grupo Interministerial
de Articulao e Monitoramento
GIAM do Viver sem Limite. O
grupo atua como sistema de
monitoramento da implementao
do plano junto populao.
As Pastas envolvidas tambm
reservaram no oramento recursos
de peso a serem aplicados
exclusivamente nas aes do plano.
A previso oramentria global
chegou a R$ 7,6 bilhes. Tambm
foi acertado que nenhum rgo
poderia remanejar esses recursos
sem uma justificativa prvia para
a Casa Civil. Essas garantias
terminariam resultando em uma
sinergia bastante positiva entre
os ministrios, com a ao de um
sendo potencializada por outro.
Assim, o processo de
elaborao do Viver sem Limite
no se constituiu apenas em uma
maneira de cumprir as obrigaes
internacionais do Brasil perante
a Conveno da ONU sobre
os Direitos das Pessoas com
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 29
Deficincia. Transformou-se em
uma grande oportunidade para
fazer um balano da promoo
dos direitos humanos no Brasil, em
geral, e dos direitos das pessoas
com deficincia, em especial,
favorecendo um planejamento
mais eficaz das polticas pblicas
adotadas e a efetiva implementao
da Conveno da ONU.
No dia 17 de novembro de 2011, a presidenta Dilma Rousseff lana o Plano Viver sem Limite
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30 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Assim, o movimento de
elaborao do plano ofereceu
oportunidades para que
cada rgo governamental:
a) Realizasse uma reviso
completa das
medidas tomadas
para harmonizar
as legislaes
e polticas
nacionais s
disposies da
Conveno aps
sua incorporao
na normativa
nacional com
status de emenda
constitucional;
b) Verificasse os progressos
realizados no acesso ao
usufruto dos direitos
estabelecidos na Conveno,
no mbito da promoo dos
direitos humanos em geral;
c) Identificasse problemas existentes
no enfoque adotado para a
implementao
da Conveno;
d) Planejasse e
desenvolvesse as
polticas adequadas
para atingir
esses objetivos.
A etapa seguinte
foi a concluso da
formulao do plano,
na qual se decidiram as
aes que ele deveria efetivamente
conter, com as respectivas
quantificaes, prazos, metas e
mecanismos de verificao. De
acordo com a subchefe-adjunta
A deficincia envolve uma multiplicidade de dimenses e fatores de
origem socioeconmica, cultural, familiar,
individual e institucional. Assim, exige polticas
diversificadas
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 31
de Articulao e Monitoramento
da Casa Civil, Maria do Socorro
Mendes Gomes, que coordena o
monitoramento, nesse momento
ocorreu a avaliao da consistncia
de aes e metas propostas pelo
plano, o que envolve a estimativa
da governabilidade que o Governo
Federal teria em relao execuo
daquela ao; dos parceiros com os
quais teria de contar e dos grandes
desafios para a implantao.
A cerimnia de lanamento do
Viver sem Limite aconteceu no dia
17 de novembro de 2011, no Palcio
do Planalto, em Braslia, contando
com a presena da presidenta Dilma
Rousseff, de ministros, governadores,
parlamentares e militantes de
movimentos ligados aos direitos das
pessoas com deficincia. O secretrio
nacional Antonio Jos Ferreira
apresentou o plano e detalhou cada
ao. Na ocasio foi assinado o
Decreto n 7.612, que estabeleceu as
seguintes diretrizes:
I) Garantia de um sistema
educacional inclusivo;
II) Garantia de que os
equipamentos pblicos de
educao sejam acessveis
para as pessoas com
deficincia, inclusive por meio
de transporte adequado;
III) Ampliao da participao
das pessoas com deficincia
no mercado de trabalho,
mediante sua capacitao e
qualificao profissional;
IV) Ampliao do acesso das
pessoas com deficincia s
polticas de assistncia
social e de combate
extrema pobreza;
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32 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
V) Preveno das causas
de deficincia;
VI) Ampliao e qualificao
da rede de ateno sade
da pessoa com deficincia,
em especial, os servios de
habilitao e reabilitao;
VII) Ampliao do acesso das
pessoas com deficincia
habitao adaptvel e com
recursos de acessibilidade;
VIII) Promoo do acesso,
do desenvolvimento
e da inovao em
tecnologia assistiva.
O Plano Viver sem Limite prev
que sua execuo esteja a cargo
da Unio em colaborao com
estados, Distrito Federal, municpios
e com a sociedade. A vinculao
dos entes ocorre por meio de termo
de adeso voluntria, que implica
a responsabilidade de priorizar
medidas visando promoo do
exerccio pleno dos direitos das
pessoas com deficincia, a partir
dos eixos de atuao previstos
no Decreto n 7.612. Tambm
foram institudas instncias de
acompanhamento do plano nos
mbitos estadual e municipal, sendo
que a execuo pode ser direta ou
por convnio, e o custeio garantido
por recursos oramentrios da
Unio, entes federados ou outras
entidades pblicas e privadas.
Tambm foi criado o Comit
Interministerial de Tecnologia
Assistiva, com a finalidade de
formular, articular e implementar
polticas, programas e aes
para o fomento ao acesso,
desenvolvimento e inovao em
tecnologia assistiva. O comit
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 33
Os recursos da Unio previstos para a execuo das aes de cada um dos eixos ficaram assim distribudos:
Volume de recursos federais
rea Recursos 2011-2014
Acesso Educao R$ 1.840.865.303
Ateno Sade R$ 1.496.647.714
Incluso Social R$ 72.240.000
Acessibilidade R$ 4.198.500.000
Total R$ 7.608.253.018Fonte: Site SDH/PR
coordenado pelo Ministrio da
Cincia, Tecnologia e Inovao
e envolve a SDH; os Ministrios
da Fazenda; do Planejamento,
Oramento e Gesto; do
Desenvolvimento, Indstria e
Comrcio Exterior; da Educao;
e da Sade.
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Crianas posam em frente a nibus escolar acessvel
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Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 35
As aes desenvolvidas em cada um dos quatro eixos temticos foram:
Acesso educao
Aes para garantir s pessoas
com deficincia o direito ao acesso
educao com igualdade de
oportunidades:
15 mil novas Salas de
Recursos Multifuncionais com
equipamentos, mobilirios e
materiais pedaggicos
para atendimento
educacional especializado;
30 mil kits de atualizao
de Salas de Recursos
Multifuncionais;
Recursos para adequao
arquitetnica de 42 mil escolas
pblicas, tornando-as acessveis;
Compra de 2.609 nibus
para o Transporte Escolar
Acessvel de 60 mil alunos
com deficincia;
Prioridade no preenchimento
de vagas para pessoas
com deficincia nos cursos
oferecidos pelo Programa
Nacional de Acesso ao Ensino
Tcnico e Emprego (Pronatec);
Apoio s universidades
federais em seus projetos
de acessibilidade;
Contratao de 606 tradutores
e intrpretes de Libras nas
instituies federais de
ensino, para acessibilidade
Crianas posam em frente a nibus escolar acessvel
-
36 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
aos estudantes com
deficincia auditiva;
Criao de 27 cursos de
Letras/Libras;
Criao de 12 cursos
de Pedagogia na
perspectiva bilngue;
Ampliao, por meio de
busca ativa, do nmero de
crianas e adolescentes
beneficirias do Benefcio de
Prestao Continuada (BPC)
matriculadas na escola.
Ateno sade
Aes de promoo
sade, identificao precoce
de deficincias, preveno dos
agravos, tratamento
e reabilitao:
Ampliao e qualificao da
Triagem Neonatal:
- Melhoria dos processos de
identificao e interveno
precoce de doenas em
crianas de zero a dois
meses, com extenso da
Fase IV do Teste do Pezinho
para todos os estados da
Federao; qualificao
de 175 maternidades para
triagem auditiva neonatal
(Teste da Orelhinha);
criao do marco normativo
da Poltica Nacional de
Triagem Neonatal; e
criao de um sistema
de acompanhamento de
crianas diagnosticadas;
Elaborao e publicao de
dez Diretrizes Teraputicas
sobre como proceder quanto
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 37
ao diagnstico, tratamento,
controle e acompanhamento
de vrias deficincias (da
Triagem Auditiva Neonatal;
Sndrome de Down; pessoa
amputada; leso medular;
paralisia cerebral; Transtorno
do Espectro do Autismo;
Traumatismo Crnio-
Enceflico; Acidente Vascular
Enceflico; sade ocular
na infncia; Sndrome
Ps-Poliomelite);
Habilitao e Reabilitao:
- Ampliao e qualificao da
rede de reabilitao do SUS,
em parceria com instituies
de referncia nacional, e
implantao de novos
Centros Especializados em
Reabilitao CER;
Transporte para acesso
sade:
- Aquisio de 88 veculos
adaptados destinados ao
transporte das pessoas com
deficincia aos CER;
rteses e prteses:
- Implantao de oficinas
ortopdicas que
confeccionam, consertam
e aperfeioam aparelhos
ortopdicos de aplicao
teraputica, com habilitao
de 25 oficinas fixas; criao
de 12 oficinas fixas, dez
itinerantes terrestres e dez
itinerantes fluviais; bem
como capacitao de 660
profissionais de sade em
rteses e prteses at 2014,
para atuao nas oficinas;
-
Residncia do Programa Minha Casa, Minha Vida com entrada acessvel
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 39
Ateno Odontolgica:
- Qualificao de 420 Centros de
Especialidades Odontolgicas
(CEO) para atender s pessoas
com deficincia;
- Adequao fsica e aquisio
de equipamentos para
27 centros cirrgicos em
hospitais gerais;
- Qualificao de seis mil
profissionais de sade bucal
para atendimento de pessoas
com deficincia.
Incluso Social
Aes que tm como objetivo
promover a participao social e
combater a desigualdade, excluso
ou restrio que impedem o
exerccio de direitos, em igualdade
de condies:
BPC Trabalho:
- Seu objetivo promover,
entre os beneficirios com
deficincia do Benefcio de
Prestao Continuada (BPC),
a qualificao profissional e o
acesso ao mundo do trabalho,
priorizando a faixa etria de
16 a 45 anos. O Viver sem
Limite prev a garantia de
recebimento do benefcio em
caso de demisso e a busca
ativa e encaminhamento ao
mercado de trabalho de
50 mil beneficirios do BPC;
- Implantao de 200
Residncias Inclusivas, que
oferecem proteo integral
a jovens e adultos com
deficincia em situao
de dependncia;
Residncia do Programa Minha Casa, Minha Vida com entrada acessvel
-
40 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
- Implantao de 27 Centros-
Dia de Referncia, para
oferta de cuidados durante
o dia a jovens e adultos com
deficincia em situao de
dependncia, em apoio aos
cuidados familiares.
Acessibilidade
Aes que garantem que todos
utilizem de forma autnoma os
espaos pblicos e privados:
Minha Casa, Minha Vida 2:
Construo de 1,2 milho
de moradias adaptveis e
instalao de 20 mil kits de
adaptao, conforme o tipo de
deficincia do morador.
Centros Tecnolgicos
Ces-guia:
- Implantao de cinco centros
tecnolgicos de formao de
instrutores e treinadores de
ces-guia, distribudos em cada
uma das regies brasileiras;
Programa Nacional de
Inovao em Tecnologia
Assistiva, com oferta de linha
de subveno econmica no
reembolsvel para inovao
em tecnologia assistiva e de
financiamento para inovao
em equipamentos de
esportes paraolmpicos;
Implantao do Centro
Nacional de Referncia em
Tecnologia Assistiva, com
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 41
apoio a 20 ncleos de pesquisa
em universidades pblicas para
o desenvolvimento e inovao
com foco em preveno,
reabilitao e acessibilidade;
Disponibilizao, na internet, de
catlogo virtual com mais de
1.200 produtos de tecnologias
assistivas disponveis no
mercado brasileiro
http://assistiva.mct.gov.br.
Crdito facilitado:
- Microcrdito pelo Banco do
Brasil com juros subsidiados
para aquisio de produtos
de tecnologia assistiva;
Desonerao tributria:
- Um total de RS 609,84
milhes at 2013 em renncia
fiscal federal sobre diversos
produtos e equipamentos de
tecnologias assistivas.
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 43
U ma das etapas fundamentais, no Brasil, para a organizao das pessoas com deficincia, superando
as aes restritas caridade e as
polticas assistenciais, foi a formao
de associaes voltadas luta pelo
reconhecimento de direitos. Esse
processo criou o ambiente para
a formao de conscincia, que
resultaria no movimento poltico
das pessoas com deficincia, no
final da dcada de 1970. O pas
estava passando por um processo
de reabertura poltica, as relaes
entre Estado e sociedade civil eram,
anteriormente, bloqueadas devido
ao autoritarismo do regime militar,
e o novo contexto poltico permitiu
novas articulaes.
As primeiras associaes
compostas e dirigidas por pessoas
com deficincia quase nunca
tinham sede ou qualquer outro
elemento formal. Eram iniciativas
que visavam ao auxlio mtuo e no
Captulo 3
A participao da sociedade civilorganizada na elaborao e
monitoramento do Viver sem Limite
-
44 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
apresentavam objetivos polticos
definidos, mas que criaram espaos
de convivncia entre pares, onde
as dificuldades comuns podiam ser
reconhecidas e debatidas.
A ao poltica em prol dos
direitos da populao ganharia,
ento, maior visibilidade, no final
dos anos 1970. A partir da, as
pessoas com deficincia foram se
tornando agentes polticos na busca
por transformao da sociedade.
O desejo de serem protagonistas
motivou uma mobilizao nacional,
que se alimentou do processo de
redemocratizao do Brasil, do qual
tambm se tornou parte integrante.
Barreiras
A sociedade cria barreiras
comportamentais via medo,
desconhecimento e preconceito;
via meio ambiente, com a
inacessibilidade fsica; e pelo caminho
institucional, com discriminaes de
carter legal, que impedem a plena
participao das pessoas.
Ao longo das ltimas trs
dcadas, o esforo dos movimentos
sociais de defesa dos direitos
das pessoas com deficincia
tem sido, principalmente, por
mudar paradigmas, criando uma
base slida para a construo de
uma nova perspectiva sobre a
deficincia. As atitudes, hipteses e
percepes a respeito da deficincia
passaram de um modelo caritativo
para um modelo social, em que
a interao entre a deficincia e
o modo como a sociedade est
organizada que condiciona a
funcionalidade, as dificuldades, as
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 45
limitaes e a excluso das pessoas.
Assim, a luta foi deslocada do
campo da assistncia social para o
campo dos Direitos Humanos, dos
direitos de todos, sem distino.
Um dos grandes avanos
registrados foi a constituio do
Conselho Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficincia (Conade),
em 1999, com o objetivo de formar
Conselheiros e sociedade civil participam ativamente das polticas pblicas na 3 Conferncia Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
-
46 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
um espao de controle e avaliao
por parte da sociedade civil, sobre
as polticas pblicas nacionais.
Em 2003, o Conade passou a ser
vinculado Secretaria Nacional de
Direitos Humanos. Essa mudana
tambm teve um valor
simblico, pois marcava
posio, associando o
tema da deficincia
promoo de direitos.
Assim, enquanto nos
primeiros anos de
vida do Conselho
seu presidente era o
ministro da Justia,
com a mudana, a
sociedade civil pde chegar ao
comando do rgo.
O Conade no apenas um
organismo instalado em Braslia.
Ele interage com uma rede de
conselhos estaduais e municipais
espalhados por todo o Brasil e
representa uma significativa parcela
de organizaes da sociedade civil
vinculadas ao setor.
Os conselhos permitem que
o Poder Pblico e
a sociedade civil
trabalhem de maneira
conjunta em prol dos
direitos das pessoas
com deficincia.
dessa capilaridade
que brota a
representatividade do
Conade para discutir
um plano do tamanho
do Viver sem Limite, projetado
para abranger o pas inteiro.
Num primeiro momento, o
Conade participou da elaborao
do plano fazendo sugestes,
As adeses ao plano em todo o Brasil
resultaram num processo de expanso de conselhos estaduais e municipais,
que mais do que dobraram desde 2011
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 47
que foi debatido aqui ao longo dos
anos est l, diz Amaro.
Outras preocupaes do rgo
tambm foram contempladas
pelo plano. Veja-se que o Conade
sempre se preocupou com a
questo da pessoa com deficincia
na idade adulta, e essa discusso
acumulada ajudou o Viver sem
Limite a pensar novas polticas
inclusivas. O mesmo aconteceu
com o financiamento de rteses
e prteses e com o acesso
moradia. Em suma, o plano acabou
materializando grande parte dos
debates que o Conade promoveu
ao longo da sua histria.
O plano deu visibilidade
poltica nacional voltada para
a pessoa com deficincia, o
que encaramos como algo bem
positivo. Ele formou prioridades,
apresentadas em uma reunio
com os titulares, poca, da Casa
Civil da Presidncia da Repblica,
Gleisi Hoffmann, da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidncia
da Repblica, Maria do Rosrio, e
do Ministrio da Educao,
Fernando Haddad.
Segundo o coordenador-
geral do Conade, Jorge Amaro,
a influncia do conselho na
elaborao do Viver sem Limite
foi muito significativa. Se
analisarmos as pautas discutidas
no Conade de 1999 at 2011 e as
demandas expressas nas 1, 2
e 3 Conferncias Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficincia,
realizadas em 2006, 2008 e 2012,
respectivamente, veremos que so
justamente os temas sintetizados
pelos quatro eixos do plano. Tudo o
-
Conselheiros participam de Reunio Ordinria do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia, em 2014
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 49
colocou essa poltica na pauta
tanto da Presidncia da Repblica,
quanto dentro dos ministrios. Isso
nunca havia acontecido com tal
importncia. Antes era a sociedade
civil que executava todas essas
aes. Hoje, podemos perceber
que o governo est interessado
em cumprir seu papel, mas sem
descartar toda a experincia
que as entidades tm, afirma a
presidente da Federao Nacional
das Associaes Pestalozzi
(Fenasp) e vice-presidente do
Conade, Ester Pacheco.
Antes do lanamento do Viver
sem Limite, o Conade pde analisar
o plano em detalhe, de forma a
opinar e sugerir alteraes. Aps o
lanamento, o conselho continuou
envolvido, agora realizando o
monitoramento das aes.
Em consequncia, o Viver sem
Limite tornou-se pauta permanente
das reunies do Conade. Em todas
as reunies nacionais ordinrias
do rgo, que acontecem a cada
dois meses, h discusses sobre
seu andamento. Quando a reunio
tem uma pauta especfica sobre
determinada rea do plano, um
ministrio chamado para
dar informaes.
As adeses ao plano em todo
o Brasil resultaram ainda num
processo de expanso de conselhos
estaduais e municipais, cujo nmero
mais do que dobrou desde 2011.
Ainda segundo Jorge
Amaro, o Viver sem Limite foi
fundamental ao estabelecer
temas e metas claras para que
a sociedade civil pressionasse o
Poder Pblico. Agora, as coisas
Conselheiros participam de Reunio Ordinria do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia, em 2014
-
50 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
so mais concretas. Se na rea da
educao h o projeto de salas
multifuncionais, agora posso dizer
se elas esto ou no funcionando,
se o material que est chegando
l bom, se a qualificao do
professor adequada, se o nibus
adaptado que o municpio recebeu
est rodando... Quer dizer, temos
algo concreto para avaliar, o que d
vida nova ao Conselho. Se estamos
perto de atingir a marca de 600
conselhos, porque agora eles tm
motivao para existir, sintetiza.
A ampla gama de aes
concretas tambm demanda um
monitoramento de qualidade. Para
aperfeioar o controle, o Conade
definiu um plano estratgico que
estabelece detalhadamente os
procedimentos que cada comisso
do conselho seguir para avaliar
e monitorar as aes do plano,
tanto no mbito da elaborao
das polticas pblicas, quanto no
cumprimento das metas.
O Conade tambm organizou
cinco encontros regionais entre
2013 e 2014. Em um deles o tema
principal foi o Viver sem Limite.
Alm de divulgar o plano, esses
espaos servem para avaliar
estratgias de monitoramento e
contam com a participao de mais
de cem organizaes, que puderam
discutir os rumos do plano.
Em suma, os avanos do Viver
sem Limite no seriam possveis
sem o firme engajamento da
sociedade civil organizada, em seu
papel de cobrar do Estado brasileiro
sua responsabilidade na garantia
dos Direitos Humanos das pessoas
com deficincia.
-
Sesso Solene do Congresso Nacional homenageia os 15 anos do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 53
U m dos objetivos do Viver sem Limite que estados e municpios, com o apoio do Governo Federal, articulem
polticas pblicas que garantam
s pessoas com deficincia o
acesso educao, incluso social,
ateno sade e acessibilidade.
Trata-se de uma proposta
inovadora: pela primeira vez no
Brasil se concretiza uma ao
nacional voltada para o segmento,
transversal, abarcando os entes
federados, mas respeitando a
autonomia de cada um.
Aps a elaborao do plano, em
2011, ele foi apresentado aos entes
federados, que ento passaram a
formalizar o termo de adeso. Como
a parceria pautada pelo pacto
federativo, a responsabilidade pelas
aes dividida entre Unio, estados
e municpios. O formato do pacto
bem parecido com o que os entes
selaram para integrar o Sistema
nico de Sade (SUS), dado que
Captulo 4
A relao dos entes federativos eos reflexos do plano nas polticas
estaduais e municipais
-
54 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
concordam em dividir os gastos
das aes. No aderir ao Viver
sem Limite no impede que uma
cidade receba programas, mas a
parceria demonstra sociedade que
o administrador pblico faz parte
do esforo nacional em defesa dos
direitos da pessoa com deficincia.
No primeiro semestre de 2014,
mais de um quarto dos municpios
brasileiros j haviam aderido ao
plano, alm de 25 estados e do
Distrito Federal. Com a adeso,
foram formados os comits locais
do Viver sem Limite. Em diversos
estados foram criadas verses
locais do plano, agregando as
polticas pblicas implementadas
em mbito regional.
Por exemplo, no Distrito Federal
foi criado o plano DF sem Limite;
em Minas Gerais, nasceu o Minas
Inclui; no Par, surgiu o Existir; no
Rio Grande do Sul, o RS sem Limite;
foi criado o Cear Acessvel, entre
outros. interessante notar que
os comits dos planos monitoram,
ao mesmo tempo, as polticas
estaduais e nacionais, o que facilita
o incremento das aes. Segundo a
coordenadora do Plano Viver sem
Limite pela Casa Civil do Distrito
Federal, Daniela Lobo DAvila,
o plano local segue o mesmo
padro que o do Governo Federal
porque ns o consideramos muito
bem organizado. Aqui unimos 16
secretarias e comeamos a trabalhar
juntos. Apesar de o Governo do
Distrito Federal (GDF) ter aderido
ao plano em maro de 2013,
vrios programas j vinham sendo
realizados, como o Morar Bem,
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 55
que a nossa verso do Minha
Casa, Minha Vida. Quando houve a
adeso, conseguimos centralizar os
rgos e assumimos 19 projetos do
Viver sem Limite. Mais, ampliamos
as aes, porque unimos os
16 projetos do GDF s aes
nacionais, afirma.
A entrada de um determinado
estado no plano tambm
Casal em frente moradia do Programa Minha Casa, Minha Vida
-
56 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
auxiliava a adeso em grupo de
vrios municpios. Segundo o
superintendente da Pessoa com
Deficincia, da Secretaria de Justia
do Estado da Bahia, Alexandre
Baroni, o estado levou o Plano
Viver sem Limite ao conhecimento
dos municpios.
Em apenas um ato,
realizado em 2013, 127
municpios baianos
aderiram de uma vez
ao plano, diz.
O Viver sem Limite
representou tambm
uma transformao na forma como
os gestores pblicos locais lidam
com o tema da deficincia. Em
muitos locais ainda imperava o
paradigma assistencialista, herana
dos tempos em que a deficincia
era abordada apenas por meio
de obras de caridade. Ou ento
o tema permanecia confinado a
uma secretaria especfica. Pois o
plano chegou para mostrar que a
deficincia deve ser trabalhada por
todas as instncias de governo,
no por apenas
uma secretaria.
A mudana de
filosofia tambm
incentiva a formao
de quadros funcionais
capacitados para lidar
com os conceitos
inclusivos. O que no significa, claro,
que todas dificuldades estejam
superadas. Segundo o secretrio
adjunto da Secretaria Municipal
da Pessoa com Deficincia e
Mobilidade Reduzida de So Paulo,
Em diversos estados foram criadas verses
locais do plano, agregando as polticas pblicas implementadas em mbito regional
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 57
Antonio Carlos Tuca Munhoz,
preciso existir um desejo poltico de
mudana; a questo da deficincia
ainda tem o rano antiquado do
assistencialismo, da caridade e,
por isso, faltam quadros tcnicos
que compreendam e saibam
trabalhar com essa nova realidade
que o Viver sem Limite traz.
um processo que talvez demore
dcadas para chegar ao
nvel adequado.
O caso de So Paulo
interessante porque se trata de
uma capital que s aderiu ao
plano em abril de 2013, mas que
vem trabalhando intensamente
para implementar as aes do
Viver sem Limite e ir alm. Em
dezembro de 2013, a Prefeitura
lanou o So Paulo Mais Inclusiva,
como chamado o Plano
Municipal de Aes Articuladas
para Pessoas com Deficincia,
coordenado pela Secretaria de
Governo, pela Secretaria de
Planejamento, Oramento e Gesto
e pela Secretaria da Pessoa com
Deficincia e Mobilidade Reduzida,
e articulado com mais 18 secretarias
municipais. Quer dizer, ele incorpora
a transversalidade defendida pelo
plano federal.
O So Paulo Mais Inclusiva prev
entregar 70 aes para a populao
paulistana. Entre as iniciativas
que no esto originalmente no
Viver sem Limite destacam-se
a instalao de 125 semforos
sonoros; a compra de scanners
de udio e livros acessveis para
todas as bibliotecas municipais e
-
58 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
a transformao dos websites da
Prefeitura em ambientes acessveis.
Para dar maior capilaridade
s aes e mudar a cultura dos
gestores pblicos em relao
deficincia de forma mais
profunda, a Prefeitura de So
Paulo descentralizou as aes do
plano entre as 32 subprefeituras
da cidade. Em outras palavras, o
mesmo projeto que foi desenvolvido
em nvel municipal, tambm passou
a ser pensado no mbito de cada
uma das subprefeituras.
Pontos especficos
Alguns estados optam por um
direcionamento maior de suas
aes para certos mbitos do Viver
sem Limite. O coordenador geral do
plano em Santa Catarina, Marcondes
Marchetti, observa que o estado
vem concentrando a ateno no
Pronatec Viver sem Limite, j que
uma parte importante da populao
com deficincia no tem se valido
da capacitao para inserir-se no
mundo produtivo, diz.
O Plano Viver sem Limite,
ento, aproveita ao mximo o
pacto federativo para potencializar
suas aes. A diviso de
responsabilidades entre os entes
federados vem aperfeioando
a maneira de atender s
especificidades de cada regio.
J o mecanismo gerencial que o
plano articula est provocando
um forte impacto nas gestes
locais, tendo resultado inclusive
na criao do Frum Nacional de
Gestores de Polticas Pblicas para
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 59
Pessoas com Deficincia, espao de
fortalecimento de aes, troca de
experincias e aprimoramento da
execuo de polticas.
Ainda existe um longo caminho a
percorrer para eliminar a abordagem
assistencialista das polticas
pblicas em relao s pessoas
com deficincia. Mas os resultados
do Viver sem Limite deixam claro
que ele um divisor definitivo de
guas rumo adoo de polticas
que fortaleam a autonomia desse
segmento da populao.
Plena autonomiaEdison Ferreira mora no bairro de Ermelino Matarazzo, em So Paulo (SP). Ele trabalha como diretor voluntrio da ONG Associao Casa dos Deficientes Ermelino Matarazzo (Acdem) e tem uma deficincia fsica causada por uma distrofia neuromuscular degenerativa, que foi ao longo dos anos diminuindo sua mobilidade. Embora saia todo dia de casa de carro para ir trabalhar, estudar e dar palestras, ele ficou por mais de dez anos sem ir rua sozinho, j que a acessibilidade na regio precria. No comeo de 2013, ao saber que o Ministrio da Sade, numa implementao do plano Viver sem Limite, estava financiando cadeiras motorizadas, avaliadas em cerca de R$ 8.000, Edison entrou com um pedido de financiamento. Ele conseguiu adquirir a cadeira no final do ano e pde conquistar maior autonomia. Eu pude voltar a me relacionar com a vizinhana e fazer coisas simples, de que tinha saudade. Foi uma enorme emoo, por exemplo, observar a surpresa do padeiro, quando me viu entrar sozinho na padaria, o que no acontecia h muitos anos, diz.
-
Os resultados do Viver sem Limite deixam claro que ele um divisor definitivo de guas rumo adoo de polticas que fortaleam a autonomia das pessoas com deficincia
-
Parte 2Contedo do Plano
Contribuies dos Eixos
Os resultados do Viver sem Limite deixam claro que ele um divisor definitivo de guas rumo adoo de polticas que fortaleam a autonomia das pessoas com deficincia
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 63
Captulo 5
Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de educao inclusiva
O movimento global em defesa da educao inclusiva uma atividade poltica, cultural, social e
pedaggica, realizada em nome do
direito de todos os estudantes de
estarem unidos durante o momento
da aprendizagem, sem qualquer
tipo de discriminao. A educao
inclusiva instaura um novo
paradigma, baseado na concepo
de que os direitos humanos so
inegociveis. Ao admitir que
as barreiras encontradas nos
sistemas educacionais demostram
a emergncia de se confrontar
as prticas discriminatrias e
descobrir novos meios para super-
las, a educao inclusiva assume
um papel muito importante na
superao da lgica da excluso.
O Viver sem Limite garantiu
recursos e servios considerveis
para a incluso no Ensino
Fundamental, Mdio, Profissional
e Superior. Pela primeira vez no
-
64 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Brasil uma poltica pblica nacional
assumiu a responsabilidade de
assegurar o direito de acesso
educao da pessoa com
deficincia dos anos escolares
iniciais at a formao universitria.
At ento, os investimentos
pblicos na educao inclusiva eram
focados no Ensino Fundamental.
Da a importncia de o Viver sem
Limite promover o acesso das
pessoas com deficincia ao ensino
profissionalizante e Superior, ao
lanar as bases para que o acesso
educao esteja futuramente
garantido em todos os nveis.
Como consequncia das aes
do plano, a criana com deficincia
hoje tem garantido seu acesso
Educao Fundamental devido
implantao das Salas de Recursos
Multifuncionais, acessibilidade nas
escolas, formao de professores
para o Atendimento Educacional
Especializado, aquisio de
nibus escolares acessveis
e ampliao do Programa
BPC (Benefcio da Prestao
Continuada) na Escola.
Na educao profissionalizante,
o acesso est garantido graas
prioridade que as pessoas com
deficincia conquistaram na
matrcula nos cursos do Programa
Nacional de Acesso ao Ensino
Tcnico e Emprego (Pronatec). No
Ensino Superior, o Programa Incluir
alocou recursos para promover
a acessibilidade em todas as
universidades federais, alm de
incentivar a educao bilngue
em Libras.
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 65
Alm disso, com o Decreto
n 7.611, de 2011, ao regulamentar
o ensino especial e o atendimento
educacional especializado, o governo
garantiu apoio tcnico e financeiro
tambm a instituies comunitrias,
confessionais ou filantrpicas, com
a finalidade de ampliar a oferta
do atendimento no contraturno
escolar aos estudantes com
Aluna com deficincia visual utiliza objetos tridimensionais em Sala de Recursos Multifuncionais
-
66 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
deficincia, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotao.
Salas de Recursos Multifuncionais
Segundo a diretora
de Poltica de Educao
Especial do Ministrio
da Educao, Martinha
Clarete, historicamente,
as pessoas com
deficincia estiveram
fora do sistema regular
de ensino. Embora o
Brasil tenha sido bastante cobrado
por isso no plano internacional,
por conta de seu alto ndice de
excluso educacional, foi apenas a
partir dos acordos globais assinados
durante a dcada passada que o
Estado se comprometeu a reverter
esse quadro. Em 2003, o Governo
Federal comeou a elaborar polticas
pblicas estruturantes
para apoiar os sistemas
de ensino no desafio
de receber um grande
nmero de alunos com
deficincia, diz.
Considerando
que a Educao
Fundamental de
responsabilidade dos
municpios e estados,
coube ao Ministrio da
Educao uma ao suplementar.
Em 2005, foi formulada uma ao
de apoio s secretarias estaduais
e municipais com o objetivo de
equipar as escolas pblicas com
Pela primeira vez uma poltica pblica nacional assumiu a responsabilidade de
assegurar o direito de acesso educao da pessoa com deficincia
dos anos iniciais at a formao universitria
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 67
recursos de tecnologia assistiva
de uso pedaggico. A ideia era
incentivar o desenvolvimento
inclusivo da escola por meio das
Salas de Recursos Multifuncionais,
que contam com computador, leitor
de tela, impressora multifuncional,
softwares de comunicao, lupas
manuais e eletrnicas, materiais
pedaggicos acessveis, impressora
e mquina de escrever em Braille,
entre outros recursos.
No primeiro ano foram
adquiridas 250 salas, colocadas
disposio pelo Ministrio da
Educao; coube s secretarias
escolherem as escolas sob o critrio
do nmero de matrculas de alunos
com deficincia. Dessa forma, alm
de frequentar a sala de aula com
os demais alunos, o estudante
com deficincia pode aprender na
Sala de Recursos Multifuncionais
de sua escola o sistema Braille,
a Lngua Brasileira de Sinais
Libras e tcnicas que facilitam seu
desempenho escolar.
Em 2007, o nmero de salas
cresceu para 600. No ano seguinte,
o Governo Federal, por meio
do decreto n 6.571, destinou
via Fundo de Manuteno e
Desenvolvimento da Educao
Bsica e de Valorizao dos
Profissionais da Educao (Fundeb)
mais recursos para as escolas
que tinham alunos com deficincia.
Isso gerou um grande aumento nas
matrculas, criando demanda para
mais de 20 mil Salas de Recursos
Multifuncionais. A demanda foi
respondida e, em 2010, j existiam
cerca de 24.800 salas implantadas
nas escolas pblicas brasileiras.
-
68 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Com o incio do Plano Viver sem
Limite, em 2011, foram ampliados os
recursos financeiros e oramentrios; a
meta era chegar a 40 mil escolas com
salas de recursos. O plano tambm
prev atualizar, com novos kits, 30
mil salas criadas anteriormente. Esses
kits so compostos por scanners com
voz onde o material impresso
digitalizado e lido imediatamente ;
por acionadores, usados por crianas
com baixa mobilidade fsica; bolas
com guizos e materiais
pedaggicos atualizados.
Fonte: Ministrio da Educao.
Programa Implantao de
Salas de Recursos Multifuncionais
45.000
40.000
35.000
40.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
02005 2006 2007 2008 2009 2010 2011/12 2013/14
Nmero de SRMs
250626 1.251
5.551
20.551
24.301
37.801
41.801
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 69
Atualmente, existem quase 42
mil salas que atendem a 100% dos
municpios brasileiros. A criao das
salas mudou definitivamente a vida
estudantil desses alunos, que agora
dispem de recursos tecnolgicos a
seu favor.
Formao de professores
Os novos recursos s fariam
sentido se tivessem uma funo
pedaggica. Por isso a educao
inclusiva um dos eixos da Rede
Nacional de Formao Continuada
de Professores, que foi criada em
2004 com o objetivo de contribuir
para a melhoria da formao
dos professores de Educao
Fundamental dos sistemas pblicos.
Assim, a implantao das Salas de
Recursos Multifuncionais fortaleceu
o aumento da oferta da formao
continuada dos professores no
campo da educao inclusiva.
Os cursos sobre o tema
surgiram na Rede Nacional em 2007
e ganharam novo impulso com o
Viver sem Limite. Entre 2007 e 2014
foram oferecidas 98 mil vagas para
professores de escolas pblicas
que contavam com matrculas de
estudantes com deficincia em
cursos sobre educao inclusiva e
tecnologia assistiva.
Transporte escolar acessvel
A compra de nibus acessveis
para o transporte de alunos visou
atender s cidades com maior ndice
-
Estudante com baixa viso utiliza lupa para ler um livro na Sala de Recursos Multifuncionais
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 71
de pessoas com deficincia que
recebem o Benefcio de Prestao
Continuada (BPC) e estavam fora
da escola. Segundo levantamento
de 2007, apenas 21% dos
beneficirios ocupavam cadeiras
escolares. Esse ndice mobilizou
uma ao horizontal envolvendo
os Ministrios da Educao, da
Sade, do Desenvolvimento Social
e a Secretaria de Direitos Humanos
para garantir o transporte dos
jovens que estavam fora da escola
e, assim, favorecer o acesso e a
permanncia escolar.
Com esse propsito, em
2011, j no Viver sem Limite, foi
proposta como meta ao Ministrio
da Educao a compra de 2.609
veculos acessveis, visando a
atender 60 mil alunos. At a edio
deste trabalho j haviam sido
adquiridos 2.304 veculos, dos quais
1.874 foram entregues.
Cada veculo tem seu percurso
controlado por um GPS localizador,
que serve para conferir se
utilizado devidamente, alm de
elevador de acesso para cadeirantes
e de box interno para o seu
transporte seguro.
Escola Acessvel
A maioria das escolas pblicas
brasileiras funciona em edifcios
antigos, construdos em uma poca
em que a acessibilidade no era
valorizada. Segundo o Censo Escolar
de 2006, no mbito geral das
escolas de Educao Bsica, o ndice
de acessibilidade dos prdios era de
Estudante com baixa viso utiliza lupa para ler um livro na Sala de Recursos Multifuncionais
-
72 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
apenas 12%. Isso criou a demanda
por aes estruturantes e, desde
2008, por meio do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE),
o Governo Federal vem investindo
para reverter o quadro.
O Viver sem Limite facilita a
promoo da acessibilidade porque
destina recursos diretamente
escola, sem intermedirios, com o
Programa Dinheiro Direto na Escola
(PDDE). A execuo simples,
mediante um plano de atendimento
que a escola elabora de acordo com
as normas da Associao Brasileira
de Normas Tcnicas (ABNT).
Os recursos foram destinados
preferencialmente s escolas com
Salas de Recursos Multifuncionais.
Durante a vigncia do Viver
sem Limite, de 2011 a 2014, foram
beneficiadas a cada ano cerca
de dez mil escolas, com recursos
que somaram cerca de R$ 100
milhes por ano. Desde 2008,
cerca de 57.500 escolas de todo
o pas receberam esses recursos,
que so utilizados em obras
como a construo de rampas de
acesso, adequao de banheiros,
alargamento de portas, instalao de
pisos tcteis e iluminao especial,
alm da aquisio de mobilirio
especifico e de cadeiras de rodas.
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 73
Fonte: Ministrio da Educao
PDDE - Escola Acessvel
02008
Escolas Atendidas
1.869
2009 2010 2011 2012 2013
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
11.205
16.211
27.541
37.499
47.499
57.500
-
74 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Essas aes vm incentivando
fortemente o ingresso de pessoas
com deficincia nas escolas
pblicas de Ensino Fundamental.
Em 2013, segundo dados do
Ministrio da Educao, as
matrculas passaram da casa
dos 640 mil.
Fonte: Ministrio da Educao
Matrculas de estudantes, pblico-alvo
da educao especial na Educao Bsica
02003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
800.000
900.000
504.039
566.753
640.317
700.624
654.606
695.699
639.718
702.603
752.305
820.433843.342
319.924
252.687
218.271193.882 199.656 194.411
145.141
195.370
262.243
325.136306.135
358.898371.383 378.074 375.488
348.470
375.775387.031
484.332
558.423
620.777
648.921
Matrculas em escolas especializadas e classes comunsTotal de matrculas Matrculas em escolas especializadas e classes especiais
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 75
Pronatec
O Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Tcnico e
Emprego (Pronatec) foi criado
pelo Governo Federal em
2011, com a misso de ampliar
e democratizar a educao
profissional e tecnolgica no
Brasil. Entre suas principais
iniciativas est a Bolsa-Formao,
que oferece cursos gratuitos
de qualificao.
O Viver sem Limite no cria
no Pronatec turmas especficas
para pessoas com deficincia nem
reserva vagas para esse segmento.
O que ocorre a garantia de que
todas as vagas do Pronatec podem
ser ocupadas por pessoas com
deficincia, independentemente
de quem as oferece, do curso e
do tipo de deficincia, alm da
prioridade no preenchimento
das vagas.
Os cursos so presenciais,
realizados pelos Institutos Federais
de Educao Profissional e
Tecnolgica (IFs), Servio Nacional
de Aprendizagem Industrial (Senai),
Servio Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac), Servio Social
do Transporte (Sest), Servio
Nacional de Aprendizagem do
Transporte (Senat) e pelas redes
pblicas estaduais, distrital e
municipais de educao profissional
e tecnolgica, com o apoio do
Ministrio da Educao. At a
edio deste livro havia cerca de
17 mil matrculas de pessoas com
deficincia no Pronatec.
-
76 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Programa Incluir
O Programa de Acessibilidade
na Educao Superior Incluir
foi criado em 2005 para apoiar
a criao e a reestruturao de
Ncleos de Acessibilidade em
todas as universidades pblicas
federais. Essa ao visa a garantir o
acesso de estudantes, professores e
servidores com deficincia a todos
os espaos, aes e processos da
universidade, buscando seu pleno
desenvolvimento acadmico.
Dentro do Viver sem Limite
foi possvel definir uma ao
oramentria especifica, por
meio da qual foram transferidos
anualmente recursos a mais
para que as universidades
federais pudessem ampliar suas
condies de acessibilidade. O
programa contempla adequao
arquitetnica para acessibilidade
rampa, barra de apoio,
corrimo, piso e sinalizao
ttil, sinalizadores, alargamento
de portas e vias, instalao de
elevadores, entre outras medidas.
Compreende, tambm, a aquisio
de recursos de tecnologia assistiva
para promover a acessibilidade
pedaggica nas comunicaes
e informaes aos estudantes e
demais membros com deficincia
da comunidade universitria. So
computadores com interface de
acessibilidade, impressoras e
linhas Braille, lupas eletrnicas,
teclados com colmeia, acionadores
acessveis e outros equipamentos.
Foram enviados recursos a todas
as universidades federais.
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 77
Aes como essa incentivam
a incluso das pessoas com
deficincia no Ensino Superior.
Se acompanharmos o nmero de
matrculas nesse tipo de
instituio ao longo dos ltimos
anos, constataremos um
crescimento significativo:
Fonte: Ministrio da Educao
Matrculas de estudantes, pblico-alvo
da educao especial na Educao Superior
02003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
Total Pblica Privada
5.078 5.392
3.705
1.373
4.074 4.274
6.3276.960
5.105
2.080 1.855
6.943
5.551
1.392 1.984
12.054
10.070
6.599
14.40713.453
6.885 6.531
7.999
16.719
18.664
21.00620.338
23.250
26.663
1.318
-
Aluna utiliza bancada para grficos tteis, composta por um quadrado em plstico, com pequenas barras brancas
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 79
Educao bilngue
Antes de 2011 existiam cinco
cursos de Libras no pas, que
garantiam a formao de tradutores
e intrpretes. Por meio do Ministrio
da Educao, o Viver sem Limite
incentivou a criao de novos
cursos superiores de Licenciatura e
Bacharelado em Letras/Libras.
Tambm foram criados 690
cargos para que as instituies
federais de educao contratassem
professores, tradutores e intrpretes
de Libras, alm de cursos de
Pedagogia com nfase em educao
bilngue em 12 polos, com previso
de incio das aulas em 2015.
Ao todo, foram criados 20
cursos de Letras/Libras. A maioria
deles comeou a funcionar em
2014. Somados aos cinco cursos
que existiam anteriormente, so
oferecidas anualmente 2.250 vagas
de graduao.
BPC na Escola
O Programa BPC na Escola
uma ao interministerial voltada
para crianas e adolescentes
com deficincia que recebem o
BPC. Aps uma busca ativa para
diagnosticar razes da excluso
da grande maioria das pessoas em
idade escolar beneficirias do BPC,
o governo conseguiu, em 2012,
aumentar para 70% o percentual
de beneficirios que esto
frequentando a escola (329.801).
Aluna utiliza bancada para grficos tteis, composta por um quadrado em plstico, com pequenas barras brancas
-
80 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Fonte: Ministrio da Educao
No mbito do BPC na Escola
cabe tambm ao Ministrio da
Educao transferir recursos
financeiros do Programa de Aes
Articuladas (PAR) para que os
estados implementem a formao
intersetorial dos profissionais que
realizam a pesquisa domiciliar junto
aos beneficirios. Esses profissionais
so, em geral, assistentes sociais
e educadores, escolhidos pelos
muncipios que aderiram ao plano.
Benecirios do BPC na Escola
02007
375.470
Na escola Fora da escola Total de benefcios
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
450.000
500.000
2008 2009 2010 2011 2012
370.513
401.744
435.298445.899
470.075
79%
71%
70%53%
47%
30%29%
21%
70%
31% 30%
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 81
Um episdio marcanteRenato Soares Moraes professor da Sala de Recursos Multifuncionais
do Colgio Setor Leste, em Braslia (DF). Criada em 2008, essa sala auxilia
no atendimento educacional especializado de alunos com todos os tipos de
deficincia. Para frequentar o espao, o aluno tambm deve estar matriculado
em uma turma regular. Por exemplo, se estuda de manh na turma regular, pode
frequentar tarde a sala multifuncional.
Eu me interessei pelas aulas voltadas aos alunos com deficincia visual depois
de um episdio marcante. Descobri que eu daria aula a um menino cego durante
a chamada, no primeiro dia. Levei um choque. Depois disso, resolvi fazer o curso
de Braille, que no s me ensinou a ler, mas tambm a conviver com o aluno,
trabalhar com ele, ajudar a conduzi-lo. A prpria Secretaria de Educao oferece
esses tipos de cursos aos professores da rede pblica. H pouco tempo, o aluno
com deficincia visual nem chegava ao Ensino Mdio. Hoje, esse j um processo
natural. Ele sai do Ensino Fundamental, passa pelo Ensino Mdio e vai faculdade.
At mesmo pessoas com deficincia intelectual, com grande histrico de excluso
escolar, esto conseguindo terminar o Ensino Mdio. A situao melhorou muito
com os programas de incluso, afirma Renato.
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 83
O Ministrio da Sade foi um dos principais atores do Viver sem Limite. Segundo o diretor do Departamento
de Aes Programticas
Estratgicas do ministrio, Drio
Pasche, o plano representou uma
grande possibilidade de realizao
e de alterao de nossa agenda
de cuidado para com as pessoas
com deficincia e teve um conjunto
muito importante de repercusses,
tanto institucionais, dentro do
ministrio, como no processo de
produo de polticas realizadas
em conjunto com municpios e
estados nos espaos de pactuao;
um deles o Conselho Nacional de
Sade. O plano tambm teve uma
grande repercusso na formao
da primeira Rede de Cuidados s
Pessoas com Deficincia, afirma.
O Governo Federal j havia
iniciado, em 2008, uma agenda
social para a pessoa com
deficincia. Mas cabia ao Ministrio
Captulo 6
Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de sade
-
84 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
da Sade um papel muito limitado
dentro dessa agenda, restrito
tentativa de responder demanda
do Sistema nico de Sade (SUS)
por rteses e prteses. Na prtica,
a ao do ministrio estava restrita
criao e manuteno de oficinas
ortopdicas. Com a oportunidade
aberta pelo Viver sem Limite, novas
aes puderam ser formuladas,
acabando por formar o eixo
Ateno Sade do plano.
Implementar as aes do
Viver sem Limite demandou uma
completa reformulao dentro
do ministrio. Novo pessoal foi
contratado para que a instituio
cumprisse sua funo como
coordenador da Poltica Nacional de
Sade das Pessoas com Deficincia.
O objetivo da poltica era criar
uma rede nacional que ofertasse
o cuidado s pessoas com
deficincia por meio de uma linha
de atendimento contnuo e amplo,
atuante em diferentes aspectos,
e no apenas pelo atendimento
ortopdico. O primeiro desafio foi,
ento, superar o isolamento dos
servios oferecidos, organizando-os
de acordo com uma nova lgica.
Nesse perodo, o ministrio
estava comeando a implementar
as Redes de Ateno Sade
(RAS), que so arranjos
organizativos de aes e servios
de sade com a finalidade de obter
maior eficcia na oferta de servios,
melhoria na eficincia da gesto
do sistema de sade no espao
regional e contribuir para o avano
da efetivao do SUS.
As aes do Viver sem Limite
foram includas nessa nova lgica.
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 85
Em primeiro lugar, foi estabelecido
um conjunto de normativas que
determina como essa poltica
deveria acontecer nos territrios.
Na sequncia foram constitudos
espaos de governana e de gesto
para discutir as aes com as
unidades federativas. Em 2012, o
Governo Federal, por conta do
Viver sem Limite, implantou a
Atendimento em Centro Especializado em Reabilitao (CER)
-
86 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Rede de Cuidados Pessoa com
Deficincia, que busca promover
a articulao entre os servios, de
maneira a assegurar as aes de
promoo sade, identificao
precoce de deficincias, preveno
dos agravos, tratamento
e reabilitao.
Vale a pena lembrar
que o SUS pactuado
entre os entes da
Federao. A gesto
da sade no federal;
compartilhada com
estados e municpios,
de modo que todas as
aes tiveram de ser discutidas nos
espaos de negociao locais das
unidades federativas que aderiram
ao Viver sem Limite. Dessa forma,
foi necessria a criao, em todos
os estados, de comisses para a
conduo da poltica da sade da
pessoa com deficincia. Coube a esses
grupos discutir e analisar a situao
da populao local com deficincia,
alm de propor um desenho de rede
que inclusse a ateno bsica e aes
de mdia e alta complexidades que
atendessem a
essa populao.
As iniciativas do
Viver sem Limite no
demandavam apenas
uma agenda quantitativa,
cujo nico objetivo seria
aumentar os nmeros
do que j era feito. Pelo
contrrio, elas exigiam novas formas
de organizao: formao em rede,
consulta aos movimentos sociais e
sociedade civil; e a transversalidade
com outras reas, como a sade da
mulher e a sade mental.
O plano Viver sem Limite teve uma grande repercusso na formao
da primeira Rede de Cuidados s Pessoas com Deficincia
-
Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 87
Identificao e interveno precoce de deficincias
Da mesma forma que o eixo de
Acesso Educao estrutura aes
por meio de uma linha contnua que
atende pessoa com deficincia
do comeo concluso da vida
escolar, o eixo de Ateno Sade
pretende promover a sade da
pessoa com deficincia a partir
dos primeiros momentos de vida.
Quando o beb nasce, necessrio
realizar na triagem neonatal testes
que identificam precocemente
doenas metablicas, genticas e
infecciosas, que podero causar
alteraes no desenvolvimento
neuropsicomotor. Esse exame
mais conhecido como Teste do
Pezinho, porque a coleta do sangue
realizada por meio de uma picada
no calcanhar do beb. O teste
obrigatrio por lei em todo o Brasil,
e o diagnstico precoce oferece
condies de um tratamento
iniciado nas primeiras semanas de
vida, capaz de prevenir deficincias.
O SUS instituiu o Programa
Nacional de Triagem Neonatal,
cobrindo a identificao de at seis
doenas, mas antes do Viver sem
Limite poucos estados realizavam as
quatro fases do Teste do Pezinho.
No eixo de Ateno Sade, as aes do Viver sem Limite foram:
-
88 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia
Conhea as doenas testadas em cada fase do Teste do Pezinho
Doenas testadas Fase I Fase II Fase III Fase IV
Hipotireoidismo Congnito SIM SIM SIM SIM
Fenilcetonria SIM SIM SIM SIM
Hemoglobinopatias NO SIM SIM SIM
Fibrose Cstica NO NO SIM SIM
Hiperplasia Adrenal Congnita
NO NO NO SIM
Deficincia da Biotinidase NO NO NO SIM
Atualmente, todas as unidades
da Federao esto realizando
as quatro fases do Teste do
Pezinho. Mas o Viver sem Limite
planejava ainda