livro plano viver sem limite 2014

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Livro Plano Viver Sem Limite 2014

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  • Dilma RousseffPresidenta da Repblica

    Michel TemerVice-Presidente da Repblica

    Ideli SalvattiMinistra de Estado Chefe da Secretaria deDireitos Humanos da Presidncia da Repblica

    Claudinei do NascimentoSecretrio Executivo da Secretaria de

    Direitos Humanos da Presidncia da Repblica

    Antonio Jos FerreiraSecretrio Nacional de Promoo dosDireitos da Pessoa com Deficincia

  • Braslia, 2014

  • PRESIDNCIA DA REPBLICA

    SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS SDH

    SECRETARIA NACIONAL DE PROMOO DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICINCIA SNPD

    Setor Comercial Sul B Quadra 9 Lote C Edifcio Parque Cidade Corporate Torre A

    CEP: 70308-200 Braslia-DF Brasil

    Telefones: +55 (61) 2027-3684 Fax: +55 (61) 2027-9747

    E-mail: [email protected] www.pessoacomdeficiencia.gov.br

    2014 Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica

    Reproduo autorizada, desde que citada a fonte de referncia e que no seja para fins comerciais.Impresso no Brasil Printed in Brazil. Tiragem: 50.000 exemplares (1 Edio), distribuio gratuita.

    REDAO E EDIO DE TEXTO:

    Ex-Libris Comunicao Integradaeditor responsvel Jayme Brener

    redao Renan Perondi

    reportagem Fernanda Mira e Nathalia Nicola

    consultoria Daniela Karmeli

    PRODUO:

    fotografias Acervo SECOM, Acervo SDH/PR, Daniel Dino, Jefferson D. Modesto, Jssica Mendes, Jorge Amaro e Yusseff Abrahim.descrio de grficos e tabelas no formato acessvel Jorge Amaro e Rodrigo Abreu de Freitas Machadocoordenao Joo Paulo Gurgeledio Luiza de Andrade Penidoprojeto grfico, diagramao e capa Daniel Dino

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    DEFICINCIA, Viver sem Limite Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com / Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos da Pessoa com Deficincia (SNPD) VIVER SEM LIMITE Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia : SDH-PR/SNPD, 2014.

    180 p.

    1. Acessibilidade, Legislao, Brasil. 2. Pessoa com Deficincia, Legislao, Brasil. I. Ttulo, Leis, etc.

    CDD 323.362.4

  • Sumrio

    Apresentao

    Uma grande conquista de toda a sociedade ........................................................................................................................9

    Parte 1 | Contexto Histrico do Plano Viver sem Limite

    Captulo 1 | Processo histrico de construo do primeiro Plano Nacional dos

    Direitos da Pessoa com Deficincia | Viver sem Limite ................................................................................................15Captulo 2 | O desafio da construo de uma poltica intersetorial e transversal............................................ 27Captulo 3 | A participao da sociedade civil organizada na elaborao

    e monitoramento do Viver sem Limite ...............................................................................................................................43Captulo 4 | A relao dos entes federativos e os reflexos do plano nas

    polticas estaduais e municipais ............................................................................................................................................53

    Parte 2 | Contedo do Plano Contribuies dos Eixos

    Captulo 5 | Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de educao inclusiva ................................63Captulo 6 | Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de sade ...........................................................83

  • Captulo 7 | Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de assistncia social ....................................99Captulo 8 | Contribuies do Viver sem Limite para as polticas de estruturao e

    desenvolvimento de pesquisa e tecnologias assistivas ................................................................................................111Captulo 9 | Contribuies do Viver sem Limite para as politicas de acessibilidade ....................................127

    Parte 3 | Processo de Gesto do Plano Viver sem Limite

    Captulo 10 | Gesto compartilhada da coordenao do Viver sem Limite ......................................................137Captulo 11 | Instrumentos e mecanismos de gesto da informao ...................................................................145

    Parte 4 | Outras Aes e Polticas Pblicas

    Captulo 12 Aes complementares do Governo Federal pelos direitos de

    pessoas com deficincia ............................................................................................................................................ 151

    Concluso

    Conquistas para o presente, legado para o futuro ....................................................................................................175

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 9

    Apresentao

    Uma grande conquista de toda a sociedade

    com muito orgulho que a Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos da Pessoa com Deficincia, da Secretaria

    de Direitos Humanos da Presidncia

    da Repblica, traz a voc este livro,

    com o objetivo de realizar um registro

    sobre a elaborao, a implementao

    e o monitoramento do Plano

    Nacional dos Direitos da Pessoa

    com Deficincia Viver sem Limite.

    O Viver sem Limite uma

    grande conquista de toda a

    sociedade brasileira e no apenas

    dos movimentos e das pessoas com

    deficincia. Alm de ser o primeiro

    plano federal implantado com a

    misso de promover os direitos das

    pessoas com deficincia, o Viver

    sem Limite criou novas polticas

    pblicas, articuladas em quatro

    eixos temticos: Acesso Educao;

    Ateno Sade; Incluso Social e

    Acessibilidade. Outra inovao do

    plano foi seu enfoque transversal,

    em um esforo que envolveu

  • 10 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    15 ministrios , contando com a

    adeso de 25 estados e do Distrito

    Federal, assim como de mais de

    mil municpios, induzindo criao

    de planos estaduais e municipais

    voltados ao tema.

    A ideia do livro servir de

    referncia para a populao em

    geral, sociedade civil organizada,

    pesquisadores, estudantes e

    gestores pblicos que queiram

    conhecer de maneira aprofundada

    as aes do plano. Dividida em

    trs partes e com 12 captulos,

    a publicao tenta abarcar o

    contexto histrico da criao do

    plano; as aes contidas em cada

    um dos quatro eixos temticos

    e os processos de gesto e

    monitoramento desenvolvidos para

    o Viver sem Limite.

    Nos primeiros quatro captulos,

    relata-se a luta pelo reconhecimento

    dos direitos das pessoas com

    deficincia; a convocao feita pela

    presidenta Dilma Rousseff para

    que os ministrios realizassem um

    plano transversal e intersetorial

    com recursos das prprias pastas;

    a participao da sociedade

    civil na elaborao do plano e as

    articulaes com outros entes

    da Federao para disseminar o

    conjunto de aes.

    Nos cinco captulos que formam

    a segunda parte do livro so

    abordadas as aes contidas nos

    quatro eixos do plano. Por meio

    de entrevistas realizadas com

    gestores de todos os ministrios

    envolvidos, so apresentadas as

    metas e os resultados alcanados.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 11

    Como o livro trata de aes

    destinadas a beneficiar sujeitos de

    direitos, ao final de cada captulo

    voc conhecer o caso de algum

    brasileiro ou brasileira que tenha

    sido abarcado pelo plano.

    J os trs ltimos captulos do

    livro abordam os mecanismos de

    gerenciamento e monitoramento

    do plano e as aes criadas por

    ministrios que no estavam

    originalmente no Viver sem Limite.

    Nosso objetivo, ao planejar e

    desenvolver este livro, foi escapar

    do relato frio e burocrtico

    de metas e resultados, para

    apresentar um histrico vivo das

    razes, da criao, desenvolvimento

    e implementao do Viver sem

    Limite e de seus impactos sobre

    milhes de pessoas com ou sem

    deficincia em todo o pas.

    Esperamos que todos

    aproveitem bem a leitura.

    Antonio Jos FerreiraSecretrio Nacional de Promoo dos

    Direitos da Pessoa com Deficincia

    Ideli SalvattiMinistra de Estado Chefe da

    Secretaria de Direitos Humanos da

    Presidncia da Repblica

  • Foi a partir do final da dcada de 1970 que o movimento das pessoas com deficincia se desenvolveu. Pela primeira vez, elas mesmas protagonizavam suas lutas e buscavam ser agentes da prpria histria

  • Parte 1Contexto Histrico do

    Plano Viver sem Limite

    Foi a partir do final da dcada de 1970 que o movimento das pessoas com deficincia se desenvolveu. Pela primeira vez, elas mesmas protagonizavam suas lutas e buscavam ser agentes da prpria histria

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 15

    O debate internacional em torno da pessoa com deficincia disseminou-se por todo o mundo ao longo

    dos sculos XIX e XX, alimentado

    pelas guerras, com seu terrvel

    saldo de populaes prejudicadas.

    Surgiram inmeros movimentos e

    iniciativas para atender aos tipos

    de deficincia (fsica, mental/

    psicossocial, intelectual e sensorial),

    mas foi s a partir da dcada de

    1960 e da Guerra do Vietn que se

    verificou, inicialmente nos Estados

    Unidos, uma politizao maior da

    questo, liderada por movimentos

    que exigiam do Poder Pblico a

    devida ateno ao tema.

    Aquele perodo foi marcado

    por lutas nas Amricas e na

    Europa pelo reconhecimento dos

    direitos de grupos considerados

    marginalizados ou discriminados,

    assinalando a emergncia de um

    conjunto variado e rico de novos

    atores sociais no cenrio poltico.

    Captulo 1

    Processo histrico de construo do primeiro Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com

    Deficincia | Viver sem Limite

  • 16 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Generalizaram-se, ento, os

    movimentos em defesa dos direitos

    de mulheres, negros, homossexuais,

    assim como iniciativas ecolgicas e

    voltadas ao bem-estar dos animais,

    reivindicando novos espaos.

    No Brasil, esses movimentos

    deram um novo significado ao

    processo de redemocratizao,

    aps duas dcadas de regime

    militar (1964-1985).

    Pessoas com deficincia

    A opresso contra as pessoas

    com deficincia manifesta-se

    historicamente na forma da

    restrio de seus direitos civis

    e, especificamente, da limitao

    imposta pela tutela da famlia e

    de instituies. Sempre houve

    pouco ou nenhum espao para

    que esse segmento da populao

    participasse das decises em

    assuntos que lhes diziam respeito.

    Ao longo de todo o sculo XX

    surgiram iniciativas voltadas para

    as pessoas com deficincia

    especialmente na rea educacional

    e na forma de obras caritativas

    e assistencialistas. No Brasil, por

    exemplo, em 1926 foi criado em

    Canoas (RS) o Instituto Pestalozzi,

    inspirado no pedagogo suo

    Johann Heinrich Pestalozzi

    (1746-1827), dedicado educao

    especial. Em 1954 era fundada,

    no Rio de Janeiro, a primeira

    Associao dos Pais e Amigos

    dos Excepcionais (APAE). No

    mesmo ano abria as portas a

    Associao Brasileira Beneficente

    de Reabilitao (ABBR).

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 17

    Mas foi a partir do final da

    dcada de 1970 que o movimento

    das pessoas com deficincia se

    desenvolveu. Pela primeira vez,

    elas mesmas protagonizavam

    suas lutas e buscavam ser

    agentes da prpria histria, e a

    mudana de postura contaminou

    positivamente boa parte das

    entidades que haviam nascido e

    se espalhado por todo o pas nas

    dcadas anteriores.

    Mulheres conversam durante a 3 Conferncia Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

  • 18 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Esse impulso gerou vrias

    medidas para combater a

    discriminao e garantir s pessoas

    com deficincia a igualdade de

    acesso aos direitos civis, sociais

    e polticos.

    O entendimento

    sobre o que

    deficincia comeou a

    ser alterado, inclusive

    para as prprias

    pessoas do segmento.

    Um passo importante,

    para o Brasil, foi a

    criao, em 1986, da

    Coordenadoria Nacional

    para Integrao da

    Pessoa com Deficincia (Corde) e,

    em 1999, do Conselho Nacional dos

    Direitos das Pessoas com Deficincia

    (Conade), vinculado ao Ministrio

    da Justia, imaginados como caixas

    de ressonncia do conjunto das

    associaes para dentro do

    Poder Pblico.

    Historicamente, a deficincia

    era vista como um

    impedimento mental ou

    fsico, passvel de ser

    tratado e resolvido

    por meio da ajuda

    de especialistas,

    possibilitando

    que a pessoa se

    adaptasse forma

    como a sociedade

    se organizava. A

    consequncia era uma

    concepo assistencialista, que

    pouco valorizava a autonomia, a

    dignidade e a garantia de direitos

    dos sujeitos. Mas, aos poucos, esse

    A opresso contra as pessoas com

    deficincia manifesta-se historicamente na forma da restrio

    de direitos civis e da limitao imposta pela

    tutela da famlia e de instituies

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 19

    paradigma foi cedendo espao

    para uma concepo que via na

    excluso algo gerado pela prpria

    organizao social atual, repleta de

    barreiras fsicas e culturais.

    Era o comeo da transio

    rumo a uma concepo que encara

    a deficincia como mais uma

    caracterstica humana, no como

    fator que impede cidados de

    terem igualdade de condies e

    oportunidades diante de qualquer

    outra pessoa.

    A nova concepo passou a

    demandar mudanas drsticas na

    forma como o Estado interagia com

    a questo; as aes das entidades

    assistencialistas tambm tiveram

    que ser reavaliadas; e as prprias

    pessoas com deficincia puderam

    se empoderar e comearam a

    participar dos debates na esfera

    pblica. Passou-se a se exigir

    que os ambientes, as formas de

    comunicao e de transporte

    fossem transformados para garantir

    a acessibilidade de todos. Em

    suma, a meta agora no era mudar

    o indivduo com deficincia e, sim,

    transformar a sociedade para que

    esse indivduo tivesse seus direitos

    garantidos e suas oportunidades,

    equiparadas aos demais.

    O processo exigia que marcos

    legais fossem estabelecidos para

    assegurar as mudanas. Um passo

    fundamental foi dado em 1981,

    que a Organizao das Naes

    Unidas (ONU) declarou como

    Ano Internacional da Pessoa com

    Deficincia. No ano seguinte foi

    criado o Programa de Ao Mundial

    para Pessoas com Deficincia.

  • Homem cadeirante fotografa; O movimento das pessoas com deficincia luta para que elas sejam protagonistas de sua histria

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 21

    J em 1999, a Organizao dos

    Estados Americanos (OEA) editou

    a Conveno Interamericana para

    a Eliminao de Todas as Formas

    de Discriminao contra as Pessoas

    com Deficincia.

    Esses documentos destacam o

    direito de o segmento se beneficiar

    de melhores condies de vida

    e de oportunidades iguais. Eles

    tambm promoveram diretrizes que

    orientariam a elaborao de polticas

    pblicas dos Estados membros.

    No Brasil

    A promulgao da Constituio

    de 1988, resultado de um

    longo processo de luta pela

    redemocratizao do Brasil,

    consolidou os direitos fundamentais

    de todos os cidados. Em seu artigo

    23, inciso II, a Constituio determina

    que competncia comum da

    Unio, dos estados, do Distrito

    Federal e dos municpios cuidar

    da sade e assistncia pblica, da

    proteo e garantia das pessoas

    com deficincia. O Brasil tambm

    incorporou a Conveno da OEA

    por meio do Decreto n 3.956/01.

    Nos anos seguintes, a

    comunidade internacional e o

    Estado brasileiro iriam reiterar

    seu compromisso. A ratificao,

    pelo Brasil, da Conveno da

    ONU sobre os Direitos da Pessoa

    com Deficincia e seu Protocolo

    Facultativo, em 2009, por meio

    do Decreto Legislativo n 186,

    de 9 de julho de 2008 e do

    Decreto Executivo n 6.949, de

    25 de agosto de 2009, foi um marco

    Homem cadeirante fotografa; O movimento das pessoas com deficincia luta para que elas sejam protagonistas de sua histria

  • 22 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    histrico na luta dos brasileiros

    com deficincia.

    Essas medidas tiveram extrema

    importncia, mas no garantem,

    por si s, que as transformaes

    aconteam. A Conveno da ONU

    estabeleceu parmetros para

    o desenvolvimento da poltica

    nacional sobre o tema, mas colocou

    novos desafios, a comear por sua

    aplicao e fiscalizao.

    Em resumo, tratava-se de realizar

    a meta de promover, proteger

    e assegurar o exerccio pleno e

    equitativo de todos os direitos

    humanos e liberdades fundamentais

    por todas as pessoas com

    deficincia e promover o respeito

    pela sua dignidade inerente, o

    que apontava a necessidade de o

    Poder Pblico gerar uma poltica

    global coerente e estruturada, que

    abarcasse todos os mbitos da vida

    da pessoa com deficincia.

    Plano Viver sem Limite

    A histria do Plano Nacional dos

    Direitos da Pessoa com Deficincia

    Viver sem Limite tem incio

    durante a campanha presidencial

    de 2010, quando a ento candidata

    Dilma Rousseff visitou vrias

    instituies que trabalhavam em

    prol da pessoa com deficincia,

    recebendo suas reivindicaes.

    Pouco depois das eleies, em

    julho de 2011, ocorreu a primeira

    reunio entre a j presidenta e

    15 ministros, com o objetivo de

    iniciar a elaborao de um plano

    nacional que garantisse autonomia,

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 23

    cidadania e equiparao de

    oportunidades das pessoas com

    deficincia. Partiu da presidenta

    a ideia de que o plano deveria

    atuar de forma intersetorial e

    transversal, aprofundando polticas

    j existentes e inovando de acordo

    com as demandas apresentadas,

    sob a coordenao da Casa Civil e

    da Secretaria de Direitos Humanos

    (SDH) da Presidncia da Repblica.

    A ento ministra-chefe da SDH,

    Maria do Rosrio Nunes, delegou a

    responsabilidade da coordenao

    do plano ao secretrio nacional de

    Promoo dos Direitos da Pessoa

    com Deficincia (SNPD), Antonio

    Jos do Nascimento Ferreira, que

    tem longo histrico de militncia no

    movimento social das pessoas com

    deficincia. Deficiente visual, foi

    presidente da Organizao Nacional

    dos Cegos do Brasil (ONCB); em

    2012, trabalhou como coordenador-

    geral de Promoo dos Direitos

    da Pessoa com Deficincia; e, no

    comeo de 2011, exerceu por alguns

    meses a chefia de gabinete da

    SNPD, para depois assumir a Pasta.

    Trs dias aps o primeiro

    encontro ministerial, os envolvidos

    se reuniram novamente para iniciar

    o desenho do novo plano. A partir

    daquele momento, os ministrios

    comearam a trazer mesa de

    discusso as aes que estavam

    desenvolvendo sobre o tema. Para

    Antonio Ferreira, um fator muito

    positivo na elaborao do plano foi

    que ele no exigiu uma sistemtica

    nova para funcionar, uma vez

    que utilizava os projetos que j

  • 24 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    vinham sendo implementados pelos

    ministrios. E isso potencializa as

    aes na quantidade e na qualidade.

    Definiram-se, nesse processo, os

    quatro eixos temticos do plano:

    1. Acesso educao, que

    investe em recursos e servios

    de apoio educao bsica e

    compreende a busca ativa de

    alunos, transporte acessvel,

    aprendizagem, acessibilidade

    e qualificao profissional;

    2. Ateno sade, que cria a

    Rede de Cuidados Pessoa

    com Deficincia e contempla

    aes voltadas para a

    preveno e reabilitao;

    3. Incluso social, que

    desenvolve aes de

    participao social e de

    combate s desigualdades,

    visando a incluir as pessoas

    com deficincia na sociedade,

    tanto no trabalho, quanto no

    cuidado dirio de pessoas em

    situao de pobreza;

    4. Acessibilidade, na forma da

    busca de acesso tecnologia

    e ao desenvolvimento

    tecnolgico, moradia e

    aquisio de equipamentos.

    O primeiro eixo temtico estaria

    a cargo do Ministrio da Educao;

    o segundo, do Ministrio da Sade;

    no terceiro eixo, que envolvia a

    seguridade dos direitos da pessoa

    com deficincia, foi acertada a

    colaborao de vrios ministrios; e

    o quarto associava a ao de quase

    todas as Pastas.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 25

    So 15 os rgos federais

    que integram o Viver sem

    Limite: Casa Civil; Secretaria de

    Direitos Humanos da Presidncia

    da Repblica; Secretaria-Geral

    da Presidncia da Repblica;

    Ministrios da Educao;

    Sade; Trabalho e Emprego;

    Desenvolvimento Social e Combate

    Fome; Cincia, Tecnologia e

    Inovao; Cidades; Fazenda;

    Esporte; Cultura; Comunicaes;

    Previdncia Social; e Planejamento,

    Oramento e Gesto.

    Desde esse momento ficou

    acertado que um dos desafios seria

    unir as aes para garantir, de parte

    do Poder Pblico, a promoo dos

    direitos da pessoa com deficincia

    do nascimento at a velhice. A

    inteno no era realizar uma

    poltica assistencialista, mas, sim,

    uma poltica de promoo

    de direitos.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 27

    O Plano Viver sem Limite nasceu sintonizado com as anlises mais amplas sobre a deficincia, que rompem

    com o paradigma assistencialista

    e promovem os conceitos de

    incluso, como independncia e

    empoderamento das pessoas. Essas

    concepes convergem em um

    ponto central: a deficincia envolve

    uma multiplicidade de dimenses e

    fatores de origem socioeconmica,

    cultural, familiar, individual

    e institucional, conformando

    trajetrias distintas e demandando

    aes pblicas com abrangncia e

    objetivos diversos.

    Assim, a multidimensionalidade

    exige polticas diversificadas

    e, para abarcar todas elas,

    necessrio o desenvolvimento de

    estratgias de interveno capazes

    de interligar distintos setores das

    polticas pblicas, de maneira a

    resultar numa ao conjunta de

    vrios programas.

    Captulo 2

    O desafio da construo deuma poltica intersetorial e transversal

  • 28 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Para o Governo Federal, essa

    exigncia se traduziu em um

    plano que valoriza as intervenes

    intersetoriais e transversais; um

    modelo de gesto governamental

    relacional, com redes horizontais

    e multinveis.

    A arquitetura do projeto

    demandou amplos esforos. Cada

    ministrio elaborou um plano de

    ao para definir quais seriam os

    passos necessrios de forma a

    atingir as metas. A inter-relao das

    propostas teve a participao da

    Casa Civil, que tambm auxiliou na

    criao do Grupo Interministerial

    de Articulao e Monitoramento

    GIAM do Viver sem Limite. O

    grupo atua como sistema de

    monitoramento da implementao

    do plano junto populao.

    As Pastas envolvidas tambm

    reservaram no oramento recursos

    de peso a serem aplicados

    exclusivamente nas aes do plano.

    A previso oramentria global

    chegou a R$ 7,6 bilhes. Tambm

    foi acertado que nenhum rgo

    poderia remanejar esses recursos

    sem uma justificativa prvia para

    a Casa Civil. Essas garantias

    terminariam resultando em uma

    sinergia bastante positiva entre

    os ministrios, com a ao de um

    sendo potencializada por outro.

    Assim, o processo de

    elaborao do Viver sem Limite

    no se constituiu apenas em uma

    maneira de cumprir as obrigaes

    internacionais do Brasil perante

    a Conveno da ONU sobre

    os Direitos das Pessoas com

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 29

    Deficincia. Transformou-se em

    uma grande oportunidade para

    fazer um balano da promoo

    dos direitos humanos no Brasil, em

    geral, e dos direitos das pessoas

    com deficincia, em especial,

    favorecendo um planejamento

    mais eficaz das polticas pblicas

    adotadas e a efetiva implementao

    da Conveno da ONU.

    No dia 17 de novembro de 2011, a presidenta Dilma Rousseff lana o Plano Viver sem Limite

  • 30 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Assim, o movimento de

    elaborao do plano ofereceu

    oportunidades para que

    cada rgo governamental:

    a) Realizasse uma reviso

    completa das

    medidas tomadas

    para harmonizar

    as legislaes

    e polticas

    nacionais s

    disposies da

    Conveno aps

    sua incorporao

    na normativa

    nacional com

    status de emenda

    constitucional;

    b) Verificasse os progressos

    realizados no acesso ao

    usufruto dos direitos

    estabelecidos na Conveno,

    no mbito da promoo dos

    direitos humanos em geral;

    c) Identificasse problemas existentes

    no enfoque adotado para a

    implementao

    da Conveno;

    d) Planejasse e

    desenvolvesse as

    polticas adequadas

    para atingir

    esses objetivos.

    A etapa seguinte

    foi a concluso da

    formulao do plano,

    na qual se decidiram as

    aes que ele deveria efetivamente

    conter, com as respectivas

    quantificaes, prazos, metas e

    mecanismos de verificao. De

    acordo com a subchefe-adjunta

    A deficincia envolve uma multiplicidade de dimenses e fatores de

    origem socioeconmica, cultural, familiar,

    individual e institucional. Assim, exige polticas

    diversificadas

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 31

    de Articulao e Monitoramento

    da Casa Civil, Maria do Socorro

    Mendes Gomes, que coordena o

    monitoramento, nesse momento

    ocorreu a avaliao da consistncia

    de aes e metas propostas pelo

    plano, o que envolve a estimativa

    da governabilidade que o Governo

    Federal teria em relao execuo

    daquela ao; dos parceiros com os

    quais teria de contar e dos grandes

    desafios para a implantao.

    A cerimnia de lanamento do

    Viver sem Limite aconteceu no dia

    17 de novembro de 2011, no Palcio

    do Planalto, em Braslia, contando

    com a presena da presidenta Dilma

    Rousseff, de ministros, governadores,

    parlamentares e militantes de

    movimentos ligados aos direitos das

    pessoas com deficincia. O secretrio

    nacional Antonio Jos Ferreira

    apresentou o plano e detalhou cada

    ao. Na ocasio foi assinado o

    Decreto n 7.612, que estabeleceu as

    seguintes diretrizes:

    I) Garantia de um sistema

    educacional inclusivo;

    II) Garantia de que os

    equipamentos pblicos de

    educao sejam acessveis

    para as pessoas com

    deficincia, inclusive por meio

    de transporte adequado;

    III) Ampliao da participao

    das pessoas com deficincia

    no mercado de trabalho,

    mediante sua capacitao e

    qualificao profissional;

    IV) Ampliao do acesso das

    pessoas com deficincia s

    polticas de assistncia

    social e de combate

    extrema pobreza;

  • 32 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    V) Preveno das causas

    de deficincia;

    VI) Ampliao e qualificao

    da rede de ateno sade

    da pessoa com deficincia,

    em especial, os servios de

    habilitao e reabilitao;

    VII) Ampliao do acesso das

    pessoas com deficincia

    habitao adaptvel e com

    recursos de acessibilidade;

    VIII) Promoo do acesso,

    do desenvolvimento

    e da inovao em

    tecnologia assistiva.

    O Plano Viver sem Limite prev

    que sua execuo esteja a cargo

    da Unio em colaborao com

    estados, Distrito Federal, municpios

    e com a sociedade. A vinculao

    dos entes ocorre por meio de termo

    de adeso voluntria, que implica

    a responsabilidade de priorizar

    medidas visando promoo do

    exerccio pleno dos direitos das

    pessoas com deficincia, a partir

    dos eixos de atuao previstos

    no Decreto n 7.612. Tambm

    foram institudas instncias de

    acompanhamento do plano nos

    mbitos estadual e municipal, sendo

    que a execuo pode ser direta ou

    por convnio, e o custeio garantido

    por recursos oramentrios da

    Unio, entes federados ou outras

    entidades pblicas e privadas.

    Tambm foi criado o Comit

    Interministerial de Tecnologia

    Assistiva, com a finalidade de

    formular, articular e implementar

    polticas, programas e aes

    para o fomento ao acesso,

    desenvolvimento e inovao em

    tecnologia assistiva. O comit

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 33

    Os recursos da Unio previstos para a execuo das aes de cada um dos eixos ficaram assim distribudos:

    Volume de recursos federais

    rea Recursos 2011-2014

    Acesso Educao R$ 1.840.865.303

    Ateno Sade R$ 1.496.647.714

    Incluso Social R$ 72.240.000

    Acessibilidade R$ 4.198.500.000

    Total R$ 7.608.253.018Fonte: Site SDH/PR

    coordenado pelo Ministrio da

    Cincia, Tecnologia e Inovao

    e envolve a SDH; os Ministrios

    da Fazenda; do Planejamento,

    Oramento e Gesto; do

    Desenvolvimento, Indstria e

    Comrcio Exterior; da Educao;

    e da Sade.

  • Crianas posam em frente a nibus escolar acessvel

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 35

    As aes desenvolvidas em cada um dos quatro eixos temticos foram:

    Acesso educao

    Aes para garantir s pessoas

    com deficincia o direito ao acesso

    educao com igualdade de

    oportunidades:

    15 mil novas Salas de

    Recursos Multifuncionais com

    equipamentos, mobilirios e

    materiais pedaggicos

    para atendimento

    educacional especializado;

    30 mil kits de atualizao

    de Salas de Recursos

    Multifuncionais;

    Recursos para adequao

    arquitetnica de 42 mil escolas

    pblicas, tornando-as acessveis;

    Compra de 2.609 nibus

    para o Transporte Escolar

    Acessvel de 60 mil alunos

    com deficincia;

    Prioridade no preenchimento

    de vagas para pessoas

    com deficincia nos cursos

    oferecidos pelo Programa

    Nacional de Acesso ao Ensino

    Tcnico e Emprego (Pronatec);

    Apoio s universidades

    federais em seus projetos

    de acessibilidade;

    Contratao de 606 tradutores

    e intrpretes de Libras nas

    instituies federais de

    ensino, para acessibilidade

    Crianas posam em frente a nibus escolar acessvel

  • 36 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    aos estudantes com

    deficincia auditiva;

    Criao de 27 cursos de

    Letras/Libras;

    Criao de 12 cursos

    de Pedagogia na

    perspectiva bilngue;

    Ampliao, por meio de

    busca ativa, do nmero de

    crianas e adolescentes

    beneficirias do Benefcio de

    Prestao Continuada (BPC)

    matriculadas na escola.

    Ateno sade

    Aes de promoo

    sade, identificao precoce

    de deficincias, preveno dos

    agravos, tratamento

    e reabilitao:

    Ampliao e qualificao da

    Triagem Neonatal:

    - Melhoria dos processos de

    identificao e interveno

    precoce de doenas em

    crianas de zero a dois

    meses, com extenso da

    Fase IV do Teste do Pezinho

    para todos os estados da

    Federao; qualificao

    de 175 maternidades para

    triagem auditiva neonatal

    (Teste da Orelhinha);

    criao do marco normativo

    da Poltica Nacional de

    Triagem Neonatal; e

    criao de um sistema

    de acompanhamento de

    crianas diagnosticadas;

    Elaborao e publicao de

    dez Diretrizes Teraputicas

    sobre como proceder quanto

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 37

    ao diagnstico, tratamento,

    controle e acompanhamento

    de vrias deficincias (da

    Triagem Auditiva Neonatal;

    Sndrome de Down; pessoa

    amputada; leso medular;

    paralisia cerebral; Transtorno

    do Espectro do Autismo;

    Traumatismo Crnio-

    Enceflico; Acidente Vascular

    Enceflico; sade ocular

    na infncia; Sndrome

    Ps-Poliomelite);

    Habilitao e Reabilitao:

    - Ampliao e qualificao da

    rede de reabilitao do SUS,

    em parceria com instituies

    de referncia nacional, e

    implantao de novos

    Centros Especializados em

    Reabilitao CER;

    Transporte para acesso

    sade:

    - Aquisio de 88 veculos

    adaptados destinados ao

    transporte das pessoas com

    deficincia aos CER;

    rteses e prteses:

    - Implantao de oficinas

    ortopdicas que

    confeccionam, consertam

    e aperfeioam aparelhos

    ortopdicos de aplicao

    teraputica, com habilitao

    de 25 oficinas fixas; criao

    de 12 oficinas fixas, dez

    itinerantes terrestres e dez

    itinerantes fluviais; bem

    como capacitao de 660

    profissionais de sade em

    rteses e prteses at 2014,

    para atuao nas oficinas;

  • Residncia do Programa Minha Casa, Minha Vida com entrada acessvel

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 39

    Ateno Odontolgica:

    - Qualificao de 420 Centros de

    Especialidades Odontolgicas

    (CEO) para atender s pessoas

    com deficincia;

    - Adequao fsica e aquisio

    de equipamentos para

    27 centros cirrgicos em

    hospitais gerais;

    - Qualificao de seis mil

    profissionais de sade bucal

    para atendimento de pessoas

    com deficincia.

    Incluso Social

    Aes que tm como objetivo

    promover a participao social e

    combater a desigualdade, excluso

    ou restrio que impedem o

    exerccio de direitos, em igualdade

    de condies:

    BPC Trabalho:

    - Seu objetivo promover,

    entre os beneficirios com

    deficincia do Benefcio de

    Prestao Continuada (BPC),

    a qualificao profissional e o

    acesso ao mundo do trabalho,

    priorizando a faixa etria de

    16 a 45 anos. O Viver sem

    Limite prev a garantia de

    recebimento do benefcio em

    caso de demisso e a busca

    ativa e encaminhamento ao

    mercado de trabalho de

    50 mil beneficirios do BPC;

    - Implantao de 200

    Residncias Inclusivas, que

    oferecem proteo integral

    a jovens e adultos com

    deficincia em situao

    de dependncia;

    Residncia do Programa Minha Casa, Minha Vida com entrada acessvel

  • 40 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    - Implantao de 27 Centros-

    Dia de Referncia, para

    oferta de cuidados durante

    o dia a jovens e adultos com

    deficincia em situao de

    dependncia, em apoio aos

    cuidados familiares.

    Acessibilidade

    Aes que garantem que todos

    utilizem de forma autnoma os

    espaos pblicos e privados:

    Minha Casa, Minha Vida 2:

    Construo de 1,2 milho

    de moradias adaptveis e

    instalao de 20 mil kits de

    adaptao, conforme o tipo de

    deficincia do morador.

    Centros Tecnolgicos

    Ces-guia:

    - Implantao de cinco centros

    tecnolgicos de formao de

    instrutores e treinadores de

    ces-guia, distribudos em cada

    uma das regies brasileiras;

    Programa Nacional de

    Inovao em Tecnologia

    Assistiva, com oferta de linha

    de subveno econmica no

    reembolsvel para inovao

    em tecnologia assistiva e de

    financiamento para inovao

    em equipamentos de

    esportes paraolmpicos;

    Implantao do Centro

    Nacional de Referncia em

    Tecnologia Assistiva, com

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 41

    apoio a 20 ncleos de pesquisa

    em universidades pblicas para

    o desenvolvimento e inovao

    com foco em preveno,

    reabilitao e acessibilidade;

    Disponibilizao, na internet, de

    catlogo virtual com mais de

    1.200 produtos de tecnologias

    assistivas disponveis no

    mercado brasileiro

    http://assistiva.mct.gov.br.

    Crdito facilitado:

    - Microcrdito pelo Banco do

    Brasil com juros subsidiados

    para aquisio de produtos

    de tecnologia assistiva;

    Desonerao tributria:

    - Um total de RS 609,84

    milhes at 2013 em renncia

    fiscal federal sobre diversos

    produtos e equipamentos de

    tecnologias assistivas.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 43

    U ma das etapas fundamentais, no Brasil, para a organizao das pessoas com deficincia, superando

    as aes restritas caridade e as

    polticas assistenciais, foi a formao

    de associaes voltadas luta pelo

    reconhecimento de direitos. Esse

    processo criou o ambiente para

    a formao de conscincia, que

    resultaria no movimento poltico

    das pessoas com deficincia, no

    final da dcada de 1970. O pas

    estava passando por um processo

    de reabertura poltica, as relaes

    entre Estado e sociedade civil eram,

    anteriormente, bloqueadas devido

    ao autoritarismo do regime militar,

    e o novo contexto poltico permitiu

    novas articulaes.

    As primeiras associaes

    compostas e dirigidas por pessoas

    com deficincia quase nunca

    tinham sede ou qualquer outro

    elemento formal. Eram iniciativas

    que visavam ao auxlio mtuo e no

    Captulo 3

    A participao da sociedade civilorganizada na elaborao e

    monitoramento do Viver sem Limite

  • 44 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    apresentavam objetivos polticos

    definidos, mas que criaram espaos

    de convivncia entre pares, onde

    as dificuldades comuns podiam ser

    reconhecidas e debatidas.

    A ao poltica em prol dos

    direitos da populao ganharia,

    ento, maior visibilidade, no final

    dos anos 1970. A partir da, as

    pessoas com deficincia foram se

    tornando agentes polticos na busca

    por transformao da sociedade.

    O desejo de serem protagonistas

    motivou uma mobilizao nacional,

    que se alimentou do processo de

    redemocratizao do Brasil, do qual

    tambm se tornou parte integrante.

    Barreiras

    A sociedade cria barreiras

    comportamentais via medo,

    desconhecimento e preconceito;

    via meio ambiente, com a

    inacessibilidade fsica; e pelo caminho

    institucional, com discriminaes de

    carter legal, que impedem a plena

    participao das pessoas.

    Ao longo das ltimas trs

    dcadas, o esforo dos movimentos

    sociais de defesa dos direitos

    das pessoas com deficincia

    tem sido, principalmente, por

    mudar paradigmas, criando uma

    base slida para a construo de

    uma nova perspectiva sobre a

    deficincia. As atitudes, hipteses e

    percepes a respeito da deficincia

    passaram de um modelo caritativo

    para um modelo social, em que

    a interao entre a deficincia e

    o modo como a sociedade est

    organizada que condiciona a

    funcionalidade, as dificuldades, as

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 45

    limitaes e a excluso das pessoas.

    Assim, a luta foi deslocada do

    campo da assistncia social para o

    campo dos Direitos Humanos, dos

    direitos de todos, sem distino.

    Um dos grandes avanos

    registrados foi a constituio do

    Conselho Nacional dos Direitos da

    Pessoa com Deficincia (Conade),

    em 1999, com o objetivo de formar

    Conselheiros e sociedade civil participam ativamente das polticas pblicas na 3 Conferncia Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

  • 46 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    um espao de controle e avaliao

    por parte da sociedade civil, sobre

    as polticas pblicas nacionais.

    Em 2003, o Conade passou a ser

    vinculado Secretaria Nacional de

    Direitos Humanos. Essa mudana

    tambm teve um valor

    simblico, pois marcava

    posio, associando o

    tema da deficincia

    promoo de direitos.

    Assim, enquanto nos

    primeiros anos de

    vida do Conselho

    seu presidente era o

    ministro da Justia,

    com a mudana, a

    sociedade civil pde chegar ao

    comando do rgo.

    O Conade no apenas um

    organismo instalado em Braslia.

    Ele interage com uma rede de

    conselhos estaduais e municipais

    espalhados por todo o Brasil e

    representa uma significativa parcela

    de organizaes da sociedade civil

    vinculadas ao setor.

    Os conselhos permitem que

    o Poder Pblico e

    a sociedade civil

    trabalhem de maneira

    conjunta em prol dos

    direitos das pessoas

    com deficincia.

    dessa capilaridade

    que brota a

    representatividade do

    Conade para discutir

    um plano do tamanho

    do Viver sem Limite, projetado

    para abranger o pas inteiro.

    Num primeiro momento, o

    Conade participou da elaborao

    do plano fazendo sugestes,

    As adeses ao plano em todo o Brasil

    resultaram num processo de expanso de conselhos estaduais e municipais,

    que mais do que dobraram desde 2011

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 47

    que foi debatido aqui ao longo dos

    anos est l, diz Amaro.

    Outras preocupaes do rgo

    tambm foram contempladas

    pelo plano. Veja-se que o Conade

    sempre se preocupou com a

    questo da pessoa com deficincia

    na idade adulta, e essa discusso

    acumulada ajudou o Viver sem

    Limite a pensar novas polticas

    inclusivas. O mesmo aconteceu

    com o financiamento de rteses

    e prteses e com o acesso

    moradia. Em suma, o plano acabou

    materializando grande parte dos

    debates que o Conade promoveu

    ao longo da sua histria.

    O plano deu visibilidade

    poltica nacional voltada para

    a pessoa com deficincia, o

    que encaramos como algo bem

    positivo. Ele formou prioridades,

    apresentadas em uma reunio

    com os titulares, poca, da Casa

    Civil da Presidncia da Repblica,

    Gleisi Hoffmann, da Secretaria de

    Direitos Humanos da Presidncia

    da Repblica, Maria do Rosrio, e

    do Ministrio da Educao,

    Fernando Haddad.

    Segundo o coordenador-

    geral do Conade, Jorge Amaro,

    a influncia do conselho na

    elaborao do Viver sem Limite

    foi muito significativa. Se

    analisarmos as pautas discutidas

    no Conade de 1999 at 2011 e as

    demandas expressas nas 1, 2

    e 3 Conferncias Nacional dos

    Direitos da Pessoa com Deficincia,

    realizadas em 2006, 2008 e 2012,

    respectivamente, veremos que so

    justamente os temas sintetizados

    pelos quatro eixos do plano. Tudo o

  • Conselheiros participam de Reunio Ordinria do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia, em 2014

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 49

    colocou essa poltica na pauta

    tanto da Presidncia da Repblica,

    quanto dentro dos ministrios. Isso

    nunca havia acontecido com tal

    importncia. Antes era a sociedade

    civil que executava todas essas

    aes. Hoje, podemos perceber

    que o governo est interessado

    em cumprir seu papel, mas sem

    descartar toda a experincia

    que as entidades tm, afirma a

    presidente da Federao Nacional

    das Associaes Pestalozzi

    (Fenasp) e vice-presidente do

    Conade, Ester Pacheco.

    Antes do lanamento do Viver

    sem Limite, o Conade pde analisar

    o plano em detalhe, de forma a

    opinar e sugerir alteraes. Aps o

    lanamento, o conselho continuou

    envolvido, agora realizando o

    monitoramento das aes.

    Em consequncia, o Viver sem

    Limite tornou-se pauta permanente

    das reunies do Conade. Em todas

    as reunies nacionais ordinrias

    do rgo, que acontecem a cada

    dois meses, h discusses sobre

    seu andamento. Quando a reunio

    tem uma pauta especfica sobre

    determinada rea do plano, um

    ministrio chamado para

    dar informaes.

    As adeses ao plano em todo

    o Brasil resultaram ainda num

    processo de expanso de conselhos

    estaduais e municipais, cujo nmero

    mais do que dobrou desde 2011.

    Ainda segundo Jorge

    Amaro, o Viver sem Limite foi

    fundamental ao estabelecer

    temas e metas claras para que

    a sociedade civil pressionasse o

    Poder Pblico. Agora, as coisas

    Conselheiros participam de Reunio Ordinria do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia, em 2014

  • 50 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    so mais concretas. Se na rea da

    educao h o projeto de salas

    multifuncionais, agora posso dizer

    se elas esto ou no funcionando,

    se o material que est chegando

    l bom, se a qualificao do

    professor adequada, se o nibus

    adaptado que o municpio recebeu

    est rodando... Quer dizer, temos

    algo concreto para avaliar, o que d

    vida nova ao Conselho. Se estamos

    perto de atingir a marca de 600

    conselhos, porque agora eles tm

    motivao para existir, sintetiza.

    A ampla gama de aes

    concretas tambm demanda um

    monitoramento de qualidade. Para

    aperfeioar o controle, o Conade

    definiu um plano estratgico que

    estabelece detalhadamente os

    procedimentos que cada comisso

    do conselho seguir para avaliar

    e monitorar as aes do plano,

    tanto no mbito da elaborao

    das polticas pblicas, quanto no

    cumprimento das metas.

    O Conade tambm organizou

    cinco encontros regionais entre

    2013 e 2014. Em um deles o tema

    principal foi o Viver sem Limite.

    Alm de divulgar o plano, esses

    espaos servem para avaliar

    estratgias de monitoramento e

    contam com a participao de mais

    de cem organizaes, que puderam

    discutir os rumos do plano.

    Em suma, os avanos do Viver

    sem Limite no seriam possveis

    sem o firme engajamento da

    sociedade civil organizada, em seu

    papel de cobrar do Estado brasileiro

    sua responsabilidade na garantia

    dos Direitos Humanos das pessoas

    com deficincia.

  • Sesso Solene do Congresso Nacional homenageia os 15 anos do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 53

    U m dos objetivos do Viver sem Limite que estados e municpios, com o apoio do Governo Federal, articulem

    polticas pblicas que garantam

    s pessoas com deficincia o

    acesso educao, incluso social,

    ateno sade e acessibilidade.

    Trata-se de uma proposta

    inovadora: pela primeira vez no

    Brasil se concretiza uma ao

    nacional voltada para o segmento,

    transversal, abarcando os entes

    federados, mas respeitando a

    autonomia de cada um.

    Aps a elaborao do plano, em

    2011, ele foi apresentado aos entes

    federados, que ento passaram a

    formalizar o termo de adeso. Como

    a parceria pautada pelo pacto

    federativo, a responsabilidade pelas

    aes dividida entre Unio, estados

    e municpios. O formato do pacto

    bem parecido com o que os entes

    selaram para integrar o Sistema

    nico de Sade (SUS), dado que

    Captulo 4

    A relao dos entes federativos eos reflexos do plano nas polticas

    estaduais e municipais

  • 54 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    concordam em dividir os gastos

    das aes. No aderir ao Viver

    sem Limite no impede que uma

    cidade receba programas, mas a

    parceria demonstra sociedade que

    o administrador pblico faz parte

    do esforo nacional em defesa dos

    direitos da pessoa com deficincia.

    No primeiro semestre de 2014,

    mais de um quarto dos municpios

    brasileiros j haviam aderido ao

    plano, alm de 25 estados e do

    Distrito Federal. Com a adeso,

    foram formados os comits locais

    do Viver sem Limite. Em diversos

    estados foram criadas verses

    locais do plano, agregando as

    polticas pblicas implementadas

    em mbito regional.

    Por exemplo, no Distrito Federal

    foi criado o plano DF sem Limite;

    em Minas Gerais, nasceu o Minas

    Inclui; no Par, surgiu o Existir; no

    Rio Grande do Sul, o RS sem Limite;

    foi criado o Cear Acessvel, entre

    outros. interessante notar que

    os comits dos planos monitoram,

    ao mesmo tempo, as polticas

    estaduais e nacionais, o que facilita

    o incremento das aes. Segundo a

    coordenadora do Plano Viver sem

    Limite pela Casa Civil do Distrito

    Federal, Daniela Lobo DAvila,

    o plano local segue o mesmo

    padro que o do Governo Federal

    porque ns o consideramos muito

    bem organizado. Aqui unimos 16

    secretarias e comeamos a trabalhar

    juntos. Apesar de o Governo do

    Distrito Federal (GDF) ter aderido

    ao plano em maro de 2013,

    vrios programas j vinham sendo

    realizados, como o Morar Bem,

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 55

    que a nossa verso do Minha

    Casa, Minha Vida. Quando houve a

    adeso, conseguimos centralizar os

    rgos e assumimos 19 projetos do

    Viver sem Limite. Mais, ampliamos

    as aes, porque unimos os

    16 projetos do GDF s aes

    nacionais, afirma.

    A entrada de um determinado

    estado no plano tambm

    Casal em frente moradia do Programa Minha Casa, Minha Vida

  • 56 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    auxiliava a adeso em grupo de

    vrios municpios. Segundo o

    superintendente da Pessoa com

    Deficincia, da Secretaria de Justia

    do Estado da Bahia, Alexandre

    Baroni, o estado levou o Plano

    Viver sem Limite ao conhecimento

    dos municpios.

    Em apenas um ato,

    realizado em 2013, 127

    municpios baianos

    aderiram de uma vez

    ao plano, diz.

    O Viver sem Limite

    representou tambm

    uma transformao na forma como

    os gestores pblicos locais lidam

    com o tema da deficincia. Em

    muitos locais ainda imperava o

    paradigma assistencialista, herana

    dos tempos em que a deficincia

    era abordada apenas por meio

    de obras de caridade. Ou ento

    o tema permanecia confinado a

    uma secretaria especfica. Pois o

    plano chegou para mostrar que a

    deficincia deve ser trabalhada por

    todas as instncias de governo,

    no por apenas

    uma secretaria.

    A mudana de

    filosofia tambm

    incentiva a formao

    de quadros funcionais

    capacitados para lidar

    com os conceitos

    inclusivos. O que no significa, claro,

    que todas dificuldades estejam

    superadas. Segundo o secretrio

    adjunto da Secretaria Municipal

    da Pessoa com Deficincia e

    Mobilidade Reduzida de So Paulo,

    Em diversos estados foram criadas verses

    locais do plano, agregando as polticas pblicas implementadas em mbito regional

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 57

    Antonio Carlos Tuca Munhoz,

    preciso existir um desejo poltico de

    mudana; a questo da deficincia

    ainda tem o rano antiquado do

    assistencialismo, da caridade e,

    por isso, faltam quadros tcnicos

    que compreendam e saibam

    trabalhar com essa nova realidade

    que o Viver sem Limite traz.

    um processo que talvez demore

    dcadas para chegar ao

    nvel adequado.

    O caso de So Paulo

    interessante porque se trata de

    uma capital que s aderiu ao

    plano em abril de 2013, mas que

    vem trabalhando intensamente

    para implementar as aes do

    Viver sem Limite e ir alm. Em

    dezembro de 2013, a Prefeitura

    lanou o So Paulo Mais Inclusiva,

    como chamado o Plano

    Municipal de Aes Articuladas

    para Pessoas com Deficincia,

    coordenado pela Secretaria de

    Governo, pela Secretaria de

    Planejamento, Oramento e Gesto

    e pela Secretaria da Pessoa com

    Deficincia e Mobilidade Reduzida,

    e articulado com mais 18 secretarias

    municipais. Quer dizer, ele incorpora

    a transversalidade defendida pelo

    plano federal.

    O So Paulo Mais Inclusiva prev

    entregar 70 aes para a populao

    paulistana. Entre as iniciativas

    que no esto originalmente no

    Viver sem Limite destacam-se

    a instalao de 125 semforos

    sonoros; a compra de scanners

    de udio e livros acessveis para

    todas as bibliotecas municipais e

  • 58 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    a transformao dos websites da

    Prefeitura em ambientes acessveis.

    Para dar maior capilaridade

    s aes e mudar a cultura dos

    gestores pblicos em relao

    deficincia de forma mais

    profunda, a Prefeitura de So

    Paulo descentralizou as aes do

    plano entre as 32 subprefeituras

    da cidade. Em outras palavras, o

    mesmo projeto que foi desenvolvido

    em nvel municipal, tambm passou

    a ser pensado no mbito de cada

    uma das subprefeituras.

    Pontos especficos

    Alguns estados optam por um

    direcionamento maior de suas

    aes para certos mbitos do Viver

    sem Limite. O coordenador geral do

    plano em Santa Catarina, Marcondes

    Marchetti, observa que o estado

    vem concentrando a ateno no

    Pronatec Viver sem Limite, j que

    uma parte importante da populao

    com deficincia no tem se valido

    da capacitao para inserir-se no

    mundo produtivo, diz.

    O Plano Viver sem Limite,

    ento, aproveita ao mximo o

    pacto federativo para potencializar

    suas aes. A diviso de

    responsabilidades entre os entes

    federados vem aperfeioando

    a maneira de atender s

    especificidades de cada regio.

    J o mecanismo gerencial que o

    plano articula est provocando

    um forte impacto nas gestes

    locais, tendo resultado inclusive

    na criao do Frum Nacional de

    Gestores de Polticas Pblicas para

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 59

    Pessoas com Deficincia, espao de

    fortalecimento de aes, troca de

    experincias e aprimoramento da

    execuo de polticas.

    Ainda existe um longo caminho a

    percorrer para eliminar a abordagem

    assistencialista das polticas

    pblicas em relao s pessoas

    com deficincia. Mas os resultados

    do Viver sem Limite deixam claro

    que ele um divisor definitivo de

    guas rumo adoo de polticas

    que fortaleam a autonomia desse

    segmento da populao.

    Plena autonomiaEdison Ferreira mora no bairro de Ermelino Matarazzo, em So Paulo (SP). Ele trabalha como diretor voluntrio da ONG Associao Casa dos Deficientes Ermelino Matarazzo (Acdem) e tem uma deficincia fsica causada por uma distrofia neuromuscular degenerativa, que foi ao longo dos anos diminuindo sua mobilidade. Embora saia todo dia de casa de carro para ir trabalhar, estudar e dar palestras, ele ficou por mais de dez anos sem ir rua sozinho, j que a acessibilidade na regio precria. No comeo de 2013, ao saber que o Ministrio da Sade, numa implementao do plano Viver sem Limite, estava financiando cadeiras motorizadas, avaliadas em cerca de R$ 8.000, Edison entrou com um pedido de financiamento. Ele conseguiu adquirir a cadeira no final do ano e pde conquistar maior autonomia. Eu pude voltar a me relacionar com a vizinhana e fazer coisas simples, de que tinha saudade. Foi uma enorme emoo, por exemplo, observar a surpresa do padeiro, quando me viu entrar sozinho na padaria, o que no acontecia h muitos anos, diz.

  • Os resultados do Viver sem Limite deixam claro que ele um divisor definitivo de guas rumo adoo de polticas que fortaleam a autonomia das pessoas com deficincia

  • Parte 2Contedo do Plano

    Contribuies dos Eixos

    Os resultados do Viver sem Limite deixam claro que ele um divisor definitivo de guas rumo adoo de polticas que fortaleam a autonomia das pessoas com deficincia

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 63

    Captulo 5

    Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de educao inclusiva

    O movimento global em defesa da educao inclusiva uma atividade poltica, cultural, social e

    pedaggica, realizada em nome do

    direito de todos os estudantes de

    estarem unidos durante o momento

    da aprendizagem, sem qualquer

    tipo de discriminao. A educao

    inclusiva instaura um novo

    paradigma, baseado na concepo

    de que os direitos humanos so

    inegociveis. Ao admitir que

    as barreiras encontradas nos

    sistemas educacionais demostram

    a emergncia de se confrontar

    as prticas discriminatrias e

    descobrir novos meios para super-

    las, a educao inclusiva assume

    um papel muito importante na

    superao da lgica da excluso.

    O Viver sem Limite garantiu

    recursos e servios considerveis

    para a incluso no Ensino

    Fundamental, Mdio, Profissional

    e Superior. Pela primeira vez no

  • 64 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Brasil uma poltica pblica nacional

    assumiu a responsabilidade de

    assegurar o direito de acesso

    educao da pessoa com

    deficincia dos anos escolares

    iniciais at a formao universitria.

    At ento, os investimentos

    pblicos na educao inclusiva eram

    focados no Ensino Fundamental.

    Da a importncia de o Viver sem

    Limite promover o acesso das

    pessoas com deficincia ao ensino

    profissionalizante e Superior, ao

    lanar as bases para que o acesso

    educao esteja futuramente

    garantido em todos os nveis.

    Como consequncia das aes

    do plano, a criana com deficincia

    hoje tem garantido seu acesso

    Educao Fundamental devido

    implantao das Salas de Recursos

    Multifuncionais, acessibilidade nas

    escolas, formao de professores

    para o Atendimento Educacional

    Especializado, aquisio de

    nibus escolares acessveis

    e ampliao do Programa

    BPC (Benefcio da Prestao

    Continuada) na Escola.

    Na educao profissionalizante,

    o acesso est garantido graas

    prioridade que as pessoas com

    deficincia conquistaram na

    matrcula nos cursos do Programa

    Nacional de Acesso ao Ensino

    Tcnico e Emprego (Pronatec). No

    Ensino Superior, o Programa Incluir

    alocou recursos para promover

    a acessibilidade em todas as

    universidades federais, alm de

    incentivar a educao bilngue

    em Libras.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 65

    Alm disso, com o Decreto

    n 7.611, de 2011, ao regulamentar

    o ensino especial e o atendimento

    educacional especializado, o governo

    garantiu apoio tcnico e financeiro

    tambm a instituies comunitrias,

    confessionais ou filantrpicas, com

    a finalidade de ampliar a oferta

    do atendimento no contraturno

    escolar aos estudantes com

    Aluna com deficincia visual utiliza objetos tridimensionais em Sala de Recursos Multifuncionais

  • 66 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    deficincia, transtornos globais do

    desenvolvimento e altas habilidades

    ou superdotao.

    Salas de Recursos Multifuncionais

    Segundo a diretora

    de Poltica de Educao

    Especial do Ministrio

    da Educao, Martinha

    Clarete, historicamente,

    as pessoas com

    deficincia estiveram

    fora do sistema regular

    de ensino. Embora o

    Brasil tenha sido bastante cobrado

    por isso no plano internacional,

    por conta de seu alto ndice de

    excluso educacional, foi apenas a

    partir dos acordos globais assinados

    durante a dcada passada que o

    Estado se comprometeu a reverter

    esse quadro. Em 2003, o Governo

    Federal comeou a elaborar polticas

    pblicas estruturantes

    para apoiar os sistemas

    de ensino no desafio

    de receber um grande

    nmero de alunos com

    deficincia, diz.

    Considerando

    que a Educao

    Fundamental de

    responsabilidade dos

    municpios e estados,

    coube ao Ministrio da

    Educao uma ao suplementar.

    Em 2005, foi formulada uma ao

    de apoio s secretarias estaduais

    e municipais com o objetivo de

    equipar as escolas pblicas com

    Pela primeira vez uma poltica pblica nacional assumiu a responsabilidade de

    assegurar o direito de acesso educao da pessoa com deficincia

    dos anos iniciais at a formao universitria

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 67

    recursos de tecnologia assistiva

    de uso pedaggico. A ideia era

    incentivar o desenvolvimento

    inclusivo da escola por meio das

    Salas de Recursos Multifuncionais,

    que contam com computador, leitor

    de tela, impressora multifuncional,

    softwares de comunicao, lupas

    manuais e eletrnicas, materiais

    pedaggicos acessveis, impressora

    e mquina de escrever em Braille,

    entre outros recursos.

    No primeiro ano foram

    adquiridas 250 salas, colocadas

    disposio pelo Ministrio da

    Educao; coube s secretarias

    escolherem as escolas sob o critrio

    do nmero de matrculas de alunos

    com deficincia. Dessa forma, alm

    de frequentar a sala de aula com

    os demais alunos, o estudante

    com deficincia pode aprender na

    Sala de Recursos Multifuncionais

    de sua escola o sistema Braille,

    a Lngua Brasileira de Sinais

    Libras e tcnicas que facilitam seu

    desempenho escolar.

    Em 2007, o nmero de salas

    cresceu para 600. No ano seguinte,

    o Governo Federal, por meio

    do decreto n 6.571, destinou

    via Fundo de Manuteno e

    Desenvolvimento da Educao

    Bsica e de Valorizao dos

    Profissionais da Educao (Fundeb)

    mais recursos para as escolas

    que tinham alunos com deficincia.

    Isso gerou um grande aumento nas

    matrculas, criando demanda para

    mais de 20 mil Salas de Recursos

    Multifuncionais. A demanda foi

    respondida e, em 2010, j existiam

    cerca de 24.800 salas implantadas

    nas escolas pblicas brasileiras.

  • 68 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Com o incio do Plano Viver sem

    Limite, em 2011, foram ampliados os

    recursos financeiros e oramentrios; a

    meta era chegar a 40 mil escolas com

    salas de recursos. O plano tambm

    prev atualizar, com novos kits, 30

    mil salas criadas anteriormente. Esses

    kits so compostos por scanners com

    voz onde o material impresso

    digitalizado e lido imediatamente ;

    por acionadores, usados por crianas

    com baixa mobilidade fsica; bolas

    com guizos e materiais

    pedaggicos atualizados.

    Fonte: Ministrio da Educao.

    Programa Implantao de

    Salas de Recursos Multifuncionais

    45.000

    40.000

    35.000

    40.000

    25.000

    20.000

    15.000

    10.000

    5.000

    02005 2006 2007 2008 2009 2010 2011/12 2013/14

    Nmero de SRMs

    250626 1.251

    5.551

    20.551

    24.301

    37.801

    41.801

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 69

    Atualmente, existem quase 42

    mil salas que atendem a 100% dos

    municpios brasileiros. A criao das

    salas mudou definitivamente a vida

    estudantil desses alunos, que agora

    dispem de recursos tecnolgicos a

    seu favor.

    Formao de professores

    Os novos recursos s fariam

    sentido se tivessem uma funo

    pedaggica. Por isso a educao

    inclusiva um dos eixos da Rede

    Nacional de Formao Continuada

    de Professores, que foi criada em

    2004 com o objetivo de contribuir

    para a melhoria da formao

    dos professores de Educao

    Fundamental dos sistemas pblicos.

    Assim, a implantao das Salas de

    Recursos Multifuncionais fortaleceu

    o aumento da oferta da formao

    continuada dos professores no

    campo da educao inclusiva.

    Os cursos sobre o tema

    surgiram na Rede Nacional em 2007

    e ganharam novo impulso com o

    Viver sem Limite. Entre 2007 e 2014

    foram oferecidas 98 mil vagas para

    professores de escolas pblicas

    que contavam com matrculas de

    estudantes com deficincia em

    cursos sobre educao inclusiva e

    tecnologia assistiva.

    Transporte escolar acessvel

    A compra de nibus acessveis

    para o transporte de alunos visou

    atender s cidades com maior ndice

  • Estudante com baixa viso utiliza lupa para ler um livro na Sala de Recursos Multifuncionais

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 71

    de pessoas com deficincia que

    recebem o Benefcio de Prestao

    Continuada (BPC) e estavam fora

    da escola. Segundo levantamento

    de 2007, apenas 21% dos

    beneficirios ocupavam cadeiras

    escolares. Esse ndice mobilizou

    uma ao horizontal envolvendo

    os Ministrios da Educao, da

    Sade, do Desenvolvimento Social

    e a Secretaria de Direitos Humanos

    para garantir o transporte dos

    jovens que estavam fora da escola

    e, assim, favorecer o acesso e a

    permanncia escolar.

    Com esse propsito, em

    2011, j no Viver sem Limite, foi

    proposta como meta ao Ministrio

    da Educao a compra de 2.609

    veculos acessveis, visando a

    atender 60 mil alunos. At a edio

    deste trabalho j haviam sido

    adquiridos 2.304 veculos, dos quais

    1.874 foram entregues.

    Cada veculo tem seu percurso

    controlado por um GPS localizador,

    que serve para conferir se

    utilizado devidamente, alm de

    elevador de acesso para cadeirantes

    e de box interno para o seu

    transporte seguro.

    Escola Acessvel

    A maioria das escolas pblicas

    brasileiras funciona em edifcios

    antigos, construdos em uma poca

    em que a acessibilidade no era

    valorizada. Segundo o Censo Escolar

    de 2006, no mbito geral das

    escolas de Educao Bsica, o ndice

    de acessibilidade dos prdios era de

    Estudante com baixa viso utiliza lupa para ler um livro na Sala de Recursos Multifuncionais

  • 72 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    apenas 12%. Isso criou a demanda

    por aes estruturantes e, desde

    2008, por meio do Programa de

    Desenvolvimento Educacional (PDE),

    o Governo Federal vem investindo

    para reverter o quadro.

    O Viver sem Limite facilita a

    promoo da acessibilidade porque

    destina recursos diretamente

    escola, sem intermedirios, com o

    Programa Dinheiro Direto na Escola

    (PDDE). A execuo simples,

    mediante um plano de atendimento

    que a escola elabora de acordo com

    as normas da Associao Brasileira

    de Normas Tcnicas (ABNT).

    Os recursos foram destinados

    preferencialmente s escolas com

    Salas de Recursos Multifuncionais.

    Durante a vigncia do Viver

    sem Limite, de 2011 a 2014, foram

    beneficiadas a cada ano cerca

    de dez mil escolas, com recursos

    que somaram cerca de R$ 100

    milhes por ano. Desde 2008,

    cerca de 57.500 escolas de todo

    o pas receberam esses recursos,

    que so utilizados em obras

    como a construo de rampas de

    acesso, adequao de banheiros,

    alargamento de portas, instalao de

    pisos tcteis e iluminao especial,

    alm da aquisio de mobilirio

    especifico e de cadeiras de rodas.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 73

    Fonte: Ministrio da Educao

    PDDE - Escola Acessvel

    02008

    Escolas Atendidas

    1.869

    2009 2010 2011 2012 2013

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    70.000

    11.205

    16.211

    27.541

    37.499

    47.499

    57.500

  • 74 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Essas aes vm incentivando

    fortemente o ingresso de pessoas

    com deficincia nas escolas

    pblicas de Ensino Fundamental.

    Em 2013, segundo dados do

    Ministrio da Educao, as

    matrculas passaram da casa

    dos 640 mil.

    Fonte: Ministrio da Educao

    Matrculas de estudantes, pblico-alvo

    da educao especial na Educao Bsica

    02003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

    100.000

    200.000

    300.000

    400.000

    500.000

    600.000

    700.000

    800.000

    900.000

    504.039

    566.753

    640.317

    700.624

    654.606

    695.699

    639.718

    702.603

    752.305

    820.433843.342

    319.924

    252.687

    218.271193.882 199.656 194.411

    145.141

    195.370

    262.243

    325.136306.135

    358.898371.383 378.074 375.488

    348.470

    375.775387.031

    484.332

    558.423

    620.777

    648.921

    Matrculas em escolas especializadas e classes comunsTotal de matrculas Matrculas em escolas especializadas e classes especiais

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 75

    Pronatec

    O Programa Nacional de

    Acesso ao Ensino Tcnico e

    Emprego (Pronatec) foi criado

    pelo Governo Federal em

    2011, com a misso de ampliar

    e democratizar a educao

    profissional e tecnolgica no

    Brasil. Entre suas principais

    iniciativas est a Bolsa-Formao,

    que oferece cursos gratuitos

    de qualificao.

    O Viver sem Limite no cria

    no Pronatec turmas especficas

    para pessoas com deficincia nem

    reserva vagas para esse segmento.

    O que ocorre a garantia de que

    todas as vagas do Pronatec podem

    ser ocupadas por pessoas com

    deficincia, independentemente

    de quem as oferece, do curso e

    do tipo de deficincia, alm da

    prioridade no preenchimento

    das vagas.

    Os cursos so presenciais,

    realizados pelos Institutos Federais

    de Educao Profissional e

    Tecnolgica (IFs), Servio Nacional

    de Aprendizagem Industrial (Senai),

    Servio Nacional de Aprendizagem

    Comercial (Senac), Servio Social

    do Transporte (Sest), Servio

    Nacional de Aprendizagem do

    Transporte (Senat) e pelas redes

    pblicas estaduais, distrital e

    municipais de educao profissional

    e tecnolgica, com o apoio do

    Ministrio da Educao. At a

    edio deste livro havia cerca de

    17 mil matrculas de pessoas com

    deficincia no Pronatec.

  • 76 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Programa Incluir

    O Programa de Acessibilidade

    na Educao Superior Incluir

    foi criado em 2005 para apoiar

    a criao e a reestruturao de

    Ncleos de Acessibilidade em

    todas as universidades pblicas

    federais. Essa ao visa a garantir o

    acesso de estudantes, professores e

    servidores com deficincia a todos

    os espaos, aes e processos da

    universidade, buscando seu pleno

    desenvolvimento acadmico.

    Dentro do Viver sem Limite

    foi possvel definir uma ao

    oramentria especifica, por

    meio da qual foram transferidos

    anualmente recursos a mais

    para que as universidades

    federais pudessem ampliar suas

    condies de acessibilidade. O

    programa contempla adequao

    arquitetnica para acessibilidade

    rampa, barra de apoio,

    corrimo, piso e sinalizao

    ttil, sinalizadores, alargamento

    de portas e vias, instalao de

    elevadores, entre outras medidas.

    Compreende, tambm, a aquisio

    de recursos de tecnologia assistiva

    para promover a acessibilidade

    pedaggica nas comunicaes

    e informaes aos estudantes e

    demais membros com deficincia

    da comunidade universitria. So

    computadores com interface de

    acessibilidade, impressoras e

    linhas Braille, lupas eletrnicas,

    teclados com colmeia, acionadores

    acessveis e outros equipamentos.

    Foram enviados recursos a todas

    as universidades federais.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 77

    Aes como essa incentivam

    a incluso das pessoas com

    deficincia no Ensino Superior.

    Se acompanharmos o nmero de

    matrculas nesse tipo de

    instituio ao longo dos ltimos

    anos, constataremos um

    crescimento significativo:

    Fonte: Ministrio da Educao

    Matrculas de estudantes, pblico-alvo

    da educao especial na Educao Superior

    02003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    Total Pblica Privada

    5.078 5.392

    3.705

    1.373

    4.074 4.274

    6.3276.960

    5.105

    2.080 1.855

    6.943

    5.551

    1.392 1.984

    12.054

    10.070

    6.599

    14.40713.453

    6.885 6.531

    7.999

    16.719

    18.664

    21.00620.338

    23.250

    26.663

    1.318

  • Aluna utiliza bancada para grficos tteis, composta por um quadrado em plstico, com pequenas barras brancas

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 79

    Educao bilngue

    Antes de 2011 existiam cinco

    cursos de Libras no pas, que

    garantiam a formao de tradutores

    e intrpretes. Por meio do Ministrio

    da Educao, o Viver sem Limite

    incentivou a criao de novos

    cursos superiores de Licenciatura e

    Bacharelado em Letras/Libras.

    Tambm foram criados 690

    cargos para que as instituies

    federais de educao contratassem

    professores, tradutores e intrpretes

    de Libras, alm de cursos de

    Pedagogia com nfase em educao

    bilngue em 12 polos, com previso

    de incio das aulas em 2015.

    Ao todo, foram criados 20

    cursos de Letras/Libras. A maioria

    deles comeou a funcionar em

    2014. Somados aos cinco cursos

    que existiam anteriormente, so

    oferecidas anualmente 2.250 vagas

    de graduao.

    BPC na Escola

    O Programa BPC na Escola

    uma ao interministerial voltada

    para crianas e adolescentes

    com deficincia que recebem o

    BPC. Aps uma busca ativa para

    diagnosticar razes da excluso

    da grande maioria das pessoas em

    idade escolar beneficirias do BPC,

    o governo conseguiu, em 2012,

    aumentar para 70% o percentual

    de beneficirios que esto

    frequentando a escola (329.801).

    Aluna utiliza bancada para grficos tteis, composta por um quadrado em plstico, com pequenas barras brancas

  • 80 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Fonte: Ministrio da Educao

    No mbito do BPC na Escola

    cabe tambm ao Ministrio da

    Educao transferir recursos

    financeiros do Programa de Aes

    Articuladas (PAR) para que os

    estados implementem a formao

    intersetorial dos profissionais que

    realizam a pesquisa domiciliar junto

    aos beneficirios. Esses profissionais

    so, em geral, assistentes sociais

    e educadores, escolhidos pelos

    muncipios que aderiram ao plano.

    Benecirios do BPC na Escola

    02007

    375.470

    Na escola Fora da escola Total de benefcios

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    250.000

    300.000

    350.000

    400.000

    450.000

    500.000

    2008 2009 2010 2011 2012

    370.513

    401.744

    435.298445.899

    470.075

    79%

    71%

    70%53%

    47%

    30%29%

    21%

    70%

    31% 30%

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 81

    Um episdio marcanteRenato Soares Moraes professor da Sala de Recursos Multifuncionais

    do Colgio Setor Leste, em Braslia (DF). Criada em 2008, essa sala auxilia

    no atendimento educacional especializado de alunos com todos os tipos de

    deficincia. Para frequentar o espao, o aluno tambm deve estar matriculado

    em uma turma regular. Por exemplo, se estuda de manh na turma regular, pode

    frequentar tarde a sala multifuncional.

    Eu me interessei pelas aulas voltadas aos alunos com deficincia visual depois

    de um episdio marcante. Descobri que eu daria aula a um menino cego durante

    a chamada, no primeiro dia. Levei um choque. Depois disso, resolvi fazer o curso

    de Braille, que no s me ensinou a ler, mas tambm a conviver com o aluno,

    trabalhar com ele, ajudar a conduzi-lo. A prpria Secretaria de Educao oferece

    esses tipos de cursos aos professores da rede pblica. H pouco tempo, o aluno

    com deficincia visual nem chegava ao Ensino Mdio. Hoje, esse j um processo

    natural. Ele sai do Ensino Fundamental, passa pelo Ensino Mdio e vai faculdade.

    At mesmo pessoas com deficincia intelectual, com grande histrico de excluso

    escolar, esto conseguindo terminar o Ensino Mdio. A situao melhorou muito

    com os programas de incluso, afirma Renato.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 83

    O Ministrio da Sade foi um dos principais atores do Viver sem Limite. Segundo o diretor do Departamento

    de Aes Programticas

    Estratgicas do ministrio, Drio

    Pasche, o plano representou uma

    grande possibilidade de realizao

    e de alterao de nossa agenda

    de cuidado para com as pessoas

    com deficincia e teve um conjunto

    muito importante de repercusses,

    tanto institucionais, dentro do

    ministrio, como no processo de

    produo de polticas realizadas

    em conjunto com municpios e

    estados nos espaos de pactuao;

    um deles o Conselho Nacional de

    Sade. O plano tambm teve uma

    grande repercusso na formao

    da primeira Rede de Cuidados s

    Pessoas com Deficincia, afirma.

    O Governo Federal j havia

    iniciado, em 2008, uma agenda

    social para a pessoa com

    deficincia. Mas cabia ao Ministrio

    Captulo 6

    Contribuies do Viver sem Limite para a poltica de sade

  • 84 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    da Sade um papel muito limitado

    dentro dessa agenda, restrito

    tentativa de responder demanda

    do Sistema nico de Sade (SUS)

    por rteses e prteses. Na prtica,

    a ao do ministrio estava restrita

    criao e manuteno de oficinas

    ortopdicas. Com a oportunidade

    aberta pelo Viver sem Limite, novas

    aes puderam ser formuladas,

    acabando por formar o eixo

    Ateno Sade do plano.

    Implementar as aes do

    Viver sem Limite demandou uma

    completa reformulao dentro

    do ministrio. Novo pessoal foi

    contratado para que a instituio

    cumprisse sua funo como

    coordenador da Poltica Nacional de

    Sade das Pessoas com Deficincia.

    O objetivo da poltica era criar

    uma rede nacional que ofertasse

    o cuidado s pessoas com

    deficincia por meio de uma linha

    de atendimento contnuo e amplo,

    atuante em diferentes aspectos,

    e no apenas pelo atendimento

    ortopdico. O primeiro desafio foi,

    ento, superar o isolamento dos

    servios oferecidos, organizando-os

    de acordo com uma nova lgica.

    Nesse perodo, o ministrio

    estava comeando a implementar

    as Redes de Ateno Sade

    (RAS), que so arranjos

    organizativos de aes e servios

    de sade com a finalidade de obter

    maior eficcia na oferta de servios,

    melhoria na eficincia da gesto

    do sistema de sade no espao

    regional e contribuir para o avano

    da efetivao do SUS.

    As aes do Viver sem Limite

    foram includas nessa nova lgica.

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 85

    Em primeiro lugar, foi estabelecido

    um conjunto de normativas que

    determina como essa poltica

    deveria acontecer nos territrios.

    Na sequncia foram constitudos

    espaos de governana e de gesto

    para discutir as aes com as

    unidades federativas. Em 2012, o

    Governo Federal, por conta do

    Viver sem Limite, implantou a

    Atendimento em Centro Especializado em Reabilitao (CER)

  • 86 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Rede de Cuidados Pessoa com

    Deficincia, que busca promover

    a articulao entre os servios, de

    maneira a assegurar as aes de

    promoo sade, identificao

    precoce de deficincias, preveno

    dos agravos, tratamento

    e reabilitao.

    Vale a pena lembrar

    que o SUS pactuado

    entre os entes da

    Federao. A gesto

    da sade no federal;

    compartilhada com

    estados e municpios,

    de modo que todas as

    aes tiveram de ser discutidas nos

    espaos de negociao locais das

    unidades federativas que aderiram

    ao Viver sem Limite. Dessa forma,

    foi necessria a criao, em todos

    os estados, de comisses para a

    conduo da poltica da sade da

    pessoa com deficincia. Coube a esses

    grupos discutir e analisar a situao

    da populao local com deficincia,

    alm de propor um desenho de rede

    que inclusse a ateno bsica e aes

    de mdia e alta complexidades que

    atendessem a

    essa populao.

    As iniciativas do

    Viver sem Limite no

    demandavam apenas

    uma agenda quantitativa,

    cujo nico objetivo seria

    aumentar os nmeros

    do que j era feito. Pelo

    contrrio, elas exigiam novas formas

    de organizao: formao em rede,

    consulta aos movimentos sociais e

    sociedade civil; e a transversalidade

    com outras reas, como a sade da

    mulher e a sade mental.

    O plano Viver sem Limite teve uma grande repercusso na formao

    da primeira Rede de Cuidados s Pessoas com Deficincia

  • Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia | 87

    Identificao e interveno precoce de deficincias

    Da mesma forma que o eixo de

    Acesso Educao estrutura aes

    por meio de uma linha contnua que

    atende pessoa com deficincia

    do comeo concluso da vida

    escolar, o eixo de Ateno Sade

    pretende promover a sade da

    pessoa com deficincia a partir

    dos primeiros momentos de vida.

    Quando o beb nasce, necessrio

    realizar na triagem neonatal testes

    que identificam precocemente

    doenas metablicas, genticas e

    infecciosas, que podero causar

    alteraes no desenvolvimento

    neuropsicomotor. Esse exame

    mais conhecido como Teste do

    Pezinho, porque a coleta do sangue

    realizada por meio de uma picada

    no calcanhar do beb. O teste

    obrigatrio por lei em todo o Brasil,

    e o diagnstico precoce oferece

    condies de um tratamento

    iniciado nas primeiras semanas de

    vida, capaz de prevenir deficincias.

    O SUS instituiu o Programa

    Nacional de Triagem Neonatal,

    cobrindo a identificao de at seis

    doenas, mas antes do Viver sem

    Limite poucos estados realizavam as

    quatro fases do Teste do Pezinho.

    No eixo de Ateno Sade, as aes do Viver sem Limite foram:

  • 88 | Viver sem Limite | Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia

    Conhea as doenas testadas em cada fase do Teste do Pezinho

    Doenas testadas Fase I Fase II Fase III Fase IV

    Hipotireoidismo Congnito SIM SIM SIM SIM

    Fenilcetonria SIM SIM SIM SIM

    Hemoglobinopatias NO SIM SIM SIM

    Fibrose Cstica NO NO SIM SIM

    Hiperplasia Adrenal Congnita

    NO NO NO SIM

    Deficincia da Biotinidase NO NO NO SIM

    Atualmente, todas as unidades

    da Federao esto realizando

    as quatro fases do Teste do

    Pezinho. Mas o Viver sem Limite

    planejava ainda