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GERONTOLOGIA BÁSICA
BREVE HISTÓRICO DA GERIATRIA E GERONTOLOGIA
O processo de envelhecimento sempre foi motivo de inquietação desde
os primórdios da civilização. O estudo sistematizado teve início com Elie
Metchnikoff, em 1903, que defendeu a criação de uma nova área da ciência, a
Gerontologia (Gero: velhice; logia: estudo).
Na América do Norte, no início do século XX, Ignatz Leo Nascher,
médico generalista, dedicou-se ao estudo clínico da velhice, tendo sido
responsável pela criação da Geriatria como especialidade médica. Em 1914
publica o livro Geriatrics: the diseases of old age and their treatment, including
physiological old age, estabelecendo as bases da abordagem clínica do idoso,
sendo considerado o Pai da Geriatria.
Marjory Warren (1897 a 1960) , médica inglesa, estabeleceu os
princípios básicos da intervenção gerontológica na sua enfermaria para idosos,
que tornou-se a “meca” da Geriatria (1935), onde defendia a importância da
avaliação multidimensional e interdisciplinar do idoso, demonstrando os
benefícios da reabilitação.
O estudo sistematizado do processo de envelhecimento é fundamental
para desmitificá-lo, evitando-se assim condutas e comportamentos
inadequados e iatrogênicos. Diagnósticos como senilidade são demostrações
claras da indiferença que os profissionais da área de saúde, particularmente os
médicos, tem em relação à abordagem da co-morbidades presentes nos idosos
frágeis.
DEMOGRAFIA BÁSICA
IDOSO
O conceito de idoso é variável. Cronologicamente, idoso é todo indivíduo
com 65 anos ou mais, nos países desenvolvidos, ou 60 anos ou mais, nos
países em desenvolvimento, como o Brasil, segundo a Organização Mundial da
Saúde. A idade cronológica não tem nenhuma conseqüência individual. É
fundamental para o planejamento das ações de saúde à nível coletivo. Deve
ser diferenciada da idade biológica (órgãos e sistemas fisiológicos principais),
funcional (autonomia e independência) e psíquica (grau de amadurecimento),
que, por sua vez, são extremamente variáveis e, por vezes, independem da
idade cronológica. Representam conquistas individuais e, portanto, difíceis de
serem mensuradas coletivamente.
O Brasil está envelhecendo rapidamente. De um país
predominantemente jovem que, em 1940, tinha 42% de sua população com
idade inferior a 15 anos, o Brasil vai experimentando um processo de
envelhecimento, com a faixa etária jovem declinando para 30,3% em 1999, e
projetando-se para o ano de 2020 um proporção de apenas 24,3%. Em
contrapartida, a população de 60 anos ou mais passa de 4%, em 1940, para
8,6% em 2000, projetando-se para o ano de 2020, uma proporção de 12%,
correspondendo a uma população superior a 25 milhões. E mesmo dentro da
população idosa existe grande heterogeneidade. O grupo etário que mais
cresce é aquele constituído por idosos “muito idosos” (80 anos ou mais),
considerado mais frágil e com maior risco de co-morbidades e incapacidades.
Os principais determinantes desta modificação demográfica foram:
LONGEVIDADE:43,3 anos (1950) 60,1anos (1980) 68,6 anos(2000)
QUEDA DA FECUNDIDADE(no médio de filhos por mulher):
6,2 (1950) 2,3 (1999)
REDUÇÃO MORTALIDADE INFANTIL:163,4 (1940) 34,8 óbitos/1.000 nascidos vivos (1999)
TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
Segundo o censo demográfico de 2000, a população acima de 60 anos
corresponde a 8,6 % da população geral, conforme tabela abaixo:
Tab. 1: População residente, por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil – Censo demográfico 2000
GRUPOS DE IDADE HOMENS MULHERES TOTAL
60 a 64 anos 2 153 209 2 447 720 4 600 929
65 a 69 anos 1 639 325 1 941 781 3 581 106
70 a 79 anos 2 009 900 2 511 989 4 521 889
80 a 89 anos 636 589 934 316 1 570 905
90 a 99 anos 84 338 152 286 236 624
100 anos ou mais 10 423 14 153 24 576
TOTAL 6 533 784 8 002 245 14 536 029
Fonte: IBGE, 2000
A expectativa de vida do brasileiro elevou-se de 34 anos, em 1900, para
68,6 anos, em 2000, e estima-se que será de 72 anos, em 2020. Nas regiões
mais ricas, a expectativa de vida é semelhante àquela observada em países
mais desenvolvidos.
Expectativa de vida no Brasil
1900 34 anos
1950 43,3 anos
2000 68,6 anos
2020 72 anos
A transição demográfica no Brasil vem ocorrendo de forma acelerada
(60-70 anos). Nos países desenvolvidos, a mudança da pirâmide etária foi mais
lenta (200 anos) e paralela ao seu enriquecimento. Desta forma, o Brasil
envelheceu mas não enriqueceu, impossibilitando o planejamento e a
implementação de políticas públicas específicas para a população idosa
emergente.
Outro aspecto demográfico importante é a diferença na expectativa de
vida entre os sexos. As mulheres são mais longevas que os homens entre 5 a
10 anos e, no Brasil, este diferencial entre os sexos experimenta um ligeiro
incremento: em 1991, as mulheres possuíam uma vida média ao nascer 7,2
anos superior à dos homens, enquanto que em 2000 esse diferencial é de 7,8
anos (feminização da velhice). Diversos fatores podem explicar este fenômeno:
Proteção do estrógeno;
Maior demanda dos serviços de saúde;
Menor exposição aos riscos ambientais e profissionais: álcool, fumo,...;
Maior interesse com sua saúde;
Etc...
Tab. 2: Brasil - Esperanças de vida ao nascer e ganhos no período - 1991-2000
Anos de referência Ambos os sexos Homens Mulheres1991 66,0 62,6 69,81998 68,1 64,4 72,01999 68,4 64,6 72,32000 68,6 64,8 72,6
Ganhos na esperança de vida ao nascer 1991 – 2000Em anos 2,59 2,26 2,84
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais, Tábua de Mortalidade para o Brasil – 1991, 1998-2000.
As conseqüências do envelhecimento da população brasileira são
inúmeros:
Sócio-culturais: marginalição social do idoso, insuficiência familiar e
institucionalização, discriminação, violência contra o idoso, ...;
Econômicas: aposentadoria (reforma previdenciária), mercado de consumo
emergente (grupos de terceira idade, turismo, lazer);
Políticas: Política Nacional do Idoso (Lei 8842,1994) e Estatuto do Idoso;
Saúde:
Nos EUA, o gasto com a manutenção da saúde de um idoso é cerca de
três vezes maior que pessoas com idade inferior a 15 anos. Neste
país, embora os idosos representem 11% da população, ocupam
33% dos leitos hospitares destinados a agudos, compram 25% de
todas as prescrições medicamentosas e consomem 30% do
orçamento da saúde.
Transição Epidemiológica: Mudança no perfil epidemiológico de morbi-
mortalidade da população). As doenças infecto-contagiosas
predominam na população jovem e seu controle depende,
basicamente, da melhoria das condições sanitárias, sendo, portanto,
menos onerosas. No idoso, predominam as doenças crônico-
degenerativas (doenças cardiovasculares, câncer, ...), mais difíceis
de serem prevenidas e controladas, exigindo maiores investimentos.
MÓDULO II: ASPECTOS BIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO
Conceito e Classificação
Envelhecimento Biológico
Envelhecimento e Doença
A Classificação Internacional da Funcionalidade Norteando a
Prática da Geriatria e Gerontologia
Envelhecimento Psíquico
Envelhecimento Bem Sucedido e Mal Sucedido
Teorias do Envelhecimento
Envelhecimento dos Sistemas Fisiológicos Principais
Composição corporal / Nutrição / Antropometria
Metabolismo hidroeletrolítico
Imunossenescência
Termorregulação
Pele e anexos
Órgãos dos sentidos (visão e audição)
Estruturas Envolvidas na Voz, Fala, Motricidade Oral e Cavidade
Oral
Sistema endócrino
Sistema cardiosvascular
Sistema respiratório
Sistema gênito-urinário
Sistema gastrointestinal
Sistema Nervoso
CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO
O envelhecimento representa a conseqüência ou os EFEITOS DA
PASSAGEM DO TEMPO. Estes efeitos podem ser positivos ou negativos e são
observados nas diversas dimensões do indivíduo: organismo (envelhecimento
biológico) e psiquismo (envelhecimento psíquico). Todas as dimensões são
igualmente importantes, na medida em que são coadjuvantes para a
manutenção da autonomia e independência.
Envelhecimento Biológico
Todas as pessoas, animais e plantas passam por transformações com o
passar dos anos. Essas modificações podem ser consideradas como uma
involução morfológica e funcional que afeta a maioria dos órgãos e leva a um
gradual declínio na performance dos indivíduos, culminando com a morte. O
termo envelhecimento é utilizado para indicar tais transformações.
O envelhecimento biológico é inexorável, dinâmico e irreversível,
caracterizando-se pela maior VULNERABILIDADE às agressões do meio
interno e externo e, portanto, maior susceptibilidade nos níveis celular, tecidual
e órgãos/aparelhos/sistemas. Entretanto, não significa adoecer. Senilidade não
é diagnóstico. Em condições basais, o idoso funciona tão bem quanto o jovem.
A diferença manifesta-se nas situações onde se torna necessário a utilização
das reservas homeostáticas, que, no idoso, são mais frágeis. Além disso, cada
órgão ou sistema envelhece de forma diferenciada. A VARIABILIDADE é,
portanto, cada vez maior na medida em que envelhecemos.
O gráfico abaixo mostra a relação entre a funcionalidade global do
organismo e o tempo (infância, adolescência, adultez e velhice). O ser humano
atinge o máximo das suas funções orgânicas por volta dos 30 a 40 anos. Entre
os 40 e 50 anos há uma estabilização e, à partir daí, um declínio funcional
progressivo, com a perda funcional global de 1%/ano. Portanto, quanto maior a
reserva funcional, menor será a repercussão do declínio considerado fisiológico
(envelhecimento fisiológico). Para exemplificar melhor, vamos utilizar o modelo
Envelhecimento = VULNERABILIDADE + Variabilidade + Irreversibilidade
da osteoporose. O pico de massa óssea ocorre por volta dos 25-30 anos. Entre
30 e 50 anos, a massa óssea mantém-se estável. Após os 50 anos, a perda
óssea na mulher varia 2 a 3%/ano, podendo, portanto, levar à osteopenia
(envelhecimento fisiológico) ou à osteoporose (envelhecimento patológico),
aumentando o risco de fraturas.
O envelhecimento biológico pode ser fisiológico (senescência) ou
patológico (senilidade). Seus principais determinantes são: hereditariedade e
estilo de vida (fatores ambientais). A hereditariedade é responsável por cerca
de 30 a 50% da qualidade do envelhecimento, dependendo de cada órgão e/ou
sistema. Portanto, se a história familiar é rica em doenças com caráter heredo-
familiar, como as doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, câncer,
depressão, doença de Alzheimer, etc, a qualidade do envelhecimento
dependerá de um esforço maior na incorporação de hábitos de vida mais
saúdáveis. Por outro lado, se a herança é favorável, o estilo de vida saudável
otimizará mais ainda a qualidade do envelhecimento.
ENVELHECIMENTO FISIOLÓGICO (Senescência)
Refere-se aos processos biológicos inerentes aos organismos e são
inevitavelmente involutivos. Provavelmente, essas transformações sofrem
influência do ambiente físico e social. Entretanto, ainda não se sabe a
extensão do impacto ambiental, principalmente devido à dificuldade de
desenvolvimento de um método que separasse a fração de declínio
fisiológico inerente ao organismo daquelas advindas dos estresses
ambientais anteriores ao envelhecimento. O envelhecimento fisiológico é
dividido em:
Envelhecimento usual: apresenta prejuízos significativos, mas não são
qualificados como doentes;
Envelhecimento Bem Sucedido: perda fisiológica mínima, com
preservação da função robusta em uma idade avançada. O processo de
envelhecimento é “puro”, isento de danos causados por hábitos de vida
inadequados, ambientes inapropriados e doenças.
ENVELHECIMENTO PATOLÓGICO (Senilidade)
Refere-se às alterações resultantes de traumas e doenças que ocorrem no
ciclo vital. Como, por exemplo, a osteoartrite dos joelhos secundária à
obesidade. Ainda é o que predomina.
Envelhecimento e Doença
Existe uma relação epidemiologicamente demonstrada entre doença e
envelhecimento, entretanto, não quer dizer que todas as doenças
aumentam em função da idade. Brody assinalou dois grupos: doenças que
se relacionam com a idade, as quais se associam com mais freqüência com
determinada idade (osteoporose e fratura de fêmur, doença de Parkinson,
etc) e doenças que dependem da idade, as quais aumentam sua incidência
de forma exponencial à medida que a idade aumenta (polimialgia reumática,
arterite temporal);
Há certas desordens associadas com mudanças específicas que acompanham
o processo de envelhecimento, as quais o idoso é particularmente
vulnerável, como por exemplo, os transtornos motores do esôfago, a
catarata e a osteoartrite;
Algumas complicações de doenças ocorrem somente décadas após o início de
determinadas patologias e, portanto, mais observadas no idoso, como as
lesões de órgãos-alvo na hipertensão arterial e no diabetes mellitus.
Portanto, o envelhecimento aumenta a vulnerabilidade do organismos às
agressões do meio interno e externo, predispondo às doenças.
Praticamente todo idoso apresenta uma ou mais doenças/disfunções. O
paciente pode conviver bem com suas doenças, sem que elas afetem a sua
qualidade de vida. Daí o conceito de saúde como algo mais amplo do que
simplesmente a ausência de doenças (OMS, 1947):
A Classificação Internacional de Limitação, Incapacidade e Deficiência
(ICIDH), revista em 2001, define melhor os determinantes do estado de saúde
dos indivíduos. Os termos funcionalidade e incapacidade são claramente
definidos, em contraposição com o CID (Código Internacional de Doenças), que
valoriza apenas um lado da questão: o da doença ou a situação que causou a
seqüela, mas não apresenta outros fatores como a capacidade do indivíduo em
se relacionar com seu ambiente de vida.
“Saúde representa o mais completo estado de bem-estar
físico, psíquico e social e não meramente ausência de
doença ou enfermidade.”
FUNCIONALIDADE
É um termo que abrange todas as funções do corpo,
atividades e participação.
INCAPACIDADE
É um termo que abrange deficiências, limitação de atividades ou
restrição na participação.
O CIF (Código Internacional de Classificação da Funcionalidade) é um
sistema que organiza e padroniza as informações sobre a funcionalidade das
pessoas com deficiência, segundo uma nova abordagem , a da sua capacidade
efetiva.
Neste novo sistema de classificação do bem estar relacionado à saúde,
são definidos os seguinte compornetes:
Componentes da Funcionalidade e Incapacidade:
Componentes do Corpo (Funções e Estruturas do Corpo):
representados pelos diversos órgãos/sistemas (sistema cardiovascular,
respiratório, etc) e suas respectivas funções (circulação, respiração,etc) ;
Atividades e Participação: representados pelas grandes funções do
indivíduo (cognição/humor, mobilidade, comunicação), principais
determinantes da sua qualidade de vida ( independência nas atividades
de vida diária básicas e instrumentais, integração e participação
familiar, comunitária e social , de forma contextualizada e socialmente
apropriada, acesso à educação, trabalho e lazer
Componentes dos Fatores Contextuais:
Fatores ambientais (do ambiente imediato ao indivíduo para o geral)
Fatores pessoais: não são incluídos na CIF, mas considerados de
fundamental importância na determinação da qualidade de vida dos
idosos (envelhecimento psíquico)
ATIVIDADES E PARTICIPAÇÃOCapacidade / Desempenho
FUNÇÕES E ESTRUTURAS DO CORPOMudanças nas funções do corpo e nas estruturas corporais (anatomia)
Integridade funcional e estrututal / deficiência
AVD´s Básicas e
Instrumentais
Integração e
participação familiar,
comunitária e social , de
forma contextualizada e
socialmente apropriada
Educação, trabalho e
lazer
COGNIÇÃO/HUMOR
MOBILIDADE
COMUNICAÇÃO
Função mental (consciência,
memória, linguagem,...)
Função sensorial (visão, audição,
tato, dor...)
Produção de sons e fala
Circulação, respiração, tolerância
ao esforço.
Produção de sangue, circulação,
imunidade
Ingestão, digestão e eliminação.
Metabolização e excreção
Micção, reprodução, função
sexual
Movimentação, deslocamento
Função cutâna: defesa, calor, ...
Sistema nervoso (cérebro, medula, meninges, SN autônomo,...)
Sistema sensorial: olho, ouvido e estruturas relacionadas
Estruturas envolvidas na voz e na fala (boca, língua, faringe,
laringe,...)
Sistema cardiosvascular (coração, artérias, veias, capilares),
hematológico/imunológico (vasos e nódulos linfáticos, timo,
baço, medula óssea,...) e respiratório (traquéia, pulmão, caixa
torácica, músculos respiratórios,...)
Sistema digestivo, metabólico e endócrino ( glândulas salivares,
esôfago, estômago, intestino, pâncreas, fígado e vias biliares,
glândulas endócrinas,...)
Sistema gênito-urinário e reprodutivo (sistema urinário, pelve e
sistema reprodutivo,...)
Estruturas envolvidas no movimento (cabeça/pescoço, ombros,
mmss, mmii, tronco, pelve,...)
Sistema cutâneo: pele e anexos
Aspecto positivo: FUNC IONALIDADE
Aspecto negativo: INCAPACIDADE
Código Internacional de Classificação de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)Código Internacional de Classificação de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)
Estruturas e Funções do CorpoEstruturas e Funções do Corpo (Disfunção/deficiência)(Disfunção/deficiência)
AtividadesAtividades(Limitação)(Limitação)
ParticipaçãoParticipação(Restrição)(Restrição)
Fatores Ambientais: facilitadores Fatores Ambientais: facilitadores ou barreiras/obstáculosou barreiras/obstáculos
FATORES PESSOAISFATORES PESSOAIS
Condição de SaúdeCondição de Saúde
A CIF é uma classificação da funcionalidade e da incapacidade humana,
nos seus aspectos biopsicosociais.
CONCEITOS:
Funções do corpo: são todas as funções fisiológicas dos sistemas do corpo;
Estruturas do corpo: são as partes anatômicas do corpo como órgãos,
membros e seus componentes;
Deficiências: são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo como um
desvio significativo ou uma perda. Anomalias, defeitos, perda ou outro desvio
importante nas estruturas corporais. Não são equivalentes à doença de base,
mas sim a manifestações dessas patologias. São mais amplas e mais
abrangentes no seu escopo do que distúrbios ou doenças. Por exemplo, a
perna de uma perna é uma deficiência de uma estrutura do corpo, mas não é
um distúrbio ou doença;
Atividade: é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo;
Participação: é o envolvimento em situações de vida diária;
Limitação da atividade: são dificuldades que um indivíduo pode encontrar na
execução de atividades;
Restrições de participação: são problemas que um indivíduo pode enfrentar
ao se envolver em situações de vida;
FATORES CONTEXTUAIS:
Fatores ambientais: compõem o ambiente físico, social e de atitude no qual as
pessoas vivem e conduzem sua vida. Esses fatores são externos aos
indivíduos e podem Ter uma influência positiva ou negativa sobre seu
desempenho enquanto membro da sociedade, sobre a capacidade do indivíduo
executar ações ou tarefas, ou sobre a função ou estrutura do corpo do
indivíduo. São considerados dois níveis:
Individual: no ambiente imediato do indivíduo (domicílio, local de trabalho,etc);
Social: estruturas sociais formais e informais, regras de conduta ou sistemas
predominantes na comunidade ou sociedade que um impacto sobre os
indivíduos (atividade comunitárias, órgãos governamentais, transporte público,
etc).
Fatores pessoais: são o histórico particular da vida e do estilo de vida de um
indivíduo e englobam as características do indivíduo que não são parte de uma
condição de saúde ou de estados de saúde (sexo, raça, idade, padrão geral de
comportamento e caráter condição física, estilos de enfrentamento criação, ,
nível de instrução, etc).
CAPACIDADE: habilidade de um indivíduo para executar uma tarefa ou ação.
A incapacidade é caracterizada como resultado de uma relação complexa entre
o estado ou condição de saúde do indivíduo e fatores pessoais com os fatores
externos que representam as circunstâncias nas quais os indivíduo vive. Assim,
diferentes ambientes pode ter um impacto distinto sobre o mesmo indivíduo
com uma determinada condição de saúde. Um ambiente com barreiras, ou sem
facilitadores, vai restringir o desempenho do indivíduo; outros ambientes mais
facilitadores podem melhorar esse desempenho.
A CID-10 fornece um diagnóstico de doenças, distúrbios ou outras
condições de saúde (estrutura etiológica), enquanto a CIF fornece dados sobre
funcionalidade e incapacidades associadas aos estados de saúde. São,
portanto, complementares. Em conjunto, as informações sobre o diagnóstico e
sobre a funcionalidade, fornecem uma imagem mais ampla e mais significativa
da saúde das pessoas ou da população, que pode ser utilizada para propósitos
de tomada de decisão ou plano de cuidados.
A incapacidade não é atributo de um indivíduo, mas sim um conjunto
complexo de condições, muitas das quais criadas pelo ambiente social
(abordagem biopsicosocial com interação de várias perspectivas de
funcionalidade). Por exemplo, o idoso pode:
1. Ter uma deficiência (desfiguração resultante de hanseníase ou
ausência de uma unha) sem contudo apresentar limitação da sua capacidade;
2. Ter limitações de capacidade sem assistência e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (tecnologia assistiva);
3. Ter problemas de desempenho sem deficiências ou limitações de
capacidade (preconceitos, estigma ou discriminação);
4. Ter discretas deficiências em diversos sistemas fisiológicos principais
que podem resultar em importante limitação ou restrição de sua participação.
Por exemplo, uma pessoa com diabetes mellitus é classificada como
doente segundo o CID (Código Internacional de Doenças), mesmo sem
apresentar nenhuma incapacidade secundária ao diabetes (nefropatia
insuficiência renal, retinopatia amaurose, amputação, etc). Por outro lado,
com a CIF, ela não seria considerada possuidora de qualquer tipo de
deficiência, na medida em que ela não apresenta nenhuma incapacidade capaz
de comprometer a sua atividade (limitação) ou participação (restrição).
Envelhecimento Patológico
Infelizmente, a maioria dos idosos apresentam o envelhecimento
considerado patológico, ou seja, associado a doenças, disfunções ou
deficiências e incapacidades.
A prevalência de incapacidades em idosos com idade igual ou seperior a
70 anos varia de 25 a 50%, dependendo do sexo e nível sócio-econômico;
Ramos (1992) em São Paulo, verificou que 61% dos idosos
entrevistados precisavam de algum tipo de ajuda para realizar pelo menos uma
das atividades de vida diária (andar, comer, vestir-se, ir ao banheiro) e que
10% apresentava uma dependência total, impossibilitando o indivíduo de viver
sozinho.
A hereditariedade, os fatores ambientais (estilo de vida) e as próprias
alterações fisiológicas do envelhecimento (maior vulnerabilidade) são as
variáveis que se interagem para determinar o risco de doenças, deficiências ou
incapacidades na velhice.
Portanto, se o indivíduo traz consigo uma carga hereditária desfavorável,
o estilo de vida será o principal determinante modificável do estado de saúde
durante a sua velhice. Maior esforço deverá ser feito na implementação de
estratégias de prevenção de doenças e promoção da saúde, desde a vida intra-
útero. Por outro lado, aqueles indivíduos com história familiar favorável, terão
muito mais chance de atingir o potencial máximo de longevidade e
funcionalidade, caso tenham um estilo de vida apropriado.
Envelhecimento Psíquico
O envelhecimento psíquico independe do biológico. A busca da
maturidade psíquica exige esforço pessoal contínuo, não sendo, portanto,
naturalmente progressivo. O auto-conhecimento, o estudo da estrutura e
dinâmica do psiquismo e os conflitos do cotidiano são indispensáveis para
atingirmos a independência psíquica (sabedoria). O amadurecimento é uma
conquista individual e se traduz pela modificação dos valores de vida ou
aquisição da consciência (para quê vivemos?). “Só é consciente a pessoa que
se conhece, que conhece os reais motivos do seu viver, sua capacidade de
controle desses motivos e de organização desse controle”. É a personalização
do indivíduo, harmonizando-o consigo mesmo e com o mundo.
Há, portanto, uma redução da vulnerabilidade. A pessoa idosa torna-se
suficientemente sábia para aceitar a realidade, tolerar a dor ou a perda da
independência biológica, pois seus dispositivos de segurança são cada vez
mais eficazes na relação com o mundo. É a liberdade plena ou independência
psíquica, pois compreende o sentido da vida (para quê). Os valores que regem
a sua vida (filosofia de vida) são cada vez mais elevados, racionais,
inteligentes, enfim, conscientes.
O idoso “entrega-se à existência com a pureza das crianças, mas sem a
ingenuidade, com o vigor do adolescente, mas sem a sua pugnacidade, com a
sensatez do homem maduro, mas sem o seu orgulho. Torna-se cidadão do
Universo com a astúcia da raposa e a malícia da serpente, o que faz dele um
sábio.” (Maria Auxiliadorea Souza Brasil,2002).
Envelhecimento Bem Sucedido e Mal Sucedido
O envelhecimento biológico aumenta a vulnerabilidade da pessoa às
agressões orgânicas, que é compensado pela menor vulnerabilidade psíquica,
permitindo uma vida saudável, mesmo com as limitações impostas pela
doença/disfunção ou, até mesmo, pela incapacidade. A felicidade pode
coexistir com a limitação física.
O velho, portanto, necessita informar-se sobre a diminuição natural de
determinadas funções para saber como adaptar-se às limitações naturais da
sua idade. A permanência na infância psíquica faz com que as alterações do
envelhecimento biológico predominem, podendo tornar a velhice repleta de
tristezas e perdas (envelhecimento mal-sucedido).
Assim, o ser humano pode envelhecer como um sábio ancião ou
permanecer nos estágios infantis do psiquismo. Autonomia e independência
são, portanto, resultantes do equilíbrio entre o envelhecimento psíquico e
biológico.
Envelhecimento mal-sucedido
Envelhecimento bem sucedido
A singularidade individual torna-se mais exuberante quando se avalia
ambas as dimensões, biológica e psíquica, associadas ao contexto familiar e
social, ou seja, a integralidade do indivíduo.
O processo de envelhecimento é, portanto, absolutamente individual,
variável, cuja conquista se dá dia após dia, desde a infância. A velhice bem
sucedida é conseqüência de uma vida bem sucedida.
O principal objetivo da intervenção geriátrica e gerontológica é a
preservação ou recuperação da qualidade de vida. Autonomia de decisão e
independência funcional são variáveis fundamentais na capacidade de
desempenhar os papéis sociais. A busca da felicidade, que é o principal
objetivo da vida, depende de outra variável difícil de ser conceituada. Trata-se,
talvez, do amadurecimento psíquico, que depende do auto-conhecimento,
única forma de atingirmos a verdadeira sabedoria na velhice. Qualidade de
vida, portanto, resulta da interação destas três variáveis: autonomia,
independência e sabedoria.
Infelizmente, a minoria das pessoas atinge a velhice na sua plenitude, usufruindo
dos ganhos advindos do passar dos anos. Grande parte deste insucesso resulta da falta
de preparação ou investimento pessoal na prevenção das grandes síndromes
geriátricas/gerontológicas, a saber:
Grandes Síndromes Bio-Psico-Sociais
Incapacidade Cognitiva
Imobilidade
Instabilidade Postural
Incontinência Urinária
Iatrogenia
Insuficiência Familiar
Indiferença
Isolamento Social
Institucionalização
TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
O fenótipo do envelhecimento caracterizado por perda de peso, redução da
massa magra, cabelos grisalhos, pele enrugada há muito tempo faz parte de
uma das maiores preocupações e indagações do homem e essas alterações
embora muito evidentes e observáveis até o momento não apresentam uma
gênese clara e confiável.
Quais os mecanismos responsáveis? É essa resposta que pesquisadores
em todo mundo buscam para tentar determinar um ponto ou limite de transição
entre as fazes de desenvolvimento do ser humano.
Cabe a esse texto descrever o que já foi identificado e descoberto
relacionado ao processo de envelhecimento sem, contudo concluir o que ainda
é desconhecido pelo homem.
MECANISMO DE SÍNTESE PROTÉICA
A vida é perpetuada graças à unidade funcional de herança,
denominada por Johansen em 1909 como gene, localizada nos cromossomas
de todas as células e que é responsável pela síntese de proteínas que estão
envolvidas na manutenção da vida de todo indivíduo. Para caracterizar o
processo de envelhecimento precisamos antes de tudo conhecer o início da
síntese protéica e todas as fases envolvidas nesse processo.
1909 = GENE 1944: constituição química do gene = DNA
Unidade funcional de herança
Constituição do DNA
O DNA é formado por duas cadeias espirais entrelaçadas formadas por:
Açúcar = 2-desoxi-D-ribose
Ácido fosfórico
Bases nitrogenadas: purínicas (adenina e guanina) e pirimidínicas (timina e
citosina)
MODELOS DE ENVELHECIMENTO
Modelos em culturas celulares de longo prazo: “Modelo de Hayflick –
1961”
Experiência realizada com células humanas, fibroblastos isolados de
pulmão, com muito destaque na história por demonstrar que a capacidade de
duplicação dessas células era limitada observando assim que o processo de
envelhecimento poderia iniciar em nível celular. Outra demonstração
importante foi que células embrionárias normais em condições favoráveis em
cultura evoluem, envelhecem e morrem inevitavelmente após 50 duplicações.
Desde então nenhuma experiência com células animais ou humanas mostrou-
se imortal. Através dessas pesquisas foi confirmada a perda progressiva da
capacidade de proliferação celular na fase de senescência. Atualmente existe a
hipótese de que as doenças e incapacidades relacionadas ao envelhecimento
sejam conseqüências da perda ou diminuição da capacidade de proliferação
celular de um ou mais tipos de células.
2) Modelos em culturas de curto prazo
Realizados com o objetivo de diminuir os possíveis artefatos dos
modelos de longo prazo como seleção e adaptação das células. Foi estudado o
comportamento do linfócito T, célula com função na imunidade e produção de
anticorpos, cuja função declina com o envelhecimento. A diminuição da
imunidade mediada pelas células T é um dos fatores responsáveis pelo
aumento da incidência de doenças infecciosas e neoplásicas com o avançar
dos anos. Essas alterações foram observadas em células animais e humanas.
3) Modelos in vivo
Realizadas no início da década de 60 os primeiros estudos com enxertos
de tecidos e órgãos (pele e ovários). Os estudos com enxerto de pele
reforçaram a conclusão de que células normais não sobrevivem
indefinidamente ao demonstrar tanto em animais velhos quanto nos jovens que
após sucessivos transplantes, os enxertos tornavam-se progressivamente
menores e muitos eram perdidos. Já com os ovários ficou demonstrado a
existência de um mecanismo de feedback entre o sistema nervoso central e os
tecidos periféricos e que alterações dessa interação poderiam fazer parte do
processo de envelhecimento. Quando ovários jovens eram transplantados em
indivíduos jovens a sua função era preservada ao contrário do que ocorria
quando os ovários de idade semelhante eram transplantados em indivíduos
velhos. Porém, ao selecionar receptores velhos, mas ovariectomizados quando
jovens, ao serem transplantados os ovários permaneciam com sua função
preservada demonstrando a participação do hipotálamo na manutenção dos
ciclos ovarianos.
Ovários jovens Receptor jovem = função mantida
Receptor idoso = função prejudicada
Receptor idoso ovariectomizada = função mantida
ENVELHECIMENTO EM NÍVEL MOLECULAR
O processo de envelhecimento pode ter origem desde a constituição do próprio
DNA ou em qualquer ponto da seqüência de eventos que participam da síntese
protéica. Segue abaixo algumas das alterações possíveis já identificadas em
estudos:
A) Alterações do DNA
Rupturas, distorção, alterações químicas e mutações.
Mutações: alterações na seqüência do DNA provocando erros na replicação de
todas as células filhas dando origem a moléculas anormais e
conseqüentemente proteínas alteradas
Câncer, arteriosclerose, demência podem ser decorrentes de tais
modificações.
B) Alterações nas enzimas polimerases
C) Alterações do RNA
Redução na expressão genética
Modificações na atividade da RNA polimerase
Redução do RNA ribossômico
D) Alteração na formação da proteína
Modificações no metabolismo das proteínas
Diminuição da capacidade funcional das células
Acúmulo de proteínas alteradas
Incapacidade de manutenção do equilíbrio homeostático em condições de
sobrecarga funcional
PECULIARIDADES DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
As alterações fisiológicas do envelhecimento fazem com que haja
uma diminuição da capacidade do organismo de reagir satisfatoriamente às
doenças e às situações em que ocorre aumento da demanda do organismo.
Isso torna o paciente idoso menos capaz de manter a homeostase levando
a ocorrência de múltiplas patologias e ao aparecimento de sintomatologia
atípica das doenças.
O envelhecimento e declínio da função dos órgãos ocorrem em
tempos diferentes em um mesmo indivíduo e muito variável nos diferentes
indivíduos, ou seja, cada indivíduo apresentará declínio funcional de seus
órgãos em períodos diferentes e com seqüência diferentes de perda
funcional (coração prévio ao pulmão seguido dos rins...).
A tendência do ritmo de declínio é linear com perda da função de
aproximadamente 1% a cada ano após os 30 anos.
INFLUÊNCIA DOS FATORES EXTERNOS
Alguns fatores externos foram identificados como intimamente
relacionados com o envelhecimento, contribuindo direta ou indiretamente com
esse processo. Alguns estudos tentaram concluir sobre o papel desses fatores:
1) Restrição calórica:
A investigação pioneira de McCay em 1934 desencadeou uma série de
experimentos que tentaram provar o efeito da restrição calórica sobre a
duração da vida. Uma revisão realizada a partir desses trabalhos concluiu que
há aumento de até 50% nas sobrevidas médias e máximas dos animais
estudados e além do aumento da longevidade a aparência desses animais era
mais jovem e houve também um retardo na incidência de afecções
relacionadas ao processo de envelhecimento. O mecanismo desse fenômeno
permanece desconhecido. A relação entre a restrição calórica com a menor
produção de radicais livres pode ser uma explicação provável. É possível
admitir essa probabilidade apesar de não podermos transpor tais resultados
para a espécie humana.
2) Temperatura ambiental:
Animais poiquilotérmicos (Drosophila subobscura) apresentam acréscimo do
tempo de vida a baixas temperaturas o que não podemos observar nos animais
homeotérmicos onde extremos de temperatura poderiam levar a morte desses
indivíduos. Como o processo de envelhecimento é universal, ocorre com todas
as espécies, fica difícil estabelecer qualquer vínculo entre variação de
temperatura e longevidade.
3) Radiação:
Exposição a radiações mesmo em pequenas doses foram causas de
aberrações cromossômicas em animais. Nos homens a maior incidência de
neoplasias nos indivíduos sobreviventes das explosões atômicas em Hiroshima
e Nagasaki foram justificadas pela exposição radioativa apresentada por esses
indivíduos. O curioso foi que manifestação precoce de envelhecimento nessas
pessoas não foi observada, ou seja, a morte foi antecipada, mas não pelo
envelhecimento.
TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
Sabemos que o processo de envelhecimento ocorre universalmente nos
seres vivos e que as mudanças que ocorrem ao longo do tempo,
independentemente de serem deletérias ou não sobre a vitalidade e a
longevidade, são inevitáveis. Essas mudanças apresentam quatro condições
para que sejam relacionadas com o aumento da idade:
Devem ser deletérias: reduzir a funcionalidade
Devem ser progressivas: estabelecer gradualmente
Devem ser intrínsecas: o ambiente tem forte influência sobre o aparecimento e
velocidade dessas mudanças, apesar de não ser a sua causa.
Devem ser universais: dentro de uma mesma espécie
Diante disso surgiram muitas teorias que tentam explicar o envelhecimento,
seu início e evolução ao longo dos anos, porém, nenhuma delas ainda
conseguiu explicar integralmente o processo de envelhecimento.
Teorias baseadas em alterações metabólicas
1) Teoria da taxa de vida:
Relação inversa entre quantidade de calorias consumidas e a duração
máxima de vida. Defende a idéia de que quanto maior o metabolismo,
maior o consumo de calorias e menor a longevidade. As principais críticas
foram os resultados contraditórios já descritos em animais homeotérmicos
e a afirmação de que a temperatura exerceria efeito direto sobre a
atividade metabólica, o que não foi comprovado.
2) Teoria dos Radicais Livres:
Radicais livres são átomos ou moléculas altamente reagentes com grande
capacidade de promover lesão celular. O oxigênio é a maior fonte de
radicais livres e essa produção ocorre como conseqüência da resposta
fisiológica celular normal. A lesão celular causada pelos radicais livres seria
o início do processo de envelhecimento segundo essa teoria. A crítica
ocorre, pois apesar de admitirmos a existência dos radicais e de
conhecermos os danos causados por eles, o efeito benéfico do uso de
antioxidantes na dieta ainda não foi comprovado. Há necessidade de
evidências mais diretas para se afirmar que os radicais livres possam ser
os responsáveis pelo envelhecimento
Teoria baseada em alterações dos sistemas orgânicos ou Teoria do
Marcapasso
A teoria baseia na perda ou diminuição da função dos sistemas orgânicos
evidenciados com o avançar da idade. Como exemplo o sistema
imunitário e o sistema neuroendocrinológico. A crítica é que não podemos
afirmar se essas alterações são causas ou conseqüências do
envelhecimento.
Teorias baseadas em alterações celulares e macromoleculares
1)Teoria do equívoco ou do erro catastrófico de Orgel
Baseada na presença de erros nos mecanismos precursores da formação
protéica podendo ser primário, no próprio DNA, ou em qualquer fase da
síntese protéica (RNA, transcrição, translação). As proteínas alteradas
seriam as responsáveis pela deterioração orgânica. As contradições
surgiram ao se provar que a síntese protéica é preservada com a avançar
da idade e que no idoso existe a manutenção da seqüência d
2) Diminuição na produção de proteínas
A maioria dos trabalhos tem revelado redução da síntese protéica
inclusive no homem, porém, com as críticas aventadas sobre a teoria do
erro catastrófico de Orgel acredita-se que ocorra uma produção mais
lenta nas células de idosos quando comparados com os mais jovens. A
causa dessa redução ainda é desconhecida.
3) Alterações protéicas pós-translacionais
Modificações que ocorrem na estrutura das proteínas após serem
produzidas resultantes de alterações enzimáticas ocorridas com a idade
(ex: proteínas da hemácia e do cristalino)
4) Alterações no sistema lesão/reparação do DNA
A teoria defende a hipótese de que DNA é constantemente lesado
durante toda a vida e que o mecanismo de reparação encontra-se
alterado com o envelhecimento. Essas alterações já foram confirmadas
com o avançar da idade, porém sua correlação com a duração da vida
não foi confirmada.
5) Alterações baseadas nas mutações somáticas
Sugere que a existência de aberrações cromossômicas nas células
somáticas se acentuam com o envelhecimento e que o acúmulo dessas
alterações durante a vida gera heterogeneidade celular que poderia
explicar maior prevalência de doenças que são de origem clonal como
câncer e aterosclerose.
6) Teorias baseadas em modificações genéticas (Teoria do Relógio
Biológico)
Cada espécie de ser vivo apresenta uma duração máxima de vida que
seria determinada pelo seu padrão genético sendo o núcleo da célula o
responsável pelo relógio biológico do indivíduo.
Envelhecimento Programado é defendido pelos seguintes achados:
Presença do relógio biológico intrínseco (cromossomo): extensão do programa
de crescimento e desenvolvimento
Capacidade de proliferação finita das células humanas
Células de idosos dividem-se menor número de vezes que as do jovem
Correlação entre número de divisões e duração máxima de vida
Células envelhecidas com maior número de alterações celulares = deterioração
protéica
7) Teoria das ligações cruzadas
Presença de ligações cruzadas entre moléculas de DNA e deste com
proteínas precipitadas por ação de agentes antioxidantes, radiação ou
substâncias químicas prejudicando a permeabilidade dos vasos
sanguíneos levando a um prejuízo da função celular. Ex: colágeno.
Vê-se, portanto, que os mecanismos responsáveis pelo processo de
envelhecimento não estão completamente definidos. Provavelmente são multifatoriais e
interdependentes. Resumidamente, as principais teorias do envelhecimento podem ser
divididas em:
Teorias Estocásticas
Os efeitos postulados por cada teoria ocorre acidentalmente
Teoria de uso e desgaste: o acúmulo de agressões ambientais no dia-a-dia
levaria ao decréscimo gradual da eficiência do organismo e, por fim, a
morte;
Defeito na produção das unidades funcionais básicas (proteínas): mudanças
que ocorrem nas proteínas após a tradução, e que são dependentes do
tempo, provocariam alterações conformacionais e mudariam a atividade
enzimática, comprometendo a eficiência da célula;
Mutações somáticas: o acúmulo de mutações somáticas ao longo da vida
alteraria a informação genética e reduziria a eficiência a célula até um nível
incompatível com a vida;
Erro catastrófico: os processos incorretos de transcrição e/ou tradução dos
ácidos nuclêicos reduziriam a eficiência celular a um nível incompatível com
a vida. Haveria alteração na fidelidade do aparato de síntese protêica;
Dano oxidativo e radicais livres: a longevidade seria inversamente proporcional
à extensão do dano oxidativo e diretamente proporcional à atividade das
defesas anti-oxidantes;
Lipofuscina e acúmulo de detritos: o acúmulo intracelular de produtos do
metabolismo que não podem ser destruídos ou eliminados, exceto pelo
processo de divisão celular;
Mudanças pós-tradução em proteínas: as modificações químicas dependentes
de tempo ocorrendo em macromoléculas importantes (colágeno, elastina),
comprometeria a função dos tecidos e reduziria a eficiência celular
culminando na morte.
Teorias Sistêmicas
Resultado das cascatas de retroalimentação hierárquicas características das
espécies (programação)
Teorias metabólicas: estabelece uma relação causal entre longevidade e taxa
de metabolismo. A longevidade é inversamente proporcional à taxa
metabólica (radicais livres dano mitocondrial);
Teorias genéticas: mudanças na expressão gênica causariam modificações
senescentes nas células. Os mecanismos básicos atuantes na longevidade
seriam as enzimas de defesa anti-oxidante, os sistemas de controle da
síntese protêica, as mudanças na expressão gênica induzidas pelas
restrição calórica e o encurtamento dos telômeros levando a perda da
informação genética e à instabilidade genômica;
Apoptose: a falha em reprimir ou induzir apoptose (morte programada) induzida
por sinais extracelulares é responsável por diversas doenças. Contudo o
papel da apoptose no envelhecimento fisiológico não foi esclarecido;
Fagocitose: células senescentes apresentariam proteínas de membranas
típicas, que a identificariam e as marcariam como alvo para a destruição por
outras células, como por exemplo, os macrófagos;
Teorias neuro-endócrinas: falência progressiva de células com funções
integradoras levaria ao colapso da homeostasia corporal, à senescência e à
morte (“hormônio da morte”);
Teorias imunológicas: a longevidade seria dependente das variantes de certos
genes para o sistema imune (imuno-vigilância).
REFLEXÕES SOBRE O ENVELHECIMENTO
A senescência não é uma ladeira que todos descem com a mesma velocidade.
É uma sucessão de degraus irregulares onde alguns despencam mais
depressa que outros” (HOWELL)
A Providência nos conduz com tanta bondade em todos os diferentes tempos
de nossa vida, que quase nem os sentimos. ...é dia após dia que
avançamos; estamos hoje como ontem, e amanhã como hoje; e, assim,
avançamos sem sentir, e este é um dos milagres... (BEAVOIR, 1990).
O indivíduo idoso sente-se velho através dos outros, sem ter experimentado
sérias mutações; ... não sabe mais quem é. Nenhuma impressão
cenestésica nos revela as involuções da senescência. Aí está um dos
traços que distinguem a velhice da doença (BEAVOIR, 1990).
“Estou despedaçado, esvaziado, desconjuntado por meus longos trabalhos, e a
hospedaria à qual me encaminho para viver e comer é a morte... Num saco
de pele cheio de ossos e de nervos, guardo uma vespa que zumbe, e num
canal, tenho três pedras de piche. Meu rosto parece um espantalho. Estou
como esses trapos estendendidos nos dias de seca nos campos, e que
bastam para espantar os corvos. Oprimido por meu catarro, não posso
dormir, nem roncar” (MIGUEL ÂNGELO)
“ Como cheguei aos 80? Desde cedo compreendi que o ser humano não é só
um conjunto de ossos, nervos, músculos e sangue, mas algo que não se vê,
não se palpa mas se sente. Algo como o perfume das flores e a brisa do
mar que se sente sem ser tocado. Esse algo para mim é a ENERGIA
INTERIOR que uns chamam de alma, outros de espírito. E assim passei a
minha vida cuidando dessa energia do mesmo jeito como venho tratando do
meu corpo que banho, perfumo e protejo” (SIMONE M.BULHÕES).
III. ENVELHECIMENTO DOS SISTEMAS FISIOLÓGICOS PRINCIPAIS
Composição corporal / Nutrição / Antropometria
Metabolismo hidroeletrolítico
Imunossenescência
Termorregulação
Pele e anexos
Órgãos dos sentidos (visão e audição)
Estruturas Envolvidas na Voz,Motricidade Oral e Cavidad Oral
Sistema endócrino
Sistema cardiosvascular
Sistema respiratório
Sistema gênito-urinário
Sistema gastrointestinal
Sistema Nervoso
1. COMPOSIÇÃO CORPORAL / NUTRIÇÃO/ ANTROPOMETRIA
1.1 Composição Corporal:
As alterações fisiológicas do envelhecimento alteram com o passar dos
anos a composição corporal do indivíduo e as conseqüências dessas alterações
são evidentes no paciente idoso.
Água Corporal (Desidratação):
A água é o principal componente da composição corporal na criança,
correspondendo a 70% do seu peso. Com o envelhecimento, há redução de 20 a
30% da água corporal total e 8 a 10% do volume plasmático. A água passa a
corresponder a 52% do seu peso. A redução é maior no conteúdo intracelular.
Sendo assim o idoso pode ser considerado um “desidratado crônico”, estando
mais vulnerável à desidratação aguda e à iatrafarmacogenia, pela alteração do
volume de distribuição das drogas hidrossolúveis.
Massa Muscular (Sarcopenia):
A perda do conteúdo intracelular é uma conseqüência da redução da
massa celular do idoso, sarcopenia, que é responsável por uma tendência à
redução do peso corporal e da maioria dos órgãos após os 60 anos de idade.
As principais conseqüências dessa perda são:
Redução da massa muscular magra (20 a 30%): redução na força
muscular, mobilidade, equilíbrio, tolerância ao exercício, predispondo a
quedas e imobilidade;
Diminuição da sensibilidade à insulina: intolerância à glicose;
Comprometimento da resposta imunológica;
Redução dos tecidos metabolicamente ativos, levando a uma
diminuição do metabolismo basal (100 Kcal / década), que, por sua vez,
causa anorexia e conseqüente redução da ingestão alimentar,
agravando mais ainda o quadro, podendo causar subnutrição protêico-
calórica e deficiência de micronutrientes, como vitamina D, magnésio,
cálcio e zinco.
As principais causas da sarcopenia são:
Senescência (perda de neurônios motores, redução das influências
hormonais anabólicas);
Atrofia por desuso ( redução da atividade física), doenças com caráter
consumptivo (ICC, DPOC, artrite reumatóide, hipertireoidismo,
parkinsonismo) etc...;
Gordura
Ocorre aumento de 20 a 30% na gordura corporal total (2 a 5%/década,
após os 40 anos) e modificação da sua distribuição, tendendo a ser mais central,
abdominal e visceral. No sexo feminino, a gordura deposita-se mais na região nas
nádegas e coxas (aparência de “pera”) e nos homens localiza-se mais na região
abdominal (aparência de “maçã”). A principal complicação é o aumento da meia-
vida das drogas lipossolúveis como os benzodiapenícos (diazepam), aumentando
o risco de toxicidade.
Massa Óssea (Osteopenia)
Ocorre redução do conteúdo mineral ósseo principalmente na mulher após
a menopausa com aumento do risco de osteoporose e suas complicações.
Mulheres perdem 40% do cálcio esquelético, particularmente nos primeiros 5
anos após a menopausa (50%). Os fatores relacionados a essa diminuição são
principalmente alterações hormonais e da ingesta alimentar como esquematizado
a seguir:
Redução do hormônio de crescimento e somatomedina (somatopausa);
Aumento do PTH (paratormônio)
Redução da vitamina D, secundária a redução da ingesta alimentar,
exposição solar, síntese cutânea e função renal.
1.2 Nutrição e Antropometria
Estatura
Com o envelhecimento ocorre ainda uma redução da estatura do idoso, cerca
de 1 (homens) a 1,5 cm (mulheres) por década, a partir dos 40-50 anos. A
redução da massa óssea (osteopenia e/ou osteoporose), associada à hipercifose
torácica, cifoescoliose e redução dos discos intervertebrais (achatamento) são os
principais determinantes, particularmente nas mulheres.
Peso e índice de massa corporal (IMC)O índice de massa corporal (Índice de Quetelet = peso em quilogramas
dividido pela estatura em metros e elevada ao quadrado) tende a elevar-se com o
envelhecimento, provavelmente pelo aumento progressivo da massa de gordura
corporal, redução da atividade física, mudanças dos hábitos alimentares e
alterações endócrinas.
Nos idosos, os pontos de corte do IMC diferem daqueles sugeridos pela OMS,
em 1995 para a população adulta, segundo os quais os limites da eutrofia situam-
se entre 18,5 Kg/m2 a 25 Kg/m2. Utiliza-se os pontos de corte sugeridos por
Lipschitz (1994):
IMC para idosos, segundo Lipschitz (1994):
Diagnóstico IMC (kg/m2)
Eutrofia 22- 27
Subnutrição 22
Obesidade 27
A prevalência de obesidade e/ou sobrepeso em idosos brasileiros, medidos
pelo IMC, varia de 30 a 50% (Cad. Saúde Pública, v. 15(4), p:759-768, 1999). A
obesidade representa importante fator de risco para hipertensão arterial,
vasculopatia periférica, AVC, câncer de mama e endométrio, insuficiência venosa,
intolerância ao exercício, redução da mobilidade, osteoartrite, lombalgia, apnéia
do sono, diabetes mellitus, etc. Os únicos benefícios são a redução do risco de
fratura de fragilidade e do risco de hipotermia.
Nutrição
As alterações fisiológicas do envelhecimento que comprometem as
necessidades nutricionais ou ingestão alimentar são:
Redução do olfato e paladar: redução nos botões e papilas gustativas
sobre a língua, diminuição nas terminações nervosas gustativas e
olfatórias, ambos comprometendo a palatabilidade dos alimentos.
Alterações nas papilas gustativas e na condução neurosensorial
ocorrem progressivamente com a idade, com tendência à elevação do
limiar de percepção dos sabores doce e salgado, levando à sensação
de que os alimentos estão amargos e azedos;
Redução do metabolismo basal: redução de 100 Kcal por década ( massa
magra e da atividade física);
Aumento da necessidade protêica: síntese e ingestão
Redução da biodisponibilidade da vitamina D: absorção intestinal de
cálcio;
Deficiência da utilização da vitamina B6;
Redução da acidez gástrica: B12, Fe, cálcio, ácido fólico e zinco
Insuficiência do mecanismos reguladores da sede, fome e saciedade;
Aumento da toxicidade de vitamina lipossolúveis: vitamina A, D, E, K
Maior dificuldade na obtenção, preparo e ingestão de alimentos;
Xerostomia
Outros fatores contribuintes para desnutrição nos idosos seriam: menor
acesso ao alimento secundário a causas físicas (seqüela de AVC, parkinsonismo,
demência avançada) ou sociais (isolamento, institucionalização, baixo poder
aquisitivo,...); uso de drogas que produzem inapetência (digoxina) ou alteram o
sabor dos alimentos (inibidores da ECA); depressão; medo exagerado de
alimentos considerados “inadequados” (colesterol, carne vermelha, sal, açúcar);
desordens da mastigação (dentaduras mal adaptadas, ausência de dentes,
gengivite, candidíase oral,...) e/ou disfagia; diarréia e má-absorção; doenças
consumptivas; hipertireoidismo; alcoolismo, ...
2. METABOLISMO HIDROELETROLÍTICO (ÁGUA, SÓDIO, POTÁSSIO)
1. Hormônio Antidiurético (ADH)
DESIDRATAÇÃO
(Redução de 20% da
água corporal total e 8 -
10% do volume
plasmático)
HIPOTENSÃO
ORTOSTÁTICA
HIPONATREMIA
HIPERPOTASSEMIA
(IRC, diabetes, AINE)
Níveis séricos basais
Liberação do ADH após estimulação dos
osmorreceptores
Liberação do ADH após estimulação dos
barorreceptores
Responsividade renal ao ADH
2. Aldosterona (hipoaldosteronismo
hiporreninêmico)
Níveis basais
Liberação de aldosterona após depleção do sódio
Liberação de aldosterona após mudanças posturais
3. Hormônio Natriurético Atrial
Níveis basais
Liberação após estimulação
4. Sensação de Sede
5. Outros: diuréticos, sudorese excessiva, restrição
física, confusão mental, demência, diarréia, etc...
3. IMUNOSSENESCÊNCIA
A maior incidência de doenças infecciosas, auto-imunes e neoplásicas em
pessoas idosas tem sido associada às alterações que ocorrem no sistema
imunológico. Tais alterações são listadas no quadro a seguir:
IMUNIDADE CELULAR
INFECÇÃO
AUTOIMUNIDADE
NEOPLASIA
Involução anatômica e funcional do timo;
Redução de 20 a 30% dos linfócitos T circulantes (maestro da
resposta imune);
Declínio na reação de hipersensibilidade tipo tardia
Declínio na citotoxicidade e na resposta proliferativa;
Redução na produção de citotoxinas IL-2 (essencial na proliferação e
diferenciação dos linfócitos T) e IL-10;
Não há redução quantitativa ou qualitativa na função dos leucócitos
polimorfonucleares
IMUNIDADE HUMORAL
Não há mudança no número de linfócitos B circulantes;Aumento na
produção de auto-anticorpos;Menor produção de anticorpos contra
antígenos específico (IgA e IgG, IgM resposta vacinal contra
tétano, influenza e hepatite). Possivelmente quando a imunização
primária é feito na infância, a resposta secundária é mantida por toda
vida. Entretanto, quando a imunização primária ocorre tardiamente (>65
anos), parece haver declínio na resposta secundária;
Menor capacidade de neutralização dos anticorpos;
Maior latência na resposta anticórpica;
CO-MORBIDADES QUE PREJUDICAM A RESPOSTA IMUNE
Desnutrição, pobreza, poluição, depressão, tabagismo, drogas
(corticóides,...), doença mental, diabetes mellitus, álcool, fatores genéticos,
doenças consumptivas, ...
4. TERMORREGULAÇÃO
A homeostase da regulação temperatura corporal e a habilidade para
adaptação térmica são comprometidas com o envelhecimento, provavelmente
pela disfunção hipotalâmica, lentificação da resposta aos pirogênios, dificuldade
da produção e conservação do calor (redução da gordura subcutânea, lentificação
da vasoconstricção periféricas,etc). Os idosos apresentam temperaturas basais
menores que os jovens além da febre poder estar ausente nos processos
infecciosos. Temperatura axilar maior ou igual a 37,2ºC (99ºF) ou elevações de
1,1ºC (2ºF) na temperatura basal, independente do local da medição, merecem
investigação. Por outro lado, não é raro o desenvolvimento de hipotermia
(temperatura axilar < 35o C) em resposta à infecção. A hipotermia pode causar
sonolência,confusão mental, disartria, bradicinesia, hipertonia, bradipnéia,
hipoxemia, dilatação gástrica, LAMGD, coma, arritmia ventriculares e morte. A
mensuração da temperatura axilar deve ser mais prolongada (5 minutos).
A lentificação da vasodilatação periférica e do aumento do fluxo sanguíneo
cutâneo dificultam a adaptação a ambientes mais quentes. A sudorese também é
prejudicada.
PELE E ANEXOS
A pele se presta à regulação térmica, proteção contra traumas físicos,
irradiação ultravioleta, substâncias químicas tóxicas e patógenos infecciosos. É
a porta de entrada do estímulo tátil. Representa grande parte da auto-imagem
de cada indivíduo, principalmente na transição da idade adulta para a velhice,
de forma mais evidente nas mulheres.
As modificações ocorrem em áreas protegidas do sol (senescência) e,
principalmente, em áreas exposta (senilidade: fotoenvelhecimento), trazendo
grandes implicações fisiológicas e psicossociais.
Ocorre redução do colágeno, das fibras elásticas e da vascularização,
levando ao adelgaçamento da epiderme e da derme, em torno de 20% da
espessura desta. Há redução de aproximadamente 50% das células de
Langerhans, de mastócitos, do índice de renovacão epitelial e da taxa de
crescimento linear das unhas, do cabelo e pelos, que se tornam finos,
quebradiços e rarefeitos. A produção das glândulas sebáceas diminui em torno
de 60%, reduzindo também a produção de vitamina D. A pele torna-se fina,
pálida, flácida e frágil. Aparecem rugas e aspereza nas áreas expostas, áreas
de hiper ou hipopigmentação, que levam a manchas, e telangiectasias. O fumo
é fator agravante destas alterações. As pessoas de raça negra apresentam as
alterações degenerativas cutâneas mais tardiamente que as de raça branca,
devido a maior proteção natural à irradiação solar. A responsividade
imunológica imediata e tardia diminui. O mesmo ocorre com a termoregulação ,
por menor sudorese e outras causas .
Ocorre alteração quantitativa e qualitativa do tecido conectivo: matriz
extracelular. Os principais são:
Sistema colágeno: aumento da rigidez dos tecidos levando a maior dificuldade
de difusão de nutrientes
Sistema elástico: redução da elasticidade dos tecidos. Ex: pele, parede
arterial e pulmão.
LOCALIZAÇÃO ALTERAÇÕES ANATÔMICAS /
FUNCIONAIS
REPERCUSSÃO
CLÍNICA (ANAMNESE E
EXAME FÍSICO)
EPIDERME
Redução do potencial proliferativo
Redução do número de
melanócitos e células de
Langerhans
Redução da adesão dermato-
epidérmica
FLACIDEZ
REDUÇÃO DO TURGOR
REDUÇÃO DA
ELASTICIDADE
MAIOR MOBILIDADE
RUGAS
PALIDEZ
XEROSE (Pele seca)
PÚRPURA SENIL
LEUCODERMIA
PUNTIFORME
DISFUNÇÃO DA
TERMORREGULAÇÃO
HIPERPLASIA
SEBÁCEA
UNHAS ESPESSAS
(“ranhuras”, onicogrifose,
onicomicose)
DERME
Redução da espessura
Redução da celularidade e
vascularidade
Degeneração das fibras de
elastina
Degeneração das fibras de
colágeno
SUBCUTÂNEORedução da gordura e
redistribuição
ANEXOS
Redução das glândulas
sudoríparas
Redução do tamanho e
função das glândulas
sebáceas
Redução do folículos
piloso
Redução do rescimento
das unhas
Redução da lúnula
“A Providência nos conduz com tanta bondade em todos os diferentes tempos
de nossa vida, que quase nem os sentimos. ...é dia após dia que avançamos;
estamos hoje como ontem, e amanhã como hoje; e, assim, avançamos sem
sentir, e este é um dos milagres...”
“ O indivíduo idoso sente-se velho através dos outros, sem ter experimentado
sérias mutações; ... não sabe mais quem é. Nenhuma impressão cenestésica
nos revela as involuções da senescência. Aí está um dos traços que
distinguem a velhice da doença.”
“ Não está claro porque alguém deveria se preocupar com o envelhecimento
cutâneo. Afinal, ninguém morre porque a pele envelhece! Existe insuficiência
cardíaca mas não insuficiência cutânea. Todos ficamos bem embrulhados até o
fim... Todos desejam uma vida longa, mas ninguém que parecer velho”.
6. ÓRGÃOS DOS SENTIDOS
6.1 VISÃO
A presbiopia é caracterizada pela redução da capacidade de
acomodação em decorrência do enrijecimento do núcleo do cristalino e atrofia
do músculo ciliar, com dificuldade visual para perto. Este processo inicia-se aos
40 anos, com o máximo aos 60 anos, quando a acomodação é mínima ou
ausente.
Em decorrência do envelhecimento fisiológico identificam-se também
redução do campo visual periférico, da acuidade visual, da discriminação de
cores e dificuldade de adaptação a estas e às mudanças de luminosidade, com
limitação funcional em relação ao ambiente.
As principais alterações relacionadas ao envelhecimento são:
Aumento da pressão intraocular: embora ocorra uma diminuição da produção
de humor aquoso com o envelhecimento, ocorre uma resistência a passagem
do seu fluxo da câmara anterior.
Diminuição da produção de lágrima
Espessamento de epitélio corneano
Arco senil: depósito de lípides na periferia da córnea. Está presente em todos
os idosos com mais de 80 anos.
Espessamento do cristalino: resultado do crescimento contínuo de suas fibras.
Conseqüentemente ocorre diminuição da capacidade de acomodação do
cristalino para distância maior do que o comprimento do braço = Presbiopia.
Liquefação do gel vítreo: formação de partículas de fibras colágenas flutuando
no vítreo provocando sombras na retina → clarões, alucinações visuais.
Opacificação do cristalino: esclerose do cristalino = catarata.
Rigidez pupilar: miose pupilar. Dificuldade de adaptação quando a luz é fraca
com piora da visão noturna, diminuição da acomodação aos clarões e à
iluminação súbita.
-Alterações anatômicas e funcionais mais prevalentes nos idosos-
Alterações anatômicas Alterações funcionais
Enoftalmia
Edema de pálpebra inferior (com ou
sem hiperpigmentação)
Ptose
Entrópio (inversão da pálpebra e
cílios) Ectrópio (eversão da pálpebra)
Epífora (lacrimejamento excessivo)
Halo senil
Esclera mais amarelada
Pterígio
Conjuntiva mais fina e friável
(“sensação de areia nos olhos”).
Presbiopia
Catarata
Glaucoma
Rigidez Pupilar (miose senil)
visão periférica e central, visão
espacial, modificação da
percepção de cores;
Degeneração macular:
dificuldade de individualizar e
distinguir detalhes e cores →
perda da visão central;
Maior risco de descolamento de
retina
6.2 AUDIÇÃO
A disfunção auditiva é o mais comum déficit sensorial associado ao
processo de envelhecimento. A diminuição da audição é a terceira causa mais
prevalente de incapacidade crônica na população com mais de 65 anos. A
prevalência é de cerca de 24% na faixa etária de 65 a 74 anos e aumenta para
39% na população com idade superior a 74 anos. Pacientes institucionalizados
apresentam a mais alta prevalência.
A diminuição do limiar de sensibilidade para sons de alta freqüência
(sons agudos) iniciam e progridem lentamente manifestando na quinta e sexta
década de vida. Os tinidos são freqüentemente associados à deterioração da
sensibilidade auditiva. Os homens são usualmente os mais acometidos.
ALTERAÇÕES RELACIONADAS À IDADE
Ouvido externo Ouvido médio Ouvido interno
Pêlos do trago
(característica sexual
secundária) se tornam
mais grossos, maiores e
proeminentes.
Glândulas da cera se
atrofiam cera mais
seca
Atrofia e ressecamento
da pele prurido
Estreitamento do espaço
articular dos ossículos +
calcificação cartilagem
articular degeneração
articular
Degeneração das células do
órgão de Corti (equilíbrio) e
da cóclea (audição):
Redução da sensibilidade
vestibular
Hipoacusia
Presbiacusia
A presbiacusia é a perda auditiva devido a mudanças degenerativas no
sistema auditivo periférico e central que acompanham o envelhecimento.
Geralmente neurossensorial, podendo consistir em disfunção condutiva e
central, sendo a causa mais comum de perda da audição em idosos. A
etiologia é obscura não sendo uma entidade distinta e sim os múltiplos efeitos
do envelhecimento no sistema auditivo sendo assim um diagnóstico de
exclusão. Alguns fatores podem estar associados: dieta, alterações
metabólicas, arteriosclerose, ruído, hereditariedade, nível de colesterol e
doença coronariana.
Caracteriza-se por uma perda bilateral lenta e progressiva da audição
para tons de alta freqüência. Ocorre também uma redução no discernimento
das palavras. Torna-se mais difícil escutar quando tem mais de uma pessoa
falando ou quando existe barulho no fundo. O declínio da acuidade auditiva
implica na mudança gradativa de hábitos de vida do idoso levando a uma
incapacidade de comunicar-se com o entorno e conseqüentemente ao
isolamento social.
Diante desse complexo distúrbio os idosos precisam de explicações
cuidadosas sobre o problema para ajudar na prevenção de isolamento e
frustrações.
Tipos de Surdez:
Surdez de Condução : bloqueio na transmissão das ondas sonoras através do
ouvido externo e médio (rolha de cerumen, otite média, calcificação entre os
ossículos.).
Tendência a falar baixo; percepção melhor da própria voz; pouca
dificuldade na distinção e compreensão da fala.
Otoscopia
Surdez Neurossensorial: degeneração das células do órgão de Corti-cóclea
Presbiacusia – Ototoxicidade – D. Meniére - Ruídos
Fala alta, bilateral, usualmente simétrica, tendência a não discriminar
e entender o que é dito, sons altos são entendidos com
precariedade, lentamente progressiva, sensibilidade para sons
de alta freqüência.
SURDEZ Isolamento + Depressão + Déficit Cognitivo
Estratégias de Comunicação com Idosos
Ambiente tranquilo com redução do nível de ruídos indesejáveis e bem
iluminado;
Interlocutor bem posicionado ( 1 a 1,5 m de distância);
Chamar a atenção do idoso, pondo-lhe a mão ou até tossindo;
Falar distinta e pausadamente, sem exageros quanto a articulação;
Não gritar;
Evitar mudar de assunto sem avisar o interlocutor;
Evitar frases intermináveis ou prolixas. Utilizar sempre palavras simples,
claras e afirmativas;
Conhecer o vocabulário utilizado pelo idoso;
Ouvir o idoso com paciência, respeitando seu ritmo de resposta;
Ser amável, paciente e atencioso;
Permitir que o idoso participe do diálogo e das decisões tomadas em casa;
Usar gestos convenientes;
Quando houver necessidade de repetição, reformular a frase com palavras
mais simples;
Evitar expressões como “vô”, “vó”, “vozinha”, etc., que despersonalizam e
inferiorizam o idoso, procurando chamá-lo pelo nome;
Não infantilizar o idoso;
Evitar expressões do tipo “deve”, “não deve”, porque reflete um
relacionamento autoritário;
Respeitar a intimidade do idoso, evitando qualquer exposição
desnecessária;
7. ESTRUTURAS ENVOLVIDAS NA VOZ, MOTRICIDADE ORAL E
CAVIDADE ORAL
Assim como todo o organismo a voz também sofre os efeitos do
envelhecimento. O processo de deterioração vocal inerente a idade decorrente
da perda natural da eficiência biomecânica do organismo é chamado de
presbifonia, que é variável para cada indivíduo conforme sua saúde, treino de
voz e história de vida. A presbifonia deve ser compreendida como parte do
processo de envelhecimento normal do indivíduo e não como uma desordem
vocal, embora muitas vezes seja difícil estabelecer-se um limite entre o que é
processo vocal fisiológico inerente à idade e o que é uma desordem vocal
estabelecida .
As alterações de motricidade oral se dividem em alterações de fala e
deglutição. As mudanças fisiológicas e funcionais decorrentes do
envelhecimento podem afetar a inteligibilidade de fala e alterar o processo de
deglutição. A perda de dentes leva a problemas de mastigação e distorção de
sons da fala; a atrofia de dos músculos da língua e alteração da capacidade
funcional da musculatura oral também leva tanto a problemas de fala quanto
de deglutição.
CAVIDADE ORAL
As funções da cavidade oral no idoso, deglutição, digestão, fonação,
podem estar alteradas como conseqüência das alterações fisiológicas que
acontecem no envelhecimento das estruturas anatômicas:
DENTE
TECIDO PERIODONTAL ( gengiva, osso alveolar, ligamento
periodontal)
ARTICULAÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR
LÍNGUA
GLÂNDULAS
MUCOSA Temperatura - Tato - Textura - PALADAR
O envelhecimento, por si só, não causa perda dentária significativa, mas
causa alterações com conseqüências importantes e algumas vezes
incapacitantes que comprometem a higiene bucal que estão listadas abaixo:
OSSO Osteoporose PERDA ÓSSEA
ARTICULAÇÃO Osteoartrose DOR
PALATABILIDADE DOS ALIMENTOS Desnutrição
DIFICULDADE DE DEGLUTIÇÃO Disfagia Aspiração
XEROSTOMIA
DIFICULDADE DE FALA
NEOPLASIA
8.5 ENVELHECIMENTO TIREOIDIANO
A tireoidosenescência é caracterizada pelas seguintes alterações:
Atrofia glandular;
Aumento da nodularidade (nódulo coloidais);
Infiltração leucocitária.
A função tireoideana permanece praticamente (TSH, T4, T3) inalterada
entre os 20 e 80 anos de idade.
Ocorre aumento da prevalência de doenças tireoideanas primárias (hipo
e hipertireoidismo, nódulo) e secundárias como a síndrome do eutireoideano
doente e da toxicidade por drogas (amiodarona, lítio).
Clínico Subclínico
Hipotireoidismo 2 a 5% 5 a 14%
Hipertireoidismo 0,5 a 2,3% 0,7 a 6%
Nódulo tireoideano A conduta não difere do jovem Punção-biópsia
Palpação 4 a 7% Malignidade?
Disfunção tireoidiana?
Compressão local?
Ultrasom/ Autópsia 30 a 50%
A alta prevalência associada à inespecificidade do quadro clínico
justificam o screening da função tireoideana nos idosos, particularmente nas
mulheres, cujo risco de tireoidopatia é maior. A relação entre TSH e tiroxina
sérica é log-linear inversa, ou seja, um aumento de 100 vezes no TSH sérico
equivale a uma elevação de somente 2 vezes no T4 livre sérico e vice-versa.
Portanto, o TSH ultrasensível é o método mais sensível para o diagnóstico
precoce de disfunção tireoideana.
9. ENVELHECIMENTO DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
As alterações associadas ao processo de senescência no aparelho cardiovascular
podem desencadear ou ocultar doenças cardiovasculares, reduzir a atividade física do
idoso e afetar a função cardiovascular.
As alterações fisiológicas dos sistema cardiovascular pode ser didaticamente
dividida em dois grupos baseando-se no local da alteração – coração e esturuturas
vasculares (grandes artérias, arteríolas, capilares e veias).
Apesar das diferenças entre as funções cardiovasculares entre indivíduos jovens e
idosos já terem sido amplamente estudadas, o reconhecimento do efeito isolado da idade,
do meio externo ou das doenças associadas no aparelho cardiovascular não é fácil dada
a grande interação entre esses fatores.
EFEITO DO ENVELHECIMENTO NO CORAÇÃO
O coração sofre diversas alterações em suas principais estruturas decorrentes do
processo de envelhecimento. Tais alterações irão afetar os miócitos, o sistema de
condução, as válvulas e os septos. O coração com essas alterações, é comumente
chamado de “coração senil” (Aged heart).
Mesmo com o comprometimento de todo o coração, o envelhecimento normal não
produz alterações significativas na função do coração graças aos mecanismos
compensatórios. Entretanto, quando há uma depleção desses mecanismos
compensatórios ou uma ineficiência frente uma situação de sobre-carga poderá ocorrer
então, sinais de insuficiência ou falência do coração. Dessa forma, nas situações de
repouso, não há alterações no volume de ejeção do ventrículo esquerdo, na freqüência
cardíaca ou no débito cardíaco.
As alterações morfológicas presentes no coração encontram sumarizadas no
esquema a seguir.
As repercussões funcionais dessas alterações morfológicas são observadas nas
situações onde há uma sobrecarga além da capacidade dos mecanismos compensatórios
existentes no sistema cardiovascular. Tais repercussões serão apresentadas após a
descrição das alterações apresentadas pela vasculatura tendo em vista a íntima relação
existente entre o coração e o vasos. Para o entendimento de como se processa as
alterações do sistema vascular, é necessário compreender e fazer um paralelo do
processo de ateroclerótico com os processos decorrentes da senescência, o que será
abordado a seguir.
ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS NO CORAÇÃO
SISTEMA DE CONDUÇÃO
MIOCÁRDIO
ENDOCÁRDIOPERICÁRDIO
CORAÇÃO
Valvulopatias degenerativasAórtica principalmenteMitralPouca alteração na tricúspide e
pulmonarFibrose e calcificação anel
valvar e septo
Diminuição do número de miócitos e substituição por fibrose
Hipertrofia dos miócitos restantes. Apesar da hipertrofia do coração globalmente poder não se apresentar significativa.
Aumento do número e da espessura das fibras colágenas do sub-tipo I – enrijecimento.
Deposição de amiloide – amiloidoseDeposição de lipofucina – metabolismo dos
lipídios, sem relevância
Substituição fibrosa do tecido de condução: Doença do Nó Sinusal, Bloqueio Atrio-Ventricular e Intra-
ventricular, extra sístoles, etc.Redução de até 90% das células do marca-passo
sinusal em idosos > 75 anosRedução da inervação cardíaca parassimpática e
simpática
ATEROSCLEROSE
Apesar da aterosclerose ser a mais importante doença dos idosos por ser a
principal cause de mortalidade, incapacidade e dependência nos últimos anos de vida e
seu desenvolvimento ser facilitado pelo envelhecimento, a aterosclerose não reflete o
envelhecimento normal.
Cabe ressaltar que o processo de envelhecimento apresenta um enorme grau de
variabilidade e o impacto do envelhecimento entre os indivíduos é extremamente variável.
Dessa forma, a magnitude das alterações fisiológicas e as manifestações clínicas
cardiovasculares da senescência apresentam elevado índice de variabilidade. Além
disso, deve-se lembram que o envelhecimento patológico é o mais comum o que
acrescenta um grau de variabilidade ainda maior.
A exata relação entre aterosclerose e envelhecimento é difícil de ser definida dada
à íntima relação entre os dois processos e o fato da aterosclerose estar presente
universalmente entre os idosos. A importância desse processo no aparelho cardiovascular
é inquestionável.
A ilustração, a seguir, representa, forma esquemática, a aterogênese ressaltando
os fatores de risco intrínsecos (idade, sexo masculino e fatores genéticos), os extrínseco
(tabagismo, hipertensão, dislipoproteinemia, hiperglicemia e diabetes) e os fatores de
risco indireto (obesidade e inatividade física). Inúmeras evidências mostram o caráter
inflamatório e/ou infeccioso (evidências mostram a associação e doença isquêmica com
herpes vírus e Chlamydia pneumoniae) da aterogênese.
A aterosclerose, conforme ressaltando na ilustração abaixo, é um processo
generalizado, de comprometimento sistêmico afetando os diferentes vasos com
intensidade variável e repercussões variáveis de paciente para paciente.
ATEROSCLEROSE
INFLAMAÇÃO VASCULAR CRÔNICA
Aumenta adesividade do endotélio às plaquetas e leucóciotos
Aumenta permeabilidade vascularEstimula coagulação
Migração e proliferação de células musculares lisas, monócitos-macrófagos, linfócitos T.Liberação de múltiplas enzimas, citocinas e
fator de crescimento.
REMODELAMENTO ARTERIAL
Cápsula fibrosa envolvendo núcleo lipídico e material necrótico.
Placas estáveisPlacas instáveis
Fatores de Risco:Idade / Sexo masculinoHipertensão arterial crônicaDislipidemiaTabagismoHiperglicemia – HiperinsulinemiaHomocisteínaObesidadeHereditariedade - SedentarismoInfecção: Chlamidia pneumoniae, Citomegalovirose
Herpesvirus
DISFUNÇÃO ENDOTELIAL
REPERCUSSÕES FUNCIONAIS
Circulação:Coronariana: dor torácica, angina, IAM, ICCCraniana: AVC, AIT, Demência VascularMembros inferiores: Claudicação IntermitenteCarotídea:Sopro carotídeo, AVCAbdominal: aneurisma de aorta abdominalRenal: insuficiência renal, hipertensão arterial,
sopro abdominal.
SÍNDROMES ISQUÊMICAS
AgudasCrônicas
A repercussão das alterações anatômicas e bioquímicas decorrentes do
envelhecimento na vasculatura irá depender do tipo de vaso comprometido. Em função
das características dos vasos eles podem ser determinantes da resistência ou da
impedância do sistema vascular. A resistência é determinada primariamente pelos vasos
de pequenos calibres como as arteríolas enquanto a impedância é determinada
principalmente pelas artérias elásticas de grande calibre.
Alterações do envelhecimento normal irão modificar essas propriedades
(resistência e impedância) e forma semelhante ao processo ateroscleróticos. Entretanto,
há algumas diferenças entre as alterações decorrentes do envelhecimento normal da
aterosclerose. A tabela abaixo sumariza essas diferenças para artérias elásticas.
Aterosclerose Senescência
Predomina em homens ocidentais Ocorre universalmente em várias
espécies inclusive
Placas heterogêneas Uniforme nas artérias calibrosas
Comprometem o lume Aumenta o lúmen
Gravidade relaciona com a turbulência
e estresse local
Não é localizado em locais de
estresse
Tem componente inflamatório Não há participação de leucócitos ou
outras células
Colesterol é um co-fator Independe do colesterol
Adaptado de Hazzard et al, 2003
Vaso Alteração Repercussão
Artérias
de
Grande
Calibre
Aumenta a rigidez
Alongamento do vaso
Aumento do diâmetro do vaso.
Diminuição na produção basal e pós-
estímulo de óxido nítrico.
Espessamento sub-endotelial com
tecido conjuntivo e células.
Calcificação da túnica média.
Devido fragmentação da elastina e
aumento do colágeno
Aumento da pressão arterial sistólica.
Pressão de pulso (PAS-PAD) é manifestação
da rigidez arterial (redução da
complacência), além de ser um importante
fator de risco para doenças
cardiovasculares.
Aumenta a velocidade da onda de pulso.
(Fator de risco para coronariopatia e
AVC).
Aumenta o “índice de aumento” (augmentation
index) – percentual de aumento da PÁS
central pela reflexão de pressão. Jovens
<5%, idosos até 20%.
Preservação relativa da resposta α-
adrenergica (vasoconstritora) e redução
da resposta -adrenergica.
Artérias
de menor
calibre
As alterações acima não ocorrem de
forma uniforme nas artérias mais
distais, são menos comprometidas.
Nas artérias intra-cranianas há redução
relativa na quantidade de tecido
conjuntivo na intima.
Redução do fluxo na a. renal.
Alteração na neo formação vascular em
resposta a isquemia.
Diminuição na produção basal de óxido
nítrico.
Geralmente há um aumento na resistência
vascular periférica, sendo mais
proeminente nas mulheres.
Alterações na impedância sem alterações na
resistência promovem uma redução na
PAD. Isso é visto em vários trabalhos
incluindo Framingham e HANES nos
indivíduos a partir de 70 anos.
Capilares
Senescência não causa remodelamento
do vaso
Espessamento e deposição de colágeno
na membrana basal.
Redução da perfusão dos capilares nas
situações de isquemia ou calor.
Veias
Poucos estudos
Vasos de capacitância
Redução na capacitância com limitação da
reserva disponível para situações de
hipovolemia aguda.
Redução das respostas adrenérgicas das
veias do dorso da mão.
REPERCUSSÕES FUNCIONAIS
Para o entendimento das repercussões funcionais decorrentes do envelhecimento normal no sistema
cardiovascular, é importante que se recorde os determinantes do débito cardíaco e a inter-relação
entre eles e com o ciclo cardíaco. Isso se encontra sumarizado no quadro abaixo e no esquema
gráfico a seguir.
Envelhecimento Normal
Débito CardíacoVolume Ejeção do VE x Freqüência
Cardíaca
Não há alteração do débito cardíaco ou da freqüência
cardíaca em repouso.
Freqüência
Cardíaca
Não há alteração da freqüência cardíaca em repouso.
Hiporresponsividade beta-adrenérgica :
Redução da Fc máxima durante exercício.
Reduz a vasodilatação -adrenérgica periférica
Vol. Ejeção do VE
Será influenciado pela pré-carga, pela
contratilidade miocárdica e pela pós-
carga.
Não há alteração do volume de ejeção em repouso
Pré-Carga
É o volume de enchimento do VÊ,
corresponde ao volume diastólico final
o qual é determinado pelos inúmeros
fatores que alteram o retorno venoso e
as propriedades mecânicas do coração
durante a diástole.
Não se altera em repouso.
Redução da complacência ventricular e conseqüente
redução do enchimento ventricular durante a diástole
inicial de até 50% dos 20 ao 80 anos. (hipotensão se
houver redução da pré-carga).
Aumento da contração atrial para aumentar o
enchimento ventricular na diástole final
compensatória.
Dependência da contração atrial de aproximadamente
50% (Maior sensibilidade a fibrilação atrial ou
taquicardias).
Hipertrofia atrial esquerda secundária ao processo
acima.
Pós-Carga
É a resistência imposta à ejeção do
sangue. A pós-carga é composta por
dois componentes: resistência vascular
periférica e a impedância da aorta a
qual é inversamente proporcional a
complacência da aorta.
Aumento na pós-carga devido redução na complacência
arterial e pela diminuição do leito vascular. Aumento
na tensão na parede do VE
Aumento da pós-carga durante o exercício provocado
pela menor resposta vasodilatadora a estimulação -
adrenérgica.
Contratilidade
Capacidade intrínseca de se contrair não se altera.
Grande dependência do mecanismo de Frank-Starling
para aumentar o débito cardíaco devido a redução da
complacência ventricular e a responsividade -
adrenérgica. Aumento no tempo de contração. Disfunção
mitocondrial que pode levar Incapacidade do miocárdio
de manter ou aumentar a síntese de ATP no períodos de
stress Redução do perfomance miocárdico.
Como se pode ver, em situações de repouso os mecanismos compensatórios
do sistema cardiovascular impede que haja alterações em situações de repouso,
entretanto, fica evidente a redução da reserva funcional em situações de
sobrecarga. As repercussões clínicas e funcionais podem se manifestar então nas
situações de sobrecarga como por exemplo durante um exercício físico ou outras
situações que gerem um estresse orgânico, como por exemplo nas infecções.
Enrijecimento arterial
Velocidade da onda de pulso e antecipa sua reflexão
Pressão sistólica com um pico no final da sístole.
Tensão na parede VÊ e por miócito
Dilatação da raiz aorta
Prolongamento da contração
Hipertrofia VEHipertrofia dos miócitos
Normalização da tensão na parede de VE
Volume sistólico final e fração de ejeção normal
Átrio Esquerdo
Enchimento atrial
Volume diastólico final normal
Enchimento na diástole inicial Disfunção diastólica
Tônus arterial Calcificação arterial Glicosilação do colágeno
Apoptose dos miócitos
Necrose dos miócitos
Redução dos miócitos
O exercício físico regular aumenta entre 5 a 20% o VO2máximo prévio ao
programa, o que seria equivalente a um rejuvenescimento de 3 a 12 anos da
capacidade funcional.
Alterações da Função Cardíaca entre 20 e 80 anos
REPOUSO EXERCÍCIO FÍSICO
VO2max - Redução de 50%
Índice cardíaco - Redução de 25%
Freqüência cardíaca Redução de 10% Redução de 25%
Pós-carga - Aumento
Contratilidade - Redução de 60%
Fração de ejeção - Redução de 15%
CAPACIDADE FUNCIONAL
Capacidade aeróbica ou consumo máximo de O2 (VO2max)
Envelhecimento redução da reserva funcional em condições de sobrecarga
VO2max = Redução de 1 a 2%/ano após os 30 anos (normal= > 50 ml/Kg/min) Queda de 0,5 ml/Kg/min/ano
VO2max = Débito cardíaco máximo X Habilidade máxima do músculo para extrair o O2
Hiporresponsividade -adrenérgicaRedução de tecidos metabolicamente ativos »
MúsculosDesvio do sangue para a pele = Dissipar calor
REDUÇÃO
Com o envelhecimento do sistemas cardiovascular, além de se observar as repercussões funcionais
descritas acima, as alterações morfológicas e bioquímicas decorrentes do envelhecimento, promovem também
alterações semiológicas. Tais alterações, encontram-se sumarizada na tabela a seguir.
ENVELHECIMENTO CARDIOVASCULARALTERAÇÕES ANATÔMICAS ALTERAÇÕES
FUNCIONAISREPERCUSSÃO CLÍNICA (ANAMNESE E EXAME FÍSICO)
VASOSInsuficiência
Arterial
(Aterosclerose)
Insuficiência Coronariana A obstrução coronariana maior que 70% pode cursar com isquemia miocárdica silenciosa, angina pectorisn (estável ou instável), equivalentes anginosos (dispnéia, tosse, palpitação ou síncope de esforço), infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca ou morte súbita (ver insuficiência coronariana no idoso).
Insuficiência Vascular Cerebral
A insuficiência vascular cerebral manifesta-se pela presença de ataque isquêmico transitório e/ou acidente vascular cerebral, infartos lacunares, levando a déficits neurológicos focais ou demência vascular.
Estenose Carotídea A prevalência de estenose carotídea assintomática no idoso varia de 2 a 8%. A presença de sopro carotídeo evidencia a presença de obstrução fixa. A ausculta do pescoço deve fazer parte do exame físico rotineiro do idoso.
Insuficiência Vascular Periférica
A claudicação intermitente e ausência de pulsos em membros inferiores são as principais manifestações clínicas.
Insuficiência Vascular Mesentérica
A angina mesentérica manifesta-se pela presença de dor abdominal (epigástrica ou peri-umbilical) pós-prandial (15 a 30 minutos após a alimentação), cuja duração é variável (2 a 3 h). A dor é proporcional ao voluma da alimentação ( demanda). Conseqüentemente o paciente reduz a ingestão alimentar pelo receio da dor, levando a emagrecimento, por vezes significativo. A complicação mais temível é a gangrena intestinal.
Estenose de Artéria Renal Hipertensão arterial sistêmica refratária de início tardio (>50 anos), sugere a presença de estenose de artéria renal (hipertensão renovascular), principalmente se não houver história familiar positiva. A presença de sopro abdominal sugere o diagnóstico.
Aneurisma de Aorta Abdominal
Estima-se que 1 em cada 250 idosos morra por ruptura de aneurisma abdominal. Podem ser detectados pela palpação da aorta abdominal, que deve fazer parte rotineira do exame físico do idoso. Usualmente a palpação revela massa pulsátil, anterior e lateralmente. Cerca de 50% dos aneurismas de aorta abdominal estão associados com sopro. Pulsos periféricos são usualmente normais, mas obstrução vascular periférica coexiste em 25% dos pacientes. Aneurisma de artéria poplítea pode estar presente. O quadro clínico geralmente é silencioso. Alguns pacientes podem referir dor abdominal e/ou lombar, secundárias a aneurismas inflamatórios. A ruptura de aneurisma aórtica apresenta alta letalidade (>90%), daí a importância do diagnóstico precoce.
Pressão Arterial Hipertensão Arterial Ver pressão arterial no idoso.Hipotensão Ortostática
Insuficiência Venosa
(Varizes)
Insuficiência venosa profunda
A presença de edema maleolar, principalmente no final do dia, é comum no idoso e está associado a insuficiência venosa profunda, sedentarismo e redução da massa muscular (sarcopenia), dentre outras causas, dificultando o retorno venoso. O tratamento com diuréticos está contra-indicado.
MIOCÁRDIOHipertrofia Ventricular Disfunção Diastólica
(Alteração do Relaxamento ventricular)
Palpação do ictus cordis: A presença de cifoescoliose, a hiperinsuflação pulmonar, o aumento da espessura da parede torácica e a obesidade central dificultam a palpação do ictus cordis. Entretanto, a sua palpação sugere cardiomegalia (disfunção sistólica).Ausculta cardíaca: Os sons cardíacos são usualmente mais abafados no idoso, provavelmente pela hiperinsuflação pulmonar e aumento da espessura da parede torácica. O prolongamento da contração isovolumétrica e do tempo de ejeção ventricular esquerdo dificultam o aparecimento do desdobramento fisiológica da 2a bulha, presente em somente 30 a 40% dos idosos. A presença de desdobramento de 2a bulha facilmente audível com a inspiração sugere a presença de bloqueio de ramo direito.O aumento do tempo de enchimento ventricular (complacência diastólica ventricular) e maior participação da contração do átrio esquerdo facilitam o surgimento da 4a bulha, presente em até 60% dos idosos. A ausculta da 4a bulha torna-se mais fácil pela diminuição progressiva da intensidade da 1a bulha, provavelmente secundária à degeneração da válvula mitral. Portanto, o significado patológico da 4a bulha no idoso torna-se menos evidente. A presença da 3ª bulha representa sempre um achado patológico, refletindo disfunção sistólica com aumento da pressão de enchimento do ventrículo esquerdo.
ENDOCÁRDIOValvulopatiaDegenerativa
Degeneração Aórtica
A ausculta de sopro sistólico de ejeção no foco aórtico está presente em mais de 50% dos idosos acima de 75 anos. Isto se dá pela fibrose, espessamento, acúmulo de gordura e calcificação da vávula aórtica, causando turbilhonamaento do fluxo sanguíneo. Não há restrição significativa do esvaziamento ventricular. Estas alterações degenerativas são mais comuns em pacientes diabéticos e com dislipidemia. A lesão valvar é semelhante àquela observada na placa aterosclerótica, daí a maior prevalência de obstrução coronariana nestes pacientes (50%). As características fonéticas que a diferenciam da estenose aórtica significativa ( restrição dos esvaziamento ventricular) e da cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva são a curta duração, menor intensidade (grau 1 ou 2) e ausência de irradiação. Degeneração da válvula pulmonar é menos evidente.
Degeneração MitralAlgum grau de insuficiência mitral é comum no idoso (>50%), secundário a degeneração com calcificação do anel mitral, degeneração mixomatosa (prolapso de valva mitral), insuficiência coronariana, fibrose e/ou infarto do músculo papilar e dilatação da cavidade ventricular (cardiomegalia).
10. ENVELHECIMENTO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
Assim como no processo de envelhecimento cardiovascular, a distinção entre
as alterações decorrentes do envelhecimento normal propriamente dito, das
alterações associada ao envelhecimento decorrentes de outros fatores, como o
tabagismo, é complexo. Alem disso, as alterações associadas ao envelhecimento
apresentam maior relevância para saúde pública que as decorrentes do
envelhecimento. As alterações fisiológicas nesse sistema se assemelham aquelas
de um enfisema leve.
Com intuito de facilitar a compreensão das alterações fisiológicas do sistemas
respiratório a tabela abaixo, sumariza de forma simplificada alguns conceitos sobre a
fisiologia respiratória básica.
FEV1
Volume de ar expirado no primeiro segundo em uma expiração forçada a
partir da capacidade vital.
Teste mais útil para analisar a gravidade e a progressão da DPOC.
Capacidade Vital
Forçada (CVF)Volume total de ar expirado
FEV1/CVF
Índice de Tiffeneau
A obstrução das vias aéreas é representada por uma relação baixa. O valor
normal é de 80%
Pico de fluxo
expiratório (PFE)
É uma estimativa grosseira da função pulmonar onde se mede o fluxo máximo
expiratório.
Útil no acompanhamento do paciente com asma
FEF25-75%
Fluxo expiratório forçado 25-75%
Reflete basicamente a função das pequenas vias aéreas.
Está intensamente diminuído em paciente com DPOC
Os efeitos do envelhecimento na função pulmonar são:
Redução dos fluxos expiratórios máximos (FEV1/CVF, FEV1 e FEF 75%)
Aumento na CVF e no volume residual, redução do volume corrente, mas a
capacidade pulmonar total permanece estável.
Diminuição da capacidade de difusão
Menor PO2 e SO2 em conseqüência da alteração na relação
ventilação/perfusão.
Redução da força muscular e do endurance (menor capacidade de sustentar
um trabalho)
Enrijecimento da caixa torácica (menor complacência)
Aumento da complacência pulmonar (perda da eslaticidade pulmonar)
Diminuição do controle da respiração (para hipoxemia, hipercapnia)
Aumento da reatividade das vias aéreas.
As alterações do sistema respiratório, em última estância afeta os seguintes
componentes: complacência pulmonar, taxas de fluxo expirado, a capacidade de
difusão, pressão parcial de oxigênio, controle da respiração e os mecanismos de
defesa. Esse componentes serão abordados separadamente a seguir.
Complacência Pulmonar: A redução da complacência pulmonar resulta do
enrijecimento da caixa torácica (calcificações das cartilagens intercostais,
articulações costovertebral) e da redução das forças musculares que
promovem expansão. Essa redução é contra-balanceada pela redução da
força elástica do pulmão resultante da redução das fibras elásticas no
parenchima. Isso promove um aumento na complacência. Há uma redução
no tamanho das vias aéreas e um aumento na proporção das vias aéreas
que potencial de se colabarem. Tais alterações promovem um aumento na
capacidade funcional residual, no volume residual mas a capacidade
pulmonar total permanece grosseiramente constante. Com envelhecimento
o diafragma enfraquece até 25%.
Taxas de fluxo expirado: A perda da força elástica resulta no cobalamento
precoce das vias aéras preriféricas o que resultará na redução do fluxo em
baixo volumes pulmonares de maneira semelhante a obstrução das
pequenas vias. Ocorre uma redução do FEV1 de 30 mL/ano nos homens e
23 mL/ano nas mulheres a partir dos 20 anos. A capacidade vital forçada
diminui em aproximadamente 14 a 30 mL/anos e 15 a 24 mL/ano nos
homens e mulheres respectivamente.
Capacidade de difusão: Após um pico aos 20 anos essa começa de decair
2.03 mL/minuto/mmHg por década nos homens e 1.47 mL/minuto/mmHg
nas mulheres. Isso se deve a uma diminuição da superfície de difusão
secundária a destruição do alvéolos, aumento da espessura da parede
alveolar, colabamento das pequenas vias. Isso irá provocar uma alteração
na relação ventilação/perfusão.
Pressão parcial de oxigênio: Ocorre uma declínio linear da pressão PaO2
numa taxa de aproximadametne 0,3%/ano. Esse declínio pode ser
estimado pela fórmula PaO2 = 109 - (0.43 × idade). Entretanto, nos
pacientes não tabagistas, a PaO2 permanece estável em 83 mmHg a partir
dos 75 anos. Essa alteração ocorre em paralelo com a redução da força
elástica e o aumento fisiológico do espaço morto.
Controle da respiração: Diminuição da frequênciar cardíaca e respirtatória
em resposta a hipoxemia e hipercapnia devido a diminuição da
responsividade da função dos quimioreceptores periféricos e centrais. A
redução da resposta ventilatórias a hipóxia é de 51% em homens de 64 a
73 anos comparados com adultos de 20 a 30 anos. Já a resposta a
hipercapnía é da ordem de 41%.
Capacidade Aeróbica: O declínio do VO2max é de 32 mL/minuto/ano nos
homens e de 14 mL/minuto/ano nas mulheres. O VO2max é influenciado
também capacidade cardiovascular.
Mecanismos de defesa: Ocorre redução do transporte mucociliar, redução do
reflexo da tosse, redução da resposta aguda aos antígenos extrínsecos e
da imunidade celular (aumento da taxa de reativação de tuberculose).
A tabela a seguir correlaciona as sistematiza alterações acima descritas com
as implicações funcionais e clínicas.
ENVELHECIMENTO RESPIRATÓRIO
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS REPERCUSSÃO CLÍNICA (ANAMNESE - EXAME FÍSICO)
Redução de 25% na força da musculatura
respiratória (diafragma) + Sarcopenia
ventilação e efetividade da tosseNa presença de uma condição que requer uma alta ventilação por minuto predispõem o
idoso a sérios problemas respiratórios.
Tosse ineficaz
Redução do clearance muco-ciliar Acúmulo de secreção respiratória
Aumento da aspiração orotraqueal;Maior risco de pneumonia de aspiração
Aumento da colonização por bactérias gram negativas.
Adelgaçamento das paredes alveolares com
dilatação dos ductos e alvéolos
Superfície respiratória pela destruição dos septos
alveolares ( colágeno alveolar)
trocas gasosas;Discreta redução do pO2 no repouso (redução de 1 mmHg/ano após os 60 anos);
Disfunção da regulação vascular pulmonar local:
hipoxemia
fibras elásticas
colágeno anormal
Capacidade Pulmonar Total
Volume residual – Capacidade vital
Colapso de pequenas vias aéreas
Redução da complacência pulmonar
Declínio de VEF1 de 30 ml/ano;
Enrijecimento da parede torácica calcificação da
cartilagem costo-condral
cifose dorsal)
Rigidez da traquéia e dos brônqios
esforço respiratórioA taquipnéia no idoso deve ser valorizada, mesmo que isolada. Por vezes, é o primeiro e
único sinal de pneumonia bacteriana.
limiar do centro respiratório e quimiorreceptores a
alterações do pO2 e pCO2
hipoxemia, hipercapnia e desordens do sono
Maior prevalência de crepitações na ausculta pulmonar, mesmo na ausência de
pneumopatia ou congestão, usualmente, simétricas. Além disso, observa-se mais seqüelas
de pneumopatia antigas, como tuberculose, fibrose intersticial, DPOC, dentre outras. Com
isto, há uma redução do valor preditivo positivo das crepitações pulmonares. Entretanto, o
caráter assimétrico deve ser valorizado.
11. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA GÉNITO-URINÁRIO
O envelhecimento normal produz alterações estruturais e funcionais
significativas no sistema renal. Entretanto, a redução da função renal não impede
que o rim elimine a água, os catabólitos ou realize sua função de regulação da
composição e volume dos líquidos corporais, mantendo então a homeostasia dos
líquidos e eletrólitos em condições basais.
Contudo, a capacidade renal de responder as situações adversas e de
eliminar inúmeros fármacos encontram reduzidas. Assim, as repercussões do
declínio da função renal pode ficar evidente durante o curso de distúrbios agudos ou
situações que exigem uma maior reserva funcional. Já os distúrbios crônicos podem
acelerar o declínio decorrente do envelhecimente e aumentar a vulnerabilidade
desses pacientes.
Os seguintes componentes renais merecem serem distacados:
Fluxo sangüíneo renal: Em média ocorre uma redução de 10% por década a partir
dos 30 anos aproximadamente.
Taxa de filtração glomerular: ocorre um declínio progressivo, cerca de 8
mL/minuto/1.73 m2/década após os 40 anos. Aproximadamente 30% dos idosos não
apresentam redução da taxa de filtração glomerular. É importante salientar também
que como há uma redução paralela da produção de creatinina devido a sarcopenia,
a creatinina plasmática pode permanecer estável. Assim sendo, níveis de creatinina
no limite superior da normalidade podem representar perda significativa da função
renal. Para evitar erros de estimatica da função renal, recomenda-se a utilização da
fórmula de Cockcroft-Gault, descrita na tabela abaixo.
Proteinúria: Apesar da significativa redução da função renal com o envelhecimento,
a proteinúria é sempre um achado patológico.
Função tubular: Apesar do número limitado de estudos envolvendo essa função em
humanos, as alterações parecer ser decorrentes do envelhecimento e não
secundários às alterações acima descritas. Redução na habilidade em modular a
oxigenação medular, redução na capacidade de concentração da urina, redução na
capacidade de acidificação da urina e excretar ácidos e uma maior sensibilidade aos
agentes nefrotóxicos.
O envelhecimento do sistema renal ocasiona, também, alterações
significativas no sistema renina-angiotensina-aldosterona. Ocorre redução da renina
plasmática de 30 a 50%, mesmo após estímulos como restrição de sal,
administração de diuréticos ou ortostatismo. Isso levaa uma redução de igual
magnitude nos níveis de aldosterona. Entretanto, os níveis de cortisol e aldosterona
após estímulo com corticotropina permanecem inalterados com o envelhecimento,
onde se conclui que a deficiência de aldosterona não é secundária a uma alteração
intrínseca da supra-renal.
Como conseqüência, os idosos se tornam mais vulneráveis ao
desenvolvimento de alterações no equilíbrio hidroeletrolítico, principalmente a
depleção de volume e desidratação, pois a capacidade de concentrar a urina
encontra-se prejudicada.
Esse fato torna mais importante ainda porque os idosos apresentam redução
dos mecanismos responsáveis pela sede, os quais são ativados quando há aumento
da osmolaridade ou depleção de volume.
A redução do sistema renina-angiotensina-aldosterona acarreta também um
aumento do risco de desenvolver hipercalemia. A aldosterona ao agir no túbulo distal
reabsorvendo sódio, aumenta a excreção de potássio. Dessa forma o idoso fica mais
propenso ao desenvolvimento de hipercalemia nas situações que favorecem o
acúmulo de potássio, tais como sangramentos gastrointestinais, administração de
potássio, nas acidoses (redução da capacidade de excretar ácidos), uso de drogas
que antagonizam a excreção de potássio (espironolactona, IECA, AINE, beta-
bloqueadores) e suplementos com potássio.
ENVELHECIMENTO GÊNITO-URINÁRIOALTERAÇÕES ANATÔMICAS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS REPERCUSSÃO CLÍNICA (ANAMNESE - EXAME FÍSICO)
RIM
Redução do tamanho e volume;Esclerose glomerular progressiva;Reduçào da massa tubular;Aumento de divertículo tubular;Esclerose da arteríolas pré e pós-glomerulares
Redução progressiva do fluxo sangüíneo renal: 1%/ano/ >20 a;Redução progressiva do ritmo de filtração glomerular redução de 8-10 ml/min/1,73m2 por décadaPrincipais determinantes:Hiperfiltração Glomerular PersistenteDieta Hiperprotêica
“Insuficiência renal”Maior prevalência de nefrotoxicidadeA queda do clearance de creatinina não é acompanhada por um elevação proporcional da creatinina sérica, provavelmente, pela redução concomitante da massa muscular.Fórmula de Cockcroft-GaultEstimativa do Clearance de Creatinina =
140 – idade x peso (Kg)72 x Cr sérica (mg/dl)
BEXIGA
Trabeculação Fibrose Inervação autonômicaFormação de divertículos
Capacidade Habilidade de adiar a miccção Contratilidade Resíduo pós-miccional Contrações involuntárias
Risco de infecção do trato urinário Risco de incontinência urinária
URETRA Celularidade Deposição de colágeno
Resistência ao fluxo micional Pressão de fechamento
Risco de infecção do trato urinário Risco de incontinência urinária
PRÓSTATAHiperplasia
Irritação de receptores adrenérgicos Risco de infecção do trato urinário Risco de incontinência urináriaRetenção urinária
NOCTÚRIAMecanismos: Ingestão noturna de líquidos, redução da complacência vesical, redução da produção noturna de ADH ( na produção noturna de urina – 35%) , ICC, insuficiência venosa, diabetes mellitus e hiperplasia prostática.
Despertar noturno: INSÔNIA – QUEDAS
VAGINA Celularidade . Atrofia do epitélio Dispareunia Uretrite atrófica: polaciúria, urgência miccional
ASSOALHO PÉLVICO Deposição de colágeno Tecido conjuntivo Fraqueza muscular Incontinência urinária de esforço
A disfunção erétil não é uma conseqüência inevitável do envelhecimento normal. Ocorre em 15 a 25% dos idosos maiores de 65 anos e em 50% dos homens maiores de 80 anos. Causas emocionais, endócrinas, vasculares, neurológicas e drogas devem ser investigadas.O sildenafil oral (Viagra) é droga eficaz e deve ser recomendada, exceto na presença de insuficiência coronariana grave em uso de nitrato (efeito sinérgico venodilatação redução da pré-carga hipotensão arterial).
Leitura recomendada:
BRAVO CV Aging of the urogenital system. Reviews in Clinical Gerontology, v. 10,
p. 315-324, 2000.
COYLE J.M. Measuring renal function in old age. Reviews in Clinical Gerontology, v. 215-219, 1999;
PORUSH J.G., FAUBERT P.F. Renal disease in elderly patients. Reviews in Clinical Gerontology, v. 7,
p.299-307, 1997
12. ENVELHECIMENTO DO SISTEMA GASTRO-INTESTINAL
ENVELHECIMENTO GASTRO-INTESTINAL
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS REPERCUSSÃO CLÍNICA (ANAMNESE - EXAME FÍSICO)
Presbiesôfago: 20-60% dos neurônios
do plexo mioentérico;
Motilidade esofageana
Espasmo esofageano
Engasgos ocasionais
Maior prevalência de dor esofageana, simulando angina pectoris
Maior prevalência de astrite atrófica
auto-imune e secundária ao H. pylori
Acidez gástrica Deficiência da absorção de vitamina B12 e ferro
Redução na mucosa gástrica dos fatores
citoprotetores
Maior susceptibilidade a gastrotoxicidade pelos AINE
Redução do tamanho do fígado (35%)
Redução do conteúdo, afinidade e
atividade das enzimas hepáticas
Fluxo Sangüíneo Hepático (35%)
Metabolismo das drogas, principalmente do
metabolismo oxidativo (Ex.: Fenitoína)
Maior meia-vida das drogas Iatrofarmacogenia
Litíase biliar Intolerância maior a gordurosos Maior prevalência de colelitíase e suas complicações
Neurônios do plexo mioentérico Trânsito Intestinal: idosos saudáveis (até 5
dias)
Constipação intestinal
Maior hipotrofia da parede colônica Diverticulose Maior risco de diverticulite
Musculatura abdominal Hérnias abdominais
13. ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS
ALTERAÇÕES FUNCIONAIS
REPERCUSSÃO CLÍNICA (ANAMNESE - EXAME
FÍSICO)
Redução do peso (10%), fluxo sanguíneo cerebral (15-
20%), dilatação dos ventrículos;
Redução progressiva e irreversível do número de
neurônios cerebrais (particularmente no hipocampo) ,
cerebelares e medulares;
Deposição neuronal de liposfuscina;
Degeneração vascular amilóide;
Aparecimento de placas senis e degeneração
neurofibrilar;
Comprometimento da neurotransmissão dopaminérgica e
colinérgica.
Lentificação da velocidade da condução nervosa
Pupila (miose senil)
Lentificação do reflexo pupilar
Lentificação do olhar conjugado vertical superior > inferior
Lentificação das funções cognitivas
coordenação fina e da agilidade
Força muscular (simétrica)
Risco de hemorragia intracraniana
Discreto do tônus muscular sem produzir “roda denteada”
Preservação dos reflexos tendinosos, exceto o reflexo
Aquileu, que pode estar diminuído ou ausente.
Sensibilidade vibratória, abaixo dos joelhos
Ataxia: lentificação da marcha, com passos curtos e
arrastados, flexão do corpo, olhar para o chão.
Visão
Audição