livro Ética hacker e educação

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ética hacker

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SUMRIO Apresentao 2 Cultura digital e direitos autorais ChristianeBellorioGennariStevo,DanilodeAbreueSilva,Marianada Rocha C. Silva, Mnica Cristina Garbin e Vinicius Wagner 3 Hackerismo como resistncia poltica Renata Lima Aspis 12 Rede como espao livre e aberto Lialda Cavalcanti, Amarlis Valentim, Neusa Andrade e Clayton Messias 22 tica e a educao so para todos? Mrcia Figueiredo, Ronildo Aparecido Ferreira e Luciana Ferreira Baptista 31 Acolaboraonoambienteeducativofacesnovas tecnologias e a tica hacker Sergio Varga e Elizabeth Veronica V. Diaz 41 Autoria na web 2.0 no contexto da educao e a tica dos hackers MarciaIzabelFugisawaSouza,SergioFerreiradoAmaral,LucianaOliveira Silva e Izabel Cristina Arajo 48 O direito autoral na sociedade da informao LiliaMariaReginatoGallana,NadirRodriguesPereira,RaphaelSilveirae Lana Paula Crivelaro 62 Desmistificandoaculturahacker:serquetambmsou um deles? Bruno Gmbaro, Marcelo Batalha e Sergio Ferreira do Amaral 69 Hackers,redessociaiseaescola:perigose potencialidades Henderson Tavares de Souza 78 2 APRESENTAO EstelivrofrutodeumaproduocolaborativadosgruposdeestudosdoProf.Dr. Nelson Pretto, da Faculdade de Educao da UFBA, e do Prof. Dr. Sergio Ferreira do Amaral, daFaculdadedeEducaodaUNICAMP,atravsdasdiscussesereflexescrticasdos alunosdoprogramadeps-graduaodasduasuniversidades,buscandoproblematizar questes ligadas a tica Hacker. Osartigosforamelaboradosdepoisdevriasdiscussesentreosalunosdasduas universidadesdeformaquerefletemasquestesrelacionadasdisciplinaticaHackere Educao,ministradasimultaneamenteecomparticipaosncronadosalunosemuma plataforma virtual de aprendizagem, conectada na Internet. A ausncia de textos, artigos e material de livre circulao contextualizando a cultura Hackerfoiumgrandeelementomotivadorparaosalunosproduziremosartigos.Dentro destaperspectiva,foipossvelpreparar,inicialmente,seteartigosenvolvendoosalunosdas duasUniversidades,aosquaismanifestamosonossoagradecimentopelacontribuiodo tema para a Educao. Acadaanoseroadicionadosnovosartigosaolivro,gerandoumaproduo colaborativaeatualizada,centradaemumdosprincpiosdaticadosHackers-o compartilhamento de conhecimento, de forma aberta e gratuita. Acreditamosqueoresultadoalcanadopossaestimularaparticipaodeoutros grupos na construo de contedo para o entendimento e a necessidade da compreenso desta comunidade denominada Hacker e sua contribuio para a rea da Educao. Nelson De Luca Pretto, em Salvador, Bahia Sergio Ferreira do Amaral, em Campinas, So Paulo Dezembro de 2010. 3 CULTURA DIGITAL E DIREITOS AUTORAIS Christiane Bellorio Gennari Stevo Danilo de Abreu e Silva Mariana da Rocha C. Silva Mnica Cristina Garbin Vinicius Wagner RESUMO Hoje, com o avano da Internet, cresce vertiginosamente a disponibilizao de informaes e produtos pormeiodastecnologiasdecomunicaoeinformao.Ecomoreflexodisso,temosumaexpanso cada vez maior do acesso, que facilitado pela rede. Mas muito do contedo produzido hoje no disponibilizadonaredeparaacessolivreeumdosproblemasqueafetamdiretamenteaquestodos direitosdepropriedadeapirataria,apartirdafacilidadedecompartilhamentodearquivosna Internet. Esse artigo faz uma reviso das leis de direitos autorais no Brasil e discute aspectos da cultura digital livre que podem contribuir para uma maior democratizao cultural. PALAVRAS-CHAVE:direitosautorais,culturadigital,culturalivre,democratizao,Creative Commons, copyright INTRODUO ComaRevoluoIndustrial,asbasesprodutivasdasociedadetransformaram-seecomo resultadotm-seasmquinascadavezmaisocupandolugarcentralnosistemacapitalistade produo. Aevoluodosmeiosdecomunicaoeinformaoproporcionouaquebradasbarreiras territoriaisparaauniodocapital,umavezqueainterconexodemercadoscambiaispodeser realizada virtualmente. Tal revoluo provocou mudanas profundas na sociedade, que hoje chamada de Sociedade daInformaoedoConhecimento,assumindoento,comoprincipalcaracterstica,a disponibilizaodeumgrandefluxodeinformaesatravsdastecnologiasdacomunicaoe informao. Como reflexo disso, temos uma expanso cada vez maior de acesso s informaes. ComessademocratizaodaInternet,oacessosinformaesestcadavezmaisfcil.Um problema acarretado com isso a divulgao de produtos que antes eram comprados em lojas e agora sodistribudoslivrementepelarede.Talprticagerouumaenormediscussosobreoacessoa produes culturais e informacionais, pois seus autores no recebem retorno algum com a venda ilegal deseusprodutos.Muitosefalasobreanecessidadedecriaodeumaculturalivre,naqualos produtos podem ser acessados livremente, sem impedimentos. Entretanto, uma cultura livre no uma 4 cultura sem propriedades; no uma cultura onde os artistas no so pagos. Ela composta por regras de propriedade e contratos que so garantidos pelo Estado. AS LEIS BRASILEIRAS NoBrasil,asleisdedireitosautoraissurgiramatreladasConstituioPortuguesade1838, que naquela poca garantia aos inventores a propriedade de suas descobertas e aos escritores a de seus escritos, pelo tempo e na forma que a lei determinasse. Com a independncia brasileira e a partir das constituies de 1891, 1934, 1946, 1967 e 1969, osdireitosautoraisnoBrasilpassaramaserreconhecidos.AEmendaConstitucionaln1/69 determinava:Aosautoresdeobrasliterrias,artsticasecientficaspertenceodireitoexclusivode utiliz-las. Esse direito transmissvel por herana, pelo tempo que a lei fixar (ECAD, 2007). Emrelaomsica,osprprioscompositoreslutaramparaacriaodeseusdireitos autorais.SociedadesdedefesadosdireitosautoraiscomearamasurgirnosculoXX.Eram sociedades civis sem fins lucrativos.Em 1917, foi fundada a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais SBAT, que teve seu incio comautoresdeteatro,masconformefoiganhandofora,osautoresmusicaissejuntaramaeles. Chiquinha Gonzaga foi responsvel pela criao do SBAT, e foi ela quem primeiro cobrou os direitos autorais de suasmsicas utilizadasdentrodas peas teatrais.Essemovimentofoiaumentandoelogo foram surgindo outras entidades, como: 1942 Unio Brasileira de Compositores UBC 1946 Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores SBACEM 1956 Sociedade Arrecadadora de Direitos de Execues Musicais no Brasil SADEMBRA 1960 Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais SICAM 1962SociedadeBrasileiradeAdministraoeProteodeDireitosIntelectuais SOCINPRO. Essasassociaesnoconseguiamdefenderdeformasatisfatriaosdireitosdosautores; muitasmsicasepeasteatraispossuammaisdeumautoreissodificultavaopagamentocorretoa todoseles.Em1973foicriadooEscritrioCentraldeArrecadaoeDistribuioECAD (http://www.ecad.org.br),quepassouacontrolartodososdireitosautoraisdoBrasil,fazendoa cobrana e a distribuio dos direitos dos autores. ComsedenoRiodejaneiro,23unidadesarrecadadoras,600funcionrios,84 advogadosprestadoresdeservioe,aproximadamente240agnciasautnomas instaladasemtodososEstadosdaFederao,ainstituiopossuiamplacobertura emtodooBrasil.Ocontroledeinformaesrealizadoporumsistemadedados totalmenteinformatizadoecentralizado,quepossuicadastradosemseusistema maisde214miltitularesdiferentes.Estocatalogadas795milobras,almde412 milfonogramas,quecontabilizamtodasasversesregistradasdecadamusica.Os nmerosenvolvidosfazemcomque40a50milboletosbancriossejamenviados porms,cobrandoosdireitosautoraisdaquelesqueutilizamasobrasmusicais 5 publicamente,oschamadosusuriosdemsicas,quesomammaisde225milno cadastro do ECAD (2007). OECADporsuavezficouresponsvelporarmazenartodasasinformaesdasantigas entidades em um banco de dados, que seria atualizado sempre para o repasse destes valores. Afotografiapossuihistriasmaisantigas,datadasdosculoXIX,quandoaspessoasnose incomodavamcomaexposiopblicadassuasfotos,poisissosignificavastatus,sendoquetodos viamquedeterminadafamliapossuaascondiesnecessriaspara tersuasimagensregistradasem uma fotografia. Este tipo de exposio da imagem era, de certo modo, uma maneira de se mostrar para a sociedade. Mastudoissofoimudandoquandoseinventouumamaneiradereproduoemmassade fotografias, os chamados cartes postais da poca. Grandes reprodues eram vistas, principalmente defiguraspolticas,pornogrficasepaisagens.Comoaveiculaodessasimagenscomeouaser muito grande, principalmente a pornogrfica, houve a necessidade de se fazer alguma coisa para frear umpoucoessesacontecimentos.Foiaqueem1850,naEuropa,criou-seumaleiqueproibiaa exposio destas fotos em lugares pblicos. Estava tendo incio a censura e, com ela, a pirataria, pois comoasfotosforamproibidasemdeterminadoslugaresmuitaspessoasfaziamsuasreprodues clandestinas. Em 1865, o Code Internationale de Proprit Industrielle, Artistique et Littraire determinou que era permitida a imagem de uma praa ou qualquer outra foto de lugares, desde que essa imagem fotogrfica fosse uma criao e no uma reproduo do real. Ao longo do sculo XIX, a questo de se a fotografia pertencia ao mbito da arte ou aombitodacinciaerainseparveldoprocessoderegulaoecontroledeuma pujanteindstriafotogrfica.Aliondeseapresentavamquestesrelacionadasaos direitosdereproduo,aleivia-seforadaaintercederentreumadefesaque argumentava que a fotografia no era uma obra de arte e que, portanto, no podia ser objetodepropriedaderestringida,eumaacusaoqueargumentavaocontrrio (TAGG, 2005, p. 137). Criou-se ento a esttica fotogrfica. O legislativo tinha o difcil processo de separar as fotos que continham traos estilsticos e as separava das que no passavam de uma realidade objetiva. Em 1895, foi inventado o cinema, que seguiu as regras da fotografia, aproveitando a linha de interpretao jurdica. Foi ento que surgiu o problema: de quem era o capital e o lucro dos trabalhos realizados?Doscriadores,donosdasmquinase,conseqentemente,dequemfazastomadase criaes de todas as transformaes de realidade em obra de arte ou das indstrias produtoras? NoBrasil,ocapitalestnasmosdosdistribuidores,empresas,emsuagrandemaioria, multinacionais. Estas so as grandes responsveis pelo combate pirataria. A lei N 9.610, que regula os direitos autorais no Brasil, trata dos crimes contra a propriedade imaterial, em especial, da violao dos direitos do autor e os que lhe so conexos (BRASIL, 1998). Mas com tantas mudanas tecnolgicas acontecendo e com a introduo da tecnologia digital, ser necessria uma mudana na lei de arrecadao de direitos autorais, mas pelo visto mais uma vez 6 apenasascorporaessairolucrando,enquantoqueoautor,esseterdeesperarparaveroquevai acontecer. Em 1976, foi inventado o VHS (Vdeo Home System) e, com ele, o primeiro suporte de cpias ilegais de filmes em grande escala, que se transferiu para o campo virtual poca em que a Internet dava seus primeiros passos em 1990. Quando a rede atingiu seu espao de circulao global, a polmica se popularizou e a briga de foice comeou, pois as novas e generosas larguras de banda permitem baixar todo tipo de produto audiovisual num tempo inferior a um passeio de carro at a locadora. Na era das redes, os modelos de explorao econmica desses produtos j mudaram. O governo percebe que lutar contra a pirataria um trabalho sem fim. O cidado comum no sabe a diferena entre o direito autoral eodireitopatrimonial(oucomercial)deumfilme.Aoconfundiressasduas,escondem-seos interesseseconmicosdemaiormontantesobreoautorqueestsendoroubado.Essaoperao funciona h sculos no mundo dos livros, da msica, da fotografia, do cinema e do audiovisual. Em 2003, houve um grande movimento nas salas de cinema, comeando por Salvador, quando oECADfechouinmerassalasdeprojeoemtodooBrasil,pararegulamentaropagamentode direitos autorais das msicas que esto nas trilhas sonoras dos filmes exibidos. So exigidos 2,5% do total da bilheteria, embora no se saiba ao certo de onde veio esse nmero e como o ECAD chegou a esseclculo.Osproprietriosdecinema,indignados,foramaostribunais;apenasumdelesfezum acordo com o ECAD e pagou suas dvidas, mas os demais continuam lutando. Assim,aatuallegislaobrasileiradeterminaqueserconsideradoautordaobra audiovisual:oautordoargumentoliterrio,oautordoargumentomusical/litero-musical e o diretor, este ltimo sendo o responsvel por conferir identidade artstica obra cinematogrfica (AMADEU, 2007, p. 50). Sabemosqueestaumagrandeguerradepoderesevencequemtemmaisfora,ouseja, posio poltica privilegiada. No final do governo de Fernando Henrique Cardoso houve uma reflexo sobreasprticasdodireitoedajustianoBrasil,visandoregulamentaodosetoraudiovisual (cinema,TV,enovastecnologiasdigitais).Nesseperodo,nasceua ANCINE(AgnciaNacionaldo Cinema). No governo Lula, voltou-se a discutir sobre a criao de um novo rgo que regulamentasse o cinemaeaTV.FoifeitaapropostadaANCINAV,quepretendiamudaraarrecadaodosdireitos autoraispara1%para cadaco-autorprevisto emlei,numtotalde 3%, eno 7,5%comopropunhao ECAD.Noresolveriatodososproblemas,masjseriaumcomeodetrabalhoepoderiaserum futuroparaaregulamentaogeraldosetordecomunicao,incluindoaaindstriade telecomunicaes, celular e Internet. DEMOCRATIZAO DA CULTURA X COPYRIGHT NomomentoemquesurgeaInternet,barateandoosmeiosdeproduoeoferecendo tecnologias como o peer-to-peer e o MP3, o acesso aos bens , de certa forma, facilitado. Na era das 7 redesacirculaodasobrassedemdoisplanos:(I)ooficial,noqualoespectadorpagapara assistiraumdeterminadoespetculo;(II)oalternativo,maisconhecidocomopirataria,noqual possvelbaixarcontedosdisponveisnaInternet,oucomprandoumacpiaclandestinacomum vendedor ambulante. Talprticagerouumaenormediscussosobreoacessoaproduesculturaise informacionais, poisseusautoreseempresasno recebemretornoalgumcomavendailegalde seus produtos.Ocopyrightgaranteosdireitosautoraisbaseadonasleisfederais,mas,aomesmotempo, restringeoacessodapopulaoaosmeiosdeproduoculturalesubmeteoprodutoprincipalmente aos interesses de empresas, ferindo a principal inteno do artista que alcanar o pblico, passando a criar uma cultura antidemocrtica. Nesse contexto, muito se fala sobre a necessidade de criao de uma cultura livre, na qual os produtos possamser acessados livremente,semimpedimentos.Emoutraspalavras,a sociedadedeve aprender a preservar a autoria das produes culturais, garantindo o reconhecimento do artista no caso deusodeprodutosdisponveisnaInternet. Atmesmoporque,vriasobraseartistasjamaisteriam sido descobertos se no fosse pela livre circulao de arquivos na Internet. Esses fatos soencarados comoumproblemaparaasgrandesgravadoras,porexemplo,pois elaspassamaterlucroscadavezmenoresnavendadediscos.Comisso,muitosartistaspassarama lanarseuslbunsdemaneiramaisacessvel,compreosmaispopulares,ouainda,emversesque podem ser baixadas na rede.CREATIVE COMMONS Um dos problemas que afetam diretamente a questo dos direitos de propriedade a pirataria e a facilidade de compartilhamento de arquivos na internet, como em redes peer-to-peer, a exemplo do The Pirate Bay, recentemente autuado pela justia. Com a digitalizao dos arquivos, h a superao demuitasdificuldadesdereproduomaterial,poisosarquivospodemsercopiadosinfinitasvezes semsofrernenhumdesgaste,mantendo-seemumaqualidadeigualaooriginal.SegundoSilveira (2009), quandosecopiaumMP3noseroubanada,aquelequepermitiuacpiacontinua com seu arquivo. () Mas essas caractersticas do digital tornam obsoletas as velhas indstrias de intermediao que, em vez de explorar o potencial das redes imateriais, buscam criminalizar e tentar bloquear o compartilhamento. DentreasmedidasquebuscamcriminalizaressasaesnoBrasilestoprojetodosenador Eduardo Azeredo,batizadopeloscontrriosaeledeAI-5Digital.SegundoaCornils(2009),este projetopretendetipificarcrimescometidospelainternete,emnomedisso,restringealiberdadede uso e fere o direito ao anonimato dos usurios da rede. O projeto cria 13 novos crimes, dentre eles o deestelionatoeletrnico,demaneirainconsistenteeredaoampla,queatingeaprivacidadeea 8 liberdadedaspessoasemvriosaspectos,poisabrangeosdispositivosdecomunicaodeuma maneira generalizada e vaga. O copyright um termo mundialmente conhecido, representado por este smbolo, o C, que significaallrightsreserved,todososdireitosreservados.Elesurgiucomumafuno,digamos, de marcao de territrio, pois havia uma preocupao em manter os direitos autorais sobre as obras que,quandonoeramregulamentadas,acabavamporcairemdomniopblico.Eleteveetemsua utilidade, porm necessita de uma complementao. Ograndeproblemadocopyrightqueeleacaboupormarcarumapresenaexcessivaao redordoplaneta.TodotipodeproduointelectualacabavasendomarcadapelograndeC, dificultandomuitasaesqueenvolvessemtaisprodues.Algumasvezes,umasimplesproduo audiovisualsemfinslucrativos,porexemplo,quequisesseusarumamsicadeumadeterminada bandacomotrilhasonora,encontravavriosobstculosparaconseguircontatoeliberaodeuso juntoaodetentordosrespectivosdireitosautoraisdaquelamsica.Muitasvezesatsedeixavade utilizar uma determinada msica por no ter conseguido fazer um simples contato com o autor. O curioso que nem sempre o autor desejava restringir totalmente o uso de sua obra, mas as pessoasnosepoderiamdaraoluxodearriscar,poissemprehaviaoriscodeseremprocessadas, multadas, etc. Assim, o problema do C no o fato de restringir ou no, mas o de no refletir todos os intuitos do autor em relao sua obra. Fica claro que a grande dificuldade a necessidade de um intermdio entre as partes. A dinamicidade da internet ajudou a complicar um pouco mais essa situao. O surgimento e a expanso da rede mundial de computadores provocaram um incrvel aceleramento na disseminao de todotipodeinformao.udioevdeotransformaram-seemcontedodigitaldefcilpropagao. Issotrouxemuitosproblemasparaobomfuncionamentodocopyright,evidenciandoqueumnovo modo de gesto e licenciamento de produo intelectual era necessrio. Com isso em vista, surge, em 2001, a Creative Commons (criao comum), que, fisicamente, uma organizao sem fins lucrativos com dois escritrios, um em Berlim, na Alemanha e, o outro, em SoFrancisco,nosEstadosUnidos(CREATIVECOMMONS,2009).Existeminstituiesquea representam em outros pases, como a Fundao Getlio Vargas, no Brasil. A ideia desse movimento umamudananoconceitodecopyright,fazendocomqueelemigredoallrightsreservedpara some rights reserved, alguns direitos reservados. Basicamente,estamosfalandodeummododiferentedeseregistrarpropriedadeintelectual, sendo que o autor pode escolher, dentre uma gama de possibilidades, como vai proteger sua obra. No site creativecommons.org, a pessoa que deseja publicar sua obra na internet pode seguir uma srie de passosqueajudamadeterminaralicenacorretadeacordocomassuasreaisvontades. Assim,esse processo guia a pessoa desde a escolha da licena at a publicao em um site prprio ou em um dos inmeros servios de hospedagem gratuita que j incorporaram o Creative Commons. 9 Quando estiver navegando e vir, ao invs de um C, CC, saiba que voc tem direito a, no mnimo,copiar,distribuir,exibireexecutaraobra,respeitandoalgumascondies,como,por exemplo, dar os devidos crditos ao autor original. Isso facilita operacional e financeiramente o uso da obra de terceiros. Aslicenassotraduzidasedevidamenteadequadaslegislaodecadapas.Ositedo CreativeCommons(http://www.creativecommons.org.br/)destinadocomunidadebrasileiratraz explicaesdetalhadassobrecadaumadaspossveislicenasCC,quesurgiramparafacilitaro compartilhamento intelectual. COPYLEFT ALL RIGHTS REVERSED FoicombasenessetrocadilhoalusivoaCopyrightallrightsreservedquefoicriadoo conceitodeCopyleft,quefazcomqueumaobratenhaproteocontrarestries,isto,elano simplesmentepostaemdomniopblico(WIKIPEDIA,2009).Quandoumtrabalhoestlicenciado sobCopyleft,querdizerqueproibidoproibi-lo. Aobradevepermanecerlivrederestries.As pessoaspodemus-la,modific-laeredistribui-la,masnopodemrestringi-la.Consequentemente, uma obra que tem origem livre, no poder se transformar em privada. Esse conceitonasceu comRichardStallmaneosprimrdiosdosoftwarelivre comsuaGNU GPL (General Public License). Stallman disse que o trocadilho proveniente de Don Hopkins, artista e programador, que escreveu a frase pela primeira vez em uma carta que enviara a ele. Da em diante, papaiGNUpopularizouoCopyleftaoassoci-loGPLdoprojetoGNU(FREESOFTWARE FOUNDATION, 2009). CONSIDERAES FINAIS Nomundocontemporneo,vivemosumprocessodeintensaculturalizao.Istosedpor mltiplos motivos: a globalizao, que possibilitou trocas interculturais entre regies e pases; a defesa dadiversidadecultural;odesenvolvimentodastecnologiasdecomunicaoeinformao.Nesse cenrio,temosnovosatoresquereivindicampossibilidadeseoportunidadesculturaiscomo estimuladoresdeintegraoecriaodenovosmodosdevida:jovens,movimentossocioculturais, redesdetodootipopassamaseconstituircomoatoresculturaiserequeremnovosinstrumentosde acesso na participao democrtica. Um dos sentidos de democratizar a cultura ampliar o acesso aos bens culturais j existentes, permitindoqueaspessoasconstruamoseumodoprpriodeseredeparticiparnacomunidadeena sociedade.Ampliaradistribuioeacompreensodaproduoculturalpermitetambmquenos apropriemosdeinstrumentosdeexpressoepossamosconstruirumaconscinciacrticadiantedo mundo em que vivemos. O digital trs possibilidades novas e radicais para uma mistura e reapropriao dos produtos culturais e desenvolvimento de mais cultura.10 Odesafioinventarnovosmodelos,gerandoformasdesustentabilidadeeconmicamais eficientes e democrticas para a criao intelectual, mais adequados nova realidade digital. Trata-se de um desafio para toda a sociedade. REFERNCIAS AMADEU, Alessandro de Oliveira. O diretor e a autoria da obra cinematogrfica. Revista de Cinema, So Paulo, v. 8, n. 79, 2007.BRASIL. Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislao sobre direitos autorais e d outras providncias. 1998. Disponvel em: . Acesso em 1 dez. 2009. CORNILS, Patrcia. Contra o AI-5 Digital. ARede, n. 48, jun. 2009. Disponvel em: Acesso em: 15 set. 2009. CREATIVE COMMONS. Creative Commons BR. Disponvel em: . Acesso em: 1 dez. 2009. ECAD. O que direito autoral? [2007] Disponvel em: http://www.ecad.org.br/ViewController/publico/conteudo.aspx?codigo=48. Acesso em: 15 nov. /2009. FREE SOFTWARE FOUNDATION. What is copyleft GNU Project. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 1 dez. 2009. SILVEIRA, Srgio Amadeu da. Traficantes do atacam o Pirate Bay. ARede, jun. 2009.Disponvel em: Acesso em: 15 nov. 2009. TAGG, John. El peso de la representacin. Barcelona: Editora Gustavo Gili, 2005. WIKIPEDIA. Copyleft. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 1 dez. 2009. Christiane Bellorio Gennari Stevo Doutoranda em Educao Faculdade de Educao/UNICAMP Campinas, So Paulo, Brasil [email protected] Danilo de Abreu e Silva Graduado em Comunicao Social [email protected] Mariana da Rocha C. Silva Doutoranda em Educao Faculdade de Educao/UNICAMP Campinas, So Paulo, Brasil [email protected] 11 Mnica Cristina Garbin Doutoranda em Educao Faculdade de Educao/UNICAMP Campinas, So Paulo, Brasil [email protected] Vinicius Wagner Bacharel em Comunicao Social: Jornalismo [email protected] 12 HACKERISMO COMO RESISTNCIA POLTICA Renata Lima Aspis Hackers make things, crackers only know how to brake them (Eric Steven Raymond) HACKERS E CRACKERS Otermohackergeralmenteusadopelosensocomumparadesignarpessoasperitasem programaodecomputadores,queentramsempermissoeilegalmenteemsistemasalheiospara roubarinformaese,muitasvezes,dinheiro.Noentanto,segundoalgunshackersassumidos, especificamente Himanen (2001), autor de A tica dos hackers e o esprito da era da informao, a definiodealgumqueinvadesistemasdeoutremparafazerusoilcitodeseuscontedosse aplicariamaisaoquepodemoschamardecracker,oqueemportugusseriaquebrador.Para aquelesqueseautodenominamhackerseseorgulhamdistoaatividadedequebrarsigilosecometer delitosdigitaisnada tema vercomeles.Poderamos afirmarqueoquefundamentalmentediferencia hackers de crackers a tica na qual est baseada a atividade de cada um desses grupos e justamente este que,a nossover,o problema:aspossveisameaasdaticade trabalho hackeraocapitalismo financeiro. Problema este ao qual queremos nos dedicar neste artigo.ApalavrahackersurgejuntamentecomaprimeirageraodehackersnosEUAnofinalda dcada dos anos 50 do sculo XX advinda de hack, que em ingls significa talhar, talhar detalhes em madeira,compreciosismo.Quandoalgumproduzumtrabalhocriativo,inovador,comestiloe excelnciatcnica,diz-sequeessetrabalhofoiexecutadocomtalentodehacking.Ouseja, percebemosquejnaraizdousodovocbuloparadeterminaraatividadeencontramosasideiasde criao e excelncia e no de esperteza e intruso. De fato, todo o problema de invaso de sistemas e apropriaoilcitadeinformaes,comseuscasosveementementedivulgadospelamdia,passaa ocorrer a partir da dcada dos anos 80 do sculo XX, bem depois da criao da Internet e do sistema operacional Unix no final da dcada dos anos 60. No podemos esquecer que naquela poca o mundo ocidentalestavasendoregidoporRonaldReagannosEUAeMargarethThatchernoReinoUnido, operando conjuntamente para o final do Estado de Bem-Estar Social, rumando para o final da Guerra Friaeconsequentetriunfodocapitalismocomoconhecemoshoje:financeiro, microcomputadorizado,decontrole.H,apartirdaeathojeumainsistnciacrnicadosEstados, muito divulgada atravs da imprensa, em criminalizar os hackers. A distino que estes propem entre seugrupoe oscrackers norespeitada,vigorandosempreousodo termohackerpara aquelesque invademilicitamentesistemasalheiosparavantagempessoal.Humemblemticofilmesobreesta questo,daDiscovery,quesechamaHackers:outlawsandangelsquecolocaliteralmentequeh um problema que est dividido entre heris e viles. Este problema ocorre no ciberespao e refere-se, segundo o filme documentrio, propriedade privada. Eis a, no nosso ponto de vista, o problema. H 13 uma cerrada insistncia em colocar todos como crackers (chamando-os de hackers) como criminosos, todos, indistintamente. A pseudodistino que feita no filme diz respeito unicamente ao lado em que o perito se encontra: ou a favor ou contra as empresas e Estados capitalistas. S h diferena entre os chamados anjos e criminosos no que diz respeito sua concordncia em trabalhar para o sistema capitalista ou contra ele. Sempre a ao dos ali chamados hackers (tanto os do bem quanto os do mal) dizrespeitoinvasodepropriedade:comoperitosemprogramaodecomputadoresouinvadem sistemas (os do mal) ou estudam formas de preveno contra invases (os do bem), estes trabalhando para as empresas e Estados, muitas vezes aparecendo como ex-hackers do mal regenerados. Mas, em momentoalgumfeitaqualquerdistinoentreessaaodeinvadirouprevenir-secontrainvases, baseadaseminteressesprivadoseaao,estasim,prpriaeoriginaldosautodenominadoshackers que a de criar, baseados em interesses coletivos.Podemosnosperguntarporquehtamanhainsistncianacriminalizaodohacker.Sempre que encontrarmos uma reportagem ou mesmo um livro que trate de hackerismo na Rede constataremos que,emgeral,soverdadeirostratadossobresegurana.Seguranadasempresascapitalistas, seguranadapropriedadeprivadacontraofurto.Ora,estclaroqueexisteessetipodeao,oque aqui estamos chamando de crackerismo. No entanto, qual o interesse em no distinguir a ao de um craker da de um hacker? A TICA HACKER O hackerismo , desde o comeo, definido por uma luta pela liberdade. Trata-se de uma nova maneira,bastanteno-capitalista,desecolocarnomundo,trata-sedeumaticadistinta.E justamenteestaticaqueincomoda.Poderamosafirmarquehumatendnciaemcriminalizar qualquer ao que busca liberdade na Rede, resumindo todas elas ao ato de invadir sistemas alheios ou prevenir-secontraestasinvases,comosenohouvesseummovimentodebuscadeoutromodode encararotrabalho,outromododeencararasociedadeeseusvaloresqueestportrsdaaodos autnticos hackers. H essa tendncia criminalizao, pois ao se criminalizar qualquer movimento de resistnciaaosvaloreseprticascapitalistastende-seaesvazi-losdeseusentidopoltico, desautorizando-os.Comoseofatodediscordardaticamercantildosalve-se-quem-puderdo capitalismo financeiro nos tornasse a todos bandidos. Vejamos isto.A tica hacker est baseada em princpios que se chocam com os dos interesses dos Estados e dasempresascapitalistas,trata-sejustamentedeummovimentoderesistnciacontraaimplantao doscritrioscapitalistasnociberespao.ComodizJohnPerryBarlow,daElectronicFrontier Foundation, no filme Hackers: outlaws and angels, da Discovery Queremosociberespaototalmenteabertoatodotipodecomunicao(...) criaremosacivilizaodamentenociberespao.Queelasejamaishumanaejusta que o mundo que os governos construram. 14 A tica dos hackers, segundo Himanen (2001), se ope ao que ele chama de tica protestante dotrabalho,queadvmdofamosoensaiodeMaxWeber,AticaProtestanteeoEspritodo Capitalismo(1904-1905),queimperaaindahojeesemostrabastantepoderosa.Otrabalhador, segundoWeber,seguindoaticasocialdaculturacapitalistadevesentirotrabalho, fundamentalmente,comoumaobrigao.Otrabalho,sejaelequalfor,noimportandosesejafeito por vocao ou apenas por interesse financeiro, deve, segundo essa lgica, ser realizado, como se ele prprio fosse seu objetivo, como um fim em si mesmo. O trabalho , assim, um dever e deve ser feito em obedincia s ordens de Deus, como se Ele mesmo o tivesse ordenado, deve ser feito porque deve serfeito,noscabeobedecer.SegundoWeber,salientaHimanen,onicoprecursorhistricodatica dos protestantes est no mosteiro. Em um mosteiro, na Idade Mdia, ao monge no cabia questionar a natureza do trabalho que lhe fosse impingido, devendo apenas obedecer. Ali a natureza do trabalho no importa,tendoasregrasmonsticas,muitasvezes,opropsitodehumilharaalmadooperrio, forando-o a fazer qualquer coisa que lhe fosse ordenada, o que, ainda segundo Himanen, persiste em muitasfirmashojeemdia.SomenteapartirdaReformaProtestanteessavisosobreotrabalho ultrapassaosmurosdomosteiroeseespalhapelomundo,mundoestequesetornavarapidamente industrial,onde estaglorificaodotrabalhoporsimesmoseencaixacomoumaluvanosinteresses capitalistas. O trabalho elevado ao status de coisa mais importante da vida das pessoas. comum o sonho de que o desenvolvimento tecnolgico seja inversamente proporcional dedicao dos homens aotrabalho.Muitasvezesomarketingcapitalistaabusadestaideia,vemosnapropagandadeTVa mulher que pe a roupa namquina de lavar roupas e sai, arrumada, para passear: mquina tal, mais tempoparavoc!Himanen,noentanto,comentaqueemTheInformationAge,deCastells,oautor enfatizaque,apesardetodoodesenvolvimentotecnolgicoaceleradoatual,otrabalho,nosentido fsico,noestparaacabar.Asociedadevirtualnoquestionaaticaprotestante.Abandonada prpriasorte,acentralizaonotrabalhocontinuaapredominar.Eeisopontonoqualqueramos chegar: a tica hacker, em absoluto, encara o trabalho como obrigao, para o hacker aquele que faz resistncia ao avano dos valores e prticas capitalistas no ciberespao o fundamento de seu trabalho a paixo. Isto no significa que no trabalhem duro e que no haja tarefas enfadonhas a serem feitas, significabasicamenteque,paraeles,otrabalho,emprimeirolugarnoumapunio,nouma obedinciacegaaumanecessidadealheiaaosinteressesdequemarealizaenoumfimemsi mesmoenorepresentanecessariamenteumaatividadecomcomputadoresmasdeveser compreendida como um desafio social na medida em que vai contra a ideia e a prtica do trabalho na sociedade capitalista como vivemos hoje. Dopontodevistageral,anaturezaradicaldohackerismo,emgeral,consisteem propor uma postura alternativa para a sociedade de Rede um padro que questiona aticaprotestantepredominante.Nessecontexto,encontra-seonicosentidono qualoshackerssodefatocrackers:elestentamquebrarocadeadodagaiolade ferro (HIMANEN, 2001, p. 26). 15 Umsegundoaspectocaractersticodaticahackerqueseopenossaideiacorrentede trabalho a relao do trabalhador com o tempo. O Linux, a Internet e o PC no foram desenvolvidos num escritrio durante o horrio comercial, nos lembra Himanen. A relao de liberdade com o tempo caracterstica dos hackers, que apreciam esse ritmo individual de vida. Trata-se de seguir o ritmo da criatividade e no do relgio, o da indstria, da mquina, da produo, do lucro de outrem, do sistema. Trata-se de respeitar o ritmo individual de cada um, que pode dedicar-se exageradamente ao trabalho emdeterminadosperodos,seguindoseuentusiasmo,seuinteresseevontadeeabandonarastarefas paradedicar-seaoutrascoisasdavidaquandobementender.Paraopensamentohackeramxima tempo dinheiro, que traduz a essncia do capitalismo, no vlida, sendo mais apropriado tempo minhavida,afirmandoanecessidadedeumaassumidaeautodeterminada flexibilidade dotempo, ouseja,deliberdade.Nessesentido,estarelaotrabalho-tempoquepriorizaoritmoindividualna realizaodeumdeterminadoobjetivoestmaisprximadomododaIdadeMdiapr-protestante, para os ocidentais, de agir em relao ao trabalho, e que foi justamente o que os fez serem resistentes ao enquadramento ao ritmo da indstria. Ora,anovatecnologiadainformaopodeproporcionarumaoportunidadedevoltarmosa orientarotrabalhoparatarefas.MunidosdecomputadoresportteispodendoserconectadosRede semanecessidadedecabos,usandotelefonescelulareseoutrosaparatoseletrnicoshojej popularizados,poderamosimaginaromundodotrabalhopautadopelaliberdadeindividual.No entanto,istonoacontece.Oquevemos,estranhamente,quemaisparaocontroledoqueparaa liberdade usamos essas invenes. Essa tecnologia utilizada mais para a superviso intensa do tempo dotrabalhadordoqueparasualibertaodele,usadamaisparamaximizarasuasubmissoem relao obedincia no cumprimento de tarefas, sempre urgentes e que reclamam por imediatismo, do que possibilita sua autonomia de deciso e sua criatividade.VamostrabalharnoGoogle,resumeoconvitedestagigantedatecnologiadainformao, divulgado amplamente pela Internet, e que pode ser conferido em Google (2007), proliferando-se por e-mails de milhares de pessoas que o enviaram deliberadamente, mensagem encantadora que invadiu a imaginaodosjovensfuturostrabalhadores,apontandoparaapossibilidadederealizaodeum verdadeirosonho.Podeserqueemseuntimo,nervosos,sofriampensando:serqueeupossoser consideradoumdosmaisinteressantessereshumanosdoplaneta?Independentemente,aqui,de discutir a veracidade das informaes que o texto traz e focando nos efeitos que causou no imaginrio das pessoas, podemos nos perguntar: qu sonho esse que se v realizado no trabalho nessa empresa? Seria liberdade isso que eles oferecem? Seria autonomia? Privacidade? Seria incentivo criatividade? Criar para que? Para quem? Seria viver a vida? OpremiadoromancistaportugusJosSaramagoescreveuoromance ACaverna,publicado em 2000. H ali claramente uma relao direta da histria que se conta com o conhecidssimo mito da caverna, alegoria criada por Plato no livro VII de sua A Repblica. No vamos nos deter nesta relao aqui. O que nos interessa simplesmente dizer que se trata da histria de um sexagenrio que sempre 16 ganhou a vida como oleiro, fabricando com as prprias mos utenslios domsticos em sua oficina em suacasanazonarural.Aospoucoselesevcentrifugadodomundodotrabalhotendosuas mercadoriasrejeitadaspeloCentro,enigmticolugarparaondesedirecionatodaaproduo, comrcioeavidadaspessoasemgeral,inclusiveseulazer,moradia,assimcomoseusdesejos, consideradoOMELHORLUGARPARASE TRABALHAR!!Ouseriamelhordizer,OMELHOR LUGARPARASEVIVER?comoseaspessoastivessempassadoaviverdentrodeumenorme CondomnioShoppingCenter.CiprianoAlgor,opersonagemprincipaldoromance,colocado margem,estvelho,seuspratossosubstitudosporpratosdeplstico,seusbonecosdebarroesto forademodaenovendem.Ele,assimcomoagrandemaioriadaspessoas,estforadomundo,o mundo do Centro. Aquele lugar est reservado para os mais interessantes seres humanos do planeta.Eleestfadadoaaceitaracondiodedependentedafilhaedogenro.Ciprianovaimorarcomo jovemcasalnoCentroeacabaconhecendoosegredodaquelelugar:algunsesqueletoshumanos acorrentadosemumbanco,viradosdefrenteparaofundodeumacaverna,encontradosnas escavaesparaaconstruodemaisumpavimentosubterrneodeestacionamento. Asautoridades nosabemoquefazercomaquilo,atqueresolvemtransformaroestranhoachadoematrao, cobrando pelo ingresso da multido curiosa. Cipriano percebe que no pode viver ali.Anovasociedadeemredenaqualvivemospossibilitatantoumanovasociedadebaseadana liberdade individual, no compartilhamento e na criatividade quanto uma sociedade ainda mais diretiva, autoritriaedecontroledoqueaindustrial.Cabeansdecidirmosoquequeremosfazer.O desenvolvimentotecnolgicosozinhonogarantenemumacoisanemoutra,eledependedo posicionamentoeusodecadaumdens.Estaafirmaopodeparecerbvia,mas,olhandomaisde perto, ela diz respeito a pequenas escolhas do cotidiano que esto totalmente sob o poder de cada um: bastalembrarquecadapequenaescolhatemsuaconsequnciadiretaequeestapodenoserto pequena assim. Outroaspectobastanteemblemticodaticahackerodecolaboraonotrabalho,oque demonstra,maisumavez,asuaoposioideologiacapitalista.Todavezqueumhackerfazuma descobertaeleadisponibilizaparaqueoutrospossamus-laeaprimor-la.Noapatenteiapara vender.FoiassimqueLinusTorvaldscriouedisponibilizouseusistemaoperacional,Linux.Vemos queh,tomandoossignificadosoriginaisdosconceitosdehackeredecapitalismo,umaoposio fundamental,agoraaindaacirradapelarelaodoshackerscomodinheiro,quenoamesma pregadaepraticadapelocapitalismocomovivemoshoje.Aideiaqueestportrsdadefesada aberturadoconhecimentotecnolgicoamesmaqueregeacomunidadecientfica.Omodelo fechadonopermiteiniciativaecrtica,atosquepoderiamtornarumaatividademaiscriativae autocorretiva(HIMANEN,2001,p.72).Defende-seaausnciadehierarquia,masnosetratade defenderumaanarquia,poisnacomunidadehrbitros,pormsuaautoridadeconstantemente legitimadapelacomunidade,seriammaiscomochefesdetribodoquecomopresidentes.Ningum assume um cargo no qual o trabalho no possa ser revisto por um companheiro, como as criaes de 17 terceiros. Um conhecido hacker da velha guarda, Richard Stallman, o mentor de uma tentativa dos hackersdetentarconciliarsuaticacomocapitalismo,defendendoumanovaformadeeconomia, baseadanachamadaempresadefonteaberta,quedesenvolvesoftwaredemodeloaberto.Segundo Himanen, Eric Raymond em seu conhecido artigo The Cathedral and the Bazaar salienta que a grande inovaode TorvaldsnacriaodosistemaoperacionalLinuxnofoidecunhotcnico,massocial, hajavistaaformatotalmenteabertaecompartilhadasobaqualfoidesenvolvido.Basicamenteo modelofonteabertafuncionaapartirdaresoluodeumdeterminadoproblemaoudesafio consideradosignificativoquecompartilhadonaRede.Aquelequerecebeestaversodasoluo pode us-la livremente, test-la, desenvolv-la e isto possvel quando as informaes que levaram soluo (a fonte) so passadas junto com ela. Aquele que a recebe s tem duas obrigaes em relao obteno desses direitos, que so a transferncia desses mesmos direitos quando a soluo original ou umaversodesenvolvidaforemcompartilhadase,almdisso,deve-sesempredaroscrditospara aqueles que trabalharem nas verses compartilhadas. A ideia a de compartilhar uma soluo em sua fase inicial acreditando nos benefcios da multiplicidade de pontos de vista. Mais do que isso, em seu livro sobre a tica hacker Himanen apregoa um trabalho conjunto, comunitrio e prximo do conceito originaldeacademia. Aquinosaproximamosumpoucomaisdoproblemadesteartigo. Aquiloque HimanenvaidesenvolvercomoaideiadoqueelechamadeAcademiaVirtualalgoqueseope diametralmenteaomodelodeescolaeuniversidadequeusamosathojeeindstriaeditorialque transforma conhecimento em mercadoria, problema este que diz respeito tambm a toda a questo dos direitosautorais,direitoscomerciaisefinanceirossobreprodutosdoconhecimentotornados mercadorias de consumo. Segundo Himanen, se seguirmos a tica hacker de forma radical, tomando o conceito de comunidade cientfica e de academia em sua origem, podemos pensar uma nova forma de produzir conhecimento. Ele pensa na criao de uma Academia Virtual generalizada, na qual todo o materialdeestudopoderiaserlivrementeutilizado,criticadoedesenvolvidoportodos.Contrao nossomodeloatualdeuniversidade,hierarquizadonoqualoalunodevecalar-seeaprendercomos mais experientes e muitas vezes, seno na maioria delas, deve limitar-se ao que aprende, sendo vetada acrticaeacontribuio,Himanenpregaummodelonoqualoalunofossecolocadocomo pesquisadordesdeocomeo,discutindoosassuntoscomoutrospesquisadores,experientese principiantestambm,comotempooalunopoderiaacrescentarsuacolaboraoaoestudo desenvolvido.Certamente esta ideia um desafio para o futuro e depende do posicionamento de cada um de nsemrelaosformascomodisponibilizaremosnossasproduesecomoasusaremos.Perigoso concordar com ela to rpido: no so poucas as transformaes sociais necessrias para a mudana de ummodeloaoutro. AformacomoJohnPerryBarlowdaElectronicFrontierFoundation,colocaa questo no filme da Discovery, nos faz sentir sua gravidade: Estamoslidandocomumalutaentreofuturoeopassado.Entreasforasquej eram e as que ainda viro. Governos do mundo industrial: eu sou do ciberespao, o 18 novo lar da mente. Em nome do futuro, peo que vocs, do passado, nos deixem em paz.Vocsnosobemvindos,notmodireitodereinaraqui.Noconhecema ns nem ao nosso mundo. O ciberespao no pertence a vocs. Seus conceitos legais de propriedade, expresso, identidade, movimento e contexto, no se aplicam a ns. Elessebaseiamnamatriaeaquielanoexiste. Vamosnosespalharpeloplaneta para que ningum prenda nossos pensamentos. Podemosperceberqueoproblemaqueestsendocolocadopelaposiodoshackersem relaoaotrabalhomuitomaisamplodoqueaesferadaaltatecnologia.umaposturapoltica. Mais especificamente uma postura de resistncia poltica ao modo como hoje, no mundo ocidental, normalmenteencaramosasquestesdetrabalho,dinheiro,tempo,propriedade,prazer,vidasocial. Nestesentidoaposturapolticadohackernoserestringeaosespecialistasemlinguagemde computadores. Esta mesma posio pode (e deve) ser incentivada em qualquer esfera da sociedade. Na primeira Conferncia dos Hackers realizada em San Francisco em 1984, Burrell Smith,ohackerqueestpor trsdoMacintosh,da Apple,defineotermo[hacker] daseguintemaneira:possvelfazerquasetudoeserumhacker.Hhackers carpinteiros.Noestnecessariamenteligadoaltatecnologia.precisoter habilidade e gostar do que faz. (HIMANEM, 2001, p. 22). E poderamos acrescentar: preciso tambm saber que ao assumir essa postura de priorizar o prazer,aflexibilidadedotempoeacolaborao,estaremosnosassumindoumanovapostura pessoalemrelaoaotrabalho,mastambm,etalvezprincipalmente,umaposturapolticaesocial, propondo (na ao efetiva, o que melhor) uma nova sociedade. HACKERISMO E EDUCAO Ora,se,demaneirageral,podemosdizerquequalquerumpodeadotaraposturadeum hacker,podemosperguntar:comons,profissionaisdaeducao,nosposicionamos?Nomuito incomum os professores ficarem encantados com o crescente desenvolvimento do ciberespao, com a constante apresentao de novos recursos tecnolgicos no mercado e passarem a acreditar que tm que aderiraomundodigitaleofazemsemreservas.Ofazemsemestareminformadossobreovis polticoquehnessaatitude.HhojeumanovapossibilidadedelutaporliberdadequeaRedenos propicia e que tradicionalmente tem sido travada pelos hackers. Tomarmos conscincia disso nos leva adiminuirmososriscosdesermosmerosagentesdaintroduodosalunosnomundodigital, colaborandoparaareproduo,nestemundo,domundocapitalistacomtodososseusengodose malogros.Podeserquemuitasvezeshajacertapressadesatentadoseducadoresemadotaras tecnologiasexistentescomopartedeseusprocessospedaggicos,poisalmdoencantamentocom estas tecnologias h tambm o temor dos adultos hoje, que no so nativos desse mundo, em ficar fora dele.Hotemordeficaremapartadosdasnovasgeraes,emmundoseparados,usandolinguagens distintas,casonocorramnaimigraoparaasociedadedaRede.Enesteafdeparticipao podemosestarembarcandoingenuamenteemesquemasquetmumteorpolticoquepodenoser aquelecomoqualconcordamos.Ouseja,nomundoanalgicosabemosbemnosposicionar,porm, 19 muitasvezes,esquecemosquetambmnomundovirtualtemosqueatentarparaisso.Ofatoque tambmosjovensnativosdomundovirtual,quetmumaenormehabilidadeparaentenderseu funcionamentoprticoepara navegarnele,tambmestopouco informados sobre os jogosde poder neste mundo. Por exemplo, quantos de ns sabemos que o Google guarda todas as informaes sobre asbuscasquefazemosepode,atravsdisso,desenharumperfildousuriodedeterminado computador?Quantosdesconfiamquetalvezessesdadospossamserusadoscomercialmentecontra ns, ou seja, que possam ser vendidos para empresas que podem nos bombardear com propagandas de produtosespecficosdonossouniversodeconsumo?EmumadascenasdofilmefuturistaMinority Report, de Steven Spielberg, de 2002, veem-se os indivduos passarem, sem perceber, por leitores de ris que rapidamente acionam a mudana das propagandas nos outdoors de forma que essas se adaptam imediatamente ao perfil do passante. Estamos quase l. Talvez a maioria dos usurios da Internet no saibaoquerastroeletrnicoedesavisadamenteoferecemdadosseusanosesabequem.Quanto mais eletrnica torna-se nossa era mais e mais vestgios so deixados em diversos bancos de dados. Os Estados autoritrios podem se valer disto. Mas, em maior nmero, nos pases desenvolvidos, nos quais o uso de aparatos eletrnicos pessoais como cartes de crdito, telefones mveis, computadores e at TV digital, entre outros, muito intenso, o perigo est nas empresas contra os indivduos. Imagine que operfildetalhadodeumapessoa,rastreadoportodooaparatoeletrnicoqueusa,possibilitaa pesquisadeseuspadresdevida.Eistodizrespeitoaqualquerum,porexemplo,comotrabalhador visto pela empresa onde est empregado, ou como candidato a um emprego, ou como pai que pleiteia umavagaemumaescolaparaseufilho,etc.Sabemosatravsdasnotciasdejornais,decasosde demissodefuncionriosocorridosapsaanliseereprovaodeseucomportamentoeletrnico, quer seja por suas mensagens de email ou por visitas a sites considerados imprprios pela empresa, ou por algo que comentaram sobre a empresa em sites de relacionamento. No se trata aqui de incitar uma sensaodeperseguionoleitor,maslevantaradiscussodanecessidadecrescentedeproteo consciente e defesa da privacidade. Esta uma luta fundamental por liberdade que tanto prezamos no mundo analgico e da qual esquecemos no mundo virtual. Em relao a isto os hackers tambm esto atentosehumahistriadedefesadaprivacidadequetolongaeimportantequantoalutapor liberdadedeexpresso.Elestrabalhamparaencontrarsoluestcnicasparatornarpossvela privacidade na era da Eletrnica na qual vivemos cada vez mais intensamente. Um conhecido grupo oCypherpunks,importantenodesenvolvimentodetecnologiasdecriptografia,mtodosqueos governos desaprovam, j que estes, quando slidos, garantem uma privacidade autntica. Um de seus membros,JohnGilmore,em1991,emseumanisfestoPrivacy,TechnologyandtheOpenSociety imagina uma sociedade na qual no fosse necessrio se identificar a cada momento at mesmo para os pequenos trmites do cotidiano. Quanto mais os educadores, hoje, se envolvem e defendem o uso das novastecnologiasderedenosprocessoseducacionaismaiselestambmdevemestaratentosparaa questo da defesa da liberdade e da privacidade dos usurios desses novos meios, ou seja, eles mesmos e seus alunos, com os quais esto colaborando na formao. 20 RESISTNCIA E OCUPAO DO CIBERESPAO OimportantehackerRichardStallman,criadordoconceitodesoftwarelivre,inventordo copyleft, no tem celular. [] no quiero tener uno porque son instrumentos de vigilanciay seguimiento, hasta un punto es inevitable para hacer y recibir llamadas, el sistema necesita saber donde est uno, pero no me gusta que algo sepa dnde estoy siempre, entonces prefiero no tenerlo (VIVA LINUX, 2009). Outroimportantehacker,EricRaymond,nousacartodebanco.Sabemosqueestesso exemplos de atitudes simblicas de resistncia que funcionam principalmente porque estas pessoas so notcianasmdias.Porm,quandofalamosderesistnciapolticahoje,emdefesadaliberdade humana,aque,exatamente,devemosresistir?Ounosetrataderesistiraalgumacoisa?O capitalismo rizomtico, em rede, no qual vivemos hoje, o capitalismo de empresas, no permite mais quearesistnciapolticasejafeitaatravsdaorganizaodoproletariado,enquantoclasse,em sindicatos:negociaes,passeatas,greves.Jnosomosmodernosnisso.Jnodispomosda imagemdeumproletrioaquembastariatomarconscincia(DELEUZE,2004,p.213).Pensarem resistiraalgonosremeteaumarelaobipolardecontraposiodireta,termoatermo.Houveesse tempo:criarmovimentosdeoposiodiretaaoEstado,paratomaroEstado,inclusive,tomaroseu lugar. Porm, isto j passou. Podemos dizer que estamos aqui pensando na busca de uma ao poltica de resistncia hoje, nomundonoqualvivemos,entreoanalgicoeovirtual,quesejaumaaodecriao,uma resistnciaquepoderamoschamardeafirmativa.Resistnciadehacker.Noumaresistncianos moldes modernos que se configurou como uma resistncia no sentido de negar algo, o Estado, aquelas foram resistncias contra um inimigo, em um constante jogo de oposio termo a termo. Tratava-se de seoporparanegar.Noentanto,pensamosemproporparahojeumaresistnciaquesejaumato positivo, um constante movimento de recriar-se a partir do embate. Assim, praticaramos a resistncia comoconstantemovimentodeafirmaravidahumana,livreeprpria.Movimentosafirmativosda vida:resistnciacomore-existncia.Re-existir,insistiremexistir.Parece-nosquehoje,muitomais, temos instrumentos de resistncia, de luta pela vida, de luta pela liberdade, pois podemos nos colocar no ciberespao e criar. Podemos assim alcanar uma visibilidade nunca antes experimentada. Na nossa EradaInternet,nociberespao,dependendodaformacomonosposicionamos,podemosgarantir uma democracia muito mais ampla do que no mundo analgico, com aes simples. Himanen nos d o exemplodopapeldousodessatecnologianaguerradeKosovo.Nspoderamoscitar,attulode exemplo,acontroversaecensuradaeagoramundialmentefamosablogueiracubana YoaniSnchez, que a partir de seu blog , nos faz conhecer uma ilha que no a mesma das informaes oficiais de Cuba e nem das dos EUA. Sobre o terremoto que massacrou o Haiti em janeiro de 2010, temos informaes muito mais complexas e autnticas do que as veiculadas em qualquer jornal impresso ou televisivo; um exemplo o blog , 21 de estudantes da Unicamp, que estando l por ocasio do acontecimento, no se furtaram de transmitir paraomundoaversodeles.Estaumafacetaimportantedoqueestsendodefendidoaquineste artigo: resistncia como possibilidade de criar sua prpria verso do mundo, dos fatos mnimos como sentimentos ntimos da existncia no cotidiano at grandes acontecimentos de interesse internacional. Falamosdapossibilidadedecultivaropensamentoprpriosobreascoisas,oprprioolharepoder expressaristoepoderservistoeouvidoepoderencontrarimediatamente,nomundovirtual,outros com quem compartilhar. Um aspecto de suma importncia no hackerismo que a mesma procura tem sempre em mente que resultados de grandes propores podem ser obtidos pela cooperao direta das pessoas, e a nica coisa que limita os resultados a nossa imaginao. O modeloabertodoshackers,porexemplo,poderiasertransformadonummodelo social,quepodeserbatizadodemodelodefonteaberta,atravsdoqualseria anunciado:tenhoumaideia,possocontribuircomXparaimplement-laeespero adeses!. Embora essa ideia de modelo aberto tambm envolva ao fsica, a Rede poderiaserutilizadacomoummtodoefetivoparareunirforase,posteriormente, disseminareexploraraindamaisessaideia(...)omodelodoshackerspodecriar grandesresultadosnociberespaosemqueosgovernosnemempresasinterfiram. Restasaberquaisseroasgrandesrealizaesalcanadascomacooperaodireta das pessoas. (HIMANEN, 2001, p. 79). Cooperao.Pensamosquecontraumsistemaeconmicoesocialquenoscondiciona competitividadeexacerbada,nosapartandounsdosoutros,podemospraticaracooperao,a colaborao, moda hacker, no ciberespao, o novo lar da mente como disse John Perry Barlow. A despeito da passividade na qual fomos colocados, vendo a vida passar na TV, cansados depois de um diaexaustivodetrabalho,podemosefetivamenteagirnaconstruodasnossasprpriasversesdo mundo e de ns mesmos.REFERNCIAS DELEUZE, G. Conversaes. Rio de Janeiro: Editora 34, 2004. GOOGLE - Frum Script Brasil. 2007. Disponvel em: . Vamos trabalhar no Google? Acesso em: 29 jan. 2010. HIMANEN, P. A tica dos hackers e o esprito da era da informao. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 200 p. TORVALDS L.; DIAMOND D. S por prazer: LINUX, os bastidores da sua criao. Rio de Janeiro: Campus, 2001. VIVA LINUX. Entrevista a Richard Stallman. 2009. Disponvel em: . Acesso em: Nov. 2009. Renata Lima Aspis Grupo de Pesquisa Diferenas e Subjetividades em Educao Faculdade de Educao/UNICAMP Campinas, So Paulo, Brasil [email protected] 22 REDE COMO ESPAO LIVRE E ABERTO Lialda Cavalcanti Amarlis ValentimNeusa Andrade Clayton Messias RESUMO Opresenteartigoapresentaumabrevecontextualizaododesenvolvimentodaredeedainternet,e comoasredessociaisconstroemumanovaformademediaodarealidadeesuasrespectivas implicaes no que se pode chamar de tica da rede. Destacam-se tambm alguns pontos referentes aousodaredenombitodaeducaoeensino,suasnovasformasdecomunicaoesuas caractersticas.Comenta-sesobreacomunicaoqueocorredeformaplanetria,semfronteirasou limitaes geogrficas e de certa forma tambm atemporais. Alerta para a necessidade de delimitaes quantovigilnciaeaocomprometimentodaprivacidadequevmareboquedodesenvolvimento tecnolgico, atingindo a todos os usurios, implcito ao uso das novidades tecnolgicas e da forma de ver a vida e conceber as relaes, vinculadas a esses novos padres. PALAVRAS- CHAVE: internet, rede social, comportamento, educao, sociedade em rede, tica INTRODUO Tendo em vista as necessidades, os interesses sociais centrados no ser humano e a soluo de problemasparasuaplena realizao,hoje, imprescindveloreconhecimentodequeas tecnologias, asformasdeorganizaoeainteraosocialpodemtranscenderombitoeconmiconoesbooda nova sociedade. inquestionvelaimportnciadarevoluodigital,aqualpossibilitouumanovaformade percepodamquina,cujacompetnciainicialdestinava-seapenasacalculareacontar,sema intencionalidadedepromoverqualquertipoderelaoafetiva.Comosurgimentodasredesde informtica e sociabilidade (a Internet e as multimdias), entra em cena uma viso diferenciada na sua caracterizao, tornando-se umveculo capaz de estabelecer relaes humanas e afetivas, confirmada pelasnovasformasdecomunicaoedetransfernciadedadospelarede,comoacriaode comunidades virtuais, dilogos via chats, entre outros. Vivenciamosumarealidadeatravsdemediaes:telas,caboslentes,etc.Nossarealidade torna-se relativa e, como afirmou Tijiboy et al. (1998, p. 42): as realidades so relativas e dependem preferencialmentedamaneiracomocadapessoaasperceba,talpodetersidoocasodeCoprnico, Galileu,Aristteles,Bacon,Einstein,entreoutrospersonagensqueinfluenciaramaspercepesde mundo. 23 Nesse jogo de percepes e aparncias, realidade X virtual, o que afinal est acontecendo nos bastidoresdestecenrioemqueamquinadesdobra-seemtraduziranaturezaemdadosbinrios, conseguindo ser portadora e empreender aes interativas de um universo imaginrio complexo? Segundo Lemos (2002), Vivemoshojeapocadacomunicaoplanetriafortementemarcadaporuma interaocomasinformaes,cujopicearealidadevirtual.Ainteratividade digitalcaminhaparaasuperaodasbarreirasfsicasentreosagentes(homense mquinas)eparaumainteraocadavezmaiordousuriocomasinformaes,e no com os objetos (LEMOS, 2002, p. 121-122). Adcadade60foirevolucionriaparaahumanidadeemvriosaspectos,namsica,na poltica,nocomportamento,nacincia,natecnologiaecomunicao.NosEstadosUnidos,as pesquisasconduzidaspelaARPA(AdvancedResearchProjectsAgency)paraatenderafinsmilitares, no perodo da guerra fria no Departamento de Projetos de Pesquisas Avanadas da Agncia de Defesa criouaARPANET.Oprojetoinicialeraconstitudoporumplanoderedeconectadoemquatrons, comadesodasuniversidadesamericanas:Stanford,Berkeley,CaliforniaatLos Angeles(UCLA)e Utah, conforme a arquitetura descrita por Carvalho (2006).UmadasestratgiasadotadasqueviabilizaramaconstruodaARPANETfoia implantaodeumaarquiteturaquepermitissedividirascomplexastarefasde conectividade em um conjunto de funes discretas que interagissem entre si atravs deregrasespecficas.Essasfuneseramchamadasdecamadas,poisestavam dispostasemumahierarquiaconceitualqueiadonvelmaisconcreto(da manipulao de sinais eltricos nosmeios fsicos de comunicao) ao mais abstrato interpretaodecomandosdadosporusurios,emlinguagemmaisprximada humana. (CARVALHO, 2006, p. 16-17). Compropsitodeeliminararestriodeusosomentesuniversidadeselaboratriosnos EstadosUnidos,em1983,osurgimentodainternetsedarcomasubstituiodoantigoprotocolo NCP pelo TCP/IP e as caractersticas marcantes desta revoluo tecnolgica, a partir de 1987, quando comea a operar em ambientes comerciais iniciando a sua expanso no incio da dcada de 90, quando a conexo com vrios computadores espalhados pelo mundo torna-se possvel. Entende-se por internet um conjunto de rede planetria de bases telemticas, na qual o homem pode trocar informaes sob as mais diversas formas e de maneira instantnea. A Internet um potente recurso que favorece formas novas e diferenciadas de sociabilidade possibilitando ao usurio navegar eexplorarcontextos,osmaislongnquospossveis,apenascomalgunstoquesnasteclasdeuma mquina, fornecendo a informao ao alcance de todos.ComaexponencialexpansodatecnologianofinaldosculoXX,surgemmecanismosde interfacesquecriamumnovoparadigmaqueseorganizaemtornodainformaoparageraode conhecimentos e de dispositivos para seu processamento, resultando no desenvolvimento de domnios cuja configurao denominada rede.Porrede,entende-seasomadasestruturasfsicas(equipamentos)elgicas(programas, protocolos)quepermitemadoisoumaiscomputadorescompartilhareminformaesentresi.Esse 24 compartilhar de informaes s pode ocorrer quando um computador estiver conectado a uma rede de computadores.pormeio dessainterligaoqueocomputadortemacesso s informaes queaele chegam e s informaes presentes nos outros computadores ligados a ele na mesma rede. Isso permite um nmero muito maior de informaes possveis para acesso atravs daquele computador. Associadaexpansodas tecnologiasestadaInternet,oriundadeumaestruturadecriao coletivadematerial difundidoporseuscriadores,os quaisoperavamnomodelocdigo-fonteaberto, submetendoosmateriaisdesenvolvidosaexaustivostestesparaverificarsuaefetividadedeformaa disseminar o conhecimento.OdesenvolvimentodainternetteveparticipaosignificativadeumGrupodeTrabalhode Rede, conhecido atualmente como Internet Engineering Task Force que funciona dentro da Internet Society, cujo membro orientador Vicent Cerf, vinculado a UCLA. Osatoresdessedesenvolvimentoapresentavamgrandefascniopela programao,eestavam embuscadedescobertasemvistadedesvendaremenigmasnacodificao.Muitasvezes,definiam esse trabalho de tecnologia como uma evoluo, a alternao entre estudos tericos sobre teoremas e a prtica da programao exploratria. Nosbastidoresdestafantsticacriao,estavaumgrupodeprogramadoresdenominados hackers(singular:hacker;emportugus:decifradores),osquaisdivulgavamsuasfaanhaspor acreditarem no potencial do compartilhamento de informaes, experincias e elaborao de softwares gratuitos, visando mudana no acesso e na difuso do conhecimento, abertos a todos e, sempre que possvel, objetivando melhoria da vida em sociedade.Areformulaodestemododepensamentovalorizaacondioderespeitoexistncia humana,instigandoumamaiorreflexonestanovasociedadenascidaconcomitantementecomas novas tecnologias. Utilizandoessemodelodeinformaocompartilhada,SteveWozniak,umdosmembrosdo HomebrewComputerClub,inventaocomputadorpessoal(PC)paraserusadoporpessoassem graduao em engenharia. Nascia o Apple I.Em 1990, Tim Bernes Lee criou o protocolo http (hiper text transfer protocol) que a base da Word Wide Web (WWW). O hipertexto global foi planejado pelo ingls quando trabalhava no centro suodepesquisasemfsicadaspartculas-CERN.Trata-sedeumafunodainternetquecompila numnicoeimensohipertexto (compreendendoimagensesons),todososdocumentosehipertextos (ligaes) que a alimentam, permitindo aos usurios individualmente ou em grupos, s instituies e as empresascriaremseusprpriossites,numateiadecomunicaointerativaesetransformandonuma rede de amplitude mundial. 25 SOCIEDADE EM REDE O que vem a ser sociedade em rede? A sociedade em rede uma estrutura social formada por um conjunto de redes integradas pelas tecnologias de informao, que vem se expandindo pelo planeta em funo das relaes estabelecidas pela apropriao da internet.As redes impregnam a vida cotidiana como um reflexo de nossa sociedade, que se torna cada vezmais associada aos desafios da comunicao e da informtica e revelam umconjunto de atitudes que produz um movimento de captura e de humanizao das novas tecnologias. Estasociedade,marcadacontemporaneidade,emergiunoltimoquartodosculoXX, decorrente de dois fenmenos independentes:Revoluo da tecnologia da informao na dcada de 1970: oArpanet (ancestral da Internet), 1969; oInveno do circuito integrado, 1971; oProtocolos TCP/IP, 1973-1978; oRevoluo do software: cdigo do UNIX, 1974;PC Computador pessoal, 1974-1976. oProcesso de reestruturao socioeconmica dos dois sistemas que competiam ente si: Capitalismo em 1973-1975; Comunismo em 1975-1980. Osegundofenmenorefere-seaoprocessodereestruturaosocioeconmicadossistemas Capitalismo (1973-1975) e do Comunismo (1975-1980), que competiam entre si. Asupremaciaestruturaldocapitalismosedatravsdaprodutividadeinformacional,da desregulamentao, da privatizao, da globalizao e da organizao em redes. Com isso, a sociedade em rede se expande como a forma dominante de organizao social. Estruturas Fundamentais da Sociedade em Rede Nanovaestruturaditadaporestaeconomia,osmercadosfinanceirosglobaissoconstrudos sobresinaisdeprocessamentoemredeseletrnicasbaseadasnasredescolaborativasdeproduoe gerenciamento de alta performance. As corporaes multinacionais com suas redes, por exemplo, respondem por mais de 30% do produtobrutoglobalecercade70%dosnegciosinternacionais.Asprpriasempresasfuncionam sobre e atravs das redes. Elas so descentralizadas em redes internas, trabalham com base em alianas estratgicasemumageometriavarivelderedescorporativas,asquaissevinculamsredesde pequenasemdiasempresas.Nasequncia,todaaredeempresarialsevinculaaclientese fornecedores atravs de uma rede patenteada. Cabe salientar que so descartadas as unidades econmicas, territrios e pessoas, que deixem de funcionar de acordo com as regras dessa economia, ou que no apresentem um interesse potencial para essas redes dominantes. 26 Filosofia Cdigo-Fonte Aberto Quando a IBM desenvolveu o computador pessoal, sem querer abriu sua tecnologia para quem quisessereplic-la.EssenicoatoestimulouarevoluodoPC,queporsuavezestimuloua revoluo da informao, a revoluo da internet e a nova economia.Na sua forma mais pura, os projetos cooperativos do cdigo-fonte aberto permitem que todos participem de seu desenvolvimento ou explorao comercial. O Linux o exemplo de maior sucesso. Ele comeou como uma ideologia partilhada por desenvolvedores de software que acreditavam que o cdigo-fonte dos computadores deveria ser partilhado livremente (HIMANEN, 2001). O que foi inspirado por ideologia firmou-se como tecnologia e est funcionando no mercado. Agora o cdigo-fonte aberto se expande alm dos domnios da tcnica e dos negcios. EFEITOS DA EVOLUO DA SOCIEDADE DA INFORMAOUmdosefeitosdestaevoluonasociedadedeinformaonosremeteaumapreocupao quanto ao fim da liberdade e privacidade com a violao e vasculhamento da vida pessoal de todos os usuriosdarede.Defato,Castells(1999)reconhecequeapresenanaredeouaausnciadelaea dinmica de cada rede em relao s outras so fontes cruciais de dominao e transformao de nossa sociedade. Estes riscos so consequncias impostas pela forma de utilizao da informtica como recurso cidadoeficiente,ouno,desociabilidade.Nopodemosprivarousuriodesteciberespaodesua autonomia cidad. A proteo dos dados pessoais requer, entretanto, uma regulamentao jurdica para nosetransformarnumcaosgeneralizadonasociedadevirtual.Dissodecorreumimportante questionamento: De que forma precisamos agir para que a vigilncia e a perda da privacidade no se ampliem? A reduo da liberdade individual acontece na mesma proporo em que as novas tecnologias se desenvolvem. medida que informamos nossos dados para usufruirmos dos recursos tecnolgicos (telefonescelulares,cmerasdevigilncia,passaportesbiomtricos,GPS,internet),fornecemose revelamospartesdanossavidapessoal,mergulhandoinconscientementenumasociedadequenos vigiapelos rastrosdeixadosnarede,a qualsolicita,porexemplo,opreenchimentodecadastrospara obteno de senhas eletrnicas como meio de acesso s informaes disponibilizadas na internet. inegvelressaltarquenestaltimadcada,pagamosumaltopreopelousodestes dispositivos que nos fornecem bens e servios atravs de uma parceria implcita, realizada pelo toque dasteclasdocomputadoreapossibilidadedeinteraocomomundoexterior.Comisso,o preenchimentodequestionrios,fichascadastraisparaparticipaoemdomnios/servidoresda internet,comunidadesvirtuais,sitesderedessociais(Orkut,Facebook,entreoutros)alimentam constantemente os bancos de dados com registros de transaes executadas sem a nossa percepo real do que se passa no ciberespao. 27 Nastelecomunicaes,avigilnciaeofimdaprivacidadetambmacontecem.Essefato decorredoritmoaceleradodasinvenes tecnolgicasedacompetiodesenfreadadomercadoque anunciapromessasutpicastrazendoofuturoatopresente.Confirmamisso,asinovaesqueos telefonescelularesdeltimageraofornecemaosclientesacessointernet,chipGPSeoutras funes cujos benefcios proporcionam facilidade de uso, alm de uma localizao mais precisa. No entanto, neste jogo de seduo pela obteno de telefones com tecnologia avanada topo de linha, o usurio cai em armadilhas que, sem perceber a intencionalidade dos instrumentos, fornece soperadorasosmeiosdecontrole,possibilitandogravaesdeconversas,escutas,etc.,quepodem at serem transformados em microfones para fins jurdicos. REDE X EDUCAO: SURGIMENTO DE NOVOS CONCEITOS Ainvenodocomputadorpessoal,osurgimentodainternetedaweb,impulsionaramo desenvolvimentodastecnologiasquevmassumindoumpapelinovadoretransformadorna sociedade,naqualsedesencadeiammudanasnasformasdecomunicao,trabalho,hbitoe compreensodocotidiano,queserefletemnasinovaesorganizacionais,comerciaisesociais. Surgem,assim,novasrealidadesenovoshorizontes,influenciandonossomododevida,difundindo novas concepes de mundo. Nesse sentido, o ciberespao, segundo Lvy (1999, p. 79), torna-se[...]umnovomeiodecomunicaoquesurgedainterconexomundialdos computadores.Especificanoapenasainfraestruturamaterialdacomunicao digital, mas tambm o universo ocenico de informaes que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam este universo. J o termo cibercultura representa para o autor um neologismo que especifica [...] o conjunto detcnicas(materiaiseintelectuais),deprticas,deatitudes,demodosdepensamentoedevalores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespao" (LVY, 1998, p. 84).Naeducao,arelaocomaredegeranovosconceitosepossibilidades.Nombitodo processodeensino-aprendizagem,aInternetpassaarepresentarumrecursopotencialquepermitea utilizao de meios facilitadores, possibilitando ao usurio a navegao e a explorao de contextos os mais longnquos possveis apenas com alguns toques nas teclas de uma mquina. Aintegraoentreoscomputadores,asnovasformasdecomunicaoeatransfernciade dados pela rede vm propiciando sociedade, a concretizao de dilogos que tornaram o humano um ser que interage, independentemente do espao geogrfico e do tempo real linear. Consoante a esta ideia, Belloni (1999) afirma que, AsNTICsoferecempossibilidadesinditasdeinteraomediatizada (professor/aluno;estudante/estudante)edeinteratividadecommateriaisdeboa qualidadeegrandevariedade.Astcnicasdeinteraomediatizadacriadaspelas redestelemticas(e-mail,listasegruposdediscusso,webs,sitesetc.)apresentam grandesvantagens,poispermitemcombinaraflexibilidadedainteraohumana (com relao fixidez dos programas informticos, por mais interativos que sejam) 28 comaindependncianotempoenoespao,semporissoperdervelocidade (BELLONI, 1999, p. 59). Avertiginosaexpansodaredeeaevoluodastelecomunicaespermitemainteraode pessoas em diferentes regies geogrficas, favorecendo o desenvolvimento de projetos colaborativos. Segundo Silva (2004),AInternetcomportadiversasinterfaces.Cadainterfacereneumconjuntode elementosdehardwareesoftwaredestinadosapossibilitaraosinternautastrocas, intervenes,agregaes,associaesesignificaescomoautoriaeco-autoria.Podeintegrarvriaslinguagens(sons,textos,fotografia,vdeo)natelado computador.Apartirdeconesebotes,acionadosporcliquesdomouseoude combinao de teclas, janelas de comunicao se abrem possibilitando interatividade usurio-tecnologia,tecnologia-tecnologiaeusurio-usurio.Sejanadimensodo "um-um", do "um-todos", seja no universo do "todos-todos". (SILVA, 2004, p. 4). A insero do computador e o advento da internet na prtica pedaggica abriram um portal concepodeumnovomododeproduzireducaoeoseducadoresnopodemficaralheiosaesta realidadecadavezmaispresentenaatividadeprofissional.necessriaumarupturacomofazer pedaggicotradicional,adequandoosmtodosdeensinoeasteoriasdetrabalhoinovao tecnolgica. Para Abranches(2003),asredesvinculadaseducaorepresentamumdiferencialexemplo deumadasvariedadesdeusodainternetpelapossibilidadedetrocadeinformaesetrabalho colaborativo, que envolve os integrantes com lista de discusso, correio eletrnico, conferncias, etc., objetivando a construo de conhecimentos. Assim,asociedadepercebeafusodaeducao/sistemasescolarestecnologiaenopode ignorar a interao do homem com a mquina, perceptvel em todas fases da civilizao, e de repensar a reorganizao da escola e seus processos formativos, buscando-se potencializar a aprendizagem dos alunos, a qualidade no enfoque pedaggico e nas relaes com a comunidade. Neste contexto, o ciberespao pode favorecer uma prtica pedaggica no mais realizada face aface,dandoorigemaumanovapropostadeeducaoadistncia(EaD),que possibilitaoacessoa umaeducaosemfronteiras,atravsdeumconjuntovariadodemeiosdeinformao,capazde promoveradifusoeaconstruodoconhecimento,buscandoviabilizaraformaodepessoas excludasdoprocessoeducacional,independentedelugaresgeogrficosedaexignciade coincidncia de horrios fixos. Nesta modalidade de educao, as salas de aulas do ensino presencial mudam de endereos e sotransferidasaociberespaocomumanovadenominaoparaestelocal:ambientevirtualde aprendizagem (AVA). Este ambiente um espao disponibilizado na internet constitudo de recursos e ferramentasoperacionais(sncronaseassncronas)ondeosprofessoresorganizamoscontedoseas atividades,visandorealizaodeprocessosdeaprendizagempromovidospelasinteraesna plataforma de ensino. 29 As ferramentas sncronas diferenciam-se das assncronas pela exigncia de funcionamento em temporealdosintegrantesdaturma/disciplinanumhorriofixopreviamentemarcadoparasua utilizao na plataforma de ensino: bate- papos (chats). As ferramentas assncronas independem de um horriofixoparaacesso:mural,frumdediscusso,portflios,wiki,questionrios,entreoutros, servem para armazenar hierarquicamente as atividades propostas e respostas solicitadas aos alunos nos mdulos das disciplinas. Para Kenski (2003), preciso maior reflexo sobre o poder educacional das novas tecnologias no processo de ensino de maneira global, ressaltando que [...] fundamental que os espaos educacionais se constituam como lugar de acesso, produo e disseminao da informao, e dessemodo no se pode pensar a escola desprovidadastecnologiasdecomunicaoeinformao,principalmentedo computadoredoacessoInternet.fundamentalqueaescolaestejaintegradaao universodigital,cominfra-estruturaadequadadeequipamentoseserviosde qualidade. Entretanto, preciso ir alm. (KENSKI, 2003, p. 73). Aindasobreograndesaltonasrelaesentreeducaoetecnologias,Kenski(2005)afirma que pode propiciar a sociedade uma conexo com acesso a informao em qualquer parte do mundo, naqualescapaotempolineareoespaogeogrfico,entrandoemcenaatelepresena,osmundos virtuais, o tempo instantneo, abolio do espao fsico entre outros:A sala de aula se abre para o restante do mundo e busca novas parcerias e processos paraensinareaprender... Asaulassedeslocamdoshorrioseespaosrgidosdas salaspresenciaisecomeamacriarvidadeformacadavezmaisintensivano ciberespao. (KENSKI, 2005). Defato,estanovaEaD,quenascedosavanosdadistnciaedatecnologia,nopodeser tratadacomoummodismo.Elarompeprofundamentecomaeducaopresencial,alterandonossa maneiradeperceberedeinteragircomomundopelaformadepensar,olhareagirnestanova realidade.Trata-se de um fenmeno social que possibilita a democratizao de acesso ao ensino, com a adoo de novos paradigmas educacionais visando formao de indivduos autnomos, crticos para atuareintervirnomundoemquevive,quebrandoomedoeresistnciadeposturasirredutveis relativa ao uso de tecnologias da informao e comunicao. Finalmente,aeducaoadistnciavemsetornandoumasadaparaaquelesqueno encontramtempoparafrequentarauniversidadediariamenteembuscademelhorqualificao profissional com mecanismos significativos para a capacidade de aprender autnoma e criativamente - umacaractersticadamodernacidadanianospasesdesenvolvidos,quepodesereficaz universalizao da educao formal. Osresultadosdousodaredeedostrabalhoscolaborativosdesenvolvidospodemcontribuir beneficamenteparaasociedadeatual,mas,hqueseconstruirumaformaosocial,humanaeat jurdica que d conta das especificidades desse contexto, prevendo e possibilitando uma tica da rede. 30 REFERNCIAS ABRANCHES,S.Modernidadeeformaodeprofessores:aprticadosmultiplicadoresdosNTEs do Nordeste e a informtica na educao. 2003. Tese (Doutorado em Educao), Universidade de So Paulo, So Paulo, 2003. BELLONI, M. L. Educao a distncia. Campinas, SP: Editores Associados, 1999. CARVALHO,M.S.R.M.de.AtrajetriadainternetnoBrasil:dosurgimentodasredesde computadoresinstituiodosmecanismosdegovernana.2006.259f.Dissertao(Mestrado EngenhariadeSistemaseComputao)UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,COPPE,Riode Janeiro, 2006. CASTELLS, M. A sociedade em rede. So Paulo: Paz e Terra, 2001. HIMANEN, P. A tica dos hackers e o esprito da era da informao. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 200 p. KENSKI,V.M.Tecnologiaseensinopresencialeadistncia.Campinas,SP:Papirus,2003.(Srie Prtica pedaggica). _________.Dassalasdeaulaaosambientesvirtuaisdeaprendizagem.2005.Disponvelem: . Acesso em: mar.2009. LEMOS,Andr.Cibercultura:tecnologiaevidasocialnaculturacontempornea.PortoAlegre: Editora Sulina, 2002. LVY, P. Educao e cibercultura. Revista Educao, Subjetividade & Poder, Porto Alegre, 1998. _________. Cibercultura. So Paulo: Editora 34, 1999. SILVA,M.Internetnaescolaeincluso.2004.Disponvelem:. Acesso em: set. 2009. TIJIBOY, A. W. et al. Aprendizagem cooperative em ambientes telemticos. Informtica na Educao: teoria e prtica, Porto, Alegre, v. 1, n. 1, 1998. Lialda Cavalcanti Doutoranda em Educao Faculdade de Educao/UNICAMP [email protected] Amarlis Valentim Mestre pela Faculdade de Filosofia Letras e Cincias Humanas Universidade de So Paulo [email protected] Neusa Andrade Especialista em Internet e Educao [email protected] Clayton Messias Especialista em Educao a Distncia pela Escola Superior Aberta do Brasil [email protected] 31 TICA E A EDUCAO SO PARA TODOS? Mrcia Figueiredo Ronildo Aparecido Ferreira Luciana Ferreira Baptista RESUMO A tica e a Educao so para todos? Uma reflexo importante para o mundo contemporneo. muito mais econmico e menos trabalhoso na sociedade atual um nico modelo de educao para todos. Ser quetico?Serqueconseguiremosformarindivduoscrticos?Inovadores?Ouapenasalguns poderoteraeducao,ainformao,oensino?Aticahackerdescrevealgunsvalorescomo:a informao deve ser livre; desconfie das autoridades e promova descentralizao, etc. Um retrospecto da educao. PALAVRAS-CHAVE: educao, tica, ensino ETHICS AND EDUCATION FOR EVERYONE? ABSTRACT AreEthicsandEducationforeveryone?Animportantreflectionforthecontemporaryworld.Itis muchmoreeconomicalandlessworkintoday'ssocietyasinglemodelofeducationforall.Isit Ethical?Willwebeabletoeducatecriticalindividuals?Innovators?Orjustafewmayhavethe education,information,instruction?Theethicalhackerdescribessomevaluessuchas:the informationmustbefree,suspicioustheauthorityandpromotedecentralization,etc.Aretrospectof education. KEYWORDS: education, ethics, instruction INTRODUO Antesdaescritaohomemprimitivoparasecomunicardesenvolveualinguagemvisual,ao pisarsobreobarro,oulimparamosujadesanguesobreumarocha,ouriscarcomumgravetono cho, o homem descobriu a imagem. Assim,ohomemdacavernautilizandoasmosnasprimeirastentativasdetalhara pedra,exercianarealidadeumprodigiosoesforodeabstrao,trabalhava mentalmente, na sua rudeza bronca, mais que o grande sbio moderno, precedido de toda uma civilizao preparatria: a mo fazendo a coisa, graas ao comando de um espritoaindaobscuroepesado,ia,porseulado,permitiroaparecimentoda linguagem e mesmo provoc-lo. (MARTINS, 1998, p. 19). Comearamasurgirformasdeescritaporvoltade3000a.C.,naMesopotmia,utilizando ideogramasefonemas.NoEgito,eramusadospapirosetintasrudimentarespararepresentaode 32 signosnacomunicaoescrita.Emdiversasregiesagrcolas,duranteaAntiguidade,pararegistrar nomes,objetosequantidadesdoqueseproduzia,foinecessriocriaralfabetoseoutrossistemasde smbolosgrficosenotaesnumricas,ousodaescritaerarelacionadocomacontabilidadeeo inventriodostemplos.Aolongodossculosseguintes,surgiramoalfabetonorte-semtico(sia Ocidental,1700-1500a.C.),asescritascuneiforme(Sria,1400a.C.)earamaica(Oriente-Prximo, 1000 a.C.) e o alfabeto grego (Grcia, 1000-900 a.C.). As inscries ainda eram feitas sobre cermica e outros materiais, como cera, argila, peles de animais e papiros (DIAS, 1999). Naquela poca surgiram profissionais especializados produo e interpretao dos registros, eramossacerdoteseescrives,esseseramsemprepoucos,eporserdetentoresdopoderdelere escrever, eram privilegiados. Passaram-se anos e comearam a surgir as primeiras Universidades, a primeira surgiu na Itlia, emBolonha,nortedaItlia,nofinaldosculoXI,aUniversidadedeParis,namesmapoca.Essas duas universidades deram a largada para o surgimento de inmeras outras na Europa. Apesar de uma partedelasserdesvinculadadaIgreja,dependiamdoavaldoclerooudogovernoparafuncionar. Dedicavam-se ao ensino das leis, Medicina, Astronomia e Lgica. NoBrasilaprimeiraInstituiodeEnsinoSuperiorfoiaEscoladeCirurgiadaBahia,no sculo XIX, depois as Faculdades de Direito de So Paulo e Olinda, mas a primeira Universidade com cursos em vrias reas foi a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920. Opapel,introduzidonomundoocidentalemmeadosdosculoXII,difundiu-senaEuropa entre os sculos XIII e XV. Em meados do sculo XV, Gutenberg inventou a imprensa e a tipografia. A Bblia deGutenbergconsideradaaprimeirapublicao impressa.Passamosda eradosmanuscritos paraaeradopapelimpresso.Acomunicaoescritaeomododetransmissodostextossofreram profundas mudanas com a imprensa (DIAS, 1999). Hquasetrezentosanoscomearamasurgirnovasideiasquepregavamnoser justo que poucosna sociedade tivessem privilgioshereditrios exclusivos (como o acmulodegrandesfortunasbaseadasnaexploraodeoutraspessoas,opoder absoluto sobre a vida e a morte), alheios dos outros e acesso privilegiado a todos os tiposdeconhecimento).Essasideiasgerarammudanasnopodereconmicoe polticonaEuropa,promovendoaformaodosprimeirosEstadosnacionais democrticos.Foramentocriadasescolaspblicasdestinadasaoferecer populaoemgeralaformaoqueanteseraprivilgiodasinstituiesreligiosas (LITTO, 2010). Foiem1632que Joo AmsComenio(1592-1670), escreveuaDidticaMagnapautadapor ideiastico-religiosasedecarterrevolucionrio.Nessapocaostextosreligiososestavamescritos em latim. Segundo as propostas de Comenio, os textos religiosos deveriam ser escritos nas lnguas das diferentes localidades, dessa forma, todos teriam direito a esses escritos, sem a intermediao da Igreja Catlica. "Ensinar tudo a todos" que sintetizaria os princpios e fundamentos que permitiriam ao homem colocar-se no mundo como autor, como j dizia Comenio, em sua obra Didtica Magna, em 1657. 33 NaobradeComenioencontramosasbasesparaaGeneralizaodaescolaeacessodetoda populao mesma. Para o autor, o ensino tem seu fundamento na prpria natureza que por ser divina perfeita.Partindodosimplesparaocomplexo,cadaetapaaseutempo,necessitandodecondies adequadasparadesenvolver-se.Umprocessonoqualocursodosestudosdistribudoporanos, meses,diasehoras.Dessaforma,nosmostraumcaminhofcileseguroparaporemprticaestas ideias com bom resultado e sem esforos extremos para o aluno. Com a Revoluo Industrial, final do sculo XVIII, a escola assumiu papel relevante na vida em sociedade, as inovaes tecnolgicas oferecidas proporcionarammaior velocidade ao processo de transformaesdamatria-prima.Novasmquinasautomatizadas,geralmentemovidaspela tecnologiadomotoravapor,foramresponsveisporessetipodemelhoria,surgiramcentenasde fbricas, com mquinas sofisticadas para produo de centenas ou milhares de produtos iguais, e para operar tais mquinas os trabalhadores precisam aprender a ler, escrever e fazer clculos. DuranteosculoXX,outrasnovidadestrouxeramdiferentesaspectosaocapitalismo.O industririo Henry Ford e o engenheiro Frederick Winslow Taylor incentivaram a criao de mtodos onde o tempo gasto e a eficincia do processo produtivo fossem cada vez mais aperfeioados. Segundo define Antunes: [...] entendemos o fordismo fundamentalmente como a forma pela qual a indstria e oprocessodetrabalhoconsolidaram-seaolongodestesculo,cujoselementos constitutivosbsicoseramdadospelaproduoemmassa,atravsdalinhade montagemedeprodutosmaishomogneos;atravsdocontroledostempose movimentos pelo cronmetro fordista e produo em srie taylorista; pela existncia do trabalho parcelar e pela fragmentao das funes. (ANTUNES, 1995). Asescolastambmpassaramaterestruturassemelhantessdasfbricas,produzindo,todo ano,milhesdealunosque,almdeestudaremnosmesmoslivros(comidnticoscontedos),eram avaliadospormeiodeprovaspadronizadas (de formasimilaraosautomveisproduzidosnas linhas demontagem).Era,aomesmotempo,umarespostaexignciadopensamentodemocrticodedar umapreparaoformalparaavidaeconmicaparatodososcidadoseumasoluoparao fornecimentodemo-de-obraparaasociedadeorganizadaemtornodaproduoindustrialdebens materiais (LITTO, 2010) A partir do sculo XIX, muitos foram os avanos tecnolgicos no ramo da eletricidade. Vrios inventoscomearamainfluenciaraformadecomunicaodasociedade.Em1837,oalfabetofoi digitalizadonocdigoMorsee,nosanossubseqentes,aindanosculoXIX,foraminventadoso daguerretipo, o telgrafo, a mquina de escrever, o fongrafo, o telefone e o rdio. Em 1890, nasceu a mecanografia, com o carto perfurado de Hermann Hollerith. No incio do sculo XX, surgiram outros dispositivos relacionados, de alguma maneira, com a comunicao:ocinemafalado,ateleviso,ogravador,acanetaesferogrfica,afotocopiadoraeos primeiroscomputadores.Comessaevoluoapareceramtambmnovossuportes:fotossensveis 34 (filme, microfilme, fotografia e microficha), mecnicos (disco de vinil) e magnticos (filme polmero recoberto por xido de ferro ou cromo). FoinaSegundaGuerra Mundialque realmentenasceramoscomputadoresatuais. A Marinha americana, em conjunto com a Universidade de Harvard, desenvolveu o computador Harvard Mark I, projetadopeloprofessorHowardAiken,combasenocalculadoranalticodeBabbage.OMarkI ocupava120maproximadamente,conseguindomultiplicardoisnmerosdedezdgitosemtrs segundos. Simultaneamente,eemsegredo,oExrcitoAmericanodesenvolviaumprojetosemelhante, chefiado pelos engenheiros J. Presper Eckert e John Mauchy, cujo resultado foi o primeiro computador avlvulas,oElectronicNumericIntegratorandCalculator(ENIAC),capazdefazerquinhentas multiplicaesporsegundo.Tendosidoprojetadoparacalculartrajetriasbalsticas,oENIACfoi mantido em segredo pelo governo americano at o final da guerra, quando foi anunciado ao mundo. Nasociedadedoconhecimento,osindivduossofundamentais.Druker(1997)alertaqueo conhecimento moeda desta nova era no impessoal como o dinheiro: "Conhecimento no reside em umlivro,emumbancodedados,emumprogramadesoftware:estescontminformaes.O conhecimentoestsempreincorporadoporumapessoa,transportadoporumapessoa,criado, ampliadoouaperfeioadoporumapessoa,aplicado,ensinadoetransmitidoporumapessoae usado, bem ou mal, por uma pessoa. Para ele, a sociedade do conhecimento coloca a pessoa no centro, e isso levanta desafios e questes a respeito de como preparar a pessoa para atuar neste novo contexto. Como em sociedade, seja real ou virtual, formada por pessoas que possuem em seus aspectos maisntimosideais,crenas,medos,fantasiasequeagoraestorepresentadosatravsdepalavras, imagensesons.Asfronteirasgeogrficassedesfazemenovasmascarassurgem.Atravsdeuma iluso de anonimato, as pessoas se transformam. Papeis podem inverter-se facilmente com num passe de mgica, bandidos podem posar de mocinho, extrovertidos podemmostra-se tmidos. Neste mundo virtual encontra-se o Hacker, um dos personagens mais incompreendido, procurando pela lei, amado e odiado pela sociedade real.EmDella ValleeUlbrich(2004),encontramosapalavraHackersendousadaparadefiniros carpinteirosquefabricavammveisusandomachados.Jnadcadade40e50,passouaserusada paracategorizaralgunstiposdeprofissionaiscomomecnicos,eletrnicoseradioamadores, popularizando-secomosinnimodeespecialistaemcomputadoresnadcadade60,principalmente entre os pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT).Em plena guerra fria entre Estados Unidos e Unio Sovitica, a criao da Advanced Research ProjectsAgency(ARPA)pelogovernoamericano,deuinicioaumasriedepesquisasqueacabou criandotudoqueconhecemossobreinformtica.Separadadaredemilitar,aARPANETinterligou inicialmente as universidades permitindo acesso as informao de uma forma rpida e eficiente.35 Porserumpadroabertoderedeeestaremconstruo,variasfalhasformadescobertase infelizmenteexploradasporpessoas,quedetinhamoconhecimentoeminformtica,paraprticasde pequenos delitos, despertando a ateno da impressa. Della Valle e Ulbrich (2004) acreditam que a m formaodasfrasesquecompunhamasnotciasacabouporlevaropblicoaassimilardeforma errnea o significado de Hacker.Todasasdefiniesencontradassejamemlivros,revistas,jornais,internetounamdia falada/televisiva,descrevehackercomosendoumapessoacomslidosconhecimentosem informtica,principalmentenoquesereferemaSistemasOperacionais,redesdecomputadorese programao.Almdisso,aelessoatribudasasmaioriasdoscrimesdigitais,aconstruoe disseminaodevrus,trojans,wormsentreoutraspragasdainformticaquepreocupamempresas, governos e cidado em todo os pases. Hacker,etimologicamenteestrelacionadopalavraHackquesegundoodicionrioOxford Pocket(2001)significa:"hack/haek/vt,vi1~(at)sthcortaralgoaosgolpes2~(into)(sth) (informtica)invadiralgoilegalmentehackingsinvasoilegaldeumsistema",portanto,um criminoso.Esta viso que circula no meio social no compartilhada pelos profissionais em informtica. importantelembrarqueportrsexisteumaculturaeumcdigodetica.Hackerumtermoque representapessoasquesoextraordinriasnoquefazem,verdadeirosentusiastas.Omesmo entusiasmotambmsevnavidadeartistas,escritores,msicos,pilotosouespecialistasnareade tecnologia. Mas o termo mais conhecido por pessoas que dominem o uso da informtica, sempre em busca de conhecimentos e desafios, compartilhando suas descobertas e apoiando sua comunidade. Ser Hackerumaquestodeatitude,resolverproblemaseconstruir,acreditarnaliberdadeenaajuda mtua voluntria.Podemos dizer que existem trs linhagens sobre a cultura hacker, segundo Schulz (2008). Os amadores,quesurgiramnadcadade70 juntamente comosprimeiroscomputadorespessoais,eque conheciam eletrnica se aventuravam em montar esses computadores comprando kits de montagem e descobrindo proteodecpiasdejogos.Osacadmicos,inicialmentedesenvolviamtruquese pegadinhas,quemaistardesetransformaramemimportantessoluestecnolgicas.Essalinhagem tambmfoibemdestacada,quandooMITcoordenouumprojetoparaacriaodeumcomputador compartilhado,ondeosestudantesdeintelignciaartificialsededicaramhorasnolaboratriodo projetoaoinvsdefrequentaremssalasdeaulatradicionais.Eporfim,oscrackersquesurgiram comaslinhastelefnicas,criandoconexespormeiodecomandosquesomenteascompanhiasde telefonedeveriamconhecer.Comodesenvolvimentodasredesdecomputadores,ascompanhias telefnicaspassaramausarterminaiscontroladosporcomputadores,assim,essalinhagemmigrou para redes digitais de computadores.36 Esta diversidade reflete-se tambm na questo tica, e abrandam comportamentos inaceitveis poroutrosgrupos.EstaticahackermodernafoiescritaporSteveMizrach,umprofessorde antropologia da Universidade da Florida, que resumiu suas descobertas aps ler o artigo H uma tica hacker para os hackers ps-anos 90?:1 - Acima de tudo, no cause danos 2 - Projetar a privacidade 3 - No desperdice (os recursos computacionais) 4 - Exceda limitaes 5 - O imperativo da comunicao 6 - No deixe vestgios 7 - Compartilhe! 8 - Combata a tirania ciberntica 9 - Cone, mas teste.Demodogeral,asinformaesveiculadassobreoshackersbuscamassoci-losagnios criminososdareadeinformtica,normalmentejovensqueutilizamseusconhecimentosem tecnologiacomputacionalparabeneficiarem-secomprejuzosparaoutraspessoas,empresase organizaes.Essaassociaoacriminososcriticadapelosprprioshackersquecriaramotermo crackerparareferir-seaoscriminososdigitais.ParaMedeiros(2002),apalavracrackersurgiuem 1985 com a ntida inteno de separar as aes de hacking e cracking. Cracker vem do verbo ingls to crack (quebrar) e o verbo to hack vem associado palavra cortar/entalhar originado a palavra hacker, sendo associada ao ato de modificar ou criar algo novo. Desta forma, ser hacker no significa apenas possuirhabilidadetcnicasurpreendente,significatambmresolverproblemascomcriatividadee paixo.Esta no apenas uma questo semntica, hackers e crackers so personagens de ummundo virtualqueacadadiaencontra-semaispresentenasociedadereal,quesegundoPierreLvy(1999), especificanoapenasainfra-estruturamaterialdacomunicaodigital,mastambmouniverso ocenico de informaes que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.Segundo Himanen (2001), os hackers so representantes de um esprito completamente novo, cujo significado apenas comeamos a compreender, aquele entusiasta em qualquer tipo de trabalho, aquele que realiza seu trabalho com paixo, habilidade e cuidado artesanal.Aticahackertradicionalbaseia-seemStevenLevy(1984),quedescrevealgunsvalores ticos para caracterizar as similaridades das culturas hacker que so seguidos at hoje:1 - A informao deve ser livre;2 - Desconfie das autoridades e promova descentralizao;3 - Julgue as pessoas pelo que elas criam e no por suas credenciais;37 4 - O acesso aos computadores deve ser ilimitado;5 - As pessoas podem criar arte e beleza com os computadores;6 - Os computadores podem mudar a vida e o mundo para melhor.OprimeirovalorcitadoporLevytemrevolucionadoamaneiracomosefaznegciosno mundo.DefensorescomoRichardStallmaneLinusTorvalds,quepartiramdapremissaquetoda informaodeveser livre, produziuumdosmaisbemsucedidossoftwaresnomundooGNU/Linux.Na educao, o elemento bsico tambm a informao que hoje, graas a tecnologia est disponvel aqualquerum,fazendocomqueoeducadordeixedesera nicafonte. Almdelivre,a informao temquesercontextualizadaparasetransformeemconhecimento.ParaPauloFreire(citadopor TORRES,1997),oconhecimentoumaconstruosocial,constituiumprocessodeproduo discursiva e no um mero produto final resultante do acmulo de informaes ou de fatos