livro ergonomia cap. 1

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Sumário 1 Introdução ................................................................................................. 3 Capítulo 1: A história da Ergonomia ........................................................... 9 1.1 Introdução .......................................................................................................... 11 1.2 O que é ergonomia?............................................................................................12 1.3 Os domínios da Ergonomia ...............................................................................12 1.4 O desenvolvimento da ergonomia ..................................................................... 14 1.5 Concepção e projeto........................................................................................... 19 1.6 A abrangência de atuação e desenvolvimento da ergonomia ............................23 1.7 A Ergonomia no Brasil ....................................................................................... 27 1.8 Principais pressupostos da ergonomia ...............................................................28 1.8.1 Interdisciplinaridade ..................................................................................29 1.8.2 Análise das situações reais..........................................................................30 1.8.3 Envolvimento dos sujeitos .........................................................................33 Capítulo 2: Situação de trabalho ............................................................... 35 2.1 Introdução .......................................................................................................... 37 2.2 A situação de trabalho........................................................................................40 2.3 Tarefa e atividade................................................................................................42 2.3.1 A tarefa .......................................................................................................43 2.3.2 A atividade .................................................................................................46 2.4 A população de trabalhadores............................................................................ 51 2.4.1 A variabilidade para a ergonomia ..............................................................53 2.4.2 Confiabilidade humana .............................................................................56 2.5 A carga de trabalho ............................................................................................59 2.6 A organização do trabalho ................................................................................. 61 Capítulo 3: Homem no trabalho ............................................................... 71 3.1 Introdução ..........................................................................................................73 3.2 Os ritmos ............................................................................................................73 3.3 Ritmos humanos e de trabalho .......................................................................... 76 3.4 Antropometria e biomecânica............................................................................82 3.5 A força e o movimento .......................................................................................85 3.6 As posturas na atividade de trabalho .................................................................89 3.7 Trabalho muscular..............................................................................................90 3.8 Transporte de cargas e força ...............................................................................93

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    1Introduo .................................................................................................3

    Captulo 1: A histria da Ergonomia ...........................................................91.1 Introduo ..........................................................................................................11

    1.2 O que ergonomia? ............................................................................................12

    1.3 Os domnios da Ergonomia ...............................................................................12

    1.4 O desenvolvimento da ergonomia .....................................................................14

    1.5 Concepo e projeto ...........................................................................................19

    1.6 A abrangncia de atuao e desenvolvimento da ergonomia ............................23

    1.7 A Ergonomia no Brasil .......................................................................................27

    1.8 Principais pressupostos da ergonomia ...............................................................28

    1.8.1 Interdisciplinaridade ..................................................................................29

    1.8.2 Anlise das situaes reais ..........................................................................30

    1.8.3 Envolvimento dos sujeitos .........................................................................33

    Captulo 2: Situao de trabalho ............................................................... 352.1 Introduo ..........................................................................................................37

    2.2 A situao de trabalho ........................................................................................40

    2.3 Tarefa e atividade ................................................................................................42

    2.3.1 A tarefa .......................................................................................................43

    2.3.2 A atividade .................................................................................................46

    2.4 A populao de trabalhadores ............................................................................51

    2.4.1 A variabilidade para a ergonomia ..............................................................53

    2.4.2 Confiabilidade humana .............................................................................56

    2.5 A carga de trabalho ............................................................................................59

    2.6 A organizao do trabalho .................................................................................61

    Captulo 3: Homem no trabalho ............................................................... 713.1 Introduo ..........................................................................................................73

    3.2 Os ritmos ............................................................................................................73

    3.3 Ritmos humanos e de trabalho ..........................................................................76

    3.4 Antropometria e biomecnica ............................................................................82

    3.5 A fora e o movimento .......................................................................................85

    3.6 As posturas na atividade de trabalho .................................................................89

    3.7 Trabalho muscular ..............................................................................................90

    3.8 Transporte de cargas e fora ...............................................................................93

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    Captulo 4: Espaos de trabalho ................................................................ 974.1 Introduo ..........................................................................................................99

    4.2 Concepo de espaos de trabalho ..................................................................101

    4.3 Parmetros para mobilirio ..............................................................................105

    4.3.1 Dados antropomtricos ............................................................................105

    4.3.2 Dimenses do corpo humano .................................................................105

    4.3.3 As zonas de alcance ...................................................................................06

    4.4 Configurao dos postos de trabalho ..............................................................108

    4.4.1 O plano de trabalho .................................................................................109

    4.4.2 Profundidade ...........................................................................................110

    4.4.3 Altura ....................................................................................................... 110

    4.4.4 Largura frontal .........................................................................................111

    4.4.5 Espao para os membros inferiores ......................................................... 111

    4.4.6 Apoio para os ps .....................................................................................112

    4.4.7 Suporte para documentos ........................................................................112

    4.5 Assento .............................................................................................................113

    4.6 Telas do monitor ..............................................................................................115

    4.7 Aspectos fisiolgico-perceptivos .......................................................................116

    4.7.1 Audio, som e rudo ...............................................................................118

    4.7.1.1 Sistema auditivo ................................................................................119

    4.7.1.2 Problemas de sade associados exposio ao rudo ......................122

    4.7.2 Viso humana e exigncias visuais ...........................................................124

    4.7.2.1 A viso humana ................................................................................124

    4.7.2.2 Iluminao de postos de trabalho....................................................127

    4.7.3 Tato, temperatura e dor ............................................................................130

    4.7.3.1 Temperatura: conforto trmico ........................................................131

    4.7.3.2 Percepo de toque: controles e manejos ........................................134

    4.7.4 Senso Cinestsico e Equilbrio: o corpo em movimento ...................136

    Captulo 5: Cognio no trabalho ........................................................... 1395.1 Introduo ........................................................................................................ 141

    5.2 O que a cognio humana? ...........................................................................142

    5.3 Ergonomia Cognitiva .......................................................................................147

    5.3.1 Competncias para a ao ........................................................................151

    5.3.2 Representaes para a ao ......................................................................154

    5.3.3 Estratgias operatrias ............................................................................. 161

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    3Captulo 6: Mtodo .................................................................................1716.1 Introduo ........................................................................................................173

    6.2 O mtodo AET ................................................................................................. 174

    6.2.1 Anlise da demanda .................................................................................181

    6.2.2 Informaes sobre a empresa ...................................................................185

    6.2.3 Caractersticas da populao ....................................................................187

    6.2.4 Escolha da situao para anlise ..............................................................191

    6.2.5 Anlise da tarefa .......................................................................................193

    6.2.6 Observaes globais e abertas da atividade .............................................199

    6.2.7 Elaborao do pr-diagnstico .................................................................204

    6.2.8 Observaes sistemticas .........................................................................207

    6.2.8.1 Variveis usuais coletadas durante a anlise da atividade ...............213

    6.2.8.1.1 A localizao e os deslocamentos .............................................213

    6.2.8.1.2 A explorao visual .................................................................. 214

    6.2.8.1.3 As comunicaes .....................................................................215

    6.2.8.1.4 As posturas ............................................................................... 217

    6.2.8.1.5 As aes .................................................................................... 217

    6.2.8.1.6 As verbalizaes .......................................................................218

    6.2.8.1.7 Instrumentos e outras tcnicas ................................................220

    6.2.8.1.8 O ambiente fsico ...................................................................221

    6.2.9 Validao .................................................................................................223

    6.2.10 Diagnstico .............................................................................................224

    6.2.11 Recomendaes e transformao ...........................................................226

    6.2.12 Consideraes finais .............................................................................227

    Concluso ............................................................................................... 229Referncias bibliogrficas .........................................................................231

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    5Este livro fruto de um trabalho coletivo cujo objetivo principal levar ao pblico um contedo que permita ao leitor se familiarizar com diferentes reas de-senvolvidas em ergonomia. Sem ser exaustivo, o que seria uma pretenso, vista a abrangncia que o campo da ergonomia adquiriu ao longo dos ltimos 60 anos, o leitor encontrar, nos diferentes captulos, questes referentes ao trabalho, aos aspec-tos fsicos e cognitivos, ao mtodo, questo da sade e do ambiente. Os conceitos introduzidos ao longo da obra so ilustrados por estudos de caso com o intuito de facilitar sua compreenso.

    Tratar de temas em um campo to vasto, como o da ergonomia, requer sem-pre que se opere recortes. Assim, fizemos uma escolha: a de abordar temas bastante abrangentes e favorecer, aos interessados, uma entrada que lhes permita adquirir co-nhecimentos e compreender algumas questes-chave que precisam ser consideradas quando se busca melhorias significativas no trabalho.

    Ao propor neste livro uma abordagem que busca integrar diferentes aspec-tos dos seres humanos em atividade de trabalho, a ergonomia se coloca no campo das cincias que procuram compreender a realidade. Este processo se concretiza por meio de uma ao, cuja abrangncia pode variar em funo da situao, que propicia caminhos para transformar esta realidade. Evidentemente que o trabalho de um profissional, que atua nesta rea, ser desenvolvido em situaes nas quais diferentes atores tm um posicionamento em acordo com a sua perspectiva; e que os sujeitos, que participam dos processos de anlise, sntese e transformao, agem de formas diversas. Entretanto, esses processos de ao tero em comum a construo de novos compromissos, que visam alcanar diferentes objetivos: a produo e a sade. de suma importncia que estes grupos participem de projetos de produo e do traba-lho, incluindo a concepo de ferramentas e dos diferentes meios que serviro para propiciar s pessoas condies para produzir.

    Entendemos a produo e o trabalho como questes complementares. Para ns, o trabalho central em qualquer sistema de produo; ele existe mesmo quan-do, aparentemente, j se implementou grandes processos de automao, uma vez que ela prpria fruto do trabalho dos projetistas. Por fim, no acreditamos em sistemas de produo que funcionem independentemente das aes humanas - sejam elas an-tecipadas, quando ocorrem no nvel do projeto, ou na implantao dos sistemas; ou ainda, concorrentes com a produo, quando a presena humana atua na superviso e controle dos sistemas de produo. Apesar de haver sistemas que incluem nveis bastante elevados de automao, a maior parte deles depende da ao humana direta nos mais diversos nveis de uma organizao.

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    No podemos nos esquecer que muitos processos produtivos dependem, de maneira significativa, da intensidade do gesto humano - um desafio para todos. Em grande parte destas situaes, h grandes riscos para a sade; conseqentemente para as organizaes de modo especifico; e para a sociedade que, de uma maneira geral, arca com os custos do absentesmo, da perda de pessoas competentes e expe-rientes - seja pelas doenas, acidentes e perda de materiais.

    Ao tratar de aspectos diferentes do trabalhar, tambm estamos posicionados em uma perspectiva na qual o trabalho deve ser um promotor para a sade - uma vez que sua importncia para o desenvolvimento humano fundamental. Sade, como vrios autores no campo propem, fruto de toda uma trajetria de vida, mas , sobretudo, um potencial de vida. Nesta perspectiva, a relao trabalho e sade se constri ao longo do tempo; ela no engloba apenas uma viso ligada ao bom fun-cionamento dos rgos e inexistncia de agravos, mas, tambm, o desenvolvimen-to das competncias, dos processos de realizao de si, da construo da identidade pessoal e coletiva nas profisses.

    notrio que, por diversos motivos, a discusso do trabalho ficou um pouco relegada ao segundo plano. Talvez, possamos atribuir ao fato que, durante uma boa parte do sculo XX - malgrado todas as lutas que aconteceram no campo das relaes de trabalho - os mtodos utilizados nos projetos de produo se apoiaram no pres-suposto que a atividade dos trabalhadores poderia ser definida no projeto, uma vez decididas as grandes etapas do processo produtivo. Neste caso, o trabalho foi consi-derado uma varivel a ser integrada nos ltimos estgios do projeto sendo seu escopo j pr-definido a partir das escolhas feitas ao longo deste processo.

    Os diferentes estudos conduzidos em ergonomia tm mostrado a importncia de inverso desta perspectiva, principalmente se considerarmos a atividade dos di-ferentes trabalhadores. Projetar a produo integrando, desde os primeiros passos, o trabalho, que ser desenvolvido, pode trazer resultados muito interessantes. Dessa forma, se abre uma perspectiva na qual, ao contrario de pensar como encaixar o que as pessoas faro dentro de um espao de possibilidades reduzido, permite que se bus-que diferentes nveis de compromisso no projeto da produo e, sobretudo, se faa escolhas realistas com relao s capacidades e limites dos seres humanos.

    Estas mudanas de perspectiva no dependem da viso, da vontade, ou ainda da imposio de um ponto de vista. Ao contrrio, elas dependem de processos de desenvolvimento das relaes sociais, das perspectivas econmicas e tecnolgicas. Acreditamos que a ergonomia pode ser til no enriquecimento destes processos, pois um dos seus resultados exatamente fornecer subsdios que, ao serem integrados ao projeto, favorecem a alterao de perspectiva nos momentos de concepo.

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    7Acreditamos que a publicao de mais uma obra sobre ergonomia em portugus servir, tambm, para enriquecer o rol desta literatura que ganhou corpo nestes ltimos anos. Ela tm sido til para estudantes, profissionais interessados na rea, pesquisado-res, professores, alm de servir para disseminar conceitos do campo na sociedade.

    Reiteramos ainda a importncia da criao coletiva deste livro; ele fruto de uma proposta da Profa. Jlia Issy Abraho, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, da Universidade de Braslia, que agregou o esforo dos autores. Este proces-so foi permeado por muita discusso, muita reflexo... Tambm fruto de um trabalho de cooperao entre colegas de instituies diferentes. Por fim, acreditamos que traze-mos um olhar diferenciado nos captulos que se seguem. O contedo aqui apresentado e sistematizado por ns, faz parte de um vasto campo de conhecimentos, e constitui, portanto, uma pequena amostra que esperamos deixar um gosto de quero mais.

    O QUE ABORDAREMOS NESTE LIVRO

    No decorrer desse livro, princpios e conceitos da ergonomia sero abordados, sempre ilustrados por exemplos prticos. Esperamos que, este material permita que voc seja capaz de descrever os principais conceitos em ergonomia, apontar suas relaes e utiliz-los na anlise de situaes concretas de trabalho. Esperamos, tam-bm, que voc saiba diagnosticar, adotando o referencial terico e metodolgico da ergonomia, os problemas encontrados em seu dia-a-dia e que, por ltimo, seja capaz de apontar sugestes de melhoria.

    Para que essas competncias sejam alcanadas, o livro est dividido em 6 captu-los, articulando as diferentes dimenses da rea, tendo cada um a seguinte estrutura:

    Captulo 1: Histria da ErgonomiaVamos relatar a histria da Ergonomia e seus prin-cipais pressupostos; Neste capitulo, voc conhecer como evoluiu a ergonomia no Brasil e no mundo com suas respectivas reas de especializao.

    Captulo 2: Situao de TrabalhoAbordaremos os conceitos bsicos da anlise ergonmica, exemplificando como eles podem ser identificados nas situa-es de trabalho. Aps sua leitura, esperamos que voc com-preenda os principais conceitos da rea e possa argumentar sobre o seu papel na ao ergonmica.

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    Captulo 3: Homem no trabalhoTrataremos de alguns aspectos dos homens em situao de trabalho: quem so, como analis-los, qual o impacto da interao do homem com seu ambiente e equipamentos, e qual a sua importncia para a ergonomia. Esperamos que, ao final, voc consiga enten-der um pouco sobre as caractersticas huma-nas, sua dinmica e relevncia na realizao do trabalho para fundamentar uma anlise ergonmica da atividade.

    Captulo 4: Espaos de trabalhoAbordamos questes sobre os espaos de trabalho com o intuito de compreender como os conheci-mentos apresentados anteriormente so importantes na concepo e no projeto, tendo como referncia as necessidades e caractersticas dos trabalhadores, alm dos requisitos das tarefas a serem desempenha-das. Esperamos que voc, ao concluir este captulo, possa utilizar os conhecimentos adquiridos para for-mular um diagnstico, concepo ou re-concepo de postos de trabalho.

    Captulo 5: Cognio no trabalhoEstudaremos a manifestao da cognio na ati-vidade de trabalho pela via da ao. Descrevere-mos como a ergonomia se apropria de conceitos nessa rea e como podemos considerar os proces-sos cognitivos na concepo ou re-concepo de instrumentos e sistemas informatizados. Ao final desse mdulo, voc deve compreender e analisar os processos mentais nas situaes de trabalho e no desempenho humano, e tambm sugerir mu-danas para aperfeioar os produtos e as tarefas.

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    9Captulo 6: MtodoApresentaremos os principais pressupostos me-todolgicos da Anlise Ergonmica, suas eta-pas, tcnicas e seu desenrolar para analisar uma determinada situao de trabalho. Da mesma maneira, apresentaremos alguns exemplos em que a anlise ergonmica pode ser utilizada como metodologia de interveno. Esperamos que voc possa atuar no planejamento de uma ao ergonmica em uma situao de trabalho, delineando os procedimentos, tcnicas e instru-mentos em funo do contexto de anlise.

    importante salientar que essa obra incompleta e o seu objetivo principal fornecer instrumentos e materiais para reflexo propiciando o seu avano em sua prtica profissional e, se conseguirmos xitos, que voc continue a buscar mais co-nhecimentos e experincias na rea.

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    1.1 INTRODUO

    Todos ns sabemos alguma coisa sobre o trabalho por experincia prpria, ou por intermdio de outras pessoas. Lembramos de diversas situaes de trabalho, suas caractersticas e implicaes sobre o bem-estar, segurana e produtividade dos indivduos. Quando questionados sobre formas de melhorar um determinado tra-balho, somos capazes de opinar sobre possveis problemas e solues. Se todos ns

    temos idias e opinies sobre as diversas situa-es, por que no podemos nos basear somen-te em nossa percepo e julgamento, como se o trabalho fosse um objeto simples e de fcil compreenso? Parte dessa resposta voc pode-r encontrar nesta obra. Nela apresentaremos a ergonomia, um corpo de conhecimentos so-bre o trabalho e um conjunto sistemtico de procedimentos de anlise.

    A ergonomia apresentada enquanto campo de aplicao e produo de co-nhecimentos sobre o trabalho, ilustrada por um conjunto de exemplos que visam facilitar a compreenso dos principais conceitos da rea. Voc ver que ela muito mais abrangente do que comumente se fala e, ao mesmo tempo, muito mais prxima de nossas experincias do que se imagina.

    Ainda hoje, muitas pessoas no sabem muito bem o que ergonomia. Em geral ela associada a mobilirios ou objetos ditos ergonmicos (como mouses, teclados e cadeiras), ou mesmo a doenas do trabalho como a DORT ou a LER. Apresenta-remos diferentes situaes, em contextos distintos, guiados por um olhar diferente, por meio do qual parte dos mistrios do trabalhar poder ser desvendado. Nesse per-curso discutiremos como as transformaes scio-econmicas e, sobretudo, tecnolgicas que ocorreram no mundo do trabalho, modu-laram o desenvolvimento da ergonomia.

    Vamos iniciar conceituando a ergono-mia e ao longo do texto descrever um pouco da sua histria para que possamos compreender a relao entre as necessidades do mundo do trabalho e as respostas terico-metodolgicas e solues construdas pelos ergonomistas.

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    1.2 O QUE ERGONOMIA?

    A palavra ergonomia composta pelas palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (leis e regras). Esse termo foi adotado pela primeira vez, em 1857, por um cientista polons, Wolnej Jastrzebowsky, em um trabalho intitulado Ensaios de ergonomia, ou cincia do trabalho, baseada nas leis objetivas da cincia sobre a natureza.

    Nos stios de Internet da International Ergonomics Association IEA (www.iea.cc), da Societ dErgonomie de Langue Franaise SELF (www.ergonomie-self.org) e da Associa-o Brasileira de Ergonomia ABERGO (www.abergo.org.br) encontramos a defini-o abaixo, cuja formulao, reflete o resultado do entendimento entre as diferentes sociedades cientficas internacionais:

    1.3 OS DOMNIOS DA ERGONOMIA

    Trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistmica de aspec-tos da atividade humana. Para darem conta da amplitude dessa dimenso e pode-rem intervir nas atividades do trabalho preciso que os ergonomistas tenham uma abordagem do trabalhar que incorpore aspectos fsi-cos, cognitivos, sociais, organizacionais, do ambiente de trabalho, entre outros. Freqentemente as aes ergonmicas so voltadas para setores particulares da economia ou em setores de aplicao especficos. Esses ltimos caracterizam-se por sua constante muta-o, com a criao de novos setores de aplicao ou do aperfeioamento de outros mais antigos.

    Ao comentar esta definio Falzon (2004), apon-ta como evoluo conceitual a diviso entre reas de

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    especializao e de aplicao; define o fazer dos ergonomistas, atribuindo ergono-mia um status de profisso, confirmada pela consolidao das sociedades cientificas, as formaes especializadas, os procedimentos de certificao.

    De forma geral, a ergonomia pode ser entendida como uma disciplina que tem como objetivo transformar o trabalho, em suas diferentes dimenses, adaptando-o s caractersticas e aos limites do ser humano. Nesse sentido, a ergonomia supera a concepo Taylorista de Homo Economicus, mostra os limites do ponto de vista reducionista onde apenas o trabalho fsico considerado, revelando a complexida-de do trabalhar e a multiplicidade de fatores que o compem.

    Ao desenvolvermos uma ao ergonmica, buscamos elementos que nos per-mitem transformar o trabalho, e tambm, produzir conhecimentos. Nesta perspec-tiva a ergonomia foi se desenvolvendo, adotando como referncia a noo de va-riabilidade, a distino entre tarefa e atividade e a regulao das aes associada ao reconhecimento da competncia dos trabalhadores.

    Nessa perspectiva, a ergonomia busca projetar e/ou adaptar situaes de trabalho compatveis com as capacidades e respeitando os limites do ser humano. Este ponto de vista implica em reconhecer a premissa tica da primazia do homem, cujo bem-estar de-veria ser o objetivo maior da produo, uma vez que um dado trabalho pode adaptar-se ao ser humano. No entanto, no podemos esperar que nos adaptemos a um trabalho que no respeita as nossas limitaes, nem contempla as nossas capacidades.

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    O conceito e o objetivo apresentados acima resultam das transformaes que aconteceram ao longo da histria da ergonomia. A seguir vamos apresentar como tudo comeou e foi sendo formalizado no decorrer do seu desenvolvimento.

    1.4 O DESENVOLVIMENTO DA ERGONOMIA

    A formalizao da ergonomia, enquanto disciplina, recente. Ela aconteceu a partir de 1949 - com a criao da Ergonomics Research Society, na Inglaterra. Em 1959 foram criadas a Human Factors Society e a International Ergonomics Society nos Estados Unidos e, em 1963 a Societ d Ergonomie de Langue Franaise - SELF, na Frana.

    Historicamente a adaptao das condies do ambiente ou mesmo ferramen-tas de trabalho s caractersticas humanas remonta aos primrdios da humanidade (SANDER; MACORNICK, apud SOA-RES, 2001). H evidncias de que o ho-mem das cavernas j se preocupava em produzir artefatos cada vez mais apropria-dos s suas necessidades e caractersticas. Um exemplo ilustrativo pode ser obser-vado na figura ao lado: a criao de uma ferramenta simples, a partir de um pedao de pedra lascada, que supostamente tinha

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    por objetivo melhorar o desempenho e o conforto na atividade de caa e na prepara-o de alimentos. A histria do homem permeada por exemplos do aprimoramen-to de suas tcnicas, da introduo de novas ferramentas e procedimentos.

    Podemos dizer que a ergonomia j nas-ceu com caractersticas de aplicao. Talvez, por essa razo, at hoje no exista consenso se a caracterizamos como uma disciplina aplica-da ou como uma cincia. No entanto, o que podemos afirmar que ela vai alm de uma necessidade puramente terica ou formal. Apoiada em mtodos e tcnicas de anlise prpria, a ao ergonmica busca respostas aos problemas resultantes da inadequao dos artefatos, da organizao do trabalho e dos ambientes ao modo de funcionamento humano. O produto dessas aes se apresenta na forma de solues de natureza tecnolgicas ou organizacionais efetivas para as mais diversas situaes de trabalho, e visam ajudar a transformar a ao dos homens apoiada em critrios de conforto, qualidade, eficincia e eficcia.

    Os relatos sobre as origens da ergonomia moderna, freqentemente so as-sociados ao final da II Guerra Mundial e ilustram a sua vocao. Na poca, a Royal Air Force (Real Fora Area Britnica) buscava compreender porque equipamentos extremamente modernos, que deveriam facilitar a conduta dos pilotos da aviao, no eram operados com a eficincia e a eficcia esperadas (WISNER, 1994). Para responder a esta demanda, constituiu-se uma equipe interdisciplinar composta por: um engenheiro, um psiclogo e um fisiologista. A anlise da situao por diferentes olhares foi determinante no diagnstico do problema e para as solues propostas. O produto dessas anlises se destinava a organizar e homogeneizar as formas de apre-sentao das informaes para a concepo de avies e, assim, limitar os erros de lei-tura e as possibilidades de incidentes e acidentes. Eles demonstraram a importncia de adaptar os artefatos tecnolgicos s caractersticas e aos limites do funcionamento de nossos processos percepto-cognitivos.

    Se quisermos compreender o desenvolvimento da ergonomia devemos inseri-la no contexto scio econmico da poca. Nesse perodo, as indstrias europia e america-na estavam se adequando ao contexto do ps-guerra, buscando elevar a produo com notria escassez de trabalhadores qualificados e, no limite, de matria-prima. A deman-da formulada aos ergonomistas se relacionava, sobretudo, s questes referentes a:

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    Assim, podemos dizer que nos primrdios de sua histria a ergonomia preocu-pou-se em desenvolver pesquisas e projetos voltados para a aplicao de conhecimen-tos j disponveis em fisiologia e psicologia e tambm para o estudo do dimensio-namento humano, custo energtico, visando concepo e definio de controles, painis, arranjo do espao fsico e dos ambientes de trabalho.

    Com a evoluo dos movimentos sociais, em especial dos sindicatos de traba-lhadores, muitas demandas em ergonomia buscavam respostas para os problemas ligados s ms condies de trabalho, organizao dos tempos de trabalho (ritmos, cadncias e turnos) e rejeio da fragmentao das tarefas, resultante da exacerba-o da diviso do trabalho. O auge destes movimentos se situa no final dos anos 60 e nos anos 70 do sculo passado.

    A partir da dcada de 80, no final do sculo passado, o foco de interesse dos ergonomistas voltou-se para a anlise de sistemas automticos e informatizados com nfase na natureza cognitiva do trabalho. Essa mudana ocorreu principalmente,

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    devido aos insucessos na implantao desses sistemas que eram projetados com uma lgica que no contemplava os processos cognitivos envolvidos na ao, e, portanto apresentavam muitas dificuldades na operao do sistema.

    Esses processos de automao definiram uma nova relao do ser humano com o seu trabalho: ele deixa de ser um executor direto e passa a exercer o papel de controlador do processo. evidente que no houve uma transformao de todas as situaes de trabalho. Mesmo em situaes nas quais h um grau elevado de auto-mao, encontramos tarefas altamente repetitivas e intensivas no gesto de produo que convivem com essas aes de controle de processo. As mudanas tecnolgicas tambm acarretaram fenmenos de intensificao do trabalho e novos meios de con-trole sobre os trabalhadores.

    As atividades de controle de processo trouxeram novos desafios, pois fica paten-te que as questes cognitivas do trabalho se tornam o foco dos estudos com o intuito de buscar solues aos problemas operacionais e a novos problemas de sade que se tornaram mais prevalentes. Apesar dessa pressuposta predominncia do cognitivo no trabalho, no existe cognio sem corpo. Paradoxalmente, em algumas tarefas onde basicamente as pessoas deveriam se concentrar em aes de tratamento da in-formao e de comunicao, como o caso das centrais de atendimento, a expresso do sofrimento e as doenas se manifestam no corpo, vide as famosas LER/DORT.

    Em processos de produo contnuos, como por exemplo, os da indstria do petrleo, a petroqumica, a produo de energia eltrica, a questo da confiabilidade dos sistemas fica mais em evidncia, nesse contexto comea o debate sobre o concei-to de erro humano. A anlise do trabalho e os conhecimentos produzidos por essa abordagem da ergonomia permitem relativizar esse conceito, na medida em que o erro no pode ser considerado como uma falha do humano que est operando um sistema ou uma mquina. O conceito de erro comea a ser contestado, uma vez que h problemas na concepo dos sistemas, das mquinas, da organizao do tra-balho. Ao invs de erro seria melhor conceituar como insucesso da ao

    As demandas em ergonomia se voltam ento para a busca de critrios e definies para a concepo das salas de controle (p. ex: os ma-nejos e os mostradores) e para a compreenso da percepo humana, da cognio situada e da cognio distribuda, conceitos que sero discu-tidos no captulo de cognio. Os ergonomistas atuam, cada vez, mais contribuindo na concep-o de sistemas de trabalho que favorecem o

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    desenvolvimento das competncias e que asseguram a sade dos trabalhadores e a segurana operacional. Acidentes nesse tipo de produo tm, muitas vezes, conse-qncias catastrficas.

    Em paralelo, o desenvolvimento acelerado do setor de servios trouxe novas questes. Proble-mas de produo e de sade devidos importao de paradigmas tayloristas para empresas de servio, principalmente para aqueles considerados como de massa, trouxeram novos desafios para a ergo-nomia. Alm das relaes mais tradicionais entre colegas e com a hierarquia, comuns na indstria, a presena do cliente, como co-autor do processo, in-fluencia significativamente o resultado do trabalho e, tambm, interfere na sade dos trabalhadores.

    Pouco se fala do setor agrcola, mas h muitas pesquisas voltadas para questes do trabalho nesse setor. Desafios ligados ao esforo fsico excessivo, exposio a ve-nenos, ao uso de novas tecnologias mecanizadas, tambm so temas de ergonomia.

    Embora com menor freqncia, encontramos na literatura trabalhos de ergo-nomia voltados para trabalhadores que exercem papel de gesto e superviso. Cada vez mais fica patente que possvel analisar, compreender e transformar o trabalho nas mais diversas situaes. Essas diferentes reas de atuao reforam o potencial da ergonomia para ajudar na concepo do trabalho, na medida em que as suas fer-ramentas de anlise evoluem tambm em paralelo com as mudanas tecnolgicas, organizacionais e sociais.

    Atualmente a ergonomia se transformou em instrumento que pode ser apropriado pelos mais diferentes atores sociais, como os profissio-nais diretamente ligados s questes do trabalho, engenheiros, mdicos, psiclogos, administrado-res, socilogos, enfermeiros, fisioterapeutas, te-rapeutas ocupacionais, entre outros. Alem disso, se tornou um instrumento para embasar aes de sindicatos de trabalhadores, de organizaes patronais de instituies do Estado, quando se busca transformar e adequar o trabalho.

    Da mesma maneira que aconteceram mudanas nas tecnologias e nas formas de organizar o trabalho, aconteceu tambm, uma evoluo significativa do conceito

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    de sade e da luta para que o mundo do trabalho no seja fonte de sofrimento, doenas, leses e mortes. Sade deixa de ser um estado, uma aquisio e passa a ser considerada como um objetivo, como um processo ligado ao potencial de vida, como uma construo individual e coletiva. O foco muda, no se trata apenas de buscar as condies que evitem a degradao da sade, mas, tambm, aquelas que favorecem a sua construo (LAVILLE; VOLKOFF, 1993). Esta postura refora as opes da ergonomia desde seus primrdios o da busca do conforto para trabalhar apesar de, por motivos ligados s demandas sociais, o foco ter sido o homem adoecido e, consequentemente, a busca de solues para evitar que isso ocorresse. Frequente-mente para justificar uma ao ergonmica, necessrio partir dos efeitos nefastos do trabalho.

    A anlise ergonmica do trabalho ajuda a compreender as formas ou as estra-tgias utilizadas pelos trabalhadores no confronto com o trabalho, para minimizar ou limitar as suas condies patognicas. As novas tecnologias trouxeram benefcios inestimveis, mas, tambm, novas restries e imposies ao modo de funcionamen-to dos indivduos.

    Ainda pensando nas questes de sade, notrio que as demandas sociais tm crescido significativamente no que diz respeito ao sofrimento psquico. Encon-tramos cada vez mais, casos de afastamentos do trabalho por problemas de ordem emocional, relatos de srios distrbios mentais, que pouco eram associados ao traba-lho at 30 anos atrs.

    significativo o fato que, em paralelo ao desenvolvimento da ergonomia, uma outra disciplina voltada para a questo da sade mental, a psicodinmica do traba-lho, tem tido um grande desenvolvimento. Apesar da ergonomia no tratar direta-mente dessas questes, ela pode ser til na busca da promoo da sade mental, por meio da compreenso e da transformao de tarefas que tenham uma forte caracte-rstica psicopatognica.

    1.5 CONCEPO E PROJETO

    E os produtos? A ergonomia pode ser til na sua concepo e projeto?

    Vejamos o caso dos computadores: o exemplo da infor-mtica bastante interessante para que possamos compreen-der a importncia de se usar a ergonomia desde a concepo dos produtos at a sua utilizao. No caso dos computadores, as suas aplicaes nos mais diferentes sistemas de produo,

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    e em muitos aspectos da vida pessoal, familiar e social traz enormes desafios. Principal-mente, quando sabemos que uma parte significativa do desenvolvimento das pessoas e das naes depende da capacidade de armazenar, tratar, multiplicar e disseminar infor-maes. No toa que programas que possibilitam um acesso verdadeiro da grande maioria da populao de um pas se tornaram to estratgicos. Nessa perspectiva, de-mandas para ergonomia so, sobretudo, aquelas ligadas ao como ajudar a universalizar o uso da informtica.

    Se lembrarmos dos primrdios da informtica, podemos constatar a enorme evoluo dessas ferramentas. Parece pr-histrico pensar naquelas mquinas que ti-nham pouqussima capacidade de memria, que para utiliz-las era necessrio apren-der e decorar uma enormidade de cdigos para executar clculos e tarefas bem sim-ples. Quando comparados com os equipamentos disponibilizados hoje, sabemos, por exemplo, que o uso de interfaces grficas facilitou o acesso para muito mais pessoas. Ao invs de aprender cdigos quase esquecidos por todos, exceto alguns sau-dosistas ou aqueles que precisam trabalhar com a linguagem de programao, hoje para usar um computador basta saber ler e interpretar grafismos, apresentados sob a forma de cones e smbolos, que na medida do possvel tem um significado bem mais prximo da cultura das populaes. quase outro mundo, muitas solues foram encontradas, mas h muito que se fazer. Quanto mais se evolui em termos de tecno-logia, da velocidade e das possibilidades criadas com programas mais potentes, mais desafios encontramos para manter a facilidade de uso e para adequar os sistemas s necessidades dos usurios.

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    Se formos ainda mais longe a informtica trouxe novas demandas com relao ao arranjo fsico tanto no que diz respeito aos postos de trabalho quanto arquitetu-ra dos locais de trabalho, de logradouros pblicos e das residncias. O mesmo vale para equipamentos como postos de conduo de veculos e de salas de controle.

    Compreender como os indivduos usam os sistemas informatizados para os mais diversos fins um grande desafio para os ergonomistas. A importncia de adequar essas interfaces populao com caractersticas to diferenciadas fez emergir a neces-sidade de se definir parmetros a serem utili-zados pelos desenvolvedores de sistemas para responderem aos problemas do novo contex-to. Conceitos de usabilidade e de adequao ao uso se tornaram linguagem freqente no mundo da informtica. Talvez devessem fazer parte da concepo e do projeto de qualquer ferramenta ou mquina para que esses arte-fatos sejam, cada vez, mais objetos que poten-cializam as capacidades humanas.

    Todos esses exemplos demonstram que, de fato, a histria da ergonomia se consolidou a partir das demandas sociais. E a partir delas que so construdas e aprimoradas suas ferramentas e tcnicas de anlise. Vale lembrar que os conheci-mentos utilizados ou praticados na ao ergonmica so estruturados em funo das demandas de interveno. As situaes variam e cada uma apresenta particularida-des que podem, num primeiro momento, ser examinadas a partir de trabalhos ante-riores, cuja base terica pode servir a uma reflexo inicial em casos de diagnsticos de novas situaes.

    Malgrado o fato de muitos conhecimentos j estarem consolidados pelos er-gonomistas, nem todos foram efetivamente apropriados pela sociedade. Assim, nos dias de hoje, comum ainda recebermos demandas que versam, por exemplo, sobre altura de bancada, parmetros para a aquisio de cadeiras entre outras. No deve-mos nos furtar a atend-las, pois, muitas vezes, elas so apenas a ponta do iceberg. por meio delas que podemos desvendar e explicitar as outras dimenses do trabalho responsveis pelas questes relativas sade e a produo.

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    A evoluo do comrcio e dos processos de produo industrial no incio do sculo XX trouxe, tambm, a preocupao com a utilizao mais efetiva dos recursos, fossem eles financeiros e/ou materiais. Assim, teve incio uma tentativa de raciona-lizao do trabalho, por meio da busca dos melhores procedimentos de produo, das rotinas de trabalho e de condies de execuo que garantissem maior produ-tividade em menor tempo. Um dos principais expoentes dessa viso de mundo a Administrao Cientfica, que reproduz os princpios Taylor-Fordistas. Por meio dessa racionalizao, o trabalho comea a ser planejado por alguns e executado por outros. Muitas representaes errneas, preconceituosas, redutoras sobre o trabalho encontram a um belo caldo de cultura. Considerar o trabalhador apenas como um executante, que no precisa pensar que pode ser controlado e comandado por ou-trem, que pode ainda, ficar repetindo gestos durante perodos prolongados esto na mesma freqncia de onda, so conseqncia e, tambm, motor desse tipo de ponto de vista. Ento, o homem que deve se moldar situao, aos procedimentos e aos equipamentos existentes, em suma, tarefa. Isso significa negar todo o processo de regulao, as estratgias e o investimento pessoal e coletivo dos trabalhadores no processo produtivo.

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    A ergonomia, por outro lado, traz na sua concepo uma abordagem diferen-ciada, qui antagnica, uma vez que busca resgatar o ser humano da condio de varivel de ajustamento atribuindo-lhe um papel de co-construtor do seu fazer.

    Diante dessa amplitude de possibilidades, qual a abrangncia e limites da ao ergonmica? Ou mesmo, quem o ergonomista?

    1.6 A ABRANGNCIA DE ATUAO E DESENVOLVIMENTO DA ERGONOMIA

    O ergonomista pode atuar em diferentes contextos desde aqueles nos quais ocor-re o trabalho humano ou se concebem equipamentos e instrumentos funcionais. Para entendermos melhor a sua possibilidade de atuao, apresentaremos um exemplo e a partir dele apontaremos as diferentes possibilidades de uma ao ergonmica.

    Imagine uma grande loja de departamentos e seus diferentes ambientes de trabalho:

    A loja propriamente dita, com as mercadorias expostas em departamentos, um estoque, uma seo de atendimento ao cliente para pagamento de car-ns etc;O escritrio, onde so realizadas as atividades de treinamento e seleo de pessoal, gesto e controle dos cadastros dos clientes e dos funcionrios etc;O ambiente virtual, disponvel tanto para pblico interno, para consulta de estoque, preos ou condies de pagamento quanto para o externo, onde os clientes podem obter informaes sobre as ofertas ou comprar um produto como, por exemplo, um livro ou uma camisa.

    Nesse contexto, o ergonomista pode atuar em diferentes dimenses: as condi-es ambientais como iluminao, ventilao e temperatura; a altura das prateleiras; os equipamentos; os carrinhos utilizados para transporte de materiais. Da mesma forma, pode analisar o sistema de estoque das mercadorias, informatizado ou ma-nual, de modo a minimizar o tempo e o erro na procura de uma mercadoria. Pode identificar se a organizao do trabalho compatvel com as atividades realizadas na loja; se a comunicao entre o vendedor e o estoquista interfere no tempo de espera do cliente; se o rodzio entre postos favorece a aquisio de novas competncias e se a realizao de tarefas concorrentes contribui para aumentar os erros no caixa.

    Continuemos visitando a mesma loja com o olhar do ergonomista: no escri-trio ele pode avaliar e propor solues compatveis com as atividades de trabalho. Nesses casos, ele vai alm do redesenho do arranjo fsico, do mobilirio que compe

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    os postos de trabalho, que a face mais conhecida da ergonomia, muito embora, como mostram os exemplos, uma ao ergonmica pode abranger dimenses que, por vezes, nem sempre so visveis no primeiro contato com o trabalho.

    Suponhamos que a loja queira incrementar suas vendas pela Internet. Como apresentar os produtos ao cliente de maneira que sejam identificados facilmente, que se compreenda sua funcionalidade? Quais linguagens (termos e cones) adotar? Como permitir que o usurio navegue eficazmente no programa informatizado at o momento da aquisio do produto? Como evitar o insucesso na ao e frustrao do cliente? Essas mesmas questes podem ser formuladas para a concepo da intranet. Nesse caso, solicitado ao ergonomista tornar o ambiente virtual mais acessvel ao pblico-alvo da loja.

    Os exemplos acima ilustram diferentes possibilidades de atuao do ergonomis-ta e como ele pode ser solicitado a resolver uma gama de problemas de natureza diver-sificada, muito alm da popularmente conhecida cadeirologia. O que determina o tipo de ao a problemtica encontrada no trabalho, evidenciada pela demanda.

    Nesse sentido, para abranger essa variabilidade de demanda, os ergonomistas propem denominaes para as diferentes formas de interveno. A classificao da Associao Internacional de Ergonomia (International Ergonomics Association IEA), apresenta as reas de especializao que refletem as competncias adquiridas pelos ergonomistas pela formao ou pela prtica:

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    Muitos ergonomistas podem considerar que sua prtica se inscreve em mais de uma das categorias propostas. Mas, tambm verdade que a prtica real tende a ser exercida preferencialmente em certos domnios de especializao e em determinadas reas de aplicao.

    O produto dessas aes resulta em um conjunto de recomendaes, que visam aprimorar a atividade humana e a produo de artefatos, associando critrios de sade e de produtividade.

    O ergonomista para responder as demandas, muitas vezes, precisa dirigir seu olhar sobre diferentes dimenses da situao. Ao analis-las, ele apreende o contexto no qual a organizao se insere e os elementos que condicionam o seu processo de produo. Para tanto, ele deve identificar dois tipos de conhecimento: sobre o ho-mem e sobre a ao, e ao faz-lo devemos atribuir-lhes o mesmo grau de importncia. Podemos salientar as dimenses abaixo:

    Dimenso social e demogrfica: Ao identificar o conjunto de caracters-ticas dos trabalhadores, a evoluo do capital humano da organizao, as prticas de gesto de pessoas, os dados sobre sade e produtividade o ergo-nomista obtm dados sobre quem so as pessoas que executam as tarefas dentro da organizao, e como se d a gesto dessa equipe; Leis e regulamentaes: dimenso composta por normas internas e exter-nas organizao, define e limita suas aes. So as regras que dizem aos

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    indivduos no que consiste e como deve ser feito seu trabalho. O ergonomis-ta deve atentar para a natureza das normas da organizao, bem como as da legislao e o impacto destas no processo produtivo; Ambiente geogrfico da empresa: refere-se s informaes sobre clima, fenmenos sazonais, condies de moradia e transporte dos trabalhadores, poluio e oportunidades para a vida social. O ergonomista deve ter em mente que a vida do trabalhador no se inicia nem se encerra no ambiente de trabalho; Dimenso tcnica: diz respeito aos procedimentos necessrios para execu-tar o trabalho. Como veremos no prximo captulo, esta dimenso muito importante em ergonomia, pois a partir dela que possvel estabelecer uma linguagem comum entre os trabalhadores e o ergonomista; Produo e sua organizao: consiste em construir uma viso mais global do processo produtivo que envolve o estabelecimento de critrios de quali-dade e produo. Ela resulta das polticas e do planejamento da empresa e, de forma similar dimenso econmica e comercial. Conhec-la impor-tante para que o ergonomista seja capaz de compreender as razes pela qual o processo produtivo se apresenta de uma determinada maneira.

    Vimos at agora como surgiu a ergonomia no mundo e falamos um pouco sobre a sua abrangncia de atuao. Apontamos os diferentes contextos de trabalho e as suas dimenses. Ao propormos essa descrio temos como objetivo apresentar,

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    sob a perspectiva da ao ergonmica, as situaes de trabalho e como elas podem se apresentar nas organizaes. Agora, vamos contar um pouco da histria da ergo-nomia em nosso pas.

    1.7 A ERGONOMIA NO BRASIL

    No Brasil, a Ergonomia surgiu vinculada s reas de Engenharia de produo e Desenho Industrial, e o seu mbito de atuao foi voltado aplicao dos conhe-cimentos produzidos sobre as medidas humanas e a produo de normas e padres para a populao brasileira. O segundo momento da ergonomia no pas se iniciou com os estudos na rea de psicologia da USP, com pesquisas experimentais sobre o comportamento de motoristas e estudos sociotcnicos realizados pela Fundao Getlio Vargas, no Rio de Janeiro.

    Paralelamente s aes voltadas para a antropometria e medidas dos segmen-tos corporais, os pesquisadores brasileiros iniciaram um dilogo com pesquisadores europeus, sobretudo com os franceses e, dentre eles, o patrono da ergonomia brasileira, o professor Alain Wisner, responsvel pelo doutorado de boa parte dos ergonomistas na dcada de 1980. Posteriormen-te, o acesso literatura oriunda da Europa se am-pliou e, com ela o acesso aos trabalhos de outros pesquisadores. A abordagem ergonmica realizada pela escola francofnica tem como fio condutor a anlise de atividade nas situaes de trabalho.

    O Brasil, durante certo perodo, conviveu com duas ergonomias: uma de matriz anglo-saxnica e outra de matriz francofnica. Atu-almente, como bem mostra a definio de ergonomia apresentada neste captulo, en-tendemos que essas duas abordagens so complementares, e que suas tcnicas e proce-dimentos especficos dependem do problema colocado ao ergonomista e dos objetivos da anlise a ser empreendida.

    Atualmente, a ergonomia ensinada e aplicada em diferentes Universidades brasileiras, entre elas So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Braslia, Santa Ca-tarina e Recife entre outras. Elas se situam em unidades diferentes dentro das univer-sidades e tem, cada vez mais, atuaes especializadas dentro da rea.

    Encontramos, hoje, no Brasil, empresas de consultoria e centros de pesqui-sa consolidados que atuam em diferentes regies do pas. comum encontrarmos

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    publicaes de boa qualidade produzidas por nossos consultores nas revistas cientficas, o que vai ao encontro da finalidade primeira da ergo-nomia que a transformao do trabalho e a produo de conhecimento.

    Entre as normas regulamentadoras brasi-leiras dispomos da NR 17 que especificamente dedicada ergonomia, resultado da articulao entre os sindicatos e ergonomistas e patrocinada pelo Ministrio do Trabalho. A criao desta nor-

    ma, aps o adoecimento de muitos trabalhadores, reflete o quanto a produtividade prioridade nas relaes de produo, sendo a sade uma preocupao secundria.

    Outro ponto interessante da histria da ergonomia no Brasil a fundao da Associao Brasileira de Ergonomia ABERGO, em 1983. Ela uma entidade que congrega os diversos ncleos de ergonomia no pas, por meio da divulgao de co-nhecimentos produzidos pela rea (como o congresso brasileiro de ergonomia) e da normalizao da ergonomia enquanto categoria profissional. Atualmente, a ABER-GO realiza um trabalho de certificao dos profissionais e ncleos de pesquisa volta-dos para a ergonomia (para maiores informaes, visite o stio www.abergo.org.br).

    Discutimos a mudana do olhar do ergonomista a partir de seus contextos de atuao e em funo do momento histrico. Alguns pressupostos se consolidaram no decorrer da histria e acabaram por se tornar um consenso entre os ergonomistas, dentre eles, trs merecem uma discusso mais aprofundada.

    1.8 PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS DA ERGONOMIA

    Os pressupostos so um conjunto de fundamentos ou princpios bsicos ne-cessrios para o entendimento de um determinado conceito ou fenmeno. Para compreendermos como se d a ao ergonmica e suas escolhas metodolgicas, importante analisarmos sob quais bases se fundamentam a sua prtica. Assim, so trs os pressupostos que norteiam a ao em ergonomia: a interdisciplinaridade, a anlise de situaes reais e o envolvimento dos sujeitos.

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    1.8.1 Interdisciplinaridade

    A interdisciplinaridade sobre a qual se fundamenta a ergonomia, como rea do conhecimento, resulta da importncia de se analisar o fenmeno do trabalho humano sob diferentes perspectivas. possvel tratar a complexa relao entre sade e trabalho por meio de uma abordagem interdisciplinar?

    A interdisciplinaridade, como dizia Pacaud (1970), mais do que um simples dilogo entre as disciplinas. , antes de tudo, um processo contnuo de desenvol-vimento e de reconstruo do conhecimento das diversas reas envolvidas, tendo como base os princpios da ao ergonmica. Nessa perspectiva, Wisner (2004, p. 35) afirmava que

    ... a ergonomia uma disciplina autnoma, mas que no pode viver sem se nutrir das aquisies de vrias disciplinas, aquisies dinmicas e assimiladas em um esprito interdisciplinar.

    Curie (2004) afirma que nada obriga a ergonomia a se limitar ao uso dos conhe-cimentos cientficos elaborados fora dela. De fato, esta utilizao pode exigir a elabora-o de novos conceitos permitindo efetivar a integrao de conhecimentos isolados.

    Para entender melhor, considere que a loja de departamentos descrita acima solicite ao ergonomista a anlise do setor de atendimento ao cliente, pois tem rece-bido reclamaes freqentes sobre a qualidade do servio. Mesmo sendo a demanda restrita a um setor especfico, a natureza do problema pode contemplar diferentes

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    aspectos tais como: (a) o posto de trabalho (pois o desconforto fsico pode gerar proble-mas de ateno e irritao nos atendentes); (b) a qualidade do sistema informatizado (que pode facilitar ou dificultar o acesso s informaes); (c) a comunicao entre chefia e funcionrios (que pode evidenciar confli-tos); (d) a organizao do trabalho (que pode apontar questes sobre a adequao do script nas situaes em que eles se encontram sub-metidos presso temporal, to freqente nesse tipo de trabalho). Todas essas di-menses podem estar associadas ao problema relatado. A diversidade dos enfoques possveis para uma mesma demanda solicita a apropriao de conhecimentos pro-duzidos por diferentes reas do saber.

    O exemplo acima ilustra a dificuldade de uma nica rea do conhecimento cobrir toda a problemtica envolvida na demanda. muito difcil encontrar um profissional que tenha todas as competncias necessrias ao ergonmica. fun-damental, portanto, que o ergonomista, dependendo da natureza da demanda, cons-titua uma equipe, composta por diferentes profissionais, tendo como fio condutor a atividade e seus determinantes.

    Nessa perspectiva, a natureza e as caractersticas da demanda e do contexto que determinam o objeto e a composio da equipe.

    Como veremos a seguir, toda a anlise ergonmica ocorre na situao em que se realiza o trabalho.

    1.8.2 Anlise das situaes reais

    Na ao ergonmica, a exigncia cientfica fundamental reside na observao sistemtica das situaes reais de trabalho. Essa caracterstica a diferencia de forma substancial da conotao de pesquisa existente nas reas de cincias sociais. Nessas reas a interao com o real destina-se verificao de mecanismos hipotticos, ob-tidos por meio de uma abordagem terica ou a partir de modelos descritivos, numa perspectiva empirista, caracterizando um mtodo dedutivo de construo do conhe-cimento (ABRAHO, 1993). A pesquisa em ergonomia rene em si elementos da pesquisa social aplicada e da pesquisa experimental, ao mesmo tempo em que difere

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    significativamente delas, pela proposio de modelos elaborados por meio de um mtodo indutivo, no qual o campo delimita as questes de estudo.

    Essa breve discusso epistemolgica evoca uma questo importante sobre a dinmica da pesquisa e da ao em ergonomia, pois na interao com o real que o contedo vai se transformando. Conforme o trabalho avana, novas questes emer-gem e devem ser tratadas. Essa situao caracterstica da pesquisa ergonmica, em que a evoluo das hipteses de trabalho para hipteses tericas implica na reorde-nao da apresentao dos fatos, com vistas demonstrao cientfica.

    A atividade de trabalho significa o que efetivamente feito pelo trabalhador, a forma como ele consegue desenvolver as suas tarefas. Ela resulta das definies dos objetivos e metas, das caractersticas pessoais, da experincia e do treinamento formal. pela via da anlise da atividade que podemos desvelar e dar valor, varia-bilidade das situaes de trabalho e variabilidade biolgica e psicolgica dos traba-lhadores (WISNER, 2004).

    Da mesma forma, a anlise da atividade aliada ao conhecimento das exigncias e constrangimentos do trabalho que permite avaliar e rearranjar a situao de trabalho para garantir conforto das pessoas e segurana dos seres humanos e dos equipamentos.

    O trabalho prescrito , muitas vezes, associado ao conceito de tarefa e a sua concepo est relacionada necessidade de se estabelecer mtodos de gesto com o objetivo de definir e medir a produo. As regras e normas advindas de tal concepo tendem a prever uma situao artificial considerando um trabalhador jovem, de um determinado sexo, que goza de boa sade, que no sofre transformaes ao longo do tempo e resistente aos riscos e constrangimentos de ambientes nocivos (WISNER; MARCELIN, 1971). Essa forma de prescrio desconsidera as competncias adqui-ridas ao longo do tempo e, principalmente, as variabilidades intra e interindividuais e da situao.

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    Abraho (2000), ao discutir essa questo, afirma que frequentemente os pro-jetistas responsveis pelo desenho do trabalho reduzem o papel do trabalhador de forma semelhante aos sistemas tcnicos, uniformizando as exigncias de trabalho, normatizando procedimentos e estabelecendo regras rgidas de tempo. Assim fazen-do, no podem prever os conflitos entre as caractersticas dos trabalhadores e o sis-tema de produo.

    O trabalho real determinado, por um lado, pelas caractersticas dos trabalha-dores e, por outro, pelas regras de funcionamento da empresa e o contexto das aes. Ele perpassado pelo status dos trabalhadores e pelo seu salrio, objeto de negociao via um contrato. Nele, a dimenso prescrita detalhada e a real resulta de um compro-misso entre os objetivos da produo, suas caractersticas e o reconhecimento social,

    gerando um resultado positivo e/ou negativo para a produo e para a sade.

    O trabalho real, ou atividade, designa a ma-neira do ser humano mobilizar suas capacidades para atingir os objetivos da produo. Assim, a premissa que o trabalho demanda um investi-mento cognitivo e fsico para resolver o que no dado pela organizao e pela situao de trabalho o que , de acordo com Assuno (1998), determi-nante na construo e desconstruo da sade.

    Nenhuma das dimenses apresentadas , por si s, suficiente para a anlise ergo-nmica. Todas so essenciais para a compreenso da situao analisada e para a elabo-rao de recomendaes efetivas. Para o ergonomista, essas dimenses de anlise, des-de o estudo dos documentos e prescries existentes at a anlise in loco das situaes de trabalho e do trabalhador em ao, permitem transformar a situao, possibilitando melhoria no que se refere ao conforto, segurana e produtividade dos trabalhado-res. O principal argumento para o estudo das situaes reais que nem sempre encon-traremos todos os aspectos das tarefas descritos nos documentos formais.

    Como veremos no prximo captulo, nem tudo pode ser documentado de forma rgida. Alm disso, os conhecimentos da ergonomia cognitiva nos ajudam a entender que nem todos os procedimentos e estratgias utilizadas pelos indivduos so facilmente relatados por eles. Na maioria dos casos, realizamos uma srie de aes que no passam por nosso controle consciente.

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    1.8.3 Envolvimento dos sujeitos

    Quando consideramos a necessidade de se analisar as situaes reais de tra-balho, outra questo se coloca: a importncia do envolvimento dos trabalhadores no processo de anlise, de recomendaes e da concepo de solues. Uma ao ergonmica , em ltima anlise, um processo de construo coletiva entre a equipe de ergonomistas e o corpo de atores sociais envolvidos. Ela fornece elementos para transformar as situaes de trabalho e para produzir conhecimentos, por meio da explicitao dos mecanismos pelos quais o ser humano consegue atingir os objetivos da produo.

    O processo de interveno em ergonomia parte do pressuposto que os indiv-duos envolvidos na situao de trabalho no so idnticos; nesse sentido, cada traba-lhador traz consigo suas experincias, representaes e estratgias, e as utiliza com o intuito de regular o processo de produo. A anlise ergonmica deve considerar que a atividade se constitui no s pela variao das situaes de trabalho, mas tambm pela variabilidade das equipes que o executam.

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    ia

    O indivduo, nesse contexto, passa a ser um elemento central para a compreen-so do seu trabalho. O seu envolvimento fundamenta um processo de decomposio e reconstruo coletiva entre ergonomista e trabalhador, que permite evidenciar os cons-trangimentos e as estratgias adotadas que subsidiam as constantes micro decises.

    Nem todos os componentes da atividade esto acessveis ao ergonomista. H muito em jogo que no possvel ser visualizado ou que lhe dado a conhecer via en-trevistas ou verbalizaes espontneas em contexto. Alguns elementos que regulam os comportamentos das pessoas (visveis, como digitar um texto; e invisveis, como recordar um termo tcnico durante a digitao), so realizados sem que elas tenham conscincia da sua relevncia para a execuo da tarefa, pois so automatizados em funo dos seus hbitos dirios e da sua experincia. a cooperao dos indivduos que atribui sentido ao. H tambm aspectos que as pessoas no querem revelar e que s o faro se sentirem confiana e uma possibilidade de realmente se transfor-mar o trabalho, para melhor-lo.

    Vimos at agora como surgiu a ergonomia no mundo e falamos um pouco sobre a sua abrangncia de atuao. Apontamos os diferentes contextos de trabalho e as suas dimenses. Ao propormos essa descrio temos como objetivo demonstrar, sob a perspectiva da ao ergonmica, as situaes de trabalho e como elas podem se apresentar nas organizaes.