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Livro Equinox 2010

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OUI OUI MERCI PARIS!

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© copyright 2011 by UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA UEMA.

De São Luís e Paris: ideias de futuro para Mont de Marsan - EQUINOX 2010

EDITOR RESPONSÁVEL

Iran de Jesus Rodrigues dos Passos

CONSELHO EDITORIAL

Porfirio Candanedo Guerra – PRESIDENTEIran de Jesus Rodrigues dos Passos - EDUEMAJoel Manuel Alves Filho - CCT/UEMAJosé Bello Salgado Neto - CCT/UEMARicardo Macedo Chaves - CCA/UEMAIlmar Polary Pereira - CCSA/UEMAEvandro Ferreira das Chagas - CECEN /UEMALincoln Sales Serejo - CECEN/UEMAJosé Carlos de Castro Dantas - CECEN /UEMAGílson Soares da Silva - CCA/UEMARossane Cardoso Carvalho - CCT/UEMANordman Wall B. de Carvalho Filho - CCA/UEMASebastiana Sousa Reis Fernandes - CECEN/UEMARita de Maria Seabra Nogueira de CandanedoGuerra - CCA/UEMAJosé Mílton Barbosa - CCA/UEMAMarcelo Cheche Galvês - CECEN/UEMAProtásio César dos Santos - CCSA/UEMARosirene Martins Lima - CCSA/UEMAZafira Silva de Almeida - CECEN/UEMA

COLABORAÇÃO TÉCNICA

Jeannie BonnaLuana Caroline Silva SantosMayara Câmara SerraMirian Kellen Gomes da CunhaThais Freire CostaVictor Hugo LimeiraYuri Wendell da Silva Nogueira

DESIGN E CAPA

Yuri Wendell da Silva Nogueira

EDITORAÇÃO

Mayara Câmara SerraYuri Wendell da Silva Nogueira

IMPRESSÃO

INDEXADO POR / INDEXAD BY Bibliografia Brasileira

De São Luís e Paris: ideias de futuro para Mont de Marsan-Equinox 2010 / organização: Alex Oliveira de Souza, Marluce Wall de Carvalho Venancio e Serge Bethelot; São Luís: Editora UEMA, 2013. 128 p.

ISBN: 978-85-8227-034-9

1. Projeto Urbano 2. Criação Urbana 3.Mont de Marsan I. Título

CDU: 711.4(812.1+443.61)

EDITORA UEMACidade Universitária Paulo VI - CP 09 Tirirical

CEP - 65055-970 São Luís - MAwww.uema.br - [email protected]

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GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO

Roseana Sarney MuradGovernadora

SECRETARIA DE ESTADO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO.

Olga Maria Lenza SimãoSecretária

FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DO MARANHÃO – FAPEMA

Rosane Nassar Meireles GuerraDiretora Presidente

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

José Augusto Silva OliveiraReitor

Gustavo Pereira da CostaVice-Reitor

Porfirio Candanedo GuerraPró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Walter Canales Sant’AnaPró-Reitor de Administração

Antônio Pereira e SilvaPró-Reitor de Planejamento

Vânia Lourdes Martins FerreiraPró-Reitora de Extensão e Assuntos Estudantis

Maria Auxiliadora Gonçalves CunhaPró-Reitora de Graduação

Geraldo Magela FonsecaChefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Nadia Freitas RodriguesDiretora do Curso de Arquitetura e Urbanismo

Universidade Estadual do Maranhão

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Atelier de criação urbana

REALIZAÇÃO

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FUTUROS POSSÍVEIS: criação e inovação na concepção de projetos urbanos no Atelier Equinox por Alex OLIVEIRA DE SOUZA, Marluce WALL e Ingrid G BRAGA.

ADRENALINE / ADRENALINA: Mont de Marsan 2030: uma experiência de adrenalina por Bruno MORLEO, David GARIN, Diego MACEDO, Giovanna FREIRE, Imane MIFTAH, Leandro MURAGUCHI, Nayanne FEQUES, Sami ESSAÏD e Yuri NOGUEIRA.ÉCLAT / BRILHO: O brilho de Mont de Marsan por Camilla COSTA, Fernanda BATISTA, Laura FERNANDES, Meriem AIDOUDI, Philippe BRETEAU, Raíssa LINHARES, Rémi FREON, Salir OGUR e Thiscianne MESQUITA.EXPLORAR SONHAR DESCOBRIR: Explore. Sonhe. Descubra a nova Mont de Marsan por Felipe BRITO, Hanitra RASOLOMAMPIANDRA, Juliana PESSÔA, Mayara SOUSA, Nicolas GONET, Paulo HENRIQUE, Raimundo BORGES, Thomas VERMERSCH e Xavier PETIT.HIPER’CUSSION / HIPERCUSSÃO: Um toque para o renascimento – Mont de Marsan 2030 por Raissa MUNIZ, Raissa PACHECO, Shenna TIMBÓ, Marina FRÓES, Lana REGO, Paula PALMEIRA, Carolina TORRES, Toufik BERBAR, Fabien LAINE e Julien DOUCHE.MOVIMENTO CHANCEUX: Explorando as potencialidades da cidade por Antoine TALON, Felipe ROMANO, José Ricardo CORDEIRO, Mírian Kellen G. da CUNHA, Raissa Serpa de CARVALHO, Rahima ATAC, Randriamanarivo HARINARINDRA, Sebastien QUETARD e Vagner MOREIRA.RICOCHET / STONE SKIPPING: Ondas de impactos e novas perspectivas para Mont de Marsan por Fabien PAVAN, Jeannie DUARTE, Joana Martins AMARAL, Jonathan LAUER-STUMM, Leticia VERAS, Luis Fernando CUTRIM, Luisa GHIGNATTI, Romain LEJEUNE e Thais COSTA.

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SUMÁRIOATELIer de CRIação �r�ana

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TAUROMATIQUE / TOUROMATIQUE: A Mont de Marsan de Madeleine por Abdel BELARBI, Anna Gabriela Braga NUNES, Benjamin CHESTA, Cécille LANNO, Cedric CHENE, Fernanda CALORE, Ivo de Melo DIAS, Louise Uchôa L. PEREIRA e Mariah ARAGÃO.MÓBILE / TRISKELIUM: Equilíbrio dinâmico para Mont de Marsan por Ana Caroline RODRIGUES, Aurelie DUMONT, Brice CHANDON, Clara SOUZA, Florian HERNANDEZ, Jean Maurice Barinda MUGADO, Juliana BATALHA, Maíra CUNHA, Renata TRINDADE e Walmírya DOURADO,VITRUVIUS 3.0: O Homem Vitruviano e a cidade por Adriany FILGUEIRAS. Alpha DISSETE, Christiana PECEGUEIRO, Felipe NASCIMENTO, Florian DOURTHE, Florian JOURDAIN, Igor PINTO, Joana DURANS e Sarah FISHER.

A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO - por Leandro Muraguchi e Nayane FequesA CIDADE DO CINEMA - por Raissa MunizDIVERSIDADE, A MAGIA DE PARIS - por Louise UchôaJARDIM DE LUXEMBURGO: O PASSADO PRESENTE - por Raissa LinharesPARIS UMA DREAMLAND - por Jeannie BonnaA CIDADE É MAIS BONITA DE BICICLETA - por Giovanna FreireA MAGNÍFICA EXPERIÊNCIA DE FLANAR - por Raimundo Borges, Felipe Brito e Paulo RodriguesA VIDA SUBTERRÂNEA DE PARIS - por Mirian Kellen e Vagner Moreira CIDADE LUZ OU CIDADE VERDE - por Paula PalmeiraFÉ ESTAMPADA NO CORAÇÃO DE PARIS - por Thiscianne MesquitaO ESPAÇO PÚBLICO E SUA RELAÇÃO COM AS NOVAS HABITAÇÕES PARISIENSES - por Igor Miranda PintoO REFLEXO ROMÂNTICO DA CIDADE PARISIENSES - por Camilla Costa e Laura FernandesA PRIMEIRA OBRA A GENTE NUNCA ESQUECE - por Luísa Ghignatti

Diário de Viagem - Equinox 2010 - por Francisco Armond do Amaral

Olhares & Impressões

Diári� Equinox

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ATELIer de CRIação �r�ana

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10 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

De Paris e São Luís para Mont de MarsanA segunda edição do EQUINOX foi realizada na

Universidade Paris-Est Marne La-Vallée na França, no período de 26 de abril a 14 de maio de 2010. Para esta edição foi escolhida a cidade de Mont-de-Marsan, na região de Bordeaux e participaram 47 alunos brasileiros, 38 alunos da França e cinco professores de cada universidade envolvida.

Esta edição seguiu os mesmos enfoques metodológicos que fundaram a primeira edição de 2009, com algumas diferenças, sobretudo devido ao fato de que não havia nenhum aluno que conhecesse o sítio in loco. A versão 2009 trabalhou com a cidade de São Luís. Nela 85 estudantes franceses e brasileiros trocaram, durante quinze dias, métodos de trabalho e abordagens diferentes sobre um território comum com o acompanhamento de uma equipe pedagógica mista. A imersão nesta metodologia leva a que os debates, os questionamentos, a desconstrução de argumentos quando confrontados aos novos olhares, ganhem novos contornos podendo fazer surgir numerosas soluções deste encontro de idéias. Na primeira versão, destas trocas, dezessete equipes formularam dezesseis proposições de projeto urbano1. Proposições que não são unicamente o fruto dos trabalhos pedagógicos, mas respostas de longo prazo para as questões locais levantadas precedentemente. Visões estratégicas para a evolução de São Luís e de seu território que representam uma oportunidade para a sociedade civil e para o Estado de se pautar por ideias não formatadas.

Porque o procedimento pedagógico de projeto adotado consiste em aliar utopias urbanas, prospectivas tecnológicas e reconquistas territoriais. Ele se constrói a partir da articulação entre a compreensão do território, a elaboração de uma problemática e a formulação de visões prospectivas2. Este objetivo não é limitado à elaboração de respostas técnicas, mas sim focado na formulação de proposições para as quais eles foram solicitados a priori e que os concernem enquanto cidadãos e futuros planejadores da cidade.

Trabalhar com um território distante e tendo pouco material de informação, gera grandes angústias nos convidados. No entanto, é indispensável ter uma visão do território e elaborar pelo menos uma ideia do projeto, mesmo que ela pareça mal colocada quando confrontada com o território e seus atores (entre eles os que recebem o projeto). Então, propor um conceito foi o viés pelo qual os estudantes puderam entrar no território. Mesmo se tratando de um jogo intelectual do qual é preciso saber sair, o conceito permite e permitiu a elaboração de um discurso urbano.

A realidade da vida no espaço urbano, seus fluxos, suas dinâmicas territoriais, seus modos de gestão ou simplesmente as diferentes maneiras de habitar as cidades são inquietações que uniram estas duas formações universitárias apesar das diferenças territoriais que concernem os dois países e as realidades vividas por cada um dos participantes do atelier.

De fato, quando falamos da produção do espaço urbano3, continuamos tratando de questões do uso do solo, precisamente da privatização do espaço público por mecanismos de gentrificação econômica, que transforma lugares públicos em ambientes quase

FUTUROS POSSÍVEIS:Criação e inovação na concepção de projetos urbanos no Atelier Equinox

por Alex OLIVEIRA DE SOUZA, Marluce WALL e Ingrid G BRAGA.

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11 FUTUROS POSSÍVEIS: criação e inovação na concepção de projetos urbanos no Atelier Equinox l EQUINOX 2010 l

exclusivos daqueles que podem pagar pelos bens e serviços ofertados, ou pela lógica descomplexada do enclave privado onde a exclusividade é vendida como a grande vantagem do território.

Da mesma maneira, se olharmos para a relação da vida urbana e seus fluxos, estaremos, nos dois contextos, confrontados com o crescimento das redes, tanto de infraestruturas quanto de circulação de bens, informações e pessoas4. Fato que torna ainda mais estreita a relação existente entre a produção de novas infraestruturas e a valorização do solo urbano pelo mercado, obrigando-nos a articular, sem moderação, mobilidade urbana com as políticas de dinamização econômica. Paradoxalmente, este crescimento das redes tem gerado mais exclusão social e territorial e impacto negativo no meio ambiente.

Colocar em concorrência os diferentes interesses de dinamização territorial tem sido o grande desafio da gestão urbana, sobretudo quando se trata de aprofundar mecanismos de participação e de controle na formulação de políticas públicas urbanas. Apesar de todos os avanços já obtidos nas experiências mais democráticas de gestão urbana, elas têm sido insuficientes para operar transformações capazes de evitar que as aglomerações humanas estejam em evidência quando falamos das ameaças à sustentabilidade do planeta.

Diante de tantas inquietações em comum, torna-se relevante o fato de colocarmos estudantes franceses e brasileiros para refletirem sobre uma realidade urbana com problemas sociais marcados por um permanente conflito de aceitação do outro, do estrangeiro e do excluído das dinâmicas econômicas ditadas pelo mercado. Tudo isso numa lógica de desenvolvimento que também não cansa de consumir sem moderação os recursos ambientais.

Tais fatos tornam ainda mais oportuna a troca de ideias sobre um determinado território, onde o lugar nem sempre corresponde às ideias5, mas depende delas para se construir, para projetar seu próprio futuro. Neste sentido o atelier EQUINOX é um ambiente extremamente propício ao confronto de ideias e a apresentação de diferentes visões de desenvolvimento urbano e humano.

1. UMA METODOLOGIA VOLTADA PARA A INOVAÇÃO E A BUSCA DE FUTUROS POSSÍVEIS

A metodologia projetual adotada pelo projeto Equinox, está sustentada na força critica e imaginativa que as utopias podem produzir na prática projetual. No entanto, para um atelier de projeto para cidades que habitamos, a utopia é gratificante, mas não é suficiente, é preciso que ela se articule com uma ideia de futuro possível6, pois só assim poderemos acreditar nas nossas utopias e melhor, só assim nos faremos acreditar.

Para isso é preciso que a metodologia seja capaz de articular a ruptura com as resistências, as inércias e com os comportamentos embriagados pelo medo do quotidiano ou pela saudade nostálgica do passado. Este exercício de ruptura deve ser articulado com perspectivas imaginativas ancoradas na experiência urbana planetária e na conquista permanente do território citadino pelo homem.

Partindo destes pressupostos, uma metodologia de criação projetual aberta foi adotada. Ela se apóia em quatro etapas:

Na primeira etapa, as duas escolas trabalham à distância. O objetivo é se instruir sobre a cidade de intervenção, neste caso Mont-de-Marsan na França,.

Assim a UPEMLV enquanto anfitriã preparou uma base de conhecimentos sobre a cidade, que foi enriquecida com informações disponibilizadas na internet acessíveis a todos. Para esta etapa foram dedicados dois meses de estudo.

A segunda etapa ocorreu já em território francês, nas instalações do Curso de Mestrado de Engenharia Urbana na UPELMV. Como primeira atividade foi feito um sorteio que promoveu uma simbiose das equipes brasileiras e francesas criando nove equipes mistas de projeto. Criadas as equipes, elas partiram para a etapa de conhecimento das pessoas e de troca de informações a respeito da cidade escolhida. Depois de dois dias de trabalho um primeiro produto foi apresentado, o conceito projetual.

A terceira etapa é fundada na produção de analogias projetuais possíveis articuladas com a realidade existente. Esta atividade foi realizada após dois dias de reconhecimento de campo, com visitas técnicas que se iniciaram em Bordeaux e se multiplicaram na pequena

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cidade de Mont-de-Marsan, com visitas guiadas, a pé, de bicicleta, onde os grupos puderam fazer registros de falas, fatos e lugares. Depois desta aproximação in loco foi feita uma apresentação na câmara de vereadores dos conceitos, agora articulados com as analogias dos futuros possíveis com os lugares e programas vislumbrados pelos projetos propostos.

A quarta etapa ocorreu na segunda semana de trabalhos, desenvolvendo-se nas salas de aula da UPEMLV. Para cada equipe foi disponibilizada uma sala que passou a abrigar o grupo durante quatro dias de atelier intensivo de trabalho. Neste período, as equipes foram acompanhadas pela equipe pedagógica, sempre com passagem mista de professores, realizando-se uma apresentação preliminar do projeto para discussão das ideias. Esta etapa foi finalizada com a apresentação das propostas diante dos professores e vereadores da cidade de Mont-de-Marsan.

2. INOVAÇÃO E CRIAÇÃO URBANA PARA MONT DE MARSAN

Os resultados alcançados, com aplicação da metodologia do atelier, nos permitem apresentar as propostas e seus méritos em termos de inovação e

criação urbana para o sítio escolhido. Para isso, faz-se necessário uma breve aproximação dos leitores da pequena e pacata cidade francesa de Mont-de-Marsan, que foi escolhida, pela equipe pedagógica francesa em função de alguns requisitos acordados com as duas equipes, por exemplo: não ser na região parisiense, possibilitar interfaces com o patrimônio cultural e ambiental, estar articulada a projetos regionais de desenvolvimento.

Diante destes critérios foi escolhida a cidade de Mont-de-Marsan. Localizada na região da Aquitânia, é a capital do departamento de Landes. Conhecida como a "Cidade de Três Rios”, Mont-de-Marsan ocupa uma área de 36,89 km² e possui uma população de 32 mil habitantes. Estes números podem ser relativizados quando comparados aos do departamento de Landes, que conta com uma população de 327 334 habitantes e ocupa uma área de 9 215 km² e aos da Região da Aquitânia com quase três milhões de habitantes distribuídos em uma área de 41.400 km². (ver figura 01)

Uma cidade pequena e pacata no sudoeste francês, porém com grande potenciais ligados tanto a indústria aeronáutica de alta tecnologia quanto aos inúmeros recursos ambientais e culturais que caracterizam a região. Estes elementos reunidos e somados à possibilidade de integração ao eixo comercial gerada pela implantação da linha de trem de alta velocidade, ligando Bordeaux na França, à Bilbao na Espanha, passando por Mont-de-Marsan coloca à cidade uma série de desafios. Guiados por uma discussão sobre acessibilidade e redes urbanas, a cidade se vê na eminência de ser retirada de seu quotidiano tradicional, para ser submetida a uma nova aventura transformadora, que hora ameaça sua harmonia histórica e ambiental e hora lhe convida para participar como ator social na rede das cidades européias integradas por redes de transporte de alta velocidade.

Estes desafios foram percebidos de diversas maneiras pelos alunos envolvidos, tanto na equipe brasileira, quanto na francesa. A partir destas percepções, cada uma das equipes mistas pôde trabalhar e construir os conceitos que poderiam ser portadores da ideia central do projeto urbano imaginado pela equipe. Numa primeira apresentação coletiva, foram apresentados nove conceitos:

01 Localização de Mont-de-Marsan na Região da Aquitânia Fonte: www.aquitaine.fr

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a) Ricochet: Como no jogo Stone Skipping, a pedra deve ser lançada de forma equilibrada. A técnica é usada para se alcançar o maior número de quiques e a escolha da pedra é fundamental para o sucesso, pois, assim como uma intervenção urbanística, não pode ser feita de qualquer maneira.

b) Triskelium: Baseado na ideia de equilíbrio entre as partes, este conceito propõe que as intervenções na cidade sejam balizadas pela noção do móbile de Calder, onde o equilíbrio é sempre possível e está diretamente associado à forma de se movimentar os diferentes componentes.

c) Adrenaline: esta proposta busca trabalhar o projeto como uma injeção de adrenalina, tanto como vetor de reanimação, quanto como elemento capaz de transformar o medo em prazer por ter aproveitado as delícias da aventura sobre o desconhecido.

d) Hypercusssion: Através de intervenções especifi cas, em pólos e regiões, pretende-se “tocar” na cidade de maneira que a faça vibrar completamente, ou seja, quando interferimos (tocamos) em uma determinada área, essa intervenção vai ser refl etir (vibrar) em toda a cidade de maneira que sua totalidade sofra também as alterações realizadas, mesmo que de forma indireta.

e) Explore. Sonhe. Descubra: “Solte as amarras. Abandone o porto seguro. Capture o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra.” Com esse conceito, procura-se explorar uma cidade desconhecida,

torná-la visível, sonhar com o futuro, preparando-se para eventos imprevisíveis, descobrindo áreas com grandes potenciais, objetivando a mobilidade social, dinamizando e viabilizando melhorias na qualidade de vida da população.

f) Tauromatique: A energia da festa da Madeleine é da cidade inteira, assim o projeto pretende utilizar esta energia para explorar as qualidades da festa nas intervenções: desafi o, integração, precisão, movimento e ambiência.

g) Vitruvius 3.0: A idéia é que a tríade vitruviana encontra-se dispersa e no estágio 1.0. Precisamos recuperar a tríade e recolocar o homem como artífi ce do processo, para alcançarmos o estágio 2.0 em 2030 e o Vitruvius 3.0 em 2050.

h) Éclat: reconhecer o brilho próprio da cidade, encontrar nesta luz a possibilidade de fazer fl orescer a estrela que é a própria cidade, colocando um brilho em cada uma das intervenções.

I) Trefl e: Trevo aqui é associado ao movimento da sorte, que consiste em se apropriar das oportunidades existentes e transformá-las em um movimento virtuoso, onde ter sorte é ter uma cidade que integra suas potencialidades, com a exploração de forma inteligente.

Trabalhar com os conceitos permite às equipes formular visões prospectivas dos desafi os para a cidade ou sítio de intervenção. Por outro lado, a elaboração de um conceito subjetivo, associado a uma problemática objetiva, permite várias interpretações e amplia a capacidade do projeto em envolver as pessoas ligadas ao processo. Saber tocar a cidade, encontrar pontos de 02 Imagens usadas pelos conceitos Triskelium,

Hypercussion e Adrenalina. Fonte: EQUINOX 2010

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equilíbrio para se dosar a dopagem urbana, refletem imagens subjetivas que inspiram o debate de ideias.

Depois de formulado o conceito, as equipes partiram de Paris para Mont-de-Marsan, com passagem obrigatória por Bordeaux, para uma visita técnica de espaços públicos, culturais e de habitação social. Chegando a Mont-de-Marsan, tudo podia ser observado, percebido e, reconhecido ou não. O reconhecimento dos ícones da cidade, monumentos históricos, rios e praças, do nome da apresentação folclórica apresentada na prefeitura para recepcioná-los ou do caminho da prefeitura até a Arena pela Rua Gambetta, parecia corresponder aos dados preliminares estudados. Porém, a imersão em um lugar reserva suas surpresas, mesmo ao mais erudito dos visitantes, o ar, o cheiro, as escalas e, sobretudo as pessoas, dando sentido a tudo.

Começa, então, outro grande desafio que é como em dois dias se pode conseguir compreender o máximo desta cidade, para se pensar o seu futuro, sem esquecer quanto é limitado este contato. Porém, para o exercício de futuros possíveis, o contato pode ser muito rico, pois só estando no território pode se vislumbrar com mais clareza o que realmente se está propondo com os conceitos elaborados, fazendo-os sair de uma esfera abstrata e subjetiva, para uma esfera real, territorial e, sobretudo possível. Esta visita foi organizada com três atividades: visita guiada por atores sociais da cidade aos principais projetos da prefeitura, visita coletiva de bicicleta e por equipes e apresentações de resultados parciais para os vereadores.

A apresentação para os vereadores correspondeu à segunda apresentação dos trabalhos para todo o grupo

e neste momento foram reapresentados os conceitos, porém agora já associados a programas e ações territorializados e contextualizados. Esta apresentação serviu para se ouvir os vereadores e suas impressões sobre os projetos, como eles percebiam os conceitos e como eles viam aquelas ideias na cidade que eles representam. Após esta apresentação as equipes tiveram mais um dia de visita livre a critério das equipes, em função de suas dúvidas ou para fundamentar uma ideia ou outra.

De volta a UPEMLV, em Paris, retorno sobre o trabalho de projeto, para tanto uma nova etapa de socialização é iniciada: todas as equipes devem procurar analogias e referências projetuais na produção mundial de arquitetura e urbanismo. O que se pretende pode já estar sendo aplicado em algum lugar, o que se pretende pode ser uma variante ou um híbrido de duas coisas já realizadas. Neste momento de busca pela internet a multiplicidade de olhares e visões contribui enormemente. O ambiente virtual permite que todos os meios sejam acionados vale pedir ajuda pelo Facebook ou colocar uma “#hahstag” no Twitter.

O exercício de diálogo com a produção existente e já divulgada dá mais credibilidade às propostas, pois se pode visualizar claramente a aplicabilidade das proposições. Por outro, o uso do referencial retira do projeto o mito de ser utópico e o aproxima de uma visão de futuro possível. Longe de parecer uma atitude pouco criativa o uso das referências cria

03 Analogias utilizadas, em arquitetura, equipa-mentos e modos de transporte.7

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15 FUTUROS POSSÍVEIS: criação e inovação na concepção de projetos urbanos no Atelier Equinox l EQUINOX 2010 l

cultural e ambiental com novas perspectivas de desenvolvimento local.

Os nove projetos apresentados colocaram em debate ideias de dinamização territorial através de intervenções que buscavam equilíbrio, mas também novas formas de injetar adrenalina na cidade. Estas contribuições apareceram em várias escalas, temporais quando se incluía a necessidade de implantação por fases sucessivas, geográficas quando associavam o potencial local com as sinergias regionais e políticas quando propunham mudar as convenções atuais dos lugares.

3. RESULTADOS E PERSPECTIVASO trabalho desenvolvido durante o atelier franco

brasileiro de criação urbana foi uma excelente oportunidade de troca entre alunos participantes, não só para os alunos brasileiros que participaram de uma atividade internacional, não como meros aprendizes da experiência urbana de um país como a França, mas como criadores de cidades, jovens cidadãos do mundo. Capazes de desenvolver uma atividade projetual com criatividade e imaginação em um país historicamente rico como a França em um contexto tão cativante quanto o que pôde ser tratado na cidade de Mont de Marsan.

Mas também para os alunos de engenharia urbana da UPEMLV, pois estes, além da possibilidade de intercâmbio fomentada pela troca de informações com os colegas brasileiros, eles puderam confrontar os seus olhares sobre os mesmos problemas com os olhares e as perspectivas de intervenção propostas por jovens de origens diferentes.

Outro aspecto importante a salientar foi a troca de experiências entre os professores que tiveram que construir em conjunto esta experiência única. Para tanto, os métodos e procedimentos foram ajustados à medida que o atelier criava suas demandas.

Enquanto perspectivas, três vias já se encontram em construção. Uma que trata da divulgação dos resultados através da publicação deste livro com todos os projetos e com a descrição metodológica do atelier de criação urbana, bem como da produção de uma exposição dos pôsteres produzidos, para serem lançados em São Luís e em Paris.

um vocabulário extremamente rico, pois as equipes apresentam trajetórias e referências diferentes, que quando compartilhadas passam a fazer parte do vocabulário de todo o grupo.

Após este enriquecimento do vocabulário, entra-se na fase final de elaboração das propostas, neste momento as equipes continuam sendo atendidas uma a uma em suas salas de trabalho e uma apresentação preliminar é feita aos professores para ajustes finais na proposta e recalibragem dos pontos mais emblemáticos das propostas, esta última orientação foi realizada isoladamente com cada uma das equipes.

Para o resultado final dos trabalhos foram apresentados os seguintes produtos: 2 pôsteres formato A0, uma apresentação em slides e um memorial descritivo de duas páginas, todos produtos em português e francês. Todos os trabalhos foram apresentados em um dia inteiro, sendo argüidos pelos professores e observados pelos vereadores da cidade de Mont-de-Marsan.

Os resultados alcançados pelas equipes depois de quinze dias de trabalho intenso superaram as expectativas. Eles demonstraram que mesmo em um ambiente de trabalho onde a comunicação entre os membros tinha que necessariamente ultrapassar as barreiras das línguas mais faladas entre eles (Francês, Português e Inglês) o desejo de fazer algo transformador superava muitos dos obstáculos. As diferenças no interior das equipes não se resumiam nas disparidades existentes entre a cultura brasileira e a francesa, mas surgiam principalmente das diferentes visões de mundo dos envolvidos.

No entanto, apesar destas diferenças, alguns pontos de convergência puderam ser percebidos nos projetos. O primeiro ponto comum aos projetos que podemos enumerar é a preocupação em melhorar o cuidado com os espaços públicos, vários projetos trabalharam como os espaços públicos associados a um melhor acesso ao solo urbano.

Outro aspecto bastante tratado pelas equipes foi a estratégia de se criar novas centralidades articuladas a espaços públicos de qualidade e articulados a um sistema multimodal de mobilidade inclusiva e de baixo impacto ambiental. Estas propostas também estariam associadas à proteção do capital social,

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16 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

A segunda perspectiva passa pela promoção continuada do atelier de criação urbana, EQUINOX através do fortalecimento da parceria com a Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e a inclusão de novas universidades.

A terceira perspectiva em construção é o fortalecimento desta atividade de pesquisa e extensão universitária visando uma maior discussão da realidade das cidades maranhenses, para que se consolide uma cultura do projeto urbano participativo, criativo e aberto aos futuros possíveis como forma de transformarmos nossas cidades.

04 Mapas, esquemas gráfi cos, planos de massa e perspectivas foram utilizados. Fonte : EQUINOX 2010

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17 FUTUROS POSSÍVEIS: criação e inovação na concepção de projetos urbanos no Atelier Equinox l EQUINOX 2010 l

Notas

1 OLIVEIRA DE SOUZA, Alex; VENANCIO, Marluce W. de C. et BONIERBALE, Thomas; Equinox: atelier de criação urbana – Novos olhares sobre a cidade. Editora UEMA, São Luís, 2009, 119pp.

2 MANGIN D. et PANERAI P. Projet Urbain, Ed. Parenthèses, 1999

3 ALLAIN, Rémy. Morphologie urbaine. Ed Armand Colin/SEJER, Paris, 2004. 253pp

4 PAQUOT, Thierry. Terre urbaine: Cinq défis pour le devenir urbain de la planète. Paris, Ed La découverte, 2006, 31-72pp.

5 MARICATO, Ermínia. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias : Planejamento urbano no Brasil. In ARANTES, O., VAINER, C. & MARICATO, E. A Cidade do Pensamento Único. Petropolis-RJ, Vozes, 2000. (p121 a p192)

6 SECCHI, Bernado, A cidade do século vinte. [ Tradução e notas Marisa Barda] – São Paulo; Perspectiva, 2009. – (Coleção debates; 318)

7 A imagem 1 é do Spacebox Student, Housing Utrecht, Mart de Jong, Holanda, a 2 é uma passarela no rio Drava na Eslovênia e a 3 é um tramway da Alstom extraído do www.psipunk.com.

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18 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

e

MON�-DE-MAR�AN 2030 Uma experiência de adrenalin

a

Adrenalina é um hormônio liberado pelas glân-dulas renais que aumenta os batimentos cardíacos e através da analogia da sensação que essa substân-cia causa no corpo humano estabeleceu-se o conceito do trabalho apresentado a seguir. O objetivo principal é proporcionar a Mont-de-Marsan o status de cidade dinâmica e administrativa legitimada pelos seus futuros equipamentos, tornando-se ícone não só na França, mas em todo o mundo.

A capital de Landes, prestes a se tornar ponto de ligação entre a França e a Espanha, através de lin-has TGV, necessitará de infraestrutura compatível à sua nova condição. Para isso, uma injeção de adren-alina (conforme representa a figura 01) está sen-do prevista: a reabilitação de três grandes regiões estruturadoras em toda a cidade através da mobilidade urbana. São elas:

por Bruno MORLEO, David GARIN, Diego MACEDO, Giovanna FREIRE, Imane MIFTAH, Leandro MURAGUCHI,

Nayanne FEQUES, Sami ESSAÏD e Yuri NOGUEIRA.

1 Bairro da Arena

• Arènes PlumaçonSob a Arena será construído um pavilhão que abrig-

ará, além de uma moderna estação de TGV, um museu de arte flamenca para fomentar e valorizar a cultura local ao longo prazo. Desde suas danças típicas até as vestimentas das famosas touradas. Além deste memo-rial, um centro cultural para a realização de conferên-cias, exposições, mostras e diversos cursos.

• Place St. RochUm estacionamento subterrâneo será construído e

na praça acontecerão feiras itinerantes de artesanato, culinária, etc, a fim de promover o máximo aproveita-mento dos espaços públicos pela sociedade.

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19 Mont-de-Marsan 2030: uma experiência de adrenalina l EQUINOX 2010 l

• Gare SNCFA estação de trem será interligada com a arena

através da implantação do edifício. Assim, mesmo quem estiver na cidade só de passagem poderá conhecer um pouco da cultura de Mont-de-Marsan.

• ConfluênciaNa confluência entre os rios que formam o Mi-

douze serão construídos decks suspensos – caso haja um alagamento - para permanência da população e realização de pequenos eventos como comemorações, exposições, etc. A finalidade é estabelecer mais um es-paço público e fazer com que a sociedade interaja mais com os aspectos naturais da cidade.

2 Avenida Marechal Foch

Esta importante avenida que liga o Centro Histórico aos novos territórios do Leste da cidade se consolidará não só como centro comercial, mas tam-bém como local de prestação de serviços e de vários equipamentos urbanos. Além disso, é nela que se en-contrará a estação do TGV que possibilitará à popu-lação melhor interação entre Mont-de-Marsan e o restante do país e do continente. Conectada à per-iferia, será uma área dinâmica e atrativa para toda a região de Landes e onde se localizarão os equipamentos administrativos da cidade.

• Chambre commerceAo longo dos seus cinco quilômetros de extensão,

a predominância da tipologia de shoes box dará lugar

01 Analogia à injeção de Adrenalina.Fonte: ADRENALINA, 2010.

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20 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

a um centro comercial dinâmico que contará com lojas e diversos serviços como escritórios, cinemas, restau-rantes, cafés, bares e etc.

• Future TGVModerna estação de trem em uma das principais

entradas da cidade com infraestrutura que abrigará restaurantes, bares, cinemas, hotéis e etc.

• StadrumsConstrução de equipamentos esportivos próximos

ao Estádio Guy Boniface, entre eles uma piscina flu-tuante no Rio Midou, quadra poliesportiva, velódromo, pista de atletismo, campo de rugby e área para prática de esportes radicais.

3 Pólo de Tecnologia

Na Avenida Maisons Castors será construído o Centro Europeu de Pesquisa em Madeira que irá abri-gar a sede dos laboratórios de pesquisa de energias alternativas e uso da madeira da Floresta de Landes. Próximo a esse complexo será construído o campus da Universidade de Mont-de-Marsan e uma estação de tratamento de água.

As intervenções anteriores descritas estão sendo previstas para uma população de 50 mil habitantes em 2050. A infraestrutura da cidade deverá estar condi-zente com essa densidade e para isso serão construídas novas habitações, uni e multifamiliares. A principal área desta intervenção se localiza no Nordeste da cidade,

02Relação entre transporte e as áreas de intervenção.Fonte: ADRENALINA, 2010.

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21 Mont-de-Marsan 2030: uma experiência de adrenalina l EQUINOX 2010 l

local em que atualmente se encontram bairros pre-dominantemente residenciais. Neles serão inseridas as “fazendas familiares”, com a possibilidade de cultivo de uma horta particular nas residências e às margens do Rio Midou, proporcionando uma grande horta coletiva que beneficiará toda a cidade.

A integração de todos os projetos só será possível através de uma rede de transporte que integra a ci-dade gerando uma melhor mobilidade urbana. A frota

03 Infográfico do ecossistema urbano.Fonte: ADRENALINA, 2010.

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22 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

04Carta geral de intervenções.Fonte: ADRENALINA, 2010.

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23 Mont-de-Marsan 2030: uma experiência de adrenalina l EQUINOX 2010 l

de ônibus será aumentada e serão criadas mais linhas, a fi m de que haja maior alcance dentro da cidade. Ruas para uso exclusivo de pedestres no Centro Histórico ga-rantirá melhor acesso e melhor circulação de pessoas. Bicicletas públicas serão disponibilizadas para aluguel a baixo custo. Dessa forma, a adrenalina atinge toda Mont-de-Marsan e possibilita, além de melhor quali-dade de vida aos seus habitantes, projeção da cidade no cenário mundial.

05 Esquema de intervenção na área total.Fonte: ADRENALINA, 2010.

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24 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

%Brilho 1. Fulgor ou luz que um corpo emite ou re-

flete 2. Fís. O mesmo que luminância. 3. Fig. Esplen-dor; magnificência. 4. Vivacidade. 5. O que provoca im-pressiona positivamente.

Do espanhol brillar, brillare no italiano, verbo nas-cido do substantivo arcaico brillo, cristal trabalhado. A origem comum da palavra em todas as línguas citadas é o grego béryllos, pelo latim beryllus, berilo.[...] A pala-vra brilho, daí nascida, aplicou-se primeiramente a ob-jetos, mas depois foi estendida a sentidos metafóricos, indicando excelência intelectual, artística, científica.

Com 36,89km², a pequena Mont-de-Marsan é uma comuna francesa do departamento de Landes, na região da Aquitânia. Acolhedora e aconchegante, exprime suas rugas através de ruelas e fachadas arquitetônicas. Ex-ala um conteúdo enigmático, inspirador e apaixonante. Sua população é calorosa e reflete em suas atitudes as características do lugar onde habitam.

ÉCLAT - BRILHOO brilho de Mont de Marsan

O brilho presente no sorriso das pessoas, na exu-berância da natureza, na irreverência das manifestações culturais e na serenidade dos traços arquitetônicos pre-sentes na cidade, inspirou a criação do conceito Éclat, que significa brilho. A ele estão relacionados os obje-tivos e as propostas que buscam revitalizar e tornar a cidade de Mont-de-Marsan em um ambiente mais atra-tivo e vivaz conforme a figura 01.

A partir de uma análise hipotética, dentro de algu-mas décadas sem intervenções urbanísticas geradoras de novo polos atrativos, a cidade passaria por um pro-cesso de estagnação tendendo para o esmaecimento elas envelhecimento de suas potencialidades culturais, populacionais e econômicas. Como forma de evitar tal processo, foi feita a associação entre o brilho latente que coexiste no centro da cidade e os demais sítios de intervenção.

por Camilla COSTA, Fernanda BATISTA, Laura FERNANDES, Meriem AIDOUDI, Philippe BRETEAU, Raíssa LINHARES,

Rémi FREON, Salir OGUR e Thiscianne MESQUITA.

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25 Éclat - Brilho l EQUINOX 2010 l

O principal objetivo do projeto é transformar a pequena Mont-de-Marsan em um radiante espaço de entretenimento referencial para toda a Europa. Pos-suindo como característica singular a transformação da cidade em um grande Centro Pieton, onde seus usuários utilizem ao máximo os meios de locomoção alternativos aos automóveis, incentivando a sus-tentabilidade e a utilização dos espaços públicos de maneira mais enérgica.

Para transformá-la em uma potencialidade do en-tretenimento, foram feitas diversas intervenções nas regiões centrais e periféricas, buscando a criação de novas dinâmicas ao longo do tecido urbano. O objetivo seria atrair a população proveniente de outros locais e atender com eficiência as necessidades de lazer da população jovem que habita Mont-de-Marsan. Desta forma as intervenções visam principalmente privilegiar o lazer, a acessibilidade, a utilização de fontes de ener-gia renováveis e o setor de serviços.

As intervenções foram divididas em quatro áreas de abrangência: entretenimento, habitação, economia e fontes de energia, e mobilidade. Dentro destas, as principais propostas para a dinamização e desenvolvi-mento de novas potencialidades atrativas e econômicas correspondem à Shine Avenue, a Cidade da Escultura, o Centro Esportivo, a urbanização das margens do rio, o centro da cidade para pedestres e a implantação de meios de transporte que viabilizarão o acesso e o deslo-camento dentro e fora da cidade.

EntretenimentoÉ proposta a dinamização do centro através da

otimização do setor comercial e de atividades ligadas à identidade cultural da cidade. Busca-se associar a sua estética a inclusão de bares e restaurantes em diversas áreas do mesmo. Além disso, o fechamento de seus limites a veículos automotores, objetiva transformá-lo em uma área de utilização de diversos transportes al-ternativos incentivando a sustentabilidade.

A Shine Avenue, inspirada na Las Vegas Strip (Ne-vada - Estados Unidos), intenciona transformar a Ave-nida do Maréchal Juin em um espaço irradiador de en-ergia e lazer. Através da acessibilidade, implantação de equipamentos públicos e investimentos do setor priva-

01 Analogia ao brilho presente no sorriso das pessoas, na utilização dos espaços públicos. Fonte: ÉCLAT, 2010.

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26 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

do como bares, boates, cassinos, busca-se criar uma área pulsante que possa representar a cidade como polo de entretenimento. Como exemplo, observa-se a figura 02.

Objetiva-se também incentivar o esporte através da criação de um complexo esportivo, que possa ga-rantir à predominante população jovem da cidade, al-ternativas que aliem a diversão e o lazer às atividades enaltecedoras do comportamento social e dos ideais de integração e coletividade.

Visa-se dar maior destaque à cultura local e mundi-al através da incorporação da cidade da escultura, que faz analogia ao título da cidade - Cidade das Esculturas. Busca-se criar um complexo onde possam ser exerci-das diversas atividades relacionadas a esculturas desde

oficinas, ambientes de aprendizagem até espaços des-tinados a exposições e museus.

A criação do complexo aquático, nas regiões perifé-ricas do sul, objetiva a difusão do brilho do lazer pela cidade, assim como a criação de novas dinâmicas ao longo do tecido urbano através do deslocamento de pessoas em sentidos opostos. Desta forma visa-se que o tecido funcione como um polo gerador da expansão da cidade neste sentido.

Com a urbanização das margens dos rios, pre-tende-se transformá-los em áreas turísticas portadoras de equipamentos que possam fazer com que os turistas e a população local utilizem-nos de forma mais intensa para práticas de atividades ao ar livre, passeios, en-tre outros. Assim, são adicionados às suas margens

02Vista da cidade de Las Vegas.Fonte:HERICO SOEIRO DE SOUSA, 2014.

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27 Éclat - Brilho l EQUINOX 2010 l

elementos que os tornem mais dinâmicos e atrativos, como o Complexo Resort localizado em posição estra-tégica de maneira a suprir parte da demanda turística, ou a implantação de um monumento na confluência dos rios Midou e Douze que possa funcionar como um sím-bolo para a cidade maneira referencial.

HabitaçãoNeste setor a principais propostas são a revitali-

zação e transformação do bairro do Peyrouat, ao norte de Mont-de-Marsan, em uma ecovila. Este bairro, vol-tado para a habitação social, necessita de intervenções capazes de revitalizar melhorar a qualidade de vida de seus usuários. Desta maneira a ecovila funcionará como elemento impulsionador de melhorias na qualidade de vida e também será um incentivo a sustentabilidade e a utilização de fontes de energia renováveis. Além disso, a proximidade deste bairro com o setor hoteleiro - in-tervenção do setor econômico - visa gerar empregos próximos a população habitante do Peyrouat.

Outra proposta para este setor será a criação de um núcleo de habitação estudantil nas áreas adjacentes à zona do Pémégnan, situado na região nordeste da ci-dade, onde será implantado um tecnopólo - interven-ção do setor econômico - que contará com uma univer-sidade e outras atividades relacionadas à educação e núcleos pesquisas e desenvolvimento.

Economia e Fontes de EnergiaVisando a geração de empregos e o atendi-

mento a demanda turística da cidade foi planejado um setor hoteleiro, situado entre o centro da cidade e a Shine Avenue.

Apesar do objetivo econômico do projeto ser ba-seado no entretenimento, a inclusão dos polos tec-nológico e educacional na zona do Pémegnan tem, por finalidade, desenvolver atividades de pesquisa e desen-volvimento em áreas tecnológicas, assim como, suprir as necessidades da população jovem, que apresenta como desejo a possibilidade de poder cursar o nível su-perior sem se deslocar para outras cidades.

Outra proposta de intervenção para gerar alterna-tivas às bases econômicas da cidade é aproveitar sua posição estratégica para o desenvolvimento de um polo

agroexportador. Este teria como objetivo reunir e dis-tribuir a produção dos variados gêneros agrícolas pro-duzidos nos territórios da cidade e da região.

A proposta, que incentiva a maior utilização de fontes de energia renováveis, visa o aproveitamento das mesmas em todo o perímetro da cidade e nos prin-cipais empreendimentos geradores de poluição e con-sumidores de energia. Assim, passa a ser um objetivo do projeto a criação de um polo produtor de biogás, de energia geotérmica, e a utilização da energia solar.

MobilidadeSem a existência de um sistema de mobilidade

eficiente e funcional, as intervenções urbanas não al-cançarão a eficiência desejada. Para promover acessi-bilidade a nível internacional, propõem-se a criação de um aeroporto que também servirá de suporte a agro-exportação conforme exemplo exposto na figura 03. O sistema de TGV, já existente, será aperfeiçoado com o objetivo de estabelecer a conexão entre Mont-de-Mar-san e as demais cidades europeias.

Como meios de locomoção internos serão imple-mentados transportes que utilizem, de preferência, combustíveis produzidos na própria cidade e não agres-sivos ao meio ambiente. No perímetro do centro, como

03Exemplo de aeroporto.Fonte:HERICO SOEIRO DE SOUSA, 2014.

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alternativa ao ato de caminhar, será incentivada a uti-lização de bicicletas e outras formas de locomoção que não causem danos às vias públicas e não ponham em risco a segurança dos pedestres. Também haverá um sistema de transporte fluvial que funcionará para o en-tretenimento e para a mobilidade na região central e adjacências. A conexão entre as demais partes será ga-rantida através da implantação de ônibus de alta veloci-dade, capazes de estabelecer conexões rápidas entre as extremidades da cidade.

Com as intervenções urbanas busca-se iluminar de-terminadas áreas, levando a elas dinamismo e poder de influência sobre outras. Através da multiplicação destes mecanismos, objetiva-se que a cidade seja iluminada de forma coesa. De maneira gradativa pretende-se que o brilho de Mont-de-Marsan possa atingir um grau de influência regional, nacional e mundial.

Considerando 2015 como o ano de início das inter-venções relacionadas à habitação e lazer, ao centro da cidade e à áreas vazias, é previsto que em 2050 sejam consolidadas as novas dinâmicas criadas no território da cidade, e posteriormente a expansão e influência das mesmas para além das fronteiras de Mont-de-Mar-san. É possível ver a evolução através da figura 05.

O brilho é proveniente de diversas fontes, alguns possuem maior alcance que outros, contudo, o deseja-do, assim como nos rios da cidade, é a sua confluência. Como a união das águas de seus dois rios, espera-se que a intersecção dos mais diversos brilhos da ci-dade de Mont-de-Marsan possa transformá-la em uma única fonte, que atrai, seduz, contagia e reflete sua identidade ao mundo.

04Tradução do Conceito na Cidade.Fonte: ÉCLAT, 2010.

05 Mapa dos pontos de intervenção na cidade.Fonte: ÉCLAT, 2010.

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29 Éclat - Brilho l EQUINOX 2010 l

06 Escala de Evolução da Cidade com a aplicação do Conceito.Fonte: ÉCLAT, 2010.

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30 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

r

EXPLORAR, SONHAR, DESCOBRIR

Explore. Sonhe. Descubra a nova Mont de Marsan

Considerando aspectos importantes para o desen-volvimento da cidade de Mont de Marsan, localizada na região da Aquitânia, sul da França, e do princípio de acreditar na renovação, a equipe baseou-se em um pensamento do escritor americano Mark Twain, que diz: “Solte as amarras. Abandone o porto seguro. Capture o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra.”

Essa citação representa bem as necessidades atuais da cidade, que mostra carência de espaços públicos, ne-cessita de uma renovação dos equipamentos urbanos e de uma rede de transportes que atenda e proporcione melhor circulação de pessoas por todas as áreas. Soltar as amarras remete a sair do estado de acomodação, aspirar a mudanças e a novos experimentos. Abandon-ar o porto seguro significa sair em busca de novos hori-zontes, ou seja, de novas formas de desenvolvimento, novas conquistas e novas oportunidades.

Explorar remete a uma busca pelo passado, val-orizando a cultura local, o patrimônio histórico e ar-quitetônico, conhecendo os seus recursos econômicos, além do relacionamento com as demais cidades. Son-har com as possibilidades de desenvolvimento e com as aspirações da sociedade. Descobrir sua identidade e sua representação na região enquanto cidade, bus-cando uma maneira de por em prática todos os projetos que visem o crescimento de seus potenciais.

Com esse conceito, procura-se explorar uma cidade desconhecida, torná-la visível, sonhar com o futuro, preparando-se para eventos imprevisíveis e descobrin-do áreas com grandes potenciais, objetivando a mobi-lidade social, dinamizando e viabilizando melhorias na qualidade de vida da população.

A área de estudo compreende quatro áreas de in-tervenção, as quais foram escolhidas devido às suas

por Felipe BRITO, Hanitra RASOLOMAMPIANDRA, Juliana PESSÔA, Mayara SOUSA, Nicolas GONET, Paulo HENRIQUE,

Raimundo BORGES, Thomas VERMERSCH e Xavier PETIT.

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31 Explorar, Sonhar, Descobrir l EQUINOX 2010 l

junto habitacional vertical de utilidade mista, com mo-radias e comércio no pavimento inferior.

A segunda área de intervenção compreende a “Ilha Ecológica”, localizada a nordeste da cidade. As propos-tas apresentadas foram a construção de ciclovias e de praças na Rua Robert Darret, a fim de que proporcionem a dinamização do bairro e a criação de um mirante para aproveitar a vista. Destaca-se, também, como propos-ta, a construção de um skatepark ou um belvédère. O coração dessa ilha ecológica se constitui em um eco-park que tem a finalidade de fazer a conciliação entre habitação, comércio e natureza, integrando o espaço verde à vida social.

Visou-se à estruturação da Rua Allée de l’Arrayade e da Rua André Gadillon com um sistema de captação de água da chuva, aproveitando o desnível da área.

Há também o projeto para a construção de grandes corredores suspensos que proporcionarão a passagem de pedestres, começando nas proximidades da con-

01 Tradução do Conceito na Cidade.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010. 02 Plano de Massas Geral.

Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

particularidades e as suas potencialidades de desen-volvimento econômico, social e cultural.

A primeira área compreende o bairro Peyrouat, lo-calizado a noroeste da cidade e caracteriza-se como um bairro unicamente residencial, apresentando defi-ciência de espaços públicos para o lazer dos moradores. Em função dessa carência, promoveu-se a criação de praças e a construção de espaços integrados ao esporte com o objetivo de aproximar a população do bairro.

Planejam-se, também, a construção de escolas téc-nicas que visem o desenvolvimento do potencial am-biental madeireiro, gerando emprego e articulando a economia regional.

O projeto para o bairro exemplifica uma necessi-dade de requalificação das áreas adjacentes às Ruas Peyrouat, Abbe Dauba, Thomas Diaz e de concretizar uma ligação entre a Rua Botty e a Rua Rozanoff, pro-movendo o aproveitamento de um espaço sem função social entre essas ruas para a construção de um con-

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32 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

fluência dos rios e terminando no centro comercial da cidade (Carrefour).

A terceira área corresponde ao Centro da Cidade. O projeto visa à dinamização de uma área que apesar de centralizada em relação à cidade, apresenta certo estado de abandono. O objetivo é explorar a cultura e o patrimônio da cidade para descobrir novas formas de desenvolvimento e de abertura para o turismo. O desenvolvimento de estruturas para a realização de atividades culturais e comerciais naquela área foram as soluções apontadas, como a criação uma estação multimodal, com linha de trem, garantindo um melhor fluxo para a região e outras cidades, linha de ônibus e ciclovia na Avenida La Gare. Dentre as propostas, dest-aca-se também a criação de um centro esportivo e cul-tural, de um mercado com produtos regionais, centros culturais, comerciais e de esporte e um clube náutico para aproveitar o potencial do rio.

A quarta área escolhida corresponde ao bairro Pemegnan, situado no nordeste da cidade de Mont de Marsan. Essa área tem especial destaque porque engloba a Zona Industrial, possui poucas residên-cias e também inclui uma penitenciária que foi recentemente construída.

Por ser uma área isolada da cidade, essa zona carece de amplo desenvolvimento. Por isso, criou-se o projeto para a implantação de um pólo de pesquisa bio-tecnológico, além da criação de um parque educacional de biotecnologia. Esse centro de pesquisa representa a descoberta de um potencial até então inexplorado na cidade, levando-a a um patamar de destaque nacional.

Dessa forma, procurou-se observar a necessidade de soltar as amarras e abandonar o porto seguro, ou seja, de fazer com que a cidade se desprendesse da idéia de simplicidade e partisse rumo à inovação, ao sonho, à descoberta de seus potenciais. Isso não significa dizer que a cidade precisaria abandonar sua estrutura atual e destruir tudo o que existe em seu território, mas ir em busca de novos horizontes para o seu desenvolvimento.

Explorar, sonhar e descobrir. Três palavras, não em estado hermético, imutável, mas utilizadas para fo-mentar o trabalho. Explorou-se ao máximo tudo o que a cidade tem e pode oferecer. Sonhe como a cidade de-

03Polo esportivo Peyrouat.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

04Skate Park.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

05 Caminho Suspenso.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

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33 Explorar, Sonhar, Descobrir l EQUINOX 2010 l

06 Intervenções no Centro.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

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34 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

veria ser e a sua relação com o resto do mundo, com as coisas grandes e consideradas impossíveis. Descubra a identidade e seu potencial de crescimento. Porém, não se pode esquecer o futuro. Explore e descubra o futuro que pode acontecer. Preveja o imprevisível.

07 Mercado.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

08Transporte de Integração com a cidade.Fonte: EXPLORAR.SONHAR.DESCOBRIR, 2010.

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35 Explorar, Sonhar, Descobrir l EQUINOX 2010 l

09 Estímulo à caminhada.Fonte: HERICO SOEIRO DE SOUSA.

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36 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

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HIPER’CUSSION - HIPERCUSSÃO

Um toque para o renascimento – Mont de Marsan 2030

Pensar em uma cidade e projetá-la no futuro req-uer mais do que um direcionamento temporal e mais do que adequações tecnológicas do porvir. Precisamos vislumbrar uma cidade capaz e imersa na sua contem-poraneidade, integrada, mas independente. Essa é a Mont-de-Marsan que queremos.

Através de um diagnóstico percebemos que a ci-dade, apesar de pequena, tem um grande potencial de crescimento. Sua vizinhança, sua localização geográ-fica, seus recursos naturais e seu povo mostram que falta apenas um “toque” para que ela renasça.

O CONCEITO: “O PANDEIRO”O contexto atual na qual a cidade se encontra nos

levou a uma intervenção que pudesse tocá-la pontual-mente e que se propagasse de forma geral por todo o território. Assim, fizemos uma analogia com o pandei-

ro. Esse instrumento, conhecido na França como tam-burim, representa exatamente a idéia da repercussão que o projeto pretende para a cidade.

Através de intervenções especificas, em pólos e regiões, pretende-se “tocar” na cidade de maneira que a faça vibrar completamente. Ou seja, quando interfe-rimos (tocamos) em uma determinada área, ocorrerá uma repercussão (vibração) em toda cidade, de ma-neira que sua totalidade também sofrerá as alterações realizadas, mesmo que de forma indireta.

O pandeiro é um instrumento que apesar de ser tocado individualmente, não faz uma orquestra. Ele possui uma melodia, que lhe é característica e mar-cante, entretanto, precisa de outros instrumentos para fazer parte de um grande “batuque”. E eis que Mont de Marsan, nosso pandeiro, será incluso nessa orquestra regional a qual nos propusemos a inseri-la. Integrada, vibrante e particular.

por Raissa MUNIZ, Raissa PACHECO, Shenna TIMBÓ, Marina FRÓES, Lana REGO, Paula PALMEIRA, Carolina TORRES,

Toufik BERBAR, Fabien LAINE e Julien DOUCHE.

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37 Hiper'cussion - Hipercussão l EQUINOX 2010 l

AS HIPÓTESES: QUAL SERÁ A MONT-DE-MAR-SAN DE 2030?

Tendo em vista o tamanho da cidade, hoje com 30.000 habitantes, para 2030, pretendemos, em termo de população, proporcionar um aumento para aproxi-madamente 50.000 habitantes. Por meio dessa ex-pectativa vislumbramos uma expansão territorial para o sul, através da conurbação com a comuna de St.-Pierre-du-Mond e provavelmente uma mais longinqua ao norte (2050).

O quadro no qual é pretendido inserir a cidade de Mont de Marsan foi vislumbrado com uma atuação mais presencial da aglomeração na região, principalmente com uma relação mais íntima da mesma com a cidade de Bordeaux. É proposto, inclusive, que essa relação seja feita principalmente para descentralizar os serviços existentes em Bordeaux através de incentivos politicos para sua implantação em Mont de Marsan, permitindo o surgimento de uma nova dinâmica econômica para ambas. De fato, tal interação deve surgir de maneira que evite o efeito inverso do pretendido, que ao invés de uma dinamização econômica, a cidade se torne uma “cidade-dormitório”, uma exportadora de mão-de-obra. Por isso, é que muito mais do que uma intensificação de fluxos, é proposto a instalação de equipamentos com elo fixador e um instrumento proporcionador do aumento do raio de ação da cidade.

As hipóteses que direcionam e que concernem ao projeto estão aliadas às probabilidades que tocam as-pectos como economia, sociedade e meio ambiente. Por meio delas, buscou-se soluções condizentes com o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da popu-lação, tais como:

• Diminuição das fontes de água: os recursos natu-rais estão cada vez mais escassos e por isso eles de-vem ser geridos de forma racional e principalmente substituídos aos pouco.

• Implantação de “Curtos circuitos”: Cada vez mais a comodidade e o bem-estar dos consumidores são pri-oridade nas relações comerciais, portanto, vai chegar a um ponto em que essas mesmas relações vão acontec-er mais eficazmente em circuitos próximos e em curtas distâncias. Portanto cada localidade terá que adotar um

pouco de subsistência ou mesmo autonomia produtiva-comercial.

• O fazer-guerra: com a forte influência da Base Aérea na região, é preciso pensar que o modo do fazer-guerra vem aos pouco se modificando, e poderá chegar a um ponto que elas serão feitas cada vez mais in-telectualmente e menos armada. Mudança que poderá alterar a noção de proteção nacional competente à ci-dade de Mont de Marsan.

• Esgotamento do petróleo: energia não renovável, mas de suma importância nos dias de hoje. Portanto é preciso pensar em outras maneiras de locomoção (car-ros elétricos, trem com levitação magnética, etc).

• Envelhecimento da população: pensar em uma cidade capaz de abrigar uma população mais velha, com equipamentos adequados e direcionados às suas necessidades.

O PROJETO – CADA TOQUE UMA INTERVEN-ÇÃO, CADA INTERVENÇÃO UMA VIBRAÇÃO

Quatro pólos, quatro toques, quatro intervenções e várias vibrações. Através desses pontos escolhidos na cidade, o projeto pretende resolver os atuais problemas de Mont de Marsan, atender suas necessidades e pro-jetá-la ao futuro. Cada área trabalhada receberá uma série de intervenções guiadas por um ponto forte, seja ele, equipamentos ou serviços, que repercutirão. Eis os quatro pólos diferentes e complementares escolhidos para serem trabalhados.

Polo econômico e sustentávelSituado na entrada da cidade, este pólo visa diver-

sificar o setor econômico, abrigar indústrias na região, mas principalmente favorecer a economia verde. Com atividades e serviços diversos, a integração do polo à cidade será garantida e não o tornará uma zona à parte, apesar de sua localização. Sua paisagem urbana, repleta de parques e áreas de lazer, camuflará os pré-dios existentes, que apesar de sustentáveis, não de-verão contrastar com a idéia de uma cidade mais verde. O acesso principal da cidade recebe um grande boule-vard, com ciclovias, passeio de pedestre, via exclusiva para ônibus e vias para automóveis. A fim de marcar a

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38 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

imponência da nova cidade em ascenção, elaboramos marcos para as entradas da cidade que possam ser rep-resentativas para a Mont de Marsan 2030.

Pólo tecnológico e de habitação

Outro ponto preocupante é a área dos bairros ao norte da cidade. O Peyrouat, por exemplo, é um bairro que precisa ser integrado urgentemente com o resto da cidade. Atualmente, ele é mal-visto em Mont de Mar-san, apesar de sua potencialidade e da sua proximi-dade com a Base Aérea. Para resolver isso, o “toque” proposto foi a inserção de uma escola tecnológica que será aliada à base como expeditora de mão de obra de alta qualifi cação. A mesma será aberta à comunidade e servirá de atrativo para a chegada de jovens na cidade, o que exigirá a implantação de prédios habitacionais tanto para estudantes quanto para famílias. Seguindo essa cadeia de necessidades, foram elaborados tam-bém espaços comerciais e de serviços, com prédios de uso misto, com atividades diversas em seus pavimen-tos superiores e o térreo essencialmente comercial.

01 Polo Econômico.Fonte: HIPERCUSSÃO, 2010. 02 Polo Educacional.

Fonte: HIPERCUSSÃO, 2010.

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39 Hiper'cussion - Hipercussão l EQUINOX 2010 l

Pólo de lazer e espaços públicosUm centro vibrante é a principal intenção deste

pólo. Reavivá-lo e mudar seus costumes habituais são dois dos mecanismos utilizados. Tendo em vista sua forte presença, pretende-se fazer com que os habit-antes entrem verdadeiramente no centro da cidade e que para isso esqueçam seus carros. Que camin-hem ou utilizem meios de transportes mais susten-táveis que estarão disponíveis, como por exemplo, bicicletas e patinetes. A retirada da circulação de carros foi utilizada tanto para o conforto dos pedestres quan-to para a harmonização urbana desse entorno. Assim, foram implantados estacionamentos em alguns pontos. Além da mudança quanto à acessibilidade, alguns es-paços foram transformados, como a praça vermelha, que será revestida por completo em grama e se tornará um ponto de encontro com caixas tipo “jukebox” espal-hadas a serviço da comunidade. O mercado coberto,

agora integrado à praça será reabilitado e ganhará uma nova roupagem. Por fim, uma grande passarela térrea será criada como forma de ligação das pessoas com a cidade e que poderá ser usada em grandes passeatas públicas. E ainda, como forma de ligação dos espaços públicos, foi criado um meio de deslocamento alterna-tivo sobre o rio por meio de bicicletas.

Pólo cultural e esportivoTendo em vista a hipótese apresentada de uma

possivel conurbação de Mont de Marsan com a comuna de St.-Pierre-du-Mont, foi projetado um grande parque cultural. Um complexo que alia lazer, esporte e cultura em um mesmo espaço físico. Repleto de equipamen-tos como museu, cinema, salão de exposição, escolas de arte, anfiteatros, estufas, lagos artificiais e quadras, esse espaço possui todos os instrumentos necessários

03Ciclovia sobre o rio.Fonte: HIPERCUSSÃO, 2010.

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para integração da população montoise com a de St. Pierre du Mont.

TransporteExercendo sua função de elo, a rede de transporte

foi reestruturada para melhorar as ligações aos pon-tos isolados da cidade e desta maneira complementar a rede radial de ônibus existente com a implementação de um teleférico que contornará a cidade e abastecerá todos os pólos. Desta maneira, esperando o LGV e a autoestrada, Mont de Marsan será conectada com seu entorno e integrada à região.

Muito mais do que uma projeção lúdica ou até mes-mo surreal de um futuro incerto. Projetamos a cidade, cientes de que as mudanças socio-culturais e tecnológi-cas que virão deverão ser bem acolhidas por Mont de Marsan, mas antes, atendendo e resolvendo suas ne-cessidades em voga. Portanto foram escolhidos esses quatro pólos diferentes, contrastantes, complementa-res e dispersos no território.

04Polo Lazer.Fonte: HIPERCUSSÃO, 2010.

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41 Hiper'cussion - Hipercussão l EQUINOX 2010 l

05 Polo Cultural.Fonte: HIPERCUSSÃO, 2010.

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MOVIMENTO CH�NCEUX Explorando as potencial

idades da cidade

Sorte é ter uma cidade que integra suas potenciali-dades, com a exploração de forma inteligente. Mas qual a sorte de Mont-de-Marsan?

O conceito para esse projeto foi o TREVO DE QUA-TRO FOLHAS e o MOVIMENTO. A simbologia do trevo foi usada para representar a floresta de Landes, a qual a cidade está inserida. Cada folha do trevo representa um polo de intervenção. Logo, nessa proposta foram trabalhados quatro pólos de ações. O movimento rep-resenta a interação entre todas as áreas que sofreram intervenção.

Foram elaboradas quatro intervenções na cidade, e apesar de suas individualidades, todas estão interliga-das, fazendo de Mont-de-Marsan uma cidade em con-stante movimento. Assim foi elaborado um diagrama onde foram representadas todas as relações dos pólos de intervenções, como mostra a figura 01.

Nas intervenções foram exploradas as principais potencialidades da cidade, pois o objetivo das propos-

tas não é modificar a rotina da cidade e sim, mostrar à sociedade que é possível uma melhor utilização de suas riquezas locais.

A primeira proposta de intervenção foi nas proximi-dades da floresta de Landes, onde, em nosso projeto, foi criado um Pólo de Pesquisa para uso universitário da região, um Eco Centro com uso para pesquisa e ex-tensão, horto cultivo e laboratório. Todas as edificações construídas nesta área serão ecologicamente corretas, buscando o menor impacto ambiental, respeitando todo o ecossistema em sua volta com pequenas soluções, como a redução de energia elétrica e reciclagem de ma-terial de construção. Essa área também será utilizada para lazer alternativo da comunidade.

A área escolhida para essa operação foi o bairro do Peyrouat, onde será instalado o novo centro de pes-quisa universitária e uma estufa para pesquisas. Para o incentivo de desenvolvimento desse bairro serão con-struídas 1.000 unidades habitacionais, e algumas delas

por Antoine TALON, Felipe ROMANO, José Ricardo CORDEIRO, Mírian Kellen G. da CUNHA, Raissa Serpa de CARVALHO, Rahima ATAC,

Randriamanarivo HARINARINDRA, Sebastien QUETARD e Vagner MOREIRA.

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43 Movimento Chanceux l EQUINOX 2010 l

serão construídas no interior da floresta com o intuido da pesquisa, chamadas de Eco-House.

O uso do carro será reduzido e os estacionamentos ficarão na periferia da floresta - desta forma motivando o uso de bicicletas – além da construção de vias mais largas para pedestres.

Vale ressaltar que, as edificações construídas nesta área terão suas funções voltadas tanto para a moradia, quanto para o comércio.

Em outro plano, trabalhamos a cidade em relação a sua mobilidade e deslocamentos, onde foram criadas influências para dentro e fora da cidade.

Apesar de Mont-de-Marsan ser uma cidade de ap-enas 32.000 habitantes, ela possui um considerável tráfego de veículos, principalmente no centro da ci-dade, tornando o mesmo, um local em que as vias e calçadas dão prioridade aos automóveis, causando as-sim um constante desconforto aos pedestres. As faixas são unidirecionais e os espaços das vias são pequenos.

Além disso, não existe ligação entre o centro e os bairros circundantes, e finalmente, este centro comer-cial não está em destaque: as lojas são pouco atraentes, não é dinâmico, o espaço não possui vida, e existem caminhos e espaços com pouco verde.

Diante dessa realidade, a malha viária foi re-ordenada, dando preferência de circulação aos pe-destres. Nessa reorganização viária, a Avenida Gambetta, principal avenida da cidade, e as vias se-cundárias do centro comercial foram isoladas para uso exclusivo de pedestres.

Assim, os motoristas poderão utilizar adequada-mente os estacionamentos privados e públicos criados pela Prefeitura, nas proximidades do centro comercial.

Com relação a mobilidade externa, foi criada uma nova linha de TGV, melhorando assim o fluxo de pes-soas com o norte da França, a exportação de produtos, promovendo a expansão da economia e o rápido acesso a informações.

01 Mapa de Mont-de-Marsan com demonstrativo do conceito. Fonte: CARVALHO e ATAC, 2010.

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O patrimônio cultural e arquitetônico de Mont-de-Marsan irá se tornar um novo atrativo da ci-dade. Já conhecida por suas touradas, no Festival de Madeleine, a cidade irá investir seus atrativos em po-tenciais turísticos, não só para a França, mas também para países vizinhos.

Paisagem mais conhecida da cidade, o encontro dos rios Midou e Douze, o Midouze, é o cartão postal de Mont-de-Marsan. Pensando em criar um novo encanto para o turista que visita a cidade, e até mesmo incenti-vando o desenvolvimento beira-rio, foi criada uma Pas-sarela e um Mirante sobre o mesmo. A passarela teve inspiração nos ‘tchanques’, ferramenta usada por pas-tores para atravessarem áreas alagadas na cidade. Essa ferramenta ainda é usada nos dias de hoje, mas apenas em danças típicas dos grupos folclóricos da região.

A criação de Corredores Verdes foi outra interven-ção na cidade.

Esses corredores ligarão o centro comercial aos bairros mais afastados, ligando também o Boulervad

02 Eco-House e Eco Centro. Fonte: MOREIRA e CORDEIRO, 2010.

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45 Movimento Chanceux l EQUINOX 2010 l

Du Marechal, que se encontra junto a uma das princi-pais entradas de Mont-de-Marsan.

Esses corredores também irão valorizar o eixo de ligação para o TGV, que trará novas possibilidades econômicas para a cidade.

Ao oeste de Mont-de-Marsan está o litoral francês, mas apesar da proximidade ao mar, nada é explorado e/ou valorizado.

Então foi criada uma via para turismo e lazer ciclís-tico, com 100 km de extensão.

Essa via poderá ser uma alternativa de lazer para os moradores da cidade, como também um novo atra-tivo para o turismo da região. No decorrer dessa via serão implantados hotéis e restaurantes, todos volta-dos para o ecoturismo.

Essa nova via também será uma ligação entre a costa francesa e o TGV.

Todas as intervenções propostas, não possuem o intuito de mudar a rotina ou os costumes que a ci-dade de Mont-de-Marsan possui, mas sim, que a so-ciedade desperte e perceba o rico potencial que sua cidade tem a sorte de possuir, e que possam ex-plorar de forma inteligente todas as suas riquezas patrimoniais e naturais.

03 Imagem ilustrativa da Passarela e do Mirante, localizada no encontro dos rios. Fonte: MOREIRA, 2010.

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RICOCHET - STONE SKIPPINGOndas de impactos e novas persp

ectivas

para Mont de Marsan

Uma pedra é capaz de perturbar a calmaria do maior dos lagos. Ao tocar a superfície, provoca ondas que se propagam e modificam as águas. Mont-de-Marsan é o nosso lago e está prestes a ser alcançada pelas ondas de impacto urbanístico e social. Como no jogo Stone Skipping, a pedra deve ser lançada de forma equili-brada. Uma técnica deve ser usada para se alcançar o maior número de quiques e a escolha da pedra é fun-damental para o sucesso. Assim como uma intervenção urbanística não pode ser feita de qualquer maneira.

O conceito de Stone Skipping representa os ele-mentos que compõem o projeto urbanístico: o obje-to (a pedra), o meio (água) e as consequências (as ondas). Nesse contexto, a pedra são nossas propos-tas; a água, a cidade de Mont-de-Marsan e as ondas, a difusão das mudanças.

O objetivo do jogo é alcançar o maior número pos-sível de quiques com apenas um lançamento. A inten-ção do projeto é redinamizar a cidade, criando novas perspectivas para uma melhor qualidade de vida. Desta maneira, as nossas intervenções buscarão diversidade social e funcional, trazendo um novo polo de atrativi-dade para a cidade.

Existem três tipos de pedra: vermelha para hab-itações, amarela para equipamentos e verde para os espaços naturais; a ligação entre eles é a mobilidade e tem cor laranja. A medida que as pedras são lançadas, o projeto se desenvolve.

Em escala regional, a linha TGV representa o lan-çamento e gera um impacto em M2M com a criação de uma nova estação do trem. A implantação da linha LGV é impulsionada pelos agentes externos.

por Fabien PAVAN, Jeannie DUARTE, Joana Martins AMARAL, Jonathan LAUER-STUMM, Leticia VERAS, Luis Fernando CUTRIM,

Luisa GHIGNATTI, Romain LEJEUNE e Thais COSTA.

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47 Ricochet - Stone Skipping l EQUINOX 2010 l

01 Mapa Geral.Fonte: RICOCHET, 2010.

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Em escala local nosso projeto para Mont-de-Marsan se divide em seis zonas: Centro, Zonas Residenciais, Entrada da Cidade, Bairro Peyrouat e a Base Militar, Cinturão verde e um Polo tecnológico.

A primeira pedra cai sobre a base militar com a retirada da pista de aterrissagens para reabilitação do sítio. Tal medida diminui a poluição sonora tendo uma repercussão positiva, melhorando a qualidade de vida local, condição esta que vem a favorecer um cresci-mento médio da população de cinco por cento ao ano. Assim, em 2030, Mont-de-Marsan terá 80.000 habit-antes, ou seja, 50.000 a mais que atualmente. Com uma taxa de ocupação de 2,5 por habitação, devem ser construídas 20.000 unidades habitacionais.

Nossa segunda pedra cai sobre o centro histórico que queremos redinamizar. Para ser feito, nós iremos criar uma ligação rápida entre a estação do LGV e a estação do SNCF por um trem de elevação eletromag-nética. Ao mesmo tempo, implantaremos um teleférico para criar uma ligação direta entre a estação do SNFC e a arena, além de reorganizarmos o entorno de ambas.

Decidimos criar uma grande zona para pedestres no Centro da Cidade. Na entrada de cada rua haverá um polo multimodal, com estacionamento próximo, para conscientizar a população da utilização dos trans-portes em comum e de baixo impacto.

O grande estacionamento da Arena será removido e relocado para o estacionamento subterrâneo do centro,

02Cinturão Verde na Entrada da cidade.Fonte: RICOCHET, 2010.

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sendo substituído por espaços verdes. Os terrenos aci-ma da Arena possuem uma vista panorâmica da cidade e esse potencial será explorado. Também criaremos co-mércios, restaurantes e bares nesta área da cidade.

A entrada da cidade não deverá ser um lugar ap-enas de passagem, nem ser marcada pela presença de carros. As entradas das cidades são lugares estra-tégicos na redução de veículos em circulação, através da implantação de parkings relais. A fi m de incentivar a utilização dos estacionamentos, devem haver polos multimodais para propor uma outra oferta de trans-portes (estações velo, estações de ônibus e ruas para pedestres) mais ecológicos para circular no centro ou em M2M. Após essa intervenção pontual, estará tudo conectado com o centro, garantindo um lugar para os novos meios de transporte e reduzindo o uso dos veícu-los. Ao longo desse eixo, hoje fortemente marcado por uma sucessão de lojas sem nenhuma ligação entre si, criaremos um centro comercial vertical, com ofertas de lojas mais completas em um mesmo lugar. No centro, funções mistas (comércio - habitação). Criaremos tam-bém um arco, a Moun d’Or, simbolizando a porta de entrada da cidade, e uma nova torre para dar uma ima-gem de modernidade à cidade.

03ST-Anne Est, próximo à entrada da cidade.Fonte: RICOCHET, 2010.

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TAUREAUMATIQUEA Mont de Marsan de Madeleine

No sudoeste da França, próximo de sua fronteira com a Espanha, está localizada a cidade de Mont-de-Marsan. Sua proximidade com o território espanhol fez com que sua cultura tivesse forte influência da cultura basca, seja na dança, nos festivais citadinos, na course landaise (acrobacias com touros) ou nas touradas.

Uma vez ao ano a cidade é palco do Festival de Madeleine, atraindo pessoas de todas as regiões para as touradas que acontecem em sua arena Plu-maçon. Durante esse período, a cidade vivencia uma dinâmica diferente da cotidiana. A ambiência do Fes-tival extravasa as paredes de Plumaçon e domina toda a área urbana.

Baseada nessa mudança de rotina e nas melhorias que ela traz para Mont-de-Marsan, o conceito Taureau-matique sugere que a cidade se transforme em uma grande arena de espetáculo constante, onde os planos de intervenção se desenvolverão seguindo a dinâmica da tourada. As cinco palavras chaves que o sintetizam

são: desafio, precisão, integração, movimento e am-biência, que por sua vez, remetem a uma necessidade urbana ou à forma de execução dos projetos propostos.

A premissa mais forte da tourada está no embate entre touro e toureiro. O homem não é capaz de vencer a menos que tenha uma boa estratégia e precisão no ataque dos pontos fracos do animal. Pensar em melho-rias para Mont-de-Marsan parte do desafio de superar seus problemas, lançando mão de estratégias eficazes para o desenvolvimento da mobilidade, serviços, hab-itação, lazer e tecnologia.

A cidade, assim como a tourada, se desenrola con-forme a harmonia de seus elementos e integrá-los é imprescindível para que se alcance um espaço urbano coeso onde haja diversidade social e de usos.

Nesse ponto também vale ressaltar o movimento executado pelo toureiro para se desvencilhar do touro e o sincronismo da course landaise. O movimento é a

por Abdel BELARBI, Anna Gabriela Braga NUNES, Benjamin CHESTA, Cécille LANNO, Cedric CHENE, Fernanda CALORE,

Ivo de Melo DIAS, Louise Uchôa L. PEREIRA e Mariah ARAGÃO.

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dinâmica, a execução exata das estratégias pensadas pelo homem para contornar as investidas do animal. Tratando do espaço urbano, o movimento está presente nos transportes, na mobilidade e acessibilidade, pontos imprescindíveis para que todas as outras partes entrem em sintonia e funcionem plenamente.

Esse clima de expectativa pela vitória, que movi-menta e anima as pessoas numa arena, é a ambiência a ser estimulada em toda Mont-de-Marsan. O senti-mento de coletividade em prol de um objetivo em co-mum estimulará todas as esferas envolvidas, tanto os profissionais (arquitetos, engenheiros e urbanistas), quanto a prefeitura e principalmente seus moradores a participarem do espetáculo.

O desafio de gerar empregos e transformar Mont-de-Marsan numa cidade com influência internacional estimulou a criação de um Tecnopolo especializado em

biotecnologia, localizado próximo às futuras instalações do LGV. A configuração circular do seu partido faz alusão à arena de Plumaçon, escalonando o gabarito de seus prédios a partir do centro até a sua periferia. No seu núcleo existirá um parque e no seu entorno, um centro comercial de proximidade para dar suporte às atividades das empresas e dos trabalhadores. Uma es-tação de ônibus, localizada no centro do parque, tam-bém será criada, além de estacionamentos no subsolo dos prédios. Por fim, para garantir o abastecimento da cidade, um grande campo agrícola será implantado próximo ao Tecnopolo.

Visando suprir a demanda de mão-de-obra espe-cializada, existe a proposta de criação do campus uni-

01 Plano de futuro de Mont-de-Marsan.Fonte: TOUROMATIQUE, 2010.

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versitário para 7.000 estudantes. Este estabelecimen-to, composto por 20 laboratórios, 100 salas de aula, auditório, restaurante universitário, bibliotecas, ginásio poliesportivo, alojamentos e um prédio de ciências bi-ológicas e tecnológicas, estará situado na parte oeste da cidade, possibilitando dinamizá-la.

Localizado na extremidade sudeste da cidade estão os bairros Dagas – Beillet - Chourie, que se caracteri-zam como uma área tranquila e pouco movimentada de caráter essencialmente residencial, onde é possível encontrar diversos condomínios, casas de alto padrão, mas também edifícios que não apresentam um grau tão grande de sofisticação. Os moradores necessitam de espaços para lazer e interação social, tais como parques e praças. Além disso, o transporte coletivo ex-istente é insuficiente, existe apenas a circulação de uma linha de ônibus.

O grande desafio deste polo é trazer mais movi-mento e dinâmica para a vida dos moradores, a partir da interação entre espaço residencial e áreas de lazer e comércio. Com o advento do Tecnopolo e da Universi-dade, a demanda por moradia é maior. Uma das opções é investir no adensamento e verticalização, entretanto com o cuidado de planejar soluções que não preju-diquem a qualidade de vida dos habitantes. O quartier Schützenstrasse, em Berlim, do arquiteto Aldo Rossi, foi o modelo escolhido que traduz a ambiência dese-jada. O projeto de Rossi consiste de um bloco-quar-teirão que abrange habitação e comércio, em torno de pátios, mantendo a estrutura urbana histórica do século XIX, em que os antigos edifícios receberam um colorido intenso.

No centro da cidade foi percebida uma área de ex-trema importância comercial e administrativa que se mantém movimentada durante o dia, porém ociosa fora do horário comercial. Durante este período de grande movimentação os problemas de mobilidade são ex-poentes. A cidade carece de um transporte público efi-caz, o que leva a população a utilizar majoritariamente o automóvel, resultando na obstrução das ruas que são utilizadas também como estacionamento, que, no en-tanto, ainda é insuficiente.

02 Plano de intervenções.Fonte: TOUROMATIQUE, 2010.

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O projeto também se preocupa com a arena de Plu-maçon. Apesar de ser o símbolo da cidade e palco do maior festival da região reunindo um enorme contin-gente de espectadores, este espaço permanece ocioso durante o restante do ano. Com o objetivo de mantê-lo ativo e de criar uma nova opção de lazer e turismo foi idealizada a sua reforma e ampliação, além da criação de um museu sobre a tourada, história da arena e seus festivais.

Serão criados pontos de intervenções nos bairros com finalidade de dinamizar e criar opções de lazer para a população local, visando assim, o aumento da

Visando melhorar o quesito mobilidade, a proposta de criação de uma zona exclusiva para pedestres, deixa a área livre e segura para frequentadores. Para substi-tuir o uso do automóvel com eficácia foi proposta uma estação intermodal que irá conter estacionamento, bici-cletas, ônibus, tramway e o trem suspenso que percor-reria a margem do rio, todos esses transportes inteira-mente interligados para a melhoria da integração com os demais pólos da cidade.

Outro fator importante para o centro é fazê-lo atr-ativo diversificando o seu uso. Foi observado que há uma quantidade significativa de imóveis abandonados, daí segue a idéia de requalificá-los para serem usados como residência tanto pelos habitantes locais quanto pelos estudantes universitários que chegavam à cidade.

03Capacidade dos novos equipamentos.Fonte: TOUROMATIQUE, 2010.

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55 Taureaumatique l EQUINOX 2010 l

atratividade da cidade na região e a manutenção da população jovem.

No bairro do Peyrouat será criado um complexo es-portivo e de atrações que terá 120.300m² de área total divididos entre um prédio central de 40.000m², dois prédios comerciais e uma praça. A energia utilizada em toda área externa do complexo será gerada por mi-cro sensores localizados no chão, através da energia liberada pelos passos dos pedestres. No andar subter-râneo existirá um grande estacionamento com capaci-dade de 8.000 carros, no térreo será localizado quadras poliesportivas e um local para shows e concertos com a capacidade para 7.000 pessoas, no último andar terá uma piscina olímpica em uma área coberta de 3.000m² e uma área verde descoberta.

Por fim, outro ponto abordado pelo projeto é a cri-ação e requalificação de estruturas de lazer, com o intu-ito de gerar atratividade em diversos pontos da cidade. Entre as propostas estão: a criação de um complexo de lazer voltado para todas as faixas etárias no bairro do Chourie. Sua capacidade será de 7.000 pessoas, com estacionamento com 1.700 vagas, com área total de 30.000m² e contará com cinemas, museus, bares, pista de kart, restaurantes e outras opções de lazer; a requalificação do estádio de rúgbi (esporte mais prati-cado na cidade) Guy Boniface que terá sua capacidade estendido para 40.000 torcedores; a transformação do espaço François Mitterrand em um centro de conven-ções com dois grandes auditórios e um palco dedicado a espetáculos teatrais, com capacidade para 1.500 pes-soas; e a requalificação do centro comercial localizado no sudeste de Mont-de-Marsan que terá dois pavimen-tos e por volta de 500 estabelecimentos.

O conceito Tauromatique, por final, pensa em cada região de Mont-de-Marsan de maneira perspicaz e pre-cisa, para que possam se integrar harmonicamente e gerar uma dinâmica e crescimento salutar. Dessa for-ma, será possível vencer os desafios e criar uma ci-dade que transmita, e seja para seus habitantes, o que hoje a arena representa pontualmente em seu espaço urbano, um espetáculo.

04Centro comercial.Fonte: TOUROMATIQUE, 2010.

05 Complexo de lazer.Fonte: TOUROMATIQUE, 2010.

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I

MÓBILE - TRISKELIUMEquilíbrio dinâmico para Mont de Marsan

por Ana Caroline RODRIGUES, Aurelie DUMONT, Brice CHANDON, Clara SOUZA, Florian HERNANDEZ, Jean Maurice Barinda MUGADO,

Juliana BATALHA, Maíra CUNHA, Renata TRINDADE e Walmírya DOURADO,

Mont-de-Marsan, cidade do sudoeste francês, pos-sui aproximadamente 30.212 habitantes e apresenta entre seus atrativos, edificações do século XIII, uma bela paisagem bucólica formada pela confluência de seus três rios Douze, Midou e Midouze, e seus parques. A cidade apresenta ainda uma localização privilegia-da, situada a aproximadamente à uma hora do litoral, próxima às montanhas e ainda fazendo limite com a Floresta de Landes, maior floresta da Europa.

Contudo, apesar destas riquezas, ela parece não usufruir de maneira adequada de seus pontos fortes, resultando assim num turismo escasso, com esvazia-mento da cidade nos fins de semana pela população e numa fraca economia agrícola, cuja madeira, material abundante, não é explorada de forma equilibrada. Des-sa forma, sua sustentação econômica atual se baseia principalmente nos empregos administrativos do setor público. Tudo isso ainda é agravado por sérios proble-mas de mobilidade e desigualdade social pelos quais a cidade também sofre.

Sendo assim, buscando dinamizar a cidade e bal-ancear seus problemas, adotamos como conceito do nosso projeto para Mont-de-Marsan 2030, o Móbile de Calder, um engenhoso objeto escultórico formado por hastes que sustentam blocos de tamanhos e for-mas diferentes, mas que se encontram em equilíbrio e constante movimento.

Para estruturar a linha de intervenções do nosso trabalho, utilizamos três hipóteses sobre a situação da cidade para o ano de 2030 baseadas em premissas já existentes. Assim, acreditamos que no futuro ocor-rerão alterações ambientais a nível mundial que terão como resultado a conscientização sobre a forma de agir do homem para com o meio ambiente. Além disso, haverá uma progressiva crise do petróleo e ainda, a nível nacional, o fim da "prefecture" como forma de administração regional.

Dessa forma, seguindo o raciocínio da primeira hipótese, a população optaria pelo uso de transportes

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coletivos menos poluentes. A partir disso, adotamos como haste principal do móbile que representa o pro-jeto, a implantação de uma linha de tramway, meio de transporte mais ecológico. Esta linha fará a conexão entre a estação do TGV (já prevista), a leste, a outro ponto de intervenção, o bairro do Peyrouat, atraves-sando a cidade de leste a oeste através da Avenida Maréchal Juin e Maréchal Foch.

O modelo de tramway adotado se harmoniza com as curvas das vias de implantação, além de permitir total visibilidade do trajeto pelos usuários. Ao longo dessa haste primária de equilíbrio, seriam reestrutura-dos pequenos comércios, seguindo o modelo francês, e edifícios de escritórios, fazendo com que Mont-de-Marsan apresente um eixo de negócios contemporâneo e conectado com as principais cidades do sul da França e parte da Espanha.

Ainda seguindo esse cenário projetado, visando diminuir o impacto do desmatamento da floresta de Landes e racionalizar o uso do solo pela agricultura, pro-pomos o uso de edifícios "fazenda" verticais, na atual zona industrial, que contempla amplos espaços livres, criando uma grande peça do móbile, um forte pólo agrí-cola, que irá movimentar a economia local respeitando o meio ambiente, pois neste tipo de edifício, a produção dos grãos acontece ao longo de seus pavimentos, o que reduz drasticamente a área de desmatamento.

Outra parte ambiental constituinte do móbile se trata da intervenção no bairro de baixa renda do Pey-rouat, situado a noroeste da cidade, transformado em um ecobairro, a partir do ambiente já construído. Den-tro do ecobairro se prevê a criação de partes menores, seguindo a lógica do equilíbrio de Calder, formados por: um centro de empreendedorismo, cujas atividades rela-cionam trabalho e preservação ambiental como fonte de renda; um cluster; uma escola de engenharia; além de um multiplex como equipamento de lazer, projeto ser-viria tanto como atrativo para outras zonas da cidade, reintroduzindo a mistura social, como modelo para o desenvolvimento de outros conjuntos habitacionais na cidade. Este multicomplexo de lazer seria localizado ao fim da linha de Tramway, facilitando seu acesso.

O cluster e a escola de engenharia se juntariam as habitações de alta qualidade ambiental. Os clusters per-mitirão aos jovens graduados na escola de engenharia

continuar na sua cidade natal. Esse espaço econômico será um incontestável polo de pesquisa aeronáutica em ligação com a cidade de Toulouse.

Ao sul da cidade, em uma região já devastada, foi proposta a implantação de um centro de energias renováveis. Formada principalmente para a captação de energia eólica, potencial da região. Ela teria a fun-ção de alimentar eletricamente uma grande parte da cidade, principalmente as zonas de baixa renda, já que, sem gasto com energia, a população teria mais recurso para investir e movimentar a economia.

As outras peças formadoras do móbile se relacion-am à última hipótese: o fim do sistema administrativo da “prefecture” e o fim da Base Aérea, o que acarretar-ia no aumento do desemprego e na baixa arrecadação monetária. Assim, propomos a implantação de uma grande peça, para contrabalancear a perda, um parque poliesportivo de porte internacional na zona industrial, próximo à linha de TGV, buscando atrair os cidadãos montoenses e turistas, que contribuiriam com a circu-lação de recursos na cidade. Esse projeto comportará eventos musicais e esportivos de grande porte, incluin-do os jogos de rugby tão tradicionais nessa região.

01 Plano de futuro de Mont-de-Marsan.Fonte: MÓBILE, 2010.

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Combinado com o parque poliesportivo será in-stalado um centro de design, também de grande por-te, outra parte do móbile, que contemplará além de uma escola de design, salões de exposições, e uma fábrica de móveis, remodelando a indústria de ma-deira, que passará a atingir a população jovem, gerando empregos.

No Centro da cidade, importante zona de redinami-zação, que sofre com o esvaziamento à noite e nos fins de semana, propôs-se intervenção em pequena escala, formando um conjunto de partes do móbile, como: a transformação de ruas restritas apenas aos pedestres, implantação de edifícios de escritórios e comércio, áre-as de lazer compostas por parques, passarelas, bares, restaurantes, discotecas e lojas de moda. Também

foram implantados restaurantes regionais, valorizando a culinária, e, consequentemente, a cultura local, fa-mosa pelo patê de fígado de ganso.

Para a implantação de discotecas no centro, serão utilizadas as coberturas dos prédios de escritórios, gerando utilização das edificações nos mais diversos horários e limitando seu gabarito, para não gerar im-pactos sobre a paisagem dessa área histórica. As ruas de pedestres terão fácil acesso, já que haverá uma es-tação de Tramway na rua de principal intervenção. Na extremidade dessa mesma rua, irá situar-se um mi-rante em uma praça importante já existente, demar-

02 Plano de futuro de Mont-de-Marsan.Fonte: MÓBILE, 2010.

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59 Móbile - Triskelium l EQUINOX 2010 l

cando mais um eixo de grande importância do móbile.Também reconfiguraríamos as margens dos rios,

verdadeiros potenciais da cidade, para dinamizar o lo-cal e tornar atrativo para a população. Elas seriam eq-uipadas com restaurantes, bares, terraços e passeios agradáveis e relaxantes, durante o dia para funcionários dos escritórios, como também à noite para um público mais variado. Para os turistas, uma plataforma de balão instalada permitiria admirar a cidade vista do céu.

Finalmente, para desenvolvimento do ecoturismo, propusemos um parque em lugar do velho estádio de Rugby que se estenderá até o parque de Nahuques. Es-ses parques seriam interligados por grandes passarelas entre as árvores para dar a cidade sua identidade flor-estal. Nós introduziremos nestas, restaurantes sobre as árvores para manter o quadro natural do lugar todo em volta de uma atividade econômica.

Nosso projeto urbanístico para a cidade de Mont-de-Marsan se desenvolve em uma lógica de equilíbrio alcançado pela mistura de diferentes pólos de influên-cias variadas, resultando na diversidade necessária para o funcionamento saudável de uma cidade.

Seguindo a lógica de Calder, buscamos estabelecer o equilíbrio e a estrutura física do móbile representa-

do por Mont-de-Marsan 2030, analisando seus quadros futuros possíveis e diversificando as opções para cada ponto de intervenção, já o movimento, que no objeto é feito através do ar, em nosso móbile se dará por meio da fluidez de ocupação das pessoas em todos esses espaços projetados. As pessoas são sujeitos ativos na concepção do nosso projeto.

E, por objetivo final, o móbile idealizado passaria a ser, em macroescala, uma peça de um grande mó-bile, formado por cidades de influência em sua prox-imidade, Mont-de-Marsan seria interligada não apenas fisicamente, mas também economicamente, por meio de suas potencialidades, à rede regional, nacional e in-ternacional.

03Plano de futuro de Mont-de-Marsan.Fonte: MÓBILE, 2010.

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VITRUVIUS 3.0O Homem Vitruviano e a cidade

1. O CONCEITOO conceito Vitruvius 3.0 baseia-se em uma analo-

gia entre um corpo humano proporcional e harmônico, representado pelo Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci e a cidade. Assim como o corpo, a cidade deve ser mais que apenas a junção de suas partes, levando em consideração o bom funcionamento de cada uma delas para que se possa chegar a um organismo harmonioso.

A cidade não deve ser apenas um conjunto híbrido, contando com um amontoado de pessoas e edifícios sem ligação ou identidade, mas sim um território saudável, com desenvolvimento econômico e social, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, onde mora-dores e visitantes possam se sentir totalmente acolhi-dos. Partindo dos preceitos de Marcos Vitrúvio - Utili-tas, Venustas e Firmitas (Utilidade, Beleza e Solidez) -, a proposta é integrar a cidade de Mont-de-Marsan de modo que a vivência da cidade seja totalmente pos-sível, e não apenas uma utopia.

A proposta Vitruvius 3.0 também leva em consid-eração a época em que estamos inseridos, onde tecno-logia e sustentabilidade têm se desenvolvido de forma célere e eficaz. Assim, o Homem Vitruviano passaria por três fases:

Homem Vitruviano 1.0: Representa a cidade em seu estado inicial, sem a intervenção do arquiteto e urbanista.

Homem Vitruviano 2.0: Representa a cidade de Mont-de-Marsan em 2030, com parte dos projetos já consolidados e outros projetos em andamento.

Homem Vitruviano 3.0: Representa a cidade de Mont-de-Marsan em 2050, com todos os projetos já consolidados. Nessa etapa o organismo urbano encon-tra-se em perfeita harmonia, integrando tecnologia e desenvolvimento sustentável à cidade.

Assim, Mont-de-Marsan apresenta potencial para se tornar uma das mais importantes cidades do sul da França, como acontece com Bordeaux.

por Adriany FILGUEIRAS. Alpha DISSETE, Christiana PECEGUEIRO, Felipe NASCIMENTO, Florian DOURTHE, Florian JOURDAIN,

Igor PINTO, Joana DURANS e Sarah FISHER.

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61 Vitruvius 3.0 l EQUINOX 2010 l

2. PROJETOSSeguindo o conceito adotado, foram escolhidas seis

áreas de intervenção. Cada área corresponde a uma parte do corpo do Homem Vitruviano. Assim, quando todas as áreas atingirem certo grau de desenvolvimen-to, o homem vitruviano, que aqui representa a cidade, apresentará um organismo harmonioso e forte, como deve ser o organismo urbano.

Cabeça: Parte fundamental de qualquer organismo, representa a administração e organização da cidade.

Mont-de-Marsan apresenta algumas áreas de vazi-os urbanos, então, é proposta a utilização dessas áreas para a criação de pólos de pesquisa, impulsionando a intelectualidade da região e fortalecendo a economia da cidade com as descobertas realizadas.

A cidade se encontra em posição estratégica, próxi-ma à cidade de Toulouse, que conta com uma fábrica de Airbus. Sendo assim, é proposta a criação de uma base aérea na região, com um centro de pesquisas aéreas, especializado em aviação sustentável.

Braços: Os braços representam a atratividade, por meio de atrações culturais mais frequentes ou valori-zação de parques e movimento pedonal, ou por meio de desenvolvimento econômico e científico. Pretende-se proporcionar atividades que estimulem a visita à ci-dade, o que fará com que Mont-de-Marsan deixe de ser apenas uma cidade de passagem, passando a ter importância no meio em que está inserida.

Pernas: As pernas representam a mobilidade urba-na. A proposta é otimizar os meios de transporte dentro da cidade e entre as cidades que mantêm relação com Mont-de-Marsan. Além disso, a cidade passaria a ser integrada à linha de TGV, facilitando a comunicação da cidade com todo o país.

Com a otimização dos meios de transporte, facilitando o acesso ao local, aliado à diversi-dade de atividades dentro da cidade, viabiliza-se o interesse em explorar o sítio, atraindo pessoas e incen-tivando o turismo.

01 Centro Administrativo de Mont-de-Marsan.Fonte: MIRANDA, Igor. 2010.

02 Passeio Público.Fonte: VITRUVIUS 3.0, 2010.

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Coração: É um imporante órgão para o sistema circulatório e necessita de cuidados especiais, pois deve estar sempre com ritmo e força adequados para seu funcionamento correto. Fazendo a analogia com a ci-dade, algumas áreas que necessitavam de força e ritmo foram identificadas. Dentre elas, a mais importante é o Bairro Peyrouat. A proposta consiste na criação de um centro cultural, com as mais variadas atividades, servindo não apenas para esse bairro, mas para a ci-dade como um todo. O centro cultural seria como a in-trodução de um marcapasso no coração, estimulando-o a um melhor funcionamento e impulsionando-o para obter um corpo mais forte.

Estômago: Economia da cidade. São propos-tas políticas que alimentem o organismo urbano para torná-lo forte e coeso, mantendo sua dinâmica.

Pulmão: Em um mundo que anseia por soluções

03Centro Cultural.Fonte: VITRUVIUS 3.0, 2010.

sustentáveis, o estímulo às construções sustentáveis e cidades que levem isso em consideração é fundamen-tal. Ansiando por uma cidade mais limpa e ecológica, a criação de um bairro sustentável vem coroar a con-strução desse organismo harmonioso, contribuindo de forma ímpar para o desenvolvimento da cidade. Dentro do bairro, localizar-se-ia um marco para a cidade: a torre de cultura hidropônica, especializada no cultivo de vegetais hidropônicos e no ensino dessa atividade aos interessados. Aliando-se o estímulo a transportes alter-nativos aos demais projetos, a cidade agora respira de forma saudável.

Baseando-se em todas as propostas abordadas, um plano geral de urbanismo é elaborado para guiar o pro-jeto para a cidade de Mont-de-Marsan, que provará não ser utópico o sonho de uma cidade harmoniosa, que alia tecnologia ao seu desenvolvimento, tornando-se um organismo urbano forte.

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3. CONCLUSÃOA cidade de Mont-de-Marsan apresenta grande po-

tencial, porém não explorado da maneira correta. Os projetos apresentados à cidade garantem ótimas per-spectivas, fazendo com que Mont-de-Marsan possa se inserir definitivamente entre as grandes cidades franc-esas, provando que não são utópicas as ideias defendi-das por arquitetos e urbanistas ao longo dos séculos. É possível atingir o progresso tomando a sustentabilidade e a tecnologia como bases, tornando a cidade um or-ganismo forte e harmonioso, que seja agradável tanto para seus moradores quanto para todos aqueles que a visitam.

04Bairro Sustentável | Perspectiva 1.Fonte: VITRUVIUS 3.0, 2010. 05 Bairro Sustentável | Perspectiva 2.

Fonte: VITRUVIUS 3.0, 2010.

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06 Bairro Sustentável | Torre Hidropônica.Fonte: VITRUVIUS 3.0, 2010.

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Olhares & Impressões

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A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO:

UM ROTEIRO DE VIVÊNCIA NA CIDADE DE PARIS.

por Leandro Muraguchi e Nayanne Barros Feques

Visitar Paris pode ter inúmeros motivos e signifi-cados para as centenas de milhares de pessoas que circulam por suas arborizadas avenidas, emolduradas pelo casario em tons de bege, onde mesmo um olhar desatento, é capaz de surpreender-se ao virar uma es-quina, deparando-se com um monumento ou a vista, ao longe, da “pontinha” da Torre Eiffel pairando sobre as mansardas dos telhados, quase sempre de cor cinza. A grandiosidade dos museus, a importância das obras ali expostas, a mundialmente aclamada culinária fran-cesa, dos entrecôtes, foie gras e macarons, os vinhos, a alta costura e os perfumes, tornam Paris um destino extremamente atraente. Contudo, essa imensa gama de atrações faz com que a cidade acabe, por muitas vezes, sendo vista sob a ótica dos guias turísticos, de maneira restrita, não havendo uma percepção de como a cidade se apresenta aos seus habitantes.

Desde as modificações feitas no século XIX, Paris passou a ser um dos mais importantes exemplos de ur-banismo no mundo. A fim de deixar a cidade mais bela, salubre e menos suscetível a ataques, manifestações e barricadas, Georges-Eugène Haussman remodelou a cidade, antes tipicamente medieval, melhorando os sis-temas de distribuição de água e esgoto, criando novas avenidas e reconstruindo grande parte dos edifícios. Contudo, os espaços públicos merecem destaque, uma

vez que proporcionam aos parisienses uma vivência da cidade bastante diferenciada quando comparada às ou-tras cidades. Os diversos parques, praças e até mesmo os boulevares configuram-se como espaços para reali-zação de atividades do cotidiano dos moradores.

Quando estudamos os espaços públicos como luga-res dentro da cidade, devemos levar em consideração sua história, seu significado e relação com a popula-ção. É no lugar que se desenvolve a vida em todas as suas dimensões (CARLOS, Ana Fani Alessandri, 2006). O lugar é, em sua essência, produção humana, visto que reproduz na relação entre espaço e sociedade, o que significa criação, estabelecimento de uma identi-dade entre comunidade e lugar, identidade essa que se dá por meio de formas de apropriação para a vida. No território da cidade, o espaço público é tido como lugar das relações sociais por excelência, onde são realizadas as atividades de lazer, convívio e trocas.

Em Paris, andando pelas grandes avenidas, os cha-mados boulevares, percebemos que elas funcionam não só como local de passagem de pedestres e veícu-los, mas também como ponto de encontro de morado-res e turistas, que se sentam nos bancos ou nas mesas dispostas nas calçadas para café ou refeições, de onde assistem às apresentações de artistas de rua, ou ape-nas veem o vai e vem das pessoas. Já os parques são bastante utilizados pelos moradores para piqueniques nos fins de tarde, leitura e prática de esportes.

01 Vista de satélite de Paris.Fonte: Google Earth, acessado em 15/12/2010

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Propõe-se aqui um roteiro direcionado a visitantes interessados em conhecer um pouco da dinâmica da apropriação dos espaços públicos no território urbano. Foram escolhidos cindo lugares por onde se pode cruzar com os mais variados tipos de pessoas realizando ativi-dades físicas, lazer ou que utilizam aquele determina-do espaço apenas como passagem. Com características físicas, usos e valores simbólicos diferentes, cada uma dessas áreas exemplifica como ocorrem as relações da população com o espaço público na cidade.

O roteiro sugere sair do Jardin des Tuileries (1), localizado na margem direita do Sena. O visitante atra-vessa para a outra margem pela Pont des Arts (2), se-gue pelo bairro do Saint-Germain-des-Prés passando pelo Boulevard de mesmo nome (3) e pelo Jardin du Luxembourg (4). O último ponto escolhido, um pouco mais distante, é o Parc de Bercy (5), o único exemplo de uma intervenção contemporânea incluído no roteiro e que apesar de não contar com toda a imponência dos séculos passados, mostra como um espaço público pode ser bem sucedido quando levam-se em considera-ção o meio e a população. Além de conhecer importan-tes parques e monumentos da capital francesa, preten-de-se que com a visita a esses locais, seja possível se ter uma idéia da apropriação dos espaços públicos na cidade de Paris em variadas dimensões.

1. Jardin des TuileriesLocalizado na área mais central da cidade às mar-

gens do rio Sena e perto dos monumentos mais im-portantes da cidade, o Jardin des Tuileries configura-se como um importante marco histórico, visual e cultural. A área de 280 000 m2 que liga o palácio do Louvre à Place de la Concorde tem sua origem no século XVI, quando havia ali uma pedreira. Abrigou posteriormen-te, um palácio (Palácio das Tulherias) e entre 1660 e 1664, o famoso paisagista André Le Notre criou os jardins de estilo francês. Um dos primeiros parques a ser aberto na cidade de Paris, o Tuileries rapidamente atraiu a sociedade que queria ver e ser vista sendo um lugar de apresentações, concertos, festas além de abri-gar quiosques e cafés.

Embora a maioria das pessoas tenham preferência em visitar espaços públicos ao ar livre em dias limpos e com temperatura amena, andar pelas alamedas ro-deadas por esculturas, no jardim que serviu de cenário para várias obras impressionistas, é uma experiência sempre agradável e, devido á sua posição estratégica entre grandes museus e importantes ruas, o Tuileries está sempre cheio. É possível encontrar pessoas sen-tadas nas cadeiras ao redor do lago, crianças que brin-cam com os veleiros em miniatura, adeptos de corridas e caminhadas e principalmente grupos que realizam piqueniques nos dias ensolarados. Os gramados são utilizados também para jogos de badminton, frisby ou para uma simples leitura. Nos meses de janeiro, março, junho e outubro, o jardim torna-se um dos locais que sediam a Semana de Moda de Paris, e durante os dias 02 Jardin des Tuileries.

Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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do evento, uma multidão de fotógrafos e curiosos se reúne para ver as modelos e celebridades que presti-giam o evento. Além disso, grande parte dos visitantes é composta por turistas devido à proximidade com o Museu do Louvre.

A partir desse jardim, é possível se ter uma das mais belas perspectivas da cidade, que passa pelo obe-lisco da Praça de La Concorde, pela Champs Elysées, o Arco do Triunfo e enfim o Grande Arco, em La Defénse.

03Usuários do parque.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

04Usuários praticantes de esporte ou banhos de sol.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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2. Pont des ArtsCada uma das inúmeras pontes que atravessam o

Sena possui suas histórias, períodos, estilos, materiais e sistemas construtivos diferentes. A atual estrutu-ra em ferro foi construída entre 1981 e 1984 no lugar da antiga ponte de 1802 que apresentava problemas estruturais e encontrava-se interditada desde 1977. Concebida como uma passarela de pedestres, a ponte sempre atraiu artistas inspirados pela vista e pela sua proximidade com o Palácio do Louvre (também chama-do de Palais des Arts) e o Collège des Quatre-Nations. O valor simbólico do local como o elo entre as artes e a linguagem, assim como a vantagem em relação às ou-tras pontes por ser destinada somente a pedestres, tor-nou-a um dos locais prediletos para fazer piqueniques.

Atravessar essa ponte durante o horário de almoço ou os fins de tarde revela a utilização do local como um ponto de encontro da cidade. Jovens, executivos, artistas, e adolescentes espreitam-se pelo deck de ma-deira onde tocam música e degustam embutidos, quei-jos e baguetes geralmente acompanhados de vinho e champanhe. Os casais também utilizam o local para re-

alizar uma espécie de superstição colocando cadeados no gradil e jogando as chaves no Sena, fazendo assim suas promessas de amor.

A relação da população com esse espaço é tão forte e consolidada que diversas restrições não afastaram o público do local. Para conter a depreciação da ponte, as autoridades francesas proibiram o consumo de bebi-das alcoólicas entre 16 e 7h devido ao grande número de garrafas e lixo que se acumulava diariamente e os cadeados são constantemente retirados e transferidos para outro local.

05 Pont des Arts com vista para o Museu do Louvre.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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07 Cadeados colocados por casais nos gradis da ponte.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

06 Pessoas fazendo piquenique nos finais de tarde.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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3. Boulevard Saint-GermainUma das partes mais relevantes da intervenção de

Haussman foi o Boulevard Saint-Germain. Localizado na margem esquerda do Sena, foi construído entre 1850 e 1860, substituindo inúmeras pequenas ruas que ocu-pavam o local. Estende-se por 3,5km atravessando os arrondissements 5, 6 e 7 e está repleto de simbolismos que remetem tanto à sua localização e história, quanto à estabelecimentos que ali se encontram.

O bairro de Saint-Germain-des-Prés tornou-se, no século XVII, residência da aristocracia francesa. Essa reputação perdurou pelos séculos XVIII e XIX quando havia uma grande disputa e comparação entre a alta aristocracia ali instalada e os burgueses e “novos ricos” que residiam à margem direita. Já a partir da década de 1930, a avenida passou a ser associada à vida notur-na devido aos bares e cafés que atraiam estudantes e boêmios. Os famosos Café de Flore e Les Deux Magots, localizados nas proximidades da Igreja Saint Germain, são considerados como o centro do movimento existen-cialista devido aos seus assíduos freqüentadores Jean-

-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Porém, foi após a Segunda Guerra, o boulevard passou a ser considerado como o centro intelectual de Paris.

Atualmente, no bairro do Saint-Germain-des-Prés, uma área nobre da capital francesa, os luxuosos edi-fícios e lojas dividem espaço com os inúmeros cafés e brasseries que se espalham ao longo da avenida. Con-tudo, mesmo o apelo comercial e capitalista não trans-formou o local em um corredor de passagem cercado por barreiras privadas. Embora esses estabelecimentos existam, eles se comunicam com o entorno sem agredir ou isolar, diferente do que se pode observar em ou-tras cidades onde ruas de comércio e estabelecimentos voltados às classes altas afastaram e limitaram grande parte da população de circular por lá.

O que se observa no Boulevard Saint-Germain mos-tra o contrário. O público de alto poder aquisitivo divide o mesmo espaço que os intelectuais que freqüentam os cafés, com suas mesas dispostas na calçada, com os tu-ristas, moradores do bairro e os estudantes das univer-sidades instaladas na região. Desse modo, a rua conti-

08Cafés no Boulevard Saint-Germain.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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72 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

Sorbonne. As atrações abrangem um público variado, incluindo as crianças que podem se divertir com o Tea-tro de Fantoches, passeios de pônei e carrossel.

Pelos caminhos forrados por pedriscos, é fácil cruzar com praticantes de caminhada e corrida. As concorridas cadeiras de ferro ao redor do lago se apresentam como espaço ideal para leitura e banho de sol. As quadras de tênis estão sempre utilizadas e a área destinada a pratica de xadrez, reúne grupos de idosos. Além dis-so, também há atividades como ginástica para terceira idade, e um museu pedagógico que ensina o cultivo de árvores e apicultura. Desse modo, com o parque sendo utilizado por diversas camadas da população, evita-se um grande problema encontrado em outros locais simi-lares, a falta de segurança, que afasta os usuários. Da mesma maneira que Jane Jacobs, em Morte e Vida de Grandes Cidades (1961), descreve a importância da di-versidade nas cidades, aqui, a diversidade de usos ga-rante a apropriação do espaço de fato pela população.

5. Parc de BercyAbrangendo 14 hectares, o Parque de Bercy é um

exemplo de como uma intervenção contemporânea, que não possuí apelo histórico e simbólico, pode ser bem sucedida, tornando um dos principais lugares da cidade. Está situado entre o POPB (Palais Omnisports Paris Bercy) e o Bercy Village, à margem direita do Rio Sena e ocupa o local que sediava antigos armazéns de vinho, alguns deles ainda preservados a fim de manter a memória do local.

Concebido entre 1993 e 1997, o parque é composto por três jardins: Romantique, Parterres e Prairies. Cada um desses jardins possui uma característica diferente, porém, juntos, os três formam um conjunto harmonio-so no local abrigando a Cinemathéque de Paris, projeto do arquiteto americano Frank Ghery, e conectado à Bi-blioteca Nacional de Paris por uma passarela.

O parque é bastante utilizado pela população resi-dente do entorno, ou visitantes do POPB, Bercy Villa-ge, Cinemateca e da biblioteca. Jovens se concentram na prática de skate e patins e os campos gramados servem para jogos de futebol improvisados. Pequenos pavilhões cobertos são utilizados para leitura e encena-ções. Percebe-se que o projeto do parque foi pautado nas novas formas de ocupação e adequado às práticas

10 Área de jogos e xadrez e ginástica.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

09 Passeio e quadras de tênis.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

nua assumindo o caráter de local de passagem, público, onde todos têm livre acesso, convivem e desfrutam da grande diversidade gerada pelas grandes cidades.

4. Jardin du LuxembourgUm dos locais mais bonitos da cidade, o parque,

que originalmente era propriedade do duque de Luxem-burgo, foi adquirido em 1612 por Maria de Médice, mãe de Luis XIII, que mandou construir no local e palácio e os jardins com paisagismo de inspiração italiana. Foi aberto ao público apenas no séc. XVIII, quando os jar-dins foram remodelados em estilo francês. Em 1794, durante a Revolução Francesa, o palácio serviu de pri-são e durante a Segunda Guerra Mundial foi transfor-mado em quartel general.

A área de 22,5 hectares abriga além dos jardins, um lago octogonal, quadras de tênis, diversos passeios e fontes. É um local extremamente utilizado pelos mo-radores da região e freqüentadores da Universidade

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e atividades atuais, de modo a garantir a utilização ple-na do espaço sem o risco de tornar-se um concorrente das demais áreas de lazer da cidade.

Pretende-se que com a visita aos cinco pontos es-colhidos, se possa vivenciar diferentes formas de apro-priação do espaço público, em uma ótica do urbanismo, dentro da cidade de Paris, conhecendo locais freqüen-tados por diversas camadas da população e que exem-plificam projetos bem sucedidos, servindo de exemplo para futuras intervenções em qualquer outra cidade.

REFERENCIAS:

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Lugar no/do Mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

WALTHER, Ingo F. Impressionismo. Köln: Taschen, 2006.

Pont des Arts. Disponível em (http://www.qype.com.br/place/86174/Pont-des-Arts-Paris). Acessado em 12/12/2010 às 23h15min.

Pont des Arts. Disponível em (http://www.aviewoncities.com/paris/bridges.htm) . Acessado em 12/12/2010 às 22h30min.

Jardin des Tuileries. Disponível em (http://www.aviewoncities.com/paris/tuileries.htm). Acessado em 12/12/2010 às 23h15min.

http://www.paris.fr Acessado em 13/12/2010 às 10h30min.

Parque de Bercy. Disponível em (http://paris-walking-tours.com/parcdebercy.html). Acessado em 15/12/2010 às 11h15min.

Jardin du Luxembourg. Wikipédia. Disponível em (http://en.wikipedia.org/wiki/Jardin_du_Luxembourg). Acessado em 15/12/2010 às 12h10min.

11 Parque de Bercy e seus diversos jardins.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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74 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

A CIDADE DO CINEMApor Raissa Muniz Pinto

“Sempre teremos Paris”, afirma Ilsa no clássico do cinema Casablanca, de 1942. Para muitos amantes do cinema, das cidades ou simplesmente das coisas be-las, esta será sempre uma verdade. Mesmo com os avanços da tecnologia e da modelação digital, e mes-mo entre o público desgostoso de legendas, ou com-pletamente ignorante sobre as glórias do Nouvelle Va-gue, Paris é durável, indispensável e indiscutivelmente fotografada muito bem.

Claro, que qualquer cidade, se vista sob a ótica cer-ta e com a luz perfeita, pode parecer grandiosa na tela. No entanto, sua densa malha única de ruas estreitas e grandes boulervards, com anéis concêntricos que refle-tem o planejamento urbano de Haussman no século XIX justaposto sobre seu núcleo medieval, deixando quase nenhum ângulo reto ou linha paralela a vista, acaba por proporcionar um reservatório imenso de perspec-tivas. O sol se pondo sobre o Sena, os carros pas-

sando em círculo ao redor do Arco do Triunfo, a névoa que cobre a cidade e parece magicamente deixar livre somente a basílica de Sacré Coeur em Montmartre, a Torre Eiffel aparecendo sobre edifícios aparentemente sem importância, mas belíssimos a vista da luz e da torre, os cafés, restaurantes e livrarias infinitas no Ma-rais, o sol se pondo novamente sobre a praça de Saint Michel, iluminando os rostos dos manifestantes pela li-bertação do Tibet. Cada ponto deste, cenas rápidas ao longo de uma visita, podem ser, e são, cenas dos mais diversos gêneros de filmes.

Podemos assim desenvolver pensamentos sobre quais são as relações reais entre a cidade e o cinema. Debruçar-se sobre a relação entre esses dois elementos pode significar examinar as múltiplas e significativas in-terações entre, o que segundo Schiel (2001), é a mais importante forma cultural e a mais importante forma de organização social do século XX.

Sob as orientações cuidadosas de professores estu-diosos da cidade das luzes, e consequentemente aman-tes desta, pode-se desenvolver linhas e linhas sobre o planejamento haussmaniano, ou sobre como o ur-banismo na região parisiense tem resolvido os proble-mas de mobilidade, habitação e patrimônio. No entan-to, nas palavras de Andrei Bely apud Mennel (2008) “a cinematografia reina sobre a cidade, reina sobre a

01 Sacré-Coeur. Fonte: AMARAL, 2010 02 Place Saint Michel.

Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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75 A CIDADE DO CINEMA l EQUINOX 2010 l

terra... Mais que os ensinamentos de homens sábios, a cinematografia tem demonstrado para todos o que é a realidade.”

Conhecer Paris através da tela do cinema pode não ser conhecer Paris verdadeiramente. A noção de co-nhecer a fundo cada personagem, e saber de cor cada pedra de cada rua das cenas dos inúmeros filmes gra-vados na cidade, (segundo o CinemaUOL só em 2010 foram 110 longas-metragens) atinge seu ápice em uma visita a esta. Visitada naturalmente evoca o es-tranho sentimento de estar se andando por um filme. Estranhamente, é nos filmes que a cidade parece mais com ela mesma.

O Louvre, por mais imponente que seja, toma vida somente sob a correria e risadas de Mathew, Isabelle e Theo, no filme Os sonhadores (2003) de Bernardo Ber-tolucci. Montmartre só aparece com toda sua mágica sob a descrição de Amelie para o cego, em O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001) de Jean-Pierre Jeu-net. Assim como a Champs-Elysées só demonstra sua beleza aos gritos de “New York Herald Tribune! New York Herald Tribune”, de Patricia Franchini em Acossado (1960), de Jean-Luc Godard.

Mas, se considerarmos o pensamento de Mennel, que afirma:

A análise da representação fílmica de uma cida-de começa primeiramente observando como filmes individuais representam as condições de tal cidade, ou bairros no momento histórico específico, e então vai além de ver o filme como mera representação da realidade social para se focar em como o texto cine-mático constrói e comenta tais condições. (MENNEL, 2008, 07 p.)

Podemos pensar que Paris, a cidade das luzes, a cidade do amor, só existe nos pontos mais filmados desta, como a Torre Eiffel, o Louvre, o Arco do Triun-fo, a Champs-Elysées, a Notre Dame, a Sacre Coeur e o Palácio Real. Tais pontos seriam as representações reais da vida parisiense, aliado a uma população letra-da e profundamente envolvida nas artes. É estranho pensar que estes pontos, embora realmente existentes, não são as imagens de Paris que acaba por se levar para a vida inteira.

03Pirâmide do Louvre. Fonte: AMARAL, 2010.

A arquitetura da cidade impressiona, emociona e proporciona as sensações já descritas. Mas e a nova arquitetura ali desenvolvida, só conhecida por estudan-tes e professores de arquitetura? A paris real não passa pela Biblioteca Nacional, a passarela Simone de Bou-viour, o Institut du Monde Arabe, o Centre Poupidou e a própria pirâmide do Louvre? A luz sobre o Centro Pou-pidou é a mesma sobre a Notre Dame, a uma pequena caminhada de distância, bem como a vista do Sena é tão linda da Biblioteca Nacional como é de outro ponto da cidade, mas ainda assi m, as pessoas não conhecem a obra de Dominique Perrault, como o fundo de uma cena marcante do cinema.

Podemos dizer que Paris está cravada em pedra – as pedras cor de carvão de algumas pontes antigas e calçadas, além das fachadas de calcário encontradas na maioria de sues edifícios. Sua imobilidade e imorta-lidade já consegue viver ao lado da fragilidade e ma-leabilidade de algumas obras contemporâneas, como contrasta o seu VI arrondissement com o XIII arrondis-sement. Têm suas ruas históricas moldadas livremente na tela do cinema, como pelos grandes nomes da Pixar que a reinventaram em Ratatouille (2007), ou pelo di-rector Christopher Nolan que brinca fisicamente com

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a cidade em A Origem (2010). No entanto, quando se trata do retrato real da cidade, esta continua petrifica-da no cinema, representando a dicotomia entre a Paris antiga do cinema, e a Paris moderna real.

Não é dizer que a Paris antiga não seja real, é, e continua a entreter turistas ininterruptamente. Tam-bém não é dizer que o cinema nunca filmou nenhuma nessas obras contemporâneas, filmou, mas tais obras não comparecem nos filmes tidos pelos críticos e lei-gos como os filmes a serem vistos sobre Paris, com a clara exceção de Paris Je T’aime (2007) de diversos diretores. É de se pensar sobre a relação entre que cidade que se pretende vender, e que cidade que se pretende construir.

Segundo Mennel (2008) o movimento de Nouvel-le Vague incorpora o traçado haussmaniano como seu pano de fundo principal pelo seu desenvolvimento em um período de nostalgia pelo passado, ao se defrontar com a modernidade pós-Segunda Guerra. No entanto, a explicação para a perpetuação deste pano de fundo que se repete há décadas perpassa por vários pontos.

A própria influência do movimento de Nouvelle Va-gue no cinema mundial é responsável por isso, bem como o crescimento do cinema Norte-Americano, com

sua noção de romance adocicado perfeito para beijos ao pé da Torre Eiffel. (MENNEL, 2008) No entanto, o ponto mais relevante, urbanisticamente falando, trata--se da decisão estudada de que ponto da cidade deve ser filmado, o que segundo Mennel (2008), em cida-des como Los Angeles e Paris passa por um comitê responsável somente pela decisão de como a cidade das luzes será projetada no cinema. Trata-se, portanto de uma decisão comercial, de modo a manter a cida-de como maior destino turístico mundial, e não como uma decisão de revelar as belezas de Paris, antigas ou contemporâneas.

e se por acaso os significados atribuídos às ima-gens na tela são transferidos pelos espectadores para o mundo social e material? ... se as imagens fílmicas podem influenciar maneiras de vestir, gos-tos musicais, brinquedos e nosso vocabulário, não é inocente pensar que elas não participem da estru-turação de nossos valores, nossas relações sociais e, talvez, nosso comportamento e da construção do mundo real?” (HOPKINS, 61 p.)

Ao se pensar assim, seria a Paris antiga perpetuada também pelo cinema, não somente pela sua projeção em salas escuras, mas por mais um fator importante para a manutenção desta cidade como é vendida?

As marcas que Paris deixa a seus viajantes variam imensamente de individuo para individuo, podendo ser vista como suja, como linda, como inacreditável entre outros tantos adjetivos. Para alguns amantes de cine-ma, o termo inacreditável pode ser o mais correto, mas não no melhor sentido. As cenas famosas de tantos filmes, com o mesmo fundo podem acabar por tornar a cidade, ainda com o observador presente, sentindo cheiros e sensações, uma cidade irreal, ou melhor, uma cidade real aparentemente e completamente encenada. A Torre Eiffel pode não marcar profundamente a vida de tal visitante por parecer mais uma das tantas imagens manipuladas por computador em que ela aparece. Pode tornar como a única coisa real ao estar em frente ao Palácio Royal, a chuva que insiste em gelar os dedos.

No entanto, aquilo que não foi tocado pela “magia” do cinema tantas vezes parece absurdamente mágico

04Bibliotéca Nacional. Fonte: AMARAL, 2010.

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e belo, como as obras modernas aqui citadas, ou uma velha casa em um beco nunca filmado. Tão belo, mas tão belo, que os faz perguntar por que nunca foram filmados, ou porque as cenas que viram e viveram ali são tão mágicas, ou mais mágicas que as que suspiram milhões dentro dos cinemas.

Paris aparece como o local do comumente repro-duzido mito da fundação do cinema: “Aos 28 dias de dezembro de 1895, o cinema começa no porão do Grand Café, Boulevard ds Capucines, em Paris” (MEN-NEL, 2008). Pode-se aqui considerar também que o lo-cal deste mito tornou-se outro mito, dentro das telas do cinema, mas mantém-se indiscutivelmente como a capital mundial da cinefilia. O que Mathew diz em Os sonhadores (2003) “I saw a movie at the cinématèque française [and] I thought, “only the French…only the French would house a cinema inside a palace.”, enal-tece tal mito e não revela a realidade da cidade que em 2005 mudaria a Cinémathèque do Palais de Chaillot para uma extravagante nova casa, projetada por Frank Gehry, do outro lado do Sena.

Em uma visita pode-se deparar com alguns dos pontos mais altos e eternos do cinema francês. Ali, pa-recem opostos, uma criação de Frank Gehry, ignorada pelo cinema, para servir de relicário de um passado que enaltece o oposto. Mas ainda assim, impõem-se tão importantes como se fossem o centro do universo, imunes ao que acontece no parque de Bercy ao seu re-dor. Temos de admitir que acabam por ser, pois talvez seja pelo que ali guardam, que os momentos brincando naquele parque parecem tão inesquecíveis, tão mági-cos na luz de Paris.

05 Parque de Bercy. Fonte: MUNIZ, 2010.

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06 Cinematéca Francesa. Fonte: MUNIZ, 2010.

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REFERÊNCIAS:

ACOSSADO. Diretor Jean-Luc Godard. France: Les Productions Georges de Beauregard, 1960. 90 min.

A origem. Diretor Christopher Nolan. EUA: Warner Bros. Pictures, 2010. 148 min.

CASABLANCA. Diretor Michael Curtiz. EUA: Warner Bros. Pictures, 1942. 102min.

CinemaUOL, Paris foi cenário de mais de 920 filmagens em 2010. São Paulo: G1, 2010. Disponível em: http://viagem.uol.com.br/ultnot/efe/2011/01/05/paris-foi-cenario-de-mais-de-920-filmagens-em-2010.jhtm. Acesso em: 05 de Jan. de 2010.

HOPKINS, Jeff. Mapping of cinematic places: icons, ideology and the power of (mis)representation. In: Place, power, situation and spectacle: a geography of film. Lanham: Rowman & Littlefield Publishers, 1994.

MENNEL, Barbara Caroline. Cities and cinema. Oxon, Routledge, 2008.

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Diretor Jean-Pierre Jeunet. France: Claudie Ossard Productions, 2001. 122 min.

Os sonhadores. Diretor Bernardo Bertolucci. France: Recorded Picture Company (RPC), 2003. 105 min.

PARIS, je t'aime. Diretor Olivier Assayas e Cia. France: Victoires International, 2006. 120 min.

RATATOUILLE. Diretor Brad Bird. EUA: Pixar Animation Studios, 2007. 111 min.

SCHIEL, Mark. Cinema and the city in History and theory. In: Cinema and the city: Film and urban societies in global context. Oxford: Blackwell, 2001.

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DIVERSIDADE, A MAGIA DE PARIS

por Louise Uchôa

Na estação de Châtelet, uma senhora canta uma música em árabe e um sanfoneiro entra no metrô. Em Montmartre, um harpista toca seu instrumento na es-cadaria que leva à Igreja de Sacre Coeur, onde um fiel deposita uma vela. Na Torre Eiffel um grupo de dança-rinos se apresenta. Um soldado tira uma foto com uma criança. Uma moça é pedida em casamento. Qualquer uma dessas cenas poderia facilmente se tornar o ro-teiro de um filme, um quadro, um conto. E todas elas acontecem simultaneamente na mesma cidade, Paris.

É assim que essa cidade milenar se revela dian-te dos olhos daqueles que a presenciam pela primei-ra vez. Como uma cidade de belos contrastes, onde a harmonia que se faz presente em sua diversidade é o que seduz, encanta e prende nossa atenção. Portanto, é impossível caminhar por suas ruas sem perceber que a imagem que tínhamos da cidade através de filmes, fotos e histórias que ouvimos é por demais, superficial. Paris é preciso ser sentida em cada detalhe. A sua hete-rogeneidade deve ser absorvida e admirada, pois é ela que constrói e enriquece o conjunto da capital francesa.

No entanto, essa diversidade ao ser descri-ta parece ser comum a qualquer metrópole. O que é então, que faz o caso de Paris ser tão particular e único de se experimentar?

Em se tratando da diversidade urbana, a jornalista americana Jane Jacobs escreve o seguinte parágrafo em seu livro “Morte e vida de grandes cidades”: “Seja de que espécie for, a diversidade gerada pelas cida-des repousa no fato de que nelas muitas pessoas es-tão bastante próximas e elas manifestam os mais di-ferentes gostos, habilidades, necessidades, carências e obsessões. ”

Paris é incontestavelmente resultado dessa equa-ção que soma um enorme contingente de pessoas em

uma área inversamente proporcional. Dessa forma, as diferentes opiniões, necessidades e habilidades, serão manifestadas em um raio menor e consequentemente elas irão colidir. É neste ponto que Paris se diferencia de muitas outras metrópoles, pois essa colisão é capaz de produzir uma agradável paisagem urbana, ao invés de gerar conflitos. Portanto, a capital francesa é dotada de uma ambiência rara no restante do mundo. Ambiência esta que se apoia no paradoxo.

O paradoxo é fator intrínseco a Paris. A começar pelo seu desenho urbano representado pelo jogo entre a assimetria de suas ruas estreitas e becos, represen-tantes do período medieval, e os bulevares de Hauss-mann. O efeito causado pela alternância do compacto (ruelas) e do amplo (bulevares) gera um dos muitos contrastes visuais, representando o imprevisível que aguarda os transeuntes a cada esquina.

A contradição também se faz presente na arqui-tetura. É possível ver que Paris atravessou séculos e guarda representantes de muitos estilos arquitetônicos, pois sendo uma cidade milenar, une suas construções da Idade Média com outras ecléticas, da art nouveau e modernistas, além de expressar também a sua fase arquitetônica atual. Grandes exemplos, na ordem aci-ma citada são: a Ópera de Paris e o Petit Palais, que são marcos do neoclassicismo; os pórticos de entrada de diversos metrôs e alguns bares da Bastilha, onde é possível notar a forte influência da art nouveau e art déco; a Ville Savoye de Le Corbusier, que se encon-tra nos arredores da Grande Paris, mas é destino de muitos turistas devido às suas raízes modernistas; La Défense, arrondissement contemporâneo onde é pos-sível encontrar uma arquitetura arrojada, repleta de arranha-céus que podem ser vislumbrados do topo da Torre Eiffel ou Montparnasse; e o museu do Quay Bran-ly, no sétimo arrondissement, que surpreende com sua inesperada fachada verde.

Urbanismo e arquitetura, então, combinam seus diferentes elementos para compor a Paris que surpre-ende o olhar com o previsível e imprevisível. No Ma-rais, por exemplo, andando pelas ruas estreitas, cada quarteirão revela algo novo. Seja um jardim, uma pra-ça com uma fonte, restaurantes de diversas culturas e mais a frente o Centre Pompidou, que tem sua es-trutura exposta através de cores vibrantes, imerso em um bairro medieval.

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A diversidade de Paris também se faz presente na mobilidade urbana. Lá existem as mais variadas formas de locomoção. Andar a pé, de bicicleta e de metrô é tão ou mais bem vindo do que dirigir um automóvel. E não há nada mais interessante do que ver como a cidade se adaptou ao longo dos anos às novas formas de transporte como ocorreu com o metrô, por exemplo. Poucas coisas são tão interessantes quanto às passa-gens subterrâneas por onde trafegam. Descer as es-cadarias de uma estação de metrô é como observar o nascimento de uma segunda cidade sob a outra. Uma cidade que também é cheia de vida e personalidade, pois cada estação é característica a seu modo. Seja pe-las pessoas, pelas lojas, pela arquitetura, pela músi-ca e por outros componentes que juntos estabelecem um ritmo singular.

Por fim, o que dá vida e completa este ambiente é os seus habitantes e turistas. Paris é cosmopolita. A quantidade de nacionalidades e culturas que se expres-sam nesse espaço é imensurável. É como conhecer um pedaço de cada lugar do mundo, porém com a identida-de parisiense. Diversidade urbana, em seu melhor sen-tido e expressão, é isso. Pessoas, culturas, arquitetura e tudo o mais que está presente no espaço urbano e que quando combinados formam um ambiente, salutar, aprazível e único.

Enfim, é no cotidiano, resultado da diversidade ur-bana, que reside a magia desta cidade chamada Paris, onde crianças brincam com barquinhos no lago, en-quanto um grupo de amigos faz um piquenique sob as árvores no Jardim de Luxemburgo. Um casal de noivos atravessa a praça em meio a uma manifestação do Ti-bet em São Michel. Um parisiense se fantasia de Quasí-modo para tirar fotos em Notredame. À noite, um violi-nista recebe aqueles que saem da estação de Trocadéro e uma multidão de vendedores ambulantes, turistas, casais e famílias parisienses se aglomeram na praça para ver a Torre Eiffel brilhar.

01 Imagem 1: Senhor e jovem punck conversam em frente ao Pompidou. Fonte: MURAGUCHI, 2010.

02A pirâmide de vidro e o palácio do Louvre, representantes da arquitetura francesa que juntos formam o museu do Louvre.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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JARDIM DE LUXEMBURGO: O PASSADO PRESENTE

por Raíssa Linhares

Na estação de Châtelet, uma senhora canta uma música em árabe e um sanfoneiro entra O som das águas do Sena, a eternização do amor nos cadeados da Ponte das Artes, os telhados em tons de cinza, as cate-drais monumentais, a diversidade e ao mesmo tempo a peculiaridade dos sons que emanam dos que fazem músicas nas galerias dos metrôs de Paris, a feira têxtil de Port de Montreuil, a feira das artes de Montmar-tre, a interminável escadaria da Catedral Sacre Coeur, A rosácea da Catedral de Notre-Dame, o Cheiro pecu-liar, as luzes noturnas, os bebedouros públicos, Champs Elysées, a monumentalidade do Louvre, a visão privi-legiada e incomparável da cidade do alto da torre Ei-ffel... Tudo isso me lembra Paris, mas nada faz meu coração bater igual ao de Amelié Poulain, quanto o Jardim de Luxemburgo.

O mundo parecia morto, Amelié preferia sonhar e sonhar. Assim como Amelié, gostava de buscar os de-talhes que ninguém via e cultivava um gosto peculiar por pequenos prazeres. Tive a sensação, ao ter a pri-meira visão do Jardim de Luxemburgo, de ter senti-do a mesma emoção que a de Amelié quando se deu conta do que havia achado, um tesouro guardado há 40 anos. Não! Provavelmente senti emoção tão maior quanto incomparável. Eu acabava de achar um tesouro da natureza, da arquitetura, da história, da humani-dade e a partir daquele momento eu fazia parte dele e ele de mim.

Após o assassinato de Henrique IV, seu marido, no começo do século XVII, Maria de Médicis optou por mu-dar-se do Louvre e fez aquisições de terrenos capazes de englobar um enorme palácio com seu jardim. Sua primeira aquisição foi o Hotel pertencente a François, Duque de Luxemburgo, em 1612 sobre o qual construiu o atual Palácio de Luxemburgo, e de onde originou seu nome e as terras que o circundavam, pertencentes a monges e agricultores. Por tradição familiar, contratou arquitetos e encomendou a produção de um espaço si-lencioso e de repouso. Foi então que surgiu o gigan-tesco e encantador Jardim de Luxemburgo. Essa foi a primeira, de muitas aquisições até se deparar com uma crise financeira e ser exilada em 1631.

01 Participantes do projeto as margens de um dos lagos do Jardim.Fonte: LINHARES, 2010. 02Vista do Palácio.

Fonte: LINHARES, 2010.

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Situado no 6° arrondissement e no coração de grande parte dos parisienses e visitantes, o “Jardin du Luxembourg”, foi adiquirido por Maria de Médicis, mãe do rei Luis XIII, entre 1614 e 1631, e sofreu alterações ao longo dos anos, até a ação de Haussmann, o que deu as diretrizes para ser o que é nos dias atuais.

Essas alterações incluem a variação de limites do Jardim que só mudou para seus limites atuais, consi-derando as aquisições de Maria de Médicis, no final do Segundo Império.

Em meio a tantas mudanças, o Jardim passou a ser orientado no sentido Norte-Sul, como o Palá-cio, e sua ponta quase chegou a tocar o Boulevard du Montparnasse.

Com as propostas de Haussmann o jardim, inicial-mente cortado pelo alargamento da Rue de Vaugirard e pelo Boulevard Saint-Michel, passou a limitar-se ao sul com uma nova rua, aberta no sentido da Rue de l’Abbé-de-l’Epée.

Com a perceptível tentativa dos engenheiros da época de dominação e destruição da natureza com as suas novas construções, em 1859 criou-se uma lei con-servacionista que possibilitou que hoje nós pudéssemos ainda ter 25 hectares de jardim para admiração, des-canso e pura história.

Não há como visitar Luxemburgo sem viver o seu passado. Está presente em cada canto, nas ár-vores centenárias, nas esculturas, nos detalhes do Palácio que compõem a paisagem ao fundo, no seu próprio desenho.

Em meio a tantas modificações, a beleza e o critério inicial de espaço de repouso e silêncio se mantém. É ní-tido o respeito pela história e a tentativa de mantê-lo o mais original possível, sem amputações e modificações, o costume vivo e presente.

O Jardim de Luxemburgo é suas alamedas, seus bancos, lagos. É o Passado presente. Vida e Silêncio. História e Arte.

REFERÊNCIAS:

- http://www.senat.fr/visite/jardin/histoire.html- http://www.senat.fr/visite/jardin/patrimoine_

botanique.html- LA ARQUITECTURA DE LOS JARDINES - De la

Antigüedad al Siglo XXAutor: Francesco Fariello Editora: Reverté -

Espanhol - 2004

03Espaço de circulação do jardimFonte: LINHARES, 2010.

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84 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

PARIS: UMA DREAMLAND?por Jeannie Bonna Vitória Duarte

IntroduçãoCidade dos Sonhos. Para muitos, esse é o título de

Paris. De acordo com a Secretaria de Turismo da capi-tal (l’Office du tourisme et des Congrès de Paris), Pa-ris recebeu, intra-muros, 27 milhões de turistas em 2009. A França está no topo da lista de destinos do turismo internacional, com 74,2 milhões de turistas em 2009 (dados da Organização Mundial de Turismo). Na internet, uma pesquisa simples sob a keyword PA-RIS indica 565 milhões de resultados. O que essa ci-dade tem que atrai tanto? Por que relacionamos Pa-ris à Cidade dos Sonhos? O que isso tem a ver com urbanismo e arquitetura?

Uma busca por um conceito se fez necessária. Veja-mos que o objetivo não é estabelecer novas teorias (ou não tão novas assim), mas investigar a relação entre o imaginário popular, o desejável e a Cidade-Luz.

Dreamland!A exibição Dreamlands traz uma perspectiva inte-

ressante sobre inspiração e influências das exposições universais, exibições internacionais, parques temáticos e instituições a fins sobre o “fazer a cidade”. Duplicação da realidade, estética de acumulação e de colagem são fonte de idéias para práticas artísticas, arquiteturais e urbanísticas do século 20 e serviram também de mode-lo para construções contemporâneas.

Como a cidade é imaginada? Esses delírios che-gam a se tornar projetos concretos? As exposições, Las Vegas dos anos 50 e 60, Dubai do século XXI: são acontecimentos que ajudam a transformar nossa rela-ção com o mundo, percepção de tempo, arte, conceito de original e reprodução.

É verdade que o cenário onírico mais comumente é palco para produções artísticas e utopias, mas ele também se tornou realidade: o pastiche, a cópia, o kits-

ch, o artificial e o fictício se tornaram parte do cotidia-no urbano. Estão presentes nos elementos da cidade e nos ajudam a entendê-la, diminuindo os limites entre o real e o imaginário.

Exposto o motivo da exposição, voltemos nossa atenção à Paris e a uma tentativa de conceituação da Cidade dos Sonhos. Agora, de um ponto de vista um tanto mais tradicional.

Cidade Ideal?Quando se pensa em cidade ideal, geralmente o

que vem à mente é um lugar que supra necessidades (de políticas a artísticas), que seja bonito (ou ao me-nos agradável) e que tenha uma atmosfera atrativa e cativante. As especificações do que ter ou não na ci-dade diferirão de acordo com as aspirações individuais e coletivas. Um exemplo prático: em um grupo de 30 pessoas, dividindo-os em pequenos grupos e instruin-do-os a representar a cidade ideal através de dese-nhos, plantas ou até mesmo poemas, não se obterão resultados iguais.

No urbanismo muito já foi discutido a esse respei-to. Modelos de desenvolvimento urbano, soluções para problemas causados pelos grandes processos de urba-nização, remodelações, teorias, utopias. Os falanstérios de Charles Fourier; as Cidades-Jardim de Ebenezer Ho-ward; a cidade industrial de Tony Garnier, tudo em prol da cidade ideal.

Na tentativa de solucionar ou evitar problemáticas, vários projetos de reurbanização fracassaram. No livro Morte e Vida das Grandes Cidades, Jane Jacobs cons-tatou que é necessário perceber a cidade como algo espontâneo, orgânico e vivo. Ode ao heterogêneo.

Ingenuidade seria pensar que apenas o aspecto fí-sico constitui a cidade. Ao contrário, cada camada é fru-to de valores sociais, políticos, econômicos e artísticos, seja para planejamento de uma nova área, crescimento espontâneo ou programa de requalificação. Como con-seqüência, o conceito de cidade ideal não será o mesmo de década para década, ou de país para país.

Paris configura exemplo no urbanismo porque muito foi tentado e bem sucedido. O próprio título de Cidade-Luz é em decorrência de seu pioneirismo na instalação de sistemas de iluminação pública (primei-

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ro a gás, depois eletricidade). A reforma de Paris e o plano de Haussmann, como grande marco e com re-percussão imensa são outro fator sempre lembrado. A carga histórica não pode ser esquecida: cada canto de Paris tem um conto.

Mais uma vez, em 1889, Paris foi palco de um marco histórico em favor da arte: a exposição universal. Antes espaço para pedagogia científica, nesse momento se transforma em algo mais leve, mais lúdico. Desprezan-

do o utilitário, a Torre Eiffel é construída. Numa grande miscelânea, ícones arquitetônicos diversos, como pa-godes chineses, palazzis italianos e casas em enxaimel alemães povoam os pavilhões da mostra de 1889.

01 Carrousel de La Tour Eiffel, Viagem Técnica UEMA, 2010.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

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Sociedade Do LazerNesse contexto revolucionário, dois grandes par-

ques de diversões são inaugurados: Dreamland, em 1904, em Coney Island, New York, e o Luna Park, em 1909, em Porte Maillot in Paris.

Sucesso imediato, o Dreamland tinha atrações ori-ginais como miniaturas dos canais de Veneza, destrui-ção de Pompéia, Nuremberg no séc. XV e outros. Foi destruído por um incêndio em 1911 e nunca recupera-do. O Luna Park atraiu um público abrangente, incluin-do artistas como André Breton e Constantin Brancusi. Entre suas atrações, tinha um estádio de esportes, o Wonderland Français. Com a crise econômica mundial, o Luna Park fechou as portas em 1931.

Coney Island se tornou um símbolo de parques temáticos e de divertimento nos EUA. Com inúme-ros entretenimentos para todos os gostos (incluindo o circo de horrores), essa área de New York foi refe-rência como lugar da fantasia, mundo dos sonhos e fuga da realidade.

O espírito de relutância à seriedade do cotidiano e sociedade do lazer se alastrou aos projetos urba-nos. Um exemplo é o Centro Pompidou Paris, inspira-do no projeto inacabado Fun Palace, de Cedric Price, nos anos 60.

O Fun Palace foi encomendado por Joan Littlewood, fundador da Oficina de Teatro no Royal Theater, em Londres. Primeiro projeto de grande escala de Price, tinha como conceito “laboratório de diversão” e “uma universidade das ruas”, como seu patrono descreveu. Inspirado por um fascínio pela tecnologia, Price plane-jou uma estrutura aberta completamente flexível, feita em grade de aço. Ambientes “pendurados” para dança, música e drama; Tudo móvel: pisos, paredes, tetos e passarelas, e um sistema avançado de temperatura que poderia dispersar e controlar fumaça, ar quente e umi-dade foram todos pensados para promover “diversão”.

Diversão é o tema principal da estação Faites vos jeux! (Façam suas apostas!), que explora Las Vegas. Símbolo do kitsch, da colagem e da réplica, Las Vegas poderia ser considerada cidade dos sonhos por duas razões: pela promessa de fortuna nos jogos de azar e pelo exagero e senso de irrealidade proporcionado pelo aspecto físico da cidade.

02Viagem técnica UEMA, 2010.Fonte: MURAGUCHI, 2010.

03Maquete Pompidou Metz Exposição Chefs-d’œuvre. 2011.Fonte: BONNA, 2010.

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O hotel The Venetian, inaugurado em 1999, ofe-rece uma réplica de Veneza, com canais, edifícios ve-nezianos e passeios de gôndola. Em 2007, outro The Venetian foi inaugurado em Macao, na China. É o maior hotel da Ásia, o maior cassino e o quarto maior edifício do mundo.

Dentro do contexto de réplica, é inevitável cons-tatar que a Era da Reprodução se instalou ao redor do globo. Códigos e ícones de identificação, que an-tes pertenciam a um determinado local, agora são comuns (e conseqüentemente superficiais). As refe-rências geográficas adquiriram papel secundário e a arquitetura é não mais do que pano de fundo para a reconstrução do exótico.

A obra de Liu Wei reflete essa tendência. Defini-do como Realismo cínico, a obra é uma paródia da cultura de consumo do mundo ocidental. Feita com couro mastigável para cães, a aparência distorci-da e aura pós-apocalíptica ampliam a sensação de mundo dos sonhos.

A idéia do Copiar/Colar não veio de forma aleatória. O modelo que está por trás dos shoppings temáticos em Dubai, Las Vegas e Shanghai vem das experiências de recriação de ambientes nas Exposições Universais, no fim do Séc. XIX.

Antes disso, os imigrantes vindos da Europa, toma-ram dianteira: primeiro porque sonhavam com o Novo Mundo, e segundo porque, nostálgicos do país de ori-gem, recriaram elementos de referência. A construção de bairros, áreas ou cidades que são inspiradas em sím-bolos como Londres, Amsterdã e Paris são recorrentes.

A cidade de Leavenworth, passando por dificulda-des financeiras, decidiu alavancar o turismo assimilan-do uma nova identidade, tirada de um legado cultural de outro país, no caso, a Holanda. Prédios com carac-terísticas específicas, calendário de festividades seme-lhante e a apropriação de elementos que caracterizam uma determinada identidade cultural testificam como a relação do mundo, o tempo, a geografia e a história com o original e a cópia se alteraram.

E Paris com Isso? Em cidades com longo tempo de vida e que passa-

ram por diferentes períodos históricos, como Paris, em

um momento ou outro enfrentam um dilema: manter a história e a lembrança ou renovar e abraçar a mo-dernidade? Em Paris, desde os anos 70, com o Facha-dismo, a preservação apenas da fachada e demolição do interior deram lugar à estratificação da paisagem urbana. Stépahne Couturier revela as “entranhas da ci-dade” através da superposição de planos e massas, de camadas históricas. A fachada é o palco, mais uma vez, do heterogêneo, da coexistência (nem sempre harmo-niosa, mas viva) de espaços e tempos diferentes.

É fácil perceber que as transformações urbanas são complexas e estão em movimento: acontece o tempo todo, em todo o mundo. Apesar da dinâmica das cida-des ser objeto de estudos de teóricos e práticos desde algum tempo, não se sabe a onde isso vai dar ou a re-ceita para a cidade ideal.

Já que não podemos conhecer a cidade por seu futuro, tentamos conhecê-la por sua história, marcos, influências, acontecimentos e espontaneidade. A cons-tatação da coexistência de estilos, elementos e idéias diversas em um mesmo meio abre a mente para o que ela pode vir a ser. A promessa de um futuro próspe-ro na cidade do presente exponencia as expectativas e faz crescer o interesse pelo que nos cerca, não apenas minha casa, ou meu bairro, mas a cidade como um todo. Muito além do lugar onde eu moro, a cidade é onde eu vivo, habito, socializo e existo, independente das coordenadas geográficas.

A percepção da vida como algo severo, sóbrio, se alterou no decorrer dos séculos. A visão contempo-rânea, leve, brincalhona, se estendeu aos campos de produção intelectuais e artísticos. Quando vemos que a fonte de inspiração dos projetos urbanos do século XX foram parques de diversão, exposições mundiais e ins-tituições afins, fica claro que a cidade também acompa-nhou a mudança de percepção da vida.

As questões levantadas pela exposição Dreamlan-ds, com a ajuda de 300 obras (filmes, documentários, arte moderna e contemporânea, maquetes e projetos arquitetônicos e urbanísticos) em 16 estações, mos-tram que existe um momento em que a arquitetura da imaginação se torna real e concreta.

A questão que fica é que se existe um limite para o “pensar a cidade” através da perspectiva utópica e

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onírica, e ao mesmo tempo a imaginação e a liberação da mente tudo permitem, em busca do exuberante e fantástico, haverá um momento de choque? Talvez o futuro responderá.

O convívio dentro do espaço público proporciona o exercício da cidadania e estimula o convívio social e a troca de experiências. Uma sociedade digna só pode se afirmar como tal, quando a consecução de felicidade se der no âmbito coletivo. É preciso, porém, que esses espaços sejam valorizados dentro do contexto urbano, não só pelas autoridades competentes, mas também pela população, que goza de todos os benefícios pro-porcionados, diariamente.

Paris conta com uma infinidade de espaços desti-nados à coletividade. Desde as reformas propostas por Haussman, que propunham largas avenidas arboriza-das (boulevares), diferindo-se do traçado medieval, que possuía ruas estreitas, valorizando monumentos de grande importância histórica e facilitando a circulação dentro da cidade, sem esquecer do aspecto estético, o espaço destinado à coletividade já era pensado.

O crescimento da cidade de Paris é um processo contínuo. Projetos que visam a construção de habita-ções de interesse social estão em curso e a construção de espaços públicos, como parques, entre eles é pre-vista ainda na fase projetual, o que demonstra a preo-cupação com o coletivo.

04Viagem técnica Paris Fonte: MIRANDA, 2010.

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89 PARIS: UMA DREAMLAND? l EQUINOX 2010 l

REFERÊNCIAS

Imagem da capa: MURAGUCHI, Leandro. Carrou-sel de La Tour Eiffel, Viagem Técnica UEMA, 2010.

Exposição Dreamlands: Des parcs d’attractions aux cités du futur. Centro Pompidou, Paris, de 5 mai. a 9 ago. 2010.

Dreamlands: Des parcs d’attractions aux cités du futur. Centro Pompidou, Paris, 2010.

CHOAY, Francoise.O Urbanismo, utopias e reali-dade, uma antologia. Perspectiva: São Paulo, 1965.

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cida-des. Martins Fontes, 2000.

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Entretenimento: uma crítica aberta. São Paulo, Editora Senac São Paulo, 2003.

BRASIL. MORAES, Fabiana de. Cidade de Sonho. Vi-suais. Disponível em:<http://www.revistacapitu.com>.

FRANÇA. Centre Pompidou. Dreamlands. Exhibi-tions at the Center. Disponível em:<http://www.cen-trepompidou.fr>. Acesso em: 3 dez. 2010.

FRANÇA. L’Office du Tourisme et des Congrès de Paris. Chiffres clés 2010. Disponível em:<http://www.parisinfo.com>. Acesso em: 15 jan. 2011.

Fun Palace. Cedrid Price. Disponível em: <http://www.interactivearchitecture.org> Acesso em: 28 jan. 2011.

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90 l DE SÃO LUÍS E PARIS s IDEIAS DE FUTURO PARA MONT DE MARSAN

A CIDADE É MAIS BONITA DE BICICLETA

por Giovana Freire

Desde junho de 2007 é possível andar por Paris de uma nova maneira. Através do sistema Velib - união das palavras vélo (bicicleta) e liberté (liberdade) –, é permitido a parisienses e turistas alugar bicicletas, meio de transporte que já faz parte da paisagem lo-cal e serve de deslocamento para uns e lazer para outros. O objetivo principal é diminuir o trânsito e a poluição na capital francesa, e para isso, além de dis-ponibilizar 10 mil bicicletas em 750 estações, a pre-feitura da cidade aumentou para 370 quilômetros a extensão de suas ciclovias.

O uso do aluguel de bicicletas causou impactos po-sitivos no modo de vida dos parisienses: combate o alto preço dos combustíveis, permite uma alternativa ecoló-gica e possibilita a prática de exercício físico. Entretan-to, bicicletas e ciclovias já fazem parte do cotidiano da capital francesa desde 1862, ano em que foram criados os primeiros caminhos nos parques para o novo trans-porte de duas rodas.

Em menos de um ano após o lançamento do Velib, outros 250 postos foram criados e quase 15 mil bicicle-tas já eram disponibilizadas. O projeto que começou no centro e seus arredores já faz parte de toda a cidade. Para a prefeitura, o objetivo é ter uma estação a cada 200 metros, além da ideia de expandir para os muni-cípios vizinhos que compõem a região metropolitana.

O slogan do projeto, a cidade é mais bonita de bi-cicleta, não podia ser mais adequado. Além das conhe-cidas belezas de Paris, a cidade é praticamente toda plana – com poucas exceções, ao norte –, o que favo-rece ainda mais os traslados do ciclista. Há 20 veícu-los que cuidam da manutenção e da redistribuição das bicicletas pelas estações: elas são lavadas diariamente com detergente biodegradável e uma oficina flutuante foi montada numa barcaça que percorre o Sena com 11 mecânicos a bordo para os consertos mais sérios.

As bicicletasFeitas para ambos os sexos, as bicicletas cinzas pe-

sam 22,5 quilos, tem aros de 26 polegadas e assento com altura regulável. São equipadas com faróis e luz vermelha na traseira, câmbio de três marchas, freios a tambor, pára-lamas, cavalete central, sistema anti-furto e cesta para compras no guidão. O usuário deve ter mais de 14 anos (ou estar sob responsabilidade de um adulto) e, no mínimo, 1,50 metros de estatura. Ao retirar a bicicleta do estacionamento, verificar se a luz na tranca correspondente está verde. Se vermelha, o veículo está indisponível para uso.

01 O design das bicicletas desenvolvido exclusivamente para o programa.Fonte: FREIRE, 2010. 02Um dos estacionamentos do sistema Vélib

Fonte: FREIRE, 2010.

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Como alugarPara obter a assinatura é necessário fazer um ca-

dastro e um depósito de 150 euros garantido pelo car-tão de crédito caso a bicicleta não seja devolvida. Os créditos do cartão pré-pago custam 1 euro para um dia, 5 euros para sete dias ou um plano anual, bastante vantajoso, de 29 euros, equivalente a menos de R$ 80. O número de aluguéis é ilimitado.

A prefeitura estima que cada bicicleta seja utilizada de 10 a 15 vezes por dia. Para retirá-la do estaciona-mento, basta inserir o cartão numa máquina leitora que opera em oito idiomas, digitar uma senha para liberar a trava e deixar o veículo em outra estação. Um estudo mostrou que a grande maioria desses deslocamentos menos de meia hora. Pensando nisso, não há pagamen-to de taxa nos primeiros 30 minutos.

Com o objetivo de promover uma melhor regula-mentação e premiar cidadãos corajosos, foi criado um sistema de bônus para as estações localizadas acima da altitude de 60 metros. Elas se espalham nos 5º, 6º, 13º, 14º, 15º, 16º, 18º e 19º arrondissements e es-tão marcadas com um símbolo facilmente identificável (V+). O sistema é simples: se a bicicleta for devolvida em uma destas estações, o usuário adquire 15 minutos de créditos grátis a serem creditados na sua conta.

Recomendações do sistemaPara ser um bom vélibateur, e não só no mapa, é

necessário respeitar 5 regras:1. Devolver a bicicleta a cada meia hora e não sen-

tar nelas enquanto estiverem estacionadas.2. Não descer escadas de bicicletas e, se necessário

estacioná-las, usar o bloqueio. 3. Colocar a sela na posição inicial para que cada

usuário ajuste como quiser. 4. Não se deixar levar pelo sentimento de liberdade

e respeitar pedestres e demais motoristas.5. Lembrar que o programa é público: durante a

greve de outros sistemas de transportes é comum ver bicicletas com cadeados. Essa medida é inviável, já que o sistema não é de forma alguma particular e a iniciati-va é para que toda a sociedade use.

O futuro das bicicletasNo entanto, acredita-se que Paris é pioneira na

ideia bicicletas coletivas, mas foi através do exemplo na capital francesa que a iniciativa encontrou condições para se expandir com o amparo governamental. O sis-tema Vélo’V existe em Lyon desde 2005 e tem mais de 3 mil bicicletas e 350 estações. Várias outras cidades européias - como Estocolmo, Praga, Sevilha, Barcelona e Londres - também têm bicicletas públicas e o número de cidades não pára de crescer.

Algumas iniciativas de bicicletas comunitárias fra-cassaram em outras cidades. Em 1993, 300 bicicletas foram roubadas no primeiro dia de operação em Cam-bridge, na Inglaterra, e o programa foi abandonado. Mas nem por isso a iniciativa foi esquecida, principal-mente após danos sofridos com o impacto ambiental do automóvel a necessidade crescente de utilizar um veículo não poluente.

O automóvel continua a ser, na maioria das metró-poles mundiais, o maior responsável pela ineficiência ambiental e pelo não cumprimento das metas do Pro-tocolo de Quioto. É também o principal responsável por congestionamentos e ocupação de ruas e praças, origi-nando problemas de mobilidade que atrasam o normal desenrolar da vida das cidades.

Incentivar o uso da bicicleta, além de contribuir para uma redução de poluentes e seus efeitos, ajuda igual-mente a cumprir objetivos das Agendas 21 em muitos pa-íses, promovendo a preservação de recursos, cooperação, envolvimento e participação da sociedade além do respei-to às necessidades sociais, econômicas e ambientais.

03Uso do sistema não só pelos parisienses, mas também por turistas.Fonte: FREIRE, 2010.

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A MAGNÍFICA EXPERIÊNCIA DE FLANAR

(Vagabundeando em Paris)por Felipe Brito, Paulo Rodrigues

e Raimundo Borges Jr.

Descreve Goethe a arquitetura como música pe-trificada. Estendendo o pensamento à cidade, dir-se--ia ser uma grande sinfonia – fluida, entretanto. Nas ruas de Paris, este sentimento torna-se quase audível. Feiras, passeios, protestos, turistas, pedintes, carros e bicicletas. Mais que música, na cidade há plástica, vai-dade, cênica, retórica, letras e signos: há beleza nas ruas de Paris.

Há vida nas ruas de toda e qualquer cidade - ou pelo menos deveria -, e há admiradores de suas vitali-dades em cada uma destas. Entre eles, há uma espécie de pessoa, prole do desenvolvimento urbano, que sente em si a música da cidade e põe-se a caminhar satisfeito e curioso por suas ruas a fim de apreciar devidamen-te as melodias de cada recanto. Ao traçar boulevares, ruas e calçadas de uma nova Paris no século XIX, Haus-smann criou mais que obras urbanas, ele ajudou a de-finir este perfil de cidadão. Eis o flâneur.

Confunde-no por vagabundo, andarilho, avulso, um à-toa qualquer que se vê na multidão. Pudera, não é de sua ambição tomar atenção para si. Gosta de explo-rar, se deixar levar por trilhas concebidas a cada pas-so dado. Há o que se observar no brincar da criança no Jardin du Luxemburg, na discussão na mesa de bar na Bastille, nos pássaros que pousam na imensidão da Sacre Coeur, e no gesto delicado da dama ao ajustar o chapéu na Rue de Rivoli. A cidade é um encontro de ruas e vidas a todo o momento.

Observa, pondera. Pensamentos de um flâneur e os traços da vida urbana comunicam-se a todo o tem-

po, ambos em consonância perfeita. O ato de cami-nhar é fundamental. Talvez um flâneur, inconsciente de sê-lo, saia para um passeio sem roteiro, apenas em busca de um espaço para pensar. Nada além do que Nietzche recomenda: não confiar em nenhum pensa-mento que não tenha nascido ao ar livre e em plena liberdade de movimento. Este é o modo de pensar do flâneur. Imergir na experiência citadina, desfrutar dos prazeres da cidadania.

A flânerie – hábito de flanar – é inerente ao hu-mano. É da propensão sem motivos que nos leva a ser poetas ou cientistas, músicos ou empresários. Como dito, há flâneurs em qualquer cidade, em qualquer idio-ma; flâneurs que o são sem conhecimento do rótulo; flâneurs verdadeiramente andarilhos avulsos e flâneurs aristocratas. É de fato, um adorável vagabundo.

Assim, de tanto ouvir a bela música das cidades, há no relato de um flâneur fusão da realidade vivida e da sonhada: nada melhor para o conhecimento de uma cidade e seus habitantes. Paris traz de antemão, na menção do seu pequeno nome de cinco letras, um espaço cosmopolita das luzes, da história, da beleza e do bem viver. Numa experiência ocorrida há não muito tempo – meses, pode-se dizer –, a verve da flânerie, destacada em três jovens brasileiros que se viram com os pés pela primeira vez em solo parisiense, rendeu relatos que traduzem a alegria e o entusiasmo em reco-nhecer-se, na Cidade Luz, como um cidadão do mundo.

Primeiro nos dizem da beleza impactante na rua e da rua:

Numa dessas noites parisienses, entrei num café qualquer de esquina – na verdade, o primeiro que vi, em busca de um pouco de calor em meio ao frio estar-recedor que Paris insistia em impor a qualquer custo. Enquanto tentava reverter meu quadro de hipotermia, pus-me a observar os seres noturnos. Alguns camu-flados e outros emoldurados pela escuridão. Os com pressa e os atrasados, os que iam para casa e os que iam para festa.

Já havia notado a maneira como os restaurantes em geral se comportavam em relação à rua – todos estavam sempre à sua procura. Cadeiras colocadas no

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limite das calçadas (por vezes os locais mais caros) e, quando não era possível, todos os assentos atrás das paredes translúcidas direcionados para ela. Magnética, hipnotizante, atraente, sedutora. A rua é o objeto má-ximo de consumo. Entretanto, não é difícil de se enten-der o fascinio francês pela rua.

É nela que a beleza acontece e tem vez. Rua é o palco. Palco das manifestações culturais, políticas e so-ciais. Ninguém protesta contra reformas governamen-tais marchando na praça de alimentação de um shop-ping (bem, pelo menos não teria o mesmo efeito!). É o palco das mudanças de costume e das revoluções.

Rua é troca. Não é apenas pano de fundo, mas o interventor, o regulamentador da troca. É o promotor, o que dá condições para que isso aconteça.

Que troca? De todo o tipo. Troca de valores, de costumes. Troca de mercadorias, de moedas. Trocas de livros, de ideias, de paradigmas e pré-conceitos(?).

Colocando desta forma, é possível ver as verda-deiras cores e ouvir a real sinfonia que ecoa dos becos estreitos e das largas e movimentadas avenidas e, tal qual num canto de sereia, sentir-se fascinado.

Eu poderia ficar acordado só para ouvi-la respirar.

Num ponto de vista aéreo (com o perdão da duali-dade de significados), conta de um urbanismo utópico e pouco convencional:

Dentre tantas coisas que observei, analisei, ponde-rei e senti sobre Paris e sua urbanidade, uma merece destaque por sua onipresença e quase imperceptibili-dade: o céu. Pouco se ouviu falar do céu de Paris nos tantos e tantos comentários feitos a respeito da cidade.

Durante todos esses dias, percebi o céu europeu apenas como uma grande massa branca servindo de teto à cidade de Paris. Curioso; num devaneio sem pro-pósitos, poder-se-ia chegar à conclusão de que o bran-co, como aprendido na escola de arquitetura, é a cor mais imparcial diante das formas. Sendo assim, o gran-de teto parisiense tem o propósito muito bem cumprido de realçar a sua belíssima silhueta. Seja em meio aos imponentes edifícios da Bibliothèque Nationale, ou por dentre os prédios baixos do centro, a manta alva está

sempre a se fazer de cortina para que as atenções se voltem para a cidade.

Houve exceções, claro, lembro bem. Um dia de pálido céu azul, surpreendo-me: deu a Paris um leve toque de Rio de Janeiro, eu arriscaria. Num outro mo-mento, o branco e o dourado encontraram-se num fim de tarde inesperado. A cidade, o céu, as pessoas, as co-res. Encontrei-me num estado de apreciação, e me in-daguei se todas aquelas pessoas percebiam o mesmo. Deveriam. A empolgação de encontrar-se numa cidade nova aguça a percepção.

Teria Paris sido planejada levado em conta o céu? Ao abrir boulevares, teria Haussman a intenção de abrir vistas para o céu? Ideia tanto utópica, esta... e tem seu encanto. Talvez na época, o céu fosse outro, talvez fos-se azul, como em São Luís. E se o planejamento urbano fosse pautado na relação da cidade com o céu? Em se falando de São Luís, seria uma ideia que daria certo. Na minha pouca experiência com viagens a outras ci-dades, não tenho visto um céu tão encantador quando o ludovicense, de um azul extremamente destacado. Ter em mente uma cidade em que se pode apreciar o pôr-do-sol de qualquer ponto; caminhar tranquilamen-te pelas ruas de cores e formas seria uma experiên-cia certamente agradável, tendo por base um urbanis-mo de mais que técnica e ciência, proveja sonhos e sensações. Como em Paris.

O céu branco de Paris, o céu azul de São Luís. Num paralelo, fica fácil entender a relação dos céus e suas cidades: São Luís é uma jovem senhora de teto anil que poderá muito aprender com a sábia Paris dos cabelos grisalhos.

Por fim, um derradeiro passeio – pelo menos para esta etapa – para fixar memórias e sensações vividas na encantadora capital europeia. Um adeus facilmente substituível por um “até logo”.

“Depois de três semanas Cidade Luz, restava-me uma ultima caminhada. Com o NaviGo em mãos, rumei para um local deveras especial, onde 15 dias atrás foi o palco da primeira experiência na capital francesa. Nun-ca esquecerei o clima frio; a multidão nas ruas, seja dia ou noite; da diversidade, tanto de pessoas como de classes ou cores diferentes; do contraste do velho e novo; dos monumentos importantes, vistos anterior-

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mente apenas em livros e revistas; da junção de todos esses elementos sob uma lógica. Lógica Haussmaniana.

Em Saint Michel, após apreciar a companhia silen-ciosa dos diversificados usuários do transporte publico, senti-me desnorteado em face à grande quantidade de opções e lugares para ir: lojas para turistas com inú-meros souvenirs, bares, cafés e restaurantes com as mesas e cadeiras na calçada, livrarias... tudo isto ob-servados, desde 1860, pela imponente estátua de São Miguel, na praça de mesmo nome, situada no outro lado da rua. A fonte da praça se destaca, com a obra de nove escultores diferentes, distribuídas em seus 26x15 m. Mas também se completa com o entorno, fruto da concepção de Gabriel Davioud.

Entrei numa transversal destinada somente para pedestres que liga o Boulevard Saint-Michel à Rue Saint-Jacques, recordando o primeiro contato com a culinária francesa. Era um restaurante pequeno, mas aconchegante. Sentei-me numa mesa voltada para a rua, a fim de apreciar o movimento das pessoas na rua.

O primeiro impacto na maneira como é servida re-feição francesa: há o entrée (entrada), main plat (prato principal) e dessert (sobremesa). O segundo impacto veio na hora de fazer o pedido. A barreira da língua foi implacável, porem transponível, já que o raso en-tendimento em francês possibilitou uma boa pedida: Salade e Boeuf Bourguignon. Este último é um cozido preparado com carne assada no vinho tinto (de prefe-rência um vinho agressivo, como a Borgonha, porque significa bourguignon, “da Borgonha”, uma região da França). O aroma é feito com alho, cebola, cenoura e um buquê garni, cebola, cogumelo, bacon, manteiga, conhaque, pimenta e sal.

Pela tarde, lembrei-me que ainda havia presentes que não foram comprados, fato que me fez retornar à praça Saint-Michel e seguir pelo Quai Des Grand Au-gustins às margens do Sena. Esse local é marcado pela presença de sebos e pequenas bancas, onde podem ser adquiridos desde pequenos souvenirs até grandes pôsteres, dvd’s e coletâneas por um preço muito em conta. O interessante é que a caminhada foi bem agra-dável, ao passo que esta área foi alvo do projeto Paris Respire. Visando melhorar a qualidade de vida na ci-dade, a prefeitura de Paris permitiu que em todos os domingos e feriados do ano, pedestres, ciclistas e pa-

tinadores possam desfrutar de áreas parisienses que durante a semana são utilizadas exclusivamente para a circulação de veículos.

Mais à frente, dei meia-volta a fim de verifi-car se não deixou passar nada de interessante pelo seu meu olhar de consumidor. Sem perceber, pas-sei novamente pelo Quai Des Grand Augustins e pelo Quai Saint Michel.

Em meio a inúmeros turistas e pedintes, de diver-sas etnias, caminhei através da Praça Parvis, sentindo--me cada vez mais insignificante perante aos 69 m de altura da Catedral de Notre-Dame, divididos em três níveis verticais delimitados pela ligeira proeminência dos contrafortes. Estes também unem verticalmente os dois pisos inferiores com as duas torres. A composição arquitetônica funciona de maneira racional, com zonas bem delimitadas e integrando elementos da arquitetura gótica com a escultura.

Posicionei-me a uns passos à frente, percebendo o marco zero, parâmetro de cálculo para as distâncias de todas as estradas nacionais francesas. Neste momento, a Praça Parvis Continuava lotada, bem como a fila de entrada da catedral. Tal fato fez com que fosse em di-reção á estação Hotel De Ville, já lamentando o pouco tempo que ainda restava-me na cidade.

Passei, na Rue D’Arcole, por mais lojas, uma esta-ção de aluguel de bicicletas do projeto Vèlib e por um ônibus de turistas. Pensei que este turista havia vivido mais a cidade do que aqueles.

Caminho mais alguns metros e paro no guarda-cor-po de uma ponte, para despedir-me do Sena.”

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REFERÊNCIAS:

The Flâneur. Disponível em http://www.thelem-ming.com/lemming/dissertation-web/home/flaneur.html. Acesso em 15 de dezembro de 2010.

ARAUJO, Cristiane Veloso de.; MELCHIADES, Da-nielle Couto. Trilhando Diálogos com Baudelaire. Disponível em http://www.cesjf.br/cesjf/documentos/revista_letras_docs/art_alunos/LIT_LING_PORT/Tri-lhando_dialogos_com_Baudelaire.pdf. Acesso em 15 de dezembro de 2010.

Official Website of La Société dês Flâneurs San Fronitères. Disponível em http://www.theflaneur.co.uk/. Acesso em 15 de dezembro de 2010.

ABREU, Jean Luiz Neves. O flâneur e a cidade na literatura brasileira: proposta de uma literatura benjamiana. Revista Mundial de Humanidades. Nº 10, V. 05. Abr/Jun 2004.

PASSOS, Fernanda; GOUVÊA, Mariana; TOSTI, Ra-phael; POLITO, Rodrigo. O novo flâneur. Eclética. Ju-lho/Dezembro 2003.

RIO, João do. A Alma Encantadora das Ruas. Editora Companhia das Letras. 1997.

VENEU, Marcos Guedes. O flâneur e a vertigem – Metrópole e subjetividade na obra de João do Rio. Fundação Casa Rui Barbosa. Disponível em http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_MarcosGuedesVeneu_O_flaneur_e_a_vertigem.pdf. Acesso em 15 de dezembro de 2010.

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A VIDA SUBTERRÂNEA DE PARISpor Mírian Kellen Gomes da Cunha

e Vagner de Almeida Moreira

Torre Eiffel, Museu do Louvre, Cafés, Cabarés esses são alguns dos grandes códigos que nos remetem à cidade de Paris, uma cidade admirada em seu imen-so acervo patrimonial e contemplada no grau de sal-vaguarda histórica de seus edifícios que se soma aos novos modos da vida contemporânea, um casamento perfeito entre uso e preservação. Uma cidade que gos-ta de inovar integrando novas intervenções arquitetô-nicas, digam-se os museus do Pompidou e a Pirâmide do Louvre, e que desenvolve um urbanismo, onde os automóveis são cada vez mais substituídos por trans-portes coletivos e projetos de revitalização que re-fletem um toque especial de humanização nos novos modelos habitacionais.

Mas debaixo de tudo que foi mencionado, existe uma cidade subterrânea com expressões culturais e tecnológicas, representadas pelas redes subterrâneas parisienses, com destaques aqui para a rede de esgoto e transporte público subterrâneo.

É normal percebermos o frenesi comum das cidades modernas com a preocupação das pessoas em utilizar o metrô no devido horário mesmo sendo um transporte altamente eficiente e com demanda adaptada à cidade. Percebe-se que a pontualidade é uma grande caracte-rística da cultura parisiense e é incrível ver que a che-gada do metrô nos pontos acontece no horário previsto, sem margem de erros de minutos. Ele está em toda parte: nos bairros sofisticados, nos mais tradicionais, em lugares pitorescos, sem exceção.

Ao longo do tempo, desde seu surgimento até sua recente evolução, o metrô de Paris tem enfrentado di-versas barreiras técnicas e ideológicas. Apesar de tudo, hoje ele é uma vitrine da história e tecnologia francesa do nosso século, tendo como principais exigências, a velocidade e o conforto, com estações espaçosas, lumi-

nosas e coloridas, verdadeiras obras dignas da arquite-tura, sem deixar de ter um papel crucial a desempenhar no desenvolvimento urbano e na luta contra a poluição.

No meio desta pontualidade, no ritmo acelerado das passadas e do ar de uma cultura onde as pesso-as são conhecidas por serem reservadas, existe uma rica expressão cultural que basta apenas parar por alguns instantes e observar ao redor para perceber toda essa riqueza urbana.

A mistura de nacionalidade, a arte urbana, arte contemporânea, revistarias e pequenos quiosques fa-zem parte desse cenário subterrâneo. Por debaixo da Paris que conhecemos existe um grande número de pessoas que caracterizam e movimentam esse cenário.

Visitando a estação Louvre Rivoli, que dá acesso ao Museu do Louvre, presenciamos exemplos da expres-são artística nas galerias subterrâneas, sendo notável a forte ligação física e paisagística com o museu, nos per-mitindo a contemplação de obras tais como as escultu-ras localizadas nos nichos iluminados criando vivacida-de e quebrando a monotonia do ambiente subterrâneo.

Percebe-se ainda que as expressões artísticas estão presentes também no estilo Art Nouveau dos desenhos em ferros fundidos que compõe os portais de acesso aos metrôs parisienses, com autoria do arquiteto Hector Guimard, lembrando as formas orgânicas dos vegetais.

01 Paris Rive Gauche, novos olhares sobre os conjuntos habitacionais trazendo de volta o aspecto humano às edificações, as casas vão muito além do aspecto “máquina de morar” do pensamento modernista. Fonte: CUNHA e MOREIRA, 2010.

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Equipamentos e sistemas de redes sanitárias não se encaixam em um cartão de visita das cidades, mas quando nos remetemos às redes sanitárias parisienses, estamos falando de um complexo de engenharia his-tórica, que tomou como base o traçado urbano, onde as ruas da cidade foram redesenhadas para debaixo da terra criando assim galerias para o tal tratamento sanitário. Estas são destinadas a recolher e a evacuar as águas que decorrem principalmente das chuvas bem como as águas usadas pelas diferentes atividades hu-manas sobre o território da cidade de Paris.

O Museu do Esgoto localizado sobre a margem do rio Sena, nos permite enquanto visitantes conhecer e vivenciar parte do desenvolvimento tecnológico da en-genharia aplicada, bem como contar sua história, o que nos causa grande admiração pela higiene (livre de maus cheiros e roedores), tornando um espaço confor-tável e convidativo com painéis e recursos audiovisuais que orientam os visitantes. Existe atualmente um ser-viço de recuperação de objetos perdidos do período das construções dessas galerias de esgotos.

A história dessas galerias são relatadas em painéis e objetos recuperados expostos para contemplação tu-rística, além de tecnologia interativa como computado-res e vídeos que nos expõe informações de segurança e funcionamento desse sistema sanitário. Sabe-se tam-bém que essas galerias serviram de refúgio e abrigos durante as épocas das revoltas e guerras políticas, abri-gando assim os chamados marginais e revoltosos tais como os líderes revolucionários, a exemplo Jean-Paul Marat, que sofria de doença de peles devido a constan-te vivência nos esgotos.

A história do esgoto de Paris é tão curiosa que tem seu destaque na obra literária Les Misérables, do autor Vitor Hugo onde é descrito como um lugar ‘escuro e nauseabundo’ e que narra a perseguição dos policiais exploradores de esgotos nas grandes galerias.

A evolução desta rede teve como principais res-ponsáveis o Prefeito Haussmann que confiou nas en-genharias de Eugène Belgrand para a reforma da rede sanitária de Paris.

A preocupação das autoridades com o saneamen-to fez da cidade uma das mais modernas do mundo sobre este aspecto. Antes da reforma, poucas casas

02Acessos ao metrô de Paris.Fonte: CUNHA e MOREIRA, 2010.

03Expressões artísticas na rede de transporte dos metrôs parisienses: apresentação de música urbana e painéis com pintura contemporânea.Fonte: CUNHA e MOREIRA, 2010.

04Sistema de distribuição tubular de água potável (es-querda) e água não potável (direita).Fonte: CUNHA e MOREIRA, 2010.

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tinham acesso à água potável e todo o esgoto era lan-çado sem nenhum tratamento no rio Sena. Esta re-forma urbanística garantiu saneamento a quase todos os edifícios parisienses.

A princípio e apesar de todos os benefícios, al-guns moradores acharam o acesso a água potável um ‘luxo’ desnecessário, o que hoje em dia seria um absurdo se pensar.

Curiosamente, Paris é chamada de ‘queijo suiço’, pois é construída sobre vazios. Todos estes “buracos do queijo suíço de Paris” são artificiais, tendo sido feitos com aproveitamento das riquezas do subsolo, como a extração de gesso, areia, pedras e toda essa maquina-ria, vasta e complexa bate ao ritmo da sua superfície.

A rede de esgoto de Paris possui comportas de se-gurança que evitam o transbordamento das águas, que são recolhidas e lançadas no Rio Sena, servindo de pro-teção contra possíveis enchentes, como a ocorrida em 1910, onde por mais de uma semana, a cidade ficou em crise, sem transporte público, gás e eletricidade.

Em 2010, ano do centenário desta enchente que marcou a cidade, foram organizadas diversas exposições alusivas ao acontecimento em Paris, mostrando que a cidade ama a sua história e respeita o seu passado.

05 Placa indicando a Praça da Resistência, redes telefônicas e tubos de ar e água encontrados no subsolo de Paris.Fonte: CUNHA e MOREIRA, 2010.

Hoje, com as novas tecnologias, a rede de esgoto é monitorada diaramente por sistemas informatizados, a partir de um mapeamento da rede que compõem um banco de dados com atualização em tempo real, o que facilita a manutenção.

Por todo esse significado, história e complexidade de engenharia urbana é que se torna notória a riqueza que essas galerias subterrâneas parisienses carregam. Dotadas de valores, representam muito mais que ape-nas avanços tecnológicos, pois carregam uma expres-são cultural do cotidiano e um cenário de caráter histó-rico que nos transmite a evolução da capital francesa.

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REFERÊNCIAS:

* Câmara Municipal de Paris - Direção de Limpeza e Água (DPE) - Seção de saneamento da cidade de Paris (SAP).

*GREATBUILDINGS. Hector Guimard. Disponível em: http://www.greatbuildings.com/architects/Hector_Guimard.html. Acesso em Dez. 2010.

*HARDY, B. Paris Metro Handbook. 3rd Ed, 1999. Capital Transport Publishing.

*HEITLINGER, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Dinalivro, 1.ª Ed. Novembro de 2006.

*Maurice Barrois. Le Paris sous Paris. Disponível em: <http://www.apophtegme.com/ROULE/PARISOUTERRAIN/metro.pdf> Acessado em Dez. 2010.

* Museu do Esgoto de Paris – FR, 2010.*RIZZO, Mylene. Reurbanização de Paris.

Encontros com a História da Arte. Moinhos, 2006.

06 Imagens do Museu do Esgoto e dos painéis ilustrativos, Paris.Fonte: CUNHA e MOREIRA, 2010.

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CIDADE LUZ OU CIDADE VERDE?por Paula Palmeira Alves

Os nossos ouvidos não foram feitos para capturar o barulho estrondoso das sirenes e buzinas, mas sim para o canto dos pássaros, o ruído do vento e as mudanças do tempo. Nossos olhos evoluíram para que possamos diferenciar não a monotonia do cinza das avenidas, mas as matizes sutis do arco-íris, os verdes e os rubros indicadores de fruta madura e das folhagens, e o nosso cérebro aprendeu a gratificar com sensações de intenso prazer os esforços dos sentidos e as suas percepções.

Talvez seja por esse motivo que os parisien-ses se empenham tanto para transformar os espa-ços urbanos mortos e as áreas decadentes em am-bientes estimulantes e propícios para oferecer uma melhor qualidade de vida.

As pessoas que ali vivem têm aproveitado todos os trechos livres de sua cidade para transformar em espaços públicos, assim como as praças, os parques e os jardins. Podemos ter como exemplo uma pequena sacada, uma fábrica abandonada, terrenos baldios ou um mero estacionamento falido. Sacrificam as novas edificações, sejam elas residenciais ou comerciais, e as avenidas largas em benefício das ciclovias, da inserção das árvores e consequentemente, das sombras que es-tas produzirão no contexto urbano. Preferem lutar a favor da criação de jardins em seus bairros ao invés de shoppings centers. Abrem mão de uma via expressa na margem do Sena por uma praia artificial onde possam se refrescar do calor escaldante quando chegar o verão, e conseguem enxergar em cada espaço inutilizado ou subutilizado, uma possível catedral do verde.

Por que os moradores da Cidade Luz anseiam por encontrar espaço para a implantação de parques e jar-dins e pela existência de árvores nas ruas? Aliás, por que qualquer cidade se daria o trabalho e a despesa de cultivar vegetação na aridez asfaltada do meio urbano? Nesta época em que metade da população mundial vive em cidades e os recursos para custear a habitação, a

educação e a saúde podem ser escassos, essa é uma questão nada trivial.

Se o recente revivescimento dos parques urbanos e espaços públicos forem um indicador, teremos me-lhores condições de diminuir e até mesmo de deter a poluição em nosso planeta, melhorar as condições da camada de ozônio, acabar com o efeito estufa e demais impactos naturais. Os espaços preenchidos com vege-tação filtram a poluição e retêm partículas de poeira e fuligem, já os arvoredos de maior porte podem ter um efeito ainda mais benéfico, agindo como verdadei-ros pulmões das cidades, limpando o ar e retirando as substâncias químicas perigosas para a nossa saúde.

Além disso, as folhas das árvores bloqueiam a luz do sol, refrigerando as “ilhas” de calor geradas pelas duras superfícies urbanas. A temperatura no asfalto ou no concreto com a sombra das árvores é consideravel-mente menor do que a encontrada na calçada a céu aberto sob o Sol de verão, e o ar embaixo da rica ca-mada das folhagens das árvores maduras é bem mais intenso, provocando dessa forma um maior conforto térmico aos seus usuários

É verdade que em Paris, como em muitas outras cidades, o fato de existirem parques e jardins é um luxo. Permite às pessoas, o prazer de mexer na terra, que vejam as sementes brotarem, que sintam o cheiro agradável das flores e frutos, o que influencia direta-

01 Perspectiva central do Campo de Marte em Paris, França.Fonte: ALVES, 2010.

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mente na liberação das tensões e serve também como uma verdadeira terapia, pois os parques e os jardins são essenciais também ao bem-estar social e psicológi-co dos seres humanos.

Hoje, com todas as pressões da vida moderna, o contato com a natureza em ambientes urbanos pode ser mais importante do que imaginamos. Uma metró-pole, rica em lugares como esses, pode contribuir para nos manter em forma tanto física como mentalmente. É importante recuperar os espaços para que uma cidade “respire” mais facilmente, e isso faz parte dos desafios da civilização urbana atual.

E a conta, quem paga? As cidades têm fundos de reserva para serviços, tais como policiamento, esgotos e carros de bombeiro. Já no que se refere às áreas verdes, sabemos que são tidas como amenidades, um investimento a ser feito se sobrar recurso financeiro.

A construção de parques nas cidades representa um investimento público que custa pouco e traz vários benefícios, porque ajudam as pessoas a cuidarem de si mesmas, e com isso o governo tem menos despe-sas nas áreas de segurança, serviços médicos e sociais. Sendo assim, teremos uma qualidade de vida superior por um menor custo / benefício.

Como todas as grandes metrópoles do mundo, a cidade de Paris sofre as consequências ambien-tais ligadas ao seu crescimento populacional e a sua atividade sócio-econômica.

Tivemos a oportunidade de participar das visitas técnicas, guiados pelos professores brasileiros e fran-ceses, após o encerramento do projeto Equinox II, o que foi de grande importância, pois ampliamos o nosso conhecimento e a nossa percepção em relação à arquitetura e ao urbanismo.

Foi possível perceber a relação íntima dos parisien-ses com a natureza. Em seus momentos de lazer e des-contração, um dos principais refúgios são os espaços públicos, que permitem o contato direto com o verde e o prazer de sentir o toque e o perfume das flores. É comum encontrarmos pessoas fazendo piqueniques, passeios românticos, contemplando a beleza natural, batendo papo descontraído com os amigos ou simples-mente desfrutando de uma agradável leitura. Adultos e

02 Foto representativa do “Les parterres”, no Parque do Bercy em Paris, França.Fonte: ALVES, 2010.

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03Foto ilustrativa do “La grande prairie”, no Parque do Bercy em Paris, França. Fonte: ALVES, 2010.

crianças brincam e praticam esportes. Outro fator muito importante é que a maioria desses lugares possui aces-so para portadores de necessidades especiais e alguns deles permitem a entrada de animais de estimação.

O Jardim das Tulherias, o Campo de Marte, o Par-que do Bercy e o Jardim do Trocadero foram os espaços públicos mais marcantes durante as visitas técnicas.

04Imagem do “Le jardim romantique”, no Parque do Bercy em Paris, França. Fonte: ALVES, 2010. 05 Vista do Jardim e da Praça do Trocadero em Paris, França.

Fonte: ALVES, 2010.

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FÉ ESTAMPADA NO CORAÇÃO DE PARIS

por Thiscianne Mesquita

Não há como falar em Paris e não ligar automati-camente o pensamento a torre Eiffel. Realmente, uma sensação maravilhosa ver aquela obra monumental, com encaixes perfeitos, a prova viva da física e da ma-temática entrelaçada em metais, piscando em plena 23hr. Também não tem como não pensar no Louvre e sua hipnótica pirâmide e mais adiante se encantar com a Pont d´Arts e seus cadeados, simbolizando a união dos apaixonados que por ali passaram e deixaram um pouco de sua história para o mundo.

Não sonhar com um almoço sentado na grama em meio a tulipas no Jardin de Luxemburgo. Ou mesmo a emoção, a magia, aliada a atmosfera enigmática das paredes unidas de pedra, com a trilha sonora do can-to gregoriano na Igreja de Notre-Dame. É como entrar no túnel do tempo, e mergulhar no enredo de Victor Hugo, voltando a Paris medieval. Fecharmos os olhos e pronto, quase chegamos a ver o Quasímodo, no alto da torre a olhar a sua amada Esmeralda, a saltitar com seu bandeiro, suas pulseiras e tornozeleiras a chocalhar, em meio a movimentos sincronizados numa dança perfeita.

Entre cores, pinceladas, óleo, pastel, carvão, uma paisagem ou um autoretrato, estamos na Place du Ter-tre em Montmartre. A malícia do Moulin Rouge, a sin-gularidade de Amelié Poulin, a louca perfeição de Van Gogh, e não menos a santidade da Sacre Coeur e seu livro de pedidos. Todos juntos numa grande escadaria sagrada. Esse foi o nosso domingo.

Porém, em meio ao centro da grande Paris, camu-flada por lojinhas, grandes Maison, Bon Marché. Nada de fachada suntuosa, ou grandes cruzes, ou mesmo torres monumentais. Apenas uma fachada, que che-ga a se confundir com a arquitetura uniforme do local, como os franceses dizem “une grotte au cœur de Paris”,

esconde os mistérios da fé cunhada em uma simples e tão significante medalha, chegamos a 140 rue du Bac.

Não poderia deixar de registrar a ajuda e as pa-lavras tão marcantes de uma doce senhora e seu cão labrador “Ah, La chapelle de la Médaille miraculeuse? C´est la bas”, todas as palavras sendo ditas com um encantador sorriso, “Vou êtes três sympa, et le plus important, une fille allumé”. Diante de tal gesto qual seria a sua reação? Após alguns minutos de surpre-sa, a curiosidade e a ansiedade de conhecer aque-la igreja que envolve tantos mistérios, tantas gra-ças, tanta fé, retoma nosso corpo, e após três casas chegamos a Capela.

Deparamo-nos com uma edificação de muro alto, uma porta pesada e bem alta aberta, e uma placa bem simples com os dizeres: “Chapelle de notre dame de la medaille milaculeuse” e ao alto a imagem da Vir-gem com o Menino. Não parecia uma igreja, não com as até então vistas. Entramos, e não poderia termos tido uma recepção mais divina. Ao colocarmos os pés dentro da Igreja, os sinos começam a badalar. Como se a Virgem, concebida sem pecado, dissesse: “Pode entrar minhas filhas!”.

Cada passo, cada minuto foi marcado como digitais na memória. Aquelas placas de mármore branco como forma de agradecimento em volta da imagem de Nossa Senhora, “merci ma mere”, com datas variadas, pro-vando a fé daquela população e o mais importante, as graças alcançadas por fiéis que entregam suas aflições e pedidos em busca do que chamam de milagre.

Adentramos o altar, onde estava sendo celebrada uma missa com cânticos gregorianos. Um altar com uma cúpula gigantesca, com os dizeres em ouro “Ve-nez au pied de cet autel, là les grâces seront répan-dues sur tous”. Ao entrar nos sentimos acolhidos, e uma paz toma de conta da nossa alma e do nosso corpo, como se fossemos envolvidos em um grande, confortante e acolhedor abraço.

Antes de ser a Capella de Medaille Miraculeuse, era a antigo “Hotel de Châtillon”, sendo doado em 1813, por Napoleão Bonaparte, logo após a tenebrosa Revo-lução Francesa. Em 8 de agosto de 1813, realizou-se a bênção solene da Capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. E foi então que em 1830, acontecem as três

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aparições da Virgem a irmã Catarina, jovem noviça das filhas da caridade.

Os primeiros presságios que Catarina presencia se manifesta no coração de São Vicente de Paula. Em suas orações, primeiro ela ver seu coração na cor branca, simbolizando a paz, depois em vermelho, simbolizando fogo e por último preto, sinais da desgraça da guerra que estava por vir atingindo a França, em especial Paris.

No dia 18 de Julho de 1830, Catarina ouve seu nome ser chamado, e uma criança ao pé de sua cama anuncia que a virgem a espera. Eis a primeira apari-ção. Catarina recebe o anúncio de sua missão e o pe-dido de fundação de uma Confraria dos Filhos de Ma-ria. O que será realizado pelo Padre Aladel no dia 2 de fevereiro de 1840.

No dia 27 de Novembro, a Virgem reaparece anun-ciando a forma oval e os dizeres que deveriam ser gra-vados nas medalhas “O Marie conçue sans péché priez pour nous qui avons recours à vous”. Maria diz “Fazei cunhar uma medalha sob este modelo.

As pessoas que a usarem, com confiança, re-ceberão muitas graças”. Catarina vê então o rever-so da Medalha: no alto, uma cruz, com a inicial do nome de Maria superposta, e, em baixo, dois cora-ções, um coroado de espinhos (que simbolizaria Je-sus), e outro, transpassado por uma lança (o coração de Maria ao ver seu filho crucificado) e doze estrelas, simbolizando os dozes apóstolos.

Em Novembro de 1830 eis a terceira e ultima apa-rição a Virgem. Contudo, somente em 1832, quando há uma terrível epidemia de cólera matando mais de 20 000 pessoas, é que as medalhas são finalmente cunha-das e distribuídas à população. As curas se multiplicam, assim como as proteções, benções e graças atendidas. As medalhas então passam a ser chamadas de milagro-sas, ou “medaille miraculeuse”.

Todavia, toda essa história recebe ou significado quando contada pelas freiras que estão no local, para desvendar os mistérios, abençoar as medalhas, que com certeza você não pode deixar de levar, como para escutar suas preces, acalentar suas angustias, sempre com uma palavra divina.

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O ESPAÇO PÚBLICO E SUA RELAÇÃO COM AS NOVAS HABITAÇÕES PARISIENSES

por Igor Miranda Pinto

Em uma sociedade cada dia mais imediatista, que conta com pessoas cada vez mais imersas em preocu-pações essencialmente individuais, faz-se necessária a presença, na cidade, de espaços que possam propor-cionar, entre outros benefícios, lazer e cultura. Assim, a presença de espaços públicos é de suma importância na construção da cidade dita ideal.

O convívio dentro do espaço público proporciona o exercício da cidadania e estimula o convívio social e a troca de experiências. Uma sociedade digna só pode se afirmar como tal, quando a consecução de felicidade se der no âmbito coletivo. É preciso, porém, que esses espaços sejam valorizados dentro do contexto urbano, não só pelas autoridades competentes, mas também pela população, que goza de todos os benefícios pro-porcionados, diariamente.

Paris conta com uma infinidade de espaços desti-nados à coletividade. Desde as reformas propostas por Haussman, que propunham largas avenidas arboriza-das (boulevares), diferindo-se do traçado medieval, que possuía ruas estreitas, valorizando monumentos de grande importância histórica e facilitando a circulação dentro da cidade, sem esquecer do aspecto estético, o espaço destinado à coletividade já era pensado.

O crescimento da cidade de Paris é um processo contínuo. Projetos que visam a construção de habita-ções de interesse social estão em curso e a construção de espaços públicos, como parques, entre eles é pre-vista ainda na fase projetual, o que demonstra a preo-cupação com o coletivo.

O projeto Paris Revi Gauche é um ótimo exemplo no que se refere a contribuições para o crescimen-to da cidade e estímulo a novas habitações. Trata-se de uma zona urbana que se estende desde a Gare d’Austerlitz até a Ave General Jean-Simon, corren-do ao longo do Sena por um lado e da Rue du Che-valeret por outro, sendo seu edifício emblemático a Bibliothèque Nationale de France.

Os novos bairros estão surgindo com todas as co-modidades usuais na vida quotidiana. Habitação, escri-tórios e atividades, estabelecimentos comerciais, ser-viços, escolas, universidades e equipamentos culturais são gradualmente criados. Pouco a pouco, tudo o que contribui para a formação de uma cidade verdadeira-mente habitável está sendo estabelecido e integrado.

É importante ressaltar que, apenas alguns anos atrás, essa parte do 13º arrondissement não era mais que uma série de instalações industriais com dificuldade de crescimento. Foi a criação de uma Zona de Desen-volvimento Misto, em 1991, que permitiu o lançamento de uma operação realizada pela SEMAPA, que permitiu a nomeação do Pais Rive Gauche. Em breve, Paris Rive Gauche acolherá quase quinze mil habitantes, trinta mil alunos e professores e cinquenta mil funcionários do dia a dia. Além disso, dez hectares de espaços verdes serão criados e duas mil árvores serão plantadas. Um exemplo de operação urbana.

As novas habitações parisienses se inserem nes-se contexto agregando diferenças que contribuem para

01 Paris apresenta largas avenidas, arborizadas, proporcio-nadas graças às reformas de Haussman. Foto: AMARAL, 2010.

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a diversificação da cidade, como o conceito de quadra aberta, que libera espaços internos para a criação de praças, abertas aos pedestres, claramente aplicado em Bercy, mais precisamente na região da Biblioteca François Miterrand, em que as quatro edificações con-figuram os quatro cantos da quadra, permitindo que o espaço fosse utilizado para a implantação de uma área de floresta no meio da área urbana, um proje-to arrojado que já serve de inspiração na criação e valorização de espaços verdes.

A Biblioteca François Mitterrand, inaugurada em dezembro de 1996, compreende quatro torres e se apresenta como um modelo de arquitetura moderna. As torres representam quatro livros abertos e as salas de leitura se localizam embaixo do deck de madeira, por onde os pedestres têm acesso ao complexo e po-dem observar a área de floresta localizada no centro da quadra, porém essa área é restrita, permitindo apenas a contemplação. O espaço conta ainda com salas de cinema, livrarias e outros pontos como atrativos cultu-rais, fazendo com que o local seja amplamente utilizado e abraçado pela população.

Próximo à Biblioteca está a Passarelle Simone de Beauvoir, uma ponte de arquitetura limpa e elegante, que separa a Biblioteca François Mitterrand do Parc de Bercy. A ponte, que foi a 37ª a ser construída em Paris, só pode ser atravessada a pé ou de bicicleta, o que estimula a apropriação do espaço público pelo ci-dadão parisiense e pelos turistas, conectando o novo distrito de Bercy a bares, cinemas e shoppings, espa-ços que estimulam o convívio social. Além disso, a ar-quitetura da ponte, formada por ondas que se entre-laçam, forma uma área, em seu centro, destinada a exposições temporárias e shows.

Após a travessia da Passarelle Simone de Beauvoir, chega-se ao Parc de Bercy, um amplo espaço destinado ao uso comum, que conta com áreas de exposição, ci-nema, entre outros equipamentos. Em sua vasta área, os cidadãos têm a oportunidade de desfrutar de tudo o que um bom espaço público deve oferecer. Na área do parque podemos encontrar uma escultura do icônico arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. O trabalho toma a forma de uma mão aberta com uma flor pintada em vermelho. O estilo é limpo, assim como a arquitetura de Niemeyer, que presenteou a cidade com sua escultura.

O arquiteto não mencionou qualquer nome específico para o trabalho, apenas afirmou que é uma “escultura de Oscar Niemeyer”.

Bercy se difere de outras áreas de caráter moderno da cidade, como o La Défense, justamente por impri-mir um caráter ameno, por assim dizer. Enquanto o La Défense abriga grandes hotéis, como o Hilton, famoso mundialmente, shopping centers e edifícios empresa-riais que já são a identidade do lugar, Bercy abriga ha-bitações de interesse social que, aparentemente sem pretensão, imprimem modernidade e leveza ao lugar.

Diante do exposto, é notório que os espaços públi-cos parisienses são verdadeiramente apropriados pelos cidadãos, e que há um estímulo para que tal apropria-ção ocorra, seja por meio de atividades culturais reali-zadas dentro deste espaço ou simplesmente pela ma-nutenção do mesmo. Há ali um ambiente propício para longas caminhadas ao ar livre, brincadeiras em família ou apenas para a contemplação do belo, atividades im-portantes para o bem estar de qualquer ser humano.

O exemplo parisiente deve ser seguido por cida-des brasileiras como São Luís. Embora pertençamos a culturas diferentes, o desejo de preservação e perten-cimento à cidade deve ser o mesmo. Precisamos im-primir um novo ritmo a cidade e os espaços públicos contribuirão de forma fundamental para isso. A experi-ência internacional só demonstra que é possível chegar lá, basta que haja comoção por parte de todos os cida-dãos. Dessa forma, enfim, conquistaremos um espaço na cidade que é nosso por direito.

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02Vista de dois, dos quatro edifícios que compõem a Bibli-oteca François Miterrand. Foto: MIRANDA, 2010 03Passarelle Simone de Beauvoir.

Foto: AMARAL, 2010.

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04Escultura de Oscar Niemeyer no Parc de Bercy. Foto: AMARAL, 2010.

05 Modelo de Habitação de Interesse Social em Bercy. Foto: AMARAL, 2010.

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O REFLEXO ROMÂNTICO DA CIDADE PARISIENSE

por Camila Costa e Laura Fernandes

A mão dele na dela, os olhos fixos um no outro, a boca trêmula na iminência da fala, ele ajoelha, tira do bolso uma caixa, ela solta um sorriso de canto de boca e pronuncia um “sim”: o cenário do pedido de casa-mento é o topo da Torre Eiffel, na cidade mais visitada do mundo e eleita pelos amantes - Paris.

Paris emana romantismo em seus diversos símbo-los, como as pontes e seus cadeados, a própria Torre Eiffel, os parques e os seus jardins, carrosséis, obras de arte, as margens do Rio Sena juntamente com os pas-seios de barco, e até mesmo nos cabarets, como o me-morável Moulin Rouge. Todos eles formam um mosaico de fatores que, atrelados ao tradicionalismo do país, produziram a universalização de um ideal romântico.

Retratados de uma forma singela e cheio de su-perstição, os cadeados presos na Ponte das Artes ou L’Archevêché são emocionantes. A confiança dos casais em eternizar, de alguma forma, o seu amor explicita-mente, demonstra o quão forte é o sentimentalismo das pessoas e como isto influenciou na cultura de um povo. A ponte foi construída no século XIX, em ferro fundido e depois reconstruída em aço assim como tantas outras que cruzam o Rio Sena. Porém, ela obteve o seu dife-rencial dos apaixonados que por ali passavam, escre-viam suas iniciais em pequenos cadeados, trancava-os e atiravam a chave no Rio Sena, tornando, assim, os amantes trancafiados para sempre. A prática tem sua origem disputada em alguns países. Há a hipótese que os protagonistas do livro “Te Quero” do italiano Moccia, trancaram um cadeado numa ponte romana e lançaram a chave no Tiber. No entanto, os primeiros cadeados parisienses só apareceram em 2005 e virou mais uma ilustração do romantismo da capital.

Às margens do Rio Sena, ainda avista-se o misticis-mo na Ponte dos Amantes (a Pont Marie). Diz a lenda que o casal de apaixonados deve passar por debaixo da ponte, fazer um pedido e se beijar – mas o desejo só será atendido se ambos mantiverem em segredo. A ponte, uma das mais charmosas, liga a ilha de Saint Louis às margens do Hôtel de Ville. Primeiramente construída de madeira, ela foi levada pelas águas do Rio Sena em 1658. Já a construção de pedra foi encomen-dada por Colbert em 1677. Juntamente a esta, tem-se o aproveitamento da margem do Rio Sena, Patrimônio Cultural da UNESCO, recebendo tratamento urbanístico que a tornou símbolo do urbanismo mundial. E é claro, os tradicionais passeios de bâteau mouche pelo rio.

Os parques e jardins são atrações a parte no ce-nário urbano da cidade. Repletos de flores na primave-ra, ou cobertos por neve no inverno, estes servem de ponto de encontro e passeio de casais. Alguns como Luxembourg, Tuilleries, que precede a famosa Champs Élyssées, bem como o Jardim do Museu de Rodin, com esculturas como “O Pensador” e “O Beijo”, condicionam os amantes e são verdadeiros espetáculos ao ar livre. Além do mais, para embalar os pombinhos, encontram--se sempre carrosséis em partes históricas e românti-cas da cidade, como a praça atrás de Catedral de Notre Dame, em Montmartre, próximo a Sacré-Couer e em frente a Torre Eiffel.

Esquivando-se um pouco do amor afável, têm-se os amores originados da vida boêmia de homens e mulhe-res parisienses, que geraram grandes histórias e mo-numentos turísticos na capital; a exemplo do cabaret Moulin Rouge, ícone no bairro de Montmartre, conheci-do pelo seu glamour e que, mesmo fugindo do tradicio-nalismo e idealismo romântico francês, possui atrações noturnas consagradas que seduz multidões de turistas.

A influência do aspecto sentimental em Paris é vas-ta e universal; dos mais cultos aos de escasso apara-to cultural, todos tem a capital francesa como ícone de arquitetura, urbanismo e beleza. Estes atributos de Paris já foram reconhecidos em inúmeras obras cine-matográficas, francesas ou não, desde clássicos como “Cinderela em Paris” e “O Último Tango em Paris” até os modernos e não menos atraentes “Antes do Pôr do Sol”, “Paris 36” e “Um Lugar na Platéia”, sem esquecer o célebre musical “Molin Rouge – Amor em vermelho”.

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Conhecida pelo apelido de “A Cidade Luz”, Paris iluminou o caminho de inumeráveis casais apaixona-dos, pontuou o amor no menor arrondissement e não obstante transformou-se na metrópole mais român-tica e histórica que o mundo conhece, refletida nas suas obras arquitetônicas e de artes. E que mesmo possuindo lendas e mitos comuns com outros países, no que diz respeito ao imaginário das pessoas e ao romantismo, Paris é Paris.

REFERÊNCIAS:

http://emdublin.wordpress.com/2010/05/16/paris-ii-torre-eiffel-e-ponte-das-artes/

01 Casal de namorados na Ponte das Artes, Paris, França. Fonte: LINHARES, 2010.

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A PRIMEIRA OBRA A GENTE NUNCA ESQUECE

por Luisa Ghignatti

A pirâmide do Louvre foi a minha primeira vez. A primeira vez que estive na Europa. A primeira vez que estive em Paris. A primeira vez em que senti o impac-to de encontrar uma daquelas construções tão estuda-das em sala de aula e que pareciam apenas um sonho longinquo e inalcançável de uma simples estudante de arquitetura, mas que agora estava ali ao alcance de alguns passos, se descortinando por entre as altas pa-redes do museu que o cerca, como uma jóia guardada em uma caixa tão preciosa quanto o seu conteúdo.

Me senti como uma fã quando encontra seu ídolo, senti aquele arrepio que percorre o corpo todo e te faz ficar sem ação por alguns instantes, a única coisa que consegui fazer foi ficar apenas olhando e me permi-tindo sentir aquela sensação maravilhosa de puro êx-tase que me dominou quase que durante toda a tarde em que passamos ali.

Muitas outras obras que visitei me provocaram tal euforia como a da pirâmide Louvre: O Coliseu e o Tem-pieto em Roma, a Unité d’Habitation em Marseille, a Praça e a Basílica de São Pedro no Vaticano, etc. e isso me faz pensar o quão importante é esse contato com referências de obras arquitetônicas e urbanas na vida profissional de um arquiteto e urbanista. Visitar pré-dios e lugares, descobrir quais sensações nos propor-cionam, qual o impacto que têm sobre nós, fazem parte da profissão. Ousaria dizer até que nós estudantes e profissionais da área somos dependentes desse tipo de experiência e que isso se reflete diretamente na quali-dade final de nossos projetos.

Poder despertar sensações, poder mexer com as emoções das pessoas e de certa maneira influenciá-las, creio ser essa uma das motivações na minha futura área, bem com a de qualquer pessoa. Porém, é preciso conhecer, enriquecer-se com referênciais de projetos e obras de outras pessoas, não só arquitetos e urbanis-tas, mas também artistas plásticos, músicos, cineastas, dançarinos, etc. acredito que nunca mais se é o mesmo depois de conhecer alguma coisa, e esse conhecimento tem resultado direto em nosso trabalho.

Nós estudantes de arquitetura e profissionais da área somos pessoas que trabalham principalmente com a criatividade, citando Lavoisier que disse certa vez algo como ‘nada se cria, tudo se transforma’ também é as-sim o trabalho de concepção. Não conseguimos conce-ber algo que nunca foi feito ou visto antes, o que faze-mos é combinar coisas para criar uma outra nova, mas sempre a partir de coisas já existentes. Logo, quanto mais rico for nosso repertório, quanto mais nos inun-darmos com referências projetuais, artísticas, filosófi-cas, etc. melhor será a qualidade de nossos projetos.

Vivenciei também várias outras obras que me en-sinaram a pensar e ver a arquitetura de diferentes ma-neiras. Conheci construções que me fizeram entender também a história da arquitetura. Passeios pelas bor-das do Sena, por exemplo, foram verdadeiras aulas ao ar livre. A história está ali, refletida nas pontes que o cortam. Por terem sido construídas em épocas di-versas, percebemos as particularidades de cada uma devido às diferenças de estilos e das tecnologias em-pregadas em sua construção, consequências diretas da época em que foram feitas.

01 Pirâmide do Louvre.Fonte: GHIGNATHI, 2010.

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Quanto ao Louvre, mesmo morando muito perto de Paris1 e ter voltado lá algumas vezes, nunca mais pas-sei pela frente da pirâmide. Gosto da ideia de preservar a lembrança daquele primeiro encontro.

02 Pont Neuf, Pont des Arts, Pont d’Iena e Pont Alexander III Fonte: GHIGNATHI, 2010.

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Diári� Equinox

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Diário de Viagem - Equinox 2010 por Francisco Armond do AMARAL

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Diário de Viagem - Equinox 2010 por Francisco Armond do AMARAL

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Este capítulo apresenta o conteúdo do Blog oficial do Atelier Internacional de Criação Urbana - Equinox (atelierequinox.wordpress.com), referente ao Equinox 2010 – Mont-de-Marsan, França.

A necessidade de divulgar os acontecimentos do EQUINOX originou a ideia de criação de um canal de comunicação com o público. Através do Programa Ins-titucional de Bolsas de Extensão – PIBEX 2010, da Uni-versidade Estadual do Maranhão - UEMA, foi viabilizado o Projeto do Blog que, posteriormente, foi agraciado como o melhor projeto de extensão apresentado ao Programa no referido período.

O Blog funcionou como um diário ilustrado com fo-tografias e textos breves produzidos pelos participantes do Projeto (professor do Curso de Arquitetura e Urba-nismo da UEMA Francisco Armond – coordenador, alu-no do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UEMA Yuri Nogueira – bolsista e aluno do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UEMA Igor Miranda – colaborador) e convidados.

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Equipe Ricochet

Equipe Vitruvius 3.0

Equipe Sorte

Equipe Explorar, Sonhar, Descobrir

Equipe Hipercussão

Equipe Taureaumatique

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Em 24 de janeiro de 2010 o post de abertura do blog, escrito pelo aluno Yuri Nogueira, apresentava o projeto: “Olá, É com muito prazer que damos início a blog do projeto EQUINOX, laboratório de criação ur-bana. Este blog faz parte do projeto de extensão do professor Francisco Armond, cujos alunos orientandos são Igor Miranda e Yuri Nogueira. Dentre seus objeti-vos estão: registrar momentos antes, durante e depois do projeto Equinox, divulgar informações sobre outros projetos de extensão que ocorrem paralelos ao labo-ratório de criação e viagem técnica dos alunos de Ar-quitetura e Urbanismo da UEMA. É objetivo deste meio também estimular o debate entre alunos, professores e comunidade sobre questões ligadas aos temas urbanís-ticos.” NOGUEIRA, Yuri.

Em 25 de Abril de 2010, um domingo, o grupo de alunos e professores da UEMA (Foto 1) já estavam em Marne-la-Vallée e logo foi organizado um passeio de reconhecimento à cidade de Paris-FR.

No dia seguinte aconteceu a abertura oficial do EQUINOX 2010 no auditório Rabelais da Université Pa-ris-Est Marne-la-Vallée – UPEMLV (foto 2) que contou com a presença da vice-presidente da UPEMLV, Laurence Bancel Charensol, dos professores Serge Bethelot, Kátia Lafranchine e François Monjal. Também participaram da

Equipe Triskelium Equipe Eclát

Equipe Adrenalina

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solenidade a Pró-reitora de Extensão da UEMA, Profes-sora Grete Pflueger, o chefe de departamento do curso de Arquitetura e idealizador do EQUINOX, professor Alex Oliveira, as professoras Marluce Wall, Ingrid Braga, Mar-gareth Figueiredo, o professor Francisco Armond e mais 47 alunos da UEMA e 38 alunos da UPEMLV. Ainda houve uma visita guiada pelo Campus da UPEMLV para os alu-nos conhecerem o local e projetos futuros de infraestru-tura para a cidade universitária (Foto 3).

Na terça feira os alunos, já divididos em grupos mistos (brasileiros e franceses), se reuniram para pre-paração da primeira apresentação (Foto 4). No final da tarde aconteceram as apresentações dos conceitos dos projetos que serão atualizados e reapresentados na cidade de Mont-de-Marsan, sul da França. Esta apre-sentação contou com uma banca formada pelos pro-fessores Alex Oliveira, Marluce Wall, Grete Pflueger , Ingrid Braga, Margareth Figueiredo e Francisco Armond da UEMA e dos Professores Sérgio Bethelot, Kátia La-franchine e François Monjal da UPEMLV.

Na manhã do dia 28 de Abril a comitiva partiu em um trem de grande velocidade (TGV) em direção a Bor-deaux, sul da França. Em Bordeaux houve uma visita técnica comandada pelos professores Monjal e Laurent (UPEMLV) (Foto 5). Após a visita os grupos foram libe-rados para almoço. No fim da tarde todos partiram de ônibus para a cidade de Mont-de-Marsan, objeto de es-tudo do EQUINOX 2010. A noite aconteceu uma recep-ção na prefeitura da cidade momento em que a prefeita falou da satisfação em receber o grupo de professores e alunos brasileiros e franceses (Fotos 6 e 7).

Na quinta-feira durante o dia foi realizada uma visi-ta de bicicleta pela cidade de Mont-de-Marsan (Fotos 8 e 9). A tarde os grupos se reuniram para preparar uma apresentação para o Conselho Regional (Foto 10).

No último dia em Mont-de-Marsan os alunos esti-veram reunidos em grupos de trabalho (Foto 11) ou saíram em busca de imagens e informações acerca dos projetos em desenvolvimento. Foi um dia de trabalho intenso. No final da tarde, antes da delegação do EQUI-NOX 2010 partir de volta a Bordeaux e Paris, a prefeita de Mont-de-Marsan, Geneviève Darrieussecq, visitou o local onde os grupos trabalhavam (Foto 12)

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Mesmo com o final de semana livre, no domingo, al-guns alunos preferiram acompanhar os professores Alex Oliveira, Marluce Wall, Margareth Figueiredo, Grete Pfle-ger e Francisco Armond em visita ao Louvre (Fotos 13 ).

Na segunda-feira, dia 03 de Maio de 2010, os alu-nos tiveram o dia todo para trabalhar em seus projetos. Os professores passaram em todas as salas para acom-panhamento e orientação (Foto 14).

O dia seguinte começa com nova bateria de apre-sentações de projetos (Foto 15). Após as apresenta-ções em auditório, os professores Alex Oliveira, Ser-ge Bethelot, Marluce Wall, Fançois Monjal, Margareth Figueiredo, Laurent Pinon, Francisco Armond, Katia Laffrechine, Ingrid Braga e Grete Pflueger receberam cada equipe para discussão dos respectivos projetos.

Na quarta-feira o arquiteto de Barcelona, Leonardo Novelo responsável pelo departamento de “concours” da Agência b720 (http://www.b720.com) apresentou palestra intitulada “Visão do processo de projeto” para os alunos do EQUINOX2010 (Fotos 16).

Agora falta pouco, é véspera da apresentação final. As equipes tiveram todo o dia para finalizar os proje-tos e preparar as apresentações para o último dia do EQUINOX 2010. Os professores ficaram circulando pe-los grupos a fim de sanar quaisquer dúvidas (Foto 17). As apresentações começarão as 9:00h e se estenderão até as 16:00h, conforme o programa do evento.

O último dia do EQUINOX 2010 é reservado para as apresentações finais no auditório Rebelais da Univer-sité Paris-Est Marne-la-Vallée com a presença de todo o grupo, professores e alunos. Neste dia, 07 de Maio de 2010 foi montada uma estrutura para publicar em tempo real imagens das apresentações de cada equipe (Fotos no final deste capítulo).

Depois de duas semanas de trabalho intenso O Atelier Internacional de Criação Urbana – EQUI-NOX – Mont-de-Marsan 2010 chega ao fim com uma grande palestra do arquiteto Yves Lion (Conference Grand Paris) (Foto 18) seguida da entrega dos certi-ficados aos participantes. Foi um momento de muita emoção para todos os presentes (Foto 19), a equipe HIPERCUSSÃO (Foto 20) recebeu o prêmio de melhor projeto do EQUINOX 2010.

Grupo do EQUINOX 2010 em Marne-la-Vallée

Prof. Alex Oliveira (UEMA), Profª Grete Pflueger (UEMA), Laurence Bancel (vice-presidente da UPEMLV) e Serge Bethelot (UPEMLV).

Visita guiada pelo Campus da UPEMLV.

Grupo em apresentação do conceito do projeto

Visita técnica em Bordeaux.

Prefeita de Mont-de-Marsan e Professores do EQUINOX 2010.

Prefeita de Mont-de-Marsan e reitor da UPEMLV, Francis Godard, recebem professores e alunos do EQUNOX 2010.

Visita de bicicleta à cidade de Mont-de-Marsan.

Grupo Equinox 2010 em frente a Arena Plumaçon.

Equipe apresentando projeto para o Conselho Regional.

Equipe trabalhando em Mont-de-Marsan.

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Prefeita de Mont-de-Marsan, Geneviève Darrieussecq, visita grupos de trabalho e recebe presente dos alunos.

Alunos e professores no Museu do Louvre.

Grupo recebendo orientações dos professores Ingrid Braga e Serge Bethelot.

Equipe em apresentação de projeto.

Palestra do arquiteto Leonardo Novelo.

Arquiteto Leonardo Novelo com os professores Ingrid Braga, Laurent Pinon, Margareth Figueiredo, Grete Pfleger, Serge Bethelot e Alex Oliveira.

Arquiteto Yves Lion durante a palestra Conférence Grand Paris.

Professora Katia Laffrechine ao lado do Professor Serge Bethelot que encerrou o EQUNOX 2010 falando em português.

Equipe HIPERCUSSÃO recebe premio por melhor projeto.

FONTE: AMARAL, 2010.

LEGENDAS

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Dedicado à aluna Juliana Pessoa Cidreira

1986 -2010

Juliana Pessoa Cidreira

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REFERÊNCIASOLIVEIRA DE SOUZA, Alex; VENANCIO, Marluce W. de C. et BONIERBALE, Thomas;

Equinox: atelier de criação urbana – Novos olhares sobre a cidade. Editora UEMA, São Luís, 2009, 119pp.

ii MANGIN D. et PANERAI P. Projet Urbain, Ed. Parenthèses, 1999iii ALLAIN, Rémy. Morphologie urbaine. Ed Armand Colin/SEJER, Paris, 2004. 253ppiv PAQUOT, Thierry. Terre urbaine: Cinq défis pour le devenir urbain de la planète.

Paris, Ed La découverte, 2006, 31-72pp.v MARICATO, Ermínia. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias : Planeja-

mento urbano no Brasil. In ARANTES, O., VAINER, C. & MARICATO, E. A Cidade do Pensamento Único. Petropolis-RJ, Vozes, 2000. (p121 a p192)

vi SECCHI, Bernado, A cidade do século vinte. [ Tradução e notas Marisa Barda] – São Paulo; Perspectiva, 2009. – (Coleção debates; 318)

vii A imagem 1 é do Spacebox Student, Housing Utrecht, Mart de Jong, Holanda, a 2 é uma passarela no rio Drava na Eslovênia e a 3 é um tramway da Alstom extraído do www.psipunk.com.

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Este livro foi composto nas famílias tipográficas Lunch Box, nos títulos e Verdana, no texto.

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