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SUMÁRIO

Democratizando o conhecimento...........................................7

Discussão sem fundamentalismo............................................9

Palestras

Matriz de Energia Elétrica e Usinas Nucleares no Nordeste......11

Professor Carlos Henrique da Costa Mariz

O impacto de uma usina nuclear..........................................37

Professor Heitor Scalambrini Costa

Matriz Energética Nacional:Necessidade de Energia Nuclear? O Papel das Renováveis ......53

Professor Osvaldo Lívio Soliano Pereira

Justificativas para não se excluir a Energia Nuclear...............75

Professor Paulo R. F. de Moura Bastos

Debate.................................................................................97

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Democratizando o conhecimento

Aocorrência do acidente nuclear na central de Fukushima, noJapão, em 11 de março de 2011, consequência dos danoscausados pelo sismo e tsunami de Tōhoku, estimulou a dis-

cussão mundial sobre o uso da energia nuclear.

No Brasil, embora esteja nos planos do Governo Federal a amplia -ção do programa de energia nuclear, com a instalação de novas usi-nas, inclusive na Região Nordeste, o tema pouco tem sido discutido.

Este livro é o resultado do esforço conjunto da Fundação Liber-dade e Cidadania, Escola Politécnica da Universidade Federal daBahia (Ufba) e Universidade Salvador (Unifacs) para suprir a faltade discussão sobre o assunto no país.

Reúne o teor das palestras e debate do seminário “Energia Nu-clear – Prós e Contras”, realizado no dia 16 de maio de 2011, no au-ditório da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Para o presidente da Fundação Liberdade e Cidadania e professorda Escola Politécnica, José Carlos Aleluia, a publicação é oportuna,principalmente, quando se propõe a instalação de novas usinas nu-cleares no Brasil.

“O acidente na usina de Fukushima, no Japão, foi um exemploda necessidade de discussão sobre o assunto, o que não vem sendoestimulado pelo Governo Federal nem pelo Estadual. Falta debatecom a sociedade. Ao publicar este livro, estamos ampliando o al-cance e democratizando o conteúdo das discussões ocorridas noseminário ‘Energia Nuclear – Prós e Contras’”, afirma Aleluia.

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Discussão sem fundamentalismo

Aberto ao público em geral, o seminário “Energia Nuclear –Prós e Contras” contou com a participação de especialistas,professores, deputados federais, autoridades, servidores

públicos, profissionais liberais e estudantes, que lotaram o auditórioda Escola Politécnica.

Na abertura do seminário, o professor Luis Edmundo Prado deCampos, diretor da Escola Politécnica, deixou clara a proposta de pro-mover o equilíbrio das ideias, de modo que todos os presentes fossemmotivados a pensar com o conteúdo exposto pelos palestrantes.

Se a palestra proferida pelo professor Carlos Henrique Mariz (UFPEe Eletronuclear) apresentava argumentos pela necessidade de ampliaçãodo uso da energia nuclear na matriz energética brasileira, os professoresOsvaldo Soliano (Unifacs) e Heitor Scalambrini (UFPE) expuseram pon-tos de vista discordantes em suas exposições. Já o professor Paulo Bastos(Ufba) apresentou justificativas para não se excluir a energia nuclear.

A discussão sem fundamentalismo, como foi observada pelo pro-fessor Augusto Loureiro, chefe do Departamento de Energia Elétricada Escola Politécnica, objetivou contribuir com novas reflexões sobrea energia nuclear.

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Da esquerda à direita: Jorge Khoury, Aleluia, Augusto Loureiro, Luis Edmundo, Osvaldo Soliano, James Correia e Imbassahy

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E como arrematou o presidente da Fundação Liberdade e Cidada-nia, José Carlos Aleluia: “É um debate sobre energia nuclear. Nãotem o viés de convencer ninguém sobre a necessidade da energianuclear, mas também não tem o viés de convencer ninguém sobre aimpossibi lidade da energia nuclear”.

Presente ao seminário, o secretário da Indústria e Comércio daBahia, James Correia, disse que a discussão sobre energia nucleardeve ser feita na pers pectiva da necessidade de diversificar asfontes energéticas brasileiras. Ele revelou acreditar na existênciade espaço para a e nergia nuclear.

O engenheiro e ex-deputado federal, Jorge Khoury, que presidiua Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável daCâmara dos Deputados, por sua vez, destacou o modelo que o Brasilrepresenta para o mundo por causa de sua matriz energética limpa.

“Quando o mundo inteiro está se preocupando com essaquestão, nós estamos buscando, quem sabe, sujar essa matriz”, ob-servou Khoury. Na avaliação dele, diante da diversidade de fontesenergéticas existentes no Brasil, não haveria necessidade de pensarem ener gia nuclear no momento.

Para o deputado federal Antonio Imbassahy, o debate sobre aquestão da energia nuclear é fundamental. Na opinião dele, dife -rente de outros países da Europa, o Brasil talvez tenha até maistempo e mais alternativas para examinar essa questão do uso daenergia nuclear.

“Mas, se a gente começa dizendo que a energia nuclear nãopode ou começa dizendo que tem que ser energia nuclear, euacho que estamos começando mal. Tem que começar é debatendoà exaustão para que se possa efetivamente sair com a melhorsolução para a sociedade brasileira”, disse Imbassahy.

O debate está lançado e publicado. Boa Leitura!

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Palestra:Matriz de Energia Elétrica e

Usinas Nucleares no Nordeste

Professor Carlos Henrique da Costa MarizEngenheiro eletricista, formado pela Universidade Federal dePernambuco (UFPE), com pós-graduação em Engenharia de

Sistemas na COPPE/UFRJ (Master of Sciences) e naUniversidade de Toulouse, na França.

Trabalhou na Companhia Hidroelétrica do São Franciscopor 15 anos e atuou como consultor nos setores público e

privado. Leciona na UFPE há mais de 30 anos.Desde maio de 2009, ocupa o cargo de

Assistente da Presidência da Eletronuclear.

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Em primeiro lugar, gostaria de dizer o seguinte: me sinto ex-tremamente honrado de estar aqui. Também sou professor daUniversidade Federal de Pernambuco e estou habituado e

gosto de lidar com alunos, porque é como costumo dizer: “aprendomuito mais com eles do que eles comigo”. Então, nós estamos aqui hoje para fazer um debate. Eu gostaria, in-clusive, de agradecer esse convite formulado pelo diretor da EscolaPolitécnica, o professor Luis Edmundo Prado de Campos, que estános proporcionando essa oportunidade para debatermos, e tambémao companheiro José Carlos Aleluia, com quem tive a honra detraba lhar na época em que estávamos na Chesf, e que fez tambémesse honroso convite - e nós, então, estamos aqui, dentro desse es-pírito democrático, para debater.

Eu acho que isso é muito importante. Nós temos os contrários,temos os favoráveis e temos os neutros. Em tudo na vida é assim. Eé importante que nós percebamos algumas dessas mensagens quepassaremos hoje aqui, e que poderão, espero, melhorar ou ilustrarum pouco mais a questão energética em nosso País.

Normalmente, essa apresentação que eu faço leva 50 minutos.Às vezes, até uma hora. Mas eu tive a preocupação de resumir aomáximo para que possamos explorar mais esse debate. De modoque, eu vou tentar finalizar aos 20 ou 25 minutos. Vamos iniciar.

Carlos Henriqueda Costa Mariz

Matriz de Energia Elétrica e Usinas Nucleares no Nordeste

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Eu gosto muito de apresentar essa imagem porque ela fala por si própria.Ela mostra a importância da energia elétrica no desenvolvimento

do mundo. Essa é uma fotografia de satélite que não precisa nemser comentada. Basta olhar e ver as regiões mais iluminadas para seentender a ligação que existe entre eletricidade e desenvolvimento.

Mas, o Brasil ainda anda umpouco escuro.

Mostramos esta fotografia parasalientar que o nosso País tem umlongo caminho pela frente. Muitosbrasileiros ainda estão mais oumenos nesta realidade. E, muitosoutros, talvez nem tenhamchegado nela. É importante constatar que nós temos uma população, deacordo com o IBGE, que está chegando em 200 milhões de habitantes.Desses, mais de 16 milhões de pessoas estão completamente fora da

economia brasileira. Como é que

isso se reflete?Veja o Brasil colo-cado no cenáriointernacional. (Ranking mundial deconsumo per capitade energia elétrica;kWh por habitante -Fonte: InternationalEnergy / Annual2006)

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Nós achamos que somos uma grande potência. Fala-se muitoisso hoje, que estamos entre os dez. Mas, se olharmos esse indi-cador de 2.081, nós estamos na nonagésima posição em termos deconsumo por kWh por habitante no Brasil. Vejam vocês, o consumoper capita da África do Sul, que está logo acima, é mais que o dobroda população brasileira.

Falando de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), nós desta-camos três macrorregiões onde situamos o Brasil na posição 73.

Vejam só oseguinte: nósqueremos en-trar ali nogrupo dos paí -ses desenvol -vidos. Isso éuma realidade.É um desejo detodos nós.Que remos terum grande Índice de Desenvolvimento Humano. Esse é um clube que,para participar dele, o cacife mínimo é ter um consumo acima de cincomil, cinco mil e quinhentos kWh por ano por habitante.

Ora, nós estamos com dois mil, dois mil e poucos. Vejam vocêso esforço que nós vamos ter que fazer para superar essa marca echegar a ter isso para participar daquele clube lá.

Alguns falam, por exemplo, em resolver a questão do abasteci-mento elétrico pelo lado da eficiência energética. Isso talvez seja in-teressante para a Noruega, que está naquele ponto que tem o maiorconsumo per capita do planeta e que se desenvolveu totalmente.Que já fez tudo e tem um alto consumo. Mas, nós, brasileiros, nãopodemos fazer uma política energética baseada em eficiência ener -gética, simplesmente porque nós temos muita gente sem energia.E temos um longo caminho de desenvolvimento pela frente.

Então, fica mostrado claramente o grande desafio em termos deatendimento e demanda de energia elétrica. E esse desafio parafrente tem que ser equacionado hoje por causa da maturação dasobras de longo prazo, como grandes hidroelétricas, e até mesmocomo uma política na área solar e eólica, como também na nuclear.

Carlos Henrique da Costa Mariz

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Vamos agora observar a produção de energia elétrica no mundo. Da energia

elétrica produ -zida no mun do,41% é car vãomineral. Nósvemos que anuclear e ahidroelétr icatem pratica-mente a mes maparticipação.

Hidroelétrica com 16%. E nuclear com 15%. Gás natural, 20%.Petróleo é 6%. As outras, 2%. Essa é a realidade de hoje. E, di -gamos que um dos grandes vilões para a questão do efeito estufaque nós estamos vivendo hoje - o pro blema do aquecimentoglobal - está concentrado basicamente em cima do carvão, dopetróleo e do gás natural.

É interessante notar que 82% da produção de energia elétrica domundo é com base em termoelétrica, incluindo aí a nuclear. E vocêpergunta: por quê? Por que é que é assim? Simplesmente, porqueum sistema elétrico necessita de qualidade, confiabilidade e custo.

Não mencionei aqui ainda a questão do impacto ambiental.Porque nessa época em que esse sistema foi desenvolvido o impactoambiental não era muito considerado. Mas, claro que agora vamoster que incluir isso. Então, se não satisfizer a esses três requisitosmínimos, não serve para atender o sistema elétrico porque vai faltarenergia, porque a energia vai oscilar e assim por diante.

No Brasil,como já sefalou aqui, arealidade éd i f e r en te :80% da pro-dução deener gia éhidroelétrico.

Matriz de oferta de Energia Elétrica no Brasil (%)

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A prioridade da política energética brasileira é hidroelétrica.Temos um grande potencial hidroelétrico para ser desenvolvido,

como podemos observar. Você vê 80% de hidro e várias fontes comparticipação pequena. Só que, como nós veremos agora, teremosque reduzir esse percentual, infelizmente. E aí vem a pergunta:como complementar esta baixa de percentual com o crescimentodo mercado, que tem que ser expressivo? Com que tecnologias oucom quais tecnologias? Com que percentuais?

Então, vejam que o desafio energético brasileiro é enorme. Issose nós quisermos nos desenvolver, se nós quisermos deixar de serapenas exportadores de matéria-prima, ou de soja e produtos agrí-colas, que é o que sustenta a balança comercial brasileira hoje.

Esse é um conceito importantíssimo. E, claro, se não tivermosener gia, não poderemos nos desenvolver. Por isso, nós, brasileiros,temos obrigação de entender esse problema e contribuir positiva-mente para solucioná-lo.

A primeira usina hidroelétrica da América Latina, a usina cons -truída em Juiz de Fora: Marmelos, com três unidades de 125 kW,em 1889 - 375 kW. Cem anos depois: Itaipu, com 14 mil MW. Oque significa isso? Significa tecnologia, engenharia, know-how,c a p a c i t a ç ã otécnica bra -sileira.

O Brasil temc a p a c i d a d epara gerenciarseu programahidroelétrico.Mas, o que vemacontecendo?Primeiro, fomosdesenvolvendoos potenciaisem torno doCentro-Sul. Depois, fomos alargando para o Nordeste. E, agora, es-tamos indo em direção à Amazônia. Lá está o potencial hidroelétricobrasileiro. Quem não ouviu falar de Belo Monte? Quem não ouviufalar do Madeira?

Tradição e vocação hidrelétrica

Carlos Henrique da Costa Mariz

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Evolução do aproveitamento do potencial hidráulico do Brasil

Acontece que não estamos conseguindo desenvolver esse potencialem sua plenitude. E, muito mais: não estamos conseguindo, às vezes,nem estudar. Porque tem zonas que não se pode nem entrar apenas paraestudar, para ver o potencial. É proibida a entrada. Nós, brasileiros, queachamos que somos donos da Amazônia, não podemos entrar em certasregiões dela para fazer estudos. E com isso estamos perdendo uma dasgrandes preciosidades, que é o nosso potencial hidroelétrico. Porqueestão aí zonas de preservação ambiental, indígenas e etc.

Evolução das áreas de proteção

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O que aconteceu no lado prático? Não no lado teórico, mas nolado prático o Brasil passou a investir em PCH (Pequenas CentraisHidroelétricas), pequenas centrais hidroelétricas sem reservatório.Aumentou a potência hídrica instalada, mas sem reservatório.

Veja o que aconteceu com os nossos reservatórios. Praticamenteestagnou. Ninguém faz mais usina com reservatório. Ou seja, o nossosistema, que antes era de regularização plurianual, está passando aser de regularização anual e de repente poderia vir a ser fio d´água,com o crescimento do mercado. Vejam vocês o quadro seguinte.

Necessidade de complementação térmica

Perda da capacidade de armazenamento - 2010

Carlos Henrique da Costa Mariz

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Isto é o decaimento para frente, de acordo com o programadecenal de geração. A relação do armazenamento com o mercado.Então, em termos efetivos, nós não podemos dizer que temosaquela acumulação que tínhamos no passado. E essa é uma va -ri á vel importante porque os reservatórios servem para armazenaros vertimentos.

Vertimentos de todas as PCHs, vertimento que virá de BeloMonte, porque Belo Monte foi feita para verter. E aí eu pergunto:vai ter lugar para tanto vertimento se o reservatório não crescer? Épreciso esclarecer isso em mais detalhes. Eu acredito na minha ex-periência de simulador. Porque já simulei muitas horas de computa-dor de sistemas hidrelétricos. Se houver uma ampliação destequadro nós não vamos conseguir reverter esse processo. E aí vem anecessidade: quem vai fazer a energia de base?

A energia de base era feita pelo reservatório, com grandesreservatórios, com as hidroelétricas. E quem vai fazer essa energiade base? Fica a questão aqui para vocês do auditório pensaremum pouco.

Com relação aos nossos recursos, claro que temos outros, mas eucitei alguns aqui. A hidroelétrica, a nuclear, o gás, o carvão, petróleo,solar, fotovoltaica, eólica, biomassa – ali, no caso, bagaço. Bom,temos de combinar todas. São fontes de geração de energia elétrica.

E qual é amelhor formade combiná-las? Temos quebuscar quali-dade e confia-bilidade; custo emenos impactoambiental parapoder fazer umbom sistemaelétrico para onosso futuro.

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Vejam agora, do ponto de vista de emissões de gás de efeito es -tufa, com consequência e impacto ambiental. Isso é uma publicaçãoda Agência Internacional de Energia, que publicou os efeitos dasemissões dega ses de efeitoestufa, consi de -rando todo ociclo, desde amine ração até age ração.

Vocês vêemque os campeõesde limpeza sãonuclear e eólica.Eólica numa fai -xa maior. Vocêsvêem que ogran de vilão é ogás natu ral, opetró leo, o car -vão e o linhito. Sempre passando pelas ou tras, pela própriahidroeletricidade, por conta de seus reservatórios que emitem gásmetano e também do processo anterior de fabricação. Enfim, esseé um dado concreto.

Outro dado concreto é o custo. Custo para operação em regimede base. E aí vocêsvêem, por exemplo, ahidro eletricidadesendo situada co -mo a mais barata,a biomassa, o car -vão mi neral, nu-clear den tro deuma faixa. O gásnatural se distan-ciando, o óleocom bustível muito

Competitividade entre as fontes primárias paraa produção de Energia Elétrica - R$/MWh

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mais e o óleo diesel lá em cima. Ou seja, em regime de operação debase. Colocar uma termoelétrica dessa para operar, ou se dependerdisso, significa dizer inviabilizar qualquer desenvolvimento.

Temos aqui hidroelétrica, nuclear, gás, carvão e petróleo sendoconsideradas como as produtoras de energia de base. É como sefossem dois jogos. O jogo de peso pesado é esse. E o jogo de pesopena, que é o outro. Sem com isso querer denegrir nada. Cada umna sua função. Só que hidroelétrica está fora daqui pelas limitaçõesjá mencionadas.

Então, ficam: nuclear, gás, carvão e petróleo. Ou seja, não se ilu-dam. Se não tiver nuclear, vai ter que ter carvão, petróleo e gás.Essa é a realidade porque é quem faz energia de base. Vejam o queé energia de base - ela é contínua, 365 dias por ano, 24 horas pordia, em regime normal, atendendo aqui um hospital.

Agora, vamos para os recursos intermitentes. Quais são os re-cursos intermitentes? Eólica, solar e biomassa.

Veja você como é que seria o atendimento ao hospital se vocêtivesse simplesmente dependendo da energia eólica. O hospital iriaficar piscando. Veja você se fosse energia solar fotovoltaica: iria ficar

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acendendo durante o dia e apagando durante a noite. E veja vocêa biomassa, diga-se bagaço de cana, só tem durante seis meses.Então, você vai operar seis meses e depois fecha o hospital por seismeses. Essa é a realidade concreta desse tipo de energia. Não é queuma seja ruim ou melhor, mas uma coisa é energia de base e outracoisa é energia intermitente. E você tem que saber combiná-las den-tro do sistema. Claro. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso.

Bom, vem aí um dado extremamente importante: esse é um grá-fico onde está considerado o investimento mais operação emanutenção, tudo junto.

Então, vejamos o seguinte, você pode até se iludir. Alguém podechegar e dizer “olha, o bom é colocar diesel porque é muito baratoinvestir”. Então, vamos comprar diesel porque é barato. E o custode investimento é mais barato mesmo. Agora, se você colocar emoperação, observa para onde vai o custo. Lá para cima. E assim su-cessivamente. Quando colocamos a nuclear, vemos que tem um dosmaiores investimentos, mas o custo operacional é praticamente des -prezível. Então em regime de operação de base, a nuclear está com-petindo com custos ligeiramente mais baixos. Esse é um gráfico feitocom os dados que se tem no mercado.

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Então, costumamos dizer “o Brasil tem recursos minerais abun-dantes de urânio, temos uma experiência com Angra II, Angra I e,agora, Angra III. Vamos em frente com a nuclear também. Para nãoencarecer no futuro a nossa produção de energia”.

O mundo nuclear é composto de: 443 usinas, sendo 104 nos Es-tados Unidos; 58 na França e 54 no Japão.

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Sobre as que estão em construção, como podemos observar, aliderança é da China, com 27 usinas. O mundo está construindo nototal 64 usinas nucleares.

Pergunta para a China se eles vão parar o programa deles, perguntaaos Estados Unidos se eles vão parar o programa deles. E o Brasil estápensando, mas precisa pensar de acordo com a sua rea lidade.

O que é uma usina nuclear? É uma termoelétrica convencionalmovida a Urânio. Aí está o vaso de pressão do reator. Isso é umaPWR (reator a água pressurizada).

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Aqui são as nossas usinas em Angra, com as barreiras múltiplas,onde você tem o concreto por fora e o aço por dentro.

E o núcleo do reator. Isso éuma PWR.

O ciclo do urânio eu nãovou falar, por questões detempo. O Brasil pode ser amaior reserva do mundo deurânio, tem geologia para isso.

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Rejeitos. Quem visitar a usina vai ver que todo rejeito que nóstemos lá tem CPF e Identidade.

Nós sabemos exatamente qual foi o dia que saiu, onde está eonde foi guardado. Nenhuma usina, nenhuma empresa, nenhumageradora tem esse controle sobre seus resíduos.

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Infelizmente, não dá tempo para detalhar mais. Talvez, no de-bate eu possa falar - porque eu gostaria de tratar um pouco maissobre esse assunto. Aliás, vocês todos aqui estão convidados paravisitar Angra, porque, visitando, a realidade é diferente. E a visãoé mais concreta.

Aqui é o depósito final, que nós estamos planejando.

Aliás, sobre esse depósito final, o que é interessante afirmar é oseguinte: a França está reciclando o combustível. Então, ao invés dejogar fora ou guardar, ela recicla o combustível usado. Nós estamos

planejando ter o depósito intermediárioque é como se fosse uma usina de urâniomais enriquecida, uma mina de urânioenriquecida e guardada para que pos-samos usar no futuro e não desperdiçar.

Acidentes nucleares. Three Mile Is-land é um exemplo da segurança dasPWR. Naquela contenção, houve o aci-dente e ficou tudo lá dentro. Não houvecontaminação do meio ambiente e nemhouve contaminação de pessoas. Este éo relatório para quem quiser ler.

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Também a mesma coisa de Cher-nobyl. Chernobyl era uma usina to-talmente diferente, que não é a usinaque nós fazemos. Uma usina russaque usa como moderador o grafite,que é incendiário. Mas, mesmo assimas consequências estão aqui. Esse é oúltimo relatório da ONU, que minimi-zou bastante o impacto que é ditopor aí. Então, é importante ter fontesde refe rência básicas. Estão aí, eudeixei inclusive os locais na internet,mas não vai dar tempo para falar.

Japão. O Japão tem 54 usinas nucleares. Estão aí representadas.Fukushima está aqui, tem 14 usinas.

Um detalhe:todas as 14 resisti-ram ao terremoto.Todas.

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Quatro,que esta -vam maisbaixas, fo -ram subme -tidas aotsu nami. Eaí danificouos ge rado -res diesel dee m e r -gência, ge -rando op r o b l e m aque está

sen do administrado.

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Novas tecnologias.

Olha, estamos 40 anos na frente disso. As novas tecnologias não

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precisam de gerador diesel. A construção é modular. É feita na fá bri -

ca e é montado nosite. Com menorquantidade de equi -pamentos. Você e -videntemente vai

economizar tempode construção etempo vai mini-mizar o custo tam-bém.

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E aí tem as diversas que nãovai dar para falar.

Novas usinas.Aqui é no Nor deste. O Nordeste tem desen-

volvido bastante a sua econo-mia. A taxa de expansão do PIBda região vem registrandocrescimento acima da média na-cional. E essa ten dência deveráse prolongar por muitos anos.

O atendimento energéticotem sido feito, com impor-tação de energia de outras regiões do País. Pois a base de atendi-mento é oriunda das Usinas Hidrelétricas do Rio São Francisco,que depois da entrada do aproveitamento hidrelétrico da Xingó,praticamente se esgotou.

Bom eu vou fazer o seguinte: ao invés de continuar, face ao es-gotamento do tempo, vamos projetar um filme de dois minutos.Então, eu encerro. Gostaria de falar um pouco da usina, que poderia

vir ou não para a Bahia. E por quê? Foi feito um estudo extenso,com uma metodologia detalhada de escolha de sítios, utilizandoa tecnologia EPRI Siting Guide e com a consultoria da COPPE, daqual doutor Pinguelli é diretor. A equipe é da área dele.

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O doutor Pinguelli é conhecedor desse processo de escolha desítio que nós estamos desenvolvendo aqui. Terminamos agoradeixando para vocês essa mensagem, e nos preparamos para respon-der as questões que certamente surgirão nos debates. Obrigado.

Texto do vídeo que encerrou a palestrado professor Carlos Mariz:

“Quem vê de longe este pequeno planeta girandonão imagina estar diante de um mundo de grandes de-sigualdades. Um índice que reflete bem essa desigual-dade é a do consumo de eletricidade média doshabitantes de um país.

Os brasileiros consomem cerca de 20% da eletrici-dade em relação ao que um americano médio gasta. E ametade do que um português consome. Dentro do nossoterritório, as diferenças também são gritantes. Umagrande região do Nordeste, às margens do Rio São Fran-

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cisco, está diante de uma oportunidade única para su-perar estas desigualdades.

A implantação de uma moderna central nuclear deprodução de energia elétrica será o ponto de partida deum grande processo de desenvolvimento regional. Umaúnica usina da nova central é capaz de abastecer emener gia sozinha todo o estado de Pernambuco.

A energia nuclear é uma das formas de produçãode eletricidade que menos agride o meio ambiente,ocupa pequenas áreas e não emite gases causadoresdo aquecimento global. Muitos ambientalistas de or-ganizações internacionais têm revisto suas posiçõessobre a energia nuclear. E diversos países estão cons -truindo novos reatores.

O Brasil opera usinas nucleares há quase 30 anosdentro dos melhores padrões de segurança interna-cional. Ins pirado no modelo que transformou o Vale doTennessee numa das mais prósperas regiões dos EstadosUnidos, o projeto de desenvolvimento regional,associa do ao novo empreendimento nuclear, benefi-ciará uma região de mais de 70 mil km² e centenas demilhares de pessoas.

Durante a sua implementação, esse programa poderácriar milhares de empregos e investimentos de bilhõesno município escolhido e seus vizinhos. Um salto de dé-cadas que vai transformar a vida de quem mora no SãoFrancisco e se propagar por todo o Nordeste. É a energiagerando desenvolvimento e qualidade de vida”.

Carlos Henrique da Costa Mariz

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Palestra:O impacto de uma usina nuclear

Professor Heitor Scalambrini CostaBacharel em Física pela Universidade de Campinas (UNICAMP),

formado em 1978, com mestrado em Energia Solar pelaUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE).

É doutor em Energética pelo Commissariat à l'EnergieAtomique-CEA, Centre d'Etudes de Cadarache

et Laboratoire de Photoelectricité Faculté Saint-Jerôme/Aix-Marseille III, na França.

Leciona na UFPE e é membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e da Articulação Anti-Nuclear Brasileira.

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Gostaria de, inicialmente, agradecer aos organizadores desseevento pelo convite e hospitalidade. Fico muito contente efeliz de estar aqui, já que tenho dedicado minha vida profis-

sional à Universidade. O debate é fundamental, mas também acredito que o debate

não deve se encerrar nele mesmo. O debate deve ter consequên-cias, pois oferece visões diferentes sobre o mesmo problema. Temostambém que tirar proveito dele, pois pode e deve influenciar natomada de decisão. E a tomada de decisão é política, quando da es-colha das fontes de energia para atender as necessidades do país.

Uma questão precede, é anterior ao debate sobre a matriz ener -gética e a escolha das fontes de energia para o país. É fundamentaldiscutir o destino desta energia que vai se ofertada, que vai ser pro-duzida. Temos que colocar as questões: Ela vai servir para quê? Epara quem vai essa energia? Ou seja, quando estas perguntas sãofeitas, a questão de fundo que se coloca é “qual o modelo de de-senvolvimento que essa energia vai servir?”.

A energia é um instrumento do desenvolvimento, do cresci-mento, do progresso que, incorretamente, muitas vezes, se confun-dem. Crescimento e desenvolvimento não é a mesma coisa. Crescer

Heitor Scalambrini Costa

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significa “aumentar naturalmente em tamanho pela adição de ma-terial através de assimilação ou acréscimo”. Desenvolver significa“expandir ou realizar os potenciais de; trazer gradualmente a umestado mais completo, maior ou melhor”. Quando algo cresce, ficamaior. Quando algo se desenvolve, torna-se diferente.

Já o progresso desejado não é fazer obras em detrimento de co-munidades e ecossistemas. Há que mudar o paradigma do lucropara a qualidade de vida da população, e responder às necessidadessociais de alimentação, habitação, vestuário, trabalho, saúde, edu-cação, transporte, cultura, lazer, segurança. Não basta fazer coletaseletiva de lixo, evitar o desperdício de água, substituir os carros agasolina por carros elétricos. Na verdade, o que é preciso mudar,para interromper a destruição, é o tipo de desenvolvimento.

Tentei organizar a minha apresentação com uma breve intro-dução sobre as atividades nucleares e o desenvolvimento da ter-moeletricidade nuclear no Brasil, as desvantagens e o impacto dainstalação de uma usina nuclear, e considerações finais.

Hoje, no mundo, existem em torno de 442 reatores nucleares,que estão distribuídos em 29 países. Com o chamado “renasci-mento” da energia nuclear pós-Chernobyl, estavam previstas 65novas usinas para serem construídas nos próximos anos. Mas, o pósFukushima provocou que vários países, como o próprio Japão, sus-pendessem até análises mais apuradas do desastre e a construçãodas usinas previstas.

Os Estados Unidos é o país que detém o maior número deunidades, com 104 instalações nucleares. A França é o mais depen-dente dessa fonte energética. Tem 51 unidades instaladas em seuterritório, que fornecem 76% da eletricidade total consumida. OJapão é o terceiro país em número de usinas nucleares, possui 54reatores em seu território. Em nível mundial, a energia núcleo-elétrica representa aproximadamente 15% da produção total deener gia elétrica no mundo.

Depois do desastre de Chernobyl, em 26 de abril de 1986, houveuma estagnação da indústria nuclear no mundo. O ressurgimentodesta indústria ocorreu nos últimos anos graças a apoios importantes,como dos fabricantes de reatores e equipamentos auxiliares, cujo in-

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teresse está relacionado com a ampliação do mercado para seus pro-dutos; com a apropriação de forma oportunista da questão ambiental,em torno do aquecimento global produzido pela queima dos com-bustíveis fósseis para geração de eletricidade, decorrente das emissõesde dióxido de carbono; de setores militares, fascinados pelo poderque a energia nuclear lhes traz; de grupos de cientistas pelo prestígioe oportunidades de novas pesquisas, e pelo comando do processo; ede empreiteiras e grandes construtoras, por motivos óbvios.

As atividades nucleares no Brasil, na maior parte das vezes, sem-pre foram justificadas pela necessidade do país contar com a eletri-cidade nuclear para atender a demanda crescente. Todavia, estasjustificativas supostamente são para atender os interesses econômi-cos envolvidos nestas transações, e também para esconder as es-tratégias militares.

O Acordo Nuclear Brasil – Alemanha, que previa a construçãode oito usinas nucleares, teve como justificativa oficial atender ocrescimento do país, e assim a necessidade de energia elétrica queiria ser demandada no futuro. Coincidentemente, o mesmo argu-mento é utilizado agora, e sem levar em conta outros recursosenergéticos disponíveis e abundantes. Mas, enfim, o que se constataé que a história nuclear no Brasil é cheia de controvérsias, de in-certezas eriscos.

U m ausina nu-clear é ume q u i p a -mento in-d u s t r i a l ,uma ter-moelétrica,cuja funçãoé produzireletricidadeatravés docalor.

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Se substituirmos o reator nuclear, que utiliza materiais radioativose produz calor, por outro combustível; teremos assim uma ter-moelétrica a gás natural, a diesel, a óleo combustível, a bagaço decana. Basicamente, a usina nuclear segue o modelo de uma usinatérmica convencional.

O combustível nuclear é resultado de um ciclo que se inicia namineração. No Brasil, este minério vem da mina de Caetité na Bahia.Também é obtido em Santa Quitéria, no Ceará. Na mineração e nobeneficiamento do minério, é obtido o “yellowcake”, o chamado“bolo amarelo”. Esse material é convertido em um gás, o hexafluo -reto do urânio, que por sua vez é enriquecido isotopicamente. Ouseja, na natureza o elemento fissionável do urânio é encontradocom pequeno percentual. Então, é necessário aumentar esse per-centual do isótopo U235 para 3% a 5%. Só lembrando que no casode produzir material para uma bomba atômica teríamos que chegara 80%, 90% de U235.

A transformação do gás já enriquecido para um material sólidoé denominado reconversão, produzindo assim o dióxido de urânio,de onde se fabrica as pastilhas combustíveis. Hoje, o Brasil detém atecnologia completa do ciclo do combustível nuclear. Segundo

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alegam os gestores das atividades nucleares, a produção do com-bustível nuclear não é realizada integralmente no país, pois não setem consumo suficiente para obter fator de escala, o que barateariaa produção do combustível nuclear, tornando-a competitiva.

As duas usinas nucleares que o Brasil dispõe estão localizadas naregião de Angra dos Reis, que fica a meio caminho entre os municípiosde Paraty e Angra dos Reis. Esta localização é próxima dos maiorescentros consumidores: a 220 km de São Paulo, a 130 km do Rio deJaneiro e a 350 km de Belo Horizonte.

A potência nuclear atual representa em torno de 2% do totalins talado no Brasil. A geração de eletricidade nuclear esta concen-trada em duas usinas: Angra I, com 657 MW, que iniciou o fun-cionamento em 1985; e Angra II, com 1.350 MW, que começou aoperar em 2000. Além de Angra III, que está em cons trução, e cujaprevisão de conclusão é 2015. Lembrando que somente Angra IIfaz parte do acordo nuclear Brasil-Alemanha, das oito usinas inicial-mente previstas. Angra I foi comprada da empresa Westinghouse,e não pertence ao acordo.

A história das atividades nucleares no Brasil sempre envolveu osmais diversos interesses de militares, políticos, grandes potências,empresários e cientistas. Na maior parte das vezes, as razões ener -géticas foram meras justificativas para esconder estratégias militarese interesses econômicos.

A seguir, estão enumerados alguns dos argumentos contrários àimplantação de usinas nucleares em nosso país:

Do ponto de vista da segurança energética, o fundamentoprincipal para construir novas usinas é a questão da oferta de ener-gia. Alega-se que o país necessitará de mais energia, e que vamosprecisar no futuro dessa fonte energética para atender ao cresci-mento do país.

Todavia, cada vez mais são contestados as projeções, as previsõese os cenários construídos do que vai acontecer no futuro. Existemvários questionamentos sobre esses cálculos oficiais que apontamtaxas geralmente extremamente elevadas de expansão do parqueelétrico, ou seja, a partir desse planejamento é criada uma expec-tativa da necessidade de construir novas usinas para ofertar, e,assim, para atender a essa demanda de energia elétrica.

Historicamente, é verificado que o setor elétrico tem feito pro-

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jeções com base em premissas do crescimento da economia, uti-lizando taxas que geram previsões irreais de consumo.

Por exemplo, em 1987, a projeção do crescimento do consumo,para 2005, foi de 54% acima do consumo verificado. Estas previsõesem médio prazo erram muito. Também as projeções com hori zontesmais curtos foram superestimadas. Por exemplo, em 1999, o con-sumo projetado para 2005 foi 14% maior do que o ocorrido.

Logo, essas projeções geram expectativas cujas consequênciasprecisam ser analisadas. O que realmente ocorre são previsões fu-turísticas, como se fossem “adivinhadas” em uma bola de cristal.Se prevê uma projeção do aumento do consumo de energia levandoem conta que o PIB vai crescer, e ele pode não crescer.

A segurança de garantir energia no futuro, ou seja, de atenderuma demanda futura, acaba criando expectativa, e daí se justificara construção de usinas nucleares, e outras obras megalomaníacas.

Do ponto de vista econômico, o custo previsto das usinas nu-cleares que se pretende construir até 2030, duas no Nordeste e duasno Sudeste, é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões cada uma. Valoreste que deverá ser acrescido de, no mínimo, 20% a 40% até ofinal da obra, como tem se verificado comumente, no caso degrandes obras em realização, ou realizadas no Brasil. Vide o casoexemplar da transposição do São Francisco, cujo custo inicial era deR$ 2,6 bilhões, e que atualmente supera os R$ 5 bilhões.

A partir dos custos iniciais das usinas nucleares, a Empresa dePlanejamento Energético (EPE) estimou o custo da energia elétricagerada em R$ 138,00/MW. Todavia, além dos aditivos de custosque ocorrerão ao longo da construção, haverá o efeito “pósFukushima”, ou seja, novas exigências nas regras de segurança eaumento dos custos das seguradoras. Portanto, com a elevação doscustos iniciais de construção e dos custos com maior segurança emaior seguro, certamente aumentará o custo da energia gerada.Daí, podemos concluir que ocorrerá um aumento nos preços pre-vistos para a eletricidade nuclear gerada nestas novas instalações,afetando, assim, de maneira crescente, a tarifa da energia elétrica.

Logo, se espera que as planilhas de custos da energia nuclear sejamdisponíveis ao público, à sociedade. Transparentes, para que os órgãos

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públicos envolvidos não se desacreditem perante a sociedade.Como exemplo do que estamos falando, centrais nucleares que

estão sendo planejadas atualmente na Finlândia, já estão custandoo dobro do estimado antes do começo da obra. Já nos EstadosUnidos, as usinas implantadas entre 1966 e 1986 tiveram, emmédia, custos 200% acima do previsto.

Então, parece que não é só no Brasil que acontece estas “cor-reções” no valor inicial da obra. A própria história da indústria nu-clear mostra que sempre foi, e vai continuar sendo, uma fonteenergética altamente dependente de subsídio público.

Isso significa o quê? Que quem vai pagar a conta seremos nós,os consumidores.

Em Pernambuco, temos um exemplo emblemático, que foi a ins -talação da termoelétrica Termo Pernambuco. A companhia de dis-tribuição (CELPE), utilizando o argumento que a energia produzidapor esta usina era mais cara, justificou assim, aumentos tarifáriosele vados para o consumidor pernambucano.

Desde 2005, um dos mais conceituados centros tecnológicos domundo, o Massachusetts Institute of Technology (MIT), tem assegu-rado que a tecnologia nuclear não é competitiva sem subsídio. Àmesma conclusão chegaram estudos realizados pelos jornais NewYork Times e The Financial Times. Outro estudo nesta direção foi pu -blicado em agosto de 2005 pelo National Geographic aqui do Brasil.

E, mais recentemente, a revista britânica New Scientist listou osargumentos que desfavorecem a energia nuclear: não sobrevivesem subsídio, os custos para pesquisa e desenvolvimento são altís-simos, são insuportáveis os custos da disposição do lixo nuclear edo descomissionamento dos reatores, assim como os custos daprópria segurança das usinas.

Do ponto de vista ambiental é uma meia verdade a afirmaçãode que as centrais nucleares não contribuem para os gases de efeitoestufa, e que são “limpas”.

Aí residem muitas controvérsias, dúvidas e incertezas. As usinas nucleares, em operação rotineira ao gerar energia

elétrica não geram gás de efeito estufa - ou geram muito pouco.Todavia o combustível nuclear para ser fabricado, passa por dife -rentes etapas que se inicia na mineração, até os cuidados que sedeve ter com os sub-produtos da fissão nuclear, e, finalmente, o des -

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comissionamento da usina. Todavia, se for contabilizado todo o ciclo do combustível, existem

estudos que mostram grande discrepância nos valores das emissõespor unidade de energia elétrica produzida. Vários trabalhos cientí-ficos mostram que o ciclo do urânio é um grande consumidor deenergia e um forte emissor de CO².

O estudo americano “Nuclear Power: The Energy Balance”(2005) compara as emissões de uma central nuclear e de uma cen-tral a gás natural (com uma potência equivalente), concluindo quea eletricidade nuclear provoca muito mais emissões que o gás na -tural consumido na termoelétrica.

O Oxford Research Group avalia que 113 gramas de CO² sãogeradas para cada kWh produzido. Isso é aproximadamente o queproduz uma central a gás. O trabalho de Storm e Smith mostra queentre 150 a 400 g CO² são produzidos na geração de 1 kWh, en-quanto o ciclo para geradores eólicos emite de 10 a 50 g CO²/kWh.A Agência Internacional de Energia Atômica divulga que somente30 e 60 gramas de CO² são emitidos na geração de 1 kWh.

Verifica-se então grande contradição nos números, e que existeuma polêmica e dúvidas sobre a capacidade de emissão de gasesde efeito estufa ao utilizar o urânio para gerar eletricidade.

No caso brasileiro, embora a extração do urânio utilizado ocorraem território nacional, antes de ser usado na usina, ele vai para oCanadá, onde é transformado em gás e, em seguida, para a Europa,onde é enriquecido, depois retorna ao Brasil para a fabricação daspastilhas combustíveis.

A questão dos impactos sociais da instalação de usinas nuclearesé abordada de forma equivocada. Afirmar que um empreendimento deR$ 10 bilhões provocará um impacto revolucionário na economia local,merece, no mínimo, certa desconfiança. Do ponto de vista da empre-gabilidade e dos ganhos financeiros para o município-estado que abrigara usina nuclear, há uma falsa retórica de que os investimentos automati-camente favorecerão os moradores do entorno de tais instalações.

É bom lembrar que, no caso da construção de Angra I, no picoda obra foram empregados 11 mil trabalhadores. Para a construçãoda usina em Itacuruba, foi noticiado que seriam necessários 8,6 miltrabalhadores. Comparando com a atual população de Itacuruba,que é de 4 mil pessoas, haveria a multiplicação por 3 no número

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total de moradores. Daí pode se prever o caos urbano - semelhanteao ocorrido em tantas outras regiões do país.

No município de Macaé, com a indústria petrolífera, multi-plicaram-se os problemas de moradia, saneamento, violência, etc.Em Pernambuco, foi apresentada recentemente uma série de re-portagens no jornal Diário de Pernambuco denominada “Filhos deSuape”, denunciando todas as mazelas sociais que estão ocorrendonas cidades vizinhas com a chegada de mais de 30 mil pessoas paratrabalhar no Complexo Industrial-Portuário de SUAPE.

Sobre a questão da empregabilidade e geração de renda, men-ciono dois estudos muito interessantes com relação às indústriasvoltadas a produzir energia. Um do PNUMA (Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente) e outro da OIT (Organização Inter-nacional do Trabalho), que mostram que os chamados ‘empregosverdes’, a indústria de energias renováveis produz mais empregosdo que a indústria nuclear.

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Do ponto de vista dos riscos, atualmente são feitas afirmativasque as usinas nucleares apresentam alto grau de excelência tec-nológica, como principal fator de garantia da segurança e o au-mento da confiabilidade. Tenta-se tranquilizar as pessoas, afirmandoque a evolução tecnológica levou as usinas nucleares a se moder -nizarem e serem praticamente imunes a acidentes.

Existem riscos de acidentes de menos importância que afetam omeio ambiente e que ocorrem nas usinas, liberando na biosfera osprodutos da fissão nuclear. Embora pequeno, tal risco existe e nãopode ser negligenciado. Com relação ao que fazer com os rejeitosde alta radioatividade produzidos pela usina, cuja deposição final de-manda pesados investimentos, ainda não existe solução definitiva.

Chega-se a afirmar “perigo zero” para as novas usinas queestão em estudos, às chamadas de 4ª geração, que utiliza o con-ceito de “falha para a segurança”. Nestas usinas, quando ocorremfalhas de operação, elas são corrigidas, levando a uma condiçãomais segura do que a anterior. Ou seja, a correção das falhas sedá automaticamente, sem requerer necessariamente à intervençãodos operadores. Como se isto bastasse e fosse suficiente para im-pedir acidentes.

E o fator imprevisibilidade?A exposição à radiação acarreta riscos à saúde associadas à ex-

posição prolongada a um baixo nível, como câncer e mutação doDNA, e aqueles de exposição curta de alto nível de radiação quecausam queimaduras e náuseas.

Os elementos radioativos liberados são produtos da fissão nu-clear, da quebra dos núcleos de urânio - a principal substância quealimenta as usinas. As principais substâncias formadas nesseprocesso são o Iodo 131 (I-131), estrôncio-90 (Sr-90) e o césio-137(Cs-137). Cada elemento costuma atacar uma parte do corpo. Oestrôncio ataca o sistema ósseo; o polônio o baço e os rins; e o iodo,a glândula tireóide. A exceção é o césio, que penetra no corpo hu-mano todo.

No corpo humano, o processo de contaminação depende muitoda água presente no organismo. Uma vez que o líquido correspondea cerca de 70% da composição humana, torna-se assim uma espé-cie de condutor do material radioativo, o que causa o chamado danoindireto, pois a radiação atinge todas as moléculas.

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Preocupante é o que aponta o Relatório da Comissão de MeioAmbiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputa-dos, publicado em 2006, de que o Estado brasileiro está longe deter a estrutura necessária para garantir a segurança das atividadese instalações nucleares.

Nesse documento, são apontadas graves falhas na fiscalizaçãoe monitoramento do setor nuclear, destacando, entre outros pro -blemas, a duplicidade de funções da Comissão Nacional de Ener-gia Nuclear – CNEN, que atua, ao mesmo tempo, comoRequerente, Operadora, Prestadora de Serviços, Licenciadora eFiscalizadora de si própria.

Outro aspecto da maior gravidade em nosso país é a relaçãohistórica muito estreita entre o uso da energia nuclear para fins ener -géticos e para fins militares.

A exportação e a proliferação contínua da tecnologia nuclear au-mentam significativamente o risco de proliferação de armas nu-cleares, existindo o risco de novos Estados se tornarem novaspotências nucleares.

A ressurreição do Programa Nuclear Brasileiro é mais um dos in-

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dícios da estratégia governamental de tornar o Brasil uma potênciaatômica, revelada no documento oficial “Estratégia Nacional de De-fesa”. O dinheiro empregado no programa, para a construção e fun-cionamento de novas usinas núcleo-elétricas, permitirá a lubrificaçãode todas as engrenagens do Programa. A cada usina que construir -mos aumentará o volume de urânio produzido, aumentando assimo saldo com que se espera entrar definitivamente como sócio noClube Atômico. E, para tal, é necessário possuir a bomba atômica.

Abrir mão da energia nuclear significa um importante passo paraevitar o perigo de uma nova onda de proliferação nuclear, dada anatureza dual da energia nuclear, que se presta tanto para aplicaçõespacíficas como militares, sem falar dos problemas físicos de segu-rança nuclear.

Não devemos nos esquecer do que afirmou o físico Robert Op-penheimer, responsável pela construção da primeira bomba atômica,quando visitou o Brasil, em 1953: "Quem disser que existe umaener gia atômica para a paz e outra para a guerra, está mentindo".

A atual política energética e ambiental adotada tem levado oBrasil a caminhar na contramão do que vem sendo feito em váriaspartes do mundo. Lá estão optando pelo uso de fontes renováveisde energia e implementando políticas de eficiência energética.

A noção de sustentabilidade energética descarta a eletricidadede origem nuclear como uma solução sustentável.

Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidadesecológicas e geopolíticas para ajudar a formular outro mundo,necessário para toda a Humanidade, este país é o nosso. Ele é apotência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta, asmaiores florestas tropicais, a possibilidade de uma matriz energéticamenos agressiva ao meio ambiente – à base da água, do vento, dosol, das marés, das ondas do mar e da biomassa.

Entretanto, ainda não acordamos para isso. Em nosso país existem várias alternativas para aumentar a oferta

de energia sem que haja necessidade de construir novas centrais.Uma delas é incentivando a eficiência energética. Também é evi-dente a abundância de recursos renováveis - solar, eólico e da bio-massa - que se prestam à diversificação e complementação damatriz energética nacional. Simplesmente, as vantagens compara-tivas destes energéticos renováveis não são levadas em conta.

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A indústria nuclear é por sua natureza secreta e semtransparência. Em alguns países, é criada uma polícia especializadapara cuidar dos materiais radioativos contra o roubo pelos “terroris-tas”. Com este argumento, a indústria nuclear contribui para adiminuição dos direitos democráticos da sociedade, porque cria um“Estado de Segurança”.

A segurança das usinas geradoras e demais instalações nucleares(tratamento e enriquecimento de urânio, fabricação de elementos com-bustíveis, reprocessamento de combustíveis irradiados, depósitos de re-jeitos etc.) implica importantes e custosos aparelhos policiais. Assim,países que optem pelas usinas nucleares em seus sistemas elétricospoderão ser forçados a adotar métodos próprios de Estados policiais.

É fundamental a necessidade de se discutir mais a questão ener -gética. O debate de ideias e o confronto de interesses são instru-mentos decisivos na formulação de uma estratégia energéticasustentável e democrática. Daí a necessidade de ampliar os espaçosde debate, hoje restritos aos gabinetes dos especialistas.

No caso da energia nuclear, informações técnicas, econômicas,financeiras, de segurança, relatórios operativos, entre outros docu-mentos, são muitas vezes considerados sigilosos e não disponíveispublicamente. Esta fonte de energia acentua o caráter autoritáriona condução da política energética no país.

Não existe uma fonte de energia que só tenha vantagens. Nãohá energia sem controvérsia, mas a nuclear, pelo poder destruidorque tem qualquer vazamento de radiação, não deve ser utilizadapara produzir eletricidade.

A opção nuclear para geração de energia elétrica no Brasil e noNordeste, em particular, não permite resolver os atuais problemas ener -géticos, e virá contribuir com outros problemas sem solução à vista.

O Brasil é um país bem ensolarado, possui muita água e tem fácilacesso ao mar, apresenta fortes ventos e grandes áreas agrícolaspara produção de biomassa, e pode utilizar tudo isso para seu de-senvolvimento, melhorando a qualidade de vida de sua populaçãocom um meio ambiente saudável e renovável.

Acredito e defendo outro rumo. O atual precisa e deve ser subs -tituído por um projeto diferente, contemporâneo dos desafios epossibilidades do século XXI, para que tenhamos segurança ener -gética a longo prazo, com a diversificação e a complementaridade

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da matriz energética nacional, com fontes renováveis de energia,levando em conta um modelo de desenvolvimento sustentável.

Desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as neces-sidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atenderàs necessidades das gerações futuras. É o desenvolvimento que nãoesgota os recursos para o futuro.

Partindo desse conceito, podemos afirmar que é um absurdo e umgrande equívoco o governo brasileiro priorizar a opção nuclear parageração de energia elétrica, considerando que o país conta com tantasopções de produção a partir de energias renováveis, menos poluentes.

Além dos riscos devido a acidentes, ao lixo atômico, às emissõesde CO², aos elevados custos, soma-se o risco geopolítico que essatecnologia traria ao país e à região.

Para finalizar esta apresentação, cito duas frases que acho muitoimportantes e pertinentes. Uma é do teatrólogo Augusto Boal, quediz “cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas aquele quea transforma”. E também a frase da poetisa Cora Coralina, que diz“feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

Meu muito obrigado.

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Palestra:Matriz Energética Nacional:

Necessidade de Energia Nuclear?O Papel das Renováveis

Professor Osvaldo Lívio Soliano PereiraEngenheiro Eletricista com 30 anos de experiência no setor.Ph.D. em Política Energética pela Universidade de Londres e

especialista em Energia Elétrica e Energia Solar pela École Superiéure d'Electricité, na França. Foi professor universitário porquase 20 anos tendo atuado na Universidade Federal da Bahiae na Universidade Salvador, onde coordenou o Mestrado em

Regulação da Indústria de Energia. Atualmente dirige o Centro Brasileiro de Energia e Mudança do Clima - CBEM.

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Introdução

Como ponto de partida, gostaria de assumir a premissa de quenão sou contra a energia nuclear. Há países que precisamdesta forma de energia e eles terão que usá-la. Se França e

Japão precisam de energia nuclear, é óbvio que eles vão ter queusar. Estou entre os que atualmente estão muito preocupados coma questão da emissão de gases de efeito estufa.

E, realmente, em alguns lugares, a nuclear pode ser uma oportu-nidade para não se emitir gases de efeito estufa, mas em não pre-cisando – e é esse o ponto que vou advogar aqui em relação ao casobrasileiro – não há porque fazer uso dela. Esta forma de energia temum risco inerente que, podendo ser prescindido, não há porque neleincorrer. Se, realmente, em algum momento futuro vier a ser necessária,a questão pode ser reavaliada. Mas, não vejo, hoje, necessidade decolocá-la na matriz elétrica brasileira e, em particular, na baiana.

O foco desta palestra será as novas fontes renováveis de energia,particularmente as energias de biomassa, eólica e solar; seus im-pactos, potencial, cenários atuais e futuros, seus custos e a con-clusão, com algumas recomendações.

Impactos das fontes energéticasOs impactos positivos da produção de energias renováveis, no

Osvaldo Lívio Soliano Pereira

Matriz Energética Nacional:Necessidade de Energia Nuclear?O Papel das Renováveis

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que diz respeito à emissão dos gases de efeito estufa, são muitosimilares, à parte alguma peculiaridade, aos da energia nuclear: re-dução da emissão de gases de efeito estufa, particularmente o CO²,mas também o metano. As energias renováveis, assim como a nu-clear, não emitem estes gases. Uma manutenção da tradição da ma-triz elétrica limpa tem sido pontuada constantemente. O Brasilrealmente tem essa tradição. No momento atual, não tem porquetrilhar no caminho contrário ao que sempre se teve: baixos níveisde emissão de poluentes - tanto de impacto local/regional (SOX,NX, particulados, etc.) como global (CO², sobretudo).

Deve-se perseverar no caminho de uma baixa emissão de poluentesde impacto local, do qual a legislação brasileira já impõe li mites; muitoembora em alguns lugares com maior rigor do que em outros. A emis-são dos poluentes locais SOx, NOx, compostos orgânicos voláteis, par-ticulados, etc., não se dá nem nas renováveis nem na nuclear.

O fator limitante destas alternativas ainda era, até pouco tempo,seu custo de instalação. Com o aumento da escala, barateiam-se oscustos de instalação e se entra em um ciclo virtuoso, resultando numapenetração cada vez maior das novas fontes, como vem acontecendocom a energia eólica - hoje já totalmente competitiva - e com a ener -gia solar, que vai chegar lá também dentro de pouco tempo.

Ademais, a instalação no País de fábricas para a produção localdos equipamentos resulta na criação de empregos. As energias re -nováveis, por seu caráter descentralizado e pulverizado, criam umvolume gigantesco de empregos. A China tem algo como 300 milpessoas trabalhando com aquecimento solar.

Os pequenos sistemas solares, no topo das residências, na Ale-manha, geram, hoje, 70 mil empregos ligados a esse tipo de instalação,operação e manutenção. A natureza da energia eólica, pela sua pul-verização em grandes áreas, também cria grande espaço para empre-gos locais. A biomassa, pela sua natureza, é intensiva em mão-de-obra.

Então, tem-se um grande impacto, tanto na produção local deequipamentos, o que acontece com a implantação, por exemplo,das plantas de montagem de equipamentos eólicos na Bahia, assimcomo na operação posterior das plantas renováveis.

Redução de impacto ambiental e aumento de empregos são, por-tanto, dois benefícios muito evidentes. Mas, há ainda impacto posi -tivo no aumento da segurança energética e diversificação da matriz.

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Obviamente, está se criando mais fontes, criando mais oportuni -dades, além de complementaridade entre as diversas renováveis.

Há uma grande complementaridade entre as fontes hidrelétricae eólica, no Nordeste, e, coincidentemente, entre a hidrelétrica e abiomassa, no Sudeste. A descentralização da produção é outrobenefício das fontes renováveis. Também, a rapidez na implantação.Uma fazenda eólica se implanta em dois anos.

Enfim, existe um leque de benefícios. Alguns desses benefíciossão comuns entre as fontes renováveis e a nuclear, sobretudo, aque-les referentes à questão do impacto ambiental, se não considerar-mos os riscos desta última.

Permito-me discordar dos números anteriormente apresentadossobre a energia nuclear. Uma única fonte foi referenciada apresen-tando as emissões de gases de efeito estufa das diversas fontes deprodução de energia elétrica.

A Figura 1 apresenta uma análise de ciclo de vida, baseada em164 referências. Sua fonte é o relatório “Special Report on Renew-able Energy”, publicado em maio de 2011 pelo IPCC - Painel Inter-governamental da Mudança do Clima. Deve-se ressaltar que o IPCCapenas compila ciência. O IPCC não desenvolve ciência.

O relatório congregou mais de 120 autores e quase 500 autorescolaboradores, condição sob a qual tive a honra de participar. O re-latório oficial, na íntegra, que tem mil páginas, constitui-se na maiorcompilação feita na ciência sobre energias renováveis.

Esta figura apresenta basicamente todas as fontes que produzemeletricidade com a faixa de emissão de gás de efeito estufa, compi-lada pelas diversas referências do relatório. A biomassa pode até re-sultar em emissões negativas, porque, no ciclo de crescimento dabiomassa, suga-se o CO² da atmosfera e, depois, se for feito usoda técnica de injeção do CO² liberado na combustão da biomassa,literalmente se está sequestrando CO² da atmosfera.

Fala-se aqui de captura e estocagem de CO² - similarmente aoque se pode fazer para fontes fósseis. Como demonstra a figura, afaixa de emissões de gases de efeito estufa da biomassa, em funçãode sua origem e tecnologia utilizada, é grande.

A fotovoltaica tem alguma emissão. E entre os mais baixos níveisde emissões estão a energia oceânica, a energia eólica e a energiageotérmica. A nuclear já tem uma faixa um pouco maior, quase

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compatível com a biomassa. Os valores médios das renováveis estão todos abaixo de 50

gCO²eq/kWh, enquanto o gás natural vai para algo em torno dedez vezes isto e o carvão fica em torno de 1.000 gCO²eq/kWh. Norodapé da figura, tem-se o número de contagens de referências quereportam essas emissões.

Figura 1: Análise de Ciclo de Vida de Emissões de GEEFonte: IPCC, 2011

O Quarto Relatório de Avaliação da questão da mudançaclimática, publicado pelo IPCC, em 2007, o mesmo que resultou numPrêmio Nobel da Paz para a entidade, sugere tecnologias e práticasde mitigação para o setor de produção de energia elétrica projetadaspara serem comercialmente viáveis antes de 2030. Lista a captação earmazenamento de carbono para usinas geradoras de eletricidade abase de gás, derivados de petróleo e carvão mineral, ou seja, es-tocagem de CO² dentro da terra, eliminando as emissões para a at-mosfera do CO² dos combustíveis fósseis; a energia nuclearavançada, que é exatamente aquela em que existe um ciclo fechado,em que não se produzem resíduos. Isto é: todo o material radioativofica confinado. Seria uma energia nuclear mais ambientalmente sadia.

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A terceira vertente elencada refere-se às energias renováveisavançadas: a energia oceânica (de ondas e marés), a solar concen-trada e a solar fotovoltaica, que se somariam às renováveis já com-petitivas como a eólica, a biomassa, a geotérmica e a hidrelétrica.

Colocam-se, então, no mesmo patamar de desenvolvimento tec-nológico essas três grandes fontes, que realmente vão ter um papelfundamental no atendimento de energia em longo prazo.

Potencial EnergéticoO potencial de utilização das fontes renováveis pode ser observado

na Figura 2, também oriunda do mesmo relatório do IPCC, men-cionado anteriormente. Tem-se na figura os volumes de potenciais téc-nicos das diversas fontes primárias. Para a produção de ele tricidade,tem-se um potencial gigantesco a ser utilizado das fontes geotérmica,oceânica e eólica. Já a hidroeletricidade tem um remanescente muitopequeno. Quase toda a hidroeletricidade do mundo já foi explorada.Note-se que a oferta total de energia em 2008 foi de pouco menosde 500 exajoules (EJ) e a demanda de eletricidade de 61 EJ.

Figura 2: Potenciais Técnicos Globais das Fontes RenováveisFonte: IPCC, 2011

Por outro lado, a capacidade de produção anual deste energéticoé da ordem de 1.000 EJ, no cenário mais otimista da geotérmica, ede quase 600 EJ para a energia eólica, que no mais pessimista ficaria

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na faixa de 85 EJ. No caso da energia solar, que vai realmente ser aenergia do futuro, está se falando de um valor médio de 10.000 EJou, num cenário mais otimista, de algo em torno de 50.000 EJ. Oscombustíveis fósseis, assim como o urânio, esgotar-se-ão e ter-se-áque aprender a conviver com a energia solar. Aprender a armazená-la é o nosso grande desafio tecnológico.

A Figura 3 mostra o potencial brasileiro de energia solar. São dadosdo relatório SWERA (Solar and Wind Energy Resource Assessment),que sintetizou um esforço feito globalmente, envolvendo diversas ins -tituições, em vários países, para produzir uma avaliação do potencialdestas duas fontes. A figura deixa claro onde se situa o maior potencialde energia solar no País. Tanto mais claros os tons, maiores são os po-tenciais. O tom mais claro refere-se à região onde se tem a maiorradia ção de energia solar, e ele está concentrado no território bai ano.

Figura 3: Radiação Solar Global Horizontal – Média AnualFonte: SWERA

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A Bahia e o Nordeste têm grandes índices de radiação tantono plano horizontal (Figura 3) como no plano inclinado (Figura4). A radiação inclinada é fundamental para uso de sistemas fo-tovoltaicos. Assim, é evidente que o maior potencial brasileiro deenergia solar está situado eminentemen te na Bahia. Na sua sín-tese so bre o potencial da energia so lar, o SWERA mostra que ovalor máximo da radiação so lar global é de 6,5 kWh/m² e ocorreno norte do estado da Bahia, próximo à fronteira com o estadodo Piauí.

Figura 4: Radiação Solar no Plano Inclinado – Média AnualFonte: SWERA

Já a radiação direta é fundamental para utilização da tecnologiaque faz uso de espelhos e concentradores, e com a qual se conseguealtas temperaturas e, a partir daí, se produz energia elétrica. Hoje,

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já se consegue armazenar o calor produzido, o que era um grandedesafio, por oito horas, 10 horas e até 12 horas.

Gera-se o calor quando se tem maior radiação – durante o dia– para satisfazer a demanda de mais energia à noite. Com essedeslocamento no armazenamento do calor através de fluidos,como sal fundido, consegue-se armazenar calor por um temposignificativo.

A Bahia tem sido objeto de análise sobre a possibilidade de ins -talação desse tipo de empreendimento no Estado. E, na verdade, omaior potencial brasileiro está realmente na mesma regiãoNordeste, como demonstra a Figura 5.

Figura 5: Radiação Solar Direta – Média AnualFonte: SWERA

Os mapas das médias diárias de radiação solar na faixa espec-tral fotossinteticamente ativa, denominada PAR, demonstram que

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os maiores níveis de radiação PAR ocorrem durante a primaverasobre as regiões Nordeste e Centro-Oeste e, durante o verão, nasregiões Sul e Nordeste. Novamente, o Nordeste tem outra poten-cialidade energética a explorar. Capim elefante e cana-de-açúcar,e seu consequente bagaço, são fontes potenciais para produçãode energia elétrica.

Vale ressaltar que, com o aquecimento global, a cana é uma dasculturas em que se prevê impacto negativo. Ao contrário, é previstoaumento de produtividade. A Figura 6 ilustra a média anual da ra-diação solar PAR, representando, com o verde mais escuro, asregiões de maiores capacidades fotossintéticas do Brasil.

Figura 6: Radiação Solar PAR – Média AnualFonte: SWERA

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O Plano Nacional de Energia 2030 estima o potencial de exce-dente de bagaço de cana em algo em torno de 10 GW. O potencialexcedente - além do que é usado pela própria usina - do bagaçosobe mais 14 GW se começar a ser utilizada a palha e a ponta dacana, o que se constitui na tendência natural com a mecanizaçãoda biomassa. Em relação a outras biomassas, podem-se destacar osresíduos sólidos urbanos cujo potencial para geração de energiaelétrica pode chegar a 8.5 GW.

No que diz respeito ao potencial eólico do Brasil, apesar de osúltimos dados oficiais estarem totalmente defasados, na medida emque o Atlas Nacional já tem mais de dez anos e tomou como basemedições a 50 metros de altura, os tons em vermelho e violeta apre -sentam as regiões de maior potencial, que estão concentradas naregião central da Bahia e no litoral norte do Nordeste, concentrandomais de 50% da capacidade nacional (Figura 7). Hoje, com o estágioatual da tecnologia, a energia eólica já não é mais aproveitada a 50metros, mas a 100 metros.

Figura 7: Potencial Eólico Nacional, a 50 mFonte: Eletrobrás

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Recentemente foi feita uma tentativa pelo CEPEL de extrapolaro potencial para 100 metros. Pode-se constatar, na Figura 8, o re-sultado deste ensaio, no qual é apresentado o perfil do potencial deenergia eólica nacional neste novo patamar de altura. Se o mapaanterior quantificava em 144 GW, e entenda-se este valor comoalgo em torno de 20% a mais do que a capacidade instalada totaldo Brasil; com este novo mapa, especula-se uma capacidade eólicado Brasil na faixa de uns 400 GW. Novamente, vê-se que a maiorconcentração se dá no litoral norte do Brasil, no espinhaço centralda Bahia, no litoral do Rio Grande do Sul, mas também começa aaparecer potencial em São Paulo.

Figura 8: Potencial Eólico Nacional, a 100 mFonte: CEPEL

O Rio Grande do Sul, ao atualizar seu atlas, viu seu potencialsaltar de 15.8 GW, a 50 metros, para 115 GW, a 100 metros, mul-tiplicando-o por oito vezes. A Bahia não atualizou o seu atlas ainda,mas seria desejável para estimular novos entrantes. O Atlas atual

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foi feito a 50 metros, pela Coelba, e é apresentado na Figura 9.

Figura 9: Potencial Eólico do Estado da Bahia, a 50 mFonte: Coelba

Outro ponto constantemente ressaltado em relação à energia eólica ésua complementaridade com o recurso hídrico, sobretudo no Nordeste. NaFigura 10, observa-se que a vazão do Rio São Francisco, no período maisseco, coincide exatamente com os melhores ventos no Nordeste. Nestecaso, a simulação foi feita apenas para as usinas arrematadas pelo PROINFA.

Figura 10: Complementaridade hidro-eólicaFonte: Eletrobras, 2005

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Ademais, o Brasil tem, ainda, um potencial gigantesco dehidroeletricidade por explorar. A maior parte dele situa-se naAmazônia, uma região ambientalmente sensível. A hidroeletricidadeexplorável permite dobrar a capacidade instalada nacional.

Um estudo publicado pela revista IEEE Power and Energy Society,em 2010, evidencia mais claramente a complementaridade discutidaanteriormente. A Figura 11 sumariza os achados do estudo, desta-cando em azul o nível de estocagem dos reservatórios brasileiros,deixando evidentes os períodos de seca; em verde, observa-se aprodução física da bioeletricidade, bagaço, sobretudo; e em ver-melho a produção física da energia eólica. Se compusermos as trêscurvas, poderemos inferir que a energia firme do País aumenta sig-nificativamente, podendo, provavelmente, garantir uma matrizelétrica eminentemente renovável.

Figura 11: Complementaridade hidro-eólica-bioeletricidadeFonte: Barroso et al. (2010) IEEE PES

O Plano Nacional de Energia também discorre sobre o potencialde conservação. O plano foi extremamente pouco ambicioso naquestão da eficiência energética. Trabalha com uma economia de3%, mas um programa arrojado de eficiência energética poderiaconsiderar algo entre 15% e 20% de redução da demanda ener -gética. Se for introduzido um programa arrojado de aquecimentosolar, pode-se cortar mais ainda. Ações de ‘eficientização’, que

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geralmente têm tempos de retorno bastante curtos, poderiam im-plicar na postergação de investimentos importantes por vários anos,período em que as tecnologias emergentes se desenvolvem, aexem plo da energia solar, que ficará totalmente competitiva.

O Plano Nacional de Energia faz estimativas sobre o potencial deutilização do gás natural, que é significativo, da ordem de até 21 GW.E também trabalha com o cenário nuclear. E o que está consolidadopara o horizonte de 2030, ou seja, nos próximos vinte anos, são qua-tro centrais nucleares, que somariam algo próximo a 5 GW.

Sintetizando, se as oportunidades, discutidas acima, na busca deuma matriz elétrica mais limpa fossem consideradas - a hidrelétricapoderia atender algo como 87 GW médios; as pequenas centraishidrelétricas 3 GW; o bagaço entre de 10 e 24 GW; e a eólica pode-ria chegar a produzir 60 GW médios; soma-se a isto a produção apartir do gás natural, que, como foi visto, também tem um potencialnão desprezível - ter-se-ia então uma matriz elétrica eminentementerenovável, com um back-up baseado em gás natural, que pode serconsiderado o mais limpo dos combustíveis fósseis.

Situação Atual e Perspectivas FuturasA capacidade instalada, hoje, do Brasil, em 2011, é de 81 GW

de energia hidráulica, 9 GW de renováveis – o bagaço sendo a prin-cipal fonte, 22 GW de fontes fósseis e 2 GW de nuclear. Tem-se,portanto, algo como 2% da eletricidade de origem nuclear, uma im-portância muito limitada, e 98% das outras fontes.

O modelo brasileiro de compra de energia futura se dá atravésde leilões competitivos. Entre 2005 e 2010, aconteceram 10 leilões,chamados A-5 e A-3, e compraram-se quase 12 GW, 70% dos quaisde combustíveis fósseis, e apenas 30% de renováveis, tornando amatriz elétrica brasileira significativamente mais suja, pois a energiaelétrica fóssil foi oriunda, sobretudo, de óleo combustível, óleodiesel. Fora desta conta, ficaram os leilões especiais, dos projetosestruturantes na Amazônia (Santo Antônio, Jirau e Belo Monte).

Começou-se a perceber que havia espaço, sobretudo, em funçãode questões circunstanciais internacionais, que permitiram barateardramaticamente o custo das renováveis, para estas fontes, o que,adicionalmente, manteria a matriz elétrica limpa.

Fez-se, então, um primeiro leilão centrado na biomassa, em

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2008, e na energia eólica, em 2009, que resultou em grandes suces-sos de oferta de energia e de preço. Seguiu-se o leilão de renováveisde 2010, também muito bem sucedido, consolidando estas fontesna matriz elétrica brasileira, num ambiente de mercado.

Em 2009, com eólica, foram arrematados 2 GW, e, novamente,em 2010, mais 2 GW. Cada 2 GW destes representa uma usina nu-clear e meia por ano.

Do ponto de vista de preços, os leilões têm mostrado que o gásnatural, a energia eólica e da biomassa podem competir livrementeentre si para a produção de energia elétrica. Até porque alguns pro-jetos hidrelétricos estão nesta mesma faixa de preços, de R$ 100 a105/MWh¹. Exclui-se desta faixa apenas os projetos ditos estrutu-rantes de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, que conseguiram va -lores bem mais baixos.

Apenas a PCH não tem conseguido se manter na faixa compe -titiva, pois está numa faixa de R$ 140/MWh. A se ressaltar apenasque o preço final da energia elétrica oriunda do gás natural não con-templa totalmente o preço final, já que não inclui completamente ocusto do combustível utilizado.

O preço da energia nuclear, como mencionado em outrapalestra, é imprevisível. Não é possível prever exatamente quantoserá. Primeiro, porque Angra III começou há 20 anos, e os númerosnão são muito claros. E, para o futuro, temos que saber se está in-ternalizado, em primeiro lugar, o seguro.

Existe, adicionalmente, o valor do descomissionamento, que équanto vai custar o sarcófago que vai lacrar a usina quando ela pre-cisar ser lacrada, e mais o custo do rejeito. Esses valores nem sempresão internalizados no preço final. Ou seja, os custos não são muitotransparentes.

Como mencionado anteriormente, o Plano 2030 trabalha com ocenário de colocar quatro nucleares, não antes de 2020, portanto,dez anos à frente. Advogo que existirão soluções até o final do ho -rizonte de 2030 para atendimento do mercado elétrico nacional,prescindindo do uso da energia nuclear. E, ao final deste período,poder-se-ia confrontar o estágio do desenvolvimento tecnológico econsiderar a captura de CO², a nuclear avançada e as novas re -nováveis, com um eventual mix destas alternativas.

¹Aqui refletindo os preços do leilão realizado em agosto de 2011,conside rados quando da revisão do texto em dezembro de 2011

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Alinho-me, portanto, a algo que o professor Pinguelli Rosa temdefendido - respeito e gosto muito da opinião dele. Pode-se dar umamoratória momentânea na nuclear e esperar uma nova geração dereatores nucleares, que é a chamada tecnologia nuclear avançada.

Em 2030, realmente, esta tecnologia vai estar competitiva. Im-portante é participar ativamente no desenvolvimento tecnológicode tal tecnologia. E pode ser que seja uma alternativa a ser conside -rada a partir daí. Mas, em um horizonte de médio prazo, não háessa necessidade de novas nucleares na matriz elétrica nacional. E,como se demonstrou, pode-se ficar sem conviver com tal situaçãosem grandes constrangimentos à matriz elétrica nacional.

Planos NacionaisCom o Plano Nacional de Mudança do Clima, o Brasil assumiu

compromissos internacionais de reduzir o seu ritmo de emissão. O focodas ações é o uso das fontes renováveis, na medida em que prevê:

• Cogeração (principalmente bagaço): 11,4% da oferta em2030;

• 34,46 GW em novas hidrelétricas; • Redução de perdas não-técnicas das concessionárias de dis-

tribuição: 400 GWh;• Leilões de energia eólica; • Apoio à expansão no uso da energia solar.• O uso da energia nuclear não fez parte do portfólio com-

prometido.

O Plano Decenal de Expansão da Energia (PDEE), no seu cenáriopara 2020, é apresentado na Figura 12. A figura evidencia o que jáestá contratado e que deve entrar até o final do horizonte, sendoprevista uma única entrada, em 2015, de energia nuclear, oriundade Angra III (menos que 2 GW), que, provavelmente, atrasará parao ano seguinte.

Obviamente, o que está contratado foi feito nos leilões men-cionados anteriormente. Para os leilões futuros, está prevista apenasa aquisição de energia de fonte hidráulica e das novas renováveis -basicamente biomassa e eólica, além de PCHs. Assim, qualquer ini-ciativa de uso de nova energia nuclear se daria a partir de 2020, evi -

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denciando que esta fonte não vai contribuir significativamente parao atendimento da demanda energética de médio prazo do país.

Todavia, o plano prevê que, na eventualidade de dificuldade delicenciamento das hidrelétricas, se parta para termelétricas, inclusivea carvão. Por outro lado, nos últimos leilões já se adquiriu um vo -lume de renováveis que fará com que o planejado seja ultrapassadomuito antes do final do horizonte, sobretudo devido à penetraçãoda energia eólica.

O Plano previa apenas 6 GW de energia eólica ao final do hori-zonte². Pode-se, então, afirmar mais uma vez que, no médio prazo,a energia nuclear é perfeitamente postergável.

Figura 12: Complementaridade hidro-eólica-bioeletricidadeFonte: EPE

BahiaA Bahia tem, hoje, 19 empreendimentos de energia fóssil, que

foram arrematados nos leilões já mencionados. Entrou um nível al-tíssimo de geração fóssil da Bahia nos leilões. Não havia muito rigornas exigências ambientais, além daquelas estabelecidas nacional-mente pelo CONAMA. São Paulo e o Sul do país estabeleceram li -mites de emissões muito mais rigorosos do que aqueles adotadospela Bahia, então, claro que as termelétricas vieram se sediar naBahia e no Nordeste.

Como consequência, tem-se a poluição local, a chuva ácida e acontribuição ao efeito estufa. Foi dada isenção de ICMS para óleopara termoelétrica. Depois se corrigiu isso. Agora, uma disputa pela

²Quando da revisão do artigo em dezembro de 2011, já haviamsido arrematados nos leilões 8 GW de energia eólica

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nuclear, que é fora de contexto, mas, enfim. O Estado ainda vê issocomo uma possibilidade.

Por outro lado, hoje, maio de 2011, já se tem quase milmegawatts de empreendimentos eólicos assegurados no Estado. Exis -te alguma dificuldade na transmissão de eólica - um desafio para ogoverno estadual pressionar o governo federal. Em contrapartida,há um gigantesco potencial de energias renováveis, há um portfóliosignificativo de opções e diferentes instrumentos de políticas quepodem ser adotadas.

Então, toda essa discussão sobre a Bahia sediar ou não uma usina– é claro que tem que escolher o local, tem que fazer a obra civil,encomendar equipamentos, etc – é extemporânea, sobretudo, faceao grande potencial de outras fontes. O Estado pode, certamente,respeitando sua Constituição vigente, prescindir deste risco.

ConclusõesViveu-se, desde o início da introdução da sistemática dos leilões,

no mito da modicidade tarifária – as termelétricas a óleo diesel ecombustível arrematadas, quando em operação, apresentam custosextremamente elevados. A tarifa de energia elétrica está crescendoem ritmo acelerado, muito além da inflação – 12% neste ano de2011, por causa das termoelétricas acionadas no ano passado.

Teve-se, durante algum tempo, uma política de idas e vindas nasrenováveis e, ainda hoje, não se tem uma política de energias reno -váveis no Brasil, porque os leilões não se caracterizam como política.

Todos os países desenvolvidos têm políticas de longo prazo, sejacom um sistema de cotas, seja com um sistema de tarifas prêmio(feed-in tariffs), o que o Brasil realmente não tem. E o leilão é umacoisa que acontece em um ano. No outro, pode não acontecer, ounão contemplar fontes renováveis. Depende do humor e de circuns -tâncias nacionais e internacionais. Faz leilão esse ano de energiasrenováveis, ano que vem não vai ter leilão de renováveis, só gásnatural do pré-sal.

Então, não se tem realmente uma política de longo prazo quegaranta esse processo. E o país precisa ter uma política de longoprazo, sobretudo, quando se pensa em atrair grandes empreendi-mentos fabris de equipamentos para as fontes renováveis. Advogoque se precisa ter algo nesta direção.

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Não se tem ainda um programa específico de energia solar parao Brasil. Os resultados de um Grupo de Trabalho, criado pelo Minis -tério de Minas e Energia, do qual fiz parte, para criar um Plano Na-cional de Energia Solar foram pífios. Basicamente, recomendou-sefazer alguns pilotos, e mais estudos, mas não houve nenhuma sinali -zação efetiva de investimentos ou políticas para a energia solarcomo se faz necessário. A regulação pode contribuir significativa-mente, criando incentivos para o setor privado investir mais.

Outro ponto importante refere-se ao o desenvolvimento cientí-fico e tecnológico das fontes renováveis no País, porque, infeliz-mente, apesar de se instalar plantas manufatureiras de eólica noBrasil, não se tem desenvolvimento de tecnologia brasileira. Então,o País corre o risco de ser um mero usuário das tecnologias solar eeólica desenvolvidas e produzidas alhures.

Há fabricante indiano, argentino, americano, alemão, dinamar-quês e, muito em breve chinês, mas não se tem, infelizmente, nonosso país, uma tecnologia de energia eólica, nem solar. E há espaçopara se fazer algo neste sentido. E é evidente que essa necessidadeimediata da nuclear é uma falsa necessidade. Não que se preciseabrir mão dela para o futuro, mas, imediatamente, não há necessi-dade de novas plantas.

Finalmente, no que se refere ao tema central deste seminário,reitero a minha posição anterior, de uma moratória de novos em-preendimentos nucleares, sobretudo no Nordeste, que tem um po-tencial gigantesco de renováveis. Aguardar-se-ia uma nova geraçãode reatores nucleares, podendo se investir conjuntamente neste de-senvolvimento tecnológico.

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Palestra:Justificativas para não se excluir a Energia Nuclear

Professor Paulo R. F. de Moura BastosEngenheiro Eletricista formado pela Universidade Federal

da Bahia (UFBA) em 1977. Tem especialização em Sistemas de Potência (1982, EFEI),

mestrado em Engenharia da Energia (UNIFEI, 2002) edoutorado em Engenharia Elétrica (UFCG, 2011).

Trabalhou na COELBA por 24 anos. É professor associado da Escola Politécnica da UFBA desde 1980,

tendo trabalhos publicados em congressos e seminários nacionais e internacionais, além de revistas.

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Gostaria, inicialmente, de agradecer aos organizadores peloconvite. Eu sou da casa, então, também quero agradecerpelos que são de fora e estão nos visitando hoje.

No decorrer da organização deste evento, houve um momentoem que seriam três os palestrantes. E todos eles defenderiam asfontes renováveis. Se a gente observar, até o próprio cartaz de con-vite, que tem a Energia Nuclear como tema, faz parecer, sutilmente,subliminarmente, que trataremos aqui apenas sobre a energia eólica.E o convite seria esse. Agora, eu vou me ater ao assunto e tentarser um tanto mais rápido.

Os tópicos que nós vamos explorar são esses aí mostrados: • Matriz mundial e fatores a considerar na geração de energia

elétrica• As usinas melhoram as condições de vida• Fontes sustentáveis x demanda• Perspectivas para energia nuclear • Quebra de paradigmasEntão, eu vou me colocar defendendo a energia nuclear. Eu fico

muito à vontade ao fazer isso, pois sou favorável a todas as fontesde energia. E eu acho que a matriz brasileira tem que ser ampla.

A questão nuclear, que se coloca aqui, inclui a parte de riscos, mas

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os elementos radioativos têm grande uso na medicina. Até na conser-vação de alimentos. Na Europa, a batata e a cebola são conservadasatravés de radiação para que possam durar por um período maior.

E quando eu disse que vinha para a defesa da energia nuclear, nasemana passada, eu escutei alguns colegas me perguntando “Paulo,você é louco? Usa o colete salva-vidas porque na hora que chegamos ambientalistas, eles vão jogar duro. De repente a gente...”.

E, lamentavelmente, Osvaldo, o contrato do seguro de vida foirompido. Hoje, eu estou aqui sem seguro porque ninguém garantevir até esse público defender a energia nuclear.

Entretanto, como eu estava falando, me sinto bastante con-fortável nesta situação. E vejo aqui alunos, como é o caso de Már-cio, que o professor Luizão citou, e que foi um ex-aluno da equipede Osvaldo. Eu lembro que o Patrick, que é um dos defensores daenergia solar fotovoltaica foi aluno nosso, então, eu me sinto muitoà vontade.

E sobre essa questão de que filho será o preferido, eu me declarofavorável à biomassa. E vou mostrar o porquê também.

Passemos então à questão da oferta interna mundial de energia- esse aí é o panorama de 1973 e de 2007.

Eu tomei 1973 porque foi o ano da crise do petróleo – aocasião na qual o barril subiu de US$ 4 para US$ 12. E o que nósvemos aí? Infelizmente, a participação de hidro e renováveis atéreduziu. E não estou falando de produção de energia elétrica. É amatriz energética mundial. Então, o percentual de hidro com re -

Oferta Interna Mundial de Energia6.115 Mega tep - 1973 12.029 Mtep -2007

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nováveis cai de 12,4% para 12%. No slide seguinte procuro mostrar a produção mundial de eletri-

cidade por fonte.

Aí temos “outros” mais “hidro“ representando as fontes reno -váveis. Observem: carvão, nuclear, gás e petróleo. Se houve re-dução de petróleo é por conta do aumento de gás e do aumentode nuclear. Lamentavelmente, para uma das fontes mais poluidoras,que é o carvão, também houve um aumento.

Então, agora, eu elenco os fatores a considerar. Como estou meposicionando como defensor de todas as formas de energia para oBrasil, eu coloco “fatores a considerar na geração de energiaelétrica”. Um dos pontos a levar em conta é a sustentabilidade –para tanto, é necessário examinar o impacto ambiental, o nível deemissões e etc. Outro aspecto é o fator de capacidade.

Eu observei a palestra de Osvaldo. E, sempre que ele querdestacar a energia eólica, ele fala de gigawatt. Em megawatt insta-lado. Mas o fator de capacidade, que é a relação entre a média deenergia produzida e a capacidade da usina, na eólica não passa deponto 3. É o que eu calculei nos dois últimos anos. Na média ameri -cana é ponto 22. Então, significa que para se ter energia firme,como estava sendo colocado pelo professor Mariz, a gente precisade uma potência instalada muito maior.

Examinemos o fator “disponibilidade”. Nós temos disponibilidade.

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Só me referindo ao urânio em si, o Brasil é a sexta reserva mundial. Equando a gente falar de solar, de biomassa e de vento, não es-queçamos de que toda energia é nuclear. O grande reator está umtanto distante, que é o sol. Mas o sol é um reator de fusão nuclear.

Bom, reservas e dependência externa são questões estratégicaspara qualquer país. Nós temos hoje uma dependência na energiaelétrica de aproximadamente 9%, que é a importação da energiaelétrica do Paraguai, por conta de Itaipu, que é metade de cada um.

Investimento e custo também devem ser analisados. No quesitoinvestimento, é preciso ter cuidado com essa relação dólar porquilowatt. Na hora que a gente examina isso, quando a gente re-potencia uma usina, quando a gente super-potencia uma usina, essarelação é baixíssima.

Então, eu posso ter a mesma hidroelétrica, eu posso pegar aPedra do Cavalo, que hoje gera cerca de 20 MW, e eu vou dizer“vai para 600 MW”. O custo de dólar por kW vai lá para baixo.Agora, a energia produzida é a mesma. Logo, eu estou transfor-mando uma usina, que seria mais de base, em uma usina de ponta.Portanto, tenham cuidado com esses números. Precisamos ter visãocrítica quando examinamos coisas desse tipo.

Mais um ponto a se considerar é a geração de empregos. E éaqui que eu me declaro favorável à biomassa – a cana. Florestaspara a geração de eletricidade, plantadas com tal finalidade, sãosoluções bastante viáveis para o Brasil. Porque se nós buscarmosuma relação de emprego por tonelada equivalente de petróleo, abiomassa terá a maior.

Sobre tecnologia e escala podemos falar mais adiante. Agora,riscos. No final da apresentação, eu vou fazer até uma brincadeira,se me permitirem. Porque aí eu tenho ilustrações de outros setoresque oferecem grande risco, e a gente não está nem se dando conta.E também não estamos fazendo nada para mudar isso.

E o lado da demanda. Para mim, nós precisaríamos ter umpanorama, como Osvaldo colocou, até 2020 ou 2030. Aí eu aceitocontinuarmos pensando em crescimento econômico, em lucro e etc.para as gerações futuras que estão aqui presentes, para o meu netoque tem três anos de idade – eu até me emociono quando falodestas coisas.

Eu acho que a gente tem que rever completamente o panorama

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de demanda do mundo. É uma brincadeira. Nós, no Brasil, temosuma só indústria que consome 4% da energia elétrica do País. Éuma só. E patamares de diferença e desigualdade. Como nós, hoje,somos a sétima economia mundial, temos um consumo de aproxi-madamente um sétimo do consumo médio americano. Mas é amédia, porque aqui as desigualdades são enormes.

Quanto ao fato de a usina ser de base ou de ponta, isso já foibastante falado aqui. Vamos tomar alguns desses outros aspectose trabalhar. Sobre a questão de impacto ambiental, como está aí,eu vou só lembrar que a emissão é zero para nuclear, solar, eólicae fotovoltaica.

As piores estão lá com as térmicas a gás natural e óleo com-bustível. E, a pior, pior de todas, é a térmica a carvão mineral. Mas,mesmo esta tem jeito. Basta investir e tornar isso aí mais viável doponto de vista de emissões, com o uso de filtros. Vai encarecer ausina de qualquer maneira.

E o gás natural, vale a contribuição do professor André Valente,que na semana passada me passou exatamente o livro do Lovelockpara ler - porque eu não o tinha lido ainda - em que ele lembra que,no caso do gás natural, em gasodutos e etc. da ordem de 1,5% a2% é o vazamento médio mundial. E quando o gás vaza, emquestão de emissão, é cerca de 40 vezes mais nocivo. Então, vazar1,5% equivale a ser 60% ou mais de emissões nesse tipo de fonte.

Bom, nós temos grandes reservas de hidroelétrica, só que, comojá foi mostrado aqui, estão mais na Amazônia. Temos grandes reser-vas de sol, de urânio, vento e etc. A questão de reserva e dependên-cia, se vocês visitam o site do Greenpeace - a gente não teve hojeaqui o palestrante do Greenpeace -, mas eles colocam a participaçãodo gás natural podendo chegar a 15% da energia elétrica. Quandoa matriz brasileira for vista como um todo, é para ficar da ordem de4% a 5%, como está aí. Isso porque nós não temos reserva de gásnatural para chegar a 2050 com participação superior a 4% ou 5%.

No aspecto “Investimento”, é aquilo que eu já falei: cuidadocom a super-potenciação! E tem a questão do custo intensivo.Então, a usina nuclear apresenta um custo intensivo, as hidroelétri-cas têm um custo intensivo. O professor Osvaldo estava colocandoaqui que não teremos nenhuma nuclear antes de 2020. Certo.

O tempo para construir uma usina nuclear, esqueça Angra III, é

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da ordem de seis anos, pelo menos. Então, você está investindocapi tal durante seis anos para ter o primeiro MWh, o primeirokWh gerado. Logo, a gente diz que a nuclear e a hidráulica sãode capital intensivo.

Aí estão alguns custos de investimento e o fator de capacidadeestá aqui nessa bolinha.

O fator de capacidade está ilustrado de zero a cem. Então, vocêpode ter nuclear com investimento de capital da ordem de US$ 2.200até US$ 4.000 por quilowatt. Mas tem o fator de capacidade que éda ordem de 90%. Eu calculei a média de Angra I e II. Tem sido 86%.Solar térmica e tal. Você vê que eólica está aqui. Olha o fator de ca-pacidade. Veja a parte escura que está colocada. E esse trabalho nãoé meu. O trabalho é da Royal Society, do Reino Unido.

Vamos aos aspectos “Tecnologias, emprego e escala”. Aqui eu

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me declaro muito favorável à biomassa, pois, se a gente compara arelação de emprego gerado por tonelada equivalente de petróleo,ela é a primeira.

Além disso, a gente poderia ver a questão de deter tecnologia eetc. Em relação à energia eólica, as usinas estavam todas sendo fabri -cadas fora do País. E nós víamos os primeiros parques eólicos insta-lados, Morrinhos pela CEMIG e outro no Ceará, sendo sucateados,além da dificuldade de manutenção. Porque uma coisa era o alemãoter vendido a usina em si. Mas, depois, não aparecia para darmanutenção e a empresa falia. E situações semelhantes acontecemno mundo inteiro.

Passemos à questão de escala. Lembrem-se como diminuiu opreço das lâmpadas fluorescentes compactas, por exemplo, pós-racionamento. A eólica pode ter também soluções desse tipo. É pre-ciso que a gente trate separadamente o que é o pequeno e o que éo grande. E aí eu advogo que, exatamente, após 2030, essencial-mente, venhamos a pensar no pequeno, em escala mundial. Nãoprecisa querer ser grande.

Essa solução aí mostrada é da “GUAL Industrie”, tecnologiafrancesa gerando, com eixo vertical, 4,4 kW. Mas daria para terusos residenciais.

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Aqui estão os valores de custos. Eu não vou me deter muito.

Eu tomei valor do EPE e, por exemplo, a eólica aqui eu apenasatualizei o custo, que está na ordem de R$ 180 por MWh. Nopenúltimo leilão, chegou a R$ 160. E, no último, chegou a R$ 134o MWh. Daí estar mais favorável.

O valor de hidro está bem parecido com o que Osvaldo colocouaqui. O custo do solar fotovoltaico mostrado é o preço que nós es-tamos pagando aqui, na Escola Politécnica. Nós fizemos um inves-timento - para quem não conhece, temos solar interligado à rede.

Há painéis solares ali, sobre a marquise. Há aqui 2,4 kW depotência instalada de solar fotovoltaico. E, pelo que nós produzi -mos, os custos são esses: investimento de US$ 13 mil por kW e

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R$ 2.326 é o preço da energia. Aqui eu preferi deixar em realporque quinhentos e poucos reais é o que nós pagamos hoje já como custo da transmissão, da distribuição e etc.

Em relação ao aspecto risco, ele é alto nas termoelétricas a carvão ealto nas nucleares. Pequeno em biomassa, fotovoltaica e eólica. Entre-tanto, os riscos podem ser minimizados com a questão da segurança.

Fontes sustentáveis versus demanda. Eu acho que, do lado daconservação de energia e da demanda, tem que ser tomadaprovidência, não só no Brasil como no mundo inteiro. Coloqueiaqui a questão de iluminar estradas. Eu viajei na Europa por 550kms, em 1994, pegando um carro à meia noite e dirigindo atécinco e meia da manhã. A estrada ficava toda iluminada. Vez poroutra passava um veículo.

Isso relembra o slide do professor Mariz, com aquela tradicionaliluminação da Terra inteira. Então, o que a gente precisa? Investirem nuclear, investir em biomassa, investir em eólica e etc., mas nãopara iluminar fachada de shopping na madrugada, não para iluminarestrada que não tenha significativo risco de acidente de veículos.Ou seja, precisamos ter o uso ético da energia elétrica.

E aí eu coloquei esta frase “Não dê descarga. Seja como as in-dústrias mineradoras, e deixe a sua sujeira para outro limpar” (Dia -mond, 2005). Isto foi um problema ocorrido em Montana, nos EUA.Os mineradores deixaram Montana para a população recuperar. ODiamond aí citado é o escritor de Colapso. Recomendo a leitura.Agora, a única falha do camarada, no entanto, é que ele coloca umbocado de problemas em escala mundial e se esquece de dizer queos Estados Unidos precisariam diminuir o seu padrão de consumo.

Os Estados Unidos, como está aí colocado, representam menosde 5% da população do planeta, mas consomem aproximadamente30% da demanda. São responsáveis por 30% das emissões dosNOx e SOx. Portanto, dentro dessa visão holística, o que eu acho éque precisamos ver o planeta como um todo e o consumo ser ético,com relação a todos os recursos naturais.

Quando eu estou colocando também ali o lucro, é para a gentepensar, que até 2020, 2030 se aceite o lucro. Mas o lucro extorsivoé para ser denunciado. É para deixarmos de comprar de companhiasque tenham lucros extorsivos.

Comparativamente, por vezes, algumas empresas de eletricidade

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falam de quebra de contrato. Agora, a gente poderia estar denun-ciando a quebra de contrato de uma série de empresas distribuidorasdo Nordeste. Porque a quebra do contrato agora está no sentido dedesfavorecer o consumidor.

Temos casos de empresa que foi privatizada na área de dis-tribuição, o professor Aleluia também sabe disso, e a gente conheceempresas que foram vendidas por X e que em dois ou três anostiraram o valor X do negócio, pois tiveram lucros anuais da ordemde 30%, 33%. Nós é que pagamos isso. É a sociedade que pagaisso como um todo.

Bom, que as usinas melhoram as condições de vida já é sabido. Euestive em um seminário de energia, um workshop que aconteceuaqui, patrocinado pelo Governo do Estado, em novembro do ano pas-sado. Poucas pessoas, das que estão aqui hoje, estavam lá. E o pessoalda Eletronuclear mostrou os benefícios com a usina de Angra. Aquiestão citados outros benefícios que eu acho que jamais se pensaria.

Lembro que o professor Aleluia foi diretor da Chesf, em PauloAfonso, que, hoje, sedia um campeonato nacional de vela. Portanto,existem outros benefícios quando se faz uma usina hidroelétrica. Eexistem outros benefícios para várias usinas. A questão aquimostrada, como a melhoria do IDH, está em um trabalho que aChesf apresentou, em 2009, no SNPTEE (Seminário Nacional deProdução e Transmissão de Energia Elétrica). Estes são os valores deIDH de uma série de municípios do Nordeste.

IDH em Municípios com UHE

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E cuidado porque Canindé do São Francisco tem ainda um valorde IDH menor do que a média do Nordeste. Mas é beneficiado porXingó, Itaparica, que ficam ali, naquelas proximidades. E o que foideixado lá certamente vai reverter esse quadro em pouco tempo.Porque hoje você tem passeios no cânion do São Francisco, vocêtem hotéis. O que está em vermelho é a média de IDH do Nordeste.Então, percebemos que diversos municípios têm IDH maior que amédia do Nordeste. E o que está aqui da ordem de ponto 77 é amédia Brasil.

Vejamos agora a questão do Japão e algumas coisas de perspec-tivas da nuclear em si.

No desastre de Fukushima, dos seis reatores instalados, três es-tavam reparando – as unidades um, dois e três. E são unidades todasda faixa de 1971 a 1976. Então, têm mais de 35 anos de operação.Exatamente a quatro, cinco e seis estavam em manutenção. Estavasendo dado um upgrade nelas.

O terremoto foi na escala 8.9. É o sétimo de maior intensidaderegistrado no mundo. A ele, seguiu-se um tsunami. Depois do aci-dente de Fukushima, em 11 de março de 2011, embora não tenhasido noticiado, o Japão teve dois outros terremotos superiores a8, e não houve problema com nenhuma usina. Em termos demorte, parece que foi registrado o primeiro caso devido ao proble -ma da usina em si. Existem 14 mil ou 30 mil mortos por causa doterremoto e do tsunami.

Retrospecto com outras fontes. A questão de acidentes em

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minas de carvão: morre um número significativo de pessoas nomundo. Recentemente ocorreu um acidente no México, no qualmorreram dois operários.

O risco de petróleo e gás. Citei aí só dois dos principais acidentesde petróleo e gás. Tivemos o da a P36, em 2001, no Brasil. O doGolfo do México. Nele, o que se viu é que não havia tecnologia su-ficiente para conseguir controlar o problema. E, nessa questão deacidente, como foi colocada aqui por outros apresentadores, seprocura sempre uma evolução após o acontecimento.

Mas, ali, no acidente do Golfo do México, com a British Petro-leum, no ano passado (2010), eu acho que todos acompanharam,todas as empresas mundiais estavam interessadas em solucionaraquele problema. Agora, éramos ainda mundialmente incompe-tentes para resolvermos um problema dessa ordem.

Sobre o problema das nucleares, o reprocessamento e resí-duos, o lixo, é um assunto que já foi colocado aqui. É necessárioreprocessar mais e mais. Com isso você reduz ao máximo aquestão de resíduo.

A proposta do Lovelock é que nós façamos depósitos dentroda Amazônia, por exemplo, para ser mais um inibidor para adevas tação, tornando uma área não agricultável. Agora, por outrolado, tem vários pesquisadores que mostram que a radiação émais nociva para o ser humano. Mas, para os outros animais epara as espécies não é.

Recordemos as bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki.Pensava-se que elas teriam problemas pelos próximos mil anos.Mas, hoje, não. Pois há algum tempo já tem várias pessoas.Enfim. Hiroshima já foi retomada. E com a palavra retomadaeu quero dizer que ela está habitável, que tem de novo umapopulação.

Chernobyl também já está aberta para visitação, sendo umatrativo turístico, por enquanto. Que turismo! Mas deixa para lá.Em Chernobyl, como foi citado aqui, o relatório da ONU reco -nhece 75 mortes devido à usina nuclear. Mas a imprensa aindanoticia que foram 10 ou 12 mil mortes. De acordo com a ONU,quatro mil outras pessoas poderão ter acelerado o processo can-cerígeno em função da exposição.

Esta transparência mostra como se distribuem as usinas nu-

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cleares no mundo. Vejam a grande concentração na Europa,Japão e Canadá.

A capacidade instalada é dessa ordem - a dos Estados Unidos é damesma ordem, só que eu não quis mudar a escala no gráfico. Os EUAtêm mais ou menos 104 mil MW instalados apenas de usina nuclear.E nós temos 110 no geral. Eu discordo um pouquinho dos 114, ap-resentado por Osvaldo. Eu questiono porque várias daquelas usinasjá estão desativadas - hidroelétricas e termoelétricas.

Então, eu discordo do que está hoje no balanço energético na-cional como capacidade instalada no Brasil. Creio que seja umpouco menor. Na França, a capacidade é da ordem de 60 mil MW.

Capacidade instalada em MW (WEC 2010)

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Aí estão Japão, Rússia e etc. O Brasil está aqui com 1.8. A energia elétrica de origem nuclear totalizou, em 2009, 2.558

MWh. O G8 teve essa participação aqui mostrada. Eu não pudemanter aí BRICs porque a Rússia está aqui no G8.

Eu tenho algumas outras colocações, mas, digamos assim: eu tereique usar um termo mais maneiro - já que o evento está sendo gravadoe tal: me refiro a comportamentos e algumas outras coisas que ospróprios europeus fazem no sentido de compra e venda de energia.

Olha, a França produz e vende energia para a Alemanha, que nãoquer mais fazer nuclear, e vende até para o Reino Unido, passandocom os cabos pelo Eurotúnel. Então, eu compro do meu vizinho, maseu não quero na minha área. Se o meu vizinho pode fazer, então,faça que eu compro. É uma questão um tanto contraditória.

Participação na produção de eletricidade. Esse gráfico eu fiz du-rante a semana passada porque, justamente, no Dia das Mães, aqui,havia uma passeata lá em Tóquio pedindo para acabarem com asnucleares naquele país.

EE de energia nuclear (2.558 TWh, 2009) - partição

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A participação no Japão é dessa ordem que está aí colocado, de 30%.Na França, é de 75%. Então, precisa ver se o consumidor lá está dis-posto a abrir mão de 30% do consumo. Aqui, o francês - eu estou colo-cando que ele vende para Portugal, vende para o Reino Unido e etc.

Principais desenvolvimentos da tecnologia. Estão aí colocados al-guns e eu destaco só a ABWR, que é um projeto do consórcio GE,Hitachi e Toshiba. Alguns reatores com essa tecnologia foram insta-lados na China, no Japão, na Coréia e, também, na França.

O Plano 2030, que a gente aqui já falou, inclui quatro usinas nu-cleares. Isso já foi colocado. Nós fomos falhos nessa questão de mi -nimizar risco, priorizar segurança e etc. Nós, brasileiros. Eu lembroque, quando se construiu o Pólo Petroquímico aqui, na Bahia - osmais antigos devem lembrar -, falava-se que havia o risco de ex-plodir. Diziam: “Nós somos incompetentes”. Incompetentes zorranenhuma! Desculpem a expressão.

O brasileiro é criativo. E o brasileiro sabe operar as coisas. Pre-cisamos não ter esse complexo de inferioridade. E essa questão desegurança, o que acontece é que a gente relaxa. Eu participei tam-bém de um debate sobre energia nuclear aqui na Escola de Edu-cação, há dois meses, e saí olhando os corredores. Em Educaçãotinha extintor de incêndio. Administração, ao lado, estava com al-guns dos extintores vencidos. A gente não se preocupa com isso. Agente não vê um shopping Center fazer treinamento de segurança.

A questão da transparência, eu acho que já foi colocada aqui. Então,é preciso que venhamos a defender a energia nuclear, mas defendercom transparência. Que sejam mostrados os valores de radiação.

Quando a nossa representante de Caetité e da ONG estava aqui fa-lando, eu perguntei: vocês estão medindo? Porque nós estamos numaescola de engenharia. Eu quero falar de radiação em termos de medição,em termos de valores que poderão ser nocivos ao ser humano. Na basedo “eu acho”, da especulação, não dá para a gente crescer.

E a questão de investir é ser aberto. Na hora em que pensarmosem investir, devemos abrir a cabeça para a tecnologia. E aí está aquebra de paradigmas. Vou mostrar duas relações que a gente nãovem fazendo.

Então, com relação à segurança, eu estou brincando aqui. Sobreisso, eu citei um shopping como exemplo - mas são dois que nãosinalizam suas lojas, quanto mais sinalizar a saída de emergência.

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Ontem, eu passei de novo no Shopping Iguatemi, que agora citoaqui, e só tem sinalização de saída de emergência no cinema.

Se tiver um incêndio, se tiver um problema vai ser um caos. Poucoscriticam, poucos educam. Não há uma proposta. A gente se pre-ocupou, no nível brasileiro, com a universalização da energia elétrica,mas nós não nos preocupamos com a universalização da educação ecom a universalização do saneamento e da água potável.

P&D. É preciso que haja P&D. Eu me lembro que o professorCaiuby, há uns dois anos, fica tentando e não consegue aprovar oprojeto de eólica aqui da Escola Politécnica, onde pretende instalartrês kW de energia eólica. É preciso pesquisar algo mais ade quado,pensando justamente em projetos pequenos.

Com respeito a inovar e ter a mente aberta, eu vou mostrar comoa gente não inova no setor que mais mata no Brasil. Trabalhando como dado médio aí em vermelho, temos 400 mil mortos de 1996 a 2007.

E se tiver aí algum estudante daqui da área de segurança e deengenharia mecânica - a proposta, a brincadeira é mais no sentidode cutucar esses colegas aqui.

Então, com 400 mil mortos no período, temos uma média de36.400 por ano. Isso equivale a não cair um avião no Natal e emtodos os outros 364 dias do ano cair um avião no Brasil com 100

Vermelho: dados do DATASUS; Azul claro: DENATRAN;Azul escuro, superior: dados Seguro DPVAT.

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mortos, certo? Épreciso que a gentetenha consciênciadisso.

A partir daí agente entende umamanifestação dessetipo, como essa peçacolocada na Av. Para-lela (outdoor Paz notrânsito – Movi-mento para o bem).

Estamos fa zen domuito pouco para re-solver pro ble mas des -sa ordem, a violênciano trânsito.

Carro elétrico co mo solução. Todo mundo fala do carro elétrico.Primeiro, vol tou a se pensar somente em carro, no quadriciclo,quando existem várias outras soluções. Portanto, quando eu falo deinovar, de ter pesquisa e tecnologia com a mente mais aberta é nestesentido aqui mostrado.

Eu fui pesquisar a relação de peso e eficiência no transporte. E oavião A-320 é uma máquina melhor do que os carros nossos quepesam mil quilos para transportar quatrocentos, quatrocentos ecinquenta quilos. Isso como capacidade, porque o que a gente temaqui, normalmente, é uma pessoa, ou no máximo duas, indo e vindoem um veículo. Então, o que a gente precisa é de um carro quetenha 40, 60 kms por hora de velocidade.

Na semana passada eu cheguei a fazer oito e meio kms daquipara casa em uma hora e quarenta e cinco minutos. Se eu fosse apé seria mais rápido.

Lamentavelmente, não se pensa em um carro mais compacto. Ocarro elétrico, que está aí como solução, é de novo um carro pesado.Só o lastro de bateria é enorme. O que se vai fazer com essas bate-rias depois, em termos ambientais? Vamos prestar atenção a essaquebra de paradigmas.

Aqui está uma solução individual, na França. A França implantou

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aí faz uns dez anos a ideiade você pegar uma bici-cleta aqui e larga acolá.

A bicicleta é coletiva e sepaga dez euros por anopara a utilização desse meiode transporte. Aqui temoutras soluções. Esse carro

aqui é a Romiseta, de 1958. Éum triciclo que levava duas pes-soas. É mais do que satisfatóriopara um transporte urbano.

E esse aqui eu vi recente-mente em Santiago. É muitoparecido com essas pequenasmotos de interior de shopping,

que resolveria o transporte individual. Nãoprecisava a gente estar discutindo.

Agora, o transporte coletivo tem queexis tir. É um direito. Mas o transporte pes-soal, em grandes centros urbanos, pode seruma questão muito mais simples.

As conclusões são essas: a nuclear éótima para energia de base e é segura. Se agente comparar acidentes, o número é infe-rior com relação ao gás natural, com relaçãoao petróleo, com relação ao carvão minerale outras. Por outro lado, é preciso havertransparência, segurança e investimento empesquisa. Eu defendo, então, que a nuclear

deva estar presente na matriz energética. As conclusões mais em longo prazo e médio. Seja para nuclear, eólica,

fotovoltaica, biomassa e outras. Para todas essas, a gente precisa ter in-centivo para pesquisa e políticas específicas. Quando a gente fala de in-centivo e de subsídio todo mundo treme de novo, no contexto neoliberal.

Mas, em um trabalho que publiquei no SNPTEE e, em 2008, em

Justificativas para não se excluir a Energia Nuclear

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um congresso na Grécia sobre a biomassa, eu mostro, por exemplo,que usando o biodiesel (óleo de dendê) dá para a gente pegar a rendados trabalhadores aqui da região de Valença, que é da ordem de R$ 4mil por ano, e ir para R$ 12 mil por ano. Então, se ele tem esse ganho,R$ 12 mil por ano, o camarada ainda vai gastar em produtos alimen-tícios e etc. Daí, o que retorna em imposto para o governo daria paraoferecer um incentivo ou subsídio para esse tipo de fonte de energia.

Finalizando, proponho um nova ética para o século XXI. É precisoque haja uma nova ética para o lucro, para o consumo, para a de-manda. E aqui eu peço que tanto as ONGs presentes como o pro-fessor Asher e o restante dos debatedores comprometidos com aquestão ambiental - esse é um ponto delicado – de que a gente saiadaqui fazendo uma auto-análise de como está o nosso consumo.

Só exercitando, eu desafio que não estejamos todos na oitavageração de celular, por exemplo. E o que é feito das outras sete quenós descartamos no passado? Eu pergunto isto por que até hápouco tempo, os aparelhos vindos de vários lugares do mundo, es-tavam estocados em Manaus, em empresas que fabricam celulares.E, na época do Ministro Minc, também nós vimos lixo sendo expor-tado para o Brasil, vindo de países altamente desenvolvidos.

Bom, é isso o que eu tinha a acrescentar. Obrigado a vocês. Asreferências estão aqui.

• World Energy Council. “Performance of Generating Plant:New Metrics for Industry in Transition”, 2010, London, UK.

• “Energy Efficiency & Renewable Energy” – U.S. Departmentof Energy. August, 2010. Em www.eere.energy.gov, acessoem 14.02.2011.

• Nuclear energy the future climate, 1999. The Royal Societyand the Royal Academy of Engineering, UK.

• Moreira, Aline et al. Análise do desenvolvimento regional eimpactos sociais provocados pela implantação das UHE”. XXSNPTEE, Recife, 2009.

• Diamond, J. M. “Colapso: como as sociedades escolhem ofracasso ou o sucesso, 3ª.Ed. Editora Record, Rio de Janeiro,2005, tradução de Alexandre Raposo.

• Gual Industrie• Sites com dados de acidentes de veículos no Brasil.

Paulo R. F. de Moura Bastos

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DEBATE

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Agora, eu gostaria de convidar os quatro palestrantes paracomporem a mesa. Quanto aos debatedores, nós teremostrês: o professor Asher Kiperstok, o professor Ednildo An-

drade Torres e o professor Getúlio Lins Marques. Eu irei ler rapida-mente uma mini biografia do professor Asher.

O professor Asher Kiperstok é engenheiro civil pelo Technion –Ins tituto Tecnológico de Israel. É mestre em filosofia e Phd na áreade engenharia química em tecnologias ambientais pelo ManchesterIns titute of Science and Technology. É pesquisador do CNPQ, coor-denador da rede de tecnologias limpas da UFBA, professor associa -do da Escola Politécnica da UFBA. Aqui na UFBA o professor Asheré uma referência em tecnologias limpas e meio ambiente.

Vou também ler a biografia resumida do professor Ednildo. Ed-nildo Andrade Torres é bolsista do CNPQ. Possui graduação naUFBA, mestrado pela USP e doutorado em Energia pela UNICAMP.É coordenador do laboratório de energia e gás da Escola politécnicada UFBA e coordenador do programa de pós-graduação em Energiae Ambiente da UFBA. O professor Ednildo é referência aqui, princi-palmente na área de energia da UFBA.

E o Getúlio Lins Marques tem trajetória profissional na área deener gia elétrica, na Coelba e no DNAEE (Departamento Nacionalde Águas e Energia), que depois virou, de certa forma, a atualANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), conduziu um projetode cooperação entre o estado da Bahia e a União Européia, na área

Professor Fernando Augusto MoreiraModerador

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de Energética, e trabalhou com assessoria parlamentar. Então, eu agradeço a presença dos debatedores.Vamos abrir a palavra, primeiro, ao professor Asher.

Eu queria agradecer a oportu-nidade, inclusive, de ter ouvido tantosargumentos aqui colocados. Eu pediriaapenas ao pessoal do quadro paradesligar as lâmpadas laterais e o retro-projetor, se isso for possível. Acho queeles não têm mais nenhuma utilidadea partir desse momento.

O que eu vou falar é o seguinte.A discussão da energia nuclear temque se referir aos diversos usos queela tem. Sem dúvida, há uma questão

estratégica por trás dela. Contudo, afirmar que, no Brasil, a principalrazão para desenvolvermos energia nuclear seja para atender à de-manda energética é uma grande falácia.

O mundo inteiro, foram apresentados aqui os dados, trabalha comum percentual de energia nuclear muito baixo, a não ser alguns paísesem que a indústria se concentra. Se alguém pode dar, no planeta, umexemplo de não precisar de energia nuclear, esse país é o Brasil. Osdados foram apresentados com relação ao potencial aindaaproveitável de energia hidroelétrica, centralizada e descentralizada;há o potencial de energia eólica e há o potencial da energia solar.

Nós vimos aqui o Brasil, hoje, consumindo dois mil kWh de e -nergia ao ano por pessoa e o Canadá 16 mil kWh ao ano por pes-soa. Todo mundo aqui deve estar já bastante careca de saber queo padrão de consumo de economias como a canadense, européiaou americana é completamente insustentável para o pla neta. Enão apenas pelo consumo energético, mas pelo padrão de con-sumo praticado.

Como é que nós continuamos usando isso como referência? E oúnico argumento utilizado é o de que “eu não vou entrar no clubedas economias competentes, capazes de ter uma maior inserçãoglobal se eu não consumir 16 mil ou 8 mil ou pelo menos 5 milkWh por pessoa ao ano”.

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“Professor Asher Kiperstok

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Eu poderia utilizar esse argumento se eu quisesse fazer umapropaganda, por exemplo, da McDonalds. A gente está consumindoduas mil calorias/ano por pessoa e vamos consumir cinco milcomendo sanduíche da McDonalds. E vamos ter uma economia euma sociedade mais justa, com maior qualidade de vida, ou apenasuma sociedade obesa?

Qual o argumento que existe por trás de dizer que “temos que al-cançar esses padrões e não se questionar”? Eu acho que Paulo começouesse questionamento com muita competência, a gestão da demanda.

Nosso trabalho é de planejamento de demanda. E não podemosdesconsiderar dois aspectos principais: a gestão da oferta e agestão da demanda.

Por que é que eu assumo especificamente que, quando queroargumentar sobre a necessidade de novos investimentos para au-mentar a oferta, eu congelo a demanda e digo que ela é imexível,citando o nosso famoso ministro?

Eu não posso mexer com a demanda. Eu vou dar um exemploaqui nessa sala, na Escola de Engenharia da Universidade Federalda Bahia. Eu posso afirmar a vocês que essa reunião poderia estarsendo feita sem o uso de ar-condicionado e sem iluminação se ape-nas tivéssemos uma ventilação cruzada, que este prédio, projetadopor Diógenes Rebouças, permitiria. Se nós podemos fazer isso, porque é que a gente não ensina isso?

Parte do meu trabalho tem sido justamente na busca de eficiên-cia energética e eficiência do uso da água em instalações prediais.Na universidade, em termos de consumo de água, já reduzimos em60%. Na universidade, o centro do conhecimento, nós diminuímosem 60% o consumo de água sem a necessidade de investimentos.

Seguramente, na redução do uso energético, se não cairmos apenasnaquela atratividade de trocar equipamentos, e se montarmos sistemasde gestão energética, ligar e desligar quando for adequado, e atualiza-ção energética, com os equipamentos mais adequados, podemos se-guramente chegar a reduções de 30% a 40% na demanda.

No Japão, 30% de redução da demanda teria significado não terque ter nenhuma usina nuclear. Quando se fala em energia nuclear,normalmente se argumenta que as pessoas são pessimistas em re-lação à capacidade do brasileiro de gerir uma tecnologia de ponta.

Por que é que a gente não aplica esse mesmo otimismo à capaci-

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dade do brasileiro de gastar energia com ética? É como o professorPaulo colocou: por que é que se manipulam esses argumentos?

Agora, só para concluir, porque o meu papel é apenas de de-batedor, quando afirmamos e apresentamos esse gráfico do tipo daoscilação da potência que você tem em função daquelas fontes queoscilam a sua geração por conta das variações climáticas - energiasolar, dia e noite; energia eólica, existência de vento ou não; noexem plo do funcionamento do hospital -, por que é que não faze-mos um gráfico mostrando essas fontes de forma complementar einformando que, provavelmente, 40% do gasto energético do hos-pital se refere a ar-condicionado, que pode perfeitamente ser re-solvido com sistemas de água gelada ou congelamento?

A gente pode, articulando as diversas fontes energéticas, reduzira sua vulnerabilidade e a necessidade, inclusive, de reservação, tor-nando-as complementares. O que é que a gente está falando? Desistemas mais inteligentes. Sistemas que aproveitam o potencial decada fonte, que a coloquem para os gastos mais adequados, que con-trolem desperdícios e perdas, que se articulem entre elas e que gerem,então, complementaridade, eficiência, Inteligência e integração.

Um ponto fundamental para isso é passarmos a considerar quenão temos porque ficarmos presos a modelos de geração centra -lizados. O futuro do planeta, em termos de sustentabilidade, estána geração descentralizada de energia. Aquela energia que estamostentando na escola – a eólica e a solar – coloca a energia disponíveldentro do prédio sem aqueles 18% de perdas entre a geração,transmissão e distribuição de energia que chega até o prédio. E aívocê diz “mas eu tenho que ter baterias aqui”. Não tenho que terbaterias porque eu estou ligado a uma rede centralizada, que temágua acumulada no reservatório.

Aí vêm com o exemplo de que com a bateria vai ter que poluir.Mas eu não preciso da bateria. Se a gente consegue levar essesconceitos de eficiência básica com os sistemas distribuídos de gera -ção de energia, sem dúvida alguma, qualquer pessoa vai concordarque não há qualquer necessidade de se pensar em energia nuclearpara abastecimento da demanda de energia. Mas,uma questão estratégi ca, com relação ao futuro, euconcordo que deva ser discutida. Obrigado.

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Professor Fernando Augusto Moreira - Moderador

Obrigado, professor Asher. Acho que podemos passar a palavrapara o professor Ednildo. Depois para o Getúlio. E, finalmente, ospalestrantes poderão, inicialmente, responder às colocações dos de-batedores. Em seguida, abriremos a palavra para a plateia em geral.Então, com a palavra, o professor Ednildo.

Boa tarde. Todo mundo estácom fome - acredito. E com acabeça cheia de números. Mas euvou começar falando de outracoisa. “És responsável por aquiloque cativas”, disse o pequenopríncipe. E essa plateia aqui, euacho que não pode sair doevento com outra visão, senão ade que temos que mudar o com-portamento de cada um. Casocontrário, o planeta não vai sus-

tentar esta difícil atitude, esse consumo exagerado que nós estamosenxergando. Só para exemplificar, os Estados Unidos consome,aproximadamente, nove toneladas equivalentes de petróleo porpessoa/ano. O Brasil consome 1.2. A China consome 1.2. O Japão,3.2. Isso é para mostrar que não é o clima que faz com que o con-sumo dos Estados Unidos esteja exagerado, e, sim, o desperdícioque é muito por lá.

No mundo, consomem-se mil barris de petróleo por segundo.São 85 milhões de barris por dia. O sheik Yamani disse o seguinte:“acabou a Era da Pedra Lascada, mas não acabou a pedra”. Então,se agente pudesse fazer outra frase, seria: “a Era do Petróleo estápassando, mas não vamos avançar para a Era Nuclear”. Porque,talvez, a era nuclear seja para mais adiante.

Eu sou totalmente a favor, como disse Paulo, de todas as ener-gias. Mas o Brasil, em especial, tem uma matriz energética de 45%de fontes renováveis e 55% de não renováveis. Dentre eles, opetróleo e seus derivados, que correspondem a aproximadamente50%. Entre o gás natural, o petróleo, o carvão mineral - um peda -

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“Professor EdnildoAndrade Torres

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cinho, e, nuclear, tem 1.5 - que é o vagalume. Eu sempre chamoassim porque acende e apaga.

Pois bem, eu acho importante termos a energia nuclear. Mas,onde? Aí é que eu vou mudar um pouco o rumo da história - comoAsher colocou e colocou muito bem. Eu acho que é uma oportu-nidade que o Brasil tem, nesse momento, de se posicionar para ospróximos 50 anos, com o desenvolvimento das energias renováveis,mas sem entrar na energia nuclear como produção, e, sim, comopesquisa e desenvolvimento. E esperar, como disse o professorPinguelli, a moratória.

Certo. Mas, não se trata de esperar em berço esplêndido, mas pro-duzindo tecnologia. Esperando uma nova onda. Porque, hoje, a ondaé das energias renováveis. E, em especial, a biomassa. A biomassa ée será sempre a energia do futuro. Vejamos a cana-de-açúcar. Paracada unidade de energia que você deposita você colhe oito. No casodo óleo de dendê, nós fizemos um trabalho e publicamos na revistaEnergy. De cada unidade, você produz 4.3. Então, mostra que é, naverdade, uma energia solar, que, na verdade, é nuclear.

Se nós enxergarmos dessa forma, nós vamos ter a oportunidadede ter o Brasil não simplesmente recebendo empresas do setoreólico para se estabelecer aqui. Isso é muito pouco para um País quequer se tornar uma potência mundial e, em especial, na energia.

Observemos o caso do Brasil. Nós temos duas usinas nucleares.E eu acho que é importante mantê-las. É importante termos desen-volvimento de tecnologia nelas. Agora, acrescentar mais, nesse mo-mento, eu acho que é desnecessário. Porque, hoje, nós nãopodemos pensar somente em cana-de-açúcar. Está aí o eucalipto.Existem outras biomassas. Na Bahia, só para vocês terem ideia, exis -te um milhão de hectares livres para se plantar a biomassa. No Brasil,existem 220 milhões de cabeças de boi, com 220 milhões dehectares. E, somente na agricultura, são 70 milhões de terrasagricultáveis. Não é possível que a gente não tenha tecnologia paradiminuir o pasto. E se a gente diminuir somente 30% equivale a 70milhões de hectares. Então, por que não optar por isso?

A energia nuclear é importante na agricultura, na saúde e assimpor diante. Mas, para gerar energia elétrica, no Ciclo Rankine, queproduz 33% de eficiência máxima, com os riscos que a gente tem.Agora vocês imaginem o Rio São Francisco. Coitado do São Fran-

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cisco, que deve estar tremendo nas bases por receber uma cargadessas. Já não basta a transposição. Já não basta a exploração dasgrandes cidades que estão ao seu redor jogando os esgotos delas.Agora, queremos botar uma nuclear.

Imaginem que estamos nessa situação e que não haja problemanenhum. Mas, se houver um vazamento? O rio vai levar tudo issopara todas as cidades situadas em suas margens. Quer dizer, é issoque nós queremos? É essa a situação que temos? Nós temos efi-ciência energética - 20% é possível conseguir. Em 2001, se provouisso no racionamento que houve. Só que nós relaxamos. Como noexemplo dado por Asher: aqui nós poderíamos reduzir o consumoenergético economizando luz e ar-condicionado. Agora, é precisocolocar isso para a sociedade.

Eu vou finalizar dizendo o seguinte: primeiro, é preciso encon-trar o caminho, e, o caminho é realmente o das fontes renováveis.E o Brasil poderá ser a potência do futuro nisto. Porque nós temoscondições para tal conquista. Temos terras, temos sol e temos tec-nologia. Basta ter uma definição - não do governo, mas do Estado.É preciso ter a visão de Estado, e não de governo. Em segundolugar, a Constituição do Estado da Bahia proíbe a usina nuclear noestado. Pernambuco diz “vírgula, se esgotadas as fontes”. Por-tanto, lá é possível. Mas, tanto faz Pernambuco ou Bahia. O pro -blema vai ser o mesmo. Aqui ainda tem uma proteção melhor.Entretanto, a gente tem que estar atento para isso. E é preciso termuito mais debate. É preciso levar isso não só para essa Escola,porque é uma Escola de elite. É preciso chegar à periferia. Porque,um mês atrás, o jornal A Tarde publicou uma página inteira falandode energia nuclear. E entrevistou moradores de Rodelas, dessaregião, e alguns não sabiam nem o que era energia nuclear. “Ah,eu sou contra porque ouvi falar”. Porque a grande escola chama-se Rede Globo. É a novela da Rede Globo.

Então, é preciso que a gente interiorize essa discussão. Mas,será que se quer isso? Será que está se querendo isso? O gover-nador esquece que existe uma Constituição, esquece de levar otema para debate, esquece de trazer para a sociedadeuma condição que é sine qua non: a transparência. E issonão está acontecendo nesse ins tante no governo do es-tado da Bahia. Muito obrigado.

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Professor Fernando Augusto Moreira - Moderador

Obrigado. Então, vamos passar a palavra ao engenheiro GetúlioLins Marques. Acho que a intenção é dar a palavra a alguém quevenha falar principalmente pela sociedade baiana. Além da sua expe -riência, claro, por ter trabalhado na Coelba e ter trabalhado em asses-soria parlamentar. Então, engenheiro Getúlio, por favor, a palavra.

Quero registrar primeiro que aesse horário, uma hora da tarde, oauditório se mantém ainda cheio ecom predominância imensa demuitos jovens. Duas semanas atrás,o ex-presidente Fernando Henriquefez uma referência aqui. O debateno País tem se resumido ao medíocredebate congressual. Então, essa ini-ciativa da Escola Politécnica, da UNI-FACS, da Universidade Federal daBahia e da Fundação Liberdade eCidadania vem muito a calhar.

A presença de vocês e o nível dos debates, realmente, podemrevelar, se Fernando Henrique aqui estivesse, que a coisa não se re-sume ao medíocre, segundo ele, debate congressual. Há vida, sim.

Quero dizer que todas as palestras me agradaram bastante, masquero fazer uma referência mais especial ao epílogo da palestra doprofessor Heitor, que foi delirantemente aplaudido quando fez refe -rência às poesias de Cora Coralina e Augusto Boal. Isso me arremete,poderá ser um absurdo o que eu vou dizer, mas isso me arremete aalguma coisa que eu li há pouco tempo, que o mundo precisa de maisfilosofia e poesia e menos tecnologia. Dizer isso numa faculdade deengenharia é duro, não é? E eu sendo engenheiro. Mas, sob certo as-pecto, constitui-se pano de fundo para o que já foi dito pelo professorAsher, pelo professor Ednildo e pelo que eu também vou falar.

A barca da humanidade prossegue a sua viagem. Essa viagemtem sido norteada pelo progresso econômico, justiça social e liber-dade política. Aqui, eu gostaria de mudar um pouco. Ao invés deprogresso econômico – e aqui ouvimos várias vezes “ingressar no

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“Engenheiro Getúlio

Lins Marques

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clube dos ricos” - eu preferiria trocar progresso econômico por bemestar. Dessa forma, eu entendo que a nós interessa menos entrarpara o clube dos ricos do que ser o País com o melhor bem estar,com mais felicidade. Eu acho que é mais por aí.

Essa viagem dessa barca está cada vez mais complicada. Hoje,nós vemos a quantidade de emigração, de imigração, os distúrbiospolíticos pelo mundo todo. Realmente, essa é uma viagem compli-cada. No rumo que as coisas vão, haverá de chegar o dia em quevai haver ruptura. Então, sob certo aspecto, até que ponto essa via -gem poderá seguir sem que tenhamos que agir? Bom, nessa linha,acho, como pensa também o professor Paulo, que qualquer linhade fonte de energia venha a calhar, embora tenhamos sempre emmente que temos que atuar fortemente nessa viagem dessa barca.

Esse modelo no mundo é um modelo que não é sustentável. Essamensagem que se leva aos mais pobres - eu compreendo a men-sagem do professor Mariz e concordo inteiramente. Mas essa men-sagem que se leva aos mais pobres e até aos intermediários dechegar a padrões altos é insustentável. No mundo não vai caberessa turma toda. Então, eu proponho que, antes do desenvolvi-mento econômico, pensemos e utilizemos mais o conceito de bemestar. Essa é a questão que eu coloco de fundo geral.

No sentido tópico, específico, já no tocante à questão da energianuclear, exatamente para nos prepararmos para esse debate, eu re-cebi uma matéria do professor Aleluia, na semana passada, do NewYork Times, que faz referência exatamente à questão da agênciareguladora de fiscalização das usinas nucleares nos Estados Unidos.E, eu não sei se a professora Olívia está aqui ainda, mas recordoque 20 anos atrás eu estava em Paris e ela estava fazendo um cursolá, estava ela e o esposo. Fui visitá-los e eles fizeram referências - jáestavam na França há algum tempo - que muita coisa ocorre nausina nuclear e não é conhecida pela população. A coisa não seriasimples como eu pensava à época. Então, essa matéria do New YorkTimes coloca muito claramente, o título é mais ou menos nessalinha, da relação que acaba se estabelecendo entre o agente fisca -lizador e a indústria nuclear. Eu prefiro não usar o termo fiscalização.Eu prefiro usar o termo governança. Fiscalização dá a ideia da fis-calização, da apuração do que existe. Já com a governança eu pre-tendo que haja fiscalização mais ação efetiva no sentido de fazer

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valer as observações de uma fiscalização. Então, essa questão foi posta agora, já depois de Fukushima.

Então, essa parece ser uma questão extremamente séria, em se op-tando pela utilização da energia nuclear, que é a questão da fisca -lização e da governança. Da atuação preventiva, para que,efetivamente, problemas venham a ser evitados. Aí eu advogo, emuito, para que, naturalmente, haja participação efetiva institu-cional de agências fiscalizadoras, agências governamentais.

Mas, principalmente, a participação dos habitantes locais. Essesé que terão mais interesse, efetivamente, de que as coisas fun-cionem bem. Então, sobretudo há necessidade de muitatransparência, de uma isenção muito grande dos fisca -lizadores e ação efetiva no sentido de reduzir, ou eliminar,melhor dizendo, riscos observados quando da ação fisca -lizatória. Basicamente, é isso que eu coloco.

Professor Fernando Augusto Moreira - Moderador

Então, muito obrigado ao Getúlio. Também peço que permaneçaà mesa se não tiver urgência em sair.

Bom, agora eu gostaria que os quatro palestrantes fizessem umbreve comentárioàs exposições dosdebatedores. Su-giro que a gentepossa começar naordem em que foifeita a apresen-tação. Então, pri -meiro, o professorMariz. Mas, se al-

guém quiser ra pidamente interferir numa palavra, acho que não háproblema, desde que seja sempre breve, por favor.

Professor Carlos Henrique da Costa Mariz Muito obrigado. Anotei com atenção todas as perguntas, e real-

mente gostaria de responder a todas as indagações. Mas como eu seique não será fácil por conta do avançar da hora, eu vou procurar ser

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o mais sintético possível, objetivando aqui resumir algumas questões. Gostaria de começar pelo fim. Pelas colocações do colega ao lado

da mesa. Consta da minha apresentação uma simulação do pro-grama decenal 2020-2030. Porque o 2019-2020 já está traçado,foi mostrado ali. Existem, inclusive, algumas dúvidas de que elevenha a se concretizar na sua totalidade. Aquelas datas, como, porexemplo, Belo Monte e algumas outras, é que poderão não se con-cretizar. Mas, admitindo que ele esteja concretizado, nós fizemosum cenário de 2020 até 2030, e para os senhores terem ideia dadimensão da energia que nós temos que atender só aqui noNordeste, neste período, equivaleria – não é que vai ser assim, nãoé que seja isso que esteja sendo pleiteado – mas, equivaleria a 18mais uma usina nuclear. Por que mais uma? Mais uma, que daria19. Porque existe o uso múltiplo no Rio São Francisco, com a trans-posição e a irrigação, que diminui a quantidade de energia geradanas usinas do complexo hidrelétrico do Rio São Francisco. E equivale,nesse horizonte, exatamente a esse valor: uma usina nuclear. Então,trata-se de um grande contingente de energia que nós temos pelafrente. O setor elétrico trabalha com projeções alta, média e baixa.E na projeção baixa é que a Eletronuclear tem estudado o desen-volvimento dessas quatro usinas nucleares no Brasil.

Porque o problema, na verdade, é o seguinte: se não fizermosas usinas nucleares, nós vamos ter que fazer carvão, óleo e gás. Esseé que é o paradigma. Nada vai substituir, neste momento, umaener gia de base que não seja nuclear, carvão, óleo e gás, grandesemissores de CO² contribuindo para aumentar os gases de efeitoestufa na atmosfera. Só que as hidrelétricas não entram pela difi-culdade em se fazer grandes reservatórios. Prosseguindo ainda nestaquestão, evidentemente que, se não tiver energia, se conseguirmoseconomizar toda a energia disponível, não precisa, então, estarplanejando nenhuma expansão.

O problema é que, para você, inclusive, levar a uma qualidadede vida aceitável a nossa população, você vai ter que investirenormemente em eletricidade para bombear a água para sanea-mento, industrialização, etc. Vocês sabem qual é o déficit de sanea-mento que existe nesse país? E como é que você vai dotar desaneamento sem bombas elétricas? E a industrialização e a in-fraestrutura? Não adianta fugir porque, o Brasil, para se tornar uma

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potência de primeiro mundo, trazendo qualidade de vida para todasua população, vai ter que incrementar bastante a sua energiaelétrica sob pena de ficar um país subdesenvolvido.

Com relação à questão do São Francisco, as pessoas usam aemoção. “Coitado do São Francisco” e tal. Mas, não é nada disso.A central nuclear que vai ser projetada terá torres de refrigeração,o que diminui bastante o consumo de água. E captará a águanecessária para sua utilização de piscinas intermediárias entre ausina de São Francisco, não havendo contato direto da usina como Rio, e, também, não havendo saída de água da usina para o RioSão Francisco. Esta água será apenas para refrigeração que é nocircuito secundário - vide, por exemplo, a França. Se você for verlá como é que são estruturadas as usinas nucleares, você vai ver aFrança coberta de usinas em muitos rios, em mares, em muitos lu-gares. E a França vocês conhecem o poder de fogo que tem apopu lação francesa. O nível de desenvolvimento que eles têm. Eestão fazendo mais duas nesse momento. E não faz mais porquenão precisa agora. E estão fazendo para exportar para a Itália –10% da energia italiana é de origem nuclear. E devem estaravaliando agora, com esse programa alemão do PV, como é que aAlemanha vai conseguir sair dessa. Porque ela tem 25% de suaprodução de energia nuclear, 45% de carvão. Ou ela aumentamais o carvão ou ela importa mais da França nuclear. E é umaquestão que ela vai ter que decidir no curto prazo se ela desmo-bilizar as usinas que estão lá. Essa é a realidade.

Concluindo, a fase de decisão de uma nuclear comporta duasetapas básicas. A primeira etapa é dizer “vamos fazer no sítio tal”.Na hora que decidir isso, imediatamente começam os estudos deimpacto ambiental, com participação da população, com partici-pação de todos os organismos envolvidos. Isso leva de dois a trêsanos. Então, nessa hora você pode questionar. Porque aí você vaiter projeto, você vai fazer a sua pergunta e vai saber exatamentecomo isso vai acontecer, você vai ter simulações. E vai saber o queisso vai trazer de benefício para a população da região.

Então, vamos encarar esse problema de forma profissional. Se,por acaso, nesse estudo de impacto ambiental, que leva esses trêsanos, se chegar à conclusão que é inviável do ponto de vistaambien tal, a decisão de iniciar o primeiro concreto não vem. Não

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se faz. Mas não podemos ter medo de avançar. Até porque pre-cisamos dessa energia para baratear o custo futuro. Porque, do con-trário, vamos ter gás e vamos ter carvão em abundância em nossamatriz energética, o que irá agravar o efeito estufa, que é o que nósqueremos evitar.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, professor Mariz. Passo a palavra ao professor Heitor.

Professor Heitor ScalambriniBem, uma coisa que eu sempre digo aos meus alunos de

eletrotécnica e de fontes renováveis de energia elétrica, lá da UFPE,do Departamento de Engenharia Elétrica, é que a melhor fonte deenergia é aquela que não é consumida. Porque é dentro da cadeiaprodutiva de energia que se tem 70% das emissões de gases deefeito estufa. E a cadeia produtiva de energia, hoje, está baseadaem 80% nos combustíveis fósseis. Fazemos essa ligação diretaporque a questão das mudanças climáticas é o grande desafiomundial da atualidade.

Hoje, praticamente, na comunidade científica, até alguns céticossobre os problemas que estão ocorrendo com o aquecimento globaljá mudaram um pouquinho a sua posição.

Então, podemos dizer que há uma unanimidade, no mundo, emtorno de um grande problema. O maior desafio deste século, quenós temos aí pela frente, do próprio destino da humanidade, é aquestão das mudanças do clima. Essas mudanças vêm através dacadeia produtiva da energia.

Logo, é preciso mudar essa maneira de consumir e de produzirenergia, e as outras fontes de energia. Essa é a primeira coisa quedevemos fazer. O outro ponto trata desse conceito de energias re -nováveis – que eu acho que devemos mudar um pouquinho. Porquequando falamos em energia renovável significa energia limpa. Eener gia suja são os combustíveis fósseis. Mas, não é tão simples. Aenergia renovável mal produzida, vamos dizer assim, também im-pacta muito a natureza.

A questão das monoculturas da cana de açúcar - você devastarmanguezais para colocar torres de aerogeradores também é umaquestão que impacta o meio ambiente. Então, temos que mudar

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esse conceito para sustentabilidade energética, como o professorCélio Bermann coloca em seu livro “Energia para quê e para quem”,lá do Instituto de Eletrotécnica. A energia renovável, naturalmente,não quer dizer energia limpa, não. Essa é mais uma questão que eugostaria de colocar.

Agora, temos um terceiro ponto. Eu venho da universidade,dediquei a minha vida à carreira acadêmica e, claro, sou favorávelque acompanhemos o desenvolvimento tecnológico na área deener gia nuclear. Mas você não precisa, para tal propósito, instalaruma usina nuclear de 10 bilhões. Até porque grande parte de todosesses componentes são comprados de três ou quatro grandes pla -yers do mundo - que são os fabricantes desses ge radores, do núcleode uma usina nuclear.

Para acompanharmos o desenvolvimento na área de energia nu-clear basta fazermos investimentos em reatores de pesquisa, quesão dez vezes mais baratos, em torno de um bilhão de dólares.Agora, falar que nós queremos voltar à Idade da Pedra, que é o quedizem sobre quem é contrário à energia nuclear - não é bem assim.Nós não precisamos instalar uma usina nuclear para fazer o acom-panhamento. Nós podemos fazer reatores, podemos comprar ou in-vestir em reatores de pesquisa, que são dez vezes mais baratos.

Portanto, eu sou plenamente favorável ao que vários debate-dores disseram, que a questão hoje da energia está muito ligada aessa questão da eficiência energética, que nós temos muito a fazernas indústrias, que consomem quase metade da energia elétrica pro-duzida em nosso país.

No nosso próprio dia a dia - como foi dito aqui - é fundamentalessa mudança de mentalidade do ponto de vista de como a genteproduz e como a gente consome energia. O que está em jogo é opróprio modelo de civilização que nós temos.

Por isso que a coisa é mais difícil. Mas eu acredito que outroBrasil, outro mundo é possível. Eu não sou daqueles que dizem “ocaminho está aí e nós vamos traçar”. Eu quero participar paramudar, para tentar criar outra situação.

Era só isso que eu queria dizer aqui nesse momento: a energia nu-clear, hoje, em nosso país e aqui no Nordeste, nós não precisamos dela.

Professor Fernando Augusto Moreira - Moderador

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O professor Mariz pediu para falar.

Professor Carlos Henrique da Costa Mariz É só para esclarecer um pouco a questão desses 10 bilhões.

Porque se fala em 10 bilhões e, realmente, é muito dinheiro. Mas,acontece que são 10 bilhões para fabricar uma energia com fatorde capacidade ponto nove e que gera continuamente. Quandovocê faz essa conta e coloca, está aí, inclusive, na minha apre-sentação, você vai conseguir gerar energia na faixa de R$ 130 aR$ 150 o MWh. Então, é isso que interessa. E quero lembrar maisuma vez que a pior energia é aquela que falta.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorEntão, agora, professor Osvaldo, por favor, teça as suas consi -

derações.

Professor Osvaldo Lívio Soliano PereiraCerto, fizeram várias colocações, mas eu me lembrei de uma in-

teressante, que foi feita já há alguns anos, há seis ou sete anos, pelodeputado Fábio Feldmann, um grande amigo meu. Ele coordenouo Fórum Brasileiro de Mudança do Clima e, na época, ele me con-vidou para coordenar a Câmara Temática de Energias Renováveis. Eaí ele fez uma consideração que eu achei muito brilhante.

Na verdade, nós tínhamos um grande dilema energético - e,depois, eu vi isso em vários outros lugares - porque a sociedadeprecisa se posicionar. A decisão não pode passar por um núcleofechado de burocratas. É uma decisão grande. Nós queremoshidroeletricidade, quer dizer, o próprio modelo foi questionadoaqui por várias pessoas. Mas, sem olhar esse modelo de gestãopela demanda fica mais difícil.

Pensando ainda conservadoramente na gestão pela oferta,nós temos a questão da hidroeletricidade, com um tremendo im-pacto local. Nós estamos vendo as questões que estão aconte-cendo em Belo Monte, que impactam o meio. A comunidadetem que ser ouvida.

A questão da energia nuclear tem um risco inerente, que não dápara dizer que é um risco que não existe. Tem gente que não viajade avião porque tem medo e acha que o avião vai cair. Mas, claro

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que é muito mais perigoso andar de carro. Morre muito mais gentede carro. Há quem diga, no caso da nuclear, “pode ter um vaza-mento e meu filho pode ficar contaminado e deformado”. E é umrisco que existe. Falamos tanto em internalizar custos ambientais.Mas, podemos imaginar e internalizar o custo psicológico que existe.É inerente à sociedade e não dá para dizer que não existe.

A sociedade que baniu a energia nuclear é uma das mais esclare-cidas do mundo, que é a sociedade sueca. Ninguém pode dizer queexiste manipulação - pode ter até certo nível - ou falta de conheci-mento de causa numa sociedade escandinava. E essa, através de umplebiscito, resolveu banir a energia nuclear.

Existe o risco da emissão de gases de efeito estufa com a poluiçãolocal. Então, é inerente à produção de grandes blocos de energiaesse risco. E essa decisão precisa ser tomada de uma forma maisaberta, da maneira mais participativa possível. Levar isso em contaé algo que considero muito importante.

Bem, sobre outros fatores específicos, aqui eu realmente con-cordo com Asher. Ele usou a mesma palavra que eu usei - a faláciada necessidade imediata da nuclear. A questão do fator de capaci-dade, a média realmente é inferior a 30%, mas os leilões brasileiros- isso são estudos feitos pelo INPE (Instituto Nacional de PesquisasEspaciais) - mostraram um fator de capacidade no Brasil extrema-mente mais elevado.

Já existiam estudos do INPE que sinalizavam nessa direção. Oprofessor Ênio fez os estudos sobre potencial eólico no Brasil. E,realmente, nos leilões, pelo menos o que foi medido, como resul-tado de dois ou três anos de pesquisa, sinalizaram um fator decapacidade de 44% - eu pulei isso na minha transparência ao cor-rer nos últimos minutos.

No último leilão, em 2010, o fator de capacidade estava entre40% e 45%. Então, se estamos falando de dez bilhões e fator decapacidade 0.9, a gente pode pensar em um bilhão com fator decapacidade de 0.45. É razoável pensar nisso. Então, o fator de ca-pacidade é uma coisa da eólica que precisa ser pensada. Os ventosbrasileiros, sobretudo os do Nordeste, são reconhecidos como osque têm fator de capacidade muito elevado.

Acho que foi Paulo que mencionou aqui a questão, como eu voudizer, da incoerência do resto dos europeus que compram energia

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nuclear da França. Mas é da natureza da energia nuclear a gentedizer e pensar assim: not in my back yard. Eu quero energia nuclear,mas lá longe de mim. É ótimo que eu tenha energia elétrica, euquero. É claro que existe um pouco de incoerência sobre essa lógica,mas é o conceito básico inerente à energia nuclear. Porque se derproblema, vai estar longe. Então, é natural que se pense assim. E ofrancês viu ali uma oportunidade e está exportando energia. Masum diz “eu não quero aqui dentro”, o italiano diz “eu não queroaqui” e a coisa está acontecendo ali em volta.

Bem, eu gostei dessa colocação sua, Getúlio. Eu li esse artigo re-cente também sobre a captura do regulador. Esse é um ponto real-mente importante. Temos visto dificuldades muito grandes emalgumas de nossas entidades de regulação. Primeiro, porque elasforam completamente desarticuladas. Elas foram esvaziadas. Elasperderam o poder, perderam a importância.

Eu acho que a menos capturada ainda é a Agência de EnergiaElétrica, porque na área de petróleo a situação é mais grave, comtotal captura pelo governo e pela Petrobras. A ANEEL é, portanto,uma das melhores.

Eu voltei de uma experiência de um ano e meio em Moçam-bique, tentando montar a Agência de Regulação de Energia Elétricalá, e, basicamente, eu aprendi que, quando você tem uma empresaestatal, regulá-la é uma coisa muito mais difícil. Se a entidade é doEstado, é muito mais difícil conseguir regular ela. Porque, basica-mente, ela se auto-regula.

E vimos que isso ocorre mesmo em sociedades avançadas –esse artigo é muito bom, falando sobre a captura do regulador deenergia nuclear nos Estados Unidos, que faz vista grossa a riscosmuito elevados.

Finalmente, outro aspecto que eu acho que tem relevância nadecisão de se optar pela energia nuclear é que, realmente, o Brasiltem grandes reservas de urânio. É a sexta do mundo. E, obviamente,fazermos a cadeia do enriquecimento do urânio pode ser uma dasrazões para justificar que precisamos de eletricidade de origem nu-clear. Então, em alguns casos você pode estar querendo, sob umaótica que extrapola o setor elétrico, justificar essa necessidade pre-mente do setor elétrico para o Brasil entrar no mercado de exportarurânio enriquecido.

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Nosso urânio, nós temos reservas aqui em Caetité, vai para oCanadá para ser enriquecido e volta para ser usado. Eventualmente,por razões estratégicas, a gente tem o processo de enriquecimentode urânio, que eu não sei se é completamente comercial ou se temescala para se tornar comercial. Aqui ainda não foi demonstradoefetivamente. Mas, com essa possibilidade de ter algumas centrais,você viabiliza e insere o Brasil nesse mercado de urânio enriquecido.

Se bem que, na semana passada, eu estava conversando com oprofessor Ildo Sauer, estava até tentando trazê-lo aqui para essa dis-cussão, e Ildo colocava que essa é mais uma falácia. Sobretudo,hoje, com esses recentes acontecimentos, em que o Japão anunciouque não mais vai construir 14 reatores e com o desaquecimento po-tencial na Alemanha.

Haveria, hoje, um excedente de potencial de enriquecimento deurânio no mundo. Haveria uma superprodução de urânio enrique-cido. Então, mesmo essa razão aí eu não sei se realmente justifica.Mas, finalmente, eu ainda questiono esse último item aqui. Esseplanejamento que você mencionou 2020-2030 não confere. Naverdade, temos visto o de 2010-2020. E o cenário que eu ouvi falar,informalmente, é que, na verdade, poderia até reduzir já o ritmo denovas nucleares para esse cenário do plano de 2035, que está emelaboração na EPE.

Logo, os dados que nós vimos aqui são de 2030, mas, na ver-dade, a EPE já está trabalhando no Plano Nacional de Energia nocenário de 2035. Então, aparentemente, com o sucesso que tem seobservado nos leilões recentes da biomassa, pelo menos aquelescenários de grandes nucleares não pareciam que fossem se darnesse sentido.

Realmente, esse estudo não pode ser feito internamente. Feliz-mente, ele é discutido com vários segmentos da sociedade. E, nofinal, esses estudos de planejamento energético têm isso: as audiên-cias públicas. O que eu acho que torna o processo bastante parti -cipativo, como foi o caso do Plano Decenal de Energia Elétrica 2019.

Obrigado.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorEu sugiro que o professor Paulo faça as considerações dele.

Depois, permitiremos que o senhor, professor Mariz, complete

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sua argumentação.

Professor Paulo R. F. de Moura BastosO professor Mariz está ficando um tanto enriquecido pelo de-

bate. E radioativo também. Então, eu e Ednildo teremos de noscuidar um pouquinho para não sairmos daqui contaminados.

Professor Carlos Henrique da Costa MarizEu não diria radioativo, eu diria energético.

Professor Paulo R. F. de Moura BastosMas eu não quero muito entrar em polêmica. Eu gostaria de

ace lerar e passar para a plateia. Só lembrando da biomassa, oque foi dito pelos debatedores aqui, por exemplo, como o pro-fessor Asher, eu concordo completamente. Eu também já haviacolocado a questão da demanda e da oferta. E Ednildo comple-mentou com a biomassa.

A biomassa não tem aquele acende e apaga como está ali colo-cado pelo Mariz, porque, no caso exposto, ele considerou apenas obagaço de cana, que é muito sazonal. Mas, podemos ter, como eufalei, o óleo de dendê, o óleo de girassol, o óleo de soja. Tudo issoé biomassa. E a madeira reflorestada.

Parecemos, hoje, muito divergentes, mas, ontem, jantamos jun-tos. Lá também, em determinadas horas, o debate ficou acalorado.Mas, na biomassa, acho que há convergência. Nesse aspecto, a flo-resta, lembrando a questão da Braskem, que fica pertinho daqui,que tem pronta há mais de 15 anos uma termoelétrica à biomassa- só que nunca operou porque, quando foi privatizada e ela ganhouaquela área reflorestada da COPENE (Companhia Petroquímica doNordeste Ltda.), o preço internacional da madeira estava melhor.Então, eles exportaram a madeira. E não queimaram. De qualquermaneira, foi um uso mais nobre.

A questão das perdas, eu não havia tocado. Alguém falou aqui.Acho que foi Ednildo ou foi o Asher. Falou de 18% das perdas. Éisto mesmo. Eu estava afastado, estava trabalhando no meudoutorado. Cheguei agora em março. E eu trabalhei exatamentecom perda, e é aproximadamente, pelos dados que a gente tem doBalanço Energético Nacional, 71 mil GWh.

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Isto significa perda global de 18% da energia produzida no Brasil.Essa é a quantidade de energia elétrica perdida. Para vocês teremuma ideia, o total de Itaipu produzido em um ano fica em torno de85 mil GWh, com alguma oscilação. Tem quase uma Itaipu de per-das. E essa questão também dos cientistas e etc. Só lembrando queos pêndulos dos cientistas oscilam e tal.

Eu estava aqui recordando, não é da nossa área e aí a gentepode ficar mais à vontade para falar, o colesterol era um pro -blema, há 20 anos, enorme. As pesquisas foram feitas e se de-senvolveu até ovo sem colesterol. Hoje, o que se vê é que amargarina vegetal é pior do que a manteiga. Então, os estudosvariam um pouco, oscilam e etc.

Quem quiser pesquisar um pouco sobre as geleiras, para a minhasurpresa eu andei verificando uma coisa dessas, os glaciares, porexem plo, e os ambientalistas mostram muito as fotos do Alasca atécom data - na parte do Hemisfério Sul, vários glaciares estão dimi -nuindo. Entretanto, os dois mais ao norte, um deles é o PeritoMoreno, estão aumentando. E são os de menor latitude. Então,estão mais próximos ao Equador.

Eu estou finalizando em nome do companheirismo com Os-valdo, que é o meu companheiro de caminhada há muito tempo- já andamos uns 600 kms juntos. Andamos mesmo no litoral daBahia. Mas, eu ainda vou ler um trechinho do que Lovelock colocano livro dele “A vingança de Gaia”. Ele diz: “a minha insistênciana necessidade de energia nuclear decorre do fato de que nãoexis te outra alternativa segura e confiável para produção em largaescala da eletricidade”.

Com respeito à eólica, ele diz: “olha, a Alemanha e a Dinamarcacomeçaram com a produção em terra e já está off shore. Joga parao mar porque ninguém aguenta o barulho”. Aí eu, de ontem parahoje, fui fazer um exercício daqueles números ali colocados do po-tencial mostrado por Osvaldo Soliano. Se instalar aquilo ali, a gentevai ficar no Nordeste com, aproximadamente, um gerador por km².Vocês imaginem o que é isso. Eu peguei o total de área do Nordeste.Imagine que você tem áreas que são agricultáveis, que são ascidades, os rios e etc.

Não se pode pegar todas as áreas para colocar aerogerador, masé dessa ordem, de um aerogerador por km², da faixa de 700 kW cada.

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Vocês estão vendo porque ele mostrou ali. Vão elevar o aerogerador.A velocidade de vento a 50 metros não adianta mais, não! Fala-seagora em 100 metros. Porque os ventos, lá em cima, são maiores.

A questão dessas fontes todas, inclusive a hidráulica, como naAmazônia, e as correntes marinhas também, eu acho que a questãoambiental, Osvaldo, nós teremos ainda muito que aprender nessasque são máquinas de fluxo.

Quer dizer, se eu pego todo o vento que passa aqui, esse ventotinha, não só a questão de pássaro, como migração e etc, mas, atéa própria ventilação, que ia até um ponto X. Mas, só para finalizar,é o caso, por exemplo, de Copacabana e o Leblon, com a partehabitacional, e que você fechou completamente, tornando o Rio deJaneiro uma das cidades mais quentes do País.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, professor Paulo. Professores Ednildo e Getúlio querem

falar mais alguma coisa ou poderemos prosseguir?

Professor Ednildo Andrade TorresEu só queria falar rapidamente que não foi emocional, como

Mariz falou, sobre o São Francisco. Eu acho que é real. Emocionalfoi na apresentação dele, na qual mostrou uma criancinha com umacasa de taipa, dizendo que a energia nuclear resolveria aquilo.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorAgora, com a palavra, o professor Mariz. Depois dele, final-

mente, a gente vai abrir para a plateia.

Professor Carlos Henrique da Costa Mariz Não. Não se trata de emoção. Eu acho que nesse nível que nós

temos aqui não temos esse tipo de emoção. Nós temos preocu-pação com aquelas pessoas que não têm acesso à energia elétrica.Eu não vejo porque não mostrar isso, sob a pena de dizer que éemocional. Não é por aí.

Outra coisa, eu queria aproveitar aqui para dizer o seguinte,com relação a essa questão, queria pegar um gancho aqui da ener -gia eólica. Você vê que uma central nuclear de 1.100 MW - e essacomparação não pode ser feita nessa área, porque estamos com-

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parando energia firme com energia intermitente, mas, ainda assim,eu vou fazer, com a energia eólica, porque você vai gerar uma e -ner gia média. Você teria de ter, mantendo os fatores de capaci-dade, 1.100 usinas eólicas de 3 MW para chegar a produzir aener gia firme com energia média.

Outra coisa é o seguinte: eu não sou contra a energia eólica, eunão sou contra a solar. Mas eu acho que a gente tem que entendero papel de cada uma dessas energias no mercado. Na verdade eusou a favor de todos os tipos de energia colocados no sistemaelétrico que venham propiciar qualidade, confiabilidade, menorcusto e menor impacto ambiental. Nós não podemos supervalorizarnem desvalorizar.

Outra coisa também é com relação a custo. O pessoal comparao custo de leilão de uma eólica com o preço da energia nuclear oudo carvão. É errado. Metodologicamente é errado. Nós estamosaqui numa escola de engenharia. É uma energia intermitente com-parada com uma energia firme. Então, você vai ter que adicionarainda esse custo - transformá-la em energia firme para, depois,comparar. Essa confusão existe também. Então, como estamosnuma escola de Engenharia, seria bom que os conceitos ficassembem claros. Essa é uma observação.

Concluindo, o que estou querendo falar - o Getúlio mencionoua participação da população e eu estou evocando aqui o modelofrancês, que é a chamada CLI, que é a Comissão Local de Infor-mação, que é exatamente constituída por prefeitos, pessoas indi-cadas pela população e etc. para monitorar constantemente aprodução da energia nuclear que está nas suas comunidades.

Nós podemos usar esse mesmo modelo aqui. Por que não? Eoutra coisa, transparência? O que é que eu estou fazendo aqui?Estou debatendo o assunto. E em vários outros locais. Os meus cole-gas também estão debatendo o assunto. E outra coisa, o processode aprovação de uma usina nuclear requer muito mais debates doque esse, em todas as camadas, na região onde serão implantadas,tem que ter aprovação do IBAMA, tem que ter aprovação do licen-ciador nuclear e, ao final de tudo isso, no Congresso Nacional. Eupergunto: onde é que há mais transparência do que isso?

Concluindo ainda. O custo de desmobilização da nuclear estánaquele custo lá. Ou seja, é um dólar por MWh ao ano que, no final

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da vida útil de 60 anos, estará lá o capital para fazer essa desmobi-lização dentro da tarifa de R$ 130 a R$ 150. E eu pergunto: qual éa alternativa hidroelétrica, eólica e tal que tem seu custo de desmo-bilização incluído na tarifa? Nenhuma.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorEntão, vamos passar para a plateia e, eventualmente, o pro-

fessor Mariz e o professor Osvaldo, que ainda gostariam de terfalado alguma coisa, podem comentar. São quinze para as duas.Eu acho que passar das duas horas realmente vai ser demais,certo? Mas se os presentes quiserem, poderemos passar. Comigonão tem problema nenhum.

Eu tenho cinco pessoas inscritas aqui. Inscreveram-se comigo Ad-naílson, Sônia, Severino, Ângelo e Evandro. Então, eu vou passar apalavra nessa ordem. Se depois desses cinco sobrar tempo, pode remospassar para mais alguém. Agora, eu sugiro que quem for falar da plateiafaça uma pergunta específica para os palestrantes ou para os debate-dores, para que também não se exceda muito. Caso contrário, se hou-ver pergunta, resposta, réplica e tréplica, ficaremos como naquelesdebates intermináveis que assistimos no Congresso, e acho que o pro-fessor Aleluia já viu isso várias vezes. Então, por favor, Adnaílson.

Adnaílson OliveiraEstudante de engenharia elétrica

Boa tarde a todos. O meu nome é Adnaíl-son. Eu sou estudante de engenharia elétrica.Trabalho no TECLIM (Rede de TecnologiasLimpas) do professor Asher. Bom, eu queriaperguntar ao professor Paulo Bastos, porqueele fala bastante sobre a necessidade da ins -talação da energia nuclear. Então, eu queria

saber se essa necessidade realmente existe. Porque corremos o riscode um colapso de energia sério sobre o que a gente usa hoje? E,caso esse colapso ocorra, quanto tempo temos ainda com a de-manda de energia de hoje em dia? Muito obrigado.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, Adnaílson. Agora, a pergunta de Sônia Figueiredo.

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Sônia FigueiredoFuncionária da Chesf

Muito me preocupa o futuro da energianuclear, principalmente, porque eu acho quenós temos que pensar numa conta maior, pro-fessor Mariz. Temos que pensar na cadeia pro-dutiva. Logo, essa ener gia nuclear tem umcusto social muito alto.

Há toda uma população, hoje, na região deCaetité (cidade do sudoeste baiano, onde há uma usina de urânio)sofrendo com essa extração de minério, onde sai esse Yellowcake,que a gente não sabe o que é isso. E que a gente só tem umapesquisa. As pesquisas são proibidas de entrar na região. Nós sótemos uma pesquisa da UFBA, de uma doutoranda, de uma médica,na qual ela avalia e identifica que essa região da Bahia é a regiãoque mais tem índice de câncer de pulmão e leucemia.

Então, são as neoplasias localizadas no estado da Bahia, e lá háum número maior. E isso muito nos preocupa. Não podemos con-siderar que uma usina nuclear vai produzir oito mil empregos ondeestão sendo sacrificadas, lá na extração do minério, talvez, 16 milpessoas. Por isso, essa conta tem que ser maior. Tem que envolver,sim, as pesquisas sociais na área. Muito obrigada.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, Sônia. Eu vou passar agora para o estudante Angelo

Fernandes fazer a pergunta dele.

Ângelo FernandesEstudante

Eu sou graduando de engenharia elétricada UFBA. Assim como a moça que falou aquiagora, eu sou da região de Caetité e Gua-nambi. No meu caso, eu queria fazer uma per-gunta mais específica. Antes, vou fazer umaintrodução ao professor da UniversidadeFede ral de Pernambuco, da Eletronuclear.

É porque lá na região, por exemplo, a população não tem oconhe cimento geral sobre a questão da energia nuclear. É como o

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outro mesmo falou, se você perguntar a alguém o que é urânio lá,pouca gente sabe. Ou seja, não existe essa transparência que a INBdiz que tem de a população saber das coisas. Não existe isso de jeitonenhum. Ninguém sabe de nada. E as pesquisas são proibidas.

E, no ano passado, as pesquisas que foram feitas, indicaram altosíndices de contaminação na água de Caetité. Quem conhece e sabeo que é o urânio não usa a água de Caetité. Tem medo de usar. Ouseja, já tem uma questão do medo da população de usar uma águaque, antigamente, as pessoas utilizavam. Eu sei que tem toda umaquestão política envolvida. O capital por trás disso é muito grande,mas, eu mesmo não acredito nessa transparência que a INB pregaque existe, entendeu?

Eu queria saber se o professor ali, que defende bastante a energianuclear, acredita mesmo que essa transparência existe, sendo que apopulação em si não tem conhecimento praticamente nenhumsobre o que é. Não acontece esse tipo de debate lá. Agora, mesmo,em Caetité está sendo implantada a mineração de ferro, porque látem uma grande reserva. Se perguntar quanto tempo de debateteve lá, teve debate de um mês, praticamente. E não houve essedebate com a participação de todos. Eu queria perguntar se eleacredita que existe essa transparência toda que a INB diz.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, Ângelo. Passamos a palavra, agora, ao ambientalista

Cláudio Mascarenhas, do Grupo Gérmen.

Cláudio MascarenhasAmbientalista

Eu sou Cláudio Mascarenhas, coorde-nador do Grupo Gérmen, que é um grupo dedefesa e recomposição e promoção sócio-ambiental. São 30 anos de batalha aqui naBahia. Eu quero iniciar comentando algumascoisas que, talvez, fujam um pouco da formacomo os assuntos foram aqui abordados,

porque a parte técnica foi muito bem discutida. Foram defendidosos dois lados. Pessoas que acham que é viável a energia nucleare pessoas que acham que não é viável, que não deve acontecer.

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Então, eu acho que quase se esgotou essa discussão técnicacom um único item que não foi tocado, não foi falado porninguém. E que me parece estar nele o calcanhar de Aquiles,que é a questão do lixo atômico. Então, fala-se de energia nu-clear, hoje, e chega a se ter a cara de pau de colocá-la como e -nergia limpa, mas não se fala do lixo atômico, o que é que vaifazer com ele.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, Cláudio. Agora a última pergunta da plateia: Antonio

Sobrinho, por favor.

Antonio SobrinhoEngenheiro elétrico

Muito obrigado. Meu nome é Antonio So-brinho. Sou engenheiro eletricista e façomestrado aqui na UFBA. Que bom a demo -cracia. Todos podem falar. Bem, como consu -midor eu digo que a pior energia, realmente,é aquela que falta. Então, na hora que ela faltatodos ficam extremamente insa tisfeitos. Bem,

a minha pergunta é muito simples. E, se todos puderem responder,é para todos, com um sim ou com um não. A energia nuclear euacho extremamente importante até do ponto de vista estratégico, e,para mim, a minha pergunta é do ponto de vista estratégico: 2%em energia para vocês é demais? Muito obrigado a todos.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado, Antonio. Então, vamos às respostas para as perguntas

feitas pela plateia.

Professor Paulo R. F. de Moura BastosO Adnaílson questionou sobre um risco de colapso de energia e

etc. Eu acho que nós colocamos isso razoavelmente bem. Eu vi otema na palestra de Osvaldo Soliano e do Mariz sobre distinguir oque é usina de base e usina de ponta. E que o fator de capacidadeelevado é o que, exatamente, caracteriza uma usina de base. Então,aqui eu só teria a acrescentar o seguinte: a hidroelétrica é uma usina

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de base no momento em que ela tem reservatório. A perspectivaque temos hoje com a construção, inclusive, de usinas na Amazônianão é contemplando reservatório. O que venhamos a fazer de usinana Amazônia é mais, como eu havia falado em relação à eólica,usina de fluxo para transformar a velocidade da água do rio - e aívocê aproveita essa velocidade. Não é aproveitar desnível, que éuma questão de transformar potencial gravitacional em energia.

Então, se não há um reservatório, não vai haver uma questão debase. Como o professor Mariz havia colocado, a base estaria vindode carvão, hidro, óleo. Logo, se hidro não vem, e carvão nós nãotemos - os derivados de petróleo são altamente emissores de CO²e etc. Então, a biomassa apareceria nesse aspecto, como eu estavafalando, de reflorestamento. Mas, uma biomassa plantada nãocomo a da cana de açúcar, que tem uma sazonalidade muito clara.

Agora, só complementando a outra questão, é insistente esseponto de vista do pessoal de Caetité e etc. Nós nos colocamos à dis-posição para pesquisar e etc. É preciso que haja medição de radiação.Essa questão de colocar “ah, eu ouvi dizer que as pessoas por lá têmmais câncer”. Não é a realidade dos fatos de pessoas da área de saúdecom as quais conversamos, com respeito ao câncer ou risco de câncerdentro do estado da Bahia. Não há conhecimento de que nenhumaárea da Bahia tenha predominância de qualquer tipo de câncer. Aindamais com relação às questões de câncer provocado por via respi-ratória. E nós já tivemos indústrias muito poluentes aqui no períododa ditadura, que foi, por último, lembrado até com saudosismo.

Eu diria que só existem duas empresas como a antiga Tibrás,hoje, a Titânio do Brasil, no mundo. E uma está aqui em Arembepe.Poluía, polui, mas há a questão de filtros e uma série de problemasque você pode tornar contornáveis. E outra era a CCC (Companhiade Carbonos Coloidais), em Candeias, e que emitia um pó preto detal ordem que, com dez minutos de produção, as casas dentro deCandeias ficavam da cor desse móvel aqui. Então, aí, sim, há umagrande incidência de câncer de ordem respiratória.

Como eu havia citado, em relação ao colesterol, nós temos ciclosaqui. Não é só o amianto. Nós do setor elétrico convivemos durantemuito tempo com o ascarel. Hoje, um isolante totalmente conde-nado. Mas, enfim, já fizemos uso dele.

Nós vivemos - como eu estava falando no fim da minha apre-

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sentação - uma necessidade que é muito econômica, somente. Queé muito o lucro da sociedade. Então, vão até trazendo novas neces-sidades para a gente, como eu havia colocado sobre o celular. E eudesafio aqui quem nunca teve seis aparelhos de celulares ou já deveestar nessa ordem.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorObrigado. Agora, Mariz, eu gostaria de passar a palavra a você.

Professor Carlos Henrique da Costa Mariz Eu tenho aqui algumas questões e vou procurar ser breve.

Primeiro, a gente tem que saber que Caetité é uma mina de urânio.Então, quem está lá está convivendo com o urânio, que veio pelanatureza. Ninguém colocou o urânio lá. Outra coisa, o trabalho rea -lizado em Caetité é de simplesmente recolher aquele material. Alinão tem enriquecimento de urânio. Há o manejo.

Agora, se eu acredito na transparência? Eu acredito. Existe oCNEN (Conselho Nacional de Energia Nuclear), que é o órgão res -ponsável para se tirar qualquer dúvida que exista com relação aoassunto. Houve uma época que mencionaram que o lençol freáticoestava contaminado. E o CNEN foi lá, fez os estudos e concluiu queo que tem na região é normal. Faz parte do que tinha ali, não houveaumento de absolutamente nada.

Mas, se vocês têm dúvida, eu acho que vocês têm de continuara perguntar. Nada impede. Até o próprio governo do Estado podeajudar, fazer monitoração, chamar o CNEN - e ela tem a obrigaçãode responder. Por isso que eu acredito nessa transparência.

Outra coisa é o seguinte, eu tanto acredito nisso que lá, por exem -plo, em Angra dos Reis, Angra I e Angra II, agora, com a construçãode Angra III, nós temos um laboratório de monitoração ambientalpermanente. Esse laboratório começou a funcionar antes da usina serimplantada. Monitorando o quê? Fauna, flora, terra, mar e etc.

Então, a isso vocês também têm acesso. Quer dizer, qualquercidadão brasileiro pode ir lá e demandar “o que é que está aconte-cendo nesse monitoramento?”. “Está havendo radioatividade nomar ou em qualquer outro lugar e etc?”. Para vocês terem umaideia, na água de saída da usina, lá em Angra I e Angra II - que éuma praia muito bonita lá em Angra dos Reis, o presidente da

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Eletronuclear toma banho com seus netos. E isso não é folclore -tamanha a segurança que ele sente no que ele está fazendo.

Seria interessante que muitas pessoas pudessem fazer uma visita.Talvez, o senhor não conheça Angra, nunca tenha ido lá. Se você for,verá como está acondicionado o rejeito nuclear, o senhor irá ver queestá tudo muito bem colocado com CPF e identidade. Você não movi-menta uma grama sequer sem controle. É a mesma coisa de dizer queuma atividade é suja porque produz resíduos. Todas as atividades, emgeral, produzem maior ou menor quantidade de resíduos, o que im-porta de fato não é a produção simplesmente, e sim a forma que vocêos trata. Isso vai lhe dizer se a atividade é limpa ou não.

Então, a energia nuclear é limpa, sim. Porque é uma das quemenos emite CO² e os seus rejeitos são controlados e estocados esupervisionados pelo poder público, por poderes internacionais epela população. De modo que, se o senhor quiser ir lá para conferir,o senhor é meu convidado.

Falta uma questão ainda. O problema da intermitência das usi-nas. Veja bem. Você viu ali na apresentação que a capacidade dearmazenamento dos reservatórios está decaindo relativamente. Osreservatórios foram feitos para armazenar a ener gia vertida das usi-nas que estão no seu rio, para, na hora de seca, soltar e poder con-finar. Então, todo mundo agora quer colocar dentro desse espaço,energia eólica, PCH e etc. A própria Belo Monte requer uma grandecapacidade de armazenamento e vai continuar sendo intermitente.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorOk. Então, o professor Osvaldo e o professor Heitor ainda não

responderam pergunta nenhuma e acho que uma pergunta que umdos dois poderia responder seria a do Antonio. Acho que o ques-tionamento dele foi mais pelo viés do apoio, dizendo se vocêsacham que 2% de energia nuclear é muito na matriz. Então, eugostaria que um de vocês dois pudesse responder.

Professor Osvaldo Lívio Soliano Pereira Bem, se você não precisa, 2% é muito. Se você precisa, é pouco.

Está certo? A França precisa de 60% e ela vai continuar precisando.No caso do Brasil, eu e outros aqui da mesa advogamos que não pre-cisa nem de 2%. Porque 2% é demais para o risco que a gente corre.

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Então, é uma questão de referencial. Se é muito ou pouco, paramim é muito, porque eu não preciso dela. Se eu não preciso, é igual.É como alguém falou aqui sobre de comer acarajé ou comer ham-búrguer para poder ser obeso. Obviamente, a lógica é essa. E nóspodemos passar sem ela nesse momento. Estratégico para o longoprazo é enriquecer o urânio. Quer dizer, tem vários pontos estratégi-cos. Por que os Estados Unidos e o resto da comunidade interna-cional estão contra o Irã ter enriquecimento? Porque há o risco alide se desenvolver uma arma nuclear. Está certo? Então, obviamentetem várias razões estratégicas. Quais são os objetivos estratégicos?São os mais diversos possíveis. Dominar o ciclo da energia nuclear- nós não o dominamos completamente. Temos um tratado na pro-liferação que nos restringe a enriquecer além de certos limites. E aciência, na verdade, pode - como Heitor colocou aqui.

O Brasil participa de grandes grupos que pesquisam efetivamenteo reator. O fato de estar aquele reator lá, que vai ser tecnologiacomprada e muito pouco aberta, não vai fazer o nosso avanço tec-nológico no domínio da energia nuclear. Eu até critiquei isso em re-lação à eólica. Está certo? Nós realmente estamos instalandoequipamentos eólicos e não temos o domínio completo da cadeiada indústria eólica. O que nós precisamos é fazer, realmente. Achoque, no caso, temos a energia mais limpa, então, não precisa entrarcom esse risco eminente quando eu posso postergar e continuar apesquisa fora do laboratório.

E, quanto à questão da intermitência, eu acho que alguém colo-cou muito bem essa questão. Nós não estamos analisando a matrizelétrica. É a fonte com 90%. Eu mostrei uma figura ali, que foramsimulações feitas pela NOS. É a superposição das diversas fontes.Então, Paulo colocou aqui, você tem uma área extremamentegrande para plantar a biomassa e, nessa mesma área, você podebotar eólica. É um consórcio perfeito. Em países como a Holanda,você tem o gado pastando no meio das turbinas. Então, é um con-sórcio perfeito. Essa composição de biomassa com eólica é perfeita.E nós temos um parque de reservatório que está reduzindo a suacapacidade de estocagem, mas que consegue, por muito tempoainda, absorver esse crescimento da demanda.

Outra coisa que está colocada é que as áreas necessárias paraimplantar energia eólica serão cada vez menores, na medida em

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que as turbinas forem maiores. Quando eu comecei, a primeirafazenda eólica que eu visitei, na Califórnia, em 1992, era nafaixa de 75 kW, com 100 kW as turbinas. Hoje, nós já temos asfazendas com as turbinas de 7 MW (off-shore). Hoje, já estamoscom turbinas de 7 MW comerciais. A ideia é chegar a turbinasmais altas.

Então, hoje, uma turbina de 10 MW é uma questão de poucosanos. Logo teremos turbinas de 20 MW, certo? Serão mais altas,efetivamente, ocupando menores áreas. Isso aí é uma questão dedesenvolvimento tecnológico.

Eu volto a repetir a minha posição. Nesse primeiro momento, anuclear não é necessária. E a gente aguarda. Acompanha o desen-volvimento tecnológico, participa dele sem, necessariamente, implan-tar uma central que você não vai ter intervenção nenhuma. A questãoda transparência, eu lamento pela pessoa do GERMEM. Eu acreditoque a Bahia perdeu do ponto de vista da participação da sociedadecivil no processo de licenciamento ambiental. Claro que se alinhoucom o que é feito federalmente, com o licenciamento feito apenaspelo IBAMA, sendo o CONAMA um órgão apenas regulamentador.Mas, eu acho que era um ganho para nós todos, esse fato de termosa participação da sociedade civil nos grandes processos de licencia-mento do Estado. Houve um retrocesso. Isso é inegável.

E, finalmente, desculpe-me, Mariz, mas o Getúlio falou muitobem desse processo de captura. E se tem algo mais capturado emtermos de energia nuclear é o CNEN. Eu realmente acho que é umórgão absolutamente capturado, como tantos outros que a genteestá vendo na sociedade brasileira. Então, eu acho que, para tê-locomo referência de órgão regulamentador do setor nuclearbrasileiro, o CNEN precisaria ser muito mais aberto. E muito maistransparente para que possamos confiar plenamente nele.

Professor Carlos Henrique da Costa Mariz Eu acho que se pode melhorar. E, inclusive, há um projeto agora

do governo de criar a Agência Reguladora de Energia Nuclear, in-dependente do CNEN. Eu acho que isso seria um avanço, real-mente, na questão do tratamento da usina nuclear. Mas, voltandoà questão dos 2%, veja bem.

Em primeiro lugar, é o seguinte: todos são pequenos, não é só

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nuclear. Porque 80% da matriz ainda é hidroelétrica. Então, comoque vai evoluir daí para frente – esse que é o problema.

Nesse momento todo mundo é pequeno. A nuclear, dos pe-quenos é um dos maiores. Mas, com relação à nuclear, o estratégiconão é relativo à questão de bomba ou não. Nós temos recursos hu-manos que levaram muito tempo, gastou-se muito dinheiro em pro-duzir, que é a equipe da Eletronuclear. É plena de engenheirosaltamente capacitados, oriundos das melhores escolas de enge -nharia do Brasil, que fazem e fizeram treinamento no exterior con-tinuamente, e que se o programa nuclear do país não se expandir,simplesmente, esse pessoal vai se aposentar. E aí você vai ter queter um custo redobrado para retomar isso. Não só de custo, mas,sobretudo, de tempo.

Não estou querendo justificar que a nuclear seja feita por contadisso, mas, no momento em que não se tem segurança, que você podeabdicar da nuclear no futuro pelo cenário energético que tem pelafrente, com as fontes intermitentes e outras geradoras de grandequantidade de CO², que estão querendo colocar no local, não seriaprudente diminuir a participação na matriz energética.

Temos, sim, que ter capacitação técnica e intelectual no Brasilpara, se necessário for, ampliar o programa nuclear, até massiça-mente, caso haja necessidade de mercado.

Professor Fernando Augusto Moreira - ModeradorPronto. Então, obrigado. Agradeço. O professor Heitor abriu mão

de responder qualquer coisa. Se os professores Ednildo e Getúlioquiserem completar com algum comentário. Não? Então, vamospara os comentários finais.

Eu acho que esse debate foi muito importante. Nós tivemos aqui,entre os quatro palestrantes, dois entusiastas, Mariz e Paulo Bastos.Quer dizer, um extremamente entusiasta. O outro é a favor de queo Brasil não abra mão de nenhuma forma de energia. E os profes-sores Osvaldo e Heitor foram mais para o lado de que não énecessário agora, principalmente, no Brasil, e, talvez, mais ainda naBahia. E agradeço também ao professor Ednildo e ao engenheiroGetúlio, que contribuíram aqui para engrandecer esse debate.

Bom, então, faço os agradecimentos finais ao professor Luís Ed-mundo, que é um entusiasta de que se use esse espaço aqui cons -

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truído por ele, enquanto vice-diretor, e pelo professor Calumby, que,infelizmente, acho que não está aqui, enquanto diretor da EscolaPolitécnica. Agradeço ao professor Augusto, que apoiou a realizaçãodo evento, aos organizadores, ao professor Aleluia - gostaria aquide falar rapidamente, professor, que, independente de visão política,de orientação política, acho que o Congresso sente muito a sua faltaporque o senhor sempre foi um parlamentar muito atuante nos 20anos que passou lá. E aqui tivemos até o testemunho do secretárioJames Correia, que nos informou sobre a importância das suas re-latorias para o setor elétrico. Então, por um lado, se o Congressoatualmente não conta com a sua participação lá, a Escola ganhou asua participação aqui. Com a sua capacidade de mobilização e deorganização, o senhor foi um dos mentores desse debate.

Quero ainda acrescentar que os debates, provavelmente, nãoirão se restringir a esse evento. Nós pretendemos fazer um ciclo.Ainda gostaria de agradecer ao professor André Valente, que foitambém um dos principais organizadores do evento, e a todos ospalestrantes, aos debatedores e a Núbia e Marcos, funcionários doDepartamento de Engenharia Elétrica, que deram suporte técnico elogístico ao evento, além dos demais funcionários da Escola, quetambém contribuíram com o evento. E agradeço principalmente avocês, da plateia, que nos honraram com a presença.

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