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S. R. MARTINEZ ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL SÃO PAULO 2009

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Coletânea organizada de artigos escritos sobre a temática do Estado Mundial Ambiental, durante estágio de pesquisa realizado na Espanha, em 2008.

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  • S. R. MARTINEZ

    ASPECTOS INTRODUTRIOS AO ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL

    SO PAULO

    2009

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    2

    MARTINEZ, Srgio Rodrigo.

    Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental /Srgio

    Rodrigo Martinez. So Paulo: Clube dos Autores, 2009.

    Bibliografia.

    1. Direito 2. Direito Ambiental Estado Mundial.

    ISBN 978-85-910307-0-5

  • S.R.Martinez

    3

    Vivemos esperando Dias melhores

    Dias de paz, dias a mais Dias que no deixaremos

    Para trs... Vivemos esperando

    O dia em que Seremos melhores

    (Melhores! Melhores!) Melhores no amor

    Melhores na dor Melhores em tudo

    (Dias Melhores Jota quest)

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    4

    SUMRIO

    INTRODUO p. 06

    CAP. I INEVITABILIDADE DO ESTADO MUNDIAL:

    anlise do pensamento de Alexander Wendt p. 09

    CAP. II ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL:

    perspectivas jurdicas para a crise ambiental p. 19

    CAP. III ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL E INDIVIDUALIDADE:

    o exemplo prtico de Wangari Mathaai p. 31

    CAP. IV ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL E SOCIEDADE CIVIL:

    o caso da gua engarrafada nos EUA p. 39

    CAP. V DOS REFUGIADOS AMBIENTAIS:

    a formao acadmica no EMA p. 49

  • S.R.Martinez

    5

    CAP. VI OS GORILAS DE VIRUNGA:

    paradoxos econmicos do EMA p. 52

    CAP. VII LEI DE LAVOISIER:

    interferncia ambiental e o ceticismo imediatista p. 56

    CAP. VIII SADE AMBIENTAL MUNDIAL:

    resumos de anlises cientficas sobre o assunto p. 60

    CAP. IX

    A FILOSOFIA QUNTICA E A PARTICIPAO NO ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL

    p.68

    CONCLUSES p. 80

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS p. 84

    NDICE Remissivo de Assuntos

    p.87

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    6

    INTRODUO Este estudo foi realizado durante o segundo

    semestre de 2008, na cidade de Madrid, por ocasio da

    pesquisa ps-doutoral em curso.

    A idia inicial era de buscar elementos de

    existncia, indcios da formao de um sistema mundial

    de proteo contra o cmbio climtico.

    Para tanto, usou-se como marco terico a

    hiptese proposta pelo pesquisador brasileiro Waldo

    Vieira, na dcada de 60, sobre a futura formao de um

    Estado Mundial a congregar as naes atuais, num

    processo contnuo de integrao, reurbanizao mundial

    e globalizao, o qual teria sido iniciado na Europa, a

    partir do surgimento da Unio Europia.

    Durante um semestre, foram buscados indcios da

    hiptese citada por meio de levantamento de dados na

    mdia e no meio acadmico e observaes no dia-a-dia

    da sociedade europia, conforme indicao do marco

    terico adotado.

    A riqueza de detalhes e dados obtidos resultou em

    alguns ensaios aqui reunidos e expostos em uma ordem

  • S.R.Martinez

    7

    no vinculada, devido ao amplo alcance das

    observaes realizadas e do material coletado.

    No percurso, observou-se que outros autores

    atuais tambm trouxeram, em suas leituras, o

    reconhecimento do caminho de criao do Estado

    Mundial: Alexander Wendt e J.J. Gomes Canotilho.

    Tais autores mereceram ensaios especficos

    sobre seus posicionamentos, os quais so includos

    primeiramente, a seguir.

    Na seqncia, foi exposta a atuao de Wangari

    Mathaai, exemplo marcante e mundial. Sua histria pode

    ser aprofundada na obra Inabalvel, cuja leitura

    altamente recomendada a todos que buscam inspirao

    para enfrentar as dificuldades de percurso na temtica

    ambiental.

    Depois, foi exposto um caso emblemtico, que

    virou referncia mundial na luta contra a apropriao dos

    recursos naturais. Um verdadeiro exemplo de David

    contra Golias, situao em que a Sociedade Civil de uma

    pequena cidade se organiza com objetivos ambientais

    contra o poder econmico de uma multinacional.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    8

    Por fim, so demonstrados ensaios relativos

    temtica dos refugiados ambientais; ao perigo de

    extino dos gorilas do Parque Nacional do Virunga;

    contra as crticas afirmando a inexistncia de

    aquecimento global; sobre as relaes entre sade e

    ambiente; e, finalmente, sobre uma filosofia quntica

    para o Estado Mundial Ambiental.

  • S.R.Martinez

    9

    CAP. I

    INEVITABILIDADE DO ESTADO MUNDIAL:

    anlise do pensamento de Alexander Wendt

    1.1 Ponto de Partida

    Alexander Wendt filsofo poltico e professor da

    Universidade de Chicago. Em 2003, publicou a obra Por

    que o estado mundial inevitvel. Suas idias

    propositivas sobre a temtica permitem uma anlise

    poltica aprofundada das ocorrncias atuais, as quais

    indicam para o estabelecimento futuro do Estado

    Mundial.

    O presente ensaio se prope a enfrentar as

    questes respondidas pelo autor em entrevista

    concedida para Tiago Dias, traando identidades,

    contornos e outras proposies para a temtica, dentro

    do material terico destacado acima.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    10

    1.2 Estado Mundial e posio crtica da ONU

    Primeiramente, o autor procura destacar que a

    ONU teria uma atuao central no processo em curso,

    vindo posteriormente, no longo prazo, a se transformar

    no prprio Estado Mundial.

    Esse foco do autor pode ser questionado, pois o

    problema atual, em relao ONU, reside no fato de que

    esse frum mundial de deliberaes no tem

    legitimidade para interferir na gesto econmica e

    ecolgica dos pases desenvolvidos. Seu foco opinativo,

    restrito s questes de paz ou humanitrias bsicas, est

    muito aqum das necessrias deliberaes sobre os

    limites do crescimento econmico mundial.

    A noo de veto no Conselho de Segurana da

    ONU, pelas cinco maiores potncias militares nucleares,

    porventura as maiores poluidoras, tambm fato

    impeditivo de que essa entidade venha a se configurar

    no Estado Mundial, caso seja mantida essa estrutura.

    Enquanto frum mundial de Estados, ela tambm

    no abarca atualmente espaos para que a sociedade

    civil global manifeste sua presena. Desse modo, o meio

  • S.R.Martinez

    11

    empresarial, social, acadmico e espiritual no possuem

    legitimidade para deliberarem sobre as temticas, no

    Conselho Geral da ONU.

    Nesse sentido, para vir a se configurar, enquanto

    Estado Mundial, a ONU teria que sofrer reformulaes

    profundas, pois a mesma no se encontra atualmente

    preparada para o enfrentamento das questes

    multifatoriais, multipessoais e multiculturais que iro

    surgir durante a crise ambiental global vindoura.

    1.3 Estado Mundial e Unio Europia

    Na opinio de Wendt, a distncia do Estado

    Mundial da realidade dos cidados, como reconhece

    ocorrer atualmente na Unio Europia, seria o preo a

    pagar para a criao de uma estrutura desse porte.

    Segundo ele, os meios de comunicao teriam um papel

    fundamental ao reduzir esse dficit democrtico.

    No obstante a existncia desse distanciamento

    apresentado, a Unio Europia apresenta atualmente

    uma estrutura muita mais prxima do cidado do que a

    ONU.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    12

    Evolues dentro do contexto de convivncia

    pacfica e organizada de tantos povos e culturas

    diferentes, em ambientes prximos, sem imposio

    militar, como ocorreu na Unio Europia, nos ltimos

    cinqenta anos, representam uma novidade na histria

    da humanidade.

    A moeda nica, a abolio das barreiras de

    trabalho, a harmonizao das legislaes nacionais, a

    Corte Europia de Direitos Humanos, esto presentes na

    vida dos cidados europeus diariamente. Esses so

    dados claros e demonstram que o incio da formulao

    do Estado Mundial perpassa muito mais pela

    experimentao atual da Unio Europia do que da

    ONU.

    O Protocolo de Kyoto, que foi defendido pela

    Unio Europia, ou o exemplo da norma que prev a

    abolio da produo de lmpadas altamente

    consumidoras de energia eltrica e tantas outras

    medidas scio-ambientais de defesa do meio ambiente,

    perante o cmbio climtico, so hoje temas do Estado

    Mundial Ambiental em voga na Unio Europia.

  • S.R.Martinez

    13

    Nesse sentido, ainda h muito que se observar

    nas evolues vindouras no contexto europeu, as quais

    estaro mais aptas a servir de modelo global de

    condutas universais.

    1.4 Estado Mundial Capitalista?

    Para Wendt, o Estado Mundial provavelmente

    conservaria a estruturao capitalista, mas sem manter

    sua formulao liberal extrema. Ele no v a

    possibilidade de se pleitear um modo de organizar a

    produo econmica que possa ser uma alternativa

    vivel ao sistema capitalista, cuja adeso ser pacfica,

    gradual e global.

    No obstante se observar que ocorre essa adeso

    gradual de todos os pases ao modo de produo

    capitalista, o alcance e as possibilidades de expanso do

    atual modelo de mercado e consumo so limitadas. A

    idia clssica de recursos naturais ilimitados, aliada

    produo de externalidades abundantes aos processos

    de acumulao capitalista est exaurida antes mesmo

    que o meio ambiente. Imaginar a incorporao de mais

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    14

    trs bilhes de pessoas ao modelo americano de vida

    com geladeiras, televisores, eletrodomsticos e carros

    no vivel. Para Wendt, seria necessria a idia de um

    capitalismo verde, eco-amigvel.

    Portanto, essa esperada expanso do capitalismo

    tambm dever sofrer ajustes, o prprio modo de

    produo e acumulao dever sofrer ajustes. A noo

    de capitalismo ambiental dever ser aprofundada, a qual

    recair tambm sobre as possibilidades ilimitadas de

    consumo.

    1.5 Poder de imprio e Estado Mundial

    Para Wendt, um imprio poderia se transformar

    num Estado Mundial. Todavia, em sua anlise, ao

    reconhecer que isso seria possvel, tambm entende que

    sua durao no seria estvel no tempo. Para

    exemplificar, ele cita o caso de Roma, a qual poderia ter

    avanado ainda mais suas fronteiras e se tornado um

    Estado Mundial.

    Na atual realidade multipolar do mundo, mesmo a

    fora militar norte-americana no teria foras para

  • S.R.Martinez

    15

    manter uma estrutura mundial imposta sob seu controle.

    Para tanto, basta verificar as dificuldades atualmente

    vivenciadas (ano base 2008), nas ocupaes do

    Afeganisto e Iraque, sem falar nas ogivas nucleares

    apontadas aos EUA.

    Nesse sentido, nas condies atuais da

    geopoltica no haveria espao para um imprio se

    impor, o qual se possa atribuir uma caracterstica de

    Estado Mundial autoritrio.

    1.6 Estado Mundial, Igualdade e Anarquia

    Aqui Wendt chega ao cerne de sua anlise, a qual

    tem relao com sua obra Porque um Estado Mundial

    inevitvel. Para ele, o estabelecimento de um processo

    de igualdade entre os povos vai requerer uma estrutura

    coercitiva que imponha as regras, a segurana e a paz.

    Desse modo, o Estado Mundial figuraria com o

    monoplio do uso da fora militar. Tal Estado teria a

    funo de equilibrar as diferenas entre os povos com

    fins de estabelecer a igualdade. Essa estruturao

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    16

    dever possuir legitimidade suficiente para que todos

    confiem que ser mantida a igualdade:

    Acredito que, de um ponto de vista realista, as pessoas nunca chegaro a um acordo sobre o reconhecimento mtuo de direitos a no ser que haja uma garantia como pano de fundo, o Estado Mundial.

    Quando Wendt trata da questo da anarquia, o

    faz no sentido tcnico do termo, ou seja, na possibilidade

    da auto-regulao da sociedade, a qual no prescinde

    da existncia de uma estrutura prvia garantidora do

    cumprimento das regras estabelecidas. Haveria ento,

    dois nveis de realizao: um nvel estatal, no qual o

    Estado Mundial figuraria como garantidor da paz,

    segurana e cumprimento das regras entre os povos; e

    um nvel social, no qual a auto-regulamentao

    contratual entre os povos seria o meio de se efetivar a

    igualdade.

    Ao se pensar no poder de auto-regulamentao

    da sociedade civil mundial, especialmente em face da

    temtica ambiental, pode-se observar como a idia de

    Estado Mundial Ambiental j se apresenta como algo

  • S.R.Martinez

    17

    prximo. Ao exemplo de normativas como o ISO

    14.000, muitas parcelas da sociedade civil mundial vo,

    aos poucos, estabelecendo, por sua autodeterminao,

    parmetros de sobrevivncia ecologicamente

    equilibrada.

    1.7 Concluses de viabilidade

    O pensamento de Wendt permite vislumbrar que a

    criao do Estado Mundial algo em curso, que

    transcende a esfera do controle dos estados nacionais

    atuais, por seu alcance e necessidade. Muitas de suas

    proposies esto adequadas ao pensamento de que

    ser a crise ambiental algo a unir o mundo, em torno de

    mesma idia. Em sua anlise, ele reconhece o espao

    de auto-regulamentao, o qual, pela autodeterminao

    dos povos, ter o papel central no estabelecimento das

    normas do Estado Mundial Ambiental.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    18

    REFERNCIAS

    DIAS, Tiago. Entrevista com Alexander Wendt: no vejo alternativa ao capitalismo. Publicado no dia 25 de dezembro de 2005. Disponvel em: . Acessado em 07/10/08. WENDT, Alexander. Why a world state is inevitable. In: European Journal of International Relations. Vol. 09. S. loc. SAGE Publications, 2003. p.491-545.

  • S.R.Martinez

    19

    CAP. II

    ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL:

    perspectivas jurdicas para a crise ambiental

    2.1 Porto de Partida

    Este estudo parte, enquanto marco terico, do

    ensaio escrito pelo Prof. Jos Joaquim Gomes Canotilho,

    intitulado Acesso Justia em Matria de Ambiente e de

    Consumo. Privatismo, Associacionismo e Publicismo no

    Direito do Ambiente, ou o rio da minha terra e as

    incertezas do direito pblico.

    2.2 Procedimentos Metodolgicos

    Ao se utilizar a contextualizao do marco terico

    sugerido, pretende-se estender a anlise do texto ao

    entendimento da temtica do Estado Mundial Ambiental.

    Essa contextualizao da idia do Estado Mundial

    Ambiental requer o enquadramento da temtica nos

    paradigmas emergentes da Complexidade e da

    Transdisciplinariedade.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    20

    A partir da, buscar-se- o lanamento de idias

    propositivas sobre a temtica, para futuro

    aprofundamento.

    2.3 Etimologia do Estado Mundial Ambiental

    O ensaio de Canotilho versa sobre a temtica do

    Estado Ambiental, originrio na Alemanha, sobre o termo

    Umweltstaat. Sua traduo Estado (staat) Ambiental

    (umwelt). Outrossim, entendido como Estado de Direito

    Ambiental, ou tambm, Estado Democrtico de Direito

    Ambiental

    Com seu alcance global, a temtica da crise

    ambiental no est mais restrita a pases ou continentes,

    nesse caso, h que se pensar no alcance maior, no

    planeta Terra, nos danos e solues passveis de atingir

    a tudo o que vivo e que viver futuramente. Da

    proposio da noo de Estado Mundial Ambiental. Esse

    o fundamento inicial para o entendimento de que o

    Estado Ambiental Mundial (EMA). Essa idia

    transpassa a viso dos limites tradicionais do Estado

    clssico, a qual no alcana a problemtica

  • S.R.Martinez

    21

    ecossistmica atual. Trata-se da globalizao da crise

    ambiental e de suas solues.

    2.4 Relaes Jurdicas Ambientais

    Tradicionalmente, as relaes jurdicas so

    bilaterais em linha, coordenadas horizontalmente entre

    cidados, ou hierarquicamente verticais, estabelecidas

    entre esses e o Estado.

    Nas relaes jurdicas ambientais globais, o

    contexto inovador, pois sempre haver formulaes

    polidricas e poligonais, pela alta complexidade do rol de

    atores, riscos e possibilidades de desenvolvimento

    humano e econmico envolvidas em cada ocorrncia.

    Segundo Canotilho, em modelos polidricos e

    poligonais de relaes jurdicas ambientais, o alcance

    dos fatos jurdicos supera a noo de espao territorial

    soberano. Qualquer interferncia ambiental requer uma

    preocupao global antecipada, pois sua repercusso

    passa a interessar a todos, j que os efeitos so para o

    todo (Gaia + Caos).

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    22

    2.5 Sociedade de Risco e sua complexidade

    Ulrich Beck tratou da Sociedade do Risco, na qual

    os resultados de nossas aes ambientais so incertos,

    invisveis, imprevisveis e incontrolveis.

    Nesse sentido, em qualquer atividade que cause

    impacto no meio ambiente h sempre um risco.

    Segundo Canotilho, h um perigo democrtico na

    sociedade do risco, pois as opes de nossas legtimas

    decises ambientais atuais colocam em perigo o futuro

    da humanidade.

    Na sociedade de risco h uma gama inseparvel

    de interesses convergentes, concorrentes e

    contrapostos, da sua multidimensionalidade de

    interesses. So dimenses temporais, espaciais,

    cognitivas, espirituais, diversas, confluentes,

    conviventes, coniventes ou conflitantes.

    Na sociedade de risco h tambm uma

    multifinalidade de rgos pblicos a tratar da questo

    ambiental e uma multimaterialidade de intervenes

    jurdicas nas questes ambientais.

  • S.R.Martinez

    23

    O Direito tradicional e o Estado clssico tm suas

    dificuldades para captarem essa complexidade de

    multidemandas. No Estado Mundial Ambiental, essas

    multifatoriedades passam a ser conformadas em escala

    internacional, por aquilo que poderia ser futuramente

    chamado de Direito Ambiental Mundial (DAM).

    2.6 O Direito Ambiental Mundial

    O DAM deixa a seara exclusiva dos interesses

    individuais ou pblicos normatizados pelo Estado

    tradicional, atingindo a esfera do associativismo auto-

    regulatrio.

    Ao seguir parte do modelo atual da Unio

    Europia, no Direito Ambiental Mundial prevaleceria uma

    parcela de reserva de soberania s ordens jurdicas

    nacionais, no obstante as leis nacionais passarem a ser

    harmonizadas s regras regulamentares internacionais e

    coordenadas com as regras auto-regulamentares

    emanadas da sociedade civil. Trata-se de uma ordem

    jurdica monista universal.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    24

    Essa natureza jurdica associativista ganha

    maior alcance ao se visualizar a sociedade civil

    organizada mundialmente, em todos seus atores. Nesse

    sentido, a propositura inicial que aqui se faz permite

    pensar o EMA composto de variadas formas associativas

    de intercooperao e inter-regulao: Conselho

    Associativo dos Estados, Conselho Associativo das

    ONGs, Conselho Associativo das Empresas, Conselho

    Associativo das Populaes e Conselho Associativo das

    Academias, dentre outros.

    Dos princpios gerais do Direito Ambiental Mundial

    surgem, a partir da leitura de Canotilho, alguns

    importantes pontos a observar.

    O primeiro princpio seria o da abertura

    ambiental. Trata de garantir o acesso informao da

    situao ambiental sociedade civil. O segundo princpio

    seria da educao, enquanto preparo das pessoas ao

    exerccio econmico para o manejo da vida sustentvel.

    O terceiro princpio seria da participao. O quarto

    princpio em destaque seria da eqidade ambiental, no

    trato em igualdade de condies das naes, povos e

    territrios, quanto questo ambiental.

  • S.R.Martinez

    25

    Destaca-se por ltimo o princpio da viabilidade.

    Segundo Canotilho, como exemplo, [...] a proteco da

    gua deve salvaguardar a qualidade da gua, mas isso

    no pode ir ao ponto, por exemplo, de impedir a sua

    utilizao para fins industriais. Num alcance maior, o

    princpio da viabilidade poderia estabelecer limites

    mximos ao uso da gua para fins industriais, a partir da

    avaliao do impacto real gerado pela atividade, pois

    essa no pode ultrapassar a viabilidade de vida.

    A auto-regulamentao ambiental j est

    atualmente disponvel para o estabelecimento dos limites

    de viabilidade desenvolvimentista, visando preservar a

    economia mundial. Para tanto, procura atuar no balano

    da economia ambiental, dentro dos limites sustentveis

    do uso dos recursos naturais, contrapostos capacidade

    de absoro dos impactos e regenerao do meio.

    Um dos problemas destacados por Canotilho, que

    se aplica ao DAM est na questo da retroatividade da

    regra ambiental. Nesse sentido, em termos de

    interesses ambientais mundiais, no se pode prevalecer

    a proteo irrestrita dos direitos adquiridos. A

    manuteno, restrio ou delimitao do exerccio de

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    26

    certas atividades industriais, agrcolas ou comerciais

    depende da realidade do momento vivenciado. Ou seja,

    uma atividade licenciada hoje, poderia ser futuramente

    proibida ou ter sua atuao condicionada a novos

    critrios ou condies.

    2.7 Caractersticas do Estado Mundial Ambiental

    Segundo Canotilho, a primeira das caractersticas

    do Estado Ambiental a recusa da Estatizao e

    Publicizao, de forma a no gerar um novo ente

    burocrtico supra-nacional dissociado da sociedade civil.

    A tutela do ambiente uma funo de todos e no

    apenas dos poderes pblicos. A unilateral

    estatizao/publicizao do bem ambiente conduziria a

    um Estado de ambiente dissociado da sociedade.

    A segunda caracterstica e a recusa da

    Tecnizao, ao no se permitir o afastamento tecnicista-

    normativo da sociedade civil. O Estado de ambiente

    no um Estado tcnico [...] correr-se- o risco do

    Estado de ambiente se transformar num Estado

    tecnocrtico se os cidados permanecerem longe das

  • S.R.Martinez

    27

    normas e regras ambientais, deixando de compreender

    como e em que medida as regulaes do ambiente so

    regras de aco para os agentes da administrao e

    regras de conduta para os particulares.

    H tambm a necessidade de se verificar a

    insuficincia da viso liberal. O Estado de ambiente

    no um Estado liberal, no sentido de um Estado de

    polcia, limitado a assegurar a existncia de uma ordem

    jurdica de paz e confiando que tambm o livre jogo entre

    particulares - isto , uma mo invisvel - solucione os

    problemas do ambiente.

    2.8 O Tribunal Mundial Ambiental

    Essa complexidade decisria sobre a crise

    ambiental mundial recairia sobre a jurisdio dos

    Estados clssicos, ou poder-se-ia pensar em alguma

    estrutura mais ampla? Quem decidir a favor de quem,

    no momento em que a crise ambiental se acentuar, de

    forma a gerar escassez manifesta de recursos

    essenciais?

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    28

    Segundo Canotilho, h um paradoxo de risco e

    incerteza tambm sobre a face decisria nas quais as

    questes ambientais esto expostas, pois se toda

    deciso gerar interferncia no meio, h riscos

    recorrentes de incerteza sobre o melhor a decidir e se h

    algo melhor a decidir.

    Dentro da complexidade de valores, quem teria

    legitimidade para decidir? Seria a arbitragem

    internacional o instrumento de formulao do TMA, pois

    toda deciso aponta para um arbtrio entre uma ampla

    complexidade de valores em jogo, coligados

    ambientalmente.

    Como predispor as decises para atender

    terceira, quarta, quinta demanda apresentada no

    mesmo conflito de interesses ambientais?

    Novamente para Canotilho, como ponderar esses

    interesses, tomar em conta a diversidade de situaes

    jurdicas, ponderar os resultados do acto para os vrios

    interessados? Quem deve arcar com os custos e a

    responsabilidade pelas cargas poluentes nos espaos

    geogrficos nacionais?

  • S.R.Martinez

    29

    Como se observa, aqui existe muito mais

    questes que explicaes ou proposies no momento,

    passveis de orientar o caminho a seguir. A idia ou

    terminologia aqui sugerida, de Tribunal Mundial

    Ambiental, no recai em formas tradicionais fechadas

    dos rgos jurisdicionais, nacionais ou internacionais, at

    agora existentes, pois a complexidade requerer novos

    olhares para a questo.

    2.9 Concluso trandisciplinar

    Em suma, a partir do ensaio por Canotilho

    buscou-se transcender a discusso do Estado de Direito

    do Ambiente para o Estado Mundial Ambiental. Com ele,

    surge a possibilidade de se propor e pensar sobre a

    criao do Direito Ambiental Mundial, hbil a conjugar a

    auto-regulao necessria da Economia versus Ecologia.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    30

    REFERNCIA

    CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Acesso Justia em Matria de Ambiente e de Consumo: Privatismo, Associacionismo e Publicismo no Direito do Ambiente, ou o rio da minha terra e as incertezas do direito pblico. Disponvel em: Acessado em 09/10/2009.

  • S.R.Martinez

    31

    CAP. III

    ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL E

    INDIVIDUALIDADE:

    o exemplo prtico de Wangari Mathaai

    3.1 Ponto de Partida

    O presente ensaio tem como ponto de partida a

    obra Inabalvel (Unbowed), que trata da autobiografia

    de Wangari Maathai.

    Aqui se pretende demonstrar a colaborao do

    Movimento Cinturo Verde ou MCV

    (www.greenbeltmovement.org) na construo do papel

    da sociedade civil, para o entendimento da idia de

    Estado Mundial Ambiental.

    3.2 Wangari Maathai

    Wangari Maathai nasceu no Qunia, em 1940,

    onde se bacharelou em cincias. Com uma bolsa de

    estudos teve a oportunidade de estudar nos Estados

    Unidos e ali concluiu seu mestrado. Foi a primeira mulher

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    32

    a concluir um curso de doutoramento na frica Oriental e

    Central e tambm a primeira mulher a dirigir um

    departamento numa universidade do Qunia. Fez seu

    ps-doutorado em seguida.

    Depois de duas dcadas lutando pela

    democratizao do seu pas, momentos em que foi presa

    e at ameaada de morte, em 2002 foi eleita para o

    Parlamento do Qunia, nas primeiras eleies livres. Em

    2003, foi nomeada ministra assistente do meio ambiente

    e em 2004 recebeu o Prmio Nobel da Paz, por sua

    atuao scio-ambiental.

    Todo o trabalho que fiz e continuo a fazer pelo Qunia, pelo meio ambiente e pela paz foi e continua a ser feito por eles e o ser pelas geraes que viro a seguir. Quando a estrada faz uma curva e no tenho idia de onde ela vai dar, penso neles e adquiro coragem para seguir adiante, mesmo que o caminho que tenho pela frente seja ainda desconhecido. Eles so a minha esperana e me do um sentido de imortalidade.

    Sua perspectiva espiritual, integrada idia de

    meio ambiente e pacificidade, demonstram o

  • S.R.Martinez

    33

    posicionamento de Wangari Mathaai, sua viso de

    mundo, a qual permite integr-la a noo de Estado

    Mundial Ambiental que busca construir: uma noo

    plural, democrtica, com respeito s diferenas, meios e

    realidades, dentro de uma postura pr-ativa em relao

    questo ambiental, integral, sem limitaes de bandeiras

    ou fronteiras.

    3.3 Movimento Cinturo Verde

    O Movimento Cinturo Verde (MCV) foi criado por

    Wangari Mathaai em 1977, com a finalidade de preservar

    e reflorestar reas no Qunia, degradadas a partir das

    polticas de colonizao europia ocorridas no sculo

    XX. Sua atuao foi posteriormente ampliada a outros

    pases da frica, ajudando a recuperar florestas nativas

    do continente.

    O MCV incentivou mulheres do campo a plantar

    rvores em suas aldeias e a construir viveiros de mudas,

    trabalho pelo qual eram remuneradas.

    Desde sua criao at 2004, o MCV foi

    responsvel pela plantao de 30.000.000 de rvores. O

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    34

    sucesso nacional e internacional do movimento

    repercutiu na democratizao do Qunia, pois o mesmo

    tambm serviu de centro de lutas contra a corrupo e a

    ditadura, presentes nas polticas pblicas detratoras do

    meio ambiente. Atualmente, sua maior campanha

    plantar 1.000.000.000 de rvores (visite o site do

    movimento, para maiores informaes).

    3.4 Estado Mundial e Pacificidade Ambiental

    Por que Wangari Mathaai recebeu o Prmio Nobel

    da Paz? Numa anlise inicial poderia ser questionado se

    a atuao ambiental dela e do MCV teriam realmente o

    condo de lhe proporcionar tal premiao. Se forem

    observadas suas palavras, poder ser verificado que sua

    atuao, em prol do meio ambiente, tem uma ideologia

    pacificadora tambm presente:

    Se aqueles que so prsperos e tecnologicamente avanados forem capazes de tomar a frente no caminho que leva ao manejo sustentvel, boa governana, justia e eqidade, poderemos evitar inmeros conflitos

  • S.R.Martinez

    35

    relacionados ao acesso aos recursos e a seu controle.

    Nessas palavras ditas por Mathaai, pode-se

    observar que ela antev a questo dos conflitos a serem

    gerados pela escassez de recursos naturais, num futuro

    prximo da humanidade.

    Mesmo sem falar-se em previses futuras, hoje j

    se podem observar conflitos blicos entre pases,

    relacionados questo da gua, a exemplo do que

    ocorre nas colinas entre Israel e Sria, invadidas

    militarmente pelos primeiros, para garantir o suprimento

    de gua desse pas.

    No texto, tambm se pode verificar o destaque

    dado pela autora ao aspecto subjetivo, ou seja, quem

    dever tomar o controle da proteo ambiental mundial.

    Ela fala sobre os prsperos e tecnologicamente

    avanados. Seriam esses os pases desenvolvidos?

    Pode-se notar que ela no procura falar de pases, mas

    deixar aberto esse rol de atores, para que a sociedade

    civil, prspera e tecnologicamente desenvolvida, possa

    assumir seu papel na tutela ambiental, assim como o faz

    o Movimento Cinturo Verde.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    36

    No aspecto objetivo da questo, sobre as

    atividades daqueles que tomaro a frente da questo

    ambiental esto: o manejo sustentvel, boa

    governana, justia e eqidade.

    Manejo sustentvel e boa governana so

    apresentados em grande parte dos discursos

    empresariais e do restante da sociedade civil, enquanto

    elementos essenciais de suas atividades atualmente.

    Muitas vezes figurando apenas na face dos discursos,

    mas ainda demandando mais prtica, vo aos poucos

    mudando tais posturas.

    Por outro lado, tpicos, enquanto Justia e

    Eqidade, ganham uma conotao estatal maior,

    especialmente alicerados na idia de que o tratamento

    eqitativo dos problemas ambientais pode levar a um

    plano de justia humanitria e igualitria ainda no

    vislumbrados na face terrestre.

    3.5 Uma Sntese Inabalvel

    A histria de vida de Wangari Mathaai e o

    histrico de sucesso do Movimento Cinturo Verde, os

  • S.R.Martinez

    37

    quais levaram plantao e manuteno de 30.000.000

    de rvores, cuja decorrncia maior foi obteno do

    Prmio Nobel da Paz, so uma demonstrao inabalvel

    da importncia da sociedade civil na tutela do meio

    ambiente e na formao do Estado Mundial Ambiental.

    A continuidade do projeto do Movimento Cinturo

    Verde, na meta mundial de se chegar plantao de

    1.000.000.000 indica que a sociedade civil no deve ser

    encarada de maneira reduzida, secundria, em face dos

    Estados nacionais, na legitimidade para a tutela do meio

    ambiente.

    A sociedade civil, enquanto espao democrtico,

    voluntrio, social, amplo e auto-regulatrio, ganha em

    agilidade, eficcia e resultados. Nesse sentido, ao se

    pensar no alcance da expresso Estado Mundial

    Ambiental, no se pode olvidar de que, caso se pense

    que esta estrutura ser formada somente por Estados

    nacionais, estar-se- fazendo uma leitura equivocada do

    que est a ocorrer e do que vir.

    Como disse Wangari Mathaai, no incio do se

    trabalho no se tinha noo do alcance que sua postura

    pr-ativa geraria a favor da convergncia de muitas

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    38

    outras pessoas e instituies, a favor do meio ambiente.

    Seu papel de liderana, sua devoo s suas idias, sua

    integridade, sua tenacidade, demonstram que existem

    valores alm das causas materiais egocntricas, que

    todos podem optar durante a vida.

    Em busca de seu prprio sentido existencial,

    Wangari Mathaai, trouxe sentido vida de muitas outras

    pessoas, envolvidas no grande projeto ambiental do

    Movimento Cinturo Verde.

    REFERNCIA

    MATHAAI, Wangari. Inabalvel. So Paulo: Nova Fronteira, 2007.

  • S.R.Martinez

    39

    CAP. IV

    ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL E SOCIEDADE:

    o caso da gua engarrafada nos EUA

    No incio de outubro de 2008 foi publicada uma

    reportagem no peridico Le Monde, intitulada a A

    guerra contra a gua engarrafada toma conta dos

    Estados Unidos, por Yves Eudes, desde McCloud, na

    Califrnia.

    Trata-se de um caso da luta da sociedade civil

    local, liderada por uma administradora de agncia

    imobiliria, chamada Debra Anderson, contra o grupo

    Nestl.

    Tudo comeou quando, em 2003, numa reunio

    com o conselho distrital daquela cidade, a comunidade

    foi informada do megaprojeto de construo de um

    complexo industrial pela multinacional supracitada, o

    qual iria captar a gua do rio McCloud, na sua fonte, e

    comercializ-la em grande escala.

    Segundo Debra Anderson, o interessante foi

    observar como o projeto fora sumariamente proposto

    comunidade e como sua aprovao fora precipitada pelo

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    40

    conselho distrital comunitrio, em condies

    extremamente prejudiciais, de apropriao dos recursos

    naturais e benefcios econmicos unilaterais

    multinacional.

    Dentre os benefcios desiguais, obtidos pelo

    Grupo Nestl, para a explorao da gua no rio

    McCloud, estavam, segundo Debra Anderson, o fato de

    que no seria realizado nenhum estudo prvio de

    impacto ambiental para a instalao do megaprojeto;

    seria dada contratualmente exclusividade para a

    explorao de tal recurso natural por um perodo de 100

    anos; durante esse perodo, a empresa poderia

    bombear 4.700 litros de gua por minuto, mantendo tal

    montante, mesmo nos perodos de seca e mesmo que

    houvesse escassez de gua para a populao

    circunscrita ao local.

    Em troca dessa apropriao dos recursos

    naturais, a empresa se comprometia a gerar 240

    empregos diretos, a pagar taxas e impostos.

    Segundo Debra Anderson, o conselho distrital

    comunitrio, formado por simples cidados locais, tinha a

    legitimidade para gerenciar os recursos da bacia

  • S.R.Martinez

    41

    hidrogrfica local, mas no estavam aptos a enfrentar

    negociaes de tal nvel, de tal complexidade, em

    confronto aos interesses econmicos da empresa, os

    quais eram representados por advogados e outros

    profissionais especializados da multinacional.

    De acordo com a reportagem em anlise, essa

    uma guerra desigual, pois o grupo Nestl e sua

    subsidiria chamada Nestl Waters, possuam, com

    dados da poca da publicao (2007), a propriedade de

    72 marcas de gua mineral, produzidas em 38 unidades

    instaladas no mundo, chegando a um faturamento de

    cerca de 6.300.000.000,00 de Euros. S nos EUA, essa

    empresa controlaria um tero do mercado de guas

    engarrafadas, naquele perodo.

    A misso do grupo local, inicialmente formado por

    amigos e liderado por Debra Anderson era obter a

    anulao deste contrato leonino. Num primeiro

    momento, a idia do grupo de pessoas era de que isso

    seria solucionado em algumas semanas, a partir da ao

    intensiva da populao local, por meio de atos de

    protesto, panfletagem, palestras, as quais levariam a

    realizao de um abaixo-assinado contra o ocorrido.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    42

    No obstante, mais pessoas foram se reunindo

    em torno dessa idia, a qual conseguiu congregar

    diferentes ideologias, origens, concepes, partidos

    polticos da sociedade civil local, em torno de uma

    questo comum a todos: a proteo do meio ambiente.

    Isso levou a criao de uma associao por eles, a

    McCloud Watershed Council ou Conselho da Regio

    Hidrogrfica de McCloud. Essa organizao no-

    governamental (ONG) questionou judicialmente a

    abertura do complexo industrial, procurando anular o

    contrato estabelecido, pela falta da realizao prvia de

    estudo de impacto ambiental, para a sua consecuo.

    A situao se ampliou e a divulgao pblica do

    trabalho da McCloud Watershed Council gerou outras

    convergncias dos esforos para a proteo do meio

    ambiente. Aos poucos, outros grupos de proteo do

    meio ambiente e entidade filantrpicas e de fins sociais

    comearam a declarar seu apoio ao trabalho dessa

    ONG.

    A importante discusso fundamental levantada

    pelo grupo era sobre a possibilidade de apropriao

    econmica de recursos naturais como gua, enquanto

  • S.R.Martinez

    43

    elemento indispensvel para a vida e que, portanto, no

    poderia ser considerada mercadoria proprietria. Uma

    das formas de conscientizar a populao local quanto a

    isso foi distribuio de garrafas de alumnio, reutilizveis,

    que podem ser abastecidas numa simples torneira, com

    a mesma gua que a multinacional queria vender a

    todos.

    Alm da possvel escassez futura de gua para as

    populaes locais, notou-se que outros problemas

    diretos seriam gerados, estendendo o rol de argumentos

    contrrios instalao do empreendimento,

    apresentados pela ONG. A instalao do

    empreendimento levaria a ampliao do trfego de

    caminhes, para o transporte das garrafas, gerando

    novos ndices de poluio atmosfrica. Tambm geraria

    a demanda pela instalao ou transporte de garrafas de

    plstico, acentuando o uso de matrias primas derivadas

    de petrleo e o consumo de energia para sua

    transformao. O bombeamento da gua poderia,

    entretanto, afetar o regime do lenol fretico, rios e lagos

    locais, provocando efeitos em cadeia por todo o

    ecossistema envolvido.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    44

    Mas dentro da noo de complexidade da

    sociedade civil atual, na sua gama interconexa de

    interesses coexistentes, num mesmo momento e espao,

    foi inevitvel haver o choque com aqueles que se

    colocam a favor do desenvolvimento econmico a

    qualquer custo. Isso pode ser verificado na resposta

    contrria que parte da populao deu contra o grupo de

    Debra, ao criar outra ONG, para defender a instalao do

    empreendimento na localidade.

    Na reportagem citada, destacado que esses

    interesses opostos esto visveis dentro do prprio seio

    familiar de Debra Anderson, no qual sua prima

    manifestava uma atuao intensiva pr-Nestl. Para

    Kelly Claro, prima de Debra, seus interesses individuais

    esto colocados acima das questes ambientais. Suas

    preocupaes estavam voltadas ao seu prprio bem-

    estar imediato, tais como a obteno de um emprego na

    nova empresa. Esse tambm era o foco da populao

    favorvel instalao da fbrica, os benefcios

    individuais econmicos trazidos pelo novo

    empreendimento, mesmo que, no longo prazo, no se

  • S.R.Martinez

    45

    saiba as conseqncias e os riscos ecolgicos desse

    feito.

    Sem a atuao do grupo liderado por Debra, a

    unidade de captao j estaria em funcionamento pleno.

    Mas a presso social fez com que a multinacional

    cedesse e negociasse suas metas industriais naquela

    localidade, cancelando o contrato originalmente assinado

    e colocando-se disposio para uma reformulao do

    projeto.

    O efeito pedaggico social da ocorrncia fez com

    que em outras comunidades, a mesma questo viesse

    tona e, em casos similares, as populaes comeassem

    a enfrentar o poder econmico das empresas,

    questionando tal modelo de negcios. Surgiram novas

    ONGs e as populaes de outras localidades esto

    obtendo vitrias sociais e judiciais contra a instalao

    desse tipo de empresas. No mbito poltico, surgiram

    discusses e debates sobre o assunto, a partir da

    irradiao positiva da idia de preservao dos recursos

    hdricos para o futuro da humanidade, contra as

    engarrafadoras de gua. Por decorrncia ou no, certos

    rgos pblicos americanos, como a prefeitura de So

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    46

    Francisco, citada na reportagem, proibiu a compra de

    gua engarrafada em suas reparties.

    Em outro flanco, tambm explorado atualmente

    pelas ONGs, est a conscientizao ao consumo

    consciente. Surgiram campanhas para convencer os

    consumidores a beber somente gua da torneira.

    Segundo a reportagem, igrejas protestantes

    recomendam que seus paroquianos evitem comprar esse

    tipo de produto e nas universidades se realizam

    degustaes para se demonstrar a igualdade de paladar

    entre as guas.

    Todas essas repercusses, aos esforos

    voluntrios do grupo liderado por Debra Anderson,

    trouxeram aos seus integrantes satisfao e

    contentamento pelo trabalho realizado em prol do meio

    ambiente:

    Alguns eleitos locais de uma regio rural da ndia visitaram os Estados Unidos para divulgar seu combate contra uma usina de gua engarrafada que pertence Coca-Cola, e eles esticaram a sua viagem at McCloud, para nos conhecerem. Eles nos deram os

  • S.R.Martinez

    47

    parabns! Depois disso, ns temos a obrigao de lutar at o fim.

    Esse um fato notrio, um indcio claro do

    fenmeno mundial que se est vivendo e que est em

    curso, a formao, pela ao integrada da sociedade civil

    global, de uma teia social de proteo do meio ambiente,

    o qual resultar, pela juno de esforos, na

    implementao futura do Estado Mundial Ambiental.

    O caso demonstrou que no est em jogo a

    proibio do exerccio da livre iniciativa econmica na

    sociedade, mas sua ao desmedida, sem a devida

    preocupao com o futuro das novas geraes.

    O desenvolvimento econmico embasado na

    mera expectativa de lucros deve ser substituda pela

    perspectiva de equilbrio entre Economia e Ecologia.

    Nesse sentido, a sociedade civil organizada, como

    demonstrado, apresenta importante papel ativo, ao lado

    do Estado, para fins de controle sustentvel das

    atividades econmicas.

    Dentro da idia de Estado Mundial Ambiental,

    esse o modelo esperado, o qual est a emergir no s

    no exemplo supracitado, mas pela atuao de um

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    48

    nmero cada vez maior de organizaes no-

    governamentais de defesa ambiental.

    REFERNCIA

    EUDES, Yves. A guerra contra a gua engarrafada toma conta dos Estados Unidos. Le Monde. Traduo: Jean-Yves Neufville. Disponvel em: . Acessado em: 06/10/08.

  • S.R.Martinez

    49

    CAP. V

    DOS REFUGIADOS AMBIENTAIS:

    a formao acadmica no EMA

    No dia 14 de novembro de 2008, o peridico El

    Mundo, da Espanha, publicou matria sobre a criao

    de uma nova escola universitria de formao de

    profissionais de Imigrao e Cooperao (Escuela de

    Profesionales de Inmigracin y cooperacin EPIC), na

    Universidade Rey Juan Carlos Madrid, em parceria

    com a Cruz Vermelha.

    Trata-se da criao de um centro inovador de

    ensino, que oferecer formao para pessoas,

    organizaes e instituies, voltadas ao trabalho nesses

    campos de assistncia internacional a imigrantes.

    Desde programas de formao bsica at um

    mestrado sero ministrados por essa escola. Ter direito

    ao ttulo de formao bsica aqueles que participem de

    alguns dos 46 cursos colocados disposio dos alunos,

    oferecidos em mdulos independentes, nos quais o

    aluno dever totalizar um mnimo de 600 horas tericas

    e, ao menos, mais 60 horas de prticas assistenciais. As

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    50

    temticas abordadas nos cursos sero de Direitos

    Humanos, Trabalho com a Populao Imigrante,

    Emigrantes e seus Continentes, Mulheres Imigrantes e

    outros.

    O problema da imigrao, nos moldes atuais,

    revela uma tendncia nitidamente econmica, de busca

    de melhores opes de vida em outros locais, para

    aqueles que no possuem condies de

    desenvolvimento econmico em seus pases.

    Futuramente, tais questes passaro a abarcar

    tambm a problemtica dos refugiados ambientais,

    enquanto aqueles que no possuam mais condies

    sanitrias, recursos naturais disponveis ou mesmo de

    sobrevivncia mnima, como acesso gua potvel ou

    terras frteis.

    Nesse ponto, passa a ser responsabilidade do

    Estado Mundial Ambiental gerenciar essas ocorrncias,

    direcionando o fluxo de imigrantes, dentro das

    possibilidades sustentveis que existiro nesse momento

    futuro.

    Por hiptese, noes de soberania e territrio dos

    Estados nacionais podero entrar em colapso se o

  • S.R.Martinez

    51

    cmbio climtico produzir um elevado contexto de

    imigraes sem comparao com as demandas atuais.

    Sem a existncia de um Estado Mundial Ambiental

    moderador, essa situao poder levar tambm

    iminncia de conflitos e guerras pelos espaos

    ambientais hgidos sobrevivncia humana, que

    porventura existiro em pontos especficos da terra.

    A criao de cursos voltados ao tratamento

    humanitrio dos imigrantes, tais como esse criado

    Madrid, voltados formao dos presentes e futuros

    assistentes de imigrao, no pode negligenciar a

    temtica dos refugiados ambientais. Para tanto, noes

    de Estado Mundial devem ser urgentemente pensadas

    neste contexto de imigrao e cooperao e formao

    profissional.

    REFERNCIA

    EL MUNDO. Una escuela ofrece un ttulo universitario

    a los profesionales de inmigracin y cooperacin.

    Disponvel em:

    . Acessado em 15/10/08.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    52

    CAP. VI

    OS GORILAS DE VIRUNGA:

    paradoxos econmicos do EMA

    Situado no Congo, perto da divisa territorial com

    Rwanda e Uganta, o Parque Nacional de Virunga foi

    internacionalmente conhecido aps o filme A Montanha

    dos Gorilas, de 1988. O filme conta a histria do

    trabalho da biloga norte-americana Dian Fossey, que

    dedicou sua vida a preservao desses gorilas da

    montanha.

    Tal espcie de gorila (berengei gerengei)

    encontra-se ameaada de extino, com

    aproximadamente 700 exemplares contabilizados no

    planeta, sendo que, cerca de 30% da populao est

    presente nesse santurio biolgico das montanhas de

    Virunga. Esse local foi considerado Patrimnio Mundial

    pela UNESCO em 1979.

    Trata-se de um plat montanhoso de origem

    vulcnica, elevado a mais de 5000 metros de altitude, em

    pleno trpico mido, o qual gerou uma rica variedade

    biolgica em torno dessas montanhas, nos quais esto

  • S.R.Martinez

    53

    15% variedade de plantas e vertebrados da frica.

    Portanto, alm de representar um santurio aos gorilas

    da montanha, indica ser um local que, por sua

    diversidade biolgica, de existncia nica no mundo.

    O conflito armado no Congo, entre o governo

    oficial, a cargo de Joseph Kabilla e o grupo rebelde

    liderado por Laurent Nkunda chegou ao Parque Nacional

    de Virunga h anos. Porm, alm de ser local de

    combates, o parque agora foi em parte ocupado pelos

    grupos rebeldes, que expulsaram os guardas ambientais

    de cerca da metade de sua rea e dentro do local onde

    se encontram os gorilas. Muitos guardas do parque

    foram mortos, outros sofreram violncias ou tiveram suas

    casas destrudas. Dos cerca de 700 guardas do parque,

    hoje quase metade deles se encontravam em campos de

    refugiados, nas cercanias do local.

    Para ter acesso ao que ocorreu e ocorre no

    Parque Nacional de Virunga, pode-se ler os blogs

    escritos pelos guardas dos parques na internet, os quais

    contam o que esto passando para preservar os gorilas,

    no endereo: http://gorilla.cd.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    54

    Est em curso uma campanha, tambm no

    endereo informado, para conseguir fundos para

    proteger o parque e auxiliar os guardas e os gorilas

    rfos.*

    Interessante observar que um local mpar no

    planeta, de biodiversidade e riqueza natural, apresenta-

    se no meio de um conflito armado, sem que os

    organismos pblicos internacionais dem a devida

    ateno ao problema.

    Mais de um trilho de Dlares foram utilizados nos

    pases desenvolvidos para salvar o sistema financeiro

    internacional, da bancarrota provocada pelos abusos e

    ganncia do prprio sistema, a partir de meados de

    2008.

    O Parque Nacional de Virunga, patrimnio natural

    da humanidade, conta agora com a ajuda de pessoas

    fsicas de todo o mundo para obter a quantia de U$

    100.000,00 (Cem mil Dlares) anuais, para que seus

    funcionrios possam continuar a fazer seu trabalho de

    * Por responsabilidade ambiental e coerncia foi feita uma doao para a

    campanha durante a elaborao deste artigo.

  • S.R.Martinez

    55

    preservao, mesmo tendo suas vidas ameaadas pelo

    conflito em curso.

    Esse tipo de paradoxo econmico de prioridades,

    derivado do predomnio do paradigma financeiro

    internacional, indica que a formao do Estado Mundial

    Ambiental dever transcender as concepes atuais

    existentes e refazer um balano de prioridades humanas.

    Especialmente no que diz respeito aos deveres

    civilizatrios exigveis, seja no banimento da usura

    internacional, dos conflitos armados ou na proteo de

    patrimnios naturais em perigo atualmente.

    REFERNCIA

    CCERES, Pedro. La guerra llega al santurio de los gorilas de la niebla y los guardas tienen que huir del parque. El Mundo: Madrid, 2008 Disponvel em: . Acessado em15/11/08.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    56

    CAP. VII

    LEI DE LAVOISIER:

    interferncia ambiental e o ceticismo imediatista

    Segundo Lavoisier, "nada se perde, nada se cria,

    tudo se transforma". Essa uma lei bsica da Fsica.

    Aprendida desde as primeiras aulas de temtica na

    educao fundamental. No seria qualquer discurso que

    possa lhe colocar em questo, no ?

    Bem, em se tratando da questo ambiental,

    parece que os argumentos desenvolvimentistas infinitos

    tendem a navegar por sofismas capazes at de revogar

    a Lei de Lavoisier.

    Sofismas so aqueles raciocnios incorretos, no

    sentido de que, enquanto nos silogismos, as premissas

    levam a um resultado lgico, nos sofismas o resultado

    das premissas leva a um resultado incorreto. Por

    exemplo, ao se dizer, "todos os homens tm direito

    imagem"; "Joo homem"; logo, "Joo tem direito

    imagem"; estar-se-ia construindo um silogismo. Mas, por

    exemplo, ao se dizer, "todos os homens falam", "Joo

    homem", logo, "Joo fala", estaremos fazendo um

  • S.R.Martinez

    57

    sofisma. Um sofisma no sentido de que, Joo pode, por

    um conjunto de problemas fisiolgicos, psicolgicos ou

    neurolgicos no conseguir falar. Isso o que parece

    ocorrer na temtica ambiental.

    Devido complexidade da temtica ambiental,

    existem muitas variveis externas, as quais podem influir

    nos resultados das anlises, que, dificilmente podem ser

    totalmente entendidas pelos pesquisadores. Da o

    contraste de resultados das pesquisas, umas dizendo

    que no h mudana climtica global em curso e outras

    dizendo que sim.

    Para Ulrich Beck, isso reflete a entrada da

    humanidade atual na chamada "sociedade do risco", pois

    tudo que feito atualmente entra no campo das

    incertezas devido a influncias das variveis externas

    indefinidas, as quais podem levar ocorrncia de

    resultados catastrficos ou no, em matria ambiental.

    Ou seja, aquilo que est por vir, por vrios problemas

    fora do controle dos cientistas, pode no estar sendo

    falado agora, no mesmo sentido do exemplo de Joo.

    Ao se pensar sobre isso, chega-se ento ao

    sofisma, observado em certas pesquisas cientficas, de

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    58

    que as interferncias ambientais atuais no teriam o

    condo de provocar os cmbios climticos gravosos.

    Bem, ao se partir basicamente da Lei de Lavoisier,

    j se observa que a estruturao deste sofisma carece

    correo lgica primria quanto a algo bsico da Fsica.

    Se as agresses ao meio ambiente esto em curso e

    foram acentuadas nos ltimos cinqenta anos, tais

    interferncias provocariam quais tipos de transformaes

    em termos de cmbios climticos?

    Se nada se perde, nada se cria e tudo se

    transforma, tais modificaes fazem parte regular do

    processo de interao do todo, no sistema dinmico da

    biosfera terrestre.

    Entretanto, no se saber quais exatamente sero

    essas modificaes no justifica o raciocnio de que elas

    no tero importncia, pois elas ocorrero em

    correspondncia s interferncias realizadas.

    Refletir sobre isso importante, num momento em

    que se exigem mudanas de postura em face do meio

    ambiente. O problema maior do ceticismo atual diante

    das questes ambientais, por grande parte da populao

  • S.R.Martinez

    59

    mundial, parece esbarrar no hedonismo produzido pela

    ideologia da sociedade consumista atual.

    A patologia scio-ambiental diz: consuma agora,

    seja feliz now, deixe os problemas ambientais para

    depois ou para as futuras geraes, pois h uma grande

    dvida se eles realmente ocorreram.

    Esse o resultado projetivo do transtorno

    psictico que se vive no meio cientfico isento de

    responsabilidades globais e futuras.

    REFERNCIA

    BECK, Ulrich. Incertezas fabricadas Entrevista com o socilogo alemo Ulrich Beck. Disponvel em: . Acessado em: 18/12/2009.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    60

    CAP. VIII

    SADE AMBIENTAL MUNDIAL:

    resumos de anlises cientficas sobre o assunto

    8.1 Meio ambiente e Sade

    Quais as conseqncias de um ambiente urbano

    para a sade humana? Um ambiente urbano degradado,

    onde haja pouco contato com a natureza, produz

    conseqncias ao ser humano? Ao contrrio, um

    ambiente urbano equilibrado, onde haja presena de

    reas verdes traria benefcios para a sade?

    Para responder inicialmente a essas questes, a

    Folha de So Paulo trouxe uma reportagem: "Bairros

    com muitas reas verdes reduzem risco de obesidade,

    diz estudo."

    Tal reportagem apontava, como base cientfica,

    para um artigo publicado no American Journal of

    Preventive Medicine, volume 35, de novembro de 2008.

    Esse volume foi elaborado especificamente para a

    tratativa do tema: "Cmbios Climticos e a Sade

  • S.R.Martinez

    61

    Pblica", editado por Frumkin Howard, Anthony J.

    McMichael, Jeremy J. Hess.

    Com base nessa indicao, foi realizado um

    estudo sobre esse volume do peridico, analisado a

    seguir.

    8.2 Resumos sobre o assunto

    Ao transcender a esfera da Psicologia Ambiental,

    poder ser observado a seguir que os artigos publicados

    no peridico supracitado trazem vrias anlises cujo

    conhecimento integra as perspectivas futuras de sade

    pblica para a sociedade global, a partir dos cmbios

    climticos em curso.

    Nesse peridico, George Luber e Michael

    McGeehin publicaram um estudo sobre O Cmbio

    Climtico e o Aumento das Ondas de Calor Extremas

    (p.429 a 435).

    Demonstram esses autores que a relao de

    causa e efeito, entre as alteraes climticas e a

    ocorrncia de eventos extremos de calor, j

    comprovada. Essas ocorrncias tm sido verificadas

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    62

    principalmente em grandes reas metropolitanas, onde

    se observa uma intensificao das preocupaes com a

    sade pblica.

    Pesquisas citadas no artigo relacionam a

    possibilidade de uma epidemia de mortes relacionadas

    ao calor extremo, que levam em considerao o

    ambiente urbano favorvel ao aumento extremo das

    temperaturas.

    Outro artigo publicado no peridico citado, cuja

    organizao ficou ao cargo de Kenneth L. Gage, trata do

    Clima e dos vetores de doenas (p. 436 a 450).

    Os resultados da pesquisa desenvolvida indicam

    que as alteraes climticas podem aumentar a

    ocorrncia de doenas decorrentes da transmisso por

    vetores, pois aquecimento e o aumento do ndice de

    chuvas facilitariam a circulao de artrpodes por

    ambientes ante ento por eles no ocupados.

    No artigo publicado por Patrick L. Kinney,

    intitulado Mudana Climtica, Qualidade do Ar e Sade

    Humana (p.459 a 467), as alteraes climticas esto a

    produzir mudanas nos padres de qualidade do ar,

    observveis a partir da anlise das emisses dispersas

  • S.R.Martinez

    63

    no ar. Essas emisses sofrem influencia direta da

    umidade, da velocidade e direo dos ventos, em razo

    de sua dissoluo, concentrao ou mesmo

    transformao qumica nos ambientes. Alm da poluio

    decorrente das causas j estabelecidas nos ambientes

    urbanos, esses espaos podem vir a sofrer tambm em

    decorrncia da poluio advinda de queimadas prximas

    s cidades, mofos, partculas aerotransportadas de flores

    e plantas que possam se desenvolver a partir dos

    cmbios climticos.

    Jeremy J. Hess, Josephine N. Malilay e Alan J.

    Parkinson tratam da importncia da anlise dos

    ambientes, em particular, em relao problemtica dos

    cmbios climticos, os quais podero afetar

    diferentemente cada uma daquelas realidades

    individualizadas. Nesse sentido, zonas costeiras, reas

    de clima frio e pontos quentes sofreram conseqncias

    diversas e importantes. Desse modo, a sade pblica

    dever sofrer adaptaes de conduta em cada realidade

    modificada pelos cmbios climticos.

    Em artigo intitulado A percepo pblica da

    mudana climtica: mitigaes voluntrias e barreiras

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    64

    mudana de comportamentos, Jan C. Semenza, David

    E. Hall, Daniel J. Wilsond, Brian D. Bontempo, David

    J. Sailor e Linda A. George, analisaram, por meio de

    pesquisa de campo que a percepo quanto a

    sensibilizao sobre a ocorrncia das mudanas

    climticas de 98% na populao de Portland e

    Houston, sendo que mais de 80% dessa populao

    revelam algum nvel de preocupao com essa

    ocorrncia. Os nveis de preocupao so maiores entre

    os mais jovens e de maior grau de instruo.

    Dentre as mudanas de comportamento, as

    principais foram a reduo do uso de energia em casa

    (43%), reduo do uso de gasolina (39%) e a reciclagem

    dos resduos domsticos (26%).

    Dentre as dificuldades verificadas na mudana de

    comportamentos esto a manuteno do padro de

    conforto e de consumo, alm dos impedimentos

    econmicos ao uso de alternativas no danosas ao meio

    ambiente, cabendo ao governo, segundo os

    pesquisados, o dever de gerar condies para que essas

    mudanas de comportamento se efetivem em maior

    grau.

  • S.R.Martinez

    65

    No artigo publicado por Michel E. St. Louis e

    Jeremy J. Hess, intitulado Mudana Climtica: impactos

    e implicaes para a sade global (p.527 a 538), as

    pesquisas indicam que as mudanas climticas afetaro

    principalmente as pessoas mais pobres, nos pases mais

    pobres. No entanto, a artigo relata que as alteraes

    climticas ainda no resultaram em nenhuma prtica ou

    estratgia global para o enfrentamento da questo, em

    razo da proteo da sade. A concluso de que as

    estratgias referentes sade global devem englobar

    novas prticas, as quais procurem sensibilizar os

    profissionais da sade para essas ocorrncias, a

    implantao de novos programas globais de sade,

    voltados a essa temtica.

    Todos os ensaios apresentados demonstram que

    o problema da sade pblica, a partir das mudanas

    climticas, no estar adstrito a locais especficos do

    planeta. Cada qual sofrer alteraes com as mudanas.

    E mesmo nas regies onde o calor potencialmente no

    ser extremo, o aparecimento de novas doenas ou tipos

    de poluio demonstra que o problema mundial.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    66

    REFERNCIAS

    American College of Preventive Medicine; Association for Prevention Teaching and Research; Edited by Frumkin Howard, Anthony J. McMichael, Jeremy J. Hess. American Journal of Preventive Medicine. Theme Issue: Climate Change and the Health of the Public. Volume 35, Issue 5, Pages 401-538 (November 2008).

    FOLHA ONLINE. Bairros com muitas reas verdes reduzem risco de obesidade. Disponvel em: . Acessado em 06/10/08.

    GAGE, Kenneth L; BURKOT, Thomas R.; EISEN, Rebecca J.; HAYES, Edward B. Clima e dos vetores de doena. In: American Journal of Preventive Medicine. Theme Issue: Climate Change and the Health of the Public. Volume 35, Issue 5, Pages 436-450 (November 2008). Disponvel em:

    KINNEY, Patrick L. Mudana Climtica, Qualidade do Ar e Sade Humana. In: American Journal of Preventive Medicine. Theme Issue: Climate Change and the Health of the Public. Volume 35, Issue 5, Pages 459-467 (November 2008).p.459 a 467. Disponvel em:

  • S.R.Martinez

    67

    SEMENZA, Jan C.; HALL, David E.; WILSOND, Daniel J.; BONTEMPO, Brian D.; SAILOR, David J.; GEORGE, Linda A. A percepo pblica da mudana climtica: mitigaes voluntrias e barreiras mudana de comportamentos. American Journal of Preventive Medicine. Theme Issue: Climate Change and the Health of the Public. Volume 35, Issue 5, Pages 479-487 (November 2008). Disponvel em:

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    68

    CAP. IX

    A FILOSOFIA QUNTICA E A

    PARTICIPAO NO ESTADO MUNDIAL AMBIENTAL

    1 Fsica Quntica e Postura Cientfica Tenaz

    Hoje existem muitas obras sobre os postulados da

    fsica quntica, todas elas disposio do leitor para

    tentar elaborar um pouco mais sobre esse mundo das

    probabilidades, quadrantes, energias e resultados.

    O termo "quntico" nasceu com o estudo dos

    "quantas", ou ftons, unidades de energia menores que

    os eltrons, os quais so liberados durante a

    movimentao dos mesmos entre as camadas eltricas

    dos tomos.

    O que importa sobre isso tudo, que a Fsica

    Quntica demonstrou que, ao se interferir em algum

    sistema, mesmo sob a forma de pensamentos, que so

    descargas qumicas e eltricas entre sinapses, pode-se

    influenciar o direcionamento e a probabilidade do

    comportamento dos ftons pertencentes a esse sistema.

    Ou seja, por mais neutro que seja o pesquisador, sua

  • S.R.Martinez

    69

    epistemologia pessoal (valores, histrico, pensamentos)

    estar interferindo enquanto componente dos resultados

    da pesquisa em curso.

    Numa correlao inusitada, a revista

    "Superinteressante", em julho de 2008, publicou um

    artigo sobre terapias e seu poder de cura. Ao final dessa

    reportagem, foi falado sobre um estudo realizado por

    neurocientistas, a partir da anlise tomogrfica da

    ativao de partes do crebro de quem est ou no em

    terapia. A concluso do estudo de que, no importa a

    linha teraputica escolhida ou sua metodologia de

    trabalho; o mais importante de tudo est na postura

    mental do indivduo que, ao se colocar em terapia, gera

    no seu crebro uma maior ativao de reas

    relacionadas capacidade de solucionar problemas.

    Talvez esse seja um indcio hipottico bem interessante

    para se pensar sobre a interferncia dos pensamentos

    dos pesquisadores na soluo dos problemas de

    pesquisa.

    Se ao se colocar em terapia, dirigi-se, mesmo que

    inconscientemente, as funes mentais de um indivduo

    para a obteno de solues aos seus problemas,

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    70

    tambm seria correto dizer que, ao se pesquisar sobre

    algo, colocar-se-ia as funes mentais nessa busca de

    resultados?

    A resposta, por hiptese comparativa, parece ser

    plausvel de ser afirmativa. No obstante se possa

    corroborar com essas idias qunticas, h que se ter

    restries ao fato de que, no basta pensar: "vou ter

    muito dinheiro", para ver sua conta cheia no dia

    seguinte... Muito cuidado nessa hora! Se essas idias ou

    desejos lhe causam euforia e depois, certo estado

    depressivo, isso pode estar a indicar um transtorno

    bipolar ou borderline, a requerer acompanhamento

    teraputico imediato.

    H muito mais suor e transpirao no caminho de

    tudo o que se deseja obter. Lembre-se que, para colher,

    h que se plantar. Logo, no bastam intenes mentais.

    O primeiro passo estaria na materializao de aes,

    esforos dirios e tenacidade. Alm disso, avaliar

    resultados sempre preciso. H que se respeitar sempre

    a lei da dcada, na avaliao de qualquer coisa. Leia-

    se, todo projeto, para lhe trazer algum resultado

    mensurvel real e duradouro, requer o investimento de

  • S.R.Martinez

    71

    uma dcada. No se trata de esperar pelo avanar

    natural do tempo, mas, ao comear um projeto

    duradouro, h que se dedicar uma dcada de esforos

    canalizados para que aquilo possa apresentar resultados

    avaliveis. Em uma dcada, qualquer iniciativa gerar

    elementos para medir o real alcance de suas intenes,

    dedicao, esforos, e permitir compar-los aos obtidos

    por outras pessoas, naquilo que acertou, errou, superou

    ou ainda tem que melhorar.

    Nesse sentido, no h que se falar em cincia ou

    em resultados de pesquisa, sobre qualquer assunto,

    antes de uma dcada de esforos concentrados a

    qualquer objeto de estudo.

    2 Saltos Qunticos Ambientais e Predies

    Uma das coisas interessantes ligadas a essa

    temtica, refere-se aos saltos qunticos, dentro da

    Teoria Geral dos Sistemas. Por essa metodologia, todo

    sistema, a partir da tentativa de leitura ampla de suas

    variveis, passadas e presentes, possibilitaria a predio

    de seu futuro.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    72

    Como exemplo, poder-se-ia pensar num salto

    quntico quando se imagina que daqui a 100 anos

    haver a estruturao do "Estado Mundial", como

    escreveu Alexander Wendt, em sua obra?

    Sim, esse seria um exemplo claro de predio a

    partir da leitura do sistema. Nesse sentido tambm

    atuam J. J. Gomes Canotilho e Wangari Mathaai.

    Teria feito isso Nostradamus, quando escreveu

    suas previses para o sculo XX, cerca de cinco sculos

    antes? Bem, todo salto quntico ao futuro, enquanto

    predio, no deixa de ser marcado pelo desejo de

    realizao do futuro, por um indivduo ou coletividade,

    em seu inconsciente. Isso redunda em que,

    necessariamente, qualquer predio estar sujeita ao

    sucesso, ao fracasso ou mesmo em sua realizao

    parcial.

    Sem adentrar em aspectos msticos, o que a

    cincia traz para responder a essas questes chama-se

    "probabilidade estatstica". Ou seja, tudo no mundo

    material tem uma probabilidade de ocorrer, mensurada

    estatisticamente. Ento, a nica coisa certa, no momento

    que se estabelece uma hiptese verificvel na linha do

  • S.R.Martinez

    73

    tempo, que essa passa a ter a probabilidade de ocorrer

    no futuro, apesar das incertezas do momento atual.

    Disso decorre que, a todos os momentos, tem-se

    a possibilidade de criar janelas para o futuro,

    demarcando ocorrncias que se espera acontecer. Em

    termos ambientais, essa a porta para um salto quntico

    ao futuro sustentvel proposto pelo Estado Mundial

    Ambiental, uma interferncia profiltica, uma anttese ao

    caos ambiental aventado.

    3 Livro-arbtrio Probabilstico e Assertividade

    O leitor poderia agora questionar, mas isso no

    significa algum acrscimo real a minha vida, neste

    momento? Posso continuar a manter meu padro de

    consumo e conforto, sem querer me preocupar como o

    futuro ambiental? Essa seria a sada por uma opo

    patolgica narcsica, a qual parece ser aquela adotada

    pela maioria da populao mundial no momento, seja por

    ignorncia, acomodao ou cobia.

    O interessante que, se voc usa seu "livre

    arbtrio" para no fazer nada, entra, por omisso, isso

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    74

    redundar futuramente em nenhuma probabilidade de

    voc chegar a qualquer resultado pessoal. Por outro

    lado, esse livre arbtrio omissivo estaria a permitir que a

    histria do re-equilbrio ambiental do planeta seja escrita

    e realizada por outras mos. Essa seria a contrapartida

    residual das omisses ambientais.

    Dentro das variveis externas da crise ambiental,

    tambm entram os desejos dos outros. Se eles tambm

    querem aquilo que voc quer, algum ficar sem aquilo

    (lembre-se, voc est num mundo cuja matria

    delimitada). Se h dez pessoas que querem o mesmo

    quadrante futuro (por exemplo: gua potvel) todas elas

    tero a probabilidade de obt-lo, num momento de

    escassez? O interessante que, fazendo um salto

    quntico pr-ambiente, o indivduo passa a aumentar sua

    probabilidade de colaborar para a no escassez de gua

    para todos naquele quadrante. Logo, qualquer ao

    ambiental sempre para alm do prprio indivduo,

    rompendo com o processo narcsico em prol de algo

    maior.

    Em estudos teraputicos, dizem que pessoas

    saudveis so aquelas que vivem o presente, aprendem

  • S.R.Martinez

    75

    com seu passado e planejam seu futuro. Na verdade,

    todas essas pessoas esto dando saltos qunticos em

    suas vidas e marcando, a partir do livre-arbtrio, o futuro

    com probabilidades e direcionando suas energias para

    tanto.

    Marcar o futuro sustentvel da humanidade

    tambm deve fazer parte dos sonhos individuais. Colocar

    sua mente, posturas e hbitos sustentveis em prtica

    o passo seguinte. Lembre-se o Estado Mundial

    Ambiental parte do livre arbtrio de cada indivduo, dentro

    de sua colaborao com o Cosmos.

    4 Instrumentalidade da Postura Ambiental

    Outra coisa interessante na teoria quntica a

    idia instrumental do processo. Pode ser que, por mais

    que voc se esforce, por mais que voc se doe para

    atingir um objetivo, ele talvez no se materialize da

    maneira esperada. Isso ocorre em razo das variveis

    externas, pois 100% do seu esforo, por vezes no

    permitem que se supere 1% das variveis externas que

    podem conduzir a ocorrncia do resultado. Por exemplo:

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    76

    pode-se selecionar todo o lixo reciclvel de um

    apartamento, mas no se pode esperar que o

    condomnio, no conjunto, cumpra as regras municipais

    de separao de resduos domiciliares. Desse modo, o

    importante a participao individual no processo. H

    que se pensar sempre na instrumentalidade, na

    importncia da soma de cada tijolo para a construo da

    casa.

    A partir do momento que se d o salto quntico

    ambiental individualmente, os resultados tendem a ser

    pequenos ou mesmo insignificantes aos olhos da

    coletividade. Muitas vezes, o prprio indivduo poder

    desvalorizar esses resultados, pela premissa social de

    que s aquilo que grandioso tem significado.

    No obstante isso, a instrumentalidade do

    processo demonstra que o conjunto da obra que

    resultar ampliado, pois da soma de pequenos esforos

    cotidianos e contnuos, em uma dcada, gerar

    resultados vistosos a se demonstrar.

    Assim, os juros e dividendos ambientais das

    reaes assertivas apresentam-se no tempo. Lembrem-

    se, o grande prmio s vem ao final e ele reflete o

  • S.R.Martinez

    77

    acmulo dos esforos de vrios dias longe dos holofotes

    sociais. Sem o esforo dirio e tenaz, as probabilidades

    de obter o que se quer, caem razoavelmente.

    Se ao final voc no atingiu o grande prmio, voc

    poder verificar que obteve muitas outras coisas durante

    o processo. Da a necessidade de anotar todas essas

    ocorrncias, num dirio de extrapolaes e pequenas

    conquistas.

    Depois de uma dcada dessas observaes, voc

    poder tambm avaliar a partir da soma dos pequenos

    resultados obtidos, pois agora voc tem a sua disposio

    todos os tijolinhos que assentou durante o trajeto.

    Como exemplo, imagine voc escrevendo um livro

    sobre meio ambiente, que pretenda trazer informao,

    esclarecimento e assistncia. Pode ser que, ao final, seu

    livro no seja um sucesso. Mas isso no significa que

    voc perdeu o seu tempo, seu esforo. Voc, com

    certeza, ser o detentor de conhecimento aprofundado

    sobre um assunto. Voc poder dar aulas e entrevistas.

    Veja ento que os resultados outros viro, mesmo que

    aquilo que se espera no seja atingido. Isso

    instrumentalidade.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    78

    No caminho de construo do Estado Mundial

    Ambiental, essa instrumentalidade o levar a participar

    inevitavelmente desse processo em curso. Vide o

    exemplo dos moradores da pequena cidade americana

    de McCloud, cuja atuao repercutiu em termos

    mundiais, extrapolando para outras reas e atividades.

    5 Semeando o Estado Mundial Ambiental

    Em suma, so esses saltos qunticos, aliados ao

    esforo e tenacidade (manuteno do esforo no tempo),

    que permitem a obteno de um sentido de viver. Um

    caminho de construo e colaborao para que o

    contentamento individual, em primeiro plano, tambm

    colabore para que o planeta seja um local melhor para

    todos viverem.

    Assim, ao se semear a idia do Estado Mundial

    Ambiental, o que se busca dar um salto quntico na

    forma de se pensar a relao do homem com seu meio.

    O planeta Terra, a me Gaia, est no limite de sua

    capacidade de absoro de impactos e interferncias

    poluentes, dentro do balano atual.

  • S.R.Martinez

    79

    No obstante as falhas tecnolgicas, todos podem

    contribuir para a manuteno de um mundo sustentvel,

    basta voc tambm dar o seu salto quntico ambiental.

    REFERNCIAS

    GUEDES, Denize. Psiclogos: a cura pela palavra. Revista Superinteressante. ed. 254. So Paulo: Abril, julho/2008.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    80

    CONCLUSES

    No tocante ao pensamento de Alexander Wendt,

    concorda-se com sua leitura da inevitabilidade da

    formao do Estado Mundial. No obstante,

    controversa a forma como o autor observa que essa

    entidade global ir se formar. Nesse sentido, procurou-se

    demonstrar, nos captulos seguintes da obra, a

    importante participao na sociedade civil nessa

    integrao mundial.

    Com Canotilho, pode-se observar que a base do

    Estado Mundial decorre da idia alem do chamado

    Estado Ambiental. A concluso que se pode chegar,

    que o autor apresenta razo em sua anlise, pois

    reconhece um dos pontos convergentes globais, perante

    os quais, independente de credo, cor, gnero, opo

    sexual ou ideolgica, iro afetar a todos. No h como se

    afastar da questo ambiental mundial. Sobre esse ponto

    coaduna-se o espao de integrao das naes,

    sociedades e estados.

    A partir da lio de vida de Mathaai, surge a

    noo de que a luta pelo meio ambiente possvel.

  • S.R.Martinez

    81

    Trata-se de uma luta pacfica, mas proativa, cujos

    resultados so mensurveis em escala global. Leia-se

    nesse sentido, tambm o exemplo de parte da populao

    da pequena cidade americana de McCloud. Da unio da

    sociedade civil, de sua organizao, surgiram elementos

    e coeso capazes de vencer a fora da apropriao

    infinita dos recursos naturais.

    Esses casos de luta pelo ambiente devem servir

    de exemplo para todos aqueles que militam a favor do

    planeta. No se trata de demonizar o desenvolvimento

    econmico, mas de estabelecer limites e possibilidades

    de sustentao.

    Tanto o exemplo individual de Mathaai, que

    depois se tornou coletivo a partir do Movimento do

    Cinturo Verde, quanto o exemplo de McCloud, reforam

    a convico de que o Estado Mundial Ambiental j est

    em formao. Independente da atuao estatal, a

    sociedade civil ocupar grande parte da auto-

    regulamentao da questo ambiental.

    A academia tem importante participao nesse

    processo. Na preparao de profissionais para as

    demandas atuais e futuras, a exemplo da temtica dos

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    82

    refugiados ambientais, ou mesmo em servir de espao

    para a construo de novas tecnologias e

    esclarecimentos sobre as incertezas no to incertas.

    Contrariar a Lei de Lavoisier, segundo a qual

    nada se perde, nada se cria, mas tudo se transforma,

    parece ser o maior sofisma elaborado por quem est a

    servio do imediato, do desenvolvimento sem assuno

    de riscos.

    Atualmente, condio sine qua non entender

    que interferir na realidade da biosfera terrestre causa

    transformaes logicamente conseqentes. Pode-se

    discutir a gravidade dessas transformaes, mas a

    assuno desses riscos no legtima das geraes

    viventes atuais, pois pode colocar em jogo a sade e

    mesmo a existncia das geraes futuras.

    Estudos j apontam para esse norte, ao

    reconhecer os efeitos danosos do cmbio climtico sobre

    a sade das populaes, em mbito global.

    Em termos introdutrios, esse o quadro atual,

    internacionalmente observvel sobre a temtica

    ambiental global. Se h um projeto de um Estado

    Mundial em curso, ele certamente estar caminhando

  • S.R.Martinez

    83

    juntamente com a tratativa da temtica ambiental global,

    da o arriscar-se na denominao Estado Mundial

    Ambiental. Essa a nossa proposta do salto quntico

    ao futuro da sociedade humana globalizada.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

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  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

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    Protocolo de Kyoto p. 12.

  • S.R.Martinez

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    Psicologia Ambiental p. 61.

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    Recursos Hdricos p. 39 e 40.

    Refugiados Ambientais p. 49 e 51.

    Sade Ambiental p. 60 e 65.

    Sociedade de Risco p. 22 e 57.

    Sociedade Civil p. 16, 23, 26, 31, 36, 37, 39, 42, 44 e 47.

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    Tribunal Mundial Ambiental (TMA) p. 27 e 28.

    Unio Europia p. 11 e 12.

    Variedade Biolgica p. 52.

  • Aspectos Introdutrios ao Estado Mundial Ambiental

    90

    SOBRE O AUTOR:

    Srgio Rodrigo Martinez psicanalista e professor de

    Direito Ambiental, possui doutorado e leciona sobre a

    temtica da Sociedade Civil e Efetivao do Direito

    Ambiental.

    Dentre as reas de interesse atual de pesquisa,

    encontra-se a temtica da psicologia jurdica, a partir do

    ensino jurdico, mediao de conflitos e auto-regulao

    ambiental.

    Para maiores informaes e contatos visite o site:

    http://www.ensinojuridico.com.br

    * Copyleft Utilize as informaes contidas neste livro livremente, s no se esquea de indicar a fonte. Direitos autorais gratuitamente cedidos pelo autor.