livro - astronomia

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1 ALEX SANDER BARROS QUEIROZ PROPOSTAS E DISCUSSÕES PARA O ENSINO DE ASTRONOMIA DO 1° AO 5° ANO DO NÍVEL FUNDAMENTAL E NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EXPERIÊNCIAS

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Prática de astronomia

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    ALEX SANDER BARROS QUEIROZ

    PROPOSTAS E DISCUSSES PARA O ENSINO DE ASTRONOMIA DO 1 AO 5 ANO DO NVEL

    FUNDAMENTAL E NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS

    EXPERINCIAS

  • 2

    COLEO ABRINDO TRILHAS PARA OS SABERES

    COORDENAO EDITORIAL Francisco Kennedy Silva dos Santos

    COMISSO ORGANIZADORA Ana Maria Fontenelle Catrib Csar Nilton Maia Chaves

    Dbora Lcia Lima Leite Mendes Estefnia Maria Almeida Martins

    Maria Gorete de Gis Simone Trindade da Cunha

  • 3

    ALEX SANDER BARROS QUEIROZ

    PROPOSTAS E DISCUSSES PARA O ENSINO DE ASTRONOMIA DO 1 AO 5 ANO DO NVEL

    FUNDAMENTAL E NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS

    FORTALEZA 2009

  • 4

    Pr-Impresso, Impresso e Acabamento Grfica e Editora Regadas Ltda

    Direo e Coordenao Raimundo Fernandes Filho

    Produo Grfica Arte e Diagramao Reginaldo H. Alexandre

    Tiragem 3000 Exemplares

    Reviso Marilene Barbosa Pinheiro

    C387p CEAR. Secretaria da Educao. Prospostas e discusses para o ensino de Astronomia

    do 1 ao 5 do nvel fundamental e na educao de jovens e adultos / Secretaria da Educao; Elaborao Alex Sander Barros Queiroz. Fortaleza: SEDUC, 2009.

    87p. : il. - (Coleo Abrindo Trilhas para os Saberes)

    ISBN: 978-85-62382-01-7

    1. Educao Adultos. 2. Astronomia. I. SEDUC. II. Ttulo.

    CDD 374.520 CDU: 37.013.83:521(813.1)

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    COLEO ABRINDO TRILHAS PARA OS SABERES

    Esta coleo rene o melhor do pensamento terico e crtico sobre a formao do educador e seu trabalho, expondo um leque de questes de grande relevncia para o debate sobre a Educao, por meio da diversidade de experincias dos autores que dela participam professores da Secretaria da Educao (SEDUC).

    Trabalhando com duas vertentes bsicas, Experincias e Reflexes, os referidos autores focam diferentes temticas, tais como: Ensinos - Gesto e Planejamento Educacional - Avaliao Educacional Educao, Currculo e Ensino.

    Esperamos, assim, contribuir para a reflexo dos profissionais da Educao e do pblico em geral, visto que, nesse campo, o questionamento o primeiro passo na direo da melhoria da qualidade do ensino, o que oferta todos ns.

    Francisco Kennedy Silva dos Santos Coordenador

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    Dedico este trabalho minha esposa Ana Paula Maciel da Silva pela compreenso, amor e o incentivo para a sua efetiva realizao. Ao meu irmo Idalmir de Souza Queiroz Jnior, pelo incentivo a mim dedicado. Aos meus pais, Idalmir de Souza Queiroz e Maria de Lourdes Barros Queiroz (in memoriam), por todo sacrifcio, amor, educao e incentivo dedicados durante a minha vida. s minhas irms e amigos que me apoiaram para a concluso deste trabalho. Karla Ronise Peixoto dos Santos pelo apoio e incentivo.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pelo dom da pacincia. Aos professores, coordenadores e diretora da Escola Municipal

    Djalma Maranho, em especial s professoras Ana Maria de Freitas, Ariadna de C. Barbosa, Linelva Teixeira dos Santos, Maria Luciene de Souza Lima, pelo apoio prestado durante a realizao deste trabalho nesta instituio.

    Aos professores, coordenador, diretor e alunos da Escola Estadual Professor Eliah Maia do Rego.

    Ao professor Luiz Carlos Jafelice, pela inesgotvel pacincia, face ao desenvolvimento do presente trabalho.

    professora Francisca Elijane do Nascimento, pela reviso e acompanhamento deste trabalho.

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    H pessoas estrelas, h pessoas cometas. Os cometas passam, apenas so lembrados pelas datas que passam e retornam. As estrelas permanecem... Importante ser estrela: estar presente, marcar presena, estar junto, ser luz, calor e vida... Amigo ser estrela... Podem passar os anos, podem surgir distncias, mas a marca fica no corao...

    Autor desconhecido.

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    SUMRIO PREFCIO ..........................................................................................

    10

    INTRODUO ..................................................................................

    14

    1 ANLISE DOS PCN ........................................................................

    16

    1.1 CONTEXTUALIZAO HISTRICA DO ENSINO DAS CINCIAS NATURAIS NO BRASIL ...........................................................................

    16 1.2 CRTICA AOS PCN ..........................................................................

    22

    2 DESENVOLVIMENTO DE PRTICAS .........................................

    33

    2.1 VIAGEM AOS PLANETAS: UMA PRTICA PARA O ENSINO DE ASTRONOMIA NOS 1O AO 5O ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL ...............

    37 2.2 CRATERAS LUNARES .....................................................................

    40

    3 AMPLIANDO OS HORIZONTES: A ASTRONOMIA E O ENSINO INTERDISCIPLINAR .........................................................

    42

    4 RESULTADOS (LIVROS CONFECCIONADOS PELAS CRIANAS) ........................................................................................

    44

    5 ANLISE DE LIVROS DIDTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DA EDUCAO BSICA ..................................

    52

    6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................

    55

    BIBLIOGRAFIA.................................................................................

    59

    ANEXO A VIAJANDO AOS PLANETAS ............................................... 62 ANEXO B VIAJANDO PELO SOL ........................................................ 74 ANEXO C CRATERAS LUNARES ........................................................ 78 ANEXO D DEUSES E DIAS ................................................................ 81 ANEXO E AS ESTRELAS REPRESENTATIVAS DOS ESTADOS BRASILEIROS..........................................................................................

    84 ANEXO F DEUSES E PLANETAS......................................................... 85

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    PREFCIO um prazer poder escrever uma apresentao para este livro

    de Alex Sander Barros Queiroz o Alex, como conhecido entre ns. tambm uma oportunidade de congratular publicamente, o autor, por ter sua dissertao de mestrado selecionada para publicao na forma de livro. Esta uma importante contribuio com que a Secretaria de Educao do Governo do Estado do Cear (SEDUC) nos brinda. Aproveito e parabenizo a SEDUC pela promoo do I Colquio Abrindo Trilhas para os Saberes, evento de onde saram publicaes relevantes envolvendo Reflexes e Experincias na rea de Educao, em particular, este livro. Temos muita falta desse tipo de publicao e estas vm em hora muito necessitada.

    O autor foi meu orientando de mestrado junto ao Programa de Ps-Graduao em Ensino de Cincias Naturais e Matemtica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ele defendeu sua dissertao em julho de 2005. Tambm foi meu assistente em uma assessoria que prestei durante dois anos junto Escola Municipal Djalma Maranho, em Natal, perodo em que o acompanhei de perto nos seus exerccios educacionais nessa escola.

    Alex desenvolve e implementa um importante trabalho crtico e prtico sobre ensino de Astronomia. Seu trabalho particularmente urgente nestas pocas de exacerbao de um cientificismo oco, desconectado do humano e valorizador excessivo de uma nica

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    racionalidade a que fundamenta o pensamento cientfico ortodoxo e que, como o gegrafo brasileiro Milton Santos nos alerta, est reforando a adoo de um pensamento nico e causando aumento da competitividade, subtrao da solidariedade e excluses de toda ordem.

    A educao que pode eventualmente mudar esse triste quadro no aquela que prevalece atualmente. Esta mais serve para

    reproduzir o sistema bitolador, competitivo e excludente que a est do que para question-lo e propor alternativas humanas, dignas e reais.

    O autor critica limitaes de orientaes curriculares formais e de formao de professores. Com efeito, embora o autor reconhea avanos e ganhos advindos da publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), ele faz uma crtica muito bem fundamentada limitao das diretrizes constantes naqueles documentos. Como ele bem coloca: Os PCN praticamente suprimem toda e qualquer atividade de ensino associada a contedos de Astronomia [para] os 1o e 2o ciclos do nvel fundamental [...] [e isto ] uma omisso injustificvel do ponto de vista pedaggico e do cognitivo.

    pertinente enfatizar que essa crtica no apenas terica, mas principalmente prtica e isto o que faz a diferena na hora de se contra-argumentar em relao quele tipo de orientao. Alex diz que espera contribuir [atravs deste trabalho] e fornecer subsdios

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    tericos e prticos para uma necessria reviso dos PCN, em particular os de 1o e 2o ciclos no tocante aos contedos de Astronomia. Muitos de ns tambm aguardamos tal reviso!

    O autor critica ainda o atual modelo de formao dos professores. Ele enfatiza que os formadores de professores polivalentes, independentemente de sua formao, suprimem contedos de Astronomia de suas aulas ao formarem este tipo de professor, o que deixa estes professores com lacunas de formao e inseguros para trabalhar com seus alunos temas daquela rea. Ele conclui nos alertando: Temos um problema srio e urgente que precisa ser responsavelmente encaminhado pelos professores formadores dos cursos de Magistrio e de Pedagogia. Perguntamo-nos: ser que isto ser mesmo feito como se deve? Quando?

    Mas Alex no fica s na crtica. Ele nos fornece exemplos de como podemos empreender mudanas na direo necessria, atravs de aes pedaggicas a um s tempo singelas, objetivas, eficazes e de amplo alcance, aplicveis a qualquer nvel de ensino.

    Felizmente, esta merecida premiao, com a publicao deste livro, vem aumentar em muito a possibilidade de que a esperana de contribuio do autor, rumo s mudanas ansiadas, seja concretizada que tambm a nossa esperana e a de muitos educadores com essa ndole para benefcio de todos comprometidos com uma educao transformadora. Fico feliz tambm em poder anunciar que este livro publicado junto com outro livro que estamos concluindo,

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    sobre abordagens transdisciplinares, com viso antropolgica, visando um ensino de Astronomia humanstico, que valoriza, sobretudo, as vivncias culturais.

    O presente trabalho mostra que possvel realizar-se um ensino diferenciado na direo das resistncias necessrias s tendncias atuais de padronizao e empobrecimento que encontramos na educao cientfica e na educao de um modo geral. Alex nos exemplifica formas de se contextualizar um ensino interdisciplinar de uma forma humanista, na qual a Astronomia usada como ponto de apoio para se encaminhar uma educao ambiental no sentido amplo do termo. importante destacar, ainda, que o autor nos oferece prticas alternativas testadas em situaes concretas de sala de aula, o que d uma relevncia maior s sugestes e discusses que ele faz. Alex formula sua proposta por uma vertente praticamente no explorada no ensino de Astronomia, embora o potencial desta do ponto de vista pedaggico e humano seja enorme e comporte uma aplicao efetiva na escola.

    Assim, reitero: esto de parabns a SEDUC, pela iniciativa, Alex pela proposta educacional que faz e pela premiao e todos os educadores que puderem adaptar e aplicar esta proposta para suas respectivas realidades escolares na esperana de avanarmos rumo a uma real humanizao da educao cientfica e a uma melhoria dos valores da sociedade.

    Luiz Carlos Jafelice UFRN, Natal.

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    INTRODUO Apesar de encontrarmos frequentemente na mdia o

    reconhecimento de que a Astronomia a mais antiga das cincias e que ela sempre desperta muito interesse nas pessoas, o que se constata um afastamento cada vez maior de seu ensino no contexto escolar.

    A evoluo do conhecimento, a histria da cincia, a localizao espao-temporal dos acontecimentos astronmicos e suas influncias para a sociedade ao longo dos tempos, entre outros aspectos, esto ausentes nos textos didticos de Cincias. A observao do cu, a olho nu, sempre deu suporte compreenso do homem como integrante da natureza alm da simples contemplao desta.

    Nesse sentido, os atuais Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) para os 1o e 2o ciclos1 do nvel fundamental tm uma omisso injustificvel dos pontos de vista pedaggico e cognitivo. Os PCN praticamente suprimem toda e qualquer atividade de ensino associada a contedos de Astronomia para esses ciclos.

    1 Estados e municpios reestruturaram o Ensino Fundamental a partir das

    sries iniciais, adotando como princpio norteador a flexibilizao da seriao, o que abriria a possibilidade de o currculo ser trabalhado ao longo de um perodo de tempo maior e permitiria respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem que os alunos apresentam. Desse modo, a seriao inicial deu lugar ao ciclo bsico com a durao de dois anos. Os PCN adotam a proposta de estruturao por ciclos, mas atualmente a Educao Bsica constituda por 9 anos, iniciando-se o 1o ano aos 6 anos de idade.

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    A proposta deste trabalho contribuir para uma reflexo sobre especificidades relativas ao ensino e aprendizagem de contedos de Astronomia para aqueles nveis de ensino, colaborando com exemplos concretos para a efetiva realizao de um ensino interdisciplinar e contextualizado inserido no dia-a-dia escolar e preparando material didtico-pedaggico que possa vir a ser disponibilizado para uso geral de eventuais interessados.

    Para a realizao deste trabalho, foram criadas duas atividades que contemplam o ensino e a difuso da Astronomia, atravs de prticas que envolvem os corpos celestes do nosso Sistema Solar.

    Uma dessas atividades apresentada de forma ldica atravs da contao de estria" e apresentao de um modelo que representa o Sistema Solar em escala de tamanhos e em distncias a partir do Sol.

    A outra atividade proposta consiste em simular o ataque de meteoritos que a Lua sofreu e sofre, atravs de um modelo que representa o solo lunar.

    Com estas prticas, constatou-se uma grande aceitao das atividades propostas, tanto por parte dos alunos quanto por parte do corpo docente, pois muito bem conhecido dos educadores e pesquisadores em educao cientfica que, no s as crianas, mas os jovens e adultos tm curiosidade e interesse enormes em qualquer assunto relacionado Astronomia. E eles tm plenas condies de,

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    dentro das especificidades psicocognitivas prprias s suas faixas etrias e perfis, vivenciar aprendizagem significativa de muitos daqueles contedos.

    Aps a realizao dessas atividades, possibilitou-se uma realimentao, atravs da produo de textos escritos pelas prprias crianas, onde se desenvolveu a contextualidade.

    1 ANLISE DOS PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS PCN

    Neste captulo, sero tratadas a contextualizao histrica do ensino de Cincias no Brasil e uma anlise dos contedos programticos relacionados com a Astronomia nas sries iniciais do nvel fundamental da educao bsica (1o e 2o ciclos, da 1a 4a sries ou, atualmente, do 1o ao 5o ano).

    1.1 Contextualizao histrica do ensino das cincias naturais no Brasil2

    A educao em Cincias esteve sempre vinculada ao desenvolvimento cientfico do mundo e do Pas, tendo sua necessidade intensificada a partir do sculo XX, com os avanos tecnolgicos apresentados durante a II Grande Guerra Mundial, em que ocorreram domnios de algumas naes sobre outras menos preparadas cientificamente.

    2 CARNEIRO (1998), BRASIL (1997), DELIZOICOV & ANGOTTI

    (1992) e RASILLCHIK (1987).

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    Segundo Krasillchik (1987) um marco para datar o incio do processo foi o progresso cientfico sovitico, evidenciado pelo lanamento do Sputnik, em 1957.

    Durante essa fase, surgiram os embries dos grandes projetos curriculares. Estes alteraram os programas das disciplinas cientficas nos Estados Unidos.

    Portanto, as naes procuraram desenvolver-se tecnologicamente e, para isso, era necessrio que elas buscassem este desenvolvimento atravs das Cincias Naturais, propondo-se um ensino capaz de formar pequenos cientistas aptos a contribuir para o desenvolvimento industrial cientfico e tecnolgico.

    Esse desenvolvimento ocorreu, primeiramente, nos pases europeus e norte-americano, atravs de livros-textos ou manuais de experimentos, para que pudessem atender s mudanas.

    Portanto, movimentos comearam a se organizar, em nvel

    internacional, formando-se a chamada primeira gerao de projetos curriculares. Estes se originaram nas sociedades cientficas, com o incentivo governamental, como o caso do Scholl Matematics Study Group (SMSG) em 1958.

    No Brasil, os primeiros projetos de ensino eram tradues daqueles pases, pois no existiam manuais para o ensino de Cincias no Pas. Porm, esses projetos possuam dificuldades em sua adequao, pois os professores tinham insegurana quanto ao andamento das aulas prticas, devido sua formao acadmica.

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    Essas aulas de Cincias eram ministradas por professores a quem cabiam apenas a transmisso de conhecimentos adquiridos pela humanidade ao longo dos anos, tidos como incontestveis, segundo o ensino tradicional e que competia autoridade da sala de aula repassar, informando os avanos tecnolgicos.

    Os objetivos do ensino de Cincias Naturais daquele perodo e at do de muitos anos depois acompanharam os objetivos do mtodo cientfico3, isto , o de identificar problemas a partir de observaes de um fato, levantar hipteses, test-las, refut-las e abandon-las quando fosse o caso. Nesse caso, o aluno era obrigado a redescobrir o que a cincia j conhecia, atravs de seus prprios esforos.

    Surgiu no incio dos anos 50, no estado de So Paulo, o Instituto Brasileiro de Educao, Cincia e Cultura (IBECC), um movimento para a melhoria do ensino de Cincias, formado por professores universitrios que aspiravam melhoria do ensino das Cincias, de modo que se aprimorasse a qualidade no nvel superior e, como consequncia, este influsse no processo de desenvolvimento nacional.

    Ao mesmo tempo, o Ministrio da Educao promovia cursos de capacitao, atravs da Campanha de Aperfeioamento do Ensino Secundrio (CADES). Em geral, esses cursos eram para dar ttulos a professores improvisados, pois eram raros os licenciados, ficando as

    3 BRASIL (1997) e KRASILLCHIK (1987).

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    aulas das disciplinas cientficas a cargo de profissionais como mdicos e engenheiros, entre outros (na maioria dos casos, infelizmente, isto continua a ocorrer at os dias de hoje).

    Porm, o ensino das Cincias ainda no estava regulamentado em lei, surgindo, ento, a obrigatoriedade do ensino de Cincias Naturais com a promulgao da Lei de Diretrizes e Bases no 4.024 de 1961, em que se ministrava aula de Cincias apenas nas duas ltimas sries do antigo curso ginasial (7a e 8a sries, 4o ciclo do nvel fundamental ou, atualmente, 8o e 9o anos do ensino bsico), sendo estendida para todas as sries ginasiais (da 5a 8a srie, 3o e 4o ciclos ou, atualmente, do 6o ao 9o ano do nvel fundamental do ensino bsico). Dez anos depois, com a Lei no 5.692, estabeleceu-se a obrigatoriedade do ensino de Cincias Naturais nas oito sries do primeiro grau (da 1a 8a srie, do 1o ao 4o ciclo ou, atualmente, do 1o ao 9o ano do nvel fundamental do ensino bsico).

    Contudo, a abordagem nas atividades desenvolvidas ainda era a da redescoberta da cincia, mas, agora, atravs da investigao, aproveitando-se ao mximo os conceitos intuitivos adquiridos pelas crianas em seu convvio com sua famlia, comunidade e escola. A partir desses conceitos, eram apresentados outros de modo a caracteriz-los como cientficos ou, o mais prximo possvel disto, de acordo com a srie/idade dos alunos, assim como a humanidade tem feito para poder desenvolver a cincia.

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    O mundo, no perodo da dcada de 70, continuava agitado por convulses sociais e econmicas, tendo como um dos sintomas mais ntidos do processo a crise energtica.

    As agresses ao ambiente, decorrentes do desenvolvimento industrial desenfreado, resultaram no crescimento do interesse pela educao ambiental e na agregao de um grande objetivo para o ensino das Cincias: o de fazer com que os alunos discutissem, tambm, as implicaes sociais do desenvolvimento cientfico.

    Vemos, com isso, a importncia de as crianas estudarem aspectos relacionados com a Cincia Natural desde as suas sries iniciais, para que possam comear a despertar para a importncia da natureza em seu dia-a-dia, de modo a interagir com ela de forma harmnica.

    Entretanto, por muitos anos, o homem acreditou que a natureza estava sua disposio, no momento em que precisava dela, utilizando-a sem discriminao. Porm, os recursos comearam a faltar, a natureza comeou a se modificar de acordo com as alteraes ocorridas e o homem est precisando rever seus conceitos para poder conviver de forma harmoniosa com a natureza.

    Portanto, em face dessa necessidade de reviso de conceitos e procedimentos, os contedos relacionados ao ensino de Cincias Naturais apresentados na educao formal obtiveram relevncia significativa, sendo estudados e acompanhados ao longo dos anos.

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    Na dcada de noventa surgiram novas orientaes para o ensino, em particular o ensino das Cincias Naturais, sendo apresentado atravs dos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN).

    Para a sua composio, os PCN foram organizados em blocos temticos, que apresentam perspectivas de abordagem e do organizao aos contedos sem um padro rgido para a sua configurao.

    Estes podem ser mostrados sem sequncias nos ciclos, possibilitando dar nfase aos contextos locais e fazer conexo entre os diferentes blocos, reas ou temas transversais. Esses blocos so: Ambiente, Ser humano e sade, Recursos tecnolgicos e Terra e universo.

    O primeiro referencial para esses blocos apresentado de acordo com os contedos tericos das disciplinas cientficas, como Astronomia, Fsica, Biologia, geocincias e a Qumica.

    O segundo referencial adotado contempla um conjunto de conceitos centrais, abordados de acordo com expectativas adotadas em cada disciplina cientfica. So os conceitos de energia, matria, espao, tempo, transformao, sistema, equilbrio, variao, ciclo, fluxo, relao, interao e vida.

    O terceiro referencial o das explicaes intuitivas acerca da Natureza e da Tecnologia, observando e aproveitando as indagaes existentes nos alunos que se utilizam da observao, comparao, registro, anlise, sistematizao e interpretao para comunicar o seu

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    conhecimento, atravs da relao entre o aluno, o ambiente e o conhecimento adquirido.

    Estes referenciais, atualmente, so necessrios para a

    educao em uma sociedade que convive com a supervalorizao do conhecimento cientfico e com a crescente interveno da tecnologia no nosso cotidiano, porm, sem que deixemos de ter uma viso crtica do saber cientfico.

    1.2 Crtica aos PCN Dos blocos temticos propostos pelos PCN (Ambiente, Ser

    humano e sade, Recursos tecnolgicos e Terra e universo), os trs primeiros so desenvolvidos ao longo de todo o Ensino Fundamental, em diferentes nveis para os distintos ciclos.

    Sobre o quarto bloco, Terra e universo, mesmo estando presente nos dois primeiros ciclos do nvel fundamental, durante a prtica do ensino formal, os PCN praticamente suprimem toda e qualquer atividade de ensino associada a contedos de Astronomia para estes ciclos.

    Quanto ao bloco temtico Ambiente, o seu surgimento ocorreu pela necessidade de tratar-se melhor o tema nas escolas, devido aos problemas ambientais ocorridos ao longo de dcadas, relacionando-os sociedade e ao ambiente, onde o homem faz parte deste, devendo ser trabalhados seus valores para com o mesmo.

    O tema transversal Meio Ambiente traz discusso a respeito da relao entre os problemas ambientais e fatores econmicos, polticos, sociais e histricos. So

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    problemas que acarretam discusses sobre responsabilidades humanas voltadas ao bem-estar comum e ao desenvolvimento sustentado, na perspectiva da reverso da crise socioambiental planetria. (BRASIL, 1997, p.45).

    Eis o que se tem com relao aos objetivos gerais de Cincias Naturais para o Ensino Fundamental:

    [...] so concebidos para que o aluno desenvolva competncias que lhe permitam compreender o mundo e atuar como indivduo e como cidado. O ensino de Cincias Naturais dever ento se organizar de forma que, ao final do Ensino Fundamental, os alunos tenham as seguintes capacidades: Compreender a natureza como um todo dinmico,

    sendo o ser humano parte integrante e agente de transformao do mundo em que vive;

    Identificar relaes entre conhecimento cientfico, produo de tecnologia e condio de vida, no mundo de hoje e em sua evoluo histrica;

    Formular questes, diagnosticar e propor solues para problemas reais a partir de elementos das Cincias Naturais, colocando em prtica conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar;

    Saber utilizar conceitos cientficos bsicos, associados a energia, matria, transformao, espao, tempo, sistema, equilbrio e vida;

    Saber combinar leituras, observaes, experimentaes, registros, etc., para coleta, organizao, comunicao e discusso de fatos e informaes;

    Valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ao crtica e cooperativa para a construo coletiva do conhecimento;

    Compreender a sade como bem individual e comum que deve ser promovido pela ao coletiva;

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    Compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo usos corretos e necessrios daqueles prejudiciais ao equilbrio da natureza e ao homem. (BRASIL, 1997, p. 39-40).

    Estes objetivos reforam ainda mais a necessidade de o aluno compreender aspectos astronmicos, pois as relaes entre fenmenos de carter astronmico e influncias em nosso cotidiano e, at mesmo, em perodos maiores (estaes do ano ou o prprio calendrio anual, as fases da Lua, entre outros), esto intimamente ligadas s mudanas ocorridas em nosso planeta ou em nossa cidade.

    Com relao ao ltimo item dos objetivos gerais de Cincias Naturais e, conforme descrito nos PCN (1997), temos que fazer os alunos atentarem para a crise planetria, na qual devemos rever conceitos voltados Astronomia, chamando a ateno deles para os planetas do nosso Sistema Solar, destacando que o nosso o nico planeta que abriga vida do tipo e diversidade que temos aqui. Devemos explicitar que isto se deve s caractersticas do posicionamento e excentricidade da rbita da Terra em relao ao Sol, no que diz respeito ao intervalo de temperaturas aceitvel para aquelas vidas e como isto est intimamente ligado camada atmosfrica atual. Enfatizar, por fim, a relativa fragilidade de todo esse conjunto de circunstncias das quais a vida depende fortemente.

    Pode ser levado em considerao o planeta Marte que possui caractersticas parecidas com as do nosso planeta, contudo, no

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    possvel conceb-lo como uma moradia, em substituio a Terra, nesses dias atuais.

    Portanto, devemos saber como tratar o nosso planeta, respeitando-o, cuidando do meio ambiente, contextualizando os contedos habituais a serem abordados, de modo a lembrar a definio de Gaia, Terra viva, em que as nossas atitudes nela sero convertidas em mudanas, como, por exemplo, as climticas, que podem ser percebidas em uma rea como as ocorridas na regio metropolitana de Natal/RN4.

    importante compreendermos, com nossos alunos, que o homem tambm faz parte da natureza e no, conforme se pensou por muitos sculos, que o homem poderia ser o senhor da natureza, podendo ajust-la a seu modo e por seus interesses particulares, em geral, nada altrustas. Para isso, devemos perceber, entre outros vrios exemplos, a atuao do clima local, que se nos apresenta atravs das estaes do ano, de modo a nos adequarmos a ele.

    Astronomicamente, as estaes do ano so: primavera, vero, outono e inverno. A estas, geralmente, esto relacionadas, desde uma perspectiva antropolgica e, portanto caracterizadas pelo clima5, as

    4 Est sendo tratada a regio metropolitana de Natal, pois as escolas objeto

    desta pesquisa so dessa regio. Porm, a observao se aplica igualmente para outras reas e deve ser adaptada convenientemente sempre que uma proposta como esta for posta em prtica em outras regies. 5 Alguns fatores que influenciam o clima, alm da taxa de incidncia de luz

    solar (que determina as estaes de carter astronmico propriamente ditas), so, principalmente: a durao da parte clara do dia (a qual, quanto maior for a latitude da regio, mais vai variar ao longo do ano); condies geogrficas (topografia,

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    estaes das flores, do Sol, das frutas e das chuvas ou do frio. Contudo, para a posio local das escolas da regio metropolitana de Natal (e isto vale tambm para todo o Rio Grande do Norte e grande parte das regies Nordeste e Norte do Brasil), temos presentes apenas dois perodos climticos caractersticos: o de chuvas e o de Sol (ou de estiagem, como as pessoas dessas regies costumam se referir a este segundo perodo). As outras estaes esto ausentes, devido proximidade da regio com a linha do Equador (no caso de Natal, cerca de 5o ao Sul).

    preciso levar em considerao tambm as condies locais, pois, em determinadas regies do estado, por apresentarem relevos distintos e maior afastamento da zona litornea, as condies climticas podem apresentar-se distintas. Contudo, essas consideraes devem ser tratadas atravs de aspectos astronmicos,

    altitude, sujeio ao de frentes frias, etc.); e condies ambientais (vegetao, eficincia na reflexo da luz solar, presena de grandes massas de gua na regio, ao dos ventos, etc.). importante explicitar que, do ponto de vista antropolgico, particularmente ao enfoque que entendemos ser fundamental considerar-se quando se trata de educao em astronomia em geral, chama-se estao variao mais pronunciada e relativamente regular das condies climticas ao longo do ano, em geral associadas a questes de subsistncia das populaes envolvidas, e no s estaes conforme so definidas, de modo algo cartesiano e artificial para o fluir da vida nas comunidades humanas, por proposies astronmicas (cujo sentido se faz muito mais presente em regies no tropicais de grande latitude). Assim, por exemplo, diz-se que em algumas regies do Brasil existem apenas duas estaes do ano: vero (associada poca de estiagem) e inverno (associada poca de chuvas), s vezes intercaladas, respectivamente, por pequenos invernos e pequenos veres. Este sentido antropolgico, alis, aquele que a populao no Rio Grande do Norte normalmente associa a, e entende por, estaes do ano.

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    pois esto associadas inclinao do eixo de rotao do planeta Terra em relao eclptica6.

    Um dos exemplos encontrados nos PCN (1997) diz respeito ao conceito de fluxo de energia no ambiente, que s pode ser compreendido ao se reunirem noes de:

    fontes e transformao de energia; radiao solar diferenciada conforme latitude geogrfica da regio; fotossntese e respirao celular; alimentao; dinmica terrestre; transformao de energia provocada pelo homem. Como exemplo, a origem

    dos combustveis fsseis, sua natureza e aos processos de extrao e refino; e ao surgimento do homem na Terra. (BRASIL, 1997, p.46-47).

    Essas noes descritas dizem respeito Astronomia, quando se referem energia, em que a nossa maior fonte energtica o Sol,

    dando origem aos ciclos da vida. Ento, para falarmos das fontes energticas como o nosso

    alimento dirio, temos que lembrar que esses alimentos provieram da terra, na qual surgiram devido presena da luz solar, assim como fotossntese, fenmenos que esto relacionados, conforme descrito anteriormente, com a posio geogrfica.

    Outro exemplo citado nos PCN (1997) relaciona a luz com as plantas e os animais, em que aquela a responsvel pelas

    transformaes, dependendo da sua presena ou ausncia.

    6 Plano imaginrio da rbita da Terra em torno do Sol.

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    Outro aspecto diz respeito relao entre a gua e os seres vivos, pois a gua responsvel pelos diferentes processos metablicos, porm, esta gua possui um ciclo de evaporao e precipitao (chuva), pois a evaporao influenciada pela incidncia solar, ocasionando as nuvens responsveis pelas chuvas.

    Pode-se citar a existncia, no planeta, de algumas regies que possuem gua no estado slido, devido a pouca incidncia de energia solar, como o caso das regies polares. Estas modificam o ambiente e a vida no apenas de seus habitantes, ao interferirem significativamente na sua prpria sobrevivncia, mas tambm tm implicaes na dinmica de toda a biosfera, atravs da influncia nas circulaes das correntes atmosfricas e martimas, nas migraes dos animais, terrestres e aquticos, entre outras consequncias nessa rede de inter-relaes que h na Terra. Esse exemplo mostra, por contraste, que em regies prximas ao Equador, onde o clima distinto, os animais so totalmente diferentes, os ciclos se manifestam de modo diverso, as pessoas se vestem e fazem coisas diferentes para sobreviverem.

    Como dito anteriormente sobre o bloco temtico Terra e universo, este no est presente nos PCN dos dois primeiros ciclos do nvel fundamental. Portanto, fica suprimida ou, no mnimo, fortemente desestimulada a sua incluso no planejamento escolar, assim como toda e qualquer atividade de ensino associada a contedos de Astronomia para esses ciclos.

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    Numa cultura que tende a encarar a diretriz como norma ou lei, esses contedos associados Astronomia quase, invariavelmente, no so includos no planejamento escolar. Este quadro representa sria omisso e consequente distoro na educao formal inicial no Brasil.

    Conforme mencionamos, bem sabido dos educadores e pesquisadores em educao cientfica que a curiosidade e o interesse em assuntos relacionados Astronomia so muito grandes, no s para crianas, mas tambm para jovens e adultos. E tambm bem conhecido que mesmo aquelas j tm plenas condies de, dentro das particularidades psicocognitivas prprias s suas faixas etrias e perfis, vivenciar aprendizagem significativa daqueles contedos em geral.

    Assim, o quadro referente ao ensino de Astronomia nos primeiros anos de escolaridade, que j era muito preocupante em face da quase absoluta falta de formao do professor no assunto, adicionada ausncia de textos e materiais adequados, torna-se gravssimo com essa inacreditvel e injustificvel omisso dos PCN sobre tal ensino. De fato, essa omisso ainda oferece respaldo "oficial" para que aquele assunto seja sumariamente ignorado naqueles nveis de ensino, para grande prejuzo de todos.

    Sabemos que o estudo da Astronomia inicia-se com a contemplao do cu, seja diurno atravs do Sol ou noturno atravs das estrelas (constelaes). Com a Astronomia pode-se estudar, por

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    exemplo, a rotao da Terra: dia e noite, verificando os fusos horrios, as mars, as variaes no tempo do dia em diversas regies e os dias e as noites polares.

    Sobre a rbita da Terra pode-se verificar, ainda, o que representa o ano, as estaes do ano e as datas de equincios e solstcios, analisando os perodos onde ocorrem festas religiosas importantes em nossa cultura.

    Com as fases da Lua, pode-se montar um calendrio lunar, compar-lo com o calendrio que utilizamos e relacion-lo com o fenmeno das mars.

    Pode-se entender os fenmenos dos eclipses do Sol e da Lua, devido inclinao do plano da rbita desta em torno da Terra em relao ao plano da eclptica7.

    Sabemos, ainda, que muitos de nossos avanos cientficos atuais tambm esto relacionados com a Astronomia. Com efeito, podemos citar as descobertas de novos planetas fora do nosso Sistema Solar, a especulao sobre exobiologia que trata da eventual existncia de alguma forma de vida fora da Terra , as fotos dos telescpios espaciais como o caso do telescpio Hubble , que apresentam as nebulosas, estrelas e galxias em detalhes nunca

    7 Neste caso, adicionando-se explicao a atuao do princpio da

    conservao do momento angular orbital da Lua em torno da Terra. Este, ento, precisa ser, na medida do possvel, concretizado atravs do exemplo do pio, pelo menos para a explicao daqueles fenmenos ser a mais completa possvel nesta situao, embora no se pode tratar conceitualmente tal princpio no incio da

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    antes vistos ou dos telescpios terrestres, que nos configuram objetos do Sistema Solar e refinam suas dinmicas, entre inmeros outros exemplos muito relevantes na composio da cultura contempornea.

    Portanto, a omisso dos PCN, no que diz respeito ao estudo da Astronomia, acarreta a omisso destes contedos seja na sua forma pura e direta, seja na forma contextualizada e interdisciplinar genericamente recomendada nos PCN para aquelas pessoas que utilizam os PCN como se fossem normas a serem seguidas risca, amarras das quais no h o que fazer a no ser tentar tudo que for possvel e impossvel para adot-las apesar de os PCN serem apenas diretrizes e orientaes gerais.

    Em suma, aquela omisso tem implicaes serissimas. De

    fato, pois contedos essenciais para a formao do estudante estaro definitivamente excludos de sua educao formal, ainda mais quando se sabe que, infelizmente, uma porcentagem significativa dos estudantes ter sua ltima etapa de formao escolar nesses nveis de ensino.

    Espera-se, assim, atravs deste trabalho, colaborar com anlises, crticas e sugestes prticas na tentativa de reverter esse inaceitvel quadro na educao brasileira, apresentando a importncia do ensino da Astronomia para todos os nveis de escolaridade e, em particular, estes nveis iniciais.

    escolaridade. Estas mesmas observaes se aplicam quando da discusso do motivo da existncia das estaes do ano.

  • 32

    Espera-se, tambm, contribuir com nossas pesquisas, reflexes e exemplos concretos, e fornecer subsdios tericos e prticos para uma necessria reviso dos PCN, em particular, os de 1o e 2o ciclos no tocante aos contedos de Astronomia.

    Para isso, oferecemos material para que, na esperada reedio revista dos PCN (ou de outras orientaes pedaggicas que, eventualmente, vierem a substitu-los), o gravssimo erro da omisso de Astronomia seja sanado e tais contedos e suas mltiplas implicaes sejam devidamente contemplados desde o incio da educao formal no Pas.

    Outro ponto que contribui para que este tema no seja abordado no ensino formal se deve carncia formativa dos professores, de modo geral, a qual muito grande no que se refere a orientaes e prticas de atividades de ensino de Astronomia que incorporem as recentes exigncias das polticas educacionais pblicas.

    Tal carncia ainda maior para professores dos primeiros ciclos do nvel fundamental e de Educao de Jovens e Adultos (EJA), pois uma porcentagem muito grande desses profissionais ainda corresponde aos que fizeram seus estudos at o nvel mdio de ensino profissionalizante, chamado ensino normal (antigo curso de magistrio), em que os temas de cincias abordados o so segundo o enfoque tradicional do Ensino Mdio.

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    Alm disso, aqueles professores, em geral, tiveram como seus orientadores pessoas cujas formaes no contemplaram o tema Astronomia, mesmo quando estes se formaram em alguma licenciatura da rea de cincias exatas ou naturais. Por outro lado, alguns destes formadores so pedagogos e tampouco estudaram sobre o assunto em seu curso superior. Portanto, independentemente da formao dos professores formadores de professores polivalentes, aqueles suprimem contedos de Astronomia de suas aulas ao formarem este tipo de professor.

    Visa-se, portanto, com este trabalho, suprir, no que for possvel, essa deficincia atravs da produo de um material extrado da prtica escolar real, redigido de maneira compreensvel para favorecer imediata aplicao da proposta pelos eventuais interessados, sejam eles professores formadores em suas disciplinas em cursos superiores, sejam eles os prprios professores dos primeiros ciclos do nvel fundamental e de EJA em exerccio.

    2 DESENVOLVIMENTO DE PRTICAS

    O estudo da Astronomia h muito tempo chama a ateno das pessoas para a simples contemplao do cu ou para a regncia de suas vidas atravs de coisas do firmamento. Alguns, atravs do plantio e colheita, outros para verificarem o posicionamento de construes, incluindo-se os templos ou, ainda, para saber as horas, as estaes do ano, as festas pags de solstcios ou equincios, etc.

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    Com o intuito de recuperar e reavivar esses sentimentos e experincias, pretende-se proporcionar, atravs destes trabalhos, uma reaproximao dos alunos, professores e comunidade dos contedos de Astronomia.

    Nestes trabalhos, abordam-se assuntos relacionados com o tema Astronomia, buscando-se resgatar e respeitar os conhecimentos prvios dos alunos. Constata-se que os assuntos que mais chamam a ateno destes so as estrelas, os planetas, o Sol e a Lua.

    Inicia-se a abordagem do tema atravs de uma aula ldica, com a apresentao de modelos que representem a situao a ser descrita e fazendo-se uma breve anlise daqueles conhecimentos espontneos.

    Em um primeiro momento, abordou-se o Sistema Solar e, em um outro momento, as crateras lunares, os quais foram trabalhados para se aproveitar uma elaborao e aprofundamento interdisciplinares realizados dentro de uma perspectiva contextualizada. Assim, so explorados, por exemplo, elementos de antropologia, folclore, pluralidade cultural, tica e cidadania, meio ambiente e Astronomia, sempre se iniciando pelo contexto da cultura local.

    Os alunos so estimulados a levarem essas discusses para suas casas (atravs de tarefas), trazendo para a escola as opinies e conhecimentos de seus pais, parentes, vizinhos e amigos sobre coisas

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    do cu, a fim de serem compartilhados e organizados em sala de aula.

    Estas atividades servem para que as crianas tenham um contato maior ou, talvez, o primeiro contato com a Astronomia em

    sala de aula, da forma mais concreta possvel, para que esta seja compreensvel e inesquecvel.

    Buscou-se desenvolver, portanto, uma abordagem compatvel com a realidade das crianas, para ser incorporada em textos didticos, materiais instrucionais e aulas de Cincias, propondo-se uma metodologia que incorpore as recentes exigncias das polticas educacionais pblicas desde o seu planejamento at a sua execuo no Ensino Fundamental.

    Para tanto, faz-se necessrio suprir, no que for possvel, a

    deficincia encontrada para se tratar este tema em sala de aula com os alunos e tambm para estimular a observao do cu a olho nu.

    Esperamos assim, atravs deste projeto e da divulgao dos resultados obtidos, colaborar na tentativa de reverter aquele inaceitvel quadro na educao brasileira acima discutido.

    A filosofia norteadora dos trabalhos que desenvolvemos fundamentada na adoo de uma abordagem problematizadora e no uso de uma variedade de prticas pedaggicas centradas no aluno.

    Tais trabalhos tm sido aplicados junto a alunos de vrias escolas de Natal, inclusive estudantes do curso de formao superior Instituto Kennedy que forma futuros professores de 1o e 2o ciclos

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    e, em particular, junto a professores e alunos da Escola Municipal Djalma Maranho.

    Em um primeiro momento, as experincias didtico-pedaggicas j realizadas foram organizadas, sistematizadas e avaliadas, com o intuito de aperfeioar a presente proposta.

    Nesse sentido, eventuais problemas ou inconsistncias identificados foram analisados visando-se reformulao das prticas para as aplicaes futuras, assim como os resultados bem-sucedidos foram estruturados de modo a j irem compondo um material didtico-pedaggico para divulgao entre potenciais interessados.

    Podemos resumir da seguinte forma as principais aes que compem os procedimentos metodolgicos adotados:

    Apresentar um tema relacionado com a Astronomia no primeiro e segundo ciclos do nvel fundamental, segundo a perspectiva dos PCN, ou seja, relaes interdisciplinares e contextualizadas.

    Verificar qual a influncia de atividades prticas realizadas em sala de aula para o ensino e aprendizagem dos alunos dos ciclos especificados.

    Detalhar as atividades aplicadas em sala com propostas de utilizao por parte dos professores interessados, de modo a garantir a sua

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    acessibilidade e realizao, de forma contextualizada em cada caso.

    2.1 Viagem aos planetas: uma prtica para o ensino de Astronomia do 1o ao 5o ano do Ensino Fundamental

    Nessa prtica8 busca-se representar o Sistema Solar atravs da localizao dos planetas em relao ao Sol e de seus tamanhos relativos, para que sejam possveis a visualizao e a comparao entre os corpos celestes e tambm de suas formas geomtricas, que neste caso so esfricas.

    Na exposio a seguir, em um primeiro momento discutimos, acompanhamos e avaliamos o desenvolvimento da atividade aplicada, atravs da contao de estria, em que fazemos uma viagem imaginria pelo Sistema Solar, e da posterior produo de materiais desenvolvidos pelos prprios alunos em sua prtica escolar, para que sejam observadas possveis falhas na comunicao ou mudanas que deveriam ocorrer para se adequar a outras necessidades.

    8 Esta prtica foi originada dentro da disciplina de Prtica de Ensino de

    Fsica, ministrada pela professora Auta Stella de Medeiros Germano, em 2001. A idia original foi da dupla de estudantes Ricardo Rodrigues da Silva e o autor desta dissertao e a aplicao da prtica foi deste autor. Os primeiros desenvolvimentos da prtica foram fruto das discusses entre os envolvidos ocorridas no mbito daquela disciplina, com a superviso, em paralelo, do professor Luiz Carlos Jafelice, enquanto orientador daqueles estudantes em nvel de iniciao cientfica. Depois, tal prtica continuou a ser aprimorada como parte do trabalho de mestrado do autor desta dissertao.

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    Esta atividade visa estimular e explorar a imaginao e a fantasia associadas a informaes factuais adequadas, na forma e no contedo, s faixas etrias em questo.

    Em um segundo momento, so redigidas orientaes de maneira compreensvel para facilitar a reproduo dessa atividade para ulterior desenvolvimento da proposta.

    Enfim, visa-se suprir as necessidades dos professores quanto ao efetivo encaminhamento em sala de aula de habilidades, competncias e contedos, particularmente associados Astronomia, porm, segundo a perspectiva de atender a interdisciplinaridade e a contextualizao.

    Portanto, inicia-se a prtica, citada anteriormente, perguntando-se s crianas quantos planetas existem em nosso Sistema Solar e pedindo-se para estas dizerem qual deles representa o planeta Terra, conforme elas viram no livro didtico adotado pela escola e tambm atravs de pesquisas que elas tenham feito, seja em casa ou na biblioteca escolar ou at mesmo com outras pessoas.

    Continua-se perguntando a diferena entre uma estrela e um planeta, at que possa surgir algum entendimento relativo (compatvel com cada faixa etria) de que uma estrela emite luz e calor, ao passo que um planeta no.

    As respostas devem surgir das prprias crianas, fazendo com que delas aflorem os conhecimentos adquiridos, mas, caso no seja respondido o esperado, elas sero estimuladas a chegarem resposta

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    e, por fim, ser respondida ou afirmada pelo apresentador da atividade.

    Aps essas perguntas prvias, inicia-se a viagem pelo

    Sistema Solar, sendo abordados os meios de transporte utilizados para isso, resgatando o conhecimento de mundo que elas j possuem, para chegar concluso de que, para viajar pelo espao, necessrio uma nave espacial, apresentando, assim, um foguetinho que dever sair da escola rumo ao espao, podendo ser trabalhados aspectos como localizao, posio, deslocamento, etc.

    Faz-se uma contagem regressiva, em que as crianas fecham

    seus olhos para iniciarem a contao da estria, fazendo-se inclusive o barulho do foguetinho ao sair da Terra.

    Nessa viagem, as crianas conhecem algumas

    caractersticas dos nove planetas do Sistema Solar, inclusive da Lua terrestre, compreendendo ainda por que Mercrio muito quente e Vnus muito brilhante no cu noturno. Apresenta-se, posteriormente, a posio de Vnus, para que as crianas possam v-lo, de fato, no cu, em algum outro momento pois em geral, a possibilidade de avistamento de tal astro no coincide com o horrio de realizao da referida prtica , e mostrar para seus amigos e familiares o que aquele astro que costumam chamar de estrela-dalva ou Vsper, conforme o caso.

    Aproveita-se para dizer que Marte apresenta-se como um planeta vermelho e, caso ele esteja visvel, orienta-se onde eles

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    podero busc-lo no cu noturno, naquela poca. Fala-se sobre as luas de Jpiter e as descobertas de Galileu Galilei, com a construo do telescpio, e de seu pas de origem, Itlia, mostrando-se, se possvel, a localizao deste no globo terrestre e relacionando-a com a localizao do Brasil e da escola nesse mesmo globo. Mostram-se os anis de Saturno, Urano e Netuno e discute-se porque Pluto to frio.

    Aps essa viagem, retorna-se para a Terra, falando-se da importncia da conservao do nosso planeta, pois o nico do Sistema Solar que abriga vida igual nossa, sendo necessrio, por isso, respeit-lo, conservando e cuidando do nosso meio ambiente. Procura-se tambm relembrar alguns mitos sobre a Lua terrestre, sobre quem mora por l (aluso a So Jorge e ao drago, Nossa Senhora e ao Menino Jesus, ao coelho ou ao Elvis etc., dependendo da cultura), o que ocorre durante as fases lunares. 2.2 Crateras lunares

    Para iniciar este trabalho, tem-se a apresentao das crateras lunares, mostrando-se um mapa lunar, perguntando-se a causa destas. Aps o estmulo das respostas, mostrado como as crianas executaro a atividade prtica de simulao das crateras lunares.

    Assim, a turma dividida em pequenos subgrupos de cinco alunos, em mdia. fornecido para cada subgrupo um quilograma de gesso em p, uma tampa (parte superior) de uma caixa de sapatos e um recipiente no qual ser misturado o gesso gua, de modo que a

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    massa produzida no fique muito aquosa nem muito endurecida. Desse procedimento em diante, devem-se realizar todas as etapas com bastante rapidez, para que o gesso no endurea antes de encerrar-se a atividade.

    Acondiciona-se a massa na tampa de caixa de sapato, simulando a superfcie lunar. Com a sobra de massa de gesso embebido em gua, produzem-se pequenas bolinhas para simular os meteoritos que atingiro o solo lunar.

    Nessa prtica, necessrio que as crianas joguem os meteoritos no solo lunar com fora. Aps um certo momento,

    aparecero irregularidades na superfcie produzida, representando as crateras lunares verdadeiras provenientes dos ataques que a Lua sofreu e sofre devido aos meteoritos reais.

    Assim, as crianas podem entender, desde uma perspectiva um pouco mais concreta, fundamentada em princpios fsicos relativamente similares, como o ataque sofrido pela Lua devido aos meteoritos. Enfatizamos, ento, que isso to drstico l, por ela no possuir a proteo natural que existe no planeta Terra, a atmosfera e,

    por isso, o solo lunar daquela forma que aparece nas fotografias ou que podemos apreciar a olho nu, principalmente quando lua cheia.

    Esta atividade proporciona s crianas envolvidas um momento de descontrao e convvio em grupo, propiciando aos participantes um trabalho com artes manuais.

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    Aps este momento da prtica da confeco das crateras lunares, podem ser trabalhados outros temas que contenham aspectos relacionados com a Lua.

    3 AMPLIANDO OS HORIZONTES: A ASTRONOMIA E O ENSINO INTERDISCIPLINAR

    Com a finalizao das atividades prticas, podem ser estudados os ritmos do dia (dia e noite), quando contemplamos uma estrela, o Sol, durante o dia e as outras estrelas, durante a noite. Tambm podem ser estudados ritmos maiores como o do ms, atravs da contemplao da Lua que, em alguns momentos, aparece durante o dia e, em outros, durante a noite e, com isso, pode ser produzido um calendrio lunar.

    Observando-se a Lua durante um perodo de trs meses consecutivos, pode-se perceber o ciclo das fases lunares. Vrias habilidades, competncias e contedos podem ser trabalhados, ento: a passagem, registro e medida do tempo; a elaborao do desenho da Lua em cada dia, relacionando suas formas umas com as outras e com outras formas similares, presentes em nosso cotidiano (ensino de matemtica); a organizao espacial dos desenhos, necessria montagem do calendrio lunar; as relaes espaciais vrias, entre o Sol e a Lua, ou entre a Lua e conjuntos de estrelas, etc.

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    Alguns pontos relacionados ao folclore podem ser, particularmente explorados, como a atuao da lua cheia levando agitao dos insetos, presena do lobisomem, alm de se poder aprofundar algumas lendas indgenas como a do Curupira, da Me Dgua, do Caipora, entre outras.

    Podem-se estudar as fases lunares e sua origem (devido parte iluminada pela luz proveniente do Sol), podendo-se entender a relao de alguns aspectos religiosos cristos com tais fases, como o perodo da quaresma (cujos quarenta dias correspondem ao calendrio lunar e no ao calendrio civil), assim como as festas juninas que, embora se fundamentem em aspectos solsticiais, na verdade so iniciadas na noite do dia anterior ao respectivo santo que dizem festejar, pois tal procedimento o habitual dentro de tradies que seguem um calendrio lunar9.

    Pode ser estimulada, como j mencionamos, a associao entre as figuras que os diversos povos enxergam na Lua (coelho, So Jorge e o drago, Nossa Senhora e o Menino Jesus, Elvis, etc.), devido s manchas lunares, com a origem de tais figuras ou manchas que so as crateras e sua maior ou menor frequncia de incidncia sobre o solo lunar conforme visvel da Terra.

    9 Em calendrios lunares, o novo dia comea a ser contado a partir do

    incio do anoitecer do dia anterior. Posteriormente, por sistematizao de carter reducionista, ficou formalizado como sendo seis da noite o incio do novo dia. A missa das seis da noite tambm se associa a estes resqucios, normalmente ignorados, da influncia de tradies lunares anteriores era crist, nas culturas em geral, e na cultura ocidental, em particular.

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    Devido presena da Lua, tem-se o surgimento das mars10, quando podem ser abordados aspectos como a vida nos mangues, os tipos de peixes encontrados devido a determinados tipos de mars, relao com a subsistncia de pescadores e suas famlias, conhecimentos daqueles sobre tais fenmenos, relaes com questes econmicas e sociais outras em geral.

    Como vemos, portanto, atravs da prtica da viagem aos planetas, os professores podem ensinar, por exemplo, as formas geomtricas, as diferentes temperaturas, os meios de transporte, localizaes temporais e espaciais. Alm disso, com a participao ativa e criativa dos professores, tal prtica possibilita desdobramentos naturais para incluir o ensino de muitos outros contedos e competncias e habilidades associadas, de modo interdisciplinar e contextualizado, conforme exemplificamos em alguns casos.

    4 RESULTADOS: LIVROS E DESENHOS CONFECCIONADOS PELAS CRIANAS

    Aps a realizao da atividade viagem aos planetas, os alunos confeccionaram livrinhos sobre a estria apresentada. Um exemplo o livrinho escrito pela aluna Juliana do 2o ciclo (FIG. 1 a

    10 Embora o Sol tambm cause mars, o efeito da Lua cerca de duas vezes

    maior que o do Sol na produo deste fenmeno e, portanto, muito mais

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    7), mostrando os aspectos observados por ela, atravs de um panorama que parte do 3o planeta, descrevendo caractersticas dos outros planetas, retornando Terra, dando nfase natureza, necessidade de preservarmos e respeitarmos.

    Os alunos do 1o ciclo, os quais ainda possuem dificuldades na escrita, realizaram a atividade atravs de um livrinho coletivo, em que houve a participao de todos na leitura e na representao grfica (Fig. 8 a 11), cabendo a cada aluno a confeco de uma figura.

    Analisando os desenhos realizados pelos alunos observamos que a atividade ldica desenvolvida propiciou, do ponto de vista didtico-pedaggico, uma aprendizagem significativa acerca do contedo abordado. Percebemos ainda a importncia de, desde cedo, o aluno compreender o Sistema Solar, a existncia dos planetas e suas caractersticas, tendo em vista que este conhecimento desencadeia seu interesse pela preservao do nosso planeta, uma vez que este o nico que abriga vida igual nossa.

    Foi constatada, tambm, em outras atividades, tanto da rotina escolar como extraescolar, a participao macia dos alunos ao serem abordados temas como a Astronomia, visto que cada criana estava disposta a falar sobre seus conhecimentos aprendidos na escola ou em contato com seus familiares e amigos, surgindo temas

    perceptvel pelas pessoas.

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    cientficos e mitos, como por exemplo, a presena de So Jorge, seu cavalo e o drago como moradores da Lua.

    Eis o depoimento de uma professora do 2o ciclo da Escola Djalma Maranho:

    Os alunos no se concentram, no prestam ateno s aulas, mas com a prtica eles se entusiasmaram.

    E alguns comentrios das crianas:

    muito engraada a viagem; foi legal Gostei do foguetinho. Gostei de fazer o barulhinho do

    foguetinho. Quem vive na Lua So Jorge.

    Com esta atividade, alm de se propiciar conhecimentos sobre Astronomia, desperta-se nos alunos a conscincia de que, preservando e respeitando a natureza, contribumos para a preservao e qualidade da vida existente nela. Isso porque a atividade favorece que o aluno perceba que tambm parte integrante da natureza, agora por outro caminho, que no aquele das abordagens ecolgicas habituais, por um caminho que vai do macro para o micro, digamos. Ou seja, um caminho que vai do Sistema Solar para o planeta Terra (com toda sua peculiaridade e fragilidade realadas com aquela prtica), prosseguindo na viagem para sua cidade, sua escola, sua casa, seus conhecidos, sua famlia e para si mesmo e o aluno se percebe como elo participante dessa cadeia

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    maior, como parte integrante da natureza, agora concebida em um sentido mais amplo, csmico, por assim dizer.

    Essa tomada de conscincia colabora no desenvolvimento de sua cidadania, favorecendo, ento, que ele passe a atuar como agente de transformao no meio em que vive, atendendo, assim, os objetivos propostos pelos PCN.

    A partir dos desenhos e escritos das crianas, pode-se constatar que uma criana possui algum conhecimento cientfico

    referente origem do universo, apresentado por uma exploso, mas as outras crianas apresentaram duas concepes: cientfica e bblica. Apesar de este tema no ter sido tratado na apresentao viagem aos planetas, pode-se perceber que ele foi tratado em sala de aula pela professora.

    Com relao prtica desenvolvida, quando se pede para desenhar o Sistema Solar, estavam representados os planetas e as estrelas (neste caso alguns representaram o Sol como sendo uma estrela, mas a maioria colocou-a como sendo um astro distinto), entre outros objetos celestes.

    A maioria dos alunos no desenharam os planetas em escala de seus tamanhos ou distncias relativos, mas eles perceberam a existncia de outros planetas alm da Terra.

    Algumas dessas crianas representaram duas Terras, a Terra que elas moram e outra no espao, totalizando 13% das representaes.

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    Sobre a atividade crateras lunares tambm houve grande participao dos alunos, pois eles mesmos puderam descontrair-se e encontraram liberdade para realiz-la, uma vez que esta foi feita na quadra da escola.

    Nessa atividade, os alunos ficaram ansiosos para iniciar suas tarefas, mas souberam aguardar as explicaes de como eles deveriam proceder (Fig. 12).

    Conforme os comentrios dos alunos do 2o ciclo da Escola Zuleide Fernandes, pde-se perceber a alegria da realizao de uma aula diferente em um ambiente fora da sala de aula:

    Aprendi que a Lua tem crateras (Fbio). Adorei esta brincadeira, foi legal, foi lindo sobre o que eu

    aprendi (Luana). Na Lua engraado, pois tem muitos buracos e espaonaves

    e crateras para brincar de corrida de carros. Muito legal! Gostei muito de fazer os buracos na Lua!

    engraado!. Aps esta prtica, a professora executou outras atividades,

    tambm de cunho didtico-pedaggico, relacionadas Lua e aos seus mitos.

    A partir das representaes das crianas sobre essas atividades, constatou-se que em todas estava representada a Lua com suas crateras, sendo que 10% delas indicavam a existncia de um habitante na Lua.

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    FIGURA 1 Capa do livrinho. FIGURA 2 Descrio dos planetas do Sistema Solar.

    FIGURA 3 Aspectos de elementos FIGURA 4 A aluna chama a ateno do planeta Terra, demonstrando para o uso indiscriminado da gua. conhecimentos adquiridos anteriormente.

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    FIGURA 5 Nesta pgina, FIGURA 6 Precaues ao tomar apresentado o cuidado que todos banho, em conseqncia dos devem ter em relao aos animais. raios ultravioletas

    FIGURA 7 Nesta ltima pgina, FIGURA 8 Descrio dos autores a aluna apresenta os aspectos do livrinho coletivo. vistos na prtica aplicada.

  • 51

    FIGURA 9 Apresentao FIGURA 10 Apresentao do primeiro planeta do Sistema Solar. do foguetinho SANDER.

    FIGURA 11 Apresentao de outros planetas.

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    FIGURA 12 Confeco das crateras lunares.

    5 ANLISE QUANTITATIVA DE LIVROS DIDTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DA EDUCAO BSICA

    Nas colees adotadas pelas escolas trabalhadas, foram encontrados contedos voltados para a Astronomia, abordados de forma significativa e ldica, envolvendo temas relacionados com orientao espacial e temporal, como por exemplo, os ritmos do dia e diferenas entre estrelas e planetas, entre outros.

    Essas colees fornecem orientaes didtico-pedaggicas ao professor sobre o andamento das aulas para melhorar o ensino a ser aplicado, aumentando ainda mais o sucesso nas discusses em sala de aula. Exploram os temas atravs da contextualizao histrica para o ensino da Astronomia, inclusive com a histria aeroespacial e incentivam os debates e as observaes do cu a olho nu.

  • 53

    A coleo Cincias: vivncia e construo (NIGRO & CAMPOS, 2004) procura resgatar os conhecimentos prvios dos alunos, incentivando-os escrita desses conhecimentos e de suas observaes relacionadas com o cu. Ao final de cada captulo, retomado o assunto explanado atravs de um mapa conceitual.

    Os autores apresentam o ensino de Astronomia na 1a srie, com 18,5% das pginas do livro voltados para a Astronomia e a 4a com 7,5%.

    Na coleo Cincias: paratodos (PVOA, GALLO & VENDRAMIM, 2004), inicia-se o estudo da Astronomia com perguntas para resgatar os conhecimentos prvios dos alunos, fazendo com que eles realizem tarefas de observao para serem executadas no convvio familiar/vizinhana, compartilhando com os outros alunos. Em outros momentos, os autores buscam dar importncia cincia atravs de modelos cientficos para a origem da Terra e do Universo, mas dando-lhes outros modelos atravs dos mitos cosmognicos.

    Para essa coleo, tem-se a 1 srie com 6,4% das pginas do livro relacionados Astronomia e a 3 srie com 12,6%.

    Os autores da coleo Cincias: descobrindo o ambiente (OLIVEIRA, 2000) fazem referncia Astronomia, apresentando mitos sobre o criacionismo, incentivando a escrita de observaes relacionadas com o cu, resgatando os conhecimentos prvios dos alunos.

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    As sries que abordam os contedos de Astronomia so a 1, com 9,9% das pginas do livro sobre o assunto, a 2 com 8,4% e a 4 com 35,5%.

    Foi constatado que os livros adotados por essas escolas possuem em seus contedos programticos temas referentes Astronomia, seja a simples contemplao do cu, atravs de observaes a olho nu, como faziam as antigas civilizaes, seja atravs de aparelhos pticos como um binculo, luneta ou telescpio.

    No deixa de ser surpreendente que, apesar de os PCN desses nveis de ensino serem omissos quanto incluso da Astronomia, conforme j criticamos e discutimos anteriormente, e, apesar de os PCN servirem de orientao, s vezes sendo encarados quase como lei, para muitos educadores, a abordagem da Astronomia persiste de maneira maior que a esperada, em princpio.

    Est alm do escopo deste trabalho procurarmos identificar os motivos desse estado de coisas. Pode representar apenas uma certa inrcia, ainda, dos tempos pr-PCN, quando a Astronomia era mais livremente abordada nesses textos (embora, na prtica, muito omitida na sala de aula, propriamente dita e, como sempre, em grande parte devido m formao do professor no assunto). Contudo, encontrar-se mais Astronomia do que se esperaria primeira vista, inclusive com elementos envolvendo concepes mticas e religiosas, pode tambm indicar uma resistncia natural dos educadores, autores de livros, por reconhecerem a demanda e a receptividade naturais que

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    tais assuntos desencadeiam junto s crianas daquelas faixas etrias, as quais so, afinal, seu pblico ltimo.

    Para finalizar, convm mencionar outro aspecto desse problema. A formao do professor, dito polivalente, ainda muito incipiente quanto a contedos de cincias em geral, e de Astronomia em particular. E a experincia mostra que um professor com lacunas

    de formao tem muita insegurana em abordar com seus alunos temas dessas reas nas quais ele se sente mais deficiente.

    importante enfatizar que, nem mesmo o amparo ao livro didtico, que sabemos ser muito maior do que deveria, resolve o problema da omisso daqueles temas quando se trata de assuntos de Astronomia. Isso ocorre, por um lado, porque o professor no teve formao bsica mnima nesses assuntos e, por outro lado, porque tais assuntos exigem, em geral, uma razovel experincia prtica, de carter observacional, para poderem ser desenvolvidos com a devida competncia. Temos um problema srio e urgente que precisa ser responsavelmente encaminhado pelos professores formadores dos cursos de magistrio e de Pedagogia.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Iniciou-se esse trabalho com um panorama sobre as diretrizes mencionadas pelos PCN e seus objetivos gerais e especficos para cada ciclo. Percebemos que, embora nada seja mencionado acerca da Astronomia nesses ciclos iniciais, os contedos citados para outras

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    reas de conhecimento englobam de forma significativa esse assunto. Porm, quando isso ocorre, em geral, de modo indireto, isto , sem explicitar o teor da correlao entre tais contedos e a Astronomia ou o grau em que essa correlao pode ser explorada pedagogicamente. Isso se d, provavelmente, porque a viso necessria para perceber as conexes inerentes de certos assuntos com Astronomia e a presena naturalmente contextualizada desta em nosso dia-a-dia ainda no faa parte do ensino tradicional, nem daqueles que compuseram a atual proposta dos PCN.

    Nas intervenes e prticas em sala de aula, verificou-se a grande aceitao, por parte dos alunos dessas sries do ensino regular e da Educao de Jovens e Adultos, professores, familiares e colegas, dos assuntos relacionados com a Astronomia. Ao aplicarmos atividades como Viagem aos Planetas e Crateras Lunares, os alunos procuravam participar ao mximo, respondendo s questes levantadas, procurando-nos aps a prtica para outras questes e mantendo o interesse, mesmo aps cessar nosso contato direto com eles, atravs das atividades, tarefas e comentrios feitos s suas professoras, conforme estas, repetidamente, nos relataram em encontros de avaliao posteriores.

    E mais: aquele tipo de interveno ultrapassou o ambiente estritamente escolar e se revelou uma colaborao importante para a integrao entre escola e comunidade. De fato, o mesmo entusiasmo foi percebido quando atribumos tarefas para serem realizadas nas

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    residncias dos alunos, onde houve uma participao macia da comunidade extraescolar, fosse no processo de realizar as observaes do cu, fosse na coleta de informaes e conhecimentos atravs das entrevistas dos familiares ou amigos dos alunos.

    Pode-se confirmar tambm, mais uma vez, que muitos professores tm dificuldades acerca dos assuntos trabalhados. Isso se deve a uma soma de fatores. O primeiro devido falta de conhecimento, por eles no terem estudado esses assuntos durante suas formaes e, tambm, no terem feito as prticas observacionais mnimas necessrias. Outro fator a falta de materiais instrucionais acessveis, compreensveis, aplicveis e confiveis. E ainda outro fator a falta de apoio didtico-pedaggico de quem conhea melhor o assunto e, ao mesmo tempo, esteja envolvido com as questes da educao bsica, que possa auxili-los, em servio, a incorporarem em seu fazer profissional as atuais exigncias das polticas educacionais.

    As atuais mudanas nas orientaes e padres educacionais exigem uma atualizao permanente do professorado no que se refere s condies e metodologias aplicadas ao ensino de Astronomia, entre outras atualizaes igualmente importantes. Por outra

    perspectiva, os cursos de formao de profissionais para o magistrio nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental tm respondido muito pouco a esses anseios, no que se refere aos conhecimentos em

    Cincias e, em particular, em Astronomia, infelizmente.

  • 58

    O que ocorre, de fato, que esses cursos no esto passando por reformulaes e atualizaes. Eles continuam adotando mtodos reprodutivistas e formando profissionais que no possuem autonomia intelectual nem clareza conceitual suficientes para comear a

    acreditar numa prtica de ensino mais coerente com os contextos imediatos dos seus alunos, para experimentar novas propostas de ensino e criar abordagens didaticamente mais efetivas.

    A Astronomia, na verdade, ao agregar de modo integrado muitas reas de conhecimento, tem uma vantagem intrnseca em todo esse processo e pode colaborar muito nessa necessria atualizao do professor e estmulo iniciativa e criatividade. Tal vantagem deveria ser mais bem explorada na educao em geral. Muito se ganha, do ponto de vista pedaggico e na formao do cidado, quando logramos nos valer do potencial naturalmente interdisciplinar da Astronomia.

    Com o desenvolvimento e a aplicao das atividades que descrevemos acima, visamos contribuir para a efetiva realizao de um ensino interdisciplinar e contextualizado, suprindo, no que for possvel, parte da deficincia observada, pelo menos. Nesse sentido, produzimos materiais extrados da prtica escolar real e redigidos de maneira compreensvel, para favorecer sua imediata aplicao, por parte de eventuais interessados.

    Esperamos, ainda, entre outros objetivos, que o presente trabalho tenha tambm fornecido subsdios para que seja percebvel a

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    inaceitvel omisso dos PCN em relao ao ensino de Astronomia nos 1 e 2o ciclos (do 1o ao 5o ano) do nvel fundamental da educao bsica. Que sirva tambm para nos estimular, como educadores, a tomarmos providncias decisivas a fim de reverter essa grave distoro, quando de uma possvel e, j necessria, reviso dos PCN.

    BIBLIOGRAFIA ABRO, Bernadette Siqueira; COSCODAI, Mirtes Ugeda. Dicionrio de mitologia. So Paulo: Nova Cultural, 2000. ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 6023: informao e documentao: referncias: elaborao. Rio de Janeiro, 2002. ______. NBR 6024: informao e documentao: numerao progressiva das sees de um documento escrito: apresentao. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 6027: informao e documentao: sumrio: apresentao. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 6028: informao e documentao: resumo: apresentao. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 10520: informao e documentao: citaes em documentos: apresentao. Rio de Janeiro, 2002. ______. NBR 14724: informao e documentao: trabalhos acadmicos: apresentao. Rio de Janeiro, 2002. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: 1a a 4a Srie. Braslia: MEC/SEF, 1997. 10 v. CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fcil: leitura crtico-compreensiva: artigo a artigo. 5a ed atual. Petrpolis: Vozes, 1998. Cincia Hoje das Crianas. Rio de Janeiro: Instituto Cincia Hoje, ano 12, no 18, 1999. Cincia Hoje na Escola, 7: tempo & espao. 2a edio. Rio de Janeiro: SBPC, 2001.

  • 60

    DELIZOICOV, Demtrio; ANGOTTI, Jos Andr. Metodologia do ensino de Cincias. 2a ed. rev. So Paulo: Cortez, 1992. FORD, Harry. O jovem astrnomo. Portugal: Livraria Civilizao Editora, 1998. Guia Prtico de Cincias: como o Universo funciona. So Paulo: Globo, 1994. KRASILLCHIK, Myriam. O Professor e o Currculo das Cincias. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo,1987. NIGRO, Rogrio G.; CAMPOS, Maria Cristina da C. Cincias: vivncia e construo. 2a ed. So Paulo: tica, 2004. OLIVEIRA, Nyelda Rocha de; et al. Cincias: descobrindo o ambiente. Belo Horizonte: Formato, 2000. PVOA, Mara Silvia N.; GALLO, Mnica V.; VENDRAMIM, Snia. Cincias: paratodos. So Paulo: Scipione, 2004. SAINT-EXUPRY, Antoinei. O pequeno prncipe. 48a ed. Rio de Janeiro: Agir, 2002. Viagens Espaciais: a conquista do cu. Revista Recreio. So Paulo: Abril. CHERMAN, Alexandre. A Astronomia da bandeira brasileira. Disponvel em Acesso em: 24 jan. 2005. JAFELICE, Luiz C. Notas de Astronomia para professores de pr-escola ao 2o. Grau. Natal: UFRN - Depto. de Fsica (apostila), 1997. ______. Teaching astronomy from an anthropological Perspective. In: International conference on teaching astronomy, 6./2000, Vilanova I la Geltr. Atas. Barcelona: Universitat Politcnica de Catalunya, 2002. ______. Ns e os cus: um enfoque antropolgico para o ensino de Astronomia. In: Encontro de Pesquisadores em Ensino de Fsica, 8./2002, guas de Lindia. Atas. So Paulo: Sociedade Brasileira de Fsica, 2002. Disponvel em: . Acesso em: 24 jan. 2005. MOTHE-DINIZ, Thais; ROCHA, Jaime F. V.. O Sistema Solar Revisto. Disponvel em:

  • 61

    Acesso em:16 dez. 2008. QUEIROZ, Alex S. B.; JAFELICE, Luiz C. Ensino de Astronomia no 1o e 2o ciclos do nvel fundamental e na educao de jovens e adultos: exemplos e discusses. In: Martin, Vera A. F. et al. (Eds.). Reunio Anual da Sociedade Astronmica Brasileira, 29., 2003, So Pedro. Boletim da Sociedade Astronmica Brasileira Vol. 23, No.1, p. 82. So Paulo: Sociedade Astronmica Brasileira, 2003. ______. Ensino de Astronomia nos 1o e 2o ciclos do nvel fundamental e na educao de jovens e adultos: exemplos e discusses. In: Simpsio Nacional de Ensino de Fsica, 15., Curitiba: Anais da Sociedade Brasileira de Fsica, 2003. Disponvel em: http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xv/trabalhos/trabupload/R419721.pdf> Acesso em: 24 jan. 2005. QUEIROZ, Alex S. B. et al. Astronomia no Ensino Fundamental e na educao de jovens e adultos: formao continuada; resgate de conhecimentos populares e intercmbio internacional. In: Simpsio Nacional de Ensino de Fsica, 14., Natal: Sociedade Brasileira de Fsica, 2001. Disponvel em: http://www.dfte.ufrn.br/cgibin/temp/surf_pass.cgi? template=main.htm&cfile=xivres.htm - top. ______. Concepes prvias em Astronomia: onde estamos na Terra? In: Simpsio Nacional de Ensino de Fsica, 15., Curitiba: Anais da Sociedade Brasileira de Fsica, 2003. Disponvel em: Acesso em: 24 jan. 2005. ______. Representao simblica, arqueoAstronomia e ensino de Astronomia. In: Simpsio Nacional de Ensino de Fsica, 15., Curitiba: Anais da Sociedade Brasileira de Fsica, 2003. Disponvel em: Acesso em: 24 jan 2005.

    ______. Viagem aos planetas: uma prtica para o ensino de Astronomia nos 1o e 2o ciclos do Ensino Fundamental. In: Simpsio Nacional de Ensino de Fsica, 15., Curitiba: Anais da Sociedade

  • 62

    Brasileira de Fsica, 2003. Disponvel em: Acesso em: 24 jan 2005. ______. Symbolic representation, archaeoastronomy and astronomy teaching. In: Reunio anual da Sociedade Astronmica Brasileira, 28., Atas. So Paulo: Sociedade Astronmica Brasileira, 2002. SONOO, Rosa T. A origem dos dias da semana. Disponvel em Acesso em: 26 mai. 2005. Wikipdia Dias da semana (nomes). Disponvel em Acesso em: 26 mai. 2005. Znite: disponvel em Acesso em: 24 jan. 2005.

    ANEXOS Anexo A Viagem aos planetas Material utilizado:

    1 bola de festas gigante e de cor amarela para representar o Sol;

    2 bolas de isopor de 145 mm de dimetro para representar os planetas Urano e Netuno;

    2 bolas de isopor de 245 mm de dimetro para representar os planetas Jpiter e Saturno;

    1 placa de isopor de 10 mm ou 15 mm de espessura para confeccionar os trs anis de Saturno (daqui tambm se confecciona a nave espacial, vide abaixo);

    Argila para confeccionar os planetas Mercrio, Vnus, Terra e Marte e tambm para as luas da Terra e as quatro luas de Jpiter (estes podem ser substitudos por pedras, ou se utilizar

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    a placa de isopor ou, ainda, bola de isopor de 20 mm de dimetro. Mas, neste caso, os planetas ficam muito leves, suscetveis ao vento, o que pode interferir na prtica);

    1 rolo de fio de nilon de 0,5 mm2 de dimetro para pendurar os planetas;

    1 fita crepe de 16 mm de largura para segurar o fio de nilon, quando a sala for lajeada, ou cordo, quando no houver laje;

    1m de arame para prender esfera de isopor e amarrar o nilon;

    Tintas para tecido: o Amarela para Mercrio, Vnus e uma faixa dos anis

    de Saturno; o Azul para a Terra e Netuno;

    o Vermelha para Marte, Jpiter e uma faixa dos anis de Saturno;

    o Verde para Saturno e uma faixa de seus anis; o Chumbo para Urano e as luas da Terra e Jpiter;

    Gliter (pode ser colorido, para ser colocado sobre os planetas ao terminar de pintar os planetas);

    Uma nave espacial ou um foguetinho, de uns 2 cm de comprimento, construdo de isopor e pintado ao gosto de quem o fez, para simular o meio de transporte pelo qual se far a viagem espacial.

    Desenvolvimento da prtica:

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    Previamente realizao da prtica, necessrio que o(a) responsvel tenha instalado o Sistema Solar no local.

    Inicia-se com a apresentao da(s) pessoa(s) que levar(o) as crianas a fazerem a viagem.

    Pergunta-se quantos planetas existem em nosso Sistema

    Solar, pedindo-se para as crianas dizerem qual deles representa o planeta Terra.

    Continua perguntando-se s crianas: Vocs sabem qual a diferena entre uma estrela e um

    planeta? [Resposta esperada ou fornecida posteriormente pelo(a) professor(a), aps os alunos terem tempo de se manifestar (no nesses termos, necessariamente, mas com essa ideia): um planeta no emite luz, nem calor. Uma estrela emite.]

    Para iniciar a viagem temos que sair daqui andando ou em um meio de transporte, por exemplo: pegar um nibus, um barco, um avio. Ento, qual o meio de transporte que devemos usar para ir ao espao?

    Sempre, aps cada pergunta, dar tempo suficiente para que os alunos possam se manifestar, no ritmo apropriado para eles. S depois o(a) professor(a) interfere, junta as respostas dadas, tratando de aproveitar todas ou adaptando-as, quando necessrio, para resumir a resposta para a turma.

    Aps as respostas, deve-se mostrar o foguetinho ou navezinha espacial.

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    Muito bem, devemos utilizar uma nave espacial. E de onde sairemos? [Respostas possveis, ou posteriormente introduzidas pelo(a) professor(a) dependendo de seus interesses em trabalhar este ou aquele aspecto: Escola; Bairro; Cidade; Estado; Brasil; Continente americano; Planeta Terra; etc. o professor pode trabalhar com os alunos, em sala de aula, sobre localizao, posio geogrfica, etc.]

    Fala-se que o planeta Terra o terceiro planeta, a partir do Sol, e coloca-se o foguetinho sobre o planeta. Os alunos devem entrar no foguetinho para iniciar a viagem; ento, eles devem fechar os olhos e imaginar a entrada.

    Inicia-se a contagem regressiva: 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... Ignio... (as crianas, ainda de olhos fechados, fazem o barulhinho de sada do foguetinho do planeta). Elas podem abrir os olhos agora. Pede-se, ento, para elas fazerem silncio, pois no espao no se ouve barulho.

    Estamos saindo do planeta Terra. Vamos em direo ao Sol? No, pois, se ns formos para l, vamos nos queimar e tambm derreter nossa nave espacial. Mas ns podemos olhar para o Sol? No! Se ns olharmos, poderemos ficar cegos, mesmo de culos escuros, pois os culos no protegem nossos olhos. Para fazermos

    isso, temos que utilizar um protetor especial. E mais, quando formos para a praia, devemos utilizar um bloqueador solar, pois sem ele ns podemos estragar nossa pele, alm de sofrermos doenas graves.

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    Saindo da rbita do planeta Terra em direo ao planeta Mercrio.

    Ento, vamos visitar o primeiro planeta mais perto do Sol, o planeta Mercrio. Ser que l (enquanto se desloca o foguetinho em direo a ele) ns podemos morar?

    Neste momento, inicia-se a viagem com o foguetinho.

    Primeiro ao planeta Mercrio. Depois, a cada momento em que citarmos o nome do prximo planeta, a nave espacial deve se deslocar para este planeta. Os comentrios e perguntas esto colocados aqui em sequncia, pois serviro de orientao e referncia. As perguntas no so de retrica, espera-se que os alunos respondam de fato. Contudo, naturalmente, o processo deve se dar na forma de dilogo, sempre determinando tempo para que primeiro os alunos se manifestem, antes de se dar respostas ou aprofundar os comentrios).

    No, l muito quente, pois est muito prximo ao Sol. Algum gosta de morar dentro de um forno? Em Mercrio muito mais quente que um forno quente.

    Vamos sair daqui rapidinho, pois a nossa nave est esquentando rpido. Vamos, ento, para o planeta Vnus? Ser que neste planeta ns podemos morar? Este est um pouco mais afastado do Sol.

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    No, pois, mesmo estando um pouco longe do Sol, ele tem uma atmosfera venenosa, ns no conseguiramos respirar. Vocs

    sabem o que atmosfera? o ar que ns respiramos. Vamos respirar ento...

    (respirando expressivamente para demonstrar). O ar fica em volta do planeta. Outros planetas tambm tm um tipo de ar que fica em volta deles, mas um ar muito diferente do nosso; no d pra respirar aqueles ares dos outros planetas.

    Ns podemos ver este planeta, Vnus, l da Terra. muito bonito. Alguns o conhecem como estrela-dalva, outros o conhecem como estrela Vsper. Depois do Sol e da Lua, Vnus o corpo mais brilhante do cu. Algumas vezes aparece logo aps o Sol se pr (por isso ganha o nome de estrela Vsper; a palavra Vsper vem de vespertino, quer dizer perodo da tarde). Outras vezes, Vnus aparece antes de o Sol nascer (por isso nessas vezes ele chamado de estrela-d'alva que quer dizer estrela da alvorada, isto , do amanhecer, quando comea a ficar de dia). Mas esses nomes estrela-d'alva e estrela Vsper so nomes que as pessoas do porque, quando a gente v o planeta Vnus l da Terra, ele brilha bastante e parece uma estrela, mas na verdade ele no uma estrela, Vnus um planeta.

    Agora, vamos para o terceiro planeta? Qual o nome dele? Muito bem, o planeta Terra. Este ns j conhecemos. Mas, o que aquilo prximo ao planeta? a Lua. A Lua um satlite

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    natural do planeta, a nossa Lua foi feita igual a Terra, mas menor que ela. Existem outros planetas que tambm possuem luas.

    Vocs sabem o que satlite? um corpo que gira em volta de um planeta.

    Vamos aproveitar que estamos de volta a Terra e ver como nos orientamos nela. Vocs sabem onde o Sol nasce? E onde se pe? A direo onde o Sol nasce ns chamamos de leste e a direo onde ele se pe ns chamamos de oeste. A essas posies chamamos de pontos cardeais, mas faltam dois outros pontos cardeais que so o sul e o norte. Os pontos cardeais so quatro: leste, oeste, sul e norte. (Mostra-se para as crianas como elas podem encontrar esses pontos. Se o planeta Vnus estiver visvel, informa-se a hora e a posio em que as crianas podem v-lo; pode-se pedir isso como uma tarefa para elas trazerem no outro dia. Se Vnus no estiver fcil de localizar, pode-se usar o nascer e pr do Sol para achar os pontos cardeais. Tambm o nascer e pr da Lua servir para tal localizao bsica dos pontos cardeais. Em qualquer um desses casos, primeiro preciso que o(a) professor(a) descubra as direes cardeais na escola, isto , como a escola est orientada em relao aos pontos cardeais.Depois, junto com as crianas, no ptio da escola, determina-se a direo em que o Sol nasce ou se pe em relao escola; isso deve ser feito com elas em um momento perto do comeo da aula, se for turma do matutino ou do noturno ou perto do final da aula, se for turma do vespertino. A, ento, faz-se as

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    crianas ou adultos apontarem o brao esquerdo para o lado em que o Sol nasce ou o brao direito para o lado em que o Sol se pe. Em qualquer um dos casos, o outro brao tem que apontar para a direo oposta; dessa forma a criana ter: sua esquerda, a direo leste; sua direita, a direo oeste; sua frente, a direo sul e, s suas costas, a direo norte. Esse momento e esses exerccios podem ser aproveitados e adaptados para o(a) professor(a) trabalhar questes de lateralidade com seus alunos. Posteriormente, visando fixao desses novos conhecimentos, tais exerccios podem, inclusive, ser integrados em alguma atividade ldico-corporal em aula de educao fsica tambm. Nesse caso, o(a) professor(a) deve conversar com o(a) colega que leciona educao fsica para, ento juntos, prepararem atividades afeitas aos objetivos almejados, isto , s habilidades e competncias que se pretende trabalhar com elas.

    Mas vamos nos concentrar de novo na Lua. Ser que ns podemos morar l? No, pois na Lua no tem atmosfera, ento ns no conseguiramos respirar l. (Se as crianas falarem sobre a viagem Lua, comenta-se algo, dizendo que quem foi l usava roupas especiais, nas quais eles levavam, dentro de tubos, o prprio ar para respirar e que eram trajes incmodos; mas no se fala muito sobre tal assunto ida do homem Lua , pelo menos no neste momento, para no perdermos o sentido da apresentao.)

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    Mas as pessoas dizem que tem uma pessoa que mora l. Vocs sabem quem ? Isso mesmo, So Jorge. Tambm tem o drago. E, claro, tambm o cavalo de So Jorge.

    Ento, vamos continuar nossa viagem para o quarto

    planeta. Qual o nome dele? Isso mesmo o planeta Marte. um planeta vermelho. Neste daqui tambm no podemos morar, pois a sua atmosfera venenosa e ns no poderamos respirar nele.

    Vamos continuar nossa viagem, ento. Nosso prximo

    planeta bastante distante da Terra e grando. o planeta Jpiter. Nesse planeta, ns tambm no poderamos morar, pois a sua atmosfera tambm venenosa.

    Observem! Os quatro primeiros planetas so pequenos, sabem por qu? Eles so formados de rocha, iguais ao planeta Terra. Ao passo que Jpiter feito de gs, gs venenoso.

    Vocs sabem o que so aqueles corpos ao redor de Jpiter? So luas. Essas so conhecidas como luas galileanas, porque foram vistas pela primeira vez por Galileu Galilei. Ele nasceu e viveu

    na Itlia, h mais de 350 anos. Ele apontou o seu telescpio para Jpiter e viu essas quatro luas. Jpiter tem muito mais que quatro

    luas, mas essas so as maiores e mais fceis de se ver com telescpios no muito potentes. Por isso tudo, essas quatro ficaram sendo as luas mais importantes desse planeta.

    Bom! O prximo planeta Saturno. Nossa, ele tambm grando! Ele tambm feito de gs. E o que so aquelas coisas ao

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    redor dele? Ah! So anis. Os anis de Saturno so formados de gelo e poeira. Este um planeta muito bonito e diferente, por isso ele costuma aparecer muito em fotografias por a.

    Seguindo em direo a Urano. E aquele ali (apontando para Urano)? Aquele Urano,

    tambm feito de gs, mas com menor quantidade que Jpiter e Saturno.

    E este outro (apontando para Netuno)? Qual ? Este Netuno. Ele azul, da cor um pouco parecida da Terra, mas o azul da Terra devido s guas e ao ar que existe l e o azul de Netuno devido ao gs que fica em volta do planeta.

    Bem! Vamos terminar nossa viagem por aqui. Falta algum

    planeta para a gente visitar? (Se disserem sim! Pergunta-se: onde est o ltimo planeta? (costumo deixar Pluto bem escondidinho). Se disserem no, conta-se quantos planetas j visitaram e descobre-se que falta o nono planeta. Ento se pergunta: onde est o ltimo planeta?)

    Esto vendo aquele ali? Sim! Pluto11. Vocs sabem por que ele pequeno? Isso mesmo. Ele

    feito de rocha, igual a Terra. Ser que ns podemos mo