livro agenda bahia 2012

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Compromisso com o futuro

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Como será a sua cidade daqui a 10 anos? Mais moderna, sustentável, tecnológica, com transporte público integrado, com mais qualidade de vida para seus moradores? Em um mundo globalizado, as cidades ganharam nova configuração, cada vez mais importância na economia de seus países e, por consequência, os holofotes dos mercados. Quem se destaca é aquela que oferece não só vantagens fiscais, como muitos achavam, mas especialmente melhores condições de infraestrutura e espaço urbano planejado. O que se projeta para o futuro precisa ser debatido desde já. E é exatamente essa a proposta do Fórum Agenda Bahia, organizado pelo jornal CORREIO e rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

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  • Job: FNazca -- Empresa: Burti RJ -- Arquivo: Generico Livro agenda Bahia-1-1_pag001.pdfRegistro: 105705 -- Data: 15:51:55 15/01/2013

  • www.braskem.com.br/10anos

    impossvel ser feliz sozinho.

    Vou te contar.Os olhos j no podem ver a dimenso que a

    Braskem alcanou nos seus primeiros 10 anos. Hoje, so mais de 7.600 integrantes espalhados pelo

    Brasil e pelo mundo, trabalhando a nados para trazer solues inovadoras para o seu dia a dia, por meio de plsticos, tintas, cosmticos e muitos outros produtos.

    Nosso agradecimento aos clientes, integrantes, consumidores e parceiros por estarem junto com a

    Braskem. Estes ltimos 10 anos, e os prximos, so em homenagem a vocs.

    ANJ 420x297mm 10ANOS BRASKEM.indd 1 1/22/13 6:16 PM

  • 14 15

    Sumrio

    Apresentao ...............................................................................................19

    (Im)pacto metropolitano ...................................................................... 22

    Infraestrutura .............................................................................................. 24

    Mosaico urbano ......................................................................................... 25

    Propostas apresentadas no seminrio ........................................ 26

    Metrpole mais forte e parceira ....................................................... 28

    O boom das cidades ................................................................................ 34

    Salvador quer solues conjuntas para RMS ............................ 38

    Cidades interligadas ................................................................................ 40

    Na contramo ............................................................................................. 44

    Espanhol critica mobilidade de Salvador ..................................... 47

    A nova Barcelona ...................................................................................... 52

    Da periferia s praias .............................................................................. 55

    Criao de companhia metropolitana ........................................... 60

    Um caminho melhor para 13 cidades.............................................. 64

    Conexo com os moradores .............................................................. 66

    Cidades inteligentes .................................................................................71

    Futuro j em construo ...................................................................... 76

    Respeito s culturas................................................................................ 78

    A espera de investimentos ..................................................................81

    Pela competitividade da RMS ............................................................ 86

    Energia da Copa......................................................................................... 87

    Infogrfico: Planejando o futuro de Salvador e Regio Metropolitana ............................................................................................. 92

    Tudo plstico ........................................................................................... 94

    Sustentabilidade ...................................................................................... 100

    A conta alta ........................................................................................101

    A evoluo no debate sobre sustentabilidade .................. 102

    Propostas apresentadas no seminrio ................................. 103

    Nova oportunidade para o Brasil ............................................... 105

    A conta est na mesa .....................................................................110

    Planejamento sustentvel ............................................................112

    A marca de Salvador ........................................................................114

    Dias mais quentes com menos gua .......................................119

    Desperdcio de 12 Diques do Toror ........................................ 125

    O mapa da gua na Bahia .............................................................. 129

    ICMS Ecolgico para a Bahia ....................................................... 134

    Imposto para preservao ambiental .................................... 139

    Infogrfico: O preo da gua........................................................ 142

    gua suja que vai morrer na praia ............................................ 144

    Plstico mais verde .......................................................................... 149

    Oportunidade de negcio ............................................................. 152

  • 16 17

    Uma Camaari de economia ....................................................... 154

    Economia gota a gota ..................................................................... 157

    O maior do planeta ............................................................................161

    Na cabea dos baianos ................................................................... 165

    Incentivo pesquisa ........................................................................ 167

    Esgoto tambm pode gerar energia eltrica ......................171

    A Era de Aquarius ............................................................................. 176

    A gua de cada dia ........................................................................... 179

    Agronegcio ................................................................................................. 184

    Os dois Brasis ..................................................................................... 185

    Um norte para o agronegcio .................................................... 186

    Propostas apresentadas no seminrio ................................ 187

    Na conta do produtor, o preo do buraco ............................ 189

    Uma fortuna que se perde pelo caminho ............................. 194

    Olha quem vai pr a mesa ............................................................ 198

    Mais cincia, menos ideologia ..................................................204

    Na liderana mundial .......................................................................208

    Selo verde para o agricultor ........................................................ 212

    Reduo do Custo Bahia ............................................................... 216

    Infogrfico: Logstica que no funciona ................................220

    Tecnologia de ponta s na produo......................................222

    rea de sombra na produo baiana ......................................227

    Produo off-line .............................................................................232

    Tecnologia ambiental ......................................................................236

    Regras mais claras com o novo Cdigo ................................240

    Safra agrcola no plstico .............................................................242

    Mais energia para o Oeste ...........................................................247

    Inovao com etanol de segunda gerao .........................250

    Turismo ..............................................................................................................252

    Bem na foto .........................................................................................253

    Propostas apresentadas no seminrio ................................254

    De passagem bem ligeiro por Salvador ................................256

    Dinheiro do turismo muda de lado no bolso .......................262

    Para driblar a concorrncia .........................................................265

    Com a palavra, o turista ................................................................269

    Casa arrumada ..................................................................................273

    Parceria palavra-chave ............................................................275

    Uma oportunidade de ouro ......................................................... 277

    Novos tempos para o turismo ...................................................279

    A fora do turismo ..........................................................................284

    A joia esquecida ................................................................................287

    Ainda d tempo ................................................................................. 291

  • 18 19

    Planejando o futuro

    Como ser a sua cidade daqui a 10 anos? Mais moderna, sustentvel, tecnolgica, com transporte pblico integrado, com mais qualidade de vida para seus moradores? Em um mundo globalizado, as cidades ganharam nova configurao, cada vez mais importncia na economia de seus pases e, por consequncia, os holofotes dos mercados. Quem se destaca aquela que oferece no s vantagens fiscais, como muitos achavam, mas especialmente melhores condies de infraestrutura e espao urbano planejado.

    Replique essas perguntas para um conjunto de cidades baianas e pense em como a Bahia ser na prxima dcada? Para que o estado possa se manter como a principal economia do Nordeste, crescer acima do desem-penho do Brasil e competir aqui e fora do pas, o planejamento, apontam os experts no assunto, essencial. O que se projeta para o futuro precisa ser debatido desde j. E exatamente essa a proposta do Frum Agenda Bahia, organizado pelo jornal CORREIO e rdio CBN, com apoio da Federao das Indstrias do Estado da Bahia (Fieb).

    Pelo terceiro ano, o Agenda Bahia reuniu os executivos das princi-pais empresas do pas, os melhores especialistas daqui e do mundo e tambm representantes do governo para, juntos, buscarem solues para o desenvolvimento da Bahia. Um crescimento que alie dois concei-tos cada vez mais adotados pelas regies mais prsperas e de destaque no mundo: o da inovao e da sustentabilidade, que implicam em um novo modelo de governana, onde o planejamento estratgico est antenado com os pilares do desenvolvimento econmico e tambm am-biental, cultural e social.

    Para avanar nessas discusses, o Frum Agenda Bahia 2012 elegeu quatro novos temas. Em Infraestrutura, foi debatida Metrpole Baiana; em Sustentabilidade, O Valor da gua; em Agronegcio, O Cdigo Florestal e a Logstica no Campo; e, em Turismo, A Retomada do Turismo. Em quatro dias de seminrios, 16 palestrantes e 36 debatedores estiveram no au-ditrio da Fieb. Dali saram propostas para as cidades baianas e tambm compromissos firmados por uma Bahia mais competitiva (confira cada um deles nos captulos deste livro).

    Em Infraestrutura, a Metrpole Baiana ganhou foco no seminrio. A Regio Metropolitana de Salvador concentra grande parte dos servios, da produo industrial e da populao do estado. Em 2008, somente as 13 cidades respondiam por 48% do Produto Interno Bruto (PIB) baiano e por 25% da populao do estado, segundo dados do Censo de 2010.

    Inovao como diferencial ...........................................................295

    Eles esto com tudo .......................................................................299

    Infogrfico: Solues na bagagem ..........................................304

    A distncia entre Montreal e Salvador .................................306

    Educao ambiental ....................................................................... 312

    A histria passa pelo mar ............................................................ 314

    O segredo de um novo destino ................................................ 317

    Muito alm do gramado ................................................................323

    Regies tursticas com mais energia .....................................326

    Realizadores .................................................................................................330

  • 20 21

    Salvador est no centro de um complexo polo urbano que integra muni-cpios como Lauro de Freitas, Simes Filho, Camaari e Candeias. cada vez mais difcil determinar com preciso os limites de cada uma das cidades. Mas os grandes problemas se tornaram comuns. Tanto que o secretrio de Infraestrutura e vice-governador, Otto Alencar, admitiu, durante debate sobre a Reinveno da RMS, a necessidade de criao de rgo ou de um gestor para planejar a infraestrutura das cidades da Regio Metropolitana de Salvador. Especialistas renomados do Brasil e da Espanha tambm apresentaram solues no seminrio para que a RMS possa se renovar, inovar, trazer mais qualidade de vida para seus moradores e tambm aumentar a competitividade da principal regio produtiva do estado.

    Em Sustentabilidade, foram anunciadas mudanas no Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servio da Bahia. No debate para discutir esse tema, o secretrio da Fazenda, Luiz Petitinga, garantiu que o governo vai implantar o ICMS Ecolgico, com critrios de sustenta-bilidade na partilha de recursos para os municpios. O texto ser en-caminhado ainda no primeiro semestre de 2013. A Bahia um dos 10 estados da federao que ainda no avanaram nessa questo.

    Tambm em Agronegcio, boas notcias para o estado: a Secretaria de Agricultura vai criar o Selo Verde, com certificao para agricul-tores que irrigam suas culturas com eficincia e economia de gua. Certificao, alis, tem sido uma exigncia cada vez maior do mercado mundial de alimentos, como apresentou em sua palestra Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegcios da Fundao Getulio Vargas (FGV), embaixador especial da Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao (FAO) e ex-ministro da Agricultura.

    Roberto Rodrigues defendeu que o Brasil lidere um programa mundial de segurana alimentar. Mas para a Bahia pegar carona nessa (exce-lente) oportunidade precisa fazer o dever de casa, especialmente em infraestrutura e logstica no campo, como mostram os especialistas neste livro.

    A Retomada do Turismo destacou a importncia de recuperao de uma das principais atividades da economia de Salvador. A capital baiana vem perdendo espao no turismo para outras cidades, especial-mente no estado. Os nmeros dessa nova realidade foram revelados em reportagens especiais no jornal CORREIO.

    No seminrio, foram apresentados caminhos para Salvador percor-rer e voltar a ser referncia, como no passado, em Turismo. Planejar e investir na cidade ganharam destaque como pontos essenciais

    para a recuperao do destino. O alerta partiu dos especialistas no Frum Agenda Bahia: uma cidade para atrair turistas precisa, antes de qualquer promoo, oferecer boas condies para seus moradores.

    Neste livro est publicado o contedo de todas as palestras, debates e ainda as quase 60 reportagens especiais, produzidas pelo jornal CORREIO desde julho de 2012, com o objetivo de apresentar um raio-X da realidade do estado e de aprofundar as discusses em cada um dos temas propostos. O Frum apresentou, nesta edio, outra novidade. Foi formado o Conselho Agenda Bahia, com empresrios e represen-tantes da Rede Bahia, para aprofundar discusses, formular estrat-gias e manter em pauta, durante todo o ano, os temas essenciais para o desenvolvimento do estado. O apoio do parceiros, que acredita-ram na relevncia dos debates, foi fundamental para a realizao dos seminrios.

    A terceira edio do Frum Agenda Bahia deixa disposio da socie-dade um amplo repertrio de propostas e pactos firmados durante a realizao do evento. Em 2013 tem mais.

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    (Im)pacto metropolitano

    A abertura do Frum Agenda Bahia 2012 foi realizada pelo presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Jnior, que falou sobre o desafio de planejar e executar projetos para solucionar problemas to complexos para a Regio Metropolitana de Salvador. O presidente da Rede Bahia lembrou a grande virada econmica da Bahia, nos anos 1970, quando ocorreu a implantao do Polo Petroqumico em Camaari.

    A instalao de indstrias nacionais e internacionais colocou a Bahia em um mapa de desenvolvimento econmico que garantiu a unificao da regio, responsvel por mais de 40% do Produto Interno Bruto do estado.H 40 anos, 65% da economia baiana era baseada na cultura do cacau. A implantao do Polo Petroqumico pelo ento governador Antonio Carlos Magalhes mudou o perfil econmico da Bahia. O que fatalmente aconteceu com o cacau, com a vassoura de bruxa, poderia ter acabado com a economia do estado, disse. O Polo lanou a semente da regio que discutimos aqui no Frum, acrescentou.

    Hoje, as 13 cidades da RMS diversificaram suas atividades econmicas e tambm seus problemas. Engarrafamentos, crescimento desordenado, falta de infraestrutura e logstica so problemas comuns entre todas elas. Unida por conexes que vo muito alm dos quilmetros que cortam seus territrios, a Regio Metropolitana busca solues. A questo que afeta uma cidade impacta diretamente no funcionamento da outra. O momento propcio para debatermos essas questes e planejarmos juntos o futuro dessas cidades, disse.

    No debate A Reinveno da Regio Metropolitana de Salvador, o secret-rio estadual de Infraestrutura e vice-governador Otto Alencar e o presi-dente da Rede Bahia criticaram o atual pacto federativo, responsvel por provocar um desequilbrio na diviso de receitas arrecadadas com tributos entre as unidades da Federao e a Unio.

    Para ambos, a Constituio centralizou os recursos nacionais nas mos da Unio. O tema ganhou fora em outubro depois que uma comisso, institu-da pelo Senado para propor mudanas na legislao entregou um relatrio em que aponta sugestes para reduzir o desequilbrio, com prioridade para quatro temas: Fundo de Participao dos Estados (FPE), distribuio dos royalties do petrleo, guerra fiscal e dvidas dos estados.

    Otto Alencar afirmou que muitos problemas no estado seriam decorrentes da balana desfavorvel, que jogava nas mos dos estados o compro-misso de sustentar municpios arrasados economicamente, como ocorre atualmente com a regio do semirido. Boa parte dos moradores desses municpios no encontra solues em suas cidades, cada vez mais pobres, e vm para a capital em busca de empregos, afirmou o secretrio. O re-sultado o aumento da desigualdade na metrpole.

    Ao final dos quatro seminrios, Antonio Carlos Jnior fez o encerramen-to do Frum Agenda Bahia 2012. Para o presidente da Rede Bahia, os temas debatidos ao longo dos quatro seminrios dessa edio apontaram solues para os principais entraves para o desenvolvimento da Bahia. Debatemos a Metrpole Baiana, e autoridades da Regio Metropolitana de Salvador j pensam em uma atuao conjunta. O projeto de um ICMS Ecolgico foi discutido no seminrio sobre Sustentabilidade, e recebemos a notcia da criao de um selo verde para estimular agricultores baianos a economizar gua, disse o presidente.

    A participao dos especialistas, empresrios e do pblico, que acom-panhou direto do auditrio ou atravs dos canais online, enriqueceu as discusses, segundo Jnior. Foram horas de riqussimas trocas de infor-mao e discusso, abrilhantadas pela contribuio dos anfitries da Fieb. afirmou. Segundo o presidente da Rede Bahia, o frum termina alcan-ando seu maior objetivo: contribuir para o desenvolvimento do nosso estado. Antonio Carlos Jnior destacou o papel da Rede Bahia na dianteira da promoo do turismo no estado. Como exemplos foram citados as transmissses do Carnaval baiano, ao vivo, para o estado e para mais de 100 pases, e ainda o Festival de Vero, o maior evento do Vero do pas. Estamos abertos para, junto com o governo, tocarmos um projeto para o So Joo na Copa, afirmou.

    Antonio Carlos Jnior: momento propcio para

    planejar futuro das cidades da RMS

    Foto: Marna Silva

  • 25

    Infraestrutura

    Infraestrutura*

    Quando voc monta um quebra-cabea cada uma das peas tem a sua funo. Muitas vezes difcil, especialmente no comeo, en-contrar aquelas peas-chave que servem quase como m para atrair as seguintes. Voc pega uma, descarta, usa outra, descarta, escolhe a terceira.... at completar seu objetivo. A (re) construo de uma cidade segue a mesma complexidade.

    No seminrio Metrpole Baiana, o presidente da Federao das Indstrias do Estado da Bahia (Fieb), Jos Mascarenhas, em sua elogiada palestra, usou uma frase para explicar como um planejamento bem feito pode tornar uma cidade mais sustentvel. So peas que se encaixam, lembrou. No adianta esparadrapos, para usar mais um termo do expe-riente presidente da Fieb. preciso fazer conexo, como citou o arquiteto e consultor internacional, Carlos Leite.

    Para a cidade ser viva e voltada para seus moradores, ela deve ser pensada como um todo, destacou o espanhol Manuel Herce, um dos responsveis pela transformao de Barcelona. Pode ser construda aos poucos, como em um quebra-cabea de mil peas, mas planejada numa mesma direo. Sem copiar integralmente modelos externos, mas respei-tando suas multiplicidades e sua histria, como lembrou Sergio Magalhes, um dos criadores do projeto que urbanizou favelas do Rio de Janeiro, o Favela-Bairro.

    Um planejamento urbano para dar certo, refora Magalhes, tambm deve seguir outra estratgia: a qualidade na prestao do servio pblico, como recolhimento de lixo, acesso gua, etc...

    Na entrevista rdio CBN, para uma srie sobre o tema do seminrio, Sergio Magalhes explicou que o Favela-Bairro ainda era um projeto atual, mas faltava uma pecinha, identificada aps sua implementao. As obras abriram ruas e permitiram aos moradores das comunidades carentes ter acesso aos servios pblicos. Mas a prefeitura, que fez a obra, no se preparou para essa nova demanda e no aumentou seu quadro em nmero suficiente para oferecer os novos servios. Uma cidade s pode ser sustentvel se estiver conectada com os seus moradores, como mostram os especialistas neste captulo sobre Infraestrutura.

    Mosaico urbano

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    Planejar em conjunto a infraestrutura das cidades da Regio Metropolitana de Salvador (RMS)

    Implantar polticas de mobilidade sustentvel

    Aumentar a receita dos governos para investimento em infraestrutura, como acontece em outras regies do pas e do mundo. Salvador, por exemplo, destina apenas 5,6% dos recursos, inferior a diversas capitais, como Fortaleza (9,4%), Rio de Janeiro (10,6%) e So Paulo (10,5%)

    Criao pelo governo federal de um fundo perdido para investimento na infra-estrutura das cidades

    Reinventar o modelo atual de grandes metrpoles: conter a expanso das cidades, tornando-as mais compactas, sustentveis e com qualidade de vida para a populao

    Esgotar todas as discusses sobre a viabilidade de uma obra durante o plane-jamento e no na fase de execuo

    Ampliar e promover o transporte pblico integrado e de alto rendimento com mais oferta de meios de transporte (alm do nibus, metr, trem, BRT, VLT, corredores de ciclovias e estaes hidrovirias)

    Urbanizar o espao pblico, com prioridade para o pedestre e no mais para o carro

    Ampliar passeios pblicos, criando ligaes entre bairros. Entre as sugestes, uma grande rea pblica entre o Iguatemi e a praia do Rio Vermelho e tambm da Arena Fonte Nova ao Comrcio

    Aumentar os calades da orla e reduzir o espao para os veculos

    Pavimentar ruas e avenidas

    Definir percursos de nibus para distncias menores e para interligar os modais. Criao de corredores exclusivos para os nibus

    Ordenar o trnsito, sincronizar os sinais e implementar aes inteligentes, com o auxlio da tecnologia

    Propostas apresentadas no seminrio Reduzir o estacionamento no centro da cidade

    Criar reas de lazer nos espaos urbanos, como praas e locais para ativida-des esportivas, que sirvam de pontos de convergncia social e tragam vida s cidades

    Uma cidade viva gera riqueza, cultura, oferece oportunidade para novas eco-nomias e negcios, novos pensamentos, entre outros benefcios, destacam os especialistas que participaram do Frum Agenda Bahia

    Qualificar os espaos j existentes e promover a universalizao dos servios pblicos

    Enfrentar o passivo socioambiental e habitacional, respeitando as multipli-cidades de formas e usos dos espaos urbanos

    Reduo do Custo Bahia: modernizao dos portos baianos e investimento em ferrovias e hidrovias para tornar a economia baiana mais competitiva

    Priorizar a ligao entre polos produtivos e os portos atravs de ferrovias.

    Definir o transporte de carga nas rodovias para distncias mais curtas

    Definir solues conjuntas entre as cidades da RMS tambm para

    saneamento bsico e resduos slidos

    Metrpole conectada: O secretrio estadual de Infraestrutura e vice-governa-

    dor, Otto Alencar, anunciou a criao de rgo ou gestor que planeje em conjunto a infraestrutura das cidades da Regio Metropolitana

    Novas rotas: Otto Alencar prometeu lanar at fevereiro de 2013 um plano hidrovirio que estabelea novos usos e rotas para as cidades que margeiam a Baa de Todos os Santos

    Ferry: O secretrio de Infraestrutura garantiu tambm a compra de trs novos ferries, da Grcia, para substituir as embarcaes que fazem a ligao entre Salvador e a Ilha de Itaparica

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    Compromissos firmados

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    Metrpole mais forte e parceira

    O que fazer para resolver o problema do trnsito de Salvador? Ou da segurana? Ou, ainda, da falta de habitao, saneamento ou da destinao do lixo? Mais: qual a melhor forma de adequar nossos portos, aeroporto, rodovias e ferrovias para escoar com eficincia a riqueza produzida na rea da capital, tornando o estado mais competitivo e gerando mais riqueza? De acordo com estudiosos do tema, necessrio traar uma poltica que seja capaz de dar soluo conjunta aos problemas comuns a todos que vivem ou trabalham nas regies metropolitanas do pas.

    A questo que algumas cidades cresceram tanto e to rapidamente que sua malha urbana comeou a se confundir com a de cidades vizinhas - o que vem acontecendo entre Salvador e Lauro de Freitas, por exemplo. Mas, mesmo quando no h contiguidade de espaos urbanos, essas cidades esto articuladas econmica, poltica e culturalmente em graus diferentes - caso de Salvador, Lauro de Freitas, Simes Filho, Dias Dvila, Candeias...

    As administraes municipais no do conta isoladamente de demandas fundamentais, j que muitas vezes ultrapassam os limites de sua jurisdi-o. Na tentativa de dar uma resposta ao problema, est em tramitao, na Cmara dos Deputados, o Projeto de Lei 3460/04, do deputado Walter Feldman (PSDB-SP), que cria o Estatuto da Metrpole. A finalidade agilizar a execuo de aes regionais urbanas e promover a articulao entre governos estaduais e municipais.

    O relator do projeto, deputado Zezu Ribeiro (PT/BA), completa explican-do que a ideia criar legislao especfica para as regies metropolitanas. O estatuto vai integrar a organizao, o planejamento e a execuo de funes pblicas de interesse comum, diz.

    A necessidade de integrao dessas polticas pode ser observada no dia a dia, embora, s vezes, passe despercebida. Em Salvador, por exemplo, 3.500 nibus, em mdia, trafegam por dia pelas principais vias, mas em torno de 700 esto fora do controle da Superintendncia de Trnsito e Transportes da cidade, a Transalvador. Esses 700 so metropolitanos, fazem o percurso entre cidades vizinhas e a capital, muitas vezes colocan-do mais linhas do que o necessrio, segundo a Transalvador.

    A mesma necessidade apontada quando se trata da racionalizao do uso do solo, do planejamento habitacional e de questes decorrentes, como saneamento, destino do lixo e segurana. Com 13 municpios, a Regio Metropolitana de Salvador (RMS) abriga 25% da populao baiana, e milhares de pessoas moram em uma cidade e trabalham em outra, gerando demandas fora de suas cidades de origem. Na economia, preciso melhor infraestrutura para tornar a produo baiana mais competitiva.

    Para o presidente da Federao das Indstrias da Bahia (Fieb), Jos de Freitas Mascarenhas, as prefeituras menores so passivas e cabe admi-nistrao de Salvador, governo do estado e iniciativa privada atra-las para o debate em busca de solues. A Fieb parceira do jornal CORREIO e da rdio CBN no Frum Agenda Bahia.

    O ltimo a pensar a Salvador do futuro foi o urbanista Mrio Leal Ferreira, nos anos 40 do sculo passado, com a implantao das avenidas de vale para dar vazo ao trnsito. Era o que havia de mais moderno, mas est h muito ultrapassado, e nada de consistente foi feito desde ento em termos de planejamento, constata Mascarenhas. A Fieb tambm liderou estudos socioeconmicos e a criao, em agosto, do Instituto Movimenta Salvador, que procura promover a requalificao urbana da capital, com olhos no futuro.

    FONTE: Srie de Estudos e Pesquisa da SEI

    1549Salvador um dos primeiros ncleos urbanos do Brasil colonial e capital da Amrica Portuguesa at 1763

    At as primeiras dcadas do sculo XX, Salvador tem papel de centro poltico, administrativo e de entreposto comercial de uma economia de base agroexportadora, articulada ao redor da Baa de Todos os Santos

    1940-1950Regio do Recncavo enfrenta pice de crise

    econmica. Migrao da populao rural, na grande maioria pobre e sem qualificao, para Salvador altera perfil demogrfico e territorial da capital baiana

    Dcada de 50Implantao da Petrobras e Chesf vira um marco no processo de desenvolvimento regional e da metropolizao de Salvador e regio

    1960-1970Implantao do Centro Industrial de Aratu (CIA) e instalao do Complexo Petroqumico de Camaari (Copec) definem a segunda fase da transformao da estrutura econmica regional e estadual

    1970-1980Bahia insere-se na matriz industrial brasileira com industrializao dos setores qumicos, especialmente a petroqumica, e metalrgico

    Em 1973, decreto federal cria a Regio Metropolitana de Salvador

    Em 1978, entra em operao o Polo Petroqumico de Camaari; setor metalr-gico ganha relevnciaA partir da, a Regio Metropolitana de Salvador (RMS) estrutura-se econmica, social e espacialmente, alm de redefinir sua posio na diviso nacional do trabalho

    At 1980Impacto da industrializao na regio gera crescimento maior da populao em Salvador e nos municpios do entorno

    A partir de 1980Cidades vizinhas capital baiana, como Camaari, Candeias, Lauro de Freitas e

    Simes Filho, tm crescimento populacional maior que Salvador

    Localizao estratgica entre Salvador e Lauro de Freitas lidera esse crescimento, absorvendo mo de obra mais qualificada do CIA e Copec

    Populao de baixa renda e sem renda empurra, atravs das ocupaes, os limites da ocupao urbana de Salvador para cidades prximas, como Lauro de Freitas e Simes Filho

    A partir de 1990Atividades relacionadas ao turismo tm forte crescimento no estado, em particular na RMS, resultando em

    maiores investimentos em infraestrutura.A chegada de grandes empresas, nacionais e estrangeiras a exemplo de uma grande unidade da montadora de automveis Ford intensificou a expanso metropolitana, aumentando a articulao entre os munic-pios e proporcionando o surgimento e fortalecimento de empresas em vrios setores - supermercados, construo civil, telecomunicaes, publicidade e outros

    2008-2010A RMS responde por 48% do PIB baiano e por 25% da populao do estado

    A regio pautada na produo de bens intermedirios, complementares aos da regio mais dinmica do Brasil, Centro-Sul

  • 30 31

    O projeto de lei que cria o Estatuto da Metrpole data de 2004, mas ficou parado at ser criada, em abril ltimo, uma comisso especial para analisar o projeto. O presidente o deputado federal Mauro Mariani (PMDB). O petista baiano Zezu Ribeiro, o relator. Para aprofundar a discusso sobre o estatuto, ficou estabelecido que sero realizadas audincias pblicas em uma cidade de cada regio do pas, com a participao de representantes dos governos estadual e municipais, entidades de representao pblica e da academia. A audincia pblica do Nordeste ser em Salvador, mas a data ainda no foi definida.

    Passado o processo eleitoral, tudo ser agilizado, assegura Zezu, ressaltando que o trabalho da comisso bastante complexo, por se relacionar com temas ligados a outras comisses. Instituies como o Observatrio das Metrpoles, da UFRJ, o Conselho Nacional das Cidades (Ministrio das Cidades) e o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) esto contribuindo para o trabalho da comisso.

    O relator revela que h ainda uma proposta de parceria com o governo da Alemanha para troca de experincias. Apesar da complexidade do assunto, Zezu acredita que no haver mais demora. Esperamos que em menos de um ano tudo esteja pronto, afirma.

    Estatuto da Metrpole

    EDITORIA DE ARTE/CORREIO

    So Francisco do Conde*

    Madre de Deus

    Itaparica

    Vera Cruz

    BAHIA

    Dias Dvila

    Camaari*

    Simes Filho*

    Candeias*

    Lauro de FreitasSalvador

    *So Francisco do Conde: Produo e refino de petrleo (Rerinaria Landulpho Alves - RLAM)

    *Candeias: Porto de Aratu, atividades do setor de servios ligadas Refinaria Landulpho Alves e ao Centro Industrial de Aratu

    *Simes Filho: Centro Industrial de Aratu

    *Camaari: Polo Petroqumico

    INDSTRIA

    TURISMO

    SERVIOS

    A ECONOMIA DAS CIDADES DA RMS

  • 32 33

    O processo de globalizao, que se intensificou no Brasil com a implanta-o do Plano Real, em 1994, trouxe exigncias novas e urgentes no que se refere infraestrutura econmica. Antes, se produzia na Bahia para atender o Brasil. Se tinha uma certa proteo de fronteiras, uma espcie de proteo para determinadas reas. Agora, se produz para o mundo, salienta Edgard Porto, diretor de estudos da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI), rgo da Secretaria estadual do Planejamento.

    Para complicar do ponto de vista da infraestrutura , Porto diz que h uma tendncia de certas indstrias trocarem pases desenvolvidos pelos emergentes, inclusive a chamada indstria suja. Porto nota que o perfil econmico da RMS no mudou nas ltimas dcadas, mas o PIB cresceu, as indstrias se enxugaram e ganharam mais competitividade.

    Para atender s demandas do mundo atual, essa regio precisa ter inves-timentos em infraestrutura que permitam elevar sua acessibilidade frente a outras regies, o que inclui maior rapidez das infovias. Principalmente, precisa elevar a qualidade do transporte de alta capacidade - ferrovias e cabotagem criando condies de relacionamento da Bahia com o Brasil e o mundo, comenta o estudioso, que lanou recentemente a publica-o Metrpole Baiana: Dinmica Econmica e Socioespacial Recente. A produo da indstria baiana , sobretudo, de produtos qumicos e petro-qumicos, complementares indstria do centro-sul do pas.

    As regies metropolitanas so criadas por lei estadual, de acordo com critrios que nem sempre partem dos mesmos conceitos. De modo geral, a definio mais aceita o de cidades que se expandem a ponto de ultra-passar seus limites administrativos e cuja economia, vida social e cultural esto interligadas com a de cidades vizinhas. Em Tquio, as regies contam com planejamento integrado: do transporte de alta velocidade ao escoamento das guas das chuvas.

    A RMS responde por 48% do Produto Interno Bruto, concentrando grande parte dos servios e da produo industrial baiana. Alm disso, funciona como importante entreposto comercial, conectando comercialmente a Bahia ao resto do pas e do mundo. A integrao passa forosamente pelo planejamento da infraestrutura, at porque a produo de bens intermedirios na Bahia precisa ser escoada para fora do estado

    Melhor qualidade no transporte de carga Sem limites

    3 As distores so marcantes: somente o estado de Santa Catarina conta com oito regies metropolitanas, enquanto So Paulo, trs

    36 regies metropolitanas existem no Brasil,

    segundo o IBGE

    12 o nmero de regies metropolitanas no Nordeste - a maior do Brasil. No Sul h 11; no Sudeste, 7; no Norte, 3. O Centro Oeste tambm tem trs regies metropolitanas

    Riqueza concentrada, mas com pouca infra

    Produtividade em baixa

    37 milhes de habitantes: a populao da Regio Metropolitana de Tquio, a maior do mundo

    *Regio Metropolitana

    Mascarenhas diz que, por falta de infraestrutura urbana na Regio Metropolitana de Salvador, as condies de trabalho e produtividade das indstrias esto decrescendo, diante da dificuldade de acesso dos trabalhadores ao local de trabalho. Para ele, uma prova de que a infraestutura da RMS se descolou da dinmica econmica da rea

  • 34 35

    O boom das cidades

    Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) servem de alerta. Das 13 cidades que compem a Regio Metropolitana de Salvador, 8 registraram crescimento populacional em termos relativos muito su-periores ao da capital baiana entre os censos de 2000 e 2010. Outros dados tambm mostram que a RMS ganhou novas propores com mais emprego, melhor renda, frota de veculos quase trs vez maior e expanso do processo industrial para novas cidades. Mas, sem planejamento, cidades vizinhas a Salvador importaram tambm os problemas da capital baiana: trnsito, falta de qualificao profissional e elevado dficit habitacional.

    A projeo desses ndices mostra que h uma tendncia de caos nos prximos anos, porque as cidades menores, que crescem em um ritmo muito mais acelerado que Salvador, tm recebido parte dos imigrantes que antes escolhiam a capital como destino final. Se no houver investimen-to em infraestrutura e logstica integrada entre os municpios, tudo ficar travado, porque no teremos ruas e estacionamentos suficientes para as pessoas e os carros, alm de todos os outros problemas decorrentes da conurbao urbana, avalia Jolson Rodrigues de Souza, coordenador de disseminao de informaes do IBGE.

    De acordo com Luiz Caetano, presidente da Unio dos Municpios da Bahia (UPB), a integrao entre os municpios ainda est muito longe de acon-tecer, porque falta uma viso mais macro para os gestores. Na opinio de Caetano, ento prefeito de Camaari, a segunda cidade mais importante da

    Regio Metropolitana de Salvador, dois dos principais problemas comuns aos 13 municpios poderiam ser resolvidos com planejamento.

    Todos os estudos apontam que a falta de mobilidade urbana e a ausncia de mo de obra qualificada so os grandes entraves para o desenvolvi-mento da regio. Mas no adianta, por exemplo, uma cidade ter um timo sistema de transporte e outra muitos cursos de qualificao. preciso que haja uma interatividade entre os municpios para que todos se beneficiem dos projetos bons e compartilhem experincias positivas, afirmou.

    Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gilberto Corso acredita que falta RMS um rgo de planejamento e gesto para elaborar projetos comuns s cidades. Hoje, sem gesto pblica, muitos projetos concorrem entre si, o que um absurdo, disse Corso. Os novos prefeitos tm legitimidade e deveriam reivindicar do governo a implantao do rgo de plajenamento, disse.

    Ex-presidente da Petrobras e secretrio estadual do Planejamento, Jos Srgio Gabrielli reconhece que preciso agir rpido para dotar a RMS de mais infraestrutura nas reas de mobilidade urbana, tratamento de lixo, saneamento e ocupao do uso do solo. Temos dois tipos de proble-mas na Regio Metropolitana de Salvador: a cidade grande (Salvador) que cresce mais e as cidades menores que crescem mais rpido. Ento, preciso planejar e pensar em longo prazo, porque muitos projetos im-plantados h algumas dcadas no funcionam ou esto saturados e a demanda por servios eficientes cada vez maior.

    Apenas 38% de todo o esgoto produzido no Brasil recebe algum tipo de tratamento. Em mdia, 15 bilhes de litros de esgoto sem tratamento so despejados todos os dias na natureza, o equivalente a 6.300 piscinas olmpicas

    Na Regio Metropolitana de Salvador, a situao ainda pior: de acordo com o ex-prefeito Luiz Caetano, 30% das residncias esto conectadas a uma rede de esgoto, contra 45% da mdia brasileira

    Esgoto: s 30% das casas conectadas

    3%1,96% 0,92%

    1980 a 1991

    1991 a 2000

    2000 a 2010

    Entre 2000 e 2010, a populao de Salvador aumentou em 232.549 pessoas

    Crescimento populacional da RMS em relao a outras regies 2000/ 2010

    Salvador

    14,54%Belo Horizonte

    12,35%Recife

    10,57%So Paulo

    10,01%Rio de Janeiro

    8,64%Porto Alegre

    8,21%Crescimento em Salvador (Taxa Geomtrica)

    * Os dados do IDH baseados no Censo 2010 ainda no foram divulgados

    Regio Metropolitanade Salvador PIB (em mil reais) IDH 2000*

    Populao Censo 2010

    % Crescimento 2010/2011 rea (km2)

    Camaari

    Candeias

    Dias D'vila

    Itaparica

    Lauro de Freitas

    Madre de Deus

    Salvador

    So Francisco do Conde

    Simes Filho

    Vera Cruz

    Mata de So Joo

    Pojuca

    So Sebastio do PassTotal

    242.970

    83.158

    66.440

    20.725

    163.449

    17.376

    2.675.656

    33.183

    118.047

    37.567

    40.183

    33.066

    42.1533.573.973

    4,15

    0,80

    3,90

    0,90

    3,71

    3,14

    0,91

    2,36

    2,3

    2,36

    2,12

    2,35

    0,54x

    760

    264

    208

    116

    60

    11

    707

    267

    192

    253

    670

    318

    5494.375

    10.401.520,00

    2.479.571,00

    1.202.483,00

    80.117,00

    2.106.145,00

    153.928,00

    26.727.132,00

    7.144.211,00

    2.404.202,00

    172.230,00

    295.718,00

    818.159,00

    291.571,0054.276.987,00

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    R$

    0,734

    0,714

    0,732

    0,712

    0,771

    0,74

    0,805

    0,714

    0,73

    0,704

    0,671

    0,708

    0,6930,794

  • 36 37

    Para o governo da Bahia, a ponte Salvador-Itaparica o projeto mais ousado para mudar a realidade da Regio Metropolitana de Salvador. Na avaliao das autoridades estaduais, o Nordeste est crescendo mais do que o Brasil, mas vem esbarrando em um limitador, que a falta de logstica. De acordo com o governo estadual, a ponte, orada em R$ 7,5 bilhes (mais R$ 1 bilho para as obras do entorno), vai provocar a reor-denao urbana da regio. Outra proposta do governo a construo de cinco grandes estacionamentos pblicos em Salvador para minimi-zar os impactos causados pelo grande crescimento da frota na Regio Metropolitana.

    Governo promete reordenao urbana com ponte

    Mesmo com crescimento desacelerado, Salvador ganhou 263 mil habi-tantes entre 2001 e 2010. Para a professora da Universidade Catlica Inai de Carvalho, os maiores problemas da Regio Metropolitana de Salvador esto associados ao emprego e s condies de vida da populao.

    Aqui, o ndice de desemprego j chegou perto de 20% e, mesmo com a melhoria das condies de trabalho, persistem em torno de 14% entre os jovens, o que muito alto, afirma Inai de Carvalho.

    Desemprego cai, mas ndice ainda alto para os mais jovens

    Total

    45,5%

    15.339

    So Sebastiodo Pass

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total

    52,65%

    106.130

    Camaari

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total

    51,43%

    78.137

    Lauro de Freitas

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total

    54,16%

    6.035

    Madre de Deus

    Empregados - com carteira de trabalho assinada

    Total

    50,34%

    12.096

    Pojuca

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total

    56,04%

    1.252.949

    Salvador

    Empregados - com carteira de trabalho assinada

    Total

    31,93%

    11.805

    So Franciscodo Conde

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total

    53,31%

    45.960

    Simes Filho

    Empregados - com carteira de trabalho assinada

    Total

    25,33%

    14.395

    Vera Cruz

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total

    59,51%

    24.467

    Dias D'vila

    Empregados - com carteira de trabalho assinada

    Total35,39%

    7.560

    Itaparica

    Empregados - com carteira de trabalho

    assinada

    Total49,95%

    15.128

    Mata de So Joo

    Empregados - com

    carteira de trabalh

    o

    assinada

    Salvador Camaari

    Lauro de Freitas Simes Filho Dias D'vila

    858.88773.991

    49.435 35.00019.888

    So Sebastio do Pass

    12.317

    Vera Cruz

    11.749

    Mata de So Joo

    Pojuca

    11.693 9.605

    So Francisco do Conde

    9.429

    Itaparica

    6.341

    Madre de Deus

    5.172

    Camaari

    Coletado por servio de limpeza65.833

    Coletado em caamba de servio de limpeza

    3.538

    Lauro de Freitas

    Coletado por servio de limpeza41.944

    Coletado em caamba de servio de limpeza

    6.872

    Salvador

    Coletado por servio de limpeza529.923

    Coletado em caamba de servio de limpeza

    304.234

    So Francisco do Conde

    Coletado por servio de limpeza6.082

    Coletado em caamba de servio de limpeza

    2.674

    Simes Filho

    Coletado por servio de limpeza21.669

    Coletado em caamba de servio de limpeza

    7.776

    96,66%Camaari

    95,03%Dias D'vila

    87,16%Itaparica

    98,88%

    Lauro de Freitas

    99,39%

    Madre de Deus

    88,22%

    Mata de So Joo

    90,11%Pojuca

    93,49%

    So Francisco do Conde

    So Sebastio do Pass

    85,57%

    96,05%Simes Filho

    92,93%Vera Cruz

    Fonte: IBGE - Censo Demogrfico

    99,39%Salvador

  • 38 39

    Salvador quer solues conjuntas para RMS

    Quase 70% dos entrevistados tm a mesma opinio: os principais proble-mas das 13 cidades que compem a Regio Metropolitana deveriam ser resolvidos com aes conjuntas, revela Pesquisa Futura. O resultado preocupante: trs entre quatro entrevistados consideram como pssimo o transporte pblico oferecido em Salvador. O percentual dispara para 86,7% quando o assunto o trnsito. Ningum marcou a opo timo.

    Com transporte pblico de baixa qualidade, h uma tendncia de que as pessoas busquem a soluo no carro, lembra Felipe Sellin, do Futura. Mais carros nas ruas, mais trnsito e mais tempo preso nos engarrafamentos. A maioria (46,4%) gasta entre uma e duas horas na ida e volta ao trabalho. Entre uma e quatro horas no trnsito, o percentual chega a 73%.

    Este um problema que atinge a todas as classes, explica Sellin, que destaca um detalhe: Mais da metade dos entrevistados da classe A/B (58,8%) gasta entre uma e duas horas para chegar ao trabalho. a classe em que maior percentagem de pessoas gasta esse intervalo. A classe C vem logo depois, com 57%. Mas quem perde muito tempo no trnsito so os mais pobres, destaca Jos Luiz Orrico, presidente do Futura. A classe D/E tem maior percentual acima das duas horas. Os que moram na perife-ria sofrem mais com o trnsito e a ausncia de transporte pblico, analisa.

    Segundo os entrevistados, para resolver tantos problemas, somente com planejamento integrado das cidades da RMS. Esse o desejo da maioria, em especial na classe C (73%), entre quem tem 20 a 29 anos (77%) e as mulheres (73,6%). Outros problemas apontados como prioritrios nessa administrao conjunta: educao, sade pblica, segurana pblica e coleta de lixo. No trnsito, de alguma maneira consegue-se dar um jeito. Mas na sade, educao e segurana, no. Isso apavora as pessoas, acredita Jos Luiz.

    Um : Salvador que solues para a RMS (info de mobilidade): 39 x 13,63cm (dando aqueles 2 cm do meio)

    Total 100

    Total 100

    Total 100

    Total 100

    Total* 244,1

    1) Salvador deveriam ser tratados conjuntamente ou isoladamente? (Estimulada)

    2) (SE CONJUNTAMENTE) Destes problemas e desafios, qual(is) o(a) sr.(a) considera que deva(m) ser tratado(s) como problema(s) comum(ns) das cidades que compem a Metrpole e no de forma isolada ? (Estimulada)

    Nmero de entrevistas: 398

    Nmero de entrevistas: 398 Nmero de entrevistas: 398

    Nmero de entrevistas: 334

    Nmero de entrevistas: 281 *O entrevistado podia citar at trs opes de resposta.

    Tempo Mdio 1h e 35min

    3) Como o(a) sr.(a) avalia o transporte pblico de Salvador? (Estimulada)

    4) (Considerando somente quem trabalha) Qual o tempo que o(a) sr.(a) gasta, em mdia, na ida e na volta do trabalho diariamente?

    Conjuntamente

    70,6%

    Ruim + Pssimo

    92,5%

    Pssimo

    86,7%Ruim5,8%

    Regular7,0%

    Bom0,5%

    timo0,0%

    timo + Bom0,5%

    NS/NR0,0%Ruim + Pssimo

    82,9%

    Pssimo

    75,9%

    Ruim7,0%

    Regular

    13,3%

    Bom2,3%

    timo1,0%

    timo + Bom3,3%

    NS/NR0,5%

    Isoladamente

    25,6%

    Depende do tipo do problema

    3,3%

    12,9% 14,1%19,2%

    6,9%0,6%

    46,4%

    61,9%53,7%

    46,3%

    23,1% 21,4% 19,2% 17,1%

    1,4%NS/NR

    0,5% Educao Sade pblica

    Segurana Pblica

    Coleta de lixo

    Transporte pblico

    gua e Esgoto

    Trnsito Nenhum desses

    5) Como o(a) sr.(a) avalia o trnsito em geral de Salvador? (Estimulada)

    At 30 minutos Entre 30 minutos e 1 hora

    Entre 1 e 2 horas Entre 2 e 3 horas Entre 3 e 4 horas Mais de 4 horas

    OS DESAFIOS DA METRPOLE

  • 40 41

    Em um amplo gabinete envidraado e decorado com mveis clssicos no quinto andar do prdio que abriga a presidncia da Federao das Indstrias do Estado da Bahia (Fieb), Jos de Freitas Mascarenhas j se acostumou a ouvir sempre as mesmas queixas de empresrios interessados em investir na Regio Metropolitana de Salvador - 13 cidades que detm 60% das indstrias instaladas na Bahia.

    Os empresrios dizem que no tm condies de aplicar os seus recursos em municpios sem infraestrutura, com um pssimo sistema de transporte pblico e ausncia total de planejamento urbano, afirma Mascarenhas, que tambm vice-presidente do Conselho Temtico de Infraestrutura (Coinfra) da Confederao Nacional da Indstria. O Coinfra responsvel pelo planejamento, integrao e desenvolvimento dos setores industriais, especialmente nas reas de energia, saneamento bsico, transportes, privatizaes, concesses e telecomunicaes.

    Nesta entrevista ao CORREIO, Jos de Freitas Mascarenhas aponta aes conjuntas para as cidades da RMS. Mas avisa: D para colocar a casa em ordem, mas vai custar caro, porque vamos comear (a resolver os problemas) um pouco tarde.

    Muitos problemas so comuns aos 13 municpios que fazem parte da Regio Metropolitana de Salvador: transporte pblico e infraestrutura deficientes, falta de saneamento bsico e de infraestrutura e engarrafamentos constantes. Quais as propostas da Fieb para reverter esta situao? A Fieb sujeito passivo em todos esses problemas. No fundo, ela uma usuria desse sistema e sofre como toda a populao. O fato concreto que os problemas da Regio Metropolitana se agravam a cada dia e no tm soluo vista, porque h muito tempo no se faz investimentos em infraestrutura nas cidades que a compem. Temos tentado, com o governo estadual, encaminhar essas questes. At porque o governo que tem autoridade para resolver, evidentemente com a participao dos prefeitos.

    O senhor acredita mesmo que ainda d tempo para colocar a casa em ordem? D. Mas vai custar caro, porque vamos comear (a resolver os problemas) um pouco tarde. Isso se comessemos hoje. Como isso no vai acontecer, corremos o risco de as obras comearem tarde demais, quando a situao ficar ainda mais insuportvel. Todas as discusses sobre mobilidade urbana, infraestrutura e transformaes nas cidades para melhorar a vida das pessoas devem acontecer no planejamento, e no durante a execuo das obras. Porque, na execuo das obras, sempre h grupos de interesse que

    Cidades interligadas

    Entrevista com Jos Mascarenhas

    terminam prejudicando os trabalhos. O princpio de soluo de todos os problemas chama-se planejamento urbano, pois as pessoas moram nas cidades, vivem nas cidades, estudam nas cidades, trabalham nas cidades. Mas o que vejo em todas as cidades da Regio Metropolitana de Salvador a ausncia total de planejamento urbano, infelizmente.

    O senhor preside uma das federaes mais importantes do pas. Do ponto de vista industrial, quais os prejuzos que esta falta de planejamento provoca na RMS? O principal fator a perda de produtividade. At porque, com a falta de mobilidade urbana, as pessoas esto trabalhando menos. Recentemente, o IBGE divulgou, com base no Censo de 2010, que o tempo de percurso gasto pelo brasileiro para ir de casa ao trabalho um dos principais martrios para os habitantes das regies metropolitanas. Vamos tomar como exemplo Salvador. Aqui, quase 61% das pessoas ocupadas gastam entre 30 minutos e duas horas para ir ao trabalho.

    E ainda tem o retorno para suas casas. Ento, pode-se afirmar que o trabalhador de Salvador perde, todos os dias, entre uma e quatro horas somente no trnsito. E quem fica muito tempo no trnsito tem menos tempo para trabalhar, isto lgico. S isso j mais do que suficiente para inibir investimentos dos empresrios.

    No h, na prtica, uma soluo isolada. O que falta tirar do papel o Conselho da Regio Metropolitana de Salvador

    Hoje, Salvador um pssimo carto de visita para os turistas, para empresrios que visitam a cidade, para as pessoas que moram aqui

    Foto: Joo Alvarez/Sistema Fieb

  • 42 43

    Mas, perder muito tempo no trnsito no um problema comum nas grandes cidades? Sim, mas So Paulo e Rio de Janeiro, que so as maiores metrpoles do pas, tm se movimentado em busca de solues para reduzir os efeitos do problema causado pela falta de mobilidade urbana. So Paulo est investindo na ampliao da linha do metr, vai construir um monotrilho interligando o Aeroporto de Congonhas Estao do Morumbi, possui muitos quilmetros de linhas exclusivas para nibus e txis, e o Rio est aproveitando o boom da Copa do Mundo e dos Jogos Olmpicos para fazer muitas obras. J as cidades da Regio Metropolitana de Salvador no fazem absolutamente nada. Como no h mgica, os problemas tendem a piorar muito nos prximos anos.

    Os empresrios reclamam muito da falta de infraestrutura na Regio Metropolitana? Todos reclamam. E no so apenas os empresrios.

    Fora a falta de mobilidade urbana, na viso dos empresrios, quais so os outros problemas que dificultam a atrao de empresas nas cidades da RMS? Salvador, que a maior cidade do estado, no tem um centro de localizao de empresas, por exemplo. Salvador precisa buscar fonte de renda em sua fonte principal, que o turismo. Mas, com a degradao da cidade, os turistas esto se afastando. As pessoas, quando procuram a Bahia, vo para Praia do Forte, Costa do Sauipe, e praticamente no entram em Salvador. E no entram porque as nossas atraes tursticas, que so muitas, esto completamente abandonadas. Vou citar apenas dois exemplos: o Pelourinho involuiu e a nossa orla, que a mais bonita do Brasil, tambm a mais degradada. Resumindo: hoje Salvador um pssimo carto de visitas para os turistas, para os empresrios que visitam a cidade, para as pessoas que moram aqui e saem procura de lazer.

    O que poderia ser feito para dar mais dinamismo s aes de planejamento na RMS? Falta colocar em prtica o Conselho da Regio Metropolitana, que s existe no papel. No h, na prtica, uma soluo isolada. No adianta o gestor achar que resolve o problema do saneamento bsico apenas ampliando o abastecimento de gua, porque tudo comum e integrado. Nesse caso especfico, preciso aumentar a oferta de gua, mas tambm preciso investir em rede de esgoto, coleta de lixo, pavimentao de ruas e avenidas. Enfim, preciso fazer o que todos falam, mas ningum faz.

    Mas quem poderia, de fato, resolver os problemas da RMS? preciso a integrao entre todas as partes envolvidas. O governo, as prefeituras, os empresrios, a sociedade civil, as entidades de classe. Sou, inclusive, favorvel contratao de uma empresa estrangeira para a execuo do projeto de repensar as cidades da Regio Metropolitana porque, certamente, seus dirigentes no aceitariam parmetros com os quais

    convivemos passivamente. Por exemplo: ningum, de um pas mais adiantado, aceitaria o sistema de transporte de Salvador ou das cidades que compem a RMS. claro que os estrangeiros teriam de ter, necessariamente, parceria com empresas locais que conhecem mais de perto a nossa realidade.

    Na condio de presidente da Fieb, o senhor j foi convidado para participar de reunies para discutir os problemas e apontar solues para as cidades? Nunca. Embora 60% das indstrias instaladas na Bahia estejam instaladas no raio da Regio Metropolitana de Salvador. E acho que no fui chamado porque esse assunto no faz parte da pauta das cidades, infelizmente. por causa desta falta de sintonia que estamos ficando para trs. Vejam o caso de Pernambuco, por exemplo. Todas as grandes empresas esto na regio do Porto de Suape e, aqui, no temos nada mesmo. Alis, Pernambuco e Cear, apenas para ficar no Nordeste, tm portos muito mais modernos e mais bem estruturados do que o de Salvador. Eu sempre digo que ns temos carga e no temos porto e eles (Cear e Pernambuco) tm portos e no tm carga.

    O que o senhor prev para os prximos anos na Regio Metropolitana de Salvador em dois cenrios: um sem infraestrutura e o outro, com a realizao de obras? Se no houver planejamento, as cidades da Regio Metropolitana vo sofrer um apago no sistema de transporte. E esse apago no est muito distante. Repito: esses problemas influenciam a deciso dos empresrios. Uma coisa voc investir em uma cidade onde tudo ou quase tudo funciona bem; outra voc estar em um local sem mobilidade, sem infraestrutura e sem perspectivas. Com planejamento, tudo diferente. A Regio Metropolitana de Salvador carece de planejamento urgente. preciso comear logo, porque j perdemos muito.

    Foto: Lorena Vinturini

    Para Mascarenhas, aes unificadas podem promo-ver melhor mobilidade em cidades como Salvador

    Saneamento um dos pontos considerados bsicos no planejamento urbano da RMSFoto: Marina Silva

    Pernambuco e Cear, apenas para ficar no Nordeste, tm portos muito mais modernos e mais bem estruturados do que o de Salvador

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    Salvador um caso crtico. A constata-o foi do presidente da Federao das Indstrias do Estado da Bahia (Fieb), Jos de Freitas Mascarenhas, ao comparar indicadores da capital baiana com outras metrpoles brasileiras. Seja no ensino fundamental, na taxa de homicdio ou na mobilidade urbana, os nmeros refletem uma realidade de falta de planejamento, de acordo com o presidente da Fieb.

    Na palestra Planejando o Futuro: A Infraestrutura para Salvador e Regio Metropolitana, Jos Mascarenhas mostrou que, em 2010, Salvador foi a capital do Nordeste que menos investiu (R$ 169 milhes) na modernizao da cidade, ficando atrs, inclusive, de So Lus, que aplicou R$ 205 milhes no mesmo perodo.

    Metrpoles de maior porte, como Rio de Janeiro e So Paulo, destinaram 10,6% e 10,5% de suas receitas (o que representa R$ 1,6 bilho e R$ 3,1 bilhes, respec-tivamente). Salvador, apenas metade (5,6%). Mesmo considerando o cenrio como ruim, Mascarenhas no deixou de apontar solues. Segundo ele, no adianta pensar os problemas isolada-mente, usando esparadrapos. Mas, sim, como um mosaico em que as peas se encaixam. O primeiro ponto a ser atacado, destaca o presidente da Fieb, planejamento urbanstico.

    esse planejamento urbanstico que responder pela reorganizao dos espaos, do plano geral dos transportes pblicos, reas destinadas habitao, locais para equipamentos pblicos e outros benefcios populao, comenta Mascarenhas.

    Na contramo

    53% dos entrevistados de uma pesquisa nacional relataram que a qualidade de vida caiu em Salvador

    169 milhes de reais foi quanto Salvador investiu em 2010 de sua receita total. Em percentuais, 5,6%

    324 milhes de reais foi o investimento de Fortaleza, considerando a aplicao de 9,4% da sua receita total

    25 pontos a nota da cidade, em uma escala de zero a 100. Curitiba, melhor cidade avaliada, fez 56

    *Avaliao em baixaFoto: Marina Silva

    A obra da Via Porturia, ou Via Expressa, um dos exemplos citados pelo presidente da Fieb para mostrar que a cidade precisa de planejamento. Demorou tantos anos para fazerem essa obra que o Porto de Salvador no tem mais a mesma funo do passado. Essa tarefa de receber e entregar maior nmero de carga pertence hoje ao Porto de Aratu, salienta.

    O presidente da Fieb lembrou que nem a prefeitura nem o estado tm ca-pacidade financeira de resolver os problemas. O estado at fez um esforo agora ao realizar novo emprstimo. Mas a taxa de investimento de apenas 6,5% do oramento, lembra. Como soluo, restam recursos federais.

    Mascarenhas enumerou outras aes: reduo de custos da infraestru-tura de servios pblicos, atravs do planejamento; reduo de conflito de interesses, como em obras do metr; e uso de tecnologias modernas para cidades mais sustentveis.

    J quando questionado sobre os problemas de infraestrutura da RMS, o presidente da Fieb citou duas cidades que preocupam na falta de planeja-mento urbano. A princpio, acho que toda essa Regio Metropolitana deve ser tratada como um conjunto. Camaari, por exemplo, uma rea industrial, mas preciso que se planeje um sistema de transporte decente para as pessoas resolverem onde vo morar, se aqui, ou l, disse.

    Mascarenhas tambm falou sobre Lauro de Freitas, cujo problema volta a ser a mobilidade urbana. Esto jogando em cima de Lauro de Freitas uma srie de problemas que acontecem aqui em Salvador. Como no h uma rede geral, voc vai resolvendo os problemas aos poucos e transferindo daqui para mais para frente, criticou. Mascarenhas tambm ressaltou a urgncia dessas medidas, lembrando que a cidade sofre com a falta de in-vestimentos h alguns anos.

    O presidente da Fieb lembrou ainda que preciso reconquistar a confiana da populao, com medidas efetivas e com transparncia. E criar sintonia entre os projetos. O que adianta esse metrozinho? Sem conexo com sistema de transportes da cidade e da Regio Metropolitana?, questio-nou. Mascarenhas sugeriu que seja contratada consultoria internacional para planejar, com especialistas baianos, o futuro de Salvador, a terceira maior cidade do pas. preciso ter uma viso ampla. Isso ter reflexo nos prximos 40 anos.

    O que adianta esse metrozinho? Sem conexo com sistema de transportes da cidade e da Regio Metropolitana?

    preciso ter uma viso ampla. Isso ter reflexo nos prximos 40 anos

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    O presidente da Fieb, Jos Mascarenhas, lembrou que as cidades contam hoje com grandes problemas estruturais e abrigam 84,4% da populao brasileira. Para resolver parte desses problemas, comuns aos grandes centros, Mascarenhas defendeu a criao de um fundo federal de transfe-rncia de recursos.

    O financiamento o nosso superproblema. Temos que buscar fundos federais a fundo perdido para essas cidades, que tm capacidade limitada para tomar emprstimos e executar as obras, resumiu.

    Ele lembrou que fundos federais de mobilidade foram criados para a Copa do Mundo, mas outros investimentos tambm so necessrios. Se o governo federal criar fundos para as cidades, elas podero executar pro-gramas de planejamento urbano geral, de execuo de obras de interesse pblico, independentemente de outros fundos que sejam criados, sugere.

    Porm, Mascarenhas reforou que os governos sozinhos no resolvem esses problemas estruturais. Isso tem que ser executado atravs da ao privada, das empresas e das pessoas. E s pode ser feito isso dentro de um projeto que satisfaa a todos, salientou.

    Fundo para investimento nas cidades

    Planejamento urbano com solues para toda a cidade

    Jos Mascarenhas defende o fim da poltica do esparadrapo

    Uso de tecnologias modernas para tornar a cidade sustentvel

    Aes conjuntas para problemas comuns da RMS

    Cidade a servio do cidado

    Soluo

    Espanhol critica mobilidade de Salvador

    Ele tenta andar na cidade, mas no consegue, pois no h caladas. Nas avenidas, espao demais para carros e pouco para o transporte pblico. Esses e outros problemas que tm soluo - so observados pelo enge-nheiro espanhol Manuel Herce, 65 anos, um dos responsveis pela recons-truo de Barcelona para as Olimpadas de 1992, legado que se sente at hoje no bom funcionamento da cidade espanhola.

    Em Salvador para a palestra no Agenda Bahia 2012, Herce percorreu a cidade com as reportagens da TV Bahia e do jornal CORREIO. Para o enge-nheiro, a construo de viadutos e de estacionamentos no vai resolver os problemas da capital baiana: preciso dar ateno ao pedestre e melhorar o transporte pblico, alerta. Herce apontou problemas e sugeriu solues para a cidade se tornar mais sustentvel.

    Em primeiro lugar, diz ele, a cidade precisa ser pensada para o morador, no para os carros. Ao conhecer os nmeros da pesquisa do Instituto Futura, que mostram que 73% dos moradores de Salvador levam at quatro horas por dia no trnsito, o engenheiro afirmou que o problema poderia ser resol-vido com um sistema integrado de transporte.

    Foto: Marina Silva

    Herce visitiou pontos da cidade e destacou os problemas como a

    falta de planejamento no transporte

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    O problema no carro, carro um direito. O problema que o carro adentrou a cidade. Em Paris, tem quase uma mdia de 2,2 carros por famlia, mas na rua voc no v praticamente, s sbado e domingo, porque o sistema de transporte coletivo timo, compara. Uma das su-gestes de Herce para o Iguatemi aumentar os espaos para pedestres, restringir a passagem de carros em parte das pistas e criar faixas exclusi-vas para nibus.

    O engenheiro criticou tambm a falta de espaos agradveis para caminhar. Na orla, mesmo havendo calades, Herce chama a ateno para a falta de planejamento paisagstico. Nas praias da Pituba ao Rio Vermelho, no tem uma rvore sequer. S tem poste, concreto. uma regio feita para o pedestre, mas o pedestre sacrificado, opina.

    Uma das mais movimentadas da cidade, a avenida Mrio Leal Ferreira, a Bonoc, foi criticada pela falta de espaos de convivncia. Na avenida, quase no h caladas.

    Herce afirma ainda que o metr uma das sadas mais importantes, mas no a nica, para os problemas de mobilidade. Num deslocamento longo, voc no pega s o metr, pega tambm nibus, bicicleta, carro, anda a p. Esse um problema de planejamento pblico. Voc no pode ficar espe-rando horas para um nibus passar, nem andar demais de uma estao para a outra. preciso integrar os diferentes transportes, indica.

    Mais espao para pedestres

    Foto: Marina Silva

    Excesso de viadutos um dos pontos

    criticados pelo engenheiro

    Atualmente, o carro atrapalha o nibus e o nibus atrapalha o carro, diz. Isso mostra que se deve controlar o espao para os carros, para melhorar o engarrafamento. Em outras grandes cidades do mundo, voc gasta uma hora, uma hora e meia, conta.

    Na regio do Iguatemi, na passagem do viaduto que d acesso rodoviria, Manuel Herce apontou a falta de espao para pedestres, excesso de faixas para carros e reas verdes desaproveitadas.

    Voc pode ter avenidas grandes na cidade, mas uma avenida no precisa ser uma autoestrada, tem que ter espaos para os pedestres tambm, opina. Herce ressaltou a dificuldade que os soteropolitanos tm de sair de seus bairros para chegar aos pontos de nibus nas avenidas. Aqui, ningum pode atravessar a rua, o viaduto no tem calada. O cara que quer atravessar aqui morre. Se quer pegar nibus aqui, o que faz? Ele tem que caminhar meio quilmetro, comenta.

    Nas praias da Pituba ao Rio Vermelho, no tem uma rvore sequer. S tem poste, concreto

    Voc pode ter avenidas grandes na cidade, mas uma avenida no precisa ser uma autoestrada, tem que ter espaos para os pedestres tambm

    Num deslocamento longo, voc no pega s o metr, pega tambm nibus, bicicleta, carro, anda a p

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    Diretamente relacionado Copa, o entorno da Fonte Nova visto como uma oportunidade pelo engenheiro espanhol Manuel Herce. Segundo o especialista, apesar de o projeto da Arena ser muito interessante para o esporte, a estrutura de mobilidade ao redor deixa a desejar. Lembrando que entre os planos para o entorno esto a construo de dois edifcios-garagem, o engenheiro alerta que o acesso de carro at o estdio um problema. Em dias de jogos, fica fechado quase um quilmetro no entorno do estdio de Barcelona, e as pessoas tm o acesso por metr, caminhan-do. Entrar de carro engarrafa tudo e ningum chega, lembra.

    Aproveitando a rota turstica, Herce defende a criao de um circuito de pedestres do Dique ao Comrcio, passando pelo Campo da Plvora, subindo em escada mecnica ao Largo de So Francisco e descendo para o Comrcio pelo Elevador Lacerda. No cara. coisa de R$ 5 milhes, R$ 6 milhes, no nem o preo da arquibancada do estdio. A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder) tem um projeto previsto para ser entregue em dezembro de 2013 que prev quatro rotas para pedestres, sendo duas no Comrcio, uma em Brotas e uma em Nazar.

    Fonte Nova: engenheiro defende rota para pedestres

    Excesso de viadutos

    Falta de caladas

    Falta de integrao e planejamento do transporte pblico

    Falta de espaos agradveis para caminhar

    Distncia entre as estaes do metr

    Excesso de faixas em algumas avenidas

    Principais problemas*

    Apesar de o metr ter apenas seis quilmetros de extenso at agora, o problema maior, diz Herce, a quantidade de estaes e a distncia entre elas. Em toda a Bonoc h apenas uma parada do metr, a Estao Brotas. Herce lembra que o metr deve unir a populao cidade e trazer conforto s pessoas.

    As pessoas no podem depender de uma passarela para entrar no metr. Ele tem que estar ligado com o lugar, e todo o entorno tem que ter uma es-trutura para caminhar. a partir da que nascem lojas, comrcio. Tem que ter estaes suficientes para que as pessoas caminhem, no mximo, 200 metros. Aqui tem muito mais distncia que isso, critica.

    As pessoas no podem depender de uma passarela para entrar no metr. Ele tem que estar ligado com o lugar. a partir da que nascem lojas, comrcio

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    Quais pontos desse projeto o senhor enumeraria como fundamentais para essa mudana? So muitos, mas destacaria dois: todos os projetos foram elaborados pelo setor pblico como garantia de atingir os objetivos sociais previstos. E a colaborao muito importante da iniciativa privada. Mas essa colaborao foi feita em parceria com a prefeitura em Barcelona. Quem definia o projeto da cidade era a prefeitura e no os empresrios. Logo, os empreiteiros realizaram o que foi definido pela cidade, coisa que eles agradecem muito, porque resolveu os principais problemas de gesto da transformao do entorno do projeto.

    Quais aes de infraestrutura e no plano urbanstico da cidade fizeram a diferena? Como irei explicar na minha conferncia (hoje), as obras olmpicas foram, fundamentalmente, grandes projetos de melhora urbana (anis virios, remodelao da rede de esgotos municipais, renovao da Cidade Histrica, criao de praias - at ento inexistentes) e, claro, instalaes esportivas e vilas olmpicas. Mas, como tambm explico, o modelo de grandes projetos urbanos ficou em crise na ltima dcada, sendo substitudo por polticas de mobilidade sustentvel, economia energtica e da gua, polticas ecolgicas sobre o lixo, e outras que esto definindo um novo modelo Barcelona, muito menos conhecido.

    Qual foi o maior legado das Olimpadas para a cidade? Pode se falar que a ideia de que uma Olimpada tem que ser concebida para a cidade, e no o inverso.

    Como esse novo modelo? A cidade evoluiu? Acho que a cidade fechou um ciclo e est melhor preparada do que outras para o novo. A economia baseada nas novas tecnologias, o turismo (em crescimento continuado desde a Copa do Mundo de 1982 na Espanha) e a cultura... tudo isso um fato. Alm disso, a crise econmica e social atual tem mostrado o acerto de ter apostado antes pela nova economia verde e de despesa infraestrutural contida.

    Que aes de economia verde tm sido implementadas? Fundamentalmente, polticas de mobilidade (reforma de ruas, transporte pblico e empresa de bicicletas pblicas), coleta seletiva e pneumtica de lixo, piscines de recolhimento de chuva, medidas de economia energtica dos edifcios pblicos, criao de um distrito tecnolgico com convnios de atrao de empresas da nova tecnologia, e projetos culturais.

    Em relao ao Brasil, quais so os principais desafios para uma infraestrutura mais eficaz? Observo com muito carinho o Brasil, mas tambm com medo. O investimento em obras nem sempre se justificam por si mesmo. Falta (no meu entender)

    (Na Espanha), h transporte coletivo metropolitano com tarifa integrada e plano para as guas

    Aps a transformao de Barcelona - at hoje usada como referncia sobre o legado deixado por um evento esportivo -, a cidade espanhola caminha para uma nova fase: a economia verde. As obras para as Olimpadas de 1992 comearam uma dcada antes do evento e sua continuidade permite hoje a implantao de polticas de mobilidade sustentvel, de eficincia energtica e de gua e de destinao mais ecolgica do lixo, alm da construo de piscines de recolhimento de gua.

    Um novo modelo de cidade, ainda menos badalado pelo mundo, como explica, nesta entrevista ao CORREIO, o engenheiro espanhol Manuel Herce - um dos responsveis pelas mudanas na cidade espanhola para os Jogos Olmpicos. Herce foi um dos palestrantes do Frum Agenda Bahia 2012.

    Consultor de projetos para cidades em pases como Mxico, Peru e Brasil, Herce se diz preocupado com a poltica urbana brasileira obsessiva por construir cada vez mais autoestradas e vias para carros. Para ele, falta uma reflexo sobre os efeitos dos investimentos de infraestrutura nas cidades: Essa sensao de novo rico deu no que deu na Europa: por que vocs se acham imunes a esse perigo?.

    Manuel Herce lembra que os investimentos do passado tm ajudado a Espanha nesses tempos difceis. E faz um alerta para Salvador. Confira:

    Barcelona se transformou para receber as Olimpadas. At hoje, especialistas lembram que existiu uma Barcelona antes e depois das Olimpadas. O senhor concorda com isso? Sim, mas gostaria de especificar melhor. A Olimpada foi a oportunidade de consolidao de polticas de recuperao da cidade que tinham comeado uma dcada antes. Nesse sentido, a Olimpada pode ser considerada um instrumento a mais para essa transformao e no gostaria que fosse vista nem como um incio de nada nem como fato que despertou a cidade.

    A nova Barcelona

    Entrevista com Manuel Herce

    Voc acha que esse discurso (de mobilidade sustentvel) teria sucesso numa cidade onde s se fala em carro?

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    Obra iniciada h mais de dez anos e que j consumiu cerca de R$ 1 bilho em recursos pblicos, o metr de Salvador, mesmo ainda sem entrar em operao, teve a sua expanso defendida at os bairros de Cajazeiras e Mussurunga durante a abertura da terceira edio do Agenda Bahia 2012.

    Cajazeiras e Mussurunga so bairros de grandes potencialidades e precisam do metr. No tem sentido levar a obra at um bairro (Cajazeiras) e deixar outro to importante (Mussurunga) sem a linha. O metr vai passar na Paralela (Avenida Luis Viana Filho), que fica a 700 metros de Mussurunga. Deveriam levar a linha para l, afirmou o engenheiro espanhol Manuel Herce.

    Alm da expanso do metr, em sua palestra, Herce defendeu outras inter-venes em Salvador para melhorar o aproveitamento dos espaos pblicos e a convivncia entre os moradores da capital baiana.

    Ampliar os calades, criar e renovar as praas e parques e melhorar o sistema de transporte pblico no custam caro e trazem muitos bene-fcios populao, disse. Diretor do Programa de Ps-Graduao em Infraestrutura e Meio Ambiente da Universidade Aberta da Catalunha, Manuel Herce recorreu a um exemplo de Barcelona para propor mais inves-timentos pblicos nos bairros mais carentes: preciso monumentalizar a periferia.

    De acordo com o engenheiro, os gestores municipais no devem ceder presso da iniciativa privada. As parcerias so importantes, desde que os empresrios faam o que interessa cidade, e no a eles, afirmou.

    Da periferia s praiasFoto: Evandro Veiga

    Manuel Herce aposta em intervenes simples que beneficiem a populao

    uma reflexo sobre os efeitos desses investimentos nas cidades. Pode ser que no sejam colocadas em questo as polticas rodoviaristas, um tipo de poltica urbana obsessiva por construir cada vez mais autoestradas e vias para carros, e de crescimento urbano ilimitado. Essa sensao de novo rico deu no que deu na Europa: por que vocs se acham imunes a esse perigo?

    Hoje na Bahia as cidades vizinhas a Salvador cresceram muito rapidamente. O senhor acha que possvel pensar em solues conjuntas para cidades prximas da capital baiana? Barcelona j passou pela experincia de um governo metropolitano, desaparecido no ano 1984. Mas o problema de uma cidade contnua (27 municpios no nosso caso) obrigou a pactos permanentes, criao de agncias metropolitanas (autoridades administrativas nicas) em transporte e meio ambiente (ciclo das guas e lixo, principalmente) e, em especial, fruns permanentes de discusso com a sociedade civil.

    Como foram pensadas essas aes para os 27 municpios da regio metropolitana de Barcelona? Houve um projeto de transporte integrado? Existe um plano de transporte coletivo metropolitano com tarifa integrada. H tambm um plano de saneamento de guas e uma ordenana metropolitana de repercusso do custo sobre o consumo de gua potvel.

    Salvador hoje a terceira maior cidade do pas. No tem uma linha de metr, os nibus funcionam de maneira precria, assim como os trens urbanos e o ferry-boat. Como solucionar essa questo? As polticas de mobilidade sustentvel no planeta esto girando sobre os transportes coletivos combinados para deslocamentos longos e o fomento do passeio para deslocamentos curtos. Mas isso significa polticas decididas de recuperao de ruas, caladas, passeios, itinerrios de pedestres, etc. Voc acha que esse discurso teria sucesso numa cidade onde s se fala em carro?

    Essa sensao de novo rico deu no que deu na Europa: por que vocs se acham imunes a esse perigo?

    Em Barcelona existe um plano de transporte coletivo metropolitano com tarifa integrada

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    Manuel Herce disse ainda que os R$ 8 bilhes gastos por Barcelona para sediar os Jogos Olmpicos modificaram completamente o perfil da segunda cidade mais importante da Espanha. O legado foi muito grande em todas as reas. Depois das obras, Barcelona passou a ser uma cidade da moda. Hoje, so 15 milhes de turistas que visitam a cidade todos os anos. At 92, rece-bamos 5 milhes de visitantes.

    Alm dos turistas, Manuel Herce, que casado com uma brasileira, disse que Barcelona passou a ser um dos principais polos universitrios da Europa. Temos 25 mil estudantes estrangeiros matriculados em nossas universi-dades. Isso fundamental para dar mais dinamismo e vida cidade, disse o engenheiro.

    Depois da palestra, Herce respondeu a perguntas da plateia e revelou que pretende morar em Salvador daqui a alguns anos: Gosto muito da cidade, tenho um apartamento aqui. Quero uma cidade melhor para mim e minha famlia.

    Melhor aproveitamento da natureza (rios e litoral)

    Planejar a RMS de forma integrada

    Implantar polticas de mobilidade sustentvel

    Urbanizar os espaos pblicos

    Criar ciclovias e incentivar o uso do transporte pblico

    Incentivar projetos de descentralizao administrativa

    Concluir a primeira etapa do metr e expandir suas linhas para Cajazeiras e Mussurunga

    Ampliar o calado da orla e reduzir os espaos para veculos

    Ordenar o trnsito e impedir o estacionamento de veculos no centro da cidade

    Oferecer servios pblicos de qualidade

    Criar faixas exclusivas para nibus

    SoluoDesafio

    Decadente e abandonado pelos poderes pblicos, o Comrcio tem uma grande potencialidade para a inovao tecnolgica, na opinio do enge-nheiro espanhol Manuel Herce, um dos responsveis pela reconstruo de Barcelona para os Jogos Olmpicos de 1992. Em sua palestra de abertura da terceira edio do Agenda Bahia, Herce disse que a regio, rea onde esto duas das principais atraes tursticas de Salvador (Mercado Modelo e Elevador Lacerda), guarda muitas semelhanas com o distrito22@, bairro de Barcelona que passou por uma grande transformao nas ltimas duas dcadas.

    O distrito22@ era um local sujo, sem nenhuma atratividade. Depois de receber muitos investimentos, o bairro ganhou novo aspecto e passou a abrigar empresas voltadas para o desenvolvimento tecnolgico, como a Rede Europeia de Biomdica. Pode acontecer o mesmo no Comrcio. Com obras em infraestrutura e segurana jurdica, d para atrair empresrios para o bairro e toda a cidade ser beneficiada, disse o espanhol, que diretor do Programa de Ps-Graduao em Infraestrutura e Meio Ambiente da Universidade Aberta da Catalunha e consultor internacional.

    De acordo com o especialista, em apenas uma dcada, Barcelona construiu ou renovou mais de 100 praas e parques. Esses locais pblicos precisam ser preservados, porque so pontos de convergncia social. So nas praas e parques que as pessoas se encontram, dialogam, fazem planos e debatem os problemas da cidade, lembra.

    Em um recado direto para os novos prefeitos que esto assumindo as 13 cidades que integram a Regio Metropolitana de Salvador, Manuel Herce afirmou que a iniciativa privada no pode determinar as obras que sero realizadas nos municpios.

    Herce disse ainda que os futuros prefeitos devem estimular uma campanha de incentivo cidadania para resgatar a autoestima da populao e realizar convnios com outras esferas administrativas (governos federal e estadual) para executar projetos de interesse das prefeituras.

    Crtico da falta de mobilidade urbana em Salvador, o engenheiro afirmou que a construo de estacionamentos e viadutos no resolve o caos que os mo-toristas enfrentam todos os dias nas principais ruas e avenidas da capital baiana.

    preciso dar mais ateno ao transporte pblico e oferecer condies para as pessoas caminharem. As caladas da cidade esto em pssimas condies. No entendo o motivo, mas aqui, pelo que percebo, os gestores

    Comrcio tecnolgico

    Com obras em infraestrutura e segurana jurdica, d para atrair empresrios e toda a cidade ser beneficiada

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    sempre priorizaram os automveis. Isso deve mudar enquanto tempo, alerta. Em seguida, citou um exemplo da dificuldade de locomoo do pedestre em Salvador.

    H alguns dias, fui almoar em um restaurante da Pituba e desisti. Os carros circulavam em uma velocidade impressionante e no consegui atravessar uma simples pista, conta.

    Manuel Herce chamou ateno para um patrimnio da cidade: Vocs tm um litoral lindo e, ao mesmo tempo, abandonado. Uma cidade com uma grande vocao turstica como Salvador no pode oferecer aos seus visitantes uma orla degradada, sem opes de lazer, esporte e gastronomia. preciso mudar esta triste realidade com obras e muita vontade poltica, avalia

    Lazer e gastronomia

    As cidades da Regio Metropolitana podem oferecer aos seus moradores mais oportunidades de emprego, estimulando o comrcio e apoiando cursos de qualificao profissional

    * Inovao da Regio Metropolitana

    Oportunidades para novas economias

    preciso repensar o modelo de transporte nas 13 cidades da Regio Metropolitana de Salvador: ter um sistema integrado, onde o nibus no o mais importante modal

    Infraestrutura em transporte

    Sem recursos para realizar grandes projetos estruturantes, as prefeituras devem recorrer s parcerias para transformar a vida dos seus habitantes

    Parceria pblico-privada

    Para Manuel Herce, os ecologistas e projetistas devem se unir por ideias inovadoras. As obras para melhorar as cidades no precisam ser inimigas do meio ambiente. preciso uma convivncia harmnica entre os dois lados para melhorar as cidades.

    Criao de uma agncia central para desenvolver projetos comuns de desenvolvimento econmico, mobilidade, coleta e reciclagem do lixo e uso racional da gua

    Agncia para gua e lixo

    Os empreendimentos tm de ser sustentveis, porque as cidades so locais de interao social. Quem d vida aos municpios so as pessoas e no os prdios, as ruas e as avenidas

    Plano de mobilidade sustentvel

    Acostumado a andar muito em Salvador, o engenheiro espanhol Manuel Herce apontou cinco reas que considera ideais para facilitar a locomo-o de pedestres na cidade. Se vocs observarem bem, entre a regio do Iguatemi e a praia do Rio Vermelho d para se fazer uma grande rea pblica, com calades mais largos e ciclovias, tudo integrado com a exu-berncia da natureza. No Itaigara, por exemplo, existe o Parque da Cidade, que muito mal aproveitado, sugere. Segundo o especialista, com um projeto de urbanizaao envolvendo todo o seu entorno, certamente as pessoas vo transform-lo em uma referncia para o lazer e a prtica de esportes, como acontece com as ramblas em Barcelona.

    Herce disse tambm que o mercado de Cajazeiras deveria passar por uma reforma para proporcionar mais mobilidade s pessoas. Ali, tambm seria construda uma grande rea pblica, fechada para carros. Nas grandes cidades do mundo, as pessoas utilizam transporte pblico e caminham. Cajazeiras tem uma populao muito grande e quase nenhum espao de lazer. Isso, claro, no est correto. O modelo de Salvador, que privilegia os veculos particulares, est superado h muito tempo, acrescentou.

    De acordo com o espanhol, o trecho que vai da Arena Fonte Nova ao Elevador Lacerda, passando pelo centro de Salvador, tambm oferece condies para as caminhadas. Basta ter vontade poltica para comear. Depois, as pessoas vo perceber que tudo est funcionando bem, que suas vidas melhoraram e, certamente, vo pedir mais obras. Mas, para isso, preciso ter coragem, dar o primeiro passo e executar o projeto, lembra. A outra rea apontada por Herce a Avenida Afrnio Peixoto, co-nhecida como Suburbana.

    Grandes espaos para pedestres e ciclovias

    Foto: Divulgao

    Para Manuel Herce, a Avenida ACM poderia ter corredor para pedestres, no estilo das ramblas em Barcelona: gente na rua incrementa comrcio Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO

    O engenheiro espanhol sugere mais espao para pedestres da Arena at o Centro

    Cajazeiras tem uma populao muito grande e quase nenhum espao de lazer. Isso no est corretoMANUEL HERCE, engenheiro espanhol

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    Criao de companhia metropolitana

    Foto: Marina Silva

    Debate mediado pelo diretor de Redao do CORREIO, Sergio Costa, com Ana Fernandes (da Ufba), Mascarenhas, Carlos Leite e Otto Alencar

    Nos 12 municpios vizinhos a Salvador vivem 3,5 milhes de pessoas, o equivalente a 25% da populao baiana. Diariamente, milhares delas viajam de uma cidade a outra, criando um emaranhado de conexes que envolvem trnsito, economia, cultura e uso dos espaos pblicos comuns. Apesar disso, no h um rgo que pense a regio como uma unidade.

    Durante o debate A Reinveno da Regio Metropolitana de Salvador, o vice-governador e secretrio de Infraestrutura (Seinfra), Otto Alencar, defendeu a criao de um agente que busque solues integradas para os problemas da RMS, aps pergunta sobre tema.

    Essas cidades cresceram tanto que o problema de uma afeta a outra. Simes Filho ou Salvador, tudo o que atinge um desses municpios acaba interferindo no dia a dia dos moradores da cidade vizinha, admitiu o secretrio.

    O urbanista Carlos Leite, que tambm participou do evento, acredita que as agncias devem ficar responsveis por pensar aes emergenciais para o desenvolvimento das cidades e regies: Elas devem pensar solues a curto e mdio prazo. Ter metas e trabalhar para reativar lugares, reinventar as cidades.

    Segundo Otto Alencar, o governo pretende conversar com o prefeito eleito de Salvador, ACM Neto, e os outros gestores para dar seguimento ao projeto. Isto deve estar acima de interesses particulares, ideologias e dife-renas partidrias, afirmou.

    Para a professora de Arquitetura e Urbanismo da Ufba e doutora pela Universidade de Paris Ana Fernandes, esse o momento de pensar grande e parar para realmente discutir a Regio Metropolitana.

    Segundo