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    igreja

    evanglica:

    i d e n t i d a de , u n i d a d e

    e s e r v i o

    r o b i n s o n c a v a l c a n t i

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    Copyright Editora UltimatoTodos os direitos reservados

    Primeira edio eletrnica: Fevereiro de 2013

    Capa:Ana Cludia Nunes

    Publicadono brasilcomautorizaoecomtodososdireitosreservadosPela

    editora ultimato ltdaCix Pt 4336570-000 Vi, MGTf: 31 3611-8500 Fx: 31 3891-1557

    www.timt.cm.b

    IGreja eVanGlICa IdenTIdade, unIdade e serVIosrie 45 anos

    Ctgi: Ig | li | Vi cit

    Txt igimt pbic p vit utimt, ai evgicBii Mi ai

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    suMrio

    Parte 1 IDENTIDADE

    A histria dos evanglicos

    O m do Consenso Evanglico

    Protestansmo: vanguarda e atraso

    Pseudo-pentecostais: nem evanglicos, nem protestantes

    Parte 2 UNIDADE

    Protestantes: autncos catlicos

    Igreja: o futuro est no resgate do passado

    O mais importante a igreja

    Amar a Cristo e a sua Igreja

    Parte 3 SERVIO

    Crisanismo, secularismo e cidadania

    O contedo do crisanismo

    A teologia da misso da Igreja no Brasil

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    ap

    a

    srie 45 Anos coloca disposio dos leitores uma seleode ttulos em formato digital (e-book), dedicados celebraode datas especiais em 2013. Assim, a Editora Ultimato quer

    compartilhar parte do seu acervo alm da contribuio dos seusautores sobre temas importantes da f crist, no ano em quecomemora 45 anos de publicao ininterrupta da revista Ultimato.

    Inauguramos a srie de e-books com Era uma Vez um Natalsem Papai Noel, um devocionrio para o ms de dezembro, quecelebra o primeiro e longnquo Natal. Com Igreja Evanglica identidade, unidade e servio, lembramos o legado e a influncia do

    bispo Robinson Cavalcanti, um ano aps a sua morte.Esta preciosa coletnea de textos, originalmente publicados

    pela Editora Ultimato,Aliana Evanglica Brasileira e MissoAliana, relembra o papel e a importncia da identidade, daunidade e da misso da igreja, to caras ao autor.

    Em um dos seus ltimos pronunciamentos igreja brasileira,Robinson Cavalcanti reafirmava: As aes do nosso presente e osplanos para o nosso futuro no podero se dar sem a fidelidadeao legado do passado. Revitalizar o evangelicalismo em unidade,a despeito dos bices da poca (individualismo, subjetivismo, re-lativismo, hedonismo) a nossa tarefa, ajudando-nos o Senhor.

    Os editores

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    identidade

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    a H vg

    apalavra evanglicos aparece em trs sentidos: no sentidoamplo, europeu, apenas sinnimo de protestante; no senti-do amplssimo, latinoamericano, sinnimo de todo cristono-catlico romano (o IBGE inclui, at, mrmons e testemunhasde Jeov); outro, restrito, especfico, no sentido ingls, representauma vertente da Igreja com nfase no relacionamento pessoalcom Cristo, em reao a uma religio estatal e sacramentalista.

    Embora o termo evanglico seja encontrado na Patrstica ena Reforma, ele adquire um conceito mais claro e se torna ummovimento na Inglaterra, na segunda metade do sculo XVIII e

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    8 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    primeira metade do sculo XIX, culminando com a organizao daprimeira Aliana Evanglica em 1847. Resgatando uma heranaque vem de Wycliffe, no sculo XIV, chegando at os Avivamen-tos, passando pela confessionalidade reformada, o puritanismo eo pietismo, desgua no movimento missionrio do sculo XIX,do qual foi a sua proposta principal. A escatologia do movimentomissionrio ou era posmilenista ou amilenista, com clara opopor uma participao social e uma influncia histrica.

    J. I. Packer destaca como marcas do evangelicalismo:

    A Autoridade das Sagradas Escrituras; A Pecaminosidade da Raa Humana; A Expiao por Cristo na Cruz;

    A Necessidade de Converso, ou experincia de Novo Nas-cimento;

    O Mandato Missionrio Imperativo para todos os Cristos.No contexto ingls do sculo XIX, se poderia acrescentar um

    sexto item: a Responsabilidade Social.

    evg b

    As misses protestantes histricas que se estabeleceram no Brasilentre 1855 e 1901 foram todas marcadas por uma identidadeevanglica, o que significava um alto grau de consenso teolgico,

    a despeito de diferenas perifricas, como sentido e forma dossacramentos/ordenanas ou formas de governo eclesistico. Esseconsenso foi mantido entre as igrejas histricas brasileiras por maisde um sculo. Ele foi reforado com a reao do Congresso doPanam, de 1916, a equivocada deciso do Congresso Ecumnicode Edimburgo, de 1910, de excluir a Amrica Latina do esforomissionrio, por se tratar de um continente cristo. No Pana-m se reafirmou a necessidade de se evangelizar e em unidade a Amrica Latina com seu cristianismo nominal e sincrtico.Por alguns anos uma entidade produziu um material de EscolaBblica Dominical para a maioria das denominaes, reforandoesse lastro comum, tambm implementado pela teologia do quese cantava nas igrejas, a partir do primeiro hinrio, o Salmos e

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    9a Histria dos evanglicos

    Hinos, compilados pela pioneira congregacional Sarah Kalley.O principal instrumento de identidade e unidade desse perodo

    foi a Confederao Evanglica, que funcionou como importanteelemento aglutinador e representativo do protestantismo nacio-nal entre 1934 e 1964.

    O dissenso protestante comea com a chegada do pentecos-talismo de vertente branca (isolacionista, pr-minilenista/pr-tribulacionista) nos anos 1910, j refletindo as controvrsiasnorte-americanas da poca, a partir do fundamentalismo, que

    comeou como um movimento confessional em reao ao Libe-ralismo, mas, que, posteriormente, degenerou em uma ideologiasectria, anti-intelectual, e, at racista. O fundamentalismo inicialtinha as mesmas nfases do evangelicalismo ingls dos sculosanteriores, adicionando-se os milagres e a segunda vinda.

    A presena do liberalismo no Brasil foi muito perifrica, e ado fundamentalismo, posterior e lenta (embora fundamentalismoe evangelicalismo compartilhem de doutrinas bsicas comuns).Como a Amrica Latina, a maioria das igrejas brasileiras optoupor no se envolver com os trs Conselhos Ecumnicos mundiais,mas foram afetadas pelas tenses ideolgicas da Guerra Fria, emuito afetadas pelo ciclo de regimes militares no continente.

    A Fraternidade Teolgica Latino-americana (FTL) surge noincio dos anos 1970 como uma escola de pensamento evanglicotomando o continente e seus problemas a srio e em abertura

    para a contribuio das Cincias Sociais. Nos Estados Unidos, nops-Segunda Guerra Mundial, surge o movimento neo-evanglicocomo reao moderada aos exageros do fundamentalismo, edi-tando a revista Christianity Today e motivando a realizaodo Congresso de Evangelismo de Berlim, 1966, gnese do queseria, a partir do evento de 1974, o Movimento de Lausanne,inicialmente no bem recebido no Brasil, por ser consideradoavanado demais pelos conservadores e moderado demais pelosavanados.

    A Confederao Evanglica havia sido fechada durante doregime militar e ficamos muitos anos sem um rgo aglutinadore promotor da unidade. Os congressos brasileiros e nordestinode evangelizao iro sinalizar um novo tempo, que se desdobra

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    com a criao da AEvB (Associao Evanglica Brasileira), quemarca poca, mas sofre uma crise insanvel em decorrncia dapersonalizao da sua liderana, criando novo vcuo, em umaigreja j marcada por uma amnsia histrica, com a Escola Domi-nical enfraquecida e a teologia evanglica dos hinrios substitudapela vagas odes/mantra a uma divindade monotesta promotorade bnos individuais que marcam o louvor atual, em umdeclnio do consenso, agravado pela chegada da Teologia da Ba-talha Espiritual, da Teologia da Prosperidade e pela fragmentao

    denominacionalista, com a racionalidade institucional cada vezmais substituda pelas lideranas carismticas caudilhescas e osurgimento de dinastias eclesisticas.

    com esse pano de fundo que estamos criando a AlianaEvanglica, que se espera seja uma herdeira atualizada e brasileirada Aliana Inglesa de 1847 e suas marcas confessionais inegociveis.

    O quadro fracionado, confuso e divergente do protestantismo

    brasileiro no faz prever a criao de uma barca, onde caibamtodos os bichos, mas de uma frotilha, onde o nosso barco, deincio modesto, pretende estar aberta aos evanglicos, crentes eticos, comprometidos com a identidade e a unidade sonhadapelo Senhor da Igreja.

    As aes do nosso presente e os planos para o nosso futuro nopodero se dar sem a fidelidade ao legado do passado. Revitalizaro evangelicalismo em unidade, a despeito dos bices da poca

    (individualismo, subjetivismo, relativismo, hedonismo) a nossatarefa, ajudando-nos o Senhor.

    Cpt pt p t 1 Fm ai evgic,m 25 vmb 2011, m Bi, dF.

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    o m c evg

    oprotestantismo brasileiro de misso (1855-1909) foi estabe-lecido com um alto grau de consenso, mantido por maisde um sculo. As igrejas congregacionais, presbiterianas,metodistas, batistas, episcopais e crists evanglicas partilhavamde uma herana e de uma teologia em comum; um legado que,

    vindo da Reforma Protestante do Sculo 16, inclua traos depuritanismo, pietismo, avivalismo e movimento missionrio.Foi o mdico escocs Robert R. Kalley quem fundou a IgrejaEvanglica Fluminense, dando incio a um protestantismo queera sinnimo de evangelicalismo, originado na Gr-Bretanha da

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    12 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    primeira metade do sculo 19, e diferente do fenmeno localizadops-fundamentalista dos Estados Unidos, que surgiu um sculodepois. Tratava-se de um evangelicalismo que tinha suas razesem Wycliffe, na Reforma e nos seus desdobramentos com umanfase na autoridade das Sagradas Escrituras, nas doutrinas credaise confessionais partilhadas pelo cristianismo reformado (nasci-mento virginal, milagres, morte expiatria, ressurreio, segunda

    vinda) , na necessidade de converso seguida de um processode santificao e no mandato missionrio da Igreja. A despeito

    das diferenas de governo eclesistico, batismo, ceia do Senhorou liturgia, as igrejas protestantes (evanglicas) brasileiras foramedificadas sobre esse slido fundamento partilhado. Em quasetoda a Amrica Latina fomos um pas de protestantes evanglicos(evangelicais), algo evidente, comprovvel.

    A chegada do movimento pentecostal (1909) introduziuelementos de dissenso no campo da pneumatologia (dons

    espirituais), da eclesiologia (isolacionismo), da liturgia (expres-so de sons) e da moral (moralismo/legalismo); uma tendnciamais fundamentalista do que evanglica, mas que no rompeucom o ncleo comum que unia ambas as correntes. O mesmopode-se dizer das ondas pentecostais posteriores, como a dossinais e prodgios e a do movimento de renovao espiritual.Mantivemo-nos ao largo das propostas das instituies interna-cionais ecumnicas Conselho Mundial de Igrejas (liberal),

    Conselho Internacional de Igrejas Crists (fundamentalista) eFraternidade Mundial Evanglica (evangelical) nos anos 1940a 1970. Vivemos trinta anos (1934-1964) de fomento da unida-de, com a Confederao Evanglica; atravessamos os conflitosentre direita e esquerda durante a Guerra Fria (1945-1989);mas, no fundo, ramos todos crentes. Apesar das diferenassecundrias e de nossas cordiais rivalidades, nos considerva-

    mos parte de um mesmo povo: os evanglicos. Essa era a nossaidentidade e sentido de pertencimento. Programas de rdio eteleviso tinham um cunho evangelstico; e, se amos a um cultode qualquer denominao, a pregao era marcada pelas seme-lhanas e no pelas diferenas. Algumas misses de f enfati-

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    13o fiM do consenso evanglico

    zaram o fundamentalismo e a escatologia dispensacionalista; ereduzidos ncleos de intelectuais de tendncia teolgica liberal

    se estabeleceram em seminrios (mais de igrejas de imigraodo que de misso) e faculdades em algumas denominaes eregies, sem maior repercusso na massa dos fiis. A teologiada libertao foi mais influente em sua tica social do que emsuas premissas teolgicas liberais.

    O dissenso protestante se agravou com a chegada da teolo-gia da prosperidade e a teologia da batalha espiritual, e com o

    vertiginoso crescimento das igrejas ditas neo (isso/pseudo/ps)pentecostais, carentes de vnculos histricos, doutrinrios e teo-lgicos com a herana reformada e evanglica; sociologicamentepercebidas como seitas para-protestantes, cuja mensagem nadatem a ver com o que se pregou desde Kalley e o protestantismo(evangelicalismo brasileiro). O culto-aula deu lugar ao culto-show.Debilitou-se a escola bblica dominical e deixou-se de cantarhinos com contedo teolgico os quais foram substitudospor vagas odes divindade, que podem ser entoadas por qual-quer monotesta no-cristo. Com o crescimento numrico dasegunda e da terceira geraes, fomos alm da velha dicotomiamembro comungante versus membro desviado e passamosa ter os nominais, os ocasionais, os bissextos, os migrantes e oscrentes de IBGE, que confessam a f a cada dcada do Censo,pois no se garante a converso ou a ortodoxia de descendentes

    biolgicos ou adotivos.Enquanto as elites seculares foram atingidas pela ps-moder-

    nidade e por seus filhotes ideolgicos (secularismo, politicamentecorreto, multiculturalismo, agenda GLSBT), parcelas de nossaselites eclesisticas foram atingidas pela teologia liberal revisio-nista. Nossa base social continua majoritariamente evanglica.Porm, o mesmo no se pode dizer, lamentavelmente, de alguns

    dos nossos lderes. Alguns, por razes intelectuais, emocionais oumorais renegaram at agressivamente o seu passado, abenoado eabenoador; mudaram de lado, deixando o povo rfo ou confuso,pois, quando trocaram de contedo no substituram a etiqueta.Nem todo protestante mais evanglico, mas ns somos crentes!

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    Pm:vg

    uma marca da Idade Moderna ocidental foi a criao dos estadosnacionais, que substituram a fragmentao geogrfica dopoder do feudalismo e seus bares, os reis fracos, o imperador

    nominal e o poder temporal da Igreja de Roma. As soberaniasdesses pases eram identificadas com as pessoas de seus prpriossoberanos, o que Duverger denomina poder personalizado (ab-solutismo) e que deu origem mxima do rei Lus 14: O Estadosou eu. As revolues burguesas da Inglaterra, Frana e EstadosUnidos romperam com esse modelo, que foi substitudo pelo

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    15ProtestantisMo: vanguarda e atraso

    poder institucionalizado: o Estado Constitucional de Direito.O Estado como uma instituio regida por normas legais e

    legtimas, em que o cidado substitui o sdito, e os governantesso detentores eventuais e temporrios de um mandato regulado.

    Enquanto isso o Brasil, de 1500 a 1824, viveu sob o abso-lutismo e teve sua primeira Constituio imposta, dominadopor uma aristocracia, depois substituda por oligarquias aps asegunda Constituio, no patrimonialismo to bem estudadopor Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder. Tem sido toda

    uma luta histrica o ampliar a cidadania para as minorias reli-giosas, os indgenas, os negros, as mulheres e os brancos pobres.O formalismo democrtico tem maquilado a dura realidade daexcluso e da opresso.

    nesse pano de fundo que a chegada do protestantismo histricode misso entre ns a partir de meados do sculo 19 , represen-tado por congregacionais, presbiterianos, batistas, metodistas eepiscopais (anglicanos), representou um avano. Essas igrejas seconstituram em vanguardas, no somente porque advogavam aabolio da escravatura e a Repblica, ou o fim de uma religiooficial (regalismo/padroado), com a instaurao de um Estadolaico. Ou porque foram pioneiras na introduo da escola mista,dos cursos profissionalizantes, da educao fsica e da prtica dealguns esportes (basquetebol, voleibol). Ou porque popularizaramo uso da Bblia no vernculo.

    O vanguardismo decorria da sua prpria ideologia motiva-dora: promover uma f superior, a democracia e o progresso,que marcaram a retrica dos pioneiros estrangeiros e nacionais.O protestantismo foi vanguarda no Brasil principalmente pelaintroduo do poder institucionalizado em suas organizaeseclesisticas. Cada uma delas era uma instituio impessoal, comestatutos, definies doutrinrias, exigncias morais e forma de

    governo (congregacionalismo, presbiterianismo e episcopalismo),com suas esferas locais, regionais e nacionais. Os direitos e os de-veres a todos obrigavam (isonomia) e os seus dirigentes chegavam,exerciam e saam dos seus cargos segundo o que prescreviam asnormas, por mais brilhantes que eles fossem (e tivemos muitosservos brilhantes naquele perodo). Enquanto o Brasil vivia o

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    longo e doloroso parto da superao do poder personalizado pelopoder institucionalizado, com avanos e recuos, golpes e ditaduras(obra ainda no concluda), as igrejas protestantes deram, pormais de um sculo, um testemunho silencioso como instituiesde direito.

    No entanto, nas novas expresses do protestantismo, com seucrescimento fragmentado, o velho coronelismo, o antigo espritooligrquico, o clssico patrimonialismo, o mtico sebastianismo(com seus taumaturgos) do mundo cultural poltico brasileiro

    fez um caminho inverso: quando nosso Estado nacional e nossasociedade civil procuravam super-lo, ele adentrou, avassaladora-mente, s novas (e algumas velhas) igrejas e se instalou. A vanguar-da protestante foi substituda pelo atraso, ou pela vanguarda doatraso. Se nossos partidos polticos tm vida curta, so carentes deideologia e programas, centrados, na prtica, em um caudilho ca-rismtico (Vargas, Prestes, Plnio, Ademar, Brizola, Lula...), nossas

    novas grandes e pequenas denominaes comeam a girar emtorno de nomes, que quando falecem afetam suas instituies (deMelo, MacAlister), ou que esto vivos e ativos (Miranda, Oliveira,Macedo, Soares, Santiago, Hernandes, Milhomens, Rodovalho,Garcia etc.), descendo tambm ao mbito local, com os donos,caciques, bares, denominados bispos, arcebispos, missionrios,apstolos ou pastores, em um sem-nmero de igrejas-feudos ouigrejas-empresas. Parafraseando o rei absolutista francs, cada um

    pode dizer: A denominao sou eu, ou a igreja sou eu, essa a minha igreja, esse o meu povo. Em uma inverso emrelao ao passado, o dirigente no se subordina instituio ous normas; antes, estas vo ao seu reboque, casuisticamente. Opoder vitalcio (e, s vezes, hereditrio), e seu esprito vai atin-gindo antigas instituies, pela prtica de reeleies ilimitadas. Oscidados recuam ao status de sditos, manipulados, alienados,

    inclusive como eleitores de cabresto dos candidatos oficiaisnas eleies para os cargos pblicos.Como poderemos superar essa manifestao de atraso e voltar

    a ser vanguarda?

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    P-p:m vg,

    m p

    um grande equvoco cometido pelos socilogos da religio o de por sob a mesma rubrica de pentecostalismo doisfenmenos distintos. De um lado, o pentecostalismo pro-

    priamente dito, tipificado, no Brasil, pelas Assemblias de Deus; edo outro, o impropriamente denominado neopentecostalismo,melhor tipificado pela Igreja Universal do Reino de Deus. Umestudioso props denominar essas ltimas de ps-pentecostais:

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    um fenmeno que se seguiu a outro, mas que com ele no seconecta, pois neo se refere a uma manifestao nova de algo jexistente. Correntes de sociologia argentina j os denominaram deiso-pentecostalismo: algo que parece, mas no . Lucidez e cora-gem teve Washington Franco, em sua dissertao de mestrado naUniversidade Federal de Alagoas, quando classificou o fenmenorepresentando pela IURD de pseudo-pentecostalismo: algo queno . Um estudo acurado dos tipos ideais, Assemblia de Deus eIgreja Universal do Reino de Deus, sob uma tica sociolgica, ou

    uma tica teolgica, nos levar concluso que se trata de duasmanifestaes religiosas diversas, que no podem nem devem ser colocadas sob uma mesma classificao. Ao se somar, a partirdo Censo Religioso, esses dois agrupamentos, tem-se um alto ndicede pentecostais, constitudos, contudo, pelos que o so e pelosque no o so. Equiparar ambos os fenmenos no faz justia Igreja Universal e ofende a Assembleia de Deus.

    Podemos afirmar, ainda, um segundo equvoco dos analistas:considerar a IURD e suas congneres como evanglicas. Elasprprias, por muito tempo, relutaram em se ver como tal, preten-dendo ser tidas como um fenmeno religioso distinto, e terminarampor aceitar a classificao evanglica por uma estratgia polticade hegemonizar um segmento religioso mais amplo no cenrio doEstado e da sociedade civil. O evangelicalismo marcado pela cre-dalidade histrica e pela nfase doutrinria reformada na doutrina

    da expiao dos pecados na cruz e na necessidade de converso, ounovo nascimento.

    Se o pseudo-pentecostalismo no pentecostalismo, nem,tampouco, evangelicalismo, tambm no protestantismo. Odiscurso e a prtica dessa expresso religiosa indicam a inexistnciade vnculos ou pontos de contatos com a Reforma Protestante doSculo 16: as Escrituras, Cristo, a graa, a f. Chamar o bispo Macedo

    de protestante de fazer tremer o Muro da Reforma, em Genebra,e os ossos de Lutero e Calvino em seus tmulos. Muita gente temincludo a IURD, e assemelhadas, como pentecostais, evanglicas ouprotestantes, para inflar, de forma triunfalista, os nmeros, ou portemor de retaliaes legais, ou extralegais, vindas daquelas instituies.

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    19Pseudo-Pentecostais: neM evanglicos, neM Protestantes

    Se socilogos tm denominado manifestaes novas na cristandade,como as Testemunhas de Jeov, os Mrmons, ou a Cincia Crist,

    como seitas para-crists, podemos denominar a Igreja Universale congneres de seitas para-protestantes.

    O que se constata, cada vez mais, que o fenmeno pseudo--pentecostal tem concorrido para uma maior aproximao entreos pentecostais (j tidos como histricos, por sua antigidade emobilidade social e cultural) e as igrejas histricas. De um lado,os pentecostais redescobrem o valor da histria, de uma confes-

    sionalidade e de uma teologia slida; do outro, os histricos voflexibilizando (ou ampliando) a sua pneumatologia, reconhecen-do a contemporaneidade dos dons do Esprito Santo. O fossoentre pentecostais e pseudo-pentecostais tende a aumentar, nos pela aproximao entre pentecostais e histricos, mas tambmpela crescente adeso dos pseudo-pentecostais a ensinos e pr-ticas sincrticas, com o catolicismo romano popular e os cultosafro-amerndios. Quando estudantes de teologia assembleianos,batistas nacionais ou presbiterianos renovados aprendem comtelogos anglicanos (John Stott, J.I. Packer, Michael Greene,

    Alister McGrath, N.T. Wright), e anglicanos, luteranos ou pres-biterianos usam de um louvor mais exuberante e oram por cura elibertao, na expresso de Gramsci, um novo bloco histrico

    vai se formando (retardado pelo extremo fracionamento entreambos os segmentos), do qual, claro, no faz parte o pseudo-

    -pentecostalismo. Esse bloco histrico em formao, para seconsolidar, no apenas deve se conhecer mais mutuamente,somando conceitos e subtraindo preconceitos, mas tambm res-ponder aos desafios de um pluralismo que inclui a diversidade docatolicismo romano, o pseudo-pentecostalismo, o esoterismo, ossem-religio e um agressivo secularismo, emoldurado pelo relati-

    vismo ps-moderno. Isso passa, necessariamente, pelo aprender

    com a histria da igreja durante, depois e antes da Reforma e pela superao de uma iconoclastia que, equivocadamente,equipara o artstico com o idoltrico.

    Contamos com estadistas do reino de Deus, com humildade,viso e coragem para consolidar esse bloco?

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    dade

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    jesus Cristo criou uma s Igreja, Povo da Nova Aliana, nopara ser uma unidade invisvel, metafsica, neoplatnica,mas sim visvel, na Histria, institucional. As igrejas orien-

    tais so anteriores Igreja de Roma e nunca foram subordinadas

    a ela por jurisdio, muito menos por autoridade monrquica.A igreja assria do Leste (nestorianos), tendo como epicentro aPrsia, chegou ndia e China, quase dizimada pelos mongise pelo Isl. As igrejas pr-calcednicas Egito, Etipia, Sria,

    Armnia e ndia tambm, nunca foram vinculadas a Roma.

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    22 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    As igrejas bizantinas, a partir da sede do Imprio Romano doOriente, apenas reconheceram no bispo de Roma (que no era opapa tal como conheceremos posteriormente) um mero primadode honra, por estar na capital do Imprio do Ocidente.

    Um bom exerccio de honestidade intelectual ler a histriada Igreja a partir dos autores dos trs ramos da Igreja no Oriente:todos eles diro que foi Roma que se separou dos patriarcadosorientais, com a sua pretenso de uma autoridade monrquicacom jurisdio universal. A ambio desta de ser a Igreja no se

    sustenta nem bblica nem historicamente, e ter (por um milagre)de ser abandonada se quisermos um dia ter um s rebanho e ums pastor. Devero ser superados, tambm, o nacionalismo e otradicionalismo que engessam as igrejas do Oriente, impedindosua atualizao e engajamento na grande comisso.

    Os cristos no podem nem minimizar o valor dos pontos conver-gentes da Reforma Protestante do sculo 16, nem comear a histriada Igreja com a Reforma. O Esprito Santo esteve presente nos vintesculos de nossa histria, apesar dos erros, supersties e desviosque tenham surgido pela carne dos homens. O ncleo consensualreformado deve ser uma ferramenta hermenutica privilegiada paradiscernir o que manter e o que reformar no que se pensou e se fez,antes e depois da Reforma. Depois dela a Igreja de Roma oficiali-zou novos dogmas, e, juntamente com os bizantinos, canonizaramnovos santos. Trocou-se o livre exame pela livre interpretao e a

    Igreja deu lugar a seitas e denominaes. O liberalismo mandoupara o espao as escrituras, a tradio, os credos, as doutrinas e amoral, sacrificados no altar da razo e na arrogncia humana, hojesubjetiva, individualista e relativista. Revelaes particulares eprofetas auto-proclamados esquartejaram o Corpo de Cristo.Depois da Reforma sofremos o banho de sangue das Inquisies e aintolerncia legalista, moralista, sectria, antiintelectual (e, s vezes,racista) do neofundamentalismo. Surgiram as seitas para-crists dosMrmons, das Testemunhas de Jeov e da Cincia Crist, bem comoo neo/ps/iso/pseudo-pentecostalismo, cuja pretensa identidadeprotestante uma contradio em si mesma.

    A primeira reforma (anglicanos e luteranos), assim como aposterior reforma siriana da Igreja Mar Thoma, na ndia, nunca

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    23Protestantes: autnticos catlicos

    aceitou a anti-histria de uma apostasia geral. Nunca pretendeuuma ruptura total com o passado para criar ou re-fundar uma

    nova Igreja, mas, como o prprio nome diz, reformar a Igreja deCristo, nica, santa, catlica e apostlica, at ento presente emquatro jurisdies. Os corpos no reformados no quiseram sereformar, ou apenas se contra-reformar. Os protestantes no rom-peram, foram expulsos. Hoje, entre o neo-integrismo reacionriodos corpos no-reformados e o cipoal fragmentado dos corposdeformados incapazes de dar uma resposta ao Estado e ideo-

    logia secularista , almas sedentas clamam por uma Igreja de doismil anos. Igreja dos Pais da Igreja e dos Pais Apostlicos; Igrejados Reformadores, com uma rica herana histrica, espiritual,doutrinria e litrgica. Com tica e com esttica; com vitalidadee com santidade; com dinamismo e com profundidade. Como sacerdcio universal dos crentes e com o sacerdote especialdos vocacionados e ordenados: diconos, presbteros e bispos(sucessores dos apstolos). O futuro depende de um presenteque retome o passado.

    Da Pr-Reforma herdamos o fechamento do cnon bblico,o estabelecimento do ncleo doutrinrio contido nos Credos

    Apostlico e Niceno e o estabelecimento de uma forma de go-verno para a Igreja: o episcopado (...ao largo dos tempos, vai-secontinuando a sucesso dos bispos e a administrao da Igreja,de sorte que a Igreja sempre esteve estabelecida sobre os bispos, e

    todo ato da Igreja era dirigida por estes propsitos, Cipriano deCartago, De Unitate, 23.4). Da Reforma, a nfase na autoridadedas Sagradas Escrituras como fonte de revelao e a salvaopela graa mediante a f. Da Ps-Reforma herdamos a riquezasistematizada das confisses de f, o compromisso puritano, aespiritualidade pietista, a paixo avivalista e o ardor missionrio,o novo nascimento. Protestantes anticatlicos? No, catlicos

    reformados, verdadeiros catlicos!

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    ig:

    g p

    n

    o cenrio religioso mundial, vemos que as antigas religies bramanismo, budismo, etc. esto vivas e ativas, com seu

    antigo contedo. O Isl vem demonstrando agressiva vitalida-de e expansionismo, ultrapassando, em nmeros, a Igreja de Roma.Esta, sob Joo Paulo II e Bento XVI, parece estar cada vez menosinteressada nas multides nominais (embora no queira perd-las),do que em um ncleo enxuto, sintonizado e obediente aos seusdogmas e magistrio. As Igrejas do Oriente, depois de sculos de

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    25igreja: o futuro est no resgate do Passado

    opresso pelo Estado cesaropapismo, otomanos e comunistas ,vai despertando para a liberdade sempre marcada pela estabilidade

    dos seus patriarcas e metropolitas, embasados nos Pais da Igrejae nas decises dos conclios da Igreja indivisa, sem concesses sondas seculares. Essas manifestaes religiosas prezam por suasrazes e identidades, e delas no se envergonham. Enquanto oespao euro-ocidental, ex-cristo, vai recebendo levas de imigrantesno-cristos para substituir a mo-de-obra em sua egostica taxa denatalidade de quase zero, seus governos e suas elites intelectuais

    vo, com grande rapidez, transformando o Estado laico em Esta-do secularista. Neste apenas os ateus, agnsticos e materialistasseriam cidados de primeira classe, e a religio desqualificada,empurrada para fora da esfera pblica, para a irrelevncia dosespaos fechados dos templos e dos lares, ou das subjetividadesindividuais. O seu alvo principal o cristianismo (negao dahistria e da contribuio cultural), se iniciando um novo ciclo deperseguio. Esse secularismo fruto no s do Iluminismo, mastambm do liberalismo teolgico, com uma religio que nega a simesma. Lamentavelmente, o secularismo-liberalismo se consolidounos espaos protestantes. No somente a Reforma foi abandonada,mas tambm o prprio cristianismo, como entendido desde a suaorigem. Uma coisa atualizar linguagem, mtodos, nfases, estra-tgias; outra substituir conceitos e preceitos de uma religio quese pretende de revelao. Doutrinas e padres de comportamento

    so relativizados, e esses aloprados ainda esperam que uma pessoahumana normal adira a essa mixrdia!

    No Brasil, a declinante, mas ainda hegemnica Igreja deRoma, com sua diversidade, se move entre conter a debandadadas massas e estabelecer ncleos conscientes. As igrejas orientaisainda no saram dos guetos tnicos. O secularismo avana comos sem-religio, ou com os que querem vnculos sem com-

    promisso. O protestantismo no cresce, incha, com as igrejashistricas desorientadas, sem perceber o valor do seu depsito.O pentecostalismo vai se fragmentando em uma mirade deministrios: empresas centradas nos lderes. Os analistas que,lucidamente, desqualificam o carter protestante e evanglicodas seitas pseudo(neo)pentecostais so acusados de elitistas.

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    26 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    Ex-personalidades evanglicas abandonam, em autoflagelaoou sarcasmo, o seu passado, sucumbindo ao humanismo, ao secu-larismo, ao liberalismo ou a seus egos narcsicos, deixando umagerao sem heris. Nosso protestantismo histrico (congregacio-nalista ou presbiteriano) nasceu sob perseguio e tenso polmica,confundindo catolicismo (herana histrica) com romanismo.Sua identidade foi construda mais pelo antirromanismo do quepela afirmao das confisses de f e da teologia reformada, comcomportamento mais de seita do que de igreja, negando a ao do

    Esprito Santo nos 1.500 anos que precederam a Reforma, desco-nhecendo os 1.200 anos da cristandade oriental (a mais antiga).

    A insistncia nessa apostasia geral da Igreja e na mitificao daIgreja de Jerusalm (que adotaria os procedimentos parlamentaresdo sculo 16) no foi uma resposta adequada ao mito monocn-trico da Igreja de Roma como a Igreja original (da qual todasteriam sado), desconhecendo o carter policntrico das ss deixa-

    das nos primeiros sculos pelos apstolos e Pais apostlicos, queestabeleceram o cnon bblico, as doutrinas centrais nos credos,os sacramentos e o governo episcopal (com as ordens de bispos,presbteros e diconos), deliberando em conclio, do qual Roma que se afastou com sua pretenso. O protestantismo iniciou asua decadncia quando confundiu o livre exame com a livre in-terpretao. O protestantismo brasileiro aprofundou a crise, pelaignorncia ou rejeio da histria da Igreja indivisa. Identificou-se,

    erroneamente, episcopado com romanismo, desconhecendo-setanto a teologia, quanto a prtica, que essa foi a forma consensu-almente estabelecida em toda a cristandade j um sculo aps aressurreio de Cristo, e que a primeira Reforma representadahoje pelos signatrios, anglicanos e luteranos, do Acordo de Por-

    voo manteve o episcopado histrico, compartilhando-o comsuas Igrejas filhas atravs do mundo. Sem um retorno humilde,

    srio e sincero, ao passado, no sairemos da crise do presente,nem construiremos o futuro desejado pelo Senhor da Igreja, emverdade e unidade.

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    o m mp g

    aIgreja o que de mais importante existe no mundo. Criadapela vontade de Cristo, ela a agncia da salvao, ensaioe vanguarda da nova humanidade. Deus havia chamado

    Israel (obediente versus desobediente), e no passado nos faloupelos profetas, guardies da lei. A funo e o status de Israel a antiga aliana cessaram quando o vu do templo se rasgou.Hoje o judasmo e o islamismo so apenas religies semticasmonotestas. A Igreja o novo Israel, a nova aliana, e, como nosensina Pedro, herdeira dos ttulos e atributos do primeiro Israel:gerao eleita, sacerdcio real, nao santa, povo de Deus. Entreo antigo e o atual Estado secular de Israel (formado por 90% deateus e agnsticos) s h em comum a geografia e as mirabolantes

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    28 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    teorias de alguns protestantes. Os judeus (e todos os povos) devemser enxertados no novo povo, porque no h salvao em nenhumoutro nome seno o de Jesus.

    A crise da Igreja resultado da sua baixa autoestima, da faltade autocompreenso e conhecimento no somente sobre sua mis-so, mas tambm sobre sua natureza e organizao uma crise deidentidade em razo de uma ruptura com sua histria, suas razes.Como povo-instituio de Deus, a Igreja mais importante doque a famlia biolgica ou adotiva, do que o mundo do trabalho

    e do lazer, do que o Estado ou qualquer expresso da sociedadecivil. Ela portadora nica do sentido para as demais coisas oevangelho e o poder do Esprito Santo e nela onde se conviveno somente para o tempo, mas para a eternidade. A Igreja no apenas suas expresses localizadas: as comunidades locais, as tabasreligiosas com seus caciques ou as casas de shows para expressodas fogueiras da vaidade. A igreja vive hoje em pecado porque

    desobedece aos dois princpios basilares a ela destinados pelo seufundador e Senhor: a unidade e a verdade. O cisma (diviso do cor-po) deixou de ser considerado um grave pecado pelo desordenadodenominacionalismo; a heresia deixou de ser considerado um gravepecado pela crescente e ilimitada diversidade e inclusividade.Os cismas so heresias, e as heresias so cismas. Essa tragdia setransformou em rotina ante a indiferena de todos.

    Denominao uma palavra que no se encontra nas Sagra-

    das Escrituras nem na obra de nenhum autor relevante da histriado pensamento cristo antes do sculo 18. No um termo teolgi-co, eclesiolgico, mas apenas sociolgico, administrativo, jurdico,humano, corrente nos ltimos duzentos anos a partir da realidadeda livre empresa e do self-service religioso norte-americano.Quando a Igreja una, santa, catlica, apostlica e reformada dlugar a uma mirade de denominaes ou ministrios, o evan-

    gelho parcializado, a misso mutilada e vivemos na carne, pormais piedoso e espiritualizado que seja o nosso discurso. Afirmarque Deus me mandou criar um novo ministrio uma blasfmia.

    A Reforma Protestante foi um dos captulos mais importantesda histria da Igreja, mas o seu desdobramento em correntes

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    29o Mais iMPortante a igreja

    extremadas fez com que o beb fosse jogado fora junto com a guado banho. Ela preocupou-se com a autoridade (das Escrituras) e

    com a salvao (pela graa mediante a f em Jesus) e se descuidouda eclesiologia, do estudo da prpria Igreja. A instituio quedeveria garantir a preservao dessas verdades logo foi atropeladapelo racionalismo liberal ou pelo literalismo fundamentalista.O livre exame, de livre acesso e investigao, deu lugar livreconcluso. Ao contrrio da criao, a Igreja se tornou sem for-ma e vazia. A releitura das Escrituras pela burguesia europeia,

    1600 anos depois, fez os congregacionais tomarem o embrio eos presbiterianos tomarem o feto como se j fosse o ser nascido(institucionalizado) fato que a histria atesta ter acontecido(muito cedo) somente com a consolidao do episcopado. Porsua vez, a pretenso da Igreja de Roma (e de alguns ramos daortodoxia oriental) de ser a Igreja, em uma viso monocntricada histria, no faz justia verdade policntrica das ss e dospatriarcados deixados pelos apstolos em diversas regies. Foino Oriente que viveu a maioria dos Pais da Igreja e onde acon-teceram todos os Conclios da Igreja indivisa (responsveis peloconsenso dos fiis); ainda assim, 1.200 anos de histria da Igrejano Oriente (perodos bizantino, pr-calcednio, pr-efesiano ouuniata) representam apenas algumas notas de rodap ou algu-mas linhas nas obras dos historiadores catlicos romanos ouprotestantes (anabatistizados). Ficamos vulnerveis com essa

    lacuna, em uma poca de desprezo pelo passado e de arrognciaindividualista e imediatista. A universalidade da Igreja, com amultiforme manifestao da graa de Deus em todo o mundo, mutilada pela hipervalorizao (quase exclusiva) do que nos

    vem do imprio do momento. Como foi mesmo a definio docnon bblico, das doutrinas dos credos, dos sacramentos e dogoverno episcopal?

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    am c ig

    aIgreja nasce da mente e do corao perfeitos de Jesus. opovo da nova aliana, de todos os povos, que tem a missode salvar, santificar, sarar, exorcizar, transformar, apontan-

    do, ensaiando e anunciando a presena e a plenitude futura doreino de Deus. inegvel a iniciativa e a importncia da Igreja,que recebeu de Jesus o sopro do Esprito Santo, que a assiste ata consumao do tempo. Os problemas da Igreja no esto nasua iniciativa divina que a v como mistrio/sacramento nahistria e como a noiva das bodas finais , mas da sua composiohumana. Nela sempre haveria trigo e joio, e a ns no caberiafazer a separao entre ambos. Nela apareceriam sempre falsosprofetas com outros evangelhos. Nela estariam os que nunca

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    31aMar a cristo e a sua igreja

    foram e as sementes que nunca germinaram. Nela estariam oscarnais, que no se deixariam trabalhar pelo Esprito Santo.

    Historicamente, a Igreja teve seus bons e maus momentos, mastem subsistido h dois mil anos. Periodicamente, tem carecidode reformas e avivamentos para corrigi-la dos seus desvios. Docorao do Senhor nos chegam duas preocupaes centrais: apreocupao com a unidade, para que todos sejam um, e apreocupao com a verdade: o Esprito conduz a toda a verdade.

    A diviso do Corpo atenta contra a verdade; e a unidade sem

    verdade uma falsa unidade. A Igreja portadora de doutrinas,de verdades reveladas, universais e permanentes, sistematizadase confessadas, emanadas das Sagradas Escrituras, legadas pelatradio apostlica e pelo consenso dos fiis.

    Confessamos com o Credo Niceno: E cremos na Igreja,Una, Santa, Catlica e Apostlica. A Confisso de Augsburgo,luterana, de 1530, em seu artigo oitavo ensina: a Igreja crist,propriamente falando, outra coisa no seno a congregao detodos os crentes e santos.. E a Confisso Helvtica, calvinista,de 1562, afirma: Segue-se, necessariamente, que esta umas Igreja... por isso chamamos de catlica, porque universal.Emil Brunner, em O Equvoco sobre a Igreja, chama a atenopara a autoridade apostlica: E o que eles receberam deve serpassado para o mundo... tem o peso pleno da autoridade final.Sem os apstolos no haveria cristianismo... sem a autoridade

    divina dos apstolos no haveria a Ecclesia. Aprendemos comos apstolos pela leitura do Novo Testamento, mas aprendemostambm com a gerao seguinte, os pais apostlicos (discpulosdos apstolos), e com a seguinte, os Pais da Igreja (discpulosdos discpulos dos apstolos). Eles tomaram trs decises fun-damentais para a Igreja como instituio: 1) o estabelecimentodo prprio cnon (quais livros deveriam ou no integrar o

    Novo Testamento), fechando a revelao escrita especial; 2) oestabelecimento da doutrina (o que deveria ou no deveria sercrido), o que foi feito, principalmente, com a redao do Credo

    Apostlico e do Credo Niceno; 3) o estabelecimento de umaforma de governo, o que foi feito com o episcopado histrico,to bem elaborado, no sculo segundo, por Incio de Antioquia

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    32 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    e Irineu de Lyon, e, no sculo terceiro, por Cipriano de Cartago.Esses princpios permanecem inalterados, no Ocidente e noOriente, at a Reforma Protestante do Sculo 16.

    Cristo no criou uma Igreja de anjos, mas de pessoas humanas,que deveria ser uma s instituio, o que, pelo pecado, nuncaocorreu. As instituies no apenas so inevitveis para a vida emsociedade, como tambm fazem parte da capacidade criativa dahumanidade, no exerccio do mandato cultural recebido do Cria-dor. Os apstolos foram o epicentro dessa nascente organizao,

    continuada e consolidada por seus sucessores: os bispos. Nuncativemos um nico centro administrativo, mas diversas ss, situadasnas cidades-chaves do Imprio Romano, com superviso sobreas regies vizinhas, com destaque para as capitais: no Oriente,Constantinopla; no Ocidente, Roma, alm de Jerusalm, Antio-quia e Alexandria. Diferenas culturais e de pontos doutrinriostpicos concorreram para a fragmentao da cristandade antiga

    em quatro ramos histricos: A Igreja Assria do Leste (nestorianos),os pr-calcednios (sirianos, armnios, coptos, etopes e indianos),os bizantinos e os romanos, sendo que os dois primeiros nuncaestiveram sob jurisdio dos dois ltimos, e Bizncio nunca estevesubordinado ao bispo de Roma, apenas nele reconhecendo umprimado de honra. Iniciamos o sculo 16 com quatro ramos docristianismo e terminamos a era da Reforma com onze. Diantedo caos institucional posterior, emanado dos Estados Unidos nos

    ltimos duzentos anos, com 38.000 denominaes, devemosreconhecer que o caminho da cura para a Igreja passa pela voltaaos ensinos da Reforma (que se pretendeu uma reforma e nouma refundao), bem como pelos ensinos de antes da Reforma,dos apstolos aos pr-reformadores. Sem passado no h presentee no haver futuro. No meio de tantas doutrinas e doutrinas,nos falta conhecer a doutrina da Igreja.

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    P 3

    v

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    cm,m

    arealidade do sculo 21 que a democracia no um valorou uma prtica universal, e a liberdade religiosa umaexceo nos Estados teocrticos, confessionais ou ateus.As restries, discriminaes, violncias e migraes foradasatingem milhes de cristos sob a dominao do islamismo, dobudismo, do bramanismo ou do comunismo. O Ocidente silenciadiante das violaes aos direitos humanos. Os interesses polticose econmicos falam mais alto. A nica ao poltica possvel paraos cristos a luta pela sobrevivncia.

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    35cristianisMo, secularisMo e cidadania

    O sonho de uma era de liberdade aps a queda do Muro deBerlim ficou distante. O fato novo e inesperado tem sido o

    surgimento de uma nova onda de intolerncia, discriminao eperseguio religiosa contra as expresses do monotesmo de re-

    velao (particularmente o cristianismo) no Ocidente ps-cristo,no mundo dito civilizado, no qual o cristianismo foi uma inegvel

    varivel histrica e cultural.Na Europa, o secularismo avanou rapidamente, como des-

    dobramento do iluminismo e do racionalismo, e do vazio exis-

    tencial trazido pelo liberalismo teolgico, enquanto imigrantesno-cristos e sem tradio democrtica ocupavam o lugar dosnacionais que no nascem. Estados Unidos, Canad, Austrliae Nova Zelndia vo abjurando do seu passado cristo.

    O multiculturalismo, o politicamente correto, a cultura damorte (aborto, no-procriao, homossexualismo, eutansia), aagenda GLSTB lastreiam uma ps-modernidade que, negadorade qualquer verdade, afirma o individualismo, o subjetivismo e orelativismo. O nico absoluto o relativo, na licitude da diver-sidade ilimitada. Sob a falsa retrica da defesa de um desejvellaicismo, minorias organizadas no aparelho do Estado, na acade-mia e na mdia de fato partidria e leninista promovem essaideologia nos aparelhos ideolgicos (imprensa, entretenimento,educao) e coercitivos (legislao, judicirio, polcia).

    No Reino Unido, algum recentemente afirmou: Trocamos

    uma cultura religiosa de tolerncia por uma cultura no-religiosade intolerncia. Essa ideologia impe o Estado contra a nao,e a lei contra a cultura. O argumento religioso desqualificado vedada sua expresso no espao pblico ou sua influncia naformulao das polticas pblicas empurrado sob varas para airrelevncia social das subjetividades ou para o espao privado doslares e dos templos. Afirmar os valores cristos vai se tornando

    um ato de delinquncia, e, dos direitos civis dos homossexuais,se passa para a obrigatoriedade da sua normalidade.Em uma globalizao assimtrica e unilateral, com um centro

    e vrias periferias, a intolerante ideologia do secularismo chegaat ns, e j uma realidade no Brasil, com militantes em todosos partidos e esferas do poder. A existncia de uma expressiva

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    populao catlico-romana e o crescimento de uma populaoprotestante (ambas com convices e lderes articulados) se mani-festou nas reaes necessrias embora muitas vezes desordenadas,incoerentes ou interesseiras nas ltimas eleies presidenciais,no conflito com o secularismo que distorce o laicismo e tenta,mais uma vez, colocar o Estado contra a nao.

    O desafio est diante de ns, cada vez mais ameaador, e dedesdobramentos imprevisveis. Enquanto isso, uma parcela doprotestantismo, em guetos, ainda cultiva o isolacionismo, a alie-

    nao poltica e a irresponsabilidade cvica, a ascese individual ea busca do alm-mundo. Uma parcela crescente busca o poder ea prosperidade j nesse mundo. Grupos que, por muito tempo,cultivaram a alienao, chegaram esfera pblica sem reflexobblico-teolgica ou conhecimento dos fatos e pensamentos sociaisda igreja, pois o moralismo-legalismo substituiu a tica social, ea concepo de pecados sociais e estruturais. Com uma viso

    corporativista e clientelista, participam do mundano realismo( dando que se recebe), com episdios escandalosos. H quemsalte de Davi Dilma, presos aos paradigmas do antigo Israel, noescondendo uma tentao teocrtica, como cabea e no comocalda (um rei ou um aiatol evanglico...), carentes de humildadee de contribuies das cincias humanas.

    Histricos e pentecostais srios, porm atingidos pelo pessi-mismo anabatista ou pr-milenista/pr-tribulacionista, ou pelo

    comodismo-consumismo, se esqueceram da viso de participaoconstrutiva de uma cidadania responsvel e promotora dos valoresdo reino de Deus, dos missionrios pioneiros e de geraes deprotestantes brasileiros; ou da viso de uma misso integral nomundo, onde, dentro das regras democrticas, devemos defendernossos lcitos interesses, e travar lcitos embates polticos pelapreservao dos valores da nossa cultura, dos direitos naturais e

    do bem comum, tendo as instituies eclesisticas, os indivduose os movimentos de inspirao crist papis diferenciados e com-plementares.

    O divisionismo e a desorganizao dos evanglicos, contudo,apenas agravam o problema; mas, sob a Providncia, uma novarealidade poder surgir, para a relevncia da igreja e o bem do pas.

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    o m

    oque tem sido o cristianismo em sua histria? No umaseita judaica, mas a realizao do que foi preconizado pelojudasmo, povo da primeira aliana, com um monotesmo

    e uma tica de revelao. O Messias anunciado pelos profetasfinalmente chega. Tudo isso no poderia ter se acabado em poucotempo? Surge a Igreja, povo da segunda aliana, com destinaouniversal: fazer discpulos em todas as naes. Para se expandirto rapidamente o cristianismo tinha de ser portador de umcontedo, que chamamos de doutrina, definido nos Credos

    Apostlico e Niceno, em relao aos divergentes, de fora e dedentro: 1) a Santssima Trindade: Pai, Filho e Esprito Santo; 2)as duas naturezas de Cristo: divina e humana; 3) a concepo

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    38 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    virginal; 4) a morte vicria; 5) a ressurreio; 6) a segunda vindacom o Juzo Final; 7) a ressurreio dos mortos e a vida eterna; 8)a Igreja; 9) o batismo. Milhares foram queimados vivos, trucidadospelos gladiadores, estraalhados pelos lees, pela crena inabalvelnessas verdades.

    Antes de serem definidas no papel, essas doutrinas j eramcridas e compartilhadas pela comunidade de f, transmitidas comoherana apostlica, com a identificao simblica da cruz, do poe do peixe, do alfa e do mega, na partilha do po e do vinho,

    em que a Eucaristia (ao de graas) substitui a Pscoa, porque oCordeiro j fora imolado. Na adorao, nos cnticos, na Ceia doSenhor, se estabelece a liturgia.

    Algo mais importante precede a doutrina, os sacramentos e aliturgia: a definio do cnon bblico do Novo Testamento. Juntocom o Antigo Testamento, ali estava o texto (no um texto, ouum dos textos), escrito por homens inspirados por Deus a edificarhomens leitores e ouvintes iluminados por Deus, com as narrativasdos feitos do Senhor e do seu povo, com os seus mandamentose estatutos. Alm da revelao natural (os cus, a conscincia), arevelao especial, escrita, apontava para a revelao viva: a pessoade Jesus Cristo.

    Poderiam estas coisas acontecer sem milagres, sem o transcen-dente, a interveno do cu, a ao do Esprito Santo apontandopara a cruz sangrenta e o tmulo vazio, transformando coraes,

    derramando dons, dando vida mera existncia, com um projetode reino de Deus? Esses indivduos formavam comunidades, seorganizavam, criavam normas, estabeleciam autoridade; na pleni-tude de sua humanidade, se institucionalizavam. A igreja povoe instituio, indissociveis. Como o primeiro Israel, o segundoconhece altos e baixos, grandezas e misrias, verdades e erros,santidade e dissoluo, obedincia e desobedincia. Porm, ofundador no tinha prometido estar com ela at o fim? No disseraque sobre ela as portas do inferno no prevaleceriam? Que ensinoestranho esse de um Esprito Santo que assistiu apenas o povo,mas no a instituio! Reformas sempre existiram, e uma grandeReforma veio, nada acrescentando, mas construindo o futuro peloresgate do passado.

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    39o contedo do cristianisMo

    Apesar de lendas to caras a alguns segmentos, nunca houveum s centro de poder, normatizao e irradiao do cristianismo.

    Acompanhar a vida e a morte dos apstolos, o estabelecimentodas ss e dos patriarcados (nestorianos, pr-calcednios, bizan-tinos e latinos) ser edificado por essa verdade de uma histriapolicntrica. Porm, nessa diversidade de ramos (alguns compretenso de exclusividade) havia ou no um amplo consensodos fiis atravs do espao e do tempo? O Esprito Santo moviaou no esse consenso? H quem julgue que o Esprito Santo

    tirou frias com a morte de Joo, em Patmos, e apenas regressoucom o nascimento de Lutero, ou o que mais grave com onascimento da sua denominao ou ministrio um dia desses...Somos partcipes de uma instituio e de um povo de dois milanos; somos herdeiros de todo esse passado, que deve ser, muitas

    vezes, purificado; tantas vezes atualizado, mas sempre valorizadoe reverenciado. Igreja militante, dos ainda vivos; igreja triunfante,dos que j partiram, juntas formando o que os credos designamcomo a comunho dos santos.

    Deixando de lado o extico, o pitoresco, as novidades, as vai-dades, o personalismo, a imitao, e encarando com honestidadea histria da igreja, no foi esta em seus diversos ramos geridapor integrantes de trs ordens (diconos, presbteros e bispos),do segundo sculo ao sculo 16, fossem esses ramos orientaisou ocidentais? Essas ordens foram mera criao humana? Repre-

    sentaram apenas um grande equvoco? Uma epidemia universalde erros? Ou teriam sido resultado da assistncia do EspritoSanto? O equvoco, eclesiolgico, de autoridade, no estaria,ento, com as novas classes europias, que mais de um milnioe meio depois resolvem reler a Bblia e a histria a partir dasua tica e ideologia etnocntricas, criando, de laboratrio, opresbiterianismo e o congregacionalismo?

    Com o fundamentalismo bitolando, o pseudo-pentecostalis-mo distorcendo e o liberalismo negando, no estaramos hojediante de outras religies?

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    a g m ig b

    a t s cz

    Imigrao de matriz europeia (como o Luteranismo) e noAnglicanismo. No incio do sculo XXI, vamos testemunhar aconsolidao da sua hegemonia nessas igrejas, enquanto o velhoou clssico liberalismo moderno, racionalista, vai sendo substitu-

    do pelo liberalismo ps-moderno, subjetivista e relativista, umverdadeiro cavalo de troia, aliado ideologia do Secularismo(governos, mdia, academia, artes), do Multiculturalismo, doPoliticamente Correto e da agenda GLSTB (Gays, Lsbicas,Simpatizantes, Transexuais e Bi-Sexuais).

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    41a teologia da Misso da igreja no brasil

    Esse pensamento, com pretenso de nova vanguarda, vaiconseguindo adeso de parcelas da liderana ex-evanglica brasi-

    leira, inclusive de ex-militantes das organizaes que sustentavama Misso Integral da Igreja, como a ABU, a Viso Mundial e aprpria FTL. No caso de setores dessa ltima, com explcitarejeio dos seus postulados histricos e das propostas dos seusfundadores, agora transformada em, apenas, um centro de altosestudos pluralista.

    Os defensores da Misso Integral, at a pouco considerados

    avanados pela maioria conservadora, passam, agora, a sertachados de atrasados, superados ou homofbicos.O cenrio internacional tambm sofreu mudanas. O ciclo

    fecundo de encontros e textos, promovidos pela Comisso deLausanne para a Evangelizao Mundial (LCWE) e pela AlianaEvanglica Mundial (WEF) vai se encerrar. A direita religiosa epoltica passa a substituir os pensadores do Terceiro Mundo,como liderana do movimento de Lausanne, a partir dos Con-gressos de Evangelistas Itinerantes, realizados em Amsterdam, nosanos 1980, sendo o prprio Congresso Lausanne II, em Manila,Filipinas, 1989, no que pese o aumento de participantes, o luxode sua hospedagem, ou a parafernlia eletrnica ao seu dispor,foi uma plida imagem do anterior, impossibilitado de manter,atualizar e fazer avanar o Pacto de Lausanne, concluindo com umtexto dbil, contraditrio e confuso, no aprovado, mas apenas

    recomendado para estudo.No Brasil, como em outros pases, o Evangelismo Integral, em

    lugar de ter de lutar contra utopias polticas, vai se ver s voltas oracom sesses de descarrego, ora com as paradas do orgulho gay...

    a M ig s f

    O mundo mudou muito desde a fundao da FTL e o Con-gresso de Lausanne. A Teologia da Misso Integral da Igreja aindaseria atual e relevante?

    verdade que o mundo mudou muito: o fim da bipolarizaoEEUU vs. URSS, com o trmino da Guerra Fria, hoje com

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    uma nova (des)ordem internacional monopolar do ponto devista poltico, ideolgico e militar, e oligopolar do ponto de vistaeconmico. O Fim das Utopias, o pensamento nico do libera-lismo econmico capitalista, a superao da modernidade e dosseus pilares (bondade natural, progresso, cincia, utopias globais)e o surgimento da ps-modernidade (subjetivismo, relativismo),as ondas do multiculturalismo, do politicamente correto e daagenda GLSTB. A fome e a misria continuam, contudo, a seagravar em todo o mundo, bem como os conflitos localizados e os

    milhes de desalojados e refugiados. A terra geme pela agresso aoecossistema. H um grande avano tecnolgico, uma circulao debens e capitais, e uma privao de circulao de pessoas. O trficode drogas e o terrorismo so temas prioritrios.

    O Brasil nasce sob a cruz e a espada. Portugal se expandia, tendoo rei como chanceler da Ordem de Cristo, sucessora da Ordemdos Templrios, com o propsito de fazer avanar a F e o Imprio.

    As caravelas, que circundaram a frica, descobriram o caminhopara as ndias, se estabeleceram em Malaca, em Goa, em Macau,ou descobriram o Novo Mundo, levavam seus Capeles. Emboraum empreendimento militar, poltico e econmico, as navegaeslusitanas estavam imbudas de uma ideologia missionria: levara civilizao e a f. O Padre Antonio Vieira, posteriormente, iriasistematizar com maestria essa leitura de um Portugal como povoescolhido, somente reeditado pelos Peregrinos fundadores dos

    Estados Unidos da Amrica.Da, o Frei Henrique de Coimbra e a Primeira Missa, a Ilhade Vera Cruz e a Terra de Santa Cruz. A realidade, porm, que Portugal era um pequeno pas, com cerca de um milho dehabitantes, com pouca gente para povoar e defender um grandeimprio, e com um nmero inferior de clrigos que o necessriopara promover a tarefa evangelizadora. O Brasil ficou na primeiramissa, com escassas segundas. Por dois sculos aqui vieram oshomens, deixando chorosas as mulheres no porto de Lisboa, soba mxima que alm do Equador no h pecado, em busca do ouro,da riqueza rpida, e dos intercursos ertico-afetivos descomprome-tidos com ndias e africanas, como bem analisou Vianna Moogem seu clssico Bandeirantes e Pioneiros. Um pas sem padres

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    e sem sogras j nasce com um dficit de conscincia inibidora,um dficit de superego.

    A religiosidade se consolida de forma superficial, com dbeisvnculos institucionais, com uma catequese deficiente, supersti-ciosa, sincrtica, folclrica, tendo como fonte principal as razesibricas, com o culto aos santos, as festas, as romarias. O perodocolonial traz a ideologia guerreira, da misso libertria contra osmouros islmicos, o Cristo-Rei, a Cristandade como escatologiarealizada (ps-milenista). Houve intentos missionrios srios,

    especialmente por parte dos Jesutas, mas o clero secular, emuma rotina montona de proviso dos Sacramentos e Ritos depassagem, vivia dependente dos senhores das sesmarias, e, comfrequncia, com mulher e filhos, guardando o celibato, mas noexatamente a castidade.

    Templos foram erguidos, cruzes erigidas, em um visual mar-cado pela presena dos smbolos religiosos cristos.

    Os franceses huguenotes tiveram duas breves passagens poraqui: no Rio de Janeiro e no Maranho. No Rio foi celebrada aprimeira Santa Ceia do continente, e redigida a primeira Con-fisso de F reformada nas Amricas. Os holandeses, tambmreformados, chegaram a se estabelecer no Nordeste, com umprimeiro experimento no Novo Mundo de uma sociedade multi-cultural e com liberdade religiosa, especialmente para os judeus,que no Recife abriram a sua primeira sinagoga. A reconquista

    luso-catlica, que expulsa os holandeses que daqui saem parafundar Nova York , nos trar de volta o monoplio da Igrejade Roma e a Inquisio.

    A Civilizao Catlica de Cristandade se manteve com asCapitanias Hereditrias, os Governos-Gerais, o Reino Unido dePortugal, Brasil e Algarves, aps a vinda da famlia real no inciodo sculo XIX, com a Independncia e o Primeiro e Segundo Rei-

    nados, sob a gide da Constituio Imperial outorgada de 1824,garantidora dos seus privilgios e das restries draconianas aosdireitos de cidadania dos seguidores de outras religies, ausenteo conceito de liberdade religiosa.

    A vinda do Protestantismo de Capelania, com os inglesesvivenciando sua f isolada, com sua conscincia de uma presena

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    transitria em nosso pas, no trazia nenhuma proposta missionria,a no ser a proviso das suas prprias necessidades, sem qualquerimpacto na vida nacional. O mesmo se diga do Protestantismode Imigrao, com suos e alemes, com suas colnias agrcolas,apenas transplantando a sua cultura de origem, assistida, muitolentamente, por escassos pastores e catequistas. E assim seria, pormuito tempo, em um isolamento espacial e cultural.

    Henry Martyn, missionrio ingls anglicano, a caminho dandia e da Prsia, onde morreria jovem, aps um ministrio breve

    e fecundo, tem o navio em que viajava ancorado em Salvador,Bahia, por alguns dias, para reabastecimento. Desce terra firme.Faz contato com os nativos. Fica impressionado com o nmerode cruzes, no topo das Igrejas, nos cemitrios, nos morros, aomesmo tempo em que o povo parecia no compreender o sentidoe as implicaes da mesma: Cruzes em profuso. Mas, quandoser que esse povo ouvir com clareza a pura mensagem da cruz?,

    escreveu, prevendo a necessidade de um Protestantismo de Missonessas terras.E o que ocorrer a partir de meados do sculo XIX.

    a b m z

    A Cristandade no Brasil estava estabelecida por trs sculos. O

    vnculo com o Estado era de subordinao e no de tutela, nomodelo do padroado ou regalismo. Com a Independncia, o Im-perador do Brasil feito sucessor na nova nao da chancelariada Ordem de Cristo, com o clero funcionrio pblico, com oEstado arrecadando os dzimos, nomeando os bispos e provendoos salrios. O modelo poltico era de excluso: dos indgenas, dosescravos, das mulheres, dos brancos pobres, dos no catlicos roma-nos. Com o segundo Reinado viria uma Igreja debilitada, carentede quadros, enquanto o Liberalismo poltico, o Positivismo e aMaonaria cresceriam sua presena entre setores ilustrados daselites, principalmente na Corte. A abertura dos portos s naesamigas nos colocaria sob a influncia inglesa em todas as reas,menos na religio.

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    A presena de protestantes batistas, metodistas e presbiterianosentre os confederados derrotados na Guerra da Secesso, vindos

    dos Estados Unidos, principalmente ao Estado de So Paulo,onde fundam a cidade de Americana, tambm se insere nomodelo no missionrio da imigrao.

    nesse contexto que aqui chega, em 1855, o mdico e pastorescocs Robert R. Kalley, fugindo da perseguio religiosa portu-guesa na Ilha da Madeira. Funda as primeiras Igrejas evanglicasentre brasileiros no Rio de Janeiro, Niteri, Petrpolis e Recife.

    Sua esposa d incio Escola Bblica Dominical, e compila oprimeiro hinrio, denominado Salmos e Hinos. Kalley se rela-ciona com a Corte, trava amizade com o Imperador, e convertemulheres da aristocracia. O seu ministrio a raiz das Igrejascongregacionais e crists evanglicas. Em 1859, a vez do pri-meiro missionrio presbiteriano, Ashbel G. Simonton, fundadordo jornal Imprensa Evanglica, a ser veiculado para o grandepblico. Depois, teremos a presena de metodistas, batistas eepiscopais, no que se denominou de Protestantismo de Misso,e cuja presena na segunda metade do sculo XIX to bem foidescrita por David Gueiros Vieira, em seu Protestantismo,Maonaria e a Questo Religiosa no Brasil.

    semelhana dos portugueses catlico-romanos do sculoXVI, os anglo-saxes protestantes do sculo XIX tambm tra-ziam uma viso prpria de misso de carter civilizatrio: uma

    f superior, o progresso e a democracia, para um pas atrasado,oligrquico, idlatra e supersticioso. Dedicado Glria de Deuse ao Progresso Humano, o que se l no prtico da Capela doprimeiro colgio protestante do Brasil.

    Na bagagem ideolgica, a herana da Reforma Protestante, doPuritanismo, do Pietismo, do Avivalismo e do Movimento Missio-nrio, a ruptura com a ordem medieval, sua rigidez estamental e

    o seu modo de produo feudal, abrindo caminho para o indiv-duo, a burguesia, o modo de produo capitalista, a democraciarepresentativa. O Evangelho pregado, a Bblia disseminada(tantas vezes queimadas em pblico, autos de f, como falsas),mas se procura criar uma linha de navegao com os EstadosUnidos, promove-se uma exposio industrial, e se posiciona

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    contra a escravido, a monarquia e o vnculo entre Igreja e Estado.Quando Rangel Pestana e Quintino Bocaiva fundam o primeiroclube republicano, embrio do futuro Partido Republicano,como dissidncia do Partido Liberal, dos escassos oito membros,dois eram protestantes. No foram as escolas missionrias tidascomo celeiros de republicanos? E o histrico feito da primeiraIgreja Evanglica Fluminense de exigir dos novos membros quesomente fariam sua pblica profisso de f se libertassem, antes,os seus escravos, dando-lhes cartas de alforria?

    As rgidas restries s religies, at ento toleradas, chegamao fim, ao nvel legal, com a Repblica e a Constituio de 1891.Sem o amparo do Estado, porm, a Igreja Romana, que mandada Europa levas de missionrios e expande o seu nmero deDioceses, d incio a uma implacvel perseguio social contra asnovas-seitas, que, embora lentamente declinante, prossegue ata dcada dos anos 60 do sculo XX e o Conclio Vaticano II, sob

    o papa Joo XXIII.A Bblia de edio protestante, da Sociedade Bblica Britnicae Estrangeira, comeou a chegar ao Brasil com a famlia real e oTratado de Amizade, Navegao e Comrcio entre o Brasil e aGr-Bretanha. Os colportores, ou vendedores de Bblia, e os mis-sionrios, adentraram os nossos sertes, muitas vezes montadosem mulas para divulgar a palavra de Deus a uma populao deanalfabetos. A leitura da Bblia foi um desafio para a alfabetizao.

    Pelos jornais, atas e relatrios, podemos perceber que no haviaum unilateralismo espiritualizante, de apenas salvar almas emnossos pioneiros. Como eram escatologicamente ps-milenistasou amilenistas, tinham uma percepo de uma f sociolgica ehistoricamente presente, uma ideia de uma f encarnada, com oscristos presentes, como sal e luz, fazendo uma diferena. Nesseprocesso, podemos destacar a fundao, praticamente em todo o

    Pas, de colgios evanglicos, que atraam a nascente classe mdiaurbana e mais cosmopolita, e provia de bolsas para os mais pobres,e o seu pioneirismo como escolas mistas, profissionalizantes (comcursos tcnicos comercial, agrcola e industrial), a introduo dadisciplina Educao Fsica e a prtica pioneira de esportes como

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    basquetebol e voleibol, com uma viso mais integral do serhumano, e menos mrbida em relao ao corpo e positiva em

    relao ao valor do trabalho.O presidente Caf Filho, em seu livro de memrias, afirma:

    Foi na Escola Missionria (presbiteriana, de Natal, RN) queaprendi a amar a Democracia. O presidente Itamar Franco, umrfo, conseguiu estudar mediante uma bolsa de jogador de fute-bol de um colgio evanglico (metodista, de Juiz de Fora, MG). Ainfluncia de valores cristos atingiu amplos setores da populao,

    inclusive as elites. Minha converso se deu em um desses colgios(O XV de Novembro, presbiteriano, de Garanhuns, PE). No sepode negar o esforo das Igrejas protestantes para alfabetizao,inclusive de adultos, para a leitura da Bblia e para a educaoformal, elevando o nvel cultural de muitos. As converses e aalfabetizao promoveram pessoas profissionalmente, libertarammuitos do vcio, estimularam a tica e a sobriedade, reduzirama violncia e fortaleceram a instituio familiar, enquanto esti-mulavam o exerccio responsvel da cidadania, mesmo sendouma reduzida minoria. Isso demonstra que a influncia cristno depende de nmero, mas de convices e vises, de umconceito de misso. A Escola Bblica Dominical foi pioneira nacompreenso de uma educao continuada.

    Essa viso integral foi demonstrada por inmeros exemplos,e gostaria de destacar a presena dos Butler pai e filho como

    pastores-mdicos na cidade de Canhotinho, em Pernambuco,em uma regio empobrecida e extremamente carente na reade sade.

    A criao da Igreja Presbiteriana Independente (1903) e omovimento radical batista, dos anos 1920, demonstram quorapidamente o protestantismo forjou quadros e suscitou umaconscincia nacionalista.

    Esses quadros marcaro a sua presena com propostas social-mente de vanguarda nas Constituintes de 1934 e 1946, bem comono campo da pesquisa e do ensino, granjeando respeitabilidadetanto moral quanto intelectual.

    As restries legais no Imprio e as perseguies sociais naPrimeira Repblica concorreram para criar uma identidade

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    evanglica acima das fronteiras denominacionais, um sentidode pertena a um povo eleito, diferente e com uma misso demudar vidas que mudariam o pas, promovendo uma unidadeentre os protestantes, que desaguaria na criao da ConfederaoEvanglica do Brasil (CEB), em 1934, como rgo aglutinador ede representao.

    a z, b m

    A Misso da Igreja, no Brasil, teve que enfrentar um desafio cru-cial, quando a primeira Conferncia Ecumnica Internacional,que teve lugar em Edimburgo, na Esccia, em 1910, deliberouexcluir a Amrica Latina como campo missionrio, por j setratar de um continente cristo. A minoria derrotada naqueleencontro deliberou convocar para 1916, na cidade do Panam,um Congresso, onde foi reafirmado ser a Amrica Latina um

    continente necessitado de misso, em virtude do seu cristianismonominal, superficial e sincrtico, e que essa misso deveria sedar em unidade.

    Delegados brasileiros participaram dos Congressos EvanglicosLatino-Americanos (CELAs) na primeira metade do sculo XX.

    De suma importncia, para a promoo da unidade, para aproduo de material de Escola Bblica Dominical, para a pro-

    moo de eventos temticos e publicaes, em que se manteveuma identidade e uma conscincia reformada, foi o trabalhoda Confederao Evanglica, destacando-se a Conferncia doNordeste, de 1962, no Recife, sob o tema: Cristo e o ProcessoRevolucionrio Brasileiro, reunindo intelectuais seculares e pen-sadores protestantes, para debater a misso social da Igreja em umpas em crise, em plena Guerra Fria.

    A hegemonia do Protestantismo de Misso permanece ato Golpe Militar de 1964, em que se combinava uma tradioevanglica (ou evangelical): A Bblia, a Cruz de Cristo, a Conver-so, a Santidade, o imperativo evangelstico, com uma nfase naresponsabilidade social como evidncia de salvao e obedinciaaos ensinos bblicos.

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    No meio desse perodo, o quadro religioso protestante sealtera com a chegada do Pentecostalismo, no incio da segunda

    dcada do sculo XX, de um lado com o separatismo absoluto daCongregao Crist no Brasil, de um outro lado o separatismorelativo da Assembleia de Deus, com um forte tom arminiano epr-milenista, com um pessimismo histrico. O crescimento dopentecostalismo nesse primeiro perodo da sua histria no Brasilse deu de forma muito discreta, de escassa visibilidade cultural oupoltica, com o cenrio ainda dominado pela presena articulada

    do Protestantismo de Misso.Os anos 60, que comearam sob o impacto da RevoluoCubana, passaram pelo Conclio Vaticano II, terminam como ciclo de protestos estudantis de Paris, conviveram com o fe-chamento da Democracia e o Ciclo de Ditaduras Militares na

    Amrica Latina. Essa mesma dcada, no campo religioso brasi-leiro, vai ter a sua primeira metade dominada pela controvrsiatradicionais vs. renovados, que resultar em um ciclo de

    cismas em diversas denominaes histricas brasileiras: batistas,metodistas, congregacionais e presbiterianos.

    A represso da Ditadura (durante a qual a prpria Confedera-o Evanglica foi fechada), o crescimento do Pentecostalismo eda Renovao Espiritual, a chegada de misses de f de origemnorte-americana, e o fundamentalismo, todos esses concorrempara o incio de um progressivo declnio da presena social, cul-

    tural e poltica dos protestantes. Com esse mundo fechado, asada o outro mundo; com o presente fechado, a sada ofuturo mundo. A escatologia pr-milenista e pr-tribulacionistaavana enquanto a presena crist recua.

    Os anos 50 e incio dos anos 60 viram chegar at ns a impor-tao das controvrsias norte-americanas, tipo Evangelho Social

    vs. Evangelho Individual, Liberalismo vs. Fundamentalismo,embora a maioria das igrejas protestantes da Amrica Latina

    tenham optado por ficar de fora das trs centrais ecumnicas:Conselho Mundial de Igrejas (hegemonia liberal), ConselhoInternacional de Igrejas Crists (hegemonia fundamentalista)e Aliana Evanglica Mundial (hegemonia evangelical). O queera, at ento, um mare nostrum evanglico vai se deparar com a

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    presena, ainda que limitada, da Neo-Ortodoxia e do Liberalismo,no movimento ecumnico, e do fundamentalismo, no movimentoantiecumnico.

    Por quase trs dcadas viveu o Brasil os seus anos de chumbo.Os escassos neo-ortodoxos e liberais do movimento ecumnico(em geral, generais sem tropas), vo para o exlio, so excludosdas cpulas eclesisticas ou optam por uma baixa visibilidade. OPentecostalismo e o Fundamentalismo avanam. O Evangelicalis-mo, nas Igrejas histricas, fica na defensiva, confuso com os novos

    desafiadores e concorrentes ideolgicos (e missiolgicos).Nesse contexto sombrio, como que de sbito, sente-se um sopro

    revitalizador e renovador: a Misso Integral da Igreja reafirmada.

    o ep l

    No incio da dcada de 1960, j percebamos no Brasil o incio

    de uma polarizao entre a salvao das almas e a misso social.No mundo, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), maior

    entidade ecumnica, ia na segunda direo, com reduzida nfaseevangelstica. Em 1966, patrocinado pela Associao Billy Grahame a revista Christianity Today, reuniu-se em Berlim o CongressoInternacional de Evangelismo, com mais de 1.000 participantes.Desse congresso, saiu a recomendao para que se promovam

    congressos continentais.Foi o que aconteceu em Bogot, Colmbia, em 1969, coma realizao do 1. Congresso Latino-Americano de Evangeliza-o Clade I. Nos corredores daquele congresso, entre jovenspensadores, surgiu a ideia de se criar a Fraternidade TeolgicaLatino-Americana FTL. Encontros regionais preparatriostiveram lugar em julho de 1970, um deles em So Paulo-SP, naFaculdade Teolgica Batista, coordenado pelo missionrio Pr.Richard Sturz, professor de Teologia Contempornea naquelainstituio. Finalmente, em dezembro de 1970, no Seminrio

    Jorge Alan, em Cochabamba, Bolvia, aps a consultaA Bblia naAmrica Latina, foi oficialmente criada a FTL, com nomes comoRen Padilla, Samuel Escobar, Pedro Arana e outros.

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    A maioria dos integrantes da FTL era oriunda de movimentosnacionais vinculados Comunidade Internacional de Estudantes

    Evanglicos (IFES), representada no Brasil pela Aliana BblicaUniversitria (ABU), um dos espaos para a reflexo da missointegral durante os anos difceis da Ditadura Militar.

    Em 1971, o padre peruano Gustavo Gutierrez lana o seulivro Teologia da Libertao, dando incio quela escola depensamento, com tema continental, releitura bblica por umatica fortemente marxista e com premissas liberais. A FTL no

    foi criada contra a Teologia da Libertao, pois a antecede. AFTL, a partir de uma herana protestante e evangelical, tomandoa srio a revelao e o contexto do nosso continente, abertoa contribuio da Filosofia e das Cincias Sociais, diante dapolarizao Evangelho Social vs. Evangelho Individual, ouFundamentalismo vs. Liberalismo, tornou-se uma escola depensamento de um evangelicalismo ao mesmo tempo piedoso,ortodoxo e socialmente progressista, promovendo vrias consul-

    tas continentais e regionais, como O Reino de Deus na AmricaLatina, em Lima, Peru, 1972, ou Os Evanglicos e a Poltica na

    Amrica Latina, em 1983, em Jarabacoa, Repblica Dominicana.Os integrantes da FTL foram responsveis por uma fecundaproduo intelectual.

    Como desdobramento do Congresso de Berlim, e dosCongressos Continentais, teve lugar em Lausanne, na Sua,

    em julho de 1974, o Congresso Mundial sobre EvangelizaoMundial, com 2.400 participantes e mais de 1.000 observadorese jornalistas. O Congresso de Lausanne, como ficou conhecido,aglutinando o mais amplo espectro de representao denomi-nacional e nacional, foi considerado um dos mais importantesencontros internacionais da Histria da Igreja, particularmentedo Protestantismo. Dele saiu um documento, o Pacto de Lau-sanne, tendo como principal redator o Rev. John Stott, tido, aolado do Credo Apostlico e da Confisso de Westminster, comoum dos principais textos doutrinrios do Cristianismo. A FTLse fez fortemente representar, em sesses e seminrios, sendoRen Padilla e Samuel Escobar oradores do plenrio, causandoum forte impacto na defesa de uma misso integral da Igreja.

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    O Congresso de Lausanne teve um impacto muito forte, pormeio do que foi denominado de Esprito de Lausanne: umanova responsabilidade sobre a misso mundial, em esprito decooperao, e com uma viso integral. No perodo 1974 a 1982,

    vrios encontros temticos foram realizados, com uma profusode documentos do mais alto nvel, em geral em parceria com a

    Aliana Evanglica Mundial (WEF), sobre temas como Evangelho eCultura, Responsabilidade Social da Igreja, Estilo de Vida Simplescomo Opo Crist, e tantos outros, sempre com a participao

    ativa da FTL, que ainda iria organizar o Clade II, em Huampani,Peru, 1979; e o Clade III, em Quito, Equador, 1992.

    No Brasil, com o regime fechado, o fundamentalismo, o pen-tecostalismo e a escatologia pr-milenista e pr-tribulacionista emascenso, coube ABU, FTL, Viso Mundial, Vinde, e revis-ta Ultimato, a disseminao do Esprito de Lausanne. O Pacto deLausanne foi primeiramente editado pela CPAD, das Assembleias

    de Deus, por iniciativa do missionrio Laurence Olson, integranteda delegao brasileira quele Congresso (presidida pelo pastor ba-tista Nilson do Amaral Fanini, tendo como vice-presidente o pastorpresbiteriano Neemias Marien). Vale ressaltar que, nos primeirosanos aps a sua realizao, o Congresso de Lausanne enfrentouresistncias no Brasil, sendo o Pacto considerado moderado demaispelos liberais, e progressista demais pelos conservadores.

    Os Congressos Brasileiros de Evangelizao (CBEs) e regio-

    nais, como os Nordestinos de Evangelizao (CNEs) bem comoa fundao da Associao Evanglica Brasileira (AEvB) foramdesdobramentos posteriores do Congresso de Lausanne. A FTLse organiza em captulos nacionais, como a FTL-B e regionais(nordeste, sul etc.). O Boletim Teolgico da FTL publicado emespanhol e portugus. A Declarao de Jarabacoa, sobre os Evan-glicos e a Poltica, foi amplamente divulgada em ingls, espanhol

    e portugus. Os pensadores da FTL marcaram forte presena, comsuas palestras, artigos e livros, no cenrio nacional, continentale internacional.

    Em dez anos, parecia que o esprito de Lausanne havia impac-tado profundamente o Cristianismo, e que o pensamento evan-

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    glico holstico (misso integral) havia se tornado hegemnicotambm no Brasil.

    a M ig

    A Igreja vive como ela pensa; inclusive em sua misso.Toda criao tem um propsito, e, mais ainda, os instrumen-

    tos da Providncia Divina na economia da salvao. Israel recebeua revelao do monotesmo, da adorao a Deus em esprito e em

    verdade, as Tbuas da Lei, o discurso inspirado dos Profetas, umcontedo tico, individual e social, para servir de modelo paraas naes. Esse povo do Primeiro Pacto teria como pice da suarazo de ser a vinda do Messias, na plenitude dos tempos: JesusCristo, Senhor e Salvador.

    A Igreja, povo do Segundo Pacto, de todos os povos paratodos os povos, tem sobre ela o sopro do Esprito Santo, como

    comunidade vanguarda do Reino de Deus e seus valores, compessoas regeneradas e santificadas em seu temperamento, seucarter e seus projetos de vida. Gente com talentos redireciona-dos, receptora de dons para a edificao do Corpo, enviada atos confins da terra, portadora de uma mensagem: o Evangelho,as Boas Novas de salvao.

    Em seu ide, imperativo, a Igreja tem como modelo o prprio

    Senhor Jesus Cristo, em seu ministrio terreno, que se tornouhumano em tudo, menos no pecado, vivendo a cultura e a conjun-tura do seu tempo. A Igreja enviada assim como o Pai o enviou.

    O Evangelho de Mateus narra queJesus foi por toda a Galileia,ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e

    curando todas as enfermidades e doenas entre o povo... endemoniados,

    epilpticos e paralticos...(Mt 4.23-24). Pregao, ensino, cura elibertao. E o Evangelho de Lucas (4:16-21) nos mostra a sua

    conscincia messinica, que a realizao plena do Jubileu: a pro-clamao das boas novas para os pobres, a libertao dos cativos,a recuperao da vista ao cegos, a liberdade para os oprimidos.

    A Igreja, nos primeiros sculos, define o que cr no CredoApostlico e no Credo Niceno: a trindade, as duas naturezas do

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    Filho, o nascimento virginal, a morte expiatria, a ressurreio, oJuzo Final, a vida vindoura. A Reforma Protestante, com as suasConfisses, reafirma e aprofunda essas doutrinas, chamando es-pecial ateno para a autoridade das Sagradas Escrituras, a Graae a F. O Evangelicalismo, que tem suas razes ltimas em John

    Wycliffe, um sculo e meio antes de Lutero, e se organiza comomovimento em meados do sculo XIX, chama a ateno para aexperincia de converso, o processo de santificao e o imperativomissionrio. Nada disso novo; apenas a Igreja em permanente

    renovao e purificao diante dos seus desvios na Histria.O Pacto de Lausanne foi mais um passo contemporneo

    nesse processo de recuperao e atualizao.Assim, tambm no seria novidade o pensamento: O Evange-

    lho todo para o homem todo e para todos os homens!.A Conferncia de Lambeth, de 1988, definiu como integrando

    a Misso da Igreja:

    Proclamar o Evangelho do Reino;Batizar, ensinar, e incorporar os convertidos a uma comuni-dade de f;

    Despertar no corao dos fiis respostas de misericrdia snecessidades humanas;

    Denunciar as estruturas inquas da sociedade.

    evgm, , mh, v, pm.O problema que, na Histria da Igreja, periodicamente surgemmovimentos que ora enfatizam algumas dessas dimenses, orase esquecem ou negam outras. H quem queira seguir a Pedro,e no a Jesus, permanecendo acampado no Monte, cercado pelanuvem Shekinah, e outros querem ir direto aos vales e aldeias,sem buscar a comunho e a presena de Deus no Monte, emunilateralismos, parcializaes e desobedincias.

    A Misso Integral se move a partir de uma Espiritualidade In-tegral, que inclui a adorao, a reflexo e a ao, outra vez sem secair no unilateralismo do misticismo alienante, do academicismopedante ou do ativismo rido.

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    55a teologia da Misso da igreja no brasil

    Essa espiritualidade e essa misso se fazem de forma encarnada,concreta, participante, a partir do conhecimento da palavra

    de Deus e do contexto, do discernimento, da intercesso e dainterveno na Histria, com uma mensagem ampla, que atingea todas as dimenses da criao, sem deixar de ser pessoal, paracada ser humano.

    A FTL, ou o Congresso de Lausanne, no inventaram aMisso Integral, apenas a sistematizaram, contemporaneamente,a atualizaram, a enfatizaram, para o bem da Igreja.

    a M ig

    A polarizao teolgico-ideolgica do protestantismo nosculo XX no foi um fenmeno exatamente mundial, mascentrado nos Estados Unidos, com rebatimento nos pases sobsua maior influncia. No caso brasileiro, a hegemonia de uma

    concepo missionria mais ampla no protestantismo de missofoi algo praticamente consensual de 1855 a 1950, com exceoda chegada do Pentecostalismo, com uma f mais intimista,ultramundista e futurista, sua tendncia ao isolacionismo e aopessimismo histrico, fruto de sua escatologia.

    Na dcada de 1950, o debate Fundamentalismo (misses def) vs. Liberalismo (movimento ecumnico) chega at ns, com

    presenas minoritrias de ambos, o que no alterou significati-vamente o pensamento dominante.O Pentecostalismo vai se desdobrar, nos anos 1960, com o

    Movimento de Renovao Espiritual; o Liberalismo foi reprimidodurante o ciclo de ditaduras militares na Amrica Latina, porsuas ligaes com movimentos polticos de esquerda, e o Fun-damentalismo teve um crescimento expressivo, muito ligado aoapoio aos Estados Unidos e ditadura militar.

    O fato novo mais significativo vai se dar na dcada de 1970,com a rpida expanso da Teologia da Libertao (TL), ps--milenista, na Igreja Catlica Romana ps-Conclio VaticanoII, as Conferncias Episcopais Latino-Americanas (CELAM)de Medelln e Puebla, a formao das Comunidades Eclesiais

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    56 igreja evanglica identidade, unidade e servio

    de Base (CEBs), um sem nmero de pastorais, com a adesode ampla parcela do clero, inclusive da hierarquia, alterandoos currculos dos seminrios e o conceito de misso, em umalinha mais afinada com o Evangelho Social protestante, ondebuscou a sua base terica. O apogeu da TL se d durante opontificado de Paulo VI, sendo fortemente reprimida no ponti-ficado de Joo Paulo II, e que, com a derrocada do socialismoreal e a perda de relevncia do pensamento marxista, sofreuevidente declnio.

    Enquanto o Fundamentalismo e o Pentecostalismo tendiama se concentrar nos itens evangelismo, ensino e comunho,dbeis no servio e rejeitando o profetismo, o Liberalismoe a Teologia da Libertao parcializavam o seu conceito demisso indo em direo ao polo oposto, valorizando o servioe o profetismo, custa do evangelismo, da s doutrina e dadimenso mstica da f.

    Durante os anos 1970-1980, a Misso Integral da Igreja, emgeral amilenista, recebeu crticas de ambos os plos, sendo os seusexpoentes considerados telogos da libertao disfarados pelosFundamentalistas e Pentecostais, e considerados fundamentalistassofisticados pelos liberais e adeptos da Teologia da Libertao. opreo que se paga pela manuteno de uma fidelidade a um legadohistrico em uma poca de polarizao, mantida pela convicoequivocada de uns e pela tendncia a adeso aos modismos por

    parte de outros.Enquanto o Fundamentalismo via o reino no Imprio Norte-

    -Americano (Cristandade), a Teologia da Libertao tendia avislumbr-lo no Imprio Sovitico. A esse otimismo histrico(tpico do ps-milenismo), a Misso Integral da Igreja respondiacom uma viso crtica de ambos e um realismo histrico.

    Nos anos 1990, chega com toda a fora na Amrica Latina a Teo-

    logia da Prosperidade, e sua co-irm, a Teologia da Batalha Espiritual,levando a entrada no cenrio de uma nova expresso do Cristia-nismo (longe da Reforma, do Evangelicalismo e do prprio Pente-costalismo): o impropria