livrete 17/06 de questÕes 2019 vestibular de inverno 2019 · 2 puccamp-19-direito-inverno lÍngua...

16
DIREITO VESTIBULAR DE INVERNO 2019 LIVRETE DE QUESTÕES 17/06 2019 INSTRUÇÕES 1) Confira seus dados, escreva seu nome por extenso e assine a capa deste Livrete de Questões somente no campo próprio. 2) A prova terá a duração de 4 horas. 3) Dê as RESPOSTAS às QUESTÕES OBJETIVAS no FORMULÁRIO DE RESPOSTAS, nos campos ópticos próprios. Para tanto, utilize apenas . Não poderá ser utilizada caneta esferográfica de qualquer outro tipo ou cor (vermelha, azul, roxa, , de ponta porosa etc.) nem lápis preto. 4) No FORMULÁRIO DE RESPOSTAS e , a tinta, no local indicado para ambos. 5) Eventuais rascunhos, que não serão corrigidos, poderão ser feitos nos espaços em branco constantes deste Livrete. 6) As instruções para a resolução das questões constam da prova. NENHUM COORDENADOR OU FISCAL DE SALA ESTÁ AUTORIZADO A PRESTAR INFORMAÇÕES SOBRE AS QUESTÕES. 7) Somente poderá retirar-se da sala depois de decorridos 1 hora e 30 minutos do início da prova, ocasião em que deverá ter assinado a Lista de Presença e entregue o Livrete de Questões e o Formulário de Respostas. 8) Aconselha-se atenção ao transcrever as respostas deste Livrete de Questões para o Formulário de Respostas, pois rasuras poderão anular a questão. caneta esferográfica de tinta preta, confeccionada em material transparente escreva seu nome completo por extenso assine roller-ball o N RELATIVO PRÉDIO ESCREVA SEU NOME ASSINATURA DO CANDIDATO o N DA SALA o N DE INSCRIÇÃO NOME DO CANDIDATO MODELO

Upload: others

Post on 14-Mar-2020

240 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

DIRE ITO

VESTIBULAR DE INVERNO 2019

L IVRETEDE QUESTÕES

17 /062019

INSTRUÇÕES

1) Confira seus dados, escreva seu nome por extenso e assine a capa deste Livrete de Questões somente no campo

próprio.

2) Aprova terá a duração de 4 horas.

3) Dê as RESPOSTAS às QUESTÕES OBJETIVAS no FORMULÁRIO DE RESPOSTAS, nos campos ópticos

próprios. Para tanto, utilize apenas .

Não poderá ser utilizada caneta esferográfica de qualquer outro tipo ou cor (vermelha, azul, roxa, , de

ponta porosa etc.) nem lápis preto.

4) No FORMULÁRIO DE RESPOSTAS e , a tinta, no local indicado

para ambos.

5) Eventuais rascunhos, que não serão corrigidos, poderão ser feitos nos espaços em branco constantes deste

Livrete.

6) As instruções para a resolução das questões constam da prova. NENHUM COORDENADOR OU FISCAL DE

SALA ESTÁ AUTORIZADO A PRESTAR INFORMAÇÕES SOBRE AS QUESTÕES.

7) Somente poderá retirar-se da sala depois de decorridos 1 hora e 30 minutos do início da prova, ocasião em que

deverá ter assinado a Lista de Presença e entregue o Livrete de Questões e o Formulário de Respostas.

8) Aconselha-se atenção ao transcrever as respostas deste Livrete de Questões para o Formulário de Respostas,

pois rasuras poderão anular a questão.

caneta esferográfica de tinta preta, confeccionada em material transparente

escreva seu nome completo por extenso assine

roller-ball

oN RELATIVO

PRÉDIO

ESCREVA SEU NOME

ASSINATURA DO CANDIDATO

oN DA SALA

oN DE INSCRIÇÃO

NOME DO CANDIDATO

MODELO

2 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

LÍNGUA PORTUGUESA

Atenção: As questões de números 1 a 3 referem-se aos textos I e II, que vêm a seguir. Texto I

O Número de Ouro é um número irracional misterioso e enigmático que nos surge numa infinidade de elementos da natureza na forma

de uma razão, sendo considerada por muitos como uma oferta de Deus no mundo. [...]

A designação adotada para esse número, o φ (Phi maiúsculo)1, é a inicial do nome de Fídias, que foi escultor e arquiteto encarregado

da construção do Pártenon, em Atenas.

Um exemplo dessa maravilha é o fato de que se desenharmos um retângulo cujos lados tenham uma razão

entre si igual ao Número de Ouro, este pode ser dividido num quadrado e noutro retângulo em que este tem, também

ele, a razão entre os dois lados igual ao Número de Ouro. Esse processo pode ser repetido indefinidamente mantendo-

-se a razão constante.

A história desse enigmático número perde-se na Antiguidade. No Egito, as pirâmides de Gizé foram construídas

tendo em conta a razão áurea: a razão entre a altura de uma face e metade do lado da base da grande pirâmide é

igual ao Número de Ouro. O Papiro de Rhind (egípcio) refere-se a uma “razão sagrada”, que se crê ser o Número de

Ouro. Essa razão ou secção áurea surge em muitas estátuas da Antiguidade.

Obs.: 1 φ é a vigésima primeira letra do alfabeto grego.

(www.educ.fc.uL.pt) Texto II

Embora Peticov1 seja basicamente um pintor, tem ele razão quando se refere a si mesmo como “artista visual”, definição mais

apropriada a um artista com suas características, que extrapola os procedimentos convencionais da pintura e que dela se afasta para criar no

espaço esculturas, relevos e assemblages2. Nesses trabalhos, aliás, reafirma sua capacidade de transfigurar formas e materiais, buscando

sempre fascinar.

Apesar disso, e sem prejuízo do que foi dito, na minha opinião Peticov é, sobretudo, um pintor. Melhor seria dizer no meu sentir, uma

vez que a relação que estabeleço com seus quadros é de emoção e alumbramento, especialmente quando faz jorrar “a cachoeira da noite” ou

“a cachoeira do dia”, ou quando cria com um amontoado de cubos, molas, pirâmides, linhas e fragmentos coloridos, pintados num ponto da

tela, um foco mágico dentro de uma paisagem qualquer.

“Mágico” é a palavra que muito tem a ver com Peticov, e neste particular ele é um artista único na arte brasileira. Certamente, há

muitos artistas que imprimem à sua obra uma atmosfera de fantasia e sonho, mas não encontro nenhum em que essa atmosfera ganhe a

intensidade onírica − algo semelhante ao “curto-circuito” de que falava Pierre Reverdy3 − que descubro nas obras de Peticov. [...]

Se for correta minha tese de que o homem inventa a si mesmo e ao universo cultural em que vive, Peticov é, sem dúvida alguma, um

dos que mais se entregam a essa invenção. E a sua necessidade de reinventar o mundo não conhece limites nem obstáculos.

Obs.: 1 Antonio Peticov (Assis, São Paulo, 1946).

2 Composição artística realizada com retalhos de papel ou tecido, objetos descartados, pedaços de madeira, pedras etc.

3 Poeta francês (1889-1960).

(GULLAR, Ferreira. PETICOV – Fazedor do Inusitado. In: Antonio Peticov: trabalhos escolhidos. Leide Moreira: 2003, p. 21) 1. Levando em conta os textos I e II, é correto o seguinte comentário:

(A) Os textos I e II apresentam similaridade pelo fato de ambos citarem questões associadas ao universo da arte, mas são

de caráter distinto: I, que contém segmentos narrativos, é predominantemente descritivo, e II, que objetiva explicitar a distinção entre categorias artísticas, compõe-se como texto predominantemente didático.

(B) Ao referir explicitamente o que busca defender, no texto II − minha tese de que o homem inventa a si mesmo e ao

universo cultural em que vive −, o autor mostra a natureza de sua produção: trata-se de dissertação em que aborda aspectos genéricos sobre o tema, não obrigatoriamente válidos para uma específica situação.

(C) Pelo fato de não apresentar marca de pessoalidade, o texto I tem caráter dissertativo, contendo definições, explicações e

citação de fatos consagrados; marcas de pessoalidade exibem a natureza de II, em que se nota opinião pessoal construída a partir de fatos ordenados cronologicamente.

(D) Em II, é explícito um ponto de vista crítico acerca do tema, sendo o juízo transmitido por meio de discurso dissertativo

apoiado na progressão lógica das ideias; em I, a realidade investigada é conceituada e integrada em seu contexto, sendo as referências históricas argumentos de comprovação do exposto.

(E) Dados o tema, o modo de composição e o estilo do texto, vê-se que I populariza conteúdo científico; o objetivo discursivo

determina a linguagem informal e a redundância de informação, como em forma de uma razão, sendo considerada por muitos como uma oferta de Deus no mundo e “razão sagrada”.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 3

2. Considerado o Texto I, afirma-se com correção:

(A) A substituição do segmento destacado em sendo considerada por muitos como uma oferta de Deus no mundo por “tendo

sido considerada” não prejudica o sentido original.

(B) Em A história desse enigmático número perde-se na Antiguidade, o verbo está empregado com o sentido de “atrapalhar-

-se”, como em “Ansioso, perdia-se em seus próprios argumentos”.

(C) Em Essa razão ou secção áurea surge em muitas estátuas da Antiguidade, substituir o que está em destaque por “antigas”

não implica prejuízo algum ao sentido original, pois o adjetivo se aplica necessariamente ao período da história, iniciado

aproximadamente no século VIII a.C. e encerrado com a queda do Império Romano do Ocidente.

(D) Outra organização do trecho é a inicial do nome de Fídias, que foi escultor e arquiteto encarregado da construção do

Pártenon, em Atenas estaria clara e em conformidade com a norma-padrão assim: “é a inicial do nome de Fídias; escultor

e arquiteto foi encarregado da construção do Pártenon, em Atenas”.

(E) Em O Papiro de Rhind (egípcio) refere-se a uma “razão sagrada”, que se crê ser o Número de Ouro, o segmento des-

tacado demonstra que o autor da frase evita afirmar a exatidão da ideia de que a “razão sagrada” seria o Número de

Ouro.

3. Releia com atenção o texto II. Examine, então, as assertivas a, b, c e d.

a. Não prejudica a clareza, a correção e o sentido originais a substituição do segmento Embora Peticov seja basicamente um

pintor, tem ele razão quando se refere a si mesmo como “artista visual” (parágrafo 1) por: Embora Peticov se reconheça,

desde o início, como um pintor, é justo que se autodenomine “artista visual”.

b. Em Apesar disso, e sem prejuízo do que foi dito, na minha opinião Peticov é, sobretudo, um pintor (parágrafo 2), o segmento

destacado confirma a possibilidade de convivência harmoniosa de ideias referidas como antagônicas.

c. No (parágrafo 3), Gullar apresenta uma proposição e, valendo-se de argumento que poderia ser usado para contestá-la,

chega a sintetizar seu raciocínio por meio da caracterização mais precisa da qualidade distintiva fundamental de Peticov.

d. Se fosse o caso de se padronizar o texto no que se refere ao uso das aspas para chamar a atenção sobre o código que está

sendo usado, como em “Mágico” (parágrafo 3), o segmento no meu sentir (parágrafo 2) deveria vir entre aspas.

Está correto o que se afirma em

(A) a, b, c, d.

(B) b, c, d, apenas.

(C) c, apenas.

(D) b, apenas.

(E) a, d, apenas.

4 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

Atenção: Para responder às questões de números 4 e 5, considere o que se reproduz em I, II e III.

I

(FERNANDES, Millôr. www.zonacurva.com.br)

II

(Adaptado de: SOUSA, Maurício de. Chico Bento, no 43, julho de 2010, p. 66)

III

• por via das dúvidas

1. como medida de precaução

2. para evitar mal-entendidos

(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa)

4. É correto o seguinte comentário:

(A) I e II se assemelham por neles estar presente o humor; em I, o humor se realiza não por crítica satírica de um acon-

tecimento específico, mas pela ideia que o desenho de um simples momento expressa; em II, a graça se realiza por ima-

gens horizontalizadas que representam o desenvolvimento da ação no tempo e no espaço. (B) I pertence ao gênero “charge”, e, por isso, seu público-alvo é o adulto e sua finalidade é a crítica política; II, pertencente

ao gênero “história em quadrinhos”, dedicada exclusivamente ao público infantil, tem finalidade eminentemente pedagógica. (C) I e II, pertencentes a gêneros que expressam emoções pelo desenho, por definição são acessíveis às mais distintas

culturas, daí seu alcance universal; o fato específico de tiras que dispõem os quadros da esquerda para a direita, sentido de leitura no Ocidente, não impede a universalização do gênero a que pertence II.

(D) Em I e II há a caricatura, no sentido de que a intenção principal dos artistas é a de representar uma figura de maneira

não convencional, exagerando ou simplificando os seus traços para apresentar uma visão impiedosa do seu modelo; ainda que provoque o riso, a imagem desencadeia imediata e severa crítica ao caricaturado.

(E) I e II são narrativas humorísticas; característica básica da categoria a que pertence I é tratar de assunto de grave im-

portância para a sociedade, o que dá a seu autor um papel de destaque, e ao leitor, o dever de interpretar a mensagem; na categoria a que pertence II, retrata-se a vida cotidiana, a mensagem é facilmente decodificada e seu autor não tem o

mesmo reconhecimento social do autor de I.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 5

5. É correto afirmar:

(A) Em I, a composição é dotada de unidade tal que propicia certa compreensão da mensagem, entretanto, um específico jogo de ideias, que amplia o sentido da composição, somente será percebido pelo leitor que conhecer previamente o citado em III.

(B) Para a interpretação de I, é irrelevante conhecer o citado em III: a coerente representação do espaço em que se vê a

placa “Via das Dúvidas”, a presença de pedestres e a multiplicidade de pontos de interrogação desestruturados leva à compreensão de que o caminho do ser humano é o das perguntas sem respostas.

(C) Em I, a presença das personagens contribui estritamente para a composição da paisagem, dando a ela uma aparência de

realidade, ao sinalizar que uma via é sempre partilhada por pedestres. (D) Em II, a ausência da linguagem verbal em dois dos quadrinhos intensifica o detalhamento do desenho, para que os tra-

ços expressem as ações e sensações das personagens. (E) Em II, o humor se constrói tanto pela incoerência do uso de níveis de linguagem distintos por uma mesma personagem

quanto por um equívoco verbal. Atenção: As questões de números 6 e 7 referem-se aos textos I, retirado da internet, e II, impresso num saco de papel para

embalagem de alimento. Texto I Devido ao fato de a redação original do texto abaixo transcrito apresentar inadequações, levando-se em conta a norma-padrão da língua, recebe aqui adaptações. O período sublinhado no primeiro parágrafo, entretanto, permanece com seus equívocos, porque sua correção será tema da questão 7.

Você vai encontrar uma grande variedade de Papel kraft1 em nossa loja

Papel kraft é uma espécie de papel desenvolvido a partir de uma mistura de fibras de celulose curtas e longas, provenientes

das polpas de madeiras macias. Este "mix" de fibras presentes, conferem a este tipo de papel, uma característica de grande

resistência mecânica e com um ótimo desempenho para o seu processamento em máquinas, além de possuir uma maciez notável.

Todas essas características de processamento permitem que seja usado para produzir sacos e sacolas, envelopes para

correspondência e cartonagens dos mais diversos tipos. O papel kraft é matéria-prima desenvolvida para a produção de papelão

ondulado.

Utilize o papel kraft para fazer envelopes, caixas, sacolas e outros produtos que desejar. Com a ferramenta de corte e vinco

você vai realizar cortes perfeitos, tendo maior comodidade na produção de suas embalagens. Aproveite nossos excelentes preços e

adquira logo a sua.

Obs.: 1papel kraft é também conhecido como papel pardo.

Texto II

6. Considerados I e II, é adequada a seguinte análise:

(A) O texto I, que descreve didaticamente as vantagens do papel kraft, também conhecido como pardo, ainda que tenha a in-tenção de vender o produto, usa como estratégia de convencimento do consumidor não se valer de frases de teor apelativo.

(B) O texto I, diretamente dirigido a comerciantes, vale-se, em seus enunciados, de um tom de conversa íntima com esse pú-

blico, mas sem perder a oportunidade de orientar subliminarmente o passo a passo da perfeita realização das tarefas relacionadas ao uso do papel.

(C) Os textos I e II, distintos por ser um de natureza estritamente verbal e o outro compor-se por associação de códigos, se

contrapõem pelo perfil que cada um deseja “vender” ao seu público: o primeiro, de grande produtora de matéria-prima, que preconiza o uso de máquinas, o segundo, de modesta fábrica familiar.

(D) Em II, “Pequena Fábrica de Sabores Artesanais” provoca efeitos distintos: de um lado, uma das ideias expressas pela lin-

guagem verbal é reforçada criativa e positivamente pela imagem visual; de outro, “sabores artesanais”, que é uma figura de linguagem, enriquecedora de textos poéticos, nesse específico contexto é um defeito.

(E) O texto II apresenta ambiguidade, que nesse caso tem valor estilístico na medida em que é produtiva, ao propiciar mais de

uma interpretação da mensagem; essa ambiguidade, assim, potencializa o valor expressivo da composição bastante sintética.

6 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

7. Este "mix" de fibras presentes, conferem a este tipo de papel, uma característica de grande resistência mecânica e com um ótimo desempenho para o seu processamento em máquinas, além de possuir uma maciez notável.

O período acima, por sucessão de falhas na redação, não tem a clareza necessária ao seu bom entendimento. Cada alternativa

que vem a seguir apresenta um segmento da frase associado a uma proposta de correção da falha que ele apresenta. A proposta que, em seu contexto, mantém a IMPERFEIÇÃO do segmento original é:

(A) Este "mix" de fibras presentes, / Excluir “presentes,” ou alterar a redação para “O “mix” de fibras presentes no produto”/ (B) conferem a este tipo de papel, uma característica de grande resistência mecânica / confere a esse tipo de papel uma

característica de grande resistência mecânica / (C) e com um ótimo desempenho / e um ótimo desempenho / (D) para o seu processamento em máquinas, / pelo seu processamento em máquinas, / (E) além de possuir uma maciez notável / além de propiciar-lhe maciez notável /

Atenção: As questões de números 8 a 10 referem-se ao trecho reproduzido a seguir.

Há mais de cinco anos ele era vigilante, que observava, da porta de entrada, todo o corredor do hospital. Só essa era a tarefa,

vigiar; vigiar o dia calmo daquela cidadezinha pacata, onde nada acontecia que merecesse vigilância. Cidade que conhecia como a

palma da mão. Gente simples, procurando doutor ou enfermeira pra ver febre ou fazer curativo, ver se o rebento ia nascer logo, se ia

vingar. Nesse dia, Bentinho viu foi um homem desconhecido entrando como antigo morador. Podia ver tudo da porta de entrada: o

físico forte, o cabelo branco remexido, a roupa surrada, o jeito de andar de homem valente fraco pela perna que arrastava acanhado.

Bentinho via o movimento das costas pela respiração alterada, que o homem não conseguia esconder. Lembrou o dia que um outro

homem, também de fora, veio pedindo ajuda. Era assim o causo raro, vindo buscar ajuda. O socorro por causa da cobra venenosa. O

tumulto veio por conta de não ter o remédio, todo mundo agitado, correndo pra cá e pra lá. Menos ele, se pode deixar essa porta so-

zinha? Veio na mente o primeiro dia no emprego. Não gostou de ficar ali parado como poste. Mas acostumou. Fazer o quê? Desde

bem pequeno tinha de acostumar com o que podia. Será que agora era coice de mula? Veneno de cobra? Enxada enferrujada? Nem

podia perguntar, era mesmo um poste. Agora é esperar o que o doutor ia dizer. Ali, com a roupa de vigilante. Talvez nada de grave.

Talvez não.

(BARBUTTO, Chiara. Inédito) 8. É correto afirmar: neste trecho,

(A) o leitor se depara com linguagens distintas, uma do narrador onisciente, outra da personagem Bentinho; este, na imo-bilidade que o trabalho lhe impunha, no espaço dos acontecimentos, não participa diretamente da ação que se desenrola.

(B) tem-se um narrador que, sem marcas de participação nos acontecimentos, dá informações sobre o protagonista; um fato

específico de sua trajetória estimula tanto reminiscências de emoções e eventos vividos em tempos e espaços distintos quanto reflexões sobre seu entorno ou sua própria existência.

(C) há intensa alternância entre o relato da ação, competência do narrador em terceira pessoa, e a avaliação da vida a que se

entrega uma das personagens; essa estrutura narrativa impede o reconhecimento da fonte de cada informação e, assim, a adesão do leitor a um ou outro ponto de vista.

(D) o espaço em que circulam as personagens é restrito e rigidamente demarcado, determinando que um único ponto de visão

seja permitido ao protagonista; essa característica da composição motiva que traços descritivos se limitem aos que estão presentes na frase inicial, por vezes, repetidos.

(E) a narrativa põe em foco a concentração do protagonista sobre sua própria condição humana; essa opção temática leva ao

fato de o espaço da ação estar restrito a poucas personagens, diretamente relacionadas à vida da personagem principal, o que não propicia dados sobre o espaço social da cidadezinha.

9. A linguagem do texto por vezes requer maior atenção do leitor, quer pelo vocabulário empregado, quer pela sintaxe utilizada, em

certos momentos com elipses até mesmo radicais. Leitura cuidadosa constata que é correto o seguinte comentário:

(A) Entende-se da frase Não gostou de ficar ali parado como poste que Bentinho se via mais impossibilitado de sair do lugar do que um poste.

(B) Em Mas acostumou. Fazer o quê?, visto que o contexto não permite que a indagação seja interpretada como expressão de

fatalidade, deve ser entendida como expressão de descaso. (C) Em Talvez nada de grave. Talvez não, o segundo segmento ratifica o que vem expresso no primeiro, não havendo outra

hipótese de sentido. (D) Em Não gostou de ficar ali parado como poste / Nem podia perguntar, era mesmo um poste, cada um dos enunciados

expressa uma aproximação entre dois termos, sendo que a primeira vem sinalizada por meio de conector discursivo e a segunda por meio de metáfora.

(E) Em Era assim o causo raro, vindo buscar ajuda, a informalidade da linguagem se restringe ao emprego do vocabulário.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 7

10. Menos ele, se pode deixar essa porta sozinha? A frase acima

(A) constitui sequência da cena anterior; por isso, nesse contexto, o sentido do enunciado transcrito justificaria que o período fosse introduzido por um travessão ou por dois-pontos.

(B) contém segmento interrogativo que deve ser entendido como pergunta de uma personagem supostamente dirigida a um

funcionário do hospital, quando lá chegou um homem picado por cobra. (C) há marca de pessoa (ele) apropriada à fala do narrador, mas a formulação sintática e semântica do período demonstra

íntima associação entre a voz do narrador e a voz interior da personagem. (D) não é de natureza híbrida, isto é, aquela que permite fusão de vozes narrativas; o texto, ao contemplar frases como Há

mais de cinco anos ele era vigilante, que observava, da porta de entrada, todo o corredor do hospital, evidencia narração por única voz, sem contágio possível.

(E) é reprodução direta da fala do protagonista, mas essa transcrição, que põe o leitor em contato frontal com a personagem,

é feita sem os recursos tradicionais de introdução do discurso direto.

ESPECÍFICAS

Atenção: Para responder às questões de números 11 a 14, considere o poema abaixo.

Esta virtude estrangeira

Me irrita sobremaneira.

Quem a teria trazido,

com seus hábitos polidos

estragando a terra inteira?

Só eu

permaneço nesta aldeia

como chefe guardião.

Minha lei é a inspiração

que lhe dou, daqui vou longe

visitar outro torrão.

Quem é forte como eu?

Como eu, conceituado?

Sou diabo bem assado.

A fama me precedeu;

Guaixará sou chamado.

(Adaptado de: ANCHIETA, José de. Segundo Ato do “Auto de São Lourenço”. p. 5. Disponível em: www.virtualbooks.com.br)

[Peça destinada à catequese, traz como um dos personagens o chefe tamoio Guaixará, que realmente existiu e lutou ao lado dos franceses em 1560, na guerra da Guanabara.]

11. Sabendo tratar-se de um texto catequético de José de Anchieta, deve-se fazer a seguinte tradução de sentido de uma expressão

nele presente:

(A) Guaixará sou chamado = Me identificam como um arcanjo. (B) como chefe guardião = como um superior jesuíta. (C) com seus hábitos polidos = com seus costumes de nativos. (D) Esta virtude estrangeira = esses vícios nativistas. (E) Quem é forte como eu? = quem é forte como este guerreiro tamoio?

12. Na literatura há personagens que encarnam personalidades, por vezes, de caráter antagônico, representando a luta entre o Bem

e o Mal. Tal antagonismo encontra-se, por exemplo, entre

(A) Bentinho e José Dias, senhor e subordinado, no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. (B) Romão, o próspero empreendedor, e Miranda, o dono do sobrado aristocrático, em O cortiço, de Aluísio Azevedo. (C) Riobaldo e Hermógenes, chefes de jagunços, em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. (D) Peri e Ceci, de diferentes etnias rivais, no romance O guarani, de José de Alencar. (E) Paulo Honório e Madalena, de diferentes crenças religiosas, em São Bernardo, de Graciliano Ramos.

8 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

13. A catequese no território brasileiro, durante o período colonial, valeu-se de referências da cultura indígena para facilitar a co-municação, como se nota no excerto da obra de José de Anchieta. Corresponde a esse aspecto do processo colonizatório,

(A) a imposição, em todos os núcleos colonizadores, de uma “língua geral” criada pelos jesuítas a partir da fusão do português e do

latim. (B) a criação de missões jesuíticas a modo de aldeias indígenas, preservando a autoridade dos caciques e pajés. (C) o surgimento da chamada arte missioneira, na qual se destacam as esculturas católicas com feições indígenas. (D) a adesão dos índios convertidos à Guerra Santa, uma vez que as práticas religiosas indígenas foram rapidamente substi-

tuídas pelas católicas. (E) o uso, pelos jesuítas, de formas de escrita indígena no processo de alfabetização desenvolvido nas aldeias.

14. Durante o Segundo Reinado, diferentemente da extrema valorização da virtude estrangeira, muito comum na história colonial,

buscou-se a construção de uma brasilidade no campo cultural, utilizando-se, entre outros elementos simbólicos, da figura do

(A) caboclo, desbravador e povoador dos sertões, como símbolo da coragem e força das classes populares miscigenadas. (B) índio tupi, visto como aliado do português no passado colonial, romantizado pela literatura, símbolo de valores nobres an-

cestrais. (C) negro liberto, como símbolo da cristandade e do caráter benigno e brando da escravidão no Brasil, apoiada pela Igreja. (D) antropófago, como símbolo da capacidade do Brasil de absorver todas as influências estrangeiras, sem perder sua iden-

tidade. (E) bandeirante paulista, como símbolo da raça superior branca e da integração nacional sob a colonização portuguesa.

Atenção: Para responder às questões de números 15 a 18, considere o texto abaixo.

Assim como a cultura europeia medieval não conseguiu conciliar o código de cavalaria e o cristianismo, o mundo moderno não

consegue conciliar igualdade e liberdade. Mas isso não é um defeito. Tais contradições são inerentes a toda cultura humana. Na ver-

dade, são aquilo que move a cultura, responsáveis pela criatividade e pelo dinamismo de nossa espécie. Da mesma forma que duas

notas musicais discordantes tocadas ao mesmo tempo colocam em movimento uma composição musical, a dissonância em nossos

pensamentos, ideias e valores nos compele a pensar, reavaliar e criticar.

(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Sapiens − Uma breve história da humanidade. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 173)

15. Os hábitos nobres da cavalaria medieval e o culto de valores cristãos estão presentes, animados pelo estilo típico do Ro-mantismo,

(A) nos cantos líricos e épicos de Gonçalves Dias. (B) na dramaturgia cômica de Martins Pena. (C) na ficção infantojuvenil de Monteiro Lobato. (D) na lírica amorosa de Castro Alves. (E) nos versos satíricos de Tomás Antônio Gonzaga.

16. A frase duas notas musicais discordantes tocadas ao mesmo tempo colocam em movimento uma composição musical pode

valer também para um poeta, quando dividido por forças opostas. Essa “discordância” criativa encontra-se, por exemplo, na poe-sia de Carlos Drummond de Andrade, quando este, em livros como Sentimento do mundo e A rosa do povo, divide-se entre

(A) a tentação de se tornar um militante político radical e o apego a suas raízes religiosas. (B) a força da poética clássica em que já se consolidou e a atração pelo Modernismo de 22. (C) as diversas tendências de vanguarda, que concebem diferentes funções da linguagem. (D) o apego às suas origens de intelectual mineiro e o cosmopolitismo propiciado pela Europa. (E) o apelo da tragédia histórica da época, ao qual é sensível, e algum limite da timidez pessoal.

17. A cultura europeia medieval foi bastante marcada pela concepção de que a sociedade podia ser dividida em três grandes

segmentos ou ordens, compostas por

(A) religiosos, dedicados a orar pelo bem e pela salvação dos cristãos; guerreiros, incumbidos de combater para defender a sociedade; e camponeses trabalhadores, responsáveis pelo trabalho que garantiria o sustento da sociedade.

(B) nobres, dedicados a zelar pela segurança de todos e pela administração; burgueses, responsáveis pela troca mercantil

entre os feudos; e os servos, incumbidos de pagar impostos e fornecer os alimentos necessários. (C) cavaleiros, responsáveis por levar a fé cristã ao Novo Mundo; nobres da corte, dedicados a servir o rei e auxiliá-lo na

administração do reino; e camponeses, incumbidos de trabalhar na terra e em todas as atividades braçais existentes nos castelos.

(D) cruzados, incumbidos de combater os hereges e defender os feudos de ataques e invasões; monges, responsáveis pela

produção escrita e pelo ensino universal das letras; e servos da gleba, considerados propriedades de seu senhor, vincu-lados à terra.

(E) alto clero, responsável pela manutenção do catolicismo e pela garantia da autoridade papal; vassalos, escolhidos entre

os mais abonados senhores feudais de cada reino; e servos, incumbidos de todas as atividades agrícolas e do pequeno comércio realizado por meio das corporações de ofício.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 9

18. Igualdade, liberdade e fraternidade foram lemas muito evocados durante a Revolução Francesa, que passou por diversas fases turbulentas, dentre as quais o período conhecido como Terror. Durante esse período houve um grande número de execuções em função

(A) do controle político exercido pelos girondinos, que se voltaram violentamente contra os jacobinos após incessantes

disputas pela liderança na condução da Revolução. (B) do despotismo de Robespierre, líder dos sans-cullotes e militar de origem popular que, uma vez no poder, passou a

combater qualquer manifestação de oposição ao projeto político de seu grupo. (C) da política repressora na defesa da Revolução empreendida pela facção conhecida como A Montanha, vinculada ao grupo

jacobino, que obteve maioria em várias instituições políticas. (D) da reação contrarrevolucionária da nobreza, que se aproveitou das disputas violentas entre girondinos e jacobinos para

assumir o poder e eliminar as principais lideranças revolucionárias daquele momento, como Danton. (E) da autocoroação de Napoleão Bonaparte, general que assumiu o poder na condição de imperador, e reprimiu os revo-

lucionários fiéis ao ideário original da Revolução Francesa que lutavam por uma sociedade igualitária. Atenção: Para responder às questões de números 19 a 22, considere o texto abaixo.

Depois de 1930, o panorama novelístico do país mudou; revelou-se aos neonaturalistas brasileiros um ambiente desconhecido.

E dez anos mais tarde os “introspectivos” (como Octavio de Faria e Dionélio Machado) começarão a denunciar uma mentalidade

desconhecida. Antes de Jorge Amado escrever os três romances do cacau, José Lins do Rego, mestre de todos os outros, já criara os

cinco romances do açúcar, que continuarão, acredito, como o maior monumento novelístico da época.

(Adaptado de: CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios reunidos, v. II. Rio de Janeiro: Topbooks, p. 366)

19. Depreende-se desse texto crítico de Otto Maria Carpeaux que o chamado “romance de 30”

(A) mostrou-se um gênero literário avesso à representação dos fatos políticos. (B) foi sensível aos ciclos econômicos regionais e dispôs-se a representá-los ficcionalmente. (C) foi antecedido por autores intimistas, que acima de tudo privilegiavam a análise psicológica. (D) mostrou-se um gênero literário tão ambicioso que se furtou a retratar a realidade imediata. (E) foi indiferente às forças sociais em luta, aplicando-se sobretudo à mais alta pesquisa estética.

20. Na visão do crítico, a obra de José Lins do Rego

(A) pagou seu tributo à obra de Jorge Amado, com a qual chegou a rivalizar. (B) moldou-se pelos parâmetros mais exacerbados do Naturalismo do século XIX. (C) sacrificou sua natural vocação intimista para fixar-se como documento de época. (D) expressou com largueza uma importante transição num ciclo econômico regional. (E) trouxe para o regionalismo brasileiro as soluções estéticas da vanguarda europeia.

21. A introdução do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, pelos portugueses,

(A) partiu da iniciativa dos donatários, ao instalarem-se em seus lotes e constatarem o quanto o solo de massapé era favo-rável a esse tipo de produto, que se encontrava em alta no mercado, apesar da concorrência holandesa.

(B) foi concomitante à introdução dessa cultura na Ilha da Madeira e nas feitorias portuguesas na África, no contexto do auge

do tráfico negreiro, que garantia o fornecimento de mão de obra especializada. (C) ocorreu devido à experiência que estes já possuíam com essa cultura em outras regiões sob seu domínio, e da

possibilidade de que a cana se desenvolvesse bem em solo litorâneo. (D) foi resultante das experiências feitas pelos jesuítas ao cultivarem diversos tipos de alimento e constatarem que o clima e

as condições da terra eram propícios a esse produto de origem asiática, desconhecido do mercado europeu. (E) aconteceu após o contato destes com os índios, e a observação de sua múltipla utilização pelos nativos na construção de

suas ocas e como alimento de fácil obtenção.

10 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

22. O ano de 1930 é um importante marco cronológico na área da literatura, mas também é lembrado na história política do país, pois nessa data ocorreu uma Revolução

(A) patrocinada por dissidências oligárquicas e por remanescentes do Movimento Tenentista, que derrubou a oligarquia pau-

lista e colocou Getúlio Vargas no comando do Estado. (B) liderada por generais do Exército, que derrubou a oligarquia mineira e colocou Getúlio Vargas, da oligarquia gaúcha, na

presidência da República. (C) protagonizada por operários que derrubaram as oligarquias e apoiaram a Aliança Nacional Libertadora, que colocou

Getúlio Vargas no poder. (D) conduzida pela baixa oficialidade, apoiada por milícias camponesas que se uniram na Coluna Prestes para tomar o poder

juntamente com Getúlio Vargas. (E) liderada pelas dissidências oligárquicas paulistas que tentaram derrubar Getúlio Vargas, recém-alçado ao poder.

Atenção: Para responder às questões de números 23 a 26, considere o texto abaixo.

Ao ser inaugurada em Paris, em 1900, a grandiosa Exposição Universal pretendia exibir uma civilização florescente, que tinha

em seu núcleo a Europa, e entoar um vibrante hino de louvor ao progresso. [...] O fulgor do “Palácio da Eletricidade”, iluminado por 5

mil lâmpadas elétricas, literalmente ofuscava seus visitantes. [...] Vinte e quatro nações europeias e os Estados Unidos, além de paí-

ses africanos, asiáticos e latino-americanos fizeram-se representar com pavilhões requintados. [...] Com o imperialismo em seu apo-

geu as representações de possessões coloniais distantes, sempre de opulento exotismo, transmitiram uma impressão avassaladora

de domínio europeu no mundo.

(Adaptado de: KERSHAW, Ian. De volta do Inferno: Europa, 1914-1949. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 28-29)

23. Por volta de 1900, registrou-se entre nós um período cultural e literário que pode ser assim caracterizado:

(A) desenvolveu-se um forte impulso para a retomada da estética clássica, como forma de reação aos excessos do Romantismo então vigente.

(B) desaparecem as fronteiras entre a prosa e a poesia, predominando um gênero híbrido, inclassificável, de vida curta e

pouco significativa. (C) os gêneros frequentados indicam a retomada e a estilização dos já cultivados pelos realistas, naturalistas e parnasianos. (D) aprimorou-se entre nós a mais severa crítica literária, desenvolvida sobretudo nos ensaios de Euclides da Cunha e de

Augusto dos Anjos. (E) as formas literárias prestigiadas são aquelas que levam até o limite mais extravagante um experimentalismo radical típico

das vanguardas. 24. Um vibrante hino de louvor ao progresso temperado com irônico discernimento crítico dará na década de 20 do século passado

o tom a vários textos em que

(A) Monteiro Lobato elege o Jeca Tatu como o protótipo de uma nova era. (B) Mário de Andrade acusa o novo ritmo de vida de sua cultuada Pauliceia. (C) Machado de Assis acolhe com entusiasmo as ênfases do Naturalismo. (D) Lima Barreto dota seus escritos de um otimismo histórico irrefreável. (E) Oswald de Andrade dilui a vanguarda em nome de um vigor mais lírico.

25. No contexto de apogeu do imperialismo europeu a que o texto se refere, as nações que se destacaram como os maiores

impérios coloniais foram

(A) Império Austro-húngaro e Inglaterra. (B) Estados Unidos e França. (C) Portugal e Espanha. (D) Inglaterra e França. (E) Alemanha e Holanda.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 11

26. O termo progresso faz parte do lema inscrito na bandeira brasileira. A escolha desse lema está relacionada

(A) à influência da corrente positivista, de origem francesa, no processo de Proclamação da República. (B) à concepção industrialista e desenvolvimentista que orientou o movimento republicano no final do século XVIII.

(C) à inspiração do processo de Independência do Brasil na experiência emancipadora norte-americana, orientada pelas ideias

liberais de Augusto Comte e Stuart Mill. (D) aos ideais republicanos que haviam sido sistematizados por Benjamin Constant e Joaquim Nabuco ao longo da crise do

Império. (E) aos valores do tenentismo, movimento político-militar que surgiu no seio do Exército brasileiro e teve papel crucial nos

processos de Independência e Proclamação da República. Atenção: Para responder às questões de números 27 a 30, considere o texto abaixo.

Em vez de se falar com reservas de manifestações tardias do Barroco, pode-se afirmar abertamente a ocorrência de uma

idade barroca mineira, identificável tanto na escultura de Antonio Francisco Lisboa quanto na pintura de Ataíde, na música de José

Emerico Lobo de Mesquita ou mesmo na poesia de Cláudio Manuel da Costa.

(Adaptado de: ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. p. 110. Apud CAMPOS, Flávio de. Oficina de História: história do Brasil. São Paulo: Moderna, 1999, p. 119)

27. O estilo barroco encontrou entre nós suas expressões mais fortes com as obras de Antônio Vieira e de Gregório de Matos, o que

lembra que esse estilo

(A) notabilizou-se sobretudo na prosa de caráter conceptista, não favorecendo a linguagem da poesia. (B) trouxe consigo a revalorização dos mitos da Antiguidade Clássica, até então desprestigiados na Colônia. (C) serviu sobretudo a quem se voltava contra os valores propagados convictamente pela Santa Inquisição. (D) mostrou-se eficaz tanto no gênero da oratória de cunho religioso como nas sátiras de sentido político. (E) foi cultivado por quem se propunha a combater o colonialismo europeu por conta de um sentimento nativista.

28. Sabendo-se que Cláudio Manuel da Costa é costumeiramente identificado como um poeta árcade, a afirmação que se faz sobre

ele no texto indica que, na história da literatura,

(A) as obras dos escritores mineiros acabaram demarcando com rigidez as fronteiras entre os estilos literários. (B) o Barroco é um estilo que sofreu fortes influências da estética ligada aos valores do chamado Pré-romantismo. (C) a designação de tardio, para um estilo literário, significa que ele sobrevive apenas nas obras de escritores menores. (D) os elementos de um estilo de época podem conviver com elementos de estilo de uma outra época. (E) os chamados poetas “inconfidentes” ganharam esse qualificativo por conta de sua hesitação entre estilos de época.

29. Uma das características do barroco mineiro, em termos artísticos e arquitetônicos, é a rica ornamentação das igrejas. A riqueza

propiciada pela extração de minérios nessa região, no século XVIII, além desse emprego,

(A) foi usada fundamentalmente na fundação de povoados, na urbanização e atendimento à população das principais cidades mineiras e em obras públicas executadas pelo governo de Dom João VI, ali e no Rio de Janeiro, para o combate às condições insalubres de vida e moradia.

(B) acabou sendo lentamente apropriada pelos bandeirantes paulistas, por meio de sua atuação em diversas rotas de con-

trabando, e usada para financiamento do plantio do café, em todo o Sudeste. (C) sofreu recorrentes confiscos por parte da Coroa Portuguesa, que, por meio de apreensões, cobranças de impostos e de

estratégias como a “derrama”, se apoderou dessas riquezas e as usou para promover a instalação da Família Real no Brasil.

(D) foi desviada ilegalmente para a Inglaterra, por meio da atuação de comerciantes ingleses que se fixaram na capital do

reino e fizeram acordos escusos com contratadores e grandes proprietários de minas de ouro e diamantes. (E) foi absorvida principalmente pela burocracia e pela nobreza portuguesa instalada no Rio de Janeiro, significou o enrique-

cimento da elite local e financiou o Estado português até o declínio dessa atividade, ainda naquele século.

12 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

30. Cláudio Manuel da Costa protagonizou, entre outros, um movimento independentista que se voltava contra a dominação portu-guesa. Com motivações semelhantes, no que se refere à reivindicação do fim da submissão político-econômica a Portugal, houve, nesse mesmo século em que ocorreu o movimento mineiro, a

(A) Revolta dos Búzios ou dos Alfaiates, na Bahia. (B) Confederação do Equador, no Grão-Pará. (C) Revolta de Beckman, no Maranhão. (D) Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul. (E) Noite das garrafadas, no Rio de Janeiro.

Atenção: Para responder às questões de números 31 a 34, considere o texto abaixo.

Uma hecatombe fez desaparecer a União Soviética, comprometendo o sonho de muitos revolucionários que deram a vida para

construí-la e defendê-la, lá e pelo mundo afora. Entendam, não digo defender aquilo que era, com todo o seu autoritarismo e a

deturpação que a URSS representava diante do ideal democrático do socialismo, mas manter a esperança de um futuro melhor para

toda a humanidade. Ver o fim da União Soviética doeu em mim, como se de repente fosse demolida uma casa que suei um bocado

para erguer, tijolo por cima de tijolo.

(Adaptado de: CORREA, Hércules. Memórias de um stalinista. Rio de Janeiro: Opera Nostra, 1994, p. 2-3)

31. Regimes e ações autoritárias são muitas vezes denunciados por obras literárias, que passam a funcionar como uma espécie de memorial de violências sociais e políticas praticadas contra massas populares. É um exemplo dessas obras, entre nós, como valor retórico e sensível depoimento político,

(A) a sátira política machadiana em Memórias póstumas de Brás Cubas. (B) o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. (C) o livro/reportagem Os sertões, de Euclides da Cunha, a propósito do episódio de Canudos. (D) a defesa nostálgica do indianismo nacionalista em Quarup, de Antonio Callado. (E) a poesia disciplinada e combativa de Cecília Meireles em Mar absoluto.

32. Alguns escritores de tendência revolucionária deixaram obras marcantes, cujo valor literário não esmorece com o eventual fim

das causas históricas defendidas. É o que ocorreu, por exemplo, com Ferreira Gullar, que,

(A) em seus romances e em suas crônicas, abraçou as teses políticas do Anarquismo. (B) nos versos de exilado político do Poema sujo, rememora sua história pessoal. (C) na década de 1950, combateu o Concretismo, que entendia ser uma vanguarda inconsequente. (D) em seu teatro do oprimido, deu voz a um retirante em Morte e vida severina. (E) juntamente com os modernistas de 22, empenhou-se numa linguagem de raiz popular.

33. No século XIX, antes da formulação do pensamento de Marx e Engels, surgiram na Europa diferentes ideários e projetos

revolucionários, motivados pelas péssimas condições de vida e de trabalho dos operários, que foram posteriormente identificados como as primeiras formulações do socialismo. Dentre as propostas defendidas pelos primeiros socialistas, havia

(A) o fim das fronteiras nacionais e a criação de um Estado único na Europa, sob o governo do Partido Comunista Inter-

nacional, que promoveria a distribuição igualitária de recursos. (B) a defesa da ditadura do proletariado, como forma de transição para um regime ideal, igualitário, no qual governo algum

fosse necessário. (C) a organização de cooperativas de camponeses e operários, administradas coletivamente e instituídas após profunda

reforma agrária e urbana, que eliminaria a propriedade privada e instituiria o Esperanto como língua universal. (D) a proposta do retorno à economia primitiva, coletivista, baseada na troca, na coleta e na pesca, a fim de evitar a explo-

ração do trabalho e a sociedade industrial. (E) a criação de falanstérios, comunidades constituídas de forma livre, em que as pessoas trabalhariam conforme sua vocação

e compartilhariam bens, educação, moradia.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 13

34. Alguns políticos e intelectuais perseguidos na URSS, no período do stalinismo, buscaram exilar-se no continente americano, caso de Leon Trotsky, que chegou ao México durante o governo de Lázaro Cárdenas. Esse governo, comumente associado pela historiografia ao populismo, foi marcado

(A) pela criação de ejidos, propriedades estatais de usufruto indígena, e pelas estreitas relações econômicas com os Estados

Unidos, aderindo a um discurso em defesa da democracia e da liberdade de expressão no contexto da Política da Boa Vizinhança.

(B) pela realização de uma reforma agrária prevista na Constituição e pela postura de acolhimento a refugiados espanhóis,

que haviam se oposto ao franquismo durante a Guerra Civil Espanhola. (C) pela aliança com líderes populares como Emiliano Zapata e pelo grande empenho na comunicação com os trabalhadores,

ao mesmo tempo que garantia benefícios à elite agrária mexicana. (D) pela aproximação política aos demais líderes populistas latino-americanos que eram seus contemporâneos, Vargas e

Perón, e pelos esforços em prol da modernização e industrialização do México. (E) pelas medidas de nacionalização e estatização na economia, e pela promulgação de uma Constituição inspirada na Carta

del Lavoro italiana, fortalecendo os sindicatos e centrais trabalhistas, bem como seu partido, o Partido Revolucionário Na-cional.

Atenção: Para responder às questões de números 35 a 38, considere o texto abaixo.

Embora crítico do “índio de lata de goiabada” do romantismo brasileiro, Oswald de Andrade teve pouco ou nenhum contato com

a cultura ameríndia; seus índios são frutos da leitura dos relatos de viajantes e documentos da era colonial, além de antropólogos

europeus em voga na época. No conhecido epigrama do Manifesto antropófago de 1928 − “Antes dos portugueses descobrirem o

Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade” − não é difícil detectar o eco do relato feito pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, no qual

este atesta o caráter pacífico e receptivo dos nativos: “certamente essa gente é boa e de bela simplicidade”.

(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p.155)

35. O fundamento do Manifesto antropófago está na concepção de que esta específica “antropofagia” consistiria

(A) numa supressão de toda a memória histórica do país. (B) na predominância absoluta da natureza sobre a cultura. (C) numa devoração cultural de tudo que, sendo estranho a nós, nos alimentará. (D) na predação do mais fraco, em consonância com as leis naturais. (E) na supremacia da cultura nacional, habilitada a esquecer as demais.

36. Com a bem-humorada expressão índio de lata de goiabada, o autor do texto está aludindo

(A) à imperícia com que os modernistas de 22 exaltaram a figura romântica do índio brasileiro. (B) ao descortino crítico com que Oswald de Andrade avaliou uma cultura primitiva que lhe era familiar. (C) à retomada que alguns modernistas empreenderam de mitos fundadores do nosso civismo. (D) ao artificialismo do indianismo romântico, ao qual Oswald de Andrade se contrapôs. (E) ao choque que se produziu quando a cultura indígena incorporou elementos industriais.

37. Durante as décadas de 1910 e 1920, período de eclosão do Modernismo, a cidade de São Paulo foi palco de intensos

movimentos culturais e políticos, objetos de muitos estudos e pesquisas históricas. A Greve de 1917 foi um desses movimentos, cujas motivações

(A) resultavam das péssimas condições de vida dos imigrantes, confinados em vilas fabris em condição de semiescravidão,

que exigiam o direito de ocuparem e cultivarem pequenos lotes de terra para garantir seu sustento. (B) se relacionavam à I Guerra Mundial em curso, quando, sob influência da Revolução Russa e do socialismo, os operários

comunistas lideraram uma longa paralisação, com o objetivo de fortalecer seu Partido e dar início a um movimento revolucionário.

(C) partiam do movimento sindical, dividido entre anarquistas e comunistas, que procurou afrontar a oligarquia cafeeira e exigir

o cumprimento dos direitos trabalhistas já previstos em lei, no campo e nas cidades. (D) provinham dos ideais anarquistas e da defesa de que a gestão das fábricas deveria ser feita de forma mais democrática e

com participação dos operários nos lucros, de modo a alcançar melhores níveis de eficiência e produtividade. (E) se originaram do movimento operário, apoiado pela imprensa ligada a esse segmento, que exigia a instituição da jornada

de 8 horas e o direito à greve, entre outras reivindicações trabalhistas.

14 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

38. No processo de descoberta e conquista com vistas à ocupação do território brasileiro, os portugueses se depararam com

(A) a diversidade indígena que se traduzia na existência de diversas culturas, línguas e formas de organização social, e na resistência à colonização e à catequização, manifestadas no grande número de conflitos e na necessidade de negociação e alianças por parte de portugueses.

(B) o predomínio de tribos caçadoras e coletoras, nômades, que mudaram drasticamente seu modo de vida para sedentário,

logo após entrarem em contato com as técnicas de agricultura trazidas pelos colonizadores. (C) a cordialidade dos nativos, que reconheceram a superioridade do homem branco ao constatarem a tecnologia das embar-

cações e das armas de fogo, assumindo uma postura amigável que facilitou a instalação pacífica dos primeiros núcleos de povoamento.

(D) a presença de muitos brancos europeus, desterrados ou náufragos, que haviam se convertido em caciques indígenas ou

autoridades locais, promovendo práticas de escambo com piratas espanhóis e ingleses, que precisaram ser toleradas pela Coroa portuguesa.

(E) a densidade populacional alta na faixa litorânea, em função da farta exploração da pesca e da facilidade das tribos do

litoral em trocarem seus excedentes de alimentos, por meio da navegação marítima, em contraste com a população es-cassa e rarefeita no interior do território.

Atenção: Para responder às questões de números 39 a 42, considere o texto abaixo.

Em fevereiro de 1970, na revista Visão, o jornalista Paulo Francis arriscava, para a década que se abria, alguns palpites. O

artigo chamado “Um balaio de nacionalismo e experimentalismo” fazia referência às duas tendências básicas e antagônicas das artes

brasileiras nos anos 1960 e mencionava uma terceira, em cujo balaio caberiam ambas, e que tenderia a predominar nos próximos

anos. Seria superado, portanto, segundo Paulo Francis, o “extraordinário reacionarismo” das correntes nacionalistas e o “estéril

alheamento face à sensibilidade nacional” das experiências vanguardistas.

(Adaptado de: HOLLANDA, Heloísa B. de e GONÇALVES, Marcos A. A ficção da realidade brasileira. In: NOVAES, Adauto (org.) Anos 70) 39. Experiências de vanguarda bastante marcantes da poesia brasileira ocorreram

(A) ao final do século XIX e na primeira década do século XX. (B) ao tempo da Semana de Arte Moderna e ao longo das décadas de 1950 e 60. (C) com as manifestações estéticas da chamada Geração de 45. (D) por força da radicalização dos escritores simbolistas contra os parnasianos. (E) no período caracterizado por historiadores da literatura como Pré-modernismo.

40. A se aceitar a previsão feita por Paulo Francis no mencionado artigo, a década de 1970 seria caracterizada, nas artes e na lite-

ratura,

(A) por ficcionistas reacionários que se serviriam de procedimentos de vanguarda. (B) pelo embate entre as ideologias da esquerda e as da direita. (C) por um estado de coisas em que se combinariam tendências até então inconciliáveis. (D) pela supremacia definitiva das tendências políticas sobre os ideais esteticistas. (E) pela dissolução das linguagens que permitiam até então distinguir uma arte da outra.

41. Um importante movimento político-ideológico nacionalista, na história do Brasil, foi o Integralismo, que surgiu

(A) no final dos anos 1920, inspirado pelo Modernismo, e foi a grande base de apoio de Getúlio Vargas durante o Estado Novo. (B) em 1937, para substituir todos os partidos políticos que foram proibidos após o golpe de Estado que colocou Getúlio

Vargas no Poder. (C) nos anos 1960, como movimento cívico-nacionalista, para disseminar a ideologia dos militares que encabeçariam o golpe

de 1964. (D) na década de 1930, inspirado pelo fascismo europeu, e tentou um levante para depor Getúlio Vargas. (E) nos anos 1940, como uma frente patriótica, defendendo a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado do Eixo.

42. Na década de 1970, slogans nacionalistas como “Brasil, ame-o ou deixe-o” foram usados pela propaganda política governa-

mental que, em seu discurso, ressaltava o quanto vinha sendo bem-sucedida

(A) a política econômica responsável pelo chamado “milagre econômico”, que criou um clima ufanista e nacionalista, sobre-tudo entre a classe média.

(B) a estratégia financeira que estimulava o consumo das massas e o desenvolvimentismo nacionalista e anti-imperialista. (C) a abertura política patrocinada por militares liberais, que procuravam mobilizar a sociedade contra os militares da chamada

“linha-dura”. (D) a execução de reformas sociais que visavam angariar apoio popular ao regime, como a reforma agrária e o Plano de

Controle de Preços. (E) a campanha contra a presença de estrangeiros no Brasil, sobretudo emigrados de países latino-americanos e africanos.

PUCCAMP-19-Direito-Inverno 15

Atenção: Para responder às questões de números 43 a 46. considere o texto abaixo.

Os contos de Dalton Trevisan, boa parte dos quais determinados a falar da cidade de Curitiba, da qual o próprio autor se vê

como um “vampiro”, falam, porém, de mais lugares e mais gentes. Tipos humanos rebaixados pela miséria, por obsessões viciosas,

pela humilhação social desfilam diante do leitor, como também desfilam diante do mesmo leitor as marginalizadas personagens pau-

listanas de João Antônio ou as cariocas de Rubem Fonseca, todas evidenciando que o progresso não veio para todos. De fato, há na

ficção desse período uma espécie de desventrar da sociedade brasileira, de modo a sublinhar uma violência que, infelizmente, não

cedeu lugar em nossos dias, pelo contrário: naturaliza-se como se inevitável, fazendo agora conviver nos mesmos limites urbanos a

barbárie do crime organizado e o avanço tecnológico, a penúria dos serviços públicos e a ostentação do luxo particular, a carência do

essencial e as ofertas do supérfluo.

(FORTUNATO, Aquiles. Inédito)

43. A seguinte formulação crítica tem estreita relação com os autores mencionados no texto:

(A) Como todo realismo que nasce não do cuidado de documentar, mas de uma violenta tensão entre o sujeito e seu mundo, essa literatura cruza o limiar do expressionismo.

(B) Experiências cortantes de um neorrealismo psicológico oscilam entre a representação da burguesia e a ênfase no par-

tidarismo político. (C) Quando a tensão “para dentro” chega ao seu limite, o fluxo da consciência recupera as imagens mais positivas da natureza

amena. (D) O problema do engajamento artificial desses escritores acabou prejudicando o teor realista que se esperava de uma

literatura desse gênero. (E) Trata-se de um esforço estético respeitável, de idealizar e purificar figuras habitualmente tragadas pela miserabilidade de

suas vidas. 44. Atente para esta passagem do conto “O viúvo”, de Dalton Trevisan: A solidão é minha tristeza. Me ocupo pela manhã no quarto. De tarde eu saio. Lá na pracinha com seis ou sete conhecidos.

Aposentados como eu. Ficamos conversando. Cedo me recolho.

O divertimento dos outros já não é para mim. Ao circo ainda vou. Nada é como antes. Destacam-se na passagem acima estes dois recursos do estilo e da visão de mundo habituais nesse contista:

(A) fluência retórica e expressão exageradamente transfiguradora do cotidiano. (B) compartimentação econômica das palavras e traços cortantes de uma experiência. (C) ampla metaforização das experiências e presença de um narrador onisciente. (D) poetização do cotidiano e aprofundamento metafísico da intimidade. (E) discurso rigorosamente argumentativo e mitificação das experiências mais simples.

45. Nos anos 1960 e 1970, período em que os três escritores acima citados publicaram obras importantes, a violência urbana no

Brasil começava a se tornar um tema sensível da opinião pública, por causa

(A) da ação de grupos armados revolucionários e de esquerda, que realizaram diversos atentados à bomba em locais públicos, como estações de trem e mercados, matando milhares de pessoas.

(B) da atuação dos cartéis do narcotráfico, que dominavam as prisões e controlavam as periferias das grandes cidades, desa-

fiando a ordem pública e impedindo a entrada da polícia nesses bairros. (C) do crescimento desordenado das cidades, do crescimento dos crimes à mão armada, e da ação de grupos de extermínio

paraestatais, como o “Esquadrão da Morte”. (D) da entrada da máfia italiana no Brasil, que passou a controlar o jogo clandestino, o contrabando de bebidas e o tráfico de

drogas, desafiando o departamento de inteligência da polícia e o próprio Estado. (E) dos motins populares de trabalhadores desempregados, recém-chegados do campo, que não conseguiam emprego nas

cidades e promoviam saques e depredações frequentes. 46. A demanda pelos serviços públicos e pelo amparo estatal foi sensível nos Estados Unidos, durante a Grande Depressão. A

política econômica empregada nesse país para amenizar a crise econômica vigente procurou, entre outras estratégias,

(A) estatizar os setores mais produtivos da economia e estabelecer um rígido controle alfandegário. (B) controlar a inflação por meio do confisco de bens e produtos, e estimular a migração dos desempregados para o campo. (C) promover ajuda econômica às famílias mais necessitadas e oferecer mais empregos por meio de parcerias público-

-privadas e aumento de gasto público. (D) regular o mercado por meio da criação de uma nova bolsa de valores e investir na indústria bélica para aumentar o

superávit comercial. (E) fortalecer os investimentos na produção de matéria-prima para exportação e refrear o processo de industrialização por

meio do aumento tributário.

16 PUCCAMP-19-Direito-Inverno

Atenção: Para responder às questões de números 47 a 50, considere o texto abaixo.

Para Edward Said (1935-2003) − intelectual, crítico literário e ativista palestino − as regiões do mundo que chamamos Ocidente

e Oriente não são lugares “naturais”, mas invenções humanas. O Ocidente foi identificado pelos europeus como o “lugar” onde acon-

teceu sua história e a construção de seus valores culturais. O Oriente, por sua vez, também foi uma invenção dos “ocidentais”. Os po-

vos que viviam ao leste da Europa, em particular árabes, chineses e indianos − e também alguns africanos −, foram chamados de

“orientais”.

(VAINFAS, Ronaldo et al. História. Volume Único. São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 891)

47. De acordo com o autor, o que surge como “o natural” pode ser, na verdade, uma criação humana. A natureza, na literatura

romântica brasileira,

(A) manteve-se autêntica quando representada pela identificação entre o indianismo e o nacionalismo. (B) constituiu o exemplo máximo de que a arte e a etnografia científica podem sempre reforçar-se reciprocamente. (C) teve importância mínima como paisagem ou mito, uma vez que as ideias progressistas dominavam os discursos. (D) motivou os escritores a um tipo de criação literária em que a capacidade de descrição superou em muito a de narração. (E) propiciou entre nós, tanto na prosa como na poesia, a produção de mitos que serviram aos propósitos nacionalistas.

48. Povos inteiros são frequentemente estigmatizados ou idealizados por seus valores culturais. Ao longo do nosso Romantismo,

teve papel de destaque

(A) a denúncia que Castro Alves sustentou contra a exploração e o aviltamento da África. (B) a voz de Álvares de Azevedo em favor das Cruzadas contra os chamados povos infiéis. (C) o canto que Gonçalves Dias entoou em favor dos sofridos colonos luso-brasileiros. (D) a crítica feita por Machado de Assis à política de imigração levada a cabo por D. Pedro II. (E) a condenação manifesta por José de Alencar a todos os regimes monárquicos.

49. Os conflitos entre Israel e Palestina vigentes no século XXI apresentam várias motivações, dentre as quais a criação do Estado

de Israel após a II Guerra Mundial, quando houve

(A) a delimitação das fronteiras entre este e o Estado da Palestina, também fundado pela ONU no mesmo ano, porém, em território menor e descontínuo geograficamente, de forma não consensual, sendo rechaçada por vários países membros dessa organização.

(B) o acordo entre Israel e os judeus sefarditas e palestinos que se refugiaram na Faixa de Gaza, obtendo a posse legal desta

região, rompido quando essa população refugiada cresceu e exigiu a devolução daquele que considerava o seu território original.

(C) a transformação da cidade de Jerusalém, considerada sagrada para católicos, islâmicos e judeus, em capital do Estado de

Israel. (D) a rejeição da política sionista pelo movimento nacionalista existente na Palestina que, com apoio britânico, soviético e

árabe, decretou guerra a Israel. (E) a contestação, pelos palestinos, da legitimidade da criação do Estado judeu, seguida de grande indignação, expressa pelo

uso do termo Nakba (catástrofe) para denominar o êxodo populacional árabe resultante desse processo. 50. Um dos temas presentes nos estudos de Said é o imperialismo, marcante na história política do Ocidente. São exemplos da

política imperialista norte-americana algumas ações, discursos e medidas tomadas no âmbito da política externa voltada para a América Latina e o Caribe, no século XIX, tais como a

(A) Guerra Mexicano-americana e a Doutrina Monroe. (B) Diplomacia do Dólar e o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca. (C) Guerra Hispano-americana e a Emenda Platt. (D) Política da Boa Vizinhança e o Big Stick. (E) Construção do Canal do Panamá e a Operação Pan-americana.