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FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDIGENAS E AS INTERFACES DESTA COM AS MEMORIAS E HISTÓRIAS ÉTNICAS CULTURAIS DE POVOS DA AMAZONIA - POLO ALTAMIRA PARÁ. 1 Maria do Livramento Ferreira de Aviz [email protected] APRESENTAÇÃO: A formação de professores indígena é uma ação de governo, realizada através da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/PA em parceria com o MEC e integra um processo de formação continuada de professores índios do Pará, na perspectiva de promover a garantia de direitos e a condição de cidadania, historicamente negados a esses sujeitos do campo. O programa visa uma formação diferenciada, focada na identidade e diversidade étnica cultural, com a finalidade de garantir o acesso e permanência ao processo de escolarização de professores indígenas, enquanto sujeitos de direitos e, portanto, um processo novo contextualizado em vivencias e experiências sócias educativas e culturais no contexto Amazônico. O convite para trabalhar com a formação de professores indígenas, veio através da coordenação de educação indígena da Secretaria de Estado de Educação – SEDU/PA: professora Ana Maria Rocha para trabalhar com a disciplina: História da Educação que teve como eixo norteador dos estudos, debates e reflexões: identidade, diversidade cultural e meio ambiente. A minha primeira experiencia como formadora, ocorreu no município de Santarém em Setembro/2009 e a segunda experiencia, em Altamira//PA, em Junho de 2010. Vale ressaltar que aprendi muito com essas experiencias como formadora de educadores indígenas. Valores e atitudes que se manifestam nos saberes étnicos culturais e nas interfaces destes com a diversidade Amazônica. Portanto, desafios e possibilidades, cujos conhecimentos foram impar em minha vida pessoal e profissional, como mulher e mãe. E exigiu determinação, discernimento, respeito, solidariedade e compromisso com a transformação de realidades vigentes em nossa sociedade. De minha parte, aprendi a conviver com as diferenças e reviver experiências de vida, aprender que que até pouco tempo, esses grupos comunicam suas memórias e emoções, apenas, através da oralidade, mas que estão conquistando direitos fundamentais para o desenvolvimento e de integração com outros atores socais, na perspectiva do desenvolvimento humano e de intercambio cultural, 1 . Formação: pedagoga, formada pela Universidade Estadual Vale do Acaru- UVA, Especialista em Educação do Campo, pelo Instituto de Ciências de Educação - ICED/UFPA e Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Rural da Amazônia – GEPERUAZ/UFPA. No bairro do Bengui, estou na função de Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Educação Popular “Raimundo Rei” – NEP.

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Page 1: livramentoaviz@yahoo.com...- POLO ALTAMIRA PARÁ.1 Maria do Livramento Ferreira de Aviz livramentoaviz@yahoo.com.br APRESENTAÇÃO: A formação de professores indígena é uma ação

FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDIGENAS E AS INTERFACES DESTA COM AS MEMORIAS E HISTÓRIAS ÉTNICAS CULTURAIS DE POVOS DA AMAZONIA - POLO ALTAMIRA PARÁ.1

Maria do Livramento Ferreira de Aviz

[email protected]

APRESENTAÇÃO:

A formação de professores indígena é uma ação de governo, realizada através da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/PA em parceria com o MEC e integra um processo de formação continuada de professores índios do Pará, na perspectiva de promover a garantia de direitos e a condição de cidadania, historicamente negados a esses sujeitos do campo.

O programa visa uma formação diferenciada, focada na identidade e diversidade étnica cultural, com a finalidade de garantir o acesso e permanência ao processo de escolarização de professores indígenas, enquanto sujeitos de direitos e, portanto, um processo novo contextualizado em vivencias e experiências sócias educativas e culturais no contexto Amazônico.

O convite para trabalhar com a formação de professores indígenas, veio através da coordenação de educação indígena da Secretaria de Estado de Educação – SEDU/PA: professora Ana Maria Rocha para trabalhar com a disciplina: História da Educação que teve como eixo norteador dos estudos, debates e reflexões: identidade, diversidade cultural e meio ambiente. A minha primeira experiencia como formadora, ocorreu no município de Santarém em Setembro/2009 e a segunda experiencia, em Altamira//PA, em Junho de 2010.

Vale ressaltar que aprendi muito com essas experiencias como formadora de educadores indígenas. Valores e atitudes que se manifestam nos saberes étnicos culturais e nas interfaces destes com a diversidade Amazônica. Portanto, desafios e possibilidades, cujos conhecimentos foram impar em minha vida pessoal e profissional, como mulher e mãe. E exigiu determinação, discernimento, respeito, solidariedade e compromisso com a transformação de realidades vigentes em nossa sociedade.

De minha parte, aprendi a conviver com as diferenças e reviver experiências de vida, aprender que que até pouco tempo, esses grupos comunicam suas memórias e emoções, apenas, através da oralidade, mas que estão conquistando direitos fundamentais para o desenvolvimento e de integração com outros atores socais, na perspectiva do desenvolvimento humano e de intercambio cultural,

1 . Formação: pedagoga, formada pela Universidade Estadual Vale do Acaru- UVA, Especialista em Educação do Campo, pelo Instituto de Ciências de Educação - ICED/UFPA e Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Rural da Amazônia – GEPERUAZ/UFPA. No bairro do Bengui, estou na função de Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Educação Popular “Raimundo Rei” – NEP.

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valores e oportunidades pertinentes do processo de formação e da sua condição de cidadania, forjados em crenças e tradições e nas interfaces destas com a identidade e diversidade dos sujeitos do campo.

AS EXPERIENCIAS COMO FORMADORA:

A principio, fiquei insegura mas com uma vontade muito grande de participar, conhecer e aprender. Então topei o desafio porque acredito que “vivendo é que se aprende”, mas que também implica em responsabilidades, elaboração e sistematização de conhecimentos políticos pedagógicos. Concepções de educação que compreenda e respeite as diferenças e tradições que estão para além das estruturas e sistemas de ensino formal.

Estes quinze dias de convivência com esses diferentes grupos étnicos culturais (ARARAS, PARACANÃS, XICRINS, WARAWETES, CAYAPÓS, XIPAYAS, ASSURINIS E JURUNAS), foi de superação e exigiu de nós educadores engajamento politico e novas aptidões em termo da formação docente e que resultaram em valores e atitudes centrada em compromissos que supere preconceitos, qualificação das práticas de ensino e que essas sejam significativas e relevantes para a melhoria da qualidade da educação e de vida da população do campo no enfrentamento de sistemas dominantes e autoritários.

Também aprendi a conviver com valores e tradições e repensar atitudes e valores em relação ao processo educativo e direitos humanos. Sabres e culturas milenares que só acrescentam na minha vida pessoal e profissional. E portanto, leituras, reflexões e sociabilidade acoplados a identidade e diversidade de homens, mulheres e jovens indígenas, estudantes do primeiro anos do curso de magistérios.

Também percebo que ainda falta muito para avançarmos para uma educação de qualidade e com eqüidade de gênero em que pese um desenvolvimento justo e sustentável dos sujeitos do campo, especialmente de culturas tradicionais como os povos indígenas. Cujas forças empreendidas sejam de fazer na outra ponta, a nossa parte e compreender que a educação para a cidadania caminha de mãos dadas na defesa da vida e de desenvolvimento humano.

Vale ressaltar que nesse aspecto, a história da educação, contribuiu para estudos e analises das condições de acesso a escolarização, ausência ou ineficiências de politicas públicas de formação dos professores índios do Pará, especialmente no que concerne a leitura da realidade sócio politico, econômico e cultural, na perspectiva de uma educação ao longo da ao logo da vida. Partindo-se dessas reflexões, buscamos fomentar estudos contextualizados em vivencias e experiências históricas e culturais dos diferentes sujeitos do campo, suas necessidades e expectativas em relação ao processo educativo e das interfaces destes com a historia de vida e memórias da cultura local e global.

Contudo, não foi fácil, mas nos permitiram aprofundar situações de abandono e pobreza na região, assim como lembranças e práticas autoritárias vivenciadas no contexto Amazônico. Portanto situações de preconceitos e discriminações marcadas nas historias de vidas de homens e mulheres do campo, especialmente dos povos indígenas. Entende-se ainda que os caminhos percorridos na historia da educação, tem sido co-responsáveis por esses processos injustos de exclusão e marginalidade

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social. Porém, sabemos que a educação não fará tudo sozinha, mas é preciso mudar essa realidade e agregar esforços em defesa de uma educação de qualidade e com eqüidade ao longo da vida.

Sabemos que os efeitos econômicos de uma cultura globalizada, impede resultados mais rápidos e eficazes no processo educativo, mas já se um movimento por uma educação que seja capaz de compreender e respeitar as diferenças étnicas culturais, valorização da vida e da cultura no contexto Amazônico. Mas para isso é necessário superar os desafios das novas tecnologias de educação para a inserção no mundo trabalho.

Nesse sentido, se percebe que povos indígenas vêm construindo novas formas alternativas de educação que valorize e resgate cultura e tradições, focada na identidade e diversidade de grupos étnicos culturais e práticas de estudos e pesquisas que garanta investimentos políticas públicas de desenvolvimento que lhes garanta o acesso e permanência ao processo de escolarização. E afirmam que: “Os professores “brancos” que vão trabalhar nas nossas aldeias, não gosta de nossos costumes. Isso prejudica a cultura do nosso povo, por isso o índio precisa conhecer a cultura do homem branco pra lutar pelo direitos de ter terra, pra trabalhar, ter direito a educação e se formar pra ensinar nossas crianças nas aldeias”. Neste contexto, observa-se que a formação docente ainda é deficitária, realizada em período muito curto e na maioria das vezes, não considera as necessidades docentes, podendo ainda está desvinculada das práticas sociais e culturais vivenciada nas aldeias. Isto é, uma formação pensada como um processo externo aos trabalhos, a cultura e não se fundamenta na recuperação ou analises da prática pedagógica dos sujeitos do campo. Os alunos do curso de magistérios indígena, acreditam que o melhor seria que essas formações fossem realizadas em suas próprias aldeias: “Agente quer estudar, mas fica muito tempo longe de casa, do trabalho. Índio fica doente quando tá longe de sua terra, sua cultura, seu povo”... Conforme se observa, esta não é a melhor forma de promover a formação integral dos professores indígenas, distantes de suas comunidades, formas ainda que não respeitam a diversidade e necessidades desses sujeitos sociais, em muitos casos formas tradicionais e homogeneizadora da ação docente, em muitos casos, centrada na transmissão de conhecimentos fragmentados teoricamente e com pouca ou quase nenhuma relevância politica e cultural para a formação de sujeitos críticos e comprometidos com as transformações de realidades injustas em nosso Estado.

AS MULHERES INDIGENAS: Percebi que as mulheres indígenas, assim como da cidade, tem maior responsabilidade na educação dos filhos, pois cabe a elas relações orientar, acompanhar todos os passos da criança paciente e carinhosamente, muitas vezes atreladas em seus corpos em tipóias, práticas muito comum entre as mulheres nas aldeias indígenas. Chegamos a refletir sobre o assunto com a turma, abordando questões de gênero, algo positivo que refletiu importantes aspectos e estimulou o debate sobre direitos humanos, cultura e cidadania.

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Desta forma, perceber que a diversidade e identidade cultural da Amazônia, é significativa e não pode ser ignorada na construção do conhecimento, estudos, e sociabilidade de saberes. Mas principalmente, perceber que a cultura dos “brancos” por si só não responde aos apelos e necessidades dos sujeitos do campo. Porém, pertinentes para o processo educativo, democrático e com oportunidades iguais para a produção de conhecimentos que fundamentam a área da educação, sem perder de vistas a responsabilidade e habilidades como estratégia para a solução de problemas e de enfrentamento das desigualdades sociais.

Entendo ainda, que ensinar e aprender, se constitui em uma“arte” que envolve vidas e ao mesmo tempo aprendizado pessoal e coletivo na construção de novos valores, conhecimentos e experiências educativas que possam somar-se e resolver situações problemas emergentes no contexto escola comunidade. Considerar que somos eternos aprendizes, cujos princípios devem nortear as orientações para a educação de homens e mulheres com eqüidade de gênero, raça e/ou condição sociocultural.

A EQUIPE DE PROFESSORES PROFESSORES FORMADORES/AS: Em relação a equipe, composta por cinco professores/as, entre estes:

antropólogos,socióloga, pedagogas, professoras de letras, historia e a coordenadora do curso, professora Ana Maria Rocha que, de forma integrada, buscou construir coletivamente as ações de formação.

Também refletimos sobre os avanços, dificuldades e oportunidades vivenciadas durante os processo de formação, assim como, a socialização de experiencias e expectativas dos educandos em relação ao processo de formação durante e após o curso.

Quanto as metodologias de trabalho, buscamos construir estrategias de organização e interação participativa e cultural entre educadores e ediucandos, acoplado a identidades e diversidades étnicas culturais, respeito e solidariedade de acordo com os princípios pedagógicos norteadores das ações de formação de professores índios no Pará e, conforme as políticas de educação (Art. 78, LDBEN), que estimula a oferta e ampliação da educação escolar indígena em nosso Estado.

De fato, um movimento que vem crescendo e possibilitando valores e oportunidades para a desa e garantia de direitos, na perspectiva do acesso e permanência ao processo de escolarização indígena na Amazônia e demais regiões do país enquanto um direito constituído. Portanto, um curso com carga horaria de 80hs presencial e 20h, não presencial, nas quais participam povos das etnias indígenas: XIKRINS, WARAWETES, CAYAPÓS, ARARAS, ASSURINIS, PARACANÃS, XIPAYAS E JURUNAS.

A FORMAÇÃO:

Percebe-se que a educação do ponto de vista da cultura dos povos indígenas ocorre muito mais da cultura da oralidade do que da escrita, cujos conhecimentos são compartilhados nas relações de trabalho, crenças e tradições culturais. E foi partindo dessas observações, que buscou-se desenvolver uma metodologia interativa, contextualizada em saberes, tradições e experiências de educação vivenciada nas aldeias: causos, memorias e histórias, articulados a

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estudos e analises de temas interdisciplinares, da cultura local e global, em que pudesse desvelar práticas de educação indígena e conhecimentos universais historicamente construídos pela humanidade.

A formação teve também caráter exploratório e como estratégias pedagógicas, foram realizados estudos em grupos, seminários e reflexões sobre a necessidade de construção de uma proposta curricular interdisciplinar que possa compartilhar e desvelar saberes, inquietudes nas suas múltiplas dimensões subjetivas e objetivas da vida cotidianas nas aldeias.

Buscamos ainda, refletir situações problemas que comprometem a qualidade de vida da população a nível local, a exemplo de Belo Monte, pontuando algumas questões recorrentes de situações de pobreza, abandono e exclusão social. Culminando com debates e reflexões durante todo o processo de formação que possa contribuir para o resgate da identidade cultural, preservação de valores sócio ambiental e de garantia de direitos fundamentais para o desenvolvimento humano.

Nesse sentido mas amplo, discutir o papel da educação no contexto local e global, considerando a importância de intercâmbios culturais para aprofundar questões enquanto direitos universais. Mais considerando que é preciso conhecer para entender e resistir às ameaças que impedem a formação e o desenvolvimento das comunidades e povos da Amazônia: “Ser professor na nossa comunidade, significa preservar a nossa cultura bilíngüe, ensinar nossas crianças o que é bom e o que não é bom para nosso povo, ensinar crianças ler e escrever a nossa historia e também conhecer a cultura do homem branco, saber dos nossos direitos...”.

Em Santarém/PA, a experiência como formadora não foi diferente, lideranças locais ARAPIUNS E BORARIS, apontaram situações e criticaram as formas desordenadas de desmatamento na Amazônia e afirmam: “Nós estamos atentos a da cultura dos brancos, nossa luta continua para valorizar e preservar nossa cultura, saber quem somos e o que queremos para a educação do nosso povo”. Sobre esse aspecto, Freire (1978, p. 97), afirma que: “Nossa atitude comprometida – e não neutra – diante da realidade que buscamos conhecer ‑- resulta, num primeiro momento, de que o conhecimento é processo que implica na ação – reflexão do homem sobre o mundo”.

Também a formação contribuiu para expressar sentimentos e provocar questionamentos a respeito de concepções de educação, cultura e cidadania, onde observam: “Nossas terras tem muitas vidas, florestas, tradições. O conhecimento dos mais velhos é importante, eles ensinam os mais novos sobre nossos costumes e crenças. Nosso conhecimento nasce da nossa relação com a natureza”. Sobre essas questões, Freire também afirma que: “Quanto mais vamos conhecendo a realidade histórico-social em que se constituem os temas em relação dialética com seus contrários, tanto mais nos é impossível tornarmos neutro em face deles”.

Para estes grupos étnicos culturais, morar as margens desses projetos em desenvolvimento na Amazônia, é uma ameaça a vida, as suas tradições e costumes. E observam que apesar de avanços e conquistas nas áreas de educação e de demarcação de suas terras, ainda lhes falta muito para superar necessidades históricas: “Sem os rios e a floresta índio não pode viver, a terra e água é também nossa vida, da nossas aldeias, é de lá que índio tira o que comer: pescar, caçar plantar roça..”.

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De fato, estes espaços de dialogo, ocorreram de forma tranqüila nas rodas de conversas, seminários e exposições dos grupos de estudos. Oportunidade para discutir o papel social e político da escola no processo educativo de sujeitos históricos engajados na luta em defesa e garantia de seus direitos e de enfrentamento das desigualdades sociais na Amazônia e desafios para a construção de espaços de formação, promoção humana e resgate da cidadania dos sujeitos do campo, na perspectiva de um desenvolvimento justo e sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Essa experiência como formadora de professores indígenas trouxe-me muito

aprendizado, estudos, analises e reflexões. Valores que aprendi e que também estão associados a minha historia de vida. Mas também pude perceber preocupações em relação a situações de abandono e processos de exclusão social nesses quinze dias de formação. Pude ainda, discutir e refletir sobre saberes e práticas sócio educativas e culturais vivencias por estes sujeito sociais da Amazônia. E ser um canal de diálogo democrático e solidário, que buscou trabalhar a unidade na diversidade de sujeitos históricos.

Desta forma elaborar e sistematizar conhecimentos pertinentes das experiencias de formação, sociabilidade e necessidades que podem vir a contribuir para a garantia de direitos e democratização de acesso a bens e serviços, constituídos pela LDBEN e especialmente aqueles que vivem socialmente excluídos e ainda enfrentam o preconceitos e discriminação étnica racial e cultural. Buscou-se ainda, construir um diálogo fraterno que pudesse nortear à construção de uma proposta curricular interdisciplinar e integrada a valores éticos e culturais, respeitando as diferenças dos povos da Amazônia. Pois considera-se que a educação é sim, um instrumento de mudanças, mas não fará tudo sozinha, mas pode contribuir para transformar realidades injustas vivenciada pelas classes populares em nossa sociedade.

Vale ressaltar que a garantia da gratuidade e qualidade da educação com eqüidade no campo e na cidade, são desafios a serem perseguidos. Porém, reconhece-los enquanto direitos já regulamentados pela LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação, mas ainda sim são privilegio de alguns em detrimento da grande maioria socialmente excluídas.

Mas é preciso reconhecer avanços importantes na área de educação. Propostas e intervenções que vem se articulando para o enfrentamento destas desiguales sociais e na diversidade de sujeitos e atores sociais, na perspectiva da promoção e resgate da cidadania de cidadãos críticos, através da formação continuada de professores, com vistas a uma educação diferenciada, bilíngüe e adequada às diferentes realidades e necessidades da educação escolar indígena no Estado do Pará e na Amazônia.

Também as inquietações e preocupações com o desenvolvimentos de projetos na Amazônia, a exemplo de Belo Monte, tema focal durante todo o processo de formação e nas interfaces deste para a preservação ou destruição da qualidade de vida destas comunidades que sobrevivem dos recursos naturais: terra, água e florestas e, conseqüentemente para a continuidade da vida planetária.

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Nesse contexto, quero destacar a grandeza das mulheres, mães, muitas ainda bem jovens, cujos gestos e paciência no ato de educar, são valores impar nas relações de carinho e educação de seus filhos. Sensíveis as necessidades das crianças. Mas também precisam de investimentos em politicas de gênero e cidadania. Quanto as expectativas em relação a formação, esperam que de fato a educação chegue às aldeias e cheguem do ponto de vista da cultura indígenas. Mas compreendem que a cultura dos “brancos” pode ajudá-los a compreender e conhecer direitos universais e conhecimentos que estão relacionadas à realidades e vivencias sociopolíticas, econômicas e culturais da região.

Nesse sentido a disciplina Historia da Educação, contribuiu para fomentar conhecimentos acadêmicos, contextualizados em experiências de vida e cidadania da cultura indígena. Contribuindo ainda para identificar e analisar sistemas de garantia de direitos constitucionais – LDBEN e de ações políticas pedagógicas positivas a educação e potencialização de novas tecnologias de ensino aprendizagem.

Também perceber a educação como valor social e dialógico, percebido a partir da dinâmica política social, econômica e cultural, centrada em uma leitura global da história da sociedade. E da mesma forma, a formação continuada de professores não pode funcionar sem enfrentar os desafios para a humanização das relações de educação, cujos processos sejam de fomento a politicas de inclusão, desenvolvimento e geração de trabalho e renda. De fato, educar na diversidade, implica princialmente em rever atitudes de respeito as diferenças e solidariedade para a elaboração e sistematização de conhecimentos, onde homens e mulheres sejam capazes de assumir-se enquanto sujeitos da construção de sua própria historia, momentos de integração, sociabilidade. Sendo portanto, quinze dias de aprendizado, troca de experiências, onde aprendemos a aprender, avaliamos e fomos avaliadas/os, sem perder de vistas nossos ideais de educar para o exercício da cidadania, respeito as tradições culturais bilíngües e superação de desafios nas relações de ensino aprendizagem.

REFERENCIAS BIBLIORAFICA

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação – cartas pedagógicas e outros escritos.

Ed. UNESP. São Paulo, 1997.

ACITAM, 1998 Seminário taller organizado por el comitê executivo de La ACITAM:

Arara (Colômbia), Novembro de 1998.

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Relato de experiências vivenciadas no período de formação de professores

indígenas das etnias: Araras; Assurinis; Kayapós; Jurunas; Warawetés; Paracanãs;

Xikrins; Xipayas(Pólo Altamira/PA em Junho de 2010;

ANEXOS

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDIOS – POLO ALTAMIRA/ PA, JUNHO 2010

Imagens 1: Mulher Indígena Xicrim, Altamira/PA, Junho 2010. Fonte própria.“Sou do povo Xikrim, nunca estudei, no meu tempo não tinhas escola, agora cuido do meu neto pra minha filha estudar e não ficar como eu sem estudo”.

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Imagens 2,3: Estudantes de magistérios da etnia Xikrins – pólo Altamira/PA/Junho 2010. Fonte própria

“Para nós índios Xikrim, o mais importante é a nossa cultura, caçar porção do mato, plantar roça, pescar e agora, estudar pra ter educação, pra crianças não esquecer nossas tradições e a nossa cultura. Nossa cultura é bom pra nosso povo, cultura do “branco” traz doenças pra nós e mata nossas tradições”.

Imagem 4 e 5: Professores índios Xipayas - Altamira/PA, Junho 210.

Fonte; própria. “O povo Xipaya, luta tava perdendo suas tradições, mas agora com a demarcação de nossas terras, vamos também preservar a cultura do nosso povo, estamos recuperando nossas crenças, costumes, a língua materna e tudo que é bom para nosso povo, por isso estamos aqui estudando para estudar e assumir a educação do nosso povo”.

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Imagens 6 e 7: Professores índios Jurunas, Alatamira/PA, Junho de 210. Fontes: própria.

“Somos povo Juruna está recuperando sua história, suas tradições, nossa língua materna, nossa cultura, é uma luta muito grande, mas vamos vencer”.

Imagens 9: Professores índios Parakanãs, Altamira/PA, Junho 2010. Fontes: próprias.

“O povo Parakanã, tem lutado muito e deseja assumir nas comunidades a educação das crianças para continuar nossas tradições culturais, de pescar, plantar roça, caçar, pois é da terra que tira o alimento para seu povo”.

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Imagens 12 e 13: Professores índios Assuriny, Altamira/PA, Junho de 210Fontes: própria.“Nós povo Assuriny, queremos estudar porque nosso povo precisa de nós para ensinar crianças a aprender ler e escrever, preservar ee não deixar morrer a cultura do povo Assuriny”.

Imagem: Criança Assurini, sempre presente com as mães nos momentos de formação, Junho de 2010Fonte: própria.No sorriso de uma criança indígena, desabrocham esperanças de vida e sonhos alimentados pelo seio materno ou escanchados de carinhos, e embaladas, adormecem felizes nos braços de suas mães. Elas também brincam, choram, sorriem, aprendem imitando gente grande. Mas suas mães, atentas a tudo, ensinam-lhes sabres e costumes de seu povo.

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Imagens : estudantes índios da etnia Araras, junho 2010. Fontes próprias.

Imagem 8: Professores índios da etnia Araras, Altamira/PA, Junho de 2010

Fontes: própria.

“Somos da etnia Arara, nossa comunidade quase foi extinta, mas estamos aqui, lutando para continuar a viver em nossas terras, trabalhar pra preservar nossos costumes em nossas comunidades, não é fácil, mas vamos conseguir, pelo bem de nosso povo. E nossos nomes não são apenas lendas, nomes de arvores ou de pássaros, mas afirma a historia do nosso povo e expressa às belezas da natureza.”.

As crianças e mães estão sempre muito atentas aos sabres e historias do seu povo e com graça e beleza, brincam e participam das atividades expressando beleza e espontaneidade num gesto simples que é ávida de homens e mulheres indígenas.

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Imagens Estudantes de magistérios da etnia Cayapós, junho de 2010. Fonte própria.“O povo Kayapó é um povo forte, guerreiro e luta pela demarcação de suas terras e quer estudar para preservar a cultura do nosso povo que está sendo ameaçada pelas obras da Barragem de Belo Monte, se os rios secar, acabar, se floresta acabar, onde vamos plantar a roça, pescar, caçar. Como índio vai viver alimentar seu povo?...”.

Imagens 10: Professores índios Warawetés, Altamira/PA, Junho de 2010Fontes: própria.“Somo povo Warawetés, queremos ajudar nosso povo a preservar sua cultura, lutar para melhorar a vida em nossas comunidades, ensinar criança ler e escrever a historia do seu povo”. Nossos nomes também têm haver com a natureza, culturas e tradições do nosso povo. “Queremos aprender a língua dos brancos, a cultura dos brancos e vê o que é bom para ensinar as crianças da nossa comunidade”.

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Imagens de estudantes das etnias Jurunas e Xipayas/ Altamira/PA.

“Terra, águas, rios e florestas, cultura, costumes e tradições comum em nossa região Amazônica. Por isso resistimos aos modelos de desenvolvimento que não respeitam e exclui o direito a vida e a liberdade do nosso povo”

Altamira/PA, JUNHO DE 2010.