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1 Literatura sobre Ética e Deontologia aplicada à Contabilidade: dissertações de mestrado em Portugal (2009-2018) Submissão para: ÉTICA e RESPONSABILIDADE SOCIAL (sem discussant) Autorização para livro de actas Edgar Marques (ISCAC | Coimbra Business School) Miguel Gonçalves ([email protected]) (ISCAC | Coimbra Business School) XVII CICA (Congresso Internacional de Contabilidade e Auditoria) ISCAP, Porto, 7-8 Novembro 2019 1. Introdução Aquando do ingresso dos alunos num mestrado é do seu conhecimento que terão de realizar uma dissertação para o concluir, caso optem por seguir a área científica. É a dissertação que lhes permite demonstrar os conhecimentos que adquiriram aquando do seu percurso académico, focando-se num assunto concreto, sobre o qual irão apresentar um contributo para a academia, educação e sociedade. O presente artigo aborda as dissertações de mestrado elaboradas sobre a temática da ética e deontologia aplicada à contabilidade. Os seus autores são, como era de esperar, da área da contabilidade, mas também de outras áreas ligadas às ciências empresariais, como a auditoria e a gestão. A sua escolha por um tema desta área permite observar a importância que atribuem a esta temática para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

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Literatura sobre Ética e Deontologia aplicada à Contabilidade:

dissertações de mestrado em Portugal (2009-2018)

Submissão para: ÉTICA e RESPONSABILIDADE SOCIAL (sem discussant)

Autorização para livro de actas

Edgar Marques

(ISCAC | Coimbra Business School)

Miguel Gonçalves ([email protected])

(ISCAC | Coimbra Business School)

XVII CICA (Congresso Internacional de Contabilidade e Auditoria)

ISCAP, Porto, 7-8 Novembro 2019

1. Introdução

Aquando do ingresso dos alunos num mestrado é do seu conhecimento que terão de

realizar uma dissertação para o concluir, caso optem por seguir a área científica. É a

dissertação que lhes permite demonstrar os conhecimentos que adquiriram aquando do seu

percurso académico, focando-se num assunto concreto, sobre o qual irão apresentar um

contributo para a academia, educação e sociedade.

O presente artigo aborda as dissertações de mestrado elaboradas sobre a temática da

ética e deontologia aplicada à contabilidade. Os seus autores são, como era de esperar, da área

da contabilidade, mas também de outras áreas ligadas às ciências empresariais, como a

auditoria e a gestão. A sua escolha por um tema desta área permite observar a importância que

atribuem a esta temática para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

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A exposição visa responder à seguinte questão: ‘na última década (2009-2018), qual a

evolução, nas instituições de ensino superior portuguesas, das dissertações de mestrado

relacionadas com tema da ética e deontologia aplicada à contabilidade?’ Para responder à

pergunta de investigação antecedente, foi realizada uma análise das dissertações de mestrado

localizadas por intermédio do motor de busca pertencente ao portal dos Repositórios

Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP). Conforme informação institucional de

domínio público, o portal RCAAP tem como objetivo a recolha, agregação e indexação dos

conteúdos científicos em acesso aberto (ou acesso livre) existentes nos repositórios

institucionais das entidades nacionais de ensino superior e outras organizações de

investigação e desenvolvimento. O objetivo da pesquisa relaciona-se com a enunciação e o

exame das dissertações encontradas no RCAAP, no sentido de expor as suas tendências gerais

e assuntos concretos, nomeadamente as práticas de contabilidade criativa e de

responsabilidade social empresarial. Sublinhe-se no entanto que este artigo apresenta uma

forte limitação: apenas foi utilizada uma ferramenta de pesquisa eletrónica, o RCAAP, pelo

que os resultados apenas apontam a tendências gerais, na medida em que são parcelares por

não espelharem decerto o universo das dissertações defendidas nas instituições de ensino

superior portuguesas no último decénio, ainda que o portal respeite a uma plataforma

eletrónica oficial.

O artigo encontra-se estruturado em seis secções, sendo a primeira a introdução. A

secção seguinte aborda o percurso histórico e a importância da ética e da deontologia na

prática da contabilidade. A terceira secção refere o método utilizado para a elaboração deste

artigo. A quarta secção apresenta os resultados obtidos sob a forma de uma tabela e a secção

seguinte faz uma discussão desses mesmos resultados, destacando as tendências gerais e os

temas que têm cativado especial interesse dos seus autores. A sexta e última secção respeita à

conclusão e à limitação do paper.

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2. A contabilidade e a ética e deontologia profissional

Contabilidade é o processo de identificar, mensurar e comunicar transações

económicas, de forma a permitir juízos e decisões informadas por parte dos seus utilizadores

(Baptista da Costa, 2016). Surge, assim, como um sistema de informação, com o intuito de

proporcionar aos seus utentes informação financeira de auxílio à tomada de decisão.

Informação que pretende, nomeadamente, retratar a posição financeira (situação patrimonial)

e o desempenho (resultado) de determinada entidade.

Contudo, “no seu início a contabilidade era feita ao gosto de cada um” (Rodrigues,

2015, p. 10). Por ser uma prática sem disciplina normativa, originava que situações idênticas

fossem retratadas de modos contabilísticos diferentes, mediante os juízos de valor e as

apreciações subjetivas dos diferentes preparadores da informação contabilística. Estes

posicionamentos faziam com que a informação contabilística fosse considerada pouco

fidedigna pelos utentes da mesma.

É com a revolução industrial e com o desenvolvimento mundial do comércio e,

posteriormente, com a expansão dos mercados de capitais, que os utentes da informação

contabilística começam a exigir que esta seja realizada com rigor e que exprima com retidão o

património e os resultados das empresas. A contabilidade passa assim a assumir um papel de

relevo para os seus utilizadores, nomeadamente acionistas, credores e financiadores

(Rodrigues, 2015).

Em Portugal, o processo de normalização contabilística registou o seu início em 1963,

muito embora não tivesse passado de uma tentativa ténue de uniformizar alguns padrões

contabilísticos a usar pelos técnicos de contas nacionais. Neste sentido, o Decreto n.º 45103,

de 1 de julho de 1963, que aprovou o Código da Contribuição Industrial, apelava aos sãos

princípios de contabilidade, mas não os enunciou nem explicou formal e legalmente em

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nenhuma parte desse diploma, surpreendentemente, nem remeteu para normativo

contabilístico a publicar posteriormente. Nesta matéria, como é sabido, apenas em 1977, com

a publicação do Decreto-Lei n.º 47, de 7 de fevereiro, foi promulgado o primeiro Plano

Oficial de Contabilidade (POC) com vista à uniformização contabilística empresarial, o qual,

uma vez revogado, foi substituído pelo Plano Oficial de Contabilidade (POC) no início de

1990, via publicação do Decreto-Lei n.º 410/89, de 21 de novembro.

Muito recentemente, já em contexto de harmonização contabilística mundial, Portugal,

em 1 de janeiro de 2010, fez entrar em vigor um novo modelo contabilístico, o Sistema de

Normalização Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho,

pelo qual foram adotadas normas contabilísticas em sintonia com as diretivas e regulamentos

da União Europeia, as quais, por sua vez, são baseadas nas normas de contabilidade emitidas

pelo International Accounting Standards Board (IASB), o organismo normalizador

contabilístico mundial por excelência.1 Nesta matéria, o objetivo essencial foi o de seguir a

tendência de harmonização contabilística europeia (e mundial) decorrente da crescente

globalização da economia e da internacionalização das empresas (redação dada pelo próprio

Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, diploma que instituiu em Portugal o SNC). Com o

SNC, foi revogado todo o ordenamento contabilístico normativo nacional vigente até 2009: o

POC 89, as 29 diretrizes contabilísticas que o complementavam e as interpretações técnicas

que aclaravam alguns aspetos deixados em aberto pelas diretrizes contabilísticas.

Sob o ponto de vista da profissão, à medida que a contabilidade foi ganhando interesse

aos olhos do público em geral, foi gradualmente atribuída ao seu preparador, o contabilista,

1 O movimento mundial de normalização contabilística iniciou-se em 2005, ano em que mais de 50

países abandonaram as suas normas de contabilidade próprias/locais e mudaram o seu ordenamento

contabilístico para um conjunto único de normas de contabilidade denominado IFRS (International

Financial Reporting Standards) [Normas Internacionais de Relato Financeiro] promovidas pelo IASB

(deFond, 2019).

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uma posição de crescente relevo na sociedade. Contudo, no nosso país, o reconhecimento

oficial do mérito associado à profissão contabilística foi demorado, podendo inclusivamente

dizer-se que até ao ano de 1995 os profissionais da contabilidade, por não terem um estatuto

próprio, foram esquecidos pelos poderes públicos vigentes em Portugal. De facto, como nos

informam Rodrigues e Gomes (2002, p. 141), “só a partir de 1995, com a tão almejada

regulamentação da profissão, e com a criação da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas

(CTOC) [posteriormente, em 1999], a profissão atingiu o nível de dignidade pretendido e

encontrou bases sólidas para crescer de forma sustentada”. Esta circunstância foi concretizada

com a publicação do Decreto-Lei n.º 265/1995, de 17 de outubro, o qual institucionalizou a

figura jurídica do Técnico Oficial de Contas (TOC) e aprovou o seu primeiro estatuto

profissional, um sonho dos técnicos de contas desde, pelo menos, 1963, isto é, o ano da

publicação do Código da Contribuição Industrial, legislação que havia criado essa categoria

profissional (i.e., os técnicos de contas). Em 1995, como se conclui, os governantes

acrescentaram à profissão o qualificativo ‘oficial’, o que, de um modo geral, foi bem aceite

pelos profissionais, por motivos que se prendiam com o reconhecimento, a dignidade e a

importância pública da sua atividade. Em 2000, acrescente-se, a entidade reguladora da

profissão institucionalizou na classe um código deontológico, sendo, portanto, dois os

documentos norteadores dos contabilistas a partir deste ano: o estatuto profissional e o código

deontológico. Aqui, a profissão denominava-se técnico oficial de contas.

Em 2009, com a publicação do Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de outubro, foi

efetuada uma revisão ao então estatuto dos técnicos oficiais de contas. Também foi alterada a

designação legal da entidade reguladora da profissão: de Câmara dos Técnicos Oficiais de

Contas (CTOC) passou-se a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC).

Posteriormente, com a publicação da Lei n.º 139/2015, de 7 de setembro, a OTOC veio a ser

transformada em Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC). O estatuto profissional e o

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código deontológico dos contabilistas certificados, a par de diversos regulamentos

profissionais, configuram, atualmente, os principais preceitos legais a serem respeitados por

aqueles que fazem da contabilidade a sua ocupação profissional em termos certificados.

Nas palavras de Nunes (2016, p. 230), “a [atual] profissão de contabilista certificado

deve estar ao serviço da vanguarda da transparência, do rigor e da exatidão, constituindo um

garante de confiança para um adequado funcionamento dos mercados, representado também

um garante de confiança extensível a múltiplos aspetos e entidades da vida económica e

social, públicas e privadas”.

A aprovação do código deontológico constituiu um passo fundamental no trilho

percorrido pelos profissionais, pois tal espelhou a confiança e o interesse público que lhes foi

confiado pelo próprio Estado (Nunes, 2016). Impôs-se assim aos contabilistas que no

exercício da sua profissão atuassem de forma ética, ou seja, que passassem a observar,

aquando da sua prática profissional, um comportamento que visasse o bem-estar da sociedade

(Lisboa, 1997). Em suma, a regulamentação profissional determina legalmente aos olhos de

todos que os contabilistas certificados devem pugnar “pela verdade contabilística e fiscal,

evitando qualquer situação que ponha em causa a independência e a dignidade do exercício da

profissão” (artigo 3.º do Código Deontológico dos Contabilistas Certificados atualmente em

vigor).

3. Explicação breve do método da pesquisa

Para se proceder à recolha das dissertações de mestrado que se inserissem no âmbito

do assunto deste artigo, ou seja, na temática da ética e deontologia aplicada à contabilidade,

utilizou-se o motor de busca do RCAAP, como antes se deixou claro. Esta recolha foi

efetuada no período compreendido entre 18 de novembro de 2018 e 7 de janeiro de 2019,

restringindo-se a pesquisa apenas a dissertações de mestrado. Pesquisaram-se as seguintes

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palavras-chave: “ética contabilidade”, “ética técnico oficial de contas”, “ética contabilista

certificado”, “ética TOC”, “ética auditoria”, “deontologia profissional contabilidade”,

“deontologia contabilidade”, “deontologia auditor”, “contabilidade estatuto”, “auditoria

estatuto”, “dilemas éticos contabilidade” e “ética empresarial”. Assume-se aqui que a lista de

termos pesquisados resultou de uma escolha subjetiva mas que ainda assim pretendeu ser

representativa do fenómeno em estudo.

No seguimento, o sistema devolveu um rol bastante extenso de resultados, os quais

foram submetidos a um processo de filtragem para averiguar se estavam enquadrados no

âmbito e no cerne deste artigo. Naturalmente que foi reduzido também o arco temporal da

defesa dessas dissertações ao decénio 2009-2018, para o mesmo se coadunar com o propósito

fundamental do paper e com a pergunta de pesquisa inicialmente estipulada. Em continuação,

fez-se uma primeira embrionária filtragem dos resultados obtidos, levando-se para este efeito

a consideração dos títulos, dos resumos e, por fim, dos resultados das dissertações. Faz-se

notar que para a realização deste artigo foram apenas selecionadas as dissertações de mestrado

que, abordando de forma clara e taxativa o tema da ética e deontologia aplicada à

contabilidade, apresentavam resultados na mesma temática, igualmente, isto é, foram

desconsideradas por esta pesquisa as dissertações que tocavam o tema de forma contextual e

ao de leve.

Como corolário dos passos acima enunciados, obtiveram-se no final 15 dissertações

relevantes para o objeto de estudo, as quais são discutidas em detalhe na próxima secção.

4. Resultados obtidos pela investigação

Optou-se por apresentar os resultados na forma esquemática de uma tabela a fim de

permitir ao leitor uma interpretação intuitiva e célere dos resultados. Assim, a tabela 1

apresenta os resultados obtidos, ou seja, as dissertações de mestrado obtidas pela pesquisa

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efetuada, estando ordenadas cronologicamente, tendo por base o ano. Quando o ano se repete,

o critério seguido de ordenação foi a ordem alfabética do sobrenome do seu autor e não, como

também poderia ter acontecido, a data de defesa pública do trabalho em apreço.

Seguindo-se uma ordem da esquerda para a direita, as primeiras três colunas

apresentam, respetivamente, o autor (pelo seu sobrenome) e o ano da publicação da

dissertação, o seu título e o estabelecimento de ensino onde foi submetida e apreciada

publicamente. Refira-se que no que tange à indicação do estabelecimento de ensino no qual a

dissertação foi defendida, a opção recaiu pelo uso de uma sigla considerada intuitiva para a

sua identificação, visto assim resultar para o leitor uma visualização mais apelativa e fluida. O

significado das siglas utilizadas nos dados constantes da tabela 1 é o seguinte:

─ ‘FEUAlg’: Universidade do Algarve, Faculdade de Economia;

─ ‘IPCA–ESG’: Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, Escola Superior de Gestão;

─ ‘IPL–ISCAL’: Instituto Politécnico de Lisboa, Instituto Superior de Contabilidade e

Administração de Lisboa;

─ ‘IPP–ISCAP’: Instituto Politécnico do Porto, Instituto Superior de Contabilidade e

Administração do Porto;

─ ‘IPS–ESCE’: Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Ciências

Empresariais.

─ ‘UA–ISCAA’: Universidade de Aveiro, Instituto Superior de Contabilidade e

Administração de Aveiro;

─ ‘UC–FE’: Universidade de Coimbra, Faculdade de Economia (popularmente

conhecida por FEUC, simplesmente);

─ ‘UM–EEG’: Universidade do Minho, Escola de Economia e Gestão;

Na quarta coluna, tendo em conta que da análise efetuada ao conteúdo das dissertações

resultou que os seus autores privilegiaram fundamentalmente as vertentes relacionadas com a

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contabilidade criativa, a responsabilidade social empresarial e a responsabilidade social

profissional (fundada em comportamentos éticos e deontológicos, esta última), aspetos sem

dúvida interligados com o presente objeto de estudo, decidiu-se utilizar as siglas *CC*,

*RSE* e *RSP* para, respetivamente, referenciar a presença dessas três temáticas na redação

e nas perspetivas das 15 dissertações em apreço. A quinta coluna indica o resultado principal

que as ditas dissertações apresentam para o tema da ética e da deontologia aplicada à

contabilidade, tendo sido elaborada com base na análise dos seus conteúdos, no geral, e das

suas conclusões, em particular. Por fim, a sexta coluna dá a conhecer a área cientifica da qual

a dissertação faz parte. Dito isto, expõe-se de seguida a tabela 1.

Tabela 1: Dissertações de mestrado na temática da ética e deontologia profissional aplicada à contabilidade

[1]

Autor da

dissertação

e ano de

defesa

[2]

Título da

dissertação

[3]

Estabelecimento

de ensino da

elaboração da

dissertação

[4]

Tema de

relevo da

dissertação

[5]

Principal

resultado/conclusão da

dissertação adstrito ao

campo do saber ‘ética e

deontologia profissional

da área contabilística’

[6]

Área

científica da

dissertação

Carvalho

(2009)

Ética empresarial

e imagem

institucional

UA–ISCAA RSP

Grande parte dos gestores

inquiridos consideram

importante o respeito pelo

código de conduta ética

dos TOC. No entanto,

também consideram

possível haver violação

do mesmo por parte dos

TOC, admitindo 26% dos

inquiridos já terem

pressionado o TOC para

cometer um ato de

ilegalidade gravíssima.

Mestrado em

Contabilidade

Grazina

(2010)

Ética e

responsabilidade

social das

organizações

perante os

técnicos oficiais

de contas (TOC)

IPL–ISCAL RSE

Os gestores inquiridos

defendem tanto a

existência de um código

de ética para os TOC,

como o respeito destes

pelo mesmo. Os TOC

afirmam também

respeitarem na

generalidade o conjunto

dos princípios e normas

contabilísticas e o sigilo

profissional. No entanto,

advogam que tanto a

lealdade entre colegas,

como a independência,

são princípios

Mestrado em

Contabilidade

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deontológicos raramente

respeitados na classe.

Esteves

(2012)

A

responsabilidade

social do auditor

perante a fraude

IPL–ISCAL RSP

Os revisores oficiais de

contas (ROC) inquiridos

admitem que raramente

respeitam os seus deveres

para com a ordem dos

revisores oficiais de

contas (OROC), mas que

nunca desrespeitam o

sigilo profissional nem o

conjunto dos seus deveres

para com os seus clientes.

Mestrado em

Auditoria

Ferreira

(2013)

O comportamento

ético dos

profissionais de

contabilidade em

Portugal: um

estudo

exploratório

UM–EEG RSP

Entre 2002 e 2011, foram

970 os TOC que

cometeram infrações

disciplinares sancionadas

pelo código deontológico,

sendo na sua maioria

participadas pelos seus

clientes (58%) e por

outros TOC (24%). As

sanções aplicadas foram

em grande parte de

advertência (48%) e de

multa (45%). Entre 2009

e 2012, as maiores causas

das denúncias

constituíram-se na falta

de entrega e entrega

extemporânea de

declarações fiscais (17%),

retenção de documentos

(15%) e incorreções

técnicas do preparador da

informação financeira,

tanto contabilísticas como

fiscais (11%).

Mestrado em

Contabilidade

Neto

(2013)

Identificação dos

dilemas éticos dos

técnicos oficiais

de contas (TOC)

IPCA–ESG RSP

No quotidiano da sua

atividade profissional, os

TOC encontram-se

constantemente perante

dilemas éticos, os quais

podem ser tipificados em

dilema de valores, dilema

dos destinatários e dilema

dos meios. No dilema de

valores, decidir-se-á

tendo em conta a

hierarquia que se faz dos

valores em conflito. No

dilema dos destinatários,

Mestrado em

Auditoria

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decidir-se-á tendo em

conta qual o

destinatário/pessoa a

beneficiar

primordialmente, em

detrimento das outras

pessoas envolvidas. “É

muito difícil cumprir

permanentemente o

objectivo de beneficiar

todos em todas as

decisões. Muitas vezes,

não se tratando de opções

neutras, elas afetam de

forma desigual os agentes

envolvidos e assim o

dilema dos destinatários

situa-se na escolha

daqueles que devem ser

beneficiados em cada

situação” (Neto, 2010, p.

46). No dilema dos

meios, decidir-se-á tendo

em conta se os meios

justificam os fins.

Sousa

(2013)

Perceções sobre a

conduta ética e

profissional dos

técnicos oficiais

de contas (TOC)

UM–EEG RSP

É notória a evolução do

comportamento ético dos

TOC após a introdução

do seu código

deontológico em 2000.

Os profissionais

apresentam atualmente

uma atuação com elevado

sentido de verdade,

confiança e justiça.

Também o ensino de ética

e deontologia nos cursos

de acesso à profissão de

contabilista tem sortido

um efeito benéfico na

formação dos futuros

TOC.

Mestrado em

Gestão

Fernandes

(2014)

A contabilidade,

o exercício e o

acesso à

profissão de

técnico oficial

de contas (TOC)

na perspetiva

das mulheres

UM–EEG RSP

Os serviços prestados

pelos TOC não têm vindo

a ser devidamente

reconhecidos pela

sociedade em geral, fator

que tem incentivado a

falta de ética nas suas

condutas profissionais,

nomeadamente quanto à

prática de honorários e

angariação de clientes.

Mestrado em

Contabilidade

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Pereira

(2014)

Ética e moral no

processo de

tomada de

decisão: o caso

dos alunos de

ciências

económicas e

empresariais

UM–EEG RSP

Quando confrontados

com os cenários

apresentados, os

estudantes inquiridos que

responderam com maior

intensidade ética e moral

foram: quanto ao género,

os do sexo masculino;

quanto à idade, os mais

velhos; e quanto ao curso

em que inseriam, os da

área da contabilidade.

Salienta-se ainda que são

os estudantes que já

tinham frequentado uma

unidade curricular de

ética e os com mais

experiência profissional

que responderam com

maior intensidade ética e

moral às questões

formuladas.

Mestrado em

Contabilidade

Pinto

(2014)

Ética e

responsabilidade

social das

empresas cotadas

da EURONEXT

Lisboa (2008-

2012)

IPL–ISCAL

RSE

Constata-se que as

empresas cada vez dão

mais importância tanto à

ética como à

responsabilidade social,

sendo que na amostra

analisada registou-se, de

2008 para 2012, um

aumento do número de

empresas a começar a

divulgar informação

sobre ética e

responsabilidade social,

respetivamente de 15% e

de 9%. As variáveis de

ética mais relevantes são

a existência de um canal

de comunicação que

permite a denúncia de

comportamentos e a

existência de um código

de ética ou conduta.

Mestrado em

Contabilidade

Laranjeiro

(2015)

Perceções éticas

dos TOC: ema

análise dos

fatores que

podem

influenciar as

suas decisões

UC–FE (i.e.,

FEUC) RSP

Não foi encontrada

evidência empírica que

suporte que, tanto os

fatores individuais

(género, idade e

experiência de trabalho),

como os fatores

situacionais (pares e

código de ética),

influenciem o processo de

tomada de decisões

éticas.

Mestrado em

Contabilidade

e Finanças

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Ramalho

(2015)

Contabilidade

criativa: a

perceção dos

técnicos oficiais

de contas (TOC)

IPL–ISCAL CC

A maioria dos TOC

(80%) consideram a

prática de contabilidade

criativa como legal, tendo

todos os inquiridos

admitido nela incorrer

pelo menos uma vez, o

que, no entanto, não

implica que a sua prática

não lhes cause algum

desconforto. Consideram,

portanto, que a prática de

contabilidade criativa

compromete os princípios

éticos da profissão.

Contudo, o autor não

considera que o conceito

por si defendido de

contabilidade criativa -

aproveitamento da

flexibilidade das normas

contabilísticas para

manipulação das

demonstrações

financeiras - comprometa

os princípios éticos da

profissão.

Mestrado em

Contabilidade

Araújo

(2016)

Responsabilidade

social e ética dos

auditores na

deteção e

prevenção de

fraude

IPP–ISCAP RSP

A maioria dos ROC

inquiridos afirma ser

responsabilidade dos

ROC a deteção e

prevenção de fraudes

contabilísticas, sendo que

as suas normas de

condutas devem ser

explícitas e adequadas.

Mestrado em

Auditoria

Silva

(2016)

A ética e a

utilidade da

contabilidade

FEUAlg RSP

Melhores habilitações

académicas e uma maior

intensidade ética do

contabilista, são fatores

que permitem a obtenção

de informação financeira

mais útil à tomada de

decisão, na medida em

que está menos sujeita à

intervenção humana

motivada por fatores

alheios à prática

contabilística.

Mestrado em

Contabilidade

Figueira

(2017)

A contabilidade

criativa em

Portugal: a

perceção dos

contabilistas

certificados (CC)

IPP–ISCAP CC

A grande maioria dos

contabilistas certificados

consideraram a prática da

contabilidade criativa

como tendo impactos

significativos nas

demonstrações

financeiras, o que, no

entanto, não altera a sua

confiança nas mesmas,

uma vez que consideram

Mestrado em

Contabilidade

e Finanças

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14

tal prática legal.

Afirmam, ainda, aplicar

os seus princípios éticos

em conjunto com normas

contabilísticas subjetivas.

Lemos

(2017)

A contabilidade

criativa: uma

análise sobre o

seu conhecimento

em diferentes

perspetivas (o

aluno, o professor

e o profissional)

IPS–ESCE CC

Do inquérito realizado a

estudantes, docentes e

profissionais, todos da

área da contabilidade,

verificou-se que quando

confrontados com a

confiança nas contas

apresentadas pelas

empresas nacionais, “são

os estudantes que

apresentam uma maior

desconfiança, enquanto os

restantes revelam um

maior grau de confiança.

Em termos éticos, são

também os estudantes a

sair do padrão face à

população analisada,

revelando uma menor

preocupação ética sobre

como as práticas de

contabilidade criativa

podem afetar os

princípios éticos da

profissão” (Lemos, 2017,

resumo).

Mestrado em

Contabilidade

e Finanças

Fonte: Elaboração própria.

5. Discussão dos resultados

5.1 Análise das tendências gerais das dissertações

Da análise da tabela 1, retiram-se diversas conclusões acerca da evolução das

dissertações de mestrado na temática da ética e deontologia profissional aplicada à

contabilidade.

Quanto à sua data de apresentação, observa-se no universo dos resultados obtidos, que

até 2012 apenas tinham sido defendidas três dissertações sobre esta temática. É só em 2013

que o número de publicações por ano aumenta, tendo sido publicadas três dissertações por

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15

ano, em 2013 e 2014. Este número desce posteriormente para duas publicações por ano no

período de 2015 a 2017.

Analisando agora o estabelecimento de ensino onde a dissertação foi submetida,

conclui-se que das 15 dissertações no universo em análise, quatro são provenientes do

Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa do Instituto Politécnico de

Lisboa e outras quatro da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. Observa-

se assim, uma aparente valorização da vertente ética no ensino destas duas instituições de

ensino superior portuguesas, dado que, quando comparado o total de dissertações que

abordam a temática de ética e deontologia aplicada à contabilidade, representam uma

assinalável maioria face às restantes instituições de ensino que ministram cursos superiores

ligados à profissão de contabilista. Aqui, por exemplo, tanto quanto é do nosso conhecimento

e do conteúdo do RCAAP, ainda não foi defendida nenhuma dissertação de mestrado no

Instituto Politécnico de Coimbra nesta área específica de estudo, designadamente na unidade

de ensino à qual pertencem os autores desta pesquisa, o Instituto Superior de Contabilidade e

Administração de Coimbra (ISCAC), pelo menos nós últimos dez anos (período 2009 a

2018).

Quanto aos resultados que estas dissertações apresentam e evidenciam, pode-se

concluir que, no geral, os contabilistas certificados apresentam uma evolução ética positiva

desde a introdução do primeiro código deontológico em 2001, sendo este considerando pelos

próprios contabilistas como um documento legal/profissional importante para a sua prática

pessoal. Contudo, o dever de lealdade entre pares é pouco respeitado no global. No entanto,

tal raramente implica um elevado grau de gravidade no desrespeito pelo seu código

deontológico, visto que, na maioria dos casos, são aplicadas aos profissionais as sanções

disciplinares menos penalizadoras – advertência e multa.

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Na vertente do ensino, conclui-se que quanto maior for a formação académica e a

frequência de unidades curriculares de ética por determinado estudante, maior a intensidade

ética nas suas decisões. Contudo, de um ponto de vista integral, são os estudantes, quando

comparados aos profissionais e aos docentes da área da contabilidade, aqueles que, destes três

grupos, apresentam menor intensidade ética nas suas decisões, sendo inclusivamente os que

menos confiança mostram nas demonstrações financeiras apresentadas pelas empresas em

Portugal.

5.2 Contabilidade criativa (CC)

Do total das dissertações objeto de análise na tabela 1, constata-se que três abordam o

tema da contabilidade criativa, sendo que foram apresentadas recentemente, uma em 2015 e

as outras duas em 2017. Tal demostra a crescente importância que o tema tem no contexto da

tomada de decisões éticas por parte dos contabilistas certificados.

A contabilidade criativa traduz-se num processo mediante o qual os contabilistas,

utilizando o seu conhecimento das normas contabilísticas, manipulam a informação a

apresentar nas demonstrações financeiras (Amat e Blake, 1996). Tal deriva, principalmente,

da subjetividade de alguns procedimentos contabilísticos e da flexibilidade das normas

contabilísticas (Faria, 2007), as quais conferem alguma liberdade aos contabilistas, tendo em

conta os seus interesses, para manipular a informação financeira. Esta conduta deliberada põe

em causa não só o prestígio da profissão de contabilista, mas também a imagem fiel e

verdadeira da posição financeira e do desempenho da empresa (Faria, 2007).

Esta é uma prática que, quando realizada com dolo, vai contra os princípios éticos do

contabilista, podendo mesmo, tendo em conta o seu grau de gravidade e afronta aos princípios

éticos e deontológicos do contabilista, tornar-se numa prática ilegal ou fraudulenta. Portanto,

a contabilidade criativa é uma prática que coloca em causa o comportamento ético dos

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contabilistas na medida em que deteriora o trabalho que é a sua principal competência, isto é,

a produção das demonstrações financeiras de determinada entidade.

Da análise da tabela 1 conclui-se que, na perspetiva dos contabilistas certificados, a

contabilidade criativa tem impactos significativos nas demonstrações financeiras, mas tal não

altera a sua confiança nas mesmas, dado que consideram tal prática legal. Contudo, admitem

que o exercício de procedimentos criativamente contabilísticos lhes provoca algum

desconforto, sendo também comprometedor dos princípios éticos da sua profissão.

5.3 Responsabilidade social empresarial (RSE)

Portugal, no início da década de noventa, começa a assistir a um crescente interesse

académico, empresarial e da própria sociedade pelas questões da responsabilidade social

empresarial (Moura e Duarte, 2003). Por ser uma temática agregadora de interesses de várias

ciências sociais, torna-se árdua a tarefa de lhe atribuir uma definição geralmente aceite. Ainda

assim, no campo das ciências empresariais, Davis (1973) define o conceito de

responsabilidade social empresarial como sendo a resposta das empresas a questões sociais

que ultrapassam a sua esfera económica, técnica e legal.

Pela análise da tabela 1, constata-se que existem apenas duas dissertações publicadas

sobre ética e deontologia aplicada à contabilidade que abordam o tema da responsabilidade

social empresarial. Aquando da abordagem deste tema, os seus autores não privilegiam tanto

os aspetos contabilísticos, mas mais os aspetos de índole moral, colocando a tónica sobre o

que é certo e o que é errado, ao invés de se focarem no papel que a contabilidade pode

desempenhar como instrumento fomentador dessa responsabilidade social empresarial.

5.4 Responsabilidade social profissional (RSP)

Como seria de esperar, a maioria das dissertações (dez, no caso) debruçam-se sobre a

atividade profissional em concreto dos contabilistas e, também, embora em menor escala,

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sobre o que pensam os docentes e os alunos de contabilidade acerca do cumprimento ou do

incumprimento dos preceitos estatutários e deontológicos da profissão. As perceções dos

preparadores da informação contabilística quanto às facetas éticas e deontológicas associadas

às suas tomadas de decisão constituem um dos temas de estudo mais procurados pelos futuros

mestres. A responsabilidade social profissional mede-se não só pela observação rigorosa dos

estatutos e do código deontológico da profissão, mas também pela correta execução dos

regulamentos aplicáveis à sua atividade emanados pela entidade reguladora da profissão.

6. Conclusão

O presente artigo versou sobre as dissertações de mestrado que abordam o tema da

ética e da deontologia profissional aplicada à contabilidade, tendo para tal usado o método

bibliográfico de análise do seu conteúdo. Com esta análise pretendeu-se elucidar o leitor sobre

a evolução de que têm sido alvo estas dissertações, em particular as que foram realizadas no

período 2009-2018, bem como verificar quais são as instituições de ensino superior que em

Portugal caminham no sentido de apostarem na divulgação e no estudo deste particular tema.

Conclui-se que o assunto não é propriamente muito popular entre os estudantes autores

de dissertações de mestrado, na medida em que as 15 dissertações encontradas revelam um

panorama algo desanimador para a academia. Este artigo reforça, assim, a necessidade de

aumentar a literatura sobre esta problemática, tanto mais que se sabe que quase todas as

licenciaturas do ramo das ciências empresariais possuem no seu plano curricular a unidade

curricular de ética e deontologia. Acresce que, como se sabe, também, as matérias estatutárias

e deontológicas da profissão de contabilista integram o exame de acesso à profissão de há

cerca de quinze anos a esta parte, pelo que a sugestão aqui lançada é muito curial para um

estudante de mestrado que esteja a pensar abraçar o tema, pertencente, em especial, àquelas

instituições de ensino superior onde ainda não foram efetuadas quaisquer defesas de

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dissertação relacionadas com o tema deste artigo. Ainda neste domínio, foi possível concluir

que dois estabelecimentos de ensino superior dominam o ranking das instituições nas quais o

tema parece estar a ser alvo de uma maior atenção: são eles o ISCAL e a EEG, escolas

pertencentes ao Instituto Politécnico de Lisboa e à Universidade do Minho, respetivamente.

Em termos gerais, a contabilidade criativa, como prática que pode pôr em causa os

próprios princípios éticos dos contabilistas, e responsabilidade social profissional, como

prática que pode ser elevada pelo cumprimento dos preceitos éticos e deontológicos dos

intervenientes no processo de tomada de decisão, parecem ser os temas que mais cativam os

futuros mestres em contabilidade/auditoria/contabilidade e finanças/gestão.

O presente artigo contribui para a literatura na medida em que lista e expõe as

tendências que se têm observado no último decénio nas instituições de ensino superior no país

acerca de um tema que tem estado na agenda do dia: a ética e a deontologia profissional na

atividade contabilística. O seu contributo pode direcionar-se para os estudantes de mestrado

que pretendem escolher um tema de dissertação nesta área, isto porque foram aqui explorados

possíveis caminhos de investigação futura.

É de recordar, no entanto, que uma limitação deste artigo respeita ao uso exclusivo do

motor de busca do RCAAP; neste sentido, não foi efetuada uma procura individualizada por

instituição, o que pode contribuir para o enviesamento das conclusões extraídas neste paper.

Torna-se ainda relevante referir que alguns autores e algumas instituições optam por não

tornar livre o acesso público das suas dissertações, pelo menos durante um determinado

período temporal. Assim sendo, um futuro trilho a percorrer pode ser aquele que se relacione

com uma pesquisa que cubra uma amostra mais representativa de bases de dados, indo ao

encontro de conclusões mais satisfatórias e robustas de um ponto de vista argumentativo.

Outra recomendação de trabalho a desenvolver vincula-se com o alargamento do caráter

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restritivo desta pesquisa a outras unidades de análise, como sejam, por exemplo, os periódicos

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