literatura - pré-vestibular impacto - exercícios

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JACKY29/02/08 EXERCÍCIO FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!! PROFº: ANDRÉ BELÉM Fale conosco www.portalimpacto.com.br VESTIBULAR – 2009 CONTEÚDO A Certeza de Vencer E4 2 O REGRESSO DO MARIDO DE CONSTANÇA Após a saída de Lemos, dois quadros configuram o início do terceiro momento: Cena VIII: Quadro I: a Moça anuncia que a armada partiu havia dois anos, num domingo de madrugada. Quadro II: a Moça vai fazer compras, após ter dito que a armada havia partido a três anos. Cena IX: - Monólogo brevíssimo, no qual a Ama revela a esperança que possui de seu marido não regressar. Cena X: - A Moça regressa com a noticia de que o marido de Constança estava de regresso. Constança roga-lhe pragas e manda-lhe quebrar louças para aparentar que passou privações na ausência do marido. Cena XI: - O Marido chega e a moça mostra-se empolgada com seu regresso. Vale dizer que essa empolgação é natural, pois seu retorno representava uma melhora na qualidade de vida dela. Constança, por sua vez, encontra-se profundamente decepcionada, mas aparenta bem-estar. A ama manda a moça sair, e fica sozinha com o marido. Cena XII: - O marido de Constança conta como foi sua viagem, revelando seu sofrimento no cotidiano das navegações. As mortes, as brigas, as tormentas, a dureza da guerra, tudo isso constituía a vida diária de quem ia às Índias. - Constança mostra-se dissimulada no regresso do marido, pois afirma que foi religiosa e que ficou rezando enquanto ele estava ausente. - A história se encerra com uma dúvida da Ama, que desconfia de seu marido ter voltado pobre. Essa dúvida serve para enfatizar o comportamento leviano que ela possui. LEITURA DO TERCEIRO ATO: O REGRESSO DO MARIDO (TRECHOS) Moça: Três anos há Que partiu Tristão da Cunha. Ama: Quando eu ano e meio punha. Moça: Mas três e mais haverá. Ama: Vai tu comprar de comer. Tens muito para fazer, Não tardes. Moça: Não senhora; Eu virei logo nessora, Se eu lá não me detiver Ama: Mas que graça que seria Se este negro meu marido Tornasse a Lisboa vivo Para a minha companhia! Mas isto não pode ser; Que ele havia de morrer Somente de ver o mar. Quero acreditar nisso e cantar, Segura de nunca o ver. …. (Diz a Moça regressando da rua) …. Ai, senhora! Venho morta: Nosso amo é hoje aqui! Ama: Má nova venha por ti. Perra! Excomungada! Torta! Moça: A Garça, em que ele ia, Vem com mui grande alegria; Por Restelo entra agora. Por vida minha, senhora, Que não falo zombaria. ….. E vi pessoa que o viu Gordo, que é pera espantar. Ama: Pois, casa, se eu te eu caiar, Mate-me quem me pariu. Quebra-me aquelas tigelas e três ou quatro panelas, que não ache em que comer Que chegada e que prazer! Fecha-me aquelas janelas. ….. Deita essa carne a esses gatos. Desfaz toda essa cama. ….. Moça: De mercês está minha ama; Desfeitos estão os tratos. Ama: Por que não matas o fogo? Moça: Raivar, que este é outro jogo. Ama: Perra, cadela, tinhosa, que rosmeias, aleivosa? Moça: Digo que o matarei logo. Ama: Não sei para que é viver. Marido (da rua) Hou-lá. Ama: Ali má ora, este é. Quem é? Marido Homem de pé. Ama: Gracioso se quer fazer. Subi, subi pera cima. Moça: É nosso amo, como rima! Ama: Teu amo! Jesu! Jesu! Alvíssaras te pedirão. Marido (entrando): Abraçai-me, minha prima. Ama: Jesu! Tão negro e tostado! Não vos quero, não vos quero, Marido E eu a vós si, porque espero. Serdes mulher de recado. Ama: Moça, tu que estás olhando? Vai muito asinha saltando, Faze fogo, vai por vinho, e metade de um cabritinho, Enquanto estamos falando. (Sai a moça) Ama: Ora como vos foi lá? Marido Muita fortuna passei. Ama: E eu, oh! Quanto chorei! Quando a armada foi de cá E quando vi desferir, Que começaste de partir, Jesus! Eu fiquei finada! Três dias não comi nada, A alma se me queria sair. Marido E nós cem léguas daqui, Saltou tanto sudoeste, Sudoeste e oes-sudoeste, Que nunca tal tormenta vi.

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JACKY29/02/08

EXERCÍCIO

FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!

PROFº: ANDRÉ BELÉM

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CONTEÚDO

A Certeza de Vencer

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O REGRESSO DO MARIDO DE CONSTANÇA

Após a saída de Lemos, dois quadros configuram o início do terceiro momento: Cena VIII: Quadro I: a Moça anuncia que a armada partiu havia dois anos, num domingo de madrugada. Quadro II: a Moça vai fazer compras, após ter dito que a armada havia partido a três anos. Cena IX: - Monólogo brevíssimo, no qual a Ama revela a esperança que possui de seu marido não regressar. Cena X: - A Moça regressa com a noticia de que o marido de Constança estava de regresso. Constança roga-lhe pragas e manda-lhe quebrar louças para aparentar que passou privações na ausência do marido. Cena XI: - O Marido chega e a moça mostra-se empolgada com seu regresso. Vale dizer que essa empolgação é natural, pois seu retorno representava uma melhora na qualidade de vida dela. Constança, por sua vez, encontra-se profundamente decepcionada, mas aparenta bem-estar. A ama manda a moça sair, e fica sozinha com o marido. Cena XII: - O marido de Constança conta como foi sua viagem, revelando seu sofrimento no cotidiano das navegações. As mortes, as brigas, as tormentas, a dureza da guerra, tudo isso constituía a vida diária de quem ia às Índias. - Constança mostra-se dissimulada no regresso do marido, pois afirma que foi religiosa e que ficou rezando enquanto ele estava ausente. - A história se encerra com uma dúvida da Ama, que desconfia de seu marido ter voltado pobre. Essa dúvida serve para enfatizar o comportamento leviano que ela possui. LLEEIITTUURRAA DDOO TTEERRCCEEIIRROO AATTOO::

OO RREEGGRREESSSSOO DDOO MMAARRIIDDOO ((TTRREECCHHOOSS)) Moça: Três anos há Que partiu Tristão da Cunha. Ama: Quando eu ano e meio punha. Moça: Mas três e mais haverá. Ama: Vai tu comprar de comer. Tens muito para fazer, Não tardes. Moça: Não senhora; Eu virei logo nessora, Se eu lá não me detiver … Ama: Mas que graça que seria Se este negro meu marido Tornasse a Lisboa vivo Para a minha companhia! Mas isto não pode ser; Que ele havia de morrer Somente de ver o mar. Quero acreditar nisso e cantar, Segura de nunca o ver. ….

(Diz a Moça regressando da rua) …. Ai, senhora! Venho morta: Nosso amo é hoje aqui! Ama: Má nova venha por ti. Perra! Excomungada! Torta! Moça: A Garça, em que ele ia, Vem com mui grande alegria; Por Restelo entra agora. Por vida minha, senhora, Que não falo zombaria. ….. E vi pessoa que o viu Gordo, que é pera espantar. Ama: Pois, casa, se eu te eu caiar, Mate-me quem me pariu. Quebra-me aquelas tigelas e três ou quatro panelas, que não ache em que comer Que chegada e que prazer! Fecha-me aquelas janelas. ….. Deita essa carne a esses gatos. Desfaz toda essa cama. ….. Moça: De mercês está minha ama; Desfeitos estão os tratos. Ama: Por que não matas o fogo? Moça: Raivar, que este é outro jogo. Ama: Perra, cadela, tinhosa, que rosmeias, aleivosa? Moça: Digo que o matarei logo. Ama: Não sei para que é viver. Marido (da rua) Hou-lá. Ama: Ali má ora, este é. Quem é? Marido Homem de pé. Ama: Gracioso se quer fazer. Subi, subi pera cima. Moça: É nosso amo, como rima! Ama: Teu amo! Jesu! Jesu! Alvíssaras te pedirão. Marido (entrando): Abraçai-me, minha prima. Ama: Jesu! Tão negro e tostado! Não vos quero, não vos quero, Marido E eu a vós si, porque espero. Serdes mulher de recado. Ama: Moça, tu que estás olhando? Vai muito asinha saltando, Faze fogo, vai por vinho, e metade de um cabritinho, Enquanto estamos falando. (Sai a moça) Ama: Ora como vos foi lá? Marido Muita fortuna passei. Ama: E eu, oh! Quanto chorei! Quando a armada foi de cá E quando vi desferir, Que começaste de partir, Jesus! Eu fiquei finada! Três dias não comi nada, A alma se me queria sair. Marido E nós cem léguas daqui, Saltou tanto sudoeste, Sudoeste e oes-sudoeste, Que nunca tal tormenta vi.

FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

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... Marido Foi à volta do mar Quase, quase a quartela: A nossa Garça voava, Que o mar se despedaçava. …. Fomos ao rio de Meca, Pelejamos e roubamos. E muito risco passa À vela e árvore seca. Ama: E eu cá esmorecer, Fazendo mil devoções, Mil choros, mil orações. Marido Assi havia de ser... Ama: Porém vindes muito ricos? Marido: Se não fora o capitão, Eu trouxera o meu quinhão Um milhão, vos certifico. Calai-vos, que vós vereis. Quão louça haveis de sair. Ama Agora me quero eu rir Disso que me vós dizeis. Pois que vós vivo viestes, Que me quero de mais riqueza? Louvada seja a grandeza De vós, Senhor que o trouxesses. A nau vem bem carregada? …… Marido Vem tão doce, embandeirada. Ama: Vamo-Ia, rogo-vo-lo, ver. Marido Far-vos-ei nisso prazer? Ama: Si, que estou muito enfadada. Vão se ver a nau e fenece esta farsa.

EXERCÍCIO 01. Marido (entrando) — Abraçai-me, minha prima. Ama - Jesus! Tão negro e tostado! Não vos quero, não vos quero, Marido — E eu a vós si, porque espero. Serdes mulher de recado. Ama - Moça, tu que estás olhando? Vai muito asinha saltando, Faze fogo, vai por vinho, E metade de um cabritinho, Enquanto estamos falando. (Sai a moça) Ama — Ora como vos foi lá? Marido — Muita fortuna passei. Com base no diálogo acima, assinale somente as afirmações corretas I. Gil Vicente é considerado autor de obras que retrataram o seu tempo, como podemos perceber no Auto da Índia, o tema das navegações. II. O retrato da sociedade pode ser encontrado na presença da linguagem popular nos diálogos das suas personagens. III. Há referência a um fato marcante da época (as Grandes Navegações). No fragmento acima, o marido tinha chegado de viagem de uma das embarcações da época que havia retornado das Índias. IV. Há uma critica aos costumes da época (o fingimento de uma mulher adúltera, que trai o marido enquanto este está em viagem). V. O autor faz esse retrato da sociedade da época através da sátira e da crítica social. a) II e IV estão corretas. b) II e V estão corretas. c) I e III estão corretas. d) III e V estão corretas. e) Todas estão corretas.

02. Podemos afirmar quanto à farsa do Auto da Índia: a) Tem intenção claramente moralizante na medida em que critica o adultério e reafirma, através do arrependimento da protagonista (Constança), os valores religiosos. b) Sua crítica é de caráter puramente político, na medida em que critica as navegações empreendidas pela Coroa portuguesa. c) Sua crítica é de cunho social e moral, em que os costumes da sociedade portuguesa da época foram ridicularizados; e enfoca mais especificamente o adultério, que era praticado pelas mulheres cujos maridos partiam para demoradas viagens. d) Por ser um texto cômico, despretensioso, leve, não pode se encontrar nele qualquer elaboração semântica ou formal; com isso, a peça Auto da Índia, além de datada e anacrônica, por retratar uma situação que só acontecia na sua época, tem uma linguagem poética pobre e desordenada. e) O marido é a figura mais importante da obra como pode-se atestar o título, já que é um navegante. Leia o trecho abaixo de O Auto da Índia, de Gil Vicente e responda: (...) A moça se vai e a ama fica dizendo: Ama A Santo Antônio rogo eu Que nunca mo cá depare: Não sinto quem não s’ enfare Dum diabo Zebedeu Dormirei, dormirei Boas novas acharão. São João no ermo estava, E a passarinha cantava. Deus me cumpra o que sonhei. Cantando vem ela e leda. MMooççaa ddaaii aallvvííssssaarraass,, sseennhhoorraa,, Já vai lá de foz em fora. Ama Dou-te cá .a touca de seda. Moça Ou quando ele vier daí-me Do que vos trouxer Ama Ali, muitieramá! Agora há-de tornar cá Que chegada e que prezer! Moça Virtuosa está minha ama! Do triste dele hei dó. 03. Podemos associar O Auto da Índia ao Humanismo principalmente por que: a) É uma obra que critica violentamente os valores da religião católica. b) É uma obra refinada, tanto na linguagem quanto na estrutura. c) Seu autor procurou ser mais isento possível na sua profunda análise sobre a sociedade medieval da época. d) Desvincula-se da tradição religioso-sacra que predominou nas peças medievais, incorporando elementos ousados para a época como a ironia, a irreverência e a crítica social com algum fundo moral.