literatura - pré-vestibular impacto - arcadismo em portugual - bocage 1

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Page 1: Literatura - Pré-Vestibular Impacto - Arcadismo em Portugual - BOCAGE 1

KL 150208

ARCADISMO EM PORTUGAL - BOCAGE

FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!

PROFº: ANÍSIO

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orta

limpa

cto.

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.br

VEST

IBUL

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200

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CONTEÚDO

A Certeza de Vencer

02

1

01. Manoel Maria du Bocage: Poeta lírico neoclássico português, que tinha pretensão a vir a ser um segundo Camões, mas que

dissipou suas energias numa vida agitada. Nasceu em Setúbal, em 15/09/1765 e morreu em Lisboa (21/12/1805), aos 40 anos de idade, vítima de um aneurisma. Ingressou na Nova Arcádia usando o pseudônimo de Elmano Sadino, também é conhecido como poeta obsceno e erótico na autoria de alguns sonetos satíricos. Notamos em sua obra o predomínio de uma “sensibilidade” do poeta; ao mesmo tempo uma “sensibilidade” sobre a razão, valorizando o sentimentalismo, marcado por um profundo sofrimento, pelo ciúme e o abandono, gerando um gosto pelo lado escuro da vida e tendo como única solução para seus problemas a morte, o que marca de certa forma a sua chegada ao Romantismo.

Compreensão textual: SONETO I:

Glossário: 1- Cúpido / Literalmente, alígero significa rápido ligeiro. 2- Risonho alegre. 3- Significa rosto, é muito comum na poesia clássica. 4- Deus supremo, o pai de todos. 5 - Deusa da beleza e do amor.

Comentários: Tal soneto exemplifica a estética árcade. Neste, observamos a presença da natureza, bem como de figuras mitológicas como Vênus e Júpiter. O poema é construído tomando como tema à oposição beleza e o seu efeito sobre o poeta. As mãos da tágide tecituram o fado do poeta e os lábios da musa tiram a sua paz. A beleza dionisíaca da mulher amada é demonstrada ao longo do poema e, ao final, a mulher será comparada a Vênus (Afrodite), deusa da beleza e do amor e transparece tanto a mesma beleza, que mesmo Júpiter (Zeus) por ela suspira apaixonado. SONETO II:

“Importuna Razão, não me persigas;

Cesse a ríspida voz que em vão murmura;

Se a lei do Amor se força da ternura

Nem domas, nem contrastas, nem mitingas:(1)

Se acusas os mortais, e os não abrigas,

Se (conhecendo o mal) não dás a cura,

Deixa-me apreciar minha loucura,

Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projeto encher de pejo(2)

Esta alma, frágil vítima daquela

Que, injusta e vária, noutros laços vejo:

Queres que fuja de Marília bela,

Que a maldiga, a desdenhe; e meu desejo

É carpir,(3) delirar, morrer por ela.”

É carpir,(3) delirar, morrer por ela. Glossário: 1 - amansar, abrandar. 2 - vergonha, pudor. 3 - sofrer, chorar.

Ó traças, de que Amor prisão me tese, Ó mãos de neve, que regeis meu fado! Ó Tesouro! Ó mistério! Ó par sagrado, Onde o menino alígero(1) adormece! Ó ledos(2) olhos, cuja luz parece Tênue raio do sol! Ó gesto(3) amado,

De rosas e açucena semeado Por quem morrera esta alma, se pudesse! Ó lábios, cujo riso a paz me tira, E por cujos dulcíssimos favores Talvez o próprio júpiter(4)suspira! Ó perfeições! Ó dons encantadores! De quem sois/...Sois de Vênus?(5)- É mentira; sois de Marília, sois de meus amores.

Page 2: Literatura - Pré-Vestibular Impacto - Arcadismo em Portugual - BOCAGE 1

FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

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VEST

IBUL

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2009

Comentários: Nesse soneto fazem-se presentes traços do Arcadismo e também da estética romântica. Marília está em outros laços, este último vocábulo pode receber a conotação do termo ‘outros braços’. Essa visão real, essa "Importuna Razão" persegue o eu-lírico, que, ao invés de lhe dar ouvidos, prefere apreciar sua loucura. A Razão que é personificada pelo uso de iniciais maiúsculas, pede para o eu-lírico fuja da mulher amada, contudo, seu desejo "É carpir, delirar, morrer por ela." É notório neste poema a existência de um conflito entre a razão árcade e a subjetividade romântica. SONETO III:

Glossário: 1 - piedoso. 2 - espécie de coruja.

Comentários: Bocage, neste poema, anuncia a vinda do Romantismo. A morte se faz presente, confunde-se com a noite e é amiga do eu - lírico mais que isso, ela é a "Calada testemunha" do seu pranto. Além disso, surgem fantasmas e mochos, figuras noturnas, que tal como o poeta são inimigos da claridade. Claridade essa que não deve ser vista simplesmente como luz, mas sim como metáforas da luz do conhecimento e da razão, que se opõe à noite, ou seja, a incerteza, aos mistérios da alma, porém, essa atmosfera romântica, que envolve o eu - lírico, não atinge a mulher amada, que alheia a tudo isso, dorme tranqüilamente. SONETO IV:

Meu ser evaporei na lida(1) insana Prazeres, sócios meus e meus Do tropel(2) de paixões, que me tiranos! arrastava Esta alma, que sedenta em si Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu não coube sonhava No abismo vos sumiu dos Em mim quase imortal a desenganos. essência humana. Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me De que inúmeros sóis a mente roube ufana(3) Ganhe um momento o que perderam anos, Existência falaz me não Saiba morrer o que viver não soube. dourava!

Glossário: 1 - Vida 2 - Grande confusão, desordem. 3 - Que se orgulha de algo

Comentários: Esse soneto, de tom confessional, é um dos poemas de Bocage mais reproduzidos no Brasil. Ele foi escrito pouco antes da morte de Bocage e é outro exemplo do pré-romantismo, porque a emoção, mais uma vez é contraída pela rigidez do verso. No poema, o eu - lírico nos mostra como a sua vida foi consumida em prazeres e amores. No último terceto ele invoca Deus, arrepende-se dos erros cometidos em vida e, mostrando que está totalmente reconciliado com a religião, espera encontrar na eternidade o perdão Divino. Bibliografia: Elegia que o mais ingenuo e verdadeiro sentimento consagra á deploravel morte do ill.mo e ex.mo sr. D. José Thomaz de Menezes, etc., seu autor M. M. B. B., Lisboa, 1790; Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina; ecloga, Lisboa, 1791; Idyllios maritimos recitados na Academia das Bellas Letras de Lisboa, pelo socio M. M. de B. du B., Lisboa, 1791; 2.ª edição em 1821; e 3.ª em 1825; Rimas de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, tomo I, 1791

Oh retrato da morte, oh Noite amiga Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga! Pois manda Amor, que a ti somente os diga

Dá-lhes pio(1) agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga E vós, oh cortesãos da escuridade Fantasmas vagos, mochos(2) piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar meu coração de horrores.