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em que a sociedade se organiza a partir de instâncias seculares como o Estado e o Mercado, os diferentes indivíduos que a compõe podem cultuar vários deuses.

Justamente por não ser oficialmente religiosa, a sociedade atual permite maior diversidade no campo do culto, sejam os institucionais, como o catolicismo, o judaísmo, o islamismo, o protestantismo, o espiritismo, a umbanda, o candomblé, o budismo, entre tantos outros, sejam os sistemas de crenças autônomas, sem uma referência institucional.

Para a literatura, definitivamente, os tempos em que a religião obrigatoriamente definia gostos e estéticas já pas-saram. A arte do início do século XX é marcada pelo desejo de inovação, de recomeço, a tradição acadêmica e clássica é deixada no passado, buscam-se novas formas de expressão e novos temas. A aproximação das duas correntes pode ser encontrada na religiosidade de um poeta como Jorge de Lima ou Murilo Mendes, ou de um prosador como Gui-marães Rosa ou Jorge Amado; no entanto, ela não ocupa mais o lugar central, aparecendo em vários autores como opção individual ou como dado cultural e não mais como programa de um grupo dominante, ou de uma instituição ditadora de regras.

Exercícios

1. (UEMG)I

Serena mãe virgem

Serena mãe virgem, Escute esta oração; Proteja-me da vergonha E de Satanás; Pelo amor de sua criança Salve-me da traição; Eu estava louco e selvagem; E agora estou em cativeiro. Você é bela e nobre E cheia de doçura; De você veio o belo, O soberano criador. Virgem, eu te suplico Por sua santa ajuda; Seja gentil e calma comigo Pelo seu amor.

IIEnquanto eu cavalgava

Enquanto eu cavalgava recentemente Perto de floresta verde procurando prazer, Meu coração estava preocupado com uma mulher, Doçura de todas as coisas; Ouça, e eu posso lhe dizer Tudo sobre esta doce criatura. Esta mulher é doce e de sangue nobre, Brilhante e bela e gentil; Ela pode fazer bem a nós todos Por sua intercessão. Dela Jesus, Rei dos Céus, Tomou carne e sangue.

Disponível em: poesiasdaidademedia.blogspot.com.br. Acesso em: 21 jun. 2013.

Os poemas apresentados, de autores desconhecidos, foram escritos no início do século XIV. Nesses poemas, encon-tramos uma temática comum, que era uma das características marcantes da Idade Média. Com base nessas informações, a temática comum é a) a presença da concepção de honra e coragem que estava ligada à figura dos cavaleiros, personagens importantes

nesse contexto histórico, os quais se tornaram referência moral para todas as sociedades, até a atualidade.b) a presença do amor livre, marcado pela libertinagem e pelas orgias, de uma sociedade com regras muito mais

flexíveis que as da atualidade, o que se observava no comportamento do clero, sob forma de lassidão moral.c) a apresentação do estilo de vida do campo, já que essa sociedade tinha como base as grandes propriedades rurais,

das quais a população quase não saía, por causa do medo de ataques inimigos.d) a presença da forte religiosidade que marcou o período, em razão da grande influência cultural que a Igreja Católica

exercia sobre uma sociedade que se sentia constantemente vigiada por Deus.

2. (Fuvest)Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, quesabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber devacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de

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negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso paie é quem pode nos ajudar... Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros

não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:Ora, adeus, ó meus filhinhos,Qu’eu vou e torno a vortá...E numa noite que os atabaques batiam nas ma-

cumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

AMADO, Jorge. Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge Amado:I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contextoda obra a que pertence, a religião de origem africanacomporta um aspecto de resistência cultural e política.II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na épocaem que se passa a história nele narrada, o Brasil aindaconservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial.III. Os contrastes de natureza social, cultural e regionalque o texto registra permitem concluir corretamenteque o Brasil passou por processos de modernizaçãodescompassados e desiguais.Está correto o que se afirma ema) I, somente.b) II, somente.c) I e II, somente.d) II e III, somente.e) I, II e III.

3. (Unesp )A questão toma por base um poema de Luís Delfino(1834-1910) e a reprodução de um mosaico da Catedral de Monreale.

Jesus Pantocrátor 1

Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igrejaDe Monreale, feita em mosaico, a divinaFigura de Jesus Pantocrátor: dominaAquela face austera, aquele olhar troveja.Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.À árida pupila a doce, a benfazejaLágrima falta, e o peito enorme não arquejaÀ dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina 2.Este criou o inferno, e o espetáculo hediondoQue há nos frescos 3 de Santo Stefano Rotondo 4;Este do mundo antigo espedaçado assoma...Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:Tem o anátema 5 à boca, às duas mãos o raio,E em vez do espinho à fronte as três coroas de

Roma.

DELFINO, Luís. Rosas negras, 1938.

1 Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.2 Bizantina: referente ao Império Romano do Orien-

te (330-1453 d.C.) e às manifestações culturais desse império.

3 Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre um revestimento ainda fresco de argamassa, para facilitar a absorção da tinta.

4 Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estêvão (Stefano, em italiano), mártir do cristianismo.

5 Anátema: reprovação enérgica, sentença de mal-dição que expulsa da Igreja, excomunhão.

Catedral de Monreale, Itália.

Neste soneto de Luís Delfino ocorre uma espécie de diálogo entre o texto poético e uma impressionante figura de Jesus Cristo Pantocrátor, com 7 m de altura e

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largura de 13,30 m, criada por mestres especializados na técnica bizantina do mosaico, na abside da catedral de Monreale, construída entre 1172 e 1189. A figura de Cristo Pantocrátor, feita em mosaicos policromos e dou-rados, pode ser vista ainda hoje na mesma cidade e igreja mencionadas na primeira estrofe. Colocando-se diante dessa representação de Cristo, o eu lírico do soneto a) sustenta que a figura humana ali representada provém

de uma religião anticristã, com ligações estreitas com as divindades infernais que martirizavam cristãos.

b) questiona a qualidade plástica e os fundamentosformais de origem bizantina da imagem como des-tituídos de maior valor estético.

c) utiliza o caráter assustador do mosaico para negara divindade de Jesus Cristo, servindo-se do poemacomo um meio de argumentação.

d) entende que a combinação da atitude e dos traços dafigura do mosaico mais parece a de um ídolo pagão oriental do que de um deus cristão venerado pelahumanidade.

e) sugere que a figura do mosaico não condiz com aimagem que a tradição cristã legou de um doce edivino homem com feições marcadas pelo martírioe sofrimento na cruz.

Estudo orientado

Caro aluno,Esta aula tem um tema bastante presente em nos-

sas vidas: religiosidade. A ideia é demonstrar como a religiosidade, de uma forma ou de outra, relaciona-se com a literatura, já que ambas são parte da cultura. Os vestibulares hoje vêm trabalhando a cada dia questões que envolvem os chamados temas transversais. Apro-veite bem o texto da aula e as indicações do Estudo Orientado, além de responder as questões.

Bons estudos!

exercícios

1. (Unicentro)

Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que se define seu caráter parti-cular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se distancie muito da religião de outros povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica

é clara e coerente. Em parte alguma ela enuncia fór-mulas conceituais à maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial os testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los, fazer-lhes o cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino [...].

OTTO, Walter Friedrich. Os deuses da Grécia: a imagem do divino

na visão do espírito grego. 1. ed., trad. [e prefácio] de Ordep Serra.

São Paulo: Odysseus Editora, 2005. p. 11.)

Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa correta. a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em

nada poderiam interferir no destino dos humanos e, assim, a determinação divina (ananque) se colocava em segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no momento de sua livre ação.

b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego para o pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo com historiadores e helenistas,não houve uma ruptura na passagem do mito parao logos, mas sim um processo gradual e contínuo de enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia.

c) Os mitos homéricos serviram de base para a educa-ção, formação e visão de mundo que o homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes como harmonia, proporçãoe questionamentos a respeito dos princípios, dascausas e do porquê das coisas. Embora todas essasinstâncias apresentavam-se como tal, os mitos nãodeixaram de lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados.

d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura uma modalidade lite-rária bem singular no ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por exemplo, sempre obedeceram auma ordem pré-estabelecida, a qual sempre revelou uma lógica racional em funcionamento.

e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa naeducação do homem grego, pois o caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parteos aspectos que se revelariam relevantes na poesiagrega.

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administrativa, os desmandos dos componentes do go-verno e o governador de Minas, Luís da Cunha Meneses.

Veja um fragmento das liras a “Marília de Dirceu”.

Marília de DirceuParte ILira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,Que viva de guardar alheio gado;De tosco trato, d’expressões grosseiro,Dos frios gelos, e dos sóis queimado.Tenho próprio casal, e nele assisto;Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;Das brancas ovelhinhas tiro o leite,E mais as finas lãs, de que me visto.Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!Eu vi o meu semblante numa fonte,Dos anos inda não está cortado:Os pastores, que habitam este monte,Respeitam o poder do meu cajadoCom tal destreza toco a sanfoninha,Que inveja até me tem o próprio Alceste:Ao som dela concerto a voz celeste;Nem canto letra, que não seja minha,Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!Mas tendo tantos dotes da ventura,Só apreço lhes dou, gentil Pastora,Depois que teu afeto me segura,Que queres do que tenho ser senhora.É bom, minha Marília, é bom ser donoDe um rebanho, que cubra monte, e prado;Porém, gentil Pastora, o teu agradoVale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!

GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.

Disponível em: dominiopublico.gov.br. Acesso em: 13 jul. 2012.

Exercícios

1. (UEPA – 2014)

Liberdade, onde estás? Quem te demora?Quem faz que o teu influxo em nós não caia?Porque (triste de mim!), porque não raiaJá na esfera de Lísia* a tua aurora?Da santa redenção é vinda a horaA esta parte do mundo, que desmaia.

Tomás Antônio Gonzaga nasceu no Porto (Portugal), em 1744. Mudou-se para Pernambuco em 1751, estudou com os jesuítas na Bahia e voltou para Portugal em 1761, formando-se em Direito, em Coimbra, no ano de 1768. Em 1782, foi para Vila Rica, onde ocupou o cargo de Ouvidor Geral e, a partir de então, compôs quase tudo o que dele se conhece: as liras de “Marília de Dirceu” e as “Cartas chilenas”. Ambas refletem os principais aconteci-mentos de sua vida em Minas Gerais. Em 1789, foi preso, acusado de participar da Inconfidência e mandadopara o Rio de Janeiro, onde ficou encarcerado até 1792, quando foi desterrado para Moçambique, onde morreu, em fevereiro de 1810.

Segundo Antonio Candido:

Em Gonzaga, é interessante o contraste entre as precauções mitológicas com que celebra a mulher e o senso de realidade com que a integra no panorama da vida. Mais de uma lira é votada à tarefa quasedidática de mostrar à bem amada a naturalidade do amor, mostrando-lhe a ordenação das coisas naturais. E, por outro lado, valorizar a noção civil da vida social, salientando a nobreza das artes da paz, o falso heroís-mo da violência, a ordem serena da razão.

CANDIDO, Antonio. op. cit., p. 117.

Sem dúvida, a obra de Gonzaga mais significativa para o Arcadismo brasileiro são os poemas inspirados em seu amor pela jovem Maria Doroteia Joaquina de Seixas, a Marília de Dirceu. As liras de “Marília de Dirceu” foram publicadas em três partes, nos anos de 1792, 1799 e 1812. Ali, Gonzaga se apresenta como um rico pastor que cultiva o ideal de vida campestre, vive intensamente cada momento, é jovem, bom amante, compõe, toca e canta, tudo inspirado por sua amada Marília. Ao longo da obra, a partir da prisão do poeta, o discurso muda de tom, passando do estado inicial de felicidade, amor e sonhos para o sofrimento pela prisão, reflexões sobre a justiça dos homens e o consolo que encontra em seu amor por Marília.

As “Cartas chilenas” são a outra parte da obra de Gonzaga – poemas satíricos em versos decassílabos brancos que circularam em Vila Rica pouco antes da Inconfidência Mineira. Têm estrutura de uma carta, assinada por Critilo, morador de Santiago do Chile, e endereçada a Doroteu, residente em Madri. O tema das cartas são os desmandos do governador chileno, um político sem moral, despótico e narcisista, o Fanfarrão Minésio. Na verdade, tudo não passa de uma alusão, poeticamente disfarçada, à realidade de Minas Gerais. Revelando seu lado satírico, em tom agressivo e jocoso e cheio de insinuações, o poeta ironiza a mediocridade

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Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaiaDespotismo feroz, que nos devora!Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,Oculta o pátrio amor, torce a vontade,E em fingir, por temor, empenha estudo.Movam nossos grilhões tua piedade;Nosso númen tu és, e glória, e tudo,Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!

(Bocage)Lísia = Portugal

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através dos Textos.

São Paulo: Cultrix, 2006, p. 239.

A leitura do soneto bocageano permite afirmar que há entre a subjetividade do poeta e as questões sociais de Portugal uma ampla interação comunicativa. Marque a alternativa que comprova este comentário. a) O eu lírico pede ao país que tenha, como ele, paciência para suportar o despotismo.b) A pátria personificada que desmaia, é comparável ao eu lírico frio e mudo.c) O despotismo é a redenção muito esperada pelo eu lírico e pela sociedade portuguesa.d) A saudade é representada no poema pelas imagens do cárcere e do poeta preso por grilhões.e) O eu lírico e a pátria celebram a chegada da liberdade como um sol que surge no horizonte.

2. (UEL – 2010)

Lira 83

Que diversas que são, Marília, as horas,que passo na masmorra imunda e feia,dessas horas felizes, já passadasna tua pátria aldeia!Então eu me ajuntava com Glauceste;e à sombra de alto cedro na campinaeu versos te compunha, e ele os compunhaà sua cara Eulina.Cada qual o seu canto aos astros leva;de exceder um ao outro qualquer trata;o eco agora diz: Marília terna;e logo: Eulina ingrata.Deixam os mesmos sátiros as grutas:um para nós ligeiro move os passos,ouve-nos de mais perto, e faz a flautacos pés em mil pedaços.— Dirceu – clama um pastor — ah! bem

mereceda cândida Marília a formosura.E aonde – clama o outro – quer Eulinaachar maior ventura?

Nenhum pastor cuidava do rebanho,enquanto em nós durava esta porfia;e ela, ó minha amada, só findavadepois de acabar-se o dia.À noite te escrevia na cabanaos versos, que de tarde havia feito;mal tos dava e os lia, os guardavasno casto e branco peito.Beijando os dedos dessa mão formosa,banhados com as lágrimas do gosto,jurava não cantar mais outras graçasque as graças do teu rosto.Ainda não quebrei o juramento;eu agora, Marília, não as canto;mas inda vale mais que os doces versosa voz do triste pranto.

GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas.

São Paulo: Ática, 1997. p. 126-127.

Assinale a alternativa que enumera corretamente as características do Arcadismo brasileiro presentes no poema de Tomás Antônio Gonzaga. a) A presença do ambiente rústico; a transmissão da palavra poética ao autor; a celebração da vida familiar; a enge-

nhosa elaboração pictórica do poema de maneira a dominarem as figuras de linguagem.

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b) A presença do ambiente nacional; a supressão da palavra poética; a celebração da vida familiar; a construção pic-tórica do poema de maneira a dominarem as figuras de linguagem.

c) A presença do ambiente urbano; a transmissão da palavra poética ao autor; a celebração da vida rústica; a elabo-ração predominantemente hiperbólica do poema.

d) A presença de ambiente bucólico; a delegação da palavra poética a um pastor; a celebração da vida simples; aclareza, a lógica e a simplicidade na construção do poema.

e) A presença do ambiente nacional; a delegação da palavra poética a um pastor; a celebração da vida em sociedade; a construção racional do poema enfatizando o decoro e a discrição.

Estudo orientado

Caro aluno,

Compreender o Arcadismo é importante para entender o que vem a seguir, o Romantismo, que contesta exata-mente os valores defendidos pelos neoclássicos, que, por sua vez, prepararam o ambiente para as transformações que ocorreriam. Por isso, faça os exercícios seguintes para complementar e fixar pontos importantes.

A Roda de leitura traz dois importantes textos que acrescentam conhecimento à aula. O primeiro apresenta os autores dos primeiros textos de inspiração nacionalista, considerados decisivos para firmar o indianismo como aspecto central da literatura brasileira. O segundo concorre para entender de onde vem a valorização da natureza e da figura do índio, que é tomado como o homem natural de que tratava Rousseau, figura importantíssima e elo entre o pensa-mento do período anterior e do posterior à Revolução Francesa.

Bons estudos!

Tô aqui cantando, de longe escutando,Alguém está chorando com o rádio ligado.

Que saudade imensa, do campo e do mato,Do manso regato que corta as campinas.Ia aos domingos passear de canoaNa linda lagoa de águas cristalinas;Que doces lembranças daquelas festanças,Onde tinha danças e lindas meninas!Eu vivo hoje em dia, sem ter alegria,O mundo judia, mas também ensina.Estou contrariado, mas não derrotado,Eu sou bem guiado pelas mãos divinas.

Pra minha mãezinha, já telegrafei,Que já me cansei de tanto sofrer.Nesta madrugada, estarei de partidaPra terra querida que me viu nascer;Já ouço sonhando o galo cantando,O inhambu piando no escurecer,A lua prateada, clareando a estrada,A relva molhada desde o anoitecer.Eu preciso ir, pra ver tudo ali,Foi lá que nasci, lá quero morrer.

Goiá em duas vozes – o compositor interpreta suas músicas. Discos Chororó. CD n. 10548, s/d.

exercícios

1. (Unesp – 2013)A questão a seguir toma por base a letra de uma guarânia dos compositores sertanejos Goiá (Gerson Coutinho da Silva, 1935-1981) e Belmonte (Pascoal Zanetti Todarelli,1937-1972).

Saudade de minha terra

De que me adianta viver na cidade,Se a felicidade não me acompanhar?Adeus, paulistinha do meu coração,Lá pro meu sertão eu quero voltar;Ver a madrugada, quando a passarada,Fazendo alvorada, começa a cantar.Com satisfação, arreio o burrão,Cortando o estradão, saio a galopar;E vou escutando o gado berrando,Sabiá cantando no jequitibá.

Por Nossa Senhora, meu sertão querido,Vivo arrependido por ter te deixado.Nesta nova vida, aqui da cidade,De tanta saudade eu tenho chorado;Aqui tem alguém, diz que me quer bem,Mas não me convém, eu tenho pensado,E fico com pena, mas esta morenaNão sabe o sistema em que fui criado.

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2. (Enem – 2010)

Soneto

Já da morte o palor me cobre o rosto,Nos lábios meus o alento desfalece,Surda agonia o coração fenece,E devora meu ser mortal desgosto!Do leito embalde no macio encostoTento o sono reter!... já esmoreceO corpo exausto que o repouso esquece...Eis o estado em que a mágoa me tem posto!O adeus, o teu adeus, minha saudade,Fazem que insano do viver me priveE tenha os olhos meus na escuridade.Dá-me a esperança com que o ser mantive!Volve ao amante os olhos por piedade,Olhos por quem viveu quem já não vive!

AZEVEDO, Álvares. Obra Completa.

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O funda-mento desse lirismo é a) a angústia alimentada pela constatação da irreversi-

bilidade da morte.b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação

diante da perda.c) o descontrole das emoções provocado pela autopie-

dade.d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão

amorosa.e) o gosto pela escuridão como solução para o sofri-

mento.

3. (Enem PPL – 2012)

texto I

A canção do africano Lá na úmida senzala. Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia-voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez p’ra não o escutar!

Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!...” E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!...

ALVES, Castro. op. cit., p. 183.

Exercícios

1. (Unicamp – 2015)

Um elemento importante nos anos de 1820 e 1830 foi o desejo de autonomia literária, tornado mais vivo depois da Independência. […] O Romantismo apareceu aos poucos como caminho favorável à expressão própria da nação recém-fundada, pois for-necia concepções e modelos que permitiam afirmar o particularismo, e portanto a identidade, em oposição à Metrópole […].

CANDIDO, Antonio. O Romantismo no Brasil. São Paulo: Humanitas, 2004, p. 19.

Tendo em vista o movimento literário mencionado no trecho acima, e seu alcance na história do período, é correto afirmar que:a) o nacionalismo foi impulsionado na literatura com a

vinda da família real, em 1808, quando houve a intro-dução da imprensa no Rio de Janeiro e os primeiroslivros circularam no país.

b) o indianismo ocupou um lugar de destaque naafirmação das identidades locais, expressando umviés decadentista e cético quanto à civilização nostrópicos.

c) os autores românticos foram importantes no perí-odo por produzirem uma literatura que expressavaaspectos da natureza, da história e das sociedadeslocais.

d) a população nativa foi considerada a mais originaldentro do Romantismo e, graças à atuação dos lite-ratos, os indígenas passaram a ter direitos políticosque eram vetados aos negros.

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exercícios

1. (Insper – 2014)texto I

Canção do tamoio

[...] Porém se a fortuna,Traindo teus passos,Te arroja nos laçosDo inimigo falaz!Na última horaTeus feitos memora,Tranquilo nos gestos,Impávido, audaz.E cai como o troncoDo raio tocado,Partido, rojadoPor larga extensão;Assim morre o forte!No passo da morteTriunfa, conquistaMais alto brasão. [...]

Gonçalves Dias

texto IIBerimbau

Quem é homem de bem não traiO amor que lhe quer seu bem.Quem diz muito que vai não vaiE, assim como não vai, não vem.Quem de dentro de si não saiVai morrer sem amar ninguém,O dinheiro de quem não dáÉ o trabalho de quem não tem,Capoeira que é bom não caiE, se um dia ele cai, cai bem!

Vinicius de Moraes e Baden Powell

O modo como a morte é figurativizada no fragmento de Gonçalves Dias é semelhante ao seguinte verso da canção de Vinicius e Baden: a) O amor que lhe quer seu bemb) Vai morrer sem amar ninguémc) O dinheiro de quem não dád) É o trabalho de quem não teme) E, se um dia ele cai, cai bem!

2. (UEPA – 2012)

Mãe PenitenteOuve-me, pois!... Eu fui uma perdida;Foi este o meu destino, a minha sorte...Por esse crime é que hoje perco a vida,

“Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o sol vem; Esta terra é mais bonita. Mas à outra eu quero bem.”

ALVES, Castro. Poesias completas.

Rio de Janeiro: Ediouro, 1995 (fragmento).

texto lI

No caso da Literatura Brasileira, se é verdade que prevalecem as reformas radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de movimentos literários do que de gerações literárias. A poesia de Castro Alves em relação à de Gonçalves Dias não é a de negação radical, mas de superação, dentro do mesmo espírito romântico.

MELO NETO, João Cabral de. Obra completa.

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003 (fragmento)

O fragmento do poema de Castro Alves exemplifica a afirmação de João Cabral de Melo Neto porque: a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo

ideológico retórico.b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais

do liberalismo.c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas

renova o tema amoroso.d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tema-

tize a injustiça social.e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém

a visão lírica da terra pátria.

Estudo orientado

Caro aluno,A partir do Romantismo, a tendência é que suas

dúvidas aumentem, uma vez que a proximidade com os dias atuais torna as definições mais complexas. Além disso, começa a surgir mais de uma tendência em pouco tempo, como podemos ver estudando o final do século XIX. Por isso, leia, releia e faça os exercícios atento aosdetalhes fundamentais para a construção do seu conhe-cimento. Se sentir dificuldade para resolver os exercícios, volte ao texto da aula antes de olhar o gabarito. Se ainda assim não conseguir, procure seu professor. O importan-te é não deixar passarem as dúvidas.

Leia o texto da Roda de leitura para conhecer o teatro de costumes que surgiu nesse período e ver como se retra-ta a situação social e política do Brasil e como a linguagem regional é trabalhada pelo dramaturgo.

Bons estudos

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[Berta] — Para ti, portanto, não há gratidão?[Jão] — Não sei o que é; demais, Galvão já pôs-me

quites dessa dívida da farinha que lhe comi. Estamos de contas justas! – acrescentou Jão Fera com um suspiro profundo.

a) Nesse trecho, Jão Fera refere-se de modo acerbo auma determinada relação social (aquela que o vin-culara, anteriormente, ao seu “benfeitor”, conformediz Berta), revelando o mal-estar que tal relação lheprovoca. Que relação social é essa e em que consiste o mal-estar que lhe está associado?

b) A fala de Jão Fera revela que, no contexto sócio--histórico em que estava inserido, sua posição social o fazia sentir-se ameaçado de ser identificado comum outro tipo social – identificação essa que eleconsidera intolerável. De que identificação se tratae por que Jão a abomina? Explique sucintamente.

2. (ITA – 2012)

De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.

É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto leito.

Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego* do senhor.

Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz, onde é livre ainda, como o filho indômito desta pátria da liberdade.

Aí, Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a solidão com o estampido de sua carrei-ra. De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua um momento para concentrar as

O Alencar dos adultos é aquele em que se revelam perfis psicológicos de homens e mulheres que agem além do heroísmo e da galanteria. Um dos temas mais comuns é o da ascensão social pelo casamento, e que a possível acusação de interesse financeiro é descartada pelas demonstrações de virtude e de amor verdadeiro, como acontece em Til, no casamento entre Miguel e Linda, ele pobre, ela rica e em Senhora, na mudança de caráter após o casamento “comprado” por Aurélia com Fernando Seixas, ela herdeira rica e ele, pobre intelec-tual, inicialmente ambicioso, mas transformado pela necessidade de demonstrar a dignidade que a sociedade patriarcal e capitalista impõe ao homem.

Assim, sob vários aspectos – uns convencionais, outros mais raros; uns aparentes, outros virtuais – sentimos em Alencar a percepção complexa do mal, do anormal ou do recalque, como obstáculo à perfeição e como elemento permanente na conduta humana. É uma manifestação dialética do bem e do mal que percorre a ficção romântica, inclusive a nossa. No menos característico Manuel Antonio de Almeida, [...] não existe.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos.

6. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia. 2000. p. 209.

Exercícios

1. (Fuvest – 2013)Leia com atenção o trecho de Til, de José de Alencar,para responder ao que se pede.

[Berta] — Agora creio em tudo no que me disseram, e no que se pode imaginar de mais horrível. Que assas-sines por paga a quem não te fez mal, que por vingança pratiques crueldades que espantam, eu concebo; és como a suçuarana, que às vezes mata para estancar a sede, e outras por desfastio entra na mangueira e estraçalha tudo. Mas que te vendas para assassinar o filho de teu benfeitor, daquele em cuja casa fostecriado, o homem de quem recebeste o sustento; eis oque não se compreende; porque até as feras lembram--se do benefício que se lhes fez, e têm um faro paraconhecerem o amigo que as salvou.

[Jão] – Também eu tenho, pois aprendi com elas; respondeu o bugre; e sei me sacrificar por aqueles que me querem. Não me torno, porém, escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das sobras que me atirava, como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro. Não foi por mim que ele fez isso; mas para se mostrar ou por vergonha de enxotar de sua casa a um pobre--diabo. A terra nos dá de comer a todos e ninguém se morre por ela.

A sociedade retratada em Til está estruturada basicamente em duas camadas sociais: os grandes latifundiários e os escravos com a gente humilde do campo. Os personagens que habitam a Fazenda das Palmas estão submetidos ao poder de Luís Galvão, representante de uma aristocracia rural a quem todos devem obrigações e favores. Jão Fera reconhece as limitações impostas pela sua condição de agregado que vive da caridade do seu “benfeitor” e se vê obrigado a uma subserviência humilhante para poder sobreviver.

Jão Fera não admitia ser identificado com o escravo negro, por isso prefere o trabalho de capanga dos ricos ao daquele na lavoura.

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suas forças, e precipita-se de um só arremesso, como o tigre sobre a presa.

* látego: chicote.

ALENCAR, José de. O Guarani.

No contexto da obra, a personificação da natureza I. descreve um cenário fiel ao ambiente natural.II. exibe a grandiosidade da natureza do país.III. antecipa as características determinantes dos doisprotagonistas masculinos.Está correto o que se afirma apenas ema) I.b) I e II.c) I e III.d) II.e) II e III.

3. (Fuvest – 2015)

Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? – Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já deve de andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, o número de corpos que se têm de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro – seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.

GARRETT, Almeida, Viagens na minha terra.

a) Destas reflexões feitas pelo narrador de Viagens naMinha Terra, deduz-se que ele tinha em mente umdeterminado ideal de sociedade. O que caracterizaesse ideal? Explique resumidamente.

b) Identifique, em Viagens na Minha Terra, o tipo socialsobre o qual, principalmente, irá recair a críticapresente nas reflexões do narrador, no trecho aquireproduzido. O que, de acordo com o livro, caracte-riza esse tipo social?

Estudo orientado

Caro aluno,Como você deve ter percebido, as obras desse perío-

do são fundamentais para a compreensão da mentali-dade que predomina na prosa de ficção brasileira. Por isso, é muito importante que você leia atentamente o texto da aula, estude e resolva os exercícios com afin-co, prestando atenção principalmente na concepção dos heróis e no tratamento dado ao regionalismo, que reaparecerá também em outros períodos, como uma característica típica de nossos romances. A leitura das obras é fundamental na percepção das características.

Bons estudos.

exercícios

1. (Mackenzie – 2010)

O tigre 7tinha-se voltado ameaçador e terrível, 9aguçando os dentes uns nos outros, 5rugindo de fúria e vingança: 10de dois saltos aproximou-se novamente.

20Era uma 4luta de morte a que ia se travar; 12o índio 19o sabia, e esperou tranquilamente, 6como da primeira vez; 3a inquietação que sentira um 18momento 17de que a presa lhe escapasse, desaparecera: 8estava satisfeito.

Assim 11esses 1dois selvagens das matas do Brasil, 13cada um com as suas armas, 16cada um com a cons-ciência de sua força e de sua coragem, 15consideravam--se mutuamente como 2vítimas que iam ser imoladas.

ALENCAR, José de. O Guarani.

Considerado também o seu contexto histórico, afirma-se corretamente que o texto a) exemplifica uma orientação estético-ideológica do

século XIX que idealizou as origens do Brasil.b) prenuncia o estilo naturalista, haja vista a idealização

da natureza e a identificação entre o humano e oanimal.

c) pertence à literatura colonial brasileira, marcada es-pecialmente pela valorização dos povos e costumes indígenas.

d) parodia o estilo romântico que, influenciado pelasideias de Rousseau, concebia o indígena como “obom selvagem”.

e) traz índices da literatura realista do século XIX, cujofoco era a análise das condições de vida nas zonasrurais do território brasileiro.

O autor sonhava com a utopia iluminista de um mundo mais livre e socialmente mais justo. Teorias e possibilidades sociais formuladas ao longo do século XVIII com a Revolução Francesa e do XIX com as teorias marxistas, que pregavam uma vida mais justa e sem a exploração do próximo.

A crítica social recai sobre o burguês, sobre aquele que quer lucrar e ganhar custe o que custar, até mesmo comprar um título nobiliárquico de barão, tudo conquistado à custa da exploração do próximo: – seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.