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L L i i t t e e r r a a t t u u r r a a I I n n f f a a n n t t i i l l e e I I l l u u s s t t r r a a ç ç ã ã o o : : Imagens que Falam Mestrado em Educação Área de Esp. Tecnologia Educativa Tecnologia da Imagem Docente: Prof. Doutor Henrique Chaves Trabalho realizado por: Elisa Castro Braga 2004/2005

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LLiitteerraattuurraa IInnffaannttiill ee IIlluussttrraaççããoo::

IImmaaggeennss qquuee FFaallaamm

Mestrado em Educação Área de Esp. Tecnologia Educativa

Tecnologia da Imagem Docente: Prof. Doutor Henrique Chaves

Trabalho realizado por:

Elisa Castro

Braga 2004/2005

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Literatura Infantil e Ilustração – Imagens que falam

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Índice

Introdução .................................................................................................................... 4 Literatura Infantil ..................................................................................................... 5

Génese e evolução ........................................................................................................ 5 O livro para a criança.................................................................................................... 7 Os primeiros impressos ................................................................................................ 9 Classificação da literatura infantil .............................................................................. 13

Ilustração .................................................................................................................... 17 Técnicas Manuais ....................................................................................................... 19 Lápis e tinta ................................................................................................................ 19 O aerógrafo ................................................................................................................. 20 Manejo do aerógrafo................................................................................................... 22

Ilustração Infantil.................................................................................................... 25 Aspectos gráficos e visuais......................................................................................... 26 Leitura de imagens...................................................................................................... 28 Funções da ilustração.................................................................................................. 30 Figuras de estilo.......................................................................................................... 31

Alice no País das Maravilhas............................................................................... 34 Lewis Carroll............................................................................................................. 34

Contextualização do texto e do autor ......................................................................... 35 Como surgiu a Alice? ................................................................................................. 37 Lewis, o fotógrafo ...................................................................................................... 40 John Tenniel, o ilustrador ........................................................................................... 46 Outros ilustradores...................................................................................................... 47 Imagens que falam...................................................................................................... 50 “Conselhos de uma Lagarta”, por sete ilustradores.................................................... 59 Matemática na obra?................................................................................................... 60

Conclusão ................................................................................................................... 64 Bibliografia ................................................................................................................ 65

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“Alice começava a sentir-se muito cansada por estar sentada no banco,

ao lado da irmã, e por não ter nada que fazer. Mais do que uma vez

espreitara para o livro que a irmã estava a ler, mas este não tinha

gravuras nem conversas... “E para que serve um livro que não tem

gravuras nem conversas?” pensou Alice.”

CARROLL, Lewis. “Alice no País das Maravilhas”

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Introdução

O presente trabalho tem como título “Literatura Infantil e Ilustração: Imagens

que falam”. Partindo do conceito de “literatura infantil”, procedemos a uma breve

resenha histórica em torno do mesmo. A partir de que momento surgiu a literatura

infantil e se começaram a escrever histórias direccionadas para crianças? A par do texto

quais as funções da imagem que o acompanham? Quais os autores/ilustradores mais

representativos deste tipo de escrita destinado aos mais jovens? Tentamos responder a

estas e outras questões, pondo a tónica principal no papel das imagens e das ilustrações

neste tipo de livros.

Num segundo momento, passamos às técnicas da ilustração propriamente ditas.

Que utensílios e que materiais um ilustrador utiliza para a concepção dos seus

desenhos? Que cuidados deve ter um ilustrador ao conceber desenhos para livros de

crianças? Até que ponto as imagens desenhadas são um reflexo das palavras, ou seja, do

texto escrito? Será que todas as imagens representam e materializam o texto escrito, ou

por outro lado, são apenas uma mera repetição ou redundância daquilo que está escrito?

Partindo destas questões, seleccionamos uma obra para a infância intitulada

“Alice no País das Maravilhas” e analisamos as respectivas ilustrações. Tentamos ver

em que medida elas convergem ou distanciam-se do texto. Fizemos ainda uma pesquisa

em relação aos vários ilustradores da obra em questão (mais de duzentos), sendo que

John Tenniel, o primeiro ilustrador da obra, é até hoje, o mais conhecido pelas suas

ilustrações a preto e branco.

Por último, passamos à parte prática do trabalho, no qual colaboraram quatro

crianças. Estas fizeram a “análise” de uma série de ilustrações da “Alice no País das

Maravilhas” e depois passaram à visualização do filme. Em relação a este trabalho,

apresentamos as conclusões na parte final.

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Literatura Infantil

Génese e evolução

O impulso de contar histórias deve ter nascido no momento em que o Homem

sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua.

A primeira obra realmente direccionada ao público infantil foi uma colectânea

de cantigas infantis publicada por Mary Cooper em 1744, cujo título era: “Para todos os

pequenos senhores e senhoritas, para ser cantada para eles pelas suas amas até que

possam cantar sozinhos”. Uma segunda colectânea intitulada “Melodia da Mamã

Gansa” de 1760, provavelmente do livreiro John Newberg, considerado precursor na

descoberta e exploração do mercado de livros para crianças.

O aparecimento da literatura infantil decorre da ascensão da família burguesa e

do novo estatuto concedido à infância na sociedade. É a partir do século XVIII que a

criança passa a ser um ser diferente do adulto, pelo que devia distanciar-se dos mais

velhos e receber uma educação especial.

Em Portugal (1866), literatura para crianças era coisa que ninguém sabia ainda

muito bem o que era. Liam-se traduções – e não muitas. A literatura infantil portuguesa

começa a vislumbrar-se nos finais do século XIX com o “Tesouro Poético para a

Infância” de Antero de Quental, “Os contos para a infância” de Guerra Junqueiro e

ainda com a obra de João de Deus.

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A literatura infantil tem o seu ponto de partida sob o aspecto de consagração universal, na França do século XVII.

Século XVII Século XVIII Século XIX

Charles Perrault (1628-1703) “O Gato das botas” “A Gata Borralheira” “O Capuchinho Vermelho” “A Branca de Neve”

Jonathan Swift (1667-1745) “Viagens de Guliver”

Hans Christian Andersen (1805-1875) “O patinho feio”, “O soldadinho de chumbo”, “A pequena vendedora de fósforos”

Fénelon (1651-1715) “Telémaco”

Daniel Defoe (1660-1731) “Robinson Crusoe”

Irmãos Grimm: Luís Jacob (1785-1863) e Guilherme Carlos (1786-1859) “Contos populares”, “Lendas alemãs”

La Fontaine (1621-1695) Fábulas

Mme. Leprince de Beaumont (1711-1780) “A fada das ameixas ”, “A bela e a fera”

Frances Hodon Burnet “O Pequeno Lord”

Mme. D’Aulnoy (Maria Catarina Jumel de Berneville) “O Delfim” “A ave azul”, “A bela dos cabelos de ouro”

Mme. De Genlis (1749-1830) Influenciada por Rousseau, escreveu assuntos de natureza informativa e científica.

Collodi (Carlos Lorenzini) “Pinocchio”

Berquin (1749-1791) Considerado por muitos o verdadeiro fundador da literatura infantil. “Literaturas Escolhidas”

Edmundo de Amicis “Cuore”

Charles Dickens “David Copperfield”

Mattew J. Barrie “Peter Pan”

Condessa de Ségur “Memórias de um burro” “Que amor de criança!”

Lewis Carroll “Alice no país das maravilhas”

Mark Twain “Tom Sawyer”

Fenimore Cooper “O ultimo dos moicanos”

Lyman Frank Baum “O Feiticeiro de Oz”

Rudyard Kipling “Jungle Books”

Selma Lagerlof (rainha da fantasia sueca)

Júlio Verne “A volta ao mundo em 80 dias” “Vinte mil léguas submarinas”

Otávio Feuillet “Polichinelo”

Maeterlink ”Pássaro Azul”

Tchekov “Álbuns de contos russos”

Antoine de Saint-Éxupery “O Pequeno Príncipe”

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O livro para a criança

Nos cânones da literatura infantil de Harold Bloom e Maurice Sendak,

encontramos diversos autores / ilustradores como William Blake, Wilhelm Bush, Beatrix

Potter, Edward Lear.

William Blake (1757-1827) foi pintor, gravador, poeta, místico visionário e uma

das primeiras e maiores figuras do romantismo. “Songs of Innocence” (1789) é sua

primeira obra-prima de "iluminura impressa."

Blake imprimia ele próprio o seu trabalho. Ajudado pela sua mulher, muitas

vezes aquarelava à mão cada página, ou imprimia os pratos de cor numa ordem

diferente, de maneira que cada livro fosse uma obra única.

Canções da Inocência de William Blake

Wilhelm Bush é um excelente caricaturista. O traço é ágil e, como o texto, cheio

de humor. Podemos acompanhar a história pelos desenhos. Influenciado por Topffer, o

seu trabalho funciona como uma história em quadrinhos. “Juca e Chico - 7

Travessuras”, escrito em 1865, é talvez o seu livro mais conhecido.

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Juca e Chico de Wilhelm Bush

O livro mais conhecido de Beatrix Potter, The Tale of Peter Rabbit, nasce numa

carta escrita em 1893 para uma criança que estava doente.

Na primeira edição de Peter Rabbit, 1902, paga pela autora, as ilustrações eram a

preto e branco. Mas logo aparecerem as edições coloridas. Os livros adocicados de

Beatrix eram pequeninos, desenhados de maneira a que as crianças pudessem carregá-

los confortavelmente. Até hoje são sucesso garantido.

Edward Lear foi desenhador num zoológico, viajante, artista, escritor.

Deprimido, epiléptico, solitário. Em 1845 escreveu e ilustrou “A Book of Nonsense”.

Capaz de esquecer a sua destreza e optar por um gesto fluído e solto como o de uma

criança, Lear dá-nos, no século XIX, uma lição de modernidade.

A Book of Nonsense de Edward Lear

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Os primeiros impressos

Os primeiros impressos para crianças são cartilhas: “hornbooks”, "batledores" ou

"catones". Página coladas num suporte, que à primeira vista podiam servir também de

palmatória. Começam a ser usadas em 1440 e continuam a aparecer até 1850. Além do

ABC incluíam orações, ensinamentos morais ou políticos.

A criança descobre desde logo os “chapbooks”, “pliegos sueltos”, "fliegende

blätter", "folhas volantes" ou "de cordel" com as baladas, xácaras, anedotas, contos

maravilhosos, episódios de cavalaria., e apossam-se dessas narrativas populares, que

não foram escritas especialmente para elas.

“Chapbooks” eram folhas ou folhetos vendidos nas ruas.

“Valentine and Orson” .é um exemplo típico desses livros baratos que não eram feitos

para crianças, mas que as conquistaram. As personagens são dois irmãos gémeos

separados ainda pequenos. Orson, criado por um urso, Valentine, pelo rei da França.

Valentine captura o seu irmão e os dois, depois de muitas façanhas, casam-se com belas

princesas.

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Espécie de romance popular, em verso, que se cantava ao som da viola, ou

xácara, coletado por Almeida Garrett, que acreditava que a viagem da nau portuguesa

que em 1565 transportava Jorge de Albuquerque Coelho de Olinda para Lisboa deu

origem a esta xácara: “A Nau Catrineta”.

“Lá vem a nau Catrineta

Que tem muito que contar!

Ouvide, agora, senhores,

Uma história de pasmar...”

De entre os primeiros livros para crianças, não é possível esquecer a obra de

Johann Amos Comenius. O bispo de Morávia é considerado um grande inovador da

pedagogia.

Comenius 1592 - 1670

”Orbis Sensualium Pictus” foi escrito em 1658. Nele temos um ABC com imagens de

animais. O texto traz os ruídos característicos dos bichos, para ensinar o som de cada

letra.

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Comenius não foi o primeiro a fazer cartilhas ilustradas. Temos, no século XVI,

a “Cartinha para aprender a ler” de João de Barros, com o "A" debaixo de uma árvore,

e assim por diante.

Humanista, historiador e gramático, deixou-nos ainda o curioso “Diálogo de

Iom de Barros com dous Filhos seus sobre Preceptos Moraes em forma de Jogo”,

publicado em 1563.

O conceito de literatura para a infância tem sido problematizado ao longo do

tempo por diversos autores que o definem de acordo com diferentes pressupostos:

Citam-se alguns exemplos:

“São as crianças, na verdade, que o delimitam, com a sua preferência. Costuma-se

classificar como Literatura Infantil o que para elas se escreve. Seria mais acertado,

talvez, assim classificar o que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma

Literatura Infantil a priori mas a posteriori. Mais do que literatura infantil existem

"livros para crianças".”

Cecília Meireles1 (1951)

1 Poetisa brasileira nascida no Rio de Janeiro. Professora universitária, Cecília Meireles interessou-se pelo estudo das línguas, música, cultura oriental e literatura infantil. Casou-se com o ilustrador português Fernando Correia Dias, artista que contribuiu imensamente para o desenvolvimento das artes gráficas no Brasil, autor de caricaturas e desenhos altamente requintados e modernos.

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“A literatura para a juventude é uma comunicação histórica (quer dizer localizada no

tempo e no espaço) entre um locutor ou um escritor adulto (emissor) e um destinatário

criança (receptor) que, por definição, de algum modo, no decurso do período

considerado, não dispõe senão de forma parcial da experiência do real e das estruturas

linguísticas, intelectuais, afectivas e outras que caracterizam a idade adulta.”

Marc Soriano2 (1975)

“Sublinhemos: o livro infantil é o livro ilustrado; e esta situação já comporta a

existência do livro de imagens...”

Américo Lindeza Diogo3 (1994)

2 Estudioso de literatura infantil para a infância 3 Doutorado em Literatura Portuguesa pela Universidade do Minho. É Professor Auxiliar no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho.

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Classificação da literatura infantil

Fases normais no desenvolvimento da criança:

O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, no nosso século, foi aberto

pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento

estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para

os diferentes estágios do seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e a sua

importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto.

A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e

igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar,

dependendo da criança, ou do meio em que ela vive.

Primeira Infância: Movimento vs Actividade (15/17 meses aos 3 anos)

Maturação, início do desenvolvimento mental;

Fase da invenção da mão - reconhecimento da realidade pelo tacto;

Descoberta de si mesmo e dos outros;

Necessidade grande de contactos afectivos;

Explora o mundo dos sentidos;

Descoberta das formas concretas e dos seres;

Conquista da linguagem;

Nomeação de objectos e coisas - atribui vida aos objectos;

Começa a formar sua auto-imagem, de acordo com o que o adulto diz que ela é,

assimilando, sem questionamento, o que lhe é dito;

Egocentrismo, jogo simbólico;

Reconhece e nomeia partes do corpo;

Forma frases completas;

Nomeia o que desenha e constrói;

Imita, principalmente, o adulto.

Histórias para crianças (faixa etária/áreas de interesse/materiais/livros):

1 a 2 anos:

A criança, nesta faixa etária, prende-se ao movimento, ao tom de voz, e não ao conteúdo

do que é contado. Ela presta atenção ao movimento de fantoches e a objectos que

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conversam com ela. As histórias devem ser rápidas e curtas. O ideal é inventá-las na

hora. Os livros de pano, madeira e plástico, também prendem a atenção. Devem ter,

somente, uma gravura em cada página, mostrando coisas simples e atractivas

visualmente. Nesta fase, há uma grande necessidade de pegar na história, segurar o

fantoche, agarrar o livro, etc..

2 a 3 anos:

Nesta fase, as histórias ainda devem ser rápidas, com pouco texto de um enredo simples

e vivo, poucos personagens, aproximando-se, ao máximo, das vivências da criança.

Devem ser contadas com muito ritmo e entoação. Há um grande interesse por histórias

de bichinhos, brinquedos e seres da natureza humanizados. Identifica-se, facilmente,

com todos eles. Prendem-se a gravuras grandes e com poucos detalhes. Os fantoches

continuam a ser o material mais adequado. A música exerce um grande fascínio sobre

ela. A criança acredita que tudo ao seu redor tem vida e vivência, por isso, a história

transforma-se em algo real, como se estivesse mesmo a acontecer.

Segunda Infância: Fantasia e Imaginação (dos 3 aos 6 anos)

Fase lúdica e predomínio do pensamento mágico;

Aumenta, rapidamente, seu vocabulário;

Faz muitas perguntas. Quer saber "como" e "porquê ?";

Egocentrismo - narcisismo;

Não diferenciação entre a realidade externa e os produtos da fantasia infantil;

Desenvolvimento do sentido do "eu";

Tem mais noção de limites (meu/teu/nosso/certo/errado);

Tempo não tem significação - não há passado nem futuro, a vida é o momento presente;

Muitas imagens ainda completando, ou sugerindo os textos;

Textos curtos e elucidativos;

Consolidação da linguagem, onde as palavras devem corresponder às figuras;

Para Piaget, etapa animista, pois todas as coisas são dotadas de vida e vontade;

O elemento maravilhoso começa a despertar interesse na criança.

Dos 6 aos 6 anos e 11 meses, aproximadamente:

Interesse por ler e escrever. A atenção da criança esta voltada para o significado das

coisas;

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O egocentrismo diminui. Já inclui outras pessoas no seu universo;

O seu pensamento torna-se estável e lógico, mas ainda não é capaz de compreender

ideias totalmente abstractas;

Só consegue raciocinar a partir do concreto;

Começa a agir cooperativamente;

Textos mais longos, mas as imagens ainda devem predominar sobre o texto;

O elemento maravilhoso exerce um grande fascínio sobre a criança.

Histórias para crianças (faixa etária/áreas de interesse/materiais/livros):

3 a 6 anos:

Os livros adequados nesta fase devem propor "vivências radicadas" no quotidiano

familiar da criança e apresentar determinadas características estilísticas.

Predomínio absoluto da imagem, (gravuras, ilustrações, desenhos, etc.), sem texto

escrito, ou com textos brevíssimos, que podem ser lidos, ou dramatizados pelo adulto, a

fim de que a criança perceba a inter-relação existente entre o "mundo real", que a cerca,

e o "mundo da palavra", que nomeia o real. É a nomeação das coisas que leva a criança

a um convívio inteligente, afectivo e profundo com a realidade circundante.

As imagens devem sugerir uma situação que seja significativa para a criança, ou que lhe

seja, de alguma forma, atraente.

A graça, o humor, um certo clima de expectativa, ou mistério são factores essenciais nos

livros para o pré-leitor.

As crianças, nesta fase, gostam de ouvir a história várias vezes. É a fase de "conte outra

vez".

Histórias com dobraduras simples, que a criança possa acompanhar, também exercem

grande fascínio. Outro recurso é a transformação do contador de histórias com roupas e

objectos característicos. A criança acredita, realmente, que o contador de histórias se

transformou no personagem ao colocar uma máscara, chapéu, capa, etc..

Podemos enriquecer a base de experiências da criança, variando o material que lhe é

oferecido. Materiais como massa de modelar e argila atraem a criança para novas

experiências.

Assim como as histórias infantis, os contos de fadas têm um determinado momento para

serem introduzidos no desenvolvimento da criança, variando de acordo com o grau de

complexidade de cada história.

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Os contos de fadas, tais como os "Os Três Porquinhos" e "O Patinho Feio" apresentam

uma estrutura bastante simples e têm poucas personagens, sendo adequados a crianças

entre 3 e 4 anos. Por outro lado, "Capuchinho Vermelho", "O Soldadinho de Chumbo",

"Pedro e o Lobo" e o "Pequeno Polegar" são adequados a crianças entre 4 e 6 anos.

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Ilustração

A palavra "ilustrar" vem do latim, “ilustrare”, e significa "lançar luz ou brilho,

ou tornar algo mais evidente e claro".

Dar luz ao entendimento, instruir, civilizar, acepções da palavra “ilustrar”, que,

junto com a puramente ornamental, definem uma actividade que vincula a expressão

plástica ao desenho, a arte aplicada a uma função concreta: a informação. A função que

cumpre a ilustração transcende, na maioria dos casos, o puramente ornamental para se

converter em informação não escrita, um meio de expressão que prescinde de barreiras

linguísticas, facilitando a compreensão de uma mensagem.

O ilustrador, ao contrário de outros profissionais da arte, está sujeito a certas

limitações no seu trabalho. O bom resultado da sua obra não depende exclusivamente de

um estado de espírito ou inspiração, a sua criação deve cumprir uma função que lhe é

imposta quando aceita o trabalho e, ao mesmo tempo, deve efectuá-lo tendo em conta o

processo de reprodução a que vai ser submetido: sistema de impressão, limitações de

cor, etc., o que não se deve interpretar como aspectos negativos, antes pelo contrário: é

desafio profissional que não se tem ao pintar um quadro de inspiração livre e ao qual

não se exige mais do que qualidade artística.

A ilustração, foi, sem dúvida, o primeiro meio de expressão gráfica empregue

pela Humanidade. Desde as pinturas rupestres até aos actuais infogramas, passando

pelos ideogramas de culturas como a egípcia e as pré-colombianas, foi sempre o método

mais directo de comunicação, já que não precisa de um código abstracto de leitura. Com

a descoberta da imprensa, não só não decaiu como atingiu um auge notável, como

suporte e ampliação da informação fornecida pelo texto com o qual compartilha as

páginas impressas, ou como elemento descritivo que torne desnecessário o mesmo.

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Ilustração que adorna o artigo sobre a música numa enciclopédia de 1023 elaborada no Mosteiro de Montecasiano.

Nas primeiras publicações periódicas, as ilustrações feitas chapas metálicas eram

a única possibilidade de imprimir a imagem até ao aparecimento da fotografia e os

processos de fotogravação, os quais não foram o fim da sua utilização, mas uma

libertação, já que, a partir desse momento, se recorria ao ilustrador não como única

fonte de imagem, mas sim como um profissional cuja criatividade ia dar a esta um toque

especial, diferente da pura captação da realidade, o que não resulta em detrimento do

trabalho fotográfico, que pode constituir uma autêntica ilustração para lá da reportagem.

Aubrey Beardsley (1872-98), apesar da sua curta vida, tornou-se num dos mais

importantes ilustradores da história moderna.

Aubrey Beardsley (1872-98)

Ilustração para a obra

“Salomé” de O. Wilde

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Técnicas Manuais

O processo de trabalho na ilustração difere do desenho e da pintura não só na

escolha do tema a tratar, que neste caso é imposto ao profissional; também é de vital

importância ter em conta o meio de reprodução que vai ser utilizado e a idiossincrasia

do público a quem é dirigido: evidentemente, não podem ter o mesmo tratamento uma

ilustração para imprensa diária e a destinada a um livro colorido, ou uma ilustração

técnica e a dirigida a crianças.

O conhecimento de algumas técnicas como algumas aplicações do lápis e da

tinta e uma ferramenta de desenho quase exclusiva da ilustração, o aerógrafo, são

fundamentais para o ilustrador manual.

Lápis e tinta

O lápis é uma das técnicas de desenho mais influenciadas pelo meio de

reprodução e impressão final. Portanto, antes de escolher a sua utilização, o ilustrador

deve conhecer o tratamento a que o seu trabalho vai ser submetido, evitando, mediante

técnicas concretas, que a ilustração sofra alterações.

Apesar da alta qualidade dos meios de reprodução actuais, um trabalho de

graduações de cinzento realizadas com o lápis deverá ser tratado com maior ou menor

dureza segundo a resolução (pontos por polegada ou por centímetro) da textura com que

vai ser reproduzido. Tons muito suaves de cinzento podem chegar a perder-se ou a fazer

que as áreas brancas adjacentes não possam ser reproduzidas como tal, ou seja: corre-se

o risco de que o desenho seja “suavizado” ou “endurecido” pela reprodução, impedindo

que um cinzento muito claro se funda com o branco sem brusquidão.

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O aerógrafo

O primeiro aerógrafo, o aerograph, foi desenhado pelo ilustrador britânico

Charles Burdick em 1893, e desde então passou por aperfeiçoamentos técnicos e épocas

de esquecimento produzidas por predominâncias de outros estilos, mas mantendo-se

sempre como o instrumento-rei da ilustração de efeitos realistas.

Charles Burdick Primeiro aerógrafo

Uma vez dominada a sua técnica, o ilustrador conseguirá efeitos de luz, texturas

e tons suaves insubstituíveis em muitos tipos de ilustrações.

Há muitos tipos de aerógrafos, consoante a sua finalidade e preço, mas todos se

baseiam no mesmo princípio: o ar, comprimido a 2-3 atmosferas, atravessa uma conduta

chamada “Venturi” (em cujo princípio é baseado o aerógrafo), passando para outra mais

larga, onde se expande, absorvendo a tinta que cai de um depósito à pressão normal,

pulverizando-a, projectando o fluxo através de uma boquilha cónica até ao papel.

O ar comprimido pode ser fornecido por meio de garrafas recarregáveis ou

postas de lado, ou por meio de um compressor eléctrico, a melhor opção, já que

costumam ser munidos de manómetros para regular a pressão e de filtros de

condensação de água.

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Há dois tipos básicos de aerógrafos: de alavanca simples ou dupla. A alavanca

simples produz um jacto uniforme, controlável apenas pela separação entre o

instrumento e o plano de desenho. A alavanca de dupla acção permite controlar

pressionando para baixo o fluxo de ar e para trás o da tinta, o que o torna mais útil para

trabalhos delicados.

Secção ou corte de um aerógrafo

Legenda:

1. Boquilha de saída;

2. Entrada de ar;

3. Depósito de tinta;

4. Agulha;

5. Gatilho de dupla acção;

6. Mordaça da agulha.

Há aerógrafos com boquilhas múltiplas que lhes permitem adaptar-se tanto a

trabalhos de traço fino como a projecção de grandes fundos.

Como norma básica de uso, a posição do aerógrafo em relação ao plano do

desenho deverá ser a mais aproximada possível de um ângulo recto e a distância ao

papel será inversamente proporcional à espessura do traço: muito perto quando se

projecta pouca tinta e muito ar (traços finos); mais afastado para muita tinta (grandes

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superfícies). Nunca se deve incidir sobre o mesmo ponto sem que a projecção anterior

esteja seca.

Manejo do aerógrafo

Para se familiarizar com o manejo do aerógrafo existem vários exercícios:

1º Sobre uma quadrícula de uns 10 mm de lado, tentar desenhar um ponto no centro de

cada rectângulo.

2º Traçado de barras paralelas e círculos à mão: exercita o domínio do traço e posição

do mesmo, aumentando o ar ao máximo e diminuindo a tinta ao mínimo, tentando que o

traço seja o mais fino possível.

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3º Esbatimentos finos e picados. Deve ter-se presente que maior pressão e menor

quantidade de tinta produzirão graduações suaves de cor. Pelo contrário, se se restringe

a passagem do ar e se abre a da tinta, o resultado serão pontos mais ou menos grossos

(efeito de “picado”).

4º Superfícies em três dimensões e máscaras. As superfícies a tratar são delimitadas

com máscaras de película auto adesiva fabricada para esse efeito, recortando e

descobrindo a parte a tratar com uma lâmina ou bisturi. Para este exercício desenham-se

figuras geométricas simples, como o cubo, o cilindro e a esfera, projectando a tinta em

esbatimentos dando efeitos de luz, como se fossem superfícies polidas.

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Exemplo:

Desenhar um tigre com o aerógrafo

Materiais necessários

Lápis de cor preto Pincel fino humedecido

para esbater o traçado 1ª Camada de cor

onde as sombras são mais marcadas

Pinceladas na pelagem para dar o aspecto de

pelos pretos

Sombras acentuadas. A luz vem da direita.

Pincel para finalizar a face e uma camada de cor preta com o

aerógrafo

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Ilustração Infantil

A ilustração está a aumentar a sua importância num momento em que cada vez

tem mais preponderância a imagem sobre o texto, num mundo em que, para a

comunicação visual, dados os meios informáticos existentes, as possibilidades de

criação, mistura e transformação de imagens são cada vez mais complexas e elaboradas.

A ilustração apoia uma mensagem escrita, dentro do contexto da obra em que se

encontra. A sua função é fundamentalmente estética: tornar mais agradável à vista a

obra a que pertence.

De todas as especialidades no campo da ilustração, a dedicada ao mundo da

infância constitui uma área muito especial. Em qualquer tipo de trabalho, o profissional

deve “entrar” na mentalidade do receptor, e isto torna-se especialmente difícil no caso

das crianças. Não é fácil encontrar uma linguagem gráfica compreensível sem tentar

desenhar como eles, o que, por outro lado, careceria de validade: a criança utiliza mais a

fantasia do que o adulto, e não vêem os seus desenhos como os vêem os mais velhos.

Esta capacidade de comunicação específica, e o que implica de conhecimento

dos processos mentais infantis faz com que seja a especialidade de ilustração mais rara.

Ilustração para conto infantil,

de Enrique Santana

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Aspectos gráficos e visuais

A classificação de livro ilustrado está baseada, segundo Joan Cass, no seu

formato: “Picture books tell a story through a unique combination of text and

illustration so that meaning conveyed in the text is extended by the illustrations. The

content may be realistic, fanciful, or factual, but the format of text and illustration

combined defines it as a picture book.”

Desde Coménio até aos nossos dias que os pedagogos têm vindo a salientar a

importância da imagem nos livros para crianças. Surgem os ilustradores, que são os

primeiros intérpretes da história. Estes vão desenhá-la e recontá-la através da linguagem

da arte. As ilustrações têm assim como objectivo principal comunicar significados,

possibilitando à criança o prazer do jogo visual das formas e das cores. No entanto,

muitas vezes cai-se no risco da paráfrase, ou seja, as imagens são uma mera repetição

do texto, ou então, o próprio desenho nada tem a ver com o texto, tal como aponta

Gérard Bertrand: “L’illustration y court le risque d’affadir par la paraphrase ce que la

recontre de quelques mots a suffit à faire surgir dans l’esprit du lecteur”.

Os livros ilustrados pretendem aliciar as crianças. Estas preferem livros com

imagens realistas e coloridas, sendo a cor de grande importância neste tipo de livros. Os

livros deverão ter mais imagens e menos texto quanto mais novas forem as crianças, já

que estas têm uma atenção muito móvel. A dificuldade de concentração por parte das

crianças será tanto mais reduzida quantas mais imagens tiver um livro.

Os autores dos livros infantis não devem esquecer que os destinatários das suas

histórias são as crianças, por isso, o estilo e os aspectos técnicos e materiais de um livro

levam-no a ser aceite ou rejeitado pelas crianças. Assim, o formato, o tamanho das

páginas e das letras, a qualidade do papel, a capa, o colorido das imagens são muito

importantes. Capas vistosas são um elemento de persuasão que levam um leitor a

comprar um livro. Além disso, os nomes das personagens devem ser divertidos e

sonantes para captar a atenção das crianças.

A fantasia cativa as crianças e desperta nelas a curiosidade e estimula a

imaginação. Todos estes factores contribuíram para uma grande aceitação deste tipo de

livros por parte das crianças, a partir do início do século. Eles são, ainda hoje, um bom

entretenimento para os mais novos em horas de lazer e antes de deitar.

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A ilustração obedece a códigos próprios de significação:

- o aliciamento do leitor virtual (em tempos de escolaridade mínima todas as

crianças podem e devem ser leitores);

- a necessidade intrínseca ou extrínseca de suportar a actividade do leitor que

começa face a um texto, que infantil ou não, é uma estrutura mais intencional que real.

A ilustração acompanha assim, a faixa etária: quanto menor for a idade do leitor,

tanto mais o livro que se lhe dirige tem “imagens” e tanto menos “letras” terá.

Sendo a criança um leitor infantil a cativar, o livro infantil deverá ter uma

“função lúdica”, no qual a imagem domina. É a ilustração que, sem dúvida, surge como

“uma segunda natureza da obra infantil” (Lajolo & Zilberman, 1985:13)

Ler uma imagem é também ter acesso a um conjunto de convenções gráficas

próprias da nossa cultura e da nossa sociedade. As imagens devem corresponder ao

núcleo do eu / mundo de forma a que a criança as identifique e permitam uma

progressão ajustada ao seu desenvolvimento.

Folhear as páginas do livro é a metáfora do desenrolar do tempo que a própria

sucessão das ilustrações realça; ao fazê-lo a criança brinca com o tempo, fazendo-o

avançar ou recuar.

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Leitura de imagens

Verdade / Falsidade

É a linguagem verbal que determina a impressão de “verdade” ou de falsidade

que podemos ter de uma mensagem visual. Uma imagem é considerada “verdadeira” ou

“falsa” não por causa daquilo que representa mas por causa daquilo que nos é dito ou

escrito acerca do que ela representa. Tudo depende da expectativa do espectador. É a

conformidade ou a não-conformidade entre o tipo de relação imagem/texto e a

expectativa do receptor que dão à obra um carácter de verdade ou falsidade.

“A mentira”

Felix Valloton

Quando o pintor Valloton, a uma pintura forte e comovente representando um

homem e uma mulher que se beijam, abraçados, num recanto sombrio de um salão

burguês, não dá o título de “O Beijo” mas sim “A mentira”, aceitamos a interpretação

proposta, uma vez que se trata de uma pintura e, portanto, de expressão, mais do que

informação.

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A leitura das imagens implica processos de codificação-descodificação e actos

de compreensão.

Em relação ao uso da palavra “leitura” (reading), Colin fala em duas acepções

da palavra:

- Decifração (readability);

- Compreensão (comprehensibility).

Só a leitura compreensiva e não a mera decifração permitem a comunicação.

Nem todas as imagens têm o mesmo nível de complexidade, sendo que imagens

complexas têm leituras mais complexas.

Sendo a semiologia a teoria dos signos, ela é uma referência fundamental a partir

do momento em que passamos a encarar a imagem como um sistema de signos. Surge

assim a “semiologia da imagem”:

“A semiologia da imagem, melhor denominada ‘iconologia’, estuda uma

imagem ou um objecto icónico (por exemplo, um filme) como um sistema, isto é, como

um conjunto de elementos interdependentes e organizados de modo a que estes

elementos e o todo que constituem só possam compreender-se uns em relação aos

outros. Da mesma maneira que a ciência da linguagem procura descobrir os elementos

constitutivos da significação linguística, a iconologia visa pôr em evidência as

componentes da significação icónica e as suas leis de organização”. (Cazeneuve,

pág.146)

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Funções da ilustração

A relação entre o texto e a imagem está na interpretação que o ilustrador cria

para a história. A ilustração é uma linguagem que dialoga com a linguagem verbal e

apresenta diferentes possibilidades de leitura de um mesmo texto. A ilustração tem as

funções de ornar ou elucidar o texto. No entanto, ela pode ter ainda outras funções:

• Função representativa:

Quando a imagem imita a aparência do ser ao qual se refere.

• Função descritiva:

Quando a imagem detalha a aparência do ser ao qual se refere.

• Função narrativa:

Quando a imagem situa o ser representado em devir, através de transformações ou

acções por ele realizadas.

• Função simbólica:

Quando a imagem sugere significados sobrepostos ao seu referente, como é o caso

das bandeiras nacionais.

• Função expressiva:

Quando a imagem revela sentimentos e emoções do produtor da imagem.

• Função estética:

Quando a imagem enfatiza a forma da mensagem visual.

• Função lúdica:

Quando a imagem está orientada para o jogo.

• Função conativa:

Quando a imagem está orientada para o destinatário, visando influenciar o seu

comportamento, através da persuasão.

• Função metalinguística:

Quando o referente da imagem é a linguagem visual ou a ela directamente

relacionado.

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• Função fática:

Quando a imagem enfatiza o papel do seu próprio suporte.

• Função de pontuação:

Quando a imagem está orientada para o texto junto ao qual está inserida.

Figuras de estilo

Na linguagem verbal, as figuras de estilo alteram ou enfatizam o sentido das

palavras, e possuem correspondentes similares na linguagem visual, como a hipérbole, a

metáfora, a metonímia e a personificação.

Apresentamos de seguida exemplos para cada uma delas:

Hipérbole:

Processo de exagero que ocorre, por exemplo, na

caricatura.

Metáfora:

Corresponde a transformações na imagem, através

de relações de similaridade.

Metonímia:

Há uma relação objectiva entre a imagem e o ser

representado, como por exemplo, a representação

de parte de um determinado ser para referir-se ao

ser inteiro.

Personificação:

Atribuição de características humanas a seres

inanimados bem como a ideias abstractas como as

figuras alegóricas que representam a justiça, a

liberdade, etc.

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A Imagem – As Palavras

A ilustração é uma imagem que acompanha o texto e que estabelece uma relação

semântica com ele. Esta relação pode ser denominada de coerência inter semiótica, visto

que articula dois sistemas semióticos: a linguagem verbal e a linguagem visual.

Pode entender-se a coerência inter semiótica como a relação de convergência ou

não-contradição entre os significados denotativos e conotativos da ilustração e do texto.

Pode falar-se em três graus de coerência:

1) a convergência;

2) o desvio;

3) a contradição.

Assim, avaliar a coerência entre uma ilustração e um texto significa avaliar em

que medida a ilustração converge, desvia-se ou contradiz os significados do texto.

Denotação / Conotação

Para analisar ou ler uma imagem devemos diferenciar claramente dois níveis

fundamentais, a denotação e conotação. Uma imagem pode ter significados denotativos

e conotativos:

1) significados denotativos:

- referem-se ao ser que a imagem representa;

- decorrem da função representativa.

2) significados conotativos:

- referem-se a associações sugeridas pela imagem;

- decorrem da função estética.

O nível denotativo refere uma enumeração e descrição dos objectos num

determinado contexto e espaço.

O nível conotativo refere-se à análise das mensagens ocultas numa imagem, e na

forma como a informação aparece escondida ou reforçada. É composta por todos os

elementos observáveis: desde a mais pequena unidade de análise, como o ponto ou a

linha até aos objectos de volume variável e materiais diferentes.

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Para Umberto Eco a conotação “ é a soma de todas as unidades culturais que o

significante pode evocar institucionalmente na mente do destinatário”.

O poder evocativo de uma imagem não é o mesmo para todos, em linha de conta

estão experiências e contextos próprios a cada pessoa que receberá de forma diferente.

Imagens monosémicas:

São imagens que têm um significado óbvio e único, que não oferecem ao

espectador outras possibilidades de leitura do que aparece representado.

Imagens polissémicas:

Proporcionam diferentes interpretações de acordo com o grupo social que as

recebe.

É importante para compreender os fenómenos perceptivos, esquematizar a

sequência dos acontecimentos da visão. À interacção entre o conjunto das superfícies

físicas e o seu comportamento na absorção ou reenvio da energia luminosa e a captação

através do olho humano da luz a que chega dos objectos que se encontram no seu campo

visual damos o nome de processo de visão. O olho humano constitui um canal

fisiológico e é o meio natural de passagem entre a emissão de uma mensagem e sua

sensação resultante (Moles e Zeltman: 1975). Esta perspectiva do conhecimento das

partes essenciais do olho (córnea, cristalino, íris e pupila, humor aquoso e vítreo, retina)

realça a importância que os mecanismos da visão têm como ponto de partida para a

formação de imagens na retina.

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Alice no País das Maravilhas

Lewis Carroll

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Contextualização do texto e do autor

Lewis Carroll

(1832-1898)

Charles Lutwidge Dodgson, escritor e matemático britânico, mais conhecido

pelo seu pseudónimo de Lewis Carroll, nasceu a 27 de Janeiro de 1832 e faleceu a 14 de

Janeiro de 1898. O seu pai, Reverendo Charles Dodgson, era pastor protestante e deu ao

filho uma educação religiosa, preparando-o para uma carreira também religiosa. No

entanto, Charles Dodgson ingressou na Universidade de Oxford e, em 1855, foi

convidado para permanecer como professor de Matemática, leccionando em Oxford até

1881. Apesar dos seus primeiros livros abordarem temas de Geometria e Álgebra, foi

como lógico que Dodgson se destacou. O seu interesse pela lógica matemática e pelos

jogos capazes de testar a razão, levou-o a publicar diversos livros sobre lógica, entre os

quais se destacam “The Game of Logic” (1887) e “Symbolic Logic” (1896). Dedicava-

se também a criar adivinhações, silogismos e problemas lógicos divertidos que usava

nas suas aulas como por exemplo o dos “Relógios Loucos”: “Qual dos relógios regista o

tempo mais fielmente? Um que se atrasa um minuto por dia ou um que não funciona?”4

Enquanto professor em Oxford, conheceu aquele que viria a ser o seu grande

amigo, Henry Liddell, pai de três meninas – Alice, Lorina e Edite, a primeira das quais

viria a ser a sua fonte de inspiração para o seu primeiro grande romance publicado em

1865: “Alice in Wonderland”.

4 O relógio que se atrasa um minuto por dia dá a hora exacta de dois em dois anos, pois como se atrasa um minuto por dia só voltará a estar certo depois de se atrasar doze horas, o que só acontece ao fim de 720 dias. O relógio que está parado está certo duas vezes em cada vinte e quatro horas. Por isso, o relógio que regista melhor o tempo é o que está parado.

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C. Dodgson adopta então o pseudónimo de Lewis Carroll para as obras literárias

reservando o seu verdadeiro nome para as obras científicas. Após o sucesso de “Alice in

Wonderland”, escreveu “Through the Looking Glass” (1871) que alcançou tanto

sucesso como o primeiro. Seguiram-se “The Hunting of Snark (1876) uma poesia plena

de “nonsense” que fascinou a crítica e “Sylvie and Bruno” (1889).

A partir de 1850, Lewis Carroll destacou-se também como fotógrafo tendo-se

especializado em dois tipos de fotografia: retratos de pessoas importantes da época

(artistas, escritores, poetas, religiosos, cientistas, professores, etc) e crianças, em geral,

raparigas com idades entre os 8 e os 12 anos, que lhe rendeu uma obscura e insólita

fama de preferência por ninfetas...).

Charles L. Dodgson faleceu em 1899, no dia 14 de Janeiro em Guilford,

Inglaterra.

“Alice no País das Maravilhas” é um conto de surpreendente originalidade. A

pequena Alice encontra-se um dia na floresta com um coelho branco que caminha a

resmungar como quando se chega tarde a um encontro. Segue-o até à sua cova, onde a

menina cai por um buraco profundíssimo. A partir dali acede a um estranho mundo

habitado por criaturas surpreendentes. Alice, que encontra um bolo e uma bebida que a

fazem crescer ou minguar à vontade, entra no país das maravilhas, onde a rainha,

rodeada da sua corte de naipes, a convida para uma partida de croquet. Toma de

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imediato o chá com o Chapéu Louco, a Lebre de Março e um rato do campo, e mantém

uma conversação com o gato de Cheshire, que tem a virtude de aparecer e desaparecer à

vontade. Assiste finalmente a um julgamento contra a Dama de Copas, mas antes de

terminar Alice desperta bruscamente: tudo tinha sido um sonho. Carroll serve-se da

capacidade infantil para observar a realidade com total ingenuidade, capacidade que

utiliza para evidenciar os aspectos absurdos e incoerentes do comportamento dos

adultos e para animar jogos encantadores baseados nas regras da lógica.

Como surgiu a Alice?

Lewis Carroll era um homem tímido, introvertido e conservador. Gostava

imenso de crianças e de lhes contar histórias.

No dia 4 de Julho de 1862, convidou as três filhas do seu amigo Liddell - Alice,

Lorina e Edite - para um passeio de barco no rio. Durante o passeio, como já era hábito

sempre que estavam na companhia de Lewis, as três meninas pediram para que lhes

contasse uma história muito divertida. Lewis começou a contar a história à medida que

ia remando ao longo do rio. Fez três tentativas para que a história terminasse mas as

meninas não o permitiram e iam pedindo para que continuasse. Quando a história

terminou já passava das oito da noite e com ela findou também o passeio de barco dos

quatro amigos.

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Da esquerda para a direita:

Edith, Lorina e Alice Liddell, 1858

Antes de se deitar, nessa mesma noite, Lewis escreveu toda a história tal como a

tinha contado a Alice e às suas irmãs. Chamou-lhe Alice Debaixo da Terra. Só dois

anos mais tarde, em 1864, é que a tornou a ler. Acrescentou-lhe então algumas

personagens, acrescentou alguns capítulos (a história ficou com, sensivelmente, o dobro

das páginas) e alterou o título para Alice no País das Maravilhas. O livro foi editado, no

ano seguinte, em 1865. Seguiu-se-lhe, seis anos mais tarde, Alice do outro Lado do

Espelho, em 1871.

Muitas das personagens e situações dos livros foram inspirados em pessoas e

factos reais pertencentes do quotidiano de Lewis e da comunidade onde viveu:

Alice Liddell

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Também a nogueira onde aparece o Gato de Cheshire, o gato que está sempre a

rir, ainda hoje pode ser vista no jardim do Colégio de Deanery.

E, na Catedral de Ripon, onde o pai de Lewis exercia funções de reverendo,

existe talhada em madeira uma imagem de um grifo que serviu de inspiração para o

Grifo amigo da Falsa Tartaruga, grifo que é também o símbolo do "Trinity College”.

Os poemas e os versos que Alice recita, e que parecem não ter sentido nenhum,

são sátiras aos poemas enfadonhos que as crianças inglesas daquela época tinham que

saber de cor. Quanto ao poema que Alice descobre no Livro do Espelho, e que só se

consegue ler quando está reflectido no espelho porque está escrito ao contrário, foi na

realidade escrito pelo sobrinho de Lewis, Stuart Dodgson Collingwood.

“Um, dois! Um, dois! Zás, catrapás, A espada vorpal foi cortando.

morto o deixou, E com a sua cabeça galufante voltou.”

(...)

Também o dia do Lanche Maluco não é uma data ao acaso mas sim o verdadeiro

dia de aniversário de Alice Liddell, 4 de Maio.

A história que o Chapeleiro e a Lebre de Março contam a Alice sobre as três

irmãs que vivem num poço de mel - Elsie , Lacie e Tillie - refere-se às três irmãs

Liddell, respectivamente, Lorina, Edite e, claro está, Alice.

A Porta que Alice ordena ao criado Rã que abra, é a caricatura da porta Norman

da sacristia da Igreja onde o pai de Lewis Carroll era Reverendo.

O capítulo sobre o Leão e o Unicórnio é inspirado nos símbolos das bandeiras de

Inglaterra e Escócia, respectivamente.

Lewis aproveitou as características mais marcantes de alguns dos seus colegas

na Universidade de Oxford e utilizou-as na caracterização de algumas das personagens

dos seus livros:

- professores que dão conselhos filosofais a Alice, tal a Lagarta;

- o professor Bartholomew, apaixonado por morcegos:

“Brilha, brilha, morceguinho! Como te invejo! Voa pelo céu

Como um tabuleiro de chá. Brilha, brilha... Brilha, brilha...”

- o seu colega Duckworth que inspira Lewis no desenho do Pato;

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- professores que tal como Humpty Dumpty seriam capazes de discutir, com

Alice, questões de semântica;

- o próprio muro onde Humpty Dumpty se balançava é uma caricatura dos

muros da Universidade Oxford;

- na beira do Lago, onde Lewis e as três irmãs passeavam de barco, existiam

de facto algumas cobras que inspiraram Lewis na história do Pai Guilherme

que equilibrava uma cobra no nariz. As três crianças tinham também, dias

antes, assistido a uma actuação de equilibristas e acrobatas que estavam de

passagem por aquela região.

Lewis, o fotógrafo Carroll referia-se à fotografia como um fascínio e uma devoção. Era um

fotógrafo bastante apreciado, que fotografou muita gente da sociedade que frequentava

e onde ocupava o lugar de excêntrico solitário: conhecidos, amigos e filhos de amigos,

escritores, artistas eram objecto da sua arte fotográfica social. Mas a aplicação

realmente simbólica da técnica fotográfica centrou-se nos seus retratos de meninas.

Neles, muitas vezes Carroll não se satisfazia só com o aspecto natural da foto. Tinha de

criar um artifício. O cume desse artifício está no retrato da menina Alice encarnando um

pedinte, com a mão estendida. Nele, Alice Liddell está com um vestido rasgado,

mostrando os braços e as pernas, com os pés descalços, uma das mãos fechada na

cintura e a outra aberta como quem pede esmola, o corpo encostado a um muro. Além

do erotismo explícito, há um fundo pervertido em contraste com o rosto infantil.

Alice Liddell, 1859

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Numa bela foto de Mary Ellis, ela está encostada num tronco rugoso com

folhagens, mas aí o erotismo talvez fosse inconsciente.

Mary Ellis

Não será este, certamente, o caso de uma foto de Xie Kitchin, em que ela

repousa, dormindo, reclinada sobre um sofá, com o vestido abaixado, mostrando os

ombros nus, propositadamente descobertos (como também se vê na foto de Alice

''mendiga'' (com a mão pousada sobre o regaço). Xie, aliás uma favorita, aparece em

outras fotos sugestivas, uma reclinada num sofá com um livro no regaço, outra também

dormindo na cama e finalmente de pé contra a parede, ou com um violino.

Xie Kitchin, 1875

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Uma foto de Irene Mac Donald parece bem inocente. Ela está de camisola,

escova numa das mãos e um espelho noutra, que pousa sobre uma cadeira. Mas os

cabelos estão significativamente soltos, os pés descalços. Viramos a página do álbum de

fotos e defrontamo-nos com a mesma Irene reclinada num sofá. Não está descalça, nem

dorme. Mas a expressão do seu olhar perdido está entre o sono e o êxtase. Não se pode

negar a relação estreita entre o sono, o ato de se estar deitado sobre travesseiros ou

inclinado sobre almofada num sofá e o erotismo.

Irene MacDonald, 1863

Mary Millais

Mary Millais, por exemplo, está recostada num chão que parece de grama ou de

tapete felpudo. Também os recantos, a posição inclinada e a expressão longínqua,

próxima do êxtase, são visíveis obsessões eróticas. Nada disso se encontra nas fotos

comuns de familiares, pessoas distintas ou de renome que também constituíam o alvo

das fotos do ''reverendo'', que se dizia ''praticamente um leigo'' no final da sua vida.

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Dymphna Ellis, 25 Julho 1865

Tryphena Hughes com os filhos, 19 Julho 1864

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Maria White, 11 Julho 1864

Margaret Anne e Henrietta Mary Lutwidge, 1859

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Mary e Charlotte Webster, e Margaret Gatey, 1857

Seis irmãs de Carroll e o irmão Edwin, 1857

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John Tenniel, o ilustrador

(1820-1914)

Ilustrador e caricaturista inglês, nasceu a 28 de Fevereiro de 1820, em Londres, e

morreu nesta cidade a 25 de Fevereiro de 1974.

Estudou na Royal Academy e foi aluno do célebre Charles Keene, tendo

estudado escultura no Museu Britânico. Em 1845, já cego de um olho, foi premiado no

concurso aberto pelo Governo aberto pelo Governo para decorar o Parlamento, com o

projecto O Espírito de Justiça. Uma das suas primeiras obras foi um fresco

representando Santa Cecília e que lhe fora encomendado para decorar a capela da

Câmara dos Lordes. Trabalhou na redacção do jornal Punch e, em 1893, foi armado

cavaleiro.

Ilustrou mais de trinta livros e produziu cerca de duas mil e quinhentas

caricaturas para o Punch. A sua maior glória foram as ilustrações de Lalla Rookh de

Thomas Moore, em 1861, mas aquilo que o tornou numa figura que se recorda

afectuosamente foram as ilustrações que fez para Alice no País das Maravilhas e Alice

do Outro Lado do Espelho.

As ilustrações a preto e branco de Sir John Tenniel ainda hoje continuam a ser as

mais famosas. Depois dele, surgiram muitos outros ilustradores diferentes do original.

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Outros ilustradores

Maria L. Kirke, 1904

Arthur Rackham, 1907

1837-1939

Bessie Pease Gutmann, 1907

1876–1960

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Literatura Infantil e Ilustração – Imagens que falam

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Mabel Lucie Attwell, 1910

A.E. Jackson, 1915

Gwynedd M. Hudson, 1922

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Jessie Willcox Smith, 1923

Arte contemporânea

Marshall Vandruff

Walt Disney

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Literatura Infantil e Ilustração – Imagens que falam

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Imagens que falam

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1

“Mas, no preciso momento em que o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, olhou para ele e começo a correr mais depressa.”

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2

“No entanto, numa segunda volta, reparou numa cortina baixa que não vira antes, por detrás da qual havia uma pequena porta com cerca de trinta centímetros de altura. Alice tentou enfiar a pequena chave dourada e ficou deliciada ao ver que ela se abria ali!”

Imagem

3

“ (...) por isso, Alice voltou para a mesa, na esperança de encontrar ali outra chave ou um livro de instruções para ensinar as pessoas a fecharem-se como se fossem telescópios, mas desta vez o que achou foi uma pequena garrafa (“que decerto não estava ali antes”, pensou) que, à roda do gargalo, tinha um rótulo de papel, onde podia ler-se em letras grandes e maravilhosamente impressas: “BEBE-ME”.”

Imagem

4

“”Agora estou a crescer como se fosse o maior dos telescópios! Adeus, pés! – (pois quando olhou para os pés mal os viu, de tão longe que estavam). – Oh, meus pobres pezinhos! Quem irá agora calçar-vos as meias e os sapatos, meus queridos? Tenho a certeza que não serei eu.”

Imagem

5

“Alice sentia-se tão desesperada que estava pronta a pedir ajuda a quem quer que fosse. Por isso, quando o coelho se aproximou dela, começou a dizer com uma voz tímida: - Por favor, senhor... O Coelho deu um salto violento, deixou cair as luvas brancas de pele e o leque, e desapareceu na escuridão, o mais depressa que pôde.”

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Imagem

6

“Ao completar este pensamento, um dos pés escorregou-lhe e, de repente, ficou mergulhada na água salgada até ao queixo.”

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7

“Foi precisamente nessa altura que ouviu qualquer coisa chapinhar na poça, não muito perto dela. Nadou até lá para ver do que se tratava. (...) Finalmente, descobriu que era apenas um rato que escorregara para a água, tal como ela.”

Imagem

8

“Que mais tens dentro da algibeira? – perguntou, voltando-se para Alice. - Apenas um dedal – respondeu Alice tristemente. - Trá-lo aqui – disse o Dodó. Mais uma vez, todos os se reuniram à volta dela, enquanto Dodó exibia o dedal, dizendo com solenidade: - Pedimos-te que aceites este lindo dedal.”

Imagem

9

“Então sentaram-se de novo em círculo e pediram ao Rato que lhes contasse mais alguma coisa.”

Imagem

10

“Mas já era tarde de mais! Alice continuou a crescer, cada vez mais, e em breve teve de ajoelhar-se no chão. Pouco depois, já nem isto foi suficiente e ela tentou deitar-se com o cotovelo encostado à porta e o outro braço enrolado à volta da cabeça” Mesmo assim, continuou a crescer.”

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Imagem

11

“Pouco depois, o Coelho alcançou a porta e tentou abri-la, mas não conseguiu pois o cotovelo de Alice empurrava-a pelo lado de dentro. Alice ouviu-o dizer: - Nesse caso, vou dar a volta e entrar pela janela. “Isso é que tu não fazes!” pensou Alice, e depois de esperar até imaginar que ouvira o Coelho debaixo da janela, deitou o braço de fora e fez um gesto no ar. Não agarrou nada mas ouviu um gritinho, o ruído de uma queda e de vidros partidos.”

Imagem

12

“Enfiou um dos pés na chaminé, o melhor que pôde, e ficou à espera até ouvir um pequeno animal (não conseguiu adivinhar de que animal se tratava) a arrastar-se e a roçar no interior da chaminé, mesmo acima dela. Depois, disse com os seus botões: ‘Lá vem o Bill.’ Deu um pontapé rápido e ficou à espera do que iria passar-se”.

Imagem

13

“Mal sabendo o que fazia, apanhou um pauzinho e estendeu-o ao cachorro que deu imediatamente um salto no ar, soltando um latido de prazer, e correu para o pauzinho, fazendo crer que lhe dava importância. Então, Alice abrigou-se atrás de uma grande moita de silvas, para impedir que ele lhe passasse por cima.”

Imagem

14

“Durante algum tempo, a Lagarta e Alice olharam-se em silêncio. Por fim, a Lagarta tirou o cachimbo da boca e perguntou-lhe numa voz lânguida e sonolenta: - Quem és tu?”

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15

“’Estás velho, pai Guilherme’”, disse o jovem, ‘E o teu cabelo está a enbranquecer Mas andas sempre de cabeça para baixo... Achas isso certo na tua idade?”

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16

‘Estás velho’, disse o jovem, ‘como eu já disse, E engordaste muito, Mas entraste em casa aos pulos... Diz-me, qual é a razão por que o fizeste?’

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17

“Estás velho’, disse o jovem, ‘e já tens os dentes fracos De tanto mastigar, Mas comes o pato com ossos e bico... Diz-me, como consegues?’

Imagem

18

‘Estás velho’, disse o jovem, ‘e ninguém diria Que tens a vista forte como nunca. Aguentas uma enguia na ponta do nariz... O que te faz assim tão esperto?’

Imagem

19

“De repente, um criado de libré pareceu a correr, vindo do bosque (Alice considerou-o um criado porque ele vinha de libré, mas, a julgar pela cara, ter-lhe-ia chamado peixe) e bateu à porta ruidosamente, com os nós dos dedos. Esta foi aberta por um outro criado de libré, de cara redonda e olhos grandes, como uma rã. Eram ambos criados. (...) O criado começou por tirar debaixo do braço uma grande carta, quase do seu tamanho, que estendeu ao outro dizendo num tom solene: - É para a Duquesa. Um convite da Rainha para jogar croquet.”

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20

“A porta dava directamente para uma cozinha enorme que estava cheia de fumo. A Duquesa estava sentada num banco de três pés a embalar um bebé; a cozinheira estava inclinada sobre o lume, a mexer um caldeirão que parecia estar repleto de sopa.”

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21

“O pobrezinho soltou um novo soluço (ou um novo ronco) e por instantes fez-se um silêncio. Alice estava precisamente a pensar: “Agora o que hei-de fazer com ele quando chegar a casa?”, quando o bebé voltou a roncar, desta vez com tal força que ela olhou-o, aterrorizada. Agora, era impossível enganar-se: o bebé não passava de um porco, e Alice achou que era um absurdo continuar a pegar-lhe ao colo.”

Imagem

22

“Nesse momento, ficou um pouco admirada ao avistar o Gato de Cheshire empoleirado no galho de uma árvore, alguns metros adiante. O Gato sorriu apenas quando viu Alice. Parecia bem-disposto, mas, mesmo assim, tinha umas grandes unhas e muitos dentes, por isso era melhor tratá-lo com respeito.”

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23

“E dessa vez desapareceu muito devagarinho, começando pela ponta da cauda e acabando no sorriso, que permaneceu ainda no ar por algum tempo, depois dele já se ter ido embora.”

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24

“A Lebre de Março e o Chapeleiro estavam a tomar chá numa mesa debaixo de uma árvore, em frente da casa. Apoiavam os cotovelos sobre um Arganaz, que estava sentado entre eles, meio adormecido, e que lhes servia de almofada. “Deve ser muito desconfortável para o Arganaz”, pensou Alice, “mas como está a dormir, é natural que não se importe”.”

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25

“O Chapeleiro abanou a cabeça tristemente e respondeu! - Eu, não! Em Março tivemos uma briga... Antes de ela enlouquecer, percebes? (e apontou para a Lebre de Março com a colher do chá). Foi durante o grande concerto dado pela Rainha de Copas, e eu tive de cantar: Brilha, brilha, morceguinho! Como te invejo!”

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26

“Esta indelicadeza era mais do que Alice podia suportar. Levantou-se, muito aborrecida, e afastou-se. O Arganaz adormeceu instantaneamente, e nenhum dos outros pareceu dar pela sua partida, embora ela olhasse para trás uma ou duas vezes, na esperança de que a chamassem. Quando olhou pela última vez, ambos tentavam enfiar o Arganaz dentro do bule do chá.”

Imagem

27

“Junto da entrada do jardim havia uma enorme roseira. As suas rosas eram brancas, mas três jardineiros estavam a pintá-las de vermelho, muito atarefados. Alice achou isto estranho e aproximou-se deles para os ver melhor.

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28

“E, voltando-se para Alice, prosseguiu: - Como te chamas, menina? – O meu nome é Alice, ao serviço de Sua Majestade – respondeu Alice com muita delicadeza. Mas acrescentou para com os seus botões:”Ora, afinal, não passam de um baralho de cartas. Não preciso de ter medo deles.”

Imagem

29

“A princípio, a principal dificuldade de Alice foi manejar o seu flamingo: conseguiu enfiá-lo debaixo do braço, de modo a sentir-se confortável, com as pernas penduradas; mas, em geral, precisamente quando conseguia esticar-lhe o pescoço e se preparava para dar uma estocada no ouriço, o flamingo começava a torcer-se para todos os lados e olhava-a com um ar tão confuso que ela não podia deixar de desatar a rir.”

Imagem

30

“Quando chegou junto do Gato de Cheshire, ficou admirada ao encontrar uma grande multidão à sua volta: travava-se uma discussão entre o carrasco, o Rei e a Rainha, que falavam todos ao mesmo tempo, enquanto os restantes os ouviam em silêncio e muito pouco à vontade.”

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31

“Não agradava a Alice estar assim tão perto dela: em primeiro lugar, porque a Duquesa era muito feia; em segundo, porque, devido à sua baixa estatura, apoiava o queixo pontiagudo no seu ombro, o que se tornava bastante incómodo. No entanto, Alice não gostava de ser malcriada e suportou-a como pôde.”

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32

“Pouco depois, encontraram um Grifo deitado no sol, semiadormecido. (Se não sabem o que é um Grifo, olhem para o desenho.”

Imagem

33

“Dirigiram-se então para junto da Falsa Tartaruga, que os mirou com os seus olhos grandes, cheios de lágrimas, e não disse nada. - Trago-te aqui esta menina que quer conhecer a tua história- disse o Grifo. - Vou contar-lha – disse a Falsa Tartaruga. Sentem-se e não digam uma palavra antes de eu acabar de falar.”

Imagem

34

“Então começaram a dançar em volta de Alice, com grande solenidade, pisando-lhe os pés de vez em quando, sempre que se aproximavam demasiado. Agitavam as patas dianteiras para marcar o compasso, enquanto a Falsa Tartaruga cantava, muito lentamente e com um ar tristonho.”

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35

“No entanto, levantou-se e começou a recitar, mas tinha a cabeça ainda tão cheia da Dança das Lagostas que mal sabia o que estava a dizer e as palavras saíam muito esquisitas: ‘Esta é a voz da lagosta, ouvi-a eu dizer:

Cozeste-me de mais, tenho de adoçar o cabelo.

Como um pato faz com os olhos, assim ela faz com o nariz

Arranca o cinto e os botões, e volta os pés para fora’.”

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Imagem

36

“Ao ouvir isto, o Coelho Branco deu três toques de clarim, desenrolou o pergaminho e leu o seguinte:”

Imagem

37

“Ao ouvir isto, o pobre Chapeleiro tremeu tanto que deixou cair os sapatos.”

Imagem

38

“E o Chapeleiro saiu do tribunal a correr, sem mesmo calçar os sapatos.”

Imagem

39

“Levantou-se com tal rapidez que deu um safanão na bancada dos jurados com a ponta da saia e estes caíram em cima da cabeça da multidão que se encontrava mais abaixo e espalharam-se.”

Imagem

40

“Se esse papel não tem qualquer significado, tanto melhor. Evita-nos preocupações pois escusamos de tentar procurá-lo – disse o Rei”.

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41

“Nesse momento, todo o baralho se espalhou pelo ar e veio cair em cima dela. Alice soltou um gritinho de medo e de fúria e tentou bater-lhes.”

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Depois da leitura da obra e de uma análise cuidada às imagens que ilustram a

mesma, concluímos que John Tenniel teve a preocupação de, na maior parte das

imagens, imprimir-lhes um carácter verdadeiro e de conformidade em relação ao texto

de Lewis Carroll. A grande maioria das imagens, exceptuando algumas, é de fácil

leitura (visual), sendo que grande parte delas acaba por ser uma redundância do que está

escrito. Por outro lado, outras imagens revelam-se de difícil leitura e dão a sensação de

não-conformidade em relação ao texto. Em alguns casos foi até difícil encontrar na

escrita aquilo que a imagem pretendia representar. De notar a total ausência de cor,

característica da época, mas que não invalida o facto de estas ilustrações serem, até

hoje, as mais conhecidas e as mais famosas.

Em relação ao formato do texto, salientamos o aspecto de ele constituir uma

história longa (mais de cem páginas) e que as ilustrações não aparecem em todas as

páginas, mas sim espaçadamente entre as páginas. John Tenniel desenhou, no total,

quarenta e uma ilustrações.

Atendendo ao facto de que “Alice no País das Maravilhas” está classificado

como um livro para a infância, importa reflectir nas idades às quais estará mais

direccionado.

Pensamos que um livro deste género dificilmente captaria a atenção de crianças

até aos 10/12 anos. Experimentamos dar o livro a quatro crianças e pedimo-lhes uma

primeira impressão do mesmo. As crianças realçaram sobretudo a falta de cor, dizendo

que tudo no livro era “preto”. Em relação ao tamanho do texto, concluímos que nunca

poderíamos pedir às mesmas crianças que o lessem devido à sua extensão. Por este

motivo, conclui-se que a cor, o tamanho do texto, e todos os aspectos gráficos do livro

condicionam a curiosidade das crianças. Um livro deste género, dificilmente atrairá a

atenção das crianças, quando muito dos adolescentes. Por outro lado, quando

solicitamos às mesmas crianças que visualizassem o filme a cores, todas mostraram-se

muito receptivas e entusiasmadas. Foi pedido às mesmas crianças que no final,

contassem a história, cujo resultado consistiu em quatro vídeos visualizados no dia da

apresentação do trabalho. Além desta actividade, mostramos às mesmas crianças

algumas ilustrações de John Tenniel, desta vez coloridas, e pedimo-lhes que falassem

acerca das mesmas (ver anexo 1).

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“Conselhos de uma Lagarta”, por sete ilustradores

John Tenniel

Ilustrações feitas por seis ilustradores do início do século XX

Maria L Kirk (1904)

Arthur Rackman (1907)

Bessie P. Gutmann (1907)

A. E. Jackson (1914)

Mabel L. Attwell (1910)

G. M. Hudson (1922)

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Matemática na obra?

Podemos dizer que o sucesso de Alice se deve também ao papel que a

matemática aí desempenha, aos jogos lógicos, às charadas sem resposta aos jogos de

linguagem que constantemente irrompem nas aventuras descritas.

Ao que parece Dodgson sofria de insónias e durante as longas noites em que não

conseguia dormir, entretinha-se a formular problemas lógicos divertidos, construir jogos

de palavras e adivinhas.

Aqui ficam alguns exemplos:

Os relógios loucos de Carroll

Qual dos relógios regista o tempo mais fielmente? Um que se atrasa um minuto por dia ou um que não funciona? Solução: O relógio que se atrasa um minuto por dia dá a hora exacta de dois em dois anos, pois como se atrasa um minuto por dia só voltará a estar certo depois de se atrasar doze horas, o que só acontece ao fim de 720 dias. O relógio que está parado está certo duas vezes em cada vinte e quatro horas.

Por isso o relógio que melhor regista o tempo é o que está parado. GARDNER, Martin. “The Universe in a Handkercheif, Lewis Carroll's Mathematical Recreations,

Games, Puzzles, and Word Plays.”

Uma palavra Construa uma palavra com estas letras: NOR DO WE

Solução:

ONE WORD

GARDNER, Martin. “The Universe in a Handkercheif, Lewis Carroll's Mathematical Recreations,

Games, Puzzles, and Word Plays.”

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1. Todos os leões são ferozes.

2. Alguns leões não bebem café.

Qual é a conclusão correcta?

a) Algumas criaturas que bebem café não são ferozes.

b) Algumas criaturas ferozes não bebem café.

CARROLL, Lewis. “Lógica Simbólica”

1. Nenhum professor é ignorante.

2. Todas as pessoas ignorantes bebem água com sabão.

Qual é a conclusão correcta?

c) Nenhum professor bebe água com sabão.

d) Algumas pessoas que bebem água com sabão não são professores.

CARROLL, Lewis. “Lógica Simbólica”

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Anexo 1

LEITURA DE IMAGENS Nome: __________________ Idade: _____ Ano escolar: __________ Para cada uma das imagens a seguir apresentadas, escreve uma “legenda” para as mesmas, ou seja, aquilo que a imagem te sugere.

Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3

Imagem 4 Imagem 5 Imagem 6

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Imagem 7 Imagem 8 Imagem 9

Obrigada pela tua colaboração!

Imagem 10

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Conclusão

A ideia de fazer o trabalho de imagem na área da literatura, mais

especificamente literatura infantil, surgiu do gosto e interesse pessoais por estes

assuntos.

A ideia inicial consistia em fazer uma pesquisa em torno do assunto ‘ilustração

infantil’, mas depois de ler a obra de Lewis Carroll, surgiu a vontade de aprofundar o

estudo da obra, nomeadamente nestas questões da imagem e da ilustração. Durante a

concepção do trabalho, foram inúmeras as fontes que encontramos disponibilizadas on-

line, o que nos surpreendeu, já que desconhecíamos por completo a visibilidade do tema

e dos assuntos tratados. Por outro lado, tivemos algumas dificuldades em encontrar

referências escritas em português e em suporte papel. Existiam referências noutras

línguas, mais concretamente o inglês e o francês, mas o problema foi encontrar os livros

disponíveis nas bibliotecas e outros locais, o que, caso contrário, teria enriquecido em

muito a nossa pesquisa. Por estes motivos, tentamos concretizar este trabalho com as

fontes que encontramos, mas tendo sempre presente a ideia de que poderíamos ter feito

mais e melhor noutras circunstâncias, sendo um tema tão abrangente e diversificado.

Apesar destes factos, o produto final contribuiu para o alargar de conhecimentos

nesta área, e pensamos que foi um prazer concretizá-lo, fazendo ele parte de um gosto

pessoal.

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Bibliografia

CALADO, Isabel. A utilização educativa das imagens”. Porto Editora: 1994 CARROLL, Lewis. “Alice no País das Maravilhas”. Publicações Dom Quixote: 2000 CAZENEUVE, Jean (Direcção). “Guia Alfabético das Comunicações de Massa”,

Edições 70, LISBOA: s/d DIOGO, Américo António Lindeza. “Literatura Infantil. História, Teoria,

Interpretações”. Porto Editora: 1994 GOMES, José António. “Literatura para Crianças e Jovens”, Caminho, Lisboa: 1991 JOLY, Martine. “Introdução à análise da imagem”. Edições Setenta: s/d LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. “Literatura infantil brasileira: Histórias e Histórias”. Editora Ática. São Paulo: 1985 MOLES, Abraham, ZELTMAN, Claude. “La comunicación y los mass media. Ediciones Mensajero. Bilbao: 1975 PIRES, Maria Laura Bettencourt. “História da Literatura Infantil Portuguesa”, Vega, Lisboa: 1983 SORIANO, Marc. “Guide de Littérature pour la Jeunesse”, Flammarion, Paris : 1975 “Técnicas de pintura e desenho”. G & Z Edições Lda. TRAÇA, Maria Emília. “O Fio da Memória — Do Conto Popular ao Conto para

Crianças”, Porto Editora, Porto: 1992

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Sites consultados: Posters do filme “Alice no País das Maravilhas”: http://us.imdb.com/title/tt0043274/posters Exemplo de ilustração com aerógrafo: http://www.aamiot.com/tutorial_aerographie.htm Conhecendo o aerógrafo: http://aerografia.com/aerografo.html Página com vários links sobre a “Alice”: http://www.wolfiewocky.com/allw.htm Lenny’s Alice in Wonderland Site: http://www.alice-in-wonderland.net/?alice14.html A Lewis Carroll Centenary Exhibition: http://www.hrc.utexas.edu/exhibitions/online/carroll/ The Background & History of Alice In Wonderland: http://www.bedtime-story.com/bedtime-story/alice-background.htm CRANE, Walter. “O livro ilustrado”: http://www.escritoriodolivro.org.br/oficios/crane.html Núcleo de Literatura Infantil. Faculdade de Educação USP: http://www.nucleodeliteraturainfantil.com.br/ Matemática na Alice?: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/alice/matematica.htm Literatura para crianças e desenvolvimento social: http://www.eselx.ipl.pt/curso_bibliotecas/infanto_juvenil/tema3.htm Lewis Carroll’s Puzzle Page: http://www.knowl.demon.co.uk/page36.html Lewis Carroll Logician and Mathematician: http://www.lewiscarroll.org/logic.html Lewis Carroll Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lewis_Carroll Jogos de lógica inventados por Lewis Carroll: http://redescolar.ilce.edu.mx/redescolar/act_permanentes/mate/mate2f.htm Tenniel Illustrations for Alice in Wonderland: http://www.archive.org/details/etex

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Doce de letra: Portal de literature infantil e juvenil: http://www.docedeletra.com.br/ Contos Infantis: http://sitededicas.uol.com.br/cinf.htm Problemas de lógica inventados por Lewis Carroll: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm45/conclua.htm Obra integral (em inglês) de “Alice no País das Maravilhas”: http://www-2.cs.cmu.edu/People/rgs/alice-table.html Illustrations of Lewis Carroll's Alice's Adventures in Wonderland:

http://www.exit109.com/~dnn/alice/ “Alice no País das Maravilhas”, Centro de Competência Nónio Séc. XXI ESE de Santarém: http://nonio.eses.pt/alice/