literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas marionetas de lisboa, em 1985, numa...

12
Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou brevíssima viagem pela história da literatura portuguesa 21 Renata Soares Junqueira UNESP, campus de Araraquara – SP [email protected] A propósito do 40º aniversário do Póslit da UnB e de olho na linha de pesquisa “Literatura e Outras Artes”. 21 O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil.

Upload: others

Post on 03-Nov-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou brevíssima viagem pela história da literatura

portuguesa21

Renata Soares JunqueiraUNESP, campus de Araraquara – SP

[email protected]

A propósito do 40º aniversário do Póslit da UnB e de olho na linha de pesquisa “Literatura e Outras Artes”.

21 OpresentetrabalhofoirealizadocomapoiodoCNPq,ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico– Brasil.

Page 2: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

72 Literatura e Outras Artes – uma Retrospectiva ou Brevíssima Viagem pela História da Literatura Portuguesa

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Umabrevíssimavisitaçãoretrospectivaàliteraturaportuguesa(e,decerto,poderíamosfazeromesmo com qualquer outra literatura vernácula) pode mostrar que a literatura se relaciona intensamente com outras artes desde os tempos mais remotos. Sabemos, por exemplo, que, na Idade Média, a poesia não se dissociava da música. Por isso, os trovadores contavam com a performancevocaldosjograis,queera,não raras vezes, enriquecida ainda pela atuação de músicos instrumentistas e das bailadeiras com os seus pandeirosoucastanholas.Háiluminurasremanescentesqueregistramessaassociaçãodepoesia,músicae dança e que se encontram, em Lisboa, na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, no Cancioneiro22.

Figura 1 – Iluminura do Cancioneiro da Ajuda.

22 Note-seque,comaintençãodetornarlúdicaa“viagem”,queaquipropomos,pelahistóriadaliteraturaportuguesa,articularemosestetextosegundoatécnicamedievaldoleixa-pren,àmaneiradascantigasdostrovadores.

Page 3: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

40 anos do Póslit 73

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Figura 2 – Iluminura do Cancioneiro da Ajuda.

Cancioneiro geral de Garcia de Resende, publicado em 1516, é o que traz as trovas do poeta cortesão queoorganizou,asfamosas“TrovasqueGarciadeResendefezàmortedeD.InêsdeCastro”.No“cabo”,oudesfechodopoema,podemoslerversos–

Cabo

Em todos seus testamentosa declarou por mulher,e por s’isto melhor crer,fez dois ricos moimentos,em qu’ambos vereis jazerrei, rainha, coroados,mui juntos, não apartados,no cruzeiro d’Alcobaça.Quem puder fazer bem, faça,poisporbemsedãotaisgrados23.

23 GARCIADERESENDE.Trovas queGarcia deResende fez àmorte deD. Inês deCastro…. In: _____.Antologia do cancioneiro geral. Selecção,organização,introduçãoenotasporMariaEmaTarrachaFerreira.Lisboa:Ulisseia,1994,p.146-154.(BibliotecaUlisseiadeAutoresPortugueses,40).Citoaspáginas153-154.Osgrifossãomeus.

Page 4: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

74 Literatura e Outras Artes – uma Retrospectiva ou Brevíssima Viagem pela História da Literatura Portuguesa

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

–quenos remetemàs igualmente famosas esculturas tumularesdePedro e InêsdeCastro, asquaisseencontramemPortugal,noMosteirodeAlcobaça,etambémnacapada2ªediçãodePedro, o cru, a peçateatraldeAntónioPatrício,publicadaem1925pelasLivrariasAillaudeBertrand.AntesmesmodeCamõesedeAntónioFerreira,oepisódiodePedroeInêsjáera,pois,versadoporGarcia de Resende.

Figura 3–TúmulodeD.PedronoMosteirodeAlcobaça.

Figura 4–TúmulodeD.InêsdeCastronoMosteirodeAlcobaça.

Page 5: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

40 anos do Póslit 75

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Figura 5–Capada2ªediçãodapeçaPedro, o cru,deAntónioPatrício,publicadaem1925pelasLivrariasAillaudeBertrand.

Garcia de Resende é personagemda peça queAlmeidaGarrett fez representar em 1838, emLisboa,noTeatrodaRuadosCondes.Ali,oprotagonistaéoescritorBernardimRibeiro,que,disfarçadodemoura,entranumacomédiadeGilVicente–Cortes de Júpiter, de 1521 – para se aproximar da infanta D.Beatriz,filhadoreiD.Manuel,oVenturoso.ApeçadeGarrettencenaoamorproibidodoautorde Menina e moça pela princesa prometida ao Duque de Saboia. Mas o que parecia um entrelaçamento de teatro e literatura transforma-se em confronto quando Bernardim, defendendo a superioridade da poesia,rebaixaacomédiavicentinaeosseuscomediantes.VejamosestefragmentodeumdiálogoentreBernardimeocantorPêroSáfio,intérpretedosautosdemestreGil:

PÊRO SÁFIO –(…)DemanhãPêroSáfiovossocativo;ànoite,Marte,deusdaguerraquevouàsCortesdeJúpiter,noAutoassimintituladodemeudignomestreGil…

BERNARDIM RIBEIRO – Basta com esse bobo de Gil Vicente e seus Autos, que já meenfadam ele, tu e vossas comédias, que assim trazem embelecada esta corte de comediantes, que de maisnãocuidam.–Oh!sublimeinspiraçãodosanjos,ardentelinguagemdequerubins,vida,fogo,amor,luz–cânticodeserafinsqueamameadoram,divinapoesia!eporvilancetesdesalões,porcoplasdejograis,saltimbancostetrazemprostituída24!

24 ALMEIDAGARRETT,JoãoBaptistadaSilvaLeitãode.Um auto de Gil Vicente.Porto:PortoEd.,2005.p.41.

Page 6: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

76 Literatura e Outras Artes – uma Retrospectiva ou Brevíssima Viagem pela História da Literatura Portuguesa

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Senesse lanceGarrett parece tomar o partidoda poesia, emoutropõeo reiD.Manuel adefenderabertamenteoteatrodeGilVicente:

REI DOM MANUEL –(…)Masperdoem-metodos,queparamimninguémcompõetrovasquetãobemmesaibamcomoonossoGilVicentenosseusAutos–quesãomeuúnicorefrigérioe distração de tantos cuidados e trabalhos25.

EvocandooromancesentimentaldeBernardimRibeiro,apeçaevocatambém,porextensão,o romance de Amadis de Gaula, novela de cavalaria.

Novela de cavalaria éogêneroqueAntônioJosédaSilva,oJudeu,levaparaoteatro,noséculoXVIII, emVida do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança, ópera joco-séria de 1733.Articulandoteatroemúsica,apeçarevisitaocavaleirodatristefigura,salientandooseucaricatoheroísmo.

Figura 6–CartazdedivulgaçãodoespetáculoD. Quixote e Sancho Pança,levadoaopalcodaFundaçãoCalousteGulbenkianpelasMarionetasdeLisboa,em1985,numaadaptaçãodotextodeAntônioJosédaSilvafeitaporNorbertoÁvila

Heroísmoainda,eestenãocaricato,éoquesevênosonetodeCamiloPessanhaemqueoeulíricofiguracomoumgladiadoremlutacontraamorte,quepareceseropróprioamor:

25 Ibid., p. 52.

Page 7: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

40 anos do Póslit 77

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Esveltasurge!Vemdaságuas,nua,Timonandoumaconchaalvinitente!Osrinsflexíveiseoseiofremente…Morre-me a boca por beijar a tua.

Semvilpudor!Doqueháquetervergonha?Eis-me formoso, moço e casto, forte.Tãobrancoopeito!–paraoexporàMorte…Mas que ora – a infame! – não se te anteponha.

Ahidratorpe!...Queaestrangulo…Esmago-aDe encontro à rocha onde a cabeça te há-de,Comoscabelosescorrendoágua,

Ir inclinar-se, desmaiar de amor,SobofervordaminhavirgindadeEomeupulsodejovemgladiador26.

AreferênciaàpinturadeSandroBotticelliéevidente:Vênusvem das águas.

Figura 7 – O nascimento de Vênus(1485),deSandroBotticelli.

26 PESSANHA,Camilo.Esveltasurge!Vemdaságuas,nua…In:_____.Clepsidra.IntroduçãoporIsabelPascoal.Lisboa:Ulisseia,1987,p.50.(BibliotecaUlisseiadeAutoresPortugueses,25).

Page 8: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

78 Literatura e Outras Artes – uma Retrospectiva ou Brevíssima Viagem pela História da Literatura Portuguesa

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Vem das águas tambémoCouraçadoPotenkim–odofilmedeEisensteineodopoemaqueJorgedeSena,voluntariamenteexiladodoPortugalsalazarista,compôsemSãoPaulo,àsvésperasdoNatalde1961:

COURAÇADO POTEMKIN(depoisdeverofilmedeEisenstein)Entre a esquadra que aclamao couraçado passa.Depoisdafilainterminávelquesealongasobreomolherecurvonaáguaparda,depois do carro de criança descendo a escadaria,edamulherdelunetasqueabreabocaemgritosmudos,o couraçado passa.A caminho da eternidade. Masfoiissohámuitotempo,noMarNegro.

Nos cais do mundo, olhando o horizonte,as multidões dispersasesperamversurgiraschaminésantigas,aquele bojo de aço e ferro velho.Como os vermes na carne podre queos marinheiros não quiseram comer,acotovelam-sesórdidasnasuamiséria,esperando o couraçado.

Uns morrem, outros vendem-se,outros conformam-se e esquecem e outros sãoassassinados, torturados, presos.Às vezes a polícia passa entre as multidões,elevaalgunsnoscarroscelulares.Mashásempreoutragenteolhandooslonges,a ver se o fumo sobe na distância e vemtrazendo até ao cais o couraçado.

Como ele tarda. Como se demora.A multidão nem mesmo sonha jáque o couraçado passeentre a esquadra que aclama.Apenas,comfirmeza,compaciência,aguarda

Page 9: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

40 anos do Póslit 79

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

que o couraçado volte do cruzeiro,venha atracar no cais.

Masmesmoqueninguémoaguardejá,ocouraçadohá-dechegar.Nãoháremédio,fuga,rezas,esconjuros,que possam impedi-lo de atracar.

Há-devirevirá.Tenhoacertezacomo de nada mais. O couraçadovirá e passaráentre a esquadra que o aclama.

Partiu há muito tempo. Era em Odessa,noMarNegro.Deuavoltaaomundo.O mundo é vasto e vário e dividido, e os maressãolargos.Fechemosolhos,cerremfileiras,o couraçado vem27.

OPotemkin,comosevê,tambémvem das águas.

Figura 8–CapadeDVD:Encouraçado Potemkin(1925),filmedeSergeiEisenstein.

27 SENA,Jorgede.CouraçadoPotemkin(depoisdeverofilmedeEisenstein).In:FRIAS,JoanaMatos;QUEIRÓS,LuísMiguel;MARTELO,RosaMaria(org.).Poemas com cinema: antologia.Lisboa:Assírio&Alvim,2010.p.48-50.

Page 10: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

80 Literatura e Outras Artes – uma Retrospectiva ou Brevíssima Viagem pela História da Literatura Portuguesa

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Vem das águas,porfim,olivroqueCamõessalvoudeumnaufrágioequeoderradeirofilmedeManoel de Oliveira, O velho do Restelo(2014),destacaapardolivrodeMigueldeCervantes,Don Quixote de la Mancha.Oargumentodapelícula,muitosimples,consistenumaconversadebancodejardimentreMigueldeCervantes(vestidoàcavaleiromedievaldemodoaparecerencarnaropróprioD.Quixote)e Luís de Camões. A dada altura, entre eles interpõe-se, sentando-se no mesmo banco, o também escritorTeixeiradePascoaes,queénessefilmeoresponsávelpelanarraçãoepela interpretaçãoquearticulaalgunselementosfulcraisdaculturaportuguesaedaespanholademaneiraacomporumretrato,aparentementedisfórico,daalmaibérica.Noutrostermos,trata-sedeumarevisãosumáriadahistóriadaIbériacomoumaépicaàsavessas,indelevelmentemarcadaporgrandesperdasquerevelamum“trágicodestinodeperdição”.AvozdonarradorPascoaes,interpretadoporDiogoDória,lembra,logonoiníciodofilme,queasduasimplacáveisderrotassobreasquaisconversamCamõeseCervantes–aBatalhadeAlcácerQuibir(1578)eaperdadaInvencívelArmada(1588)–“traduzemofimdosideaisdacavalariaeodeclíniodopoderionavalibérico”28. Mas tudo isso é relembrado por meio de um confronto entre as duasgrandesobrasdosdoisinterlocutorescoetâneos,nomeadamenteocélebreepisódiodoVelhodoRestelo,emOs lusíadas, e a satírica novela de cavalaria de Cervantes.

Atramaenreda-seaindamaisquandoseaproximadostrêsescritores,juntoaomesmobancodejardim,afiguradeCamiloCasteloBranco,que,interpretadoporMárioBarroso29, se posiciona, em pé, perante os interlocutores e assim permanece fantasmagórico, como se não fosse visto por eles,absolutamentemudomascontemplando-oscomumarquepareceteralgodesarcástico.ÉcomoseCamilotroçassedosseusconfrades–homenstolhidosporumamerencóriavelhicequesóossuicidaspodem esconjurar30.

É,comefeito,afigura“inflamável”deCamilo,“ávidodearderoudeviver”,aquePascoaeselegepara,apardadeSantaTeresadeÁvila,“bruxaesanta”,“noivadeCristoeconcubinadodemônio”,expressara“almapeninsular”,aduplafacedaIbéria,esse“reinocelto-árabecercadodeAtlânticoedeSaara”31.Essa“sombradedoiscorpos”–comdestaque,entretanto,paraafiguradeCamilo–équepromove a transiçãodo épicoparaodramático eo lírico; do coletivoparao individual.Nocampo

28 Veja-seOvelhodoResteloentreos3’30”eos3’40”derodagem.29 Omesmoator,recorde-se,queinterpretaraCamiloemFrancisca(1981)eemOdiadodesespero(1992),filmesdomesmocineastaportuguês.0 IstofazlembrarovelhoPapá,personagemdeumoutrofilmedeManoeldeOliveira,Inquietude(1998).OPapáquerconvenceroseufilho

– homem maduro, também já aposentado – a suicidar-se para deixar a vida antes de começar a padecer as misérias físicas que a perda da juventude acarreta.

31 Nofilme,esse“reinocelto-árabe”constituídoporPortugaleEspanhaérepresentadotambémporumafonteondeaáguajorrapelasbocasdeduascarascontíguasesculpidasempedra.Areferênciaàarteescultóricaésublinhada,deresto,pelamençãoqueonarradorfazaogregoFídias.

Page 11: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

40 anos do Póslit 81

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

subjetivo,doindivíduo,Camiloéoheróirebelde,vítimatambémdavelhice–comotodasaspersonagensdessefilme,note-se–edeumacegueiraprogressivaqueelenãoaceitaequeoconduzaosuicídio.

Eaqui,àguisadeconclusão,tudosesoma–poesiaépica,noveladecavalaria,romancesentimentalepoesialírica–jánãosónoafãdetraçarumretratodaalmaibéricaatravésdasvozesanacrônicasdeCamões,Cervantes,TeixeiradePascoaeseCamiloCasteloBranco–comofezManoeldeOliveiranoseuúltimofilme–,mastambémcomaintençãodeprocederaoacabamentodestedesdobrávelpainelque,com espírito lúdico, vimos costurando artesanalmente, à maneira de leixa-pren,paraneleprojetaralgumasdasrelaçõesque,desdeosseusprimórdios,aliteraturaportuguesatemmantidocomoutrasliteraturasecom outras artes.

Figura 9–PlanodofilmeO velho do Restelo(2014),deManoeldeOliveira:LuísdeCamões(porLuísMiguelCintra),TeixeiradePascoaes(porDiogoDória)eMigueldeCervantes(porRicardoTrêpa).

Page 12: Literatura e outras artes – uma retrospectiva ou ... · pelas Marionetas de Lisboa, em 1985, numa adaptação do texto de Antônio José da Silva feita por Norberto Ávila Heroísmo

82 Literatura e Outras Artes – uma Retrospectiva ou Brevíssima Viagem pela História da Literatura Portuguesa

CERRADOS 40 - Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, nº 40, ano 24, 2015, p 71-82

Figura 10 – Camilo Castelo Branco interpretado por Mário Barroso em O velho do Restelo, de Manoel de Oliveira.