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Lit. 06 ——— 10fevereiro
Diogo Mendes(Rodrigo Pamplona)
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10/02
17/02
24/02
Literatura e arte: conceitos iniciais
16:30
Gêneros literários: épico/narrativo e dramático
16:30
Gêneros literários: lírico e ensaístico
16:30
CRONOGRAMA
Literatura e arte: conceitos iniciais
01. Resumo
02. Exercício de Aula
03. Exercício de Casa
04. Questão Contexto
10fev
76Li
t.
Conceitos básicos“A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a
arte é, parece, é uma transformação simbólica
do mundo. Quer dizer: o artista cria um mun-
do outro – mais bonito, mais intenso ou mais
significativo ou mais ordenado – por cima da
realidade imediata. Naturalmente, esse mundo
outro que o artista cria ou inventa nasce de sua
cultura, de sua experiência de vida, das ideias
que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de
mundo”
(GULLAR, Ferreira. 1982)
Arte, do latim “ars”, significa arranjo, habilidade.
Pode se concretizar através de qualquer forma de
expressão – verbal ou não verbal. Tem caráter sub-
jetivo, pois é construída sob a visão de mundo do ar-
tista e não dá conta da apreensão da realidade, afi-
nal é a criação original, a representação simbólica
do mundo. Vale ressaltar que a grande obra de arte
é universal, atemporal, pois dialoga com questões
inerentes à condição humana.
Para que serve a arte?
Seu objetivo é claro e simples: proporcionar-nos
uma nova perspectiva sobre um determinado aspec-
to, tirando-nos um pouco da mesmice instaurada
pela rotina. A obra de arte não possui uma funciona-
lidade prática, sua área de ação é subjetiva e atinge
os seres individualmente. Segundo Martha Medei-
ros, a are serve “para interromper um hábito, para
evitar repetições, para provocar um estranhamento,
para alegrar seu dia, para fazê-lo pensar, para resga-
tá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem ne-
nhum assombro, sem nenhum encantamento”.
Para que se entenda a arte, é necessário que: tenha-
mos um bom poder de observação para que possa-
mos compreender determinada obra e fazer corre-
lações com o contexto em que foi criada; agucemos
nossa capacidade de análise para que possamos de-
cifrar o arranjo e entender a mensagem original de
determinada composição.
Se já sabemos que a arte tem poder de levar-nos a
uma reflexão através da expressão subjetiva de um
artista, fica fácil de inferir que literatura é, também,
uma manifestação artística, igualmente contextua-
lizada. Através dos séculos, os conceitos das duas
foram se alterando, afinal, se estamos falando de vi-
sões de mundo, devemos levar em consideração as
mudanças que ocorreram. Assim como há escolas
literárias situadas temporalmente (quinhentismo, ar-
cadismo, barroco, romantismo etc.), o fazer artístico
foi reformulado algumas vezes.
O belo era fundamental para a arte clássica: as belas
formas, a simetria, a harmonia era supervalorizadas,
mas, no século XIX, por exemplo, os românticos ti-
nham o compromisso não com o belo, mas com seus
sentimentos verdadeiros e isso deveria ser impres-
so nas obras. No século XX, por exemplo, houve um
movimento de dessacralização da arte, isto é, ela já
não deveria ser posta num pedestal como coisa ina-
tingível, o que comprometia o conceito clássico a
seu respeito.
A literatura é a modalidade artística escrita em pro-
sa ou verso, tendo por matéria-prima a linguagem
verbal. Entretanto, não é todo texto que é literário,
há textos não literários:
→ Texto não literário: o texto literário possui função
utilitária, isto é, ele informa, esclarece, noticia, res-
ponde algo para seu leitor (exemplo: textos jornalís-
ticos).
→ Texto literário: tem compromisso com a função
estética, isto é, seu compromisso é provocar, deses-
tabilizar, impactar seu leitor. Isso não quer dizer que
o esse tipo de texto não apresente informações ou
responda questões, mas essas não são suas priori-
dades.
Os textos literários apresentam algumas caracterís-
ticas:
→ Linguagem conotativa, o que quer dizer que o
sentido figurado e a ressignificação das palavras se
faz muito presente;
→ Figuras de linguagem;
→ Ritmo, rima, recursos sonoros;
→ Repetições (com um objetivo estabelecido pelo
autor).
RESUMO
77Li
t.
EXERCÍCIO DE AULA1. Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molé-
cula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-
-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas
sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se
antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta histó-
ria não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois
juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca
vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos
montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradu-
al – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão
da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou
escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justi-
ficaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso
registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de
Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da mor-
te da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferen-
te aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que leva-
ram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a constru-
ção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para
escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na
narrativa de ficção.
Não só de estética se vale a literatura. Os textos literários vão além e podem
exercer outras funções, concomitantemente ou não. São elas:
→ Entreter;
→ Aumentar o conhecimento de mundo;
→ Conduzir a autodescoberta;
→ Denunciar a realidade e, consequentemente, a transformação do indivíduo;
→ Ajudar na construção de identidade de um ser ou de um grupo;
→ Catarse: a identificação do receptor com a obra ao ponto de o indivíduo par-
ticipar subjetiva e ativamente daquela produção artística, de modo que, ao tér-
mino, sua natureza tenha sido alterada.
78Li
t.
3.
Na verdade, o que se chama genericamente de índios é um grupo de mais
de trezentos povos que, juntos, falam mais de 180 línguas diferentes. Cada
um desses povos possui diferentes histórias, lendas, tradições, conceitos
e olhares sobre a vida, sobre a liberdade, sobre o tempo e sobre a nature-
za. Em comum, tais comunidades apresentam a profunda comunhão com o
ambiente em que vivem, o respeito em relação aos indivíduos mais velhos,
a preocupação com as futuras gerações, e o senso de que a felicidade in-
dividual depende do êxito do grupo. Para eles, o sucesso é resultado de
uma construção coletiva. Estas ideias, partilhadas pelos povos indígenas,
são indispensáveis para construir qualquer noção moderna de civilização.
Os verdadeiros representantes do atraso no nosso país não são os índios,
mas aqueles que se pautam por visões preconceituosas e ultrapassadas de
“progresso”.
AZZI, R. As razões de ser guarani-kaiowá.
(Disponível em: www.outraspalavras.net.Acesso em: 7 dez. 2012.)
Considerando-se as informações abordadas no texto, ao iniciá-lo com a expres-
são “Na verdade”, o autor tem como objetivo principal
a) expor as características comuns entre os povos indígenas no Brasil e suas
ideias modernas e civilizadas.
b) trazer uma abordagem inédita sobre os povos indígenas no Brasil e, assim, ser
reconhecido como especialista no assunto.
c) mostrar os povos indígenas vivendo em comunhão com a natureza e, por isso,
sugerir que se deve respeitar o meio ambiente e esses povos.
d) usar a conhecida oposição entre moderno e antigo como uma forma de res-
peitar a maneira ultrapassada como vivem os povos indígenas em diferentes re-
giões do Brasil.
e) apresentar informações pouco divulgadas a respeito dos indígenas no Brasil,
para defender o caráter desses povos como civilizações, em contraposição a vi-
2.
Sobre as características da linguagem não literária, estão corretas as alternati-
vas:
I. Diferentemente do que acontece com os textos literários, nos quais há uma
preocupação com o objeto linguístico e também com o estilo, os textos não lite-
rários apresentam características bem delimitadas para que possam cumprir sua
principal missão, que é, na maioria das vezes, a de informar.
II. Apresenta características como a variabilidade, a complexidade, a conota-
ção, a multissignificação e a liberdade de criação.
III. A linguagem não literária faz da linguagem um objeto estético, e não mera-
mente linguístico, ao qual podemos inferir significados de acordo com nossas
singularidades e perspectivas. É comum na linguagem não literária o emprego
da conotação, de figuras de linguagem e figuras de construção, além da subver-
são à gramática normativa.
IV. Na linguagem não literária, a informação é repassada de maneira a evitar
possíveis entraves para a compreensão da mensagem. No discurso não literário,
as convenções prescritas na gramática normativa são adotadas.
V. A linguagem não literária pode ser encontrada na prosa, em narrativas de fic-
ção, na crônica, no conto, na novela, no romance e também em verso, no caso
dos poemas.
79Li
t.
a) I e IV.
b) II, III e V.
c) I, III e IV.
d) I e V.
e) Todas as alternativas estão corretas.
EXERCÍCIO DE CASA1. Leia os textos a seguir para responder à questão:
Texto I
Piratininga virou São Paulo: o colégio é hoje uma metrópole
Os padres jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega subiram a Serra
do Mar, nos idos de 1553, a fim de buscar um local seguro para se instalar
e catequizar os índios. Ao atingir o planalto de Piratininga, encontraram o
ponto ideal. Tinha “ares frios e temperados como os de Espanha” e “uma
terra mui sadia, fresca e de boas águas”. Os religiosos construíram um co-
légio numa pequena colina, próxima aos rios Tamanduateí e Anhangabaú,
onde celebraram uma missa. Era o dia 25 de janeiro de 1554, data que mar-
ca o aniversário de São Paulo. Quase cinco séculos depois, o povoado de
Piratininga se transformou numa cidade de 11 milhões de habitantes. Daque-
les tempos, restam apenas as fundações da construção feita pelos padres e
índios no Pateo do Collegio.
Piratininga demorou 157 anos para se tornar uma cidade chamada São Pau-
lo, decisão ratificada pelo rei de Portugal. Nessa época, São Paulo ainda
era o ponto de partida das bandeiras, expedições que cortavam o interior do
Brasil. Tinham como objetivos a busca de minerais preciosos e o aprisiona-
mento de índios para trabalhar como escravos nas minas e lavouras.
(Disponível em http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/a-cidade-de-
-sao-paulo)
Texto II
Soneto sentimental à cidade de São Paulo
Ó cidade tão lírica e tão fria!
Mercenária, que importa - basta! - importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia
Não te amo à luz plácida do dia
Amo-te quando a neblina te transporta
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e fugidia.
Sinto como a tua íris fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera
Traz saudade de alguma Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?
80Li
t.
(Vinícius de Moraes)
Sobre os textos, é correto afirmar, exceto:
a) O primeiro texto explora a linguagem não literária, caracterizada pelo uso da
função referencial, que preza pela objetividade e imparcialidade da informação.
b) O segundo texto explora a linguagem literária, na qual podemos observar o
emprego de recursos estilísticos e expressivos. Predominância da função poéti-
ca da linguagem.
c) As notícias, artigos jornalísticos, textos didáticos, verbetes de dicionários e
enciclopédias, anúncios publicitários e textos científicos são exemplos da lin-
guagem não literária.
d) Os textos literários apresentam uma preocupação com o objeto linguístico.
Suas características são bem delimitadas, como o uso da objetividade, a trans-
parência e o compromisso em informar o leitor.
2. Leia os fragmentos abaixo para responder à questão:
Texto I
O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
Fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 1980, pp.227-228)
81Li
t.
Texto II
A cana-de-açúcar
Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos coloni-
zadores portugueses no século XVI. A região que durante séculos foi a gran-
de produtora de cana-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina,
onde os férteis solos de massapé, além da menor distância em relação ao
mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse cultivo. Atual-
mente, o maior produtor nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido
de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o
açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado interno,
a cana serve também para a produção de álcool, importante nos dias atu-
ais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais
no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como
combustível.
Com relação aos textos I e II, assinale a opção incorreta:
a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real, ou de produzi-lo, a ex-
pressão literária é utilizada principalmente como um meio de refletir e recriar a
realidade.
b) No texto II, de expressão não literária, o autor informa o leitor sobre a origem
da cana-de-açúcar, os lugares onde é produzida, como teve início seu cultivo no
Brasil, etc.
c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum – açúcar – e vai ampliando
seu potencial significativo, explorando recursos formais para estabelecer um pa-
ralelo entre o açúcar – branco, doce, puro – e a vida do trabalhador que o produz
– dura, amarga, triste.
d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos de linguagem, baseando
sua recriação no aproveitamento de novas formas de dizer.
e) O texto II não é literário porque, diferentemente do literário, parte de um as-
pecto da realidade, e não da imaginação.
3. Os melhores críticos da cultura brasileira trataram-na sempre no plural, isto
é, enfatizando a coexistência no Brasil de diversas culturas. Arthur Ramos
distingue as culturas não europeias (indígenas, negras) das europeias (por-
tuguesa, italiana, alemã etc.), e Darcy Ribeiro fala de diversos Brasis: crioulo,
caboclo, sertanejo, caipira e de Brasis sulinos, a cada um deles correspon-
dendo uma cultura específica.
MORAIS, F. O Brasil na visão do artista: o país e sua cultura. São Paulo: Su-
dameris, 2003.
Considerando a hipótese de Darcy Ribeiro de que há vários Brasis, a opção em
que a obra mostrada representa a arte brasileira de origem negro-africana é:
82Li
t.
a)
b)
c)
d)
e)
4. A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha
tou podre. Outro dia a gente vamos
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram
83Li
t.
sem nenhum aplauso.
Perfeita.
(PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.)
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas reconhe-
cidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na si-
tuação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva:
a) narra um fato real vivido por Maria José.
b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.
c) relata uma experiência teatral profissional.
d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.
e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.
5. Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que
o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta
é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma
forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de pa-
pel é melhor ainda.
O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar
muito. ‘Textos guardados acabam cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,
com esta frase, deu testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: pu-
blicar ou não publicar? guardar ou jogar fora?
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa
da criação literária. A ideia de que o processo de maturação do texto nem sem-
pre é o que garante bons resultados está sugerida na seguinte frase:
a) “a gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa.”
b) “em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.”
c) “o período de maturação na gaveta é necessário, (...).”
d) “mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.”
e) “ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz ama-
durecer o vinho.”
6. Óbito do autor
(...) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de
1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos,
rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acom-
panhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não
houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha
miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que profe-
riu à beira de minha cova:
- ”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a
natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos
caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas
do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo,
84Li
t.
(http://www.electramag.com.br/arte-x-tecnologia-gadjets-nas-obras-de-
-arte-famosas/)
tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas;
tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” (....)
(Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Ilus-
trado por Cândido Portinari. Rio de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943.
p.1.)
QUESTÃO CONTEXTONa realidade digital em que estamos imersos hoje, a produção artística sofre
grandes impactos com a ascensão cada vez mais rápida da tecnologia. De um
lado os ebooks e as obras interativas nos museus de arte contemporânea; do ou-
tro, textos cada vez mais curtos, estimulando menos leitores, o acesso a informa-
ção desestimulando o consumo da arte. Qual é a sua opinião sobre os impactos
da tecnologia na produção artística contemporânea?
Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto
afirmar que a ilustração do pintor:
a) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal.
b) retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis.
c) distorce a cena descrita no romance.
d) expressa um sentimento inadequado à situação.
e) contraria o que descreve Machado de Assis.
85Li
t.
01.Exercício de aula1. c
2. e
3. a
02.Exercício de casa1. d
2. e
3. a
4. b
5. b
6. a
03. Questão ContextoResposta pessoal.
GABARITO