lisa kleypas - as solteironas 04 - escândalo na primavera

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Daisy a mais nova e romântica das solteironas há finalmente sido intimada por seu pai, depois do casamento de sua filha maior com um conde Thomas Bowman não quer que sua caçula se case com João ninguém, para isso lhe dá um ultimato. Ou arruma um marido em 2 meses ou ele se casará com um homem que ele quer. Mathew Swift. O pior pesadelo da infância de Daisy, o jovem magricelo que tanto havia irritado a ela e a Lillian, ela não quer ouvir nem falar no assunto. E junto com suas amigas, e seus maridos, resolvem uma nova empreitada a caminho de achar à um lorde há altura de Daisy, porém Daisy não contava com o fato de Mathew ter se tornado um homem extremamente atrativo e muito menos com a atração eu sente por ele. E agora?

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Prólogo

— Tomei uma decisão sobre o futuro de Daisy — Thomas Bowman

anunciou a sua esposa e filha. — Embora um Bowman nunca gosta deadmitiraderrota,nãopodemosfazercasoomissodarealidade.—Querealidadeéessa,pai?—perguntouDaisy.— Você não esta feita para a nobreza britânica— franziu o cenho, e

acrescentou,—oupossivelmenteanobrezabritânicanãoestafeitaparati.Arentabilidadedemeuinvestimentonabuscademaridoparatiémá,sabeoquesignificaisso,Daisy?— Que sou um investimento que rendeu menos do esperado? —

adivinhou.AgentenuncasuporiaqueDaisyeraumamulherdevinteedoisanos.

Pequena,magra,edecabeloescuro,aindatinhaaagilidadeeaeuforiadeumameninaquandooutrasmulheresasuaidadejáerammatronasjovensesóbrias.Quandosesentavadobrandoosjoelhos,pareciaumabonecadeporcelanaabandonadanaesquinadosofá.IncomodouaosenhorBowmanversuafilhaemprestaratençãoaolivroemseucolocomumdedoentupidoentre suas páginas. Obviamente logo que podia esperar a que eleterminasseparareataraleitura—Deixaisso.—Sim,pai.—Sigilosamente,Daisyabriuolivro,paraverificaronúmero

dapáginaeassinalá-lo, como fimdecontinuardepois.Atéessepequenogesto incomodava a seu pai. Livros, livros... A simples visão de um tinhachegado a representar o fracasso vergonhoso de sua filha no mercadomatrimonial.Enquantofumavaseugrandecharuto,osenhorBowmanestavasentado

emumacadeiraacolchoadanosalãodasuítedehotelquetinhamhabitadodurante mais de dois anos. Mercedes, sua esposa se sentou como um

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fortificação magricela perto dele. Bowman era como a cerveja negra debarril,tãointensoemsuasdimensõesfísicascomoemseutemperamento.Embora era calvo, possuía um espesso bigode, como se toda a energiarequeridaporcabelosobresuacabeçaparacrescer,tivessesidodesviadaaseulábiosuperior.Mercedes se uniu em matrimônio sendo uma jovem

extraordinariamente esbelta e se tornou ainda mais esbelta através dosanos, damesmamaneira queumapastilha de sabãoque se vai gastandogradualmente. Seucabelonegroe suaveestavapenteadosobriamente, asmangas de seu vestido se ajustavam a umas pulsos tão diminutas que osenhor Bowman poderia romper as da mesma maneira que galhos deabduz. Inclusive quando estava perfeitamente sentada, como agora,Mercedestransmitiaumaenergianervosa.BowmannuncatinhalamentadoescolheraMercedescomoesposa,sua

dura ambição correspondia perfeitamente com a sua. Era uma mulherimplacável,de instintosafiados, lutandosemprepor terumlugarparaosBowmannasociedade.FoiMercedesquemtinhainsistidoemque,devidoàquenãopodiamseraceitosnaaltasociedadedeNovaIorque,trouxessemparaasmeninasaInglaterra.“Procuraremospretendentescomumtítulo”,haviaditocomdeterminação.Esemdúvida,tinhamtidoêxitocomsuafilhamaiorLillian.Lillianas tinhaarrumadoparaagarraroprêmiomaiorde todos, lorde

Westcliff, cujopedigree era ouropuro.O conde tinha sidoumaaquisiçãoseguraparaafamília.MasagoraBowmanestavaimpacienteporretornaraAmérica.SeDaisyforaaconseguirummaridocomtítulooteriafeitojá.Eratempodecortarsuasperdas.Refletindo sobre seus cinco filhos,Bowmanseperguntava comopodia

ser que tivessem tão pouco dele. Ele e Mercedes tinham produzido trêsfilhosvarõespassivos,queaceitavamascoisascomoeram,segurosdequetudo o que queriam simplesmente cairia em suas mãos como frutaamadurecidadeumaárvore.LillianeraquãoúnicatinhaherdadoalgodoespíritoagressivodosBowman...Maseraumamulhereportantoeraum

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desperdíciocompleto.ElogoestavaDaisy.Detodosseusfilhos,Daisytinhasidoaquemenos

parecia umBowman, nem entendia a seu pai quando falava de negócios,nempareciaabsorvernadadoqueeledizia.Quandolhetinhaexplicadoporque deviam pôr seu capital em ações de dívida pública investidores quequeriam rentabilidades de pouco risco e regulares, Daisy o tinhainterrompido perguntando: “Pai, não seria estupendo se os colibristivessem serviço de chá e fôssemos o bastante pequenos para serconvidados?”.Através dos anos, os esforços de seu pai por mudar a Daisy tinham

obtido uma firme resistência. Daisy era obstinada, sentia-se a gosto comsuamaneiradesereportanto tratarde trocá-laeracomoprovocaraumenxamedeabelhas.Posto queBowman conhecia a natureza imprevisível de sua filha, não

lhe surpreendeu absolutamente a carência de pretendentes que queriamtomá-laporesposa,queclassedemãeseriaela?Tagarelandosobrefadasquevoamsoboarco íris, em lugarde inculcar regras sobreodecoroemseusfilhos.Mercedesinterveionaconversação,suavoztensapelaconsternação.—QueridosenhorBowman,atemporadaestálongedeterminarainda,

acreditoqueDaisyfezexcelentesprogressos.LordeWestcliffaapresentoua vários cavalheiros prometedores, quais estão muito interessados naperspectivadeteraocondecomocunhado.— Estimo — disse Bowman sombrio, — que é precisamente esse o

interessede taiscavalheiros, teraWestcliff comocunhado,enãoaDaisycomo esposa. — Fixou em Daisy um olhar duro. — vai propor tematrimônioalgumdessescavalheiros?—Comopodesabê-loela?—protestouMercedes.— As mulheres sempre sabem essas coisas — assinalou. — me

Responda Daisy, existe alguma possibilidade de levar a algum dessescavalheirosanteoaltar?Sua filha vacilou, e uma expressão de preocupação apareceu em seus

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olhosescuros.—Não,pai—admitiucomsinceridadefinalmente.— Como me temia — Bowman cruzou seus grossos dedos sobre o

estômago e olhou às duasmulheres com severidade.— Sua carência deêxitosetornouuminconveniente,filha, incomoda-meoesbanjamentoemtrajesebagatelas,incomoda-mequesejaumnegócioimprodutivo,masqueisso, estou extremamente molesto porque este assunto me reteve naInglaterraquandomenecessitamemNova Iorque,portantodecidisereuquemescolhemaridoparati.Daisyolhouaseupaisemcompreender.—Aquemtememmente,pai?—MatthewSwift.Lheolhoufixamentecomosetivessesetornadolouco.Mercedesfezumarápidainspiração.— Isso não tem nenhum sentido, senhor Bowman! Não haveria

nenhumavantagemparanósouparaaDaisycomtalunião,osenhorSwiftnãopertenceànobreza,nemsualinhagemédeimportânciaalguma.— Pertence aos Swift de Boston— contradisse Bowman,— uma das

famíliasmaisantigasedistinguidasdacidade.Podesentir-seorgulhosodeseusangueeseunome,eomais importante, trabalhaparamim,epossuiuma das mentes com mais capacidade para os negócios que vi jamais.Quero-ocomogenro.Queroqueeleherdeminhacompanhiaquandoforomomento.—Vocêtemtrêsherdeiroslegítimos!—exclamouMercedesultrajada.—Nenhumdelesservepara levaraempresa,nãotêminstintoparaos

negócios.—AideiadequeforaMatthewSwiftseuherdeiro,reconfortava-o,formou-sesobsuatuteladurantequasedezanos,quandopensavanele,sentiaumapontadadeorgulho,omoçoeramaisumBowmanquequalquerdeseusdescendentes.—NenhumdelestemaambiçãoeafriezadoSwift—continuouosenhorBowman.—Ofareiopaidemeusherdeiros.—perdeuvocêojulgamento!—exclamouMercedescomindignação.Daisyfaloucomumtomtranquiloanteadesfaçatezdeseupai.

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— Acredito que minha cooperação é necessária neste assunto,especialmente se falarmos de herdeiros, e lhe asseguro que nenhumaenergianaterrameobrigaráaterfilhosdeumhomemquenemsequereugosto.— Filha, pensei que desejaria ser útil para algo— grunhiu o senhor

Bowman. Estava em sua natureza frear qualquer indício de rebelião demaneiradrástica.—Acrediteiquedesejariaummaridoe seupróprio laremlugardecontinuarsuaexistênciaparasita.Daisyseestremeceucomoseativesseesbofeteado.—Nãosouumaparasita.—Não?Entãomeexpliqueemquesebeneficiouomundodecontarcom

suapresença.Oquetemfeitoporalguémalgumavez?Encontrando injusta a tarefa de justificar sua existênciaDaisy o olhou

fixamenteemsilêncio.— Este é meu ultimato — disse Bowman. — Encontra um marido

apropriado,temdeagradoatéfinaldemaio,outecasarácomoSwift.

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Capítulo1

—Nãodeveriatecontaristo—Daisymurmuravaenquantosepasseava

deumladoparaooutronosalãodamansãoMarsdenanoiteseguinte.—Em sua condição não deve preocupar-se por nada. Mas não me possoguardar isso para mim por mais tempo ou estalarei, o que seráprovavelmenteimensamentemaisangustianteparati.Sua irmã maior levantou a cabeça do ombro confortável de lorde

Westcliff.—Diga-me-disseLillian,tentandocontrolaroutraondadenáuseas.—

Sómeangustioquandoossegredossãosobremim.—reclinou-sesobreosofá comprido, liberando do braço de lordeWestcliff que imediatamentecolocouemsuabocaumcubinhodeaçúcarcomsaboralimão.Fechouosolhosquandootragou,suaspestanasescurassefecharamcomomeiasluascontrasuassuavesbochechas.— Melhor? — Westcliff perguntou brandamente, limpando com um

dedoumpoucodeaçúcarnacomissuradeseuslábios.Lillianassentiucomacabeça,terrivelmentepálida.— Sim, acredito que isso ajuda. Uf!. Reza para que seja um menino,

Marcus,porqueestaésuaúnicaoportunidadedeterumherdeiro.Nãovousofrernuncamaisisto!— Abre a boca — disse, e lhe colocou outro cubinho de açúcar nos

lábios.Normalmente Daisy teria estado comovida por ser testemunha da

intimidade dos Westcliff... Era incomum que alguém visse a Lillian tãovulnerável,ouaoMarcustãopacienteepreocupado.MasDaisyestavatãodistraídapor seusprópriosproblemas,que logoquenotou sua interaçãoquandoespetou.—Papaimedeuumultimato.Estanoiteele…

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—Espera—murmurouoconde,ajustandoaposturadeLillian,colocou-amaispertodele,elaseinclinouaindamaissobreseumarido,quelhepôsa mão sobre a curva do estômago. Murmurou algo indecifrável em seucabelodeébanodesordenado,eelaassentiucomumsuspiro.Alguém que presenciasse a ternura com queWestcliff cuidava de sua

jovemesposanãopoderiasenãosurpreender-sedasmudançasproduzidasnoconde,quetinhasidoconhecidosemprecomoumhomemnaturalmentefrio. Tornou-se uma pessoa muito mais acessível, sorria mais, e seuspadrões sobreo comportamentoapropriadoerammuitomais flexíveis,oqual era uma boa coisa se a gente tinha a Lillian como esposa e a Daisycomocunhada.OsolhosdoWestcliff,deummarromescuro,pareceramquasenegros,

quandoseconcentrouemDaisy.Emboranãodisseumapalavra,DaisyleuemseuolharfixoodesejodeprotegeraLilliandealgoquepudesseagitarsuapaz.RepentinamenteDaisysesentiuenvergonhadaporhaver-seprecipitado

a vir a lhe contar a sua irmã o ocorrido com seu pai. Devia haver-seguardadoseusproblemasemvezdeiraelacomoumameninaassustada.Masentão,osolhosmarronsdeLillianaolharam,mornosesorridentes,eummilhãodelembrançasdeinfânciadançaramnoarentreelasdamesmamaneira que vaga-lumes alvoroçadas. A intimidade entre irmãs era algoque,inclusiveomaisprotetordosmaridos,nãopodiaalterar.—Vamos,contamedisseissoLillian,acomodando-secontraoombrodo

Westcliff.—Oquedisseoogro?— Que se não encontrar a alguém com quemme casar para final de

maio, terei que aceitar o que escolheu para mim. E adivinha quem é.Adivinha!— Não imagino quem — Lillian disse. — Papai é tremendamente

exigente,édifícilqueaproveaalguém.— OH!, se ele aprovar— Daisy respondeu sinistramente.— Há uma

pessoanomundoquepapaiaprovaaoscemporcem.Agora,inclusiveWestcliffestavacomeçandoaparecerinteressado.

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—Éalguémaquemconheço?—Conhecera-ologo—disseDaisy.—Meupaioháconvidado,chegará

aHampshirenapróximasemanaparaacaçadocervoeosfestejos.Westcliff tentou recordar os nomes que Thomas Bowman lhe tinha

pedidoqueincluíranalistadeconvidadosparaacaçadaprimavera.—Oamericano?—perguntou.—OsenhorSwift?—Sim.LillianolhoufixamenteaDaisysemcompreenderedesúbitoenterroua

cara no ombro de seumarido com um grito afogado. Ao princípio Daisytemiaqueestivessechorando,masrapidamentesedeucontadequeLillianseestavarindo,comumrisinhonervoso.—Não...Nãopodeser...Queabsurdo!...vocênuncapoderia...—Nãooencontrariatãodivertidosefossevocêquemtivessequecasar-

secomele—disseDaisyfranzindoocenhosementendersuadiversão.Westcliffolhoudeumairmãàoutra.— O que é o que está mal no senhor Swift? Acredito que seu pai

comentouqueéumcavalheirobastanterespeitável.—Tudoestámalnele—disseLillian,dandoumúltimobufidoderisada.—Masseupaioaprecia—apontouWestcliff.—OH—zombouLillian.—Meupaisesenteaduladoporqueosenhor

Swiftseesforçaemimitá-loegravaemsuamemóriacadapalavraqueelediz.O conde considerou suas palavras enquanto tirava outro cubinho de

açúcar de limão e o punha nos lábios de Lillian que emitiu um som deprazerquandoodocesederreteuemsuagarganta.—SeupaiestáequivocadoaoacreditarqueosenhorSwiftéinteligente?

—WestcliffperguntouaDaisy.—Éinteligente—admitiu.—Masumanãopodeterumaconversação

comele,fazmilharesdeperguntas,eoabsorvetudo,masnuncadiznada.—PossivelmenteSwiftétímido—assinalouWestcliff.AgorafoiDaisyquemnãopôdeconterarisada.— Garanto-lhe, milorde, que o senhor Swift não é tímido. O é... —

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deteve-seencontrandodifíciltransformarsuasideiasempalavras.MatthewSwiftpossuíauma frieza inataqueera acompanhada sempre

porumar insofríveldesuperioridade.Agentenuncapodia lhedizeralgosemqueelesoubessejá;sabiatudo.DevidoaqueDaisytinhacrescidoemumafamíliapovoadadenaturezasintransigentes,paraelatinhatidopoucointeresseumapessoaaindamaisrígidaeinflexível.Emsuaopinião,nãofalavaemfavordosenhorSwiftqueharmonizasse

tãobemcomosBowman.Possivelmente teria sido mais passível se tivesse tido algum atrativo,

masosenhorSwiftnãotinhasidooobjetodegraçaalguma.Nenhumsensodehumor,nenhumvestígiodeamabilidade,ealémdisso,nenhumabelezafísica: alto e desajeitado, tão torpe que seus braços e pernas pareciampendurar dele como sarmentos. Recordou a maneira em que seu casacopenduravadeseusamplosombrossemenchê-lo,demaneiraquepareciaquenãohavianadadentro.—SeriamaisfácilenumerartodasascoisasqueosenhorSwiftnãoé—

disseDaisydefinitivamente.—Parasersincera,nãoexistenenhumarazãopelaqualeledevadegostarmim.—Nemsequeréatrativo—Lillianacrescentou.—Éumsacodeossos.

—Acariciouomusculosopeitodeseumarido,emumelogiosilenciosodesuamusculosaconstituição.Westcliffpareciadivertido.—Swiftpossuialgumrasgopositivo?Ambasasirmãsconsideraramapergunta.—Temdentesbonitos—disseaofimDaisyacontragosto.—Comosabe?—perguntou-lheLillian.—Nuncasorri!—Suavaloraçãodeleémuitonegativa—comentouWestcliff.—Talvez

osenhorSwiftmudoudesdequevocêoviuporúltimavez,Daisy.— Não tanto como para que aceite a me casar com ele — assinalou

Daisy.— Não deveria casar com ele se não o desejar — Lillian disse com

veemência, revolvendo-se nos braços de seu marido. — Tenho razão,

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Westcliff?—Sim,meuamor—murmurou,apartandoumamechadecabelodesua

cara.—EnãopermitiráquemeupaiafasteaDaisydemim—insistiuLillian.—Éobvioquenão,sempresepodechegaraalgumacordo.Lilliansedesaboucontraele, tendoféabsolutanascapacidadesdeseu

marido.— Já está— balbuciou a Daisy.— Não há porquê preocupar-se...viu?

Westcliff tem tudo... — fez uma pausa para bocejar intensamente— …controlado...Daisysorriocomternuraaoverqueasua irmãlhefechavamosolhos,

viu como Westcliff olhava fixamente a Lillian, assim que ficou em pé emurmurouumadespedida. Ele respondeu comuma inclinaçãode cabeçacortês,semdesviarsuaatençãodorostosonolentodeLillian.EDaisynãopôde evitar perguntar-se algumhomem, algumdia, olhá-la-ia a ela dessamaneira,comoseforaumtesouropreciosoemseusbraços.Daisynãoduvidavadequeseucunhadotratariadeajudaradequalquer

maneirapossível,emboraforasomenteporLillian.Massuafénainfluênciadocondefoiatenuadaporconhecimentodavontadeinflexíveldeseupai.Emboraelaodesafiassecomtodososmeiosaoseudispor,Daisytinha

ummaupressentimento,asprobabilidadesnãoestavamaseufavor.Deteve-seummomentonaportadosalãoeolhouaocasalnosofácom

umgestodepreocupação.Lilliansetinhaficadocompletamentedormida,suacabeçaseafundavanopeitodoWestcliff.Quandooconde levantouoolhar para a Daisy viu sua tristeza e arqueou uma sobrancelha em umaperguntasilenciosa.—Meupai...—começouDaisy, instintivamenteemordeuo lábio. Seu

cunhadoerasóciocomercialdeseupai,nãoeraapropriadoiraocondedoWestcliffcomqueixasobretãoimportantealiado.Masapaciênciaemsuaexpressãoaanimouacontinuar.—Mechamouparasita—disse, falandoemsussurrosparaevitarperturbaraLillian.—Pediuquelhedissessenoquesebeneficiouomundocomminhaexistência,ousealgumavez tinha

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feitoalgoporalguém.—Eoquerespondeuvocê?—perguntouWestcliff.—Nãopudepensaremalgoquedizer.Osolhosdecorcafédocondeeramindecifráveis.Fezumgestoparaque

ela se aproximasse do sofá, e quando obedeceu, para seu assombro,apertou sua mão afetuosamente. O conde, geralmente circunspeto, nãotinhafeitonuncaumacoisaassim.—Daisy—dissebrandamente,—amaioriadasvidasnãosedistinguem

porgrandes lucros.Sãoimportantesporumnúmeroinfinitodepequenascoisas. Cada vez que você é generosa comoutros, oupõe emalguémumsorriso, dá significado a sua vida. Não duvide de seu valor, querida. OmundoseriaumlugarmaistristesemaDaisyBowmannele.PoucaspessoasnegariamqueapropriedadedeStonyCrossParkeraum

doslugaresmaisformososdaInglaterra.OcondadodeHampshirepossuíauma variedade infinita de terreno, desde bosques impenetráveis apradarias floreadas, dos pântanos até os penhascos de pedra cormel naberiadadorioItchen.Avidaresplandeciaportodoslados,ospequenosbrotosquesurgiamdo

manto de folhas quedas ao pé dos envelhecidos carvalhos e cedros, ascampânulasquebrilhavamintensamentenapartemaisescuradobosque.Gafanhoto que saltavam pelas pradarias cheias de bocas de dragão e

jacintos, enquanto que azuis orquídeas se mesclavam com as brancaspétalasdasfloressilvestres.Cheiravaaprimavera,oarsaturadodoaromadasebeeaverdegrama.Depois de doze horas de viagem em carruagem, que Lillian descreveu

como um inferno, osWestcliff, os Bowman, e os diversos convidados sealegraramdechegaràpropriedadedeStonyCrossParkporfim.OcéueradeumacordiferentenoHampshire,umacorazulmaissuave,

eoarestavacheiodeumatranquilidadeditosa.Nãohaviasonsmetálicosderodaserebiquessobreruaspavimentadas,ouvendedoresemendigos,ouapitosde fábrica,nemnenhumsinaldoagitaçãodacidade.Aquisóseouviaocantardoscanáriosnasebesomurmúriodepássaroscarpinteiros

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entreasárvores,eochapinhodosmartinespescadoresalimentando-senorio.Lillian,quetinhaconsideradoopaísmortalmenteaborrecidoantes,era

felizporestardevolta.Paraelaoarpurodocampofoicomoumbálsamo,edepoisdesuaprimeiranoitenacasadeveraneiosesentiumuitomelhordoquesesentiafaziasemanas.Agorasuagravidezjáeravisívelevestiatrajesfolgados próprios de seu estado, era a etapa em que não era apropriadoassistiraeventossociais.Emsuapropriedade,entretanto,Lillianteriaumarelativaliberdade,emborarestringiriasuasinteraçõescomosconvidadosagrupospequenos.Daisyfoiinstaladanoqueeraseudormitóriofavoritodacasa,paraseu

prazer. O quarto era encantador, tinha pertencido a lady Aline, irmã doWestcliff,queagoraresidianaAméricacomseumaridoeseufilho.Orasgomais encantado do dormitório era um gabinete diminuto ao que estavaconectado, que tinha sido gasto da França especialmente e voltado amontar; originariamente pertenceu ao mobiliário de uma residêncialuxuosadoséculodezesseteeestavaequipadocomumachaise-longuequeeraperfeitaparadormirasestaouler.Aconchegadacomumdeseuslivrosemumaesquinadachaise-longue,

Daisysesentiaocultadorestodomundo.OH,setãosópudesseficaraquiemStonyCrossevivercomsuairmãparasempre!Masinclusivequandoaideiapassouporsuamente,soubequenuncaseriatotalmentefelizassim.Queriasuaprópriavida...seuprópriomarido,seusprópriosmeninos.Era a primeira vez queDaisy e suamãe se tornaramaliadas. Estavam

unidas em seu desejo de evitar um matrimônio com o odioso MatthewSwift.— Esse desafortunado jovem — Mercedes tinha exclamado. — Não

tenhoamenordúvidadequefoielequempôsaabsurdaideianacabeçadeseupai...Sempresuspeiteiqueele...—Suspeitou,oque?—perguntouDaisy,massuamãefechoucomforça

seuslábiosatéqueformaramumalinharígida.Quando Mercedes examinou atentamente a lista de convidados,

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informouaDaisyqueumgrandenúmerode cavalheiros candidatosparamaridoseestavamalojandonacasadeveraneio.— Embora não estão diretamente na linha de sucessão, pertencem a

famílias nobres — disse Mercedes. — E a gente nunca sabe... Às vezesocorreumadesgraça...umaenfermidadefatalouumacidentegrave.Algunsmembros da família poderiamdesaparecer e logo seumarido herdaria otítulo!—Coma esperançadequeumadesgraça acontecesse aos futurossogrosdeDaisy,Mercedesvoltouacentrar-seemsualistadeconvidados.DaisyestavaimpacienteparaqueEvieeSt.Vincentchegassemàmansão

ao final da semana. Sentia saudades a Evie terrivelmente, especialmentedesdequeAnnabelleestavaocupadacomseubebêeLilliansemoviamuitodevagar para acompanhá-la nas caminhadas rápidas que ela tantodesfrutava.No terceirodiadepoisdesuachegadaaoHampshire,Daisy foidarum

passeio pela tarde. Tomou o caminho que tinha atravessado em muitasoutras visitas prévias. Levava um singelo vestido demusselina azul comdetalhesdeflores,umparderobustasbotasparacaminhar,eumchapéudepalhadepalhaatadacomfitas.Andando depressa por um caminho além das pradarias brilhantes

decoradas com flores amarelas e vermelhas, Daisy considerou seuproblema.Porqueeratãodifícilencontrarumhomemparaela?Não é que ela não desejasse apaixonar-se por alguém. Para falar a

verdade, desejava-o tanto que parecia terrivelmente injusto não terencontradoaalguémainda,elaotinhatentado,massemprefalhavaalgo.Seumcavalheirotinhaaidadecorreta,erapassivooupomposo.Seera

amável e interessante, era o suficientemente velho para ser seu avô outinha algum outro problema, como ter mal fôlego ou cuspir enquantofalava.Daisysabiaquenãoeraumagrandebeleza.Eramuitopequenaeetérea,

eemboratinhasidoelogiadaporseusolhosescuroseseucabelonegroemcontraste com sua pele branca, também tinha ouvido que as palavras

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“miúda e delicada” e “travessa” lhe eram aplicadas muitas vezes. Asmulheres miúdas e delicadas não atraíam aos homens como as loirasbelezasesculturais.Tambémsediziadelaquepassavamuitotempocomseuslivros,oque

eraprovavelmentecerto.Sefossepossível,Daisydedicariaamaioriadeseutempoemleresonhar.Qualquercavalheirosensatochegariaàconclusãodequenãoseriaumaesposapreparadaparaadireçãoeadministraçãodeumlar.Eteriarazão.Daisy não se preocupou nunca por conteúdo da despensa ou que

quantidadede sabão eranecessáriapara apenetradadiária. Estavamaisinteressadanasnovelas,apoesiaeahistória,quefaziamvoarsuamenteaummundode fantasia enquanto olhava fixamente através de uma janelasem ver nada... Em sua imaginação vivia aventuras exóticas, viajava detapetesmágicas,navegavaporgrandesoceanos,procurando tesourosemilhastropicais.EhaviacavalheirosemocionantesnossonhosdeDaisy,inspiradospelos

relatos de heróis galhardos e nobres que estava acostumado a ler. Esteshomens imaginários eram muito mais excitantes e interessantes que oshomensordinários...Falavamdeformaformosa,destacavamnasbrigasdeespadaeosduelos,eseusbeijosproduziamdesmaiosnasmulheres.É obvio, Daisy não era tão ingênua para acreditar que tais homens

existiam,mastinhaqueadmitirquecomtodasestasideiasromânticasnacabeça, os homens reais pareciam... bem, terrivelmente aborrecidos emcomparação.Levantandoacaraparaosolquebrilhavaatravésda taçadasárvores,

Daisy entoou uma melodia popular que a gente chamava “A velhaacreditadanodesvão”:Viráumhomemrico,viráumhomempobre.Viráotontoouopreparado.Poisnenhumvirá!Eporpenatecasará!Logo chegou ao objetivo de seu passeio. Ela e as demais solteironas

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tinham estado antes ali. Umpoço dos desejos. Tudo bem com a tradiçãolocal, foi habitadopor ummagoque cumpriria seudesejo se lançavaumalfinete nele. O único perigo consistia em estar muito perto ao fazê-lo,porque o mago poderia atirar de ti para te levar com ele a viver parasempre.Em outras ocasiões, Daisy tinha pedido desejos para suas amigas e se

feito realidade sempre. Agora necessitava um pouco de magia para simesmo.Pondoseuchapéudepalhabrandamentenochão,Daisyseaproximou

dooconapedraquechapinhavaáguaeolhouofundolamacentodopoço.Colocouamãonobolsodeseuvestidoetirouumacaixinhadealfinetes.—Bem—dissecomsolenidade,—postoquetivetãomásortenahora

deencontrarohomemquesempredesejei,deixo-lheaeleiçãoaodestino,não ponho nenhum requisito, nenhuma condição. Isto é o que peço... Ohomemperfeitoparamim.Estoudispostaaaceitá-lo.Tirouosalfinetesdacaixinha,eosatirounopoço,refletiramaluzdosol

antes de golpear a superfície da água e deslizar-se sob sua superfícieescura.—Eugostariaquetodosestesalfinetesfossemparaomesmodesejo—

disse ao fim. Ficou ali de pé um momento, com os olhos fechados.Escutandoosomdaágua,orevoardeumcolibriapanhandouminsetonoar,eozumbidodeumalibélula.Houve um ruidozinho repentino detrás dela, como o som de um pé

pisandoemumgalho.Daisy se deu a volta e viu a forma escura de um homem vir para ela.

Estava sozinhoaunspassos.A comoçãodedescobrira alguém tãopertoquando tinha pensado que estava sozinha fez que seu coração pulsassemaisrapidamente.EratãoaltoemusculosocomoomaridodeAnnabelle,emboraparecia

algomaisjovem,aindanãoteriatrintaanos.—Meperdoe—dissecomumavozprofundaquandoviusuaexpressão.

—Nãoqueriaassustá-la.

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—OH!,Vocênãomeassustou—mentiualegremente, seupulsoaindadesbocado.—Sóestouumpouco...surpreendida.Aproximou-sedelacomumandardepravado,asmãosnosbolsos.—Chegueiàmansãofazumpardehoras—disse.—Medisseramque

estavavocêpasseandoporesteatalho.Haviaalgofamiliarnele.EstavaolhandoaDaisycomoseesperasseque

ela o conhecesse. Ela sentiu a inquietação que acompanha ao intento derecordaraalguémquejánosfoiapresentado.—Évocêumconvidadode lordeWestcliff?—perguntou, tratandode

recordardesesperadamente.Ofereceu-lheumolharcuriosoesorrioligeiramente.—Sim,senhoritaBowman.Sabiaseunome.Daisyoolhouaindamaisconfusa.Nãoentendiacomo

podiateresquecidoaumhomemtãoatrativo.Eraforteemuitomasculino,nãobonito,masdefinitivamentevaronileformoso,muitoperfeitoparaserumhomemcorrente.Seusolhoseramdacordocéuemumamanhãclara,umazulintenso,ainda,masintensoemcontrastecomsuapelebronzeada.Haviaalgonele,umaclassedeforçainteriorquefezqueeladesseumpassoatrásanteaintensidadedeseuolhar.Inclinou um pouco a cabeça para olhá-la e um brilho de mogno se

refletiu pela superfície de seu cabelo marrom escuro. Seu grosso cabeloestava talhado comum estilo,mas informal, distinto ao que os europeuspreferiam. Um estilo americano. Daisy se deu conta então de seu acentoamericano. E esse aroma fresco e limpo que emitia... se, pensou,surpreendida,eraafragrânciade...osabãodamarcaBowman!Repentinamente Daisy se deu conta de quem era ele e seus joelhos

estiveramapontodedobrar-se.—Você—sussurrou,seusolhosseabriramassombradosaocontemplar

orostodeMatthewSwift.

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Capítulo2

Daisy perdeu o equilíbrio e deveu cambalear-se umpouco, porque ele

estendeu os braços e a agarrou brandamente, suasmãos rodeando seusbraços.— O senhor Swift — sussurrou em um murmúrio afogado, tentando

afastar-sedeleinstintivamente.—Vaivocêcairnopoço.Venhacomigo.Sustentou-a brandamente, mas com firmeza separando-a vários

passadosdoborbulhodaágua.Molestaporqueaarrastassemestandoaindaumpoucoaturdida,Daisy

se esticou em seus braços. Algumas coisas nele não tinham mudado,pensavaintranquila.MatthewSwifteratãodominantecomosempre.Nãopodiadeixardeolhá-lo fixamente.Meudeus!nuncatinhavisto tal

transformaçãoemumapessoa.Oanterior “sacodeossos”, comoLillianohavia descrito, converteu-se emumhomemgrande e forte que irradiavasaúde e vigor. Estava vestido com um traje elegante, embora um poucopassado demoda, um pouco,mas folgado em comparação com os trajesajustados que se usavam nesse momento. Ainda assim, o tecido era dequalidadeenãoocultavasuafortemusculatura.As mudanças produzidas nele não eram só físicas. A maturidade lhe

tinhadadoumardesegurançaeconfiançaemsemesmo,tinhaoolhardeum homem que conhecia suas habilidades. Daisy recordou como eraquando começou a trabalhar com seu pai... Tinha sido um oportunista,fracote e de olhar frio, vestido com roupas caras, mas puídas e sapatosvelhosedesgastados.“EssaéaessênciadavelhaBoston”,haviaditoseupaicomindulgência

quando seus filhos se burlaram deMatthew Swift e seus sapatos velhos.“Fazer que um par de sapatos ou um casaco durem para sempre.

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Economizar deve ser uma religião, sem importar o volume da fortunafamiliar”.Daisysesoltoudeseusbraços.—Estavocêmuitomudado—disse,tratandoderepor-se.—Vocênão—respondeuele.Eraimpossívelsaberseocomentáriofoi

umcompletoouumacrítica.—Oqueestavafazendonopoço?—Era...pensei...—Daisyprocurouemvãoumaexplicaçãosensata,mas

nãopodiapensaremnada.—Éumpoçodosdesejos.Sua expressão era solene, mas havia uma piscada suspeita em seus

ardilososolhosazuiscomosealgoodivertisse.—Vocêtomaistoasério,nãoécerto?— Todos os habitantes do povo devem pedir desejos ao poço —

respondeuDaisydemauhumor.—Éumpoçodosdesejoslegendário.Estava-aolhandoatentamentedamesmamaneiraqueelasempretinha

odiado, fixamente, absorvendo-o tudo, sem que lhe escapasse nenhumdetalhe.Daisysentiuqueavermelhavasobseuintensoescrutínio.—Oquepediuvocê?—perguntou.—Issoéprivado.—Conhecendo-a—disse,—poderiaseralgo.—Vocênãomeconheceabsolutamente—disseseparando-semaisdele.

A ideia deque seupai a desse emmatrimônio a umhomemque era tãoinapropriado para ela em todos os sentidos lhe parecia... uma loucura. Omatrimônio com ele seria um negócio, um intercâmbio de dinheiro eresponsabilidades. Só sentiriam decepção e desprezo mútuo. E estavaseguradequeelenãosesentiaatraídoporelatampouco.Nuncasecasariacom umamulher como ela se não fora por estímulo de ter algum dia aempresadeseupai.—Possivelmentenão—concedeuele.Massuaspalavrassoaramfalsas.

Porqueelepensouquesabiaexatamentequemeoqueeraela.Seusolharesfixosseenfrentaram,medindo-seedesafiando-se.—Tendoemcontaqueéumpoçolegendário—disseSwift,—odiaria

passarporcimaumaoportunidadetãoboa.—Colocouamãoemumbolso,

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rebuscou um pouco e tirou uma moeda de prata grande. Daisy estavaacostumadaaverdinheiroamericano.—supõe-sequedevevocêatirarumaninharia—disse.—Nãotenhoumaninharia.—Éumamoedadecincodólares—disseDaisy.—Nãoirávocêaatirar

isso,verdade?— Não vou atirar— disse ele,— vou investir. Me explique qual é o

procedimentoadequadoparafazeristo,émuitodinheiroparaesbanjá-lo.—estázombadodemim.—Metomomuitoasério.Epostoquenuncatenhofeitoistoantes,um

pouco de ajuda seria bem-vinda. — Esperou sua resposta, e quando foievidentequeelanãoiadizernada,umsorrisoapareceuemumaesquinadesuaboca.—vouatirarestamoedaaopoçoemboranãomeajude.Daisy se amaldiçoou em voz baixa. Embora era óbvio que se estava

zombadodela,nãopodiaresistir.Umdesejonãoeraalgoparatomar-seembrincadeira,especialmenteumdecincodólares,caramba!Aproximou-sedopoçoedissesecamente.—Primeirofique-amoedanapalmadamão.Rapidamenteeleficouaseulado.—Edepois?— Fechamento os olhos e concentre-se no que você mais deseja. —

Houveummatizsarcásticoemsuavozquandoacrescentou.—Etemqueser um desejo pessoal. Não pode ser algo sobre fusões empresariais oufideicomissosbancários.— Embora você não o acredite, penso em outras coisas além dos

negócios.Daisylheofereceuumolharcético,eeleasurpreendeucomumpequeno

sorriso.Algumavezotinhavistosorrirantes?Possivelmenteumaouduasvezes.

Tinhaumavaga lembrançadaocasião, quando sua cara era tão enxuta emagraquemaisqueumsorrisopareciaumafriacaretagrotescaporondeapareciam uns dentes brancos. Mas este sorriso era diferente... pícara e

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divertida...eadesarmou.Sentiuumbrilhotíbioquefezqueseperguntassequeclassedehomemseocultavadetrásdesuaimagemsóbria.Daisy voltou para presente quando o sorriso desapareceu e ele se

converteudenovonohabitualhomemdepedra.— Fecha os olhos — lhe ordenou que. — Tire-o tudo de sua mente

excetoodesejo.Suas espessas pestanas se fecharam, lhe dando a oportunidade de

examiná-lo comatenção.Não era um rosto comum... eramuito anguloso,tinhaumnarizmuitolarga,eumamandíbulalargaeobstinadaMastodooconjuntonãocareciadebeleza.Osângulosausterosdesua

cara eram compensados por seus formosos olhos, a suavidade de suaspestanasnegraseumaamplabocaqueinsinuavasensualidade.—Eagoraoque?—murmurou,seusolhosaindaestavamfechados.Olhando-o fixamente,Daisy se horrorizou por desejo que se apoderou

deladeaproximar-sedeleetocarapelebronzeadadesuasbochechascomagemadosdedos.—Quandovirodesejocomclaridadeemsuamente—searrumoupara

dizer,—abraosolhoseatireamoedanopoço.Suaspestanasseabrirampararevelarunsolhostãobrilhantescomoum

fogodecorazul.Semolharaopoço,lançouamoedadiretamentenocentro.Daisysedeucontadequeseucoraçãotinhacomeçadoapalpitarcomo

quando tinha lido as passagens mais horripilantes de a História dePenélope, em que foi capturada por um bandido que a encerrou em umquartodatorreatéqueaceitassealheentregarsuavirtude.Daisysoubequeanovelaeraabsurdainclusiveantesdeterminardelê-

la,mas issonãotinha impedidoqueadesfrutasse.E ficouperversamentedecepcionadaquandoPenélopetinhasidoresgatadadaruínaiminenteporumheróiinsípidochamadoReginald,quemnãoeratãointeressantecomoomalvado.Éobvio,apossibilidadedeestarencerradanoquartodeumatorresem

nenhum livro não lhe tinha resultado atrativo absolutamente. Mas os

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monólogos ameaçadores do malvado sobre a beleza do Penélope, e seudesejo por ela, e a ameaça de que a forçaria, tinham-lhe parecidomuitointeressante.Só era questão demá sorte queMatthew Swift se parecesse tanto ao

elegantebandidoqueDaisytinhaimaginado.—Oquepediuvocê?—perguntou.Umacaretaapareceuemsuaboca.—Issoéprivado.Daisy franziu o cenho quando reconheceu o eco de suas próprias

palavras.Reparouemseuchapéudepalha,queestavanochão,recolheu-aepôs-

seaandarporatalho.Precisavaescapardele,perturbava-a.—Retornoà casa—dissegirandoo rosto.—Que tenhaumbomdia,

senhorSwift.Desfrutedeseupasseio.Para sua consternação, ele a alcançou com apenas uns passos e se

ajustouaopassodela.—Aacompanharei.Negou-seaolhá-lo.—Prefeririaquenãoofizesse.—porquenão?Vamosnamesmadireção.—Porqueprefirocaminharemsilêncio.—Sereisilenciosoentão—eseguiucaminhandojuntoaela.Pensou que não tinha sentido opor-se quando era óbvio que estava

decididoa fazê-lo e fechouos lábios com firmeza.Apaisagemdobosqueeratãoformosocomoantes,masagoraelasesentiaincapazdedesfrutá-lo.NãosesurpreendeudequeSwift fizessecasoomissodesuasobjeções.

Semdúvida,eletratariaoassuntodeseumatrimôniodamesmamaneira.Semlheimportaroqueelaqueria,ouoquelheinquietava.Deixariadeladoseusdesejoseinsistiriaemsair-secomasua.Devia pensar que era tão influenciável como um menino. Com sua

grande arrogância, possivelmente pensava que se sentiria agradecida dequesedignouacasar-secomela.Perguntava-setomariaamoléstiadelhe

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propormatrimôniosequer.Muitoprovavelmenteatirariaumanelemseucoloelheordenariaqueopusesse.Enquanto continuava a horrorosa caminhada, Daisy teve que lutar

contraodesejodesair correndo.AspernasdeSwifteramtão largasquedavaumpassoporcadadoisdeles.Umnóderessentimentosealojouemsuagarganta,afogando-a.Pensouqueopasseioeraumsímbolodeseu futuro.Poderiacaminhar

tão rápido como pudesse e chegar muito longe, mas jamais conseguiriadeixá-loatrás,jamaisvoltariaaserlivre.Nãopôdesuportarpormaistempootensosilêncio.—Foivocêquempôsaideianacabeçademeupai?—exclamou.—Queideia?—OH!nãosejacondescendentecomigo—dissecomirritação.—Você

sabeaquemerefiro.—Não,nãosei.Aoparecerinsistiaemjogarcomela.—Onegócioquevocêfezcommeupai—disse.—Vocêquercasar-se

comigoparapoderherdaracompanhia.Swiftseparoucomtalbrutalidadequeemoutrascircunstânciasateria

feito rir. Como se tivesse se chocado contra uma parede invisível. Daisytambémseparou,cruzando-sedebraçosdeumeiavoltaparaenfrentar-secaraacaracomele.Suaexpressãonãorefletiaabsolutamentenada.—Eunão…Sua voz soava rota quando tentou falar e teve que pigarrear antes de

poderdizer:—Nãoseidequediabosestáfalandovocê.—Seguroquenão?—Daisyperguntoufracamente.Assim que sua hipótese não tinha sido correta, seu pai ainda não lhe

tinhaexpostoseuplanoaoSwift.Seagentepudessemorrerdemortificação,Daisy teriaexpiradonesse

mesmomomento.Sentiucomoseabriaaferida,masprofundadetodasua

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vida.NãoeranecessárioqueSwiftodissesse,nuncateriaestadoTudobemcomapossibilidadedeunir-seemmatrimôniocomumasolteira.Orangidodasfolhasmovidasporventoeogorjeiodospássarossefez

muito,mas intenso no silêncio que seguiu. Embora era impossível ler ospensamentosdoSwift,Daisypercebiaqueestavaanalisandorapidamentetodasaspossibilidadeseconclusões.—Meu pai falou como se já fora um acordo estabelecido— disse.—

Pensava que você tinha falado com ele durante sua última visita a NovaIorque.—Nuncamemencionoualgodessaíndole.Aideiademecasarcomvocê

nunca passou por minha mente. E não tenho ambição de herdar acompanhia.—Vocênãotemnadamaisqueambição.— É certo — disse, olhando-a atentamente. — Mas não tenho a

necessidadedemecasarcomvocêparaassegurarmeufuturo.—Meu pai pôde pensar que você aceitaria no ato a oportunidade de

converter-seemseugenro,postoquevocêlhetemumgrandeafeto.—Aprendimuitíssimodele—foisuaréplicacautelosa.— Estou segura disso — Daisy se refugiou depois, numa expressão

desdenhosa.—Olheensinoumuitascoisasqueobeneficiaramnomundodosnegócios.Masnadaqueobeneficiassenaempresadavida.—Vocêdesaprovaosmétodosdeseupai—afirmourapidamente.—Sim,vendeuseucoraçãoesuaalmapelacompanhiaefazcasoomisso

daspessoasqueoquerem.—Graçasaissovocêdispõedemuitosluxos—assinalou.—Incluindoa

oportunidadedecasar-secomumlordebritânico.— Os luxos não significam nada para mim! Só desejo viver uma vida

tranquila.— Para sentar-se em uma biblioteca a sós e ler?— sugeriu ele com

muita suavidade. — Para caminhar por jardim? Para desfrutar dacompanhiadeseusamigos?—Sim!

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— Os livros são custosos, e as casas bonitas com jardins ainda mas,alguémtemquepagarparaquevocêdesfrutedeumavidatranquila.Essa afirmação estava tão perto das palavras de seu pai chamando-a

parasita,queDaisyseestremeceu.Quando Swift viu sua reação, sua expressão mudou. Começou a dizer

outracoisa,masDaisyointerrompeubruscamente.—Nãoédesuaincumbênciacomovivominhavidaouquempagapelo

quefaço.Guardesuasopiniõesparavocê,nãotemnenhumdireitoaopinarsobreminhavida.—Tenho-osemeufuturoestásendoligadoaodele.—Nãoéassim!—Oéemumsentidohipotético.OH!,Daisyodiavaàspessoasqueutilizavamretóricasquandodiscutiam.—Nossomatrimônioseráalgomenoshipotético—lhedisse.—Meupai

medeuaté finaldemaioparaqueencontreoutrohomemcomquemmecasar.Swiftaolhoufixamentecomsúbitointeresse.— Posso adivinhar que classe de homem está procurando, um loiro

aristocratasensíveledelicado,divertidoecomtempolivresuficienteparatolicescavalheirescas.— Sim! — interrompeu lhe Daisy, perguntando-se como as tinha

arrumado para que a descrição de tal cavalheiro o fizesse parecer umnéscio.—Issoimaginava—apresunçãoemsuavozesticouseusnervos.—A

únicaexplicaçãopossívelparaqueumajovemcomovocêseguissesemumcompromisso depois de três temporadas é que é você tremendamenteexigente.Vocênãoquernadamenosqueohomemperfeito.Porissoseupaiestáforçandoascoisas.Ela se distraiu momentaneamente pelas palavras “uma jovem como

você” como se ela fora uma beleza. Decidiu que o comentário tinha sidofeito sozinho com um profundo sarcasmo, e então sentiu que a ira aconsumia.

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—Nãoaspiroamecasarcomohomemperfeito—disseapertandoosdentes.Adiferençadesuairmãmaior,quepossuíamuitafluidezverbal,elaencontravadifícil falarquandoestavazangada.—Seimuitobemquenãoexiste!— Então por que não conseguiu você a alguém quando inclusive sua

irmãasarrumouparaapanharaummarido?—Oquequervocêdizercom“inclusiveminhairmã”?—“Case-secomaLillianeconsigaummilhão”—afraseofensivatinha

causadomuitadiversãonoscírculosdasociedadedeManhatanville.—porque acredita que ninguém em Nova Iorque se atreveu a lhe propormatrimônioasuairmãapesardeseuenormedote?Porqueessamulheréopiorpesadeloparaumhomem.Issoaferiu.—MinhairmãéumajoiaeWestclifftemobomgostodereconhecê-lo.

Poderiahaver-secasadocomqualquer,masaqueriaaela.Odesafioaquese atreva a expor sua opinião sobre ela diante do conde!—Daisy deu avolta e continuou o atalho, caminhando tão rápido como suas pequenaspernaslhepermitiam.Swiftaalcançoufacilmente,comasmãosafundadasnosbolsos.—Parafinaisdemaio...—meditou,semomaisleveindíciodecansaçoa

pesar do ritmo dos passos de Daisy. — Só faltam dois meses escassos.Comovaivocêaencontraraumpretendenteemtãopoucotempo?—Porei-meemumaesquinadaruacomumpôstersetiverquefazê-lo.—Meusmais sincerosdesejosdeque tenhaêxito, senhoritaBowman.

Emtodocaso,nãoseiseestareidispostoaseroeleitoporomissão.—Vocênãoseráoeleitoemboranãohajanenhumoutro!Garanto-lhe

senhorSwiftquenadanomundointeiromefaráaceitarasersuaesposa.Compadeço a pobremulher que se case com você, não posso imaginar aninguémquemereçateraumpedantetãofrioeindiferentepormarido.—Espere...—seu tomse suavizoucomoseprocurasseoprincípiode

umareconciliação,—Daisy...—Nãopronunciemeunome!

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—Temvocê razão. Isso foi inapropriado. Peço-lhe perdão.O que quisdizer, senhorita Bowman, é que não há necessidade desta hostilidade.Estamos confrontando uma questão que tem muita importância paraambos. Espero que possamos ser o suficientemente sensatos paraencontrarumasoluçãoaceitávela tempo.Tentemostratarestetemacomcortesia.—Hásomenteumasolução—disseelacomgravidade.—Eéquevocê

digaameupaiquesenegaacasar-secomigosobqualquercircunstânciademaneiracategórica.Meprometaissoeeutratareidesercortêscomvocê.Swift se deteve no atalho, o que forçou a Daisy a deter-se também.

Girandoacabeçaparaolhá-lo,levantouassobrancelhascomespera.Deussabiaquenãoseriaparaeleumapromessadifícildefazer,tendoemcontasuas anteriores declarações.Mas lhe estava oferecendo um olhar largo eincompreensível, com as mãos ainda nos bolsos, e o corpo tenso emsilêncio.Pareciacomoseestivesseesperandoalgo.Seu olhar se deslizou sobre ela em uma franca avaliação, e havia um

brilhoestranhoemseusolhosque lheproduziuumcalafrioatéamedulados ossos. Estava-a olhando, pensou, damesmamaneira que um tigre àespreita. Olhou-o sem piscar, tratando de perceber seus pensamentosdesesperadamente, tentando discernir o desejo e a necessidade quepercebia em seu olhar. Mas necessidade do que? Não dela,indubitavelmente.—Não—disseelebrandamente,comosefalasseconsigomesmo.Daisy agitou a cabeça perplexa. Tinha os lábios secos, e teve que

umedecer lhe antes de poder falar. Turvou-a que seu olhar seguisse opequenomovimentodesualíngua.—Esseéum“não”de…”Não,nãomecasareicomvocê”?—perguntou.—É um “não” ...— respondeu ele—de... “Não, não vou prometer lhe

isso”.Ecomessaspalavras,passouporseu ladoecontinuouparaamansão,

deixando-a que continuasse sozinha, o qual fez Daisy depois de tropeçarváriasvezes.

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— Comporta-se dessa maneira para mortificar — disse Lillian comdesgostoquandoDaisy lhe relatouoocorrido,horas,mas tarde.Estavamsentadas no salão privado da casa com suas dois amigas mais íntimas,AnnabelleHunteEvieStVincent.Formavamoquartetodassolteironasqueporváriosmotivosnãotinhamconseguidoatrairnenhumpretendentedoisanosatrás.Existiaacrençapopularnasociedadevitorianadequeasmulheres,com

sua natureza volúvel e menor inteligência, não podiam ter a mesmaqualidade de amizade que os homens. Só os homens podiam ser leais, epodiamsercapazesdeseramigoshonestoseconfiáveis.Daisy pensava que isso era absurdo. Ela e as solteironas…Bom as ex-

solteironas... compartilhavam o presente de uma profunda confiançaafetuosa.Ajudaram-seeseapoiaramsempingodecompetiçãoouciúmes.DaisyadoravaaAnnabelleeaEvietantocomoaLillian.Podiaimaginar-sea se mesma, tagarelando sobre seus netos, tomando chá e pão-doces eviajando com elas quando fossem anciãs, damas de cabelos brancos elínguasarcástica.—EnãoacreditoabsolutamenteissodequeelesenhorSwiftnãosabia

nada sobre o assunto do casamento — continuou Lillian. — É ummentirosoeumaliadodepapai.Éobvioquequerherdaracompanhia.LillianeEvieestavamsentadasemcadeirasestofadasdebrocadojunto

àjanela,enquantoqueDaisyeAnnabellevadiavamsobreotapeteentreomontãode roupaque formavamsuas saias.Umamenina roliça comumamassa de cachos escuros engatinhava de um lado ao outro entre elas,detendo-se de vez em quando para examinar com concentração algo dotapetecomseusdedinhospequenos.O bebê, Isabelle, filha de Annabelle e Simon Hunt tinha nascido dez

mesesatrás.Certamentenenhumameninatinhasidojamaismaisadoradaqueestaporcadamembrodafamília,incluindoseupai.Contra toda expectativa o viril e masculino senhor Hunt não se

desgostouabsolutamenteporqueseuprimogênitoforamenina.Adoravaasuafilha,nãomostravanenhumpudoremmostrá-laempúblico,ninando-a

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comopoucos pais se atreveriam a fazer.Hunt pediu aAnnabelle que lhedessemaisfilhasnofuturo,afirmandocompicardiaquesempretinhasidoseudesejoserqueridopormuitasmulheres.Como se podia ter esperado, amenina era excepcionalmente formosa;

seria difícil para a Annabelle voltar a dar à luz um descendente tãoespetacular.TomandoembraçosaIsabelle,Daisybeijouseupescoçosedosoantesde

pô-lasobreotapeteoutravez.— Teria que havê-lo ouvido falar— disse Daisy.— Sua arrogância é

incrível. Swift chegou à conclusão de que é culpa minha que ainda sigasolteira.Dissequedevosermuitoexigente.Deu-meumaconferênciasobreocustodemeuslivrosedissequealguémtinhaquepagarpormeuestilodevidacheiodeluxos.— Como se atreve? — exclamou Lillian, com a cara de um intenso

escarlatepelaraiva.Daisy lamentou imediatamente haver dito nada. O médico da família

tinhaaconselhadoqueLilliannãodeviadesgostar-sepornadaagoraqueestava em seu últimomês de gravidez. Tinha sofrido um aborto no anoanterior. A perda tinha sido difícil para a Lillian, por nãomencionar queinesperada,dadasuaforteconstituição.Apesardequeosmédicoslheasseguraramquenãofoiculpadela,Lillian

tinha estado triste e apagada durantemuito tempo depois.Mas graças àternuradoWestcliffeoamordeseusamigos,Lillianhavia tornadoaser,poucoapouco,amesmadesempre.AgoraqueLillian tinha concebidooutravez estavamuitopendentede

sua gravidez, consciente da possibilidade de outro aborto espontâneo.Infelizmente, não era uma dessas mulheres que floresciam durante agestação.Estavaacostumadoaestarenjoada,comnauseiaeirritávelpelasrestriçõesquelheimpunhasuacondição.—Nãopensopermitiressecasamento—exclamouLillian.—Nãovaite

casarcomMatthewSwift,emandareiapapaiaodiabosetratardeteenviarlongedaInglaterra!

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Aindasentadanochão,Daisyestendeuamãoeacolocousobreojoelhode sua irmãmaior, tentando acalmá-la. Forçouum sorriso tranquilizadorquandoolhouacarazangadadeLillian.— Tudo irá bem— lhe disse. — Já pensaremos em algo.— Tinham

estadosempremuitounidas.Afaltadeafetodeseuspaistinhaprovocadoqueserefugiassemaumanaoutraembuscadeapoioeamor.Evie,amaissilenciosadasquatroamigas, faloucomumagagueira leve

queapareciasemprequeficavanervosaouaembargavaaemoção.Quandose tinham conhecido dois anos antes, a gagueira de Evie tinha sido tãosevera que convertia à conversação com ela em algo muito complicado.Mas desde que deixou sua horrorosa família e se casou com lorde St.Vincent,Evietinhaadquiridoumamaiorconfiançaemsemesma.— P... po... aceitaria o senhor Swift realmente uma noiva que ele não

escolheu?—Eviecolocouumcachodecabelovermelhobrilhantequetinhaescorregado sobre sua frente. — Se o que disse é certo, sua situaçãofinanceiranãoéummotivoparacasar-secomaDaisy.—Odinheironãoéoúnicomotivo—respondeuLillian,retorcendo-se

na cadeira para encontrar uma posição mais cômoda. Suas mãosdescansandosobreagenerosacurvadeseuestômago.—PaitemfeitodeSwift seu filho adotivo, já que nenhum de nossos irmãos cumpre suasexpectativas.—Nãoaprovaanenhumdeseusfilhos?Emquesentido?—perguntou

com perplexidade Annabelle. Inclinou-se para beijar os pequenos pés desuafilha,quelherespondeucomumgorgolejodealegria.— No que se refere à companhia — Lillian esclareceu. — Busca um

homem eficiente, insensível e sem escrúpulos. Um homem que poria obenefíciodacompanhiaporcimadetodoorestoemsuavida.—PapaieosenhorSwift falamnamesma línguanesseassunto.Nosso irmãoRansomtratouquefazerumlugarnacompanhia,maspapaisempreomenosprezacomparando-ocomosenhorSwift.—EosenhorSwiftganhasempre—disseDaisy.—PobreRansom.—Nossosoutrosdoisirmãosnemsequerseincomodamemtentá-lo—

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disseLillian.—MasqueopinaoverdadeiropaidosenhorSwift?—perguntouEvie.

—Nãotemnenhumaobjeçãoemqueseufilhoherdedeoutrohomem?—Bom,essaéapartemaistriste—respondeuDaisy.—OsenhorSwift

pertence a uma conhecida família de New England. Instalaram-se noPlymouth e alguns deles terminaram em Boston faz uns cem anos. OsobrenomeSwiftéconhecidoporsuaorigemdistinta,massomentealgunsdelesasarrumaramparaconservarseudinheiro.Comopapaidizsempre,uma geração ganha, a segunda o gasta, e a terceira só herda o nome. Éobvio, quando falamos de Boston, o processo demora dez gerações emlugardetrês.— Estas divagando querida— interrompeu Lillian.— Voltemos para

assunto.— Perdão. — Daisy sorriu brevemente antes de continuar. — Bem,

suspeitamosqueosenhorSwiftesuafamílianãotêmboasrelaçõesporquenão fala deles quase nunca. E estranha vez, viaja aoMassachussets paravisitá-los. Inclusive se o pai do senhor Swift se opor a que seu filho seunisse a nossa família e herdasse a companhia, não teríamos modo deaveriguá-lo.Asquatromulheresguardaramsilêncioporummomentoconsiderando

asituação.—Encontraremos a alguémapropriadopara aDaisy—disseEvie.—

Agoraquenãotemosalimitaçãodeprocurarsóumcavalheirocomtítulo,serámuitomaisfácil.Existemmuitoscavalheirosaceitáveisdeboafamília.—OsenhorHunttemmuitosconhecidossolteiros—disseAnnabelle.—

lhePoderiaapresentarisso—Lheagradeço—disseissoDaisy,—masnãomeatraiaideiademe

casar com um comerciante. Nunca poderia ser feliz com um insensívelhomemdenegócios.—Fezumapausa,edisseamododedesculpa.—SemânimodeofenderaosenhorHunt,éobvio.Annabellerio.— Eu não diria que todos os comerciantes são homens insensíveis. O

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senhorHuntpodesermuitodelicadoecarinhosodevezemquando.Todasaolharamcomreceio,nenhumadelasera capazde imaginarao

robustomarido deAnnabelle sendodelicado e carinhoso.O senhorHunterainteligenteesimpático,maspareciatão insensívelaqualqueremoçãocomoumelefanteaozumbirdeummosquito.—TomamosapalavraAnnabelle...bem...—disseLillianolhandoaEvie,

— perguntará a lorde St. Vincent se ele conhecer algum cavalheiroconveniente para a Daisy? Agora que ampliamos nossa definição de“apropriado”,devesercapazdeencontraraumcandidatodecente.OcéusabequepossuiinformaçãosobrequalquerhomemnaInglaterracomdoisxelinsnobolso.—Perguntareilhe—disseEviecontundentemente.—Estouseguraque

podemosconheceralgunscandidatosapresentáveis.SeumaridoeraproprietáriodoJenner’s,oclubedejogoexclusivoqueo

pai de Evie tinha baseado fazia tempo. Lorde St. Vincent estavaempurrando o negócio a um êxito que não tinha conhecido nunca antes.Dirigiaoclubedemaneiraexigente,guardandoarquivosmeticulosossobreavidaprivadaeosbalançosfinanceirosdecadaumdeseusmembros.—Obrigado—murmurouDaisy sinceramente.Comamenteaindano

clube comentou:—Mepergunto... se lorde St. Vincent poderia averiguaralgosobreafamíliadosenhorRohan...Possivelmenteédescendentedeumnobreirlandêsoualgoporestilo.Umbrevesilêncioalagouoquartocomoumarajadadearfrio.Daisyfoi

consciente de quão olhadas intercambiaram sua irmã e suas amigas.Incomodou-se com elas e consigomesma pormencionar ao homem quedirigiaoclubedejogojuntoaoSt.Vincent.Rohan era ummeio cigano jovem de cabelo escuro e olhos cor avelã.

Viram-sesóumavez,eRohanlhetinharoubadoumbeijo.Trêsbeijos,paraser exatos, e aquela tinha sido, commuito, a experiênciamais erótica detodasuavida.Tambémsuaúnicaexperiênciaerótica.Rohanatinhabeijadocomoseforatodaumamulher,emlugardairmã

pequenade alguém, comuma sensualidade que tinha insinuado todas as

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coisasproibidasquehaviadetrásdosbeijos.Daisydesejavaesbofetear-se,portersonhadocomessesbeijospormenosmilvezes.— Acredito que ele não é apropriado querida — disse Evie muito

brandamente,eDaisysorriocommuitaintensidade.—OH,claro,éobvioquenão!Mas já sabecomoéminha imaginação...

Querindagaremqualquermistério.— Devemos nos centrar na realidade, Daisy — disse Lillian com

severidade.—Nadadesonhosefantasias...EnãomaispensamentossobreoRohan.Sótedistrairádeseuobjetivo.OprimeiroimpulsodeDaisyfoilheresponderasuairmãquandoficou

mandonacomosempre.Entretanto,quandoaolhou,viuemseusolhosdacordopãodegengibre,umasombrademedoesentiuqueaalagavaumamontanhadeamorprotetor.—TemrazãoLillian—disse forçandoumsorriso.—Não temporquê

preocupar-se,fareialgoparaficaraquicontigo,inclusivemecasarcomumhomemaquemnãoamo.Fez-seoutrosilêncio,elogofalouEvie.— Encontraremos um homem que você goste, Daisy. E teremos a

esperançadequecresçaentrevósoamormútuo.—Umsorrisotravessoapareceuemseuslábioscheios.—Àsvezesocorreassim.

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Capítulo3

“Onegócioquevocêfezcommeupai....”OecodavozdeDaisyficounamentedeMatthewmuitodepoisdedeixá-

lanoatalho.Devia falarcomThomasBowmanàprimeiraoportunidadeelhe perguntar que diabos estava tramando. Mas com o alvoroço dosconvidadoschegandonessemomentonãoteriaocasiãoprovavelmenteatéessanoite.Matthew se perguntava se ao velho senhor Bowman de verdade lhe

tinhametidonacabeçacasá-locomaDaisy.Meudeus.AolongodosanosMatthew tinha tido muitos pensamentos com respeito a Daisy Bowman,masnenhumdeles tinhacomprometidoomatrimônio.Essapossibilidadetinhasidotãoremotaquenãoeranemsequerdignadeconsiderar.AssimMatthewjamaisseatreveuabeijá-la,ouadançarcomela,nemtãosequeracompartilharumpasseio,sabiaqueosresultadosseriamdesastrosos.Ossegredosdeseupassadoatormentavamseupresenteepunhamem

perigoseufuturo.Mattheweraconscientedequeanovaidentidadequesecriou,poderiafazer-sepedacinhosemqualquermomento.Seriatãosingelocomo somar dois, mas dois... que alguém o reconhecesse, alguém quesoubesse quem era ele realmente. Daisy merecia um marido que forahonrado e honesto, não um que tinha construído sua vida sobre umamentira.Mas isso não impedia que Matthew a amasse. Amava a Daisy, tão

intensamentequelhepareciaqueseuamorirradiavadecadaumdosporosde sua pele. Era amável, doce, engenhosa, excessivamente razoável e, deumavez,ridiculamenteromântica,seusformososolhosescurosbrilhavamcheiosde sonhos.Emalgumasocasione,nasque suamenteestavamuitoocupada com seus pensamentos para centrar-se no que estava fazendo,podiachegaraserdesajeitada.Estavaacostumadoachegartardeaojantar

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porque estava muito envolta em sua leitura. Perdia dedais, sapatilhas elápis frequentemente. E adorava olhar as estrelas. Nunca esqueceria aimagemdeDaisy,umanoite,apoiadasobreocorrimãodobalcão.Seurostolevantado para o céu com melancolia, tinha despertado no Matthew odesejoabrasadordesubiraparedeapernadasebeijá-lacomtodaaforçadeseussentimentos.Matthewtinha imaginadotê-laemsuacama,maisvezesdasquepodia

recordar.Seessesonhoalgumavez, fizesserealidade,ele tivessesido tãogentil com ela... Tivesse-a adorado. Teria se dedicado a agradá-la porinteiro. Desejava o tato de seu cabelo na gema de seus dedos, a brandatextura de seus peitos em suas mãos, percorrer a suave pele de seusombros com seus lábios. O peso de seu corpo em seus braços enquantodormia.Desejavatodoisso,emuitomais.Matthew estava surpreso de que ninguém tivesse adivinhado seus

sentimentos.Daisydeveriatersidocapazdevê-losóolhando-o.FelizmenteparaMatthew não tinha sido assim. Ela o olhava como a um empregadomaisdaempresadeseupai,eMatthewtinhaestadoagradecidoporisso.Algo tinha mudado, entretanto. Pensou na maneira em que Daisy foi

cuidadosa quando a encontrou junto ao poço, o assombro em suaexpressão.Seuaspectoerarealmentetãodiferente?Distraidamente Matthew colocou as mãos nos bolsos percorrendo a

mansãodeStonyCrossPark.Nuncase tinhapreocupadoporseuaspectoalém de cortar o cabelo e ter a cara limpa. A educação severo de NewEngland tinha extinto qualquer espionagem de vaidade, os cidadãos deBoston aborreciam a pomposidade e ele tinha feito todo o possível porevitaramodaeaelegância.Entretanto, nosdois últimos anosThomasBowman tinha insistido em

queMatthewvisitasseseualfaiateemParkAvenue,eaumcabeleireiroemlugar de um barbeiro, também em que se fizesse amanicure de vez emquando,comocorrespondiaaumcavalheirodesuaposição.PorinsistênciadosenhorBowman,Matthewtinhacontratadoaumcozinheiroeumamadechaves,eemconsequência,tinhaestadocomendomelhorultimamente.

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Tudoisto,unidoaofeitodequejánãoeratãosomenteumjovem,anãoserum homem adulto, dava-lhe uma imagem de maturidade. Perguntava-seissoresultavaatrativoparaaDaisy,eseamaldiçoouimediatamenteportalinquietação.Mas a maneira em que o tinha cuidadoso hoje... como se o estivesse

vendo,realmente,pelaprimeiravez....Nunca lhe tinha dedicado nem sequer um olhar em nenhuma das

ocasiõesemquetinhavisitadoacasadesuafamíliaemFifthAvenue.Asuamemóriavoltoua imagemdaprimeiravezquetinhavistoaDaisy, foi emumjantaríntimo,aqueassistiasósuafamília.Ograndiososalãodejantarbrilhavacomaintensidadedasluzesdeum

abajur de aranha de cristal, as paredes cobertas de um grosso papeldourado com detalhes em ouro. Quatro espelhos imensos, quãomaiorestinhavistojamais,forravamumadasparedesdosalãodejantar.Dois dos filhos varões do senhor Bowman tinham estado pressente,

eram dois jovens robustos que dobravam com facilidade o peso deMatthew.MercedeseThomasBowmanestavamsentados,cadaum,emumextremoopostodamesa.Suasduasfilhas,LillianeDaisy,estavamsentadasa um lado, com as cadeiras muito perto, intercambiando cotonoites ecochichos.ThomasBowman tratava a suas filhasdeumamaneirapeculiar, ou as

ignorava,ouascriticavacomdureza.A irmãmaior,Lillian,respondiaaoscomentáriosdeseupaicominsolência.MasDaisy, quenaquela época tinha uns quinze anos, olhava a seupai

comoseoanalisasse,divertida,e isso incomodavaaseupai,maisdoqueacreditava que era capaz de suportar. Isso tinha feito sorrir aoMatthew.Comsuapelebrancaeluminosa,seusexóticosolhoscombrilhosdacordacanela,DaisyBowman,pareciatersaídodeumbosqueencantadopovoadodecriaturasmíticas.Matthewseprecaveu imediatamentedequequalquer conversaçãoem

queDaisyparticipava,estavaacostumadoatomarumadireçãoinesperadae simpática. Divertiu-se em segredo quando Thomas Bowman tinha

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castigado a Daisy ante todos eles, por sua mais recente travessura. Aoparecer, tinham tido problemas com ratos na casa ultimamente, talvezporquetodasasarmadilhasquepuseramtinhamfalhado.Um dos criados tinha informado que Daisy tinha estado andando às

escondidas pela casa de noite, tirando todas as armadilhasdeliberadamenteparaliberaraosratosdeumamortesegura.—Éissoverdade,filha?—perguntouseupai,seuolharestavacheiade

iraquandoolhoufixamenteaDaisy.—Poderiaser—tinhaafirmado.—Oupoderiahaveroutraexplicação.—Equalseria?—perguntouosenhorBowmancomacidez.Otomdesuavozseencheudealegria.— Acredito que temos em nossa casa aos ratos mais inteligentes de

NovaIorque!A partir dessemomento,Matthew nunca tinha rejeitado um convite à

mansãodoBowman,nãosóporagradaraosenhorBowman,tambémpelaoportunidade de voltar a ver a Daisy. Tinha-a cuidadoso furtivamentequanto lhe tinhasidopossível, sabendoque issoseria tudooquealgumavezteriadela.Eosmomentosquetinhapassadoemsuacompanhia,semimportarafriacortesiacomqueelaotratava,foramasúnicasvezesemsuavidaemquetinhasidorealmentefeliz.Tentandoesclarecerseuspensamentos,Matthewcaminhoupeloslargos

corredoresdacasadeveraneio.Nuncaantestinhaviajado,massemdúvidaa Inglaterra era exatamente o que tinha imaginado, jardins cuidados ecolinas verdes, e o povo rústico aos pés da imponente propriedade doStonyCross.Acasaeseumobiliárioeramantigoseencantadoramenteenvelhecidos,

mas em cada esquina havia algum solteira de valor incalculável ou umaestátua ou pintura que tinha visto em livros de arte. Possivelmente umpoucofrianoinverno,mascomabundânciadechaminés,atapetagrosasecortinasdeveludo,agentenãopodiaafirmarqueviveraliforaincômodo.Quando Thomas Bowman, através de seu secretário, tinha-lhe escrito

requerendo sua presença para fiscalizar o estabelecimento de uma

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delegação de sua companhia de sabão na Inglaterra, o impulso inicial deMatthew, tinha sido negar-se. Desfrutava com os desafios e asresponsabilidades. Mas estar perto de Daisy, embora só fora no mesmopaís,eramaisdoqueMatthewpodiasuportar.Suapresençaoafetavadetalmaneira que parecia que lhe cravassemmilhares de flechas, por infinitodesejoporela,queprometiaseguirinsatisfeito.Foramasúltimaslinhasdacartadosecretário,informandosobreobem-

estardafamíliaBowman,oquetinhamchamadosuaatenção.Há dúvidas razoáveis, o secretário tinha escrito, sobre se a jovem

senhorita Bowman terá êxito em encontrar a um cavalheiro apropriadoparacasar-se.PortantoosenhorBowmandecidiu levaradevoltaaNovaIorque,seaindanãoestácomprometidaaofinaldaprimavera...EstefatotinhadeixadoaMatthewemumdilema.SeDaisyretornavaà

Nova Iorque, Matthew ficaria na Inglaterra. Encarregaria-se do negócio,aceitando o posto em Bristol, e esperando que Daisy as arrumasse paraapanharaummarido.Setinhaêxitoesecasava,MatthewencontrariaumsuplenteparaseupostoevoltariadenovoparaNovaIorque.Enquantoexistisseumoceanoentreeles,tudoiriabem.Ao cruzar o vestíbulo principal Matthew viu lorde Westcliff. O conde

estavaemcompanhiadeumhomemmorenoerobusto,quepossuíaumarde pirata apesar de seu traje elegante. Matthew supunha que era SimonHunt,seusócio,econformesedizia,seumelhoramigo.OêxitofinanceirodosenhorHuntera,segundotodososinforme,maisquenotável,apesardeserfilhodeumaçougueiro,semrastrodesanguearistocrata.— Senhor Swift — disse lorde Westcliff com cortesia, quando se

encontraramaopéda imponenteescada.—Parecequeretornou logodesuacaminhada.Esperoqueapaisagemforadeseuagrado.— As vistas eram magníficas, milorde — respondeu Matthew. — eu

adorariavoltarapercorrerapropriedade.VolteilogoporquemeencontreicomasenhoritaBowmanporcaminho.—Ah.—O rosto doWestcliff era impassível.— Semdúvida, foi uma

surpresaparaasenhoritaBowman.

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Nãomuitoagradávelaoqueparece,pensouMatthew,quemsustentouoolharfixodocondesempiscar.Umadesuashabilidadesmaisúteiseraadesercapazdeleramaislevealteraçãonaposturaouaexpressãodagente,adivinhando seus pensamentos. Mas Westcliff era um homemexcepcionalmentecontrolado.Matthewlheadmirouporisso.— Acredito, que a senhorita Bowman recebeu algumas surpresas

recentemente — respondeu Matthew. Era um intento deliberado deaveriguar seWestcliff sabiaalgo sobreopossívelmatrimônioconsertadocomaDaisy.Oconderespondeusomentecomummuito ligeiromovimentodesuas

sobrancelhas, como se encontrasse o comentário interessante, mas nãodignodeuma resposta.Maldito!pensouMatthewenquanto crescia aindamaissuaadmiraçãoporele.LordeWestcliffsevoltouparaohomemqueestavaaseulado.— Hunt, eu gostaria de te apresentar a Matthew Swift, o cavalheiro

americanoquetemencioneiantes.Swift,esteéosenhorSimonHunt.Deram-seamãofirmemente.Huntteriaentrecincoedezanosmaisque

Matthewe viu em seuolhar que seria umdigno rival emumabriga.Umhomemaudaze créduloquezombavadaspretensõeseaspresunçõesdaclassealta.—Ouvifalardeseuslucroscomaferrovia—disseMatthewaHunt.—

Há muito interesse em Nova Iorque pela combinação do artesanatobritânicocomosmétodosdefabricaçãoamericanos.Huntsorriusarcasticamente.—Me agradariamuitome atribuir todo omérito,mas amodéstiame

obrigaalherevelarqueWestclifftemalgoquevercomtudoisto.Eleeseucunhadosãomeussócioscomerciais.—Umaassociaçãodeêxito,obviamente—respondeuMatthew.HuntsedirigiuaWestcliff.—Temtalentoparaasadulações—comentou.—Podemoscontratá-lo?AbocaWestcliffsealargoucomumsorriso.—Meusogroseoporia.NecessitaotalentodosenhorSwiftparaanova

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delegaçãodesuafábricaemBristol.Matthewdecidiuempurraraconversaçãoemumadireçãodiferente.— Tenho lido sobre o novo movimento no Parlamento para a

nacionalização da indústria britânica da ferrovia— disse aWestcliff.—Estouinteressadoemescutarsuasideiassobreotema,milorde.—Meudeus!,melhornãofalemosdessetema—disseHunt.Westclifffranziuocenho.— Quão último o povo precisa é que o governo tome o controle da

indústria. Deus nos libere da interferência dos políticos! O governocontrolaria as ferrovias tão ineficazmente como faz todo o resto. E omonopólio sufocaria a habilidade da indústria para competir, comoresultadoosimpostosseriammaisaltos,pornãomencionar...—Pornãomencionar—lheinterrompeuoHuntastutamente,—ofato

dequeWestcliff e eunãodesejaríamosqueo governominguassenossosfuturoslucros.Westclifflhedirigiuumolharsevero.—Meumaiorinteresseéobem-estardopovo.—Poiséafortunado!—comentouHunt,—dequenestecasooqueé

melhorparaopovo,étambémomelhorparati.Matthewrefreouumsorriso.Voltandosuaatençãoparaele,WestcliffdisseaoMatthew:— Como pode ver, o senhor Hunt não passa por cima nenhuma

oportunidadedeburlar-sedemim.—Zombode todo omundo—disseHunt.—O que ocorre é que é o

objetivoqueestadisponívelmaisfrequentemente.WestcliffsedirigiudenovoaMatthewedisse:—Hunteeudirigimosoterraçotraseiroafumarumcharuto.Nosunirá

você?Matthewnegoucomacabeça.—Oagradeço,masnãofumo.—Tampouco eu—disseWestcliff com pesar.—Tinha o costume de

desfrutardeumcharutodevezemquando,mas infelizmenteoaromado

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tabacoédesagradávelparaacondessaemsuaatualcondição.Matthew demorou um momento em recordar que “a condessa” era

LillianBowman.AbriguentaeinsuportávelLillian,eraagoraladyWestcliff.—VocêeeuconversaremosenquantoHuntsefumaumcharuto—lhe

informouoconde.—Venhaconosco.O“convite”nãoadmitiaapossibilidadedeumanegativa,masMatthew

nãoobstante,tentou-o.— Obrigado, milorde, mas há certo assunto que devo esclarecer com

alguém...—EssealguémseráosenhorBowman,espero.Maldito, pensou Matthew. Sabe. Inclusive se não tivesse pronunciado

essas palavras, o teria distinto na maneira em que o conde o estavaolhando.WestcliffestavaapardaintençãodosenhorBowmandecasá-locom a Daisy... e surpreendentemente, Westcliff tinha algo que dizer arespeito.—Vocêfalarádotemacomigoprimeiro—sentenciouoconde.Matthew deu uma olhada ao Simon Hunt, que lhe devolveu um olhar

insossoemmuda.— Estou seguro — disse Matthew— de que ao senhor Hunt lhe

aborrecerãotremendamentemeusassuntospessoais.— Absolutamente — disse Hunt alegremente. — Eu gosto de estar

informado dos assuntos de outros. Particularmente se forem de índolepessoal.Os três se dirigiramao terraço, doqual se podiamver os jardins bem

cuidados separados por atalhos de cascalho e sebes esculpidos. Umapequena horta no que havia pereiras se divisava através da paisagemverde. A brisa se estendia pelos jardins com o perfume das flores. Omovimentodaáguadoriopróximoseouviajuntoaorangidodoventonasárvores.Sentadoemumadasmesasdoterraço,Matthewseesforçouporrelaxar-

seemsuacadeira.EleeWestcliffobservaramaoSimonHuntcortarapontade um charuto. Matthew ficou calado, esperando com paciência que

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Westcliffcomeçasseafalar.— Quanto tempo faz que — lhe perguntou lorde Westcliff

repentinamente— está você a par dos planos de casamento do senhorBowman?Matthewrespondeusemomenorhesitação.—Aproximadamenteumahoraequinzeminutos.—Nãoéideiadela,então?—Absolutamente—lheassegurouMatthew.Ocondeseacomodouemseuassento,unindoasmãosporcimadeseu

estômagoplano,eolhando-ocomosolhosentrecerrados.—Vocêtemmuitoqueganharcomessecasamento.—Milorde—continuouMatthewcomfrieza,—setiveralgumtalento,é

odeganhardinheiro.Nãotenhoporquemecasarparaisso.—Alegra-meouvi-lo—respondeuoconde.—Tenhoumaperguntaque

lhe fazer, mas primeiro lhe esclarecerei minha posição. Tenho-lhe umgrandeamoraminhacunhadaeconsideroqueestásobmeuamparo.Comoconhece a família Bowman, estará você a par da estreita relação entre acondessa e sua irmã, indubitavelmente. Se algo fizesse a Daisydesventurada,minha esposa, por conseguinte, sofreria... E não permitireiisso.—Compreendo—disseMatthewconcisamente.Nãodeixavadeseruma

ironiao fatodeque estava sendo advertidodeque se afastassedeDaisyquandoelejátinhadecididofazertodoopossívelparaevitarcasar-secomela.EstavatentadodemandaraWestcliffaoinferno.Emvezdisso,manteveabocafechadaesemostrousereno.—Daisytemumespíritoúnico—disseWestcliff.—Umanaturezadoce

e romântica. Se é forçada a ummatrimônio sem amor, isso a destroçará.Mereceummaridoqueaametalqualé,quesejaseurefúgioeaprotejadasrealidadesmais severas domundo. Ummarido que permita que ela sigatendosonhos.Era surpreendente ouvir essas palavras de Westcliff, que era

universalmenteconhecidocomoumhomempragmáticoeequilibrado.

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—Qualésuapergunta,milorde?—perguntouMatthew.—Vocêmedásuapalavradequenãosecasarácomminhacunhada?Matthew sustentou o olhar dos frios olhos negros do conde. Não era

prudente contrariar a um homem como Westcliff, que não estavaacostumadoaquelhenegassemnada.MasMatthewtinhatoleradoduranteanos a fanfarronice do Thomas Bowman, quando outros homens fugiampormedoasuaira.Embora o senhor Bowman podia ser um fanfarrão desumano e

sarcástico não havia nada que ele respeitasse mais que a um homemdisposto a lhe fazer frente. E assim Matthew se tornou o portador naempresa das más ou incômodas notícias, que todos outros não eramcapazesdelhedizer.EssatinhasidoaescoladeMatthew,assimqueointentodoWestcliffde

dominá-lo,nãotinhanenhumefeitosobreele.—Temo-mequenão,milorde—disseMatthewcortesmente.SimonHuntdeixoucairseucharuto.— Não me dará você sua palavra? — perguntou Westcliff com

incredulidade.—Não.Matthewseagachourapidamentepararecuperarocharutoeodevolveu

aHunt,quelhedirigiuumolhardeadvertência,comosetratassedeevitarquesaltasseporumprecipício.—porquenão?—exigiuWestcliff.—Porquenãoquervocêperdersua

posiçãonaempresadosenhorBowman?—Não,osenhorBowmannãopodepermitiroluxodemeperderagora

mesmo.—Matthewsorrioligeiramenteemumintentodetirararrogânciaa suas palavras. — Conheço melhor que ninguém a produção,administração, e comercialização da empresa Bowman... Ganhei-me aconfiança do velho. Não pode prescindir de mim, inclusive embora menegueamecasarcomsuafilha.— Então será muito fácil para você esquecer do assunto — disse o

conde.—Querosuapalavra,Swift.Agora.

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Um homem mais fraco teria sido intimidado pela autoridade doWestcliff.—Sevocêmeoferecesseoincentivoadequado,poderiaconsiderá-lo—

respondeuMatthew imperturbável.—Por exemplo, se você prometemedaropostodechefedadelegaçãoemegarantir issopormenosdurante,digamos...trêsanos.Westclifflhedirigiuumolharincrédulo.OtensosilênciofoiquebradopelasgargalhadasdoSimonHunt.— Caramba estemenino tem aço nas veias!— exclamou.— Faça-me

caso,Westcliff,temosquecontratá-lo.—Não sou barato— disseMatthew, o que causou que Hunt rira tão

fortequequasedeixoucairseucharutooutravez.InclusiveWestcliffsorrioacontragosto.— Porcaria— resmungou.—Não vou fazer tal coisa, não quando há

tanto em jogo. Aomenos até que não esteja convencido de que é você ohomemapropriadoparaoposto.—Entãoparecequeestamosemumbecosemsaída—disseMatthew

comjovialidade.—poragora.Os dois homens mais amadurecidos intercambiaram um olhar,

acordandofalardasituação,mastarde,asós.Issocausouumapontadadecuriosidade no Matthew, mas se encolheu de ombros, sabendo que nãopoderiaadivinharquetramavam.Pelomenos,tinhadeixadoclaroquenãopodiaserintimidado,eafirmezasuaposição.Além disso... Logo que podia dar sua palavra sobre um tema que

Bowmanaindanãolhetinhamencionado.

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Capítulo4

— Certamente, sei que Daisy não é grande coisa — dizia Thomas

Bowman,mas tarde essa noite, caminhando de um lado para o outro noescritórioprivadoanexoaseuquarto.EleeMatthewtinhamacordadover-se depois do jantar enquanto outros convidados seguiam no salão.— Émaispequenadoqueonormaledelicada.“Lheponhaumnomesingeloepráticoàmenina”,disseaminhaesposaquandonasceu.JaneouConstanceoualgoporestilo.MaselaescolheuMarguerite...Francês,queteparece!…Foi ideia de sua prima por parte de mãe. E logo degenerou ainda maisquando Lillian, que por então só tinha quatro anos, descobriu queMargueriteeraonomefrancêsdeumamalditaeinsignificanteflor.ApartirdeentãoLillianachamouDaisy,edepois...Enquanto Bowman continuava divagando, Matthew pensou em quão

perfeito era esse nome para ela, a pequena flor de pétalas brancas queparecia tão delicada e entretanto, era excepcionalmente resistente. Diziamuito em favor de Daisy, que tendo pertencido a uma família depersonalidadestãodominantes,elativessepermanecidofielaseuprópriocaráter.— … é obvio, compensarei te bem — dizia Thomas Bowman. — Te

conheço o suficiente para saber que escolheria a uma mulher muitodiferente para ti, uma mulher com ideias, mas práticas, em lugar dainconstantefantasiadeumamoçacomoDaisy.— Isso não será necessário — Matthew lhe interrompeu

tranquilamente. — Daisy... quer dizer, a senhorita Bowman, écompletamente—Formosa.Desejável.Encantadora.—aceitável.Casar-secomumamulhercomoasenhoritaBowmanésuficienterecompensa.— Bem — Bowman lançou um grunhido, evidentemente pouco

convencido.—Émuito cavalheirescopor suapartedizer isso.Masainda

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assim,oferecereiteumdotegeneroso,maisacionenacompanhia,eassimsucessivamente. Estará muito satisfeito com nosso acordo, asseguro-lheisso.Quantoaospreparativosparaocasamento...—Aindanãoaceitei—lheinterrompeuMatthew.Bowman deixou de ir de um lado para outro e lhe olhou de maneira

inquisitiva.— Para começar — continuou cuidadosamente, — é possível que a

senhoritaBowmanencontreaumpretendentenospróximosdoismeses.— Não encontrará a nenhum de sua valia — disse Bowman

presunçosamente.Matthewrespondeucomseriedade,apesardesuadiversão.—Obrigado.MasacreditoqueasenhoritaBowmannãocompartilhaa

altaopiniãoquetemvocêsobremim.OsenhorBowmanfezumgestodesdenhoso.—Ora.Amentedeumamulherétãovolúvelcomooclimainglês.Pode

fazê-lamudardeopinião.Lhedêdepresenteumas flores, lhe façaalgunscumpridos...melhorainda,entrevistaalgodeumdessesmalditoslivrosdepoesiaqueelalê.Éfácilcortejaraumamulher,Swift,tudooquetemquefazeré..— Senhor Bowman — lhe interrompeu Matthew com um repentino

alarme.Meudeus!,quãoúltimoprecisavaeraumaexplicaçãodastécnicasde sedução de seu chefe.— Acredito que possome encarregar disso eusozinho.Essenãoéoproblema.—Entãoqual?....Ah—Bowman lheofereceuumsorrisodehomemde

mundo.—Compreendo.—Compreende-o?—perguntouMatthewcomapreensão.—Obviamente, temmedodeminha reação sedecidir queminha filha

nãoécapazdesatisfazersuasnecessidades.Podeestartranquilo,enquantoatuecomdiscrição,nãodireiumapalavra.Matthew suspirou e se esfregou os olhos, de repente se sentiu

enfastiado.Tudoistoeramuito,caramba!acabavadechegardeoutropaís,apenasfaziaumashorasquetinhadescidodonavio.

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—Está-mevocêdizendoqueolharáparaoutro lado se lhe for infiel aminhaesposa—eraumaafirmação,nãoumapergunta.—Nósoshomens têm tentações.Àsvezesnosdesviamosdo caminho

correto.Assimsãoascoisas.—Nãoparamim—disseMatthewmonotonamente.—Cumprominha

palavra, tantonosnegócioscomoemminhavidaprivada.Se lheprometoserfielaumamulherosereisemexceção.Aconteçaoqueacontecer.OgrossobigodedoBowmantremeucomdiversão.—Émuitojovemparaterumaconsciênciatãosensível.— Os homens mais amadurecidos não têm consciência? — Matthew

perguntoucomumabrincadeiraafetuosa.—Algumasvezes,osescrúpulos têmumpreçomuitocaro.Descobrirá

issoalgumdia.— Meu deus!, espero que não. — Matthew se deixou cair em uma

cadeiraeenterrouacabeçanasmãos,comosdedosafundadosentreseuespessocabelo.DepoisdeumprolongadosilêncioBowmanaventurou:— Realmente seria tão terrível ter a Daisy como esposa? Tem que te

casaralgumdia.Eestascasamentotemmuitasvantagens.Aempresa,porexemplo.Vocêacontrolaráquandoeumora.—Vocêsobreviveráatodos—resmungouMatthew.Bowmandeixouescaparumrisinho.—Queroquevocêtenhaacompanhia—insistiuele.Eraaprimeiravez

quefalavacomtantafranquezasobreotema.—Émaiscapazquenenhumdemeusfilhos.Acompanhiaestarámuitomaisseguraemsuasmãosquenasdeles.Temumdom...ahabilidadedeentraremumlugaredominaroespaço...nãotemmedoaninguém,etodossabem,elheapreciam.Case-secomminhafilha,Swift,elevaaminhaempresa.Quandovoltaracasa,dar-te-eiNovaIorque.—PoderiaacrescentartambémRhodeIsland?Nãoémuitogrande.Bowmanfezcasoomissoasuasarcásticapergunta.—Tenhoambiçõespara ti alémdacompanhia.Estourelacionadocom

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homenspoderosos,quetambémrepararamemti.Ajudareiteaconseguiralgo que suamente não é capaz sequer de conceber... E o preço émuitopequeno.Tomaaminhafilhaefaçameusnetos.Issoétudooquetepeço.—Issoétudo—repetiuMatthewaturdido.QuandoMatthewcomeçouatrabalharnacompanhiaBowmanfaziadez

anos,nãoimaginavaqueseuchefechegariaaserumpaiparaele.Bowmaneracomoumbaúdeexplosivos,pequeno,redondoetãoinsuportávelquesepodiaprognosticarumdeseusarranquesdefúria,tãosomenteporfatode ver sua calva avermelhar. Mas o senhor Bowman era hábil com osnúmeros, incrivelmente perspicaz e calculador, também generoso comquem lhe agradava, era umhomemquemantinha suapalavra e cumpriasuasobrigações.MatthewtinhaaprendidomuitíssimodoThomasBowman,comofarejar

odefeitodeumadversárioepô-loaseufavor,quandopressionarequandoconter-se... E tinha aprendido também, que era positivo descarregar suaagressividadenosnegócios, semchegarnuncaàgrosseria.OshomensdenegóciosdeNova Iorque,osdeverdade,nãoospetulantesdeclassealta,nãorespeitavamamenosquemostrassecertaquantidadedepugnacidade.Aomesmotempo,Matthewtinhaaprendidoamoldarseucarátercoma

diplomacia,depoisdecompreenderqueeraalgonecessárioparaabrir-secaminho. Não tinha ganho carisma facilmente, devido a sua naturezacautelosa. Mas o tinha adquirido como um instrumento necessário parafazerbemseutrabalho.ThomasBowmantinhaapoiadoaMatthewemtodomomentoeotinha

dirigido em um par de negócios precários. Matthew tinha estadoagradecidoporsuaorientação.Enãopodiasenãoapreciaraseuirritávelpatrão, pois havia algo de verdade na opinião do Bowman de que eramparecidos.ComoumhomemcomoBowman tinha feitouma filha comoDaisy era

umdosgrandesmistériosdavida.—Necessitoumpoucodetempoparapensá-lo—disseMatthew.—Queprecisapensar?—protestouBowman.—Comojáteheidito...—

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interrompeu-sequandoviuaexpressãodeMatthew.—Muitobem.Muitobem. Suponho que não há necessidade de uma resposta imediata.Falaremosdisso,masadiante.— Falou com o senhor Swift? — perguntou Lillian quando Marcus

entrou em seu dormitório. Ficou dormida lhe esperando, e lutava porencontrarumaposturacômodasentadanacama.— OH sim! Falei com ele— respondeuMarcus com pesar, tirou-se o

casacoeocolocousobreorespaldodeumacadeiradaépocadoLuisXIV.—Tinha razão, verdade? É abominável. Detestável.Me conte o que te

disse.Marcusolhou fixamentea suaesposagrávida, estava tão formosa com

seucabelocompridosoltoesuaspálpebrasaindapesadasporsonhoqueseucoraçãosesaltouumbatimentodocoração.—Aindanão—murmurou, sentando-sesobreacama -Primeirocama

queroteolharummomento.Lilliansorrioesepassouasmãosporcabelo,escuroealvoroçado.—Pareçoumacoisa.— Não. — Ele se aproximou baixando a voz. — Cada parte de ti é

encantadora.—Suasmãossedeslizarambrandamentesobreascurvasdeseucorpo,comcaríciassuaves.—Oqueposso fazerporvocêmilady?—sussurrou.Elaseguiurindo-se.— Só me olhando se dará você conta de que já tem feito bastante,

milorde. — Rodeando-o com seus braços esbeltos, colocou-lhe a cabeçasobreseuspeitos.—Marcus—dissecontraseucabelo,—nuncapoderiaterfilhosdeoutrohomem,teussomente.—Issometranquiliza.— Sinto-me tão torcida... E tão incômoda. Seria algomal dizer que eu

nãogostodeestarassim?—Certamentequenão—avozdoMarcus soouamortecidapor ter a

cabeçanafendadeseuspeitos.—Amimnãogostariatampouco.Isso desenhou um sorriso nela. Soltando-o, recostou-se contra os

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travesseiros.— Quero saber o que te disse o senhor Swift. De que falaram esse

espantalhoodiosoevocê?— Eu não o chamaria espantalho, precisamente. Parece que mudou

desdequeoviuporúltimavez.—Hmm.—Lilliannãopareciamuitoconvencida.—Seguesendofeio,

seguro.— Devido à que estranha vez penso no atrativo masculino — disse

Marcus, — não sou um bom juiz. Mas acredito que quase ninguémdescreveriaaosenhorSwiftcomoumhomemfeio.—Estádizendoqueéatrativo?—Acreditoquemuitosdiriamquesim.Lillianpôsumamãodiantedesuacara.—Quantosdedosháaqui?—Três—disseMarcusdivertido.—Meuamor,oqueestáfazendo?—Comprovarsuavisão.Acreditoquetefalha.Aqui,segueomovimento

demeudedo.—porquenãosegueseuomovimentodomeu?—sugeriu,enquantoo

afundavaemseuespartilho.Lillianlheagarrouamãoeoolhouzangada.—Marcus,istoésério.OfuturodeDaisyestáemperigo!Marcusseendireitou.—Estábem.—medigaoquetedisse—lheapressouela.—InformeiaosenhorSwiftdequenãopermitireiqueninguémfaçaa

Daisy desventurada. E lhe exigi queme desse sua palavra de que não iacasarsecomela.—OH!,Menosmal!—disseLilliancomumsuspirodealívio.—Esenegou.—Como?— sua boca se abriu por assombro.—Mas se a ti ninguém

contraria!— Aparentemente, ninguém informou ao senhor Swift sobre isso —

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disse.—Marcus,vaifazeralgo,verdade?NãodeixaráqueobriguemaDaisya

casar-secomoSwift.—Tranquilaamor.Prometo-lheisso,ninguémobrigaráaDaisyacasar-

se contra sua vontade. Entretanto... — Marcus vacilou, perguntando-sequanto deveria revelar. — Minha opinião sobre Matthew Swift é algodiferentedatua.Lillianarqueouassobrancelhas.—Minhaopiniãoémaisconfiável.Eulheconheçofazmaistempo.—Conhecia-o fazmuitosanos—disseMarcus.—Aspessoasmudam,

Lillian. Acredito que grande parte do que seu pai afirma sobre o Swift éverdade.—Vocêtambém,Marcus?Marcus, divertido pela careta teatral que fez sua esposa, deslizou uma

mãosobaslençóis,agarrandoumdeseuspésnus,começouamassagearaimpigem com os polegares. Lillian suspirou e se relaxou contra ostravesseiros.MarcusconsiderouoquetinhadescobertosobreoSwiftatéagora.Era

umjoveminteligente,hábilebemeducado.Pareciaumhomemcomclasse.Marcussesentiacômodoemcompanhiadehomensassim.Aparentemente, o casamento de Matthew Swift com Daisy Bowman

estavadesconjurado.MasMarcusnãoestavaTudobemcomaopiniãodeLillian,dequeDaisydeviacasar-secomumhomemquepossuísseamesmanaturezaromânticaesensível.Nãohaveriaequilíbrioemtalunião.Depoisdetudo,umnaviosemprenecessitaumaâncora.—Devemos enviar aDaisy a Londres o antespossível— se lamentou

Lillian.—Atemporadasocialestáemseumelhormomento,eelaestáaqui,encerradanoHampshirelongedetodasasfestasesoirées.—Foisuaideiaviraqui—lherecordouMarcus,eagarrouseuoutropé.

—Nuncaseperdoarianãoassistiraoparto.—OH!,mas eu não estou Tudo bem. Preferiria que Daisy conhecesse

cavalheiros apropriados em lugar de esperar o nascimento do bebê aqui

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comigo. Se não o fizer, lhe esgotará o prazo e terá que casar-se comMatthewSwift,mudara-secomeleaNovaIorqueeentãonuncavoltareiavê-la…—Játinhapensadonisso,porissoconvideiatantoscavalheirosàStony

CrossParkparaatemporadadecaça—disseMarcus.—Issofez?—suacabeçaselevantoudotravesseiro.— St. Vincent e eu fizemos uma lista e examinamos cada candidato

detalhadamente. Escolhemos uma dúzia. Qualquer deles seria aceitávelparasuairmã.—OH!,Marcuséomaisinteligenteeomaismaravilhosodoshomens.Osacudiuacabeçaporelogiodesuaesposa,ecomumsorrisorecordou

areuniãocomSebastian.—medeixe tedizerque St. Vincent émuitometiculoso. Se fosseuma

mulher,nenhumhomemseriaosuficientementebomparaele.—Nuncao são—disseLilliancomsoltura.—Por issonós temosum

refrão...“Seapontaralto,sente-seaesperar”.Elebufou.—Issoéoquevocêfez?Umsorrisocurvouseuslábios.— Não, milorde. Eu apontei alto e consegui muito mais do que tinha

sonhado.—E riobobamentequandoeleengatinhousobre seu corpoeabeijouprofundamente.O sol ainda não tinha saído, quando um grupo de convidados

empenhadosempescar trutas, compartilharamumcafédamanhãrápidono terraço traseiro e saíram vestidos demaneira informal com trajes detweedecamisasdelinho.Criadossonolentosseguiramaoscavalheirosàságuascheiasdetrutas,levandooscanos,ecestosquecontinhamvermesediversas ferramentas de pesca.Os homens estariam entretidos boa partedamanhã,enquantoasdamasdormiam.TodasasdamasexcetuandoaDaisy.Adoravaapesca,massabiaquenão

seriabem-vindaemumgrupoexclusivamentemasculino.Nopassado,elaeLilliantinhamidopescarfrequentemente,masindubitavelmente,suairmã

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maiornãoestavaemcondiçõesdefazê-loagora.Daisy tinha tentado persuadir a Evie e a Annabelle para que a

acompanhassem ao lago artificial queWestcliffmantinha generosamenteabastecidodetrutas,masnenhumadelasseentusiasmoucomaideia.—Fazumdiaprecioso—tinhatentadoasconvencerDaisy.—Eulhes

ensinareiaatiraroanzol.Nãoireisficarlhesencerradasemumamanhãdaprimaveratãoformosa!Mas Annabelle decidiu que dormir até tarde era uma ideia melhor, e

comoSt.Vincenttinhadecididonãoirpescar,Evieoptouporficarnacamacomele.—Divertiriamuitomaissefossepescarcomigo—lhehaviaditoDaisy.—Não—haviaditocontundentementeEvie.—Nãoacredito.Sentindo-se um pouquinho sozinha, Daisy tomou o café da manhã e

partiuparaolago,levandosuavaradepescarfavorita,bobinasecarretéis.Eraumamanhãgloriosa,corriaumasuavebrisa.Oinvernotinhaficado

atrás deixando ao sol alagá-lo tudo de reflexos brilhantes. Daisy cruzouuma pradaria de grama coberta de ranúnculos, milenramas, e rosadaspétalasdeflores.Ao passar ao lado de uma árvore de amoras,Daisy viumovimento na

bordadaágua...doismeninos...seguravamalgo,umanimalouumpássaro...umganso?Acriaturaestavaprotestandocomgrasnidosfuriosos,movendoasasascomviolência,enquantoosgarotosriam.— Ei, meninos — lhes chamou Daisy. — O que é isso? O que estão

fazendo?Vendoo intruso,osgarotosderamumgritoepuseram-seacorrer, tão

depressaquesuaspernasseconverteramemumamanchaimprecisa.Daisy acelerou o passo e se aproximou do ganso. Eram um Greylag

nacional imenso, uma raça conhecida por sua plumagem cinza, pescoçogrossoepicodecorlaranja.— Pobrezinho — murmurou Daisy quando viu que tinha uma pata

enganchada. Quando se aproximou dele, o indignado ganso tentou lhepicar.Fazendoumapausa,Daisydeixousuaequipedepescaaumlado.—

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Estoutratandode lheajudar—lhedisseaoagressivoganso.—Mascomessa atitude não adianta nada. Tenta controlar seu mau humor... —Avançando lentamente para o ganso, Daisy investigou a origem doproblema.— OH— disse.— Esses patifes... faziam-lhe pescar para elesverdade?Ogansoemitiuumgrasnidoconfirmando-o.Tinham-lhepacotefiodepescarnapata,elhetinhamenganchadouma

colherdemetalcomumburaco,noburacocolocaramumgancho.Senãotivessesentidolástimaporanimal,Daisyseteriasepostoarir.Eraengenhoso.Quandoogansonadassenaágua,a colherdemetal se

refletiria na água como os pequenos insetos. Quando as trutas, atraídaspelacolher,mordessemoanzol,ficariamapanhadaseogansoasrebocariaatéaborda.Masoganchoseenganchouemalgumasarça,apanhandoaopobreganso.Daisylhefaloucomvozsuaveeseaproximoudasarçacommovimentos

lentos.Oinsetoficoquietoeaolhoucomseusolhosdecorarroxeado.—Masquebonitoé—Daisysemoviacomcuidado,tentandochegaràs

patas. — E que grande... Se tiver um pouco de paciência... ai! —Repentinamenteogansolhedeuumabicadanobraço.Retrocedendorapidamente,Daisydeuumaolhadaàpequenamarcaem

suapele,queestavacomeçandoainchar-se.Olhoucomocenhofranzidoaoanimal.—Criaturaingrata!Sóporissodeveriatedeixaraquitalcomoestá.Esfregando o braço, Daisy se perguntou se poderia usar sua vara de

pescarparadesengancharofiodasarça...,masaindateriaquedesenredaracolherdapatadogansoouvoltariaaenredar-seemqualqueroutrolugar.Teriaquevoltarparaacasaaprocurarajuda.Quando se agachou para recolher sua equipe de pesca, escutou um

ruído.Alguémassobiavaumamelodiacuriosamentefamiliar.Daisyescutouatentamente, recordando a melodia. Era uma canção popular em NovaIorquesechamava“Ofinaldeumdiaperfeito”.Alguémestavacaminhandoparaelaemdireçãoaorio.Eraumhomem

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coma roupa empapada, levandouma cesta de pesca e umvelho chapéu.Vestiaumcasacodetweedecalçasinformais,eeraimpossívelnãonotaramaneira emque as capas de sua roupa se aderiamaos contornosde seucorpo.Seussentidossealteraramaoreconhecê-lo,lheacelerandoopulso.Ohomemdeixoudeassobiarquandoaviu.Seusolhoserammaisazuis

queocéu,destacandosobreseurostobronzeado.Quandosetirouochapéucomcortesia,obrilhodosolcrioureflexosmognosemseucabelo.—Porcaria!—disse-seDaisy.Não sóporque era a últimapessoaque

esperava ver nessemomento,mas também porque teve que admitir queMatthewSwifteraextraordinariamenteformoso.Elanãoqueriaencontrá-lo tãoatrativo.Nemsentir tal curiosidadeporele, essedesejodever seuinterior e descobrir seus desejos e temores segredos. Por que não seinteressou alguma vez antes por ele? Tinha sido possivelmente muitoimatura.Possivelmentenãoeraelequemtinhamudado,anãoserela.Swiftseaproximoudelacomcautela.—SenhoritaBowman.—bomdia,senhorSwift.Porquenãoestávocêpescandocomoutros?— Minha cesta está cheia. Pesquei tanto, que acreditava que ia

envergonharaoutrossecontinuava.—Quemodestoévocê—disseDaisycomironia.—Ondeestásuavara?—AdeixeicomWestcliff.—porque?Soltandosuacesta,voltouacolocarochapéu.— A trazi comigo da América. É uma vara articulada com a ponta

flexível,oquemultiplicaaforçadocarretel.—Eissoéassim?—disseDaisy.—Nosmodelos britânicos não—assinalou Swift.—Masnos estados

federais têm feito algumas melhora. Logo que Westcliff compreendeu onovo sistema, tirou-me a vara literalmente das mãos. Está-a utilizandonestemomento.Sabendoqueseucunhadoadoravaosavançostecnológicos,Daisysorrio

comamor.SentiuoolhardeSwiftsobreela,nãoqueria lheolhar,masse

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encontroufazendo-odetodososmodos.Era difícil reconciliar a imagem do jovem odioso que tinha em sua

memória com este espécime de virilidade. Era como um dólar novo,brilhanteeperfeito.Aluzdamanhãserefletiaemsuapeleeemsuaslargaspestanas, deixando ao descoberto as diminutas rugas ao redor de seusolhos.Queria tocar suacara, fazê-lo sorrire sentira curvadeseus lábiosdebaixodeseusdedos.Osilênciosealargou, tensoe inoportunoatéque foiquebradoporum

grasnidodoganso.Swiftdeuumaolhadaàave.—Vejoque temvocê companhia.—QuandoDaisy lhe explicouoque

tinhamestadofazendocomogansoosdoisgarotos,Swiftsepôsarir.—Essesgarotossãoespertos.OcomentárionãopareceuaDaisymuitocompassivo.— Quero ajudá-lo — disse, — mas quando tratei de me aproximar,

picou-me.Supusqueumanimaldomésticonãomeatacaria.— Os gansos Greylag não são conhecidos por ser mansos — lhe

informouSwift.—Emespecialosmachos.Estavatentandolhedeixarclaroquemeraelechefe.—Poisoconseguiu—disseDaisyesfregandoobraço.Swiftfranziuocenhoquandoviuacontusãoemseubraço.—Aífoiondelhepicou?medeixever.— Não é necessário, estou bem... — começou a lhe dizer, mas já se

adiantoueseuslargosdedosrodearamseupulso.Passouopolegardesuaoutramãoporcimadamarcamorada.— Sua pele é muito sensível... — murmurou, com a escura cabeça

inclinadasobreseubraço.O coração de Daisy deu umas quantas pulsadas irregulares antes de

descontrolar-se por completo. Percebeu seu aroma... O cheirava como ocampo, o sol, a água, a erva verde. Um aroma suave... a suor, a homem...como um incenso tentador. Lutou contra o desejo de levantar os braçosparaseucorpo...dedeslizarasmãosporseupeito.Aintensanecessidadea

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assustou.Levantou o olhar e se encontrou com seus olhos azuis olhando-a

fixamente.—Eu…—Nervosa,soltousuamãodeumpuxão.—Oquevamosfazer?— Com o ganso? — Fez um gesto com os ombros. — Poderiam lhe

retorcerocangoteelevá-loacasaparaojantar.AsugestãofezqueDaisyeogansoGreylagoolhassemindignados.—Éumabrincadeiramuitomá,senhorSwift.—Nãobrincava.DaisysecolocouentreoSwifteoganso.—Mearrumareisozinha.Vocêjápodepartir.—Nãolheaconselhoqueoconvertaemseumascote,encontrara-oem

seu prato cedo ou tarde se permanecer em Stony Cross Park o temposuficientemente.—Nãoqueriaparecerhipócrita—disseela.—Maspreferirianãome

comeraumgansoquemeconhece.EmboraSwiftnãosorria,Daisysedeucontadequeseucomentáriolhe

fezgraça.—Deixemosostemasfilosóficos,aquestãoécomopensavocêlhesoltar

apata—disse.—Podelhedarmuitos,masbicadas.—Sevocêosegurasse,eupoderiasoltaracolhere...—Nempensar—disseele.—NemportodoochádaChina.—Essaexpressãonuncatevesentidoparameu—lherespondeuela.—

Em términos de produçãomundial, a Índia cultivamuitomais chá que aChina.Swiftfranziuoslábios,pensativo.— Já que a China é o principal produtor de cânhamo — disse, —

suponho que se poderia dizer: “Nem por todo o cânhamo da China”…emboranãotemomesmoefeito.Dequalquermaneiraqueprefiraformularafrase,nãovouajudaraoganso.—Erecolheusuacesta.—Porfavor—disseela.Swiftaolhou.

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—Porfavor—repetiuDaisy.Nenhumcavalheiropoderiadizerquenãoaumadamaquetinharogado

duasvezes.Murmurandoentredentes,elevoltouadeixaracestanochão.UmamplosorrisosedesenhounoslábiosdeDaisy.—Obrigado—disse.Entretanto,deixoudesorrirquandoelecomentou.—Masmedevevocêalgoporisso.—Naturalmente—replicouela.—Nãoesperavaquevocêfizessealgo

emmudadenada.—Equandolhereclamarofavor,nãovásequerapensaremnegar-se,

semimportaroquefor.—dentrodorazoável.Nãovoucasar-mecomvocêsóporqueresgatoua

umpobreganso.—Acredite— lhe disse ele com seriedade,— omatrimônio não será

partedo trato.—Começoua tirar o casaco, não semdificuldade, porqueestavamolhado,revelandoseusamplosombros.—Q-oqueestávocêfazendo?—Daisyabriumuitoosolhos.Suabocafezumacaretadeexasperação.—Nãovoudeixarqueesseinsetoarruínemeucasaco.— Não tem que armar tanto escândalo por algumas plumas em seu

casaco.—Nãosãoasplumasoquemepreocupa—dissesecamente.—OH!—Daisylutouporrefrearumsorriso.Observou-otirarocasacoeocolete.Suacamisabrancaseaderiaaseu

corpo, ao estar molhada era quase transparente, pegava-se a seumusculoso abdômen e desaparecia debaixo da cintura de suas calças. Asmangas se esticavam sobre seus ombros e a superfície poderosa de suascostas.Colocousua roupacuidadosamente sobrea cestaparaquenão sesujasse.Umalevebrisajogavacomseucabelo,lhealvoroçandoafranja.Oabsurdodasituação...Oganso,MatthewSwiftmolhadoeemmangas

decamisa...pôsumsorrisonervosonoslábiosdeDaisy.Tampou-seaboca,

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maslheescapoudetodososmodos.Osacudiuacabeça,eumsorrisoiluminousuacara.Daisyseprecaveude

que seus sorrisos nunca duravam muito tempo, esfumavam-se tãorapidamente como apareciam. Como uma estrela fugaz, um fenômenobreveeextraordinário.—Sevocêlhecontaristoaalguém,pequenapícara...pagara-meisso.—

As palavras eram ameaçadoras, mas algo em seu tom... um toque desensualidade...produziuumcalafrioemsuaespinhadorsal.—Nãopensodizer-lheaninguém—disseDaisycomumofego.—Sairia

tãomalparadacomovocê.Swift colocou amão em seu casaco, extraiu uma pequena navalha e a

passou.Erasuaimaginação,ouseusdedosseatrasaramemsuamãomaisdonecessário?—Paraqueéisto?—perguntoucominquietação.— Para cortar o fio da pata, tome cuidado, estamuito afiado, eu não

gostariaquecortasseumaartériaporacaso.—Nãosepreocupe,nãolhefareimal.—Referia-me,nãoaoganso.—Olhouaoimpacienteanimal.—Seficar

difícil—lhedisseaoganso—serápatêantesdahoradojantar.Aavelevantouasasasameaçadoramenteparaparecermaior.O deu um passo em sua direção e adiantou um pé para frear sua

liberdadedemovimentos.Acriaturabateuasasasegrasnou,ficouquietoummomentoantesdelançar-sesobreele.EntãoSwiftoagarroucomforça,perjurando enquanto tratava de evitar o poderoso pico. Uma nuvem deplumasseelevounoar.—Nãooafogue—gritouDaisy,aoverqueSwiftoagarravaporcangote.AréplicadeSwiftseperdeupelaresistênciaeosbuzinadasdoganso.De

algum modo, Swift conseguiu conter à ave até que foi uma moleretorcendo-se em seus braços. Despenteado e talher de plumas, olhoufuriosoaDaisy.—Terminemosdeumavez,corteofiodepescar—rugiuele.Elaobedeceuatodapressa,ficandodejoelhosaseulado.Enquantoeleo

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tinha agarrado, com cuidado, ela agarrou o pé lamacento do animal, ogansograsnouedeuumpuxãoasuapata.—Vamosmulher,não seja tãodelicada—escutoudizeraoSwift com

impaciência.—Agarreapataefaça-ojá.Se não fora pelas trinta libras de ganso furioso que havia entre eles

Daisy teria cuidadoso zangada aMatthew Swift. Emmuda, agarro a patacomfirmezaepassouapontadafacaporfiocuidadosamente.Swifttinharazão,afolhaestavaperversamenteafiada.Comumsómovimentoocortoulimpamenteemdois.— Jáestá—disse triunfalmente, fechandoanavalha.—Pode soltara

nossoamigoemplumado,senhorSwift.—Obrigado—foisuaréplicasardônica.Mas quando Swift abriu os braços e soltou à ave, esta reagiu

inesperadamente, procurando vingança, culpando a seu captor de todosseusinfortúnios,acriaturalhedeuumabicadanacara.— Ai! — perdeu o equilíbrio e caiu sobre seu traseiro, enquanto se

levavaumamãoaoolho,ogansosefoicorrendoagrandevelocidadecomumgrasnidotriunfador.—SenhorSwift!—Daisyengatinhousentando-seescarranchadosobre

ele.Atiroudesuamão.—meDeixever.—Estoubem—disse,esfregandooolho.—medeixever—repetiu,agarrandosuacabeçacomasmãos.—voupedirensopadodegansoparajantar—balbuciou,deixandoque

girassesuacaraparaela.— Você não fará semelhante coisa. — Daisy inspecionou a pequena

ferida sobre a sobrancelha e usou sua manga para secar uma gota desangue.—Édemáeducaçãocomer-seaalguémdepoisdelhesalvaravida.—Umtremorderisadaserefletiuemsuavoz.—Felizmenteogansotinhamápontaria.Acreditoquenãolheporáoolhoarroxeado.—Alegra-meverquevocêencontraistodivertido—balbuciou.—Está

vocêcobertadeplumas,sabe?— Você também. — Seu cabelo estava cheio de penugens brancos e

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plumascinzas.Daisylheescapouarisada,comoasborbulhasqueescapamda superfície de um charco. Começou a tirar plumas de seu cabelo, ossuavesfioslhefaziamcócegasnosdedos.Aolhoueseprecaveudequelhetinhasoltoocabelodasforquilhas.Com

suavidadecomeçouaatirardasplumasquetinhamenganchado.Durante um silenciosominuto trabalharam o um sobre o outro. Daisy

estava tão concentrada na tarefa, que não reparou no inapropriado dasituação.Pelaprimeiravez,estavaosuficientementepertodeleparaverosdiversostonsdeazuldeseusolhos,eoanelazulcobaltoquerodeavasuaíris.Atexturadesuapele,douradaporsolea incipientebarbasobresuamandíbula.Deu-se conta de que Swift evitava seu olhar deliberadamente,

concentrando-se em encontrar cada diminuta parte de penugem em seucabelo. De repente foi consciente do contato entre seus corpos, a forçasólidadeledebaixodela,seufôlegoquentenabochecha.Suaroupaestavaúmida,mas o calor de sua pele a queimava em todos os lugares em quetocavaasua.Estavam unidos em ummeio abraço enquanto cada célula da pele de

Daisy estalava em um fogo líquido. Fascinada, desorientada, relaxou-sesobre ele, sentindo o zumbido de seu pulso nas veias. Não tinha maisplumas,masDaisyseencontrouafundandoosdedosemseucabeloescuro.Seriatãofácilqueafizesserodardebaixodele,pressionando-acomseu

pesosobreaterraúmida.Sentiuafirmezadesuascoxasporentreascapasdetecido,provocandonelaoprimitivoinstintodeabrir-seaele,edeixá-lomover-sesobreela.EscutouaoSwiftsoltarofôlego.Agarro-apelosbraçoseadesceudeseu

coloabruptamente.Aterrissandonagramaaoladodelecomumruídosurdo,Daisytratoude

reagir.Emsilêncio,encontrouanavalhanochãoeadevolveu.Depoisdeguardar-lhenobolso,elesesacudiuasplumasea terradas

calçasemudoudeposição.Perguntando-se por que estava sentado nessa postura tão estranha,

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Daisyficouempé.—Bem—dissevacilante,—suponhoquetereiqueentrarnacasapela

portadoscriados.Semamãemevirassimlhedaráumaapoplexia.—Voltoparaorio—disseSwiftcomvozrouca.—Querovercomovai

comocarretelWestcliff.Epodequepesqueumpoucomais.Daisy franziu o cenho quando se deu conta de que a estava evitando

deliberadamente.—Pensavaqueestariavocê fartodemolhar-se comaágua friado rio

porhoje—disse—Pelovistonão—disseeleentredentes,lhedandoascostasenquanto

agarravaseucoleteeseucasaco.

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Capítulo5

Perplexaeconfundida,Daisyseafastoucompassosrápidosdolago.Decidiuquenãopoderialhecontaraninguémoqueacabavadeocorrer,

embora teria adoradodivertir aLillian comahistóriadoganso.MasnãoqueriarevelarquetinhavistoalgodiferentenoMatthewSwift,equeelasehavia sentido perigosamente atraída por ele. Não significava nada, emrealidade.EmboraDaisyaindaera inocente,oescassoconhecimentoquepossuía

emrelaçãoaostemassexuaisimpulsionavaaacreditarqueseucorpopodiaresponderàexcitaçãosemnenhumaparticipaçãodocoração.HaviasentidoessarespostaporCamRohanumavez.Desconcertou-adar-secontadequetinhasentidoomesmocomMatthewSwift.Doishomenstãodiferentes,umromântico,ooutroreservado.Agenteeraumciganojovem,arrumado,quetinha alagado de imagens sensuais sua exótica imaginação… O outro umhomemdenegóciosambiciosoepragmático.Daisy tinha conhecido um desfile interminável de homens como

MatthewduranteseusanosnaFifthAvenue.Queriamaperfeiçãoemumamulher, uma esposa que fora uma excelente anfitriã, desse as melhoresjantaefestas,levasseosmelhorestrajes,edessealuzfilhossaudáveisquejogassemnoquartodosmeninosenquantoseuspaistratavamostemasdaempresanoestudo.EMatthewSwift,comsuaenormeambição,ohomemqueseupaitinha

escolhido por seu grande talento e sua mente brilhante, seria o maridomais exigente possível. Quereria a uma esposa que apoiasse sua vidainteira ao redor de seus objetivos, e a julgaria duramente quando não oagradasse.Nãotinhanenhumfuturocomumhomemassim.MasMatthewtinhaumacoisaaseufavor:tinhaajudadoaoganso.Enquanto Daisy voltava para a casa, arrumava-se e se vestia com um

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trajedediafresco,suasamigasesuairmãtinhambaixadoatomarocafédamanhãcháetorradas.Estavamsentadasemumadasmesasredondasjuntoàjanela,quandoDaisyentrounasala.Annabelle colocou a Isabelle sobre seu ombro, esfregando suas

pequenas costas com uma suave massagem. Algumas das outras mesasestavamocupadas,principalmentepormulheres,emborahaviameiadúziadehomenspressente,incluindolordeSt.Vincent.— bom dia — disse Daisy, e olhou a sua irmã. — Como dormiste

querida?—Muitobem.—Lillianestavaencantadora,seusolhosbrilhavam,tinha

ocabelopenteadoparatrás,acesoemumarededesedarosananuca.—Dormi com as janelas abertas, e a brisa procedente do lago era muitoprazerosa.Foipescarestamanhã?—Não—improvisouDaisy.—Sócaminhei.EvieseinclinouparaaAnnabelleparaagarrarobebê.—Deemme-disse.Obebêestavamordendoopunhodesesperadamente

ebabandoemabundância.Comapequenaemseusbraços,Evieexplicouomal-estardameninaaDaisy,estavam-lhesaindoosdentes.—Levatodaamanhãmuitoirritável—explicouAnnabelle.Daisyviuqueseusluminososolhosazuispareciamcansados,osolhosde

umamãe jovem.O toquede cansaço sóaumentouabelezadeAnnabelle,perfilandoaperfeiçãodeseusrasgos.—Nãoéalgologoparaquelhesaiamosdentes?—perguntouDaisy.— É uma Hunt— disse Annabelle. — E os Hunt são inusitadamente

precoces.Segundomeumarido,todosemsuafamílianascemliteralmentecom os dentes.— Olhou ao bebê com preocupação.— Acredito quemedeverialeva-laaoutrolugar.Algunsolharesdedesaprovaçãoforamlançadosemsuadireção.Nãoera

comumqueosmeninos,especialmenteosbebês,estivessememcompanhiados adultos. Era costumevestir aospequenos comvestidinhosbrancos efitas,apresentá-losbrevementeparaaaprovaçãogeral,elogodevolvê-losrapidamentecomababá.

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—Tolices—disseLillianimediatamente,semincomodar-seembaixaravoz.—Isabellenãoestáincomodando,sóestáumpouconervosa.Acreditoqueosconvidadossãocapazesdeterumpoucodepaciência.—vouprovarcomacolheroutravez—murmurouAnnabelle,suaculta

voz tintadepreocupação.Agarrouumacolherdepratadeuma taça comgelo e açúcar, e disse a Daisy. — Minha mãe sugeriu este remédio, aoparecersemprefoiefetivocommeuirmãoJeremy.Daisy se sentava ao ladodeEvie, olhando ao bebe enquantomordia a

colher. Isabelle tinhaestado chorandoe tinhaalgumas lágrimasao redordosolhos.Quandogemeu, fizeram-sevisíveis suasgengivas inflamadas, eDaisyfezumacaretacompadecendo-sedacriatura.—Necessita uma sesta—disseAnnabelle.—Mas lhe dóimuito para

poderdormir.—Pobrezinha.Quando Evie tratou de acalmar ao bebê, produziu-se um pequeno

alvoroçoaooutroladodaestadia.Aapariçãodealguémtinhacausadoummurmúriode interesse.Girandosobreseuassento,DaisydivisouocorpoaltoemagnificodeMatthewSwift.Assimqueelenãotinhavoltadoparario.DeveuesperaratéqueDaisyse

afastouosuficiente,parapodervoltarparaacasasemterqueacompanhá-la.Comoseupai,osenhorSwiftencontravapouconelaqueforadignode

interesse.Daisy se disse que lhe trazia sem cuidado,mas lhe descobri-loincomodou.Pôs-se um impecável traje cinza escuro com um colete dourado, uma

gravatanegrarecémengomadaluziaemseupescoçocomumnóperfeito.Embora se tinha posto de moda na Europa que os homens levassem ascosteletaslargaseocabelopenteadoemsuavesondas,pareciaqueoestilonão tinha alcançado a América ainda. Matthew Swift estava recémbarbeado,seuabundantecabelomarromescuro,compridoatéopescoço,dava-lheumatrativoarjuvenil.Daisy lhe observou encobertamente quando as apresentações foram

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feitas.Viuaaprovaçãonorostodoscavalheirosmaismaioresquando lhesaudaram, e o ciúmesnos cavalheirosmais jovens. E o interesse coquetedasmulheres.—Céus!—murmurouAnnabelle.—Queméesse?Lillianrespondeudemauhumor.—ÉosenhorSwift.OsolhosdeAnnabelleeEvieseabriramdesmesurados.— O mesmo senhor Smith que você chamou de saco de os-ossos? -

perguntouEvie— O mesmo ao que chamou prato de espinafres amassados? —

acrescentouAnnabelle.Lillianfranziuocenho.DesviandosuaatençãodoSwift,deixoucairum

torrãodeaçúcaremseuchá.—Suponhoquenãoétãohorrorosocomoodescrevi—admitiu.—Mas

nãolhesdeixemenganarporsuaaparência.Assimqueconheçamhomeminterior,mudaremdeopiniãosobreohomemexterior.— C-creio que há algumas damas a quem gostaria de conhecer, mas

intimamentequalquerdessasduaspartes—observouEvie,causandoqueAnnabelleseriracomdissimulosobresuataçadechá.Daisy deu uma olhada a seu redor e descobriu que era certo. Varia

damasestavampaquerandocomele,renda-sebobamente, lheoferecendosuasmãosparaqueasbeijasse.— Todo esse escândalo se deve a que é americano e portanto uma

novidade — disse Lillian entre dentes. — Se algum de meus irmãosestivesse aqui, estou segura de que as damas não reparariam no senhorSwift.EmboraaDaisyteriagostadodeestarTudobem,estavabastantesegura

de que seus irmãos não causariam tanta comoção como o senhor Swift.Apesar de ser herdeiros de uma grande fortuna, os irmãos Bowman nãopossuíamarefinaçãomagnetismodoSwift.—Está-nos olhando— informouAnnabelle. A preocupação outorgava

umatensãosutilasuapostura.—Franzindoocenhocomotodosoutros.O

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bebêestáfazendomuitoescândalo.Levareimeissoaoutrolugar.—Nãoiráanenhumaparte—adeteveEstaLillianéminhacasa,evocê

éminhaamiga,esealguémsesente incomodopeloruídoquefazobebe,temminhapermissãoparapartir.—Vemparacá—cochichouEvie.—Silencio.Daisy olhou fixamente sua taça de chá, coma tensão enrolando-se em

seuestômago.Swiftseaproximoudamesaelhesdedicouumareverênciacortês.—Milady—disseaLillian.—Éumprazervoltaravê-la.Minhasmais

sincerasfelicitaçõesporseumatrimôniocomlordeWestcliff,e...—Vacilou,porque embora Lillian estava obviamente grávida, seria descortês fazerreferênciaasuacondição—…temvocêmuitobomaspecto—concluiu.— Tenho o tamanho de um estábulo — disse Lillian com firmeza,

frustrandoseuintentodediplomacia.AbocadeSwiftseendureceucomoseestivesselutandoporsufocarum

sorriso.—Absolutamente—dissebrandamente,edeuumaolhadaaAnnabelle

eaEviequeesperaramaqueLillianfizesseasapresentações.Lillianobedeceuàcontragosto.—Apresento-lhesaosenhorSwift—balbuciou,agitandoamãoemsua

direção.—AsenhoradeSimonHunteladySt.Vincent.OsenhorSwiftfezumahábilinclinaçãosobreamãodeAnnabelle.Teria

dedicadoamesmacortesiaaEviesenãoforaporqueestavaabraçandoaobebê.AschoramingaçõesdeIsabelleforamemaumentoeseconverteriamemumprantoestridentelogoamenosquesefizessealgoarespeito.— Esta éminha filha Isabelle— disse Annabelle em tom de pena.—

Temproblemasdedentição.Isso faráqueparta imediatamente,pensouDaisy.Nãohavianadamais

terrívelparaumhomemqueoprantodeumbebê.— Ah — o Senhor Swift colocou a mão no bolso de sua jaqueta e

rebuscouentreumacoleçãodeartigosquerepicavamQuediabostinhaaí?Olhouquandotirousuanavalha,umabobinadelinhodepescareumlenço

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brancolimpo.— Senhor Swift, o que está fazendo você?—perguntou Evie comum

sorrisocurioso.— Improvisar algo.— Com uma colherinha pôs um pouco de gelo no

centrodolenço,retorceuotecido,eoatoucomofiodepescar.Depoisdeguardar a navalha em seu bolso, estendeu os braços com decisão paraagarraràmenina.Comcuidado,Evie lheentregouobebê.Asquatromulheresoolharam

comassombroquandoSwiftagarroua Isabelleembraçoscomfacilidade.Entregou o lenço àmenina, que começou amordiscá-lo comentusiasmo,emboranãodeixoudechorar.Alheioaosolharessurpreendidosdeoutrosconvidados,Swiftcaminhou

até a janela e começou a lhe murmurar palavras ao bebê. Ao parecer,estava-lhecontandoumahistóriadealgumaclasse.Depoisdeumoudoisminutosameninaseacalmou.QuandoSwiftretornouàmesaIsabelleestavasuspirandomeiodormida,

suabocasefechavacomforçasobreabolsadegeloimprovisada.—OH,senhorSwift—disseAnnabelleagradecida,agarrandoàmenina

emseusbraços—Queinteligenteévocê!Obrigado.—Oquelheestavavocêdizendo?—perguntouLillian.Aolhouerespondeubrandamente.—Queriadistrai-laatéqueogelolheacalmasseasgengivas.Assimque

lhedavaumaexplicaçãodetalhadadoacordodeButtonwoodde1792.Daisysedirigiuaelepelaprimeiravez.—Oqueéisso?Swift a olhou então, sua expressão era amável e educada, e por um

segundo Daisy acreditou que tinha sonhado os sucessos daquelamanhã.Mas suapelee seus sentidosainda conservavamo tatodele, adurezadeseucorpo.—OacordodoButtonwooddeucomoresultadoaformaçãodaBolsade

valores de Nova Iorque — disse Swift. — Pensava que era informaçãoimportante,mas a senhorita Isabelle perdeu o interesse quando comecei

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falarsobreaestruturaçãodehonorários.—Jávejo—disseDaisy.—Vocêaborreceuàmeninaparaquedormisse.— Deveria ouvir minha descrição do desequilíbrio de mercado como

resultado da crise de 37— disse Swift. — Me comentaram que é maisefetivoqueoláudano.Olhando fixamente seus olhos azuis, Daisy rio entre dentes a contra

gosto, lhededicouumdeseussorrisosbrevesedeslumbrantes.Seurostotinhaumaexpressãoafetuosa.AatençãodeSwift se centrounelaporum instante, comoseestivesse

fascinadoporalgoquehaviaemseusolhos.Repentinamentedesviouseuolharfixodasuaevoltouafazerumareverência.—Deixareiasdesfrutardeseuchá.Foiumprazer,senhoras.—Jogando

uma olhada a Annabelle, acrescentou com gravidade. — Tem você umafilha encantadora, senhora. Passarei por cima sua falta de interesse porminhaconferência.—Évocêmuitoamável,senhor—respondeuAnnabelle,comumolhar

risonho.Swift sedirigiuaooutro ladodaestadia,enquantoasquatro jovensse

centravamnocafédamanhã,removendoolhecomacolherinha,ealisandooguardanaposobreseucolo.Eviefoiprimeiraemfalar.—Tinharazão—disseaLillian.—Écompletamentehorroroso.—Sim—esteveTudobemAnnabelle.—Quandooolha,asprimeiras

palavrasquevêmasuamentesão“espinafreamassado”.—Fechemàbocaasduas—grunhiuLillianemrespostaaseusarcasmo,

elhedeuumadentadaasuatorrada.Lillian insistiu em arrastar a Daisy à parte leste do jardim essa tarde,

onde a maioria dos jovens estavam jogando ao boliche. Normalmente aDaisy não teria importado, mas acabava de chegar à parte maisinteressantedanovelaqueestavalendo.UmapreceptorachamadaHonoriaacabavadeencontrar-se comum fantasmanoapartamentodecobertura.“Quem é você?” Honoria tinha perguntado tremendo ao fantasma que,

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surpreendentemente,parecia-semuitoaseuantigoamorlordeClayworth.OfantasmaestavaapontoderesponderquandoLillianlhetinhaarrancadoolivrodasmãoseatinhaempurradoforadabiblioteca.—Porcaria!—queixou-seDaisy—Porcaria,Lillian…estavanamelhor

partedolivro!— Enquanto falamos há ao menos meia dúzia de cavalheiros

apropriados jogando aos boliches na grama — disse resolutamente suairmã.—Ejogarcomelesserámaisprodutivoparatiquelersozinha.—Nãoacredito,nãosejogaraosboliches.— Bom. Lhes peça que lhe ensinem. Se houver algo que um homem

adora,élheensinaraumamulhercomofazeralgo.Aproximaram-se da pista de grama onde se jogava a partida, havia

cadeiras emesas colocadas para quão convidados desejavam observar ojogo. Um grupo de jogadores lançava grandes Pelotas demadeira com opassardagrama,renda-sequandoalgumdelesasenviavaàsarjetaestreitaquehaviaemumlateraldapista.—Hmm—disseLillian,observandoareunião.—Temosconcorrência

—Daisyconheciaastrêsmulheresàsquesereferiasuairmã:asenhoritaCassandra Leighton, lady Miranda Dowden, e a senhorita ElspethHigginson. — Teria preferido não convidar a mulheres solteiras aHampshire — disse Lillian, — mas lorde Westcliff disse que isso seriamuito óbvio. Felizmente, você émais bonita que qualquer delas. Emborasejamaisbaixa.—Nãosoubaixa—protestouDaisy.—Miúda,então.—Eunãogostodessapalavra.Faz-meparecerinsignificante.—Émelhorqueanã—disseLillian.—Queéaúnicaoutrapalavraque

meocorreparadescreversuafaltadeestatura.—SorriucomentusiasmoanteocenhofranzidodeDaisy.—Nãofaçacaretas,querida.Trouxe-teparaumbufêdesolteirosparaquepossaescolheraoquequeira.OHnão!—Oque?Oqueacontece?—Eleestájogando.

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NãohavianecessidadedeperguntaraquemsereferiaLillian...Ochateioemsuavozdeixousuaidentidadeperfeitamenteclara.Inspecionando ao grupo, Daisy viuMatthew Swift ao final da pista de

gramajuntoaoutrosjovens,pendentedecomomedeiamadistânciaentreos boliches. Igual a outros, estava vestido com calças de cor clara, umacamisabranca,eumcolete.Estavamagroeemforma,suaposturarelaxadarefletiasuaconfiançaemsuacondiçãofísica.Seu intenso olhar o examinava tudo. Parecia tomar o jogo a sério.

Matthew Swift era um homem que sempre fazia as coisas o melhorpossível,inclusiveumainformalpartidasobreagrama.Daisyestavaseguradequefaziadesuavidaumacompetição.Eissonão

concordavacomsuaideiasobreosjovensdeclassealtadeBoston,ouNovaIorque.Filhosmimadossempreconscientesdequenãolheseranecessáriotrabalhar para conseguir o que desejavam. Perguntava-se o senhor Swiftalgumavezfaziaalgosóporprazerdefazê-lo.— Tratam de averiguar qual é omelhor tiro— disse Lillian.— Quer

dizer, qual deles lançou o bolichemais perto da bola branca do final dapista.—Comosabetantosobreojogo?—perguntouDaisy.Lilliansorrioironicamente.—Westcliffme ensinou a jogar. É tão bom jogando aos boliches, que

geralmente solo se sinta a observar porqueninguémmais ganha quandoelejoga.Aproximaram-se do grupo de cadeiras, onde Westcliff estava sentado

juntoaEviee lordeSt.Vincent,osCraddock,eumcomandanteemchefeaposentadoesuaesposa.Daisyfoisentarse,masLillianaempurrouparaapistadeboliches.—Vê—lheordenouLilliannomesmotomqueusariaparaenviaraum

cãoaprocurarumpau.Suspirando,Daisy lhededicouumpensamentonostálgicoa suanovela

incompletaecaminhoupesandoparaagrama.Tinhasidoapresentadaaomenos a dois dos cavalheiros pressente. As possibilidades não eram tão

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más,emrealidade.EstavaosenhorHollingberry,umhomemagradáveldeunstrintaanos,umpoucometidoemcarnes,masnãoobstanteatrativo.Eosenhor Mardling, de constituição atlética, olhos verdes e grosso cabeloloiro.Havia dois homens a quem não tinha visto em Stony Cross antes, o

senhorAlanRickett,quepareciaumeruditocomsuaslenteseseucasacoligeiramente enrugado... E lorde Llandrindon, um cavalheiro moreno earrumado,demédiaaltura.LlandrindonseaproximoudeDaisyimediatamente,oferecendo-sealhe

explicarasregrasdapartida.DaisytratoudenãoolharsobreseuombroaosenhorSwift,queestavarodeadopelasoutrasdamas.Riamepaqueravamabertamente com ele, pedindo seu conselho sobre como sujeitar a bolaapropriadamenteequantospassosdeviamdar-seantesdelançá-lasobreagrama.SwiftpareciaignoraraDaisy.Masquandoelaseinclinoupararecolher

umabolademadeiradapilhaquehavianochão,sentiuumformigamentonanunca.Sabiaqueaestavaolhando.Daisy lamentava lhe haver pedido que a ajudasse com o ganso. O

episódiotinhapostodemanifestoalgoqueescapavadeseucontrole,agoraeraconscientedele,deumamaneiraperturbadora,masnãopodiaevitá-lo.“Não seja ridícula”, disse-se Daisy. “Começa a jogar”. E se esforçou porescutarosconselhossobreaestratégiadojogodosenhorLlandrindon.Lhesobservando,Westcliffcomentouemumsussurro:—Daisy estáprogredindo com lordeLlandrindon.Éumdosmelhores

candidatos. Tem a idade correta, está bem educado, e é um cavalheiroagradável.LillianolhouaosenhorLlandrindondeformaespeculativa.Erainclusive

da estatura adequada, não muito alto para a Daisy, que odiava que aspessoasdestacassemsobreela.—Temumnomeestranho—refletiuLillianemvozalta.—Deondeé?—DoThurso—respondeulordeSt.Vincent,queestavasentadoaolado

deEvie.

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ExistiaumatréguaincômodaentreaLillianelordeSt.Vincentdepoisdoacontecido.Emboraelenuncachegariaa lhegostar,Lilliantinhadecididotolerá-lo, posto que tinha sido amigo íntimo de lorde Westcliff duranteanos.Lillian sabia que poderia lhe pedir a seu marido que terminasse com

essaamizadeeo faria,mas o queriamuito para lhe pedir isso. Lorde St.Vincent erabomparaMarcus. Comseu engenho eperspicácia, ajudava aequilibrar a sobrecarregadavidade seumarido.Marcus, umdoshomensmaiscapitalistasdaInglaterra,corriaoriscodequetodomundootratassecomexcessivaseriedade.Outro ponto a favor de lorde St. Vincent era que parecia ser um bom

marido para a Evie. Adorava-a, em realidade. A gente nunca tivesseimaginado que Evie, uma solteira tímida, e lorde St. Vincent, um canalhasemcoração,formassemtãobomcasal.St. Vincent era um homem seguro de si mesmo e sofisticado, possuía

uma beleza masculina tão deslumbrante, que as mulheres retinham ofôlego ao olhá-lo. Mas bastava uma só palavra de Evie, para fazê-lo vircorrendo.Emborasuarelaçãoeramaissossegada,aomenosnaaparência,que a de Annabelle com Hunt ou a sua com Westcliff, algo intenso,misteriosoeapaixonadofluíaentreelesdois.EenquantoEvieforafeliz,LillianseriacordialcomlordeSt.Vincent.— Thurso — repetiu Lillian com desconfiança, olhando

alternativamente a lorde St. Vincent e a seumarido.— Isso não está naInglaterra.Os dois homens intercambiaram um olhar, e Marcus respondeu com

calma.—EstaemEscócia,emrealidade.OsolhosdeLillianseabriram—OsenhorLlandrindonéescocês?Massenãotemacento.—Passouamaioriadeseusanosdeformaçãoeminternadosinglesese

logoemOxford—disselordeSt.Vincent.—Hmm.—OsconhecimentosdeLilliansobregeografiaescocesaeram,

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masbemlimitados,algumaveztinhaouvidofalardoThurso.—EondeestáThursoexatamente?Justonafronteira?LordeWestclifflhesustentouoolhar.—umpoucomaisaonorte.PertodasilhasOrkney.— Ao norte do continente? — exclamou Lillian. Custou-lhe muito

esforçoreduzirseutomdevozaumsussurrofurioso.—porquenãonoseconomizamostodosoesforçodelhebuscaralgemoedesterramosaDaisya Sibéria? Provavelmente o tempo seria mais aprazível ali! Céus!, comopodelheshaverparecidoosenhorLlandrindonumbomcandidato?— Tive que escolhê-lo — protestou St. Vincent. — Possui três

propriedadesetodaumalinhagemdesanguenobre.Ecadavezquevemaoclubemeuslucrosnoturnasseelevamaomenoscincomillibras.—Entãoéqueéumesbanjador—disseLillian.— Isso o faz ainda mais apropriado para a Daisy — disse Lorde St.

Vincent.—Algumdianecessitaráodinheirodesuafamília.— Não me importa quão apropriado seja, meu objetivo é que minha

irmãfiquenestepaís.QuandopodereiveraDaisyseelaestivernamalditaEscócia?—EstamaispertoqueNorteaAmérica—apontouLordeWestcliffem

umtomprático.LillianrecorreuaEviecomaesperançadeconseguirumaliado.—Evie,davaalgo!—NãoimportadeondesejalordeLlandrindon—disseela.Inclinando-

se para a Lillian, alcançou um fio de cabelo que se tinha enredado nopescoçodeseuvestido.—Daisynãovaisecasarcomo.—Porqueestastãosegura?—perguntouLilliancautelosamente.Evielhesorriu.—OH!...Sóéumpressentimento.Comofimdeterminarquantoanteseretornarcomanovela,Daisypôs

toda sua destreza no jogo para terminar o antes possível. O primeirojogadorfezrodarabolabranca,quechamavamJack,atéofinaldapistadeerva sem roçar a borda. O objetivo era fazer rodar as três Pelotas de

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madeira,chamadasboliches,omaispertopossíveldabolaJack.Aúnicapartedifícileraqueasbolasdemadeira,demaneiradeliberada,

erammenosredondasemumlado,porissonuncarodavamtotalmenteemlinha reta. Daisy aprendeu a compensar essa assimetria lançando para adireitaouàesquerdaconformesenecessitasse.Eraumagrandeextensãodegramabemtalhada,deterradura,oqueeraextremamenteapropriadopara o jogo e para que Daisy acabasse antes já que tinha pressa porretornarcomaHonoriaeseufantasma.Devido a que eram omesmo número demulheres que de homens, os

jogadoresforamdivididosemequipesdedois.DaisyfoiemparelhadacomoLlandrindon,queeraumjogadormuitocompetente.— É você muito boa, senhorita Bowman — exclamou Lorde

Llandrindon.—Estaseguradequenãotinhajogadoalgumavezantes?— Nunca— respondeu Daisy alegremente. Agarrando uma esfera de

madeira, atirou-a por lado da direita. — Devem ser suas adequadasinstruções, milorde. — Deu dois passos adiante para posicionar-se naborda da linha de saída, retrocedeu um pouco e lançou a bola. Golpeououtro boliche de um adversário eliminando-o do caminho e ficouexatamenteaduaspolegadasdoJack.Tinhamganhoapartida.—Bemfeito—disseosenhorRickett,parandoparatirarbrilhoasuas

lentes, sorrio a Daisy e acrescentou: — Você se move com tal graça,senhoritaBowman,queéencantadopresenciarsuadestreza.—Nãotemnadaquevercomadestreza—disseDaisyrecatadamente.

—Éasortedosprincipiantes,temo-me.Lady Miranda, uma jovem loira esbelta com uma tez de porcelana,

estavarevisandosuasdelicadasmãosansiosa.—Acreditoquemedanifiqueiumaunha—anunciou.— vamos procurar onde nos sentar — disse o senhor Rickett

imediatamente,comosetivessefeitomalemumbraço,eosdoissaíramdapistadeixandoojogo.Daisypensouquetivessesidomelhorterperdidoapartidademaneira

deliberada, porque agora teria que jogar outra partida obrigatoriamente.

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Mas era injusto para seu companheiro de equipe perdê-lo a propósito. ElordeLlandrindonpareciaabsolutamenteencantadocomseuêxito.—Agora—disseLlandrindon,—vejamoscomquemvamosvernosas

carasnafasefinal.Olharamàsduasequipesquecompetiam.OsenhorSwifteasenhorita

Leighton contra o senhor Mardling e a senhorita Higginson. O senhorMardlingeraumjogadorirregular,combinandotirosbrilhantescomoutrosinoportunos, enquanto que a senhorita Higginson era bastante maisconstante.CassandraLeightoneramaloteatéodesesperoeriademaneiraincontrolável tentandosimularque jogava.Essarisadasemdescanso,eraextremamenteirritante,masnãopareciaincomodaraMatthewSwift.Swift era um jogador tático e agressivo, considerava cada tiro

cuidadosamente, exibindo destreza e liberdade de movimentos. Daisynotava que nãomostrava nenhum remorso quando enviava as bolas dosadversários fora da pista, ou mudava de lugar a bola Jack para suavantagem.—Umjogadortemível—comentoulordeLlandrindonemumsussurro

aDaisy,comosolhosbrilhantes.—vocêCriequepoderemoslhevencer?RepentinamenteDaisyseesqueceudanovelaqueaaguardavadentroda

casa.ApossibilidadedejogarcontraMatthewSwiftaencheudeespera.—Seriadifícil,maspoderíamostentá-lonãolheparece?LordeLlandrindonriuemsinaldeapreciação.—Podemos,indubitavelmente.Swift e a senhorita Leighton ganharam essa partida, e os outros

deixaramagramacomexclamaçõesdeadmiração.Os quatro jogadores deixaramos boliches e o Jack emuma esquina, e

retornaram à linha de saída. Cada equipe dispunha de quatro bolas emtotal,doistirosparacadajogador.DaisygirouacaraeseencontroucomMatthewSwift,queaolhoupela

primeiravezdesdequetinhachegado.Seuolhar,diretaeestimulante,fezqueseucoraçãopulsasse,masdepressa,sentindoosanguecorrerporsuasveias. Tinha o cabelo despenteado e lhe caía sobre a frente, o sol

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esquentavaseucorpolhedandoumbrilhosutildetranspiraçãoasuapele.— Lancemos uma moeda para saber quem começa — sugeriu lorde

Llandrindon.Swiftassentiucomacabeça,percorrendoaDaisycomoolhar.CassandraLeightongritou comdeleitequandoela e Swift ganharamo

direito de lançar primeiro. Habilmente Swift lançou primeiro o Jack,enviando-omuitolonge,aolimitedapista.AsenhoritaLeightonagarrouumdosboliches,segurando-opertodeseu

seio,issofezsuspeitaraDaisy,queacreditouqueeraumtruquedeliberadoparachamaraatençãosobreseuspeitosgenerosos.— Você deve me aconselhar, senhor Swift — disse, com um olhar

necessitadoemovendoaspestanas.—Devolançá-loparaadireitaouparaaesquerda?Swift se aproximou dela, voltando a colocar a bola em suas mãos. A

senhorita Leighton irradiava prazer por ser o centro de sua atenção.Murmurou-lheaoouvidounsconselhos,assinalandoomelhoratalhoparaa bola enquanto a senhorita Leighton se inclinavamais para ele, até quesuascabeçasquaseseroçaram.Daisysentiucrescernopeitoumaespiralde chateio, os músculos de sua garganta se esticaram como se osapertassemcomumsaca-rolha.PorfimSwiftretrocedeuumpouco.AsenhoritaLeightoncaminhoupara

frente com alguns passos garbosos, lançando a bola. Mas a direção eraincorretaeabolasecambaleouecaiujustonocentrodapistadegrama.Orestodapartidaseriamuitomaisdifícilcomumabolanesselugaramenosquealguémsacrificasseumdeseustirosparadeslocá-laaumlado.—Caramba!—murmurouDaisyparasimesmo.AsenhoritaLeightonsedesfaziaemrisinhostolas.—Pobre pormim, acredito que enredei terrivelmente as coisas não é

certo?—Absolutamente—respondeuosenhorSwiftrapidamente.—Nãohá

diversãosenãohaverdesafio.Com irritaçãoDaisyseperguntavaporqueestavasendo tãosimpático

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comasenhoritaLeighton.perguntou-seeraaclassedehomemaoquelheatraíamasmulheresridículas.— Seu turno — a insistiu lorde Llandrindon, lhe passando um dos

bolichesaDaisy.Curvou os dedos ao redor da superfície até encontrar as pequenas

marcasdaesfera,lhedandoavolta,colocouasmarcassobreasPalmasdesuasmãos.Olhandofixamentealongínquabolabranca,procurouadireçãoquequeriaqueseubolicheseguisse.Deutrêspassos,balançouumpoucoobraço e a lançou com ummovimento rápido. O boliche cruzou a grama,evitandoaboladasenhoritaLeightoncomfacilidade,egirandonosegundoúltimoparaaterrissarcomprecisãodiantedoJack.— Brilhante! — exclamou lorde Llandrindon, enquanto que os

espectadoresaclamavameaplaudiam.Daisy olhou furtivamente a Matthew Swift. Estava-a olhando com um

leve sorriso, seu intenso escrutínio parecia transpassar sua pele e lhechegaratéosossos.O temposedeteveparaaDaisy.Nãorecordava, seéquealgumaveztinhaacontecido,quenenhumhomemativessecuidadosodessamaneira.—Vocêtemfeitoissoapropósito?—perguntou-lheosenhorSwift.—

Oufoiumgolpedesorte?—foiapropósito—respondeuDaisy.—medeixequeoduvide.Daisyseencolerizou.—porque?— Porque nenhum jogador inexperiente poderia planejar um

lançamentoassimemuitomenosrealizá-lo.— Esta você duvidando de minha honestidade, senhor Swift?— Sem

esperarsuaresposta,Daisyfezgestosasuairmã,queosestavaolhando.—Lillian,algumavezbrinqueiaosbolichesantes?—Certamentenão—foiaenfáticarespostadeLillian.GirandoorostoparaoSwift,Daisylhedirigiuumolhardesafiante.— Para fazer algo assim— lhe explicou Swift, — você teria que ter

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calculadoavelocidade,oângulonecessárioparacompensaratendênciadabola,eopontoexatoondeperderiaforçaegiraria.Tambémteriatidoemconta a possibilidade de que soprasse vento. Além de necessitarexperiênciaparalevá-loacabo.—Assimécomovocê joga?—perguntouDaisyalegremente.—Eusó

prevejoporondequeroqueváabola,elogoafaçorodar.—Sorteeintuição?—Dirigiu-lheumolhardesuperioridade.—Nãose

podeganharumpartidosócomisso.PortodarespostaDaisyseafastoudeleecruzouosbraços.—Seuturno—lhedisse.Swiftseagachouerecolheuumbolichecomumamão.Quandoajustou

seusdedosaoredordoobjeto,caminhouatéalinhadesaídaeexaminouagrama.Inclusiveirritadacomoestava,Daisysentiuumapontadadeprazerno estômago quando o olhou. Refletindo sobre a sensação, perguntou-secomoerapossível queoprovocasse tal respostanela.Olhar seu corpo, omodoemqueelesemovia,enchia-adeumaembaraçosaemoção.Swift liberou a bola com um firme movimento. Esta se deslizou

obediente pela grama, reproduzindo à perfeição o lançamento de Daisy,emboracommais ímpeto,golpeandoaboladeDaisy limpamente,ocupouseulugarjustoemfrentedoJack.—enviouminhabolaàsarjeta—protestouIssoDaisyélegal?— OH, sim!— disse lorde Llandrindon.— um pouco desumano, mas

perfeitamentelegal.Namecânicadojogorecebeonomedebolichemorto.—Meubolicheestámorto?—perguntouDaisycomindignação.OlhouaosenhorSwiftcomocenhofranzidoeolhedevolveuumolhar

implacável.— Quando ferir a um inimigo, faz o de tal maneira que lhe seja

impossívelvingar-se.— Só você citariaMaquiavel durante um partido de boliches— disse

Daisyapertandoosdentes.—Perdão—assinaloucortesmentelordeLlandrindon,—masacredito

queémeuturno.Comonenhumdeleslheemprestavaatenção,encolheu-se

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de ombros e caminho para a linha de saída. Sua bola se precipitou pelagramaefreouumpoucomaisàfrentedoJack.—Jogosempreparaganhar—disseSwiftaDaisy.— OH, caramba! — disse Daisy com exasperação, — fala você

exatamenteigualameupai.Algumavezconsiderouapossibilidadedequealgumaspessoasjogamporpuradiversão?Comoumaatividadeagradávelparapassaromomento?Outudotemquederivaremumconflitoavidaoumorte?—Senãosejogarparaganhar,ojogonãotemsentido.JáquetinhaperdidototalmenteaatençãodoSwift,CassandraLeighton

decidiuintervir.—Imaginoqueagoraémeuturno,senhorSwiftSeriavocêtãoamável

demealcançarumdosbolichesporfavor?Swiftobedeceusemlhedirigirnemsequerumolhar,suaatençãoestava

centradanodelicadoetensorostodeDaisy.— Tome — disse bruscamente, depositando a bola nas mãos da

senhoritaLeighton.— Possivelmente você poderia me ajudar... — começou a dizer a

senhorita Leighton, mas sua voz se perdeu quando Swift e Daisycontinuarambrigando.—BemsenhorSwift—disseDaisyimperturbável.—Sevocênãopode

desfrutar de um simples partido de boliches sem convertê-lo em umaguerra,vocêteráumaguerra.Jogaremosporpontos.Daisy não estava segura de quem se aproximou primeiro, mas de

repenteestavamalidepé,muitopertoumdooutro,eleinclinouacabeçaparaela.— Você nunca poderia me vencer — disse o senhor Swift com um

sussurro.— Você não tem experiência, e além disso é umamulher. Nãoseriaumjogojustoamenosqueeuestivesseemdesvantagem.— Sua companheira é a senhorita Leighton— replicou Daisy.— Em

minha opinião, essa é uma grande desvantagem. E está você insinuandoque asmulheresnão são capazesde jogar aosboliches tãobemcomoos

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homens?—Não.Oestoudizendosemrodeios.Daisy sentiu crescer em seu interior umaondade indignação, unida a

umardentedesejodeesmurrá-lonacabeça.—Éaguerra—exclamou,andandocompassomajestosoparaapistade

grama.Anos, mas tarde, ainda o chamariam a partida de boliches mais

sanguinárioquesepresenciouemStonyCrossPark.Ojogofoiampliadoatrintapontos,e logoacinquenta,e logoDaisyperdeuaconta.Discutirampor cada polegada de terreno e cada regra do jogo. Estudavam cadalançamentocomoseodestinodasnaçõesdependessedisso.Esobretudo,esmeravam-seporenviarseusrespectivosbolichesàsarjeta.—Bolichemorto!—cacarejouDaisydepoisdeexecutarumtiroperfeito

queenviouaboladeSwiftforadagrama.— Possivelmente devam lhe recordar, senhorita Bowman — disse o

senhor Swift,— que o objetivo do jogo não émemanter ameu fora dapista, supõe-se que você deve tentar aproximar seu boliche o máximopossívelaoJack.—Issonãoserámuitoprovávelenquantovocêsigagolpeando-ospara

enviá-los fora da maldita pista! — Daisy escutou o ofego da senhoritaLeighton.Daisynãosereconheciaasemesma,elanuncajurava,masnessascircunstânciaseraimpossívelmanteraserenidade.—Deixareidegolpearseusboliches—anunciouSwift,—sevocêdeixar

degolpearmeus.Daisy considerou a proposição durante segundomeio. Mas realmente

eramuitoprazenteiroenviarseusbolichesàsarjeta.—Nempensar,nemportodoocânhamodaChina,senhorSwift.—Muito bem.— Recolhendo seu castigado boliche, o senhor Swift o

lançoucomummovimentopoderoso,golpeouobolichedeDaisycomtantaviolênciaqueumestaloensurdecedorencheuoar.Daisyobservoucomabocaabertacomoasduasmetadesdeseuboliche

caíamnasarjeta.

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—Tem-noquebrado!—exclamou,voltando-separaelecomospunhosfechados.— E não tocava a você lançar! supunha-se que era o turno dasenhoritaLeighton,évocêumdescaradodesumano!—OHnão!—disseasenhoritaLeightoncominquietação.—Mesinto

absolutamente feliz de lhe haver cedidomeu turno ao senhor Swift paraquelançasseemmeulugar...Suadestrezaémuitomaiorque...—suavozperdeu intensidade quando se deu conta de que ninguém a estavaescutando.— Seu turno — disse Swift a lorde Llandrindon, que parecia muito

surpresoporníveldeagressividadequetinhaalcançadoapartida.—OH,não,nãooé!—DaisyarrancouaboladasmãosdeLlandrindon.

—Oémuitocavalheiroparagolpearseuboliche.Maseunão.—Não— esteve Tudo bem Swift.— Você, definitivamente não é um

cavalheiro.Daisy andou a pernadas para a linha de saída, colocou-se e lançou o

boliche com todas suas forças. Este se precipitou pela grama enviando obolichedeSwift aobordadapista,onde se cambaleouvacilanteantesdecair na sarjeta. Enviou ao Swift um olhar vingativo, e lhe respondeuinclinandoacabeçacomumafelicitaçãozombadora.— Sem dúvida — comentou Llandrindon, — joga você de maneira

excepcional,senhoritaBowman,nuncaviaalguémsemexperiênciafazê-lotãobem.Comoasarrumavocêparalançá-losemprecomtantaperfeição?—Nãopodehavergrandesdificuldadesondeabundaaboavontade—

respondeuela, e viu transformaro gestode Swift comumamplo sorrisoquandoreconheceuaentrevistadeMaquiavel.Apartidaseguiu.Eseguiu.Atardedeupassodenoite.Daisyseprecaveu

de que lorde Llandrindon, a senhorita Leighton e a maioria dosespectadoressepartiram.Estavaclaroquea lordeWestcliff teriagostadodeir-setambém,masDaisyeosenhorSwiftochamavamparaarbitraroumediradistânciaentreosboliches,seucritérioeraoúniconoqueambosconfiavam.Passouumahora,edepoisoutra,o jogoosabsorviamuitoparapensar

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nafome,asede,ouocansaço.Emalgummomento,Daisynãoestavaseguradequandoexatamente,acompetitividadedeupassoaoreconhecimentoàcontragostodadestrezadooutro.QuandoosenhorSwiftaelogiouporumlançamentomagistralouquandoseencontrouasemesmadesfrutandodevê-lo fazer cálculos silenciosos, da maneira em que seus olhos seentrecerravame inclinavaumpouco a cabeça... Estava cativada. ExistiampoucasocasiõesnavidadeDaisynasquea realidade foramaisentretidaqueseumundodefantasia.Masestaeraumadelas.— Garotos — o tom sarcástico de lorde Westcliff provocou que o

olhassemsemcompreender.Levantou-sedacadeiraeestiravaosmúsculosadormecidos. — Me temo que isto durou já bastante tempo. Estãoconvidadosacontinuarjogando,maslhespeçopermissãoparapartir.—Masquemarbitrará?—protestouDaisy.—Jáqueninguémlevouacontadomeçoduranteaúltimameiahora—

disse secamente o conde, — acredito que não há necessidade de meucritério.—SimqueháadiscutiuDaisy,esedirigiuaosenhorSwift.—Quantos

pontoslevamos?—Nãosei.Enquanto se olhavam fixamente, Daisy, envergonhada, logo que pôde

conterumarisinho.OsolhosdeSwiftbrilharamdediversão—Acreditoqueganhouvocê—disse.—OH!,nãosejacondescendentecomigo—disseDaisy.—ganhouvocê.

Possoaceitarumaderrota.Formapartedojogo.—Nãoestousendocondescendente.Estivemosempatadosdurante...—

Swiftprocurounobolsodeseucoleteetirouumrelógio—…duashoras.— O que quer dizer que com toda probabilidade você manteve sua

anteriorvantagem.—Masvocêafezpedacinhosdepoisdaterceiraronda.—OH,caramba!—ouviu-seaolongeavozdeLillian.Pareciatotalmente

molesta,retirou-seaseuquartoparaumasestaeaosairdacasaostinha

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encontradoaindanapistadegrama.—Levambrigandotodaatardecomoumpardefurões,eagoraseguemdiscutindoporquemganhou.Sealguémnãolhepuserfimaisto,seguirãobrigandoaquiatéameia-noite.Daisy,estácoberta de pó e seu cabelo é um ninho de pássaros. Entra na casa e tearrume.Agora.—Não tem por que gritar— lhe respondeuDaisy com tranquilidade,

seguindo a sua irmã. Olhou por cima do ombro a Matthew Swift... e lhededicou um olhar cálida, pela primeira vez, logo se voltou e acelerou opasso.Swiftcomeçouarecolherosbolichesdemadeira.—Deixe-os—disseWestcliff.—Oscriadosporãoascoisasemordem.

Melhorváprepararseparaojantarquecomeçaráem,aproximadamente,umahora.ObedientementeMatthewdeixoucairosbolichesesedirigiuparaacasa

comWestcliff.Observou,amiúda figuradeDaisyatéquedesapareceudavista.AoWestcliffnãoaconteceudesapercebidaoolharfascinadodeMatthew.— Tem umamaneira única de cortejar a umamulher— comentou o

conde. — Nunca teria pensado que vencer a Daisy em uma partida debolichespudessecaptarseuinteresse,masaoparece,funcionou.Matthew se concentrouno caminho, adestrando seu tompara parecer

indiferente.—NãoestoucortejandoàsenhoritaBowman.—Entãointerpreteimalsuaevidentepaixãopelosboliches.Matthewlhelançouumolhardefensiva.—Admitoqueaencontromuitodivertida.Masissonãoquerdizerque

queiramecasarcomela.— As irmãs Bowman são algo perigosas. Quando uma delas atrai seu

interesse,tudooquesabeéqueéacriaturamaisprovocadoracomaquetropeçaste em sua vida.Apesarde encontrá-la lhe exaspere, a gente logoquepodeesperaravoltaravê-la.Écomoumaenfermidadeincurávelqueseestendepor todasas célulasde seuorganismosemremédio. Sóexiste

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ela. Todas as demais mulheres começam a te parecer aborrecidas einsossasemcomparação.Adesejasatéquepensaquetevoltaráloucoenãopodedeixardepensarnela.—Não tenho nem ideia do que está você falando— lhe interrompeu

Matthew,empalidecendo.Onãoiasucumbiraessaenfermidadeincurável.Umhomemtinhaopçõesnavida.EnãoimportavaoqueacreditasselordeWestcliff, não eramais quedesejo físico.Um impuro, poderoso e intensodesejoquepoderiatelevaràloucura...Maspodiaservencidocomforçadevontade.—Sevocêodiz—disselordeWestcliff,parecendopoucoconvencido.

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Capítulo6

Diante do espelho, colocado sobre um penteadeira de madeira de

cerejeira, Matthew atava sua gravata branca e engomada com hábeismovimentos.Estavafaminto,maspensarembaixaraojantarformalnosalãodejantar

oenchiadeinquietação.Sentia-secomoseestivessecaminhandosobreumtablónestreitoagrandealturaequalquerpassoemfalsopudesse fazê-locair.Nunca deveria haver-se permitido aceitar o desafio de Daisy, nunca

deveriaterjogadocomelaessemalditopartidodeboliches.MasDaisyestavatãoadorávelenquantojogavam,elacentravatodasua

atençãonele,eessatinhasidoumatentaçãoimpossívelderesistir.Estava provocadora, a mulher sedutora que sempre tinha desejado

encontrar.Daisyeraacombinaçãodafúriadeumatormentaeosuavearcoírisunidosemummesmopacote.Céus! como queria levar-lhe à cama. Matthew se surpreendeu de que

lorde Llandrindon ou qualquer outro homem, pudesse raciocinaradequadamenteemsuapresença.Erahoradetomarocontroledasituação.Fariatudooquefossenecessárioparadesviarseuinteresseparalorde

Llandrindon.Comparadocomoutrossolteirospressente,olordeescocêseraamelhor

partida.LlandrindoneDaisyteriamumavidatranquila,bemordenada,eembora

Llandrindon pudesse procurar companhia feminina de vez em quando,como faziam amaior parte dos homens da nobreza, Daisy estariamuitoocupadacomsua famíliaeseus livrosparanotá-lo.Enocasodequenãofora assim, sempre poderia aprender a fazer a vista gorda a suas

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indiscriçõeserefugiar-seemsuasfantasias.ELlandrindonnuncaapreciariaopresente inimaginávelde teraDaisy

emsuavida.Matthewbaixouasescadasqueconduziamaovestíbulodemauhumore

seuniu a elegantemultidãoque aguardavapara ir ao salãode jantar.Asmulheres luziam vestidos de cores vistosos bordados com pedraria eajustados espartilhos. Os homens vestiam de branco e negro, asimplicidade de seu adorno servia como cortina de fundo para realçar aostentaçãodasmulheres.— O senhor Swift por fim — Thomas Bowman lhe ofereceu uma

calorosabem-vinda.—Venhaaquiqueroquereciteasútil,masestimativasde produção para estes garotos. — Em opinião do Senhor Bowman,nenhummomentoerainadequadoparafalardenegócios.ObedientementeMatthew se uniu ao grupo demeia dúzia de homens

que se achavam de pé em uma esquina, e recitou os números que seupatrãolhepedia.Uma das melhores habilidades de Matthew era sua capacidade para

armazenardurantemuitotempoinformaçãoemsuamemória.Gostavadosnúmeros, suas regras e segredos, a forma em que algo complexo podiareduzir-se a algo simples. Nas matemática, a diferença da vida, haviasempreumasolução,umarespostadefinida.MasenquantoMatthewestava falando,captoucomoolharaDaisyea

suas amigas, de pé junto a Lillian, e a metade de seu cérebro ficoupontualmentebloqueada.Daisylevavaumvestidodenoitedecetimcornataquecaiacomouma

luva a sua estreita cintura, com um espartilho que empurrava seuspequenosemuitobemformadospeitosparacimasesobressaindosobreodecote. Fitas de cetim amarelas se enlaçavam engenhosamente parasustentaroespartilhoemseulugar.Levavaocabeloemumrecolhidoaltode que caíam alguns cachos soltos sobre o pescoço e os ombros. Luziadelicadaeperfeita, comoumadessasdelíciasdabandejadassobremesasqueumnuncaseatreviaacomer.

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Matthewquis atirar de seu espartilho para baixo, até que seus braçosficassem capturados por aquelas cordas de cetim.Queria arrastar a bocaporsuapelebrancaesuave,atéencontraraspontasdeseuspeitos,efazê-laretorcer-sedeprazer.—Masrealmentepensavocê...—chegou-lheavozdosenhorMardling

— que há alguma possibilidade de ampliar o mercado? depois de tudo,falamosdasclasses inferiores.Sejaqualsejasuanacionalidade,éumfatoconhecidoquenãogostamdebanhar-sefrequentemente.Matthew centrou sua atenção no cavalheiro, alto e bem vestido, seu

cabeloloirobrilhavaintensamentesobaluzdosabajuresdearanha.Antesdequeelerespondesse,recordouquenãohaviaprovavelmentenenhumamalícia na pergunta. Aqueles das classes privilegiadas frequentementetinhamideiaserrôneasquantoaospobres,seincomodavamemconsiderá-losalgumavez.— Em realidade — disse Matthew brandamente— os índices

disponíveis indicamque assimqueo sabão seja fabricado em serie a umpreço econômico, omercado aumentará aproximadamentedezpor centopor ano. A gente de todas as classes sociais quer estar poda, senhorMardling.Oproblemaéqueosabãodeboaqualidadesemprefoiumartigodeluxoeportantodifícildeobter.—Fabricaçãoemsérie—refletiaMardlingemvozalta,suacaraenxuta

refletia seus pensamentos.— Há algo desagradável nessa frase… pareceummododepermitiràsclassesinferioresimitarànobreza.Matthewdeuumaolhadaaocírculodehomens,notandoqueacalvado

senhorBowmanavermelhava,oquenuncaeraumbomsinal,equelordeWestcliffsemantinhaemsilêncio,semexpressãoemseusolhosnegros.—Issoéexatamente,senhorMardling—disseMatthewemtomgrave.

—Afabricaçãoemsériedeartigoscomoaroupaeosabãodaráaospobresapossibilidadedevivercomasmesmasnormasdesaúdeedignidadequeorestodenós.—Mascomovaiumousejaqueméquem?—protestouMardling.Matthewlheespetou.

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—Acreditoquenãolheentendo.LordeLlandrindonparticipoudadiscussão.— Acredito que o que o senhor Mardling pergunta...— disse ele— é

comoseráumcapazdediscerniradiferençaentreumavendedoraeumadama se ambas estiverem cheirosas e vestidas demodo similar. E se umcavalheironãoécapazdasdiferenciarporseuaspecto,comosaberácomoastratar?Atordoado por esnobismo da pergunta, Matthew considerou sua

respostacomcuidado.—Eusemprepenseiquetodasasmulheresdeveriamsertratadascomo

devidorespeitoforaqualforasuaorigem.—Bemdito—disseWestcliffbruscamente,quandoLlandrindonabriua

bocaparadiscutir.Ninguém desejou contradizer ao conde, mas o senhor Mardling

pressionou:—Westcliff,nãovêvocênadamauemrespiraraospobresaviverpor

cima de sua condição? Essa concessão não é pretender que não hánenhumadiferençaentreelesenós?—O únicomal que eu vejo— disse lordeWestcliff tranquilamente—

está na gente que desalenta a quem quer superar-se a se mesmos, pormedodequepercamosnossasuperioridade.AdeclaraçãomelhorouaopiniãoqueMatthewtinhadoconde.Preocupado pela questão da hipotética vendedora, lorde Llandrindon

faloucomsenhorMardling.—Nãotema,Mardlingnãoimportaseumamulherestábemvestidaou

não, um cavalheiro sempre pode descobrir as pistas que traem suaverdadeira identidade. Uma dama sempre tem uma voz suave, bemmodulada,enquantoqueumavendedorafalacomumtomestridenteeumacentovulgar.— Certamente — disse Mardling com alívio. Sofreu um tremor leve

enquantoacrescentava—Umavendedoravestidadeornamentos,quefalacockney…écomopassarasunhassobreumapiçarra.

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—Sim—disselordeLlandrindoncomumarisinho.—Oucomoverumacomummargaridaemumramoderosas.O comentário foi irrefletido, certamente, mas se fez um silêncio

repentinoquandoLlandrindon compreendeuque semquerer acabavadeinsultaràfilhadosenhorBowman,oubemonomedesuafilha.— Uma flor versátil, a margarida— comentouMatthew, rompendo o

silêncio.—Encantadoraemsuafrescuraesimplicidade.Eusemprepenseiquevãobememqualquerclassedeacertofloral.Ogrupointeiroretumbouemumacordoimediato:“Certamente”e“Sem

dúvida”.WestcliffdirigiuumolhardeaprovaçãoaoMatthew.Ummomentomaistarde,semsaberseporumplanejamentoanteriorou

porumamudançadelugaresdeúltimahora,Matthewdescobriuquetinhasido colocado à esquerda doWestcliff na mesa principal. A surpresa foievidentenascarasdemuitosconvidados,nãoemvão,deu-seumlugardehonraaumjovemdeposiçãoinsignificante.Escondendo sua própria surpresa, Matthew observou ao Thomas

Bowman que estava radiante sorrindo a Lillian de orelha a brinca comorgulhopaternal,…eLilliandirigiaaseumaridoumolharenfurecidoqueteriacheiodeterrorocoraçãodeumhomemmaisdébil.Depoisdeumjantartranquiloosconvidadossedispersaramemvários

grupos.Algunscavalheirostomaramvinhodoportoecharutosnoterraçotraseiro,algumasdamastomaramchá,enquantoqueoutrosconvidadossedirigiramàsalapreparadaparaosjogos.QuandoMatthew se dirigia para o terraço, sentiu um golpe sobre seu

ombro.Aodá-la volta se encontrou comosolhos travessosdaCassandraLeighton.Elaeraumacriaturaalegrecujahabilidadeprimáriapareciaseracapacidadedechamaraatenção.—SenhorSwift—disse,—insistoemquevocêsenósumanasala.Não

lhepermitireimerejeitar.LadyMirandaeeuplanejamosalgunsjogosquepenso que você encontrará bastante entretidos. — Ela baixou umapálpebraemumaardilosapiscada.—Estátudopreparado,jáverá.

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—Preparado…—repetiuMatthewcomreceio.—Éobvio—elariubobamente.—decidimosserumpoucomalvados

estatarde.AMatthew nunca tinham gostado dos jogos de salão, requeriam uma

frivolidadequeelenuncatinhasidocapazdeter.Alémdissoeraportodossabido, que na atmosfera permissiva da sociedade britânica, os objetosdestesjogosfrequentementeconsistiamemtruqueseemcomportamentospotencialmente escandalosos. Matthew tinha uma aversão inata e muitosensívelaoescândalo.Eseelealgumavezsevisseenredadoemum,teriaque ser por umamuito boa razão.Não comoo resultadode algum tontojogodesalão.Antesderesponder,entretanto,Matthewnotoualgonaperiferiadesua

visão… um brilho amarelo. Era Daisy, sua mão descansava ligeiramentesobreobraçodelordeLlandrindonenquantosedirigiamaovestíbuloqueconduziaaosalão.A parte lógica do cérebro de Matthew advertiu que se Daisy ia ser

indulgentecomocomportamentoescandalosodeLlandrindon,eraassuntodele.Mas umapartemais profunda,mais primitiva dele reagiu comumapossesividadequefezqueseuspéstivessemvidaprópria.Deumeiavolta.—OH!,encantado—exclamouCassandraLeighton,apoiandosuamão

sobreseubraço.—Teremosmuitadiversão.Foiumdescobrimentonovoe inoportuno, saberqueum forte impulso

podia tomar o controle do resto de seu corpo. Franzindo o cenho,acompanhou à senhorita Leighton, enquanto ela soltava uma diatribe detolices.Um grupo de cavalheiros e damas se reuniram na sala, rindo e

conversando. A antecipação se percebia no ar. E se respirava picardia,comosealgunsdosparticipantestivessemsidoadvertidosdequeestavamapontodeparticipardeumpoucoatrevido.Matthew ficou de pé perto da porta, seu olhar instantaneamente

encontrouaDaisy.ElaestavasentadapertodolarcomoLlandrindonquem

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seapoiavanobraçodesuacadeira.—Oprimeiro jogo—disse ladyMiranda comumsorriso—seráuma

ronda de Animais — Ela esperou que uma onda de sorrisinhos seextinguisseantesdecontinuar.—Paraaquelesdevocêsquedesconhecemas regras, são bastante simples. Cada senhora selecionará a umcompanheiro masculino para ela, e a cada cavalheiro será atribuído umanimal em particular para imitar: o cão, o porco, o asno, e assimsucessivamente.Asdamasserãoconduzidasaoutraestadiacomosolhosenfaixados,equandovoltarem,tentarãolocalizaraseuscompanheiros.Oscavalheirosajudarãoàsdamasfazendoosomcorretodoanimal.Aúltimasenhoraemencontraraseucompanheiroteráquepagarumobjeto.Matthewgemeupordentro.Eleodiavaosjogosquenãotinhamnenhum

outro objetivo que fazer passar por tontos aos participantes. Como umhomemquenãodesfrutavaestandoemumapuro,jásejavoluntariamenteou de alguma outramaneira, esta era a classe de situação que o tentavaevitar.JogandoumaolhadaaDaisy,viuqueelanãoriabobamentecomooutras

damas.Tinhaumolharsereno.Erasuamaneiradeserdistintadamultidão,de não comportar-se como as mulheres cabeça de chorlito que tinha aoredor.Céus!Nãoeraassombrosoqueelaforaumadassolteira,seistoeratudooqueesperavamosjovensdeumapossívelesposa.—Você serámeucompanheiro, senhorSwift— lhegritoua senhorita

Leighton.—Seráumahonra—Matthewseinclinoucomcortesia,eelasedesfez

em risinhos como se ele houvesse dito algo imensamente divertido.Matthewnuncatinhaconhecidoaumamulherqueseriratãobobamentesemcessar.Temiaqueelapudesseterumataquesenãoparava.Ficarampartesdepapeldentrodeumchapéu, eMatthewagarrouum

quandochegouseuturno.—Avaca—informoucomfriezaàsenhoritaLeighton,eelavoltouarir.Sentindoumidiota,Matthewsemanteveafastado,enquantoasenhorita

Leightonetodasasoutrasdamasabandonavamasala.

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Os cavalheiros se colocaram estrategicamente, rindo-se divertidos dosgolpesque,previam,poderiamsofrerasmulheresporandarcomosolhosenfaixados.Algunssededicaramafazerpráticas.—Squawk!—Miauuu!—Croak!Para depois rir a gargalhadas. Quando as damas com seus olhos

enfaixadosvoltaramparaasala,olugarestalouemgritosdeanimais.Comoo som de um zoológico raivoso. As damas tentavam encontrar a seuscompanheiros,procurandoozurro,opio,ouosbufos.Matthew pediu a Deus que não entrassem nesse momento Westcliff,

Hunt, ou o senhor Bowman, e o vissem assim. Nunca seria capaz deesquecertalhumilhação.AvozdaCassandraLeightonfoiumgolpemortalasuadignidade.—OndeestáosenhorVaca?Matthewdeuumsuspiro.—Muuu—disseelecomgravidade.ArisadatoladasenhoritaLeightonalagouoar.Elacaminhavadevagar

entreosconvidados,suasmãosprovavamaprovascadaformamasculinaque encontrava. Aumentavam os chiados e grasnidos enquanto elacaminhavaentreamultidão.—OH,senhorVaca—anunciouasenhoritaLeighton.—Necessitoque

vocêmeajudeumpoucomais!Matthewfranziuocenho.—Muuu.—Umavezmais—trilouela.Foi uma sorte para a Cassandra Leighton que ela tivesse os olhos

enfaixados,poisissoaprotegeudairadeMatthew.—Muuu.Risinhos,risinhos,emaisrisinhos.AsenhoritaLeightonseaproximava,

comosbraçosestendidos,abrindoefechandoosdedosnoar.Eentãoela

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encontrou suas costas, colocou as mãos em sua cintura e foi deslizandopara baixo.Matthew agarrou suas pulsos e atirou firmemente delas paracima—Encontrei-osenhorVaca?—perguntoueladissimulando,inclinando-

sesobreele.Eleaempurroucomfirmeza.—Sim.—Hurraparamim!—gritouela,tirando-aataduradosolhos.Outros casais também se encontraram, os ruídos de animais se

acalmavam um a um à medida que as damas localizavam a seucompanheiro. Finalmente só se ouvia um som… uma torpe vibração deinseto.Umacigarra?Umgrilo?Matthewestirouopescoçoparaverquemfaziaesseruído,equemera

suadesafortunadacompanheira.Houveumaexclamaçãoemaisrisadas.Amultidão se separoupara revelar aDaisyBowman tirando-a ataduradosolhos,enquantoqueLlandrindonseencolhiadeombroscomumadesculpa.— Esse não é o ruído que faz um grilo — protestou Daisy,

completamenteruborizada.—Oqueéesseruídoquefaziacomagarganta?—Faço-oomelhorqueposso—respondeuLlandrindonnecessitado.Ai,Céus!Matthewfechouosolhosbrevemente.EraDaisy.CassandraLeightonpareciaexcessivamentecontente.—Quedesagradável!—murmurou.—Nadadebrigas— interveio ladyMirandaalegremente,movendo-se

paraficarentreaDaisyelordeLlandrindon.—Devevocêpagaraprenda,querida!OsorrisodeDaisyvacilou.—Equaléaprenda?—Esteé“ojogodassolteironas”—explicouladyMiranda,—vocêdeve

ficardepécontraaparedeeescolherumdospapeizinhosquehádentrodeum chapéu com os nomes dos cavalheiros. O eleito deve beijá-la, se arejeita,vocêpermanecerácontraaparedeeseguiráescolhendonomesatéquealguémconsintaemsuaoferta.

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Daisymanteveosorriso,emborasuacarasetornoubranca,tinhaduasfranjasvermelhasdecornoaltodasbochechas.“Porcaria”,pensouferozmenteMatthew.Era um problema. Este incidente daria pé a rumores que facilmente

poderiam produzir um escândalo. Ele não podia permiti-lo. Pelo bem desua família, e o dela. E o seupróprio…,mas isso era algonoque ele nãoqueriapensar.Automaticamente deu um passo à frente, mas a senhorita Leighton

agarrou seu braço. Suas largas unhas se afundaram no tecido de suajaqueta.—Nãodeveintervir—lheadvertiu.—Quemjogadeveestardispostoa

aceitar a prenda!— Sorria, mas havia uma dureza em seus olhos que aMatthew não gostou. Ela tinha a intenção de gozar a cada segundo dahumilhaçãodeDaisy.Criaturasperigosas,asmulheres.Jogandoumaolhadaaoredordaestadia,Matthewviuaantecipaçãonas

caras dos cavalheiros. Nenhum homem ali ia deixar acontecer umaoportunidadedebeijaraDaisyBowman.MatthewtevemuitasvontadesdeestelaralgumascabeçasetiraraDaisydaliaempurrões.Emmuda,sópôdeobservarcomolhederamochapéueelacolocavaamãodentrocomdedosinstáveis.Daisy tirou uma parte de papel, e o leu em silêncio, suas finas

sobrancelhas escuras se uniram em um ponto. O silêncio alagou a sala,todos os pressente retinham o fôlego… e então Daisy disse o nome semolhar.—OsenhorSwift.Ela voltou a colocar o papel dentro do chapéu antes de que ninguém

pudessevê-lo.Matthew sentia o coração golpeando grosseiramente no peito. Não

estava seguro de se a situação acabava de melhorar ou tinha pioradodrasticamente.—Issoéimpossível—assobiouasenhoritaLeighton.—Nãopodeser

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você.Matthewlhedirigiuumolhardistraído.—porquenão?—Porquenãopusseunomedentrodochapéu!Elenãodeixouqueseurostorefletissenenhumaemoção.— Obviamente alguém fez— disse e liberou seu braço dos dedos da

senhoritaLeighton.EnquantoMatthew se aproximava de Daisy a sala estava em silêncio,

mas de repente começou um murmúrio de risinhos tolos entre osconvidados. Daisy controlou sua expressão admiravelmente, embora seurosto era um esbanjamento de cores. Seu corpo magro estava tão tensocomo a corda de um arco. Tinha um sorriso descuidado nos lábios, masMatthewviuo ritmo compassadode seupulsonagarganta.Queriapôr abocasobreaquelepontoeacariciá-locomalíngua.Depé,frenteaela,Matthewsustentouseuolharfixamente,tratandode

lerseuspensamentos.Qualdosdoistinhaocontroledasituação?Aparentementeele,…,masfoiDaisyquempronunciouseunome.Elaotinhaescolhido.Porque?—Ouvi-lhe você durante o jogo— disse Daisy, tão brandamente que

ninguémmaispôdedistinguiraspalavras.—Pareciavocêumavacacomproblemasdigestivos.— A julgar pelos resultados, minha vaca era melhor que o grilo de

Llandrindon—assinalouMatthew.— Issonão eraumgrilo. Erao ruídoque fazumquando se limpaum

escarrodagarganta.Matthewseafogoucomumarisadarepentina.Daisyestavatãozangada

etãoadorávelquerireratudooquepodiafazerparanãoestreitá-laentreseusbraços.Emmudadisse:—TerminemoscomistoTudobem?Lhe teria gostadoqueDaisynão fora tãopropensa a ruborizar-se. Sua

pelebrancaparaoruboraindamaisevidente,obtendoquesuasbochechas

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ficassemcomopapoulasescarlates.Houve uma interrupção coletiva de fôlego no grupo quando Matthew

deuumpassomaisparaela,atéqueseuscorposestiveramquaseroçando-se. Daisy inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, tinha os lábiosligeiramente abertos. Matthew agarrou sua mão e a aproximou de seuslábiosdepositandoemseusdedosumcastobeijo.OsolhosdeDaisyseabrirameoolhouatordoada.Os convidados voltaram a rir, e alguns os arreganharam

zombeteiramente.Depois de escutar as brincadeiras pícaras que lhe dedicaram alguns

cavalheiros,MatthewvoltouacentrarsuaatençãoemDaisy.— Senhorita Bowman você mencionou antes que desejava ir ver sua

irmã—lhedisseemumtomagradável,mascomfirmeza.—Mepermiteacompanhá-la?—Mas você não pode partir!— exclamou Cassandra Leighton a suas

costas—Acabamosdecomeçar!— Não, obrigado — disse Daisy a Matthew. — Estou segura de que

minha irmã não se incomodará por que fique um poucomais aqui emedivirta.Matthew lhe dedicou um duro e penetrante olhar. Deu-se conta, pela

mudança repentina em sua expressão, de que ela tinha entendido amensagem.Lheestavapedindoofavor.“Venhacomigoagora”,ordenavaseuolhar,“enãodiscuta”.Eleviu tambémqueDaisydesejavarejeita-lo,masela tinhasentidoda

honraelhedeviaumfavor.UmadívidaeraumadívidaDaisytragoucomforça.—Poroutraparte…—quaseseafogoucomaspalavras—…realmente

prometimesentarcomminhairmãenquantoelatomavaochá.Matthewlhedeuseubraço.—Aoseuserviço,senhoritaBowman.Houve algumas protesta, mas quando chegaram às portas da sala, o

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grupo já estava ocupado organizando outro jogo. O céu sabia o que osescândalosmenoresprovocavamemumsalão.SeeleeDaisy,nãoestavampresentes,tãomelhor.Daisyarrebatousuamãodeseubraçoassimqueentraramnovestíbulo.

Avançaram vários passos e chegaram até a porta aberta da biblioteca.Vendoqueestavavazia,Daisyentrousemdizerumapalavra.Matthew entrou depois dela e fechou a porta para ter um pouco de

privacidade.Nãoeraapropriado,masninguémbrigavanovestíbulo.— por que fez você isso? — exigiu Daisy, girando-se para ele

imediatamente.—Tirá-la dali?— desconcertado,Matthew adotou um tom severo.—

Esselugarnãoeraapropriadoparavocê,evocêsabe.Daisyestavatãofuriosaquedeseusolhosescurossaltavamfaíscas.— E qual é o lugar apropriado paramim, senhor Swift? A biblioteca?

Paralerasós?—Épreferívelissoantesquecausarumescândalo.— Não, não é preferível. Eu estava exatamente onde devia estar, e

fazendooque todosoutros faziam, e tudo estava extremamentebematéquevocêoarruinou!— Eu? — Matthew não podia acreditar o que escutava. — Eu lhe

arruineianoite?—Sim.—Como?Elaoolhouaridamenteacusando-o.—Vocênãoquismebeijar.—Eu…— issoopegoudespreparado,Matthewaolhou fixamenteem

desconcerto.—Simabeijei.— Na mão — disse Daisy com desdém— o que não significa

absolutamentenada.Matthewnãoestavasegurodecomoaconteceumasderepenteseouviu

semesmodefendendo-sedasacusaçõesdeDaisy.—Vocêdeveriaestaragradecida.

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—porque?—Nãoéóbvio?Salveisuareputação.— Seme tivesse beijado— replicou Daisy ,— se teria feito algo por

minhareputação.Masvocêmerejeitoupublicamente,oquesignificaqueLlandrindoneMardling,etodosoutroscavalheirosacreditamqueacontecealgomalcomigo.—Eunãoarejeitei.—Poisissoéoquepareceu,évocêumcanalha!—Nãosouumcanalha.Seativessebeijadoempúblico,entãosimseria

umcanalha—Matthewfezumapausaantesdeadicionarcomirritação,—eemvocênãohánadamau.Porquediabosdiriamalgoassimdevocê?—Souumasolteira.Ninguémquermebeijar.Istoeramuito.DaisyBowmanestavafuriosacomeleporquenãoatinha

beijado,algoqueeletinhasonhadodurantetodasuavida.Comportou-sedemaneirahonorável,maldição,eemvezdeapreciá-loelaestavazangada.—…tãopoucodesejávelsou?—destrambelhavaDaisy.—Deverdade

teriasidotãodesagradávelmebeijar?Eleatinhadesejadodurantetantotempo...recordou-seasimesmomil

vezestodososmotivospelosqueelenuncapoderiatê-la.Tinhasidomaisfácilaosaberqueelaodetestavaequenãohavianenhumarazãoparateresperanças.Masapossibilidadedequeseussentimentostivessemmudado,dequeelapudessequerê-lo,encheu-odeumaemoçãoqueoenjoava.Umminuto,maseperderiaaprudência.—… não sei como fazer o que se supõe que fazem asmulheres, para

atrairaoshomens—diziaDaisyfuriosamente.—Equandoporfimtenhoumapossibilidadedeganharumpoucodeexperiência,você...—lheolhoue franziu o cenho quando viu sua cara. — por que me olhe você dessamaneira?—Dequemaneira?—Comoselhedoessealgo.Dor.Sim.Aclassededorqueumhomemexperimentavaquandosentia

luxúria por uma mulher durante anos e se encontrava sozinho com ela,

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aguentandosuasqueixaporquenãoa tinhabeijado,quando todoqueeleansiavaeralhearrancararoupaepossui-laalimesmo,nochão.Ela queria experiência? Matthew estava disposto a lhe dar a maior

experiênciadesuavida.Seucorposepôstãoinsuportavelmenteduroqueo roce do tecido das calças era suficiente para fazê-lo estremecer-se.Lutandoporcontrolar-se,eleseconcentrouemrespirar.Respiração.Masestavacadavezmaisexcitado,atéqueumanévoavermelhaseinstalounosbordedesuavisão.Não foi conscientedomovimento,mas de repente suasmãos estavam

sobre ela, justo debaixo de seus braços onde o cetim amarelo permitiasentir o calor de seu corpo. Era ligeira e flexível, como uma gata… elepoderialevantá-lafacilmente,apoiá-lacontraaparedee…OsolhosescurosdeDaisyseaumentaramassustados.—Oqueestávocêfazendo?—Queroquerespondaaumapergunta—conseguiudizerMatthew.—

porquepronuncioumeunomenosalãodejogos?As emoções cruzaram sua cara em uma rápida sucessão… surpresa,

culpa,vergonha.Cadapolegadaexpostadesuapelesetornourosada.—Nãoseioquequerdizer.Seunomeestavaescritonopapel.Nãotinha

nenhumaoutraopçãosó…—Estávocêmentindo—disseMatthewconcisamente.Seucoraçãose

detevequandoelanão respondeu.Daisynão ianegaro. Seu rubor se fezmais intensoquase carmesim.—Meunomenãoestavanaquelepapel—disseelecomgrandeesforço.—Masvocêodissedetodososmodos.Porque?Ambos sabiam que só poderia haver uma razão. Matthew fechou os

olhos brevemente. Seu pulso pulsava desbocado e um calor abrasadorcorriaporsuasveias.OuviuavozindecisadeDaisy.—Somentequeriasaberoquevocê…comovocê…eusomentequeria…Eraatentaçãoemsuaformamaisbrutal.Matthewtratoudeafastar-se

dela, mas suas mãos não liberavam suas curvas embainhadas em cetim.

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Sentia-setãobemsustentando-a.Eleolhoufixamentesuabocadeliciosa,afendasutil,masdeliciosanocentrodeseulábioinferior.Umbeijo,pensouele desesperadamente. Poderia ter ao menos isso. Mas uma vezcomeçasse…nãoestavasegurodesepoderiaparar.—Daisy…—Ele tratoudeencontrarpalavrasparaaliviara situação,

maseradifícilfalarcoerentemente.—voudizerlheaseupai…assimquetenhaoportunidade…queeunãopossomecasarcomvocêsobnenhumacircunstância.Elaaindanãooolhava.—porquenãooháditoaindaameupai?Porqueeletinhadesejadoquesefixassenele.Porque por um breve período de tempo, ele desejava sentir o que

significavateroquesempretinhasonhadoaseualcance.—Paraincomodá-la—disseele.—Poisoconseguiu!—Masnuncaconsidereiapossibilidadeseriamente.Eununcapoderia

mecasarcomvocê.—Porquesouumasolteira—disseelacomaspereza.—Não.Nãoéporisso...—Porquenãosoudesejável.—Daisy,pareagoramesmo...—Nãovalhonemumsóbeijo.—Está bem—algo se quebrounoMatthew, rompendoo controle de

suasensatez.—Porcaria,vocêganha.Beijarei-a.—Porquê?—PorquesenãoofaçovocênuncadeixarádemereprovarissoAgorajáémuitotarde!Deveriahavê-lofeitoantesnosalão,masnãoo

fez,etampoucopermitiuquequalqueroutrohomemofizesse,eagoratereiquemeconformarcomobeijomedíocrequevocêmedêcomoprêmiodeconsolação.—Medíocre?Issofoiumengano.MatthewpôdeverqueDaisysedeucontanomesmo

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instanteemquepronunciouaspalavras.Elaacabavadeselarseudestino.—E-euquisdizer...queseriaumbeijoindiferente—disseelacomum

ofego,tratandodeafastar-sedele.—Éóbvioquevocênãoquermebeijareportanto…—Vocêháditomedíocre—Aseguroucom forçacontraele.—Oque

significaqueagoratenhoquelhedemonstrarquenãoseráassim.—Não,vocênão…—disseelarapidamente.—Realmente.Vocênão…

—Daisyemitiuumpequenogritoquandolhepôsumamãonanuca,osomficouamortecidoquandoMatthewinclinouacabeçaparabeijá-la.

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Capítulo7

Matthew soube que era um engano no mesmo instante em que seus

lábiosseencontraram.Porquenadapoderia igualar jamaisamaravilhosasensaçãode teraDaisyentre seusbraços...Estavaarruinadopara todaavida,semremédio.Queocéuoajudasse,masnãolheimportava.Suabocaerasuaveequente, comoa luzdosol, comooresplendordo

fogoconsumindoamadeira.Elaofegouquandoeletocouseulábioinferiorcomapontadalíngua.Devagar,Daisysubiuasmãosatéseusombros,elesentiu seusdedosnanuca, aferravam-sea seu cabelo comosequeria lheimpedir de escapar. Mas não havia nenhuma possibilidade de que issoacontecesse,nadapoderiahavê-lofeitoparar.OsdedosdeMatthewtremiamquandoacariciarama linhadeliciosade

suamandíbula, levantando com cuidado seu rosto para cima.O sabor deseuslábios,brandamentedoces,avivouofogodeseudesejoameaçando-operdendo o controle… então ele introduziu a língua na seda úmida dointeriorde suaboca, e emum instanteobeijo se fez,masprofundo,masintenso,atéqueelacomeçouagemercomseucorpomoldadocontraele.Lhedeixousentirsuaforça,opoderdeseucorpo,seubraçomusculoso

sustentavasuascostasquandoseparouaspernasparasituá-laentresuaspoderosas coxas. Matthew sentia seu corpo pego ao dele, seus peitosapanhados entre os encaixes e o espartilho. Quase o vence o impulsoselvagemdearrancaressesobstáculoseencontraracarnesensívelqueseescondiadebaixo.Emmuda, ele afundouosdedosemseu cabelo, deixando suaboca lhe

inclinouacabeçaesustentouseupesocomumamão,expondoasuaveebrancapeledesuagargantaparaele.Beijouolugarondepulsavaseupulsodesbocado,deslizouos lábiosbrandamentedeixandoumatalhodebeijos.Quandoele alcançouumponto sensível, sentiu a vibraçãodeumgemido

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afogadoemsuagarganta.Assimseriafazeroamorcomela,pensoudeslumbrado…sentiriaodoce

tremor de sua carne quando ele entrasse nela, seu quente fôlego, ossuspirosnecessitadosque escapassemde sua garganta. Sentiria suapele,quenteefeminina,perfumadacomoaromadochá,otalcoeumpingodesal.Oencontrousuabocaoutravez,abriu-a,invadindo-adenovo,sentindoseucalornalíngua,eumsaboríntimoqueovoltoulouco.Daisydeveriafreá-loantesdequeforamuitotarde,masemlugardisso

cedia maleável, rendendo-se, tentando-o a transpassar todos os limites.Matthew a beijava com profundos, frenéticos beijos, atraindo seu corporitmicamentecontraoseu.Daisysentiaaspernasdébeissobasaiadeseuvestido, comcuidadoo colocouumacoxaentre elas.Ela se retorceu comumdesejoinocenteeumintensoruborlhecobriuorosto,comoacordaspapoulasqueflorescemafinaisdoverão.Setivesseentendidoexatamenteo que ele queria dela, faria muito mais que ruborizar-se. Teria sedesacordadonoato.Separandoabocadasua,Matthewapoiouumabochechaemumladode

suacabeça.— Acredito — disse ele com dificuldade, — que isto responde à

perguntaarespeitodeseaencontrodesejávelounão.Daisyencontrouaforçaparadesfazer-sedeseuabraçoeafastar-sedele,

deu-seavoltaefixouoolharnafiladelivrosencadernadosemcouroquetinhadianteparanãolheolhar.Suaspequenasmãosseaferraramaestantede mogno enquanto lutava por controlar o ritmo turbulento de suarespiração.Matthew estava de pé detrás dela, elevando as mãos cobriu as dela.

Daisy se esticou contra seu peito quando ele posa o lábio detrás de suaorelha.—Nãoofaça—disseelacomvozapagada,tentandoafastar-sedele.MasMatthew não podia parar. Baixando a cabeça, afundou o nariz na

suave curvade seupescoço. Soltouumade suasmãose a colocou comapalma aberta sobre a pele nua em cima do espartilho, onde sobressaía a

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curva de seus peitos. Daisy levantou amão e a colocou em cima da sua,como se seus esforços combinados fossem necessários para conter aspalpitaçõesdeseuimprudentecoração.Matthewesticoutodososmúsculosemumintentodefrearoimpulsode

agarrá-la e levá-la ao sofá mais próximo. Queria fazer o amor com ela,enterrar-sedentrodelaatéqueaslembrançasamargassedissolvessememsuadoçura.Masaquelapossibilidadelhetinhasidoroubadamuitoantesdequeelesseconhecessem.Elenãotinhanadaquelheoferecer.Suavida,seunome,suaidentidade…

todoeraumailusão.Elenãoeraohomemqueelapensavaqueera.Eerasóquestãodetempoqueoaveriguasse.Adesgostoelecompreendeuqueinconscientementetinhaagarradosua

saiacomumamãocomintençãodelevantá-la.Ocetimbrilhavaentreseusdedos.Elepensouemseucorpoenvoltoemtudoessesobjetoselaços,eoprazerímpioquedeveriaserdespi-lacompletamente.Riscarummapadeseucorpocomabocaeasgemasdosdedos,aprendendocadacurva,cadafendaecadalugarsegredo.Olhando sua mão como se pertencesse a outra pessoa, Matthew

desenrolouseusdedosumaumatésoltarotecido.Deu-lheavoltaparaverseurosto,indagandoemsuasescurasprofundidades.—Matthew—disseelabrandamente.Eraaprimeiravezqueelausavaseunomedepilha.Elelutouporocultaraintensidadedesuarespostaaosomdesuavoz.—Sim?—Amaneiraemquevocêseexpressouantes…vocênãodissequenão

se casaria comigo sobnenhuma circunstância…disseque vocênãopode.Porque?— Já que isso não vai ocorrer — disse ele— os motivos não têm

importância.Daisyfranziuocenho,tinhaoslábiosinchadosporseusbeijos.Eleseapartouparadeixá-lair.Obedecendoessesinalsilencioso,Daisycomeçouaafastar-se.Roçando-

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oaopassar.Logo que deu uns passos quandoMatthew alargou o braço e agarrou

comsuavidadeumadeseuspulsos...ederepenteelaestavaemseusbraçosoutra vez. Ele não pôde conter-se e voltou a tomar sua boca, beijando-acomoselhepertencesse,comosejáestivessedentrodela.Isto é o que sinto por ti, disse-lhe com seus intensos e apaixonados

beijos,consumidopordesejo.Istoéoquequero.ElesentiucomoocorpodeDaisyseesticavadenovo,percebeusuaexcitaçãoecompreendeuquepoderiatê-lanessemesmoinstante,aquieagora,selhelevantavaovestidoe…Não,disse-se ferozmente. Isto já tinha chegadomuito longe. Sabiaque

estavamuitopertodeperderocontrole.Separousuabocadaseucomumprofundosuspiroeaseparoudele.Daisy saiu da biblioteca imediatamente. Arrastando a seu passado a

prega de seu vestido amarelo, deteve-se um segundo na porta antes dedesaparecercomooúltimoraiodesolqueescorregasobreohorizonte.E Matthew se perguntou com tristeza como poderia tratá-la com

normalidadequandovoltasseavê-la.Existia o costume de que a proprietária de uma propriedade, atuasse

comoa“SenhoraGenerosidade”paraosarrendatáriosealdeãoslocais.Istoimplicava ajudar, dar assistência e conselho, assim como doar artigosnecessários como alimento e roupa para os que o necessitavam. Lilliantinha realizado esses deveres de bom grau até agora, mas sua atualcondiçãoofaziaimpossível.Não se podia contar com a Mercedes para substitui-la. Seu trato era

muitoásperoeimpacienteparatalatividade.Nãogostavadeestaraoredorda gente doente, fazia sentir aos anciões incômodos, e algo em sua vozcausavaoprantoeosgritosdosmeninosindevidamente.PortantoDaisyeraaopçãológica.ADaisynãoimportavaabsolutamente

fazer essas visitas Gostava do carro com o pônei, entregar aos aldeãosroupa e provisões, lhes ler a aqueles com má visão, e escutar seusproblemas.Dadaanaturezainformaldoencargo,nãotinhaquevestir-sena

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moda,nempreocupar-secomaetiqueta.HaviaoutrarazãopelaqueDaisysealegravade terque iraopovo…a

mantinha ocupada e longe da casa, e assim podia concentrar seuspensamentosemoutracoisaquenãoforaMatthewSwift.Tinham passado três dias desde aquele terrível jogo de salão e suas

consequências, quer dizer, que Matthew a beijasse a consciência. Ele secomportavacomelacomosempre,comfriezaecortesia.Daisyquaseacreditavaquetinhasidoumsonho,excetoporquesempre

queelaestavapertodoSwift,seusnervossealteravam,eseuestômagosemovia,acimaeabaixocomoumpardalbêbado.Queriafalardissocomalguém,masissotambémamortificava,dealgum

modolhepareciaumatraição,emboranãoestavaseguradequem.Tudooque ela sabia era que não se sentia bem. Não dormia bem, e porconseguinteestavatorpeedistraídatodoodia.Pensando que poderia estar doente, falou com o ama de chaves,

descreveuoquelheocorriaelhedeuumarepugnantecolheradadeazeitede castor. Isso não tinha ajudado nomaismínimo. O pior de todos seusmaleseraquenãopodiarefugiar-seemseuslivros.Tinhalidoasmesmaspáginasumaeoutravez,semqueconseguissemcaptarseuinteresse.Daisy não tinha nem ideia de como conseguir estar bem outra vez.

Pensouqueaajudariadeixardepensarnelamesmaefazeralgoporoutros.Assimnomeiodaamanhã,Daisydispôsumcarrograndemiserávelpor

umrobustopônei cormarromchamadaHubert.Ocarro foi carregadoderecipientesdeporcelanacheiosdemantimentostalherespôrpanos,formasdequeijo, peçasde cordeiro, nabos, toucinho, chá e garrafasde vinhodoporto.Fazer estas visitas era geralmente uma tarefa bastante agradável, os

aldeãos pareciam desfrutar da presença alegre de Daisy. Alguns deles afizeram rir quando descreveram com picardia as antigas visitas dacondessa,mãedelordeWestcliff.A condessa viúva distribuía as viandas a contra gosto, esperando um

grandeespetáculodegratidão.Seasmulheresnãofaziamumareverência

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com a suficiente inclinação, a condessa viúva perguntava acidamente seseus joelhos tinhamalgumproblema.Tambémesperava ser consultadaarespeito dos nomes que punham a seus meninos, instruía-os com suasopiniõessobreareligiãoeoquedeveriamsaberreferenteàhigiene.Comoseainda forapouco,acondessaentregavaosmantimentosmescladosemuma confusão pouco apetitosa. Mesclava a carne, as verduras e oscaramelos,emummesmorecipiente.—Quesenhoratãoamável!—exclamouDaisy,dispondopotesepanos

detecidosobreamesa.—Quebruxamáevelhaera!Igualàdoscontosdefadas…—ElaentreteveaosmeninoscomumarepresentaçãodramáticadoHanseleGretelque lhes fezrirechiarescondidossobamesa,olhando-aencantados.Porvoltado finaldodia,Daisy tinha cheioumpequeno livrodenotas

com encargos, como localizar a um especialista que examinasse os olhoscansadosdoanciãosenhorHearnsleyoutrazeroutragarrafadotônicodoamadechavesparaasdoençasdigestivasdosenhorBlunt.Prometendoqueeladerivaria todasasquestõesdiretamentea lordee

ladyWestcliff,Daisy subiuno carro, agoravazio, epartiudenovoparaoStonyCrossPark.Quasetinhachegadoocrepúsculo,assombraslargasdoscarvalhoseos

castanhos cruzavam o caminho sem pavimentar que levava a povo. EstapartedaInglaterraaindanãotinhasidodesmatadaparaalimentarasfrotase as fábricas que tinham prosperado nas principais cidades. Os bosques,aindaprimitivos,pareciamdeoutromundo,compequenosatalhosmédioenterrados entre as grosas ramos das árvores cheias de folhas. Entre assombras crescentes seenroscavamovaporeomistério, comosentinelasdeummundodedruidaseunicórnios.Ummochomarromcruzouavereda,parecendoumatraçanocéuescurecido.Ocaminhoestava tranquiloexcetoporestalocontinuadodasrodasdo

carroeoclop-clopdoscascosdoHubert.Daisymantevecomumapertãofirme as rédeas quando o pônei acelerou seu passo. Hubert parecianervoso,sacudindoacabeçadeumladoaoutro.

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— Tranquilo, moço — lhe disse Daisy com calma, reduzindo avelocidade de seu passo quando o eixo do carro se agitou sobre umcaminho emmal estado.— Você não gosta do bosque, verdade? não sepreocupe,chegaremosaocaminhoprincipalmuitoembreve.O pônei seguiu sua marcha até que a vegetação diminuiu e a densa

folhagemdesapareceu.Entraramnocaminhodeterraseca,obosqueficouaumladoeporoutroseestendiaumprado.— Já está,medroso—disseDaisy despreocupadamente—nãohá por

quepreocupar-se,vê-o?Masfoimuitoconfiada.Daisyouviuunsruídosqueprovinhamdobosque,comoseunspassos

quebrassem folhas e ramos ao caminhar. Hubert se moveu inquieto ebalançousuacabeçaparaoruído.OgrunhidoásperodeumanimalfezqueaDaisylhearrepiasseopêlodanuca.Céus!,oqueeraisso?Com alarmante brutalidade apareceu uma forma enorme e volumosa

quesedirigiaparaocarrodobosque.Tudoaconteceumuitodepressapara compreendê-lo.Daisy agarrouas

rédeasquandoHubertatirouparafrenterelinchandopresadopânico,suaagitaçãoprovocouqueocarroestralassecomoseforaobrinquedodeummenino.Daisy tentou em vãomanter-se no assento, o carro golpeou um sulco

profundoeelafoilançadaforadoveículo.HubertseguiusuacarreirasemordemnemconcertoporcaminhoenquantoqueDaisyaterrissousobreaduraterracomumgolpequeadesorientou.Aforçadoimpactoafezofegar,comoselhefaltasseoar.Viuasombra

de uma criatura enorme, monstruosa, precipitar-se para ela, nessemomentoosomdeumdisparorasgouoar,retumbandoemseusouvidos.Escutououivoterríveldeumanimal…elogonada.Daisytratoudeincorporar-se,masnãotinhaforçasesederrubousobre

o estômago, com espasmos nos pulmões. Sentia-se como se a tivessemparecidoaochãocomparafusos.Felizmente,oprimeiroimpactofoisobre

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seu traseiro, era consciente do dano que se teria feito ao precipitar-sesobreocaminho,senãotivessesidoassim.Derepente,oretumbardecascosfezvibrarochãosobsuabochecha.Foi

capazdeummínimoesforçoparaapoiar-sesobreoscotoveloselevantaroqueixo.Trêscavaleiros,não,quatro,galopavamparaela,oruídodoscascosdos

cavalosseouviaentreanuvemdepóqueprovocavamaseupasso.Umdoshomens se adiantou e desceu de seu cavalo antes de que este se deteveaproximando-sedelacomgrandespassos.Daisy piscou pela surpresa quando ele se ajoelhou a seu lado e a

levantoucomumsómovimento,lhecolocandoacabeçasobreseubraço,ederepente,encontrou-seolhandoobronzeadorostodeMatthewSwift.—Daisy—suavoztinhaummatizquenuncalhetinhaescutadoantes,

áspero e urgente. Embalando-a em um braço, ele moveu sua mão livresobreseucorpoprocurandoferidas.—Estãoferida?Daisytratoudeexplicarquealgoassustouaocavaloeelacaiuaoestou

acostumadoagolpeando-se,elepareceuentenderseussonsincoerentes.—Estábem—disseele.—Nãotentefalar.Respiralentamente.—Daisy

se removeu inquieta, e o ajustou sua postura. — te Apoie em mim. —Passou-lheumamãoporcabelo,apartandoodesuacara.Sentiu-atremeremseusbraços,eaaproximoumaisparaele.—teAcalmeamor.Tranquila.Agoraestáasalvo.Daisy fechou os olhos para ocultar seu assombro. Matthew Swift

murmurava palavras carinhosas e a sustentava entre seus fortes braços,sentiuqueosossoslhederretiamcomosefossemcaldadeaçúcar.Os anos de brigas selvagens com seus irmãos lhe tinham ensinado a

Daisy a recuperar-se rapidamente de uma queda. Em qualquer outracircunstânciaelase levantariadeumsaltoesesacudiriaopódovestido.Mascadacéluladeseucorpoestavasaturadadeprazer,tentouconservaressemomento,fazê-lotãolargocomoforapossível.OsternosdedosdeMatthewacariciaramsuacara.—meolhe,meuamor.Medigaondetedói.

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Daisylevantouaspestanas,seurostoestavamuitoperto, justosobreoseu.Perdeu-seemseuolhar,ficouprisioneiradeseusextraordináriosolhosazuis,sentiuqueseafundavaemsuasprofundidadesvioletas.—Temosdentesbonitos—lhedisseela.—Masseusolhossão…ainda

maisbonitos.Swiftfranziuocenho,epassouagemadopolegarsobresuabochecha.

Seutoqueprovocouumrubornasuperfíciedesuapele.—Podemedizerseunome?Elapiscou.—esqueceucomomechamo?—Não,oquequerosaberésevocêoesqueceu.—Nuncaseriatãotontaparaesquecermeupróprionome—disseela.

—SouDaisyBowman.—Quandoéseuaniversário?Elanãopôdereprimirumsorriso torcido.Comosaberáque lhedigoo

diacorreto?—Seuaniversário—insistiuele.—Emcincodemarço.Matthewfezumacaretacomironia.—Nãobrinquecomigo,fantasiadediabo.—Bom,édozedesetembro.Comosabevocêquandoémeuaniversário?Emlugarderesponder,Swift levantouoolharfaziaoshomensquelhe

acompanhavam,quetinhamchegadoatéeles.— Não tem as pupilas dilatadas — disse ele, — e está acordada.

Tampoucohánenhumafratura.—Graçasaocéu—seouviuavozdelordeWestcliff.OlhandoporcimadosamplosombrosdeMatthewSwift,Daisyviuque

seu cunhado estava de pé detrás deles. O senhor Mardling e lordeLlandrindontambémestavamali,comexpressãocompassiva.LordeWestcliffsustentavaumrifleemumamão,agachou-seaseulado.—Retornávamosdepassara tardeemumapartidadecaça—disseo

conde. — Foi pura casualidade que passássemos por aqui e lhe

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encontrássemos.—Poderiajurarqueeraumjavali—informouDaisy.— Isso não é possível — comentou lorde Llandrindon com uma

sorrisinhoafetado.—Suaimaginaçãolhedeuumamápassada,senhoritaBowman.NãohánenhumjavalinaInglaterrahácentenasdeanos.—Maseuovi…—repôselaàdefensiva.—Estábem—murmurouSwift,abraçando-a,masforte.—Eutambém

ovi.Westclifftinhaumaexpressãodepesar.—AsenhoritaBowmannãoestácompletamenteequivocada—dissea

lorde Llandrindon.— tivemos problemas na comunidade, alguns porcosescaparamepariramumaninhadaoudois,agorasãoanimaisselvagens.Omêspassadoumamulherqueiaacavalofoiatacadaporumdeles.— Pensa que fui atacada por um porco furioso?— perguntou Daisy,

lutandoporsentar-se,Swiftmanteveumbraçoemsuascostasearecostouemseuflancoquente.Umúltimoraiodesolbrilhavanohorizonte,refletiu-seemseusolhose

porummomentoacegou.Apartandoosolhosdaluz,DaisyafundouacaranopeitodeSwiftesentiuorocedeseuqueixonocabelo.—Furiosonão—repôsWestcliffreferindo-seaoporco.—Selvagem,e

portantoperigoso.Osporcosdomésticos em liberdade facilmentepodemvoltar-seagressivosebastantegrandes.Euestimariaqueestepodepesar,aomenostrezentaslibras.—OsolhosdeSwiftexpressaramperplexidade,a libra era uma medida britânica assim que o conde esclareceu: —aproximadamentecentoetrintaquilogramas.Swift ajudou a Daisy a ficar em pé, sustentando-a contra seu robusto

corpo.—Devagar—murmurou.—Estávocêenjoada?Temnáuseas?Daisysesentiamuitobem.Maseratãodeliciosoestaralidepéapoiada

nelequeeladisseofegando:—Simtalvezumpoucoenjoada.Matthew levantou a mão e lhe embalou a cabeça contra seu ombro.

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Daisy sentia um ardente calor estendendo-se por seu corpo, sentia-seflutuarcobertanoamparodeseusbraços,contraamaravilhosasolidezdeseucorpo.TudoporMatthewSwift,ohomemmenosromânticoquetinhaconhecido.Umasurpresaatrásdeoutra.—Eualevarei—disseSwiftpertodeseuouvido.Suapelepalpitoude

agradaremresposta.—vocêCriequepoderiamontardiantedemim?Umaavalanchede pensamentos alagou aDaisy, sentindo uma emoção

desavergonhada de antecipação ante a perspectiva de montar junto ao.Sonhouapoiando-seemsuascostasquandoeleasubisseaseucavalo,eemsegredocumprirumafantasiaoudois,comofingirqueeraumaaventureirasequestradaporumbandidosedutor…— Temo que não seria o mais prudente — interrompeu lorde

Llandrindoncomumsorriso.—Talcomoestãoascoisasentrevocêsdois…Daisyempalideceu,pensouemumprimeiromomentoqueelesereferia

aaquelesmomentostórridosnabiblioteca.MasnãoerapossívelquelordeLlandrindon pudesse saber isso. Ela não o tinha contado a ninguém, e osenhorSwiftsefechavacomoumaalmejanoreferenteasuavidaprivada.Não,Llandrindondeviareferir-seasuarivalidadejogandoaosboliches.—AcreditoqueseriamelhorqueeuescoltasseàsenhoritaBowmanaté

a casa — sugeriu lorde Llandrindon. — Para acautelar qualquerpossibilidadedeumadiscussão.Daisy lhedeuumaolhadaàcarasorridentedoviscondeedesejouque

tivesse mantido a boca fechada. Dispôs-se a protestar, mas Swift lheadiantou.—Acreditoquetemrazão,milorde.OH, caramba! Daisy se desgostou quando Swift, como se sentisse

aliviado,afasto-adorefúgioquentedeseucorpo.Westcliff examinou os rastros na terra a sua redor com expressão

severo.—Tereiqueencontraraoanimalelhedarcaça.—Esperoquenãosejaporminhaculpa—repôsDaisycominquietação.—Há sangre nos rastros— respondeu o conde—o que significa que

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estáferido.Émelhorissoquedeixá-losofrendo.OsenhorMardlingfoiprocurarsuaarma.—Ireicomvocê,Milorde!—assinalou.EnquantoissolordeLlandrindonjátinhamontadoemseucavalo.— Acomode-a aqui— ordenou ao Swift.— A levarei sã e salva até a

casa.MatthewlevantouorostodeDaisyparaeleeextraiuumlençobrancode

seubolso.— Se ainda se sente mal quando chegarmos a casa — disse ele, lhe

limpandobrandamenteasmanchasdesujeira—chamareiodoutor,Tudobem?Apesardesuavozautoritáriahaviatalternuraemseuolhar,queDaisy

quismeter-sedentrodesuajaquetaeacorucharesemseupeitoparaouvirosbatimentosdocoraçãodeseucoração.—Vaivocêtambém?—perguntou-lhe—OuficacomlordeWestcliff?— Estarei justo detrás de você — guardou o lenço em seu bolso,

inclinou-seeaagarrouembraçoscomfacilidade.—Agarre-seamim.Daisy pôs os braços ao redor de seu pescoço, um comichão lhe subiu

pelapulsoquandonotouapelequentedesuanucaeosfiossedososdeseucabelo.Levava-acomoseelanãopesassenada,seupeitoerasólidocomouma rocha, seu quente fôlego lhe acariciava a bochecha.O aromade suapeleeracomoosol,comoaprimavera.Logoquepôdeconter-separanãoafundaronarizemseupescoço.Desconcertada pela intensa atração que sentia para ele, Daisy

permaneceu em silêncio enquanto Swift a aproximava até lordeLlandrindon,sentadosobreumenormebaio.Oviscondeacolocoudiantedele,entreobordadacadeirademontaresuaspernas.Lorde Llandrindon era um homem arrumado, elegante, de cabelos

morenosedestacadaconstituição.Masotatodeseusbraçosaoredordela,seu corpomagro, sua essência… de algum jeito... algo não estava bem. Ocontatodesuamãoemsuacinturaeraestranhoealheio.Daisy poderia ter chorado de frustração. Por quê? Por que não podia

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querê-lo a ele em lugar de querer ao homem equivocado para ela?Perguntou-se.—Oque tepassou?—perguntouLillianquandoDaisy entrouna sala

Marsden. Estava reclinada sobre o sofá com um periódico nas mãos.—Parecequetetivesseatropeladoumcarro.—Emrealidade,tiveumencontrocomumporcomaleducado.—Lillian

riuedeixouaumladooperiódico.—Quemeraoporco?—Nãoeraumametáfora.Eraumporco—sentando-seemumacadeira

próxima,Daisylherelatouoocorrido,lhedandoumtomgracioso.—Encontra-tebem?—perguntou-lheLilliancompreocupação.—Perfeitamente—lheassegurouDaisy.—EHubert também.Chegou

aosestábulosaomesmotempoquelordeLlandrindoneeu.—Foiumasorte.—Sim,Hubertétãointeligentequeencontrouocaminhoacasa.—Não,nãofalodopônei.RefiroaorodeioacasacomlordeLlandrindon.

Nãoéqueeuestejaterespirandoparaqueoescolha,masporoutrolado…—Elenãoeracomquemeuqueriamontaracavalo—Daisydesviouo

olharparaasaiamanchadadeseuvestidoeseconcentrouemumfiodamusselina.— Ninguém pode te culpar por isso — disse Lillian. — Lorde

Llandrindonéagradável,masbastanteinofensivo.CompreendoqueprefiramontarcomosenhorMardling.— Não— disse Daisy. — Não me referia ao senhor Mardling. Quem

queriaquemetrouxesseparacasaera…—Não—Lillian levantouasmãosesetampouosouvidos.—Nãome

digaisso.Nãoqueroouvi-lo!Daisyaolhoumuitoséria.—Oqueocorre?Lillianfezumacareta.—Porcaria!—resmungouela.—Maldita,Porcaria!Filhode…—Quando o bebê nasça— lhe advertiuDaisy comum sorriso— terá

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quedeixardeusaressalinguagemobscena.—Entãoousareitudooquepossaatéquechegueomomento.—Estáseguradequeéumvarão?— Isso espero, por que Marcus necessita um herdeiro e nunca mais

passareiporisso—Lillianseesfregouosolhoscansadoscomasmãos.—Bem... a única opção que fica é Matthew Swift — disse em um tomcascarrabias.—Deduzoqueeracomelecomquemqueriamontaracavalo.—Sim…eu...sinto-meatraídaporele.Eraumalíviopoderdizê-loemvozalta.Daisy,quetinhatidoumnóna

garganta,finalmentesoltouofôlegoemumcompridoelentosuspiro.—Atrai-teseufísico?—Todoorestotambém.Lillian descansou a bochecha em umamão fechada em um punho e a

olhoufixamente— É porque papai quer esse casamento? — perguntou. — Esperas

agradá-lodealgummodo?—OH, não. Em todo caso, a aprovação de papai seria ummotivo em

contradosenhorSwift.Importa-meumnadalheagradar…seimuitobemqueéimpossível.— Então não compreendo por que quereria a um homem que é tão

obviamente inapropriadopara ti.Nãoéumaatordoada,Daisy. Impulsiva,sim, romântica, certamente.Mas é tambémprática e bastante inteligenteparaentenderasconsequênciasde te implicarcomumhomemcomoele.Acreditoqueoproblemaéqueestásedesesperada.Éaúltimadenósqueestásolteira,epapaitetemfeitoesseestúpidoultimato,e…—Nãoestousedesesperada!—EstapensandoemcasarcomMatthewSwift,eudiriaqueesseéum

sinaldedesesperoextremo.Daisy nunca tinha sido acusada de ter mau caráter, essa distinção

sempreacompanhavaaLillian.Masaindignaçãolheencheuopeitocomoofogo de uma caldeira de vapor, teve que lutar para controlar-se e nãoexplorar.

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Lhe jogar uma olhada ao ventre de sua irmã a ajudou a acalmar-se.Lillian sofria agora muitos desconfortos e também novas inquietações.Daisynãoquerialheacrescentarumamais.— Não hei dito nada sobre me casar com ele — respondeu. —

Simplesmentequeroaveriguarmaiscoisassobreele.Sobreohomemqueé.Nãovejonenhumproblemanisso.— Não acredito que o consiga — discutiu Lillian com uma poderosa

convicção. — Precisamente, ele não te mostrará quem é realmente,enganará te. Sua missão na vida é a de averiguar o que a gente quer efabricá-lo para eles, tudo para seu próprio benefício. Seu viu comoconseguiuconverter-seno filhoquepapaisemprequis.Agorapretenderáseraclassedehomemquevocêsempredesejou.—Ele não poderia saber que…— tratoude dizerDaisy,mas Lillian a

interrompeu inflamada, com uma pressa descortês, incapaz de ter umpensamentoracional.—Elenãotemnenhuminteresseemti,emseucoração,emsuamente,

napessoaquevocêé…elequer controlarumapartedaempresa, e tevêcomoomododeconsegui-lo.Certamentetratarádetegostarde…trataráde te fascinar atéodia seguintedo casamentoquandoaveriguarqueeratodouma ilusão.É igualapapai,Daisy!Ele teanularáe teconverteráemalguémcomomamãe.Essaéavidaquequer?—Certamentequenão.PelaprimeiravezDaisycompreendeuquenãopodiaconfiarnaopinião

de sua irmã maior sobre um pouco tão importante. Havia tantas outrascoisasquelhequeriacontar…nãotudooqueMatthewSwiftlhehaviaditooutinhafeitopoderiatersidodeliberado.Elepoderiaterinsistidoemqueelamontasseacavalocomeleparaacasa,eemmudaa tinhaentreguealorde Llandrindon sem um protesto. Queria lhe contar que Swift a tinhabeijado, e que tinha sido glorioso, e omuitoque esse sentimento a tinhapreocupado.MasnãoexistianenhumargumentoválidoquandoLillianestavadesse

humor,seriaumaconversaçãosemsentido.

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Osilêncioqueasenvolveuerasufocante.—Ebem?—exigiuLillian.—Oquevaisfazer?Daisyseesfregouumamanchadesujeiranobraçoedissecompesar:—Paracomeçar,pensoqueomelhorseriamedarumbanho.—Sabeaquemerefiro!—OquequerquefaçaLillian?—perguntouDaisytãototalquefezque

Lillianfranzisseocenho.— lhe diga a Matthew Swift que é um sapo asqueroso e que não há

nenhumapossibilidade,nemaindanoinferno,detecasarcomele!

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Capítulo8

—…eentãopartiu—explicavaLilliancomveemência,—semmedizer

o que ia fazer ou o que pensava realmente. OH, caramba!, e sei que hácoisasquenãomecontou…—Querida—a interrompeuAnnabellecomtato—estáseguradeque

lhedeuaoportunidadedelhecontarissotudo?—O que quer dizer? Estava sentada justo diante demim. Tinha toda

minha atenção e a escutava com meus dois ouvidos. O que outraoportunidadenecessitava?Agitada e incapaz de dormir, Lillian tinha descoberto que Annabelle

estava também acordada por causa do desconforto de sua filha, quemfinalmente dormiu. Elas se tinham visto dos respectivos balcões de seusdormitórios, e se tinham feitogestosparaencontrar-seabaixo.Erameia-noite.PorsugestãodeAnnabellederamumpasseiopelasalaMarsden,umquartolargoeretangularcomseverosretratosfamiliareseobrasdeartedeinapreciável valor.Embelezadas combatasdedormir, serpentearampelagaleriaagarradasdobraço,aoritmodopassolentodeLillianquearrastavaospés.Lillian tinha recorrido à companhia de Annabelle frequentemente

duranteotranscursodagravidez.Annabelleentendiaoquelheacontecia,havendo-o experiente elamesma recentemente. A presença tranquila deAnnabelleeraumbálsamoreconfortanteparaaLillian.—Oquequerodizer—disseAnnabelle,—équepossivelmenteestava

tãopendentede lhecontaraDaisycomosesentiavocêqueesqueceulheperguntarcomosesentiaela.Lillianbalbucioucomindignação:—Masela…mas…eu—sedeteveeoconsiderouummomento.—Tem

razão — admitiu bruscamente. — Não lhe perguntei. Estava tão

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horrorizadapelaideiadequeDaisysesentisseatraídaporMatthewSwift,que suponho que realmente não quis falar disso. Quis lhe ordenar o quefazerelogodarporterminadooassunto.Giraram ao final da galeria e passaram por diante de uma fila de

paisagens.— Pensa que houve alguma intimidade entre eles? — perguntou

Annabelle.Vendoo alarmedeLillian esclareceu:—Comoumbeijo…umabraço…—OH,Céus!—Lilliansacudiuacabeça.—Nãosei.Daisyétãoinocente.

Seriatãofácilparaessaserpenteseduzi-la.—Emminhaopinião,eleestásinceramenteprendadodela.Que jovem

nãooestaria?Daisyéadorável,encantadoraeinteligente.—Erica—assinalouLillian.IssofezriraAnnabelle.—Odinheironuncaestádemais—conveioela.—Masnestaocasião,

acreditoquehámaisqueisso.—Comopodeestartãosegura?—Querida,éóbvio.Fixaste-tenomodoemqueseolhamoumaooutro?

sente-se…noar.Lillianfranziuocenho.—Podemosnosdeterummomento?Dói-meumpoucoascostas.Annabelle acessou imediatamente, ajudando-a a alcançar um dos

amaciadosbancosquehavianocentrodagaleria.—Acredito que não faltamuito para que o bebê nasça—murmurou

Annabelle.—Eu até aventuraria adizerque chegaráumpouco antesdoqueodoutorpredisse.— Graças ao céu. Nunca desejei nada tanto como que acabasse a

gravidez.—Lillian fezuma tentativadever-se as sapatilhaspor cimadacurvadesuabarriga.SeuspensamentosvoltaramparaaDaisy.—Sempresereihonestacomelaquantoaminhasopiniões—disseelabruscamente.—EuvejoMatthewSwiftcomooqueé,emboraelanãosejacapazdevê-lo.—Acreditoqueela jásabeoqueopina—repôsAnnabellesecamente.

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—Masemúltimainstânciaoquefaçaédecisãodela.EstouseguradequequandotratavadeesclarecerseussentimentosparalordeWestcliff,Daisynãotratoudeteincluir.— Esta situação é completamente diferente — protestou Lillian. —

Matthew Swift é um réptil! E além disso, se Daisy se casasse com ele, alevariaaAméricaeeunãovoltariaavê-la.— E você gostaria que ela sempre ficasse debaixo de suas asas —

murmurouAnnabelle.Lilliansedeuavoltaparalhedirigirumolharfunesto.— Sugere que sou o bastante egoísta para lhe impedir de viver sua

própriavida,sóporquequeromantê-lapertodemim?Semalterar-seporsuaira,Annabellesorriupormenorizada.— Sempre estivestes as duas juntas, verdade? Sempre foi sua fonte

exclusiva de amor e companheirismo.Mas tudomuda, querida. Tem suaprópria família agora, um marido e um menino… e não deveria desejarmenosqueissoparaaDaisy.AoLillian começoua lhepicaronariz.Olhoupor cimadeAnnabelle e

parasuamortificação,suavisãosetornouúmidaeimprecisa.—PrometoqueaprovareiopróximohomemporqueseinteresseDaisy.

Nãoimportaquemé.SemprequenãosejaosenhorSwift...— Você não gostasse de nenhum homem por que se interesse —

Annabelle deslizou o braço ao redor de seus ombros e acrescentoucarinhosamente.—Éalgopossessiva,querida.—Evocêéincrivelmenteirritante—disseLillian,descansandoacabeça

sobreoombrosuavedeAnnabelle.Sorveu-seonarizenquantoAnnabelleasustentou comum firme abraço consolador que a própriamãe de Lilliannunca tinhasidocapazde lhedar.Eraumalívio tãograndequedesejavagritar, entretanto era um pouco embaraçoso também.— Odeio ser umapoçodehormônios—resmungou.—Édevidoaseuestado—aacalmouAnnabelle.—Écompletamente

normal.Voltaráaseramesmadepoisdequeobebetenhanascido.—Seráumvarão—lhedisseLillian, limpando-osolhoscomosdedos.

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—Elogoarrumaremosummatrimônioentrenossosfilhos,assimIsabellepoderáserumaviscondessa.— Tinha a impressão de que não acreditava em matrimônios

arrumados.—Eassimera,masprovavelmenteanossosfilhosnãolhespossaconfiar

umadecisãotãoimportantecomoadeescolhercomquemcasar-se.—Temrazão.Teremosqueescolherporeles.Compartilharam a brincadeira em silêncio, e Lillian sentiu que seu

humormelhoravaumpouco.—Tenhoumaideia—disseAnnabelle.—Vamosàcozinhaepincemos

na despensa. Aposto a que ainda fica alguma torta de groselha das quetomamosnasobremesa.Edeliciosageleiademorango...Lillianlevantouacabeçaesesecoualgumaslágrimasquetinhanonariz

comamanga.—Realmentepensaqueosdocesfarãoquemesintamelhor?Annabellesorriu.—Nãolhefarãomalverdade?Lillianopensouumsegundo.—Vamos—disse,eAnnabelleatiroudelaparalevantá-ladobanco.O sol da manhã irrompeu no vestíbulo principal quando as donzelas

retiraram as cortinas e as recolheram com cordões com borlas de seda.Daisy se dirigiu para a sala do café da manhã, sabendo que era poucoprovávelquealgumdosconvidadosestivesseacordado.Tratoudedormirum pouco mais, mas estava estranhamente inquieta e agitada, até quefinalmentesaltoudacamaesevestiu.Os criados estavam ocupados abrilhantando a prata, lustrando a

madeira, arejandoasgrandesatapeta, e conduzindocestas comroupadecama. Ouviam-se os sons metálicos e os tinidos da baixela da cozinha,estavam-sepreparandoasviandasparaocafédamanhã.AportadoestudoprivadodelordeWestcliffestavaaberta,eaopassar

Daisydeuumaolhadadentrodoquartocolocandoacabeçapelomarcode

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madeira. Era uma estadia ampla e singela, provida com uma fileira devidraças que deixavam transpassar um arco íris de luz até o estouacostumado a atapetado. Daisy se deteve com um sorriso quando viualguémsentadoatrásdoenormeescritório.Pelocontornodesuacabeçaescuraeseusamplosombrosreconheceu

aosenhorHunt,que frequentementeutilizavaoestudode lordeWestcliffquandosealojavaemStonyCrossPark.—bomdia…—anunciouela, fazendoumapausaquandoele sedeua

voltaparaolhá-la.Daisysentiuumapontadadeentusiasmoquandodescobriuquenãoera

osenhorHunt,anãoserMatthewSwift.Eleselevantoudacadeira,eDaisydissetimidamente:—Não,porfavor,sintolhehaverinterrompido…Suavozsefoiapagandoquandopercebeuquehaviaalgodiferentenele.

Levavaumpardeóculosfinoscomarreiosdeaço.Óculos,sobreaquelerostoderasgosduros…tinhaocabelodesordenado

comoseesteveacontecendoamãosobreele.Tudoistounidoàplenitudede seus músculos e sua masculina virilidade convertiam a cena em umpoucoincrivelmente…sensual.—Desdequandolevavocêóculos?—conseguiuperguntarDaisy.—Há aproximadamente umano.—Ele sorriu comacanhamento e se

tirouosóculoscomumamão.—Asnecessitoparaler.Passomuitashorasestudandominuciosamentecontratoseinforme.—São…sãomuitofavorecedoras.— Seriamente? — o senhor Swift continuou sorrindo e, sacudiu a

cabeça, como se nunca lhe tivesse ocorrido perguntar-se lhe favoreciam.Elecolocouosóculosnobolsodeseucolete.—Comoseencontravocê?—perguntoubrandamente.Daisydemorouummomentoemcompreenderqueelesereferiaasua

quedadocarro.—OH,estoubastantebem,obrigado.Ele a olhava fixamente dessamaneira tão dela, analisando-a, algo que

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sempre a punha nervosa. Mas nesse momento, seu olhar não pareciacrítica. De fato, ele a olhava como se fora a única coisa importante nomundo. Ela acariciou a saia de seu vestido rosado de musselina comadornosflorais.—levanta-sevocêcedo—disseSwift.—Pelogeneralsim.Nãopossoimaginarporquealgumaspessoasficam

tantotemponacamapelamanhã.Ninguémpodedormirtanto.—QuandoDaisyterminoudefalarlheocorreuquepossivelmentehaviaalgomaisqueagentefazianacamaalémdedormir,eseurostosetornouescarlate.FelizmenteSwiftnãozomboudela,emboraviuumsorrisosutilespreitar

nacomissuradeseuslábios.Deixandodeladootemaperigosodohábitodedormir,Matthewassinalouamontanhadepapéisquetinhadetrásdele.— Disponho-me a ir a Bristol logo. Algumas questões devem ser

resolvidasantesdequedecidamosabrirumafábricaali.—LordeWestcliffdecidiuquevocêseencarregarádoprojeto?— Sim. Embora ao parecer terei que fazê-lo com a aprovação de um

conselhoassessor.—Meu cunhado pode ser um pouco controlador— admitiuDaisy.—

Masumavezqueeledescubraquãocapazévocê,acreditoqueafrouxaráasrédeasbastante.Eleaolhoucomcuriosidade.—Issosonhaquasecomoumelogio,senhoritaBowman.Elaseencolheudeombroscomindiferença.—porcimadetodososdefeitosquevocêpossater,suaformalidadeé

legendária.Meupaisempredizquealguémpodepôrseurelógioemhora,sóobservandoquandoentraequandosaivocê.Umtomdivertidoesarcásticoalagousuavozaoresponder.—Formal.Éumadjetivoquefazparecercomumhomemfascinante.Por uma vez, Daisy esteve Tudo bem com sua declaração sarcástica.

Quando alguémdizia queumhomemera “formal” ou “agradável”, estavalhededicandoumfracocompleto.Masela tinhapassadotrês temporadasobservando os caprichos de cavalheiros libertinos, despreocupados e

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irresponsáveis. A formalidade era uma maravilhosa qualidade em umhomem.perguntou-seporqueelanuncaatinhaapreciadoantes.—SenhorSwift…—Daisy tratoudeparecerdespreocupada,mas sem

êxito.—estivemeperguntandoalgo…—Sim?—Eledeuumpassoparatrásquandoelaseaproximou,comose

precisassemanterumacertadistânciaentreeles.Daisyoolhouatentamente.— Já que não há nenhuma possibilidade de que você e eu… já que o

matrimônioestáforade…Meperguntava,vocêquercasar-sealgumdia?Eleaolhouperplexoeficouembranco.—Omatrimônionãoentradentrodemeusplanos,nãoacreditoqueisso

aconteçanunca.—Algumavez?—Nunca.—porquenão?—exigiuela.—Équevocêvaloramuitosualiberdade?

Oupensadivertir-seperseguindosaias?O senhor Swift pôs-se a rir, um som tão quente que Daisy sentiu sua

risadacomoumacaríciadeveludodescendoporsuascostas.—Não. Sempre pensei que seria uma perda de tempo perseguir uma

multidãodemulheresquandoseriasuficientecomamulheradequada.—Comodefinevocêaessamulher?— Está-me perguntando com que mulher quereria me casar? — Sua

risada foimuitomais intensa que de costume, arrepiando o fino pêlo danucadeDaisy.—Suponhoquesabereiquandoaencontrar.Esforçando-seporparecer indiferente,Daisysedirigiuparaas janelas.

Levantouumamão,olhandoomosaicodecoresquealuzdesenhavasobreapalidezdesuapele.—Possoimaginarcomoseriaessamulher.—Elasemantevedecostas

aoSwift.—Maisaltaqueeu,emprimeirolugar.—Amaioriadasmulheresosão—repôsele.—Umaperitaemquestõesdoméstica—continuouDaisy.—Nãoseria

uma sonhadora. Manteria sua mente ocupada em assuntos práticos,

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dirigiriaaoscriadosàperfeição,nuncasedeixariaenganarporpeixeiroouoaçougueiroaofazeracompra.— Se realmente tivesse algum desejo de me casar— disse o senhor

Swift,—acabavocêdemetirarissocompletamente.—Vocênãoteránenhumadificuldadeparaencontrarumamulherassim

—continuouDaisy,soandomaismal-humoradadoqueteriadesejado.—HácentenasdelasnoManhatanville.Talvezmilhares.—Oquelhefazsuporqueeuquereriaumaesposaconvencional?Seussentidoszumbiramquandoosentiuaproximar-sedela.—Porquevocêécomomeupai—disseela.—Nãodetudo.—Esevocêsecasassecomumamulherquenãoforaassim,essamulher

acabariasendoparavocêum…parasita.Sentiu a suave pressão dasmãos do senhor Swift sobre seus ombros.

Lhedeuavoltaparaolhá-la.Seusolhosazuisardiamquandoprocurouosseus,eelateveadesagradávelsuspeitadequeliaseuspensamentoscommuitaexatidão.—Prefiropensar—disseeledevagar,—queeununcaseriaumhomem

tãocruel.Outãoidiota.Sentia seuolharnodecotedeseuvestido, sobreapeledeseuspeitos.

Commuitasuavidade,elepasseouospolegaresporcimadesuasclavículas,atéqueDaisysentiuacarnedegalinhasobasmangasdeseuvestido.—Tudooqueeuquereriadeumaesposa—murmurouele,—équeela

sentisse algo por mim. Que se sentisse feliz à lombriga voltar para casacadadia.Suarespiraçãoseacelerouporrocedeseusdedos.—Issonãoépedirmuito.—Verdadequenão?Suas gemas tinham alcançado a base de sua garganta, que se ondulou

quandoelatentoutragar.Elepiscoueapartouasmãosrapidamente,semsaberoquefazercomelasatéqueasmeteunosbolsosdesuajaqueta.Mas não semoveu. Daisy se perguntava se o sentiria omesmo desejo

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irresistívelqueela,umanecessidadequeaparalisavaequesópoderiaserapaziguadacommaiscarícias.Esclarecendo fortemente a garganta, Daisy endireitou as costas e se

ergueuemtodasuaduvidosaalturadecincopéseumapolegada.—SenhorSwift?—Sim,senhoritaBowman?—Tenhoquelhepedirumfavor.Elecravouoolharnela.—Qual?— Assim que você diga a meu pai que não vai casar se comigo

definitivamente,elevaisesentir…muitocontrariado.Vocêsabecomoé.— Sim sei — disse Switf com seriedade. Qualquer que conhecesse o

ThomasBowmanera conscientedequepara ele, adecepçãoeraopassoprévionocaminhoparaagraveofensa.—Tenhomedodeque issocausealgumasrepercussõesdesagradáveis

paramim.Meupaijáestáaborrecidoporquenãoencontreianinguémquecumprisse com seus requisitos. Se imaginar que deliberadamente tenhofeito algo para frustrar seus projetos para nós… bom…, isso fará minhasituação…maisdifícil.—Entendo—Matthewconhecia seupai inclusomelhorqueDaisy.—

Nãolhedireinada—disseelecomserenidade.—Efareioquepossaparalhe facilitar as coisas. Vou a Bristol dentro de dois dias, três nomáximo.Lorde Llandrindon e outros cavalheiros… bom nenhum deles é estúpido,têmumaideiaprecisadeporquelhesconvidaramaqui,enãoteriamvindose não estivessem interessados. Não deveria lhe custar muito conseguirumaproposiçãodealgumdeles.Daisy supôs que deveria agradecer seu interesse por empurrá-la nos

braços de outro homem. Entretanto, seu entusiasmo lhe produziu umapontada de acidez. E quando uma se sente como uma vespa, a principalinclinaçãoépicar.— Aprecio seu interesse— disse ela.— Obrigado. Foi você demuita

ajuda senhor Swift. Sobre tudo me brindando alguma experiência, para

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mim muito necessária. A próxima vez que beije a um homem, lordeLlandrindon,porexemplo,sabereimuitomaissobreotema.Daisy se sentiu cheia de uma satisfação vingativa quando viu como

apertavaoslábios.— Para servi-la sempre que você me precise — disse ele em um

grunhido.Percebeuquesuasmãosestavammédiolevantadascomoseestivessea

ponto de estrangulá-la ou de sacudi-la, Daisy lhe ofereceu seu maisradiantesorrisoesedeslizouforadeseualcance.Com o passar do dia, a luz do sol das primeiras horas da manhã, foi

sufocada por nuvens que formaram uma grande atapeta cinza no céu. Achuva começou a cair regularmente, enlameando os caminhos semempedrar, molhando os prados, e apressando a pessoas e a animais aprocurarrefúgio.Assim era Hampshire na primavera, instável e malicioso, jogando

travessuras com quem se confiava. Se um se aventurava a sair com oguarda-chuva umamanhã úmida,Hampshire produzia a luz do sol comoporartedemagia.Seagentesaíasemele,seguroqueocéuvertiacubosdeáguasobresuacabeça.Osconvidadosestavamreunidosemváriosgrupos…algunsnosalãode

música, outros na sala de bilhar ou na sala de jogos, tomando o chá ourealizando representações teatrais. Algumas damas se dedicavam a seubordado, enquanto os cavalheiros liam, falavam ou bebiamna biblioteca.Emnenhumaconversaçãofaltavaumamençãoaotemadequandopoderiaterminá-latormenta.ADaisyporgeneralgostavadosdiaschuvosos.Enroscar-seao ladodo

fogodolarcomumlivroeraomaiorprazerimaginável.Masaindaestavaemumestadoirritávelnoqueapalavraimpressatinhaperdidosuamagia.Serpenteou pelas salas observando discretamente as atividades dosconvidados. Fazendo uma pausa na soleira da sala de bilhar, observouatentamente como os cavalheiros giravam preguiçosamente ao redor damesa com bebidas e paus de bilhar na mão. Os estalos que emitiam as

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Pelotas de marfim ao chocar proporcionavam um matiz arrítmico aozumbido da conversação masculina. Seus olhos ficaram apanhados pelavisãodeMatthewSwiftemmangasdecamisa,inclinando-sesobreamesapararealizarumtiroqueresultouperfeito.Suas mãos eram hábeis com o taco, seus olhos azuis examinavam

conscientemente a disposição das bolas sobre a mesa. Alguns cachosrebeldes caíam sobre sua frente uma vezmais, eDaisy teve vontades deempurrá-losparatrás.ComoSwiftpenetrouabolacommestriaporumdosocos damesa, ouviram-se alguns aplausos, algumas risadas e o ruído dealgumasmoedasquemudaramdemãos.Desdesuaposição,Swiftmostrouumde seus incomuns sorrisos e fez uma observação a seu opositor, queresultouserlordeWestcliff.Westcliffriuporcomentárioerodeouamesa,levavaentreosdentesum

charuto apagado, enquanto considerava suas opções. A atmosfera dedepravadoprazermasculinoerainequívoca.QuandoWestcliff deu a volta àmesa, descobriu a Daisy observando a

saladaporta.Seucunhadolhepiscouosolhosumolho.Elaseinibiucomoumatartarugadentrodesuacarapaça.Sentiu-seridículaporestaralidepédedicandoolhadasfurtivasaMatthewSwift.Arreganhando-se em silêncio, Daisy se afasto do quarto de bilhar, em

direçãoaovestíbulo.Subiumagnificaescadasempararatéquechegouaosalãoprincipal.AnnabelleeEvieacompanhavamaLillian,queestavatombadasobreo

sofá.Estavapálidaeemtensão,comafrenteenrugadaemumcenho.Tinhaosbraçosaoredordesuabarriga.—foramvinteminutos—disseEvie,dirigiuoolharaorelógiosobrea

chaminé.— Ainda não vêm com regularidade — comentou Annabelle. Ela

escovava o abundante cabelo negro de Lillian e o trancava com dedosdestros.—Quemnãovemcomregularidade?—perguntouDaisyentrandocom

ímpeto na estadia.— E por que está olhando o…—Ela empalideceu de

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repentequandocompreendeu.—OHcéus!Temdoresdeparto,Lillian?Suairmãsacudiuacabeça,olhandoperplexa.— Não são dores de parto exatamente. Só uma espécie de contração.

Começaramdepoisdecomer,elogotiveoutraumahoramaistarde,eoutrameiahoramaistarde,aúltimafoifazvinteminutos.—SabeWestcliff?—perguntouDaisyofegando.—Devoirchamaro?—Não—disseramastrêsmulheresimediatamente.—Não há nenhuma necessidade de preocupá-lo ainda— acrescentou

Lillian. — lhe Deixe desfrutar da tarde com seus amigos. Assim que oaverigue,estaráaquidandovoltaseladrandoordens,eninguémterápaz.Sobretudoeu.— Emamãe? vou procurar a?—Daisy teve que perguntá-lo, embora

estavaseguradaresposta.Mercedesnãoeraumapessoaconsoladora,eapesardofatodequeelatinhadadoàluzacincomeninos,eradelicadacomrespeitoàmençãodequalquerclassedefunçãocorporal.—Jáestoubastantenervosa—disseLilliansecamente.—Não,nãolhe

diganadaamamãe.Elasesentiriaobrigadaasentar-seaquicomigoparamanter as aparências, e issome poria tão inquieta comoum gato. Agoramesmotodoqueprecisoéavocêstrês.Apesardeseutomsarcástico,elaalcançouamãodeDaisyeaapertou

com força. O parto era ummomento desagradável, sobretudo a primeiravez,eLilliannãoserianenhumaexceção.—Annabelledizqueestascontraçõespoderiamapareceredesaparecer

durantedias—disseaDaisy,cruzandoosolhoscomicamente.—Estábemquerida.Nãoesperemosopior.—Conservandoamãode

Lillian,Daisysesentouaseuspéssobreotapete.Oquartoestavaemsilêncioexcetoportictacdorelógiosobreachaminé,

eosomdaescovaalisandoocabelodeLillian.Entreasirmãsunidaspelasmãos,apressãodeseuspulsossemesclavaempulsadasestáveis.Daisynãoestava segura se era ela quem lhe dava tranquilidade a sua irmã ou aoreverso.Tinha chegadoomomentopara aLillian, eDaisy tevemedoporela,porquesofressedor,pelaspossíveiscomplicaçõeseporfatodequea

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vidanuncaseriaamesmadepois.DeuumaolhadaaEvie,que lhedirigiuumsorriso, eaAnnabelle, cujo

semblante era sereno. Elas se ajudariam em todos os problemas outemores de suas vidas, pensouDaisy, e de repente se sentiu afligida poramorparatodaselas.— Nunca viverei longe de vocês — disse. — Quero que as quatro

estejamosjuntasparasempre.Nuncapoderiaperderanenhumadevocês.Annabellelhedeuumgolpecitocomopécarinhosamente.—Daisy…nuncasepodeperderaumaamigadeverdade.

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Capítulo9

Amedidadequeatardeavançava,atormentasefezmaisintensa,algo

incomum para essa época do ano. A chuva impulsionada por ventogolpeavaasjanelas,asárvoreseasmeticulosamentearrumadassebes,osrelâmpagosiluminavamocéu.AsquatroamigasficaramnasalaMarsden,controlandooritmodascontraçõesdeLillianatéqueforamregulareseemintervalos de dez minutos. Lillian estava cansada e inquieta, emboratratavadeocultá-lo.Daisysuspeitouqueasuairmãresultavadifícilrender-se ao processo inevitável da natureza que nessemomento dominava seucorpo.— Possivelmente não esteja muito cômoda no sofá — lhe disse

Annabelle,atirandodeLillianpara levantá-la.—Venha,querida.Horadedeitar-se.— Acredito que deveria... — começou Daisy, pensando que tinha

chegadoomomentodeavisaraWestcliff.—Sim,acreditoquese—disseAnnabelle.Aliviada pela perspectiva de ter algo que fazer em lugar de observar

sentindo-seinútil,Daisyperguntou:—Elogo,oque?Necessitaremoslençóisoutoalhas?—Sim,sim—lhedisseAnnabellevoltandoacabeçaporcimadoombro,

enquantoajudavaaLillianalevantar-se,passou-lheumbraçopelascostaseaseguroucomfirmeza—Necessitaremos tesouras e uma bolsa de água quente. E lhe diga à

amadechavesquefaçasubiralgumazeitedevaleriana,etambémchádeervas,deagripalmaoudemostardasilvestre.Enquanto as demais ajudavam a Lillian a chegar a seu quarto, Daisy

baixouapressadamenteasescadas.Foiàsaladebilhareaencontrouvazia,logo brincou de correr à biblioteca e também ao salão principal. Parecia

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que Westcliff não se encontrava em nenhuma parte. Controlando suaimpaciência,Daisyseesforçouporcaminharcommaiscalmaaoveralgunsconvidados no vestíbulo, e se dirigiu para o estudo doWestcliff. Foi umalívioencontrá-lopor fimali acompanhadopor seupai, o senhorHunt, eMatthewSwift.Ostrêsestavammantendoumaconversaçãoanimadaqueincluía frases como “carências na rede de distribuição “e “lucros porunidade”.Advertindosuapresença,oshomensdirigiramoolharparaela.Westcliff

queestavaapoiadonoescritório,endireitou-seaovê-la.—Milorde—disseDaisy,—possofalarcomvocê?Embora ela falou com calma, algo em sua expressão deveu alertá-lo.

Rapidamenteseaproximoudela.—OqueocorreDaisy?—Ésobreminhairmã—sussurrouela.—Parecequeopartocomeçou.Daisy nunca tinha visto o conde com um olhar como essa, de

desconcerto.—Émuitologo—disseele.—Aoparecerobebêacreditaquenãoéassim.—Mas…seaindanãoéomomento.—Ocondepareceusinceramente

confundido de que seu filho não tivesse completo com o calendário eantecipassesuachegada.— Não necessariamente — respondeu Daisy razoavelmente. — É

possívelqueodoutorseequivocasseaocalcularadatadonascimento.Emúltimainstânciaésóumaaproximação.Westclifffranziuocenho.—Esperavamuitamaisexatidão!Équaseummêsantesdo…previsto—

umnovopensamentopassouporsuamente fazendo-oempalidecer.—Obebêéprematuro?Embora Daisy tinha tido em conta a mesma possibilidade, sacudiu a

cabeçaimediatamente.—Algumasmulheresdemorammais,outrasumpoucomenos,eminha

irmã não émuito robusta, estou segura de que o bebê está bem.— Lhe

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sorriucomsegurança.—Lilliantevedoresdurantequatrooucincohoras,eagoracadadezminutosmaisoumenos,segundoAnnabelle.—estevequepartodurantehoraseninguémmeinformou?—exclamou

Westcliffultrajado.—Bom,nãoétecnicamenteumpartoanãoserqueosintervalosentre

as contrações sejam regulares, e ela disse que não queria queincomodassemavocêaté...WestcliffsoltouumamaldiçãoqueassustouaDaisy.Deu-seavoltapara

assinalarcomumdedodominante,mastrementeaoSimonHunt.—Doutor—ladrou,esaiucorrendodali.Simon Hunt não pareceu surpreso por comportamento primitivo do

Westcliff.—Pobre—dissecomumlevesorriso,eseaproximoudoescritóriopara

guardarumaplumaemsuacapa.—porqueochamouavocê“Doutor”?—perguntouThomasBowman,

começandoasentirosefeitosdeumatardedebrandy.—Acreditoquequerqueváprocuraraodoutor—respondeuosenhor

Hunt.—Oquetenhointençãodefazerimediatamente.Infelizmentetiveramdificuldadesparatrazerparaodoutor,umancião

venerável que vivia no povo. O lacaio que enviaram para lhe buscarretornou com más notícias, enquanto escoltava ao doutor ao veículo delordeWestcliff,opobrehomemsemachucou.—Como?—exclamouWestcliff,tendosaídododormitórioparareceber

orelatóriodolacaio.Uma pequena multidão incluindo a Daisy, Evie, lorde St. Vincent, o

senhorHunt, e o senhor Swift, esperavamno vestíbulo.Annabelle seguiadentrodeseuquartocomaLillian.—Milorde—lherespondeuolacaiocompesar—odoutorescorregou

sobreocaminhomolhadoecaiuantesqueeupudesseagarrá-lo.machucoua perna. Ele diz que não acredita que esteja rota,mas em todo caso nãopoderávirparaajudaraladyWestcliff.Umbrilhoselvagemapareceunosolhosescurosdoconde.

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—porquenão lhedeuvocêobraço?Céus,essehomeméumfóssil!Éóbvio que não se podia confiar em que andasse sozinho por estouacostumadoamolhado.—Se for tãodébil—perguntouSimonHuntcomvozserena,—então

comosupunhaqueessavelharelíquiaseriadeajudaparaladyWestcliff?Ocondefranziuocenho.— Esse doutor sabe mais sobre partos que qualquer de por aqui e

inclusive do Portsmouth. Esse ancião trouxe para o mundo a váriasgeraçõesMarsden.— A este passo... — assinalou lorde St. Vincent, — a última geração

Marsdenvaichegarsemnenhumaajuda.—deu-seavoltaparaolacaio.—Anãoserqueodoutortivessealgumasugestãodecomosubstitui-lo...—Sim,milorde—repôso lacaiocomdesconforto.—Medissequehá

umaparteiranopovo.—Entãováprocuraraimediatamente—ladrouWestcliff.—Jáotenhofeito,milorde.Mas…amulherestáumpouco…alegrinha.LordeWestclifffranziuocenho.—Traga-ade todososmodos.Nestemomentonãovoupreocupar-me

cominsignificânciascomoumataçadevinhooudois.—Não,milorde…emrealidadeestáumpouco,masquealegrinha.Ocondeoolhoufixamentecomincredulidade.—Porcaria...estábêbada?—Acreditaqueelaéarainha.Arreganhou-meporquelhepisenacauda

deseuvestidoreal.Fez-seumbrevesilêncioenquantoogrupodigeriaainformação.—voumataraalguém—exclamouo condesemdirigir-seaninguém

emparticular.De repente se ouviu um grito de Lillian do dormitório, que fez

empalideceraseumarido.—Marcus!— Já vou—gritou lordeWestcliff, deu-se a voltaparaolhar ao lacaio

comumbrilhoameaçadornosolhos.—Encontreaalguém—espetou.—

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Umdoutor.Umaparteira.Umacurandeira.Simplesmentetraga…alguém…agora.Quando Westcliff desapareceu no dormitório o ar pareceu tremer

seguindo sua esteira, como depois de um relâmpago. Um repique detrovõesretumbounocéu,agitandoosabajuresdearanhaefazendovibrarochão.Olacaioestavaaobordedaslágrimas.—Dezanosaoserviçodesuasenhoriaeagorasereidespedido…—Volteaverodoutor—disseSimonHunt,—eaveriguesesuaperna

estámelhor.Senão, lheperguntesehouveralgumaprendizouestudantedemedicina,alguémquepossasupri-lo.Enquantoissoeuireiacavaloatéoseguintepovoparaprocuraraalguém.MatthewSwift,quetinhaestadosilenciosoatéagora,perguntou:—Quecaminhotomarávocê?—Ocaminhoprincipalparaoeste—respondeuHunt.—Entãoeuireiparaooeste.DaisyolhouaSwiftcomsurpresaegratidão.Atormentafaziaoencargo

perigoso, alémde incômodo.O fato de que ele estivesse disposto a fazeralgo assim por Lillian, que não tinha oculto sua aversão para ele, elevousobremaneiraaopiniãoqueDaisytinhasobreele.—Suponhoqueeutereiqueirporvoltadosul—repôslordeSt.Vincent

secamente. — Esta mulher tinha que ter o bebê durante um dilúvio dedimensõesbíblicas...— por que não melhor fica aqui com Westcliff? — perguntou Simon

Huntemumtomsarcástico.St.Vincentlhelançouumolharsemumpingodediversão.—ireiprocurarmeuchapéu.Duas horas depois de que os homens partissem, o parto começou a

progredir. Os dores se fizeram tão agudos que deixavam a Lillian semfôlego.Agarravaamãode seumarido com tal forçaqueMarcus tinhaosnódulosbrancos,emboraaeleparecianãolheafetar.Westcliffsemostravapaciente e terno, limpava-lhe a cara comumpanoúmido, procurava que

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bebesseainfusãodeagripalmaasorvos,inclusivelhedavamassagensnascostasenaspernasparaajudá-laarelaxar-se.Annabelle demonstrou ser tão competente que Daisy duvidou de que

uma parteira pudesse havê-lo feito melhor. Colocava a bolsa de águaquenteaLilliannascostasenoventreelhefalavaarespeitodosdores,lherecordandoque se elamesma, tinha conseguido sobreviver a isso, Lilliancertamentetambémpoderia.Lilliantremiadepoisdecadacontraçãodolorosa.Annabellelheagarrouamãocomfirmeza.—Nãotemqueestarcalada,querida.Gritaouamaldiçoaseissoteajuda.Lilliansacudiuacabeçafracamente.—Logoquetenhoenergiaparagritar.Conservareimelhorasforçasse

nãoofizer.— Eu fiz o mesmo. Embora te advirto que a gente não te terá tanta

compaixãoseosuportartãoestoicamente.—Nãoquerocompaixão—ofegouLillian,fechandoosolhosanteoutra

contração.—Quãoúnicoquero…équesetermine.Westclifftinhaasfacçõestensas,eDaisypensouqueseLillianquisesse

compaixão,soloteriaquerepararemseumaridoqueaolhavacomolhosatormentados.— supõe-se que não deveria estar aqui — disse Lillian ao Marcus

quandoa contração terminou.Ela seaferroua suamãocomose foraumsalva-vidas. — Se supõe que deveria estar abaixo bebendo brandy epasseandoinquieto.— Céus, mulher! — resmungou lorde Westcliff, limpando sua cara

suarentacomumopano.—Eusouresponsávelporisto.Nãovoudeixarteconfrontarasconsequênciassuasozinha.IssoocasionouumdébilsorrisonoslábiosressecadosdeLillian.Ouviu-se um golpe na porta e Daisy se levantou para ver quem era.

Abrindo-a um palmo, viu Matthew Swift, empapado, cheio de lama eofegante.Umaondadealívioaalagou.—Graçasaocéu—exclamou.—Ninguémtornouainda.Encontrouvocê

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aalguém?—Simenão.Aexperiência lhetinhaensinadoaDaisyquequandoalguémresponde

“simenão”osresultadospoucasvezessãooqueumteriadesejado.—Oquequervocêdizer?—perguntoucomcautela.— Trazia um homem, subirá em um momento… se está lavando. Os

caminhos se converteram em um lodaçal… afundados e enlameados…trovejacomonoinferno…foiummilagrequeocavalonãosedesbocasseouserompesseumapata.—Swiftsetirouochapéuesesecouafrentecomamanga,deixandoumamanchadebarroporsuacara.—Mas realmente encontrou ummédico?— insistiu Daisy lhe dando

umatoalhapodadeumacestaquehaviaaoladodaporta.—Não. Os vizinhosme disseram que o doutor se partiu a Brighton e

estaráforaduassemanas.—Eumaparteira?—Foi impossível trazê-la—disseo senhor Swift concisamente.—Se

encontrava ajudando a outras duas mulheres que estavam de parto nopovo.Quandofaleicomelamecomentouqueestascircunstânciasrevistamdar-se durante uma forte tormenta, diz que algo no ar provoca onascimentodosbebe.Daisyoolhouconfundida.—Entãoaquemtrouxevocê?Umhomemmédiocalvocomsuavesolhosnegrosapareceuao ladode

Matthew. Tinha as roupas úmidas, mas estava limpo, mais limpo que osenhorSwift,emqualquercaso,eseuaspectoerarespeitável.—Boatardesenhorita—disseelecomacanhamento—EsteéosenhorMerritt—disseMatthewaDaisy.—Éumveterinário.— Um quê? — Embora a porta estava literalmente fechada, a

conversaçãopôde ser ouvida pelos ocupantes do quarto. A voz agudadeLillianseouviudacama.—Trouxe-meummédicodeanimais?—Recomendaram-meissoamplamente—disseSwift.

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ComoLillianestava coberta coma roupade cama,DaisyabriuaportaumpoucomaisparalhepermitiraLillianverohomem.—Queexperiênciatemvocê?—exigiu-lheLillianaosenhorMerritt.— Ontem traga para o mundo aos cachorrinhos de uma fêmea de

buldogue.Eantesdisso…—Suficiente—disseWestcliffderepente,quandoLillianlheagarroua

mãosentindooiníciodeoutracontração.—Entre…Daisy lhe permitiu entrar no dormitório, e ela saiu com outra toalha

limpa.—Teriaidoaoutropovomas...—disseSwift,suavozroucatinhauma

nota de desculpa — os pântanos e os arroios se transbordaram e oscaminhos estão intransitáveis. Não sei se o senhorMerrit será de ajuda,masnãoiavoltarsemninguém.—Elefechouosolhosummomento,estavacom olheiras e pálido, e Daisy compreendeu que tinha sido extenuantecavalgaremmeiodatormenta.Formaleresponsável,pensouDaisy.Comosdedosemumaesquinada

toalha,limpouobarroqueMatthewtinhanacaraelhesecouasbochechasqueestavamásperaspelabarbadeumdia.Fascinadaporpêloescurodesuamandíbulatevequecontrolar-separanãoacariciá-locomagemadosdedos.Matthewsedeixoufazer,inclinandoacabeçaparalhefacilitaratarefa.—Esperoqueoutrostenhammaisêxitonabuscadeummédico.—Nãopoderãovoltaratempo—respondeuDaisy.—Opartoavançou

muitonaúltimahora.Elemoveua cabeçapara trás comoseo toque ligeirodeseusdedoso

incomodasse.—Nãovaivoltaraentrar?Daisysacudiuacabeça.—Minhapresençaestádemais,comoseestáacostumadoadizer.Lillian

odeiaquehajamuitagentenoquartoeAnnabelleémuitomaiscapazqueeuparaajudá-la.Masficareipertonocasode…mechamar.Lhetirandoatoalhadasmãos,Matthewaesfregoupordetrásdacabeça,

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ondeachuvatinhaempapadoseuabundantecabelodeixando-oainda,masnegroebrilhante.—Voltarei emummomento—disse ele.—vou lavarmee amepôr

roupaseca.—MeuspaiseladySt.VincentestãonasalaMariden—disseDaisy.—

Podereunir-secomeles…émuitomaiscômodoqueesperaraqui.Mas quando Swift terminou de mudar-se, não se dirigiu ali, mas sim

voltouondeseencontravaDaisy.Ela estava sentada no corredor com as pernas cruzadas, apoiando as

costascontraaparede.Perdidaemseuspensamentos,nãoseprecaveudesuapresençaatéqueeleestevejustoaseulado.Matthewaolhouaosolhos,iavestidocomroupalimpaemboratinhaocabeloúmidoainda.—Posso?Daisy não estava segura do que ele perguntava, mas se encontrou

assentindo de todos os modos. Swift se sentou no chão com as pernascruzadas, com uma postura idêntica à sua. Ela nunca se sentou dessamaneira diante de um cavalheiro, e sem dúvida nunca tinha imaginadofazê-lo diante deMatthew Swift. Cortesmente lhe deu uma pequena taçacheiadeumlíquidovermelho.Daisy aceitou a taça surpreendida e a aproximou de seu nariz com

cautela.— Madeira — exclamou com um sorriso. — Obrigado. Embora a

celebraçãoéumpoucoprematurajáqueobebêaindanãonasceu.—Nãoéparacelebrá-lo.Ajudaráarelaxar-se.—Comosabiaqualerameuvinhofavorito?—perguntouela.Eleseencolheudeombros.—Umacasualidadeafortunada.Masdealgummodoelasabiaquenãotinhasidoasorte.Falarampouco,compartilhandoumsilênciocuriosamenteagradável.— Que horas são? — perguntava Daisy de vez em quando e ele

consultavaseurelógiodebolso.Intrigada por tinido dos objetos que levava no bolso de sua jaqueta,

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Daisycomentou:—Oquelevaaí?ensine-meisso— Nada interessante, o asseguro — disse o senhor Swift tirando do

bolsotodaumacoleçãodeartigos.Colocou-ossobreocolodeDaisyquesedispôsainvestigar.—Évocêcomoumfurão—lhedissecomumsorriso.Haviaumafaca

dobradiça, fio de pescar, algumas moedas, a ponta de uma pluma, seusóculos,umalatinhadesabãodamarcaBowman,éobvio,eumenvelopedepapelenceradoquecontinhapódecascadesalgueiro.Sustentandoosobreentreopolegareoíndice,Daisyperguntou:—Padecevocêdeenxaquecas,senhorSwift?—Eunão.Masseupaisim,padece-assemprequerecebemásnotícias.E

porgeneralsoueuquemascomunica.Daisyriuepinçounomontãotirandoumadiminutacaixinhadefósforos

deprata.—Paraquelevafósforos?Acrediteiquevocênãofumava.—Agentenuncasabequandoseránecessáriofazerumfogo.Daisy levantouumacaixinhadealfinetesearqueouassobrancelhasde

maneirainquisidora.—Osusoparaunirdocumentos—explicouele.—Masforamúteisem

outrasocasiões.Elaexclamoucomumtomzombador:— Existe alguma emergência para a qual você não esteja preparado,

senhorSwift?— Senhorita Bowman, se dispusera dos bolsos suficientes, poderia

salvaromundo.Foi o modo em que o disse, com uma espécie de arrogância triste

pretendendodiverti-la,oquederrubouasdefesasdeDaisy.Sorriusentindouma cálida sensação de bem-estar, embora sabia perfeitamente que seussentimentos fazia ele só piorariam sua situação. Inclinando-se sobre seuregaço,agarrouumpunhadodepequenoscartõesatadoscomumfio.—Deram-meinstruçõesdetrazerparaaInglaterracartõesdevisita—

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disseosenhorSwift.—Emboranãoestousegurodequesejamúteisaqui.—Éobvioquenão,vocênuncadevedeixarumcartãodeapresentação

quando visitar a um inglês— aconselhou Daisy.— Está mal visto aqui.Implicaquevocêestátratandodereunirdinheirocomalgumfim.—Geralmenteéassim.Daisyvoltouarir.Reparouemoutroobjetointrigante,eoagarroupara

inspecioná-lo.Umbotão.Enrugou a frente enquanto o olhava com atenção, o botão tinha a

gravuradeummoinhodevento.Pelooutro lado tinhauma finaplacadecristal, sujeita por uma tira de cobre. Dentro da placa se distinguia umamechadecabelonegro.Swiftficoupálidoealargouamãoparatirar-lhe,maselafechouamão.ADaisylheacelerouopulso.— Eu vi isto antes — exclamou. — Eram cinco... minha mãe fez um

coleteparameupaicomcincobotões.Umacomagravuradeummoinhodevento,aoutradeumaárvore,aoutradeumaponte…noscortouumamecha de cabelo a cada um de seus filhos e os pôs dentro dos botões.Lembrançaquandomecortou issoameu, fez-onanucaparaquenãomenotasse.Semolhá-la,Swiftrecuperououtrosobjetoseosvoltouaguardaremseu

bolso.Ficou calado e Daisy esperou em vão uma explicação. Finalmente ela

alargouamãoelhetocouobraço.Matthewnãosemoveu,ecravouosolhosemsuamão,sobreamangade

suajaqueta.—Comoconseguiuvocêisto?—sussurrouela.Swift demoro tanto tempo em responder que ela pensou que já não o

faria.Depoisdeummomentoeleconfessoucomirritação:— Seu pai levou o colete aos escritórios da empresa. Gostou a todo

mundo.Masessemesmodiateveumarranquedemaugênio,golpeouum

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frascodetintaelhederramouemcima,Comoélógicoocoletesedanificou.Pensandonodesgostoqueteriasuamãemedeuissoparaquemedesfizeradele.—Masvocêguardouestebotão—Daisysentiaumaopressãonopeito

quenãoadeixavarespirar,ocoraçãolhepulsavafrenético.—Omoinhodevento. Era omeu.Há…guardou vocêumamechademeu cabelo durantetodosestesanos?Matthewvoltouaguardarsilêncio.Daisynuncasoubequeteriarespondido,porqueomomentoserompeu

porsomdavozdeAnnabellenocorredor.—Daaaisyyyy!Comobotãonamão,Daisytentoulevantar-se.OsenhorSwiftaajudoa

ficar empé, agarrando-apelopulso comumamãopuxoua comcuidado.Quandoesteveempé,tendeu-lheaoutramãoabertaelhedirigiuumolharinescrutável.Daisysedeucontadequequeriaque lhedevolvesseobotão,edeixou

escaparumrisinhoincrédula.—Émeu—protestou ela.Nãoporquequisesse omaldito botão,mas

simporque lhepareciamuitoestranhoqueele tivesse tidoessapequenapartedeladurantetantosanos.Assustou-aoqueissopoderiasignificar.Swiftpermaneceu imóvel e emsilêncio, esperando comumapaciência

inflexívelatéqueDaisyabriuamãoedeixoucairobotãosobresuapalma.Ele voltou a guardá-lo em seu bolso como uma carranca possessiva e asoltou.Desconcertada,Daisysedirigiuporvoltadoquartodesuairmã.Quando

ouviu o pranto de umbebê, reteve o fôlego com espera. Estava só a unspassosdaportadoquarto,maslheparecerammilhas.Annabelle a esperava na porta, a via débil e cansada, mas luzia um

sorrisoradiantenorosto.Levavanosbraçosumpequenovultoenvoltoemlinho ao que limpava com uma esponja. Daisy se levou a mão à boca esacudiu ligeiramente a cabeça, sorriu embora os olhos lhe encheram delágrimas.

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—OH,Meudeus…—exclamouolhandoaobebêqueestavaumpoucoavermelhado,tinhaocabelonegroeunsbrilhantesolhosescuros.— lhe diga olá a sua sobrinha — disse Annabelle, lhe dando com

delicadezaaobebê.Daisyaagarroucomcuidado,assombradaporquãobonitaera.—Eminhairmã…?—Lillianestábem—lheinformouAnnabelle.—Ofezestupendamente.Com a menina nos braços, Daisy entrou no dormitório. Lillian

descansavacontraummontãodetravesseiroscomosolhosfechados.Aviamuitopequenanagrandecama, tinhaocabelopenteadoemduastrançascomoumamenina.Westcliff,queestavaaseulado,pareciaqueacabavadelutarabatalhadoWaterlooelesozinho,semajudadeninguém.Oveterinário estavano lavabo, ensaboando-asmãos.Aoolhar aDaisy

sorriuelherespondeucomoutrosorriso.—Felicidades, senhorMerritt— lhe disse.—Parece que acrescentou

vocêumanovaespécieaseurepertóriodenascimentos.Lillianabriuosolhosparaouvirsuavoz.—Daisy?Daisyseaproximoudacamacomobebênosbraços.—OH,Lillian,éacoisinhamaisformosaquevinunca!Suairmãsorriuedissecomvozsonolenta.— Para mim também. Poderia... — fez uma pausa para bocejar, —

mostrar-laapapaiemamãe?—Sim,certamente.Comovaisechamar?—Merritt.—Lhevaispôronomedoveterinário?—Bom... demonstrou serbastante eficiente—respondeuLillian.—E

Marcusmeháditoquepossoescolherseunome.Ocondeagasalhouasuaesposacomamoreabeijounafrente.— Ainda não tem um herdeiro — sussurrou Lillian com um terno

sorriso.—Suponhoqueteremosqueteroutrofilho.—Não,nãoo teremos—respondeu lordeWestcliff comvozrouca.—

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Nãopassareiporissonuncamais.Divertida,DaisyolhouaMerritt,quedormiaemseusbraços.—Aapresentareiaosoutros—dissecomsuavidade.Aosairaocorredor,surpreendeu-sedeencontrá-lovazio.MatthewSwiftsefoi.QuandoDaisyselevantouamanhãseguinte,sentiuumgrandealívioao

saber que o senhor Hunt e lorde St. Vincent tinham retornado sempercalçosàStonyCrossPark.LordeSt.Vincentencontrouocaminhodosulinfranqueável,osenhorHunttinhatidomaissorte.Achouaummédicoemumpovovizinho,masohomemsenegouaviajardemeiodeumatormentatão perigosa. Ao parecer o senhor Hunt teve que intimidá-lo para lheobrigaravir.AssimquechegaramàStonyCrossPark,odoutorexaminouaLillianeaoMerritteopinouqueasduasestavamemexcelentescondicione.Segundoele,ameninaerapequena,masestavaperfeitamente formada,etinhabonspulmões.Os convidados receberam as notícias do nascimento com alguns

murmúriosdepesarporsexodobebê.EntretantoaocontemplarorostodelordeWestcliff sustentando a sua filha recém-nascida, ouvindo como lhesussurravaquecomprariapôneis,castelosereinointeirosparaela,Daisycompreendeu que ele não poderia ser mais feliz embora Merritt tivessesidoumvarão.Daisy compartilhou o café damanhã com a Evie, sendo consciente do

peculiar enredo de suas emoções. Além da alegria que lhe provocou onascimentodesuasobrinhaeatranquilidadedequesuairmãestavabem,sentia-se…nervosa,enjoadaeirritável.TudoporculpadeMatthewSwift.Daisyagradecianãohavê-lovistoainda.Depoisdoepisódiodobotãoa

noiteanterior,nãoestavaseguradecomodeviareagir.—Evie...—suplicou-lheemprivado.—Tenhoquetecontaralgo.Quer

dar um passeio pelos jardins comigo? — Agora que a tormenta tinhaterminado,umtímidosolapareciaporcéu.—Claro.ÉobvioEmboraestejatudocheiodebarro…

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—Nãosairemosdocaminhodecascalho.Mastemqueserfora.Émuitoíntimoparalhecontarissoaqui.Evie abriu muito os olhos, e se bebeu o chá tão rápido que deveu

escaldá-lalíngua.Atormentatinhadesarrumadoojardim,haviafolhasecasulosdeflores

dispersosportodaparte,pequenostroncoseramosenchiamoatalho,porgeneralimpecável.Oarestavaperfumadoporaromadaspétalasúmidaseda terramolhadapelachuva.Desfrutandodessedeliciosoaroma,asduasamigas deram um passeio por caminho coberto de cascalho. Ambaslevavam um xale sobre os ombros, caminharam enquanto a brisa asempurravacomaimpaciênciadeummeninotravesso.DaisysesentiualiviadadepoderfalardesuaspreocupaçõescomaEvie.

Contou-lhetodooocorridoentreelaeMatthewSwift,incluindoobeijoeodescobrimentodo botão que ele levava em seu bolso. Evie sabia escutar,possivelmentedevidoasuaeternabatalhacontraogagueira.—Nãoseiquepensar—disseDaisycomtristeza.—Nãoentendomeus

sentimentos para o. Não sei por que o senhor Swiftme parece diferenteagoraeporquemesintoatraídapelo.Tudoeramuitomaisfácilquandolheodiava.Masontemànoitequandodescobriessemalditobotão…—Atéontemànoitenão te tinhaocorridopensarqueelepudesse ter

sentimentosparati...verdade?—murmurouEvie.—Sim,isso.—Daisy…épossívelqueseusatostenhamsidopremeditados?Quete

engane, e que esse botão em seu bolso tenha sido uma espécie de é-estratagema?—Não.Selhetivessevistoacara...Pareciadesesperadoquandosedeu

conta de que devia me explicar por que tinha esse botão. OH, Evie…—Daisylhedeuumapatadaaumcalhaucomartaciturno.—TenhoaterrívelsuspeitadequeMatthewSwiftpodetertudooqueeusempredesejeiemumhomem.—Mas se te casa comele, teriaquevoltarparaNova Iorque—repôs

Evie.

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— Sim, cedo ou tarde, e não posso partir. Não quero viver longe deminhairmãedetodasvocês.AlémdissoeugostodaInglaterra,aquipossosereumesma,muitomaisqueemNovaIorque.Evieconsiderouoproblemacomcalma.— O que ocorreria se o senhor Swift estivesse disposto a viver aqui

permanentemente?—Issonãoacontecerá.Hámuitas,masoportunidadesemNovaIorque…

eseeleficasseaquiteriaoinconvenientedenãopertencerànobreza.—Mas...eseestivessedispostoatentá-lo?—pressionou-aEvie.—Aindanessecaso,nuncapoderiachegaraseraclassedeesposaque

elenecessita.—Acredito que deveriammanter uma conversação, e ser sinceros—

disse Evie com decisão.— O senhor Swift é um homem amadurecido einteligentequecertamentenãoesperaqueteconvertaemalgoquenãoé.—Nãoserviriademuito,detodososmodos—disseDaisycomtristeza.

— O deixou muito claro, não pode casar-se comigo sob nenhumacircunstância.Essasforamsuaspalavrasexatas.—Queéoquelhedesgosta,vocêouaideiadomatrimônio?—Nãosei.Tudooqueseiéquedevesentiralgopormimselevaruma

mechademeucabelonobolso.—Aorecordarcomotinhafechadoamãoao redor do botão, de maneira tão possessiva, sentiu um tremor nadadesagradável lhe baixando pelas costas.—Evie...— perguntou,— comosabequeestáapaixonada?Evie considerou a pergunta enquanto rodeava um sebe cheio de

prímulasdediversascores.—Estous-seguradequesupõequedevodizeralgosábioeproveitoso

—disseelacomgestohumilde.—Masminhasituaçãofoidiferentedatua.Sebastianeeunãoesperávamosnosapaixonar.Agarrou-nosporsurpresa.—Sim,mascomosoube?—Foinoinstanteemquecompreendiqueeleestavadispostoamorrer

pormim.Nãoacreditoqueninguém,nemsequerSebastian,acreditassequeele fosse capaz desse sacrifício. Isso me ensinou que pode assumir que

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conhece uma pessoa bastante bem…, mas que essa pessoa pode t-tesurpreender.Tudopareceumudarapartirdessemomentoederepenteelesetransformounomaisimportantenomundoparamim.Não,nãoomaisimportante…omaisnecessário.OH,lamentonãopodermeexpressarcommaisclaridade…—Entendo—murmurouDaisy, embora não o entendiamuito bem e

issoaencheudetristeza.Perguntava-sealgumavezseriacapazdeamaraum homem dessa maneira. Possivelmente tinha derrubado seussentimentosmaisprofundossobresuairmãesuasamigas…possivelmentenãoficavanadaparaalguémmais.Caminhavam seguindo uma fileira de arbustos de zimbro detrás dos

quais se estendia um atalho empedrado que rodeava a casa. De repenteouviramumasvozesmasculinasmantendoumaconversação.Ovolumedasvozes não era normal. De fato, falavam em sussurros delatando que aconversaçãoeraumpoucoprivado,eportantomisterioso.DaisysedeteveentreosarbustosefezgestosaEvieparaquesemantiveraquietaecalada.—…nãoparecemuitorobustaparafaça…—diziaumdoscavalheiros.Ocomentáriotevecomorespostaummurmúrioindignado.—Delicada?Santocéu!EssamulhertemacoragemparaescalaroMont

Blanccomumcaniveteeumacorda,seusfilhosserãofortesesãs.DaisyeEvieseolharamaumaàoutracommútuoassombro.Ambasas

vozes eram facilmente reconhecíveis como as de lorde Llandrindon eMatthewSwift.—Parafalaraverdade...—disselordeLlandrindoncomcepticismo.—

Minhaimpressãoéqueéumamoçaaquegostademuitooslivros.É,masbemumaintelectual.—Sim,gostadoslivros.Mastambémresultaquegostadaaventura.Tem

umaimaginaçãonotávelacompanhadadeumapaixonadoentusiasmopelavidaeumaconstituiçãodeferro.NãoencontraráumaigualaesteladodoAtlânticooudooutro,deondevenho.—NuncativenenhumaintençãodeconsiderarooutroladodoAtlântico

— disse lorde Llandrindon com secura. — As moças inglesas possuem

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todasascaracterísticasqueeudesejoemumaesposa.Daisy compreendeu que falavam dela e ficou boquiaberta. Sentia-se

dividida entre o prazer pela descrição que Matthew fazia dela, e aindignaçãoporque tratava de vendê-la a lorde Llandrindon como se foraumagarrafadetôniconocarrodeumvendedorguiaderuas.—Desejoumaesposaequilibrada—prosseguiu lordeLlandrindon,—

afável…tranquila.—Tranquila?Enãoesperaquesejainteligente?Nãoémelhorumamoça

segura de se mesma que não tente imitar algum pálido ideal defeminilidadesubordinada?—merespondaaumapergunta—repôslordeLlandrindon.—Sim?—Seessajovemfortãonotável,porquenãosecasavocêcomela?Daisy reteve o fôlego, esforçando-se por ouvir a resposta do senhor

Swift. Mas para sua profunda frustração sua voz soou amortecida pelosarbustos.—Caramba!—murmurouesedispôsasegui-los.Evielhedeuumpuxãosegurando-apelascostas.—Não— sussurrou bruscamente.—Não seja imprudente, Daisy. Foi

umasortequenãonosvissem.—Masqueroescutarorestodaconversação!—Eutambém—Evieaolhoucomosolhosmuitoabertos.—Daisy…—

lhedissemaravilhada—…acreditoqueMatthewSwiftestáapaixonadoporti.

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Capítulo10

Daisy não entendia por que a ideia de que Matthew Swift estivesse

apaixonadoporeladeveriapôrseumundo inteirodoreverso.Masassimera.—Seeleestáapaixonado...—disseaEvieconfundida—entãoporque

se empenha emme emparelhar com lorde Llandrindon? Seriamais fácilparaeleaceitarapropostademeupai.Teriaumacompensaçãoeconômica,atépoderiachegararegatearpormim,oqueodetém?—Talvezqueiraaveriguarsesentiralgoporele.—Não,amentedosenhorSwiftnãofuncionaassim,eleécomomeupai.

Sãohomensdenegócios.Depredadores.SeosenhorSwiftmequisesse,nãoseincomodariaemmepedirpermissão,écomoseumleãoperguntasseaumantílopeselheimportariaseroalmoço,éabsurdo.—Seriamenteacreditoquedeveriamterumaconversação—declarou

Evie.— OH, o senhor Swift só lhe daria voltas ao assunto e falaria com

rodeios,exatamentecomotemfeitoatéagora.Anãoserque…—Anãoserque,que?— A não ser que encontrasse algum modo de que baixe o guarda. E

forçá-loaserhonesto,aqueconfessassequesentealgopormim.—Comoesperasconseguirisso?—Nãosei.Pensanisso,Evie,sabecemvezesmaissobrehomensqueeu.

Está casada, e rodeada de homens no clube. Segundo sua opinião, quecaminho é o mais rápido para conduzir a um homem ao limite de suaprudênciaefazê-loadmitiralgoquenãoqueradmitir?Adulada por dar essa imagem de mulher de mundo, Evie meditou a

resposta.—Pô-lociumento,suponho.Viacavalheiroslutarcomocãesraivososno

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becoqueháatrásdoclubepelosf-favoresdealgumadamaemparticular.—Hmmm….!.Meperguntoseeuconseguiria lhedarciúmesaosenhor

Swift.—Estouseguradequeépossível—disseEvie.—depoisdetudo,éum

homem.EssamesmatardeDaisyabandonoualordeLlandrindonquandoentrou

nabibliotecaparaagarrarumlivrodeumadasprateleiras.—Boatarde,milorde—disseDaisycomintensidade,fingindonãonotar

o olhar de apreensão em seus olhos. Sufocou um sorriso, pensando quedepois da maneira em que Matthew Swift lhe tinha feito campanha,provavelmenteopobreLlandrindonsesentiriacomoumaraposaemumacaçada.Recuperando-serapidamente,lordeLlandrindonlherespondeucomum

sorrisoagradável.—Boatarde,senhoritaBowman.Comoseencontramsuairmãeobebê?—Ambos estão bastante bem, obrigado—Daisy se aproximoudele e

inspecionouolivroquetinhanasmãos.—HistóriadeCartografiaMilitar.Bom.Sonhabastante,er…interessante.—Sim,oé—lheasseguroulordeLlandrindon.—Eassombrosamente

instrutivo. Emborame temo que perdeu qualidade com a tradução. Teráquelê-lonoalemãooriginalparaapreciaroimensovalordaobra.—Algumavezlêvocêacreditenovelas,milorde?Eleaolhousinceramentehorrorizadopelapergunta.— OH, nunca leio novelas. Ensinaram-me quando era menino que só

teráquelerlivrosqueinstruemamenteoumelhoramocaráter.ADaisyincomodouseutomdesuperioridade.—Umaverdadeiralástima!—sussurrou.—Hmmm?—Émuito formoso...—respondeurapidamente, fingindoexaminaras

gravurasdaencadernaçãodecourodomanual.Dirigiu-lheoqueesperavaforaumsorrisosereno.—Évocêumapaixonadoleitor,milorde?— Trato de não ser nunca apaixonado com nada. Faço damoderação

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umamáximaemminhavida.—Eunãotenhonenhumamáxima.Seativessesempreaimpugnaria.Llandrindonsorrio.—Admitevocêquetemumanaturezavolúvel?—Prefiropensarquesoudementeaberta—disseDaisy.—Possovera

sabedoriaemumagrandevariedadedeopiniões.—Ah.Daisy literalmente podia ler seus pensamentos, para ele sua suposta

carênciadeprejuízosnãoafavoreciaabsolutamente.— Eu gostaria de ouvir mais a respeito de suas opiniões, milorde.

Possivelmenteduranteumpasseiopelosjardins?— Eu… er… — era um descaramento imperdoável que uma moça

convidasseaumcavalheiroadarumpasseiopelosarredores.Entretanto,anatureza cavalheiresca de Llandrindon não lhe permitia rejeita-la. —Certamente,senhoritaBowman.Possivelmenteamanhã…—Agoraseriaumbommomento—disseelacomentusiasmo.—Agora...—repôsbrandamente.—Sim.Seriaestupendo.Pendurou-se de seu braço antes de que pudesse oferecer-lhe e o

conduziuatéaporta.—Vamos.Semnenhumaoutraopção,salvodeixar-searrastarpelarisonhajovem,

Llandrindon se encontrou de repente baixando as grandes escadas demármorequeconduziamaoterraçotraseiro.—Milorde— lhe disseDaisy ,— tenho que lhe confessar algo. Estou

ideandoumpequenocomplôeesperavacontarcomsuaajuda.—Umpequenocomplô—repetiuocomvozfrívola.—Enecessitavocê

minhaajuda...Querdizer,er…— É algo inofensivo, é obvio— continuou Daisy.—Meu propósito é

respirarascuidadosdecertocavalheiro,queaopareceréalgorelutantenoreferenteamecortejar.— Relutante? — A voz de Llandrindon se converteu em um chiado

estridente.

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Daisypensouquehaviasobrevaloradosuacapacidadementalquandosefezevidentequetudooquelheocorriaerarepetirsuaspalavrascomoumlouro.—Sim,relutante.Mastenhoa impressãodequedebaixodessaatitude

existeumsentimentomuitodistinto—lordeLlandrindon,porgeneraltãoeleganteecheiodegraça,tropeçoucomumpequenodesníveldoatalho.—Por…porquetemessaimpressão,senhoritaBowman?—Intuiçãofeminina,milorde.—SenhoritaBowman—exclamouele,—sehouverditooutenhofeito

algumacoisaquepudesselhedaraimpressãoequivocadadequeeu…queeu…—Não,nãomerefirolhedisseDaisysemrodeios.—Não?Entãoaquem?—Refiro-meaosenhorSwift.Suarepentinaalegriafoiquaseevidente.—O senhor Swift. Sim. Sim. SenhoritaBowman, esteveme falandode

suasvirtudessemdescanso…nãoéquetenhasidodesagradávelouvirfalardeseusencantos,éobvio.Daisysorriu.—MuitometemoqueosenhorSwiftseguirácomoumfaisãoescondido

emumcampodetrigo,atéquealgolheobrigueaficaremmovimento.Masseavocênãoincomodassedaraimpressãodequetemalguminteresseemmim… alguma excursão em carro, algum passeio, um baile ou dois…possivelmenteissopossalhedarovalorquenecessitaparadeclarar-se.—Seráumprazer—respondeuLlandrindon, encontrandoopapelde

conspiradormuitomaisatrativoqueodeobjetivoparaomatrimônio.—Lheasseguro,senhoritaBowman,quepossosimularcortejarademaneiramuitoconvincente.—Queroqueatrasesuaviagemumasemana.Matthew, que tinha estado segurando umas folhas de papel com um

alfinete, cravou-se umdedo acidentalmente. Retirando o alfinete, não fezcasododiminutopontodesangueeolhoufixamentealordeWestcliffsem

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compreender.Ohomem,quetinhaestadoencerradocomsuaesposaesuafilharecém-nascidaduranteaomenostrintaeseishoras,derepente,tinhadecididofalarcomMatthewanoiteanteriorasuaviagemaBristoleemitirumaordemquenãotinhasentidoabsolutamente.Matthewrepôscomvozcontrolada:—Possoperguntarporque,milorde?—Porquedisseacompanhá-lo.Eminhasobrigaçõesnãomepermitem

partiramanhã.Conforme tinha Matthew entendido, a agenda do conde girava

unicamenteaoredordeLillianeobebê.— Não há nenhuma necessidade de que me acompanhe— disse ele,

ofendidopelaalusãoaqueelenãopoderiadirigirsozinhoascoisas.—Seitudooqueteráquesabersobreestenegócio,eoquerequererá.—Entretanto,évocêestrangeiro—repôslordeWestcliffcomumolhar

inescrutável.—Eamençãodemeunome lheabriráportasquedeoutramaneiralheestariamvedadas.—Seduvidarvocêdeminhacapacidadedenegociação…— Absolutamente. Tenho fé completa em suas habilidades, que na

América seriammais que suficientes, mas aqui, e em um projeto de talmagnitude, você necessitará o patrocínio de alguém notório na altasociedade.Alguémcomoeu.—Nãoestamosna idadeMédia,milorde.Queme crucifiquem se tiver

querepresentaroespetáculodocãoeopônei,acompanhadodeumnobreinglêsparafecharumtratodenegócios.— Visto dessa maneira... — repôs lordeWestcliff sarcasticamente,—

tampouco a meu entusiasma a ideia de ser parte de um espetáculo.Especialmentetendoumafilharecém-nascidaeumaesposaqueaindanãoserecuperoudoparto.—Nãopossoesperarumasemana—explorouMatthew.—Jáconsertei

algumasentrevistas.Acordeimeencontrarcomosencarregadosdosmoleseosdonosdacentraldeabastecimentodeágualocal.—Entãoteráquevoltaraplanejaressasreuniões.

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—Sevocêcrêquenãohaveráqueixa…—Anotíciadequelheacompanhareinapróximasemanaserásuficiente

parareprimiramaiorpartedasqueixa.De qualquer outro homem tal declaração seria uma arrogância. Se

embargo,lordeWestcliffselimitouaexporumsimplesfeito.—SabeosenhorBowman?—exigiu-lheMatthew.—Sim.Edepoisdeouvirminhaopinião sobreoassunto, esteveTudo

bem.—Eoquesesupõequevoufazeraquiduranteumasemana?O conde arqueou uma sobrancelha, era um homem cuja hospitalidade

nunca tinha sidoquestionada.Gentede todas as idades,nacionalidades eclassessociaisdesejavamserconvidadosàStonyCrossPark.MattheweraprovavelmenteaúnicapessoanaInglaterraquenãoqueriaestarali.Para isso Matthew carecia de importância. Levava muito tempo sem

trabalhar.Estavafartodeentretenimentosvazios,cansadodebate-papos,depaisagensformosas,doarfrescodocampo,dapazeatranquilidade.Elequeriaatividade,Porcaria.Pornãomencionarquesentiasaudadesoaromadecarvãodacidade,eobulíciodasruascheiasdetráfico.Sobre tudo queria estar longe de Daisy Bowman. Era uma tortura

constante tê-la tãopertoenãopoder tocá-la.Era impossível tratá-lacomfriacortesiaquandosuacabeçaestavacheiadetórridasimagensnasqueavia em seus braços, seduzia-a, e encontrava com a boca os lugaresmaisdocesemaisvulneráveisdeseucorpo.Eesseerasóoprincípio.Matthewqueria horas, dias, semanas a sós comela…queria ser o centrode todosseuspensamentoseseussorrisos,conhecertodosseussegredos.Desejavaaliberdadededespirsuaalmadiantedela.Tudooquenuncapoderiater.— Tem ao seu dispor muitos entretenimentos no condado e seus

arredores—disselordeWestcliffemrespostaàsuapergunta.—Seoquevocêdesejaécompanhiafeminina,sugiro-lhequeabusquenobotequimdopovo.Matthewtinhaouvidoalgunsconvidadosmasculinosgabar-sedepassar

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umatardeprimaverilpulandocomumpardeempregadasdebotequimdeexuberantes peitos. Se pudesse sentir-se satisfeito com um pouco tãosingelocomoprocuraracompanhiadeumaempregadadepovoroliça,emlugardessapoderosatentaçãoquedominavasuamenteeseucoração.Supunha-sequeoamoreraumaemoçãovertiginosaqueoalagavaaum

de felicidade.Comoexpressavamosabsurdosversosescritosnoscartõesdo dia de São Valentin decoradas com ilustrações. Mas não era assimabsolutamente.Eraumconstante, febril,esombriosentimento…umvícioquenãopodiasuperar-se.Umdesejoprofundoeperigoso.Eelenãoeraumhomemtemerário.MasMatthew sabiaque se ficava emStonyCrossmais tempo, ia fazer

umaloucura.—VouaBristol—dissedesesperado.—Voltareiaplanejarasreuniões.

Não farei nada sem sua permissão.Mas aomenos obterei informação daempresalocaldetransporteeexaminareiseuscavalos…—Swift—lheinterrompeuoconde.Algoemsuavozserena,umamatiz

de…compaixão?…simpatia?…fezqueMatthewficasserígidoeàdefensiva.—Entendoarazãodesuaurgência.—Não,vocênãooentende.—Entendo-omaisdoquevocê crê.E segundominhaexperiência, seu

problema não se solucionará escapando. Nunca poderá você afastá-losuficiente.Matthew ficou rígido, olhando sempiscar aWestcliff.O condepoderia

estarreferindo-seaDaisyouaoescuropassadodeMatthew.Emambososcasostinharazãoprovavelmente.Masissonãomudavanada.—Àsvezesfugiréaúnicaopção—repôsMatthewcombrutalidade,e

deixouaestadiasemolharatrás.FinalmenteMatthewnãopartiuaBristol.Elesabiaque lamentariasua

decisão…,masaindanãotinhanemideiadequanto.Os dias que seguiram foram para Matthew uma cruel tortura e os

recordariaparaorestodesuavida.

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Tinha vivido momentos muito duros, sabia o que era a dor física, aescassez, a fome e omedo.Mas nenhumdaquelesmales se assemelhavanem de perto à agonia de contemplar o cortejo que lorde LlandrindondedicavaaDaisyBowman.Parecia que as sementes que tinha semeado no Llandrindon sobre os

encantosdeDaisytinhamjogadoraízessatisfatoriamente.Oescocêsnãoseseparava de Daisy, conversando, paquerando, passeando seu olhar portodo seu corpo com uma confiança ofensiva. E o mesmo ocorria com aDaisy, estava cativada por ele, pendente de cada uma de suas palavras,deixandoalgoqueestivessefazendoassimqueapareciaLlandrindon.Nasegunda-feirasaíramdepinique.Naterça-feiraoptaramporumpasseioemcarro.Naquarta-feiraforamrecolherfloressilvestres.Na quinta-feira pescaram no lago, e voltaram com a roupa úmida e

bronzeados por sol, sorrindo felizes por uma brincadeira que nãocompartilharamcomninguémmais.Na sexta-feira dançaram juntos em uma improvisada noite musical,

faziamtãobomcasalqueumdosconvidadoscomentouqueeraumprazerolhá-los.NosábadoMatthewdespertouquerendomataraalguém.Seu humor não melhorou depois do comentário azedo que Thomas

Bowmanlhefezaofinalizarocafédamanhã.—Está-a enrolando— se lamentou o senhorBowman, empurrando a

Matthewdentrodoestudoparafalaremprivado.—Essebastardoescocêsaconteceu ultimamente muito tempo com a Daisy, gotejando encanto edizendo todas essas tolices que gostam de ouvir as mulheres. Se tiveralguma intenção de te casar com minha filha, deve saber que suaoportunidade se está esfumando. Fez todo o possível por evitá-la,mostraste-te taciturno e distante, e durante toda a semana tiveste umaexpressão mal-humorada que assustaria a um menino e faria fugir aqualqueranimal.SuamaneiradecortejaraumamulherconfirmatodoqueouvisobreosBostonianos.

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—PossivelmentelordeLlandrindonémaisapropriadoparaela—disseMatthew com voz inexpressiva. — Parece que desenvolveram um afetomútuo.—Nãose tratadeafeto, trata-sedematrimônio!—a calvado senhor

Bowmanavermelhou.—Temideiadosinteressesqueestãoemjogo?—Alémdosfinancistas?—Oqueoutraclassedeinteressespodemser?Matthewlhedirigiuumolharafetado.—Ocoraçãodesuafilha,suafuturafelicidade,ela…—Ora!Agentenãosecasaparaserfeliz.Ouseofazem,logodescobrem

queomatrimônionãoémaisquesujeira.Apesardeseuestadodeânimo,Matthewsorriuligeiramente.—Seesperarvocêmemotivarparaquemecase—disseele.—Nãoo

estáconseguindo.—Nãoésuficienteistomotivação?—osenhorBowmancolocouamão

no bolso de seu colete, extraiu um brilhante dólar de prata e o lançou aMatthewcomopolegar.Amoedavoounoar refletindoa luz.Matthewaapanhoucomumatoreflito,fechandoamão.—teCasecomaDaisy—lhedisse o senhor Bowman,— e conseguirámais. Muitasmais das que umhomempoderiagastaremtodaumavida.Derepente,escutaramumavozfemininadaportadoestudo.—Encantador...Era Lillian, levava um vestido de dia rosado e um xale. Seus olhos

estavam tão escuros como a obsidiana, cravou-os em seu pai com umsentimentopróximoaoódio.— Existe alguém em sua vida que seja algo mais para você que um

simplespeão,pai?—perguntou-lhearidamente.—Estaéumaconversaçãoentrehomens—replicouosenhorBowman,

avermelhandopelaculpa,acólera,ouumacombinaçãodasduas.—Nãoédesuaincumbência.—Daisyme incumbe—disseLillian,comumavozsuave,mas fria.—

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Lhesmatariaaosdoisantesdepermitirqueafizessemdesventurada—sedeuavoltaeseperdeuporcorredorsemlhedaraseupaiaoportunidadederesponder.Amaldiçoando, o senhor Bowman abandonou o estudo e partiu em

direçãooposta.Aoficarsolonaestadia,Matthewatirouamoedasobreoescritório.— Todo este esforço por um homem ao que não lhe importo —

murmurava Daisy resmungado e amaldiçoando em silencio a MatthewSwift.Llandrindon estava sentado sobre o borda de pedra de uma fonte do

jardim,obedientementequietoenquantoeladesenhavaseuretrato.Daisynunca tinha tido um excepcional talento para o desenho, mas tinhaesgotado todas as demais atividades que uma jovem e um cavalheirosolteiropodiamfazer.—Comodiz?—perguntou-lheolordeescocês.—Heiditoquetemvocêumcabelomuitoelegante!Llandrindoneraumcavalheiromuitoagradável,educado,demoralidade

irrepreensívelecompletamenteconvencional.ComtristezaDaisyadmitiuque apesar de todo seu empenho em voltar médio louco de ciúmes aMatthew Swift, só tinha conseguido voltar-se elamesmamédio louca deaborrecimento.Daisyfezumapausaeselevouodorsodamãoatéoslábios,sufocando

umbocejotratoudeaparentarestarabsortaemseudesenho.Tinhasidoumadassemanasmaismiseráveisdesuavida.Umdiaatrás

deoutrodeaborrecimentomortal,fingindodesfrutardacompanhiadeumhomem que não podia lhe haver interessado menos. É obvio, lordeLlandrindon não era responsável por isso, ele se tinha esforçado porentretê-la,masparaaDaisytinhaficadomuitoclaro,quenãotinhamnadaemcomumequenuncaoteriam.Llandrindon não parecia compartilhar essa opinião. Falava sem parar

durante horas de nada em concreto. Poderia encher jornais inteiros comtodas as intrigas de sociedade quemencionava sobre pessoas que Daisy

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não conhecia, e emitia largos discursos sobre coisas absurdas como ascoresideaisparadecorarasaladecaçadesuapropriedadenoThurso,ouoresumodetalhadodosestudosquetinhaseguidonaescola.Nãoconseguiuencontrarnadainteressanteemnenhumadessashistórias.Llandrindon,porsuaparte,tampoucopareciainteressadonostemasde

conversaçãodeDaisy.OnãoencontroudivertidassuastravessurasinfantiscomaLillian,eseeladiziaalgocomo“Olhoessanuvem,nãolheparecequetemaformadeumgalo?”,olhava-afixamentecomoseestivesselouca.AoLlandrindonpareceu lhedesgostar queDaisy conversasse sobre as

leis de desigualdade social lhe perguntando que diferença via ele entrepobredignoepobreindigno.—Aoparecermilorde...—haviaditoela,—a leiestádesenhadapara

castigaràspessoasquemaisajudanecessita.—Algumaspessoassãopobresporsuaprópriaeleição,porcausadesua

debilidademoral,eportantoagentenãopodelhesajudar.—refere-sevocêàsmulheressemmoral,porexemplo?Maseseessas

mulheresnãotivessemoutra…—NãofalaremosdasmulheressemmoralsenhoritaBowman—tinha

respondidoele,olhando-ahorrorizado.Por conseguinte, os temas de conversação se fizeram cada vez mais

limitados,sobretudoporque lordeLlandrindonencontravadifícilseguiraDaisy quando mudava rapidamente de tema. Muito depois de que elativesseterminadodefalarsobrealgoemconcreto,eleseguiaperguntandoporisso.—Acrediteiqueestávamos falandodo canichede sua tia—assinalou

confundidoessamesmamanhã,aoqueDaisyrespondeucomimpaciência.— Não, deixei de falar desse tema faz cincominutos, neste momento

estavalherelatandominhaúltimavisitaàópera.—Mascomopassamosdocanicheàópera?Arrependia-sedeterrecrutadoaoLlandrindonparalheajudarcomseu

plano, sobretudo porque tinha comprovado que era totalmente ineficaz.MatthewSwiftnãosemostrouciumentonemumporumsegundo,seguia

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conservando seu habitual semblante impertérrito, e apenas lhe tinhadedicadoumolharduranteessesdias.—porquefranzevocêocenho,doçura?—perguntou-lheLlandrindon,

olhando-aaosolhos.Doçura? Nunca antes se dirigiu a ela com palavras carinhosas. Daisy

cravouosolhosneleporcimadoblocodepapeldedesenho.Eleaolhavadeumamaneiraqueafezsentir-seinquieta— Não se mova, por favor — lhe disse pucramente. — Estou

desenhandoseuqueixo.Concentradaemseudesenho,Daisypensouquenãoqueriasermalote

mas…suacabeçatinharealmenteessaformatãooval?Etinhadeverdadeosolhos tão juntos?Eraalgo curiosoqueumapessoa resultasseatrativa,até que a gente examinava seus rasgos com mais atenção, perdendo amaiorpartedeseuencanto.Decidiuquedesenharàspessoasnãoeraseuforte.Deagoraemdiantesecentrariaemnovelooufrutas.— Esta semana teve um efeito estranho sobre mim — comentou

Llandrindonemvozalta.—Mesinto…distinto.— Está você doente? — perguntou-lhe Daisy com preocupação,

fechando o bloco de papel de desenho. — Acredito que lhe tenho feitosentar-seaosolmuitotempo.—Não,sinto-meestranho,masdeoutromodo.Oquequerodizeréque

me sinto… maravilhosamente. — Llandrindon a olhava daquele modoestranhooutravez.—Melhordoquemeheisentidojamais.—Deveserporardecampo—Daisyselevantou,sacudiuasaiadeseu

vestidoeseaproximoudele.—Émuitolhevigorizem.— Não é o ar de campo o que faz que me sinta assim — disse

Llandrindonemvozbaixa.—Évocê,senhoritaBowman.Daisyabriuaboca.—Eu?—Você.—Eleselevantouelhepôsasmãosnosombros.Asurpresaafezgaguejar.—Milorde…eu….eu…

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— Estes dias passados em sua companhia me têm feito refletirprofundamente.Daisy se voltou para olhar a seu redor, seus olhos inspecionaram os

arbustostalheresderosastrepadeiras.—EstáosenhorSwiftperto?—sussurrouela.—Porissomefaladessa

maneira?—Não,falo-lhedesdemeucoração—apaixonadamenteLlandrindona

aproximoumaisaele,atéqueoblocodepapeldedesenhoficouesmagadoentreeles.—Metemabertovocêosolhos,senhoritaBowman.Ensinou-meaverascoisasdemaneiradiferente,queroencontrarformasnasnuvens,eescreverumpoucoparecidoaumpoema.Querolernovelas.Querofazerdavidaumaaventura…—Issoestámuitobem!—disseDaisy,tentandosoltar-se.—…comvocê.OH,não!—Estavocêbrincando—disseelabrandamente.—Estouapaixonado—declarouele.—Nãosouamulherapropriadaparavocê.—Estoudecidido.—Eeuestou…surpreendida.— Você pequena criatura — exclamou ele, — é tudo o que disse o

senhorSwift.Amagiadeuma tormentaunidaaumarco íris. Inteligente,encantadoraedesejável…—Espereummomento—Daisyoolhouassombrada.—Matth...quero

dizer,osenhorSwiftdisseisso?— Sim, sim, sim… — e antes de que ela pudesse reagir, lorde

Llandrindonagachouacabeçaeabeijou.O bloco de papel de desenho escorregou de suas mãos. Daisy

permaneceupassivaemseusbraços,esperandosentiralgo.Objetivamentefalando,nãohavianadamauemseubeijo.Nãoeranem

muitoseconemmuitomolhado,nemmuitobruscooumuitosuave.Era…Aborrecido.

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Vazio.Maldição.Daisyseapartoufranzindoocenho.Sentiu-seculpadoporter

desfrutadotãopoucodobeijo.EsesentiupiorquandosedeucontadequeLlandrindonotinhadesfrutadoobastante.—Minhaquerida senhoritaBowman—murmurousedutoramente.—

Nãoimaginavaqueseuslábiosfossemtãodoces.Tentoubeijá-laoutravezeDaisyretrocedeucomumpequenoofego.—Milorde,rogo-lhequesecontrole!—Nãoposso.Eleaseguiulentamenteaoredordafonteatéquepareceramumparde

gatos perseguindo-se. De repente, lançou-se para ela, agarrando-a pelamangadeseuvestido.Daisyoempurroucomtodassuasforçasparasoltar-se,epelaresistênciaamusselinabrancadeseuvestidoserasgouDepoisdissoescutouumchapinhoruidosoealgumasgotasdeágualhe

molharamacara.Daisy piscou, de repente Llandrindon tinha desaparecido de sua vista.

Temendo o pior se tampou os olhos com asmãos, como se isso pudessemudarasituação.—Milorde?—perguntoucomcautela.—…Secansadovocênafonte?—Não—foisuaácidaresposta.—Vocêmeatirouàfonte.—Foicompletamenteinvoluntário,oasseguro—Daisyfezumesforçoe

oolhou.Lorde Llandrindon ficou em pé, a água jorrava por seu cabelo e sua

roupa, tinha os bolsos da jaqueta alagados. Ao parecer, o mergulho decabeçanafontetinhaesfriadobastantesuaspaixões.Elefranziuocenho,guardavasilêncio,sentindo-seultrajado.Derepente,

abriumuitoosolhos, e colocouamãoemumdosbolsos cheiosde água.Umarãdiminutasaiudobolsoevoltouparaafontecomumsalto.Daisytratoudeafogararisada,masquantomaisotentavamaisdifícilse

ofazia,atéquefinalmenteestaloucomumagargalhada.— Lamento-o — ofegou tampando-a boca com as mãos, enquanto a

risada lheescapava inconcebível.—O lamentotanto,OH—ese inclinou

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rindo-seatéquelheencheramosolhosdelágrimas.AtensãoentreelesdiminuiuquandoLlandrindoncomeçouariracontra

gosto.Deuumpassoforadafonte,molhandoochãodecascalho.— Segundo o conto um beijo transforma ao sapo em um príncipe—

comentou com secura. — Infelizmente em meu caso não parece terfuncionado.Daisy se sentiu alagada por uma quebra de onda de compaixão e

simpatia,aindarindoseaproximoudelecomcuidado,pôsasduasmãosnacaramolhadaelhedeuumfugazbeijonoslábios.LordeLlandrindonabriumuitoosolhos.—Vocêéumpríncipemuitodeaparênciaagradável—lhedisseDaisy

com um sorriso. — Sozinho que não é meu príncipe, quando a mulherapropriadalheencontre…serámuitoafortunada.Inclinou-se para recolher seu bloco de papel de desenho e se

encaminhouparaaMansão.Porumaparadoxododestino,Daisyvoltouparaacasaporcaminhoque

confinava com a casinha rural para cavalheiros. uma pequena residênciaanexa à casa principal, bastante perto da borda do rio, o que lheproporcionava magníficas vistas da água. Alguns dos convidadosmasculinostinhamdecididoaproveitardoisolamentodolugardurantesuaestadiaemStonyCross.Nessesmomentosseencontravavazia,apartidadecaçatinhaterminadonodiaanterioreamaiorpartedosconvidadosjásepartiram.ExcetoMatthewSwift,éobvio.Sumida em seus pensamentos, Daisy caminhava lentamente rodeando

umdosmurosdapequenacasa.Seuspensamentossetornaramsombriosquandopensouemseupai,queestavatãodecididoacasá-lacomMatthewSwift… no Lillian, decidida a que se casasse com alguém, que não foraSwift…eemsuamãe,quenãoestariasatisfeitacomnenhumcavalheiro,amenosqueforaumnobre.MercedessedesgostariamuitoquandosoubessequeDaisytinharejeitadoaoLlandrindon.Meditando sobre a semana passada, Daisy compreendeu que seu

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empenhoporcaptaraatençãodeMatthewnãotinhasidoumjogoparaela.Sentia-se desesperada. Desejava com toda sua alma ser sincera com ele,poder lhe falar francamente, sem lhe ocultar nada. Em lugar de pôr demanifesto os sentimentos de Matthew com seu plano, quão único tinhaconseguidoeraesclarecerdeles.Quandoestavacomele, alagava-aumasensaçãomaravilhosa,mais lhe

apaixonem que qualquer novela que tivesse lido ou qualquer sonho quetivessetido.Umsentimentorealeverdadeiro.Era incrível que o homem ao que sempre considerou frio e

desapaixonado, em realidade fora alguém com tanta gentileza,sensualidadee ternura.Alguémque tinha levadoemsegredoumamechadeseucabelonobolso.Ouvindoquealguémseaproximava,Daisylevantouoolhar,oqueviua

feztremerdacabeçaaospés.Matthew Swift caminhava em sua direção com grandes pernadas e

semblantesombrio.Pareciaterpressaporchegaraalgumaparte.Deteve-sebruscamentequandoaviueficoupálido.Olharam-sefixamenteoumaooutroemumtensosilêncio.As sobrancelhas de Daisy se uniram em um cenho. Esforçou-se por

manteressesemblanteemlugardedeitar-seemseusbraçosecomeçarachorar.Aintensidadedeseudesejoaemocionou.—SenhorSwift—lhesaudounervosa.— Senhorita Bowman. — Ele a olhou como se preferisse estar em

qualquerpartemenosalicomela.Seus alteradosnervosderamumsaltoquando ele alargou amãopara

agarraroblocodepapeldedesenho.Sempensar,lhedeixouagarrá-lo.SeusolhosseestreitaramquandoviuodesenhodeLlandrindon.—porqueodesenhoucombarba?—perguntou-lhe.— Não é a barba — disse Daisy imediatamente. — É um jogo de

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sombras.—Poisparecequenãosebarbeouemtrêsmeses.—Não lhe pedi sua opinião sobremeu trabalho— lhe espetou ela e

agarrouoblocodepapeldedesenho,maselenãoosoltou.—lheSolte-oexigiu,atirandocomtodasuasforças,—ouvoua…—Oquevaifazer?medesenharamimtambém?—Eleliberouobloco

depapel com talbrutalidadequeela retrocedeuunspassospor impulso,levantouasmãosedissecomironia.—Nemlheocorra.Daisy se equilibrou sobre ele e lhe golpeou no peito com o bloco de

papel.Odiavaqueele a fizesse sentir-se tãoviva.Odiavaomodoemqueseus sentidos bebiam de sua presença como a terra seca que absorve achuva.Odiavaseuformosorosto,seucorpovirilesuaboca,queatentavamaisdoquetinhadireitoatentá-la-ábocadeumhomem.OsorrisodeMatthewdesapareceuquandoseuolharsedeslizousobre

elaereparouemseuvestidorasgado.—Oquepassouaseuvestido?— Não é nada. Tive uma espécie de… bom… de briga, poderíamos

chamá-loassim,comlordeLlandrindon.Era a palavra mais inocente que encontrou Daisy para descrever o

encontro, que certamente tinha sido inofensivo. Estava segura de quenenhumaconotaçãodesagradávelpodiaunir-seàpalavra“brigado”.MasaopareceradefiniçãodeSwiftdapalavraabrangiamuitomaisque

asua.Suaexpressãosevoltoulúgubreeseusolhosazuisarderam.—voumata-lo—disseelecomvozgutural.—Esseescocêsseatreveu

Aondeestá?—Não,não—repôsDaisyprecipitadamente,—vocêhámeentendido

mal,nãofoinadadisso...Deixoucairoblocodepapeldedesenho,eseabraçouaele,usandotodo

seupesoparafreá-loquandoelesedirigiuparaojardim.Eracomotentardeterumtouro.Arrastou-acomeleváriospassos.— Espere um momento! O que lhe dá direito a meter-se em meus

assuntos?

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RespirandoagitadamenteMatthewsedeteveeexaminouintensamenteseurostoruborizado.—Tocou-te?Forçoua…?—Vocêécomoocãodohortaquenemcomenemdeixacomer—lhe

gritouDaisycomveemência.—Vocênãomequer…assimnãolheimportase outro homem o faz. me deixe tranquila, volte para seus planos paraconstruirumaimensafábricaeganharmontanhasdedinheiro!Esperoquese converta no homem mais rico do mundo e que consiga todo que oqueira,equechegueodiaemqueolheaseuredoresepergunteporqueninguémlheamaeporqueévocêtãodes…Suas palavras se perderam quando ele a beijou na boca com força,

castigando-a.Umaemoção selvagema atravessou comoum relâmpago, eapartouacaracomumofego.—…graçado—concluiu,justoantesdequelhesegurasseacabeçanas

mãoseabeijasseoutravez.Estavezseubeijo foimaissuave,cheiodeurgênciasensual.Ocoração

deDaisypulsava frenético,acelerandoseusangueacaloradoporprazeredilatandosuasveias.Elacolocouasmãossobreseusmusculosospulsos,asgemas de seus dedos encontraram o batimento do coração de seu pulsodesbocado,igualaodela.CadavezquepensavaqueMatthewporiafimaobeijo,eleabeijavamais

profundamente.Elarespondeu febrilmente, sentiaaspernas tão fracasquepensouque

sedobrariacomoumabonecadetrapo.Rompendo o contato com seus lábios, exclamou com um sussurro

angustiado.—Matthew…meleveaalgumaparte.—Não.—Sim.Preciso…precisoestarasóscontigo.Ofegandotortuosamente,Matthewaabraçoucommaisforçaatraindo-a

contraseuduropeito.Apertouoslábioscontraseucabelocomforça.— Não posso fazer isso, não sei se poderei me controlar — disse

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finalmente.—Sópara falar.Por favor.Nãopodemos falar aqui fora. Semedeixar

agoramorrerei.Inclusive confundido como se sentia, Matthew não pôde reprimir um

sorrisoporessadramáticadeclaração.—Não,nãomorrerá.—Sóparafalar—repetiuDaisyaproximando-semaisaele.—Eunão…

nãotentarei.— Amor — disse com um suspiro, — você me tenta só estando no

mesmoquartoqueeu.Daisysentiuumnóardentenagarganta.Temendoquealgoquedissesseoempurrasseapartir,guardousilêncio

eseapertoucontraele,esperandoqueacomunicaçãosilenciosaentreseuscorposofizessemudardeopinião.Comumgemido estrangulado,Matthewa agarroudamão e sedirigiu

paraacasaparacavalheiros.—Queocéunosajudesealguémnosvê.Daisy teve a tentaçãode brincar lhe dizendoquenesse caso teria que

casar-secomela,massemordeualínguaeapertouopassojuntoaele.

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Capítulo11

Ointeriordacasaestavaescuroeúmido,asparedesestavamrevestidas

commadeiradepalisandro, as janelas cobertas comcortinasdeveludoesedacorrubi,osmóveis,emboraencantadores,erammuitoantigos.Semsoltá-la,Matthewaconduziuaumquartonapartedeatrás.QuandoDaisyentrounoquarto,precaveu-sedequeeraseudormitório.

Sentiu o coração pulsar com força dentro do espartilho. O quarto estavameticulosamente ordenado, o aroma da madeira polida com cera deabelhas impregnava o ar, da janela pendurava uma cortina cor nata quedeixavaentraraluzdodia.Alguns artigos estavam pulcramente organizados no penteadeira: um

pente,umaescovadedentes,pósdentifríciosesabão,enolavabo,umafacadebarbeareumafiador.Nãohavianenhumapomada,nemceras,colôniasounatas,nenhumalfinetedegravata,nemnenhumanel.Certamente,nãosepodiadescreveraMatthewcomoumengomadinho.Ofechouaportaeficoufrenteaela.Pareciamuitograndenopequeno

quarto, sua presença o eclipsava tudo. Daisy lhe secou a boca quandocravouosolhosnele.Queriatocá-lo…queriasentirsuapelecontraasua.—OqueháentreLlandrindonevocê?—exigiuele.—Nada.Sóamizade.Aomenosporminhaparte.—Epelasua?—Suspeitoque... bom, elepareceuafirmarqueestava interessadoem

mim…jásabe…—Sim,sei—disseelecomvozespessa.—Eemboranãopossosuportar

a esse bastardo, tampouco posso culpá-lo por te desejar. Não depois daformaemquelheincitastepaquerandocomeletodaasemana.— Se está tratando de insinuar que estive atuando como uma

descarada...

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—Não tente negá-lo. Vi como paquerava com ele. A forma em que teaproximavadelequandotefalava…ossorrisos,osvestidosprovocadores…—Vestidosprovocadores?—perguntouDaisysurpreendida.—Comoesse.Daisybaixouoolharparaseurecatadovestidobrancoquelhecobriao

pescoço e a maior parte dos braços. Uma monja não lhe encontrarianenhumdefeito.Lhedirigiuumolharsarcástico.—estivetentandotedarciúmes.Meteriaeconomizadomuitoesforçose

tivessemostradoseudesgostoabertamente.—Tratava deme pôr ciumento deliberadamente?— explodiu.—E o

quequeriaobtercomisso?Essaésuaideiadeumabrincadeiradivertida?Umruborrepentinoseestendeuporsuacara.— Acreditei que sentia algo por mim… e queria te obrigar a que o

admitisse.Matthew abriu a boca e voltou a fechá-la, parecia ter perdido a

capacidadedefalar.Daisy se perguntava inquieta que estaria pensando. Depois de um

momentoelesacudiuacabeçaepôsasmãossobreopenteadeiracomoseprecisasseapoiar-seemalgo.—Estázangado?—perguntou-lheinsegura.Suavozeraumsussurroquandorespondeu.—Dezporcentodemimestázangado.—Eooutrosnoventaporcento?—Essaparteestáapontodetetombarsobreessacamae...Matthewguardosilêncioderepenteetragoucomforça.—Daisy, émuito inocentepara entenderoperigonoque te encontra.

Necessito todo meu autocontrole para manter as mãos longe de ti. Nãobrinquecomigo,amor.Émuitofácilparatimetorturar,eestouapontodechegarameu limite.Eparaesclarecersuasdúvidas...eu tenhociúmesdecadahomemqueestejaamenosdeummetrodeti,daroupaquecobresuapeleedoarquerespira.Osciúmesmeconsomemcadamomentoquepassalongedemim.

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AtordoadaDaisysussurrou:—Masvocênuncamostrasteessessentimentos...—Durantetodosestesanosacumuleituaslembranças,cadaolhar,cada

palavraquemedirigiste.Quandovisitavaacasadesuafamíliaemumdiafestivo, ou quando estava convidado para jantar, logo que podia esperarparaentrarpelaportaepoderverte.—Seus lábiossecurvaramcomumsorriso evocadora.—Você... entreosmembrosde sua família, todoselestão obstinados, eu gostava de ver a sutileza comque tratava com eles. Éparamimtudooqueumamulherdeveriaser.Etequisacadasegundodeminhavidadesdequeteconheci.Daisysentiuumprofundopesar.—Eu...nuncafuimuitoagradávelcontigo—lhedisseatormentada.—Foimelhorassim,meacredite.Se tivessesidoagradávelcomigo,eu

provavelmenteteriacometidoumaloucura.Matthewlevantouumamãoquandoeladeuumpassoparaaproximar-

sedele.—Não.Não o faça. Já lhe hei dito, isso não possome casar contigo, é

impossível.Issonãovaimudar.Comonãomudaofatodequeteamo.Seusolhoscorsafiraardiamquandopercorreramsuadelicadafigura.—Céus,comoteamo—sussurrou.Daisylutoucomodesejodelançar-seaseusbraços.—Eutambémteamo.Tantoquenãopossorenunciaratisemsaberpor

que.—Sefossepossívelteexplicarmeusmotivos,meacreditequeofaria.—

Inclinouacabeçapesaroso.Daisyseobrigouafazerapergunta,mastemia.—Jáestácasado?Aolhouaosolhos.—Céus,não.Oalívioaalagou.—Entãosenãoéporisso,qualqueroutracoisatemsolução,meconteo

que...

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—Vocênão sabenadadomundo, se tivessevividoumpoucomais—respondeudemauhumor—nãodiria coisas como “qualquer outra coisatemsolução”.Eleseafastoudapenteadeira,esedirigiuparaaporta.Guardou silêncio durante um comprido momento, como se estivesse

meditandosobrealgo.Daisyestavamuitoquieta,sustentandoseuolhar.Tudooqueelapodia

fazereraterpaciência.Esperouemsilenciosematrever-sesequerapiscar.Matthew aparto à vista, tinha uma expressão distante. Seus olhos se

voltaramdurosefrios,comosefossemaçocorcobalto.— Faz muito tempo — disse finalmente, — ganhei um inimigo, um

inimigo capitalista, entretanto, eu não fui responsável por que ocorreu.Como consequência me vi obrigado a abandonar Boston. E tenho boasrazõesparaacreditarqueessehomemvoltaráparameatormentaralgumdia.Vivi comessa espadapendurando sobreminha cabeçadurante anos.Nãotequeropertodemimquandofinalmentemealcançar.— Mas deve haver algo que se possa fazer — disse Daisy com

impaciência, determinada a enfrentar a esse inimigo desconhecido comqualquermeioaseualcance.—Semecontassealgomais,semedissesseseunomee…—Não.—Suavozerasuave,masamaneiraemqueodissefezcalara

Daisy.—fuitodoohonestocontigoquepude,Daisy.Esperoquenãotraiaminhaconfiança.Fezumgestoparaaporta.—Agoradevepartir.—Assimsemmas?—perguntouaturdida.—depoisdetudooqueme

háditoquerquemeparta?—Sim...eprocuraqueninguémteveja.—Nãoéjustoqueimponhaseuparecersobreesteassunto.—Avidanãoestáacostumadaser justa—disseele.—Inclusivepara

umaBowman.Os pensamentos de Daisy se amontoavam em sua mente enquanto

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observava seu perfil decidido. Matthew não fazia algo assim por meraobstinação.Estavaconvencidodequedeviamanter-selongedela.Elenãodeixavanenhumaviadediálogo,nenhumapossibilidadedenegociação.— vou procurar a lorde Llandrindon, então?—perguntou, esperando

provocá-lo.—Sim.Daisyfranziuocenho.— Eu gostaria que fosse consequente com seus sentimentos. Faz uns

minutosestavaapontodefazê-lopurê.—Seforoquevocêquer,nãotenhonenhumdireitoameopor.— supõe-se que você me quer, isso te dá direito a opinar! — Daisy

caminhou aridamente até a porta. — por que sempre dizem que asmulheressão ilógicasquandooshomensosãocemvezesmais?Primeiroquerem algo, depois já não o querem, logo tomam decisões irracionaisapoiadas em segredos que não querem explicar e se supõe que ninguémpodelhesfazerperguntasporqueapalavradeumhomemélei.Quando ia pôr a mão no pomo da porta, viu a chave na fechadura, e

deteveamãonoar.Olhou de soslaio aoMatthew, que se tinha colocado ao outro lado do

penteadeiraparamanterumadistânciaseguraentreeles.Embora Daisy era a mais serena de todos os Bowman, não era uma

covarde.Enãoaceitariaumaderrotasemlutar.—Obriga-meatomarmedidasdesesperadas—lhedisse.—Nãohánadaquepossafazer—respondeucomsuavidade.Nãolhedeixavanenhumaoutraopção.Daisylhedeuavoltaàchavenafechaduraeatiroudevagar.O“clique”soouestranhamenteruidosonosilênciodoquartoDeu-seavoltaemuitodevagar,Daisyseparouopescoçodeseuvestido

deseupeito,esustentouachaveemcimadoocoaberto.Matthew abriu os olhos de par em par quando entendeu o que se

propunha.—Não...vocênão...

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Quandoelecomeçouarodearopenteadeira,Daisydeixoucairachavedentrodeseuvestido,estasedeslizoudebaixodoespartilho.Elaencolheuo estômagodeixando-a escorregar até que sentiu o frio dometal em seuumbigo.—Porcaria!—Matthewaalcançoucomumavelocidadesurpreendente.

Eleestendeuumamãoparatocá-la,masaapartoupara trásrapidamentecomosequeimou.—Tiraadaí—lheordenou,comorostocongestionadopelaindignação.—Nãoposso.—Faloasério,Daisy!—baixoumuitodentro.Tereiquemetirarovestido.Olhou-acomosequeriamatá-la.Maselatambémpôdesentiraforçade

seudesejo. Respirava comdificuldade e um calor abrasador irradiava deseucorpo.Seusussurrofoicomoumrugido.—Nãomefaçaisto.Daisyesperouseupróximomovimentopacientemente.Lhedeuascostas,comocorpoemtensão,ascosturasdesuajaquetase

atiram sobre sua poderosa musculatura. Tinha os punhos apertadoslutandoporcontrolar-se.Fezumatrementeinspiração,elogooutra.— te tire o vestido — disse com voz rouca, como se acabasse de

despertardeumsonhoprofundo.Tratando de não irritá-lo, mas do necessário, Daisy lhe respondeu

apaciblemente.—Nãopossofazê-losozinha.Osbotõesestãonascostas.Matthewmurmuroualgoentredentes.Depoisdeumcompridosilencio

sedeuavoltaparaolhá-la.Suamandíbulapareciaesculpidaemferro.— Não vou cair nisto tão facilmente. Posso resistir a ti, Daisy. Tenho

muitosanosdeprática.Dateavolta.Daisyobedeceue inclinoua cabeçapara frente, podia sentir seuolhar

fixosobreafilaintermináveldebotõesdepérolas.— Como consegue te despir? — resmungou o. — Nunca vi tal

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quantidadedebotõesemumobjeto.—Estádemoda.—Éridículo.—PodeenviarumacartadeprotestoaolivroparadamasGodey’s—lhe

sugeriuela.Com um bufido desdenhoso, Matthew se dispôs a soltar o primeiro

botão.Tentoudesabotoá-loevitandoqualquercontatocomsuapele.—Émaisfácilsedeslizarosdedosdebaixodacasa—lhedisseDaisy.—

Elogosacasobotãoatravésde...—Ficaquieta—grunhiu.Elafechouaboca.Matthew lutou com os botões outro minuto mas, finalmente com um

grunhidodeimpaciênciaseguiuseuconselho,deslizandoosdedosentreovestido e sua pele. Quando ela sentiu seus nódulos lhe roçar a pele, umcalafriolhepercorreuascostas.A tarefa resultou ser espantosamente lenta. Daisy podia senti-lo lutar

comosmesmosbotõesumaeoutravez.— Posso me sentar por favor? — perguntou brandamente. — Estou

cansadadeestardepé.—Nãohánenhumlugarondesentar-se.—Simohá.—Afastando-sedele,Daisyfoiatéacamadequatropostese

tentou subir em cima. Infelizmente a cama era muito alta, um antigomodelo Sheraton construída para evitar os rigores do inverno e podercolocar um braseiro debaixo. O borda do colchão ficava à altura de seuspeitos.Dando-seimpulsiono,elatentousubirosquadrisàcama.Masagravidadeaderrotou.— Normalmente — disse Daisy, lutando e retorcendo-se com os pés

pendurando—colocamumdegrau...—elafechouasmãossobreacolcha,agarrando o tecido— para cá, mas assim de altas.— Esforçando-se porsubir um joelho sobre o borda do colchão, ela comentou: — Céus… sealguémcaíssedestacamaemplenanoite…seriafatal.SentiuasmãosdeMatthewaoredordesuacintura.

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—Acamanãoétãoalta—respondeu.Levantando-acomoseforaumamenina,subiu-asobreocolchão.—Équeémuitobaixa.—Nãosoubaixa.Sóestou...verticalmentedesfavorecida.—Estábem.Ponhadireita—Matthewsubiuàcama,seupesooprimiuo

colchão detrás dela e suas mãos retornaram à parte posterior de seuvestido.Sentiro leve tremordeseusdedoscontrasuapele,deu-valoraDaisy

paracomentar:—Nuncamegostaramdoshomensaltos.Masvocêmefazsentir...— Se não te calar — a interrompeu de maneira concisa— vou

estrangularte.Daisyguardousilêncio,podiaouviroritmodesuarespiraçãoqueagora

eramaisprofunda,menoscontrolada,entretantoseusdedoscomeçaramatrabalhar commais segurança desabotoando o vestido, por fim soltou oúltimobotãoda fileira e o vestido se abriu, asmangas escorregaramporseusombros.—Ondeestá?—perguntouele.—Achave?—Sim,Daisy,achave—respondeu,comumtomdevozfunesto.—colocou-sedentrodo espartilho.Oque significa…que terei queme

tirarissotambém.Ele não reagiu ante essa declaração, não emitiu nenhum som, nem se

moveu.Daisysedeuavoltaparalheolhar.Ele parecia aturdido. Seus olhos pareciam extremamente azuis em

contraste com seu rosto congestionado. Precaveu-se de que ele liberavaumaselvagembatalhainteriorparanãotocá-la.Mortificadapelavergonha,Daisytirouosbraçosdasmangas.Deslizouo

vestidoatéseusquadriselivrando-sedetodasascapasdetecidobrancoeencaixe,deixou-ascairaochãoemummontão.Matthew cravou os olhos no vestido como se fora alguma classe de

animal exótico que nunca tinha visto antes. Lentamente seus olhosretornaram até Daisy, e um som estrangulado surgiu de sua garganta

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quandoelacomeçouadesabotoaroespartilho.Ela se sentiu timidamente perversa, despindo-se diante dele. Mas a

animouacontinuarofatodequeopareciaincapazdeapartarosolhosdecada polegada exposta de sua pele. Quando soltou o último gancho demetal,eladesatouoscordõesdoespartilhoeodeixoucairjuntoaovestido.Tudooquecobriaseuspeitoseraumafinaregataenrugada.Achavesedeslizouatéseucolo.Fechandoosdedosaoredordoobjeto

demetal,Daisyolhouaosolhoscomcautela.Matthew fechou os olhos, sua frente desenhada comprofundos sulcos

porcausadaconcentração.—Istonãovaiocorrer—disseparasimesmo,maisqueparaela.Daisy se inclinou para diante e depositou a chave no bolso de sua

jaqueta. Agarrando a prega da regata, o tirou pela cabeça. Umformigamento percorreu todo seu corpo. Estava tão nervosa que lhetagarelavamosdentes.—Tirei-mearegata—lhedisse.—Nãoquerolhar?—Não.Mas abriu os olhos, e seu olhar encontrou seus peitos pequenos, com

mamilosrosadosquedestacavamsobresuapelebranca.Matthewdeixouescaparoarcomoumraiouatravésdeseusdentesapertados.Ficoumuitoquieto,olhando-afixamentequandoelacomeçoualhesoltaragravataealhedesabotoarosbotõesdocoleteeacamisa.Daisyseruborizoudacabeçaaos pés, mas continuou decidida, levantando-se sobre os joelhos paradeslizarajaquetaporseusombros.Elesemoveucomoseestivessesonhando,muitodevagartiroosbraços

dasmangasdajaquetaeadeixoucairjuntocomocolete.Nervosa, Daisy empurrou sua camisa aberta com determinação,

deslizandooolharporseupeitoeseuabdômen.Suapelebrilhavacomoocetim, esticava-se sobre a ampla extensão de seusmúsculos. Ela tocou orelevo de suas costelas, arrastando as gemas dos dedos através de seuventre.RepentinamenteMatthew agarrou suamão, sustentou-a indeciso, sem

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saberseapartá-laouapertá-lamaiscontraele.Seusdedossefecharamsobreosdela.Elacravouoolharemseusolhos

azuisatormentados.—Matthew—sussurrou.—Estouaqui.Soutua.Querofazertudooque

sempredesejastefazercomigo.Ele deixou de respirar. Sua vontade se foi à deriva, derrubou-se, e de

repentenadateveimportânciaexcetoasdemandasdeumdesejoquetinhasido reprimido muito tempo. Com um áspero gemido de rendição, ele alevantou e a sentou escarranchado sobre seu colo. O calor de sua peletranspassou o fino tecido de suasmeias, e Daisy ofegou quando a fendasuavedeseucorpoembalouumadurezadesconhecidaparaela.Matthewtomousuaboca,enquantosuasmãossedeslizavaminquietas

portodoseucorpo.Quandoseusdedosalcançaramacurvadeumdeseuspeitos,seusanguecorreufrenéticaporsuasveiasesesentiupreparadoeaponto de explorar. Ela atirou nervosamente de sua camisa, tentandodeslizarasmãospordebaixo,tentandoarrancaradeseucorpo.Tombando-a sobre a cama, Matthew se deteve para tirá-la camisa,

deixando ao descoberto os magníficos contornos de seu peito e seusombros. Ele baixou seu corpo até o dela, e gemeu por tato com sua pelenua. Daisy se sentiu alagada por seu aroma, a essência poda de sua peleviril. Elepossuiu suaboca combeijos extremamente sensuais, suasmãospercorreramcomternuraseucorpomédionu.Seupolegardescreveuumcírculopreguiçososobreseumamilo,pondo-oduroemaisescuro,atéqueelasearqueoucomumasuplicasilenciosa.Compreendendooquedesejava,eleseinclinouetomouummamilocom

sua boca, sugando-o brandamente, acariciando-o com a língua. Daisygemeuetremeuemseusbraços.Seussentidosenviaramumacorrentedeprazerpor todoseucorpoquando lhededicouatençãoaseuoutropeito,beijandoomamilo,sualínguaenviavaondasdecalorsobresuapele.— Sabe o que quero de ti?— ouviu-lhe perguntar com voz rouca.—

Sabeoquevaiocorrersenãonosdetemos?—Sim.

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Matthewlevantouacabeçaeaolhousentidosaudades.—Nãosoutão inocentecomopensa—lhedisseDaisymuitoséria.—

Tenholidomuito.Elegirouacara,eelateveaimpressãodequeescondiaumsorriso.Ao

olhá-ladenovoseusolhostransmitiramumaternuradilaceradora.—DaisyBowman—dissecomdificuldade.—Venderiaminhaalmaem

mudadeumahoracontigo.—Esseéotempoqueduraisto?Umahora?Orespondeucompesar.— Amor, neste momento seria um milagre se durasse mais de um

minuto.Elaenroscouosbraçosaoredordeseupescoço.—Temquefazeroamorcomigo—lhedisse.—Porquesenãoofizer,

nuncadeixareidelhereprovarissoMatthewembalouseucorpocontraoseu,eabeijounafrente,guardou

silêncioportantotempoqueelatemeuqueforaarejeita-la.Masentãosuamão baixou lentamente por seu corpo, e seu coração deu um salto deexcitação.Eleenvolveuasfitasdesuasmeiascomosdedoseatiroudelasparaasafrouxar.A pele de seu umbigo se esticou quando ela aguentou a respiração,

assaltada pela vergonha quando sua mão escorregou debaixo do finotecido, o tocou seu pêlo púbico, pressionando com a palma da mão ossuaves cachos. Deu com suas ternas dobras, roçando, esfregando comsuavidade.Comagemadeumdedolheacariciouumlugartãosensívelqueela deu um salto pela surpresa. Olhando fixamente sua cara ruborizada,Matthewabriucomternuraoslábiosdeseupúbis.—Daisy...amor—sussurrou.—Étãosuave…tãodelicada…ondequer

quetetoque?Aqui?Oupossivelmenteaqui…— Aí— suplicou ela, quando seus dedos se deslizaram de novo pelo

sensívelbotão.—Sim…OH,aí…O desenhou com sua boca um caminho ardente de beijos desde seu

pescoço até seu mamilo, enquanto que ao mesmo tempo seus dedos

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indagavamemsuaintimidade.Quandoeleatocoumaisprofundamente,elasentiu uma umidade desconcertante nesse lugar segredo. Ela não tinhaesperado algo assim, o que fez que se perguntasse se estava tão beminformadacomoacreditava.Consternada,elacomeçouadizeralgo,masguardousilêncioderepente

quantosentiucomointroduziaumdedodentrodela.Issonãoeraoqueelatinhaimaginado,demaneiranenhuma.Matthewlevantouacabeçadeseuspeitos,seusolhosestavamcheiosde

umlânguidocalor.Observouseurostoenquantoafundavaseusdedosmaisprofundamente no interior de seu corpo, sondando com uma suavemassagemquealevouaumaalturainsuportáveldeprazer.Elasearqueouemitindo um gemido sensual, respondendo a seus beijos com um ardorincontrolado.—Vocêgostaquetefaçaisto?—sussurrou-lhe— Sim eu... — ela se esforçou por falar entre suspiros de prazer. —

Acreditei…queiadoerme.— Isto não. — Um sorriso apareceu em sua boca. — Mais tarde,

entretanto,podequetenhaalgummotivoparatequeixar.—Umagotadesuorescorregouporsuacaraquandoelesentiuaspulsaçõesdeseucorpoaoredordeseusdedos.—Nãoseisepodereiserdelicado—lhedissederepente.—Tedesejei

muitotempo.—Confioemti—sussurrouela.Matthewnegoucomacabeça,tirandoseusdedosforadela.—Equivoca-te, está na cama comoúltimohomemnomundo emque

deveriaconfiar,eestáapontodecometeroenganomaiordetodasuavida.—Estaésuaideiadeumasedução?—Penseiquedeveriateadvertirporúltimavez.Agoraestaperdida.—OH, bem—Daisy semoveupara lhe ajudar enquanto lhe tirava as

meiaseasmédias.Abriumuitoosolhosquandoocomeçouadesabotoá-loscalças.Apesar

desuainocência,inclinou-separalheajudar,curiosa.Seuslábiostremeram

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quandoelesentiuotatodesuapequenamãodeslizando-sedentrodesuascalças.Elaacariciouseumembrocomcuidado,aprendendosualongitudeesuadureza,absortapormodoemqueseucorpotremia.—Comodevotetocar?—perguntou-lhecomumsussurrou.Matthewmoveuacabeçacomumsorrisoinseguro.—Daisy…melhornãovolteametocarassim.—Tenho-ofeitomal?—perguntou-lhecompreocupação.—Não,não—aatraiuparaele,depositandobeijosporsuabochecha,

suaorelhaeseucabelo,—ofazmuitobem.Tombou-adenovosobreostravesseirosepercorreubrandamentecom

asmãostodoseucorpo.Eleselivroudascalçasecolocouseucorposobreoseu. Daisy tremeu por contato com sua pele, sua suavidade, seu calor.Sentia uma quebra de onda de sensações de uma vez, tudo era muitoexcitante,aquenteumidadedesuaboca,ascaríciasdeseusdedos,opêlodeseupeitosobreseusseios,seuabdômen...Matthew riscou um círculo com a língua ao redor de seu umbigo

enviandochamasdefogoatravésdesuasveias.Confundida,foiconscientedolugaraoqueseaproximava,esemoveuinquietadebaixodele.Nãoparecendodar-secontadolugarondeabeijava,Matthewcontinuou,

deslizandooslábiosmaisabaixoatéqueDaisydeuumgritinhoagudoelheempurroulheapartandoacabeça.—Oqueteocorre?—perguntou,apoiando-senoscotovelos.Intensamenteruborizada,Daisylogoquepodiafalar.—Estasmuitopertodemeu…bom,você...semquerer…Suavozsequebrou,eacompreensãoamanheceunosolhosdeMatthew.

Rapidamenteeleagachouacabeçaparaocultarsuaexpressão,eosombroslhetremeramligeiramente.Elerespondeumuitodevagaraindasemolhá-la.—Nãofoisemquerer.Essaeraminhaintenção.Daisyficouatônita.—Mas foste beijar me em...— ela se interrompeu quando seu olhar

encontrouadele,arisadadançavaemseusolhosazuis.

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Nãoestavaenvergonhado...estava-serindo—Porquê te escandaliza?—perguntou-lheele.—Acrediteique tinha

lidomuito.—Bom...,ninguémescreveriasobrealgoassim.Eleseencolheudeombros,seusolhosbrilhavamrisonhos.—Étodaumaautoridadeliterária.—Zombademim—disseela.—Sóumpouquinho—sussurrou,ebeijouseuabdômenoutravezlhe

segurandoaspernascomasmãos.Elacomeçouatagarelarnervosaquandosentiusuabocarondandopor

suavirilha.— Em algumas das novelas que tenho lido, mencionavam-se algumas

coisas, é obvio… — ela inspirou com força quando o mordiscou a peleinterna de sua coxa—…Mas… suponho que estavam escritos com tantaambiguidade que não en-entendi bem… OH, por favor, acredito que nãodeveriafazerisso…—Quenãofaçaque?...refere-teA...isto?—Definitivamenterefiroaisso—elaseretorceuparalivrar-sedele.Massuasmãosestavamobstinadasemsuascoxas,mantendo-osabertos

enquanto fazia travessurascoma língua.Elacomeçoua tremerquandooencontrouobotãosensívelquehaviameiodoidoantes.Suabocaerasuave,cálida e exigente, sua línguaapossuiu, sugandoatéqueumacorrentedeexcitação começou a alagá-la, e quando lhe rogou que se detivera ele aatormentou um pouco mais, lambendo, indagando mais e maisprofundamente, até que o prazer explorou em sua interior e ela gritousurpreendida.DepoisdeumcompridomomentoMatthewseergueuparaolhá-la.Daisy

o abraçou com força pondo os braços e as pernas ao redor dele. Ele seacomodou entre suas pernas abertas, tremendo por esforço que lhesupunha ser considerado. Começou a penetrá-la abrindo-se passo dentrodela.Matthewmurmuravapalavrasdeamorcontraseupescoço,tratandodeacalmá-laaomesmotempoqueempurravaumpoucomas,tomando-a,

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possuindo-a.Quando estavam completamente unidos ele semanteve quieto dentro

dela,esperandoaqueseucorposeadaptasseparanãolhecausarmaisdor.Sentia-o tão duro dentro dela, que se sentiu possuída, invadida,completamenteindefesaeaomesmotempo…sentiuquelhepertencia,queera seu por completo. Daisy sabia que havia possuído sua mente e seucoraçãodomesmomodoqueelehaviapossuídoseucorpo.Querendolhedaromesmoprazerquelhetinhadado,arqueouosquadrissensualmente.—Daisy…não,nãotemova.Elarepetiuomovimentooutravez,eoutravez,esforçando-seporestar

mais perto dele. Ele gemeu e começou a mover-se com um ritmo sutil.Beijou-acomforça,eseestremeceupelaintensidadedeseuclímax.Duranteunsminutos,soloseouviuosomdesuasrespirações,enquanto

Matthewdescansavaacabeçacontraseupeito.Elesaiudelacomcuidadoeasilencioucomseuslábiosquandoelaprotestou.—medeixecuidardeti.Daisy não compreendeu o que ele quis dizer,mas sentia tal frouxidão

quefechouosolhosquandoeledeixouacama.Eleretornouimediatamentecomumpanoúmido,limpoucomcuidadoosuorquecobriaseucorpoeacarneirritadaentresuascoxas.Quando ele se tombou a seu lado, ela se aconchegou contra ele,

suspirando de prazer quando ele os cobriu a ambos com as lençóis. Elaapoiouabochechacontraseupeitoepôdeouvirobatimentodocoraçãofirmedeseucoração.Daisypensouquedeveriasentir-seenvergonhada,porencerrar-secom

oemseudormitórioelheseduzir.Masemlugardissosesentiatriunfante.E estranhamente satisfeita como se tivessem compartilhado umaintimidadequeforaalémdaintimidadefísica.Daisy quis lhe perguntar milhares de coisas, sabê-lo tudo sobre ele,

nunca tinha tido tal curiosidade por outra pessoa. Mas possivelmentedeveriaterumpoucodepaciênciaatéqueambosseadaptassemàsnovascircunstâncias.

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Quandoo calorde seus corpos semescloudebaixoda roupade cama,Daisy sentiu que a vencia o sonho. Nunca tinha suspeitado que fora tãoagradáveljazernosbraçosdeumhomem,respirarseuaroma,sentircomoarodeavasuaforça.—Nãofiquedormida—aavisou.—Temosquesairdaqui.— Não estou dormindo. Só… — disse em meio de um bocejo— …

descansandoosolhos.—Sóumminuto.—Suamão lheacariciouocabeloedesceuporsuas

costas com uma carícia. Isso foi tudo o que ela necessito para deixar-searrastarporumesquecimentodoceeprofundo.Daisydespertouaoescutaro repicodachuvagolpeandoo teto,euma

suavebrisaqueentravapelajanelaaberta.OinstávelclimadeHampshiretinhadecididoesfriaratardecomumaguaceiro,dessesquenormalmentenãodurammaisdemeiahoraedeixamaterraesponjosaefragrante.Piscando,Daisyolhouoentornodesconhecidonoqueseencontrava,o

dormitóriodeumhomem…seprecaveudomusculosocorpomasculinoasuascostas,querespiravacontraseucabelo.Elaseesticoupelasurpresa,mas ficou muito quieta, perguntando-se Matthew estaria acordado. Suarespiração não mudou. Mas deslizou um braço para seu corpo, lherodeandoacintura.ComAmor,atraiu-aparaele,e juntosobservaramachuvaemsilêncio.

Daisy tentou recordar se alguma vez em sua vida se havia sentido tãoseguraefeliz.Não,decidiu.Nadapodiacomparar-seaisto.Sentindoseusorriso,Matthewmurmurou.—Vocêgostadachuva...— Sim.— Lhe acariciou uma perna com os dedos do pé, assombrada

pela dureza de sua panturrilha.— Algumas coisas sãomelhores quandochove.Porexemploler,oudormir…,ouisto.—Estarnacamacomigo?—dissecomdiversão.Daisyassentiu.—Écomosefôssemosasúnicasduaspessoasnomundo.

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Eledeixovagarsuamãopelalinhadesuaclavícula,eporseupescoço.—Fiz-temalDaisy?—sussurrou-lheaoouvido.— Bom, foi bastante incômodo quando você… — ela se deteve e se

ruborizou.—Mas o esperava.Minhas amigasme disseram quemelhoradepoisdaprimeiravez.Asgemasdeseusdedosdesenharamocontornodesuaorelha,eacurva

acaloradadesuabochecha.—Esmerarei-meparaqueassimseja—disseelecomvozrisonha.—Arrepende-tedoquepassou?—Fechouamãocom forçaenquanto

esperavatensasuaresposta.— Céus, não.— Ele aproximou seu pequeno punho até sua boca e o

abriucomumbeijo,logocolocouapalmasobresuaIstobochechaéoqueeuquis todaminhavidaEquãoúnicosabiaquenuncapoderia ter.Estousurpreso.Horrorizadoinclusive.Masnuncaestareiarrependido.Daisysedeuavoltaeseaconchegoucontraele,comumadesuascoxas

entreosdela.Achuvagolpeavaenergicamenteacasa,algumasgotaspenetrarampela

janela.Considerandoa ideiade levantar-sedacama,Daisyseestremeceudedesgosto,eMatthewsubiuaslençóissobreseuombronu.—Daisy—lheperguntou—ondeestáamalditachave?—Meti-anobolsodesuajaqueta—lheexplicouela—Nãooviu?Não?…

Bom,suponhoqueestavadistraídonessemomento.—Eladeslizouamãoporseupeito,detendo-seemummamilo.—Provavelmentesigazangadocomigopornosencerrarnoquarto.—Estou enfurecido—esteveTudobemele.—Masqueroqueo faça

todasasnoitesdepoisdequeestamoscasados.—Vamosnoscasar?—exclamouDaisy,levantandoacabeça.Seuolhareracálida,masnãohouvenenhumindíciodealegriaemsua

voz.— Sim, vamos casar nos. Embora provavelmente me odiará por isso

algumdia.— Por que ia eu ... OH— Daisy recordou o que lhe tinha contado, a

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possibilidade de que seu passado o perseguisse algum dia. — Nuncapoderia te odiar — afirmou ela. — E não me dão medo seus segredos,Matthew.Sejaoqueseja,oconfrontareicontigoEmboradeveriasaberqueencontrolheexasperemquefaçacomentárioscomoesseenãoqueiramedarumaexplicação.Matthewcomeçouarir.—Essaésóumadasmuitascoisasqueencontrairritantesemmim.— Certo.— Ela se colocou em cima dele e acariciou com o nariz seu

peitocomoumgatinhocurioso.—Maseugostodemuitomaisumhomemlheexasperemqueumhomemcortês.Duasfendasapareceramemsuafrentebronzeada.—ComolordeLlandrindon?— Sim, ele é muito mais agradável que você. — Experimentalmente

Daisypôsabocasobreumdeseusmamiloseo tocoucomsua língua.—Sentequãomesmoeuquandotefaçoisto?—Não.Emboraavaliaçãooesforço.—Eleagarrousuacaracomasduas

mãos.—Llandrindontebeijou?Elaassentiucomacabeçaentresuasmãos.—Sóumavez.Ociúmestingiramsuavoz.—Vocêgostou?—Queriaque eu gostasse.Tentei-o.—Ela fechouos olhos e esfregou

umabochechapelapalmadesuamão.—Masnãoeraabsolutamentecomoseusbeijos.—Daisy—sussurrouo,emudoudeposiçãoatéqueatevedebaixodele

outra vez. — Nunca acreditei que isto pudesse ocorrer. — Seus dedosacariciaramos delicados ângulos de sua cara, a curva sorridente de seuslábios.—Masagoramepareceimpossívelquetenhasidocapazderesistiratitantotempo.Seussentidossealterarampelascaríciasdeseusdedos.—Matthew…oqueocorreráagora?Falassecommeupai?—Aindanão.Eminteressedeconservarodecoro,vouesperaratéque

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retornedeBristol.Paraentãoamaiorpartedosconvidadossepartiram,esuafamíliapoderádirigirestasituaçãoemprivado.—Meupai sesentirá feliz.Masminhamãe teráumataquederaiva.E

Lillian…—Estará—disse.—Meus irmãosnão lhe têmmuitoafeto tampouco—disseDaisycom

umsuspiro.—Seriamente?—exclamouelecomfingidasurpresa.Daisyolhoucompreocupaçãoseurostobronzeado.—Oqueacontecerámudadeideia?Oqueaconteceráretornaemediz

queestavaequivocado,quenãoquercasar-secomigo,e…—Não— repôsMatthew acariciando os cachos desordenados de seu

cabelo.—Nãohávoltaatrás.Roubei-teainocência.Nãovouevitarminharesponsabilidade.Daisyfranziuocenho,desgostadaporsuaspalavras.—Oquetepassa?—perguntouele.— Omodo em que fala… sua responsabilidade… como se tivesse que

emendar algum terrível engano. Não é precisamente romântico,especialmentenestascircunstâncias.— OH. — Matthew sorriu repentinamente. — Não sou um homem

romântico,amor.Acreditoquejásaiba.—Agachouacabeçaeabeijounopescoço,elhemordiscouaorelha.—Massouresponsávelportiagora.—Ele descendeu até seu ombro—De sua segurança… seu bem-estar… seuprazer…eeutomominhasresponsabilidadesmuitoasério…Elebeijouseuspeitos,desenhandoosmamiloscomocalordesuaboca.

Suamãoseabriupassoentresuascoxasedeucomafendaquehaviaentreeles.Umgemidodeprazerescapoudesuagarganta,eelesorriu.—Eugostodosruídosquefaz—exclamouele.—Comoofegasquando

façoisto…eisto…ecomogritasquandoestoudentrodeti…Comorostoardendoelatentouguardarsilêncio,maseleconseguiulhe

arrancaroutrogemidoindefeso.

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—Matthew?—enroscouosdedosdospésquandoelesedeslizoumaisabaixo,lhefazendocócegasnoumbigocomalíngua.Suavozsoouamortecidapelaslençóisquecobriamsuacabeça.—Oque,faladora?—vaisfazer...—deteve-secomumaexclamaçãoquandolheseparouos

joelhos,—oquefezantes?—Issoparece.—Massejátínhamosterminado...—Arazãopelaqueelequereriafazer

o amor com ela duas vezes seguidas, de repente já não foi importante,porqueosentiuinvestigandoapelesensíveldesuavirilhaeaparteinternadesuascoxas.Sentiu-searrulhadapelosmovimentossuaves…preguiçososdesualíngua…mordiscando,brincandocomsuacarne…baixandomaisatéqueeleencontrouaquelacúpulaminúsculaqueafezsoluçaregemer...sim,aí,sim…Ele a martirizava com uma delicadeza enlouquecedora, parando, para

logocontinuardescrevendocírculosrápidos…atéqueelaseguroucomasmãos sua cabeça e a sustentou ali, entre suas coxas, arqueando-se etremendoporprazer.Ele a elevou até uma altura insuportável de prazer, por cima da

tormenta, por cima do céu… e quando ela voltou em si, estava em seusbraços, enquanto o som aprazível da chuva primaveril acalmava osintensosbatimentosdocoraçãodeseucoração.

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Capítulo12

Postoqueamaiorpartedosconvidadosdeixavamamansãopelamanhã,

o jantar dessa noite foi um assunto comprido e elaborado. Duas largasmesascheiasdecristaleiraeporcelanadoSèvresbrilhavamiluminadasporabajures de aranha e candelabros. Um exército de lacaios vestidos comlistrasdecorazul,comadornosdourados,circulavamhabilmenteaoredordos convidados, preenchendo as taças de água ou vinho com silenciosaprecisão.Eraumjantarmagnífico. InfelizmenteDaisynuncatinhaestadomenos

interessadaemcomer.Eraumalástimaquenãopudesselhefazerjustiçaàcomida,queconsistiuemsalmãoescocês,cozidoaovaporecortado,pernade veado acompanhada demolho e pãezinhos, e ensopados de verduraselaborados com nata, manteiga e trufas. Como sobremesa se serviramluxuosas bandejas de frutas: framboesas, nectarinas, cerejas, pêssegos eabacaxis,assimcomotambémumsortidodebolos,boloseSyllabubs.Daisy se obrigou a comer, a rir, e a conversar demaneira tão natural

como foi possível. Mas não foi fácil. Matthew estava sentado a certadistância dela, ao outro lado da mesa, e cada vez que seus olhares secruzavam,quaseseengasgava.A conversação fluía a seu redor, e ela respondia vagamente enquanto

suamente permanecia fixa na lembrança do que tinha ocorrido algumashoras antes. Aqueles que a conheciam bem, sua irmã e suas amigas,pareciam notar que não era ela mesma. Inclusive Westcliff lhe dirigiualgumasolharesespeculativos.Daisyestavaacaloradaporcausadamáventilaçãodaestadiaeosangue

lhe avermelhava nas bochechas. Seu corpo estava hipersensível, a roupainterior lhe irritava a pele, o espartilho lhe resultava insuportável e osligueros lhe cravavam ao redor das coxas. Cada vez que se movia lhe

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vinham à mente lembranças da tarde com Matthew; a dor entre suaspernas, os espasmos e as contrações nervosas em lugares inesperados.Entretanto seu corpoansiavamais…voltar a sentir asmãosdeMatthew,suabocainquieta,suadurezadentrodela…Sentindo o rubor em suas bochechas de novo, Daisy se aplicou em

lubrificarcommanteigaumapartedepão.DirigiuumolharparaMatthew,quemestavaconversandocomadamasentadaasuaesquerda.Sentindo o olhar de Daisy, Matthew olhou em sua direção. Por um

instante seus olhos azuis arderam e seu peito se moveu quando inalouprofundamente.Depoisdeummomentovoltouaolharasuacompanheirademesa,centrandosuaatençãonelacomuminteresseelogiosoquefezrirnervosamenteàdama.Daisy aproximou um copo de vinho a seus lábios e se obrigou a

emprestar atenção à conversação a sua direita… algo a respeito de ir deexcursãoaosdistritosdolagoeasTerrasAltasEscocesas.Entretanto,suamentelogovoltouparasuasituação.Não lamentava sua decisão…,mas não era tão ingênua para acreditar

que tudoseria tão fácildeagoraemdiante.Aocontrário.Nãosabiaondeviveria, seMatthew a levaria de retorno a Nova Iorque, e se ela poderiaaprender a ser feliz longe de sua irmã e suas amigas. Estava também aincógnitadeseelaseriaumaesposaadequadaparaumhomemtãoimersonomundodosnegócioscomoMatthew,umambientenoqueelanãosabiaseencontrariaseu lugar.Eporúltimo,umnada insignificantequestãodequeclassedesegredosocultavaMatthew.MasDaisyrecordouotomsuaveevibrantedesuavozquandolhehavia

dito,“Vocêéparameutudooqueumamulherdeveriaser”.Mattheweraoúnicohomemquealgumaveza tinhaquerido tal como

era.(ExcetuandoaLordeLlandrindon,semdúvidaseuamortinhasidoalgorepentino...eprovavelmentesedesinflariacomamesmarapidez).Refletindo sobre tudo isso, Daisy chegou à conclusão de que seu

matrimôniocomMatthewnãoseriadiferentedodeLilliancomWestcliff.Comoduaspessoasdevontadefortecompersonalidadesmuitodiferentes,

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Lillian e Westcliff discutiam frequentemente…, mas isso não pareciadebilitarseumatrimônio.Aocontrário,pareciareforçarsuaunião.Elaconsiderouosmatrimôniosdesuasamigas…AnnabelleeoSenhor

Hunt tinham uma união em harmonia, os dois possuíam caracteressimilares…EvieeLordeSt.Vincenteramduasnaturezasopostas,mas senecessitavamoumaooutrotantocomoanoitenecessitaodiaparaexistirevice-versa.Eraimpossívelafirmarquealgumadestescasaisforamelhorqueaoutra.Possivelmente,apesarde tudooque tinhaouvidosobreo idealdeum

matrimônioperfeito,issonãoexistisse.Possivelmentecadamatrimônioeraalgoúnicoeespecial.Foiumpensamentoreconfortante,queaencheudeesperança.Depoisdaintermináveljanta,Daisyalegoudordecabeçacomopretexto

para evitar o ritual do chá e a fofoca. Era quase verdade, realmente acombinação de luz, ruído, e tensão emocional lhe tinha provocado umapalpitaçãodolorosanas têmporas.Comumsorrisodeaflição,apresentousuasdesculpasesedirigiuparaaescadaprincipal.Masaoalcançarovestíbulo,ouviuavozdesuairmã.—Daisy?Querofalarcontigo.DaisyconheciaaLillianosuficienteparareconhecerotomdesuavoz.

Suairmãmaiorerasuspicaz,estavapreocupadaequeriadiscutirafundooassunto.Daisyestavaesgotada.—Agoranão,porfavor—disseasuairmãumsorrisoapaziguadora.—

Podeesperaratémaistarde?—Não.—Dói-meacabeça.—Amimtambém.Masaindaassimvamosfalar.Daisy reprimiu sua exasperação. Depois de toda sua paciência com a

Lillian,osanosdeapoioincondicionalelealdade,nãoseriamuitopedirqueLillianadeixassetranquila.—Vouàcama—disseDaisy,desafiandoasuairmã.—Nãoquerofalar

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denada, especialmente quando é óbvio quenão tem intençãode escutarnadadoquediga.Boanoite.—VendooolharafligidonacaradeLillian,elaacrescentoumaisamavelmente.—Tequero.—ficounaspontasdospés,deu-lheumbeijonabochecha,esubiupelasescadas.LillianresistiuàtentaçãodeseguiraDaisy.Notouquealguématocava

nocotovelo,esedeuavolta,AnnabelleeEvieestavamali,emseusolhoshaviacompreensão.—Daisynãoquerfalarcomigo—lhesdissetremendo.Evie,normalmenteindecisa,deslizouseubraçoaoredordeLillian.—V-vejamosaestufa—sugeriu.O estufa era o lugar favorito de Lillian, as paredes consistiam em

grandes vidraças, o estou acostumado a estava talher comuma grade deferrodebaixodoqualseachavamasestufasocultasqueesquentavamoar.Laranjeiraselimoeirosenchiamoquartodeumafrescafragrânciacítrica,enquantoasestantescomnovelotropicaisacrescentavamnotasexóticasaoperfume.AluzdastochasexterioresproduziaintrincadassombrasatravésdaestadiaEncontraramváriascadeirasjuntaseastrêsamigassesentaram.OsombrosdeLillianseafundaramaodizercomvozsombria.—Acreditoqueotêmfeito.—Quemtemfeitooque?—perguntouEvie.— Daisy e o senhor Swift—murmurou Annabelle com um toque de

diversão.—Supomosquetiveram,er…conhecimentocarnalumdooutro.Eviepareciaperplexa.—Porquecreemisso?—Bom,vocêestavasentadanaoutramesa,querida,assimnãopodiavê-

los, mas no jantar houve… — Annabelle levantou as sobrancelhassignificativamente—…correntesocultas...—OH.—Evieseencolheudeombros.—Poismelhorquenãoestivesse

emsuamesa.Nãosouboadecifrandocorrentesocultas.—Estaserammuitoevidentes—disseLillianmisteriosamente.—Não

poderiaestarmaisclaroemboraosenhorSwiftsesubiuemcimadamesae

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otivesseanunciado.—OsenhorSwiftnuncaseria tãovulgar—disseEviecomdecisão.—

Emborasejaamericano.AcaradeLilliansecontraiucomumacaretaferoz.— O que aconteceu aquilo de que “nunca poderei ser feliz com um

desalmadohomemdenegócios”?Oquepassoucomaquilodeque“queroqueasquatroestejamossemprejuntas”?Porcaria,nãopossoacreditarqueDaisyfaçaalgoassim!TudoiatãobemcomlordeLlandrindon.Oquepôdehavê-lapossuídoparadormircomMatthewSwift?—Duvidoquedormissemmuito—replicouAnnabelle,comumbrilho

nosolhos.Lillianlhedeuumacotonoite.— Como é possível que tenha o mau gosto de te divertir com isto,

Annabelle?— Daisy não estava interessada em lorde Llandrindon— repôs Evie

precipitadamente, tratando de impedir uma rixa. — Só pretendia pôrciumentoaosenhorSwift.—Comosabe?—perguntaramasdoisaomesmotempo.— Bom, eu, eu… — Evie fez um gesto indefeso com as mãos. — A

semana passada m-mais ou menos eu lhe sugeri involuntariamente quetratassedelhedarciúmes.Eaoparecer,sortiuefeito.A garganta de Lillian se contraiu violentamente antes de que

conseguissefalar.—Detodasasestúpidas,novilhas,atrasadasmentais…—porque,Evie?—perguntouAnnabelleemumtomgrandementemais

amável.—DaisyeeuouvimososenhorSwift falarcomlordeLlandrindon.Ele

estava tratando de convencer ao Llandrindon para que a cortejasse, eraevidentequeosenhorSwiftaqueriaparaele.—Arrumadoaqueoplanejoutudo—bufouLillian.—Deveuinteirar-se

dealgumjeitodequelheouviram.Nãofoi,masqueumcomplôtortuosoesinistro,evocêparticipoudo!

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—Nãoacredito—replicouEvie.CravandoosolhosnacaracrispadadeLillian,perguntoucomapreensão.—vaisgritarme?Lilliannegoucomacabeçaesecobriuacaracomasmãos.— Gritaria como uma banshee — disse através de seus dedos— se

acreditasse que serviria de algo, mas estou quase segura de que Daisyintimoucomesseréptil.Jáninguémpodefazernadaparasalvá-la.—Podequeelanãoqueiraqueasalvem—apontouEvie.—Entãosetornoulouca—foiogrunhidoamortecidodeLillian.Annabelleinclinouacabeça.—Obviamente,Daisysedeitoucomumhomemdeaparênciaagradável,

jovem, rico, inteligente... e que está aparentemente apaixonado por ela,acreditoqueseujulgamentofoiacertadoNão?Ela sorriu compassivamente para ouvir a maldição de Lillian como

resposta e posou uma mão brandamente em meio dos ombros de seuamiga.—Querida—murmurou,—comojásabe,houveumtemponoquepara

meunãotinhaimportânciasemecasavacomumhomemaoqueamasseounão…sóimportavatirarminhafamíliadadesesperadasituaçãoemqueseencontrava.Mas quando pensei o que seria compartilhar uma cama commeumarido…passarorestodeminhavidacomele…medavacontadequeSimoneraaúnicaopção.Ela fez uma pausa, e umas lágrimas brilharam intensamente em seus

olhos. A bela Annabelle, sempre proprietária de si mesmo, quase nuncachorava.—Quando estoudoente— continuou comvoz rouca—quando tenho

medo,quandonecessitoalgo...seiqueeleremoverácéueterraparacuidardemim.Confionelecomcadafibrademeuser.Equandovejoameninaquetivemos, nossas duas essências unidas para sempre nela… Céus, o queagradecidaestoudemehavercasadocomele.Todasnóspudemosescolheranossosmaridos,Lillian.TemquelheconcederaDaisyamesmaliberdade.Irritada,Lilliansetiroudecimasuamão.—Elenãoé comoqualquerdenossosmaridos.Nãoénemtãosequer

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comoSt.Vincent,quefoiumdescaradomatreiroeumdonjuán,masqueaomenostembomcoração—fezumapausaeresmungou.—Semânimodeofender,Evie.— Está bem— disse Evie, seus lábios se estremeceram como se ela

estivessetratandodereprimirarisada.—Ocasoé—continuouLillian—queestoutotalmenteafavordeque

Daisypossaescolher,comtaldequeelanãoseequivoque.—Querida…—repôsAnnabellecomumcuidadosointentodecorrigir

sualógica,masEvieainterrompeubrandamente.—Eup-pensoqueDaisytemdireitoacometerumengano.Tudooque

podemosfazeréajudá-laseelanospedeisso.—Nãopoderemosajudara separtiràmalditaNovaYork!—replicou

Lillian.EvieeAnnabellenãodiscutiramcomeladepoisdisso,tacitamenteTudo

bememquealgunsproblemasnãopodemsolucionar-sesócompalavras,econscientesdequenãopoderiamacalmarostemoresdeLillian.Fizeramoque fazemosamigosquando todoo restoenguiço…sesentaramcomelaemamigávelsilêncio…elhefizeramsaberquesepreocupavamcomela.Daisytomouumbanhoquentequeaajudouarelaxar-seeacalmarseus

alterados nervos. Permaneceu na água fumegante até que se sentiulânguida e sufocada, e sua dor de cabeça desapareceu. Sentindo-serenovada, ficou uma camisola branca e se sentou no penteadeira paraescovarocabelo,enquantoqueumpardecriadassededicaramaretiraratina.A escova percorreu seu cabelo formando uma brilhante cascata de

ébano até sua cintura. Olhou através das portas abertas do balcão,examinandoaúmidanoiteprimaveril.Océusemestrelas tinhaacordasameixasamadurecidas.Sorrindo distraidamente, Daisy ouviu o estalo da porta do dormitório

detrás dela. Acreditandoque umadas criadas tinha retornado a recolherumatoalhaouumasaboneteira,continuouolhandofora.

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Derepente,sentiuumligeirotoquenoombro,seguidoporcalordeumamãograndedescendoporseupeito.Alarmada,levantou-seesuascostasfoiatraídalentamenteparaumcorpoduramentemasculino.AvozprofundadeMatthewlhefezcócegasnaorelha.—Noqueestavapensando?—Emti, éobvio.—Daisyserecostoucontraele,percorrendocomos

dedos o pêlo de seu antebraço. Matthew levava as mangas da camisaenroladas. Fixou seu olhar de novo neste exterior quarto estavaacostumado a ocupá-lo uma das irmãs do conde — disse Daisy. — Medisseram que seu amante, uma moço de quadra, em realidade, estavaacostumadoasubirporbalcãoparavisitá-la.AlgoassimcomoRomeo.—Esperoquearecompensacompensasseorisco—disseele.—Correriasesseriscopormim?— Sim se fosse a única forma de poder estar contigo.Mas tem pouco

sentidoescalardoisnoveloatéobalcãoquandoháumaportadisponível.—Usaraportanãoétãoromântico.—Tampoucooéromperopescoço.—Éumhomemmuitoprático—lhedisseDaisycomumagargalhada,e

sedeuavoltaemseusbraços.AsroupasdeMatthewcheiravamabosqueeaorastroacredotabaco.Deviatersaídoaoterraçotraseirocomalgumdoscavalheirosdepoisdojantar.Aconchegando-semaisemseusbraços,pôdecheiraroamidodesuacamisaeafragrâncialimpaefamiliardesuapele.—Eugostocomocheira—disse.—Poderiaentrarcomosolhosfechadosemumquartocomcemhomenseteencontrariaimediatamente.—Umnovojogodesalão—disseele,eriramjuntossimplesmente.Agarrandosuamão,Daisylhelevouparaacama.—Veemacamacomigo.Matthewnegoucomacabeça,resistindo.—Só ficarei unsminutos.Westcliff e eu saímos ao amanhecer.—Seu

olhar se deslizou avidamente sobre a afetada camisola. — E se nosaproximarmosdessacama,nãopodereievitarfazeroamorcontigo.—Nãomeimportaria—dissetimidamenteDaisy.

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Eleaapanhouemseusbraçoseaabraçoucomternura.—Émuitologoparatidepoisdaprimeiravez.Precisadescansar.—Entãoporqueestáaqui?Daisy sentiu sua bochecha roçando-se contra a parte superior de sua

cabeça.Inclusivedepoisdetudooquetinhaocorridoentreeles,parecia-lheincrívelqueMatthewSwiftaestivesseabraçandotãomeigamente.—Sóqueriatedarasboanoite—murmurou.—Etedizer…Daisyolhouparacimacomumolharinquisitivo,elheroubouumbeijou

comosenãopudesseevitá-lo.—…quenãodevepreocupar-sedequetroquedeideiaarespeitodeme

casarcontigo—lhedisse.—Defato,agorateserámuitodifícilteliberardemim.—Sim—disseDaisy,sorrindo-lhe.—Jáseiqueéresponsável.Obrigando-seasoltá-la,Matthewsedirigiuàcontragostoparaaporta.

Eleabriuumafrestaeolhouforaparacomprovarqueocorredorestivessevazio.—Matthew—sussurrouela.Eleolhouporcimaseuombroparaela.—Sim?—Retornalogoamim.O que fora que ele viu em sua cara fez que seus olhos ardessem na

penumbra do quarto. Fez-lhe uma breve inclinação de cabeça e saiuenquantoaindaeracapaz.

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Capítulo13

Matthew descobriu que viajar a Bristol com LordeWestcliff não tinha

nada que ver com seus anteriores visita à cidade portuária. Em umprincípio tinhaplanejado ficaremumaestalagemse localizadanocentrodacidade.Entretanto,comWestcliffcomocompanheirotiveramquealojar-setemporalmente,naresidênciadeumaenriquecidafamíliacujosnegóciosestavamligadosàconstruçãodenavios.Matthewobservoucomorecebiamuma inumerável quantidade de convites por parte das famílias maisprósperasdolugar,todaselasimpacienteporreceberaocondedamelhorformapossível.CadaumadessasfamíliaseraamigadoWestcliff,ouoqueriaser.Talera

o poder de uma antiga linhagem aristocrática. Para ser exatos, era algomaisquealinhagemeotítulodoWestcliffoqueinspiravatalentusiasmo...SuafamacomopolíticoprogressistaeperitohomemdenegóciosfaziadeleumhomemmuitosolicitadoemBristol.Acidade,soloinferioraLondresemvolumedecomércio,experimentava

um período de desenvolvimento explosivo. As áreas comerciais seampliaram, derrubando as velhas muralhas da cidade, os estreitoscaminhos se alargaramenovas estradas apareciamquasediariamente.Amelhora mais significativa, era a recente construção de uma redeferroviárianaáreaadjacenteaoportoqueconectavaaestaçãodeTêmperaMijem com os moles. Por conseguinte, não havia na Europa um lugarmelhorparafazernegócios.Matthew, a contra gosto, tinha admitido frente a Westcliff que sua

presença tinha facilitadoasnegociações.NãosóonomedoWestcliff lhesabriumuitasportas,mas também literalmente inspiravaàspessoas a lhedaroedifício inteiro.EMatthewemprivadoreconheceuque tinhamuitoqueaprenderdoconde,quempossuíaumenormeconhecimento sobreo

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negócioeaprodução.Um exemplo disso foi quando falaram sobre a construção de

locomotivas, o conde não só entendia os princípios do desenho e aengenharia,massimtambémpodianomearumadúziadepeçasdistintasutilizadasnasúltimasviasférreas.Matthew reconhecia comorgulho que nunca tinha encontrado a outro

homem que pudesse rivalizar com sua capacidade para analisar e reteramplas quantidades de conhecimentos técnicos. Até que conheceuWestcliff.Istofaziasuasconversaçõesmuitointeressantes,aomenosparaeles dois. Se houvesse alguém mais participando da discussão teriacomeçadoaroncardepoisdecincominutos.Por sua parte, Marcus tinha iniciado essa semana em Bristol com um

dobroobjetivo,oficialmenteparafiscalizarosassuntosdenegócios…,masextraoficialmente também para decidir que fazer a respeito de MatthewSwift.NãotinhasidofácilparaMarcusdeixaraLillian.Tinhadescobertoqueo

parto e a primeira infância eram algo absolutamente ordinário quandoaconteciaaoutraspessoas,maseramonumentalmenteimportantequandosuaesposaesuafilhaestavamimplicadas.Tudosobresuafilhaofascinava:seu modo de dormir e despertar, seu primeiro banho, a forma em quemexiaosdedinhosdospés,comosealimentavanopeitodeLillian...Emboranão era insólito queumadamade classe alta cuidasse de sua

própriafilha,eramuitomaisfrequentecontrataraumaama-de-leitepararealizaressetrabalho.Entretanto,LilliantinhamudadodeideiadepoisdequeMerritt nasceu. “Elamenecessita”, havia- dito aoMarcus. Ele não seatreveualheadvertirqueobebênãoeracapazdediscerniradiferençaequeprovavelmenteestariaigualdecontentecomumaama-de-leite.OtemorquesentiaMarcusaquesuaesposapudessesucumbiràsfebres

depoisdoparto,minguavadiaapósdia,sentindograndealívioaoverqueLillianvoltavaaseramesma,sã,magraeforte. Jamaishaviasentidoesseamor tão intenso por uma pessoa, e muito menos tinha esperado queLillian chegasse a ser em tão pouco tempo tão importante para sua

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felicidade.FariaalgoporLillian.Esabendoquesuaesposasepreocupavacom sua irmã, Marcus tinha decidido chegar a algumas conclusõesdefinitivassobreMatthewSwift.Quando se reuniram com os representantes da Grande ferrovia

Ocidental, encarregados do mole, vários vereadores e administradores,Marcus ficou impressionadopormodo emque o Swift dirigiu a situação.AtéagorasóotinhavistointeratuandocomosacomodadosconvidadosdeStonyCross,mas imediatamente foi evidente que ele podia relacionar-sefacilmente com uma ampla diversidade de pessoas, desde aristocratas ajovenstrabalhadoresportuários.Quandosetratavadenegociar,oSwifteraagressivo sem ser descortês. Era um negociador sereno, constante, esensato, mas também possuía um ácido senso de humor que usava comêxito.Marcus podia ver a influência do Thomas Bowman na tenacidade de

Swift e em sua vontade para defender suas opiniões.Mas a diferença doBowman,Swiftpossuíaumtalentonaturalparatransmitirconfiançaaoquerespondiam intuitivamente as pessoas. Marcus pensou que o Swift sedirigiria bem emBristol. Era um bom lugar para um jovem ambicioso, eofereciaasmesmas,senãomais,oportunidadesqueLondres.QuantoaseMatthewSwifteraohomemapropriadoparaaDaisy…bom,

isso era algo mais complexo. Marcus estava pouco disposto a dar suaopinião em tais assuntos, pois segundo sua experiência, ele não erainfalível.SuaoposiçãoinicialaomatrimôniodeAnnabelleeSimonHunteraumexemplo.Masteriaquetomarumadecisão.Daisymereciaummaridoadequadoparaela.Depoisdoencontrocomos representantesda ferrovia,MarcuseSwift

andaramaolongodoCornStreet,cruzandoummercadocobertocheiodepostosdeverdurasefrutas.Opavimentotinhasidoreparadorecentementepara proteger aos pedestres de compouco de barro e lixo da rua, podiaobservarumafileiradelojasqueofereciamlivros,artigosdeasseioepeçasdecristalelaboradascommateriaislocais.Entraram em um botequim para desfrutar de uma comida singela, o

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lugar estava repleto de uma grande variedade de homens, desdecomerciantes ricos até vulgares trabalhadores de estaleiro. Tentandorelaxar-se na estridente atmosfera do botequim,Marcus aproximou umajarra de cerveja negra de Bristol a seus lábios. Estava fria e amarga,deslizando-seporsuagargantacomsuavidadeedeixandoumgostoacre.EnquantoMarcusconsideravaamelhormaneiradetirarcolaçãootema

deDaisy,Swiftosurpreendeucomumadeclaraçãofranco.—Milorde,háumassuntoqueeugostariadediscutircomvocê.Marcusadotouumaexpressãoagradávelealentadora.—Muitobem.— Resulta que a senhorita Bowman e eu alcançamos um…

entendimento. Depois de considerar as evidentes vantagens para ambos,chegueiàconclusãológicaepráticadequenósdeveríamos…—Quantotempofazqueestavocêapaixonadoporela?—interrompeu

Marcus,ocultandosuadiversão.Swiftdeixouescaparumtensosuspiro.— Anos— admitiu. Passou-se uma mão por cabelo, curto e espesso,

despenteando-o. — Mas não fui consciente da profundidade de meussentimentosatérecentemente.—Corresponde-lheminhacunhada?—Acreditoque…—Swiftseinterrompeuebebeuumprofundogolede

cerveja. Lhe via extremamente jovem e nervoso quando finalmenteadmitiu.—Nãosei.Esperoquecomotempo…OH,Porcaria!—Emminhaopinião,nãoseriadifícilparavocêganharoafetodeDaisy

—disseMarcusemumtommaisamáveldoquetinhaplanejado.—Peloquepudeobservar,éumauniãovantajosaparaambos.Swiftolhouaosolhoscomumsorrisozombador.—Nãovocêcrêqueelaseria,masfelizcomumcavalheiroinglêsquese

dedicassealherecitarpoesia?—Acreditoqueissoseriadesastroso.Daisynãonecessitaaummarido

tãocândidocomoela.—Alcançandoafontedemadeiracomacomidaqueestava entre eles, Marcus cortou uma porção de queijoWensleydale e o

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colocou entre duas grosas fatias de pão. Observou ao Swiftespeculativamente, perguntando-se por que o jovemparecia sofrer tantocom essa situação. A maioria dos homens mostrariam bastante maisentusiasmoanteaperspectivadecasar-secomamulherqueamavam.—Bowmanestaráencantado—comentouMarcus,esperandoobservar

areaçãodoSwift.— Sua satisfação nunca foi importante neste assunto. Se assim fora,

estariasubestimandotudooqueasenhoritaBowmantemqueoferecer.—Nãohánenhumanecessidadedesaltaremsuadefesa—respondeu

Marcus.—SouconscientedequeDaisyéumapequenapícaraencantadora,semmencionarqueéadorável. Se tivesseumpoucomaisdeconfiança,emenos sensibilidade, teria aprendido a atrair ao sexo oposto comfacilidade.Masseutemperamentonão lhepermitetrataroamorcomosefora um jogo. E poucos homens possuem o talento de apreciar asinceridadeemumamulher.—Eusim—disseoSwiftdemaneiraconcisa.— Isso parece. — Marcus sentiu uma pontada de compaixão quando

considerouodilemadojovem.Sendoumhomemsensatocomumaaversãoinata ao melodrama, era muito embaraçosos para o Swift encontrar-seferido por uma das flechas do Cupido. — Embora você não pediu meuconsentimento para essas casamento — seguiu Marcus, — pode contarcomele.—InclusiveseladyWestcliffseopõe?AmençãodeLilliancausouumapequenapontadadedesejonopeitodo

Marcus.Asentiafaltademaisdoquetinhaesperado.—LadyWestcliff—respondeufacilmente,—reconciliara-secomofato

de que as coisas não acontecem sempre como a gente quer. E se vocêdemonstraserumbommaridoparaaDaisy,comotempo,minhaesposamudarádeopinião.Estáacostumadoaserumamulherobjetiva.MasSwiftseguiaparecendoturbado.—Milorde…—repôsbrandamenteecravouosolhosemsuamãoque

apertavacomforçaaasadajarradecerveja.

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Vendoaexpressãodorostodojovem,Marcusdeixoudemastigar.Seusinstintos lhe disseram que algo estava muito mal. OH caramba, pensou,algumavezpodesersimplesalgoqueenvolvaaosBowman?—Que opinião teria você de um homem que constrói sua vida sobre

uma mentira… e essa vida que construiu é ainda melhor do que a suapoderáserjamais?Marcus seguiu mastigando, tragou com dificuldade, e se tomou seu

tempoparabeberumagrandequantidadedecerveja.—Eapoioutodasuavidaemumengano?—finalmenteperguntou.—Sim.— Privou a alguém de seus legítimos direitos? Causou dano físico ou

emocionalaalguém?— Não — disse Swift, olhando-o aos olhos. — Mas sim que implica

problemaslegais.Aquilo fez que Marcus se sentisse ligeiramente melhor. Segundo sua

experiência, até o melhor dos homens não podia evitar ocasionaisproblemascomaleideumaououtraclasse.PossivelmenteSwifttinhasidoenganado em algum assunto de negócios ou tinha cometido algumasindiscrições em sua juventude que poderiam ser embaraçoso ao serdescobertasanosmaistarde.Éobvio,Marcusnãotomavaàligeiraumaquestãodehonra,esaberque

seufuturocunhadotinhaumproblemalegaleraquãoúltimodesejava.Mas,poroutraparte, o Swiftparecia serumhomemamadurecidoe estável. EMarcustinhachegadoalheapreciar.—Temoquetereiqueretirarmeuconsentimento—disseMarcuscom

cuidado,—aomenosatéqueconheçatodososdetalhes.Háalgomaisquepossamedizer?Swiftnegoucomacabeça.—Sinto-o…Céus,quemderapudesse!—Eselhedouminhapalavradequenãotraireisuaconfiança?—Não—sussurrouMatthew—Denovo,sintomuito.Marcussuspiroprofundamenteeseinclinouparatrásemsuacadeira.

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—Infelizmentenãopossofazernadaatéquenãotenhaideiadoalcancedo problema. Por outra parte, acredito que uma pessoa merece umasegundaoportunidade.Eestariadispostoadar-lheaalguémqueconseguiuseralguémmelhordoqueera.Masénecessário…necessitoquemedêsuapalavrasobrealgo.Swiftlevantoucomcautelaseusolhosazuis.—Sim,milorde?—OcontarátudoaDaisyantesdecasar-secomela.Explicarasituação

com claridade, e deixará que ela dita se quer seguir ou não com ascasamento.Vocênãosecasarácomelasemlhecontartodaaverdade.—Temminhapalavra—respondeuSwiftsempiscar.—Bem.—Marcuschamouàcriadaparaqueseaproximassedamesa.Depoisdealgoassim,necessitavaalgomaisfortequeacerveja.

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Capítulo14

Com lorde Westcliff e Matthew Swift em Bristol, a imensa casa de

veraneio parecia insolitamente silenciosa. Para alívio de Lillian e Daisy,lordeWestcliff tinha convencido a seus pais para que acompanhassem auma família vizinha a uma excursão ao Stratford-on-Avon. Assistiriamduranteumasemanaabanquetes,peças teatrais,conferências,ediversosacontecimentosmusicais,tudoformavapartedofestivalcomemorativoporduzentosedezoitoaniversáriodonascimentodoShakespeare.Comotinhaobtido lorde Westcliff convencer aos Bowman para que assistissem aofestivaleraummistérioparaaDaisy.— É incrível, mamãe e papai não poderiam estarmenos interessados

nesse escritor— lhe comentou Daisy com assombro a Lillian, ao poucotempodequeacarruagemnoqueviajavamseuspaistivessepartido.—EnãopossoacreditarquepapaitenhaoptadoporiraumfestivalemlugardeviajaraBristol.— Westcliff não tinha intenção alguma de permitir que papai lhe

acompanhasse—repôsLilliancomumsorrisopesaroso.—porquenão?Éonegóciodepapai,depoisdetudo.—Sim,masa formadenegociardepapaiémuitobruscaparaoestilo

britânico…comsuapresençaémaiscomplicadochegaraumacordo.PorissoWestclifforganizouesteviajeaoStratfordcommuitoesmerosemlhedeixar a papai a possibilidade de objetar. Marcus informou amamãe demaneira casual de que poderia acotovelar-se commuitas famílias nobresnofestival,epapainãotevemaisopçãoqueacompanhá-la.—ImaginoqueaWestcliffeaosenhorSwiftirátudobememBristol—

comentouDaisy.ImediatamenteaexpressãodeLilliansetornoprecavida.—Estouseguradequeassimé.

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Daisy notou que sem a presença de suas amigas como escudo, ela eLillian tinham adotado uma maneira de falar excessivamente cuidadosa.Isto a desgostava. Sempre tinham sido francas e sinceras a uma com aoutra.Mas de repente, pareciam sentir-se obrigadas a evitar certos temacomose tratassemde ignorar apresençadeumelefantedoquarto.Umamanadainteiradeelefantes,emrealidade.Lillian não lhe tinha perguntado a Daisy se tinha tido algum tipo de

intimidade com Matthew. De fato, Lillian parecia não desejar falar deMatthewabsolutamente.Tampouco lheperguntouporquesua incipienterelação com lorde Llandrindon se evaporou, ou por que Daisy não tinhainteresseaparenteemiraLondresparaterminaratemporada.Daisy não desejava tirar colação nenhum destes temas. Apesar das

palavras tranquilizadoras deMatthew antes de ir-se, sentia-se inquieta eagitada,eoúltimoquequeriaeraterumadisputacomsuairmã.AssimquesecentraramnoMerritt,alternando-separaagarrá-la,vesti-

la, e banhá-la como se fora uma boneca. Embora havia duas babásdisponíveisparacuidardobebê,Lilliansetinharesistidoarecorreraelas.Ofatoeraqueeladesfrutavaestandocomobebê.Antes de que Mercedes se fora, tinha-lhe advertido de que o bebê se

acostumariamuitoaestaremseusbraços.“Amalacostumara”,havia-ditoaLillian,“elogonãoserácapazdedeixá-lanoberço”.LilliantinhareplicadoquenãohaviaescassezdebraçosemStonyCross

Park,eMerrittpoderiaestarembraçostantocomoquisesse.—Tenhoaintençãodequesuainfânciasejadiferenteànossa—dissea

Daisypoucodepois,enquantoempurravamocarrinhodobebêporjardim.— As poucas lembranças que tenho de nossos pais são de ver mamãevestir-separasairpelastardesouindoaoestudodepapaiparadenunciarnossaúltimatravessura.Elogosercastigada.— Recorda... — perguntou-lhe Daisy com um sorriso— como estava

acostumado a gritar mamãe quando patinávamos pelas ruas eatropelávamosàspessoas?Lillianriuafogadamente.

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—ExcetoquandoeramosAstors,entãolhepareciabem.— Ou quando os gêmeos plantaram uma horta pequena e nós

recolhemostodasasbatatasantesquecrescessem?—LembrançaquandoagarrávamoscaranguejosepescávamosnoLong

Island…—Equandojogávamosrounders…Essatardeeseus“recordaquando”encheuàsirmãsdemelancolia.—Quemtivesseimaginado...—comentouDaisycomumamplosorriso

— que terminaria casada com um nobre inglês e que eume converteriaem...—elavacilou—…umasolteirona.—Nãosejatonta—disseLilliansimplesmente.—Éóbvioquevocênão

vaisserumasolteirona.Isso foiomaispertoqueestiveramdediscutira relaçãodeDaisycom

Matthew Swift. Entretanto, considerando a incomum tranquilidade deLillian,Daisysedeucontadequesuairmãqueriaevitarbrigarcomela.Eseisso significava terque incluirMatthewSwiftna família, estava claroqueLillianseesmerariaemlhetolerar.Sabendoquãodifícileraparasuairmãocultarsuasopiniões,Daisysentiuoimpulsodeabraçá-la.Emlugardisso,dispôs-seaagarraraasadocarrinho.—Tocaameuempurrar—disseDaisy.Continuaramcaminhando.Daisyseguiusumidanaslembranças.—Recordaquandoderrubouabarconolago?— Com a preceptora dentro — acrescentou Lillian, e se sorriram

mutuamente.OsBowmanforamosprimeirosemretornarnosábado.Comosepodia

esperar, o festival do Shakespeare se converteu em uma intermináveltorturaparaoThomasBowman.—Ondeestá Swift?—exigiu segundosdepoisde entrarnamansão—

OndeestáWestcliff?Queroumrelatóriocompletodasnegociações.—Nãoretornaramainda—respondeuLillian,reunindo-secomeleno

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vestíbulo.Dirigiuaseupaiumolharcáustico.—Nãovaisperguntarcomomeencontro,pai?Nãoquersabercomosegueobebê?— Posso ver com meus próprios olhos que está bastante bem —

replicouosenhorBowman.—Eassumoqueobebêestábemoujámeteriainformadodocontrário.QuandoseesperaqueretornemSwifteWestcliff?Lillianpôsosolhosembranco.—Voltarãodeummomentoaoutro.Mas parecia que os viajantes se atrasavam, provavelmente como

resultadodasdificuldadesdeviajardaprimavera.Oclimaeraimprevisível,os caminhos rurais necessitavam frequentemente reparações e comoconsequência as carruagens resultavam danificados com facilidade, e oscavalossofriampequenaslesõesnasferraduras.Como ao anoitecer não havia sinais do Westcliff e Matthew, Lillian

declarouquedeveriamcomeçarparajantarouocozinheirosezangaria.Foiumjantarrelativamenteíntimo,aqueassistiramosBowmaneduas

famílias locais, incluindo o vigário e sua esposa. Emmetade do jantar, omordomoentrounosalãodejantaresussurroualgoaLillian.Elasorriueseruborizou,seusolhosbrilhavamdesatisfaçãoquandoinformouàmesadequeWestclifftinhachegadoelhesuniriabreve.Daisyocultousuaconfusãodepoisdeumsemblanteimpassívelcomose

levasse uma máscara. Sob a superfície, entretanto, a espera bombeavaatravés de suas veias. Ao dar-se conta de que os talheres tremiamvisivelmente em suas mãos, deixou-os e escondeu as mãos em seu colo.Ouviaaconversaçãosócomametadedesuamente,aoutrametadeestavapendentedaporta.Quando os dois homens finalmente apareceram no salão de jantar

depoisdehaver-seasseadoemudadodepoisdaviagem,ocoraçãodeDaisysedisparou, pulsandodesbocadamente em seupeito e lhe fazendodifícilrespirar.OolhardeMatthewpercorreuatodososassistentesenquantofaziauma

ligeira reverência, imitando a Westcliff. Os dois luziam impecavelmentearrumadosenotavelmentefrescos.Agentepoderiapensarquesótinham

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estadoausentesseteminutosemlugardesetedias.Antesdeocuparseulugaràcabeceiradamesa,Westcliffseaproximou

de Lillian. Posto que o conde nunca tinha sido dado às demonstraçõespúblicasdeafeto,assombrouatodomundo,incluindoàprópriaLillian,queelecavasseseurostoentreasmãoseabeijassenoslábios.Elaseruborizoue disse algo a respeito de que o vigário estava presente, fazendo rir aoMarcus.Enquantoisso,MatthewocupouolugarvazioaoladodeDaisy.—SenhoritaBowman—dissecortesmente.Daisynãopodia falar.Dirigiuseuolharparaseusolhosrisonhos,e lhe

pareceuqueasemoçõesbrotavamdelaafervuras.Tevequedeixardelheolhar antes de cometer alguma tolice. Manteve uma aparência serenaemboraeraintensamenteconscientedacercaniadeseucorpo.Westcliff e Matthew entretiveram ao grupo relatando como sua

carruagem se ficouobstruídona lama. Felizmente lhes tinha ajudadoumagricultor que conduzia um carro atirado por um boi, apesar de que noprocesso de liberar o veículo, todos tinham ficado talheres de barro dacabeçaaospés.Eaparentementeoepisódiodeixouaoboidemauhumor.Quandoacabaramdecontarseusinfortúnios,todososcomensaisriam.A conversaçãovoltoupara temado festivaldoShakespeare, eThomas

Bowmanse lançoua relatar suavisitaaoStratford-on-Avon.Matthew fezumaperguntaoudois,parecendomuitointeressadonotema.Daisysesobressaltou,quandoderepentesentiuorocedesuamãosoba

mesa. Matthew fechou os dedos sobre os seus com suavidade, deixandosuas mãos unidas sobre o colo de Daisy, enquanto ele continuava aconversação com soltura, falando e sorrindo. Daisy alcançou sua taça devinhocomamãolivreealevouaoslábios.Tomouumsorvo,elogooutro,equaseseafogouquandoMatthewdeuligeiramentecomseusdedosdebaixoda mesa. As sensações que tinham permanecido dormidas durante umasemanareviveramimediatamentefazendo-avibrar.Emboranãoaolhou,Matthewdeslizoualgobrandamenteporseudedo

anelar,atéencaixá-lopulcramentenabasedodedo,easoltouquandoum

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lacaiosedispôsapreencherdevinhosuastaças.Daisy baixou o olhar até suamão, piscando surpreendida ao ver uma

brilhante safira amarela rodeada de pequenos diamantes. Como se foraumaflordepétalasbrancas.Fechouasmãoscomforça,inclinandoacabeçaparaocultarumtraiçoeirorubordeprazer.—Vocêgosta?—sussurrouMatthew.—OH,sim.Issofoitudooquepuderamfalarduranteojantar.Somenteisso.Apesar

domuitoquetinhamquedizer-se.Daisyseesforçouporsuportaroritualdovinhodoportoeochádepoisdojantar,sentindo-seagradecidadeque,aoqueparece,todomundo,incluídoseupai,desejavaretirar-secedo.Tãologooanciãovigárioesuaesposasedispuseramavoltarparacasa,ogruposedispersoucomfacilidade.SaindocomaDaisydosalãodejantar,Matthewlhesussurrou:— Terei que escalar a fachada esta noite, ou vais deixar me à porta

aberta?—Aporta—respondeuDaisysubitamente.—GraçasaDeus.Aproximadamenteumahoramaistarde,Matthewgiroucuidadosamente

o bracelete da porta do dormitório de Daisy e se deslizou dentro. Oresplendordeumavelasituadajuntoàcamailuminavaoquarto,chama-adançavaporcausadabrisaqueentravapelaportaabertadobalcão.Daisy estava sentadana cama lendo, tinha o cabelo penteado emuma

trança que se deslizava sobre seu ombro. Vestida com uma recatadocamisola branca com intrincados bordados no corpete, via-se tão pura einocentequeMatthewsesentiualgoculpadoporaproximar-sedelacomocorpo estremecido por desejo. Mas quando ela levantou a vista do livro,seusolhosescurosoatraíramirremediavelmenteecaminhouparaela.Daisydeixouaumladoolivro,aluzdoabajuriluminavaseuperfil.Sua

pele se via tão suave e perfeita como omarfim gentil. Matthew sentiu odesejoprofundodeacariciá-lacomsuasmãos.As comissuras da boca de Daisy se curvaram em um sorriso como se

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pudesseadivinharseuspensamentos.Apartouacolchaparaumladoeaofazê-lo,asafiraamarelabrilhouintensamenteemseudedo.Matthewficoumomentaneamente surpreso pela intensidade de sua resposta a essaimagem, uma pontada de possesividade primitiva. Lentamente eleobedeceuaseugestoparaqueseaproximassedacama.sentou-se sobre o borda do colchão observando-a, seus sentidos

saltaramquandoDaisyse recolheuacamisolaeengatinhouatésentar-seemseuregaço,sinuosamentecomoseforaumgato.Operfumedocedesuapele encheu seu nariz enquanto seu peso descansava sobre suas coxas.Enlaçandoseusesbeltosbraçosaoredordeseupescoço,elasussurrouemseuouvido.—Tesentifaltade.AsPalmasdesuasmãosriscaramomapadeseucorpo;assuavescurva,

a magra cintura, os firmes seios... Apesar de que ele encontravaembriagadores os encantos femininos de Daisy, não o comoviam tãointensamentecomoseucálidaevivazinteligência.—Eutambémati.OsdedosdeDaisy jogavamcomseucabelo, esse toque ligeiroenviava

sacudidasdeagradardesdesuanucaatésuavirilha.— Viumuitasmulheres em Bristol?Westcliffmencionou um jantar, e

umasoiréeoferecidaporseuanfitrião—lhesussurroucomummurmúrioprovocador.—Eu não vi nenhumamulher.—ParaMatthew era difícil pensar em

outra coisa que não fora o desejo delicioso que começava a alagá-lo.—Vocêéaúnicaaquesempredesejei.Lhedeuumgolpecitonapontedonarizcomumdedobrincalhão.—Entretanto,nãopermanecestecelibatárionopassado.—Não—admitiuMatthew, fechandoosolhosquandosentiuacarícia

de seu fôlego contra sua pele.— É um sentimento triste, desejar que amulheraqueabraçasejaoutra.PoucoantesdedeixarNovaIorque,dava-mecontadequecadamulhercomaquetinhaestadoosúltimosseteanosse parecia com ti de algum modo. Alguém tinha seus olhos, outra suas

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mãos, ou seu cabelo… acreditei que passaria o resto de minha vidaprocurandopequenosteusdetalhesemoutrasmulheres.Acrediteique…Daisy lhe silenciou comsuaboca, absorvendo sua crua confissão. Seus

lábios se separaram, e ele não necessitou mais convite para beijá-la,introduzindodocementealínguaatéquepossuiusuabocacompletamente.Seusseiosroçavamseupeitocomcadainalação.Inclinou a Daisy para trás ligeiramente, apanhando a prega de sua

camisolaeelevando-o.Lheajudouadesprender-sedoobjeto,retorcendo-se um pouco para deslizá-la sobre sua cabeça. Esse grácil rebolado fezpalpitarseupulsouatravésdesuasveias.Ela jaziasobreacamanua,seuruborsepropagavacobrindo-acomoumacapadecera,cruzouosbraçoscontra seu corpo com acanhamento. Matthew a observava com avidezenquantosetiravaaroupa.Deitando-se a seu lado,Matthewbrincou sobre seu camisão.Acariciou

lhe os ombros, a garganta, o contorno vulnerável da clavícula...Gradualmenteocalordesuapeletranspassouadela,esuacarnecomeçouaardersobsuascaríciasperitas.Ofegandointensamente,elaenroscouseucorpoflexívelaoredordele,eeleasilencioucomsuaboca,lherecordandoqueasjanelasestavamabertasedeviaguardarsilêncio.Matthew riscou com os lábios um caminho ardente para seus seios,

apanhandoossuavesmamiloseintroduzindo-osemsuaboca.Ouvindoosgemidosqueelaemitia,elesorriueriscouumcírculocomalínguaaoredordeummamilo.EledeucomelaatéqueDaisysetampouabocacomamão,gemendo.FinalmenteoprazerfoiinsuportáveleDaisyseretorceuenterrandoum

gemidoatormentadosobreoslençóis.—Nãoposso—sussurrou,tremendo.—Nãopossomecalar.Matthewriubrandamenteebeijouocentrodesuacolunavertebral.—Pois nãopensomedeter— sussurrou, colocando-a de costas.—E

pensanoescândaloqueprovocarásenossurpreendem.—Matthew,porfavor…—Silêncio.—Eledeixouvagar suabocapor seu corpo semrestrição,

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beijando,mordendomeigamente,atéqueelasecontorcionouinquieta.Devez em quando ela se voltava, afundando seus dedosmagros no colchãocomosefossemasunhasdeumgato.Eleapersuadiaparaquesecolocassede costas outra vez, lhe sussurrando palavras carinhosas e promessas,beijando-aparasilenciarseusprotestos,enquantoseusdedosjogavamcomsuacarneinchada.Quandoelaestavatensacomoacordadeumviolinoesua pele brilhava pela transpiração, Matthew finalmente se acomodouentresuascoxastrementes.Lhe deu a bem-vinda quando sentiu a dureza dele introduzindo-se

intimamente em seu corpo… e logo gemeu e se ruborizou enquanto eleprocuravao ritmocorreto.Ele soubequeo tinhaencontradoquandoela,instintivamente,elevouosjoelhosparasujeitarseusquadris.— Sim, segura-me… — sussurrou Matthew, acariciando-a repetidas

vezes, enquanto seus músculos interiores começavam a palpitarviolentamente. Ele nunca tinha conhecido tal êxtase como o que sentiaempurrandoemsuadeliciosa estreiteza.Penetrou-amaisprofundamentequando ela elevou desamparadamente os quadris para seu corpo. Eleseguiucadamovimentodela,lhedandooquenecessitava,procurandoseuprazer.Daisysecobriuabocacomumamãodenovo,abrindomuitoosolhos,

Matthewlheapartouamãoagarrandoadopulso,eemseulugarabeijouna boca, introduzindo profundamente sua língua. Seus violentosestremecimentosprovocaramseupróprioclímax,arrancandoumprofundogemidodeseupeitoquelheestremeceuatéaalma.Quando as últimas ondas de prazer tinham remetido,Matthew estava

imersonaletargiamaisprofundaquetinhasentidoemtodasuavida.SóopensamentodequeesmagavaaDaisypôdelheconvencerpararodaraumlado.Elafezumsommal-humoradoelheseguiu,procurandoocalordeseucorpo. Ele a abraçou, embalando sua cabeça na curva de seu braço, e asarrumouparacolocararevoltaroupadecamasobreambos.A tentação de dormir era lhe esmague,masMatthew não se atrevia a

permitir-lhe Não confiava em despertar antes de que a donzela devesse

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abrir as cortinas pelamanhã. Sentia-semuito satisfeito, e sentir a formapequena de Daisy acurrucada contra ele era algo muito tentador parapoderresistir.—Tenhoqueir—sussurroucontraseucabelo.—Não, fique.—Voltoua carapara ele, acariciando comseus lábios a

pelenuadeseupeito.—Ficatodaanoite.Ficaparasempre.Elesorriueabeijounatêmpora.— Faria-o. Mas acredito que sua família se zangaria comigo por te

desonrarantesdenoscasar.—Nãomesintodesonrada.—Eusim—repôsMatthew.Daisysorriaquandorespondeu.—Então terei queme casar contigo.— Sua pequenamão se deslizou

sobreseucorpo,explorando.—Éumaironia,masestaseráaprimeiravezquefaçaalgoparaagradarameupai.Comummurmúriopormenorizado,MatthewatraiuaDaisy contraele.

Ele conhecia seu pai muito bem, era consciente do temperamento mal-humorado do homem, sua intolerância e suas exigências impossíveis.EntendiaoquehaviaflancoaoBowmanamassarumafortunadeumnada,os sacrifícios que ele tinha tido que fazer. O senhor Bowman tinhadescartadotudooqueeraumobstáculoparaobtersuasmetas.Incluindoarelaçãocomsuaesposaeseusfilhos.Pelaprimeiravez,aMatthewlheocorreuqueBowmanesuafamíliase

beneficiariam de contar com alguém que atuasse como mediador, quemelhorasseacomunicaçãoentreeles.Seissodependiadele,encontrariaamaneiradeconsegui-lo.—Você—sussurroucontraseucabelo—ésuamelhorobra.Algumdia

elesedarácontadisso.Eleasentiusorrirsobresuapele.—Duvido-o.Mas é bonito que o diga. Não tem que preocupar-se por

isso,sabe?Aceiteiquemeupaieraassimfazmuitotempo.De novo Matthew estava confuso pela profundidade dos sentimentos

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quelheinspirava,essaintensanecessidadedefazê-lacompletamentefeliz.—Tudooquevocêprecise—sussurrou,—tudooquealgumdiadeseje,

conseguirei-oparati.SóteráquemepedirissoDaisy, que jazia comodamente em seus braços, sentiu um agradável

tremor atravessar todo seu corpo. Ela tocou seus lábios com seus dedos,riscandoseucontornocomsuavidade.—Querosaberqualfoiodesejoquetecustoucincodólares.—Issoétudo?—Elesorriusobasgemasdeseusdedos.—Desejeique

encontrasseaalguémquetequisessetantocomoeu.Massoubequenãosefariarealidade.AluzdavelailuminouasdelicadasfacçõesdeDaisyquandolevantoua

cabeçaparalheolhar.—porquenão?—Porquesabiaqueninguémpoderiatequerertantoeu.Daisy se inclinou sobre ele até que seu cabelo caiu em uma cortina

escuraaoredordeambos.— E seu desejo qual foi? — perguntou Matthew, penteando com os

dedossuajuba.—Que pudesse encontrar ao homemperfeito com o queme casar—

respondeucomumternosorriso fazendoqueseucoraçãosesaltasseumbatimentodocoração.—Eentãoapareceuvocê.

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Capítulo15

Depois de um comprido sonho reparador, Matthew se aventurou a

baixaratomarocafédamanhã.Osserventestransportavamdaquiparaláocupados na limpeza dos chãos de mármore e de madeira. Alguns sededicavamaosabajures,mudandoasvelasdoscandelabros,enquantoqueoutrospoliamaprata.AssimqueMatthewseaproximoudosalãodejantardocafédamanhã,

umadonzelaseofereceualhelevarumabandeja,seodesejava,oterraçotraseiro. Já que prometia ser um dia formoso, Matthew aceitou a ofertarapidamente.Sentado em uma dasmesas exteriores, observava uma pequena lebre

marromquesaltavaaolongodasterrascuidadosamenteatendidas.Sua tranquila contemplação foi interrompida por som das portas

cristaleiras. Olhando com espera, Matthew viu que em lugar da donzelacoma bandeja do café damanhã, tratava-se da visitamuitomenosbem-vinda de Lillian Bowman. Afogou um gemido, deduzindo imediatamentequeWestclifflhetinhafaladosobreseusesponsaiscomaDaisy.Entretanto, parecia que o conde devia ter exercido alguma influência

sobresuaesposa.NãoeraqueLilliansevissefeliz,éobvio…,masMatthewtomoucomoumbomsinalqueelanãoseaproximassecomumatochanamão.Ainda.Lillianlhefezumgestoparaquepermanecesseemsuacadeiraquando

elaseaproximou.Emboraeleficouempédetodososmodos.Lillianmanteveumrostoeumavozcontroladosquandodisse:—Nãohánenhumanecessidadedemeolharcomoseeuforaumadas

pragas que assolaram o Egito. Sou capaz de manter uma conversaçãosensatadevezemquando.Possoterumaspalavrascomvocê?

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Elasesentouantesdequeelepudesseapartarumacadeiraparaela.Olhando-acomcautela,Matthewocupoudenovosuacadeiraeesperou

aquecomeçassea falar.Apesardaatmosferacarregadade tensão,quasesorriuquandosedeucontadequeviafrequentementeamesmaexpressãoquetinhaLillian,nacaradoThomasBowman.Lillianestavadeterminadaasair-se com a sua, embora procuraria não fazer uma cena, por muitosatisfatórioquepudesseser,sabiaquenãoobterianadacomisso.—Vocêeeusomosconscientes—disseLilliancomumacalmaforçada,

—de que embora não posso impedir estematrimônio desastroso, possoconseguir que as coisas sejam muito desagradáveis para todo mundo.Sobretudoparavocê.— Sim, sou consciente disso. — A resposta de Matthew não era

sarcástica.Apesardequeelenãocontavacomsuaaprovação,sabiaqueoamordeLillianporDaisyeraindisputável.—Entãoqueroprescindirdasformalidades—disseLillian,—eteruma

conversaçãodehomemahomem.Matthewtevequemordê-loslábioscomforçapararefrearumsorriso.—Bom—respondeucomseriedade,—tambémeu.—Elepensouque

provavelmenteLillianchegariaalhegostarde.Seaomenossoubesseaqueatender-secomela.—Aúnica razãopelaqueestoudispostaa tolerara ideiadequevocê

sejameucunhado—continuouLillian—éporquemeumaridopareceteruma boa opinião de você. E estou disposta a ter em conta seu critério.Emboraele,éobvio,nãoéinfalível.— Esta é possivelmente a primeira vez que ouço alguém fazer tal

observaçãosobreoconde.—Sim, bem…—Lillian o surpreendeu comumdébil Esse sorriso é a

razãopelaqualWestcliffsecasoucomigo.Minhadisposiçãoaconsiderá-locomoummeromortaléumalíviodepoisdetodaessaincessanteadoraçãodaqueéobjeto.—Seusolhosescuros,maisredondosemenosexóticosqueosdeDaisy,olharam-nodemaneirapenetrante.—Westcliffmepediuquetentasseserimparcialnesteassunto.Algoquenãoéfácilquandoofuturo

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deminhairmãestáemjogo.—Milady—disseMatthewcomseriedade,—sepossolhedaralguma

garantiaquepossatranquilizarsuamente…—Não.Espere.Medeixelhedizerprimeirooqueopinosobrevocê.Matthewpermaneceusilencioso—Vocêsempreencarnouparameuopiordemeupai—disseLillian.—

Afrieza,aambição,oegocentrismo.Sóquevocêépior,porqueécapazdedisfarçá-lo commuitamais destreza que ele. Você é o quemeu pai teriasido se ele fosse elegante e algo mais sofisticado. Acredito que aoconquistá-lo a você, Daisy de algum modo, deve sentir que finalmenteconseguiu agradar a meu pai.— Suas sobrancelhas se juntaram quandoprosseguiu. — Minha irmã sempre esteve disposta a amar a criaturasdesfavorecidas…aosquevãosemrumo,aosinadaptados...Umavezqueelaamaaalguém,nãoimportaquantasvezeschegueatrai-laoudecepcioná-la,denovoacolheaessesercomosbraçosabertos.Masvocênãoaquererámais quemeu pai. Você tomará o que quer, e lhe darámuito pouco emmuda.Masquandoindevidamenteafizermal,sereiprimeiradeumalargalistadepessoasdispostasalhematar.Asseguro-lhequeacabareicomvocê.Não haverá um lugar o suficientemente afastado como para que não lheencontre.— Não há dúvida de que é você muito objetiva — disse Matthew.

Respeitava sua brutal honestidade mesmo que ele fora o receptor damesma.—Possorespondercomamesmafranquezaquevocêacabadememostrar?—Issoesperodevocê.— Milady, você não me conhece o suficiente para avaliar quanto me

pareço com seu pai. Não é nenhum crime ser ambicioso, em particularquandoagentecomeçouqueumnada.Enãosoufrio,soudeBoston.Quequer dizer que não sou propenso à demonstração de minhas emoções.Quanto a ser egocêntrico, você não tem nenhummodo de saber se fizeralgoembenefíciodeoutrosounão.Quemecrucifiquemsetiverquerecitarumalistademinhasboasaçõesparaganharsuaaprovação.—Eleseguiu

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olhando-a com serenidade. — Apesar de sua oposição, este matrimônioterá lugar, porque tanto Daisy como eu o desejamos. Assim não tenhonenhuma razãopara lhementir. Poderia lhedizerqueDaisyme importaum nada, e ainda assim obteria o que quero. Mas o fato é, que estouapaixonadoporela.Estive-odurantemuitotempo.—Vocêesteveemsegredoapaixonadoporminha irmã?—perguntou

Lilliancomumchamejantecepticismo.—Vá...queconveniente.— Eu não estava seguro de que fora amor. Tudo o que sabia era que

tinhaumapersistente,umaincisiva…preferênciaporela.—Preferência?—Lillianoolhoumomentaneamenteultrajada,elogoo

surpreendeurindo.—Céus,vocêrealmenteédeBoston.—Cria-oounão—resmungouMatthew,—eununcadesejeisentirisso

por Daisy. Teria sido muito mais conveniente encontrar a alguma outramulher. Devo estar completamente louco para estar disposto a ter aosBowmancomosogros.—Touché—repôsLillianenquantoria.Apoiandooqueixoemumamão

o olhou fixamente. De repente sua voz adquiriu um tom inquisidor quearrepiouaMatthewopêlodanuca.—EncontropeculiarqueumSwiftdeBostonutilizeaexpressãocomeçardeumnada…estiveequivocadatodosestesanosaoacreditarquevocêprocededeumafamíliaacomodada?Maldição, ela era inteligente. Matthew foi consciente de que tinha

cometidoumenganoerespondeuprecavido.—OramoprincipaldalinhagemSwiftémuitoenriquecida.Eusouum

dosproverbiaisprimospobres,eessaéacausapelaqualmeviobrigadoaadquirirumaprofissão.AssobrancelhasdeLillianseelevaramligeiramente.— E os Swift enriquecidos, foram capazes de condenar a suas primos

menosfavorecidosaumapobrezaabjeta,comovocêmanifestou?—Um leve exagero porminha parte— disseMatthew.—Mas estou

segurodequeavocênãopreocupaissoatéopontodenosdesviardotemaprincipal.—Certo,enfim,acreditoqueconseguicompreenderseupontodevista

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senhorSwift.—Lilliandesocupousuacadeira,obrigando-oa levantar.—Umacoisamais.AcreditaqueDaisyseráfelizseretornaraNovaIorque?— Não — respondeu Matthew tranquilamente. E viu um brilho de

surpresaemseusolhos.—Éóbvioquetantovocêcomosuasamigassãoessenciaisparasuafelicidade.—Então…vocêestariadispostoatersuaresidênciapermanenteaqui?

Inclusivesemeupaiseopõe?—Sim, se isso for o queDaisy quer.—Matthew tento controlar, sem

obtê-lo,umarepentinaquebradeondadechateio.—Nãotenhomedodotemperamentodeseupai,milady,etampoucosouumamarioneteemsuasmãos.O fato de que trabalhepara ele não significa que tenha submetidomeu livre-arbítrio e o pleno uso de meu cérebro. Posso encontrar umemprego lucrativo emGrã-Bretanha, tanto se trabalho para as EmpresasBowmancomosenão.—SenhorSwift—disseLilliansinceramente,—nãosabequantodesejo

lheacreditar.—Eissosignifica…?—Suponhoquesignificaquetratareidesermaisamávelcomvocê.—Equandopensacomeçar?—disparouele.Umaesquinadesuabocasecurvouparacima.—Napróximasemana,talvez.— Espero-o com impaciência — resmungou Matthew, sentando-se

quandoelapartiu.Como era de esperar, Mercedes Bowman recebeu as notícias das

casamento de Daisy com Matthew Swift com pouco entusiasmo. Tendoconseguidopara suaprimeira filhaummatrimônio tãobrilhante, era seudesejoconseguiralgosimilarparaasegunda.ParaaMercedestinhapoucaimportância que Matthew Swift adquirisse de repente uma fortuna quetinha interesses empresariais nos dois moderados. Importava-lhe aindamenosqueDaisytivesseencontradoumhomemquepareciaentendê-laedesfrutarcomsuasexcentricidades.—Aquemlheinteressaquesejabomganhandodinheiro?—queixou-se

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Mercedes a suas filhas quando elas se sentaram na salaMarsden.—NoManhattanville sobravam os homens empreendedores com grandesfortunas.Porqueviemosaquisenãoparaencontraraumcavalheiroquedispuseradealgomais?Realmenteerameudesejo,Daisy,quetivessesidocapazdeatrairaumhomemrefinadoedeboaestirpe.Lillian,quealimentavaaobebê,respondeuemumtomsarcástico.—Mãe, emboraDaisy se casasse como príncipe real do Luxemburgo,

não poderia mudar o fato que os Bowman provêm de uma linhagemcomum,enossaamadaavóeraumalavadeiradoporto.Estapreocupaçãopelanobrezaéumpoucoexcessiva,nãocrê?TeesqueçadissoetratadetealegrarporDaisy.A indignação fez que a Mercedes lhe inchassem as bochechas e sua

estreitacaraparecesseumfolesoprandoumachaminé.—VocênãogostadosenhorSwiftmaisqueamim—replicouela.—Não—repôsLillian com franqueza,—mas tenhoqueadmitir,que

estamos em minoria. Swift é apreciado por todos os habitantes dohemisférionorte, incluindoWestcliffe seusamigos,aminhasamigas,aoscriados,aosvizinhos…—Estáexagerando…— … aos meninos, os animais e uma grande variedade de novelo —

terminouLilliansarcasticamente.—Seasraízespudessemfalar,nãotenhodúvidasdequediriamquetambémgostam.Daisy,queestavasentadanajanelacomumlivro,levantouoolharcom

umsorrisorepentino.— Seu encanto não se estende até o curral — disse ela. — Tem um

problemacomosgansos.—Seusorrisosefezmaisampla.—Obrigadoporaceitá-lo,Lillian.Esperavaquefizesseumacenapelascasamento.Suairmãmaiorsoltouumsuspirocompesar.— Reconciliei-me com o fato de que seria mais fácil empurrar uma

ervilha como nariz daqui a Londres que impedir estematrimônio. Alémdisso, estarámuitomais perto demim em Bristol do que tivesse estadocomlordeLlandrindonnoThurso.

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AmençãodeLlandrindonquasefezchoraraMercedes.— Esse cavalheiro comentou que havia passeios encantadores no

Thurso—dissetristemente.—Etambémretalhosdahistóriadosvikings.Tivesse-meencantadoaprendercoisassobreosvikings.Lilliansoprou.— Desde quando estiveste interessada em guerreiros pagãos com

estúpidoschapéus?Daisylevantouavistadolivrooutravez.—Estãofalandodaavóoutravez?Mercedesaolhoucomfulgor.— Já que ao parecer não tenho mais opção que aceitar este enlace,

procurareiencontraralgumpequenoconsolonofatodequeaomenosestavezpodereiplanejarumascasamentoapropriada.—Nuncatinhaperdoadoa Lillian e ao Marcus o haver-se fugido a Gretna Green para casar-se,privando-aassimdasmagníficascelebraçõescomasquesempresonhou.LilliansorriucomardesuficiênciaolhandoaDaisy.—Nãoteinvejo,querida.—Nãoseráalgoagradável—advertiuDaisyaMatthewessemesmodia

algomaistarde,estavamsentadosnabordadeumpequenolagoaopédeum moinho se localizado nos subúrbios do povo. — Planejará umacerimôniaparainformaraomundodequedeveteremcontaaosBowman.— Somente aos Bowman?— perguntou ele.— Não se supõe que eu

devoseroprotagonistadacerimônia?—Ah,mas é que o noivo é algo insignificante emumas casamento—

disseDaisyalegremente.SeintençãoeradivertiraoMatthew,masosorrisoquelhedevolveu,não

alcançou seus olhos. Ele olhou fixamente o lago com uma expressãodistante.Omoinhodeáguacomsuarodadedozepéstinhasidoabandonadofazia

muito tempo em favor de um moinho mais produtivo e melhor selocalizado, mais perto do Stony Cross. Com seu encantado telhado demadeiraaduaságuasesuafachadadeparedesripadas,omoinhopossuía

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umencantosingeloquerealçavaarústicapaisagem.EnquantoMatthew arrojava a vara de pescar no charco efetuandoum

perito movimento com seu pulso, Daisy colocou os pés nus na água. Detanto em tanto omeneiodos dedosde seuspés convidava aos peixes deáguadoceabisbilhotar.ElaestudouaMatthewenquantopareciameditaremalgumassunto.Seu

perfil era forte e distintivo, tinha um nariz reta, com caráter, uns lábiosgrossosbemdefinidos,eumamandíbulaseveroeperfeita.Sentiuoprazerdevê-lodesalinhado,comacamisaumedecida,acalçacheiadefolhassecaseseuespessocabelodesarrumadocomalgumamechapendurandosobreafrente.HaviaumadualidadefascinantenoMatthew,algoqueDaisynuncatinha

encontrado emoutro homem. Em algunsmomentos ele era o homemdenegócios agressivo de olhar perspicaz que acumulava dados e cifras comfacilidade.Outrasvezessetransformavaemumamantequente,desfazendo-sede

seu cinismo como se de um casaco velho se tratasse. Em ocasiões seencetava com ela em alegres discussões sobre qual das culturas antigaspossuía amitologiamais ampla, ouqual tinha sido a verdura favoritadoThomas Jefferson. (Embora Daisy estivesse convencida de que eram aservilhas,Matthewtinhaadvogadocominsistênciapelostomates).Tinham largas conversações sobre história e política. Sendo um

conservador Brahmin, era surpreendente que possuísse tão amploconhecimento sobre as questões da reforma. Pelo general em suaimplacável ascensão na escala social, os homens empreendedores seesqueciamdosquetinhamficadoemdegrausinferiores.Daisypensavaqueisso falava com favor do caráter de Matthew, pois demonstrava umapreocupaçãogenuínaporaquelesmenosafortunadosqueele.Emsuasdiscussões,começaramadesenharprojetosprovisóriosparao

futuro… Teriam que encontrar uma casa em Bristol o suficientementeampla. Matthew insistiu em que tivesse vistas ao mar, e uma salaapropriadaparaserumabiblioteca,paraoslivrosdeDaisy,e,acrescentou

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risonho, que devia contar comummuro alto ao redor da casa, assim elepoderiaviolá-lanojardimsemservisto.Senhoradeseuprópriolar…Daisynuncatinhasidocapazdeimaginá-lo.

Masaideiadearrumarascoisasexatamentecomoqueelaqueria,emumacasa que expressasse suas próprias preferências, começava-lhe a parecermuitoatrativa.A comunicaçãoentreeles, entretanto,nãoerade tudo fluída.Por cada

umdospensamentosqueMatthewestavadisposto a compartilhar comaDaisy, havia muitos mais que permaneciam inacessíveis. Às vezesconversar com ele era como perambular ao longo de um encantadorcaminholheserpenteiemcomtodaclassedepaisagensinteressantes,ederepentedar-sedebrucescomumaparededepedra.QuandoDaisypressionouaMatthewparaquefalassedeseupassado,só

conseguiuquefizessereferênciasvagasaMassachusettsequelhecontasseque tinha crescido perto do Charles River. Reteve com teima todainformaçãosobresuafamília.Atéagoranãotinhafeitoreferênciaaosquaisseriam os membros do clã Swift que assistiriam à casamento.Provavelmentenãoiaestarcompletamentesozinho.Parecia que Matthew não tinha existido antes de que começasse a

trabalharparaseupaià idadedevinteanos.Daisytinhamuitasvontadesde abrir-se caminho em sua obstinada barreira de segredos. Eraenfurecedorsentir-sesempreaobordadeumevasivodescobrimento.SuarelaçãopareciaaencarnaçãodateoriadoHegelian…quetudoestásempreemprocessodetransformar-seemalgomais,semchegaraconsegui-lo.Devolvendo seus pensamentos à presente, Daisy decidiu recuperar a

atençãodeMatthew.—Éobvio—dissedemaneiraocasional—nãotemosporquecelebrar

nenhumacerimôniadecasamento.Semprepodemosnosunircomosefaziaséculos atrás. Lhe dê de presente uma vaca a meu pai, e já estaremoscasados.Oupossivelmentepodemosrealizaroantigoritualdeunirnossasmãos com fitas, ouaprática greganaqual eume cortariao cabelo comosacrifício e o entregaria a Artemisa, seguido de um banho ritual em um

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manancialsagrado…De repenteDaisy se encontrou tombada sobre suas costas, o corpode

Matthewocultava parcialmente o céude sua vista. Ela soltouum risinhopelabrutalidadecomaqualele tinhasoltosuavaradepescare lhetinhajogadoemcima.Seusolhosazuisbrilhavamperaltas.—Podequeconsiderassetemudarporumavacaouunirnossasmãos

comfitas—disse.—Masmenegoamecasarcomumanoivacalva.Daisydesfrutoudedopesodelepressionandosuascostascontraaerva

esponjosa,doaromadaterraeagramaaoredordeles.—Equetepareceobanhoritual?—perguntouela.—Issoéalgoquepodefazer.Defato…—Seuslargosdedosalcançaram

os botões dianteiros de seu vestido— … acredito que deveria praticar.Ajudarei-te.Daisy se retorceu e chiou quando o começou a atirar de seu vestido

aberto.—Istonãoéummanancialsagrado,estamosemumvelhoelamacento

lago!MasMatthewpersistiu,divertidocomseusesforçosporevitarque lhe

baixasseovestidoatéa cintura.Acausado intolerável calor, eapesardenãosercorreto,Daisynãosepôsespartilho.EmpurroucomforçaopeitosólidocomoumarochadeMatthew,querodouparaumladoarrastando-acom o. O mundo girou a seu redor, turvando o céu azul com nuvensbrancas.Encontrou-seapoiadasobreseupeitoenquantoinexoravelmentelhetiravaaregatapelacabeça.—Matthew— protestou ela, sua voz soou amortecida por objeto de

linho.Matthewarrojouaregataaumlado.Suasmãosaagarrarampordebaixo

dosbraços, levantando-aparaeleatéquependeutãodesamparadamentecomoumgatinho.Seufôlegoseacelerouquandoeleolhoufixamenteseuspálidospeitoseseusrosadosmamilos.— Baixa me — insistiu Daisy, ruborizando-se ante seu ávido olhar.

Emborajátinhaestadocomeleduasvezes,aindaeramuitoinocentepara

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fazeroamoraoarlivre.Matthew obedeceu, deslizando-a sobre ele até que sua boca se fechou

sobreumtensomamilo.—Não—conseguiudizerela,—issonãoéoqueeu…OH…Ele sugou seus peitos por turno, usando seus dentes e sua língua,

jogando,acariciando.Depoisdeumapausaparalhetirarorestodaroupa,beijou-aprofundamente.Elaatiroude sua camisa, seusdedos semoviamtorpespelaexcitação.Matthewsemoveuparaajudá-la,tirando-acamisaeaproximando-acom

cuidado para seu peito nu. A quente fricção de sua pele afastou delaqualquerpensamentocoerente.Lherodeandoopescoçocomosbraços,Daisyesmagousuabocasobrea

sua,impacienteeapaixonada.Abriu os olhos surpreendida quando ouviu a risada sufocada de

Matthewcontraseuslábios.— Tenha um pouco de paciência, amor — sussurrou ele. — Estou

tratandodeirdevagar.— por que? — perguntou Daisy, que sentia os lábios quentes e

extremamente sensíveis. Passou-se a línguapor lábio inferior, eMatthewbaixouaspestanasseguindoomovimentodesualíngua.Suavozseconverteuemummurmúrio.—Porquesentirámaisprazer.—Nãonecessitomaisagradar—disseIstoDaisyémaisdoqueposso

suportar.Ele sorriu com ternura. Embalando sua bochecha com uma de suas

fortesmãos, aproximou o rosto de Daisy ao dele. A ponta de sua línguadesenhouseu lábio inferioreseentreteveduranteumardentemomento,fazendo-a respirardemaneira instável. Finalmente suaboca selouadelacomumbeijoexuberante,abrindo-aeacariciando-acomsualíngua.Gradualmenteeleatendeusobresuacamisa.Ofinopanoconservavaa

atrativa fragrância de sua pele, e Daisy inspirou com prazer o familiararomamasculino. Seus olhos se fecharamocultandoo resplendorbranco

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do sol quando seu corpo cobriu o seu. Ele tinha desabotoado a partesuperior de suas calças, o tecido roçava suas pernas lhe produzindo umformigamento.Sentindo-setremendamenteexcitadapelasensaçãodeestarnua contra seu corpo quando o ainda estava vestido pelametade, Daisyseparouascoxasassimqueotentouacomodar-seentreeles.—Queroserpartedeti—sussurrouele.—Queroestarsemprecontigo.— Sim, sim… — Ela o abraçou com seus braços e suas pernas,

envolvendo-ocomseucorpoflexível.Ele entrou nela devagar, e onde antes houve dor, agora só existia o

prazer pela pressão deliciosa com a que Matthew enchia seu corpo.Marcando um ritmo lento e paciente, ele resistiu a seus esforços porapressá-lo. Daisy se retorceu e lutou por tomarmais dele, ofegando poresforço, e gemendo quando ele capturou seus quadris com as mãos e afreouaindamais.— Devagar— sua voz eramaliciosamente suave.— Só um pouco de

paciência.Elaonecessitavaagora.Seucorpopalpitava,seussentidosardiampelas

sensações.—Porfavor…—suabocapressionouasua,atéqueelalogoquepôde

formarpalavras.—Eun-nãopossoficaraquietaenquantovocê…—Simpode.Eleaindasemantinhadolorosamentedentrodelaenquantosuasmãos

vagavam por seu corpo investigando. Daisy se retorcia agitada debaixodele,seudesejoseelevavacomcadacaríciapersuasiva,seusgemidoseramabsorvidos por jogo sensual de seus lábios. Com cadamovimento de suadurezadentrodelaocalorcresciaatéfazer-seinsuportável,atéqueelasearqueoufortementecontraele,levantandoseucorpo.Matthewriu simplesmente, emanteveo controledo ritmoenquantoa

incitavacomcompridosembates.Seucorpoentravanoseu,invadindo-oelhedandoagradarsempiedade.—Nãohánenhumapressa,Daisy.—Suavozsetornouroucaeespessa.

—Nãohánenhumarazãopara…sim,justoassim…Amor,sim…—Deixou

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cairacabeçasobreumdeseusombros,seufôlegolheesquentavaapele.Osmúsculosde seusbraços se incharamquandoafundouosdedosna

gramaaambososladosdela,comosequeriacravá-losaambosnaterra.Daisy parecia uma criatura selvagem, sujeita contra a erva por ritmo

básico de seus quadris. Seu corpo elevado com um arco tenso, toda suacarnedesejandomaisdo,seussentidoscentradosemumestremecimentodesatisfaçãoquecomeçouondeseuscorposestavamunidos,estendendo-seatéosdedosdospés.Matthewalcançou suaprópria culminação, enquanto seu corpo tremia

rodeadopelosesbeltosbraçosdela.Equandoeleapoiouacabeçasobreseupeito,tremiaenquantorespiravacomrapidez,pelacorrentedeprazerqueaindasepropagavadolugarondeelaoapertava.Daisy sabia que a amava… ela podia senti-lo em cada pulsado de seu

coração enquanto o sustentava contra ela. Ele o tinha admitido anteWestcliff,eanteaLillian,masporalgumarazãonãoohaviaditoaela.ParaaDaisy,oamornãoeraumaemoçãoaqualdeveriamaproximar-se

cuidadosamente. Ela queria lançar-se sem reservas, com confiança ehonestidade puras… coisas para as que Matthew ao parecer não estavapreparado.Masalgumdia,prometeu-seasimesmo,nãoexistirianenhumabarreira

entreeles.Algumdia…

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Capítulo16

AfestadePrimeirodeMaiosecelebravaemStonyCrosParkdesdefazia

séculos, em um princípio a festa foi uma celebração pagã do final doinverno e a volta da fertilidade à terra com a primavera. Era umacontecimentomuitopopularnoquedurante trêsdiashavia jogos, festa,baile,etodotipodefestejos.Aburguesia local,osgranjeiroseoshabitantesdopovo,mesclavam-se

livremente durante a festa, apesar dos protestos do clero e diversospuritanosqueafirmavamqueacelebraçãonãoeraanãoserumadesculpapara fornicarebeber.ComoLillian lhecomentoucomastúciaaDaisy, aoparecerquantasmaisprotestahaviapelosexcessosdeprimeirodemaio,maisgenteassistia.A pradaria estava iluminada com tochas. Mais à frente uma grande

fogueiraenviavagrandespenachosdefumaçaaumcéurepletodenuvens.Tinhaestadonubladotodoodia,eoarestavacarregadodeumidade,oquesem dúvida era indício de que se morava uma tormenta. Felizmente,entretanto, aoparecer asdeidadespagãs tinham freadoo aguaceiro, e asfestividadestinhamlugarTudobemaoprevisto.ComMatthewaseulado,Daisydeuumaolhadaàfiladebancassituadas

ao longo da rua Maior, cheios de tecidos, brinquedos, chapéus, joias deprata, e cristaleira. Não dispunham de muito tempo, pois Westcliff lhestinhaadvertidodequedeviamretornaràmansãoantesdemeia-noite.— depois dessa hora, a festa tende a desmamar-se— tinha famoso o

conde.— Sob a influência do álcool e ocultos detrás de umamáscara, agentetendeafazercoisasquenãoseriamcapazesdefazeràluzdodia.—OH,equeimportânciatemumpequenoritodefertilidadeaquioulá?

—mofou-seDaisyalegremente.—Nãosoutãoinocenteque…—Retornaremoscedo—lhehaviaditoMatthewaoconde.

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Agora, enquanto se abriam passo através do abarrotado lugar, DaisyentendeuaquesereferiaWestcliff.Aindaeracedo,ejápareciaqueovinho,que fluía copiosamente, tinha afrouxado inibições. As pessoas seabraçavam, discutindo, renda-se e jogando. Alguns colocavam coroas defloresnabasedoscarvalhosmaisantigos,ouderramavamvinhonasraízes,ou…— Céus! — disse Daisy, absorta em uma imagem desconcertante ao

longe,—oqueestãolhefazendoaessapobreárvore?Asmãos deMatthew rodearam sua cabeça e apontaram sua cara com

firmezaemoutradireção.—Nãoolhe.—Éalgumaformadecultoàárvoreou…—vamosverosmalabaristas—exclamoucomrepentinoentusiasmo,

guiando-aparaooutroladodoprado.Caminharam lentamente em meio de faquires, prestidigitadores e

acrobatas,fazendoumapausaparacomprarumodredevinho.Daisybebeucuidadosamente do odre,mas uma gota escapou pela comissura de seuslábios.Matthewsorriuecomeçouacolocaramãonobolsoparaprocurarumlenço,logopareceupensá-lomelhor.Emseulugaragachouacabeçaesorveucomoslábiosagotinhadevinho.— supõe-se que deve protegerminha reputação— disse ela com um

amplosorriso,—eemlugardissomeconduzàperdição.Comodorsodosdedosacaricioubrandamentesuasbochechas.— Em realidade eu gosto de te conduzir à perdição — repôs. — Eu

gostariadeteconduzirdiretamenteaessebosquee…—suaspalavrasseperderamquandoolhouseusdocesolhosobscuros.—DaisyBowman—sussurrou,—desejo…Ela não chegou ou seja o que desejava, porque foi abruptamente

empurrada contra ele por uma multidão que se abria caminho. Todomundo estava decidido a ver um par de malabaristas que faziam girarmaçasearosnoar.ComosempurrõesoodrecaiudasmãosdeDaisyefoipisoteado.Matthewarodeoucomseusbraçosparaprotegê-la.

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—Metemcansadoovinho—disseDaisycompesar.—Melhorassim—lhesussurrouaoouvido,comseuslábiosroçandoa.

—Mepoderiatersubidoàcabeça.Elogopoderiatehaveraproveitadodemim.Daisysorriueseaconchegoucontrasua fortaleza,deleitando-secomo

calorreconfortantedeseucorpo.—Sãominhasfantasiastãoóbvias?—perguntou-lhecomvozrouca.Elecolocouseuslábiosdebaixodolóbulodesuaorelha.—Temo-mequesim.Aproximando-amaisaseucorpo,Matthewaguiouatravésdamultidão

atéquealcançarama fileirade lojas.Lhe comprouumcartuchodenozestorradas…umcoelhodemazapán…umchocalhodeprataparaoMerritt,euma boneca de tecido grafite para a filha de Annabelle. QuandodescenderampelaruaMaiorparaacarruagemquelhesesperava,Daisyfoidetida por uma mulher ostentosamente vestida com lenços com peçasmetálicasejoiasdebijuteria.AcaradamulherrecordouaDaisyexatamenteàsbonecasdemaçãque

ela e Lillian faziam quando erammeninas. Esculpiam caras nos lados dafrutacortadaqueaosecar-seaosolseobscureciamdestacandoossulcos.Miçangas negros para os olhos e penachos suaves de lã cardada para ocabelo…sim,estamulherseviaexatamenteigual.—Asorteparaadama,senhor?—perguntou-amulheraoMatthew.OlhandoaDaisy,Matthewlevantouumasobrancelhacomcepticismo.Ela sorriu, consciente de que o não acreditava em misticismos,

superstições, ou qualquer outra coisa que tivesse algo que ver com osobrenatural. Era muito prático para acreditar em coisas que nãopudessemprovar-seempiricamente.—Sóporquenãoacreditenamagia—lhedisseelarisonha—nãoquer

dizerquenãoexistaNãoquerjogarumaolhadaaofuturo?—Prefeririaesperaraquechegue—foisuaseveroresposta.—Sóumxelim,senhor—pressionouaadivinha.Matthew exalou um suspiro aomudar demão os pacotes e colocar a

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outraemseubolso.—Estexelim—disseaDaisy,—estariamelhorgastonaslojas,emuma

fitaparaocabeloouempescadodefumado.—Eissoodizalguémqueatirouumamoedadecincodólaresnopoço

dosdesejos…—Aquilonãotevenadaquevercomisto—disseele.—Sóo fizpara

chamarsuaatenção.Daisyriu.—Eoconseguiu,mas...—percorreu-ocomoolharsignificativamente.

— Seu desejo se fez ou não realidade? — agarrou o xelim, e o deu àadivinha.—Qualéseumétododeadivinhação?—perguntou-lheàmulhercominteresse.—Temumaboladecristal?Usaascartasdotarôou lêasmãos?Comoresposta,amulhertirouumespelhoprateadodeentresuassaias

eodeuaDaisy.—Olheseureflexo—dissecomEstasolenidadeéaportaparaomundo

dosespíritos.Sigaolhando,nãoàparteoolhar.Matthewsuspirouelevantouoolharparaocéu.Obedientemente Daisy cravou os olhos no espelho, vendo a luz das

tochastitilaratravésdeseusrasgos.—vaiolharvocêtambém?—perguntou-lheàmulher.—Não—respondeuela.—Sóprecisoverseusolhos.Depois guardo silêncio.Aooutro ladoda rua, a gente entoava canções

populares acompanhando-se por tambores. Olhando em seus própriosolhos, Daisy distinguia diminutos brilhos dourados de luz, como faíscasbrotandodeumafogueira.Sesefixavaosuficiente,quasepodiaconvencer-sedequeoespelhoprateadorealmenteeraaportadeacessoparaalgummundo místico. Possivelmente era sua imaginação, mas podia sentir aintensidadedaconcentraçãodaadivinha.Com uma brutalidade que sobressaltou a Daisy, a mulher lhe tirou o

espelhodasmãos.— Algo não vai bem — disse tensamente. — Não posso ver nada.

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Devolvereiseuxelim.—Nãoénecessário—respondeuDaisy aturdida.—Nãoé culpadela

quemeuespíritosejaopaco.AvozdeMatthewfoitãoafiadaquepareceucortaroar.—Estaríamosmuitoagradecidossenosesclarecessequequisdizer—

lhedisseàmulher.—Elanãopodeesclarecê-lo—protestouIssoDaisyseriaabusar.Estudandoasenrugadasfacçõesdaadivinha,Daisypensouqueparecia

sinceramentedesgostada.Semdúvidaalgoatinhaincomodado.Oqueeraprovavelmente um indício de que deviam deixá-la partir. Mas se nãoaveriguavaoquetinhavisto,Daisyseconheciaosuficienteparasaberqueacuriosidadeavoltarialouca.—Nãoqueremosrecuperaroxelim—disse.—Porfavor,devemedizer

queviu.Seforalgomal,nãoseriamelhorsabê-lo?—Nãosempre—disseamulhermisteriosamente.Daisy se aproximoudela, até quepôdeperceberumaromaadocicado,

possivelmentedefigos,ealgumaessênciadeervas…louro?manjericão?—Querosabê-lo—insistiu.Aadivinhalhedirigiuumlargoolharespeculativo.Finalmentefaloucom

granderelutância.—Adoçuraqueanoitedáaumcoração,converte-seemamargurapela

manhã.Umapromessafeitaemabril…éumcoraçãoquebradoemmaio.Umcoraçãoquebrado?aDaisynãogostoudecomosoavaisso.SentiuaMatthewaproximar-sedela,comumamãolherodeouacintura.

Emboranãopodiaversuaexpressão,elasabiaqueerasardônica.—Inspirarãodoisxelinsalgoumpoucomaisotimista?—perguntouele.Aadivinhalheignorou.Guardandooespelhoemsuasaia,disseaDaisy,—Façaumamuletocomdentesdealhoemumabolsadetecido.Efaça

queeleolevecomoamparo.—Contraoque?—perguntouDaisycominquietação.A mulher já se afastava deles. Com suas volumosas saias ondeando

enquantoseencaminhavaparaofinaldaruaembuscademaisnegócio.

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Voltando-separaMatthew,Daisyolhousuacaraimpassível.—Contraoquepoderianecessitaramparo?—Contraoclima.—Elevoltouapalmadamãoparacima,eDaisynotou

quealgumasgotasdechuva,salpicavam-lhenacabeçaeosombros.— Tinha razão — disse ela, refletido sobre o funesto vaticínio. —

Deveriatercompradopescadodefumadocomessexelim.— Daisy … — Sua mão livre se deslizou até sua nuca— Não terá

acreditado essa fileira de disparates, verdade? Essa harpia memorizoualgunsversos,erecitariaqualquerdelesporumxelim.Aúnicarazãopelaque nos deu um mau presságio foi porque não fingi acreditar em seuespelhomágico.—Simmas...suapreocupaçãopareciagenuína.—Nãohavianadagenuínonessamulher,nememnadadoquedisse.—

Matthewaaproximoumaisaele,semlheimportarquealguémpudessevê-los. Daisy levantou a vista para ele, uma gota de chuva lhe salpicou nabochecha,eoutrapertodacomissuradeseuslábios.—Nadadissoerareal—disseMatthewbrandamente, seus olhos de um azul profundo como ameia-noite. Beijou-a com urgência, ali, em meio da rua, com o sabor dachuvaentreseuslábios.—Istoéreal—sussurrou.Daisyseapertoucontraele,ficandonaspontasdospésparaacomodar

seu corpo a seus contornos firmes. Os pacotes ameaçaram caindo, eMatthew lutou por retê-los enquanto sua boca consumia a de Daisy. Elainterrompeuobeijocomumrisinhoafogada.Oretumbardeumtrovãofezqueaterravibrassesobseuspés.A seu redor, a gente corria para o refúgio que ofereciam as lojas e os

postos.— Jogo-te uma carreira até a carruagem — disse a Matthew, e

recolhendo-assaiaspôs-seacorrer.

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Capítulo17

Quandoacarruagemalcançouofinaldocaminhodecascalho,achuvajá

caíaemgrosasgotas,eoventogolpeavaoveículo.Recordandoafestadopovo, Matthew pensou divertido que muitos namoricos se veriamfrustradosporaguaceiro.A carruagem se deteve, o teto do veículo retumbava por impacto da

chuva implacável. Normalmente um lacaio se aproximava até a porta dacarruagemcomumguarda-chuva,mas, semdúvida, seriadepoucaajudaanteaforçadessedilúvio.Matthewse tirou seucasacoeenvolveuaDaisy comele, levantando-o

atélhecobriracabeçaeosombros.Logoqueserviacomoamparo,masadefenderianotrajetoentreacarruagemeaportaprincipaldamansão.—Molhara-te—protestouDaisy,percorrendocomoolharasmangas

desuacamisaeseucolete.Elecomeçouarir.—Nãovoudesfazerme,nãosoufeitodeaçúcar.—Nemeutampouco.— Não senhorita, você sim que o está — murmurou ele, fazendo-a

ruborizar-se. Ele sorriu ao vê-la olhando às escondidas pelas dobras docasaco,comoumacorujanobosque.—Fiqueocasaco—insistiu.—Sóháumaspoucasjardasatéaporta.Aportada carruagemseabriu combrutalidade revelandoaum lacaio

quelutavacomumguarda-chuva.Umarajadadeventoofezvoar.Matthewsaltou fora da carruagem molhando-se imediatamente pela chuva. Eleempurrouaolacaiocombrutalidade.— Entre — gritou entre o estrondo da tormenta. — Eu ajudarei à

senhoritaBowman.Olacaioinclinouacabeçaeseretirouprecipitadamenteparaacasa.

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Voltando-se para a carruagem, Matthew voltou para interior, tirou aDaisy, e a colocou com cuidado no chão. Conduziu-a por caminhoenlameadocaminhoàsescadas,nãosedetiveramatéqueatravessaramasoleiradacasa.O calor e a luz do vestíbulo os envolveu. Matthew levava a camisa

molhadapegaaocorpo,umtremoragradávelopercorreuantea ideiadesentar-sediantedofogodachaminé.—OH, querido— disse Daisy, sorrindo ao lhe apartar da frente uma

mechadecabeloquejorravaágua,—estáempapado.Uma donzela se aproximou pressurosa com um carregamento de

toalhas. Lhe dando as obrigado com uma leve inclinação de cabeça,Matthewsesecouocabeloeseenxugouaáguadacara.InclinouacabeçaparadeixarqueDaisylhealisasseocabelocomosdedos.Percebendo que alguém se aproximava,Matthew deu uma olhada por

cima seu ombro. Westcliff entro no vestíbulo. Tinha uma expressãoimpassível, mas havia algo em seus olhos, um ar de preocupação, queenviouumacorrentedeapreensãoatravésdasveiasdeMatthew.— Swift — disse o conde simplesmente, — recebemos umas visitas

inesperadasestatarde.Aindanãorevelaramomotivoquelhestemfeitovirsemanunciar-se,salvoqueéumassuntoqueconcerneavocê.Matthewsentiuumcalafriolhepercorrertodoocorpo,comosecristais

degeloseformaramentreseusossos.—Quaissão?—perguntouMatthew.—UmtalsenhorWendellWaring,deBoston…eumpardeagentesde

políciadoBowStreet.Matthewnãosemoveuenquantoassimilavaemsilêncioasnotícias.Uma

ondadedesesperootranspassou.Céus, pensou. Como lhe tinha encontrado Waring aqui na Inglaterra?

Como…OH céus, não tinha importância, tudo tinha terminado.Todososanos que lhe tinha roubado ao destino… sem dúvida agora o destino oscobrava. Seu coração retumbava frenético em seu peito. Não existianenhumlugarondeescapar,eemboraassimfora,averdadeéqueestava

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cansadodevivercommedo.SentiuapequenamãodeDaisynasua,masnãolhedevolveuapressão

deseusdedos.CravouosolhosnorostodoWestcliff.Oqueocondeviuemseuolharlhefezemitirumsuspiroprofundo.—Porcaria!—exclamouWestcliff.—Éalgomal,nãoécerto?Matthew só inclinou a cabeça por resposta. Apartou sua mão da de

Daisy.Elanão tratoude lhe tocaroutravez,odesconcerto se refletiaemseurosto.Depois de lhe observar em silencio durante um momento, Westcliff

endireitouosombros.—Bem,então...—dissecomdecisão,—entremoseesclareçamosisto.

Sejaoqueseja,estareiaseuladocomoamigo.—UmarisadabreveeincrédulaescapoudoslábiosdeMatthew.—Vocêaindanãosabedoquesetrata.—Nãofaçopromessasembalde.Venha.Estãonasalaprincipal.Matthewinclinouacabeça,sérioeresolvido.Estavasurpresodepoder

atuarcomosenadaocorresse,comoseseumundointeironãoestivesseaponto de derrubar-se. Tinha a sensação de que era somente umobservador. O medo nunca lhe tinha feito isso antes. Mas talvez fosseporquenuncatinhatidotantoqueperder.Daisyseadiantouaele,Westcliffadetevee lhesussurroualgo.Dirigiu

aocondeumarápidainclinaçãodecabeça,parecendotranquilizar-se.Matthew baixou o olhar. Lhe olhá-la provocava uma dor aguda na

garganta, como se lhe estivessem cravando um estilete. Desejou que ointumescimentovoltasse,elhealiviasseessador.Entraram na sala. Matthew se sentiu como um condenado no dia do

julgamento finalaoveroThomasBowman,Mercedes,eLillian.Enquantoseuolharpercorriaaestadia,escutouogritodeumhomem:—Éele!Derepente, sentiuumaviolentadordecabeça,aspernas lhe falharam

comosetornaramdeareia.Aluzexploravacomoummilhardediminutasestrelas enquanto a escuridão se abatia sobre ele,mas suamente lutava

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contraodesconcerto,tentandofracamenteaferrar-seaconsciência.Matthewdescobriuderepentequeestavanochão,sentindoalãáspera

do tapete sob sua bochecha. Algo úmido gotejava de sua boca. Tragou,notandoumsaborsalobre.Umsuavegemidovibrouemsuagarganta.Umador aguda se concentrava em sua nuca. Tinham-no golpeado com algumobjetoduro.Umas luzes chispavam detrás de seus olhos quando sentiu que o

levantavam, e atiravam de seus braços. Escutou gritos… de homensenfurecidos,eumguinchodemulher…Matthewpiscouparaesclarecersuavisão,masosolhoschoravamacausadador.Ataram-lheaspulsoscomumobjeto de ferro. Umas algemas, pensou, e a lembrança de sentir-sealgemadooencheudepânico.Gradualmenteasvozessevoltaramreconhecíveis.—Comoousam...—lordeWestcliffestavafurioso—…entraremminha

casaeassaltaraumdemeusconvidados?Sabemvocêsquemsoueu? lhetirem isso agora mesmo, ou os verei todos vocês apodrecendo-se noNewgate!Outravozlherespondeu:—Não,depoisdebuscá-lodurantetantosanos,nãopensopermitirque

escape.Era a voz do senhor Wendell Waring, o patriarca de uma família

enriquecida de Nova a Inglaterra. O segundo homem queMatthewmaisdesprezava no mundo, o primeiro tinha sido o filho do senhor Waring,Harry.Era curioso como um som ou um perfume podia trazer de volta ao

passado tão facilmente, sem importar quanto tinha lutado Matthew poresquecê-lo.—Eaonde...—perguntouasperamenteWestcliff.—.Vocêcrêquevai

fugir?—Estouautorizadopara retero fugitivoporqualquermeiodeminha

eleição.Vocênãotemdireitoaopor-se.Era evidente que Wescliff não estava acostumado a que alguém lhe

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dissessequeelenãotinhadireitoafazeralgo,especialmenteemsuacasa.EraaindamaisevidentequeWestcliffestavafurioso.Adiscussãosetornoumasviolentaqueatormentaquenessemomento

tinhalugarnoexterior,masMatthewperdeuofiodaconversaçãoquandosentiuumtoquegentilemsuacara.Sobressaltou-seeouviuosussurrodeDaisy.—Não.Ficaaquieto.Daisylhelimpouacaracomumpanoseco,lhesecandoosolhoseaboca,

empurrando para trás seu cabelo úmido. Ele se sentou com as mãosmaniatadasemseuregaço, lutandopor reprimirumuivodedor,olhou-aaosolhos.Daisy estava pálida, mas notavelmente tranquila. O desassossego

colocou duas franjas vermelhas no alto de suas bochechas, em contrastecontra sua pele pálida. Ela se ajoelhou sobre o tapete onde ele estavasentadoparaexaminarasalgemasquelhecapturavamasmãos.Haviaumaargola de ferro fechada ao redor de cada uma de suas pulsos e estavamunidasentreelascomumacadeia,eunidasaoutracadeiamaisgrosaqueutilizariaumagentedepolíciaparaguiá-lo.Levantando a cabeça, Matthew registrou a presença de dois fornidos

oficiais vestidos com o uniforme típico da polícia, calças brancas, fraquenegrodepescoçoalto,eumarígidacartola.Ambosguardavamsilêncio,lheolhando com severidade, enquanto Wendell Waring, Westcliff e ThomasBowmandiscutiamacaloradamente.Daisymanipulavanervosamenteafechaduradasalgemas.Ocoraçãode

Matthewseretorceudolorosamenteaoverqueelaintroduziaumalfineteparaocabelo.AshabilidadesdasirmãsBowmancomasfechaduraseramtristementecélebres,geradasporanosdeintentosfrustradosporpartedeseuspaispor lhes impordisciplina.MasasmãosdeDaisytremiammuitopara que ela pudesse abrir uma fechadura pouco familiar, e obviamentenão tinha sentido tentá-lo e conseguir lhe liberar. Céus... quem dera elepudesse afastar a de toda essa fealdade, de seu horrível passado…, delemesmo.

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—Não—sussurrouMatthew.—Nãovaleapena.Daisy,porfavor.—Afaste-seagoramesmo...—disseumdosoficiaisaoveroquetentava

Daisy.—..doprisioneiro,senhorita.—Dando-secontadequelheignorava,oagentedepolíciadeuumpassoadiantelevantandoumadesuasmãos.—Senhorita,hei-lhedito…— Não a toque— estalou Lillian, com tal ferocidade que causou um

silêncio momentâneo na estadia. Inclusive Westcliff e Waring seinterromperamsurpreendidos.Olhandoenfurecidaaoatônitoagentedepolícia,Lillianseaproximoude

Daisy e a separoude uma cotonoite. Falou-lhe comos agentes depolíciacommanifestodesprezo.—antesdequeseatrevamametocar,aconselho-lhesqueconsideremo

quepoderiaocorrercomsuascarreirassecorreravozdequemaltrataramàcondessadoWestcliffemsuaprópriacasa.—ElaextraiuumalfinetedeseucabeloeocupouolugardeDaisy,ajoelhando-sejuntoaoMatthew.Emquestãodesegundosoferrolhoseabriuliberandosuaspulsos.Antes de que Matthew pudesse agradecer-lhe Lillian se levantou e

continuoucomsuaacaloradaperoratacontraosagentesdepolícia.— Semdúvida são vocês umpar de oficiais de primeira, aceitando as

ordensdeum ianquemaleducadoqueabusadahospitalidadeda famíliaque lhes ofereceu refúgio em meio de uma tormenta. Obviamente, sãomuito estúpidos para ser conscientes do apoio financeiro e político quemeu marido disposta à nova polícia. Com apenas mover um dedo, elepoderia substituir aoMinistro do Interior e aoMagistradoChefe doBowStreetemquestãodedias.Assimqueeuemseulugar…—Peço-lhedesculpasmilady,masnão temoseleição—protestouum

dos fornidos agentes.— Têm ordens de conduzir ao senhor Phaelan aoBowStreet.—QuemmalditosinfernoséosenhorPhaelan?—exigiuLillian.Atemorizadoporeloquentejuramentodacondessa,oagentedepolícia

exclamou“aqueledali”,assinalandoaoMatthew.Consciente de que era o centro de todas as olhadas, Matthew adotou

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umaexpressãoimpassível.Daisyfoiprimeiraemreagir.AgarrouasesposasdocolodeMatthewe

se aproximou da porta, onde se tinha reunido um pequeno grupo deserventescuriosos.Depoisdeumpequenointercâmbiodepalavrasemvozbaixa,retornoueocupouumacadeirapertodeMatthew.—Eeuacreditavaquepassariaumatardeaborrecidaemcasa...—disse

secamenteLillian, tomandoassentoaooutro ladodeMatthew,dispostaadefendê-loseeranecessário.DaisysedirigiuaMatthewcomummurmúrio.—Esseéseunome?MatthewPhaelan?Elenãopodia responder, cadamúsculode seu corpo estava tensopor

rechaçoquelheproduziaessesobrenome.—Oé—gritouWendellWaring.O senhor Waring era um desses homens desafortunados cujas vozes

agudas resultavam inadequadas para suas pesadas proporções físicas.Apesardisso,Waringpossuíaoporteeoaspectodeumhomemdistinto,com uma grosa arbusto de cabelo prateado, costeletas perfeitamentecortadas e uma povoada barba branca. Ele emprestava ao velho Boston,com seu traje passado demoda e o custoso, embora gasto, casaco de lã.PossuíaumardeconfiançaemsimesmofrutodepertenceraumafamíliacomgeraçõesdegraduadosnoHarvard.Seusolhoseramcomopedrasdequartzosempolir,durosefrios,massembrilhoalgum.Equilibrando-se sobre Westcliff, Waring lhe arrojou um molho de

papéis.— Essa é a prova de minha autoridade sobre você — disse

venenosamente.—Aí temvocêumacópiadeumasolicitudediplomáticade arresto provisório da Secretária de Estado Americana. Uma cópia deumaordemdoSecretárioBritânicodo Interior,Sir JamesGraham,paraomagistrado chefe do Bow Street, que autoriza a detenção de MatthewPhaelan,aliásMatthewSwift.Alémdacópiadeumadeclaraçãojuradaquetestemunha…—SenhorWaring—lheinterrompeuWestcliffcomumasuavidadeque

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nãomitigavaaameaçaimplícitaemsuavoz.—Vocêpodemeenterraratéo pescoço com cópias de todas as ordens de arresto impressas domanuscritodoGutenberg.Masissonãosignificaqueváentregarlheaestehomem.—Nãotemoutraalternativa!Eleéumcriminosocondenadoquedeve

serextraditadoaosEstadosUnidos,apesardesuasobjeções.—Quenãotenhooutraalternativa?—OsolhosescurosdoWestcliffse

aumentaram, e um rubor cobriu seu rosto.— Juro queminha paciênciajamais foi provada como agora! Esta propriedade em que se encontraesteve em posse de minha família durante cinco séculos, e nesta terra,nestacasa,eusouaautoridade.Agora,meusenhorprocederáamecontarda maneira mais respeitosa possível, que acusações tem contra estehomem.Era impressionanteverMarcus, lordeWestcliff, encolerizado.Matthew

duvidava inclusive de que Wendell Waring, quem tinha amizade compresidentes e homens influentes, tivesse conhecido jamais a um homemcommaisautoridadenatural.Osdoisagentesdepolíciaolharamansiososaosdoishomensalternativamente.WaringnãoolhouaMatthewquandorespondeu,comosesuavista lhe

resultassemuitorepulsivaparatolerá-la.—Realmentenãoconhecemhomemquetêmantevocêsesefazchamar

Matthew Swift. Ele enganou e traiu a todos os que se cruzaram em seucaminho.Omundoseráumlugarmelhorquandoforexterminadocomooinsetoqueé.Quandochegaressedia…—Desculpe-me,senhor—lheinterrompeuDaisy,comumaexagerada

cortesiaqueraiavaabrincadeira,—masaomenoseu,prefeririaescutaraversão simples dos fatos. Não tenho nenhum interesse em ouvir suasopiniõessobreocaráterdosenhorSwift.—SeusobrenomeéPhaelan,nãoSwift—replicouWaring.—Eéfilho

deumbêbadoirlandês.FoiabandonadonoorfanatoCharlesRiverquandoera um bebê depois de que sua mãe tivesse morrido no parto. Tive adesgraça de cercar relação comMatthew Phaelan quando lhe comprei à

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idade de onze anos para que exercesse como companheiro e ajuda decâmarademeufilhoHarry.—Vocêocomprou?—repetiuasperamenteDaisy.—Nãosabiaqueos

órfãospodiamsercompradosevendidos.—Contratei,seoprefere—replicouosenhorWaring,olhando-a.—E

queméestasenhoritadescarada,queinterromperaseusmaiores?RepentinamenteThomasBowmanse introduziunodebate, seubigode

semovianervosamenteporcausadaira.—Éminhafilha—rugiu—etemminhapermissãoparafalarquandoo

desejar!Surpreendida por que seu pai saísse em sua defesa, Daisy lhe sorriu

brevemente,dirigindodenovosuaatençãoaoWaringinquiriu:—QuantotempoesteveosenhorPhaelanaseuserviço?—Duranteumperíododeseteanos.Eleatendiaameu filhoHarryno

internato,cumpriasuasordens,cuidavadeseusefeitospessoais,evoltavaparacasacomeleemférias.—CravouoolharnoMatthew,entreabrindoosolhosacusadoramente.Agora que suapresa estava assegurada, a fúria do senhorWaring deu

passo a uma severo resolução. Parecia um homem que tinha sofrido umcalváriodurantemuitotempo.— Não imaginávamos que estávamos abrigando a uma serpente em

nosso seio. Durante as últimas férias que Harry passou em casa, umafortunaemdinheiroemefetivoe joiasfoiroubadadacaixafortefamiliar.UmdosartigoseraumcolardediamantesquetinhapertencidoaosWaringdesde fazia um século.Meu bisavô o tinha comprado à Arquiduquesa daAustria.Oroubosópôdeserperpetradoporalguémdafamília,ouporumserventedeconfiançaquetivesseacessoàchavedacaixa.Todasasprovasassinalaramaumapessoa.MatthewPhaelan.Matthewpermaneciaemsilêncio.Suaatitudeeraserena,massentiaum

caos em seu interior. Conteve-o com grande esforço, sabendo que nãoganharianadadeixando-selevarpordesespero.—Ecomosabevocêqueafechaduranãofoiforçadaporumladrão?—

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exclamouLillianalgo,masacalmada.—Acaixafortetinhaummecanismodesegurança—respondeuWaring

—queabloqueavanocasodequeafechaduraforamanipuladacomumagazua. Só uma chave professora ou a chave original podiam abri-la. EPhaelan sabiaondeestavaa chave.Devezemquando lheordenava tirardinheirooubenspessoaisdacaixaforte.— Ele não é nenhum ladrão!—Matthew ouviu comoDaisy replicava

colérica, lhedefendendoantesdequeelemesmopudessedefender-se.—Nuncaseriacapazdelheroubarnadaaninguém.—UmjuradodedozehomensnãoesteveTudobemcomessavaloração

— ladrou oWaring, com renovada cólera.— Phaelan foi condenado porfurtomaioresentenciadoaprisãodurantequinzeanos.Fugiuantesdequepudessemlheencerrar,edesapareceu.Tendo assumido que Daisy se afastaria dele ao conhecer a verdade,

Matthew se precaveu assombrado de que ela arrastou sua cadeira maisperto. Uma de suas mãos pressionou ligeiramente seu ombro. Nãoexteriorizou sua reação ante esse ligeiro toque, mas seus sentidosabsorveramavidamenteocontatodeseusdedos.—Comomeencontrou?—perguntouMatthewroncamente,obrigando-

seaolharaoWaring.Otempotinhamudadoaohomemdeformasutil.Asrugasemsuacaraeramumpoucomaisprofundas,eseusmaçãsdorostoeramalgomaisproeminentes.— tive ahomens lhebuscandodurante anos—disseWaring comum

toque melodramático que seus colegas bostonianos certamente teriamencontrado excessivo. — Sabia que não poderia permanecer escondidoindefinidamente. Entregou-se uma grande doação anônima ao orfanatoCharles River. Suspeitei que você estava detrás disso,mas foi impossívelpenetrar atravésdo exércitode advogados e testas-de-ferro. Logopenseiquevocêpoderiatentarencontraraseupai.Seguimosapista,eporpreçode uns quantos goles ele nos disse tudo o que precisávamos saber, seunome falso e sua direção emNova Iorque.—A voz doWaring destilavadesprezo quando acrescentou:—Lhe venderampor equivalente de cinco

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raçõesdeuísque.Matthewconteveofôlego.Sim...eletinhaencontradoaseupai,etinha

decidido contra toda razão confiar nele. A necessidade de conexão comalguém,oualgo,tinhasidomuitoentristecedora.Seupaieraumaruínadeserhumano, tinha ficadodolorosamenteclaroparao jovemMatthewquenãopoderia fazernadaporele,salvo lheencontrarumlugarparaviverepagarsuamanutenção.CadavezqueMatthewtinhaconseguidolhefazerumavisitaemsegredo,

haviagarrafasamontoadasportodaparte.“Sealgumavezmenecessitar”,havia-lhe dito a seu pai, pressionando uma nota dobrada em sua mão,“buscamenestadireção.Nãodevedar-lheaninguémEntende?”.Seupai,sobosefeitosdoálcool,haviaditoquesim,queentendia.Se alguma vez me necessitar… Matthew tinha desejado

desesperadamentesernecessárioparaalguém.Esteeraopreçoqueteriaquepagarporaqueladebilidade.—Swift—lheperguntouThomasBowman,—sãocertasasacusações

doWaring?—seuhabitualvozeirãoestavatingidocomumanotadepesar.—Nãodotodo—Matthewpasseouoolharpeloquarto.Oqueeletinha

esperadoveremseusrostos,condenação,medo,cólera,simplesmentenãoestava ali. Inclusive Mercedes Bowman, que não era exatamente umamulhercompassiva,olhava-lhecomoqueelequasepoderiajurarqueeraamabilidade.Repentinamente se precaveu que se encontrava em uma posição

diferenteaque tinhaanosatrás,quandoeleeraumhomempobree semamigos.Eletinhaestadoarmadosócomaverdade,quetinhaprovadosercertamente insuficiente. Entretanto, agora ele tinhadinheiro e influência,alémdealiadospoderosos.EsobretudotinhaaDaisy,quepermaneciaemsilêncio apoiada em seu ombro, fortalecendo-o e confortando-ointernamente.OsolhosdeMatthewseestreitaramcomdesafioaoenfrentar-secomo

olharacusadordoWendellWaring.Tantosegostavacomosenão,Waringteriaqueescutaraverdade.

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Capítulo18

— Fui o ajuda de câmara do Harry Waring — começou Matthew

bruscamente.—E lheservi fielmente,emborasempresoubequeelenãome considerava um ser humano. Desde seu ponto de vista os serventesforam iguais aos cães. Existia só para sua conveniência. Meu trabalhoconsistia em assumir a culpa de todas suas maldades, suportar seuscastigos, reparar o que ele rompia, conseguir o que ele necessitava.Inclusivesendotãojovem,Harryeraumesbanjadorarrogantequepensavaquepoderiasair impunedealgo, inclusiveoassassinato,graçasàposiçãodesuafamília…—Nãoconsentireiquelhedifame!—exclamouosenhorWaringforade

si.—Você teve suaoportunidade—bramouThomasBowman.—Agora

queroouviroSwift.—Essenãoéseunome…— lhe deixe falar— exclamouWestcliff com voz gélida, resolvendo a

questão.Matthewdedicouaocondeumabreveinclinaçãodecabeçaemsinalde

agradecimento.SuaatençãosedesvioufaziaDaisyquesesentouemumacadeiraaseulado.ElaaproximoupoucoapoucooassentoparaMatthewatéquesuapernadireitaficoumédioocultabaixoasdobrasdesuasaia.—Fui comoHarry àBostonLatin— continuouMatthew—e logo ao

Harvard. Dormia nos aposentos dos serventes no porão. Estudava osapontamentosdeseusamigosparaasclassesàsqueHarrynãoassistia,eredigiasuastarefas…— Isso é mentira! — gritou Waring. — Você, que foi educado pelas

monjasdeumorfanato,estáloucosepensarquealguémvaiacreditarte.Matthewsepermitiuumsorrisozombador.

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—Aprendimais dessasmonjas do queHarry aprendeu jamais de sualarga lista de tutores. Harry estava acostumado a dizer que ele nãonecessitavaumaeducaçãopostoquedispunhadeumpoderososobrenomeededinheiro.Maseunão tinhanenhumadasduascoisas, eminhaúnicaoportunidadeera aprender todoopossível coma esperançadeascenderalgumdia.—Ascender?—perguntou-lheWaringcommanifestodesdém.—Não

foi mais que um criado, um criado irlandês, não tinha nenhumapossibilidadedeteconverteremumcavalheiro.UmameiasorrisocruzouacaradeDaisy.— Isso é precisamente o que ele fez emNova Iorque, senhorWaring.

Matthew ganhou um lugar por si mesmo no mundo dos negócios e nasociedade;ecertamenteseconverteuemumcavalheiro.—Sobuma identidade falsa—replicouWaring.—Estehomemnãoé

maisqueumafraude,acasonãoovê?— Não — respondeu Daisy, olhando diretamente ao Matthew, seus

olhosescurosbrilhavam.—QuandooMirovejoumcavalheiro.Matthew quis beijar seus pés. Em lugar disso, apartou com esforço o

olharecontinuou.—FiztudooquepudeparamanteraoHarrynoHarvard,enquantoele

pareciafirmementedecididoaganhá-laexpulsão.Eraaficionadoàbebida,aojogoe…—Matthewvacilouaorecordarquehaviasenhoraspressente—…aoutrascoisas—concluiu.—Seusvíciospioraram.Seusgastosmensaissuperaramcommuitosuaatribuição,e suasdívidasde jogoaumentaramtantoquecomeçouapreocupar-se.Deram-lhemedoas repercussõesqueteria que confrontar quando seu pai conhecesse a extensão de seuproblema.Comosempre,Harry,procurouasaídamaisfácil.Oqueexplicaoqueocorreuaquelasfériasnasqueacaixafortefoiroubada.SoubequandoHarryjáotinhafeito.—Issosãosómentirasvenenosas—explorouWaring.—Harryme assinalou com o dedo— disseMatthew,— em lugar de

admitir que se viu obrigado a roubar a caixa forte para cancelar suas

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dívidas. Decidiu me usar como cabrito expiatório para salvar sua pele.Naturalmentesuafamíliaacreditouemsuapalavraporcimadaminha.— Sua culpabilidade foi provada nos tribunais — repôs Waring

severamente.—Nadafoiprovado—Matthewferviadecólera,erespiroufundopara

recuperarocontrole.SentiuamãodeDaisyprocurandoasua,eaagarrou.Agarrou-amuito forte,mas ao parecer não podia controlar-se.—Aquelejulgamento foiumafarsa—disseMatthew.—Os informeseprepararamapressadamente.Meu advogadode ofício dormiu, literalmente, durante amaiorpartedoprocesso.Nãoseapresentounenhumaprovaconcludentequemeassociassecomoroubo.UmserventedeumdoscompanheirosdoHarrymeinformouqueouviucomoHarryedoisamigosmaisplanejarammeincriminar,masestavamuitoassustadoparaatestar.—VendoqueosdedosdeDaisysevoltavambrancospelapressão,Matthewseesforçouporrelaxar-se.Acaricioubrandamentecomopolegarseusnódulos.—Tiveumgolpedesorte—continuousimplesmente—quandoumrepórterdoDailyAdvertiser escreveu um artigo sobre as dívidas de jogo do passado doHarry, e revelando que essas mesmas dívidas casualmente tinham sidocanceladas imediatamente depois do roubo. Como resultado do artigohouveumprotestopúblicopelaóbviaparodiadoprocessojudicial.—Eaindaassimfoivocêcondenado?—perguntouLillianindignada.Matthewsorriucomamargura.—Ajustiçapodesercega—disse,—masadoraosomdodinheiro.Os

Waringerammuitoscapitalistas,eeutãosomenteumserventepobre.—Comoconseguiuescapar?—perguntouDaisy.Asombradeumsorrisoamargosedesenhouemseurosto.— Foi algo inesperado tanto para mim como para todos outros.

Permanecia encerrado em um furgão, estava previsto que saísse para aprisãoestatalantesdoamanhecer.Ofurgãosedetevesemmotivoaparenteemuma zona deserta da estrada. Repentinamente a porta se abriu, e fuitirado para o exterior por meia dúzia de homens. Assumi que ia serlinchado. Mas me disseram que eram cidadãos compassivos decididos a

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emendar uma ofensa. Puseram-me em liberdade e os guardas do furgãonão opuseram nenhuma resistência, deram-me um cavalo, ao chegar aNovaIorque,vendiocavalo,ecomeceiumanovavida.—porqueescolheuosobrenomeSwift?—perguntouDaisy.—Paraentão já tinhaaprendidoo imensopoderquepossuiumnome

prestigioso.EosSwiftsãoumafamíliamuitonumerosa,commuitosramos,acrediteiqueeraalgoquemeajudariaapassarinadvertido.ThomasBowmanfalouentão,comorgulhoferido.—porquemepediuumemprego?Pensoumefazerpassarportolo?Matthew olhou aos olhos, recordando sua primeira impressão do

Thomas Bowman… um homem poderoso disposto a lhe dar umaoportunidade, muito ocupado com seu negócio para pedir referências.Ardiloso, obstinado, imperfeito, resolvido… a figura masculina maisinfluentenavidadeMatthew.— Nunca— respondeuMatthew sinceramente.— Sempre o admirei.

Queriaaprenderdevocê.E…—sentiuumnónagarganta—…sempretevevocêmeurespeitoeminhagratidão,etambémmeuafeto.AcaradoBowmanavermelhoueinclinouacabeçaligeiramente,comos

olhosbrilhantes.Waring tinha a aparência de um homem desprezo, sua compostura

destroçada comoumcopobarato. FulminouaMatthewcomumolhardeódio.—Estátratandodemancharamemóriademeufilhocomsuasmentiras

—disse.—Nãooconsentirei.Crestequeseviajavaaumpaísestrangeironinguémpoderia…—Suamemória?—Matthewlheolhoucomsurpresa,aturdido.—Harry

estámorto?— Por você culpa! Depois do julgamento houve rumores, mentiras,

dúvidas que nunca desapareceram Os amigos do Harry lhe evitavam. Amancha em sua honra arruinou sua vida. Se tivesse admitido suaculpabilidade, se tivesse completo sua condenação, Harry ainda estariacomigo. Mas as infames suspeita cresceram com o passado do tempo, e

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viverbaixoessasombralhefezbebereviverimprudentemente.—Pelovisto—disseLilliansarcasticamente,—seufilhojásededicava

aissoantesdojulgamento.Lilliantinhaumtalentosingularparaempurraràspessoasalémdeseus

limites.Waringnãofoiumaexceção.—Estehomeméumcriminososentenciado!—Waringcarregoucontra

ela.—Comoseatreveaacreditaremsuapalavraantesquenaminha!Westcliff lhe alcançou em três pernadas, mas Matthew já se colocou

diantedeLillian,protegendoadafúriadoWaring.— Senhor Waring — disse Daisy no meio do tumulto, — por favor

controle-se. Certamente é conscientedeque estáprejudicando sua causacomessecomportamento.—Suatranquilalucidezconseguiutranspassarafúriadohomem.WaringdirigiuaDaisyumolharestranhamenteimplorante.—Meufilhoestámorto.EPhaelanéoculpado.— Embora assim fora, isso não devolverá a seu filho — disse ela

simplesmente.—Tampoucohonrarásuamemória.—Trarápaz—gritouWaring.AexpressãodeDaisyeraséria,seuolharcompassivo.—Estásegurodisso?Todosospressente seprecaveramdeque isso era algoque jánão lhe

importava.Waringestavaalémdetodarazão.—espereimuitosanosepercorrimilharesdemilhasparachegaraeste

momento — disse Waring. — Não penso renunciar. Você examinou osdocumentos,Westcliff.Nemsequervocêestáporcimadalei.Osagentesdepolíciatêmordensdeusaraforçasefossenecessário.Vocêmeentregaráissoagora,estanoite.— Acredito que não.— Os olhos doWestcliff eram duros como uma

rocha.—Seriaumaloucuraviajaremumanoitecomoesta.Astormentasprimaveris no Hampshire podem ser violentas e imprevisíveis. VocêpassaráanoiteemStonyCrossParkenquantoconsiderooquedevefazer-se.

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Osagentessemostraramvagamentealiviadosporessasugestão,postoquenenhumhomemsensatoquereriaaventurar-seatravésdeumdilúvio.—EdaraoPhaelanaoportunidadedeescapardenovo?—perguntou-

lhe o senhor Waring desdenhosamente. — Não. Você o porá sob minhacustódia.—Temminhapalavradequenãofugirá—replicouWestcliff.—Suapalavranãoésuficienteparameu—replicouWaring.—Éóbvio

queestávocêdesuaparte.Apalavradeumcavalheiroinglêsoeratudoeéobviopô-laemdúvida

era o pior insulto inimaginável. Matthew estava assombrado de queWestcliffconseguisseconter-se.Suastensasbochechastremiamporcausadaafronta.— Boa a tem feito você — resmungou Lillian, soando bastante

atemorizada.Inclusivenaspioresdiscussõescomseumarido,elanuncaseatreveuaduvidardesuahonra.—Vocêselevaráaestehomem...—disseWestcliffaoWaringcomum

tomletal.—..sobremeucadáver.NessemomentoMatthewseprecaveudequeasituação tinhachegado

muitolonge.ViuamãodoWaringintroduzir-senobolsodeseucasaco,otecido se avultava por causa de algum objeto pesado, e vislumbrou aculatradeumapistola.Éobvio.Umaarmaeraumsegurocontundenteemcasodequeosagentesresultassemserineficazes.—Espere—disseMatthew.Elediriaoufariaoqueforanecessáriopara

evitar que tirasse a pistola. Se isso chegava a ocorrer, a confrontação seincrementaria até chegar a ser perigosa para todos os pressente.— Ireicom você — cravou os olhos no Waring, querendo tranquilizá-lo. — Oprocesso se pôs emmarcha.O céu sabe que não posso evitá-lo pormaistempo.—Não!—gritouDaisy,lhearrojandoosbraçosaoredordopescoço.—

Nãoestaráasalvocomele.— Sairemos agora mesmo — disse Matthew ao Waring, enquanto

cuidadosamentesedesfaziadoabraçodeDaisyeadefendiacomseucorpo.

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—Nãopossopermiti-lo—repôsWestcliff.Matthewlheinterrompeucomfirmeza.—Seráomelhor.—QueriaaoenfurecidoWaringeaosdoisagentesfora

deStonyCrossParkoantespossível.—Ireicomeles,etodoseesclareceráemLondres.Estenãoéomomentonemolugarparadiscuti-lo.O conde jurou simplesmente. Como bom estrategista, Westcliff

compreendeuquenomomentoestavaemdesvantagem.Estanãoeraumabatalha que pudesse ser ganha pela força bruta. Requereria dinheiro,muitostrâmiteslegais,einfluênciaspolíticas.—IreiaLondrescomvocês—disseWestcliffcomdecisão.— Impossível — repôs Waring. — A carruagem dispõe de quatro

lugares.Ocuparemostãosomenteosagentesdepolícia,oprisioneiroeeu.—Seguireiemminhacarruagem.—Acompanharei—dissedecididoThomasBowman.LordeWestcliff apartou aMatthew a um lado, posando amão em seu

ombrocomumapressãofraternalelhedissesimplesmente.— Conheço bastante bem ao magistrado do Bow Street. Verei que

compareçaanteelelogoquecheguemosaLondresepedireiquesejapostoemliberdadeimediatamente.Hospedaremosemminharesidênciaprivadaenquanto esperamos uma petição formal do embaixador americano.Enquantoissocongregareiaumregimentodeadvogadoseutilizareicadafibradeinfluênciapolíticadequedisponha.Matthewlogoquepodiafalar.—Obrigado—conseguiudizer.—Milorde— perguntouDaisy insegura,— conseguirão extraditar ao

Matthew?AsfacçõesdoWestcliffseendureceramcomarrogantecerteza.—Absolutamente.Daisydeixouescaparumarisadainsegura.— Bem — disse, — vou confiar em sua palavra, milorde, embora o

senhorWaringnãoofaça.—ParaquandotiverterminadocomoWaring…—resmungouWestcliff,

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negando coma cabeça.—meDesculpem,mas devo avisar aos serventesparaquepreparemminhacarruagem.Quandoocondesaiu,DaisylevantouoolharparaMatthew.— Agora compreendo tantas coisas — disse ela. — Porque não me

queriacontarisso—Sim—suavozerarouca.—Sabiaqueeraalgomuitomal.Sabiaque

teperderiaquandosoubesseaverdade.— Não pensou que eu o compreenderia? — perguntou Daisy com

seriedade.— Não sabe quão horrível foi. Ninguém me acreditava. Os fatos não

importavam.Depoisdeteracontecidoporisso,acrediteiqueninguémteriaféemminhainocência.—Matthew—disseelacomsimplicidade,—sempreacreditareiemti.—porque?—sussurrouele.—Porqueteamo.Aspalavrasodevastaram.—Nãotemquedizerisso.Não…—Amo-te— insistiuDaisy, agarrando seu colete comasmãos.— lhe

Deveria haver dito isso antes; quis esperar a que confiasse em mim osuficienteparadeixardemeocultarseupassado.Masagoraquejáconheçoopior...—Fezumapausa comum sorriso sarcástico.—Porque isto eratudonãoécerto?Nãohánadamaisquequeiraconfessar?Matthewassentiucomacabeça,aturdido.—Sim.Não.Istoétudo.Suaexpressãosevoltoutímida.—Nãovaisdizermequemeama?—Nãotenhodireitoatedizer isso—disseele.—Nãoatéqueistose

solucione.Nãoatéquemeunomeseja…—DigameexclamouissoDaisy,dandoumpuxãoaseucolete.—Amo-te—resmungouMatthew.Porcaria,quebemsesentiudizendo-

lhe.Elaatiroufortementedeleoutravez,estavezcomoumgestodeposse,

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umaasseveração.Matthewresistiu,colocandoasmãosemseuscotovelos,sentindoocalordesuapeleatravésdotecidoúmidodeseuvestido.Apesardo inapropriado da situação, seu corpo pulsou com desejo. Daisy, nãoquerotedeixar…—IreiaLondrescontigo—aouviumurmurar.—Não.Fiqueaquicomsuairmã.Nãoqueroverteenvoltaemtudoisto.—Agora jáéumpouco tardepara issoverdade?Comosuaprometida

tenhoalgomaisqueuminteressepassageironoresultado.Matthewinclinouacabeçasobreadela,suabocaroçouligeiramenteseu

cabelo.— Serámais difícil paramim se estiver ali— disse simplesmente.—

Preciso saber que está a salvo aqui no Hampshire. — lhe apartando asmãos de seu colete, aproximou-as de seus lábios e as beijouapaixonadamente.— Vê o poço amanhã— sussurrou.— vou necessitaroutrodesejodecincodólares.OsdedosdeDaisyestreitaramosdele.—Melhorumdedez.Matthewseseparoudelaaoadvertirquealguémseaproximava.Eram

osdoisagentesdepolícia,pareciammal-humorados.— É obrigatório que os infratores da lei levem postas as algemas

duranteotransladadoaoBowStreet—disseumdeles.DirigiuaDaisyumolhar severo. — Desculpe-me, senhorita, mas o que tem feito com asalgemasquelhetirouaosenhorPhaelan?Daisyvoltouaoolharparaeleinocentemente.—Asdavaaumadonzela.Temo-mequeétremendamentedespistada.

Provavelmenteasextraviou.—Porondedeveríamoscomeçaraprocurar?—perguntouooficialcom

umsuspirodeimpaciência.Comexpressãoimpassívelrespondeu:—Sugiro-lhequecomecepelosurinóis.

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Capítulo19

Porcausadesuaprecipitadasaída,MarcuseBowmanlevavampoucos

efeitos pessoais, alémde umamuda de roupa empacotada depressa e osmaisbásicosartigosdeasseio.Sentadosumfrenteaooutronacarruagemdafamília,logoqueconversaram.Oventoeachuvagolpeavamoveículo,eMarcuspensoucompreocupaçãonocondutoreoscavalos.Eratemerárioviajarcomestetempo,masMarcusestariacondenadose

deixassequeMatthewSwift…Phaelan… fora levado longedeStonyCrosssem nenhum amparo. E era óbvio que a busca de vingança do WendellWaringtinhaalcançadoextremosirracionais.Daisy tinha sido ardilosa em seus comentários para o Waring, lhe

fazendo ver que acusar a alguémpelos crimes queHarry tinha cometidonãodevolveriaaseufilho,nemhonrariasuamemória.Masemsuamente,esta era a última coisa que Waring podia fazer por seu filho. EpossivelmenteseconvenceudequeencarceraraMatthewdemonstrariaainocênciadoHarry.HarryWaring tinha tratadode sacrificar aMatthewpara encobrir sua

própriacorrupção.MarcusnãopodiapermitirqueWaringWendelltivesseêxitoondeseufilhotinhafalhado.—Duvidavocêdele?—perguntouThomasBowmanderepente.Olhou-

omaispreocupadodoqueMarcusotinhavistonunca.SemdúvidaistoeraextremamentedolorosoparaoBowman,queamavaaMatthewSwiftcomoaum filho. Possivelmente aindamais que a seuspróprios filhos.Não eraestranho que entre os dois se formou um forte laço de união. Swift, umjovemórfãodepai,eBowman,quemnecessitavadealguémaquemdirigireservirdementor.— Pergunta você se duvidar do Swift? Não, absolutamente. Encontrei

suaversãoimensamentemaisacreditávelqueadoWaring.

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—Tambémeu.EconheçoocaráterdoSwift.Possolheassegurarqueemtodosmeusnegócioscomele, sempresecomportoucomoumhomemdeprincípiosemuitohonesto.Marcusriuligeiramente.—Podealguémsermuitohonesto?Bowman se encolheu, e seu bigode se moveu nervosamente com

relutantediversão.—Bom… a honestidade extrema às vezes pode ser uma desvantagem

nosnegócios.Oestalidodeumrelâmpagosoouperigosamenteperto,provocandona

nucadoMarcusumaespetadadeadvertência.— Isto é uma loucura — resmungou. — Terão que parar-se em um

botequimlogo,seaindapodemfazê-lopassandoafronteiradoHampshire.Algumasdosriachoslocaistêmcorrentesmaisfortesqueadealgunsrios.Considerando a quebra de onda de enchentes, os caminhos serãoinfranqueáveis.—Deus,issoespero—disseThomasBowmanferventemente.—Nada

meagradariamaisqueveroWaringeaessesdois idiotas incompetentessendoobrigadosavoltarparaoStonyCrossParkcomoSwift.Acarruagemdiminuiuavelocidadeeseparouabruptamente,enquanto

achuvaesmurravacomomilharesdepunhoscontraoexteriorlaqueado.—Oqueacontece?—Bowmanlevantouacortinatratandodeveralgo

atravésdajanela,masnãopodiavernadaexcetoaescuridãoeachuvaquecaíaalhescantarsobreocristal.—Maldição—disseMarcus.Depois de uns pancadas nervosos, a porta se abriu de um puxão

mostrandoapálidacaradocondutor.Comsuacartolanegraeacapaquesemesclavacomapenumbra,pareciaumacabeçasemcorpo.—Milorde—ofegou,—ocorreuumacidenteaídiante…devemdever

ver…Marcus saltou da carruagem, um golpe de fria chuva o golpeou com

força.Arrancouofaroldacarruagemdeseusuporteeseguiuaocondutor

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atéumriachoquecruzavajustopordiante.—Cristo—sussurrouMarcus.A carruagemque levava aoWaring e aMatthew se deteve sobre uma

singelapontedevigasdemadeira,umdeseusladosseretorceuapartando-sedaborda e agora estava tombadoemdiagonal aooutro ladodo rio.Aforçadaenfurecidacorrentetinhaderrubadopartedaponte,deixandoasrodas traseiras da carruagem média inundadas na água enquanto oscavaloslutavamemvãoporsair.Balançando-separafrenteeparatrásnaáguacomoobrinquedodeummenino,aponteameaçouseparando-sedaoutraborda.Não havia nenhum modo de alcançar a carruagem estado parada. A

ponte se separoudo ladomaispróximoaeles, e seriaumsuicídio tentarcruzaracorrente.—meudeus,não—ouviuexclamaraoThomasBowmancomhorror.Sópodiamobservarcomimpotênciacomoocondutordacarruagemdo

Waring lutava por salvar aos cavalos, desabotoando freneticamente ascorreiasdoseixosdocarro.Ao mesmo tempo, a porta mais alta da carruagem que continuava

afundando-se foi aberta a empurrões, e uma figura começou a subirlentamentecomevidentedificuldade.— É Swift? — demandou Bowman, aproximando-se da borda tanto

como se atreveu.— Swift!—Mas seu bramido foi tragado por ruído datormenta, o rugido da corrente e os ferozes rangidos da ponte que sedesintegrava.Entãotudopareceuacontecersimultaneamente.Oscavalossaltaramda

ponteàsegurançadaborda.Sobreaponte,moviam-seumaouduasfigurasescuras,ecomumalentidãoglacial,quasemajestosa,apesadocarruagemdesaparecia na água. Afundou-se pela metade, conservando a sua débilflotabilidade durante um breve momento…, mas então as luzes dacarruagemseextinguirameoveículoflutuousemrumo,deflanco,àderivanafuriosacorrentequeoarrastourioabaixo.Daisy tinha dormido só de maneira intermitente, incapaz de deter a

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carreira de seus pensamentos. Despertou-se repetidamente durante anoite,perguntando-sequepassariaaoMatthew.Temiaporseubem-estar.Só o conhecimento de queWestcliff estava com ele, ou aomenos perto,manteve-arazoavelmentetranquila.SeguiarevivendoosmomentosnasalaquandoMatthewfinalmentelhe

tinha revelado os segredos de seu passado. Que vulnerável e só parecia.Quecargatinhalevadotodosestesanos…equantocoragemeimaginaçãotinhanecessitadoparareinventar-seasimesmo.Daisy sabia que não seria capaz de esperar no Hampshire por muito

tempo.QueriaverMatthewdesesperadamente,lhetranquilizar,defendê-locontraomundosefossenecessário.Mais cedo, essa tarde,Mercedes lhe tinhaperguntado se as revelações

sobreMatthewtinhamafetadosuadecisãodecasar-secomele.— Sim— tinha respondido Daisy. — Estou ainda mais decidida que

antes.Lillian se tinhaunidoà conversação, admitindoqueestavamuitomais

predisposta a aceitar a Matthew Swift depois do que tinham aprendidosobreele.—Embora—tinhaacrescentado,—seriabastanteagradávelconhecer

qualvaiserseufuturoapelidodecasada.—OH, o que é um sobrenome?— tinha chamadoDaisy, tirando uma

folhadepapeldoescritórioemovendo-senervosamentecomele.—Oqueestasfazendo?—tinha-lheperguntadoLillian.—Nãomediga

quevaisescreverumacartaagora?—Nãoseioquefazer—tinhaadmitidoDaisy.—Pensoquedeverialhes

enviarumamensagemaAnnabelleeEvie.—Elaso averiguarãobastante logoporWestcliff—disseLillian.—E

nãoestarãonemumpouquinhosurpreendidas.—porquedizisso?—Comsuaafeiçãopelashistóriascomgirosdramáticosepersonagens

compassadosmisteriosos,eraumaconclusãoóbviapensarquenão teriaumnoivadotranquilonemordinário.

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—Sejacomofor—tinharespondidoDaisyironicamente,—umnoivadotranquiloeordináriomeparecemuitoatrativonestemomento.Depois de um sonho agitado, Daisy despertou pela manhã quando

alguémentrouemseudormitório.Aoprincípioacreditouqueeraacriadaquedeviaacenderachaminé,maseramuitocedo.Oamanheceraindanãotinhachegado,eachuvatinhaidoamainandoatéumagaroaplúmbea.Erasuairmã.—bomdia—disseDaisycomvozrouca,sentando-seeespreguiçando.

—porqueestálevantadatãocedo?Obebêestáirritável?—Não,estádescansando.—Suavozsoavaenrouquecida.Levandouma

pesadabatadeveludoeseucabeloemumatrançafrouxa,aproximou-sedacamacomumataçadecháquentenamão.—Toma.Daisy franziu o cenho e obedeceu, olhando como Lillian se obrigava a

sentar-senabordadocolchão.Issonãoerahabitual.Algotinhapassado.— O que acontece? — perguntou com um sentimento de pavor que

descendialentamenteporsuacoluna.Lilliancabeceouparaataçadechá.—Issopodeesperaratéqueestejaumpoucomaisacordada.Eramuito logo para que tivesse chegadoqualquer notícia de Londres,

refletiuDaisy.IstonãopodiateralgoquevercomMatthew.Talvezsuamãeestavadoente.Talvezalgoterríveltinhapassadonopovo.Depoisdetragarunsquantossorvosdechá,Daisyseinclinouparapôra

taçasobreamesinhadenoiteelhedevolveuaatençãoasuairmã.—Istoétudoquãoacordadavouestarhoje—disseela.—meDigaisso

agora.Esclarecendo asperamente sua garganta, Lillian falou com uma voz

grosa.—Westcliffepaitornaram.—Oque?—aturdida,Daisyaolhoufixamente.—porquenãoestãoem

LondrescomMatthew?—EletampoucoestáemLondres.

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—Entãotodosretornaram?Lillianforçouumapequenasacudidacomsuacabeça.—Não.Sintomuito.Estou-meexplicandomuitomal.Eu…lhedireiisso

sem rodeios. PoucodepoisdequeWestcliff e pai deixassemStonyCross,suacarruagemtevequeparar-sedevidoaumacidenteocorridodiante,naponte.Conheceavelhapontelhechiemqueteráquecruzarparachegaraocaminhoprincipal?—queatravessaopequenariacho?—Sim.Bom,oriachonãoétãopequenoagora.Graçasàtormenta,éum

grande rio impetuoso. Ao parecer a corrente foi debilitando a ponte, equandoacarruagemdesenhorWaringtratoudecruzarsederrubou.Daisy ficou imóvel, confundida. A ponte se derrubou. Ela se repetia as

palavras, mas pareciam tão impossíveis de interpretar, como sepertencessemaalgumaantigalínguajáesquecida.Comesforço,elapôsemordemseuspensamentos.—salvaram-setodos?—ouviu-seperguntar.—TodosmenosMatthew.—AvozdeLilliantremeu.—Ficouapanhado

nacarruagemquandofoimiserávelrioabaixo.—Eleestábem—disseDaisyautomaticamente,enquantoseucoração

começava a golpear como um animal selvagem enjaulado. — Ele sabenadar.Provavelmenteterminourioabaixosobreumadasbordas…alguémtemquebuscá-lo…— Estão procurando por toda parte— disse Lillian.—Westcliff está

organizado uma busca a grande escala. Passou a maior parte da noiteprocurando e voltou faz um momento. A carruagem se fez pedaços rioabaixo. Não havia rastro de Matthew. Mas Daisy … um dos guardasconfessou aWestcliff…— se deteve e seus olhos negros brilharam comfuriosaslágrimas—…reconheceu…—continuoucomesforço—…queasmãosdeMatthewestavamatadas.As pernas de Daisy se moveram sob os lençóis, dobrou seus joelhos,

rendendo-se. Seu corpo queria ocupar tão pouco espaço físico como forapossível,retrocedendoanteestanovarevelação.

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—Mas,porque?—sussurrou.—Nãohavianenhumarazão.Decidida amandíbula de Lillian tremeu quando tratou de recuperar o

controledesuasemoções.—JogodedadososantecedentesdeMatthew,disseramquehaviarisco

defuga.MasacreditoqueWaringinsistiunissoporrancor.Daisysesentiuenjoadaporbatimentodocoraçãoensurdecedordeseu

próprio pulso. Estava assustada, e ao mesmo tempo uma parte dela sesentia estranhamente isolada. Brevemente evocou uma imagem deMatthew,lutandonaságuasescuras,suasmãosatadas,golpeando…—Não—disse,pressionandosuapalmascontraoviolentobatimento

do coração de suas têmporas. Sentiu-se como se milhares de agulhascravassem seu crânio. Não podia respirar bem. — Não teve nenhumapossibilidade,verdade?Lillian negou com a cabeça e apartou o olhar, enquanto as lágrimas

escorregavamporsuasbochechas,caindosobreacolcha.Que estranho, pensou Daisy, que ela não chorasse também. Uma

calorosa pressão crescia detrás de seus olhos, no mais profundo de suacabeça, fazendo que lhe doesse o crânio. Mas parecia que suas lágrimasesperavamalgumpensamentooupalavraqueprovocassesualiberação.Daisycontinuoupressionandosuaspalpitantestêmporas,quasecegada

peladordecabeçaquandoperguntou:—EstáchorandoporMatthew?—Sim—Lilliantirouumlençodamangadesuabataesesoouonariz.

—Massobretudoporti.—inclinou-sesobreaDaisyparaestreitá-laentreseusbraços,comosepudesseprotegeradetododano.—TequeroDaisy.—Eu também—ofegouDaisycomvozapagada,machucadaecomos

olhossecos,lutandoporrespirar.Abuscacontinuoudurantetodoessediaeanoiteseguinte,mastodosas

rotinas habituais, as horas de dormir, comer e trabalhar, tinhamperdidoseu significado. Só um incidente conseguiu transpassar o pesadointumescimento que oprimia a Daisy implacavelmente, e foi quandoWestcliffrejeitousuaajudanabusca.

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— Não serviria de ajuda a ninguém — havia dito Westcliff, muitoesgotado emolestopara exercer seu tatohabitual.—Éperigoso edifícilprocurar aí fora com a água tão alta. No melhor dos casos, seria umadistraçãoe,nopior,poderiaresultarferida.Daisy sabia que ele tinha razão, mas isso não evitou que se sentisse

profundamente indignada e furiosa. O sentimento, alarmante por suaintensidade,ameaçoudesintegrandoseucontrole,assim,apressadamente,voltouaencerrar-seemsimesmo.OcorpodeMatthewpoderianãoserencontradojamais.Afatalidadede

terqueresignar-sea issoeramuitocruele insuportável.Dealgummodoum desaparecimento era ainda pior que amorte, era como se ele nuncativesse existido realmente, não deixando nada sobre o que chorar suaperda.Daisynuncaantestinhaentendidoporquealgumaspessoastinhama necessidade de ver o corpo de um ser amado depois de que tivessemorrido. Agora sim o entendia. Era o únicomodo de terminar com essepesadeloviventeepossivelmenteencontrarassimaliberaçãonaslágrimaseador.—Sigopensandoqueseeleestivessemortoeusaberia—disseàLillian

quando se sentou no chão ao lado da chaminé da sala. Um velho xale aenvolviaconsolando-acomsuagastasuavidade.Apesardocalordofogo,ascapasderoupaeo tigeladechácombrandyemsuasmãos,Daisynãoconseguiaentraremcalor.—Deveriasenti-lo.Masnãopossosentirnada,écomose tivessesidocongeladaviva.Queromeesconderemalgum lugar.Nãoqueropassarporisso.Nãoqueroserforte.—Nãotemquesê-lo—disseLillianemvozbaixa.—Sim,devosê-lo.Poisaúnicaoutraopçãoédeixarquemerompaem

ummilhãodepedaços.—Eutemantereiunida.Cadaumdospedaços.Umdébilsorrisotocouos lábiosdeDaisyenquantoolhavafixamentea

carapreocupadadesuairmã.—Lillian—sussurrou.—Oquefariaeusemti?—Nuncateráqueaveriguá-lo.

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FoisóainsistênciadesuamãeeseuirmãoqueinduziuaDaisyatomarunspoucosbocadosdojantar.Bebeuumataçainteiradevinho,esperandoqueadistraíradasintermináveisvoltasquedavadesuamente.—Westcliff e pai deveriamvoltar logo—disse Lillian com tensão.—

Nãotiveramnenhumdescansoeéprovávelquetampoucotenhamcomido.—Vamos ao salão— sugeriuMercedes.—Podemosnos distrair com

algum jogo de cartas, ou possivelmente poderia ler em voz alta um doslivrosfavoritosdeDaisy.Daisylhedirigiuumolhardedesculpa.— Sintomuito, não posso. Se não lhes importar, eu gostaria de estar

sozinhaacima.Depois de assear-se e ficar a camisola, Daisy deu uma olhada à cama.

Embora estava algo atontada e cansada, sua mente rejeitou a ideia dedormir.AcasaestavatranquilaquandofoiàsalaMarsden,seuspésnusroçavam

assombrasquecruzavamopisoatapetadocomoescurastrepadeiras.Umúnico abajur enviavaum resplendordourado atravésda sala, captando aluz emcristaisbiseladosquependuravamda tela e salpicavamdispersospontosbrancossobreasparedesempapeladascomflores.Ummontãodelivrosepublicaçõestinhamsidodeixadossobreosofá:revistas,novelas,eummagrovolumedepoesiahumorísticaquetinhalidoaMatthewemvozalta,esperandoverosesquivossorrisosemseurostoComo foique tudomudou tão rapidamente?Comopodia a vida tomar

tão arbitrariamente a alguém e pô-lo sobre um caminho radicalmentediferenteenãodesejado?Daisysesentousobreotapeteaoladodomontãodelivrosecomeçoua

revisá-los e a classificá-los lentamente… uns para ser devolvidos àbiblioteca, outros para levar-lhe aos aldeãos o dia de visita. Maspossivelmentenãoeraprudenteatacarestatarefadepoisdetantoveio.Emvezdeformardoismontõesordenados,osmateriaisdeleituraterminaramdispersadosaoredordela,comotantossonhosabandonados.Cruzando as pernas, Daisy se apoiou contra o sofá e descansou sua

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cabeça sobre o borda estofado. Seus dedos toparam-se coma coberta detecidodeumdos livros.Deu-lheumaolhadaentrecerrandoosolhos.Umlivrosempreeraumaportaaoutromundo…ummuitomaisinteressanteefantásticoquearealidade.Maselafinalmentetinhadescobertoqueavidapoderiaseraindamaismaravilhosaqueumafantasia.Equeoamorpodiaencherdemagiaomundoreal.Matthew era tudo o que ela sempre tinha desejado. E tinha tido tão

poucotempocomele!O relógio de sobremesa racionava seu tic-tac com avara lentidão.

QuandoDaisyseapoioucontraosofámédioadormecida,ouviuorangidodaporta.Seupreguiçosoolharseguiuosom.Umhomemtinhaentradonoquarto.Eleseparoujustonaentrada,contemplandoavisãodelasobreochão,

comtodososlivrospulverizadosaseuredor.De repente, Daisy levantou o olhar para sua cara. E se congelou de

desejo,medoeumterríveldesejo.EraMatthew, vestido com roupas toscas, desconhecidas, sua presença

vitalpareciaencheroquarto.Temendo que a visão desaparecesse, Daisy se manteve mortalmente

quieta. Os olhos lhe ardiam pelas lágrimas, mas os manteve abertos,desejandoferventementequeeleficasse.Ele se aproximou dela com muito cuidado. Ficando em cócoras,

contemplou-a com preocupação e uma incomensurável ternura. Uma desuas grandes mãos se moveu, apartando alguns livros até que o espaçoentreseuscorposesteveespaçoso.—Soueu,amor,—disseelebrandamente.—Tudoestábem.Daisyconseguiusussurraratravésdeseusressecadoslábios.—Seforumfantasma…esperoquemeatormenteparasempre.Matthewsesentounochãoealcançouseusfritemãos.— Um fantasma entraria pela porta? — perguntou ele brandamente,

atraindoseusdedosparasuacaraarranhadaemaltratada.O tato de sua pele contra sua Palmas liberou um baile de dolorosa

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consciência nela. Com alivio Daisy sentiu por fim o degelo dointumescimento,suasemoçõesdesatando-se,etentoutampá-losolhos.Seupeitopareceuquebrasseemsoluçosincontrolados.Matthew atirou de sua mão e a atraiu firmemente contra ele,

murmurando em voz baixa. Daisy continuava chorando e ele a abraçoumaisforte,parecendoentenderqueelanecessitavaadura,quasedolorosa,pressãodeseucorpo.—Porfavor,medigaqueéreal—ofegou.—Porfavor,medigaquenão

éumsonho.— Sou real—disseMatthew com voz rouca.—Não chore com tanta

força, não há… OH, Daisy, amor…— Ele agarrou sua cabeça entre suasmãosepressionoupalavrasconsoladorascontraseuslábiosenquantoelalutavaparaaproximar-seaindamaisaele.Eleaapoioucomcuidadosobreochão,usandootranquilizadorpesodeseucorpoparasubjugá-la.Suasmãosentrelaçadas comasdela, seusdedosenredados.Ofegando,

Daisy girou sua cabeça para olhar fixamente seu pulso exposto, onde acarneestavatorcidaeavermelhada.—Suasmãosestavamatadas—dissecomumavozroucaquenãosoava

absolutamentecomoasua.—Comoteliberou?Matthewinclinouacabeçaparabeijarasuperfíciesulcadade lágrimas

desuabochecha.—Ocanivete—disseelesubitamente.Os olhos deDaisy se alargaramquando seguiu olhando fixamente seu

pulso.—Conseguiutirarumcanivetedeseubolsoecortarascordasenquanto

acarruagemseafundavanorio?—medeixetedizerquefoimuitomaisfácilquelutarcomummaldito

ganso.ADaisy lheescapouumachorosa risinhoafogada,que rapidamente se

converteuemoutroentrecortadosoluço.Matthewapanhouosomcomsuaboca,seuslábiosacariciandoosdela.— Comecei a cortar as ataduras à primeiro sinal de problemas —

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contínuoele.—E tiveunsminutosantesdequeocarroseafundassenaágua.— por que outros não lhe ajudaram? — perguntou Daisy zangada,

esfregandoamangadesuabatacontrasuacaraúmida.—Estavamocupadossalvandosuasprópriospeles.Embora—Matthew

acrescentoucompesar,—euteriapensadoquemereciaumpoucomaisdeconsideração que os cavalos. Quando a carruagem começou amover rioabaixominhasmãosjáestavamlivres.Osescombrosgolpeavamoveículoreduzindo-oapalitos.Salteiàcorrenteeconseguialcançaraborda,masfuigolpeado no processo. Encontrou-me um ancião que estava foraprocurandoseucão,emelevoasuacasa,ondeeleesuaesposacuidaramdemim. Perdi a consciência e despertei um dia emeiomais tarde. Paraentão,eles jáse inteiraramdabuscadoWestcliff,esaírampara lhedizerondeestava.—Penseiquetetinhaido—disseDaisycomsuavozrota.—Penseique

nuncamaisvoltariaaverte.— Não, não…—Matthew alisou seu cabelo e beijou suas bochechas,

seus olhos, seus lábios trêmulos. — Sempre voltarei para ti. Sou muitoformal,recorda?— Sim. Exceto por Daisy teve que tomar fôlego pois sentiu sua boca

descendoporsuagarganta—…osvinteanosdesuavidaantesdequeeuteconhecesse,eudiriaqueétãoformalqueéquasepre…—sualínguatinhabaixadoatéoocoselocalizadonabasedeseupescoço—…previsível.— Provavelmente terá alguma queixa sobre esse pequeno assunto de

minha falsa identidade e a condenação por furto maior. — Seusexploradoresbeijosforamsubindoatéadelicadalinhadesuamandíbula,absorvendoasvagabundaslágrimas.—OH,não,—disseDaisysemfôlego.—P-perdoei-teinclusiveantesde

saberoqueera.— Meu doce amor — sussurrou Matthew, obliquando sua cara,

acariciando-a com sua boca e suasmãos. Ela se aferrou a ele cegamente,incapaz de estar o suficientemente perto. Ele deu para trás a cabeça e a

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olhou fixamente de maneira inquisitiva. — Agora que todo o assuntomostrousuacaraamarga,vouterquelimparmeunome.Esperará,Daisy?—Não.Ainda sorvendo as lágrimas, ela se dedicou a desabotoar os botões de

madeiradesuasroupasemprestadas.—Não?Matthew esboçou um meio sorriso e sob seu olhar para ela com

curiosidade.—decidistequesouumproblemamuitogrande?—decidiqueavidaémuitocurta…—Daisygrunhiuenquantoatirava

da basta tecido de sua camisa— … para desperdiçar um só dia dela.Malditosbotões...AmãosdeMatthewcobriramassuas,detendosuafebriltarefa.—Nãoacreditoqueasuafamíliaentusiasmemuitoaideiadedeixarque

tecasecomumfugitivodajustiça.—Meupailheperdoaráissotudo.Alémdisso,nãoseráumfugitivopara

sempre. Seu caso será revogado uma vez conhecidos os fatos. — Daisyliberousuasmãoseseagarrouaelefortemente.—meLeveaGretnaGreen—implorou.—Estanoite.Assimfoicomosecasouminhairmã.EtambémEvie.Fugir-secomumamanteéliteralmenteumatradiçãodassolteironas.Meleve…—Shhh…—Matthewaestreitouentreseusbraços,embalando-acontra

seusólidotorso.—Nãoqueromaisfugir—sussurrou.—Finalmentevouconfrontarmeu passado. Embora seriamuitomais fácil solucionarmeusproblemasseobastardodoHarryWaringnãotivessemorrido.—Aindahágentequesabeoquepassourealmente—disseDaisycom

ânsia.—Seusamigos.Eocriadoquemencionou.E…—Sim,sei.Não falemosdissoagora.Deussabequeteremostempode

sobranospróximosdias.— Quero me casar contigo— insistiu Daisy. — Mas não mais tarde.

Agora. Depois do que tive que passar… pensando que te tinha ido parasempre… nada mais importa. — Um pequeno soluço interrompeu sua

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últimapalavra.Matthewalisou seu cabelo e rabiscouumseco rastrode lágrimas com

seupolegar.—Tudobem.Tudobem.Falareicomseupai.Nãochoreoutravez.Daisy,

porfavor.Maselanãopodiadeterasdoceslágrimasdealívioqueescapavamdas

comissuras de suas pálpebras. Umnovo tremor a assaltou damedula deseusossos.Quantomaislutavacontraisso,piorficava.—Amor,oqueacontece?—Elepassousuasmãosporseustrementes

braços.—Tenhotantomedo.Elefezumsombaixo,involuntárioeaembaloufortemente,seuslábios

semoviamsobresuasbochechascomumaapaixonadapressão.—porque,meuamor?—Tenhomedodequeistosejaumsonho.Tenhomedodedespertare…

—outrosoluço—…eestarsozinhaoutravezedescobrirquevocênuncaestivesteaquie…— Não, estou aqui. Não me partirei. — Ele desceu por sua garganta,

abrindosuabatacomlentadeliberação.—meDeixetefazersentirmelhor,amor,medeixe…—Suasmãoseramternassobreseucorpo,calmanteseprazerosas.Quandosuapalmasedeslizousobresuapele,seuroceenvioudardos de calor através dela, e um gemido quebrado escapou de seuslábios.Ouvindo o som, Matthew respirou forçadamente procurando

autocontrole.Nãooencontrou.Sóachounecessidade.Perdidonodesejodeencheradeprazer,despiu-aalimesmo,sobreochão,enquantosuasmãosacariciavam sua fresca pele até que a pálida superfície se tingiu de umintensorubor.Tremendo grosseiramente, Daisy observou como a tênue luz brilhava

sobreaescuracabeçadelequandoseinclinousobreseucorpo,semeandobeijos por lentos caminhos… sobre suas pernas, seu estômago nu, seustrêmulospeitos.

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Emtodaspartesondeeleabeijavaofrioqueasacudiaficavadissolvidoporcalor.Elasuspiroueserelaxoucomotemitiguemritmoquemarcavamsuasmãosesuaboca.Quandopinçouparaabrirsuacamisa,elesemoveupara ajudá-la. Basta-a objeto foi arrojada longe revelando suamasculinapele acetinada. De algum modo, tranquilizou a Daisy ver a sombra doscardeais sobre seu peito, pois eram a prova de que ela não podia estarsonhando. Então pressionou sua boca aberta sobre uma das escurasmarcas,tocando-ocomsualíngua.Matthewatrouxecomcuidadoparaele,enquantosuamãopercorriaa

curvade sua cinturaede seuquadril comumasensualidadeque fezquesuascoxasficassemdepeledegalinha.Daisyseretorceuentreoprazereodesconfortoquandoalãdotapeteraspousuahipersensívelpele,causandopontosdedoremsuasnádegasnuas.Compreendendo o problema,Matthew riu simplesmente e a subiu em

cima dele, sobre seu colo. Transpirando e com a boca seca, Daisypressionouseusseioscontraseupeito.—Nãopares—sussurrou.Matthewcavousuamãoemseulheformiguemtraseiro.—Ajoelha-tecontraotapetedochão.—Nãomeimporta,somentequero…quero…— Isto? — Ele a colocou melhor em seu colo até deixá-la sentada

escarranchadosobreele,comotecidodesuacalçatensasobsuascoxas.Envergonhada e excitada, Daisy fechou os olhos quando o sentiu

acariciar os intrincadas dobras de seu corpo, cobrindo brandamente deumidadeesensaçõessuacarneardente.Daisy sentia os braços débeis quando os deslizou ao redor de seu

pescoçoeenvolveuosdedosdeumamãoaoredordapulsodaoutra.Semoapoiodeseubraçoemsuascostas,elanão teriasidocapazdemanter-sedireita. Toda sua consciência estava concentrada no lugar onde ele atocava, deslizando seu nódulo ao redor da diminuta cúspide sedosa emolhada…—Nãopares—seouviusussurrardenovo.

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Seusolhos se abriramde repentequandoMatthewmoveu lentamentedoisdedosdentrodela,e logo três,enquantoodesejoseretorciaemseuinteriorcomochamasalimentando-sedeardentemel.—Aindatemmedodequeistosejaumsonho?—sussurrouMatthew.Elatragouconvulsivamenteenegoucomacabeça.—Eu…eununcativesonhoscomoeste.Os olhos deMatthew se enrugaram com diversão, e retirou os dedos,

deixando-a trementee vazia.Ela gemeuedeixou cair a cabeça sobre seuforteombro,eeleaabraçoufirmementecontraseupeitonu.Daisy se aferrou a ele, sua visão se nublou até que o quarto foi um

mosaico de luz amarela e sombras negras. Sentiu que ele a levantava,girava-a, com os joelhos pressionando o tapete quando ele a ajudou aajoelhar-se diante do sofá. Sua bochecha roçava a suave tapeçaria,enquanto seus lábios seabriampara respirar forçadamente.Elea cobriu,comseucorpograndeesólidoencaixadodetráseaoredordela,eentãoeleempurrou dentro de seu interior, e o acoplamento entre eles resultouapertado,escorregadioedelicioso.Daisy ficou rígida pela surpresa,mas asmãos dele se apoiaram sobre

seusquadris,acariciando-acomsegurança,pedindo-asparaqueconfiassenele. Ela permaneceu imóvel, fechou seus olhos enquanto o prazeraumentava com cada lento impulso que ele atacava. Uma das mãos deMatthew se deslizou por seu abdômen, e seus dedos encontraram acarnuda elevação de seu sexo e a acariciaram até que ela alcançou umabrilhante cúpula deslumbrante, surpreendida por estremecimentos depuroalívio.Muito mais tarde, Matthew a vestiu com sua camisola e a levou por

escurovestíbuloatéqueentraramemseudormitório.Quandoeleameteunacama,Daisylhepediuentresussurrosqueficasse.—Não, amor.— inclinou-se sobre seu corpo tendido de barriga para

baixo,naescuridão.—Emboraeuadoraria,nãopodemosirtãolonge,maisàfrentedodecoro.— Não quero dormir sem ti. — Daisy olhou fixamente sua cara nas

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sombrasjustosobreadedela.—Enãoquerodespertarsemti.—Algumdia.—inclinou-separadepositarumfirmebeijoemsuaboca.

—Algumdiapodereiviratiemqualquermomento,denoiteoudedia,eteabraçarei tanto como queira. — Sua voz se fez mais profunda com aemoçãoquandoacrescentou:—Podecontarcomisso.Abaixo, o esgotado conde deWestcliff descansava sobre um sofá, sua

cabeça apoiada no colo de sua esposa. Depois de dois dias de buscaimplacável e muito pouco sonho, Marcus estava cansado até os ossos.Entretanto,estavaagradecidodequeatragédiativessesidoevitadaequeoprometidodeDaisyhouvesseretornadosãoesalvo.Marcusestavaumpoucosurpresopormodoexcessivoquesuaesposao

tinhamimada.Assimquetinhachegadoàmansão,Lillian lhe tinhadadosassados e brandy quente, tinha limpo asmanchas de sujeira de sua caracom uma toalha úmida, tinha aplicado bálsamo sobre seus raspões eataduras a uns dedos cortados, e inclusive lhe tinha tirado suas botaslamacentas.— Parece muito pior que o senhor Swift — tinha replicado Lillian

quando ele tinha protestado que estava bem.— Pelo que sei ele estevedescansando em uma cama em uma casinha de campo durante os doisúltimosdias,enquantoquevocêcavalgastepelosbosquesentrealamaeachuva.—Elenãoesteveexatamentedescansando—corrigiuMarcus.—Estava

ferido.—Issonãomudaofatoquenãotivestenenhumdescansoeliteralmente

nadaparacomerenquantoobuscava.Marcus se tinha rendido a suas cuidados, desfrutando em segredo do

modoemqueelaseabatiasobreele.QuandoLillianestevesatisfeitaeelefoialimentadoeenfaixadocorretamente,embalousuacabeçaemseucolo.Marcussuspiroudesatisfação,olhandofixamenteoardentefogodolar.Os magros dedos de Lillian mexiam distraidamente em seu cabelo

quandocomentou:—passoumuitotempodesdequeosenhorSwiftfoiprocuraraDaisy.E

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tudoestámuitotranquilo.Nãovaisubiraaveriguarcomoestão?—Nempor todoocânhamodaChina—disseMarcus, repetindouma

das novas frases favoritas de Daisy. — Deus sabe o que poderiainterromper.— Bom Deus. — Lillian pareceu horrorizada. — Não pensa que eles

estão…— Nãome surpreenderia.— deliberadamente Marcus fez uma pausa

antesdeadicionar.—Recordacomoestávamosacostumadosasernós.Comopretendia,aobservaçãodesviousuaatençãoimediatamente.—Aindasomosassim—protestouLillian.— Não temos feito o amor desde antes de que nascesse o bebê. —

Marcussesentou,enchendoseuolharcomaimagemdesuajovemesposade cabelosmorenos à luz do lar. Ela era, e seria sempre, amulhermaistentadora que tinha conhecido alguma vez. A paixão contida fez que suavozsoasseásperaquandoperguntou:—Quantomaisdevoesperar?Apoiando o cotovelo sobre o respaldo do sofá, Lillian descansou sua

cabeçasobreamãoesorriudesculpando-se.—Odoutor disse que aomenos outra quinzena. Sintomuito.—E riu

quandoviusuaexpressão.—Osintomuitíssimo.Vamosacima.—Senãoirdeitamosjuntos,nãovejoparaque—sequeixouMarcus.—Teajudareicomseubanho.Inclusiveesfregareisuascostas.Eleestavasuficientementecativadopelaofertaparaperguntar:—Sóminhascostas?—Estouabertaànegociação—disseLillianprovocativamente.—como

sempre.Marcusalevouparafora,apertou-acontraseupeitoesuspirou.—Nestemomentotomareitudooquepossaconseguir.—Pobrehomem.—Aindasorrindo,Lilliangirousuacaraparabeijá-lo.

—Sórecordaque…poralgumascoisasvaleapenaesperar.

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Epílogo

Finalmente,MattheweDaisynãopuderamcasar-seatéfinaisdeoutono.

Hampshireestavavestidocomacordasfolhassecas,anovatemporadadecaçatinhacomeçado,oscãesse tiravamquatromanhãsàsemana,e jáserecolheramasúltimascestasdefrutadasárvores.Ofenotinhasidosegado,as codornas tinham deixado os campos e seu canto foi substituído pelaalegremelodiadostordosedoscanáriosamarelos.Durantetodooverãoeumaboapartedooutono,Daisytinhatidoque

suportarascontínuasausênciasdeMatthew,porsuasfrequentesviagensaLondrespararesolverseusassuntoslegais.ComaajudadelordeWestcliffapetiçãodeextradiçãodogovernoamericanofoidenegada,permitindoaMatthew ficar na Inglaterra. Depois de procurar um par de advogadoshábeiselhesinformardetodososdetalhesdeseucaso,MatthewosenvioaBostonparaapelaraotribunalsupremo.Enquanto esperava notícias deles, viajou sem descanso, fiscalizando a

construçãodafábricaemBristol,contratandoempregadoseestabelecendocanais de distribuição ao longo de todo o país. A Daisy pareceu queMatthewnãoeraomesmodesdequeporfimseesclareceramossegredosde seu passado … como se de algum jeito isso o fizesse mais livre, mascarismáticoemaissegurodesimesmo.SendotestemunhadaenergiailimitadadeMatthewesuacrescentelista

delucros,SimonHuntlheinformouqueassimquesecansassedetrabalharpara a companhia Bowman, teria um posto na Ferrovia. Isto instigou aoThomasBowmanparalheproporaMatthewumapercentagemsuperioradosbenefíciosdaempresadesabão.—Sereimilionário antesde cumprir os trinta— lhe tinha comentado

MatthewaDaisy.—Seconsigopermanecerforadecárcere,éobvio.SurpreendeuaDaisyquetodasuafamília,inclusivesuamãe,uniu-seem

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defesadeMatthew.SeofaziamembenefíciodeDaisyounodeseupai,eraalgoqueelanão tinhamuitoclaro.ThomasBowman,quemsempre tinhasido tão intolerante com todomundo, tinhaperdoado aMatthewpor lheenganarnoato.Defato,Bowmanparecialheapreciarsinceramente,comosedeverdadeforafilhodele.— Estou segura— lhe tinha comentado Lillian a Daisy,— de que se

Matthew tivesse cometido um assassinato a sangue frio, papai diriaimediatamente:“Bom,semdúvidaomoçoteriaumapoderosarazão”.Como descobriu que manter-se ocupada fazia que o tempo passasse

maisdepressa,DaisyocupouseutempoemencontrarumacasaapropriadaemBristol.Finalmentesedecidiuporumacasagrandesituadaàbordadomar que tinha pertencido ao dono de um estaleiro e sua família.Acompanhadadesuamãeesua irmã,queadoravamiràscomprasmuitomaisqueela,Daisycomproumóveisconfortáveisetecidosformososparaconfeccionar cortinas. E é obvio, assegurou-se de comprar prateleirassuficientesparatodosseuslivros.MatthewprocuravaveraDaisycadavezquedispunhadealgunsdias.Já

não havia restrições entre eles, nem segredos ou medos. Tinham largasconversações enquanto passeavam admiranda a paisagem sonolenta doverão, encontrandoumdeleite interminável em suamútua companhia. EnasnoitesnasqueMatthewvisitava aDaisyna escuridão e fazia o amorcomela,eleembargavaseussentidosdeumprazer infinitoeseucoraçãodealegria.—tenteimemanterlongedeti—lhesussurrouumanoite,abraçando-a

comternuraenquantoaluzdaluadesenhavasombrassobreaslençóis.— por que? — perguntou Daisy, ficando-se sobre ele até que ficou

tombadasobreasuperfíciemusculosadeseupeito.Eledeucomaescuracascataqueformavaseucabelo.—Porquenãodeveríamosvoltarafazeristoatéqueestejamoscasados.

Existeoriscodeque...Daisy lhe silenciou com sua boca, sem deter-se até que seu fôlego se

acelerouesuapelecomeçouaarder.Elalevantouacabeçaelhesorriucom

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osolhosbrilhantes.—Outudoounada—lhedisseela.—Assimécomotequero.Finalmente chegaram notícias dos advogados de Matthew, um comitê

formadopor três juízes deBoston, examinouminuciosamente as atas dojulgamento, depois do qual decidiram anular a sentença, e fechar o caso.Tambémopinaramqueocasoforaarquivado,frustrandoporconseguintequalqueresperançaqueafamíliaWaringtivessedeapelar.Matthew tinha recebido as notícias com serenidade, aceitando as

felicitações de todo o mundo e lhe agradecendo aos Bowman e aosWestcliff todo seu apoio. Em privado, junto a Daisy, a compostura deMatthew se quebrou, sentia-se alagado de um imenso alívio. Elacompartilhoucomeleaimensaalegriadeserlivre,emummomentoíntimoqueentesourariamporsempreentreosdois.Eporfimchegouodiadesuascasamento.A cerimônia que se celebrou na capela de Stony Cross Park foi

anormalmenteextensa,graçasaovigário,decididoaimpressionaratodasasvisitasricaseimportantes,muitosdelesdeLondresecertaquantidadede Nova Iorque. O serviço incluiu um sermão interminável, um númeroinauditodehinos.Daisy esperoupacientemente embelezada comumvestidode rasa cor

champanhe,seuspéssemoviamcomdesconfortodentrodeseussapatosnovos. Logo que podia ver causa do véu de tule adornado com pérolaselaboradonoValenciennes.O casamento se converteu em uma prova para sua paciência Ela se

esmerouporpermanecercomumaatitudesolene,masaodirigirumolharfurtivoparaMatthew,altoeformosovestidocomumaelegantelevitanegraeumagravatabrancaengomada…seucoraçãosaltoudefelicidade.Depois de pronunciar os votos, apesar da severo advertência da

Mercedesdequeonoivonãodeviabeijarànoiva,poisessecostumenãoeramuitopopularentreosmembrosdanobreza…MatthewatraiuaDaisyparaoeabeijoucomanseianoslábiosdiantedetodomundo.Escutaram-seumpardesuspirosealgumasrisinhosentreamultidão.

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Daisylevantouoolharaosbrilhantesolhosdeseumarido.—Évocêumdescarado,senhorSwift—sussurrouela.— Ainda não viu nada, — respondeu Matthew com um murmúrio,

olhando-a com ternura. — Reservo meu pior comportamento para estanoite.Os convidados se dirigiram ao interior da casa. Depois de saudar

milhares de pessoas, e sorrir até que lhe doeram as bochechas, Daisydeixouescaparumcompridosuspiro.Depoisdacerimônia teve lugarumbanquetedecasamentoquepoderiaalimentarameiaaInglaterra,depoischegaramosbrinde e as felicitaçõespersistentes.Quando tudooque elaqueriaeraestarasóscomseumarido.—OH, não te queixe— escutou que lhe dizia Lillian divertida.— Ao

menosumadenóstinhaqueterumcasamentotradicional.Bempodiaservocê.DaisysedeuavoltaeviuaLillian,AnnabelleeEvie,depéatrásdela.—Nãoiaqueixar-me—repôs.—Sóestavapensandoquetivessesido

muitomaisfácilfugirnósaGretnaGreen.—Issoteriasidomuitopoucooriginal,querida,tendoemcontaqueEvie

eeujáofizemosantequevocê.—foiumacerimôniapreciosa—lhedisseafetuosamenteAnnabelle.—Emuitolarga—respondeuDaisycompesar.—Levohorasdepésem

parardefalaresorrir.—Temrazão—lhedisseEvie.—Veemconosco,assolteiravãocelebrar

umareunião.— Agora? — perguntou Daisy aturdida, percorrendo com o olhar os

semblantesanimadosdesuasamigas.—Nãopodemos,temosqueatenderaosconvidados.—OH,deixa-osqueesperem—repôsLillianalegremente.Agarroupor

braçoaDaisyeatiroudosalãodejantarprincipal.Quandoasquatrojovenssaíramaovestíbuloparadirigir-seaosalãode

amanhã,encontraramalordeSt.Vincent,queiaemdireçãooposta.Estavaelegante e deslumbrante com seu traje de gala, deteve-se e olhou a Evie

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comumternosorriso.—Tenhoaimpressãodequeestãoescapandodealgo—comentou.—Assimé—lhedisseEvieaseumarido.Lorde St Vincent deslizou o braço ao redor da cintura de Evie e lhe

perguntoucomumsussurro:—aondevão?Eviemeditouarespostaporummomento.—AalgumaparteondeDaisypossaempoeiraronariz.OviscondedirigiuaDaisyumolhardúbio.—Esãonecessáriasasquatro?Masseéumnarizmuitopequeno.— Só serão alguns minutos, milorde — respondeu Evie— Crê que

poderánosdesculpardiantedosconvidados?LordeSt.Vincentsorriuzombador.— Tenho um fornecimento interminável de desculpas, amor — a

tranquilizouele.Antesdesoltarasuaesposa,eleabeijounafrente.Suamãoseatrasou

uminstantesobreseuventre.Asutilcaríciapassoudesapercebidaparaasdemais.MasparaaDaisynão, ela soube imediatamenteoque significava.Evie

guardaumsegredo,pensou,comumamplosorriso.LevaramaDaisyatéoestufa,ondealuzoutonalbrilhavaintensamente

atravésdasjanelas,eosperfumescítricosalagavamoar.Despojaram-nadacoroa de flores de flor-de-laranja e do véu, Lillian os deixou sobre umacadeira.Havia uma bandeja de prata colocada sobre uma mesa próxima, com

umagarrafadechampanheesfriadoequatrotaçasaltasdecristal.— Queremos fazer um brinde especial, querida — disse Lillian,

enquanto Annabelle vertia o brilhante líquido nas taças.— Por seu finalfeliz.Jáquetivestequeesperá-lomaistempoqueorestodenós,diriaquete merece a garrafa inteira. — Sorriu abertamente. — Mas vamoscompartilharacontigo,detodososmodos.Daisyrodeoucomseusdedosataçadecristal.

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—Deveriaserumbrindeportodasnós—disse.—depoisdetudo,faztrês anos as perspectivas de contrairmatrimônio, para qualquer de nós,eram péssimas. Logo que conseguíamos um convite para dançar. Pareceincrívelquãobemresultaramascoisas...— Apesar de ter t-tido certo comportamento indecoroso e algum

escândaloqueoutro—replicouEviecomumsorriso.—Eseguimossendoamigas—acrescentouAnnabelle.—Pela amizade—disse Lillian, de repente sua voz adquiriu um tom

rouco.Esuasquatrotaçasseuniramparacompartilharessemomentoespecial.

FIM

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SobreaAutora

LisaKleypas,vencedoradoprêmioRITA,jáescreveu34romances.Seuslivrosforampublicadosem28idiomas,emdiversospaíses.ElamoraemWashingtoncomomaridoeosdoisfilhos.Sendo os livros da série Os Hathaways, e As Solteironas (The

Wallflowers),osmaisfamososEm suapáginanaweb, a autora conta: "Comecei a escrever romances

porquesempreameilê-los.Indiscutivelmente,fuiumanerddurantetodaaescola primária e, mesmo "florescendo" na secundária, acredite, a nerdinterior ainda estava aqui. Nunca pude imaginar um tempo melhoraproveitadodoquelendoumlivro,eesteamorpelaleitura,comotempo,setraduziunumprofundodesejodeescreverum."

www.lisakleypas.com