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    2 SOFTEX / UNICAMP / MCT

    Impacto doSoftware Livre e de Cdigo Abertona Indstria de Software do Brasil

    Coordenadores

    Giancarlo Nuti Stefanuto (coordenao executiva)Sergio Salles-Filho (coordenao cientfica)

    Equipe de pesquisaAdrian S. de Witt B.Ana Maria CarneiroAngela Maria AlvesCarolina Vaghetti MattosJos Eduardo De Lucca

    Equipe de apoioFernando Colugnati (apoio estatstico)Rogrio da Veiga (estagirio)

    Apoio editorialPaula Felcio Drummond de Castro

    Projeto visual e produoSerifa Comunicao (www.serifa.com.br)

    Este documento est disponvel no sitewww.softex.br

    Impresso no Brasil, 2005

    O impacto do software livre e de cdigo aberto na indstria de software do Brasil / Softex,Campinas: Softex, 2005.

    76 p.1. Software livre. 2. Cdigo aberto. 3. Indstria de software.I. Ttulo. II. Softex.

    CDD 005.13

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    3Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Sumrio

    Apresentao ...............................................................................................................................................................6

    Introduo ...................................................................................................................................................................7

    Captulo 1. Panorama geral do SL/CA ...........................................................................................................................8

    1.1 Modelo de desenvolvimento de SL/CA e comunidades ....................................................................................11

    Comunidades e colaborao ...........................................................................................................................13

    Comunidades brasileiras .................................................................................................................................14

    1.2 Licenas .........................................................................................................................................................15

    Captulo 2. Perfil dos desenvolvedores ........................................................................................................................19

    2.1 Perfil social, econmico e tcnico do desenvolvedor individual .......................................................................20

    2.1.1 Caracterizao social, econmica e tcnica dos desenvolvedores ............................................................21

    2.1.2 Perfis dos desenvolvedores (agrupamentos) ............................................................................................242.2 Caracterizao das empresas desenvolvedoras ................................................................................................30

    2.2.1 Caracterizao das empresas desenvolvedoras (pequenas e mdias) .......................................................31

    2.2.2 Estratgias de algumas empresas selecionadas .......................................................................................35

    Captulo 3. Perfil do usurio de SL/CA .........................................................................................................................37

    3.1 Usurio Individual ...........................................................................................................................................40

    3.1.1 Caracterizao social, econmica e tcnica dos usurios .........................................................................40

    3.1.2 Perfis dos usurios (agrupamentos) ........................................................................................................42

    3.2 Empresas usurias ..........................................................................................................................................45

    3.2.1 Caracterizao das empresas usurias ....................................................................................................47

    3.2.3 Estratgias .............................................................................................................................................48

    Captulo 4. As dimenses econmicas do SL/CA: motivaes, setores e modelos de negcios ...................................... 51

    4.1 As motivaes para desenvolver e usar SL/CA ..................................................................................................51

    4.2 Intensidade de uso de SL/CA em setores e em reas de aplicao ...................................................................56

    4.3 Modelos de negcios em SL/CA ......................................................................................................................58

    4.3.1 Negcios com SL/CA ..............................................................................................................................59

    4.3.2 Ameaas e oportunidades do SL/CA para a indstria brasileira de software ............................................. 61

    4.3.3 Dimensionamento dos mercados de SL/CA: aspectos gerais ....................................................................634.3.4 Dimensionamento dos mercados de SL/CA: quanto hoje o mercado de Linux no Brasil? .......................68

    Concluses .................................................................................................................................................................71

    Bibliografia ................................................................................................................................................................75

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    4 SOFTEX / UNICAMP / MCT

    ndice de QuadrosQuadro 1 - Fatos importantes na histria da aproximao entre SL/CA e as empresas .................................................. 18

    Quadro 2 - Comparao com outros surveys no mundo .............................................................................................21

    Quadro 3 - Comparao do perfil dos desenvolvedores (Brasil e Europa): caractersticas socioeconmicas ..................23

    Quadro 4 - Comparao do perfil dos desenvolvedores (Brasil e Europa): caractersticas de atuao com SL/CA ..........24Quadro 5 - Comparao dos grupamentos de empresas desenvolvedoras ...................................................................34

    Quadro 6 - Box resumo com casos ilustrativos de uso de SL/CA por empresas no Brasil ............................................... 46

    Quadro 7 - Intensidade de uso de SL/CA nos setores econmicos - situao atual ...................................................... 57

    Quadro 8 - Relaes entre modelos de negcios especficos para SL/CA e da indstria de software ............................61

    Quadro 9 - Importncia relativa da apropriabilidade do software para os modelos de negcios da indstria eprincipais programas livres desenvolvidos por modelo de negcio ...............................................................................62

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Comparao dos agrupamentos de desenvolvedores individuais ..................................................................27Tabela 2 - Sistemas Operacionais nos servidores no Brasil ........................................................................................... 38

    Tabela 3 - Caracterizao socioeconmica dos agrupamentos de usurios individuais .................................................. 44

    Tabela 4 - Caracterizao da utilizao de SL/CA dos agrupamentos de usurios individuais ........................................45

    Tabela 5 Motivos para desenvolvimento e uso de SL/CA ..........................................................................................53

    Tabela 6 - Nmero de servidores web e respectivos programas no mundo (2004) .......................................................66

    Tabela 7 - Nmero de servidores web e respectivos programas Brasil (2004) ........................................................... ..68

    ndice de Grficos

    Grfico 1 - Principais sistemas operacionais utilizados em servidores ...........................................................................37Grfico 2 - Sistemas operacionais por tipo de operao ..............................................................................................38

    Grfico 3 - Software de banco de dados transacionais ...............................................................................................39

    Grfico 4 - Idade dos usurios ....................................................................................................................................40

    Grfico 5 - Distribuio dos usurios por regio ..........................................................................................................41

    Grfico 6 - Se considera parte de alguma comunidade ...............................................................................................41

    Grfico 7 - Localizao das empresas usurias ............................................................................................................47

    Grfico 8 - Faturamento empresas usurias ................................................................................................................48

    Grfico 9 - Nmero de empregados de empresas usurias ..........................................................................................48

    Grfico 10 - Razes de desenvolvimento e/ou distribuio de SL/CA, respondido por desenvolvedores .......................52

    Grfico 11 - Razes de uso de SL/CA, respondido por usurios ..................................................................................52

    Grfico 12 - Modelos de negcios de SL/CA segundo os desenvolvedores ...................................................................60

    Grfico 13 - Modelos de negcios de SL/CA segundo os desenvolvedores ..................................................................60

    Grfico 14 - Evoluo esperada do mercado de produtos Linux .................................................................................65

    Grfico 15 - Taxas de adoo de Linux em equipamentos novos e usados ..................................................................65

    Grfico 16 - Evoluo do mercado de servidores .........................................................................................................67

    Grfico 17 - Evoluo do mercado de planilhas ..........................................................................................................67

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    5Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    ndice de FigurasFigura 1 - Representao esquemtica da comunidade e das sub-comunidades que se relacionam com SL/CA ............14

    Figura 2 - Possveis evolues do licenciamento de um software livre e de um software proprietrio ............................17

    Figura 3 - Anlise de correspondncia do perfil tcnico e profissional dos desenvolvedores individuais ........................25

    Figura 4 - Anlise de correspondncia do perfil das empresas dos desenvolvedores ..................................................... 32Figura 5 - Anlise de correspondncia do perfil dos usurios de SL/CA ........................................................................42

    Figura 6 - Oportunidades e ameaas relacionadas aos modelos de negcios de SL/CA,caso brasileiro, ponto de vista das empresas de capital nacional ................................................................................62

    Figura 7 - Oportunidades e ameaas relacionadas aos modelos de negcios de SL/CA,caso brasileiro, ponto de vista das empresas de capital estrangeiro ............................................................................63

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    6 SOFTEX / UNICAMP / MCT

    Apresentao

    O modelo de software livre/cdigo aberto (SL/CA) tem despertado o interesse e suscitado reflexes nos mais diversos m-bitos (governo, academia, empresas, etc), no Brasil e no exterior. O surgimento de uma rede virtual de desenvolvedores eusurios, complexa, auto-organizada, com motivaes diversas e a existncia de novas formas de licenciamento de softwaresinalizam a introduo de novas variveis no setor de software. O software livre desponta como opo estratgica para odesenvolvimento tecnolgico com vistas incluso social, a partir de experincias bem sucedidas em diversas localidadesdo Brasil.

    O Observatrio Econmico da Softex e o Departamento de Poltica Cientfica e Tecnolgica da UNICAMP realizaram, como apoio do MCT, uma pesquisa para aprofundar o entendimento do impacto do software livre no Brasil. Foram estudadosaspectos como abrangncia de utilizao, capacitao dos desenvolvedores e, particularmente, os impactos que dizemrespeito s empresas de software (capacitao, modelos de negcios etc).

    Os resultados apresentados compem a maior pesquisa individualizada por pas j realizada em todo o mundo. As princi-pais concluses indicam que, apesar de no se tratar de uma ruptura tecnolgica, o modelo SL/CA traz uma nova formade desenvolver e licenciar software que est quebrando modelos tradicionais de apropriabilidade e de desenvolvimento

    tecnolgico.O fenmeno de construo, interao e gerao de resultados pelas comunidades algo sem precedentes na histria dosetor de software. Em boa parte destas comunidades inexistem laos formais para participao e parece haver um crescentefluxo de gerao de novas comunidades e do processo de aprendizagem coletiva.

    Os resultados desta pesquisa contradizem alguns mitos em relao ao modelo SL/CA no Brasil. O perfil dos desenvolve-dores brasileiros semelhante ao perfil europeu, que bastante profissionalizado, com a predominncia de profissionaisqualificados: administradores de sistemas, tcnicos de redes, empresrios, pesquisadores e estudantes com nvel superior.Dentre as empresas desenvolvedoras h o predomnio de pequenas empresas, mas grandes empresas tambm j adotameste modelo para realizao de negcios.

    Quanto aos usurios, o perfil se inverte. H predomnio de grandes organizaes, com destaque para os setores de tecnolo-gias da informao e comunicao, governo, comrcio e educao. Suas principais motivaes so econmicas (diminuiode custos) e tcnicas (desenvolvimento de novas habilidades).

    Estima-se que no Brasil o mercado de sistemas operacionais baseados em SL/CA tenha uma dimenso de no mnimoR$ 77 milhes, considerando-se somente a venda de distribuies e servios correlatos do Linux, com potencial de cresci-mento de 2,5 a 3 vezes at 2008. Sendo este um modelo fortemente associado prestao de servios, h a existnciade uma parcela considervel de servios comercializados, que no pde ser computada, dada a inexistncia de estatsticassobre o modelo SL/CA no Brasil. Tambm faltam estatsticas e metodologia para mensurar o mercado de linux nos embar-cados.

    Do ponto de vista das caractersticas concorrenciais, o SL/CA ameaa fortemente o modelo de pacotes (plataformas esistemas operacionais), componentes de software (enquanto a nfase de sua utilizao for como produto) e produtoscustomizveis, exatamente porque esses modelos tm na apropriabilidade (manter cdigos fechados) um fator essencial deconcorrncia. J os modelos de servios e de embarcados, por terem maior especificidade e menor importncia de apro-

    priabilidade por meio de cdigos fechados, constituem modelos com maiores oportunidades de investimento. A pesquisaindica como o SL/CA acelera a transio da indstria de software dos produtos para os servios.

    O SL/CA est se profissionalizando no pas e comea a sair da periferia da indstria em direo ao seu centro. O SL/CA, aonascer de uma contestao aos mercados proprietrios mais poderosos da indstria (Unix, Windows, Office), revelou todoseu apelo poltico, institucional e emocional. Este apelo chamou a ateno de muita gente, dos que tinham (e tm) comofilosofia um esprito libertrio e contrrio apropriao restritiva do conhecimento, aos que viam uma oportunidade de der-rubar o maior e mais conhecido gigante da indstria de software, passando pelas grandes corporaes que viram (e vem)no SL/CA uma enorme oportunidade de se desfazer de uma incmoda taxa de monoplio que restringe seus negcios. Osinteresses no SL/CA so diversos e muitas vezes antagnicos, como apresentado ao longo deste trabalho que merece serlido por todos que estudam este setor.

    Uma onda de software livre percorre o mundo. Que seja bem vinda tambm no Brasil.

    Arthur Pereira Nunes

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    7Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Introduo

    Este documento apresenta os resultados da pesquisa Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto (SL/CA) na Indstria deSoftware do Brasil realizada pelo Observatrio Econmico da Sociedade Softex em parceria com o Departamento de PolticaCientfica e Tecnolgica da Unicamp com o apoio do MCT. O objetivo deste estudo foi realizar um primeiro levantamentodas formas de organizao tcnica e econmica de software livre e cdigo aberto (SL/CA) no Brasil. Fazem parte desteobjetivo a identificao dos principais mercados e modelos de negcio relacionados a SL/CA; um levantamento de compe-tncias em SL/CA no pas (desenvolvedores, empresas especializadas, etc); um levantamento dos consumidores e usurios;a identificao das condies de apropriabilidade envolvidas em SL/CA e outros ativos complementares fundamentais aodesenvolvimento e uso de SL/CA.

    Quatro foram as principais fontes de informao levantadas pelo estudo:

    a) um painel de especialistas;

    b) uma enquete eletrnica com 3.657 respondentes (a maior j realizada dentro de um nico pas);

    c) um conjunto de entrevistas com empresas desenvolvedoras e usurias de software livre e open source (SL/CA); e

    d) um levantamento exaustivo de informaes secundrias sobre empresas que lidam com SL/CA no Brasil.

    A partir destas fontes, o trabalho apresenta o maior conjunto de informaes sobre o tema SL/CA j realizado at o mo-mento no pas. O texto que segue possui a seguinte estrutura:

    NoCaptulo 1, Panorama geral do SL/CA,o objetivo apresentar o que e como se organiza o SL/CA, bem como astendncias que esto sendo delineadas nos cenrios nacional e internacional, os instrumentos de apropriabilidade (tiposde licena e formas de apropriabilidade), as comunidades e suas caractersticas bsicas, alm das implicaes gerais para aorganizao econmica da indstria de software.

    No Captulo 2, Perfil dos desenvolvedores , o objetivo identificar e analisar o perfil social, econmico e tcnico dodesenvolvedor (indivduos e empresas) incluindo-se suas reas de atuao e perfil empreendedor.

    NoCaptulo 3, Perfil do usurio, o objetivo identificar e analisar o perfil tcnico e socioeconmico dos usurios, indi-vduos, empresrios e empresas.

    O Captulo 4, As dimenses econmicas do SL/CA: motivaes, setores e modelos de negcio apresenta asmotivaes dos diferentes envolvidos com SL/CA no Brasil; os setores econmicos e as reas de aplicaes com maior in-tensidade de uso e desenvolvimento de SL/CA e, por fim, enfoca os modelos de negcios relacionados a SL/CA e faz umaanlise das implicaes para a indstria de software. Complementarmente, este captulo faz uma estimativa do mercado deLinux no Brasil no final do ano de 2004.

    Finalmente, asconcluses recuperam questes encontradas ao longo do trabalho e se dedicam a discutir aspectos rela-cionados s polticas e sua importncia para o fomento ao SL/CA no Pas.

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    8 SOFTEX / UNICAMP / MCT

    Panorama geral do SL/CA

    Captulo 1 Panorama geral do SL/CA

    A dinmica do software livre/cdigo aberto (SL/CA) o mais recente e interessante fenmeno no cenrio dainformtica (e que ultrapassa suas prprias fronteiras), gerando um nvel de interesse similar aos dos primeirosmomentos da Internet comercial. A conceituao de software livre surgiu em 19831 e ganhou maior divulgaorecentemente. Os mais de 20 anos de evoluo permitiram ao SL/CA avanar em diversos aspectos: tcnico,poltico-estratgico, adequao s necessidades dos usurios, qualidade, segurana, etc. Esta evoluo re-sultado de um conjunto heterogneo de eventos, atores e perspectivas. Na verdade, trata-se de um processoevolutivo, cujos caminhos ainda esto sendo trilhados. Este processo coletivo interrelaciona-se de forma muitointensa, criando grandes comunidades de prtica, em que h engajamento em torno de um domnio comumno qual, em alguns casos, ocorre a socializao de conhecimento e de prticas2. Esta dinmica envolve o de-senvolvimento de software (e de material relacionado, como documentao), difuso, estmulo e apoio aouso de SL/CA, que chega at uma viso e ao empresarial, que encontra no SL/CA uma importante opo decrescimento.

    Os princpios do SL/CA fundamentam-se nas premissas bsicas de liberdade de expresso, acesso informaoe do carter eminentemente coletivo do conhecimento, que deve ser construdo e disponibilizado democratica-mente, e no privatizado. Dentro do modelo de SL/CA, o software somente mais uma forma de representaoou de organizao do conhecimento e, por isso, um bem comum. Como tal, sua difuso e uso devem ser livres.Para que estes princpios sejam efetivamente respeitados, existem alguns requisitos como o acesso ao cdigofonte dos programas e liberdades concedidas aos usurios dos mesmos.

    De forma resumida, entende-se por SL/CA todo software que oferece ao usurio, atravs do seu esquema de

    licenciamento3

    , as condies de uso, reproduo, alterao e redistribuio de seus cdigos fonte. Tambm importante destacar que o modelo de desenvolvimento e o de disponibilizao do software so caractersticasque distinguem o software livre do proprietrio. Estas peculiaridades sero devidamente tratadas ao longodeste documento.

    Duas denominaes convivem com esta definio bsica: a de software livre e a de software de cdigo aberto.Os termos so traduo direta dos utilizados em ingls: free software e open source software. Na verdade,estas denominaes contm similaridades e diferenas. Ambas significam mudanas substantivas na indstriade software, seja do ponto de vista do usurio final, do desenvolvedor de software, ou de outros agentes re-lacionados.

    No presente estudo foi usada a expressosoftware livre e cdigo aberto (SL/CA) para definir o conjun-to dos produtos e servios no proprietrios que deveriam ser pesquisados. De acordo com a literatura emesmo com a prtica, software livre (SL) e de cdigo aberto (CA) so categorias distintas, ou pelo menos

    1 A rigor, o software surgiu livre e rapidamente transformou-se em negcio proprietrio.2 Etienne C. Wenger em 1991 (Lave et al, 1991) cunhou o termo comunidades de prtica, definindo-as como grupos de pessoasque partilham um interesse e que se unem para desenvolver conhecimento de forma a criar uma prtica em torno desse tpico. Estascomunidades no esto vinculadas a estruturas hierrquicas ou institucionais. O fato de possuir fronteiras flexveis (a filiao aberta) adifere de uma tpica unidade funcional de uma empresa, e potencializa as oportunidades de aprendizagem em situaes concretas.3 Legalmente, a forma como um usurio pode relacionar-se com um software definida atravs de uma licena de uso, que escrita/

    definida/escolhida pelo produtor do software, e que deve ser aceita e respeitada pelo usurio. A legislao brasileira que trata do assunto a lei n 9.609, de 19/02/1998, artigos 9 e 10, de Registro de Programa de Computador (www.inpi.gov.br).

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    9Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    identificveis, ainda que faam parte de um mesmo tema: a produo e uso de software no propriet-rio. Na verdade, a dvida mais comum no exatamente em torno do significado dessas duas categorias,mas em torno da gratuidade ou no do produto ou do servio4 . Software livre, assim como cdigo aberto,so ativos que podem ou no ser monetizados e transacionados nos mercados, dependendo da situao.Software Livre, portanto, no diz respeito gratuidade, mas liberdade. Liberdade definida basicamente por

    se poder modificar, reproduzir e utilizar livremente, desde que no se restrinja o uso e a capacidade de uso poroutrem. Nas palavras de R. Stallman, em seu Manifesto GNU5:

    GNU is not in the public domain. Everyone will be permitted to modify and redistribute GNU, but nodistributor will be allowed to restrict its further redistribution. That is to say, proprietary modifications will not be allowed. I want to make sure that all versions of GNU remain free (Stallman, 1985).

    A idia de que SL/CA no domnio pblico (porque o que est em domnio pblico pode ser transformadoe apropriado e, assim, no valem os direitos de autor) um diferencial importante que leva criao de todauma categoria de licenas. preciso garantir que o produto/conhecimento desenvolvido sob a gide do SL novenha a ser apropriado. O conhecimento deve, portanto, nascer e se desenvolver livre. Resumidamente, seriamquatro as categorias de liberdade a serem preservadas (Augusto, 2003; Barahona et al, 2003):

    liberdade para executar o programa para qualquer fim, em qualquer ponto e a qualquer tempo;

    liberdade de estudar o funcionamento do programa e adapt-lo s necessidades de quem o estuda;

    liberdade de redistribuio de cpias;

    liberdade para melhorar o programa e publicar as melhorias.

    Um programa considerado livre se os usurios dispem de todas essas liberdades6. Caso contrrio ele po-der ser, no mximo, cdigo aberto.

    O GNU uma demonstrao da contestabilidade dos mercados de software. Sem quebrar direitos7 e sem ferirlegislaes alterou-se uma trajetria institucional de organizao da indstria e instituiu-se uma trajetria para-lela, similar em seus princpios tcnicos e tecnolgicos, mas diferente em sua organizao. As formas Catedrale Bazar de desenvolvimento, descritas por Eric Raymond (Raymond, 2001), so modelos organizacionais efe-tivamente diferentes: uma, hierrquica, controlada no interior do projeto ou da firma; outra, no hierrquica,conduzida pelas comunidades de SL. Ambas com regras e cdigos de conduta prprios: uma baseada nosganhos de propriedade, outra baseada no trabalho e uso coletivos.

    Essa seria a essncia do SL. Sua origem tem motivaes ideolgicas (as declaraes de Stallman em seu Mani-festo e em vrias entrevistas e escritos comprovam isso), sua proposta altera substantivamente as condies nasquais um programa de computador pode ser desenvolvido e, mais que isso, utilizado.

    Seu desenvolvimento, ao longo dos ltimos vinte anos, tomou vrios rumos, mas sua maior expresso prticafoi e ainda o Linux, um sistema operacional que disputa espao com os sistemas operacionais proprietriosmais difundidos no mundo, como Windows, Windows Server, Unix, Novell e sistemas de mainframe (FIESP/

    4 Como visto no primeiro captulo, o movimento inicialmente denominava-se Free Software, mas a dubiedade do termo free levou EricRaymond e Bruce Perens em 1998 a fundarem o movimento de software open source, que incorporava essencialmente as mesmas prticasde licena do software livre, mas procurava enfatizar mais os benefcios prticos dessas licenas do que os princpios ideolgicos para,assim, aumentar a aceitao do software open source pelas empresas de software (von Hippel e von Krogh, 2003; Hertel et al, 2003).5 GNU significa GNU is not Unix, uma brincadeira com a caracterstica recursiva da programao.6 http://www.gnu.org/philosophy7

    Isso no exatamente consensual, h vrios processos judiciais (Linux x Unix) e as ameaas sobre o Linux por supostamente ter feridodezenas de patentes da Microsoft.

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    Panorama geral do SL/CA

    CIESP e FEA/USP, 2004). Da sua grande importncia para o entendimento da dimenso econmica do SL.Nas palavras de Eric Raymond, Linux subversivo. E de fato o , em vrios sentidos. No que interessa parao presente trabalho, o Linux altera condies tcnicas e econmicas bsicas da organizao da indstria desoftware, a comear pela formao de preos e pela organizao industrial (estruturas de mercado e modelosde negcios relacionados indstria).

    O termocdigo aberto (ou open source) , em princpio, uma categoria que enfatiza apenas a abertura doscdigos dos programas. Assim, seria um conceito diferente do de SL porque os princpios de liberdade nonecessariamente deveriam ser observados. Entretanto, h autores que usam o termo CA como sinnimo de SL,no fazendo distino categrica entre eles (European Comission, 2000).

    Ao se tomar as caractersticas de uma licena CA dada pela Open Source Initiative OSI8, tem-se o seguinteconjunto de princpios:

    1. distribuio livre, sem pagamento de royalties ou semelhantes;

    2. cdigo fonte deve sempre estar aberto;

    3. permitir modificaes e trabalhos derivados;

    4. garantir integridade autoral do cdigo fonte;

    5. no discriminar pessoas ou grupos;

    6. no discriminar reas de conhecimento, setores, atividades;

    7. direitos de licena redistribudos sem necessidade de licenas adicionais pelas partes;

    8. a licena no deve ser ligada a um produto especfico;

    9. a licena no pode restringir outros softwares que so divulgados conjuntamente.

    Em resumo, pode-se dizer que h uma diferena conceitual entre SL e CA, embora ambos tratem de desen-volver programas com cdigos abertos, coletivamente, e de conferir liberdade de uso desses programas. Osprincpios da OSI so muito parecidos com os preconizados pela General Public License (GPL), exceto pelo fatode dar nfase aos direitos autorais e por no restringir, na ponta, o fechamento do cdigo para uso propriet-rio. Esta ltima, talvez, seja a principal diferena entre SL/CA. De toda forma, h um conjunto de atividades dedesenvolvimento de programas que so organizados da mesma forma, seja como SL ou como CA. Esta forma o que Raymond (2001) apropriadamente chamou de Bazar: horizontal, coletiva e cooperativa, baseada nascomunidades de SL.

    A nica concluso possvel sobre a percepo a que no h consenso sobre filosofia e implicaes para a

    forma de atuao de desenvolvedores e usurios. Entretanto, possvel afirmar (inclusive pela literatura e pelasmanifestaes dos entrevistados) que a noo de SL mais ideolgica que a de CA, e que esta rene um con- junto maior de pessoas (praticamente todos os que pensam que a forma de trabalho semelhante, mais os queenfatizam as diferenas e que eventualmente trabalham para projetos de CA), provavelmente porque menosradical em suas proposies e permite aproveitar as vantagens do desenvolvimento aberto sem perder algunspossveis estmulos relacionados a direitos de autoria e usos proprietrios futuros.

    No fundo, a percepo de uma ou outra categoria resultado do posicionamento das comunidades desenvol-vedoras. Do ponto de vista dos usurios, especialmente as grandes corporaes usurias de Linux, a distino percebida, mas no tem importncia na tomada de deciso, exceto para saber localizar-se entre as comuni-dades.

    8 http://www.opensource.org/docs/definition.php, citado por Arroyo et al (2004).

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    11Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Neste trabalho, software livre e software de cdigo aberto sero usados indistintamente para fins de simplifica-o, agrupados sob o termo SL/CA9. Ser dado o destaque necessrio quando houver necessidade de distingui-los. A principal diferena entre estas denominaes, como dito, est na perspectiva do indivduo. Enquanto asidias de software livre esto mais vinculadas s questes de garantia e perpetuao das liberdades citadas, asde cdigo aberto esto mais ligadas a questes prticas de produo e negcio, como a agilizao do desen-

    volvimento do software atravs de comunidades abertas.Se um desenvolvedor desejar criar um novo software utilizando trechos de software originariamente apresen-tados com uma licena de cdigo aberto, poder, a seu exclusivo critrio, utilizar qualquer outra licena, inclu-sive uma que no outorgue nenhum daqueles direitos originais (liberdade de utilizao, cpia, modificao eredistribuio). o que tradicionalmente se denomina fechar o cdigo.

    Esta situao no deve ocorrer se o software tiver sido originariamente apresentado com uma licena desoftware livre (como a General Public License, GPL), pois os direitos originais outorgados aos usurios devem,supostamente, ser propagados para todas as novas verses e trabalhos derivados criados a partir daquele origi-nal, impedindo, em tese, que se feche o cdigo. Dizemos em tese porque nada impede que o prprio autorresolva, em algum momento, colocar seu desenvolvimento em uma outra licena, menos restritiva que aquelainicialmente registrada. O direito de autor sempre se sobrepe, pelo menos no plano legal, aos muitos tipos delicenas que hoje so utilizadas em SL/CA.

    1.1 Modelo de desenvolvimento de SL/CA e comunidades

    Tradicionalmente, o desenvolvimento de software (proprietrio) realizado por grupos de desenvolvedoresdentro de uma empresa ou de empresas contratadas para tal, sob contratos que impedem a divulgao eo uso de informaes relacionadas ao produto em desenvolvimento. Tudo est envolvido em questes desigilo industrial e de propriedade intelectual (direito de autor) e o conhecimento relacionado produo dos

    softwares considerado um ativo muito importante da organizao proprietria.O SL/CA permitiu o surgimento de inovadores modelos de desenvolvimento de software, com colaboraoem rede de desenvolvedores. Estes modelos so substancialmente diferentes das prticas estabelecidas pelaengenharia de software tradicional. A Internet foi (e ) um ponto-chave desta mudana, pois proporcionouuma grande expanso nesta forma de organizao do trabalho, permitindo a criao simples e gil de redescom participantes de todas as partes do mundo e, colateralmente, distribuindoknow-how , melhores prticas eresponsabilidades para todos os participantes destas redes, sejam eles desenvolvedores, tradutores ou simplesusurios, que colaboram com sugestes de melhorias e relatandobugs . Estas redes, entretanto, podem sermais ou menos livres. Podem ser sistemas complexos que se auto-organizam ou podem ser sistemas hierr-quicos, com regras e nveis de acesso diversificado.

    O desenvolvimento do kernel do Linux,10 por exemplo, explorou, no princpio, uma forma descentralizada ecoletiva de projeto de desenvolvimento, largamente viabilizada pela Internet. O autor original do Linux, LinusTorvalds, manteve o controle do projeto do sistema operacional, mas abriu o processo de forma que outrospudessem acompanhar seu trabalho e progresso e, acima de tudo, pudessem contribuir para a identificao esoluo de problemas. Por este processo, o desenvolvimento do Linux tornou-se o resultado de um ambientede aprendizagem coletiva, no qual a tarefa estratgica do lder dar a palavra final sobre possveis disputas, ao

    9 Em outros pases, entretanto, o termo preferido para unir os dois conceitos open source software (software de cdigo aberto),freqentemente abreviado como OSS.10 O kernel o ncleo central do sistema operacional GNU/Linux, um dos exemplos mais bem sucedidos de software livre atualmente, tantodo ponto de vista do produto quanto do processo de desenvolvimento, que garante uma evoluo constante e coordenada. Em outroscaptulos deste trabalho voltaremos a este ponto, especialmente no captulo 4.

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    mesmo tempo em que estimula, facilita e mantm o fluxo de idias, conhecimento, experincias, etc (Molina,2003).

    Com a generalizao destas prticas, as implicaes para o desenvolvimento de software foram marcantes:a Internet tornou-se o ambiente de desenvolvimento de projetos e todos os que podem e desejam colaborarpodem faz-lo em um processo coletivo com diversas formas de colaborao (programao, indicao de fa-lhas, sugesto de melhorias, traduo, documentao, divulgao ou mesmo financeiramente). So coletivosheterogneos e fracamente relacionados (somente uma motivao comum os une: o desenvolvimento de umsoftware especfico), geralmente sem contratos formais ou vnculos a empresas ou organizaes para o desen-volvimento do software. A esses coletivos tradicionalmente denomina-se comunidade de desenvolvimento desoftware.11

    Nestas condies, o desenvolvimento de um software exige a atuao de lder(es) de projeto, em geral, a(s)pessoa(s) com atuao mais destacada no mesmo, que decide(m) quais colaboraes sero incorporadas naprxima verso do software, quais as prioridades e os rumos do projeto, ouvida a comunidade que se forma aoredor do mesmo. Exemplos claros deste modelo de governana (com variaes prprias de cada uma) so ascomunidades Apache (www.apache.org) e a de desenvolvimento do kernel do Linux (kernel.org). Aplica-se, namaioria dos projetos de desenvolvimento de software livre, um princpio baseado nos mritos dos participan-tes naquela comunidade. O conceito de mrito pode variar de comunidade para comunidade, mas em geralenvolve questes como quantidade e qualidade de cdigo contribudo, sugestes e participao ativa e aindacoerncia e opinies construtivas em debates sobre os rumos do projeto. Quando prevalecente, esta forma degovernana essencialmente meritocrtica, mas tem tambm contedo estratgico e de segurana.

    Este modelo de desenvolvimento tambm permite que muitos indivduos e empresas possam colaborar para acriao de um software que nenhum deles seria capaz de desenvolver individualmente, pela complexidade oupelo custo. Portanto, trata-se de uma forma de organizao que aproveita economias de escala e de escopo.Tambm permite uma correo rpida de falhas e o aumento da segurana, porque o cdigo fonte pode serinspecionado publicamente e isto faz com que ele seja exposto a severas avaliaes e por haver uma grandequantidade de pessoas que podem colaborar com a correo das falhas detectadas. Outra caracterstica in-teressante a possibilidade de se realizar alteraes especficas, de acordo com as necessidades individuaisde cada usurio, gerando diversas verses personalizadas e que atendem perfeitamente cada caractersticademandada.

    O modelo de desenvolvimento tambm favorece a possibilidade de bifurcao de projetos: no caso de nohaver acordo quanto aos rumos de um determinado projeto (ou seja, se um grupo de pessoas ou mesmo umapessoa que participa do desenvolvimento discordar dos rumos definidos pelo(s) lder(es)), sempre h a possi-bilidade de dar incio a um novo projeto, com novas prioridades e rumos, aproveitando todo o cdigo j de-senvolvido no projeto original, dando a partida do ponto exato em que houve a ruptura12, enquanto o projetooriginal segue suas diretrizes definidas.

    Atualmente, a forma de organizao do trabalho relacionado ao desenvolvimento de software tem suscitadomuito interesse entre pesquisadores de diversas reas, desde o direito at a cincia poltica, e, claro, a eco-nomia. O termocommons-based peer-production 13 j foi utilizado para definir esta forma de produo. O

    11 Como se ver adiante, h comunidades mais ou menos profissionalizadas. A do desenvolvimento do kernel do Linux, por exemplo, hojecompletamente hierrquica, coordenada e seus membros mais prximos, profissionais de software.12 Esta situao conhecida como fork (bifurcao, desvio) em um grupo de desenvolvimento. relativamente comum. Tambm podemocorrer forks quando um grupo, com necessidades especficas, decide iniciar um projeto usando grande parte de cdigo de um projeto j em andamento, mas que tem outros objetivos (por exemplo, um grupo que deseja criar um sistema de apoio a educao distncia, einicia seu projeto trabalhando com cdigo de um sistema genrico de gerenciamento de contedo de sites).13 Uma possvel traduo para esta expresso seria: Produo de bem comunal realizada entre pares.

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    criador do termo, Yochai Benkler (Benkler, 2002), caracteriza este modelo de desenvolvimento de SL/CA comoo exemplo mais visvel de um novo fenmeno socioeconmico que define um terceiro modo de produo, queest mais adequado ao ambiente digital em rede. Segundo o autor, este novo modo de produo diferencia-sedos tradicionais modelos baseados em propriedade (firmas) e em contratos (mercados), pois sua caractersticacentral a de grupos de indivduos que colaboram em grandes projetos, por motivaes e sinalizaes sociais

    diversas em vez de preos de mercado e de comando hierrquico-gerencial, tpicas das duas outras formas deproduo.

    O professor de economia da Universidade da Califrnia em Berkley, J. Bradford DeLong14, destaca o nascimen-to, no mago das comunidades de desenvolvimento de SL/CA, de uma nova modalidade de organizao social,diferente das 3 ferramentas convencionais de engenharia social que ele reconhece como utilizadas pela huma-nidade para organizar a diviso de trabalho em larga escala: mercados, hierarquias e carisma.15

    Comunidades e colaborao

    Na realidade, o termo comunidade, usado acima, aplicado em diferentes contextos a diferentes grupos depessoas, com maior ou menor granularidade. Aplica-se, por exemplo, em um contexto generalista, a todo ocoletivo de pessoas que se relaciona com SL/CA, que compreende no somente um projeto ou um tema, masos participantes de todas as comunidades vinculadas de alguma forma ao desenvolvimento, uso, difuso ouapoio do SL/CA. Estas comunidades podem ser, por exemplo, grupos de usurios, grupos de desenvolvedores,grupos mistos, grupos de debates tcnicos, grupos de debates polticos, grupos de organizao e articulao,grupos que usam/desenvolvem um software em comum. A figura 1 ajuda a ilustrar esses arranjos, procurandorepresentar o envolvimento dos diversos autores em um projeto.

    Este ltimo tipo de grupo o que mais comumente se define como comunidade: aquelas que se formam emtorno de um software ou de projeto de desenvolvimento de software. So exemplos tpicos a comunidadeMozilla16, a comunidade Mambo17 e outras, em que se renem desenvolvedores, usurios e interessados paradebater e aprimorar uma ferramenta em particular. Estas comunidades tambm podem se subdividir em outrasmais especficas, como uma sub-comunidade de desenvolvedores (que trata questes tcnicas de desenvolvi-mento e encaminha a soluo de problemas) e uma sub-comunidade de suporte (que oferece ajuda a usuriosiniciantes e/ou em dificuldades para utilizar determinado recurso do software em questo). As comunidadesso uma caracterstica marcante de boa parte de projetos de desenvolvimento de SL/CA. Quanto mais destaca-dos os projetos, maiores as comunidades que se formam ao seu redor. Embora o papel central nestes projetosseja os dos desenvolvedores, a eles logo se somam os usurios do software, que tambm contribuem de umaforma ou outra, para a evoluo dos mesmos. Em software, como se sabe, olearning by using absolutamen-te crtico, quer seja pela descoberta debugs , quer seja pela sugesto de melhorias. Existem ainda os usuriosno-ativos, que raramente participam dos debates sobre um software, o que os coloca em posio isolada dacomunidade, mas ainda assim so considerados como tal (contam em estatsticas de usurios, por exemplo).

    Outros colaboradores tambm se unem s comunidades, como tradutores, investidores, artistas grficos (con-tribuem com cones, layouts, estudos de usabilidade) e editores de livros.

    Um fator fundamental para a existncia destas comunidades a facilidade de comunicao propiciada pelaInternet, permitindo a interao, cooperao e mesmo competio entre seus membros.

    14 Citado por Imre Simon (2004) em www.ime.usp.br/~is/Benkler/cbpp.html15 Entretanto, pode-se, do ponto de vista da anlise econmica, incorporar o elemento carisma aos atributos de incerteza, oportunismoe freqncia normalmente ligados s decises contratuais (fazer ou buscar fora).16 www.mozilla.org17 www.mamboserver.com, www.mamboforge.net

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    Figura 1 Representao esquemtica da comunidade e das sub-comunidades que se relacionam com SL/CA

    A colaborao vem se tornando cada vez mais rica, pois ao longo do tempo foram sendo criadas e aperfeio-adas ferramentas apropriadas para cada atividade: sistemas distribudos de controle de verses de software esistemas de rastreamento e controle debugs so dois exemplos de ferramentas para desenvolvedores, enquan-to listas de discusso, fruns echats , sites web e outros so utilizados tanto por desenvolvedores quanto porusurios. Muitas vezes, comunidades grandes promovem tambm encontros presenciais regionais, nacionaisou mesmo internacionais.

    Existem ainda as comunidades que se organizam em torno de temas de debate relacionados a questes rele-vantes no seio das demais comunidades de SL/CA. So grupos heterogneos, que envolvem usurios, desenvol-vedores e quadros polticos, e que podem ter como foco das discusses questes de uso de SL/CA, estratgiasde divulgao e difuso e articulao poltico-estratgica.

    Comunidades brasileiras

    Em pesquisa recente (Reis, 2003) foram identificadas algumas caractersticas referentes s comunidades bra-sileiras de desenvolvimento de software livre. O perfil das comunidades brasileiras avaliadas o de pequenosgrupos, com cinco indivduos em mdia, em que tanto so desenvolvedores quanto usurios dos softwares emtorno do qual se organizam. muito freqente que existam participantes com mais de cinco anos de experin-

    cia nestas comunidades, o que representa uma base slida para que um projeto avance. Alguns exemplos decomunidades brasileiras de desenvolvimento de software so:

    OpenOffice18: comunidade dedicada localizao ao portugus do Brasil e ao desenvolvimen-to complementar (dedicados ao usurio brasileiro) do conjunto de ferramentas de escritrioOpenOffice.org

    Mozilla19: comunidade de usurios, desenvolvedores e interessados no Mozilla para o Brasil. Alm datraduo das aplicaes, o foco a divulgao e suporte para os usurios do pas.

    18 http://openoffice.org.br19 http://mozilla.org.br

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    MonoBASIC20 : comunidade de desenvolvimento que se prope criar um compilador livre para a lingua-gem VisualBasic.Net, integrado ao projeto Mono.

    Care2xBrasil21 : sistema integrado de aplicativos para rea da sade.

    Existem diversos outros projetos brasileiros de desenvolvimento de software em torno dos quais formam-

    se comunidades (algumas de usurios, outras de desenvolvedores). Os projetos mais conhecidos, segun-do pesquisa realizada pelo site br-Linux.org em 200322 , so o Kurumin (distribuio Linux de uso fcil),WindowMaker (ambiente grfico),txt2tags , rau-tu , dsearch, brazip, slackpkg e sarg.

    Por outro lado, no Brasil tambm h uma profuso de comunidades temticas, cujo escopo costuma variarmuito, desde pequenos grupos locais, at grandes grupos nacionais. Exemplos claros so as diversas comuni-dades intituladasProjeto Software Livre (PSL), onde existem os PSL estaduais (PSL-SC, PSL-RJ, PSL-BA, porexemplo) e os temticos (PSL-Mulheres, PSL-Jurdico, etc), alm do PSL-Brasil, que, em tese, rene toda a co-munidade de software livre brasileira interessada em debater questes estratgicas e articular-se nacionalmenteem prol do SL/CA.

    Tambm so muito comuns no Brasil as comunidades de informao, nas quais h intensa troca de informa-es, contedo, dicas, etc. So exemplos claros o sitebr-Linux.orge a listaDicas-L23.

    1.2 Licenas

    Da mesma forma que o software proprietrio, a distribuio e o uso de SL/CA esto baseados em licenas. Ousurio de um software deve concordar e aceitar a licena associada ao software para utilizar os cdigos queali esto. Estas licenas tm a fora de um contrato de adeso, no qual o usurio compromete-se a respeitaras regras propostas pelo titular do software e pode ser processado no caso de descumpri-las (isto no o colocana ilegalidade, a no ser que ele transgrida leis relacionadas ao direito de autor, ou de uma licena associadaa patentes). So as regras definidas nestas licenas de uso que definem se um software considerado livre, decdigo aberto ou no-livre (proprietrio). Como j citado, as licenas de SL/CA autorizam qualquer usurio autilizar, copiar, modificar e distribuir o software, segundo determinadas regras. Em geral, as licenas de sof-tware proprietrio permitem que o usurio somente utilize o software de acordo com as regras do titular dosoftware (geralmente a empresa desenvolvedora ou distribuidora), sendo vedada sua reproduo, instalaomltipla, alterao, cesso, revenda ou redistribuio sem o devido pagamento adicional.

    Algumas licenas de SL/CA so muito comentadas, mas nem sempre as informaes so claras ou precisas. Alicena de software livre mais utilizada a mantida pela Free Software Foundation - FSF (do projeto GNU) ese chamaGNU General Public License(GNU GPL), que define as liberdades do usurio de um software: elepoder utilizar sem restries, adaptar para seu uso, redistribuir cpias, implementar melhorias e difundir asmelhorias. Existem muitas outras licenas de SL/CA, como aBSD revisada(Berkeley Software Distribution) oua MPL(Mozilla Public License).

    Aprimorado junto com a licena GPL, a FSF criou o conceito decopyleft, que uma forma de garantir que umsoftware livre e todos os softwares derivados do original, continuem sempre livres24. O copyleft um recurso

    20 http://monobasic.sl.org.br21 http://care2xbr.codigolivre.org.br/ 22 http://brLinux.Linuxsecurity.com.br/noticias/001434.html#00143423 http://www.dicas-l.unicamp.br24 http://www.fsf.org/licenses/licenses.htm

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    baseado nos conceitos legais do copyright, em que os direitos autorais so preservados, mas os direitos comer-ciais (de cpia) so liberados, desde que esta regra se mantenha para todos os futuros usurios. Vale ressaltarque nem todas as licenas de SL/CA impem o copyleft.

    A licena GNU GPL hoje uma referncia no movimento SL/CA. Segundo Taurion (2004), uma licena quemantm a liberdade do cdigo fonte, evitando que uma empresa se apodere de cdigo livre e o comercialize deforma proprietria. Qualquer alterao feita em software que foi liberado sob a licena GPL deve apresentar amesma licena (chamado efeito contaminao), garantindo que o novo software tambm seja tornado pbli-co, para que assim a comunidade que j colaborou com a verso original tambm possa usufruir das melhorias.Outros exemplos de licenas25 so:

    LGPL (Lesser General Public License): Verso da GPL com copyleft relaxado, pois permite acoplarcdigo LGPL a outro cdigo que no o seja (desde que respeitadas algumas condies).

    BSD (Berkeley System Distribution): uma licena simples que no impe restries para o uso,modificaes e redistribuies. No adere ao conceito de copyleft, mas sim que se possa dar qualquerfinalidade ao software, inclusive associar o cdigo livre original a cdigo no-livre, para criar software

    proprietrio. MPL (Mozilla Public License): uma licena que impe copyleft somente para os trechos originais do

    cdigo, diferenciando o cdigo j existente licenciado pela MPL e o cdigo novo, que no necessaria-mente precisa seguir a mesma licena (e inclusive pode ser proprietrio).

    A figura 2 representa possveis evolues do licenciamento de um software a partir da deciso do desenvol-vedor original em aplicar uma licena GNU GPL ou uma licena tipo BSD. As implicaes desta deciso estoinerentemente ligadas adeso ou no do princpio de copyleft.

    Em muitos casos, a escolha da licena a ser utilizada deciso do autor. Ele pode escolher uma das licenasconhecidas ou escrever os termos de uma licena prpria. Entretanto, se o desenvolvedor lanar mo de cdi-go j disponvel, poder ter que se adaptar s regras definidas pelo licenciamento do cdigo utilizado. Se, porexemplo, o desenvolvedor utilizar cdigo sob GPL no seu software, ele dever teoricamente adotar a mesmalicena para seu cdigo. Entretanto, o desenvolvedor, como autor, pode dar, em seqncia, qualquer destinoque quiser ao cdigo que ele desenvolveu, prevalecendo o direito de autor (situao representada pela setavertical descendente na figura 2). Se o cdigo utilizado estiver sob licena BSD, por exemplo, o desenvolvedorpoder optar por qualquer licena (inclusive GPL e BSD ou mesmo redigir uma prpria). Se, por outro lado, eleutilizar cdigo proprietrio, no poder liberar seu cdigo sob uma licena livre, exceto se ele detiver a proprie-dade material daquele cdigo (seta vertical ascendente na figura 2).

    Cabe ressaltar tambm a possibilidade de licenciamento dual, ou seja, um mesmo cdigo fonte pode serliberado pelo autor sob duas (ou mais) licenas distintas, conforme o caso e o interesse do usurio. o queocorre com o sistema de banco de dados MySQL (da empresa MySQL AB), que apresenta uma licena livre(compatvel com GNU GPL) para ser utilizada em projetos de outros softwares livres e uma licena dita co-mercial, que permite a incorporao do produto em produtos no-livres. Neste ltimo caso, o esquema delicenciamento funciona como no caso de software proprietrio, com cobrana por cpia do produto, e adequada para as empresas que desejarem desenvolver software utilizando MySQL mas que no queiramliberar seu prprio cdigo com uma licena GPL ou compatvel (o que seria uma obrigao desta empresa,uma vez que ao incorporar cdigo a outro que est sob GPL, o novo cdigo tambm deve ser apresenta-do sob esta licena). Outro exemplo de licenciamento dual o adotado pela empresa Sun para o software

    25 A OSI (Open Source Initiative) registra 54 licenas reconhecidas como compatveis com a Open Source Definition (em novembro de

    2004). Consulte www.opensource.org. Tambm a FSF comenta dezenas de licenas de software, livre ou no, copyleft ou no, e fazuma comparao e avaliao de compatibilidade com a GNU GPL, em www.fsf.org/licenses/license-list.html.

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    OpenOffice.org, que est disponvel sob LGPL e sobSISSL(Sun Industry Standards Source License), que tam-bm uma licena de software livre, porm diferente da GPL.

    Especificamente no Brasil, a questo das licenas de SL/CA um assunto ainda pouco conhecido pelos usuriose mesmo por muitos desenvolvedores. Recentemente, a organizao Creative Commons26, em cooperao coma Escola de Direito da Fundao Getlio Vargas, publicou a licenaCC-GNU GPLem portugus, como primeiroresultado de uma cooperao para apoiar a disseminao das licenas definidas por aquela organizao noBrasil27. Na mesma linha, o escritrio Kaminski, Cerdeira e Pesserl Advogados, em cooperao com a organi-zao Open Source Initiative (OSI28), deu incio a um projeto cooperativo para traduo para o portugus (esegundo as tradies jurdicas brasileiras) das licenas homologadas pela OSI como compatveis com a OpenSource Definition29.

    Figura 2 - Possveis evolues do licenciamento de um software livre e de um software proprietrio

    O quadro 1 apresenta alguns fatos que se destacaram relacionando empresas em aproximao do SL/CA.Estas so algumas aes que podem ser um indicativo, em mbito internacional, dos movimentos de grandesempresas no sentido de aproximar-se, adaptar-se e, se possvel, apropriar-se do conhecimento e dos processoscaractersticos da dinmica do SL/CA, ao mesmo tempo em que estes movimentos aproximam o SL/CA domundo empresarial e dos grandes capitais.

    Em outra escala, tambm se pode perceber um movimento neste sentido: na adoo de SL/CA por empresasusurios de tecnologias de informao e comunicao (TICs) como forma de reduo de custos. A abordagem a de utilizar e beneficiar-se das vantagens com pouca retribuio s comunidades de SL/CA daquilo que desenvolvido internamente, para resolver problemas especficos, eliminao de falhas no software, etc. Estatambm a forma de utilizao do SL/CA por muitas empresas desenvolvedoras de software: utilizam platafor-mas de desenvolvimento livres (como compiladores e o prprio sistema operacional) que so teis e, em geral,gratuitas, para a criao de seus prprios produtos que no so, entretanto, livres. Estas questes sero melhoranalisadas no captulo referente a motivaes e modelos de negcios ligados a SL/CA.

    26 www.creativecommons.org27 Esta licena reconhecida e difundida pelo governo federal (www.softwarelivre.gov.br/Licencas/)28 www.opensource.org29

    Disponvel em www.opensource.org/docs/definition.php, a Open Source Definition especifica os requisitos mnimos que uma licena desoftware deve observar para que o software licenciado por ela seja considerado de cdigo aberto.

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    Panorama geral do SL/CA

    No prximo captulo veremos os resultados da pesquisa sobre perfil de desenvolvedores e de usurios. Tantoindivduos quanto empresas so analisadas nesse captulo e comparados com outros levantamentos interna-cionais.

    Quadro 1 - Fatos importantes na histria da aproximao entre SL/CA e as empresas

    Perodo Fato relevante

    1998 Investimentos da Intel30 na Red Hat31

    1999 Abertura de capital da Red Hat1999 IBM32 anuncia estratgia de adoo de GNU/Linux 2000 IBM anuncia investimento de 1 bilho de dlares para compatibilizar software e hardware com Linux e aloca 250

    engenheiros para atuar junto s comunidades de SL/CA2000 Sun Microsystems33 anuncia licenciamento LGPL do OpenOffice (mantendo duplo licenciamento com SISSL)2000-04 Servidor web Apache34 domina amplamente o mercado2000-04 GNU/Linux comea a ser amplamente usado em eletrnica de consumo: Sony Playstation35 e TiVO36

    2004 Novell37 adquire Ximian38 e Suse39

    Fonte: adaptado de Molina (2003)

    30www.intel.com31 www.redhat.com32 www.ibm.com33 www.sun.com34 www.apache.org35 www.playstation.com36 www.tivo.com37 www.novell.com38 www.ximian.com, empresa desenvolvedora de software para GNU/Linux de grande sucesso por sua qualidade.39 www.suse.com, empresa que criou uma distribuio GNU/Linux de destaque.

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    Captulo 2 Perfil dos desenvolvedores

    Neste captulo so caracterizados os desenvolvedores de SL/CA no Brasil: na primeira parte traado o perfildos desenvolvedores individuais. Na segunda parte, o dasempresas desenvolvedoras.

    De uma forma geral, pode-se dizer que existem vrios mitos sobre quem so as pessoas e instituies respon-sveis pelo fenmeno SL/CA, em parte devido sua origem contestatria. Desta forma, para compreender estefenmeno preciso notar que o perfil dos desenvolvedores, tanto os indivduos quanto o das empresas, mudounos ltimos 5 anos, especialmente depois da entrada de grandes atores como mostra o estabelecimento doOpen Source Developer Labs (OSDL), que uma organizao sem fins lucrativos financiada por corpora-es como IBM, Intel, Hewlett-Packard e CA, especificamente para desenvolver Linux para ambientes de grandeescala de produo40. No incio do movimento de software livre, o perfil tpico era, nas palavras de AndrewMorton (responsvel pela manuteno da forma estvel do kernel do Linux) o do rapaz micreiro progra-mando em seu poro puramente por amor. Mas nos ltimos anos, diz Morton, a maior parte do cdigo doLinux tem sido gerada por programadores profissionais, empregados em corporaes, como IBM, Red Hat eSGI, dentro do horrio de trabalho.

    Alm desta mudana, pode-se dizer que nos grandes projetos de SL/CA o processo de desenvolvimento bastante hierrquico, pois poucos desenvolvedores (denominados core group e reconhecidos pelos pares),so responsveis pela maior parte do cdigo, enquanto que um nmero bem maior de desenvolvedores fazempoucas contribuies, sendo a maioria relatrios de erros e problemas (bugs) (Lerner e Tirole, 2002, p.206). Aconcentrao tambm se d em termos geogrficos, pois segundo Morton, o core group do Linux com-posto principalmente por desenvolvedores dos Estados Unidos, Europa e Austrlia. H um crescimento doenvolvimento dos pases do Leste Europeu, mas a participao da sia e Amrica Latina permanece pequena(Jackson, 2004).

    Este quadro est relacionado com a emergncia do movimento de software decdigo aberto em com-plementao ao desoftware livre. Como visto, a grande difuso do Linux atraiu um grande percentual deinvestimento comercial nos projetos de CA e foram estabelecidas empresas dedicadas a dar suporte ao Linux,sendo as pioneiras aVA Linux,estabelecida em 1993, e aRed Hat, em 1995 (Lerner e Tirole, 2002). A RedHat tornou-se uma grande empresa que pode ser considerada a principal distribuio mundial de Linux. Deforma semelhante, surgiram outras empresas menores com atuao em SL/CA, seja no desenvolvimento sejanos servios correlatos. No Brasil, pode-se apontar a empresa Conectiva, que possui uma distribuio Linux epresta servios41.

    40 Entre outras atividades, OSDL a responsvel pelo pagamento do trabalho de Linus Torvalds, o criador do Linux e a nica pessoa aquem permitido inserir alteraes no kernel do Linux (Jackson, 2004). A atuao do OSDL ser retomada no Captulo sobre motivaese modelos de negcios.41 Recentemente, a Conectiva foi comprada pela empresa francesa Mandrake, uma distribuio disseminada na Europa. Mandrake (Frana),Conectiva (Brasil), TurboLinux (Japo) e Progeny (EUA) estabeleceram um acordo para desenvolver seus produtos com base em umaimplementao binria comum com base em padres existentes do Linux. A iniciativa foi denominada Linux Core Consortium (LCC).

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    Perfil dos desenvolvedores de SL/CA

    Estes aspectos do SL/CA tm atrado a ateno dos pesquisadores, tanto no sentido de caracterizar as empresasdesenvolvedoras42 quanto os desenvolvedores individuais43. Isto segundo Barahona et al (2003, p.91) ajudou aconhecer as pessoas que participam dos projetos de SL/CA, cujo trabalho costuma ser parcialmente annimoe distribudo, e desfazer alguns mitos, conhecendo sua procedncia, motivao, formao tcnica e outrosaspectos. Dessa forma, a enquete eletrnica realizada no mbito deste estudo ajudou a cobrir amplamente a

    lacuna de informao sobre os desenvolvedores brasileiros, bem como os outros instrumentos (entrevistas elevantamentos secundrios).

    2.1 Perfil social, econmico e tcnico do desenvolvedor individual

    Para obter informaes sobre os desenvolvedores individuais foi realizada umaenquete eletrnica , respon-dida por um nmero supreendentemente alto de desenvolvedores, sendo uma das maiores j realizadas nomundo (veja o quadro 2), principalmente levando-se em conta que foram apenas desenvolvedores localizadosno Brasil44. Foram consideradas vlidas 1.953 respostas ao levantamento de desenvolvedores de SL/CA no Bra-sil, o que permitiu traar um perfil bastante representativo.45

    A presente pesquisa permitiu, pela primeira vez no pas, traar um perfil dos desenvolvedores brasileiros e situaro Brasil diante do contexto global de SL/CA. A seguir h informaes referentes aos desenvolvedores nacionais organizadas em termos das caractersticas socioeconmicas e da experincia e caractersticas organizacionaisdo envolvimento com SL/CA. Depois da apresentao das caractersticas mais freqentes a partir da compa-rao com o perfil internacional, sero apresentados os resultados dos agrupamentos traados por meio deanlises multivariadas.

    42 No plano internacional pode-se citar os estudos de Wichmann (2002) e Arroyo et al (2004) e no cenrio brasileiro, o nico estudo jrealizado o de Saleh (2004).43 No plano internacional as pesquisas seguintes traaram o perfil scio-econmico, demogrfico e tcnico dos desenvolvedores no mundo:Hertel et al (2003), Ghosh et al (2002) e Robles et al (2001). Tambm h pesquisas sobre os projetos de SL/CA (Reis, 2003; Gosh et al, 2002;Krogh et al, 2003; Hertel et al, 2003). No plano nacional, vale citar o estudo de Augusto (2003) que buscou a motivaes e orientaes

    dos programadores brasileiros, atravs de 102 questionrios com participantes de listas de discusso brasileiras, sendo que as listas dediscusso foram Conectiva Linux, Debian-br, verso brasileira do OpenOffice.org, Kurumin, alm de usurios/desenvolvedores da UERJ,Unicamp e ALERJ. Alm disso, desenvolvedores brasileiros participaram em pequena escala de estudos internacionais, como Reis (2003),Gosh et al (2002) e David et al (2003).44 A enquete foi divulgada de forma ampla na comunidade brasileira de SL/CA, atravs de listas de discusso e sites relacionados, mastambm excedeu suas fronteiras a partir da divulgao na mdia geral a partir do seu lanamento no 5 FISL (Frum Internacional deSoftware Livre), por meio de uma coletiva de imprensa. Seguindo a linha dos estudos internacionais, a amostra foi voluntria e ficouaberta para resposta por quem se considerava desenvolvedor ou usurio. A construo do questionrio foi inspirada na bibliografiainternacional, especialmente nos estudos semelhante como o Free/libre and open source software: Survey and study (FLOSS) (Gosh et al,2002). Avaliou-se que seria particularmente vantajoso utilizar os questionrios dos estudos internacionais, que j tinham sido testados pordesenvolvedores e que j possuam modelos para o tratamento dos resultados. Assim o questionrio foi, em grande parte, semelhante aoquestionrio do FLOSS, mas com adaptaes. O questionrio foi submetido a um pr-teste antes do lanamento.45 Entretanto, os mtodos estatsticos empregados no faro qualquer suposio probabilstica e no tero por objetivo realizar infernciassobre a populao. O levantamento foi feito sobre uma amostra no aleatria, uma vez que este o primeiro do tipo feito no pas.

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    21Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Quadro 2 - Comparao com outros surveys no mundoPesquisa Instituies responsveis Ano N desenvolvedores Localizao respondentesSL/CA Brasil MCT

    SOFTEXGEOPI/DPCT/Unicamp

    2004 1.953 Brasil

    FLOSSEurope University of Maastricht(Holanda)European CommissionIST programme

    2002 2.784 71% Europa Ocidental/Rssia13% EUA17% outros

    FLOSS-US Stanford UniversitysStanford Institute forEconomic Policy ResearchNational Science Foundation

    2003 1.588 53% Europa Ocidental27% Amrica do Norte8% Rssia e Europa Oriental5% sia Oriental3% Austrlia e Nova Zelndia3% Amrica Latina1% Oriente Mdio e frica

    FLOSS-JP Mitsubishi ResearchMinistry of Economy,Trade and Industry

    2003 547 97,4% Japo1,3% EUA1,3% outros

    Fonte: Elaborao prpria a partir da enquete eletrnica, Gosh et al (2002); David et al (2003); Mitsubishi Research Institute (2004).

    2.1.1 Caracterizao social, econmica e tcnica dos desenvolvedores

    A maior parte dos respondentes classificou-se como administrador de sistemas ou tcnico de redes bsico(65%)46. Trata-se, na maior parte dos casos, de desenvolvedores bsicos, cujas atividades e competnciasesto no entorno da atividade de programao e desenvolvimento de softwares, como administrao de sis-

    temas e redes e tambm suporte. Este perfil de competncias era esperado. Confrontando esses dados comos de outros pases, no entorno das atividades nucleares que prospera a maior parte das competncias emSL/CA. So atividades de suporte e gerenciamento dos sistemas e programas que representam a maior partedo mercado de servios em SL/CA (e de resto, em software, de uma maneira geral). De toda forma, a grandemaioria dos respondentes j participou de projetos de SL/CA: em relao participao em projetos, 76% dosrespondentes j participaram de projetos de programao, 35% de documentao e 31% de traduo/localiza-o de SL/CA. Entretanto, a participao como lder restrita: 45% nunca participaram como lder de projetos,24% participaram em um projeto como lder e apenas 27% participaram como lder em mais de um projeto.Assim possvel perceber um grupo de elite de desenvolvedores, como ser evidenciado adiante nas anlisesmultivariadas.

    Outras caractersticas reforam que a maioria dos respondentes desenvolvedor bsico: 58% no depositam ossoftwares desenvolvidos em repositrios e 52% no se preocupam em deixar o software internacionalizado47. Oelevado nmero de desenvolvedores que no depositam no deve ser entendido como uma falta de preocupa-o dos desenvolvedores com compartilhamento. Significa, muito provavelmente, que os desenvolvedores daamostra no geram cdigos com complexidade e integrao que justifiquem disponibilizar para a comunidade.

    46 De acordo com a explicao do questionrio so profissionais que administram sistemas e redes e realizam pequenas adaptaes nocdigo de programas e mesmo em shell scripts.47 Internacionalizado: software apto para ser adaptado (localizado) para diferentes lnguas e pases, pela utilizao de bibliotecas eprocedimentos de desenvolvimento adequadas. A internacionalizao e o depsito dos cdigos criados/alterados so muito relevantes

    para o desenvolvimento dos projetos e o crescimento do conhecimento nas comunidades, pois possibilita o compartilhamento e formaode rede.

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    22 SOFTEX / UNICAMP / MCT

    Perfil dos desenvolvedores de SL/CA

    Alm disso, contribuir para um projeto envolve no s programar, mas tambm testar e reportar bugs (Lernere Tirole, 2002).

    possvel perceber um movimento de busca de profissionalizao em SL/CA. Apesar de 83% no possuircertificao profissional ligada a SL/CA muito provavelmente porque isso ainda no seja exigido h umapreocupao acentuada com certificao (apenas 29% no acham isso importante), com documentao dossoftwares desenvolvidos (70% documentam o desenvolvimento e criam manuais) e na autoria dos trechos de-senvolvidos (53% identificam e acham isso importante).

    interessante comparar o perfil mdio brasileiro com o perfil internacional dos desenvolvedores a partir dosquadros 3 e 4. H vrios pontos semelhantes como idade, estado civil, situao empregatcia, renda e rendaadvinda do trabalho com software (com a diferena que internacionalmente o maior percentual vem do traba-lho com desenvolvimento), envolvimento com software proprietrio e participao em projetos de SL/CA (totalde projetos em que j participou). Entretanto h diferenas importantes em relao a:

    nvel de escolaridade, pois os desenvolvedores brasileiros esto em grande parte se formando e apenas42% so no mnimo graduados, em contraste com os 70% j graduados no cenrio internacional;

    ocupao principal, pois no Brasil h mais tcnicos programadores, administradores de rede e suporteque engenheiros de software e correlatos;

    embora a idade de incio no SL/CA seja parecida (22,0 e 22,9 anos), trata-se de um fenmeno mais re-cente no Brasil (ano mediano de incio 2002) que na Europa (ano mediano 1998).

    Antes de apresentar os agrupamentos, cabe ressaltar mais trs pontos: quanto concentrao geogrfica dosdesenvolvedores, a renda e o trnsito de competncias entre SL/CA e software proprietrio.

    Localizao geogrfica: os desenvolvedores esto concentrados principalmente na regio Sudeste dopas (52%) e na regio Sul (26%)48. As duas regies somam 78% dos respondentes, evidenciando a dis-

    paridade existente no avano do software livre nas diferentes regies do pas, no que segue, em grandeslinhas, a indstria de software.

    Renda pessoal: considerando que a grande maioria tem curso superior, atua em reas relativamentesofisticadas e tem idade mdia relativamente baixa, pode-se dizer que a renda mensal dos respondentes mdia e tem perspectivas de crescimento: 54% recebem mais de 5 salrios mnimos, sendo que 29%recebem mais de 10 salrios mnimos. Alm disso, as ocupaes ajudam a identificar o perfil de rendana medida em que revelam que boa parte dos respondentes trabalha como tcnico de programao,administrador de redes e d suporte s operaes de informtica. Ademais, uma parte substantiva dosrespondentes de estudantes, supostamente com renda muito baixa (quando alguma). De toda forma, possvel inferir que se trata de uma massa de profissionais formados ou em formao que apresentam

    potencial de insero e expanso no mercado de trabalho, formal ou informal, corporativo, empreende-dor ou de profissional liberal.

    SL/CA e software proprietrio: o incio do desenvolvimento de software proprietrio anterior ao deSL/CA para 55% dos entrevistados, mas interessante apontar que para 31% dos respondentes, a atua-o com SL/CA iniciou-se antes que com software proprietrio. Esta caracterstica aponta dois aspectos:primeiro, as competncias transitam razoavelmente bem do proprietrio para o livre (no sentido de queno h obstculos tcnicos para se fazer um ou outro); segundo, h um contingente expressivo (e cres-cente) de pessoas que ingressou no desenvolvimento de software pela porta do SL/CA.

    48 O maior nmero de desenvolvedores est concentrado no Estado de So Paulo (32%), seguido de Rio de Janeiro (10%) e Rio Grande doSul (10%).

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    23Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Quadro 3 Comparao do perfil dos desenvolvedores (Brasil e Europa): caractersticas socioeconmicas

    Pesquisa Pesquisa SL/CA Pesquisa FLOSS EuropaMediana da idade 26 26Estado civil 39% solteiros

    38% casados

    41,4% solteiros

    21,1% casadosSexo masculino 97% 98,9%Escolaridade superior 42% (20% com ps-graduao) 70% com no mnimo graduao

    (37% com ps)Situao empregatcia 66 % empregados (13% autnomos)

    15% possuem empresas

    79% empregados (14% autnomos)

    17% estudantesOcupao principal Tcnico programador, administrador de re-

    des, suporte (34%)

    Engenheiros de software,analistas de sistemas (20%)

    Engenheiros de sofware (33,3%)

    Programadores (11,2%)

    Estudantes (20,9%)

    Renda 44%: menos de 5 salrios mnimos

    29%: mais de 10 salrios mnimos

    45%: menos 2.000 (euro/dlar)

    27%: 2.000 a 4.000

    18%: mais de 4.000Renda de trabalhocom software em geral

    22%: no

    38%: desenvolvimento,

    25%: administrao

    11%: suporte

    3%: treinamento

    1%: distribuio

    24,7%: no

    50,9%: desenvolvimento

    7%: suporte

    17,3%: administrao

    Fonte: Elaborao prpria a partir da enquete eletrnica, pesquisa de campo e Gosh et al (2002).

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    24 SOFTEX / UNICAMP / MCT

    Perfil dos desenvolvedores de SL/CA

    Quadro 4 Comparao do perfil dos desenvolvedores (Brasil/Europa): caractersticas de atuao com SL/CA

    Pesquisa Pesquisa SL/CA Pesquisa FLOSS EuropaRenda de SL/CA 40%: no

    36%: diretamente

    24%: indiretamente

    46%: no

    50,3%: diretamente

    43%: indiretamenteDedicao aodesenvolvimento de SL/CA(horas/semana)

    62%: menos de 10

    37%: mais de 11

    70%: menos de 10

    14%: 11 a 20

    16%: mais de 20Participao em projetos 71%: 1 a 5 projetos 71,9%: 1 a 5 projetosLiderana em projetos 45%: nunca

    24%: 1 projeto

    35,2%: nunca

    32,1%: 1 projetoPertencimento scomunidades

    26%: SL

    10%: CA

    53%: ambas

    48%: SL

    32,6%: CA

    Mediana da idade deincio no desenvolvimento de SL/CA

    22 22,9

    Mediana do ano de incio 2002 1998Dedicao aodesenvolvimento desoftware proprietrio (SP)(horas/semana)

    51,3% tambm desenvolvem SP

    39%: menos de 10

    14%: entre 11 e 20

    43%: mais que 21

    52% tambm desenvolvem SP

    29,1%: menos que 10

    12,8%: entre 11 e 20

    58,2%: mais de 21

    Fonte: Elaborao prpria a partir da enquete eletrnica, pesquisa de campo e Gosh et al (2002).

    2.1.2 Perfis dos desenvolvedores (agrupamentos)

    A partir das questes consideradas mais significativas, buscou-se traar o perfil dos desenvolvedores a partir deagrupamentos que emergiram das anlises multivariadas utilizadas49. As variveis utilizadas foram:

    Habilidades em SL/CA: autoclassificao em desenvolvedor bsico ou desenvolvedor avanado; filiaos comunidades de SL/CA; motivao para desenvolver/distribuir SL/CA; local de desenvolvimento;

    Dedicao, em horas semanais no ltimo ano, para projetos SL/CA e software proprietrio;

    Aspectos tcnicos do desenvolvimento: depsito dos softwares desenvolvidos e adaptados em reposit-

    rios, preocupao com documentao; internacionalizao e autoria;

    49 Foram utilizadas duas tcnicas: anlise de correspondncia mltipla (ACM) e anlise hierrquica de agrupamentos. A ACM uma tcnicaexploratria multivariada que tem como objetivo a representao grfica de um grande conjunto de variveis categricas atravs dareduo do espao original de representao destas. Atravs da contribuio dos eixos na variabilidade total, identifica-se se h associaesplausveis de interpretao entre as categorias de resposta, ou seja, a presena de um fator que evidencie a discriminao de diferentesperfis em escopos scio-econmico ou tcnico. As cargas fatoriais apresentadas foram adequadas natureza categrica dos dados. Sobreos resultados da ACM aplicou-se a anlise de agrupamentos que consolida os grupos que podero ser interpretados como os diferentesperfis dentro de cada escopo. O nmero de agrupamentos, ou diferentes perfis, definido arbitrariamente tendo como base algumas

    medidas numricas e a representao grfica dos mesmos no dendograma. O importante nesta etapa a interpretabilidade destes gruposno mbito do estudo. A interpretao auxiliada pelas medidas de discriminao das categorias de resposta em cada grupo.

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    25Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Formao e atuao profissional: escolaridade, ocupao, capacitao e certificao em SL/CA; rendapessoal e situao empregatcia atual;

    Aspectos econmicos da atuao com SL/CA: trabalho com SL/CA como fonte de renda, posse de em-presa de software e a dedicao da empresa a SL/CA, setores econmicos, reas de aplicao, modelosde negcio.

    A partir da utilizao da ACM, foi possvel perceber 4 grupos (figura 3), confirmados depois pela anlise deagrupamento. H uma oposio entre os respondentes que se classificaram como administrador de sistemas / tcnico de redes / desenvolvedores bsicos e desenvolvedores avanados. Tal fato implica na presena de perfisdistintos quanto resposta das demais variveis, como ser visto na interpretao dos grupos formados.

    O primeiro eixo pode ser interpretado como a propriedade de empresas que atuam com SL/CA (na figura in-dicado pela seta horizontal quebrada e orientada para a esquerda). O gradiente vai da direita para esquerda,desde os respondentes que no possuem empresa at os respondentes que possuem empresas cuja dedicaoa SL/CA superior a 80%. O segundo eixo pode ser interpretado principalmente como o nvel de escolaridadedos respondentes (indicado na figura 3 pela linha vertical quebrada orientada para cima).

    Figura 3 - Anlise de Correspondncia do perfil tcnico e profissional dos desenvolvedores individuaisFonte: pesquisa de campo, enquete eletrnica

    Os quatro grupos que emergiram da anlise so apresentados a seguir por grupo (e de forma sinttica) natabela 1:

    Grupo 1 - Desenvolvedores de software proprietrio (22,63%)

    O grupo 1 formado por desenvolvedores avanados cuja maior dedicao profissional em software pro-prietrio. Os setores econmicos mais freqentemente citados foram comrcio e setor financeiro. Um dadode destaque do grupo que alguns dos seus componentes possuem empresas de software, mas cuja dedica-o a SL/CA pequena (at 25% das atividades). Os outros integrantes trabalham em empresas privadas. A

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    Perfil dos desenvolvedores de SL/CA

    dedicao a SL/CA pequena: participaram de poucos projetos, dedicam semanalmente menos de 2 horas aprojetos de SL/CA, no depositam os cdigos criados ou modificados em repositrios, no se preocupam emdocumentar o desenvolvimento e com certificao profissional em SL/CA. Alm disso, no se consideram partede nenhuma comunidade ou consideram-se parte da comunidade de Open Source. Provavelmente a atuaoem SL/CA seja uma espcie de hobby, pois alm da pequena dedicao no desenvolvem SL/CA na instituio

    empregadora. A renda pessoal alta (mais de 10 salrios mnimos) e a escolaridade nvel superior completoou especializao.

    Grupo 2 - Administradores de sistemas e tcnicos de rede (36,10%)

    O grupo 2 formado por respondentes que trabalham com administrao e suporte de software, atuandoprofissionalmente como tcnico programador, administrador de redes, suporte e correlatos. Alguns so funcio-nrios pblicos, atuando provavelmente nestas mesmas ocupaes e tendo o governo como um dos principaissetores de atuao. Sua atuao com software livre remunerada diretamente ou indiretamente. Alguns delesno atuam com software proprietrio. O nvel de escolaridade mdio e a renda varia de 2 a 10 salrios mni-mos. Desta forma, este agrupamento formado por empregados com renda mdia (2 a 10 salrios mnimos)

    que vive de SL/CA. Entretanto, no tm foco no desenvolvimento o que explica o fato de no depositarem seuscdigos. Embora possam trabalhar tanto com software proprietrio quanto com SL/CA, parecem possuir baixaautonomia de deciso.

    Grupo 3 - Estudantes (21,56%)

    O grupo 3 rene os respondentes que so estudantes (na maioria de nvel superior), que no trabalham ou querecebem baixa remunerao. H tambm alguns professores de TI de universidades pblicas com mestrado edoutorado. Desta forma, a atuao com SL/CA no uma fonte de renda pessoal e o desenvolvimento reali-zado no colgio ou faculdade. Entretanto, a dedicao a projetos de SL/CA no ltimo ano foi de 11 a 20 horassemanais, apesar de ter ocorrido em poucos projetos (no mximo j se envolveram em 5 projetos). Em geral,no desenvolvem software proprietrio. Neste grupo esto os respondentes que preenchem alguns requisitostcnicos importantes em SL/CA: j se envolveram em um projeto como lderes, preocupam-se em deixar o sof-tware que desenvolvem internacionalizado e em identificar os trechos de cdigo que desenvolvem ou alteram,depositam os softwares em repositrio prprio ou internacional. Mas no possuem certificao profissionalligada a SL/CA ou nem sabem do que se trata. Os softwares desenvolvidos so voltados principalmente paracultura e entretenimento e educao. Esta categoria a base da qualificao que vai operar nas demais catego-rias no futuro. Dessa forma, aqui se encontra parte importante da qualificao profissional e podem se dividirem qualquer das outras 3 categorias, tanto como empresrio quanto como empregados.

    Grupo 4 - Desenvolvedores avanados de SL/CA (19,71%)

    No ltimo grupo encontram-se os desenvolvedores de SL/CA mais ativos e profissionalizados, pois as questesmais diretamente ligadas a SL/CA foram as que mais ajudaram a discriminar o grupo. Consideram-se desen-volvedores avanados tendo grande experincia com SL/CA: participam atualmente de mais de 3 projetos dedesenvolvimento, j participaram em vrios projetos como lderes e participam tanto da comunidade SoftwareLivre quanto da Open Source. Preenchem os requisitos importantes para SL/CA como preocupao com inter-nacionalizao, documentao e identificao dos trechos do cdigo do software desenvolvido. Alm disso,depositam o software desenvolvido. A atuao intensa e profissional. Dedicam mais de 40 horas semanaispara projetos de SL/CA. So remunerados diretamente pelo trabalho com SL/CA, atuando como engenheirosde software/analistas de sistema ou ocupaes correlatas ou como consultores em TI, e alguns possuem em-presas que tm uma grande atuao com SL/CA (entre 30 e 50% ou mais de 80% das atividades so dedicadasa SL/CA). Possuem certificao profissional em SL/CA. Desenvolvem para quase todos os setores e as reas de

    aplicao mais citados no questionrio, sendo que estas no foram variveis que ajudaram a discriminar o gru-po. Possuem renda mensal relativamente alta (mais de 10 salrios mnimos) e alta escolaridade (mestrado).

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    Perfil dos desenvolvedores de SL/CA

    Variveis Desenvolvedores desoftware proprietrio(22,63%)

    Administradores desistemas e tcnicos derede (36,10%)

    Estudantes (21,56%) Desenvolvedoresavanados de SL/CA (19,71%)

    Setores de software dedesenvolvimento deSL/CA

    Comrcio

    Setor financeiro

    No desenvolve paraequipamento eletro-eletrnico e de comu-nicao

    Governo No desenvolve paracomrcio

    Desenvolve para culturae entretenimentoEducao

    Equipamento eletro-eletrnico e de comu-nicao

    No desenvolve paragoverno

    Desenvolve para outrossetores

    Comrcio

    Comunicao e informa-es (servios)

    Equipamento eletro-eletrnico e de comu-nicao

    Governo

    Sade

    Servios

    Setor financeiro

    Tecnologias da Infor-mao

    Transporte, logstica e

    armazenamentorea de aplicao dedesenvolvimento doSL/CA

    Automao comercial Administrao - outros

    Gerenciador de redes

    Segurana e proteo dedados

    No desenvolve paracomrcio eletrnico

    Educao distncia

    Outros

    Utilitrios

    Automao comercial

    Comrcio eletrnico

    Comunicao de dados

    Educao distncia

    Geoprocessamento

    Gerenciador de bancode dados

    Pgina web

    Segurana e proteo dedados

    Autoclassificao dotrabalho em SL/CA

    No classifica comoservio de treinamento,programao, manuten-o e integrao

    Classifica como produtocustomizvel

    Classifica como serviode treinamento, progra-mao, manuteno eintegrao

    No classifica comoservio de fornecimentode solues e desenvol-vimento customizado

    No classifica comoproduto customizvel

    No classifica como

    produto pacote

    No classifica comoservio de treinamento,programao, manuten-o e integrao

    No classifica comoservio de fornecimentode solues e desenvol-vimento customizado

    No classifica comoproduto customizvel

    Classifica como produtopacote

    Classificam como servi-o de fornecimento desolues e desenvolvi-mento customizado

    Participao emprojetos de

    - no respondeu - -

    Quantidade de projetosde desenvolvimento emSL/CA que j participou

    1 a 5 No respondeu

    1 a 5

    1 a 5 1

    Nmero de projetos dedesenvolvimento emSL/CA que participaatualmente

    0

    1

    - 1 2

    3

    4 a 5

    6 a 7

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    29Impacto do Software Livre e de Cdigo Aberto na Indstria de Software do Brasil

    Variveis Desenvolvedores desoftware proprietrio(22,63%)

    Administradores desistemas e tcnicos derede (36,10%)

    Estudantes (21,56%) Desenvolvedoresavanados de SL/CA (19,71%)

    Nmero de projetos dedesenvolvimento emSL/CA nos quais j seenvolveu como lder,coordenador ou admi-nistrador

    0 0 1 2

    3

    4 a 5

    6 a 7

    Depsito de softwaresdesenvolvidos em repo-sitrios de SL/CA

    No deposita em reposi-trio fechado da empre-sa em que trabalha

    No deposita em reposi-trio prprio aberto

    No deposita em re-positrio especializadonacional

    No deposita

    No deposita em reposi-trio fechado da empre-sa em que trabalha

    No deposita em reposi-trio prprio aberto

    No deposita em re-positrio especializadointernacional

    No deposita em re-positrio especializadonacionalNo deposita

    No deposita em reposi-trio fechado da empre-sa em que trabalha

    Deposita em repositrioprprio aberto

    Deposita em repositrioespecializado interna-cional

    Deposita em repositriofechado da empresa emque trabalha

    Deposita em repositrioprprio aberto

    Deposita em repositrioespecializado interna-cional

    Deposita em repositrioespecializado nacional

    No respondeu nodeposito

    Preocupao em inter-nacionalizar o SL/CAdesenvolvido

    - No respondeu estaquesto

    No

    No sei / no me im-porto

    Sim Sim

    Preocupao em docu-mentar o SL/CA desen-volvido, criar manuais

    No No respondeu estaquesto

    No

    No sei / no me im-porto

    - Sim

    Identificao dos trechosde cdigo fonte desen-volvidos/alterados comoSL/CA

    No No respondeu estaquesto

    No

    Sim, mas isso no im-porta muito para mim

    Sim, eu considero issomuito importante

    Certificao profissionalligada a SL/CA atual-mente

    No assinalaram Sim,acho isso importante

    No sei do que se trata

    Sim, acho isso impor-tante

    No, mas acho issoimportante

    No, no acho issoimportante

    No sei do que se trata

    Sim, acho isso impor-tante

    Sim, mas no acho issoimportante

    No, no acho issoimportante

    Principal ocupao atual Empresrio Tcnico programador,administrador de redes,suporte e correlatos

    Funcionrio pblico