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Linguística Textual Rosamaria da Silva

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Page 1: Linguística Textual

Linguística Textual

Rosamaria da Silva

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Fase inicial (décadas de 60 e 70)

ANÁLISE TRANSFRÁSTICA (interfrástica)A Linguística textual se preocupou com a análise transfrástica, e por outros fenômenos transfrásticos: a pronominalização, a seleção dos artigos (definido e indefinido), a concordância dos tempos verbais, a relação tópico-comentário e outros.O texto era concebido como: uma “frase complexa”, “signo linguístico primário” (Hartmann, 1968);“cadeia de pronominalizações ininterruptas” (Harweg, 1968),“sequência coerente de enunciados” (Isenberg, 1971).

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AS GRAMÁTICAS TEXTUAISPerspectiva gerativista: a gramática de texto semelhante à gramática de frases proposta por Chomsky.Projeto de reconstrução do texto como um sistema uniforme, estável e abstrato.

“O texto, visto como a unidade linguística hierarquicamente mais elevada, constitui uma entidade do sistema linguístico, cujas estruturas possíveis em cada língua devem ser determinadas pelas regras de uma gramática textual.” (KOCH, 2009, p. 5)Competência textual → “todo falante de uma língua tem a capacidade de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enunciados.” ( KOCH, 2009, p. 6)Gramáticas postuladas por: Weinrich (1964, 1971, 1976), Petöfi (1973) e Van Dijk (1972), Dressler (1972, 1977), Lang (1971, 1972).

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Esses autores postulam que:Não há continuidade entre frase e texto, pois há entre eles uma diferença de ordem qualitativa e não quantitativa, já que a constituição de um texto constitui um todo que é diferente da soma das partes (Lang, 1972).O texto é a unidade linguística mais elevada.Todo falante nativo possui um conhecimento acerca do que seja um texto. Segundo Charolles (1989), todo falante possuiria três capacidades textuais básicas:Capacidade formativa;Capacidade transformativa;Capacidade qualificativa.

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A VIRADA PRAGMÁTICAHeinemann & Viehweger (1991, apud koch, 2006, p.31), ao fazerem uma retrospectiva da Linguística Textual, distinguem modelos contextuais e modelos comunicativos. Desse modo, a pesquisa em Linguística Textual ganha uma nova dimensão, já que não se trata mais de pesquisar a língua como sistema autônomo, mas sim o seu funcionamento nos processos comunicativos de uma sociedade concreta. Os textos passam a ser considerados elementos constitutivos de uma atividade social complexa, como instrumentos de realização de intenções comunicativas e sociais do falante. Para os autores, os pressupostos gerais que regem a perspectiva pragmática podem ser resumidos dessa forma: a) Usar uma língua significa realizar ações; b) A ação verbal é sempre orientada para os parceiros da comunicação; c) A ação verbal realiza-se na forma de produção e recepção de textos; d) A ação verbal consciente e finalisticamente orientada origina-se de um plano/estratégia de ação; e) Os textos deixam de ser examinados como estruturas acabadas (produtos), e passam a ser considerados no processo de sua constituição, verbalização e tratamento pelos parceiros de comunicação.

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A VIRADA COGNITIVISTA

Na década de 80, delineia-se uma nova perspectiva nos estudos do texto, a partir da tomada de consciência de que todo fazer (ação) é necessariamente acompanhado de processos de ordem cognitiva, de que quem age precisa dispor de modelos mentais de operações e tipos de operações. Com a tônica nas operações de ordem cognitiva, o texto passa a ser considerado resultado de processos mentais: é a abordagem procedural, segundo a qual os parceiros da comunidade possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, têm conhecimentos representados na memória que necessitam ser ativados para que sua atividade seja coroada de sucesso (KOCH, 2009, p.37).Para Beaugrande e Dressler (1981), o texto é originado por uma multiplicidade de operações cognitivas interligadas, “um documento de procedimentos de decisão, seleção e combinação” (p. 37)

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Heinemann e Viehweger (1991) postulam que, para o processamento textual, concorrem quatro grandes sistemas de conhecimento:

O conhecimento linguístico;O conhecimento enciclopédico, semântico ou conhecimento de mundoO conhecimento sociointeracional ( conhecimento ilocucional, comunicacional, metacomunicacional);O conhecimento sobre estruturas ou modelos textuais globais.

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A PERSPECTIVA SOCIOCOGNITIVO-INTERACIONISTAAs abordagens interacionistas consideram a linguagem uma ação compartilhada que percorre um duplo percurso na relação sujeito/realidade e exerce dupla função em relação ao desenvolvimento cognitivo: intercognitivo (sujeito/mundo) e intracognitivo (linguagem e outros processos cognitivos).

O texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, sujeitos ativos que – dialogicamente – nele se constroem e por eles são construídos.O contexto é a própria interação e seus sujeitos, construindo-se em grande parte na própria interação.

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PRINCÍPIOS DE CONSTRUÇÃO TEXTUAL DO SENTIDO (p. 35-45)Beaugrande & Dressler (1981) apresentam sete critérios:Coesão e coerência – centrados no textoSituacionalidade, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade – centrados no usuário. Coesão textual Halliday/Hasan (1976) postulam a existência de cinco formas de coesão: referência, substituição, elipse, conjunção e a coesão lexical.A maioria dos pesquisadores passou a classificar os recursos coesivos em dois grandes grupos, visto que Halliday postulou que a coesão lexical envolve dois mecanismos: a reiteração e a colocação:Coesão remissiva e/ou referencial (referência, substituição e a elipse de Halliday, e uma parcela significativa da coesão lexical) Coesão sequencial (a conexão – conjunção hallidiana, a outra parcela da coesão lexical)

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A intencionalidade diz respeito à intenção do produtor de elaborar um texto – seja ele oral ou escrito – coeso e coerente, de modo a cumprir a função sociocomunicativa.

FATORES PRAGMÁTICOS DA TEXTUALIDADE

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A aceitabilidade diz respeito à predisposição do receptor de considerar um texto coeso e coerente e colaborar no processo de produção de sentido.

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Chamamos informatividade as informações veiculadas através dos textos escritos ou visuais, como anúncios, artes plásticas, artigos, dentro outros tipos de textos.

São Paulo, quarta-feira, 02 de fevereiro de 2011                  

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O grau de informatividade de um texto é medido de acordo com o conhecimento de mundo das pessoas a que ele se destina. Ou seja, dizemos que um texto possui um alto grau de informatividade quando a compreensão mais ampla desse texto depender do repertório cultural do leitor.

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A situacionalidade está ligada às expectativas, às crenças e aos objetivos dos agentes envolvidos no processo de interlocução.

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A intertextualidade diz respeito aos fatores que fazem tanto a produção quanto a recepção de um texto dependentes do conhecimento que os agentes envolvidos no processo sociocomunicativo têm de outros textos.

São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

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São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

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COERÊNCIA – resulta de uma construção dos usuários do texto, numa dada situação comunicativa, para a qual contribuem todos os fatores acima descritos, como alguns descritos abaixo:

Fatores de contextualização – (Marcuschi 1983) Responsáveis pela ancoragem do texto em dada situação comunicativa: Subtipos: os contextualizadores propriamente ditos e os prospectivos. Consistência e relevância – (Giora 1985) O critério da consistência – todos os enunciados de um texto possam

ser verdadeiros, não contraditórios dentro de um mesmo mundo ou dentro de diversos mundos representados num texto.

O critério da relevância – exige que o conjunto de enunciados seja interpretáveis como predicando algo sobre um mesmo tema.

Focalização (Koch & Travaglia 1989) Refere-se à concentração dos usuários, no momento da interação

verbal, em apenas uma parte de seu conhecimento, bem como à perspectiva sob o qual são vistos os componentes do mundo textual.

Conhecimento compartilhado – determina o balanceamento entre o que precisa ser explicitado e o que pode ficar implícito no texto.

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Referenciação Blikstein → A realidade é fabricada por toda uma rede de

estereótipos culturais, que condicionam a própria percepção e que são garantidos e reforçados pela linguagem, sendo o processo de conhecimento regulado por uma interação contínua entre práxis, percepção e linguagem.

A percepção/cognição transforma o “real” em referente. A realidade se transforma em referente por meio da percepção/cognição (Greimas) ou da interpretação humana (Coseriu).

Referenciação → consiste na construção e reconstrução de “objetos-do-discurso”.

De maneira geral, argumentaremos (...) em favor de uma concepção construtivista da referência (...); assumiremos plenamente o postulado segundo o qual os chamados “objetos-de-discurso” não preexistem “naturalmente” à atividade cognitiva e interativa dos sujeitos falantes, mas devem ser concebidos como produtos – fundamentalmente culturais – desta atividade. (KOCH apud APOTHÉLOZ & REICHLER-BEGUELIN 2009, p.60)

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Formas de articulação textualProgressão textual → reiteração de itens

lexicais, paralelismos, paráfrases, recorrência de elementos fonológicos, de tempos verbais, etc.

Uso das formas pertencentes a um mesmo campo lexical

Encadeamentos de enunciados: justaposição e conexão

A progressão temática Progressão tópica

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Estratégias textual-discursivas de construção do sentido

Estratégias formulativas Estratégias metadiscursivasEstratégias modalizadorasEstratégias metaenunciativas As marcas de articulação na progressão textual Articuladores de conteúdo proposicionalArticuladores discursivo-argumentativosOrganizadores textuais Marcadores discursivos continuadores, que

operam no “amarramento” de porções textuais:Articuladores: metadiscursivos,

metaformulativos, metaenunciativos,

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Os gêneros do discurso: A teoria de gêneros leva o analista da descrição para a

explanação da língua, tentando frequentemente responder a questão: por que os membros de comunidades discursivas específicas usam a língua da maneira como fazem? A resposta não levam em consideração somente fatores socio-culturais, mas também fatores cognitivos, tentando, dessa forma, esclarecer não apenas os propósitos comunicativos da comunidade discursiva em questão, mas também as estratégias cognitivas empregadas por seus membros para atingir esses propósitos. Esse aspecto tático da construção do gênero, sua interpretação e uso, provavelmente é um dos fatores mais significativos a concorrer para sua popularidade atual no campo dos estudos do discurso e da comunicação. Uma das vantagens de tal popularidade é que quanto mais popular um conceito se torna, mais variações de interpretação, orientação e estruturação são encontradas na literatura e existente. (...) (Bathia 1997 apud Koch 2009, p. 159)

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Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana [...]. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Assim sendo, todos os nossos enunciados se baseiam em formas-padrão e relativamente estáveis de estruturação de um todo (BAKHTIN 1953, apud KOCH 2009, p. 160).

O estudo dos gêneros é uma preocupação central nos estudos linguísticos no que diz respeito as praticas sociais que os determinam, à sua localização no continuum fala/escrita, às opções estilísticas que lhes são próprias e à sua construção composicional, em termos macro e microestruturais. (KOCH 2009, p. 168).

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Exemplos de textos não-verbais e verbaisO deputado estadual baiano Sargento Isidório é ex-policial militar. É do PT e incorporou a patente ao seu nome como político. É instrutor de capoeira. Foi feirante e cobrador de ônibus. Aos 43 anos já enfrentou duras vicissitudes da vida, mas nada lhe foi tão duro quanto fazer exame de próstata. “Eu me senti deflorado”, disse ele criticando a frieza do médico que, ao final do exame, abriu a porta do consultório e chamou o próximo paciente “como se nada tivesse acontecido”. Na terça-feira 29 o Sargento Isidório ocupou durante 25 minutos a tribuna da Assembleia Legislativa, e seu discurso foi, de cabo a rabo, para se lamentar daquilo que classificou como um sentimento de ser “deflorado”. O seu exame de próstata foi de manhã, ele discursou à tarde: “Ainda estou vendo estrelas”. Mais: o deputado classificou o exame (com o dedo do médico toca a glândula através do ânus para verificar se ela está crescida e se há risco de câncer) de “angustiante” e “desmoralizante para um pai de família”.

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Um amigo conta pro outro: Minha sogra caiu do céu! Ela é maneira assim mesmo? Não, a vassoura quebrou quando voava sobre a minha casa.

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O problema está no freio. Eu vou ter que mexer no burrinho. O Manuel puxa o garoto para trás e se altera. Não, senhoire! No garoto, ninguém mexe!

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Referências bibliográficas:BENTES, Anna Christina. Linguística Textual. In: MUSSALIN, Fernanda, BENTES, Anna Christina (Orgs.) – 6. ed. – São Paulo: Cortez, 2006.FÁVERO, Leonor Lopes. Linguística textual: memória e representação. Disponível em: www.fflch.usp.br/dlcv/lport/flp/images/arquivos/FLP14.../Favero.pdf. Acesso em 07 de janeiro de 2013. GALEMBECK, Paulo de Tarso. A linguística textual e seus mais recentes avanços. Disponível em: www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm. Acesso em 08 de janeiro de 2013. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à Linguística Textual: trajetórias e grandes temas. 2ª ed. – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009._________. A construção dos sentidos no discurso: uma abordagem sociocognitiva. Investigações: Linguística e teoria literária. V. 18, n. 2, jul., 2005. / Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística. – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2006.OLIVEIRA, Mariangela Rios de. Linguística textual. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008.RAMOS, Paulo. Estratégias de referenciação em textos multimodais: uma aplicação em tiras cômicas. Disponivel em: http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/1221/1022. Acesso em 07 de janeiro de 2013.SCHMIDT, Siegfried J. Linguística e teoria de texto. São Paulo: Pioneira, 1978. SILVA, Luciana Pereira da. A disseminação da linguística textual no brasil: trabalhos publicados no Gel. www.celsul.org.br/Encontros/05/pdf/111.pdf. Acesso em 07 de janeiro de 2013.