linguagem, interação e socialização

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  • 7/23/2019 Linguagem, Interao e Socializao

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    XANPEDSUL,Florianpolis,outubrode2014. p.1

    Linguagem,interaoesocializao:contribuiesdeMeadeBakhtin

    Resumo

    Esteartigo teropropsitodediscutircomoa linguagemcontribui para os processos de interao, socializao eindividuao do sujeito, a partir das contribuies deGeorgeHerbertMeadeMikhailBakhtin.Inicialmente,seroapresentadas as concepesdeBakhtin sobreopapel da

    linguagem

    nos

    processos

    de

    socializao

    do

    sujeito.

    A

    seguir,seroabordadasasprincipaiscontribuiesdeMeadna formao do eu, considerando a centralidade dacomunicao e da linguagem nesse processo deconstituio do indivduo, estabelecendo, assim, umcontraponto entre os dois autores. Considerando anecessidade de insero do sujeito em uma sociedadealtamente complexa e pluralista, este texto tambm farumaabordagema respeitodo compromissodaescolanosentido de ampliar aspossibilidadesdousoda linguagememdiferentescontextosde realizao, sendo,portanto,aescola um espao significativo de socializao, mediadopelalinguagem.

    Palavraschave:

    Linguagem.Interao.Individuao.Socializao.

    RosangelaHanelDias

    [email protected]

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    Linguagem,interaoesocializao:contribuiesdeMeadeBakhtinRosangelaHanelDias

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    X

    AnpedSul

    Introduo

    Sabemos que o domnio da lngua tem estreita relao com a possibilidade de

    plenaparticipao

    social,

    j

    que

    por

    meio

    dela

    que

    o

    homem

    se

    comunica,

    tem

    acesso

    informao,expressaedefendepontosdevista,partilhaouconstrivisesdemundo,

    produzconhecimento.(BRASIL,1997).Odomniodalinguagemverbal,sejaelaescritaou

    falada,possibilitaaconstruodenovossaberes,conceitos,paradigmasqueaperfeioam

    aaohumanaepodetornarohomemumsujeitoesclarecido.

    Dessepontodevista,podemosafirmarquea linguagemumsistemadesignos

    quepossibilitaaohomemsignificaromundoearealidade.Assim,aprendlanosignifica

    aprendersaspalavras,masosseussignificadosculturaise,comeles,osmodospelos

    quaisaspessoasdoseumeiosocialentendeme interpretamarealidadeeasimesmas.

    (BRASIL,1997).

    Alinguagemconsideradaumaproduodahumanidadeeconstituda,portanto,

    comoumaprticasocial.Atravsdelaohomemtemapossibilidadedetornasesujeito,

    capazdeconstruir suaprpria trajetria, tornandose,assim,um serhistricoe social.

    Nessesentido,

    a

    linguagem

    vai

    alm

    de

    sua

    dimenso

    comunicativa,

    pois

    os

    sujeitos

    se

    constituempormeiodasinteraessociais.

    Valesalientartambmquealinguagemverbalpossibilitaaohomemrepresentara

    realidade fsica e social; assim, desde omomento em que apreendida, conserva um

    vnculomuitoestreitocomopensamento.Dessaforma,podemosdizerquealinguagem

    no spossibilitaa representaoea regulaodopensamentoedaao,prpriose

    alheios,comotambm,comunicarideias,pensamentos,intenesdediversasnaturezas,

    e, dessemodo, influenciar o outro e estabelecer relaes interpessoais anteriormente

    inexistentes.

    A linguagem o sistema simblico bsico de todos os grupos humanos, ,

    portanto,socialmentedada.ogrupoculturalondeo indivduosedesenvolveque lhe

    fornece formasdepercebereorganizaro real,asquaisvoconstituiros instrumentos

    psicolgicosquefazemamediaoentreoindivduoeomundo.Alinguagem,porisso,

    umaatividade

    humana,

    histrica

    e

    social.

    Ento,

    podemos

    afirmar

    que

    na/pela

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    AnpedSul

    linguagemqueoserseconstitui. Assim,aaohumanasefazpelalinguagem,ouseja,a

    linguagempodeserentendidacomoummecanismodeaodosujeito;agimosmediados

    pelalinguagem.

    Combasenessespressupostosrecuperamosdoisautoresquecontribuem

    paraumacompreensomaisalargadadarelaoentrelinguagem,sociedadeeindivduo.

    So eles:MikhailBakhtin eGeorgeHerbertMead1.Ambos os autores apresentam em

    suas abordagens tericas pontos de convergncia no que se refere ao papel da

    linguagemnaconstituiodosujeito,porissoconsideramossignificativoestabelecerum

    dilogoentreeles,nosentidodeaprofundarasdiscussesarespeitodasrelaesentre

    linguagem,indivduoeosocial.

    Aexposioseguirorganizadaemdoismomentos.Primeiramentefaremosuma

    sntesedasconcepesdeBakhtinnoquetangeaopapeldalinguagemnosprocessosde

    socializaodosujeito.Aseguir,trataremosdasprincipaiscontribuiesdeMeadnoque

    diz respeito formaodo eu,numaperspectivada linguagem enquantouma prtica

    comunicativaconcreta.Ao final,estabeleceremosumdilogocomosdoisautoreseos

    1Mikhail Bakhtin (18951975) uma das figurasmais fascinantes e enigmticas da cultura europeia demeados do sculo XX. A obra de Bakhtin chamou a ateno do pblico em 1963, ano em que foireeditada sua obra sobre Dostoivski, publicada originalmente em 1929. Bakhtin teve formao emestudos literrios.Atuoucomoprofessor,emborasemvnculos institucionais,atserpresoem 1929.CondenadoaumexlionoCazaquisto,spodeencontrarumempregopermanentedepoisdaSegundaGuerraMundial,tornandoseprofessorde literaturadoInstitutoPedaggico(depois,Universidade)deSaransk, Mordvia. Os membros do Crculo (um grupo de intelectuais constitudo por pessoas dediversasformaes,interessesintelectuaiseatuaesprofissionais)querecebeuseunometinhamemcomumapaixopelafilosofiaepelodebatedasideias.Tinhamumprofundointeressepelasdiscussesde filsofos do passado, sem deixar de se envolver criticamente com autoresde seu tempo.Outro

    interesseque

    invadiu

    progressivamente

    o

    Crculo

    de

    Bakhtin

    foi

    a

    paixo

    pelos

    estudos

    da

    linguagem.

    O

    temadalinguagemsetornoutoforteparaosmembrosdogrupoquefoiconsideradooelementoqueuniaopensamentodogrupo,considerandoadiversidadede interessesquehavianele.Bakhtineseusamigosafirmamo carterprimordialdo socialna constituiodo sujeito.Paraeles, a linguagemeopensamento,constitutivosdohomem, sonecessariamente intersubjetivos. (FARACO, 2009).GeorgeHerbert Mead (18631931) pode ser considerado um representante do denominado pragmatismofilosficoamericano,vertentedopensamentoqueconcedeumagrandeimportnciaaohumana.Aabordagem de Mead foi posteriormente denominada, por Herbert Blumer, seu sucessor naUniversidadedeChicago,de interacionismo simblico.Meadpropea compreensodoprocessodeindividuao atravs da socializao. Para esse autor, o sujeito se torna indivduo no processo deinteraoverbal.Nessesentido,Meaddestacaemsuaabordagemacentralidadedacomunicaoedalinguagemnoprocessode formaodoeu.Paraesseautor,portanto,omecanismodeadooeda

    internalizaodos

    papis

    sociais

    e

    das

    atitudes

    do

    outro

    deflagra

    um

    processo

    correlativo

    interno

    no

    qualacrianadesenvolveaautoconscincia,poisoeupessoalest inscritonumamatriz intersubjetivasimblica,sendoatravessadopelasrelaessociais.(CASAGRANDE,2012).

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    Linguagem,interaoesocializao:contribuiesdeMeadeBakhtinRosangelaHanelDias

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    AnpedSul

    desafios que a escola enfrenta no sentido de se constituir como um espao de

    socializaoeindividuao.

    1Linguagem,interaoverbalesocializao:ascontribuiesdeBakhtin

    Segundo Bakhtin (1997), para entender o fenmeno da linguagem humana, o

    nicoobjetorealematerialdequedispomosoexercciodafalaemsociedade.Assim,a

    linguagemexisteapartirdeumsistemaextremamentecomplexodedilogosquenunca

    seinterrompe.

    SegundoFaraco

    (2009),

    o

    ponto

    de

    partida

    de

    Bakhtin

    o

    vnculo

    entre

    a

    utilizaodalinguagemeaatividadehumana.ParaBakhtin,todasasesferasdaatividade

    humana esto sempre relacionadas com a utilizao da linguagem. Essa utilizao se

    efetiva em forma de enunciados que surgem de uma ou outra esfera da atividade

    humana.

    ParaBakhtin (2011) no falamosno vazio, noproduzimos enunciados foradas

    mltiplas

    e

    variadas

    esferas

    do

    agir

    humano.

    Os

    nossos

    enunciados

    (orais

    ou

    escritos)

    terosempreumcontedotemtico,umaorganizaocomposicionaleestiloprprios,

    queestaroligadosscondiesderealizaoesfinalidadesespecficasdecadaesfera

    deatividade.Porisso,todoenunciado,paraBakhtin,estsemprerelacionadoaotipode

    atividadeemqueosparticipantesestoenvolvidos.

    SegundoBakhtin(2011),falamos,portanto,pormeiodegnerosdediscursoque

    serealizamno interiordeumadeterminadaesferadaatividadehumana.Falar,paraele,

    no

    apenas

    utilizar

    um

    cdigo

    gramatical

    num

    vazio,

    mas

    moldar

    o

    nosso

    dizer

    s

    formasdeumgneronointeriordeumaatividade.Aprenderosmodossociaisdefazer

    tambmaprenderosmodossociaisdedizer.

    Nesse sentido, destaca o autor que o enunciado acontece num determinado

    tempo e local e produzido por um sujeito histrico e recebido por outro.O que

    identifica um enunciado aquilo que ele efetivamente representa naquelemomento,

    para

    aquele

    enunciatrio

    e

    nas

    condies

    especficas

    em

    que

    foi

    produzido

    e

    recebido.

    A

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    XANPEDSUL,Florianpolis,outubrode2014. p.5

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    AnpedSul

    mesmapalavrapoderserrepetida,masnuncateramesmasignificao,umavezque

    semudamascondiesdesuaenunciaoedesuarecepo.

    Oqueserepeteapalavraeestapertenceaoplanoda lngua.Masaverdadeira

    substnciada lnguano constitudaporum sistemaabstratode formas lingusticas,

    nempelaenunciaomonolgica isolada,masfundamentalmentepelofenmenosocial

    da interaoverbalqueseefetivaatravsdaenunciaooudasenunciaes.A lngua,

    portanto, para Bakhtin, no uma atividade individual,mas sim um legado histrico

    cultural da humanidade. A lngua vive e evolui historicamente na comunicao verbal

    concreta, no no sistema lingustico abstrato das formas da lngua nem no psiquismo

    individual dos falantes. Destaca, ento, que a interao verbal constitui a realidade

    fundamentalda lngua,sendoodilogoumadasmais importantes formasde interao

    verbal.

    Nesse contextoexplicativo, cadaenunciadoproduzidoporum sujeitoumato

    histrico novo, portanto, irrepetvel. Em cada caso, a situao que confere a uma

    mesma palavra significaes distintas em cada um dos enunciados produzidos. Para o

    autor,

    este

    enunciado

    a

    unidade

    bsica

    do

    conceito

    de

    linguagem.

    Assim,segundooqueacentuaFaraco(2009),naabordagemdeBakhtin,noh

    nem pode haver enunciados neutros. Todo o enunciado emerge sempre e

    necessariamente num contexto cultural, carregado de significados e valores, sendo,

    portanto,umatoresponsivo,ouseja,umaaonaqualumsujeitoassumeumaposio

    nessecontexto.

    ConformeBakhtin

    (1997),

    o

    enunciado

    no

    simplesmente

    um

    conceito

    formal.

    Um enunciado sempre um acontecimento, uma vez que ele exige uma situao

    histricadefinida,atoressociaisplenamente identificados,compartilhamentodamesma

    cultura e o estabelecimento de um dilogo. Assim, para o autor, todo o enunciado

    demanda outro a que se responde ou outro que o responder. Ningum cria um

    enunciadoparanoserrespondido.

    Nesseprocesso,ganhaespecialimportncia,portanto,oconceitodeenunciao.

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    AnpedSul

    Aenunciao oprodutoda interao de dois indivduos socialmenteorganizadose,mesmoquenohajaum interlocutorreal,estepodesersubstitudopelorepresentantemdiodogruposocialaoqualpertenceo

    locutor.A

    palavra

    dirige

    se

    a

    um

    interlocutor:

    ela

    funo

    da

    pessoa

    desse interlocutor:variarsesetratardeumapessoadomesmogruposocial ou no, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, seestiverligadaauminterlocutorporlaossociaismaisoumenosestreitos(pai,me,marido,etc.).Nopodehaverum interlocutorabstrato;noteramoslinguagemcomumcomtalinterlocutor,nemnosentidoprprionemnofigurado.(BAKHTIN,1997,p.116).

    Oautordestacaquetodaaenunciaoumdilogoefazpartedeumprocesso

    comunicativo ininterrupto, em meio ao qual as palavras dos outros penetram

    interativamentenas

    nossas

    palavras.

    Nesse

    sentido,

    podemos

    dizer

    que

    a

    linguagem

    vai

    almde suadimenso comunicativa,pois consideraqueos sujeitos se constituempor

    meio das interaes sociais. Ento, para Bakhtin, a lngua, no seu uso prtico,

    inseparvel de seu contedo ideolgico ou relativo vida, e, portanto, est ligada

    evoluoideolgica.

    Naspalavrasdoautor:

    Narealidade,nosopalavrasoquepronunciamosouescutamos,masverdades ou mentiras, coisas boas ou ms, importantes ou triviais,agradveis ou desagradveis, etc.Apalavra est sempre carregada deum contedo ou de um sentido ideolgico ou vivencial. assim quecompreendemosaspalavrasesomentereagimosquelasquedespertamem ns ressonncias ideolgicas ou concernentes vida. (BAKHTIN,1997,p.99).

    Umadasgrandes contribuiesdeBakhtinnoque se refere aos estudos sobre

    linguagemfoiodeconsiderlacomoumconstanteprocessodeinteraomediadapelo

    dilogoenosimplesmenteumsistemaautnomo,fechadoemsuaprpriaestrutura.O

    autor acentua que conhecemos a lngua materna, seu vocabulrio, sua estrutura

    gramatical no por meio de dicionrios ou manuais de gramtica, mas devido aos

    enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicao efetiva com as

    pessoas que esto a nossa volta. Bakhtin (1997) tambm acentua que a lngua se

    desenvolveu historicamente a servio do pensamento participativo e dos atos

    efetivamenterealizados

    e

    s,

    posteriormente,

    passou

    tambm

    a

    servir

    ao

    pensamento

    terico.

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    AnpedSul

    Salienta aindaque,nessa relaodialgicaentre locutor e interlocutornomeio

    social,a interaopormeioda linguagemsednumcontextoemquetodosparticipam

    emcondio

    de

    igualdade.

    Diz

    o

    autor

    que

    aquele

    que

    enuncia

    seleciona

    palavras

    apropriadas para formular umamensagem compreensvel para seus destinatrios. Por

    outro lado, o interlocutor interpreta e responde com postura ativa quele enunciado,

    internamente,pormeiodeseuspensamentos,ouexternamente,pormeiodeumnovo

    enunciadooralouescrito.

    Acrescentatambmoautorque:

    Todapalavra comportaduas faces.Eladeterminada tantopelo fatodequeprocededealgumcomopelofatodequesedirigeparaalgum.Elaconstituijustamenteoprodutoda interaodo locutoredoouvinte.Todapalavraservedeexpressoaumemrelaoaoutro.Atravsdapalavradefinomeemrelaoaooutro,isto,emltimaanlise,emrelaocoletividade.Apalavradepontelanadaentremimeosoutros.Seelaseapoiasobremimnumaextremidade,naoutra apoiase sobre omeu interlocutor. A palavra o territrio comum dolocutoredointerlocutor.(BAKHTIN,1997,p.117).

    Nessesentido,paraBakhtin(2011),todasaspalavras,almdeminhasprpriasso

    palavras

    do

    outro.

    Segundo

    o

    autor,

    ns

    vivemos

    em

    um

    mundo

    de

    palavras

    do

    outro

    e

    as

    complexas relaesde reciprocidade com apalavradooutro em todosos camposda

    culturaedaatividadecompletamtodaavidadohomem.

    Euvivoemummundodepalavrasdooutro.Etodaaminhavidaumaorientao nessemundo; reao s palavras do outro (uma reaoinfinitamente diversificada), a comear pela assimilao delas ( noprocesso inicialdodiscurso)eterminadonaassimilaodasriquezasdacultura humana (expressas em palavras ou em outros materiais

    semiticos).A

    palavra

    do

    outro

    coloca

    diante

    do

    indivduo

    a

    tarefa

    especialde compreendla (essa tarefano existeem relao minhaprpria palavra ou existe em seu sentido outro). Para cada indivduo,essa desintegrao de todo o expresso na palavra em um pequenomundinhode suaspalavras (sentidas como suas)eo imensoe infinitomundodaspalavrasdooutrosoofatoprimriodaconscinciahumanaedavidahumana.(BAKHTIN,2011,p.379).

    Assim,parahaver relaesdialgicasprecisoquequalquermaterial lingustico

    tenhaentradonaesferadodiscurso,tenhasidotransformadonumenunciado,ouseja,

    tenhafixado

    a

    posio

    de

    um

    sujeito

    social.

    Para

    o

    autor,

    s

    dessa

    forma

    possvel

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    AnpedSul

    responder, fazer rplicas ao dito, confrontar posies, acolher a palavra do outro,

    confirmlaourejeitla,buscarumsentidoprofundoouamplila.

    A enunciao compreendida como uma rplica do dilogo social, aunidadedebaseda lngua,tratasedodiscurso interior(dilogoconsigomesmo)ouexterior.Eladenaturezasocial,jquecadalocutortemumhorizontesocial.Hsempreum interlocutor,aomenosempotencial.(BAKHTIN,1997,p.16).

    Nesse sentido, para Bakhtin (1997), as relaes dialgicas so relaes entre

    ndicessociais,queconstituemparteinerentedetodoenunciado,entendidonoapenas

    comounidade

    da

    lngua,

    mas

    como

    um

    elemento

    de

    interao

    social.

    No

    como

    um

    complexoderelaesentrepalavras,mascomoumcomplexoderelaesentrepessoas

    queestoorganizadassocialmente.

    Segundo oque afirma Faraco (2009), paraBakhtin nas relaesdialgicas nem

    sempre haver consenso, ou seja, essas relaes no apontam apenas na direo das

    consonncias,mas tambmdasmultissonnciasedasdissonncias.Nasdinmicasdas

    relaesdialgicaspodesurgirtantoaconvergnciaquantoadivergncia.Dessaforma,

    Bakhtinentendeasrelaesdialgicascomoespaosdetensoentreenunciados.

    Dentrodessaperspectivaa lnguasexisteemfunodousoqueos locutorese

    interlocutores fazem dela em situaes de comunicao. O ensinar, o aprender e o

    empregar a linguagem passam necessariamente pelo sujeito, o agente das relaes

    sociaisoresponsvelpelacomposioepeloestilodosdiscursos.Assim,essesujeitose

    valedosconhecimentosdeenunciadosanterioresparaformularsuasfalasouredigirseus

    textos.A

    linguagem,

    portanto,

    na

    abordagem

    de

    Bakhtin,

    contribui

    significativamente

    paraaconstituiodosujeitoenquantoumsersocialeindividual.

    Poroutrolado,importantefrisarqueBakhtin,conformeoqueapresentaFaraco

    (2009),materializa sua crenanaspossibilidadesde verbalizarmosnossasexperincias

    vividas a partir de seu interior,mas nos chama a ateno para o fato de que nunca

    conseguiremosexpresslasemsuatotalidade.Bakhtinalertaquedarsentidoaovivido

    verbalmenteumprocessopossvel,masnuncaacabado,sempreaberto,algoqueest

    presentecomoaquiloqueestporseralcanado.

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    AnpedSul

    ParaBakhtin (1997), a vidahumanapor suaprprianaturezadialgica.Nesse

    sentidodestaca:

    Viver significa tomar parte do dilogo: fazer perguntas, dar respostas,dar ateno, responder, estar de acordo e assim por diante. Dessedilogo,umapessoaparticipa integralmenteenodecorrerde todasuavida:comseusolhos,lbios,mos,alma,esprito,comseucorpotodoecomtodososseus feitos.Ela investeseuser inteironodiscursoeessediscurso penetra no tecido dialgico da vida humana, o simpsiouniversal.(1997,p.293).

    Ento, para o autor o sujeito se constitui e se move nesse denso simpsio

    universal,sendo

    a

    alteridade

    e

    a

    intersubjetividade

    constitutivas

    do

    processo

    de

    individuao, domovimento de tornarse indivduo.Nas palavras do autor: Eu no

    possomearranjarsemooutro;eunopossometornareumesmosemumoutro;eu

    tenhodemeencontrarnumoutroparaencontrarumoutroemmim.(BAKHTIN,1997,

    p.287).

    Para o autor, portanto, o agir humano no se d independentemente da

    interaoenemosdiscursospodemsercompreendidosforadessesdoismbitos.

    SegundoBakhtin(2011),aexperinciadiscursiva individualdequalquerpessoase

    forma e se desenvolve em uma interao constante e contnua com os enunciados

    individuaisdosoutros.Paraele,nossodiscurso,ouseja,todososnossosenunciadosso

    repletosdaspalavrasdosoutros.Aspalavrasdosoutrostrazemconsigoasuaexpresso,

    oseutomvalorativoqueassimilamos,reelaboramosereacentuamos.

    Nopode

    haver

    enunciado

    isolado.

    Ele

    sempre

    pressupe

    enunciados

    queoantecedemeosucedem.Nenhumenunciadopodeseroprimeiroouoltimo.Eleapenasoelonacadeiaeforadessacadeianopodeserestudado. Entre os enunciados existem relaes que no podem serdefinidasem categoriasnemmecnicasnem lingusticas.Elesno tmanalogiasconsigo. (BAKHTIN,2011,p.371).

    Acompreensono,portanto,umasimplesexperinciapsicolgicadaaodos

    outros,mas antes de tudo uma atividade dialgica, que, diante de um texto, gera

    outro(s) texto(s).EntoparaBakhtin,compreendernoumatopassivo,ouseja,um

    simplesreconhecimento,umarplicaativa,umaresposta,umatomadadeposio,um

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    AnpedSul

    mododeosujeitosesituarnolugardoqualparticipa,ummododeestarcomosoutros,

    deestabeleceroseulugarnasociedade.

    2O papel da linguagem e da comunicao na formao do indivduo: ascontribuiesdeMead

    Mead (1968) considera que, na gnese social de formao de personalidade, a

    refernciaaumasegundapessoa fundamentalparaqualquerautorreferncia.Parao

    autor, j com os gestos comeam a surgir os sinais, os smbolos e mais tarde as

    convenessemnticasvlidasintersubjetivamente,inaugurandoalinguagemcomoalgo

    quepartedacondutasocial.

    Mead destaca que a individuao no resulta de um procedimento solitrio do

    sujeito,masdeumprocessosocializadomediado linguisticamente.Dessa forma,parao

    autor, a autoconscinciano algogerado imediatamenteno interiordo sujeito,mas

    provenientedasubjetividadeemrelaolinguagem.

    Nesse sentido,Mead atribui primazia linguagem como uma possibilidade de

    entendimento, de cooperao social e como elemento constitutivo da conscincia. A

    linguagem usada na vida cotidiana fornece ao sujeito continuamente as necessrias

    objetivaes e determina a ordem em que estas adquirem sentido e na qual a vida

    cotidianatambmganhasentido.

    Dessa forma,podemosafirmaresse consideroua linguagem comoomdium

    fundamental que possibilita a formao do self no processo de interao entre o

    indivduoe

    a

    sociedade.

    Ele

    prope,

    portanto,

    a

    compreenso

    do

    processo

    de

    individuao atravs da socializao. O sujeito se torna indivduo no processo de

    interao social e, nesse processo de formao, a linguagem constituise como um

    recursoextremamenteimportante.

    ParaMead,asbasesdopensamentoedapersonalidadesosociais,sendoquea

    essnciadopensamentocognitiva.

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    AnpedSul

    Laesenciadelapersona,comohemosdicho,escognoscitiva:resideenlaconversacindegestossubjetivadaqueconstituyeelpensamiento,oentrminosdelacualel operaelpensamientoolareflexin.Ydeahque el

    origenylas

    bases

    de

    la

    persona,

    como

    los

    del

    pensamiento,

    sean

    sociales.(1968,p.201).

    Paraoautor,a formaodapersonalidadeumprocesso socialqueenvolvea

    interao dos indivduos de um determinado grupo, implicando tambm atividades

    cooperativas entre os diferentes indivduos desse grupo. Nisso, tem um valor muito

    importanteacomunicaoentreossujeitos,poiselanosedirigeapenasparaosoutros,

    mastambmparasimesmo.

    Nessa relao de comunicao, os indivduos convertemse em objetos de si

    mesmo. Por isso, para o autor, impossvel a formao da personalidade fora da

    experinciasocial.Noentanto,destacaquecadaumadaspessoasdistintadetodasas

    demais; porm, preciso que exista uma estrutura comum para que possamos fazer

    partedeumadeterminadacomunidadeougruposocial.

    Para Mead, adotar atitudes do grupo social organizado do qual o indivduo

    pertence

    base

    para

    o

    desenvolvimento

    da

    personalidade

    do

    indivduo.

    Na

    verdade,

    considera que a comunidade exerce o controle sobre o comportamento de seus

    membrosindividuaisequesomenteadotandoaatitudedooutropossvelpensar.

    ...labaseesencialyprerrequisitoparaeldesarrollodelapersonadeeseindividuo; soloen lamedidaenque seadopte lasactitudesdelgruposocialorganizado al cualpertenece,hacia actividade socialorganizada,cooperativa, o hacia la serie de actividades en la cual ese grupo estocupado, slo en esa medida desarrollar una persona completa o

    poseerla

    clase

    de

    persona

    completa

    que

    ha

    desarrollado.

    (MEAD,

    1968,

    p.185).

    Aspessoas, segundoMead, spodem existir em relaesdefinidas comoutras

    pessoas. O indivduo possui uma personalidade somente em relao com outros

    membrosde seugrupo social.Para ele,por exemplo, o indivduo spode terdireitos

    medianteatitudescomuns.

    Segundo oque afirmaCasagrande (2012),na teoria deMead, aorganizao da

    mente,aemergnciadoselfeaevoluodasociedadehumanapautamsenalinguagem

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    AnpedSul

    enacapacidadedecomunicao.Omecanismodacomunicaooprincpioeabase

    estruturaldessesprocessos.Oprocessodeevoluodasociedadehumana,bemcomo

    dosindivduos

    humanos,

    fundamenta

    se

    no

    desenvolvimento

    e

    na

    utilizao

    comunicativa da linguagem. Portanto, conforme destaca Casagrande (2012), uma das

    grandes contribuies de Mead, consiste na afirmao de que a subjetividade e a

    conscinciasoprodutosdaintersubjetividadeedainteraosocial.

    AindaconformeCasagrande(2012),amenteeoselfnaperspectiva interacionista

    deMeadsedesenvolvemapartirdasrelaessociaisquesomediadaspelalinguagem.

    Ditodeoutra forma,a linguagem,em formadegestovocalomecanismoparaasua

    emergncia.Assim,apossibilidadedeestruturaodoselfedasociedadepautasepelo

    papel mediador da linguagem, pela prtica comunicativa concreta, mediante a qual

    somoscapazesdefalar,denosouvirfalarederesponderaosoutroseansmesmos.

    SegundoCasagrande (2012),a linguagem,emMead, temumpapel fundamental

    porqueatravsdelaqueo indivduoestabelece interaessimblicascomosdemais

    membrosdogrupo,criandoassimpossibilidadedeosujeitocolocarsenolugardooutro.

    Portanto,ao

    tratar

    da

    linguagem

    e

    da

    comunicao

    dessa

    forma,

    o

    modelo

    de

    abordagem deMead o da interao simblica ou comunicativa,mediante a qual ao

    menosdoisorganismosreagemumaooutro.

    ParaMead(1968),alinguagemsempreumprocessosocial,noqualatingimosos

    outros e a nsmesmos atravs do que expressamos.No entanto, salienta que, para

    existir a comunicao, em qualquer atuao lingustica, necessrio um processo de

    compreenso. fundamental que cada indivduo entenda o que disse e, ao mesmo

    tempo,sintaseatingidopelamensagemproferiadomesmomodoqueessamensagem

    afetaosreceptores.

    NaspalavrasdeMead:

    A caracterstica destacada da comunicao humana que algumformula uma declarao, assinalando algo que comum em seusignificado tantoparaogrupo inteirocomoparao indivduo,demodo

    que

    o

    indivduo

    est

    adotando

    a

    atitude

    do

    grupo

    inteiro

    na

    medida

    em

    queexistealgumsignificadodado.Quandoumhomemgritafogo,no

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    estimulasomenteasoutraspessoas,mas,deigualmaneira,seestimulaasi mesmo. Sabe o que est fazendo. Isso, como vemos, constituibiologicamente o que denominamos um universo discursivo. um

    significadocomum

    que

    comunicado

    a

    todos

    e,

    ao

    mesmo

    tempo,

    comunicadoasimesmo.(1984,p.38).

    Portanto,apossibilidadedeestruturaodeumaconscinciade simesmoest

    ligada diretamente aos processos de interao simblica e de comunicao que se

    desenvolvemnomeiosocial.Ento,paraMead,apalavracarregadadesentidotambm

    a responsvel pela estruturao da mente, da conscincia e da personalidade. A

    sociedade humana para a sua forma de organizao distintiva depende do

    desenvolvimentoda

    linguagem.

    Nesse

    sentido,

    para

    ele,

    a

    linguagem

    e

    a

    capacidade

    de

    comunicao diferenciam os seres humanos dos animais. A diferena fundamental

    encontrasenacapacidadedecomunicaosimblicae,segundoMead,departicipao

    intencionalemprojetossociais.

    Esseaspecto tambmdestacadoporCasagrande (2102)paraquem a abordagem

    psicossocialdeMeadsedistingueporconceberofatodequeatravsdacomunicaoque

    oshomensadquiremacapacidadedeorganizarsimbolicamenteasmaisdistintascondutas

    possveis.Ouseja,medianteacomunicaopossvelqueosdiversossereshumanos,tanto

    individualmente,quantoemcomunidade,articulemasprpriasaese,aomesmo tempo,

    levantempretensesemrelaoscondutasrecprocas.

    Na abordagem a respeito da formao da personalidade do indivduo, Mead

    defendequeavidaseorganizaesedesenvolvesobumfundamentosocial.Isso implica

    no reconhecimento,segundoCasagrande (2012),docartersocialdavidahumanaeda

    interioridade

    da

    sociedade

    em

    relao

    ao

    indivduo,

    bem

    como

    da

    indissociabilidade

    entre

    osujeitoeasociedade.

    ParaMead,aevoluodasociedadeeaestruturaodaconscincia,damentee

    do selfocorremmediante a comunicao, a cooperao e aparticipao social.O self

    emerge atravs de um processo social que pressupe a internalizao das estruturas

    comunicativasdomundonoqualoindivduoestinserido.

    Conforme o que apresenta Casagrande (2012), paraMead, a internalizao do

    gesto ou a atitude do outro o primeiro passo para a estruturao simblica da

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    AnpedSul

    comunicao,da interaosocial,bemcomododesenvolvimentodamenteedoself.A

    conscincia de si se desenvolvemediante um processo no qual um indivduo reage

    atitudeou

    ao

    do

    outro,

    sendo

    a

    linguagem

    e

    a

    comunicao

    elementos

    centrais

    no

    processodeformaodoeu.

    Dessa forma, destacase que uma das importantes contribuies da teoria

    psicossocialdeMeaddizrespeitoaoreconhecimentodequenssomos inscritosnuma

    matriz intersubjetiva,ou seja,numa redede relaes ede interaes, apartirdaqual

    surge a conscincia, a identidade individual e um mundo de sentidos, resultados da

    interaosocial.(Casagrande,2012).

    ConsideraesFinais

    Toda educao verdadeiramente comprometida com a formao do sujeito

    precisa criar condies para o desenvolvimento da capacidade do uso eficaz da

    linguagemquesatisfaanecessidadespessoaisesociais,quepodemestarrelacionadass

    aes efetivas do cotidiano, transmisso e busca de informao, ao exerccio da

    reflexo.

    Assim, no decorrer deste texto, verificouse a importncia das abordagens

    tericasdeBakhtinedeMeadnoqueserefereaopapelcentralquea linguagemocupa

    naconstituio,nodesenvolvimentoenaformaodosujeitoenquantoumsersociale

    individual.Emambos,o sujeito se tornaum indivduonoprocessode interao social,

    mediadofundamentalmentepelalinguagem.

    TantoMead

    quanto

    Bakhtin

    destacam

    que

    o

    desenvolvimento

    da

    linguagem

    e

    o

    processode comunicao no so atividades individuais,mas simum legado histrico

    cultural da humanidade. Para eles, a experincia discursiva de qualquer pessoa se

    desenvolve atravs de uma interao constante e contnua com os enunciados ou

    discursosindividuaisdosoutros.Aatividadediscursiva,portanto,temrazessociais.

    Nessecontexto,paraMead,apossibilidadedaestruturaodoselfedasociedade

    como um todo, pautase no papelmediador da linguagem e na prtica comunicativa

    concreta.Assim, impossvelpensara formaohumana foradaexperincia social.A

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    AnpedSul

    comunicaoentreossujeitos temumvalorsignificativo,poiselanosedirigeapenas

    paraosoutros,mastambmparasimesmo.Portanto,umprocessoautorreflexivo,que

    criapossibilidades

    de

    pensar

    sobre

    si

    mesmo,

    suas

    aes

    e

    atitudes

    no

    contexto

    social

    e

    cultural.

    Bakhtin,porsuavez,consideraodilogocomoumadasformasmaisimportantes

    da interao verbal, e, por consequncia, da interao social. Para este autor, a vida

    humanapornaturezadialgica.Destacaqueasrelaesdereciprocidadecomapalavra

    do outro em todas as formas da atividade humana, sejam elas sociais, culturais ou

    polticas,completamavidadohomem.

    Ambos ressaltam em suas abordagens que pela comunicao que criamos

    condiesde articular nossas aes, desenvolvendo, portanto, possiblidadesde agir e

    interagirnocontextosocial.Assim,alinguagem,naperspectivadeMeadedeBakhtin,

    um recurso fundamental de que dispem os indivduos com vistas a contribuir no

    entendimento, na cooperao social e, fundamentalmente, na constituio da

    conscincia.

    Considerandoas contribuiesdasperspectivas tericasdeBakhtin edeMead,

    poderamos esboar aqui alguns desdobramentos pedaggicos importantes para a

    constituiodosujeito,dasestruturasdoeu,e,portanto,daformaohumana.

    Seconcordarmoscomas ideiasdefendidasporBakhtineMeaddequeosujeito

    humanoseconstituiatravsdasrelaessociais,dainteraocomooutro,dodilogoe

    dasatividadesdiscursivas,poderamos inferirquea instituioescolarseriaumespao

    privilegiadopara

    auxiliar

    na

    formao

    desse

    sujeito,

    tanto

    como

    no

    seu

    aspecto

    individual

    comosocial.Dessaforma,pensaraescolacomoumespaode interaosimblicaedo

    desenvolvimentodaconscinciareflexivacontribuirnaformaodaidentidade.

    EmbasadonasconcepesdeMead,Casagrande(2012)afirmaquedasrelaese

    interaessociaisoriginaseomaterialparaaformaodeconceitosesignificados,tarefa

    fundamental da educao.Nessa perspectiva, segundo Casagrande (2102) a educao

    consiste num processo de criao ou de transformao de significados mediante a

    interaocomunicativadeseusmembros.Ento,sobessepontodevista,aescoladeve

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    AnpedSul

    ser uma instituio pautada na interao, no dilogo, no desenvolvimento das

    capacidades discursivas em diferentes contextos e na construo de sentidos

    coletivamente.

    Outrodesdobramentoimportanteaserconsiderado,apartirdascontribuiesde

    Bakhtin edeMeaddiz respeito ao compromisso quedeve ter a escola no sentido de

    garantira integraosocial, instalandoprocessosdesocializaoquevisem formao

    dacidadaniaeparticipaodemocrtica.

    Nessesentido,aescolapoderiaserumespaoprivilegiadoderelaesdialgicas, de

    posicionamentos

    com

    respeito

    a

    valores,

    como

    nos

    mostra

    Bakhtin

    quando

    afirma

    que

    viver

    assumirumaposioavaliativaacadamomento.Por isso,aescoladeveriadarcondiesao

    sujeito de viver, de posicionarse, de expressarse nas mais variadas circunstncias

    comunicativas e com o maior nmero possveis de interlocutores, recriando e/ou

    reproduzindo,dentrodela,espaosdedilogosede representaodediscursospresentes

    nomeiosocial.

    ParaBakhtin,como jfoiditoanteriormente,aconscincia individualseconstrina

    interaoe

    o

    universo

    da

    cultura

    tem

    primazia

    sobre

    a

    conscincia

    individual.

    Ento,

    aqui

    poderamos apontarmais um compromisso na escola: o desenvolvimento da conscincia

    individualmediadopelasrelaessociaisqueseestabelecementreossujeitos.

    Casagrande (2012)afirmaqueaescolaumdosmais importantes instrumentosde

    que dispe uma comunidade se ela realmente quiser possibilitar a seus jovens o

    desenvolvimento de competncias cognitivas e morais necessrias para o exerccio

    esclarecidodacidadania,assimcomo tambma instituio responsvelemaproximaros

    alunosdos

    bens

    culturais

    construdos

    pela

    humanidade.

    Por isso,asprticasdereflexonosespaosescolaresdevemseefetivarapartirde

    textosediscursos,namedidaemquesefaamnecessriosesignificativosparaaconstruo

    ereconstruodesentidosqueessesdiscursosrepresentamnomeiosocial.Dessepontode

    vista,aprioridadedaescolaadecriaroportunidadesdiriasparaqueascrianaseosjovens

    possamconstruir,analisar,discutir,levantarhipteses,refletirapartirdediferentesgneros

    dodiscurso,pois assimos alunospodero compreenderno s funcionamentoda lngua,

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    mas, fundamentalmente, o valor que ela representa na elaborao de sentidos, nosmais

    variadoscontextoscomunicativos.

    Cabe,portanto,

    escola

    viabilizar

    o

    acesso

    do

    aluno

    ao

    universo

    dos

    textos,

    dos

    diferentesdiscursosque circulam socialmente, ensinar aproduzilos e interpretlos.

    preciso que a escola assuma o compromisso de ampliar o uso da linguagem em

    diferentessituaescomunicativas,possibilitandoaosalunosacapacidadede assumira

    palavra, tanto namodalidade oral como escrita, produzindo, assim textos coerentes,

    coesos,adequadosaseusdestinatrios,aosobjetivosaquesepropemeaosassuntos

    tratados.

    SegundoosParmetrosCurricularesNacionais (BRASIL, 1997),a importnciaeo

    valordosusosdalinguagemsodeterminadoshistoricamentesegundoasdemandasde

    cadamomento. Inseridaemuma sociedade complexa,queexigenveisde leituraede

    escritadiferentesemuito superioresaosque satisfaziamasdemandas sociaisatbem

    pouco tempo atrs, a escola no pode se eximir da tarefa de oferecer aos alunos

    condiesdemelhoriaeampliaonacapacidadediscursivadosujeito,paraquepossa

    desempenharas

    atribuies

    que

    lhe

    so

    impostas

    na

    contemporaneidade.

    Se a escola assim o fizer, estar certamente oferecendo recursos para que os

    alunos aprofundem a experincia de socializao, capacitandose a interagir numa

    sociedadecomplexaepluralista,queexigecadavezmaisodomnioefetivodousoda

    linguagememdiferentesespaossociais.

    RefernciasBibliogrficas

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