linguagem Ético-religiosa em emmanuel lÉvinas

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Teocomunicação Porto Alegre v. 40 n. 3 p. 338-357 set./dez. 2010 LINGUAGEM ÉTICO-RELIGIOSA EM EMMANUEL LÉVINAS ETHIC-RELIGIOUS LANGUAGE IN EMMANUEL LÉVINAS Márcia Eliane Fernandes Tomé* Resumo Este artigo intenciona mostrar como a linguagem ético-religiosa ou relação social no pensamento de Emmanuel Lévinas é capaz de se opor ao discurso onto- teológico sobre Deus. Tentaremos primeiramente evidenciar os pressupostos através dos quais Lévinas concebe a linguagem ética que se subtrai ao discurso objetivante ou ontológico graças ao existir no aquém do ser. Posteriormente, analisaremos a significação que a linguagem assume no pensamento do autor e sua crítica ao discurso onto-teológico. Por fim, a investigação deverá mostrar que a hermenêutica levinasiana se inscreve como ética, plena de uma abertura ao outro, cheia de solicitude e que a glória do Infinito, no dizer da linguagem profética, só se glorifica na relação ética, onde o homem é sempre ordenado à responsabilidade pelo outro homem: é no testemunho da linguagem profética que a significância de Deus significa sem cessar. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem. Religião. Onto-teologia. Hermenêutica. Glória do Infinito. Abstract This article intends to show how ethic-religious language or social relation in Emmanuel Lévinas’ thinking is capable of opposing the onto-theological discourse about God. First, we will try to show the presuppositions through which Lévinas conceives ethical language that is taken from objective or * Possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2006), pós-graduação em Filosofia da Modernidade pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2008) e mestrado em Ciência da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2010). Atualmente é professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. <[email protected]>.

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Teocomunicação Porto Alegre v. 40 n. 3 p. 338-357 set./dez. 2010

LINGUAGEM ÉTICO-RELIGIOSA EM EMMANUEL LÉVINAS

ETHIC-RELIGIOUS LANGUAGE IN EMMANUEL LÉVINAS

Márcia Eliane Fernandes Tomé*

Resumo

Este artigo intenciona mostrar como a linguagem ético-religiosa ou relação social no pensamento de Emmanuel Lévinas é capaz de se opor ao discurso onto-teológico sobre Deus. Tentaremos primeiramente evidenciar os pressupostos através dos quais Lévinas concebe a linguagem ética que se subtrai ao discurso objetivante ou ontológico graças ao existir no aquém do ser. Posteriormente, analisaremos a significação que a linguagem assume no pensamento do autor e sua crítica ao discurso onto-teológico. Por fim, a investigação deverá mostrar que a hermenêutica levinasiana se inscreve como ética, plena de uma abertura ao outro, cheia de solicitude e que a glória do Infinito, no dizer da linguagem profética, só se glorifica na relação ética, onde o homem é sempre ordenado à responsabilidade pelo outro homem: é no testemunho da linguagem profética que a significância de Deus significa sem cessar.

Palavras-chave: Linguagem. Religião. Onto-teologia. Hermenêutica. Glória do Infinito.

Abstract

This article intends to show how ethic-religious language or social relation in Emmanuel Lévinas’ thinking is capable of opposing the onto-theological discourse about God. First, we will try to show the presuppositions through which Lévinas conceives ethical language that is taken from objective or

* PossuigraduaçãoemFilosofiapelaPontifíciaUniversidadeCatólicadeMinasGerais(2006),pós-graduaçãoemFilosofiadaModernidadepelaPontifíciaUniversidadeCatólicadeMinasGerais(2008)emestradoemCiênciadaReligiãopelaPontifíciaUniversidadeCatólicadeMinasGerais(2010).AtualmenteéprofessoradaPontifíciaUniversidadeCatólicadeMinasGerais.<[email protected]>.

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ontological discourse thanks to the existing previous to the being. After that, we will analyze the meaning language assumes in the author’s thinking and his critique to the onto-theological discourse. Finally, the investigation will demonstrate that Levinasian hermeneutics is ethical, full of opening to the other, filled with solicitude and that the glory of Infinite, in the saying of the prophetic language, can only be glorified in an ethical relation, where man is always led to responsibility by another man: it is in the testimony of prophetic language that God significance signifies eternally.

Keywords: Language. Religion. Onto-theology. Hermeneutics. Glory of Infinite.

1 A Hermenêutica talmúdica

JáfoiditoanteriormentequeLévinaséumpensadorquesemoveentreduastradições,asaber,AtenaseJerusalém,gregaehebraica.Oquenãoimplicaafirmarqueelevenhaaserumpensadorreligioso.EmentrevistaconcedidaaPoirié,aoserquestionadoseseriaumpensadorreligioso, ele responde que não, por não considerar as verdades darevelaçãoadquiridadeumavezportodascomoverdadesqueconstituemabasedesuavidafilosófica.Maséreligiososim,quandoconsideraaBíbliaessencialaopensamento.EleexplicaaPoiriéque

Aoladodafilosofiagrega,aqualpromoveoatodeconhecercomoo ato espiritual por excelência, o homem é aquele que busca averdade.ABíblianosensinaqueohomeméaquelequeamaseupróximo,equeofatodeamarseupróximoéumamodalidadedavidaqueésentidaoupensadacomotãofundamental–eudiriamaisfundamental–quantooconhecimentodoobjetoequantoàverdadeenquantoconhecimentodeobjetos.1

OdesejodeLévinasdeentenderfilosoficamenteasabedoriabíblicaeoTalmudeoconduzaumadimensãohermenêuticaquevaialémdoâmbitopuramentefilosófico.Elefazdotextotalmúdicooseumestre:ocaráterheterogêneoepeculiardesses textos frustraa racionalidadecorrente da tradiçãofilosófica.A escolha da leitura talmúdica comoviahermenêuticadeve-seaseucaráterético,naqualotestemunhodoa-Deusrompetodasascategoriasconceituaiseirrompenaimediatezdavida,ondeDeusépensadopelaviadooutrohomem,semqueooutrosejaumamediação,masummododeser.

1 POIRIÉ,François.Emmanuel Lévinas: ensaio e entrevistas, p. 105.

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ConformeChalier,2LévinasobservaquetodaatradiçãoocidentalsecaracterizaporumcertodesprezopelaEscritura,cala-seacercadarelaçãodohomemaolivro.Ora,oqueguiaahermenêuticalevinasianaéasualeituradasEscriturasSagradasdojudaísmo.ABíbliaeoscomentáriostalmúdicossãotextoscujosconteúdosabremnovasperspectivasparasalvareampliaraexperiênciaeapráticadavidainterior.Nesseaspecto,segundoofilósofo,haveriaumarelaçãoessencialentreohomemeolivro,uma referênciaontológicadohumanoao livro,mesmoporqueestepossibilitaultrapassaro“cuidadodesimesmo”eaproximar-sedeoutrem.Chalier(1993)assimserefere:

[...]ora,dizLévinas,sãooslivrosqueajudamessavidaaemergirdoslimbosquearetémescrava,equeafazemdescobrir,nomaisíntimodesiprópria,aforçadevelarpelapreocupaçãodohumano,tantonashorastranquilascomonaquelasemqueoódioprevalece.[...] a vida interior [...] ela consiste emopor a infinita nudezdaconsciênciamoral à imunidade ambiente.Esta interioridade nãoéumdadodanatureza, ela alimenta-sedeuma leiturade textoscujosentidotranscendeossofrimentosemanifesta-seigualmentenaexterioridade,comopudemosvernoscamposdeconcentraçãoondealguns[...]souberampreservaracentelhadohumanoatéoúltimoinstante.3

Nessesentido,os livrosevocamumahermenêuticadaquelequelê,pois,comopensanossofilósofo,oqueseescrevenasalmaséantesescritonoslivros,ohumanonoSercomeçalá.

EmQuatro leituras talmúdicas, Lévinas4 afirma que os textostalmúdicosnãosãoapenassimplesprolongamentodaBíblia,masexibemumasegundacamadadesignificados:críticoseconscientes,retomamossignificadosdaEscrituranumaperspectivaespiritualeracional.Ametodologiatalmúdicaretomaerecriacontinuamenteotextobíblico.Seuprocessode investigaçãodo sentidobaseia-se nas intermináveisdiscussões,objeçõeseinterpretações;oitineráriodosentidojamaisseisolandoouencerrandoemsimesmo.Oensinamentotalmúdico,semprenovo, confronta-se com o mundo e revela-se somente àqueles quesabemdescobrir“soboaparenteanacronismodasdiscussõesrabínicas, 2 CHALIER,Catherine. Lévinas:autopiadohumano,p.19-35.3 Ibidem,p.24-25.4 LÉVINAS,Emmanuel.Quatro leituras talmúdicas,2003b.

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apresençade umpensamento eternoque, consequentemente, incidesobreosproblemascontemporâneos”.5

NoentendimentodeLévinas, o projetofilosóficoocidental nãoobteve sucessona intençãodedar aoshomenso sentidodohumanonoOcidente – o que denota a insuficiência do logos para afastar oniilismo.A racionalidade grega precisaria ser avivada pela fonte desentidooriundadosprofetas,ondepermanecedespertaapromessadoacontecimentohumano.6SegundoLévinas,aatençãoextremadadaaesselivro–aBíblia–permiteàconsciênciadespertarparaosentidodosecretoquecadaumcarregaemsi,asaber,odeumavocaçãodesantidade.Comoolivroporexcelência,elaguiaosleitoresparaalémdaquiloquejulgamsaber,elalhesproíbetodaasatisfaçãoprematurae todoodescansonoser.ABíbliacompõe-sedeumdizer inspiradoqueexcedesemprealiteralidadenaqualelaseenlaça.Issonãoquerdizerumaoposiçãoàletra,masànecessidadedeinterrogaraletraemqueoespíritopermanece.Nessaperspectiva,umlivrodiz-seinspiradoquando,paraalémdoseuquerer-dizer,percebe-seneleumoutrosentidopossíveleplenodesolicitudepelahistóriapresente.

AleituraqueLévinasfazdoTalmudepossuiumcaráterinovador.Elebuscadescobrir,pordetrásdosentidoaparentementeexplícito,oespíritodasletras,daspalavras,fugindododogmatismoedoaprisionamentodosentido.Eleseopõeaosmétodoshistóricoseestruturalistasdeleiturados textos que, segundo ele, deixama desejar, porficarempresos acondicionamentosapriorísticosdeinterpretação.Paraele,osentidoseencontraalémdaquelequeéinferidodentrodalingüística;éonão-dito,essencial.EmQuatro leituras talmúdicas7 eleafirmaque“oespíritojamaisdá autorizaçãoà letraque lhe revela.Aocontrário, o espíritodespertanaletranovaspossibilidadesdesugestões”.Umapalavranãosóconduzàoutra,massolicitaoutra,eassim,libertaosentido.Dessemodo,ahermenêuticatalmúdicapossibilitaalibertaçãodalinguagemdascadeiasdaobjetivaçãodaexperiênciareligiosapelateologiaerevelaosentidoético/profano.

5 MELO,NélioVieirade.A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas, p. 166.6 ConformeChalier(Lévinas: a utopia do humano,p.27-28),“Lévinasnãopretendeconciliarasduassabedorias,masjulgaindispensávelfazerobraefilósofo,porqueologospermanece,aseuver,ointermediáriouniversaldetodaacompreensãoracional(DL,p.230).Todavia,esforça-seporfazerpassarnesteDitogregodafilosofiaumsoproúnicoprocedentedatradiçãohebraicaaqueelechamaoDizer”.

7 LÉVINAS,E.Quatro leituras talmúdicas, p. 217.

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Nacompreensão talmúdica, a relaçãoque se estabelece entre omestreeodiscípulodiferedarelaçãomestre-discípulodeSócrates.Nasabedoriatalmúdica,omestreensinaodiscípuloabuscarosmistériosda transcendência.Aposiçãodo leitor é dequemescuta e confianasabedoriadoseumestreeécapazdereceberaideiaquevemdooutro,quevemdaordemdoInfinito.Osábioéaquelequesepõeacaminhoesemantémnovestígiodasignificação,daexterioridadedarevelaçãoqueélinguagem.8Rompercomascadeiasdocogitoedeixar-seinterpelarpelasabedoriadooutrofazempartedoprocessoquebuscaoespíritodaletra.“Lévinasfranqueianovoscaminhosdopensamento”.9Nesses,hebraísmoefilosofiasecruzam.ElesepõeàescutadoverboinspiradodosprofetasedaspalavrasdosmestresdoTalmude,quenãocontrarianeleasabedoriagrega.10

AreflexãodaTorahaponta,consoanteLévinas,paraessarelação,paraa solicitaçãodooutro;opensamentofilosóficoapontariaparaaanterioridadedeumsujeito“quetemasuaorigemforadele,noatodasubstituiçãodoeupelooutro”.11Aquiseencontraaraizdaipseidadeeabasedainterpretaçãotalmúdico-filosóficalevinasiana.BucksobservaqueemLévinas,

[...]Paracaptara insinuaçãododizerenigmático,éprecisoumasubjetividade “parceira do Enigma”, que interpreta o dizer nãocomocomunicaçãodeVerdades neutras e universais,mas comointimaçãoquelhefoidirigida.Deus,quedeixouostraçosdesuatranscendêncianasEscriturasSagradas,depende,parasuavindaàterra,dainterpretaçãodaquelesqueleem,interpretamecomentamessestextos.12

Segundo Bucks,13 Lévinas, emDescobrindo a Existência com Husserl e Heidegger,afirmaque,intimadaacomparecer,convocadaauma 8 ConformeBucks(A Bíblia e a ética:arelaçãoentreafilosofiaeaSagradaEscriturana obradeEmmanuelLévinas,p.189),emLévinas“alinguagemindicaalémdasprópriasintençõesdoprópriolocutor.O‘poderdizer’dalinguagemultrapassaseu‘quererdizer’,porqueoriginariamentenascedonovocompromissocomooutroparaalémdoser”.

9 CHALIER,C.Lévinas: a utopia do humano, p. 39.10 Ler a respeito dessa questão em CHALIER, C. Lévinas: a utopia do humano,

p. 35-41.11 MELO,NélioVieirade.A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas, p. 182.12 BUCKS,René.A Bíblia e a ética:arelaçãoentreafilosofiaeaSagradaEscrituranaobradeEmmanuelLévinas,p.192.

13 Ibidem.

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responsabilidade incessante, a subjetividade se transforma em par- ceiro do Enigma e da transcendência que desarruma o ser.A inter- pretação da Escritura não se estrutura como um processo solitário.A relação que se estabelece entre texto e leitor, que se abre para a interpretação, possibilita uma multiplicidade de vozes. Os dou- tores doTalmude discutem commestres anteriores e com seus dis- cípulos,conscientesqueosignificadodaEscrituraultrapassaosentidoóbvio do texto e que nela há um excedente de sentido, escondidonas letras, que pode ser descoberto.14 O Talmude se aproxima damentalidade contemporânea por elaborar a mensagem bíblica numespíritoracional.

NaintroduçãodeQuatro leituras talmúdicas,Lévinasargumentaque,malgradoaantiguidadedoTalmudeedevidoàcontinuidadedeseu estudo, ele pertence ainda à história moderna do judaísmo.Aíresideaoriginalidadedojudaísmo,poisquetratadaexistênciadeumatradiçãoquesedefineporestarligadaàatualidadeeàcompreensãodacontemporaneidade, de forma imediata.Essa tradição ininterrupta serealizaatravésdatransmissãoedocomentáriodostextostalmúdicos,“oscomentárioscavalgandoospróprioscomentários”.15

Faz-se necessário ainda ressaltar que a via hermenêutica emLévinasdelineia-seapartirdafenomenologiapós-husserliana.16Essaviasefundanaintrigaética.Aprincípioelasemostradesconstrucionistaecriticaafilosofiaportersetornadoumdiscursodatotalidade;nummomentoposterior,mostra-seconstrucionistadeumdiscursoconciliador(a ética e a hermenêutica são concebidas como um discurso que éinspiraçãoetestemunho,comosabedoriadoamoredajustiça).Porfim,ahermenêuticalevinasianaseapresentacomobuscadosentido,quesetraduznarelaçãoentreleitoretexto.Nessetipodeinterpretação,otextoassumeaidentidadedoRostodoOutro,queinterpela,provocaesolicitadoleitorumaresposta.Asolicitaçãonessestermoséumarelaçãoeu-texto,livredaapreensãoconceitualtotalizadora.“Oprocessodeleituraconverte-seemhermenêuticacujasolicitaçãoindicaqueosentidodotextonuncaseesgota,poisumnão-ditosemprepermanecesobaletra”.17 14 BUCKS,R.A Bíblia e a ética:arelaçãoentreafilosofiaeaSagradaEscrituranaobradeEmmanuelLévinas,p.194.

15 LÉVINAS,E.Quatro leituras talmúdicas, p. 19.16 LeraesserespeitoemMELO,NélioVieirade.A ética da alteridade em Emmanuel

Lévinas, p. 163-179. 17 FABRI,Marcelo.Desencantando a Ontologia, p. 139.

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Ahermenêuticatalmúdicarefere-seaumainterpretaçãosemprepronta a recomeçar.Asolicitaçãocomoviae interpretaçãoapoia-se sobreaescrita do texto, libertandoo seu significado e as suas significações.Trata-se da exigência de uma leitura do texto talmúdicoque resgateoseusignificadoisentodosproblemasrituais,dalinguagemreligiosaedossuportesteológicos.Somenteassimépossívelrevelarosentidoético-profanodotexto.18

Nessesentido,ahermenêuticaestrutura-secomopensamentoqueseoferecee sediz aooutroparaajudá-loconcretamente;o conceitode solicitação é transformado em conceito ético de solicitude, empreocupaçãoeserviçopelooutro.Aquiapalavranãoficasoltanoar,mas é aplicada: o outro necessita tanto de pãoquanto de sentido.Asolicitude constitui-se emmodo de serautrement; o testemunho dasolicitudeincomoda,perturbaumasociedadeeumareligiãovoltadaaoindividualismo.

O testemunho e a solicitação são chaves hermenêuticas queabremamesmaportaedãoacessoàmesmainstânciainterpretativa.Ointérpreteestádiantedeumtestemunho,diantedeumlivro.Agrandezado testemunho está no fato de elemedespertar para o que ele querdizer.Elevemdefora,éovestígiodaalteridadequeseoferecesemsedeixarapreendertotalmente.Otextoéummododeserquemesolicita:interprete-mesemaprisionarmeusentido.Ahermenêuticalevinasianaconstitui-se de três elementos importantes: o sentido-texto, o ser doleitoreainterpretação.AintuiçãodeLévinas,apartirdainterpretaçãohermenêutica talmúdica, quermostrar que esta não se encerra numavisãopuramenteabstratadeDeus,dohomemedomundo.OTalmudetornapossívelacompreensãodavidaedasrelaçõeshumanasparaalémdateoréticatotalitáriadaideologizaçãodosaber.

ParaMelo,19ahermenêuticalevinasianaseinscrevecomoética,plenadeumaaberturaaooutro,cheiadesolicitude.Aposiçãodointérpretecomoleitordiantedolivroédeestardiantedeumavontadequelhepedeumaresposta,diantedaglóriadoinfinito,diantedeumasabedoriaqueoimplicaelheexigeresponsabilidade.“Aresponsabilidadeconfiguraaessênciadalinguagem”.20

18 MELO,N.V.de.A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas, p. 195.19 Ibidem.20 LÉVINAS,E.Deus, a Morte e o Tempo, p. 45.

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2 A glória do Infinito no dizer da linguagem profética

Noque concerne à glória do Infinito, cabe-nos, primeiramente,mostrar como Lévinas transita do testemunho profético à glória doInfinito.OtestemunhoproféticodaquelequetestemunhaapalavradeDeusnaresponsabilidadepelooutro,realiza-senalinguageméticado“Eis-meaqui”dosujeitocomosubstituiçãoeexpiaçãoaooutro.

NoquintocapítulodesuaobraDe otro modo que ser,21Lévinasdefine a subjetividade como substituição,mas, aqui, não se trata desubstituiçãoquetomaolugardooutro,possíveldentrodeumsistemacomsimetria,aomododoconatus essendi.Lévinaspensaasubjetividadecomo“substituição”,deformaradical,foradosistema.Nãosetratadeocuparolugardooutro,masserviraooutroéasubstituiçãodoum-para-o-outro,o“para”indicandoomododasubstituição.Asubjetividadeédesignadapor este serviço aooutro.A condiçãode possibilidadedasubstituição é a destituiçãoda egoidadedo eu, suade-posição e seu esvaziamento.22

Noesvaziamentodesi,asubjetividadeagoraéticaédevotadaaooutro;oeujánãoencontraemsimesmoasuaverdade.“Nesseesvaziamentodesiatéàexpiação,vaiacontecendosuajustificaçãoesuaverdade,comoinversãodaidentidadeem‘substituição’,apartirdaqual,então,todososoutroselementosretomamluz,significânciaeumsentidojusto”.23 DeacordocomLévinas,emDe otro modo que ser,24aresponsabilidadeparacomosoutrosnãofoiumretornoasimesmo,masumacrispaçãoexasperadaqueoslimitesdaidentidadenãopodemreter.Paraele,nasubstituição,atravésdaqualaidentidadeseinverte,nestapassividade25 21 De otro modo que ser, o más allá de la Esencia éa traduçãoespanholado título

original de Autrement qu’être ou au-delà de l’essence.22 Lévinas(De otro modo que ser, o más allá de la esencia,p.212-213)afirmaque“todo lo que sugieren verbos como vaciarse, consumirse, exilarse por su formapronominalnoesactodeunareflexiónsobresi,decuidadodesí,sinoquenoesactodeningúnmodo;espuramodalidaddelapasividadque,mediantelasubstitución,estámásalládetodapasividad.Ensícomoenlahuelladesuexilio;estaquieredecircomopurodesenraizamientodesí”.

23 SUSIN,LuizCarlos.O homem messiânico, p. 378.24 LÉVINAS,E.De otro modo que ser, o más allá de la esencia, p. 209-214.25 Lévinas(De otro modo que ser, o más allá de la esencia,p.213)“enestoconsistelainterioridad,unainterioridadquenoseasemejaennadaaunmododedisponerde cualesquiera asuntos privados. Interioridad en secreto, puro testimonio de ladesmesuraqueyameordenayqueesdaralotroarrancandoelpande labocayhaciendodonacióndelapiel”.

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maispassivaque a passividade, o si-mesmo se absolvede si. Souzacomentaque,

Nãosetratadealgumtipodealienação,naexatamedidaemquearesponsabilidade[...]éoinversoperfeitodosimplesmenteper- der-se no além de si. [...]Antes seria como que um “achar-se paraalémdesi”edeseuspoderes,comoser-em-sua-pele,comoter-o-outro-em-sua-pele.26

Nestapassividademaispassiva,ose,eticamente,responsabiliza-sepelooutro.Entretanto,aproximidade27dopróximonãosignificaasubmissãoaonão-eu,significaumaaberturaondeaessênciadoserseultrapassanainspiraçãoporoutroenasubstituição,ouseja,“liberdadee atividade vindas de outro, em nome e sob a autoridade de outro,portanto,nadaeninguémnomundo–nemmesmoeu–podeimpedirou limitar”.28 No pensar levinasiano, o sentido da liberdade não seconfigura umpôr-se soberanamente acima “e nem simplesmente emcorrelaçãodentro,mas substitutivamente abaixode tudo e de todos, ab-solviçãoparasersub-jetividadecomosub-jectumquesuporta”.29EmLévinas,osujeitoétomadonasuaconcepçãoetimológica–sub-jectum – aquele que serve e substitui30 outrem, tomandopara si a carga dooutro,eleéresponsávelportudo.Énessesentidoqueaexpiaçãoéumatransformaçãodaviolênciaedosofrimentoemredençãoqueresgatadaviolênciaedosofrimento.Seupodervemdesdeoalém,comoenergiapostanaestruturacriaturaldasubjetividade:responsáveldesdenascençapelooutrohomemquenãoconheçoeporsualiberdadeeações.

Naobra,De otro modo que ser,31Lévinasdefineasubjetividadecomorefém.Estanoçãoinverteaposiçãonaqualapresençadoeuasimesmoaparececomocomeçoe conclusãodafilosofia.A situaçãoderefémseligaàeleiçãoantesdaliberdadeeparaalémdaliberdade 26 SOUZA,RicardoTimmde.Fenomenologia hoje, p. 393.27 SegundoSouza (Fenomenologia hoje, p.386), no pensamento levinasiano, “pro- ximidadesignificaaproximaçãoqueprimordialmenteécontatoenãoequacionamen- to intelectualdocontatado:nãoéumsaber,masumabaseoriginaldosaberque,[...] ‘buscandona linguagempor detrás da circulação e informações o contato ea sensibilidade, ensaiamos descrever a subjetividade como algo irredutível àconsciênciaeàtematização’”.

28 SUSIN,L.C.O homem messiânico, p. 379.29 Ibidem.30 ConformeLévinas(De otro modo que ser, o más allá de la esencia,p.199),“nadiepuedesubstituirsepormíquemesubstituyoatodos”.

31 De otro modo que ser, o más allá de la esencia, p. 200.

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oeusedefine.Aindaqueinocenteemesmosemtercometidoculpas,sou constituído de tal formaque a culpa do outro éminha por estesuplementoderesponsabilidadeporele.Serrefémdooutrosecaracterizatambémcomoumasuperaçãodoeusolitário,refémdesimesmo,refémdaprópriaatividadeedasestruturasdetotalidade.Aexcelênciadooutroeomeuserviçoaelemeexaltamcomoservoerefémnocumprimentodavocaçãodesubjectum paraalémdomundo.32

Faz-senecessárioressaltarqueaobediênciaaoAltíssimosignificaa impossibilidadedemeesconder.Sou livrenamedidaemque façoo queninguémpode fazer nomeu lugar.Aobediência aoAltíssimome torna livre. Na substituição, Deus se revela comomandamentovocacionandoohomemàredençãodahumanidadee,dessaforma,ohomemseconstituihumano.ÉnaresponsabilidadediantedeDeusedooutroqueohomeméhomem.

É a partir da responsabilidade que Lévinas33 formula a noção– estranha à filosofia – de substituição, como sentido último daresponsabilidade.Segundoele,emboranafilosofiafenomenológicaoúltimoacontecimentodevaseroaparecer,aqui,sobamodalidadeética,épensadauma“categoria”diferentedosaber.Seuesforçoconsisteempensarooutro-no-mesmosempensarooutrocomoumoutromesmo.Apartículanoaquinãosignificaassimilação:ooutrodesconcertaoudespertaomesmo,ooutroinquietaouinspiraomesmo.Omesmonãoestáemrepouso,aidentidadedomesmonãoconsistenaquiloaquesereduztodasuasignificação.Oeuéumoutrocomoidentidadenoserviçoesubstituiçãoparaooutro.Lévinasobserva

[...]Mas,assim,posiçãojáde-postadeseureinodeidentidadeedesubstância, jáemdívida,“paraooutro”,atéasubstituiçãoaooutro,alterandoaimanênciadosujeitonabasedesuaidentidade;sujeitoinsubstituívelparaaresponsabilidadequelheincumbeeporaíreencontrandonovaidentidade.34

Areflexãodofilósofoseguenosentidodeque,namedidaemquemeseparodoconceitodeeu,háumestremecimentonosujeitocomocrescimentodeobrigaçãonoprocessodeminhaobediência,aumentoda culpabilidade com o aumento da santidade. O eu não encontra 32 SUSIN,L.C.O homem messiânico, p. 383.33 LÉVINAS,E.De Deus que vem à ideia, p. 117.34 Ibidem,p.107.

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mais repousopara si ao abrigode sua forma e do seu conceito35 de eu.“Nãohácondição,sequeradaservidão”.36Aproximidadenuncaésuficientementepróxima,oeuresponsávelnuncaacabadeesvaziar-sedesimesmo.Éaglóriadeumlongodesejo.Comorefém,osujeitonãoénemaprovanemaexperiênciadoInfinito,mastestemunhodoInfinito,amodalidadedestaglória,testemunhoquedesvelamentoalgumprecedeu.

Parece que a tentativa deLévinas é traçar uma fenomenologiadodizerdorosto,comolinguagemquenãoseintegraàcumplicidadedoconceito,queéjustiça,palavraproféticaquerespondeaoapelodooutro,queétestemunho.Suaintençãoésairdacompreensãocorrenteda linguagem e aproximar-se da ideia de infinito formalizado noracionalismo cartesiano, lido a partir da visãohebraica, comopensaFabri:

Poressemotivo,Lévinasnãosecansadefazerreferênciaàideiacartesianadeinfinito,àpossibilidadedeaconsciênciapensarmaisdoqueécapazdeconter.Nessadesproporçãooudesmesura,aglóriasedistinguedopresentedarepresentação.Umatalinadequaçãoésinônimodeinspiração,deumaresponsabilidadesempreretomadapelodesejoepelodizer.37

Dacondiçãodesujeitocomorefém,queéomesmoqueapassividadedasubstituiçãodoum-pelo-outro,osentidoéticodesseeventoiluminao sentido inicial do testemunho. Nesse sentido, o dito se configuraapenastestemunhodaquiloqueoeusignifica:éumarespostaaodizer: eis-me-aqui–respondendoatodoseatudo,significaa“adstriçãoaodar,àsmãoscheias,àcorporeidade;sendoocorpoaprópriacondiçãododar,comtudooquecustadar”.38Lévinasobservaquesetratadeum“arrancamento”desinumdarqueimplicaumcorpo,porquedaratéofimédaropãoarrancadoàprópriaboca.Comorespostaaoapelo,daqualnãoépossívelsubtrair-se,oeis-me-aquinãopermitequeosujeito 35 NaobraDeus, a morte e o tempo,Lévinas (p.197) explica: “o sujeito não é umente opaco, dotadodeuma estrutura de egoidade, como se tivesse uma estruturaeidética–oquepermitiriapensá-locomoumconceito,dequeoentesingularseriaarealização.Pelasubstituição,nãoéasingularidadedoeuqueéafirmada,éantesasuaunicidade.Oprópriodessasituaçãodoeu-reféméfugirdoconceito,oqualimediatamentelhedáumaarmaduraeoposiciona”.

36 LÉVINAS,E.De Deus que vem à ideia, p. 108.37 FABRI,M.Desencantando a ontologia, p. 172.38 LÉVINAS,E.Deus, a morte e o tempo, p. 204.

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nãosejaresponsável.Esseéodizerprópriodainspiração,oresponderprontamente, pôr-se à disposição, aberto ao dar, é amodalidade daresponsabilidade.Na inspiração e substituiçãoo eu expira-se para ooutro.A identidadeeunicidadedoeunãoestariamno repousode simesmo,masnoarrancar-se-a-si-mesmoparadarparaooutroopãodesuaboca.Nessainquietudeserealizaasinceridadedodizer.

Entretanto,Lévinasnãocompreendeodizercomodiálogo,mascomotestemunhodoinfinitoàqueleaqueminfinitamenteeumeabro.Narelaçãocomoutrem,estadimensãodetestemunhonãorepousanumconhecimentoprévio.Pois,comopensaLévinas,limitarotestemunhopeloconhecimentoprévio far-nos-ia retornarnovamente àontologia.É ele quemafirma: “De fato, nós contestamos que o diálogo seja aformaprimeiradalinguagem.Antesdeoser,alinguagemétestemu- nho”.39Testemunhoquenão é expressonodiálogo,mas na fórmula eis-me-aqui.Comodedicatóriadesimesmo,otestemunhoéaberturadesiqueexprimeoexcessodaexigênciaàmedidaqueaexigênciaderesponsabilidadesepreenche.Éatravésdotestemunhoqueaglóriaseglorifica.ParaLévinas,

[...]EleéomodocomooInfinitoultrapassa(passe)ofinito,eomodopeloqualoInfinitosepassa.Odizersemditodotestemunhosignifica assim a intriga do Infinito – intriga e não experiência.Apalavradesignaaquiloaquesepertencesem,noentanto,teraposiçãoprivilegiadadosujeitoquecontempla.Aintrigaligaàquiloquesedesliga,elaligaaoab-soluto–semorelativizar.40

Alinguagemesuasignificaçãonãosãosóexpressão,elavaialém.Opensamentodaquelequepensaésurpreendidopelasignificação;elaultrapassaolimitedosinaledaconstituiçãodeste.Paranossofilósofo,alémdaobjetivaçãododito,estáodizereoseulugaréoseiodoinfinito.Alémdaexpressãodorostodooutro,existeumaanterioridadeinfinita,queésuagrandeza,suarecusaeresistênciaàtematização.Otestemunhonãovemacrescentar-secomoexpressão,informaçãoousintoma,enãoserefereaalgumaexperiênciadoInfinito.Contudo,segundoLévinas,pode haver relação com Deus, na qual o próximo é um momentoindispensável,pois,conhecerDeuséfazerjustiçaaopróximo.ÉoquedeixaentenderaBíbliasegundoLévinas:“Acasonãocomiaebebiao 39 LÉVINAS,E.Deus, a morte e o tempo, p. 206.40 Ibidem,p.213.

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teupai,praticandoaomesmotempojustiçaeequidadeetudolhecorriabem?Nãoseráistoconhecer-me?OráculodeJavé”.41

Percebe-se que, para Lévinas, o sinal dado a outro traduz sin- ceridadepelaqualaglóriaseglorifica.AglóriadoInfinitoserealizanaaproximaçãodooutro,nasubstituiçãoaooutro,oupelaminhaexpiaçãoparacomoutrem.“AglóriadeDeuséodeoutromodoqueser”.42EmÉtica e Infinito, o autor cita umapassagemdeAutrement qu’être ou au-della e l’essence,ondeescreve:

Do Infinito de que nenhum tema, nenhum presente é capaz, dátestemunho,portanto,osujeitoouooutronomesmoenquantoomesmoéparaooutro,ondeadiferençaseabsorvenamedidaemqueaproximidadesetornamaispróximaeporestamesmaabsorçãoseanunciagloriosamenteemeanunciasemprecadavezmais.Ondeomesmo,nasuaposiçãodemesmoécadavezmaisconsideradoatéàsubstituiçãocomorefém,expiaçãoquecoincide,aofim,eaocabo,aextraordináriaediacrônicainversãodomesmonoOutronainspiraçãodopsiquismo.43

Nesse sentido, o sujeito é, no seu próprio psiquismo, inspiradopeloInfinito,contendomaisdoquepodeconter–éomaisnomenos.Trata-sedadesproporçãodaglóriacomopresente,desproporçãoemque se revela a própria inspiração. Nessa passividademais passivaque toda passividade, a exterioridade do Infinito torna-se, de algummodo,“interioridade”nasinceridadedotestemunho.44Paraofilósofo,asubjetividadenãopodeesconder-seoufugirdosolhosdooutro,comoAdão,quenoparaísoencontrava-secompletamenteexpostoaoolhardoDeusEterno.45

Asubjetividadeeleitacomoservoeprofetaconcerneinteiramenteoeunarelaçãoaooutro,comoobrigaçãoparaoqualoeufoicriado.Eleiçãoeresponsabilidadesãoanterioresàliberdadeeàbenevolênciada própria vontade, como tendência ou dote natural. São anteriorestambémaotestemunhododito.Averdadedoditosóseconstituiapartirdasinceridadedodizertestemunhado.Otestemunhoéomododeretereobedeceràordemdooutro,éomododedizersemdito,ésinaldadoaoutrem,peloqualosujeitosaidasuaclandestinidadedesujeito.Lévinas 41 LÉVINAS,E.Deus, a morte e o tempo, p. 214.42 Idem.Ética e infinito, p. 101.43 Ibidem.44 Ibidem,p.102.45 De otro modo que ser, o más allá de la esencia, p. 220.

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inscreveotestemunhonacomplexidadedarelaçãoética:aéticarompecomaunidadeoriginariamentesintéticadaexperiência.Elarequerumsujeitosuportandotudoe,sujeitoatudo,obedienteaumaobediênciaqueéanterioratodoentendimento,atodaaescutadomandamento.

A sinceridade do testemunho significa adesão à ordemquemeordenaenãomepermitequalquerpossibilidadedevoltaràexterioridadecomodiantedeumtema.Oanúnciodasinceridadeépurahumildade.Oprofetismoimplicaoprópriopsiquismodaalma;ooutronomesmosignificaodespertardomesmopelooutro,istoé,opassar-sedoInfinito.EleéaacolhidadapassagemdoInfinito,aindaqueoInfinitonãoestejapresente.NafraseondeDeusétestemunhadonoeis-me-aqui, Deus não éenunciado.SegundoLévinas,46“testemunharDeusnãoéenunciarestapalavra,comoseaglória47sepudesseposicionarcomotemaoutese,ouessência (essance)do ser”.OditoDeuspode tomaro sentidodotestemunho,maspodetrairsuatematizaçãopormeiodaontologiaedateologia.Otestemunhosincerododitodeveorientar-sepelalinguagemprofética,quedesignaobediênciaàtranscendênciadoInfinito.

AglóriadoInfinitomarcadetalmaneiraosujeito,queasubjetividadeassignada–feitasignoporDeus–éconvocadaacomparecerparaalémdoser.Naconvocação,oeusignodeDeusrecebeamissão“envia-me”,conformeexplicaRibeiroJunior:

[...]oenviosecaracterizapelavocaçãodoprofetaque,inspiradoporDeus,setornasignodoEspíritodeDeuseimpulsionaahumanidadedo homem a se des-interessar de si nummovimento interminá- vel.OEspíritomoveahumanidadedohomemarespondercomo“Eis-me-aqui”aodomaooutroeasetornarum-para-o-outroeparaos demais.48

Para Ribeiro Junior, em Lévinas a subjetividade marcada ouassinaladanãotemporondeescapar.Aosereleita,édestituídadesimesmaporaquelequeatraumatizaeatornatestemunhodessepró-nome(ele).Segundoele,oserheideggerianomostra-seantagônicoeavessoàalteridadedopronome(ele)ouaelecomo,linguagem.Écaracterística 46 LÉVINAS,E.Deus, a morte e o tempo, p. 215.47 SegundoUlpiano(El discurso sobre Dios:en laobradeE.Lévinas,p.239-255),“LagloriadelInfinitoeslaidentidadan-árquicadelsujetodesemboscadosinposibleocultamiento, yo abocado a la sinceridad, aportando signo al otro-del cual soyresponsable–deestamismadonacióndelsigno,esdecir,deestaresponsabilidad:“hemeaquí”.Deciranterioratododichoquetestimonialagloria”.

48 RIBEIROJUNIOR,Nilo.Sabedoria da paz, p. 473.

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daontologianegarodizerdeDeusparaalémdoseredeseudizernodito.“ODaseinésempreoditododizerdoserquesediznele.Eleéo“Eis-aí-o-ser”.49Nacompreensãoontológicaheideggeriana,aquestãoteológicanemchegaasercogitada,umavezque,paraaontologia,éinadmissívelimaginaralgoforadoâmbitodoser.Sóseadmitepensardoteológicoqueosagradopodemanifestar-senalinguagempoéticaqueretiraoserdoesquecimento.Apartirdaontologia,opoetaseembebedosagradograçasàinspiraçãoquelheadvémdoser.Lévinas,contrárioaessaconcepção–àsacralidadedaontologia–enfatizaqueDeus,aoassinalareconstituiro“homemespiritual”50comosujeitofeitosignoaooutrohomem,ausenta-sedaconsciênciaedaexistência.DeuséEleenãoumoutroparamim.”OElequeconstituiasubjetividadecomopalavraproféticadistingue-se, absolvendo-seda relação”.51 Deus e o sujeitonãosãoenglobados,nemassimiladospelalinguagempoéticadoser.Alinguagemproféticaéolugarprivilegiadoparatrataraquestãode Deus.

Estedizerpré-originalpermiteoeventodosinal,quefazdapalavraumsinalparaooutro.Dizerque,comoresponsabilidade,éaprópriasignificação do um-para-o-outro, estrutura formal da significação,significância ou racionalidade da significação, a qual não começaexpondo-menumtema,maséminhaaberturaaooutro.

É nessa relação eu-outro, na qual se configura a linguagemdocontatocomolinguagemética,quenotestemunhoproféticoosujeitoinspiradopercebeque a significaçãonascenaproximidadedodizer,antesdeelesertematizado.Odito,aindaquesigaosrastrosdaeleidade,jamaischegaráaexpressaragrandezadasignificação.

Porfim,paranossofilósofo,odiscursofilosóficosemprereivindicouparasiumenglobamentoeumacompreensãoúltimos.Reivindicaçãoqueimplicaumacoincidênciaentreoseupensamentoeoser,noqualelesesitua.Melhorexplicando,opensamentonãodevepensarparaalémdoqueresidenoatodeser,nemseaventuraremdireçãoaoquemodificariaasuapréviapertençaaoprocessodeser.ÉapartirdessaperspectivaqueLévinascriticaahomogeneidadequesempreexistiuentre teologiae 49 RIBEIROJUNIOR,N.Sabedoria da paz, p. 473.50 EmAutrement qu’être,“aespiritualidadeemquesepassaoinfinitomaisantigoqueotempoderememoração,diacroniasemmemória”éasignificaçãodaaproximaçãoéticado sipela substituiçãodooutro (LÉVINASapudRIBEIROJUNIOR,Nilo.Sabedoria da paz, p. 474).

51 RIBEIROJUNIOR,N.Sabedoria da paz, p. 474.

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ontologia,ondeonomedeDeussefixacomoconceito.Suainvestigaçãocaracteriza-seporumainsólitaprocuradeDeussemonto-teologia.Noseupensamento,apalavraDeuséúnica,pois,éaúnicapalavraquenãoextingue,nemabafa,nemabsorveoseudizer.Épalavraqueperturbaasemântica.Comonomepróprio,Deusnãopertenceanenhumacategoriagramatical.ConformeobservaRibeiroJunior,

[...]onomedeDeuséaquelequesepassanaética–eque,aopassar,revelaqueonome,ouDeusmesmosedizparaalémdopronomenaeleidadeeassignaasubjetividadecomoresponsabilidade–,essalógicadatemporalidadeana-crônicapermiteafirmartambémqueDeussetestemunhaasimesmoemseuNomeaosetestemunharnasubjetividadeeleita.52

SegundoRibeiroJunior,53égraçasàideiadetraço,de“Eleidade”,e à ideia do Nome de Deus como “nome próprio”, introduzido nobojodasintaxefilosóficacomo“enigma”,queserealizaainterrupçãodefinitiva dodiscurso sobreDeus daonto-teologia. Éo testemunhocomolinguagemproféticadapalavradeDeus,queéamodalidadedamanifestaçãodosaber.Significaçãoética,fundadanoapelodooutroenaresponsabilidadecomoresposta:eis-me-aqui.NãopodehavernenhumconhecimentodeDeusemseparadodarelaçãocomoshomens.OutreméoprópriolugardaverdademetafísicaeindispensávelàminharelaçãocomDeus.

Entretanto,apesardeLévinasindicaralinguagemproféticacomoo lugar excepcional do falar deDeus, a partir deDeus, não sepodepensarDeuscondicionadoàlinguagemdoprofeta.Apalavra“Deus”sedizdesimesma–DeuscomoKath’auto–paraalémdaproféticacomoprimeirapalavra.Oprofetaéaquelequesabeomomentodesecalar, quando a única saídanão é senão encarnar a palavra deDeuscomolinguagemprimeiradoamoraooutro.54EmLévinas,aglóriadeDeussediznalinguagemmessiânica.ODeusquehabitaasubjetividadeassignada,marcada,inspira-senoamoraooutrohomem.Asubjetividadevulneráveleafetadapelooutroéremetidaàmaternidade,quesignificaconcretamenteorecebimentodooutronoseiodesimesmo.AssimaglóriadeDeusseglorificaatravésdasubjetividadematernalque faz

52 RIBEIROJUNIOR,N.Sabedoria da paz, p. 475.53 Ibidem,p.476.54 Ibidem,p.487.

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“ressoar a glória de Deus” (Kath’auto) como palavra.55 Palavra que habita a subjetividade, como também introduz no ser a ordem, a justiça e a paz, a sabedoria do amor. Contudo, para Lévinas,56 a ordem da justiça dos homens responsáveis pelos outros não implica o restabelecimento da reciprocidade entre o eu e seu outro, mas por causa do terceiro que, ao lado do outro, me é também um outro. A responsabilidade do eu pelo outro e pelo terceiro não o deixa ficar indiferente às suas interações. Na caridade com um, não pode subtrair-se ao seu amor pelo outro. A glória de Deus só pode ser pensada dentro do regime do amor. Segundo Lévinas,57 “Atrás das singularidades únicas é preciso entrever indivíduos do gênero. É preciso compará-los, julgá-los e condená-los. Sutil ambiguidade [...]. Eis a hora da justiça inevitável que a própria caridade todavia exige”.

Lévinas deduz a sabedoria da justiça – sabedoria profética – a partir de Deus. Deus não é interlocutor nem causa, é antes, vestígio da transcendência através da qual o sujeito se liga ao outro. É dessa relação de proximidade com o outro, conferindo significado à minha relação com outros, que decorre para Lévinas a compreensão de justiça. A passagem de Deus é o próprio retorno do sujeito incomparável como membro de uma sociedade. A entrada do terceiro desemboca na presença de toda a humanidade, na qual se mostra a humanidade do homem. A entrada do terceiro coincide com o nascimento da consciência que se funda na justiça. A sabedoria da justiça é a sabedoria do amor. Na observação de Ribeiro Junior,58 “esta glória de Deus testemunhada pela humanidade só poderá ser dita/linguagem a título de uma sabedoria mais antiga que a sabedoria da filosofia grega”. É que, para Lévinas, a filosofia, antes de amor à sabedoria, é essa medida suscitada do infinito do ser-para-o-outro da proximidade e como sabedoria do amor.

Conclusão

A abordagem de um pensamento que foge ao aprisionamento do saber lógico e sistemático não pode pretender o esgotamento de nenhum dos seus temas. O modo levinasiano de fazer filosofia põe o leitor em constante estado de vigilância que abre e ultrapassa a consciência

55 RIBEIRO JUNIOR, N. Sabedoria da paz, p. 191.56 LÉVINAS, E. Entre nós, p. 293.57 Ibidem.58 RIBEIRO JUNIOR, N. Sabedoria da paz, p. 488.

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intencional.Daíaimpossibilidadedeemitirjuízoscomsentidounívocosobre umafilosofia que foge à totalidade. Suameta é encontrar umnovo espaçopara umaverdadeira transcendência e sair do esquemaontológicoqueatravésdarepresentaçãoconceitualneutralizaedestróiaalteridadedototalmenteoutroedohomem.

Contudo,pareceu-nospossívelafirmarquea linguagemvemdoprópriosentidodaaproximaçãoquesedestacadosaber,dorostoquesedestacadofenômeno.Arelaçãodeproximidadeéoeventoéticodacomunicação.ParaLévinas,apassagemdeDeusserealizanalinguageméticadaproximidade,responsabilidadeesubstituição.

Naéticalevinasiana,odizersefirmacomoproduçãodesentidoparaalémdoser,osujeitorompecomseuegoísmoatravésdodizeredaresponsabilidade.Alinguagem,nopensamentodeLévinas,élugaroriginaldetodaainteligibilidade.OdizerdorostodooutrorevelaoInfinito, quenão se reduz a nenhumapossibilidadededesvelamentodosernemàonto-teologia,nemsequeraoencantamentoqueossignoslinguísticosproduzem.Alinguagemparaeleéoprópriodesdizerodito.Odizernãonomeiaseres,nãofixatemasenãopretendeidentificarnada.Odizereoditonãosãodamesmaordem,vistoqueodizerrompecomadefiniçãodaquiloquedizefazexplodiratotalidadequeocerca.Odizeréaprópriaexpressãodalinguagemética,quenãoseesgotanoditoontológico,oulinguagemtematizada.

O Infinito fala atravésdo testemunhoproféticoquedoudele:o“Eis-me-aqui” testemunha a palavra deDeus como responsabilidadepelo outro.A subjetividadeassignada, afeccionada, é inspiradapelapalavraDeusaserservosofredor.ÉassimqueelatestemunhaodizerdasantidadedeDeusnasuapassagempelahumanidade.59 A santidade implicaqueéprecisodeixarsempreooutroemprimeirolugar.Nessaatitudede santidade,Deusmevemà ideia,nãoemuma situaçãodemilagre ou na preocupação de compreender o mistério da criação.Norostodeoutrem,aíseouveapalavradeDeus.Aaproximaçãodopróximo–dorosto–éummododecomunicação.Nelaasignificaçãosópodeserexpressacomolinguagemético-religiosa.

A linguagem ético-religiosa em Lévinas faz emergir umaconcepçãonovadehumanismo.Arelaçãoéticaabrepossibilidadesparaoentendimentodasubjetividadedoindivíduoedaintersubjetividade.Acentralidadedarelaçãocomooutrosedefinecomomododeserda 59 RIBEIROJUNIOR,N.Sabedoria da paz, p. 476.

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subjetividade,comosocialidade,comoreligião,comohumanismo,umhumanismodooutrohomem.Naestruturadoseuhumanismo,sãotrêsoselementosquesearticulam:ética,religiãoelinguagem.Ohumanismolevinasianoapontaparaa significaçãoorigináriadohomemedasuarelaçãocomooutro.60Ooutroéaviadaverdade.Ooutroé,noser,modalidadedeaberturaparaoinfinito.Linguagemdivinaéserviçoaooutrohomem.

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60 MELO,N.V.de.A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas, p. 272.

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