língua portuguesa iii -...

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Governo FederalDilma Vana Rousseff

Presidente

Ministério da EducaçãoFernando Haddad

Ministro

Secretaria de Educação a DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky

Secretário

Diretor do Departamento de Políticas em Educação a DistânciaHélio Chaves Filho

CAPESJorge Almeida Guimarães

Presidente

Diretor de Educação a DistânciaJoão Carlos Teatini de Souza Clímaco

Governo do EstadoRicardo Vieira Coutinho

Governador

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

Marlene Alves Sousa LunaReitora

Aldo Bezerra MacielVice-Reitor

Eli Brandão da SilvaPró-Reitor de Ensino de Graduação

Eliane de Moura SilvaCoordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE

Secretaria de Educação a Distância – SEAD

Assessora de EADCecília Queiroz

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Língua Portuguesa III

Cléa Gurjão CarneiroFernanda Freitas

Campina Grande-PB2011

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469C289l Carneiro, Cléa Gurjão.

Licenciatura em Letras/Português: Língua Portuguesa 3./ Cléa Gurjão Carneiro, Fernanda Freitas; UEPB / Coordenadoria Institucional de Programas Especiais/Secretaria de Educação a Distância._Campina Grande: EDUEPB, 2011. 204 p.: il.

1. Língua Portuguesa. 2. Gramática e Linguística. I. Título. II. FREITAS, Fernanda. III. UEPB / Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.

21. ed.CDD

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

Universidade Estadual da ParaíbaMarlene Alves Sousa LunaReitora

Aldo Bezerra MacielVice-Reitor

Pró-Reitor de Ensino de Graduação Eli Brandão da Silva

Coordenação Institucional de Programas Especiais-CIPE Secretaria de Educação a Distância – SEADEliane de Moura Silva

Cecília QueirozAssessora de EAD

Coordenador de TecnologiaÍtalo Brito Vilarim

Projeto Gráfi coArão de Azevêdo Souza

Revisora de Linguagem em EADRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

Revisão LinguísticaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

Diagramação Arão de Azevêdo SouzaGabriel Granja

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Sumário

I UnidadeO artigo: um estudo da abordagem gramatical e linguística.......................7

II UnidadeO numeral no contexto gramatical e linguístico.............................................39

III UnidadePronomes: um estudo da referenciação em língua portuguesa.................67

IV UnidadeOs pronomes pessoais: um estudo da abordagem gramatical e linguística......................................99

V UnidadePronomes II: Classificação tradicional dos pronomes................................137

VI UnidadePronomes III: outras possibilidades de classificação dos pronomes......155

VII UnidadeAdvérbios: classificação tradicional dos advérbios....................................171

VIII UnidadeAdvérbios II: outras possibilidades de classificação....................................187

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 7

Unidade I

I UNIDADE

O artigo: um estudo da abordagem gramatical

e linguística

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8 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 8 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Considerações Iniciais

“Está DEFINIDO: entre os produtos da boca, o bei-jo é O melhor ARTIGO.” (LIMA, 1994, p. 45)

Depois da nossa excursão pelo estudo das palavras, da estrutura das palavras, do léxico, das classes de palavras: substantivo e adjetivo na disciplina Língua Portuguesa II, é necessário que estudemos o artigo para que possamos me-lhor entender os efeitos de sentido na perspectiva gramatical e linguística que estão associados aos usos, a partir de sua classificação em definidos e indefinidos.

Vamos penetrar nas nuances dessa classe de palavra dando ênfase à perspectiva semântica, morfológica e sin-tática. Isto porque, os tipos de artigo definido e indefinido apresentam uma estreita relação com o substantivo, deter-minando-o.

Percebemos essa interação ao lermos o fragmento do poema de Lima (1994) na segunda estrofe: “o beijo é O melhor ARTIGO” deparamo-nos com os vocábulos grafados em letras maiúsculas com o intuito de chamar a atenção do leitor através da relação entre “o” artigo e a palavra “arti-go”, ressaltando- como definido em letra maiúscula tam-bém. Esse trocadilho entre a classe gramatical e o campo semântico da palavra definido, relaciona-o à característica semântica do artigo, uma vez que o artigo definido torna mais específico o substantivo por ele modificado.

Desse modo, como estudiosos da linguagem, aproveita-mos para convidá-lo a refletir acerca do artigo na perspec-tiva gramatical e linguística. Para isso, lembre-se de que a aprendizagem deste conteúdo vai exigir que você continue realizando todas as atividades e que estabeleça relações de interação com seus colegas, os tutores e os professores, para tirar dúvidas e buscar os esclarecimentos necessários. Não vamos estudar UMA classe de palavra, mas A classe de palavra.

Bons estudos!!!!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 9Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 9

Objetivos

No final desta unidade você deverá:

• Caracterizar os artigos a partir de uma perspectiva semântica, morfológica e sintática.

• Estabelecer a distinção entre artigo definido e indefinido em va-riados contextos de língua e de gêneros textuais e discursivos.

• Estudar os efeitos de sentido associados aos usos dos artigos definidos e indefinidos.

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10 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Primeiras palavras...

Considerando a fala na tira abaixo, a interação entre Snoopy e Charlie Brown é pautada na utilização dos termos “o” e “um”. Vamos procurar entender os efeitos de sentido produzidos pelos falantes. Para isso, leia a tirinha abaixo:

(1)

Na tira de Snoopy, o efeito de sentido é construído a partir da utili-zação de dois termos distintos para determinar o substantivo cachorro: um ou o. Ao empregarmos um, o substantivo apresenta um caráter mais genérico e indefinido, identificando a espécie (animal - cachorro) a que pertence um ser vivo. Dessa forma, os artigos indefinidos gene-ralizam os substantivos que modificam.

Em contrapartida, o O evidencia uma modificação no sentido do que é dito, uma vez que se sugere que o ser identificado é único dentre todos os outros da mesma espécie. Em vista disso, definimos como “o cachorro”, Snoopy em que se apresenta como um beagle especial en-tre todos os cães da raça beagle.

Essa tira nos remete a uma frase eu ainda sou O cara... proferida pelo jogador Romário em uma vídeo charge postada após ganhar o título de artilheiro do campeonato brasileiro de futebol 2005. Assista-mos à vídeo charge:

(2)

http://www.youtube.com/watch?v=cOsep1cx1A8&feature=player_detailpage#t=0)1

1 Caros alunos, segue o link a fi m de que assistam à vídeo charge, será necessário pesquisá-lo via internet. Em seguida, baixar o arquivo para assisti-lo.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 11

Na frase de Romário, o artigo torna específico o substantivo cara, demonstrando uma distinção diante de todos os seres humanos em relação de superioridade de Romário.

Esse valor de determinação do artigo definido o foi enfatizado dado o objetivo de chamar a atenção para a excelência de determinado ser (o jogador Romário), para o seu caráter único e singular no universo dos seres da mesma espécie (ser humano).

Desse modo, a distinção entre definido e indefinido, como ilustrado pela tira de Snoopy e a frase de Romário, é de natureza semântica. Estudaremos as três perspectivas de análise propostas para essa classe de palavras.

Dificilmente podemos (ou poderemos algum dia)indicar o marco de tempo exato a partir do qual os fatos de língua tornam-se interessantes temas aos cientistas da linguagem humana.(MOLLICA e ALIPIO, 2006, p.124)

Artigo: conceito, caracterização e critérios de classifi cação

Neste tópico, explanamos acerca do conceito de artigo definido e indefinido a partir da sua caracterização. Em seguida, evidenciamos os critérios de classificação do artigo. Para isso, elegemos como norte a perspectiva gramatical e a linguística.

ConceitoO artigo originou-se do Latim Vulgar a partir do demonstrativo ille/

illa a fim de sanar a perda da declinação dos nomes e satisfazer a uma necessidade eufônica. (MATTOS E SILVA, 1993).

Segundo Cunha & Cintra (2001) o artigo é conceituado como a classe de palavras responsável pela determinação e indeterminação do substantivo. Isto porque, precede o substantivo, acompanhando-o em gênero e número e determinando-o de forma particular ou de modo genérico, conforme classificação a seguir:

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12 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Quadro 1:

Artigo

Classificaçãodefinido

indefinido

Flexão

Gênero masculinofeminino

Número singularplural

Corroborando com o conceito gramatical, Dubois et al (2006, p.72) define artigo como uma subcategoria de determinantes, constituintes obrigatórios do sintagma nominal. Podem ter o traço de determinação ou indeterminação.

Abaurre e Pontara (2006) definem artigo como a palavra variável em gênero e número que se antepõe aos substantivos, determinando-os. Essa determinação operada pelo artigo pode ser definida ou indefi-nida, verificada nos versos de Carlos Drummond de Andrade abaixo:

(3)

Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras

pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.

De Alguma poesia (1930)

As palavras em destaque são artigos: “um” (indefinido) e “as” (defi-nido). Podemos dizer que na segunda estrofe a presença dos três artigos acompanhando os substantivos homem, cachorro e burro ressaltam em cada substantivo uma impressão vaga e indefinida. Entretanto, observe que no caso do artigo as, que acompanha a palavra janelas, temos definida que as janelas representam de fato, as pessoas que espiam e olham: as janelas olham. Assim, podemos afirmar que essa função do artigo é extremamente importante para melhor entendermos o texto em que tais elementos aparecem.

Em vista disso, o artigo definido determina claramente um nome. Enquanto, o artigo indefinido transmite um aspecto vago. De um modo geral, o artigo definido funciona como anafórico, ou seja, faz remissão

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 13

a informação que precede no texto, desempenhando papel textual, que vai além de sua função gramatical. Por outro lado, o artigo indefinido funciona como catafórico, isto é, remete a informação que vem de-pois.

Ressaltamos que a compreensão do artigo como elemento de co-esão referencial que, geralmente, é anafórico, quando é definido e, catafórico, quando é indefinido. Segundo Neves (2000), o artigo in-definido tem, frequentemente, um uso não-referencial, aplicando-se a todo e qualquer membro da classe, grupo ou tipo que é escrito pelo sintagma, constituindo uma generalização.

A classe dos artigos indefinidos é representada unicamente pelo elemento um e suas flexões. Este é empregado antes de substantivos quando não se deseja apontar ou indicar a pessoa ou coisa a que se faz referência, nem na situação, nem no texto.

Sendo assim, o sintagma nominal com o artigo indefinido apresenta um ser simplesmente por referência à classe a qual pertence; em outras palavras, é evidenciado como elemento de uma classe (cf. ROCHA LIMA,1973 ; CUNHA e CINTRA, 2001 ; NEVES, 2000).

Koch (2003) exemplifica essa assertiva a partir do enunciado: “De-pois de algum tempo, aproximou-se de nós um desconhecido trajado de modo estranho. O desconhecido tirou do bolso o palato um peque-no embrulho”.

No enunciado acima, percebemos que o artigo indefinido acompa-nha o substantivo quando este indica uma entidade que é vista como informação nova no texto e que o artigo definido é usado quando a entidade é vista como informação dada, conhecida. Travaglia (1996) assevera que um referente introduzido por um artigo indefinido só pode ser retomado por um artigo definido.

Ademais, o artigo pode substantivar qualquer palavra ou expressão a que se antepõem, independentemente da classe gramatical a que pertençam, conhecido na gramática normativa de Derivação impró-pria, conforme exemplo abaixo:

(4)

“O evoluir da situação faz-nos pensar que o correr de manhã é ótimo para o purifi car dos pulmões e o exercitar dos músculos. Por outro lado, o almoçar a tempo e horas funciona também como o ajudar de uma digestão bem feita. O ignorar estas normas de saúde leva-nos, com certeza, ao envelhecer da pele e ao enfraquecer do corpo, em geral.O continuar a ouvir e a ler português assim é o re-fl etir cabal do nosso nível cultural e da nossa origi-nalidade como povo, nação e cultura”. (CASCAIS, 2006)2

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

2 Disponível em http://espumadamente.blogspot.com/2006/05/substantivao-do-verbo-ou-estupidez-no.html.

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14 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

No exemplo (4), constatamos que o artigo O substantivou os verbos (evoluir, correr, purificar, exercitar, almoçar, ajudar, ignorar, envelhecer, enfraquecer, continuar e refletir). Tal fenômeno segundo Fiorin (2007) existe, em Língua portuguesa, um mecanismo de criação lexical em que se observa a redução de um morfema.

Desse modo, o conceito e a classificação do artigo são evidencia-dos, tradicionalmente, a partir dos aspectos teóricos da determinação, uma vez que um nome é considerado como definido ou indefinido em função do artigo que o acompanha.

Critérios de classifi cação do artigo

Considerando os estudos da linguagem que afirmam que as clas-ses de palavras ou categorias lexicais podem ser definidas por critérios semânticos, sintáticos e morfológicos. Conforme ilustrado no quadro abaixo:

Quadro 2

Classe/ critério Funcional ou sintático (fun-ção ou papel na oração)

Mórfi co (caracterização da estrutura da palavra)

Semântico (modo de signifi cação)

ARTIGO Palavra que funciona como termo determi-nante do núcleo de uma expressão.

Palavra formada unica-mente por morfema gra-matical (palavra variável em gênero e número).

Palavra que define ou indefine o substantivo a que se refere (definido, indefinido).

Perini (2006) ressalta que as classes de palavras estão no âmago da descrição gramatical e estamos muito habituados a partir delas para pensar os fenômenos da língua. Essas classes remontam desde a anti-guidade, uma vez que havia a preocupação com os estudos das classes de palavras a partir de uma fragmentação em nome, verbo e partícula, proposta do Aristóteles, pautada na lógica filosófica. Isto porque, as classes são objetos de grande complexidade e se adéquam ao contexto histórico, social e econômico.

Conforme Dias (2005) há atualmente duas tendências no tratamen-to de classes de palavras em livros didáticos. Alguns livros, de linha conservadora, especificam a temática das classes de palavras, mesmo que associada ao estudo de um texto. Outros, de linha inovadora, não especificam os tópicos relativos às classes gramaticais.

Diante disso, faz-se necessário o estudo de todos esses critérios ou traços visto que funcionam como pistas ou instruções de sentido. Para isso, Macambira (2003) apresenta as características dos três critérios:

O primeiro é critério semântico que é apresentado ao estabelecer-mos tipos de significação, não sendo suficiente para abarcar todas as nuances do artigo, como pertencente às classes de palavras, embora seja o predominante nas gramaticais tradicionais.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 15

Em seguida, o critério morfológico entendido como a atribuição de palavras a diferentes classes, a partir das categorias gramaticais apresentadas bem como as características de variação de forma que se mostrem em conjunção com tais categorias. Por fim, o critério sintático ou funcional em que são atribuídas palavras às classes tendo em vista propriedades distribucionais e funcionais.

Nesse sentido, o conceito de artigo contempla os três critérios, con-forme evidencia Pinilla (2007, p. 172) o artigo é a palavra que ante-cede o substantivo (critério funcional) e indica o seu gênero e número (critério morfológico), individualizando-o ou generalizando-o (critério semântico).

Diante do conceito de artigo, percebemos a conjunção desses cri-térios em virtude do conceito abarcar todos eles, uma vez que o artigo, na perspectiva semântica, indica se o ser ou conceito nomeado pelo substantivo está sendo tomado de forma geral ou específica, se ele é apresentado pela primeira ver no discurso ou se está sendo retomado. Essa perspectiva considera o artigo palavra acessória com valor de par-ticularizador ou generalizador do substantivo.

Quanto à perspectiva sintática a o artigo defini-se por sua relação com o substantivo no eixo das combinações, pertencendo ao sintagma nominal, localizando-se como especificador do núcleo do sintagma

Ressaltamos que essa perspectiva considera o artigo um elemento de estrutura da frase, recebendo o nome de determinante, ratificado pela bate papo no Chat educacional3 a seguir:

(5)

15:37:20 PA4 Achei muito bom também o fato dos itens previamente elen-cados na nossaagenda, terem sido enfocados. Acho que os nos-sos objetivos foram alcançados.

15:37:29 PA2... ou seja, estaríamos mediando a discussão.

15:38:22 P1 Bem, acho que a forma como a PAM moderou foi muito boa...

15:39:43 PA4 Uma outra coisa: temos que ter em mente que o gênero chat não é uma aula expositiva; sendo assim o centro não deve ser o professor. Deve haver, como foi nesse evento, uma troca de informações.

15:39:54 P1 Por outro lado, não sei o que vocês combinaram entre si: por exemplo, se algum de vocês notou que ficou alguma pergunta em aberto, ou que não foi respondida, não seria válida ajudar ao moderador?

15:40:33 PA5 Acho que PAM foi bem sim e as alunas também. No final, estavam mais à vontade.

15:40:49 PAM Ficamos c/ essa dúvida, mas tivemos como referencial os chats que participamos.

15:41:13 PA5 Pensei nessa alternativa, inclusive telefonei para o pessoal para saber o que achavam.

15:41:26 PA2 Estamos reunidas no CEFET-PB.

3 Corpus da Dissertação de mestrado de Dissertação intitulada “O gênero chat educacional em ambientes de ensino a distância” apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística – PROLING, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 2008, disponível em < http://www.cchla.ufpb.br/proling/pdf/dissertacoes/jackeline_m_de_a_aragao.pdf>. Acessado em 12 de fevereiro de 2011

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16 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Vale salientar que nas variedades de prestígio, o artigo sempre con-corda em gênero e número com o substantivo a que se refere. No entanto, em outras variedades em que essa concordância não é obser-vada, é o artigo que apresenta as informações sobre o número singular ou plural dos substantivos.

Por fim, temos o critério morfológico em que o artigo apresenta morfemas gramaticais que podem ser flexionados em gênero e número e podem sofrer contração e combinações, confirmadas no quadro a seguir:

Quadro 3:

Preposições Artigos definidos Artigos indefinidoso a os as um uma Uns umas

a ao à5 aos às - - - -de do da dos das dum duma duns dumasem no na nos nas num numa nuns numas

por(per)4 pelo pela pelos pelas - - - -

Essas combinações não devem ser utilizadas quando a preposição que antecede o artigo está relacionada com o verbo de uma oração seguinte e não com o substantivo determinado pelo artigo, conforme trecho da entrevista abaixo com o reitor da USP:

(6)

E1: Os professores estão inertes diante das mobi-lizações realizadas pelos funcionários da universi-dade?E2:. Os professores estão fazendo o que podem para garantir o direito dos alunos continuarem na universidade (padrão culto - Os professores estão fazendo o que podem para garantir o direito de os alunos continuarem na universidade

(Fonte: Disponível em <http://www.usp.br/imprensa/?cat=4&paged=4 > Acessado em 14 de janeiro de 2011).

Desse modo, os artigos constituem recursos linguísticos que a lín-gua dispõe para que o falante/ ouvinte constitua seus textos a fim de produzir o(s) efeito(s) de sentido(s) que pretende(m) que seja(m) perce-bido (s) pelos ouvinte/leitor e o que afeta essa percepção na interação comunicativa.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

4 A forma latina da preposição “per” per-manece ao unirmos os artigos, porque não perderam o “e” entre as consoantes, no de-correr da sua evolução ortográfi ca.

5 Quando unimos a preposição “a” com o artigo “a”, representamos essa fusão com à (a craseado) que será objeto de estudo mais adiante.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 17

Caracterização e empregoO artigo é caracterizado como a palavra variável em gênero e nú-

mero que precede o substantivo, determinando-o de modo preciso ou vago, indicando-lhe o gênero e o número.

Bechara (2009) afirma que o artigo definido se antepõe a substan-tivos, com reduzido valor semântico demonstrativo e com função precí-pua de ajunto desses substantivos. Em contrapartida, o artigo indefinido é conceituado a partir da indeterminação, consideremos o quadro ex-plicativo de caracterização do artigo:

Quadro 4:

Tipo de artigo Função Exemplo

Definido

Referência a um ins-trumento específico.

O violino está desafi-nado.

A apontada ou a úni-ca no local.

A lâmpada queimou.

Pessoas conhecidas do falante.

Falei com os meni-nos.

Empregado para indi-car a espécie inteira; isto é, usa-se o sin-gular com referência à pluralidade dos se-res.

O homem é mortal. [= todos os homens].

Indefinido

Um dentre os vários da orquestra.

Um violino está desa-finado.

Não é particulariza-do.

Aproximação.

Uma representante da espécie.

Vimos uma estrela no telescópio.

Uma das diversas existentes no local.

Uma lâmpada quei-mou.

Não é particulariza-do.

Falei com um meni-no.

Vale salientar que o uso do artigo é dependente do conjunto de circunstâncias, linguísticas ou não, que cercam a produção do enun-ciado”. (NEVES, 2000, p.391). Confirmada na análise do comentário de Xande no blog a seguir:

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18 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

(7)

blog letras e artes

O espaço para a arte e literatura

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Download, gramática de Evanildo Bechara, moderna gramáti-ca portuguesa

Mais uma gramática aqui no blog, a gramática de Evanildo Be-chara serve como referencia teórica para qualquer estudante da lín-gua.

Postado por thiago_dancer às 11:20

Marcadores: download, e-book, evanildo bechara, gramática, linguistica, livro, língua portuguesa, moderna gramática portuguesa

1 comentários:

Xande disse...

Olá... gostaria de saber pq a gramática que está disponibi-lizada na internet tem menos páginas do que o livro normal? Um professor me disse essa gramática interessante por isso é interes-sante que ela esteja completa.

Neste comentário, os artigos sublinhados apresentam ideia de de-terminação (a – artigo definido) em que se refere à gramática de Eva-nildo Bechara com a função de informar o receptor que um indivíduo específico está sendo referido (a gramática de Bechara). Isto porque, o artigo assume o papel de pronome demonstrativo e a presença deste é determinada pela intenção do falante bem como pela maneira como o usuário da língua pretende comunicar uma dada experiência.

Fonte: http://i.s8.com.br/images/books/cover/img3/44323_4.jpg

Você pode acessar esse livro através do link http://www.easy-share.com/1907652649/Mo-derna-Gramatica-Portuguesa-Evanildo-Bechara.pdf

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 19

Quanto à indeterminação do artigo um presente no comentário em estudo, percebemos este artigo se refere a qualquer professor. A inde-terminação do artigo localizado anteposto ao substantivo indica um ser que deve ser tomado apenas como representante de uma espécie, e sobre o qual não se havia ainda feito referência, produzindo um efeito de sentido genérico, conforme a tira abaixo:

(8)

QUINO. Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 115.

Um ponto relevante é a posição do artigo que, segundo Perini (2010) está relacionada aos elementos pré- nucleares (predeterminante e determinante). Para isso, exemplifica a partir dos elementos que são explicitados sempre antes do núcleo como todos:

(9) Todos os crocodilos gostam de frango.

No exemplo acima, temos um predeterminante todos que ocorre antes do determinante O, contrariando a assertiva que o determinante é o primeiro elemento do sintagma nominal. Isto porque, Sandalo (2006) afirma que a morfologia, especificamente, as classes de palavras, é o maior ponto de controvérsia no estudo de linguagem.

Nesse sentido, percebemos que o determinante apresenta uma li-berdade de movimentação na oração e que suas restrições são de ca-ráter semântico.

Outra análise interessante que se pode fazer a respeito dos artigos é o ato de os mesmos poderem atuar na figuração do sentido de certos substantivos, por exemplo:

Praça A praça

Poderíamos completar a primeira expressão com a seguinte frase

O praça chegou ao quartel

No entanto, essa mesma frase não serviria para a segunda expres-são, pois a mera troca do artigo O para o artigo A modifica o sentido da expressão. Assim, a praça chegou atrasada seria uma frase impos-sível em língua portuguesa. Uma vez que a combinação (substantivo + artigo) sofreria flexão de gênero, conforme exemplo a seguir:

baixa resolução

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20 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

O praça (soldado) A praça (logradouro público)

Em relação ao emprego dos artigos, seguiremos as regras de uso elencadas por Bechara (2009) e seguidas por outros gramáticos da Língua Portuguesa e por autores de manuais didáticos como Piacentini (2006).

Emprego do artigo

O artigo pode ser usado junto a um nome de pessoa quando existe familiaridade. Mas em algumas regiões do Brasil dispensa-se o artigo sistematicamente diante do nome da pessoa.

• (A) Graça pediu que você ligasse para ela.

Os nomes próprios de pessoas (famosas ou não), quando usados por inteiro, não precisam do artigo.

• João Figueiredo pediu para ser esquecido.

Usamos o artigo com nomes próprios geográficos, nomes de países e de alguns Estados brasileiros (o Paraná, o Rio de Janeiro, a Bahia, o Rio Grande do Sul, o Espírito Santo etc.)

• Gostaria de descer o Amazonas até os Andes.

Nomes de cidades geralmente prescindem de artigo. Há exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto. Quanto a Recife, é facultativo o uso.

• Visitarei (o) Recife nos próximos dias.

Nomes de cidades passam a admitir o artigo desde que acompa-nhados de qualificação (“dos meus sonhos”, neste caso).

• Finalmente visitarei a Ouro Preto dos meus sonhos.

Dir-se-ia o imperador se D. Pedro II tivesse sido o único e não um imperador do Brasil.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 21

• D. Pedro II, imperador do Brasil, dava longos passeios pelos jar-dins do Palácio.

Não se usa artigo antes de pronomes pessoais e de tratamento.

• Sua Alteza casou com Dona Teresa Cristina. / Espero não ter interrompido V. Exa.

Dentre as expressões de tratamento, senhor, senhora e senhorita são as únicas que admitem artigo, mas não quando vocativo, ou seja, quando nos dirigimos à própria pessoa.

• Falei com a srta. Ana, sua secretária, antes de vir procurá-la, senhora deputada.

Geralmente usamos o artigo indefinido antes de numerais que ex-primem aproximação.

• Caruaru fica a uns 120 quilômetros do Recife.

• Ricardo deve pesar uns 100 quilos.

Os adjetivos São, Santo e Santa, quando acompanhados de nome próprio, não admitem artigo, assim como Nosso Senhor e Nossa Senhora.

• Santo Antônio é seu padroeiro e confidente.

O artigo é omitido antes da palavra casa quando designa resi-dência, lar. Mas não quando particularizada ou usada na acepção de prédio, estabelecimento.

• Voltou para casa mais tarde do que de hábito./ Voltou para a casa dos pais depois da separação.

Omite-se o artigo junto ao vocábulo terra quando em oposição a bordo, mar.

• Finalmente estou em terra – já não aguentava o enjoo do navio.

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22 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Costuma-se omitir o artigo com a palavra palácio quando designa a residência ou o local de despacho de um chefe de governo.

• Esteve em palácio, por convocação do senhor Governador.

O artigo é usado nas expressões de peso e medida com o sentido de “cada”.

• Pagou Cz$ 40,00 o quilo da maçã. / Custa mil o metro.

Usa-se o artigo com as estações do ano, exceto quando elas vêm precedidas de ‘de’, significando próprio de, como em “Gosto do sol de inverno”.

• O inverno brasileiro é moderado.

É indiferente o emprego do artigo antes de possessivos acompanha-dos de substantivos.

• Aquele carro que acharam é (o) meu.

Em função substantiva (isto é, no lugar do substantivo), o possessi-vo tem um sentido quando acompanhado de artigo (o meu carro = o único que possuo), e outro sentido sem o artigo (“é meu” denota uma simples idéia de posse).

• (O) meu carro custou a pegar, hoje de manhã.

Dispensa o artigo o pronome possessivo usado em expressões com o valor de “alguns”.

• Quem não tem suas difi culdades?

Quando o possessivo faz parte de um vocativo, não admite o artigo.

• Vem cá, meu amor.

O artigo é omitido com o possessivo em certas expressões feitas:

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 23

em nosso poder, a seu bel-prazer, por minha vontade, cada um a seu turno, a meu modo, em meu nome, a seu pedido etc.

• Dou em meu poder seu ofício de 15 de setembro.

Omite-se o artigo antes de palavras de sentido geral, indeterminado.

• Sal, pimenta e açúcar devem ser usados em quantidades mode-radas.

Não se usa o artigo antes de substantivos abstratos, em expressões que não contêm nenhuma determinação.

• Você tem razão em não dar confi ança ao rapaz, pois ele só disse mentiras.

Normalmente se repete o artigo para evitar ambiguidade, pois sem ele os dois substantivos podem designar o mesmo ser. Não seria o caso abaixo, porque não se casa com irmão, mas fica diferente agora: Ad-miro o meu irmão e amigo (uma pessoa). Admiro o meu irmão e o meu amigo (duas pessoas).

• Apresentou-se na festa com o marido e o irmão.

Desse modo, o artigo exerce função primordial no contexto grama-tical, linguístico e pragmático uma vez que as propriedades do artigo de determinação e indeterminação apresentam interferência no proces-so de significação do texto.

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24 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Atividade I1) Observe as capas da revista Veja:

Capa 01 Capa 02

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-7Gio_pWnMJY/TbtOjEPTG4I/AAAAAAAAAD8/Z6uk2BKCGpk/s1600/Capa+Veja+n%25C2%25BA+2214.png

Fonte: http://silviolobo.com.br/7/images/2011.Marco/capa-veja-realengo-380.jpg

a)Nas capas da revista Veja, há artigo defi nido? Qual o efeito de sentido que ele provoca na compreensão do texto nas duas capas?

b) Depois de observar as palavras que acompanham os artigos (a) e (o), podemos considerar que os artigos só acompanham substantivos?

2) Leia a tira a seguir:

a) Na tira, há o emprego dos artigos destacados em referência ao personagem Mafalda, a utilização do artigo uma apresenta defi nição ou indefi nição? Comente.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

baixa resolução

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 25

b) No quarto quadrinho, o artigo destacado foi utilizado com função coesiva? Justifi que

c) Explique como o uso dos artigos destacados, no contexto da tira, contribuiu para produzir o efeito de humor.

3) Considerando o poema a seguir:

O medo

Tenho medo de um não.O refletir é sempre bom.

O querer é poder.O sim é tudo na vida.

Ela tem um quê de sublime.O não – posso dos indolentes.

É difícil dizer um não.O você é quem sabe é dizer um não.

O “Amai-vos uns ao outros’ é algo que deveríamos pensar mais.Coisa difícil é dizer um não.

http://falabonito.wordpress.com/2006/08/30/21/

Explique o processo de substantivação através do artigos defi nidos e indefi nidos presente no gêneros textual lido.

O que dizem os linguistas?

Para compreender é essencial conhecer o lugar so-cial de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiência tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma in-terpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita. (BOFF, 1997)6.

Com as pesquisas crescentes na área de linguística, ascenderam-se as instigações em se estudar as classes de palavras em todas as suas manifestações em gêneros textuais orais e escritos. Isto porque, o tra-

6 Leonardo BOFF em a Águia e a Galinha (1997) usa essa metáfora espacial para conceituar a noção de leitura.

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tamento gramatical, por tradição histórica, sempre enfocou a língua como um código de dimensão restrita, descartando sua função social e o seu poder argumentativo nos processos de interação comunicativa.

Nesse sentido, uma classe de palavra que merece destaque é o ar-tigo que, segundo Infante (2001) tem recebido nos compêndios grama-ticais uma abordagem reducionista, nos quais seu papel morfológico e sintático não o distingue essencialmente dos outros elementos também considerados como determinantes. Assim como o seu papel semântico não é diferenciado de outros itens gramaticais que com ele comparti-lham da mesma função dentro da língua.

Ademais, tradicionalmente, Bechara ( 2009) e Rocha Lima (2002) consideram um “nome” como definido ou não definido em função do artigo que o acompanha. Por isso, o artigo definido estaria funcionan-do como uma marca para indicar “determinação”.

No entanto, estudos linguísticos desconstroem essa perspectiva de-vido o artigo definido nem sempre ocorre em contextos definidos, como no exemplo clássico “O homem é um ser mortal” em que o substantivo antecedido pelo artigo não representa um ser humano específico, defi-nido mas uma classe como um todo, sendo, portanto, genérico.

É importante que o professor tenha acesso ao contexto linguístico em virtude do estudo do artigo se encontrar presente desde as séries iniciais e perdurar no ensino fundamental e médio nas aulas de língua portuguesa. Alencar (2006) ressalta que a partir de consultas a pro-gramas escolares e a livros didáticos, percebeu-se que esta classe de palavra se restringe a um conhecimento de nomenclatura apenas.

Faz-se necessário ressaltar que os gramáticos tradicionais não co-mungam em relação às regras acerca do emprego do artigo e as orien-tações quanto ao uso, às vezes, apresentam-se de material superficial e aleatório.

Em vista disso, é interessante observarmos que o tratamento dado ao artigo, pela gramática, está atrelado ao substantivo, inclusive sua classificação depende da forma de designação do ser como definido e indefinido.

No que atine à função do artigo definido no sintagma, Neves (2000) e Bechara (2009) declaram que ela pode ser interpretada sob dois aspectos diferentes, ou seja, o da presença ou ausência e o da substantivação.

Assim, o artigo pode funcionar como determinante do núcleo no-minal através de sua carga semântica de determinação, quase sempre particularizando um indivíduo de uma espécie e, por outro turno, tam-bém antecede itens lexicais, sintagmas e enunciados, promovendo o processo de substantivação, segundo o exemplo a seguir:

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( 13)

Além disso, tem se constatado que “o uso dos artigos definido e in-definido não se encaixa na definição de artigo encontrada nas gramáti-cas” (LIMA, 2006, p. 134). Embora a maioria dos gramáticos de língua portuguesa reconheça que há variação em relação a este fenômeno, não apresentarem regras categóricas que a justifique.

Um exemplo dessa dialética é explanado por Cintra e Cunha (2001, p. 223) que sendo por definição individualizante, o nome próprio de-veria dispensar o artigo. É consenso, também, entre os linguistas, que o uso do artigo diante de nomes próprios e possessivos é facultativo, não chegando a se constituir forma estigmatizada o emprego de uma ou outra construção do tipo:

(14) João terminou seu trabalho.

(15) O João terminou o seu trabalho.

Todavia, a despeito dessa aparente aceitação uniforme que circun-da o entendimento do artigo diante de nomes próprios e possessivos, não se verificam abordagens que especifiquem satisfatoriamente as ra-zões da presença ou ausência do artigo nesses contextos.

No entanto, por razões diversas, esta norma lógica nem sempre fosse observada e, hoje, há um grande número de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acompanhamento do artigo definido.

Neves (2000) declara que o artigo definido é utilizado antes de an-tropônimos (nomes próprios) referentes a pessoas conhecidas ou famo-sas, mormente, no registro coloquial. A autora reconhece, ainda, que este é um uso relacionado ao costume regional, familiar ou pessoal, o que, para ela, explica o fato de haver ocorrências de antropônimos sem o artigo em língua portuguesa. Para ilustrar essa discussão temos um enunciado publicado nas frases da semana:

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(16)

“Aos dez anos eu que-ria ser músico de blues, não o Hugh Laurie, ator “

Hugh Laurie, ator, pro-tagonista da série House.

Fonte: Disponível em http://www.ronaud.com/frases-pensamentos-citacoes-de/hugh-laurie Acessado em 17 de janeiro de 2011.Fonte Imagem: http://4.bp.blogspot.com/_uQON8gpxHPo/TEjdDEcZZpI/AAAAAAAAAJw/cfu4mlfH37M/s1600/Hugh-Laurie.jpg

Nesse sentido, os gramáticos apresentam uma exceção ao uso do artigo diante de nome próprio de personalidades da mídia, política e outros se houver um elemento de qualificação, como no exemplo aci-ma “ator”, deverá ser acompanhado de artigo definido.

Essa exceção segundo Neves (2000, p. 391) é explicada pelo uso da língua em virtude da presença do artigo ser determinada pela in-tenção do falante, bem como pela maneira como o usuário da língua pretende comunicar uma dada experiência. Para a autora, “o uso do artigo é, pois, extremamente dependente do conjunto de circunstân-cias, linguísticas ou não, que cercam a produção do enunciado”.

Por se tratar de um fenômeno variável, Callou et al., 2000 tratam o artigo a partir da questão de sua ausência/presença diante de posses-sivos e nomes próprios, estudando esse caso de variação morfossintá-tica, desconsiderando a dicotomia (oposição) determinação/indetermi-nação proposta pelos gramáticos.

A esse respeito Alencar (2006) confirma essa abordagem linguística que considera o entendimento do artigo diante de nomes próprios e possessivos através da ausência e da presença do artigo nesses contex-tos. É necessário que se priorize o contexto na caracterização dos arti-gos, visto que no caso do artigo definido, a interpretação se processa por uma retomada regular ao contexto (KOCH e ELIAS, 2009). Para essas autoras, o falante identifica o objeto de que fala, objeto que o ouvinte também conhece (ou fica a conhecer).

A outra abordagem paradoxal de acordo Costa (2002) está re-lacionada aos autores tradicionais que abordam a questão do artigo diante de possessivos, afirmando que é facultativo o uso do artigo. No entanto, a tira abaixo não ratifica essa regra:

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 29

(17)

Neste exemplo, verificamos através do contexto que o artigo defi-nido apresentado antes do pronome possessivo sinaliza para o leitor que alguém estaria com os chinelos de Hagar. A regra da utilização do artigo definido antes do pronome possessivo dependerá do contexto e da intencionalidade do produtor do texto.

Destarte, observamos que não há, entre os gramáticos de língua portuguesa, em relação ao estabelecimento de regras para o uso/não-uso do artigo definido a interferência do contexto diante do emprego de pronomes possessivos e nomes próprios. Conforme esboça Alves (2008, p. 22), o próprio conceito de artigo “é algo que intriga os es-tudiosos da linguagem, principalmente no que concerne às dicotomias determinação/ indeterminação.

Defendemos o posicionamento que a gramática e os livros didáti-cos devem ultrapassar a perspectiva tradicional de língua para ofere-cer ao aluno uma visão ampla do fenômeno gramatical. Certamente conceitos de artigo, como referência, empregados no estudo do artigo, alcançariam um maior nível de abstração e aprofundamento em um livro de linguística.

Isto porque, é necessário que haja uma maior aproximação entre o trabalho entre as classes gramaticais na sala de aula e os principais estudos sobre classes de palavras já realizados no país. Como Dias (2006, p. 137) exemplifica a necessidade dos alunos refletirem acerca da língua e da linguagem a partir uma atividade em que o professor deve utilizar o texto como experimento em um laboratório – Tomemos um texto básico e retiremos os artigos. Comparemos com o texto ori-ginal. Verifiquemos se ainda é possível entender o texto básico.

Para ilustrar essa assertiva, Travaglia (2003, p. 46) propõe a des-mistificação do ensino de língua através da separação entre gramática e texto a partir da descrição de uma aula:

Tratando dos chamados artigos, podemos discutir com os alunos:

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1) A existência de um tipo de recurso na língua que alguns chamam de artigo e outros de pronome e outros ainda vêem como um morfema marcador de gênero e número;2) Que há dois tipos de artigo: o definido e o in-definido;3) Que tipos de instrução de sentido esse recurso, isolado pela teoria como um tipo de unidade da língua (classe de palavra),pode trazer para o texto;

No final de um estudo sobre o chamado artigo nosso aluno pode saber:

1) dizer o que é um artigo;2) dizer qual a classificação dos artigos;3) listar os artigos;4) classificar os artigos;5) identificar artigos em sequencias linguísticas;6) discutir se o artigo é uma classe de palavras à parte ou um tipo de pronome, inclusive apresen-tando argumentos como, por exemplo, o fato de que, na sequencia linguística, não se pode usar essa unidade da língua junto com alguns tipos de pronomes ( demonstrativos e indefinidos), mas po-de-se usá-la com outros tipos de pronomes como os possessivos.

Sendo assim, as abordagens gramaticais necessitam se integrarem às abordagens linguísticas a fim de que possamos estudar os fenôme-nos gramaticais a partir do uso da linguagem, contextualizado e que o aluno perceba a funcionalidade do uso do artigo definido e indefinido para o processo de significação do texto.

Atividade II1) Leia os textos abaixo:

Texto 01

Fonte: Disponível em <http://www.google.com.br/search?q=IMAGENS+DE+PROPAGANDAS&hl=pt>Acessado> em 14 de janeiro de 2011.

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Texto 02

Cotidiano

Chico Buarque

Todo dia ela faz tudo sempre igual:Me sacode às seis horas da manhã,Me sorri um sorriso pontualE me beija com a boca de hortelã.Todo dia ela diz que é pr’eu me cuidarE essas coisas que diz toda mulher.Diz que está me esperando pr’o jantarE me beija com a boca de café.Todo dia eu só penso em poder parar;Meio-dia eu só penso em dizer não,Depois penso na vida pra levarE me calo com a boca de feijão...

Fonte: disponivel em http://letras.terra.com.br/chico-buarque/82001/ Acessado em 14 de janeiro de 2011.

Considerando os enunciados “Toda a linha mais perto de você!” (texto 1) e “Todo dia ela faz tudo sempre igual” (texto 2), explique a distinção evidenciada entre os enunciados a partir da inserção do artigo ao primeiro enunciado.

2) O uso do artigo defi nido diante de nomes próprios e pronomes possessivos tem sido discutido na perspectiva linguística em virtude de estudos com gêneros orais, vejamos esse trecho do chat educacional7:

15:37:20 PA4 Vocês não tem noção do trabalho que tenho tido para ler tanta coisa, não sou mais a Cleide.

15:37:29 PA2... eu também, já pensei em desistir, mas sou a Isadora, professora de língua portuguesa.

15:38:22 P1 acho que vocês estão se esquecendo da nossa real discussão, as nossas atividades que serão en-tregues amanhã.

a) A partir dos artigos destacados, produza um comentário acerca da perpesctiva linguística que explica o uso desses artigos diante de nomes próprios e pronomes possessivos.

b)A ocorrência do artigo defi nido antes de nomes próprios não é utilizada por algumas comunidades linguisticas, no entanto, outras utilizam. Observando os enunciados de PA4 e PA2, podemos afi rmar que eles provocam o mesmo efeito de sentido?

Fonte Imagem: http://www.agaragem.com/biblioteca/concertos_rep/28/chico_buarque4.jpg

7 Corpus da Dissertação de mestrado de Dissertação intitulada “O gênero chat educacional em ambientes de ensino a distância” apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística – PROLING, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 2008, disponível em < http://www.cchla.ufpb.br/proling/pdf/dissertacoes/jackeline_m_de_a_aragao.pdf>. Acessado em 12 de fevereiro de 2011

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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3)Abaurre e Pontara (2006) afi rmam que existe o artigo de notoriedade com a função de realce do ser. É um recurso muito utilizado na propaganda a fi m de apresentar produtos como melhores de sua categoria. Explique estaocorrência no anúncio abaixo:

4) Segundo Infante (2001) o estudo do artigo pela gramática tradicional apresenta reducionismos que são evidenciados a partir de exercícios em manuais didáticos. A atividade a seguir apresenta uma proposta de estudo do artigo dirigida a alunos do 5º ano do ensino fundamental. Analise essa proposta a partir da perspectiva lingüística e caso haja necessidade de reformulações, sugira-as.

Fonte: Disponivel em: http://navegandonaeducacao.blogspot.com/2009/07/artigos-definidos-e-indefinidos.html Acessado em 17 de janeiro de 2011.

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Leituras recomendadas

Para acessar

http://www.revistalingua.com.brSite da revista Língua Portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos publicados na versão impressa da publicação. Merecem destaque os artigos em que a professora Maria de Moura Neves discute diferentes

aspectos da gramática do português, fazendo impor-tantes considerações sobre o modo como são descritos pela gra-mática normativa e o uso efetivo que dele fazem os falantes.

http://www.portugues.com.br/gramatica/morfologia/artigos.htmlO site da Português.com apresenta informações sobre o emprego do artigo em nuances gramaticais e linguísticas, proporcionado ao visitante virtual uma viagem pela nossa e seus aspectos mais signi-ficativos.

Para ler

CÂMARA Jr, Mattoso. Dicionário de linguística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1984.

Nessa obra, Mattoso Câmara apresenta definição interessante acerca do conceito de artigo que podem auxiliar na compre-ensão das perspectivas: semânticas, sintá-tica e morfológica.

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Resumo

Os artigos definidos e indefinidos apresentam particularidades quanto à perspectiva gramatical da determinação e indeterminação. O artigo definido indica um ser dentro da mesma espécie, podendo indi-car um ser já conhecido do leitor ouvinte, seja porque já foi menciona-do anteriormente no texto, seja porque dele se supõe um conhecimento prévio por parte de quem lê ou ouve o texto. Nesse contexto, atribui--se ao ser um sentido preciso, particularizando-o. Em contrapartida, o artigo indefinido indica um ser que deve ser tomado apenas como representante de uma espécie, e sobre o qual não se havia ainda feito referência. Em vista disso, o artigo definido é considerado elemento de coesão por retomar ou antecipar outro elemento do texto. Além disso, os critérios de classificação estão presentes no conceito de artigo, expli-citado no conceito de artigo que contempla os três critérios. Evidencia Pinilla (2007, p. 172) através do conceito de artigo como a palavra que antecede o substantivo (critério funcional) e indica o seu gênero e número (critério morfológico), individualizando-o ou generalizando-o (critério semântico). Quanta à perspectiva linguística é desmistificada a percepção de reconhecimento do artigo definido e indefinido pelo critério da determinação/indeterminação. Os linguístas asseveram que vigora o critério do uso a partir do processo de interação entre os fa-lantes. Desse modo, faz-se necessária uma mudança no contexto de ensino do artigo uma vez que prioriza a forma, desconsiderando o con-texto de uso da língua.

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AutovaliaçãoPara avaliar seu desempenho como aluno (a) desta unidade, vamos produzir um comentário acerca do processo de determinação e indeterminação dos artigos destacados no texto abaixo, a partir das discussões gramaticais e linguísticas apresentadas nesta unidade. Este texto foi produzido pela Doutoranda do Programa de Pós Graduação de Letras da UEPB em Literatura e Interculturalidade, Divanira Arcoverde.

Em seguida, avalie sua análise: leia-a e observe se foram contempladas as refl exões estudadas nesta unidade.

Construindo sonhosEsta semana refleti comigo mesma acerca do que havia lido

no livro “Nunca desista dos seus sonhos”, de Augusto Cury. Diz ele que “se você tiver grandes sonhos, seus desafios produzirão opor-tunidades e seus medos produzirão coragem”. Foi o que aconteceu comigo.

Incentivada por amigas verdadeiras, decidi-me a concorrer a uma vaga no Doutorado em Literatura e Interculturalidade do De-partamento de Letras da UEPB. Movida pela paixão aos estudos e a vontade férrea de tornar-me uma pesquisadora de fato e de direito, enfrentei mais este desafio em minha vida.

Só havia, então, uma possibilidade de conseguir tal intento. Entregar-me decididamente aos estudos para o enfrentamento das três fases eliminatórias da seleção (Prova Escrita, Projeto e Entre-vista) e, ainda de quebra, a proficiência em Língua Estrangeira. Sabia por antecipação dos obstáculos que teria de transpor, tendo em vista que estaria concorrendo com pessoas, talvez, com mais condições que eu e por enveredar em uma área que não era a que eu trabalhava há muitos anos. No entanto, pensei comigo mesma, que sem enfrentar riscos, não vamos a lugar algum. Muitas vezes, é preciso derrubar “os monstros imaginários” que se alojam em nossas mentes e dilaceram nossos sonhos.

Assim o fiz. Abracei esse sonho, empoderei-me desse objetivo e fui à luta. Felizes dos que encontram a coragem para lutar e tornam os seus sonhos em realidade, “aprendendo a ser líderes de si mesmo”.

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Mergulhei tenazmente no meu propósito de vida. Louvo a Deus pela vitória! Irei reconstruir uma trajetória, em cujo hiato, nunca deixei que os vazios não fossem preenchidos ou que a inércia to-masse conta de mim. Sempre vislumbrei auroras e toquei sinfonias que pudessem delinear novos horizontes.

Hoje, tenho a certeza, de que a cada dia que se vive, um sol ilumi-nado ressurge e seus raios reenergizam os que acreditam em um porvir venturoso que pode resgatar o prazer de viver e o sentido da vida.

Tenho plena convicção dos percalços e responsabilidades que me aguardam. Entretanto, sei da minha garra, da vontade de ven-cer e a grande Fé em Deus, que nunca me faltou. Sei também, que a vida é uma maratona, cujo percurso devemos nos arriscar a percorrer. E diante das incertezas e contingências, olhar para frente e dar sempre um passo a mais é o que se deve fazer.

Nesse sentido, como sempre digo, Deus e o tempo são os se-nhores de todas as coisas. O tempo passa de todo jeito. Quer fa-çamos ou não alguma atividade. Assim, os caminhos existem para ser trilhados, as pedras do caminho para ser retiradas, as barreiras para ser transpostas e os castelos para ser construídos.

Fonte: disponível em http://divaniraarcoverde.blogspot.com/2011/04/ Acessado em 15 de maio de 2011

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 37

Referências

ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Gramática: análise e construção do sentido. São Paulo: Moderna, 2006.

ALENCAR, Patrícia Vargas. Direcionalidade da aquisição do artigo defi nido frente a N próprio em contexto de input variável. 2006. Tese de Doutorado em Lingüística – UFRJ, Faculdade de Letras, 2006.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

CALLOU, Dinah; SILVA, Giselle M. O. O uso do artigo definido em contextos específicos. In: HORA, Demerval da (org.) Diversidade linguística no Brasil. João Pessoa: Idéia, 1997.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 39

Unidade II

O NUMERAL NO CONTEXTO GRAMATICAL E LINGUÍSTICO

II UNIDADE

O numeral no contexto gramatical e linguístico

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40 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 40 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o numeral, dando continui-dade ao estudo das classes de palavras. Vamos estudá-lo em suas nuances gramaticais e linguísticas fundamentais para o ensino contemporâneo de Língua Portuguesa.

Para isso, inicialmente, o numeral será conceituado e ca-racterizado a partir da perspectiva mórfica, funcional e se-mântica em uma abordagem reflexiva de língua. Em segui-da, classificaremos e evidenciaremos os seus usos em uma perspectiva linguística através da realização de um estudo comparativo entre o vocábulo um como artigo indefinido e como numeral, a fim de esclarecermos a distinção entre eles e a função do numeral como articulador textual e como recurso expressivo.

Em vista disso, a compreensão deste assunto decorrerá das discussões que vivenciamos na unidade anterior a res-peito do artigo indefinido. Assim, será importante que você revise as especificidades do artigo.

Lembre-se de que para uma melhor assimilação de nos-sos estudos será preciso que você realize todas as atividades propostas e tire dúvidas quando necessário com os nossos tutores.

Estaremos aqui professores, tutores e seus colegas para ajudá-los.

Bons estudos!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 41Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 41

Objetivos

Ao final desta unidade, esperamos que você:

• Entenda a abordagem gramatical e linguística do numeral.

• Distinga o um artigo indefinido e o um numeral.

• Tenha uma visão de como os numerais determinam a produção de sentidos nos gêneros textuais.

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42 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Para iniciar nossa conversa...

O homem numeral

O homem numeralfazia dos números palavras

e numerava tudo o que fazia...O homem numeral

virou um númerono ato final...

(Fonte: disponível em: <http://poemasdejaimeleitao.blogspot.com/2009/04/o-homem-numeral.html> Acessado em 17 de

abril de 2011)

O numeral é considerado uma classe de palavra que não apre-senta conteúdo lexical, ou seja, não remete isoladamente a nenhum outro elemento existente fora da língua. No entanto, essa classe de palavra expressa noções gramaticais importantes para a compreensão dos enunciados como a de coesão textual, recurso expressivo, quantifi-cação e singularidade.

Tendo em vista que os numerais expressam quantidade exata de pessoas ou coisas ou lugares que elas ocupam numa determinada se-quência, podem ser cardinais, ordinais, multiplicativos e fracionários.

Leia o anúncio a seguir:

(In: CEREJA e MAGALHÃES, 2005, p. 102)

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 43

Neste anúncio, o produto promovido pelo anunciante é um cartão de crédito tipo Platinum existente no exterior que oferece ao usuário vantagens como seguro de saúde e pontos acumulados que valem pas-sagem área.

No enunciado principal, o anunciante faz um jogo de oposições entre as palavras um e único, de um lado, e a palavra dois, de outro. O um é um artigo indefinido porque o texto permite inferir que outros bancos já trabalharam com o cartão de credito tipo platinum. Logo, o platinum Unibanco será um entre outros.

Além disso, percebemos a utilização do numeral cardinal dois e do ordinal primeiro, evidenciando a intencionalidade do autor do texto ao empregá-los. O numeral cardinal dois acompanha um substantivo “cartões” que fica subentendido, propiciando ao leitor uma indaga-ção: são dois o quê? A partir desse questionamento o leitor se torna mais atento a essa dualidade, ocasionada pelas expressões um cartão e dois cartões.

Desse modo, essa interação entre leitor e texto através dos nume-rais no texto publicitário evidencia o texto como unidade de sentido, levando-nos para uma reflexão gramatical e linguística do numeral.

Aspectos gramaticais do numeral: conceito e as perspectivas de classifi cação

Bechara (2009, p. 203) conceitua numeral como a palavra de fun-ção quantificadora que denota valor definido. Esta classe de palavra pertence aos elementos pré- nucleares, que são divididos em predeter-minante, determinantes e quantificadores e outros.

O numeral se insere nos quantificadores que modificam o subs-tantivo, determinando-os a sua quantidade em números, múltiplos ou fração, ou mesmo a sua ordem em uma determinada sequência. Os quantificadores se localizam nos enunciado após o determinante como no exemplo a seguir:

(1) Esses dois (numeral) rapazes são meus filhos.

Determinante Quantificador

Essa ordenação poderá sofrer variações por razões semânticas, dada a impossibilidade de alguns enunciados como muitos quatro, dei-

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44 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

xando essa ordenação meio indefinida, fazendo necessários estudos a respeito desse elemento predeterminante.

Isto porque, o quantificador restringe a referência do nome com informação relacionada com número, quantidade ou parte do referen-te do nome, independentemente da sua definitude. Vejamos os exem-plos:

(2) A empresa continua a ter dez funcionários.

(3) A empresa continua a ter os dez funcionários.

No exemplo (2), a quantidade de funcionários se mantém. Em (3), sabemos que a quantidade de funcionários se mantém e o determinan-te especifica, além disso, que se trata dos mesmos funcionários defini-dos anteriormente.

Nesse sentido, Perini (2010, p. 262) evidencia que os numerais cardinais têm afinidades com os quantificadores e apresentam pro-priedades gramaticais distintas. Estes ocorrem antes do núcleo quando indicam quantidade como em Os cinco capítulos devem ser lidos até amanhã. No entanto, quando pospostos, os numerais cardinais indi-cam ordem e os substituem como forma de contornar a complicação extrema do sistema de ordinais do português padrão, ilustrado pelo exemplo: O capítulo cinco deve ser lido até terça-feira.

Nestes exemplos, o cardinal equivale ao numeral ordinal, emprega-da para evitar o uso do cardinal com números mais altos, utiliza-se O capítulo quarenta e quatro em vez de o quadragésimo quarto capítulo.

Em contrapartida, os ordinais funcionam como nomes e ocorrem após os quantificadores (mas sempre antes do núcleo), conforme exem-plo:

(4) Os muitos segundo colocados.

Outro ponto relevante é a flexão de gênero em que os numerais são invariáveis, exceção de um (uma), dois (duas) e ambos (ambas), os formados por um (vinte e um/ vinte e uma) e as centenas acima de cem (duzentos/ duzentas, novecentos/ novecentas).

Bechara (2009) e Cunha e Cintra (2001) asseveram que a tradição gramatical tem posto ambos como numeral dual, como subcategoria de número (singular/plural), por sempre aludir a dois seres concretos já mencionados no discurso. Ressaltamos, também, como pronome por retomar termos ditos anteriormente (anáfora) nos enunciados.

Para esclarecer melhor esse processo de substituição, Koch (2007) afirma que, no caso de retomada, tem-se uma anáfora: a) Paulo e José são excelentes advogados. Eles se formaram na academia do Largo de

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 45

São Francisco. (anáfora) e, no caso de sucessão, uma catáfora: b) Re-alizará todos os seus sonhos, menos este: o de entrar para a Academia (catáfora) .

Outro vocábulo que, em algumas expressões, pode funcionar como numeral é todo, visto que expressões como todos os dois dias, todas as três semanas, etc, podem ser empregadas com o valor de dois em dois dias ou a cada dois dias, de três em três semanas (BECHARA, 2009).

Diante do exposto, faz- se necessário estudarmos os critérios de classificação do numeral tendo em vista que algumas classes de pa-lavras apresentam definições centradas em um critério (semântico) em detrimento dos outros (funcional e mórfico).

Câmara Júnior (1970) ressalta a relação entre os nomes numerais e a arte de contar leva a que, na língua escrita, usem-se os algarismos em vez das palavras correspondentes entre os numerais. Como ocorre na linguagem publicitária, ilustrado no exemplo abaixo:

(5)

Ademais, Câmara Júnior (1970) apresenta como tarefa da gramá-tica descritiva a distribuição dos vocábulos formais de uma língua em classes fundamentais e classifica-os a partir de critérios: critério semân-tico (o que eles significam do ponto de vista do universo biossocial que se incorpora na língua); o critério formal ou mórfico (que se baseia nas propriedades da forma gramatical) e o critério funcional ( que diz res-peito ao papel que cabe). Vejamos a classificação do numeral:

Quadro 1:

Classe/ critério Funcional (fun-ção ou papel na

oração)

Mórfi co (caracterização da

estrutura da palavra)

Semântico (modo de signifi cação)

NUMERAL

Palavra que fun-ciona como es-

pecificador desse núcleo (numeral: substantivo, adje-

tivo).

Palavra formada unicamente por

morfema grama-tical (palavra vari-ável em gênero e

número).

Palavra que indica a quantidade dos seres,

sua ordenação ou proporção (cardinal,

ordinal, múltiplos, fra-cionário, coletivo).

(Fonte: PINILLA, 2007, p. 172)

O quadro apresenta a proposta de classificação do conceito de numeral a partir dos critérios (funcional, mórfico e semântico). No en-tanto, as gramáticas escolares e teóricas e os livros didáticos contem-

Fonte: http://www.baurupaineis.com.br/cases/bombril.gif

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plam apenas a perspectiva semântica, conceituando o numeral como a palavra que dá idéia de número.

Esta perspectiva em relação ao numeral ressalta a propriedade de indicar um valor definido. No contexto da gramática normativa, as pa-lavras que indicam frações ou quantidades múltiplas, número de ordem de determinado ser ou coisa em uma série. Embora tenham comporta-mento muito semelhante ao de outras classes de palavras, também são considerados numerais.

Quanto à perspectiva funcional os numerais podem exercer duas fun-ções no interior do sintagma nominal. A primeira de núcleo do sintagma nominal, como os substantivos. A segunda de modificador ou especificador, como os adjetivos. Observe os elementos destacados na notícia abaixo:

(6)

Disponível em: < http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=4876>. Acessado em 19 de abril de 2011.

Em o triplo de pessoas, percebemos “triplo” como especificador do substantivo e, em O primeiro aluno, o vocábulo “ primeiro” é o núcleo do sintagma nominal.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 47

Por fim, temos a perspectiva mórfica que concebe, em sua maioria, os numerais como palavras invariáveis, embora, afirme que eles desig-nam valores definidos, um é a forma singular e as demais (dois, três, etc..) são plurais. Quanto ao gênero variam um – uma, dois – duas e as centenas a partir de duzentos (duzentas, trezentas, etc). Os vocábulos milhão e bilhão variam apenas em número.

Cumpre salientar os cardinais, fracionários e os múltiplos podem sofrer também flexão de número e gênero, embora seja pouco fre-quente como (terceiros, vigésima, dose dupla, dois terços, entre outros). Outra característica relevante dos numeras ordinais e cardinais é de recurso de coesão textual. Ilustrado pelo comunicado a seguir:

(7)

COMUNICADO Nº 048 - CGRH/DRHTI/SGAGU, DE 20 DE MAIO DE 2010.Aos Membros das Carreiras Jurídicas da Advocacia-Geral da União.

Assunto: DESCONTO DE DIAS NÃO TRABALHADOS POR MOTIVO DE GREVE

Comunico que, em face das informações prestadas por meio de Boletim Mensal de Frequência, elaborado pelas diversas Uni-dades da AGU, nas quais estão em exercício os membros das car-reiras jurídicas desta Instituição, bem como, para atender a reco-mendação constante do Ofício nº 140/SRH/MP, de 14 de maio de 2008, da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Estes dias foram objeto de descontos na folha de pagamento de maio corrente,os dias não trabalhados, a partir de 9 de abril último, em razão da paralisação dos serviços de advocacia-pública. Ressalte-se que foram encami-nhados dois comunicados anteriores, alertando para o corte do ponto: o primeiro endereçado para os funcionários deste órgão e o segundo direcionado ao setor de Recursos Humanos.

JOÃO HENRIQUE MESIANO PRACIANODiretor de Recursos Humanos

Fonte: disponível em:<http://www.advocaciapublica.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=275&Itemid=1>Acessado em 17 de abril de 2010

Os termos destacados primeiro e segundo retomam um termo ex-presso anteriormente (anáfora) comunicado, substituindo-o como nú-cleo do sintagma nominal. De acordo com Koch (2007) essa substitui-ção ocorre quando um componente é retomado ou precedido por uma pro-forma (elemento gramatical representante de uma categoria como, por exemplo, o nome; caracteriza-se por baixa densidade semântica: apresenta as marcas do que substitui).

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Quanto aos critérios de classificação do numeral Câmara Júnior (1970) afirma que não devemos observar o critério semântico isola-damente visto que o sentido não é um conceito independente. Este se encontra relacionado à forma, ou seja, o critério semântico ( relativo à significação) e o critério mórfico (relativo às propriedades formais) se associam de maneira muito estreita, pois a palavra é uma unidade de forma e sentido.

Em vista disso, o autor supracitado ressalta que o critério mórfico parece ser o fundamento primário para a classificação dos vocábulos formais em português. Esta posição é justificada pelo estudioso ao res-saltar que o critério semântico do conceito numeral isolado não daria conta de evidenciar a característica de quantificador sendo necessários os outros critérios (funcional e mórfico).

Dessa forma, constatamos a necessidade de mudanças em virtude das gramáticas e dos manuais didáticos por ora se centrarem, ora mes-clarem esses critérios. Sendo assim, relevante a definição do numeral utilizar os três critérios, que conjugados, possibilitam um ensino pro-dutivo da Língua Portuguesa vinculado à organização do numeral na leitura e na produção textual.

Tipos e emprego do numeral

Os numerais são palavras variáveis que especificam ou modificam o substantivo ou o substituem como núcleo do sintagma nominal. Indi-cam quantidade numérica ou a ordem que seres e noções ocupam em uma sequência (ABAURRE, 2008).

Estes são classificados pelas gramáticas normativas e manuais di-dáticos em: ordinais, cardinais, multiplicativos, fracionários e coletivos. Sendo usual a classificação a seguir:

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Quadro 2

Fonte: disponível em: http://diegodg3.blogspot.com/2010/03/modulo1-aula-2-adjetivos-artigos.html Acessado em 17 de abril

Ordinais

Os ordinais são os numerais que indicam a ordem dos seres em uma sequência. Bechara (2009) afirma que estes têm pouca frequência na língua comum, exceto, os casos consagrados pela tradição, e, em geral, até o número dez ( 4º andar, 2º pavimento, 3ª seção, 5º lugar, 100º aniversário da Fundação).

Todavia, no estilo administrativo e em outras variedades do estilo

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oficial, ocorrem com mais frequência. Estes são empregados da se-guinte forma: até o décimo, quando se usam também os algarismos romanos (estes vão além do décimo). A partir do décimo1, os cardinais correspondentes. Vejamos o emprego dos numerais cardinais:

a) Na designação de capítulo de livros, séculos, papas e reis usam-se:

Quadro 3:

REGRA De 1 a 10 – ordinais De 11 em diante – car-dinais

Capítulo de livros Capítulo III (capítulo terceiro)

Capítulo XXII (Capítulo vinte e dois)

Cronologia dos sécu-los Século V (quinto) Século XXI

(vinte e um)

Papas João Paulo II (segundo) Bento XVI (dezesseis)

Reis Pedro I (primeiro) João XXIII (vinte e três)

b) Se o numeral estiver anteposto ao substantivo, lemos sempre como ordinal.

A empresa participou do XI Congresso de Informática. (décimo primeiro)

c) referindo-se ao primeiro dia do mês, prefere-se o numeral ordinal.

Primeiro de maio é um dia importante para a classe operária.

CardinaisOs numerais cardinais são aqueles que utilizam os números naturais

para a contagem de objetos, ou até designam a abstração das quanti-dades: os números em si mesmos. Valem por adjetivos ou substantivos.

Este tipo de numeral é empregado nas seguintes situações:

a) Na indicação de horas e em expressões designativas da idade de alguém.

É uma hora.

Castro Alves faleceu aos 24 anos.

1 Os numerais a seguir apresentam mais de uma forma: undécimo ou décimo primeiro; duodécimo ou décimo segundo; catorze ou quatorze; septuagésimo ou setuagésimo; septingentésimo ou setingentésimo; non-gentésimo ou noningentésimo.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 51

b) Na designação de dos dias do mês; se mencionado o substantivo dia antes do algarismo, fica no singular.

No dia 2 de dezembro nasceu D. Pedro II.

Vale salientar que para se referir ao dia que inicia cada mês, pode-mos utilizar tanto o cardinal como o ordinal.

No dia primeiro de janeiro nasceu-lhe o segundo filho.

No dia um de janeiro nasceu-lhe o segundo filho.

c) Nos endereços de casas e referências às páginas usam-se os cardinais.

Leiam a página 22 (vinte e dois) do livro de História.

Você rasgou a página 35 (trinta e cinco) do meu livro.

O número da minha casa é 99 (noventa e nove).

Multiplicativos Os multiplicativos são numerais que indicam aumento proporcio-

nal, por meio de múltiplos da quantidade tomada por base. Os mais usados segundo Bechara (2009) são: duplo ou dobro, triplo ou trípli-ce, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, decuplo, cêntuplo. Conforme exemplo abaixo:

(8)

Fonte: http://i.s8.com.br/images/baby/cover/img9/21356559_4.jpg

O exemplo acima evidencia o numeral multiplicativo tripla em que percebemos que o produto (fralda de bebês) apresenta uma proteção três vezes mais que as outras fraldas dado o tempo por 10 (dez) horas.

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52 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Fracionários Estes numerais indicam diminuição proporcional, por meio de fra-

ções da quantidade tomada como base. Conforme exemplo:

Gostaria de ter pelo menos um quinto dos CDs que você tem em casa.

Coletivos

Os numerais coletivos são aquelas palavras que designam uma quantidade específica de um conjunto de seres ou objetos. São termos variáveis em número e invariáveis em gênero.

Exemplos: dúzia(s), milheiro(s), milhar(es), dezena(s), centena(s), par(es), década(s), grosa(s). Podem ter adjuntos introduzidos por prepo-sição para indicar especie. Conforme exemplo abaixo com o vocábulo metade do preço.

(9)

( Disponível em: http://www.siteclassificados.com/ Acessado em 17 de abril de 2011).

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 53

Atividade I

1) Segundo Bechara (2009) os numerais são palavras de função quantifi cadora que denotam valor defi nido. Como se justifi ca o numeral como núcleo do sintagma nominal (Meu primeiro amor), como o substantivo, no gênero textual abaixo:

Fonte:http://3.p.blogspot.com/_Ci-LydR772Q/S_0Ld8tYKII/AAAAAAAAAwk/nei3U4iODIM/ s1600/meu+primeiro+amor.jpg

2) Leia o texto a seguir:

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

[...] Os dados assustaram os pesquisadores: quase todas as amostras datando de 1990 a 2005 mostravam sinais fortes de redução de calcificação: uma taxa média de 1,44% de redução ao ano.

Cauteloso, o grupo evita culpar diretamente o aquecimento global pelo fenô-meno, mas aponta que dois efeitos causados pelo acúmulo de gases-estufa na atmosfera são sua causa mais provável: o aumento da temperatura média da superfície do mar verificado na região, especialmente nas últimas décadas, e a acidificação progressiva do oceano, causada pelo excesso de CO2 no ar.

Há evidências de que em anos muito quentes os corais sofram um “choque térmico” e parem de crescer.

O segundo efeito foi descoberto mais recentemente, e os cientistas ainda não têm uma ideia clara do estrago que ele já está fazendo nos recifes de coral mundo afora. O mar absorve 42% do gás carbônico produzido por atividades humanas.

Em contato com a água, o CO2 vira ácido carbônico, o que deixa a água do mar mais ácida. A acidificação, por sua vez, dissolve a aragonita, privando os corais e outros seres da matéria-prima de suas carapaças.

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54 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Considerando o posicionamento de Abaurre (2008) acerca do aspecto coesivo dos numerais que contribuem para a clareza e coesão do texto, antecipando ou retomando elementos em sequencia e evitando repetições. Há três ocorrências em que os numerais são usados como recursos coesivos. Identifi que em que parágrafos isso ocorre e explique a função coesiva de cada numeral.

3) Leia o comentário do blog “Hoje eu vou assim”:

Simone Soares disse...

Ana,

Já disse milhões de vezes... Mas não custa repetir..AMO seu blog!!

Os looks são sempre muito criativos!! Adorooo!!

bjaum Fevereirol 27, 2011

(Disponível em: <http://hojevouassimoff.blogspot.com/2011/04/reinventar.html> Acessado em 17 de abril de 2011).(Disponível em: <http://celebridades.uol.com.br/frases> Acessado em 17 de janeiro de 2011).

O termo grifado é classifi cado como numeral cardinal pela gramática normativa. Tal classifi cação está correta? Explique sua resposta a partir do efeito de sentido ocasionado pelo emprego do numeral.

4) Considerando as pesrpectivas de conceito do numeral (semântica, funcional e mórfi ca), analise a proposta de atividade abaixo no contexto do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

O problema é preocupante por duas razões. Primeiro, porque os recifes de coral são as zonas mais biodiversas da Terra e geram uma economia anual de mais de US$ 30 bilhões em recursos pesqueiros. Segundo, porque as carapaças de calcário de seres marinhos são uma forma de sequestrar para sempre o gás carbônico. Se esse sequestro se interrompe, o mundo pode ficar ainda mais quente no futuro.

(ANGELO, Cláudio. Co2 faz coral australiano parar decrescer. Folha de São Paulo. 2 de jan, 2009. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u485343.shtml > Acessado em 14 de Janeiro de 2011).

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(ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Gramática: análise e construção do sentido. In: Numeral. São Paulo: Moderna, 2006, p. 261).

Numeral: um estudo na visão linguística

Os estudos acerca do numeral são reducionistas, priorizando, ape-nas o cunho gramatical e não estudam os fenômenos linguísticos de maneira aprofundada como os do âmbito da sociolinguística variacio-nista, (PINILLA, 2007, p.181). Isto porque, é comum encontramos nas gramáticas normativas alguns problemas quanto à definição e classi-ficação das classes de palavras, dificultando ou mesmo limitando a descrição da variedade do Português, cujos falantes não se baseiam em regras ou definições estáticas de livros.

Tal fenômeno linguístico é verificado no estudo do numeral em manuais didáticos do ensino fundamental e médio, cuja classificação considera apenas o critério semântico, desconsiderando as muitas fun-ções que esta classe de palavra assume em gêneros textuais orais e escritos.

Entendemos que as gramáticas escolares devem simplificar a lin-guagem para facilitar o ensino. No entanto, percebemos que essa sim-plificação em demasia, ocasiona danos ao processo ensino – aprendi-

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zagem em virtude não expor a língua em sua complexidade.

Bechara (2009) ressalta que seria mais coerente incluir os ordinais, multiplicativos e fracionários, conforme se apresentem no discurso, no grupo dos substantivos (dobro, metade, etc) ou dos adjetivos (duplo, primeiro, etc), como já fizemos com último, penúltimo, anterior, derra-deiro entre outros.

Vale ressaltar que o autor supracitado não considera como nume-rais ordinais, multiplicativos e fracionários, no entanto, insere-os no capítulo acerca do Numeral. O autor sugere que a classificação fosse realizada do ponto de vista material, dividindo-os em numerais simples (cardinais), compostos (indicam adição, ligados pela conjunção e – vin-te e dois ) e os justapostos (multiplicativos).

Os cardinais funcionam como adjuntos, como os pronomes adjeti-vos e adjetivos, e podem substantivar-se, se os seres forem precedidos de artigos ou de outro determinativo. Estes numerais, em alguns casos, são utilizados para indicar número indeterminado, conforme os nume-rais destacados nas frases da semana abaixo:

(10)

“Quero um minuto da atenção de vocês para falar, façam silêncio“

Luana Piovani, atriz, ao se pronun-ciar a respeito da agressão sofrida por Dado Dolabella.

“Para acabar com essa repercussão negativa, conto o fato em dois mi-nutos “

Viviane Sarahyba, publicitária, ex- esposa de Dado Dolabella, ao se pronunciar a respeito da agressão sofrida por Dado Dolabella.

(Disponível em: <http://celebridades.uol.com.br/frases> Acessado em 17 de janeiro de 2011).

Nos exemplos acima, verificamos a indeterminação dos numerais um (alguns poucos minutos) e dois (poucas palavras) que apresentam sentido figurado. Por isso, Travaglia (2003) salienta a importância de se estudar o caráter funcional do numeral dada as especificidades da língua. Isto se faz necessário em vista do ensino preparar o aluno para

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o desenvolvimento das competências e habilidades linguísticas.

Cumpre salientar a distinção entre um numeral e um artigo indefini-do que segundo Neves (2000), o artigo indefinido tem, frequentemen-te, um uso não-referencial, aplicando-se a todo e qualquer membro da classe, grupo ou tipo que é descrito pelo sintagma, constituindo uma generalização, como em:

(11) Eu adoro tomar um refrigerante bem geladinho assim no verão, sabe?

Em vista disso, ratificamos a ideia de que o sintagma como artigo indefinido, em princípio, é generalizante, não fazendo referência a um objeto que seja o único em sua classe. Por definição, o artigo indefinido afirma a indeterminação do ser em relação à sua classe, não afirman-do assim sua singularidade – embora ela exista. O numeral afirma a singularidade do ser, ou a qualidade de único – embora a indetermi-nação possa existir.

Segundo Neves (2000), do ponto de vista da quantidade, isso sig-nifica que, no caso do artigo indefinido, fala-se de “pelo menos um”, enquanto, no caso do numeral, fala-se de “exatamente um”. Analise-mos o exemplo abaixo:

(12)

Percebemos na tira a ironia, a partir de uma sutil diferença entre o artigo “um” e o numeral “um”, uma vez que no primeiro quadrinho, os

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insetos se referem ao passarinho, utilizando o vocábulo um em oposi-ção vocábulo dois dito pelo passarinho, predator de insetos.

Ressalte-se que não há a presença da indeterminação com o em-prego do um, característica basilar do artigo indefinido de acordo com a gramática normativa. Essa distinção entre um artigo e um numeral, em linhas gerais, pode realizar a partir da relação de indeterminação do artigo indefinido e da relação de singularidade do numeral.

Essa relação de singularidade é evidenciada pelas palavras “dois” e “um” que são quantificadoras em que assumem a função de numeral, explicitando a oposição entre um passarinho e dois insetos.

(13)

Apesar disso, em muitos enunciados, tal diferença é neutralizada; pois fica difícil concluirmos se o que está no primeiro plano é um ou outro valor. Como em (14):

(14) Pelo menos metade de uma parede de sua sala é coberta com livros sobre futebol.

Em (14), podemos interpretar o sintagma “uma parede” como sen-do apenas uma parede e não duas; ou, ainda sendo uma parede qual-quer e não uma parede indeterminada. (LIMA-SILVA, 2004).

Dias (2005) ressalta a necessidade de se trabalhar em sala de aula todas as nuances do numeral tendo em vista as orientações reflexivas acerca dessa classe de palavra, ultrapassando o processo de didati-zação na busca de um equilíbrio, a fim de encontrarmos o papel da gramática na compreensão do complexo fenômeno da linguagem.

Desse modo, o estudo das classes de palavra numeral carece de pesquisas no campo gramatical e linguístico, visto que o aluno, como usuário competente da língua, que sabe usar de maneira adequada o número possível de recursos dessa língua em relação ao numeral. In-terligando a língua em aspectos textuais e gramaticais como duas faces de uma mesma moeda.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Atividade II1) Leia a piada:

“A professora do Bocão está corrigindo o dever de casa. Aí, balança a cabeça, olha para o Bocão e diz:– Não sei como uma pessoa só, consegue cometer tantos erros.E o Bocão explica:– Não foi uma pessoa só, professora. Papai me ajudou.”

(ZIRALDO, Alves Pinto. Rolando de rir. O livro das gargalhadas do Menino Maluquinho. São Paulo: Melhoramentos, 2001. p. 20)

Explique como os usos do vocábulo uma destacados, no contexto da tira, contribuem para produzir o efeito de humor.

2) Considerando a afi rmação de Lima-Silva (2004) entre a distinção entre um numeral e um artigo indefi nido em muitos enunciados, tal diferença é neutralizada; pois fi ca difícil concluir-se se o que está no primeiro plano é um ou outro valor. Este fenômeno linguístico ocorre na capa da revista Veja abaixo? Justifi que sua resposta.

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-691dWARBkWY/TXoItmLbyLI/AAAAAAAAA9Q/uH2QXYfIWm8/s1600/capa-

380.jpg

3) Segundo Câmara Júnior (1970) é comum na linguagem escrita a substituição dos algarismos por palavras. Este fenômeno linguístico na linguagem publicitária e cinematográfi ca é utilizado com o objetivo de apresentar qual efeito de sentido? Explique a partir do anúncio publicitário e da capa do fi lme

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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“Última parada 174” abaixo:

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_pU8LdZz7POw/TBUTiIx11WI/AAAAAAAAADo/VibF_wyI3Hk/s1600/marabraz_um_real.jpg

Fonte: http://www.cinepop.com.br/cartazes/ultimaparada174.jpg

4) Leia a notícia a seguir:

Batman Completa 70 Anos!

No ano de seu septuagésimo, o personagem Batman está em nova roupagem e com um inimi-go surge para ameaçar a paz da cidade: o Corin-ga (Heath Ledger), que inicia uma série de ataques e ameaça Rachel Dawes (Maggie Gylenhaal)...

Fonte: disponível em: http://alexandrehistoria.blogspot.com/2009/07/batman-completa-70-anos.html> Acessado em 17 de abril de 2011).

O emprego do numeral septuagésimo está adequado de acordo com a gramática tradicional? Justifi que a sua resposta.dica. utilize o bloco

de anotações para responder as atividades!

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Concluindo nossa conversa...

O estudo dos numerais é fundamental para o melhor conhecimento das classes de palavras e de seu sentido em português. Estes contri-buem para a clareza e coesão do texto, antecipando ou retomando elemento em sequência e evitando repetições desnecessárias.

O seu conhecimento permite ao usuário da língua desempenhar uma importante função argumentativa. Na próxima unidade, vamos es-tudar os Pronomes, que é considerado também um recurso de coesivo em língua portuguesa.

Leituras recomendadas Para Assistir

A história de um sim-plório pai de família Walter Sparrow ganha um livro de presente de sua espo-sa. Chamada “O Número 23”, a obra relata a terrível obsessão de um homem com o 23 e como isso co-meça a dominar a sua vida.

O mais estranho é que diversas passagens do livro reproduzem fielmente detalhes da vida de Walter – e ele começa a perceber o número 23 em seu passado e também em seu presente. Tão paranóico quanto o personagem da história, ele descobre que o livro termina com uma morte brutal.

Para ler KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 17.ed. São Paulo: Contexto, 2002.

Neste livro, a autora identifica os mecanismos de coesão consti-tutivos do texto e examina, a partir deles, as classes de palavras, ressaltando os nu-merais como articuladores textuais e de sentenças, os conectivos, os processos de ordenação e de retomada do tema, os tempos verbais, entre outros fenôme-nos.

Fonte: http://img34.imageshack.us/img34/6977/numero23poster02.jpg

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Para navegar http://www.revistalingua.com.brSite da revista língua portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos publicados na versão impressa da publicação. Maria Helena de Moura Neves, en-tre outros gramáticos e linguistas, discutem diferen-

tes aspectos de gramática do português, como o numeral, fazendo importantes considerações sobre o modo como são descritos pela gramática normativa e o uso efetivo que deles fazem os falantes.

ResumoOs numerais são palavras variáveis que indicam a quantidade de

elementos ou a sua ordem de sucessão. A proposta de classificação do conceito de numeral se processa a partir dos critérios (funcional, mórfico e semântico). No entanto, as gramáticas escolares e teóricas e os livros didáticos contemplam apenas a perspectiva semântica, con-ceituando o numeral como a palavra que dá idéia de número. Este se subdivide, segundo Bechara (2009) em: cardinal - é o numeral usado para nomear os algarismos e para designar as quantidades; ordinais - indicam a ordem dos seres em uma sequência; multiplicativos - indicam aumento proporcional, por meio de múltiplos da quantidade tomada por base; fracionários - ressaltam diminuição proporcional, por meio de frações da quantidade tomada como base. Por fim, os coletivos que designam uma quantidade específica de um conjunto de seres ou objetos.

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AutovaliaçãoComo vimos nesta aula, os numerais desempenham um papel fundamental na produção dos sentidos em nossa língua. Eles podem, também, ser explorados de modo criativo nos gêneros textuais orais e escritos no contexto pedagógico.

Em vista disso, sugerimos que analise essas questões propostas, respectivamente na prova do ENADE – 2009, no tópico formação geral, e na avaliação do vestibular da UEPB de 2007, a partir da perspectiva gramatical e lingüística do numeral.

(Fonte: disponível em <http://enade2009.inep.gov.br/> Acessado em 17 de abril de 2011).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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2ª QUESTÃO

60 NUM BAR.70 SAIR100 PAGAR;A polícia diz:20 BUSCAR

Esta é uma mensagem que se lê, com freqüência, em vidros de párabrisa de automóveis. Assinale a alternativa correta.a) Ela não se constitui como texto, pois nada significa: há núme-ros ao lado de expressões da língua portuguesa sem qualquer relação.b) Trata-se de um texto verbal coerente, que se manifesta através de números e palavras, os quais, na escrita, provocam estranhe-za, mas, lidos, cumprem sua função comunicativa.c) Constitui-se como um texto não-verbal, escrito, com signos le-xicais e numéricos, mas sem qualquer aceitação, devido à ambi-güidade de sentido.d) Não se constitui como texto, pois o jogo arbitrário de números e palavras a transforma num código sem acesso interpretativo.e) Trata-se de um texto verbal, escrito, com sentido, porém agra-matical, pois não usa veiculadores de ligação para estabelecer coesão e coerência.

(Fonte: disponível em <http://www.comvest.uepb.edu.br/concursos/vestibulares/vest2007/poring.pdf> Acessado em 17 de abril de 2011).

“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.”

(Albert Einstein)

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Referências

ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

DIAS, Luiz Francisco. O estudo das classes de palavras: problemas e alternativas de abordagem. In: BEZERRA, Maria Auxiliadora e DIONISIO, Ângela. O livro didático de Português: múltiplos olhares. 3.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

CÂMARA JÚNIOR, Joaquim M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970.

CEREJA, Roberto, e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. 2.ed. São Paulo: Atual, 2005.

CINTRA, Luís F. Lindley; CUNHA, Celso. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

KOCH, Ingedore. G. Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

LIMA-SILVA, Lidia. “Um, numeral ou artigo? estudo em Semântica Formal. In: Seminário do GEL - Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo, Campinas. Caderno de Resumos, 2004.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de Usos do Português. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

PERINI, Mário A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola editorial, 2010.

PINILLA, Maria Aparecida. Classes de palavras. In: VIEIRA, Silvia e BRANDÃO, Silvia (Orgs.). Ensino de Gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007, p. 171 – 185.

TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.

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Unidade III

PRONOMES: UM ESTUDO DA REFERENCIAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

III UNIDADE

Pronomes: um estudo da referenciação em

língua portuguesa

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68 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 68 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Apresentação Nesta unidade, estudaremos o processo de referenciação

através do pronome que exerce função nominal, seja para substituir um substantivo, seja para acompanhá-lo (deter-minando o seu significado). Quando ocupa o espaço nor-malmente destinado para substantivos (substituindo-o), faz, indicando a pessoa (se é 1º, 2º ou 3º pessoa), o número (se é singular ou plural) e o gênero (masculino ou feminino) da pessoa do discurso.

Quando apenas acompanha o substantivo, o pronome modifica, de alguma forma, a relação da pessoa do discurso com o substantivo que acompanha. Vamos dar continuidade ao estudo das palavras. Estudando-as em suas seis catego-rias de classificação.

Para isso, observaremos que os pronomes podem subs-tituir um substantivo, representando-o, assim, temos um pronome substantivo (Ele prestou socorro). Quando o pro-nome acompanha um substantivo, determinando-o, temos pronome adjetivo (Aquele rapaz é belo). Desse modo, faz-se necessário estudarmos também a partir das perspectivas mórfica, semântica e funcional.

Como nas demais aulas, apresentaremos a abordagem teórica e a linguística da classe de palavra que estudaremos através de atividades que possam envolvê-lo (a) como um (a) efetivo (a) usuário (a) da língua.

Lembre-se de que para uma melhor compreensão de nossos estudos é preciso que você realize todas as atividades propostas e tire dúvidas quando necessário.

Estamos aqui professores, tutores e seus colegas para ajudá-los.

Bons estudos!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 69Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 69

Objetivos Ao final desta unidade, esperamos que você:

• Entenda como se estruturam e se caracterizam os pronomes.

• Empregue os pronomes como elementos coesivos responsáveis pela reativação do referente em um gênero textual a partir de uma visão gramatical e linguística.

• Reconheça os efeitos de sentido apresentados pelos pronomes a partir de uma perspectiva gramatical e linguística.

• Observe os aspectos semânticos discursivos relacionados ao pronome em situações de interação verbal.

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Para iniciar nossa conversa...

Amizade poesia1

Existe uma fatia mínima, mas grandiosa na internet ,a fatia dos que jorram alma em letras ,uma fatia dos que choram entre letras,abraçam o monitor, pedem ajuda….

Sorriem!Aplaudem aos gestos de doçura,

amizade e conseguem continuar…Acreditam, não importa rima ou métrica,

eles são emoção,as vezes lenço,poesia lenitivo, ou poesia que impulsiona,

que levanta e faz nos sentir menossozinhos em alguns momentos.

Uma pequena fatia,luminosa,mergulhadana imensidão da internet!

Leia a tirinha abaixo:

Observe que na tira do Garfield, aparece uma estrutura conside-rada inadequada pela gramática normativa, embora comum na lin-guagem coloquial: Eles já não fabricam ela ( comida para gato) mais fedida e repulsiva.

Como a função sintática a ser exercida pelo pronome, nesse caso, é de objeto direito do verbo fabricar. A gramática normativa recomenda o uso de formas oblíquas dos pronomes pessoais (Eles já não a fabri-cam mais tão fedida e repulsiva).

Nesse sentido, observa-se que o pronome oblíquo está mais restrito à língua formal nesse contexto. Na fala, especificamente em registro mais coloquial, a forma do pronome pessoal é mais frequente.

1 Disponível em: amizadepoesia.wordpress.com/doce-mundo-da-internet. Acesso em 22/04/11.

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Em vista disso, percebemos que a função do pronome na língua é identificar os participantes da interlocução (1ª e 2ª pessoas discursivas) e os seres, eventos ou situações aos quais o discurso faz referência (3ª pessoa discursiva).

Os estudos realizados no Brasil, pelos sociolinguistas, ainda não dão conta de apresentar um perfil da comunidade de fala brasileira no contexto do estudo do pronome, conforme aponta Mattos e Silva (2002, p. 305):

Poderia propor que hoje no português brasileiro se configura não apenas uma diglossia, mas um continuum dialetal que tem nos extremos as varie-dades ou dialetos simplificados que são em geral, a expressão de falantes não urbanos e não esco-larizados e no extremo oposto a variedade culta expressa sobretudo na escrita que persegue o normativismo tradicional.

Um exemplo para entender melhor o que ocorre na fala do portu-guês brasileiro é o uso do pronome pessoal em detrimento dos prono-mes oblíquos. Nessa variação convive o paradigma pronominal ditado pela norma padrão prescrita pela Gramática Tradicional e o paradig-ma criado pelo uso linguístico (MATTOS e SILVA, 2002, p 306).

Dessa forma, é relevante que o professor de língua portuguesa ul-trapasse atitudes tradicionalistas. Ao discutir em sala de aula, o pri-meiro passo do professor não será procurar imediatamente os “erros”, direcionar toda a sua atenção para a localização e erradicação do que está “incorreto”. Conforme defende Bagno (1999, p 121): “Em vez de reproduzir uma doutrina gramatical falha e ultrapassada, (...) o profes-sor deverá refletir (...) com bases nos pressupostos mais criteriosos da ciência linguística moderna”.

Conceito e critérios de classifi cação dos pronomes

Os pronomes são definidos, no âmbito da Morfologia, como uni-dades de expressão que designam os seres sem dar-lhes nomes e tam-pouco qualidade, na medida em que apenas indicam as três pessoas do discurso: a que fala = 1ª pessoa; a com quem se fala = 2ª pessoa e a pessoa ou coisa de que se fala = 3ª.

Monteiro (2002) afirma que o pronome tem a função de substituir o nome, em um texto, a fim de se evitar a repetição de uma mesma palavra, além de esclarecer que, por esse motivo, a classe de palavras com tal função recebeu o nome de pronome (pro: em lugar de; nome: nome).

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Ademais, essa característica de substituto do nome, atribuída ao pronome segundo Neves (2000) ocorre devido ao traço básico de defi-nição a natureza substitutiva dessa classe de palavras, examinada espe-cialmente na organização frasal. Colocada, porém, a base do exame na instância do discurso e em relação com a coesão textual, releva, inicialmente, a natureza referencial de um grupo de subclasses da clas-se tradicionalmente considerada como dos pronomes.

Essa ideia de substituição não se aplica, entretanto, a toda classe de pronomes, sendo restrita a alguns deles. Formas pronominais que se caracterizam como determinantes, particularmente os possessivos, não podem substituir um nome. Ressalte-se o fato da substituição não ser necessariamente do nome, mas de todo o sintagma nominal.

Nessa perspectiva, os pronomes são concebidos como classe de pa-lavras destituída de conteúdo semântico, na medida em que designam, sem nomear, quando tomadas de forma isolada; mas elas se revestem dessa carga de conteúdo, quando empregadas pelo exercício da fala: tempo em que se remete ao modelo de situação e ao contexto de conhe-cimentos enciclopédicos arquivados na memória semântica dos usuários, ou seja, são os elementos pronominais que se fazem signos da dimensão lexical da língua, em situação de uso (BECHARA, 2009).

O autor supracitado reformula a concepção de pessoa pelo ponto de vista de Benveniste (1989), diferenciando aquelas que participam efetivamente do jogo da interlocução, mediada por atividades de fala (1ª e 2ª) e aquela/aquilo de que se fala (3ª pessoa). Qualifica a tercei-ra pessoa como indeterminada, na medida em que ela apenas aponta para a outra “pessoa” ou “coisa” de que se fala, mas não participa do jogo da enunciação como pessoa propriamente dita.

Para esse gramático, a terceira pessoa se institui e se faz represen-tar no discurso pela flexão verbal. Em nota de rodapé, ele aponta para o fato de se poder fazer uso da segunda pessoa no fluxo das atividades de fala, quer oral ou escrita, de modo impessoalizado.

Nesse sentido, a noção de pessoa remete à situação linguística, à enunciação, ao intercâmbio verbal, que pressupõe duas pessoas: o locutor (o eu) e o interlocutor (o tu). A dita terceira pessoa está fora do eixo dialógico, caracteriza-se como a “não pessoa” (BENVENISTE, 1989) em oposição às verdadeiras pessoas do discurso ( quem fala, eu, versus quem ouve, tu). A não – pessoa é o próprio objeto da enuncia-ção, o enunciado.

Quanto à classificação, os pronomes podem ser: pessoais, posses-sivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relativos. Esses tipos de pronome indicam, respectivamente, as pessoas do discurso; a posse em referência às pessoas do discurso; a posição, o lugar ou a identi-dade dos seres em relação às pessoas do discurso; a terceira pessoa quando tem sentido vago ou exprime quantidade indeterminada; a in-terrogativa e se referem de modo impreciso à 3ª pessoa (normalmente são os pronomes indefinidos que, quem, qual e quanto que se empre-gam nas perguntas); os elementos que se referem a um termo anterior chamado antecedente.

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Cumpre salientar que os pronomes desempenham “funções equiva-lentes às exercidas pelos elementos nominais” (CUNHA, 2001, p. 268) e, segundo Infante (2001), servem para representar um substantivo ou para acompanhá-lo, determinando-lhe a extensão do significado.

No primeiro caso, os pronomes exercem a função de um substanti-vo e recebem o nome de pronomes substantivos: “Lembranças a todos os teus” (CUNHA, 2001, p.268); no segundo caso, são chamados de pronomes adjetivos porque modificam o substantivo que acompanham: “Teus olhos são dois desejos” (CUNHA, 2001, p.268). Os pronomes substantivos aparecem isolados na frase, e os pronomes adjetivos são empregados junto de um substantivo.

Bechara (2009) ressalta que há pronomes que são exclusivamen-te substantivos (absolutos) ou adjetivos (adjuntos), enquanto há outros que podem aparecer as duas funções, como nos exemplos de Cunha (1980, p.199): Meu livro é este; este livro é meu. O possessivo meu, no primeiro exemplo, exerce a função de adjetivo e no segundo de substantivo. O possessivo este, também exerce ambas as funções: subs-tantivo na primeira frase e adjetivo na segunda.

Neves (2000) ressalta que a função do pronome pode ser de subs-tantivo ou adjetivo. Quando o pronome substitui um substantivo na frase, denomina-o de pronome substantivo. Quando o pronome acom-panha um substantivo, determinando o seu significado, denomina-o de pronome adjetivo. Analisemos essa frase da semana:

(1)

“Ela não entende nada de dinheiro. Por isso, entreguei seu destino nas mãos de Deus.” (risos)

Juliana Paes, atriz, ao se pronunciar a respeito do salão inaugurado em que sua mãe é a gerente.

(Fonte: Disponível em: <http://celebridades.uol.com.br/frases> Acessado em 17 de janeiro de 2011)

O enunciado acima apresenta dois pronomes ela e seu. O primei-ro é um pronome pessoal reto da 3° pessoa Ela, nessa frase, poderia ser qualquer pessoa, como por exemplo: Maria não entende nada de dinheiro. Nesse caso, não seria um pronome, mas sim um substantivo próprio (Maria), a exercer a função de núcleo do sujeito.

Em contrapartida, o segundo pronome, classificado como o prono-me possessivo masculino da 3° pessoa seu acompanha o substantivo destino, determinando-o, pois não é o meu destino, ou o destino de qualquer outra pessoa, é o seu destino. Nesse caso, o pronome se assemelha a um adjetivo, concordando em número e gênero com o substantivo que acompanha.

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74 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Nesse sentido, Câmara Júnior (1970, p.178) considera o papel que cabe ao vocábulo na sentença e explica que:

Há a função de substantivo, que é a do nome ou pronome tratado como centro de uma expressão, ou termo determinado... E há a função de adjetivo, em que o nome ou pronome é o termo determinante e modifica um nome substantivo ou tratado como determinado. .... Um terceiro conceito tradicional, de natureza funcional também é o advérbio. Trata--se de um nome, ou pronome, que serve de deter-minante a um verbo: fala eloquentemente, fala aqui.

Em vista disso, os pronomes pessoais serão sempre pronomes substantivos, pois sempre se pode substituí-los por um substantivo, ou representá-lo, e vice e versa; os demais pronomes são, normalmente, pronomes adjetivos, mas podem assumir a forma substantiva depen-dendo do caso, como por exemplo:

(2) Aqueles são os inimigos

Neste exemplo, aqueles exerce a função substantiva, podendo até mesmo ser substituído por um substantivo, como por exemplo: Os ale-mães são os inimigos. Portanto, pronome substantivo.

Os pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoas (exofóricos), conforme Koch (2001), são formas referenciais presas a elementos situacionais, como no exemplo:

(3)

(Fonte: Disponível em: <http://www.blogintellectus.com.br/historia/ index.php/2011/05/o-mec-e-o-preconceito-linguistico/. Acessado em 20 de maio de 2011).

No início do texto acima, o pronome eu só pode ser identificado exaforicamente, o referente do pronome pessoal é situacional, está fora do texto, remete à identidade do autor do texto, do autor Eduardo Monty.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 75

Os pronomes de 3ª pessoa (endofóricos) são livres, pois têm função “pronominal propriamente dita” (KOCH, 2001, p.33). De acordo com Benveniste (1995), eles possuem a qualidade de substitutos e, portanto, são desprovidos de sentido por si só; somente a especificação de seu referente pode esclarecer sua função comunicativa. É o caso observado por Koch (2001) em relação a estes pronomes em função anafórica:

(4)

• O juiz 1 condenou o réu 2 a dez anos de prisão. Ele 1 achou essa pena condizente com as circunstâncias do crime.

• O juiz 1 condenou o réu 2 a dez anos de prisão. Ele 2 não se

• conforma com o rigor da pena.Fonte: Koch (2001, p.37).

Nos dois exemplos, o contexto estabelecido pelos elementos lin-guísticos é que esclarece a relação de remissão. No primeiro, o contex-to nos leva a perceber que o juiz (e não o réu) poderia crer que a pena é condizente e, no segundo, somente o réu se relaciona com o ato de inconformidade com o rigor da pena.

Quanto ao conceito de pronome os critérios de classificação do pronome, percebe-se a relação destes com a referenciação. Conforme quadro abaixo:

Quadro 1

Classe/ critério Funcional (função ou papel na oração)

Mórfi co (caracterização da estrutura da palavra)

Semântico (modo de signifi cação)

PRONOME

Palavra que substitui o núcleo ou funciona como termo determi-

nante do núcleo de uma expressão

Palavra formada uni-camente por morfema

gramatical.

Palavra que serve para designar as pessoas ou coisas, indicando-as (

não nomeia as pessoas ou coisas nem as quali-dades, ações, estados,

quantidades etc). Prono-mes: pessoais, posses-

sivos, demonstrativos, in-definidos, interrogativos

e relativos.

Fonte: PINILLA (2007, p. 178)

Percebemos a partir do quadro acima que do ponto de vista semân-tico, os pronomes são caracterizados porque indicam dêixis (apontar para), isto é, estão habilitados como verdadeiros gestos verbais, como indicadores, determinados ou indeterminados, ou de uma dêixis con-textual a um elemento inserido no contexto, como os pronomes relati-vos (NEVES, 2000). Isto porque, a dêixis poderá ser anafórica se apon-tar para um elemento já enunciado ou concebido, ou catafórica, se o elemento ainda não for enunciado ou não está presente no discurso. Ressalte-se que a dêixis envolve a 3º pessoa do discurso só que de ma-neira negativa, em relação ao eu e o tu, que tem localização definida.

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76 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Por seu critério dêitico, os pronomes mostram o ser no espaço (crité-rio semântico) e apresentam categorias de pessoa gramatical, de casos e a existência de gênero neutro. Essas três noções são expressas lexical-mente e não por meio de flexões (critério mórfico).

Com base nesses argumentos, Câmara Júnior (1989, p.69) propõe a divisão das classes de palavras em nomes, verbos e pronomes, pro-pondo um novo tipo de classificação para pronomes, trabalhando com os critérios morfo-semântico e funcional. Ao conceituar pronome como a palavra que substitui ou acompanha um substantivo (nome – critério funcional) em relação às pessoas do discurso ( critério morfossemânti-co). O critério morfosemântico no qual duas classificações (morfoló-gica e semântica) estão intimamente ligadas, pois uma palavra é uma unidade de forma e sentido (o sentido ou significado de um vocábulo só é definido com o auxílio do conceito formal ou significante).

Pinilla (2007, p. 108) evidencia que os nomes têm essencialmente, no plano semântico, um caráter representativo ou simbólico, ao passo que os pronomes se caracterizam como formas indicativas que situam os seres ou/coisas no mundo biossocial.

Outro ponto relevante são os pronomes pessoais do caso oblíquo, porque entre gramática normativa e o uso popular é possível verificar dificuldades e caminhos para o ensino e aprendizagem desse tópico gramatical numa concepção descritiva e produtiva de ensino. É neces-sário fazer referência especialmente aos pronomes pessoais do caso reto, pois eles assumem em muitos casos, tanto na oralidade quanto na escrita informal, o lugar dos oblíquos, sendo este um dos fatores que dificulta a aprendizagem da norma padrão de uso dos pronomes oblí-quos. É ainda um fato bastante comum no português brasileiro a es-tratégia de apagamento do pronome pessoal oblíquo, resultando num vazio na posição de objeto.

Para Neves (2000), os equívocos de uma classificação tradicional são verificados ao se observar apenas os pronomes classificados pelas gramáticas, não concebendo o uso da língua como você. Se morfolo-gicamente o pronome é a palavra variável que substitui ou acompanha um substantivo (nome), em relação às pessoas do discurso. ”Essas pes-soas do discurso também podem ser chamadas de pessoas gramaticais e são três a 1ª pessoa (quem fala – eu, nós), a 2ª pessoa (com quem fala – tu, vós) e a 3 pessoa (de quem se fala – ele, eles, ela, elas).

Para comprovar a heterogeneidade dos critérios de classificação, Said Ali (1964, p. 61) conceitua pronome como “a palavra que deno-ta o ente ou a ele se refere, considerando-o apenas como pessoa do discurso. Pessoa do discurso se chama o indivíduo que fala, o indiví-duo com quem se fala e a pessoa ou cousa que se fala”. Essa é uma classificação baseada no critério semântico, visto que o autor apenas aponta o valor ou significado do pronome. Em contrapartida, Cunha (2001) apresenta somente uma classificação sintática, pois apenas são demonstradas as funções que os pronomes podem exercer dependen-do da oração em que estão.

Outra importante característica do português brasileiro é a utilização

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 77

do pronome você (definido pela gramática normativa como pronome de tratamento) como pronome pessoal reto e também em alguns casos como pronome oblíquo, que será estudado na próxima unidade. Constatamos a sua utilização na linguagem publicitária, vejamos anuncio abaixo:

(5)

(Fonte: disponível em: <http://www.netvasco.com.br/news/noticias15/65708.shtml > Acessado em 20 de maio de 2011).

Considerando o exemplo acima, percebemos que textos publicitá-rios exploram o emprego do você, em detrimento do tu, por desejarem atingir um público amplo, revelando-se assim a aceitação de seu cará-ter suprarregional e a intimidade que o brasileiro de diferentes classes sociais e culturais tem com o pronome: é por meio do você que se ven-de um produto por todo o território nacional. Além disso, a publicidade utiliza aspectos do nosso caráter, revelados pelo estudo, a fim de tornar seus intentos bem sucedidos.

Outra situação de discrepância entre o que apregoa a gramática normativa e o que se usa diariamente no português do Brasil é a pre-sença de sintagmas nominais como a galera, a gente, o pessoal, a turma, empregados como pronome pessoal reto e oblíquo para as 1º e 3º pessoas do plural (LOPES-ROSSI-2006).

Desse modo, o conceito de pronome e os critérios de classificação apontam para a identificação de diferentes pontos de vista pelos quais os pronomes têm sido tratados por nossa gramática tradicional contemporânea. Isto porque, podemos considerar que os padrões científicos no campo da ciência são incorporados a essa gramática tradicional, por meio de uma transposição didática que implica a re-contextualização de heranças da tradição e, por isso, não rompe com as mesmas. Percebemos uma ampliação dos estudos acerca dos pro-nomes em gêneros escritos e orais.

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78 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Tipos de pronomeAo tratar-se de pronomes tem-se a definição inicial e gramatical

de elementos que retomam substantivos. Tais elementos dividem-se em grupos de acordo com a função que empenham em um texto. Confor-me quadro a seguir:

Quadro 2

Pronomes Pessoais Designam as pessoas do discurso. Eu comprei um carro.

Pronomes Possessivos Atribuem um substantivo a uma pessoa do discurso.

O meu carro é novo.

Pronomes Demonstrativos Situam um substantivo em relação às pessoas do discurso.

Aquele é o meu carro.

Pronomes Indefi nidos Indeterminam um substantivo. Ninguém viu o carro.

Pronomes Interrogativos Indicam o elemento sobre o qual s deseja obter uma informação.

Quem comprou um carro?

Pronomes Relativos Substituem os antecede. Este é o carro que comprei.

Verificamos facilmente que todos esses elementos grifados são fóri-cos, isto é, apontam para uma recuperação da informação seja na situ-ação, seja no texto. Segundo Neves (2000) Uma primeira especificação nos diz que segundo:

a) os pessoais e os possessivos constituem itens de referência pes-soal: eu, vocês, nosso;

b) os pronomes demonstrativos e os artigos definidos, por sua vez (tradicionalmente vistos como classes desvinculadas), fazem uma referência demonstrativa: ou de exófora ou de endófora (anáfora e catáfora): os, a, essa;

c) os pronomes indefinidos do tipo de outro, finalmente, fazem re-ferência comparativa.

Nesse sentido, as gramáticas e os manuais didáticos não divergem quanto aos tipos de pronomes, empregaremos a classificação de Be-chara (2009):

Pronomes pessoais

Os pronomes pessoais substituem os nomes e indicam as pessoas do discurso. Os pronomes pessoais dividem-se em: retos e oblíquos.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 79

Pronomes pessoais retos e oblíquos

Quadro 3

PESSOAS DO DISCURSO RETOS OBLÍQUOS

1ª pessoa singular Eu Me, mim, comigo.

2ª pessoa do singular Tu Te, ti, contigo.

3ª pessoa do singular Ele/ela O, a, lhe, se, si, consigo.

1ª pessoa do plural Nós Nos, conosco.

2ª pessoa do plural Vós Vos, convosco.

3ª pessoa do plural Eles/elas Os, as, lhes, se, si, consigo.

Classificamos os pronomes em retos ou oblíquos de acordo com a função que exercem na oração. Os pronomes do caso reto funcionam como sujeito da oração (Eles acordaram cedo para viajar). Enquanto, os pronomes oblíquos funcionam como complemento e se dividem em: átonos que não são precedidos por preposição (Os professores nos orientaram corretamente) e os tônicos que são precedidos por preposi-ção (Ele deu um excelente livro a mim) e tônicos.

Pronomes pessoais de tratamento

Os pronomes de tratamento são aqueles que indicam um trato cor-tês ou informal, sempre concordam com o verbo na terceira pessoa.

Quadro 4

PRONOME ABREVIATURA USADO PARA

Você V. Tratamento familiar

Senhor (a) Sr. Sra. No tratamento respeitoso às pessoas que se mantém um certo distanciamento.

Vossa Senhoria V.S.ª Pessoas de cerimônia, principalmente em correspondências comerciais.

Vossa Excelência V.Ex.ª Altas autoridades: presidentes da República, senadores, deputados.

Vossa Eminência V.Em.ª Cardeais

Vossa Alteza V.A. Príncipes e duques

Vossa Santidade V.S O Papa

Vossa Majestade V.M. Reis e rainhas

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80 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Pronomes possessivos

São aqueles que se referem às pessoas gramaticais e dão a idéia de posse (Não abra a minha pasta).

Quadro 5

PESSOA DO DISCURSO PRONOME POSSESSIVO

1ª pessoa singular Meu, minha, meus, minhas.

2ª pessoa singular Teu, tua, teus, tuas.

3ª pessoa singular Seu, sua, seus, suas.

1ª pessoa plural Nosso, nossa, nossos, nossas.

2ª pessoa plural Vosso, vossa, vossos, vossas.

3ª pessoa plural Seu, sua, suas, suas.

Perini (2010, p. 305) afirma que há momentos em que os prono-mes possessivos não exprimem a idéia de posse, mas indica respeito (Meu senhor permita-me ajudá-lo), aproximação (Estamos orgulhosos por seus cinquenta anos) intimidade (Escutávamos emocionados nosso Caetano Veloso).

Pronomes demonstrativos

São aqueles que indicam o lugar, a posição que um ser ocupa em relação às pessoas do discurso.

Quadro 6

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

variáveis Invariáveis Posição no espaço

Posição no tempo:

Este, esta, estes, estas. Isto

Esta indica que a caneta (está próxima da pessoa que fala).

Esta semana comprei meu carro. (Esta se refere à semana presente, atual).

Esse, essa, esses, essas. Isso

Esse carro não é o teu? (Esse indica que o carro está próximo da pessoa que ouve).

Esse mês batemos nossas metas. (Esse se refere a um passado próximo).

Aquele, aquela, aqueles, aquelas.

Aquilo

Aquele livro não pode ficar lá na mesa. Aquele indica que o livro está distante da pessoa que fala e da pessoa que ouve.

Aquele mês foi péssimo para o comércio. (Aquele se refere a um passado mais distante).

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 81

Pronomes relativos

São os que relacionam uma oração a um substantivo que repre-senta. Também se classificam em variáveis: o(a) qual, os(as) quais, quanto(s), quanta(s), cujo(s), cuja(s) e invariáveis: que, quem, onde.

(6) O perdão de todos, o qual agradeço, é importante pra mim.

Quadro 7

Variáveis Invariáveis

o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas

que quem onde

Pronomes indefi nidos

Pronome indefinido é aquele que se refere à terceira pessoa do discurso de modo impreciso, indeterminado, genérico. Este pode ser variável e invariável. Em muitas situações, temos não um pronome in-definido, mas um grupo de palavras com o valor de um pronome in-definido. São as locuções pronominais indefinidas: Quem quer que, cada qual, todo aquele, seja quem for, qualquer um entre outras. Verifiquemos o pronome todos no anúncio abaixo:

(7)

(Fonte: disponível: <http://tabuleiropublicitario.blogspot.com/2010_04_01_archive.html> Acessado em 20 de maio de 2011).

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82 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Quadro 8

Pronomes interrogativos

São aqueles usados na formulação de perguntas diretas ou indire-tas, referindo-se à 3° pessoa do discurso. Os principais pronomes in-terrogativos são: invariáveis: quem, que e variáveis: qual, quais, quan-to, quantos, quanta, quantas. Como no exemplo - Qual é seu nome?

Desse modo, os pronomes podem ser classificados de acordo com o contexto no qual estão inseridos, ou seja, não é necessário estudar ou ensinar apenas a nomenclatura gramatical, mas também perceber a necessidade dessa teoria dentro do texto. Um dos grandes problemas atuais que assustam alunos e professores é a produção de textos, pois nos livros didáticos e na escola o que se aprende são as nomenclaturas e classificações dos pronomes através de frases isoladas, sendo que a maioria das necessidades dos estudantes é saber aplicar e utilizar a teoria vista em seus textos.

Atividade I

1) Leia a proposta de aula acerca do ensino do pronome:

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 83

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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84 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

a) Responda às questões postadas na proposta acima. Em seguida, analise a proposta, evidenciando o seu caráter positivo e negativo desta, tendo como referência a efi ciência quando ao ensino/ aprendizagem do pronome.

b) A proposta de ensino do pronome contempla os três critérios de classifi cação do conceito de pronome proposto por Pinilla? (2007, p.197) Fundamente a sua resposta.

2) Observe os textos abaixo:

TEXTO 1

(Fonte: disponível em <http://chargesprotestantes.blogspot.com/> Acessado em 20 de maio de 2011).

TEXTO 2

a) Explique a crítica presente nos dois textos acima.dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 85

b) Os pronomes têm a função de substituir o nome, em um texto, a fi m de se evitar a repetição de uma mesma palavra. (MONTEIRO, 2002, p. 234). Nessa perspectiva, o pronome relativo é defi nido como os pronomes que relaciona uma oração a um substantivo que representa. Podemos afi rmar que a palavra que presente nos dois textos pode ser classifi cado como um pronome relativo? Justifi que a sua resposta.

c) Considerando que uma das principais características do pronome é a sua função dêitica, explique o que é retomado pelo pronome que na tira e comente o recurso dêitico empregado nessa retomada. Fundamente a sua resposta.

c) Perini (2010, p. 305) afi rma que há momentos em que os pronomes possessivos não exprimem a idéia de posse, mas indica respeito, aproximação, intimidade. Podemos considerar que o pronome possessivo nossa utilizado nos dois primeiros quadrinhos da tira de Malfada apresentam ideia de posse? Comente a sua resposta.

3) Assista ao vídeo abaixo, pesquisando no endereço eletrônico abaixo:

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=aC3u_hxa4JQ&feature=related

a) Após a apresentação do vídeo, qual é o papel dos pronomes em um texto?

b) De acordo com Koch (2001, p. 89) Coesão textual se relaciona com o modo como os componentes do universo textual conectam-se numa relação de dependência para a formação de urna sequência linear. Em outras palavras, a coesão diz respeito aos processos de sequencialização que asseguram urna ligação linguística entre os elementos da superfície textual. Por que os pronomes são considerados recursos coesivos? dica. utilize o bloco

de anotações para responder as atividades!

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Abordagem linguística do pronome: um estudo da referenciação no contexto escolar

A abordagem do ensino de gramática, especificamente, o prono-me, ainda está pautada no ensino de regras da norma culta, uma vez que as aulas que versam acerca dos pronomes através de explanações teóricas do professor e a aplicação do conteúdo em exercícios de com-plete as lacunas ou de colocação pronominal.

Se o ensino do pronome fosse realizado com base em sua função textual, para que o aluno aprendesse tanto as regras gramaticais como a relação dos pronomes dentro de uma estrutura com sentido, talvez a aprendizagem fosse obtida com mais sucesso. No momento em que se trabalha com o texto, é possível que o aluno realize a retomada de outros elementos e idéias dentro da estrutura textual.

Nesse sentido, discutimos a possibilidade de estudar conteúdos gra-maticais como os pronomes a partir de gêneros textuais e discursivos, tornando-se uma alternativa interessante à medida que sinaliza para os alunos que estes conteúdos gramaticais abordados na escola têm funcionalidades específicas, dependendo do gênero em que aparecem.

Dias (2005, p. 128) ressalta que a lingua(gem) é uma atividade de produção de significação realizada por interlocutores em interação. A partir desta interação, estudos linguísticos realizados por meio desta perspectiva visam explicitar as operações linguístico-textual-discursivas responsáveis por gerar significação veiculada pela língua(gem), que condensa, cristaliza e reflete as práticas sociais dos enunciadores/inter-locutores no contexto dos pronomes.

Frente às constatações de que os pronomes estão inseridos nos diá-logos, na fala dos brasileiros, Fernandes (2009) observa a possibilida-de de ressignificar seus conteúdos, ou seja, sugere que o pronome de tratamento passe a ser discutido como pronome pessoal, por exemplo, como você. Explicitado no exemplo a seguir:

(8)

(Fonte: SILVA, Gislaine. Os traços prosódicos a partir da escrita digital no gênero Orkut. In: Anais da XV Semana de Letras da UEPB. Campina Grande: Realize, 2010).

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Diante do exposto, o estudo de gramática deveria partir de uma concepção descritiva e produtiva para depois chegar a uma concepção normativa prescritiva, ou seja, propiciar uma reflexão por parte do alu-no acerca das variações existentes na língua. Estimulá-lo a observar as opções possíveis e as implicações sociais do uso de uma ou de outra possibilidade do emprego do pronome e os efeitos de sentido ocasio-nados por estas escolhas.

Koch (2004, p 64) afirma que ao produzir um gênero textual ou dis-cursivo, o aluno seleciona as palavras, estruturas, regras e outros. Esse processo se coaduna com a função referencial dos pronomes em que o estudante produz seu texto utilizando a coesão textual conceituada por Koch (2001) como a ligação, a conexão entre as palavras de um texto, por meio de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os seus componentes, sendo estabelecida por meio de diversos elementos linguísticos.

Dentre esses elementos, os pronomes assumem grande relevância, principalmente, pelo fato de ser por meio deles que se faz a retomada do referente, isto é, aquilo a que o texto se refere. Todos os tipos de pronomes podem funcionar como recurso de referência a termos ou expressões anteriormente empregados. Conforme quadro a seguir:

Quadro 9

REFERÊNCIA

Pessoal Demonstrativa Comparativa

eu este, esse outro

meu aquele

Uma dessas diferentes estratégias de referenciação textual é o uso de pronomes, que foi sempre descrita pela linguística como “pronomi-nalização” (KOCH, 2008). Essa classe de palavra exerce fundamen-talmente a função de referenciação por meio de palavras fóricas2 que indicam os participantes da interlocução e da remissão textual. Os par-ticipantes da interlocução englobam o falante e o ouvinte, ou seja, 1ª e 2ª pessoas do discurso e, portanto, são exofóricas.

Nessa perspectiva, os elementos de remissão textual são de terceira pessoa, são endofóricos, são responsáveis pela ligação entre os ele-mentos do texto e não resgatam nem o falante nem o ouvinte, por isso podem ser chamados de não-pessoa, segundo Neves (2000) e Bechara (2004).

A característica fórica dos pronomes é o indicador de dêixis (o apontar para), isto é, os pronomes “estão habilitados, como verdadei-ros gestos verbais, como indicadores, determinados ou indeterminados, ou de uma dêixis contextual a um elemento inserido no contexto” (BE-CHARA, 2009, p.162).

O trabalho de Mondada e Dubois ([1995] 2003) é considerado, pelos estudiosos brasileiros que pesquisam a referenciação, um dos estudos pioneiros sobre a matéria. Nesse trabalho, as autoras contra-

2 Lat. fero, gr. phéro: levar, trazer (NEVES, 2000, p.389).

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88 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

põem, a uma visão da língua como representação fiel da realidade (sendo língua e realidade instâncias estanques e estáveis), uma outra visão: a de que os elementos linguísticos e os elementos mundanos são inerentemente instáveis e só passam a adquirir significação a partir de interações discursivas.

A proposta das autoras sedimenta uma posição disseminada em vá-rios estudos lingüísticos de orientação sociocognitivista, de que os usos linguísticos revelam não a realidade, mas sim uma percepção do real. Isto quer dizer que a experiência que os sujeitos têm do real sofre obri-gatoriamente elaborações e reelaborações cognitivas por parte desses sujeitos, que explicitam essas (re)elaborações por parte da linguagem.

Em suma, a visão de Mondada e Dubois a respeito da instabilidade constitutiva das entidades da língua e do mundo aponta que uma mes-ma “realidade” pode ser expressa sob diversas maneiras, dependentes de vários fatores (intencionalidade, consideração da aceitabilidade, momento sócio-histórico etc.).

Ressalte-se que o estudo da referenciação, que aborda, dentre ou-tras questões, como objetos-de-discurso são construídos e recategori-zados em um texto. Considerando-o como unidade básica de mani-festação da linguagem, uma vez que o homem se comunica através de textos. Além disso, existem diversos fenômenos linguísticos que só podem ser explicados no interior do mesmo.

Koch (2004), ao estudar a referenciação, explicita sua concordân-cia com Mondada e Dubois, abonando destaque ao fato de que a categorização deve ser entendida como um problema de decisão que se coloca aos atores sociais, no sentido de que a questão não é avaliar a adequação de um rótulo correto, mas descrever os procedimentos linguísticos e cognitivos por meio dos quais os atores sociais constroem os referentes.

De acordo com este contexto, concordamos com Koch (2004) ao ressaltar que a referência deve ser entendida como aquilo que designa-mos, representamos e sugerimos quando usamos um termo ou criamos uma situação discursiva referencial com essa finalidade, uma vez que, “a referência diz respeito, sobretudo, às operações efetuadas pelos su-jeitos à medida que o discurso se desenvolve.” (p. 58)

E, neste sentido, são as reflexões da autora supracitada que nos dão respaldo: os processos de referenciação são escolhas do sujeito em função de um querer-dizer. Os objetos-de-discurso não se confun-dem com a realidade extralinguística, mas (re)constroem-na no próprio processo de interação. Desta forma, interpretamos e construímos nos-sos mundos por meio da interação com o entorno histórico e sócio--cultural. (p.61), visto que a discursivação ou textualização do mundo, por intermédio da língua(gem), se dá a partir de uma (re)construção interativa do próprio real.

Essas mudanças são percebidas através da utilização de diferentes expressões referenciais (e estratégias de referenciação) para um mesmo referente, como se pode perceber pelo exemplo a seguir:

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(9)

(2) Após a partida e nos dias seguintes a ela, a co-missão técnica do Brasil divulgou o que ocorrera com o Fenômeno. Logo após o almoço que antecedeu a decisão o jogador voltou para seu quarto, onde mi-nutos depois teve uma convulsão. Quase todos seus companheiros viram a forte cena de Ronaldo se con-torcendo e muitos ficaram claramente abatidos.

(Fonte: disponível em: <http://gazeta esportiva. net> Acessado em 20 de maio de 2011).

No excerto acima, um mesmo objeto-de-discurso (ancorado no objeto-do-mundo, que é o jogador Ronaldo) apresenta-se sob formas diferentes (diz-se que ele sofre recategorizações). Inicialmente, opta-se por utilizar o “apelido” do jogador, que dá uma idéia da sua compe-tência profissional excepcional em relação a seus pares. Em seguida, põe-se em destaque apenas o estatuto profissional do objeto-de-dis-curso; ao final, o objeto é referido pelo seu nome próprio. Portanto, um mesmo objeto-de-discurso passou por três formas referenciais, que modificaram seu status ao longo do texto.

Para analisar essa soma progressiva, Koch (2002) aborda três es-tratégias de referenciação que possibilitam as relações sequenciais por meio das quais se procede à categorização ou recategorização discur-siva dos referentes, são elas:

1) Uso de pronomes ou elipse (pronome nulo)2) Uso de expressões nominais definidas3) Uso de expressões nominais indefinidas

Na explicitação da primeira estratégia, a referenciação por meio de pronomes, Koch e Elias(2009) afirmam que o pronome eles pode reme-ter a indivíduos não diretamente inferíveis no texto. Segundo ela, esse pronome pode retomar a construção de uma classe de indivíduos como uma totalidade de membros humanos ou restringir essa classe a um de-terminado grupo ou indivíduo pelo processo de recuperação do conjunto construído num contexto específico proposto implicitamente no co-texto.

Na segunda estratégia, a autora diz que as expressões ou formas nominais definidas são constituídas por um determinante (definido ou demonstrativo), seguido de um nome. Como explicitado a seguir:

• As descrições defi nidas – caracterizam-se por uma seleção de propriedades relacionadas a um referente. Nessa estratégia, o autor/locutor do gênero apresenta características ou traços do referente para ativar os conhecimentos partilhados com o leitor/ interlocutor.

• As nominalizações – são efetuadas por uma expressão linguística composta por substantivo-predicativo. Essa forma de nominali-zação atribui um referente ou objeto-discurso a um conjunto de

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informações expressas no texto que, anteriormente, não possuí-am tal estatuto, assinalando simultaneamente uma mudança de nível e uma condensação da informação.

• As anáforas indiretas – trata-se de uma configuração discursiva em que se tem uma expressão anafórica sem antecedente literal explícito, cuja ocorrência pessupõe uma informação implícita, que pode ser reconstruída, por inferência, a partir do c-texto precedente, isto é, são formas nominais que se encontram em dependência interpretativa de determinadas expressões da es-trutura em desenvolvimento

Quanto à terceira estratégia, expressões ou formas nominais indefi-nidas, Koch (2002) ressalta que são expressões cuja característica prin-cipal é de introduzir novos referentes no desenvolvimento textual. No entanto, apesar de se tratar de um recurso pouco estudado na literatura sobre referenciação, ele pode ocorrer com função anafórica, quando o referente principal vai sendo construído, primeiro, por um conjunto de descrições indefinidas e somente depois por descrições definidas.

Desse modo, faz-se necessário o aprimoramento dos estudos lin-guísticos da referenciação através de pesquisas de como ensinar a gra-mática da língua materna a partir da perspectiva linguística associada à perspectiva gramatical. Isto porque, o estudo dos pronomes tem um papel fundamental na construção do conhecimento de leitura e da pro-dução textual pelo aluno.

Atividade IILeia a vídeo charge a seguir:

Vídeo charge - Usando os plurais

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Fonte: disponível em: <http://charges.uol.com.br/2011/06/01/cotidiano-usando-os-plural> acessado em: 01/05/2011

a) Considerando que pronomes são palavras que substituem ou acompanham um nome, comente esse processo de substituição a partir dos pronomes encontrado na vídeo charge.

b) Qual o efeito de sentido (humor) produzido pela tira? Os pronomes empregados infl uenciam na confi guração da comicidade (engraçado)?

c) Explique o processo de referenciação a partir dos pronomes encontrados na vídeo charge.

2) Leia o texto abaixo:

PRONOMESAntes de apresentar o Carlinhos para a turma, Carolina pediu:— Me faz um favor ?— O quê ?— Você não vai ficar chateado ?— O que é ?— Não fala tão certo.— Como assim ?— Você fala certo demais. Fica meio esquisito.— Por quê ?— É que a turma repara. Sei lá, parece...— Soberba ?

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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— Olha aí, “soberba”. Se você falar “soberba”, ninguém vai saber o que é. Não fala “soberba”. Nem “todavia”. Nem “outrossim”. E cui-dado com os pronomes.

— Os pronomes? Não posso usá-los corretamente ?— Está vendo ? Usar eles. Usar eles !O Carlinhos ficou tão chateado que, junto com a turma, não falou

nem certo nem errado. Não falou nada.Até comentaram:— Ó, Carol, teu namorado é mudo ?— Ele ia dizer “Não, é que, falando, sentir-me-ia vexado”, mas se

conteve a tempo. Depois, quando estavamsozinhos, a Carolina agradeceu, com aquela voz que ele gostava.— Comigo você pode botar os pronomes onde quiser, Carlinhos.Aquela voz de cobertura de caramelo.L. F. Veríssimo – Zero Hora

Fonte: <http://profekarina.wordpress.com/2011/02/20/pronomes-de-luis-fernando-verissimo-texto-humoristico-sobre-variedade-linguistica/>. Acessado em 20 de maio de 2011.

Os pronomes têm a função de substituir o nome, em um texto, a fi m de se evitar a repetição de uma mesma palavra. (Monteiro, 2002, p. 234). Em gêneros orais, essa substituição se processa da mesma forma que em gêneros textuais escritos? Justifi que a sua resposta a partir da perspectiva gramatical e da perspectiva linguística.

3) Observe o texto abaixo:

Fonte: disponível em: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.fotosdecasamentos.com.br/wp-content/uploads/2011/05/convite-de-casamento- > Acessado em 20 de maio de 2011.

Considerando o convite de casamento acima e a relação dêitica dos pronomes pessoais, explique o emprego do pronome destacado no enunciado “ Finalmente eles decidiram: o casamento vai sair!

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4) Observe uma aula acerca do estudo do pronome relativo:

O que o aluno poderá aprender com esta aula• Reconhecer os pronomes relativos e seus efeitos de sentido; • usar com propriedade os pronome relativos; • resolver exercícios envolvendo esses pronomes;• produzir um texto utilizando corretamente os pronomes relativos.

Duração das atividades3 aulas de 50 minutos

Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno• Reconhecer pronomes relativos;• saber que o texto fica melhor quando se evitam repetições desnecessárias; • demonstrar habilidades básicas de leitura.

Estratégias e recursos da aula• Discussão em grupo;• utilização do Laboratório de Informática.

AULA 1

ATIVIDADE 1 O professor deverá exibir no quadro o poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade ou entregá-lo xerocopiado:

QUADRILHAJoão amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história.Fonte: Reunião. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. p. 191.

1- Após a leitura do texto, o professor deverá explorar oralmente a compreensão do texto. Em seguida, deverá perguntar aos alunos quem reconhece, no texto, al-gum pronome relativo. Se os alunos reconhecerem o que como pronome, perguntar se eles sabem qual a função desse pronome. Na sequência, o professor deverá levar os alunos ao laboratório de informática e pedir que pesquisem sobre outros pronomes relativos – emprego e função. Ainda no laboratório, o professor deverá solicitar aos alunos que registrem a pesquisa em um editor de texto.

(Fonte: disponível em : <http://www.brasilescola.com/gramatica/pronome-relativo.htm> Acessado em 20 de maio de 2011).

Analise a proposta acima a partir da perspectiva linguística da referenciação, evidenciando os aspectos positivos e negativos, tendo como referência a efi ciência quando ao processo ensino/aprendizagem.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadas

Para ler KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 17.ed. São Paulo: Contexto, 2002.

Neste livro, a autora identifica os meca-nismos de coesão constitutivos do texto e examina, a partir deles, as classes de palavras, ressaltando os numerais como articuladores textuais e de sentenças, os conectivos, os processos de ordenação e de retomada do tema, os tempos ver-bais, entre outros fenômenos.

Para navegar http://www.revistalingua.com.br

Site da revista língua portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos publicados na versão impressa da publicação. Gramaticos e linguis-tas discutem diferentes aspectos dos pronomes em que apresentam relevantes considerações sobre o modo como são descritos pela gra-mática normativa e o uso efetivo que deles fazem os falantes.

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Resumo

Pronomes são palavras que exercem função nominal, seja para subs-tituir um substantivo, seja para acompanhá-lo (determinando o seu signi-ficado). Bechara (2009) define o pronome como a classe de palavras ca-tegoremáticas3 que reúne unidades em número limitado, e refere-se a um significado léxico pela situação ou por palavras do contexto. Essa referência é feita a um objeto substantivo considerando-o apenas como pessoa lo-calizada no discurso. As pessoas do discurso (ou pessoas gramaticais) são classificadas em três: a que fala (1ª pessoa, o falante), a com quem se fala (2ª pessoa, o ouvinte) e a pessoa de quem se fala em relação aos partici-pantes do ato comunicativo (3ª pessoa-indeterminada). Quando ocupa o espaço normalmente destinado para substantivos (substituindo-o), o faz indicando a pessoa (se é 1º, 2º ou 3º pessoa), o número (se é singular ou plural) e o gênero (masculino ou feminino) da pessoa do discurso. Quando apenas acompanha o substantivo, o pronome modifica, de alguma forma, a relação da pessoa do discurso com o substantivo que acompanha. A função do pronome pode ser de substantivo ou adjetivo. Quando o pronome substitui um substantivo na frase, denomina-o de pronome substantivo. Quando o pronome acompanha um substantivo, determinando o seu significado, denomina-o de pronome adjetivo. Os pronomes podem ser classificados em seis tipos pesssoais que apontam para algum participante da situação da fala: eu, tu, ele, eles, nós, mim, comigo, você, vossa excelência, etc. Podendo ser retos, oblíquos ou de tratamento; possessivos - indicam a quem pertence algo, transmitem a idéia de posse; demonstrativoa que determinam o sujeito no espaço ou no tempo; relativos se referem a termos já expressos anteriormente, relativando seus significados; interrogativos são usados na construção de perguntas, transmitem a ideia de dúvida; indefinidos preenchem um espaço numa frase deixando imprecisa uma pessoa, uma coisa ou um lugar, que representam. Desse modo, o pronome exerce fundamen-talmente a função de referenciação por meio de palavras fóricas que indicam os participantes da interlocução e da remissão textual.

3 São formas sem substância, isto porque apresentam apenas, ou em primeiro lugar, um signifi cado categorial, sem representar nenhuma matéria extralingüística ( BECHA-RA 2009, p. 112).

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Autovaliação

Como vimos nesta aula, os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso (ou pessoas gramaticais) que são três: - 1ª pessoa (quem fala): eu (singular), nós (plural); - 2ª pessoa (com quem se fala): tu (singular), vós (plural); - 3ª pessoa (de quem se fala ou não-pessoa): ele (a) (singular), eles (as) (plural).Estes desempenham um papel fundamental na produção dos sentidos em nossa língua. Eles podem, também, ser explorados como elemento de referenciação das palavras no gêneros textuais orais e escritos.

Em vista disso, sugerimos que analise a proposta a partir da perspectiva gramatical e linguística do pronome pessoa.

Fonte: CORREA, Maria Helena e LUFT, Pedro Celso. A palavra é sua. São Paulo: Scipione, 2000.dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Referências BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

BENVENISTE, Émile. Problemas de Lingüística Geral II. Tradução de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989.

CÂMARA JÚNIOR, Joaquim M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970.

_______. A classificação dos vocábulos formais. In: A estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1977, p.67-70.

CUNHA. Celso. Gramática do Português Contemporâneo. 8.ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1980.

_______ Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

DIAS, Luiz Francisco. O estudo das classes de palavras: problemas e alternativas de abordagem. In: BEZERRA, Maria Auxiliadora e DIONISIO, Ângela. O livro didático de Português: múltiplos olhares. 3.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

FERNANDES, Elaine, C. P. Você como pronome de segunda pessoa no Brasil: motivações e percursos histórico, literário e gramatical. 2009. Dissertação de Mestrado. PUC - SP, 2009.

INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 6.ed. São Paulo: Scipione, 2001.

LOPES-ROSSI, Maria Aparecida Garcia Lopes Rossi. Pronomes oblíquos o português do Brasil: gramática normativa e variações de uso. Taubaté: Universidade de Taubaté, 2006.

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 14.ed. São Paulo: Contexto, 2001._______. Desvendando os segredos do texto. Cortez, 2002.

_______. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

_______. As tramas do texto. Riod e Janeiro: Lucerna, 2008.

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98 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Variação, mudança e norma. In: Linguística da Norma. BAGNO, Marcos (Org). São Paulo: Loyola, 2002.

MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. Tradução: Mônica Magalhães Cavalcante. In: CAVALCANTE, M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (org.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 17-52. MONTEIRO, José Lemos. Morfologia portuguesa. Campinas: Pontes, 2002.

PERINI, Mário A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola editorial, 2010.

SAID ALI, M. Gramática secundária e gramática histórica da língua portuguesa. 3.ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1964.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 99

Unidade IV

OS PRONOMES PESSOAIS: UM ESTUDO DA ABORDAGEM GRAMATICAL E LINGUÍSTICA

IV UNIDADE

Os pronomes pessoais: um estudo da abordagem

gramatical e linguística

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Apresentação

Nesta unidade, você continuará estudando as classes de palavras, especificamente, os pronomes pessoais, que são considerados uma estratégia de designação referencial, vei-culando vários referentes dentro de uma prática discursiva e são empregados em situações em que predomina a pessoa do discurso determinada.

Conforme, estudamos na unidade anterior os pronomes situam as pessoas do discurso, indicando elementos textuais e situacionais. No texto, atuam como mecanismos coesivos de anáfora (retomada de um referente) e catáfora (antecipa-ção de um referente). Ao apontar para elementos situacio-nais, têm função dêitica e contribuem para a contextualiza-ção das ações.

Nessa perspectiva, os pronomes pessoais são aqueles que indicam uma das três pessoas do discurso: quem fala, com quem se fala e de quem se fala. Sendo dividido em: pronomes pessoais do caso reto que desempenham a fun-ção sintática de sujeito da oração e os pronomes pessoais do caso oblíquos que desempenham a função sintática de complemento verbal (objeto direto ou indireto), complemen-to nominal, agente da passiva, adjunto adverbial, adjunto adnominal ou sujeito acusativo (sujeito de oração reduzida). Os pronomes pessoais do caso oblíquo se subdividem em dois tipos: os átonos, que não são antecedidos por preposi-ção, e os tônicos, precedidos por preposição.

Em vista disso, estudaremos a perspectiva gramatical e a linguística dos pronomes pessoais a partir de gramáticas te-óricas, manuais didáticos e o contexto de uso dos pronomes pessoais pelos interlocutores. Ressalte-se que os pronomes pessoais têm um comportamento gramatical peculiar e pre-

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 101Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 101

cisam ser investigados separadamente, o que faremos nesta unidade.

Dessa forma, é importante que você continue atento e interagindo com o material (lembre-se de que ele foi prepa-rado especialmente para você), buscando as relações ne-cessárias para o atendimento do conteúdo.

Objetivos

Ao final desta unidade, esperamos que você:

• Entenda como se estruturam e se caracterizam os pro-nomes pessoais através de uma visão gramatical e linguística.

• Reconheça os pronomes pessoais a partir da reflexão sobre seu uso.

• Relacione os pronomes pessoais aos seus referentes textuais e extra-textuais.

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Para iniciar nossa conversa...

Sinfonia dos pronomes

Às vezes estou euOutras… com ele ou elas.

Ficamos nós. O tempo passa…Canso-me!Quero o retornar a ficar só.

Como uma estrela solitária sem galáxia.Aprendi a ser só.

Canso dos nósEnfim…outros se cansam de mim....

Ao rever as amizades,A felicidade me invade!

Ele!. Elas!, nós, vós. Eles!Ele e eu…

Encontros, desencontros, reencontros,Até a voltar a ser só.

QUERER SER SÓ!(SAUDO, 2008)1

Leia a tira abaixo:

Considerando a tira acima percebemos que o uso dos pronomes pessoais do caso reto (eu e ele) e do caso oblíquo (te e me) apresentam as pessoas do discurso e desempenham função sintática. Estas pesso-as condicionam o sistema de pronomes abordado em português por Câmara (1970) que define o pronome a partir da função básica de indicar a noção de pessoa. O autor caracteriza para os pronomes eu/nós (primeira pessoa – a que fala) e tu/vós (segunda pessoa- com quem se fala), a função de falantes/ouvintes e a todas as que ficam fora desse eixo de falante/ouvinte caracteriza como a terceira pessoa – de quem se fala: ele/eles/ela/elas.

No primeiro quadrinho, Jon emprega o pronome eu, que corres-ponde à primeira pessoa do discurso, quem fala e desempenha a fun-

1 Fonte: disponível em: < http://www.me-dicinageriatrica.com.br/2008/07/28/po-emas-de-dalva-saudo-sinfonia-dos-prono-mes/ > Acessado em 19 de abril de 2011.

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ção sintática de sujeito. Para referir-se ao gato, com quem se fala, Jon usa a segunda pessoa na forma te.

Garfield, por sua vez, emprega o pronome me ao falar de si mes-mo. Por fim, o gato utiliza a forma pronominal ele, apontando para a terceira pessoa discursiva, ou seja, sobre quem se fala. Nesse momen-to, dirige-se ao leitor.

Faz-se necessário esclarecermos que a terceira pessoa não se refere a um dos protagonistas do discurso, pois que não é falante /ouvinte, não participa do ato comunicativo. Benveniste ([1960] 1996, p. 227), ao discutir a natureza dos pronomes contesta a noção de “pessoa”, pois essa noção só é possível para eu/tu e não para ele. A terceira pessoa representa o membro não marcado na correlação de pessoa e dessa forma torna-se uma “não-pessoa”. A terceira pessoa está in-serida no conteúdo da fala e não do ato discursivo como no caso do terceiro quadrinho em que o pronome ele remete ao leitor.

Desse modo, os pronomes pessoais variam na forma que assumem, dependendo da função sintática que exercem na oração e da acentua-ção que apresentam no desempenho de tal função.

Pronomes pessoais: uma discussão gramatical

Pronomes

Tu realidadeEu absurdo,Eu falanteTu mudo,Eu inspiraçãoTu estudo,Eu nadaTu tudo,Eu sensatezTu absurdo,Tu fluidezEu canudo,Tu lançaEu escudoEu reentrânciaTu pontudo,Eu lutaTu sortudo,Eu nunca!

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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104 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Tu, contudo...E “nós”?Apenas humanos nósda corda que liga tudo...( a linguagem )

(ANA LYRA)http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=131749

Os pronomes pessoais da língua portuguesa no Brasil têm sofrido alterações funcionais sinalizadas pelas pesquisas sobre o uso do por-tuguês brasileiro no contexto histórico. É o que indica Câmara Júnior (2005) ao afirmar que na língua coloquial do Brasil, diferentemente da língua escrita, o uso dos pronomes pessoais de 3ª pessoa em função acusativa está obsoleta.

Isto porque, a origem das formas da 3ª pessoa que se prendem ao demonstrativo latino ille (aquele). Ele e ela originam-se do nominativo ĭlle e ĭlla (aquele, aquela). O(s) e a(s) provêm do acusativo latino ĭlle e suas formas ĭllum, ĭllam, ĭllos e ĭllas – aquele, aquela, aqueles e aque-las (CÂMARA JÚNIOR, 1970). Os demonstrativos exercem, em latim, todas as funções sintáticas.

Nessa perspectiva, o sistema de pronomes abordado em português por Câmara (1970) se define a partir da função básica de indicar a no-ção de pessoa. O autor caracteriza para os pronomes eu/nós (primeira pessoa) e tu/vós segunda pessoa), a função de falantes/ouvintes e a todas as que ficam fora desse eixo de falante/ouvinte caracteriza como a terceira pessoa: ele/eles/ela/elas. Segundo essa definição que o prono-me de terceira pessoa não se refere a um dos protagonistas do discurso, pois que não é falante /ouvinte, não participa do ato comunicativo.

Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso (ou pessoas gramaticais) que são três:

• 1ª pessoa (quem fala): eu (singular), nós (plural);

• 2ª pessoa (com quem se fala): tu (singular), vós (plural);

• 3ª pessoa (de quem se fala ou não-pessoa): ele (a) (singular), eles (as) (plural).

Essa definição é oriunda da perspectiva apontada por Oliveira (2000 [1936], p. 103) ao afirmar que os pronomes pessoais são vo-cábulos que assumem declinações casuais (eu-me, mi; tu-te, ti; ele/ela – se,si) em substituição ao nome na língua portuguesa.

Como nos exemplos de Said Ali (1964, p.61): “Eu passeio; nós lemos; tu trabalhas; vós escreveis; ele ou ela dorme; eles ou elas des-cansam”. Os pronomes pessoais sujeitos do singular e do plural podem não ser explicitados em uma frase, porque o sujeito é identificado pela desinência verbal. Outra construção linguística é chamada de elipse, como nos exemplos de Said Ali (1964, p. 218): “Assistiremos hoje ao espetáculo; Escreveste-me que não chegarias este mês; fui às corridas

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e notei tua falta.”

Nesse sentido, Bechara (2009, p. 164) afirma que os pronomes pessoais designam as duas pessoas do discurso e a não pessoa (não eu, não tu), consideradas, pela tradição, a 3ª pessoa. As formas re-tas funcionam como sujeito e os pronomes oblíquos funcionam como complemento e podem apresentar-se em forma átona ou tônica. Ao contrário das formas átonas, as tônicas são sempre acentuadas.

Em contrapartida, inicialmente, Perini (1985 apud Travaglia, 2003, p. 93) classificou os pronomes pessoais do caso reto de acordo com o seu comportamento sintático, sendo denominado de substantivo 2 conjuntamente com os pronomes demonstrativos. Essa assertiva foi re-formulada pelo autor ao asseverar que os pronomes pessoais são os itens eu, você, tu, ele (ela), nós, vocês, eles (elas), além do se. Algumas dessas palavras têm formas oblíquas, isto é, formas usadas quando o item está em determinada função sintática.

Assim, dizemos eu cheguei, mas a Eliana me chamou; as formas eu e me são consideradas variantes do mesmo pronome; eu se denomina forma reta e me forma oblíqua. (PERINI, 2010, p. 115). Ratificado com o emprego do eu e ele nos posicionamentos da charge interativa a seguir:

( 1)

Ressaltemos a abordagem apresentada por Lopes (2007, p. 107), ao afirmar que os pronomes pessoais, ao contrário dos nomes, não po-dem ser antecedidos por determinantes e funcionam, em geral, como núcleos isolados no sintagma nominal. Como nos exemplos: “A menina falou”, mas “a ela falou” ou “o eu falei” seriam agramaticais.

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106 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Nessa perspectiva, os pronomes pessoais admitem um determinante posposto, que se restringe a adjetivos (mesmo e próprio) e numerais: “ Eu mesma fiz isso, nós mesmos fizemos tal coisa, nós três fomos ao cine-ma”. Outro ponto relevante é a diferença estabelecida entre as formas de primeira pessoa e segunda pessoa no singular e no plural. Lopes (2007) evidencia a restrição quanto aos determinantes nas formas de singular (eu,tu/você) é bem maior que as formas plurais. Nessas últimas, é possí-vel a determinação com numerais (nós três, vocês quatros) e com lexias2 do tipo três de nós. Com formas no singular, só é possível a modificação pelos adjetivos mesmo e própria (eu mesma, eu própria).

Um ponto controverso pela teoria gramatical a respeito dos prono-mes pessoais refere-se a terceira pessoa considerada não falante /ou-vinte, por não participa do ato comunicativo. Benveniste ([1960] 1996) considera a terceira pessoa representante de um membro não marcado na correlação de pessoa e dessa forma torna-se uma “não-pessoa”. Em vista disso, a terceira pessoa está inserida no conteúdo da fala e não do ato discursivo, embora seja empregada em contextos de língua formal e jornalísticos, conforme exemplo abaixo:

( 2)

Fontes: http://www.messa.com.br/eric/ecode/uploaded_images/capa380-775694-796625.jpg

2 Lexias são conjuntos de palavras que pela frequência e pelo uso, tendem a ser utiliza-das em bloco pelo falante. (DUBOIS ET AL. 2006, p. 361)

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 107

As pessoas gramaticais indicadas pelos pronomes sujeitos classi-ficam-se como formas retas do pronome pessoal e, quanto à função, exercem o papel de sujeito ou de predicativo do sujeito, como no exemplo: Eu não sou ele (BECHARA, 2009, p.173). Para cada forma reta, corresponde uma forma oblíqua que funciona como complemento ou objeto (direto ou indireto). Na forma oblíqua, há também a distinção quanto à acentuação que classifica os pronomes pessoais em formas tônicas ou átonas. As formas tônicas, ao contrário das átonas, estão atreladas ao uso de preposição.

• Pronome oblíquo de 1ª pessoa átono:

Um dia ele me surpreendeu lendo um livro.

• Pronome oblíquo de 1ª pessoa tônico:

Frederico Paciência ainda riu para mim, não pude rir.Fonte: Infante (2001, p.199).

Diante do exposto, percebemos que não há divergências significa-tivas quanto ao elenco dos pronomes pessoais sujeitos e os pronomes oblíquos no que concerne a sua forma de apresentação. Os gramáticos caracterizam os pronomes pessoais como indicadores universais das três pessoas do discurso: quem fala, com quem se fala/ que se fala, admitindo formas no singular com correspondente no plural. Em síntese o quadro é o seguinte:

Quadro 1 – Formas dos pronomes pessoais em língua portuguesa

Fonte: ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Pronomes. In: Gramática: análise e construção do sentido. São Paulo: Moderna, 2006, p. 235).

Resgatando o quadro acima, a função direta é desempenhada pelo pronome de terceira pessoa nas formas dos oblíquos o, a, os, as, como nos exemplos de próclises (quando o pronome átono está em posição anteposta ao verbo), conforme os exemplos apresentados por

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108 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Cunha e Cintra (1985, p.270):

( 3)

Não o ver para mim é um suplício.Nunca a encontraremos em casa.João ainda não fez anos; ele os faz hoje.Eles as trouxeram comigo.

Os pronomes átonos são chamados de clíticos por não possuírem autonomia fonética e sempre se unirem ao verbo para adquiri-la. Se-gundo Said Ali (1964, p.204), as formas pronominais átonas se encos-tam ao verbo, “sendo pronunciadas como se com o verbo constituíssem um vocábulo só”. Assim, as formas são postas depois do verbo (enclí-ticas) e dependem da terminação do mesmo verbo. Logo: - se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, se empregam o, a, os, as: louvou-as, louvei-os, louvava-a, louvou-as (CUNHA, 1985, p. 270); quando associados a verbos terminados em –r, -s ou –z, os pronomes o, a, os, as assumem as formas lo, la, los, las: mandaram prendê-lo; aju-demo-la; fê-los entrar (CEGALLA, 2005, p.151); quando associados a verbos terminados em ditongo nasal (-am, -em, -ão, -õe), os pronomes o, a, os, as tomam as formas no, na, nos, nas: trazem-no; ajudavam--na; dão-nos de graça; põe-no aqui (CEGALLA, 2005, p.151).

A função indireta é exercida pelos pronomes oblíquos de terceira pes-soa nas formas dos clíticos lhe e lhes que levam a marca de número, mas não a de gênero do referente. De acordo com Macambira (1997, p.139), a função indireta de lhe e lhes é corretamente empregada quando podem ser substituídos por substantivos masculinos precedidos de ao ou aos:

( 4 )

Isto lhe pertence = isto pertence ao professor.

Dou-lhes um conselho = dou um conselho aos professores.

Em vista disso, os pronomes oblíquos átonos e tônicos podem ser empregados com função direta ou indireta e segundo Perini (2010, p. 115) são considerados um bicho-papão tradicional da gramática do português. No entanto, seu posicionamento na oração é bastante simples. Conforme verificado no emprego do pronome oblíquo mim na tira a seguir:

(5 )

(Fonte: disponível em: < http://tiras-snoopy.blogspot.com/2006_09_01_archive.html> Acessado em 19 de abril de 2009).

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 109

A função direta ocorre quando substituídos por um substantivo mas-culino precedido de o ou os; a função indireta quando substituídos por substantivo masculino precedido de ao ou aos conforme quadro ilustrativo abaixo:

Quadro 2

OBJETO DIRETO OBJETO INDIRETO

Ele me viu= ele viu o professor. Ela me ofereceu a casa= ela ofereceu a casa ao vizinho.

Eu te admiro= eu admiro o colega. Eu te prometo um prêmio= eu prometo um prêmio ao aluno.

Ele nos espera= ele espera os amigos. Você nos pertence= você pertence ao povo.

Ela vos odeia= ela odeia o senhor ou os senhores. O caso vos interessa= o caso interessa ao senhor.

Você se corta= você corta o menino. Ele se atribuiu qualidades excepcionais= ele atribuiu qualidades excepcionais ao colega.

Vocês se ferem= vocês ferem os meninos.

Fonte: Macambira (1997, p.141).

Quanto às formas não-reflexivas me, te, lhe podem unir-se ao pro-nome átono o e representar ambas as funções sintáticas: a de objetiva-da direta e a de objetivada indireta. Como no exemplo:

( 6 )

O gerente do Banco era seu amigo: se Robertoni fosse candidato à compra da fazenda, ele lho teria dito!Fonte: Neves (2000, p. 466).

Normalmente, com exceção de o, a, os, as, lhe, lhes, os pronomes oblíquos podem ser reflexivos. Os Oblíquos reflexivos representam a mesma pessoa ou a mesma coisa que o sujeito do verbo. Como nos exemplos:

( 7)

Alexandre só pensa em si.O operário feriu-se ao subir no muro.Tu não te enxergas?Eu me machuquei na escada.Nós nos perfilamos corretamente.A mãe trouxe as crianças consigo.Fonte: Cegalla (2005, p.151)

Jordão (2007) assevera que se percebe o uso das formas ele(s) e ela(s) em função objetiva é reflexo de uma reformulação do sistema pronominal no Brasil; essas formas tornaram-se semelhantes aos no-mes e aos demonstrativos do ponto de vista sintático e mantiveram-se invariáveis independentemente da função sintática. Além dessas mu-danças, Câmara Júnior. (2004) ressalta que como resultado da equi-valência entre tu e você, você tem como forma complementar átona: te. Monteiro (2002) reforça que vós e as suas formas correspondentes praticamente desapareceram da língua portuguesa do Brasil.

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110 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Nesse sentido, infere-se que o uso cotidiano dos pronomes pessoais não segue as características normativas da língua portuguesa (CASTI-LHO, 1996, p. 9). Isto porque, você (pronome de tratamento) substitui o tu, e que esse último sobrevive na região de Porto Alegre com ocor-rências do tu não só como 2ª pessoa, mas também como 3ª pessoa do verbo.

Por fim, seguem quadros explicativos das funções sintáticas dos pro-nomes pessoais:

Quadro

PRONOMES PESSOAIS FUNÇÃO SINTÁTICA

PRONOMES PESSOAIS DO CASO RETO SUJEITO: Eu queria que ele fosse embora.

PREDICATIVO DO SUJEITO: O ator será ele.

VOCATIVOS (somente os pronomes tu e vós): Ó vós, que sois a minha esperança de salvação!

Quadro

(Fonte: disponível em:< http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10811> Acessado em 19 de abril de 2011).

O emprego dos pronomes pessoais

Considerando a convergência das normas de emprego dos prono-mes pessoais, baseamo-nos em Bechara (2009), os manuais didáticos do ensino fundamental e médio e de sites da internet (http://www.algoso-bre.com.br/portugues/pronomes-pessoais.html), apresentamos a seguir:

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 111

Usos dos Pronomes Pessoais

Eu, tu / Mim, ti

Eu e tu exercem a função sintática de sujeito. Mim e ti exercem a função sintática de complemento verbal ou nominal, agente da passiva ou adjunto adverbial e sempre são precedidos de preposição.

Ex.

• Trouxeram aquela encomenda para mim.

• Era para eu conversar com o diretor, mas não houve condi-ções.

Agora, observe a oração Sei que não será fácil para mim conseguir o empréstimo. O pronome mim NÃO é sujeito do verbo conseguir, como à primeira vista possa parecer. Analisando mais detalhadamente, teremos o seguinte:

O sujeito do verbo ser é a oração conseguir o empréstimo, pois que não será fácil? resposta: conseguir o empréstimo, portanto há uma oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo, que é a oração que funciona como sujeito, tendo o verbo no infinitivo.

Notas:

É inadequado usar pronomes eu e tu relacionados às preposições, empregam-se as formas átonas que correspondem a eles.

Exemplo: Esse doce é para mim ou para ti?

Obs.: existem casos em que as preposições não se relacionam com os pronomes, mas com o verbo da oração, então usa-se o pronome pessoal reto: “Entre ti e ela só existe amizade?”

Quando se encontram pronomes pessoal de 1ª e de 2ª pessoas numa mesma frase (ou de 2ª e de terceira), a prioridade é o pronome de 1ª pessoa (ou de 2ª, no caso em parênteses).

Exemplo: Entre mim e ela só existe amizade.

Se, si, consigo

Se, si, consigo são pronomes reflexivos ou recíprocos, portanto só poderão ser usados na voz reflexiva ou na voz reflexiva recíproca.

Ex.

• Quem não se cuida, acaba ficando doente.

• Quem só pensa em si, acaba ficando sozinho.

• Gilberto trouxe consigo os três irmãos.

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112 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Com nós, com vós / Conosco, convosco

Usa-se com nós ou com vós, quando, à frente, surgir qualquer pa-lavra que indique quem “somos nós” ou quem “sois vós”.

Ex.

• Ele conversou com nós todos a respeito de seus problemas.

• Ele disse que sairia com nós dois.

Dele, do + subst. / De ele, de o + subst.

Quando os pronomes pessoais ele(s), ela(s), ou qualquer substan-tivo, funcionarem como sujeito, não devem ser aglutinados com a pre-posição de.

Ex.

• É chegada a hora de ele assumir a responsabilidade.

• No momento de o orador discursar, faltou-lhe a palavra.

Pronomes Oblíquos Átonos

Os pronomes oblíquos átonos são me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os as, lhes. Eles podem exercer diversas funções sintáticas nas orações. São elas:

A) Objeto Direto Os pronomes que funcionam como objeto direto são me, te, se, o,

a, nos, vos, os, as.

Ex.

• Quando encontrar seu material, traga-o até mim.

• Respeite-me, garoto.

• Levar-te-ei a São Paulo amanhã.

Notas:

01) Se o verbo for terminado em M, ÃO ou ÕE, os pronomes o, a, os, as se transformarão em no, na, nos, nas.

Ex.

• Quando encontrarem o material, tragam-no até mim.

• Os sapatos, põe-nos fora, para aliviar a dor.

02) Se o verbo terminar em R, S ou Z, essas terminações serão retira-

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 113

das, e os pronomes o, a, os, as mudarão para lo, la, los, las.

Ex.

• Quando encontrarem as apostilas, deverão trazê-las até mim.

• As apostilas, tu perde-las toda semana. (Pronuncia-se pérde-las)

• As garotas ingênuas, o conquistador sedu-las com facilidade.

03) Independentemente da predicação verbal, se o verbo terminar em mos, seguido de nos ou de vos, retira-se a terminação -s.

Ex.

• Encontramo-nos ontem à noite.

• Recolhemo-nos cedo todos os dias.

04) Se o verbo for transitivo indireto terminado em s, seguido de lhe, lhes, não se retira a terminação s.

Ex.

• Obedecemos-lhe cegamente.

• Tu obedeces-lhe?

B) Objeto Indireto

Os pronomes que funcionam como objeto indireto são me, te, se, lhe, nos, vos, lhes.

Ex.

• Traga-me as apostilas, quando as encontrar.

• Obedecemos-lhe cegamente.

C) Adjunto adnominal Os pronomes que funcionam como adjunto adnominal são me, te,

lhe, nos, vos, lhes, quando indicarem posse (algo de alguém).

Ex.

• Quando Clodoaldo morreu, Soraia recebeu-lhe a herança. (a herança dele)

• Roubaram-me os documentos. (os documentos de alguém - meus)

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114 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

D) Complemento nominal

Os pronomes que funcionam como complemento nominal são me, te, lhe, nos, vos, lhes, quando complementarem o sentido de adjetivos, advérbios ou substantivos abstratos. (algo a alguém, não provindo a preposição a de um verbo).

Ex.

• Tenha-me respeito. (respeito a alguém)

• É-me difícil suportar tanta dor. (difícil a alguém)

E) Sujeito acusativo

Os pronomes que funcionam como sujeito acusativo são me, te, se, o, a, nos, vos, os, as, quando estiverem em um período composto formado pelos verbos fazer, mandar, ver, deixar, sentir ou ouvir, e um verbo no infinitivo ou no gerúndio.

Ex.

• Deixei-a entrar atrasada.

• Mandaram-me conversar com o diretor.

O traço de número: uma análise da perpesctiva gramatical e linguística do a gente e do você(s)

Considerando as repercussões dos pronomes você e a gente no con-texto gramatical e lingüístico, percebemos que o pronome você, a priori, foi denominado de expressão nominal de tratamento (vossa mercê) que levava o verbo para a terceira pessoa do singular. A forma você manteve algumas propriedades mórficas que acarretam o rearranjo no sistema, uma vez que persiste a especificação original de 3ª pessoa, embora a interpretação semântico- discursiva passe a ser de 2ª pessoa.

Em relação ao pronome a gente as gramáticas e manuais didáticos raramente explicam os fenômenos consagrados da linguagem coloquial, não apresentam uma posição coerente e única. A classificação é, em geral controvertida, pois ora consideram a gente como fórmula de repre-

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 115

sentação da 1 ª pessoa, forma de tratamento, pronome indefinido ou, ainda recurso para indeterminar o sujeito. A forma você também sofre essa variada classificação como forma de tratamento de 3ª pessoa, uma estratégia de 2 ª pessoa ou pronome de tratamento de 2 ª pessoa.

Cumpre ressaltar que alguns autores de manuais escolares e livros didáticos até usam a expressão “novos pronomes” para o uso do a gente e do você (s). Estes são apontados em exercícios e textos, embora não sejam discutidos no novo paradigma pronominal em virtude dos gramáticos não saberem lidar com os fatos da língua (MENON, 1996).

Nesse sentido, Junkes (2008) afirma que isto se revela quando au-tores de gramáticas vão apresentar o pronome “você”, ora o definem como forma de tratamento, ora como pronome de tratamento e o mes-mo ocorre com o pronome o(a) senhor(a). Com relação ao pronome A GENTE, a definição é mais distante ainda da sua real função, muitos continuam enfocando esse pronome como a locução composta de arti-go e de substantivo feminino de gente. Analisemos o exemplo a seguir:

(8)

Na tira, o primeiro pássaro usa a forma a gente para identificar uma referência de 1 ª pessoa do plural (ele e o outro que conversam no galho). Na fala, principalmente em contextos mais descontraídos, é frequente usarmos a expressão a gente em lugar do pronome de 1ª pessoa do plural correspondente (nós).

Além de fazer referencia precisa à 1ª pessoa do plural (eu + al-guém), o pronome nós também pode ser utilizado para promover a generalização do discurso. Isso ocorre em virtude dos textos de caráter mais impessoal (geralmente com forte conteúdo analítico, expositivo e/ou argumentativo), é importante dar ao leitor a impressão de que a “voz” que fala no texto não representa uma perspectiva pessoal, mas sim apresenta a visão do bom senso, da razão, da objetividade.

Quando é usado com essa finalidade, o pronome nós passa a fazer referência a um conjunto mais amplo de pessoas (os cidadãos de um país ou a humanidade de modo geral). Exemplo: Nós vivemos em um país que apresenta uma grande desigualdade social. (Nesse caso, o nós se refere a todos os brasileiros).

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116 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Monteiro (1994) afirma que o sistema dos pronomes pessoais está sofrendo uma reestruturação, que pode ser confirmada com a substi-tuição do pronome vós por você(s). O pronome você não só ocupa a lacuna deixada por vós, mas ameaça a existência do pronome tu, salvo no estado do Rio Grande do Sul e poucos estados do país como, Santa Catarina, em especial na região litorânea, onde se tem preferência pelo uso do pronome tu. Da mesma forma, também outras substituições lu-tam por se impor como é o caso do emprego de a gente em vez de nós e do uso de se em situações de pronome pessoal sujeito indefinido.

No que concerne às discussões sobre o novo paradigma pronomi-nal Freitas (1997), como podemos observar no quadro abaixo:

Quadro 2 – Novo paradigma pronominal

Pessoa/Número Pronome

1ª p singular EU/A GENTE

1ªp plural NÓS/ A GENTE

2ªp singular TU/VOCÊ/ O (A) SENHOR (A)

2ªp plural VOCÊS/ OS (AS) SENHORES (AS)

3ªp singular ELE (A)

3ªp plural ELES (AS)

( FREITAS, 1997, p. 18)

O quadro acima evidencia os pronomes pessoais sujeito reconheci-dos na comunidade linguística como sendo o do novo paradigma dos pronomes pessoais, na função de sujeito, que está competindo com o quadro apresentado pela GT.

Sabemos que a GT apresenta, em seu capítulo intitulado morfo-logia, as classes de palavras que supostamente existem na língua e, dentre elas, apresenta a classe de palavras denominada: pronomes. Dentro dessa classe são discutidas, em geral, apenas as definições e a função de cada tipo de pronome.

Os pronomes pessoais na função de sujeito são alvo de polêmica na academia por apresentarem variação. Sabemos também que as for-mas nós e a gente estão em variação e são de uso comum na fala dos brasileiros. Conforme ilustrado no twitter de Rafael Bastos, repórter do CQC, programa humorístico, da emissora de TV Bandeirantes:

(9)

@rafi nhabastos

Será que as novelas que tem a temática “Brasil”, na índia, mostram a gente sambando 90% do tempo?

(Fonte: disponível em: <http://www.assimcomovoce.com/2009/06/15-otimas-frases-no-twitter.html>

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 117

Acessado em 19 de abril de 2011).

Alguns autores de gramática apresentam esses fenômenos já con-sagrados na língua falada, em pequenas notas, mas inserem apenas a forma antiga nós no sistema de pronomes pessoais, sem discutir o seu uso, ou a variação dessa forma com o a gente.

Ao focalizarmos a primeira pessoa do discurso, tanto do singular quanto do plural, observamos que as variantes NÓS e A GENTE que ocorrem nos enunciados orais e escritos denotam, na posição de su-jeito, vários referentes. Junkes (2008) aponta que “as variantes nós, a gente, -mos e zero, (..) podem veicular, na posição de sujeito, os refe-rentes: eu, eu+ tu, eu + tu + ele(s), eu + eles, referenciais genéricos e opacos”. A autora considerou esses pronomes como uma estratégia de designação referencial que veicula vários referentes dentro de uma prática discursiva e seu estudo revelou que esses pronomes são empre-gados em situações em que predomina a pessoa do discurso determi-nada, como em eu, eu + tu, eu + ele/s.

A pesquisa da autora supracitada foi realizada com base em corpus de dados de fala, a hipótese aqui levantada é a de que em dados da língua escrita também encontraremos os pronomes NÓS e A GENTE, veiculando vários referentes, mas o A GENTE vai ser mais encontrado se referindo à pessoa do discurso cujo sujeito é indeterminado.

Em vista disso, Lopes (2007, p. 108) ressalta que a forma pronominal a gente teria mantido o traço formal de 3 ª pessoa porque continuou a combinar com verbos na terceira pessoa, mas a interpretação semântico--discursiva se alterou para [EU] uma vez que passou a incluir o falante.

Quanto ao uso do você no contexto gramatical, Neves (2000) inova perante as outras gramáticas por descrever o uso do Português uma vez que o pronome você aparece classificado como pronome pessoal de segunda pessoa, em um quadro, exatamente ao lado do tu. Entretanto, o apego ao tradicionalismo, embora admita que o pronome você é aquele que representa predominantemente a segunda pessoa do discurso no Brasil, não permite que se reconheça que a forma verbal de segunda pessoa é também aquela que acompanha o pronome

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118 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

você e, inclusive, o pronome tu, do modo com vem sendo empregado hoje por grande parte dos brasileiros.

Outro gramático que evidencia o pronome você é Bechara (2009) ao afirmar existirem ainda formas substantivas de tratamento indireto de 2ª pessoa que levam o verbo para a terceira pessoa. São as cha-madas formas substantivas de tratamento ou formas pronominais de tratamento: você, vocês (no tratamento familiar) o Senhor, a Senhora (no tratamento cerimonioso).

Para Rocha Lima (2003), no entanto, os pronomes são sempre de segunda pessoa, mas podem exigir verbo na terceira:

Há alguns pronomes de segunda pessoa que re-querem para o verbo a terminação da terceira. Tais são: você, vocês (tratamento familiar) o Senhor, a senhora (tratamento cerimonioso).

Essa explicação prevalece também por Cunha e Cintra (1985) uma vez que o pronome você, nessa gramática é classificado como pronome de tratamento, assim como o senhor, Vossa Excelência, Vossa Senhoria, apesar de se admitir logo depois que “ em quase todo o território brasi-leiro, foi ele [o tu] substituído por você como forma de intimidade.

Nesse sentido, podemos constatar acerca das perspectivas grama-ticais do pronome pessoal de segunda pessoa expostas é que não se consegue desvencilhar facilmente do modelo das gramáticas portugue-sas. Isto porque, as tentativas de descrição da língua são arbitrárias, pois se deixa de perceber o que parece mais óbvio: no Brasil, o lugar do pronome de segunda pessoa não é exclusivo do tu: é também ocu-pado pelo você.

Desse modo, o intuito dessas gramáticas não é o de prescrever o melhor uso, no que diz respeito ao emprego do pronome representan-te da segunda pessoa do discurso, seu caráter conservador não lhe permite sequer uma descrição efetiva do fenômeno linguístico: o que prepondera quanto ao pronome pessoal nos compêndios gramaticais não é nem a descrição, nem a prescrição, mas a tradição.

No entanto, prevalece a hegemonia do pronome você no Brasil, nos usos cotidianos que os falantes fazem da língua portuguesa, atual-mente, devido ao tamanho do território nacional e à diversidade de sua gente, há como constatar sua preponderância, expressa e difundida pelos modernos processos midiáticos e publicitários, conforme ilustrado nos exemplos a seguir:

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 119

(10)

Santander e Você

Apresentação

Fonte: disponível em: http://clubedapropaganda.net/banco-real-santander-juntos/ Acessado em 19 de abril de 2011).

Podemos considerar que a escolha desse pronome revela a per-cepção de que seu emprego ultrapassa os limites regionais e sociais, revelada na canção a seguir:

(11)

Fonte: disponível em: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/129853/ Acessado em 19 de abril de 2011

Dessa forma, constata-se que o esforço uniformizador das gra-máticas não aufere resultado algum, pois se trata de uso linguístico frequente, sensível e afeito a toda sorte de motivações sociais, pessoais, psicológicas. Trata-se de parte da língua que definitivamente

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120 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

não se rende a decretos legais - como as pragmáticas de antigamente, tampouco a “decretos” gramaticais.

Atividade I1) Leia o perfi l de uma comunidade do orkut:

a) Selecione os pronomes presentes neste texto e identifi que os referentes dos pronomes.

b) O conceito de pronome pessoal apresentado Bechara (2009, p. 164) afi rma que os pronomes pessoais designam as duas pessoas do discurso e a não pessoa (não eu, não tu), consideradas, pela tradição, a 3ª pessoa. As formas retas funcionam como sujeito, explique o uso dos pronomes pessoais do caso reto neste perfi l.

2) Considerando a discussão acerca do uso do a gente apresentado no tópico 2 e a proposta dos pronomes pessoais do manual didático de Abaurre (2008), podemos afi rmar que a autora utilizou a abordagem gramatical e/ ou linguística? Justifi que a sua resposta.

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(Fonte: ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008).

3) Leia a proposta a seguir:

a) Responda as questões postadas na proposta acima. Em seguida, analise a proposta, evidenciando o seu caráter positivo e negativo desta, tendo como referência a efi ciência quando ao ensino/ aprendizagem do pronome.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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b) A proposta de ensino do pronome contempla os três critérios de classifi cação do conceito de pronome proposto por Pinilla (2007, p.197)? Fundamente a sua resposta.

4) Os gêneros midiáticos e publicitários são amplamente divulgados entre os interlocutores e os pronomes pessoais apresentam uma infl uência nesse processo de interação. A partir dos gêneros textuais abaixo (capa de revista e anúncio publicitário), comente os efeitos de sentido ocasionados pelo emprego dos pronomes eles e você.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/130705/imagens/capa380.jpg

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Visão linguística acerca dos pronomes pessoais e o processo de ensino aprendizagem de referenciação em língua portuguesa

Lopes (2007, p. 106) afirma que o quadro dos pronomes pessoais, que ainda vigora nas gramáticas, estruturado a partir de três pessoas do discurso (eu/tu/ele) com variação de número (nós/vós/eles) está longe de ter uma coerência interna e dar conta da realidade concreta do português do Brasil.

Nesse sentido, Biderman (2001, p. 270) afirma que há duas cate-gorias de pronomes: a) os pessoais e b) os demonstrativos, os prono-mes pessoais referem os locutores de uma situação, ou apontam os elementos da realidade, ou do discurso que eles substituem. O típico dessa classe de pronomes é que eles são substitutivos essenciais dos sujeitos e das coisas. No contexto do diálogo em que os pronomes pessoais são instrumentos gramaticais, estabelece-se uma alternância entre os interlocutores, no emprego da primeira pessoa.

Em vista disso, faz-se necessário construir a ponte entre referencia-ção e ensino, relacionando a referenciação às atividades de compreen-são de texto, ou seja, lidam com aplicações da proposta às atividades de leitura. Travaglia (2003) ressalta a importância do uso dos prono-mes pessoais para os alunos a fim de que percebam que nem mesmo as normas sociais para o uso da língua (gramática normativa) são uma lei imutável, já que a língua é essencialmente dinâmica e está mudando constantemente por razões diversas, inclusive para atender novas e /ou maiores necessidades comunicacionais da sociedade e cultura a que a língua serve. Ilustrado pelo exemplo a seguir:

(12)

ALTA COSTURA

Carla Lamarca, 1,80 m, está de volta à televisão. Ela está afastada das telas há dois anos, quando deixou a MTV para trabalhar em uma gravadora de rock in-dependente em Paris e estudar marketing musical em Londres...

Fonte: KOCH, Ingedore & ELIAS, Vanda. Escrita e progressão referencial. In: Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009, p. 131 - 189.

Na produção do texto, percebemos que o referente inicialmente introduzido Carla Lamarca é retomado e mantido em evidencia por meio do pronome ela. Esse processo diz respeito às diversas formas de introdução, no texto, de novas entidades ou referentes, nomeado de re-ferenciação, estudado na unidade anterior. Quando tais referentes são

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retomados ou servem de base para a introdução de novos referentes, tem-se o que se denomina de progressão textual que segundo Koch e Elias (2009) A progressão referencial se processa com base numa complexa relação entre linguagem mundo e pensamento. Esta relação se estabelece no discurso. Assim, os referentes não são tomados como entidades estáveis, mas como objetos de discurso.

A título de ilustração da questão apontada, trazemos o exemplo a seguir, apresentado e analisado por Koch e Marcuschi (1998) em que uma locutora, indagada sobre que frutas mais gosta, respondeu do seguinte modo:

(13)

(Fonte: KOCH , Ingedore e MARCUSCHI, Luiz Antonio. Processos de referenciação na produção discursiva. In: Delta, 1998. Disponível: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000300012> Acessado em 19 de abril de 2011).

Considerando os enunciados nominalmente os referentes do pro-nome “eles”, os autores acima afirmam que nós sabemos quem são os indivíduos referenciados por “eles”, ou pelo menos agimos como tal, apesar da variação de referentes. Veja-se que há uma enorme variação inclusive para os referentes de “nós” e “a gente”, sem que se explicite

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ou que haja algum tipo de referente na superfície textual.

Não se trata propriamente de uma relação anafórica nem de corre-ferencialidade, mas de objetos-de-discurso que são gerados pela parti-cular forma de organizar o tópico em cada momento do discurso.

Por outro lado, podemos observar que as diversas vezes em que cer-tos itens lexicais entram, tal como o caso de “banana”, trata-se sempre de algo diferente e não da mesma banana referencialmente. A rigor, não se trata de banana alguma e sim de um referencial discursivo para falar a respeito de uma classe ou de um objeto ou de uma entidade em contexto sempre diverso. Veja-se também que o mesmo indivíduo é tratado por vezes como o mesmo e como diferente.

Em vista disso, o “nós” nem sempre inclui o “eu” e também não envolve conjuntos definidos. Na realidade, o que se observa é uma atividade de designação referencial em que não há a necessidade de postular a existência de fenômenos e fatos, mas os fatos e os fenôme-nos são como que necessidades (realidades) discursivas.

O pronome eles não tem nenhum elemento referencial anteceden-te cotextualmente explícito. No entanto, não deixamos de entender de quem se trata. Essa estratégia de referenciação é bastante comum na fala e rara na escrita. Trata-se de um traço característico da fala e de gêneros escritos que têm uma proximidade com a fala.

A partir dessa ilustração alguns questionamentos emergem da re-lação entre referenciação e ensino da produção escrita dada as ocor-rências inesperadas em gêneros textuais orais e escritos. Ferreira (2008) demonstra questionamentos acerca de como o professor- leitor pode agir um diante de ocorrências referenciais “atípicas” ou “inesperadas”. A fim de encontrarmos respostas para essas questões, vejamos algumas ocorrências3 explicitadas pela pesquisadora de expressões referenciais possíveis de serem consideradas inadequadas, e qual o tratamento que se dá a elas.

(14) O dinheiro traz desenvolvimento para a nação. Felicidade para milhares de famílias, porque eles não precisariam viver tão sa-crificados.

(15 ) Eu vejo essas reservas de vagas nas universidades para os estu-dantes de escola estadual, como mais uma esmola disfarçada de interesse pelos menos favorecidos.

Em (14), temos que o pronome anafórico “eles” não se apresenta no mesmo gênero que o seu antecedente – “(as) milhares de famílias”. Logo, há uma disjunção flexional entre o anafórico e o antecedente, o que pode caracterizar uma inadequação. Todavia, adotando-se a perspectiva da referenciação, pode-se alegar que a relação anafórica de (14) está adequada. O que ocorre, nesse caso, é que um mesmo objeto-de-discurso é expresso sob pontos de vista distintos. No caso da disjunção masculino/feminino (como corre entre “milhares de famílias” e “eles”), é sabido que expressões referenciais distintas (por exemplo: a população, o povo) podem servir para fazer referência a um mesmo objeto-de-discurso.

3 Os exemplos retirados são provenientes de textos produzidos por alunos pré-univer-sitários, e estão transcritos tais quais os originais. Os textos foram escritos a partir de propostas que solicitavam a produção de um artigo de opinião (FERREIRA, 2008).

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Dessa forma, cognitivamente, a expressão “milhares de família” pode ser recategorizada como “os membros de uma nação”, o que permite a expressão, na superfície textual, do pronome “eles”, que faz a concordância com um elemento acessado apenas na memória dis-cursiva.

Em contrapartida, em (15), haveria uma inadequação em virtude da utilização do pronome dêitico-referencial “eu”. Esse exemplo pode ser considerado inadequado porque está desrespeitando uma recomen-dação bastante usual aos alunos: em textos argumentativos, deve-se evitar o uso da primeira pessoa, pois isso comprometeria a propalada impessoalidade característica desse tipo de texto. Todavia, levando-se em conta o ponto de vista da referenciação, a construção não pode ser inadequada, já que a expressão de opinião está inerentemente ligada a um sujeito enunciador, que se autoidentifica (que se auto-refere), na grande maioria das situações de interação, pelo uso do “eu”.

Nos dois casos, temos, então, expressões que desobedecem a al-gum aspecto normativo – em (3), há uma desobediência à norma gra-matical; em (15), há uma desobediência à norma textual. Porém, em ambos os casos, as ocorrências podem ser justificadas porque expri-mem uma motivação cognitivo-discursiva. Em suma, do ponto de vista das possibilidades de construção dos referentes enquanto objetos-de-discurso, as construções acima não seriam consideradas inadequadas. Esse fato, por si só, já mostra como os pressupostos da referenciação podem intervir nas práticas de ensino.

Entretanto, se encerrássemos a discussão apenas com o veredicto de que as ocorrências acima são adequadas, estaríamos correndo o risco de gerar a falsa impressão de que, tomando como base a referen-ciação, todas as ocorrências podem ser justificadas (o que ajudaria a corroborar a velha visão de que, para os linguistas, nada é errado). Isso não é verdade porque, de fato, pode haver expressões referenciais que prejudicam a construção do(s) sentido(s) de um texto (por exemplo, ex-pressões que refletem ausência de continuidade ou progressão textual, ou ainda expressões anafóricas que apresentam relações semânticas incompatíveis entre si, casos que não serão exemplificados aqui pela falta de espaço).

Além disso, lembramos que, na construção e manifestação dos ob-jetos-de-discurso, as escolhas do falante por uma ou outra expressão referencial estão sujeitas a restrições de diversas ordens, dentre as quais se inclui a obediência à norma linguística. Para isso, o professor –leitor necessita de uma observação de textos fora do ambiente escolar, ana-lisando gêneros textuais em contexto variados de interação, como os gêneros jornalísticos (artigo de opinião) em que os articulistas lançam mão da primeira pessoa, conforme analisado no (4), sendo referenda-da pelas práticas sociais.

Ferreira (2008) aponta que para uma expressão referencial seja considerada adequada, é importante se considerar os aspectos nor-mativos que a envolvem. Entretanto, a norma a ser considerada tem de estar calcada nos usos efetivos, e não no que se acha que deve ser

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correto, “porque é isso que a gramática diz” ou “porque alguém disse que era assim”. Em suma, para usar a terminologia da Sociolinguística, a norma a ser confrontada deve ser, sempre que possível, a objetiva, e não a subjetiva.

Cumpre ressaltar a assertiva de Lopes- Rossi (2006, p. 1) no que concerne aos pronomes oblíquos dada a dificuldade dos alunos no emprego desse tipo de pronome:

A gramática normativa ignora que certas formas dos pronomes oblíquos estão fora de uso há déca-das, que a língua falada coloquial apresenta outra gramática com relação aos pronomes oblíquos e que a língua formal escrita usada na imprensa bra-sileira determina um certo padrão formal culto que se impõe com sucesso e não coincide exatamente com a norma padrão.

Diante do exposto, Dias (2005) afirma que os livros didáticos têm a responsabilidade de formular a orientação segura ao professor no sen-tido encaminhar uma reflexão moderna, e de perfil teórico definido das classes de palavras, consequentemente, dos pronomes pessoais. Isto porque, faz-se necessário ultrapassarmos o processo de “didatização” dos conceitos da gramática tradicional em que os gêneros textuais/ discursivos são empregados como pressuposto para o ensino de língua portuguesa.

Atividade II

1) Leia a vídeo charge a seguir:

Homenagem a um Herói

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Fonte: disponível em:<http://charges.uol.com.br/2011/04/13/cotidiano-homenagem-a-um-heroi> Acessado em 15 de abril de 2011).

a) Considerando o emprego do você no vídeo charge e a perspectiva gramatical, podemos afi rmar que essa perspectiva é sufi ciente para explicar o fenômeno linguístico do emprego do você no enunciado acima?

b) Qual o efeito de sentido ocasionado pelo emprego do você?

c) Caso substituíssemos o você pelo tu, teríamos o mesmo sentido? Justifi que a sua resposta.

2) Assista ao vídeo a seguir através do endereço eletrônico abaixo e leia o texto 2, centrando-se na fala da profª Eliana Moura.

Texto 01

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=0L6pXgeW-2o&NR=1 Acessado em 19 de abril de 2011.dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Texto 02

A partir da perspectiva linguística estudada, analise a fala da professora Eliane Moura nos dois contextos (oral e no retextualizado da fala para a escrita) no que concerne ao emprego dos pronomes pessoais.

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A partir do contexto de referenciação dos pronomes pessoais e o processo de ensino aprendizagem, proponha uma análise linguística acerca dos pronomes pessoais

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Leituras recomendadas

Para ler

KOCH, Ingedore & ELIAS, Vanda. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009.

Neste livro, as autoras Estabelecem uma ponte entre teorias sobre texto e escrita e práticas de ensino, com o diferencial de estudar a teoria com exemplos práticos de diversos meios de comunicação. Atividade regida pelo princípio da interação, a escrita requer a mobilização

de conhecimentos referentes à língua, a textos, a coisas do mundo e a situações de comunicação, inclusive, identifica os mecanismos de coesão constitutivos do texto e examina, a partir deles, as classes de palavras, ressaltando os pronomes pessoais como articu-ladores textuais, de progressão referencial e de sentenças.

Para navegarhttp://www.revistalingua.com.br

Site da revista língua portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos publicados na versão impressa da publicação. Gramáticos e linguis-tas discutem diferentes aspectos dos pronomes em que apresentam relevantes considerações sobre o modo como são descritos pela gra-mática normativa e o uso efetivo que deles fazem os falantes.

Para Assistir Se eu Fosse Você

O filme relata uma troca de corpos entre o casal Cláudio, 50 anos, pu-blicitário bem sucedido, dono da própria agência, e Helena, 40 anos, pro-fessora de música, coor-denadora de um coral in-fantil, que são casados há muitos anos e já caíram na rotina. A consciência

de Cláudio havia migrado para o corpo de Helena, e vice-versa. Portanto, Cláudio passa a ter um corpo de mulher: o de Helena; e Helena, um corpo de homem: o de Cláudio. Eles são obrigados a assumirem, em todos os sentidos e conseqüências, a vida do outro. Essa permuta entre os pronomes eu e você e entre o casal conduz toda a narrativa da comédia.

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Resumo

Os pronomes pessoais são aqueles que indicam uma das três pes-soas do discurso: a que fala, a com quem se fala e a de quem se fala. São divididos em: pronomes pessoais do caso reto que desempenham a função sintática de sujeito da oração. São os pronomes eu, tu, ele, ela, nós, vós eles, elas e pronomes pessoais do caso oblíquo São os que desempenham a função sintática de complemento verbal (objeto direto ou indireto), complemento nominal, agente da passiva, adjunto adverbial, adjunto adnominal ou sujeito acusativo (sujeito de oração reduzida). Os pronomes pessoais do caso oblíquo se subdividem em dois tipos: os átonos, que não são antecedidos por preposição, e os tônicos, precedidos por preposição. Pronomes oblíquos átonos são os seguintes: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes e os p Pronomes oblíquos tônicos são: mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, si, consigo, nós, conosco, vós, convosco, eles, elas. Há também uma discussão do emprego do a gente e do você (s) no âmbito linguístico e gramatical em que as repercussões dos pronomes você e a gente no contexto gramatical e linguístico, percebemos que o pronome você, a priori, foi denominado de expressão nominal de tratamento (vossa mercê) que le-vava o verbo para a terceira pessoa do singular. A forma você manteve algumas propriedades mórficas que acarretam o rearranjo no sistema, uma vez que persiste a especificação original de 3ª pessoa, embora a interpretação semântico- discursiva passe a ser de 2 ª pessoa. Em re-lação ao pronome a gente as gramáticas e manuais didáticos raramen-te explicam os fenômenos consagrados da linguagem coloquial, não apresentam uma posição coerente e única. A classificação é, em geral controvertida, pois ora consideram a gente como fórmula de repre-sentação da 1 ª pessoa, forma de tratamento, pronome indefinido ou, ainda recurso para indeterminar o sujeito. A forma você também sofre essa variada classificação como forma de tratamento de 3ª pessoa, uma estratégia de 2 ª pessoa ou pronome de tratamento de 2 ª pessoa. Desse modo, é importante o estudo da referenciação no processo de ensino –aprendizagem de língua portuguesa.

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AutovaliaçãoComo vimos nesta aula, os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso (ou pessoas gramaticais) que são três: - 1ª pessoa (quem fala): eu (singular), nós (plural); - 2ª pessoa (com quem se fala): tu (singular), vós (plural); - 3ª pessoa (de quem se fala ou não-pessoa): ele (a) (singular), eles (as) (plural).

Estes desempenham um papel fundamental na produção dos sentidos em nossa língua. Eles podem, também, ser explorados como elemento de referenciação das palavras nos gêneros textuais orais e escritos.

Em vista disso, sugerimos que compare as proposta a partir da perspectiva gramatical e linguística do pronome pessoal.

(Fonte: ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008).

Fonte: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45166/

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Questões

a) Nas orações “Quem te viu quem te vê”, a quem o pronome te está se referindo?

b) Explique qual o sentido produzido por esse enunciado, baseando-se na letra da música.

c) Nas orações “Quem não a conhece não pode mais ver”, a quem a palavra em negrito está remetendo?

d) Quem é o eu nesse contexto de enunciação?

Professor, promova a socialização das respostas, solicitando a alguns que expliquem as questões acima.(Fonte: disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8169 Acessado em 19 de abril de 2011).

Referências

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 135

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136 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 137

V UNIDADE

Pronomes II: Classificação tradicional dos pronomes

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138 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 138 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Apresentação

Você estudou, na unidade anterior, os pronomes pessoais deve ter percebido que eles exercem importante papel na estruturação das frases e, em consequência, na produção dos textos.

Nesta unidade, vamos estudar as seguintes subclasses dos pronomes: possessivos, demonstrativos, indefinidos, in-terrogativos e relativos.

Conhecer esses pronomes vai ajudá-lo a utilizá-los de forma adequada nas diversas situações comunicativas e as-sim produzir textos bem construídos quanto à estrutura gra-matical, coesão e clareza.

É importante, então, que você estude este material com cuidado, revise-o sempre que necessário e, caso surjam dú-vidas, socialize-as com seus colegas, com o tutor e com o professor.

Estamos todos aqui para trocar experiências e ajudá-lo no que for necessário.

Bons estudos!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 139Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 139

Objetivos

No final desta unidade você deverá:

• Entender o que define os pronomes possessivos, demonstrati-vos, relativos, indefinidos e interrogativos.

• Conhecer as formas e o emprego dos pronomes

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Pronomes possessivos

Para iniciar nossa conversa, leia estes versos:

Modinha

Tuas palavras antigasDeixei-as todas, deixei-asJunto com as minhas cantigas,Desenhadas nas areias [...]

MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

Observe que a palavra tuas refere-se ao substantivo palavras, indi-cando que elas pertencem à pessoa com quem se fala (2ª pessoa do discurso); a palavra minhas refere-se ao substantivo cantigas, indicando que elas pertencem à pessoa que fala (1ª pessoa do discurso).

Segundo Bechara (2004, p.166), pronomes possessivos “São os que indicam a posse em referência as três pessoas do discurso”.

Veja abaixo as formas dos pronomes possessivos:

Singular1ª pessoa Meu Minha Meus Minhas

2ª pessoa Teu Tua Teus Tuas

3ª pessoa Seu Sua Seus Suas

Plural1ª pessoa Nosso Nossa Nossos Nossas

2ª pessoa Vosso Vossa Vossos Vossas

3ª pessoa Seu Sua Seus suas

Os pronomes possessivos podem ser empregados com diferentes sentidos. Vejamos:

1. O possessivo e a ambiguidade

Os possessivos seu(s) e sua(s) podem fazer referência à 2ª pessoa do discurso e podem também fazer referência à 3ª pessoa do discurso. Essa dupla possibilidade de relação gramatical pode gerar ambiguidade1.

Veja a ambiguidade na tira abaixo:

1 Ambiguidade: 1. Condição de ambíguo. Incerteza, dúvida ou indefi nição entre duas possibilidades. Dicionário didático. São Paulo: Edições SM, 2009, p. 50.

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O humor da tira está baseado na ambiguidade provocada pelo pronome possessivo seus. O médico usou a palavra reflexo com o sen-tido de “atividade involuntária de um órgão” já o paciente entendeu como “luz refletida ou o efeito dela”

2. Os possessivos podem, em certos contextos, ser substituídos por pronomes oblíquos equivalentes.

Meu(s), minha(s) → me

Teu(s), tua(s) → te

Seu(s), sua(s) → lhe(s)

Nosso(s), nossa(s) → nos

Vosso(s), vossa(s) → vos

Observe os exemplos:

Ele beijou as minhas mãos → Ele beijou-me as mãos.

Comprei o teu carro → comprei-te o carro

3. Os pronomes possessivos podem exercer outros tipos de relação além de posse.

Ele tem lá seus vinte anos. (aproximadamente)

Minha cidade é João Pessoa. (lugar onde mora)

Traidor, como você é meu amigo! (ironia)

4. Em relação aos pronomes de tratamento (Vossa Excelência, Vos-sa Senhoria, etc.), empregam-se os possessivos seu, sua, seus, suas,

Exemplo:

Vossa Senhoria pretende mudar seus planos?

(e não: Vossa Senhoria pretende mudar vossos planos?)

Continuando o estudo dos pronomes, vamos conhecer agora os que fazem referência às pessoas do discurso, estabelecendo entre elas e os seres por eles designados, uma relação de proximidade ou distan-ciamento, no tempo e no espaço. São os pronomes demonstrativos.

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Vamos entendê-los? Para isso, leia a tirinha abaixo:

Para indicar um prato de comida de características desconhecidas, Hagar e Helga recorrem a pronomes (isto e isso). Na conversa do ca-sal, esses termos cumprem uma função indicativa: identificar, para os interlocutores qual é o referente sobre o qual falam, localizando-o em relação a cada um desses interlocutores.

Como o prato de comida a que Hagar se refere está próximo dele, Hagar usa o pronome isto. Helga, para indicar a comida de Hagar es-colhe uma forma ligeiramente diferente: isso. Essa diferença indica que o referente da sua fala está próximo de seu interlocutor. Os dois termos são pronomes demonstrativos.

Para Bechara (2004, p.167) “Pronomes demonstrativos são os que indicam a posição dos seres em relação às três pessoas do discurso. Esta localização pode ser no tempo, no espaço ou no discurso.”

Observe abaixo, as formas dos pronomes demonstrativos.

VariáveisInvariáveis

Masculino Feminino

Este Estes Esta Estas Isto

Esse Esses Essa Essas Isso

Aquele Aqueles Aquela Aquelas Aquilo

Também são pronomes demonstrativos:

a) O, A (equivalentes a aquele (s), aquela (s).

Ex. A chuva destruiu tudo o que havíamos conseguido com sacrifício.

b) TAL, TAIS, SEMELHANTE (s) (equivalentes a este (s) esta (s).

Ex. Por que só agora você vem me dizer tais coisas?

OBS. Os demonstrativos podem ocorrer combinados com as prepo-sições de e em. Nesse caso, as formas resultantes são deste (e flexões), neste (e flexões), nesse (e flexões), naquele (e flexões), daquilo, naquilo.

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Agora que já conhecemos as formas dos pronomes demonstrativos, vamos estudar o emprego desses pronomes.

1. ESTE, ESTA, ESTES, ESTAS, ISTO.

a) No espaço – indicam o que está próximo da 1ª pessoa do discurso (quem fala/escreve).

Ex. Este carro aqui é meu.

b) No texto – referem-se, geralmente a algo que irá ser dito/escrito.

Ex. O grande sentido da vida é este: Ser feliz.

c) No tempo – indicam tempo atual, presente (em relação ao momento da fala).

Ex. Este ano eu me sai bem no vestibular.

2. ESSE, ESSA, ESSES, ESSAS, ISSO

a) No espaço – indicam o que está próximo da 2ª pessoa do discurso (quem ouve/lê).

Ex. Por favor, passe-me essa revista que está com você.

b) No texto – referem-se, geralmente, a algo que já foi dito/escrito.

Ex. Compreensão e apoio. Ela só nos pediu isso. (Isso refere-se à com-preensão e apoio, expressões que já foram citadas no texto).

c) No tempo – marcam um tempo anterior próximo ou posterior próxi-mo (em relação ao momento da fala).

Exemplos:

A meteorologia prevê que esse fim de semana terá tempo bom.

A Seleção Brasileira empatou com o Chile nesse sábado, em Santiago.

3. AQUELE, AQUELA, AQUELES, AQUELAS, AQUILO

a) No espaço – indicam o que está longe da 1ª pessoa e também da 2ª pessoa.

Ex. Aquele ponto brilhante no céu é uma estrela.

b) No texto – indicam um elemento referido anteriormente a outro.

Ex. Marcos e Carla são irmãos. Aquele é músico, esta é comerciante.

c) No tempo – indicam tempo distante, bem anterior ou posterior ao momento da fala.

EX. Em 1995 fui aos EUA, naquela época era mais fácil obter o visto de entrada para esse país.

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Atividade I1. No uso da língua, pronomes possessivos podem exercer outros tipos de relação além de indicar posse. Aponte, na lista dada, que tipo de relação semântica os pronomes destacados nos enunciados acrescentam aos substantivos.

1. “Foi por isso que respondi ao meu amigo que ele, no mínimo, não estava sabendo as regras do jogo.”

2. “[...] fazer minha aula de judô...”

3. “Quando voltei à minha cidade, surpreendi-me com os novos prédios.”

4. “Meu ônibus atrasou e cheguei tarde ao trabalho”

a) Lugar em que se nasceu ou mora.b) Hábitoc) Afi nidaded) Grupo a que se pertence, compromisso

2. Na tira humorística a seguir, as mulheres do primeiro quadro são Honi, Irmã do garoto Hamlet, e Helga, mãe dele. Hérnia é a namoradinha de Hamlet.

a) O pronome destacado no segundo quadro substitui que substantivo?

b) Se Honi, em vez de usar (d) ela, tivesse usado o possessivo seu, o que ocorreria com o sentido da fala do segundo quadrinho?

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3. Considere esta frase:

Flamengo e atlético são bons times. ____, no entanto, é melhor que _____.Que pronomes demonstrativos seriam colocados nas lacunas por:

a) Um torcedor fanático do Flamengo?

b) Um torcedor fanático do Atlético?

4. Escreva as frases, substituindo os pronomes destacados por expressões (formadas por pronomes demonstrativos + substantivos) que evitem a ambiguidade. Preste atenção aos sentidos mais prováveis das frases.

a) O carro bateu, capotou e o piloto sofreu uma fratura na perna. Isso tudo foi programado pelo repórter.

b) A cotação do dólar subiu a rejeição ao governo, os juros bancários mantiveram-se altos. Isso causou pânico no governo.

Vamos agora estudar os pronomes indefinidos que, como o próprio nome indica, substituem ou acompanham os substantivos de forma im-precisa.

Para começar, leia a tira abaixo:

O cartum apresenta uma visão irônica sobre o matrimônio. O sen-tido do texto é constituído pela apresentação de dois momentos de um casamento: o começo e o fim.

No primeiro, os noivos, diante do padre prometem ser fiéis, amar e respeitar um ao outro até que a morte os separe. No segundo, pode-se inferir que as promessas não foram cumpridas, não se sabe exatamente quais delas foram desrespeitadas ou quanto vezes esse comportamento aconteceu.

Por isso, o pronome para fazer referência a essas ocorrências pre-cisa ter um caráter mais vago. Por esse motivo, o cartunista utilizou um pronome indefinido (várias).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Segundo Abaurre (2008, p. 341) “Os pronomes indefinidos, como o próprio nome indica, fazem referência à 3ª pessoa do discurso de uma maneira indefinida, vaga, imprecisa ou genérica”.

Veja no quadro abaixo, as formas dos pronomes indefinidos.

Formas Variáveis FormasInvariáveis Em número e gênero Em número

Algum Pouco Qualquer Outrem

Nenhum Certo Qual Nada

Todo Vário Diverso Cada

Outro TantoAlgo

Muito Quanto

Emprego de pronomes indefinidos.

a) Algum, alguma, alguns, algumas.

• Quando empregados antes do substantivo, tem valor afirmativo.

Ex. Algum amigo me ajudará.

• Quando empregados depois do substantivo, têm valor negativo.

Ex. Amigo algum me ajudará.

b) Todo, toda, todos, todas.

• No plural, indicam totalidade.

Ex. Todos os candidatos participaram do debate na TV.

• No singular e sem artigo, significam “qualquer”, “cada”.

Ex. Em nossa opinião, toda fazenda deve ser cultivada. (toda fazen-do = a fazenda inteira)

• No singular e colocados depois do substantivo também equiva-lem a adjetivo, significando “inteiro(a)”.

Ex. Em nossa opinião, a fazenda toda deve ser cultivada. (a fazenda toda = a fazenda inteira, em sua totalidade).

De olho na fala!

Embora a variação de grau não esteja prevista para os pronomes indefinidos, ela ocorre na fala com um caráter afetivo.

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Veja na tirinha abaixo a forma nenhuminha.

Vamos conhecer mais um tipo de pronome? Os interrogativos.

Leia a tirinha de Hagar (nosso conhecido de outras aulas).

Helgar, mulher de Hagar, deduz que Hagar tinha tirado o tapete de boas vindas da porta porque soubera que a mãe dela estava para chegar de visita, o que não agradava ao marido.

No segundo quadrinho, Helga interroga o marido: Bem, quem lhe disse que minha mãe vem nos visitar? Observe que a palavra destaca-da (quem) é usada numa interrogação. Helga usou então, um pronome interrogativo.

Veja abaixo as formas dos pronomes interrogativos.

Que, quem qual (quais), quanto(s), quanta(s)

Segundo Amaral (et al, 2010, p. 278) “Os interrogativos são, na verdade, pronomes indefinidos empregados em dois tipos de frases:

• Interrogativas diretas – são iniciadas pela palavra interrogativa e terminadas por ponto de interrogação.

Ex. Quem venceu a Guerra dos Cem Anos?

• Interrogativas indiretas – apresentam a palavra interrogativa po-sicionada internamente e são terminadas por ponto final.

Ex. Diga-me quantos trabalhadores construíram esta escola.

Para finalizar nosso estudo sobre pronomes vamos estudar os pro-nomes relativos.

Leia esta frase.

1- Ouvimos aquele repórter policial que tem um programa de rádio toda noite.

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Essa mesma frase poderia ser dividida em duas:

I - Ouvimos aquele repórter policial.

II - Aquele repórter policial tem um programa de rádio toda noite.

Com essa redação, o texto ficaria mal estruturado e repetitivo. Na frase 1, a palavra que em substituição a aquele repórter policial criou um texto mais enxuto.

A palavra que, empregada para introduzir a segunda oração, rece-be o nome de pronome relativo.

“Pronome relativo é aquele que liga duas orações, substituindo na 2ª oração uma palavra ou expressão antecedente, isto é, já expressa a 1ª oração”. (SARMENTO, 2005, p. 200)

Vamos conhecer as forma dos pronomes relativos?

Pronomes relativosVariáveis Invariáveis

O qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quan-tos, quantas

Que, quem, onde, como, quando

Conheça o emprego dos pronomes relativos para produzir textos claros, objetivos e coesos.

1- QUE é o relativo mais empregado, sendo por isso chamado re-lativo universal. Pode ser usado com referência à pessoa ou coisa, no singular ou no plural.

Ex. Eis o instrumento de que necessitamos.

2- QUAL e suas flexões são exclusivamente pronomes relativos.

Ex. Este é o livro do qual lhe falei.

3- CUJO e sua flexões estabelecem normalmente relação de posse entre o antecedente e o termo que especificam.

Ex. Devem-se eleger candidatos cujo passado seja garantida de boas intenções.

4- QUEM refere-se a uma pessoa ou coisa personificada.

Exs. Esta é a garota de quem falei no meu livro.

Esse é o livro de quem prezo como companheiro.

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5- ONDE, AONDE essas duas formas são usadas como indicação de lugar e, na variedade culta da língua, têm empregos diferentes. Ob-serve:

ONDE – equivale a “em que”, “no qual”, “na qual”

Ex. Conheço a cidade onde você nasceu.

(Conheço a cidade em que/ na qual você nasceu.)

AONDE – equivale a “a que”, “ao qual”, ”a qual”.

Ex. Conheço a cidade aonde você irá amanhã.

(Conheço a cidade a que/ a qual você irá amanhã.)

Atividade II01. Leia estes versos:

Liberdade – essa palavraQue o sonho humano alimenta:Que não há ninguém que explique,E ninguém que não entenda!

MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986 ,p.12.

a) Nele há três diferentes pronomes. Indique-os e classifi que-os.

b) No verso 3, o pronome que aparece duas vezes. Quais são os seus antecedentes?

02. Explique a diferença de sentido entre as frases:

I- “Um amor assim delicado nenhum homem daria.”

II- “Um amor assim delicado nem um homem daria.”

03. Explique o sentido dos pronomes destacados:

a) Qualquer contribuição será bem recebida por nós.

b) Um computador qualquer não resolveria o problema.

c) Vovó preparou aquela macarronada para nós.

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04. Dada a frase a seguir, faça as substituições indicadas, antepondo ao pronome relativo à preposição exigida pelo verbo a ser empregado em cada item.

“Não critiquei as pessoas que você admira.”

a) Troque admira por desconfi a.

b) Troque admira por se refere.

Concluindo... Como você pode ter percebido, a diversidade e a importância dos

pronomes transformam o seu estudo numa ferramenta muito útil a quem precisa interpretar e produzir textos.

Na próxima unidade vamos lançar um olhar nos pronomes sob o ponto de vista da linguística e observar que eles são responsáveis por muitos mecanismos que garantem a coesão dos textos.

Até lá!

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadas Para ler

DOMINGOS, Tânia R. Eduardo. Pronomes de tratamento do português do século XVI. São Paulo: Annablume, 2001.

Esse livro é uma rica análise dos pronomes usados por nossos co-lonizadores durante o século XVI. A autora utiliza como objeto de estudo 12 autos de Gil Vicente, fundador do teatro português. Rela-ções de igualdade e intimidade dos pronomes são profundamente analisados.

Para ouvirDjavan. Nem um dia. In: Djavan – novelas (cd). Som livre, 2001.

Você aprendeu que, na língua culta, não se misturam os tratamen-tos tu e você e suas correspondentes formas oblíquas. Contudo, não é raro encontrar canções em que se registra esse processo. A bela canção de Djavan “Nem um dia”, contém trechos em que ocorrem esse procedimento. Confira!

Resumo

Os pronomes são palavras que substituem ou acompanham os nomes. Os pronomes possessivos são os que estabelecem relação de posse entre seres e conceitos e as pessoas do discurso. Podem ser em-pregados com diferentes sentidos além da relação de posse, o emprego inadequado deste pronome pode gerar ambiguidade. Os pronomes demonstrativos fazem referência às pessoas do discurso, estabelecendo entre elas e os seres por eles designados uma relação de proximidade ou distanciamento no tempo e no espaço. Os pronomes indefinidos in-dicam ou acompanham o substantivo de forma imprecisa. Dependendo da posição que ocupa na frase (antes ou depois do substantivo) podem ter valor negativo ou afirmativo. No singular e sem artigo, significam “qualquer”, no singular, depois do substantivo equivalem a “inteiro(a)”. Os pronomes interrogativos podem ser usados em interrogativas diretas e indiretas. Os pronomes relativos ligam duas orações, substituindo na 2ª oração uma palavra já expressa na 1ª oração – o antecedente.

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AutovaliaçãoPara avaliar seu desempenho como aluno(a) desta aula, faça a atividade sugerida abaixo:

Pesquise em três gramáticas da língua portuguesa, o emprego dos pronomes possessivos, indefi nidos e demonstrativos e observe as semelhanças e diferenças entre a explicação dos três autores e explique-as.

Suas observações ajudarão você a identifi car os pontos negativos e positivos de sua aprendizagem e também os aspectos que você ainda deverá melhorar.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 153

Referências

ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

AMARAL, Emília. Et al. Novas palavras. São Paulo: 2010.

SARMENTO, Leila Lauar. Gramática entre textos. São Paulo: Moderna, 2005.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 155

Unidade VI

Pronomes IIIOutras possibilidades de classifi cação dos pronomes

Os pronomes e a coesão textual

VI UNIDADE

Pronomes III: outras possibilidades de

classificação dos pronomes

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156 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 156 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Apresentação

Você estudou nas unidades IV e V os pronomes, sua clas-sificação e empregos. Esse estudo foi realizado à luz da gra-mática tradicional.

Entretanto, nos últimos anos, ocorreram várias discus-sões, debates, pesquisas e publicações questionando a vi-são explicitada por essas gramáticas.

Nesse contexto, o estudo dos pronomes também foi ques-tionado e outras possibilidades de classificação e de empre-go foram propostas.

Os pronomes são também recursos linguísticos funda-mentais para estabelecer referências e relações, articulando entre si as várias partes do texto, ou seja, a coesão textual.

Nesta unidade, vamos observar “novos olhares” sobre os pronomes e a sua função de estabelecer a coesão textual.

É importante que você continue interagindo com o mate-rial, buscando as relações necessárias para o entendimento do conteúdo.

Caso surjam dúvidas, lembre-se de que os professores e tutores estão aqui para ajudá-lo. Bons estudos!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 157Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 157

Objetivos

No final desta unidade você deverá:

• Conhecer novas possibilidades de classificação dos pronomes

• Entender o papel dos pronomes na produção de sentidos do discurso.

• Compreender o papel que os pronomes exercem para o estabe-lecimento da coesão textual.

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Para iniciar o nosso estudo, leia a tirinha abaixo:

No segundo quadrinho, Snoopy diz: “Ponha para eu ver”.

De acordo com a gramática tradicional (de agora em diante GT) esta é uma construção correta, pois se emprega o pronome pessoal reto (eu) nesse caso, porque ele é sujeito de verbo no infinitivo, se Sno-opy tivesse empregado o pronome mim (“ponha para mim ver”), ela seria considerada errada porque o pronome pessoal oblíquo mim não funciona como sujeito.

Veja o que Possenti (1997, p.168) explica sobre o emprego desse pronome, “existem muitas construções em que mim aparece depois de preposições (para, em, de, etc.). Exemplos: “Creia em mim,” “Pegue isso para mim,” etc. Isso induz os falantes a uma generalização, e eles acabam usando mim depois da preposição para, mesmo quando há um verbo que exigiria a forma eu assim, por exemplo: Ele pediu para mim ficar lá.”

Outro emprego criticado pelos linguistas é a dos pronomes eu e mim e tu e ti, segundo a GT pronomes pessoais eu e tu não podem vir antecedidos de preposição, devendo ser substituídos pelos pronomes oblíquos mim e ti.

Exemplo:

As discussões serão tomadas por mim e ti.

Observe o que Bechara (2004, p. 272) afirma sobre o emprego desses pronomes: “Já há concessões de algumas gramáticas quando o pronome eu ou tu vêm em segundo lugar: Entre ele e eu; entre José e eu. Um exemplo como “entre José e mim” dificilmente sairia hoje da pena de um escritor moderno”.

Há, segundo os linguistas, essas e outras incoerências na defini-ção tradicional dos pronomes, visto que conceitos apresentados não correspondem à realidade da língua. Para os autores citados acima, dizer que os pronomes são “palavras que substituem os nomes” nos faz incorrer em alguns erros. Primeiro porque não são todos os pronomes que substituem os nomes, e mesmo quando da substituição, nem sem-pre tal substituição é perfeita. Segundo, aqueles que funcionam como substitutos nem sempre substituem um nome.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 159

No que diz respeito à subclasse dos pronomes pessoais, a foricida-de desses pronomes, particularmente a referência exofórica tradicional-mente atribuída a àqueles itens linguísticos responsáveis pela indicação das pessoas do discurso, determinando-as, vincula-se ao processo de interação. Acrescente-se, a partir de estudos de autores como Ilari (et al., 1996), que os pronomes pessoais não são os únicos a desempenha-rem tal função, enquadra-se também neste contexto outros vocábulos e/ou expressões, não sendo uma atribuição exclusiva dos pronomes.

Monteiro (2002) faz uma crítica aos gramáticos tradicionais quan-do eles afirmam que os pronomes possessivos podem ser classificados como substantivos e adjetivos. Para ele, é necessário rever essa classi-ficação e enquadra os possessivos como pronomes pessoais, pois “...em qualquer nível de análise, a interpretação deve ser simplificada: morficamente, os possessivos se prendem à constituição ou mesmo ra-dical dos pessoais; sintaticamente, completam o esquema de funções pronominais, semanticamente, todo possessivo é pessoal, sendo um atributo da noção de pessoa.” (p. 98).

Dessa forma, o que realmente os possessivos expressam é uma re-lação com as pessoas do discurso, já que nem sempre eles expressam uma relação semântica de posse entre entidades (possuidor/coisa pos-suída).

Veja estes exemplos:

a) Ele tem lá seus 20 anos.

Nesse caso, o pronome “seu” não indica posse e sim “aproxima-damente”.

b) Amanha vou fazer minha aula de judô.

Aqui, o pronome possessivo “minha” indica grupo a que se per-tence, compromisso.

c) Quando voltei a minha cidade, surpreendi-me com os novos prédios.

O pronome “minha,” nesse caso indica lugar em que se nasceu ou que se mora.

Enfim, para o autor os possessivos são as formas adjetivas dos pro-nomes pessoais.

Perini (1995), ao criticar a classificação dos pronomes da GT é tão radical ao ponto de propor que a classe dos pronomes tem de desaparecer e propõe uma nova classificação para as palavras tradi-cionalmente incluídas nesta classe, que pode ser assim resumida: os pronomes tradicionais pertencem a diversas classes, em função do seu comportamento sintático.

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160 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Vejamos a classificação apresentada pelo autor.

1- Substantivos -1: eu, nós, ele isto, aquilo, etc.;

2- Substantivos -2: alguém, ninguém, tudo, algo, etc.;

3- Relativos e interrogativos [+ Rel]: que, quem, o qual, etc.;

4- Pré-Determinantes [+ Pdet]: todos, ambos;

5- Determinantes [+ Det]: o, um, algum, este, esse aquele, etc.;

6- Possessivos [+ Poss]: meu, seu, nosso, etc.;

7- Quantificadores [+ Qf]: muitos, vários, diversos, único, terceiro etc.;

8- Numeradores [+ Num]: outro, dois e os demais cardinais.

Como se pode perceber, o que tradicionalmente pertence a apenas a uma classe – a dos pronomes – Perini (1995) coloca em oito classes distintas que são subclasses dos pronomes.

Continuando com os novos olhares...De acordo com a GT, “os pronomes demonstrativos indicam a posi-

ção de um ser em relação às pessoas do discurso, situando-o no tempo e no espaço” (NICOLA, 2005, p. 60).

Porém, dependendo do contexto em que são empregadas, os de-monstrativos podem indicar, também, uma noção mais subjetiva.

Leia a tirinha abaixo, para entender essa noção.

Na tira, os pronomes demonstrativos isto e isso indicam a referência espacial do prato de comida servido. Mas na fala de Hagar, o isto tem também um valor depreciativo, negativo.

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Conclui-se, então, que há, segundo os linguistas, outras visões so-bre os pronomes, diferente daquela apresentada pelas gramáticas tra-dicionais e que “esses novos olhares” estão de acordo com as teorias linguísticas mais recentes que ampliam a funcionalidade dessa classe de palavras.

Segue abaixo, uma pequena bibliografia na qual você poderá pes-quisar e verificar outras visões sobre os pronomes, sua classificação e emprego.

MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfossintática do português. São Paulo: Pioneira, 1987.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português [capítulos: o pronome pessoal; o pronome possessivo]. São Paulo: Editora da UNESP, 2000.

TRASK, R.L. Dicionário de linguagem e linguística. São Paulo: contexto, 2004.

LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua moderna e seu ensino. Porto Alegre: Cepm, 1985.

BENVENISTE, Émile. A natureza dos pronomes. In: Problemas de Linguística Geral I. (tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luíza Neri). Campinas-SP: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1988.

Além dessas referências, há também muitas outras publicações so-bre o assunto. Pesquise, consulte-as.

Atividade I

1. Suponha que, em um romance, um dos personagens diga:

Depois daquele dia, meu compadre, ninguém viu mais o mascate. Aquilo é um ser sem destino. Quem sabe ele já atravessou o rio e rumou pro sertão?

Explique qual a intenção do falante ao empregar aquilo para se referir ao mascate.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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162 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

2. Qualquer pessoa que o visse, certamente notaria que ele estava emocionalmente arrasado.

A palavra em destaque tem valor indefi nido. Crie uma frase em que essa palavra exerça o papel do adjetivo e atribua ao substantivo um sentido depreciativo.

3. Observe a seguir o trecho de uma notícia.

“2008, este foi um ano onde boa parte dos preços agrícolas se comportou como uma verdadeira gangorra.”

a) Por que é possível afi rmar que o emprego dos pronomes, nessa construção, não se realiza conforme prescrevem as gramáticas normativas?

b) Como a frase poderia ser reescrita para atender a essa prescrição?

Ainda falando de pronomesVamos estudar agora uma importante função dos pronomes: inter-

relacionar partes e frases do texto, articulando essas partes em conjun-tos harmônicos e funcionais estabelecendo assim a coesão textual.

Os pronomes pessoais e a coesão

Nos atos de comunicação, os pronomes pessoais fazem referência às pessoas do discurso. Essas referências podem ser de dois tipos:

1. Referência a um dos interlocutores – esse papel é exercido pelas formas de pronomes pessoais que identificam quem fala/escreve (1ª pessoa) e quem ouve/lê (2ª pessoa).

Exemplos:

I- É importante deixar claro que eu não participei da reunião.

Nessa frase, o pronome eu faz referência ao emissor (quem fala/escreve).

II- Naquele tempo, tu vivias muito apegado a sonhos irrealizáveis.

Nesse exemplo, o pronome tu faz referência ao destinatário (quem ouve/lê).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 163

Segundo Neves (2000), essa função dos pronomes é chamada exo-fórica ou dêitica, “...isto é, uma pessoa que pertence ao circuito da co-municação, é o caso da primeira e segundas pessoas.” (p. 449, 450).

2. Referência a elementos (pessoas ou coisas) do texto.

Existem formas de pronomes pessoais – as de 3ª pessoa – que fazem referência a elementos textuais (pessoas ou coisas) que já foram ou vão ser citadas no próprio texto. Neves (2000), explica “o pronome pessoal tem uma natureza fórica, ou seja, é um elemento que tem como traço categorial a capacidade de fazer referência pessoal.”

Essa referência pode ser:

a) Referência a uma pessoa ou coisa que já foram citadas no pró-prio texto.

Para entender melhor, leia a tirinha abaixo:

Observe que, nesse exemplo, o leitor precisa voltar ao que já ha-via dito para associar o pronome ele (no 2º e no 3º quadrinho) a seu respectivo referente: o ganso.

Ao retornar elementos já citados, o pronome exerce sua função ana-fórica.

b) Referência a pessoa ou coisa que vai ser citada no próprio texto.

EX. Ele chegou e já mudou a paisagem: o verão agita as praias bra-sileiras.

Observe que nesse exemplo, o leitor terá que dar prosseguimento à leitura do texto, até encontrar o termo: “o verão” e estabelecer a re-lação de referência.

Nesse mecanismo o referente aparece depois do elemento coesivo. Trata-se então de uma catáfora.

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164 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Os pronomes demonstrativos e a coesão textual

Os pronomes demonstrativos também constituem um grupo de pa-lavras importantes para estabelecimento da coesão textual, pois seu papel é justamente estabelecer relação de referência tanto a elementos do próprio texto como elementos de fora do texto.

Veja esta tirinha de humor:

Relativamente à pergunta feita pelo menino, compare as estruturas:

• Como posso ter certeza – de que quando nos casarmos vamos partilhar tudo igualmente e um não vai mandar no outro?

• Como posso ter certeza – (d) isso?

Observe que o garoto usou a palavra (d) isso para fazer referência ao que a menina já disse, ou seja, a palavra (d)isso retoma elementos que fazem parte do próprio texto.

Dessa forma, (d) isso é um pronome anafórico que ajuda a fazer a coesão do texto.

Veja este outro exemplo:

André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz.

O termo (d)isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera a palavra Pedro; aquele, o termo André; o faz recu-pera o predicado briga com quem torce para outro time.

Todos os pronomes destacados são anafóricos que ajudam a fazer a coesão textual.

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Os pronomes relativos e a coesão textual

Os pronomes relativos têm dupla função: eles indicam uma nova oração e introduzem nessa nova oração, um elemento textual que reto-mam (recuperam) a oração anterior.

Leia esse trecho de poema para entender melhor.

Conta a lenda que dormiaUma princesa encantadaA quem só despertariaUm infante que viriaDe além do mundo da estrada[...]

PESSOA, Fernando. Eros e Psique. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2006, p.16.

Observe que o emprego do pronome relativo quem leva o leitor a recuar na leitura até o verso anterior e associar a esse relativo o termo princesa encantada. Por sua vez, o relativo que conduz a atenção do lei-tor até o termo anterior um infante, estabelecendo a coesão do texto.

Essas duas relações da coesão contribuem para dar sentido as tex-to: um infante (príncipe) viria além do muro da estrada e despertaria uma princesa encantada.

Esse exemplo permite concluir que a função dos pronomes relativos – retomar e repor elementos numa sequência de frases – é relevante para a estruturação textual, uma vez que, contribuindo para a coesão, contribui, consequentemente, para a progressão (sequencialidade) do texto.

Concluindo...Como você viu, os pronomes têm um papel muito importante na

produção de textos coesos e coerentes. Então, de agora em diante, utilize-os de modo consciente ao escrever para garantir a coesão e a clareza em seus escritos.

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Atividade II

1. Leia este trecho e responda aos itens de “a” a “c”.

“Eles viviam na África e, há dois milhões de anos, eram poucos. Eram quase seres humanos, embora tendessem a ser menores que seus antecedentes que agora habitam o mundo. Andavam eretos e subiam montanhas com enorme habilidade. [...]Há 2 milhões de anos, esses seres humanos, conhecidos como hominídeos, viviam principalmente nas regiões agora chamadas de Quênia, Tanzânia e Etiópia. [...]”

(BLANE, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004. p. 6)

a) No segundo parágrafo, há dois termos que, nesse contexto, são sinônimos entre si. Identifi que-os.

b) Identifi que, no primeiro parágrafo, o pronome pessoal que tem como referentes os elementos textuais que você identifi cou em a.

c) Qual teria sido a intenção do autor, ao empregar um pronome pessoal para fazer referência a um elemento que, na sequência textual, aparece bem depois do pronome?

2. Leia a nota a seguir, reproduzida de uma revista.

Revolta no navioNa costa de CubaDia 2 – 1839

A bordo da embarcação espanhola La Amistad, 53 escravos recém trazidos da Africa se revoltaram. Sob a liderança de Joseph Cinqué, eles fazem com que um navegador os leve a caminho da terra natal. Mas eles são enganados, e a embarcação á capturada pela marinha dos Estados Unidos. Os rebelados são presos em Connecticut. Em 1841, as forças contrárias à escravidão conseguem que a suprema corte coloque os escravos em liberdade. Em 1997, o caso foi retratado em um filme.

Revista Aventuras na história ,n.60, São Paulo, abril, jul. 2008, p.18.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 167

a) O texto faz uso de três índices temporais para indicar a sucessão dos acontecimentos no tempo. Localize-os no texto e registre-os em seu caderno, relacionando-os aos fatos relatados na nota.

b)Indique que termos foram usados no texto para retomar a palavra escravos.

c) Que mecanismos de coesão foram utilizados no emprego desses termos?

d) No último período da nota, uma única palavra usada como anáfora retoma todos os fatos relatados anteriormente. Que palavra é essa?

Leituras recomendadasPara lerBECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

Este livro é uma referência para pro-fessores de língua portuguesa, alunos de Letras e também para todas as pessoas que se interessam em apren-der a língua portuguesa. A edição de 2009 já vem de acordo com o “Novo Acordo Ortográfico”.

Para assistirPalavras de amor, fi lme com Richadd Gere e Juliette Binoche.

Richard Gere estrela esta cati-vante história de um pai obseca-do em treinar sua talentosa filha para a competição nacional de soletrar palavras. Elisa Naumann (Flora Cross) tem um dom espan-toso que seu pai, Saul (Gere) in-siste em aperfeiçoar ele mesmo. Mas à medida que Elisa continua tendo sucesso, a recém- desco-

berta devoção de Saul aumenta, causando intensas mudanças na família., É um filme espetacular. Confira!

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168 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Para acessar http://www.revistalingua.com.br

Site da revista Língua Portuguesa, que possibilita o acesso aos arti-gos publicados na versão impressa da revista. Autores renomados discutem diferentes aspectos da gramática do português, fazendo importantes considerações sobre o modo como são descritos pela gramática normativa e o uso que deles fazem os falantes.

Resumo

A gramática tradicional define e classifica os pronomes. Os lin-guistas, a exemplo de Possenti(1997), Perini(1995,1997,2004), Ne-ves(2000), Monteiro(2000), entre outros, questionam as explicações tradicionais. Segundo esses autores, há várias incoerências na defini-ção, classificação e emprego dada à classe dos pronomes, por isso propõem “novos olhares” sobre essa classe gramatical. Os pronomes também são responsáveis por muito dos mecanismos que garantem a coesão textual. O estudo desta classe de palavras é uma ferramenta útil para quem precisa interpretar e produzir textos coerentes e coesos.

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Autovaliação

A realização da atividade que segue ajudará você a identifi car os pontos positivos e negativos de sua aprendizagem. Portanto, avalie seu desempenho como aluno desta unidade e refl ita em que sentido deve melhorar suas atitudes de aprendiz.

Você estudou na unidade V, os pronomes à luz da gramática tradicional. Na unidade VI você teve a oportunidade de estudar a opinião de alguns linguistas que lançaram um novo olhar sobre os pronomes, sugerindo inclusive novas propostas de classifi cação e de emprego.

Agora expresse seu ponto de vista sobre o assunto.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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170 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Referências

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

MONTEIRO, José Lemos. Morfologia portuguesa. Campinas: Pontes, 2002.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da Unesp, 2000.

NICOLA,José de. Língua, literatura e produção de textos. São Paulo: Scipione, 2005.

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2004.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1997.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 171

Unidade VII

AdvérbiosClassifi cação tradicional dos advérbios

VII UNIDADE

Advérbios: classificação tradicional dos advérbios

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172 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 172 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Apresentação Já estudamos que a NGB (Nomenclatura Gramatical

Brasileira) agrupa as palavras da língua portuguesa em dez classes. Nesta unidade, você estudará a classe dos advér-bios.

Embora sejam conhecidos, principalmente, por modificar verbos, indicando as circunstâncias em que ações e estados ocorrem, os advérbios têm amplas e variadas possibilidades de significação, contribuindo também como um importante indicador do posicionamento do sujeito em seu discurso, por isso, merece um estudo detalhado.

Lembre-se de que este estudo só se completa com a sua efetiva participação, por isso, estude com atenção, acesse os sites propostos, faça as leituras sugeridas para completar a sua aprendizagem.

Caso surjam dúvidas, socialize-as com seus colegas, com o professor e os tutores para buscar os esclarecimentos.

Bons estudos!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 173Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 173

Objetivos

No final desta unidade você deverá:

• Entender como se classificam os advérbios e as locuções ad-verbiais.

• Conhecer os aspectos sintáticos, semânticos e morfológicos do advérbio.

• Identificar os tipos de advérbios e as relações semânticas que eles expressam.

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174 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Para iniciar nossa conversa...O conceito de advérbio

Leia a tirinha abaixo:

Na tira, o filho explica ao pai a diferença entre dois significados da palavra fi car. O pai parece não compreender a explanação do filho e antes que o jovem termine a explicação, o pai sugere a palavra irrever-sivelmente, que é confirmada pelo filho.

A palavra irreversivelmente revela que o pai vê seu casamento como algo que não pode ser desfeito e sobre o que sente: um certo desapon-tamento, uma vez que a palavra irreversível é, em geral, utilizada para caracterizar algo negativo.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 175

Na tira, o verbo fi car é empregado com dois significados distintos. A palavra irreversível, que especifica um dos significados e o diferencia do outro, é um advérbio.

Segundo Abaurre (2008, p.442) “Advérbios são palavras invariáveis que se associam aos verbos, indicando as circunstancias da ação verbal”.

Em casos especiais, associam-se aos adjetivos, especificando as qualidades por eles expressas, e a outros advérbios, intensificando o seu sentido”.

Comumente identificados como modifi cadores de verbos, os advér-bios também podem intensificar ou atenuar o sentido de um adjetivo ou de outro advérbio. Além de revelar o estado de espírito e o ponto de vista dos enunciados sobre o que afirmam.

Vamos observar agora o advérbio nas perspectivas: morfológica, sintática e semântica.

Perspectiva morfológica

Leia a frase: “O público anda mais entediado com a TV.”

Se, em vez de público, fosse usada a palavra crianças, o enunciado seria: “As crianças andam meio entediadas com a TV.” O artigo (a), ver-bo (anda) e o adjetivo (entediada) sofreram flexões (as, andam e ente-diadas). No entanto, o advérbio meio não sofreu alterações. Trata-se de uma das principais características dessa classe de palavras: apresentar pouca variabilidade, não sofrendo flexões.

1- Alguns advérbios são formados apenas por um morfema gramatical (morfemas que só têm significado no interior do discurso).

Ex. Aliás, hoje, ontem, depois...

2- Outros advérbios são formados por um morfema lexical (os que re-metem à realidade extralinguística) acrescido de morfemas grama-ticais.

Ex. Completamente

Locução adverbial

As locuções adverbiais são expressões constituídas de duas ou mais palavras que exercem função adverbial. Resultam geralmente da com-binação de preposição + (artigo) + substantivo ou de preposição + (artigo) + advérbio. Há, porém, formações mais complexas.

Ex. Por dentro, ao lado, de vez em quando.

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176 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

O advérbio na perspectiva sintática

Uma das funções do advérbio é caracterizar o processo verbal a que se refere. No entanto, ele não abrange todas as funções dessa classe de palavras, já que os advérbios podem se associar também a um adjetivo, a outro advérbio e até a um enunciado. Veja os exemplos.

O ambiente estava muito agradável. Advérbio adjetivo

O DJ tocava muito bem. Advérbio advérbio

Felizmente, todos se divertiram. Advérbio

Adjetivo x advérbios

Muitos adjetivos, no interior das orações, podem exercer a função de modificar o verbo. Atuam, portanto, como advérbios. Nesse caso, tornam-se invariáveis.

Ex. O aluno falou baixo.

Em alguns caos, o adjetivo e o advérbio podem ser empregados com o mesmo sentido.

Ex. O ônibus chegou rápido/rapidamente ao destino.

O advérbio na perspectiva semântica

O valor semântico dos advérbios está diretamente relacionado ao papel sintático que eles desempenham nas orações, ou seja, os ele-mentos do enunciado a que eles se referem.

Associados aos verbos, caracterizam as circunstâncias da ação ou do estado por eles expresso (tempo, modo, lugar, etc.), relacionados aos adjetivos ou advérbios, intensificam ou atenuam o sentido. Quando se referem a um enunciado, são modalizadores, isto é, explicitam uma atitude de quem fala ou escreve em relação ao conteúdo de seu pró-prio enunciado.

Veja os exemplos abaixo:

Sinceramente, deviam ter vergonha!

Cá entre nós, não achei que eles fossem vir.

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Ao observar esses exemplos, podemos concluir que a intencionali-dade do enunciador está evidenciada: no primeiro caso, ele reforça a carga do enunciado, explicitando seu caráter de sinceridade; no segun-do, dando um caráter intimista ao enunciado. Pense nos enunciados sem as expressões adverbiais e verifique o efeito que elas causam.

Atividade I01. Leia a tira a seguir:

a) O último quadrinho sugere que o incidente hidráulico relatado por Jon é um fato comum. Há um elemento na tira que contraria essa hipótese?

b) Que sentido a expressão de novo adquire em cada momento da tira?

c) Que circunstancias expressa?

02. Os advérbios geralmente se associam ao verbo, acrescentando ao sentido dele determinadas circunstâncias. Existem, no entanto, advérbios que podem modifi car um adjetivo ou outro advérbio ou mesmo o conteúdo de todo enunciado. Considerando tal fato, compare estas frases e responda aos itens de a a d.

1. Evidentemente a terra não é curva.

2. A terra não é evidentemente curva.

3. A terra não é, evidentemente, curva.dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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178 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

a) Duas dessas frases têm o mesmo sentido. Quais são elas?

b) Sem alteração de sentido, que advérbio poderia substituir o advérbio destacado nas frases referidas em a? E na outra frase, que advérbio poderia ser usado?

c) Em qual(quais) frase(s) o advérbio exprime uma crença (ou opinião) do emissor sobre a afi rmação expressa pelo(s) enunciado(s)?

d) Qual(quais) frase(s) faz(em) uma afi rmação que não condiz com a realidade? Explique.

Tipos de advérbios Leia o trecho da letra de uma canção:

“O telefone tocou novamenteFui atender e não era meu amorSerá que ela ainda está muito zangada comigo?Que pena, que pena.”

BEN JOR, Jorge. O telefone tocou novamente. Rio de Janeiro: Universal Music. 2002.

Veja as circunstâncias que os advérbios do texto exprimem:

Os advérbios destacados dão informações importantes sobre situa-ção de espera do eu lírico pelo telefonema da amada. No primeiro ver-so, por exemplo, é o advérbio novamente que indica o tempo da ação verbal, dando a entender que o telefone havia tocado outras vezes e, provavelmente, o eu lírico aguardava a ligação da amada há algum tempo.

No segundo verso, o advérbio não é essencial, pois nega o estado expresso pelo ser: não era a pessoa esperada. No terceiro verso, o advérbio ainda associado ao verbo estar também apresenta uma idéia temporal: o eu lírico não sabe se ela esta zangada no presente, mas sabe que no passado estava. Por fim, muito intensifica o sentido do adjetivo zangada.

A NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira), propõe classificar os advérbios em função das diferentes circunstâncias e idéias indicadas por eles.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 179

Advérbios Locuções adverbiais

De lugar

Abaixo, acima, aí, aqui, adiante, atrás, aquém, através, dentro, defron-te, fora, junto, perto, longe

Ao lado, à esquerda, à direita, por ali, de cima, de dentro, de perto, de longe

De tempo

Agora, ainda, hoje, amanhã, ontem, ante-ontem, antes, depois, cedo, tarde, já, jamais, logo, nunca, outrora, ultimamente

À noite, à tarde, e ma-nhã, de noite, de vez em quando, em breve, mais uma vez, hoje em dia, de madrugada

De modo

Assim, bem, depressa, devagar, mal, melhor, pior: a maioria dos ad-vérbios terminados em –mente: alegremente, rapidamente, veloz-mente

À toa, à vontade, ao contrário, às pressas, de má vontade, em silên-cio, de Mao em Mao, de graça

De negação Não, tampouco, abso-lutamente

De modo algum, de for-ma alguma

De dúvidaAcaso, talvez, possivel-mente, porventura, pro-vavelmente

Que sabe

De intensidadeBem, demais, bastante, mais, manos, muito, pouco, quase, tanto

De muito, de pouco, de todo

De afirmação Sim, certamente, real-mente, efetivamente

Com certeza, sem dúvi-da, por certo

Lembre-se, esse quadro não é para ser decorado e sim para ser consultado, quando necessário.

Os advérbios interrogativos

Algumas palavras podem ser utilizadas para formular perguntas so-bre as circunstâncias da ação ou do estado expresso pelo verbo, em vez de indicá-las. Por serem empregadas em frases interrogativas diretas ou indiretas, são denominados, segundo a NGB, advérbios interrogativos.

Veja os exemplos:

Advérbios interrogativos:De tempo

• Quando foi inventado o telefone celular?

• Ele perguntou quando foi inventado o telefone celular.

De lugar

• Onde vivem os índios Pataxós?

• Os alunos querem saber onde vivem os índios Pataxós.

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180 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

De causa

• Por que o consumo de drogas aumenta a cada dia?

• Especialistas investigam porque o consumo de drogas aumenta a cada dia.

De modo

• Como ganhar dinheiro fácil?

• Quero saber como ganhar dinheiro fácil.

OBS. “Em frases interrogativas indiretas, a voz que relata ou narra a in-terrogação incorpora a fala de quem interroga.” (BARRETO, 2010, p. 276).

Adjetivo ou advérbio?

Você sabe que a classe de uma palavra depende das relações mor-fossintáticas estabelecidas no enunciado, por isso é necessário ficar atento para não confundir adjetivo com advérbio.

Exemplo:

O garoto voltou triste da escola.

Triste é adjetivo ou advérbio? Para fazer a distinção, é necessário lembrar que o adjetivo é variável e o advérbio é invariável. Note, no exemplo, que, se “garoto” for empregado no plural, “triste” também irá para o plural:

Os garotos voltaram tristes da escola.

Fica claro, assim, que triste é um adjetivo, e não um advérbio.AMARAL. Emília. et al. Novas palavras. São Paulo: FTD, 2010, p. 324.

Grau dos advérbios

Os advérbios são palavras invariáveis, mas alguns apresentam fle-xões de grau, podendo manifestar-se no grau comparativo e no grau superlativo.

Comparativo

• de superioridade: Falou mais baixo que (do que) o colega.• de igualdade: Falou tão baixo quanto (ou como) o colega.• de inferioridade: Falou menos baixo que (do que) o colega.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 181

Superlativo

• sintético: Falou baixíssimo.

• analítico: Falou muito baixo (extremamente baixo, consideravel-mente baixo, muito difícil, etc.).

De olho na fala

Empregar as formas diminutivas, obtidas através do acréscimo dos sufixos –inho e –zinho a determinados advérbios, é um recurso muito usado pelos falantes para reforçar o sentido básico dessas palavras.

Ele faz tudo muito devagarinho. (muito devagar)

Já estamos pertinho de casa. (muito perto)

Um efeito semelhante é criado, na fala, pelo alongamento das vo-gais tônicas dos advérbios. É o que ocorre na tira abaixo.

Laerte. Classificados: livro 3. São Paulo: Devir, 2004. P. 10.

Atividade II

01. O fato de um advérbio poder modifi car mais de um elemento em uma frase pode produzir ambiguidade. Observe as frases a seguir:

I. Pessoas que leem frequentemente escrevem bem.

II. Eles se apresentaram juntos pela primeira vez em Nova York.

III. A crise não acabou por causa do novo pacote econômico.

IV. Eles não mudaram de casa porque não tinham dinheiro.

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Examine as frases acima e explique quais são as duas interpretações possíveis para cada uma e que elemento do enunciado o advérbio (ou locução adverbial) está associado em cada caso.

02. Leia a tira:

a) Nos quadrinhos, Calvim e seu amigo Haroldo encontraram um meio para se livrar da babá. Por quê?

b) Observe o emprego da palavra melhor nestas frases do texto:

1. Se isso te fi zer sentir melhor eu vou...2. Essa foi nossa melhor noite com a babá.

I. Em que frase a palavra destacada é advérbio? Justifi que sua resposta.II. A que classe gramatical pertence a palavra melhor na 2ª frase?III. Qual é o grau da palavra melhor nos dois casos?

c) No último quadrinho, que tipo de circunstância expressam as locuções adverbiais até não poder mais e com a babá.

03. A frase a seguir, extraída de um anúncio publicitário por ocasião do retorno dos atletas brasileiros que haviam participado dos jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, fazia referência ao expressivo número de medalhas conquistadas por eles no atletismo.

“Os detectores de metais dos aeroportos vão apitar adoidado.”Folha de são Paulo, 17 ago. 2003.

A palavra adoidado está corretamente empregada ou deveria ser fl exionada no plural? Justifi que sua resposta baseando-se na classe da qual essa palavra faz parte nessa frase.

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Leituras recomendadasPara acessarhttp://acd.ufrj.br/~pead/quebrando_tabus.htm

Site onde você encontrará diversos artigos que procuram desfazer a confusão entre a gramática normativa e a língua usada pelos falantes nativos.

Para ler

MARCUSCHI,Luiz Antônio. XAVIER, Antônio. Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

O livro é composto de artigos em que se discutem com diferentes perspectivas teóricas as principais modificações promovidas nas ati-vidades linguísticas dos usuários da língua portuguesa, a partir das inovações tecnológicas e, como essas mudanças afetam o processo ensino/aprendizagem da língua e fora dela.

Para assistir Ao mestre com carinho, de James Clavell. Sony Pictures, 1967.

Um jovem professor enfrenta alunos indisciplinados e desordeiros, neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem uma de suas melho-res atuações como Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que resolve dar aulas em Londres, no bairro operário de East End. A classe, liderada por Denhan (Christian Roberts), Pamela (Judy Ge-eson) e Barbara (Lulu, que também canta a canção título), estão determinadas a destruir Thackeray como fizeram com seu professor, ao quebrar-lhe o espírito. Mas Thackeray, acostumado as hostilida-des, enfrenta o desafio tratando os alunos como jovens adultos que breve estarão se sustentando por conta própria. Quando recebe um convite para voltar a engenharia, Thackeray deve decidir se pretende continuar.

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184 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Resumo

A gramática tradicional define advérbio como “palavra invariável que se associa aos verbos, indicando as circunstâncias da ação verbal” (ABAURRE, 2009, p. 442). Os advérbios podem ser classificados do ponto de vista sintático (o advérbio, normalmente, estará relacionado a um verbo). Do ponto de vista morfológico (não admite as flexões de gênero e número) e, do ponto de vista semântico (pode expressar di-versas idéias tempo, modo, lugar, negação, dúvida, intensidade, etc.). Alguns advérbios podem ser utilizados para formular perguntas sobre as circunstâncias da ação ou do estado expresso pelo verbo, são os advérbios interrogativos. Os advérbios são palavras invariáveis, mas alguns apresentam flexões de grau. É importante notar que o sentido de vários advérbios só é depreendido pela situação comunicativa, de-pende, portanto, do conhecimento do emissor.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 185

Autovaliação

Agora que você já viu a importância dos advérbios na construção dos textos, sua tarefa será fazer uma análise das funções que os advér-bios desempenham no texto abaixo.

Leia atentamente o texto transcrito a seguir e identifique os advér-bios e as locuções adverbiais utilizadas pelo autor. Feito isso, analise a função que cada um dos termos selecionados desempenha no texto.

Mesopotâmia: berço da escrita

Hoje, a região é um barril de pólvora. No entanto, a mesma terra onde atualmente brotam homens-bomba quase todos os dias já foi ocupada por povos e civilizações que, embora também se preocupas-sem com sua defesa, tinham a mente mais ocupada em construir e inovar. Isso teve início há cerca de 5 mil anos na Mesopotâmia (atual Iraque). Antes de gregos e romanos, os povos que lá habitaram foram responsáveis por vários avanços científicos em matemática, arquitetu-ra, escrita e até nas leis.

O termo Mesopotâmia vem do grego mesopótos, que significa “en-tre rios”. No extremo sul, junto ao Golfo Pérsico, a região era pantano-sa. Ao centro, caracterizava-se pelas aluviais dos rios Tigre e Eufrates e suas terras férteis e produtivas, graças ao sistema de irrigação criado pó eles. .Ao norte, a alta Mesopotâmia, marcada pelos vales dos rios Tigre e Eufrates e suas regiões montanhosas na Anatólia (atual Turquia) e no Elam (hoje Irã). [...]

Sem dúvida uma das maiores conquistas do povo babilônico foi a invenção da escrita. O que, aliás, pode-se dizer foi também um dos maiores saltos da humanidade. Os documentos mais antigos da es-crita cuneiforme foram encontrados na Mesopotâmia, em um templo na cidade de Uruk (atual Warqa, no Iraque), capital da Suméria, com data aproximada de 3200 a.C. O nome que caracteriza essa escrita vem do latim cuneus, que significa canto. Ela é o resultado da incisão de um tipo de estilete, impressa na argila mole, com três dimensões: altura, largura e profundidade. Sua leitura é feita como no português: da esquerda para a direita e de cima para baixo.

GRECCO, Dante. A ciência na Antiguidade. Scientific American Brasil.Especial História 3 p. 17.

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186 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Referências

ABAURRE, Maria Luíza. et al. Português: Contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.

AMARAL, Emília. et al. Novas palavras. São Paulo: FTD, 2010.

BARRETO, Ricardo Gonçalves. Português. Ser protagonista. São Paulo: SM, 2010.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 187

Unidade VIII

Advérbios IIAdvérbio: outras possibilidades de classifi cação O advérbio e a coesão textual

VIII UNIDADE

Advérbios II: outras possibilidades

de classificação

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188 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III 188 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

Apresentação A classe gramatical dos advérbios tem sido objeto de estu-

dos e discussões recentes entre gramáticos e linguistas. Mui-tas palavras tradicionais classificadas como advérbio vêm sendo aproximadas de outras classes gramaticais, é o caso, por exemplo, de lá, aqui, lá e outras, que se assemelham em muitos aspectos aos pronomes. É também o caso da palavra não: é um advérbio ou um mecanismo de negação em português? Além disso, os próprios critérios tradicionais de classificação têm sido discutidos. Em vista disso, novos olhares têm sido lançados sobre essa classe de palavras.

Nesta unidade vamos estudar outras possibilidades de classificação e emprego dos advérbios. Estudaremos tam-bém uma função muito importante dessa classe gramati-cal: são mecanismos coesivos que têm a função de esta-belecer relações de sentido entre as partes que constituem um texto.

Lembrem-se, continuem interagindo com o material, com os amigos, professores e tutores.

E se surgirem dúvidas! Estaremos todos aqui para ajudá-lo.

Bons estudos!

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 189Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 18

Objetivos

No final desta unidade você deverá:

• Conhecer novas formas de estudar os advérbios.

• Entender como os advérbios ajudam a estabelecer a coesão textual.

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Advérbios: outras possibilidades de classifi cação

Na unidade anterior, estudamos a classe dos advérbios sob uma perspectiva tradicional. Agora vamos conhecer uma visão mais moder-na, de acordo com as teorias linguísticas mais recentes que aplicam a funcionalidade dessa classe de palavras.

Para iniciar nosso estudo...Comecemos com a opinião de Fiorin (2008) sobre os advérbios de

lugar.

A gramática tradicional apresenta uma definição bem simplista dos advérbios de lugar, expondo que estes devem apenas responder a per-gunta “onde?”, porém observamos que a questão não pode ser limita-da apenas a esse tipo de análise, pois como afirma Fiorin (2008) este espaço (aqui) do enunciador será o mesmo para o enunciatário, que aceita como sendo seu. O “que” demarca um ponto de referência que é determinado através da situação enunciativa.

Vejamos por exemplo, o advérbio “aqui”, na propaganda abaixo:

Diponível em: <www.sky.com.br> Acesso em: 10, ago. 2010

Essa propaganda se apresenta em forma de hipertexto1, pois possui um link “assine aqui” utilizando conjuntamente a expressão imperativa “assine” com o que tradicionalmente rotula-se como advérbio de lugar “aqui”.O leitor deve clicar para adquirir no site da loja na qual fará a aquisição.

1 Hipertexto. Forma de organizar e de apre-sentar um texto, visando fazer com que o leitor não precise seguir uma leitura linear para entendê-lo. Dicionário didático – Vá-rios colaboradores: São Paulo: Edições SM. 2009, p. 426.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 191

O advérbio de lugar “aqui”, adquire uma função dêitica, pois de-marca, aponta o lugar em que o internauta deve clicar para conhecer mais sobre os pacotes de assinatura da SKY.

Essas funções observadas extrapolam o que nos mostra a gramática tradicional e podem ser explicitadas através de uma análise que consi-dera a enunciação.

Torna-se necessário, portanto, estudar os advérbios observando que o tempo, o espaço, o modo etc. são determinados pelo enunciador e seguido pelo enunciatário, fazendo com que não nos detenhamos ape-nas em responder a perguntas “onde”, “como”, “quando” etc. como preza a tradição, mas observando também o contexto extralinguístico.

Nessa nova perspectiva de estudo dos advérbios, um dos aspectos merecedores de atenção dos estudiosos diz respeito àqueles terminados em –mente e o seu papel na interação discursiva.

Bonfim (1988) explica que “Embora a maioria deles atue como advérbios de modo, outras circunstancias e idéias podem ser expressas pelo seu emprego” (p.27).

Vamos entender alguns desses empregos?

Para começar, leia o trecho de um site sobre os destinos turísticos do Brasil.

“Agito à noite? Também tem - o centrinho [de Búzios] ganhou recen-temente mais duas danceterias, a Xtreme e a Pacha, filial da que existia em Ibiza.” <HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010.

Segundo a tradição os advérbios terminados em –mente são classifi-cados como de modo. Nesse caso, a circunstância indica pelo advérbio diz respeito ao tempo em que ela ocorreu. Trata-se, portanto, de um advérbio de tempo.

Veja outro exemplo.

“É no centro de São Paulo que o comércio, o serviço e as ofertas culturais apresentam-se como um conjunto extremamente diversificado e compacto, ao alcance de simples caminhadas”.<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010.

Nesse caso, o advérbio reforça o sentido dos adjetivos que qualifi-cam o comércio, o serviço e as ofertas culturais do centro de São Paulo. Corresponde, dessa forma, a um advérbio de intensidade.

Observe mais dois usos de advérbios terminados em –mente.

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I. “O que seria de São Paulo sem o café? Provavelmente não terí-amos as mansões da antiga aristocracia rural na avenida paulista – talvez nem mesmo a paulista”.

<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010.

II. “Dos grandes carnavais de rua do país, o de Olinda é certamente um dos mais democráticos e populares”.

<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010.

No trecho I, o enunciador apresenta uma hipótese; o advérbio in-dica uma dúvida em relação ao que afirma. No trecho II, o advérbio indica afi rmação e expressa certeza. Nesses exemplos, os advérbios indicam a maneira como o sujeito se posiciona em relação ao que enuncia. Opinião corroborada por Bonfim (1988) quando afirma: “... esses advérbios (de modo) expressam a opinião ou dúvida do locutor no enunciado” (grifo meu).

Nicola (2005, p. 154), vai além da classificação dos advérbios pro-posta pela gramática tradicional, quando analisa a frase do pedreiro Benedito Souza, que acompanhou a visita da rainha da Holanda ao centro de São Paulo em março de 2003.

“Achei legal pra caramba. A rainha é bonitona”.

A expressão é formada pela preposição (pra) e uma interjeição (ca-ramba), que se refere ao adjetivo legal, acrescentando-lhe uma noção de intensidade. Por seu significado e por suas relações sintáticas, pode-mos concluir que a expressão apresenta características de advérbio.

Bechara (2004) considera que alguns advérbios também podem modificar substantivos, porém Bonfim (1988, p. 9) examinou essa idéia e afasta essa possibilidade, utilizando um exemplo de Silva Junior e An-drade (1907) “Gonçalves Dias era verdadeiramente poeta”, ele explica que a expressão “verdadeiramente” pode ser substituída por expressões como “de verdade” ou “de fato” sem mudança de sentido, porque o poeta que é o termo determinado não pode ser considerado substanti-vo, mas sim um conjunto de qualidades inerentes ao referente.

Vamos observar um estudo bastante importante sobre os advérbios, o de Ilari (2002) que aponta a forma contraditória e insuficiente da gramática tradicional para conceituar e explicar os advérbios, apresen-tando alguns elementos que, por vezes, não se enquadram nos critérios tradicionais (morfológicos, sintáticos e nocionais), mas equivocada-mente são classificados como advérbios.

Este autor aponta os “advérbios de tempo/advérbios de lugar” como dêiticos e compara o grupo dos intensificadores e adjetivos in-definidos, mostrando que os advérbios compartilham a invariabilidade com os indefinidos neutros.

Quanto aos problemas relativos à aplicação dos critérios sintáticos,

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Ilari (2002, p. 62) mostra que os “advérbios intensificadores”, assim como ocorre com os dêiticos, não são apenas modificadores como a definição tradicional expõe, mas funcionam como “determinantes no âmbito de um sintagma nominal complexo, [...] argumentos de predi-cado, e constituir o núcleo do predicado, em orações com o predicado nominal”. O autor ainda observa que no caso dos intensificadores o critério nacional sofre uma considerável redução.

No caso das expressões com o sufixo –mente, Ilari (idem) expõe que geralmente são classificados como advérbios, e em muitos casos não atendem ao critério sintático e nocional, pois apenas sugerem que o locutor esteja de posse dos resultados de alguma verificação de conta-gem, identificação, ou investigação, modificando nomes, numerais, ou sintagmas introduzidos por preposição ou conjunção. Assim, como os “dêiticos” e os “intensificadores”, estes “advérbios de verificação” são classes bem configuradas que merecem ser distinguidas das classes de advérbios tradicionalmente reconhecidos.

Nessa perspectiva, ele apresenta uma proposta no tocante ao tra-tamento com advérbios e apresenta os “advérbios sentenciais”, que se subdividem em “advérbios de circunscrição”, “quase-modais”, “aspec-tualizadores” e os “de atitude proposicional”. Tal perspectiva contraria a visão tradicional, pois mostra que o advérbio pode aplicar-se também a toda oração e não apenas ao constituinte como fazem os “advérbios de constituinte”.

Após essa apresentação acerca da noção de “advérbios senten-ciais”, esse mesmo autor expõe os “advérbios aplicados à sentença” e os “advérbios aplicados no discurso”. Para tanto, utiliza entre os exem-plos o advérbio “agora”, que oscila entre vários empregos, mostrando que este pode estar apenas restrito à predicação, pode estender-se à toda sentença ou pode estar relacionado à uma sequência discursiva mais ampla.

Ilari (2002) ainda apresenta os “advérbios predicativos” e “advér-bios não predicativos”, partindo da diferença dos papéis que desempe-nham. Nos “predicativos” o núcleo significativo do verbo e do adjetivo é afetado pelo acréscimo do advérbio, enquanto nos “não-predicativos” o núcleo do sentido dos verbos e dos adjetivos permanece intactos, portanto há uma negação à modificação de sentido. As classes que se enquadram entre os predicativos são: os “qualitativos”, “intensificado-res”, “modalizadores” e “aspectualizadores”, já as que se enquadram entre os não-predicativos são: os “advérbios de verificação” os “cir-cunstanciais”.

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Atividade I01. Leia essa frase:

“Caminhar é bom para saúde, outro exercício importante é comer devagar...”

O advérbio devagar expressa uma idéia de velocidade, logo, poderia ser associado à circunstância temporal. No entanto, ele é comumente descrito como um advérbio de modo. Com base na frase acima, explique o que justifi caria essa classifi cação.

02. Leia esse trecho de resenha:

Os advérbios de Poly Jean Harvey.

Vários advérbios podem descrever o novo álbum de PJ Harvey, des-de que sempre acompanhadas do adjetivo “ruim”. Inapelavelmente ruim. Desesperadamente ruim. Só não vale dizer “surpreendentemente” ruim. Porque esse não é exatamente um disco da PJ Harvey. É de PJ Harvey e John Paish, antigo parceiro. [...]JUNIOR, Álvaro Pereira. Folha de São Paulo. 6 de ago. 2009.

a) Que sentido os advérbios em destaque acrescentam à palavra ruim?

b) Observe as frases: “o novo disco de PJ é surpreendentemente ruim” e “surpreendentemente, o novo disco de PJ Harvey é ruim”. Que sentido o advérbio acrescenta ao enunciado e que elementos ele modifi ca em cada caso?

c) Qual é a opinião do autor da resenha sobre o compositor John Parish? Explique.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Coesão textual pelo emprego de advérbios

Um texto é uma unidade significativa global, regida por mecanis-mos coesivos que têm a função de estabelecer relações de sentido entre as partes que a constituem. Os advérbios são elementos que ajudam a estabelecer essas relações de coesão.

Vamos estudar agora, o papel dos advérbios na coesão textual. Para começar, leia a tirinha abaixo:

Nos três primeiros quadrinhos, Miguelito relata uma sucessão de eventos trágicos que aconteceram com ele, gerando uma expectativa por um despacho de igual gravidade. No entanto, no último quadrinho, ele apresenta um fato simples e corriqueiro – justifica o fato de não ter entregue a lição de casa, quebrando a expectativa do leitor que espe-rava outro fato trágico, criando assim, o humor da tira.

Observe que os advérbios e as locuções adverbiais (depois, en-quanto, mais tarde) contribuem para a progressão do texto, indicando a sequência de acontecimentos, eles estão, portanto, estabelecendo a coesão textual.

Segundo Barreto (2010, p. 285) “Como elementos coesivos, os ad-vérbios podem fazer referência a outro elemento do texto, retomando-o ou antecipando-o (coesão referencial). Podem também assinalar a or-denação da sequência temporal, permitindo a continuidade das ideias. Nos dois casos estabelecem relações entre as partes do texto, contri-buindo para a progressão textual.”

Leia o início do poema “Vou-me embora para Pasárgada”, de Ma-nuel Bandeira, para observar como os advérbios estabelecem a coesão textual nesse texto.

Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolher Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz [...]

BANDEIRA,Manuel. Libertinagem e estrela da manhã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p. 66.

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O advérbio lá, no segundo e terceiro versos, fazem referência a um elemento já citado no texto (Pasárgada), têm, portanto, função anafóri-ca. O advérbio aqui, no ultimo verso, tem como referência um elemento situacional externo ao texto, atuando, portanto, como dêitico.

Continuando...

O advérbio e seu referente

Ao utilizar os advérbios ou locuções adverbiais na montagem de frases e textos, podemos dar coordenadas sobre a localização no es-paço e no tempo do enunciado, tendo como referência elementos do próprio texto ou elementos extratextuais, ou seja, de fora do texto. Sem a identificação dessas referências, são palavras vazias de conteúdo se-mântico. Por isso, fala-se do caráter dêitico dos advérbios.

Veja no enunciado:

“Eu vou aí.”

Em que o advérbio de lugar aí é um dêitico que ganha significação ao se identificar o seu referente. Se, ao pronunciar tal enunciado, o fa-lante estiver em sua casa e dirigir-se a um amigo que está na escola, aí é igual a “escola”. O referente, nesse caso, é extratextual, ou seja, não está no texto, a informação está ligada à situação dessa conversa.

Já em:

Todos estavam na chácara, por isso decidimos ir lá.

O advérbio de lugar lá é um dêitico que tem como referente “na chácara”, nesse caso, a referência é textual.

O mesmo acontece com os dêiticos de localização temporal. Ana-lisemos os enunciados abaixo:

I. Ontem fomos ao teatro.

II. Ontem 17 de setembro de 2010, fomos ao teatro.

No primeiro caso, o advérbio de tempo ontem é um dêitico com referência extra textual; para interpretá-lo temos que observar o con-texto em que aconteceu o enunciado, já que ontem refere-se ao dia imediatamente anterior à enunciação. Por exemplo: se o enunciado foi dito hoje, ontem é igual a ontem; se foi dito ontem, ontem é igual a anteontem; e assim por diante.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 197

Entretanto, no segundo caso, ontem é igual a 17 de setembro de 2010. A referência é textual.

Vamos nos divertir?

Sabendo do aspecto dêitico dos advérbios, vamos matar a charada?

Veja como Millôr brinca com a referência dos advérbios de tempo:

“Amanhã amanhã será hoje. Hoje ontem era amanhã.O tempo não é mais nada.”

www.millor.com.brAcesso em: 20, out, 2009

Amanhã, amanhã será hoje (daqui a 24 horas o amanhã virará hoje).Ontem, hoje era amanhã (há 24 horas o que era amanhã virou hoje).Ontem não é mais nada (não existe).O tempo está sempre determinado pelo ponto de referência do

hoje, ou seja, do presente em que se encontra o enunciador.

Atividade II

01. Leia o início do poema “vou-me embora pra Pasárgada”, de Manoel Bandeira. Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolher Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz [...]

BANDEIRA,Manuel. Libertinagem e estrela da manhã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p.66.

a) A que se refere o advérbio lá no segundo e terceiro verso do poema?

b) A que se refere o advérbio aqui?

c) É possível dizer que dois dos advérbios atuam no texto em função anafórica, ou seja, retomando elementos apresentados anteriormente pelo texto? Explique.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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198 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa III

d) Pasárgada é o nome de uma antiga cidade da Pérsia (atual Irã), repleta de palácios onde moravam reis do país. Que sentido essa palavra adquire nesses versos?

02. Explique a diferença de sentido entre o par de frase:

I. Muitos agricultores ainda não plantaram a safra de verão.

II. Muitos agricultores não plantaram a safra de verão.

Para concluir

O ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa vem sen-do muito questionado ultimamente, especificamente nas forma como é passado para os alunos, um ensino fragmentado, com conteúdos “secos”, cheio de regras para serem memorizadas e seguidas pelos alunos tornando-se, assim, uma prática sem sentido e distante do con-texto sociocultural dos alunos. Enfim, um ensino que mais complica do que explica a língua. Isso não significa que devemos deixar de ensinar gramática, pois para que uma pessoa se torne uma eficiente usuário da língua, são necessárias algumas competências e entre elas a linguística ou gramatical, é muito importante. Precisamos sim, de um ensino de gramática mais dinâmico, mais reflexivo, que propicie ao aluno um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da linguagem rele-vante para as práticas de leitura, escrita e produção de textos.

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Língua Portuguesa III I SEAD/UEPB 199

Leituras recomendadas

Para acessar http://www.revistalingua.com.br

Site da revista Língua Portuguesa, que possibilita o acesso aos ar-tigos publicados na versão impressa da publicação. Autores reno-mados discutem diferentes aspectos da gramática do português, fa-zendo importantes considerações sobre o modo como são descritos pela gramática normativa e o uso que deles fazem os falantes.

Para assistir

Falcão Meninos do tráfi co, de MV Bill e Celso Athayde, Brasil, 2006.O filme é um retrato assustador da infância e adolescência perdidas para o tráfico nas grandes cidades brasileiras. Você vai observar uma variante linguística típica desses garotos (traficantes e morado-res de morros). “Nós não vive na sociedade; nós mora no morro.” Tipo nós não é nada.” “Tô aqui prá tudo”, entre outras expressões.

Para ler

Bagno, Marcos. Preconceito linguístico: O que é como se faz. São Paulo: Loyola,1999.

Marcos Bagno apresenta a definição de preconceito linguístico e analisa como se dá o processo de construção e difusão de juízos de valor sobre diferentes variantes utilizadas pelos brasileiros. O autor argumenta para demonstrar como esses juízos preconceituosos têm por base, muitas vezes, a confusão entre os usos coloquiais do por-tuguês e o que prescreve a gramática normativa, dando origem ao mito de que “O brasileiro não sabe português”.

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Resumo

A classe gramatical dos advérbios tem sido questionada pelos lin-guistas, para eles a gramática tradicional apresenta a definição e o emprego dos advérbios de forma simplista e incompleta e propõem novas formas de estudá-los que ampliam a funcionalidade dessa classe de palavras. Nesse sentido, autores a exemplo de Fiorin (2008), Bonfim (1998), Ilari (2002), entre outros, propõem novas formas de estudar os advérbios que extrapola o que nos mostra a tradição e são explicitadas através de uma análise que considera a funcionalidade da língua. Os advérbios também são mecanismos coesivos que têm a função de esta-belecer relações de sentido entre as partes que constituem um texto.

Autovaliação

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“A classifi cação tradicional dos advérbios tem sido questionada pelos linguistas. Alguns autores propõem outras classifi cações e outros empregos para essa classe gramatical, além de enfatizar o seu papel na coesão textual.”

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Referências

BARRETO, Ricardo Gonçalves. Português. Ser protagonista. São Paulo: Edições SM, 2010.

BONFIM, Eneida. Advérbios. São Paulo: Ática S.A, 1998.

FIORIN, José Luis. As astúcias da enunciação: As categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo: Ática, 2008.

ILARI, Rodolfo. El. Al. Considerações sobre a posição dos advérbios. In: Castilho. A.T. de (org.). Gramática do português falado: a ordem. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.

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