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Linearidades Fauna atropelada UFRGS Ar.go Atropelamento intencional de serpentes E mais... Projeto Malha CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS | ANO 0 | N 8

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Linearidades - a revista do centro brasileiro de estudos em ecologia de estradas

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Linearidades

Fauna  atropelada    UFRGS

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N 8

Alex Bager

Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas

A poucos meses atrás o CBEE anunciou a criação de uma ambiciosa proposta de estabelecer uma rede nacional de monitoramento de fauna selvagem atropelada, o Projeto Malha.

Temos a grande satisfação de anunciar que a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza divulgou a aprovação de apoio ao Malha a partir de 2013, e com uma duração de 18 meses. Nesta primeira fase estarão envolvidas 12 unidades de conservação brasileiras dos biomas Mata Atlântica e Cerrado. As UCs são Parque Nacional das Chapadas dos Guimarães (MT); Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ); Parque Nacional da Tijuca (RJ); Floresta Nacional de Silvânia (GO); Reserva Biológica União (RJ); Floresta Nacional de Piraí do Sul (Pr); Parque Estadual do Rio Vermelho (SC); Parque Estadual de Tainhas (RS); Área de Proteção Ambiental Fernão Dias (MG); Parque Natural Municipal de Pouso Alegre (MG); Reserva Biológica de Pouso Alegre (MG); RPPN Mata do Sossego (MG).

Cada Unidade receberá treinamento para se adequar a um protocolo padrão de amostragem e os monitoramentos serão realizados pela própria equipe das unidades de conservação. Todos os dados serão repassados ao CBEE que os processará e disponibilizará no Banco de Dados Brasileiro de Atropelamento de Fauna Selvagem (BAFS). O BAFS continuará utilizando como sua

base de dados as ferramentas do Google, mas será desenvolvido um sistema de inserção de dados que permitirão às UCs inserirem os dados via fusion tables. Estamos aguardando respostas de outros financiadores, para que o BAFS possa ser implementado como uma ferramenta independente, esperamos poder noticiar apoios complementares em breve.

Ainda no primeiro semestre de 2013 esperamos poder abrir inscrição para que outras Unidades de Conservação possam se integrar ao Malha e ampliarmos a nossa rede de coleta de dados e compreensão dos impactos relacionados ao atropelamento de fauna selvagem.

REB 2013 - Facebook

Informamos que a página do Road Ecology Brazil 2013 está em funcionamento no facebook.

CURTA a página clicando aqui e fique inteirado de todas as informações sobre o evento, receba as circulares e as notícias em tempo real!

CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS ANO 0 N. 8

Projeto Malha, os primeiros passos ...

Dissertação de mestrado de Fernanda Zimmermann Teixeira1,2, sob orientação do Prof. Dr. Andreas Kindel1,3

1 – Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF), PPG Ecologia, UFRGS

Estudos sobre o impacto de rodovias sobre a fauna são cada vez mais frequentes, mas, apesar da quantidade de estudos disponíveis, muitas pesquisas não adotam uma abordagem amostral e analítica adequada para seus propósitos. Com o objetivo de qualificar os estudos em ecologia de estradas, em dissertação de mestrado realizada na rodovia Rota do Sol (RST-453/ERS-486, no RS) e finalizada em janeiro de 2011 (disponível para download), procuramos discutir procedimentos e disponibilizar métodos para monitoramentos de fauna atropelada em rodovias. Para tanto, em uma primeira parte do trabalho testamos se há diferença na remoção e detecção de carcaças entre diferentes grupos taxonômicos e avaliamos a influência desses fatores (remoção e detecção) sobre as estimativas de magnitude de mortalidade; e em uma segunda pa r te ava l i amos o padrão espac ia l dos atropelamentos e testamos se a localização dos hotspots de atropelamentos é similar entre diferentes grupos taxonômicos.

Estimativas de mortalidade são fundamentais para avaliar o impacto de rodovias, mas para reduzir o seu viés a remoção de carcaças e a eficiência dos observadores devem ser consideradas. Os resultados obtidos demonstram que a remoção de carcaças é alta em 24 horas e que as taxas de remoção não são homogêneas entre grupos taxonômicos e classes de tamanho.

Tecnologia que evita atropelamentosA empresa australiana IPETE Schalk está testando o dispositivo DeerDeter, capaz de desencorajar animais a atravessar a estrada quando estão trafegando veículos sobre a mesma. O dispositivo, instalado ao longo da pista, é acionado pelos faróis dos veículos e posteriormente são emitidos sons e luzes do DeerDeter que afugentam os animais, evitando desta forma o seu atropelamento. O sucesso do sistema é de 70% a 100% nas áreas testadas.

CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS ANO 0 N. 8

Fauna atropelada: estimativas de mortalidade e hotspots

Anfíbios e aves, animais normalmente de menor tamanho, foram removidos mais rapidamente do que répteis e mamíferos. Da mesma forma, a detecção dos pesquisadores diferiu para grupos taxonômicos e classes de tamanho diferentes, sendo muito menor para anfíbios e aves. Entretanto, deve-se considerar que grupos taxonômicos e classes de tamanho são fatores associados, já que anfíbios e aves normalmente possuem corpo de menor tamanho, enquanto mamíferos são maiores.

O efeito direto gerado pela alta remoção de carcaças e baixa detectabilidade é a subestimativa da magnitude de mortalidade de animais atropelados em cada grupo taxonômico. A avaliação da magnitude de atropelamentos sem a incorporação desses fatores, considerando apenas o número de carcaças medidas no monitoramento, resulta em taxas similares de mortalidade para cada grupo, o que não corresponde à realidade. Incorporar essas fontes de erro nas estimativas é de fundamental importância para a avaliação dos impactos de rodovias. Como uma alternativa para corrigir esse viés, adaptamos um modelo matemático que incorpora esses fatores (detecção e taxas de remoção) na estimativa da taxa de mortalidade. Cada função matemática gerada do modelo se aplica a uma situação de monitoramento e uma das funções apresentada considera que os monitoramentos de fauna atropelada normalmente são rea l izados periodicamente e com a retirada das carcaças pelos pesquisadores, permitindo sua ampla aplicação nos estudos.

Numa segunda parte da dissertação, avaliamos o padrão espacial e a similaridade entre as agregações de atropelamentos entre diferentes grupos taxonômicos. Como mamíferos de maior porte geralmente são o grupo mais bem documentado em levantamentos de animais atropelados, provavelmente devido ao seu tamanho corporal e interesse na sua demografia e conservação, outros grupos são negligenciados e muitas vezes não contemplados nos planos de mitigação. Além disso, a avaliação da distribuição espacial dos atropelamentos e identificação dos pontos com maior intensidade de acidentes é fundamental para qualificar o planejamento de medidas mitigadoras.

Identificamos que a localização das agregações de atropelamentos de mamíferos pode ser utilizada como indicadora

da localização de agregações de outros grupos taxonômicos, mas apenas em escalas mais amplas. Em escalas refinadas, há grandes diferenças nos padrões espaciais entre os grupos, provavelmente devido a diferenças no comportamento e uso do hábitat entre os grupos. Assim, em escalas refinadas, o planejamento de medidas mitigadoras pontuais deve ser específico para cada grupo de espécies, mas em escalas mais amplas, um mosaico de medidas mitigadoras pode ser implementado e atingir maior diversidade de espécies. Entretanto, deve-se considerar que o simples uso de um grupo como indicador dos padrões espaciais de outros não significa que todos os organismos serão beneficiados com a implementação das medidas mitigadoras. Portanto, para mitigar os impactos de rodovias para diversos táxons ao mesmo tempo, deve-se planejar e implementar medidas diferenciadas para os grupos-alvo.

Os resultados apresentados nesta dissertação são importantes no contexto da mitigação do impacto de rodovias, já que o monitoramento de todos os grupos taxonômicos mostra-se difícil, principalmente devido a diferenças nas taxas de detecção de acordo com o método utilizado. Sabe-se que a detecção e a remoção afetam as estimativas de mortalidade, mas deve-se ainda avaliar qual o seu efeito sobre a identificação de padrões espaciais. Desta forma, é importante a aplicação desses resu l tados no mon i to ramento de rodov ias j á implementadas e no planejamento de medidas mitigadoras.

CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS ANO 0 N. 8

Helio Secco, Pedro Ratton, Clarissa Alves da Rosa e Alex Bager

Programa de Pós-graduação em Ecologia Aplicada, Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, Brasil

INTRODUÇÃO

Devido à demanda mundial por vias de escoamento de produtos e matérias-primas bem como de deslocamento de pessoas, a malha rodoviária está se expandindo cada vez mais, e consequentemente invadindo ambientes naturais em diversas regiões do globo (Forman et al. 2003). Dentre os impactos causados sobre a fauna, a colisão com veículos representa a maior causa de mortalidade direta (Gibbs & Shriver 2002; Glista et al. 2008).

Entre os répteis, espécies de serpentes testadas em experimentos em rodovias apresentaram diferentes tipos de resposta comportamental em função do fluxo de veículos (Andrews & Gibbons 2005, Row et al. 2007). Durante o deslocamento por espaços abertos como rodovias, algumas espécies de serpentes reagem ao reconhecer um veículo como se estivessem reagindo à presença de um predador, os principais comportamentos identificados nesta situação são: interromper a travessia e ficar imóvel, e aumentar a velocidade de deslocamento completando a travessia até a outra margem da rodovia. O risco de atropelamento varia de acordo com o padrão de atividade, necessidade de travessia, velocidade de travessia e a percepção do tráfego de veículos que cada espécie apresenta (Andrews & Gibbons 2005).

O presente estudo tem como objetivo avaliar se existe atropelamento intencional de serpentes em rodovias brasileiras tendo em vista que esse grupo é constantemente representado em listas de espécies atropeladas em rodovias de diferentes regiões brasileiras (Silva et al. 2007, Coelho et al. 2008, Kunz & Ghizoni-Jr

2009, Turci & Bernarde 2009, Hartmann et al. 2011) e que nenhum trabalho foi conduzido até o presente momento avaliando este impacto. Em outros países já existem trabalhos que alertam para a existência dessa prática, a qual representa um fator de ameaça à persistência de populações que vivem próximas de rodovias (Langley et al. 1989, Ashley et al. 2007, Row et al. 2007).

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo escolhida para o desenvolvimento deste trabalho foi a rodovia MG-010, no trecho entre o Parque Estadual do Sumidouro e a Serra do Cipó, no Estado de Minas Gerais, Brasil. Os dois locais estão inseridos na área compreendida pela Serra do Espinhaço, uma região considerada de alta relevância ecológica por apresentar notável diversidade de espécies animais e vegetais, incluindo espécies ameaçadas de extinção (IEF 2010).Para o desenvolvimento deste estudo utilizou-se moldes de serpentes e câmeras fotográficas dispostas ao longo de diferentes trechos da rodovia MG-010.

Existe atropelamento intencional de serpentes em rodovias brasileiras ?

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Os moldes de serpentes foram produzidos a partir de tecidos de cor verde, devidamente pintados de modo a assumir a aparência mais similar possível à de serpentes verdadeiras, em seguida, preenchidos com areia. Para cada molde de serpente posicionado na rodovia, uma câmera foi instalada próxima.

Os moldes eram colocados na rodovia no início da manhã e as câmeras foram programadas para fotografar segundo a segundo, durante quatro horas por dia em média. Os atropelamentos foram considerados intencionais apenas quando os veículos alteraram sua trajetória normal na pista, passando a se deslocar na direção dos moldes de serpentes previamente.

Ao todo foram três dias de amostragem em diferentes trechos da rodovia MG-010, onde três moldes de serpentes eram implantados diariamente, posicionados em diferentes posições na pista e em locais distanciados três quilômetros entre si.

RESULTADOS PRELIMINARES E DISCUSSÃO

Ao todo foram registrados 91 atropelamentos, sendo 35 destes identificados como intencionais (38,5%), distribuídos entre todos os dias de amostragem, trechos de rodovia e posições na pista. A taxa média de a t rope lamento i n tenc iona l i den t i ficada fo i de aproximadamente 0,9 atropelamentos por hora. Os resultados comprovam a existência desse comportamento por parte dos motoristas que trafegam em rodovias brasileiras. Esse quadro pode ser considerado alarmante devido à falta de conhecimento acerca da real influência desse impacto sobre populações de serpentes que habitam áreas próximas de rodovias.

Por outro lado, essa taxa se altera quando calculada entre as diferentes posições dos moldes na pista, passando a apresentar uma taxa de aproximadamente 0,4 atropelamentos por hora quando se encontram nas margens e de aproximadamente dois atropelamentos por hora quando posicionados no meio da pista. Essa diferença pode ser explicada devido à facilidade do motorista em alterar a trajetória do veículo em direção ao meio da pista correndo menor risco de ocasionar um

acidente do que em relação à mudança de trajetória em direção às margens. Como algumas espécies de serpentes podem desencadear comportamentos tais como se tornarem momentaneamente inertes quando se sentem ameaçadas, o risco de serem atropeladas no meio da pista aumenta consideravelmente quando identificam a aproximação de um carro durante uma travessia.

Dividindo os atropelamentos intencionais entre as diferentes categorias de veículos podemos observar que 48% são representados por carros de passeio, 30% por caminhões, 10% por caminhonetes utilitárias, 6% por ônibus, 3% por motos e 3% por tratores. Essa proporção entre as diferentes categorias de veículos demonstra que todas elas contribuem para o total de atropelamentos intencionais, e que apesar dos caminhões apresentarem uma participação efetiva, os carros de passeio são os que mais causam atropelamento. Esse resultado pode ser explicado em função do maior volume de veículos desta categoria trafegando pela rodovia quando comparado com as outras.

CONCLUSÃO

Este estudo comprova a existência da prática do atropelamento intencional de serpentes também em rodovias brasileiras, assim como já foi relatado para outros países. Este comportamento por parte dos motoristas acaba incrementando a mortalidade de serpentes em rodovias, uma vez que os atropelamentos intencionais são somados aos atropelamentos de caráter acidental. Quando consideramos a diversidade de espécies existentes no Brasil e a frequência com que essas são registradas atropeladas em rodovias brasileiras, esse fator ganha maior relevância, representando uma ameaça à persistência dessas populações e consequentemente à conservação das espécies.

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CONTRIBUIÇÕESA LINEARIDADES aceita contribuições nos seguintes segmentos:

- Resenhas de projetos em desenvolvimento ou finalizados (não encaminhar propostas de projetos);

- Resenhas de artigos científicos e monografias (graduação, mestrado, doutorado e especialização) (Encaminhar cópia em PDF junto com a resenha);

- Notícias nacionais e internacionais;

- Eventos;

- Oportunidades de estágios, bolsas, empregos em Ecologia de Estradas;

- Fontes de financiamento de projetos.

EQUIPE

CoordenaçãoAlex Bager

ResponsávelLívia VillelaEmail: [email protected].: 35 3829 1928

Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas

Universidade Federal de Lavras - Departamento de Biologia

Campus Universitário, s/n - Lavras - MG - 37200 000

Email: [email protected]

Web: www.dbi.ufla.br/cbee (em construção)

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