lindenberg & life edição 38

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38 ARTE: JOSÉ POSSI, GREGORIO GRUBER, JOVENS ARTISTAS... 38

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Confira na edição 38, da revista Lindenberg, diversas entrevistas a jovens artistas

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As muitas formas da arte: escultura, pintura, teatro, artistas

O que é arte? Essa pergunta recorrente tem centenas de respostas. Arte é o belo? Como, se os critérios para avaliar a beleza variam de pessoa para pessoa? Arte é o que vemos em museus e galerias, ou seria mais do que isso? “A arte é uma flor nascida no caminho da nossa vida, e que se desenvolve para suavizá-la”,

escreveu o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, cujo pensamento não se encaixava em nenhuma das correntes filosóficas do século 19. A frase, que parece fora de contexto para um reconhecido pessimista, traz embutidos todos os sentidos da arte: suavizar a vida. Esta edição da revista Lindenberg&Life é dedicada às mais diversas manifestações da arte. Mostramos as esculturas que São Paulo abriga em sua selva de pedra, bronzes de outros séculos ou as curiosas formas das manifestações atuais. Apresentamos o olhar que o artista plástico Gregório Gruber lança, em suas telas, sobre São Paulo, capturando uma beleza que muitas vezes não percebemos. Criamos um paralelo entre a arte revolucionária de Tarsila do Amaral, no começo do século 20, e o trabalho que jovens artistas vêm desen-volvendo cem anos depois. E trazemos o glamour dos musicais brasileiros, que fazem cada vez mais sucesso, como conta o diretor José Possi Neto.Seria o morar uma forma de arte que se aproxima da encenação, do teatro? Ou um jeito de viver com personalidade, como fez o jornalista Cesar Giobbi em seu Lindenberg dos anos 1970, onde transformou os ambientes em pequenos cenários montados com retalhos de sua própria história. E, por que não?, um novo empreendimento que se delineia para fazer do viver, morar e trabalhar um prazer.

O prazer de aproveitar uma viagem para ir um pouco além e descobrir um pouco mais, ou de um ano sabático percorrendo o mundo despojadamente, tendo uma mochila como companhia e uma câmera na mão. Deixar-se envolver, ou não, por esculturas gastronômi-cas que andaram frequentando algumas mesas estreladas, como mostra o saboroso texto assinado pelo crítico de gastronomia Mauro Marcelo Alves, faz da culinária uma arte? Estes são os ingredientes desta edição, algumas formas da arte de viver com qualidade. Divirta-se.

Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar

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08 Notas Novidades, teatro, exposição

16 Cidade Piracicaba, cheia de encantos

30 Poéticas Urbanas A poesia das cidades

32 Urbano Esculturas: arte escondida em São Paulo

40 Um outro olhar Gregorio Gruber

46 Entrevista José Possi, o mago dos musicais

50 Arte Jovens artistas, grandes desafios

60 Primeira pessoa Teatro do cotidiano

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62 Personna O apartamento do jornalista Cesar Giobbi

70 Cozinha Molecular, sim ou não?

72 Qualidade de Vida Você sabe o que é de verdade?

74 5 Experiências Um ano sabático

76 Turismo Dobradinhas de sucesso

82 Filantropia Casa do Zezinho

86 Vendo um Lindenberg

88 Em obras

é uma publicação da Construtora Adolpho Lindenberg.

Ano 9, número 38, 2011

Conselho Editorial Adolpho Lindenberg Filho,

Flávio Buazar, Ricardo Jardim, Rosilene Fontes, Renata Ikeda

Marketing Renata Ikeda

Direção de arte Lili Tedde

Editora-chefe Maiá Mendonça

Colaboradores Adriana Brito, Flávio Nogueira, Felipe

Reis, Instituto Azzi, Judite Scholz, Juliana Saad, Mauro Marcelo Alves,

Mari Vaccaro, Mariana de Salles Oliveira, Maria Eugênia, Patricia Favalle, Roberto Taddei, Romulo

Fialdini, Rosilene Fontes, Valentino Fialdini

Revisor Claudio Eduardo Nogueira Ramos

Arte Raquel Botelho

Publicidade Cláudia Campos, tel. (11) 3041.2775cel. (11) 9910.4427

[email protected]

Gráfica Pancrom

Lindenberg & Life não se responsabiliza pelos conceitos

emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm

autorização para falar em nome de Lindenberg & Life ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não

tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por pessoa

que conste do expediente.

Lindenberg & LifeR. Joaquim Floriano, 466, Bloco C,

2º andar, São Paulo, SP, tel. 3041-5620 www.lindenberg.com.br

Jornalista ResponsávelMaiá Mendonça (Mtb 20.225)

A tiragem desta edição de 10.000 exemplares foi auditada por PwC.

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Nossa CapaPintura, uma das muitas artes de Tatiana Blass

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ilustração Maria Eugênia

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Errata: Na matéria Novos Espaços de Trabalho, publicada na edição 37, a sigla do nome do escritório de Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz saiu FMGF, o correto é FGMF

“a terra é azul”Yuri Gagarin 12/4/1961

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De Kooning: Uma RetrospectivaConsiderado um dos mais importantes artistas do século 20, Willem de Kooning, o mestre do expressionismo abstrato, ganha retrospectiva no MoMA de Nova York. A mais completa mostra sobre o artista aborda sete décadas de criação artística, desde a fase acadêmica dos primeiros anos vividos na Holanda, a fase pós-chegada aos Estados Unidos, a influência de Gorky, as composições geométricas de antes da Segunda Guerra, o preto e branco, a volta ao figurativo, e termina na década de 1980. São mais de 200 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras, entre eles Pink Angels (1945), Excavation (1950) e a série Woman. Esse completo panorama na obra do mestre do expressionismo abstrato tem como ponto alto Labyrinth, de 1946, pano de fundo criado para a apresentação da dançarina surrealista Marie Marchowsky, da companhia Martha Graham, muito pouco vista. De 18 de setembro a 9 de janeiro de 2012. www.moma.org

Patchwork no ChãoFrancesca Alzati, designer da by Kamy, reaproveitou placas de tapetes novos, antigos, nacionais e estrangeiros e criou o Goltchin Color, uma interessante colagem de retalhos que depois foram tingidos manualmente de azul. O resultado é curioso e único. www.bykamy.com.br

Freud na MesaElogiada aqui e no mundo, a designer Roberta Rampazzo é inusitada e inovadora, não apenas

nos materiais que usa como nas formas que cria. A mesa Alma, por exemplo, foi feita

com sobras de madeira e acrílico reciclável como estrutura. “A parte interna representa

as emoções e suas irregularidades, a externa é mais definida e racional. Daí o nome”, explica

a moça. www.robertarampazzodesign.com

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Cheirinho BomDespertar os sentidos nos espaços em que se vive era novidade em 1991 quando a Antik foi criada. Pot-pourris e sprays aromatizadores de ambientes viraram mania. Se recriando a cada estação, a Antik comemora seus 20 anos com uma nova essência: Allegra, notas de saída de grama cortada e pomelo rosa, somadas ao jasmim, violeta, carvalho e musgo. E três novidades, uma flor perfumada, cotton leaf para perfumar gavetas e spray concentrado para recarregar o perfume dos dois. www.antik.com.br

Pérola NordestinaRevistas como a Wallpaper, Harper’s Bazaar, Tatler Travel Guide 2011 – top 101 hotels in

the world e Travel + Leisure – The Best New Hotels 2011 já dedicaram páginas de suas publicações à nova sensação do Nordeste:

o Kenoa Resort, o primeiro eco-chic design resort do País, em Barra de São Miguel, 30

quilômetros ao sul de Maceió. Parte da lista do Design Hotels e apontada como Novidade

do Ano 2011 pelo Guia Quatro Rodas, o novo conceito eco-chic design do resort combina

respeito pelo meio ambiente em primeiro lugar, exclusividade, tranquilidade, equilíbrio e paz em 23 acomodações com todo o conforto do

que há de mais moderno e uma atmosfera intimista e casual, o spa com tratamentos

relaxantes e um restaurante a cargo do renomado chef César Santos. Não deixe de assistir ao pôr do sol no lounge que fica a 9

metros de altura e tem uma vista espetacular. Tel. (82) 3272-1285, www.kenoaresort.com

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Em Algum Lugar do Passado “Quando nos mudamos para Michigan, imaginei carros, indústrias, mais carros e, claro, os grandes lagos. Era difícil acreditar que pudessem existir lugares charmosos por aqui. E não é que me surpreendi? O estado de Michigan é formado por penínsulas delimitadas pelos Grandes Lagos – Michigan, Huron e Superior. É no Huron, a cerca de 400 quilômetros de Detroit, que fica Mackinac Island, um paraíso bucólico onde não entram carros, somente cavalos, bicicletas ou a pé. Atravessa-se o lago de barco e, ao desembarcar a sensação é de estar em um filme de época. Casinhas brancas de madeira, carruagens puxadas por cavalos, bandeiras penduradas. Não é à toa que o Grande Hotel, o mais chique hotel da ilha, tenha sido cenário do filme Em Algum Lugar do Passado. Não há muito o que fazer em Mackinac Island, além de explorar seu charme. E são três os jeitos de conhecer a ilha: pedalando, caminhando ou a cavalo. Circundar a ilha de bike leva pouco mais de uma hora, contando paradas estratégicas para admirar a vista do Huron e tirar fotos. São apenas 12 quilômetros. É possível jogar golfe, os restaurantes são simpáticos e a especialidade do lugar é o Fudge, uma pasta de chocolate com vários sabores, deliciosamente engordativo e bem americano.” Roberta Pires Dias, www.taylormade.com.br

Olhares Urbanos Temas como sociologia urbana e antropologia urbana, o funcionamento da vida social na metrópole, são alguns dos temas abordados no livro Olhares Urbanos, Estudos Sobre a Metrópole Comunicacional (Summus Editorial), organizado por Ricardo Ferreira Freitas e Janete da Silva Oliveira, que lança um olhar sobre o uso, a percepção e a representação das metrópoles e de seus personagens por meio da análise de diversas mídias.

Em QuadrinhosHá anos Marco Mariutti migrou da pintura em tecido para a tela, e seus trabalhos são surpreendentes pela liberdade do traço e pelo uso da cor. “As imagens surgem da mistura aleatória de tintas diluídas sobre a tela. Enquanto eu pinto, é como se estivesse olhando as nuvens no céu à procura de desenhos”, explica ele que nesse trabalho encontrou uma moça de batom, um mapa do litoral e uma ilha de pedra. “Gosto especialmente dele pelas cores claras e iluminadas”, entrega. Rua Francisco Leitão, 222, tel. (11) 3628-6939.www.flickr.com/photos/marcomariutti

Tudo se RecriaValendo-se da beleza das cascas das árvores descartadas pela natureza, das marcas deixadas pelo tempo nas madeiras desprezadas pelo homem, a designer Monica Cintra construiu uma série de abajures que brincam com a leveza da gaze e da seda de suas cúpulas. www.monicacintra.com.br

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Corpo com AlmaO nome não denuncia, mas

o escultor Israel Kislansky é baiano de Salvador. E

talvez tenha sido a beleza das baianas que fez dele

um apreciador das formas femininas que procura

capturar em suas esculturas de madeira, cerâmica ou

metal. Algumas pequenas, perfeitas e delicadas, outras enormes, quase disformes, e

igualmente belas. www.kislansky.blogspot.com

E Fez-se a LuzAs peças, garimpadas all around the world, estão entre as mais festejadas.

O design pode ser muito ousado ou algum clássico consagrado. O importante é qualidade, criatividade, funcionalidade e tecnologia. Essa

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Limburg, a dinamarquesa Poulsen ou a italiana Slamp, entre outras. www.eurolight.com.br

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ClickA Olympus está trazendo para o Brasil três novas câmeras compactas da sua família PEN, atraentes por serem pequenas, funcionais, e com alta qualidade de resolução tanto para fotos quanto para filmes. PEN E-P3 vem com o foco automático mais rápido do mundo e qualidade de imagem DSLR; PEN E-PL3 é para fotógrafos que querem memórias gravadas com qualidade de imagem profissional e inclui tecnologias fáceis de usar, como a tela de LCD inclinada que permite tirar fotos de uma multidão ou no nível do chão com igual qualidade e a PEN E-PM1, a menor e mais leve e colorida câmera da família. www.getolympus.com

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Repleta de belas paisagens naturais, Piracicaba experimenta processo de modernização sem perder suas raízes e suas características típicas de cidade do interior Por FLávio Nogueira | Fotos FeLiPe reis

CHEIA DE

ENCANTOS

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Piracicaba é a prova de que nem todas as cidades interioranas são tão pequenas assim. Aqui, entre um canto e outro, o que se sente é um mix de

clima acolhedor e de imponência traduzidos por edifí-cios e indústrias. Rodeada de fazendas centenárias, as belezas naturais locais enchem qualquer olhar. E sua arquitetura revela que além de abençoada pela natu-reza, a região é recheada de boas histórias e “cheia de encantos”, como brada o hino da cidade.

Em suas ruas tranquilas e arborizadas, as pessoas andam sem pressa e a atmosfera familiar repleta de cordialidade é como a de uma cidadezinha. E isso a aproximadamente 160 quilômetros da capital paulista. Com cerca de 380 mil habitantes, Piracicaba (lugar onde o peixe para, em tupi-guarani) tem uma economia bastante diversificada, principalmente no setor agrícola e industrial, ela é hoje uma das cidades mais produtivas

do Estado de São Paulo. Bem localizada, tem como vizinhas Americana, Hortolândia e Campinas, essa última distante apenas 70 quilômetros.

O Rio Piracicaba, um dos principais atrativos, tem valor inestimável na biografia da região. Assim como outras civilizações nasceram ao longo das margens de um rio, como o Eufrates e o Nilo, o de Piracicaba é também um símbolo de vida e base econômica. Sua história começa em meados de 1766, quando o capi-tão-general de São Paulo, D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, encarregou Antônio Corrêa Barbosa de fundar uma aldeia próxima do deságue do rio. Mas, o capitão preferiu se estabelecer em um ponto onde já estavam fixados alguns posseiros e também onde moravam os índios paiaguás, à margem direita do salto, cerca de 90 quilômetros de onde o capitão D. Luís pediu que ele instituísse a aldeia. O endereço seria

escola superior de agricultura “Luiz de Queiroz” (esaLQ - usP).

acima, ponte do Mirante, foto tirada em 1916. ao lado, coqueiros que embelezam a entrada do esaLQ

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ponto de apoio das embarcações que desciam o Rio Tietê e daria retaguarda ao fornecimento do forte de Iguatemi, fronteiriço ao território paraguaio.

Um ano depois, mais precisamente no dia 1° de agosto de 1767, Piracicaba foi fundada sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres. E 17 anos depois ocorreu a primeira grande mudança: A cidade foi transferida para a margem esquerda do rio, logo abaixo do Salto, onde as terras favoreciam a fertilidade, expansão e con-sequentemente atraíram muitos fazendeiros.

Mas os atributos históricos não param por aí, as bor-das do rio têm ainda outro importante marco: A Casa do Povoador – um modelo valioso da arquitetura

piracicabana do século 19, um casarão de pau a pique marcado pela passagem dos bandeirantes, o qual, em 1940, foi preservado pela prefeitura municipal.

Outra obra que ganha atenção é a do Engenho Central – um imponente edifício fundado em 1881 pelo barão Estevão Ribeiro de Rezende, com o objetivo de subs-tituir o trabalho escravo pela mão de obra assalariada e pela mecanização –, reconhecida como patrimô-nio histórico em 1989 e transformada em um impor-tante espaço cultural e artístico. Não muito longe do Engenho, outro atrativo: O Museu da Água, construído em 1887, rico em detalhes arquitetônicos como arcos, pisos e paredes de pedras, aquedutos centenários e antigas tubulações de ferro.

tarde tranquila, ensolarada e cercada pelo verde do Parque da rua do Porto

Na página ao lado, engenho Central de Piracicaba, às margens do rio, edificado pelo Barão de rezende, em 1881 e tombado como patrimônio histórico pelo CoDePaC em agosto de 1989

Quem acompanhou algumas mudanças na cidade foi a fazendeira Mercedes P. e C. Lunardelli. “Vi algumas transformações na região, o plantio da cana de açúcar se afastando da cidade, novos loteamentos sendo implan-tados, a  descaracterização do Centro, a demolição de quase todos os edifícios antigos do quadrilátero entre as ruas XV de Novembro e Prudente de Moraes”, revela.

E como qualquer cidade em fase de desenvolvimento ela viu de perto alguns benefícios que a região ganhou, como a revitalização de áreas degradadas e a aposta em biotecnologia. “Temos muitas indústrias novas, inclusive a Hyundai se instalando. A criação de uma escola de música pelo sr. Mahler, as exposições de arte e ainda as modificações da Rua do Porto em área de lazer”, conta.

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Ponte sobre o rio Piracicaba que dá acesso ao engenho Central.

Na página ao lado, ao fundo avista-se o bairro Nova Piracicaba e sua localização

privilegiada com vista para o logo do Parque Beira-rio e o rio, e a entrada do

teatro Municipal

Nova PiracicabaEm meio a essa etapa de crescimento, a Adolpho Lindenberg acompanha a modernização de Piracicaba e assina um empreendimento com novo jeito de morar. No projeto residencial, em fase de desenvolvimento, três torres de alto padrão e estilo neoclássico, marca registrada Lindenberg, e o conceito de “casa”, que inclui terraços gourmet integrados à área social, valorização da suíte máster e do living, onde a cultura do convívio e do receber bem estará presente. Bem à maneira pira-cicabana, como identificaram os estudos feitos pelos desenvolvedores da incorporação.

O projeto, previsto para iniciar ainda este ano de 2011, ocupará um terreno escolhido a dedo, com mais de 7 mil metros quadrados na Avenida Armando Cesare Dedini com a Avenida Dona Francisca, no bairro Nova Piracicaba – um espaço residencial, próximo a escolas e restaurantes, a cerca de dois quilômetros do Centro. E o melhor, com vista para um dos cartões-postais da cidade: o Rio Piracicaba.

Modernos, os apartamentos terão de 200 a 360 metros quadrados, com lazer diferenciado que conta com brin-quedoteca, sala fitness, SPA e sauna, privilegiando um espaço descontraído que traduz bem-estar.

Já no Centro da cidade, mais precisamente na Rua Luiz Curiacos, a novidade será o empreendimento comercial, ou melhor, um empreendimento mix que reúne, na mesma torre de arquitetura contemporânea, 144 saletas comerciais de 40 metros quadrados e 106 apartamentos residenciais de 55 metros quadrados com serviços, área de compras e uma sala de convenção. Na cobertura será instalada uma área de lazer com vista panorâmica para a cidade e o rio, é claro. Dois empre-endimentos com assinatura da maior grife imobiliária do mercado, concebidos ao longo dos anos pelo funda-dor Adolpho Lindenberg.

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DesfruteQualidade de vida é um dos maiores atrativos de Piracicaba (terra do ator Leonardo Vilar), é comum encontrar pessoas caminhando e aproveitando as mar-gens do rio para descansar, relaxar e pescar. Outro programa corriqueiro entre os moradores é sentar em uma das mesas dos bares próximos ao rio e colocar a conversa em dia com os amigos.

Quem sabe bem o que é isso é a piracicabana Marianna Giannetti, a estudante de Direito adora curtir a cidade com sua família e os amigos. “Há muitos programas legais pra fazer aqui, um que gosto e recomendo é comer peixe fresco na beira do rio e experimentar as delícias da Chococlair, uma Maison de Chocolate”, revela.

Para os jovens que buscam diversão, a Mr. Dandy é a pedida certa, balada tradicional, com música eletrô-nica, black music e hip-hop, mas dependendo do dia da semana o playlist do DJ toca outros estilos. “Tem tam-bém outras duas opções para quem gosta de dançar: Vive la Vie e a Mercearia”, diz Marianna.

vista externa e interna do aqueduto construído em 1887, onde funcionou a estação de Captação e Bombeamento de água da cidade,

e transformado em Museu da água no final do ano 2000

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Casinhas coloridas da rua do Porto, onde fica a maioria dos restaurantes e

bares de Piracicaba

Para os apreciadores de comida caseira a Rua do Porto, com sua arquitetura colorida, conta com diversos res-taurantes, cantinas e lanchonetes com cardápios pra lá de variados, mas o peixe assado no tambor, os milhos cozidos, o cuscuz e o curau estão entre os mais pedi-dos. Já a pamonha é um caso à parte, é famosa em todo o Interior. No menu de bebidas não pode faltar uma boa cachaça e o caldo de cana com limão ou abacaxi. É aqui que fica, também, o Parque Rua do Porto, imensa área verde à beira do rio.

Para os que preferem um programa cultural, opções de entretenimento não faltam: Teatro Municipal, cine-mas, galerias de arte como a Casa do Artesão, Museu Prudente de Moraes e a Pinacoteca Municipal Miguel Arcanjo Dutra. Parques ecológicos garantem a diver-são. E para aqueles que gostam de fazer boas compras o comércio é forte na área central e em seu principal shopping center.

Piracicaba abriga as mais importantes instituições de ensino superior, como a Faculdade de Odontologia da Unicamp, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo, Universidade Metodista de Piracicaba, Escola de Engenharia e Faculdade de Serviço Social. Além disso, no campo de ciências e tecnologia, a cidade se destaca pelo seu Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), da Universidade de São Paulo.

Como se não bastassem todos esses atrativos, Piracicaba tem o Mirante, um pequeno bosque de árvores nativas e vegetação típica, com alamedas que permitem cami-nhadas agradáveis, que retrata a história da região e, claro, uma visão privilegiada do rio, do Salto, da Rua do Porto e da cidade, que é um encanto.

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Pamonha de Piracicaba

Ingredientes:12 espigas médias de milho verde bem novo4 colheres (sopa) de açúcar½ lata de leite1 lata de leite condensado

Modo de fazerCorte a base das espigas e descasque o milho. Limpe e lave as espigas e as folhas. rale as espigas bem rente aos sabugos. Bata o milho ralado no liqüidificador com o leite condensado, o açúcar e o leite. reserve. afervente rapidamente as folhas do milho em uma panela  funda para amolecerem. separe as menores e desfie formando tiras estreitas. segure a folha no sentido do comprimento e faça duas dobras sobrepostas. Dobre ao meio, unindo as extremidades abertas. segure o pacote pela extremidade e encha-o com o creme de milho, deixando bastante espaço vazio na borda. Feche o pacote, amarrando com a tira reservada. Cozinhe em água fervente, até que a palha amarele e as pamonhas fiquem firmes. retire da água e escorra. sirva quente ou fria.

Dica para esta receita. Para fazer os pacotes é importante que as espigas estejam intactas, totalmente revestidas pela palha. . se preferir, em vez de ralar as espigas, corte o milho rente ao sabugo e prossiga com a receita. . Para um preparo mais simples, despeje a pamonha em um recipiente refratário médio e asse em banho-maria em forno médio (180ºC), preaquecido, por cerca de uma hora ou até dourar. . os ingredientes da pamonha variam conforme a região do País. Pode-se, por exemplo, acrescentar uma colher (chá) de canela em pó ao creme da pamonha; ou substituir o leite por leite de coco; ou, ainda, acrescentar coco fresco ralado

Salão Internacional do Humor de PiracicabaFoi em 1973, em plenos anos de chumbo, que um grupo de artistas locais, que costumava se reunir no Café com Bule para jogar conversa fora, decidiu que seria divertido montar uma mostra de humor agregada ao Salão de Arte Contemporânea. Foram atrás do cartunista Jaguar que topou a idéia, mas acabou não vin-gando. No ano seguinte, nova tentativa. O grupo, agora encorpado por novos adeptos, desembarcou no Rio para conversar com a turma do Pasquim. Conversa vai, conversa vem e depois de muitos garrafões de pinga, conseguiram que Millôr, Ziraldo, Zélio, Jaguar, Fortuna e Ciça, os mais festejados cartunistas de então, participassem do 1º Salão de Humor de Piracicaba. A iniciativa mostrou-se um sucesso. O Salão cresceu, ganhou fama, colocou a cidade no cenário mundial do humor, guarda um acervo de mais de 300 obras que retratam as últimas quatro décadas, e che-gou, em agosto, a sua 38ª edição cheio de ener-gia, preparando-se para entrar nos quarenta anos revelando novos talentos.

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a poesia das cidadesHá que se enxergar o lugar onde se vive com os olhos da intimidade do cotidianoPor rosiLene Fontes | iLustração Maria eugênia

No poema Retrato de uma Cidade, Carlos Drummond de Andrade enxerga a sensuali-dade feminina na cidade e compara o Rio de

Janeiro a uma mulher.

E vai-se definindoa alma do Rio: vê mulher em tudo.

Na curva dos jardins, no talhe esbeltodo coqueiro, na torre circular,

no perfil do morto e no fluir da água,mulher mulher mulher mulher mulher.

As cidades podem ser elegantes, charmosas, pequenas, grandes, feias ou bonitas. Muitas vezes são maternais e acolhedoras, ao mesmo tempo que, como São Paulo, têm a força e a energia de uma guerreira. São cida-des espalhadas pelo mundo que, como as mulheres, são complexas e difíceis de definir. Adjetivos femininos não faltam.

Não existe um padrão mundial que defina uma cidade. Uma comunidade urbana pode ser uma vila, um povo-ado, uma aldeia. Mas existem algumas características fundamentais que a definem: o número de habitantes

em uma dada área; as relações entre indivíduos; os agrupamentos de áreas com funções diversas: residen-ciais, comerciais, industriais e toda a infraestrutura que a compõe. Ao longo da história, estudiosos viram nas cidades não apenas uma das mais perfeitas solu-ções como o ambiente propício à criação e ao desenvol-vimento humano.

O homem transforma a cidade que transforma o homem

No poema Lisboa Revisitada, Fernando Pessoa custa a reconhecer a cidade onde passou a infância. Lisboa está tão transformada que ele se vê como um estrangeiro. Aos poucos, o poeta vai revendo a cidade nos fragmen-tos de sua memória para, no final, reconhecer-se na cidade e perceber o quanto ele também mudou.

Foi no século 19 que os poetas, sensibilizados com as transformações da cidade, tomaram o cenário urbano como um novo discurso lírico. Em cada um deles parecia erguer-se uma nova cidade, local de vivências, desejos, sonhos, memórias. E assim surgiu a Poesia Moderna.

Hoje a cidade passa despercebida diante de nós. Não nos damos conta do quanto ela é importante para nossa formação. A cidade nos educa, informa, com-partilha pensamentos, vivências e nos abre um vasto campo de possibilidades.

Um dos trabalhos de dança-teatro da coreógrafa Pina Bausch tinha a cidade como protagonista. O espetáculo passava por várias cidades do mundo e, antes da estreia, Pina Bausch ficava na cidade por algumas semanas, para ali viver, ver, sentir, ouvir e pensar aquela cidade. O objetivo não era representar a cultura específica de um país, mas captar as sensações do lugar. Para a core-ógrafa, a melhor maneira de se conhecer um lugar que nos é estranho é conhecendo as pessoas que o vivem. É por intermédio delas que chegamos ao que é verda-deiro, às coisas de todos os dias.

Chegar às coisas verdadeiras é viver a intimidade do cotidiano. A florista da loja da esquina, a paisagem do caminho de casa para o trabalho, o jornaleiro do quios-que da praça, a balconista da loja, cada um em um canto da cidade, cada um com suas histórias e memó-rias compartilhadas.

Viver o cotidiano na intimidade nos faz sentir parte da cidade, a cidade que nos habita e nos faz pertencer, assumindo a dimensão poética de habitar esta Terra.

Job: whirpoolkitichenaid -- Empresa: DM9 -- Arquivo: 74355-026-KIT-Lindenberg-Life 23x30_pag001.pdfRegistro: 29018 -- Data: 15:00:33 25/05/2011

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jardim de estátuas

Entre os contornos da megalópole paulistana, ainda é possível conferir arte in natura

Por Patrícia FavaLLe | Fotos Mari vaccaro

As imagens esculpidas por gente como Amílcar de Castro e Ema-noel Araújo preenchem algumas lacunas quando o assunto gira em torno da democratização da arte. Quase sempre confinadas

em museus ou galerias, poucas representantes deste segmento estão expostas às intempéries e aos olhares críticos de quem caminha pelos agitados endereços cosmopolitas.

Embora parte das estátuas figurem livres, suas moradas eternas aca-bam por condená-las ao segundo plano – trata-se da arte tumular, movi-mento contundente em destinos como França, Inglaterra, Alemanha e Argentina, mas que, por aqui, ainda enfrenta o preconceito de ser enqua-drada como “adorno de caixão”. Talvez por desconhecimento ou crendice popular, ícones assinados por José Giorgi e pelo próprio Victor Brecheret – autor de monumentos como o das Bandeiras (1953), ancorado às mar-gens do Parque do Ibirapuera, e Depois do Banho (1932), situado no Largo do Arouche –, tornaram-se célebres desconhecidos.

Fora dos cemitérios, o poder público elegeu o ambiente outdoor, especial-mente as áreas verdes comuns, para fomentar tais investidas. Por sinal, uma rápida voltinha pela história já é capaz de esboçar a importância des-sas invenções realísticas na formação da identidade cultural dos povos, afinal, houve tempo em que os monarcas, os animais alados e os deuses dividiam os afazeres dos artesãos e a contemplação dos simples mortais.

Cantoneira, Franz Weissmann, no Parque do ibirapuera

Na página ao lado, Fita, Franz Weissmann, no Parque da Luz

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À procura da luzOs primeiros exemplares encontrados em escavações arqueológicas são remanescentes da Idade da Pedra e das Cavernas, e se estendem aos domínios da China, da Pérsia e da Índia de séculos atrás. Dos oito mil Guerreiros de Xian – um exército inteirinho feito de terracota para proteger o mausoléu do imperador Qin (259 a 210 a.C.) – às divindades cheias de braços, pernas e cabeças do hinduísmo, são observadas técnicas e elementos dos mais variados.

Moldadas na madeira, mármore, granito, argila, gesso, bronze ou nos nobres ouro e prata, as estátuas podem ser destacadas por períodos: na antiguidade estiveram ligadas à religião, no iluminismo e no renascentismo, à arqui-tetura, e, mais recentemente, elas encolheram para ser inseridas ao décor.

Numa outra esfera, o ébano africano tramado 500 anos a.C. pelos noks (território onde atualmente está a Nigéria) e o requinte das reproduções faraônicas de Nefertitti e Tutancâmon contrastam com o luxo em alto-relevo dos murais cinzelados na fachada do Paternon, na Grécia. E foi nesse destino que a expressão tomou ares profissio-nais, servindo de alento para romanos, germânicos e saxões.

Pelas mãos de Donatello, Michelangelo e Bernini, apenas para citar alguns artistas importantes, a proporção se dobrou à estética, redefinindo gárgulas góticas e carrancudas às figuras belas e copiadas de David e da Vênus de Milo. Embora as tábuas dos mandamentos dadas a Moisés condenassem o politeísmo e a elevação dos hits inani-mados, a simbologia que atravessou oceanos e civilizações tratou de adular todo e qualquer tipo de imagem bem feita. Logo, as artes plásticas se renderam ao preciosismo das cenas – e estabeleceram um novo capítulo à matéria.

Piramidal 34, ascanio MMM, e O Quadrado, emanuel araujo, no Parque da Luz.As Irmãs, alfredo ceschiatti, no Parque do ibirapuera

Maria Tudor, Luiz Brizzolara, no teatro Municipal

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Retrato da Polis“A mais séria obra de escultura que até hoje apareceu em São Paulo foi também uma Eva, a de Rodin. (...) Diante da Eva de Brecheret, ora exposta na casa Byington, perde a de Rodin o primado absoluto e passa a ser ombreada por uma rival, igualmente obra-prima, e só inferiorizada pelo fato de a assinar um escultor brasileiro de nome ainda não trombeteado pela buzina da fama”, registrou Monteiro Lobato em crônica publicada em 1919 e intitu-lada As quatro asneiras de Brecheret.

Ao contrário do que alude o título, o texto descreve o impacto causado pelo talento do jovem Victor Brecheret, que havia sido premiado na Europa e escolhera regressar ao Brasil para desenvolver, aqui, a sua carreira. Lobato sabia reconhecer um gênio quando cruzava com um, mas o sentimento intrínseco do Jeca Tatu (o complexo do vira-lata rodriguiano), o fazia colocar os pés no chão e os pingos nos is.

Certamente o escritor teria outro de seus assombros se fosse apresentado a um dos arquitetos mais inventivos dos séculos 20 e 21. Oscar Niemeyer tem um legado que vai além do Copan e do circuito semiesférico da Oca. No Memorial da América Latina, ele deixou o concreto menos bruto. “A Mão representa o suor, o sangue e a pobreza que marcam a história latino-americana tão desarticulada e oprimida. Mão de protesto, espalmada, com os dedos abertos em desespero, e o mapa a correr sangue até o punho. Que este seja um emblema que ajude a transformar o continente num monobloco intocável, capaz de fazê-lo independente e feliz”, disse.

Num complexo entrelaçado de ruas, avenidas, arranha-céus e carros, não é de se surpreender que as esculturas de mais de duzentos artistas, criadas para suavizar o caos cotidiano, tenham quase desaparecido vítimas do abandono e do vandalismo. Por conta das comemorações do centenário do Liceu de Artes e Ofícios nasceu o projeto Monumentos de São Paulo, que mapeou as estátuas da cidade e buscou recursos privados para recuperar os estragos.

Mãe, caetano Fraccaroli, na Praça Buenos aires

sem nome, artur Lescher, no Parque

da Luz.Portadora de

Perfume, victor Brecheret,

Fauno, victor Brecheret, no Parque

siqueira campos Sete Ondas, amelia

toledo, no Parque ibirapuera

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Embarque neste city tourO italiano Luiz Brizzolara tem 14 obras na Pauliceia, das quais 12 integram o conjunto escultórico da Praça Ramos de Azevedo, inaugurado em 1922. O projeto conta com um protótipo da fonte dos desejos de Roma e mármores, granitos e bronzes posicionados aos pés da escadaria que leva ao Teatro Municipal. Destaque para o Guarany, Carlos Gomes e Maria Tudor.

Alfredo Ceschiatti salpicou Minas Gerais e Brasília com seu traço moderno e ousado. É dele a efígie que retrata a Justiça no corpo de uma mulher sentada e de olhos vendados, colocada em frente ao Supremo Tribunal Federal. Por aqui, o Museu de Arte Moderna (MAM) arrematou o bronze As Irmãs, que fica no gramado do Parque do Ibirapuera.

Também no Ibirapuera, o aço sinuoso de Amélia Toledo brinca com a falta de mar da metrópole e refresca os ânimos dos visitantes com as Sete Ondas. Seguidora do gravurista João Luís Chaves e dos pintores Waldemar da Costa e Yoshiya Takaoka, a artista se especializou em Londres e lecionou em importantes universidades nacionais.

Com obras espalhadas entre o eixo Sé-Cidade Universitária, o mineiro Amílcar de Castro cravou o seu aço modu-lar e assimétrico pela grande área verde do Parque da Luz, que faz fronteira com a Pinacoteca do Estado. Por aquelas bandas há dois exemplares, ambos sem nome, que caracterizam o neoconcretismo tupiniquim.

Natural de São Paulo, Artur Lescher é quase um novato entre seus pares. Com a carreira estabelecida a partir de 1984, o artista se utiliza das formas geométricas e do viés arquitetônico para transformar o engenhoso tecido urbano em leituras fracionadas. Contextualizada no Parque da Luz, a pontiaguda peça de aço (sem nome) mede três metros de comprimento e 0,30 centímetros de diâmetro.

Na estufa de talentos mantida pela Pinacoteca no parque público da Luz, há solo suficiente para a intervenção de Ascânio Maria Martins Monteiro ou apenas Ascânio MMM. Piramidal 34, construída de alumínio anodizado e parafusos de aço inoxidável, tem formas tridimensionais, aberturas angulosas e colorido vibrante.

Imigrante italiano radicado nos trópicos, Amadeo Zani foi um dos mestres pioneiros no Liceu de Artes e Ofícios. Idealizador dos bustos de Álvares de Azevedo, Giuseppe Verdi, Caetano de Campos e Cesário Mota, entre muitos outros, é dele também uma das mais formidáveis insígnias regionais, que muitas vezes nos passa despercebida, batizada de Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo. O obelisco de bronze foi fincado no local onde se ori-ginou a capital, no Pátio do Colégio.

Das cinco esculturas do italiano Caetano Fraccaroli que estão em Sampa, talvez Mãe seja a sua obra-prima. Vencedora de um concurso em homenagem à mulher, a estátua de 24 toneladas, talhada a partir de um único bloco de mármore, foi alojada nos jardins da Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis. Contrariado com o acabamento de concreto que circundou a peça, Fraccaroli preferia que a mesma estivesse rodeada por um espelho d’água.

Emanoel Araújo é um dos nomes mais promissores das artes plásticas sul-americanas. Depois de ter passado pela direção de instituições relevantes, assumiu a curadoria do Museu Afro-Brasileiro, mas não deixou de lado as tarefas como escultor, que podem ser vistas na obra O Quadrado, o Círculo e o Disco Fragmentado, exposta no Parque da Cidade Universitária.

Como ilustrar a malha urbana em todas as suas nuances? Questão complicada que poucos se atreveriam a res-ponder. Mas, para sorte geral, o austríaco de alma carioca Franz Weissmann destrinchou o enredo e deu forma ao Diálogo, um cubo lúdico forjado de chapas de aço e retas opostas, cintila em plena Praça da Sé.

Depois de conquistar a crítica com a escultura Eva, considerada a manifestação inaugural da Semana de Arte de 1922, Victor Brecheret se confirmou como o maior artista do gênero no País. Na sua fase madura, Fauno, de 1942, se evidencia pela riqueza de detalhes calcados no granito de 3,40 metros. A obra fica num refúgio de Mata Atlântica, dentro do Parque Siqueira Campos, no coração da Avenida Paulista.

Glória Imortal dos Fundadores de São Paulo, amadeo Zani, no

Pátio do colégio Parte do conjunto escultórico da

Praça ramos de azevedo,sem nome (no centro), amílcar

de castro, no Parque da Luz

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A vida não aceita planejamentos. Ainda bem. Depois de se decidir pela Arquitetura e estudar os primeiros anos do curso na Universidade Mackenzie e, pouco depois, ingressar na Fundação Armando Álvares Penteado para aprender Artes Plásticas, Gregório vestiu o mochilão e foi desbravar o mundo. Se havia um fragmento de tristeza por não seguir o traçado de Paulo Mendes da Rocha, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, mestres no ofício de espichar edifícios, surgia o contentamento por apresentar seus esboços em salões nacionais, bienais e galerias.

“Em 1974, recebi o convite do Bardi [Pietro Maria, diretor do Museu de Arte de São Paulo], que quis montar uma individual – a primeira da minha carreira numa grande metrópole – com parte das obras que havia criado até então.” A repercussão se deu de forma tão positiva que o artista não parou mais. Foi professor de desenho de modelo vivo na Pinacoteca do Estado, expôs seus trabalhos em pastel e gravuras na galeria Graffiti, do Rio de Janeiro, voltou para São Paulo com pinturas e aquarelas, e seguiu para Brasília levando tintas inéditas até o espaço da Oscar Seraphico. Antes de fechar a década com uma mostra em Porto Alegre, desembarcou em sua terra natal, Santos, com direito a escala na elogiada Galeria Luisa Strina, na Pauliceia.

Também foi nesse período que o pintor fez as incursões iniciais pelos retra-tos. “Na época, essa linguagem ainda era malvista. Um artista plástico que fotografava – sobretudo, para a publicidade – chegava a ser preterido pelos colegas”, lembra. Sem se importar muito com a censura alheia, Gregório mirou as objetivas para os assuntos que mais o tocavam, a exemplo das pes-soas, da ocupação dos trechos urbanos e da composição arquitetônica como forma de expressão. Ele conta que sempre utilizou os cliques para colher informações visuais. Juntos, eles compuseram o que designers chamam de sketch-book ou caderno de rascunhos.

CriatividadeNuma conversa tomada pela presença lendária de Gregório

Gruber, a arte ganhou quês e pensamentos intrigantes Por AdriAnA Brito

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Ciclista na Praça roosevelt

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Em alguns de seus quadros – Passagem Anhangabaú (1982); Operários (1987); Paisagem ao Amanhecer e Avenida Sumaré, ambas de 1989 – observam-se deta-lhes das janelas, postes de iluminação e o desgaste e a beleza do concreto. Mas o que difere Gruber do comum é um componente singular, uma espécie de filtro que confere originalidade à paisagem. Como descreveu Carlos von Schmidt, no prefácio do catálogo assinado pelo virtuose para o Museu de Arte Brasileira, “(...) através do tratamento dado aos pastéis, às aquarelas, à acrílica, procura modificar o real emprestando à realidade novas conotações, não só de ordem plástica, mas, sobre-tudo, psicológica”.

Inspirado no filme Bodas de Sangue, do espanhol Carlos Saura, que usou a histó-ria de Federico García Lorca para dar contorno à dança do bailarino de flamenco Antonio Gades, o desenhista editou um livro homônimo, em 1986, repleto de notas grafadas em pastel. No ano seguinte, assinou a cenografia da montagem Vestido de Noiva, de Marcio Aurelio, baseada na peça de Nelson Rodrigues. Talvez estivesse encantado pela tridimensionalidade captada nos palcos quando iniciou a série de esculturas de argila na década de 90, das quais Duas Faces (1991) e SP Rio (1993) são as mais pungentes.

Convertido em ícone de um suprarrealismo exclusivamente nacional, “GG” parti-cipou de incontáveis coletivas nos biênios seguintes. No ano passado, por exemplo, a Lugar Pantemporâneo reuniu parte de seu acervo na mostra Gregório Gruber: Passeios. Sobre a profissão, ele é enfático: “Faço pinturas, esculturas, gravuras, gra-fismos, retratos e desenhos. Nunca elevei um método em detrimento do outro. O que vale é a arte; e a arte é a busca do sagrado e daquilo que é transformador. É possível que o tempo mude essa questão e coloque o artista como o objeto basilar de sua obra, afinal, vivemos numa época ligada ao exotismo, à polêmica, ao choque e ao marketing pessoal”.

Skyline e Pacaembu

o artista Gregório Gruber

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Além do TempoFilho do pintor modernista Mário Gruber e pai da artista multimídia Lorena Hollander, Gregório Gruber cursou desenho com Frederico Nasser e fez aulas de gravura no Socorro Curso de Gravura em Metal. Em Paris frequentou a Académie de la Grande Chaumière e, já no Brasil, estagiou no ateliê do pai. Em 1976, recebeu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) o prêmio na categoria de melhor gravura. Em outra seara, serviu de inspiração para a produção de quatro filmes: O Gestor Criador e Retrato do Artista Quando Jovem, dirigidos por Olívio Tavares de Araújo; Uma Tarde com Gregório, de Nelson Pereira dos Santos (que também filmou A Arte Fantástica de Mário Gruber); e Gregório, feito pelo Instituto Itaú Cultural.

serviço: www.gregoriogruber.com.br

Praça ramos à noite

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de braços abertosCom uma carreira de quase 40 anos, José Possi Neto, um dos diretores de teatro mais importantes do Brasil, mostra por que continua sendo o dono da valsa Por AdriAnA Brito

No início de agosto, a matéria contendo Tiago Abravanel na capa do caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, mostrou que há mesmo uma mudança no ar: o País abriu de vez seus palcos para os musicais. Tiago, neto do apre-

sentador Silvio Santos, fará o papel de Tim Maia no espetáculo inspirado no livro homônimo do jornalista Nelson Motta. Exibidas num circuito generoso, que inclui inúmeras capitais, essas montagens são conhecidas pelos grandes elencos, perfor-mances de dança e de canto e pelo acompanhamento feito por orquestras. Em suma, é um entretenimento monumental. Desde o lançamento de Escândalo (1950/51), com Bibi Ferreira, e Orfeu da Conceição (1956), de Vinícius de Moraes, até a che-gada das obras trazidas da Broadway, como My Fair Lady, Mamma Mia!, O Rei e Eu, Cats, Hairspray e O Fantasma da Ópera, muita coisa aconteceu – e boa parte do mérito é do paulistano José Possi Neto, ator, cenógrafo, iluminador, roteirista e diretor. O start dessa carreira pra lá de badalada rolou na Universidade Federal da Bahia, onde fez os primeiros experimentalismos como chefe do Departamento de Teatro. A partir daí construiu um currículo admirável em que se destacaram A Dama das Camélias, Tartufo, Ligações Perigosas, Emoções Baratas, M. Butterfly, Salomé, Joana d’Arc e A Loba de Ray-Ban. Às voltas com o ensaio de Cabaret, produzido e estrelado por Cláudia Raia, Possi abriu um espaço na agenda para falar para a Lindenberg&Life sobre essa arte que tem agitado as arenas nacionais.

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Como o senhor observa o mercado de musicais no País? Vejo como um fenômeno que vem crescendo bastante nos últimos dez anos. Ainda que não tenhamos a tra-dição de outros países, acumulamos pontos essenciais para sedimentar essa história. Um deles ocorreu entre o final da década de 1960 e o início da década seguinte, quando Chico Buarque escreveu as peças Roda Viva, Calabar, Gota d’Água, Ópera do Malandro e alguns scripts para crianças. Pouco tempo depois, já nos anos 80, A Chorus Line foi trazida dos Estados Unidos e se tornou um grande sucesso, embora tenha contabi-lizado certo prejuízo. Já esse movimento que vemos agora, vigoroso, começou com a remontagem do musical feito em homenagem à maestrina Chiquinha Gonzaga, escrito por Maria Adelaide Amaral. Acredito que isso ocorreu em 1998, com O Abre Alas, assinado por Charles Möeller e Claudio Botelho e que tinha como protagonista Rosamaria Murtinho [Regina Braga foi a Chiquinha da primeira edição]. Diria ainda que o caminho bem-sucedido dessa forma de teatro se dá por conta de entusiastas, como Bibi Ferreira, Marília Pera, Christiane Torloni e Cláudia Raia, além do Miguel Falabella, do Charles e do Claudio. Eles são incansáveis.

Dizem que em Miss Saigon, de 2007, foram utilizadas 500 peças de figurinos e mais de 50 toneladas

de adereços e cenários. Esses e outros recursos totalizaram US$ 12 milhões em investimento. Do ponto de vista financeiro, é viável produzir um material nessas proporções? No Brasil isso ainda é bastante difícil, pois o produ-tor depende da burocracia do governo para alinhar o projeto e dos departamentos de marketing para custeá--lo. A distância entre a elaboração e a execução de um espetáculo tem ficado maior nos últimos anos, já que é preciso adaptá-lo às leis de incentivo – cada vez mais complexas – e preencher as cotas de patrocínio. Além disso, quando uma peça ou um filme, por exemplo, recebe a chancela do MinC [Ministério da Cultura] há um tempo determinado para buscar esses aportes, creio que de 12 a 24 meses. Se o proponente não con-segue levantar o valor determinado até o final do prazo deve solicitar uma prorrogação do período de captação. Daí, para quem assina a iniciativa só resta uma coisa a fazer: voltar ao início do jogo.

Mas se há nomes conhecidos do grande público envolvidos na ação, as rotas não são encurtadas? Nem sempre o prestígio do ator ou do diretor garante a resposta positiva do apoiador. Vale lembrar que falamos de propostas que envolvem milhões de reais, ou seja, para as empresas é importante observar que a equipe listada naquela papelada toda possui experiência e capacidade técnica. Resumindo, eu diria que contar

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com profissionais competentes na empreitada – famo-sos ou não – nem é uma vantagem; é uma condição.

Mesmo assim, vale a pena? Claro que sim, as pessoas adoram. O que acontece é que mesmo que as leis de incentivo representem um avanço enorme para o fomento cultural, há uma mate-mática impiedosa para o produtor. O valor do ingresso é muito baixo – sei que parece bem caro para a nossa realidade – e o espetáculo acaba não se mantendo. E, então, quando o dinheiro vindo do patrocínio acaba, por vezes, é preciso encerrar a temporada, mesmo tendo todas as sessões lotadas.

A que o senhor atribui o sucesso das operetas apresentadas nos teatros da Broadway? À tradição. Os musicais representam um traço expres-sivo das civilizações inglesa, norte-americana e austra-liana, e há muito tempo eles investem no desenvolvi-mento de novos argumentos. As plateias desses países observam o gênero como entretenimento; são fãs dos dramaturgos, intérpretes e compositores e fazem ques-tão de conferir cada estreia. Outro ponto importante é a infraestrutura. Há fundações culturais que subsi-diam tais criações, os ingressos possuem valores maio-res, não há a meia-entrada e eles recebem espectadores do mundo inteiro. Quando estou por lá, conferindo o que há de novo e matando as saudades dos clássicos, é comum encontrar brasileiros. Por fim, a Broadway pos-sui uma espécie de mítica, construída pelo cinema e pela qualidade de suas obras.

É possível afirmar que o número de atores que estuda especificamente para participar de musicais tem aumentado?

Sem dúvida! No último teste de elenco em que estive contabilizamos mais de mil inscritos e a maior parte deles mostrou um nível técnico altíssimo. Infelizmente, o cast selecionado não absorve todo mundo; às vezes, são apenas 30 atores e 20 músicos por produção. Pelo que tenho acompanhado, esse padrão se repete em outras capitais brasileiras, caso de Brasília e Belo Horizonte.

O senhor é tido como um diretor que extrai o melhor de seu elenco. Por quê? Quando um encenador de muito talento se depara com um grande roteiro há uma simbiose fantástica, que alia método, experiência e prazer. Acredito que entre as minhas funções estejam a de ajudar o ator no processo de composição de seu personagem e a de orientar sua interpretação. O resultado fica evidente no palco. Os profissionais adquirem autonomia e quem ganha com isso é o espectador.

Em sua opinião, quais foram os cinco melhores musicais de todos os tempos? A lista é imensa, mas poderia citar cinco títulos que me vêm à memória nesse momento: My Fair Lady; Cabaret; A Chorus Line; O Fantasma da Ópera e Hair. Acho que Hair ainda merece uma ressalva pelo vanguardismo da estrutura e pela contemporaneidade dos temas abordados.

Pode contar alguns detalhes de Cabaret? O ensaio começou no início de agosto. Estou muito entusiasmado com essa peça, que será protagonizada pela Cláudia [Raia] e teve as belíssimas canções do ori-ginal traduzidas pelo Miguel [Falabella]. A estreia está prevista para outubro, no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo.

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Tarsila nasceu no final do século 19 e só depois de fazer 30 anos e conhecer os modernistas da semana de 22 é que entrou para a história da

arte brasileira. Em Paris, pintou a primeira de suas grandes telas, A Negra, em 1923. Desse momento até virar nome de acidente geográfico no planeta Mercú-rio, a Cratera Amaral, a vida da pintora foi um reflexo e síntese da história artística e política do Brasil no século 20.

Criada em uma fazenda de café e educada em colégios tradicionais, Tarsila estudou artes plásticas dentro do modelo realista do século 19, de cores sóbrias e esco-lhas naturalistas. Após o contato com os modernistas, colocou a técnica europeia a serviço da criatividade antropofágica e produziu as primeiras obras bem aca-badas de uma nova estética brasileira.

No entanto, o reconhecimento e a valorização de Tarsila mudaram ao sabor da política. Foi presa na ditadura Vargas e só voltou a ter reconhecimento após a abertura, já nos anos 50. Na ditadura militar viveu novo período de ostracismo para voltar, na virada do século, como a imagem mais bem resolvida do movi-mento cultural brasileiro.

No começo do século 20, Tarsila do Amaral revolucionou a arte brasileira com sua criatividade antropofágica. Os jovens artistas de hoje buscam se expressar por meio de linguagens individuais e, portanto, universais Por roberto taddei | retratos feLiPe reis

Do modernismo ao individualismo

A tela Abaporu, comprada pelo colecionador argentino Eduardo Constantini por US$ 1,25 milhão em 1995, foi apresentada em exposição no Palácio do Planalto para o presidente norte-americano Barack Obama como sím-bolo do País. A artista paulista deixou também marcos como Antropofagia, A Lua, O Lago, além dos quadros da fase comunista, Os Operários e Segunda Classe.

Tarsila foi quem deu acabamento a uma tradição bra-sileira moderna. As cores e formas dessa tradição já estavam esboçadas em Anita Malfatti e Di Cavalcanti, sugeridas em Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret. Mas é Tarsila quem faz do conjunto uma marca de fácil e efetiva associação à imagem de um Brasil que ora é interessante ao gosto e orgulho nacional, ora é esquecida e relegada a experimentalis-mos de um sonho tropical.

Depois dela, as artes plásticas brasileiras alcançam espaço constantemente no mundo, e o século 20 viu surgirem artistas como Ligya Clark, Hélio Oiticica, Amílcar de Castro, Tomie Ohtake, Mira Schendel, Cildo Meireles, Leonílson e Tunga, entre tantos outros. E continua nessa segunda década do século 21, com uma nova geração de artistas começando a se destacar. fo

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Mercado brasileiroMas Tarsila não vivia de sua arte. Nem mesmo depois da quebra da Bolsa de Nova York em 1929, quando teve a fazenda da família hipotecada. Foi só nos anos 50 que uma rela-ção mais constante com o mercado começou. O ápice dessa relação, ou o pior momento dela, foi quando Pietro Maria Bardi levou o Abaporu – a tela que Tarsila pintara para o então namorado Oswald de Andrade – por uma pechincha sob o argumento de que montaria uma coleção permanente de Tarsila no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Tempos depois a tela foi comprada pelo colecionador Erico Stickel. O Abaporu ficou 20 anos no escritório de Stickel até ser vendido a Raul Forbes, em 1984, por US$ 250 mil e depois ser arrematado por Constantini em um leilão na Christie’s.

Assim, o Abaporu foi parar na Argentina. Quem conta a história é a sobrinha-neta e xará Tarsila do Amaral. Calcula-se que a tela possa valer hoje mais de US$ 20 milhões. Para a sobrinha-neta da artista, a venda do Abaporu acabou sendo um abre-alas para a arte brasileira no mundo.

Hoje, artistas com menos idade do que tinha Tarsila quando pintou A Negra já são comercializados em galerias ao redor do mundo e fazem parte de um circuito global de exposições ávido por novos artistas. Para a artista plástica Ana Elisa Egreja, nascida em 1983, quase um século depois de Tarsila, o mercado parece estar buscando investir nos jovens. “É uma tendência, os colecionadores hoje querem ter obras de artistas de sua época.” Ana Elisa aponta outros artistas na mesma situação que ela, como Rodrigo Bivar (1981), Marina Rheingantz (1983) e Rafael Carneiro (1985).

Outra jovem artista que tem conquistado espaço é Tatiana Blass (1979), uma das pou-cas a trabalhar com suportes e linguagens diferentes. Além da pintura, Tatiana faz instalações (como a Piano Surdo, presente na última Bienal de São Paulo), vídeo, texto e fotografia. Para ela, “existe um interesse de se voltar a criar um trabalho com uma subjetividade forte”. Aliado a isso, diz, “o mercado de arte se transformou muito e se fortaleceu. Muitas pessoas começaram a colecionar arte, são os novos colecionadores”.

rafael Highraff em seu ateliê, de onde saem obras como a escultura Prisma Polar (ao lado)

Na página ao lado, a tela O Lago, de tarsila do amaral

Na página anterior, o famoso Abaporu, obra que tarsila pintou para oswald de andrade

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Entrar no mercado, no entanto, não é tarefa simples. O artista precisa primeiro mon-tar um portfólio considerável. Para tanto, precisa investir tempo e dinheiro, mas sem vender, é difícil conseguir fazer a equação funcionar. “Você tem que criar saídas para realizar suas ideias”, diz Tatiana, “acordo com galerias, entrar em editais, algumas saí-das são difíceis de realizar. O importante é trabalhar muito, porque o próprio trabalho é que gera trabalho”.

Para o fotógrafo Valentino Fialdini (1976) a primeira coisa, antes de procurar uma gale-ria, é trabalhar para ter uma obra bem resolvida, “tanto de pensamento quanto de exe-cução. O artista tem que ter uma constância de produção. Antes de mostrar a primeira obra já deve pensar na segunda para apontar um direcionamento”.

Valentino foi escolhido um dos cinco finalistas entre 30 mil inscritos em concurso da Hasselblad. “Entre as fotos dos 30 mil eu vi que tinha muitos trabalhos muito parecidos uns com os outros ou que o fotógrafo tinha se inspirado em outros artistas.” Ainda que alguns trabalhos fossem muito bons, conta Valentino, o importante é ter uma lingua-gem única. Em sua última exposição, na galeria Zipper, Valentino mostrou a série Lego, onde fotografou maquetes feitas com brinquedos Lego e iluminação artificial, forjando a ideia de uma realidade inexistente.

Fotografia é também o suporte escolhido por Flávia Junqueira (1985). Na série Na Companhia dos Objetos, ela constrói cenários ficcionais com objetos reais, como flores, caixas de presente ou brinquedos, e se coloca dentro da imagem como personagem da própria obra. Flávia parece estar mais interessada em criar narrativas e dar novo signi-ficado aos objetos e elementos já existentes no mundo do que em criar outros.

Arte nacionalAinda que jovens, muitos artistas já têm no currículo exposições na Europa e nos EUA. Mas se no modernismo a questão primordial era o encontro de uma linguagem brasi-leira, a nova geração parece ter se libertado dessa necessidade. Ana Elisa Egreja, por exemplo, diz que sua obra não pode mais ser pensada dentro dos termos modernistas da antropofagia que deglute influências europeias para a criação de uma identidade brasileira. “Eu penso mais em termos de cultura popular e erudita. Eu misturo estam-paria e pintura europeia do mesmo jeito que misturo objetos pop. Não tenho hierarquia nas escolhas. Faço mais uma colagem.” Suas obras com ambientes repletos de detalhes, papéis de parede, azulejos e objetos dialogam com a arte decorativa, mas distante do peso de preconceito que pode pesar sobre o termo. “Matisse fez um monte de pinturas decorativas que são excelentes. Uma tela toda vermelha pode ser muito mais decora-tiva, por exemplo. Eu penso em pintura decorativa como uma tradição.”

Poça, instalação de ana elisa egreja. Na página ao lado, o fotógrafo Valentino fialdini e seu ensaio fotográfico sobre corredores e cores

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Para criar uma realidade inexistente, o fotógrafo Valentino fialdini clicou maquetes feitas com Lego e iluminadas artificialmente para suaúltima exposição

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tatiana blass passeia por múltiplos universos

que vão das instalações, como Homem Deitado, pinturas, vídeo, texto e

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Penteadeira e A Poça, duas das instalações

imaginadas pela artista plástica ana elisa egreja

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A discussão modernista foi superada, mas a influência das obras dos artistas nacionais do último século é importante. As técnicas de colagem e mixagem de estilos e referên-cias são hoje ponto de partida para a produção contemporânea, sem que o ato esteja imbuído de diretriz política. “Sempre fui curioso e gostei de pesquisar sobre muitas cul-turas. Minha maior inspiração é a natureza e a multiculturalidade deste país”, diz Rafael Highraff (1977), designer, grafiteiro e muralista. “Hoje, as coisas se misturaram, grafite, tatuagem, design, quadrinhos, arte, música, arquitetura... com acesso mais fácil à infor-mação globalizada, tudo influencia tudo.... Usei muito do que desenvolvi pintando na rua para consolidar minha identidade como artista, para criar telas, murais, esculturas, instalações e até para desenvolver ilustrações comerciais”, diz.

“Antes era difícil para o artista ter o contato com o mundo”, diz Valentino Fialdini. “A Tarsila do Amaral tinha isso. E tinha que passar para o mundo um pouco do que era o Brasil. Hoje todo mundo conhece o Brasil, o Lula é um personagem no mundo. Hoje a batalha não é tanto por se criar uma linguagem brasileira, mas sim uma linguagem individual, que por isso mesmo seja universal”, diz. “Eu não consigo mais pensar em uma coisa do meu umbigo. Eu penso o mundo o tempo todo.”

Para Tatiana Blass, é difícil dizer se a arte contemporânea brasileira tem uma lingua-gem nacional específica. Em geral, são os estrangeiros quem primeiro apontam o que é brasileiro na arte produzida aqui. “Eu acho que há sim uma característica que vem do próprio contexto de produção. O fato de eu produzir no Brasil influi no modo como eu faço arte e no modo como eu vivo.”

Flávia Junqueira divide a mesma opinião: “Não vejo uma linguagem brasileira inten-cional no meu trabalho de arte como um tipo de alegoria, mas é claro que existe certa contaminação no sentido de realizar o trabalho dentro do meu país e lidar com questões culturais que são particulares do meu próprio país”.

A influência de artistas modernistas como Tarsila do Amaral, por exemplo, é sentida muito mais como referência estética, “para pensar a cor e a luz”, diz Tatiana, do que na questão objetiva da nacionalidade. A questão não é necessariamente o suporte ou o estilo mais utilizado, nem mesmo as ideias que estruturam os trabalhos. Ser novo, hoje, é falar a linguagem universal e, ao mesmo tempo, como afirma Tatiana Blass, “é trabalhar com a subjetividade”.

flávia Junqueira é personagem de sua arte. são instantâneos, flagrantes de momentos como Ele ainda não está aqui (acima e ao lado)

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Cenário do dia a dia, a casa é o palco dos sonhos de cada um. Dramática ou alegre a ambientação, a representação do modo de vida dos atores

desse espaço aproxima-se cada vez mais do teatro. Ou seria o inverso? Por AdriAnA Brito | iLustrAção MAriA EugÊniA

A cozinha está toda lá – armários, cadeiras e alguns copos sobre a pia. Sentados à mesa, o casal discute enquanto toma o café. Entre burburinhos e gestos expansivos, o homem se levanta, caminha em dire-ção à saída, dá meia-volta, segura as mãos da mulher e ajoelha-se. (...) Fim do primeiro ato. Como descre-veu a doutora Elinês Vasconcelos de Oliveira, da Universidade Federal da Paraíba, “o conceito do que entendemos hoje por teatro é originário do verbo grego theastai; ou melhor, significa ver, contemplar e olhar”.

Nessa troca, que por vezes não enxerga limite, o palco absorveu a realidade para contar histórias e propor reflexões. Seja na sala de espera do consultório retra-tada em Toc-Toc; no dormitório de um jovem casal em Dores de Amores, ou numa favela carioca no presti-giado Eles Não Usam Black-Tie, tudo, a priori, serve de pano de fundo para os enredos da vida cotidiana.

Realista, abstrato, sombrio ou apoteótico, o cenário é um dos elementos responsáveis pela contextualização da narrativa, apontando onde e quando determinado

cenas do cotidiano

momento acontece. Já no doce lar, as coisas parecem seguir o mesmo roteiro. “Com tantas matérias-primas diferentes e vanguardistas, a exemplo dos papéis de parede de texturas inéditas e das recentes paletas de cores produzidas para o setor mobiliário, bem como os espelhos, as lâmpadas de leds, o acrílico e até mesmo a madeira, dá para afirmar que a arquitetura vem se apropriando cada vez mais do movimento cenográfico”, diz o designer e artista plástico José Marton.

Basta observar os trabalhos executados por outros bambas do circuito, como Felippe Crescenti, Isay Weinfeld, Marcelo Rosenbaum e Oscar Niemeyer para notar que as residências do século 21 desdobram-se em trechos dignos de espetáculos. O próprio Rosenbaum confessou no livro Entre Sem Bater (editora Abril), que é adepto dessa nova tendência. Nas páginas que descrevem minuciosamente a reforma da sua primeira morada, os revestimentos cheios de grafismos, as estru-turas alinhadas por vãos, as luzes e as sombras, os

móveis de formas lúdicas e a arte pontuada aqui e ali aguçaram a imaginação dos leitores.

E o que se dizer do colidente edifício Copan, de Niemeyer, com seus sinuosos corredores que oferecem doses abundantes do suspense hitchcoquiano? Outro prédio que abusa da dramaticidade é o Guggenheim Museum, de Nova York, riscado por formas orgânicas na fachada e visual interno futurista, sinalizando con-tradição do chão ao teto.

Para Marton, especialista também na arquitetura de varejo, a aplicação de recursos cênicos pode oxigenar a marca, ampliar o uso do ambiente e deixar tudo mais divertido. Sendo assim, se a receita parece tão sabo-rosa, por que não degustá-la em família? Como diria Charles Chaplin, “a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem o som dos aplausos”.

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O jornalista Cesar Giobbi abre as portas de seu recém-inaugurado Lindenberg e prova que estilo e

personalidade nunca saem de moda Por Maiá Mendonça | Fotos Valentino Fialdini

cenário de vida

As paredes são forradas por obras de arte contem-porânea assinadas por nomes como Steve Mil-ler, Ângelo Venosa, Hilal Sami Hilal, Ubirajara

Ribeiro, José Bechara, Carmela Gros, Antonio Dias, Aguilar, Baravelli, Amelia Toledo, Florian Raiss, entre outros do calibre de Arcangelo Ianelli e Di Cavalcanti. Sobre o piso de concresteel que reveste todo o aparta-mento, com exceção do living de tábuas original, tapetes orientais. Móveis do século 18 dividem o espaço com algumas peças atuais. Em cada cantinho, sobre cada mesinha, cômoda ou cadeirinha há um objeto, um livro, uma obra de arte. São como dezenas de pequenos cená-rios que resumem a história de vida dos jornalistas Cesar Giobbi e Paulo Mortari.

Quando a dupla decidiu mudar-se para algo menor e mais prático, Cesar tinha uma exigência: queria dois quar-tos com seus banheiros, um closet grande e um quarto extra para servir de escritório e sala de Pilates, e uma bela vista. Lembraram do apartamento do edifício estilo mediterrâneo típico dos anos 1970, quando os arcos, os cantos arredondados e as alvenarias estavam em alta, que tinha sido comprado para ser da mãe, e onde a avó italiana morara por anos, e que estava alugado. O inquilino, amigo de longa data, tinha uma condição para deixar o imóvel, queria continuar morando no prédio. Numa dessas coin-cidências do destino Cesar conseguiu resolver a equação.

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Escultura de Florian Raiss; abaixo, dois homens, Gustavo Rezende, tijolos de Marepe e

desenho de Macaparana

Na página ao lado, pesos de papel sobre cadeira de chifre,

Estados Unidos, 1910

Na página anterior, renda de papel do mineiro Hilal Sami Hilal

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De cima para baixo: detalhe do corredor que leva para os quartos; sobre a cama de madeira desenhos de Florian Raiss; Cesar Giobbi na sala de estar; o pequeno lavabo com três recortes de Patricio Bisso; objeto de Walton Hoffmann sobre a cadeira de palha; chinoiseries trazidas de viagem

Na página ao lado, atrás do sofá do living objeto voador, de Angelo Venosa, obras pequenas de Hilal Sami Hilal e Carlos Vergara; na parede da esquerda, desenhos de Arcangelo Ianelli e Di Cavalcanti; na parede da direita, tela de Ubirajara Ribeiro e poltrona italiana século 18, herança da avó

“Esse apartamento tem um destino familiar. Estamos de volta, os mesmos móveis que foram da minha avó e da minha mãe vieram e voltaram, ‘entraram’ e saíram pela mesma janela”, lembra ele que conta da estreita relação da família com a Lindenberg, “minha avó morou em um Lindenberg na Barão de Capanema e meus pais na Cristóvão Diniz, chegou a minha vez”.

Quarenta anos obrigavam a uma reforma, a uma atuali-zação. “Como diz uma amiga, ‘enretamos’ as paredes que conseguimos, trocamos arcos por passagens convencio-nais, abrimos espaços para repensar a cozinha, o hall de distribuição dos quartos e meu quarto que ganhou um grande closet aberto para o banheiro”, explica o jornalista que quebrou a cabeça com Paulo para encontrar soluções inteligentes para a reforma. “As plantas da Lindenberg fazem sentido, mesmo em um absurdo como o estilo medi-terrâneo. É muito difícil derrubar paredes, abrir novos espaços, mas conseguimos um bom resultado.”

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O apartamento de 156 metros quadrados sofreu algumas mudanças interessantes. O living que era aberto para o quarto extra para ganhar uma sala de jantar foi fechado, e o quarto passou a ser um misto de escritório, sala de Pilates e da bagunça. A cozinha foi aberta para o corredor e o living formando híbrido de sala de jantar e copa, onde além da mesa e do aparador, e de um lindo lustre de flo-res de cristal veneziano, estão os armários guarda-louças, gaveteiros para talheres e toalhas, bancada, colmeia para vinhos e a geladeira. Uma pequena passagem leva para a cozinha e para a área de serviço.

Originalmente, o apartamento tinha um hall de distribui-ção redondo que roubava muito espaço. Esse espaço foi reformado, as paredes endireitadas, a porta mudou de lugar isolando a área íntima e o hall foi reaproveitado, decorado com uma cômoda século 18 e um espelho veneziano. Um pedaço do quarto que Cesar ocupa foi emprestado para aumentar o closet que invade o banheiro e abriga também a pia. As áreas molhadas são separadas do closet por uma porta de vidro com espelho.

Paulo ficou com o outro quarto com espaço suficiente para armário, cama, criados-mudos e usa o banheiro do cor-redor (antigamente não era moda todo quarto ser suíte). Perfeito para seu estilo low profile.

Para quem vivia em uma cobertura duplex com quase 600 metros quadrados, a nova morada pode parecer acanhada, “metade dos móveis foram para a casa da Boa Vista”, conta Cesar, mas o resultado é um apartamento prático, funcio-nal, acolhedor. Difícil definir o estilo do apartamento de Cesar Giobbi e Paulo Mortari. Ele não segue modismos, tendências. Não existe certo ou errado, moderno ou clás-sico, na moda ou não. Existe personalidade.

Espelho veneziano, final do século 19 sobre cômoda italiana; na sala de jantar, desenho preto e branco de Claudio Creti

Na página ao lado, atrás da renda, desenhos de Baravelli, anos 1960 e Arlando Ferrari, anos 1950

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ife Ao longo dos últimos anos, a culinária recebeu muitos

sobrenomes, molecular é um deles por Mauro Marcelo alves

Na lista de compras, alginato de sódio, lactato de cálcio, ágar-ágar, lecitina de soja, goma xantana e carragenina. E o chef de cozinha

está pronto para iniciar “esferificações”, espumas, cozi-mento com hidrogênio, molhos com polifenóis, caviar falso e até um espantoso ovo solidificado com etanol. É a cozinha molecular que invadiu o mundo ocidental há alguns anos, provocou uma revolução em restaurantes e agora enfrenta seu momento da verdade: vai conti-nuar surpreendendo ou ficará para trás, como ocorreu com a nouvelle cuisine francesa nos anos de 1970?

Naquela época, alguns fiapos de cenoura em volta de um ovo de codorna poché provocavam um oh! de admi-ração. Comia-se com os olhos, sobretudo. O mesmo ocorre com a cozinha molecular, com seu espetáculo de formas e cores. Porções ainda mais diminutas trans-formaram um jantar em maratona de 30 ou mais petis-cos, alguns do tamanho de uma azeitona – aliás, apre-sentada como azeitona, mas não a natural e sim uma bolinha “esferificada” sugerindo o gosto do velho e bom fruto da oliveira.

Essa onda molecular foi iniciada em 1992 por um físico húngaro chamado Nicholas Kurti e ganhou fama com o dublê de chef e físico-químico francês Hervé This, que no ano seguinte lançou o livro Um Cientista na Cozinha (Ed. Ática). Na capa, a premonição: com roupa de chef ele joga vinho em uma panela, mistura e de lá pulam bolinhas coloridas. São as transformações químicas que assustaram velhos cozinheiros autodida-tas mas que atravessaram a fronteira ao sul da França e ganharam as mentes inquietas de chefs espanhóis, loucos para jogar fora a fama pesada da cozinha pátria com seus cozidos, embutidos e paellas volumosos.

E então surgiu o catalão Ferran Adrià. Um mago. Melhor cozinheiro do mundo, segundo jornalistas e gourmets de todo canto que acorriam ao seu restau-rante el Bulli como quem vai a Meca ou atinge o nir-vana. Em 1998 seus petit-fours foram renomeados para pequeñas locuras, convivendo no menu com os mor-phings, os snacks secos, os snacks frescos, as tapas e

emocional,

tecnológica

molecular, pratos “desconstruídos” – os sabores de uma paella, por exemplo, eram “sugeridos” em um pedaço de gelatina.

Heston Blumenthal, do Fat Duck, Inglaterra; Pierre Gagnaire, do restaurante homônimo, em Paris; Homaro Cantu, do Moto, EUA; René Redzepi, do Noma, Dinamarca; Andoni Luis Aduriz, do Mugaritz, Espanha, ou Alex Atala, do D.O.M., em São Paulo, passaram a adotar um dos conceitos de Adrià: “Como sucedeu ao longo da história na maioria dos campos da evolução humana, as novas tecnologias são um apoio para o progresso da cozinha”.

Mas o el Bulli fechou as portas agora em 2011 e vai se transformar, em 2013, no elBulliFoundation, para manter um arquivo físico e digital de sua história e se transformar em um centro de criatividade. No mesmo local onde funcionou o restaurante, em Cala Montjoi, Catalunha. O que isso significa? A fórmula esgotou-se? Ou vai ressurgir de outra maneira?

Adrià deixa uma dica em seu site: se elBulli significou conteúdo, trabalhando uma “cozinha tecnoemocional”, a fundação “terá uma arquitetura tecnoempática” – seja lá o que isso queira dizer. Não é fácil ver um guru pendurar facas e talheres, ou melhor, termocirculadores, sifões, robôs ou o versátil thermomix, um faz-tudo na cozinha.

Mas há muitos discípulos de Adrià no mundo e quem está segurando a onda molecular é o inglês Heston Blumenthal, chef-star em seus restaurantes e na televi-são, que continua surpreendendo com suas invenções e fazendo do ato de cozinhar um experimento científico permanente. A cozinha de nossas avós não vai acabar, claro, mas pode ganhar outras versões, exatamente como faz Blumenthal em seu novo restaurante em Londres, o Dinner, no qual recria receitas inglesas de três ou quatro séculos atrás usando suas maquininhas, nitrogênio e outros recursos atuais. Afinal, as molécu-las sempre existiram.

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Mauro Marcelo Alves é jornalista, escritor e chef de cozinha, autor de Vinhos, a Arte da França, Vinho do Porto, Muito Prazer! e outros. É editor de vinhos da revista Gula e colunista de gastronomia e estilo de vida do Canal Luxo, do iG

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Resumir os cuidados para ter qualidade de vida às atividades físicas é um equívoco comum. Na verdade, o estilo de vida como conceito global é que faz toda a diferença para vivermos melhor Por Judite Scholz | iluStração maria eugênia

A maioria das pessoas acredita que já está no lucro por praticar uma atividade física regular-mente e investir na alimentação saudável. Não

sabem que isso é apenas parte do que é necessário para se ter boa qualidade de vida. Ela é a soma do bem-estar físico, equilíbrio nas relações familiares, profissionais e sociais, harmonia, prazer em atividades de lazer, momentos especiais, estar em paz consigo mesmo, usar humor para lidar com situações de estresse, ter claros seus valores, e objetivos definidos. Parece difícil? Mas é a única maneira de manter o prumo num mundo hostil e desgastante, que nos coloca à mercê da violên-cia, do trânsito, de desafios, do estresse o tempo todo. Portanto, depende de nós manter o equilíbrio interior fazendo boas escolhas, investindo em atividades que nos deem prazer e, principalmente, não perdendo o cerne: não nos abandonando jamais.

“A qualidade de vida é a interação de sua melhor per-formance física (orgânica) com a maior satisfação de prazer obtida por seu cérebro ao vivenciar todas as suas tarefas diárias. Depende de um excelente estado bio-químico (hormonal e nutricional) com a cabeça focada em fontes que realmente geram prazer: esportes, lei-tura, trabalho, sexo, cinema, etc. Temos que entender que viver com qualidade é viver com autenticidade, fazendo realmente aquilo que se gosta e que se predis-pôs a fazer”, afirma o endocrinologista Tércio Rocha, pós-graduado em medicina estética em Paris, con-sultor internacional de estética da Royal Academy of Aesthetic Medicine, membro da Sociedade Francesa de Medicina Estética e Mesoterapia e da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e Mesoterapia.

Na ansiedade de fazer algo pela própria saúde, as pes-soas acabam achando que só fazer exercício basta – mas esse é apenas um dos itens do que se pode fazer para ter mais energia e aliviar o estresse. Embora, de acordo com Mauro Guiselini, mestre em educação física e autor do livro Qualidade de Vida – Um Programa Prático Para um Corpo Saudável, a prática de exercício físico bem feito é um meio de adquirir equilíbrio físico, mental, emocional, espiritual e, assim, ter melhor qualidade de vida. “Pesquisas têm dado uma importância signi-ficativa à prática regular de atividade física como meio de combater o estresse e ainda reduzir a tendência à

depressão, já que as pessoas enfrentam com mais cora-gem e disposição os problemas diários. Melhora, inclu-sive, o humor. As pessoas que se exercitam tendem a ser mais alegres e dinâmicas. Além disso, ajuda a dormir melhor e melhora a autoimagem.”

Na verdade, algumas regras são básicas – e praticar alguma atividade física é uma delas –, mas não há receita, já que cada pessoa encontra prazer em uma determinada atividade. Isso mesmo: o prazer faz parte da qualidade de vida – e ele pode estar na ioga e na meditação ou no trabalho e na academia. “É funda-mental buscar tudo o que te faça sentir-se bem, que dê prazer, que realmente valha a pena investir seus precio-sos minutos de vida. Se o trabalho é como um hobby para você, se satisfaz a ponto de ser sua melhor fonte de prazer, isso faz parte da sua qualidade de vida”, diz o dr. Tércio Rocha.

Para a psicóloga Mônica Portella, autora do livro A Ciência do Viver Bem, o autoconhecimento é impor-tante porque nem todas as fórmulas são para todos. “A pessoa precisa saber quem é e ter consciência do que quer para sua vida para, então, determinar as metas para as mudanças a fim de obter uma vida melhor e mais prazerosa. Existem atividades intencionais – que foram levantadas pela pesquisadora e professora de Psicologia da Universidade da Califórnia, Sonja Lyubomirsky, em um estudo que originou o livro A Ciência da Felicidade: Como Atingir a Felicidade Real e Duradoura –, que podem ajudar na conquista da felicidade: cultivar o otimismo, focar metas pesso-ais, cultivar a relação com outras pessoas, práticas espi-rituais e atividades relacionadas com o corpo.

Hoje, sabemos, é melhor focar nos pontos fortes do que administrar os pontos fracos. Acho que as pessoas pre-cisam se autoconhecer, saber quem são para viver em harmonia com a sua verdade e não tentar ser o que não são. Esse é o primeiro passo para a conquista do prazer.”

Portanto, enxergar qualidade de vida como um conceito global, isto é, que envolve todas as nossas atividades e ações, crenças e aspirações, aumenta a possibilidade de se sentir melhor e de investir com mais resultados na saúde atual e futura.

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Depois de 14 anos de trabalho intenso como psicóloga com políticas públicas de juventude no Brasil, uma urgência esquisita me fez pen-

sar que era hora de sair pelo mundo. Finalizei meus projetos, aluguei minha casa, dei de presente todas as minhas roupas e reduzi meus pertences a livros, CDs e fotos, generosamente guardados na casa de minha avó. Desde o começo sabia que não se tratava de fazer turismo. Conhecer culturas, pessoas, lugares e modos de viver muito diversos tinham mais a ver com construir uma nova vida do que tirar férias de uma. Saber viver com um par de Havaianas e outro de tênis, saber pertencer transitando, se comunicar sem entender uma palavra; confiar em estranhos, cur-tir amizades intensas e efêmeras e tolerar modos de vida muito diferentes foram alguns dos desafios dessa empreitada. Um convite a desapegar e ao mesmo tempo aderir e deixar tudo rapidamente. Cada passo, cada novo dia, tudo a programar, decidir e encontrar.

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Qual foi a viagem?!

LaosExiste um fascínio óbvio para quem vive em megaci-

dades como São Paulo em conhecer partes remotas do planeta. Sim, isso foi inspiração suficiente para

conhecer afluentes do Rio Mekong, no Laos. Em um barco minúsculo, a navegação pelos rios que levam de Luang Prabang até a fronteira com o Vietnã me

devolveu a sensação de que existem ainda áreas pre-servadas e distantes do tipo de desenvolvimento que

hoje tentamos rever pelo mudo afora. Há um risco de se visitar o Laos sem outra pertinência que a de ir ver,

que é o de incentivar um turismo que faz de comu-nidades inteiras zoológicos humanos, e transforma turistas em cifras de dólares. Fugindo disso, ainda

tenho em mim a força das florestas e do povo que vive imerso nessa paisagem.

Holy cow!Aprender a cuidar melhor de mim foi uma parte importante dessa viagem, o curso que fiz de aiurveda em Kannur, Kerala, me deu de presente uma porta de acesso à cultura antiga da Índia que eu não tenho palavras para agradecer. O conhecimento sobre a vida – aiurveda – é uma porta para aprender sobre ioga, culinária, ervas, óleos, massagens e processos de cura. Entender a base dessa medicina ajuda a conectar com uma Índia que se está perdendo rapidamente, e que todo o Ocidente está indo buscar, tentando preservar, usufruir e divulgar. A Índia é um escândalo! Existe algo realmente forte por lá. Mesmo que você se negue a mudar um pouco a forma como vive no mundo, não vai adiantar. Renda-se.

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Homeless in NY Logo de saída conhecer o projeto do Teatro do Oprimido de Nova York,

que trabalha com pessoas em situação de rua na cidade, me fez pensar que por motivos, escolhas e possibilidades diferentes, estar desalojado é uma grande

experiência de transformação. O teatro do oprimido do brasileiro Augusto Boal, inspirado pelo pensamento de Paulo Freire, é potência em qualquer lugar do

mundo, não se desaloja, não tem nacionalidade, se localiza porque faz sentido como ferramenta de trabalho em grupos humanos e seus dramas sociais.

Encontrar esse pensamento e ver que territorialidade ou casa se constroem mais pelo sentido do que por pura localidade, deu uma força extra para eu me

aventurar por novos territórios (de sentido), mas também de falta dele.

Golden TempleAo anoitecer, os guardiões do templo se juntam aos peregrinos e limpam cada centímetro do espaço visitado por milhares de pessoas por dia. Sem grande alarde, eles se juntam e iniciam os trabalhos cantando. Dividem a tarefa sem conversa. Cada um sabe ou aprende ali onde tem que ir, o que tem de ser feito. Os peregrinos que integram o grupo a cada noite exalam um ar de profunda satisfação pela oportunidade de servir. Servir é o momento supremo de pertencer ao que mais acreditam e que rege muitas vezes toda uma vida. A cena é de um teatro medieval, o acontecimento é simples, cotidiano e inteiramente sagrado. A limpeza do templo é um contraponto absoluto a toda sujeira que cobre por inteiro as cidades da Índia. Ali, limpam-se almas!

Ao topo do mundo! Visita a Sagarmartha!Não se escolhe subir a 5.550 metros, caminhando por longos

14 dias apenas por pura diversão ou amor a caminhadas e montanhas altas. Depois de uma longa viagem, sobre a qual

provavelmente vou refletir por muitos anos, subir a montanha foi uma maneira de deixar o mundo às minhas costas, focar a mente, cansar o corpo e descansar as emoções. Aí, então, um

esforço extra significou uma recompensa extra, a montanha é generosa, fortalece o corpo, silencia a mente e equilibra as

emoções. Ao chegar ao topo, se pode olhar de cima um mundo, meu mundo. Olhar o caminho que fiz. O maior desafio é

certamente a jornada interior. Saber aproveitar a oportunidade de estar no topo do mundo, em uma comunidade budista, e

olhar para si.

TexTo e FoTos Mariana de salles oliveira

Copyright 2011 Laura Turley. All rights reserved. www.lauraturley.com

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Visitar a Bienal de Veneza, conhecer a China profunda, assistir a um GP de Fórmula 1, ver a florada das cerejeiras no Japão, a final de tênis em Wimbledon, percorrer os canais da Borgonha em um barco/hotel com a chancela Orient-Express, conhecer

vinhedos na África. Há pessoas que não se contentam com as viagens habituais, ávidas por novas descobertas. E há agências que se desdobram para oferecer o nectar plus ultra cultural do planeta.

Viagens com esse matiz agregam história, arte, cultura e assombro ao nosso repertório de vida e compõem a bagagem que carregaremos para sempre. Nesse nicho de mercado rarefeito existem duas pontas: as agências (ou butiques de viagens) e operadoras que oferecem viagens sofisticadas e altamente segmentadas e, de outro, os viajantes que buscam novas experiências e prezam o desconhecido, o exótico, o novo.

A personalização das experiências de viagem chega a altas esferas, com guias que conduzem a recônditos e programam o inimaginável, como fez Flávio Géo, da Visa Turismo: ele já fechou o Museu Mis Van Der Rohe em Barcelona  para um jantar com o chef Ferran Adrià. Também organizou um safári  4×4 no deserto de Dubai, com direito a passeio de camelo e um bar de champanhes gelados montado no meio do deserto. Já levou seus clientes para assistir à première de gala da ópera Madame Butterfly, no Metropolitan Opera House, em Nova York.

Para atender a demandas cada vez mais refinadas, agências e operadores de viagens têm se superado para criar roteiros intrigantes, diz Eduardo Gaz, da agência Selections: “Os nossos clientes querem mais do que uma viagem para fazer compras ou descansar; querem aprender sobre novas culturas, conhecer a história de cada lugar que visitam”.

Chris Bicalho, CEO da B360, diz que “o brasileiro já não quer apenas viajar para comprar ou conhecer atrações de cartão-postal. A ideia agora é agregar experiências de lifestyle ao roteiro. Mais do que nunca, a época escolhida para viajar não depende só do calendário de férias da família, mas também da programação cultural da cidade escolhida para ir”, afirma.

Para além do

Quando estilo de vida e vontade de desbravar se unem, a busca por novas experiências atinge outros patamares Por Juliana Saad

Amaryllis, a elegante péniche-hotel Orient

Express, cruza um dos canais da região do Loire fo

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Uma de suas clientes confessou o motivo de fazer viagens assim: “No ano passado, em novembro, embarquei para Miami durante a feira Art Basel. E a cidade parecia outra, era como se eu nunca tivesse ido pra lá. As pessoas, o clima, tudo conspira a favor da arte e do colecionismo, a cidade muda e ganha uma aura mais cool e descolada. Os restaurantes e bares vivem lotados de artistas, colecionadores, gente do mundo todo reunida ali com o mesmo propósito: ver o que o mercado das artes tem de mais expressivo e aproveitar o melhor de Miami”, conta a publicitária Mayra Barrionuevo.

A seguir, uma pequena amostra dos mergulhos culturais disponíveis àqueles que têm fome de aventura e alma leve, para viajar com os olhos bem abertos e trazer na bagagem experiências inesquecíveis.

Vinhedos africanosSe você está na África do Sul a trabalho ou para um tradicional safári fotográfico, aproveite mais o país. O destino aqui é uma propriedade encravada no belíssimo vale vinícola de Franschhoek. A cultura local produz vinhos de qualidade superior e proporciona ao viajante um safári gourmet com degustações enogastronômi-cas e passeios a cavalo por um dos destinos mais interessantes do continente africano. Em Franschhoek, a dica é comer no melhor restaurante da África do Sul e do continente africano, que ocupa a 36ª posição do ranking da prestigiosa revista Restaurant: The Tasting Room, no hotel Le Quartier Français.

Bienal de Veneza? Vá até a Croácia Se o destino é a Itália, a Bienal de Veneza (este ano ela segue até 27 de novembro) pode ser um bom motivo para apreciar arte e beleza. A dobradinha Veneza + Croácia pode ter atrativos interessantes, como seguir de navio para a Croácia passando por cidades como Zadar, Dubrovnik, Split, Hvar e Rovinj. As sugestões: um drinque no Harry’s Bar, provar tiramisú na tradicional pasticceria Rosa Salva, desbravar as inúmeras praias de Hvar e Split e as ruelas medievais de Dubrovnik. O Adriático é encantador.

Acima, vinhedos na região de

Franschhoek, na África do Sul, e fachada

do hotel Le Quartier Français, onde fica o

estrelado restaurante The Tasting Room

Na página ao lado, Dubrovnik, a cidade

murada do sul da Croácia. Ao lado, um

dos românticos canais de Veneza

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Imersão culturalSe sua viagem o leva para o outro lado do mundo, vale esticar a estada e se deixar encantar pelo extremo Oriente e seus mistérios idiomáticos e culturais. Essa é a oportunidade de pisar em lugares icônicos como o Palácio Imperial, conhecido como “A Cidade Proibida”; a Praça Tian An Men, uma das maiores praças do mundo; o Palácio de Verão, casa de veraneio da família imperial na dinastia Qing, com seus jardins maravilhosos. Assistir a um espetáculo de Acrobacias Chinesas, visitar a Grande Muralha, espetacular e grandiosa obra arquitetônica de mais de dois mil anos, conhecer o  Templo do Céu, obra construída em 1420 onde os impera-dores das dinastias Ming e Qing ofereciam sacrifícios aos céus e rezavam por boas colheitas, são algumas sugestões de tirar o fôlego. Aproveite para ir a Xian, antiga cidade de três mil anos que serviu como capital de 11 dinastias e destaca-se por ter sido o ponto de partida da famosa “Rota da Seda”. Passando por Xangai, visite o Jardim Yuyuan, magnífico jardim construído em 1557 por um oficial da cidade chamado Yu. Já em Hong Kong não deixe de ir ao Victoria Peak, ao Aberdeen Fish Village e à Repulse Bay, além do Night Market e observar ou mesmo provar (para os mais destemidos) um pouco da tradicional comida local feita nas ruas. Serão dias de imersão profunda na cultura oriental.

De barco pela FrançaVocê está em Paris? Aproveite a temporada na Cidade Luz e conheça um pouco do interior do país de péniche, um barco que faz um tour de 6 dias entre Le Guétin e Rogny, cruzando os canais do Loire e Borgonha, e o Rio Saône. Mas esse não é um barco qualquer. É o Amaryllis, o luxuoso barco/hotel Orient Express. Além dos confortos de bordo, da beleza da paisagem e das paradas estratégicas, há as possibilidades de escolher tours de golfe ou de degustação de vinhos pelos vinhedos da região, afinal, você está em uma das regiões mais encantadoras do planeta.

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É possível conhecer o interior da França a bordo de uma péniche. Pelo caminho, é só ancorar e passear pela região

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A monumental Muralha da China vista do céu e o majestoso Palácio Imperial

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Como umempresário virou

investidor socialDe um lado, a riqueza. De outro, a pobreza.

E no meio uma parceria de sucessoPor rodrigo Pontes | institUto AZZi

Em 1994, o acaso fez o empresário João Batista Cardoso, que construiu sua carreira no agronegó-cio, encontrar o que seria o grande investimento

de sua vida. Ele conheceu Dagmar Garroux, educadora e presidente da ONG Casa do Zezinho, e decidiu que seria ali que iria dedicar seu tempo e dinheiro para cons-truir algo que transformasse uma comunidade.

Nesta edição conversamos com o investidor social João Batista Cardoso e com a empreendedora social Dagmar Garroux sobre a história dessa parceria e a realidade da filantropia no Brasil.

Tia Dag, como é conhecida, à época do encontro le-vava cerca de 30 crianças para uma lanchonete do McDonald’s. O motivo do passeio já diz muito sobre onde a organização atua. Uma das crianças havia que-brado o dedo e, após voltar do hospital, ganhou como agrado um lanche. No dia seguinte outra criança apa-receu com o dedo quebrado. E outra. E mais outra. Até que confessaram: elas estavam quebrando o dedo de propósito, para ganhar um lanche do McDonald’s.

Tia Dag então juntou voluntários, captou recursos e conseguiu levar o que naquele momento eram todas as crianças da Casa do Zezinho para a lanchonete, e não é

“Investimentos de pessoas físicas são um canal de sustentação das ONGs, mas ainda falta muita

conscientização da sociedade em apoiar iniciativas como essa. Infelizmente são poucas as pessoas que fazem este tipo de contribuição. E isso precisa mudar.” – Tia Dag

Um apoio recorrente, significativo e flexível é tão rele-vante quanto raro para uma organização. Por isso a im-portância do desenvolvimento da cultura de filantropia entre indivíduos de alto poder aquisitivo no Brasil.

Investimentos sociais de empresas estão invariavelmen-te e, vale dizer, legitimamente vinculados a interesses comerciais e de marketing. Ao mesmo tempo, doações menores, feitas mensalmente pela grande classe mé-dia brasileira, apesar de importantes, normalmente só atingem somas significativas quando são feitas cam-panhas por organizações mais tradicionais e com uma marca conhecida.

Daí a importância estratégica dos chamados major do-nors. São indivíduos que podem comprometer-se por anos, com quantias de várias dezenas de milhares de reais anualmente, permitindo o fortalecimento efetivo dos mais diferentes tipos de organizações de fins sociais.

“A ponte é uma boa metáfora para mostrar as diferenças que existem em nossa sociedade. De um lado, a riqueza.

De outro, a pobreza. E nós aqui no meio do caminho procurando sensibilizar vários parceiros para que

possamos do lado de cá da ponte trazer uma educação de mais qualidade e abrir uma janela de esperança e de

oportunidades para nossos zezinhos.” – Tia Dag

Uma mudança de cultura nunca é um processo sim-ples, fácil ou rápido. Não depende também de um ou outro agente visionário, mas sim de uma percepção da sociedade que é uma mudança positiva, um progresso, uma evolução em suas relações sociais. Exemplos como o de Batista existem e devem ser divulgados. Cabe a cada indivíduo, porém, decidir por si próprio se vale a pena segui-lo.

Lá em 1994, João Batista perguntou: “Dag, qual é o seu sonho?”. Ela falou “Meu sonho é fazer um projeto para mil crianças”, ao que ele respondeu “Então vamos fazer, vamos fazer para mil crianças”.

Hoje o projeto Casa do Zezinho atende 1.200 crianças e tem planos para crescer e replicar o modelo em outras cidades. E João Batista continua apoiando.

de se estranhar que tal alvoroço tenha chamado a aten-ção de Batista. O empresário foi conversar com ela e pro-meteu visitar a organização assim que possível:

“Segunda-feira eu vou passar lá na Casa do Zezinho para dar uma olhada como é que é”, João Batista cum-priu a promessa e, desde o primeiro momento, mostrou que não estava lá apenas para dar apoio moral. Amadu-receu uma parceria que dura até hoje, cheia de suces-sos, bons resultados e transformações sociais, mas que ainda é muito rara no Brasil: a parceria investidor social e empreendedor social.

Quando um empreendedor social inicia seu projeto tem muitas idéias, energia, capacidade de inovação. Muitas vezes o que falta é recurso para investimento.

“São muitos os desafios e todos enormes, mas com certeza viabilizar economicamente os nossos vários projetos educacionais é um dos mais importantes.” – Tia Dag

É nesse ponto que podemos diferenciar conceitualmente doação de investimento social. Apoiar uma organização visando seu desenvolvimento de médio e longo prazo, focado no impacto social gerado, requer planejamento e visão na hora de tomar a decisão.

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Um papo com João Batista CardosoSabemos que você foi fundamental para que a Casa do Zezinho se tornasse essa referência que é hoje para o terceiro setor no Brasil. Você pode nos dizer o que faz e o que o levou a realizar seu primeiro investimento social na Casa do Zezinho?Sou gaúcho de Porto Alegre, minha avó era uma gran-de filantropa, tinha um coração enorme, ajudava todo mundo. Ela não tinha nenhuma instituição filantrópi-ca, mas todo mundo que passava em frente da casa, ela chamava para almoçar, dava roupa, dinheiro. Morei muito tempo com ela e pensava “um dia ainda vou fazer alguma coisa para crianças”.

Saí de Porto Alegre, vim para São Paulo e comecei a trabalhar no mercado do agronegócio, em tradings de exportação. Comecei em 1989, num grupo chamado Glencore. Fomos crescendo, e em 1995 nós exportá-vamos US$ 1 bilhão, éramos a maior trading do Brasil. Virei vice-presidente comercial, a empresa foi vendida para a ADM (Archer-Daniels-Midland) e montei mi-nha própria trading. Hoje tenho um moinho de trigo e trabalho com um grupo que opera biodiesel, etanol, energia, energias renováveis.

Foi em 1994 que conheci a Dag. Nos encontramos no McDonald’s em um sábado, e eu disse que gostaria de conhecer a organização. Apareci lá depois de uns dias, e fiquei emocionado, pois era um local pobrezinho, eles

estavam comendo, tinham algumas atividades muito básicas. Combinamos de conversar e foram seis horas conversando.

Nós estávamos de frente para um terreno ao lado do imóvel que abrigava a Casa do Zezinho. Então pergun-tei: “E esse terreno aqui, o que é? De quem é?” “Ah, esse terreno é de um cara maluco, quer 120 mil reais, muito caro”. Eu falei: “Pode comprar, vamos comprar”. Ela, surpresa: “Como é que vem o dinheiro?” Eu disse: “Pode fechar com o dono que o dinheiro vem”. Aí co-meçou a história.

No dia seguinte mandei vinte cartas para clientes fa-lando do projeto da Casa do Zezinho e pedindo vinte mil reais para cada um, só um cliente não mandou o dinheiro. Compramos o terreno, fizemos uma sede ma-ravilhosa, que obviamente custou bem mais caro do que imaginávamos e juntamente com outras pessoas, como o Paulo Garcez (atual presidente da Multigrain), bancamos uma boa parte do projeto.

O projeto só decolou porque a Dag é uma fera, ela po-deria ser CEO de qualquer empresa, é uma líder in-cansável. Ela tem uma equipe maravilhosa, o Saulo e a Corina que a acompanham desde o começo. Além disso, nesse processo houve muitos colegas e amigos que sempre ajudavam e arranjavam dinheiro.

E o que o motiva a continuar como investidor social ao longo de todo esse tempo? Acho que todo empresário deve devolver alguma coisa para a sociedade. Sempre que pude ajudei pessoas, co-legas, funcionários, etc. Sempre fui a favor da partici-pação dos funcionários em alguma parte do resultado. Entendo que ajudar o próximo é saudável.

O que eu vejo no projeto da Casa do Zezinho, como em todos os projetos sociais, é que eles são uma forma de possibilitar o acesso de pessoas mais humildes a tudo o que os meus filhos têm acesso. Eu tenho três filhos – de 8, 17 e 19 anos – que moram em São Paulo, têm acesso a boas escolas, a uma faculdade. O que eu desejo é que todas as pessoas tenham acesso a isso. E estamos conseguindo isso na Casa do Zezinho. Existem cente-nas de pessoas lá que se formaram no segundo grau, que têm uma profissão, renda, que foram para uma faculdade. Nós somos um canal por onde passam pessoas, e onde a vida delas é trans-formada. A partir do momento em que entram na Casa do Zezinho, elas se deparam com uma série de novidades, e a partir daí elas têm acesso a quase tudo, pois a Casa do Zezinho apoia essas crianças e adolescentes para que eles te-nham uma vida melhor.

O meu sonho de futuro para o Brasil é de uma socie-dade mais igualitária onde todos tenham acesso à edu-cação, à saúde, a uma boa escola, faculdade e, conse-quentemente, a um trabalho. Os moradores das favelas do Buraco Quente, do Santo Antônio, se tiverem deter-minação de sair da pobreza, irão para frente.

E obviamente temos outro sonho, que é multiplicar a Casa do Zezinho, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, no Nordeste, na Bahia, no Centro-Oeste, arranjar parceiros em outros estados, divulgar nossa filosofia.

Com isso continuo investindo, defendendo, querendo aumentar, ampliar. Tem um apelo muito grande você fazer o bem, fazer uma coisa boa pelo próximo. A gente faz, com satisfação, com prazer.

Como você vê que os recursos investidos potencializam o trabalho desenvolvido e o impacto gerado pelas organizações sociais, e como isso se deu no caso da Casa do Zezinho?A Casa do Zezinho era um prediozinho de 50 metros

quadrados. Hoje são 4 mil metros quadrados. Saímos de 30 crianças para 1.200. A Casa do Zezinho se tor-nou uma referência na região. A criança que, no pas-sado, ia para a prostituição, ia roubar, ou era cooptada pelo tráfico, mudou de referência. Ela vai para a Casa do Zezinho, toma café da manhã, tem atividade, almo-ça e vai pra escola, ou vice-versa. Temos hoje por volta de 40 atividades, desde aulas de espanhol, de francês, de internet, curso de cabeleireiro, aula de natação, tem esporte, capoeira, tem sinfônica. O impacto social foi tremendo. Inclusive há alguns estudos que mostram que a violência e a criminalidade diminuíram muito

naquela região, e algumas pessoas atribuem isso à Casa do Zezinho, elas dizem que é o “Sol do Parque San-to Antônio”. Você cria uma série de atrativos para a criança e a desvia do tráfico, do assalto, do farol. Ou seja, o investimento transformou a região.

Você acha importante focar os investimentos sociais em uma única causa ou organização em vez de fragmentá-los como grande parte das pessoas acaba fazendo? O que

muda com essa prática? Depende do investidor. No meu caso, peguei um pou-co do meu tempo e o dediquei ao projeto da Casa do Zezinho. Na Casa do Zezinho eu encontrei a Dag, acho que todo mundo deveria encontrar a sua Dag, apoiar a sua Dag. Tenho contato direto com ela, trocamos e--mails, eu acompanho a maioria dos assuntos, mas ela não precisa mais de mim. Na verdade, acho que depen-de muito da dedicação da pessoa. Eu enfrentei muita gente para quem eu ia pedir dinheiro e que dizia: “Ah não, mas minha avó doa, minha mãe ou minha mulher contribui com algumas instituições, etc.”. Existem pes-soas que não querem saber de nada, que não estão nem aí. No meu caso, não é só querer ver onde estou colo-cando meu dinheiro. Eu quero fazer, eu quero realizar. Sempre que vou me encontrar com a Dag, temos 200 ideias, criamos, desenvolvemos. É o que falei: o poder que tenho hoje de iniciativa, de criatividade, as pessoas que conheço, vou continuar usando em prol da Casa do Zezinho. Na Casa do Zezinho temos uma filosofia, desde o começo: temos que operar como se fôssemos uma empresa privada, temos que fazer tudo direitinho. Nós temos auditoria, fazemos a coisa de forma profis-sionalíssima. Temos hoje na Casa do Zezinho pessoas preparadas e muito profissionais que nos ajudam a zelar pelas áreas financeira e administrativa. Somos, defini-tivamente, um projeto vencedor.

UMA MUDANçA CULTURAL DEPENDE DE UMA PERCEPçãO NOVA DA SOCIEDADE

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